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Para Ethan, fingir se tornou um hábito. Afinal, ele passou a última década
fingindo ser hétero, fingindo ser feliz, e fingindo que não está
desesperadamente apaixonado por seu melhor amigo. Mas, em um único
momento de pura honestidade, todas essas mentiras desmoronam à sua
volta e ele se pergunta o que fazer a seguir.
Quando Jase descobre que seu melhor amigo está passando por uma
separação, seu primeiro instinto é socorrer Ethan, e ele sabe exatamente
o que pode ajudar. A cabana onde passavam os verões quando eram
crianças está desocupada, e uma semana lá é o remédio perfeito para
começar a curar um coração partido.
Jase
Estive cego para muitos detalhes da minha vida — coisas que
eu deveria estar ciente, coisas que estavam bem na minha frente
por anos — mas um dia embaçou o próximo até que eles ficaram
cinza. Minhas semanas estavam cheias de trabalho e amigos, e
muita besteira que fiquei transitando pela vida, flutuando no status
quo...
Isto é, até que tudo mudou, e de repente o status quo era
uma memória fraca na distância.
***
***
***
Ethan
***
Jase
Anoitece, os últimos vestígios de luz do sol desaparecendo na
floresta. Estamos na cabana por dois dias, e até agora, Ethan saiu
de seu quarto apenas tempo suficiente para pegar alguma comida
antes de se esconder novamente para dormir.
Ele parece pior do que eu já vi, e começo a me preocupar que
haja algo seriamente errado.
Ele sempre foi o mais otimista de nós dois. É como se ele
nunca tivesse recebido o memorando de que o mundo é um lugar
realmente horrível às vezes. Ele carrega essa inocência, e não
importa a merda que ele receba, a luz nele nunca diminui.
Esta é a primeira vez que vejo essa luz tremular.
Ele está recluso e se afogando na miséria, e isso me assusta
pra caralho. Mais e mais digo a mim mesmo que isso não durará
para sempre, que ele ficará bem, mas é tão difícil sentar à espera
que ele atravesse a escuridão. Tudo em mim grita que eu tenho que
fazer alguma coisa.
As pessoas têm diferentes métodos de lidar, diferentes
maneiras de lidar com a perda, eu sei disso. Mas não conheço o
método de Ethan, e essa lacuna no meu conhecimento dele se
aprofunda, me deixando inquieto e desconfortável.
Isso pode ser um plano terrível, mas estou ficando sem ideias,
e por isso pego meu celular do balcão e disco, andando pela cozinha
enquanto espero por Allison atender.
“Este é um momento ruim?” Pergunto, ouvindo o ruído no
fundo.
“Não, está tudo bem. Minhas irmãs estão aqui, mas estão na
cozinha. Elas vieram quando descobriram que Ethan e eu...” Sua
voz é rouca como se ela ainda não tivesse parado de chorar, e pela
centésima vez naquele dia, eu me pergunto o que pode ter
acontecido entre eles. Eles eram o casal perfeito, e dois dias antes,
eu acreditava que nada poderia separá-los. “Elas não vão embora.”
“Elas te amam. Tenho certeza que só querem ajudar.”
“Eu sei, e é por isso que eu ainda não as expulsei, mas elas
não me deram tempo para processar. Estão me distraindo, e é como
se eu tivesse esquecido o que aconteceu e então eu me lembro…”
“O que aconteceu, Al?”
Ela faz uma pausa, vários instantes antes de falar. “Ele não te
contou?”
“Ele dificilmente fala mais de três palavras por vez desde que
chegamos aqui. Mal sai do quarto dele.”
Ela exala.
“Ele não está lidando com isso tudo tão bem”, admito, sem
saber o quanto devo dizer. Os rompimentos são difíceis de conduzir
para relacionamentos típicos, mas Ethan e Allison não são o casal
típico. Nós crescemos juntos, e agora parece que fui forçado a
escolher um lado. Mas Allison é minha amiga tanto quanto Ethan,
mesmo que nunca estivéssemos tão próximos. “Como você está?”
“Estou... comendo muitos ‘brownies de rompimento’ e vendo
um monte de Bridget Jones. Minhas irmãs assumiram a casa com
comédias românticas e junk food. É tudo sobre a distração.”
“Você sabe que pode pedir-lhes para deixá-la sozinha. Diga-
lhes que você precisa de seu espaço.”
“Você já se encontrou com elas?” Ela suspira novamente.
“Elas têm boas intenções, e já passaram por isso mais vezes do que
eu.”
“Bem, estou feliz que você tem alguém aí com você. Eu estaria
aí se—”
“Eu sei. E sei que vai ficar mais fácil, mesmo que não pareça
estar agora. Sarah foi até a casa hoje e pegou maioria das minhas
coisas. Precisarei ir até lá, eventualmente, para embalar o resto,
mas é um começo.”
“Você vai ficar com seus pais por um tempo?”
“Sim. Não tenho certeza quanto tempo. Até minha mãe me
deixar louca ou eu encontrar um apartamento que posso pagar. O
que ocorrer primeiro.”
Tento uma risada, mas soa apagada, mesmo para os meus
ouvidos. Conversar com ela de repente é estranho, e não sei o que
dizer.
“Obrigado por ligar, Jase. Significa muito que você se importe
comigo.”
“Claro. Queria ter certeza de que você está bem.”
“Eu estou.”
Eu rio baixinho. “Sei que é uma mentira, mas nem sempre
será.”
“Não, vai demorar algum tempo até eu voltar a ser eu mesma.
Acho que ainda estou em choque por ter acabado.”
“Provavelmente não é da minha conta, mas eu não entendo
porque você terminou. Vocês pareciam tão felizes.”
Há um longo período de silêncio do outro lado da linha, e eu
me pergunto se ela desligou. Sei que passei dos limites com o
último comentário — cedo demais — mas não há como voltar agora.
“Ethan terminou comigo. Não o contrário.” Há uma dureza
em sua voz que não existia há momentos atrás, e eu me sinto um
idiota.
“O que?” Balanço a cabeça. Isso não pode ser verdade.
“Você vai ter que perguntar a ele, Jase. Não posso te dizer
mais do que você já sabe. Não cabe a mim.” Há outro longo período
de silêncio antes de Allison falar de novo, e percebo que ela começa
a chorar. “Eu tenho que ir.”
“Cristo, Al. Eu sinto muito. Eu não queria—”
“Tudo bem. Eu realmente preciso ir, no entanto.”
Ela definitivamente não está bem. “OK.”
“Cuide dele, tudo bem? Certifique-se de que ele está bem.”
“Sim. Sempre cuido.”
“Eu sei.”
“Ligue para mim se precisar de alguma coisa. Você é minha
amiga tanto quanto ele é.”
“Eu sei disso também.” Ela soluça baixinho, apenas uma vez.
“Tchau, Jase.”
A linha fica muda, e fico lá imaginando o que diabos pode ter
feito Ethan fazer algo assim. Ela o traiu? Ele se apaixonou por
outra pessoa? Quanto mais penso sobre esse cenário, menos
provável isso parece. Ethan é ferozmente leal e não há um osso
enganador nele.
Mas ainda assim, não consigo envolver minha cabeça nisso.
Ele está absolutamente destruído, e foi sua escolha terminar? Nada
disso faz sentido algum.
Pego uma cerveja na geladeira, depois me sento no sofá
quando ligo a TV e encontro algo sem sentido para assistir.
Jurando para mim mesmo que não irei pressioná-lo para
obter informações, sei que é uma promessa que será difícil de
manter. Quero entender por que ele fez isso, o que pode tê-lo levado
a desistir de Allison, e ser paciente para descobrir é contra cada um
dos meus instintos, mas não é o que ele precisa agora. Ele me
informará quando estiver pronto.
O som da porta de Ethan se abrindo faz com que eu desvie a
atenção das imprecisões gritantes dos Bombeiros de Atlanta.
Sem uma palavra, ele atravessa a sala, senta-se no sofá ao
meu lado, estende a mão e pega minha cerveja. Com um longo gole,
termina o restante dela.
“Não consegue dormir?”
“Temos algo mais forte que isso?”
“Uísque está no armário. Não tenho certeza quanto tempo
está lá, no entanto.”
Ele dá de ombros e se obriga a ficar em pé. “Não importa.”
Eu o observo andar até a cozinha e ouço o tilintar de garrafas
enquanto procura alguma coisa. “Você quer um pouco?” Ele chama.
“Não. Provavelmente é vinagre agora.”
Ele volta um minuto depois carregando um copo de suco
cheio até a borda com um líquido amarelado. “Não. Experimentei na
cozinha. Além disso, não acho que o uísque se transforme em
vinagre... ou talvez sim, mas não depois de alguns anos. Eles
guardam essa merda em barris por décadas.”
“Barris, sim. Garrafas meio vazias em um armário aleatório,
não.”
“O gosto é bom para mim”, diz, trazendo o copo aos lábios e
engolindo a metade.
Nos minutos seguintes, observo-o beber o resto do copo e
depois a garrafa inteira. Não consigo decidir se isso é uma melhoria
no sono constante ou não.
Algo na TV explode, mas quase não noto, meus olhos
treinados em Ethan e a forma como o álcool parece atingi-lo quase
imediatamente.
“Que porra você está assistindo, homem?” Ele pergunta,
inclinando na frente do sofá e semicerrando os olhos para a TV.
Agarro seu braço para impedi-lo de cair e o puxo. Ele olha para
mim e ri, o som como aloe em uma queimadura solar.
Ele ri de novo e se senta mais perto de mim.
“Eu disse obrigado por me trazer até aqui?” Ele pergunta,
suas palavras já começando a enrolar.
“Você disse.”
“Eu disse. Bem, estou dizendo de novo. Não acho que poderia
passar mais um dia naquela casa.”
“Estou ao seu lado.” Deslizo meu braço em torno dele, e ele
descansa a cabeça no meu ombro. Eu me sinto melhor, segurando-
o assim. Sei que não irá consertar nada, mas parece melhor ficar
sentado sem fazer nada.
“Sim. Você está”, ele murmura. “Sempre esteve. Desde o
começo.”
Ele senta-se ereto, mudando ao meu lado até que me encara.
Com movimentos exagerados, ele empurra um dedo contra o centro
do meu peito.
“Você é meu favorito, você sabe disso?” Ele sorri. “Não há
ninguém melhor do que você, J. Ninguém está a altura. Todo
mundo está abaixo...” Ele baixa a mão, seus olhos travando com os
meus, e a leveza de dez segundos atrás desaparece. “Você entende?”
Balanço a cabeça porque o que mais posso fazer? Há algo
sério em seu tom, mas não é nada que não tenha sido dito antes.
“Você é meu favorito também.”
Ele balança a cabeça, empurrando o dedo contra meus lábios
para me silenciar. “Não é o mesmo.”
Coloco minha mão em torno de seu pulso e o afasto. “É o
mesmo”, prometo. “Você é meu irmão.”
Ele solta um suspiro pesado e desmorona de volta contra o
sofá, encarando a TV mais uma vez.
“Sim. É o que somos. Irmãos”, ele resmunga enquanto coloca
os pés em cima da mesa de café, as pernas cruzadas nos
tornozelos. A posição parece relaxada, mas posso dizer que há uma
tensão nele que não esteve lá antes.
Coloco meu braço de volta ao redor dele e o puxo contra mim.
Ele resiste por meio instante antes de descansar a cabeça no meu
ombro novamente.
Bombeiros de Atlanta terminou em algum momento, e eu nem
percebi. O canal agora reproduz um comercial de um aspirador
para molhado e seco.
“Pode me passar o controle remoto?” Pergunto, apontando
com o meu braço livre para onde ele está do outro lado de Ethan.
Quando não há resposta, me inclino para frente para
descobrir que ele adormeceu.
***
Ethan
Jase
Ethan é gay.
Por que diabos isso imediatamente parece uma fodida
traição?
No começo, não achei ter ouvido direito — ele não pode ter
dito o que acho que ele disse — mas então o silêncio se alonga entre
nós, e a expressão de dor no rosto dele me atingem bem no peito.
Ainda estou lutando para processar as informações quando ele se
levanta e vai embora.
E eu o deixo ir.
Deveria ir atrás dele, dizer a ele que eu sou seu melhor amigo
e o amarei de qualquer maneira, mas ainda estou tentando
entender por que minha primeira reação é raiva.
Talvez ele estivesse certo em não me dizer. Claramente, eu
não reagi muito bem às notícias. Mas odeio que ele não tenha
confiado em mim o suficiente para me dizer. Odeio que eu não seja
o primeiro em quem ele confiou. Odeio que ele não se sentisse
seguro o suficiente comigo para ser ele mesmo.
Deus, ele estava fingindo, a cada momento, por anos.
O tom na voz de Allison na noite anterior — aquela sugestão
de simpatia — faz sentido agora, e isso me irrita. Fico com raiva
dela por saber primeiro, não posso suportar que ela tenha um
pedaço dele que eu não tenho. O que é ridículo. Há partes de Ethan
que ela sempre teve... Ela foi namorada dele. Eles compartilharam
coisas que Ethan e eu nunca pudemos, mas isso é diferente.
Estou sendo um idiota.
Este não é o momento nem o lugar para eu ter minha própria
crise. A última coisa que devo fazer é enlouquecer. Meu trabalho é
estar lá para ele. Haverá tempo para resolver minhas próprias
coisas mais tarde.
E agora aqui estávamos nós, ambos equilibrados no galho
largo e curvo de sua árvore favorita, meus braços ao redor dele, sua
cabeça contra meu ombro. Parece certo segurá-lo assim, deixá-lo
tomar o conforto que ele precisa de mim. Amo ser a pessoa que
pode fazer isso por ele.
“Provavelmente devemos descer”, Ethan diz, mas seu tom é
relutante, e para ser honesto, eu também estou relutante. Esta é a
primeira vez que estou aqui com ele, e com a gravidade de sua
confissão ainda pesando em mim, isso parece um lugar sagrado,
ainda mais do que a cabana, e não estou muito ansioso para ir
embora.
“Quando você estiver pronto”, digo, mas Ethan não se mexe.
Ele se acomoda contra mim e eu o seguro, ouvindo os sons da
floresta ao nosso redor.
Ficamos assim por mais algum tempo, os segundos se
dissolvendo em minutos e depois em uma hora, quando o estômago
de Ethan ronca.
“É provavelmente uma boa ideia se colocarmos um pouco de
comida na sua barriga antes que você morra de fome nessa árvore.”
Ele bufa uma risada e eu sinto tudo se encaixando
novamente conosco. Eu deveria saber que as coisas não ficariam
fora de controle por muito tempo. Ethan e eu sempre conseguimos
criar um equilíbrio sem esforço, não importando o caos que esteja
acontecendo em nossas vidas.
Sem nenhuma dúvida, sei que será assim para sempre.
***
***
Ethan
***
Jase
O que diabos estou fazendo?
A verdade é que não tenho a menor ideia.
Na doca, estive perdido beijando-o — o ato era tão certo que
não foi até aquele momento que percebi o quanto estava faltando na
minha vida até então. Este é Ethan. Meu Ethan. Ele está lá desde o
começo, bem na minha frente, e se encaixou como se fosse uma
chave na fechadura. Mas assim que a porta da frente da cabana se
fechou atrás de nós, o peso total do que fiz se instalou em meus
ombros.
Eu beijei meu melhor amigo.
Meu melhor amigo que recentemente saiu do armário.
Eu sou gay? Bi? Como diabos não percebi isso antes?
Vou para o quarto como um covarde, precisando de um
segundo para reunir meus pensamentos. Luxúria e necessidade
correm pelo meu corpo, nublando minha cabeça, e assim que eu
subo na cama, uma súbita clareza toma conta de mim.
Não importa o rótulo que coloque. Ninguém importa, exceto
ele. Eu o quero. Nada jamais pareceu tão bom, e ele está no outro
quarto, provavelmente tão confuso quanto eu.
Que diabos está errado comigo que estou me escondendo
dele?
Então entro em seu quarto, e a visão dele, espalhado sobre
seus cobertores, seu punho firmemente em torno de seu pau...
Não pare.
As palavras saem da minha garganta tão inesperadamente
que levo um segundo para perceber que sou eu quem as diz. Não
sei o que estou pensando — o único pensamento que consume
minha mente é que, se ele parar, isso pode me matar.
Lentamente, hesitante, ele começa a se mover mais uma vez,
e eu fico lá, ofegante na porta, observando-o.
Ele é lindo, seu corpo se curva ao luar, as sombras se movem
sobre a pele pálida enquanto sua mão se move com força sobre a
carne rígida.
Dou um passo à frente, atraído por ele como se sua
necessidade tivesse criado uma força gravitacional que não tenho
forças para lutar.
Mas essa é a coisa. Eu não quero lutar contra isso.
Quero vê-lo assim. É um lado dele que nunca testemunhei,
como um segredo que ele passou a vida inteira escondendo de mim.
Eu me aproximo, precisando conhecer cada parte dele.
Meus olhos vão para o rosto dele. Está relaxado com prazer,
mas seus olhos estão focados em mim, escuros e suplicantes. Paro,
em seguida, apenas fora do alcance dele, meu olhar apontando para
ele enquanto seu ritmo acelera. Estou louco com o que está
acontecendo comigo, sobrecarregado e inundado de desejo. Não há
tempo para questionar isso agora, então tiro as dúvidas que restam
e dou mais um passo na direção dele.
“Ethan.” Minha voz está baixa. Estendo a mão e lentamente
deslizo pelo seu peito nu do jeito que ele fez comigo uma hora antes.
Seus músculos estão tensos, o mais simples vestígio de suor
cobrindo sua pele, mas por baixo de tudo isso está seu coração
batendo forte e rápido.
Meus dedos percorrem seu corpo, explorando-o, vendo-o de
uma maneira que nunca vi antes. Seu peito arfa quando sua
respiração se torna difícil e seus olhos se fecham. Eu bebo na visão
dele, tenso, rígido, sua mão se movendo em um padrão hipnótico
sobre seu pênis, torcendo um pouco a cada ascendente.
Nunca vi nada tão lindo.
Arqueando as costas, ele ofega, seu pau derramando sobre
seu punho, fitas de gozo pousando na suavidade de sua barriga e
cobrindo o dorso da minha mão. Demora um minuto para ele voltar
a si, e observo o prazer se transformar em pânico e autoconsciência
quando percebe o que fizemos.
Ele tenta recuar.
“Não.” Com um joelho apoiado no colchão, agarro seu pulso
com a mão, impedindo-o de se cobrir. Quero ver tudo, e o
pensamento de Ethan experimentando uma pitada de vergonha ou
constrangimento por isso me mata. Estendo a mão para ele,
deslizando os dedos pela piscina de gozo. É sedoso, quente e
escorregadio conforme esfrego entre as pontas dos dedos.
Movo meu olhar para o rosto de Ethan, vendo-o me observar
com um olhar de admiração e descrença, mas por baixo de tudo,
sob a incerteza e a vulnerabilidade exposta, vejo luxúria fervendo lá.
Ergo a mão, meus dedos revestidos, e os levo para sua boca.
Lentamente, traço seus lábios, e ele abre para mim, sua língua
saindo, lambendo timidamente as pontas dos meus dedos. Seus
olhos encontram os meus, escuros, pupilas engolindo azul
brilhante, e eu coloco meus dedos em sua boca.
Sem um pingo de hesitação, ele os chupa, sua língua girando,
puxando-os mais profundamente. Fecho meus olhos, e o paralelo de
sua boca em meus dedos para a imagem que minha mente criou
dele chupando meu pau é demais.
Puxo a mão e cubro sua boca com a minha, movendo-me até
que o prendo na cama. Posso sentir o gosto dele em sua língua, o
sabor, e o conhecimento de que é dele e estou beijando-o e ele está
nu debaixo de mim me deixa mais duro do que já estive em minha
vida.
Beijo-o com força, sua barba raspando contra a minha. Isso
não é nada como o beijo que compartilhamos no cais. É duro,
desesperado. Não consigo o suficiente dele, e eu preciso de tudo. Eu
me afasto e dou beijos em sua mandíbula, sua garganta. Quero
prová-lo em todos os lugares.
“Jase”, ofega quando chupo com força em seu pescoço.
Gemo contra sua pele em resposta.
“Você não... você não precisa.”
“Eu quero.” Beijo atrás de sua orelha, sorrindo quando ele
estremece. “Você parece tão delicioso, Ethan. Eu quero isso... quero
você.”
Eu o beijo novamente, e ele geme, se contorcendo debaixo de
mim. Apoiando meu peso em minhas mãos, eu inclino o suficiente
para que Ethan empurre minha boxer sobre meus quadris. Eu a
chuto e depois, empurro as cobertas e de cima dele até que estamos
alinhados sem nada entre nós. Balanço contra ele uma vez, então,
novamente, meu pau desliza através dos restos de sua liberação, e
já posso sentir meu orgasmo, o prazer radiante disso, tocando nas
bordas.
