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Apaixonar-me pelo meu sequestrador é uma ideia terrível.

Ele é um homem mau e não me refiro ao lixo como um ex. Quero dizer,
seriamente ruim. Quero dizer, perigoso. Você pode dizer apenas olhando para
ele; olhos negros, uma carranca ameaçadora e um nariz que foi gravemente
quebrado no passado.

Ele é meu arquiinimigo. Meu inimigo mortal. Minha obsessão singular.

Eu tinha medo dele quando nos conhecemos. Ele me pegou contra a vontade e me
manteve acorrentado a uma cama. Eu, Damon Alexander Beckett, da fama e
fortuna da BeckIT. Bem, a piada é ele porque vou fazer da missão da minha vida
destruí-lo. Mas primeiro, tenho que sobreviver sendo seu prisioneiro. Ele está
aqui o tempo todo. Me assistindo. Sua presença masculina pesada nunca estava a
mais de um metro e meio de distância, olhos escuros e brilhantes rastreando meu
corpo.

Quando ele me faz uma proposta indecente, fico chocado e indignado. Como eu
deveria estar. Sério, a audácia dele é irreal.

É óbvio que eu deveria dizer não. É evidente. Qualquer pessoa sã riria na cara
dele.

Então, por que estou caindo de joelhos?


Este livro contém temas sombrios, humor seco, violência fora da página e um
exemplo generoso de uma surra merecida. Se você gosta de enimies-to-lovers, onde
a parte inimiga dura o tempo todo, você vai adorar este livro.
Para minha amável amiga Elsie.
É bastante cômico imaginar onde eu estaria sem você. Obrigada pela sua ajuda,
conselhos e apoio infinito, mas acima de tudo, obrigada por me fazer rir até eu
roncar.
AVISO

 Prestigie o autor comprando a obra original ou deixando resenhas positivas


nos locais apropriados para tal.
 O Alquimista dos Livros ressalta que; a tradução desta obra é feita de forma
amadora, sem fins lucrativos com o mero intuito de entretenimento, sendo
está sujeita a erros, como em qualquer outro GT. Enfim, não somos uma
editora e não temos os meios ou equipe necessária para garantir uma
tradução, revisão, diagramação e todos os meandros necessários pra
compartilhar um trabalho impecável e exigidos dentro dos padrões de
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que ISTO é trabalho voluntário e ilegal, não importa a boa vontade do GT
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Capítulo 1

Demon

O pânico chega no segundo em que tento abrir os olhos. Estou deitado. Estou
grogue. Meu cérebro está funcionando lentamente. Tento abrir os olhos. Está tudo
preto. Escuro como breu. Meus olhos estão ardendo e há algo grosso e áspero no
meu rosto. Tento inspirar e começo a lutar quando percebo que não consigo
respirar bem. O que quer que esteja cobrindo meus olhos, está cobrindo minha
boca e nariz também. Começo a ofegar.
Merda. Algo está errado. Muito errado.
Tento me sentar. Não posso. Estou contido. Meus pulsos estão envoltos em
metal frio. Ele morde minha pele quando tento me mover. Começo a lutar sem
sucesso. Meu movimento é severamente limitado e posso ouvir o som arrepiante de
metal contra metal quando me movo. Meu pulso começa a acelerar.
Onde diabos estou?
—Onde estou? — Eu grito. — Que porra está acontecendo?
Começo a me debater, chutando as pernas freneticamente. Elas estão livres,
não amarradas. Enterro meus pés no que quer que esteja deitado e me sinto
balançando um pouco. Parece que posso estar em uma cama. Não é super macia,
mas é mais macio do que uma superfície sólida seria. Meu coração está batendo
nas costelas. Sinto como se meu peito estivesse se fechando. Cada respiração é mais
rápida e mais curta que a anterior. Minha mente está acelerada e nebulosa ao
mesmo tempo.
O que aconteceu?
Eu fui drogado?
Tento pensar na última coisa de que me lembro. Era noite. Eu tinha saído. Eu
estava naquele novo clube, Slay. Lacey estava lá. A música estava alta. As pessoas
estavam dançando. Eu estava bêbado, mas não mais bêbado que o normal. Menos
bêbado, quase nada. Eu não estava gostando da atmosfera.
Eu deveria ter uma lembrança perfeita do que aconteceu. Eu destruo meu
cérebro. Minha memória da noite é desconexa. Está aparecendo em pedaços, como
fragmentos quebrados de um pesadelo. Eu me lembro de um cara. Não me lembro
do rosto dele. Lembro-me da pressão de sua mão em meu antebraço. Não me
lembro de ter saído do Slay. Meus olhos começam a arder.
Jesus, acho que algo muito ruim aconteceu.
Meu peito começa a pesar.
Espere, digo a mim mesmo. Acalma-se.
Pense, pense, pense.
Minha tentativa de me acalmar não teve sucesso. Mesmo enquanto me
esforço para pensar com clareza, ouço minha própria voz gritando: — Socorro!
Socorro! SOCORRO!
— Oh Jesus. Parece que temos um histérico, — diz uma voz entediada do
outro lado da escuridão.
Eu congelo. Há mais alguém aqui. O medo se infiltra em mim e se instala na
parte inferior das minhas pernas. Estou quase grato por estar deitado, pois se não
estivesse, tenho certeza de que não teria permanecido de pé. Tenho plena
consciência de que sempre que pensei que sentia medo antes, estava errado. Nunca
tive medo antes. Nunca. Não assim. Não como estou agora.
Ouço passos pesados. Eles estão vindo em minha direção. Cada músculo do
meu corpo se contrai. Meu corpo se torce reflexivamente enquanto tento esconder
minha cabeça atrás da dobra do meu braço.
Ouço um suspiro longo e exasperado. — Você quer tirar isso ou não?
Eu fico quieto.
Há pressão no meu rosto. É pesado e áspero. Uma fração de segundo depois,
o que quer que estivesse cobrindo meus olhos foi arrancado. Pisco para a luz
artificialmente brilhante. Há uma lâmpada pendurada no centro da sala. O
filamento queima minha retina como uma marca. Demora vários segundos para
meus olhos se ajustarem. Quando isso acontece, me vejo olhando diretamente para
o rosto do homem que me levou.
Ele tem cabelo escuro. Curto. Raspado atrás e nas laterais. Seus olhos também
são escuros. Marrons. Castanhos. Seu nariz foi quebrado gravemente em algum
momento no passado. Mais de uma vez, pelo que parece. É achatado e mergulha
no centro da ponte e vira ligeiramente para a esquerda. Ele tem uma cicatriz
profunda cortando uma sobrancelha. Não preciso absorver o resto dele para saber
que ele é bruto. Provavelmente perigoso. Uma fissão de medo me atravessa.
Eu me sento o máximo que posso, tentando ficar o mais longe possível dele.
— Onde estou? — Eu exijo. — Por que estou aqui? Quem diabos é você? —
Minha voz fica cada vez mais alta a cada palavra.
— Você quer que eu o nocauteie? — Pergunta a voz entediada de antes. Olho
ao redor e vejo outra figura sentada do outro lado da sala, em uma pequena mesa
de jantar. Ele está vestindo jeans escuros, uma jaqueta militar e uma máscara
esconde seu rosto. Tenho certeza absoluta de que não é porque ele está preocupado
em espalhar o COVID.
— Não, está tudo bem. O merdinha é inofensivo. Eu cuidarei dele. Você pode
ir, — diz o idiota com o nariz quebrado.
— Como quiser. — Ele se levanta e sai por uma porta no final de um corredor
estreito. Ouço a porta se fechar. Parece sólido. Quase como se a porta de um cofre
se fechasse. Um segundo depois, ouço dois ferrolhos se fechando.
Estou trancado.
Estou trancado em um pequeno espaço com algum tipo de monstro.
Minha frequência cardíaca, que ainda não diminuiu, acelera. Tenho a
sensação de que se continuar neste ritmo inabalável, haverá consequências
seriamente negativas para a minha saúde.
— Quem diabos é você? Por que estou aqui?
Ele organiza os lábios em uma linha fina. — Receio que você seja vítima de
um sequestro para obter resgate. — Não há nenhum indício de desculpas em sua
voz. Suas palavras me atingiram lentamente. Leva tempo para eu decifrá-las.
Ele acabou de dizer sequestro e resgate na mesma frase?
Que porra é essa?
Meu medo muda como um interruptor e é substituído pela fúria. Olho para
meus pulsos e vejo que eles estão presos por algemas. Não é o tipo divertido de
algemas. Graves algemas de metal da polícia.
— Você tem alguma ideia do que fez? — Ele suspira e parece perplexo. Isso
só me irrita mais. — Você…
— … tem alguma ideia de quem eu sou? — Ele interrompe e termina minha
frase para mim. Ele arregala os olhos, agitando uma das mãos de maneira
extravagante e deixando sua voz mais alta e quase histérica quando faz isso.
Não sei dizer se é algum tipo de imitação ruim minha ou se é apenas o que
todas as vítimas de sequestro em busca de resgate dizem em algum momento. De
qualquer forma, não gosto disso. Olho para seu rosto machucado e sinto meus
lábios se curvarem em um sorriso de escárnio. Encaro seus olhos negros e opacos e
sinto uma forte choque, seguido pelo lento reconhecimento de uma sensação
desagradável.
Eu não gosto dessa pessoa.
A força da emoção me surpreende. Geralmente, não me comovo com as
pessoas. Tenho uma ampla faixa de neutralidade na qual quase todas as pessoas
que conheci caem. Gosto de pensar que sou imune às pessoas. Na verdade,
considero esse um dos meus maiores pontos fortes. Eu quase nunca não gosto de
alguém, mesmo que seja um real idiota ou uma vadia. Vejo isso neles, aceito e sinto
uma leve sensação de aversão no que diz respeito a eles. O mesmo vale para gostar
muito de pessoas. Posso ver que alguém é engraçado ou uma boa pessoa e isso pode
despertar sentimentos leves de gostar dessa pessoa, mas com poucas exceções,
quase nunca gosto muito de alguém. Eu gosto das minhas duas irmãs mais novas.
Eu não pensei que gostaria. Fiquei com ciúmes quando elas apareceram, mas para
minha surpresa, eu gosto delas. Eu mais do que gosto delas. O mesmo vale para
minha amiga Lacey. Ela me entende e eu a ela. Ela é impossível. Ela está cheia de
besteiras, mas é o meu tipo de besteira. É o tipo de besteira que ressoa em mim.
É por isso que estou surpreso com a força do meu desgosto por este homem.
Além do fato óbvio de que ele me prejudicou gravemente, posso dizer que, mesmo
que não tivesse feito isso, mesmo que nos tivéssemos conhecido em um clube ou no
trabalho, uma boa olhada em seus olhos teria sido suficiente para despertar sérios
sentimentos negativos em mim. Algo nele não me agrada.
Ele se aproxima de mim. Eu recuo preventivamente. Ele estende uma mão
gigante em minha direção.
— Não se atreva a me tocar! — Eu cuspo.
— Não se preocupe. — A aversão gira pelo meu corpo enquanto ele se senta
na cama ao meu lado. Viro o rosto e olho para a parede para evitar olhar para ele.
— Você vai se comportar?
— Não, — eu digo, como se estivesse falando com um idiota. — Claro que
não vou me comportar. Por que diabos eu me comportaria? Você não tem o direito
de fazer isso. Deixe-me sair daqui agora mesmo.
— Se você se comportar, vou tirar as algemas de você.
Fico perplexo por um momento. Quero ficar livre, mas não suporto a ideia
de ceder a esse neandertal. Nós nos encaramos por um longo tempo.
Eventualmente, ele se aproxima e agarra meu pulso. Ele o puxa bruscamente em
sua direção e começa a libertá-lo. A chave parece minúscula em suas mãos e ele se
esforça para destrancá-lo. Quando as algemas se soltam, sento-me completamente
e vou até o canto onde a cama encontra a parede.
— Relaxe, — ele diz como se eu estivesse exagerando.
Deixo meu queixo cair e permito que meus olhos se encham de sentimento.
— Não me diga o que fazer.
Ele aperta a ponta do nariz brevemente. Ele parece cansado. Suponho que ele
deve estar. Não sou especialista no assunto, mas imagino que sequestrar, drogar e
transportar pessoas contra sua vontade seja um processo rigoroso.
— Você quer comer alguma coisa?
Não tenho ideia de que horas são ou há quanto tempo estou fora, mas, à
menção de comida, meu estômago dói profundamente.
— Quero uma omelete de clara de ovo com salsa e cebolinha, — digo,
tentando parecer o mais insuportável possível, e acredite, para mim, isso é muito
insuportável.
Para minha surpresa, ele não perde o ritmo. Ele trata o pedido como se fosse
perfeitamente razoável. Ele vai até a pequena e insípida cozinha no canto do quarto,
tira um avental de uma das gavetas e o amarra na cintura com uma tranquilidade
bem praticada.
Eu sei que já disse isso antes, mas vou dizer de novo – Que porra é essa?
Eu não sabia que tinha preconceito contra homens imbecis de nariz
quebrado, mas parece ser o caso. Por algum motivo, vê-lo na cozinha fazendo uma
omelete de clara de ovo usando avental é inesperado. Muito inesperado. Parece
errado vê-lo assim. Se eu não estivesse no meio de uma crise, provavelmente
dedicaria algum tempo para examinar por que me sinto assim. Sendo as coisas
como são, não me detenho nisso por muito tempo. Tenho coisas maiores para me
preocupar. Como sair daqui, por exemplo.
Eu o observo enquanto ele trabalha. Ele parece ter trinta e poucos anos. Ele é
alto, mas não excessivamente. 1,87 ou 1,90, se eu tivesse que adivinhar. Seu
tamanho é o que mais o impõe do que sua altura. Seus braços são grossos e sólidos.
Seu peito também. Ele está vestindo calças cargo marrons com um número
excessivo de bolsos por toda parte. Eu me encolho com seu estilo. Nem morto eu
seria visto em algo assim. Ele as combinou com uma camiseta cinza desbotada e
botas pesadas de estilo combate. O visual não faz meu estilo. Eu daria nota dois, e
esse sou eu sendo generoso. Está dando um ar militar, mas não de uma forma fofa.
Militar?
Sim!
Claro, é isso que eu deveria estar fazendo. Eu deveria estar tentando
memorizar coisas sobre onde estou e quem me levou. Assim que sair daqui,
precisarei desta informação para queimar este homem.
Eu olho em volta. Estou em um quarto grande. É projetado como um estúdio,
mas é muito maior do que um estúdio típico. Há uma cama queen-size encostada
na parede em um dos cantos. A cama tem uma estrutura de cama e cabeceira de
metal de aparência sinistra. Parece pesada. Não é frágil. Algo me diz que isso não é
acidental. Do outro lado da cama há um sofá bege manchado apontado para uma
TV na parede. Há uma porta entre a cama e a área de estar que parece levar a um
banheiro. Há duas janelas na parede adjacente, mas ambas estão obscurecidas por
persianas fechadas. Não há um mínimo de luz natural no local. A pequena cozinha
ocupa o canto esquerdo da sala e uma pequena mesa e cadeiras de madeira escura
ocupa o outro. O corredor estreito que leva à liberdade fica no final da sala.
Todo o espaço é esbranquiçado. Creme, acho que você chamaria assim. Não
sei dizer se foi uma escolha de decoração consciente ou se o visual foi conseguido
através de anos de camadas de fumaça e sujeira. De qualquer forma, posso dizer
com certeza que é o espaço menos inspirador em que já estive.
Meu raptor desliga o aquecedor e o exaustor. Com a ausência de ruído de
fundo, o silêncio é notável. Não consigo ouvir nada. Nem um carro, nem um trem,
nem uma pessoa.
Onde diabos estou? Ainda estou em Nova York? Ainda estou nos Estados
Unidos?
O medo sobe pelas minhas pernas e agita minhas entranhas. Eu o empurro
para baixo o mais forte que posso.
Fique calmo e concentre-se.
Ele caminha até a mesa, com os pratos na mão, e coloca o meu na mesa
bruscamente. Ele faz isso da mesma forma que você colocaria uma tigela de
cachorro, se você fosse um idiota. Ele tira o laptop que estava sobre a mesa e se
senta, fazendo um gesto exagerado para que eu me sente também.
— Coma, — ele late.
Apesar do meu ódio quase patológico por me dizerem o que fazer, faço o que
ele diz. Estou morrendo de fome. Meu estômago está doendo de fome. Olho para o
meu prato. A omelete é fofa e habilmente dobrada. Eu corto e dou uma mordida
hesitante. Estou quase irritado com o quão bom é. Ele também está comendo,
enfiando bocados grandes e práticos na boca. Observá-lo me faz sentir trêmulo.
Percebo que minha cabeça está latejando.
— Eu preciso de café. — Ele ignora a grosseria do meu tom e sai da mesa
para fazer o café. Minha cabeça lateja enquanto como. O ato de mastigar parece
agravar isso. — Você me drogou? — Permito toda a força da acusação em minha
voz.
— Sim, — ele diz simplesmente.
Porra! Maldito idiota.
— Porra! O que você estava pensando? Sou altamente alérgico a…
— Relaxe. Eu não te dei nada contendo propofol1.
O que?
Como diabos ele sabe que sou alérgico a propofol?
— Como você sabe sobre minha alergia? Você está me perseguindo?
— Você esteve sob vigilância, sim.

1 Um agente de anestesia geral de curta duração.


Minha mente fica em branco. Eu me viro quando o choque do que está
acontecendo me atinge completamente. Isto não é um acidente. Isso não é uma
pegadinha ou fruto da minha imaginação. Esta nem é a pior ressaca do mundo. É
real. Fui sequestrado. Fui levado por um homem que é obviamente um fora da lei e
muito provavelmente perigoso. Além do mais, estou sentado à mesa com ele e
comendo uma omelete de clara de ovo que ele fez para mim.
— Isso é uma loucura, — eu digo, olhando para ele. Ele parece estar gostando
da refeição. Ele mastiga pensativo. Devagar. Como se ele não se importasse com o
mundo. Isso só me faz sentir mais louco. — Você tem alguma ideia do que fez?
Ele engole e dá um breve aceno de cabeça. — Sim.
Eu respiro. Eu seguro por alguns segundos e solto lentamente. Baixo minha
voz. Quero soar o mais diferente possível do jeito que ele soou há alguns momentos,
quando me imitou. — Você sabe quem eu sou?
— Sim, — ele diz novamente. Ele toma um gole de café e engole. — Damon
Alexander Beckett. O Primeiro de seu nome. — Se não me engano, parece uma
tentativa de piada. Eu não acho isso engraçado. — Filho mais velho de Rebecca
Albrecht e do falecido Clyde Beckett. Irmão de Emelia e Leighton. Data de
nascimento…
Em segundos, ele recita minha data de nascimento, endereço residencial,
endereço do trabalho, número do seguro social, detalhes da conta bancária e outros
fatos que ele não deveria saber para fazer minha cabeça girar. Respiro novamente
para tentar me recompor, mas não funciona. Ouvir os nomes das minhas irmãs
saindo de sua boca me deixa furioso.
— Você sabe quem é minha família? — Falo devagar, permitindo que meu
significado seja assimilado. Não é a primeira vez que ameaço alguém usando meu
nome de família, mas é de longe a coisa mais séria que já falei sobre isso.
— Sim, — ele pressiona os lábios e franze levemente os olhos. Quando ele
percebe que posso precisar de mais do que um “sim”, ele acrescenta: — Os Becketts
da BeckIT. Proprietários e criadores da plataforma de mídia social de maior sucesso
do planeta. Listados na Forbes 400 todos os anos desde 2002. Pessoas muito, muito
importantes.
— Você entende o que isso significa? — Ele me olha com expectativa, como
se aceitasse uma explicação. Escolho minhas palavras com cuidado. — Nós vamos
aniquilar você. Nós vamos te caçar até o fim. Nós o encontraremos e o
processaremos em toda a extensão da lei. — Ele olha para mim, mordendo o lábio
inferior. Tenho uma sensação horrível de que ele está tentando não rir, então
acrescento com todo o veneno que posso reunir: — e idiota, os Becketts sempre
vencem.
Ele bufa um pouco, mas rapidamente se recompõe. — Olha, Damon...
— Ninguém me chama de Damon. Ninguém.
— Eu sei, Lacey te chama de Boo e todo mundo te chama de Becks ou Beckett,
até mesmo sua família. Por alguma razão desconhecida, quando você tinha quatro
anos, sua babá, Lucile, costumava te chamar de Sloopy. Eu só usei Damon porque
achei que ainda não tínhamos chegado nos apelidos.
— Ainda não estamos nem no primeiro nome. — Eu imediatamente me
arrependo de ter adicionado o ainda.
— Eu sei, — ele diz razoavelmente, — mas não tive escolha. Não poderia usar
o Sr. Beckett. Não há como você conseguir fazer isso.
— Eu nasci fazendo isso, — eu sibilo. Minha voz está rouca e feia. Pareço
alguém ou algo totalmente diferente da pessoa que normalmente sou.
Ele levanta uma sobrancelha e levanta a boca de um lado. — Bem, seus pais
fizeram uma merda nomeando você de Damon. Sem sombra de dúvida. Não
combina com você. Uma pena. Tudo o que eles precisavam fazer era mudar uma
letra e você seria o Demon2. Menos comum que Damon, e claro que você teria que
soletrar de vez em quando, mas pelo menos serviria para você.

2 Tradução livre: Demônio. O personagem está fazendo um trocadilho de Damon para Demon.
Capítulo 2

Idiota

Está claro que ele acha que é muito cedo para piadas. Ele me encara como se
eu fosse a pior pessoa que ele já conheceu.
Para ser justo, provavelmente sou.
Ele tem sobrancelhas proeminentes perfeitamente arqueadas e cabelo loiro
escuro. É curto nas laterais e mais longo e mais leve na parte superior. Apesar do
que ele passou, está perfeitamente tumultuado. Bagunçado de um jeito que eu sei
que lhe custou uma fortuna em um salão caro. Ele cai em seu rosto, atingindo as
maçãs do rosto exatamente no lugar certo para acentuar os melhores ângulos de
seu rosto. Seus olhos são azuis-acinzentados com anéis azuis marinhos escuros ao
redor da íris. Seus lábios são mais cheios do que os lábios têm o direito de ser. No
momento, eles estão pressionados um contra o outro com tanta força que
adquiriram um tom escuro de rosa. Sua cabeça está posicionada em seu pescoço
com uma inclinação arrogante. Acredito que seja uma característica permanente.
Ele está usando algum tipo de traje. É preto da cabeça aos pés. Honestamente,
nem tenho certeza de como você chamaria isso. Se você fosse a uma loja e tentasse
pedir ajuda a um vendedor para encontrar algo parecido, não tenho ideia do que
você pediria. A metade inferior é como um cruzamento entre calça e saia. Ou talvez
sejam calças com saia por cima. Eu não posso dizer. Sua parte superior é uma regata
rasgada com recortes excessivos para os braços. É folgada nele e quando ele se
move, de vez em quando, um mamilo fica exposto. Suspeito que não seja por acaso.
Suponho que quando ele se vestiu para sua fracassada noite de folga, ele girou na
frente do espelho, sorrindo de satisfação ao ver o pequeno flash de carne rosada.
Ele está inundado de acessórios. Ele tem uma fina gargantilha de pérolas no
pescoço, bem como um crucifixo incrustado com diamantes e pedras vermelhas.
Dado o tamanho das pedras, se ele fosse qualquer outra pessoa, eu suspeitaria que
fossem granadas ou espinéis, mas como é ele, aposto que são rubis. Rubis de
Myanmar. Ele tem uma pulseira de couro preto em ambos os pulsos e anéis gigantes
em todos os cinco dedos da mão esquerda.
Seus olhos, que estavam escuros (e imaculadamente) delineados quando o
pegamos ontem à noite, têm semicírculos borrados sob eles. Apesar do desafio
astuto esculpido em suas feições, noto uma marca no canto de cada olho, onde a
maquiagem escorreu pelo rosto.
Lágrimas, talvez?
Não que eu o culpasse. É uma reação normal ao que aconteceu com ele. É de
se esperar. Ainda assim, parece inesperado para ele e traz algum tipo estranho de
equilíbrio a todo o quadro. Apesar do estado dele, ou talvez por causa dele, bonito
nem sequer começa a descrevê-lo. Ele é obscenamente atraente. Atraente porque
foi assim que Deus o fez. Obsceno porque ele está dolorosamente consciente disso.
A única coisa que ele é mais do que bonito, é fútil. Além disso, ele é menos
interessante do que parece. Estamos de olho nele há dois meses, como é a prática
comum. Começamos com vigilância on-line e construímos um perfil completo
para ele a partir daí. Nas últimas três semanas ele também esteve sob vigilância
física. Eu lidei com o caso dele pessoalmente. Não encontrei nenhum segredo
importante no armário dele. O melhor que posso dizer é que nenhuma parte dele
jamais passou uma quantidade significativa de tempo no armário. Claro, houve
algumas prisões por dirigir embriagado, vários acidentes de carro e um punhado
de doações pesadas que foram feitas para varrer pequenos escândalos para debaixo
do tapete, mas para uma família como a dele, isso era de se esperar. E, sim, ele tem
alguns gostos um pouco excêntricos em pornografia, mas quem não tem uma ou
duas perversões hoje em dia.
Por um tempo pensei que ele pudesse ser dependente de medicamentos
prescritos, mas minha investigação mostrou que ele gosta mais de coletar do que
de consumir. Mesmo sendo mais rico que Deus, ele gosta de vender seus produtos
aos amigos quando sai. Porquê, eu não poderia te dizer. Fora isso, ele é exatamente
o que eu esperava: um idiota mimado com privilégios e direitos escorrendo por
seus poros.
Não há nada em seu histórico que indique que esse trabalho será diferente
do padrão. Deve funcionar como um relógio. Dado o seu perfil, o pagamento é
substancial. Espero plenamente que a parte mais difícil do trabalho seja sobreviver
estando próximo dele nos próximos dias.
— Então, — ele diz, balançando a cabeça enquanto fala, — você vai me dizer
seu nome? É costume dizer seu nome às pessoas quando você as conhece. Normas
sociais e tudo mais. Talvez você já tenha ouvido falar delas?
Ele estava ficando nervoso, então eu disse: — Meu nome é o que você quiser
que seja.
Espero que isso o faça parar, mas ele não perde o ritmo. — Eu quero que seja
Idiota. Isso funciona para você?
— Claro. Parece bom. — Quase rio quando vejo o quanto minha resposta tira
o vento de suas velas. Ele não tem ideia de com quem está lidando. Seria preciso
muito mais do que um merdinha como ele para me irritar.
— Então, Idiota, — ele aperta os lábios e sua cabeça se contrai novamente,
— qual é o plano aqui? Presumo que você tenha um plano? Imagino que você não
me pegou sem ter algum tipo de linha geral de como tudo isso deveria acontecer.
— Sim, eu tenho um plano. Não preocupe sua linda cabecinha com isso.
Merda.
Eu não quis dizer em voz alta. A última coisa que ele precisa é de um impulso
para o seu ego.
Ele ignora e começa seu próximo discurso. — Se não for muito incômodo,
você acha que poderia me esclarecer sobre o plano? Você sabe, considerando como
isso me afeta diretamente. Levando em conta que esta é a minha vida de que
estamos falando.
— O que você quer saber?
— Por que você me pegou?
— Te disse. Resgate.
— Quero dizer, por que eu?
— Porque sua família é mais rica que Deus e você é o mais velho. — Isso não
é estritamente a verdade. Meu cliente o solicitou pelo nome. Eles deixaram claro
que ninguém mais da família serviria, mas não vou contar nada a ele sobre meu
cliente.
— Você está planejando me matar?
— Que parte do resgate você não entende? Se você estiver morto, não
seremos pagos. — Mais uma vez, não é verdade, recebemos trinta por cento
adiantado e receberemos o restante quando o resgate for pago e ele voltar para casa
com sua família. O recebimento do valor total depende de ele ser devolvido inteiro,
ileso e bonito.
— Acredite ou não, Idiota, esta é a primeira vez que sou sequestrado, então
me perdoe se não sei cada coisinha sobre como tudo isso funciona. — Sua boca está
esticada em um sorriso de escárnio, mas quando ele para de falar, ele suga um
pedaço do lábio inferior na boca. Ele está tentando ser durão, mas posso dizer que
está nervoso.
Vítimas assustadas dão mais trabalho em longo prazo, então eu digo: — Você
é um trabalho, ok? Não é pessoal, é apenas uma simples troca. Uma encomenda
chegou. Você foi investigado e uma avaliação foi feita: você foi considerado um
candidato adequado. Você está sob vigilância há algum tempo. Eu sei quem você é.
Eu conheço seus hábitos. Eu conheço seus gostos e desgostos. Sou capaz de prever
suas ações com alto nível de precisão. Ontem à noite nós pegamos você. Aconteceu
sem problemas. Você estava exatamente onde deveria estar quando deveria estar
lá. — Levo minha caneca de café aos lábios e tomo um gole. — Já fizemos contato
com sua família. Eles estão sendo observados de perto. Eles sabem que não devem
entrar em contato com a polícia. Dissemos a eles a quantia que queremos. Eles
concordaram em pagar. Em cerca de uma semana, informaremos a hora e o local
da entrega. Eles não me parecem o tipo de pessoa que faria algo estúpido. Eles
sabem o que está em jogo. Eles vão pagar e isso estará acabado. — A maneira como
ele está olhando para mim me inflama. Embora eu seja vários centímetros mais alto
e esteja sentado ereto, posso sentir que ele está olhando para mim, então acrescento:
— O único risco significativo sinalizado em todo o trabalho é o risco de você fazer
algo estúpido. É por isso que estou aqui. Estarei com você o tempo todo. Não vou
deixar você fora da minha vista.
Se eu pensei que ele estava fervilhando antes, garoto, eu estava errado. Ele
está cozinhando agora. Quase posso ver o vapor saindo de seus ouvidos. Seus olhos
estão frios e ele ficou muito, muito quieto.
— Você não sabe nada sobre quem eu sou.
Sua voz é cortante. Fria. Tão superior e esnobe que parece ricochetear nas
paredes. Quase rio. É tão incrível que chega a ser engraçado. Acabei de lhe dar uma
enxurrada de informações que teria deixado a maioria das pessoas chocada, mas a
única coisa que ele percebeu foi o fato de eu ter dito que o conhecia.
— Eu conheço você melhor do que qualquer ser humano vivo. — Admito
que posso estar tentando provocá-lo.
Ele se levanta, estufando o peito. Seu mamilo esquerdo aparece para fora da
regata. Tento não olhar. Em vez disso, olho para o rosto dele. Sua mandíbula está
cerrada. Ele está respirando pelos dentes. Ele abre a boca para falar. Ele quase
começa, mas se detém. Eu sei exatamente o que aconteceu. O pequeno filho da puta
apenas avaliou suas opções. Ele tinha uma resposta perfeita ou um comentário
cortante planejado. Ele estava prestes a falar. Eu vi. Eu literalmente vi o pensamento
passando por seu lindo rosto – ele não vale a pena.
Sinto uma rápida onda de raiva.
Cuidado, mano. Não deixe esse cara chegar até você.
Ele joga a faca e o garfo no prato assim que termina de comer. Percebo com
satisfação que ele comeu toda a sua porção. Estou satisfeito. Algo me diz que a
última coisa que quero é esse idiota com fome.
— Eu preciso de um banho.
Nenhum por favor. Nenhum se não for muito incômodo. Deus, ele é tão idiota
quanto pensei que seria.
— Claro, — eu digo.
Eu mostro o banheiro para ele. É uma sala pequena e rudimentar. Nada como
os vastos banheiros revestidos de ônix aos quais ele está acostumado.
— Deus, — diz ele, quando vê o chuveiro sobre a banheira e o conjunto
antigo de vaso sanitário e pia verde-oliva combinando.
Encosto-me no azulejo perto da porta. Ele olha para mim como se eu fosse o
maior idiota que ele já encontrou.
— Você se importa? — ele diz, piscando incisivamente para mim.
— Não, de jeito nenhum. Vá em frente. — Pego meu telefone e olho para
baixo para lhe dar um pouco de privacidade.
— Você vai ficar aí parado e assistindo?
— Sim.
Ele está quase vibrando de raiva. Uma pequena parte distorcida de mim gosta
de vê-lo assim. Se há um cara que merece ser derrubado em um ou dois pinos, é
esse cara. Ele hesita por um segundo e depois tira as botas e a regata. Ele parece
pensar um pouco nas coisas antes de deixar cair sua estranha saia-calça no chão
também.
— O que? — ele sussurra acusadoramente, enquanto está no banheiro
pequeno e sujo, vestindo nada além de uma tonelada de joias e uma cueca boxer
preta minúscula.
Eu o ignoro, fingindo estar absorto em tudo o que está na minha tela
enquanto ele desliza sua cueca para baixo. Posso ser um idiota, mas não sou o tipo
de idiota que ele pensa que sou. Ele toma banho rapidamente e não lhe dou a
satisfação de me pegar olhando. Quando ele sai, estendo uma toalha para ele.
— Jesus! — Ele exclama ao ver o estado de seu rosto sujo no espelho acima
da pia. Ele se vira e olha para mim de forma acusadora. — Onde estão os produtos?
— Você pode usar os que estão no armário. — Meu sabonete facial e pasta
de dente estão lá e comprei uma escova de dente para ele.
Ele abre o armário e parece horrorizado. — Onde está o resto? Onde estão os
ativos? Onde está o creme para os olhos? Meu Deus, — ele bate a porta do armário
e geme, — onde está a porra do hidratante?
Ele se vira para mim. Ele não está feliz e isso é para dizer o mínimo.
— Inaceitável! — ele cospe. — Minha pele está de-si-dra-ta-da. — Ele divide
a última palavra em sílabas distintas. Ele diz isso como se a condição fosse terminal.
— Algo terá que ser feito. E rápido.
— Se você estiver insatisfeito com sua acomodação, visite nosso site www-
ponto-nós-não-temos-as-quatro-estrelas-ponto-com e solicite um quarto que
seja mais do seu agrado.
Ele murmura algo baixinho. Não ouço claramente, mas parece muito com —
Vá se foder, Idiota.
Jogo para ele a muda de roupa que comprei para ele. Calça de moletom cinza
e regata branca. Sua boca torce para um lado. Ele não diz nada. Nem mesmo
quando ele percebe que esqueci de comprar uma cueca para ele. Ele veste as roupas
rapidamente, obviamente muito feliz em cobrir sua nudez. Novamente, não dou a
ele a satisfação de me pegar observando. A propósito, essa é uma prática padrão
para mim. Além de impedi-los de fazer algo estúpido, nunca vejo marcas no
banheiro. Não é difícil de fazer. Isso se chama ser profissional.
— Bom, — ele diz uma vez que está vestido. Seu rosto equivale às salvas de
palmas mais sarcásticas que já vi.
A calça de moletom está folgada nele. Elas ficam baixas em seus quadris.
Muito baixas. Eu vejo o leve recuo de sua linha do quadril quando ele respira. Eu
também errei o alvo no parte superior. É muito apertada e muito curta. Ela sobe
expondo sua barriga. Ele tem o corpo de um astro do rock. Magro e musculoso.
Estranhamente definido em lugares que eu não esperava que fossem definidos.
Não que eu esperasse que fosse definido. Ele é um serviço. Eu não tenho
pensado nele assim.
— E agora? — ele diz, inclinando a cabeça em um ângulo ainda mais
arrogante do que antes.
— Você precisa mijar?
— Vá se foder, Idiota, — ele diz claro como um sino desta vez.
Voltamos para a sala e eu o coloco em frente à TV. Entrego-lhe o controle
remoto.
— Você pode assistir o que quiser.
— Oh, caramba, Sr. Idiota, qualquer coisa que eu queira? Qualquer coisa
mesmo? Como tive tanta sorte?
Eu o ignoro e olho para frente. Ele mal encontra um programa e diz: —
Preciso mijar.
Resisto à vontade de dizer “Eu te avisei” e fico de guarda enquanto ele usa o
banheiro.
— Não posso mijar se você estiver assistindo.
— Não estou assistindo, — digo sem levantar os olhos.
— Que porra você não está, seu maldito pervertido.
Eu não respondo. Quando ele termina, espero que ele abra a torneira. Pouco
antes de ele molhar as mãos, eu digo: — Lave as mãos.
Ele olha fixamente para mim.
— Não me diga o que fazer, — ele diz entre dentes.
Confesso que isso me gratifica um pouco. Tarefas de babá não são tão
divertidas quanto você imagina. Sequestrar idiotas ricos pode parecer uma escolha
de carreira superinteressante, mas, honestamente, a maior parte do trabalho é
chato pra caralho. A vigilância tem seus momentos, mas ficar preso em um espaço
pequeno com um estranho mimado e neurótico por cinco ou seis dias não é minha
ideia de diversão. Se o dinheiro não fosse uma absurdo, eu nem consideraria isso.
Capítulo 3

Demon

Meu rosto parece rígido. Minha pele parece estar rachando. Se isso continuar
por muito mais tempo, não haverá tratamento facial com oxigênio no mundo que
possa me ajudar. Olho com desgosto para o brutamontes sentado ao meu lado no
sofá.
Você consegue imaginar o tipo de adulto que não possui um bom hidratante?
Admito que todo o desastre do chuveiro de ontem me traumatizou bastante.
Eu não gostei. Eu estava nervoso como o inferno. Nunca fui colocado em uma
posição em que tivesse que dividir o banheiro com um estranho, muito menos com
uma pessoa do tipo criminosa-sequestradora. Foi horrível pra caralho. A roupa que
ele me deu agora também é horrível pra caralho. Na verdade, é tão terrível que, se
as coisas não fossem o que são, eu estaria ao telefone com minha assistente pedindo
que ela organizasse uma intervenção de emergência para esse cara. Deus sabe que
ele precisa disso.
Tenho estado de olho nele. Ele parece seguir a mesma rotina. Ele prepara o
café da manhã, almoço e jantar do zero. Isso sempre me surpreende, embora ainda
não tenha certeza do porquê. Não me lembro de ter imaginado conscientemente
como seria ser sequestrado, mas acho que devo ter pensado, porque esperava que
o cardápio apresentasse pizza e frango frito com muito mais peso do que os
produtos orgânicos que ele transforma em refeições para nós. Após cada refeição,
ele faz uma ligação. Ele é curto e abaixa a voz quando fala, mas como está na mesma
sala que eu, posso ouvir cada palavra. Ele parece estar conversando com o cara que
estava aqui quando acordei. Seu parceiro, talvez? Ele não usa nomes, então não
posso ter cem por cento de certeza, mas acho que ele pode conversar com outra
pessoa também. Se eu tivesse que adivinhar, diria que pelo menos três deles estavam
envolvidos no acordo. Com base nas conversas dele, parece que o outro cara, ou
caras, estão vigiando minha família e meu apartamento. Até agora, Idiota parece
completamente satisfeito que as coisas estão indo conforme o planejado. Ninguém
fez nada estúpido como chamar a polícia, tenho certeza disso.
Além dessas checagens, seu único foco é ficar de olho em mim. Há um laptop
de aparência séria no balcão da cozinha. Tem muitos cabos saindo dele. Parece o
tipo de coisa que seria boa para hackear. Ele não move um músculo quando chego
perto, então tenho certeza de que é fortemente protegido por senha. Ele não usou
muito desde que cheguei aqui. Ele está muito ocupado em não me perder de vista.
Se eu vou para o banheiro ou para a cozinha, ele fica de pé. Ele nunca está a mais
de alguns metros de mim. Seu foco parece excessivo, pelo que posso dizer, não há
como sair deste lugar. Só há uma porta que dá a uma saída e está trancada. As
janelas também estão trancadas. O vidro é duplo. Seria difícil quebrá-lo. Eu
precisaria de algo grande e pesado para quebrá-lo. Tenho certeza de que não é por
acaso que não há nada grande e pesado no apartamento, ou o que quer que você
chamasse esse lugar.
Estou sentado no sofá agora. Não é novidade que ele está sentado comigo.
Estou perfeitamente consciente de sua presença. Suas características são marcantes.
Sobrancelhas grossas. Olhos profundos e fixos. Sua barba por fazer é espessa,
lançando uma sombra escura na metade inferior de seu rosto. Não preciso tocá-lo
para saber que também seria áspero. Ele me entrega o controle remoto. Quando ele
faz isso, o faz com um ar de benevolência, como se esperasse que eu lhe agradecesse
por isso. Não é preciso dizer que não o faço. Em vez disso, fico sentado avaliando
minhas escolhas. Reconheço que não tenho muitas. Depois de percorrer os canais
por um tempo, percebo que ele parece ter entrado em algum tipo de estado
meditativo. Ele fica imóvel, olhando para frente, mas não parece estar assistindo
TV. Eu olho seu perfil. Seu peito largo sobe e desce, lento e ritmado. Ele não mostra
sinais de perceber quando mudo de canal.
Como filho de socialites ricos que estariam bem mais preparados para
permanecer sem filhos, reconheço rapidamente os sinais de ser ignorado. Eu os
reconheço e sei exatamente como lidar com eles – sendo irritante. Felizmente para
mim e infelizmente para ele, tenho quase vinte e cinco anos de experiência em ser
irritante, então, não quero me gabar nem nada, mas sou uma espécie de especialista
na arte de irritar as pessoas.
Eu o observo de perto. Cada vez que seus olhos ficam vidrados, eu faço uma
pergunta. Quanto mais fútil, melhor. Faço-lhe pergunta após pergunta.
— Você já viu O Comissário de Bordo antes? — Não espero por uma resposta.
— Eu acho que ela viu. Ela é a assassina. Eu a nomeio. — Faço uma pausa enquanto
ele começa a formular uma resposta, mas o interrompo antes que ele comece a
falar. — Você acha que ela fez isso? Se ela não fez isso, quem fez? — Ele tenta
começar a falar de novo, mas eu bato nele de novo: — Por que aquele cara está
vivo? Eu pensei que ele estava morto?
Para deixar claro, já vi o programa antes e não tive nenhum problema em
entender o enredo. Ele não viu e, felizmente, com minhas constantes interrupções,
parece estar tendo dificuldade em acompanhar.
Assim que ele começa a prestar atenção no show, peço alguma coisa. Água,
suco de fruta, uma bebida quente, um lanche, um par de meias, é só dizer; se
consigo pensar nisso, peço. Minha única exigência é que ele esteja confortável
segundos antes de eu pedir.
A desvantagem de toda água e bebidas que consumo é que tenho que fazer
muito xixi. Inicialmente, isso me deixa nervoso, mas quando me ocorre que é
simplesmente outra maneira de fazê-lo levantar-se, paro de me importar tanto.
Algumas vezes, eu o arrasto até o banheiro comigo, apenas para anunciar
alegremente “alarme falso”.
Mesmo os momentos em que preciso ir não são tão ruins quando vejo que ele
se recusa firmemente a olhar.
Homofóbico, talvez?
Oooh, alvo adquirido – se ele tem um medo patético de gays, ele está prestes a
ficar borrado de medo com o excesso de homossexualidade em mim.
Quando mijo, observo-o no espelho acima da pia. Ele não olha. Ele mantém
os olhos firmemente em seus pés. Ainda assim, para enervá-lo, quando tiro meu
pau para fora, abaixo um pouco a calça de moletom. Não o suficiente para ser
óbvio, apenas o suficiente para mostrar minha bunda. Apenas o suficiente para
assustar um idiota homofóbico.
Por volta das dez da noite, ele parece tido o máximo de diversão que
conseguia suportar no dia.
— Hora de dormir, — ele anuncia.
Considero discutir, mas estou sendo irritante sem parar desde o meio da
manhã e admito que estou cansado do esforço. Ele parece impaciente enquanto me
observa me preparar para dormir, então reclamo muito da falta de fio dental e levo
um tempo anormalmente longo para limpar os dentes.
Quando estou pronta para dormir, sua mandíbula está tão cerrada que
parece que ele poderia quebrar uma noz entre os dentes. Estou silenciosamente
satisfeito. Pode não parecer muito, mas considero uma vitória. Vou para a cama e,
para meu desgosto, ele algema minha mão esquerda na cabeceira da cama.
— O que você está fazendo? — Eu exijo.
— Vou dormir um pouco. Vou tirar as algemas de você quando acordar.
Não estou feliz, mas sei que não estou em condições de resistir. Ele tem uns
bons trinta quilos a mais que eu e, na melhor das hipóteses, sou um apreciador, não
um lutador. Tenho certeza de que o mesmo não pode ser dito dele. Decido não dar
a ele o prazer de me ver chateado. Observo enquanto ele tira as meias, as botas e a
camiseta. Seu corpo é duro como uma rocha. Sua pele é morena e ele tem uma
espessa camada de pelos escuros no peito. Ele é irritantemente definido. Assim que
ele arruma a cama no sofá e se cobre com o cobertor, peço que me traga um copo
de água com gelo. Ele bate na mesa lateral, causando uma pequena explosão.
Não tenho dúvidas de que meu plano para mexer com ele está perfeitamente
tomando forma.

Apesar da sensação de vitória que senti antes de adormecer, meu


subconsciente parece estar incomodado por ter minha liberdade arrancada de
mim. Acordo no meio da noite encharcado de suor, ofegante e me debatendo. Sinto
que não consigo respirar. Ter uma mão amarrada despertou em mim um pânico
sombrio e avassalador.
— O que há de errado? — ele pergunta do sofá.
— Eu não consigo respirar, — eu gaguejo. Quanto mais eu digo isso e quanto
mais penso sobre isso, mais parece impossível respirar com um braço acima da
cabeça. — Não consigo respirar!
Ele tropeça em minha direção.
— Tire-me as algemas, Idiota. Estou falando sério. Preciso do meu braço
abaixado. Não consigo respirar.
— Jesus, — ele murmura, mas para seu crédito ele destranca a algema.
Sento-me ereto e massageio meu pulso. Ficar de pé ajuda um pouco, mas
ainda estou trêmulo. — Idiota de merda, — eu digo. — Você não pode esperar que
alguém durma assim.
Ele suspira profundamente e me diz para subir na cama. Estou horrorizado,
mas surpreso demais para discutir. Obviamente, eu também não me movo.
— Você quer seu braço para cima ou para baixo? — ele pergunta
incisivamente. Posso dizer que ele não está exatamente feliz por estar acordado e
lidar comigo durante a noite.
— Para baixo, — eu admito.
Ele pega meu braço e o algema com força. Ele coloca a outra algema no seu
pulso. — Suba. Na. Cama.
Apesar de toda a minha personalidade ser o que é, algo em sua voz me faz
saber que seria melhor não discutir. Na verdade, também estou cansado. Foi um dia
e tanto. Subo a contragosto na cama e ele sobe comigo. Meu corpo está em alerta
máximo. Não suporto ficar tão perto dele. Ele é grande e parece ter um nível
excessivo de calor corporal. Tento deitar o mais longe possível dele, mas estou
dolorosamente consciente dele. Sua respiração é alta. Abrasiva. Mesmo assim, me
sinto muito melhor sem ter o braço preso acima da cabeça. Ele adormece primeiro
e não demoro muito para fazer o mesmo.

Acordo de madrugada. É difícil adivinhar a hora porque o quarto está escuro


como breu. Demoro um pouco para tomar consciência de onde estou. Estou de lado,
de costas para ele. Há um peso intenso colocado sobre minha cintura. Para meu
horror, descobri que puxei o braço dele sobre meu corpo quando virei. Ele está
pressionado contra mim, me abraçando. Minhas costas estão quentes onde estamos
nos tocando. Seu peito está nu e parece uma parede sólida atrás de mim. Não
demoro muito para perceber que ele está sólido, sólido. Ele está com uma ereção e
está cavando minha bunda. Estou prestes a pular e dizer a ele o que penso quando
percebo em choque; meu pau está tão duro quanto o dele.
Não é grande coisa. É ereção matinal. Todo mundo tem.
É totalmente normal.
Ainda assim, fico imóvel e desejo que meu pau amoleça. Eu uso cada grama
da minha energia para fazê-lo diminuir. Estou surpreso com quanta dedicação é
necessária.

Quando acordo novamente, faço isso com um sobressalto. — Há um lugar


onde preciso estar, — digo antes de estar totalmente acordado. Estou sozinho na
cama. A algema está pendurada no meu pulso. Olho ao redor. Ele está na cozinha
preparando o café da manhã. — Idiota! Há algum lugar onde preciso estar.
— Eu sei. Sete e quarenta e cinco da manhã. Deixar as meninas na escola.
Fico profundamente perturbado quando percebo o quão intimamente ele
conhece minha rotina. O fato de ele saber esse tipo de coisa sobre mim parece uma
violação quase tão grande quanto ser detido contra a minha vontade.
— Não se preocupe, — ele diz com naturalidade, — eu mandei uma
mensagem para elas avisando que você não conseguiria comparecer ontem à noite,
quando enviei a eles sua mensagem habitual de “te amo mais, durma bem”.
Mal estou acordado, mas a raiva ferve dentro de mim.
Ele está falando sério?
Esse idiota está realmente se comunicando com minhas irmãzinhas como se
fosse eu?
Eu me lanço da cama e faço um discurso dirigido diretamente a ele. — Você
está mandando mensagens para minhas irmãs como eu? Como você se atreve?
Vejo um rápido brilho de perplexidade em seus olhos. — Prática padrão, —
ele dá de ombros. — Tenho que ter certeza de que ninguém se preocupa com você.
Eu disse à sua equipe para não vir porque você está com COVID. Também enviei
algumas mensagens para Lacey. A propósito, ela está chateada por você tê-la
deixado no Slay. — Ele diz isso como se eu tivesse escolha no assunto. — E eu
publiquei isso, para que o resto dos seus fãs não fiquem preocupados com o fato de
você estar ausente.
Ele segura meu telefone para eu ver. Está aberto no meu perfil BeckIT. Ele
invadiu minha conta e postou uma foto minha dormindo. Estou de lado. Meu rosto
está pressionado no travesseiro e minha boca está ligeiramente aberta. Está longe
de ser a foto mais lisonjeira que já vi de mim mesmo. A legenda diz: “Gente, a
COVID me pegou. Vou ficar quieto por um tempo, mas não se preocupe, vou
sobreviver.” Ele colocou a hashtag #GreenBiatch, um suplemento de proteína em
pó com supostos benefícios de reforço imunológico. Recentemente me tornei o
rosto do produto. Estou furioso, embora microscopicamente impressionado por ele
ter pensado em marcá-los.
Capítulo 4

Idiota

Inspire lentamente, expire lentamente. Eu digo a mim mesmo.


Essa merda está me deixando louco. Ele está me deixando absolutamente
louco. Ontem foi um pesadelo e ele me fez cerca de setecentas perguntas até agora.
Ele fez pelo menos o mesmo número de reclamações. Devo ter subido e descido até
a cozinha umas vinte vezes e seus pedidos estão cada vez mais irracionais. O pior
é que não sei dizer se ele está fazendo isso para merdas e risadas, ou se ele é apenas
um idiota. Nenhuma das opções é tão boa, quando você pensa sobre isso.
Na hora do almoço, sou forçado a admitir que ele está me afetando. Estou
rangendo os dentes com tanta força que estou começando a sentir dor de cabeça
por causa disso. Eu me conheço bem o suficiente para saber que estou a segundos
de explodir.
— Sente-se no sofá e não se mexa, — digo a ele.
— Mas e se eu precisar de alguma coisa? — Seus olhos estão cheios de falsa
inocência.
— Não há necessidade de nada durante a próxima hora. Vou malhar e você
não vai se mexer. — Se ele tiver um pouco de bom senso, saberá que não estou
brincando. Neste ponto, o pagamento considerável que concordei em aceitar está
começando a parecer um pagamento insuficiente.
Eu começo a suar. Eu faço um treino de alta intensidade que me deixa
respirando com dificuldade em minutos. Eu não paro até que eu tenha feito isso
por uma hora inteira e minha cabeça tenha clareado. Ele se senta no sofá e assiste
TV. De vez em quando, sinto seus olhos em mim. O julgamento neles é palpável.
Ele torce o nariz. — Você fede.
Mordo com tanta força que quase quebro um dente. Vou para o banheiro.
Abro o chuveiro e me dispo. Quando entro no chuveiro, olho para cima e o vejo na
porta. Ele está encostado na moldura com um braço levantado e o outro enfiado no
bolso. Seu corpo tem uma qualidade de curvas felinas. Meu primeiro pensamento
é que ele parece estar posando para a capa da Vogue.
Meu segundo pensamento diz em voz alta: — Que porra você está fazendo?
Por que você está me observando?
— Pensei que tínhamos que ir ao banheiro juntos? Achei que isso fosse coisa
nossa.
Puta merda!
Deixei-o na sala sem algemá-lo na cama. Jesus Cristo. O que diabos há de
errado comigo?
Eu sei que ele não pode escapar. Essa não é a preocupação. O lugar é seguro.
A preocupação é que ele consiga algo que possa usar como arma. Observo marcas
no banheiro por causa do acesso ao espelho. Um pedaço de vidro quebrado pode
ser usado como faca. Na sala, ele tem acesso a copos, potes, panelas e sabe Deus o
que mais na cozinha. A porra do meu telefone está no balcão. Está desligado, mas
ainda assim. Ele poderia ter o ligado e tentado ligar para o 911, ou poderia ter
tentado se machucar.
Jesus.
Em todos os meus anos neste negócio, nunca deixei a bola cair assim.
Salto do chuveiro, pego uma toalha e a enrolo na cintura, então o levo até a
cama e algemo seus pulsos na cama. Eu faço isso com muito mais força do que
normalmente faço. Mais apertado do que preciso. Ele não pronuncia uma palavra
de reclamação.
Tomo um banho extralongo, sentando-me na beirada da banheira
respirando o vapor até me acalmar. Neste ponto, tenho cem por cento de certeza
de que ele está sendo irritante de propósito. Não posso deixá-lo mexer comigo.
Preciso de um novo plano. Decido que vou responder a cada uma de suas perguntas
com calma. Quando ele reclamar, vou acenar com a cabeça para reconhecer que o
ouvi, mas não vou me envolver. Vou deixar que ele mesmo vá buscar o que quiser
na cozinha. Se ele for burro o suficiente para tentar qualquer coisa, será um prazer
infinito nocauteá-lo. Há uma penalidade por entregá-lo machucado ou quebrado,
mas neste momento parece que seria um dinheiro bem gasto.
— Estou entediado, — diz ele pouco depois. Tirei as algemas dele e ele está
sentado no sofá assistindo TV. — Entediaaaaaado. Entediado, entediado, entediado.
Tão entediado.
Eu não respondo. Sua voz soa como pregos sendo arrastados em um quadro-
negro. Isso me irrita.
Ele inclina a cabeça para trás no sofá, fechando as pálpebras até meio mastro.
O pomo de adão se projeta ligeiramente, dando ao seu lindo perfil uma inclinação
masculina. Isso faz com que algo dentro de mim pareça estar apertando. A blusa
muito pequena que comprei para ele está expondo sua barriga esticada. Ele tem
uma fina trilha de cabelos castanhos claros que descem do umbigo e desaparecem
dentro da calça de moletom. Isso também me irrita.
— Preciso tomar um banho, — ele anuncia assim que me sinto confortável
no sofá.
Faço o possível para não demonstrar minha exasperação e o sigo até o
banheiro. Ele vira as costas para mim e se despe. Eu mantenho meus olhos baixos.
Não me permito olhar para nada além do ladrilho que está bem na frente daquele
em que estou. Ele mantém um fluxo constante de conversa. De vez em quando,
perco o foco e levanto os olhos quando respondo a uma de suas perguntas absurdas.
Não porque eu quero. Não quero. Eu olho para cima porque é um hábito olhar para
as pessoas quando você fala com elas. Apesar do que ele disse, sei algumas coisas
sobre normas sociais. Felizmente, ele ainda está de costas para mim. Suas costas
estão bronzeadas. Sua pele é suave. Beijada pelo sol. Sua bunda é branca leitosa.
Mais branca que o resto dele. É firme e redonda. Como o resto dele, é a perfeição
física. A visão disso é suficiente para incitar uma raiva profunda em mim. A água
escorre pelo arco de suas costas em riachos ensaboados enquanto ele lava o cabelo.
Ela percorre sua espinha e se aninha entre suas nádegas. Ele se vira lentamente.
Forço meus olhos de volta ao chão.
— Você estava olhando? — Sua voz está mais baixa do que o normal, cheia
de prazer rancoroso. — Eu posso sentir isso, você sabe. Posso sentir seus olhos em
mim.
Eu não respondo. Estendo uma toalha para ele e digo para ele sair.
O resto do dia se arrasta. Assim que lhe ocorre que não serei mais sua
putinha, ele para de pedir lanches e bebidas a cada poucos minutos. Ele não para
de fazer perguntas idiotas e com certeza não para de reclamar de tudo que um ser
humano pode reclamar. Na minha cabeça, faço uma longa lista de todas as
maneiras pelas quais suas babás poderiam tê-lo educado melhor. Está bastante
claro que todos que já tiveram contato com ele foram muito brandos com ele.
Abundantemente claro. O que ele precisava era ouvir a palavra “não” uma ou duas
vezes. Isso poderia tê-lo melhorado. Não, o que ele precisava era de alguns anos
numa escola pública. Uma pequena dose de realidade poderia ter sido útil.
Pensando bem, alguns meses em um centro de detenção juvenil também não teriam
sido ruins.
Era disso que ele precisava, esse merdinha.
São quase nove e meia da noite, mas estou começando a ter dúvidas sobre ser
capaz de garantir sua segurança física se ouvir mais um pio dele.
— Hora de dormir, — eu digo. Ele olha para o relógio do forno. Seus lábios
carnudos e deliciosos se pressionam quase imperceptivelmente e, se não me
engano, vejo um brilho de satisfação em seus olhos. Eu ignoro isso. — Braço para
cima ou para baixo?
Ele considera minha oferta por vários segundos. — Para baixo, — ele admite.
Apago a luz no interruptor da cozinha e tropeço até a cama no escuro, dando
uma topada no processo. Algemo nossos pulsos.
— Precisamos de uma luz de cabeceira, — ele me diz como se eu fosse o tipo
de idiota que não consegue chegar a esse tipo de conclusão sozinho. Eu faço uma
careta, mas consigo permanecer em silêncio. Consigo evitar dizer a ele que o
motivo pelo qual não temos um não é um acidente. É porque um abajur pode ser
facilmente usado para subjugar alguém.
Pensando bem, talvez precisemos de um abajur.
Algemo nossos pulsos e nos posicionamos na cama. Nós nos mudamos até
encontrarmos um lugar o mais longe possível um do outro.
— Os lençóis são horríveis, — diz ele suavemente. — Muito ásperos. A
contagem de fios é horrível. Eles são uma vergonha. Você deve substituí-los
imediatamente.
— Cale-se.
Eu não quis dizer isso. Eu não queria dar a ele essa satisfação. Eu não estava
errado. Deitado ali no escuro, tenho certeza de que posso senti-lo sorrindo. Estou
irritado comigo mesmo. Eu não me detenho nisso. Em pouco tempo, percebo algo
muito, muito mais irritante. Meus sentidos são inundados pelo cheiro de seu cabelo.
Inundando. Bombardeando. Embora logicamente eu saiba que deveria cheirar
como meu xampu porque o vi usando-o no chuveiro, isso não acontece. Cheira
caro. Como amêndoa gourmet e couro macio. Como notas de cem dólares recém-
impressas. Como uma centena de itens de luxo que eu não tive enquanto crescia.
Decido respirar pela boca por um tempo. Isso ajuda. Depois de alguns
minutos, meu corpo relaxa. Minha respiração fica mais longa e profunda. O
caloroso abraço do sono começa a anestesiar meus membros. Minhas pálpebras
estão pesadas. Eles finalmente se fecham.
— Idiota, — ele sussurra, batendo firmemente em meu ombro, — eu preciso
fazer xixi.
Capítulo 5

Demon

Meu pau me acorda várias vezes durante a noite. É desagradável e insistente.


