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Sinopse

O amor é uma força poderosa, mas não se compara à culpa.


E, assim como a maioria das pessoas, minha culpa me come vivo.

Eu deixei de ser uma criança irresponsável que não conhece nada para um
homem irresponsável que conhece tudo.
Não peço desculpas.
Não tome meu descuido como força.
Meu sangue é tão mortal quanto a bala que matou meu irmão, e uma vez
que eu for cortado, não há como parar o rio de raiva.
Meu passado está morto. Eu não sou como meus irmãos MC. Nada vai vir
morder minha bunda.
Ou assim pensei.
Porque a vida me deu Mary, a pequena infernal que tenta ser imprudente.
Ela está apenas tentando escapar do pesadelo do que aconteceu com ela em
Atlantic City.
Ela é uma boa garota. Do tipo que usa pérolas e cardigãs sofisticados. Ela
não pertence a esta vida.
Mesmo que eu saiba que ela pertence a mim.
Ela pinta os lábios com batom vermelho, mas eu sei que é um esforço para
esconder a dor.
Há mais do que o fato de sermos muito diferentes para estarmos juntos.

Seu passado não está morto.


E o meu voltou à vida
Para todos os forasteiros, os nanicos, as almas solitárias, nossos leitores
Ruthless,
Sabemos o que é ser quem está olhando para dentro. Sabemos o que é se
sentir isolado, sem esperança e tão sozinho que você não sabe para onde ir
ou como sair da bolha em que se encontrou.
Sempre existe amor. Sempre há pessoas dispostas a recebê-lo de braços
abertos. Nós somos essas pessoas. Você nos tem.
Pop. Que. Bolha.
É bom ser libertado.
Prólogo

Quinze anos de idade

O silêncio é o orador mais claro de todos. Suas palavras soam altas e


verdadeiras.

Li isso em algum lugar há alguns anos, gravado em uma estante de uma


biblioteca. Eu ignorei na época porque não entendi o que a declaração
significava. O silêncio não fala. O silêncio não faz barulho.

Mas o silêncio falou muito quando comecei o ensino médio no ano


passado, e foi quando o entendimento clicou em minha mente.

É o que acontece no silêncio que mais significa.

Os adolescentes são brutais. Fisicamente, mentalmente e


emocionalmente. Eles são valentões, pura e simplesmente. E ainda pior são
aqueles que ficam por perto para me ver levar uma surra. Todo santo dia.
Ninguém diz uma palavra. Eles riem, eles apontam, eles observam.

É porque eu não sou ninguém.

Sou magro, sou baixo para a minha idade, tenho cabelo comprido que
está sujo porque não tenho dinheiro para cortá-lo. Eu só tenho permissão
para tomar banho uma vez por semana para economizar na conta da água,
porque todos os outros na casa têm que tomar banho também.

Eu sou um alvo natural.

Eu sou o garoto que todo mundo evita. Eu sou a criança em quem


ninguém confia. É fácil ser um estranho quando nunca me encaixei em
nenhum grupo, fiz amizade com nenhuma criança ou tive uma casa para
chamar de minha. Não tenho pais, e as crianças adoram me lembrar todos
os dias que não tenho mãe e pai.

Como se eu pudesse esquecer que estou sozinho há muito tempo.

Minha assistente social me encontrou morando nas ruas alguns anos


atrás, depois de fugir, e me mandou de volta para outro lar adotivo. É o
meu décimo desde que eu tinha oito anos. Costumava me incomodar, não
ter aquele senso de família, mas eu aprendi que nem mesmo família é tudo
o que parece ser. Minha casa adotiva tem dez filhos. Nossas roupas estão
sempre sujas. Passamos dias sem comer uma refeição adequada.
Recebemos algumas bofetadas, então isso distorceu minha ideia do que é
família. Os pais adotivos estão nisso apenas pelo contracheque.

Aprendi a não confiar em ninguém porque todos me decepcionam.

Bem, eu retiro o que disse. Existe uma pessoa. Meu irmão adotivo,
Mason. Ele é um ano mais velho que eu e leva a sério o papel de ‘irmão
mais velho.’ Ele é um protetor. Ele está sempre me defendendo quando as
crianças na escola me chamam de perdedor, uma aberração, um idiota, um
bastardo. Outras crianças não zombam de Mason. Eles não ousariam.
Mason já tem mais de um metro e oitenta de altura e é musculoso,
enquanto eu sou patético e fraco.

Não é como se as crianças da escola estivessem erradas sobre mim. Eu


sou todas essas coisas porque não sei ser outra coisa, mas é hora de
aprender. Mason não estará por perto para sempre para salvar minha
bunda, então cabe a mim fazer a mudança, ser meu próprio protetor.
Quando Mason fizer dezoito anos, ele vai embora porque o sistema não
mantém os adultos, e onde isso vai me deixar?

Sozinho.

Vulnerável.

E sem ninguém no meu canto.

É por isso que preciso encontrar uma maneira de me proteger. Algum


tipo de arma. Algo que é rápido, ágil e feroz. Eu quero que minha arma
diga, 'não brinque comigo.'

Talvez então os valentões vejam como estou falando sério.

Estou cansado de sempre olhar por cima do ombro. É exaustivo e quero


acabar com o medo.

Como agora mesmo.

— Ei, perdedor!

Eu mantenho minha cabeça baixa e penduro nos ombros a mochila azul


esfarrapada. Está rasgada, manchada e as tiras mal estão penduradas no
último pedaço de linha. Enfio as mãos nos bolsos do capuz e ando mais
rápido. Quanto mais cedo eu sair desta estrada secundária e entrar na
estrada principal, melhor.

— Ei, aberração, estou falando com você.

— Sim, estamos falando com você. É rude nos ignorar.

— Aposto que ele está com medo.

Os três zombam de mim, mas eu sei que não devo prestar atenção a
eles. Maldito seja se eu fizer, e maldito seja se não fizer.

Minha respiração sai mais rápida. O suor começa a escorrer pelo meu
pescoço. Eu sabia que deveria ter seguido o outro caminho, mas acrescenta
mais vinte minutos. A estrada secundária está abandonada e todos jogam o
que não querem aqui nas laterais da cerca que bloqueia a estrada da
propriedade de alguém. Ervas daninhas altas se erguem entre algumas
latas de lixo de prata, bicicletas enferrujadas e velhas máquinas de costura
espalhadas pelo chão. Esta estrada é o sonho de um sem-teto, mas coisas
horríveis acontecem aqui por causa das armas por aí.

Esta estrada sempre tem uma grande quantidade de lixo aleatório por
toda parte. É por isso que todos na cidade chamam de Modo Diverso,
porque tudo e qualquer coisa pode ser encontrado. Até corpos.

E eu não quero ser um deles.

Se eu apenas tivesse uma arma que pudesse ir longe, que pudesse me


proteger de alguns metros de distância, então eu teria uma chance de
escapar desses caras.
— Thomas, — Murray canta meu nome, em seguida, acerta uma das
latas de lixo com o bastão que sempre tem na mão.

O barulho alto me assusta. Eu tropeço em meus próprios pés, o que só


arranca uma grande e feia risada dos três valentões. Eu odeio essa vida.
Todo mundo diz que fica melhor, mas quando? Estou com o rosto para
baixo na terra, pedras estão cravando em minhas mãos e posso ouvir seus
passos se aproximando. Nada sobre isso é melhor.

Eu sou um homem morto.

Eu procuro por algo para me proteger, mas tudo que vejo são algumas
facas enferrujadas no chão ao lado de uma pia de cozinha quebrada.
Provavelmente não é ferrugem, provavelmente é sangue que está lá por
muito tempo. Mas elas são a única coisa ao nosso alcance.

Eu empurro meus cotovelos no chão e corro em direção às facas


escondidas na grama e alcanço a mais próxima. É uma faca de carne inútil.

Só pode estar a brincar comigo. Por que não poderia ser uma faca de
açougueiro? Algo grande e assustador?

Eu fico de pé e jogo a que está na minha mão, lançando ela com um


grunhido de pânico, mas a lâmina se solta do cabo preto, e a ameaça fica
aquém.

— Oh meu Deus, você é tão estúpido. Você honestamente achou que


isso funcionaria? — Louis diz. Ele é mais baixo do que os outros, apenas
em torno da minha altura. Tenho certeza de que se ele estivesse sozinho,
ele se transformaria em um cachorro assustado como eu.
Caindo no chão, eu pego as últimas quatro facas em minha mão, pronto
para usá-las se for necessário. Uma aranha rasteja em torno da lâmina e, em
seguida, sobe até minha mão. Suas pernas são leves na minha pele, uma
coceira. De certa forma, acho que é boa sorte. Ao contrário da maioria das
pessoas, não tenho medo de aranhas.

Insetos, répteis e animais só atacam quando se sentem ameaçados. Os


humanos atacam quem diabos eles querem, quando querem. Ou apenas
porque querem. É por isso que acho que de tudo que este mundo tem a
oferecer, os humanos são os mais perigosos.

A aranha cai do meu braço e desaparece na grama, me deixando


sozinho contra meus inimigos.

— O que você vai fazer com isso, Thomas? — Murray pergunta em tom
de zombaria, cravando o taco de beisebol no chão enquanto dá um passo.
—Você vai me esfaquear?

Minhas mãos tremem enquanto corto a faca no ar. —Eu... eu poderia se


você chegar mais perto, — eu gaguejo, em seguida, lambo o suor do meu
lábio superior. A mochila desliza pelo meu ombro até a dobra do meu
cotovelo, e eu abaixo minha mão para deixar ela cair no chão.

— Você acha que pode matar alguém? — Murray joga a cabeça para trás
e ri, colocando a mão no meio do peito. Ele para de rir abruptamente e bate
o bastão de alumínio contra o pé esquerdo. —Eu poderia matar você, — ele
zomba de mim, então cospe. —Você é inútil. Você ocupa muito espaço.
Você respira a porra do meu ar. Você não merece respirar meu ar! — Ele
balança o bastão, e eu ouço o assobio dele, uma vez que ele quase acerta
meu rosto.

Tropeçando para trás, tropeço em minha mochila, e quando Murray vai


me acertar no rosto, eu rolo para longe e apunhalo sua perna, em seguida,
puxo para fora para que eu ainda possa ter minha arma.

— Filho da puta! — Ele grita, adicionando a maior parte de seu peso à


outra perna. Ele aponta o bastão para mim, com o rosto vermelho de raiva.
—Você é um homem morto, está me ouvindo? Morto.

Louis tenta me atacar em seguida pegando o bastão de Murray, mas eu


me movo para o lado e trago a faca em suas costas, cortando diretamente
em sua omoplata. Louis arremessa para frente com um grunhido de dor, e
seu aperto se afrouxa, fazendo o taco cair no chão. O sangue se espalha por
sua camisa e escorre até ficar ensopado em sua calça jeans.

Estou esperando pela culpa, pela voz na minha cabeça me dizer para
correr, mas apenas a adrenalina está falando comigo, e está me dizendo
para não parar até que todos esses idiotas estejam sangrando. Para
completar, chuto Louis no estômago e ele grita de agonia.

— Como é essa porra de sensação? Huh? Como é? — Eu grito, então


pego o bastão e bato contra o ferimento de faca em suas costas.

— Pare! Pare, não mais. Por favor, — ele soluça.

— Pare? — Eu pergunto, latindo uma risada arrepiante. Meus olhos


caem em Murray, que atualmente está se afastando de mim. —Você quer
que eu pare? Isso é rico vindo de vocês! Você não parou de me bater no
mês passado quando eu pedi. Eu urinei sangue por uma semana! — Eu
grito, as lágrimas borrando meus olhos enquanto faço meu caminho
lentamente em direção a Murray e Pete. Pete é o quieto, aquele que segue,
mas nunca diz ou faz nada porque, no fundo, ele sabe que é tão fraco
quanto eu. —Eu vou...

Uma mão me puxa de volta e arranca o taco da minha mão junto com as
facas.

Eu me viro para dar um soco no rosto de quem quer que seja. Terminei.
Estou farto do bullying constante, da dor, do choro. Eu estou cansado
disso. Eu levanto meu braço e aperto o punho, me preparando para lutar
novamente, quando uma mão agarra meus nós dos dedos.

— Sou eu, Thomas. É Mason. Você está bem. Você não está sozinho.

— Eles estavam me atacando. Eu não sabia mais o que fazer. Eu... eu...

— Você fez a coisa certa. — Ele agarra meus ombros e me puxa para
trás de seu corpo enorme e me entrega de volta as facas.

Por que não posso ser mais como ele? Por que eu tenho que ficar preso
neste corpo?

— Problema, Murray? — Mason pergunta a ele, balançando o taco da


esquerda para a direita.

Louis geme à minha esquerda e de alguma forma consegue se levantar.


Ele tropeça de volta para seus amigos e cai contra Pete. Eu fico olhando
para as facas em minhas mãos, salpicadas de sangue, e ainda não sinto
culpa.
Eu sinto que o trabalho não acabou.

— Sim, a porra do seu namorado aqui é um psicopata! — Murray puxa


a perna da calça e mostra a Mason o ferimento em sua perna. —Olha o que
ele fez comigo.

Eu odeio quando eles nos chamam de namorados. Tudo porque não


somos parentes de sangue, e Mason está sempre vindo em meu socorro.

— E o que você ia fazer com ele? — Mason bate o bastão contra a lata de
lixo ao lado dele, amassando-o.

— Nada que ele não merecesse, — sussurra Murray.

E é quando Mason me surpreende. Sua mão desaparece atrás das costas


e levanta a camisa vermelha, agarrando o cabo de uma arma. Eu suspiro e
dou alguns passos para trás. Isso não é típico de Mason. Onde diabos ele
conseguiu isso?

— Você tem dois segundos para dar o fora longe do meu irmão antes
que eu coloque uma bala em sua cabeça. Você foi avisado centenas de
vezes por mim. Eu cansei de dar chances. — Mason engatilha a arma de
prata, o cilindro gira para alojar a bala no lugar, e os três garotos que estão
mexendo comigo congelam instantaneamente.

— Uau, Mason. Espere um segundo, — diz Murray, tentando acalmar


Mason.

Eu puxo a manga de Mason, mas ele não olha na minha direção. Ele está
amarrado e determinado a encará-los do outro lado do cano. —Mason, o
que você está fazendo? Vamos para casa
— Não vamos importuná-lo mais, eu juro. Vamos embora, — Murray
abre os braços e dá um passo para trás. —Nós iremos. Sem mais
problemas.

— Acho que preciso ir ao médico, — Louis geme.

— Cale a boca, Louis, — Murray se encaixa, olhando para a arma


enquanto o sol brilha contra o suor que escorre por sua têmpora.

— Mason, vamos para casa. Por favor, — eu imploro a ele. Eu não quero
mais problemas. Mason veio em meu socorro uma última vez. Ele está se
arriscando por mim, e não quero ser responsável por arruinar sua vida
também.

— Vou chamar a polícia se você não abaixar a arma, — Louis nos avisa,
procurando por seu bolso.

A mandíbula de Mason aperta e seu peito sobe e desce em uma


explosão de raiva. Ele está realmente se segurando. Seu corpo está
tremendo e seu rosto está vermelho.

— Mason, abaixe a arma, — imploro a ele. —Eles não valem a pena.

— Sim, eles não valem, — diz ele, tirando os olhos do trio por um
momento. Ele me encara. Mason parece muito mais velho do que dezessete
anos agora. —Você não merece o tratamento que eles dão a você. Depende
de mim. Eu sou seu irmão. Eu. Eu protejo você.

Tudo bem, então ele é um ano e três meses mais velho que eu. Mesma
diferença.
— E eu também te protejo, — digo, envolvendo minha mão em torno do
cano da arma para fazer Mason largá-la.

— Eles não vão parar até que você esteja morto, Thomas. — Mason dá
um pulo ao ouvir sirenes ao fundo e, a cada segundo que passa, eles se
aproximam.

Mason levanta a arma novamente, apertando os lábios com


determinação enquanto mira em Pete. O tempo desacelera enquanto eu
viro minha cabeça e agarro seu braço para detê-lo. —Me larga, Thomas! Me
deixe fazer isso, — Mason grunhe, lutando contra mim.

— Não. Não podemos... — Meus ouvidos zumbem, e o calor da bala


saindo de sua casa está quente na minha palma, me queimando. Eu assobio
e puxo minha mão.

— Murray! — Pete grita, e é quando meu estômago se revira enquanto


eu espio por cima do ombro, vendo Murray com um ferimento a bala no
meio do peito.

— Oh meu Deus, — eu murmuro.

Mason não hesita. Ele levanta a arma novamente e mira em Pete,


deixando outra bala voar. Minha boca se abre e estou quase vomitando. O
pescoço de Pete estala para trás quando a bala se aloja entre seus olhos.
Mason balança o braço e cai sobre um Louis ferido, mas ele está no chão,
ofegando por ar e sangue borbulhando de sua boca.

Devo ter cortado seu pulmão de alguma forma quando o esfaqueei.

As sirenes estão ansiosamente próximas agora.


— Mason, precisamos ir. Precisamos sair daqui. — Oh meu Deus, o que
ele fez? Como podemos sair dessa?

— Temos que amarrar todas as pontas soltas, Thomas. — Mason se


agacha ao lado de Louis. Um garoto de quinze anos que estava sentado no
fundo da aula de Biologia hoje vai morrer.

Eu não queria isso. Eu queria? Eu só queria ir para casa, fugir, queria


que eles me deixassem em paz, mas não conseguiram. Eles tiveram que
continuar empurrando. Eu me defendi e talvez me empolguei. Eu estava
me protegendo.

Nunca pensei que Mason fosse me encontrar e cometer um assassinato.

Mason desliza a arma entre os lábios de Louis e a empurra garganta


abaixo até Louis engasgar. Quando ele tosse, ele cospe sangue. Lágrimas
escorrem pelo seu rosto e ele desliza os olhos para mim, silenciosamente
me implorando para ajudá-lo.

— Você nunca mais vai machucar ninguém, — diz Mason a Louis.

Louis agarra o bíceps de Mason com a mão ensanguentada, apertando-


o, mas não tem energia para empurrá-lo.

Eu não posso deixar Mason matar outra pessoa por mim. Eu não valho
a pena. Eu corro para ele, e bem quando estou prestes a me lançar sobre
meu irmão adotivo, meus pés cavando na areia para me empurrar do chão,
ele puxa o gatilho.

Eu perdi o fôlego quando o sangue salpicou meu rosto, quente e úmido.


Eu fecho meus olhos, não querendo ver a cena crua na minha frente. Eu
não consigo descobrir como respirar. Estou em pânico. As sirenes estão se
aproximando, o mundo está desabando, e a única pessoa com quem eu
poderia contar acabou de arruinar sua vida por mim.

Como vou viver sem Mason? Ele é a única razão de eu estar vivo.

— Thomas, abra seus olhos e olhe para mim. Olhe para mim! — Ele
balança meus ombros até que meus olhos se abram. —Respira.

Consigo erguer minhas pálpebras molhadas e olhar nos olhos da única


pessoa que já se importou comigo. Eu estou tremendo.

— Os policiais virão e me prenderão.

Eu balancei minha cabeça para um lado e outro, desalojando as poças


de água que enchiam minha visão. As gotas escorrem pelo meu rosto e,
quando olho para longe de Mason, vejo três cadáveres. O sangue está em
toda parte.

Muito sangue.

— Thomas, eu preciso que você corra.

Estou tão confuso sobre como chegamos aqui. Meu estômago está
revirando. Acho que estou em choque, ou talvez esteja sonhando. —
Precisamos sair daqui Mason. Vamos.

— Não há tempo. Você precisa se esconder. Eles estarão aqui a qualquer


minuto. Eu quero que você vá naquele bar de motoqueiros que nós
passamos o tempo todo, certo? Diga a eles que eu te enviei. Diga a eles que
você não tem para onde ir.
— O que? — Isso não faz sentido. Por que diabos ele conhecia algum
motociclista? —Motociclista? Mason, você não está fazendo sentido.
Vamos, podemos cortar por aqui... — Eu aponto por cima da cerca onde
estão as montanhas —...podemos continuar correndo até estarmos longe
daqui, e podemos começar nossas vidas.

— Não. Alguém tem que assumir a responsabilidade pelo que


aconteceu aqui, e serei eu. Eu atirei neles. Eu cumpro o tempo. Você
sempre assume a responsabilidade. Por tudo que você faz, está me
ouvindo, Thomas?

— Mason, por favor. Você é tudo que eu tenho. Foi tudo culpa minha.
Me deixe levar a culpa. Isto é minha culpa. Se eu tivesse seguido o outro
caminho, você não teria procurado por mim e agarrado aquela arma de...
onde você a conseguiu?

— Isso não importa.

As sirenes estão a apenas um quarteirão de distância. Eu me viro para


olhar para a estrada para ter certeza de que ainda estamos sozinhos. —Por
favor, não temos muito tempo. Mason, vamos embora. Vamos agora. — Eu
puxo sua mão e tento puxá-lo para a cerca, mas ele permanece no mesmo
lugar, imóvel, o sangue se espalhando pelo chão e tocando seus tênis. —
Vamos. Por que você não vem! — Eu grito. —Droga, Mason. Você é a única
pessoa no mundo que me protege. Eu preciso de você. Se você fizer isso, eu
nunca vou te ver novamente. Por favor.
— Eu sempre estarei com você. Sempre. — Sua cabeça sacode quando o
som de pneus cantando vem rasgando pela estrada. Ele me empurra em
direção ao prédio abandonado. —Vai. Vá, Thomas. Agora!