Eu não consigo parar de tocá-lo, não consigo parar de beijá-
lo. Deixo minhas mãos percorrerem seu corpo enquanto ele se move
embaixo de mim, criando essa intensa fricção, e tudo se centra em
nós. Naquele momento, tudo parece tão simples.
Ele chupa meu lábio inferior, e a sensação passa através de
mim, esse intenso acúmulo de calor me domina. Com um suspiro,
gozo forte, cobrindo seu estômago enquanto me apoio nele,
atravessando meu orgasmo. Tudo desaparece por um segundo, e eu
desmorono em cima dele, ofegando pesadamente.
Respirando fundo, tento desacelerar meu coração e puxar o
máximo possível de Ethan para os meus pulmões. Ele tem um
perfume único, e misturado com o cheiro do sexo, é inebriante. Ele
acaricia minhas costas, seus dedos traçando minha espinha em
movimentos suaves. Pressionando um último beijo no cabelo úmido
em sua têmpora, eu o afasto lentamente e me levanto.
A expressão de dor no seu rosto quase me mata.
“Eu não vou a lugar nenhum”, prometo, descobrindo assim
que as palavras que saem da minha boca eu as quis dizer mais do
que qualquer promessa que já fiz para ele. Estendo a mão para ele e
o puxo para seus pés, beijando-o enquanto deslizo meu braço em
volta de sua cintura, inclinando seu corpo para o meu antes de
levá-lo para o banheiro.
Ligo o chuveiro e espero a água esquentar antes de guiá-lo
comigo sob o jato. Seguro seu rosto e o empurro para trás contra a
parede, inebriado. O vapor sobe ao nosso redor enquanto nos
beijamos. É só ele e eu, e parece tão certo.
Ethan quebra o beijo, depois deixa a cabeça cair para frente
contra o meu ombro. Esfrego círculos suaves em suas costas,
admirado que com a quantidade de vezes que o toquei, nunca
percebi como era tocá-lo.
Deslizando minhas mãos ao longo de sua mandíbula, inclino
seu rosto para o meu.
“Você está bem?” Minha voz soa muito alta no espaço
fechado, mesmo sobre a corrente de água.
Ele olha para mim, os olhos procurando por um segundo
antes de responder. “Acho que sim.”
Esfregando meus polegares ao longo de suas bochechas,
tento acalmar qualquer dúvida dele. Ele passa os braços em volta
de mim e me puxa para perto, me segurando tão apertado que eu
mal consigo respirar.
“Isso é... Jase, isso é—”
“Eu sei.”
“Eu não quero te perder.”
Exalo contra sua pele. “Eu te disse antes. Eu não vou a lugar
nenhum.”
Ele solta um pouco o seu aperto e eu recuo o suficiente para
beijá-lo. Provavelmente posso contar o número de beijos que
compartilhamos em uma mão, mas cada vez parece melhor que o
anterior. Com as garotas com que fiquei, o beijo foi algo entre o
primeiro encontro e o evento principal — as preliminares eram para
elas, não para mim — mas parece diferente com Ethan, como se
houvesse significado para isso.
Alcançando atrás dele, desligo a água, e nós saímos, pegando
toalhas da pilha para nos envolver.
Eu não tenho ideia do que diabos estou fazendo. Não faço
ideia do que é isso. Nunca vi Ethan assim antes, nunca pensei
sobre ele desse jeito, mas agora, quando olho para ele, não consigo
entender como estive tão cego.
Nós nos secamos, e quando chega a hora de voltar para a
cama, não há dúvida de onde quero estar. Eu não me incomodo em
dar uma chance a Ethan, apenas entro com ele e puxo seu corpo
contra o meu, me envolvendo nele.
Estou cansado demais para questionar isso. Haverá muito
tempo para descobrir exatamente o que acontecerá depois. Por
enquanto, tudo que sei é como é bom segurá-lo assim. Quero a
pressão quente de sua pele contra a minha enquanto adormeço.
Eu o respiro quando fecho os olhos e me acomodo.
Capítulo 8
Ethan
Quando acordo na manhã seguinte, a cabana está
estranhamente quieta e, mesmo antes de abrir os olhos, sei que
estou sozinho no quarto. Aquele sentimento terrivelmente doente
toma conta de mim e enterro o rosto no travesseiro.
Sabia que haveria fortes consequências disso — sabia no
segundo que Jase me beijou. Mas já é tarde demais para voltar. Não
há nada que eu possa fazer além de me levantar e descobrir o que
acontecerá a seguir.
Relutantemente, rolo para fora da cama e fico em pé em
pernas instáveis. Meu corpo inteiro está fraco, como se eu não
comesse em dias. Agarro uma calça de moletom, rolando o cós para
que não caia sobre meus quadris, e vou para a sala de estar.
O lugar parece como na noite anterior, mas tudo parece
diferente. Memórias foram feitas aqui que eu nunca poderei apagar,
e tanto quanto sei que elas machucarão por um longo tempo, eu
não quero apaga-las. Se uma noite é tudo o que terei com Jase,
ficarei grato porque é uma noite mais do que pensei que teria.
O som da porta se abrindo atrás de mim me faz virar para ver
Jase andando, seus braços cheios de sacolas de supermercado.
“Pensei que você tivesse ido embora”, digo antes do meu
cérebro fazer a conexão com a minha boca. Ainda estou acordando
e não totalmente ainda. Eu me sinto subitamente vulnerável, de pé,
nu da cintura para cima, vestindo suas roupas, minhas emoções
expostas à vista dele.
Ele me encara por um segundo, alguma expressão ilegível em
seu rosto. Um instante passa, depois dois, enquanto ele olha para
mim, avaliando-me.
Este constrangimento que de repente existe entre nós poderia
ser pior se ele realmente tivesse ido embora. A distância entre nós
parece quilômetros, e a pressão para fazer ou dizer algo normal,
algo que fará as coisas ficarem em equilíbrio, é esmagadoramente
forte.
É como se eu não conseguisse lembrar qual é o nosso normal.
Fingimos que a noite anterior não aconteceu? Podemos voltar
ao modo como as coisas eram antes do meu rompimento com
Allison, antes de eu dizer a Jase quem eu realmente sou? É tão
simples quanto ignorar os últimos dias e continuar de onde eu
deixei cair as máscaras, as barreiras e a felicidade imaginária?
Ele coloca as compras na cadeira perto da porta e caminha
até mim. A cada passo que dá, meu coração bate mais rápido.
Como diabos vou sempre fingir que tudo está normal quando
sua mera proximidade afeta meu corpo de maneira que não consigo
controlar. Não consigo olhar para ele sem lembrar as mãos dele em
mim.
“Só fui pegar algumas coisas da loja.” E, em seguida, coloca
as mãos em mim. Deslizando o polegar sobre a mancha no meu
pescoço, onde ele me marcou na noite anterior, inclina a cabeça
para trás, forçando-me a encontrar seus olhos. “Eu te disse que não
ia a lugar nenhum.”
Suspiro e me inclino para ele, cheio de alívio.
Não sei como passar por isso. O único relacionamento que eu
tive foi baseado em uma mentira, baseado em mim, indo de acordo
com o que era esperado de mim. Isso parece diferente.
Parece verdadeiro e é aterrorizante.
“Você está bem?” Ele me perguntou isso mil vezes desde que
chegamos à cabana, mas desta vez é diferente. Desta vez, a
pergunta é repleta de nuances.
“Eu não sei.”
Ele concorda e me puxa para perto dele. Enterro meu rosto
em seu pescoço e o seguro com força, não querendo soltar. Não
tenho ideia do que acontecerá se eu soltar.
“O que estamos fazendo, Jase?” É a segunda vez que
pergunto em vinte e quatro horas. “Nunca fiquei tão inseguro de
algo na minha vida e você sempre foi a única pessoa que nunca
questionei.”
“Eu não sei. Não sei o que isso significa, ou se precisamos
colocar um nome nisso. Olhei para você toda a minha vida de um
jeito, e agora estou te vendo claramente pela primeira vez.”
Suas palavras me fazem sentir que meu peito não é largo o
suficiente para conter a plenitude do meu coração, mas, ao mesmo
tempo, elas me aterrorizam. Estou com medo que isso desapareça
se eu não for cuidadoso.
Jase, no entanto, parece muito mais seguro. Ele nunca
abordou a vida timidamente. Ele entende tudo o que faz e,
aparentemente, isso não é exceção.
“Tudo o que sei é que é muito bom tocar em você e não quero
parar. Gostaria de ter uma resposta melhor para você.” Ele faz uma
pausa, suas mãos me soltando. “Você… você quer parar?”
Considero por um minuto, penso sobre quais seriam as
implicações das duas coisas. De qualquer maneira, se isso terminar
agora ou daqui a um ano, será devastador. Quero manter isso o
máximo que puder, as consequências que se danem.
“Não.”
Ele exala forte. “Bom.”
E, em seguida, sua boca está na minha, estranha e familiar
ao mesmo tempo. Eu me entrego a ele, deixando-o controlar o beijo,
deixando-o me empurrar para trás, deixando-o me abaixar no sofá.
Ele pressiona seu corpo contra o meu, mostrando-me o quanto me
quer. Estou inebriado, desesperado para fazer durar para sempre.
Ele me beija profundamente, mas nunca se apressa.
Lânguido e com calma, fazemos como se tivéssemos dezesseis anos
de novo, mas desta vez, sinto o desejo que faltava há tanto tempo. É
assim que estar com alguém deve ser — excitante e confortável em
igual medida.
Jase muda de posição, movendo-se até que estamos deitados
frente a frente. Ele beija minhas pálpebras e a ponta do meu nariz e
depois toca sua testa na minha. “É tão bom te tocar.”
“Igualmente. Isso tudo parece tão surreal, como se eu fosse
acordar e perceber que nada disso aconteceu.”
“Posso cobri-lo de chupões, então você tem a prova de que
não inventou tudo.”
Eu rio, mas não tenho certeza se ele está brincando. Ele já
me marcou um pouco e, no fundo, adorei.
“Contanto que faça isso em algum lugar que ninguém além de
mim possa ver, você pode fazer o que quiser comigo.”
Ele me lança um olhar, seus olhos encobertos, e tira o ar dos
meus pulmões. Quero dizer isso. Meu corpo é dele para fazer o que
quiser. Quero tudo. Tudo.
“Vou te alimentar primeiro.” Ele sorri para mim, e a mesma
expressão que vi nele um milhão de vezes agora parece que é só
para mim. “E, em seguida, vou te fazer suar.”
Meu estômago revira enquanto considero as possibilidades.
***
“Isso não é exatamente o que pensei que você quis dizer com
a sua promessa de me fazer suar”, resmungo.
Jase ri. “Vamos. Vai ser ótimo.”
“Isso não vai ser ótimo. Isso vai ser horrível.” Chuto uma
pedra do meu caminho. “Eles vão encontrar nossos corpos daqui a
alguns anos, apenas ossos roídos à merda por animais selvagens.”
“Você tem tão pouca fé na minha capacidade de direção. Juro
que o caminho se abre não muito longe daqui.”
“Nada disso parece familiar para mim”, protesto.
“Porque não estamos nesses bosques há uma década. Vai
ficar tudo bem. Você tem que ter um pouco de confiança em mim.”
Com certeza, andamos mais alguns metros e o caminho se
abre para a trilha que leva ao longo da colina com vista para o lago.
É mais íngreme do que eu me lembro, porém mais pacífico também.
“Como diabos costumávamos correr até aqui?”
“Não tenho ideia. Pés menores naquela época, acho. E menos
medo.”
A trilha é estreita e cortada ao longo no topo. A colina que
desce em direção à água é íngreme e pedregosa, e com muito pouco
espaço para erros na colocação dos pés, leva toda minha
concentração para andar sem tropeçar.
Paramos de um grupo de rochas perto do pico.
“Estivemos no seu lugar, agora estamos no meu.” Jase se
senta, balançando os pés sobre a borda. Com cuidado, me abaixo
para sentar ao lado dele, nossos corpos alinhados um contra o
outro. Pressiono meu joelho contra o dele e ele passa o braço atrás
de mim.
Eu me inclino para o abraço e olho para o vale e para o lago
no fundo. É lindo — mais bonito do que me lembro — e mesmo que
não envolva Jase seminu em cima de mim, há algo de reverente em
estar aqui com ele.
“Isso parece muito mais alto do que costumava. Não deveria
parecer menos terrível agora que estamos crescidos?” Pergunto,
espiando por cima da borda.
Jase dá de ombros. “Talvez. Não sei. Não me lembro de ter
medo de nada, quando era criança. Pelo menos nada de real, de
qualquer maneira.”
“Psicopatas enlouquecidos com motosserras se escondendo
na floresta parecem muito mais propensos do que cair para a sua
morte quando você tem doze anos.”
“Algo assim.” Ele cutuca meu ombro com o dele. “Acho que
nunca vi o perigo. Gostava de estar no alto, ser capaz de ver todo o
vale. Isso me fez sentir como o dono deste lugar.”
Ficamos sentados em silêncio, contemplando a vista e
refletindo sobre o passado.
“Você está ansioso para ir para casa?” Pergunto, quebrando o
delicado silêncio alguns minutos depois.
“Não.”
Sua resposta me surpreende. Mesmo quando crianças, tanto
quanto Jase amava estar aqui nas montanhas, ele sempre foi o
primeiro a subir no carro no dia em que era hora de sair. Ele
gostava da cabana, mas seu coração estava na cidade com seus
amigos e sua vida e suas rotinas.
Nunca me senti assim sobre estar em casa como ele, mas,
novamente, eu nunca tive tantas pessoas esperando meu retorno
como ele tinha. Nunca entendi o que ele viu em mim quando
éramos crianças. Eu era o nerd magricela, e ele era o garoto sempre
popular que era bom em tudo, mas crescer ao lado um do outro
tinha forjado um laço, pelo qual sou grato.
Ele era meu companheiro de brincadeiras e, mais tarde, meu
protetor e meu melhor amigo.
“Por que não?”
“Não sei. Esta viagem até aqui é diferente das que fizemos
quando crianças. Vejo este lugar de forma diferente agora.
Honestamente, acho que ficaria feliz em morar aqui.”
Eu rio. “Você não consegue.” Ele abre a boca para
argumentar, mas eu o interrompo. “Você não duraria um mês aqui.
Uma semana, sim, talvez, mas, além disso? Você morreria de tédio.
Não há emoção suficiente para você.”
“Não preciso de mais emoção do que tivemos nos últimos
dias.”
Minhas bochechas aquecem. “Você escolheu se deparar com
prédios em chamas para viver. Não acho que a vida tranquila e
idílica é a que você gostaria de ter por muito tempo.”
“Às vezes as coisas mudam, Ethan. Pessoas mudam.”
“Nem tanto.”
“E você? Você quer voltar?”
Puxo um longo pedaço de grama, envolvendo-a no meu dedo.
“Eu não sei. Eu não sei o que vou fazer em casa. Allison disse que
iria tirar suas coisas de casa, ficar com seus pais por um tempo,
mas sinceramente não sei onde eu vou acabar. Definitivamente não
posso pagar o aluguel por muito tempo, e mesmo que pudesse, eu
não sei o que eu quero. Não acho que posso ficar lá, não como as
coisas acabaram.”
“Entendo. Posso te ajudar a encontrar um novo lugar... um
apartamento ou algo assim?”
Dou de ombros. “Talvez. Tudo parece tão incerto. Não posso
ser um barista para sempre. Eu me formei. É hora de seguir em
frente para... alguma coisa. Só não sei o que.” Jogo o pedaço de
grama sobre a borda e vejo flutuar até que cai em um grupo de
pedras a poucos metros abaixo. “Estou considerando a ideia de
voltar para a faculdade... para a pós-graduação, quero dizer.”
“Sim?” Ele faz uma pausa para considerar a ideia. “Acho que
você deveria.”
Sou a porra de uma bagunça. Todos os outros que conheço
têm opções. Carreiras ou parceiros ou casas... Alguns dos meus
amigos começaram um plano de aposentadoria, e carteiras de
investimento. Eu não tenho nada além de empréstimos estudantis
em cima de empréstimos estudantis, e depois de me formar na
faculdade um mês antes, ainda não tenho certeza do que quero
fazer da minha vida.
“Mesmo?”
“Sim. Você é inteligente, Ethan. Mais esperto que a maioria
de seus professores, acho. Você estaria desperdiçando seu talento
se você se contentar com menos do que você é capaz.”
“Você é cheio de merda, mas talvez a pós-graduação. A UW
tem um bom programa de ciências ambientais. Mas então o que?
Mais dois, talvez mais quatro, e depois vou ter médico na frente do
meu nome e ainda sem direção. Estou totalmente perdido com
aonde quero estar com a minha vida.”
“Você não precisa ter tudo planejado de uma só vez. Não há
nenhum requisito que diga que você precisa saber exatamente o
que está fazendo com o resto da sua vida quando tiver 22 anos.
Você tem muito tempo para tomar decisões — e erros — e descobrir
o que deseja. Ninguém tem a cabeça no lugar na nossa idade.”
“Você tem.”
Ele ri. “Se você acha que é verdade, então não está prestando
atenção suficiente.”
Capítulo 9
Jase
“Isso é estranho?”
A rede balança suavemente enquanto Ethan se move ao meu
lado. O ar esfria conforme o sol se põe, mas nós ficamos no mesmo
lugar. Não posso contar quantas horas estamos aqui, e até agora
nenhum de nós se preocupou em ir além de uma ligeira mudança
de posição.
Estamos enroscados, nossas pernas entrelaçadas, sua cabeça
descansando contra o meu peito. Acaricio meus dedos sobre a
curva do ombro dele, e não consigo pensar em nenhum lugar na
terra melhor do que isso. “Acho mais estranho que não seja
estranho.”
“Sim”, ele suspira. “Continuo esperando por um de nós
enlouquecer com isso... além do meu leve pânico esta manhã...”
Sei o que ele quer dizer. Eu tive um ou dois momentos de que
porra é essa que está acontecendo agora? Mas no geral, estou mais
triste por não ter percebido isso antes. Perdemos muito tempo
separados quando podia ser assim.
Talvez minha crise existencial esteja atrasada. Talvez haja um
surto chegando, e se houver, lidarei com isso então. Tudo o que
quero agora é passar tanto tempo envolvido em Ethan quanto puder
antes de irmos embora. Eu não tenho certeza do que acontecerá
quando estivermos em Seattle, mas sei que não será assim.
Trabalho e vida interferirão, e haverá dias em que
provavelmente não veremos muito um ao outro. Estou com medo
porque não há ninguém no planeta com quem queira passar tanto
tempo quanto ele.
“Você pode imaginar se tivéssemos descoberto isso anos
atrás?” Pergunto, beijando o topo de sua cabeça.
Ethan ri. “Todas aquelas noites de verão que passamos
apenas você e eu na tenda na praia, provavelmente pareceriam um
pouco diferentes.”
“Todo o nadar nus… correr nus pela floresta…”
“Todas as festas do pijama partilhando a mesma cama.”
“Seria muito mais fácil fugir do que com as garotas infiltradas
no meu quarto depois que mamãe e papai estavam dormindo.”
Ethan ri. “Ainda não consigo acreditar que eles nunca
suspeitaram de nada. Acho que Caitlyn passou mais noites em sua
cama do que na última metade do segundo ano do colegial. Ela
estava obcecada por você. Você também parecia muito afim dela.”
“Caitlyn não chega aos seus pés.”
Ele se ergue para olhar para mim. “Oh sim?” O sorriso que ele
me dá, em seguida, me acerta direto no peito.
“Sim.” Ninguém com quem já estive me faz sentir como Ethan
faz. Talvez seja o número de anos que nos tornamos amigos antes
que qualquer coisa acontecesse entre nós. Talvez a novidade de
explorar uma parte anteriormente intocada da minha sexualidade,
ou talvez seja apenas Ethan, mas o que quer que seja, estou
consumido com uma mistura surpreendente de felicidade e desejo e
uma necessidade impressionante de fazê-lo sentir o mesmo.
Eu o puxo com mais força contra mim e enfio a mão por baixo
da camisa dele. Sua pele é lisa e quente, e não sei se já tive o
suficiente de tocá-lo.
“Jase.”
Meu nome soa como um convite, e então aceito, deixando
minhas palmas deslizarem em sua carne, meus dedos mergulhando
abaixo de seu cós. Cubro a curva de sua bunda com as mãos
enquanto ele inclina o rosto para me beijar. A justaposição entre a
suavidade de sua boca e a barba faz meu pau já duro pulsar contra
o interior do meu short.