Persistentemente duro. Não tem nada a ver com o babaca na cama comigo.
Obviamente não. Isso seria ridículo. É que tenho uma libido muito elevada e sou
suscetível a uma forte presença masculina. Sempre fui. O que posso dizer, desde
que cheguei à puberdade, tenho sido um pouco viciado. Gosto de fazer sexo e gosto
de me masturbar.
Quem não gosta?
Não tenho vergonha disso, mas neste momento, admito, é inconveniente.
Muito inconveniente. Eu quebro meu cérebro para calcular há quanto tempo estou
aqui.
Três noites, dois dias?
Está certo?
Não me lembro de ter me masturbado no dia em que me pegaram. Acho que
não. Eu estava planejando transar no Slay. Se não o fizesse, este seria oficialmente
o maior tempo que fiquei sem um O desde a primeira vez que me masturbei.
Mesmo quando eu realmente tive COVID no ano passado, ainda consegui
masturbar meu pau com fervor devoto. Não é à toa que estou sofrendo.
A longa noite finalmente termina. Por volta das oito da manhã, ele acende a
luz do teto e me presenteia com café e uma tigela de cereais de bétula com iogurte
grego, frutas vermelhas e nozes torradas. É uma das minhas maneiras favoritas de
começar o dia.
— Ah, — digo com tristeza, enquanto pego a tigela dele, — eu estava
esperando um café da manhã quente hoje.
Vejo um brilho escuro em seus olhos. Estou satisfeito. O dia começou bem.
Comece como você pretende continuar, é o que sempre digo.
Às nove da manhã ele está malhando novamente. Tenho sentimentos mistos
sobre isso. Por um lado, considero uma vitória. Quando ele fez isso ontem à tarde,
ficou claro que ele estava no limite. Estou muito satisfeito por ter conseguido levá-
lo a este ponto tão cedo hoje com tão pouco esforço. Como eu disse, sou bom em
irritar as pessoas.
É um talento, realmente.
Sendo assim, não é que eu não esteja satisfeito por tê-lo empurrado até este
ponto, é só que estou um pouco desconfortável. Não foi fácil vê-lo malhar ontem.
Também não foi fácil não observá-lo. Ontem ele tirou a camiseta e malhou com
calça cargo e botas. Ele tem algumas amplas faixas tatuadas no antebraço esquerdo
e algum tipo de emblema ou insígnia na parte superior do braço. Tudo bem. Eles
não me incomodam em nada. Ele tem um pedaço enorme nas costas. É feito em
tinta preta. É um corvo em pleno voo. Sua envergadura abrange a largura de seus
ombros. As penas da cauda descem até a parte inferior das costas. Por alguma razão,
isso me incomoda. Não principalmente. Mas um pouco. É um trabalho bonito e
detalhado. É difícil não olhar, provavelmente é isso.
Eu folheio os canais enquanto ele se exercita. De vez em quando, ele solta um
grunhido profundo. Aumento o volume da TV quando ele faz isso. Ele está fazendo
flexões novamente. Sua postura é irreal. Seu corpo está rígido como uma tábua. Ele
cai até que seu nariz quase toque o chão. Ele se levanta como se não tivesse peso.
Perco a conta do número de flexões que ele faz. E, admito, minha mente divaga um
pouco quando ele faz abdominais. Apesar de todo a sua massa, sua barriga é firme
e dura como pedra. Vê-lo apertar é tão desconcertante que fico quase aliviado
quando ele vira e começa as flexões novamente. Meu alívio é interrompido quando
ele dobra um braço atrás das costas.
Ele está brincando comigo? Flexões com um braço?
O que diabos há de errado com ele?
Não é apenas a aparência dele que é difícil de conviver, é também o cheiro
dele. Ele cheira a força bruta. Ele tem cheiro de homem. Ele literalmente cheira
como se tivesse sido mergulhado em um balde de testosterona. Para meu desgosto,
isso me deixa duro.
— Você fede, — digo quando ele me pega olhando para ele.
Ele pressiona os lábios em uma linha dura e se aproxima de uma barra que
foi instalada na passagem estreita que leva à única porta de saída deste buraco
infernal. Tomo a firme decisão de não observá-lo fazendo flexões.
Minha resolução dura sete segundos.
Ele está de costas para mim. Não tem como ele me pegar olhando. Eu me vejo
incapaz de desviar o olhar. Quando ele se levanta, todos os músculos de suas costas
se contraem. A tinta em suas costas brilha de suor. O efeito da tinta, do suor e de
todas as ondulações fazem parecer que o pássaro está batendo as asas. Parece que
a porra da coisa está voando. Parece arte.
Não quero dizer isso. O homem de Cro-Magnon 3 aqui não faz meu tipo.
Acredite em mim, ele não faz. O último cara com quem dormi foi um artista de
vanguarda chamado Sven. Ele tinha longos cabelos verde-limão e unhas de acrílico
combinando. Esse é o meu tipo.

3 São os restos fósseis mais antigos do Homo Sapiens.


OK?
Eu gosto de arte. Isso é tudo.
Depois do treino, ele algema um dos meus pulsos na cama antes de ir ao
banheiro tomar banho. Não sei dizer se estou aliviado ou desapontado. Gostei muito
do olhar reprimido e pudico de alarme que ele me deu ontem, quando percebeu
que eu o estava observando tomar banho. Uma repetição disso não seria a pior
coisa do mundo.
Ouço o som de água correndo e algumas batidas que presumo significarem
que ele entrou no chuveiro. Ocorre-me que tenho alguns minutos para mim. Já faz
muito tempo desde que tive um momento sozinho e minha ereção não diminuiu.
Longe disso. Está desconfortavelmente dura. Deslizo minha mão livre em minha
calça de moletom e acaricio meu pau. Estremeço de alívio quando minha mão o
envolve com força. Eu acaricio rápida e firmemente, cerrando os dentes para
impedir que qualquer som escape. Estou duro e a pressão no meu pau é intensa.
Estou correndo em direção ao orgasmo quando me ocorre que se eu gozar, ele
saberá. Eu tenho uma gozada enorme. Sempre tive. Ele verá a mancha nas minhas
calças ou nos lençóis. De jeito nenhum ele vai perder isso.
Pooorra!
Com enorme relutância, tiro a mão do meu pau, apertando a ponta com força
enquanto faço isso.
O que diabos está errado comigo?
Acabei de ficar sem chance de gozar por mais três ou quatro dias. Devo estar
fora de mim. Eu admito, este é um ponto baixo para mim. Olho para a persiana feia
que obscurece a janela e tento me lembrar de como orar. Não rezo desde os seis
anos. Meu amigo Luke costumava ir muito à igreja e me disse que Deus me daria
tudo o que eu quisesse se eu orasse bastante. Na época, orei por um bebê chimpanzé
que me amasse e permanecesse pequeno e fofo para sempre. Orei ao máximo, mas
nem é preciso dizer que não o consegui, então nunca mais me preocupei em orar.
Agora, lancei meus olhos para o céu.
Querido Senhor Deus, eu sussurro. Por favor, faça meu tesão ir embora.
Mais uma vez minha oração fica sem resposta. Não faço contato visual com
o Idiota quando ele me tira as algemas. Espero até que ele vá até a cozinha e então
corro para o sofá o mais rápido que posso. Deito-me sobre ele com as pernas
dobradas para o lado.
Faço um balanço da situação. Meu comportamento não tem sido perfeito,
mas no geral, não posso acreditar como estou lidando bem com essa coisa de ser
sequestrado. Todos aqueles idiotas nas várias escolas que frequentei que disseram
aos meus pais que eu não tinha resiliência revelaram-se totalmente errados.
Posso escrever-lhes um bilhete para que saibam o quanto estavam errados
quando eu sair daqui.
Estou um pouco mais contido do que ontem, mas faço um esforço para
continuar minha busca para irritá-lo. Não tenho muita energia por não ter
dormido muito bem, então concentro a maior parte da minha atenção nas
reclamações. Especificamente, reclamo do tédio geral e da falta de coisas para
assistir na TV.
— Netflix é uma merda total. Nem uma única coisa para assistir, — suspiro.
— Experimente a Hulu4.
— Pior ainda. Não há nada para assistir na Hulu.
Ele hesita quase imperceptivelmente. Posso ver que ele está tentando não
discutir, mas o esforço está custando caro. — Experimente a HBO.

4 Serviço online de streaming.


— Eu vi tudo na HBO.
— Você não pode ter visto todos... — ele se interrompe. — Assista algo que
você já viu.
Começo a recitar uma lista de programas que assisti na HBO. Para garantir,
forneço a ele uma avaliação geral e sigo com uma análise detalhada das coisas que
não gostei em cada programa. Quando vejo seus olhos começarem a ficar vidrados,
faço uma pergunta. Tenho o cuidado de garantir que cada pergunta seja um pouco
mais inútil que a anterior.
— Qual é o seu filme favorito da Disney? — Eu pergunto, depois de cobrir
tudo o mais que consigo pensar.
— A Bela e a Fera, — ele responde um pouco mais rápido do que eu esperava.
— Hmm, você tem uma queda pela Bela, não é?
— Não.
— Sra. Potts?
Ele exala profundamente. — Eu gosto da cena da biblioteca, ok?
— A biblioteca? — Não faço nenhuma tentativa de tirar a descrença do meu
rosto. É a última coisa que eu esperava que ele dissesse. Fico perplexo e perco a
linha de pensamento por alguns segundos, mas rapidamente volto ao caminho
certo. — Agora veja, eu tinha uma queda pela Fera. Na verdade, você poderia
chamar isso de algo como um despertar. Toda aquela coisa feroz e rosnando
definitivamente fez isso comigo. Até hoje, fico triste quando a Fera se transforma
em homem.
Ele tenta não reagir, mas noto que ele aperta a mandíbula. Um pequeno
músculo se projeta e se contrai onde a mandíbula superior e inferior se encontram.
É apenas o incentivo que preciso.
— Banheiro, — eu digo em voz alta.
Ele se levanta e me segue. Eu demoro. Mijo à vontade e espero para ver se
consigo sentir seus olhos em mim. Tenho certeza de que os senti ontem, quando
estava no banho. Senti-os escorrendo pelas minhas costas como gordura espessa e
suja. Desta vez ele não está olhando ou está melhor em fazer isso no modo furtivo.
Decido redobrar minha determinação de assustá-lo com minha homossexualidade
flagrante, então, quando levanto minha calça de moletom, afrouxo um pouco o
cordão. Eles já estão soltos, então agora, quando eu ando, eles expõem mais do que
uma sugestão da minha bunda.
Quando nos acomodamos novamente em frente à TV, espero até que ele
pareça estar entretido em um show e então pulo e caminho em direção à cozinha,
parando bem na sua linha de visão. Fico em seu caminho até ter certeza de que
posso sentir seus olhos escuros e redondos me perfurando. Quando faço isso, mexo
levemente os quadris e levanto um braço acima da cabeça e para o lado, como se
estivesse me alongando para uma aula de ioga.
Estou orgulhoso de mim mesmo por esta exibição? De jeito nenhum. Nem um
pouco, mas não tenho escolha a não ser jogar com o que me foi dado.
No final da tarde, desisti de fingir que estou assistindo alguma coisa na TV.
Deito-me no sofá. Ele se senta o mais longe possível de mim e eu o aperto com os
pés. Eu o observo. Ele tem uma aparência distinta, admito isso. Se você gosta de
garotos maus e o conhece, você estará acabado. Ele tem uma masculinidade intensa
que é extremamente desconcertante. Não que eu esteja dizendo que ele é atraente.
Ele não é. Acontece que se você gosta de homens que são quase animalescos em sua
aparência, você pode notá-lo.
É isso que eu estou dizendo.
Se ele aparecesse no teste para o vilão de um filme de super-herói, o diretor
de elenco daria uma olhada nele e cancelaria o resto dos testes. Duvido que ele
deixaria o resto dos atores lerem o roteiro.
Isso é tudo que estou dizendo.
— Estou entediado, — digo pela milionésima vez. Ele não reage, então eu
aumento a aposta. — Eca. Eu odeio esse sentimento. Sempre que me sinto assim,
percebo que estou prestes a começar a me tornar super chato.
Ele tenta não reagir, mas suas narinas se dilatam de pavor. Não consigo nem
dizer quanta alegria isso me traz.
— Por que você não aluga um filme? — Ele sugere. — Você pode escolher o
que quiser.
— Não. Não quero. Não quero assistir a um filme. Só quero assistir
pornografia.
Ele pisca com força duas vezes e depois abre cuidadosamente a mandíbula
para falar. —Muito bem. O que você quer assistir?
Eu o direciono para meu site favorito e digo o que procurar. — Isso é
pornografia gay, você sabe disso, não é, Idiota? — Eu vibro. — Envolve dois caras.
Dois caras nus. Envolve paus na boca e paus enfiados em bundas. Acha que pode
lidar com isso?
— Estou ciente do fenômeno que é a pornografia gay, — diz ele secamente.
Pressiono a mão sobre a boca com força para suprimir a risada que me deixa.
— Essa não, — eu digo, com um movimento dramático do meu pulso,
enquanto ele transmite o que está em seu telefone na tela da TV. — Essa também
não. — Faço isso até ter certeza absoluta de que ele está quase no limite. — Essa.
Estou tão eufórico com a perspectiva de deixá-lo desconfortável que não
registro completamente o efeito que meu pequeno plano terá sobre mim até que
seja tarde demais. O clipe que encontrei é superquente. Dois caras maltrapilhos
fazendo um ao outro gemer – como poderia não ser? O ativo é agressivo, do jeito
que eu gosto. O passivo geme muito enquanto ele abre sua entrada. Eu começo a
reagir rapidamente. O calor flui pelo meu corpo e faz meu pau endurecer. Eu não
posso evitar; o som que os caras fazem quando transam faz isso por mim.
Olho para Idiota, na esperança de vê-lo encolhendo-se de desconforto, mas
para minha descrença, vejo-o recostado pesadamente no sofá. Sua cabeça está
ligeiramente inclinada para trás. De vez em quando, ele solta um suspiro pesado
pela boca.
Que. Inferno?
Ele parece estar tão absorto que não percebe meu olhar. Aproveito a
oportunidade para estudá-lo integralmente. Seus cílios são escuros como seu
cabelo. Eles são curtos, mas se enrolam, trazendo algo quase doce ao perfil dele.
Suas maçãs do rosto são altas e fortes como o queixo. A curvatura de seu nariz
confere a todo o seu rosto uma qualidade escultural inesperada.
Uma vez que estou satisfeito com seu rosto, deixo meus olhos vagarem para
baixo. Ele está vestindo uma camiseta preta hoje. Não tenho certeza, mas acho que
pode ser mais apertada para ele do que a ontem. Seu peito é largo. Seus peitorais
ficam salientes sob o tecido. Ele está sentado com as pernas abertas. Não consigo
evitar, meus olhos pousam em sua virilha. Ela se amplia instantaneamente. Eu vejo
o contorno claro de seu pau. Está ereto, tão inchado que está fazendo força contra
a braguilha de suas calças horríveis.
Eu recuo em estado de choque, voltando rapidamente para a tela. Os artistas
ainda estão nisso. O passivo está sendo socado no colchão. Seus corpos emitem um
som de batidas quando se conectam. Sinto-me desconectado do que estou vendo.
Isso não faz nada para mim. Posso ver, mas não consigo sentir. A única coisa que
consigo sentir é a presença quente e inebriante do pau duro ao meu lado. Estou em
pânico. Eu não sei o que fazer. Não sei onde olhar. Não sei como me comportar
sabendo que estou sentado ao lado do meu inimigo mortal e que ambos estamos
com ereções crescentes.
Qual é a porra da norma social para isso?
Acho difícil ficar parado. Quase impossível. Não consigo ficar de olho na tela,
não importa o quanto eu tente. E acredite, estou me esforçando. Meus olhos são
atraídos magneticamente para o colo do Idiota Eu mordo meu lábio inferior. Eu
mordo com força suficiente para me fazer estremecer em um esforço para me
distrair. Isso não ajuda. Não consigo desviar o olhar.
Não consigo desviar o olhar, a ponto de nem sentir seu foco mudando. Estou
tão absorto no que estou olhando que não percebo que ele não está mais assistindo
pornografia. Quando finalmente o faço, percebo, chocado, que ele não está olhando
para a tela. Ele está olhando diretamente para mim. Estou tão assustado que solto
um grito seco. Ele sorri com os lábios, mas não com os olhos. Esses ainda são
sombrios e intensos.
— O qu…? — Minha garganta fica seca e perco a linha dos meus
pensamentos.
— Você quer chupar meu pau? — ele diz como se fosse uma coisa
perfeitamente normal e razoável de se dizer a alguém que te odeia.
— Eu tenho escolha?
— Eu perguntei se você gostaria. A escolha está fortemente implícita. Não
consensualidade não é minha praia.
Estou chocado com a pergunta. Enojado e furioso. O que o faria pensar que
eu faria algo assim? A coragem dele é irreal.
O que é mais inacreditável é o fato de que, depois de me olhar por um tempo,
ele se levanta, o mais casual possível, e começa a desafivelar o cinto. Se eu não
soubesse que estávamos sozinhos no apartamento, pensaria que estava sendo
enganado.
Por mais surreal que seja todo esse cenário, ainda não é a coisa mais estranha
que está acontecendo neste momento. Enquanto o observo desfazendo a braguilha,
me vejo em movimento. Não sei como isso acontece ou porquê. Juro por Deus,
quando faço isso, meu corpo fica fora do meu controle. Deslizo do sofá e fico de
joelhos no chão na frente dele. Eu não posso explicar isso. Não tenho ideia do que
estou fazendo. Meu rosto está perto da cintura dele. Muito perto. Observo suas
mãos com a intensidade de um cachorro esperando uma guloseima. Ele olha para
mim com uma expressão estranha no rosto. Parece confusão com uma pitada de
suspeita.
Ah, eu penso, deve ser isso – devo estar brincando com ele.
Sim, claro, é isso. É por isso que estou fazendo isso. Estou jogando o jogo dele
e vou vencê-lo.
Sou atingido por uma rápida onda de alegria. Estou prestes a humilhar esse
cara. Tento não demonstrar o quanto estou feliz. Sento-me sobre os calcanhares e
observo-o enquanto ele se liberta. Suas mãos são absurdamente grandes.
Bronzeadas, com cicatrizes desbotadas cruzadas nos nós dos dedos. Ele desabotoa
o botão superior e abre o zíper da braguilha. Suas calças se abrem para revelar uma
cueca boxer branca lutando para conter sua ereção. Por alguma razão parece
estranho ver alguém como ele vestindo algo tão banal quanto roupa íntima. Não
parece certo. Dá origem a um desejo agudo de vê-lo sem ela. Ele desliza o polegar
sob a cintura e empurra a cueca para baixo, revelando cabelos grossos e escuros e
o pau mais sublime que já vi.
Relaxe. Deixe comigo.
Ele abaixa um pouco mais as calças e a cueca. Todo o seu pau está exposto e
suas bolas também. Suas bolas são grandes e cheias. Penduradas baixas, do jeito
que eu gosto. Seu pau é irreal. Apenas um pouco maior que a média em
comprimento, mas o mesmo não pode ser dito da circunferência.
Querido Deus. A circunferência.
É tão grosso que posso dizer à primeira vista que teria dificuldade para fechar
os dedos em torno da base. Está se projetando em minha direção. Está a centímetros
do meu rosto. A saliva se acumula na minha boca. Eu engulo sem pensar. Não é
nada para ficar animado. É uma resposta Pavloviana5, só isso. É apenas a maneira
como meu corpo responde ao ver uma ereção. Eu me ajoelho para me aproximar
dele.
Tudo bem. Não precisa se preocupar. Estou apenas brincando com ele. Vou
parar em breve.
Vou começar a parar a qualquer momento.
Eu não. Em vez disso, inclino-me para a frente e subo o nariz desde a base
até à cabeça gorda e inchada. Eu inalo como um viciado. Seu cheiro me atinge como
uma droga. Eu faço isso de novo. Desta vez sigo meu nariz com a língua. Sua pele
parece aveludada e febril contra a suavidade da minha língua.

5 Processo de mudança no comportamento com base em estímulos no sistema nervoso.


Ok, digo a mim mesmo. Você conseguiu. Você provocou ele. Você pode parar
agora.
Comece a parar agora.
Querido Deus, por que não estou parando?
Eu não posso evitar. Eu não consigo parar. Meu cérebro de dinossauro parece
estar respondendo aos feromônios que esse macho primitivo emite. É horrível.
Estou fora de controle. Sou mortalmente suscetível ao que quer que ele esteja
divulgando. Na próxima vez que minha língua passa por seu comprimento, eu o
coloco em minha boca. Eu ouço uma respiração profunda dele quando faço isso.
Minha boca está cheia. Transbordando de pau. Eu sugo minhas bochechas até que
ele mexa os pés, abrindo um pouco as pernas para se firmar. Eu me afasto,
sacudindo sua fenda com a língua, saboreando sua excitação. Ele penetra em mim,
estabelecendo-se em minhas bolas. Estou tão duro que não consigo pensar. Não
consigo pensar em uma única coisa. Abro os olhos e olho para ele. Seus punhos
estão cerrados ao lado do corpo. Sua cabeça está jogada para trás. Seus braços,
pernas e abdômen estão todos tensos. Se enrolando, prestes a se libertar. Eu me
resigno ali mesmo. Entendo o que está acontecendo – fiz uma escolha errada e estou
prestes a pagar o preço. Eu tenho certeza que estou prestes a receber a porra da
caveira da minha vida. Eu não luto contra isso. Eu aceito meu destino. Fecho os
olhos e abro bem, me preparando para o impacto.
Não vem.
Ele quase não se move. Na melhor ou na pior das hipóteses, dependendo da
sua perspectiva, ele simplesmente balança levemente os quadris. Não tenho escolha
a não ser assumir a liderança, afundando-me sobre ele e chupando com firmeza
quando me afasto. Ele dá um suspiro irregular quando faço isso. O som me
estimula. Eu dobro meus esforços. Eu sopro nele até que meu queixo esteja exausto.
Ele olha para mim, seus olhos estão opacos de necessidade. Sua boca está
entreaberta. Tenho uma sensação horrível de que não pareço muito melhor.
— Você quer mais? — ele pergunta.
Não tenho ideia do que ele está oferecendo, mas sei que o que quer que seja,
eu quero. Eu olho para ele e aceno com a boca ainda cheia de seu pau. Ele se abaixa
e passa a mão pelo meu cabelo. Ele faz isso suavemente. Tão suavemente que ativa
todos os nervos do meu couro cabeludo. Meu cabelo parece que está em pé. Ele
traça meu queixo com as pontas dos dedos. Ele inclina meu queixo um pouquinho,
inclinando minha garganta para foder. Eu me preparo e fico imóvel enquanto ele
começa a se mover. Mais uma vez, tenho certeza de que ele será bruto. Mais uma
vez, estou errado. Ele empurra minha boca com cuidado. Devagar. Dolorosamente,
dolorosamente lentamente. Ele vai fundo, mas antes de chegar ao ponto que não
consigo controlar, ele recua. Ele faz isso de novo e de novo. Ele faz isso até que
minha garganta fique em carne viva, meus lábios formiguem e ele não seja o único
a gemer. Ele faz isso até meus olhos lacrimejarem e meu queixo ficar manchado de
saliva.
Ele sai abruptamente. Não sei dizer se minha boca está aberta por causa do
choque ou como um convite para ele colocar o pau de volta nela. Ele segura meu
cabelo novamente, desta vez um pouco mais firme, e inclina minha cabeça para
trás o máximo que pode. Estou olhando diretamente para ele. Seus olhos estão fixos
em mim e no segundo seguinte ele se abaixa. Ele se inclina. Ele me beija
suavemente. Seus lábios são firmes. Densos. Intensos. Sua boca encontra a minha
aberta. É um beijo faminto e carente. Um beijo que deveria me causar repulsa. Um
beijo que obviamente deveria recusar. Em vez disso, faço exatamente o oposto. Eu
chupo sua língua e lábio inferior em minha boca e aperto minhas mãos em volta
de seu pescoço o mais forte que posso.
Ele se afasta e enquanto eu ainda estou me recuperando de seu beijo, ele me
alimenta com seu pau novamente. Estou enlouquecendo. Eu não consigo ter o
suficiente. Cada célula do meu corpo está preparada para a liberação. Minhas
terminações nervosas estão desgastadas. Gritando por alívio.
— Você quer engolir? — Sua voz é profunda e grossa, assim como seu pau.
Eu gemo e aceno com meu consentimento.
Ele empurra minha boca mais duas, três, quatro vezes e depois explode. Eu
engulo e engulo. Sinto o calor de seu esperma enquanto ele desce pela minha
garganta. No momento em que abro os olhos, ele está enfiando as calças e
afivelando o cinto. Ele parece relaxado. Refrescado. Todo o peso da insanidade do
que acabei de fazer me atinge. Estou tonto de fúria. Boa parte da minha raiva é
dirigida a ele, mas o resto cai diretamente sobre meus ombros.
Que. Porra. Foi. Essa?
O que eu estava pensando? Como, em nome de Deus, deixei isso acontecer?
Pela primeira vez desde que me lembro, não tenho ideia do que dizer. Não
tenho ideia do que dizer e nem sei como me comportar. Eu olho para ele. Seu rosto
está tão estúpido como sempre. Claramente não obterei respostas lá. Eu fico de pé
e corro para o banheiro murmurando algo sobre precisar de um banho. Minha voz
é preocupantemente estridente. Bato a porta do banheiro e procuro em vão uma
fechadura. Estou tão nervoso que sinto que um aneurisma é uma possibilidade
muito real se eu não conseguir gozar logo. Apoio uma mão pesadamente na pia e
libero meu pau com a outra. Eu empurro o mais forte e rápido que posso. Eu gozo
com um gemido horrível e estridente. A segunda onda de prazer ainda não chegou,
quando avisto seu corpo largo no espelho.
— O qu..? — Eu grito de medo.
Ele não reage por um segundo e então o idiota insuportável tem a coragem
de dizer: — Você está se masturbando com muita força. Se você continuar assim,
você vai se dar um aperto mortal6.
— Vá se foder, — eu digo, e querido Deus, estou falando sério.
Ele me lança um olhar estranho. Não é suave, mas também não é duro. —
Seja simpático quando tiver meu DNA na barriga.
Para meu horror sem fim, meu pau traiçoeiro pulsa de luxúria.

6Síndrome do aperto mortal ou síndrome do punho de ferro é quando o homem tem uma forma muito
agressiva de se masturbar e acaba machucando o pênis no processo.
Capítulo 6

Idiota

Eu admito francamente que este trabalho está se revelando mais desafiador


do que eu esperava. Muito mais. Normalmente, estou preparado para qualquer
coisa que um alvo possa fazer. Eu imagino vários cenários em minha mente antes
de abordá-los e planejo cada eventualidade. Já se passou muito, muito tempo desde
que aconteceu algo que eu não esperava. Na verdade, mal consigo me lembrar da
última vez que isso aconteceu. Tenho certeza de que nunca houve um caso como
esse antes. Um caso em que fui eu quem fez algo que não esperava.
O que eu estava pensando, pedindo para ele chupar meu pau?
Não sei o que pensar do meu comportamento. Estou atordoado com isso.
Horrorizado. Não é nada profissional, é isso que é. Não sei o que deu em mim. Sim,
o cara é excepcionalmente atraente. Sim, o corpo dele está insanamente gostoso. E
sim, ele se move como uma espécie de criatura felina mítica. Mas eu sou eu. Não
deixo ninguém me afetar, por mais bonito ou perfeito que seja. Eu tenho essa coisa
chamada autocontrole, é por isso.
Pelo menos eu costumava ter isso.
Acordo-o com um leve toque do pé e sirvo-lhe o café da manhã: torrada
francesa com xarope de bordo e bacon. Ele pega o prato e olha para ele com
desânimo.
— Oh não. Estou com vontade de algo saudável hoje.
Eu utilizo cada grama do meu autocontrole – antes infalível – e o uso para
me impedir de reagir. Não é tão fácil como costumava ser, mas consigo. Tenho
certeza de que vejo um pequeno lampejo de decepção em seus olhos. Coloco seu
café na mesa de cabeceira com cuidado. Ele reconhece isso com um aceno hipócrita
do queixo. Fico de olho nele enquanto limpo a cozinha. Apesar de todas as suas
reclamações, ele não parece nem um pouco inclinado a não comer as refeições que
eu preparo. É irritante que ele sinta necessidade de reclamar delas. Só tomo uma
xícara de café e não estou no meu melhor, então me permito brevemente imaginar
batendo e arrancando o prato das mãos dele, fazendo com que a comida voasse
sobre ele. Tento não sorrir quando penso em quão chocado ele ficaria. Seus olhos
se arregalariam e depois se estreitariam, e seus lábios formariam um pequeno
círculo. Ele estaria meio adormecido e pegajoso. Coberto de calda. Eu me inclinaria
e o ajudaria a limpar. Ele ficaria irritado com isso, então eu faria de novo. E de novo.
Então, eu faria isso com meus lábios. Meus lábios e minha língua.
O que?
Não!
Isto tem que parar. Meu comportamento ontem foi... não sei. Sinceramente,
nem sei como chamar isso. Inaceitável – há uma palavra para isso. Foi completa e
totalmente inaceitável. Não sei o que estava pensando. É um mistério completo. Por
mais estranho que tenha sido, estou ainda mais confuso sobre o que diabos ele
estava pensando, é claro que ele não me suporta. Está bastante claro que ele não
acha que sou bom o suficiente para ele limpar as solas dos sapatos. Quando penso
nisso, o fato de ele ter concordado em me fazer um boquete foi muito mais estranho
do que eu ter pedido a ele para fazer isso.
Olho para ele novamente. Seu cabelo loiro está bagunçado. As partes de trás
estão em pé e as da frente caem em seu rosto. Ele deveria parecer ridículo, mas não
parece. Ele parece exatamente o oposto. Ele está mexendo na comida, cortando com
calma a torrada francesa em quadrados pequenos e perfeitos e mergulhando-os
generosamente na calda antes de levar o garfo à boca. Seus lábios estão cheios,
inchados de sono. Desvio o olhar rapidamente, mas quando o faço, seus lábios não
são a única coisa que está inchada.
O telefone toca, é – vamos chamá-lo de Fred. Meu parceiro de negócios, Fred.
Ele me dá uma atualização rápida. Não há motivo para preocupação. Tirando meu
grande lapso de bom senso ontem, o trabalho está indo conforme o esperado.
Desligo o telefone e, ao fazê-lo, algo atormenta profundamente meu peito. Eu
conheço bem o sentimento. Desconfiança. Trabalho com Fred há anos. Nunca
confiei totalmente nele, mas, novamente, não confio em ninguém. Esse sentimento,
essa pequena reviravolta mais acentuada do que o normal, começou há alguns
meses, quando ele recomendou a seu amigo Russel que fizesse vigilância online.
Mudou a dinâmica entre nós e não no bom sentido. Cada vez que estou perto deles,
sinto que estou recebendo um aviso. Por mais que eu adorasse ignorar esse
sentimento, não sobrevivi tanto tempo ignorando meu instinto. É uma pena que
eles saibam tanto sobre mim. Demais. Se não soubessem, eu os teria afastado e
seguido em frente há muito tempo. É um problema que terei que resolver, mas
agora preciso manter a cabeça no jogo.
Eu faço de tudo para recuperar algum tipo de controle em relação à situação
com Damon. Hoje tem que ser diferente. Reconheço cada uma de suas reclamações
e respondo a todas as suas perguntas com a maior paciência possível. De vez em
quando, sinto-me rangendo os dentes. Quando isso acontece, respiro lenta e
profundamente e uso uma técnica de visualização que aprendi no exército para
ajudar a manter o foco em um alvo.
— Que horas são? — ele pergunta, sem se preocupar em olhar para o relógio.
— 10:30.
— Hmm, isso faz você quase uma hora atrasado.
— Atrasado para quê? — Eu pergunto pacientemente.
— Para seu surto gay. Todos os caras heterossexuais os têm depois da
primeira vez que enfiam o pau na boca de um cara.
— Ah, — eu digo, — bom argumento. — Ele se envaidece de satisfação.
Positivamente emocionado pensando que ele me irritou. — Só tem um problema…
— E qual é? — ele canta.
— Eu sou gay, então talvez você pode esperar um pouco por aquele surto.
Seu rosto cai. Seus olhos se arregalam e sua boca forma uma linha dura. —
A merda que você é.
— Sim, — eu sorrio, — uma estrela dourada gay.
Aceitei minha sexualidade há muitos, muitos anos, mas nunca senti um
sentimento de orgulho mais verdadeiro do que agora. Minha admissão o
surpreendeu. Seu rosto passa por várias emoções, uma após a outra. Choque.
Descrença. Raiva. E algo parecido com terror. Ele parece pronto para entrar em
combustão. Seus olhos brilham descontroladamente e ele aperta os lábios.
— Oh, — ele diz, com um movimento brusco de cabeça.
Ele fica quieto por um longo tempo depois disso. Ele assiste a um filme inteiro
sem dizer uma palavra. É uma misericórdia. Faço o almoço à vontade. Cortando e
fatiando em cubos com tanta paz que me pego cantarolando uma ou duas vezes.
Ele come sua refeição sem uma palavra de reclamação.
— Vou tirar uma soneca, — ele anuncia assim que termina, depois se deita
na cama e não se mexe por quase duas horas. Ele está deitado de costas com as
mãos ao lado do corpo. Seus olhos estão fechados, mas posso dizer pela sua
respiração que ele está acordado. Admito que é um pouco difícil não olhar para ele
por mais tempo do que o absolutamente necessário. Mesmo assim, não consigo
pensar em nenhuma época em que tenha desfrutado mais de paz e sossego em toda
a minha vida.
Meu alívio dura pouco. Assim que ele se levanta, ele o faz com prazer. O fato
de eu ter dito a ele que sou gay obviamente o derrubou, mas agora ele se recuperou.
Querido Deus. Ele está recuperado.
Seus olhos claros brilham como aço. Ele está decidido. Ele parece
terrivelmente determinado. Pela primeira vez em anos, o medo agita minhas
entranhas. Se eu pensei que ele tinha sido irritante antes, estava muito enganado.
Eu não tinha ideia de quão insuportável uma pessoa poderia ser. Nenhuma ideia.
Ele me tem atado. Ele está em frenesi. Me enchendo de perguntas e
reclamações e observações idiotas que atrapalham tanto minha concentração que
sinto como se meu cérebro estivesse em curto-circuito. Ele me irrita tanto que
considero seriamente sair e deixá-lo aqui para se defender sozinho de Fred e Russel.
A tarde rasteja. Ele não para de falar de jeito nenhum. Nem por uma fração de
segundo. Olho para o relógio em desespero, às quatro horas e novamente, o que
parece ser horas depois. Não é. São apenas quatro horas e sete minutos. Eu malho
às cinco e depois do jantar novamente. Eu estava pensando em fazer salmão
grelhado com molho de soja e açúcar mascavo marinado hoje à noite, mas quando
chega a hora do jantar estou tão disperso com suas interrupções incessantes que
tudo que consigo fazer é reaquecer um pouco de sopa de tomate que guardo no
congelador em caso de emergência.
— Eca, sopa, — diz ele. — O serviço está caindo.
Eu não respondo. Em vez disso, conto os minutos até conseguir colocá-lo na
cama.
— Banho! — Ele anuncia brilhantemente, assim que começo a pensar que
estou na reta final. Algo aperta meu corpo. Estou cansado. Tão cansado. Eu tenho
tentado tanto ser bom em não olhar para ele o dia todo, mas estou exausto agora, e
esgotado pra caralho. Não sei se tenho condições de não observá-lo no chuveiro.
Fico na porta, o mais longe possível dele. Ele me olha com uma mistura de
suspeita e desgosto enquanto se abaixa e puxa o cordão da calça de moletom.
Minha boca está seca e tenho que fazer um esforço consciente para respirar.
— Eu sabia que senti você olhando.
— Eu não estava olhando, — minto.
Ele revira os olhos para mim e depois pisca lentamente. Quando ele abre os
olhos, ele fixa seu olhar em mim. Seu rosto é angelical, mas há algo sombrio e antigo
em seus olhos. Não exatamente sabedoria, mas algo surpreendentemente parecido.
Ele puxa com força o cordão. Ele se desfaz. Sua calça de moletom se afrouxa e
começa a deslizar pelos quadris estreitos. Seu abdômen se contrai enquanto ele faz
isso, enviando um leve indício de um V recortado fluindo perto dos ossos do
quadril.
— Ainda não está olhando, garoto gay?
— Não, — digo, virando a cabeça bruscamente em direção à sala de estar.
Ele toma banho por muito tempo. Muito tempo. A certa altura, a tensão de
não olhar é tão profunda que minhas pernas começam a ficar fracas. Elas se sentem
ainda mais fracas do que anos atrás durante os treinos nas primeiras semanas após
meu alistamento. Encosto-me no ladrilho frio e deixo-me deslizar por ele. Sento-
me pesadamente no chão do banheiro.
— Toalha, — ele diz finalmente, esticando o braço para mim como se eu fosse
o ajudante contratado. Ele se enxuga, esfregando o cabelo com força com a toalha.
Entrego a ele uma calça de moletom limpa. — Nós realmente precisamos conversar
um pouco sobre seu senso de estilo, Idiota. Você já ouviu falar em variedade? É um
conceito maravilhoso. Em vez de usar a mesma roupa horrível todos os dias, você
muda. Soa familiar?
Eu o ignoro e digo: — Hora de dormir. — Ele passa por mim e se joga no sofá.
— Hora de dormir, — eu digo um pouco mais alto.
Ele olha para mim docemente. — Não.
Não?
Que porra é essa?
Um alvo nunca se recusou abertamente a fazer algo que eu disse. Todas as
outras pessoas que levei tiveram o bom senso de me temer. Não é assim com esse
idiota. É um pouco estranho, para ser sincero. Além dos primeiros minutos depois
que tirei o capuz, ele não demonstrou nenhum medo. Se ele não fosse o maior pé
no saco que já conheci, eu poderia ficar impressionado.
— Não estou cansado, — diz ele, enquanto eu vasculho meu cérebro
tentando decidir a melhor forma de lidar com essa situação. — Tive uma longa
soneca esta tarde. Vou assistir um filme. Estou pensando em A Bela e a Fera.
— Tudo bem.
Coloco o filme sem qualquer discussão. Digo a mim mesmo que é porque não
quero que ele sinta que está em vantagem, mas, na verdade, é porque, a esta hora
do dia, honestamente, não acho que poderia ser responsabilizado por minhas ações
se fosse forçado a mandá-lo para a cama. Todos os esquemas que já usei para dar
sentido à vida estão atualmente por um fio. Sei instintivamente que aquele fio
pegará fogo se eu tocar em qualquer parte de seu corpo.
— Oooh, envelheceu mal, não é? — ele vibra.
— O que?
— O filme, burro. Faz muito tempo que não o vejo e acho que envelheceu
muito mal.
— Hum. — Penso exatamente o contrário, mas estou determinado a não
discutir isso com ele.
— Oooh, olhe, é Bela, e seus livros e sua vidinha provinciana. Você deve estar
ficando cheio de espuma.
Respiro fundo três vezes. Quando isso não ajuda em nada a me acalmar,
respiro dez.
— Por que você gostou tanto da biblioteca, Idiota?
— Eu gosto de livros, é por isso, — digo claramente.
Ele vira a cabeça, inclinando-a para o lado e tirando o cabelo do rosto com
força. Ele olha para mim como se eu não fosse apenas um tolo, mas um tolo que
não conhece o que quer. Ele não para por aí. Ele continua falando. Ele tagarela sem
parar. Para minha decepção, estou preocupado com um único pensamento. Um
pensamento apenas. Só uma coisa solitária – ele ficou tão quieto quando colocou
meu pau na boca. Ele estava gloriosamente quieto. Magnificamente silencioso.
Lindamente quieto. Os únicos sons que ele fez foram suspiros suaves quando tirei
meu pau de sua boca e pequenos gemidos quando empurrei fundo. Foi o mais
abençoadamente, misericordiosamente quieto que ele esteve desde que o conheci.
Sempre fui ateu, mas o fato desse idiota ter o corpo de uma lenda do rock, e
se mover como um gato e chupar um pau como um viciado, realmente consolidou
o fato de que Deus não existe para mim. Não há nenhum Deus em sã consciência
que possa abençoar um menino tão terrível, como Damon Alexander Beckett foi
abençoado. De jeito nenhum. Se ao menos ele não fosse tão atraente. Se ao menos
ele não se comportasse com uma terrível senso de certeza. Se ao menos aqueles
lábios deliciosos não parecessem tão bons enrolados em meu pau. Se ao menos ele
fosse um boqueteiro medíocre.
Se apenas.
Se apenas.
Então talvez ainda tenha alguma esperança de salvar a bagunça que fiz.
— Aposto que você adora o Gaston, não é? — ele fala alto, interrompendo
meus pensamentos. Não respondo, mas um suspiro pesado me deixa antes que eu
tenha tempo de pará-lo. — Aposto que você se vê muito nele, não é?
Eu sei que ele está tentando estragar o filme para mim. Infelizmente, ele
também está fazendo um trabalho sólido. Tento não deixá-lo mexer comigo, mas
tudo o que acontece é que me encontro em um inferno deprimente pensando em
como ele estava quieto quando chupou meu pau ontem. Não consigo parar de
pensar nisso. Não consigo pensar em nada que tenha visto em minha vida que
tenha sido mais gratificante do que Damon Alexander Beckett de joelhos. Só isso já
teria sido suficiente para mim, mas o filho da puta teve a audácia de me fazer sentir
bem. Deus, ele me fez sentir bem. Seu toque era firme, a quantidade perfeita de
pressão. Ele passou a língua para frente e para trás sobre minha glande. A maneira
como ele fez isso me deu essa estranha certeza de que ele gostou. Que ele estava
travando a mesma batalha interna que eu. Não me lembro da última vez que um
cara me olhou daquele jeito. Como se quisesse me consumir com um suspiro e me
destruir com outro. Foi gostoso. Foi incrível. Pode ter sido o melhor que alguém já
me fez sentir, mas agora, depois desse dia infernal lidando com ele da maneira mais
irritante, quase acho que a paz e a tranquilidade que isso trouxe pode ter sido tão
boa quanto o boquete real.
— Este filme é tããão ridículo. Honestamente, não posso acreditar que você
gosta dele. Que vergonha para você, — diz ele.
— Você ficou muuuito mais quieto quando tinha meu pau na boca, — digo
antes que possa me conter.
Sinto seu corpo enrijecer. Eu olho para ele esperando ver o desprezo
estampado em seu rosto. Estou surpreso ao ver algo diferente. Algo sombrio. Escuro
como desejo. Reconheço que tenho quase certeza de que é uma mistura de desejo e
desdém. Posso ignorar o desdém, mas o mesmo não se pode dizer do desejo. Isso faz
seus olhos brilharem e seu lábio superior torcer para o lado. Vejo seu peito subindo
e descendo. Ele parece estar tentando estabilizar a respiração. Meus olhos vagam
para baixo. Passando pela trilha do tesouro. Além do cordão da calça de moletom.
Eles pousam em uma protuberância bem distinta em suas calças. Porra. Eu sei que
ele pode me ver olhando, mas não desvio o olhar. Eu posso senti-lo olhando
também. Deixei a perna mais próxima dele cair aberta, abrindo minhas pernas
mais do que estavam. Mais amplas do que precisam ser. Eu sei que é uma loucura,
mas quero que ele continue olhando. Quero que ele veja o que tenho para ele.
Não tenho certeza de quem se move primeiro, mas acho que pode ser ele.
Suas mãos estão na minha fivela e depois na braguilha. Levanto meus quadris e ele
puxa minhas calças para baixo, raspando rudemente o tecido em meu pau
enquanto faz isso. O ar frio me atinge e antes que eu tenha tempo de registrar
totalmente a mudança de temperatura, ele se inclina e engole meu pau sem
qualquer aviso. Sem sequer uma lambida ou um afago. Minha cabeça bate contra
o sofá e um gemido longo e terrível sai de mim. Antes que eu consiga me recompor,
outro gemido encontra o caminho para a luz. Damon está me chupando como se
estivesse possuído. Com fome. Como se ele fosse um íncubos e sua vida dependesse
de me consumir. Ele está me chupando tão bem que não sei dizer se estou gritando
de prazer ou de dor insuportável de querer tanto uma pessoa terrível. Eu me inclino
para trás com mais força, passando meus dedos por seu cabelo, segurando-o para
trás, para que eu possa ver suas maçãs do rosto esculpidas e aqueles lábios macios
e carnudos enquanto eles se arrastam para cima e para baixo no meu pau. Percebo
que ele está com a mão esquerda entre as pernas. Ele está se masturbando tão
rápido que seu antebraço está embaçado. Minhas bolas estão pesadas e cheias. Elas
estão tão cheias que não consigo parar de me contorcer.
Eu preciso gozar.
Eu preciso gozar.
Preciso tanto disso que estou bêbado de desespero. Preciso de liberação, mas
preciso do que preciso para consegui-la. Eu me abaixo e o agarro pela nuca. Eu me
levanto e o arrasto comigo. Seus olhos se arregalam em confusão. Seus lábios estão
inchados e brilhantes. Escorregadios. Eles se abrem em uma pergunta clara. Eu me
inclino e os cubro com os meus. Eu faço isso suavemente. Nossas carnes se
derretem. Minha língua empurra seus lábios inchados e encontra a dele. Esfrego
minha língua suavemente contra a dele até que ele suspira e inclina seus quadris
contra os meus. Sua ereção se aloja na minha. Dura e exigente, assim como o resto
dele. Empurro sua calça de moletom para baixo e reprimo um som suave e patético,
quando seu pau nu entra em contato com o meu. Eu me abaixo sem interromper o
beijo e pego nossos dois paus na mão. Movo minha mão para cima e para baixo em
nossos eixos, fundindo-os, enviando choques de prazer através de nós dois. A
dureza do meu pau é nada menos que perfeita contra o leve excesso de pele que
seu prepúcio fornece. Nossos paus deslizam até ela, um sobre o outro, escorregadios
com saliva e grandes quantidades de pré-gozo.
Ele se afasta do beijo, arqueando a cabeça para trás, expondo a coluna
graciosa de seu pescoço enquanto começa a gozar. O calor jorra dele e atinge
minha mão. Está tão quente no meu pau. Meus olhos se fecham quando o prazer
me atinge. Continuo acariciando até ter extraído cada grama de nosso esperma.
Não paro até que nós dois estejamos tremendo e ele morda o lábio inferior para se
impedir de gritar no fio da navalha insuportável entre o prazer e a
hipersensibilidade.
Ele dá um passo para trás quando não aguenta mais, limpando a boca com
raiva nas costas da mão. Ele solta um longo e prolongado “Eca” e me encara com
fúria. — O que há com todos esses beijos, Idiota?
Estou longe do meu melhor. Minhas pernas estão fracas e minhas entranhas
estão tremendo. Minha guarda está baixa. Está tão longe que lhe digo a verdade. —
Eu não posso gozar sem beijar.
Capítulo 7

Demon

Não goza sem beijar? O que diabos há de errado com ele? Não consigo gozar
sem beijar. Que porra é essa?
Espero que ele fique envergonhado com isso. Ele realmente deveria estar.
Estou envergonhado por ele, e isso diz alguma coisa. Quer dizer, nem é preciso
dizer que também estou com vergonha de mim mesmo. O fato de eu ter conseguido
voluntariamente me envolver com ele não uma, mas duas vezes agora, é
inacreditável. Eu não sei o que deu em mim. Parece que não consigo chegar a
poucos metros do Idiota sem agir como um gato no cio. É irritante estar tão fora de
controle.
— Preciso de mais café, — digo, entregando minha caneca para ele da
maneira mais rude que posso.
Eu preciso de mais café. Eu preciso disso com urgência. Dormi horrivelmente.
Acordei com o tipo de ereção que merecia ter um prédio com seu nome. Um
arranha-céu. Algo tão importante que alteraria o horizonte de Nova York.
É quase meio-dia e meu maldito pau parece determinado a aparecer. Ele está
usando tanta energia para permanecer flácido que mal consigo me concentrar em
ser chato. Tudo sobre Idiota está me excitando. É como se a excitação e o ódio
tivessem cruzado os fios e se fundido. Meu corpo está funcionando mal. Cada som
áspero que ele faz parece acariciar algo dentro de mim. Algo sob minha pele. Cada
vez que ele se move, meus olhos são atraídos para ele. Não é minha intenção olhar.
Não é como se eu quisesse. É só que a camiseta dele hoje está tão apertada que posso
ver seus mamilos através dela. Eles estão pontudos. Duros. Eles estão assim desde
que ele acordou esta manhã. Os meus também estão pontudos. As regatas que ele
me comprou são rústicas e baratas. Eu não ficaria surpreso se ele as comprasse na
loja de um dólar. Elas estão me irritando, fazendo meu mamilo ficar pior. Fazendo
doer. Fazendo com que eu não consiga pensar em mais nada. O tecido da minha
calça de moletom também está agravando as coisas. Esse tecido é macio, quase fofo.
Cada vez que me movo, ele acaricia meu pau já empolgado.
Foda-se Idiota por não me comprar nenhuma cueca.
Eu faço uma careta para ele. Ele está sentado do outro lado do sofá, encostado
no braço. Sinto um pequeno conforto nisso. Pelo menos consegui deixá-lo
desconfortável perto de mim. Não é muito, mas é alguma coisa, eu acho. Ele está
olhando para frente com determinação. Ele aparentemente está assistindo TV, mas
a leve tensão perto do canto de sua boca me faz saber que ele também não se sente
confortável perto de mim. Meus olhos rastreiam seu perfil. Por um breve momento,
me permiti imaginar traçar o perfil de seu nariz machucado com meu dedo
indicador. Meu olhar desce um pouco mais. Até os lábios. Parece que ele está
tentando parecer relaxado. Ele está se esforçando demais, então posso dizer que
não está. Seus lábios estão pressionados um pouco mais apertados do que estariam
se ele estivesse realmente relaxado. Eu sei que se eu os tocasse, eles ficariam firmes.
E suaves. E quentes. Deus, eles ficaram quentes contra os meus quando ele me
beijou. Escaldantes. Seu beijo foi gentil. Macio. Tão suave.
Por que ele não pode gozar sem beijar, pelo amor de Deus?
Como ele ousa ter uma mania tão adorável.
Sinto-me sem fôlego de raiva.
— O que você está olhando? — Ele interrompe meus pensamentos e me faz
pular. Seus olhos me cortam.
— Não estou olhando para nada, — digo, sem quebrar o contato visual com
ele.
Ele dá um pequeno sorriso malicioso que poderia se passar por um sorriso se
você apertasse os olhos corretamente. — Você está pensando nisso? — Ele deixa
sua mão deslizar totalmente para baixo e segura seu pau e suas bolas na palma da
mão. — Você está, não está?
Emito uma série de sons tristes que podem dar a impressão de que estou
sufocando. Quando me recupero, digo: — Não se iluda, Idiota. Meu pau fez
algumas coisas estúpidas em sua vida. Acontece que você é um delas. A única razão
pela qual chupei você foi porque pareceu errado. Eu tenho uma queda estranha e
fodida por isso, ok? Não tem nada a ver com você.
— Hmm, — ele murmura, olhando para mim como se estivesse considerando
seriamente a minha declaração. — Se você acha que chupar meu pau pareceu
errado, imagine como seria errado ter ele socado na sua bunda.
Eu não reajo por vários segundos. Não posso. Sinto como se um forte raio de
eletricidade tivesse passado pelo meu corpo.
O que posso te dizer? O homem tem razão.
Ter seu pau gordo em qualquer lugar perto da minha bunda realmente
pareceria errado. Seria muito, muito errado. Seria tão errado que poderia começar
a parecer certo. Meu corpo reage da mesma forma que ontem. E do jeito que
aconteceu no dia anterior. Eu perco a razão. Toda e qualquer aparência de razão
desapareceu. A única coisa que resta em seu lugar é a luxúria.
— Vou te dizer uma coisa, — diz ele, — se você quiser se preparar, deixo
você usar o banheiro sozinho.
Estou de pé num piscar de olhos, mas não resisto a dar a palavra final. — O
que? Você não está com medo de que eu tente esfaqueá-lo com um pedaço de
espelho quando voltar?
— Não.
— Por quê?
— Porque, quando você voltar, vou tirar sua roupa e realizar uma busca
profunda em suas cavidades.
A mesma onda de excitação de alguns minutos antes me atinge novamente.
Com força, mas desta vez está misturada com fúria. Ele está zombando de mim. Ou
ele está tentando ser fofo. De qualquer forma, ele é o maior babaca do mundo. Um
babaca arrogante, aliás. O tempo todo que estou no banheiro, digo a mim mesmo
que vou dizer não. Digo a mim mesmo que vou deixá-lo excitado e depois vou rir
na cara dele. Digo isso a mim mesmo, mas minhas mãos estão trêmulas, meu
coração está batendo forte no peito e me vejo fazendo movimentos de preparação.
Abro a porta do banheiro e o vejo parado no meio do quarto, me esperando.
Seus olhos estão pretos e estreitados. Seu corpo está pronto. Ele parece um homem
que foi construído com o único propósito de foder. No segundo em que o vejo, sei
que o curso do meu futuro imediato já foi escrito. Está escrito em pedra. Não há
nenhuma maneira de eu sobreviver hoje sem deixá-lo me foder. Simplesmente não
existe.
Ele se aproxima de mim lentamente, com uma mão estendida, como se
estivesse se aproximando de um animal selvagem que pode morder. Eu não mordo.
Eu não rosno e não arranho. O que faço é começar a tremer repugnantemente no
segundo em que ele me toca. Ele passa as palmas das mãos pelos meus braços. Suas
mãos são quentes. Fortes. Ele traça a bainha da minha regata. Ele puxa e solta, me
provocando até que eu tenho um medo muito real de começar a implorar se ele
não se mover mais rápido. No momento em que ele tira minha blusa pela cabeça,
meus dentes estão cerrados com força. Sinto que estou preso em um limbo terrível.
Estou congelado pela minha vontade, incapaz de me mover, porque não confio em
mim mesmo para não quebrar e mostrar a ele o quanto eu o quero. Ao mesmo
tempo, estou queimando. Sou uma bomba-relógio. Vou explodir, isso é certo. A
única questão sobre isso é quando.
Ele se abaixa e passa para o cordão da minha calça de moletom. Ele faz isso
até eu querer gritar. Conto até dez lentamente em minha mente. Prometo a mim
mesmo que se chegar aos dez e não estiver completamente nu, vou dar um tapa
nele. Darei um tapa nele o mais forte que puder. Chego à nove e três quartos. Ele
dá um puxão forte no meu cordão e depois empurra minha calça de moletom para
baixo. O alívio que sinto quando elas atingem o chão é palpável. Eu saio delas
rapidamente.
— Abra os braços e amplie sua postura, — ele ordena com uma voz profunda
e áspera.
Militar, eu acho. Definitivamente militar. Devo me lembrar disso quando eu
denunciá-lo à polícia.
Para minha total vergonha, faço o que ele diz. Longe de lutar, eu me rendo.
Suas mãos estão em cima de mim. Na cintura, nas costas e na barriga. Ele me dá
um tapinha rude, deixando minha pele inflamada onde ele me tocou. Quando ele
termina, ele me leva de volta para a cama. Eu não apenas subo nela por vontade
própria, mas também rolo de costas e abro as pernas. Ele fica sobre mim e observa,
sibilando entre os dentes enquanto respira. Ele abre a gaveta de cima da mesa de
cabeceira e pega uma camisinha e lubrificante e os joga na cama ao meu lado.
Então ele rasteja sobre mim, me prendendo com o peso de seu corpo. Eu viro meu
rosto para longe dele.
Sim, sou uma vagabunda devassa e sim, não tenho autocontrole, mas ainda
sou uma vadia de coração frio, e você pode apostar que se o Idiota precisar de um
beijo para gozar, essa merda não vai acontecer. Não no meu turno.
Infelizmente, ele aceita meu pescoço desnudado como um convite. Ele
começa a beijar minha jugular e passar a língua para cima e para baixo no meu
pulso. Ele faz isso até eu me afastar ainda mais. Então ele me beija ao longo da linha
do meu queixo. Ele faz isso suavemente. Repetidamente. Ele passa a língua ao longo
da borda do lóbulo da minha orelha. O rastro que ele deixa na minha pele fica
gelado quando ele inspira, e depois se inflama quando ele solta fogo ao expirar. Eu
faço um som longo e afetado. É horrível. É o pior som que já ouvi. É tão baixo e
patético que quero atacá-lo. Juro por Deus, se esse som fosse uma coisa viva, eu iria
espancá-lo. Eu o espancaria com minhas próprias mãos.
Felizmente, o Idiota começou a descer pelo meu corpo. Graças a Deus, porra.
Eu preciso do pau dele em mim. Eu preciso de uma boa e dura surra de pau. Preciso
tirar essa loucura do meu sistema e então preciso voltar ao normal. É simples assim.
Infelizmente, Idiota tem outros planos. Ele está longe de terminar de me atormentar.
Ele passa as pontas dos dedos pelo meu peito, traçando-os ao longo dos meridianos
que só ele pode ver. Ele faz isso levemente. Tão levemente, o prazer farpa e dança
para cima e para baixo da minha cabeça aos pés. Tento não me contorcer.
Sinceramente, mas quando ele rola meus mamilos entre os polegares e os
indicadores, a batalha está perdida. Cada pequeno movimento vai direto para o
meu pau. Ele se contrai, balança e vaza na minha barriga. A contorção
gradualmente se transforma em luta. Quando não aguento mais, dou um tapa em
suas mãos com força.
— Idiota, — eu cuspo, — apenas me foda já.
Ele pega meus pulsos e os bate em cada lado da minha cabeça. Ele faz isso
facilmente. Seu aperto é como aço. Sua força é irreal. Eu não consigo me mover.
Cada vez que tento, o brilho nos olhos dele é substituído por algo mais escuro.
Eventualmente, a escuridão acende e inflama.
Ele mostra os dentes para mim. — Não me diga o que fazer.
Eu odeio que ele se ache engraçado. Eu odeio que ele esteja tentando ser fofo.
Mas o que mais odeio é que, por algum motivo desprezível, meu pau adora. Está
devorando tudo. Não se cansa. Minha parte inferior das costas se arqueia com
força, esforçando-me para chegar perto dele. Eu luto novamente e desta vez ele me
liberta. Eu me contorço debaixo dele, rolando e me apoiando em minhas mãos e
joelhos. Ele se ajoelha, murmurando algo que não consigo entender. Sinto uma
intensa onda de alívio.
Estamos na minha casa agora, vadia.
Eu sei como esse jogo é jogado. Inferno, eu inventei esse jogo. Separo minhas
pernas e inclino minha bunda para cima e para fora, debruçando-me para que
meu rosto e meu peito fiquem apoiados no colchão. Eu sei que fico bem apresentado
assim. Eu sei que tenho uma bunda e curvas lendárias. Eu sei que estou gostoso pra
caralho. Eu coloquei homens de joelhos nesta posição. Muitos deles. Idiota não será
diferente. Ele provavelmente vai me preparar o mais rápido que puder e enfiar o
pau em mim. Aposto que ele não terá mais do que cinco ou seis estocadas antes de
perder a cabeça.
Claro, Idiota não pode seguir um plano para salvar sua própria vida. Em vez
de apalpar e agarrar, ele não tem pressa. Ele enfia um dedo em mim de cada vez.
Ele me cobre com lubrificante até que sinto que cada junta do meu corpo está lisa
e escorregadia. Ele me toca tão lenta e suavemente que sinto as fibras delicadas do
que quer que seja que mantém minha sanidade, começando a se desfazer.
— Idiota, estou pronto. Eu... você... simplesmente faça logo isso. — Ele não
responde, mas omite um som suave que o faz parecer feliz e eu odeio isso. Eu
realmente odeio. Ouço o movimento da tampa do lubrificante abrindo novamente.
— Idiota! Isso é muito lubrificante. Que porra você está fazendo?
— O que eu estou fazendo? — ele reflete. — Estou te fodendo, Demon. É
assim que eu fodo. Você vai me agradecer por isso mais tarde, você verá.
Meu terrível pau pulsa e eu solto um som baixo e agudo. Ele coloca a
camisinha, lubrifica o pau (excessivamente) e depois pressiona contra a minha
entrada, arrastando-o para cima e para baixo na minha fenda até que eu tenha
certeza de que vou quebrar. Milissegundos antes de chegar a esse ponto, ele segura
meu quadril firmemente com uma mão e se guia para dentro de mim com a outra.
Eu desisto imediatamente. Minha entrada nunca esteve tão desejosa. Mesmo assim,
o alongamento é intenso. A dor é forte o suficiente para me fazer enfiar um punho
na boca o máximo que posso. Isso abafa parte do som que estou fazendo, mas
infelizmente não tudo. Quando ele começa a meter, eu agarro a colcha e os lençóis.
Meus dedos dos pés se curvam quando ele mete profundamente e eu quase soluço
quando ele sai. Cada impulso que ele me dá é uma coisa linda. Perfeição. Arte. Seu
pau grosso e carnudo roça meu interior, capturando cada parte sensível de mim.
Especialmente a parte mais sensível. Ele mete de novo e de novo. Ele mete até que
não consigo me lembrar de uma vez em que ele não esteja dentro de mim. Ele mete
até que a única coisa que sei é que morrerei se não gozar. Eu me abaixo para pegar
meu pau, mas ele afasta minha mão. Dou um lamento longo e estridente que parece
algo saído de um gato de rua. Eu me viro e olho para ele com uma frustração
desesperada. Seus olhos estão pretos como breu; suas pupilas completamente
estouradas. Sua mandíbula está frouxa e seus lábios estão entreabertos. Eles
parecem mais escuros que o normal. Parece que ele está arrastando a língua e os
dentes sobre eles. Ele olha para mim. Posso sentir seus olhos em minha boca. Eu sei
o que ele quer. Como se já não fosse ruim o suficiente saber o que ele quer, como
se não fosse ruim o suficiente eu saber tudo sobre sua adorável tara, o pior de tudo
é o fato inexorável de que eu também quero isso.
Eu me viro o máximo que posso e ofereço minha boca a ele. Eu o beijo
rudemente, mordendo seus lábios. Ele lida com meu pau com cuidado. No segundo
em que nossas línguas se tocam, sinto que sou líquido. Estou com calor e cheio e
antes que eu tenha tempo de me preparar para isso, tudo em mim se aperta e
começo a jorrar. Disparando. Explodindo. É requintado em sua intensidade. É tão
forte que quase parece dor. Não é, mas quase. Suas estocadas começam a falhar e,
por alguns segundos gloriosos, seu rugido abafa o som penetrante do meu prazer.
Ele finalmente puxa e amarra a camisinha e a deixa cair no chão ao lado da
cama. Vou para o meu lado da cama, mais próximo da parede, e caio de costas. Ele
faz o mesmo. Tomamos cuidado para não nos tocarmos. Saber que ele está deitado
na mancha molhada que fiz me traz algum conforto. Fecho os olhos e nenhum de
nós pronuncia uma palavra sequer por um longo tempo. Muito, muito tempo.
Quando abro os olhos, encontro-o olhando para mim. Seus olhos estão
sombrios. Não são suaves, mas não tão duros como costumam ser. Ele não está se
movendo e tem uma expressão estúpida e atordoada. A maneira como ele está
olhando para mim é enervante pra caralho. Isso precisa parar. Eu me esforço,
procurando em minha mente algo para dizer que possa tirar aquela expressão do
rosto dele.
— Odeio o jeito que você fode, — digo finalmente. Ele quase não reage, então
continuo: —Isso não combina com você. O fato de você não foder até destruir é
ridículo. Quem você pensa que é? Um cavalheiro ou algo assim?
— Você não gosta do jeito que eu fodo, hum?
— Não. Não suporto.
— Hmm, é isso mesmo? Diga-me. Diga-me tudo o que você odeia na maneira
como eu fodo.
Minha barriga treme pela maneira como ele olha quando diz isso. Tenho uma
sensação horrível de que não vou gostar do rumo dessa conversa. Ou isso, ou vou
gostar demais.
— Eu odeio como você me tocou.
— Você odeia isso? — ele cantarola, passando as mãos suavemente pelos
meus quadris.
— Sim, — eu digo. — Odeio. — Ele acaricia meus quadris novamente. O
calor de suas mãos irradia através de mim.
— O que mais você odeia?
— Eu odeio o jeito que você beijou meu pescoço. É nojento, é infantil, é... é...
tudo piegas...
Perco a concentração quando ele segura minha nuca com segurança e
inclina minha cabeça. Minha cabeça pende para o lado muito mais do que seu
toque sutil justifica. Ele beija meu pescoço. Lábios macios. Língua quente. Eu faço
um som repulsivo e áspero.
— Você não gosta disso? — ele pergunta com simpatia.
— Não suporto. — Minha voz está mudando. Está mais baixa e parece mais
ofegante do que deveria, se eu tiver alguma esperança de parecer convincente.
Ele beija meu pescoço repetidamente. Ele me beija até meu sangue ferver e
eu não passar de mingau. Estou molenga. Meus braços se agitam frouxamente na
cama toda vez que sua boca faz contato com minha pele.
— Eu odeio o jeito que você tocou meus mamilos, — eu ofego. Ele abaixa a
cabeça no meu peito e aperta um mamilo já duro com a língua. Ele mal os toca. —
É pouca pressão, Idiota. — Isso não faz nada além de provocá-lo. Ele acaricia meus
mamilos repetidamente, ainda mais suavemente do que antes. Ele faz isso tão
suavemente que todo o meu corpo estremece. Eu arqueio para trás com força
suficiente par esticar alguma coisa. Ele me contém, no entanto. Mãos fortes cavam
minhas costas, me mantendo firme.
— Você não gosta de nada disso, hum?
— Não. De nada disso.
— Nada? — Balanço minha cabeça vigorosamente de um lado para o outro.
— Então por que você está tão duro?
— Eu não estou duro, — minto.
— Isso é uma pena. Se você estivesse, eu beijaria você aqui, e aqui... — Ele
desenha uma linha leve no meu centro, no meu peito e na minha barriga, — ...e
aqui. Então eu colocaria seu pau na boca. — Ele passa as pontas dos dedos para
cima e para baixo em meu comprimento rígido. É um toque leve e provocante que
faz meu rosto ficar quente de frustração. — Então, você tem certeza de que não
está duro, hum?
Faço alguns sons animalescos e solto vários palavrões com uma voz áspera e
rouca. — Eu, é-é uma resposta biológica. É apenas uma resposta física a um
conjunto específico de estímulos.
— Quer ver minha resposta física a este conjunto específico de estímulos?
Para minha eterna vergonha, eu aceno. Eu realmente quero.
Capítulo 8

