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Prólogo - O Fim e o Começo

Minha visão está borrada, como se observasse tudo por atrás de um vidro esfumaçado.
Meu coração está batendo tão rápido que não posso ouvir nada além dele, tudo é tão
estranho e confuso, olho minhas mãos na esperança de enxergar melhor, mas elas estão
sujas e escuras, minhas roupas geladas grudam em mim como se estivessem molhadas,
mas o mais curioso é que ao tocar vejo que elas realmente estão.. .
O que diabos aconteceu? Estou sonhando?
Não me lembro de dormir, não me lembro de nada. Onde eu estava?
Minha visão enfim melhora, estou na casa da minha mãe, mas o que eu vim fazer aqui
mesmo? Dou um passo a frente e tropeço em algo aos meus pés, então tudo me atinge
como um furacão de sangue, gritos e brutalidade. Ah, eu me lembro agora.
Ali aos meus pés esta o desprezível e irresistível Tyler O'Connel. Porém o status de
irresistível, talvez seja revogado pelo atual estado de seu rosto. Algumas pessoas julgariam
seu aspecto repugnante, porém para mim, ele nunca pareceu tão perfeito quanto agora.
Me afasto de seu cadáver e procuro pelo real motivo da minha visita; mesmo com as luzes
apagadas noto que estou deixando manchas escuras no lindo e caro carpete, e eu não
poderia me importar menos.
Vasculho todos os quartos, mas não encontro nada além de joias espalhafatosas, e talões
de cheque em branco. Tenho vontade de jogar tudo pela janela, fui ingênua em achar que
eles manteriam algum dinheiro a vista, ninguém seria tão burro assim, o que eu estava
pensando?!
Tudo me parecia uma boa ideia algumas horas atrás, mas agora vejo o quão ridículo foi,
nunca se deve tomar decisões enquanto se está chapada, isso sempre leva ao desastre, e
ao julgar pelo amado Tyler lá na sala, isso se tornou um desastre gigantesco.
Estou a ponto de desistir, e chorar até que a polícia chegue, quando vejo duas bolsas
enormes de viagem em frente a porta de entrada. Como não notei isso antes?
Não consigo conter a curiosidade e corro para abri-lás, e assim que eu vejo caio em um
interminável ataque de risos. Rio tanto que caio sentada segurando meu estômago. Só uma
pessoa burra e convencida manteria tanto dinheiro em casa.
Seco as lágrimas que rolam pelo meu rosto e me levanto. Tyler O'Connel era as duas
coisas.

Capítulo 1 - Disfarces

Se meu pai me visse agora ele não me reconheceria, eu mesma não me reconheço,
enquanto me olho no minúsculo e manchado espelho desse banheiro imundo.
Tento descontrair meu rosto tenso pela milésima vez, e como das outras vezes, não
funciona, então em vez da caloura morena e sorridente, pareço uma morena robótica e
ameaçadora. Tanto faz.
Tem coisas que não se pode fingir, e meu humor é uma delas.
A irritante música country tocando não ajuda em nada. Jogo o resto das embalagens de
tintura preta no lixo e saio para o desprezível bar no meio do nada em que fui despejada a
duas horas atrás. Não me leve a mal, normalmente eu não me importaria em estar em um
lugar como esses, por mais nojento que fosse, contanto que tivesse álcool. Mas ficar presa,
nesse calor infernal, enquanto o motorista do ônibus tenta bancar o mecânico não me
agrada, sem falar na minha atual situação.
Olho instintivamente sobre o ombro, não vejo ninguém atrás de mim, mas mesmo assim
não relaxo. Chame de paranóia, mas não vou respirar tranquila enquanto não estiver
trancada dentro do meu quarto, no dormitório Augustin.
Não sei o quão longe ainda estou da faculdade, meu celular morreu há horas atrás, e de
todas as coisas que deixei para trás, ter esquecido o carregador é a única de eu me
arrependo, e não, eu não me atrevo a ser simpática com ninguém para pedir um, isso vai
além das minhas habilidades.
Sento num banquinho e peço um sanduíche para a senhora simpática demais do balcão
que me dá um sorriso reluzente, e isso me faz me perguntar o que uma pessoa como ela
faz em um buraco como esse.
Estou na metade do sanduíche gordurento quando ouço as porta se abrirem e um falatório
caipira chegar, e não leva 10 minutos até eles sentarem ao meu lado. Ótimo.
— Ei belezinha, você não é daqui. — O Einstein à minha direita se aproxima mais do que o
aceitável, porém eu não me movo nem respondo.
— Você não é surda, é? O Donnie falou com você!
O Caipira número 2 tem aquela tom exigente de quem é acostumado a conseguir tudo, do
tipo que eu não gosto nada.
Puxo uma nota de 100 e deixo no balcão nem me importanto se o valor é alto demais para
uma gorjeta, e saio dali antes que minha paciência acabe. Porém segundos depois de
passar pelas portas uma mão de aço segura meu braço. Foda-se a paciência.
— Você tem 2 segundos para tirar essas mãos de mim, antes que se arrependa muito.
Mantenho minha voz o mais suave que posso. Não quero que isso termine em desastre,
isso não pode terminar em desastre. Porém esse cara, e aquela voz na minha cabeça,
estão pedindo pelo caos.
— E você vai fazer o que princesa? Me bater com essa sua bolsinha?
O babaca é o mesmo da voz exigente de lá de dentro; presto atenção em seu rosto dessa
vez.
Ele até que é bonito, se você gosta de loiros caipiras que passam tempo demais arrumando
o cabelo.
Tento encontrar uma resposta sarcástica no meu arsenal, mas estou cansada demais para
isso, então apenas puxo meu braço fora de seu aperto e dessa vez ele me solta. Viro e me
afasto, mas não antes de sentir o tapa na minha bunda.
E é assim que meu disfarce de boa moça evapora. Sinto a raiva subindo pelo meu corpo e
se concentrando em meus braços, me viro e vejo o babaca e seus amigos rindo como
hienas, e antes de ouvir qualquer palavra brilhante que ele possa dar, o golpeio com a mão
aberta usando toda força que tenho. Ouço o barulho do osso de seu nariz quebrando,
então seus gritos.
Sim, seu rosto fica bem melhor assim.

Capítulo 2 - Atração

Essa foi minha deixa, me apressei e saí antes de causar mais confusão. Minhas mãos
tremiam e para piorar o ônibus ainda jazia inútil quando me aproximei, o gordo motorista
suava como um porco enquanto mexia no motor.
— Vai demorar muito?
— Desculpe querida, isso vai além de minhas habilidades, teremos que esperar aqui até o
reboque chegar, então você pode pegar uma carona até a cidade.
— E quando ele vai chegar?
— Eu já liguei, mas acho que ele vai demorar. Sabe como é, esta vindo da cidade vizinha.
Devo ter feito uma cara terrível, porque ele se encolheu e disse que sentia muito, mas eu já
estava me afastando.
Merda de lugar.
Merda de pessoas.
Merda de ônibus.
Por que, de todos os lugares, eu tinha que escolher o mais desprezível?
Sim, eu sabia o porquê, mas nada me impediu de sair usando todos os palavrões que
conhecia e amaldiçoar minha sorte.
Ando o máximo que posso pelo estacionamento, mas obviamente não acabo indo muito
longe, pois mal me sento na guia, quando ouço alguém se aproximando.
— Sinceramente não sou uma boa companhia agora, então nos poupe e caia fora"
— Quem disse que eu quero uma boa companhia? Que graça tem isso?"
A voz rouca e sarcástica arrepia todo meu corpo. Era como se as palavras tivessem sido
sussurradas em meu ouvido. Minha cabeça se move como um imã, mas minha mente vai
assimilando aos poucos, primeiro as botas de couro esfarrapadas, as calças pretas justas
em coxas fortes, então a camisa do Led Zepellin que aparentava ser mais velha que eu, e
por fim o rosto; minha mente fica em branco. Esse cara é sem dúvida o mais bonito que já
vi, e as tatuagens, muitas tatuagens, automaticamente o catálogo como perigoso.
— Você foi incrível lá trás, aposto que ele nunca mais vai esquecer.
— Não notei que tinha plateia.
— Ah, apenas um espectador ocasional, não se preocupe. Só parei para admirar o show.
— Que bom que gostou, obrigada por ajudar.
— Você não precisa de ajuda.
Essa última frase saiu mordaz, como um xingamento. Curioso, ele me olhava com tanta
intensidade que foi difícil não me contorcer. Que Merda esta acontecendo comigo?

— Seu ônibus esta preso aqui… — Ele para olha o relógio e completa. — Há umas 3 horas.
— Nossa Sherlock, eu poderia notar isso sozinha.
— Sabia que você é muito arrogante para alguém que vai ficar encalhada aqui a noite toda?
— A NOITE TODA?
Acho que essa frase saiu como um grito. Foda-se, eu não ia ficar aqui a noite toda. Eu
estava no meu limite, sem falar que meu primeiro dia de aula era amanhã; eu não podia
perder, não se não quisesse levantar suspeitas do reitor
— Sim, acabei de falar com o Charles ali, seu motorista. O reboque só vai poder vir
amanhã, então você está presa aqui, a não ser que...
Ele para a frase, deixando o significado no ar. Talvez ele ache que sou ingênua ou burra
demais para presumir o que ele está sugerindo.
— Você vai ser meu cavaleiro de armadura brilhante? Ou só está aqui para zombar de
mim?
— Nem uma coisa nem outra, senhora espertinha. Se quiser um cavaleiro vai precisar ir se
desculpar com nosso amigo lá no bar, acho que você quebrou o nariz dele.
— Se aquilo é o cavaleiro, me assusta imaginar o que você pode ser.
— Não notou ainda? — Ele me estende a mão. — Sou o vilão que seduz a princesa e a
envenena.
Eu poderia rir com essa frase. A antiga Anna talvez achasse engraçado o fato dele brincar
tão livremente sobre conto de fadas, mas talvez seja a tensão no ar, ou o brilho malicioso
em seus olhos negros que não me permitiu dar um sorriso.
Pego sua mão e o deixo me levantar; nossas mãos se encaixam perfeitamente, seu cheiro
me envolve e suspiro. Ouço sua risada rouca.
Merda, algo me diz que ele não esta brincando com lance de vilão.

Capítulo 3 - Clichês

Sigo o cara até um lindo e negro Chevrolet Impala 67. Como não notei ele antes era um
mistério para mim. Não contive o riso de escárnio, esse não podia ser o carro dele. Ele deve
ter percebido, porque para e me encara e posso sentir seus olhos em mim, mesmo sem tirar
os olhos do carro.
— O que?
— Esse não pode ser seu carro.
— Por que não pode ser? É um carro incrível, clássico.
— Sim, eu sei que é, mas isso te torna o maior clichê à la James Dean que já vi.
Ele ri e seu sorriso quase me deixa sem ar. Arrasto minha mala e sento ao seu lado no
carro, antes de começar a babar como uma idiota.
Tudo cheirava a colônia e a algo que não faço ideia, algo exótico, pimenta talvez?
Posso jurar que tenho vontade de me esfregar nos bancos de couro como um gato. Ótimo,
estou definitivamente louca, é deprimente.
— Qual é o problema dos clichês?
— Nenhum, eu gosto deles, são fáceis de lidar, não são complicados, já que não são
novidade.
— Você acabou de me chamar de superficial e comum? Meu ego está ferido.
— Cara, eu te conheço a 5 minutos e já sei que nem um meteoro pode ferir seu ego.
Ele sorri, um canto de seus lábios se levanta revelando uma covinha, olha lá o clichê de
novo.
O carro sai do estacionamento infernal e seguimos pela estrada, minutos de silêncio
confortável passam, quando noto algo e quase grito.
— Eu não te disse para onde estou indo!!
— Não, você não disse e não me importo.
— Como não?
Ele deve ter sentido medo em minha voz, porque tira os olhos da estrada e me olha, porém
não sorri.
— Calma, eu posso te levar para qualquer lugar, tenho o dia livre.
— Livre para andar com uma estranha pelo país?
— Se ela me pedir com jeitinho.
O sorriso volta, e solto o ar que não notei que prendia.
— Preciso ir para a Universidade Lake State, sou caloura de lá esse ano, conhece ?
— Já ouvi falar, você não é menor né?
— Isso importa?
— Sinceramente não, mas está no manual perguntar.
— Você não tem cara de quem segue o manual. E não, eu não sou menor, tenho 24, tive
que adiar a faculdade por alguns anos.
— Procurando se encontrar?
— Tipo isso.
Seus olhos negros iam e vinham para mim por diversas vezes, e por mais estranho que a
situação fosse, eu não estava desconfortável. Acho que pela primeira vez na vida eu estava
podendo respirar tranquilamente, e eu nem sabia o nome do cara, eu era mesmo
problemática.
— Pelo que notei, estou no seu carro a uma meia hora e ainda não sei seu nome?

" - Curioso isso não é? Aposto que sua mãe sempre te disse para não entra no carro de
estranhos"

" - Não, pelo contrário, ela sempre me incentivou a isso, talvez esperasse que eu nunca
voltasse"

A verdade saiu tão fácil, que me assustei. Me bato mentalmente, não posso sair por aí
falando sobre meu passado, mesmo que nunca mais visse esse cara. Solto uma risada
tensa e tento descontrair

" - Bizarro neh? Mas e seu nome qual é mesmo?"

Ele me olha por alguns segundos, sem expressão alguma, o que faz seu rosto ficar ainda
mais sombrio, mas um segundo depois o sorriso volta. Curioso, talvez ele seja mais
estranho que eu.

"- Já ouvi histórias piores.


Aliás sou Peter, e já que estamos na fase das perguntas, o que te fez parar no extremo
norte de Michigan? "

Essa pergunta era complicada, que eu mesma me fazia algumas vezes, olhei o interminável
corredor de árvores, e deixo a verdade escapar aos poucos..

"- Uma vez, alguém importante disse que esse era um lugar lindo e tranquilo, que era um
lugar perfeito para recomeçar"

Ele ficou em silêncio, não me incomodei em olha-lo, logo paramos em frente do enorme
portão, a placa de mármore com o nome da faculdade reluzia ao sol da tarde, tínhamos
chegado

"- Parece que nosso passeio chegou ao fim bad boy"

"- Bad boy?"

"- Sim, combina com você"

Eu fiquei parada, não conseguia sair, algo me prendia naquele carro, posso apostar que ele
notou

" - Você não me disse o que vai estudar "


Ele se vira totalmente para mim agora, o braço apoiado no volante, tão perto que podia me
tocar se quisesse, eu podia toca-lo se quisesse, mas estava congelada demais para isso,
então apenas respondo

" - Ainda não decidi o que eu quero, então vou cursar duas matérias, psicologia e cálculo'

"- UOU graduação dupla? Isso é possível? Sem falar que são dois extremos, parece que
existe um conflito de personalidades aí dentro"

Foi minha vez de sorrir, ele não podia estar mais certo, enfim me descongelo e abro a porta,
mas ainda não saio

" - Já ouviu aquela história que diz que dentro de nós existem dois lobos, e aquele que nos
domina é sempre o que decidimos alimentar?"

"- Sim, então qual deles domina você? "

" Acho que você nunca vai saber bad boy "

Pego minha mala e saio do carro antes de cometer um erro, meu peito dói, como se
soubesse que o erro talvez seria não permanecer naquele carro, mas isso era eu que nunca
ia saber.

*Capítulo 4*

*Peter*

A garota saiu do carro antes


de eu poder responder, e correu para dentro do campus como se o diabo estivesse atrás
dela.

Coisa perigosa de se fazer


Porque eu adorava caçar
Quanto mais rápido eles corriam, mais interessante era quando eu os pegava
E eu sempre os pegava.

Porém o cheiro dela está no meu carro, como se ela o tivesse marcado como seu, mesmo
inconscientemente.
Curioso eu toco o banco do passageiro, ela estava tão perto, tão perto, mas eu não fiz
nada, ainda não sei bem o porque .

Algo nela era diferente, pude notar mesmo de longe, enquanto ela se movia, era como se
ela estivesse sempre alerta, super consciente de tudo a sua volta, mas ela não me notou,
não até que eu falei.
E quando me olhou, Porra.
Se eu possuísse um coração, ele sem dúvida pararia.
Olhos azuis, dos tons mais claros que existem, eles faiscavam a medida que ela me
encarava.
Havia fogo ali, sim, havia fome.

Sorri ao lembrar de como foi belo observar aquelas barreiras que ela mantinha ao redor de
si mesma, caindo pedaço por pedaço enquanto me olhava.

Fácil demais? Não, tinha algo mais ali, algo dentro de mim se agitou, de alguma forma, o
jeito que ela falava, deixando pedaços de mistérios no ar, mexeu com algo que eu achei
que estava adormecido e esquecido dentro de mim.

Alguns diriam que era o coração.


Porém eu sabia que era bem mais escuro que isso.
Essa garota tinha mergulhado na escuridão, e eu estava louco para saber se ela foi tão
fundo quanto eu.

Minha casa está uma zona quando entro, Gabriel e Marcus estão jogados no meu sofá,
entretidos demais no game, para notar minha chegada, ou para notar a garrafa de cerveja
derramando no tapete, fodidos idiotas.

" - Acho melhor vocês darem um jeito nisso antes de eu sair do chuveiro"

"- Para de tanta frescura Peter, são só móveis, compre outros"

"- Vocês tem noção de quanto tempo levou para arrumar essa casa, para vocês
simplesmente a destruírem? "

Jogo minhas chaves na ilha e pego uma cerveja no frizzer.


Marcus não diz nada, nem tira os olhos da TV, mas sei que ele está atento a cada
movimento meu, queria saber se ele nota que percebo, toda vez que ele faz isso

"- Aonde você estava? " - Ele quebra o silêncio, porém ainda não me olha, ele sempre foi
assim, mas de uns anos para cá, isso está me cansando

" - Desde quando eu te devo satisfações? "

"- Sério P, quem era a garota dessa vez? PELO AMOR DE DEUS, não me diz que era
minha irmã de novo ??"

A mensão a irmã do Gabriel, me dá náusea, vadia pegajosa, tomo outro gole da cerveja
gelada antes de responder

" - Relaxa Gabe, quero distância daquela piranha maluca. A garota era outra, uma caloura,
precisou de carona, e eu fui um cavalheiro"

O olhar de choque no rosto do Gabe merecia um quadro, era hilário, mas fazer o que, eu fui
um bom garoto hoje, acontecia uma vez em um Milhão.
" - Não me fode Cara, o mais próximo de cavalheirismo que você consegue chegar, é tirar a
virgindade de uma mina quando ela pede.. "

"- Estou falando sério, ela era sei lá, diferente. Fiquei curioso, ofereci uma carona até o
campus, só isso "

" - Vc vai me dizer que não fez ..PORRA MARCUS SEU FILHO DA PUTA !"
Gabriel grita esquecendo a conversa, e joga o controle pela sala, que se estilhaça em
milhões de pedaços quando atinge a parede, Ótimo,outra coisa para comprar.

"- Me deve 2mil Gabriel" - Marcus se encosta no sofá, e acende um baseado, a expressão
inalterada

" - Devo uma porra, Peter me distraiu, aposto 5 mil, que te venço em 3 minutos no mata
mata"

Eles voltam a atenção para o jogo, e eu saio para meu quarto, eles vão ficar nessa por
horas, e estou exausto demais para ouvi-los.

Observo meu reflexo no espelho do banheiro, e minha mente me leva novamente até a bela
morena de olhos gelados e selvagens.
Algo dentro de mim se agita.
Preciso ver ela de novo.
Preciso saber se estou certo.

*Capítulo 5*
*Pesadelos*

_Estou andando no corredor da mansão, está escuro, meus pés descalços não fazem som
algum no carpete, minha mãe odeia que eu o suje com meus sapatos._
_Os barulhos pararam, fico em dúvida se realmente os ouvi, mas então eles voltam._
_Eu devia estar dormindo, tenho prova de matemática amanha, só que estou curiosa
demais para dormir._
_Talvez seja o Tyler, não o vejo o dias, estou com saudades, talvez ele tenha trago algum
presente como das últimas vezes._
_As meninas iram surtar, quando eu mostrar para elas amanhã._
_Me aproximo das portas duplas e espio pela fresta, sim, definitivamente é o Tyler, e ele
não está sozinho, vejo duas cabeças no sofá ao seu lado, e na TV passa um filme adulto,
me afasto, melhor voltar para o quarto, as portas se abrem e eu grito de susto_

_Olha o que achei aqui pessoal? Olá irmãzinha!_

_- Ty, eu só queria saber se era você, já vou voltar para meu quarto._

_Me viro, mas ele me segura, meu coração está acelerado, meu corpo treme, não sei
porque estou com medo, nunca senti nada assim_
_-Calma Anna, vem ficar com a gente um pouco_

_Eu sei que não devo entrar, papai sempre me dizia para não ficar sozinha com garotos,
mas é o Ty, ele é meu irmão, papai não ia se importar, sua voz doce sempre me
convence_.
_Eu entro, escuto as portas se fecharem e seus amigos me olharem, eu fico desconfortável,
ninguém nunca me olhou assim, eu não gosto._

_ -Vem sentar com a gente Anna_

_Sorrio nervosa, eles estão bebendo, pessoas ficam estranhas quando bebem, eu devia
voltar, meu receio vence, e eu praticamente corro para fora, mas não chego ao corredor
porque estou no chão, por que estou no chão? Minha cabeça dói muito, algo bateu em
mim?_

_-Onde você pensa que vai irmazinha ?_

Acordo gritando, como sempre, estou no meio do quarto, minha mão queima, solto o
canivete, e observo o sangue fluir limpo e escuro. Meu estômago revira, e mal chego até a
lixeira antes de despejar todo meu jantar.
Fico ali tremendo até a sensação de mãos saírem de meu corpo, até conseguir respirar
novamente.
É sempre a mesma coisa, sempre esse loop, sempre voltando àquela noite, achei que
mudaria, ele se foi, eu devia estar livre não é?
Encosto o rosto no chão frio, e adormeço, parece que sua alma podre, não foi a única coisa
que Tyler levou junto com ele para o inferno.

*Capítulo 6*

*Anna Jane Marshall*

"- MAS QUE PORRA É ESSA ?!!!! "

Eu pulo tão alto, que acabo tropeçando nas pernas e caindo de novo, que merda é essa?!
Um projeto de patricinha está gritando para mim, ela fala tão rápido e alto que meus
tímpanos quase estouram.
Olho o relógio na cabeceira da cama, são 7 horas, o que uma pessoa precisa fazer para
dormir nessa cidade? Se não bastassem meus pesadelos, agora existe a Barbie. O que nos
leva a grande questão, que merda ela faz no meu quarto?

" - Quem é você? ! Oque você está fazendo aqui?"

"- Eu que devia te perguntar isso, afinal foi você que entrou no meu quarto berrando "

Minha voz soa rouca e fraca, talvez dormir no chão não tenha sido uma boa ideia

" - Quem tem que responder isso é você criatura, esse é meu quarto, você que está
invadindo com esses trapos"

Olho para minhas roupas, que são as mesmas que viajei, lembro que depois que peguei
minhas chaves na recepção, apenas corri para cá, comi um pacote de biscoitos que tinha
na bolsa, e desmaiei na confortável cama de solteiro, sem nem me dar conta que já haviam
objetos espalhados pelo quarto, mas veja, pelo menos eu tirei os sapatos.

" Olha, eu não estou invadindo nada, passei na recepção e eles me deram as chaves,
cheguei aqui e entrei, até onde sei o quarto é meu Ok?! Podem ter se confundido"

"- ISSO É UM ABSURDO! É CLARO que foi um engano. Só pode ser um engano, alguém
como eu não pode.."

" - Não pode o que? "

"- Vamos Andrea, sabe como sua mãe e o Gabe odeiam esperar "

Uma voz suave veio da porta, ótimo, temos plateia.


A loira oxigenada apenas me encara vermelha de raiva, talvez ela se achasse ameaçadora,
porém para mim, ela só parecia o poodle da Paris Hilton que precisava MUITO, usar o
banheiro

"- Sério Andrea, mais tarde você resolve isso na reitoria."

A voz soou impaciente, por fim o poodle ouviu, e saiu batendo a porta.
Me afundo na cama e olho para a enorme janela, o sol da manhã entra tímido mas
determinado, os passarinhos cantavam, tudo isso fazia parecer mais um quarto de hotel, do
que um dormitório de faculdade, mas mesmo assim, tudo que eu quero é me enfiar de baixo
dos cobertores e morrer.

Obviamente não consigo, porque 5 minutos depois o despertador toca.

É oficialmente meu primeiro dia de aula, meu primeiro dia na nova vida.
Eu já sou Anna Jane Marshall a algumas semanas, mas pela primeira vez, sinto que o
verdadeiro teste começa.
Conseguir todos os documentos falsos foi fácil, entrar no primeiro ônibus para fora da
Califórnia também.
Sabe, eu não tinha nada lá, então virar as costas não foi um problema, mas agora, quando
minha segunda vida vai realmente começar, eu sinto o peso de tudo que aconteceu. Talvez
seja apenas falta de sono, mas não me sinto pronta para isso.

Respiro fundo umas 10 vezes, não existe espaço para medo nessa vida.
Anna Marie Hopkins morreu na sala daquela mansão aos 10 anos.
Anna Jane Marshall está pronta para respirar de verdade pela primeira vez.
Mas antes, banho e procurar um orientador. Ebaa.

*Capítulo 7*
*Mar Caribenho*
Uma hora mais tarde depois de quase me perder no enorme e verde campus, entro no
escritório da reitora, e atrás de uma grande e aparentemente cara mesa de mogno escuro,
uma idosa sorri alegremente para mim, o gesto me faz querer vomitar todo meu café sobre
a bela mesa, essa animação matinal de algumas pessoas me dava náuseas.

" - BOM DIA, Você devê ser a senhorita Marshall?!


Espero que tenha conseguido se instalar bem ontem a noite querida"

" - Bom dia, eu realmente não tive tempo para arrumar nada, sabe como é, viagem longa."

" - Claro querida, a Senhora Willians está terminando de conversar com um aluno, já vai te
atender, se quiser pode esperar na poltrona em frente a sala dela"

Ela me indica o corredor a esquerda e eu sigo, parando em frente às enormes portas, esse
povo deve ter paixão por mogno. Mal me sento antes de escutar o primeiro grito

" - Você só pode estar de brincadeira comigo? ... Sério, reitora?! Não podia ter dado a ela
outro quarto? .... Ela vai me enlouquecer! .... Vocês receberam os valores desse semestre..
Não, eu não quero.... Isso Já é demais, eu não vou ser babá de nenhum calouro, muito
menos um nerd de cálculo. Escolha outro, eu não vou.."

A porta se abre e eu rapidamente olho para o chão, fingindo que não estava ouvindo a
conversa, uma voz doce, porém firme corta o falatório do aluno

" - Senhor Evans, está universalidade é imensamente grata por toda a contribuição de sua
família, porém vocês não são donos desta instituição, ainda não. Portanto seria sábio seguir
minhas orientações, para evitar conflitos futuros com o conselho. E se por acaso a senhorita
Evans tiver algum problema com o quarto designado, ela terá que entrar com uma queixa
formal.

" - Ótimo"

" - Ótimo, fico feliz que tenhamos nos entendido" - sua voz suaviza ainda mais - " por sorte,
a senhorita Marshall está aqui, assim você já pode conhece-lá antes de apresentar o
campus "

Oh MERDA, era de mim que eles falavam, engolo o caroço em minha garganta, tento
pensar em algo para dizer, porém a dona da voz sai pelas portas duplas, e sorri para mim

"- Senhorita Marshall é um prazer conhece-la"

"- Ssim, bom dia, desculpe atrapalhar, posso voltar outra hora"
Tentei sorrir, mas aposto que acabei com uma careta tensa, se ela notou, não se importou

"- Não, bobagem, você apareceu na hora certa, tenho um orientador para você! Senhor
Evans?"
Ela soava como um poço de educação, porém eu senti a ordem no ar, essa mulher podia
ser bonita, mas controlava a universidade com pulso.

"- Já estou indo porra"

" - Linguajar senhor Evans"

" - Claro, claro, que seja, mas eu ainda não. .."

A frase parou no ar assim que ele saiu do escritório.


Nossos olhos se encontraram e pela segunda vez em dois dias eu tremo, qual é a dessa
cidade e os caras incríveis?!

" Senhor Evans, não seja rude, como veterano é seu dever ajudar os calouros. ."

"- Claro, a Senhora tem TODA a razão, me perdoe, não sei o que deu em mim hoje de
manhã, deve ter sido o café"

Ele se inclina para mim estendendo a mão, eu ofereço a minha para um aperto, mas ele
leva minha mão aos lábios, e como um típico galã de um romance de época, a beija, sem
nunca desviar aqueles olhos da cor do mar caribenho dos meus.
Ouço suspiros femininos, não foram meus, mas poderiam, ele parece prolongar os
segundos, então se afasta lentamente, um sorriso matador aparece em seus lábios grossos.
Merda, esse cara é bom.

"- Muito Prazer Gabriel Evans, ao seu dispor "

"- Anna Marshall"

É tudo que consigo dizer, maldita manhã estranha, já me sinto outra pessoa.
A reitora tosse, nos lembrando que estávamos no meio de um escritório, cercados de
pessoas.

" - Ótimo, agora que tudo se resolveu, irei voltar para meus afazeres.
Senhorita Marshall, foi um prazer. Espero que a senhorita trilhe um caminho brilhante nessa
instituição, qualquer dúvida ou problema, você pode procurar a mim, ou ao senhor Evans."

Logo que termina ela nos deixa, e volta para seu escritório, e não tenho nem tempo para
respirar antes do senhor Evans me arrastar em direção ao ensolarado campus.

*Capítulo 8*
*Sorrisos e Aparências*

Não andamos nem um metrô antes dele me soltar e dizer

" - Parece que enfim, temos um nome para o assunto da cidade"

" - Como? "


"- Sim, você é a morena gostosa que deu uma surra no Daniel Sanders, ontem no bar fora
da cidade."

Parei e fiquei olhando para ele em choque, como ele sabia disso? ?

"- Sabe, cidade pequena e essas merdas" - Ele sorri, mas meu peito está gelado, não
pensei que isso ia chegar até aqui, a ideia era ser Anna Marshall, a invisível.

" -Hey, calma, logo eles vão esquecer e encontrar outra fofoca para fazer. Mas se me
permite, eu acho super quente, uma garota dando uma surra em um cara "

"- Eu não dei surra em ninguém, só quebrei o nariz dele, se ele mantivesse as mãos para si
mesmo, nada disso teria acontecido."

Saio andando na frente, merda de homens, sempre me causando problemas, até quando
isso vai durar?
Ele me alcança e dando pulinhos à minha frente, o sol reflete em seus cabelos, mechas
douradas indo em todas as direções, ele parece um anjinho de merda, isso se você ignorar
as tatuagens de chamas cobrindo seus braços, o sorriso malicioso e o olhar penetrante

"- Olha desculpe, eu não sou sempre um babaca.


E aposto que aquele verme mereceu. Mas estou falando sério, eles logo vão esquecer,
graças a minha irmã, eles vão se preocupar com outra coisa"

"- Deixe-me adivinhar, minha colega de quarto é sua irmã? "

"- Sim, infelizmente"

" - Deve ser uma merda"

" - Na maioria das vezes, especificamente 99% das vezes, é uma merda." Ele para de andar
com um olhar estranho no rosto

" E o 1% restante? "

"- Nada"- Ele fica em silêncio como se decidisse, então um sorriso enorme e malicioso se
abre
- "O 1%, é a parte boa, a parte que me dá acesso livre às festas de pijama, cheias de
adolescentes de shortinho."

Reviso os olhos, mas não evito a gargalhada, homens.