Eu tropeço quando vejo os rolos de nuvens empoeiradas dos carros da


polícia acelerando na estrada cada vez mais perto. As sirenes são
ensurdecedoras. As dicas de luzes vermelhas e azuis já estão preenchendo
a distância. Eu não quero deixá-lo. Abro a porta de madeira do galpão
decadente. É escuro, almiscarado e teias de aranha estão em cima de mim.
A única luz que entra é da janela que está nublada com poeira e sujeira. O
quadrado inferior direito está quebrado, mas posso ver Mason deste ponto.

O ar úmido gruda na minha pele, e quando agarro a borda da janela,


gotas de suor misturadas com sangue escorrem pelos meus lábios. Quase
os lambo.

Quase.

Até que eu lembre que não é meu sangue que estou prestes a lamber.
Limpo minha boca na manga da camisa e espero que Mason saia bem dessa
situação.

— Coloque as mãos atrás da cabeça!

Eu inalo uma respiração afiada, olhando para um policial que tem sua
arma em punho, apontando-a diretamente para Mason.

— Ele está armado! — O policial anuncia, e três outros policiais ficam


um ao lado do outro, apontando suas armas para Mason.

Quatro policiais.
Quatro armas.

Um Mason.

Sem esperança.

— Por favor, — eu imploro, alguém, qualquer um, para não tirar Mason
de mim.

— Abaixe a arma, — o policial late para Mason.

— Tudo bem, — diz Mason, me dando um rápido olhar de despedida.


Ele não tem medo, pelo menos nenhum que esteja aparecendo, o que só me
faz admirá-lo mais. Mas eu sei que o olhar que ele me dá não é cheio de
esperança.

É aquele que diz adeus.

Ele se abaixa para colocar a arma no chão, mas o cano está apontado
para os policiais e o primeiro tiro soa.

Então o próximo.

E o próximo.

Eu coloco a mão sobre a boca para abafar meus soluços quando vejo o
corpo de Mason estremecer até que ele fique sem ossos em cima de
Murray, Louis e Peter.

Eu me viro de costas e deslizo contra a parede, incapaz de olhar pela


janela por mais um segundo e choro silenciosamente. Meu melhor amigo
está morto. Por alguma razão fodida, ele decidiu que eu valia a pena.
Vale o quê? Eu não faço ideia.

— Porra, Ripley. Ele estava baixando a arma, — disse um policial.

— Como se importasse. — Um bufa. —Olhe para as crianças que ele


matou.

— Não conhecíamos a história. Ele mesmo era apenas uma criança.


Você nunca puxa essa merda de novo, você entende?

— Sim, Nolan. Eu entendi.

— Comunique. Queremos a cena do crime analisada e esses corpos


ensacados.

Eu coloco minhas mãos em meus ouvidos e começo a balançar para


frente e para trás. Não sei quanto tempo fico ali sentado, mas os zíperes dos
sacos de cadáveres fazem tanto barulho que me quebram. As sirenes vêm e
vão.

E logo, a única coisa que resta é o silêncio.

O vento sopra através do pedaço de vidro quebrado, soprando contra o


suor em meu pescoço. Tudo o que posso ver cada vez que pisco são as
balas perfurando o corpo de Mason. Eu fico com as pernas instáveis e abro
a porta de madeira que dá para fora. Está mais frio lá fora. O céu noturno
me lembra da noite em que perdi minha família inteira.

Minha verdadeira família.

Minha irmã. Minha mãe. Meu pai.


É apropriado que eu perca Mason em uma noite que parece tão
semelhante. Frio, lindo, cheio de estrelas e os grilos... sim, os grilos estavam
tão barulhentos quanto na noite do acidente. A vida continua mesmo
quando você não quer.

Respirando fundo, faço meu caminho para a esquerda e a porta atrás de


mim se fecha. Meus nervos estão à flor da pele e pulo com o estrondo que
ele traz sobre as pastagens vazias dos dois lados da estrada. Meu coração
bate forte no meu peito enquanto olho para onde Mason foi baleado horas
atrás.

Quatro pessoas morreram hoje, bem aqui, bem no meio da estrada, mas
é como se nem tivesse acontecido. A estrada está limpa, desaparecendo na
borda do céu. O silêncio, o mundo ao meu redor, os grilos... tudo está como
antes, mas mudei para sempre.

Existem apenas as poças de sangue secando na areia da estrada. É a


única prova para me dizer que não foi um sonho.

É uma evidência para me assegurar de que estou sozinho.

Eu limpo minha bochecha na manga da minha camisa novamente,


arrastando o material através do sangue seco e lágrimas molhadas. Coloco
minhas mãos nos quadris e começo a andar, porque o que mais devo fazer?
Vejo minha mochila com o canto do olho, atrás de uma lata de lixo, e me
pergunto se quero levá-la.

Se depender de mim, nunca vou voltar para a escola. Eu nunca vou


chegar perto de ninguém novamente.
Lembro do bar de motoqueiros que Mason me trouxe e me disse para ir.
É um lugar que costumávamos passar todos os dias indo e voltando da
escola para ir para casa. O lugar me assustou, mas ele adorou. Ele amava o
visual duro e áspero, as motos, as mulheres, o couro. Mason sempre foi
durão assim, e se ele queria que eu fosse lá, então eu vou.

Pego minha mochila, jogo na lata de lixo e cubro com uma tampa. Dou
uma última olhada para onde vi o corpo de Mason cair.

O que vou fazer sem ele? Nas duas últimas casas, ele me protegeu de
pais pervertidos, mães patéticas e crianças perturbadas. Quando pôde, ele
me protegeu na escola.

E ele morreu fazendo a única coisa que sempre fazia.

O que posso fazer para retribuir o favor?

Vá para o bar.

Onde os motoqueiros durões vão me matar, provavelmente.

Enfio as mãos nos bolsos, meus dedos roçam uma bola de fiapos e curvo
os ombros quando um uivo raro explode no ar. Um coiote. Eles
provavelmente sentem o cheiro de sangue na estrada, na esperança de
festejar.

Quando a rodovia aparece, ela está vazia, quase tão abandonada quanto
eu. Viro à esquerda, as solas dos meus sapatos raspando no asfalto. Não
tenho medo de admitir que estou chorando. Eu sei que não deveria. Meu
pai adotivo diz: ‘Homens não choram. Os homens não podem chorar.’
Mas eu perdi a única pessoa que importava para mim em muito tempo.

Eu não sei quanto tempo ando. Eu mantenho minha cabeça baixa, os


olhos grudados na estrada, observando os solavancos de pedras no
pavimento desaparecerem com meus passos.

Um barulho de motos vem lá de cima, e isso me faz levantar a cabeça,


vendo um farol flutuar na noite ao virar para a esquerda, na direção oposta
de onde estou vindo.

Eu paro na beira da cerca, onde a estrada se transforma em cascalho, e o


bar velho e surrado parece que está prestes a desmoronar. É feito de
pranchas de madeira e não há uma placa para me dizer se o bar tem um
nome. Música alta jorra de dentro, e todos os cromo das motos alinhadas
na frente brilham contra o letreiro de neon vermelho pendurado na janela.

Meus pés se arrastam contra o cascalho, as pedras rangendo sob meus


converse. Achei que ficaria com medo, mas depois de tudo que passei, o
que vi, qual é a pior coisa que esses caras podem fazer comigo? Me matar?

Eu os desafio.

Eu paro na porta, que está totalmente aberta, e decido entrar. O ar está


mais quente aqui com todos os corpos se movendo. A fumaça paira
pesadamente no ar, e o chão está pegajoso contra meus sapatos. Minha
adrenalina está explodindo. Meu corpo está começando a tremer e meus
olhos estão marejados de novo. Espero estar em um lugar seguro porque
acho que estou prestes a perder isso.
Ninguém me notou ainda na sala escura. Eu não os culpo. Os homens
estão observando as mulheres se despindo nos mastros, alguns homens
estão fazendo sexo, transando bem aqui na frente de todo mundo. Eu olho
por cima do ombro, envolvendo meus braços em volta de mim quando
bato em algo sólido.

— Quem diabos é você, Magrelo? — Uma voz rouca e sombria me


pergunta.

Quando me viro para ele, seus olhos se arregalam de surpresa. Deve ser
o sangue em cima de mim.

— Magrelo, o que diabos aconteceu com você?

Estou muito distraído. As luzes, a música, as conversas, tudo é tão alto.

— Ei. — O homem coloca sua grande mão no meu ombro, me


sacudindo. —Magrelo, você está bem? Ei, — ele estala os dedos na frente
do meu rosto, e eu sei que ele pode ver o quanto estou assustado. Eu não
escondo minhas emoções bem. —Venha aqui. Me siga. — Ele acende um
cigarro e passa o braço em volta dos meus ombros, me forçando a andar
enquanto ele caminha.

Existem alguns outros homens ao seu lado, caras enormes. Eles me


lembram de Mason, de certa forma. Como versões duras dele.

Mas ele nunca será capaz de se tornar eles agora.

A música diminui enquanto caminhamos para trás. As luzes estão mais


fortes e a música é um baque surdo contra as paredes. O cara abre uma
porta, revelando uma mesa enorme com uma caveira gravada nela. Ele
puxa uma cadeira e tira o braço do meu ombro. —Sente-se, — ele diz.

Como se eu alguma vez tivesse desrespeitado um homem oito vezes


meu tamanho.

Sento rapidamente enquanto ele se senta na cadeira na frente da mesa,


enquanto os outros dois homens estão ao lado dele. Eles estão usando os
mesmos coletes de couro, mas o dele diz Prez, enquanto os outros dois
dizem VP e SGT de Armas, respectivamente.

O que quer que isso signifique.

— Quer uma bebida? — Ele pergunta.

Eu aceno ansiosamente. Eu adoraria um pouco de água.

O vice-presidente abre uma mini geladeira no canto e tira uma garrafa


marrom, abre com o antebraço e a coloca na minha frente.

— Eu... eu... não tenho idade para beber, — digo, com a voz trêmula.

Os três riem. —Garoto, nós sabemos disso. Parece que você precisa
disso, no entanto. Vá em frente, será nosso segredo, — diz o vice-
presidente.

Eu envolvo a garrafa na minha mão e a levo aos lábios. Eu nunca bebi


cerveja antes. Está frio e tem gosto de merda, mas é bom. Metade da
garrafa acabou quando eu a coloco na mesa.

O homem que se autodenomina Prez se inclina para a frente, cruzando


os braços sobre a mesa. —Agora que parece que você não vai desmaiar...
—...ele pode vomitar, — brinca o VP.

Não é engraçado. Eu poderia.

— Magrelo, você sabe onde está?

— Bar de motocicleta, — eu murmuro, enxugando meus lábios de


espuma de cerveja. —Eu... — Eu começo a balançar novamente,
pressionando as palmas das minhas mãos contra os meus olhos. —Ele me
disse para vir aqui. Eu não sei mais para onde ir.

— Este é o território de Ruthless Kings em que você está. O que


aconteceu com você? Eu preciso que você me conte tudo. Você está
trazendo merda ruim para o meu clube?

Eu balanço minha cabeça e tiro as facas dos meus bolsos, batendo-as na


mesa. —Mason. Mason me salvou. Essas crianças me seguiram, mas ele era
meu irmão adotivo, e ele me salvou...

— Você é irmão de Mason? Você deve ser Thomas.

Eu travo os olhos com o Prez, uma centena de emoções de repente


girando em mim. Como esses caras sabem sobre mim e Mason?

— Sim.

Os olhos do Prez suavizam. —Ele disse muito sobre você. Diz que você
é inteligente. Isso é verdade?

Eu encolho meus ombros para o Prez. —Eu sei como sobreviver. Por
muito pouco. Mason... — Meus olhos começam a lacrimejar novamente. —
Ele está morto. Ele morreu. Ele matou os caras que me seguiam e os
policiais o mataram. Antes de acontecer, ele me fez esconder e me disse
para vir aqui. Eu não sei mais para onde ir. Para onde eu vou? Eu sinto
muito. Eu não quero causar problemas, mas não tenho mais ninguém.
Mason era tudo que eu tinha. Tentei me proteger com essas facas, mas
Mason tinha uma arma.

— Porra. Eu estava me perguntando para onde foi. — O homem que se


autodenomina Prez desliza os dedos pela barba e puxa os fios prateados do
queixo. —Eu preciso que você me diga tudo, do início ao fim, e não deixe
merda de fora, tudo bem? — Prez diz.

— Mason morreu, tem certeza, Magrelo? — O VP pergunta. —Ele tinha


uma promessa real de se tornar um prospecto. Caramba. Caramba! — Ele
grita, chutando a mini geladeira com tanta força que a porta se quebra.

— Vamos todos nos acalmar, — afirma Prez, e os dois homens ao seu


redor se sentam, o VP respirando pesadamente como um touro furioso. —
Comece do começo, e quanto mais você puder me falar sobre aqueles
policiais, melhor, tudo bem?

— Sim, — eu aceno, bebendo minha cerveja. —Sim, tudo bem.

O homem do outro lado da mesa alcança o meio e pega as únicas armas


que tenho. Eu tento pegar dele, mas ele é mais rápido, levantando no ar
para que eu não possa pegá-las. —Eu acho que posso te ensinar como fazer
uma arma muito legal com essas facas.

Seu patch diz SGT de Armas, e os braços do cara são do tamanho da


minha cabeça. —Elas estão velhas, enferrujadas como o inferno, mas
podemos moldá-las e fazer uma estrela ninja durona. Vamos quebrar as
lâminas e, em seguida, soldá-las no meio. Depois que tudo isso for
resolvido, é claro. Será mais fácil para você aprender, já que você é tão
pequeno.

Eu odeio ser pequeno. Eu coro e olho para longe, girando meus dedos
juntos. Um pano é colocado na minha frente. —Limpe-se, Magrelo. Tire
esse sangue de você. E não há nada de errado em ser pequeno. É aqui que
importa, — o VP bate no meu peito, — e aqui. — Em seguida, pressiona o
dedo contra minha têmpora.

— Isso é realmente foda, mas eu preciso de informações. Vocês dois


continuam saindo do caminho. Magrelo, fale porra antes que esses idiotas
comecem a falar sobre outra coisa. Quero retribuição pelo que aconteceu
com Mason, — afirma Prez.

Tomo outro gole de cerveja para reunir algum tipo de coragem e


encontrar os olhos do Sargento de Armas. Ele me dá um aceno encorajador
e eu respiro fundo antes de retornar o olhar do Prez.

— Eu sou a criança que sofre bullying, e havia essas três crianças que
sempre gostaram de me incomodar. Eu não tenho família e nem Mason.
Morávamos em um lar adotivo de merda, mas ele assumiu a
responsabilidade de sempre me salvar. Ele era meu irmão. Meu melhor
amigo. Eu devo tudo a ele.

— Mason era bom assim, — Prez concorda, um tom genuinamente


simpático em sua voz. —Continue.
Eu faço. Do início ao fim, até que estou chorando como um bebê,
porque sinto que é tudo minha culpa. Mason estaria vivo se não fosse por
mim. Eu tenho que provar a ele agora, então ele não morreu por nada. Eu
preciso ser mais do que nunca.

— Vamos pedir ao nosso advogado que redija alguns papéis da adoção.


Vamos mandar você para uma nova escola. Quando você completar
dezoito anos, é você quem decide o que fazer. Prospectar ou dar o fora
dessa vida, mas acho que você vai gostar daqui. Eu tenho um filho da sua
idade chamado Jesse. Relaxa, Magrelo. Você está conosco agora, mas essa é
a única cerveja que você receberá de mim até se tornar um homem.
Entendido?

Eu aceno ansiosamente, me perguntando se estou sonhando, mas


quando esfrego a toalha úmida no rosto e vejo vermelho, sei que isso é
realidade.

Mason me mandou para um lugar onde eu estaria seguro. Mesmo na


morte, ele está me protegendo. Eu não vou decepcioná-lo. Este lugar, se
eles permitirem, será minha casa e eu serei tudo o que Mason queria ser.

É o mínimo que posso fazer depois de tudo que ele fez por mim.
Capítulo Um

Nos Dias de Hoje

— Noventa e oito. Noventa e nove. Cem. — Eu levanto meu queixo


sobre a barra de flexão uma última vez e fico de pé, então caio no chão e
fico em uma posição de flexão. Eu coloco uma mão atrás das minhas costas
e resmungo enquanto empurro para baixo. Faço três séries de dez, alterno
as mãos e, a seguir, faço mais três séries de dez do outro lado. Uma gota de
suor cai da minha testa, rola pelo meu nariz e respinga no chão.

Eu não malho porque quero. Eu malho porque preciso. Eu me recuso a


ser fraco. Eu me recuso a não estar no meu melhor. Eu me recuso a ser
aquela criança pequena e magricela que não sabia como se manter.

Caindo de costas, chamo por Yeti, nosso pitbull branco residente, e ouço
o barulho de suas patas contra o piso de madeira. Quando ele está na porta,
aponto para meus pés, e sua língua rosa está para fora de sua boca
enquanto seu corpo atarracado vem e se senta em meus pés.

— Bom menino, — eu o elogio, colocando minhas mãos sobre meu peito


para começar meus abdominais. Cada vez que bato os cotovelos nos
joelhos, Yeti me dá um grande beijo molhado na bochecha, o que me dá
muito mais motivação, porque quem não ama beijos de cachorro? Meu
abdômen começa a doer e apertar. Eu faço cinco séries de vinte
abdominais, levando apenas alguns segundos entre as séries para
recuperar o fôlego. Na quinta série, meu corpo está tremendo, e quando eu
caio no chão para parar, Yeti late para mim, babando por todas as minhas
pernas. —Yeti, eu não quero. Deus, estou cansado.

Ele late para mim novamente para terminar os últimos vinte. Ele
sempre sabe quando eu tenho que parar, e ele sempre me dá a porra dos
lábios quando eu quero parar antes.

— Está bem, está bem. Eu vou fazer isso. Apenas me dê um segundo


para respirar.

Ele rosna, mostrando os dentes, me ameaçando que é melhor eu tirar o


fôlego ou ele fará algo a respeito

— Você é um lançador de bolas, — murmuro, respirando fundo e me


sento, exalando o ar. Yeti me lambe antes que eu caia para trás, apenas para
subir novamente. Meu estômago se contrai quando começo a primeira
metade. Eu tenho mais dez. Meus músculos protestam e começo a
desacelerar. —Eu não posso, Yeti. — Cada abdominal, cada aperto em
meu abdômen, e cada vez que meus cotovelos batiam em meus joelhos, eu
deixo escapar um gemido doloroso.

Mais cinco.

Inspire. Expire. Inspire. Expire.


Três.

Dois.

Acho que vou vomitar.

Um.

— Caramba! — Eu desabo no chão, braços abertos enquanto eu suspiro


por ar e suo meu peso corporal. O peso de Yeti deixa meus pés e ele se
aninha ao meu lado, enfiando o nariz sob meu braço morto. —Você chuta
minha bunda, Yeti. Já ouviu falar de dar um tempo para um cara?

Ele levanta o nariz e bufa, espalhando ranho de cachorro em mim.

— Obrigado por isso. Eu agradeço. — Eu gemo enquanto me sento e


tiro minha camiseta, em seguida, limpo o suor do meu rosto com ela.

Eu ando em direção à cozinha e levanto meus braços para agarrar a


moldura da porta e me esticar, inclinando meu corpo para fora da entrada.
Está tudo tranquilo aqui desde que Boomer e seus membros partiram. Eles
só vieram para o Natal e, como foi um show de merda, como tudo o mais
por aqui, tenho certeza de que ele estava animado para voltar para casa.
Especialmente porque ele perdeu o Natal com sua Old Lady Scarlett. Ela
decidiu ficar com Homer, o velho que oficialmente faz parte do MC, de
acordo com Boomer.

Agora, somos apenas alguns idiotas e algumas crianças para preencher


o barulho.

Eu não vou mentir. Eu sou um dos poucos que gosta de confusão.


Caos, conflito e dor são as únicas amantes de que preciso para me
manter acordado à noite. E você sabe quem verifica todas essas caixas?

Mary St. James.

Ela está longe de ser uma maldita santa e não colhe nada além de pura
destruição em mim. Juro que a única razão de sua existência é para ficar
debaixo da minha pele e me irritar. Bem, missão cumprida. Ela é atrevida.
Ela é selvagem. Ela é fodidamente feroz.

E tudo isso se soma a um inferno de um pacote de dinamite que eu


quero acender se eu pudesse superar o quão louco ela me deixa. Juro por
Deus, se houvesse um penhasco toda vez que ela levantasse uma atitude
comigo, eu fodidamente pularia dele.

Ela é enlouquecedora, mas eu sei que por trás do batom vermelho que
deveria fazer uma declaração e a jaqueta de couro preta que abraça seus
seios quando ela fecha o zíper, Mary está com medo.

Com o que aconteceu com ela, ela tem todas as razões para estar. Ela é
uma das garotas que resgatamos em Atlantic City, o capítulo que Boomer
está assumindo. Os chamados Ruthless Kings, que não mereciam o nome,
compravam e vendiam mulheres. A Old Lady do doutor, Joanna, ela fez
parte disso também, junto com a do Boomer, Scarlett.