Idiota

É noite e estou no sofá. Damon está no chuveiro. De novo. Ficamos nisso por
horas. Horas. Neste ponto, não sei ao certo quantas vezes gozamos. Nós transamos
na cama, então eu o chupei. Depois tomamos banho juntos e ele me chupou. Depois
transamos um pouco no chuveiro e depois mais um pouco no chão do banheiro.
Minhas bolas estão doloridas e hipersensíveis agora. Minhas pernas estão tão
trêmulas que se Damon sair daquele banheiro com uma haste de espelho e tentar
me esfaquear, duvido que haja algo que eu possa fazer a respeito. Inferno, dado o
meu histórico recente, eu provavelmente deixaria.
Posso até gostar.
Essa coisa toda é uma foda mental. Uma foda mental completa. Olho ao redor
do esconderijo. Tudo parece normal. Arrumei a cama e estou esquentando uma
lasanha no forno. A única coisa fora do lugar é o frasco de lubrificante que ainda
está na mesa de cabeceira. Está ao lado da pequena pilha de anéis e colares que
Damon tirou e deixou lá na segunda noite que estivemos aqui. Levanto-me e vou
até lá para guardá-lo. Pego o frasco e olho para ele longa e atentamente.
Já perdi a conta de quantos desses trabalhos de sequestro fiz ao longo dos
anos. Tenho uma estimativa aproximada em mente, mas não posso dizer o número
exato. Uma coisa que sei é que, para cada um desses trabalhos, comprei um
conjunto de suprimentos muito semelhante. Adapto um pouco o cardápio de
acordo com as preferências alimentares do alvo e compro roupas diferentes para
eles dependendo do sexo e do tamanho, mas no geral a lista é quase idêntica. Os
itens básicos são os mesmos. Sem erros. Eu faço isso de propósito. Isso elimina
suposições da equação. Reduz a probabilidade de erros. É bom senso.
Olho novamente para o lubrificante na palma da minha mão. Encarando-o,
abro a gaveta e jogo-o ao lado da caixa aberta de preservativos. Olho para ela
também e fecho a gaveta rapidamente, tentando afastar o pensamento alto que vem
em minha direção.
Tarde demais. Aí vem: você sabe o que não está nessa lista? Você sabe o que
não está na minha pequena lista infalível e testada?
Lubrificante.
O lubrificante não está na lista e os preservativos também não.
Em todo o tempo que faço isso, nunca senti necessidade de comprar
lubrificante ou preservativos para um trabalho de sequestro. Nenhuma vez.
Sabe o que mais eu nunca fiz? Nunca fui o único a fazer a vigilância física
de um alvo. Nunca fiz isso sozinho. Normalmente, er, Fred e eu nos revezamos.
Cada um de nós faz turnos para garantir que cada movimento do alvo seja coberto
24 horas por dia. Não tenho certeza do que aconteceu desta vez. Não tenho a
mínima ideia de por que disse a Fred para ficar fora do caminho. Eu só sei que fiz.
Observei Damon por semanas. Eu o observava dia e noite, dormindo no meu carro
quando podia e indo para casa tomar banho quando ele estava no trabalho. Eu disse
a mim mesmo que ele era um trabalho. O maior e mais lucrativo trabalho que já
tive. Não confio no Fred e disse a mim mesmo que tinha que ser perfeito, por isso
tive que fazer tudo sozinho. Isso é o que eu disse a mim mesmo.
Juro, não me lembro do que disse a mim mesmo quando fiz compras na
farmácia. Sinceramente, não me lembro do que diabos eu poderia ter dito a mim
mesmo para fazer parecer que estava tudo bem quando coloquei lubrificante e
preservativos na minha cesta. Seja o que for, deve ter sido exatamente o mesmo
pensamento que tive quando os desempacotei no esconderijo. O mesmo
pensamento que bloqueei com tanta força que nem parece que fui eu quem
comprou essas coisas.
Damon sai do banheiro em uma nuvem de vapor. Seu cabelo está molhado e
penteado para trás, parece mais escuro do que o normal, com apenas uma mecha
destacada pela lâmpada acima. Seus lábios e bochechas estão rosados por causa do
calor e da umidade. Aposto que as nádegas dele também estão rosadas. Aposto que
estão todas quentes e rosados e...
Jesus.
Controle-se, cara.
— A lasanha está no forno. Deve estar pronta em 20 minutos, — eu digo.
— Legal.
Legal?
Ele está sendo educado? Damon Alexander Beckett está sendo educado?
Que porra é essa?
Ele se senta, encostado no braço do sofá, o mais longe possível de mim. Isso é
bom. Isso é uma coisa boa. Precisamos deixar o ar se acalmar e colocar as coisas de
volta nos trilhos. Nenhum de nós fala. Não pronunciamos uma palavra. Comemos
em silêncio em frente à TV e Damon não faz uma única reclamação. Nem mesmo
quando esqueço de lhe oferecer uma bebida.
A princípio o silêncio é bem-vindo. Ele fornece descanso. Mas não por muito.
O silêncio rapidamente fica denso. Torna-se uma coisa desajeitada e pesada que
fica espalhada por toda a sala. Ele arrasta tudo o que toca e começa a apertar.
Eventualmente, torna-se tão intenso que sinto como se estivesse agarrando meus
olhos e os esmagando sistematicamente.
Quando ele me pega olhando para ele, ele me dá um sorrisinho que só mostra
os dentes inferiores. Longe de aliviar o clima, aquele sorrisinho estranho aumenta
em cem por cento o constrangimento na sala. Ele abre e fecha a boca algumas vezes,
como se estivesse prestes a começar a dizer alguma coisa, mas continua mudando
de ideia.
— Sabe, — digo quando não aguento mais um segundo desse inferno, — às
vezes você só precisa tirar esse tipo de coisa do seu sistema. Não é grande coisa.
— Sim, eu tirei muito do meu sistema.
Tento não sorrir. Ele me dá o mesmo sorriso de antes, mas ainda mais
estranho dessa vez.
— Provavelmente é melhor não falarmos sobre isso, hum?
Ele não responde. Ele olha diretamente para a TV. Seu pomo de adão sobe e
desce e, por um breve momento, seu lábio superior endurece.
Ele vai para a cama antes de mim. Ele está dormindo quando vou para a cama.
Delibero por um tempo sobre o que fazer com as algemas. De certa forma, acho
que o melhor para todos seria se eu dormisse no sofá. Obviamente, isso seria o
melhor. Isso é o que eu deveria fazer.
Sim, vou dormir no sofá.
Eu reflito sobre isso por um tempo. Muito tempo. Acabo indo para a cama
com ele e algemando meu pulso ao dele. Faço isso porque estou cansado. Estou
exausto. A última coisa que preciso é que ele acorde tendo um ataque de pânico
durante a noite.
É por isso que eu faço isso.

*
Quando acendo as luzes, já é meio da manhã. Sinto-me tonto e desidratado
enquanto tropeço até a cozinha.
— Caféeeee, — coaxa Demon. Seus olhos estão vidrados pela falta de sono e
seus lábios estão inchados e rosados por causa das coisas que fizemos um ao outro
durante a noite.
Ele se senta na cama e eu lhe entrego uma caneca de café e uma tigela de
cereal com leite. Ele come avidamente, sem mencionar nenhum serviço deslizando
ou qualquer outra coisa. Ele deve estar cansado porque assim que termina, ele se
deita, aninhando sua linda cabeça loira no travesseiro. Ele puxa as cobertas sobre
nós dois. Estou cansado também. Super cansado. Quase não consegui dormir, então
me deito ao lado dele. Seu corpo está quente e o forte sono puxa meus membros.
— Ei, Idiota, — ele diz enquanto fecho os olhos, — é meio do dia. Não é hora
de dormir.
Eu levanto minha cabeça. Estou tonto por ter estado tão perto de cair. — Oh.
Qual é a hora então? — Estou cansado pra caralho, mas acho que posso ir pra outro
round se ele estiver disposto. Certo, tudo bem. Sei que eu poderia.
— É hora de você responder algumas perguntas.
— Huh?
— Tenho uma tonelada de perguntas profundamente pessoais para você.
Ele sorri agradavelmente, mas seus olhos brilham com malícia. Percebo tarde
demais que cometi um erro ontem à noite quando disse a ele que seria melhor não
falarmos sobre o que aconteceu entre nós. Eu dei algo e ele leu. Aquele leve
enrijecimento de seus lábios era uma mensagem. Uma mensagem que perdi. Ele
avaliou corretamente que eu odeio falar sobre esse tipo de merda. Outra rápida
olhada para ele confirma que ele está de volta. Seu pau foi subjugado e agora ele
está de volta. Ele. O cara mais chato do planeta.
— O que você gostaria de saber? — Estou determinado a não demonstrar
medo e vencê-lo em seu próprio jogo.
— Vamos começar com sua infância. Me fale sobre isso.
— Minha infância? Por que você quer saber sobre isso? — Pergunto antes
que eu tenha o bom senso de me conter.
— Para começar, vou precisar desse tipo de informação para quando
preencher meu boletim de ocorrência, não é?
Eu bufo. — O que faz você pensar que eu seria burro o suficiente para lhe
dar qualquer coisa que você pudesse usar?
— Porque, Idiota, se você não responder minhas perguntas, não poderei
garantir meu melhor comportamento. Tenho a sensação de que posso ficar difícil
de conviver. Você não iria querer isso, não é?
— Eu sabia que você estava sendo irritante de propósito.
— O que posso dizer, sou um homem de muitos talentos. Você pode pensar
que já me viu no meu pior momento, mas querido, você ainda não viu nada. — Ele
pontua sua afirmação com um olhar que poderia fazer com que uma planta
murchasse e morresse. — Já jogamos os jogos que você queria, não é? — Não
respondo, mas isso não parece importar. — Este é o jogo que quero jogar.
Então, o idiota tem talento para ler as pessoas. E daí? Eu também, e sou melhor
nisso do que ele. Eu apostaria dinheiro nisso. Eu permaneci vivo por causa da
minha capacidade de ler as pessoas. Ganhei muito dinheiro por causa disso
também. Aqui está minha leitura sobre Damon Alexander Beckett: ele é um
merdinha mimado que sempre consegue o que quer. A melhor maneira de lidar
com ele é deixá-lo pensar que está conseguindo o que deseja.
— Tudo bem, — eu digo, — o que você quer saber?
— Eu já disse. Infância. Conte-me sobre isso.
Tento não gemer com a previsibilidade de sua pergunta. Psicologia 101,
sério? — Minha infância foi uma merda. Fui criado por uma mãe solteira que não
gostava de trabalhar e era uma grande fã de drogas. — Seus olhos se arregalam
microscopicamente. Eu juro, se eu vir algum sinal de simpatia neles, esta conversa
estará encerrada. Ele pode fazer o seu pior. Se for necessário, vou amordaçá-lo e
algemá-lo na cama até a entrega amanhã. A simpatia não se concretiza, mas se
transforma em algo diferente. Não exatamente alegria, mas algo bem próximo. —
Estava tudo bem. Na maioria das vezes ela esquecia que eu existia.
Ele balança a cabeça como se concordasse que isso era uma coisa boa. Isso
me desarma.
— Ela se lembrava de alimentar você?
Ele diz isso tão suavemente que respondo sem pensar. — Não, nem sempre.
Às vezes havia cereais ou pão, mas muitas vezes não havia nada.
— O que você comia?
— Café da manhã e almoço escolar.
— E nos finais de semana e feriados?
— Eu, hum, coletava garrafas de refrigerante para reciclar e vendia cigarros
na loja da esquina perto do nosso apartamento. Às vezes, nosso vizinho de cima me
dava um sanduíche. — Não estou feliz por ter dito tudo isso. Estou um pouco
surpreso, para ser honesto. Damon parece decididamente satisfeito e eu não gosto
disso. — Sua vez, — eu digo. Ele levanta uma sobrancelha para mim. — Sim, vamos
lá. Eu dei o melhor que pude quando jogamos os jogos que eu queria. Para cada
pergunta que eu respondo, você tem que responder uma das minhas. Como foi sua
infância?
Ele revira os olhos com tanta força que fico surpreso que eles não fiquem
presos na parte de trás da sua cabeça. Ele olha para mim como se eu fosse a pessoa
mais burra do planeta. Faz um tempo que não vejo aquela expressão em seu rosto
e não posso dizer que perdi. —Minha infância foi tranquila, Idiota. Foi uma
procissão interminável de pôneis, presentes e iates e o tipo de excesso que a maioria
das pessoas nem consegue imaginar. Fui adorado por todos que me conheceram.
Eu tinha toda uma equipe de pessoas que eram pagas para me fornecer reforço
positivo quando eu concluísse até mesmo as menores tarefas. Eu não queria nada.
Tive uma infância excessivamente privilegiada e perfeita.
— Não, você não teve. — Seus olhos brilham de choque, então acrescento: —
Você foi negligenciado. — Outro lampejo. Ainda rápido, mas mais brilhante que o
primeiro. Está lá por uma fração de segundo e depois desaparece. Substituído pelo
seu habitual sorriso de escárnio. Mesmo que eu odeie esse jogo, tenho a sensação
de que valerá a pena jogá-lo se eu conseguir fazê-lo ficar assim novamente. Fico
surpreso ao saber que ele não sabe que foi negligenciado. Ele fez muita terapia. Ele
deveria ter superado essa merda. Ele poderia ter passado anos culpando
alegremente seus pais por todo tipo de coisas.
Acho que teria ocorrido a ele que sua infância não foi nada perfeita se ele
realmente tivesse se preocupado em conversar com os terapeutas para os quais foi
enviado quando era adolescente. Em vez disso, ele inventava histórias malucas e os
alimentava com besteiras completas. Assim que começavam a pegá-lo, ele se
recusava a vê-los novamente e era enviado para outra pessoa. Quando o estava
verificando online, hackeei alguns de seus terapeutas e li algumas notas da sessão.
Foi divertido. Para ser honesto, foi meio interessante. Algumas das coisas que ele
inventou eram engraçadas pra caramba. Não sei como ele manteve a cara séria.
— Ok, então mãe viciada em crack…
— Eu não disse que ela era viciada em crack.
— Não era ela?
— Não.
— “Não” é evasivo e não conta como resposta, — diz ele. — Ela ainda está
viva?
— Não sei. — A propósito, isso é verdade. Não tenho visto ou ouvido falar
dela desde a última vez que ela saiu da reabilitação, no meio do programa, e isso
foi há cinco anos.
— “Não sei” também não.
— Faça uma pergunta melhor então.
Ele faz uma pausa. Levando-me, tentando conseguir outra leitura sobre mim.
Eu não mostro a ele nenhum medo. — Qual é da obsessão por livros?
— Não é uma obsessão. Eu gosto de ler. É normal.
— Hum mmm e o que você gosta de ler?
Ele parece tão presunçoso e autoconfiante e estou tão aliviado por ele ter
superado minha infância de merda, digo a verdade a ele. — Eu leio romance.
Ele coloca a mão na boca para tentar conter a risada. Ele falha. Sai dele como
uma fonte. Seus olhos se fecham e ele joga a cabeça para trás e cai na gargalhada.
Ele rola para o lado, de frente para mim. Seu rosto está contorcido. Seus lábios se
repuxaram para expor seus dentes quadrados e brancos, enquanto ele treme de
tanto rir. Por mais que eu odeie admitir, e acredite, eu realmente odeio isso, esse
garoto terrível é a coisa mais linda que eu já vi.
— Oh, Idiota, você não pode enganar um mentiroso, — ele diz quando para
de rir. — Tudo bem, se você não gosta dessa pergunta, aqui está uma que você pode
responder com sinceridade: você realmente tem sua estrela dourada7?
— Eu odeio dizer isso a você, Demon, mas esse não é o tipo de informação
que a polícia achará remotamente útil. — Ele me dá uma cotovelada sólida com o
pé na minha canela. — Ok, ok, — eu digo. — Sim. Na verdade, tenho minha estrela
dourada. — Ele me considera cuidadosamente. Não sei dizer se é pena ou se ele está
impressionado. — E você? Você já esteve com uma mulher?
— Claro.
Algo desconhecido e desagradável borbulha profundamente sob minha pele.
— Você já esteve com Lacey?
— Lacy? Deus não. Lacey não suporta homens, e minha pequena viagem de
autodescoberta terminou muito antes de eu conhecê-la. — As bolhas estouram e
evaporam quando ouço isso. — Embora, você sabe, quando conheci Lacey, por um
segundo quente eu realmente me perguntei se estava atraído por ela. Eu estava na
festa. Eu estava perseguindo um cara chamado Danny Midlane. Ele era adorável.
O cara mais doce que você poderia imaginar. Ele tinha grandes olhos azuis e uma
bunda perfeitamente densa. Perfeitamente. Ele era um daqueles caras que passava
todo o tempo ajudando os outros. Não apenas doar dinheiro para instituições de
caridade. Mas realmente ajudando as pessoas. Todos o amavam. — As bolhas estão
de volta. Eles assam em meu peito, me fazendo sentir falta de ar. —De qualquer
forma, — ele continua, — eu estava com Danny em vista. Ele também estava

7 É quando um homossexual nunca ficou com o sexo oposto e nunca pretende ficar.
interessado. Ele estava me observando com aqueles grandes olhos azuis, e eu
poderia dizer que ele estava começando a se permitir pensar sobre o que poderia
acontecer entre nós. Fui reabastecer minha bebida no bar e enquanto esperava,
notei uma garota parada ao meu lado. Ela tinha longos cabelos pretos e aquela
franja curta e estranha que cai no meio da testa e faz você parecer absolutamente
ridículo ou escandalosamente deslumbrante. Ela a fez parecer deslumbrante. Ela
estava usando um vestido preto curto com maquiagem pesada e meia-calça que
parecia teia de aranha. Foi o início de sua fase gótica. — Ele olha para cima e
suspira com ternura. As bolhas dentro de mim estão fervendo agora. — Eu pude
dizer imediatamente que ela era alguma coisa. Alguém. Ela não era como as outras
pessoas. Quando ela me viu olhando para ela, ela disse: “Não” e eu disse: “Não, o
quê?” e então ela disse: “Não para aquele cara” E então ela me mostrou um sinal de
negativo muito deliberado, como se ela fosse uma imperatriz romana e o destino
de Danny tivesse sido decidido. Eu disse: “O que há de errado com Danny?” e ela
disse: “Ele não é legal” — Damon começa a rir novamente. Ele ri.
Eu não entendo a piada. — Acho que você tinha que estar lá.
— Foi perfeito. Não havia nenhuma maneira de Danny ter sido mais gentil.
O fato de ela não gostar dele me disse tudo que eu precisava saber sobre ela. Era
como se eu a conhecesse e ela me conhecesse. Nós éramos iguais. Nós dois sentimos
isso instantaneamente.
— Hmm, então você se sente atraído por pessoas que te lembram você? Se
isso não é arrogância, não sei o que é.
— Eu não estava atraído por ela, imbecil. Assim que a conheci, eu soube. Eu
simplesmente sabia. Ela também. No segundo em que nos conhecemos, nos vimos e
sabíamos que estávamos empatados como a pior pessoa daquela festa inteira. — O
brilho suave de uma lembrança afetuosa desaparece. Ele me olha acusadoramente:
— Ela ainda está chateada comigo por tê-la deixado no Slay?
— Não. Mandei para ela uma cesta com aqueles muffins veganos que ela
adora do Veg-A-Table e um monte de mensagens humilhantes. Consegui trazer
você de volta às boas graças dela.
— Como diabos você sabe sobre esses muffins?
— Sou bom no que faço...
— Quer saber, não importa. Eu não ligo. Essa não é a minha pergunta.
— Na verdade, acho que preciso fazer algumas perguntas. Tenho anotado a
pontuação. Você me perguntou muito mais do que eu perguntei a você. — Isso não
é verdade estritamente falando, mas ele deixa passar.
— Tudo bem, — ele diz sarcasticamente. — Vá em frente. Pergunta à
vontade.
— Qual é o problema com suas irmãs?
— Minhas irmãs? Minhas irmãs de seis anos? É por aí que você quer ir?
— Sim.
Ele bufa e inala um pouco, mas para minha surpresa, começa a falar. — Meu
pai foi diagnosticado com câncer quando eu tinha dezesseis anos. Ele morreu
quando eu tinha dezessete anos. Enquanto ele estava doente, minha mãe enfiou na
cabeça que, como o estava perdendo, ela precisava de mais filhos. Eu não fui o
suficiente, eu acho. Então, depois que ele morreu, ela começou a fertilização in
vitro. Ela já tinha quarenta e três anos, então foi difícil. O estresse... o estresse a
afetou gravemente. As meninas nasceram quando eu tinha dezenove anos. Tenho
certeza que você sabe o que aconteceu depois disso.
Eu sei o que está escrito sobre isso e sim, vi vários relatórios médicos, mas
quero ouvir isso dele. — O que aconteceu?
— Minha mãe passou mal depois do parto. Muito mal. Psicose pós-parto. Ela
não tem estado bem desde então. Você sabe disso.
— As meninas são do seu pai?
— Sim. — Ele me dá um olhar asqueroso. — Você também sabe disso. Está
bem documentado. Ele doou esperma e assinou algum tipo de termo de
responsabilidade dando permissão à minha mãe para usá-lo depois que ele morreu.
— Você não poderia ter ficado muito feliz com isso. Não consigo imaginar
você sendo do tipo que gostaria de ter que dividir a herança dele de três maneiras.
— Eu não tenho que compartilhar nada, Idiota. É tudo meu. Sou o único filho
mencionado no testamento. Acho que foi um descuido da parte do meu pai, ou ele
não achou que a fertilização in vitro funcionaria. Ele deixou muitos bens para
minha mãe, mas deixou BeckIT para mim. Toda ela. Meu tio dirige a empresa desde
meu pai morreu, mas quando eu completar vinte e cinco anos em junho, serei
oficialmente dono de cem por cento da BeckIT. Vou compartilhar o que tenho com
minhas irmãs porque quero. Não porque eu precise.
— Você deve amá-las muito.
— Eu as odiei quando nasceram. Eu as odiei enquanto minha mãe estava
grávida também. Eu queria que ela tivesse um aborto espontâneo. Eu as odiei ainda
mais quando ela ficou doente quando elas tinham poucos dias de vida. Eu as culpei.
Eu já tinha saído de casa e morava sozinho, mas todos os dias ia para a casa da
minha mãe. Eu costumava ir ao berçário, ficar perto dos berços e olhar para elas.
Elas eram tão pequenos. Tão pequenas e fracas. Eu não conseguia parar de olhar
para elas. Um dia arrastei Lacey junto. Eu fiz isso porque ela realmente odeia bebês
e eu sabia que elas iriam assustá-la muito. — Ele me dá um sorriso maligno que é
surpreendente em sua beleza. — Ela ficou um pouco assustada, mas não tanto
quanto eu pensei que ela ficaria. Ela olhou para elas por um momento e então disse:
“Pense só, Boo. Você poderia ser a pessoa na vida delas que você precisava na sua”.
Então sim. Estranhamente, elas acabaram sendo a melhor coisa que já aconteceu
comigo. Até você me trazer para essas férias fodidas, eu as vi ou falei com elas todos
os dias de suas vidas.
— Eu tenho enviado mensagens regulares suas para elas.
— Isso não é a mesma coisa e você sabe disso. Elas tem seis anos. Elas
precisam de mim.
— Não demorará muito. A entrega está marcada para amanhã.
Eu não costumo contar esse tipo de coisa para os alvos. É péssimo. É
terrivelmente estúpido. A última coisa que você quer é que um alvo seja abalado
tão perto da bolsa. Eu me consolo com o fato de que, considerando todas as outras
coisas estúpidas que fiz neste trabalho, essa nem chega as dez primeiras.
Ele parece irritado. Ele está tentando não fazer parecer, mas há uma leve
curvatura descendente nos cantos de sua boca que teria se transformado em um
rosnado se ele não estivesse tentando esconder. Ele examina meu rosto, lendo-o,
procurando algo que possa usar para me machucar.
— Então, — ele diz quando o encontra, — e seu pai?
— Eu não o conhecia. — Bom. Boa resposta. Curta e grossa. Eu deveria parar
de falar aí, mas não paro. Devo estar envolvido em alguma forma estranha de
masoquismo ou auto-sabotagem, porque por algum motivo desconhecido, quero
conversar. Eu quero que ele saiba. — Eu não tinha ideia de quem ele era, até que o
localizei quando tinha treze anos.
A propósito, isso é verdade. Meu pai foi a primeira pessoa que persegui. Na
época eu não tinha certeza de por que estava fazendo isso. Eu não gostava dele. Era
óbvio que ele era um merda. Um tipo de merda diferente da minha mãe, mas ainda
assim, uma merda mesmo assim. Comecei apenas andando, vendo o quão perto
conseguia chegar sem que ele me notasse. Eu o segui por toda parte. Aprendi seus
hábitos e rotinas. Tornou-se uma obsessão. Fui me aproximando cada vez mais dele
até saber tudo sobre ele. Eu amei. Era como uma ousadia interna. Um desafio. Eu li
a correspondência dele. Invadi a casa dele e toquei nas coisas dele. Eu estava com
muito medo, mas consegui. Eu precisava. Eu tive que provar a mim mesmo que eu
poderia.
— O que aconteceu quando você o conheceu? Você foi morar com ele?
— Ah! Não, ele não era esse tipo de pai, acredite. — Eu o persegui por quase
quatro meses antes que ele me pegasse. Ele me encurralou em um beco e perguntou
por que eu o estava seguindo. Quando não respondi, ele pegou sua faca. Eu o
observava há tempo suficiente para já tê-lo visto usá-la antes. Eu sabia o que ele
poderia fazer com aquela faca. Eu sabia que estava em perigo. Perigo real. Então,
eu disse a ele que era filho dele. Eu não estava planejando isso, mas tive que pensar
rápido. Ele não disse uma palavra. Ele olhou para mim com desgosto e então
balançou o punho. — No dia em que nos conhecemos oficialmente — digo,
apontando para o nariz, — ele me deu isso.
Ele não renuncia. Ele quase não reage. — Você o matou?
A resposta é sim. Eu o matei. Ele foi a primeira pessoa que persegui. A
primeira pessoa que ameaçou minha vida e a primeira pessoa que matei. Acho que
você poderia dizer que meu querido e velho pai foi meu primeiro tudo.
Obviamente, eu não respondo. Por mais que estar na presença de Damon me
transforme no cara mais estúpido de todos os tempos, nem eu sou burro o suficiente
para responder uma pergunta como essa. Então, fico em silêncio, mas quando ele
examina meu rosto novamente, deixo que ele olhe. Seus olhos traçam levemente ao
longo da minha testa e descem pela ponta do meu nariz. Eles se movem para a
direita e depois para a esquerda, seguindo a linha irregular do perfil que meu pai
me deu. Eles pousam nos meus olhos. Eu sei que deveria piscar. Eu deveria desviar
o olhar, ou pelo menos fechar os olhos, mas não o faço. Eu os mantenho abertos.
Não por muito tempo, mas o suficiente. Não desvio o olhar até que ele acena
levemente com a cabeça e dá um sorriso suave e doce que encerra o que ele diz em
seguida, como um presente completo com um laço.
— Bom.
— Ok, vamos encerrar isso.
— Sim, — ele concorda, — estou ficando entediado e com fome. Aquele café
da manhã foi uma merda. No que você estava pensando ao me alimentar com isso?
Meus níveis de açúcar estão caindo.
Lidar com um Demônio em uma crise de açúcar é a última coisa que quero.
— Vou fazer um sanduíche para você. — Eu digo, enquanto começo a me mover
para sair da cama.
— Não, ainda não. — Ele pega meu braço. — Eu tenho mais uma pergunta.
— Se você tem uma pergunta, eu também tenho uma.
— Tudo bem, mas você não pode perguntar algo que você já sabe a resposta.
Você tem que perguntar algo que não conseguiu descobrir online.
Eu destruo meu cérebro. Eu sei tanto sobre ele que é difícil pensar em algo
para o qual realmente não sei a resposta. — Hmm, ok, eu tenho uma. — Não é uma
boa pergunta, mas é tudo o que consigo pensar que atende à sua condição. — Por
que você vende seu Adderall8 para seus amigos? Você não precisa do dinheiro e
não precisa do Adderall. Por que você simplesmente não dá a eles?
Ele olha para mim como se eu fosse bobo. Como se eu fosse tolo, estranho e
muito ingênuo. — Faço isso porque quero ver se consigo fazer com que paguem.
Quero ver se consigo fazer algo ilegal e sair impune. Basicamente, — ele dá de
ombros, — faço isso porque quero provar a mim mesmo que posso.
Isso me dá uma pausa. Tento não ler nada sobre isso. Dou-lhe um breve
aceno de cabeça para mostrar que o ouvi. — Sua vez. Última pergunta, então
certifique-se de que seja uma boa pergunta.
— Qual é o seu nome? — ele pergunta.
— Você só tem uma pergunta e é isso que você quer saber? — Para ser justo,
é o tipo de coisa em que a polícia teria mais do que um interesse passageiro.
— Sim, me conte.
— Você sabe que o engraçado é que, mesmo que eu lhe contasse, você não
acreditaria em mim.
— Então, me diga então.
— Tudo bem, mas não diga que não avisei. — Eu rolo de costas e coloco as
mãos sob a cabeça. — Meu nome é Saint.
— Saint? Saint? — Ele começa a rir como se fosse a coisa mais louca que já
ouviu. — O que sua mãe estava pensando em dar a você, entre todas as pessoas,
um nome como esse?
— Acho que ela não teve muita escolha. É o nome dela também.
Porra. Eu não deveria ter dito isso.

8Um medicamento neuroestimulante que é usado para tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH).
Ele não para, ele se lança em um discurso alegre e zombeteiro: — Você
realmente teve coragem de me dizer que meu nome não combina comigo, quando
seu nome é Saint? Não há nome na Terra que combine menos com você. Sério, não
existe.
— E quanto a Anjo? — Ele ri novamente. Ele ri tanto que me sinto compelido
a impedi-lo. — Diga.
— O quê?
— Diga meu nome.
Ele olha para mim como se eu estivesse bravo. — Enquanto eu viver, nunca
direi essa palavra em voz alta em referência a você. E isso, Idiota, é um voto solene.
Capítulo 9

Demon

Saint está na cozinha. Ele está fazendo barulho e batendo panelas e frigideiras
de uma forma que me permite saber que ele está prestes a começar a cozinhar.
Estou fazendo o meu melhor para não observá-lo. Ele disse que a entrega seria
amanhã, então sei que não terei que sofrer o inferno de ser sequestrado por muito
mais tempo. Esse pensamento deveria me animar, e isso acontece. Obviamente, mal
posso esperar para chegar em casa. Mal posso esperar para ver as meninas e mal
posso esperar para ver Lacey. Estou muito animado. Eu estou. É que não consigo me
livrar dessa sensação estranha. Não é um sentimento com o qual estou
familiarizado. Vem do fundo do meu peito. Parece quase uma vibração baixa. Como
um aviso. Alguma coisa não está certa. Posso sentir isso na minha caixa torácica.
Não sei o que é, mas posso sentir.
— O que tem para o jantar? — pergunto, tentando me distrair.
— Frango marroquino em uma cama de pimentão e cuscuz israelense.
— Eca, — eu digo. — Eu não vou comer isso. — Seu rosto parece contraído
e confuso. Isso me agrada. Isso me estimula. — Eu quero pizza.
Ele abre o armário da despensa e estudar o conteúdo. — Acho que poderia
fazer pizza. A massa levará algum tempo para crescer.
— Eu não quero a pizza que você fez. Quero pizza para viagem.
— Por que você iria querer comida para viagem? Caseira é muito m...
— Quero comida para viagem porque você não pode me dizer seriamente
que acha que pode realizar um sequestro respeitável sem servir pizza gordurosa
direto de uma caixa pelo menos uma vez. Todo mundo sabe disso.
— Bem, eu sinto muito, muito mesmo, — ele retruca. — Lamento que a
realidade não tenha correspondido à sua fantasia de sequestro.
— Eu não tenho uma fantasia de sequestro. — Um lado de sua boca se torce
e ele me dá um pequeno aceno de cabeça que diz sim, você tem. — Eu não tenho
uma fantasia de sequestro! — Ele morde o lábio inferior, puxando a carne para
dentro da boca e liberando-a lentamente. Isso me dá uma pequena falha na
cognição, mas me recupero rapidamente. —Estou lhe dizendo, Idiota, não tenho
uma fantasia de seq...
— Relaxe, Demon. Eu sei que você não tem. Conheço todas as suas fantasias,
e sequestro não é uma delas.
Este homem é tão irritante que me deixa tonto. — Você não conhece todas as
minhas fantasias, posso garantir isso.
— Claro que sim. Eu vasculhei todos os clipes pornográficos que você assistiu
nos últimos seis meses. Eu sei do que você gosta. Eu sei o que você procura e sei o
que você assiste constantemente.
O calor sobe do meu peito para o meu rosto e se instala como um peso em
minhas bochechas. Estou quente. De fúria. Não constrangimento.
Certo, tudo bem. Estou um pouco envergonhado. Quem não estaria?
Mas estou principalmente furioso. Como eu deveria estar. Como tenho todo
o direito de estar. Esta é mais uma invasão grosseira da minha privacidade. Decido
que é melhor não dar a ele o prazer de saber que me afetou, mas também decido
naquele momento que ele vai me comprar pizza para o jantar, mesmo que seja a
última coisa que ele fará. Vou até a cozinha e me levanto, sentando no balcão.
Escolho um local que tenho certeza que o cercará.
— Eu quero pizza, — eu digo repetidamente.
Enquanto ele corta pimentões, de vez em quando me abaixo e cutuco a tábua
de cortar. Quando ele me pede para parar, balanço as pernas para frente e para
trás, permitindo que elas batam ruidosamente no armário da cozinha. Não demora
muito para que eu o tenha exatamente onde quero.
— Não posso mandar entregar pizza aqui, até você deve entender isso. — Ele
está perdendo o juízo comigo e isso me deixa irracionalmente feliz.
— Por que você não pede a um de seus amiguinhos para pegá-la e entregá-
la aqui?
Ele solta o suspiro mais longo já feito por um ser humano com menos de
oitenta anos. Ele procura o telefone no bolso e depois se afasta para o canto da sala
perto da entrada. Salto do balcão e o sigo até lá.
Ele já está ao telefone, falando com sua habitual voz baixa, como se não
quisesse que eu ouvisse. Decido dizer a ele como isso é idiota assim que ele encerra
a ligação.
— Que tipo de pizza você quer? — ele pergunta entre dentes.
— Pepperoni. Pepperoni do Luca's. Só como pizza quando estou na Itália, ou
se vem do Luca's. Você deveria saber disso, Idiota.
Ele transmite a mensagem a contragosto. A pessoa do outro lado da linha não
parece muito satisfeita com isso, então eu aposto: — Diga a eles para parar no
caminho e comprar um hidratante para mim. Não há como voltar para casa assim.
— Quando ele me encara, acrescento: — e fio dental. — Quando tenho certeza
absoluta de que ele está a segundos de cometer um crime violento contra mim,
dou-lhe um tapinha no ombro e sussurro: — Diga a eles para não se preocuparem
com o fio dental. Vou usar fio dental quando chegar em casa amanhã. Está bem.
Não há problema.
Ele encerra a ligação e enfia o telefone de volta no bolso. Posso dizer que ele
está quase apoplético. Estou quase exultante. Estou tão feliz, na verdade, que
quando a pizza chega e ele coloca uma reprise de True Blood, me pego pensando
que ser sequestrado está longe de ser a pior coisa que poderia acontecer a alguém.
Capítulo 10

Saint

Eu balanço minhas pernas para fora da cama e para o chão.


— O que você está fazendo? — ele pergunta.
Achei que ele estava dormindo. Deus sabe que fiz o que pude para cansá-lo.
Nós dois estávamos selvagens quando fomos para a cama.
— Só estou me certificando de que tudo está em ordem para amanhã. Volte
a dormir. — Ele suspira suavemente no escuro. Ouço um sussurro de incerteza em
sua respiração. — Está tudo bem. Não se preocupe. Você estará em casa amanhã a
esta hora.
— Eu não quero ir a lugar nenhum com aquele cara, seu parceiro ou algo
assim. Eu não confio nele.
Não se preocupe, Damon, eu nunca deixaria alguém como ele chegar perto de
você.
— Você não vai. Estarei com você o tempo todo.
Ele suspira novamente. Desta vez sem incertezas.
Ligo a lanterna do meu telefone e vou até a mesa de jantar sem bater com o
dedão do pé. Abro meu laptop e começo a revisar todas as minhas listas de
verificação metodicamente, da mesma forma que sempre faço na noite anterior à
entrega.
Posso ouvir Damon respirando. Suas respirações são mais longas e mais
baixas. O sono o encontrou. Está escuro no quarto, mas a luz do meu laptop é forte
o suficiente para que eu possa distinguir a forma dele na cama. Posso dizer que ele
está encolhido de lado. Ele estava encolhido de lado na última vez que transamos.
Estávamos ambos cansados. Nós dois mal conseguíamos nos mover. Deitei-me atrás
dele, de lado também, e o penetrei lentamente.
Porra.
Eu balanço minha cabeça. Eu preciso sair dessa. Preciso colocar minha
cabeça no jogo. E eu vou. Mas antes de fazer isso, permito-me um breve momento
para pensar na coisa mais estúpida do planeta. Eu me permito imaginar como seria
mantê-lo. Pegá-lo e fugir. Pegá-lo e se esconder. Embrulhá-lo e mantê-lo para
mim.
Seria uma loucura, obviamente. Seria uma carnificina. Meus parceiros me
matariam. Não tipo, ooh, estou tão bravo que poderia matar você. Eles me matariam.
Tipo homicídio. Tipo fita policial e mesas de legista em aço inoxidável. Não tenho
nenhuma dúvida sobre isso. Mesmo que não o fizessem, e mesmo que a lei não me
alcançasse, Damon definitivamente me mataria. Ele me mataria com as próprias
mãos na primeira vez que eu baixasse a guarda, ou me irritaria até a morte. De
qualquer forma, não seria um bom caminho a percorrer. Seria uma morte horrível.
É um pensamento estúpido. Eu nunca agiria assim. Nem em um milhão de
anos.
Capítulo 11

Demon

Eu estou com o melhor humor possível. Estou quase delirando e tenho pelo
menos sessenta por cento de certeza de que não é por estar bêbado. Não dormimos
muito e admito que me sinto um pouco preguiçoso, mas não me importo porque
vou para casa hoje. Acabei de tomar um longo banho, sem supervisão, e quando
saio do banheiro, vejo que minhas roupas foram colocadas na cama para mim.
Minhas próprias roupas. Chega de calças de moletom largas e regatas baratas.
Isso não é um exercício: estou indo para casa!
Saint está sentado à mesa de jantar com seu laptop aberto e usando um fone
de ouvido. Ele parece estar no estágio final do modo sequestrador, então faço
torradas e me sirvo de uma xícara de café. Enquanto tomo o primeiro gole amargo,
olho para ele e penso como será lindo que da próxima vez que o ver, ele estará
usando um macacão laranja. Eu só sei que ele vai parecer descontente pra caralho.
Seus olhos ficarão pretos de raiva e ele ficará carrancudo. O macacão ficará bem
esticado em seu peito largo e se ajustará ao redor de seus quadris. Provavelmente
será uma melhoria acentuada em relação à abominação que é o seu atual senso de
estilo. Ele provavelmente não ficará tão mal. Ele provavelmente ficará gostoso como
o inferno.
Merda.
Não! Basta. Isso é mais que suficiente. Chega de pensar nele assim. Agora não.
Nunca. Chega.
— … então verifique novamente, — diz ele, falando em seu fone de ouvido.
Há uma pausa e uma rápida expressão de irritação em seu rosto. — Eu disse,
verifique novamente. Verifique a família, verifique a localização, verifique a
conversa no rádio e verifique o comprador. Você sabe o que fazer. Eu não me
importo quantas vezes você fará isso. Verifique novamente. Tudo isso.
Ele parece incrivelmente severo. Ele realmente parece. Posso dizer que ele
leva o sequestro a sério. Muito sério. Eu gostaria de zombar dele por isso, mas uma
rápida ruptura de nervosismo explode em minha barriga quando me ocorre que,
além de quando eles me levaram, hoje é provavelmente a parte mais perigosa de
todo esse negócio de sequestro. Há tantas coisas que podem dar errado. Polícia.
Dinheiro. Espectadores estando no lugar errado na hora errada.
Está tudo bem, digo a mim mesmo. Este é um sequestro padrão de resgate.
Nada mais. Foi apenas azar eu ter sido a vítima. Não é sobre mim, é sobre dinheiro.
— Não se esqueça de tudo isso, — diz ele, apontando para minhas joias na
mesa de cabeceira.
— Isso se chama joias, Idiota. São chamadas de acessórios. Procure.
Ele me ignora e continua digitando furiosamente em seu computador. Fico
muito tempo sentado no sofá. Eu folheio os canais, mas não consigo me concentrar.
Estou esperando há séculos.
Porra, ser sequestrado é chato!
Quanto tempo tudo isso deve levar?
Ele toca no fone de ouvido e diz: — O quê? — Ele fica quieto por um tempo.
Silencioso. O clima na sala despenca. Minha barriga se contrai novamente. Mais
forte e mais apertada do que antes. — Isso não pode estar certo. Envie-me o que
você tem.
— Está tudo bem… — ele levanta a mão e silencia minha pergunta.
Ele arranca o fone de ouvido e começa a digitar no teclado com mais força e
rapidez do que antes. Sua postura, que costuma ser perfeita, é curvada. Seus olhos
vão e voltam pela tela. Ele os fecha e murmura: — Porra.
Não preciso de qualificação como analista comportamental para saber que
não foi um bom porra. Algo está errado. Seriamente errado.
Seu telefone acende e vibra. Ele o leva ao ouvido e fica quieto por um
momento. Mesmo sentado onde estou, posso ouvir que a pessoa que fez a ligação
não está feliz. A voz deles chega pelo alto-falante em explosões rápidas e
estridentes.
— Hum, — diz Saint, uma e duas vezes. A voz na linha diz mais coisas. Muito
mais coisas. Eles falam ou gritam longamente. Saint finalmente os interrompe: —
Eu cuido disso. — Parece que eles têm mais a dizer sobre isso. — Eu disse, que cuido
disso. — Saint se levanta, eu também estou de pé. À medida que ele se levanta, esse
olhar horrível e intenso de calma toma conta de suas feições. Ele me olha por um
longo tempo. O medo agarra meu interior e crava suas garras em mim. Ele não
quebra o contato visual. Ele simplesmente diz — Vejo você quando chegar aqui —
e desliga o telefone.
— O que está acontecendo? O que há de errado? O que é…
Ele nem levanta a mão para me silenciar dessa vez. Ele me lança um olhar
que atravessa minha laringe e me deixa mudo. — O trabalho está fodido. O
comprador sumiu. Não tenho tempo para explicar. Vou precisar que você fique
quieto e que faça o que eu digo.
Eu aceno com a cabeça, olhos e boca bem abertos.
Ele abre o armário embaixo da pia da cozinha e afasta os produtos de limpeza
para o lado. Ele puxa uma caixa de ferramentas vermelha. É de metal e trancado
com uma fechadura combinada. Ele desbloqueia. Suas mãos estão firmes. Por um
segundo louco que me dá esperança.
Isso deve significar alguma coisa, certo?
Ele abre a caixa de ferramentas, tira uma arma, a verifica e a carrega
rapidamente, depois a enfia no cós da calça.
Ah, porra. Isso é ruim, certo?
Em seguida, ele pega uma chave e me entrega.
— Banheiro, agora. Tranque a porta. Deite-se na banheira e não abra a porta
até que eu mande.
Estou lutando para entender o que está acontecendo. Dou alguns passos em
direção ao banheiro, mas tenho dúvidas. Eu olho para trás e vejo Saint tirar uma
faca de aparência séria da caixa de ferramentas. É uma adaga ou uma faca de caça,
ou qualquer coisa que você chamaria uma lâmina que parece ter sido feita com o
propósito expresso de estripar algo ou alguém. Tomo uma decisão rápida de
colocar minhas perguntas em espera e corro para o banheiro. Bato a porta e passo
vários segundos tentando enfiar a chave no buraco da fechadura, as mãos
tremendo loucamente enquanto faço isso. Deito-me na banheira como ele me disse
para fazer. Está quieto. Estranhamente e anormalmente quieto. Não tenho certeza
de quanto tempo fico ali deitado, mas parece muito tempo.
Justamente quando estou começando a me sentir um idiota, deitado na
banheira fria e dura, ouço alguma coisa. Um golpe e um estrondo. A porta da frente,
talvez? É seguido por palavras raivosas e abafadas. Não consigo entender o que foi
dito, mas as vozes não parecem as de Saint.
— Onde ele está?
— Estamos preparados.
— Eu mesmo vou matar aquela vadia rica.
Eles estão falando um com o outro alto o suficiente para que eu possa ouvi-
los claramente através da porta. Algo me diz que isso não é bom. Minhas mãos não
são a única coisa tremendo agora. Todo o meu corpo está tremendo. Eu estou
assustado. Muito, muito assustado.
Ouço passos rápidos, depois um baque surdo, um grito gutural e estranhos
ruídos gorgolejantes que parecem alguém se afogando. Há silêncio por um segundo
e depois vários outros baques. Cada um soa como carne contra carne. Osso
afundando na carne.
Está quieto novamente. Quem quer que estivesse fazendo aqueles sons feios
e borbulhantes parou. Não consigo ouvir nada além do som do meu próprio
batimento cardíaco frenético. Ouço passos se aproximando. Meu medo é pesado.
Esmagador. Quero correr, mas não consigo me mover. Penso em Lacey e em minhas
irmãs e meu peito dói. Seus rostos brilham diante de mim como fotografias.
Há uma batida suave na porta. — Demon, sou eu. Destranque a porta.
Eu me levanto e cambaleio até a porta com pernas que lutam para suportar
meu peso. Eu destranco o mais rápido que posso. A porta se abre e dou um passo
involuntário para trás. É ele. Saint. Mas não é o Saint que conheci. Suas
sobrancelhas estão abaixadas. Olhos duros. Mandíbula dura. Há manchas de
sangue em um lado do rosto. Os nós dos dedos estão ensanguentados e ele ainda
segura a faca com uma das mãos. Este não é o cara que ama A Bela e a Fera. Isto é
uma fera. Este é Saint com Modo Assassino totalmente ativado.
Ele puxa a toalha de mão do gancho e dá um tapinha na lateral do rosto com
ela. Depois de se limpar, ele limpa o cabo da faca com a toalha e a pousa. Ele se
move em minha direção. Não tenho certeza se devo correr para ele ou para longe
dele. Antes que eu possa decidir, ele estende a mão e envolve minha nuca com a
mão grande. Fico mole e afundo em seu corpo. Sou tão idiota que inclino meu rosto
para ele, oferecendo-lhe minha boca.
Eu não vejo isso chegando.
Não o vejo colocando a mão no bolso e não o vejo tirando nada. Na verdade,
sou tão estúpido que me inclino para frente e pressiono meus lábios contra os dele.
Ele me beija de volta. Quando ele se afasta, seus olhos ainda estão escuros e há uma
tensão em torno de sua mandíbula que normalmente não existe. Vejo o brilho
rápido de uma agulha e percebo tarde demais: O Modo Assassino ainda está
ativado. A lateral do meu pescoço dói fortemente.
— Vá se foder, Idiota, — eu digo, enquanto a sala gira e fica preta.
Capítulo 12

Saint

Eu acho que poderia te contar o que aconteceu. Mas se eu fizesse isso, teria
que te matar.
Não iríamos querer isso, não é?
Capítulo 13

Demon

Tudo é preto. Está tão preto que não consigo dizer se meus olhos estão abertos
ou fechados. Um zumbido ressoa em meus ouvidos. É alto. Alto o suficiente para
me acordar de um sono drogado. Minha garganta está seca. Minha respiração vem
rápida e em arquejos secos. Estou encolhido de lado. Não consigo esticar as pernas.
Eu tateio com as mãos. Estou em algum tipo de contêiner.
Um caixão?
Jesus! A porra do Idiota me enterrou vivo.
O pânico e a fúria me atingiram em igual medida. Eu tateio novamente,
freneticamente agora. Sinto algo peludo e áspero embaixo de mim. Tapete? Percebo
o zumbido novamente e meu corpo balança para o lado. Estou me movendo? Meu
pânico diminui e minha raiva aumenta exponencialmente.
— IDIOTA! — Eu grito, chutando e batendo em todas as superfícies que
encontro. — Deixe-me sair! Abra essa porra de baú agora mesmo!
Grito até minha garganta ficar rouca e o veículo em que estou parar. Ouço
um clique e então a luz do sol queima meu campo de visão. Não consigo me
concentrar totalmente quando me sinto sendo retirado do porta-malas. Encontro
meu equilíbrio e presença de espírito.
— Que merda é essa? — Estou com tanta raiva que não consigo pronunciar
minhas palavras corretamente. — Por que diabos você me drogou? Para onde você
está me levando? E por que diabos você me jogou no maldito porta-malas?
— Acalme-se, — ele diz.
Acalme-se? Ele está falando sério?
— Não me diga o que fazer!
Ele suspira profundamente e mantém os olhos fechados por alguns segundos.
— Entre no carro e eu lhe contarei o que aconteceu.
— Entrar no carro?
— Você vai repetir tudo o que eu digo?
— Não sei, vamos descobrir.
— Entre no carro, Damon.
— Você está maluco? Eu não irei entrar em porra nenhuma com você.
— Olhe, — ele diz razoavelmente, — você não tem ideia de onde estamos.
Pelo que você sabe, poderíamos estar no meio do cu do Alabama. Você está descalço
e posso estar errado, mas você não me parece o tipo que floresceria na natureza.
Eu observo o meu redor. Vejo montanhas e árvores. Espaços bem abertos.
Zero pessoas, carros ou edifícios. Meu nariz faz cócegas, ameaçando espirrar,
deixando-me saber o quão longe estou da civilização. Vou até a porta do banco
traseiro do passageiro.
— Sente-se no banco da frente, não sou a porra do seu motorista. — Estendo
a mão para abrir a porta dos fundos. — Vá para a frente ou vou colocá-lo de volta
no porta-malas.
Abro a porta da frente e entro com bastante relutância. Ele senta no banco do
motorista e começa a dirigir sem sequer olhar de soslaio para mim. Enquanto
dirigimos, tento me orientar. Meus infinitos poderes de dedução me levam a
concluir que estamos no meio do nada. Não estamos em uma rodovia. Estamos em
uma estrada secundária. É estreita e sinuosa. Há árvores por toda parte. Estamos
tão profundamente envolvidos na natureza que minha pele se arrepia.
Eventualmente, vejo uma placa de trânsito.
— Estamos em Catskills9? Você está me levando para a porra de Catskills
agora? — Ele mantém os olhos na estrada. Ele não responde nem mostra qualquer
sinal de ter me ouvido. — Quem diabos você pensa que é? Johnny Castle10, porra?
O canto de sua boca se curva. Ele quase sorri, mas consegue se conter. — Se
eu sou Johnny Castle, quem é você? Baby11? Acho que combina, Deus sabe que você
poderia gastar um tempo de lado12.
Eu escolho não dignificar isso com uma resposta, embora meu pau tenha uma
reação infeliz a isso.
— Então, você vai me contar o que aconteceu?
— O trabalho foi por água abaixo. Armaram pra gente. Não havia
comprador.
Não tenho ideia do que isso significa. Para ele ou para mim. — E aqueles
caras lá na casa, no apartamento ou como você chamaria?
— Esconderijo.
— Tudo bem, esconderijo. O que aconteceu no esconderijo?
— Houve um problema. Eu cuidei disso.
Não estou gostando do jeito que ele está falando comigo. Não gosto de suas
respostas curtas e contundentes. Depois de tudo o que ele me fez passar, acho que
o mínimo que ele pode fazer é me dar uma explicação decente. — Você os matou?
— Eu pergunto.

9 Cidade situada no sudeste do contato de Greene, em Nova York.


10 Personagem principal de Patrick Swayze em Dirty Dancing.
11 Personagem principal de Jennifer Grey em Dirty Dancing.
12 Referência a “Nobody puts Baby in the corner”, fala de Johnny Castle em Dirty Dancing, ou a música de Fall

Out Boy, Nobody Puts Baby in the Corner.