Eu o beijo mais forte, minha língua deslizando contra a dele,
e ele me deixa pegar tudo o que quero dele. Não há barreiras. Não
há retenção. Ele está aberto e ansioso, e isso me excita tão rápido
que estou tonto com isso.
Ethan é meu, e eu sou dele, e tudo que quero é mostrar o
quanto eu o quero.
Sem quebrar o beijo, eu o manobro enquanto ele segura a
barra da minha camisa, retirando-a. Com movimentos cuidadosos,
tiro a minha, depois a dele, jogando as duas em algum lugar no
chão. A rede balança mais forte agora, mas eu mal percebo — estou
perdido em beijar Ethan novamente, arrancando ruídos dele que me
fazem delirar em querê-lo. Suas mãos estão em cima de mim, as
palmas deixando um caminho febril enquanto se movem sobre
minhas costas, e eu balanço contra ele, meu pau deslizando ao
longo de seu quadril.
Ele geme e isso me acerta. Amo os barulhos que ele faz
quando estamos assim, como se ele não pudesse conter o prazer
que sente e tudo vem derramando através do som. É a coisa mais
erótica que já ouvi.
Eu me afasto para olhar e, entendo a mão entre nós, abro o
botão e o short dele o suficiente para liberar seu pênis. Ele salta
contra seu estômago nu, a cabeça brilhando na luz do sol com o
pré-gozo que já está reunido ali. Envolvo a mão nele, sorrindo
contra sua garganta enquanto beijo seu pescoço.
Ele ofega, arqueando em meu punho quando ajusto meu
aperto e começo a acariciar. Seu pau lateja, flexionando enquanto
me movo, torcendo um pouco com cada ascensão, assim como eu o
vi fazer na noite anterior. Quero mais do que qualquer coisa fazê-lo
se sentir bem, aprender o que ele gosta, aprender as coisas que o
corpo dele responde.
Estou tão fodidamente dividido entre pegar as coisas
rapidamente ou prolonga-las. Ele oscila à beira da liberação, sua
respiração fica rápida, sua boca fica parada quando o beijo, seu
cérebro muito distraído pelas sensações. Com a outra mão, desço
ao longo de sua bunda. Coloco o dedo contra sua abertura. Quando
aplico um pouco de pressão, Ethan grita, gozando no meu punho.
Acalmo as duas mãos, movendo-me devagar, gentilmente, deixando
que ele se recupere. Quero tanto pressionar um dedo dentro, ter
seus músculos apertados em volta de mim, mas não sei se um de
nós está pronto para isso.
Passei anos tentando descobrir o que diabos estava fazendo
quando se tratava de sexo, mas isso parece um jogo totalmente
diferente, e está além do meu conhecimento. Eu me sinto como um
virgem de novo. Sei do que eu gosto, e então quando toquei Ethan,
tentei imitar essas coisas, mas uma punheta debaixo das árvores é
muito diferente do que possuí-lo de dentro para fora.
Eu o quero, quero tanto fazer isso com ele, mas, por outro
lado, há algo em ir devagar, prolongando a antecipação do que está
por vir.
Beijo-o com força, imaginando como será quando isso
acontecer. Apenas um pouco de seu desespero desaparece com seu
orgasmo, e ele retorna meu beijo com uma vontade que quase posso
saborear. Deslizando a mão, ainda coberta com o sêmen de Ethan,
em meus shorts, leva apenas dois toques antes que eu goze,
juntando-me a ele no pós-orgasmo arrebatador.
Ethan beija meu ombro, e deixo meus olhos se fecharem, a
brisa da tarde com cheiro de pinho passando por nós enquanto
balançamos juntos. Nenhum de nós fala; apenas relaxamos um no
outro.
Eu cochilo, entrando no sono com Ethan enrolado em mim.
Não consigo lembrar de uma vez em que me senti mais feliz,
acordando algum tempo depois, Ethan ainda enroscado comigo no
fundo da rede.
“Jase?” Ethan pergunta, sua voz suave.
“Sim.”
“Isso é bom, certo?”
“Melhor do que bom.”
Ele assentiu. “Sim. Melhor do que bom.”
Capítulo 10
Ethan
“Merda! Jase, venha aqui.” Olho incrédulo para a visão na
minha frente. “Rápido.”
“O que? O que é?” Ele sai correndo da casa e desce a doca até
onde estou. “Puta merda.”
“Sim.” Inclino a vara de pescar para que ele possa ver o peixe
se contorcendo no final da linha.
“Você pegou um.”
“Eu peguei um”, repito. Já estamos na cabana há cinco dias e
passei uma hora mais ou menos todas as tardes pescando. Até
agora, não peguei nada além de uma sacola plástica e algumas
ervas daninhas do lago.
“Você é incrível.” Jase me agarra, levantando-me do chão em
um abraço de urso. “Isto é perfeito. Estou prestes a começar o
jantar. Vamos guardar os bifes para amanhã. Hoje à noite, vamos
ter qualquer tipo de peixe que isso seja.”
“Cuidado”, digo, e Jase me solta. “Demorei quase quinze anos
para pegar um maldito peixe desse lago. Ficarei chateado se ele
fugir.” Olho para a pequena criatura se contorcendo na ponta do
anzol. Não pensei nessa parte, e agora que eu realmente peguei
alguma coisa, não tenho ideia do que fazer com isso. “O que eu faço
agora?”
Estendendo a mão, Jase agarra a linha. “Puxe um pouco. Eu
vou agarrá-lo.”
Jase remove o anzol e me sinto como o rei da porra do
mundo. Nós dois tentamos por anos, mas enquanto o peixe se
contorce em sua mão, cambaleando desesperadamente ao redor,
imagens da vez em que a sobrinha de Allison nos fez assistir
Procurando Nemo três vezes seguidas vem na minha cabeça. Aquela
cena com o peixe ofegando na bandeja dentária ficou presa no meu
cérebro, e antes que eu possa pensar muito sobre isso, pego o peixe
das mãos de Jase e jogo-o suavemente de volta no lago.
Ele ri. “Você está brincando comigo, cara.”
Dou de ombros. “Não posso fazer isso. ‘Peixes são amigos,
não comida’.”
Jase ri novamente. “Você é Insano. Bem, que seja bife, acho.”
“Bife é melhor, afinal.”
Ele balança a cabeça quando se vira para a casa. “Venha,
então. Você pode me ajudar a preparar.”
Pego a vara de pescar e a caixa de equipamento e o sigo até a
casa.
Ele já está na cozinha quando entro, tirando ingredientes da
geladeira e arrumando-os no balcão. Fico quase perplexo na porta,
observando-o por um minuto. Ele atravessa o cômodo com uma
facilidade que veio de anos de familiaridade com o espaço.
Jase sempre foi um cozinheiro melhor do que qualquer um
que conheço, e desde que ele foi contratado pelo corpo de
bombeiros, ele só melhorou. As noites cozinhando para grandes
grupos o fizeram habilidosamente qualificado, e meu estômago
ronca pensando sobre ele me alimentando.
“Vai ficar aí olhando a noite toda, ou vai ajudar?”
Guardo os suprimentos de pesca no armário e me junto a ele.
Fico atrás dele, envolvendo meus braços em sua cintura, meus
dedos espalmados em seu estômago, e dou um beijo em seu ombro.
“O que estamos fazendo?”
“Vamos morrer de fome se você estiver planejando me apalpar
enquanto estou tentando cozinhar.”
“É isso que você ganha por cozinhar sem camisa. Você espera
que eu mantenha minhas mãos longe?”
“Bem observado.” Ele se vira em meus braços e tira minha
camisa sobre a cabeça antes de me fazer andar para trás, me
pressionando contra a geladeira.
“Frio.” Murmuro.
“Posso consertar isso.” Suas mãos seguram minhas
bochechas quando inclina meu rosto para me beijar. Facilito para
ele, deixando-o pegar o que quer. Ninguém me faz sentir tão vivo,
tão desesperado. Tudo parece novo, como se fosse a primeira vez
que fui beijado ou tocado. Não consigo o suficiente. Ele me fez gozar
mais vezes do que posso contar, mas ainda há tantas coisas que
não tentamos.
Ele geme em minha boca, suas mãos me prendendo com
força contra o metal liso, e eu choramingo quando seu pau desliza
contra o meu através do tecido de nossos shorts.
Quebrando o beijo, ele inclina minha cabeça para o lado,
chupando e lambendo meu pescoço. “Porra, não consigo parar de te
tocar”, ele murmura contra a minha pele, uma onda de calor
rolando através de mim.
“Não precisa parar”, resolvo, puxando-o mais firme contra
mim e balançando meus quadris contra os dele.
Desde a primeira noite que passamos juntos, nós ficamos
juntos, explorando e tocando, e estou usando muitas das marcas de
Jase, não há uma parte do corpo que ele não tenha marcado.
Os arranhões da barba está se tornando um problema de
verdade, mas estou feliz em ignorar. Nada importa além de estar
com ele, e quando ele fica de joelhos na minha frente, meu coração
para.
“Jase...”
“Quieto”, diz, desabotoando meu short e deslizando-o para
baixo, deixando-o em meus tornozelos. “E não se mexa.”
Eu não poderia se tentasse. Estou congelado no lugar, meu
corpo petrificado. É uma fantasia que imaginei tantas vezes na
minha cabeça que nem tenho certeza se é real até que a respiração
de Jase sopra contra a pele supersensível da minha ereção.
Ele hesita, parando por muito tempo.
“Jase...” Exalo forte. “Você não precisa.”
“Eu te disse para ficar quieto.” Ele olha para mim, uma
sobrancelha arqueada e um sorriso brincando em seus lábios, mas
por baixo disso, posso ver que ele está nervoso.
Passo meus dedos suavemente através de seu cabelo, e por
uma fração de segundo, seu sorriso vacila. “E eu te disse que você
não precisa.”
Ele pisca lentamente e o sorriso está de volta antes de se
aproximar e levar meu pau em sua boca.
Assobio com a sensação, calor e umidade me cercam
inesperadamente, e minha cabeça cai contra a geladeira com um
baque. Só paro por um segundo antes de olhar para baixo
novamente. Não quero perder um segundo disso — quero selar a
visão do meu melhor amigo chupando meu pau no meu cérebro
para manter para sempre.
Jase gira a língua na cabeça, sugando com força suficiente
para que eu realmente sinta isso antes de inclinar para frente e
pegar quase tudo de mim.
Da mesma maneira abrupta, ele se afasta, engasgando.
“Jase...”
“Pelo amor de Cristo, E, estou bem.” Seu tom afetado pela
frustração, e quando pega meus olhos com os dele, ele suaviza.
“Quero fazer isso por você. Eu só não sei—” Ele balança a cabeça e,
com determinação renovada, segura a base do meu pau e
lentamente me leva à boca.
A incerteza de Jase atenua o acúmulo, provocando-me com a
languidez de seus movimentos. Meu corpo quer avançar, enterrar
meu pau na parte de trás de sua garganta, pintar sua língua com a
minha libertação, mas minha mente quer prolongar para sempre,
para que dure horas.
Mesmo quando o pensamento passa pelo meu cérebro, sei
que não há como isso acontecer. Não importa quão devagar Jase
faça isso, apenas saber que ele é o único a fazer isso por mim, que
ele quer me fazer sentir tão bem, é demais. Esse conhecimento, por
si só, é suficiente para me empurrar até o limite quase no momento
em que ele me toca.
Seguro o máximo que posso, meus dedos soltos em seus
cabelos enquanto ele balança com intenção, até que tudo se torna
muito. O prazer é muito grande, e eu cedo, incapaz de manter meu
orgasmo por mais tempo.
Em um instante gozo, e Jase para, engolindo tudo que dou a
ele antes que recue e se levante, tomando minha boca em um beijo
forte. Gemo, ainda tão excitado que dói. Agarrando seus ombros, eu
o viro, prendendo-o na geladeira desta vez.
Mas quando faço um movimento para ficar de joelhos, ele me
puxa e me beija novamente. “Mais tarde”, diz, enviando arrepios
através de mim. “Tenho planos para você depois do jantar.”
Capítulo 11
Jase
“Você daria um grande homem das cavernas, sabe.” Ethan
fica de pé, com as mãos nos quadris, observando enquanto eu me
inclino para acender o fogo.
“Homem das cavernas, hein?” Ele sorri para mim, uma
sobrancelha levantada, e no segundo que me movo em sua direção,
ele sai correndo. Corro atrás dele, meus pés batendo com força na
areia fofa, mas eu o alcanço rapidamente. Agarrando-o, eu o viro e o
jogo por cima do ombro carregando no modo bombeiro que fiz mil
vezes no trabalho. “Acho que você está certo. Eu daria um excelente
homem das cavernas.”
“Você faz carregar parecer uma arte. Vai me arrastar de volta
para sua caverna? Exceto que não acho que os homens das
cavernas tivessem acesso a gás e isqueiros.”
Eu o carrego de volta e o coloco na areia, segurando-o por um
segundo a mais do que preciso. “Dê-me um pouco de crédito. Sou
um profissional incendiário. Eu poderia acender um fogo com
qualquer coisa.”
Ethan revira os olhos e eu rio. É tão bom estar com ele assim,
só nós dois, sem pressão, sem preocupações, construindo uma
fogueira na beira do lago. Nós puxamos alguns troncos para sentar,
e o fogo já está começando a brilhar sob a grade de metal que Jase
colocou sobre ele para cozinhar. O sol cairá em poucos minutos e,
no final das contas, é o final perfeito para o dia perfeito.
“Você quer pegar a comida de dentro e eu vou preparar?”
“Certo. Volto logo.”
Eu o observo caminhando em direção à casa, seu short baixo
o suficiente em seus quadris que posso ver a curva de sua bunda
enquanto anda. É uma visão muito bonita, e eu me pergunto como
eu nunca vi antes. Todos aqueles meses que passamos aqui — e até
mesmo em casa — e eu nunca o apreciei completamente.
Ele desce os degraus um minuto depois, tudo o que
precisamos para o nosso churrasco equilibrado em uma tigela.
“Acho que tenho tudo”, Ethan diz, colocando a tigela para
baixo. “O que precisa que eu faça?”
Pressiono um beijo na boca dele. “Sente-se e fique bonito.
Você já estragou nossas chances de comer peixe fresco no jantar.
Não vou deixa-lo estragar nossas chances no bife.”
“Você acha que eu iria jogá-lo na doca”, ele brinca.
“Quem sabe o que você faria?”
Ele revira os olhos para mim, mas senta-se, onde posso vê-lo
em um dos troncos. Começo a cozinhar, apenas parcialmente
distraído por ele me observando.
Nunca percebi antes o jeito que ele faz isso, ou então ele
sempre se manteve sob controle ao meu redor, mas agora, os olhos
de Ethan em mim deixa meu pau se contorcendo em meu short.
Seu olhar é suficiente para deixar minha pele em chamas.
Quando o jantar está pronto, servimos e sentamos em
silêncio, deixando os sons da floresta falar enquanto comemos. Não
há nada como uma refeição do lado de fora, especialmente uma que
foi preparada na fogueira.
Nada supera isso, e sei que no segundo em que voltarmos
para a cidade, sentirei falta desse lugar.
“Acabou?” Ethan pergunta, olhando meu prato.
“Sim, obrigado.” Ele pega o meu e empilha com o seu, em
seguida, joga os dois pratos de papel no fogo. “Hora de s'mores?”
“Você ainda está com fome?”
Ele balança sua cabeça. “Você não tem que estar com fome
para comer s'mores. Poderia pensar que esta é sua primeira
fogueira.”
Eu rio. “Você está certo. S'mores soa bem.”
“Ótimo. Você tem que fazê-los, no entanto. Eles são mais
gostosos quando você faz.” Ethan sorri e fica de pé, agarrando um
galho onde nós apoiamos contra o tronco.
“Stanley, não!”
As palavras ecoam pelo lago e, segundos depois, uma bola de
pelo gigante salta pela areia, escorregando até parar com o nariz
firmemente plantado no saco de marshmallows. Antes que eu possa
descobrir que tipo de cachorro estou olhando, seu dono está ali,
agarrando-o pela coleira e puxando-o para fora da comida.
“Desculpe”, ele diz, um pouco ofegante. “Stanley não vem
aqui em cima há anos, mas seu olfato não se deteriorou nem um
pouco.” Ele olha entre nós, e me dou conta ao mesmo tempo em
que ele, aparentemente. “Vocês são os caras do bar na outra noite.
Ethan? E Jason?”
“Oh, ei”, Ethan diz. “Boa memória.” Ele pega os
marshmallows e os esconde atrás das costas antes de pegar a caixa
de biscoitos. “Posso dar a ele um desses? Provavelmente um pouco
melhor para ele do que os Stay Pufts.”
“Certo. Ele será seu melhor amigo para sempre.”
Resisto ao impulso de afirmar que eu sou o melhor amigo de
Ethan para sempre. É ridículo e estúpido que esteja chateado que
esse cara esteja de volta. Eu culparia os sentimentos pelo álcool se
tivesse bebido, mas só tenho minha própria psicologia ridícula para
culpar por isso. Não faz sentido, mas eu me sinto ameaçado por ele,
e tudo que quero é que ele vá embora, então Ethan e eu poderemos
passar a noite sozinhos.
“Você quer se sentar? Jase faz um s'more muito bom.”
Ethan abre espaço, e para meu espanto, Tyler aceita seu
convite, sentando ao lado de Ethan no tronco.
“Eu nunca fui de recusar um s'more.”
A contragosto, pego o galho de Ethan e perfuro o final através
do marshmallow, em minha cabeça imaginando que é o testículo de
Tyler. As chamas quase apagaram no fogo, e as brasas no fundo é o
local perfeito para assar.
“Como está sua tese?” Ethan pergunta.
Tyler encolhe os ombros. “Não muito bem. Pode estar quieto
demais para fazer qualquer coisa. Stanley está se divertindo. Eu
também, acho. É um bom intervalo de tudo, e tenho um tempo para
terminar, então não estou me estressando muito ainda.”
“Você gosta da pós-graduação?”
Ele ri. “As vezes. Às vezes acho que sou um idiota por ter
decidido fazer isso, mas acho que valerá a pena no final. Estou
lançando a ideia de me tornar um professor e, sem um grau
avançado, não há nenhuma maneira no inferno que aconteça.”
Ethan assente. “Estou pensando em voltar para a
universidade. Não tenho uma imagem clara do que quero fazer
ainda.”
“Você pode fazer qualquer coisa”, digo a ele, segurando o
marshmallow perfeitamente assado sobre ele para que possa
colocá-lo entre as bolachas e o chocolate. “Você é a pessoa mais
inteligente que já conheci.”
Tyler sorri e olha entre nós, em seguida, pega o s’more que
Ethan lhe oferece. “Você sabe, ele é muito convincente. E se você
quiser explorar suas opções, os conselheiros são um ótimo lugar
para começar. Ou você pode falar comigo. Estou sempre pronto
para uma pequena discussão acadêmica.” Ele tira o celular do bolso
e entrega a Ethan. “Coloque o seu número aí e vou te ligar na
próxima semana. Podemos arrumar alguma coisa se você quiser.”
“Isso seria ótimo.” Observo quando Ethan coloca seu número
no telefone desse cara estranho e entregá-lo de volta para ele.
Quero jogá-lo no lago.
Tyler se levanta e limpa as migalhas de suas pernas. “Vou
deixa-los agora. O olfato de Stanley pode ser perfeito, mas a visão
dele não é mais o que costumava ser. Devo levá-lo antes que fique
muito escuro.”
“Marshmallow para a viagem?” Ethan pergunta, segurando o
saco.
Tyler acena. “Não, obrigado. Foi bom revê-los.”
“Igualmente”, Ethan diz, e Tyler dá um último adeus antes de
ele e Stanley saírem da costa.
“Isso foi legal da parte dele”, Ethan diz quando Tyler e Stanley
estão fora de vista.
“Legal até demais. Quem sai do seu caminho para ajudar um
completo estranho sem motivo?”
“Uh, você.”
Olho de lado para ele. “Tecnicamente, sou pago para fazer
isso.”
“Você faria do mesmo jeito, mesmo que não houvesse um
contracheque no final da semana.” Ele se aproxima.
“Você quer que eu adicione outro tronco, ou quer entrar
logo?”
Ele respira fundo e deixa a cabeça cair para o lado. “Eu não
sei. Ambos?”
Olho para o fogo, os carvões queimando no centro do buraco
que cavei. “Vou pegar um cobertor e podemos sentar um pouco
mais.”
“Sim. Isso é bom.”
Ainda faltam dois dias para a gente voltar para casa, mas eu
já posso sentir o pouco tempo me atormentando.