" - O que ? Um cara tem necessidades! "

" - Claro, O que você estuda aqui? "

Todo o ar de brincadeira vai embora, e ele assume um tom sério


"- Gestão empresarial"
"- Uau"
"- O que? "
" - Nada, você não parece um cara de negócios e números"

"- As aparências enganam, não é o que sempre dizem?"

"- Sim, é verdade."

Andamos por todo o campus, ele me mostra salas, o refeitório, as enormes quadras de
esporte, o anfiteatro, Gabriel fala o tempo todo, porém não puxa nenhum assunto pessoal,
noto olhares por onde passamos, tento ignora-los, até que fica impossível.

" - Você é uma celebridade ou o que ?"

"- Porque diz isso? "

"- Sério que você não está notando? A cada 10 pessoas, 15 param para nos olhar"

Ele para e observa ao nosso redor, algumas garotas acenam e dão sorrisinhos, que ele
responde com um sorriso enorme e radiante, pelo jeito o cara adora a atenção.

" - Claro que eu noto, só ignoro a maioria do tempo, você devia fazer o mesmo. Mas eles só
estão curiosos, minha irmã falou de você a manhã inteira no refeitório, sem falar que eu
geralmente não gasto meu tempo com calouros"

"- Como ela falou tanto de mim se nos vimos, por sei lá, 5 minutos?"

" - Nunca subestime o dom da Andrea de espalhar veneno quando não consegue o que
quer, mas relaxa, eu te protejo"

"- Não preciso de proteção senhor popular, eu posso me virar muito bem sozinha"

Acho que saiu mais duro do que eu queria. Talvez eu precise mesmo pular o primeiro dia, e
voltar para cama.

" - Olha desculpe, não tive uma noite e nem uma manhã muito boa, sem falar que não estou
acostumada a falar com pessoas legais"

"- Quem disse que eu sou legal?" - ele parece confuso - " Eu não sou legal, legal é um saco,
é tedioso, não me insulte mulher, eu sou o Demônio!"

Ele bate no peito como se estivesse realmente ofendido, eu caio na gargalhada, a milésima
dessa manhã, continuamos nosso tour até minha primeira aula, que é justo a mesma que a
dele.

Gabriel é engraçado e sorridente, mesmo se não fosse lindo de morrer, noto como seria
fácil gostar dele, conheço o cara a no máximo uma hora, e já gosto.

Merda, gostar de alguém não estava nos planos, mas observando aqueles olhos da cor do
mar do caribe e aquele sorriso luminoso, vejo que com ele, isso parece ser inevitável.

*Capítulo 9*
*Surprise, Surprise*

Depois de um dia exaustivo correndo por todo o campus para chegar a tempo de todas as
aulas, eu já estava querendo mudar de ideia sobre graduação dupla. As salas não eram
muito cheias de alunos, mas ninguém se aproximou para puxar assunto, ótimo, fazer
amigos também não estava nos meus planos.

Porém, parece que acabei fazendo um mesmo assim, Gabriel me seguiu praticamente o dia
todo, acho que ele está levando essa história de orientador a sério demais.
Saio da sala da minha última aula do dia, e encontro ele encostado na parede oposta do
corredor

"- Hey Gabriel você não tem mais o que fazer não?"

" Quantas vezes eu tenho que dizer, é Gabe.


Anna, meus amigos me chamam de Gabe, você é minha amiga agora. E trate de parar de
reclamar e arraste sua bunda até lá fora, vamos ir comer"

Quero retrucar, mas meu estômago ronca, não comi nada o dia todo, parece que quando se
faz duas matérias, não sobra tempo para comer. Desisto e o sigo pelo gramado, por termos
passado o dia andando juntos, seria de se esperar que os olhares e cochichos parassem,
certo? Errado, aparentemente na pequena e rica, cidade de Lake, o único hobbie é fofocar
sobre a caloura que está andando pela universidade, com a versão melhorada do Brad Pitt.
_Patético_
Graças a um milagre (Chamado Gabe), encontremos uma mesa livre na multidão de jovens
famintos e amontoados na única lanchonete do campus.
E julgando pelo sorriso malicioso da garçonete, Gabe já deve ter se aventurado naquelas
águas. _Cafajeste_
Mas quem sou eu para julgar, nunca fui nenhuma puritana.

" - O que você está achando daqui até agora? "


Estamos no meio do sanduíche, e enfim as pessoas pararam de cochichar, porém ainda
lançam olhares aqui e ali.

" - Ah, as aulas são bem puxadas para um primeiro dia, mas eu já esperava, universidade
seletiva e tal. O campus é legal, meu quarto também é, porém provavelmente, sua irmã
deve ter jogado minhas coisas na privada"

"- Minha irmã não chega perto de uma privada mais no que o necessário, e ela é do tipo
que manda os outros no lugar dela, odeia sujar as mãos a vadiazinha"

" - Nossa que jeito de falar da sua irmã"


" - Não estou mentindo, não minto nunca. Aquela ali causa mais dor de cabeça para mim,
do que posso suportar."

" - Meus pêsames para você"

" - Você tem irmãos? "

Pergunta complicada, não sei o que contar, por fim acabo optando pela verdade

"- Não, sou filha única. Porém já tive milhares de meios irmãos, sabe como é, mãe vadia
que causou mais dor de cabeça do que pude suportar."

Espero risadas, mas ele está sério me olhando, me remexo desconfortável.

" - Parece que todos temos problemas familiares então."


E rápido como surgiu, a expressão séria se vai, e ele volta ser sorridente e brincalhão.
Estranho, ele é um tanto bipolar. Não que eu me importe.
Terminamos nossos sanduíches e ele insiste em me levar até o dormitório, e despois de
recusar algumas cinco vezes desisto. O cara parece não saber ouvir um não como
resposta. Para falar a verdade, alguma coisa me diz, que ele nunca ouviu um não na vida

" - Sabe, você precisa de diversão! "

"- Preciso?"

"- Sim, você é toda contida parece que nunca se divertiu na vida, posso resolver isso"

"- Gabe você me conhece a um dia, não é presunção sua achar que sabe algo sobre mim? "

"- Nah, eu sei muito sobre você. Você é Anna, a nerd louca que resolveu vir para uma das
faculdades mais caras e escondidas do país. Você faz duas materias totalmente opostas, o
que significa que você é indecisa." - Ele bate o dedo nos lábios olhando para o céu como se
pensasse.

"- Você deu uma surra no babaca da cidade, o que não faz o mínimo sentido para uma
garota nerd, o que nos leva ao detalhe final." - Ele me encara, os olhos claros cintilando.
"- Ou você é realmente bipolar, ou toda essa de menina nerd contida, é uma fachada para
esconder alguma coisa. Existe uma Anna selvagem aí embaixo não é? Estou certo, não
estou?"

Estamos em frente ao meu dormitório agora, fico muda e congelada olhando o discurso
dele, eu sou tão óbvia assim? Estou sendo tão falsa, que até um estranho notou?
Não consigo ser nada além da velha Anna?
Estou tão chocada com suas observações, que não noto que tem um carro parado próximo
de nós, não noto até que alguém fala

" - Você não poderia estar mais certo Gabe"


Todos os pelos do meu corpo se arrepiam, qual seria a probabilidade de encontrar ele
novamente?
E pior, qual seria a probabilidade dele conhecer meu novo amigo?
Me viro e lá está, bem atrás de nós, o belo e negro Impala 67, com um Peter em toda sua
glória estilo James Dean, calmamente sentado no banco do motorista, e ao seu lado, uma
patricinha muito, muito irritada.

Minha sorte não é ÓTIMA?

"- Olá doll"

"- Oi, bad boy".

*Capítulo 10*
*Dia e Noite*

No segundo seguinte sinto o braço do Gabe cercar meus ombros, cada músculo do meu
corpo endurece.

_Perto demais, está perto demais_

Minha mente grita em protesto, aposto que ele pode sentir minha tensão, mas ignora e me
puxa ainda mais perto

"- Parece que encontrei sua caloura, Peter "

" - Estou vendo, mas acho que você está perdendo o jeito, ela parece mais tensa que a cara
da sua mãe, depois da terceira plástica"

Eles riem da piada interna, o que me da chance de empurrar, e sair debaixo do braço do
Gabe.
Respiro aliviada assim que estou livre. A patricinha sai do carro, batendo a porta tão forte
que eu me encolho, MALDITA, coitado do carro.

Como se lesse minha mente, Peter grune, e em segundos ele sai, contorna o carro, e pega
Andrea pelo braço

"- Você esta louca PORRA ?! Esse carro vale mais que sua vida! "

" - Hmmmm irmãzinha, você está tão encrencada"

Olho para Gabe, sua expressão não demonstra nada além da típica diversão. Ele não
parece se importar que Peter esteja segurando o braço da sua irmã com tanta força, que
seus dedos ficam brancos. Curioso.
Peter sussura algo no ouvido dela, meu estômago torce. Ciúmes Anna? Não seja ridícula.

Porém a sensação se vai um segundo depois, só de olhar a cara da patricinha. Vejo toda a
cor deixar seu rosto aos poucos, seja o que for que ele está dizendo, não é bom.

Ele olha para mim, então solta seu braço. Ela tropeça em seus saltos, tento não rir, ou
colocar o pé quando ela passa por mim.
Só que aparentemente, não sou boa em esconder nada, a vadia também não, porque assim
que ouve minha risada, para e olha pra mim.
O ódio que ela me lança parece ser tão grande, que quase sinto algo real tocar em mim.
Sabe, é revigorante, estou na cidade a dois dias, e ja encontrei uma inimiga, mas isso não
me surpreende, garotas como ela sempre caíram de amores por mim.

" - Acho melhor você ir logo tomar um banho maninha" - Gabe finge farejar o ar "- você fede
a sexo e medo"

Observo ela endurecer, mas não diz nada e sobe as escadas. Talvez ela não seja tão burra
como aparenta.
Ao nosso redor várias pessoas observam o show. Pelo jeito, Gabe não é a única
celebridade desse lugar.

Me viro novamente para eles, que estão ambos encostados no carro me olhando.
A vida pode ser injusta quando quer. Tanta perfeição não podia vir em par.
Lado a lado, posso notar tanto suas semelhanças, quanto as óbvias diferenças.
Gabe e Peter são perfeitos opostos. Peter com seus cabelos castanhos cortados no
clássico estilo James Dean, maxilar definido cercado de uma sombra de barba, que me faz
ter vontade de correr a língua por ela, e os olhos, tão negros que parecem não ter fundo.
Já Gabe loiro com cabelos que vão para todas as direções, incontrolável, e os olhos quase
são claros quanto água, e o sorriso reluzente.

Eles são a personificação do dia e noite.

Tirando as tatuagens, você não poderia compara-los em nada, mas mesmo assim ainda
havia algo, eles se moviam da mesma forma, como se fossem uma unidade.

E eu, estou congelada os encarando como uma retardada, patética.


Eles se olham, e olham para mim novamente, sérios. Ótimo, eles notaram também.
O ar fica tão tenso que poderia corta-lo com meu canivete.
Balanço a cabeça, preciso sair daqui, o fato de eles se conhecerem, esta dando nós na
minha mente já confusa.

"- Olha, preciso ir para meu quarto, obrigada pelo dia Gabe, e foi ótimo ver você Peter"
Me viro para subir as escadas do prédio, mas Gabe me para e me gira

"- Venha dar um passeio Anna, vamos te mostrar a cidade "

"- Tentador, mas não obrigada. Preciso realmente dormir"

Gabe faz um beicinho fofo que ficaria ridículo em qualquer pessoa, menos nele.
Peter apenas nos encara o rosto em branco.
Gabe me sacode e eu volto atenção a ele
"- Ok, mas já que fomos rudemente interrompidos, não pude concluir meu convite"

" Que convite? ah a diversão" - reviro os olhos

" Sim, daqui algumas semanas vamos dar uma festa. Nada demais, apenas algumas
pessoas, VOCÊ PRECISA IR"

Ele enfatiza a última frase, seria ótimo, se eu não tivesse que recusar, festas estão na lista
de coisas proibidas.

"- Sinto muito, mas não vou poder ir. Nerd que precisa estudar lembra?"

"- AH Pare com essa besteira porra, nossas festas são inesquecíveis. Você quer ir, sei que
sim."

" - Posso imaginar que são, mas vou ter que recusar, festas estão fora dos meus planos,
sinto muito"

Gabe faz uma cara tão magoada que me sinto mal.

"- Vamos fazer assim, me passa o endereço e quem sabe eu apareço no dia"

"- Não tem como, nossas festas são secretas, só avisamos sobre o endereço uma hora
antes"

"- Quanto mistério"

" - Mas essa é a graça, tudo fica mais divertido em segredo"

Olho para os dois, Peter não dá um pio, e me pergunto qual é o problema dele. Como se
lesse meus pensamentos novamente, ele fala

" - Sabe, tem algo nas festas. Que nos dá sensação de liberdade.
Nos faz tirar nossas máscaras, e mostrar quem nós somos por trás delas."

Ele faz uma pausa e acende um cigarro antes de continuar

"- Podemos nos soltar e fazer o que quisermos, com quem quisermos. Você já foi livre
boneca?"

As palavras não eram nada demais, mas a forma que sua voz rouca as disse, as tornaram
tão impactantes.
Era como andar num campo minado.
Tive vontade de ceder, tive vontade de entrar naquele carro e nunca mais voltar. Mas eu já
fui livre uma vez. Não acabou bem.

"- Obrigada pelo convite meninos, vou pensar"


Dou um beijo na bochecha de Gabe e aceno um adeus para Peter, e subo as escadas
fechando a porta atrás de mim, sem olhar para trás nenhuma vez.

_"- QUE PORRA FOI ESSA ?"_

_"Não sei do que você está falando"_

_"Não me fode Peter, você não se esforça para nada na vida, muito menos por uma
garota"_

_"- Que eu saiba, você também estava se esforçando, nunca vi você insistir tanto para
alguém ir a festa"_

_"Claro, porque ninguém precisa ser convencido. Os fodidos se matam por uma chance de
aparecer"_

_"- Mas ela não"_

_"-Ela não"_

_"- Algo não se encaixa ali, você sente isso também?"_

O rugido do motor aparece e se afasta, eu desencosto o rosto da porta. Ótimo, fui rebaixada
a adolescente que ouve atrás de portas.
Sigo em rumo ao meu quarto já esperando para um mundo de drama, porém ao abrir a
porta, não encontro nada além de vazio.
Respiro aliviada, tranco a porta atrás de mim, e me jogo na cama.
Tenho problemas demais para me preocupar com uma patricinha, e dois caras.
Meus pesadelos me aguardam.

Capítulo 11
Limites

Os dias se passaram em um furacão de aulas, trabalhos, provas, e muita correria.


Nem Peter, nem Gabe, muito menos minha adorada colega de quarto, aparecem, o que me
deixa aliviada, nada de distrações.

Eu estou tão cansada que não tenho forças para ter pesadelos. E essa é a melhor parte.
Eu era quase normal, quase como qualquer estudante daqui.

Sentada a sombra de uma das enormes árvores com uma pilha de livros ao meu lado,
observo os alunos irem e virem, cheios de livros e risadas, mas é impossível não me
perguntar o que eles escondem por trás desses sorrisos, que segredos? Que pecado? Que
depravação?
Será que eles já se perderam dentro deles mesmos? Será que eles mentem o tempo todo,
como eu?
Mesmo sem ter pesadelos nos últimos dias, me sinto cada vez mais instável, sinto um
buraco se abrindo em meu peito, a cada dia ele está maior, cada dia suga mais coisas para
dentro.
Isso é abstinência?
Não sei ao certo, já estou limpa de qualquer droga e álcool, a mais de um mês agora.
Mas sei que o vazio sempre esteve aqui, talvez eu esteja ficando louca definitivamente.

Por um lado estou feliz, meu pai ficaria feliz em me ver tentando, ver que estou me
esforçando em ser boa, em fazer o certo, em seguir o sonho dele.
Mas mesmo assim, tem dias que estou no limite, que quero parar de tentar, que quero ouvir
as vozes e mandar todo esse lugar, e seus sorrisos se foderem, e então mergulhar no caos.
Hoje é um dia desses.

É sexta a noite, e quando volto para meu quarto, a porta esta destrancada.
Lá vamos nós outra vez!
Lá está a ilustre patricinha de frente ao espelho, deslumbrantemente vulgar, em seu micro
vestido rosa. Tão original
Não demoro dois segundos para notar que existem malas sobre minha cama, todas rosa
bebe não precisava ser um gênio, para saber de quem era.

Pego as duas de uma vez, e jogo na cama que a alguns dias, funcionários trouxeram para o
quarto.
Cama que devia ser a dela.
Vou até a escrivaninha pegar meu IPod que deixei carregando, mas noto que não está lá

"- Aonde está? !"


Tento controlar a raiva, mas hoje não é um bom dia, e eu estou a um passo de ultrapassar a
linha.

"- Qual seu problema?" Ela ignora minha pergunta e volta a arrumar os cabelos, em minha
mente me vejo batendo a cabeça dela no vidro, batendo até não sobrar nada além de cacos
e sangue.

"- Não me teste cadela, não sou alguém que você deve brincar.

" Não, quem não deve mexer comigo é você. "


Ela vem se aproximando de mim

" Você vem aqui, surgindo do inferno, rouba meu quarto, e agora a mente dele. "

"- Eu vou perguntar a última vez. AONDE ESTA A PORRA DO MEU IPOD"

" - E esse é meu último aviso, sua retardada esquisita, É melhor ficar fora do meu caminho."

Então ela joga algo pela janela. Não, ela não.


Corro até a janela, mas não vejo nada além de grama e árvores. Ela não fez isso.
Me viro e ela está saindo pela porta, mas não é tão rápida, porque a seguro pelo longo
cabelo e puxo com força para trás, ela vem com tudo, como uma bonequinha de pano, a
empurro para frente em direção a parede esquerda e pressiono seu rosto no vidro do
espelho

" Agora, escute com atenção. Vou falar devagar para seu cérebro minúsculo entender.
Você não me conhece. Eu não sou uma criancinha de colegial. Eu não sou essas
menininhas do interior que você está acostumada. Eu não sou indefesa, e sem dúvida não
sou alguem que se deve provocar."

Ela se debate e tenta sair do meu aperto, mas como uma típica patricinha ela não faz ideia
de como brigar, prendo seu corpo com peso do meu, e sussurro em seu ouvido esquerdo

" - Eu realmente, estou a um passo de arrancar toda essa sua pele cheia de maquiagem, do
seu rosto. Então Andrea, eu te aconselho a ficar bem, bem longe de mim.
Se afaste Andrea, porque você não pode lidar comigo. "

Eu a solto e saio do quarto o mais rápido que posso, não querendo ouvir sua resposta.
Não ligo se parece que corri, não ligo para o que ela pode fazer com minhas coisas.
Preciso sair, porque estou a um segundo de ceder a voz em minha cabeça, e realmente
arrancar o rosto dela.

*Capítulo 12*
*Lembranças*

O barulho esta alto demais.


Não consigo respirar.
Então eu corro.
Corro para o mais longe que minhas pernas permitem.
Eu não tenho direção, sigo a avenida deserta e escura.
Meu peito dói tanto que quero me dobrar no chão e desaparecer, mas eu não paro, as
vozes em minha cabeça me mandam voltar lá, me mandam fazer com ela o mesmo que fiz
com o Tyler
Elas me mandam colocar fogo em tudo, e em todos

Eu quero fazer isso.

Você é um monstro

Você é louca

Tyler

Tyler está gritando para mim. Então, não existem mais árvores ao meu redor, e sim paredes
brancas iluminadas pela lua..

- Sua viciada você veio aqui roubar? !


Tyler grita, e me empurra na geladeira, estou tão tonta, meu estômago revira. Ele está
gritando, mas não estou ouvindo, ele parece engraçado, eu rio rio tanto, ele me bate. Estou
no chão, o faqueiro caiu junto comigo

- Você está louca. Além de viciada, agora você é louca. Acha que pode me roubar piranha ?
!

Chute, chute, minhas costelas doem, minha cabeça bate no armário ao meu lado.

A faca, pegue a faca.


Uma voz diz

Eu pego, ele se abaixa

- Você é patética irmãzinha.


A faca não entra totalmente em seu estômago, posso ver o pânico em seus olhos.
Ele cai para trás e grita, puxo a faca, então não paro, a faca entra mais fácil agora. Eu não
paro. Ele não grita mais. Eu não paro. Não escuto mais a voz. Eu não paro. Estou tão feliz.
Estou eufórica. Eu não paro. Estou rindo alto, posso me ouvir agora.
Me levanto e olho a lua cheia pela janela, a faca cai. Silêncio. Eu amo o silêncio.
Estou louca.

Sinto o impacto do asfalto em minhas pernas, as lembranças me atingem com tanta força,
que vomito tudo o que tinha em meu estômago.

O vento noturno me atinge, estou tremendo, porém posso respirar melhor agora, abro os
olhos, não a nada além de mim, árvores e quilômetros de estrada deserta. Estou sozinha,
não sei onde estou, fui longe demais? Não tenho forças para me preocupar. Me levanto e
faço a única coisa que posso, continuo andando.

Capítulo 13
Gato e Rato

Tem um carro atrás de mim.

Ele estava vindo ao longe, quando ouvi o som do motor. Estou super consciente de tudo a
minha volta. Continuo andando, tento pensar em algo, uma saída caso precise, posso correr
para a floresta, mas não conheço nada por aqui, posso me perder, ou acabar encontrando
problemas piores.
Ele está cada vez mais perto, continuo andando, mais rápido, você precisa ir mais rápido
Anna, mas de que adianta?
É um carro porra!!

Eu posso lutar, mas não tenho chances contra um homem grande, estou desarmada, deixei
meu canivete no quarto.
Ele está tão perto agora, dirigindo devagar não olho para trás, ele está brincando comigo.
Estou entrando em pânico.

Ele diminue mais ainda, os faróis atrás de mim, iluminam a estrada.

O pânico vence, eu corro.

O motor ruge, ele acelera e passa voando por mim e da um cavalo de pau, parando no meio
da estrada, bloqueando meu caminho.

Eu congelo, pense
ANNA. PORRA. PENSE.

Alguém sai do carro, adrenalina jorra em minhas veias, esta escuro não posso ver o rosto
de quem se aproxima.
Mas tanto faz não é?!
Estou exausta de tanto correr, é agora que vou morrer?

"- Ainda precisando de um cavaleiro de armadura brilhante Doll ? "

"- MEU DEUS ! "

Eu grito o alívio me assume, quase caio de joelhos. Parece que não estou pronta para
morrer, ainda não. Respiro uma, duas, três vezes, então a raiva volta

"- VOCE ACHA ISSO ENGRAÇADO?! SEU FILHO DA PUTA ?! "

" - Se eu dizer que sim, você vai me chamar de maníaco doente? "

" - Provavelmente "

Ele ri, e eu o acompanho, a tensão me deixando totalmente.


Não devia afinal, ele ainda é um estranho.

"- O que você está fazendo aqui? "

"- Caminhada"

" Sozinha? No meio da noite? Em uma estranha escura? "


Ele levanta uma sobrancelha, eu balanço os ombros

" - Venha, te levo de volta "

" - E se eu não quiser voltar? "

" Eu disse que te levaria a onde você quissesse lembra? "

Sigo ele até seu carro, e gemo ao entrar no calor dos bancos.
Tudo nesse carro grita a Peter. Estilo, classe, mistério e o cheiro.
Sei que vou lembrar deste cheiro pelo resto da minha vida.

" - Para onde? "

Abro os olhos e o encontro me encarando. Seus olhos sombrios fixos nos meus, como se
visse mais do que meus olhos azuis.
Sinto como se um força me puxasse para ele, me visualizo me inclinando em direção ao
seu corpo. Mas por fim não me movo, estou cansada demais para isso.

"- Você quem decide essa noite, bad boy"

Capítulo 14
Peter

Algo estava errado.

Foi só isso que pude pensar, quando a vi vagando perto da minha casa.

Os últimos dias foram agitados.


Tivemos que visitar cada fodido fornecedor, para como o Marcus adorava dizer, Aparar
arestas.
Eu não odiava tudo, porém não era feito para isso. Prefiro manter o controle de longe, sem
me envolver nitidamente, eu fornecia o dinheiro, era esse o trato firmado com sangue a
muitos anos atrás.

Eu não era o rosto para servir de fachada, Gabe adorava isso, não eu.
Eu preferia ficar no anonimato, era mais seguro, ninguém me reconheceria se tudo desse
em merda.
Porém parece que as coisas estavam mudando. Eu odiava isso.

Mas por mais fodidos que esses dias tenham sido, ela não saiu da minha cabeça.
Ficava indo e vindo. A pequena boneca de olhos azuis, sempre voltava a minha mente. Ter
o Gabe por perto não ajudava, ele falava dela quase tanto quanto eu pensava. Quase.

Ver ela andando sozinha na estraga, estava fazendo coisas sinistras com minha cabeça.
Eu sabia que era ela de longe, chame de instinto.

Porém tudo estava errado, a postura dela estava errada, não tinha confiança, não tinha
nada além de desespero.
Brinquei com ela, não pude me conter, era tentação demais, queria sentir o medo dela, o
pânico. Talvez isso traga a Anna do primeiro dia devolta. Funcionou, apenas por cinco
minutos, então ela voltou para seja lá que demônio que a estava corroendo.

"- Para onde ?"


Ela me olhou por três segundos inteiros, um mar de desespero refletiu em seus olhos, pela
primeira vez na vida, o sofrimento de alguém nao me agradou, pelo contrário. Me deixou
louco.

"- Essa noite você decide badboy"

Essas palavras explodiram minha mente, ela confiava em mim? Justo em mim? Justo eu
que sonhava fazer coisas terríveis com ela?

Tão ingênua.
Tão quebrada.

Liguei o carro e tentei pensar no que faria, olhei para ela que mantinha um olhar perdido
nas árvores. Acelerei e nos levei para o único lugar que me veio em mente, o único lugar
que me dava paz.

Capítulo 15
Paraiso escondido

" - Onde estamos? "

Perguntei assim que paramos em um trecho sem saída da pequena estrada de terra.
Estávamos nela a alguns minutos, nossa viagem foi curta e silenciosa.
Foi um alívio.

Peter nada responde e sai do carro, observo ele pegar algo do porta malas. Será que isso
foi um erro? Eu realmente não tenho forças para me parar hoje a noite. Saio do carro e o
sigo até a borda da floresta, então fico incerta.

" Você não vai me matar vai?"

" Talvez. Mas só iremos saber quando a hora chegar, tenha paciência doll"

Não sei se ele está brincando ou não, ele se aproxima e liga uma lanterna. Ah então foi isso
que ele pegou, Peter me estende a mão e eu a pego, entramos na negra floresta, alarmes
soam na minha mente, porém resolvo deixa-los no carro, junto do medo e da minha cautela.

Andamos por minutos, tropeçando em raízes, ou melhor eu tropeçava, ele se movimentava


como um gato, completamente avontade na escuridão, algo vem a minha mente.
Se ele for um assassino como eu, eu nunca conseguiria fugir dele nessa floresta. Estou
imersa em pensamentos que não noto o barulho rítmico que está cada vez mais alto. Seria
água?
Provavelmente, estávamos no estado dos grandes lagos.
Peter desliga a lanterna e a escuridão total me cega, ele segura minha mão e me conduz
entre as raízes, energia parece fluir de seu corpo para o meu, eu suspiro, então a luz da lua
começa a refletir entre as árvores, damos mais alguns passos entre os arbustos e então
"- Puta Merda "

"- Sim, essa é uma boa definição"

A visão é tão impressionante que perco o fôlego, não noto que estou me movendo até a
água congelante tocar meus pés.

A minha frente uma modesta cachoeira brota milagrosamente da enorme montanha de


rocha negra. Suas águas desabam constantemente em uma piscina natural de bom
tamanho, a água parece bem funda, pois mesmo a luz do luar, é tão negra quanto os olhos
do Peter.

Observo em volta, o local é tão escondido entre as árvores que se Peter não tivesse me
trago aqui, nunca encontraria, mesmo se procurasse por ela.

Sinto como se existisse uma energia me puxando para ela. Em transe começo a entrar,
ignorando a água gelada, ou o fato de estar de roupa.
A água toca minhas coxas e eu ofego, ok, é bem fria.
Ouço uma risada fraca, e me lembro que não estou sozinha, Peter está parado a borda da
água, me observando

" Obrigada por me trazer, isso é"

"- Incrível, eu sei "

Ele tira os sapatos , então as calças, Ele vai entrar.


Me viro e começo a entrar mais na piscina negra, tentando ignorar o fato dele estar tão
próximo de mim

" O que aconteceu Anna?"

Não respondo continuo avançando, a água bate em meu peito agora. A água ondula, ele
está se aproximando, me viro e ele está ali, vindo em minha direção, tatuagens marcando
seu peito nu, seus olhos fixos em mim.
Meu corpo treme, não sinto mais frio.
Não me toque!
Ouço meu próprio grito, mas Peter não se altera, eu disse isso? Ele está a um metro de
mim agora
Me solte!
Ouço novamente, esta na minha mente.
Não de novo não. Sem pensar afundo.
Água gelada tampa meus ouvidos, pequenas agulhas entram em meu rosto, mergulho mais
fundo.

Não!
Me solte! Por favor!
Não vou contar para ninguém. Me deixei ir! Por favor!
Papai!

Ouço a mim mesma gritando, são lembranças eu sei, vou mais fundo, meus pulmões
ardem, eu ignoro.
Estou tão fundo que não vejo mais a luz da lua, não tenho certeza de onde é a superfície.

Não me importo.

E se eu não voltar? E se eu me manter aqui? Tudo pararia, as vozes, as lembranças, a dor.

Mas de que isso adiantaria?


Vejo o rosto do meu pai deitado na cama segundos antes de morrer, ele sorriu, mesmos
sem forças para segurar minha mão, ele me olhou e sorriu.

Eu não posso.

Não Posso.

Começo a nadar para a superfície o mais rápido que posso.


O ar frio da noite me atinge como uma bofetada, eu arfo, o buscando.
Meu peito queima a medida que o ar entra. Abro os olhos, Peter está próximo de mim
arfando, ele também estava lá embaixo?

Capítulo 16
Magnetismo

O carro para em frente o dormitório augustine, aparentemente Peter tinha acesso livre no
campus, porque os seguranças nem se importaram quando ele passou pelos portões

"- Você vai me contar o que está acontecendo com você? "

Estavamos em silêncio desde que saímos da cachoeira, sua jaqueta pende em meus
ombros, minhas roupas molhadas colam em mim como areia

Eu estou cansada, porém mil quilos mais leve. Não tenho forças para levantar nenhuma
barreira essa noite, olho para seu rosto e sou mais sincera do que já fui em minha vida

" - As vezes, os demônios falam alto demais, então você precisa tentar sair antes de escuta-
los."

" -Talvez, você devesse escuta-los"

"- Não é uma boa ideia"

" - Por que?"

" - Porque quando se dá ouvidos uma vez, é quase impossível parar, se torna um vício."
Não falamos nada por vários minutos, não tenho vontade de sair, não sei se ele se importa

"- Se pudéssemos habitar uma pele diferente. A vida se libertaria e o mau poderia seguir o
seu destino, livre de julgamentos e remorsos"

"- O Médico e o monstro"

"- Sim, dizem que todos temos um pouco de cada um. Então a questão é, Qual deles você é
agora doll? "

Olho para ele, não há espaço para mais nada em minha mente agora, nada além dele.
Como se um imã gigante me puxasse, em um micro segundo, estou em seus braços.

O mundo desaparece, eu desapareço.

A força que nos atinge é arrebatadora, energia corre em mim como um raio.