— Eu escolho a quinta13.
— Por que você fez isso?
— Eles eram homens ruins.
— Piores que você?
— Sim, — ele diz pragmaticamente. Ele fica quieto por um momento e depois
acrescenta: — Eles queriam você morto. Eles tiveram que morrer.
Minha cabeça gira e tenho que admitir que não é porque ele me drogou.
Tenho consciência de como isso é fodido, acredite, só que há algo em um homem
como Saint matando por você que parece certo, sabe?
— Pensei que você não me suportasse. Por que você foi e matou por mim?
— Eu não suporto você. Foi por isso que fiz isso. Se alguém vai te matar, serei
eu.
Estou atordoado em silêncio.
Sou só eu ou essa foi a coisa mais romântica que você já ouviu?

13 A frase é usada quando alguém não quer falar a verdade sobre um assunto. Se refere à 5° emenda da
Constituição dos Estados Unidos, que assegura ao depoente o direito de não responder questões que o
incriminariam.
Capítulo 14

Saint

Eu estaciono o carro a 800 metros da casa. Tecnicamente, não tenho


permissão para dirigir este carro em particular e não quero deixá-lo na garagem
onde possa ser avistado. Jogo minha mochila por cima do ombro.
— Você vai ajudar ou o quê? — digo, apontando para as sacolas de compras
no banco de trás. Ele parece tão surpreso que posso dizer que esta pode muito bem
ser a primeira vez que ele ajuda alguém em algo tão mundano como fazer compras
no mercado. Ele pega uma sacola em cada mão. Ele faz isso de uma maneira que
me deixa saber que está longe de estar feliz com isso. — Vá para a direita, há um
caminho atrás daquele aglomerado de árvores.
— Os Catskills tem definitivamente uma vibe, mas não é a vibe. Eu
literalmente não conheço uma única pessoa que venha aqui. — Ele está
tagarelando sem parar desde que o tirei do porta-malas. Ele criticou minha
condução por muito tempo e me deixou saber sua opinião sobre como me saí esta
manhã. Ele também teve muito a dizer sobre minha incompetência como
sequestrador. Agora parece que minha capacidade de escolher um esconderijo
adequado também está sob ataque.
— Ai, porra, — ele berra a cada passo. O caminho atravessa a floresta. É
sombreado, protegido por uma espessa copa de folhas. Está coberto de folhas
úmidas, cascas de pinheiro e alguns galhos.
— Calma. Não seja tão dramático, são apenas alguns galhos.
— Dramático? Uh? Dramático? Não é você quem está andando descalço,
Idiota. — Se eu fosse mais gentil, contaria a ele que coloquei suas meias e botas na
mochila. Mas eu não sou, então não digo. A caminhada não é longe de qualquer
maneira, e isso é uma vingança pelo fato de que ele quase me deixou louco no carro
logo depois que salvei sua vida. — Você realmente sabe como divertir um cara, não
é?
— Jesus. — Estou tão exasperado que ele deve ser capaz de ouvir isso na
minha voz. Ele se vira para acrescentar algo, mas eu chego antes dele. Eu olho para
ele com severidade e digo: — Você é um mimado.
Ele para de andar, virando-se para olhar para mim. Ele pisca e parece quase
confuso. Eu sorrio para mim mesmo.
Bingo.
É errado da minha parte usar palavras assim. Palavras que sei que irão afetá-
lo porque o persegui. Palavras que acho que ele vai gostar porque invadi sua
privacidade assistindo a pornografia que ele assiste quando pensa que está sozinho.
Definitivamente é errado da minha parte. Muito errado. Mas eu não me importo
com o errado. Especialmente depois desta manhã. Na verdade, gosto do errado.
— Mimado, — eu digo novamente. Para garantir, desenho a palavra,
enfatizando cada letra e terminando com um O forte e explosivo. Sua boca se abre,
como se quisesse falar, mas tudo o que sai é um suave sopro de ar. Posso dizer que
o uso da palavra teve exatamente o efeito que eu queria. Atinge um sentimento
nele. Encontrou um lugar escuro dentro dele e o iluminou. Saber disso, vê-lo assim,
combina com algo em mim também. Ele encontra um dos muitos lugares obscuros
em mim e o incendeia.
Ele começa a andar novamente. — Você sabe que é o pior, não é? Você é
literalmente o pior sequestrador de todos os tempos. Quer dizer, nem sei se ainda
chamaríamos isso de sequestro. É uma espécie de novo sequestro neste momento. É
isso, um novo sequestro...?
— Damon. — Minha voz é suave e dura ao mesmo tempo. Isso o faz parar
no meio do caminho. Ele não olha para trás. Sigo a linha que transforma seu
pescoço em seu ombro. A luz salpicada do sol brilhando através das árvores atinge
os minúsculos cabelos loiros de sua nuca e os faz brilhar. — Se você não ajustar
essa atitude, vou ajustá-la para você.
— Ajustar para mim, hum? Uuuuh, estou com tanto medo, Sr. Idiota. — Ele
não poderia parecer mais sarcástico nem se tentasse.
— Você deveria estar, garoto. Sabe por quê? — Permito que toda a força da
ameaça penetre na minha voz. Ele ainda não começou a se mover. Ele está parado.
Ele está voltado para frente. Sua caixa torácica também não está se movendo. Ele
está prendendo a respiração. Ele não responde e não inspira o máximo que pode e,
quando o faz, soa como um suspiro minúsculo e estrangulado. — Porque se eu não
vir uma mudança radical no seu comportamento, quando chegarmos aonde
estamos indo, irei dobrar você e bater na sua bunda antes de te foder.
Ele gira, o cabelo balançando e a cabeça se contorcendo de fúria. Suas
bochechas estão rosadas. Ele abre e fecha a boca algumas vezes, os olhos brilhando
de raiva e ódio.
— Não me ameace com diversão.
Ele diz isso com puro veneno. Isso me faz sorrir e um estrondo baixo surge
abaixo do meu esterno. Ele se vira e começa a andar novamente. Rapidamente.
Caminhando desajeitadamente pelo caminho com os pés descalços. Sua regata
frágil balança quando ele anda. Seus braços e ombros afundam e recuam devido
ao leve esforço de carregar as compras. O quer que você chame essa coisa de saia-
calça, ela se agarra aos quadris, mostrando o contorno claro da bunda mais
perfeitamente fodível que eu já vi.
A maneira como me sinto ao observá-lo me dá uma sensação estranha. Uma
sensação ruim. Uma sensação de que se eu não tomar muito cuidado, serei eu quem
vai se arrepender.

Coloco as compras no balcão da cozinha e começo a trabalhar abrindo as


janelas e deixando entrar ar fresco. A casa do lago é um daqueles lugares que passa
de uma sensação de mofo e sem vida a um ambiente aconchegante em questão de
minutos. Para transformá-la, basta abrir as cortinas e abrir as portas de correr que
dão para o lago.
Normalmente, assim que aprecio a vista, sou atingido por uma sensação de
tranquilidade que só sinto quando estou aqui em cima. Talvez seja porque nunca
trouxe ninguém aqui antes. Não posso dizer que me sinto particularmente
tranquilo neste momento. Damon está bisbilhotando, passando a mão pelas
superfícies e espiando os armários da cozinha. Ele parece quase satisfeito com a
nossa acomodação, mas um leve enrugamento do nariz me dá a impressão de que
ele teria preferido que eu pagasse pelo serviço de limpeza semanalmente, em vez
de mensalmente.
— Você vai me ajudar a desfazer as malas ou o quê? — Ele parece tão confuso
com meu pedido que não consegue pensar em uma resposta. Entrego a ele um
pepino e um pote de espinafre. — Gaveta inferior à direita. — Aponto para a
geladeira. Para minha surpresa, e a dele, ele faz o que eu digo.
Fazemos uma dança tensa e deselegante um ao lado do outro enquanto
desempacotamos o resto dos produtos.
— Tem certeza de que comprou comida suficiente, Idiota? — ele diz. — Isso
parece suficiente para dez pessoas.
— Comprei o que precisamos e um pouco mais. — Gostaria de explicar que
ainda não tenho um plano claro e não sei quanto tempo ficaremos aqui, mas a
última coisa que preciso é que ele recomece a citar minhas falhas como
sequestrador.
— Você já se perguntou se sua obsessão por comida foi causada por passar
fome quando criança? — Ele tem um sorriso suave e doce no rosto, mas seus olhos
brilham com veneno.
Gostaria de dizer que ouço isso e tomo uma decisão deliberada, que penso
bem, que faço uma escolha consciente antes agir, mas não o faço. Eu não tomo a
decisão. A decisão me toma. Eu o agarro pelo braço e o empurro até que suas costas
se conectem firmemente à geladeira. Pego seus dois pulsos em minhas mãos e os
prendo acima de sua cabeça. Seus olhos procuram meu rosto, curiosos, mas
imperturbáveis.
— O que eu disse que faria se você não abandonasse essa atitude?
— Não tenho ideia. Você fala tanta merda que dificilmente posso me lembrar
de cada coisa que você diz.
É uma provocação, mas quando ele diz isso, suas narinas se dilatam
ligeiramente e ele aperta a mandíbula com um pouco mais de força do que o
normal. Eu sei que o estou afetando e gosto disso. Isso me deixa duro.
— Eu disse, que se você continuasse com essa atitude, iria curvar você e bater
na sua bunda antes de te foder. — Suas bochechas ficam rosadas e seu queixo cai.
Ele o fecha rapidamente. — É isso que você quer?
Ele vira a cabeça e baixa os olhos para se libertar do meu olhar. Seguro seus
dois pulsos com uma mão e uso a outra para segurar sua mandíbula. Eu o viro
bruscamente, forçando-o a olhar para mim. Ele se contorce e olha para baixo.
— Você sabe que tem que pedir por isso, Demon. Você sabe disso. Você sabe
que não faço nada com você a menos que tenha sua permissão.
Isso incendeia uma resposta dele. — Você está brincando comigo? Você me
seguiu. Você me drogou e literalmente me sequestrou sem minha permissão! Não
só isso, uma vez que você me conquistou, você me drogou e me sequestrou
novamente.
— É justo, você me pegou, — eu rio. — É verdade, eu observei você e te
persegui. Quando foi apropriado, eu levei você. Quando precisei te mover, eu te
droguei. E farei tudo isso de novo se quiser. Você sabe disso e eu sei disso. Mas o
que não farei, o que nunca farei, é tocar você sexualmente de uma forma que você
não pediu.
Seus olhos brilham com raiva e calor. Eles se movem para encontrar os meus
e seus quadris se movem para frente, diminuindo a distância entre nós. Eu me movo
contra ele e o encontro tão duro quanto eu. Mais duro, talvez. Solto seu queixo e
ele imediatamente se afasta de mim novamente, mas desta vez ele arqueia o pescoço
enquanto faz isso. Passo meus dedos pelas linhas finas de sua garganta.
— Você não precisa dizer, — murmuro enquanto dou beijos suaves atrás de
sua orelha, — tudo o que você precisa fazer é acenar com a cabeça. Acene com a
cabeça se quiser e eu darei a você.
Ele engole em seco. Parece o tipo de engolir que não desce facilmente. Eu o
beijo novamente e, ao fazê-lo, sinto-o respirar fundo e dar um aceno de cabeça
firme e deliberado.
Capítulo 15

Demon

—Tire isso. — Ele aponta para minhas calças. Quando não me movo tão
rápido quanto ele quer, ele solta meus pulsos e puxa minhas calças e cueca até os
tornozelos. Ele faz isso com força. Com força e rápido. Tão rápido que sou atingido
por uma rajada de ar frio e meu pau salta para trás e bate contra minha barriga.
— Ajoelhe-se no sofá e espere por mim.
Sou atingido por uma onda de excitação tão forte que parece espessa e pesada
enquanto corre pelas minhas veias. Eu tiro minhas calças. Fico estranho com isso,
mas não me importo porque ele está olhando para mim do jeito que eu sempre,
sempre quis ser olhado.
Com fome.
Sedento.
Mas mais. Mais que isso. Parece que ele quer me consumir. Para me possuir
e controlar. Parece que ele vai morrer se não o fizer. Não é a primeira vez que um
cara me olha assim. Os caras me olham assim o tempo todo. Obviamente. O que
torna tudo diferente desta vez é que desta vez, pela primeira vez, o cara que está
me olhando assim parece que realmente tem o que é preciso para fazer isso.
Pequenas asas batem na minha barriga e começam a se agitar enquanto
caminho até o sofá. É um daqueles sofás com um bom esqueleto. Boa estrutura. Bom
estilo, embora me doa admitir isso. Couro vintage, envelhecido à perfeição.
Ajoelho-me sobre ele, como ele me disse para fazer. É uma sensação fresca sob
meus joelhos, mas aquece rapidamente minha pele. A casa é iluminada e arejada.
Tetos altos, paredes brancas como giz e vistas deslumbrantes do lago. Não consigo
ver nenhuma outra casa, mas me sinto nervoso quando ajoelho no sofá assim.
Parece que alguém pode me ver. Estou nu da cintura para baixo e isso me faz sentir
mais exposto do que se estivesse completamente nu. Eu puxo minha regata,
puxando-a para baixo na frente para oferecer alguma modéstia.
Olho para ele e vejo que ele voltou a desempacotar as compras.
Que porra?
Eu olho para ele com puro ódio. Ou ele não percebe ou faz um trabalho
surpreendentemente bom fingindo que não percebe. Fico cada vez mais irado
quando o vejo desempacotar as coisas. Ele faz isso com cuidado. Separar frutas e
legumes na geladeira, colocar os secos na despensa, endireitar as latas, arrumá-las
para que os rótulos fiquem perfeitamente alinhados. No momento em que ele fecha
as sacolas de compras e limpa o balcão da cozinha, estou pulsando de raiva.
Como ele ousa me ignorar?
Como ele ousa me despir, ameaçar me espancar e depois me ignorar?
Quase rio do quão ridículo ele é. Ele age todo durão, mas aposto que ele é
como qualquer outro cara a quem pedi para me bater no calor da paixão. Aposto
que ele está planejando me dar dois ou três tapinhas de desculpas no traseiro e
depois enfiar o pau em mim. Aposto que seu grande plano é me dar alguns tapas
enquanto me fode. Nada me enfurece mais.
Isso não é uma surra, pessoal!
Aposto que essa é a ideia patética dele sobre o que ele pensa que eu quero.
Aposto que ele acha que isso o torna excêntrico. Juro aqui e agora que se ele fizer
isso comigo, vou rir dele. Vou rir na cara dele. Vou dizer a ele que ele é patético e
vou dizer a ele para tirar as mãos de mim, mesmo que isso me mate. Uma coisa é
me seduzir com beijos suaves, narizes quebrados e força bruta, outra coisa é ele
pisotear meu primeiro e favorito fetiche e não ter coragem de seguir em frente.
Ele seca as mãos, depois dobra a toalha ao meio e pendura-a cuidadosamente
na maçaneta da porta do forno. Ele olha para mim. Suas feições são neutras. Olhos,
boca, mandíbula; a imagem da neutralidade. Ele começa a se mover em minha
direção e as asas de antes batem mais. Com força. Sinto calor sob a pele. Meu peito,
pescoço e rosto estão queimando, porque por mais patético que ele seja, sou eu
quem está ajoelhado no sofá com a bunda para fora, vestido como o maldito
Ursinho Pooh.
Eu o observo enquanto ele se aproxima. Seus olhos estão escuros, como
sempre. Marrons. Castanhos. Seus lábios estão em uma linha reta. Seus movimentos
são intencionais e seguros.
Espere, ele está tentando parecer severo?
Uma risada cruel sai da minha barriga e chega ao meu peito, lutando pela
liberdade. Meus lábios tremem quando eu os fecho para impedir isso. Olho para
ele novamente, ele está perto de mim agora, tão perto que poderia me tocar se
quisesse. Minha risada morre na garganta, como uma chama que se extingue com
um jato abrupto de água. Meus lábios tremem novamente, mas desta vez não é de
alegria. Não sei o que é dessa vez. Eu não tenho certeza. Seja o que for, não é algo
que estou acostumado a sentir. Meus órgãos parecem estranhos. Muito grandes e
muito pequenos. Existem espaços estranhos dentro de mim que estão torcendo e
puxando. Não tenho cem por cento de certeza, mas tenho uma sensação terrível de
que o que estou sentindo é nervosismo.
Nervoso?
Eu?
Não.
Eu não fico nervoso. Eu não preciso. Eu não deixo as pessoas me afetarem.
Não posso ficar nervoso perto desse palhaço. A sensação horrível toma conta do
meu peito novamente e sou forçado a reconhecer que estou nervoso ou com medo.
Não consigo suportar, nem explicar completamente o sentimento, mas pelo menos
consigo me confortar com o fato de saber que não tenho medo de Saint. Eu sei disso.
Eu não tenho medo dele. Mesmo nessa manhã, coberto de sangue, eu não tinha
medo dele. Também não tenho medo dele agora. Só estou com medo de que ele faça
o que ameaçou fazer. Tenho medo que ele me trate como disse que faria. Receio
que ele vá até o fim: me humilhe, me machuque, me faça pagar.
Mais do que isso, tenho medo que ele não o faça.
Enquanto tento determinar o que é pior, nervosismo ou medo, seguir em
frente ou não, viro a cabeça para olhar para frente. Eu me vejo olhando por uma
grande janela saliente. A grama lá fora é espessa e brilhante, descendo até o lago.
Há montanhas arrebatadoras e azul-claras espreitando por trás do espelho de água.
Há árvores por toda parte. Densas e exuberante. Há quatro cadeiras Adirondack
brancas como a neve dispostas em semicírculo nas margens do lago. Se você
gostasse da natureza, pensaria que essa configuração era totalmente idílica. Sério,
você ficaria encantado. Não suporto a natureza, então para mim tudo o que ela faz
é me enervar e reforçar a horrível sensação de que consegui me encontrar nas
posições mais perigosas.
— Levante-se, — ele diz suavemente.
Levanto-me rapidamente e ele toma meu lugar no sofá, sentando-se e dando
tapinhas no joelho. Eu fico de pé, com as pernas rígidas, e olho para sua mão,
incrédulo. Suas ações são pacientes, mas firmes. Ele parece ter a impressão de que
vou me permitir ficar curvado sobre seus joelhos. Minha respiração fica áspera e
irregular. Ele alcança meu pulso e me dá um puxão suave. Caso você esteja
pensando que existe uma maneira digna de se posicionar sobre o joelho de um
homem, você está errado. Muito errado. Eu meio que rastejo, meio que tombo para
me colocar no lugar. No segundo que faço isso, ele levanta uma perna, me fazendo
saltar para frente, levando minha bunda mais alto do que minha cabeça.
Minha cabeça gira. Estou surpreso comigo mesmo. A semana passada levou
uma surra. Honestamente, tanta coisa aconteceu comigo que eu nunca, em um
milhão de anos, pensei que aconteceria. Mas apesar de tudo isso: apesar do
sequestro, apesar do resgate, apesar do negócio de assassinato desta manhã, e
mesmo apesar de toda a merda, é isso, isso, que me chocou profundamente.
— Damon, — ele diz calmamente. — Você sabe por que está aqui?
Ah, porra, não. Não! Ele não vai me repreender.
Não há como esse lunático me repreender.
Lancei um olhar rápido e furtivo para trás. Seu rosto está muito sério, quase
sereno. Ele tem a aparência de um homem que acredita firmemente que está
fazendo a obra do Senhor. Estou chocado e horrorizado. Infelizmente, meu maldito
idiota não se cansa. Está vivendo para isso. Essa merda está literalmente dando vida
a ele. Estou tão inchado que posso sentir meu pulso na ponta do meu pau.
— Tudo bem se você não saber, — diz Saint. Sua voz ainda é suave, mas agora
também é estranhamente reconfortante. Posso senti-la escorrendo pela minha
espinha como mel quente e derretido. — Isso é importante, então não me importo
de explicar para você. — Minha ereção balança violentamente contra sua coxa.
Tento me mover para que não fique pressionado contra ele, mas ele passa um braço
sobre minhas costas e me mantém firmemente no lugar. — Vou bater no seu
traseiro porque você é um garoto rude e mimado e garotos rudes e mimados
precisam ser colocados em seus devidos lugares.
Meu pau traidor balança novamente e um som horrível sai de mim. Estico a
cabeça para trás e vejo que ele está com a mão posicionada, erguida, pronta para
atacar.
— Se você quer que eu pare, diga 'pare' e eu irei. Se não, vou bater em você
até decidir que você está arrependido.
Um som ainda pior escapa. Coloco a mão na boca e me preparo. Isso não
ajuda. Ele abaixa a mão e eu grito com o impacto. Um calor pungente queima
minha nádega direita. Tento freneticamente me recompor, mas não há tempo para
isso, o próximo golpe cai e o próximo também. Ele me bate repetidamente, nádega
esquerda, depois nádega direita, depois nádega esquerda novamente. Em segundos
estou me contorcendo. Meu rosto está quente, e não apenas porque estou de bunda
para cima e de bruços.
— Você choramingou e reclamou mais do que eu jamais pensei que fosse
possível para uma pessoa choramingar e reclamar, — diz ele, pontuando cada frase
com um golpe forte. — Você me levou à distração. Você tem sido irritante de
propósito. — Ele faz uma pausa e eu luto desesperadamente para recuperar o
fôlego. O calor de cada golpe queima em mim. Através de mim. Corre em minhas
veias e estrangula a razão. Isso me consome. Faz com que os meus lábios fiquem
inchados e meu pau e minhas bolas também. — Agora, reconheço que as
circunstâncias do nosso encontro estiveram longe de ser ideais e fiz concessões a
isso. Muitos ajustes. Mais concessões do que qualquer homem deveria ser solicitado
a fazer.
Ele finalmente parou de falar. Por um momento, acho que a surra acabou.
Sinto uma rápida explosão de alívio. Ou é decepção? Talvez seja alívio e decepção
reunidos em um só. Estou prestes a começar a me parabenizar por ter sobrevivido
à provação com relativo equilíbrio, quando percebo que isso foi apenas o
aquecimento. Ele começa a trabalhar com um ritmo constante e terrível. É
previsível e, de repente, não é. Quando não é, a dor é tão aguda e chocante que faz
meus pensamentos ficarem confusos. Eu grito livremente agora, qualquer tentativa
de pará-lo está verdadeiramente abandonada.
Jesus, Idiota bate forte.
Enquanto ele dá tapas nítidos e fortes em meu traseiro, fico preso em um
limbo terrível. Estou preso em algum lugar entre odiar o que ele está fazendo e
amar isso. Eu odeio estar deixando ele me ver assim. Eu odeio ter admitido que
queria isso. Eu odeio esperar pelo próximo golpe. Quando isso acontece, Deus, eu
odeio isso. Ou eu deveria odiar isso. É difícil e dói pra caralho, mas o que sinto fica
aquém do ódio. Eu não odeio isso completamente. Eu meio que amo isso. Amo o
calor, a queimadura e a ardência. Eu amo o que isso faz com o meu pau. Eu amo
que eu deveria odiar isso, mas eu realmente não odeio. Há algo muito errado nisso
tudo, e eu amo isso também.
— Você já está pronto para me dizer por que está sendo espancado? — Ele
parece um pouco sem fôlego. Normalmente isso me agradaria, mas não me consola
muito, porque estou tão sem fôlego por ter recebido seu castigo quanto estaria se
tivesse corrido uma maratona. Ocorre-me que vou ter que falar, mas não consigo
pensar em como acessar minha voz.
Ele me bate com força na parte superior da coxa, bem onde minha bunda e
minha perna se encontram, para me lembrar. Minha perna enrijece e recua
lamentavelmente por conta própria. Rapidamente a coloco de volta no lugar, para
não parecer ainda mais trágico. Ele dá um tapa na minha outra coxa, com a mesma
força, se não com mais força, e tenho que admitir que parece me afetar.
— Eu… eu… — Tapa. Pausa. Tapa. — Eu sou rude, — eu choro. Tapa. Pausa.
Tapa. — Eu sou mimado. — Agora que encontrei minha voz, não consigo parar.
Minhas palavras se sobrepõem. — Eu reclamei e-e irritei você e-e choraminguei,
chorei o tempo t-todo. E-eu sou rude e...
— Você já disse rude.
Eu me encolho e queimo de vergonha por ter sido reduzido a isso.
Ele para de me bater e o peso do braço nas minhas costas desaparece.
Levanto-me rapidamente, puxando minha blusa na frente para esconder o estado
obsceno do meu pau. Ele fica ao meu lado, colocando uma grande mão nas minhas
costas. É quente e ainda mais reconfortante do que sua voz era antes. Ele me
empurra para frente com tanta delicadeza que nem percebo o que estou fazendo.
Inclino-me para frente e coloco as mãos no sofá. Minhas pernas parecem fracas e
minha bunda pulsa com calor.
— Venha aqui, — ele diz, colocando um braço em volta da minha parte
inferior das costas e puxando meus quadris em sua direção. Ele roça sua ereção
contra meu quadril, onde está curvado. Longe de resistir, me inclino para ele. Eu
faço isso com gratidão. — Abra suas pernas.
Ele dá um tapinha firme na parte interna da minha coxa, então faço o que
ele diz. Ele alcança minhas costas e agarra meu pau e minhas bolas com uma mão.
Eu gemo de prazer, percebendo tarde demais que ele está apenas tirando-os do
caminho do perigo. Ele passa a mão livre sobre minhas nádegas febris. É grande e
quente. Ele me toca suavemente, com cuidado. Isso me faz choramingar. Parece que
alguém colocou uma lixa na minha bunda. Está ferida e inflamada. Parece um
inferno quando ele me toca, mas por causa da maneira como sou formado, parece
o paraíso também. Ele esfrega a mão em mim novamente e fala comigo suavemente.
— Você vai se sentir muito melhor quando for colocado em seu lugar.
Sua voz é reconfortante, apesar da ameaça clara associada a ela. Isso penetra
em mim como um bálsamo. Se a sua voz é um bálsamo, as suas palavras são uma
chave. Elas desbloqueiam algo dentro de mim. Uma nova câmara em meu coração.
Parte de mim que eu não sabia que existia. Parte de mim que foi feita para
momentos como este. Para homens assim. Um alçapão se abre. O sangue corre. Os
pulmões se enchem. Algo importante contrai. E assim, uma nova parte de mim
começa a bater.
Ele me espanca novamente. Ritmado. Perfeito. Ando na estreita corda bamba
entre o prazer e a dor. Quando sua mão pousa na minha carne, eu pulso e tudo
aperta. O som que faço não é um choro. Não é agudo ou angustiado. É baixo. Baixo
como um gemido.
Meus olhos estão ardendo, mas estão abertos. Estou olhando pela janela para
um Monet de azuis e verdes. Sentimentos bons e ruins crescem sob minha pele. Eles
incham e colidem até que penso que vou explodir. Finalmente, percebo que vou
explodir.
— Eu vou gozar, — eu gemo.
— Não.
Meu orgasmo é interrompido.
Ele disse isso tranquilamente. Calmamente. Absolutamente. Duas letrinhas.
Uma grande palavra. Não. A palavra desaba ao meu redor. Tão real e visceral que
sinto que poderia alcançá-la e tocá-la. É dura. Sólida. Como uma gaiola. Como
barras de metal. Como uma cerca.
Não.
Não uma gaiola, não uma cerca; um limite.
Fecho os olhos e sinto como se pudesse ver tudo ao meu redor. É cinza e
concreto. Eu me imagino pressionando minhas mãos contra ele. Eu poderia
empurrá-lo e puxá-lo e sei que não se moveria. Não cederia um centímetro. Eu me
curvo sob o poder da imagem. Eu luto contra isso, mas ele se mantém firme. Estável.
Não percebo que comecei a chorar até que abro os olhos e o Monet na minha frente
nada. Solto um gemido longo e triste enquanto lágrimas quentes saem de mim.
— Por favor, — eu gemo.
— Por favor pare?
— Nãooooo. Por favor, não. — Estou chorando de verdade agora. Chorando
como se nunca me lembrasse de ter chorado. Coisas boas e coisas ruins estão saindo
de mim. Estou ofegante e cuspindo, quase engasgando com as lágrimas. — Por
favor, não pare.
Ele não para. Ele acelera o ritmo. Linhas e mais linhas de lágrimas escorrem
pelo meu rosto. Tem gosto de sal, mas parecem alívio. Alívio inacreditável e
abrangente. Camadas e mais camadas das minhas besteiras caem e se transformam
em cinzas aos seus pés. Quando ele finalmente para, ainda estou vestido como o
Ursinho Pooh. Minha bunda parece vermelha e manchada, assim como meu rosto.
Estou quase nu. Por dentro, estou completamente nu. Completamente despido.
Sufocando e fungando enquanto ele passa a mão de forma tranquilizadora para
cima e para baixo na minha espinha.
— Você se lembra do que eu disse que ia fazer com você?
Eu soluço e aceno com a cabeça.
— O que foi que eu disse?
— V-você disse que ia bater na minha bunda antes de me foder.
— Ainda é isso que você quer? — Eu aceno novamente. — Desta vez, quero
que você diga isso.
Eu não hesito. — Foda-me, por favor, Idiota.
Posso senti-lo sorrir com meu uso de boas maneiras. Pela primeira vez, não
me importo. Não tenho energia para me preocupar. Não tenho nenhuma resposta
arrogante. Nenhuma réplica maliciosa. Não tenho nada além de um inferno furioso
dentro de mim que precisa ser contido com urgência.
Ele vai até sua mochila e pega o lubrificante e uma camisinha. Eu me ouço
sussurrar: — Por favor, rápido, — repetidamente. Eu sei que é patético. Mas neste
momento, não me importo.
Graças a Deus, ele o faz. Graças a Deus, ele tem misericórdia de mim. Ele se
apressa. Ele não me acaricia nem me tortura com beijos suaves. Ele cobre os dedos
com lubrificante e coloca dois dedos em mim ao mesmo tempo. É muito. É um
alongamento rápido. Me sinto invadido da melhor maneira. Ele puxa e aplica mais
lubrificante. Tenho muita vontade de gritar: “Isso é lubrificante demais, Idiota!”
Mas minha bunda ainda está doendo e a fome dentro de mim atingiu proporções
épicas. Não posso me dar ao luxo de perder tempo com negociações. Ele acaricia
minha entrada, minucioso e preciso, quase cirúrgico na quantidade de prazer que
me dá. Então ele pressiona mais lubrificante em mim, até que todas as partes do
meu canal estejam revestidas. Ele fica atrás de mim e mantém os dedos dentro de
mim. Ainda. Parado. Deixando-me esticar, deixando-me abrir. É uma ação
destinada a me preparar. Proposital, em vez de projetado para induzir prazer. Isso
me faz sentir degradado. Objetificado. É horrível. Absolutamente horrível.
E foda-se se meu pau não adora.
Tento não reclamar, mas percebo um som triste e choroso que sei que só pode
vir de mim. Por fim, ele se retira e vejo sua camiseta cair no chão, perto dos meus
pés. Ouço o tilintar de um cinto e o som áspero de um zíper. Cada som eleva meu
desespero. Sinto-me quente e perturbado. Louco de luxúria. Ouço o estalo
característico do látex e suspiro alto de alívio. Arqueio as costas e me preparo, mas
em vez de empurrar contra mim, ele se senta no sofá.
Estou confuso por um segundo. Eu me endireito e ele me guia pelo joelho,
então fico bem na frente dele. Cruzo as mãos rapidamente, escondendo meu pau.
— Mostre-me, — ele diz calmamente. — Mostre-me o que você não quer
que eu veja.
Eu quero virar e correr. Quero colocar minhas calças de volta e dar o fora
daqui. Quero voltar à civilização mesmo que tenha que andar descalço todo o
caminho. Mas não posso. De alguma forma, deixei-me ser pego em sua teia. Ele
teceu a ao meu redor, me prendeu com nada mais do que um olhar de expectativa
em seus olhos. Enrolo meus dedos em volta da barra da minha blusa. Não preciso
olhar para baixo para saber que eles estão tremendo. Mesmo que parte de mim
esteja gritando para não fazer isso; Eu os levanto lentamente. Uma parte maior,
mais louca e masoquista de mim quer o oposto. Quer que ele veja.
Seus olhos seguem para baixo e eu olho para baixo também. Eu sei o que ele
verá, mas ainda sinto uma sensação de horror ao ver o que seu tratamento bruto
fez comigo. Meu pau está tão inchado que a pele da cabeça está brilhante. As veias
estão pulsando. Está furioso e vermelho. Fitas prateadas de pré-sêmen saem de mim
e vão para minhas coxas.
A humilhação que sinto quando ele me vê assim é pura. Completa. Absoluta.
Como a maioria das pessoas, nunca gostei da ideia de me envergonhar. Eu
temia isso, para ser honesto. Sempre temi. Se você é como eu e também tem medo
da humilhação, tenho boas notícias para você: a humilhação não é fatal. Não é. Por
mais que pareça a morte, não tem a capacidade de te matar. Este momento, agora
mesmo, é um momento de uma vergonha tão intensa, se fosse fatal, com certeza eu
estaria morto.
Eu ainda estou aqui. De pé. Balançando na frente do homem que me fez
assim. Vermelho. Quente. Quente até as orelhas e os dedos dos pés. Ele segura meus
quadris e me puxa para seu colo. Sento-me nele, lutando para impedir que meus
quadris balancem com o impacto. Estendo a mão para trás com gratidão e separo
minhas nádegas. Ajudando-o, para que ele possa encontrar o caminho até mim. Ele
cutuca a cabeça, observando meu rosto enquanto faz isso. Ele não pisca. Afundo
lentamente, ofegando com o choque rápido, agarrando seus ombros e cravando
unhas cegas em sua carne quando a pressão me atinge. Ele ainda não piscou. Ele
parece paralisado. Seus olhos parecem diferentes. Mais escuros e mais profundos.
Eles parecem tão diferentes que olhar para eles envia uma nova onda de lágrimas
pelo meu rosto.
— Eu não estou chorando, — eu digo com raiva.
Ele estende a mão e tira meu cabelo do rosto, tentando prendê-lo atrás da
orelha, mas não é longo o suficiente para isso, então ele cai para frente novamente.
Ele segura meu rosto com as duas mãos e me examina por vários segundos.
Então ele sussurra: — Eu sei.
Ele desenha um semicírculo sob cada um dos meus olhos com as pontas dos
polegares. Enxugando minhas lágrimas. Selando meus canais lacrimais com este
gesto inocente.
Começo a me mover rapidamente, postando para cima e para baixo para
tentar fazer com que ele me alcance.
— Não, — ele diz. — Não assim. Não se mova por mim. Mova-se para você.
Estou perplexo por um segundo. Surpreso que ele soubesse que há uma
diferença. Não demoro muito para fazer o que ele diz. Começo a balançar os
quadris para frente e para trás, inclinando-me para trás, relaxando quando meus
quadris se curvam em direção a ele e apertando quando me afasto. Ele roça minhas
entranhas, raspando minha próstata, me fazendo tremer. Eu me abaixo para
agarrar meu pau. Não cavalgo há muito tempo, mas não me importo, preciso gozar
mais do que jamais precisei de ar.
Ele pega minha mão e a move com firmeza nas minhas costas. Para garantir,
ele faz o mesmo com a minha outra mão. Eu luto, não para fugir, apenas para testar
sua força. É profundo. Ele não se mexe, não cede um centímetro. E Deus, isso me
excita.
— Eu não posso gozar assim, — eu ofego. Estou com tesão e tão frustrado que
estou ficando com raiva disso.
— Não importa. Faça assim o máximo que puder. Não se preocupe, não vou
deixar você esperando. — Sua voz parece ter passado por um liquidificador.
A luta me deixa. Eu cedo. Sucumbo à sua vontade e continuo me movendo,
deixando o prazer tomar conta do meu corpo. Eu me esfrego nele como se fosse a
coisa mais natural do mundo. Como se fosse para isso que fui feito. Ele me observa
o tempo todo. Seus olhos nunca deixam os meus. Eventualmente, seus olhos se
fecham e ele geme. O som viaja através de mim, sacudindo meu núcleo. Ele começa
a meter. Pra cima. Profundo. Ele martela minha próstata até que eu fique quase
cego com a sensação. Minha entrada começa a apertar involuntariamente. O
prazer toma conta e me quebra. Não, não me quebra, me destrói. O prazer me
estilhaça em pedaços. Explode do meu pau e sobe pela minha espinha. Isso continua
e continua. Não conheço nada além de violentos tremores de prazer. Parece que
nunca vai acabar.
Quando isso finalmente acontece, gradualmente volto à realidade, pousando
de volta no meu corpo e encontrando minha boca aberta com a língua dele dentro
dela. Eu não estava ciente dele gozando, mas ele deve ter gozado, porque ele está
amolecendo dentro de mim.
Eu saio de cima dele, atordoado, fraco e instável. Eu me sinto distraído. Ele
me alcança e me puxa para seu colo. Ele dobra meus joelhos até o peito e estende a
mão para pegar o cobertor da parte de trás do sofá. Ele me envolve, envelopando-
me em um casulo apertado de braços, peitorais e lã. Ele enfia minha cabeça sob seu
queixo. Pisco para o calor da pele de seu pescoço.
— Feche os olhos, — ele diz.
E eu o faço.
Capítulo 16

Saint

Eu o segurei enquanto eu confiasse em mim mesmo para segurá-lo sem


começar a arrancar outro pedaço dele. Ele mal se mexeu quando o deitei no sofá.
Ele ainda está dormindo e já faz algumas horas. Estou na cozinha preparando o
jantar. De vez em quando, olho para cima para apreciar a vista do lago e o vejo
deitado ali, todo enrolado e embrulhado no cobertor, e parece... tudo bem, eu acho.
Nada mal. É meio relaxante, quase pacífico, estar aqui e saber que ele também está
aqui.
Quando o jantar está pronto, eu o acordo com um tapinha suave no ombro.
Seus olhos se abrem, vasculhando ao redor, parecendo inseguro de onde ele está.
Quando se lembra, limpa disfarçadamente o canto da boca e se veste.
Entrego-lhe os sapatos e as meias, esperando que ele me ataque por não ter
dado a ele no caminho para cá. Ele não o faz. Ele parece ter dormido em tal estado
que mal consegue distinguir o que é alto e o que é baixo. Entrego a ele uma jaqueta
de flanela fofa. — Está frio. Coloque isso. — Isso parece trazê-lo de volta aos seus
sentidos.
— Eca, — diz ele, prolongando a palavra e adicionando mais vogais do que
o necessário.
— O que? Flanela estará de volta nesta temporada. — Posso estar certo, posso
estar errado, não tenho a menor ideia sobre moda, tudo que sei com certeza é que
estou falando demais para irritá-lo.
Ele murmura algo sobre a flanela que é muito diferente daquela velha e
fodida flanela, enquanto me segue pelo deck. — A propósito, chama-se shacket14.
— Huh?
— Uma shacket. — Ele diz devagar, como se estivesse falando com uma
criança. — Um cruzamento entre uma camisa e uma jaqueta.
— Oh. Entendo. Como merda e peido.
Ele me olha com desgosto.
Comemos em relativo silêncio. Ele não elogia a refeição, mas também não
reclama. Acho que isso é um progresso.
— Então, — ele diz, empurrando o prato para frente quando termina. — O
que diabos aconteceu hoje e o que acontecerá a seguir?
Tomo um longo gole da minha cerveja. Não costumo beber, mas o dia que
tive justifica isso. — Ainda estou investigando, mas parece que o comprador era
uma fachada. Uma boa fachada. Pesquisei sobre ele antes de aceitar o emprego e
seu perfil era perfeito. Era exatamente o que eu esperava ver, alguém rico com
problemas de fluxo de caixa. Alguns problemas com a lei. Estilo de vida de alto risco
com tendência a se envolver em comportamentos de risco. Não havia nada de
suspeito nisso. Quando fizemos a verificação final, encontramos algo fora do lugar
e, quando cavamos, tudo desmoronou.
— O que isso significa?
— Isso significa que não havia ninguém esperando para ser pago. Significa
que foi uma armação. Uma armadilha. Quem sabe o que teria acontecido se

14Peça de roupa que une a modelagem de uma camisa larguinha com os tecidos mais robustos de uma
jaqueta. Uma junção de camisa e jaqueta.
tivéssemos tentado a troca, mas uma coisa é certa: não se trata mais de sequestro e
resgate.
— Então o que é?
Eu não perco o ritmo. — Um assassinato contratado. Um assassinato que
alguém não teve coragem de pagar. — Faço uma pausa, para deixar que isso seja
absorvido. — Quem quer que nos tenha pago para levá-lo, não tinha intenção de
trazê-lo de volta vivo.
Ele empalidece e olha para mim sem expressão. — O que… quand… por
quê…?
— Acho que a pergunta que você deveria fazer não é o quê, onde ou por quê.
A pergunta que você deveria fazer é: quem você conhece que quer você morto?
Ele reflete sobre isso por um tempo, mas não muito. — Abra meu perfil
BeckIT.
— Não acho que agora seja a hora de você verificar seus likes.
— Não estou verificando curtidas, Idiota. A resposta esteve na sua frente o
tempo todo, só estou apontando. Encontre minha postagem mais curtida.
Já vi o post antes. É uma grande coisa. É o post mais curtido da história da
BeckIT. Abro o perfil dele e clico em “filtro”. A imagem aparece. Ele parece gostoso
pra caralho nela. Ele está parado no meio da Wall Street. Carros e táxis estão
parados atrás dele. O merdinha está literalmente parando o trânsito. Seus olhos
estão duros. Cortantes. Cortando tudo e todos que ele encara. Ele está sorrindo, mas
não é um sorriso bonito. Ele está zombando e tornando tudo sexy enquanto faz isso.
Ele bate na mesa com impaciência para me avisar que está esperando.
Olho novamente para a foto. É uma foto incrível. Profissional, obviamente. As
luzes e o desfoque estão espetaculares. As cores e a composição são
impressionantes. Ele está vestindo uma camiseta grafitada que parece que um
adolescente cheio de espinhas poderia ter feito, mas provavelmente custou um
braço e uma perna. É movimentada, preta com muita cor.
Demoro um segundo para ver o texto estampado nele: Bilionários não
deveriam existir.
Ele se recosta na cadeira e me observa pensativo quando tem certeza de que
vi.
— O quê… Quem? — Agora sou eu que estou cheio de perguntas idiotas.
Ele revira os olhos novamente. — É meu tio, imbecil. Acho que você poderia
dizer que ele e eu temos uma diferença fundamental de opinião quando se trata do
futuro da BeckIT.
— Você está dizendo que está planejando doar seu dinheiro?
— Sim, muito coisa.
Estou seriamente confuso. Nada que Damon tenha feito desde que o conheci
me deu a impressão de que ele se preocupa com os pobres, ou mesmo que tem plena
consciência de que eles existem. — Sem ofensa, mas você não parece um bom
samaritano.
— Não ofendeu, e não, não sou. Eu sou a coisa mais distante disso. Não
acredito que devam existir bilionários, mas certamente não tenho nenhum
problema com pessoas que tenham cerca de novecentos milhões em seus nomes.
Na verdade, pretendo garantir que minhas irmãs e eu tenhamos esse número à
nossa disposição. O que estou planejando fazer é sobre a redistribuição da riqueza.
É uma questão de equilíbrio. — Seus olhos brilham enquanto ele fala. Ele está
animado. Apaixonado. Ele nunca pareceu mais gostoso e, ao mesmo tempo, nunca
pareceu mais perigoso. Se eu fosse um apostador, o que não sou, digamos apenas
que não apostaria contra Damon Alexander Beckett fazendo exatamente o que ele
está ameaçando fazer. — É uma questão de poder. Isso é…
— Anarquia, — eu digo, terminando a frase para ele.
Seus olhos brilham, surpresos por um homem com meu intelecto entender
tal coisa. Ele faz uma pausa por um momento e então me dá um único aceno de
cabeça. — Então, o que acontece a seguir? Você está planejando me manter aqui
para sempre?
Não tenho ideia do que fazer com ele. Eu não tenho um plano. Fui reativo,
não proativo esta manhã. — Tenho uma série de opções viáveis que estou avaliando
atualmente.
— Compartilhamento de mentes? Estou bastante interessado, você sabe, já
que é a minha vida e tudo mais.
— Bem, acho que poderia deixar você ir.
— Sou um grande fã dessa opção. Enorme.
— Oh sim? — Eu sorrio. — O problema disso é que me deixa sem uma
grande soma de dinheiro.
— Você sabe muito bem que eu poderia te pagar.
— Eu sei. É por isso que é uma opção, mas tem uma desvantagem.
— E qual é?
— Seu tio, ou quem quer que tenha armado isso. O problema para você é que
eles querem você morto, e o problema para mim é que eles são uma ponta solta.
Não gosto de pontas soltas. Não deixo pontas soltas. Além disso, eles meio que me
irritaram hoje.
— É o meu tio, Idiota. Eu sei disso. Ele me tolera, me dá tudo o que eu quero
e quase nunca reclama, e você sabe que isso exige algum esforço. Ele dirige a
empresa desde que meu pai ficou doente. Ele não pode fazer o suficiente por nós,
mas conheço pessoas e aquele homem não me suporta. Ele também não suportava
meu pai. Ele estava com ciúmes. Ele está ganhando tempo. Eu conheço o ódio
quando o vejo, mesmo quando vem com um sorriso. Eu podia ver isso em seus olhos
desde que era criança.
— Dê-me um segundo e eu irei investigar ele.
Entro em casa e pego meu laptop. Damon desce até a margem do lago e se
senta em uma das cadeiras lá fora, ele não se move a não ser para puxar a shacket
quando não aguenta mais o frio. Agora que sei o que estou procurando, levo apenas
algumas horas para descobrir que ele está certo. É o tio dele, Peter Beckett, que o
quer morto. Ele escondeu bem seus rastros.
Ele é bom. Vou admitir isso para ele, mas sou melhor.
— Você estava certo. É ele. — Sento-me em frente a ele, na beira da margem.
Ele fixa os olhos em mim. Sua expressão é calma e controlada, não me dá
nenhuma indicação do que ele vai dizer a seguir. — Suponho que você não
conheça ninguém que esteja no ramo de, como você disse, cuidar de algo assim?
Acho que não deveria me surpreender que ele pensasse que isso é uma opção,
mas é. Sua vida tem sido mimada e confortável pra caralho. Geralmente leva muito
mais tempo e mais algumas doses de realidade para que as pessoas recorram à
exploração dessa opção. Ele toma um gole cauteloso de seu vinho. É um Sauvignon
Blanc decente da Nova Zelândia. Da Baía de Hawkes. Sua região favorita. O melhor
que pude encontrar emergencialmente. Custou-me setenta e cinco dólares. Ele
aperta os lábios com força e engole em seco, como se estivesse sofrendo muito ao
ser exposto a tal vinho barato. Eu não deveria achar divertido ou atraente quando
ele faz isso.
Mas eu acho.
— Humph. Eu poderia pensar em um ou dois nomes, claro. O problema é
que se você pagar alguém para cuidar de algo assim, haverá uma trilha. Sempre há
uma trilha. Pelo resto da sua vida, não importa aonde você vá ou o que faça, sempre
haverá alguém que tem algo contra você. Algo grande. Algo que poderia destruir
você.
— E se esse alguém fosse você? — ele diz docemente.
— E por que eu faria algo assim por você?
— Quero dizer, há a pequena questão da reparação pelo meu sequestro.
Deus, eu sofri tanto. — Ele coloca as costas da mão na testa e suspira
dramaticamente. Quando ele tem certeza de que tem toda a minha atenção, ele se
contorce na cadeira, mordendo o lábio inferior e parecendo falso arrependido.
Flerte clássico. Geralmente sou imune, mas não estou no momento. — Além disso,
— seus modos mudam de sexo para gelo em um piscar de olhos, — eu sei algumas
coisas terríveis sobre você, Idiota. Algumas coisas grandes, ruins e assassinas.
Ele se contorce novamente, mexendo os quadris deliberadamente. Isso me faz
pensar na bunda dele no banco. Um pêssego perfeito, maduro e vermelho brilhante,
da última vez que o vi.
Porra, eu o espanquei bem.
Eu amei. Não sabia se faria isso, já pensei nisso antes, mas nunca me senti
motivado a tentar. Deus sabe que se alguém no mundo merece, é ele. Acontece que
gostei. Eu adorei. Passo tanto tempo tentando esconder e domar o monstro dentro
de mim que foi bom deixá-lo sair. Especialmente assim. Especialmente em alguém
como Damon. Alguém que olha diretamente nos olhos de um monstro sem vacilar
e parece dizer: “Eu vejo o seu monstro e crio como um demônio”.
Eu o observo se mover em sua cadeira e me pergunto se ele ainda consegue
sentir isso. Eu me pergunto se suas nádegas ainda estão quentes e rosadas. Eu me
pergunto se o pau dele está duro como antes. O meu está. O meu está duro e grosso
só de sentar a três metros dele. Não consigo ver o pau dele por causa da shacket e
de repente sinto falta dele. Tenho saudade. Sinto falta das calças de moletom cinza
que não escondem nada. Sinto falta do acesso fácil e sinto falta de ter a mão nas
calças dele.
Olho para o meu relógio. — Faz apenas dez horas que salvei sua vida e você
já está recorrendo à chantagem.
— Fiquei inconsciente por três dessas horas, ou eu teria feito isso muito antes.
— Não duvido.
Ele sorri para mim. Um sorriso bem praticado. Está perfeito. Simétrico. Dentes
grandes, brilhantes e ricos cintilam. Lábios sedutores se curvam. A luz da lua reflete
tão alto nas maçãs de seu rosto que alguém com certeza escreverá uma música
sobre elas algum dia, se é que ainda não o fizeram. Seus olhos são como gelo. Frios.
Calculistas.
Talvez seja a manhã que tive, ou o fato de que o tio dele realmente me irritou.
Talvez seja a tarde que passei com ele ou o fato de estar bebendo. Tomei uma
cerveja e meia, então não deveria ser o suficiente para me alterar, mas talvez tenha
sido, porque agora me sinto bem gentil. Generoso, até.
— Deixe isso comigo. Eu cuidarei dele. — Ele parece satisfeito e nem um
pouco surpreso. — Você sabe o que isso significa: você não menciona a mim ou o
sequestro para ninguém. Nunca. Nenhuma parte disso. Se eu cair por causa disso,
vou levar você comigo.
— Feito, — ele diz sem pensar duas vezes no assunto, como se fosse uma
piada.
— Isso é um grande negócio, Damon. Não sou um homem fácil de encontrar.
Na verdade, sou quase impossível de encontrar. As pessoas que me encontram são
importantes. Fodidamente importantes. Quando me pagam, elas sabem o que estão
comprando. Elas sabem o que eu sou. Elas sabem o que significa me contrariar. Seu
tio é perigoso. Ele é perigoso para nós dois. Mas ainda estamos falando de uma vida
humana. Lidar com isso pode não ser tão fácil quanto você pensa que será. — Ele
levanta uma sobrancelha para mim. — Você pode ter dificuldades com isso depois
de ser feito. Mas é por minha conta, ok? Eu cuidar dele por minha conta, não por
você.
— O quê? Você acha que vou me sentir culpado?
Seu sorriso perfeito desaparece. Em vez disso, ele me dá um de verdade. Um
que não é para as câmeras. Um que não é perfeitamente simétrico ou semelhante a
doce. Um sorriso verdadeiro, destinado apenas a mim.
Eu penso um pouco. — Acho que a culpa é a emoção que a maioria das
pessoas sente quando sabem que é responsável pela morte de um homem. É
compreensível. Apropriado. É normal sentir-se nessa circunstância. Então não, —
balanço a cabeça, — não acho que você se sentirá culpado.
O som dele rindo sai pela água, ecoando pelo vale.
— Você gosta de matar? — ele pergunta quando sua risada cessa.
— Não, isso não tem nada a ver comigo. É um mal necessário, sabe? Se eu
puder evitar, eu faço. Não é como se eu fizesse isso com frequência. — A propósito,
isso é verdade. Eu não faço isso por esporte. Eu tenho regras sobre isso e tudo mais.
Mato em legítima defesa e mato quando sou ameaçado. Não é que me falte empatia.
Não falta. Tenho um forte senso de empatia, na verdade. Sempre tive. É que meu
instinto de sobrevivência é mais forte.
— Não é como se você fizesse isso com tanta frequência? Você está falando
sério? Você acha que isso melhora as coisas? Pessoas normais nunca fazem isso.
Jamais. A maioria das pessoas literalmente passa a vida inteira sem fazer isso
nenhuma vez. — Ele parece chocado por ter que me explicar. — Pessoas más
matam. Pessoas boas não. É simples assim, Idiota.
— Mas, Demon, — eu digo razoavelmente, — eu nunca disse que não era
um homem mau.
Capítulo 17

Demon

É o silêncio que me alerta para o fato de que ele se foi. Mesmo que Saint se
mova de maneira estranhamente silenciosa para um homem de seu tamanho, a
casa parece estranhamente silenciosa sem ele. Eu não tinha certeza se hoje era o
dia, mas pensei que poderia ser. Ele me disse que tínhamos que agir rapidamente
antes que meu tio fizesse algo como denunciar meu desaparecimento. Ele evitou
propositalmente me contar o plano. Não sei dizer se é porque ele não confia em
mim ou se é porque está tentando me proteger.
Minha suspeita de que hoje é o dia é confirmada pelo post-it que ele deixou
na geladeira.

Demon,
Por favor, carregue a máquina de lavar louça enquanto eu estiver fora.
E LIGUE-A.

Sua caligrafia é limpa e precisa. Tão elegante que as linhas das letras ficam
perfeitamente paralelas entre si. É tão perfeita que você pode dizer, só de olhar, que
ele é algum tipo de psicopata.
Eu sei, eu sei, eu não deveria ser cruel com ele hoje, entre todos os dias. Eu sei
que ele está me fazendo um grande favor. Eu admito isso. Sou grato por isso, etc.,
etc. Tanto faz. Isso não diminui o fato de que ele fez pouco, mas me deixa louco
pelos dois dias inteiros que se passaram desde que ele concordou em resolver essa
bagunça com meu tio para mim.
Na primeira noite, por volta da meia-noite, voltamos para casa. Ele me disse
que tinha trabalho a fazer, apontou para o corredor e disse: — Meu quarto fica à
esquerda. Você pode dormir onde quiser.
Isso foi o que ele disse. Essas foram suas palavras exatas.
Grosso!
Obviamente, eu não poderia escolher dormir na cama dele quando ele disse
daquele jeito. Então, dormi em um dos quartos vagos. O quarto não é tão ruim. É
mais confortável do que a cama do esconderijo, mas foi desagradável pra caralho
dormir no fundo do corredor. Saber que ele estava perto, mas não senti-lo
pressionado contra mim, me deixou louco. Estava frio e eu ficava acordando o
tempo todo, pensando que podia ouvi-lo na minha porta.
No dia seguinte, ele passou a maior parte do dia no modo Nerd Assassino. Ele
ficava no computador o dia todo. Parecia que ele estava hackeando. A certa altura,
ele ergueu os olhos e disse: — Quando as coisas se acalmarem, você precisará
encontrar um novo médico para sua mãe. — Ele não deu mais detalhes e quando
perguntei sobre, ele colocou seus fones de ouvido e olhou de volta para a tela. De
vez em quando ele me perguntava alguma coisa sobre meu tio, sua rotina, seus
cachorros, seus empregados domésticos, esse tipo de coisa. Ele não me deu
nenhuma indicação se achava que minhas respostas eram úteis ou não.
No meio da tarde, eu estava chateado com ele. Não suporto ser ignorado.
Marchei até ele e tirei um de seus fones de ouvido. — Eu preciso de roupas limpas,
Idiota. Usei essa roupa ontem. Não se pode esperar que eu use o mesmo conjunto
de roupas todos os dias. Eu não sou a porra de um animal.
Ele se levantou, me pegou pelo pulso e quase me arrastou para a lavanderia.
Ele apontou para a máquina de lavar com um floreio dramático. — Fique à vontade.
Eu dei a ele um olhar asqueroso até que ele entendeu meu ponto.
— Meu Deus, Damon. Você tem quase vinte e cinco anos. Você está
brincando comigo agora?
Eu não estava.
Ele me fez tirar a roupa e ficou ao meu lado enquanto eu colocava minhas
roupas e cueca no tambor. Ele explicou pacientemente um monte de besteiras sobre
ciclos, detergente e amaciante. Fiquei lá, nu, tentando pensar em algo diferente do
que a ereção enorme que estava brotando por estar perto dele. Assim que a
máquina iniciou, ele me levantou e me empurrou de volta para cima da máquina,
apoiando minhas pernas em seus ombros, e me fodeu de forma agonizante e lenta
até que a máquina começou a apitar. Depois disso, tive toda a sua atenção por
várias horas.
Foi a mesma coisa no dia seguinte. Ele trabalhou até que eu quis gritar. Ele
me ignorou categoricamente, mal levantando a cabeça quando comecei a
reorganizar os móveis da sala – a posição do sofá antes era escrota, bloqueava o
fluxo de todo o ambiente. O Feng Shui 15 estava péssimo. Fiz várias pequenas
alterações e você não acreditaria como todo o lugar ficou muito melhor.
Quando não aguentei mais o tédio, rastejei para debaixo da mesa e abri o
zíper da braguilha dele. Ele estava duro no momento em que o coloquei em minha
boca. Eu tinha certeza de que o teria exatamente onde eu queria, mas em vez de me

15Pseudociência chinesa, que alega usar forças energéticas para harmonizar o indivíduo e o ambiente ao seu
redor.
deixar fazer o que queria com ele, ele envolveu os dedos no meu cabelo e segurou
minha cabeça com segurança, controlando a velocidade e a profundidade.
— Não me faça gozar. Apenas mantenha meu pau aquecido. — Sua voz era
firme. Sem bobagens.
Ela me afetou imediatamente. Me afetou demais. Em uma fração de segundos,
deixei de me sentir seguro e satisfeito comigo mesmo e passei a me sentir nada mais
do que um animal de estimação oprimido. Fiquei profundamente insultado pela
mudança repentina na dinâmica do poder. Isso me irritou infinitamente. Meu pau,
por outro lado, não tinha o suficiente. Ele esticou minha braguilha enquanto ele
me mantinha com o braço esticado. Vazou quando ele me deixou chegar perto.
Pulsou quando ele esfregou meu rosto em suas bolas. Seu cheiro era inebriante.
Forte. Másculo. Cheirei-o como um cachorro no cio. No momento em que ele me
tirou de debaixo da mesa, eu o teria deixado fazer qualquer coisa comigo. Eu o fiz.
Eu deixei ele me foder noite adentro. Na mesa. No chão. Nas margens do lago.
Minha bunda está doendo hoje.
Não é surpreendente, dado o que temos feito, mas mesmo assim é
perturbador. Está tornando difícil pensar em outra coisa que não seja seu pau e a
maneira como ele o dá para mim. Cada vez que me movo, sinto onde ele esteve.
Quando me sento, ou levanto, ou aperto, recebo um lembrete perturbador.