Inferno, eu pensaria que ter Joanna aqui ajudaria Mary, mas ela está
determinada e decidida a se perder no poço do inferno criado pelos
membros de Atlantic City. Ela fez o seu melhor para se juntar às vadias em
sua missão de chupar e foder cada membro do clube, mas não importa o
quanto ela tentasse, nenhum de nós a tocaria.

Podemos ser bastardos de alguma maneira, forma e jeito, mas não


usamos mulheres que estão apenas procurando sentir algo além do medo.
Quando uma mulher quer ser uma vagabunda, ela o faz porque quer, ela
quer ser usada em todos os buracos, em todos os sentidos. E se essa for sua
escolha, mais poder para elas. Todos nós sabemos que Mary não é assim.
Ela é uma boa menina. Quando a encontramos, ela usava pérolas e uma
porra de um cardigã.

E agora ela está vestida para um show de rock and roll.

Não me entenda mal, algumas daquelas calças de couro que ela usa me
fazem vê-la se afastar por mais tempo do que deveria. Seu novo visual se
encaixa em seu comportamento. Eu ficaria triste se isso acabasse
especialmente depois de conhecer ela. Eu não sei muito sobre o passado
dela, ela não fala sobre isso, mas pérolas e cardigã? Eles não combinam
com o inferno fervendo sob sua pele.

Isso significa que eu quero tocar suas chamas?

Absolutamente porra.

Significa que eu vou?

Não.

Ela me irrita muito, e eu sei que ela também não me suporta. Ela me deu
carvão de Natal. Carvão! Como se eu tivesse sido desobediente este ano!
Por favor. Eu sou a porra de um anjo envolto em um maldito laço, e meu
halo brilha mais forte do que os malditos chifres que ela tem na cabeça,
posso dizer isso. Ela ficou com raiva de mim por ter conseguido uma perna
falsa porque ainda mancava depois de ser empalada por um pedaço de
madeira. Pensei que era divertido.

E ela me odeia por isso.

Mas é o beijo que eu a odeio.

Maizey apontou no Natal que Mary e eu estávamos sob um visco


quando estávamos discutindo, e eu simplesmente me cansei de sempre
brigar com ela, então eu a puxei pelos cabelos e a beijei para calá-la.

Eu não achei que realmente gostaria.

E caramba, eu a odeio por me dar o melhor beijo que já experimentei em


toda a minha vida. Aquele caos, conflito e dor pela qual eu vivo, que está
constantemente rugindo dentro de mim, parou abruptamente quando
nossas bocas se tornaram uma. O tempo diminuiu. Os sons cessaram. E
quando nossas línguas deslizaram juntas, esquecemos que éramos inimigos
e cedemos um ao outro.

Seus lábios eram aveludados e sua respiração era doce como um doce.
Eu estava me perdendo naquelas chamas das quais sempre deveria ficar
longe.

Até que ela me bateu no estômago com aquela perna de pau que eu
comprei para ela. Então, ela saiu pisando forte em um ataque sibilante, me
deixando mais duro do que prego fodido e confuso.
Confuso porque tudo que eu queria fazer era correr atrás dela, jogá-la
contra a parede e possuir sua boca novamente.

Já se passaram duas semanas, e todas as noites eu acordo de um sonho


molhado, pau na mão, e gozo cobrindo meu estômago. Isso nunca
aconteceu, mesmo quando eu tinha dezesseis anos e tinha ereções porque a
porra da brisa soprava.

Mary inseriu sua destruição em minhas veias, se misturando com as


outras três amantes constantemente girando dentro de mim.

Estou tenso e pronto para atirar algumas das minhas estrelas ninja,
talvez tirar um pouco de sangue. Mas agora que as coisas estão tranquilas
no clube, vou apenas fazer outra tatuagem para ajudar a aliviar a tensão.
Quanto mais eu tenho que estar perto daquela mulher maldita, mais forte
ela me aperta, e mais eu quero lembrá-la de que quando nos beijamos, a
última coisa que fazemos é nos odiar.

Queremos um ao outro. Eu sei que ela sente isso também.

— Quer tirar uma foto? Isso dura mais, — Badge resmunga com uma
leve curvatura de seu lábio enquanto puxa uma cadeira da mesa. Ele não
tira os olhos de mim enquanto bebe o café preto simples de sua caneca.
Badge é um cara irritadiço e, em um dia bom, ele pode não arrancar sua
maldita cabeça.

— Me deixe pegar minha câmera. Não há nada que eu queira mais do


que sua carranca feia emoldurada ao lado da minha mesa de cabeceira.
Vou beijar todas as noites antes de ir para a cama.
— Você é tão estranho, Knives.

É verdade. Eu nunca brinco com nada. Por que se preocupar, quando a


verdade pode deixar as pessoas muito mais desconfortáveis?

Essa é a única regra que sempre garanti que se aplica a mim, até
recentemente.

A verdade é uma cadela perversa, e para onde quer que eu me vire, ela
está rugindo sua cabeça feia para mim. Por exemplo, estou começando a
me perguntar se realmente gosto de Mary, e essa verdade me deixa
desconfortável. Eu vou ignorar isso.

Nada de bom pode sair dela e eu estarmos juntos. Duas pessoas que não
gostam uma da outra. É como um furacão e um tornado encontrando o
caminho um do outro, prontos para serem destruídos.

Mas o sussurro da verdade ainda está lá, me dizendo que quero mais
Mary a cada segundo que passa. Quero beijá-la de novo para ver se o que
sinto é o mesmo ou se foi um golpe de sorte, mas de jeito nenhum ela vai
me deixar chegar perto dela de novo.

E ela não deveria.

Eu fiz muitas coisas ruins, e mesmo que ela finja querer o lado cruel da
tentação que o MC oferece, ela não está pronta para isso nem para mim.

Como Tongue, estou um pouco fodido da cabeça, mas não de uma


forma maluca como Tongue. Não vou trazer para casa a porra de um
gatinho do pântano e chamá-lo de ‘Happy’.
Eu sou louco no sentido de que não sinto tristeza pelo que faço. Eu
corto, tiro sangue, inflijo a dor e nunca quero que a dor pare.

Eu quero continuar cortando, mantê-los implorando por ajuda. Eu


quero ouvir as vítimas me implorando para parar. Adoro fazê-los sangrar
tanto que desmaiam, então espero até que acordem, talvez dar uma
transfusão e fazer tudo de novo.

E eu vou continuar até que não haja quase mais nada.

Dar a eles esperança de que eles serão capazes de viver, e quando eu ver
seu sorriso, seu sorriso agradecido e aliviado com lágrimas de felicidade
caindo em suas bochechas, é quando eu vou atirar minha estrela ninja
através da sala e colocá-la diretamente em suas testas.

E mesmo depois de tudo isso, ainda não sentirei nada.

Mesmo assim, penso em Mary e sinto tudo.

— Jesus Cristo, Knives. Pare de olhar para mim. — Badge desliza a


cadeira para trás e sai pisando duro em direção ao seu escritório, onde
todos os aparelhos sofisticados estão.

Eu não estava olhando para ele. Eu zoneei.

Veja o que ela está fazendo comigo? Eu preciso falar com o Tongue. Ele
e eu gostamos de afiar nossas lâminas juntos, ou às vezes ele me ajuda a
fazer uma nova estrela ninja. Tenho uma que não uso desde que foi feita, e
é aquela feita com as facas que encontrei na noite em que Mason morreu.
Eu deveria usar.
E quase fiz isso no policial que puxou o gatilho primeiro. Eu esperei e
esperei, e então ele se tornou Chefe de Polícia, mas então ele morreu de um
ataque do coração, e agora o homem que o substituiu é meu amigo.

Bem, mais ou menos.

Fazemos favores um ao outro, como quando o carro de Sarah explodiu,


e queríamos ter certeza de que um relatório não foi feito. Eu o chamei.
Paguei ele. E estamos livres.

É bom ter a lei do seu lado, e é por isso que nunca vou entender por que
Reaper deu o ultimato ao Badge.

Os outros policiais envolvidos no assassinato de Mason se mudaram


logo depois, e não fui capaz de encontrá-los desde então. Mas eu vou.

E quando o fizer, vou usar as facas daquela noite e vou trazer algum
tipo de paz para mim.

Sarah entra na cozinha e as memórias sombrias desaparecem,


substituídas por um sorriso enquanto eu a observo na ponta dos pés. Ela
está segurando a barriga, que ainda está plana, e lenta, gentil e
silenciosamente caminha até a cafeteira. Sarah está grávida. Depois do que
parece uma eternidade, Prez e sua Old Lady finalmente conseguem seu
final feliz, mas Sarah ainda não está totalmente animada. Ela tem medo de
cada movimento que faz porque não quer abortar novamente.

Ela não está tão longe. Oito semanas, talvez? Doze semanas é
geralmente o espaço seguro para as mulheres não se preocuparem com
abortos, pelo menos foi o que Doc nos disse.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto, cruzando os braços sobre
o peito.

Sarah grita, segurando a mão no peito e respirando fundo. Então, ela


solta um suspiro, deslizando a mão para o estômago para se certificar de
que nada aconteça. A presença de sua mão não impedirá um aborto, e acho
que ela sabe disso. É apenas uma questão de conforto neste ponto. —
Knives, você não pode fazer isso. Você me assustou, — ela diz, tomando
um segundo para recuperar o fôlego. Ela enfia uma mecha de cabelo atrás
da orelha e começa a andar na ponta dos pés novamente para a cafeteira.

Mesmo que Doc disse que ela pode tomar uma xícara de café por dia,
ela não quer arriscar, então Reaper comprou uma máquina de café
descafeínado para ela. Ela olha para o armário acima dela e o abre, mas a
caneca está fora de alcance.

E ela não vai conseguir. Ela está muito nervosa para esticar o corpo.
Estou preocupado com ela. Eu entendo que ela está com medo, mas ela
precisa perceber que as coisas normais do dia a dia que ela sempre faz não
vão machucar o bebê.

— Aqui, por que você não se senta e eu pego para você? — Saio do
corredor entre a cozinha e o ginásio, e Yeti segue atrás de mim. Quando
Sarah se senta, Yeti cai a seus pés e olha para todas as entradas da cozinha.
Ele a está protegendo.

— Obrigada, Knives. Eu sei, sou louca por agir dessa forma, mas estou
tão nervosa.
Pego a caneca, coloco no balcão e despejo o café descafeínado até a
borda. Deus, eu não posso imaginar as retrações que ela deve estar
experimentando. Tenho que tomar cafeína todos os dias. —Aqui está. —
Eu coloco a caneca na frente dela, e ela usa as mãos para segurar cada lado.
Aposto que é bom e quente. —É normal ter medo, mas não tenha tanto
medo de parar de viver sua vida. Tudo bem?

— Queríamos isso há tanto tempo e se perdermos outro... Knives, não


sei o que faríamos.

Ela tenta se conter, mas logo, as lágrimas escorrem dela.

Eu não sei o que dizer. Eu nunca experimentei essa situação antes. Eu


quero dizer, 'você vai tentar de novo.' É a resposta lógica, mas meio cruel,
porque eu não estou sendo simpático. Eu costumava ser. O meu eu
adolescente teria chorado junto com Sarah, mas não chorei desde aquela
noite.

Lágrimas caídas são perda de energia.

— Por que diabos Sarah está chorando? — Reaper invade a cozinha e


eu me inclino para trás na cadeira, cruzando minhas mãos sobre o peito
para proteger meu coração.

Se há uma coisa que eu temo, é a habilidade de Reaper de arrancar o


coração de alguém de seu peito e não piscar duas vezes enquanto ele o
observa bater até uma parada lenta e irreversível.

— Eu estou hormonal, Jesse! E tenho medo de tudo que faço. Knives


estava tentando me encorajar! Não seja mau com ele.
Minhas sobrancelhas sobem até a linha do cabelo enquanto Sarah
enterra o rosto nas mãos e soluça. Reaper envolve seus braços em volta
dela, e então me dá um olhar desagradável quando percebe que minha
camisa está fora. —Você poderia ter coberto o seu peito cabeludo, — diz
ele. —Você é um maldito lobisomem.

Eu esfrego minhas mãos no pelo e Sarah se vira bem a tempo de me ver


fazer isso, o que me faz parar, mas suas bochechas ficam vermelhas. Algo
pisca em seus olhos, e eu paro de esfregar meu peito, porque ela sussurra
algo para Reaper e corre em direção ao seu escritório, me deixando
imaginando o que diabos eu fiz.

Eu sei que sou cabeludo, mas não sou cabeludo o suficiente para limpar
uma sala.

Reaper aponta o dedo para mim. —Eu estou dizendo isso uma vez.
Depois disso, caminhe com uma camisa. Sarah esta hormonal e o sexo... é
incrível pra caralho. Ela está sempre precisando de sexo e, aparentemente,
homens sem camisa realmente a deixam animada, mas eu não preciso que
minha mulher se excite por ninguém além de mim, entendeu?

— Isso aconteceu mais de uma vez? — Eu levanto uma sobrancelha,


tentando não rir.

— Knives.

— Oh, tudo bem. Eu não chamaria isso de padrão, Prez. Apenas uma
coincidência. Os hormônios são assim.
— E Slingshot, Patrick, Badge e Tank. Um segundo sem as camisas e ela
vem correndo para mim... — seus olhos se arregalam quando ele percebe o
que está dizendo. —Você tem minha permissão para sempre ficar sem
camisa até que ela tenha o bebê. — Reaper corre pelo corredor atrás de sua
Old Lady, tirando sua camisa para começar a trabalhar antes de entrar em
seu escritório.

— De nada! — Grito atrás dele, o que me dá o dedo médio. Esta não


será a última vez que estarei seminu na frente de Sarah. Tenho que ouvir
meu presidente, certo? Eu bufo, pegando o café de Sarah na minha mão e
tomando um gole, apenas para cuspi-lo de volta quando sinto a falta de
cafeína.

Como as pessoas bebem isso?

Meu celular tocando no meu quarto me faz levantar, derramar o café


pelo ralo e pegar uma nova xícara de café. Eu me sento de volta, deixando
o toque chegar ao fim. Não estou com vontade de falar com ninguém. Eles
podem deixar um correio de voz.

Estou pensando em como todos ao meu redor estão encontrando sua


Old Lady e sendo felizes, mas não sei se sou capaz de sentir felicidade
assim. Minha alma foi danificada há muito tempo e não há como consertá-
la.

Em seguida, o beijo que compartilhei com Mary toca em minha mente, e


eu me lembro de um fragmento de cura que começou a abrir o buraco em
meu espírito novamente.
Não, quem estou enganando?

Estou além do reparo.


Capítulo Dois

Porcaria.

Esta é a segunda vez em uma semana que sou parada. Na primeira vez,
eu escapei porque dei ao policial um lindo sorriso, mas não funcionou
dessa vez. Provavelmente não ajudou o fato de eu ter sido aparentemente
‘rude’ e ‘não cooperativa’ e ‘ser acusada de negligência desenfreada com a
segurança.’

Então me processe, eu não sou perfeita.

A porta da cela se fecha, o metal tilintando ao bater na parede, travando


no lugar. Cheira a mijo aqui. Eu sei que sou um pouco imprudente, mas
aterrissar na prisão por uma multa por excesso de velocidade, de todas as
coisas, é um novo ponto baixo para mim.

Mesmo que tenha sido divertido por um momento.

Quando estou acelerando na estrada, o sentimento é quase muito difícil


de explicar. Meu pé contra o pedal, pressionando-o contra o chão enquanto
a agulha do velocímetro sobe até as linhas vermelhas. O motor ruge, e
quando chego a 180 quilômetros por hora, sinto que estou voando, como se
estivesse livre.
Então um maldito policial teve que acender suas luzes e estragar tudo.

Pego as barras de metal e empurro meu rosto contra elas. —Ei, vamos
lá. Me deixa sair daqui. Eu não pertenço aqui. Meu velocímetro está
quebrado, verdade. — É mentira, mas preciso tentar algo. O único
telefonema que eles me deram foi inútil, já que Knives não atendeu.

Não sei por que liguei para ele. Quando eles leram meus direitos e
disseram que eu recebo um telefonema, a primeira pessoa que me passou
pela cabeça foi ele. Ele é uma dor na minha bunda noventa e nove por
cento do tempo, mas se há uma coisa sobre aquele homem maldito irritante
é que ele é confiável. Quando os homens o chamam, ele larga tudo e está lá
para ajudá-los.

E por alguma razão estúpida, pensei que ele estaria lá para mim, mesmo
que não gostemos um do outro. Mesmo que brigamos mais do que
falamos, eu estupidamente pensei que ele tinha vindo para me tirar desse
buraco do inferno. Depois do que aconteceu no Natal... ah, quem estou
enganando? Não consigo nem lembrar o que aconteceu porque não fazia
sentido.

Porque o primeiro beijo de verdade de alguém não deve ser tão bom,
certo? Dedo do pé enrolado, corpo doendo, deixando minha pele em febre,
bom. Um primeiro beijo deve ser confuso e nojento, com muita língua e
muito úmido, perguntando por que as pessoas se beijam para começar,
mas não, esse não era o caso com Knives.
Quando ele esmagou seus lábios contra os meus, eu sabia o que ele
estava fazendo. Ele queria me calar, mas o aperto firme no meu cabelo
afrouxou, e ele suspirou em minha boca enquanto nós dois relaxávamos.

Eu bato minha cabeça contra as barras, e o baque ecoa no pequeno


espaço. Estou me batendo com as varas de metal para me ajudar a esquecer
o beijo ou para me lembrar o quão estúpida sou por acelerar e depois
murmurar para o policial para me colocar aqui? Ou para me lembrar o
quão burra eu sou por ter um lampejo de esperança de que talvez Knives e
eu gostemos um do outro, e cair naquele beijo de Natal?

Tudo isso.

Estou cheia de ideias ruins ultimamente.

— Você não vai a lugar nenhum, Srta. St. James. Não até que sua fiança
seja paga. Desta vez, você tem uma data no tribunal, — diz o policial
Daniels enquanto morde um donut e vira a página do jornal.

— Tribunal? Vamos! Eu mal estava acelerando.

— Você tem razão. No início, sua velocidade não estava muito acima do
limite legal, mas sua escolha de envolver os policiais em uma perseguição
em alta velocidade por quase cinco quilômetros foi. Talvez pense nisso da
próxima vez.

Oh, certo. Então, posso ter pisado fundo na estrada, atraído um bando
de carros de polícia, desviado da estrada para tentar escapar e atravessado
as pistas no meio do tráfego para despistá-los antes de finalmente ser
parada.
Como eu disse, não sou perfeita.

Ele dá outra mordida no donut, e meu estômago ronca, me lembrando


que não comi desde a noite passada. Eu não vou pedir comida. Eu só quero
outro telefonema. Solto um longo suspiro, empurro as barras e dou três
passos para trás.

Meus joelhos batem na cama de metal e eu me sento, passando os dedos


pelas mechas escuras do meu cabelo. Eu odeio sentar aqui. Isso me dá
tempo para pensar sobre as coisas que estou fazendo e por que estou
fazendo, e a resposta é: não sei.

Por muito tempo, fui a filha perfeita. Nota A e sorrisos falsos, junto com
felicidade falsa e uma família falsa.

As únicas experiências reais que já tive são as que os Ruthless Kings me


deram, boas e más. Eu sei como cheguei ao capítulo de Atlantic City. Eu sei
que foi obra minha. É minha própria culpa, mas não me importo em voltar
para aquela velha vida.

Estava velho, sem amor e sem vida e qualquer tipo de excitação. É um


motivo para não voltar para casa? Provavelmente não, mas conheço minha
família e duvido que eles estejam preocupados. Eles nunca foram antes, e
Reaper diz que Badge procurou por pessoas desaparecidas e não encontrou
nada. Ele encontrou mais, mas eu o parei antes que ele pudesse me dizer.

Eu não quero saber.

Tudo o que importa é o que me trouxe aqui, até agora, até o presente.
O passado não importa, e o que aconteceu comigo é irrelevante porque
eu não sofri abuso dos motoqueiros como as outras garotas. Não tenho
razão para ter medo.

Mas você tem.

Só não sei do que tenho medo.

Eu gosto daqui com os Kings, mesmo que eles mal me deem tempo
porque eu tentei ser uma das vadias do clube. Eu vou ir em frente e marcar
isso da minha lista de coisas a fazer, porque não há nenhuma vadia lá
agora desde que duas delas morreram.

Prefiro ficar viva. Muito obrigada.

Então por que ainda estou com o clube de motos? Eu deveria ir embora,
dar o fora o mais longe e rápido que puder, mas estou enraizada aqui.

E não tenho ideia do porquê.

— Bem, bem, bem.

Eu cerro os dentes quando ouço seu tom de zombaria. Eu sabia que


deveria ter ligado para outra pessoa.

— Parece que a pequena infernal está fazendo o que faz de melhor, não
é? — Eu suspiro quando vejo Knives parado na frente da minha cela,
acenando com o telefone no ar. —Recebi sua mensagem. Por que não estou
surpreso em encontrá-la aqui? — Ele pergunta. Ele enfia o telefone no bolso
e pega uma estrela ninja, coçando um ponto sob o queixo. Os policiais
veem e nem piscam.
— Ele tem uma arma! — Eu grito, apontando para o homem que me
deixa louca. —Olá, — eu cantarolo. —Ele tem uma estrela ninja. Ele pode
me matar. — Eu balanço meus braços no ar como se eu fosse uma pessoa
presa em uma ilha, agitando minhas mãos no ar, esperando que o único
helicóptero que eu vi em semanas me salve.