Subo os degraus de trás e pego o cobertor na parte de trás do
sofá. É o mesmo cobertor que usamos para construir fortes de
travesseiros quando tínhamos onze anos, o mesmo em que nos
sentamos enquanto observávamos meu tio soltar fogos de artifício
sobre o lago no dia 4 de julho. Eu o levo para o fogo, sacudindo-o
quando chego perto e envolvendo-o ao redor de Ethan e eu
enquanto tomo meu lugar ao lado dele.
Não está frio, mas há algo reconfortante em estar envolvido
com ele assim.
“Ainda não consigo acreditar que você deu àquele cara o seu
número”, digo, olhando para longe, onde imagino que Tyler está
sentado agora ansiando por Ethan.
“Por quê? Ele estava sendo legal.”
“Ele não estava sendo legal. Você está fora do jogo há muito
tempo — na verdade, você nunca esteve realmente no jogo — então
talvez não saiba como isso funciona, mas esse cara estava
enganando você.”
Ethan dá uma risada. “Ele não estava ‘me enganando’.”
“Oh, esse cara estava 100% te enganando. Você não podia ver
porque é tão inocente e ingênuo, mas aconteceu.”
“Ele provavelmente nem é gay e, mesmo que fosse, eu não
estou interessado.”
Quero tanto perguntar por que, ouvi-lo dizer que só está
interessado em mim, que sou o único cara com quem ele sempre
quis estar, mas eu me contenho.
“Sabe o que eu vejo?” Ethan pergunta.
“O que?”
“Você está agindo como um idiota ciumento.”
Finjo estar chocado porque estou com tanto ciúme que estou
pronto para arrancar a cabeça daquele cara de seu corpo e jogá-la
no lago.
“Você está cheio de merda”, Ethan diz, batendo seu ombro
com o meu. “Mas você sabe o que? Eu meio que gosto.”
Sorrio para ele. “Sim?”
“Sim.”
Eu o puxo para mais perto. “Então posso te dizer que não
quero que ele te toque. Só eu. Quero ser o único cara que sabe
como é te beijar.”
Ethan sorri, parecendo mais feliz do que alguma vez já vi, e
esse olhar passa direto por mim. Perfura meu coração, imprimindo-
se em minha alma, e não acho que jamais esquecerei como ele se
parece nesse momento.
Virando seu corpo para mim, ele passa os braços no meu
pescoço, engata um joelho por cima do meu quadril e me beija. Eu
posso provar a doçura dos marshmallows e chocolate de mais cedo,
ainda em sua respiração.
“Acho que o fogo já apagou o suficiente agora.” Sua voz é
baixa, áspera. “Vamos para a cama.”
Meu coração dispara quando o levo para dentro da casa.
Capítulo 12
Ethan
A porta se fecha atrás de nós, e então é só eu e Jase lá
dentro. Apenas nós dois a semana toda, mas agora algo poderoso
crepita entre nós. Sabemos o que acontecerá a seguir — estou
esperando por esse momento o dia todo... a semana toda... toda a
porra da minha vida.
Quero isso mais do que jamais desejei algo, mas o
pensamento de passar por isso, de deixar Jase ter tudo de mim
desse jeito, me aterroriza pra caralho. Não há como voltar. Já
atravessamos mil limites desde a primeira noite, mas esse limite é
um que não há retorno.
Estou congelado na porta, minha respiração ainda no meu
peito até que Jase pega minha mão e me leva para o quarto. Ele me
puxa para seus braços apenas dentro da soleira e me beija tão
lentamente que meu coração dói. A fumaça do fogo e o cheiro forte
de pinheiro ainda estão enterrados em sua pele, e sei que nunca
serei capaz de sentir o cheiro sem lembrar este momento.
“Você está tremendo”, diz, as palavras faladas quase contra
meus lábios.
Minhas mãos passam pelo peito de Jase. “Estou bem.”
“Nós não temos que—”
“Eu quero. Quero isso mais do que você possa imaginar.”
“Eu também.” Seus olhos se encontram com os meus, e a
sinceridade dessa declaração tira o ar dos meus pulmões. Abaixo a
mão e levanto a camisa sobre a cabeça. Parece que tudo se move
em câmera lenta quando Jase se aproxima de mim, desabotoando
meu short e empurrando-o para o chão.
Minhas mãos tremem quando faço o mesmo por ele, tateando
brevemente para abaixar o zíper, mas em questão de segundos
estamos de pé no meio do quarto, nus ao luar. Quero dizer a ele o
quanto eu o amo, mas mordo minha língua, me forçando a manter
as palavras. Isso é novidade para ele. Eu o amo por toda a vida,
mas aos olhos de Jase, o que está acontecendo entre nós tem
apenas alguns dias.
“Ethan”, ele começa, sua voz rouca quando se aproxima de
mim. “Você é tão bonito, sabe disso? Não sei como passei tanto
tempo sem perceber quão lindo você é.”
Suas palavras enviam uma onda de calor através de mim, e
sei que minha pele está corada, mas depois sua boca cobre a minha
e assim mesmo, todos os pensamentos desaparecem. Deixo meus
olhos se fecharem e as sensações de estar perto dele assumem.
Com os braços firmemente ao redor de seu pescoço, ele desliza suas
mãos sob minhas coxas, levantando-me e envolvendo minhas
pernas em sua cintura, nunca quebrando o beijo.
O cume duro da minha ereção pressiona contra sua barriga
quando ele me leva para a cama, e com um movimento fluido, me
coloca para baixo e cobre meu corpo com o dele. O peso dele em
mim é tão perfeito que quase poderia morrer feliz ali, pelo menos
até que ele balança os quadris lentamente para frente.
“Oh deus, Jase.” Quase não reconheço o som da minha
própria voz — entorpecido com luxúria, áspero com a necessidade.
“Estou aqui”, diz, repetindo o movimento, seus próprios
gemidos combinando com os meus.
“Nós realmente vamos...” Ainda há um pequeno fragmento de
mim que acredita que tudo isso pode ser algum tipo de sonho
vívido, induzido pelo desespero.
“Deus, Ethan. Sim. Quero você... pra caralho que dói. Eu não
entendo como isso aconteceu, o que mudou, ou como eu mudei,
mas Cristo, estou tão viciado em você.” Jase roça seus lábios sobre
os meus. O gesto é terno, reconfortante, mas logo a hesitação
desaparece, e não há nada além de um calor que consume tudo ao
nosso redor.
O jeito que Jase se move sobre mim me faz virar do avesso.
Eu já estou perto do limite.
“Jase”, imploro a ele, minhas mãos em punho em seus
cabelos enquanto ele continua a balançar contra mim, seu pau
deslizando ao longo do vinco da minha bunda, o meu preso entre
nossas barrigas. É o suficiente para me levar ao limite, mas não
quero gozar ainda. Não estou pronto.
Chupando com força a curva do meu ombro, ele se mexe, a
cabeça de seu pênis deslizando contra minha entrada, roçando a
carne sensível. Mordo o lábio, segurando o grito de prazer que
ameaça escapar. “Jase”, imploro novamente.
Ele exala forte e se move, esticando o corpo sobre mim para
pegar algo da mesa de cabeceira.
“Por favor, não me diga que é de Kurt”, digo, riso nervoso
borbulhando de mim antes que eu possa pará-lo.
Jase sorri, e posso dizer que ele está tão nervoso quanto eu,
embora de nervosismo ou tensão sexual reprimida, eu não tenho
certeza. “Peguei coisas no mercado da última vez... eu não sabia
se—”
“Sempre o escoteiro.”
“Você sabe melhor do que ninguém que eu nunca fui um
escoteiro.”
“Perto o suficiente”, digo a ele.
Há uma leveza em seus olhos que ferve em calor puro
enquanto abre a pequena garrafa de lubrificante e cobre seus
dedos. Abro as pernas, dobrando um pouco os joelhos e puxando-
os, o suficiente para que Jase tenha acesso à parte de mim que
ninguém, exceto eu tocou.
Estou vulnerável assim, aberto para ele ver, tudo de mim
exposto.
“Tão lindo”, ele murmura enquanto se inclina para frente,
apoiando-se em um braço e descendo para lubrificar sobre a minha
entrada.
Ofego, a sensação dele me tocando quase demais.
“Você está bem?” Suas sobrancelhas estão unidas em
preocupação, e para de se mover.
Eu aceno. “Apenas frio.”
Jase se arqueia para frente, pressionando beijos leves em
meu estômago e peito. Seus dedos estão se movendo novamente,
circulando, massageando, e faço o meu melhor para relaxar nele. É
bom, bom pra caralho e estranho ao mesmo tempo, mas quanto
mais ele acaricia contra mim, mais desesperado eu me sinto, o calor
e a urgência aumentando, se espalhando pelo meu corpo até que
me arqueio para trás.
Eu me quebro em mil pedaços sob o prazer de seu toque
quando ele finalmente aumenta a pressão o suficiente para deslizar
um dedo dentro de mim.
“Merda”, Jase assobia. “Você é tão apertado, E.”
Grunho, derrotado com a sensação de ser esticado para falar,
e, em seguida, Jase se move. É leve — para qualquer outra pessoa,
pode ser indistinguível — mas para mim, cada fração de um
milímetro cria faíscas de prazer dançando através do meu corpo.
Desejo zumbe debaixo da minha pele, e meu desespero chega ao
auge.
“Jase, preciso te sentir.” Leva tudo em mim para formar as
palavras, mas preciso que ele saiba.
Retirando os dedos com mais cuidado do que penso ser
possível, ele se move, colocando o preservativo antes de se
acomodar entre as minhas pernas, seu corpo embalado pelo meu. A
cabeça dura de sua ereção pressionada contra minha entrada, e eu
prendo a respiração, esperando pela invasão quando o corpo de
Jase estará unido ao meu. Segundos se passam, mas Jase fica
perfeitamente parado.
Meu coração bate nos meus ouvidos, mas quando ele fica lá,
imóvel, uma pequena dúvida começa a se formar dentro do meu
peito.
“Jase”, murmuro.
Seus olhos encontram os meus na luz fraca do quarto, e
posso ver a hesitação.
“Não quero te machucar.”
“Você não vai me machucar”, asseguro a ele. “Eu confio em
você. Apenas vá devagar.”
Ele acena com a cabeça uma vez, mais para se assegurar do
que a mim, penso, depois lentamente entra.
Solto um suspiro agudo com a intrusão, meu corpo em
chamas e tudo isso centrado em torno da ardência intensa onde
Jase e eu nos encontramos. Não consigo respirar, a dor aguda e
intensa, e Jase congela imediatamente.
Forço meus pulmões a aspirar o ar, forço meu corpo a
relaxar, e antes que a dor se torne demais, começa a se transformar
em outra coisa, algo que não posso descrever se tentar.
Apertando minhas pernas ao redor de Jase, controlo a
profundidade de seu impulso, puxando-o mais para dentro de mim,
centímetro por centímetro, até que seus quadris descansam contra
os meus, seu pau todo dentro de mim.
A ardência está lá, ainda vívida, e ainda assim a forma como
é camuflada pelo prazer faz todo o meu corpo se iluminar como se
houvesse fogos de artifício no quarto.
A cabeça de Jase cai para frente contra a curva do meu
ombro.
“Ah, porra”, Jase geme enquanto tensiono meu corpo ao redor
dele, apertando e fazendo todos os músculos de seu corpo ficarem
rígidos. “Deus, Ethan, estou dentro de você. Parece…”
“Eu sei”, ofego, derrotado com a intensidade de saber que
Jase e eu estamos unidos da maneira mais íntima possível.
Isso vai me matar. Isso vai acabar com a minha vida, mas eu
não me importo. Quero isso por muito tempo, e o que quer que
aconteça no final de tudo isso, valerá a pena ter isso, mesmo que
por pouco tempo.
“Ethan”, Jase fala, “me diga o que você precisa.”
“Você… tem que se mexer. Eu quero sentir…”
Jase se afasta, em seguida, empurra lentamente, profundo o
suficiente para bater no fundo em mim. Três toques, e eu sinto
como se fosse explodir. Todo o meu fodido mundo está virado de
cabeça para baixo.
Mais e mais Jase se balança em mim, cada vez me
empurrando mais alto, mais perto da borda. Estou pronto para
pular, pular no desconhecido, contanto que Jase seja o único a
pular comigo. Ele muda de posição, batendo em algo dentro de mim
que faz minhas costas arquearem e meus olhos revirarem quando
alcança entre nós e agarra meu pau.
Tudo o que acontece é dois golpes e tudo acaba. Grito o nome
dele quando o meu orgasmo sai de mim, causando um prazer
dentro de mim quando gozo em todo o meu estômago. O ritmo de
Jase vacila, e empurra profundamente, seu corpo inteiro ficando
tenso quando goza, dentro de mim.
Ele desaba e eu o seguro perto, minhas mãos traçando
padrões preguiçosos em suas costas enquanto recupera o fôlego.
Quero ficar assim para sempre, manter a realidade fora da vida de
fantasia que construímos dentro das paredes da cabana.
Depois de vários longos minutos, porém, Jase retira-se
cuidadosamente. Depois de descartar o preservativo, ele nos limpa
com uma das camisetas que jogamos no canto, depois sobe na
cama ao meu lado.
“Você está bem?”
Cada uma das mil vezes que ele me perguntou isso desde que
chegamos a Pine Bluff, tem um significado diferente.
“Sim, eu estou bem”, digo, sorrindo para ele, em parte para
provar que quero dizer isso e em parte porque eu não consigo parar.
“Eu quis dizer... você está dolorido?”
“Sei o que você quis dizer. Um pouco sensível, mas bem.
Bem.” Faço uma pausa, considerando minha próxima frase. “Eu
gosto que estou, que ainda posso sentir o que fizemos.”
Ele sorri para mim, como se fosse exatamente a coisa certa a
dizer, e me aproxima mais. Pressionando um beijo na minha testa,
ele se acomoda ao meu lado e puxa as cobertas sobre nós.
Adormeço momentos depois ao som da respiração suave e uniforme
de Jase.
Capítulo 13
Jase
“A água está mais fria hoje, ou estou imaginando coisas?”
Ethan nada em direção ao cais, se levanta e sai do lago. Observo a
água em cascata de seu corpo, sua bunda tão pálida que reflete a
luz do sol de volta para mim.
“Você é um covarde.”
“Não fui eu que chorou depois de mergulhar de barriga desta
doca.”
Nado mais perto e espirro água nele, mas o spray só alcança
os joelhos dele. “Eu tinha onze anos.”
Ele recua três ou quatro passos, depois dá um pulo correndo
da doca, salta por cima da minha cabeça e como uma bala de
canhão, lançando uma onda sobre mim. Limpo a água dos meus
olhos, depois nado em direção ao local onde Ethan entrou. Ele
surge um minuto depois e o puxo para mim, beijando-o com força
antes de colocar todo o meu peso sobre os ombros dele para
empurrá-lo para baixo.
Prendo a respiração, esperando que ele me puxe para baixo,
como costumava fazer quando éramos crianças, mas em vez disso,
quando as mãos dele envolvem minhas pernas, não é para me
submergir. Calor envolve meu pau quando ele me pega em sua
boca, e quase afundo ali mesmo, esquecendo por um minuto de
nadar com meus braços.
“Jesus, Ethan”, eu ofego, mas tão rapidamente quanto ele
começa, ele se afasta e ressurge.
“De jeito nenhum posso prender a respiração por tempo
suficiente para fazer isso corretamente”, ele diz, com um brilho
perverso em seus olhos.
“De jeito nenhum poderia manter minha cabeça acima da
superfície com meu pau na sua boca.”
“Acho que isso significa que é hora de sair do lago.”
“Acho que sim.”
Corremos para o cais, Ethan me batendo lá por meio
segundo. Ele se levanta e estende a mão para me ajudar.
Envolvendo meus dedos em seu pulso, eu puxo com força,
trazendo-o de volta para a água e saindo antes que ele possa me
agarrar. Sem olhar para trás, corro em direção à cabana, subindo
as escadas e entrando com Ethan se aproximando.
***
Ethan
Por alguma razão, não consigo me livrar da sensação
estranhamente sinistra de que alguma coisa ruim vai acontecer. A
viagem de volta para casa parece que estou sendo levado para a
prisão. Sei que a festa de boas-vindas que estará me esperando
quando chegar lá não será amistosa. Na verdade, não haverá uma
festa de boas-vindas. Será apenas uma casa vazia e todos os
problemas que fiz o melhor que pude para ignorar na última
semana.
Honestamente, porém, não tenho ideia de como as coisas
estarão quando voltar à rotina habitual — trabalho, família, amigos
e tudo mais. Eu só sei que nada será tão simples quanto tudo
parece estar quando estávamos isolados na cabana. A vida real está
prestes a desabar sobre mim, e não tenho certeza de onde ir a partir
daqui.
Esqueça começar um novo capítulo. Como é que passei
minha vida toda para um fodido novo livro?
Allison sabe a verdade, mas mesmo que as coisas entre nós
estejam de cabeça para baixo no momento, eu confio nela. Não há
como ela contar a alguém sem a minha permissão. Então agora eu
tenho uma decisão a tomar. Sigo o fluxo do trabalho e da vida,
fingindo que nada está diferente? Ou faço um grande anúncio, saio
do armário em uma chuva de arco-íris e glitter?
Nenhuma das duas opções parecem boas.
E então há o gigante desconhecido em relação a Jase. É esse
desconhecido que me deixa mais no limite. Tanto que nem quero
pensar nisso. Não houve discussão de nada; nós não falamos sobre
o que somos e o que seremos. Tudo parece muito frágil para
abordar, como se eu abordasse, a coisa toda poderá explodir como
uma das bolhas gigantes do tamanho humano que fiz para o meu
projeto da feira de ciências no sexto ano.
Sei que parece estúpido. Sempre fui capaz de falar com o
Jase sobre qualquer coisa — com uma exceção — mas o
pensamento de perguntar se ele é meu namorado agora é
mortificante.
Este é um território desconhecido e não tenho uma porra de
bússola.
Olho pela janela, as árvores à distância parecendo imóveis,
enquanto as plantas menores ao longo do lado da estrada passam
por nós enquanto Jase dirige. Quero desacelerar tudo, implorar
para ele me levar de volta e dizer que estou doente pelo resto da
minha vida. Horas atrás, as coisas pareciam tão simples, mas agora
elas estão descontroladas, e eu quero parar, mas não consigo.
Isso está acontecendo e agora preciso descobrir como lidar.
Voamos de cidade em cidade, até que a forma familiar do
horizonte de Seattle aparece à nossa frente.
“Sabe, não é tarde demais para se virar e voltar”, Jase diz,
deslizando a mão pelo console central para apertar minha coxa. Eu
me inclino em seu toque, decidindo que não importa quantas vezes
ele coloque suas mãos em mim, nunca será menos significativo.
“Acho que já passamos do ponto sem retorno”, respondo,
voltando minha atenção para longe da cidade e de volta para Jase.
Conforto me atinge quando ele sorri de volta, seus olhos um pouco
tristes, como se ele soubesse exatamente o que nós deixamos para
trás em Pine Bluff.
“Talvez.” Ele exala. “Mas nos nossos próximos dias de folgas
juntos, vamos voltar. Apenas sair da cidade e passar o fim de
semana na cabana.”
Ele soa com tanta certeza, como se esses planos já estivessem
estabelecidos e são imutáveis agora, que não posso evitar sentir o
nó no meu peito se soltar um pouco. É algo para confiar, afinal.
“Sim.” Balanço a cabeça. “Isso soa bem.”
***
Jase
O dia se arrasta mais do que imaginei ser possível. Com duas
horas até a troca de turno, estou mais do que pronto para tirar o
uniforme e dar o fora da estação. Na maioria dos dias, eu amo o
meu trabalho. Adoro a adrenalina e a satisfação de ajudar as
pessoas. Mesmo as chamadas de merda não parecem me aborrecer
como fazem com os outros caras. Mas hoje estou inquieto e mais do
que ansioso para terminar.
“Você precisa de uma carona até o Lower Deck?” Harmon
pergunta, verificando o estoque no kit médico.
“Nah, não esta noite. Acho que vou para casa e dormir.”
“Sério? Você não vem? É o maldito aniversário de Murello,
cara.”
“Da próxima vez”, prometo.
“Você perdeu as últimas duas noites de bar porque você
desapareceu para deus onde no último segundo, todos nós
cobrimos a sua bunda com suas férias inesperadas, e agora você
vai furar na primeira chance depois de voltar. Fodido, cara.”
“Estou cansado”, argumento, minha mente indo para Ethan,
que sei que estará esperando por mim. Não sei porque não disse ao
Harmon que tenho outros planos. É como se pensasse que ele pode
ver através de mim, saber sem que eu diga nada do que planejei
fazer na minha noite. “Tem sido uma semana longa.”
“Você voltou há um dia. Conta outra.”