Droga.
O silêncio é alto sem ele. Está ecoando ao meu redor. Considero sair para dar
uma caminhada, mas sei que as chances são de cinquenta por cento de que eu me
perca na floresta. Deixe-me no centro de Roma na hora do rush e ficarei muito
feliz. Eu vou cuidar de mim. Deixe-me ao ar livre e minhas chances diminuirão
consideravelmente. Eu sento na varanda. Então desço até o lago. Tento quicar as
pedras na água como fazem nos filmes, mas é mais difícil do que parece e não
consigo fazer as pedras pularem. Volto para dentro e movo mais alguns móveis. A
decoração deste lugar me mata. Está quase bom. Quase, mas não exatamente. Para
mim, isso é mais provocante do que se fosse terrível. Quase deslumbrante, mas fica
aquém. Eca. Não há nada pior.
Existem ótimas peças espalhadas aqui e ali. A arquitetura também é boa, mas
está desatualizada e precisa de ajustes. A cozinha precisa ser demolida e movida
para a frente da casa, para que fique com vista para o lago. As horríveis portas de
correr precisam ser arrancadas e toda a parede voltada para o lago deve ser
substituída por vidro do chão ao teto. Ficaria incrível.
Faço uma nota mental para contar a ele sobre essas melhorias enquanto movo
algumas mesinhas laterais feias da sala de estar para o quarto dele.

*
Merda, hoje parece tão longo.
As horas estão rastejando.
Puramente por tédio, encho e ligo a máquina de lavar louça. Resumindo: é
um processo mais complicado do que eu imaginava. Acabo derramando suco de
carne na minha frente e tenho que lavar a roupa novamente. Há muito menos a ser
dito sobre o processo de lavagem quando você não acaba sendo fodido na máquina.
Enquanto minhas roupas estão sendo lavadas, vasculho um pouco o guarda-
roupa de Saint e visto um par de jeans e uma de suas camisetas Henleys brancas.
Suas roupas ficam grandes em mim, então combino o jeans com um cinto e dou
um nó na Henley na cintura. Considero brevemente cortá-la com uma das facas
afiadas que ele tem na cozinha, mas decido não fazer isso no final. Não por nenhum
motivo importante. Definitivamente não porque eu acho que ele fica lindo com
essa roupa em particular. Simplesmente perco o interesse no projeto, só isso.

Meu Deus, foi um longo dia.


Quanto tempo é aceitável para uma tarefa dessas? Ele se foi desde logo cedo
e ainda não voltou. Está ficando escuro. Estou começando a ficar preocupado. Se
alguma coisa aconteceu com ele, estarei preso nessa merda sem um remo. Não
tenho ideia de onde estou e não tenho como pedir ajuda. Mesmo se você tirar da
equação o envolvimento em um assassinato, Saint estava certo, eu não sobreviveria
na natureza. Eu não tenho o que é preciso. Vai ser horrível se eu tiver que caminhar
para a liberdade.

Finalmente, ouço um farfalhar nos arbustos na direção de onde viemos


quando chegamos aqui. Eu pulo e vou em direção a ele.
— O que você está fazendo aqui fora? — De repente, ele está mais perto de
mim do que eu esperava. O ar fresco da noite gruda em suas roupas e cabelos. Ele
segura minha nuca com uma de suas grandes mãos. — E se fosse outra pessoa?
— Eu sabia que era você.
— Como? Se está escuro como breu?
— Porque eu posso sentir seu cheiro, Idiota. Você fede. — Ele faz um som
baixo e áspero contra minha boca aberta. — Como foi? — Pelo menos é isso que
quero dizer. É o que penso dizer, mas não é fácil falar na língua de outra pessoa.
Ele desliza a mão na parte de trás da minha calça jeans. Seus jeans. Tanto faz.
Você sabe o que eu quero dizer. Não estou usando cueca, então assim que ele faz
isso, é a pele dele na minha. Uma mão quente e calejada apalpa minha bunda. Ele
não responde minha pergunta com palavras, mas seus olhos cintilam com um
brilho sombrio de calma, e sei que tudo correu bem. Está feito. Está resolvido. Não
tenho nada a temer.
Ele desabotoa meu cinto e coloca outra mão em minhas calças. Ele aperta
minhas nádegas com força e depois as separa com cuidado. Ele passa um dedo
lentamente pela minha fenda, circulando minha entrada com o mais leve dos
toques.
— Você está com dor ou vai abrir as pernas para mim?
— Eu não estou dolorido. — Não é nem mentira. É a verdade. A dor na minha
bunda desapareceu no segundo em que ouvi sua voz. No segundo em que ele me
tocou. No segundo em que vi seu rosto. Desapareceu completamente, apenas para
ser substituída por uma dor profunda e intensa. Uma dor a ser preenchida.
Muito mais tarde, encontro-me sentado em um das cadeiras Adirondacks, na
margem do lago. O luar está atingindo a água, enviando um caminho irregular de
reflexos em minha direção. Estou sentado com suavidade. Muito suave. Fiz-lhe
algumas críticas construtivas sobre a consistência da carbonara que ele preparou
para o nosso jantar, e ele me agradeceu dando-me um encontro curto, mas
memorável, com uma colher de pau. Ele me fez colocar as duas mãos no balcão da
cozinha e baixou meu jeans até logo abaixo da divisória da minha bunda. Foi rápido
e decisivo.
Ele disse: — Erros foram cometidos, agora lições serão aprendidas.
Quase gozei nas calças. Ele me fez dançar em segundos e implorar para ser
fodido em minutos. E não me refiro a pedir com educação ou simplesmente
balançar a cabeça. Quero dizer implorar, implorar.
Deus, é constrangedor.
Eu me ouço dizendo: — Você precisa destruir a cozinha e movê-la para onde
agora fica a área de jantar. — Parece que estou dando a ele conselhos gratuitos
sobre design de interiores. — Eu escolheria armários brancos foscos e uma longa
ilha revestida de mármore de Carrara retroiluminado. Você quer que pareça que a
ilha está flutuando no chão de madeira.
— Mm. — Ele parece evasivo.
— E a parede voltada para o lago precisa ser derrubada e substituída por
vidro do chão ao teto.
— Hum, — ele diz novamente. Acho que perdi a atenção dele, mas então ele
acrescenta: — E uma doca seria legal. — Ele aponta com as duas mãos para o local
em que está pensando. — Logo ali.
— Não, — eu digo categoricamente. — Sem doca. Definitivamente não. Isso
atrapalharia a vista.
Ele olha para mim com o que está se tornando familiar, um baixo nível de
surpresa. — Um cais seria bom, porque assim eu poderia ter um barco para pescar
e outras coisas.
— É isso que você está planejando, hum? Você está planejando conhecer
algum homem de Marlborough 16 , chamá-lo de Sr. Certinho e trazê-lo aqui?
Planejando casar com o pobre coitado e deixá-lo no cais para que vocês dois
possam usar shackets de flanela combinando e pescar juntos? Esse é o grande
plano?
— Não. Não estou procurando por amor.
Não é a resposta que espero de um suposto leitor ávido de romances. — Por
que não?
— Porque para alguém amar você, eles precisam conhecer você. Você todo.
Eles precisam conhecer você e ainda precisam querer ficar. Para mim, isso é irreal.
Não respondo, mas pressiono os lábios com força enquanto considero sua
declaração. Eu não esperava que ele me desse uma resposta, muito menos uma
resposta que detonasse uma série de pequenas bombas em meu cérebro. A verdade
explode ao meu redor. Ela cai, pousando levemente, mas cortando fundo mesmo
assim. Em um único segundo, vejo o rosto de todos os caras que já segurei com o
braço estendido ou empurrei e, pela primeira vez, sei por que fiz isso.
— Hora de dormir, — eu digo.

— Levante-se e brilhe, Demon. — Ele acende a luz do teto. É uma maneira


clara e horrível de acordar, então gemo e coloco o travesseiro na cabeça. Ele o
retira. — Vamos, levante-se.
Deus. Se esse for o seu humor, não será um bom dia.

16 Cidade do Massachusetts.
— Hora de ir. Seu carro estará aqui em alguns minutos.
Eu me sento ereto. — O que você quer dizer?
— Eles provavelmente encontrarão seu tio hoje ou amanhã, então você
precisa voltar para casa caso a polícia decida lhe dar a notícia pessoalmente.
Pulo da cama e visto minhas roupas. Quando estou pronto, ele está na
cozinha servindo uma xícara de café para nós dois.
— Agora, não esqueça que você pegou COVID. Você teve calafrios e febre,
mas felizmente não atingiu seu peito. Você testou negativo esta manhã, mas ainda
está um pouco cansado. Quando lhe contarem sobre seu tio, pareça surpreso. O
choque e a descrença são a resposta normal a este tipo de notícia. Não exagere
começando a soluçar ou algo assim. Diga “você tem certeza?” e “mas eu o vi na
semana passada”. Quando eles lhe contarem o que aconteceu, a princípio aja como
se não pudesse acreditar, mas depois diga: “Ele parecia um pouco retraído da última
vez que o vi”. Coisas assim, ok?
Eu concordo.
Ele verifica o relógio e diz: — Hora de ir. — Ele está totalmente vestido com
seu uniforme habitual de camiseta musculosa, calças cargo e botas de trilha. As
calças cobrem sua bunda tão firmemente que, enquanto o vejo enxaguar nossas
canecas, de repente sinto uma tristeza quase avassaladora, quase uma perda, pelo
fato de que durante todo o tempo que o conheço, não o fodi nenhuma vez. Quero
perguntar a ele sobre isso, para verificar se ele alguma vez foi passivo, só para eu
saber. Só para não ter que perder muito tempo me perguntando ou pensando sobre
como seria enterrar meu pau entre as nádegas dele.
Ele liga a máquina de lavar louça, limpa a bancada e dobra cuidadosamente
o pano de prato. Sua mochila está arrumada e encostada na parede perto da porta
da frente.
Acabou o tempo para perguntas idiotas para Saint.
Ele se dirige para a porta e eu o sigo.
— Agradecer seria ótimo, — diz ele, lançando-me um olhar que dança com
a escuridão.
— Agradecer pelo quê? Matar meu tio ou me sequestrar?
— Ambos.
— Sim, boa sorte com isso. De qualquer forma, você é quem deveria me
agradecer. Você não pode me pedir para acreditar que você já teve uma vítima de
sequestro mais descontraída, ou que lhe permitiu foder a bunda dela melhor do
que eu.
Ele emite um som rápido e profundo que vem do fundo de sua garganta. —
Receio que o melhor que posso fazer é agradecer por me deixar com minha
sanidade intacta.
Ele me entrega um pequeno pacote embrulhado em papel alumínio.
— O que é isso?
— Um sanduíche. Estou pagando a ele o dobro do valor normal, mas ainda
não estou pagando o suficiente ao cara que vai levar você para casa para cuidar de
você se estiver com fome. — Eu sorrio, mas não respondo. — Seu carro estará aqui
em alguns minutos, então vou embora. — Ele ainda está por um segundo. Ele
mantém contato visual. Dando uma última olhada, eu acho. — Foi...
— Esquisito? — Eu ofereço de forma prestativa.
— Sim, estranho abrange isso. — Com isso, ele pega sua mochila e a coloca
no ombro. Ele dá alguns passos para trás, em direção à trilha na mata, ainda
olhando para mim.
Falo de repente, sem pensar no que estou dizendo. As palavras saem da minha
boca antes que eu tenha tempo. — Eu vou te encontrar, você sabe disso, não sabe,
Idiota? Eu vou te encontrar nem que seja a última coisa que eu faça.
— É mesmo?
— Sim.
— Como você vai fazer isso?
— Vou investir dinheiro no problema. Muito dinheiro.
— Você não tem nada para procurar.
Então ele se vira e começa a descer o caminho. Longe de mim. Fora da minha
vida.
— Eu sei seu nome, Saint.
Eu me odeio por dizer isso em voz alta. Eu sei que jurei que não faria isso. Ele
olha por cima do ombro. Seus olhos se enrugam profundamente e sua boca se abre
em um amplo clarão branco. Percebo com um sobressalto que é a primeira vez que
o vejo sorrindo daquele jeito. Sorrindo com todo o rosto. Sorrindo de verdade.
— Você não tem nada, garoto. — Ele pisca para mim, mudando suas feições,
apagando qualquer indício de seriedade que já tenha sido escrito nelas.
Assim, ele me faz duvidar de tudo que sei sobre ele.
Capítulo 18

Demon

Por mais estranho que tenha sido ser sequestrado, estar em casa é ainda mais
estranho. Meu apartamento parece estranho. É iluminado e vasto, com grandes
espaços dominados por vidros e extensões de branco. Parece diferente do normal.
Morado em, e não por mim. Os caras que Saint “lidou” no esconderijo obviamente
passaram um tempo aqui. Eles trouxeram cestas de presentes enviadas para mim
por amigos/parceiros de negócios/puxa-sacos para o apartamento. Eles comeram
o que quiseram e colocaram os produtos perecíveis na geladeira. Se eu soubesse
que eles ainda estavam vagando pelo lugar, ficaria furioso com isso, mas as coisas
sendo como estão, estou grato pelo estado do lugar. Se a polícia aparecesse neste
segundo, pareceria completamente crível que estou escondido aqui há mais de uma
semana.
Tomo um banho demorado e espalho uma grande quantidade da máscara
que meu dermatologista faz, rotulada com Somente Em Caso de Emergência, em
todo o meu rosto. Depois, enrolo uma toalha na cintura e caminho até o closet. Paro
na frente do meu longo espelho. A moldura é dourada. É tão ornamentado e pesado
que foram necessários três homens para pendurá-lo.
Devo ter visto meu reflexo neste espelho mil vezes. Talvez mais. O que vejo
agora me paralisa. Meu cabelo está molhado, afastado do rosto. Já vi minha pele
estar melhor. É uma crise com certeza, mas não um desastre. Ela vai se recuperar.
Não é isso que me faz parar. O que me faz parar de me mover é o rastro de marcas
violetas que Saint sugou em mim ontem à noite na floresta. Quase não as senti
quando ele as colocou em minha pele, mas aqui estão elas. No meu pescoço. No
meu peito. Um grupo delas perto da minha clavícula esquerda. Uma trilha de
quatro mordidas no V que leva à minha virilha. Empurro minha toalha para baixo,
para ver se ele deixou alguma outra. Não sei dizer se fico aliviado ou desapontado
quando só encontro uma, escondida mais abaixo. Deixo cair a toalha no chão e me
viro, esticando o pescoço para ver as manchas lilás que ele fez com a colher de pau.
Sinto-me quente quando as vejo. Agitado. Eu quero ligar para ele. — Idiota,
— eu quero dizer. — Idiota, venha ver o que você fez. — Quero ver a cara dele
quando ele me ver assim. — No que você estava pensando? — Eu quero dizer. —
Responda-me, Saint, no que você estava pensando, deixando essas marcas em mim?
A vontade de gritar com ele é forte. A vontade de dizer o nome dele é mais
forte e urgente. Tão forte que me faz sentir inseguro. Eu me visto rapidamente,
escolhendo uma blusa creme, estruturada e com gola alta e rígida. Eu combino com
uma calça de pernas largas e um cinto obi de couro macio que amarro na cintura.
Eu me olho no espelho novamente. Eu gosto disso. É sutil, mas está dando Fez
um Vírus Letal, Vadia.

Encontro meu telefone no console da entrada, conectado para carregar e


apoiado na bandeja de couro que comprei exatamente para esse fim. Saint deve ter
estado aqui. Ele deve ter vindo aqui ontem quando veio para a cidade. Eu olho de
perto. A tela está brilhando, imaculada. Nenhuma mancha ou impressão à vista. Eu
me pergunto se ele o limpou antes de deixá-lo aqui.
Pensando bem, me pergunto se ele limpou todo o meu apartamento. Parece
algo que ele faria. Verifico a cozinha e os banheiros, as latas de lixo estão todas
vazias e, quando inclino a cabeça para o lado, vejo que as bancadas estão brilhando.
Farejo o ar, inalando o cheiro forte de detergente, e um leve cheiro de militar. Meu
pau se contrai.
Se. Acalme. Porra, eu digo com firmeza.

Já é meio da tarde quando a polícia aparece. Há um alto e um baixo. Ambos


usam camisas brancas e ternos baratos e parecem um pouco chocados ao se
encontrarem em um prédio como o meu. Eles me dão a notícia de que meu tio está
morto. Suicídio, dizem. Ele se enforcou no galho de uma árvore no fundo de seu
jardim. Ele usou seu próprio cinto.
Meu coração bate forte no peito desde o segundo em que chegam até pelo
menos vinte minutos depois de partirem. Ainda assim, fui a perfeição. Um
equilíbrio perfeito entre choque, negação e arrependimento. Entrevistas com sua
equipe doméstica indicaram que ele parecia estressado e não exatamente ele
mesmo nos últimos dias. Acho que ter seu único sobrinho sequestrado e fazer o
possível para matá-lo fazia isso com você.
Mostro a eles uma mensagem que recebi dele ontem à tarde. Digo que só vi
hoje. Que é verdade. Saint deve ter enviado depois de fazer a ação. Diz: Fiz o meu
melhor, Becks. Desculpe.
Os policiais dão uma olhada na mensagem e trocam olhares cumplices. Eu
sei que não haverá nenhuma investigação significativa sobre a morte de Peter
Beckett.
*

Vou direto para a casa da minha mãe assim que a polícia sai. É tarde e as
meninas acabaram de chegar da escola.
— Becks! — Elas gritam quando me veem.
As duas correm até mim e me abraçam com tanta força que quase me
derrubam. Eu as envolvo, uma em cada braço e as esmago em um emaranhado de
tranças loiras e braços e pernas magros. Eu as seguro com tanta força que as duas
ficam quietos por um segundo.
— Sinto muito, — eu sussurro. — Me desculpe, me desculpe.
— Por que você está se desculpando? — pergunta Leighton.
— Senti tanto a falta de vocês duas. Me desculpem, eu não estava aqui.
— Não é sua culpa. Você não pode evitar ficar doente. A menos que você não
estivesse lavando as mãos. Se você não lavou as mãos, a culpa pode ser sua, — diz
Emelia com seriedade.
Eu começo a rir. — Eu lavei minhas mãos, eu prometo.
— Então não é sua culpa. — Emelia parece completamente certa. — Sentimos
sua falta também.
— Sim, mas gostamos das piadas.
— Sim, adoramos as piadas.
E agora?
Não tenho ideia do que estão falando, mas sei como ganhar tempo quando se
trata dessas duas. — Qual piada foi a sua favorita?
— Eu sei, eu sei. Lembro-me do minha favorita, — diz Leighton. — Por que
você não ouve um pterodátilo quando vai ao banheiro?
— Por que não? — Eu pergunto.
— Porque o P é silencioso. — Elas dizem em uníssono e depois caem na
gargalhada. — Conte-nos outra, Becks. Conte-nos uma agora!
— Vou dizer a vocês uma coisa, vou mandar uma mais tarde hoje à noite,
pouco antes de vocês dormir.
Muito obrigado, Idiota.
Acho que adicionarei outra coisa à minha lista de tarefas diárias.

*
Lacey chega em minha casa vestida de preto à noite. Ela costumava chamar
meu tio de O Homem Mais Chato que Já Existiu, mas sempre teve uma fascinação
mórbida pela morte. Ela parece animada, mas no segundo em que vê meu rosto, ela
congela.
Ela segura meu rosto com as duas mãos geladas, segurando-o com força, me
forçando a olhar para ela. — Que porra aconteceu, Boo?
— S-suicídio, eles acham.
— Não estou falando de Peter. Eu estou falando de você.
— Sinto muito por tud... mandei muffins. Você pegou os muffins?
— Eu peguei os muffins. Eu comi os muffins. Não tente me enganar com
besteiras sobre muffins.
Dou de ombros para ela e faço o meu melhor para parecer inocente de todas
as acusações. Ela se inclina perto do meu rosto e me cheira ferozmente. Ela sabe
que me assusta muito quando faz isso. Ela tem um nariz de cão de caça. Eu sei que
racionalmente não há como ela sentir o cheiro de caos ou assassinato em mim, mas
isso me abala de qualquer maneira.
Fico quieto e uso toda a minha energia para me concentrar em não permitir
que nenhuma das minhas expressões faciais se movam.
Por fim, ela me solta e dá um passo para trás. — Vai ser assim, não é?
— Sim, — eu digo suavemente.
— Muito bem. — Seus grandes olhos verdes avançam e recuam, depois
suavizam. — Mas só para você saber, eu sei que algo aconteceu com você. Eu posso
ver isso. Eu posso sentir o cheiro. Você está diferente. Algo em você está diferente.
— Diferente bom ou ruim?
— É muito cedo para dizer.
Depois disso, ela tem misericórdia de mim e nós nos enrolamos no sofá em
nossa habitual confusão de membros e ela passa muito, muito tempo me contando,
literalmente, sobre uma briga que teve com sua irmã, a quem ela chama de O Eu
Menor em tempos de conflito.
Quando chega a hora de ela ir para casa, ela me abraça na porta. Ela aguenta
por mais tempo do que o normal e sussurra em meu ouvido: — Tudo bem se você
não puder me contar. Eu entendo, Boo, mas espero que você entenda que eu estar
bem depende de você estar bem. Eu não posso fazer essa merda sem você.

*
O funeral é numa quinta-feira. É um dia monótono e sombrio de final de
abril. Está tempestuoso, nublado e ameaçando chover. Lacey está em sua atmosfera.
— Que dia sombrio para um funeral, — ela diz alegremente. Lacey adora
funerais. Ela os acha inexplicavelmente lindos e patéticos ao mesmo tempo. Ela está
vestida de preto da cabeça aos pés, é claro. Seu vestido é de mangas compridas e
justo. Ela tem um espartilho de couro apertado tão firmemente na cintura que é
difícil entender como ela consegue permanecer em pé. Ela está usando uma
máscara preta séria e saltos muito altos; está entregando um caso sério de Fetiche
Funeral de Alta Costura.
Ela me deixa olhá-la de cima a baixo e espera pacientemente por seu elogio.
— Você parece o tipo de pessoa de quem Mortícia Adams aceitaria com
prazer conselhos de estilo.
Ela dá um pequeno grito de satisfação e diz: — Você parece o filho ilegítimo
de Bruce Wayne e um íncubos.
— Obrigado, — eu digo. — Estou optando pelo discreto. — Estou vestindo
um terno preto com corte descontraído, uma camiseta preta decotada e um
conjunto completo de anéis. Empilhei correntes de comprimentos variados em
volta do pescoço. Alguns deles estão emaranhados. Não importa. Apenas um deles
importa. Apenas um tem pingente. É um crânio humano adornado com joias. É sob
medida, feito para mim por um artista conhecido. É grande e macabro. É uma
mensagem para Saint.
Eu sei o que você fez.
Eu sei o que você é.
Eu me lembro.
Eu me lembro de tudo.
Tudo bem, talvez eu não saiba exatamente o que quero dizer. Só sei que quero
que ele veja. Quero que ele saiba que estou usando isso para ele. Eu quero que ele
fique confuso. Divertido. Talvez eu queira que ele se sinta ameaçado. Eu não tenho
certeza. Mas quero que ele veja isso em meu pescoço e quero que ele sinta algo
sobre isso.
Não estou satisfeito por descer a este nível, mas aí está.

O funeral é longo e extremamente chato. Eu passo o evento inteiro “ligado”.


Cumprimentar as pessoas, sorrir e dizer coisas apropriadas.
É um maldito pesadelo, é isso que é.
Sinto uma nova onda de raiva contra meu tio por me fazer passar por tudo
isso. Existem centenas de pessoas. Tantas pessoas. Muitíssimas. A maioria delas,
velhos e chatos como o inferno. Todos eles querem algo de mim. Uma palavra ou
um sorriso. Eu também quero algo. Algo para mim. Cada vez que tenho um
momento de descanso, varro a multidão em busca de olhos escuros e narizes
quebrados. Eu sei que é ridículo. Saint é muitas coisas, mas uma coisa que ele não
é, é um homem que quer ser pego. Eu sei que há poucas chances de ele estar aqui,
mas ainda olho.
Também procuro por ele no caminho para casa. Meu motorista dirige
exatamente no limite de velocidade, o que geralmente me irrita muito, mas desta
vez deixo passar. Olho pela janela através da chuva forte. Procuro cicatrizes em
cada rosto que vejo. Procuro nas sombras da garagem do meu prédio a forma de
um monstro e, quando fecho a porta da frente do meu apartamento, giro
rapidamente, como se esperasse que ele estivesse escondido atrás da porta.
Me assistindo.
Esperando por mim.
Esperando a hora certa antes que ele me pegue novamente.
Claro, ele não está aqui. Obviamente não. Isso seria ridículo. Foi um dia longo
e cansativo, só isso.

À noite, quando me dispo, faço a mesma coisa que faço todas as noites. Fico
nu em frente ao longo espelho do meu closet e estudo meu corpo. As marcas na
minha bunda desapareceram agora. Não consigo vê-las, por mais que eu tente. Os
chupões na minha barriga também estão desaparecendo. Eles estão mais claros do
que antes, agora em um tom leve de marrom-rosado. As marcas na minha clavícula
ainda estão lá. Mais claras do que eram, mas ainda estão roxas. Inclino meu pescoço
para o lado e passo meus dedos levemente em cada marca. Imagino sua boca na
minha pele. Lembro-me dos sons que ele fazia enquanto me fodia debaixo das
árvores. Duro, sons longos. Como ele.
Lembro-me do que disse a ele pouco antes de ele partir.
Eu vou te encontrar, Idiota. Mesmo que seja a última coisa que eu faça.
Capítulo 19

Demon

Depois do funeral, muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Os diretores


da BeckIT decidem que eu deveria assumir o comando imediatamente, apesar de
ainda não ter completado vinte e cinco anos. A votação é unânime. Suponho que
saber que estarei no comando em pouco mais de um mês, independentemente da
decisão deles, é suficiente para dissuadir qualquer um deles de me dizer o que
realmente pensam de mim. Nenhum deles parece especialmente satisfeito com isso.
Vários deles parecem ter a impressão de que meu tio continuaria a atuar como CEO
depois que eu atingisse a maioridade. Não consigo imaginar quem foi o responsável
por lhes dar essa impressão.
Trabalho na BeckIT desde que me formei na faculdade. Meu tio teria
estremecido se eu usasse a palavra “trabalho”. Eu admito, entrei e saí conforme me
convinha. Não me apliquei aos padrões exigentes de Peter Beckett. O que fiz foi
dimensionar as coisas. Eu entendi a configuração do terreno. Entendo as minúcias
de como a empresa funciona e quem faz o quê. E quem faz quem. Sei mais sobre as
pessoas que trabalham aqui do que meu tio teria aprendido em seis vidas. Eu sei o
que elas querem. Eu sei o que as motiva. Eu tenho algo sobre quase cada um delas.
Eu também sei como o negócio funciona. É grande e pesado, mas não é complexo.
Estudei cada decisão que meu pai e meu tio tomaram nos últimos vinte anos. Eu
estava ouvindo quando eles pensaram que eu estava brincando. Sei em quem posso
confiar para me aconselhar sobre coisas que não sei e sei quem vou demitir no dia
26 de junho.
Ao mesmo tempo que tudo isso vem acontecendo, passei todos os momentos
livres procurando a pessoa certa para encontrar Saint para mim. Demorou um
pouco. Eu precisava ter certeza de que a pessoa em questão entendia a sensibilidade
do trabalho e a natureza espinhosa do assunto. Eu tinha que ter certeza de que era
alguém que ficaria feliz em tratar a privacidade pessoal como algo bom em se ter,
em vez de algo que está gravado na pedra ou na lei, nesse caso.
Encontro o homem em questão em uma cafeteria perto do meu escritório. É
um daqueles lugares que parece propositalmente melancólicos. Paredes escuras,
arte sombria e café excessivamente forte em oferta. Ele está sentado perto dos
fundos. Quarenta e poucos anos, talvez. Alto e magro, com nariz proeminente. Ele
está vestido tão bem que quase parece cômico. Ele está ficando muito careca.
Brilhante no topo, com uma meia-lua de cabelo grisalho curto deixado na parte de
trás da cabeça. Ele parece o tipo de cara cujo nome deveria ser Allan. Não é, mas
vamos chamá-lo assim por enquanto.
— Prazer em conhecê-lo, Sr. Beckett, — diz ele, oferecendo-me um assento.
Seus lábios sorriem com facilidade, mas há uma firmeza em seus olhos que é
chocante. Não sei dizer se gosto dele ou não. Ele foi difícil de encontrar. Muito
difícil. Lancei minha rede amplamente. Fiz solicitações sutis de um investigador
particular por meio de vários canais diferentes. Perguntei a pessoas que conheço,
mas que não tenho em alta conta. O nome de Allan apareceu duas vezes.
— O que você pode me dizer sobre o homem que procura?
— Ele está entre vinte e tantos e trinta e poucos anos. Olhos castanhos. Cabelo
castanho. Sua altura está entre um metro e oitenta e um e um metro e noventa,
possivelmente um metro e noventa. Ele é peso-pesado. Noventa quilos, pelo menos.
— Allan tirou um bloco de notas espiral do bolso da camisa e está fazendo
anotações meticulosas. — Ele aluga ou é dono de uma casa em Catskills.
— Família?
— O pai pode estar falecido. O paradeiro da mãe é desconhecido. Sua mãe
pode ter antecedentes de posse de drogas e pode ter havido intervenções de serviços
sociais durante sua infância. — Allan termina de escrever e olha para cima, seu
sorriso é paciente, solidário e compreensivo com minha situação. Seus olhos ainda
estão inabaláveis. Ainda não sei dizer se gosto dele ou não, suspeito que nunca
saberei ao certo, mas algo me diz que ele é o homem certo para o trabalho. — É
provável que ele tenha passado algum tempo no exército. Caso contrário, ele esteve
nas operações especiais ou treinamento com armas. Ele é altamente experiente em
informática. Seus rastros serão bem cobertos.
— Características distintas?
— Ele tem uma cicatriz na sobrancelha esquerda e seu nariz já foi quebrado
no passado. Ele tem tatuagem. Algumas faixas no antebraço e uma insígnia no
ombro. Ele tem uma grande nas costas. Um corvo em voando.
— Você tem um nome ou um nome pelo qual ele atende?
— Saint.
— Nome da rua, nome ou sobrenome?
— Eu não tenho certeza. — Ele sorri encorajadoramente para mim. — Eu sei
que não há muito o que fazer, mas preciso encontrá-lo. Eu tenho que encontrá-lo.
— Há alguma coisa que você me deu de que tem certeza? Qualquer coisa
que seja absoluta.
— Não. Além das características físicas, nada é absoluto quando se trata dele.
Consegue fazer? Você pode encontrá-lo?
— Se você decidir contratar meus serviços, Sr. Beckett, não descansarei nem
aceitarei outro emprego até encontrar este homem. — Quando ele diz isso, eu
acredito nele. Pela primeira vez em dias, a sensação terrível e turbulenta de
agitação em meu peito desaparece, só por um momento. — Eu vou encontrá-lo.
Pode demorar um pouco. Muito do trabalho terá que ser manual. Com isso temos
que continuar, vou ter que usar um processo de eliminação. Enviarei fotos à medida
que encontrar pessoas que atendam aos critérios. Preciso que você me avise se
encontrar alguém que lhe pareça familiar.
Com isso, ele arruma o espaço à sua frente, dobrando cuidadosamente a
embalagem de papel onde veio o açúcar em quadradinhos e jogando-o no copo
vazio.
Enquanto ele se levanta, eu digo: — Você provavelmente deveria saber que
ele pode se tornar violento se suspeitar que está sendo seguido.
— Obrigado por me avisar. — Ele sorri de novo, como se essa informação
não fosse mais interessante do que o fato de o homem que procuro ter olhos
castanhos. Ele inclina a cabeça em minha direção antes de sair. — Tomarei as
precauções necessárias.

Minha vida ganha uma nova rotina. Acordo cedo e levo as meninas para a
escola pela manhã. Elas ainda não se recuperaram totalmente de não me verem por
mais de uma semana. Quando chego na casa da minha mãe para buscá-las, saio do
carro e as duas me atacam com abraços e beijos. Eu fico de joelhos, para poder
puxar as duas para perto ao mesmo tempo. Elas revezam uma com a outra,
revezando-se para puxar meu rosto para a esquerda e depois para a direita, para
que nenhuma delas perca o contato visual comigo.
— Os cereais que comi no café da manhã pareciam biscoitos minúsculos.
Também tinha gosto de biscoito, — diz Leighton.
— Meu dente que estava mole está mais mole, — diz Emelia, interrompendo
Leighton.
— Quando adicionei leite ao cereal, foi como se eu estivesse comendo leite e
biscoitos no café da manhã. — Leighton retoma as rédeas e adiciono à minha agenda
uma conversa com a babá sobre o cardápio do café da manhã.
— É o mesmo dente que estava mole antes de você ficar doente. É este. —
Tenho a sorte de receber um sorriso enorme e aberto e uma visão de perto de um
dentinho um tanto assustador que está pendurado apenas pela força de vontade.
A escola é um caos. É uma carnificina. É a melhor parte do meu dia.
Depois vou trabalhar, plantando sementes e fomentando as conexões que em
breve precisarei. Lacey aparece sem avisar sempre que quer, na minha casa e no
meu escritório. Toda vez, ela me olha severamente e franze os lábios. Não importa
o que eu faça para disfarçar, ela vê algo em mim que a enche de consternação. À
noite, quando finalmente vou para a cama, abro o envelope pardo que Allan deixa
com o concierge todos os dias e folheio vários rostos. Cada vez que faço isso, meu
coração bate violentamente em antecipação. Vejo um mar de olhos escuros. Cabelo
escuro. Carteiras de motorista. Passaportes. Fotos de identificação.
Todos homens.
Todos com cicatrizes e machucados.
Nenhum deles é Saint.
Capítulo 20

Demon

Eu não vejo o rosto dele no meu caminho para o trabalho. Meu motorista me
leva em silêncio e eu revisto todos os carros pelos quais passamos. No sinal
vermelho, viro a cabeça para trás para ver quem está estacionado atrás de mim.
Não vejo o rosto dele quando saio na hora do almoço para tomar um pouco de ar
fresco. Ando três quarteirões, parando e recomeçando de forma imprevisível,
girando para olhar para trás, na esperança de que, se ele estiver me seguindo, eu o
veja. Não vejo o rosto dele quando saio do trabalho. Foi um dia e tanto. O trabalho
tem sido intenso e o planejamento da festa para meu aniversário de 25 anos está a
todo vapor. Dizer que estou sobrecarregado é o mínimo.
A garagem está deserta. Está tão quieta que meus passos ecoam enquanto
ando. Acho que ouço alguma coisa quando destranco meu carro. Viro-me
rapidamente, mas não vejo nada. Ando para cima e para baixo, inclinando-me e
olhando embaixo dos carros perto do meu. Não há sinal dele, mas juro por Deus
que posso sentir o cheiro dele.
— Saint! — Eu grito. — Eu sei que você está aqui. Posso sentir seu cheiro. —
Quando nada me responde além do silêncio, perco a calma. — Idiota! — Minha
voz falha levemente. — Você fede.
Quando chego em casa, rasgo o envelope que encontro na minha caixa de
correio antes que as portas do elevador se fechem. Eu folheio freneticamente as
páginas, deixando cair algumas delas e lutando para pegá-las antes de chegar ao
meu andar. Assim que entro em meu apartamento, mando uma mensagem para
Allan com as mesmas palavras que mando para ele todos os dias.
Sem êxito.
Coloco meu telefone para carregar e me sirvo de dois dedos de uísque. Eu
bebo de volta e vou para o meu quarto. Eu me dispo na frente do espelho. Procuro
em meu corpo as marcas que ele fez. Procuro provas de que ele é real, provas do
que aconteceu, provas de que ele não é apenas uma invenção da minha
imaginação.
Não encontro absolutamente nada.
Eu reproduzo o que aconteceu entre nós. Eu faço isso todo dia. Todo dia. Esta
noite, minha mente se volta para a primeira vez que ele me fez uma proposta. Eu
vejo o rosto dele. Vejo a maneira como seus lábios se moviam. Quer chupar meu
pau? Na minha mente, vejo tudo o que aconteceu a seguir. Eu também sinto isso.
De qualquer forma, sinto uma impressão ruim e falsa disso. Eu uso minhas mãos.
Eu acaricio meu pau com a mão direita e enfio três dedos na boca com a esquerda.
Eu faço isso lentamente. Profundo e cuidadoso, do mesmo jeito que ele fez.
Depois, me sinto melhor. Mais lúcido.
Vou para a cama e espero que o arrependimento me encontre. É claramente
a emoção mais apropriada para se sentir numa situação como esta. Qualquer
pessoa normal ficaria cheia de um enorme sentimento de arrependimento. Ele pode
ser o maior idiota do mundo, mas nunca fez nada sem minha permissão. Tudo que
eu deveria ter feito era dizer não na primeira vez que ele me convidou. Eu invoco
o arrependimento com todas as minhas forças. Ele pisca fracamente, quase
pegando. Então me lembro de estar no banheiro depois daquela primeira vez.
Lembro-me do som de sua voz.
Seja simpático quando tiver meu DNA na barriga.
Eeeee estou de volta à estaca zero.

O dia seguinte passa como um borrão. O próximo também. Sou puxado de


um pilar a outro, com o trabalho e o planejamento de festas chegando ao auge. Saio
de reuniões importantes para ligar para Allan e contar coisas idiotas para ele
acrescentar à sua lista de coisas que sabemos sobre Saint.
Ele tem uma coisa estranha sobre culinária e comida.
Ele gosta de calças cargo feias.
Ele comia café da manhã e almoço na escola.
Suas facas de cozinha são assustadoramente afiadas.
Para seu crédito, Allan não faz menção ao quão estúpido isso parece. Na
verdade, sempre que ligo para ele, ouço o som do chumbo arranhando o papel,
enquanto ele anota cada palavra que digo.
Com base na minha descrição detalhada, Allan consegue encontrar a casa do
lago. É propriedade de um certo Michael Britter. Seu nome e rosto não me parecem
familiares, mas estou tão animado com a perspectiva de encontrar Saint que faço
uma viagem para conhecê-lo pessoalmente. Ele tem noventa e um anos e mora em
um centro de convivência que cheira fortemente a flores secas e pelos de gato. Ele
parece feliz por ter um convidado, mas jura que nunca conheceu ninguém que se
encaixe na descrição de Saint. Na verdade, ele diz que não vai à casa do lago desde
que operou o quadril, e isso foi há oito anos.
Estou tão furioso que meus esforços foram frustrados que faço a ele uma
oferta pela casa do lago naquele momento. Faço isso porque quero montar um
monte de câmeras e pegar Saint em flagrante na próxima vez que ele aparecer para
ocupar uma casa que não é de sua propriedade ou que não aluga. É isso que
pretendo fazer, mas antes de chegar em casa, liguei rapidamente para meu
designer de interiores favorito.
— Destrua isso, — eu digo. — Quero uma parede de vidro de frente para o
lago, uma cozinha branca como giz e uma ilha flutuante de mármore de Carrara.
Fora isso, você tem carta branca… mas faça o que fizer, não instale uma doca. Sem
doca, você me ouviu?
Quando chego em casa, estou exausto. Morto de pé. Rasguei as páginas que
recebi de Allan. Eu mando uma mensagem para ele com as mesmas palavras de
sempre.
Sem êxito.
Ligo meu telefone e bebo um uísque. Tiro a roupa em frente ao espelho e noto
olheiras escuras sob meus olhos. A raiva faz o possível para acender, mas explode.
Não consigo reunir o sentimento. Tudo o que posso fazer é pensar na mesma coisa
em que estive pensando o dia todo. O dia todo e a noite toda. Penso no dia em que
tudo deu errado. O dia em que ele me drogou e me levou para a casa do lago. Penso
na maneira como ele me ameaçou na floresta.
Quando chegarmos aonde estamos indo, vou dobrar você e bater em sua bunda
antes de fodê-la.
Eu penso no que aconteceu a seguir. Lembro-me de cada detalhe. Cada
sensação. Penso no calor que me queimou e penso em como comecei a masturbar.
Quando termino de pensar nisso, não me sinto melhor. Eu me sinto pior. Eu
odeio saber que ele existe. Que ele fez isso comigo. Que ele está lá fora e eu ainda
estou me masturbando por ele.
Quando tento desenterrar o arrependimento, ele vem facilmente. Me inunda.
Não porque eu não gostei do que ele fez comigo. Eu amei. Sou homem o suficiente
para admitir isso. Me arrependo por causa de como me senti depois. Abrir.
Desfazer. Lamento porque mais tarde naquela noite, quando ele estava arrumando
a máquina de lavar louça, me vi me aproximando dele. Quando ele se levantou e
enxugou as mãos, me aproximei. Eu não pensei sobre isso, apenas fiz. Quando ele
pendurou a toalha, ele olhou para mim. Eu estava tão perto que quase o tocava e,
ainda assim, queria estar mais perto. Eu queria me inclinar. Queria me livrar do
peso que carrego comigo desde antes de me lembrar. Eu queria me inclinar e
descansar minha cabeça em seu peito, mesmo que fosse só por um segundo.
Esse sentimento permaneceu comigo pelo resto do tempo que estivemos
juntos. Isso nunca me deixou nenhuma vez.
Já se passaram quatro semanas desde a última vez que o vi.
Está ficando mais difícil, e não mais fácil, pensar em qualquer outra coisa.
Capítulo 21

Demon

—Como estou? — Eu pergunto.


Pessoalmente, acho que já pareci melhor. Não consegui decidir qual look
gostava mais até o último minuto. Verdade seja dita, ainda não tenho certeza se
gostei deste. Estou vestindo um terno, dentre todas as coisas. Reconheço que é um
terno feminino e estou usando-o com uma gargantilha com tachas e um corpete
de couro que expõe meus mamilos. Minha maquiagem é a heroína do prato, como
dizem. Escura e esfumaçada, com uma camada de glitter molhado nas pálpebras.
Está entregando O Aniversariante Triste no Set Da Euforia.
— Parece que você está prestes a confundir sexualmente todos os pais aqui,
— Lacey brinca.
Eu me envaideço e levanto a mão para passar pelo cabelo.
— Não toque no seu cabelo! — ela diz bruscamente. — É a perfeição.
Abaixo minha mão rapidamente. — Você também está incrível, Lace. — Ela
está. Ela realmente está. Ela nunca foge de um look totalmente glamouroso, mas
esta noite ela não veio brincar. Ela está usando um vestido verde esmeralda que vai
até o chão e é colante. Tem um colar que desafia a gravidade e se levanta,
emoldurando sua cabeça como uma espécie de armadura pré-histórica. A cor
realça seus olhos de uma forma que tenho certeza que não é coincidência. —
Parece que você poderia assustar um predador do período Jurássico com nada mais
do que um movimento de cabelo.
Ela me recompensa com um sorriso sincero e um beijo na minha bochecha.
— Obrigado, Boo. — Seus olhos passam por cima do meu ombro e seu sorriso se
transforma em choque. — E-esta é Jill?
— Quê Jill? — Eu digo em voz alta.
— Jill, Jill, — ela sussurra entre os dentes.
Não tenho ideia de quem ela está falando. Não consigo pensar em uma única
pessoa que conheço chamada Jill. Sigo sua linha de visão e minha confusão
aumenta. — Você quer dizer aquela Jill? Jill, da contabilidade?
— Sim, seu idiota. Jillian de Lange, sua chefe de finanças.
Jillian de Lange, chefe de finanças da BeckIT é sem dúvida uma das pessoas
mais chatas que conheci na minha vida. Tão sem graça, na verdade, que demorei
anos e ainda nem sempre consigo combinar o rosto dela com o nome dela. — Por
que você está pirando por causa de Jill?
— Porque, seu lunático delirante, Jill é viciada em sexo, certo? Ela é o fogo
do inferno na cama. Todo mundo sabe disso. Oh, Deus, ela está vindo para cá? —
Lacey se vira. — Olhe, — ela sussurra, — mas não deixe óbvio. — Eu faço o que
ela diz. Com certeza, Jill está vindo para cá. Ela está vestindo calça preta e uma
camisa branca indefinida. Parece ser a versão dela de um look black-tie, embora
não seja muito diferente do look que ela prefere para o trabalho. O cabelo dela está
curto. Não tenho certeza de como ela conseguiu, já que é uma cor ruiva tão rica,
mas a maneira como ela o estilizou faz com que pareça insosso. — Eu disse, não
deixe isso óbvio.
— Ela está vindo, — eu digo, ainda completamente confuso sobre como essa
mulher em particular deixou minha amiga inabalável tão nervosa.
— Como estou?
— Já passamos por isso. Eu disse que você parece capaz de assustar
alegremente os predadores jurássicos, lembra?
— Ah, sim, obrigado. Devo ir dizer oi ou devo ficar aqui e ver se ela vem?
Antes que eu possa responder, ela se afasta e se dirige para Jill. Não consigo
ouvir a conversa delas, mas posso ver Lacey mexendo no cabelo. Ela só faz isso em
momentos de forte estresse. Jill a acalma com um olhar sutil. Se eu não estivesse
assistindo tudo com tanto interesse, teria perdido. O efeito é instantâneo. Lacey
relaxa imediatamente, a ponto de sua mandíbula afrouxar levemente. Jill estende a
mão e pega uma taça de champanhe de um garçom que passa e, ao entregá-la a
Lacey, ela arrasta levemente o dedo mindinho sobre o indicador de Lacey. Lacey
congela por um momento e depois joga a cabeça para trás, rindo ruidosamente,
apesar do fato de Jill não ter dito uma palavra.
Estou horrorizado. Nunca vi Lacey assim. Eu odeio isso. Tudo é diferente.
Tudo. Minha melhor amiga, a rainha do gelo, é nada mais do que uma poça no
chão nas mãos de uma mulher totalmente esquecível. Tudo mudou. Tudo tem sido
diferente desde o dia em que conheci Saint. Lacey está certa, eu estou diferente.
Estou aqui naquela que é sem dúvida uma das maiores festas de aniversário da
história e não estou me divertindo. O local parece incrível. O orçamento foi
realmente estourado e devo dizer que valeu a pena. A comida é de outro mundo. O
entretenimento rivaliza com o entretenimento do Oscar do ano passado. Sério, ela
será comentada em voz baixa por anos. Anos. Várias celebridades da lista-A 17
tentaram invadir a festa e foram discretamente enxotadas. O eu do estaria vivendo
para isso. O eu do presente nem quer estar aqui.

17 Celebridades muito famosas.


Olho em volta e examino a área. Sinto o cheiro do ar fresco da noite. Nenhum
indício de Saint. Eu sei que é idiota, mas pensei que ele apareceria esta noite. Eu
disse a mim mesmo repetidamente que ele não faria isso. Acho que parte de mim
ainda pensava que ele viria. Devo ter feito isso, porque o nível de decepção que
sinto por ele não ter vindo é esmagador.
Foda-se ele.
Sério, foda-se ele.
Olho em volta novamente. Há um grupo de pessoas dançando loucamente.
Parece que elas estão se divertindo. Isso é bom, suponho. Sinto-me exausto só de
pensar em dançar, então olho para um dos bares. Desta vez meu olhar pousa em
Bene Brewer. Ele não é exatamente um amigo, é mais um bom conhecido. Ele é um
influenciador atualmente em alta demanda no BeckIT. Ele é pretensioso como o
inferno e não poderia se amar mais. Ele tem todos os motivos para isso. Ele é a
definição de alto, moreno e bonito. Ele tem um daqueles rostos lindos demais. Boa
estrutura óssea e dentes incrivelmente brancos. Nenhuma cicatriz ou sinal de nariz
quebrado à vista. Eu me aproximo dele e coloco minha mão em suas costas. Ele se
vira e olha para mim, os olhos brilhando de alegria. Ele me quer. Sempre quer. A
única razão pela qual eu não transei com ele antes é porque alguma parte
distorcida de mim realmente odiaria ver esse cara parecendo mais satisfeito
consigo mesmo.
Conversamos um pouco. Bem, conversa é um pouco forte. Ele fala sobre si
mesmo, e eu sorrio e aceno com a cabeça e tento não fazer uma lista mental de
todas as maneiras pelas quais Saint é mais interessante do que ele. Quando fica
claro que não há como eu foder com ele, graças ao quão mole meu pau está perto
dele, pego meu telefone e me inclino para perto.
— Sorria, — eu digo, e ele sorri.
Ele inclina o rosto para perto do meu e mostra a língua, curvando-a em
direção à minha boca em uma pose clássica de idiota. Tiro a foto e dou uma olhada.
Está perfeito. Pareço meio entediado, meio divertido. Em outras palavras, pareço
gostoso. Bene também. Uma de suas mãos está em volta da minha garganta e ele
tem um brilho de tesão nos olhos. Posto a foto no BeckIT, junto com o comentário:
“Este é meu presente?” Então desapareço no meio da multidão antes que Bene possa
fazer muita confusão.

Volto para casa um pouco depois da uma da manhã. Mal posso esperar para
minha cabeça bater no travesseiro. Ser falsamente amigável por horas realmente
me esgotou. Verifico meu telefone mais uma vez enquanto meu motorista vira para
entrar no meu prédio. A foto de Bene e eu tem muitos likes. Os fãs dele e os meus
parecem estar espumando com a ideia de ficarmos juntos. Eu examino os
comentários. Eu sei que é ridículo. Duvido que Saint esteja no BeckIT. Duvido
muito. Mesmo que estivesse, duvido que fosse burro o suficiente para deixar um
comentário com um nome que eu reconheceria. Ainda assim, meu eu idiota
procura na lista de nomes de usuário por qualquer coisa parecida com Saint, Idiota
ou OPiorSequestradorDeTodos. Não é de surpreender que eu fique vazio.
Eu conecto meu telefone e destruo as páginas mais recentes de Allan. Ando
pelo meu apartamento debatendo internamente se tenho energia suficiente para
voltar ao meu telefone e enviar-lhe a mensagem habitual. Eu acho que não. Não
essa noite.
A mesa de jantar geme sob o peso de caixas elaboradamente embrulhadas.
Minha assistente pessoal, Alyssa, deve tê-las entregue para mim. Normalmente, isso
me emocionaria. Normalmente, eu adoro um bom presente. Esta noite, tudo que
posso fazer é me perguntar onde diabos vou guardar toda essa porcaria nova.
Apago as luzes enquanto caminho em direção ao meu quarto. O mundo
parece mais silencioso assim que o espaço cai na escuridão. Meu quarto está mal
iluminado. As mesas de cabeceira brilham ao lado da minha cama e o abajur no
canto emite uma luz suave e abafada.
O som de alguém pigarreando me alerta para o fato de que não estou sozinho.
Eu me assusto, minha coluna congela e me levanta com tanta força e rapidez
que meus pés saem do chão por um segundo inteiro. Há uma figura escura sentada
na poltrona no canto do meu quarto.
É ele.
Ele está aqui.
Seu rosto está nas sombras, mas seu corpo é iluminado pela luz que vem do
closet. Eu posso ver o contorno dele. É claro e inconfundível.
Meu coração começa a bater no meu peito.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto.
Ele não responde. Ele se inclina para frente. A luz atinge seu rosto. Linhas
irregulares são destacadas pela luz fraca. Posso dizer imediatamente que ele está
diferente. Algo nele está diferente. O ângulo de seus ombros está errado. Desligado.
Ele inclina a tela do telefone em minha direção. Reconheço a foto que postei no
BeckIT anteriormente – aquela de Bene e eu. Uma rápida reviravolta de satisfação
pulsa em meu peito.
— Ele sabe que você é meu? — Sua voz é densa e monótona.
Ele bebeu?
— Não vejo como ele saberia, já que nem eu estou ciente desse pequeno fato.
Ele se levanta e se aproxima, dando passos longos e ameaçadores para
preencher o espaço entre nós. Seus passos são pesados. Mais pesados e menos
coordenados que o normal. Começo a me sentir quente e minha respiração falha
por estar tão perto dele. Ele se inclina, ainda mais perto. Perto o suficiente para me
fazer começar a queimar. Ele aponta um dedo um pouco perto demais do meu
rosto.
— Ele sabe que vou quebrar todos os ossos do rosto dele se ele tocar em você?
Sinto cheiro de tequila quando seu hálito sopra em minha bochecha e há uma
leve ofensa em sua fala. Não há dúvida sobre isso. Tenho um Saint bêbado em
minhas mãos. Sei que é imprudente e possivelmente infantil, mas admito que me
dá arrepios ouvi-lo falar assim. Estou emocionado além das palavras por tê-lo
provocado o suficiente para atraí-lo, por tê-lo feito vir até mim.
— É por isso que você está aqui? Você invadiu minha casa para ameaçar com
violência qualquer homem que me tocasse?
— Não, — ele diz suavemente.
— Por que você está aqui então?
Ele parece um pouco confuso. Como se talvez ele também não estivesse
totalmente certo do por quê está aqui. — Eu vim... para dizer feliz aniversário.
Eu rio alto. Eu não posso evitar. Certamente, ele deve ouvir a si mesmo.
Certamente, ele deve saber o quão ridículo isso parece.
— Hm, se foi por isso que você veio, você me trouxe um presente? Porque é
isso que as pessoas fazem quando é aniversário de alguém. Eu sei que já falei
bastante com você sobre normas sociais no passado.
— Não, mas pensei em comprar um para você. — Ele parece surpreso ao se
ouvir dizer isso. — Você já tem tudo. Eu não sabia o que você iria querer.
— Você sabe o que eu quero. Você sabe exatamente o que eu quero. Eu quero
que você chupe meu pau. — Estou mais surpreso do que ele ao me ouvir falar
assim. Seus olhos se arregalam e depois escurecem num piscar de olhos. Eu
reconheço a luxúria quando a vejo. Isso me estimula. — Fique de joelhos. Abra sua
boca. Não seja uma se queixe sobre isso. Eu sei que você quer.
Para minha surpresa, ele faz o que eu digo. Ele segue minhas ordens palavra
por palavra. Linha após linha. Ele olha para cima enquanto eu desafivelo o cinto.
Eu sei que ele deve ser capaz de ver o quanto minhas mãos estão tremendo, mas
não me importo. Arranco o zíper e empurro a calça e a cueca abaixo dos quadris.
Ele estende a mão e os puxa para baixo. Ele faz isso com dificuldade. Ele os puxa
até os meus tornozelos. Tenho um estranho momento de indecisão em relação à
minha jaqueta. Não consigo decidir se devo mantê-la ou tirá-la.
Acontece que isso não importa. Ele engole meu pau, e no segundo que faz
isso, fico completamente incapaz de pensar em mais nada. Tudo o que consigo
pensar é em como sua boca é macia e quente. Quão boas são suas mãos grandes
enquanto apalpam minha bunda. Elas tateiam com força. Dedos fincando minha
carne. Indo mais fundo. Tudo o que posso ver é como ele fica lindo de joelhos. Como
meu pau parece incrível deslizando em sua boca. Está vermelho e brilhando com
sua saliva. Está tão duro que as veias estão inchadas. É tão bom quanto parece..
Meus quadris gritam para eu empurrar. Eles gritam para eu agarrar sua nuca
e foder seu rosto com força. Quase faço isso. Estendo a mão para segurá-lo, mas
não consigo. Não posso porque há algo nele que nunca vi. Ele está diferente esta
noite. Talvez ele esteja diferente como eu estou diferente.
Deus, espero que sim.
Ele não está apenas me chupando. Ele não está apenas fazendo movimentos,
balançando a cabeça para cima e para baixo para me tirar do sério. O que ele está
fazendo é diferente. Ele está se movendo rápido, mas o tempo está passando
devagar. Ele está movendo os lábios e a língua. O prazer é agudo. Extremo.
Agonizante, quase. É quase uma agonia extrema até o segundo em que percebo que
ele não está apenas me chupando; ele está beijando meu pau.
Ele dá uma volta na ponta. Ele faz isso suavemente. Ele passa a língua para
cima e para baixo na minha fenda. Tocando, provocando Ele está usando a mão
também. Ele está se movendo cada vez mais rápido. O som longo e áspero que estou
fazendo é cortado em quatro quando meus quadris começam a ter espasmos. Gozo
com tanta força que meus joelhos dobram e quase me curvo. Sinto que estou caindo
ou voando, não sei dizer qual. Ondas de prazer me atingem. Uma e outra vez. Ele
suga até que eu tenha certeza de que sugou meu cérebro, ou minha alma, para fora
do meu pau. Ele me mantém firme. Ele passa as mãos para cima e para baixo em
minhas pernas até que eu desça. Ele circunda meus tornozelos com força. É uma
sensação reconfortante, como se eu estivesse ancorado de alguma forma.
Ele se levanta, limpando o canto da boca com o polegar e saboreando
pensativamente o que restou de mim. — Sua segurança é uma merda, — ele diz
enquanto se dirige para a porta. — Toda a sua equipe deveria ser demitida.
Minhas entranhas se reviram, com cólicas ao vê-lo se afastando. — Saint,
volte aqui!
Eu tento acompanhar. Dou um grande passo e imediatamente vacilo. Eu
tropeço, xingando em voz alta. O filho da puta amarrou meu cinto em volta dos
meus tornozelos.
— Pare de me procurar, — ele diz enquanto desaparece nas sombras. — Eu
não quero ser encontrado.
Capítulo 22

Demon

Eu fico acordado a noite toda. Eu não durmo nada. Eu me viro até que
finalmente, quando começa a clarear, ligo para Allan.
— Eu tenho duas variáveis absolutas para você.
— Ok, manda. — Parece que ele está acordado há horas ou é um daqueles
malucos que acorda alegre e totalmente sereno.
— O nome dele é Saint. — Estou pensando nisso há horas. Sua cabeça virou
quando o chamei ontem à noite. A mesma coisa aconteceu na casa do lago quando
ele estava saindo. Seu ombro enrijeceu e ele olhou para trás involuntariamente.
Possivelmente reflexivamente. Se ele estava dizendo a verdade sobre seu nome ser
Saint, ele estava dizendo a verdade sobre ser o nome de sua mãe também. — Saint
é o sobrenome dele.
— E a outra variável?
— Eu. — Estou me arriscando, mas preciso fazer alguma coisa. Tenho que
encontrá-lo e nosso processo de eliminação não levou a nada. — Eu sou a outra
variável. Compare os registros bancários de cada homem na faixa etária e altura,
chamado Saint, com os meus. Haverá um cruzamento em algum lugar. Uma hora
e uma data em que nós dois gastamos dinheiro no mesmo lugar.
— Os registros bancários são complicados. Uma coisa é olhar para um ou
dois, mas olhar para centenas, ou mesmo milhares... — Sua voz desaparece. — Vai
levar tempo e vai custar caro.
— Você sabe o número que me deu quando lhe ofereci este emprego?
— Sei.
—Dobre-o

A quantia que estou oferecendo para Allan agora é exorbitante, mesmo para
os meus padrões. Mesmo assim, Saint continua a nos escapar. Os dias se
transformam em uma semana. Uma semana se transforma em duas. Não penso em
mais nada. Eu pulo toda vez que meu telefone toca, pensando que é uma mensagem
de Allan. Eu falo com ele várias vezes por dia.
— Você tem alguma coisa para mim? — Posso ouvir o desespero em minha
voz e só piora a cada dia que passa.
Todas as vezes, a resposta é a mesma. — Ainda não, mas não vou parar até
encontrá-lo.
Eu volto a rotina do trabalho. Graças a Deus, passei anos trabalhando em meu
plano. Não é tão difícil conseguir o que preciso. Três diretores da BeckIT
renunciaram imediatamente quando eu fiz o anúncio interno. Outros dois
começaram a chorar. Normalmente, isso me deixaria incrivelmente feliz. Neste
momento, quase não sinto isso.
À noite, sento-me no meu quarto, na poltrona onde ele se sentou. É uma peça
dinamarquesa. Comprei pela aparência e não pelo conforto. Isso não me impede.
Fico sentado nela por horas, me perguntando quanto tempo Saint ficou sentado ali,
esperando por mim.
Todas as noites, quando estou deitado na cama, digo a mim mesmo a mesma
coisa. Eu digo a mim mesmo repetidamente.
Você tem que parar com isso. É uma obsessão. Não é saudável.

Quase três semanas depois da minha festa de aniversário, meu telefone toca.
Como sempre, o som me faz pular. Eu me atrapalho, tentando colocar as mãos no
telefone tão rápido que minha pressa me atrasa.
É uma mensagem. Uma mensagem de Allan.