Grilos horríveis. De que adianta a aplicação da lei se eles não podem me


salvar do Knives?

— Ajuda quando você tem todo o departamento em seu bolso, Pequena


Infernal.

— Pare de me chamar assim, — eu fervo e então pulo nas barras,


agarrando-as com força até que meus nós dos dedos fiquem brancos. —Eu
juro, é melhor você ficar feliz por eu estar aqui, ou eu...

— Você o quê? — Ele avança e seu nariz toca o meu entre as barras. —
Me diga.

Os músculos da minha bochecha saltam enquanto eu aperto minhas


mandíbulas. —Eu sufocaria você porra.

Ele ri; o som é escuro e delicioso e percorre minha espinha como um


arrepio. Quando a tensão não tem para onde ir, ela penetra na superfície da
minha pele, criando arrepios. —Oh, não faça promessas que você não pode
cumprir. Você sabe o quanto eu adoro me divertir, — diz ele, com um
brilho provocante em seus olhos.
Eu cruzo meus braços para esconder meus mamilos duros que sua
resposta criou. Eu não tenho controle sobre meu corpo. Não é como se eu
quisesse me sentir atraída por ele. —Você vai me tirar daqui ou não?

— Nah. Eu só queria passar e ver você aqui. Talvez ficar presa na prisão
lhe dê um pouco de perspectiva.

— Perspectiva! Você não pode estar falando sério. Como se você nunca
tivesse estado na prisão antes?

— Na verdade, não tenho. Veja, eu sou um bom menino, não importa o


que diga o pedaço de carvão que você me deu.

Estou furiosa neste momento. Ele é um idiota. Eu deveria ter chamado


Reaper ou Sarah, alguém que realmente se importa e não quer me ver aqui.
—Só porque cometi um erro...

Ele bate o punho contra as barras, mas eu não recuo, mesmo que meu
coração esteja batendo forte contra o meu peito. —Não é apenas esse erro,
Mary. São todos eles. É o seu comportamento imprudente. TJ aqui diz que
é a segunda vez nesta semana que você dirige de forma imprudente.
Quarta ou quinta vez neste inverno. — Ele arrasta a estrela ninja nas barras
e faíscas voam quando o metal se choca contra o metal. —Você está indo
por uma estrada perigosa, e espera que eu ou outros membros te
busquemos pelo caminho? Para aderir ao seu descuido?

— Aderir? Essa é uma palavra chique para um cara como você, — eu


quase cuspo, a raiva sacudindo meu corpo quanto mais olho em seus olhos
azul-celeste. Eles são frios e calculistas.
Já ouvi pessoas dizerem que os olhos são a janela da alma, mas isso não
se aplica a Knives. Quando eu olho em seus olhos, não vejo nada. Sua alma
se transformou em pedra eras atrás.

— Ei, TJ. Quanto é a fiança da Srta. St. James? — Knives pergunta,


nunca tirando o olhar de mim.

— Alguns milhares, — responde o policial.

Knives zumbe enquanto ele pensa no que deseja fazer, o lado direito de
sua boca se inclina em um sorriso conivente. —Perfeito. Deixe-a cozinhar
por alguns dias, sim, TJ?

— Qualquer coisa pelos Kings, você sabe disso, — ele diz a Knives, o
que me deixa perplexa.

Isso não pode ser legal.

— Knives, você não pode estar falando sério? Você vai me deixar aqui?

— Acho que você vai ter que me ver afastar de você para perceber isso,
não é?

— Knives, porra, não se atreva a me deixar aqui, — rosno baixo em


minha garganta para que ele possa ouvir a frustração. Eu agarro as barras e
tento sacudi-las, o que é inútil, porque elas nunca se movem. É chamado de
cela de prisão por um motivo.

Ele se afasta lentamente, sacudindo a estrela ninja sobre os dedos. Seus


dedos estão tão marcados por causa desse truque, mas ele não parece se
importar. Ele levanta a outra mão e me dá um aceno de adeus com os
dedos. —Ei, TJ, posso comer um donut? — Knives pergunta, me
ignorando.

— Knives! — Eu bato meu punho contra a barra. —Não me deixe aqui,


porra. Eu juro por Deus!

— Mmmm, os com cobertura de chocolate são os meus favoritos.


Obrigado, TJ. Eu aprecio. — Ele apunhala o donut com sua estrela ninja e
dá uma grande mordida enquanto me observa. —O mundo real é muito
melhor, Mary. Oh... — ele bate na testa com a mão, —…mas você sabe
disso. Mais tarde, Pequena Infernal. Vejo você do outro lado.

Ele realmente está se afastando de mim. Ele vai me deixar aqui. —Eu
nunca vou te perdoar por isso, Knives! Traga sua bunda cabeluda de volta
aqui! — Eu grito, batendo meu punho contra as barras da cela uma última
vez enquanto grito por ele. O bastardo apenas levanta seu donut no ar e sai
pela porta.

Eu não sei se ele tem uma bunda cabeluda. Só disse isso porque ele tem
um peito cabeludo pelo qual sonho passar os dedos. É por isso que os
chamam de sonhos. Não sou responsável pelo que meu cérebro gosta de
pensar enquanto estou inconsciente.

A porta de saída bate e eu fico sozinha.

Ele realmente me deixou aqui.

Deve ser algum tipo de piada, mas enquanto estou aqui esperando
Knives passar pela porta, os segundos se transformam em minutos. Eu
aperto meus lábios e tento controlar a raiva. Os membros têm feito coisas
piores na vida, e o Knives os protege, por que ele não pode com o meu?

— Parece que você irritou o cara errado, Srta. St. James, — o policial
Daniels termina outro donut e limpa a mão no uniforme, deixando
manchas de chocolate no caqui.

— Cuide da sua vida, — murmuro. Resmungar para um policial,


enquanto ainda não consigo pagar a fiança, provavelmente não é a melhor
ideia, mas estou chocada e desapontada agora. Não acredito que Knives
me deixou aqui.

Se há uma coisa que eu sei mais do que nunca agora, é que o beijo que
compartilhamos nada significava para ele. Eu tinha essa migalha de pão de
esperança de que a antipatia que compartilhamos um pelo outro fosse
realmente paixão explodindo pelas costuras para ser liberada, mas agora
que ele foi embora sem me dar uma última olhada, eu sei melhor.

Se as pessoas realmente se importam quando se afastam, geralmente


param e dão uma olhada de despedida por cima do ombro, mas acho que,
ao lidar com um homem cuja alma é de pedra, não devo esperar muito
mais.

Mas se for esse o caso, por que estou tão brava?


Capítulo Três

Eu paguei a fiança dela, e não vai haver uma data no tribunal porque eu
paguei o novo Chefe de Polícia também. Ele parecia muito feliz por estar
negociando conosco. Nada como uma grande pilha de dinheiro para ajudar
a pagar a faculdade de sua filha para tê-lo do meu lado.

Ela está lá porque os policiais estão seguindo minhas ordens. Mary


precisa aprender que o que ela está fazendo a si mesma não está bem. Eu li
o relatório. Ela estava indo a noventa quilômetros em uma zona de
cinquenta, e então quando ela foi sinalizada a parar, ela desviou para fora
da estrada, quase bateu em um bando de cactos, então disparou a 110
quilômetros enquanto serpenteava dentro e fora do tráfego e cruzava para
o outro faixa. No final, levou uma dúzia de carros de polícia para persegui-
la. Não sei por que a garota deseja morrer, mas não vou deixá-la morrer
facilmente sob meu comando.

Então ela vai sentar lá na prisão e pensar sobre o que ela fez.

Oh, ela está furiosa.

Bom. Deixe-a ferver em seus erros e talvez ela saia da prisão tendo
aprendido algo sobre si mesma.
Levanto minha perna por cima da moto e me sento, depois coloco um
chiclete na boca. Eu mastigo, deixando o sabor de cereja rolar e estouro
uma bolha. Quando estala, lembro de quando eu tinha cerca de treze anos e
Mason pegou para nós dois pacotes de chiclete. Ele disse que tínhamos que
mastigar todas os pedaços, e quem estourar a maior bolha vence.

É isso.

Acabamos ganhando. Não houve prêmio. Era apenas a capacidade de se


gabar. Esfrego a mão no coração quando começa a doer. Eu juro, a única
vez que sinto dor é quando penso no meu irmão. Eu me inclino contra o
encosto da minha moto, observando as portas da frente da delegacia.
Muitos pilotos não gostam de encostos porque não fazem a Harley parecer
durona.

Ouça, minha moto é incrível e eu sou fodão, então se eu sei disso, então
todo mundo pode ir se foder. Gosto de estar confortável e, quando estamos
em corridas longas, posso relaxar enquanto todos têm dores nas costas.

Eu bato meus dedos contra o guidão e debato se eu quero ir à delegacia


e pegá-la. Ela pode andar como uma cadela atrás de mim, mas há um
problema: eu nunca tive uma mulher na minha moto e não quero que os
caras tenham ideias. Apenas Old ladys na motocicleta de um membro, e
Mary não é minha Old Lady.

Não, ela não pode escapar fácil. Que se foda isso. Ela se meteu nessa
confusão, o mínimo que ela pode fazer é passar alguns dias na prisão.
Eu ligo minha moto e acelerei, acenando para alguns carros de polícia
enquanto eu dirijo. É um bom dia para um passeio. Está frio, mas o sol saiu
e eu preciso clarear minha cabeça. Mary me fode todo. Eu sou o tipo de
cara que pensa só. Eu sei meus deveres e o que posso trazer para a mesa
quando Reaper precisa de mim, mas Mary entra na minha cabeça, e eu me
pergunto se sou um pouco mais complexo do que pensava originalmente.

Talvez não seja ela que eu quero, talvez eu só queira alguém. Todos os
caras estão encontrando suas mulheres, e isso está me fazendo querer o que
eles têm. Ninguém gosta de ficar sozinho. As pessoas escolhem estar
porque sentem que não merecem o amor e a felicidade que vem por estar
com alguém. Honestamente, acho que tudo começa com você.

Se não posso ser feliz e sozinho comigo mesmo, como posso ser feliz
com alguém que amo? Tudo começa com o indivíduo. Estou mais do que
contente comigo mesmo e sozinho, só sei que ninguém merece ser puxado
para a minha vida. A vida do MC não é para todos.

E não é para Mary.

Não sei de onde ela é ou por que não quer voltar, mas alguém aí deve
estar procurando por ela. Ela é linda demais, inteligente demais, adequada
demais para ser abandonada. Há uma história por trás de como ela chegou
a Atlantic City antes de vir para Las Vegas, e eu quero descobrir o que foi,
mesmo que ela não saiba.

— Não é da minha conta, — digo para o vento que sopra em meu rosto.
—Eu preciso ficar longe dela e deixar ela descobrir suas próprias merdas.
— Estou falando comigo mesmo, ótimo. Não é isso que dizem quando você
está ficando louco?

Ela me deixou louco. Perfeito. A última coisa que eu preciso é ser como
Tongue, perseguindo ela com um maldito crocodilo amarrado ao meu
peito.

Meu telefone vibra no bolso assim que paro do lado de fora do estúdio
de tatuagem. Eu preciso de um barato, mas de um tipo diferente. Eu quero
sentir dor. Quero me lembrar por que escolho ficar sozinho, porque
qualquer pessoa que gosta da dor não pode desfrutar do amor.

Quando eu olho para a tela, vejo o nome de Seer piscando na tela. —Oh,
isso é uma grande merda, não e vai se foder, Seer. Desculpe, — eu ignoro a
ligação e coloco meu telefone de volta no bolso.

E então ele toca novamente.

Eu gemo e inclino minha cabeça para trás, olhando para o céu azul. —
Por que este dia está me fodendo? — Só para ter certeza de que Reaper não
está ligando, pego meu telefone novamente e vejo o nome de Seer. —Não
sei que informação você tem para mim hoje, mas não quero ouvir, cara. —
Eu ignoro a chamada novamente, silenciando a vibração. Seer é único. Ele é
gente boa, estranho, mas no sentido, ele tem visão.

Ele pode ver as coisas antes que aconteçam. Não me incomoda quando
se trata de outra pessoa, mas eu? Não estou interessado no que o futuro
reserva. Eu prefiro receber os socos quando eles vierem em vez de me
esquivar deles, e se isso significa que eu morro, então é quando eu devo
deixar este mundo.

Meu telefone toca novamente, e desta vez isso me irrita. Jogo o telefone
no chão e piso nele com a bota.

Novamente.

Novamente.

E de novo.

Até que não haja nada além de pedaços e fios quebrados.

E o desgraçado ainda tem coragem de tocar, mesmo que soe prolongado


como uma peça de máquina fechando.

— Você tem que estar brincando comigo. — Eu bato no telefone


novamente, então cravo meu calcanhar na tela rachada, sorrindo quando a
campainha começa a morrer. —Sim, pegue isso, filho da puta.

— Dia duro? — O tom divertido de Luci vem da lateral do prédio,


assim como a fumaça do cigarro. Ele vira a esquina e me encara com um
sorriso brincalhão, tirando o cigarro da boca.

— Você poderia dizer isso. — Para garantir, chuto os pedaços do celular


pelo estacionamento e respiro melhor quando ele está fora da minha linha
de visão. Eu realmente não me importo com o Seer, mas eu não quero saber
merda nenhuma sobre algo acontecendo comigo. Seu dom não me assusta,
é a verdade de suas visões.
— Você não deveria ter feito isso. O Reaper pode precisar entrar em
contato com você, — diz ele. —E você esmaga seu telefone muitas vezes
para o homem permanecer paciente.

— Cale-se. — Droga, se Luci não está certo. Vou ralar minha bunda se o
clube precisar de mim e eu não estiver disponível. —Vamos... — eu bato
em seu ombro e faço o meu melhor para não inalar a nuvem de fumaça que
ele sopra de sua boca, —...eu preciso de uma tatuagem.

Luci joga o cigarro no chão e pisa nele. —Vamos fazer isso então. Você
me pegou em um bom momento. Eu não tenho um compromisso por
algumas horas.

Quando entro, meus nervos se acalmam e o zumbido da pistola de


tatuagem me acalma. A loja é legal, mas o que eu mais amo nela é como
Luci a mantém clássica. Tem flashes tradicionais americanos emoldurados
nas paredes, e cada artista tem sua própria sala privada para tatuar seus
clientes, mas é simples. Não há nenhum truque. É apenas um lugar onde as
pessoas vêm atrás de tatuagens e piercings e depois dão o fora. As paredes
são pintadas de uma cor simples, bege, porque Luci não gosta de complicar
as coisas. Ele gosta de manter as coisas simples, mas a decoração é onde a
simplicidade termina.

Ele é o melhor artista que já conheci, além de Tongue. Na verdade,


agora que penso nisso, Tongue seria um ótimo tatuador. Ele pode desenhar
e fazer as pessoas sangrarem. Duas coisas que ele mais ama. Faço uma nota
mental para contar a ele minha ideia mais tarde.
— Bem, bem, se não é meu pau favorito que eu perfurei, — Bobby-Jane
me cumprimenta enquanto ela seca as mãos e calça um par de luvas. A arte
em seu corpo é mais delicada, fluida e feminina.

— Ei, Bobby-Jane, — eu digo e me inclino para beijar o lado de sua


têmpora. Eu a conheço há alguns anos antes de ela se tornar uma
tatuadora. —Como está indo?

Ela inclina a cabeça e encara minha virilha. —Se bem me lembro, um


pouco para a esquerda.

Eu tenho uma Jacobs Ladder, barras perfuradas através do meu pau e


dois aros na coroa, como chifres, e Bobby-Jane é aquela que me perfurou.
—Você quer descobrir de novo? — Eu pergunto a ela, me lembrando das
poucas vezes que ficamos. O sexo era bom, mas nós dois sabíamos o
negócio.

Era apenas sexo.

Talvez seja disso que eu preciso. Já faz um tempo porque estou tão
envolvido com Mary que esqueci que sou solteiro. Mary me deixa louco,
Bobby-Jane puxa minhas bolas. Veja a diferença?

— Talvez, eu te ligo mais tarde, — ela me dá uma piscadela e se dirige


para a sala onde está seu cliente.

— Sim, uma pena que ela não pode ligar para você, — diz Luci,
sentando-se em um banquinho e empurra os pés contra o chão para rolar
na minha frente.

— Por que não?


— Você destruiu seu telefone, lembra? — Ele sorri, pegando seu bloco
de notas e uma caneta vermelha.

— Porra. — Eu cubro meu rosto e solto um gemido doloroso. Uma bela


oportunidade perdida, que se foi porque não consigo manter minha cabeça
no lugar.

— Seu pau vai viver, mas o tempo está passando, Knives. O que
estamos fazendo?

— Eu quero uma pinup no meu braço, uma mulher com longos cabelos
negros e batom vermelho. — Assim que as palavras saem da minha boca,
quase engasgo com a língua e desejo que o meu irmão MC, o gatinho do
pântano, esteja por perto para cortá-lo de mim. Acabei de descrever Mary.

— Como você quer o corpo dela? — Luci pergunta enquanto ele


começa a desenhar no papel em linhas delicadas.

Eu imagino Mary, ela tem seios mais cheios e uma bunda em forma de
pêssego na qual não quero nada mais do que cravar meus malditos dentes.
Meu pau salta e eu limpo minha garganta e respiro fundo para me
controlar. Seria estranho ter uma ereção enquanto Luci me tatuava?

— Peitos e bunda de tamanho médio, — eu digo a ele, que ele apenas


balança a cabeça enquanto começa a criar o contorno dos seios dela, e é
quase como se ele tivesse visto Mary nua, porque o corpo no papel é tudo o
que eu sonho.

Eu não deveria estar fazendo isso, mas enquanto ele puxa seu cabelo,
longo e ondulado atrás das costas, eu não quero nada mais do que
finalmente fechar a distância entre mim e Mary. Eu acho que de alguma
forma... de alguma forma, a pequena infernal irrompeu seu caminho em
meu coração.

Não sei quando isso aconteceu, mas enquanto Luci coloca o estêncil no
meu antebraço e o puxa, sei que é a única maneira de realmente tê-la. Esta
foto é a única maneira de tê-la perto de mim. —Você pode adicionar uma
jaqueta de couro? Mantenha aberta.

— Sim, eu posso colocar isso à mão livre com um marcador, — Luci


afirma enquanto ele começa a montar a pistola de tatuagem e
desembrulhar uma agulha limpa e esterilizada. —Vamos. Venha sentar no
meu trono de dor, — ele ri de sua própria piada, mas tudo que faço é
revirar os olhos. Eu caio na cadeira de couro vermelho, viro meu braço e
Luci ilumina ele.

Procuro minha estrela ninja no bolso e a rolo sobre os dedos enquanto a


pistola zumbe e a agulha atinge minha pele. A euforia toma conta quando a
dor atinge. É doce, dói e queima.

Assim. Como. Mary.


Capítulo Quatro

Eu vou matá-lo.

Não posso acreditar que tive que ficar na prisão por dois dias. Eu não
tomei banho. Eu tive que pairar ao fazer xixi porque não há nenhuma
maneira no inferno que eu estou sentado em um banheiro de aço
inoxidável que provavelmente nunca foi limpo.

Quando eu o vir, vou envolver minhas mãos em torno de sua garganta,


socá-lo no estômago de novo com aquela maldita perna que ele comprou
para mim no Natal e, em seguida, gritar na cara dele.

— Bem, parece que você é uma mulher livre, — o policial Daniels


desliza a chave na cela e abre a porta.

Não seja atrevida, Mary.

— Você me parece familiar, — diz outro policial, seus olhos azuis se


estreitando enquanto ele me avalia.

Eu engulo, esperando que ele não me olhe por muito tempo. Poucas
pessoas sabem quem eu sou, mas há alguns que me reconhecem. Fecho o
zíper da minha jaqueta de couro e é quando ele balança a cabeça,
zombando de si mesmo. —Não importa, você não pode ser ela. Isso é
impossível. — Ele inclina a cabeça para baixo e volta ao que estava
fazendo.

Soltando um suspiro, começo a andar a linha verde em direção à saída


quando me lembro que tenho um encontro no tribunal. —Oficial Daniels?
Quando vou saber sobre a data do julgamento?

— Oh, você não precisa se preocupar com isso. Knives cuidou disso
quando ele pagou sua fiança.

Eu congelo. Suas palavras me envolvem como um iceberg, e se a neve


pudesse cair agora, eu estaria fazendo bolas de neve e lançando-as contra o
policial. —Você vai ter que repetir isso. O que? — Eu digo com uma
mordida.

— Oh sim. Você poderia ter partido dias atrás, mas Knives queria que
você ficasse. Ouvimos os Kings. Nós sabemos quem realmente paga nossas
contas. — Ele anda ao redor de sua mesa, pega um arquivo e não liga para
mim, como se o que ele acabou de dizer não me fizesse planejar o
assassinato de Knives.

— Ele é um homem morto, — eu digo com os dentes apertados. Não


acredito que a fiança foi paga há dias. Meus dedos se contraem e a fúria
dentro de mim está fervendo. Estou prestes a pegar sua estrela ninja e
esfaqueá-lo com ela. Eu corro em direção à porta e bato a barra contra ela,
abrindo-a com tanta força que ricocheteia na parede de tijolos e quase me
atinge novamente.
O sol está muito forte depois de ficar trancada dentro de casa por dois
dias. Eu levanto minha mão e bloqueio a luz amarela de meus olhos.