Eu posso sentir em meus ossos. Posso senti-lo em todo lugar.

Suas mãos correm meu corpo como se ele o pertencesse. Talvez esteja certo, a medida
que ele me beija, aprofundando, reivindicando, punindo. Sei que cada pedaço de mim é
dele.

Estou em seu colo agora, o volante pressiona minhas costas, estou super consciente de
cada sensação.
Sua boca me deixa e eu choramingo em protesto, ele me morde em resposta, forte, sinto o
leve gosto do meu próprio sangue, isso me atiça ainda mais, sou doente.
Eu sei, não me importo.

Com ele nada disso importa.

Minhas mãos seguram seu cabelo puxando, o trazendo para mim ainda mais, ele me aperta
em resposta, uma de suas mãos deixa minha bunda e se prende em meu cabelo, eu sei o
que ele vai fazer, porém nada me impede de gemer alto, quando ele puxa meus cabelos
para trás com força.

Tombo para trás sobre o volante, Meu pescoço se estende, meus olhos estão fechados,
porém sinto minha pele formigar, ele está me olhando.

Me ajeito em seu colo, minhas pernas uma de cada lado de seu quadril, eu rebolo. Ele
geme. Eu vejo estrelas, eu amo sua voz. Eu amo a ereção monstruosa abaixo da mim. Eu
amo sua língua correndo por toda a extensão do meu pescoço.

Mas eu preciso de mais, forço meu corpo para frente, ele não me deixa me mover, então
puxo seus cabelos tão forte quanto posso. Ouço um rosnado. Sim, sua boca volta para
mim. Estou no céu. Preciso dele mais perto.
Uma batida no vidro me assusta, eu pulo, porém ele não me solta.
Um segurança está do outro lado, a lanterna ilumina nossos rostos, tento sair do colo do
Peter, mas ele não deixa.
Seu rosto vai de tesão, para ódio mortal em um piscar de olhos, eu tremo, ele fica ainda
mais irresistível assim.
Uma de suas mãos me solta e abaixa o vidro.

"- Senhor McCoy, sinto muito interromper, mas temos ordens para fechar os portões às 3
horas da manhã, sinto muito, mas o senhor não pode ficar."

O segurança de meia idade gagueja como se estivesse olhando para o presidente do país.
Peter não diz uma palavra, mas se eu estivesse na direção daquele olhar que ele está
dando, me mijaria. O segurança pisca esperando pelo pior. Não sei o que esta rolando aqui,
muito menos o porque ele está tremendo por estar repreendendo um cara que tem no
mínimo, 10 anos a menos que ele, mas mesmo assim, sinto pena.

"- Ele já está indo Senhor, obrigada por nos avisar"

O segurança tenta esconder a expressão de alívio, porém não consegue. Ele se vai, e eu
tento sair mais uma vez do colo do Peter, dessa vez ele deixa.
Tento me arrumar o máximo que posso antes de sair, porém ao abrir a porta ele me segura

" - Todos temos um lugar no mundo, doll. Talvez seus demônios estejam te dizendo o seu."

Ele me solta e saio do carro, observo ele ligar o motor e se afastar. Neste momento meus
demônio, dizem que meu lugar é naquele carro, com ele.

capítulo 17
Sociopata ou Psicopata?

"- Distúrbios comportamentais estão ligados a aspectos emocionais e sociais. A família e o


meio social em que o indivíduo está, influenciam diretamente seu comportamento e
personalidade. Tornam-o calmo e tímido, ou agressivo e violento. "

Professor Branner falava para a classe atenta, mas eu apenas faço desenhos desconexos
no caderno, tentando ignorar tudo aquilo.

"- Senhor, como diferenciamos um transtorno comportamental simples, do transtorno de


personalidade antisocial?

"- A diferença nem sempre está clara senhorita Bleic. Todos somos frutos de manipulações.
O que é certo para uma pessoa, pode não ser para outra.
Porém, temos uma base moral na sociedade.
E quem tem Transtorno de personalidade antisocial, possue atitudes e pensamentos
disfuncionais, que não se enquadram nestas normas morais. Não faz distinção de certo e
errado, não considera pensamentos, desejos e sentimentos dos outros."
"- Um psicopata?"

"- Sim e não senhor Jonas. É justo esse o ponto em que especialistas divergem entre
Psicopata e Sociopata."

Ele faz uma pausa e levanto meu olhar, a sala da turma de psicologia é a mais cheia, mas
todos como sempre me ignoram, inclusive o professor, acho perfeito. O professor continua a
falar e eu volto para meus rabiscos.

"- Ambos possuem TPA, porém um psicopata nasce com temperamento delineado, é
calculista, manipulador, e extremamente inteligente.
Não tem medo ou consciência de moral coletiva. Eles geralmente ignoram sentimentos dos
demais, porque ele mesmo não os possui, seu cérebro já nasce com características neurais
diferentes. Já o Sociopata não nasceu com a doença, geralmente se desencadeia em
pessoas que sofreram traumas na infância. Estupro, violência doméstica ou perda grave,
por exemplo "

Eu congelo, sinto como se me olhassem, mas sei que é paranoia, eles não poderiam saber.
Ninguém além de minha mãe, o médico da família e eu sabe. E claro, o Tyler e seus
amigos, mas eles não podem mais contar a ninguém não é mesmo?

Respiro fundo, tudo que eu quero é sair da sala, mas estou presa na cadeira, não quero
ouvir nada daquilo, porém é inevitável.

"- Quais são as características de um Sociopata?"

"- Eles são impulsivos e violentos, agem por instinto, são imprevisíveis, mas possuem a
consciência que o psicopata não tem, senhorita Bleic.
Ele sente, sente amor, medo, o pânico e a vergonha. Ele pode desenvolver vínculos com
familiares, amigos ou animais.
Um Sociopata tem sentimentos, um Psicopata não, ele apenas os finge para se misturar a
sociedade, ele não se apega a nada além de si mesmo."

-"- Então Psicopatas nascem, Sociopatas são criados."

Eu não posso, não posso escutar mais nada. Recolho minhas coisas e saio da sala sem
perdir permissão, sem ouvir a resposta do professor, muito menos me importando que essa
seja apenas a primeira aula do dia. Abro as portas e saio sem olhar para trás.

Capítulo 18
2%

Estou tendo um ataque de pânico. Não consigo respirar enquanto não saío do prédio. O
campus está vazio, claro que está, estão todos em aula.
Estou distraída tentando acalmar meu coração que não escuto as portas atrás de mim, um
toque em meu ombro me faz pular

"- Hey, desculpa, não quis te assustar, você está bem?"


Uma minúscula menina de óculos vermelhos, olha para mim, seus cabelos castanhos são
curtos, cortados em um corte estiloso. Se não estivesse tão ofegante eu poderia ter
elogiado, ou não. Definitivamente não.

" Você deu um show e tanto lá dentro. O professor ficou olhando para porta como um
idiota." Ela dá uma risadinha e continua " foi hilário."

Endireito minhas costas, minha bolsa está caindo do ombro, estou desconfortável, porque
ela está falando comigo mesmo? Penso em sair andando, mas ela parece perceber

" Sabe, você não parece ser do jeito que falaram"

" Como assim?"

" Você é a garota de fora, que está saindo com os solteiros mais desejados da cidade"

" Não estou saindo com ninguem"

Começo a andar e adivinha? Ela me segue.

" Não é o que dizem. Sem falar que cerca de 98% das pessoas aqui já te odeiam só porque
o Gabe e o Peter,não estão fazendo o habitual cercar, pegar e largar. "

" Isso não é problema meu"

" Mas devia, sabe garotas podem ser selvagens quando alguém mexe no território delas."

Essa conversa de território, eu já estava de saco cheio. Porra isso é uma faculdade, mas
parece que voltei para o ensino médio.

Chego em frente ao dormitório, mas a garota ainda me segue, subimos as escadas em


silêncio até que ela para na porta em frente a minha. Maravilha.
Abro e quando vou entrar a voz dela me para

" Sabe, elas dizem que você não passa de uma vadia estranha e oferecida. Mas sabe o que
eu vejo quando olho para você? "

Espero que a porta se fechando e meu silêncio, sejam claros sinais que não estou
interessada no que ela acha ou diz, mas ela não para de falar, o que a com essas
pessoas ?!

".. Eu acho que você, é só alguém que passou tempo demais sozinha "

Fico olhando por alguns segundos e não consigo conter as palavras

"- Você disse que 98% das pessoas daqui me odeiam. Mas não disse em quais você se
encaixa, nos 98% ou nos 2%."
Ela apenas ajeita os óculos,e abre a própria porta, desisto de esperar e começo a fechar a
minha

" Alias, meu nome é Victoria Bleic, mas você pode me chamar de Vick"

E entra no seu quarto. Me deixando sem saber se é amigável ou não.

Não que eu me importe.

Fico parada me olhando no espelho, será que sou tão simples e fácil de ler assim?
Meu celular toca, porque esta tocando? Ninguém tem meu número.
Meu coração bate apressado.
Não pode ser, não entre em pânico!

Pego e nele tem duas mensagens de números diferentes. Respiro fundo e aperto o celular.
Fico olhando para a caixa de mensagens por alguns segundos e então a abro

" Só porque é viciante, não quer dizer que seja ruim"

..

" Ponha essa bunda gostosa numa calça jeans, e me encontre lá embaixo."

Mais mensagens chegam, e não estou mais tremendo

" Nem pense em fingir que não está, te vi entrar. Agora vai logo caralho, odeio ficar
esperando."
....

" Só para o caso de você ter esquecido. Você me prometeu um passeio, e como seu
orientador meu dever é te orientar. Agora vai logo Porra! ou vou aí te buscar! "

Não percebo que estou sorrindo, até ver meu próprio reflexo quando o celular apaga.

Não sei como eles conseguiram meu número, mas por hora não me importo. Corro pelo
quarto e troco minha saia por uma calça.

Talvez a Victoria esteja certa.


Estou sozinha a tempo demais.

Capítulo 19
Liberdade

Abro as portas e lá está o senhor Evans, em toda sua glória, sentado confortavelmente
sobre uma Harley Davidson.
Tomo o fôlego, e paro alguns segundos para admirar a visão.
Ele está parado olhando o campus, porém parece alheio a todos, um cigarro pende em
seus lábios, seus dedos batem incansáveis sobre o guidão da moto, alguns talvez
pensariam que o movimento surge de uma música interna, mas tenho um palpite que seja
um tique, como se seu corpo não suportase ficar parado.

Sob o sol, suas tatuagens de chamas parecem reluzir, como se o fogo estivesse vivo.
A visão é estonteante.

Peter pode ser a personificação do badboy. Porém, olhando para Gabriel em minha frente,
vejo que ele, não é o único garoto mau dessa cidade.

Como se me ouvisse, ele vira o rosto e me olha, o típico sorriso convencido surge em seus
lábios. Sim, tenho certeza que o panaca, sabia que eu estava admirando.

"- Se você continuar me olhando assim, vou ser obrigado a esquecer minha promessa de
ser bonzinho hoje"

" - Alguma vez na vida você foi bom? Ou cumpriu uma promessa, Gabe? "

Ele olha para mim com um olhar tão intenso e pecaminoso, que juro que se ainda estivesse
de saia, minha calcinha cairia.

"- Não, não mesmo"

Me aproximo e monto atrás dele, o motor vibra entre minhas coxas, passo os braços em
volta da cintura do Gabe, e me lembro

"- Capacete? "

"- Sabe, o que seria da vida, sem um pouco de perigo, não é mesmo? "

Respiro fundo e aperto meus braços mais firmes quando saímos a toda velocidade. E entre
olhares e cochichos, posso notar algo que não tinha sentido antes, Gabe cheira a sol e
gasolina.

Estamos indo tão rápido, que as árvores são apenas um borrão, o vento chicoteia meu
rosto, e meu cabelo vai em todas as direções.

Meu coração bate como uma bateria louca e incansável, adrenalina jorra em minhas veias.

Me sinto tão livre, indomável... poderosa.

Solto uma de minhas mãos do abdômen de aço do Gabe, e a estendo ao meu lado,
coragem brota em minha mente, solto a outra mão, então fecho meus olhos e inclino meu
rosto em direção ao sol acima de nós.

Em minha alma, sinto crescer um rugido, que vai aumentando, tomando todo meu ser. Ele
cresce em meu peito, cada vez mais poderoso, cada vez mais incontrolável.
Sinto uma mão em minha coxa, me segurando, então como uma bomba eu explodo,
colocando para fora um grito tão alto, que treme meu peito.

O som carrega tudo de mim, toda a raiva, ódio, culpa, todo o medo e tristeza.

Todos os meus demônios.

Em um grito eu liberto meu espírito sobre aquela estrada

A voz de Gabe me acompanha, e juntos, como dois pássaros de fogo, nós queimamos o
mundo.

Estou livre

Capítulo 21
Pedrinhas

Passávamos pelas ruas como se elas não existissem.

Voavamos entre os carros, como se nada mais importasse.

Gabe não ligava se estava bem acima do limite de velocidade, ele não ligava se tinha
pessoas na rua, ele não diminuía, ele não parava por nada, não esperava por ninguém.
As pessoas apenas corriam para sair da frente

Ele apenas ria, ria como um menino ri enquanto queima formigas com uma lupa.

Seu peito tremia, eu apertava meus braços cada vez mais firmes envolta dele, minhas
coxas pressionando seus lados com força. Era como se ele fosse dono de tudo e todos.

Por mais doente que fosse, por mais perigoso que fosse, eu não me importava, estava
amando cada segundo.

E quando passamos pelas cidades vizinhas e chegamos em um enorme lago, eu estava


rindo como uma criança também.

Encostamos a moto próximo a uma faixa de areia, e fomos andando, era como se eu fosse
outra pessoa.

Essa não era eu, eu não caminhava pela praia ao lado de um cara

Me virei e notei que Gabe olhava o lago fixamente, seu olhar perdido

" - Hey"

Ele me olhou e foi como se colocasse uma máscara, seu rosto mudou totalmente, voltando
para o típico Gabe.
"- Hey, doll "

" - Ah não, você também? "

" - Também o que? "

" - Me chamando de doll, por que? "

Ele me olhou intensamente, seus dedos tocaram o centro de minhas sobrancelhas.

" - São esses olhos. São extremamente expressivos, e você é baixinha.


É como uma boneca de olhos grandes demais.."

" - Isso era para ser um elogio? "

" - Sim, sabe minhas habilidades vão além de lugares específicos "

Ele se insinua com os quadris e eu caio na gargalhada.


Me sento em um trecho de rocha negra, e fico olhando o sol alaranjado do entardecer.

Gabe encosta ao meu lado e ficamos em um silêncio confortável por alguns minutos, mas
algo não se encaixa

" - Sabe, quando você falou sobre diversão, imaginei milhões de coisas, mas passear na
areia ao por do sol, definitivamente não foi uma delas."

" - Achei que no primeiro dia, nos tínhamos decidido que aparências enganam. Tenha mais
fé mim, Anna"

" - Não sério, eu sei. Mas o que quero dizer, é que você me surpreendeu. Parece que você
é uma caixa de surpresas senhor Evans"

Ele resmunga, pega uma pedra e joga no lago, a pedra da vários pulinhos até finalmente
afundar

" - Não me chame assim, porra. Já falei, me chame de Gabe, odeio esse maldito
sobrenome "

" - Por que?"

Assim que pergunto me arrependo, pois ele se levanta e se afasta alguns passos, espero
ele voltar, mas ele não faz

Que merda eu fiz?


Porra Anna!!!

Me levanto e vou até ele, sua expressão é tão fechada que me assusto, nunca vi esse lado
dele

"- Gabe, desculpa, eu não quis"

"- Sabe, eu e o Peter vivíamos vindo aqui quando crianças. Nossas mães ficavam ali, na
pedra onde estávamos, enquanto nós brincávamos de tentar afogar um ao outro no lago "

A mudança de assunto, e a confissao são tão repentinas, que fico alguns segundos quieta.
Então tudo me atinge

Eles cresceram juntos.

Não quero empurrar mais, muito menos fazer uma pergunta errada, então fico quieta.

Fora aquelas horas com o Peter, esses são meus únicos momentos de paz em anos, não
quero estragar

Pego uma pedrinha e tento jogar como ele, obviamente sou um fracasso.
Tento mais quatro vezes, ele gargalha

" - Caralho, você é péssima nisso"

" - Ei me de um desconto, eu não nunca fiz isso antes"

" - Como isso é possível? Toda criança aprende a jogar pedrinhas, que tipo de infância
você teve?"

Então é aí que eu me recolho para a concha.


Não digo mais nada, sinto lá no fundo de minha mente, os sussurros voltando

Nunca fico totalmente em paz.

Acho que estou tão quieta que ele percebe, porque me chacoalha levemente, seus olhos
cor de água me deixam sem ar

" Acho que é minha vez de pedir desculpas"

" Não precisa, você não falou nada demais, o problema esta na minha cabeça. Eu.. "

Respiro fundo, uma, duas, tento me concentrar em não falar nada demais

" - Tive uma infância difícil "

Ele me olha intensamente por três segundos inteiros, então se abaixa pega várias
pedrinhas e coloca em minha mão

" - Então vamos fazer tudo que você perdeu."


Passamos os próximos minutos, tentando me fazer jogar as malditas pedras.

Minutos inúteis, e desperdiçados

Sou terrível.

Mas Gabe não desiste até que eu consiga acertar uma, leva quase uma hora até eu
conseguir jogar uma, ela dá 5 pulinhos e afunda.

Eu grito em vitória, e em segundos estou nos braços do Gabe, rodando, rodando como uma
criança.
Eu rio, rio tanto que meu estômago dói.

Levo alguns segundos para me recompor, mas não consigo perder o sorriso.

Percebo que isso nunca aconteceu comigo.

Eu não sabia o que era rir assim, não até conhecer um certo loiro de sorriso arrasador e
boca suja.

Chegamos ao campus logo após anoitecer, estou exausta e satisfeita.

Isso é felicidade?

Desmonto da moto, pego um cigarro que comprei no caminho e acendo.

A fumaça adocicada enche meus pulmões, sinto a nicotina entorpecendo meu cérebro e
relaxo.
Fumar foi um dos vícios que deixei para trás, porém depois de hoje, não acho que um
Marlboro vá mudar minha situação.

Gabe estende a mão e rouba meu cigarro

" Hey isso é meu! !"

" Não seja falsa, sei que você está doida para por a boca, em algo que esteve na minha"

Reviro os olhos, talvez não seja má ideia, porém fico quieta, não vou dar esse gostinho a
ele.

Duas garotas se aproximam de nós, uma delas esbarra em mim de propósito

" - Gabriel você está tão lindo hoje. Achei que você ia me ligar "

A menina seria bonita, se sua voz não parecesse a risada de uma hiena.
Gabe sorri, mas é um sorriso venenoso.
Um sorriso que eu acreditava, que apenas mulheres podiam dar.
Mas nele fica perfeito, mortal.
Era como se ele o tivesse inventado

"- Você achou mesmo que eu ligaria? Não seja patética."

"- Mas Gabe, você me prometeu um convite para festa, estamos esperando isso o ano
todo"

As duas garotas dão risinhos, e fazem beicinhos, reviro os olhos, ridículo.

Gabe as ignora e me estende o cigarro, eu trago a fumaça e o devolvo

Elas me lançam olhares ácidos, olhares que ele percebe.

Tudo acontece rápido, em um segundo ele está olhando para mim, no outro alguém que
nunca tinha visto, toma o lugar do Gabe habitual.

Seu rosto se transforma, fica mortal, me lembra o olhar que Peter deu para o segurança.
Só que dessa vez, não sinto pena de quem é o alvo

"- Vocês tem dois segundos para saírem na minha frente, antes que eu passe em cima de
vocês com minha moto"

O olhar dele diz tudo, não era um blefe, mas elas não eram inteligentes

" - Você não vai trocar nos duas por isso, vai? Você já esqueceu de como podemos te
agradar "

O insulto me deixa louca, mas não reajo, ela põe a mão na coxa dele, e eu tremo

Você não pode tocar PORRA

Vejo Gabe se inclinar e sorrir largamente, seus olhos fixos nela, que está hipnotizada.
As duas estão, seria sedutor, se eu não notasse a mão dele se movendo em direção a coxa
onde está a mão ela

Ele está segurando o cigarro.

Eu sinto o que vai acontecer, algo em meu interior se remexe

Sim, ele vai fazer


Sim, eu quero ver

O fogo entra em contato com a pele, elas gritam, uma de susto, outra de dor.
Eu não consigo conter, começo a gargalhar como uma louca
Foi hilário

Eu paro, e ele está me olhando, as garotas correm para longe.


Algo se passa entre nós, uma tensão.
Ele se move como em câmera lenta, me puxa para perto pelos bolsos de minha blusa.

Sinto seu cheiro novamente.

Sol, ele cheira a sol

Ele se aproxima mais, e inconscientemente me inclino, seu nariz corre o caminho de minha
bochecha, até meu pescoço.

Ele retira meu cabelo do caminho, dando mais acesso

Lentamente, refaz o caminho, então sobe até minha orelha, e deixa um pequeno beijo bem
abaixo dela, eu estremeço

Ele mal encosta, seu hálito quente arrepiando cada pedaço meu

" Vá a festa Anna, é a chance de colocar para fora, quem nós realmente somos "

Sua voz faz meu corpo vibrar, ele vai me beijar, sei que vai, eu posso sentir

Mas ele não faz, eu quero gritar de frustação e puxa-lo para mim, mas ele se afasta, e em
sua mão está minha caixa de cigarros.

Como eu não notei?

"- Mestre do disfarce "

Ele diz e sorri, acende um cigarro e põe a caixa novamente em meu bolso

" Vou tentar me lembrar"

Me afasto quando a moto ruge, ele se vai sem olhar para mim novamente

Fico olhando o local onde a moto estava, me perguntando o porque ele quer tanto, que eu
vá a sua maldita festa.

E o porque eu realmente quero ir

Capítulo 21
Aquário

" - Sério, porque você fica tão nervosa quando eu falo sobre a festa? É só uma festa Anna,
qual o problema você ir?

Quatro dias depois,


Victoria provou que fazia parte dos 2% que não me odiava, e isso quer dizer que ela está
grudada em mim desde a manhã seguinte ao passeio que fiz com Gabe.

Ela era irritante e tinha a língua afiada. Me dói dizer, mas eu meio que gosto dela.

Mas agora, que ela estava pela centésima vez me questionando sobre minha relutância em
ir a festa, eu estava realmente mudando de ideia sobre gostar dela.

Respiro fundo e começo a guardar meus cadernos na bolsa, as aulas estavam correndo
bem, mas depois de meu ataque na aula de psicologia, parece que todos os cochichos
pioraram

Perfeito

"- Se você está tão animada, porque não vai você?"

"- Eu não posso, tenho que viajar esse final de semana, coisas de família. Mas estou
pirando por perder, nunca mais conseguirei um convite"

Ela ajeita os óculos e olha para Andrea, que sai da sala cercada de amigas. Depois do
nosso pequeno conflito aquela noite, ela nem se quer olhou em minha direção.

Garota inteligente

Eu meio que estava esperando que fizesse algo

Aparentemente ela estava mudando de quarto naquele dia, e o mais chocante era o fato da
minha colega de corredor, Victoria, ter me contado que ambas eram amigas de infância, o
que me fez tentar evitar ela ainda mais.
Mas como é costume das pessoas daqui, ela ignorou e colou em mim como carrapato

Aparentemente Andrea, não levou isso bem, e passou a ignorar Victoria também

Lembro-me de seu surto, por que eu estava roubando tudo dela.


Quase tive pena

Quase, ai então me lembro de meu IPod quebrado, e quero ir até lá, e arrancar seus olhos
pesados de rímel

Mas até agora não fiz nada, por mais que queira

Viu como sou boazinha?

As vejo se afastar enquanto caminho para os dormitórios, suas amigas me olham e


começam a rir
Talvez Gabe estivesse certo

Bondade é superestimada.

Não falo, nem vejo Gabe e Peter a dias, era como se eles tivessem desaparecido do mapa.
O que parecia fazer as pessoas me olharem mais ainda.

Fico pensando se meu pai tinha ideia de como essa cidade era, quando disse que me
queria aqui

Será que ele se incomodaria com o fato de que toda vez que saio do quarto, me sinto
dentro de um aquário, sendo observada?

Os julgamentos realmente não me importam, nunca liguei para o que pessoas de fora
pensariam de mim

Mas o fato desse lugar ser tão estranho, está atrapalhando meu disfarce.

Eu não sou um peixe para estar em um aquário

Estou me afogando rapidamente

Os únicos momentos em que tenho paz, são quando estou com Gabe e Peter, e isso
também não ajuda em nada meu estado mental

Eu não sou burra


Sei que existe algo estranho e perturbador, por trás de toda essa pose deles

Nenhum jovem correto inspira tanto medo e frisson

E também sei que está rolando algo entre nós

Talvez seja apenas atração

Mas os dois me atraem de uma maneira tão visceral, que me assusta

Eu não quero me envolver, eu não posso.

Sinto que estou enlouquecendo

Me sinto desesperada por ar

Preciso de algo, que me ponha de volta nos trilhos

Porque se não

Porque se não, nada vai ter válido apena


Ter cruzado o país, sem parar para descansar, sem olhar para trás, e colocado quase todo
o dinheiro do Tyler nessa faculdade, por um sonho que nunca foi meu, não terá adiantado
nada

Seguir o sonho de meu pai, não vai valer de nada, se eu acabar me perdendo no processo

Quanto tempo você pode ficar perdido em si mesmo, sem enlouquecer?

- Anna?!
- Anna?!

Sou chacoalhada e noto que não estou mais andando, estava perdida em pensamentos.
Victoria me lança um olhar estranho

" - Garota, você precisa MESMO relaxar"

" - O que realmente acontece nessas festas? Nunca vi pessoas tão desesperadas, por uma
festa de fraternidade "

Ela me olha como se eu fosse louca, eu rio por dentro

Porra, ela não podia estar mais certa

" Não é uma festa de fraternidade! Não existem essas coisas aqui.
E eu não sei o que acontece lá, ninguém sabe.
Aqueles que ganham os convites, parecem não falar de nada que rola lá. Nada entende?
Nem uma palavra se quer"

"- Muito Estranho."

"- Exatamente, é por isso que é tão legal. Todo esse mistério instiga "

Reviro os olhos e começamos as subir as escadas, ela continua falando, mas dessas vez
se aproxima e sussurra

" - Mas uma vez, ouvi um boato. Que uma garota desapareceu na festa.
A família procurou por ela, a polícia revirou tudo por meses, mas não encontram nada.
Aparentemente, ninguém a viu. É como se ela nunca tivesse existido."

"- Isso me parece lenda urbana, de cidade do interior Vick"

"- Talvez, mas uma coisa eu sei, as festas do Gabe, Peter e Marcus, são esperadas por
todos. E elas só acontecem uma vez por ano, ninguém nunca sabe onde é, e elas nunca
acontecem no mesmo lugar. Sabe, é como o Halloween. Todo mundo fica desesperado,
para descobrir quem está por trás das máscaras."

Nos despedimos, e eu entro em meu quarto pensando no que ela disse sobre máscaras.
Eles falaram algo parecido

Liberdade para ser você mesmo

Eu não quero tirar minhas máscaras.

Porém Vick, pela segunda vez acerta, estou desesperada para ver o que se esconde, atrás
das máscaras do Gabe e do Peter.

Capítulo 22
Sonho

" Estou flutuando sobre as águas


Acima de mim, uma galáxia de estrelas me observa
Me sinto como uma deusa, que adormece sob seu cobertor celestial

Mexo meus braços, as águas geladas fazem carícias suaves em meu corpo escaldante

Sinto-me me afundar levemente, então braços fortes me erguem

A visão do céu noturno é obstruinda

É ele

Sempre é ele
Seu olhar me suga, como um buraco Negro

Uma de suas mãos se move


e a sinto tocar meu tornozelo e ir subindo levemente pela entre minhas pernas
Cada centímetro que ele toca se incendeia
É torturante
É delicioso
Seus dedos sobem cada vez mais, e enfim tocam o ápice entre minha pernas
Eu arfo
Seus dedos circulam meu clitóris suavemente
Estou enlouquecendo, porém não desvio meu olhar dele
Não Posso
Ele não para
Eu estou a beira do abismo
Ouço seu suspirar
Sim, ele nota também
Então me penetra rápido e duro com dois dedos
Eu me desfaço em um grito

E então afundo
Ele não diz nada, nem se move enquanto me observa afundar
Eu me afogo."

Acordo sufocando
Tento respirar, mas não consigo
Me debato tentando me livrar da mão que prende meu ar

Eu chuto e me contorço

Então a mão desaparece


O ar enche meus pulmões

Abro os olhos e não vejo nada além de escuridão


Aos poucos minha visão retorna

Estou em meu quarto


A luz da lua me ilumina

Não existe mão

Eu estava sonhando

A água, seus olhos, seus dedos, as estrelas.

Levo minhas mãos sob meu short e encontro as provas de meu sonho

Sim, foi um sonho


Não pesadelo, não ouve sangue, nem dor

Um sonho.

Eu sorrio

Meu celular toca, me estico para pega-lo


Uma mensagem reluz

"Nos portões, Agora."

Peter.

Uma voz no fundo de minha mente sussurra, ela diz que devo ignorar e voltar a dormir.
Ele me afogou no sonho, foi um sinal.

Porém eu me levanto, e coloco a primeira roupa que vejo e saio correndo pela tempestade
que castiga o campus

Eu corro, porque o resto das vozes, aquelas que eu sempre ignorei, me dizem onde preciso
estar
Hoje a noite, minhas barreiras estão no chão

E eu estou em suas mãos.

Capítulo 23
Peter

Eu estava lá a meia hora, me debatendo se a fazia vir até mim, ou se ia até ela

Mas de um jeito ou de outro, eu a teria essa noite

Em meu sonho ela estava nua dançando sobre uma piscina de sangue.

Ela me olhava, me chamava


E quanto mais eu nadava, mais longe ela ficava de mim

Eu gritei em meu odio


Mas ela continuava se afastando

Acordei e não sei nem como consegui chegar no meu carro

Eu só sabia que não podia mais esperar, não podia mais ignorar

Desde o primeiro dia, ela me atraiu, mas depois daquele beijo


A maldita começou a brincar com minha cabeça

Eu precisa ter ela,


Ou isso ia acabar muito mal

Mandei a mensagem e esperei, eu estava a pronto para ir e arrasta-lá, quando a vi ao


longe, correndo sob a tempestade

A visão me enlouqueceu

Ela corria como uma louca, uma selvagem

E quando entrou no carro eu quis rasgar suas roupas e a foder bem ali, contra os bancos de
couro.

A tempestade que caia lá fora, não era nada comparada a ela

Porque assim que ela olhou para mim notei que Anna,
era mais poderosa que qualquer força da natureza.
Anna

Paramos em frente uma enorme e completamente escura casa

Não falamos nada por todo caminho.


Peter apenas abre a porta e sai pela chuva, eu o sigo, não tenho mais chances de voltar
agora

Perfeito, eu não quero voltar

O interior da casa é tão imponente, quando o exterior


Toda a decoração é feita em apenas três cores

Preto, cinza e branco

Peter não acende luz alguma


A luz da lua entra por enormes portas de vidro, lá fora uma tempestade digna da costa
leste, balança as árvores

Mas tudo isso fica para trás, quando noto que toda a sala, é decorada com a maior coleção
de armas que já vi

Eram machados estilizados, estrelas ninja, bestas, arcos, katanas, e espadas que pareciam
ser tão antigas, que eu não duvidaria, se ele dissesse que eram da idade média.

Todas em perfeito estado, dignas de um colecionador milionário

Mas que merda?!