Eu tenho um nome e um endereço. Ele tinha um compromisso marcado na


Coiffe quinze minutos depois de você ter feito o cabelo em abril.

O sangue bombeia com tanta força que não consigo dizer se sinto calor ou
frio. Eu pressiono freneticamente cada parte da tela do meu telefone que poderia
levar a uma chamada.
— Não quero nome e endereço. Eu quero tudo. Quero tudo o que você puder
encontrar sobre ele e quero agora.
— Dê-me algumas horas e eu conseguirei algo significativo para você.
É sexta-feira à tarde. Estou no trabalho, mas cancelei meus planos para esta
noite. Eu deveria estar em algum tipo de apresentação. Digo que não consigo e não
dou motivo. Saio do trabalho assim que minha última reunião termina e ando de
um lado para o outro no saguão do meu apartamento enquanto a noite chega.
Já se passaram três horas e meia desde que Allan ligou.
Quanto tempo uma coisa dessas pode levar?
Finalmente, uma ligação de Allan.
— Verifique seu e-mail, — diz ele. — Eu enviei o que tenho. Não é muito. Ele
está completamente limpo. Quase limpo demais. Ele não tem vícios, nem prisões,
nem assiste pornografia. Se eu não tivesse visto por mim mesmo que ele está vivo e
respirando, suspeitaria que ele era um fantasma.
— Sempre há pornografia, Allan, e eu quero ver. — Fico vermelho de fúria
quando penso nele bisbilhotando minha vida. Assistindo. Esperando. Me pegando
quando ele queria. Me fazendo pulsar e bater porque ele sabia coisas sobre mim
que não tinha o direito de saber.
— Vou olhar de novo. Fique de olho no seu e-mail, enviarei o que encontrar.
Desligo e vou para o meu escritório. É o tipo de estúdio que foi projetado
principalmente para exibição. Geralmente trabalho na cama, no meu laptop. Mas
isso parece importante. Oficial. E para piorar ainda mais, ligo meu computador e
sento na mesa grande demais enquanto o arquivo é impresso. Sirvo-me de um copo
de uísque bem grande, mas não bebo. Começo a folhear o arquivo, o papel ainda
quente em minhas mãos. Meu coração bate tão violentamente que me faz sentir
enjoado.
O relatório é breve e direto ao ponto. É praticamente como ele descreveu. Há
uma fotografia dele quando tinha doze ou treze anos. É de um relatório policial. A
iluminação está forte, enfatizando as sombras sob seus olhos. Ele é pequeno e
magro. Suas costelas estão machucadas em preto e azul, e seu nariz parece
quebrado recentemente. Parece que tentaram limpá-lo para a fotografia, mas ainda
há uma mancha de sangue do nariz até a bochecha. Na foto seus olhos parecem
quase pretos. Ele parece irritado. Mas principalmente, ele parece com medo.
Eu folheio o resto em um frenesi. Fotografias de sua mãe. Parecendo um
membro ilustre da sociedade em uma foto e, na próxima, parecendo exatamente o
oposto. Há uma foto do pai dele. Falecido, diz o relatório. Morto em um beco. Seu
nariz estava quebrado em dois lugares e ele foi esfaqueado no pescoço com sua
própria faca. O relatório policial indica que foi um assalto que deu errado.
Ninguém nunca foi preso.
Saint tinha quinze anos quando ele morreu.
Há outra fotografia dele em seu aniversário de dezoito anos. O dia em que
ele se juntou ao exército. Seu cabelo está cortado em um novo corte militar. Ele
ainda está magro. Seus olhos estão escuros. Irritados, mas não mais assustados. Há
outras fotos também. Uma dele com um grupo de companheiros do exército, braços
soltos sobre os ombros uns dos outros. Um quando ele iniciou sua carreira como
consultor de segurança. Ele tem vinte e cinco anos naquela fotografia. Não é mais
magro e ostenta uma cicatriz profunda cortada em uma sobrancelha. A cicatriz
parece nova na fotografia. Curada, mas ainda saltada e vermelha.
Consultor de segurança, minha bunda.
Seu negócio de consultoria vai muito bem, a julgar por seus registros
financeiros. Ele nunca perdeu o pagamento de uma conta ou apresentou um
relatório fiscal com um dia de atraso. Há uma foto recente dele também. Poderia
ter sido tirada ontem ou hoje mais cedo. Ele está correndo no Central Park. Ele está
vestindo shorts esportivos e um boné abaixado. A imagem está um pouco
embaçada, mas é ele. Nenhuma dúvida sobre isso. É ele.
Tenho seu número de seguro social, seus dados bancários e informações de
seguro.
Tenho sua data de nascimento, número de carteira de motorista e endereço
residencial.
Mas acima de tudo, tenho o nome dele. Eu olho para ele há séculos. Parece
estranho. Letras pretas em pergaminho branco. Uma estranha coleção de
consoantes e vogais formando palavras que não entendo. Leio várias vezes,
tentando casar o formato das letras com as imagens de seu rosto. Digo isso em voz
alta algumas vezes, tentando torná-lo real.
Joseph St John
Joseph St John
Joseph St John
Eu tenho o que eu queria. Um nome. O nome dele.
Outro e-mail de Allan aparece. Clico nele rapidamente.
Demorei, mas encontrei. Ele estava pegando carona no wi-fi do vizinho de
cima.
Clico no primeiro anexo. É uma captura de tela de uma barra de pesquisa em
um site pornô. Eu a desligo rapidamente e clico na próxima. E na próxima. Meu
estômago se contrai. Sinto-me doente. Sinto-me fisicamente doente. Minha cabeça
e minha mente giram e começo a tremer da cabeça aos pés.
Sexo gay amador
Dois caras se beijando
Namorados de verdade apaixonados
Rasgo cada página do relatório que Allan me enviou. Rasgo primeiro a foto
do pai dele e por último rasgo a foto de Saint no relatório policial.
Sento-me à minha mesa, segurando a borda da mesa com tanta força que as
pontas dos dedos ficam dormentes. Minha respiração vem em soluços enormes e
angustiantes. Uma tempestade de emoções me consome. Ela me segura e fecha o
punho em volta de mim. Isso me sufoca. Isso quase me desfaz. Eu sinto tudo. Cada
sentimento que já existiu desce sobre mim ao mesmo tempo e abala meu núcleo.
Capítulo 23

Demon

Recosto-me, olhando para a porta à minha frente. É verde-sálvia e tem um


discreto número doze, logo acima do olho mágico. O corredor é largo. Parece
espaçoso. É um belo edifício. Silencioso, mesmo sendo sexta-feira à noite. Os
vizinhos são amigáveis. Uma delas ficou muito feliz em me deixar entrar quando
me viu esperando na entrada da rua. Estou aqui há uma hora. Bati por tanto tempo
e com tanta força que meus nós dos dedos estão rosados e doem quando endireito
os dedos. Independentemente de quão forte eu bata, o fato é que Saint não está em
casa.
Não importa. Eu cheguei até aqui. Não é o ideal, mas não vai me deter.
O homem que estou esperando finalmente aparece. — Foi você quem
chamou um chaveiro?
— Sim, me tranquei. — Eu faço o meu melhor para parecer envergonhado.
Ele examina a fechadura. — Não vejo muitas dessas, um pouco mais
complicadas do que o normal, mas devem ser factíveis. Posso ver alguma
identificação com comprovante de endereço?
— Merda. Tudo isso está trancado lá dentro.
Ele me olha com desconfiança. — O problema é que não temos permissão
para mudar a fechadura a menos que vejamos uma prova de que a casa é sua.
— Por que não? — Eu dou a ele meu sorriso mais inocente.
— Porque se não tivermos provas de que você mora aqui, como saberemos
que não estamos apenas arrombando e invadindo em seu nome?
O homem faz uma excelente observação. — Que tal isso, — eu digo, tirando
o relógio do pulso. — Que tal eu te dar algo diferente? Não é exatamente uma
prova, mas algo que acho que irá ajudá-lo a ficar tranquilo. — Suas sobrancelhas
se erguem. — Se você abrir a porta nos próximos dez minutos, este relógio é seu.
— Mas, mas isso é um relóg…
— Você quer ou não?
Ele abre a porta em sete minutos e meio.
Entrei. Estou me sentindo nervoso e estranho. Como se eu tivesse tomado
muito café. O apartamento é grande. Maior do que eu esperava. Possui piso em
assoalho de madeira e tetos altos com sancas ao redor das luminárias. As paredes
são brancas e nuas. Nenhuma arte. Sem cortinas. A cozinha e a sala são em plano
aberto. Ele tem um grande sofá de três lugares coberto com um rico tecido verde
azulado apontado para uma TV instalada na parede. Isso, junto com dois bancos na
bancada da cozinha, compõem a soma dos móveis da sala.
Curioso.
Ando pelo corredor. Está repleto de estantes cheias de livros. Cada centímetro
de espaço é preenchido. Eles estão meticulosamente empilhados. Ordenados por
nome do autor.
Confie no Idiota para organizar os livros pelo sistema Decimal de Dewey18, em
vez de pela aparência.
Pego um livro para ver melhor a capa.
Romance.
Verifico outro, e outro, e outro; tudo romance. Romance gay. Bi Romance.
Romance paranormal. Romance literário. Romance erótico.
Que porra é essa? Ele está falando sério?

18 Sistema de organização.
Eu caminho pelo corredor e entro em seu quarto. Existem mais livros.
Estantes contra todas as paredes. Todas elas cheios. Sua cama é enorme e foi
colocada no centro do quarto. Domina o espaço pelo seu tamanho e pelo fato de
ser a única coisa que não é um livro, ou uma estante em todo o quarto. Eu me
aproximo e esfrego seus lençóis entre o indicador e o polegar. Não sei dizer se estou
surpreso ou não por achar a contagem de fios bastante satisfatória.
Sua suíte é toda branca e indefinida. É tão limpa que é difícil acreditar que já
tenha sido usada por um ser humano. Abro seu armário e dou uma boa espiada.
Nada interessante. Nem mesmo Tylenol. A maioria de seus produtos de higiene
pessoal está na bolsa de couro que ele tinha no esconderijo.
Eu rio alto quando chego ao seu closet. Pelo menos metade do espaço está
vazio. Várias prateleiras ficaram vazias.
Que tipo de psicopata faz isso?
As prateleiras com roupas são tão organizadas que parecem o tipo de lugar
que daria aos devotos de Marie Kondo19 uma série de pequenos orgasmos. Ele tem
quatro pares de jeans, dobrados com tanta precisão que são exatamente do mesmo
tamanho. Eles estão empilhados por cor. Do mais claro ao mais escuro. Suas calças
cargo também estão lá. Perfeitamente limpas e perfeitamente feias. Ele tem algumas
camisas decentes penduradas, todas bem passadas, e algumas jaquetas bem
cortadas. Uma azul marinho, que beira o estilo. Novamente, elas estão todas
organizadas por cor. Escuro para claro. Eu vasculho suas gavetas de roupas íntimas.
Suas cuecas boxers estão dobradas em quadrados apertados. Se não me engano,
elas foram passados a ferro. Ele tem uma gaveta só para meias brancas e outra para
meias pretas.

19 Especialista em organização pessoal, empresária e escritora japonesa.


Ele está entregando uma vibe de Serial Killer, em grande estilo.
Enquanto volto para a sala para esperar por ele, me ocorre que tudo o que
ele possui, exceto os livros, poderia ser embalado e retirado deste lugar em vinte
minutos ou menos. Quando penso nisso, o mesmo sentimento do anterior, aquele
que quase me derrubou, ameaça me bater de novo.
Para ajudar a diminuir o peso e matar o tempo, reorganizo algumas coisas
no apartamento.

Eu pulo de pé quando ouço passos na porta. Estou esperando há horas. Uma


chave arranha em vão a fechadura. A porta se abre e Saint entra correndo. Seus
punhos estão cerrados ao lado do corpo, seu queixo está inclinado para baixo. Ele
parece ameaçador pra caralho.
Sua cabeça se agita de surpresa quando ele me vê. — O que diabos você está
fazendo aqui?
Eu não respondo. Olho ao redor da sala, sem fazer nenhuma tentativa de
impedir que o desprezo que sinto pelas escolhas de decoração dele transpareça em
meu rosto. — Odeio o que você fez com este lugar, — eu digo.
Sua mandíbula aperta e seus olhos escurecem. — E isso está certo? Seu
merdinha, você é quem fala de estilo, vestido com aquela roupa maluca. Odeio a
parte de cima, — ele sussurra em minha direção. — Isso não combina com você.
A blusa que estou usando é uma peça única e sob medida. Foi projetada
especialmente para mim. Não vou citar o nome, mas um designer de renome
mundial fixou-o e marcou ele mesmo as alterações. Cabe em mim como uma
segunda pele. Há uma possibilidade muito real de que, na história dos tops, nenhum
top tenha sido melhor adequado a um ser humano. Mesmo assim, eu o tiro e jogo
no chão.
Vejo um leve brilho em seus olhos. O pomo de Adão se contrai e sobe
microscopicamente. Ele quer engolir, mas está se contendo. Isso me agrada.
— Eu nem sei o que dizer sobre os sapatos, — diz ele, com um leve aceno de
cabeça.
Eu chuto o esquerdo, fazendo-o voar alguns metros à minha frente. Eu
afrouxo o sapato direito e o chuto em sua direção com tanta força que ele tem que
usar uma pata de mamute para afastá-lo, para impedir que ele atinja seu peito. Seu
rosto ainda está passivo, quase sem mostrar qualquer reação, mas seus olhos estão
cada vez mais focados em mim.
— E quanto àquelas calças, ou saia, ou seja lá como você chamar. É
imperdoável. Não sei o que diabos você estava pensando quando decidiu usá-las.
Vou te contar o que estava pensando quando me vesti, Idiota: Eu estava
pensando em dar um tapa e/ou seduzir um maluco grosseiro. Isso é o que eu estava
pensando.
Eu os desabotoo com raiva. — Bem, se você não gosta disso, você vai odiar o
que estou usando por baixo deles.
Tiro a calça e observo com satisfação enquanto ele olha a calcinha de renda
rosa choque que estou usando. Seu maxilar inferior cai ligeiramente e eu o vejo
tentar inspirar. Ele respira fundo em dois suspiros espasmódicos.
— Odeia tanto que você esqueceu como respirar, hein?
Ele pisca lentamente. — Algo parecido.
Seus olhos deixam meu rosto e eu os vejo rastreando meu corpo. Enrolo
minhas calças em uma bola apertada e, em seguida, atiro-as em sua cabeça com
toda a minha força. Ele as pega facilmente e as joga no chão perto de um dos meus
sapatos. Ele está fazendo um som estranho e suave. Se o som viesse de outra pessoa,
eu estaria inclinado a pensar que ela estaria rindo.
Ele se move rápido, fechando o espaço entre nós. De repente, sinto-me
nervoso e mal preparado. Ele segura meu rosto com as duas mãos e me puxa até
que eu fique na ponta dos pés. Ele pressiona seus lábios contra os meus e suspira
quando nos tocamos. É doce e suave e dificilmente parece vir dele. Ele separa meus
lábios com a língua. Ainda suave, mas insistente. Inclino minha cabeça para trás e
deixo que ele tome minha boca. Ele me beija profundamente. Nossas línguas
deslizam juntas até me sentir bêbado. Ele se afasta e olha para mim por um longo
tempo, então estende a mão e passa o polegar pelo meu lábio inferior.
— Isto, meu?
Eu olho para ele estupidamente.
— Essa boca é minha? — Ele diz cada palavra lenta e claramente desta vez,
para evitar qualquer confusão.
Começo a balançar a cabeça e então esqueço o que estou fazendo e aceno
com a cabeça, de boca aberta.
Ele beija meu pescoço. Levemente. Nada mais do que um sussurro de lábios
contra a pele. Começo a tremer imediatamente. Ele faz isso de novo. De novo. E de
novo. Até que eu não esteja apenas tremendo, estou sacudindo por dentro. Ele
acaricia meu peito com as costas dos dedos, contornando meus mamilos até que eu
me contorça com seu toque.
— E estes? Estes são meus também?
Um som horrível e impotente me escapa quando ele rola a carne sensível
entre os dedos. Ele faz isso suavemente. Isso me faz querer gritar. Eu quero muito.
Quero que ele me agarre, me apalpe e me belisque até doer. Eu quero esse tipo de
dor. Eu quero isso com tudo que tenho. Esse tipo de dor é muito mais fácil de
suportar do que esse tipo de dor. Essa dor é insuportável. A dor de querer tanto
outro ser humano que você acha que isso pode te matar. Está sob minha pele. Está
no meu sangue. É tudo que sei.
Sua mão cai mais abaixo. Eu sinto, mas não vejo. Ele está olhando para mim
e não consigo tirar os olhos dele. Eles estão escuros. Marrons. Chocolate escuro e
brilhante. Eu me assusto quando ele passa as unhas curtas sobre minhas bolas e
meu comprimento. Seu toque é tão leve que só sinto por causa da fricção da renda
contra a pele.
— E isso?
— Seu. — A palavra sai na expiração. Sai da minha boca sem meu
consentimento.
Ele puxa um dos bancos do balcão da cozinha e me gira tão rápido que minha
cabeça gira também. Ele me empurra, colocando minhas mãos no banquinho. Eu
me inclino para frente com gratidão. Ele passa um dedo pela minha espinha, sem
parar quando alcança minha calcinha. Ele continua se movendo. Para baixo. Para
baixo. Para baixo.
— E isso? — ele diz, enquanto acaricia minha entrada através do tecido
macio e transparente.
— Seu. Seu, — eu gemo. É mais alto do que eu queria. Mas eu falo sério. Eu
queria dizer isso. Eu queria que ele ouvisse.
Ele ri baixinho e pega a renda frágil com as duas mãos. Ele puxa, testando a
costura. Ele a segura com força com as duas mãos e então a rasga. Ele enterra minha
pele, friccionando enquanto ele a rasga. Ele rasga novamente. De novo. Até que o
que estou vestindo fique completamente sem costura. Ele enfia dois dedos na minha
boca. — Deixe-os molhados.
Eu faço.
Ele empurra os dois para dentro de mim ao mesmo tempo. É muito, de repente
estou cheio e só estou do lado direito da dor, mas sinto delírio por causa disso.
Sim, sim. Doce Jesus, sim. Eu quero assim.
Perca o controle, Idiota. Foda-me como o selvagem que eu sei que você é.
Claro, ele não o faz. Ele cai de joelhos e começa a beijar minha bunda. Ele faz
isso tão bem e tão docemente que começo a dançar ali mesmo, os quadris
balançando, balançando, desesperado por mais.
— Idiota! Apenas me foda já!
Ele para o que está fazendo. — Eu vou te foder, Demon. Eu posso te prometer
isso. Eu vou te foder... mas não por um longo tempo ainda.
Um lamento longo e terrível me escapa. Ele me puxa para cima. Parece que
minhas pernas não conseguem me manter em pé. Não importa. Ele me pega e me
joga por cima do ombro como um saco de batatas.
— Coloque-me no chão agora mesmo, — eu grito.
Ele me ignora completamente. Ele caminha pesadamente em direção ao seu
quarto e, ao fazer isso, dá um tapa na minha bunda nua, um depois o outro. O calor
penetra na minha pele. Eu o soco com os punhos, o que só o faz bater com mais
força. Estou berrando, gritando, rindo histericamente.
Mesmo naquele momento, em meio a uma luxúria diferente de tudo que já
senti, mesmo com minha calcinha rasgada expondo minha bunda e o sangue
correndo para minha cabeça, ouço o som que estou fazendo. Eu ouvi. Eu reconheço
isso.
Eu sei que em todos os meus dias, em todos os meus anos, nunca pareci tão
feliz.

— Você quer que eu chame um carro para você?


— Eu tenho um carro, Idiota.
Ele me observa enquanto me visto. Meus membros parecem soltos.
Desarticulados. Deixo a calcinha que ele estragou no chão e visto o resto das
minhas roupas. Eu luto com uma algema de pulso. Não consigo chegar perto
porque minhas mãos tremem muito. Ele tira a algema de mim. Suas mãos estão
firmes. Ele fixa em mim um pouco mais apertado do que eu costumo fazer. Isso
aperta minha pele, mas por algum motivo, eu gosto disso. Eu olho para o rosto dele
e ele me solta. Ele fica aberto. Ele não desliga. Sinto uma atração estranha e
profunda em direção a ele, como se meu peito estivesse sendo puxado em direção
ao dele. É um momento estranho e intenso que parece se estender. Estendo a mão
sem pensar e passo o dedo levemente ao longo da ponte irregular de seu nariz.
— Joseph St John, — eu sussurro.
Ele não se move, mas quando me levanto para sair, ele enrola a mão em volta
do meu pulso e puxa com força, me parando e me fazendo olhar para ele. Ele me
considera brevemente. Seus olhos me golpeiam como um chicote.
— As pessoas que me conhecem me chamam de Joey.
Capítulo 24

Saint

Eu ligo a máquina de café. Está tarde. Meio-dia e ainda não saí da cama. Não
corri e não tomei café da manhã. Nunca fiquei na cama tão tarde na minha vida,
mas também nunca tive uma noite assim.
Maldito inferno. Aquele garoto estava pegando fogo.
Confesso que fiquei chocado quando o vi. Ele me surpreendeu invadindo
minha casa. Surpreender-me não é algo que muitas pessoas têm a capacidade de
fazer. Ou colhões. É desaconselhável. Perigoso, até. Obviamente, isso não impediu
Damon. Ele começou a se despir antes que eu tivesse tempo de decidir se estava
feliz ou com raiva ao vê-lo. Depois disso, a clareza mental foi escassa.
Deus, ele parecia gostoso.
Roupas pretas. Cabelo loiro escuro. Lábios macios e deliciosos. Olhos claros,
elétricos e cheios de desafio.
A máquina de café engasga, sibila e espuma, e depois nada. Nenhum aroma
celestial. Nenhum néctar rico e escuro dos deuses. Sem creme. Nenhuma força vital
cafeinada para absorver.
Que diabos?
Aperto alguns botões. Luzes vermelhas piscam para mim. Eu desligo e ligo
novamente. Ela assobia e gagueja novamente.
Ah, porra. Não posso lidar com isso agora.
Abro o armário da despensa para pegar a prensa francesa e o café moído que
guardo para emergências. Dou um passo para trás como se tivesse levado um tapa.
O armário está uma bagunça. Bem, não exatamente uma bagunça, as latas ainda
estão arrumadas, mas aqui e ali elas foram movidas. Não o suficiente para parecer
óbvio, apenas o suficiente para garantir que os rótulos não estejam alinhados
perfeitamente.
Apenas o suficiente para me fazer sentir que vou ter um ataque cardíaco.
Arrumo as coisas e olho para a máquina de café. Eu sei com o que estou
lidando. Recebi uma mensagem. Uma mensagem clara e simples.
Demon estava aqui.
Abro o resto dos armários da cozinha. A louça e as panelas e frigideiras não
foram mexidas. A prateleira de ervas e temperos está exatamente do jeito que eu
gosto. Limpa e arrumada, mas olhando mais de perto, vejo que cada recipiente de
tempero contém o mesmo tempero de cor laranja-marrom. O merdinha os
misturou. Abro vários recipientes em frenesi. Ah! Penso quando abro o açúcar.
Provo com cautela. É normal. Tive certeza de que ele o teria substituído por sal. O
idiota perdeu uma pegadinha. Percorro o resto do apartamento procurando por
coisas que estão fora do lugar.
Meu armário de banheiro foi vitimado. Todos os meus produtos de higiene
pessoal foram retirados da minha bolsa de higiene pessoal e encontro um PostIt
dentro da porta que diz:
Você precisa de hidratante, Idiota.
E fio dental.
Não me faça dizer isso de novo.
Meu guarda-roupa parece bom. Ele misturou minhas meias brancas com as
pretas e minhas calças de trabalho sumiram, mas não está tão ruim quanto poderia
ter sido. Não demoro muito para consertar isso. Tomo banho e me visto. Estou
faltando à minha corrida hoje. Estou exausto. Talvez eu saia para tomar um café
decente, Deus sabe que preciso. Enquanto ando pelo corredor, meus olhos pousam
nas estantes de livros.
Não.
Ele não faria isso.
Mas isso não é a verdade, não é? Qualquer um que conheça Damon há uma
hora ou mais sabe que ele certamente faria isso. Passo a maior parte da tarde
verificando manualmente todos os livros que possuo. Ele foi inteligente sobre isso.
Ele trocou livros com lombadas da mesma cor, para não chamar a atenção para seu
ato de tirania. Ele não fez com muitos, o que os torna mais difíceis de encontrar.
Demora horas. Encontro onze livros fora do lugar.
Estes são todos eles?
Como eu vou saber?
Eu poderia torcer seu pescoço. É o não saber que parece que pode me matar.
Como vou viver assim? Não saber se tem algum livro fora do lugar na minha casa.
Estou furioso com ele. Totalmente furioso. Estou com raiva por ele ter
arrombado a porta. Estou com raiva por ele ter invadido minha privacidade. Eu sei
que é mesquinho vindo de mim, mas eu odeio como me sinto. Estou com raiva
porque ele mudou minhas coisas, mas acima de tudo, estou com raiva porque sei
que não importa o que eu faça, agora que ele sabe onde estou, estarei esperando
por ele. Vou passar o resto do dia esperando por ele. Não vou pensar em mais nada.
Vou pular toda vez que ouvir um carro na rua. Vou ficar tenso quando ouvir passos
no meu corredor. Vou esperar o toque da campainha. Vou passar cada minuto do
resto do dia pensando em como ele estava ontem à noite. Como ele se sentiu. Como
ele me fez sentir.
Deus, ele me fez sentir bem.
Ele lutou bem, lutou muito bem, mas no final, ele me deu o que eu queria
desde a primeira vez que coloquei os olhos nele. Ele me deu isso e muito mais. Ele
me deu seus gemidos. Ele não tentou segurá-los. Ele implorou pelo meu pau.
Chorou por isso. Ele ficou nu de costas na minha cama, com as pernas bem abertas,
e me implorou para transar com ele. Ele continuou implorando quando eu estava
dentro dele. Ele implorou por cada metida.
Cada. Metida.
Eu dei a ele meus gemidos também. Eu não pude evitar. Ele estava tão quente
por dentro. Tão suave. Tão apertado. Sua bunda apertou tão confortavelmente em
volta do meu pau que parecia um elástico grosso, me ordenhando, me deixando
louco. Ele se arqueou para fora da cama, cravando os calcanhares no colchão e me
fodeu desenfreadamente. Ele raspou sua próstata no meu pau. Ele estava louco.
Nada nunca foi melhor do que seu pau perfeito em minha mão e sua bunda perfeita
deslizando para cima e para baixo em minha ereção. O som que ele fez quando
gozou era irreal. Dificilmente soava humano. Parecia que foi arrancado dele.
Parecia que era meu. Como se tivesse sido feito para mim. Tentei pegá-lo em
minhas mãos. Usei as duas mãos, mas ainda assim transbordou. Quente e pegajoso
enquanto jorrava dele. Excessivo. Perfeição. Como ele.
Depois, me inclinei para trás, com meu pau ainda dentro dele, e lambi as
palmas das mãos para limpar. Ele observou preguiçosamente enquanto eu fazia
isso. Seus olhos estavam vazios e sua boca aberta, querendo, ainda implorando por
mais. Deitei-me sobre ele, afundando todo o meu peso nele, pressionando-o contra
o colchão. Coloquei meus lábios sobre os dele e alimentei-o com o que fizemos
juntos. Ele comeu. Lambendo com gratidão. Chupando da minha língua. Sua bunda
começou a apertar quando ele fez isso. Ele soluçou de prazer quando gozou
novamente.
Eu gozei, também.

Ando para cima e para baixo no meu apartamento. Não estou com vontade
de cozinhar, mas estou com fome, então faço uma omelete para o jantar mais cedo.
Felizmente é uma refeição fácil de preparar, já que minha primeira tentativa é
frustrada quando eu coloco uma pitada de sal nela, apenas para descobrir que
aquele Demon colocou açúcar em meu moinho de sal. Enquanto jogo no lixo, olho
para dentro da lata.
Suspiro.
Acho que isso resolve o mistério do que aconteceu com minhas calças de
trabalho.
Depois do jantar, espero. Escovo os dentes, tomo banho e espero. Sento-me
no sofá e espero e espero. Espero até ter certeza de que vou enlouquecer. Espero até
escurecer. Até que seja tarde. Até que eu tenha certeza absoluta de que ele não virá.
Então ouço uma chave na fechadura e um clique metálico e liso.
Jesus Cristo.
O merdinha fez para si mesmo a chave da minha casa.
Capítulo 25

Demon

—Quantos livros você moveu?


Sua voz é rouca, profunda e sem fôlego pelo jeito que ele acabou de me foder.
Mal tive tempo de fechar a porta. Ele me agarrou, me girou e começou a comer
minha bunda com as calças ainda em volta do tornozelo. Minhas pernas ainda
estão tremendo, mas tenho a presença de espírito de sorrir docemente e dizer: —
Doze.
O olhar misto de horror e desespero em seu rosto é quase tão satisfatório
quanto o orgasmo alucinante que ele acabou de me dar. Seus olhos vagam pela
floresta de livros em seu corredor.
— Você quer que eu chame um carro para você?
— Eu tenho um carro, Idiota. Qualquer perseguidor que se preze saberia
disso.
Ele zomba e se levanta, ficando perto da janela da sala e olhando para a rua
abaixo. Ele fez a mesma coisa ontem. Vou até a porta da frente e abro.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto.
— Ficando de olho em você.
— Você acha que preciso que você me vigie? Eu posso cuidar de mim mesmo.
— Este bairro não é o que você está acostumado.
— Então o que você vai fazer, ficar de guarda e se lançar pela janela se
alguém me abordar?
Ele olha para a escada de incêndio do outro lado do corredor. — Posso sair
daqui e ir para a rua em trinta segundos.
Curiosamente, não duvido dele nisso. Na verdade, eu apostaria que essa era
a razão pela qual ele alugou este apartamento em particular.
— E depois, hein? Você vai quebrar todos os ossos do rosto de um cara porque
ele chegou muito perto de mim?
— Sim. — Seu rosto é perfeitamente neutro quando ele diz isso. Por alguma
razão, isso torna tudo mais quente. — Poderia quebrar alguns dedos e quebrar um
rádio ou uma ulna também. Se ele não tiver sorte, vai conhecer minha bota e eu
quebrarei algumas costelas.
— Então, vários ossos quebrados para quem me tocar, hein?
— Sim, e uma estadia prolongada no hospital.
— Encantador. — Permito que o desdém penetre em minha voz, mas estaria
mentindo se dissesse que meu pau não estava envolvido nessa conversa fodida.

*
Volto para a casa dele na noite seguinte e na próxima. O trabalho está um
caos. É loucura. O anúncio formal foi feito e meu plano está se concretizando. Vidas
estão sendo mudadas. A riqueza está sendo distribuída. A anarquia reina. Está
abalando o núcleo do planeta. Não consigo sair de casa sem ver meu rosto
espalhado por todo lado. Em outdoors e pontos de ônibus. Nas capas de revistas e
em todos os meios de comunicação social existentes. Dizer que estou na moda seria
o maior eufemismo de todos os tempos.
Isso é muito.
É... legal, eu acho.
Isso me ajuda a passar o dia, até a noite. Eu vivo para a noite. Eu vivo para as
sombras. Vivo para o segundo momento em que a escuridão se aproxima. Quando
isso acontece, sinto que ele está perto. Como se ele estivesse quase ao alcance. Todos
os dias espero o máximo que posso.
De manhã, digo a mim mesmo que não irei à casa dele. Digo a mim mesmo
que vou fazê-lo esperar. Faça-o querer. Faça-o ficar tão louco quanto eu me sinto.
Ao meio-dia estou ansioso. Seriamente. À tarde, mal consigo ouvir o que as pessoas
me dizem. Posso ver seus lábios se movendo, mas isso é tudo. Assim que chego em
casa, tomo banho e me preparo para ele. Eu demoro o máximo que posso. Eu me
visto com cuidado. Eu me visto tendo em mente seus olhos, suas mãos e seu sorriso.
Ontem usei um macacão de couro aberto até o umbigo.
— Jesus, — disse ele, quando me viu.
— Você gosta disso?
— Sim, — ele respirou.
— Isso é uma coisa sua? Você gosta de garotos com couro? Esse é o seu tipo?
Ele fez aquela coisa de olhar para mim e me fez sentir completamente nu,
como se tivesse arrancado toda a minha pele e pudesse ver através dos meus ossos.
Tentei dar um passo para trás, mas ele passou as mãos em volta da minha cintura,
prendendo-me contra ele.
— Eu não tenho um tipo, — disse ele. — Acho que me sinto atraído por
pessoas que não se importam com o que os outros pensam delas.
Quando ele disse isso, senti como se um pequeno balão tivesse sido inflado
em meu peito. Eu sei que ele provavelmente não quis dizer isso. Aposto que ele já
esqueceu que disse isso, mas para mim pareceu que poderia ser o melhor elogio
que já recebi.
Depois ele foi ao banheiro enquanto eu me vestia. Obrigado, porra, por isso,
porque digamos que é muito mais sexy tirar uma roupa de gato de couro do que
vesti-la novamente. Eu o observei enquanto ele caminhava. Ele estava
completamente nu. Algumas pessoas parecem diferentes quando não estão vestidas,
parecem mais vulneráveis ou algo assim, isso faz com que seu andar pareça
estranho, mais furtivo ou incerto. Não é assim com Saint. Ele é exatamente o mesmo.
Ele tem exatamente a mesma confiança sem roupas e com elas. Ele se move da
mesma maneira. Uma arrogância sexy pra caralho, acho que você chamaria assim.
Observei a forma como a tinta emplumada em suas costas se movia quando ele
andava. Segui as linhas até suas costas. Eu juro, tive que me impedir de babar ao
ver sua bunda. É carnuda e musculosa, bem embrulhada e firme em uma pele lisa
e morena.
Deus, eu quero isso.
Eu quero tanto isso que estou começando a sentir que posso não ficar bem se
não conseguir.

Estou prestes a sair quando Lacey aparece. Ela tem um olhar severo que me
leva a suspeitar que ela sabe o que estou fazendo. Não é por acaso que ela está aqui
tão tarde, ela está tentando me pegar em flagrante e me fazer admitir o que está
acontecendo na minha vida. Eu tento jogar com calma. Sentamos, conversamos e
relaxamos um pouco. Tento não olhar para o relógio, mas a cada minuto que passa
fica mais difícil.
— É um cara? — ela pergunta eventualmente. A essa altura, estou uma hora
atrasado do que normalmente consigo aguentar antes de ceder e ir para Saint. Estou
me sentindo desgastado, exausto e com tanto tesão que estou lutando para ver
direito.
— Sim. Certo, tudo bem. É um cara.
— Eu o conheço?
— Não.
— Hum. — Ela me avalia brevemente. — Como ele é?
— Ele é terrível. Sério, ele é a pior pessoa de todas. Eu não suporto ele. Ele
abriu caminho para minha vida. Eu não disse que ele poderia. Ele nem me
perguntou se não havia problema em causar esse tipo de estrago. Ele simplesmente
fez isso.
Ela parece levemente perturbada. — O que ele fez?
— Ele fez com que a ideia de foder alguém que não seja ele fosse repulsiva
para mim. Só de pensar nisso me sinto mal. Foi isso que ele fez. — Deixo todo o
peso da autopiedade que sinto penetrar em minha voz. Estou feliz que Lacey esteja
aqui. Ela vai entender. Ela me dará a simpatia que mereço. — Ele é o pior.
— Oh, Boo, — ela suspira. — Você é tão bonito, mas Deus, você é burro.
— Eu? Burro? Sério?
— Você é burro se não percebe o que está acontecendo. Você é mais burro
que uma caixa de pedras se não perceber que está se apaixonando por esse cara.
Estou horrorizado. O que ela está sugerindo é absurdo. Absolutamente
ultrajante. Tão ultrajante que começo a entrar em pânico quando ela menciona
isso. — É, não é assim. É casual. Apenas trepadas. Trepadas muito, muito gostosas,
mas ainda assim, apenas trepadas. Você sabe que não saio por aí captando
sentimentos. Eu tenho essa coisa chamada respeito próprio e autocontrole, e outra
coisa que começa com auto, na qual não consigo pensar agora.
— Sério? Bem, nesse caso, tenho certeza que você não se importará se eu
ficar aqui esta noite. Eu te farei companhia. Podemos tomar sorvete e assistir TV.
Será divertido. Já faz muito tempo desde que fizemos isso.
Normalmente, adoro as noites em que ficamos em casa juntos. E ela está certa,
já faz muito tempo desde que realmente nos encontramos. Infelizmente, do jeito
que me sinto agora, parece que poderia me causar danos físicos ficar aqui e não
ver Saint.
— Eu meio que preciso… Nós meio que fizemos planos…
Ela suspira e balança a cabeça como se estivesse lidando com uma dor de
cabeça muito, muito ruim.
Isso me ocorre enquanto corro para meu carro; ela pode muito bem estar.
Capítulo 26

Saint

Porra, esse merdinha está me fazendo esperar. Já passa da meia-noite e ele


ainda não apareceu. Eu gostaria de poder dormir e esquecê-lo. Mas eu não posso.
Eu já tentei fazer isso. Não deu certo. Tentei ler. Também não deu certo. Estou em
uma grande crise de livros. Não consigo encontrar nada que prenda minha
atenção.
São meia-noite e nove quando ouço algo na porta. Eu espero. Nada acontece.
Eu me arrasto para fora do sofá e abro a porta da frente. Quase espero não ver
nada. Não havia nada lá nas outras duas vezes que fiz isso esta noite.
Não sei dizer se fico aliviado ou surpreso quando o vejo encostado na parede
em frente à minha porta. Ambas as mãos estão enfiadas profundamente nos bolsos,
fazendo seu peito parecer ligeiramente vazio. Ele tem um pé encostado na parede.
Sua cabeça está inclinada para trás e em seu ângulo habitual e sarcástico.
Resumindo, ele parece gostoso pra caralho.
— Você vai entrar ou o quê?
Seus lábios se curvam em um sorriso que eu nunca vi antes. — Não sei. Você
vai me deixar foder você, ou o quê?
Estou surpreso. É a última coisa que eu esperava que ele dissesse. — Quero
dizer, eu, tipo...
— Sim ou não, Saint. Não, talvez sobre isso.
Quero aproveitar o meu tempo e enganá-lo, mas seu novo sorriso é sexy e
ameaçador como o inferno. — Tudo bem, sim, eu quero. Eu só não sabia que você
gostava disso.
Ele pisca para mim indignado. — Você não sabia que eu era uma blusa?
— Uma o quê?
— Um top feminino, imbecil. — Balanço a cabeça e tento, sem sucesso,
reprimir uma risada. — Acho que você não sabe tudo sobre mim, né?
— Acho que não.
Com isso, ele se joga em mim. Toda a força do seu peso me atinge bem no
peito. Ele envolve as mãos em volta do meu pescoço e me puxa até sua boca. Ele me
beija com força. Com fome. Sua língua procura a minha. Ele faz isso brutamente,
tomando minha boca de uma forma tão vil e crua que fico sem fôlego em segundos.
Ele me leva de volta ao meu apartamento e fecha a porta da frente com um chute.
Ele puxa minha camiseta, levantando-a o mais alto que pode, prendendo-a no meu
queixo e lidando com isso simplesmente puxando com mais força. Ele puxa meu
cinto, apertando-o o suficiente para beliscá-lo enquanto o desfaz.
— Vire-se, — ele sibila. — Eu quero ver isso.
Ele tira meu jeans lentamente até que ele fique logo abaixo da minha bunda.
Ele os deixa assim, expondo nada além de nádegas e uma entrada. Ele passa as mãos
pela minha carne. Apertando. Testando. Levantando ambas as nádegas e
separando-as ligeiramente.
— Mãos no balcão. — Sua voz é gelada. Ele soa cada centímetro como o
demônio que eu sei muito bem que ele é. — Incline-se e pense no que está prestes
a acontecer com você.
Não vou mentir, ouvi-lo assim me faz sentir como se meu pau tivesse sido
injetado com aço. Estou chocantemente, dolorosamente duro. Estou vagamente
ciente de que provavelmente não é sensato dar carta branca a um cara como ele,
mas estou ainda mais consciente de que agora, eu não conseguiria reunir um pingo
de bom senso se minha vida dependesse disso.
Eu o ouço saindo da sala. Claro, passos rápidos ecoam pelo meu corredor até
o meu quarto e depois voltam. Ele deixa cair a camisinha no balcão da cozinha ao
meu lado e abre o frasco de lubrificante. Ele não perde tempo me preparando. Ele
desliza o primeiro dedo lentamente. Tão lenta e suavemente, sou embalado por uma
inebriante e falsa sensação de segurança. Ele faz o mesmo com o segundo. O
terceiro entra com mais força. Mais rápido. Isso tira um suspiro alto e assustado de
mim.
— Shhh, — ele sussurra. — Você vai precisar disso.
Puta merda.
Não estou pronto para Demon como um ativo enlouquecido. Quer dizer, eu
pensei sobre isso. Eu gosto de ser passivo. Não faço isso com muita frequência, mas
gosto quando faço. Normalmente, os tipos de caras com quem eu fodo são nervosos
e cautelosos. Normalmente, é mais um caso de eu me empalar do que de ser fodido.
Algo me diz que isso está a segundos de mudar.
Damon está esfregando sua ereção contra minha coxa, contra minha bunda
e assim que ele puxa os dedos, ele pressiona seu pau na minha fenda. Ele acaricia
para cima e depois para baixo. Ele começa a acariciar novamente, mas em vez de
olhar para minha entrada, ele enfia a cabeça em mim. A ponta inchada avança, me
esticando lentamente, mas me esticando com força. Tento relaxar, mas porra, já faz
um tempo que não sou passivo, e ainda mais tempo desde que fui fodido por um
pau como o dele.
Eu grunho de alívio quando a cabeça afunda. Sinto meu ânus circundando-
o com força, tentando fechar agora que a parte mais grossa dele está dentro de
mim. Estou caminhando na linha tênue entre o prazer e a dor, tentando me lembrar
de como relaxar e deixar acontecer. Fragmentos de sentimentos familiares flutuam
ao meu redor. Tento pegá-los. Para coletá-los. Para reuni-los em algo ordenado e
útil. Mal me lembro do que preciso fazer, quando ele estala os quadris e se empurra
totalmente para dentro.
— Porra! — Eu suspiro suavemente.
Ele responde recuando e empurrando novamente.
— Poooorra! — Desta vez não é um suspiro e também não é suave.
Minha voz está rouca e desesperada. Estou tentando alcançá-lo. Tento abrir
mais as pernas, dobrar mais os joelhos, arquear as costas do jeito que agora sei que
preciso. Ele não perde tempo, socando, estocadas sólidas e estridentes de puro
prazer direto na minha bunda.
Ele está gemendo a cada estocada. Ofegante. Sem fôlego. Seus dedos estão
cavando em meus quadris. Forte. Tão forte que posso dizer que ele não vai durar
muito. Eu começo a masturbar meu pau. Eu faço isso rápido. Tão rápido quanto eu
posso. Estou perseguindo meu orgasmo. O sangue está trovejando em meus
ouvidos. O prazer bombeia em minhas veias. Manchas pretas aparecem diante de
mim. Cerro os dentes, lutando pelo que está bem na minha frente. Está perto, está
tão perto que posso sentir o gosto, mas não consigo tocar.
Estou gemendo longa e freneticamente. Ele responde me fodendo com mais
força. Cada vez mais forte, até sentir que vou me abrir. Viro a cabeça para trás,
desesperado para encontrar o que quero. O que eu preciso. Ele passa um braço em
volta do meu ombro e me empurra para baixo com seu peso, fazendo-me dobrar
um pouco mais os joelhos. Meu rosto está alinhado com o dele. Seus lábios estão
tentadoramente próximos. Ele fica na ponta dos pés, penetrando em mim ainda
mais fundo do que já estava, enquanto se inclina e me oferece sua língua. Eu quero
os lábios dele. Seus dentes. Sua língua. Quero seus beijos doces, claro, mas acima
de tudo quero beijos como esses: indecentes e perversos. Como ele.
Estendo a mão e puxo-o o mais perto de mim que posso, sem ferir um de nós.
Nossas línguas lutam entre si. A fricção áspera e úmida me dá o que preciso. Eu
desmorono instantaneamente. Eu desmorono. Eu quebro. Eu me divido em pedaços
e gozo em todo o balcão da cozinha. Meu ânus aperta em torno dele conforme cada
onda atinge. Ele tenta fechar, mas ele continua forçando a abertura, aumentando
meu pico cada vez que ele faz isso. Caio para frente, vagamente consciente do
balcão gelado sob meu peito. Profundamente consciente do pau perfeito me
alargando. Eu finalmente paro de resistir e ficar tenso. Fico mole no balcão e deixo
que ele pegue tudo o que tenho para dar. Tudo e mais.
Ele grita sua liberação, impetuoso e irritado, enquanto inunda minha bunda
com jato após jato de sêmen bem quente.
Ele sai rapidamente. O silêncio enche a sala. Nenhum de nós se move. Eu,
porque não posso. Ele, porque ele está vendo seu sêmen escorrer lentamente de
mim. Posso sentir seus olhos em mim. Eu o sinto mergulhando os dedos no que fez.
Ele o pega e o empurra habilmente de volta para dentro de mim. Seus dedos
deslizam para dentro de mim, mais facilmente agora, mas estou tão sensível que
me faz grunhir mesmo assim.
Ele engole em seco de forma audível e sai rapidamente, como se tivesse
acabado de descobrir o que fez. — Mer… Po… eu não usei camisinha.
Eu me levanto do balcão e fico com as pernas instáveis. Puxo minha calça
jeans, deixando a braguilha desabotoada.
— Porra. Desculpe, Joey. Eu nunca fiz isso antes.
— Não se desculpe, está tudo bem. Eu sei que você se testou depois, como
você chamou, das férias fodidas que eu te levei, e eu sei que você não esteve com
ninguém desde então.
— Oh sério? — Uma rápida faísca de aborrecimento brilha em suas feições.
— E como você sabia disso?
— Porque eu observo você, imbecil, e já faz um tempo que não vejo nada que
me faça sentir um homicida.
Uma respiração rápida e áspera sai dele. Seus olhos se iluminam e por um
segundo ele parece decidir se deveria me dar a satisfação de uma gargalhada. O
som sai dele, tirando a escolha dele e me trazendo um nível de satisfação que parece
desproporcional ao significado de uma única risada.
— Então? — Suas sobrancelhas se erguem e sua cabeça se contorce várias
vezes. — Você vai compartilhar seu status comigo?
— Não. — Eu sorrio.
— Jesus Cristo, você é um pé no saco.
Eu me inclino para trás, sentando em um banquinho da cozinha,
estremecendo exageradamente enquanto faço isso. — Acho que nós dois sabemos
que sou eu quem está com o pé no saco agora. — Sua expressão é ilegível. Não sei
dizer se o que acabei de dizer o deixou satisfeito ou preocupado. Eu tenho
misericórdia dele. — Estou bem, ok. Minha bunda está bem. Não se preocupe com
isso.
Parece que eu o provoquei, ou talvez seja apenas o jeito que ele é, porque ele
parece sentir necessidade de me atacar. — Sabe o que encontrei na sua gaveta
quando peguei o lubrificante?
Eu sei exatamente o que ele encontrou, mas quero que ele diga, então dou de
ombros despreocupadamente.
— Encontrei minha calcinha rasgada, seu pervertido.
— É mesmo?
— Sim é. Você as guarda como uma espécie de lembrança doentia?
— Não, — eu falo lentamente, — não é nada disso. Eu só gosto de tê-las por
perto, para poder arrastá-las pelo rosto e cheirá-las quando eu...
— Jesus. O que há de errado com você? — Ele olha para mim com um olhar
pudico de horror e me deixa verdadeiramente feliz. Para tirar isso de mim, ele diz:
— Você me deve uma calcinha, Idiota.
Cuidado com o que você deseja, menino mau.
Capítulo 27

Demon

Eu tranco minha porta e conecto meu telefone para carregar. Considero


tomar um uísque, mas sei que verei Saint mais tarde, e acho que seria melhor
manter a calma. Ando pelo apartamento. Está limpo. Clínico. Não há nada fora do
lugar. Tudo está quieto. Silencioso. Normalmente adoro, mas às vezes odeio. Esta
noite é uma daquelas noites que odeio. Sinto-me inquieto e deslocado. É cedo. Ainda
não está totalmente escuro. Tenho que esperar horas antes de poder ir ao Saint se
quiser manter a farsa de que não estou desesperado por ele. E acredite, eu quero
manter essa farsa.
Vou para o meu quarto. Acho que uma soneca revigorante é necessária. Meu
quarto é como o resto da minha casa. Um pouco espaçoso demais ao redor dos
móveis para que pareça aconchegante ou habitável. Tudo está exatamente onde
deveria, como sempre, e é por isso que a caixa na minha cama está tão fora do
lugar. Não pertence aqui. Não combina com a decoração. É rosa clara com
acabamento fosco e pálido e tem um elaborado laço de organza preto amarrado em
volta dele. Não há cartão. Não que eu precise de um. Só conheço uma pessoa capaz
de arrombar e entrar em minha casa sem ser detectada.
Desfaço o laço e passo as palmas das mãos pela superfície lisa da caixa. Estou
animado. Meu coração está batendo mais rápido. Não consigo imaginar o que um
cara como ele daria de presente. Uma orelha decepada? Uma faca de caça?
Nenhum dos dois me surpreenderia.
Abro a tampa da caixa e a coloco com cuidado. O que quer que esteja dentro
está escondido em delicados pedaços de papel de seda. Eu os retiro e meus pulmões
se enchem com uma respiração forte e repentina. É uma lingerie, mas não uma
lingerie comum. É uma tanga e suspensórios. Ambos pretos. Ambos feitos da seda
mais pura que já tive em minhas mãos. Ambos foram bordados à mão. O desenho
é complexo e escuro – rosas, arames farpados e crânios humanos.
Eles são lindos e são estranhos.
São as coisas mais estranhamente lindas que já recebi.
Tomo banho rapidamente, tomando cuidado para me secar completamente
antes de experimentá-los. Eles são a perfeição. Eles se ajustam como se tivessem
sido feitos sob medida. Sem dobras. Nada de cavar na minha pele. Eu me olho no
meu longo espelho. Estou bonito, obviamente. Mas algo não está certo. Experimento
um par de meias pretas. Não é o visual que procuro. Eu os tiro e experimento um
par de meia arrastão. É melhor, mas ainda não é exatamente o que eu quero.
Experimento alguns pares de sapatos e finalmente calço meu par de botas de
combate favorito.
O que? Como se você não experimentasse suas roupas sexuais de antemão.
Está perfeito. É tudo. Está entregando a vibe Vou Dar um Ataque Cardíaco em
uma Vadia Má.
Eu amo isso.
Visto uma regata queimada e uma calça jeans rasgada que expõe um pouco
da minha meia arrastão e saio pela porta antes mesmo de considerar o fato de que
ainda não são sete da noite.
No caminho para a casa dele, converso severamente comigo mesmo. Já se
passaram duas semanas desde que o fodi. Eu adorei fodê-lo e, claro, eu não era
nada senão um amante extremamente apaixonado. Não é uma grande coisa, só que
não me sentia totalmente no controle do meu corpo e quero ter certeza de que desta
vez o farei. Da última vez, eu pretendia levar o meu tempo. Eu pretendia provocá-
lo e torturá-lo e fazê-lo implorar do jeito que ele me faz implorar. Eu não queria
transar com ele daquele jeito. Eu não queria que fosse tão forte e implacável como
foi. É que vê-lo assim, curvado e aberto; isso subiu à minha cabeça. Quando o
toquei, suas costas ficaram tensas. A tinta sob sua pele começou a vibrar. Asas e
penas negras começaram a bater. Juro por Deus, o pássaro ganhou vida quando
meti. Eu não planejei ser bruto. Não foi minha intenção. Tudo que eu queria era
fazer arte. Tudo que eu queria era libertar o corvo nas costas.
Não é exatamente como se eu estivesse arrependido, porque sei que ele
adorou tudo o que eu fiz. Eu podia ouvir isso nos sons que ele fazia. Eu pude ver
isso em seu rosto depois. Seus lábios estavam grossos e inchados, mas seus olhos
estavam claros como um sino. Talvez “desculpas adjacentes” seja a melhor maneira
de colocar isso.
Desde então, tenho sido tão bom quanto ouro. Bem, tenho sido tão bom
quanto sei ser. Fui até a casa dele todas as noites e deixei que ele me fodesse de seis
maneiras desde domingo. Eu deixei ele fazer o que quisesse e nem fui mesquinho
com beijos. Eu deixei que ele me tivesse de qualquer maneira que ele pudesse
imaginar, e quase não o critiquei sobre isso, de forma construtiva ou não. Nem
mesmo quando o que ele fez me fez sentir como se minha sanidade estivesse sob
ameaça terminal.

*
Eu destranco a porta e a abro. Ele está deitado no sofá. Quando ele me vê, ele
dá um pulo e dá um passo rápido em minha direção, então ele se lembra de manter
a calma e fica parado por um momento. Isso me agrada. Eu o peguei desprevenido
por chegar tão cedo. Seus olhos rastreiam meu corpo. Eu o vejo observar as meias
arrastão aparecendo nos rasgos da minha calça jeans.
— Você recebeu meu presente?
— Sim, recebi. Quer ver?
— Sim, — ele respira, — eu quero.
— Então tire a roupa.
— Esse é o seu clima, hein? — ele diz enquanto se afasta e tira a camiseta
pela cabeça.
Eu não respondo, não posso. Não quero perder um segundo do show. Eu sei,
sem tocá-lo, que sua pele está queimando. Os pelos em seu peito são grossos,
ásperos e mais resistentes do que os cabelos de sua cabeça, tornando ainda mais
satisfatório passar os dedos por eles. Ele fica parado por um tempo, deixando-me
olhar seu peito e seus braços. Há algo terrivelmente atraente em quão confiante ele
é em relação ao seu corpo. Qualquer outra pessoa teria algum tipo de reação ao ser
observada se despindo. Algo sutil, como bochechas ou orelhas rosadas, ou um
sorriso levemente tímido.
Não Saint.
Ele desabotoa a calça jeans. Ele as empurra para baixo junto com sua cueca
boxer. E sai delas sem um pingo de hesitação. Minha capacidade de pensar sofre
um grande problema. Quando ela se recupera, eu digo: — Vá para o seu quarto.
Ele me dá aquele tipo de sorriso que me faz esquecer que houve um tempo
em que eu não conhecia esse rosto, esse corpo, esse homem: diabólico e sábio ao
mesmo tempo. Ele levanta o queixo para mim. — Não me diga o que fazer.
Só por isso, espero até que ele passe por mim e balanço minha mão para trás
e pouso em sua nádega esquerda com um estalo alto.
— Ai, — ele grita.
Então, eu dou a ele outro. Desta vez ele dá um pulinho tímido e um pulo. Esse
pequeno pulo é tão quente que faz meu coração bater mais forte. Quando ele chega
ao quarto, ele está trotando rapidamente, mas estou altamente concentrado e
rápido. Eu o pego antes que ele chegue na cama, viro-o para mim e o empurro para
baixo. Ele cai de costas com um suave “oof”. Ele encontra um lugar confortável na
cama e cruza as pernas na altura dos tornozelos, colocando as duas mãos sob a
cabeça, levantando-a para ter uma visão melhor.
Desamarro minhas botas e saio delas. Tiro a blusa e a calça jeans
rapidamente, depois volto a calçar as botas. Sua boca se abre e suas pálpebras
deslizam para meio mastro.
Veja, é por isso que você experimenta suas roupas sexuais com antecedência.
Vou em direção à cama lentamente, balançando os quadris um pouco mais
do que o necessário. Passo uma mão pela clavícula e traço uma linha na cintura, e
quando minha mão toca os suspensórios, mergulho os polegares sob o cós e os
ajusto cuidadosamente, embora eu saiba muito bem que eles já parecem perfeitos.
— Ei, Idiota. — Eu faço minha voz suave e doce. — Qual é a sensação de
saber que você está prestes a ser fodido agressivamente por um cara usando
suspensórios rendados?
Espero que ele me dê uma risada sufocada, mas ele não o faz. Ele
simplesmente descruza as pernas e as abre, dobrando os joelhos, de modo que fica
bem aberto. Ele se abaixa ao seu bel-prazer, segurando suas bolas e depois
levantando-as levemente, me dando um vislumbre inebriante da sombra escura
que tem atormentado minhas horas de vigília desde a primeira vez que a vi.
— É boa pra caralho.
Uma luxúria que é tão pura e forte que posso saboreá-la fisicamente desce
sobre mim. Ela afunda suas garras em mim. Ela flui da minha cabeça e sobe dos
dedos dos pés. Ela se encontra no meio e causa estragos totais. Meus pensamentos
ficam lentos. Minha língua parece grossa na boca. Quando vou até ele, sinto como
se estivesse me movendo em água morna. Isso me retarda, mas não pode me parar.
Nada pode me parar.
Eu tenho que chegar até ele.
Eu tenho.
Todos os pensamentos de ir devagar são esquecidos. Qualquer ideia que eu
tivesse de torturá-lo com carícias gentis desaparece no éter. Rastejo para a cama e
coloco a mão entre suas pernas. Eu pego o que eu quero. Ele está tão quente que
parece que está com febre. Cuspo nos dedos e os enfio dentro dele. Eu lambo e
chupo cada parte dele que posso alcançar. Ele deve ver aonde isso vai dar, porque
estende a mão, pega o lubrificante e derrama uma dose (muito) generosa na palma
da minha mão. Eu não o critico. Não porque não queira, porque não consigo
lembrar como formar palavras.
Eu deslizo para dentro dele e cada pensamento em minha mente se evapora
para nada. Nada além de silêncio. Nada além de paz. Nada além de felicidade. Seus
músculos vibram ao meu redor. Minha pulsação ruge em meus ouvidos e quando
olho para baixo vejo meus quadris fodendo por vontade própria. Eles estão se
inclinando e resistindo contra ele. Dentro dele. Sua cabeça está arqueada para trás,
os dentes cerrados, os lábios puxados para trás com força. Não sei há quanto tempo
estou assim, empurrando de forma selvagem e desenfreada. Seu corpo está se
contorcendo, sacudindo e ficando tenso com o impacto. Seu rosto está vermelho e
há uma fina camada de suor em suas têmporas. Meu orgasmo chega de repente.
Isso me atinge como uma colisão e me faz meto nele com ainda mais força. Fodo e
fodo. Frenético. Selvagem. Até que eu esteja vazio.
Eu desabo em seu peito. Ele me segura, amortecendo minha queda, me
derrubando com facilidade. Ele passa os dedos pelo meu cabelo e eu me inclino e
me derreto em seu beijo. Ele leva meu lábio inferior em sua boca, sugando-o
suavemente, depois com força. Abro mais a boca e deixo que ele saqueie até que
finalmente tenho a presença de espírito de me ajoelhar entre suas pernas e chupá-
los. Eu uso minha boca e ambas as mãos. Tenho alguns dedos enrolados em torno
dele e outros empurrando dentro dele. Seu gemido se torna urgente. Chega a um
ponto em que não tenho certeza se é classificado como gemido ou grito, então fica
em silêncio quando ele começa a estremecer. Sem dúvida, quando ele geme de
novo, definitivamente conta como um grito. Ele goza na minha boca e eu o bebo
avidamente. Meu pau já está se contorcendo com a ideia de tê-lo novamente.
Deito-me ao lado dele, rolando para o lado para poder vê-lo melhor. Acho
que isso é demais para ele. Muito perto. Muito íntimo ou algo assim. Ele se levanta
logo depois e vai ao banheiro. Quando ele volta, ele está com uma calça de moletom
e diz: — Você quer que eu chame um carro para você?
Isso me faz querer agredi-lo. — Vá se foder.
— O quê?
— Oh, vamos lá. Você sabe tão bem quanto eu, que quando diz isso, você
quer dizer “dê o fora”.
— Não, eu não quero.
— O que você quer dizer então?
— Quero dizer que você não deveria estar aqui. Este lugar é uma merda. —
Não respondo, o que o obriga a continuar. — Não é lugar para você. Este é o meu
mundo. Seu mundo é diferente. Você vem de um lugar construído em mármore e
vidro e com peças de arte de valor inestimável. É onde você pertence. Você não
deveria estar...
Estou tão furioso que não o deixo terminar. Visto minhas roupas o mais
rápido que posso, rasgando a meia arrastão no processo. Preciso sair daqui e ficar
longe desse homem, antes que faça ou diga algo estúpido. Ele me acompanha até a
porta. Seu comportamento é calmo, como se ele estivesse totalmente alheio à minha
raiva ou não fosse afetado por ela.
— Então, — diz ele, enquanto destranca a porta, — talvez seja melhor você
não voltar por um tempo. Quatro ou cinco dias, talvez. Vou mandar uma
mensagem para você ou algo assim.
Ou algo assim?
Ou a porra de algo assim?
Sinto como se tivesse levado um tapa. Forte. Forte e não consensual. Estou tão
chocado e irritado que mal consigo ver para onde estou indo. Quando desço, não
sei se vou chorar ou pegar fogo. Olho para a janela e vejo a silhueta de seu rosto
grande e estúpido olhando para mim.
Foda-se ele.
Sério. Que ele se foda.
Capítulo 28

Demon

Nem é preciso dizer que nunca, jamais, voltarei para a casa dele. Ele terá que
me drogar e possivelmente me matar, para que eu chegue perto dele novamente.
Estou cansado das suas besteiras.
Cansado.
Na verdade, não consigo me lembrar de uma época em que tenha estado tão
cansado de alguma coisa. É quase assustador como estou farto de cada coisa sobre
Joseph St John.
Eu cansei de suas besteiras durante todo o dia seguinte e no próximo também.
No terceiro dia vou até a casa dele. Não porque eu não me cansei. Eu cansei. Estou
cansado pra caralho. Eu só quero que ele saiba como estou, só isso.
Bato quando chego lá. Eu tenho uma chave, mas quero tirá-lo do chão para
abrir a porta. Ele não responde. Bato de novo, com força suficiente para acordar os
vizinhos, e então entro. O apartamento está vazio. Está excessivamente limpo e
arrumado. Ando pelo corredor até o quarto dele. A cama está bem arrumada, com
os cantos bem dobrados, em estilo militar. Abro o armário do banheiro e encontro
sua bolsa de couro e a maioria dos produtos de higiene pessoal desaparecidos. Não
preciso procurar em seu guarda-roupa para saber que as horríveis calças cargo
que ele comprou para substituir as que joguei fora também desapareceram.
O idiota está longe. Fora da cidade. Em uma viagem de trabalho, ou como
você chamar.
Considero brevemente ir ao posto de combustível mais próximo para
comprar alguns galões de gasolina e colocar fogo em seu apartamento, mas não
consigo pensar em uma maneira de fazer isso e garantir a saúde e a segurança de
seus vizinhos. Não tenho as habilidades piromaníacas necessárias, eu acho.
Em vez disso, vou para casa.
Volto na noite seguinte novamente. E naquela depois dessa. Ele não está lá.
Durante o dia, sou uma sombra do meu eu habitual. Sinto que estou me afogando
em fúria. Como se eu não conseguisse respirar de raiva. Como se meu peito tivesse
sido rasgado e eu estivesse sangrando. No trabalho, quando as pessoas falam
comigo, parece que o som viaja lentamente pelo espaço. Parece que leva muito
tempo para chegar até mim. Quando isso acontece, eu ouço, mas demoro um pouco
para traduzir o que eles estão dizendo em algo que faça sentido. Eu faço os
movimentos, com que sucesso, eu não poderia dizer.
No sexto dia após o show de merda na casa dele, meu telefone toca. Olho
para baixo, o tempo acelera até Mach dez20, tudo vem correndo em minha direção
ao mesmo tempo.