— Ei, Pequena Infernal. Droga, você parece uma merda.

Eu examino o estacionamento em busca da maldição da minha


existência, e quando o vejo, eu voo escada abaixo. Ele parece arrogante
sentado em sua motocicleta, todo corte de couro, músculos, barba aparada,
as laterais de sua cabeça raspadas com um pouco de cabelo no topo e um
sorriso malicioso para destruir meu coração. —Você! Por que você faria
isso? — Eu coloco um dedo em seu peito.

Seu peito duro, largo e musculoso. O peito de um homem de verdade.


Não é raspado, não é liso como um bebê, mas peludo, em todo o seu
abdômen, e eu coço para correr meus dedos por ele.

Não que eu fosse admitir isso em voz alta para alguém.

— Aqui. Coloque isso, — diz Knives, ignorando completamente a raiva


e a cutucada no peito. Meus olhos pousam na tatuagem abaixo do pescoço
que diz ‘Me Julgue.’

Oh, estou julgando. Ele não precisa se preocupar com isso.

— Você me ouviu? Por que você faria isso, Knives? Não sou uma pessoa
com quem você pode foder quando quiser. Eu tenho sentimentos. Todo
mundo comete erros, e você me abandonou quando precisei de você. Você
não teria feito isso com um de seus irmãos MC.

— Nem por um segundo se compare a eles, — diz ele. —Meus irmãos


sabem quando cometem um erro, mas você não. Essa é a diferença, Mary.
Você está fazendo isso pelo bem para se foder. Meus irmãos vão para a
cadeia porque estão infringindo as leis para o bem. O que diabos você está
fazendo para melhorar a si mesma ou ao mundo? Nada.

— Eu…

Ele me impede de dizer qualquer outra coisa, empurrando o capacete


contra meu peito. —Você não é nada. Você não tem motivo para se
defender. Você está se colocando em perigo, e adivinhe? Você estava mais
segura lá naquela cela do que no seu carro. E adivinha quem consegue
dormir à noite? Eu. O clube. As pessoas que se preocupam com você. Cale
a boca, Mary. Coloque o capacete e suba na minha moto.

Se minha bunda não estivesse queimando com a surra que ele acabou
de me dar, eu o ignoraria e diria que prefiro andar, mas o brilho duro em
seus olhos me diz que não há espaço para discussão. Com um aceno de
cabeça, coloco o capacete na cabeça e giro a perna para montar na moto.
Estou apertada com força entre Knives e o encosto, meus seios apertados
contra suas costas. Eu inalo uma respiração aguda enquanto meus mamilos
endurecem com o contato. Eu cavo minhas unhas em minhas coxas para
me impedir de envolver meus braços em volta de sua cintura.

Ele acelera o motor, mas não avançamos. Ele chega atrás de suas costas
e agarra minhas mãos, puxando meus braços em volta de sua cintura.

Assim como eu não queria.


— Você vai ter que segurar muito mais forte, Pequena Infernal. Incline
quando eu me inclinar e não me distraia. Você quer liberdade? Você está
prestes a experimentar.

Não tenho ideia do que Knives quer dizer sobre liberdade, mas se
parecer com seu abdômen que está duro sob meus dedos, eu quero. Uma
vez que ele sente que estou segurando ele bem, ele acelera de repente e a
moto dá um solavanco, o que me empurra mais contra seu encosto. Eu
seguro mais forte, meus dedos brincando com sua camisa, e o movimento,
junto com o ar que passa por nós, faz sua camisa subir lentamente por seu
torso. Meus dedos roçam em seu estômago nu, e os pelos ásperos que amo
tanto fazem cócegas na palma da minha mão. Eu suspiro e faço o meu
melhor para não me mover ou explorar, mas estar tão perto dele sem lutar
é diferente.

É como aquele momento em que nos beijamos. Parece que só nos damos
bem quando estamos nos tocando.

Isso não é bom.

A moto vibra entre minhas pernas e faz cócegas no meu clitóris inchado.
Cada salto da moto, cada vibração da moto acelerando, quase me faz
choramingar e desmoronar. Com o latejar entre minhas pernas, é difícil
descobrir se o estrondo está realmente vindo da moto ou do homem na
minha frente.

Nós ziguezagueamos pelo estacionamento até chegarmos à placa de


pare que nos leva à estrada principal. Ele vira à direita, passando a rua
onde está toda a diversão. Embora eu já esteja em Vegas há quase um ano,
nunca fui a strip. Talvez eu vá buscar um emprego, há muitos trabalhos
que posso fazer para me distanciar de Knives. Eventualmente, eu vou sair
da sede do clube, e eles nunca mais terão que se preocupar comigo
novamente.

Dói pensar nisso, mas sinto que os Kings ficaram presos a mim. Eles não
estão. Eu posso cuidar de mim mesma. Pode não parecer, mas posso, se for
preciso.

E eu realmente acho que tenho que fazer isso, porque algo está
mudando entre mim e o Knives. Não tenho certeza do que é, mas não pode
ser bom.

Nada de bom pode ser construído a partir do ódio.

E Knives me odeia, disso eu sei.

Seguimos para a Loneliest Road, um longo trecho de calçada estreita


que corta quatrocentos quilômetros dos Estados Unidos. Há um deserto de
cada lado de nós, montanhas e florestas. É lindo. Me perder no deserto, nos
horizontes do sol e na areia desaparecendo entre meus dedos.

Parece o paraíso. Uma verdadeira pausa na vida. Tenho fugido da


verdade há tanto tempo que não sei o que é parar e pensar sobre o que
quero. Não apertei o botão de reiniciar em minha vida desde que cheguei
aqui. Acho que talvez seja a hora de seguir em frente, para algum lugar, e
fazer algo.

Eu não sei o quê, mas tem que ser melhor do que ser um fardo.
Eu seguro Knives com mais força quando ele acelera, e o ronco do
motor chicoteia no ar.

Espero que ele desacelere, mas ele não desacelera.

A moto vai mais rápido, ganhando mais velocidade rapidamente até


que estou preocupada que Knives vai perder o controle e nós vamos bater.
Eu aperto sua cintura e levanto minha voz. —Pare com isso, Knives! Pare.
Você está indo rápido demais! — Tento gritar por causa da rajada de vento
que estamos cortando enquanto voamos pela estrada.

A maior parte do meu cabelo está achatada pelo capacete, mas as pontas
estão cortando, dançando, picando meus braços. Sua mão torce o
acelerador novamente, e a moto dá uma guinada para frente, ganhando
mais velocidade, indo ainda mais rápido.

—Pare! Knives, por favor! — Quase choro. Eu estou assustada. Tudo


está passando por nós num borrão. Eu não consigo ver nada. Ele pisa no
freio e desacelerando a moto. O cheiro de borracha queimada nos envolve,
junto com uma nuvem de fumaça. Ele puxa para o acostamento, a moto
mergulhando do pavimento até a areia. Tiro o capacete e jogo no chão.
Estou respirando pesadamente, inalando poeira e fumaça dos pneus. —
Que porra é essa, Knives? O que é que foi isso?

Ele salta da Harley e seus olhos frios me acertam como punhais. —Não
era isso que você queria, Mary? Você não queria ser livre? Você não gosta
de velocidade? Você não anseia pela adrenalina bombeando em suas veias
quanto mais rápido você vai? O quê, você não gostou? Foi demais para
você aguentar? É tão diferente de passar pelos policiais a cento e oitenta,
sentindo o vento nos cabelos? Quando você não está aninhada em uma
caixa de um carro.

— Pare com isso, — pareço patética com a emoção obstruindo minha


garganta.

Ele chuta seu capacete, e ele voa pelo deserto, pousando com um forte
tapa antes de quicar novamente, desta vez parando ao lado de um arbusto
morto. —Maldição, Mary! — Ele ruge tão alto que posso ouvir o cascalho
em sua garganta enquanto ele tenciona as cordas vocais. Sua voz se eleva, e
alguns corvos na estrada param de atacar um animal morto e voam para
longe. —Eu não vou parar. Eu não vou parar. Você não pode fazer merdas
assim, você me entende?

— Eu não sou uma criança. Não fale comigo como uma criança, Knives.

— Então pare de agir como uma. Que diabo é a o seu problema? Por
que você está fazendo isso? Por que agir? Por que a rebelião? Por que você
deseja morrer?

— Por que você se importa de repente? — Eu assobio, puxando minha


perna sobre a moto e saindo. —Por que você se importa com o que eu faço?
Eu sou uma maldita adulta, Knives. Eu posso fazer o que eu quiser. Pare de
agir como se você se importasse quando ficaria perfeitamente feliz se eu
desviasse para fora da estrada e...

Antes que eu possa dizer outra palavra, ele dá quatro passos largos em
minha direção e coloca a mão na minha boca. —Não se atreva a dizer outra
palavra. Não se atreva a sentar aí e dizer o que eu acho que você está
prestes a dizer. Eu juro... — Ele tira a mão e grita no ar, pega uma estrela
ninja e coça a barba com ela. É como se a estrela ninja fosse seu conforto. —
Você me deixa maluco, sabia disso? Você me deixa... louco.

— É por isso que você deveria estar feliz que...

Ele arremessa a estrela ninja para mim e eu pulo. A estrela se aloja no


metal de sua motocicleta quando eu recuo. —Eu disse, não diga mais uma
palavra. Deus, você acha que eu sou esse tipo de homem? Para querer você
morta? Você realmente acha que eu te odeio tanto? É assim que você me
odeia?

— O que? Não, eu não acho que você me quer morta, eu me importo...


— Eu me contenho antes de dizer que me importo com ele. —Eu nunca iria
querer você, eu ou qualquer um morto.

— Bem, você sabe que não é o meu caso, certo? Você sabe que há muitas
pessoas que quero mortas, mas você não é uma delas, Mary. Você quer
saber por que eu não quero que você acelere na estrada? Você quer saber
por que eu me importo? — Ele pisa em minha direção novamente e coloca
a mão na minha nuca. —Isto.

Ele bate nossos lábios em um beijo ardente, não me dando um segundo


para pensar, um segundo para respirar, um segundo para descobrir o que
diabos está acontecendo. Sua palma é tão larga que seus dedos quase se
tocam enquanto envolvem minha garganta. Knives está me dizendo que
ele está no controle, a maneira como guia minha cabeça, move sua boca,
move sua língua.
Sou transportada de volta ao Natal, onde senti seus lábios pela primeira
vez e mal consigo respirar.

No entanto, somos horríveis um com o outro. Eu me afasto para deixá-


lo saber que quero encerrar o beijo. Eu não quero, mas eu preciso. Quanto
mais eu o beijo, mais profundamente irei me sentir sobre um homem que
não é bom para mim.

Eu também não sou boa para ele.

Somos cobras se enroscando uma na outra e, quanto mais lutamos, mais


apertamos um ao outro. E nós dois somos teimosos demais para desistir. Se
não pararmos, um de nós vai se machucar além do reparo.

Ele se afasta e coloca espaço entre nós, o suficiente para que eu possa
recuperar o fôlego sem respirar o mesmo ar que ele. Nossos peitos estão em
sincronia enquanto nos aquietamos para respirar. Meu corpo inteiro está
quente, seus olhos estão fixos em meu rosto e seu queixo está quase
tocando seu peito. Ele está me olhando com más intenções, olhos perversos
e longos cílios castanhos. Suas sobrancelhas bem torneadas estão franzidas
e seus punhos cerrados ao lado do corpo. O rosado de seus lábios é
intensificado pelo nosso beijo.

Eu verifico seu corpo inteiro, lentamente deixando minha atenção cair


em seu peito. Seus mamilos estão duros e cada vez que seus pulmões se
expandem, a camisa se estende sobre a força bruta de seus peitorais. Eu
engulo, revestindo minha boca com saliva enquanto noto coisas que tentei
não notar antes em seu corpo.
Como o quão alto ele realmente é. E como são construídos e definidos
seus músculos. E como toda vez que o vejo, há uma nova tatuagem. E que
tal a ereção em sua calça jeans preta agora? Seu pau está viajando para
baixo em sua coxa esquerda, quase saindo do rasgo que ele tem em sua
calça jeans. Posso ver a pele pálida de sua perna, os pelos ásperos que
também estão em seu torso.

— Porque você fez isso? — Eu encontro minha voz, mas não soa como
eu. Está rouco de desejo e incerteza. Eu lambo meus lábios e faço meu
caminho até seu corpo, mas paro em seu antebraço. Há uma tatuagem lá
que não existia alguns dias atrás. Está brilhando ao sol por causa da
pomada, mas quanto mais eu o inspeciono, mais vejo uma garota pin-up.

Ela está usando minha jaqueta de couro e meu batom vermelho.

Isso tem que ser uma coincidência. De jeito nenhum ele me tatuaria em
seu corpo quando não conseguimos descobrir como ter uma conversa um
com o outro.

— Você sentiu isso? — Ele pergunta. —Aquele momento em que tudo


mais desapareceu. Tudo o que havia era eu e você.

Eu balancei minha cabeça. Não quero admitir que senti exatamente a


mesma coisa, assim como no Natal.

— Você está mentindo, — diz ele com um sorriso no rosto, como se não
o incomodasse que eu estivesse negando qualquer coisa... isso é entre nós.

É ódio.

É luxúria.
É como...

Mas não é amor.

E se não é amor, se não pode ser amor, então não quero ter nada a ver
com isso. Cuidar de um coração partido não vale as lágrimas por um
homem que não consegue se comprometer com você, mas você sabia muito
bem que ele não seria capaz.

Sim, eu não estou prestes a cair naquele buraco.

Não sei muito sobre Knives, mas eu sei disso, ele não é adequado para
namorado.

Ele não é material para marido.

Mas, para ser honesta comigo mesma, também não sou material para
esposa.

E o que acontece quando os dois se chocam?

Argumentos. Brigas. Gritos. Ele vai começar a beber e me chamar de


prostituta inútil e desprezível. Vou dizer a ele que não sabe como manter o
pau dentro das calças.

Com o que vamos ficar?

Miséria.

E minha miséria não gosta de companhia.


Capítulo Cinco

Espero que ela diga alguma coisa, qualquer coisa, mas ela me encara
com olhos castanhos claros redondos, congelada ao lado da minha moto.
Ela é uma bela imagem de merda ao lado da minha moto, o vento
soprando em seu cabelo já bagunçado por não ter sido escovado nos
últimos dias. Os fios em cascata caem em sua bunda, e a brisa os pega, e
eles fluem para a direita, depois para a esquerda. Seus lábios não estão
vermelhos por causa do batom, já que ela não está usando nenhum, eles
estão inchados do nosso beijo.

Ela está mentindo se disser que não sente nada entre nós. Porque eu
vejo a emoção clara como a porra do dia enquanto ela me encara. Não me
entenda mal, não espero que a gente saia pulando de mãos dadas pelo
deserto tão cedo, mas caramba, ela tem que saber que há outra coisa além
da discussão constante.

Não, quer saber? Não está nem discutindo. É brigar por pequenas
merdas inúteis porque nós irritamos um ao outro.
— Knives, nós nem gostamos de estar perto um do outro... — ela faz
uma pausa, levanta o nariz no ar, —...sinto cheiro de gás.

— Não mude de assunto, Mary. O Slingshot nem está aqui.

— Não... nojento, não, não aquele gás. Como... gasolina, — ela tosse e
abana o rosto.

— Jesus, tudo bem, eu deveria saber que falar com você seria
impossível. Talvez você esteja certa. Talvez nós apenas precisemos tirar um
do outro de nossos sistemas ou algo assim, — eu digo, colocando minhas
mãos em meus quadris.

— Não, Knives...

— ...eu vou pegar o capacete. Não vamos conversar por um minuto,


certo? Eu preciso pensar. — Preciso encontrar alguém para jogar minha
estrela ninja e, uma vez que não pode ser Mary, preciso descobrir algo,
porque estou louco para foder a merda. Talvez eu consiga falar com o
Tongue, e podemos ir para o Asilo. Seu irmão está lá, é justo que façamos
uma visita. Talvez puxar um ou dois quilos de carne como vingança por
toda a merda que ele fez sobre nós este ano.

Eu protejo a metade superior do meu rosto com a mão enquanto olho


para a infinita quantidade de areia. O capacete está a uns bons trinta
metros de distância, não muito ruim, mas o suficiente para me irritar
porque eu tive que perder a paciência. Parar aqui foi uma má ideia. Eu não
deveria ter tentado lhe dar uma lição porque a única coisa que aprendi é
como quero meus lábios nos dela novamente.
É mais fácil do que brigar o tempo todo e sem motivo. Eu não quero
mais ninguém. Tento pensar em Bobby-Jane, seus seios falsos e bunda
empinada, mas nem mesmo pensar nas mãos dela no meu pau faz nada
por mim.

Ela não tem o atrevimento, a atitude ou a capacidade de me irritar como


Mary, e por mais que essa merda me deixe louco...

Eu gosto disso.

Quero dobrá-la sobre meus joelhos e bater em sua bunda toda vez que
ela fala com a boca.

Eu paro quando estou na metade do caminho para o capacete e olho por


cima do ombro para ver Mary parada lá, as mãos enfiadas nos bolsos
enquanto ela chuta o chão.

A mulher é uma bagunça, e porque sou um idiota, quero que ela seja
minha bagunça.

Um caminhão vermelho passa com a janela aberta e vejo o passageiro


jogar um cigarro pela janela, o que não é grande coisa.

Até que uma linha de fogo sai da estrada e segue até minha moto.

Eu senti o verdadeiro medo uma ou duas vezes. E agora é um desses


momentos.

— Mary! Mary! Corre! — Eu grito, mas não sei se ela pode me ouvir. Ela
está andando em uma linha reta e dando voltas e voltas, sem prestar
atenção ao seu redor. Eu tateio meus bolsos procurando outra estrela ninja
porque se eu puder jogar uma no ar e acertá-la no ombro, ela vai ouvir,
porra.

Puta merda.

Eu verifico todos os bolsos, mas não sinto outra estrela. Eu sempre


carrego extras.

Eu levanto meus pés e corro, a areia dificultando enquanto minhas


botas afundam a cada passo. Meu coração está trovejando sob meus ossos
enquanto bombeio meus braços. Eu sinto que estou em uma areia
movediça com a quantidade de esforço que estou levando para correr.

— Mary! — Eu chamo seu nome, puxando a bunda em direção a ela. Ela


finalmente ouve seu nome, e quando ela vira a cabeça em minha direção, as
chamas engolfam minha moto.

Ela engasga, pulando para trás, mas as chamas ficam mais altas. As
labaredas quentes vermelho e laranja dançam enquanto sobem para o céu,
a fumaça negra ondulando rapidamente.

Mary grita enquanto seus sapatos pegam fogo.

Porra. Ela disse que sentiu cheiro de gasolina. Claro que minha moto
estava vazando. Provavelmente foi da estrela ninja que eu joguei. Eu
perfurei o maldito tanque.

Ela provavelmente está parada na gasolina, que encharcou a areia e


tornou o líquido difícil de ver.
Quando chego perto o suficiente dela, eu a jogo no chão e tiro meu
colete, batendo em seus sapatos até que as chamas desapareçam. Quando
estão, felizmente, suas botas estão um pouco queimadas, mas não vejo sua
pele. Isso é bom.

O rugido do fogo é muito alto. Precisamos fugir antes que a moto


exploda. Eu a pego em meus braços e começo a correr para qualquer lugar
que não seja aqui. Nós nos afastamos o suficiente assim que o tanque de
gasolina explode, enviando mais fogo para o ar.

Eu deveria me preocupar mais do que me importo em perder meu bebê.


A moto de um homem é seu tesouro, mas uma moto pode ser substituída.

Essa dor de cabeça de mulher não pode ser.

E eu sei que nunca poderei substituí-la.

— Você está bem? Você está machucada? — Eu a examino para ter


certeza de que ela não tem queimaduras. —Como estão seus pés?

— Quente, mas acho que estou bem. Obrigada. — Ela enfia o cabelo
atrás da orelha e seu queixo cai quando ela vê a moto queimando. —Eu
sinto muito...

— O que há com você e não prestar atenção ao seu redor, hein? Você
está brincando comigo? Você é tão imprudente com sua vida que não
conseguia ver um incêndio?

Ela luta ao se levantar, pois tenho certeza de que está dolorida, e eu a


ajudo agarrando seus braços e estabilizando-a, mas ela me afasta. —Não
teria havido um incêndio se você não jogasse sua maldita estrela ninja e
perfurasse o tanque de gasolina. Eu disse que senti cheiro de gasolina e
você não me ouviu.

— Oh, então isso é tudo minha culpa? Tudo porque estava tentando te
ensinar a não se matar dirigindo.

— Diz o cara que jogou uma maldita estrela ninja em mim!

— Errei você de propósito! Eu sei o que diabos estou fazendo com


minhas estrelas ninja, — eu grito, precisando dar a última palavra.

— Então você sabia o que diabos estava fazendo quando mirou no


maldito tanque de gasolina? Tentando me ensinar uma lição quase
matando nós dois?

— Foi um acidente!

Ela joga os braços no ar e balança a cabeça. —Você é impossível.


Independentemente de quem é a culpa, é sua, por falar nisso, precisamos
pedir ajuda.

Eu cerro meus dentes quando ela me culpa. —Certo, pegue seu telefone.