Existiam tantas armas que eu nem sei o nome de todas, outras eu só vi em filmes

Era tudo fascinante


E mortal

Adorei

Me viro para procurar Peter, mas algo na parede esquerda me chama atenção

Um enorme quadro negro, com um crânio no centro

Não

Não é um crânio, e sim uma enorme e demoníaca máscara preta

Me aproximo hipnotizada
A cada passo ela parece se mover, como se as sombras que a cercam, fossem vivas

Meu corpo se arrepia, era como olhar para meus próprios demônios, o quadro parecia ser
feito da própria escuridão

E por mais assustador que fosse, eu estava encantada

"- Genial"

"- Você acha? "

Pulei ao ouvir a voz atrás de mim, como me esqueci que ele estava aqui?

"- Sim, quem fez?"

Ele para e me olha, segundos intermináveis se passam antes dele responder

"- Minha mãe "

Ele se move, se aproximando da tela, seus dedos a tocam, com a familiaridade e carinho de
um amante.

Noto que ao lado do quadro, existe um machado estilizado.

Sua lâmina é linda, coberta de desenhos delicados

É tão perfeito, que é como se nunca tivesse sido usado

Um desperdício

Meus dedos se movem, eu não posso controlar, toco a lâmina afiada, meu sangue corre por
meu dedo, e mancha a lâmina, os desenhos parecem ganhar vida, o vermelho vivo
correndo entre os espirais

Eu não sinto nada

Mais

Uma voz no fundo de minha mente diz, eu me movo para mais

Porém um mão me segura,


Peter olha o corte, então leva meu dedo ferido até boca

Seus lábios se fecham e chupam o sangue

Eu gemo, não posso evitar

Ele não tira os olhos de mim, posso ver eles mudando


A fome e a selvageria vão assumindo, seu olhar fica maníaco, e isso me põe de joelhos,
nada seria capaz de resistir a ele

Colidimos contra as portas de vidro com tanta força, que ouço o vidro trincar

Minhas pernas se prendem automaticamente em sua cintura, sua boca me possui tão
brutalmente que sinto o gosto de sangue, não sei se é de meu corte ou por causa do beijo

Eu não me importo

Eu quero tudo que ele me der

Somos um furacão de língua e mordidas


De prazer e selvageria

Eu preciso de mais

Cravo minhas unhas em sua nuca, um rugido rouco e animal sai de sua garganta.

Ele me puxa e me bate em outra parede com mais força, sua ereção atinge o ponto exato
entre minhas pernas

Eu grito

A Dor, a pressão, o prazer


É disso que preciso

Sua boca vai indo para meu pescoço, beijando cada pedaço, até que me morde com tanta
força que vejo estrelas

Minha cabeça bate contra a parede atrás de mim

Estou exposta, estou rendida

Mas eu não sou indefesa, nos dois podemos jogar esse jogo

Solto minhas pernas e o empurrou com força


Ele cambaleia confuso e furioso
Eu arranco minha camisa molhada, meus seios pendem livres

Abro sua calça, puxo sua camisa para cima


Estou demorando demais, ele chia e a rasga para fora de si mesmo

O arrasto para mim e o empurro na parede, e o beijo com toda a força que posso, com toda
a paixão que sinto
Nossas línguas duelam, suas mãos me apertam mais firme, preciso dele mais fundo

Mordo seus lábios até sentir meus dentes romperem a pele


Ele resmunga e me vira com brutalidade, sua mão pressiona meu rosto no quadro

SIM

Minha mente grita, e eu acompanho, minha calça de corrida é puxada para baixo com tanta
força que ouço o rasgo

Eu gemo alto

Estou enlouquecendo

Nunca senti nada disso


Me sinto um animal

Estou amando cada Fodido segundo

"- Você gosta de jogar sujo doll?"

Sua voz rouca não passa de um sussurro, em meu ouvido

Tudo nela é selvagem e demoníaco, aperto minhas coxas juntas e recebo um tapa tão forte
que ofego de susto

"- RESPONDA! "

Ele grita, então da outro tapa, eu gemo alto com esse


"- SIM !"

Sinto sua boca em minhas costas, sua língua quente, molhando minha nuca, e descendo
pelo osso de minha espinha, eu me contorço, e levo outro tapa forte, minha pele queima

Sinto seus lábios beijando levemente, e então indo para o outro lado, eu espero outro tapa,
mas são seus dentes que afundam em minha pele, me fazendo pular

Eu grito de dor, mas sua língua me atinge sem pudor, sem controle, eu esqueço a dor
imediatamente

Estou gemendo e me pressionando a ele

Preciso de mais
Preciso de mais fundo

Sua língua explora minha bunda, então minha buceta

Uma de suas mãos tenta me manter imóvel


Sua lingua me penetra fundo, indo e vindo impiedosamente.. os sons que enchem a casa
me enlouquecem
Sinto sua mão se movendo, então um dedo pressionando minha bunda e eu gemo alto

"- PETER ! "

Eu choro, não posso mais aguentar, eu preciso de mais dele, tento me virar, mas sua mão
me prende a parede

Escuto um som, fui eu, eu praticamente rosnei, quero me soltar, mas ele não deixa

" - PORRA PETER!"

Outro tapa, meus olhos se reviram, estou tão aérea que não noto ele me virando, sou uma
boneca em seus braços

Suas mãos me levantam e seu pau escorrega entre minhas dobras, eu quero saltar de
felicidade, mas ele ainda não entra

" - NÃO!!!"

Seguro nele com tanta força que posso sentir sua pele se rasgando sob elas, seu sangue
escorrendo

" - Olhe para mim! "

Eu obedeço

Nada nesse mundo, poderia se comparar com o que vejo


Nada poderia defini-lo

Ele me pressiona contra o quadro com força, sua mão solta minha bunda e se enrola em
meu cabelo

Ele puxa com força até que sinto o ardor, até que sinto dor, meu gemido sai estrangulado
sob seus lábios

PORRA EU ADORO ESSA MERDA

Cruzo minhas pernas ao seu redor, afundo minhas unhas ainda mais em suas costas, ele
sibila

"- Santo Inferno!"

Sim, ele amava isso também

" - Olhe para mim doll, eu quero seus olhos em mim enquanto eu te fodo. "

Sem aviso ele bate em mim tão fundo e forte que sinto a dor me rasgando
Arqueio minhas costas, e grito tão alto, que meus ouvidos tremem, mas não tiro os olhos
dele

O brilho que eles produzem me hipnotiza, não me movo

" - MAIS "

Eu peço, um sorriso maligno assume seu rosto, seu pau dentro de mim da um salto, eu me
contorço, preciso que ele se mova logo

Se não eu vou morrer, ou mata-lo

Suas mãos me soltam totalmente, puxam as minhas de suas costas, então as estica sobre
minha cabeça o máximo possível, e as prende com uma única mão de aço

Estou esticada, cheia e encurralada

EU AMO ISSO

Sua outra mão segura meu rosto tão forte que sinto meus dentes rangerem

" - Peter"

Ele perde o sorriso, então me dá o que pedi.


Seus olhos mortais são a única coisa que vejo.

Capítulo 24
Borboletas

Barulhos me acordam, entro em estado de alerta

Pesadelo?

Abro os olhos
Não, não estou sonhando

Lençóis frios de seda negra abraçam meu corpo, como penas cintilantes
Meu corpo dói em cada lugar
Mas pela primeira vez em anos, acordo com um sorriso no rosto
Porém, estou sozinha na cama

Onde ele está?

O quarto estão completamente escuro, mas ainda posso ver uma luz fraca saindo pela
fresta da porta
Ele deixou aberta para eu segui-lo?
Os barulhos retornam
São baques surdos, levanto deixando o lençol cair, e sigo pelo corredor
Uma estreita escada me leva até o terceiro andar, os barulhos estão cada vez mais altos e
repetitivos, a medida que me aproximo

A luz me cega por alguns segundos, então eu o vejo


socando furiosamente um saco de treino
Eram esses os sons

Socos

Me encosto no batente da porta e observo

Suor escorre por suas costas tatuadas e se perde em sua cueca box
Ele está tão concentrado, que não me nota

Seu cabelo bagunçado cai sobre seu rosto a medida que ele se move, circulando o
aparelho, batendo com uma perícia brutal
Seus músculos flexionados com o esforço, lambo os lábios

Delicioso

O som dos impactos é tão forte, que sinto meu corpo vibrar
Fecho os olhos, e deixo-me levar nas memórias da noite passada

" Ele anda comigo, subindo as escadas enquanto eu provo o suor em seu pescoço

A cada passo, seu pau palpita e eu me derreto, tento me issar usando seu corpo como
alavanca, preciso monta-lo

Mas ele bate em minha bunda, eu me contorço, a dor mandando faíscas pelo me corpo, me
fazendo apertar contra seu pau
Ele para de andar e me põe no chão
Eu resmungo, me sentindo vazia
Ele me empurra, me jogando de bruços sobre lençóis sedosos e gelados, eu sibilo

Meus pés tocam o chão, estou totalmente exposta


Minha bunda empinada para ele, como um grande e torcido banquete
Estou à seu dispor

Viro meu rosto para olha-lo, seus olhos negros estão vidrados, ele não sorri, apenas morde
o lábio inferior
Seus dedos correm levemente entre minhas dobras molhadas
Meus olhos se reviram em êxtase

Ele espalha os vestígios dos orgasmos que me deu contra aquela parede, seus dedos se
lambuzando
Observo ele os levar a boca e chupar
Seus olhos se fecham
Ele parece um deus do pecado

Quente pra caralho

Ele abre os olhos, seus dedos voltam e entram em mim lentamente, como se me testando

Depois do ataque de antes, tudo agora é suave, lento, e sensual, como se tivéssemos todo
o tempo do mundo

Eu me aperto contra ele quando seus dedos se curvam tocando o ponto perfeito

Estou gemendo e agarrando os lençóis, sinto-me chegando cada vez mais perto, cada vez
mais no limite, eu gemo seu nome, mas ele não responde, e retira seus dedos, quero
chorar,
Porque ele parou?

Então seu pau esta me abrindo, me preenchendo polegada por polegada

Quando chega ao fim, está cravado tão fundo em mim, que somos um só

Nunca senti nada como isso, ninguém nunca chegou tão fundo
Sinto que ele está se fundindo a minha alma

Sua boca sussurra o apelido que me deu em meu ouvido

"Doll"

Eu não me importo
Ele pode me chamar do que quiser
Contanto que ele continue a me foder

Seus quadris circulam, e dentro de mim, seu pau me explora


Sinto sua mão sumindo entre nós, ele me levanta levemente, seus pau recua para fora de
mim
Então seus dedos atingem meu clitóris ao mesmo que seu pau volta e bate em mim com
força, não parando mais

Eu explodo
Eu flutuo
E entre entocadas e gritos eu escuto sua voz

"- Doll"

Abro os olhos e ele está em minha frente, eu estava tão ligada nas memórias, que não notei
que ele se aproximava
Ele vê o desejo em meus olhos, eu sorrio, posso ver o desejo nos dele também

Seu olhar me queima a medida que corre por meu corpo nu, da cabeça aos pés

Nenhum som pode ser ouvido


É como se a floresta,
Como se o mundo inteiro prendesse a respiração, enquanto ele me devora

Estou queimando
Nunca estive tão excitada na vida
Tudo nele grita perigo
Em minha mente ouso o sussurro dizendo que preciso correr

Mas a medida que meus olhos observam cada gota de suor, cada tatuagem que marca seu
corpo perfeito,
A medida que vejo a prova do quanto ele me quer

Eu não posso fazer nada além de cair de joelhos,


e mostrar para ele o quanto posso ser perigosa também.

A luz do dia entra pelas paredes de vidro, a medida que amanhece


Lá fora uma chuva fraca, embaça a visão do topo das árvores

A hora de ir se aproxima
Mas eu não quero ir
Quero ficar para frente

Estou deitada em seu peito, em um estreito sofá branco


Observo a fumaça do baseado sair da boca de Peter e formar círculos dentro de círculos.

Estou tão perto que posso ver que entre seus cílios negros, fios dourados se aventuram
Daqui onde estou, ele me parece uma entidade etérea, mas se eu me mover um pouco,
posso notar que ele não é perfeito

Uma cicatriz branca se esconde em seu maxilar, outra mais escura e profunda, corta seu
pescoço
E bem abaixo de seu olho direito, existe outra linha fina

Como ele fez isso?

Eu tremo só de imaginar o quão perto ele pode ter passado da morte

Seu braço me aperta como se me ouvisse, e eu me aconchego

Meu rosto se encaixa no vão entre seu peito e pescoço


É perfeito

Nunca me senti assim


Meu peito arde
Sei que não é possível amar alguém depois de uma foda
Eu não estou em um fodido filme, ou em um livro de romance ruim

Mas mesmo assim, sinto borboletas em meu estômago

Porra de borboletas malditas

Minha mente está em silêncio


É tão estranho que me assusta, me levanto, agora estou montando seus quadris
Ele me olha então me oferece o baseado
Observo sua mão por segundos, e pego

A fumaça entra em meus pulmões e a prendo, sinto suas mãos subindo por minhas coxas,
por minha barriga, e então tocando meus seios

Seus dedos gelados circulam meus mamilos, e os aperta levemente, tombo minha cabeça e
solto a fumaça

É tão bom

Ele continua a brincar comigo, e em baixo de mim seu pau me empurra, me querendo

Eu o quero também
Mas Peter para, eu o olho

"- Você precisa ir "

E assim eu caio dá nuvem de merda, meu estômago afunda

Fodidas borboletas

Dessa vez eu trago com mais força, não querendo ouvir o que ele vai dizer, mas o
observando mesmo assim, nada poderia me fazer tirar meus olhos dos seus

"- Tenho questões para resolver fora da cidade"

"- Ok "

As palavras dele me irritam, mesmo sem ter motivos


Foi apenas uma foda, e não um casamento.

Eu mesma não queria me envolver, então não existe motivos para isso.
Já passei por isso diversas vezes, eu mesma fiz isso com inúmeros caras.
Porra não seja ridícula, Anna

Começo a sair de seu colo, mas suas mãos prendem meus quadris como correntes de aço,
me inclino e coloco o cigarro no cinzeiro ao nosso lado, e o encaro

" Se você não deixar, como vou sair? "

Ele me ignora e diz

"- Gabe vai te buscar hoje a noite"

"- Como ? "

" - Você vai a festa"

" - Acho que não "

" - Não seja ridícula, Doll. Você já faz parte disso."

Ele toca meu rosto, é um gesto tão suave, que meu coração se aquece e quero me inclinar
para ele, mas algo em seus olhos me impede.

Algo intenso e mortal

Eu realmente tinha me esquecido, quero retrucar e dizer que não vou, mas estou cansada
de discutir, cansada de fingir, cansada de tentar ser alguém que eu nunca quis ser

Alguém que nunca vou ser

Então por hora, me limito a me deitar novamente sobre seu peito e beijar seus lábios
inchados, enquanto ele se encaixa em mim novamente

Sim, os problemas podem ficar para depois.

Capítulo 25 Recomendo ler ouvindo Smells Like Teen Spirit - Nirvana

Espírito indomável

"- Hora da festa Doll!"

O grito de Gabe, me faz pular, estou a minutos me olhando no espelho.

Das roupas que comprei em minha busca desesperada para me disfarçar, essas foram as
únicas que realmente escolhi parar mim.

Eram tão fatais, me faziam sentir poderosa, e não a garota problemática que sempre fui
O espartilho de couro preto e branco trançado nas costas, e a skinny preta rasgada me
faziam parecer bem melhor do que realmente sou

Eram meu disfarce

Adimito, um lado de mim estava realmente preocupado, tudo podia dar errado, tudo pelo
que venho construindo por meses, pode desabar em um deslize
Mas ainda sim, o outro lado estava em êxtase

Meu reflexo me encarava, e meus demônios não me julgavam

Desde a noite passada, sinto essa euforia


Me sinto como uma besta que escapou de sua jaula

Amanhã provavelmente tudo irá retornar, e a depressão me arrastará para o buraco de


onde sai, mas essa noite

Essa noite, meus demônios não tinham força

Minha porta é chutada, e me lembro que uma das razões do meu bem estar, esta me
esperando lá fora.

Respiro fundo e abro a porta antes que ele derrube

"- Você precisa ser tão violento? Eu já estava saindo"

"- Eu sou sempre viole..PUTA MERDA !! "

Gabe está me olhando com um expressão chocada, eu me olho, algo errado??

"- O que? "

"- Porra, você é muito gostosa, porque você está transando com ele mesmo ? É óbvio que
você combina mais comigo! "

" Nossa senhor Evans, seus modos são exemplares, me sinto lisonjeada com tanto cortejo"

Faço uma reverência exagerada, ele me lança um sorriso encantador e me estende o


braço, como um cavaleiro que ele nunca vai ser

" Você sabe que sou incrível em todos os quesitos meu bem. Mas sério, você está muito
quente, tem certeza que quer ir? Posso ficar aqui com você, sou ótimo em fazer
massagem"

Reviro os olhos e solto seu braço quando chegamos em frente sua moto
Ele monta e eu vou atrás, o ato me parece tão natural, como se tivesse feito várias vezes, e
não uma só

Tudo em torno do Peter e do Gabe, é fácil e familiar.


São tão parecidos, mesmo sendo completos opostos, que meu corpo fica confuso, sem
saber para onde ir
E pensar no motivo que me faz ficar tão a vontade com eles, faz minha mente dar nós

"- Ignore pelo menos por hoje"

"- O que? "

"- As merdas que ficam fodendo sua cabeça todos os dias, Ignore. Pelo menos essa noite."

Fico alguns segundos olhando sua nuca,


Mas que diabos acontece com esses caras? Além de bipolares e convencidos, eles
parecem ler minha mente

Ignore

Ele tem razão, envolvo meus braços a sua volta, enquanto ele me leva para a misteriosa e
aguardada festa

Um carro cola ao nosso lado esquerdo, outro no direito


Estamos indo rápido por uma rodovia, não a trânsito, porém existem carros aqui em ali,
andando dentro do limite permitindo, é claro.

E como de se esperar, nós estamos muito acima dele

O vento cortante me congela, porque eu não peguei um casaco?

Os carros se aproximam tanto que quase colam em nossas pernas,


Eu grito, estamos sem capacete, se cairmos vamos morrer

Porém Gabe ignora e acelera ainda mais, saímos costurando entre os carros, deixando os
que nos fecharam para trás.

Entramos em uma estreita rua lateral


Os carros desapareceram, Gabe diminue, então para

" O que vc está fazendo? "

" Esperando"

" - Isso eu posso notar, mas estamos esperando o que?"

Ele não responde, então escuto som de carros, meu estômago se revira, olho para trás e
vejo faróis ao longe
" Gabe, vamos embora, sério. Eu não estou afim de morrer hoje"

Ele nada diz, e estou começando a contestar minha decisão de vir.

Que grande merda Anna

" Se segure firme, e observe"

Gabe diz e começa a acelerar o motor, fumaça começa a sair das rodas
Não, ele não vai, vai?

Os carros nos alcançam e nos disparamos na frente


Enfio meu rosto nas costas de Gabe, meus braços e pernas doem, do tanto que os aperto
nele

Se não morrermos, nunca conseguirei sair daqui, nem com um pé de cabra

Os carros tentam nos passar, mas mesmo que seus carros esportivos sejam velozes, não é
Gabe que os pilota.

Nenhum dos pilotos é tão bom, ou tão inconsequente e louco como ele

A Moto ruge como uma turbina de avião, nos inclinados em várias curvas, meu corpo quase
sendo ejetado do acento.

Os carros sempre na nossa cola, mas nunca nos ultrapassando, eles tentam mas não
conseguem

Tenho certeza que estou gritando, quando de repente paramos, derrapando sob o chão de
terra húmida
O barulho dos pneus rangendo sobre as pedras, enche meus ouvidos

Os carros param do nosso lado e eu me mantenho imóvel, nenhum pensamento coerente


me vem a mente, além de pânico e adrenalina

"PORRA GABRIEL VOCÊ É FODA !!!"

Portas de carro batem, e eu forço meu corpo congelado a se desgrudar das costas de Gabe
Ele me ajuda a descer da moto, estou congelando tanto que meus dentes batem, ao nosso
redor mais de cinquenta carros se espreitam entre arbustos, árvores e rocha

" - Talvez se você tirasse seu pau da bunda, e começasse a pilotar de verdade poderia ter
uma chance "

Gabe desce da moto e estende a mão para os dois caras, que parecem ser os motoristas
dos carros, eles estendem maços recheados de dinheiro e a visão me atinge

" - VOCÊ SÓ PODE ESTAR FODENDO COMIGO ! !!"


Todos me olham, e quando digo todos, são mais de vinte pessoas que descem de seus
carros

" Ainda não Doll, talvez mais tarde"

Ele levanta aquelas sobrancelhas loiras e tenho vontade de beijar e bater nele

Não necessariamente nessa ordem

" - Hilário babaca, você quase nos matou umas cinco vezes, por causa de uma PORRA DE
APOSTA ! !"

"Só cinco? Porra, tenho mesmo que melhorar "

Ele ri e todos riem junto, e se vão sumindo entre as árvores

Malditos

Resmungando e tremendo eu os sigo, e depois de uma caminhada de dez minutos,


chegamos em uma pequena clareira, com uma casa digna de filmes de terror no centro.
A grama alta está repleta de pessoas indo em rumo a casa iluminada, ou sentadas pelos
cantos

Smells Like Teen Spirit toca a todo o vapor, em enormes caixas de som colocadas na
varanda da casa

" Festa reservada não é mesmo?"

Gabe apenas ri e ignora meu sarcasmo, ninguém nos olha passar, mas tudo isso muda
quando entramos na casa.

Aposto que toda a população jovem do condado está aqui

"- Vamos logo Anna, não podemos deixar os monstros esperando"

Gabe me puxa e entramos na multidão suada.

Sinto que fui transportada para meu passado

Pessoas se pegam em todos os lugares, encostados em parede, mesas e sofás


Outras dançam e rodam, como se não se importassem com o amanhã.
Cocaína é aspirada, em qualquer superfície plana,
seja ela mesas, mãos ou a barriga de alguém.

Em cantos mais escuros, heroína é injetada nas veias de usuários de olhos reluzentes

Ácido e extasy é passado de mão em mão, em bandejas de prata


A multidão cheira a álcool, drogas, suor e loucura

Estou em casa

Balanço a cabeça, não essa não é minha casa, eu não devia estar aqui, eu fugi de tudo isso
a muito tempo. Mas me parece ser muito tarde, para voltar para meu quarto

A mão de Gabe me aperta, e me tira de minhas observações


As pessoas estendem as mãos para toca-lo e comprimenta-lo, mas ninguém o para

As pessoas vão saindo de seu caminho, como se fossem água, e ele Moises.

Gabe sorri para todos, ninguém se importava comigo, as pessoas parecem tão aéreas e
selvagens, que me pergunto a quanto de droga está sendo repassada aqui

Chegamos em um corredor lotado, Gabe me leva até uma sala de portas duplas, o curioso
é que por mais que pessoas se amontoem nas paredes, não existe ninguém encostado,
nem perto desta porta

Gabe as abre e entra sem bater, assimilo cada detalhe.


Não existe muito aqui, apenas uma lareira antiga acesa, uma mesa de centro com uma
abajur antiquado no meio, um sofá e três poltronas rasgadas

Uma delas está ocupada

Duas loiras dividem o colo de um cara, uma em cada perna


Ele as olha entediado, enquanto suas línguas duelam em um beijo escandaloso, suas mãos
se revezando entre seus corpos, e o peito dele

Muito quente

O cara me olha e os pelos de meu corpo se arrepiam

Não é um arrepio bom

Seus olhos observam cada pedaço de mim


Mas não existe nada ali, é como se seus olhos estivessem mortos

"Anna esse escroto te encarando aí, é o Marcus"

" Oi"
Digo, mas ele não responde, apenas balança a cabeça

Gabe me puxa e sento a seu lado, no sofá em frente as poltronas.


Estou desconfortável, Gabe pega o celular e o leva a orelha

" Aonde você está? "- Ele olha para mim, seus olhos cor de água reluzindo
" Sim, ela está aqui... não, ninguém tocou nela.. Ainda não."
Gabe me lança um sorriso safado, meu corpo se atiça

Acho que nunca serei imune a ele

Nem em um milhão de anos

Ele resmunga algo e desliga o celular, então levanta e pega duas cervejas de um frigobar
ao nosso lado

Sim, agora está ficando interessante

" o Peter ja está chegando, minha missão é cuidar de você ate lá"

"- Parece ser seu carma"

Eu sorrio e aceito a garrafa que ele me oferece, não existe abridor, então uso a quina da
mesa de centro, me encosto novamente nas costas do sofá, e saboreio o líquido gelado.

Noto que ele está me olhando

" O que?"

"- Como você fez isso? "

" - Abrir uma garrafa? Sério Gabe, que tipo de pessoa você acha que eu sou?"

Eu rio com a boca da garrafa nos lábios

"- Não do tipo que abre garrafas em 1 segundo"

"- Gabe acho que você tem uma ideia meio errada de mim. Lembre sobre as aparências, e
reveja seus conceitos sobre mim, raio de sol"

Ouço risadinhas e vejo que as duas meninas, que são lindas, olham para Gabe
descaradamente, meu estômago revira

Qual é o problema das mulheres dessa cidade?

Noto que Marcus não ri, ele não tem expressão alguma no rosto, agora de frente para ele,
posso notar seus traços

Ele até que é bonito, mandíbula forte e angulosa.


Parece ser o típico cara de academia, porém meus instintos me dizem, que ele ganhou
tantos músculos assim, lutando em lugares bem obscuros.
Algo em seu olhar me dá calafrios, não sei porque, mas detesto ele de cara

Estou desconfortável novamente, as portas se abrem e Peter entra,


Todo vestido em preto, como Gabe, eu suspiro

Tentador

Nossos olhos se encontram e estou hipnotizada como das outra vezes, um tapa em minha
cabeça me faz saltar

" Não babe Anna, ele não é tão bonito assim! "

Peter se aproxima e joga uma mochila na mesinha, Gabe corre para ela e a abre, tento não
ser curiosa, mas assim que ele joga pacotes de comprimidos transparentes sobre a mesa
estou perguntando

" - O que é isso? "

Me aproximo me apoiando nos ombros de Gabe

" Isso aqui boneca, é o que eu chamo de poeira estrelar"

Nome estranho eu penso, mas parece ser lindo, e tenha medo do que pode fazer

São tantos pacotes que fico impressionada, o que me leva a segunda questão

Foi Peter que trouxe, como ele conseguiu?

Eram esses os compromissos fora da cidade?

Ele nada diz e senta na poltrona oposta, eu viro o resto do conteúdo da minha garrafa

"- Quanto tempo? "

A voz baixa de Marcus me assusta, eu tremo.

Merda eu preciso de outra cerveja, se for ficar perto desse cara.

Peter parece notar e me estende outra cerveja.


Eu agradeço seus olhos não saem de mim, mesmo na luz fraca posso ver que pela gola de
sua camisa, um chupão espreita, é isso é obra minha.

Me pergunto se seu corpo está dolorido como o meu, se as marcas que minhas unhas
deixaram em suas costas, ardem como minha pele depois de seus tapas

"- Algumas horas, seis talvez. Para eles só vai passar em dois dias"

Ele tira os olhos de mim e olha para Marcus, me aproximo de novo de Gabe e pego um
pacotinho, o inclino para luz, ele não é totalmente transparente como pensei.
Em seu interior, pequenos cristais brilham como purpurina
Como poeira estrelar

Genial

"- O que isso faz? Nunca vi nada assim "

Como ninguém responde levanto o olhar, e todos me encaram, todos menos as loiras, que
agora beijam cada lado do pescoço de Marcus

" - Isso não faz a pessoa virar um canibal neh?"

Pergunto a primeira coisa que me vem a mente, todos começam a gargalhar, eu solto o ar
em alívio, a tensão se foi

" Que mente doente você esconde aí, Doll?!


Seria interessante, mas não, isso aqui..."
Gabe pega um pacotinho, abre, e toma quatro comprimidos de uma vez, todos do pacote.

CARALHO

"- ..Isso aqui te faz se sentir um deus"

Gabe joga um pacote para Peter e Marcus. Vejo eles abrirem e tomar, a mesma
quantidade.

Estou chocada, cada músculo do meu corpo grita perigo.


Estar em uma festa com drogas já foi um grande e difícil passo para mim.
Mas estar em uma festa junto de caras drogados e me drogar também, é um passo enorme,
e que não posso dar.

Me levanto, deixando o pacote que segurava na mesa. Nenhuma das meninas tomou, elas
apenas olham desejosas para os comprimidos brilhantes.
Parece que apenas eles podem tomar..
Lanço um olhar para Peter, seus olhos negros me fuzilam

" Vilão lembra? "

Ele diz me lembrando do nosso primeiro encontro.


Sim, ele me avisou que não era o mocinho

" Não notou? Sou o vilão, que seduz a princesa, então a envenena"

Ele me avisou e eu fui mesmo assim, como uma mariposa atraída para o fogo

Garotos vão ser minha morte

Seguro a maçaneta da porta, preciso de ar, preciso sair daqui antes que me deixe levar por
sorrisos e olhares enigmáticos.
Antes que eu ouça o que meus demônios estão dizendo agora

Ser uma deusa, seria fascinante

" - Te devo uma grana Anna, parece que me enganei sobre você "

Gabe fala alto suficiente para todos do corredor ouvirem, eu paro e o olho para a sala.

Ele está encostado na poltrona, uma das loiras que estavam com Marcus, agora está
confortável e sorridente em seu colo

" Parece que você não passa de uma boazinha e ingênua, nerd de cálculo"

Cada músculo do meu corpo se tensiona, aperto a maçaneta, quero voltar e bater nele,
quero dizer que ele não sabe com quem está lidando.
Mas a onde isso vai me levar?

Algo voa na minha direção e por reflexo, pego no ar, é um pacote, dentro dele um solitário
comprimido me encara

"- Só para o caso, de não tivermos nos enganado"

Dessa vez foi Peter que disse


Eu posso joga-lo no chão e ir embora, posso fazer tantas coisas que estou confusa

Pegue

Jogue

Respiro fundo, saio fechando a porta atrás de mim, e vou em direção a multidão.

Com o comprimido em meu bolso.

Capítulo 26
Imagem no espelho

Assim que saio, percebo meu erro


Eu não sei onde estou, e todos com quem eu falo, ou estavam naquela sala, ou fora da
cidade.

Estou presa aqui a noite toda.

Eu preciso de algo mais forte que cerveja

Ando por corredores lotados, tentando ignorar o comprimido em meu bolso, o pacote parece
queimar, minha mente grita para ceder
Continuo andando, me esbarrando nas pessoas, todas me ignoram, mas ainda posso sentir
seus olhos em mim.

Fujo para o segundo andar, talvez lá esteja mais vazio

Me enganei

O corredor mal iluminado, era longo e cercado de portas de todos os lados, todas estavam
abertas, e por elas sons de gritos, gemidos e pancadas ecoavam pelo ar

O lado em minha mente, que eu julgava ser o lado são, me diz para voltar lá pra baixo, e
ficar com os caras drogados.

Mas por mais que minha sanidade grite e esperneie, meu maior lado era insano e curioso.

Dentro da primeira porta, uma grande cama estava repleta de pessoas.

Uma grande e suada orgia acontecia.

Na porta do lado direito, um cara pendia a cabeça em êxtase, enquanto outro lhe chupava
profundamente.

Meu interior se remexeu, me apoio no batente e como uma voyeur os observo.