Você está livre esta noite?

Sinto dor. Estou fisicamente dolorido. Sinto dor de alívio. Com raiva. Com
vergonha. A exaustão me pesa. É tão pesado que parece que está me esmagando.
Estou cansado de mim mesmo. Estou cansado das sombras. Estou cansado de
esperar o dia todo para vê-lo. Estou cansado de ser algo que ele esconde.

20 Método de contagem acelerado.


Nada disso me impede de ir vê-lo. Eu nem vou para casa tomar banho ou me
trocar. Vou para a casa dele direto do trabalho. Ele abre a porta e me dá o maior e
mais idiota sorriso que já vi. Isso desperta uma fúria em mim diferente de tudo que
já senti.
Dou dois passos rápidos em direção a ele e levanto a mão para acertá-lo. Não
pensei em todo o plano, mas estou com tanta raiva que tenho certeza de que vou
me machucar se não atacar de alguma forma. Ele me vê chegando a um quilômetro
de distância. Ele pega meu pulso. Seu aperto é de aço. Eu luto sem sucesso.
Ele parece genuinamente curioso. — O que você está fazendo?
— Estou dando um tapa em você. — Estou irritado, mas não surpreso por ter
que explicar isso a ele.
— Se você quiser me dar um tapa, Demon, tudo que você precisa fazer é
pedir.
— Por favor, posso dar um tapa em você, Idiota?
— Claro, faça isso.
Ele franze levemente os lábios e vira o rosto para o lado. Ele tem a terrível
coragem de parecer gostoso enquanto faz isso. Minha mão voa pelo ar e bate em
sua bochecha com um tapa alto e pegajoso. Sua cabeça vira para a esquerda com o
impacto. Ele não mostra nenhum outro sinal de que sentiu isso. Ele me olha com
indiferença. — Quer fazer do outro lado também?
Minha palma está ardendo, e não posso dizer o quanto o fato de ele não
parecer perturbado pelo tratamento que lhe dou me perturba, então digo: — Não,
obrigada.
Ele me encara. — Você está com raiva de mim, Demon?
— Sim! Sim, estou com raiva de você.
— Por quê?
— Por quê? Você está falando sério? Estou com raiva porque você se sumiu
sem me dizer para onde estava indo. Estou com raiva porque sei que você
provavelmente está cuidando de alguma outra vítima de sequestro e resgate e só
Deus sabe o que você está fazendo com eles.
A perplexidade que foi desenhada nas linhas de seu rosto desaparece e depois
se aprofunda em algo diferente. — Você acha que eu faço disso um hábito? Você
acha que faço isso com outros alvos? Sou um profissional, Damon. Dê-me um
pouco de crédito.
— Profissional? Profissional? — Eu rio na cara dele. — Como você acha que
isso me faz sentir? Como você acha que me sinto sabendo que o homem que eu, er,
odeio, está transando com outras pessoas?
Seu comportamento frio, calmo e controlado começa a mostrar rachaduras
microscópicas. — Damon, se você soubesse alguma coisa sobre mim, saberia que
não sou assim. Eu não brinco em serviço.
Isso também me faz sofrer.
Ele me puxa para seus braços e solta o suspiro doce que eu espero quando
nos beijamos. Seus lábios são firmes. Densos. Intensos. Eles me queimam com mais
calor e mais força do que lábios têm qualquer interesse em queimar alguém. O
beijo é tão suave que me transforma em mingau. Ele envolve seus braços em volta
de mim e me esmaga contra seu peito. Sinto que não consigo respirar. Como se eu
estivesse sufocando. Como se eu estivesse sendo pressionado debaixo d’água. Eu me
afasto e dou um passo para trás, ofegante para recuperar o fôlego. Seus olhos são
uma pergunta sombria.
— Ainda com raiva, hum? — ele diz suavemente.
— Sim. Estou com raiva. Estou com raiva de você por tudo que você fez e por
tudo que você é. Estou com raiva de você por causa da sua cara de babaca, do seu
nariz fodido e do seu cheiro. Mas acima de tudo... acima de tudo, a razão pela qual
estou tão bravo com você é porque depois de todo esse tempo, você ainda não tem
a menor ideia de como foder com ódio.
Seus olhos se arregalam e depois se enrugam nos cantos. Ele começa a rir. É
um som baixo e estrondoso que reverbera pela sala e envia vibrações profundas
através de mim. Isso sacode algo solto. Algo que enterrei profundamente. Algo que
tentei manter escondido com todo o meu valor. Algo que tentei esconder dele, de
Lacey, de todos que me conhecem, mas principalmente, é algo que tentei esconder
de mim mesmo.
Meu coração bate freneticamente em meu peito. Penas empoeiradas batem
em minha caixa torácica. As asas batem, esticam-se e começam a bater. Começo a
falar antes de estar pronto, mas sei o que vou dizer. Meu coração já diz isso há
algum tempo. Fui estúpido demais para ouvir isso.
— Joey, eu quero você na minha vida.
— Eu estou na sua vida.
— Não, eu quero você de verdade. Assim não. Quero você ao ar livre. Eu
quero acordar com você. Quero saber aonde você vai durante o dia e o que vai
fazer. Quero saber com quem você está saindo e quero saber a que horas espero
você para jantar.
Seus olhos escurecem e sua mandíbula fica tensa. Seus ombros também. —
Você sabe que não posso te dar isso. Esse é um mundo diferente do mundo em que
vivo. Não sou o que você quer, Damon.
— Você é a única coisa que eu quero.
— Não, eu não sou. Você quer muitas coisas. Eu sou apenas a única coisa que
você não pode comprar.
Suas palavras alcançam minhas costelas, estrangulando a coisa que está
tentando se libertar. — É isso que você acha? — Minha voz falha, mas não me
importo. — Depois de tudo, é assim que você me vê? É isso que você pensa que é?
Ele dá de ombros.
— Você está errado, Joey. Você está regurgitando a mesma velha besteira que
sempre disse a si mesmo e é tão estúpido que não teve tempo para questionar isso.
Para ver que as coisas mudam. Pessoas mudam.
Seus olhos estão estreitados. Duros. Posso ver que toquei num ponto sensível.
Se há uma coisa que Saint acredita é que as pessoas não mudam. O problema é que
ele tocou em mim também. Meu último nervo. Eu me tornei vulnerável a ele. Eu
nunca faço isso. Eu nunca, jamais faço isso. Eu me abri com ele e ele me fechou. Ele
não ouviu. Ele nem sequer considerou o que estou dizendo. A dor e a humilhação
são insuportáveis.
— Eu não vou voltar aqui. Cansei. Eu não vou te seguir. Cansei de perseguir
você. Eu cansei de você e todas as suas besteiras.
Dou um passo em direção à porta. Ele observa passivamente sem mover um
músculo. Minhas mãos e minhas entranhas estão tremendo, mas me permito dar
uma última olhada em seu rosto lindamente quebrado.
— A próxima vez que eu colocar os olhos em você, — digo, com um nível de
autoconfiança que não sinto, — será em plena luz do dia. Chega de se esconder no
escuro. Chega de sombras. Você estará vestido como se estivesse indo encontrar
alguém que vale a pena para você. Você vai me convidar para sair como uma
pessoa normal e iremos a um encontro. Um encontro de verdade, com flores,
romance e toda essa porcaria. Depois, voltaremos para minha casa e foderemos
como deuses, e você passará a noite. A noite toda. Quando acordarmos, direi que
você roncou e você me dirá que roubei todos os cobertores. Você vai me preparar
o café da manhã e passaremos a maior parte do dia discutindo e irritando um ao
outro, mas o problema é o seguinte, Joey: seremos felizes. Você e eu. Seremos felizes.
Capítulo 29

Saint

A questão é essa, Joey: seremos felizes.


Feliz?
Ele está falando sério? Não consigo parar de imaginar o quão estúpido ele
pareceu quando disse isso. Ele não se parecia com ele mesmo. Seus olhos estavam
arregalados e mais pálidos do que o normal. Ele não estava zombando de jeito
nenhum. Parecia errado para ele. Parecia fodidamente errado. Soou errado
também. Sua voz costuma ser clara e cortante, mas não era. Foi suave e incerta. Eu
odiei o jeito que soou. Isso fez minhas entranhas se apertarem como costumavam
acontecer no Afeganistão durante aqueles poucos segundos entre ver uma explosão
no horizonte e quando o som vinha correndo em minha direção.
Feliz?
Sério? Eu feliz? Feliz? É uma ideia tão infantil que quase tenho vontade de
rir. Ele é tão mimado e seu privilégio é tão excessivo que ele realmente acha que a
felicidade é uma opção para pessoas como eu. Ele realmente acha que passo meu
tempo pensando nesse tipo de merda.
Para que conste, eu não. Nunca perdi um segundo com esse tipo de besteira.
Eu não teria sobrevivido se o fizesse. Não, não penso em coisas tão passageiras e
frívolas como a felicidade. Eu não tenho tempo. Penso na comida no meu prato.
Penso em ter um teto sobre minha cabeça. Penso em não levar uma pancada na
cara. Penso em dormir à noite e saber que ninguém virá atrás de mim. Penso em
permanecer vivo e ganhar dinheiro suficiente para tornar todas essas coisas
possíveis.
É nisso que penso.
Felicidade.
Que ridículo.
Estou feliz que essa coisa com Damon tenha acabado. Ele nunca poderia viver
no meu mundo. Uma coisa é brincar comigo depois de escurecer por alguns meses,
mas tornar isso real e oficial seria uma loucura. Eu não pertenço ao mundo dele e
com certeza não posso permitir que ele pise no meu.
Sim, é bom que tenha acabado. Estou feliz que ele tenha terminado, então não
precisei. Será bom para mim tirar a cabeça da minha bunda e voltar ao trabalho.
Tenho recusado trabalhos para poder estar em casa caso ele apareça.
Se isso não é patético, não sei o que é.
Eu preciso me controlar. Nenhum idiota é bom o suficiente para perder tudo o
que passei a vida inteira construindo.
É hora de nos esforçarmos. Ainda posso conseguir o trabalho para o qual
acabei de fazer vigilância. Recusei porque me sentia muito distraído, mas talvez
devesse aceitar. É fora da cidade. Talvez seja bom para mim fugir por um tempo.
Pode ser o que eu preciso. Uma mudança de cenário deveria clarear minha cabeça.

Então, acabei não aceitando o emprego, afinal. Não por nenhum motivo
importante, só porque eu não queria deixar meu apartamento sem vigilância caso
Damon voltasse. Eu sei que ele provavelmente não o fará, só que, se o fizer, não há
como saber o que ele faria com minha casa ou com meus livros. Passei anos
colecionando-os. Seria impossível substituir todos eles. Eu realmente não
aguentaria ele entrar aqui e causar uma carnificina. Já sofri bastante por nunca ter
conseguido encontrar o décimo segundo livro que ele moveu. Já é ruim o suficiente
saber que está fora do lugar. Isso me mantém acordado durante a noite e quando
estou acordado, ouço coisas. Um carro na rua. Passos perto da minha porta.
Acordei quatro vezes ontem à noite por causa das coisas que ouvi. Cada vez,
eu me levantava e corria para a porta. Eu a abria, apenas para ver nada além de
um corredor deserto.
Estou cansado hoje.
Estou sentado na minha janela, olhando para fora. Sou um imbecil porque
são dez da manhã e sei que ele não vai aparecer aqui em plena luz do dia. Mesmo
assim, fico de olho na rua e verifico meu telefone novamente. Já fiz isso duas vezes
hoje, mas para ter certeza, verifico novamente. Eu verifico cada meio de
comunicação social em que ele está. Contas pessoais e empresariais. Eu verifico o
nome de usuário anônimo que ele às vezes usa para postar no Reddit. Verifico os
antigos endereços de bate-papo que ele não usa desde que era adolescente.
Eu não encontrei nada.
Já se passaram três dias desde que ele esteve aqui e ele não postou nada.
Nenhuma palavra. Nenhuma foto. Isso está me assustando. É muito, muito diferente
dele.

*
Decido sair para correr para clarear a cabeça. É o que eu preciso. Preciso
voltar à minha rotina normal de alimentação saudável e exercícios físicos. Manter-
me em forma e forte faz parte do meu estilo de vida desde que entrei para o
exército. Exceto quando estou doente, nunca tiro folga. Não é à toa que estou me
sentindo lento e preguiçoso. Preciso me colocar de volta nos trilhos. Saio e corro
em direção ao parque perto da minha casa. Eu me sinto lento. Minhas pernas estão
pesadas. É o tipo de corrida que me faz entender por que muitas pessoas dizem que
odeiam correr. Meus pulmões queimam e minha cabeça lateja. Isso não me impede.
Eu insisto porque não sou a maioria das pessoas e não desisto quando as coisas
ficam difíceis. Quando as coisas ficam difíceis, eu revido com ainda mais força.
Paro para verificar meu telefone novamente quando chego a uma entrada do
metrô perto da minha casa. Damon ainda não postou. Assim que vejo isso, entro no
metrô e pego o primeiro trem que vai na direção dele. Não é típico dele. Algo pode
estar errado. Realmente errado. Se algo estiver errado, preciso estar atento. Goste
ou não, ele e eu fizemos algumas coisas ilegais juntos. Se algo estiver errado com
ele, preciso me antecipar para poder me proteger.

Fico do lado de fora do prédio dele por um tempo, esperando a hora certa.
Quando vejo o segurança saindo para fumar um cigarro, entro no prédio pela
entrada de serviço.
Relaxe. Eu vou tocá-lo.
Tudo o que vou fazer é pegar emprestado o vídeo de segurança que cobre o
saguão e o elevador principal. Entro no escritório do segurança. É uma sala
pequena com muitas telas na parede. Cada uma captura uma zona particular do
edifício. Como não é a primeira vez que venho aqui, encontro rapidamente o que
preciso. Estou fora muito antes do guarda voltar do intervalo. Vou para casa e
assisto a fita, repassando tudo que não tem cabelos loiros, olhos azuis e
comportamento rancoroso.
Damon entrou e saiu duas vezes nas últimas vinte e quatro horas. Ambas as
vezes ele estava com Lacey. Ambas as vezes, o rosto dela parecia um trovão. Ela
tinha o braço passado pelo dele e parecia pronta para a batalha. A fita não me diz
nada, exceto que ele foi trabalhar e voltou para casa. Mesmo assim, assisto cinco
ou seis vezes só para ter certeza.
Ele estava lindo nas duas vezes que apareceu no vídeo. Ele estava todo preto
ontem à noite e todo preto novamente esta manhã. Mesmo em preto e branco
granulado, ele parecia incrivelmente lindo. Seu cabelo estava mais claro que o
normal. Ele deve ter ido ao seu cabeleireiro caro. Seus olhos pareciam diferentes.
Eles pareciam como estavam da última vez que o vi. Maiores que o normal e
desprovidos de malícia. Eu odeio que ele esteja assim, e odeio que suas palavras
ainda ressoem em meus ouvidos.
Seremos felizes. Você e eu.

Acordo encharcado de suor frio. Meu coração está batendo rápido. Está
escuro como breu. Há uma escuridão total ao meu redor. Eu apalpo ao redor da
cama. Ele não está aqui. Merda! O pequeno filho da puta escapou.
Espere. O quê?
Não. Isso não está certo.
Sento-me e acendo a luz. Estou no meu apartamento, não no esconderijo.
Estou sozinho. Claro, ele não está aqui. É um sonho, só isso. Levanto e tomo um gole
de água. Meu peito dói quando faço isso. Eu me esforço para fazer com que o resto
da água desça. Há uma queimadura profunda e oca sob meu esterno. Tento voltar
a dormir, mas não consigo. Ou talvez sim, mas não parece que estou dormindo. A
certa altura, sinto algo cortando meu pulso. Eu sei que isso não é real. Não pode
ser, não estou mais algemado a ele. Claro que não. Deve ter sido um sonho também.

Meu peito ainda está queimando. Está queimando o dia todo. Deve ser
indigestão. Nunca tive isso antes, mas posso ver por que as pessoas reclamam. É
uma merda.
Vou até a mercearia mais próxima. Antes que a porta se feche atrás de mim,
sou atacado por Damon. Ele está em todo lugar. No papel. Em revistas. Em todos os
lugares. De acordo com as manchetes, ele acaba de ser nomeado a Personalidade
do Ano de 2023. Pego um antiácido e, quando chego ao balcão, percebo que tenho
uma revista com o rosto dele nas mãos. Eu pago e saio. Enquanto caminho, tomo
quatro antiácidos de uma vez.
Eles não fazem absolutamente nada para ajudar.
Quando chego ao meu apartamento, fecho a porta e me encosto fortemente
nela. Fiz o possível para não olhar diretamente para a revista em minhas mãos, mas
agora o faço.
Ele parece irreal. Seu cabelo é selvagem. Varrido para um lado e ficando lá
de uma forma que tenho certeza só poderia ser alcançado por magia negra. Sua
cabeça está inclinada para trás. Ele está olhando para o espectador. Um lado de seu
rosto está fortemente maquiado. Seus olhos estão delineados com um delineador
preto grosso e esfumaçado, e ele tem glitter descendo pela têmpora e pela maçã do
rosto de uma forma que lembra Bowie. O outro lado está nu. Só ele, a aparência
que ele tem quando acorda de manhã.
Ver os dois lados de Demon assim faz minha indigestão atacar novamente.

Estou de costas para a parede. Estou escondido nas sombras. Tento manter a
respiração regular, como sempre faço quando estou perseguindo um alvo.
Respirações fortes e irregulares alertam as pessoas de que estão sendo vigiadas.
Normalmente controlar minha respiração é fácil, mas não é hoje.
Eu não me movo quando ele se aproxima. Prendo a respiração, embora seja
exatamente o oposto do que fui treinado para fazer. Inspiro profundamente
quando ele passa por mim. Sinto cheiro de couro macio e flexível, old money e uma
leve nota de veneno.
Eu o observo enquanto ele passa. Ele está andando mais devagar do que seu
ritmo normal de “mantenha o ritmo, vadia”. Ele não está exatamente perdendo
tempo, mas quase. Ele destranca o carro e entra. Ele não gira nem olha
acusadoramente para a escuridão. Nem mesmo uma vez. Ele liga a ignição e vai
embora.
Ele está sozinho. Nenhum motorista hoje. Isso me detém. Ele é uma notícia
quente agora. Ele está em todo lugar. Superexposto. Se ao menos ele me ouvisse. Ele
precisa melhorar a segurança. Eu disse a ele que sim. Eu não estava brincando
quando disse que toda a equipe dele deveria ser demitida.
Eu o sigo para casa, só por segurança. Quando tenho certeza de que ele está
em seu apartamento, espero um pouco. Ando pelo prédio dele e verifico todas as
entradas. Mesmo que eu tenha certeza de que ele está seguro agora, e mesmo que
eu tenha dito a mim mesmo, em termos inequívocos, que estou agindo como o
maior imbecil do mundo, não vou para casa.
Espero até escurecer, então estaciono meu carro no beco ao lado do prédio
dele e observo as janelas em busca de sinais de movimento. Mesmo sabendo que é
uma loucura, desejo que ele olhe para baixo. Desejo que ele me veja. Não faz
sentido porque adoro ser um fantasma. Gosto de ser invisível. Passei anos
praticando e aperfeiçoando a arte. É uma grande parte de como sobrevivi à minha
infância e é uma grande parte de como ganho a vida. Faz parte de mim.
Por que ele foi e fez isso comigo? Por que ele teve que olhar para mim daquele
jeito?
Como se eu fosse real. Como se eu fosse alguma coisa.
Como se eu fosse alguém.

Eu me viro no banco do carro e o inclino. O mais distante o possível, mas


ainda é desconfortável como o inferno. Pego a revista com o rosto dele e uso a
lanterna do celular para ler o artigo novamente. Não poderia estar mais brilhante.
Se dá para acreditar, Damon Alexander Beckett está indo direto para, bem, não
exatamente a Santidade, mas algo notavelmente semelhante. O entrevistador está
claramente apaixonado por ele. Isso faz meu peito borbulhar e minha barriga
apertar até que sinto que vou vomitar. Pego meu laptop, entro no wi-fi do prédio e
faço uma pesquisa rápida. Estou aliviado e envergonhado ao descobrir que a
entrevistadora, KT Blacke, é uma mulher, e felizmente casada.
Olho novamente para as fotos dele. Elas cobrem tudo. Ambas as páginas, sem
margens. Eles inverteram as imagens de seu rosto, então ele parece estar de frente
para si mesmo ou olhando para um espelho. Um perfil é fortemente maquiado, o
outro, totalmente vazio. Demon e Damon. Ambas lindas. Ambos completamente
impossíveis.
A luz do telefone é implacável e reflete na página, mas chama minha atenção
para algo que não havia notado antes: o lado nu dele está usando um brinco. É
pequeno, por isso não prestei atenção nas primeiras cinquenta vezes que olhei para
a fotografia, mas está lá. Eu estudo por muito tempo arduamente. Não sei como
pude ter perdido isso. É elaborado. É feito de metal enegrecido. Platina, talvez. Ele
se curva para cima, seguindo a linha do lóbulo da orelha. Existem pequenas
gravuras no metal. Farpas e palhetas. Uma pena.
Uma pena de corvo.
Minha passagem nasal queima como se eu tivesse tomado uma dose de
wasabi. Começo a engolir rápida e involuntariamente. Meus olhos ardem. Esfrego-
os com força e, quando olho para baixo, os nós dos meus dedos brilham molhados
sob a luz fria da rua.
Porra.
Estou vazando?
*

Estou com uma cãibra no pescoço direto do inferno. Minha cabeça lateja. Eu
o vejo sair do apartamento. Ele está sozinho esta manhã. Lacey saiu do prédio pouco
depois da meia-noite. Eu o sigo para o trabalho. Estaciono algumas vagas abaixo
de seu carro e o sigo enquanto ele caminha pela garagem até o elevador. Eu fico
longe o suficiente para que ele não ouça meus passos. Ele está vestindo jeans e uma
camiseta branca hoje. A camiseta é simples, sem logotipos caros ou características
distintivas. Ainda assim, a maneira como ela cai sobre seus ombros é nada menos
que heroica. Seu rosto está nu e seu cabelo não parece ter nenhum pedaço de
produto. É o look mais despojado que já vi dele voluntariamente. Isso faz minha
indigestão piorar violentamente.
Quando tenho certeza de que ele está em seu escritório, procuro um lugar
em uma cafeteria que fica de frente para seu prédio e, na falta de poder observá-
lo, observo seu prédio. Eu invado o computador do PA dele. Eu já fiz isso antes. Não
é grande coisa. Faço isso para saber como será o dia dele. Então eu sei onde ele
estará e quando. O dia dele parece bom hoje, mas amanhã ele estará ocupado. Ele
tem uma longa reunião amanhã à tarde e quatro entrevistas pela manhã – está
recrutando um novo chefe de segurança.
Ele me ouviu.
Acho que milagres acontecem afinal.
Bebo meu segundo café e me pergunto se uma mudança na segurança
tornará mais difícil segui-lo. Realmente deveria. Se o cara novo vale a pena, isso
deve tornar impossível para mim chegar perto dele. Deveria haver olhos nele o
tempo todo. Ele é um cliente de alto nível. Ele deveria ser vigiado o tempo todo. Eles
deveriam perceber que ele está sendo seguido imediatamente. Se eles forem bons,
este será o mais próximo que poderei chegar dele sem ser pego no futuro próximo.
A ideia de não ser capaz de chegar até ele me faz sentir frio. Minha pele parece
tensa. Sinto que estou sendo estrangulado.
O que farei se não puder vigiá-lo? Se eu não puder entrar no prédio dele ou
dormir ao lado dele quando precisar? O que acontecerá se eu não puder ir e vir
quando quiser e chegar perto dele sem que ele saiba que estou lá? O que acontecerá
se ele nunca olhar para trás de forma acusadora para ver se o estou seguindo
novamente? O que acontecerá se ele seguir em frente? O que acontecerá se ele colocar
na cabeça começar a irritar outro cara?
Querido Deus, o que acontecerá então?
Saio da cafeteria e atravesso a rua, olhando para o prédio dele. É alto.
Espelhado. É duro e inflexível, como ele. Uma rajada de vento contrário sopra em
meu rosto, abrindo caminho entre os arranha-céus que abrem um caminho em
minha direção, sussurrando baixinho, depois cada vez mais alto.
Você e eu. Seremos felizes.
Eu olho para cima novamente. Mais uma vez. Uma última vez, com certeza.
Então me viro e vou para casa.
Capítulo 30

Demon

—Diga-me o nome dele, Boo, — diz Lacey novamente. — Diga-me e eu o


matarei. Quero dizer. Não vou nem pagar alguém para fazer isso, eu mesmo farei.
Eu sorriria de sua lealdade cega se conseguisse sorrir. Normalmente, Lacey é
alguém que não suporta esforço físico, ela evita isso com tudo que pode, então ouvir
sua oferta para fazer algo assim significa muito. Realmente significa.
Lace apareceu todas as noites desde a última vez que vi Saint. Eu não discuti
com ela sobre isso. Eu pedi para ela vir. Na maioria dos dias ela me buscava no
escritório e me levava para casa. Ela dorme aqui muitas vezes também. Eu pedi a
ela para ficar. Eu não quero ficar sozinho. Ela está cuidando de mim como uma
mãezona. Ela dorme na minha cama e aperta minha mão com força a noite toda.
Quando acordo, agitado e perturbado, ela me segura até que eu pare de me mover
e volte a dormir. Então ela murmura mais coisas sobre matar e volta a segurar
minha mão.
— Você vai ficar bem, — ela sussurra sem parar, enquanto esfrega um rolo
de gelo nas olheiras inchadas sob meus olhos pela manhã. Neste momento, não sei
se ela está falando comigo ou consigo mesma.
Ela me deixou reclamar e delirar por horas sobre o idiota que o Idiota é. Ela
me deixou falar até eu me cansar. Sua paciência tem sido inacreditável e seu apoio,
inabalável. Seus olhos queimam como duas brasas em sua cabeça toda vez que digo
o nome dele.
Idiota.
Quão estúpido é isso?
Mesmo que ele tenha me machucado mais do que qualquer outra pessoa na
minha vida, ainda estou tentando protegê-lo. Não quero que mais ninguém saiba
quem ou o que ele realmente é. Ninguém. Nem mesmo Lacey. Não contei a ela seu
nome verdadeiro ou como nos conhecemos. Quando conto a ela o que aconteceu
entre nós, falo sobre como ele me fez sentir, não sobre onde estávamos ou o que
estávamos fazendo.

— Como foi o seu dia? — Ela pergunta, me puxando para um abraço. Chego
do trabalho. Eu dirigi até lá e voltei hoje. Acho que isso é um progresso. Deixo-me
ficar mole contra ela por um tempo e tento absorver o máximo de sua força que
posso antes de recuar.
— Melhor, — eu minto.
Tenho sentido dores físicas desde que saí mancando do apartamento dele.
Sinto que sou feito de vidro fino e soprado à mão. Eu me sinto transparente. Frágil.
Sinto que me virei do avesso. Peguei todas as merdas que geralmente tento manter
escondidas e as expus. Depois de uma vida inteira tentando esconder as partes mais
profundas e sombrias de mim, fui burro o suficiente para mostrar a alguém, e ele
deu uma olhada e disse: — Não.
Então, sim, a dor é forte, mas a humilhação pode ser ainda pior. É
esmagadora. Ameaçando me sobrecarregar a qualquer momento. Eu daria
qualquer coisa para voltar a um momento em que tudo que eu tinha era uma
obsessão doentia por Saint. Qualquer coisa. Estou tentando me controlar, estou, mas
tenho quase certeza de que me quebraria em um milhão de pedaços se alguém
respirasse muito perto de mim.
Eu me odeio profundamente por dizer qualquer coisa a ele sobre o que eu
quero. Se eu pudesse, retiraria minhas palavras. Eu as levaria de volta em um
segundo. Eu não o pediria por mais. Eu não faria isso. Eu me contentaria com
sombras. Eu me contentaria com a noite. Eu aceitaria tudo o que ele tivesse para
me dar, porque isso era muito, muito melhor do que uma vida sem ele.
Lace não gosta quando digo isso. Ela diz que eu mereço coisa melhor. Ela tem
sido extremamente insistente sobre isso, a ponto de parecer que vai perder a
paciência com isso. Então parei de dizer isso em voz alta, mas é como me sinto.
Estou no ponto em que não quero mais falar sobre Saint, porque sei que estou a
milissegundos de perguntar se ela acha que eu deveria ir até a casa dele e implorar
para que ele pegue de volta qualquer pedaço que ele queira de mim. Ela não
gostaria nada disso. Ela me mataria se soubesse que estou pensando assim.
— Tem certeza? — Ela me avalia com dúvida.
— Sim. Eu estou. Muito melhor. Nunca pensei que isso iria acontecer, mas
cheguei ao ponto em que estou cansado de falar sobre mim mesmo. Vamos
conversar sobre você. Como vai você? Como vão as coisas com Jill?
— Ah, — ela diz, caindo dramaticamente no sofá. — Eu não sei.
Honestamente, não sei o que está acontecendo conosco. Acho que ela está ficando
cansada de mim.
— Você está fazendo aquela coisa de ficar toda distante, então se ela te deixar,
você saberá que foi você quem a afastou?
— Pooooorra, não fique tão esperto pra cima de mim, Boo. Você sabe que não
consigo lidar com esse nível de introspecção. De qualquer forma, não sei se é isso
que estou fazendo. Jill é diferente. Eu nunca estive com ninguém como ela antes.
Eu não consigo entendê-la. Ela está soprando quente e frio. Não consigo descobrir
se sou eu quem está jogando ou se é ela. — Lacey fica quieta por um tempo. Ela me
examina, provavelmente para ver se sou emocionalmente robusto o suficiente para
que ela confie em mim. — Isso meio que me desanima, para ser honesto.
— Você quer que eu a demita?
Ela sorri agradecida e reflete sobre minha oferta por um tempo. — Não. Mas
avisarei você se mudar de ideia.
Levanto minha taça para ela, e ela faz o mesmo, esperando ansiosamente pelo
meu brinde habitual.
— Fodam-se eles, — eu digo.
— Aqui, aqui, — ela responde, como sempre. — Que eles se fodam!
Nós nos aconchegamos no sofá com junk food e vinho e assistimos a reprises
de The Office. O que conversamos deve estar passando pela cabeça dela, porque
um tempo depois ela diz: — Então, foi tão ruim quanto você pensou que seria?
Você sabe, se expor e não dar certo?
— Não, — eu sorrio. — Não foi tão ruim quanto pensei que seria.
Foi pior. Muito, muito pior.
Capítulo 31

Demon

Porra, esse cara é chato.


Ele está falando sem parar sobre protocolos de segurança. Estou tentando
manter o foco, juro que estou, mas quando ele começa um monólogo interminável
sobre sistemas de alarme residencial, sinto meus olhos vidrados. Cada vez que
pisco, parece que minhas pálpebras estão pesadas.
Esse cara está literalmente me fazendo dormir.
Olho para Tracey Romero, chefe de recrutamento da BeckIT, e lanço-lhe um
olhar que diz: “acabe com isso, porra”. Não há como ele conseguir o emprego.
Prefiro ser esfaqueado repetidamente do que tê-lo em minha vida continuamente.
— …as melhores práticas do setor determinam que usemos um sistema feito
sob medida para uma pessoa do seu perfil. Além disso, a instalação do referido
sistema é fundamental...
Há um silvo suave e urgente vindo do lado de fora do meu escritório. Olho
na direção de onde veio o som. A porta está fechada, mas definitivamente ouvi algo
desagradável. Eu ouço outra coisa. Outro som e depois o barulho rápido e prático
de saltos altos no azulejo. Parece que há algum tipo de briga acontecendo fora do
meu escritório. Minha suspeita é rapidamente confirmada quando o chiado
anterior se torna alto e surpreendentemente agudo.
— Absolutamente não! — É minha assistente, Alyssa. Normalmente, ela é
uma profissional abjeta. Um cruzamento perfeito entre Barbie de carreira e
Stepford Wife 21 . Na verdade, ela geralmente mantém a voz baixa na minha
presença, falando comigo em tons suaves normalmente reservados para cavalos
selvagens ou gatos selvagens. É surpreendente ouvi-la soar assim. Alguém deve tê-
la irritado muito. — Eu disse não! Nem pense nisso. Você não pode entrar lá. — Ela
está se movendo novamente. Seus calcanhares batem no chão no ritmo de um
rápido disparo da metralhadora. —Sr. Beckett está em uma reunião. Ele não pode
ser perturbado.
Há um estrondo baixo. Uma voz masculina profunda. Minha respiração fica
presa. Está quieto, então não consigo entender o que ele está dizendo, mas
reconheço problemas quando ouço. Minha garganta fica seca. Eu me levanto e olho
para qualquer que seja o nome dele. Nunca se sabe, ele ainda pode conseguir o
emprego. Nada é melhor para convencer o RH da capacidade de um candidato do
que uma demonstração prática de habilidade.
A porta se abre e Alyssa entra correndo. Seu pescoço e bochechas estão
vermelhas brilhantes. Seu cabelo e maquiagem estão imaculadas, mas seus olhos
estão selvagens de raiva. Além do pequeno grunhido estranho, ela fica em silêncio
enquanto tenta galantemente expulsar um grande homem do meu escritório. Ela
não consegue. Para ser justo, ela nunca teria chance.
Tracey fica de pé enquanto ele se aproxima de mim. Alyssa começa a gritar
pela segurança.
— Faça alguma coisa! — sibila Tracey, para qualquer que seja o nome dele.
Qualquer que seja o nome dele, não move um músculo.
Não posso dizer que o culpo.

21 Romance que fala sobre a submissão feminina perante o marido.


A visão de Joseph St John também me deixou imóvel. Meus membros se
transformam em líquido. Meu coração começa a bater forte. Não, não para de bater.
Começa a bater. Eu começo a bater. Eu bati do jeito que só bati por ele. Com todo o
meu corpo. Todo o meu coração.
Ele está aqui.
Ele está vestindo calças sociais bege, uma camisa branca primorosamente
bem ajustada e seu belo blazer azul-marinho. Seu rosto está barbeado e parece que
ele teve um novo corte recente nos últimos dois dias. O cabelo na parte superior
está um pouco mais espetado do que o normal e, se não me engano, contém algum
produto. O grande idiota tem um sorriso enorme e tímido estampado em todo o
rosto. Ele está parado na minha frente, segurando um buquê de flores
absurdamente grande. Peônias, cardos farpados e rosas rosa pálido.
Minhas favoritos.
Tracey e Alyssa se acalmam quase ao mesmo tempo, quando percebem que
conheço esse homem. Qualquer que seja o nome dele, se levanta e diz: — Agora
olhe aqui, rapaz...
Saint lança-lhe um olhar que o interrompe no meio da frase.
— Todos nos deixem, — eu digo. — Precisamos de um momento.
— Me desculpe pelo inconveniente, — diz Saint. Suas palavras são graciosas
e educadas, mas não há nenhum traço de arrependimento em seu tom.
Quando a porta do meu escritório se fecha, o silêncio ao nosso redor de
repente parece alto. Alto e muito real.
— O que você está fazendo aqui?
— Ouvi dizer que você estava procurando um novo chefe de segurança.
— Ah. É isso que você quer, hum? Um trabalho?
Ele olha para mim e vejo engrenagens em sua mente girando, decidindo entre
fazer uma piada ou falar sério. Ele escolhe a última opção, mas não é fácil. — E-eu
quero estar perto de você e quero mantê-lo segura.
Cada sensação boa que já senti, ou ouvi falar, ou vi na TV, corre pelas minhas
veias e vai direto para a minha cabeça. Estou tonto. Zonzo. Completamente
surpreendido.
— Você está contratado, — digo quando posso.
Ele me dá um aceno lento e depois um meio sorriso. — Qual é a política da
BeckIT sobre assédio sexual no local de trabalho?
— Oooh, é malvisto. O RH não é fã de assédio em geral. Na verdade, eles
ficam bastante nervosos com isso. — Ele começa a sorrir ainda mais. Acho que ele
pode ter um pressentimento do que direi a seguir. — Ainda bem que sou mais rico
que Deus e não estou de forma alguma acima de chantagens. Porque estou prestes
a assediar sexualmente você.
Ele dá um passo em minha direção e apertamos as flores entre nós. Ele deixa
cair a mão ao lado do corpo, afastando-as do nosso caminho, abrindo espaço entre
nós, e então passa um braço pesado em volta da minha cintura e esmaga meu corpo
contra o dele. Eu olho para ele e ele se inclina. Ele se move lentamente. Devagar e
deliberado. Ele se inclina até que sua testa quase toque a minha. O tempo parece
demorar. Eu não quero me mover. Nem ele. Eu absorvo a sensação, o calor e o
cheiro inebriante e familiar dele. Faço isso até não poder mais. Até sentir que vou
morrer se não o beijar. Ele também sente isso. Nós nos movemos ao mesmo tempo,
roçando nossos lábios um no outro. Suavemente. Então mais forte. Ele separa os
lábios primeiro. Minha língua encontra a dele. Eu choramingo quando faço isso,
mas pela primeira vez não odeio o som. O beijo então dá uma reviravolta. Ele muda
de luz, de desculpe, e está tudo bem? Para você é meu, e eu quero você.
Nós dois estamos ofegantes quando nos afastamos. Meu rosto está quente e
sua boca está entreaberta, mas não quebramos o contato visual. Seus olhos são
como piscinas escuras. Profundos. Sem fim. Ele fecha a mão em punho e a pressiona
sobre a boca, apoiando levemente o nariz nos nós dos dedos. Ele fecha os olhos e
respira fundo, depois olha para mim novamente. Ele parece diferente desta vez. A
maneira como ele está olhando para mim me dá um vislumbre dele quando era
menino. Quando ele não estava apenas com raiva. Quando ele estava com medo
também.
— Senti sua falta, — ele sussurra tão suavemente que quase não ouço.
Limpo a boca com as costas da mão, como se o beijo dele não fosse a coisa
mais doce que já provei.
— Eca, — eu digo, sem nenhum calor.
Sua boca se abre enquanto ele me dá o maior sorriso brilhante até agora. Seus
ombros começam a tremer de tanto rir.
Droga.
Ele parece feliz, e eu não posso permitir isso, posso?
— É isso que você veio dizer, Idiota? Que você sentiu minha falta?
— Sim, acho que sim. Isso, e vim perguntar se você queria almoçar.
— Almoço, hum?
— Sim, almoço. Como um encontro. Com flores e romance e toda essa
porcaria.
— Hmm, quando você estava pensando? Você pode ou não estar ciente, mas
eu sou muito importante. Sou muito ocupado e importante, então terei que verificar
minha agenda e entrar em contato com você.
— Estou pensando em agora. Agora mesmo. Neste segundo, na verdade. E
Damon, — ele me olha duramente, deixando suas palavras se acalmarem e
ganharem força, — você sabe muito bem que não hesitarei em levá-lo contra sua
vontade, se necessário.
O som da minha risada ecoa em todas as superfícies de vidro do meu
escritório. É nítido e claro. Soa como um sino.
— Presumo que sejam para mim, — digo, arrancando as flores de suas mãos
e girando nos calcanhares, saindo pela porta, deixando-o sem escolha a não ser me
seguir.
Sou recebido por uma Alyssa muito preocupada. Ela está sentada em sua
mesa. Seus olhos são como pires e ela está roendo uma unha perfeitamente cuidada.
Muito, muito diferente dela. Pobre coisa. Ela teve um dia e tanto e temo que só vá
piorar. Entrego a ela o buquê de flores.
— Você se importaria de colocar isso na água para mim? Ah, e limpe minha
agenda para a tarde.
Seu rosto fica branco de horror. Sua boca se abre, mas nenhum som sai. —
Ma-mas Sr. Beckett, você tem uma reunião esta tarde. A reunião das partes
interessadas. Aquele com o chefe do World Healt…
— Receio não poder comparecer, mas por favor peça desculpas em meu
nome.
— Mas Becks, Sr. Beckett, você tem que estar na reunião. Foi preparada para...
Cinco pessoas que vieram da Europa.
Eu faço uma cara de caramba para ela. Oops, mas também, merda acontece.
Saint e eu começamos a caminhar em direção ao elevador. Alyssa segue em
nossos calcanhares. Ela está trotando ao nosso lado em um ritmo extremamente
apressado. Sempre admirei muito as mulheres que conseguem andar rápido de
salto alto. É preciso uma habilidade incrível. Alyssa mais do que dominou a
habilidade. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Suas pernas se movem como um
raio, mas ela mantém os braços esticados ao lado do corpo, para não bagunçar o
cabelo ou chamar a atenção para a calamidade que está por vir.
Devo dizer que se Alyssa continuar assim, ela terá um enorme aumento
salarial.
— Por favor, Becks, por favor. O que... Quem vai presidir a reunião?
Eu giro enquanto uma ideia toma conta. — Você sabe o que você deveria
fazer? Você deveria falar com Jill. Jillian de Lange. Entre em contato com ela e diga
que eu disse que ela deveria comandar a reunião.
— Mas ela... esse não é o trabalho dela.
— Diga a ela que agradeço e diga que tenho a maior confiança em suas
habilidades.
Com isso, Alyssa parece aceitar que está açoitando um cavalo morto. Ela se
vira e se aproxima da pessoa mais próxima dela. — Você! Coloque Jillian de Lange
na linha agora!
Sua voz está longe de ser calmante. Não há nada de calmo nela. Na verdade,
neste momento, a voz dela é muito mais de alma penada do que humana.
Ao meu lado, sinto Saint tentando não rir.
Entramos no elevador e ficamos lado a lado. Quando as portas se fecham, ele
roça o dedo mindinho no meu. No começo o toque é tão suave que acho que pode
ter sido um acidente, mas ele faz de novo. Isso envia um tremor profundo através
de mim. Ele sobe pelo meu braço e inunda meu peito. Ele traça os nós dos meus
dedos e passa as pontas dos dedos pela minha palma, entrelaçando os dedos entre
os meus e apertando com força.
Nós dois olhamos para frente, mas posso sentir que ele ainda está sorrindo.
Ele está sorrindo amplamente, mas nem de longe tão amplamente quanto eu. Estou
sorrindo ao pensar na destruição que acabamos de causar, e estou sorrindo porque
estou em um espaço fechado com o palhaço dos meus sonhos e ele está segurando
minha mão. Acima de tudo, estou sorrindo porque me lembro claramente dele
dizendo que não era a única coisa que eu sempre quis, e lembro dele me dizendo
que era a única coisa que eu não poderia ter.
O imbecil estava errado em ambos os aspectos.
Capítulo 32

Saint

O mar de pessoas à nossa frente se desfaz enquanto caminhamos. Não sei se


é porque reconhecem Damon ou porque estou ao lado dele. Talvez seja porque
nossas mãos estão entrelaçadas e os estranhos ao nosso redor avaliam corretamente
que teriam que me nocautear para que eu soltasse sua mão.
Ele conversa animadamente enquanto caminhamos. Algo sobre a reunião
que ele está faltando e como o cara da entrevista era chato. Estou tendo dificuldade
para entender o que ele está dizendo porque toda vez que paramos em um sinal
vermelho, ele torce o braço para trás, colocando nossas mãos na parte inferior de
suas costas. Então ele se inclina, cada vez mais perto, até que eu não conseguir
respirar, e sua cabeça estar apoiada no meu peito. Assim que o semáforo muda,
partimos. Começamos a caminhar novamente, mas cada vez que isso acontece
demoro mais para me recuperar.
— Ooh, — diz ele, quando reconhece o que nos rodeia, — conheço um ótimo
lugar por aqui. Sério, é incrível.
— Hum?
— Sim, estou lhe dizendo, Joey, este lugar faz os melhores sanduíches de toda
a cidade. Talvez até do país inteiro. Você tem que experimentar. Chama-se Samich
e fica logo à frente. Você já foi?
— Não, — eu minto.
— Deveríamos ir lá. Quer saber, deveríamos ir para lá agora mesmo.
— Ok, por que não? É o seu encontro.
— Geralmente há uma fila até a rua, mas podemos cortá-la. Eles me
conhecem lá.
É um daqueles lugares que por fora não parece nada. Se você não soubesse
que ele estava lá, você passaria por ele uma centena de vezes sem entrar. Não há
fila hoje. O local está deserto. Não há ninguém por perto, apenas uma pequena nota
escrita à mão na porta que diz: — Fechado.
— O que? — ele chora. — Este lugar está sempre aberto. Certa vez, mandei
meu chef para cá no Dia de Ação de Graças, depois que ele cozinhou demais o peru
e eles estavam abertos. O que diabos está acontecendo? — Dou um empurrão na
porta e ela se abre. — O que você está fazendo? Você está louco? Você não pode
simplesmente invadir.
Curiosamente, isso não o impede. Ele me segue. A sala está mal iluminada. As
persianas estão meio fechadas. Todas as mesas e cadeiras foram empurradas para
o lado da sala, exceto uma. Tem uma toalha de mesa xadrez vermelha e branca,
uma única vela brilhando intensamente no centro da mesa e talheres para dois.
Está perfeito. Exatamente o que eu pedi.
Mavis, a proprietária, sai da cozinha e nos serve nossos sanduíches. Presunto,
queijo e tomate para mim, e salmão defumado e abacate com alcaparras extras em
pão crocante que não é tão crocante para ele. Ela coloca nossos pratos na mesa sem
alarde, mas há um pequeno brilho de malícia em seus olhos. Suspeito que ela esteja
gostando de ver Damon sem palavras quase tanto quanto eu. Ela abre a garrafa de
vinho que eu pedi especificamente e serve uma taça para cada um de nós. Ela volta
para a cozinha, mas não antes de apertar o play no velho aparelho de som no canto.
Please Don't Go, de KC e The Sunshine Band, começa a tocar. Sintetizador
bipa, house piano e uma batida constante de tsk tsk preenche a sala. O som passa
por mim, estabelecendo um novo ritmo para o meu batimento cardíaco. A voz de
KC é suave. Rouco. Desesperado. É lindo. É o anseio mais profundo de um coração
musicado.
Eu me identifico. Muito..
Os olhos de Damon suavizam e seus lábios se abrem, — Eu amo essa... — seus
olhos mudam, um rápido lampejo de conhecimento, seguido por um sutil revirar
de olhos. — Você hackeou minhas playlists, não foi?
— Claro. — Eu sorrio. — Sabe, Demon, para um cara que zombou de mim
mais de uma vez por ler romance, você com certeza ouve muitas músicas
românticas antigas e sentimentais.
Eu recebo um revirar de olhos novamente. Desta vez está longe de ser sutil e
é seguido por um balançar de cabeça. Ele leva a taça de vinho à boca. — Como você
sabia que eu gosto deste vinho?
— Você mencionou isso em uma entrevista em 2019. Você disse que foi uma
das melhores coisas que já teve na boca. — Ele sorri docemente e pisca os cílios. —
Só para você saber, costumo julgar as pessoas que gastam tanto assim em uma
garrafa de vinho. Eu as julgo com severidade, então é melhor você aproveitar. Se
eu vir um indício de insatisfação em seu rosto, vou colocá-lo sobre meus joelhos e
dar uma surra em você aqui e agora.
Sua boca se abre em falso horror: — Mas, mas e Mavis?
Dou de ombros e dou a ele o que espero ser meu sorriso mais vitorioso. —
Mavis pode assistir.
Ele tenta não me dar a satisfação de uma risada, mas seus olhos dançam de
diversão e algo mais. Ele inclina o copo até os lábios. Ele inspira o aroma, toma um
longo gole e o balança na boca, pensativo. Ele fica imóvel por um momento, fazendo
uma pausa dramática. Minha palma se contrai. Meu pau também. Por fim, ele
engole em seco com um leve sorriso e um suave e relutante — Mm.
Coloco meus pés de cada lado dos seus, embaixo da mesa, e dou um aperto
firme.
— Só para deixar claro, — eu digo, — eu não mudei. Sou a mesma pessoa
que sempre fui. A única coisa que mudou foi o que eu quero.
— Você está tentando se livrar de um detalhe técnico, não é? — Eu zombo,
mas aceno em concordância. — Eu permitirei.
— Eu ainda sou um homem mau, Damon.
— Eu sei. Está bem. Verdade seja dita, eu também não sou tão bom assim.
Terminamos nossa refeição quase em silêncio. O clima está carregado. Tenho
que reconhecer que a playlist dele é romântica pra caramba. Quanto mais tempo
toca, mais Damon parece brilhar. A luz reflete em suas feições, destacando mechas
platinadas em seu cabelo e refletindo nos ângulos de suas maçãs do rosto e no
queixo, cegando-me no processo. Quanto mais olho para ele, menos entendo por
que ele está brilhando daquele jeito. Como se ele fosse irreal. Não sei mais se ele
está brilhando à luz das velas, ou pela alegria de saber que está no seu direito de
dizer “Eu te avisei”, ou se é simplesmente porque ele é feito de nada além da mais
negra das magias negras.
Muito provavelmente, é uma combinação dos três.
— Então o que vem depois? — ele empurra o prato para frente e enxuga as
mãos, dobrando o guardanapo com cuidado antes de colocá-lo na mesa.
Eu me levanto e empurro minha cadeira. — Não me lembro exatamente, mas
acho que você pode ter dito algo sobre foder como os deuses.
Ele anda ao redor, então ele está do meu lado da mesa e está tão perto que
sinto um cheiro de cabelo de menino rico sutilmente matizado com tudo que eu
sempre quis. — Tem pensado sobre isso, não é?
— Não, na verdade não, — digo honestamente.
Uma sobrancelha perfeita se arqueia. — No que você está pensando então?
Eu o puxo para perto. Tão perto que não consigo ver o rosto dele e ele não
consegue ver o meu. Pressiono meus lábios em sua têmpora. Seu pulsação está
irregular. Sua pele é lisa e quente. — Tenho pensado em como seus olhos estavam
quando você saiu. — Sua respiração fica presa, mas ele não se move. — Nunca
mais olhe para mim daquele jeito, Demon. Estou falando sério. Não faça isso, ok?
É um sussurro. Um apelo.
Ele se afasta e olha para mim. Seus olhos estão pálidos. Claros. A calma antes
de uma tempestade. — Não me obrigue.
Capítulo 33