— Meu telefone está mudo desde que alguém, — ela me encara, —me
deixou na prisão.

— Você deveria se culpar por isso, Pequena Infernal. Você se meteu


nessa confusão.

— Tudo bem, tanto faz. Eu só quero voltar para casa. Pegue o seu
telefone e ligue para o 911.
Eu aperto meus olhos porque sei que estamos prestes a entrar em outra
briga. —Eu não tenho.

Além do barulho do metal derretido ao fundo, ela não diz uma palavra.
—O que? — ela questiona. —Não brinque agora, Knives. Eu não estou no
clima.

— Não estou brincando. Quebrei meu telefone dias atrás. Estou


esperando um substituto chegar pelo correio. — É bom me afastar da
tecnologia. É colocar as coisas em perspectiva. Eu gostava de não tê-lo em
minhas mãos constantemente. Eu li mais, saí mais com meus amigos e...

— Você está brincando comigo! Eu juro, você constantemente faz essa


merda só para me irritar.

— Oh, certo. Eu planejava explodir minha moto para você, só para que
você possa me dar uma enxaqueca. Sim, esse é o sonho, Mary. Agradável.

— Você deixou na casa da pobre garota?

Eu ouço ciúme? Eu deveria dizer a ela que transei com alguém. Isso
esmagaria qualquer... estranha, estreita, quase nada chance que ela e eu
temos juntos.

— Eu quebrei quando recebi uma ligação que não queria atender. —


Estou começando a me perguntar se eu deveria ter atendido aquela ligação
do Seer. Eu me pergunto se era sobre isso que ele iria me alertar. Não há
muitas vezes que eu quero saber meu futuro, mas eu gostaria de saber isso.

A última coisa que quero é ficar aqui com Mary.


— Certo, alguém virá. É impossível não ver aquele fogo à distância, —
ela suspira, sentando no chão do deserto novamente. —Nós esperamos.

Não tenho coragem de dizer a ela que houve muitas pessoas ao lado da
Loneliest Road que nunca foram ajudadas. Eles eventualmente vagam pelo
deserto em busca de ajuda, apenas para nunca mais serem vistos
novamente. Enquanto nos mantivermos na estrada e a seguirmos,
ficaremos bem.

Poucas pessoas viajam por essa estrada de uma vez. Pode levar horas
antes que outro carro chegue. Também me sento no chão do deserto, me
perguntando como diabos acabei aqui.

Não é como se isso pudesse ficar pior.

O trovão rola acima de nós e, com o canto do olho, vejo a cabeça de


Mary inclinar-se para trás sobre os ombros para olhar para o céu
exatamente como eu. Quando as nuvens de tempestade surgiram? De
todas as vezes que nunca chove, o tempo tem que escolher o hoje de todos
os dias para se mostrar?

Esta é uma piada cruel.

— Carma, por me deixar na prisão.

Eu gostaria de ter fita adesiva para manter sua boca fechada. Todos os
meus suprimentos de tortura estavam em meu alforje, que atualmente está
assando.

Fique. Calmo.
Não. Mate. Ela.

O trovão vibra no andar térreo e a primeira gota cai no meu rosto. —Se
chover e apagar o fogo ninguém vai aparecer, — ressalta.

— Bem, não vamos sentar aqui, vamos para casa. Só temos que seguir a
estrada. — Estendo minha mão para ajudá-la a se levantar, e ela decide não
pegá-la.

Mulher independente e tudo isso. Bom para ela.

Ou ela é teimosa como uma mula e precisa de um bom tapa na bunda.

Da minha mão.

Porque mesmo que ela me deixe louco, seu corpo me deixa mais louco.

No próximo piscar de olhos, pesados cobertores de chuva desceram,


picando minha pele e encharcando meu cabelo. —Só pode estar a brincar
comigo! — Eu rujo para o céu e, em troca, raios se quebram no meio da
estrada em resposta.

Mary agarra minha mão e imediatamente me solta quando percebe o


que fez. Minha camisa está encharcada, a água está fluindo em minha boca
e eu quero me amaldiçoar por não prestar atenção ao maldito tempo.

Minha maldita moto está em cinzas e estou preso a uma mulher que me
irrita tanto quanto me excita.

Outro raio atinge o meio da estrada e as nuvens começam a girar. —Ah


não. — Quer ela goste ou não, pego sua mão e começo a correr na direção
oposta em direção às montanhas. Se eu sei uma coisa sobre tornados, é que
eles precisam de terreno plano para ganhar força. —Vamos. Nós
precisamos ir. Agora. — Como tudo isso pode acontecer em um dia?

Estou começando a me perguntar se os Ruthless Kings são


amaldiçoados. Sempre há alguma merda com a qual temos que lidar.

Sempre.

— Depressa, — digo a ela, arrastando atrás de mim enquanto


arrastamos nossa bunda para as montanhas.

— Estou correndo o máximo que posso! Meus pés estavam pegando


fogo um minuto atrás, se você não se lembra. — Droga, ela está certa. Em
vez disso, eu paro e a coloco em meus braços. —O que você está fazendo?
— Ela chia.

— Porra, correndo como eu quero. — Eu a jogo por cima do ombro,


envolvo um braço em torno de suas pernas e verifico atrás de mim para ver
se o funil está se formando. Meu coração dói quando vejo os pedaços
queimados da minha moto e as chamas diminuindo com a chuva. A
fumaça ficará lá por um tempo. Está tão escuro quanto o céu está girando.
Eu olho para cima para ver o início de um funil. As nuvens estão girando e
eu engulo, me perguntando se vamos conseguir fugir a tempo.

— Por que paramos? Está tudo bem? — Ela pergunta.

Não. Estamos prestes a ser forragem de tornado. Eu me viro e olho para


a floresta. As montanhas estão bem atrás dela, e eu sei que há muitos
cantos e fendas onde podemos nos esconder. Começo a correr em direção à
floresta novamente, através do vento e da chuva. Meus olhos ardem
enquanto a água os atinge. Eu não tenho a mão livre, então não posso
limpar meu rosto.

Pequenas gotas de granizo começam a cair em seguida. As nuvens


negras iluminam-se acima de nós, e um segundo depois, o trovão segue. Eu
assobio quando eles atingem minha pele e, quando entro na copa das
árvores, a única coisa que posso sentir é o perigo da tempestade que nos
cerca e o assobio do vento.

— Knives, estou pirando.

— Está tudo bem. Eu só quero ter certeza de que estamos longe da


ameaça. — Não quero dizer a ela que também estou pirando. Sinais ruins
em todos os lugares. Talvez este seja o universo me dizendo que se Mary e
eu ficarmos juntos, o mundo explodirá.

Porque nada deu certo desde que a beijei.

Droga, eu deveria ter respondido à chamada do Seer. Terei que me


desculpar com ele.

De repente, o vento acalma. A chuva para. Não consigo ouvir o granizo


batendo nas folhas ou caindo no chão.

— Foda-se, — eu assobio quando uma realização me atinge.

— O que? O que é? Eu não consigo ver nada além de sua bunda.

— Como se isso fosse uma coisa ruim. Tenho uma bunda ótima, —
digo, tentando manter as coisas leves enquanto corro para longe do
tornado.
Silêncio.

Até a natureza fala mais alto quando está quieta.

Eu irrompo pelo outro lado da floresta e meus pés cavam nas rochas
para nos estabilizar enquanto tentamos chegar ao topo.

— Eu já vi bundas melhores, — ela resmunga, e eu sei que ela está


brincando.

É melhor ela estar brincando.

Não gosto da ideia de ela olhar para outro homem, mesmo que eu não a
suporte.

Eu quero ser o único homem para quem ela olha com raiva, frustração,
aborrecimento e amor.

Amor. Não vamos enlouquecer. Vamos começar com gostar.

— Você vai calar a boca? Estou tentando salvar nossas vidas.

— Você está fazendo um ótimo trabalho.

O sarcasmo. Eu quero bater em sua bunda. —Sim, eu não vejo você


fazendo nada, dedos de fogo, — eu digo, afundando meus pés na lama
quando começo a escalar. Minhas botas escorregam, incapaz de manter
uma pegada decente.

— Bem, me coloque no chão e eu mostrarei o que posso fazer.

Sim, eu não sou estúpido. Ela vai me dar um soco no rosto. Eu a ignoro
porque tenho coisas melhores a fazer, como tentar nos encontrar um abrigo
em dois minutos antes de sermos sugados por um funil. Quando estou alto
o suficiente na montanha, olho para o deserto para ver a pequena fogueira
criada por minha motocicleta assim que o funil toca o solo. É lento, mal
girando, mas o funil em si está crescendo.

Eu coloco Mary no chão e a giro, apontando para o tornado. —Você vê


isso? Você vê por que estou tentando nos tirar daqui agora? Se você quiser
ajudar, ajude a procurar um lugar para se esconder.

— Oh meu Deus. Eu nunca vi um tornado antes, — ela sussurra, seu


rosto perdendo toda a cor.

— Nós vamos ficar bem, — eu digo, querendo dar esperança a ela.


Tempestades no deserto são intensas, às vezes rápidas, e surgem do nada.
Assim como esta. A alguns quilômetros de distância, posso ver o céu azul,
mas agora, essa bela cor azul está escondida pela escuridão. —Venha,
vamos dar uma volta. — Eu pego sua mão na minha novamente e a puxo
na direção que eu quero ir. Estou mantendo meus olhos em nosso entorno,
enquanto também tento ficar de olho no tornado. Está avançando
lentamente na estrada, mas os tornados têm vontade própria. A qualquer
momento, eles podem mudar de direção e mudar.

Quando chego ao outro lado da montanha, solto um suspiro de alívio


ao ver uma fazenda a cerca de oitocentos metros à frente. Prefiro estar em
um celeiro do que aqui ao ar livre.

—Certo, vamos lá, — digo a ela enquanto a coloco em meus braços


novamente. Ela grita e seus braços se enroscam no meu pescoço. Desta vez,
estou carregando-a como se fosse minha noiva, e algo sobre segurá-la dessa
maneira parece certo. É difícil descer uma ladeira com ela em meus braços,
mas prefiro estar no controle e saber que ela está segura do que me
perguntar se ela é capaz de acompanhar.

Além disso, suas botas ainda estão fumegando. Aposto que seus pés
estão quentes e a pele é sensível.

Minha perna lateja onde levei um tiro alguns meses atrás, e meu joelho
dobra, batendo contra uma pedra muito bem posicionada. Eu gemo,
rangendo os dentes enquanto a dor sobe pela minha coxa.

— Você está bem? Eu posso andar... — ela diz, colocando a mão na


minha bochecha.

— Não, está tudo bem. É o ferimento à bala. Eu pensei que estava


curado na maior parte, mas esta inclinação é uma merda. — Eu me
encontro encostado na mão dela por uma fração de segundo antes de me
colocar de pé.

Mary enterra a cabeça no meu peito enquanto a chuva começa a cair


novamente. As rajadas de vento, enviando água e areia contra nós em um
redemoinho de fúria. Alarmes tocam por toda a cidade, dizendo a todos
para se protegerem porque um tornado foi detectado.

Quando chegamos à cerca, eu a levanto por cima do poste de madeira,


exausto, com frio, encharcado de suor e lama. Eu a coloco no chão e pulo
em um salto, então a pego novamente. Se eu fosse aquele garoto magricela
que costumava ser, não seria capaz de fazer isso.
É por isso que me recuso a ser fraco. Eu não seria capaz de proteger as
pessoas de quem gosto.

Corro em direção ao celeiro degradado e, agora, quando o vejo, não é


uma fazenda, mas um prédio abandonado. Quando chegamos à porta do
celeiro, a madeira está quase podre, a fechadura enferrujada, mas é o
melhor que temos agora.

Assim que tento abrir a porta, o vento decide me empurrar. Eu levanto


minha cabeça para ver o turbilhão de nuvens, a chuva me cegando, e eu
resmungo, cavando meus pés na areia. Eu corri sobre uma maldita
montanha para escapar de um tornado apenas para ter outra forma deste
lado também, mas não vou deixar essa porra de tempestade me derrotar.
Eu me recuso a ser derrotado novamente.

Não vou deixar nenhuma situação tirar o melhor de mim.

Mary agarra a borda e a puxa com força. Com a ajuda dela, abrimos a
porta e estou surpreso. Eu não esperava que ela me ajudasse.

— Por que você está parado aí? Venha aqui, seu louco de merda, — ela
me agarra pela camisa e me puxa para dentro, onde está bom e seco.

Eu me viro, escondendo o choque no meu rosto, e fecho a porta,


deslizando a trava de madeira ao longo da largura para travá-la no lugar.
O interior é espaçoso, mas há feno e algumas mantas velhas de sela para
cavalos. Eu examino a sala, procurando por qualquer outra coisa que
possamos usar, quando vejo uma seção do celeiro onde há uma lona branca
cobrindo algo.
— Fique longe de objetos pontiagudos.

— Então eu deveria ficar longe de você, já que você sempre carrega


objetos pontiagudos, certo?

Eu não digo nada porque não tenho energia para discutir com ela ou
reclamar da semântica. Ela sabe o que quero dizer.

O telhado de zinco bate com o granizo e a chuva batendo contra ele. Os


velhos ossos do celeiro tremem com o vento, e Mary se abraça. Ela está
assustada. Eu não a culpo. Tempestades como essa não são divertidas.

Antes de caminhar até a lona branca, levanto seu queixo com o dedo,
fazendo tudo o que posso para não beijá-la. Beijar ela é uma má ideia. As
coisas viram uma merda quando nossos lábios se encontram, e se isso não é
um sinal para ficar longe dela, eu não sei o que é.

— Tudo vai ficar bem, — digo a ela, travando nossos olhos para que ela
possa ver a verdade nos meus. —Eu não vou deixar nada acontecer com
você.

— Você não pode prometer isso. Algo pode acontecer. Não sabemos
quanto tempo essa tempestade vai durar, e este celeiro está sendo
sustentado por esperanças e sonhos estranhos.

Eu sorrio com suas palavras idiotas e limpo uma gota d'água


pendurada em seu lábio inferior. Eu provei esses lábios, e eles são tão
deliciosos quanto parecem. —Posso prometer que não vou deixar nada
acontecer com você, Pequena Infernal.

— Eu não sou.
Eu bufo e deslizo meu polegar para fora de seu lábio enquanto me
afasto. —Você é um desastre de trem, mas tudo bem. Eu não teria você de
outra maneira. — Quando chego ao canto onde está a lona, agarro a ponta
do material amassado e o arranco. A poeira voa e minha bunda idiota
inala, me fazendo tossir. Eu aceno minha mão na frente do meu rosto e vejo
o que temos aqui. Quero saber se há alguma coisa para nos aquecer.

Diante de mim está uma moto vintage, mas a beleza se foi. Está
enferrujado de dentro para fora e os pneus estão furados. Há uma estrutura
de cama de ferro que precisa de algum cuidado amoroso. Há um baú preto
com dobradiças douradas, mas está trancado e, se houver uma chave, está
em algum lugar aqui. Eu não me importo em olhar.

— Eu serei amaldiçoado, — murmuro, me perguntando se estou vendo


o que realmente estou vendo. Há um fogão a lenha no canto. É pequeno,
mas é o suficiente para nos aquecer. Eu sei que não vou conseguir levantar.
Essas coisas são feitas de ferro puro.

— O que é? — Maria pergunta.

— Salvação, — eu digo, limpando as teias de aranha. Limpo minhas


mãos na calça jeans e começo a empurrar o fogão, mas ele não está se
movendo.

Parece que, se vamos nos aquecer, vamos ao forno, e não o contrário.


Pego a alça e abro a boca do fogão para ver se há algo dentro. Está muito
escuro para saber.
Eu pego um pouco de feno e coloco lá, em seguida, pego a mesa de
cabeceira mais próxima e a quebro em pedaços.

— O que você está fazendo! Essas são antiguidades.

— Está com frio? — Eu pergunto, mas não se preocupo em olhar para


ela. Deixo dois pedaços de lenha fora e coloco o resto no forno.

— Estou congelando, — ela estremece.

— Então cale sua boca e me deixe acender o fogo.

— Você é tão...

— Incrível? Jeitoso? Brilhante? Forte? Inteligente? Sou todo ouvidos. —


Eu acho que sou todas essas coisas? Não, mas eu sei que quando pareço
arrogante, isso a irrita.

— Você deseja, — ela diz, então grita quando um relâmpago cintila


entre as ripas de madeira do celeiro. O estalo alto a faz pular e o uivo do
vento fica mais forte. Tenho certeza de que estamos seguros aqui, mas não
tenho certeza por quanto tempo. Tudo o que posso fazer é ter esperança.

Coloco o feno entre os pedaços de madeira e começo a esfregar um


pedaço. Aprendi a fazer fogo quando tinha treze anos. Passei muito tempo
nas ruas, com frio, e a única coisa que tinha eram habilidades de
sobrevivência.

— Puta merda, — diz Mary enquanto os gravetos começam a soltar


fumaça.
— É normal ficar impressionada comigo. — Eu rolo meus lábios para
manter meu sorriso escondido.

— Na verdade, estou impressionada. Eu nunca vi alguém acender uma


fogueira assim antes.

Fico feliz que esteja escuro, porque posso senti-la me observando e, por
algum motivo, o sangue corre para meu rosto e eu coro. —Bem, quando
você está sozinho como eu, você aprende algumas coisas. — Eu não
deveria ter dito isso. Normalmente não falo sobre meu passado, mas,
felizmente, ela não pergunta sobre isso.

Eu cuidadosamente levanto o graveto e coloco no fogão, em seguida,


assopro, dando ao fogo o oxigênio de que ele precisa para se desenvolver.
Depois de alguns segundos, abro a tampa e a fumaça sai pelo topo.

Mary se senta ao meu lado enquanto eu tiro minha camiseta. —O que


você está fazendo? — Ela chia.

— Estou esquentando. — Eu junto minha camiseta e torço a água para


fora dela. Coloco a camiseta no fogão e ouço chiar. Em seguida, levanto,
abro o zíper da calça e puxo pelas pernas. —E estou enxugando minhas
roupas. — Também jogo no forno e sento no feno áspero. Eu ainda estou
em minha cueca. Ela está encharcada, mas não vou deixar meu pau sair
agora.

Ela pode cortar.

Eu me apoio nos cotovelos e aproveito o calor. A chuva contra o telhado


seria calmante se não fosse pelo trovão sacudindo o celeiro.
— Vamos, Pequena Infernal. Você está assustada? Não se preocupe, não
é nada que eu não tenha visto antes.

— Você nunca me viu, — ela diz com uma pontada de raiva.

Ela está certa. Eu não vi.

E se eu fizer isso, sei que o corpo dela será o melhor que já vi.

Ela adora me enganar.


Capítulo Seis

O homem realmente gosta de me testar, não é?

Bem, a piada é sobre ele.

Tiro minha jaqueta de couro e penduro na cabeceira de ferro. O celeiro


balança quando outro relâmpago bate lá fora, e a chuva está atingindo o
telhado de zinco com tanta força que não posso dizer se está chovendo ou
caindo granizo. As sirenes lá fora pararam, mas isso não significa que a
tempestade acabou. Knives e eu não temos escolha. Temos que ficar aqui, a
menos que queiramos ser apanhados pela chuva.

Eu puxo meu cabelo em seguida, juntando os fios grossos e


incontroláveis que eu não tenho coragem de cortar, e espremo a água. Em
seguida, eu torço e prendo meu cabelo em um coque, amarrando a mecha
de uma forma que o mantém alto e firme na minha cabeça, já que não
tenho uma faixa comigo. Essa é a vantagem de ter cabelo comprido. Posso
fazer praticamente o que quiser com ele.

Meu coração martela no meu peito. Estou tão nervosa que me pergunto
se estou prestes a ter um ataque cardíaco. Eu nunca estive nua na frente de
um cara que eu queria estar nua na frente. Eu nunca nem beijei um cara até
Knives. Talvez seja por isso que estou tão na defensiva comigo mesma
quando se trata dele. Ele não é o cara com quem eu me imaginei. Knives é
um motociclista. Um matador. Tatuado e gostoso.

Louco pra caralho de gostoso.

E realmente louco.

Quando ele entra em sua onda de violência, tudo ao seu redor


desaparece. Algo se agita em seu cérebro e uma névoa vermelha toma
conta. Ele não é o mesmo cara. Isso me assusta? Não.

Já estive nas garras de homens maus antes e sei que Knives não é um
deles, não importa o quanto ele goste de dizer que é.

Ele é um homem lindo e único. O tipo de cara que eu não consigo


entender, mas ele não é difícil de entender. Nunca pude gostar de pessoas
como ele, não com a forma como cresci. Minha casa era religiosa. Meu pai é
um pregador.

E não me refiro a um pregador de uma pequena igreja no meio do nada.

Ele é o pregador. Ele está na TV, em jornais e até batiza filhos de


celebridades.

Mas um homem religioso, meu pai não é.

Ele gosta de fazer um show todos os domingos e sorri para a câmera,


mas atrás de portas fechadas? Ele é um monstro.

Minha própria marca pessoal de inferno.


Eu tive coisas ruins acontecendo comigo minha vida inteira. Por baixo
dos Cardigans e pérolas que Knives gosta de trazer à tona está uma menina
com medo do escuro e do que nele se esconde.

— Ei, você não precisa fazer nada. Eu não estou tentando te deixar nua.
Juro. Honestamente, roupas molhadas...