O cara ia cada vez mais fundo e implacável, uma de suas mãos corria pelo abdômen
exposto de seu amante, já outra seguia rumo a boca dele, vejo seu dedo ser enrolado por
uma língua, então desaparecer enquanto era chupado.

Lábios vermelhos se apertavam em volta do dedo, e o sugavam como se fossem um pau.

A mão foi retirada de sua boca e seguiu seu rumo para baixo.
A vejo sumir, meu olhos sobem até o cara sentado.

Seus olhos se abrem, suas narinas se dilatam, seus lábios molhados se abrem ele solta um
gemido de êxtase ao ser penetrado.
Os barulhos de sucção ficam mais altos e desconexos, então a explosão

É lindo

É quente

Me afasto e continuo pelo corredor, a maioria dos quartos contém as mesmas coisas

Em um uma garota é compartilhada por vários caras, enquanto outro se mantém sentado e
afastado.

Apenas olhando.
Em outro quarto um cara geme descontroladamente enquanto uma garota vestida de
dominatrix provavelmente o fode com uma sinta..

Contínuo andando, o mais impressionante é o fato de todas portas se manterem abertas,


qualquer um pode entrar, qualquer um pode ver e participar.

" Existe uma coisa nas festas, que nos dá liberdade para mostrar quem realmente somos"

As palavras de Peter vem a minha cabeça, assim que vejo a cena na última sala.

Um grande móvel em formato de X, ocupa o centro do quarto, nele uma mulher está
amarrada.

A sala está repleta de homens e mulheres, alguns nus em atos sexuais, outros vestidos e
observando a nudez da mulher presa.

Noto que todos aqui são jovens, mas a loira amarrada, parece ter um ar de maturidade.
Seu corpo torneado e flexível é fascinante.

Como da outra vez, me encosto na porta, e observo o show.

Um rapaz, se move até uma mesa, lá ele pega um chicote trançado.

Ele se vira e vejo seu rosto.


Eu o conheço, é Lucius Scott, está na minha aula de cálculo.
Ele nem me nota, seu rosto demonstra total concentração

Ele esta amando aquilo

Eu também

Ele se move, não consigo ver o que ele vai fazer, então entro no quarto.

Ninguém me olha enquanto eu escorrego pelas paredes, e me encosto nas sombras

Agora posso ver nitidamente


Lucius corre o chicote pelas costas da mulher lentamente, ela se mantém imóvel, mas
posso ver seu corpo se arrepiando a medida que ele a toca.

Ele corre o chicote de montaria mais abaixo, e a golpeia, ouço seu suspiro estrangulado

Ele repete mais três vezes, o corpo dela está tremendo, ele desce o chicolte novamente,
dessa vez, entre suas pernas

Algumas pessoas se levantam e se aproximam para ver melhor, vejo muitos rostos
conhecidos aqui, todos são alunos do campus.
Me inclino e vejo a ponta do chicote desaparecer dentro de seu corpo

É tão quente, que quase gemo junto com as outras pessoas.

Ainda não posso ver o rosto da mulher, é isso que realmente me interessa.

Me levanto, preciso ver a expressão de êxtase em seu rosto

Observo Lucius retirar o chicote agora brilhando, e subir novamente pelas costas dela,
chego a frente do X, a tempo de ve-lo colocar o chicote perto de seus lábios, e manda-lá
chupar

A tempo de ver que a mulher que está nua amarrada aquele X, por correntes de couro,
sendo masturbada e chicotiada na frente de vinte pessoas, é a Senhora Willians, a reitora
da faculdade.

Seus lábios vermelhos abraçam o couro, então ele é retirado, e desaparece atrás dela

Estou na frente do móvel, portanto não vejo o que acontece do outro lado, mas o som deixa
claro.

A primeira chicotada ecoa pelo quarto, ouço pessoas suspirarem.


Os olhos da Reitora se abrem e fixam em mim.
Ela me reconhece, mas seus olhos não dizem nada, seus lábios estão abertos, quase
posso sentir o ar passar entre eles, outra chicotada vem, mais forte, ela geme.

O som rebate em meus ouvidos, e ecoa pelo meu corpo

Seus olhos não desviam de mim

Tantas coisas passam por eles a cada chicotada


Solidão, dor, euforia, tesão e êxtase.

Seu olhar é tão intenso, que me sinto conectada a ela


Estou nua naquele X, sendo espancada junto a ela.

A tensão sexual é tão grande na sala, que tenho certeza que outros, já estão realmente
perdidos dentro uns dos outros.

Não consigo desviar o olhar dela, não posso sair daqui até seu ápice

Sou o ponto de foco dela

As respirações ficam mais rápidas, às chicotadas mais fortes, os gemidos mais altos

O móvel treme sob a força dos golpes, ela está gritando agora, já eu estou ofegando.

Me sinto tão excitada, que poderia tirar minhas roupas, e me entregar a orgia que me cerca.
Vejo Lucius se aproximar e dizer algo em seu ouvido, sua expressão se derrete, mas ainda
sim, ela não tira os olhos de mim, apenas acena com a cabeça

Sim

Em um segundo o chicote volta, mas algo está diferente

Mais brutal

Sua boca se abre, seus gritos me arrepiam

Ela está tão perto

Fico tentada a me aproximar, mas me contento, não é o que vim fazer aqui.

O chicote para e cai no chão, Lucius se aproxima dela, e em um golpe rápido, a penetra
repetidamente

Eu paro de respirar, e todos param para olhar ela fechar os olhos, deixar a cabeça tombar
para trás, e explodir no maior orgasmo que já vi na vida.

Às pessoas dançam e aproveitam atrás de mim, o comprimido em minha mão brilha sob as
luzes coloridas

"Isso aqui faz você se sentir um deus"

" você não passa de uma boazinha e sem graça, nerd de cálculo"

Olho meu reflexo na janela a minha frente


Se todos estão livres, porque justo eu não posso?

"Você pode"

Fecho meus olhos, estou sobre a linha novamente, o desastre e a loucura de um lado, o
controle e a mentira no outro.

Estou no meio, no limite

"Ignore. O que vem fodendo sua mente todos os dias. Ignore. Pelo menos por uma noite. "

Abro os olhos, e no reflexo vejo alguém que venho tentando ser


Como um pássaro preso em uma gaiola, medo e tristeza mancham seu rosto

A imagem de uma covarde

Eu não sou isso

Eu não sou contida

Eu não sou boa

Eu não sou normal

Eu

Não

Me

Importo

Engulo o comprimido e me viro

A festa vai começar.

Capítulo 27
Mais quente que o inferno

Estou queimando

Suor corre por cada centímetro de meu corpo

Meu cabelo gruda, em meu rosto e pescoço

Eu o levanto o segurando com uma mão, enquanto desço meu corpo contra o da garota
que estou dançando

Suas mãos correm por meu corpo

Nossas pernas entrelaçadas, nossos quadris se movendo em sincronia

As luzes mudam, e a garota fica com a pele azulada

Ela parece uma fada

Nossas bocas estão tão próximas, que sinto seu hálito mentolado
Nosso corpos tão colados, que posso sentir seu coração bater acelerado

Corro minhas mãos por seus quadris, e vou subindo por suas costelas nuas, delineando
cada uma delas com meus dedos

Suas mãos repetem meus movimentos, como um espelho

Minha mão está na borda de seus seios agora

Tentando

Provocando

Seus olhos vidrados, se fecham quando meus dedos roçam em seus mamilos duros

Quero morde-los

Quero descer minha mão por entre suas pernas, e provar o quanto ela está molhada

Suas mãos leem meus pensamentos e seguram minha mão que está em seu quadril

Ela vai me impedir?


Porque?

Mas elas abre os olhos e os fixa em mim, a música muda, mas não paramos de nos mover
Estamos nos afastando da pista, onde pessoas dançam

Suas costas colidem com uma caixa de som suavemente


Ela sorri e leva minha mão por entre suas coxas

Sim

Suas pernas são sedosas e torneadas, corro meus dedos suavemente


O suor em sua pele os fazendo deslizar

Olho em seus olhos


Ela parece meio borrada agora

Mas tão tentadora

Seus lábios rosados, parecem ser tão apetitosos

Nossas bocas se encontram

Tão doce
Tão pecaminosa

Meus dedos chegam entre suas pernas, e ela ofega


Está tão molhada
Corro meus dedos suavemente sobre sua calcinha

Ela ferve
Eu estou fervendo também

Nossas línguas se enrolam, seguindo o ritmo de nossa própria música

Tão suave

Afasto sua calcinha, e é minha vez de ofegar assim que sinto sua umidade

Testo sua entrada com um dedo, então o trago de volta e círculo seu clitóris
Seus quadris copiam meu movimento, estamos em sincronia

Afasto meu rosto segurando seu lábio inferior entre meus dentes, e mordo forte o suficiente
para ela gemer ao sentir a fisgada de dor
E com dois dedos a penetro lentamente, pouco a pouco

Ela se abre e se aperta contra mim


Suas unhas cravam em meus ombros, enquanto ela se segura

Minha cabeça está girando

Estou tão excitada

Com outra mão, seguro seu mamilo direito e aperto


Ela grita em minha boca
Eu não paro meus movimentos

Meu polegar pressiona seu clitóris inchado


Meus dedos indo mais fundo
Mais rápido

Ela está tao molhada agora, que sinto escorrer por sua coxa, e molhar a minha pelos rasgos
da calça

Quente pra caralho

Ela está perto, solto seu peito e seguro sua nuca


Meus dedos se enrolam em seu cabelo e o puxam para mim
Preciono com mais força e aprofundo o beijo
Ela convulsiona contra mim
Meus dedos são presos e apertados tão forte, que meu reflexo é continuar empurrando,
cavando seu orgasmo cada vez mais fundo

Até que ela para de tremer


Solto seus lábios e planto um selinho sobre eles

Retiro meus dedos e os levo a minha boca

Doce

Ela sorri e tenta me puxar, mas eu balanço a cabeça e me afasto, a deixando mole contra a
caixa de som

Preciso de outra bebida

Tento andar entre as pessoa incontroláveis


Minha cabeça está leve
Mas não me sinto drogada
Me sinto focada

Me sinto tão livre


Sem preocupações

Empurro até o que parece ser a cozinha


Copos e garrafas, estão em todos lugares possíveis
Todos vazios

Merda

Preciso de algo gelado, estou queimando de dentro para fora


Procuro entre as caixas e armários

Geladeira, frigobar, caixa térmica qualquer coisa, por favor! !

Não encontro nada


Porra, preciso de algo frio
Frustação me atinge, chuto uma caixa que tomba derrubando várias garrafinhas
Pego uma, forço minha visão embaçada a ler o rótulo

Tequila

É, serve para diversão


Porém, para aliviar o calor é inútil

Ouço algo se quebrar e sigo o som


Pela porta de vidro suja e quebrada, vejo Peter e Andrea

Aperto a garrafa em minhas mãos


Me aproximo mais, mas não consigo ouvir o que dizem
Mas a intenção é clara, ao menos a dela

Minha amada patricinha, passa a mão em suas calças


Ele não se mexe, mas está falando algo, seu rosto não demonstra emoção alguma.

Ela faz um beicinho, mas não se afasta.


Ele está apoiado no parapeito, em sua mão um cigarro.
Ela se enfia entre suas pernas ainda mais

Quero ir lá e bater nela, mas não me movo

Ele não é meu

Seus dedos se movem e circulam a marca que deixei em seu pescoço, ela se aproxima,
não posso ver o que faz, mas tenho certeza que está beijando

Quero matar ela

Eu vou matar ela

Pego na maçaneta, mas paro quando vou abrir a porta


Ele se move e pega cabelo dela e o puxa para trás, suas costas de curvam

Dejavu

Ele leva o cigarro as lábios e traga, ela se mantém imóvel, a cabeça arquiada para trás

Observo ele parar por mais um segundo, então forçar que ela desça, de joelhos entre suas
pernas

Ela mantém suas mãos paradas, cruzadas em suas costas


Peter diz algo, ela move suas mãos e com um sorriso abre suas calças

Eu queria matar

Mas ela tira seu pau para fora, e o leva até a boca

Eu quero morrer

"- Grande porra de diversão"

" - É porque você está olhando para o lado errado"

Meu corpo tensiona, ao ouvir o sussurro em meu ouvido, ele estava aqui me observando,
entanto eu olhava eles.

Ele é igual ao Peter

Malditos, todos malditos manipuladores

As mãos de Gabe seguram meus quadris, eu o empurro


Não consigo nem piscar, enquanto vejo Andrea tentar incansavelmente levar todo o pau de
Peter, mas não consegue

Parece que nisso eu sou melhor que ela, pelo menos ganhei em algo no final

Eu tento rir, mas não consigo


Nunca fui boa em esconder emoções

Estou cansada de ver isso

Eu estava tão bem antes


Quero aquilo novamente

O esquecimento

Me viro e encarro os olhos claros de Gabe que sorri largamente

" - Então me mostre onde a diversão está, Gabriel "

" - Claro, mas antes"

Ele diz e me levanta, minhas pernas de prendem em sua cintura, seu braço empurra tudo
que está sobre a mesa, garrafas se quebram ao caírem

Então ele me senta, sua boca está em mim

É um furacão

Estou girando e girando incontrolavelmente

Sua língua vai fundo em minha boca, sinto seu gosto de tequila e cigarros

Suas mãos entram em meus cabelos e os puxa para trás, ele quer me deitar

Não deixo

Empurro de volta, minhas mãos entram sob sua camisa, minhas unhas se arrastam com
força, pelos gomos duros de seu abdômen

Ele treme e se afasta

"- Não"

Eu sussurro, ele sorri seus olhos vidrados


Gabe abaixa até meu peito, sua língua corre entre o vão de meu decote

Provando meu suor


E subindo por meu pescoço, até minha orelha

Minha cabeça cai para trás Aperto seu corpo com minhas coxas
Seus quadris circulam e empurram para cima em reposta, sua ereção exatamente onde
preciso

Estou me contorcendo

Estou sendo arrebatada

Tudo está brilhando


A luz é tão forte que não vejo nada, que eu não sinto nada além do Gabe

Somos uma supernova,


Queimando e brilhando na escuridão

Seus dentes mordem o lóbulo de minha orelha

"- Ele deixou várias marcas aqui " - ele corre a língua de cima para baixo em meu pescoço

"- Vou ter que encontrar outro lugar, alguma sugestão? "

Ele empurra seu quadril com força e eu gemo

Tão bom

Ouço sua risada


Puxo sua boca para mim novamente

Quero morrer fazendo isso

Estou em combustão

O pele de Gabe queima sob minhas mãos


Estamos incendiando rápido

Suas mãos soltam meu corpo e começaram a puxar meu espartilho

Me inclino para trás, os bicos de meus seios espreitam, Gabe olha para mim me lançando
aquele olhar penetrante, e puxa mais uma vez com força

Meus seios saltam


Ele sorri como um menino na manhã de natal
Então desce a boca e deixa de ser um menino, e sim um homem tão quente quanto o
inferno

Me leve
Sua língua circula, seus dentes raspam e eu gemo

Preciso disso

Preciso de mais

Ele chupa com força e eu tombo para trás, me deitando na mesa.

Estou voando

Ele começa a espalhar mordidinhas até chegar na base de meu peito, sinto meus lábios de
fecharem e ele chupar com força, me marcando como disse que faria

Fecho os olhos, vejo um mar de estrelas sob minhas pálpebras

Poeira estrelar

Puxo seus cabelos com força e o trago para mim, sua língua volta a me punir

Minha cabeça gira

Me sinto uma deusa

Suas mãos me apertam com tanta força, que se eu já não tivesse marcada pelas mãos de
Peter eu..

Peter

Eu lembro, afasto minha boca do Gabe, e olho em direção a porta

Ele nota, se afasta um pouquinho e olha para fora.

Peter está parado imóvel nos observando, suas mãos seguram o batente da porta
Andrea está fora de vista.

A algo estranho no olhar de Peter, eu não gosto.

Para falar a verdade, não gosto dele no momento

Volto minha atenção para o Gabe, que olha para Peter, algo se passa entre eles.

Foda-se sua conversa interna.

Seguro o rosto de Gabe e o faço olhar para mim, seu rosto está vermelho e suado, seus
lábios inchados
Eu levemente o mordo, ele me aperta

"- Você ainda tem mais para mostrar não é?"


Ele gargalha e me solta, mas não se afasta

"- Você ainda não viu nada Doll"

Ele me pega e me põe no chão, me viro para Peter, ajeito meu espartilho, lanço uma
piscadinha e saio da cozinha.

Parece que ele também não viu nada ainda.

Capítulo 28
Monstros

Meus demônios cantavam em minha mente

Você está louca

Sim

Estou amando

Gabe irradiava uma aura de loucura e euforia.


Ele se mexia como se o mundo fosse dele,
Como se fossemos servos dispostos a adora-lo

Mas não todos


Eu me sentia diferente
Eu era feita do mesmo material que ele

Todos pairavam ao nosso redor


A cada batida meu sangue vibrava

Sob minhas pálpebras, eu podia ver as vibrações ecoando a cada movimento, cada toque,
a cada gemido gritado pelas caixas de som.
Não consigo lembrar de nada antes disso, não consigo lembrar de quem eu era, do que eu
fiz, do que eu sou
Nada mais importava
Nada além desse momento

Era maravilhoso

A cada toque molhado que os lábios dele faziam com minha pele, eu me sentia uma deusa.
Eu era uma divindade paga, a beira da euforia

Varias mãos exploravam meu corpo,


Aumentando a pira em que eu ardia
Eu posso ser qualquer coisa

Eramos como bigbang, cheios de luz e fogo.

Ele se afasta, abro os olhos e vejo ele puxar um cara para perto.
O observo beija-lo intensamente, suas línguas se enrolando em uma carícia sensual,
enquanto sua mão sobe e aperta meu pescoço suavemente

Ele é uma caixa de surpresas quente pra caralho

Corro minha mão entre nós e aperto sua ereção.


Mesmo com a musica, consigo ouvir ele gemer alto.
Puxo sua nuca e trago ele para mim

Preciso dessa boca em mim

Seus olhos vidrados, parecem prateados agora, sua pupila desaparecendo em meio a todo
o brilho

Ele me pega e o mundo gira


Estou tão tonta agora que meu estômago se revira, mas eu não paro
Não, era intenso demais para parar

Me sinto livre
Me sinto eu mesma.
Sinto a droga rugindo em minhas veias, sinto o cheiro de álcool se misturar ao nosso suor
Eu era pura energia.

Então de repente tudo para .


As luzes se apagam, as pessoas gritam e vaiam.
Escuridão e confusão enchem a casa.
Pisco sem entender, Gabe me soltou, cadê ele?

Alguém se aproxima por trás, e sussurra em meu ouvido

"- A verdadeira diversão começa agora, doll. Cuidado, os monstros gostam de caçar"

Sua voz está estranha, está fria e mortal.


Não consigo pensar em nada, minha cabeça está girando

Por que ele falou isso?


O que acontecendo?

A minha volta muitos reclamam

" - Mas que porra?! Gabe ? "


Não encontro ele, não posso ver nada a minha frente
É como se ele tivesse evaporado, entre os corpos que se amontoam tentando encontrar a
saida.

Meus instintos gritam perigo

Celulares são acesos, vejo pessoas descendo das escadas.

A euforia orgasmica que possuía meu corpo esta acabando, e sendo substituída por um
calafrio de antecipação

Algo estava muito errado

Pessoa tentam abrir as janelas, e empurram as portas, que não se mexem

Porque estão trancadas? ?

Me aproximo de uma porta lateral, tendo abrir. mas ela não se move, sinto meu peito
apertar, preciso de ar

" O que esta acontecendo? Tom, eu estou com medo"

" Não seja burra Alana, é a caça. Você sabe como funciona. A gente só precisa sair daqui"

As pessoas falam a minha volta, tento empurrar uma janela, ela também não se mexe

Que diabos é a caça?


Que diabos está acontecendo? ?

Sinto a multidão ficar cada vez mais alarmada.


Estou a um minuto de entrar em pânico

Uma porta abre com um baque, todos ficam olhando para ela por alguns segundos, eles
não correm para fora, como imaginei que fariam

" ANDA LOGO PORRA ! "

Alguém grita
Um cara vai andando devagar, como se tivesse com medo de algo que está lá fora

QUE MERDA ESTA ACONTECENDO ??

Ele passa, então todos os seguem o mais rápido o possível, eu me arrasto atrás
Estou tonta, o chão parece se mexer como ondas sob meus pés

O ar frio da noite me atinge e o puxo com dificuldade.


As pessoas correm até seus carros, mas ninguém parte.
Desço as escadas da entrada me apoiando no corrimão, minha mente está flutuando, mas
sinto a tensão no ar

Me aproximo de um carro vazio e escorrego até o chão. Os celulares são as únicas luzes na
clareira, olho o céu, parece que a lua também se escondeu.

Alguem grita perto de mim, então ouço um chute

"- Eles foderam meu carro! Porra eu vou matar eles !"

As conversas ficam cada vez mais distantes, eu tento respirar quando enjoo me atinge, noto
que ao meu lado tem um casal

" Quando chegar a hora é só você correr e se esconder"

"- Eu não pppposso"

"- Pode sim porra, vai ser legal! Eu vou te ajudar, só não fica para trás"

Fico olhando um casal, tentando entender que merda eles estão falando

Minha visão começa a se acostumar com a escuridão, vejo que ninguém tenta ir embora em
seus carros, todos se mantém aqui na clareira, como se esperassem por algo, pego meu
celular e vejo que está sem sinal

Um som de tiro rasga o ar,


Eu automaticamente abaixo a cabeça, tento engatinhar para me esconder atrás do carro.
Gritos estridentes ecoam pela clareira, então todos começam a correr, desaparecendo
rapidamente entre as árvores

QUE PORRA É ESSA ??!

Estou congelada até os ossos, e continuo abaixada ao lado do carro

Algo em mim, me diz que é melhor não correr.

Se esconda

Mas do que eu preciso me esconder? ?

Tento ficar concentrada,mas é dificil


Minha mente gira em milhões de cenas desconexas, meu estômago está embrulhado,
calafrios correm meu corpo

Não sei se é pânico ou a droga


Mas agora que a euforia se foi, começo a me sentir uma merda

Ouço alguém falando e me levanto um pouco e espio pelo capô do carro


Existe duas pessoas no meio da clareira, eles estão discutindo, mas não posso ouvir.
Meus ouvidos estão abafados, como se eu estivesse submersa

Um dos caras puxa o outro pelo braço, mas ele se esquiva

"- ENTÃO MORRA PORRA! "

Esse grito eu escuto, e o cara que diz sai correndo pela floresta, deixando o outro parado

Ele encara a casa, daqui posso ver ele tremer

Raiva?

Mas não a ninguém lá

Todos saíram

Ele começa a marchar para a casa como um touro louco, mas de repente ele para
cambaleando

Ele deve estar muito drogado

Olho para a casa, e noto o porque ele parou.


Da porta da casa um homem, coberto de preto, da cabeça aos pés, sai.

Em suas mãos existe uma espingarda calibre 12

Oh merda, merda, merda

Sinto como se um balde de água fria corresse por meu corpo


A cena entra em foco
Minha mente se acalma.
Estou totalmente concentrada, na cena a minha frente agora

O cara na clareia fala algo, ainda não posso ouvir e isso me irrita.
O cara de preto não fala, não posso ver seu rosto, algo o cobre
Uma máscara?

" NÃO BASTA FODER COM MEU NEGOCIO? VOCÊ TINHA QUE FODER COM MEU
CARRO TAMBEM SEU FILHO DA PUTA??!!"

Essa é a única coisa, que consigo ouvir do cara que espuma na clareia.

Ele parece ficar cada vez mais irritado com o cara de preto, que parece não responder.

Ele parece uma estátua

Imóvel
Algo nele me parece familiar
Não sei porque

O cara da clareira da vários passos e põe os pés na escada da casa, a um metro do cara
armado

Isso não vai acabar bem

E quando vejo o cara mascarado enfim se mover, eu sei que estou certa.
Ele pega algo no bolso, algo vermelho

Munição

Fuja seu idiota

Eu quero gritar, mas parte de mim quer quê ele fiquei, só para ver o que acontece

O cara carrega a arma, com uma lentidão assustadora,


Ou sou eu que estou vendo tudo lento?

Eu me distraio, então várias coisas aparecem acontecer ao mesmo tempo


Escuto uma frase

" VOCÊ NÃO VAI SE LIVRAR DE TUDO !! O MUNDO NÃO É SEU PORRA!! "

Então o cara atira.

Todo acontece tão rápido, que demoro para entender.


O cara que estava gritando voa pela clareia, então em um baque surdo, ele cai, e não se
levanta

Ele está morto


Ele matou ele

Minha mente não esta acreditando no que esta vendo, outra pessoa entra em meu campo
de visão e eu me escondo

Estou tremendo
Estou com medo?

Não

Estou chocada demais para temer, é adrenalina que faz meus dentes baterem.
Não escuto nenhum som, eles já foram?

Me arrasto até a frente do carro


Não

Existem dois deles agora

Um cara está agachado ao lado do corpo, seu rosto coberto se inclina, é como se ele o
avaliase

Em um salto ele se levanta, segura o corpo pela camisa, e começa a arrasta-lo para dentro
da casa

A lua sai de seu esconderijo de nuvens, e ilumina a clareira, a casa e o enorme rastro
escuro, que o corpo deixou ao passar

Tanto sangue

Estou hipnotizada, lembro do tom do sangue do Tyler manchado o chão, manchando as


paredes, e meu rosto.
Vermelho profundo, quase negro ao luar

Tão lindo

Tão brutal

Estou perdida em memórias, tão concentrada no sangue, que não noto nada além isso.

Não até sentir alguém atrás de mim, e uma mão tapar minha boca.

Capítulo 29
Psycho Killer

Tento me esquivar de quem me segura, mas meus braços não tem forças, por mais que eu
puxe e arranhe
O braço não me solta.
A mão em minha boca, me impede de gritar

Para quem eu gritaria?


Peter? Gabe?

Talvez se eu gritasse, os caras mascarados voltassem e me matassem de um vez

Lute

Eu tento lutar, eu me debato incansavelmente, enquanto sou arrastada de costas pelas


árvores

Eu tento morder, eu tento fincar meus pés no chão para evitar ser levada
Mas estou letárgica e desesperada
Não sei quem me puxa, ele não fala
Apenas me arrasta por entre as raízes
Algo se prende em meu pé, ele me puxa com brutalidade, eu grito a dor rasgando meu
tornozelo

Por favor não esteja quebrado, por favor não esteja quebrado, não consigo fugir com o pé
quebrado

Ele para de me arrastar, e me joga contra algo duro.


Dor penetra meus ossos

Tento levantar minha cabeça e focar minha visão


Um cara loiro sorri para mim
Eu não o conheço
Eu não

" - Você achou mesmo que ia me humilhar na minha cidade, e seguir como se nada tivesse
acontecido sua puta"

Pisco várias vezes, mas quem

"- Se quiser um cavaleiro, vai ter que voltar lá dentro e se desculpar, porque acho que você
quebrou o nariz dele"

A voz de Peter me vem ao longe, o cara do bar.

É babaca do bar, não acredito, o que acontece com as pessoas desse lugar?!

Tento conter a risada mas não consigo, me apoio no que está atrás de mim e me levanto

Ele está fazendo isso por um nariz quebrado? Ele assustou a merda fora de mim, e me
arrastou pela floresta, por causa de uma briga de bar?

"- Por Deus, você é patético"


Recebo um tapa, meu rosto gira, sinto o gosto de sangue

"- Ninguém te deu permissão para falar "

Ele se aproxima de mim, seus olhos vidrados, seu rosto vermelho, ele respira rápido e com
dificuldade.

Ele está muito drogado

Alertas soam em minha cabeça, a cena toda vem em minha mente, eu tento assimilar e
descobrir um jeito de sair daqui.

Distraia, então corra


Me mantenho imóvel, e faço minha melhor cara de amedrontada

" Você fez toda minha cidade rir de mim"

Leva toda a força em mim,evitar revirar os olhos.


Ele se aproxima, sua mão corre meu rosto, eu não me movo

Espere

Ele me olha como um louco, não sei o que pretende, mas nada bom vem de um homem
raivoso e drogado.

" Você vai se arrepender disso, Pequena Anna. Então você vai pagar"

Eu ataco, meu joelho esmaga com força o meio de suas pernas, ele se abaixa, trago o
joelho pra cima, ouço o som da cartilagem que se curava, partir de novo.

Ele esqueceu que posso me defender

Então eu corro.
Eu corro por entre as árvores
Meu coração ruge
Eu corro mesmo com meu tornozelo gritando, mesmo que minha mente esteja turva

Me esquivo entre as árvores, tropeço e caio entre as raízes.


Mas eu não paro, ganhos e arbustos rasgam minha pele e ferem minhas mãos,meu
estômago se revira, sinto a bile em minha garganta

Não escuto mais seus gritos, estou longe o suficiente?


Ou ele está apenas me enganando?

Meu tornozelo grita, e eu me baixo ao lado de uma grande rocha, não consigo ver o real
estado dele nessa escuridão, mas com certeza eu torci.
Ouço um barulho, e me escondo nos arbustos e espero

Um cara está escondido atrás de uma árvore, ele se inclina para olhar a frente, escuto
galhos se partiram.

Tem alguém vindo

Vejo seu corpo endurecer, ele começa andar de costas, indo em minha direção.

Não, não

Meu corpo treme, me abaixo mais encolhida por entre os arbustos espinheiros, ele não
pode me ver.
Nem quem persegue ele.

Ele está tão perto agora, que vejo apenas suas pernas, eu poderia toca-lo se quisesse,
preciso apenas esticar o braço por entre os espinhos e folhas.

Mas eu não quero, por entre suas pernas eu vejo um mascarado se aproximar, se movendo
por entre a escuridão, como se fosse parte dela.

A luz da lua, atravessa por entre a copa das árvores altas.


Sua máscara demoníaca é terrível, tão branca, que parece ser feita de osso.

E como o outro da casa, ele não diz uma palavra. Apenas se aproxima, como um felino.

"- NNão, nnão eu não tive nada a ver com isso, ele planejou sozinho. Eeeu juro"

O cara está chorando, suas pernas tremem.


Ele recua mais um pouco, eu congelo.

Ele vai cair sobre mim


Eles vão ver que estou aqui

Pense Anna, pense em uma saída

Não consigo, minha mente está nebulosa e a náusea me torce. Sinto meus braços e pernas
arderem pelos arranhões.

" Eeeu juro. Eu disse a vocês. Eu contei, disse onde ele tinha escondido. Por que você está
fazendo isso?! "

Ele grita desesperado, mas o mascarado não responde.


Sinto o calafrio da antecipação novamente, e como na casa, sei que isso não vai acabar
bem pro cara em pânico, ele grita, mas nada surge efeito.

" Você não pode fazer isso! Vvocê prometeu!!! Por favor, eu posso te dar qualquer coisa, eu
nunca vou falar, eu posso te pagar eu posso eu"

Sinto o cheiro forte de urina, eu torço meu nariz.

Ele está se mijando

Puta que pariu Puta que pariu, estou em um filme de terror

Ele não termina a frase, volto meu olhar para o mascarado, noto algo que não vi antes.
Em sua mão direita, existe um taco de beisebol.

Cravado de pregos.

" Por favor"


O cara sussurra, mas ele não se move, me pergunto o quanto ele correu.

Me pergunto qual será sua expressão agora.

Suas pupilas estão dilatadas? Sua boca pende aberta ?

Eu me encolho e tento ser mais silenciosa possível, e como da outra vez, estou hipnotizada
com toda a brutalidade

O pânico, pode fazer coisas estranhas com nosso cérebro. Mas cada um reage de uma
forma, uns correm para longe, uns desistem e esperam, outros reagem de uma maneira
bem mais perigosa e imbecil.