Ele está olhando incisivamente para mim, e antes mesmo que
eu abra a boca, sei que vou ceder. “Bem. Vou parar por uma hora,
tempo suficiente para desejar um feliz aniversário a Murello e
comprar uma bebida para ele. E, em seguida, vou para casa
dormir.”
“Melhor do que nada, suponho.”
Ignoro o comentário, embora tenha que admitir que me
incomode mais do que gostaria. Nunca me importei muito com o
que as outras pessoas pensam de mim, mas, por algum motivo, a
reação de Harmon ficou sob minha pele. Sinto como se tivesse sido
forçado a escolher entre meus rapazes e Ethan.
Talvez isso seja ridículo, mas não tenho certeza de onde
Ethan se encaixará na vida que eu tinha antes. Preciso descobrir
como juntar as duas.
Pego meu telefone da mesa e envio um texto para Ethan,
deixando-o saber que estarei atrasado, mas para ir em frente e
pedir comida e estarei lá o mais rápido que puder. Quase
imediatamente, a resposta chega.
Ethan: Não me deixe esperando por muito tempo ou terei que
começar sem você.
Rapidamente digito de volta.
Eu: Se você fizer isso, tire fotos.
Quando olho para cima, Harmon está me encarando, com um
olhar conhecedor no rosto.
“Michelle sentiu sua falta, hein?” Ele ri. “Acho que agora sei
porque você não quer sair com a gente hoje à noite. Você tem coisas
melhores para fazer, hein?” Ele fez um movimento de empurrar com
seus quadris enquanto tento pensar em algo para dizer. “Não posso
dizer que te culpo. Eu a foderia se a minha esposa não me matasse
por isso. Não é uma razão boa o suficiente para ignorar seus
amigos, no entanto. Você pode foder sua garota mais tarde, depois
que você tiver uma cerveja conosco.”
Eu poderia dizer a ele. Poderia me abrir e dizer que Ethan e
eu estamos juntos e se ele tiver um problema com isso, bem,
Harmon pode se foder.
Mas eu não digo.
Eu fico lá, rindo e dando de ombros como se Michelle fosse
exatamente com quem estarei naquela noite. Sou um imbecil do
caralho, mas não consigo dizer isso. Tive cinco minutos para
entender o que está acontecendo com Ethan e eu. Ainda não resolvi
totalmente a minha merda, e até que percebo, não posso deixar
ninguém entrar nisso.
Além disso, se eu for sair, minha família provavelmente será a
primeira a ouvir.
Pelo menos, esse é o raciocínio que faço.
***
Ethan
Ainda não sei o que pensar. Estou magoado que Jase
cancelou comigo para passar a noite com os caras do quartel, mas
por outro lado, não posso culpá-lo. Na verdade não. Ele passou a
última semana escondido comigo em uma cabana nas montanhas.
Não posso esperar que ele abandonasse o resto de seu círculo social
só porque quero passar cada minuto acordado — e dormindo —
com ele.
Mas esse é o problema.
Eu quero.
Sempre quis, e agora que tive um gostinho, agora que sei o
que é estar com ele, esse desejo só aumentou.
Então, quando ele manda uma mensagem, cancelando nosso
jantar e me avisando que ele não chegará até mais tarde, eu não
posso evitar a dor da decepção que passa por mim. E quando ele
aparece quatro horas depois do que supostamente deveria, com o
cheiro de álcool potente antes mesmo de atravessar a sala, a dor
aumenta.
Não tenho ideia de como agir com o que sinto, nenhum
quadro de referência para lidar com esse tipo de situação. De certa
forma, estou de volta para onde eu tinha treze anos de idade,
inexperiente e tateando no escuro quando se trata de namoro e
relacionamentos. Não só isso, mas ser melhor amigo do cara que eu
estou apaixonado é mais do que confuso.
Tudo o que sei é que passo de aborrecido a confuso, a
excitado no tempo que leva para Jase fechar a distância entre nós e
cobrir minha boca com a dele.
Não há nada de sexual sobre o jeito que ele me beija. Um
toque discreto de seus lábios nos meus e, no entanto, esse simples
ato é suficiente para apagar o aborrecimento de uma noite.
Esqueço meus sentimentos conflitantes e me perco no toque
de Jase até que vamos para a cama. Esta será a primeira vez que
passamos a noite juntos em outro lugar que não a cabana. O que
torna tudo mais complicado é que estaremos dormindo na cama
que compartilhei com Allison nos últimos quatro anos.
Embora não tenha conseguido dormir lá na noite anterior, sei
que não conseguirei dormir no sofá para sempre.
Jase se despe, aparentemente inconsciente da pequena crise
que eu estou tendo, e me distraio com o quão bonito ele é sem
roupa.
“Você vai ficar aí a noite toda olhando para mim, ou vai
entrar?”
Ele não me dá tempo para responder antes de se arrastar
para debaixo das cobertas. Sem uma palavra, deslizo ao lado dele e
me movo até que me deito contra ele, sua pele quente no quarto
com ar condicionado. Não sei o que espero — talvez ele possa
continuar exatamente de onde paramos com o desejo constante de
sexo — mas não é assim que acontece.
Nós dois estamos cansados, eu sei. Ele teve um longo dia de
trabalho e passei horas fazendo ginástica mental sobre o que minha
vida se tornou. Mas quando Jase me aproxima debaixo das
cobertas, o calor sexual que foi tão vívido em Pine Bluff é muito
mais moderado.
Ainda está lá, latente sob a superfície, mas fico com a
impressão de que Jase está tão contente quanto eu em não forçar
as coisas ainda mais esta noite.
Eu relaxo, deixando o conforto dele limpar o último dos meus
pensamentos confusos até que adormeço.
***
Jase
São duas longas semanas. Trabalho quase todos os dias
desde que voltei de Pine Bluff, a fim de compensar a licença
improvisada e não remunerada. Depois de passar uma semana
sentado e geralmente descansando, os turnos de emergência após
emergência parecem ainda mais duros do que o normal. Mas o
aluguel não é pago com pensamentos e sonhos, então arrasto
minha bunda para a estação.
E honestamente, as chamadas de alta adrenalina e alta
tensão ocorrem bem. Exaustivas, mas tudo bem. É o tempo de
inatividade entre as chamadas que é o pior, quando não há nada a
fazer senão sentar e esperar que algo aconteça. Estou ansioso por
um dia de folga, apenas para ver Ethan pessoalmente.
As conversas telefônicas são breves e intermitentes, e não
posso evitar a pequena dúvida. Ela penetrou tão sutilmente que
quase não percebi a princípio, mas quanto mais tempo se passa
depois de voltar à vida real, mais fantasiosa parece nosso momento
na cabana.
Não posso deixar de me perguntar se o meu relacionamento
com Ethan terá uma chance de se sair melhor do que o meu
relacionamento com Michelle. Eu ainda sou o mesmo cara. Ainda
trabalho todo o tempo do caralho. Sou dedicado ao meu trabalho e
praticamente tudo o mais na minha vida fica em segundo lugar.
Posso ser o tipo de namorado que Ethan merece?
E mesmo que possa, eu quero ser?
Eu me sinto como um babaca por ter esses pensamentos,
mas o que diabos devo fazer? Ainda há muitas perguntas não
respondidas sobre como diabos isso irá funcionar. Minha cabeça
gira com pensamentos de como vou encaixá-lo em minha vida de
uma maneira totalmente diferente da que ele se encaixava antes. E
como eu me encaixarei na dele?
Eu o amo. Não é disso que se trata, mas eu o amo do jeito
que ele merece ser amado, e isso é suficiente?
Jogo o resto do meu almoço no lixo e pego uma garrafa de
água na geladeira.
“Manning, você tem uma visita”, Valencia chama do corredor.
“Sério, Valencia. Você não precisa me anunciar como se fosse
a minha primeira vez aqui.” A voz de Michelle é levada acima
barulho do rádio tocando na cozinha para me atingir direto no
estômago.
Ela me telefonou várias vezes desde que voltei, mas não liguei
de volta. Eu deveria saber que ela apareceria na estação. Michelle
nunca foi o tipo de mulher que deixa a vida ao acaso. Ela assume o
comando, e o que ela quer, faz acontecer.
“Ei.”
Ela aparece no topo da escada e começa a se aproximar de
mim.
“Isso é tudo que recebo depois de ser ignorada por quase um
mês?” Ela atravessa a sala e desliza os braços em volta da minha
cintura, pressionando um beijo na parte inferior do meu queixo.
Seu perfume ilumina o ar, leve e floral, e por um segundo me
lembro de quão bom foi entre nós uma vez.
Tão sutilmente quanto possível, eu me solto dela e dou um
passo para trás. “Desculpe. Ando meio ocupado.”
É uma resposta evasiva e não inteiramente falsa. Essa não é
a razão pela qual não retornei uma única das chamadas dela, mas
ela não precisa saber disso.
“Muito ocupado para mim? Fala sério, Jason.”
Odeio quando ela me chama assim. Traz de volta memórias
de minha mãe repreendendo-me quando eu era criança, e nunca
deixa de me fazer sentir como se estivesse em apuros. O qual, acho
que estou.
“Estive trabalhando. E você é a única que terminou comigo.
Não achei que havia muito mais a dizer.”
“Você sabe que não estamos separados. É uma coisa
temporária. Sempre é.” Ela brinca de uma forma que aprendi há
muito tempo que é completamente falsa, projetada para me
amolecer ou sensibilizar a plateia se houver uma por perto. Um
milhão de anos atrás, eu me deixei enrolar por isso, mas eu a
conheço bem demais para isso agora. “Você sabia que eu te
aceitaria de volta”, ela insiste.
Já passamos por esse cenário exato mil vezes — uma ou duas
vezes nesta mesma estação, na verdade — mas dessa vez, é
diferente. Dessa vez, não fico tentado a voltar ao mesmo padrão que
seguimos por tanto tempo.
“Provavelmente devemos conversar”, digo suavemente, minha
voz baixa.
Os caras sentados no sofá estão fazendo o melhor para
parecer desinteressados no que estou dizendo, mas eles
testemunharam isso antes também, e quando não aceito
imediatamente sua oferta de voltar, quase posso ver suas orelhas
atentas.
“Em algum lugar privado. Vamos lá.” Agarro a mão dela e a
levo pelo corredor.
“Onde estamos indo?” Ela pergunta quando passamos pelo
salão e continuamos andando.
“O telhado.”
Eu a puxo para a escada exterior no final do corredor, onde
seguro a porta aberta para ela. Nunca a levei até lá, mas está
quieto, fora do alcance de todos e menos íntimo do que a sala de
descanso.
“O que está acontecendo, Jase?”
Eu me viro para ela, a leveza evapora completamente de seu
humor. “Fizemos isso muitas vezes. A coisa de ir e voltar
/terminar.” Enfio as mãos nos bolsos de trás. “Você não está
cansada disso?”
“Eu pensei...” Sua expressão é sombria, e suas sobrancelhas
se unem, criando duas pequenas linhas entre elas.
“O que, que esta seria a última vez que você se cansaria da
minha merda e me deixaria?” Bufo uma risada silenciosa. “Que a
minha programação de repente se tornaria menos foda e eu teria
todo o tempo do mundo para fazer compras e happy hours?”
“Bem, não, mas—”
“Não deu certo na primeira vez. Deveríamos ter parado por aí,
mas caímos nesse padrão e estamos presos. Eu sou seu plano B,
Mich.”
“Você não é”, ela insiste. “Eu te amo. Quero ficar com você.”
Deixo escapar um suspiro lento e deslizo as palmas das mãos
sobre os ombros dela, segurando-a a um braço de distância de
mim. “Você já pensou sobre isso? Você já pensou em como será o
próximo ano? Cinco anos a partir de agora? Nenhum de nós vai
mudar, e será esse ciclo interminável. Você está me dizendo que
realmente quer fazer isso?”
Ela parece estar à beira das lágrimas. Só agora estou
percebendo que em todas as vezes que terminamos, ela foi a única a
ir embora. Eu fui o único a ficar lá, envolto em indiferença,
confiante de que ela voltaria eventualmente.
“Eu não sei.” Ela funga. “Pensei que nos casaríamos um dia,
teríamos algumas crianças, a casa, a coisa toda. Eu queria isso com
você. Quero isso.” Ela se corrige, mas não posso deixar de ver isso
como um ato falho.
Nós nos distanciamos, e faz muito tempo desde que agimos
como um casal. Mesmo que Ethan não estivesse na jogada, mesmo
que nada tivesse acontecido na cabana além da pesca e natação,
isso não mudaria os fatos com Michelle.
Coloco as mãos atrás das suas costas e a puxo para um
abraço. Ela fica rígida por um minuto antes de me deixar abraçá-la,
sua cabeça afundando no meu ombro e seus braços ao redor do
meu pescoço.
“Sinto muito, Mich. Gostaria que pudéssemos ter resolvido
isso, mas não acho que nos encaixamos assim. Nós tentamos.
Tentamos tantas vezes, mas não está funcionando.”
Ela se afasta. “Tem mais alguém?”
Por uma fração de segundo, hesito. Não tenho certeza se eu
simplesmente evito pensar sobre isso ou se eu realmente não
considerei o que diria a Michelle... como explicaria que o homem
que ela conhece se apaixonou por outro cara.
Seus olhos se arregalam, depois se estreitam, e sei que não
preciso dizer nada.
“Eu quero saber quem.”
Ela me encara, mas eu não recuo. Mantenho minha boca
fechada; não consigo dizer o nome de Ethan.
Vários segundos desajeitados passam, seu olhar aborrecido,
mas não digo nada. Observo quando a raiva se transforma em fúria.
“Bem. Faça do seu jeito. Nós terminamos então. Tenha uma
boa vida.” Ela se vira e sai correndo, a porta de metal batendo atrás
dela e ecoando pelo estacionamento abaixo.
Eu fico no lugar, resistindo à vontade de ir atrás dela.
Acabou. Já terminou há muito tempo, e qualquer outra coisa que
pudesse dizer agora não ajudaria. Então fico lá e espero para ouvir
o carro dela ligar e sair.
No momento em que seu veículo desaparece de vista, a
gravidade do que fiz me atinge. Está mesmo tudo acabado entre
Michelle e eu, e Jesus Cristo, parece estranho. Há essa pequena
parte de mim que tem convicção de que um dia nós finalmente
vamos nos organizar e ficar sério um com o outro.
Mas isso não vai acontecer. Não quero que isso aconteça. E,
no entanto, ainda há um senso de finalização.
Fico lá por alguns minutos, mãos apoiadas no corrimão
quando me inclino e deixo a realidade da situação se estabelecer em
mim. Rapidamente, um pensamento entra na minha cabeça, e eu
me pergunto, se eu soubesse o quanto mudaria, se eu o levaria
para Pine Bluff.
Sozinho naquela cabana, fiquei completamente consumido
por ele. Fiquei viciado — e feliz por estar. Mas aqui de volta, em
casa, as coisas são tão diferentes. Ainda quero estar com ele —
tanto que dói — na verdade, mas não posso ignorar a sensação de
ansiedade que inunda meu corpo quando penso sobre todas as
outras peças que cairão.
Talvez eu seja um idiota por não pensar nisso no momento,
por deixar a lógica e a racionalidade tirar férias temporárias. Eu me
deixei levar com o sexo e a necessidade impressionante de estar
com ele, e agora é óbvio o quanto não considerei — como é possível
que essa nova faceta do nosso relacionamento funcione no mundo
real.
A última coisa que quero fazer é machucar Ethan, mas,
Cristo, não tenho a menor ideia do que diabos estou fazendo.
Afasto-me do corrimão e volto para dentro. Assim que entro
na sala de estar, eu tenho todos os olhos em mim.
“Que porra é essa, Manning? Michelle correu para fora daqui
chorando”, Valencia diz.
“Sim, nós terminamos”, digo, minha voz baixa.
“Toda semana, acho.” Ele dá de ombros. “Por que ela está
perdendo a cabeça com isso agora?”
Dou de ombros. “Agora acabou mesmo.”
“Ainda não entendi porque ela está chateada. Ela é muita
areia pro seu caminhãozinho. Ela vai ter um novo cara daqui a
cinco minutos”, Murello diz.
“Ela sabe que estou disponível?” Weiss brinca.
Faço um esforço para rir quando Valencia joga uma toalha
pela sala, batendo no rosto de Weiss. “Dê um tempo ao cara,
homem. Sua mulher o deixou.”
“Ele parece muito menos preocupado com a ideia do que ela.”
Valencia se aproxima e joga o braço em volta do meu ombro.
“Olhe para ele. Está arrasado. Você não reconhece o sofrimento
total quando o vê?”
A sala explode em gargalhadas, e faço o meu melhor para
colar uma expressão divertida no meu rosto.
“Só há uma maneira de curar o coração partido, cara”,
Murello chama.
“Buceta”, Weiss entra na conversa.
“Muita buceta”, Harmon acrescenta.
“Minha namorada tem uma amiga... Ela acabou de ser
largada, então sua autoestima está acabada, e ela não tinha muita
para começar.” Murello levanta o dorso da mão para o lado de sua
boca como se estivesse divulgando o segredo mais bem guardado do
país. “Problemas com o pai.”
Valencia balança a cabeça. “Como você conseguiu impedir
Nicole de descobrir que você é um maldito cachorro nos últimos três
meses é surpreendente.”
Murello o ignora. “Só me deixe saber se você quer que eu te
arranje um encontro. Ela era ginasta no ensino médio.” Ele balança
as sobrancelhas.
“Vou pensar sobre isso.” Não preciso pensar sobre isso. O
pensamento de Murello me juntando com alguma vadia flexível com
problemas de abandono parece tão atraente quanto enfiar meu pau
no liquidificador. Na verdade, há apenas um lugar onde quero
enfiar meu pau, mas não posso dizer aos caras isso.
Antes que a situação possa ficar ainda mais desconfortável, a
sirene soa, e nunca fiquei tão feliz em ter uma conversa
interrompida antes de uma ligação.
Capítulo 18
Ethan
Faz quase três semanas desde que retornamos da cabana e
não vejo Jase em mais de duas. Conversamos quase todos os dias,
um telefonema rápido para dizer um alô e atualizar o outro sobre o
que está acontecendo, mas nós dois estamos tão ocupados com o
trabalho que não somos capazes de combinar nossos horários por
tempo suficiente para ver um ao outro pessoalmente.
Sinto falta dele, mas principalmente, estou confuso sobre
onde estamos. Nas poucas vezes em que falei disso, Jase mudou de
assunto, e quanto mais tempo passa, mais começa a apodrecer.
Odeio esse terreno irregular em que parecemos estar. Não há
nada errado... não tecnicamente, de qualquer forma, mas não está
certo, e não tenho ideia do que fazer sobre isso.
Passei alguns dias chorando em torno de minha casa,
sentindo pena de mim mesmo e geralmente chafurdando em
autopiedade até que fiquei tão doente da minha própria companhia,
e cansado de me sentir como se estivesse esperando por alguém
para tomar uma atitude.
Estou no comando da minha vida, e já é hora de começar a
agir assim, então vou trabalhar no meu dia de folga, arrastando
meu laptop comigo.
Mina, minha barista favorita, olha para cima quando entro.
“Você não deveria estar... eu não sei... em qualquer lugar,
menos aqui?” Ela coloca as mãos nos quadris. “Ou você sentiu
tanto a falta deste lugar quando sumiu que precisa passar o
máximo de tempo possível, mesmo quando não está sendo pago
para fazer isso?”
Dou de ombros. Lynn sabe que estou passando por algumas
coisas pessoais, mas não dei a nenhum dos meus colegas de
trabalho uma explicação de onde estive além da que saí da cidade
com um amigo por alguns dias. Não estou pronto para me
aprofundar nos detalhes do meu mundinho confuso com ninguém
além de Jase e Allison ainda.
“Não tinha outro lugar para estar hoje, mas tenho algumas
coisas que preciso cuidar e temos o melhor tiramisu da cidade.”
“É apenas o melhor quando eu faço.” Ela pega um prato da
caixa. “Vá em frente e sente-se. Eu vou trazer.”
“Obrigado.”
Minha mesa favorita, a que fica no canto perto da estante,
está vazia, então sento e largo meu laptop. Preciso encontrar um
novo lugar para morar. Não posso ficar na mesma casa para
sempre, em parte porque há muitas lembranças embutidas em cada
maldita superfície, mas principalmente porque pagar o aluguel com
uma única renda — e a renda de um barista — não irá funcionar
por muito tempo.
Procuro por apartamento no mesmo bairro. Sei que Seattle
não é a mais acessível, mas não sabia o quanto a possibilidade de
moradia de um cara solteiro cai. Precisarei de um segundo emprego
ou de um colega de quarto, a menos que eu queira dormir em uma
caixa de papelão embaixo da ponte Ballard.