— ...eu sei disso, Knives. — Tiro a camisa em seguida e coloco na parte


de trás do forno, depois baixo as calças, mas esqueci minhas botas. Eu
abaixo o zíper e as tiro junto com minhas meias. Tenho que dançar um
pouco, já que meus jeans estão grudados na minha pele, mas eu consigo e o
coloco ao lado da minha camisa.

Eu tive muita sorte. Knives me tirou a tempo antes que o fogo pudesse
corroer minhas botas e causar danos reais. Minha pele está um pouco
sensível, mas não está queimada.

Knives não esconde como ele verifica meu corpo. Seus olhos
permanecem no meu peito, quase como se ele estivesse memorizando os
detalhes da renda do meu sutiã. Quando ele termina, seus olhos caem para
o meu estômago, depois para as pernas, e então seus olhos vagueiam
novamente, parando no meu rosto.

Você sabe o que eu gosto sobre o Knives?

Ele não tenta esconder nada.

Eu odeio pessoas que se escondem, seu verdadeiro eu. Acho que


quando alguém tenta esconder suas más intenções, é isso que faz um
monstro.
Eu deveria saber. Eu morei com um por vinte e quatro anos.

E ele me tocou por doze deles.

Eu deveria ter medo dos homens depois do que meu pai fez comigo,
mas ter que ficar quieta sobre o que aconteceu trouxe outras coisas em
perspectiva. Sei que nem todos os homens são cruéis, mas sei que muitas
pessoas más existem no mundo.

Coisas ruins não acontecem com pessoas boas.

Pessoas más fazem isso.

E isso me fez amar e apreciar mais as pessoas boas. Talvez eu seja


diferente. Talvez eu não esteja chorando todas as noites ou tendo
pesadelos. Talvez eu não esteja me perdendo em bebidas ou drogas, mas
perdi algo sobre mim.

Estou apenas tentando encontrar.

— Você me dá dor de cabeça vinte e três das vinte e quatro horas por
dia, mas não posso sentar aqui e mentir para você e dizer que você não é
bonita, — Knives diz, honestamente, encontrando meus olhos e mantendo
as mãos para ele mesmo.

As chamas dançam em seus olhos azuis centáurea, e eles são tão


brilhantes. Eu nunca vi íris como a dele antes. Eles são únicos, assim como
ele.

— E a outra hora? — Eu provoco quando me sento no feno, o que me


coça e é muito desconfortável.
— Estou dormindo. É a única paz que eu consigo.

— Cale a boca, — eu rio, cutucando seu lado com meu braço. Eu me


inclino para frente e coloco meus cotovelos contra os joelhos, observando o
fogo enquanto queima. A chuva está batendo contra o celeiro e a porta
balança quando o vento sopra ao nosso redor.

— Não está diminuindo, está?

— Não, não está. Não posso acreditar que ficou tão feio tão rápido.

— O jeito do mundo é agridoce, não é? — Ele pergunta, ele se levanta e


quando eu vou perguntar onde ele está indo, meus olhos pousam em seu
pacote.

Seu pacote muito grande, muito longo, muito na minha cara. Ele tem
uma tatuagem acima do cós da cueca, logo acima de onde suponho que
estejam seus pelos pubianos, e está escrito 666.

O que isso significa?

Se uma mulher pular por cima, isso significa que ela foi possuída pelo
diabo?

Por que uma parte de mim quer descobrir?

— Você pode me dar uma dor de cabeça vinte e três das vinte e quatro
horas do dia, mas eu não posso sentar aqui agora e não dizer que você é
lindo também. — Chegou a minha vez para dar uma olhada nele. Ele é um
homem cabeludo com pelos grossos no peito e nas pernas. Suas tatuagens
decoram partes dele que realçam seu corpo, algo que posso dizer que ele
trabalha duro para manter as melhores condições. Ombros fortes, pescoço
grosso e, embora seja magro, ele tem a quantidade certa de volume para
seu corpo.

— E a outra hora? — Ele sorri, sendo atrevido.

— Estou xingando você.

Ele joga a cabeça para trás e ri ao mesmo tempo em que uma forte
explosão de trovões ressoa, estremecendo o celeiro e tudo dentro dele. —
Olhe só, — ele suspira. —Nós apenas nos cumprimentamos. Parece que
podemos ser civilizados, afinal. Eu vou pegar aqueles cobertores para
nossas bundas. Eu voltarei. — Sua mão cai no meu ombro e roça minhas
costas enquanto ele se afasta, despertando minha pele em arrepios e me
deixando tremendo.

Só que não estou com frio.

O que diabos está acontecendo entre nós? Descobrir isso me causa uma
maldita dor de cabeça.

— Tudo bem, levante-se. Vamos ficar confortáveis. — Ele coloca os


cobertores sobre o baú e desdobra o primeiro, depois o sacode do outro
lado dele. Knives estende o cobertor e depois faz o mesmo com o outro. —
Pronto, — ele diz.

Puxa, se eu não conhecesse melhor, eu acharia este momento romântico,


mas isso seria ridículo porque a série de eventos que nos trouxe até aqui
não foi.
Sento e faço o possível para não pensar na última vez que foram
lavadas. Temos sorte de estarmos vivos. —Obrigada, — digo a ele,
sentindo-me quente e corada.

Eu também não acho que seja do fogo.

Knives estando tão perto, e como as sombras curvam os músculos de


seus braços, abdômen e pernas, fazem com que ele pareça ser de outro
mundo.

— Eu me pergunto se há algo para beber neste lugar, — ele reflete,


olhando em volta no escuro.

— Está brincando né? O que quer que esteja aqui seria mortal.

Ele se joga no cobertor e cobre as pernas. —Você provavelmente está


certa, — diz ele, assim que o alarme soa novamente.

Prendo minha respiração e envolvo meus braços em volta de minhas


pernas, esperando que o tornado não esteja perto de nós. Espero que o
clube esteja bem. Espero que todos estejam seguros. Knives joga seu corpo
sobre o meu quando as paredes começam a tremer violentamente, e eu o
seguro, pronta para sermos sugados pelo túnel do tornado.

E então para, e Knives se afasta de mim, levando o manto de bravura e


força com ele.

— Acho que estamos bem, — ele tenta me tranquilizar, esfregando


círculos suaves nas minhas costas. —Mas vou tentar procurar um pouco de
álcool neste lugar. Os fazendeiros sempre escondem a bebida e, maldito
seja, se vamos ficar presos aqui, vamos fazer isso direito. — Ele levanta de
novo e parece nervoso e inquieto, como se tivesse que estar fazendo algo.
Quer dizer, agora que penso nisso, ele sempre está. Ele está sempre
malhando, sempre fazendo estrelas ninja, sempre praticando sua pontaria,
ou ele está na garagem ou no Kings Club ajudando Tool.

Ele está sempre fazendo alguma coisa, e tenho certeza que descansar
não é algo com que está acostumado.

— Eu voltarei, — diz ele novamente, passando aqueles dedos calejados


ao longo das minhas costas novamente. Minha pele se arrepia de novo,
descendo pelos nós da minha espinha.

— Claro, — eu sussurro, observando-o disparar para a escuridão. Posso


ver o contorno de sua figura toda vez que um raio explode lá fora. É como
um show. Quando o vejo, ele está em outro lugar em uma nova posição. E
com um flash, o contorno de seu corpo aparece novamente, e mesmo
daqui, eu posso ver o quadrado, corte da mandíbula cortando a noite
repentina.

— Ah-ha! — Ele comemora, segurando uma garrafa. —Te disse. — Ele


corre de volta para mim e se senta no cobertor, limpando a poeira da
etiqueta para ver o que é. Ele assobia. —Droga, este é um uísque de
cinquenta anos.

Meu nariz torce com o quão horrível isso soa.

— Não é uma bebedora de uísque, hein? Poderia ter me enganado antes


de nos livrarmos da bebida no clube. Eu vi você virar algumas garrafas.
— De vodca ou tequila, mas não de uísque. Bleh. — Eu balanço meu
corpo inteiro como se apenas a palavra me enojasse.

— Me faça um favor e experimente, — diz ele, tirando a tampa e dando


um gole. Ele não vacila, mas meus olhos estão queimando daqui com a
força do uísque.

Aposto que este uísque pode ligar um cortador de grama. Me faz


perguntar o que diabos isso vai fazer ao meu corpo. A garrafa pesa na
minha mão e ainda posso sentir a sujeira no vidro dos anos que estou neste
celeiro. —Tenho a sensação de que vou odiar você por isso, — digo a ele.

— Você já me odeia, lembra? — Há uma nota de provocação em seu


tom, mas nas profundezas, há essa quebra de dor que faz suas palavras
racharem.

Viro a garrafa como se tivesse feito uma dúzia de outras vezes e


estremeço, tusso e, de alguma forma, consigo engolir. O líquido queima,
exatamente como eu pensei que faria. Meu estômago aquece e meus olhos
lacrimejam, mas o gosto residual não é tão ruim.

— Está crescendo cabelo no peito? — Ele pergunta, dando outro golpe.

— Bem, tenho certeza de que estou gerando cabelos, mas nada como o
seu. — Limpo minha boca e rio quando ele cai para o lado, agarra seu
estômago e ri. É profundo, como se estivesse preso em seu intestino e não
consigo encontrar uma saída. É rouco, um tipo de risada maior do que a
vida, o que é curioso para mim, porque quando ele está perto dos caras, ele
fica mais sério.
Ele me entrega a garrafa, enxugando os olhos enquanto ganha o
controle de si mesmo. —Bem, não me deixe impedir você de ser um
homem.

Eu bufo, e o ar corre para dentro do vidro, causando um assobio. —Eu


sou melhor do que um homem, — informo-o, tomando outro grande gole.
Depois do primeiro, o segundo não é tão ruim.

— Oh sim? Como pode ser isso?

— Eu sou uma mulher. — Tomo outro gole para um efeito dramático.

— Uma merda de dor na minha bunda é o que você é, — ele brinca,


tirando a garrafa de mim.

Por hábito, coloco meu cabelo atrás da orelha, esquecendo que o prendi
em um coque. Knives e eu caímos em um silêncio confortável, o ruído
branco da chuva reconfortante em vez de ameaçador. A pior parte da
tempestade deve ter passado.

— Sinto muito pela sua moto, — digo, brincando com uma palha de
feno. Eu repetidamente dou um nó nela até que não seja nada além de uma
bola, jogo no fogo e pego outra.

— Sim eu também. Merda acontece, certo?

— Hoje sim, — eu resmungo, roubando o uísque dele.

— Sim, hoje foi um show de merda. Eu não posso ajudar, mas me


pergunto se é por isso que Seer me ligou outro dia.

— Você não respondeu?


— Não. Não sou o tipo de pessoa que quer saber seu futuro. Eu quero
que aconteça quando acontecer.

— Não sei. Se alguém tivesse me dito que eu seria acorrentada em um


porão antes de acontecer, eu gostaria de saber. — Eu mantenho minha voz
leve e brincalhona, mas Knives não acha nada engraçado.

— Não faça isso. Não brinque sobre o que aconteceu com você como se
não importasse. Importa.

— Não estou dizendo que não. Estou dizendo que se alguém tivesse a
capacidade de me dizer que algo horrível estava para acontecer comigo, eu
gostaria de saber, mas isso não impede que outras coisas terríveis
aconteçam, não é? — O fogo na minha frente reflete o quanto estou
zangada.

Talvez seja por isso que sou tão imprudente. Porque eu tenho essa raiva
dentro de mim queimando minha humanidade a cada momento que estou
acordada.

— Quer saber uma coisa? — Eu pergunto logo em seguida, sem


realmente dar a ele a opção de dizer não. —Quando me vi acorrentada
naquele porão em Atlantic City, uma maldita coleira enrolada em minha
garganta e minhas mãos amarradas, você sabe o que eu finalmente pensei?
— Meus olhos começaram a lacrimejar, mas a última coisa que eu queria
fazer era chorar na frente do Knives.

Deve ser o uísque.


Eu tomo outro gole e suspiro, girando a garrafa até que o licor âmbar
crie seu próprio funil. —Pensei, finalmente uma pausa. Eu fui das mãos de
um monstro para outro, mas o que é ainda mais nojento é quando olhei
para os motoqueiros que queriam me usar, não me importei. Eu estava feliz
por estar longe de casa, longe do homem que anestesiou a parte de mim
que deveria se importar. O capítulo de Atlantic City, eram idiotas e pessoas
horríveis, mas pelo menos eles não eram uma família. Não é triste? Quase
fiquei ansiosa pelo toque deles, Knives. Uma parte de mim acolheu isso.
Não sou como as outras mulheres que Boomer salvou. Estou mais
preocupada com o que aconteceu comigo antes de terminar naquele porão.

Ele rouba a garrafa de mim, coloca a tampa e a joga de lado. —Vou


precisar que você esclareça isso, Mary. O que você quer dizer com não se
importou? Você sabia o que eles iam fazer com você, certo? Eles não eram o
tipo de homem que diria que te amava ou afofaria seu maldito travesseiro à
noite.

— Eu sei. Eles iam me drogar, me deixar maluca, me esgotar e me


cuspir. Eu sei. Sim, isso não me assustou. Como eu disse, teria sido uma
boa mudança da norma.

— E qual era a norma? — Ele pergunta.

Eu me viro para ele quando ouço a raiva assassina. Sua mandíbula


lateja, e o Knives que está prestes a girar o botão e desaparecer a partir
deste momento está perto da superfície.

— Não importa.
— Isso importa a mim. Ninguém sabe nada sobre você.

— Eu também não sei nada sobre você, — aponto, em seguida, estendo


a mão para roubar o uísque dele, mas ele o arranca de mim a tempo.

— Eu sou um livro aberto.

— Com uma maldita fechadura para a qual ninguém tem a chave, — eu


digo, e minhas palavras o pegam de surpresa, então eu me apresso para
pegar a garrafa. —Tem que ser mais rápido do que isso!

E então ele puxa para longe de mim enquanto eu tiro a tampa. —Tem
que ter um aperto mais firme do que isso! — Ele pisca, e a forma como seus
cílios enrolam na ponta e se espalham sobre sua bochecha, o calor me
inunda.

Meus mamilos arrepiam e puxo minhas pernas até o peito para


esconder os traidores. A maneira como ele diz, ‘que preciso de um aperto
mais forte’ parece que há implicações nisso, como se ele estivesse me
contando um segredo sujo.

Talvez ele goste de um aperto forte?

— Então, qual é a história de Mary St. James, Pequena Infernal? O que


ela tem de selvagem? — Ele pergunta, os olhos brilhando com humor.

Ser selvagem não é novo.

Minha vida selvagem não está sendo sufocada.

Eu estou livre.
No momento em que pude, libertei o que estava escondido dentro de
mim por tanto tempo. Não se trata de ser indomável ou rebelde.

É sobre viver, e isso é tudo que eu sempre quis.

Eu sempre quis apenas me sentir viva.

Não apenas para acordar todos os dias, agradecida pelo batimento


cardíaco em meu peito, mas pela eletricidade em minhas veias e a batida
selvagem do meu coração quando algo emocionante acontece, aquele tipo
de vida.

Estive procurando e encontrei.

E eu luto com ele todos os dias.


Capítulo Sete

Eu quero matar o homem que tornou esse tipo de abuso uma norma
para ela. Como diabos ela pode sentar lá e me dizer que estava ansiosa
para ver o que o capítulo de Atlantic City tinha reservado? Eles eram
monstros. Uma garota como ela com as pérolas, a classe, as riquezas, ela
não deveria conhecer as dificuldades da vida.

Eu acho que não importa de quais estilos de vida as pessoas vêm,


merda acontece que vai te mudar para sempre.

— Eu sinto que tudo o que estamos fazendo é falar sobre mim, — ela
diz, sua voz suave com um toque vintage. Como se eu pedisse uísque com
gelo, sua beleza seria o uísque, e sua voz seria o gelo.

É a única maneira que sei como descrevê-lo

— O que você quer saber? — Eu olho para cima no momento em que


outro estrondo ressoa pela noite.

— Eu quero saber seu nome verdadeiro.


— Você não sabe? Não é como se fosse um segredo. Eu não sou como os
outros caras. Um nome é um nome.

— Eu não sei, — ela responde.

— Thomas.

Ela sopra um bufo com os lábios enquanto gargalha, quase caindo para
trás em porra de ataques de risos. Eu não posso deixar de sorrir. —O que?

— Thomas? Eu não sei o que esperava. Tyron ou Zeke, talvez Loch ou


algo durão, não algo nerd.

— Knives é foda, — protesto, chocado e quase ofendido. Quase.

— Exatamente. Você é esse cara fodão. Você tem tatuagens e músculos.


Você é um motociclista. Mas chamar você de Thomas, eu não posso, — ela
ri. —Thomas é um garoto de fraternidade que usa calças cáqui.

— Eu odeio cáqui, porra, — murmuro, lembrando da época em que


minha mãe me fez usá-los. Eu só usei uma vez, e foi nesse dia que perdi
minha família inteira.

— Eu não queria te deixar bravo. Eu sinto muito.

Pego a mão dela e está quente do fogo. —Você não fez. Sou eu.
Memória ruim.

— Um centavo pelos seus pensamentos? — Ela pergunta, se


aproximando de mim. Espero que ela afaste a mão, mas ela não o faz. Eu
deveria mover minha mão.

Eu não sei se consigo. Lutar com ela é muito exaustivo.


Minha vida inteira foi uma luta. Chega um ponto em que alguém na
minha posição tem que aceitar que algo que eu pensei que poderia ser ruim
para mim será o melhor para mim. Não estou acostumado com coisas boas.
Estou acostumado com a dor, maravilhando-me com ela, mergulhando
nela.

Eu não quero que Mary se transforme em dor. Não consigo lidar com a
ideia de que algo aconteça com ela para adicionar mais agonia à perda que
já experimentei. E se eu me apaixonar por ela, o que, por mais louco que
possa parecer, posso me ver caindo forte pra caralho, e algo ruim
acontecer? Eu ficarei pegando a sombra de mim mesmo novamente.

Já fiz isso muitas vezes e não acho que poderei fazer de novo.

Não falo sobre o meu passado, mas como ela compartilhou um pouco
de si comigo, e como estamos presos neste celeiro sabe-se lá quanto tempo,
nos conhecermos parece ser a única opção. Poderíamos foder, mas eu
preciso ganhar ficar entre essas pernas, e não vou fazer isso em uma pilha
de feno no meio de uma tempestade.

Em primeiro lugar, é clichê e, em segundo lugar, não estamos brigando,


e isso precisa durar mais do que um maldito dia.

Eu quero ganhar a confiança dela. Eu quero... inferno, eu a quero.

Devo querer uma dor de cabeça para o resto da vida.

— O que você quer saber? — Eu me inclino para trás, me apoio nos


cotovelos e espero não ter que cavar muito fundo.

— De onde você é?
— Aqui. Vegas.

— Mãe? Pai? Família?

Droga, ela tem que atingir todos os pontos que eu não quero falar, não
é? Faz sentido, já que ela adora me deixar louco.

Eu balancei minha cabeça. —Não, minha família morreu quando eu era


criança. Eu cresci em um orfanato. — Eu tomo outro gole de uísque, mas
não é o suficiente para queimar a dor do meu peito.

— Eu sinto muito, Knives. — Ela aperta a mão dela na minha. —Posso


perguntar o que aconteceu?

— Acidente de carro, — eu sussurro, pensando na melhor memória que


eu tive. —Lembra do Halloween? Quando quase me afoguei por causa do
irmão de Tongue?

— Sim, ainda não consigo superar esse detalhe, — diz ela. —E sim, eu
me lembro. Foi terrível. Eu estava tão preocupada com você.

— Oh, eu aposto.

— Ei, podemos brigar, mas eu me importo. Eu nunca quero ver você se


machucar.

— Eu também não quero ver você se machucar. — Minha voz se


aprofunda, e o ar entre nós faísca, estalando como o relâmpago lá fora. Eu
traço seus dedos com meu dedo indicador, amando o quão macia ela é e
me perguntando como alguém poderia machucar alguém como Mary. —
As pessoas dizem que sua vida passa diante de seus olhos quando você
morre, mas eu não tive essa experiência. Eu revivi um dia. — Eu sorrio
quando penso em minha irmã correndo atrás de mim, eu correndo atrás
dela e minha mãe gritando para que parássemos. —Era um dia normal,
lindo, e o sol estava alto. Papai estava fazendo churrasco, e minha irmã e
eu éramos tão estúpidos quanto ladrões. Mamãe estava nos observando
para ter certeza de que não nos machucamos, mas me lembro de ter rido.
Decidimos ir ao cinema naquela noite e, do nada, um caminhão passou por
um sinal vermelho e bateu direto em nós.

Ela engasga, colocando a mão sobre os lábios. —Oh Deus, — ela diz,
apertando minha mão ainda mais forte.

— Meus pais morreram na hora, mas minha irmã... — Minha garganta


se fecha quando me lembro do momento como se tivesse acontecido
ontem. —Ela tinha este pedaço de metal, bem aqui... — Eu esfrego o lado
do meu pescoço, um espaço bem embaixo da minha orelha. —Ela não
conseguia respirar. Havia muito sangue. Fui o único que saiu sem
ferimentos, dá para acreditar? Eu estava seguro. Que merda é essa? —
Meus olhos borram, pensando no rosto jovem da minha irmã e seus longos
cabelos cobertos de sangue. —Ela olhou para mim, incapaz de falar. Ela
tentou. Ela continuou tentando falar comigo, mas sua garganta estava
esmagada. Segurei sua mão e esperei que a ajuda chegasse, mas quando
eles chegaram, ela já havia morrido.