O pânico misturado com adrenalina, aciona nosso modo de sobrevivência.


Dá coragem, então você ataca.

Acha que pode vencer aquilo que te ameaça, é sua única chance.

O Pânico pode te dar coragem, mas te faz burro.

Não ouso fechar os olhos enquanto vejo o cara idiota, saltar para o mascarado, achando
que tem uma chance.

Eu não pisco quando o bastão se balança, e desce com toda força no rosto dele.

A pancada e o som de carne se rasgando enchem a floresta silenciosa, eu o sinto em meus


ossos.

Minha mente está focada agora, mas ouço sussurros, como se alguém falasse comigo.
Fecho os olhos e murmurou mentalmente

Agora não, agora não.

Ouço passos e me lembro do mascarado, ele está sobre o cara que treme violentamente,
uma perna de cada lado.
Seu braço se move e espero o taco descer novamente, mas isso não acontece, ele pega
algo em suas costas.

Um revólver reluzente

Então da três tiros na cabeça dele.

O corpo para

Eu paro

O mundo para ao redor


Mas o mascarado apenas guarda o revólver, sai de cima do corpo, e nos abandona,
sumindo rapidamente por entre as árvores.

Ele assobia uma melodia.

Ela reverbera por entre as árvores e em meus ouvidos

Eu conheço

É Psycho Killer.

Capítulo 30
A escuridão em mim

Eu espero sua melodia desaparecer, talvez ele esteja longe o suficiente agora.
Me levanto, e me afasto na direção oposta a que ele sumiu.

Meu corpo inteiro treme, eu não olho para trás para ver se alguém me segue.
Eu não corro mais
Eu não sinto que preciso

Acho que estou em choque


Estou confusa
Não sei para onde estou andando
Eu apenas caminho entre as árvores

Não encontro mais ninguém


Sinto que se eu ver alguém, ela também morrerá

Eu tentei fugir disso


Eu renegei minha loucura
Eu dei as costas para o que meus demônios mais profundos murmuravam

Eu lavei o sangue de minha pele


Mas sinto que ele se fundiu a minha alma
E ela não consigo limpar
Estou marcada

A carnificina me encontrou aqui também,


Como se sentisse seu cheiro em mim

Ver aquilo, os dois morrerem nas mãos de dois rostos demoníacos


Mexeu em algo dentro de mim

Eu paro de andar, noto que o corpo sem rosto, esta caído perto de mim.
Estou andando em círculos

Parece que a vida esta me dizendo algo.

Eu não posso fugir.


Não posso me esconder.
Talvez seja minha hora agora.
Talvez a minha hora tenha sido a anos atrás, quando Tyler me trancou naquela sala com
ele.

Eu devia ter morrido ali.

Talvez seja por isso, que as vozes em minha mente clamaram, quando vi o sangue dele
manchando as paredes.

Por isso elas cantaram quando aquele corpo voou, e por isso elas gritaram quando o crânio
do outro se abriu

Devia ser eu ali.

Sim, estou certa

Então eu me sento e espero a morte vir até mim.


Estou cansada de fugir.

Encho meus pulmões de ar, e com meus olhos fechados eu grito para o céu escuro e sem
estrelas, com todo meu fôlego, com toda minha força

"- EU AINDA ESTOU AQUI!!"

Peter

Eu escuto sua voz ao longe


Eu ouço seu grito desesperado e selvagem
O sinto em cada fibra doente do meu corpo.

Eu paro entre as árvores negras


Ela continua gritando
Seu som cada vez mais desolado
Não preciso olhar para Gabriel para saber que ele ouviu

Preciso encontra-lá

Então mudamos nosso caminho, e como todos os anos, começamos a caçar.

Anna

Meus pulmões estão sem fôlego, e minha garganta queima.


Eu gritei o mais alto e forte que pude
Eu esperei ser encontrada por minutos
Até que alguém enfim me encontra
Mas não é quem eu esperava

Vejo Daniel correr em minha direção como um touro descontrolado.


Seu rosto esta lavado de sangue
Seus olhos com um brilho louco

Eu não digo nada


Minha mente bloqueou qualquer coisa

Eu não me mexo
Não tenho forças

Eu aceito meu destino


Mas o curioso, é que ele não chega

Abro meus olhos, Daniel está no chão, a poucos metros de mim

Dois mascarados estão ao lado dele

Eu sorrio, e solto o ar que prendia.


Enfim a morte me encontrou.

Sinto o calafrio correr meu corpo ferido

" Espero que não se importem, brinquei um pouco com sua puta"

Ele diz, ofegante e insano.


Um deles, o de máscara de branca põe o pé em seu peito, ouço-o buscando ar, o vejo
tentando levantar, mas não conseguir

O outro começa a se aproximar de mim


Fecho os olhos novamente, e espero ele me rasgar como um cão infernal

Mas como da outra vez, à dor não chega, e eu abro os olhos.


Ele está parado a um metro de mim, leva algo em suas mãos, e então lança aos meus pés.

Infincada na terra, reluzindo a luz da lua, esta uma faca de caça.

A saída se forma em minha mente.

" Todos temos nosso lugar no mundo, talvez seus demônios estejam te dizendo o seu"

Daniel é levantado, cada um de seus braços é posto para trás


Imobilizado

Um presente

A dúvida me atordoa

E se eu estiver enganada?
E se a morte me segue por outro motivo?

Por fim, eu entendo.

Ela esta me dando uma escolha.


Como sempre, a decisão é minha atravessar, ou não a linha

Não posso mais fugir

Não noto que peguei a faca e que estou me movendo, até estar a um palmo de distância
deles

Ela pesa em minhas mãos


Sua lâmina cerrilhada, é tão mortal, quando bela

Sinto que essa é minha última chance


Minha sanidade não está mais em jogo

Eu já a perdi

Fecho meus olhos e deixo de ser a presa, deixo de ser a mentirosa.

Eu atravesso a linha, e me torno o caçador.

Eu me entrego a escuridão que reside em mim.

E pela segunda vez, passo a ser uma passageira dentro de mim mesma

Vejo minha mão direita levar a faca ao pescoço inquieto dele, e desenhar uma linha
profunda, de um lado ao outro.

Sinto o sangue escorrer e espirrar em meu rosto.


Observo ele se engasgar com o próprio sangue, e então a luz deixar seus olhos lentamente.

Inclino minha cabeça, e o vejo cair imóvel e inútil na terra.

Admiro meus dedos cobertos de sangue.


Eu os provo

O sabor metálico e quente, explode em minha boca.

Uma risada ecoa, me fazendo levantar o rosto.


E a última coisa que vejo antes de mergulhar totalmente escuridão, são duas máscaras me
observando atentamente.

Uma tão negra quanto a noite, e a outra tão clara quanto o dia.

Capítulo 31
Verdades

Tudo é vermelho
Não existe nada além do céu vermelho vivo.
O doce cheiro metalico toma o ar
Respiro fundo
Sangue cheira a liberdade.
Eu estava fluando nele, grandes asas acizentadas batiam levemente atrás de mim
A paz domina meu peito.

Mas então como um anjo perverso, eu caio rápido, direto para o abismo.
Me debato e tento me agarra em algo, tento voltar para meu descanso nas nuvens de
sangue.

Eu grito e clamo por ajuda


Mas é inutil.
Estou me desintegrando em pânico

Olho para o fundo, para o destino que está cada vez mais perto, mas nele não existe nada,
nada além da escuridão

Algo prende minhas asas, e a dor rasga minha costas


Eu olho para cima, para o que me mutila

Um anjo de asas brancas e resplandecentes, as toma em seus braços.


Seu rosto está oculto por uma máscara branca.
Uma máscara demoníaca, manchada do mesmo sangue que preenche o céu, que domina
meu mundo.

Ele não quer me machucar, eu sei, esta tentando me segurar, seus músculos estão
saltados pelo esforço.

Tento desesperadamente segura-lo com minhas mãos


Mas algo agarra minhas pernas e me puxa para baixo, minha queda ficando mais rápida.
Em minhas pernas um anjo de asas negras e demoníacas me segura.
Seu rosto também está oculto.
E como dois lados da mesma moeda, sua máscara é tão negra quando a do meu anjo
salvador é branca
Eu tento chuta-lo, mas suas asas escuras batem, e o som é tão poderoso que quero me
contorcer.
Sinto algo em meu interior vibrar.
Seu olhar negro é hipnótico, seus braços são muito fortes para eu resistir.
E com um último puxão nós afundamos na escuridão, levando o anjo salvador conosco.

Abro meus olhos e a luz me cega como lazers.

Estava sonhando.
Sonhando de novo.
Faz dias que não tenho pesadelos.

Eu pisco diversas vezes, até que minha visão se acostume.


Estou em um quarto com enormes janelas, lá fora árvores me espiam.

Eu já estive aqui

Minha cabeça dolorida, pesa contra o suave travesseiro negro.


Estou na cama do Peter.
Agora como vir parar aqui eu não faço ideia.

Me movo e me arrependo, cada músculo em mim dói.


Meus braços nus estão cobertos de arranhões

Onde eu?

As lembranças me atingem como flashes


A festa
Os gritos
As máscaras
O sangue manchando minhas mãos.

Me afasto lentamente dos lençóis frios, e como da primeira vez que estive aqui, estou nua e
limpa.

Como isso é possível?

Minhas roupas não estão em lugar algum, me arrasto para fora da cama, e procuro algo no
armário.

Por fim, acabo com uma camisa do led jeppelin, a mesma que Peter usava quando nos
conhecemos, me olho no espelho, parece que isso aconteceu a milênios.

A camisa gigante, bate a um palmo de meus joelhos, meu cabelo está emaranhado, porém
limpo.
O lado esquerdo de meu rosto, está manchado com um hematoma escurecido.

Eu não entendo, era para eu estar coberta de sangue e terra.

A última coisa que me lembro, é de apagar na frente dos mascarados.


Será que tudo isso foi uma alucinação?

Não, definitivamente não.

Sinto algo em mim, algo diferente, como se uma porta tivesse sido destravada, e dela algo
tivesse saído.
Algo que agora, se arrasta sob minha pele.

Sons de risadas e tiros vem de algum lugar da casa.

Meu coração acelera


Eram eles, cada fibra de meu corpo sabe que sim.
Respiro fundo e sigo para fora do quarto e rumo para baixo, onde meus assassinos estão.

Paro no ultimo degrau, meus pés descalços não fazem barulho no piso de madeira escura,
portanto ninguém percebe que estou aqui.

A grande TV está ligada, Gabe e Peter estão jogados lado a lado no grande e negro sofá de
veludo, enquanto jogam.

Olho em volta, para todas aquelas armas nas paredes.

Sim, isso começa a fazer sentido.

"- Você vai ficar parada aí por quanto tempo? "

Eu dou um salto quando a voz rouca de Peter se dirige a mim.


Como ele sabia que eu estava aqui ?

"- Onde estão minhas roupas?"

Eu falo, mas não me movo.


Depois de ontem, não sei mais quem são esses dois, isso me põe em alerta.

O jogo para, e os dois me olham através do sofá

"- Porque? Você está bem melhor assim. Não acha Peter? "

"- Sem dúvida"


Eu me movo desconfortável com seus olhares intensos, algo no aparador atrás do sofá me
chama atenção.

As máscaras, um revólver e uma faca de caça.

Minha faca
Eu tremo

"- Você não está com medo de nós, não é doll?"

A voz de Gabe é divertida, mas sua expressão é fria, ele está me calculando, calculando
minha reação.

Olho para Peter, ele está com uma sobrancelha levantada, seus lábios torcidos de lado, sua
maldita covinha aparecendo.

Ele está me desafiando

Dou um passo atrás do outro, até que estou em frente ao aparador, meus dedos tocam a
máscara negra.

Ela é fria e dura, como uma rocha de gelo


O frio parece subir por meu braço.

Toco a mascara branca, e imediatamente olho para Gabe.

As memórias me vem a mente, toda aquela brutalidade, olho em volta da sala procurando

"- Onde está? "

Ele me olha confuso, eu reviro os olhos, ele não me viu

"- O Taco, Gabriel"

Ele se encolhe, ele odeia que eu o chame de qualquer coisa, que não seja Gabe.

"- Como você sabe disso?"

"- Ela estava lá " Peter diz, e eu aceno concordando.

"- Mas que ratinha esperta você é, Doll. Você se escondeu." Ele me lança um de seus
brilhantes sorrisos

" - Você disse que os monstros gostam de caçar. Fugir não é uma opção."

Ele ri e a tensão da sala se vai, passo meus dedos pela lâmina torcida e limpa da faca.
Ela ainda é pesada em minhas mãos, mas segura-lá me faz querer dançar.
" Está no carro, a bichinha aqui não gosta do sangue sujando o tapete"

Gabe revira os olhos, e se encosta no sofá de novo. Peter não diz nada, apenas me encara.

"- Você não respondeu a pergunta"

" Qual? "

"- Você está com medo?"

Eu encarro seus olhos hipnóticos, a tensão enche o ar novamente.

" Eu devo?"

"- Você sempre deve ter medo, medo nos deixa alerta"

Gabe diz, enquanto mexe em um controle.


Me lembro do cara de ontem

"- Nem sempre, as vezes te faz um idiota, como o cara de ontem"

Gabe ri, e música começa a sair do aparelho de som

"- Ele era um idiota muito antes de estar com medo, os fodidos acharam que podiam nos
roubar."

Eu devolvo a faca para o aparador, contorno o sofá e me sento no espaço entre os dois,
olho para Peter

"- Então por isso que morreram? Tinha um motivo?"

"- Sempre existe um motivo, Anna."

Eu apenas balanço a cabeça, minhas pernas estão arrepiadas, mas não sei se por frio, pela
conversa, ou pela proximidade aos dois.

Talvez às três coisas.

Como eles podem estar tão calmos?


Minha cabeça está girando, fecho meus olhos e me encosto totalmente no sofá, sinto a pior
ressaca da minha vida.

" O que era aquilo que vocês me deram? Me sinto péssima"

"- Era uma coisinha nova que inventamos. É um tipo de estimulante, três vezes mais forte
que o melhor extasy do país."
Meus olhos se abrem de repente.

Eles são

" Vocês fabricam drogas "

Foi uma afirmação, olhei incrédula para os dois.

" - Por isso tinha tanta droga, vocês são traficantes. "

Os dois riem e me irrito

"- Que nome pesado Anna, estamos mais para jovens empresários do ramo farmacêutico.
Os maiores do estado"

Eu reviro os olhos, aí me lembro


Era uma coisinha nova

"- Espera aí, vocês me deram uma nova droga que não foi testada antes?!"

Minha voz sai aguda demais, não me importo, eu podia ter morrido, e depois de tudo,
descobri que realmente não quero morrer.

" Eu podia ter morrido com aquilo! Eu me senti ótima no começo, depois perdi todo o
controle. Se eu tivesse. ."

" - Ah Porra, cala a boca Anna! Você ficou bem. Em uma pessoa normal, aquilo dura dois
dias"

" - Eu sou normal"

Eu quis rir de mim mesma, eu era tudo menos normal, as vozes estavam ausentes, mas
sabia que uma hora elas voltariam. Peter se aproxima

"- Não, Doll, você é tudo menos normal."

Ele sussurra em meu ouvido, eu tremo, tento me concentrar em algo, qualquer coisa.

Peter tem o poder de controlar cada centímetro de meu corpo, com uma respiração.

" - Porque você não correu de nós, Anna?"

" - Não tinha como"

" - Mentirosa"

Seu nariz corre o lado de meu pescoço, e volta para minha orelha, sua respiração faz
cócegas. Quero me inclinar e dar mais acesso, mas mão me novo
"- Por que que você não correu?" - Gabe diz e se inclina mais perto de mim.

Meu coração corre uma maratona louca, não posso lidar com os dois juntos e suas
perguntas.

" - Achei que seria mais seguro" - minha voz sai mais fraca que gostaria - "me esconder,
estava tonta demais para correr "

"- Mas nada te impediu de correr do idiota"

Peter me fuzila, me sinto presa, encurralada como um rato

"- Vamos lá Doll, suas desculpas não vão funcionar"

Gabe diz, e corre os dedos por minha coxa subindo a camisa lentamente.

"- A época das mentiras acabou não acha?"

Engulo o nó em minha garganta, estou suando, estou tremendo, sei que eles podem notar
meu desconforto, olho para Peter ele sorri, sim eles adoram essa merda. Fecho os olhos

" Eu não podia"

" Por que Anna?"


Peter insite eu abro meus olhos e encaro seus olhos negros, não tinha saída para isso.
A mão de Gabe começa a subir por entre minhas coxas, mordo os lábios.

Merda.Merda.Merda.

Peter se move, e pega algo atrás do sofá, meu olhos se arregalam.

Ele pegou o revólver cromado.

Eu ofego.
Gabe ri e mordisca minha orelha direta, seus dedos param a centímetros do meio de
minhas pernas.

Estou tremendo, quase posso ouvir meu coração desesperado.

Acalme-se

Em meu lado direto, os lábios de Peter tocam a base de meu pescoço e ele me morde
suavemente, seus dentes apenas provocando

Mordo meus lábios com força tentando conter meu gemido, sinto gosto de sangue, isso não,
não vai acabar bem
Ou vai, pode acabar muito bem

A sensação de suas mãos em mim, é torturante e enlouquecedora.


Minha mente corre, o calor começa a subir, eu quero..

O que eu quero?

Algo gelado levanta meu queixo, eu salto de susto.


Peter me encara os olhos brilhando, o revolver em minha pele.

Não existe vacilação, sua mão está firme, o dedo no gatilho.


Os dedos de Gabe começam a fazer círculos em minha coxa, círculos que ficam cada vez
mais lentos, cada vez mais próximos da..

"- Vamos Doll, você está me matando aqui"

Ele sussurra em meu ouvido, sua voz lenta e sensual, como tudo nele. Sua língua corre por
meu pescoço e eu gemo, não posso mais controlar

"- PORQUE. VOCÊ. NÃO. CORREU?"

A voz de Peter sai rouca, mas clara, dando ênfase em cada palavra.

O revólver começa a descer por entre meus seios.


Gabe não para, seus dentes mordiscam minha orelha, estou ofegando descaradamente
agora.

Foco nos olhos do Peter


Ok, chega de mentiras

"- Por que vocês são iguais a mim. Eu gostei disso"

O sorriso de Peter é grande e reluzente, já Gabe suga o ar entre os dentes, e o som me faz
fincar as unhas no sofá

Ele enfia a mão por entre meu cabelo e puxa minha cabeça para trás.

" - Você gosta disso não é? "

Sinto o revólver descer cada vez mais

"- Do medo "

"- Eu não tenho medo"

A arma está descendo lentamente por meu ventre agora.


Gabe força minha cabeça para frente e sussurra em meu ouvido
"- Olhe"

O revólver começa a chegar perigosamente perto do minha buceta, que nesse momento
esta em plena vista, ele subiu minha camisa, eu nem notei.
Minhas pernas estão abertas e eu nem notei.

Eu não controlo mais nada

Peter sussurra, sua boca boca a centímetros da minha

" - Você é tão doente quanto nós dois."

"- E isso te excita" Gabe completa em meu ouvido, eu me contorço, a pressão dentro de
mim é gigante

"- Ssim"

" O que você quer doll? "

O cano do revolver paira sobre meu clitóris. A centímetros, mas não encosta.

A mão de Gabe não solta meu cabelo, enquanto a outra começa a levantar minha perna,
até que meu pé esteja no sofá, e eu esteja totalmente aberta para eles, sou como uma
boneca em suas mãos.

"- O que você precisa psycho doll?"

Meus olhos rolam para trás e eu gemo um pedido

"- Vocês"

Uma porta bate tão alto que eu pulo, o som me tirando do transe.

" - O que ela faz aqui?"

Alguem entrou, um enorme moreno de traços rudes e cheio de odio.


Marcus.

Peter se afasta, colocando a arma na mesa de centro, se levanta, e vai para a cozinha

" - Empata foda do caralho"

Gabe diz, e apenas solta meu cabelo, e se acomoda melhor ao meu lado, como se nada
tivesse acontecido.
Ajeito minha camisa e me encolho ao seu lado.

" - Acho que você esqueceu que a casa é minha Marcus, quem vem aqui não é da sua
conta."
A voz de Peter enche a casa, eu tento não olhar para Marcus, mas é impossível.

Existia três deles.

Ele é aquele que arrastou o corpo.


Eu estremeço, a mesma sensação estranha que tive ontem, quando ele me olhou me
percorre.

Não confio nele

Gabe passa o braço por trás de mim, como se sentisse meu desconforto, e me puxa para
seu peito, seus dedos se enrolando em uma mecha de meu cabelo, distraidamente.

O gesto é tão estranho e natural ao mesmo tempo que levanto a cabeça e fico olhando para
ele por uns segundos.
Ele nota e me encara

"- O que? "

"- Quem é você? "

Ele sorri, e encolhe os ombros

"- Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas
vezes desde então."

Reviro os olhos, com a citação da Alice..

" Sério Alice?! Você está mais para lebre louca de março. Cada vez que te vejo descubro
algo diferente, fica difícil te acompanhar"

Ele aperta meus ombros, seu rosto se inclina para o meu, nossas bocas a dois milímetros
de distâncias, seus olhos cor de água, parecem olhar dentro de minha alma. Minha
pulsação acelera

" - Que eu me lembre, você estava me acompanhando muito bem ontem "

Ele me dá um selinho e se afasta.


Eu resmungo.
É eu estava mesmo, o puxo de volta, a distância entre nossas bocas sumindo.

E como ontem o fogo me atinge, a língua de Gabe vai se insinuando, incitando a minha
boca a se abrir para ele, e eu me abro de bom grado.

Uma de suas mãos aperta minha coxa, enquanto a outra atrás de meu pescoço, me prende
mais firme a ele.
Tudo nele é sensual, ele vai construindo o fogo, faísca por faísca, até que estou deitada no
sofá e ele entre minhas pernas.

Minha mente girando


Sua mão me aperta firme, sinto sua ereção empurrar para cima, contra minha pele nua, eu
gemo em sua boca, a única coisa que nos separa são seus jeans.
Será que ele consegue sentir o quanto estou molhada ?

Então com um grito ele sai de cima de mim. Eu pisco sem entender, e me sento novamente

" SEU FILHO DA PUTA !"

Gabe se levanta tocando a nuca e resmungando, Peter me estende uma cerveja e senta ao
meu lado

" - Vocês estavam ocupando todo o sofá"

" Não precisava me queimar, caralho! Era só falar, Gabe largue minha garota"

Olho incrédula para Peter

" Você queimou ele? "

" COM A PORRA DO CIGARRO!!" Gabe grita da cozinha

" Ah não seja uma bichinha, eu mal encostei."

Eu me estico sobre ele e pego seu cigarro.


Peter levanta uma sobrancelha, mas não me toca

" Vocês são patéticos"

Marcus nos olha com seus olhos mortos da poltrona ao lado do sofá.

" - O que você faz aqui mesmo Marcus? "

A voz do Peter é fria e cortante, mas Marcus nem pisca

"- Achei que você gostaria de saber que eu limpei sua bagunça, já que você estava
ocupado demais."

Ocupado comigo

"- Eu não preciso ser avisado, Marcus. Você pelo contrário, não devia estar em outro lugar
agora? "

Eles se encaram, algo se passa entre ele, eu sinto a tensão em meus ossos, trago a fumaça
e olho de um para outro
Eles não são amigos?

Marcus se levanta, mas para

" Espero que você não se esqueça do que está em jogo aqui"

"- Eu nunca esqueço. E é melhor você também não esquecer de com quem está lidando,
Ortega."

Peter mudou totalmente, em vez do badboy, pela primeira vez ele se parece com um
homem realmente perigoso.

Um traficante com sangue nas mãos

Vejo Marcus endurecer e sair da casa, batendo a porta tão forte quando da primeira vez.

Me viro para Peter

" O que foi isso?"

Peter balança a cabeça e só diz

" Problemas de trabalho"

Ele não continua e eu não empurrou mais, ainda posso sentir a tensão em seu corpo. Pego
uma das máscaras atrás do sofá e fico olhando, as lembranças se misturando em minha
mente

"- O que foi aquilo ontem?"


Ele traga o cigarro e me contempla

" - Qual parte? "

" - Tudo, aquelas pessoas, e porque estavam tão animadas, para serem perseguidas por
psicopatas armados "

Gabe volta e se senta ao meu lado, lançando um olhar sujo para o Peter, que me responde

" - Por uma noite, nos financiamos todos os seus prazeres. Damos a chance deles se
libertam dessa cidade hipócrita."

Ele pega o cigarro de minha mão, e continuo olhando sem piscar

"- Não seria maravilhoso, Anna? Ter tudo que você quiser? Mesmo que só por uma noite?
Poder mostrar sua loucura, seu segredo mais sujo e torcido. Sem julgamentos? Sem
manchar suas perfeitas e intocadas máscaras? Não importa quem você seja? "
Eu concordo, é maravilhoso
Quem resistiria a isso? Quem diria não ?

Gabe toma um gole de sua cerveja, e me empurra com ombro, eu o olho

" - Gosto de chamar de noite do pecado."

"- Apropriado, vocês são o diabo"

Eles riem, e pegam os controles para voltar a jogar. Minutos de silêncio confortável se
passam e pergunto

"- O que eles dão em troca?"

"- Tudo o que nos quisermos "

Meu corpo formiga


Tudo?

"- Ninguém se importa com o que vocês fazem? Algo não faz sentido nisso tudo. Como
vocês estão tão tranquilos? "

Minha mente está dando voltas, Gabe me empurra com o ombro novamente

" Tá de brincadeira Ana? Eles amam aquilo.


Sabe, Todos nós somos selvagens, somos bárbaros por dentro. Adoramos a carnificina, ela
nos excita, nos faz sentir vivos."

Peter apaga a bituca no cinzeiro

"- Moramos em uma cidade, cheia de jovens mimados e entediados, Anna. Nós fornecemos
emoção e poder a eles. "

" - E em troca vocês tem tudo. A cidade é de vocês"

Peter sorri e volta a jogar.

"- Mas vocês não tem medo, e a Policia?"

Gabe abre um sorriso convencido, mas não tira os olhos da tela.

"- Não são apenas os desejos dos jovens que financiados, doll."

Eu solto o ar que prendia, eles tem a cidade toda na palma da mão.


A voz do cara na clareira enche minha mente.

" - VOCÊ NÃO PODE SE LIVRAR DE TUDO! O MUNDO NÃO É SEU PORRA!!"
Balanço a cabeça, nem todos estão felizes com eles.

"- Ser filho do maldito prefeito também ajuda"

Olho chocada e incrédula para Peter. Mas ele não está sorrindo, seu rosto é uma carranca
fria. Algo em seu tom me diz que seu pai, não é muito querido.

Aonde eu fui me meter?


E por que me sinto em casa?

Fecho os olhos
Eu sei que preciso voltar para a faculdade.
Eu sei que não devia estar aqui.
Que tudo isso pode, e com certeza vai acabar muito mal.

Mas também sei, que não me importo com mais nada.

Como em meu sonho, estou em paz, mesmo cercada de escuridão.

Capítulo 32
Máscaras

" - Por que máscaras? "

"- Usamos máscaras todos os dias, Anna. Nós fingimos e escondemos nossa verdadeira
essência por moral, julgamentos, ou qualquer merda que temos receio."

Estou deitada no sofá, minha cabeça descansando no colo do Gabe enquanto ele fala.

Seguro a horrível e hipnotizante máscara negra entre minhas mãos.


Peter está encostado nas portas de vidro, olhando para a floresta, mas sei que ele está
atento a minhas reações, sempre está.

" - Mas quando usamos essas. Nós colocamos para fora o lado doente e maníaco que
todos temos.
O lado sem mentiras, sem pudores, sem limite. Elas não são máscaras para esconder algo
Doll, pelo contrário, quando as estamos com elas, finalmente podemos ser nós mesmos.
Elas representam cada demônio louco e fodido que temos sob a pele"

Eu suspiro, é tudo tão insano e intenso.


Me faz pensar como seria a minha se tivesse

"- Porque a sua é branca? A cor tem algum motivo?"

Lembro da visão de ontem, minha memória meio confusa pela droga. Mas deles eu lembro
nitidamente. Duas máscaras monstruosas, a branca e a preta.
Segura-las agora parece surreal, tudo desde ontem parece irreal.
Gabe sorri, faz carinho em minha cabeça, seu olhar está divertido, em paz.
Ele se inclina para mim, meu coração acelera com a proximidade, meus olhos correm para
Peter, mas ele ainda está imóvel olhando para fora, um cigarro entre os dedos.

"- Você já viu, o quão belo fica o sangue, quando espirra sobre superfícies brancas, doll?"

Sua voz gela meus ossos, imagens inundando minha mente.

Sim, eu já vi.
É lindo e torcido.

Não pergunto a razão da máscara do Peter ser negra, não preciso.

Levanto a cabeça e olho para o grande quadro na parede a atrás de nós.


A máscara demoníaca oculta em sombras, nenhuma luz, nenhum brilho, não existe nada
que reluza nessa escuridão.

Nada sobrevive.

Uma pergunta se forma em minha mente. Olho para as costas tatuadas de Peter, para o
demônio que me encara.

Será que eu serei capaz de sobreviver ao abismo de seus olhos?

Peter

Eu conheço Gabe desde sempre.


Éramos dois moleques que adoravam quebrar e queimar coisas, e caçar animais na
floresta.

Crescemos como uma unidade, e como é costume no estado, tivemos nossa primeira arma
antes do primeiro beijo.

Lembro da sensação que tive ao segurar minha primeira Magnum.

Eu tinha 8 anos

Lembro de olhar para meu pai, e imaginar como bonita ficaria a parede da sala, com seus
miolos espalhados por ela.

Gabe estava comigo naquele dia, como em quase todos os outros. Ele odiava a própria
casa, então passava tanto tempo aqui, que tinha o próprio quarto.

Quando eu o olhei, soube que ele pensou o mesmo que eu.


Não é inteligente dar armas carregadas, a uma criança, que observa você bater e humilhar
a mãe dela, todos os dias.

Nós crescemos rápido, nós aprendemos, brigamos, mas nunca nos separamos.
Éramos ambos iguais, e completamente opostos, ambos ligados como o dia e noite.

Eu sempre soube que era diferente das outras pessoas. Todos percebiam também,
principalmente Gabe.

Nós nos entendíamos de um jeito violento e fodido.


Caminhavamos pela floresta, em silêncio, utilizamos tudo que era ensinado. Andávamos
como se fossemos um só, uma unidade.
Nós cercavamos as presas assustadas, e então matavamos.
Não importa o quão grande fosse a presa. Nada escapava de nós.
Eu sempre adorei o olhar de medo delas antes da sua luz desaparecer.

Era inebriante.

Desde o primeiro dia, eu soube que algo faltava, dentro de mim.


Desde quando entrei no quarto de minha mãe, e vi seu sangue encharcando os lençóis
brancos, eu percebi que toda a podridão em meu peito, se espalharia e consumiria todos a
minha volta.

E agora, observando Anna com a cabeça deitada no colo do Gabriel, segurando a máscara
negra nas mãos, enquanto ele conta porque nós a usamos.
Eu tenho certeza disso.

E Porra, eu amo fato de que quando olho em seus olhos, vejo a mesma podridão me olhar
de volta.

Capítulo 33
Tainted Love

Eu caio sentada ao lado do Peter.


Estou exausta, acho que nunca ri tanto na vida. Gabe continua a mexer os quadris no ritmo
da música.

Ele é tão sexy, que mesmo que tenhamos dançado, jogado e fumado por horas, ainda não
me acostumei com ele.
Com nenhum deles.