Tentando manter a calma e decidindo lidar com um problema
de cada vez, mantenho minha pesquisa em um raio de caminhada
até a universidade, achando que talvez a moradia de estudantes
seja mais barata que outras áreas da cidade. Além disso, ainda não
decidi se quero ou não voltar para a universidade.
Neste momento, trabalhar no café não está fazendo jus ao
meu diploma, mas mesmo com a educação que tenho, eu serei
duramente pressionado para encontrar algo que pague melhor do
que o meu trabalho atual.
O mercado de recém-licenciados com nada mais do que um
diploma de bacharel e nenhuma experiência de verdade não é tão
acolhedor como há vinte anos. Até mesmo pensar sobre o que meu
futuro me deixa um pouco perdido.
Uma sombra em forma de Mina cai sobre a mesa, e olho para
cima para vê-la de pé em cima de mim, segurando um prato com
um pedaço gigante de tiramisu. Afasto meu laptop para abrir
espaço.
“Obrigado”, digo enquanto ela coloca na mesa. “Você quer um
pouco?”
Antes de terminar a frase, ela puxa a cadeira à minha frente e
está tirando um garfo do bolso do avental.
“O que você está olhando?” Ela se inclina para ver minha tela
enquanto ataca a sobremesa.
“Um novo lugar para morar.”
“O que há de errado com sua casa?” Ela empurra a garfada
em sua boca, mas isso não a impede de continuar a falar. “Não me
diga que Allison está grávida. Você precisa de mais quartos para
uma creche ou algo assim?”
“Uh, não.” Respiro fundo. Não serei capaz de evitar o assunto
para sempre. “Allison e eu terminamos.”
Ela coloca o garfo no lado do prato e olha para mim. “Sério?”
“Sim.”
“Merda. Desculpe-me, cara. Isso é uma droga.” O olhar que
ela me dá é de verdadeira simpatia. “Você precisa de mim para
acabar com uma cadela?”
Eu rio. “Não. Obrigado pela oferta, no entanto.” Tomo outro
fôlego. “Foi uma escolha minha.”
“Por quê?” Seus olhos encontram os meus, e posso ler a
surpresa lá. Aparentemente, fiz um trabalho tão incrível em
interpretar o namorado hétero apaixonado que ninguém notou que
meu coração pertencia a outra pessoa. Ela acena com o garfo no ar.
“Desculpe. Isso não é da minha conta.”
Eu poderia ter dado de ombros ou dado alguma resposta vaga
ou até mesmo mentido, mas percebo de repente que em algum
lugar nos últimos dois anos, considero Mina minha amiga. Mais do
que isso, isso é quem eu sou. A noite em que contei a verdade a
Allison foi a noite que inadvertidamente lancei meu próprio tipo de
revolução. Sair será um processo lento, e talvez nem toda vez que
eu falar para alguém serei aceito de braços abertos, mas sou eu, e
quero que as pessoas saibam disso. Especialmente aquelas pessoas
que estão perto de mim.
“Tudo bem”, digo a ela, pegando meu garfo. O movimento é
casual, mesmo que esteja longe de ser. “Eu sou gay.”
Meu coração está na minha garganta, batendo com tanta
força que, mesmo que eu possa dar uma mordida, não há nenhuma
maneira que posso engolir. O tempo se estende, os dez segundos
que leva para reagir parecendo uma semana em vez disso.
Finalmente, ela sorri. “Sim, posso ver como isso pode estragar
um relacionamento.”
Solto um longo suspiro, desejando que meu pulso diminua.
“Se você está procurando um lugar para se mudar, meu
irmão está procurando por um colega de quarto. Seu amigo se
mudou no mês passado e ainda não encontrou nenhum não
psicótico. Posso te dar seus dados, se você quiser.”
Fico aliviado. “Sim. Isso seria ótimo, na verdade. Ele mora
perto daqui?”
“Logo na saída do campus. Ele tem dois anos de graduação.
Criminologia.” Ela faz uma pausa. “Simpatizante LGBT.” Ela para
novamente, um pouco mais dessa vez. “E ele é solteiro.”
Minha cabeça se levanta. “O que?”
Ela levanta as mãos em um gesto defensivo. “Apenas
mencionando, você sabe, no caso.”
“Seu irmão é gay?”
“Bi.”
“Hmm.”
“Hmm, tipo, você está pensando em fazer amor com ele?”
Não consigo deixar de rir. “Não conheço o cara, mas acho que
ele não irá apreciar ser prostituído para qualquer um com um
pênis.”
Ela agarra meu queixo e aperta suavemente. “Você não é
qualquer um, doçura.” Ela solta a mão. “E se você for meu cunhado
algum dia, eu tenho que dizer, eu não ficarei tão desapontada. Você
é muito mais charmoso do que o cara que ele levou para casa no
Dia de Ação de Graças no ano passado. Minha mãe teve um
ataque.”
“O que aconteceu?”
“O cara apareceu quase uma hora atrasado, bêbado. Sentou-
se para comer e de alguma forma conseguiu empilhar toda a tigela
de purê de batatas em seu prato. Ninguém mais comeu. Neste
ponto, minha mãe manteve a calma, mas depois do jantar, ele se
levanta sem dizer nada, sai para a varanda dos fundos e acende um
baseado. Fuma tudo com a fumaça flutuando pela janela da
cozinha.”
“Ok, sim. Isso é muito ruim.”
“Sim. Agora minha mãe não permite que o nome “Brian” seja
dito em nossa casa. Ela chama o ex de Justin de erva daninha.”
“Isso é horrível e hilariante.”
Ela encolhe os ombros. “Nossa mãe tem altos padrões quando
se trata de distribuir sua aprovação das pessoas com quem
namoramos e um senso de humor.”
“E você acha que estou à altura.”
“Num piscar de olhos. Você é gente boa, Ethan. Claro que
você está.” Ela procura no bolso e pega o celular. Depois de passar
a tela algumas vezes, vira para que eu possa ver. “Este é meu
irmão.”
Tenho que admitir, ele é atraente. Olhos azuis brilhantes
como sua irmã, mas seu cabelo é castanho-escuro, onde o dela é
loiro, e um daqueles sorrisos que pertencem a anúncios de revista.
“Interessado?”
Eu rio. “Nele como companheiro de quarto, talvez. Qualquer
outra coisa, provavelmente não. Não que ele não seja bonito.”
“A única explicação possível para você não ficar interessado é
que há outra pessoa.”
“Você sempre fala sobre o seu irmão assim?”
“Boa tentativa de mudar de assunto. É Jase?”
Pela segunda vez, minha cabeça levanta. “O que?”
“Eu o vi. Sem camisa, na verdade. Se você não está
apaixonado por esse homem, há algo seriamente errado com você.”
“Quando você o viu sem camisa?”
“No verão passado, aquele evento de arrecadação de fundos
para a unidade de queimados do hospital. Todos os bombeiros.
Lavando carros. Sem camisa. Porra, cara, eu penso naquele dia
constantemente.”
“Ele parece muito bom sem suas roupas...”
Mina me bate. “Eu sabia. Espere. Você o viu nu? Diga-me que
você tem fotos.” Ela se inclina para mais perto. “Diga-me que há
fotos, Ethan.”
“Infelizmente, não há.”
“Eu te odeio um pouco.”
Dou de ombros. “Nada que eu possa fazer sobre isso.”
Capítulo 19
Jase
“O que você sente vontade de fazer hoje?” Ethan pergunta.
Enterro o rosto contra a curva de seu pescoço, inalando
quando enrolo meus braços em sua cintura e o puxo com mais
força contra mim. Ainda há algo ligeiramente ao ar livre sobre a
maneira como ele cheira, como se estivesse visitando o lago sem
mim enquanto eu estava no trabalho.
É meu primeiro dia de folga no que parece meses, e o
primeiro dia completo que posso passar com Ethan desde que
voltamos da cabana. Acordei antes do sol, impaciente para ir até lá,
esquecer todo o resto por um tempo e estar com Ethan.
Parado ali com ele, meu corpo enrolado nele, embora mal
conseguíssemos chegar a seis degraus da casa dele, não me sentia
assim há tempos, como a presença dele é o suficiente para aliviar
qualquer estresse que se formou desde que eu o vi pela última vez.
Ele é outro mundo para mim, esse mundo onírico onde, no
segundo em que estou com ele, sou transportado para longe e é ele
e eu e nada mais importa. Eu nunca quero ir embora.
“Posso pensar em algumas maneiras muito criativas para
passar o nosso tempo”, murmuro contra sua pele, e ele estremece
quando deslizo meus dedos por baixo do cós de sua bermuda.
“Isso soa—”
Beijo-o com força, interrompendo-o porque sei que ele se
sente da mesma maneira que eu. “Primeiro, eu vou te alimentar,
porque você vai precisar de toda a energia que conseguir pelo resto
do dia.”
“Vamos sair?” Ethan pergunta, sua voz esperançosa.
“Sair?”
“Sim. Café da manhã no Dixie's ou no Toasted Yolk?”
Exalo, protelando por um segundo enquanto meu cérebro se
move rapidamente. Um encontro. Em público. Com o Ethan.
O gelo corre pelas minhas veias pensando nisso. E se
Michelle nos vir, ou um dos caras da estação? Não estou pronto
para ter essa conversa com eles. Talvez isso seja insano. Já saí com
Ethan para o café da manhã mil vezes, mas não consigo me livrar
da ideia de que as pessoas que olham para nós simplesmente
sabem.
“Podemos ficar se você não sente vontade de sair”, Ethan
oferece, me dando uma saída. “Eu tenho o material aqui para fazer
alguma coisa. Só pensei que você estaria cansado do trabalho e não
iria querer perder tempo cozinhando.”
“Eu não me importo”, digo, dando a Ethan um último beijo
rápido antes de ir para a cozinha. Posso ouvi-lo seguindo atrás de
mim, e estou tão aliviado que ele não insistiu a ideia de sair.
Não posso me esconder com ele para sempre, sei disso.
Também não sei o que diabos farei quando chegar a hora de
realmente tirar o nosso relacionamento de casa.
Estou tão fodido.
Mas isso é algo para se preocupar mais tarde. Não é um
problema até que seja um problema. Por enquanto, podemos
manter as coisas quietas, mantê-las entre nós, até que eu tenha a
chance de descobrir como fazê-las avançarem.
Eu me abaixo na geladeira e pego todas as coisas que eu
preciso.
“Omeletes, ok?” Pergunto, empilhando os ingredientes ao lado
do fogão.
“Parece perfeito.”
Ethan pula no balcão ao lado de onde estou indo para o
trabalho. Ando até ele e tiro sua camisa sobre sua cabeça antes de
me inclinar para beijar seu estômago. Gosto deste ângulo, com ele
quase uma cabeça mais alta que eu. Isso traz diferentes pontos ao
alcance. Serpenteio meus braços nele e levanto o rosto para que ele
possa se inclinar e me beijar.
Traz de volta memórias da cozinha na cabana, e estou duro
em menos de um instante.
“Fiz algo grande ontem”, Ethan diz, ofegando baixinho
enquanto lambo um caminho em seu peito.
“O que?”
“Eu contei para Mina.”
Congelo e olho para ele, seus olhos encontrando os meus.
Posso ler a excitação lá, mas tudo que sinto é um frio de pavor.
“O que ela disse?”
“Ela quer eu saia com o irmão dela.”
“O que?”
Ethan encolhe os ombros. “Aparentemente, ele é bi e é
solteiro e ela acha que nós nos daremos bem.”
Há um fragmento do meu cérebro que se esforça para ficar
com ciúmes. A ideia de Ethan com qualquer outra pessoa me faz
ferver, mas naquele momento em particular, o ciúme é
estrangulado pelo pavor em meu peito.
“E o que você disse?”
“Eu disse a ela que não estou interessado.”
“Você disse a ela sobre nós?” Tento manter o pânico fora da
minha voz, tento não deixar Ethan saber que a ideia de pessoas
descobrindo sobre nós deixa meu estômago se contorcendo em um
nó de terror.
“Não. Acho que não.”
“Você acha que não?” Engulo em seco e tento não entrar em
pânico. “Como você não tem certeza?”
“Ela sabe que tenho sentimentos por você. Foi uma das
primeiras perguntas que ela fez. Ela me disse que se eu não te
quisesse, havia algo errado comigo.”
“Mas você não disse a ela que estamos juntos.”
“Jesus, Jase, não.” Ele olha para mim. “Mas se eu dissesse,
isso seria o fim do mundo? Não estou dizendo para colocar um
anúncio no Seattle Times, mas Mina saber seria tão ruim? Ela sabe
sobre mim — seu irmão é bi, pelo amor de Deus. Obviamente, ela
não é uma fodida homofóbica, e sei que ela não dirá nada a
ninguém.”
“Não importa quem eles são. Não quero que ninguém saiba”,
solto. “Eu não estou pronto para isso.”
Deixo cair a mão de onde descansa no quadril de Ethan. É
um movimento tão pequeno, mas posso muito bem tê-lo afastado de
mim. Ele parece chocado e sei que algo maior está acontecendo.
“Jase?”
“Eu não sei.” Minha cabeça está girando. “Quando estávamos
na cabana... não sei. Foi diferente lá em cima. Não percebi o quanto
de nossas vidas ignoramos quando éramos você e eu, mas voltando
para casa, não vivemos em uma bolha. Há coisas do mundo real
que são afetadas por isso, pessoas da vida real.”
“O que você está dizendo?”
“Eu não sei.”
“Isso é... você está...” Ele bufa um suspiro frustrado. “Você
quer continuar fazendo isso?” Ele gesticula entre nós, e sinto que
vou ficar doente. Não tenho uma resposta para ele porque não
tenho ideia do que quero.
O clima entre nós muda. Posso sentir isso e sei que Ethan
também pode. Corro meus dedos pelo cabelo, meu coração batendo
forte. “Eu não sei, E. Não sei o que fazer sobre isso. Não posso
mudar minha vida para ficar com você. Não é como acionar um
interruptor de luz. ‘Voilà! Eu sou gay agora’. Não é assim tão fácil.”
Ethan pula do balcão e se vira, a curva de suas costas nuas
vulneráveis. “Estou ciente, Jase.” Ele puxa a camisa de volta.
Parece o fim de algo, e acho difícil engolir o nó na garganta.
“Olha, Ethan, me desculpe.”
Quero puxá-lo para os meus braços, apagar tudo o que eu
disse. É estupido. Ele é tudo para mim, mas as coisas em Pine Bluff
foram muito mais simples e estar em casa... é mais do que posso
lidar. Então, ao invés de segurá-lo, em vez de afastar tudo o que eu
disse com beijos, eu congelo.
“Eu devo ir.”
“Jase, espere.”
“Eu te ligo mais tarde.” E como um covarde, saio da cozinha
para a porta da frente.
Capítulo 20
Ethan
Tyler: Finalmente te peguei em um dia em que você está
livre? Ou vamos trocar mensagens por mais uma semana?
Sorrio para o meu telefone, e parece a primeira vez que
esboço um sorriso em dias.
Digito uma mensagem de volta. Não posso ficar em casa e me
sentir infeliz para sempre. Se Jase e eu terminamos, não há nada
que eu possa fazer sobre isso. Talvez minha vida esteja em
frangalhos, mas não é um estado permanente. Tenho o poder de
mudar minhas circunstâncias, mesmo que eu não tenha o poder de
fazer Jase me amar do jeito que quero que ele ame.
O primeiro passo é descobrir o que diabos quero fazer com a
minha vida, e há uma boa chance de que Tyler possa me ajudar
com isso.
Eu me sinto mal por demorar tanto tempo para contatá-lo.
Ele me mandou uma mensagem alguns dias depois que voltei para
casa da cabana, mas ainda não tínhamos planos sólidos. Estava
ocupado, mas mais do que isso, não estava pronto para o mundo lá
fora.
Eu: sim. Hoje é perfeito. O que você tem em mente?
Tyler: Acabei de terminar uma reunião com o meu
professor. Se você não estiver ocupado, quer me encontrar no
campus? Agua Fresco tem ótimos tacos
Eu: Estou sempre pronto para tacos
Tyler: Fantástico. Te vejo lá
Enfio meu celular no bolso e me dirijo para a universidade,
deixando o sol aquecer minha pele enquanto caminho. A estação
das chuvas — choverá, afinal — chegará em breve e o sol
desaparecerá durante meses.
Amo o outono em Seattle, mas não tanto quanto amo o verão,
então mesmo que meu coração esteja se transformando em poeira
no meu peito, estou determinado a aproveitar as últimas semanas
de clima mais quente.
É apenas uma curta caminhada de casa até o campus e,
embora a Universidade de Washington não seja mais minha
universidade, a propriedade ainda me faz sentir em casa. Passei
muitas horas aqui, em sala de aula ou estudando, que é mais
familiar para mim do que em qualquer outro lugar em Seattle, e por
isso é o lugar perfeito para passar o dia.
“Ei, estranho.”
A voz de Tyler vem de trás de mim, e me viro para vê-lo
andando pela calçada, a ponte à distância atrás dele.
“Ei. Como correu sua reunião?”
“Nada mal. Meu estômago continua roncando, no entanto, o
suficiente para ficar estranho. Sei que os tacos estão chegando
antes do meu cérebro.”
Eu rio. “Bem, não vamos deixa-lo esperando muito mais,
então, hein?”
“Vamos lá.”
Sigo Tyler para dentro, onde sentamos no pátio com vista
para a marina.
“Nem sequer sabia da existência desse lugar”, digo, olhando
para os barcos, o sol brilhando na água. É quase difícil acreditar
que ainda estamos no campus. Percebo então que deveria ter
passado mais tempo explorando.
“Meu namorado me trouxe aqui no primeiro ano pela primeira
vez. Comecei a vir como parte do meu ritual de pós-exame. Tacos e
cerveja mexicana têm essa maneira mágica de apagar o estresse.
Agora venho aqui porque a comida é boa pra caralho e estou
estressado o tempo todo.”
“A pós-graduação é tão ruim assim?”
“Sim e não. É muito mais concentrado do que a graduação.
Mais intenso. Mas estou estudando algo pelo qual sou apaixonado,
sem ter que fazer muitos cursos obrigatórios que nunca parecem
importar para o meu curso. Então, acho que a resposta curta é que
é mais trabalhoso, mas é o trabalho que estou interessado.”
Balanço a cabeça, considerando sua resposta. Não tenho
medo do trabalho duro.
“Você ainda está pensando em voltar?”
Balanço a cabeça novamente. “Estou inclinado a pensar que
sim. É difícil explicar, mas não sinto que terminei com o meio
acadêmico.”
“Entendo esse sentimento completamente.”
A conversa dá uma breve pausa quando o garçom traz as
batatinhas e a salsa chipotle que pedimos quando nos sentamos.
“Então, o que agora?” Tyler pergunta quando o garçom sai.
“Ainda não tenho certeza do que quero fazer quando
terminar. Eu me formei no ensino médio e me candidatei para a
faculdade porque é isso que você faz depois do ensino médio. Não
tinha ideia do que queria estudar, então fiz uma mistura de
disciplinas no meu primeiro ano e escolhi meu curso baseado nas
palestras que eu não dormi.”
Tyler ri. “Parece uma abordagem lógica o suficiente para
mim.”
“Acho que é. A maioria das pessoas que conheço tinha uma
ideia do que queriam fazer, da carreira que queriam ter quando
terminavam e, por isso, faziam aulas com base nisso. Eu tive aulas
para tentar descobrir quem diabos eu era.”
“Acho que você ficaria surpreso com quantas pessoas estão
no mesmo barco que você. Nem todo mundo tem uma imagem clara
do que sua vida vai ser daqui a cinco anos. Dez. Eu não. Ainda
estou indeciso se quero seguir o caminho acadêmico — continuar
com a pesquisa e talvez ensinar — ou se quero entrar no setor
privado. Tenho algum tempo para pensar sobre isso, mas não
muito. Minha reunião foi sobre isso.”
“O que seu professor acha?”
“Henry me diz que ela não tem opinião, mas sei que ela
espera que eu continue do lado acadêmico das coisas.”
“É bom que você tenha alguém para trocar ideias.”
“Você também.” Tyler sorri.
“Você está certo. E acho que vou me inscrever.”
“Você pode também. Você pode ter perdido o prazo para este
ano, mas envie sua inscrição de qualquer maneira, e você sabe, a
UW não é a única universidade a oferecer programas de pós-
graduação. Você pode se inscrever em qualquer lugar que quiser.”
É tão óbvio, e ainda não sei porque nunca considerei essa
opção.
Esqueça isso, sei exatamente o porquê. O pensamento de
deixar Seattle, tudo que conheço, as pessoas com quem eu cresci,
minha família, amigos e, mais importante, Jase, nunca pareceu
valer a pena. Qualquer coisa que eu já precisei ou quis estava aqui,
mas agora tudo mudou. Minha família sempre seria minha família,
mas Allison e eu mal estamos nos falando, e não tenho a mínima
ideia de onde as coisas estão com Jase e eu.