Demon

—Eu disse que você deveria ter pegado a Segunda. A Terceira, é uma bagunça
a esta hora do dia.
Ele mantém os olhos na estrada e as mãos às dez e duas no volante. Ele tenta
não reagir, mas os músculos de sua mandíbula se contraem, e isso me enche de
alegria desenfreada.
Ele entra na garagem embaixo do meu prédio e para na barreira de
segurança.
— Você precisa de um passe para entrar, — eu digo. — Só me dê um
segundo, tenho um na minha carteira.
Ele sorri para mim como se eu fosse bonito, mas não tão inteligente. — Não
se preocupe, eu já tenho um.
Ele abaixa o quebra-sol e saca um cartão-chave, passa-o, espera
pacientemente enquanto a barreira aumenta e avança com a confiança natural de
um homem que já fez isso muitas e muitas vezes no passado.
Isso não deveria ser excitante.
Mas é.
Ele faz a mesma coisa quando chegamos ao meu apartamento. Ele nos deixa
entrar e joga a carteira e as chaves na mesa da entrada. Ele se vira para mim.
Estamos em confronto. Seu comportamento é calmo. Seus ombros estão relaxados.
Sua postura é autoconfiante e aberta. A leve tensão em torno de sua mandíbula
ainda está lá e seus olhos são escuros e intensos. Há um lampejo de selvageria neles
que assustaria qualquer um que o encontrasse em um beco escuro, mas isso não
me assusta. Nem um pouco.
Para mim ele é perfeito.
A surpresa, a excitação e o romance do dia de repente desaparecem e, em seu
rastro, fico com nada além de pura fome. Desejo puro. Ele se acumula em meu
corpo, fazendo-me sentir pesado e quente.
— Tire a roupa, — eu digo.
Seus lábios se curvam em um sorriso. Seus olhos não sorriem nada. Ele tira a
jaqueta e a deixa cair na mesa ao lado do telefone. Ele desabotoa os primeiros botões
da camisa. Dedos grandes e grossos. Botões pequenos. É difícil assistir sem começar
a ajudar. E por ajuda, quero dizer rasgar.
— Vá para o meu quarto.
Seus olhos percorrem meu corpo, permanecendo abaixo do meu cinto. Ele se
vira e começa a subir as escadas. Enquanto caminha, ele tira a camisa pela cabeça
e a deixa cair no patamar. Eu o sigo, meus olhos presos em seu corpo. Pela primeira
vez, ele é a presa e eu sou quem está perseguindo.
A tatuagem em suas costas tremula enquanto ele se move. As asas do corvo
ondulam quando ele tensiona os braços e vibram quando ele relaxa. A imagem
ganha cada vez mais vida a cada peça de roupa que cai no chão. Quando ele chega
ao meu quarto, ele está completamente nu. E eu também.
— Não se mova, — eu digo.
Ele deixa cair os braços ao lado do corpo e observa passivamente enquanto
me aproximo. Eu levo meu tempo. Eu olho para ele antes de tocá-lo. Realmente
olho para ele. Não acredito que ele está aqui. Nu. Na minha casa – sem
arrombamento e invasão, aqui atrás de um convite formal. Deus, ele parece bem.
Sua pele morena está esticada sobre músculos sólidos. Ele está ereto e totalmente
sem remorso por isso. Ele está de pé com o quadril ligeiramente saliente e uma
perna dobrada na altura do joelho. Calmo, legal e controlado pra caralho.
Não posso deixar isso acontecer, posso?
Eu me inclino e sussurro em seu ouvido: — O primeiro a perder o controle,
fode.
Ele sorri um sorriso lento que vai até os olhos.
— Acho que você vai foder então. — Ele está completamente convencido de
que vou perder o controle muito antes dele.
Para ser justo, nossos encontros anteriores fazem com que isso pareça
provável.
— Hoje não, Satanás, — eu sorrio. — Hoje não.
Eu pego seu rosto com as duas mãos. Ossos sólidos e pele quente. A barba
áspera arranha minhas palmas. Eu fico na ponta dos pés e roço meus lábios nos
dele. Faço isso suavemente, quase sem tocá-lo. Seu queixo cai e ele se inclina. Dou
um pequeno passo para trás até que ele corrija sua postura. Então eu o beijo
novamente. Desta vez, passo minha língua ao longo de seus lábios. Ele os separa
imediatamente, mas mantém sua posição.
Esperto.
Ele entende o jogo.
Seguro seu lábio inferior entre os dentes e o puxo suavemente. Ele expele
uma rápida onda de hálito quente. Passo os dentes pela carne gorda, apertando o
suficiente para chamar sua atenção, mas não o suficiente para machucar. Ele se
inclina novamente, mergulhando a língua na minha boca. Dou um passo para trás
novamente.
Ele suspira de frustração e endireita sua postura novamente.
Eu traço as linhas dele. Começo pelo pescoço, passando um dedo ao longo da
jugular, do lado esquerdo e depois do direito. Eu acaricio seu pomo de adão e sigo
a linha que vai do meio dele até o esterno. Eu faço isso levemente. Eu abano ambas
as mãos e deixo as pontas dos meus dedos percorrerem a massa plana de seus
peitorais. Isso o faz estremecer. Não muito. Só um pouco. Uso minhas unhas para
desenhar pequenos círculos ao redor de seus mamilos. Sua pele fica tensa. Picos de
botões rosa empoeirados. Eu os ignoro. Volto para seu pescoço. Movo minhas mãos
ao longo de seus ombros e desço por seus braços. Desta vez, meu toque é firme. Eu
massageio o músculo duro sob sua pele e quando o sinto relaxar, visito seus
mamilos novamente. Desta vez faço isso com a boca. Passo minha língua em cada
um deles, pressionando-os para baixo, respirando um hálito quente na pele
molhada. Ele estremece novamente. Mais forte agora. Passo minhas unhas por seu
torso, suavemente e depois com força suficiente para fazê-lo respirar rápida e
irregularmente.
Suas pupilas estão dilatadas. Seus olhos parecem quase pretos e estão opacos
de desejo. É um visual que ele usa bem. Encaro em seus olhos e deslizo a palma da
minha mão por sua barriga. Ele não respira até que eu enrolo meus dedos no cabelo
escuro entre suas pernas e dou um puxão suave. Seus quadris rolam para frente
involuntariamente, mas ele rapidamente se corrige. Ele tenta estabilizar a
respiração enquanto eu o toco em todos os lugares, exceto no pau e nas bolas. Seu
pau está vazando, brilhante na ponta, e se contorce com força toda vez que movo
minha mão para perto dele.
Eu me movo atrás dele e beijo a lateral de seu pescoço. Sua cabeça pende para
trás, então eu corro meus dedos pelos cabelos de sua coroa, fechando os dedos para
que eu possa mantê-lo exatamente onde eu quero. Beijo seu pescoço novamente. E
de novo. Chupo a pele delicada em minha boca e, enquanto faço isso, sinto o gosto
e o cheiro dele.
Homem.
Meu.
Minhas papilas gustativas acendem. O mesmo acontece com meu sistema
olfativo. Faz um som áspero passar pelos meus dentes. Sinto o puxão forte e
vigoroso que sempre sinto quando estou perto dele. No passado, no segundo em
que senti isso, perdi, cedi e deixei que isso me consumisse.
Meu corpo está reagindo da mesma maneira agora. Abro os olhos e olho ao
redor do quarto. Eu balanço minha cabeça rapidamente. Eu foco minha mente.
Lembro a mim mesmo que quando estávamos separados, além da humilhação e da
dor esmagadora, a única coisa que senti foi arrependimento. Arrependimento
terrível e verdadeiro de que toda vez que o fodi, perdi o controle. Eu não fui com
calma. Cedi à minha natureza básica e perdi a oportunidade de desmontá-lo, uma
peça de cada vez. A ideia de viver o resto da minha vida sem tê-lo feito se
despedaçar em pedacinhos me manteve acordado durante a noite. Quando eu não
estava furioso, ou humilhado, ou triste pra caralho, eu lamentava.
Depois de me recompor, enfio meus polegares em seus músculos trapézios e
dou beijos suaves em sua espinha. Suas mãos ainda estão ao lado do corpo, mas
suas pernas estão retas, rígidas e os músculos de sua bunda se contraem e relaxam
involuntariamente.
Esfrego meu rosto em suas costas e o cheiro como um animal. Eu estudo a
tatuagem em suas costas. É magnífica e parece ficar mais bonita quanto mais eu
olho para ela. Linhas intrincadas gravadas em sua pele se unem para contar uma
história. Eu não sei a história toda. Partes disso me assustam e não sei como termina.
Só sei que é uma história que quero saber. Quero levar o tempo que for preciso, o
resto da minha vida se for necessário, e quero aprender. Quero aprender até que a
história dele e a minha sejam a mesma.
Eu alcanço meu braço em volta de sua cintura e o puxo de volta para mim,
então meu pau fica pressionado contra os globos de sua bunda. Movo meus quadris
lentamente de um lado para o outro, enfiando meu pau duro em sua fenda, e traço
o contorno do corvo em suas costas com meu dedo indicador. Eu traço cada linha,
cada sombra. Faço isso até que a respiração dele se acelere e se torne imprevisível.
No momento em que traço as penas da cauda do corvo, a parte inferior de suas
costas está arrepiada e seus punhos estão cerrados ao lado do corpo.
Eu me inclino para beijar seu pescoço novamente e, enquanto faço isso, ele
estende a mão e esmaga meu rosto contra o dele. Ele beija minha bochecha e meu
queixo com avidez, mordiscando e mordendo quando não lhe ofereço minha boca.
— Demon, — ele murmura. — Demon, possua-me.
Suas palavras caem com a força de um soco. Sinto que não consigo respirar.
Sou incapaz de não ouvi-las ou não senti-las. Meus dentes afundam na carne de
seu ombro e meus dedos cavam em suas costas e quadris, agarrando
desesperadamente qualquer parte dele que eu possa alcançar. Eu me afasto dele
rapidamente, tentando voltar aos meus sentidos.
Desta vez tem que ser diferente. Quero fazê-lo sentir-se bem e não quero
perder o controle e transar com ele com violência. Quero fazê-lo sentir o que ele
me fez sentir toda vez que me tocou. Caminho até minha mesa de cabeceira e
quando sinto seus olhos em mim, dou um pequeno balanço exagerado de minha
bunda. Ele faz um som suave e desamparado.
Eu amo esse som. Eu quero ouvir isso de novo. Quero ouvir isso repetidamente
até que nenhum de nós consiga se mover.
Pego o lubrificante e fico confortável. Eu me deito na cama da maneira mais
sedutora que posso. — Venha deitar comigo, Joey.
Não preciso dizer a ele duas vezes. Ele salta e quase se joga na cama ao meu
lado, me fazendo saltar e ter que lutar para recuperar a compostura. Tento não rir
de seu entusiasmo, mas não consigo evitar. Seus olhos estão brilhando. Eles estão
macios. Cheio de coisas boas. Coisas boas e coisas ruins. Exatamente como eu gosto
deles.
Eu o empurro de costas e me inclino sobre ele.
— Você sabia que quando cheguei em casa depois da casa do lago, estava
coberto de marcas que você deixou em meu corpo?
— Eu sei disso, — ele murmura, mordendo meu queixo com lábios e dentes.
— Eu fiz isso para te irritar.
— Não minta. — Passo a mão pela sua barriga, passando a palma da mão
pelo seu pau, sorrindo enquanto ele se aproxima de mim. — Eu sei por que você
fez isso, e não foi por isso.
— Tudo bem. Eu fiz isso porque queria... fiz isso para que você visse, — sua
voz falha, — e você pensasse em mim.
— Bem, funcionou. Eu as vi. — Eu dou a ele um olhar indecente. — Eu ficava
nu na frente do espelho todos os dias e os observava desaparecer. Lembro-me de
cada um deles. — Sua expressão é ilegível. Arrependimento infinito, ou exatamente
o oposto. Não sei dizer, pois está nublado por uma espécie de saudade que abafa
todo o resto. — Você se lembra onde eles estavam?
— Eu lembro.
— Mostre-me. — Ele estende a mão e toca minha clavícula levemente. —
Não. Mostre-me você. — Ele engole e desenha uma linha rápida na parte superior
do peito. Eu afundo minha boca nele, lambendo e chupando a pele que ele apontou.
Faço isso até que ele geme, e sua pele fica roxa e irritada quando eu o solto. — Onde
mais?
Ele deixa a mão cair no V profundo que vai do tronco até a virilha. Ele geme
novamente quando começo a mover minha cabeça para baixo. Seus dentes apertam
seu lábio inferior para parar o som, mas não adianta, esse som é seguido por outro
som mais alto e desesperado.
— Damon, — ele sibila. — Damon, por favor.
Sigo sua mão, beijando suavemente e beijando com os dentes. Seu pau está
vermelho e inchado. Um fio prateado vazou e formou uma pequena poça em sua
barriga. Eu me inclino sobre ele. Seus olhos imploram em frases completas. Eu
entendo cada palavra. Eu entendo a necessidade dele. Eu também sinto a minha.
Minha necessidade está começando a atrapalhar meus pensamentos e minhas
ações. Pressiono seus quadris para baixo com as duas mãos e abaixo minha boca
até seu pau. Mais perto, mais perto. Paro no último segundo e, em vez de sugá-lo
em minha boca, sopro suavemente ao longo de seu comprimento.
O mundo gira em torno de seu eixo e vira de cabeça para baixo. Eu estava no
topo há uma fração de segundo, agora estou deitado de costas, olhando diretamente
nos olhos de um Saint selvagem e furioso. Ele está ofegante, respirando fundo e com
a boca aberta. Ele cospe na mão e enfia os dedos com força entre minhas pernas.
Meus joelhos se abrem e meus quadris se levantam da cama enquanto ele faz isso.
Ele usa dois dedos ao mesmo tempo e não é gentil. Ele chega até mim com dedos
grossos e bruscos. Os tecidos moles e os músculos tensos são forçados a ceder. A
sala se enche de um gemido longo e triste. Soa exatamente como algo que nasceu
nas profundezas do inferno.
— Eu perdi. — Sua voz está quebrada. — Você ganhou. Eu admito. Eu preciso
disso. — Estou satisfeito por não ser o único a reclamar. — Por favor, Demon,
desista. Me dê isto.
Eu estava planejando aproveitar meu momento. Eu estava brincando com a
ideia de me gabar um pouco. Não muito, mas definitivamente um pouco. Tento
provocá-lo. Movo minha boca, mas nenhum som sai. Tento novamente, pontuando
o silêncio com nada mais do que um gemido frustrado. Ganhei, mas não por muito.
Não consigo falar, então abro as pernas. Eu as puxo de volta, colocando as mãos
atrás dos joelhos e os abraçando contra o peito.
Ele geme e estremece enquanto se cobre com lubrificante, e então ele entra
em mim tão forte e rápido que grito alto de prazer e choque. Ele cai em cima de
mim, pesado, desajeitado, nem de longe tão coordenado como normalmente é. Ele
está longe de estar calmo. Longe de ser sossegado. Ele desliza para dentro de mim
e eu balanço meus quadris para encontrá-lo. Solto minhas pernas e as envolvo em
sua cintura, prendendo meus tornozelos para que ele não tenha esperança de
escapar.
Nós nos movemos juntos como algo enlouquecido.
Algo lunático.
Algo possuído.
Os sons que faço quando ele mete em mim ecoam pelo apartamento. Eles
estão desesperados. Frenéticos. Eu deveria odiá-los, mas não odeio, porque ele
responde a cada som que faço com um dos seus. Cada impulso nos aproxima do
nosso pico. Nossos corpos colidem, suam e se batem quando nos conectamos. É uma
foda selvagem e lasciva. A foda mais selvagem e lasciva que já tive na minha vida.
É rápida. Feroz. Eu agarro meu pau e o masturbo febrilmente. Parece cru. Como
um grande nervo exposto. Eu arqueio e resisto com o prazer que ele me dá. Não
dura muito. Seus quadris começam a fraquejar e ele joga a cabeça para trás, a boca
aberta, gritando silenciosamente e depois não silenciosamente. Sinto a contração
reveladora, aquele pulso profundo e intenso, uma pausa rápida e depois o jorro
quente de seu esperma cobrindo minhas entranhas. Meu orgasmo me atinge pela
frente, pelos lados e por trás. Ele rasga meu corpo, curvando meus dedos dos pés,
levantando minha coluna da cama. Ele chega dentro de mim e aperta
espasmodicamente. De novo. De novo. Aperta até minha visão desaparecer. Cada
célula do meu corpo está eletrificada. Chocada. Eu não vejo nada. Não ouça nada.
Não provo nada. Não sinta nada.
Nada além de Saint.
Capítulo 34

Saint

Eu olho para o teto. É branco como a neve e parece infinito. A cama em que
estou também é branca, roupa de cama branca, de algodão muito macio. Parece
que estou flutuando. Me sinto pesado e leve ao mesmo tempo. Gozei agora, mas
meu corpo ainda se contorce involuntariamente de vez em quando. Damon está
deitado ao meu lado. Sua respiração é superficial e, exceto quando eu disse a ele
que era gay, este é o maior tempo que ele ficou quieto na minha presença. Deixo
minha cabeça cair para o lado e olho para seu rosto. Ele também está olhando para
cima. Talvez ele ainda esteja flutuando. Seu perfil é perfeito. Maçãs do rosto
acentuadas e o pomo de Adão saliente cortam a suavidade do resto de suas feições
e fazem dele o que ele é: assustadoramente lindo. Assombrosamente perfeito.
Minha única obsessão.
— Você quer ouvir algo nojento? — Eu pergunto.
Damon se anima, apoiando-se em um cotovelo enquanto seus olhos
começam a brilhar com animação. — Sempre.
— Eu acho que... — As palavras secam no fundo da minha garganta e meu
coração se aperta de nervosismo. Eu quero dizer isso. Quero me ouvir dizer isso,
mas não consigo encontrar minha voz. Porra, por que isso é tão difícil? Respiro
fundo e tento novamente. — Acho que gosto, amo você ou algo assim.
Ele cai na cama, aninhando a cabeça em meu ombro, tremendo
incontrolavelmente de tanto rir. Enquanto ele faz isso, seu corpo suaviza contra o
meu. Ele suaviza até que ele esteja mais macio do que nunca, e ele esteja
perfeitamente moldado contra mim.
— Acho que gosto, te amo também, — diz ele quando se recupera.
— É o pior, hein?
— O pior absoluto.
— É patético.
— Sim, — ele concorda, — patético e muito inconveniente.
— Não é profissional, é isso que é.
— Mm, — ele acena contra meu ombro. — Tão pouco profissional.
— Quero dizer, eu praticamente estraguei o maior trabalho da minha vida
por causa de toda essa coisa de amor.
— Isso é constrangedor, Joey. Você deveria estar super envergonhado.
— Oh, acredite em mim, eu estou.
— Quer ouvir algo ainda mais embaraçoso? — Ele continua sem esperar que
eu responda. — Eu adorei ser vítima de sequestro em busca de resgate exatamente
por esse motivo.
— Porra. Sinto muito, cara. Deve ser difícil conviver com isso.
— Os sentimentos são uma coisa. Eles são uma merda por si só, mas há toda
a coisa física para lidar também.
— Você quer dizer o tesão? — Eu pergunto.
— Não, estou bem ciente de quão forte o tesão atingiu você, Joey, estou
falando sobre as palpitações cardíacas e toda essa porcaria.
— Oh, Deus, sim, — concordo, infinitamente aliviado por ele sentir o mesmo.
— As palpitações cardíacas são as piores. Eu as tenho o tempo todo. Quando eu te
vejo…
— Quando penso em você... — sua voz desaparece.
— Quando eu ouço sua voz…
— Quando sinto que você está me observando…
— Porra, é terrível. É como levar uma grande dose de adrenalina direto ao
coração.
— Misturada com nervosismo…
— E medo e excitação…
— E um pouco de terror, — seus olhos se iluminam e ele me dá um sorriso
doce e sádico.
— Ah, sim, não podemos esquecer o terror.
— Não. Mesmo que quiséssemos, não poderíamos esquecer o terror. — Ele
fica quieto por um tempo e depois olha para mim, estendendo a mão para acariciar
a cicatriz na minha testa. — Você tem essa coisa de não conseguir parar de pensar
em mim?
— Sim, Deus, eu faço muito isso. Isso acontece o tempo todo. O tempo todo.
Muitas vezes, nem sinto que estou fazendo isso. Parece algo que está acontecendo
comigo, mais do que algo que esteja fazendo.
Ele concorda com a cabeça. Posso dizer que ele realmente entende. —
Pensamentos intrusivos, é assim que se chama. Eu pesquisei no Google.
Eu sorrio ao pensar nesse lindo garoto pesquisando algo assim no Google. —
Porra, isso é o pior. Eu nem preciso fechar os olhos para te ver. Eu só faço. Mesmo
quando estou pensando em outra coisa. Eu vejo seu rosto. Ele simplesmente vem à
minha mente, todo louco e indignado, como se fosse aquele primeiro dia em que
você foi algemado à cama e eu tirei seu capuz. Ou vejo seus olhos brilhando quando
você ameaçou me aniquilar e me processar em toda a extensão da lei. — Eu rio
fracamente com o pensamento. —Você tem alguma ideia de como eu achei aquilo
fofo, Demon?
Suas bochechas ficam vermelhas e ele me dá uma confissão própria. — Eu
via você cerrando a mandíbula, sentado no sofá todo corpulento e durão, assistindo
TV e tentando não me estrangular porque eu estava sendo muito chato. Droga, Joey,
por que você tem que parecer tão gostoso quando tenta não estrangular as pessoas?
— Por que você tinha que ser tão bonito e perfeito que a única coisa que
consegui pensar desde o segundo em que te vi pela primeira vez foi como seria bom
bagunçar você, colocar minhas mãos em você e trepar dentro do seu corpo. Não
consegui pensar em mais nada. — Corro minhas mãos para cima e para baixo em
seu peito e observo maravilhado enquanto sua pele fica arrepiada. Eu me inclino e
dou beijos ao longo de seus quadris tão suavemente que sua carne espinhosa faz
cócegas em meus lábios. — Ainda não consigo... não consigo pensar em mais nada.
— Você sabe o que isso significa, certo? — Corro minha língua do umbigo
até o esterno e olho para ele sem expressão. Minha mente está tão concentrada em
bagunçar, sujar e foder com ele que comecei a ter dificuldade em seguir sua linha
de pensamento. Afundo minha boca em um mamilo, puxando-o para dentro da
boca e provocando-o com a língua. — Você está preso comigo, — ele sussurra,
inclinando a cabeça para mim de uma forma que assustaria a maioria das pessoas.
— Nunca haverá mais ninguém para mim. E para evitar dúvidas, Idiota, isso
significa que nunca haverá mais ninguém para você também.
— Acho que posso sofrer com isso.
Capítulo 35

Demon

Um ano depois
—Como você dormiu, Demon? — Ele pergunta, rolando e beijando minha
têmpora levemente.
Ele me dá um sorriso suave e sonolento. Seu cabelo escuro e sua pele
bronzeada ficam tão bem aninhados contra a brancura do meu linho que quase
esqueço minha resposta padrão.
— Como o inferno. Você roncava como um trator. Sério, acho que está
piorando. E você?
— Poderia ter sido melhor. Congelei minha bunda porque algum merdinha
ficava roubando os cobertores.
Estou prestes a começar a discutir, mas ele já está de pé, deixando-me
contemplar a vista espetacular de sua bunda enquanto ele se dirige para a porta.
Quando ele volta, traz uma bandeja com café e croissants. Ele o coloca na
mesa de cabeceira do seu lado da cama.
— Europeu? — Eu lamento. — Ah, eu estava esperando por algo quente.
Ele me olha severamente. Sua mandíbula está ligeiramente cerrada e seus
lábios estão cerrados. Seus olhos estão suaves, no entanto. Eles estão sempre suaves
agora.
— Agora olhe aqui, — ele avisa, apontando o dedo para mim. — Você sabe
muito bem que já empacotamos a cozinha. Mesmo se eu quisesse, não teria como
cozinhar hoje.
— Não sei, tenho quase certeza de que se você realmente quisesse, poderia
ter inventado algo melhor do que isso.
Ele me rola de costas, pegando um pulso com ambas as mãos e colocando-as
firmemente em cada lado da minha cabeça. Ele pressiona seus quadris contra os
meus, enviando um choque através de mim quando nossos pênis nus se tocam.
— Só para você saber, Demon. — Ele beija meu queixo, depois meu pescoço.
— Quando o pessoal da mudança chegou ontem, eu disse-lhes para deixarem a
colher de pau de fora. A grande. Aquela que você conhece bem.
Começo a me contorcer embaixo dele imediatamente. Eu odeio que ele me
conheça tão bem. Eu odeio que ele faça isso comigo. Odeio que ele conheça todos
os meus botões e odeio que ele saiba como apertá-los. Odeio tudo isso, mas acima
de tudo, odeio o quanto amo isso.
— Não há tempo para isso, — digo, empurrando-o de cima de mim. — Tenho
que ir ao escritório esta manhã e você precisa ir até a nova casa para supervisionar
o desempacotamento.
Ele sai de cima de mim com um gemido relutante e bebemos nosso café e
comemos nossos croissants. Na verdade, eles não são tão ruins assim. Ele os compra
especialmente para mim. Ele dirige até o Brooklyn para buscá-los em uma pequena
confeitaria que só usa manteiga feita no local.
Uma vez que estamos vestidos e prontos para sair, eu o beijo e digo: — Vejo
você na casa nova às duas. Certifique-se de estar lá porque Clara jurou que até lá
eles já terão todo o lugar desempacotado e decorado. — Ele balança a cabeça e me
beija novamente. — E Joey, não suba para o loft. É uma surpresa. Não quero que
você veja o sem mim.
Ele revira os olhos e suspira alto. — Eu sei que é uma sala de sexo, Damon.
Eu permito que uma centelha de decepção tome conta do meu rosto.

O trabalho é enfadonho, tenho uma reunião que exige que eu esteja ligado,
mas no resto do tempo sento-me à minha mesa e deixo minha mente vagar para
tudo o que aconteceu no ano passado.
Logo depois que nos reunimos, encontrei um novo médico para minha mãe.
Joey estava certo. Ela precisava de um novo. Urgentemente. Evidentemente, o antigo
dela foi pago pelo meu tio para medicá-la demais e impedi-la de interferir na
maneira como ele queria administrar a empresa. Isso vinha acontecendo há anos.
Desde que as meninas nasceram. Nós nos mudamos para a casa da minha mãe por
alguns meses para ficar com as meninas enquanto minha mãe estava internada no
hospital para que ela pudesse ajustar seus remédios com segurança, tirando
aqueles que ela não precisa e encontrando a dosagem certa para os que ela precisa.
Ela está muito melhor. De certa forma, parece que estou conhecendo-a pela
primeira vez. Quando eu era criança, ela estava sempre fora, socializando ou
trabalhando. Ela está diferente agora. Ela parece tranquila. Estou feliz que minhas
irmãs estejam conhecendo essa versão dela.
Na verdade, eu estava meio preocupado sobre como Joey estando ao redor
das crianças, mas para minha surpresa ele nem piscou. Ele nunca fica nervoso ou
impaciente. Nem mesmo quando tentam brigar até a morte por algo como uma
legging de dança, ou quando as duas falam com ele, ao mesmo tempo, durante toda
uma longa viagem de carro.
Não sei exatamente como isso aconteceu, acho que pode ter sido produto de
uma babá que um dia não conseguiu buscá-las na escola, mas de alguma forma,
Joey começou a buscá-las na escola. Eu ainda faço a entrega e agora ele as pega.
Recentemente, ele começou a treinar artes marciais mistas com elas enquanto
esperavam a chegada do tutor para ajudá-las com o dever de casa à tarde.
Perguntei a ele como estavam as coisas na semana passada e ele ficou com
uma expressão melancólica e disse: — Dê-me mais sete anos e as duas serão
absolutamente letais.
Ele ficou tão orgulhoso quando disse isso que não tive coragem de apontar
que ter duas adolescentes letais na família poderia ser algo de que nos
arrependeríamos.
Minha maior preocupação no início do nosso relacionamento era como
conseguir que Lacey ficasse do nosso lado. Eu sabia que ela iria odiar Saint com o
fogo de mil sóis depois que ela viu como eu fiquei uma bagunça quando estávamos
separados. Lacey é muitas coisas, mas compreensiva não é uma delas. Eu estava
muito nervoso em apresentá-los. Adiei até que ela me sentasse e dissesse: — Olha,
Boo, vou ter que conhecer o filho da puta em algum momento. É melhor acabar
logo com isso.
Não era um bom presságio.
Passei uma quantidade considerável de tempo planejando/micro
gerenciando o seu primeira encontro. Decidi realizar na casa da minha mãe. Achei
que seria um terreno agradável e neutro e achei que seria uma boa ideia ter as
meninas lá para servir de proteção. Encomendei uma gigantesca coroa de flores de
copos-de-leite. Eu sei que era exagero, mas honestamente, parecia quase tão bom
na mesa de jantar quanto ficaria em um caixão e a fez sorrir, então valeu a pena.
No dia em que ela se encontraria com Saint, eu estava tão nervoso que, pouco
antes de ela chegar, voei até a cozinha e dei ao chef da minha mãe, François,
algumas dicas de melhorias que ele poderia fazer no chá vegano que eu pedi. Para
encurtar a história, os chefs podem ser um grupo temperamental, e isso se
transformou em uma grande coisa. Foi um pesadelo. No momento em que me livrei
da situação, saí para o quintal apenas para descobrir que Lacey já havia chegado e
havia sido requisitada para jogar beisebol no gramado com Saint e as meninas. Ela
estava usando máscara e luva de apanhador.
Não poderia ter sido pior.
Eu me senti tão fraco devido ao estresse que me sentei em uma cadeira do
pátio e assisti ao espetáculo de uma posição segura. A certa altura, François, na sua
sabedoria, decidiu servir chá ao ar livre. Ele usou a louça errada e trouxe malditos
copos e pratos de plástico para as meninas. A comida parecia boa, mas eu poderia
dizer à primeira vista que ela estava com um gosto de merda completa. Foi sem
dúvida o compromisso social menos elegante que já realizei. Não havia dúvida: eu
iria demitir François em nome da minha mãe. Brinquei com a ideia de fazer isso ali
mesmo, mas decidi esperar até que Lace fosse embora, para não tornar o evento
ainda mais desastroso.
Eu estava afundando profundamente no meu fracasso quando olhei para
cima e vi Lacey olhando para mim. Ela se endireitou da posição agachada e
estendeu a mão coberta pela luva, com o polegar para o lado. Ela ficou imóvel por
vários segundos tensos e então, lenta e deliberadamente, levantou o polegar.
Eu admito, eu chorei então. Fiquei tão feliz e cheio de boa vontade que decidi
deixar François ir embora com uma advertência.
Recentemente, eu estava tomando café com Lace e perguntei se ela achava
que as meninas preferiam Saint a mim e ela disse: — Não, não. Definitivamente
não, — fiquei animado até que ela acrescentou, — mas só porque você é de sangue.

Eu olho a hora no meu telefone. É quase uma. Mesmo sabendo que é uma
ilusão, verifico se recebi alguma mensagem da nossa designer de interiores, Clara
de Beaumont. Sem êxito. Eles ainda devem estar sob pressão, preparando a casa
para nós às duas.
Estou tão animado que mal consigo ficar parado.
A nova casa é importante para nós dois, mas principalmente para Joey. Ele
nunca morou em uma casa que parecesse um lar. Quando minha mãe saiu do
hospital, nos mudamos para meu apartamento. Ele não suporta aquele lugar. Diz
que é minimalista demais, se você pode acreditar nisso. Diz que menos nem sempre
é mais. E isso vem de um homem que não tinha cortinas, nem hidratante, quando
o conheci.
Por mais repulsivo que seja, parece que me encontrei na mais terrível
situação: Farei qualquer coisa para deixar meu homem idiota feliz. Qualquer coisa.
Evidentemente isso inclui a medida extrema de comprar uma casa que atenda a
todos os seus critérios: perto do parque para que ele possa levar as meninas para
brincar, espaço ao ar livre para cozinhar, uma casa e não um apartamento e uma
cozinha projetada para cozinhar e não para estética. Além de tudo isso, até permiti
que ele tivesse uma opinião sobre decoração.
Como me arrependi disso.
Quando compramos a casa, sendo o bom namorado que sou, perguntei qual
era sua paleta de cores preferida. Ele ficou quieto e pensativo por um tempo e
depois saiu da sala e voltou segurando sua pilha de calças cargo horríveis.
— Gosto dessas cores, — disse ele com seriedade.
Quase desmaiei.
Capítulo 36

Saint

—Está pronto? É impressionante? — Os olhos claros de Damon brilham de


excitação.
Na verdade também estou um pouco entusiasmado. Ok, tudo bem, estou
muito animado. Posso estar mais animado do que me lembro de estar. A casa parece
incrível. É inacreditável o que Damon e Clara conseguiram. Ele ouviu tudo que eu
pedi e mesmo que isso quase o tenha matado, o homem atendeu.
Fazemos um passeio pelo térreo com Clara. A sala é espaçosa, mas tem uma
sensação de moradia. Isso é importante para mim, embora eu saiba que causou
alguma consternação em Damon. Quero poder comer pizza no sofá e depois
levantar os pés e assistir TV. Não quero sentir que estou morando no Museu de Arte
Moderna. Os sofás são grandes e luxuosos, mas é o tipo de sala onde as meninas
poderiam brincar confortavelmente. O resto da mobília é uma mistura de peças
antigas e novas, modernas com antiguidades espalhadas aqui e ali. Eu realmente
não entendo a arte na parede, mas foi muito importante para Damon. Custou mais
do que um apartamento comum em Manhattan. É enorme e principalmente preto.
É suposto fundamentar a sala. Não sei dizer se é uma cebola ou o perfil do rosto de
uma mulher. Fui categoricamente informado de que não é nenhum dos dois.
— Bom fluxo, — diz Damon.
— Hum, fluxo excelente, — diz Clara.
A sala de jantar é comprida e abriga uma mesa de quatorze lugares. Apesar
do tamanho da mesa, a característica mais notável da sala é a luminária, ou
instalação, como Damon a chama. Clara acende a luz e pequenas luzes dançam
pela sala, fazendo com que pareça um filme que passou do preto e branco para o
colorido.
— A instalação funciona no espaço, — diz Damon.
Clara emite sons que dão a impressão de ter acabado de presenciar o
arrebatamento. Ela levanta as duas mãos em elogio: — Hum, a instalação funciona
no espaço.
Seguimos pelo escritório e pelo jardim de inverno e finalmente chegamos à
minha parte favorita da casa, a cozinha. É incrível. Passei a maior parte do dia aqui,
sob os pés dos transportadores e decoradores, mas não pude resistir. Os armários
são de carvalho e há uma enorme ilha no centro da sala. Há um suporte para
panelas em estilo de casa de fazenda sobre a ilha, com panelas de cobre penduradas
nele. Acho que é isso que mais ofende Damon, mas é uma parte crítica da cozinha
dos meus sonhos. As facas japonesas forjadas à mão que Damon me deu de
aniversário estão expostas em um ímã de faca perto da prateleira de temperos. Um
pote de cerâmica que encontrei em um mercado de pulgas contém colheres de pau
e espátulas. Algumas são usados para cozinhar, outras para outras atividades. Eu
permiti que Damon fizesse o que queria com as bancadas de mármore, embora eu
não ache que elas sejam especialmente práticas. Eu senti que era necessário, porque
ele cedeu a tudo o que eu queria e porque eu tinha certeza de que, se o pressionasse
ainda mais, ele iria estourar um vaso sanguíneo em um ou ambos os olhos.
— Bem, — diz Damon, — fizemos o melhor que pudemos com a informação.
— Hum, fizemos o melhor que pudemos com a informação, — diz Clara.
Dois pares de olhos azuis piscam para mim em leve acusação.
— A luz está boa, certo? — Eu ouvi os dois conversando longamente sobre a
luz.
Damon sorri o tipo de sorriso que você costuma dar a uma criança antes de
dizer: — Bom trabalho, amigão.
— A luz está ótima, amor, — diz ele.
— Vou deixar vocês dois explorarem o resto da casa sozinhos, — diz Clara,
enquanto ela e Damon se beijam elaboradamente. — É sempre um prazer trabalhar
com você, Becks. Seu nível de gosto está honestamente fora deste mundo. Gostaria
que todos os meus clientes pudessem ser como você. Não é como se você precisasse
de um designer.
— Eu sei, — ele dá de ombros, dando sua melhor impressão de alguém
humilde, —simplesmente não tenho tempo para fazer tudo sozinho, você sabe.
Com isso, ela se foi e ficamos só nós dois em nossa nova casa. Subimos e
espiamos os quartos de hóspedes e o quarto rosa e roxo brilhante onde as meninas
ficarão quando dormirem, o centro de mídia e a academia da casa, e então subimos
para o nosso andar. Consiste em nosso quarto – nem muito grande, nem muito
pequeno – um banheiro reluzente que custou tanto para ser equipado que sinto
que vou engasgar sempre que penso nisso, e um closet de tamanho modesto para
mim. O resto do andar é inteiramente ocupado pelo closet de Damon. É um
testemunho do que pode ser alcançado com espelhos e superfícies brancas. Ele grita
e pula alegremente quando vê.
— Quer dizer, eu sabia que seria épico, mas falando sério, isso é épico, épico,
certo?
— Mm, épico, épico, — eu digo.
Ele segura minhas mãos nas suas, aperta com força e depois me leva até a
escada em espiral de ferro forjado no canto mais distante do nosso quarto. — Então,
você está pronto para ver a surpresa?
— Eu sei que é uma sala de sexo, Demon.
Ele me beija docemente nos lábios. — Você sempre pensa que sabe tudo, mas
não sabe. Agora feche os olhos.
Ele cobre meus olhos com uma das mãos e me arrasta, meio tropeçando,
escada acima. Quando chegamos ao topo, ele me beija de novo, ainda mais doce
desta vez. Tão doce que quando ele tira a mão dos meus olhos, por um segundo
estou perdido em um tempestuoso oceano azul. Ele sai do meu campo de visão,
acenando com um floreio.
— Então, o que você acha?
A sala é grande, enorme, na verdade. O teto é alto, abobadado e revestido de
madeira. Quatro imponentes janelas estão cobertas por pesadas cortinas de veludo
vintage que se acumulam graciosamente no piso de carvalho. Cada centímetro de
espaço é ocupado por prateleiras. Estantes. A marcenaria é feita sob medida e sólida,
o que é bom porque senão as estantes estariam gemendo com o peso de todos os
livros da sala. Um mar de livros. Um campo de livros. Livros até onde a vista
alcança.
— V-você construiu uma biblioteca para mim?
Ele parece terrivelmente satisfeito consigo mesmo. — Encontrei uma mulher
online que se autodenomina A Bibliotecária Pervertida e consegui que ela fizesse a
curadoria. Sei de fonte segura que o senhor, Sr. St John, é agora o orgulhoso
proprietário de uma das mais completas coleções de literatura romântica queer de
todo o país.
Ele joga os braços em volta de mim e o som de sua risada triunfante enche a
sala. Estou tão pasmo que levo um segundo para reagir, mas quando o faço, envolvo
meus braços em volta de sua cintura e o giro. Ao fazer isso, noto pequenas placas
de bronze em várias prateleiras que indicam o tipo de romance que cada seção
abriga. Vejo livros que reconheço. Livros que li. Livros ainda na minha lista de Para
Ler. Livros dos quais nunca ouvi falar. Observo o enorme sofá de couro no centro
da sala e a luz de leitura alta e arqueada iluminando elegantemente o espaço.
— Puta merda, — eu grito, — essa é uma daquelas escadas em que
empurramos uns aos outros?”
— Tecnicamente, é para alcançar os livros na prateleira de cima, mas, claro,
podemos empurrar uns aos outros nisso também, Fera, baby!
Ouvir a voz dele assim, tão feliz porque estou feliz, me leva ao limite. Estou
sobrepujado. Meu peito e rosto estão quentes e cheios e sinto aquela sensação de
wasabi no nariz. Meus olhos começam a arder e então começam a vazar.
Ele segura meu rosto com as duas mãos e olha para mim por vários segundos.
Em seguida, ele desenha semicírculos leves sob meus olhos com as pontas dos
polegares, como sempre faço quando ele chora. É a primeira vez que ele faz isso
comigo. É a primeira vez que deixo alguém me ver chorar desde que era criança,
mas não desvio o olhar. Eu deixo ele ver. Dói, mas é bom.
Eu o esmago contra mim e o seguro o mais forte que posso. Eu sinto tudo.
Alegria, espanto, descrença. Sinto tudo de bom e uma enorme confusão sobre como
algo tão maravilhoso pode estar acontecendo comigo. Quando me recupero, abro
os olhos e vejo fragmentos de luz refletidos em minúsculas partículas de poeira que
flutuam pela sala. Fico cheio de uma profunda sensação de admiração até que meus
olhos percebem alguma coisa.
— I-isso é um balanço sexual?
Está pendurado nas vigas do teto. Cordas grossas e retorcidas foram
delicadamente entrelaçadas com gavinhas de hera e o balanço em si é feito de couro
marrom, provavelmente para combinar com o sofá.
Ele se afasta. Ele ainda parece satisfeito consigo mesmo, mas agora vejo traços
de má intenção brilhando em seus olhos.
— Isso é um balanço sexual na minha biblioteca? — Minha voz se eleva
incrédula.
— Sim, mas você tem que admitir que foi feito com bom gosto. — Seus olhos
brilham novamente. Traços do mal dão lugar ao mal encarnado. Ele se inclina e
sussurra em meu ouvido: — Esta biblioteca vem completa com uma sala secreta
escondida atrás de uma das estantes. É mais que uma biblioteca, é uma sala que foi
construída pensando nos livros e na depravação.
— Você construiu para mim uma biblioteca de sexo? Que blasfêmia é essa?
Ele faz uma reverência extravagante. Isso me leva ao limite. Euforia, alegria
e indignação borbulham dentro de mim. O som estrondoso da minha risada e sua
gargalhada seca se misturam e formam algo perfeito.
Estendo a mão para ele e pego seu cinto, desafivelando-o com força e tirando
suas calças antes que ele tenha tempo de reagir.
— Hum, o que está acontecendo agora? — Seu rosto é uma imagem de falsa
inocência que não combina com ele.
— Vamos, Demon, — eu digo enquanto tiro seus sapatos e calças. — Eu sei
que você não me deu um balanço sexual e pensou que não iríamos experimentar
imediatamente.
Eu o apoio e o coloco no balanço. Ele se deita parecendo muito contente. Eu
o puxo para a posição, de modo que sua bunda fique perfeitamente exposta e
ligeiramente pendurada na borda do balanço. Eu levanto suas pernas e amarro
cada tornozelo com as amarras. Ele está todo aberto. Completamente à minha
mercê. Seus olhos se arregalam e ele respira fundo enquanto eu faço isso. Uma
coisa é pensar em estar em uma posição como essa, outra bem diferente é se
encontrar nela de verdade.
— Você sabe Demon, você deveria saber que não se permite estar em uma
posição tão comprometedora quando está com um homem mau.
Suas bochechas coram e seus lábios se abrem. Eu me movo até sua cabeça,
inclinando-me sobre ele para beijá-lo longa e fortemente. Quando estou satisfeito,
meus pensamentos desaceleraram e meu pulso dispara. Nós dois estamos excitados,
ainda estou totalmente vestido, mas ele não tem segredos para mim nesta posição.
Ele se contorce conscientemente sob o calor do meu olhar. Suas pernas giram,
balançando suavemente de um lado para o outro enquanto ele faz isso. Passo as
palmas das mãos pela parte de trás de suas coxas. Suas partes posteriores das coxas
estão comprometidas por terem sido enforcados. Seu lindo pau está esticado e
inchado em sua barriga. Suas bolas são rosadas e cheias, penduradas frouxamente,
até que eu as acaricio com as costas dos dedos. Elas apertam mais enquanto eu
acaricio sua fenda, provocando sua entrada até que ele empurre seus quadris em
minha direção.
— Onde fica o lubrificante na minha biblioteca sexual? — Eu pergunto.
Ele aponta fracamente para a gaveta de uma das mesinhas laterais ao lado do
sofá.
Eu o encontro, notando o grande número de brinquedos sexuais que ele
guarda na gaveta, e corro de volta para ele o mais rápido que posso. Eu o preparo
e coloco seu pau na boca ao mesmo tempo. Seu prepúcio está retraído e sua glande
está inchada. Ele engasga e suas pernas enrijecem enquanto eu giro minha língua
em torno dele em círculos lentos, fazendo o balanço balançar suavemente. Quando
paro, abro o zíper e me lubrifico, ele se abaixa preguiçosamente para se acariciar.
— Não, Demônio. Não toque. Segure-se nas cordas e não solte.
Ele faz o que eu digo, mas o veneno brilha sombriamente em suas feições.
Não tenho dúvidas de que ele vai me fazer pagar por isso mais tarde. Eu empurro
minha glande para ele lentamente, observando seu rosto se transformar quando a
pressão o atinge. Quando estou quente e confortável dentro dele, seguro as cordas
do balanço e o empurro, soltando-o e deixando o impulso empalá-lo em mim. Eu
faço isso repetidamente. É perfeito. Tortura. Lento e gentil. Exatamente o que ele
precisa para perder a cabeça. Ele começa a se debater, torcendo as pernas, tentando
se libertar das amarras nos tornozelos. Seu rosto está vermelho e zangado, mas ele
não larga as cordas que segura nas mãos. São pequenas coisas como essa que me
lembram que nunca quero passar um dia da minha vida sem ele.
Eu o acaricio e acelero o ritmo. Eu meto longa e forte nele, fazendo-o lutar
contra suas restrições até que ele se perdesse, gozando em meu punho e
estrangulando meu pau entre suas nádegas. Eu meto nele o mais forte e rápido que
posso. Não é preciso muito. Derramo meu prazer nele em jatos grossos e quentes,
segurando as cordas para me apoiar quando meus joelhos dobram.
Eu me inclino e lambo cada vestígio de sua semente em seu peito.
— Aperte, — eu lato enquanto saio dele lentamente. — Não derrame uma
gota.
Volto para a mesinha lateral e encontro o que preciso, abrindo a caixa e
sorrindo quando Damon vê minha intenção. Deslizo um plug de metal nele,
observando com intensa satisfação enquanto seu buraco rosa e inchado aceita a
intrusão e a suga.
— O que você está fazendo? — Ele reclama.
— Vamos lá, até você sabe que não é permitido líquido em uma biblioteca.
Ele resmunga enquanto eu o puxo para fora do balanço e o coloco de pé. Eu
não me importo. Vale totalmente a pena vê-lo descendo cuidadosamente a escada
em espiral com meu DNA arrolhado dentro dele.
Capítulo 37

Demon

Joey se deita no sofá, espreguiçando-se e aninhando os pés sob uma das


almofadas. Foi um ótimo dia. Um dos melhores. É tão bom estar em um lugar que
ambos chamamos de lar.
Foi difícil chegar até aqui? Sim.
Foi perfeito apesar de tudo? Igualmente, sim.
Acabamos de terminar nossa pizza. Estou tomando vinho e ele está tomando
uma cerveja. Estou me sentindo tão relaxado e contente que sinto que poderia
adormecer aqui mesmo.
— Então, qual é o plano para amanhã? — ele pergunta.
— Ugh, temos aquela coisa na casa dos Ekersteins à noite. Será uma merda,
mas temos que estar lá.
Joey odeia pessoas como os Ekersteins, mas precisamos deles. Eles são
conhecidos e estavam entre as primeiras famílias super poderosas a entrar na onda
e começar a doar milhões de dólares comigo. Meu plano para a Anarquia 2.0
depende de pessoas como eles. Eu me preparo para o coro de reclamações. Não
preciso esperar muito.
— O quê? Os Ekersteins? Eles são os piores. Você está falando sério? Você
confirmou presença para nós dois? — Eu nem respondo isso. Se eu vou, ele vai. Ele
já deveria saber disso. — Qual é, Damon, você sabe que eu odeio essas coisas. —
Eu observo seu rosto. Ele tem uma aparência muito específica escrita nele. Eu sei o
que isso significa. Cerro os dentes e espero que ele diga isso. — Não gosto de sair
com essas pessoas. Elas são o seu povo, não o meu povo. Eu não pertenço a esse
lugar, você sabe disso.
O calor corre para o meu rosto. Estou furioso por ele ter tocado no assunto
hoje, entre todos os dias. Eu pulo de pé, pronto para a batalha. Devemos ter tido
essa briga umas cem vezes. Cem vezes ou mais. Achei que já tínhamos superado
isso. Já se passaram alguns meses desde que ele tocou no assunto. Achei que ele
finalmente tinha começado a entender que ele é o meu povo e eu sou o dele. Eu
pertenço aonde ele vai, e ele pertence aonde eu vou também.
— Já estou farto dessa porcaria, — grito. — Eu não aguento. Não posso ter
essa briga mais uma vez. Eu cansei dessa besteira. — Estou falando um pouco mais
rápido do que penso, e isso nunca é uma coisa boa. — Vocês são meu povo. Eu sou
a porra do seu povo. Pertencemos um ao outro. Por que você não consegue enfiar
isso na sua cabeça dura? Quer saber, não vou fazer isso de novo. Nós vamos nos
casar. Isso é tudo que há para fazer. Vamos nos casar, ok? Vamos nos casar e acabar
com isso. Vamos nos casar sem a porra de um acordo pré-nupcial para que você
possa possuir metade de tudo que é meu. Vamos fazer isso e ver se você finalmente
sente que este é o seu lugar. Vamos fazer isso e ver se você se atreve a mencionar
que não pertence ao meu mundo novamente.
Seu rosto se abre em um sorriso muito tímido. — Eu estava implicando,
Damon. Eu só estava brincando. Foi um dia tão perfeito que pensei que
precisávamos de algum conflito para equilibrar as coisas.
— Você estava brincando?
Ele concorda. — Eu sei que pertenço a onde você está.
Eu olho para ele longa e duramente e falo a verdade conforme ela vem até
mim. — Eu não estava. De brincadeira, quero dizer. Eu não estava brincando.
Seu rosto está em branco. Ele parece incrédulo. — V-você acabou de me pedir
em casamento?
Se eu me permitisse admitir que pensei em tal coisa, teria que dizer que
pensei que seria ele quem faria isso, mas não há como recuar agora. Eu levanto
meu queixo desafiadoramente. — Sim. Romântico, hum?
— Essa é a proposta mais fodida de que já ouvi falar. — Sua boca sobe nos
cantos. — Mas eu gosto dela. — Seu sorriso começa a ganhar vida própria. Começa
como um vislumbre. Apenas uma sugestão do que está por vir, então ele se espalha
por seu rosto como um incêndio. — Não vou adotar o seu nome, — ele avisa, com
o dedo indicador apontado para mim severamente. — Você pode esquecer isso,
porra. De jeito nenhum eu vou adotar o seu...”
— Não vou te dar meu nome, seu tonto. Eu nem sonharia com isso. Estou
adotando o seu. Seus olhos faíscam e depois cintilam quando as palavras são
absorvidas. Ele dá alguns passos em minha direção. Ele coloca os dedos atrás do
meu pescoço e se inclina perto do meu rosto.
— Demon St John, — ele diz algumas vezes, testando, saboreando, girando
as palavras na boca. — Gosto de como soa.
— Acho que poderia lidar com o fato de ser Santificado. Se você realmente
pensar sobre isso, isso acontecerá nesta vida ou na próxima.
— Segure esse pensamento, — diz ele, antes de subir correndo.
Eu estou em nossa marca, na nova sala de estar e me pergunto o que diabos
está acontecendo. Reconheço que foi minha primeira proposta, mas não gostei de
como ela foi grosseira. Quando ele retorna, ele tem uma pequena caixa preta na
mão e uma expressão estranha e nervosa no rosto. Meu coração começa a bater
forte. Sinto que não consigo engolir. Olho em volta para ter certeza de que ele não
está brincando. Ele me entrega a caixa e diz: — Você pode devolvê-lo se não gostar.
Eu não me importo. Disse ao joalheiro para esperar por isso, então ele também não
se importará.
Eu começo a chorar.
Ele me conhece tão bem.
Abro a caixa e vejo um grande anel dentro dela. Platina oxidada e diamantes
negros. É um trabalho qualificado e complexo. Os diamantes lapidados em escudo
são sobrepostos uns aos outros, projetados para se parecerem com penas. Fico ali
parado, sem pensar em nada para dizer, enquanto ele desliza o anel no meu dedo.
Cabe perfeitamente. Eu estendo minha mão. É impressionante. É incomum. É
extraordinariamente impressionante. É a coisa mais incomumente deslumbrante
que já usei. Ornamentado. Extravagante. Parecem as asas de um corvo circulando
meu dedo. Protegendo-me. Mantendo-me seguro. Anunciando em voz alta para
quem olhar em minha direção: Eu sou dele.
— Puta merda, — eu digo enquanto as lágrimas começam a rolar pelo meu
rosto. — Você tinha um anel?
— Sim, eu comprei há algumas semanas. Estou carregando-o no bolso,
esperando que você diga algo gentil, mas, bem, — seus olhos brilham do jeito que
só fazem quando ele está brincando, — nós dois sabemos como é.

— Então, — eu digo, virando-me para encará-lo na cama, depois de


escovarmos os dentes e fazermos nosso regime de cuidados com a pele. — Estou
pensando em peônias e patchouli.
— Huh?
— O tema do casamento, bobo. Estou pensando no Museu de História
Natural, obviamente. Teremos que fazer com que eles movam uma ou duas coisas,
mas com a motivação certa, isso não deverá ser um problema. Precisaremos de
muito espaço para os convidados e para as peônias, claro. Estou pensando em
peônias em todas as superfícies, e não me refiro apenas às mesas e paredes. Isso
será feito até a morte. Quero-as penduradas no teto também. Quero aquele lugar
inteiro cheio de flores. Quero distribuir anti-histamínicos aos nossos hóspedes na
chegada. Quero usar todas as peônias disponíveis na costa leste. Quero criar uma
crise na cadeia de abastecimento de peônias para todos os outros casamentos em
Nova York durante todo o mês de junho. E quanto aos convidados, acho que
devemos manter isso íntimo. — Vejo seu rosto começar a relaxar de alívio. Tento
não sorrir enquanto vou para a morte. — Não creio que conseguiremos escapar
com menos de oitocentas pessoas. Até isso será um empurrão, mas acho que é algo
para se trabalhar, sabe?
Seus olhos estão arregalados de terror. — Uh, mas, mas eu estava pensando
em algo pequeno. Hum, só nós. Só nós, sua mãe, Lace e as meninas.
— Oooh, algo pequeno. — Eu faço uma cara “eca”. — Está bem, está bem.
Podemos fazer o que você quiser. É o seu dia também. Deixe-me pensar. Deixe-me
reorganizar meus pensamentos por um segundo. Hum. Ok, entendi. Que tal
Núpcias em Ilhas Tropicais? Sim, sim, acho que poderia funcionar. Estou pensando
nas Maldivas. Estou pensando em tudo branco. Branco da cabeça aos pés. Branco
para você. Branco para mim. Estou pensando em pés descalços. Estou pensando em
combinar calças de linho branco e camisas brancas soltas e esvoaçantes
desabotoadas até a metade do peito. Estou pensando em sinos de vento e bênçãos
budistas. Oh, Deus, sim! Eu posso ver isso agora. Posso ver você e eu com coroas de
flores combinando. Coroas de peônia, é claro.
Ele parece muito, muito assustado. Não achei que hoje pudesse melhorar
depois da proposta, mas cara, eu estava errado.
— N-não para a coroa de flores, — ele diz, inquieto.
— Não? Mas você ficaria tão bem com uma coroa de flores, Joey. Podemos
pedir-lhes que cortem isso para você, querido, se é isso que está preocupando você.
Podemos fazer com que adicionem chifres de veado ou algo assim. Você verá, estará
gostoso.
Ele pisca com força e respira fundo. — Vou usar uma coroa de flores sobre
meu cadáver.
Começo a gargalhar e me inclino para beijá-lo: — Fácil de arranjar, meu
amigo. Fácil de arranjar.
— Há algo realmente errado com você, — ele ri.
— Acho que estabelecemos isso há algum tempo.
Ele sorri e beija minha têmpora. — Você está enganado, tem razão, Demon.
— Ok, de verdade desta vez.
Ele morde o canto do lábio inferior. Ele ainda está um pouco nervoso e eu
adoro isso nele.
— Você sabe a casa do lago?
— A casa do lago, casa do lago?
— Sim, aquela para onde você me levou quando não estávamos mais na fase
de sequestrador/sequestrado, mas também não havíamos cometido o assassinato de
um homem poderoso, sabe?
— Eu adorei aquela fase, — ele sorri com ternura.
— Bem, eu meio que comprei a casa do lago.
— Eu sei.
— Como você sabe?
— Porque enquanto você estava me perseguindo, eu estava perseguindo
você, imbecil.
— Ah, droga, Joey, isso é tão romântico, amor.
— Eu sei. — Ele parece muito satisfeito consigo mesmo.
— De qualquer forma, fiz algumas pequenas reformas no local.
Ele sorri de uma forma que me permite saber que ele também sabe disso. Ele
me rola de costas e se inclina sobre mim. Ele tira alguns fios de cabelo do meu rosto.
— Eu gosto do cais, Demon. Está perfeito. É exatamente como eu imaginei.
Eu me inclino e roubo um beijo rápido. — Estou pensando no pôr do sol, —
digo. — Estou pensando em você e eu no cais. Estou pensando em minha mãe e nas
meninas, Lacey e talvez Rex e Luke, se você quiser. — Rex e Luke são dois amigos
militares de Saint. Eles ligam para ele de vez em quando e, às vezes, quando o fazem,
eu atendo e conversamos um pouco. Quando pedem para falar com ele, dizem: —
Posso falar com Joey?
— Parece bom.
Eu me diverti tanto hoje que decido guardar para outro dia a notícia de que
Lacey me informou categoricamente que atuará como oficiante no caso de Saint e
eu nos casarmos. Ela está muito animada com isso, tem carteira de motorista e já
tem um look em mente. Ela me garantiu que será épico. Ela diz que será diferente
de tudo que alguém já viu em um casamento.
— Você pode usar o que quiser, — digo a ele. — Você pode até usar aquelas
calças cargo horríveis, se quiser. Não me importarei, desde que me case com você.
— Admita, — ele murmura, aproximando-se, — você ama minha bunda
nessas calças.
— Eu imploro o quinto. — A última coisa que preciso é ser condenado por
um crime contra a moda. Deus sabe que isso seria muito fora de marca.
— Eu adoro o som disso. — Ele deve estar feliz e muito aliviado porque
acrescenta: — Você pode acrescentar algumas peônias, Demon. Nada OTT22, mas
só um pouquinho aqui e ali, ok?
— Oh Deus. Você ficou piegas, não foi? — Seus olhos suavizam e ele sorri.
Ele sorri com todo o rosto e os olhos. Ele sorri de uma forma que me dá flashes de
seu passado e de seu presente e de todos os anos que ainda estão por vir. Arqueio a
cabeça para trás e ofereço-lhe minha garganta. — Você vai começar a babar no
meu pescoço, não é?
Ele balança a cabeça, mas antes de começar a babar, ele sussurra a mesma
coisa que diz para mim todas as noites.
— Você foi terrível hoje.
— Eu fui?
— Mm. Você tem sido rude, exigente e arrogante como o inferno.
— Você tem sido não cooperativo, mal-humorado e muito irracional, —
respondo.
— Hum, — ele sorri. Ele me puxa para perto, envolvendo-se em mim,
inundando meu corpo com calor enquanto dá beijos suaves na lateral do meu rosto.
— Nunca mude, meu pequeno Demon.

22 Televisionado.
Eu sorrio no escuro. Peso minhas opções e tomo uma decisão que a história
me ensinou que afetará meus planos para o futuro imediato. — Não me chame de
pequeno. Você sabe que não gosto quando você faz isso, Idiota.
Uma risada profunda e ecoante brota dele. Mãos pesadas começam a me
apalpar. — E você sabe o que acontece quando você está nu na cama e começa a
falar sobre idiotas.

Dou um passo para trás e observo meu reflexo. Estou fabuloso, obviamente.
Estou atrasado para o trabalho porque não tenho escolha quando se trata de roupas
para minha estreia como noivo de Saint. Literalmente, todas as coisas do meu
guarda-roupa combinam com o meu anel. É inacreditável. Eu experimentei sete
looks diferentes – todos incríveis – e optei por jeans revestidos pretos e um colete
de couro preto. Tecnicamente, o colete faz parte do meu look de Halloween, mas
está se mostrando uma peça muito mais versátil do que eu imaginava. Vou como
falcoeiro este ano e mandei fazer um arreio com asas de corvo de 2,5 metros para
Saint. Tenho uma coleira e rédea para ele e tudo mais. Vai ser super fofo. Mal posso
esperar.
Na verdade, isso me lembra, preciso pegar as calças idiotas que fiz para
completar a roupa dele. Eles me ligaram na semana passada para dizer que estavam
prontas. Tenho uma lacuna no meu dia, então posso passar por lá esta tarde.
Depois disso, a única coisa que me resta fazer é socializar a ideia da fantasia
com Saint.
— Joey, — eu chamo quando chego à porta da frente. — Venha ver como
estou.
Ele vem vindo da cozinha. Ele está vestindo uma calça de pijama de flanela
de cintura baixa e nada mais. Verdade seja dita, ele também parece fabuloso pra
caralho.
— Mmph! — ele exclama com um pequeno abanar de queixo. — Está
entregando a vibe Case Comigo, Vadia.
Eu me permito um pouco de orgulho. — Estarei em casa por volta das cinco
e meia. Não se esqueça da coisa na casa dos Ekersteins. Precisamos sair daqui no
máximo às sete.
— Sim, sim, sim. Estarei aqui.
Dou-lhe um beijo rápido nos lábios e saio pela porta. Ele segura meu pulso
com firmeza e sensatez e me puxa em sua direção.
— Diga, — ele diz. — Você sabe que não vou deixar você sair de jeito
nenhum até que você dizer isso. — Viro-me para encará-lo e ele envolve os braços
em volta da minha cintura.
Suspiro e reviro os olhos como se odiasse esse pequeno ritual. Olho para as
sombras escuras em seus olhos e digo: — Vários ossos quebrados e uma estadia
prolongada no hospital para quem me tocar.
Ele balança a cabeça. — Uh-uh, não é assim que funciona. Tem que ser
perfeito para eu deixar você ir. Você sabe disso. — Ele enfia um dedo sob meu cinto,
me segurando firmemente contra ele enquanto esfrega seu corpo duro contra mim.
Seu olhar encontra o meu. Ele fica quieto por um segundo. Eu sei por experiência
própria que ele está me lendo. Ele está lendo meu humor e minha mente e não há
nada que eu possa fazer para impedir isso. O menor indício de um sorriso brilha
em suas feições severas. — Faça certo, Demon, ou não vou espancar sua bunda até
ficar vermelha mais tarde esta noite.
Respiro rapidamente e mordo minha bochecha para parar de sorrir. — Tudo
bem, — eu digo com um grunhido alto e falso. — Vários ossos quebrados e uma
estadia prolongada no hospital para quem tocar no que é seu.
Ele me recompensa com um sorriso suave e bobo e me olha de cima a baixo
lentamente. — Isso mesmo, — ele rosna em meu ouvido. — Meu. Tudo isso é meu.
Tudo isso.
Eu concordo. Eu adoraria dizer que não sou afetado por suas palavras. Eu
adoraria dizer que meu coração não está batendo forte e minha respiração não é
superficial, mas isso não seria verdade. Ele pega minha mão entre as suas. Ele a
examina por um momento, baixando a cabeça enquanto dá um leve beijo em
minha palma, depois coloca minha mão em seu peito e a segura ali com força. Sinto
seu batimento cardíaco contra minha pele. Determinado. Forte. Firme como um
tambor.
— E isto é seu.
OBRIGADO POR LER SAINTED

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UM POUCO SOBRE MIM

Eu escrevo romances MM contemporâneo e paranormal. Quer meus


personagens nasçam mágicos ou quer magia seja algo que eles fazem entre os
lençóis, eu me esforço para levar o leitor para dentro da mente do narrador. Meu
objetivo final é fazer com que o leitor sinta que fez um novo amigo ou que passou
algumas horas flertando com um namorado novinho em folha.
Adoro café, chocolate e sonhar acordada, sem nenhuma ordem específica. Eu
amo personagens conflitantes, luxúria à primeira vista e angústia sexy – não, sério,
TODA a angústia. Me dê isto!
Sainted é meu sétimo livro. Meu oitavo, The Step Bro Situation, será lançado
na primavera de 2023.
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