Me estico e tento pegar o baseado da mão de Peter, ele o entende mais longe de mim

" - Esse é meu "

Ele diz rindo, mas eu continuo me esticando, ate que ele para de rir.
Estou completamente sobre seu colo agora.
Ainda estou vestindo sua camisa e nada mais.

Ele trás a mão e poe o baseado em meus lábios, eu puxo a fumaça e prendo, ele sorri, seus
olhos negros com um brilho insano.

Quero tirar esse sorriso convencido dele, me inclino a centímetros de sua boca, e solto a
fumaça, ele a puxa e traga terminando com um beijo.
Suas mãos apertam minha bunda nua, minha camisa subiu, o que quer dizer. .

Mãos me tocam por entre as mãos de Peter, e vão subindo pelas minhas costas
lentamente, levando minha camisa junto.

O ar frio arrepia minha pele.

Peter para de sorrir, se inclina e lambe meu queixo e meus lábios, então sua língua vai
fundo em minha boca.

Ele me aperta tão firme que dói.


Uma mão toca minha nuca e se enrola em meu cabelo

Eu gemo
É tão sexy

Ele se afasta, eu viro meu rosto e vejo os olhos cintilantes do Gabe.

Existe uma pergunta neles.


Eles estão me dando uma escolha.

Eu sorrio.
Tão ingênuos.

Eu me inclino para trás e o puxo para minha boca.

Sim.

Sinto uma língua circular meu mamilo e ofego. Dentes tomam seu lugar, eu gemo.

Gabe me solta e se senta ao nosso lado, me puxando para seu colo.

Minha bunda fica em suas coxas e minhas pernas sobre Peter, que pega um pé meu, e
começa beija-lo.

Eu me contorso

Gabe me beija, sua língua me induzindo levemente, ele segura minha cabeça com uma
mão, e a outra desce por meus seios, me apertando.
A boca de Peter começa a trilhar beijos por minha panturrilha.
O frio se foi, estou queimando.

Ele se move, e agora esta no centro, e minhas pernas, uma de cada lado.

Gabe solta meus lábios e começa a beijar meu pescoço, correndo a língua molhada até
minha orelha.
Como um espelho, a língua de Peter começa a subir por língua coxa.

"- Está vendo isso, doll ? "

Gabe sussurra em meu ouvido.


Eu balanço minha cabeça apenas, não tenho forças para dizer nada, porque a boca de
Peter para a um milímetro de buceta, e ele me olha.

Estou ofegante, presa em seus olhos hipnóticos.

Lentamente sua língua toca minha entrada, então sobe, até que se enrola em meu clitóris e
suga

Eu choro
Gabe chia em meu ouvido, sinto seu pau saltar sob minha bunda.

Peter se afasta e lambe os lábios, seus olhos se fecham e ele geme rouco, como se
amasse meu gosto.

Então volta para baixo e repete tudo, só que não para mais.

A boca de Gabe volta para minha, seu beijo mais duro agora, mais firme seus dedos
apertando forte meus mamilos, a dor mandando faíscas por meu corpo.
Sua língua vai fundo, me possuindo, enquanto a língua de Peter entra em mim e me pune.

Estou no céu.
Estou no inferno.

Estrelas explodem atrás de meus olhos, eu grito, Gabe abafando meus sons com seus
lábios.

Ainda estou alta, tremendo quando sou virada e posta de joelhos sobre o sofá de veludo.

Eu caio com o rosto no colo de Gabe, e olho para cima.

Seu sorriso clássico de foi.


Ele está sério, me fuzilando.

Ele nunca pareceu tanto com Peter, quando agora.

A língua de Peter volta por trás e eu perco qualquer pensamento coerente.


Ela circula meu clitóris, depois corre por minha entrada encharcada, e então minha bunda.

Ele circula em volta, me testando, me provocando.

Meus quadris repetem seus movimentos descaradamente, até que sua língua entra,
passando pelas barreiras de músculos.

É tão quente, tão intenso, que quase me desfaço novamente.

Gabe puxa meus cabelos, trazendo meu rosto para cima, eu o encaro, ofegante e
descontrolada.

"- Porra, você está tão linda agora Doll"

Eu tento sorrir, mas nessa hora, o pau de Peter entra fundo em minha buceta e grito.
Minhas costas arqueam, sinto seu peso descer sobre minhas costas, sua boca em meu
ouvido

"- É porque ele não está tento a minha visão"

Eu olho para Gabe, que se afasta um pouco, e abre sua calça, revelando um belo e grosso
pau.
Eu fico olhando para sua cabeça inchada e rosada hipnotizada.

Ele aperta meu cabelo me fazendo olhar para ele. Sua expressão brutal

"- Chupa"

Os quadris de Peter empurram uma única vez para frente, eu salto, minha boca de abrindo.
Eu fecho meus lábios em volta de Gabe, e sugo com força.
Eu o solto, o provo correndo minha língua em seu comprimento, e circulando sua cabeça
inchada, então me afundo nele novamente, ele chia e aperta mais meu cabelo.

Peter começa a se mexer, cada estocada mais forte que a outra, cada vez mais fundo, cada
vez me empurrando mais no pau do Gabe, até que ele bate incontrolavelmente, em minha
garganta.

Os quadris do Peter giram, eu me aperto a ele, uma de suas mãos me solta, então o tapa
ecoa pela sala, queimando minha pele.

Meu gemido sai estrangulado contra Gabe.

Arrasto minha mão, entre as pernas dele, e encontro o que quero, seguro firme e aperto,
seu pau incha em minha boca, e eu círculo minha língua ao seu redor.

" - PUTA MERDA ! "


Ele grita, Peter acelera, sua mão volta, mais forte. E eu explodo em um milhão de pedaços.

Estou preenchida.

Estou queimado.

Estou gemendo.

Estou nas estrelas.

Capítulo 34
Pânico

Acordo assustada.
Não lembro do que sonhei.
Mas sei que não é bom.
Meu coração esta disparado, o pânico corre em minhas veias.

Desgrudo meu rosto das costas tatuadas de Peter, que dorme profundamente.

Estou sufocando, alguém me segura por trás, eu me mexo e empurrou o braço de Gabe.

Me arrasto para fora da cama, e saio correndo para baixo.

Abro as portas de vidro e corro pelo jardim, me encosto nas árvores e tento puxar o ar.

Louca.
Corra.
Volte.
Metirosa.

As vozes gritam em minha mente, tão alto que não consigo ouvir nada além delas.

Meus ouvidos doem, minha cabeça parece que vai explodir, eu tapo meu ouvidos, como se
meus demônios estivessem gritando ao meu redor.

Mas não adianta, eu não consigo me impedir de ouvi-los, eles estão dentro de mim.

Eu escorrego para o chão de terra e musgo.


Lágrimas quentes lavam meu rosto.

Eu não consigo parar.


Não consigo faze-las parar.
Eu grito e soco o chão, as árvores, tudo que encontro.

Preciso tirar
Preciso tirar eles de dentro de mim.
Eles vão me matar

Eu os vejo rastejando em meus braços, em minhas pernas, sob minha pele.

Eu vejo a escuridão.

Estou apodrecendo

Preciso tirar

Rasgo meus braços e pernas, com minhas unhas.

Eu vou mais o mais forte que posso, mas eles se escondem, eles vão mais fundo.

Eu grito frustrada

Não adianta.
Nada adianta, eles gritam mais alto.
Me dizem que eu estou abandonando meu pai. Que estou sou uma mentirosa, assassina,
que não tenho ninguém.
Que eu devia estar morta.

Eu grito e choro, eu rasgo mais fundo, a dor não me para, o sangue quente escorrendo não
me para.

Algo me levanta, eu chuto, arranho e soco.


Eles me pegaram.
Eu não vou ir sem lutar.
Preciso lutar.

Então eu estou caindo, o frio me penetra tão fundo que não consigo respirar.
São facas entrando fundo em meus ossos, em minha alma.

Estou me afogando.
Preciso de ar,
Eu chuto e mexo meus braços com toda a força que tenho, então submergo.

Gabe está seminu na beira da piscina.


Me olhando, seus braços, rosto e peito estão cobertos de marcas vermelho vivo.

Eu fiz isso.

Eu nado para a borda, ele me estende a mão e me puxa.


Eu tropeço e ele me segura.

Eu tremo tanto que não consigo falar, não consigo fazer nada além de chorar.

Lágrimas incontrolaveis esquentam meu rosto.


Ele me abraça, eu me forço a articular palavras, depois de tentar por diversas vezes eu
consigo, com dentes batendo ruidosamente

"- Eeeeeu sssintoo muuuiitoo"

Ele se afasta e me encara, seus olhos cor de água brilhando no amanhecer cinzento.

"- Não guarde emoções, Anna. Nada que é preso termina bem. Não engula o choro. Não
engula a raiva. Não engula o medo."

Ele se afasta e eu choro com a distância de seu calor.


Ele retorna e puxa meu braço, colocando algo em minha mão, eu olho o revólver cromado,
ele pesa em minhas mãos

"- Ficou com raiva? Grite.Ficou com ódio, odeie em voz alta. Ficou tão feliz, que tem
vontade de gargalhar como uma lunática, até que sua barriga doa? Então faça."

Ele puxa meu braço, sua mão sobre a minha, e me induz a apontar a arma para uma árvore
a pouca distância.

"- Sentiu vontade de matar alguém? Mate. Quer foder um time de futebol inteiro, ao mesmo
tempo? FAÇA PORRA. Só não se tranque dentro de si mesma, e finja ser alguém que você
não é"

Seu dedo põe o meu no gatilho, e se move, ficando atrás de mim, seus braços me
cercando como cobertores quentes.
Um em minha barriga nua, outro em meu braço.

"- Não afogue o fogo que existe dentro de você, porque o mundo julga ele feio e errado"

Sua boca paira a milímetros de meu ouvido e ele sussurra

"- Queime tudo doll, ou morra sufocada."

Eu atiro.

Capítulo 35
Intensidade

Estou imersa na banheira quente a tanto tempo, que a água está fria e meus dedos
enrugados.
Mas não quero me mover.
Gabe está atrás de mim, estou encostada em seu peito enquanto ele faz carícias em meus
braços.

É tão suave, Gabe é assim. Pode ser risonho e brincalhão, então provocativo e violento em
seguida. Mas esse lado delicado que me abraça enquanto tenho um ataque, e que me leva
até uma banheira quente e me acaricia até eu conseguir esquecer meus demônios, esta
fazendo meu coração apertar.

"- Vocês vão ficar aí, por quanto tempo? "

Levanto a cabeça e vejo Peter encostado na porta. Seus braços cruzados, seu cabelo
bagunçado.
Ele parece um confusão sonolenta e quente.

"- Nós já estávamos saindo, vamos doll."

Eu me mexo, e me forço a me mover, Peter se aproxima e me da a mão, me ajudando a


sair.
Ele me enrola em uma toalha negra felpuda, o tecido se arrastando por meus arranhões,
me fazendo chiar.

Ele me puxa para a cama e Gabe já está la esparramado, ele bate ao seu lado e eu me
novo, mas Peter me para.

Seus olhos me sondam, e suas mãos soltam minha toalha, que cai no chão.

Por mais que ja tenhamos passado por isso diversas vezes nas últimas horas, eu enrubeço
como uma virgem.

Ele ri, e um pouco do meu fogo se acende.

Empurro com força, ele cai de costas na cama.


Eu lentamente subo em seu colo, e o beijo.

Suas mãos sobem por minhas pernas, e apertam minha bunda.

Sinto lábios encontrarem em minha nuca e eu gemo contra a boca do Peter.


Os lábios começam a descer lentamente, polegada por polegada.

Uma mão de Peter, segura meu cabelo e a outra se move entre nós, e toca meu clitóris
inchado, eu gemo e me afasto, segurando seu lábio entre meus dentes.
Eu o olho, seu rosto está tenso e concentrado, começo me perder em seu olhar.

Uma mão me empurra levemente, me fazendo me inclinar para ele.


Nossos peitos se encostam, meu cabelo cai como cascata ao nosso redor, e ele me beija
tão suave e lentamente, que meu coração aperta.

Uma língua corre por toda minha extensão, eu gemo, me ajeito em seu colo e me levanto, e
sem quebrar seu olhar eu desço em sua ereção.
É tão lindo a forma que ele geme meu nome, que reviro os olhos, me perdendo na
sensação.
Sou puxada levemente para trás, meus braços tencionam um pouco

"- Não se esqueça de mim aqui, doll"

Gabe sussurra em meu ouvido, sua língua corre minha nuca e eu gemo novamente, seu
pau começa a entrar em mim, tão lentamente quanto seus beijos são.
Como se fosse possível eu esquece-lo.

Ele vai me abrindo, me enchendo, e quando sua pélvis toca minha bunda totalmente, o
vazio em meu peito se foi.

Estou completa.

Peter empurra para cima, enquanto Gabe empurra para baixo.


Suas mãos me impedem de tombar totalmente para frente, ele segura meu cabelo e me
puxa, minhas costas ficam arqueadas.

Peter aperta meu quadril firme com uma mão, e sob minhas pálpebras cerradas o vejo se
apoiar em um braço e se elevar, sua boca tocando meu mamilo e chupando suavemente.

Eles se movem lentamente, como se fossem um só. Como se nos três fossemos um só.

A pressão vai aumentando lentamente, como uma faísca que se torna um enorme
incêndio.

Suor escorre por meu corpo e rola para o deles, estou gemendo e ronronando como um
gato. Não consigo manter meu olhos abertos, viro para o lado, em busca da boca do Gabe,
que me encontra, Peter empurra para cima com força.

Eu e Gabe gememos juntos, um contra o outro.

Ele sente isso também.

Os lábios de Peter tocam a base de meu pescoço, seus dentes me arranhando, então seu
lábios se fecham e ele chupa, me marcando.
Os lábios de Gabe, soltam os meus, e se arrastam por minha pele, e imitando Peter ele
deixa sua marca, no ponto sob minha orelha.

Tudo começa a ficar mais forte, estamos no limite.

Gabe se afasta de minhas costas e empurra para frente, me fodendo com mais força.
Eu caio sob Peter, que responde os movimentos de Gabe com a mesma intensidade.

Eu olhos se fecham e como se atingida por um onda gigante, eu me desfaço.

Meus gritos estrangulados, sufocados contra a pele do vão entre o ombro e o pescoço de
Peter.
Estou tão flutuante em minha nuvem, que nem noto que terminamos juntos.
Nós apenas rolamos para o lado e eu adormeço, com eles dois ainda dentro de mim.
Meu último pensamento coerente é

Eles são meus.

Capítulo 37
Cacos, sangue e cafeína

Duas Semanas depois..

Meu peito está explodindo de tanta felicidade.

Isso é felicidade?

Deve ser, porque não consigo parar de sorrir.

Eu me inclino e pego uma caneca do armário, e me sirvo um pouco de café.

Peter, Gabe e Marcus estão na sala, discutindo sobre algo de trabalho.

Eu tenho passado mais tempo aqui do que na faculdade.


Vick continua sendo minha amiga, e fica me lembrando que não posso me apegar tanto a
alguém assim.

Não é saudável.

Eu sei, mas quem de nós aqui é saudável?

Eu pelo menos nunca fui.

As aulas continuam exaustivas, as pessoas ainda me encaram e conchichão, Andrea ainda


me lança olhares de ódio, mas todos os dias em que saio do edifico onde são administradas
as aulas, um deles está me esperando.

E toda, toda a fodida vez que vejo Gabe em sua moto, ou Gabe sombrio em seu carro, meu
coração aperta.

As malditas borboletas foderam como coelhos, e em duas semanas, quaduplicaram em


quantidade.

Eu fecho meus olhos enquanto sinto o cheiro da cafeína, entrar em meus pulmões.

Lembro de seus lábios correrem por meu corpo.

Lembro de cada sorriso e suspiro.


Cada vez que um deles geme meu nome quando chega ao ápice.
Eu os amo.

Meus olhos se abrem.

Sim, é isso.

Eu sei que é.
Nunca senti isso antes, mas sei que os amo.

Cada parte doentia e torcida.


Cada sorriso e olhar.
Cada momento de raiva e ódio.
Nós nos completamos da pior e melhor maneira possível.

Com eles, não tenho mais pesadelos.


Com eles as vozes aumentaram seu volume, mas ao mesmo tempo não me acusam mais.

Estou livre.

Eu libertei minha selvageria.

Meus demônios e os deles adoram brincar juntos.

Eu caminho até a sala, lentamente, eles estão tão quietos essa manhã, talvez eu possa
fazer algo em relação a....

" - Ainda não temos nenhuma pista sobre o assassino do filho do magnata farmacêutico
Robert O'connel.
O país está chocado com tamanha brutalidade que Tyler O'connel, de 28 anos sofreu. A
policia do estado da Califórnia está reunida com o FBI a semanas, mas nada foi informado
ainda.
Eles apenas dizem que estão reunindo e seguindo pistas, o que deixa a população cada
vez mais inquieta e amedrontada. Se não pegarem esse maníaco logo, qual será seu
próximo passo? Quem será sua próxima vítima?

- Obrigada, Crystin aguardamos mais informações, seguimos agora com a transmissão


local"

Ouço a cerâmica cair, cacos e café se espalhando por todo o linóleo.


Todos eles olham para mim, mas eu estou congelada olhando a tela.

A TV foi desligada, mas as imagens da cozinha de minha mãe queimam por trás de meus
olhos.
A fita da perícia delimitando cada centímetro, o sangue manchando as paredes, o carpete
branco, e o saco plástico branco escondendo o corpo desfigurado do Tyler.

Eu desperto, e começo a recolher os cacos, eles nunca vão me encontrar.


Minha mãe evitou a todo custo, que nenhum repórter espalhase que ela tinha uma filha
fodida e drogada.
Eles não vão me encontrar, eu não deixei rastro nenhum.

"- Caralho, eles pegaram ele de jeito mesmo."

A voz de Gabe me para, eu continuo a olhar para o café no chão

"- Isso explica porque ele não responde o celular, nem o email. O fodido está morto."

"- Como você não ficou sabendo disso Marcus? "

Peter diz, sua voz cortante.

"- Eu não tenho como saber de tudo porra. Eu falei com ele a meses atrás, era trabalho do
Gabe, confirmar que a quantia tinha sido depositada"

" Não olhem assim pra mim, caralho. Eu falei com ele, ele disse que tinha pegado o valor e
ia depositar, estou tentando falar com ele desde então. Estou tão surpreso quanto vocês"

" - Eu não quero saber de quem é a culpa, eu quero saber onde está a PORRA DO MEU
DINHEIRO!"

"- Calma Porra, eu vou tentar rastrear as chamadas dele e a câmera da casa. Se alguém
pegou o dinheiro antes ou depois dele morrer, eu vou saber. Relaxa Peter, você sabe que
eu sou foda, o dinheiro também é meu. Eu vou achar e pegar, nem que tenha que arrancar
a pele de quem roubou, centímetro por centímetro"

"- Não se eu chegar primeiro."

O sangue se mistura ao café.


Os cacos rasgam minha carne e nervos, a medida que eu os aperto com força.

Estou tremendo tanto, que meus dentes batem.

Eu me levanto, vou até a cozinha, os jogo no triturador, e volto com um pano.

Depois que tudo está limpo, eu vou até o quarto de Peter, me tranco no banheiro, me olho
no enorme espelho, e me deixo processar o que ouvi.

Meu dinheiro.

Nosso dinheiro

"- eu vou achar e pegar, nem que tenha que arrancar a pele de quem roubou"

"- Não se eu encontrar primeiro."


Eu escorrego para o chão e me encolho, segurando firme minha cabeça.

Meu dinheiro

Dinheiro deles.

Como isso é possível?

O dinheiro deles.

Eu choro

Estou morta.

Capítulo 38
Doll

Me levanto do chão frio


Seco meu rosto molhado de lágrimas.

O pânico está em meus olhos, eu pisco várias vezes, até ele sumir.

Pânico aqui, é como sangue na água


E nós, somos tubarões.

Respiro fundo.
Preciso pensar em algo, eu preciso encontrar uma maneira, eles não podem descobrir que
estou envolvida.
E não consigo fazer nada disso nessa casa.

Abro a porta e Peter está parado, encostado distraidamente no batente.

Seus olhos me calculam.


Se ele sentir meu medo, ele não vai me deixar sair, não até que eu fale

"- O que foi aquilo? "

"- A caneca escapou"


Levanto minhas mãos e mostro os cortes
"- Vim resolver isso"

Ele pega a minha mão e planta um beijo suave em cada corte, eu suspiro.

Eu não posso perder ele.

A cada dia que passa, Peter me deixa entrar mais..


A cada dia eu me enrolo mais na sua escuridão, ela me servindo de cama, enquanto o calor
de Gabe, é meu cobertor.

Ele me empurra novamente para dentro, fechando a porta atrás de si.


Meu coração acelera.

Ele me empurra até a bancada, me suspendendo e me colocando sobre o mármore escuro.

Seus dedos longos seguram cada lado de meu rosto, seus olhos me prendem novamente,
ele se inclina e fecho os olhos, enquanto ouço seu sussurro a milímetros da minha boca

"- Odeio quando você mente para mim, doll"

Cada centímetro de meu corpo gela. Eu me afasto e o encaro

" - Odeio quando você supõe o que esta em minha mente, badboy "

Ele fecha a distância de nossos lábios, e como sempre seu beijo é duro e arrebatador.

Peter é áspero e incisivo.


É selvagem e brutal.

Ele te obriga a esquecer de tudo a sua volta, te obriga a respirar apenas ele, a sentir
apenas dele.

Meu pânico se vai


Meu medo se vai
Tudo se vai.

Só existe eu e ele.

Por esses minutos eu esqueço que eles vão me odiar, e me matar quando souberem que
roubei o dinheiro, e menti.

Eu me esqueço que eles não vão acreditar em mim, quando eu disser que não sabia,
porque eles não confiam em ninguém além deles mesmos

Eu me esqueço de tudo

Suas mãos somem debaixo de minha saia, e puxam minha calcinha por minhas pernas.
Eu puxo sua camisa, lançando-a no chão, abro sua calça e o puxo para mim.
Ele me penetra fundo e rápido, minha cabeça tomba para trás.

Eu gemo.

Uma se suas mãos segura minha coxa que está presa em seu quadril, enquanto a outra
segura firme minha garganta, eu me forço a olhar para ele.
Seus olhos me encaram,
ele sabe que estou mentindo.

Ele sabe que existe algo errado, porque Peter me conhece mais que qualquer um, ele
conhece a escuridão dentro de mim.

Nós dois somos iguais, somos podres por dentro..


Eu e ele temos dificuldade em esconder nossa sujeira do resto do mundo.

Ele planta um beijo suave em meus lábios, que entra em contraste com sua estocadas
rápidas.

Estou subindo como em uma montanha russa, ele vira meu rosto para o lado, a bancada de
pedra treme, seus lábios se arrastam para minha orelha

"- Existe medo em seus olhos "

Ele gira os quadris, e eu caio pela borda do mundo.


Caio como um carrinho de montanha russa, mas eu não subo novamente.

Porque não existe trilhos a minha frente, apenas o abismo.

Ele percebe que estou chorando, contra o seu ombro?

....

Estamos em silêncio por toda a viagem, não é um silêncio confortável.

Paramos em frente de meu dormitório, eu fico olhando para o vidro, e ele para mim.

Sempre posso sentir quando ele me olha.

Eu me movo para sair, mas sua mão me segura.


Eu tento esboçar um sorriso, mas não consigo.

Existe algo diferente em seus olhos agora.

Algo torturado

Eu me inclino, ele me puxa, nossas testas se encostam.

Entre nós sempre existiu esse imã, que nos atrai um para o outro

"- Quem é você? "

Ar escapa de meus pulmões, como se eu tivesse sido golpeada.

Quem eu sou?
A Anna psicótica e assassina?

A Anna depressiva e mal humorada?

A Anna solitária?

Eu olho em seus olhos negros, e digo o que esta gravado com sangue, bem no fundo da
minha alma

Peter me ensinou que posso ser quem eu quiser, e entre todas as versões de mim, a que
prefiro ser, é sempre aquela que está ao seu lado

"- Eu sou sua doll."

Eu me afasto e saio do carro, eu não olho para trás nenhuma vez.

E eu não escuto o carro ir, até que estou em minha cama.

Eu não posso perde-los.

Capítulo 39
Noite sem estrelas

Estou olhando o celular a minutos

A foto de Gabe sorrindo, me encara enquanto psycho killer toca.

Ele ama tanto essa música, que colocou como toque do meu celular.

Então toda vez ele liga, ela ecoa pelo ar, como agora.

Só que hoje, não tenho coragem para atender,

Dois dias se passaram sem notícias deles.

Sem ninguém me buscar ou ligar.

Talvez seja porque Peter sabe que algo está errado dentro de mim.
Talvez ele soubesse que eu precisava ficar sozinha.

Ou talvez eles já saibam, e estejam me torturando.

As vozes em minha mente, estão dizendo que é a segunda opção.


Que é uma armadilha.

"- Você não vai atender? "


Lembro que Vick está ao meu lado, estamos em meu quarto nas últimas duas horas, ela
também sente que algo está errado.

Ela parou de perguntar, mas como uma futura psicóloga, ela não me deixou, desde que me
viu voltar sozinha para o meu quarto depois da aula.
Ela está com medo de algo.

Será que só agora, ela notou a podridão em mim?

" Eles nunca deixam você "


Ela disse, eu quase quebrei.

Eu não sou assim.


Eu não me derramo em sentimentos.
Eu não sou fraca assim.
Eu não preciso de ombro amigo.

A ligação cai.

Eu respiro de novo
Fecho meus olhos, então meu celular vibra.
Eu olho a tela

Eu sei que o celular cai


Eu sei que Vick, está me chacoalhando

Eu sei de tudo isso,


mas não me importo.
Porque a mensagem só dizia uma coisa

" Ele ainda não sabe, Anna Marie "

"- Preciso do seu carro"

Eu olho para Vick, ela está pálida e nitidamente assustada com minha reação a uma
mensagem.

"- Quem é essa Anna? Você conhece? "

" Victoria eu preciso do seu carro. Eu.. "

Respiro fundo

"- Eu preciso ir até a casa do Peter agora. Eu juro você vai ter seu carro de volta."

Ela me olha desconfiada, mas acaba me jogando suas chaves.


Eu não pego mais nada, deixo meu celular no chão e me viro para porta.
Mas antes de passar eu a olho, ela está sentada na minha cama, seus óculos vermelhos e
estranhos, contrastando com o visual estiloso.

Ela é o reflexo da amiga que tentei ter, da vida que eu podia ter, se tudo tivesse sido
diferente, se eu tivesse nascido diferente.

Ela vê algo em meu olhar, porque sua expressão muda, ficando mais assustada que antes

"- O que ?"

" Obrigada por fazer parte dos 2% Vick."

Eu viro as costas, e fecho a porta para a vida que nunca vou ter.

Eu corro para o carro, e bato todos os recordes de velocidade, e paro na estrada, em frente
a casa do Peter.

A grande casa de portas negras me encara, meu peito aperta.

Minha mente está gritando


Pela primeira vez, meus demônios me mandam voltar e não entrar naquela casa.
Mas eu pensei em tudo, eu não posso fugir disso, eu não posso fugir deles.

Eu deixo a chave na ignição e saio, mas um segundo antes de entrar na casa, eu olho para
o anoitecer.

Eu ainda tenho uma chance.

Uma chance de não perder tudo, de não perder o que me faz respirar.

A casa está quieta, e como sempre as luzes estão apagadas.

Eu me movo, meus pés descalços nunca fazem barulho nesse piso.

Gabe que está no meio da sala, olhando para as árvores que aparecem através das portas
de vidro.

Ele me sente, pois seu corpo tensiona, ele começa a se virar, eu prendo a respiração e
fecho meus olhos.

Eu espero o chingamento, eu espero por violência.


Mas não encontro,
No lugar, mãos suaves me pegam, eu arfo

Meus olhos se abrem e seus olhos de mar caribenho, me encaram, existe uma sombra
nele, traição, raiva e ódio tão grande.
Eu me encolho

" Muito tarde para ter medo de mim não acha? Você é o menor dos meus problemas, doll"

Eu não entendo

Minha mente está em um silêncio mortal

Olho em volta e noto que a casa está destruída.

A TV está quebrada, poltronas tombadas, parte da coleção de armas está no chão.

"- Ele não está. Mas vai chegar, eu já liguei para ele"

Eu tremo

"- Você podia ter me contado, eu achei que éramos amigos."

"- Você sabe que somos muito mais do que isso, Gabe." - Eu engulo o nó em minha
garganta
" - Eu não sabia...eu não"

"- Claro que não."

Ele me solta

"- Eu roubei seu dinheiro, mas eu.."

"- Porra sim, você roubou. E veio parar justo aqui. Que azar fodido você tem hein, doll?!
Merece uma surra por isso. Surra que vai levar, e não vai poder sentar por um mês."

Ele anda de um lado para o outro, mais inquieto que o normal

"- Mas se o dinheiro não estivesse lá, você não teria pegado, Doll. E aquele dinheiro não
devia estar lá"

Eu pisco, como?
Ele pega um cigarro do chão e acende

"- O filho da puta era um de nossos fornecedores. O fodido do papai dele, fábrica e lava
nosso dinheiro à anos, doll. Aquele dinheiro devia ter sido depositado na nossa conta"

Eu ainda não entendo, porque ir tão longe, porque não fazer isso por aqui, aí eu me lembro

"- estamos mais para empresários do ramo farmacêutico. Os maiores do estado"

Claro, o novo marido da minha mãe, era um dos maiores bilionários do ramo.
Mas ainda não explica
"- Por que eu não sou o pior dos problemas?"

Ele se aproxima de mim e beija minha testa suavemente, seu cheiro de sol me embala, eu
quase choro com isso.

Ele me solta e passa por mim, fico olhando para as árvores.

"- Porque Tyler estava ajudando alguém a nos foder, à meses"

Tudo acontece em segundos


Eu ouço ele falar, ouço a porta abrir
Então grito dele me assusta, eu viro a tempo de ver o tiro.

De ver Gabe cair de costas, sobre os cacos da TV

De ver Marcus na porta, o revólver em sua mão.

Eu fico olhando sem entender por alguns segundos.


Minha mente não processa a cena

Gabe tenta levantar, e eu reajo correndo até ele

Eu caio ao seu lado, os cacos da ferindo meu joelhos


Ele tosse e engasga, sangue sai de sua boca, e em volta de nós uma poça começa a se
formar rapidamente

Eu seguro com minhas mãos


Eu tento manter o sangue nele
Mas o buraco é grande demais, meus dedos entram nele, existem tanto sangue
Ele vasa rápido demais

Eu tento manter sangue nele

Tanto sangue

" já viu como o sangue fica lindo, quando espirra em superfícies brancas? "

Minha mente maldita e inútil me lembra de sua voz

Não
Não, não é bonito, assim.
Na camisa do Gabe não é bonito.

Ele está tão pálido


Como uma estátua, sua beleza nunca me pareceu tão etérea

Não, está errado


O sorriso malicioso e radiante não esta em seus lábios.
Nem seu olhar divertido e em paz.

Ele tenta a todo custo de levantar.


Mas não consegue
Eu tento mante-lo parado, porque toda vez que ele se move, mais sangue sai

Seu olhos estão tão raivosos, ele transpira ódio e fúria, mas a cada piscar ele fica mais
sonolento

NAO NAO NAO NAO


Por favor não DURMA

Sei que estou gritando, porque minha garganta queima

Eu tento conter o sangue, eu tento de tudo,


mas não consigo,
eu estou me banhando nele.

Sua mão toca meu rosto, e ele tentar sorrir, mas sua mão cai

Ele sussurra duas palavras, seus lábios se movem, mas nenhum som sai
Seus olhos fixam em mim com tanta intensidade, com uma força como nunca vi antes

Os olhos do azul mais claro que vi.