“O quê?” Tyler olha para mim, seus olhos avaliando. “Eu
disse algo ofensivo?”
Eu me recosto na cadeira. “Não. Estava no meu próprio
mundo. Até agora, sair de Seattle nunca pareceu uma
possibilidade, mas não sei. As coisas da minha vida tornaram-se de
repente muito mais flexíveis.”
“Isso tem algo a ver com o outro cara? Jason?”
“Jase.”
“Sim. Vocês não estão mais juntos?”
“Como você…”
“Eu vi vocês na praia naquele dia, mais a maneira como ele
colocou o macho alfa contra mim quando consegui o seu número
tornou isso óbvio.”
Eu me inclino para frente novamente e abaixo minha voz. Não
sei por que, mas a conversa parece muito particular para ser
revelada. Ninguém aqui conhece Jase, mas isso não me impede de
sentir que estou traindo sua confiança. Preciso de alguém para
conversar — Allison está fora de questão, e Mina, embora seja bem
intencionada, não é a mais sensata quando se trata de conselhos
sobre relacionamentos.
“Isso tudo é novo para ele. Antes de irmos para a cabana...
nós nunca... quer dizer, ele nunca considerou ficar com outro cara.”
“E ele está pirando agora?”
“Ele cismou que eu vou ficar chateado com ele por querer
manter as coisas quietas por um tempo. Entendo os motivos dele.
Não quero pressioná-lo, mas ao mesmo tempo, não quero que ele
tenha medo de estar comigo também. Eu não sei. Tudo é muito
confuso.”
Coloco uma batatinha na boca e mastigo lentamente,
esperando que Tyler diga alguma coisa, mas ele apenas olha para
mim, me esperando continuar.
“Deus sabe que não tenho o direito de fazê-lo sair. Percebi
minha sexualidade há muito tempo, e levei tanto tempo para reunir
coragem para dizer às pessoas que eu amo. Ele ainda está tentando
descobrir onde ele se encaixa, e sim, reconheço que há uma parte
de mim que está batendo meu pé, ansiosa para ele gritar dos
telhados que eu sou dele. Todavia. Posso manter essa parte sob
controle.”
Tyler sorri gentilmente. “Você está certo. É preciso ter
paciência aqui. Você precisa dar a ele tempo para resolver seus
sentimentos — e seus problemas. Não vou fingir que sou um
especialista — nem mesmo perto — mas ele provavelmente tem
algumas coisas profundas acontecendo se levou tanto tempo para
admitir que também seja atraído por caras.”
Dou de ombros, emoções conflitantes me agitando. “Eu não
sei. Não tenho certeza do que fazer com tudo isso. Eu o amo.
Esperaria uma eternidade para ele estar pronto para me amar de
volta da mesma maneira. Cristo, eu já estou de certa forma... Mas
odeio como isso me faz sentir ser o namorado secreto, fingindo ser
apenas seu amigo.” Inspiro e expiro lentamente. “Eu passei tanto
tempo me convencendo de que estava tudo bem em ser apenas seu
amigo pelo resto da minha vida... e então a cabana... e tive esse
gosto do que seria estar com ele — realmente com ele. É difícil
retroceder.”
“Você não vai voltar. Você está apenas em pausa
publicamente. Mas acho que você precisa falar com ele sobre essas
coisas, porque não vai se resolver por conta própria, e ele precisa
ouvir como você se sente — direta e abertamente.”
“Não estou convencido de que isso fará muita diferença.”
“Ele precisa saber como isso faz você se sentir — como as
ações dele estão te afetando. Entendo que você quer ser paciente
com ele, e você deve ser. Há duas pessoas nesse relacionamento e
os sentimentos dele não são os únicos que importam. Dito isto,
porém, nem os seus.”
Concordo. Tyler está certo.
“Não admira que você estude psicologia. Você será um ótimo
terapeuta.”
Ele ri. “Eu lhe enviarei minha fatura.”
Capítulo 21
Jase
“Você quer prestar atenção no que diabos está fazendo?”
Murello estala, e olho para trás para vê-lo ali, a raiva contorcendo
suas feições. “Você quase me acertou com a barra.”
“Desculpe. Estou distraído.”
“Sim, bem, não fique.”
“Jesus Cristo. Eu pedi desculpa.” Raiva inflama no meu peito.
“Agora dê o fora.”
“Rapazes, eu preciso mandá-los para cantos opostos?”
Valencia pergunta, ficando entre nós.
“Estou bem”, resmungo, me afastando de Murello, minhas
mãos fechadas em punhos.
“Eu não sei que bicho te mordeu, mas você precisa parar,
rápido”, Valencia diz, andando atrás de mim. “Você está sendo um
idiota durante toda a semana e está ficando chato.”
“Estou bem”, repito.
“Você não está. Eu não sei o que está acontecendo com você
— primeiro você vai embora por uma semana sem aviso prévio, e
então quando volta, é um idiota ranzinza que parece não conseguir
se concentrar em uma maldita coisa. Parece que você não se
barbeou toda a semana, tem círculos escuros embaixo dos seus
olhos e seu uniforme parece que saiu de uma lixeira. Resolva seu
problema, Manning, e mude seu comportamento, ou você vai
assustar todas as crianças.”
As crianças. Quase esqueci que estamos indo para uma
comunidade no final do turno.
“OK. Sim, eu entendi”, estalo.
Valencia se afasta, deixando-me pensar sobre o que ele disse.
O problema é que estou com muita raiva para pensar direito. Tudo
o que eu quero fazer era ir para casa, mas casa é de alguma forma
pior. Casa é o lugar que tenho tempo e espaço para deixar tudo o
que aconteceu me assombrar.
Estou infeliz pra caralho, sofrendo mais do que já sofri antes
de qualquer separação que tive com Michelle. Porque é isso que é,
não é? Uma separação.
Sinto falta de Ethan.
Quero ligar para ele, dizer que sou um idiota, implorar para
ele me dar outra chance, mas que direito eu tenho de fazer isso?
Ainda me sinto em conflito sobre como será nosso futuro. Ainda fico
ansioso pensando em dizer aos caras com quem trabalho, meus
pais, nossos amigos, que estou em um relacionamento com ele.
Não é justo pedir a ele para esconder quem ele é. Ele se
assumiu. Ele tomou a decisão de dizer a verdade, e quem sou eu
para forçá-lo a recuar?
Ele é mais corajoso do que eu, isso é tudo o que há.
Deixo de lado meus pensamentos sobre Ethan por enquanto,
porque com três horas restantes no meu turno, nós estamos
programados para visitar Parkcrest Elementary, que terá sua noite
anual de carnaval como uma festa beneficente. O garoto de Harmon
está no sexto ano lá, então vamos aparecer com o caminhão de
bombeiro anualmente. As crianças se divertem e ajudam a
arrecadar dinheiro por uma boa causa.
“Entre no caminhão, otário”, Weiss chama do outro lado do
hangar. Nós conversamos um com o outro todos os dias, mas ouvir
o insulto da boca dele me atinge com força, aumentando minha
raiva mais uma vez.
Pego meu equipamento e subo no caminhão, meu
temperamento fervendo sob a minha pele.
***
***
Ethan
“Você quer mais?” Aponto para as embalagens de papelão
quase vazias que continham a carne de porco agridoce, frango chow
mein e o bife de Szechuan há menos de meia hora.
“Não, obrigado. Eu já tive o suficiente, e se Erik souber que
eu me empanturrei com comida chinesa, ele não ficará tão
satisfeito.”
Pego alguns pratos, equilibrando-os em meus braços
enquanto pego os utensílios ainda sobre a mesa. “Por que ele ficaria
louco?”
“Ele me colocou com essa dieta de pouco sódio, sem laticínios
e sem carboidratos, porque ele tem 22 anos e pensa que sou velho e
vou morrer de doenças cardíacas se eu não começar uma
alimentação saudável agora.” Tyler balança a cabeça. “Ele tem boas
intenções, e gosto desse cara, então se isso significa ter que comer
macerada de couve-flor em vez de purê de batatas, eu vou fazer
isso.”
“Isso é amor”, digo, sem me preocupar em esconder minha
risada.
Ele ri também. “Ainda não, mas tem uma boa chance de se
tornar isso. Eu não me sinto assim por um homem há muito
tempo.”
“Estou feliz que você tenha encontrado alguém.”
Tyler baixa o garfo, lançando-me um olhar empático que faz
meu estômago revirar. “Ainda acho que Jase vai aparecer.”
Eu rio novamente, desta vez, sem humor. “Você tem essa
sensação dos doze minutos que passou com ele?”
“Eu vi como ele olhou para você. Vi o jeito que te tocou.
Aquele menino está apaixonado. Talvez ele ainda não tenha
percebido.”
“Não estou tão convencido quanto você. Você não o viu no
outro dia.”
“Não, mas não acho que interpretei mal o que vi no lago. Você
já falou com ele desde então?”
Balanço a cabeça. “Eu liguei para ele algumas vezes, deixei
mensagens, mas ele não me ligou de volta.”
“Você não foi para a casa dele?”
“Isso é passar dos limites, suponho.”
Tyler faz uma pausa, parecendo considerar isso.
“Provavelmente. Mas se Jase é com quem você quer estar, você não
pode se sentar e esperar que ele resolva a situação. Talvez você
precise ir para a casa dele e dar-lhe um empurrão na direção certa.
É preciso haver algum tipo de catalisador — você só precisa
descobrir que catalisador é esse.”
“Esse é o problema, entretanto. Eu não quero pressionar.”
Esfrego a mão no rosto. “Eu quero ter um relacionamento normal
com ele? O tipo em que posso chama-lo para tomar café da manhã
sem ele se dissolver em pânico? Sim. É claro que sim.”
“Não acho que isso seja irracional.”
“Nem eu. Mas não é certo tentar influenciar sua escolha de se
assumir também.”
“Não estou dizendo que você precisa.” Tyler se inclina para
frente, os cotovelos apoiados sobre a mesa. “Tudo o que estou
dizendo é que ele não sabe onde está sua cabeça porque vocês
realmente não discutiram isso. Se estou entendendo bem, você
passou a semana inteira na cabana evitando falar sobre o que
aconteceria quando voltassem para casa. E agora você está em
casa, ele enlouquece com a menor chance de alguém descobrir
sobre vocês dois, vai embora e você deixa a decisão com ele.”
“Onde mais eu deveria deixar? Não é minha decisão.”
“Não. Não é. Mas há uma grave falta de comunicação
acontecendo.”
Considero o que Tyler disse, e porra, ele está certo. Jase e eu
não discutimos nenhuma das merdas importantes que precisavam
ser discutidas, e ainda assim, Jase deixou bem claro onde ele está
atualmente.
Suspiro. “Não acho que há algo que vá forçá-lo a mudar de
ideia sobre isso. Talvez ele chegue a uma conclusão diferente por si
só, mas Jase não é o tipo de cara que é facilmente influenciado pelo
que alguém diz.”
“Parece-me que ele está sendo influenciado por outras
pessoas agora, ou ele estaria aqui em vez de mim.” Tyler encolhe os
ombros. “Não sei. Você o conhece melhor do que eu. Estou dizendo
que às vezes é preciso um empurrãozinho na direção certa de uma
força externa. Não foi até que eu vi Erik flertando com um cara na
fila do carrinho de café que eu entrei em ação e pedi o número
dele.”
“Pena que você está tão apaixonado por seu novo namorado,
ou você poderia fingir ser meu para deixar Jase com ciúmes.”
Tyler ri. “Chama-se atuar, meu amigo, e saiba que representei
os brócolis na segunda série e minha tia me disse que eu fui o
segundo melhor brócolis que ela já tinha visto no palco.”
“Credenciais impressionantes.”
“É o mais próximo vou chegar a um Oscar.”
Talvez Tyler esteja certo. Estou esperando que Jase perceba
que cometeu um erro e ele quer ficar comigo, afinal, mas esperar
nunca fez bem a ninguém. Não estou disposto a jogar fora o que
tínhamos em uma conversa de dez minutos sem sentido.
Entendo o ponto de vista de Jase. Entendo. Assumir-se,
revelar essa parte de você para pessoas que o conhecem como algo
diferente em toda a sua vida, não é simples. Há implicações e
consequências no mundo real, e entendo isso. Posso ser paciente.
Tudo o que preciso é que Jase perceba que eu valho o risco.
“Eu deveria ir”, Tyler diz quando coloca o último prato sujo na
máquina de lavar louça.
Clico a tampa da Tupperware no lugar e coloco na geladeira.
“Claro, eu vou acompanha-lo.”
Eu o sigo pelo corredor, parando para esperar que ele coloque
a jaqueta e os sapatos. A chuva de outono já começou e há um
aguaceiro constante lá fora.
“Obrigado pela sua ajuda com as inscrições”, digo.
“De nada. Você definitivamente não precisava fazer cinco;
tenho um bom pressentimento sobre suas chances de entrar. Você
terá que escolher seu curso.”
Abro a porta para Tyler. “Isso será legal. Ainda não tenho
certeza do que quero fazer.”
“Você vai descobrir.” Ele fica parado, olhando além de mim.
Ele aperta os olhos, e, em seguida, um sorriso lento aparece em seu
rosto.
Eu me viro, seguindo sua linha de visão para ver Jase parado
na calçada em frente à minha casa. Ele está absolutamente
encharcado e fulminando Tyler com os olhos.
“Bem, é melhor sair daqui antes que eu seja espancado”,
Tyler diz com um sorriso. “Até mais, Ethan.”
Ele passa pela porta e entra no carro antes que Jase chegue à
metade do gramado.
“Que porra é essa, Ethan”, ele diz, agarrando-me e
empurrando-me contra a parede.
Seu aperto é forte, seus olhos intensos, e ele respira com
força suficiente que poderia ter corrido de sua casa e não estar tão
ofegante. Olho para ele, bravo como nunca o vi, e quanto mais
tempo esse conhecimento toma conta de mim, mais irritado fico.
Eu o empurro, rolando meus ombros para endireitar minha
camisa.
“Que porra, o que, Jase?”
“Você está com Tyler agora?” A maneira como Jase diz seu
nome faz parecer que eu estava fodendo o inimigo. Ele passa os
dedos pelos cabelos. “Você está mesmo com ele, apenas assim?
Quatro dias depois...”
“Depois do que? Depois que você foi embora por nenhuma
fodida razão? Depois disso, você quer dizer?”
Seus ombros caem um pouco. “Eu não fui embora. Eu não…
não tinha intenção…”
Alguma luta sumiu dele, mas não estou pronto para admitir.
Ele merece sofrer um pouco, pelo menos por mais um ou dois
minutos. “Você foi embora, Jase, e eu não tive notícias suas. Você
não me ligou, não respondeu as mensagens, nada. Então, o que
diabos eu deveria pensar?”
“Eu não sei.” Ele olha para mim, e posso ver a incerteza em
seus olhos. “Mas eu não achei que você começaria algo com alguém
novo depois de quatro malditos dias, E.”
“Eu não comecei.”
“O quê?” Ele franze a testa. “Eu vi—”
“Eu não estou com Tyler. Ele tem namorado. E você é um
idiota.”
“Oh.”
Capítulo 23
Jase
Ethan está chateado, e não posso culpá-lo. Ele está certo. Eu
estava agindo como um idiota.
“Entre e fique seco. Você está pingando por todo o chão”, ele
diz, deixando-me, encharcado, na entrada, enquanto volta para a
casa. Tiro os sapatos e o sigo, pegando uma toalha do banheiro a
caminho da cozinha.
Ethan está em pé ao lado do fogão, a chaleira fumegando
enquanto despeja a água em um bule de chá.
“Chá? Sério?” Pergunto, imaginando quando de repente ele
desenvolveu um gosto por Earl Grey.
Ele se vira, o saquinho de chá pendendo de sua mão. “Não
posso acreditar que você pensou que eu iria te forçar a sair do
armário. Você é um tremendo idiota.”
“Eu não estava—”
Ele se afasta de mim, largando o saquinho no bule e
colocando a tampa. “Você está mentindo. Você acha que, sabendo o
quão difícil é, o quão pessoal é uma decisão, que eu teria lhe dado
algum tipo de ultimato? Foda-se por pensar isso, Jase. Você deveria
ter ficado e conversado comigo... ou você sabe, retornar uma porra
de um telefonema.”
Vou até ele, coloco as mãos em seus ombros e me inclino
para mais perto enquanto ele serve duas xícaras. Eu só quero estar
perto dele. Odeio a divisão íngreme que cavei entre nós. “Eu sinto
muito. Eu me assustei. As coisas eram tão perfeitas quando
estávamos na cabana, e então a vida real entrou e fiquei em pânico
sobre como as coisas ficariam quando estivéssemos em casa.”
“Entendo. Entendo isso melhor do que qualquer um, mas
você ir embora e depois me evitar não é o jeito de descobrir isso.”
Ele se vira devagar. “Se você precisasse de espaço, tudo bem, mas
não me exclua. Como diabos eu deveria saber o que estava
passando pela sua cabeça? Eu não sabia se já tínhamos terminado
ou se você precisava de tempo ou o quê.”
“Eu disse que sinto muito.”
“Eu também sinto muito”, Ethan diz, me surpreendendo.
“Ainda estou transitando por isso também. Não tenho ideia do que
diabos estou fazendo. Quero que você queira estar comigo, mas você
precisa saber que eu não vou pressioná-lo em nada.”
“Eu sei disso, E. Não pensei que você pressionaria, mas eu
estava com tanto medo que alguém descobriria, mesmo que não o
tornássemos público...”
Ethan exala e eu o pego, puxando-o para mim. Não posso
evitar tocá-lo... preciso dessa conexão física. Parece que foram anos
desde que eu o vi pela última vez, e mais desde que fui capaz de
ficar com ele sem todo o barulho e estresse da minha vida nos
afetando.
Pego a xícara das mãos dele e coloco no balcão. “Eu vim aqui
para lhe dizer uma coisa.” Meu batimento aumenta dezesseis níveis,
e de repente sinto como se fosse vomitar. Quando se trata de
grandes gestos, isso nem sequer faz parte da lista, mas para mim é
enorme.
Respiro fundo e tranco os olhos com ele.
“Eu te amo. O que for preciso para fazer isso dar certo, o que
eu tiver que fazer para estar com você, eu farei. Porque você é mais
importante para mim do que qualquer outra coisa — qualquer outra
pessoa.
Ele olha para mim e, pela primeira vez, talvez nunca, eu não
consigo decifrar o que ele está pensando. Essa é uma expressão que
nunca vi antes, até que se transforma em uma que conheço por
dentro e por fora.
Felicidade.
E sei que meu rosto reflete de volta para ele. Com a
adrenalina correndo através de mim, minha boca se move
rapidamente, sem se incomodar em dar a Ethan a chance de
responder. “Sinto muito, demorei tanto para te dizer como me sinto.
Eu precisava de tempo e espaço para tentar reconciliar o eu que era
antes de sairmos para a cabana e o que sou agora. Estou diferente.
Ficar lá em cima com você, me mudou — ou talvez tenha aberto
meus olhos para quem eu era. Sempre te amei, nunca percebi que
poderia estar apaixonado por você ao mesmo tempo.”
Jogando os braços em volta do meu pescoço, ele me beija.
“Eu também te amo. Eu sempre te amei.”
“Sempre?” Essa única palavra atravessa meu coração.
Transbordo com uma onda de emoções para as quais eu nem sei o
nome.
“Desde antes de poder dizer o que era isso.”
“E você nunca me disse...”
“Era mais seguro me esconder por trás do meu
relacionamento com Allison, porque reconhecer que aquilo era
mentira significaria admitir como eu me sentia a seu respeito. E eu
não podia. Estava com medo de te perder.”
“Não acho que nada que você pudesse fazer me afastaria.”
Ele levanta uma sobrancelha. “Diz o homem que acabou de
sumir por quase uma semana.”
Bufo uma risada. “Estranhamente, isso teve muito pouco a
ver com você... e você e eu sabemos que não há força na Terra que
possa me manter longe de você.”
“Estou me apaixonando por você desde que te conheço. Foi
lento, gradual o suficiente para que eu não percebesse até que não
havia como voltar, como nadar muito longe no lago, sem perceber
até que você tenha passado do ponto sem retorno que não há nada
a fazer além de sucumbir para o seu destino. Estou me afogando
em você há anos.”
“Isso parece horrível.”
Ethan ri, e o som de sua risada me envolve, confortando
como o cobertor xadrez vermelho. “Não é. Houve momentos em que
parecia o fim do mundo — especialmente quando éramos crianças e
esse amor desesperado foi coroado com hormônios em fúria — mas
eu sabia que mesmo que você não pudesse me amar de volta do
jeito que eu te amava, meus sentimentos por você nunca
mudariam. Não há como fugir de um amor como esse, Jase. Você é
o único para mim.”