Os olhos da cor do caribenho, perdem a luz lentamente

Pela primeira vez na vida, essa é a coisa mais horrível que vi na vida.

Eu não aceito

Não ele não vai

Nós não morremos assim


Nós rimos, matamos, fodemos e amamos

Nós não morremos assim

Eu o chacoalho
Eu bato em seu rosto, em seu peito

Ele tem que acordar


Ele tem que acordar

Eu ouço meus gritos se misturarem aos da minha mente


A dor me rasga em milhões de pedaços

Eu não posso suportar

Eu não posso

Eu preciso dele
Eu preciso que ele acorde

Preciso que sua boca suja guspa palavrões

Preciso dos passeios de moto em alta velocidade

Preciso queimar o mundo com ele

Eu preciso dos seus beijos sensuais

Eu preciso do seu sorriso radiante

Eu preciso dos seus olhares intensos

Eu me deito sobre seu peito


Preciso ouvir sua pulsação

Mas não ouço nada

Nada

Eu não sou nada


Porque meu Gabe não está mais aqui.

Aquele que me segurou quando eu precisei, e me disse para não matar o fogo em mim

A única luz que existia na minha mente doentia, não está aqui

A dor que me retalha é tão grande, que quero entrar sob sua pele, e nunca mais sair

Preciso estar perto dele

Seu sangue molha meu rosto, e se mistura em minhas lágrimas.

Então ouço um sussurro em minha mente, e eu lembro

Lembro de quem fez isso e me levanto, ele está parado a menos de um metro de mim, eu
vou arrancar o coração de seu peito e comer

"- Comovente. Sinceramente, é comovente, eu achava que você tinha um favorito, mas pelo
visto o ménage era realmente bom"
Eu me jogo sobre ele, com unhas, dentes e ódio.

Com tudo que tenho.


Com tudo que sou.

Eu não vejo nada

Nada além de vermelho

O mesmo vermelho do sangue de Gabe, que mancha meu corpo

Colidimos contra a parede, ele tenta se esquivar de mim, sinto suas mãos arrancando tufos
de meus cabelos, eu sinto seus socos contra minhas costelas

Eu sinto tudo
Mas não solto
Ele não consegue me tirar.

Enfio minhas unhas em seu pescoço.


Eu às cravo em seu rosto tão fundo, que sinto pele e carne se romperem sob elas.

Ele nos gira e minhas costas batem forte na parede, então estou decolando pela sala

Caindo sobre os vidros cobertos de sangue

A dor me tira o folego, vejo sua sombra sobre mim em um segundo

Tento proteger meu rosto de seus socos,


Eu tenho que ter uma chance, para pegar alguma arma caída pelo chão e cortar sua
cabeça

Mas Marcus é enorme, e muito mais forte que eu.

Chutes chegam tão fortes, que me enrolo em uma bola, e a medida que eles me atingem eu
vomito sangue

Mais sangue pelo chão

Então tudo para

"- Eu podia te matar aqui, mas não vou"

Sua voz é morta, como ele vai estar ainda essa noite

"- Sabe porque pequena Anna? "

"- Porque eu vou amar ver o Peter caçar você "


Com isso eu levanto meu rosto e o olho, seu rosto está retorcido em cortes furiosos feitos
pelas minhas unhas, seu olho esquerdo levemente fechado e ensanguentado, seu lábio
pingando sangue

Mas são as palavras que congelam minha alma.

"- Você é tão burra. Não entendeu ainda? Você poderia ter continuado sua vidinha de
merda, mas você tinha que pegar meu dinheiro. Não sabe qual foi o tamanho do meu
choque, quando te vi naquela festa. Eu estava te procurando a meses, aí do nada, a meia-
irmazinha drogada cai bem no colo do Peter. Minha sorte é maravilhosa"

Tudo me atinge

"- Tyler estava ajudando alguém a foder a gente por meses "

" o dinheiro não devia estar lá"

Era ele, ele estava com Tyler.

"- Pobre boneca quebrada e burra"

Ele se levanta, então pega o revolver que está a poucos metros do chão, aponta para a
própria perna, e atira.
Fico surda por alguns segundos, então ele volta a falar

"- Vai ser terrível contar para o Peter, que o brinquedinho favorito dele. Além de ser uma
ladra mentirosa. Matou a única pessoa que ele amou no mundo. "

Sua voz fica mais baixa,

" - Depois da mãe é claro"

Ele é louco, mais louco que nós.

Sangue escorre como um rio de sua perna, mas ele não demostrar nada, ele nem pisca.

Peter nunca acreditaria nisso.

Ele sabe que eu. .

Ele não

Meus demônios gritam e eu seguro minha cabeça


Sinto rastejar sobre minha pele

Medo e dúvida me rasgam


Peter não vai acreditar em mim, não

Ele

"- Sabe, ele vai ficar transtornado, vai me culpar, mas vai ser tão fácil contar para ele como
você nos enganou, e atirou em nós, com a própria arma do Gabriel."

Só então eu noto, que o revólver em sua mão é o cromado, o mesmo que Gabe deu em
minha mão quando eu estava me perdendo

"- Queime todos doll, ou morra sufocada."

"- Sim Anna, você entendeu, agora é melhor me dizer onde está minha grana"

"- Euuu nnão tenho mais nada"

Minha voz sai rouca e fraca


Ele sorri, mas o sorriso não chega aos olhos
Ele não é nada além de uma casca vazia, animada por algum cordão demoníaco

"- Então, sugiro que você começe a correr."

Ele olha o relógio no pulso

" Corra, Vadia. O mais rápido que pode"

Eu olho para Gabe, seu corpo pálido, frio e ensanguentado.


Olho para meus braços e vejo a criatura se mexer, levantando pedaços de minha pele, vejo
minhas unhas quebradas e negras

Olho para Gabe


É como se ele estivesse articulando, suas últimas palavras novamente

"- Corra doll"

Eu me levanto, devagar, mancando, e vou até as portas de vidro atrás de nós.

"- Isso Anna, fuja, mas lembre, nós nunca perdemos uma presa."

Eu sorrio para a floresta escura que me encara.

Ele não faz ideia, do quanto esta certo.Noite sem estrelas

Estou olhando o celular a minutos

A foto de Gabe sorrindo, me encara enquanto psycho killer toca.

Ele ama tanto essa música, que colocou como toque do meu celular.
Então toda vez ele liga, ela ecoa pelo ar, como agora.

Só que hoje, não tenho coragem para atender,

Dois dias se passaram sem notícias deles.

Sem ninguém me buscar ou ligar.

Talvez seja porque Peter sabe que algo está errado dentro de mim.
Talvez ele soubesse que eu precisava ficar sozinha.

Ou talvez eles já saibam, e estejam me torturando.

As vozes em minha mente, estão dizendo que é a segunda opção.


Que é uma armadilha.

"- Você não vai atender? "

Lembro que Vick está ao meu lado, estamos em meu quarto nas últimas duas horas, ela
também sente que algo está errado.

Ela parou de perguntar, mas como uma futura psicóloga, ela não me deixou, desde que me
viu voltar sozinha para o meu quarto depois da aula.
Ela está com medo de algo.

Será que só agora, ela notou a podridão em mim?

" Eles nunca deixam você "


Ela disse, eu quase quebrei.

Eu não sou assim.


Eu não me derramo em sentimentos.
Eu não sou fraca assim.
Eu não preciso de ombro amigo.

A ligação cai.

Eu respiro de novo
Fecho meus olhos, então meu celular vibra.
Eu olho a tela

Eu sei que o celular cai


Eu sei que Vick, está me chacoalhando

Eu sei de tudo isso,


mas não me importo.
Porque a mensagem só dizia uma coisa
" Ele ainda não sabe, Anna Marie "

"- Preciso do seu carro"

Eu olho para Vick, ela está pálida e nitidamente assustada com minha reação a uma
mensagem.

"- Quem é essa Anna? Você conhece? "

" Victoria eu preciso do seu carro. Eu.. "

Respiro fundo

"- Eu preciso ir até a casa do Peter agora. Eu juro você vai ter seu carro de volta."

Ela me olha desconfiada, mas acaba me jogando suas chaves.


Eu não pego mais nada, deixo meu celular no chão e me viro para porta.

Mas antes de passar eu a olho, ela está sentada na minha cama, seus óculos vermelhos e
estranhos, contrastando com o visual estiloso.

Ela é o reflexo da amiga que tentei ter, da vida que eu podia ter, se tudo tivesse sido
diferente, se eu tivesse nascido diferente.

Ela vê algo em meu olhar, porque sua expressão muda, ficando mais assustada que antes

"- O que ?"

" Obrigada por fazer parte dos 2% Vick."

Eu viro as costas, e fecho a porta para a vida que nunca vou ter.

Eu corro para o carro, e bato todos os recordes de velocidade, e paro na estrada, em frente
a casa do Peter.

A grande casa de portas negras me encara, meu peito aperta.

Minha mente está gritando


Pela primeira vez, meus demônios me mandam voltar e não entrar naquela casa.
Mas eu pensei em tudo, eu não posso fugir disso, eu não posso fugir deles.

Eu deixo a chave na ignição e saio, mas um segundo antes de entrar na casa, eu olho para
o anoitecer.

Eu ainda tenho uma chance.

Uma chance de não perder tudo, de não perder o que me faz respirar.
A casa está quieta, e como sempre as luzes estão apagadas.

Eu me movo, meus pés descalços nunca fazem barulho nesse piso.

Gabe que está no meio da sala, olhando para as árvores que aparecem através das portas
de vidro.

Ele me sente, pois seu corpo tensiona, ele começa a se virar, eu prendo a respiração e
fecho meus olhos.

Eu espero o chingamento, eu espero por violência.


Mas não encontro,
No lugar, mãos suaves me pegam, eu arfo

Meus olhos se abrem e seus olhos de mar caribenho, me encaram, existe uma sombra
nele, traição, raiva e ódio tão grande.

Eu me encolho

" Muito tarde para ter medo de mim não acha? Você é o menor dos meus problemas, doll"

Eu não entendo

Minha mente está em um silêncio mortal

Olho em volta e noto que a casa está destruída.

A TV está quebrada, poltronas tombadas, parte da coleção de armas está no chão.

"- Ele não está. Mas vai chegar, eu já liguei para ele"

Eu tremo

"- Você podia ter me contado, eu achei que éramos amigos."

"- Você sabe que somos muito mais do que isso, Gabe." - Eu engulo o nó em minha
garganta
" - Eu não sabia...eu não"

"- Claro que não."

Ele me solta

"- Eu roubei seu dinheiro, mas eu.."

"- Porra sim, você roubou. E veio parar justo aqui. Que azar fodido você tem hein, doll?!
Merece uma surra por isso. Surra que vai levar, e não vai poder sentar por um mês."
Ele anda de um lado para o outro, mais inquieto que o normal

"- Mas se o dinheiro não estivesse lá, você não teria pegado, Doll. E aquele dinheiro não
devia estar lá"

Eu pisco, como?
Ele pega um cigarro do chão e acende

"- O filho da puta era um de nossos fornecedores. O fodido do papai dele, fábrica e lava
nosso dinheiro à anos, doll. Aquele dinheiro devia ter sido depositado na nossa conta"

Eu ainda não entendo, porque ir tão longe, porque não fazer isso por aqui, aí eu me lembro

"- estamos mais para empresários do ramo farmacêutico. Os maiores do estado"

Claro, o novo marido da minha mãe, era um dos maiores bilionários do ramo.
Mas ainda não explica

"- Por que eu não sou o pior dos problemas?"

Ele se aproxima de mim e beija minha testa suavemente, seu cheiro de sol me embala, eu
quase choro com isso.

Ele me solta e passa por mim, fico olhando para as árvores.

"- Porque Tyler estava ajudando alguém a nos foder, à meses"

Tudo acontece em segundos


Eu ouço ele falar, ouço a porta abrir
Então grito dele me assusta, eu viro a tempo de ver o tiro.

De ver Gabe cair de costas, sobre os cacos da TV

De ver Marcus na porta, o revólver em sua mão.

Eu fico olhando sem entender por alguns segundos.


Minha mente não processa a cena

Gabe tenta levantar, e eu reajo correndo até ele

Eu caio ao seu lado, os cacos da ferindo meu joelhos


Ele tosse e engasga, sangue sai de sua boca, e em volta de nós uma poça começa a se
formar rapidamente

Eu seguro com minhas mãos


Eu tento manter o sangue nele
Mas o buraco é grande demais, meus dedos entram nele, existem tanto sangue
Ele vasa rápido demais

Eu tento manter sangue nele

Tanto sangue

" já viu como o sangue fica lindo, quando espirra em superfícies brancas? "

Minha mente maldita e inútil me lembra de sua voz

Não
Não, não é bonito, assim.
Na camisa do Gabe não é bonito.

Ele está tão pálido


Como uma estátua, sua beleza nunca me pareceu tão etérea

Não, está errado

O sorriso malicioso e radiante não esta em seus lábios.


Nem seu olhar divertido e em paz.

Ele tenta a todo custo de levantar.


Mas não consegue
Eu tento mante-lo parado, porque toda vez que ele se move, mais sangue sai

Seu olhos estão tão raivosos, ele transpira ódio e fúria, mas a cada piscar ele fica mais
sonolento

NAO NAO NAO NAO


Por favor não DURMA

Sei que estou gritando, porque minha garganta queima

Eu tento conter o sangue, eu tento de tudo,


mas não consigo,
eu estou me banhando nele.

Sua mão toca meu rosto, e ele tentar sorrir, mas sua mão cai

Ele sussurra duas palavras, seus lábios se movem, mas nenhum som sai
Seus olhos fixam em mim com tanta intensidade, com uma força como nunca vi antes

Os olhos do azul mais claro que vi.

Os olhos da cor do caribenho, perdem a luz lentamente

Pela primeira vez na vida, essa é a coisa mais horrível que vi na vida.
Eu não aceito

Não ele não vai

Nós não morremos assim


Nós rimos, matamos, fodemos e amamos

Nós não morremos assim

Eu o chacoalho
Eu bato em seu rosto, em seu peito

Ele tem que acordar


Ele tem que acordar

Eu ouço meus gritos se misturarem aos da minha mente

A dor me rasga em milhões de pedaços

Eu não posso suportar

Eu não posso

Eu preciso dele
Eu preciso que ele acorde

Preciso que sua boca suja guspa palavrões

Preciso dos passeios de moto em alta velocidade

Preciso queimar o mundo com ele

Eu preciso dos seus beijos sensuais

Eu preciso do seu sorriso radiante

Eu preciso dos seus olhares intensos

Eu me deito sobre seu peito


Preciso ouvir sua pulsação

Mas não ouço nada

Nada

Eu não sou nada


Porque meu Gabe não está mais aqui.
Aquele que me segurou quando eu precisei, e me disse para não matar o fogo em mim

A única luz que existia na minha mente doentia, não está aqui

A dor que me retalha é tão grande, que quero entrar sob sua pele, e nunca mais sair

Preciso estar perto dele

Seu sangue molha meu rosto, e se mistura em minhas lágrimas.

Então ouço um sussurro em minha mente, e eu lembro

Lembro de quem fez isso e me levanto, ele está parado a menos de um metro de mim, eu
vou arrancar o coração de seu peito e comer

"- Comovente. Sinceramente, é comovente, eu achava que você tinha um favorito, mas pelo
visto o ménage era realmente bom"

Eu me jogo sobre ele, com unhas, dentes e ódio.

Com tudo que tenho.


Com tudo que sou.

Eu não vejo nada

Nada além de vermelho

O mesmo vermelho do sangue de Gabe, que mancha meu corpo

Colidimos contra a parede, ele tenta se esquivar de mim, sinto suas mãos arrancando tufos
de meus cabelos, eu sinto seus socos contra minhas costelas

Eu sinto tudo
Mas não solto
Ele não consegue me tirar.

Enfio minhas unhas em seu pescoço.


Eu às cravo em seu rosto tão fundo, que sinto pele e carne se romperem sob elas.

Ele nos gira e minhas costas batem forte na parede, então estou decolando pela sala

Caindo sobre os vidros cobertos de sangue

A dor me tira o folego, vejo sua sombra sobre mim em um segundo

Tento proteger meu rosto de seus socos,


Eu tenho que ter uma chance, para pegar alguma arma caída pelo chão e cortar sua
cabeça

Mas Marcus é enorme, e muito mais forte que eu.

Chutes chegam tão fortes, que me enrolo em uma bola, e a medida que eles me atingem eu
vomito sangue

Mais sangue pelo chão

Então tudo para

"- Eu podia te matar aqui, mas não vou"

Sua voz é morta, como ele vai estar ainda essa noite

"- Sabe porque pequena Anna? "

"- Porque eu vou amar ver o Peter caçar você "

Com isso eu levanto meu rosto e o olho, seu rosto está retorcido em cortes furiosos feitos
pelas minhas unhas, seu olho esquerdo levemente fechado e ensanguentado, seu lábio
pingando sangue

Mas são as palavras que congelam minha alma.

"- Você é tão burra. Não entendeu ainda? Você poderia ter continuado sua vidinha de
merda, mas você tinha que pegar meu dinheiro. Não sabe qual foi o tamanho do meu
choque, quando te vi naquela festa. Eu estava te procurando a meses, aí do nada, a meia-
irmazinha drogada cai bem no colo do Peter. Minha sorte é maravilhosa"

Tudo me atinge

"- Tyler estava ajudando alguém a foder a gente por meses "

" o dinheiro não devia estar lá"

Era ele, ele estava com Tyler.

"- Pobre boneca quebrada e burra"

Ele se levanta, então pega o revolver que está a poucos metros do chão, aponta para a
própria perna, e atira.
Fico surda por alguns segundos, então ele volta a falar

"- Vai ser terrível contar para o Peter, que o brinquedinho favorito dele. Além de ser uma
ladra mentirosa. Matou a única pessoa que ele amou no mundo. "

Sua voz fica mais baixa,


" - Depois da mãe é claro"

Ele é louco, mais louco que nós.

Sangue escorre como um rio de sua perna, mas ele não demostrar nada, ele nem pisca.

Peter nunca acreditaria nisso.

Ele sabe que eu. .

Ele não

Meus demônios gritam e eu seguro minha cabeça


Sinto rastejar sobre minha pele

Medo e dúvida me rasgam

Peter não vai acreditar em mim, não

Ele

"- Sabe, ele vai ficar transtornado, vai me culpar, mas vai ser tão fácil contar para ele como
você nos enganou, e atirou em nós, com a própria arma do Gabriel."

Só então eu noto, que o revólver em sua mão é o cromado, o mesmo que Gabe deu em
minha mão quando eu estava me perdendo

"- Queime todos doll, ou morra sufocada."

"- Sim Anna, você entendeu, agora é melhor me dizer onde está minha grana"

"- Euuu nnão tenho mais nada"

Minha voz sai rouca e fraca


Ele sorri, mas o sorriso não chega aos olhos
Ele não é nada além de uma casca vazia, animada por algum cordão demoníaco

"- Então, sugiro que você começe a correr."

Ele olha o relógio no pulso

" Corra, Vadia. O mais rápido que pode"

Eu olho para Gabe, seu corpo pálido, frio e ensanguentado.


Olho para meus braços e vejo a criatura se mexer, levantando pedaços de minha pele, vejo
minhas unhas quebradas e negras
Olho para Gabe
É como se ele estivesse articulando, suas últimas palavras novamente

"- Corra doll"

Eu me levanto, devagar, mancando, e vou até as portas de vidro atrás de nós.

"- Isso Anna, fuja, mas lembre, nós nunca perdemos uma presa."

Eu sorrio para a floresta escura que me encara.

Ele não faz ideia, do quanto esta certo.

Capítulo 40
Escolha

Eu corro.

Corro como nunca corri.

Meus pés descalços se rasgam em pedras, galhos e raízes.

Eu não para para respirar


Eu corro como um lobo sob a lua cheia

Eu sei onde estou indo


É como se a criatura dentro de mim, soubesse se localizar na escuridão

A luz da lua aparece entre a copa das árvores

Sinto criaturas me seguindo

Me acompanhando

As sombras dançam a minha volta

Elas entram em mim


E saem por meus lábios e narinas

Posso sentir suas línguas gélidas, lamberem o sangue em mim

Elas cantam
Elas cantam tão alto que tenho vontade de dançar com elas

Mas eu não paro

Eu tenho um lugar para ir


Eu sinto
Eu sei

Eu posso fazer qualquer coisa


Porque mesmo que ele não acredite em mim
Eu sinto dentro de mim, que Marcus não vai passar dessa noite.

Eu paro.
O som de água me atinge.
Sim, estou perto.

Me enfio por entre os arbustos, os espinhos entram em minha pele,liberando a criatura cada
vez mais

Eu vejo o lago agora


Sim, eu cheguei

Eu me sento a beira d'água


E espero

A criatura dele, pode farejar a minha

Ele vai me encontrar


Ele me conhece
Ele sabe que eu vou vir para cá

Mesmo que ele me mate, eu não me importo

A criatura vai rasgar Marcus, pedaço por pedaço

E eu vou sorrir

Vou gargalhar tanto quanto Gabe, disse que eu podia se quisesse

Eu respiro fundo.
Existe algo em mim sussurrando

Oque é?

Oque é?

Medo?

De perder ele?

Se ele acreditou nas mentiras de Marcus, eu já o perdi.

Meu Peter
Meu coração ainda dói.

O quanto de dor, eu ainda posso aguentar?

Eu respiro fundo.
E espero pela morte novamente.

....

Ele está parado em minha frente

A máscara negra em seu rosto

Não á nada ali

Mas ainda assim, não consigo teme-lo

Perdi minha capacidade de sentir medo

Meu corpo está coberto do sangue de Gabe

Peter olha para ele, completamente frio


Seu olhar assimila cada fodida gota de sangue, cada pele exposta

Será que ele pode ver a dor em mim?

Será que ele pode ver que não pretendo sair daqui?

Será que ele vê a criatura?

Será que ele vê o quando eu o amo?

Gabe me pediu para correr


Eu não posso negar nada a ele
E pela primeira vez, eu corri de Peter

É algo que não se pode fazer mais de uma vez.

E eu corri a vida toda.


Estou cansada
Tão cansada

Eu me lembro, de quando segurei sua mão, na beira daquela estrada.

Se eu soubesse

Soubesse que ele seria meu fim


Eu..

O canto de meus lábios se levanta, seu olhos seguem o movimento

Se eu soubesse que ele seria meu fim


Eu teria pegado sua mão da mesma maneira.

Uma mariposa atraída pelo o fogo.

E mesmo que minha tentativa de recomeçar, tenha terminado em tragédia

Gabe me mostrou o que era o poder gritar, com toda a força da minha alma.

Peter me mostrou o que era abraçar o lado mais sombrio de mim, e amar em meio a
escuridão.

Eu amei meus demônios


Eu amei nossos demônios.

Amei a violência
Amei a hiperatividade
Amei a nossa loucura

O sorriso de Gabe vem em minha mente, sinto a lágrima solitária cair por meu rosto

Oh meu Gabe.
Ele me mostrou o que era respirar de verdade

O que era ser realmente livre

É curioso que a minha morte, tenha me ensinado o que era realmente viver.

Aprendi a prosperar na podridão


Eu abraço meu corpo e foco em seus olhos, sua mão se levanta

O revólver cromado de Gabe me encara

Eu quebro de novo
Meu corpo treme

Meu Gabe
Meu Peter

Corra

Não.
Eu não vou correr
Eu escolho confiar na escuridão.
Eu escolho me perder em seus olhos hipnóticos.

"- Eu sinto muito badboy "

A arma dispara.

Capítulo 41
Sick

A dor não vem

Abro os olhos
Peter está me olhando
A arma ainda está apontada, mas para algo atrás de mim

Eu me viro e vejo
Vejo o corpo ao chão

Eu não me movo até ele


Eu não ouso respirar

Peter caminha calmamente até mim


Sua mão toca meu rosto.
A mão que segura o revólver

Ele passa por mim, e se aproxima do corpo no chão


Ele ainda se mexe

Eu começo a andar até ele.

O tiro pegou em seu peito


Ele tosse e engasga

Como Gabe

A máscara vermelha ainda está em seu rosto


Mas seus olhos mortos, pela primeira vez demonstram medo

Eu me abaixo e arranco a máscara

Ele não a merece

Ele não merece nada


Nada além de dor
Algo toca meu ombro
Eu estendo a mão, e pego, não preciso olhar

Eu sei

Gabe estava errado, confiança nem sempre é para os fracos e tolos.

Tolo e fraco é quem a quebra

A lâmina entra fundo em seu abdômen

Eu a giro
Eu a tiro

Eu a enfio em sua coxa, e depois a outra


Eu a tiro

Enfio em seu pau, ele convulsiona

Eu a rodo, para um lado, então para o outro


Como um relógio
Tic Tac
Eu a tiro

Talvez eu esteja surda


Mas não ouço nada

Sua boca se abre, mas ele não demonstrada nada alem do olhar de medo

Uma mão me para

Eu me levanto

Peter se abaixa, e pela primeira vez em dois dias eu o ouço falar

Pela primeira vez, eu o vejo falar enquanto usa a máscara

"- Você se esqueceu, Ortega. Você nunca foi o pior monstro daqui. Esse sempre foi seu
erro"

Peter se levanta, e começa a arrastar seu corpo convulsivo pela terra.

Ele não vai durar muito


Uma pena.
Caminhamos por entra as raízes, em minutos saímos da floresta

Ele o arrasta até a beira da estrada, e o solta.


Seu carro está ali, Peter se move até o porta malas
Eu observo ele tirar algo grande

Eu abro um sorriso gigante


Tão grande que Gabe ficaria orgulhoso

Peter arrasta o machado da coleção, pelo asfalto

O som arrepia todo meu corpo


Eu gemo

Peter para ao lado dele, eu me aproximo, preciso ver isso de perto

Preciso sentir o cheiro de seu sangue, de seu medo

O machado desce em sua perna

O som é lindo

Ele grita agora

O machado levanta, então desce em sua outra perna

Osso, carne e sangue se espalham pela terra

Ele muda de ângulo, então desce em seu braço

Eu estou rindo, tanto que minha barriga dói

"- Se estiver tão feliz, que quer gargalhar como uma lunática? Faça"

Então eu faço
Ele parou de gritar

Eu me aproximo mais

Ele ainda está vivo


Merece um prêmio por isso

O machado desce em seu outro braço

Ele ainda está vivo, posso ver seus olhos piscando


Ele para de convulcionar

Está em choque
Que pena

Eu queria que ele sentisse mais


Seus olhos mortos, olham o céu escuro e sem estrelas.

Existe apenas escuridão e sangue essa noite

Eu respiro fundo

E como em câmera lenta


Vejo o machado descer em seu pescoço.

Sua cabeça rola alguns centímetros


Eu corro e me abaixo para pegar.
Minhas mãos se banhando no seu sangue, carne e nervos.

Aproximo meu rosto a milímetro de seus olhos abertos

"- Corra vadia"

Eu jogo no chão, como lixo morto que ele sempre foi.

Me abaixo sobre seu tronco, e molho minhas mãos, em mais sangue.

Admiro o vermelho profundo, quase negro na escuridão

Eu pinto meu rosto.

Sangue cheira a liberdade


Tenho minha máscara agora.

Peter me estende a mão

E como da primeira vez, eu o observo sobre mim.

Desde as botas desgastadas, os jeans negros rasgados, a camisa do led zepellin, então o
abismo hipnótico de seus olhos.

Eu a pego, e o sigo até o carro.

A escuridão sempre foi meu lugar.

Epílogo

Porra de barulho infernal

Ele não para


Está ficando cada vez mais alto, mais rápido
Tento abrir meus olhos
Mas estão pesados demais
Eu tento me mexer, mas não consigo.
Eu volto para a escuridão.

.....,,

Sinto algo me tocar


Sinto uma voz em meu ouvido
É doce e familiar
Eu não consigo me lembrar Eu tento
Mas eu volto para a escuridão

.......

O barulho voltou
Eu tento abrir meus olhos
Eu consigo
A luz me cega
Maldita luz

Eu prefiro a escuridão
Ela não me machuca
Eu sinto que algo falta
Não sei o que é
Tento me mover
A dor vem
A escuridão volta
Enfim

........

"- Quanto tempo ele vai ficar assim? "

"- Não sabemos, com a gravidade do trauma que sofreu, fizemos tudo que podíamos fazer
por ele senhor, agora depende dele"

Eu tento perguntar de quem eles falam.


Eu tento mandar eles calarem a porra da boca para eu poder dormir.

Mas não consigo


A escuridão me abraça novamente

........

A voz doce voltou, meu peito aperta ao ouvir


Eu não sei quem é
Preciso saber

Abro meus olhos


A luz me cega novamente
Vejo um vulto negro
Pisco diferenças vezes
A imagem entra em foco
Meu coração dispara
" - Bem vindo de volta a terra dos vivos Senhor Evans"

"- Doll"

Extra

"- Você pode parar aqui"

O táxi para e eu desco, mas não sem notar o olhar alarmado do motorista.
A cidade inteira teme esses caras.

Eu não
Meu carro está parado, a
porta aberta, a chave na ignição.
Que merda aconteceu ?

Um pressentimento horrível me atinge, desde que vi Anna andar perdida em pensamentos,


pelo campus a dois dias eu sei que algo está terrivelmente errado.

Ela me acha ingênua


Ela deve me achar burra
Talvez esteja certa as vezes
Mas eu não sou cega.

Eu sei que ela tem problemas terríveis, eu sei que Gabriel e Peter, são diferentes do resto
de nós.

E mesm que isso arrepie, cada pelo de meu corpo.


Eu também sei que por mais estranho e assustador que seja, eles são a única coisa que
mantém Anna respirando.

Pego a pistola da minha bolsa

Será que Anna, faz ideia de quem eu sou por trás de minha máscara?

Não me importo, porque independente de tudo, eu na posso deixar que ela se machuque.

Por mais distante que seja


Por mais torturada que ela for
Eu encontrei algo diferente nela
Algo que não de vê a tempos nessa cidade.

Verdade em olhos azuis e solitários

E eu não posso ficar sentada, enquanto ela se mata.

A porta da casa está aberta, eu entro lentamente com a arma em punho


Nunca atirei em ninguém antes, ninguém além de animais no bosque, mas tenho certeza
que meu pai ficaria orgulhoso de ver que minha mão não treme.
Eu vou fazer o que for preciso.

A cara está destruída


Armas de todos os tipos, decoram as paredes e o chão, e no centro da sala, existe um
corpo

Eu corro jogando minha bolsa e a pistola no chão, e caindo ao seu lado

Gabriel

Oh meu deus ele está morto

Eu tento ver a pulsação


Não escuto nada.

Pego a celular temendo, meus dedos ensanguentados, escorregando na tela enquanto eu


dígito

"- 911, qual é sua emergência? "

"- eeeu preciso uma ambulância agora, meu amigo, ele, ele foi baleado'
Eu digo o endereço, minha voz se enrolando, minhas palavras apressadas

"- qual o seu nome"

"- Vvictoria Victoria Bleic. Sou filha do cherife do condado de Lake, por favor venha logo"

"- Victoria ele ainda está vivo? "

Tento sentir a pulsão


Tento novamente então escuto, é fraca mas está lá
Eu grito

"-Ssim, está muito fraca, mas ele está vivo. Por favor venha logo, ele perdeu muito sangue."

"- já enviamos uma ambulância querida, chegaram em poucos minutos"

Eu desligo o celular e espero.


Anna vai ter que me dar um colar de amizade depois disso.
Eu olho em volta, seja la o que aconteceu aqui, espero que ela fique bem.

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