“Você é único para mim também, E. Nunca fui capaz de
imaginar uma vida sem você, e agora, saber que posso ter cada
parte de você... não posso descrever. Levei muito tempo para
perceber isso, mas você é tudo que eu sempre quis e tudo o que eu
sempre precisei.”
Ele me abraça com força suficiente para que seja difícil
respirar. “Eu te amo muito pra caralho. Nada mais importa. Nós
vamos descobrir tudo à medida que avançamos.”
Beijando-me de novo, deixo-me concentrar no modo como me
sinto feliz e apaixonado. “A primeira coisa que precisamos descobrir
é onde vamos morar. Você precisa sair daqui e eu moro com os
caras da estação por muito tempo. Devemos procurar um lugar
juntos que seja apenas nosso.”
“Você está falando sério?”
Eu aceno. “Sim. Quero ficar com você, e minha agenda é
sempre tão insana. Se vivermos juntos, serei capaz de te ver com
muito mais frequência.”
“Nossos horários estão prestes a ficar ainda pior”, ele me diz.
“Ou, pelo menos espero que sim.”
“Você acha que devemos nos ver menos?” Estou de repente
confuso.
Ethan ri. “Não, mas eu me candidatei à pós-graduação. É por
isso que Tyler estava aqui, me ajudando com a inscrição.”
“Fantástico. Estou tão orgulhoso de você.” Agarro, levanto, e o
giro beijando-o novamente. “Devemos celebrar.”
Seus olhos se encontram com os meus e tudo que posso ver é
a corrente de calor que ferve lá. “O que você tem em mente?” Ele
pergunta.
“Ah, eu tenho muitas ideias.”
“Acho que vamos ter que experimentá-las, uma por uma.”
Arrasto meus lábios ao longo da curva de seu pescoço,
saboreando o jeito que ele estremece quando eu o toco. “Gosto do
jeito que você pensa.”
Capítulo 24
Ethan
Fico surpreso quando abro a porta para ver Jase de pé na
minha varanda. Toda vez que eu o vejo, ele parece ficar mais
quente. O jeans escuro e a camisa de rúgbi que usa hoje estão em
todos os lugares certos, e já posso sentir meu corpo reagindo.
“O que está fazendo aqui? Pensei que você estava trabalhando
hoje.” Eu me afasto para deixá-lo entrar.
Ele fecha a porta e me puxa para ele, beijando-me
profundamente na boca enquanto sorrio contra seus lábios, os
braços em volta do seu pescoço.
“Eu estava. Mas você não estava, então pedi para um dos
caras da outra equipe me cobrir durante o dia. Pensei que
poderíamos procurar apartamento.”
“Mesmo? Agora?”
“A qualquer momento. Há algumas casas abertas que vi
online e fiz dois agendamentos para esta tarde, se estiver tudo bem
com você.”
Está mais do que bem. É porra demais. As coisas entre Jase e
eu estão indo tão incrivelmente bem desde que tudo atingiu um
ponto crítico. Passou-se quase um mês e, embora tenhamos
mencionado brevemente sobre procurar um lugar juntos naquela
noite, não conversamos desde então.
Eu não queria forçar o assunto, preferindo dar um passo para
trás e deixar Jase definir o ritmo de como as coisas aconteceriam.
Nós estamos juntos, e dentro das paredes do meu lugar, ele
está inteiro, sem regras, comigo. Todo o resto se encaixará,
eventualmente, eu sei. Não há necessidade de pressa.
Eu tenho exatamente o que quero.
Beijo-o com força, enroscando meus dedos em seu cabelo e
me esfregando contra ele. Eu o deixo tomar o controle, moldando
meu corpo contra o dele. Adoro quando ele me maltrata um pouco.
Nunca fica cansativo.
“Você sabe, nós não temos que ir agora”, diz, sua voz um
pouco ofegante quando me leva para trás e me pressiona contra a
porta. “Temos muito tempo antes dos compromissos mais tarde.”
Eu rio, inclinando a cabeça para frente para pressionar
minha testa contra a dele. “Se eu estou feliz com a ideia de procurar
apartamento, imagine como vai ser quando encontrarmos um.”
Ele recua um passo para me dar espaço para me afastar da
porta. “Você tem razão.”
“Eu sei. Deixe-me pegar meus sapatos e podemos ir.”
***
Jase
“Espere... O quê?” Murello está olhando para mim como se eu
tivesse acabado de dizer que eu iria deixar o serviço de bombeiros
para me tornar uma garçonete no Hooters.
“Ele e Ethan estão juntos”, Valencia fornece por mim, o mais
leve indício de um sorriso brincando em sua boca. Ele está
gostando de ver Murello juntar tudo.
Imaginei como isso seria mais de uma vez nas semanas desde
que fizemos as pazes. Isso foi o que mais me aterrorizou. Meu
coração ainda está martelando, e olho para os caras, tentando do
meu jeito mais duro permanecer casual, tomando um gole do meu
café como se não tivesse apenas, com uma frase simples, mudado a
maneira como eles pensam sobre mim para sempre.
O olhar de Murello passa de mim para Ethan, de volta para
mim, depois para Valencia.
Harmon intervém. “Ele é um—”
Valencia lhe dá uma cotovelada nas costelas. “Chega”, ele diz
com força suficiente que Harmon fecha a boca.
Aposto tudo. Tudo ou nada. Arrisco tudo. Dou tudo por tudo.
Tudo porra.
“Devemos ir”, Murello diz, olhando para fora.
Ele e Harmon se viram e começam a sair pela porta antes que
eu perceba. Valencia me lança um olhar simpático antes de virar e
segui-los.
Fico ali sentado, atordoado por um segundo, antes de ser
atingido por uma onda de determinação.
“Eu já volto”, digo a Ethan. Sem esperar por uma resposta,
levanto-me e vou atrás deles, alcançando a calçada do lado de fora
do restaurante.
“Espere um segundo”, chamo, e todos os três param perto do
caminhão. Corro, parando na frente deles. Eu não pensei nisso, e
agora que estou aqui, três pares de olhos me olhando, eu não sei o
que dizer. Há uma pausa estranha de alguns instantes antes de eu
ir com, “Se vocês têm algo para me dizer, agora é a hora.”
Harmon cruza os braços sobre o peito. “Eu não tenho nada.”
Conheço todos os caras da minha equipe, Harmon
provavelmente será aquele que agirá como um idiota sobre isso. Ele
é um idiota sobre tudo, então isso não é exatamente um choque.
Murello ainda parece em estado de choque, mas pelo menos
ele não parece estar enojado, apenas surpreso.
“Você nos pegou de surpresa, só isso”, Valencia diz. “Não
tínhamos ideia, e depois bam! Um cara que pensamos ser apenas
um amigo por anos acaba sendo mais. Só não estava esperando, é
só isso.”
“Eu sei como é.” Penso no momento em que Ethan me disse
que ele era gay e os pensamentos e emoções que correram através
de mim de uma só vez.
“Então, sem mais nem menos, você é apenas gay agora?”
Murello pergunta, finalmente quebrando o estupor silencioso em
que ele parecia estar.
“Bem... não. Não é como um interruptor que é desligado e
ligado. Acho que sempre tive alguma atração por outros caras, mas
não era o mesmo que a atração que eu sentia pelas mulheres. Se eu
tivesse que escolher um rótulo, eu iria com bissexual, mas até
Ethan eu preferia mais mulheres a homens. Ainda assim, no
entanto, sempre esteve lá.”
“Você se excita depois de nos olhar nos chuveiros, então?”
Não é meramente curiosidade no modo como Harmon faz a
pergunta. É acusador e com raiva.
“Ninguém em sã consciência, bi ou hétero, fica olhando para
você no chuveiro, Harmon”, respondo.
Murello ri e Valencia fica um pouco orgulhoso.
“Isso não muda nada”, asseguro a eles. “Ainda sou o mesmo
cara, eu só tenho um parceiro diferente em casa.”
“Nós sabemos.” As palavras de Valencia são destinadas a
mim, mas ele está olhando para Harmon.
“Sim, tudo bem”, Murello concorda, mas Harmon está de
volta ao silêncio de aço, o que está bem. Ele irá superar isso
eventualmente, e se não, bem, isso é problema dele, não meu. Não
consigo dar a mínima como ele se sente sobre a minha sexualidade.
Não é da sua conta, afinal.
Eu me sinto como um idiota por deixar meu medo do que
esses caras pensariam me impedir de ficar com Ethan. Eu me
preocupei sem motivo.
E assim que as coisas estão se tornando quase
insuportavelmente desconfortáveis, o rádio no ombro de Valencia
liga e a voz do despachante soa sobre o canal.
“Essa é a nossa deixa”, Valencia diz, inclinando a cabeça em
um aceno. “Vejo você amanhã, Manning.”
“Até mais.” Murello levanta a mão e os três sobem no
caminhão.
Um segundo depois, eles vão embora.
Volto para dentro para encontrar Ethan, que está sentado no
mesmo lugar. Sento, a onda repentina de alívio me deixando
tremendo. Ethan percebe isso um segundo depois e estende a mão
por cima da mesa e cobre minhas mãos com as dele.
“Adrenalina”, digo, meio rindo.
“Você não tinha que fazer isso”, Ethan diz, e posso ouvir a
preocupação apenas sob o assombro.
“Eu sei. Mas isso é de verdade e não há motivo para esconder
desses caras. Eles vão reagir, mas vão reagir se eu contar a eles
agora ou daqui a um ano.”
“Eu sei, mas se as coisas ficarem estranhas no trabalho—”
“Então isso é problema deles e não meu. Valencia não dá a
mínima. Nem Weiss. Murello está em cima do muro, mas acho que
ele vai ficar bem com isso uma vez que se acostumar com a ideia. O
resto dos caras são uma incógnita, mas isso não importa.”
Ele aperta minha mão e uma segunda onda de alívio passa
por mim. Dei grande importância a isso, e provavelmente haverá
alguma besteira que precisarei lidar mais tarde, mas isso não é
importante.
“Você tem certeza?”
“É um pouco tarde agora, se eu não tivesse”, provoco, mas o
rosto de Ethan permanece sério. É a minha vez de apertar a mão
dele, como se ambos precisássemos assegurar ao outro que tudo
ficará bem.
“Só não quero que você se sinta como se estivesse
pressionado para dizer a eles.”
“Eu não estou. Não é como se eles não tivessem te encontrado
mil vezes antes. Não fui forçado a dizer a eles. Se eu não tivesse dito
nada, eles pensariam que estávamos comendo.”
“Nós estamos.”
Eu rio. “Você sabe o que eu quero dizer.”
Ele assente.
“Eu planejei contar a eles em breve. Além de você, eles são os
caras mais próximos. Não dizer a eles seria como mentir.”
“Você realmente acha que eles vão ficar bem com isso?”
“Provavelmente.”
Não há como saber, não tem como avaliar qual será a reação
deles. Nenhum dos outros caras do corpo de bombeiros são gays —
pelo menos nenhum que estivesse fora do armário, de qualquer
maneira — mas a maioria dos caras que jogam comentários
homofóbicos como insultos são os veteranos, e a maioria daqueles
caras são aposentados ou a beira da aposentadoria. Minha equipe,
enquanto eles podem ser um bando de idiotas desajustados, às
vezes, provavelmente não me darão muita merda sobre isso.
Mas o jeito que Ethan está olhando para mim, como se ele
estivesse pronto para se levantar e correr para fora do restaurante
atrás deles para dizer que é tudo uma piada, faz meu coração
apertar.
“Tudo bem, Ethan. Mesmo. Tudo vai ficar bem.”
Ele acena com a cabeça uma vez, mas ainda não parece
convencido e então algo me ocorre. “Você está preocupado que eles
vão surtar, ou eu?”
Respirando fundo, o canto de sua boca se transforma em um
meio sorriso. “Um pouco dos dois, talvez.”
Honestamente, não posso culpá-lo por se preocupar. Se fosse
o contrário, eu provavelmente teria me sentido da mesma maneira.
“Você não precisa”, asseguro a ele. “Estou bem, e eu não vou
deixar nada atrapalhar isso. É você e eu. Eu te amo. Nós
merecemos ser felizes. Ninguém mais no planeta me interessa tanto
quanto você.”
“Eu também te amo.”
“Vamos fazer isso dar certo”, prometo. “E em breve será em
nossa nova casa.”
O meio sorriso torna-se completo, e a garçonete escolhe
aquele momento para entregar o café da manhã.
***
Ethan
“Jase, alguma coisa está pegando fogo.” Aponto pela janela
para onde as chamas estão saltando da churrasqueira redonda
vermelha que compramos no fim de semana anterior. Ela está na
beira do deck recém-restaurado, e posso ver a coisa toda subindo
em uma gigantesca bola de fogo a qualquer segundo.
“É assim mesmo”, ele diz, acenando com a minha
preocupação.
“Eu não acho que seja”, Allison diz, rindo.
Ele bufa indignado. “Vocês podem confiar em mim? Eu sou
bombeiro. Acho que sei uma coisa ou duas sobre chamas.”
“Sinto que há uma piada gay aí em algum lugar.” Michelle
atira-lhe um olhar para deixá-lo saber que ela está brincando.
Um ano inteiro se passou desde a viagem para a cabana que
virou minha amizade com Jase do avesso. Levou um longo tempo,
mas lentamente os pedaços de nossas vidas estão começando a se
encaixar. Nem tudo é perfeito. Ainda há coisas para as quais
estamos nos ajustando, mas imagens da minha vida antes daquela
viagem e da minha vida agora... parece que estou olhando para
outra pessoa.
Sei que Jase se sente da mesma maneira.
“Aqui. Deixe-me ajudá-lo.” Allison pega uma das bandejas de
grelhar com todos os legumes que Jase e eu fatiamos antes e vai em
direção à porta, o vestido dela fluindo ao redor dela quando gira.
“Obrigado.” Pego as outras duas, então a sigo para a
churrasqueira onde Jase está agora tentando controlar as chamas.
Estou feliz por ela ter vindo. Levou um tempo para Allison e
eu voltarmos a um lugar onde não dói passar algum tempo juntos.
Nós começamos devagar, mas fizemos isso, e apesar da distância
que criei entre nós por um tempo, parece que estamos mais
próximos agora do que nunca.
Passar anos escondendo quem eu sou dela fez mais danos do
que eu pensava, e quando fui capaz de ser honesto, ser quem eu
realmente era perto dela, nossa amizade se tornou ainda mais forte.
O café da manhã no Dixie's nas manhãs de sábado é agora
uma tradição semanal, só que desta vez Jase vem junto, e no mês
passado ela também levou seu novo namorado. Ryan é um cara
ótimo e até sobreviveu ao duro interrogatório que Jase e eu
lançamos no segundo em que Allison se desculpou para ir ao
banheiro.
Tenho que dar crédito ao cara porque Jase pode ser
intimidador quando ele quer ser, mas Ryan não tinha nem se
mexido. Quando Allison voltou para a mesa, não havia dúvidas de
que ela sabia exatamente o que havia acontecido. O sorriso
perceptivo que ela usava era óbvio, embora Ryan ainda não a
conhecesse o suficiente para ler todas as suas expressões.
Jase deu-lhe um pequeno aceno de cabeça, o movimento
quase imperceptível, e ela sentou-se ali, irradiando felicidade.
Estou tão feliz que ela encontrou alguém para fazê-la sorrir
assim. Por mais que eu a tenha amado, assim como nós nos demos
bem, eu nunca a fiz parecer assim. Tudo está se encaixando no
lugar. Levou apenas minha vida em chamas para que isso
acontecesse, mas se eu soubesse o que sei agora, eu teria feito isso
anos atrás.
“Estes podem continuar agora, e, em seguida, vou buscar a
carne em instantes. Não vai demorar muito, e depois podemos
comer.” Jase desliza as bandejas de vegetais para a grelha.
Stanley sai pulando da casa, com Tyler não muito atrás dele.
“Você já jantou”, Tyler adverte quando Stanley começa a olhar
em volta do cooler.
“Algo me diz que foi apenas o primeiro prato”, digo,
ajoelhando para dar um tapinha na cabeça de Stanley. “Não diga ao
seu pai, mas eu comprei um filé, só para você.”
Tyler está revirando os olhos quando eu fico de pé e Erik
desceu os degraus um momento depois. O segundo que ele está ao
alcance, Tyler tem o braço ao redor dele e está pressionando um
beijo em sua têmpora. Foi um romance arrebatador para eles, Tyler
fazendo o pedindo de casamento em apenas três meses de
relacionamento, mas eles pareciam tão seguros um do outro que
ninguém havia questionado, especialmente Jase, que estava mais
do que feliz em ver Tyler se casar.
Secretamente, pensei que a pequena chama de ciúme nunca
desapareceu completamente de Jase, mesmo sabendo que ele é o
único garoto que eu amei.
As coisas entre Jase e Michelle demoraram muito mais para
se consertar do que qualquer outro relacionamento em nossas
vidas, mas, eventualmente, até mesmo eles fizeram as pazes, e
agora Michelle tem um namorado que está levando a sério. Ela e
Valencia começaram a namorar não muito tempo depois que Jase
terminou com ela. Os dois brigam mais do que qualquer outro casal
que já conheci, mas eles parecem amar um ao outro com paixão.
Sento-me em uma das cadeiras Adirondack na borda do deck
e levanto minha garrafa de cerveja aos lábios, deixando o líquido
frio lavar minha garganta. Todos os nossos amigos estão aqui —
todas as pessoas mais importantes para nós em nossas vidas.
Sinto uma onda renovada de felicidade correr através de mim.
Não sei o que fiz para ter tanta sorte, mas com certeza não vou
questionar agora.
“A comida está pronta”, Jase anuncia, empunhando a enorme
espátula de churrasco como um cetro, como se ele fosse o rei do
churrasco.
Todos se servem, e passamos a próxima hora nos enchendo
de comida e conversando perto da fogueira que Jase construiu.
Depois do jantar, levo os pratos de volta para a casa,
colocando-os na pia. Faço uma pausa, olhando pela janela para
todos os nossos amigos, rindo, relaxados e felizes na areia.
“Ei.” Os braços de Jase vêm ao meu redor por trás, e eu me
inclino para ele.
“Olá.”
“Se divertindo?” Ele beija o lado do meu pescoço, enviando
arrepios através de mim.
Minha reação a Jase não diminuiu nem um pouco em todo o
tempo que estamos juntos. Seu toque ainda me deixa louco em
querê-lo, e não acho que haverá um dia em que isso não me afete
tão intensamente.
Eu me viro, encostando minhas costas no balcão e passando
meus braços em volta do seu pescoço antes de puxá-lo para um
beijo. Ele o aprofunda imediatamente, me dobrando para trás e me
segurando com força enquanto desliza a língua contra a minha.
“Ainda mais divertido agora”, digo quando ele termina o beijo.
Ele ri. “Bom. Há mais de onde isso veio.”
“Estou contando com isso.” Eu o beijo. “Estou feliz por termos
feito isso.”
“Eu também. Temos muitas razões para comemorar.”
“Muitas.”
A pequena casa vermelha na rua sem saída se tornou mais
um lar para mim do que qualquer outro lugar em que já morei, e
justamente quando eu achava que as coisas não poderiam melhorar
para nós, Kurt ligou. Ele deixou Jase saber que decidiu se mudar
para o Arizona, e já que estava deixando o estado, ele planejava
vender a cabana.
Minha reação imediata foi de tristeza ao pensar em perder a
cabana. Eu não conseguia lidar com o pensamento de nunca ser
capaz de voltar, mas depois Jase explicou que Kurt queria oferecê-
la a ele antes de colocar no mercado.
Nós aproveitamos a chance.
A venda foi rápida, e eu quase chorei quando Jase me
mostrou a papelada. Não era apenas o nome dele na escritura; era o
meu também. Esse lugar é parte integrante de nossas vidas — o
lugar em que passamos nossos verões quando crianças e, em
seguida, o lugar em que realmente nos apaixonamos um pelo outro.
E agora é nosso.
Um ano atrás, quando Jase me beijou pela primeira vez, não
achei que a vida poderia ser melhor do que isso. Naquele momento,
não tinha ideia de quão melhor poderia ser.
Passamos por muitas coisas, e Jase e eu nos assumimos para
nossos amigos e familiares, um de cada vez, lado a lado. Foi um
processo difícil para nós dois, mas também tivemos sorte. Todos —
amigos e parentes — nos deram todo apoio, e agora estamos aqui,
dando uma festa de inauguração no lugar que é mais importante
para nós, amando um ao outro abertamente.
Exalo, tomando um momento para apreciar o quão
afortunados nós somos.
Temos uma vida inteira de felicidade à nossa frente e não
consigo imaginar nada melhor.