Mary está chorando, grandes lágrimas molhando as bordas afiadas de


suas bochechas. —Knives, sinto muito. Lamento muito que tenha
acontecido com você. — Ela joga os braços em volta do meu pescoço e
enterra o rosto no meu ombro. Demoro um segundo para reagir, porque
não me lembro da última vez que alguém me abraçou.

Eu envolvo meus braços em torno dela também, puxando-a com força e


apreciando a maneira como ela sente contra mim. Eu inalo seu cheiro, me
perdendo em seu conforto, e uma lágrima cai, escorrendo pela minha
bochecha até cair em seu ombro. Não choro há muito tempo, mas Mary me
deixa de joelhos. Ela me abre, e acho que sempre fez. É uma das razões
pelas quais brigamos tanto. Ela me deixa vulnerável.

Eu odeio ser vulnerável.

Eu odeio... sentir. Eu não estou acostumado a isso. Com Mary por perto,
é como se as paredes que construí ao meu redor desmoronassem e a
recebesse em casa para me curar.

Mas sinto falta do que minha vida poderia ter sido. Eu sinto falta da
minha família. Tenho saudades do meu melhor amigo. Eu odeio o que
minha vida se transformou depois que meus pais morreram, mas agora,
minha vida não é tão ruim. Demorou muito para chegar aqui, no entanto.
Muito tempo, e eu empurrei a dor para longe, tranquei-a dentro, joguei a
chave fora e perdi a esperança de que meu coração batido pudesse ser
outra coisa senão enfraquecido e cansado.

Mary está soprando vida em mim, e isso me apavora mais do que a


própria morte.

A morte é fácil.

E eu acho que estava esperando que ela voltasse para mim.


Não tenho medo de muitas coisas. Adoro fazer as pessoas ficarem com
medo de mim, mas as emoções colocam até os homens mais fortes de
joelhos.

Ela se afasta e se senta em seu lugar, antes que eu estivesse pronto para
soltá-la, mas não quero que ela fique em meus braços. Eu quero que ela
queira estar lá. —Eu preciso de uma bebida, — diz ela, pegando a garrafa e
tomando um gole. —Ninguém deveria ter que experimentar isso.

— Não parou por aí, — eu digo em um pequeno sussurro, esperando


que ela não me ouça, mas ao mesmo tempo, esperando que ela ouça. —O
cuidado adotivo é uma droga. Eu percorri muitos. Eu não era a criança de
que todo mundo gostava. Eu era um solitário, um esquisito, magricela...

— Você era esquelético? De jeito nenhum, eu não acredito nisso por um


segundo.

— Acredite. Eu também era baixo. E o maldito alvo da piada de todos.


Eu fugi um pouco quando tinha treze anos. Foi quando aprendi a fazer
fogueiras. — Eu não posso acreditar que estou dizendo isso a ela. Ninguém
sabe disso sobre mim, mas ela me dá vontade de conversar. Ela me faz
querer curar. —A maioria dos pais adotivos que eu tive, eles estavam nisso
pelo contracheque. Eles teriam tantos quanto pudessem e todos nós
dividíamos um quarto às vezes. Só podíamos tomar banho uma vez por
semana, comer certos horários durante o dia, então eu era magro e cheirava
mal a maior parte do tempo.

— Isso deveria ser ilegal. O sistema não deve permitir que isso aconteça.
— O sistema falha com todo mundo o tempo todo, mas houve uma
coisa boa que saiu disso. — Eu sorrio quando me lembro de seu rosto. —
Mason. Reaper sabe sobre Mason, mas apenas porque Mason andava pelo
clube quando éramos adolescentes. Quando ele envelhecesse para sair fora
do sistema, ele iria prospectar, mas isso nunca aconteceu.

— Por que?

— Por minha causa, — eu admito, baixando minha cabeça. Eu mereço a


vergonha e a culpa me lavando. —Nem sempre estive em forma. Nem
sempre tive um metro e noventa. E havia um grupo de crianças, três deles,
e eles adoravam me dar uma surra em cada chance que tinham. Mason,
mesmo sendo um filho adotivo, ninguém deu a mínima para ele. Ele era
grande para sua idade, forte, quase parecia um homem e era apenas um
ano mais velho que eu. Ele era meu protetor. Meu irmão, quando eu não
tinha mais ninguém.

Sua mão desliza sobre minha coxa e aperta, me dizendo que ela está
aqui e ouvindo. Quanto tempo se passou desde que falei com alguém e eles
me ouviram de boa vontade? Eu nem consigo me lembrar.

— Ele era tudo que eu tinha, e aos quinze anos, isso é um grande
negócio. Especialmente quando parecia que o mundo inteiro estava contra
você. Ele tentava me proteger o tempo todo, mas ele nem sempre podia
estar lá, e eu era chutado a merda pra fora de mim.

— Se eles apenas vissem você agora... — diz ela, deixando claro que eu
seria a porra do pior pesadelo deles.
A chuva continua a bater no telhado de zinco, e abro o fogão para enfiar
outro pedaço da mesa de cabeceira lá, junto com feno, para manter o fogo
rugindo. —Eu estava voltando da escola para casa um dia e decidi pegar
um atalho. Era uma velha estrada secundária, tenho certeza de que ainda
está lá, mas não verifiquei. Eu não fui capaz de voltar. Eles o chamaram de
Modo Diverso porque é onde as pessoas jogam tudo e qualquer coisa. Se eu
tivesse ido por outro caminho para casa, tudo estaria bem, mas eu não fui,
então Mason veio me procurar.

Solto um grande suspiro até que não tenho mais ar em meus pulmões e
envolvo meus braços em torno dela novamente e a puxo para perto.
Nossos joelhos se tocam e suas mãos caem nas minhas pernas.
Provavelmente não é confortável para ela, mas preciso estar perto dela. Eu
lutei contra isso antes, lutando com ela, e espero que esta noite nos ajude a
superar isso.

— Eu me protegi com algumas facas velhas, esfaqueei um garoto, e bem


quando eu estava prestes a atacar os outros, Mason estava lá, me salvando
como sempre fazia. Só que desta vez, ele não usou ameaças para assustar
as crianças. Ele tinha uma arma e atirou em todos eles. Ele me disse para
correr, mas eu queria assumir a responsabilidade, mas ele não me deixou.
Ele disse, ‘sempre assuma a responsabilidade por suas ações,’ e a polícia
veio. Corri para um galpão e observei os oficiais sacarem suas armas.
Quando lhe pediram para largar a arma, o cano estava apontado para eles e
eles atiraram.

Pow. Pow. Pow. Pow.


Quase consigo ouvir o zumbido em meus ouvidos.

— Eu o vi morrer e cair sobre os caras que matou. Por mim. Sempre foi
por mim, e isso me irritou. Antes de morrer, ele me disse para ir ao bar de
motoqueiros por onde sempre passávamos, e foi onde conheci o pai de
Reaper, que era o presidente, e Reaper era apenas alguns anos mais velho
que eu. Eles têm sido minha família desde então, mas ainda dói como o
inferno pensar na família que perdi.

Suas mãos estavam no meu peito. Meu coração bate forte com as
memórias tristes correndo por mim e a forma como o calor dela penetra em
mim, envolvendo a dor em minha alma como o fogo vindo do fogão ou um
cobertor.

Nunca pensei que a tristeza pudesse ser descongelada e aquecida até


atingir o alívio, mas aqui estamos. Eu coloco minha mão em cima da dela e
esfrego o topo. Estou aberto, em carne viva e me sinto fraco.

Um sentimento que eu nunca quis sentir novamente, mas ela está aqui,
e a fraqueza não é tão ruim quando ela está me tocando.

— Isso não deveria ter acontecido com você, — ela sussurra, levantando
os olhos do meio do meu peito para encontrar os meus. Ela está tentando
não chorar, mas as lágrimas escorrem de qualquer maneira. —Coisas ruins
acontecem com todo mundo.

— E você? O que a fez pensar que o Capítulo de Atlantic City era um


novo começo? — Ela balança a cabeça e as lágrimas refletem no brilho do
fogo ao nosso lado. Uma cai, depois outra, e tento pegá-las e enxugá-las,
mas não sou rápido o suficiente.

— Eu sou de uma família muito religiosa, — ela sussurra, olhando para


mim. —Meu pai é um pregador.

— Eu sei, — digo, pensando em quando Reaper nos chamou para a


igreja e Badge deu uma atualização sobre as meninas que resgatamos.
Mary St. James era filha de um pregador, um pregador famoso que ganha
muito dinheiro, mas Mary não me parece o tipo religiosa. Agora que estou
começando a conhecê-la, estou começando a perceber que sua rebelião não
é nova, mas está escondida.

— Você sabia? E todas as vezes que brigamos, você não tentou me


criticar?

— Eu sou um idiota, mas aquela era sua família. Eu não ia dar um tapa
na sua cara. Especialmente porque você é tão inflexível em não voltar para
eles, então fiquei quieto. Assim como todo mundo. Muito engraçado,
porém, a filha do Pregador saindo com motociclistas. Aposto que seu pai
teria um ataque cardíaco.

— Eu duvido, — diz ela, um aperto plano e monótono em sua garganta.


—Ele também não é muito religioso. Ele é uma farsa. Ele é horrível. — Seus
dedos cavam em meu peito, suas unhas beliscando minha pele como se ela
desejasse que ele estivesse na frente dela para que ela pudesse arrancar seu
coração. —Ele é a razão pela qual Atlantic City não era tão ruim. — Seu
olhar encontra o meu, e ódio, santo inferno, ódio diferente de tudo que eu
já vi antes, pisca em seus olhos.
Achei que ela não gostasse de mim, mas não foi o que aconteceu. Agora
que vejo como é o ódio dela, posso dizer com segurança que estou do lado
dela.

— Por doze anos, ele me molestou. Doze. Longos. Torturantes. Anos.

E assim, a paz que senti desaparece. Eu a levanto de cima de mim


porque, de alguma forma, ela encontrou o caminho para o meu colo. Eu
começo a andar, sentindo a necessidade de sangue bombeando em minhas
veias. Eu estalo meu pescoço, agarro os lados da minha cabeça e rosno.

Estou quebrando.

— Knives?

— Ele fez o quê? Por quanto tempo? Eu vou matá-lo. Eu vou matá-lo,
porra! — Eu grito tão alto que alguém lá em cima deve me ouvir, porque
um trovão ressoa no chão e relâmpagos surgem no alto. Estou puto pra
caralho.

Doze anos enjaulado.

Doze anos em sua própria prisão.

Doze anos em silêncio.

Doze anos agindo normalmente.

Não admira que ela seja como ela é.

Ela está livre agora. Não é de se admirar que ela seja uma maldita
infernal quando a oração não a leva a lugar nenhum.
E então eu a estive beijando, jogando meus lábios nela porque eu não
podia esperar mais um segundo. Ela ao menos queria isso? —Sinto muito,
Mary. Eu não sabia. Eu não teria... eu teria respeitado seu espaço e não te
beijado.

— Não faça isso, não tire isso de mim. Eu não sou alguém que está
arruinada por seu passado. A única coisa que não quero é ir para casa.
Nunca mais quero ir para lá, mas quero seguir em frente com minha vida.
Eu quero mais do que eu tinha. É por isso que eu estava bem com Atlantic
City, pelo menos teria havido variedade...

Ouvir ela falar assim, sobre ser estuprada e abusada por homens
diferentes, tem uma fera possessiva crescendo dentro de mim que eu nunca
senti antes. Mal respirando, seguro seu rosto e espero que ela possa ver o
frio em meus olhos enquanto faço uma promessa. —Eu juro, eu prometo,
vou matá-lo. Ele nem mesmo terá que estar mais no fundo da sua mente.
Eu vou caçá-lo. Eu vou...

Ela me silencia ao me beijar desta vez, e seus lábios são lava


encharcando minhas veias, me aquecendo da cabeça aos pés no meio deste
inverno no deserto. Minhas mãos vão de macias a duras ao longo de sua
mandíbula enquanto eu assumo o controle, deslizando minha língua entre
seus lábios. Isso não é bom. Estamos quase nus, seus seios estão esfregando
contra meu peito, meu pau está duro e vazando, mas eu sei que a última
coisa que quero fazer é transar com ela aqui.

Mary merece mais do que uma merda de palhas.

Não, ela nem merece ser fodida, ela merece mais do que isso.
Como diabos eu dou para ela? Eu nunca experimentei nada assim antes.
Nunca me senti assim por ninguém antes. Isso está me consumindo.

Suas mãos deslizam pelo meu peito enquanto as minhas descem por
suas costas, as linhas suaves e a curva de sua coluna delicada me fazem
rosnar baixo em minhas entranhas. Seus dedos provocam o cós da minha
cueca, mas eles não entram, então eu a pego.

Eu não agarro sua bunda, eu não seguro seus seios como eu realmente
quero, porque eu quero que ela seja capaz de dar as cartas.

E eu não vou mentir, ter seus dedos me provocando como se isso fosse a
coisa mais sexy que eu já experimentei. Meu estômago aperta, e o toque
parece... íntimo. Minhas sobrancelhas franzem, tentando entender o que é
intimidade.

Eu não amo.

Eu quebro pessoas.

Eu não sou uma pessoa em quem alguém se arrisca porque eu não


deixo.

Eu chupo seu lábio em minha boca e gemo quando suas unhas afundam
em meus ossos do quadril. Esta é uma má ideia. Só porque estamos nos
dando bem agora, não significa que sempre iremos. E se não formos
construídos para amar como as outras pessoas amam?

Então, vou me desconstruir e encontrar uma maneira de construir a


base de quem eu sou novamente. Ela merece o esforço de eu tentar.
— Knives, — Ela engasga, dizendo o único nome que eu realmente já
senti que combinava com minha alma. Meu pau estremece de quão frágil
meu nome soa caindo de seus lábios. Nos deito no cobertor, caio de lado,
para não ficar aninhado entre suas pernas como quero e manter minhas
mãos em sua cintura.

Minhas bolas puxam contra meu corpo quando ela chupa minha língua
em sua boca e me acaricia como eu imaginei que ela faria com meu pau.
Meus olhos rolam para a parte de trás da minha cabeça e um bocado de
pré-sêmen desliza pelo meu eixo.

— Mary, — eu murmuro seu nome, colocando minha testa contra a dela


enquanto tento fazer isso parar. —Você não tem ideia do que eu quero
fazer com você. — Eu bato minhas mãos em cada lado de sua cabeça e
agarro o cobertor em meus punhos, tentando espremer todo o desejo no
feno sob nós. Meu corpo inteiro treme por ter ficado no controle, quase me
sufocando.

— Eu... nós podemos... — ela tenta encontrar as palavras, mas eu a


interrompo.

— Não quero que estejamos aqui neste celeiro pela primeira vez, Mary.
Eu sou um idiota de merda e já fiz um monte de coisas questionáveis, mas
não vou pegar você e reivindicá-la antes de estar pronta.

— Me reivindicar? — Ela levanta uma sobrancelha curva para mim, um


tom questionador e desafiador. Ela não gosta da ideia de ser possuída.

Isso é muito ruim.


— Reivindicar você, — eu baixo minha voz. —Porra, mostrar quem é o
dono de você e deste corpo, mostrar que a única luta que você vai me dar a
partir de agora é aquela que você cede quando eu estiver com vinte e cinco
centímetros de profundidade.

Sua boca se abre e as chamas me permitem ver o rubor manchando suas


bochechas. — Knives... eu...

— Não agora ou amanhã, mas quando você estiver pronta. Você pode
agir como as vadias do clube o quanto quiser, Mary, mas eu a conheço
bem. Você não é o tipo de mulher que se entrega assim.

— Talvez eu não queira ser reivindicada. Ou possuída. Já pensou nisso?

Sua repentina reversão me deixou na defensiva.

— Mary, não é...

— Talvez eu devesse reivindicar você. Talvez eu queira fazer você meu.

Isso me deixa confuso. Eu olho para ela, então olho de volta para cima,
totalmente sem saber o que responder.

— Isso te incomoda? — Ela pergunta, cruzando os braços sobre o peito


para se esconder. Eu não a tinha visto assim antes, ingênua, mas acho que
ela é. A única pessoa com quem ela esteve é o pai dela, e isso me deixa
doente pra caralho.

Eu envolvo meus dedos em torno de seus pulsos e os coloco


suavemente em cada lado de seu corpo para que eu possa ver os montes de
seus seios escondidos atrás do sutiã. —Não, Pequena Infernal. Você está
me fazendo aprender muito, só isso.

— Isso é uma piada? Como podemos estar na garganta um do outro em


um minuto e deitados aqui no próximo? Eu não quero nada além de beijar
você de novo, mas se vamos brigar o tempo todo de novo, talvez não
devêssemos fazer isso.

— Não vou deixar isso me impedir. — Não me importa se brigarmos, se


ela gritar ou se me dar um soco no estômago com a perna falsa que dei de
Natal. Dor de cabeça e tudo, temperamento e tudo, brigas, gritos e tudo
mais.

Eu não me importo com o que vem com isso.

Eu percebo o que eu quero, não, o que eu preciso é ela.


Capítulo Oito

Não tenho ideia do que estou fazendo ou por quê.

Tudo o que sei é que Knives é mais do que eu pensava que ele era. Não,
isso não é verdade. Eu sempre pensei que havia mais nele do que aparenta,
mas ele se escondeu atrás de seu comportamento frio, as tundras
congeladas de seus olhos e suas estrelas ninja.

Brigamos um contra o outro porque estávamos lutando contra o que


sentíamos um pelo outro. As coisas ainda podem não estar perfeitas. Pelo
que parece, não sabemos como ter uma coisa boa quando estamos
rodeados de coisas ruins.

Ele cresceu pobre e perdeu tudo.

Cresci rica e não tinha nada.

Somos feitos do mesmo tecido.

— Posso assistir você e você me assistir? Porque eu preciso diminuir a


tensão, Knives.
Eu mal tenho a pergunta fora da minha boca antes que ele sele seus
lábios em mim novamente. Ele desliza entre minhas pernas, seu pau duro
esfregando contra meu clitóris, e suas mãos deslizam pelos meus ombros,
segurando meus seios, e ele geme em minha boca. Cada centímetro de mim
está perdido no toque que ele dá. Eu nunca fui tocada assim.

Meu pai roubou de mim.

Eu nunca fui explorada e Knives quer. Eu posso dizer que ele está
tentando me respeitar ao mesmo tempo, e isso só faz meu coração se
apaixonar por ele ainda mais. Eu choramingo e grito quando algo duro
como metal desliza sobre meu feixe de nervos novamente. Meus olhos se
arregalam e meu corpo inteiro fica tenso. Knives recua e se senta de
joelhos, olhando para mim. Seu peito explode com cada respiração que ele
dá, e ele abaixa a cueca até que seu pau se solta.

— Santa mãe de... — Eu aperto meus lábios juntos e levanto em meus


cotovelos, uma onda de calor deixando meu centro e molhando minha
calcinha quando eu vejo a visão linda e erótica na minha frente. Claro, seu
pau é magnífico, assim como o resto dele é.

Longo.

Espesso.

E perfurado.

Ele tem um Jacob’s Ladder e dois aros em sua coroa, me lembrando de


chifres. Meus olhos desviam para a tatuagem 666, e faz sentido.
A cabeça cor de ameixa é quase roxa com o quão duro ele está e quanto
sangue está fluindo por ele. Eu não consigo tirar meus olhos dele. Ele tem
uma ligeira curva para a esquerda e eu tenho que cavar meus dedos no
cobertor para me impedir de estender a mão.

Eu lambo meus lábios, observando a palma de sua mão envolver


firmemente em torno do eixo grosso e bombear. Minha respiração me deixa
em pequenas rajadas. Eu levanto minha mão, gotejo meus dedos no meio
do meu peito, deslizo para baixo nas minhas costelas e provoco a ponta da
minha calcinha. —Me beije, — digo a ele, mas ele balança a cabeça.

Ele não quer mais fazer isso? A decepção bate em mim, e eu olho para
longe dele, tirando meus olhos de um homem que nunca serei capaz de
esquecer.

— Se eu te beijar, e eu fizer, vou empurrar essa calcinha para o lado e


deslizar para essa boceta quente, porque vou ser capaz de sentir a doçura
de seus lábios contra mim. Eu estou tão duro, Mary.

— Oh, — eu digo, travando nossos olhos juntos novamente.

— Oh, está certo, — ele diz enquanto puxa os anéis presos à coroa de
seu pau. Ele geme, continuando a provocação. Uma gota de pré-gozo vaza
da ponta e escorre pela veia que se projeta ao longo de 25 centímetros. —
Você sabe o quão bonita você é, minha pequeno Infernal? — Ele pergunta,
usando não uma, mas ambas as mãos para agarrar seu pau e levantá-lo. —
O que você faz comigo, o que você sempre fez comigo?
Eu balanço minha cabeça, mantendo o silêncio enquanto mergulho meu
dedo abaixo do cós da minha calcinha. Meus dedos deslizam por minhas
dobras molhadas, e eu gemo na minha garganta, deixando meu queixo cair
quando sinto o quão quente estou.

— Essa boca de merda, esse temperamento, toda vez que você brigou
comigo, você não tem ideia do quanto eu queria dobrar você... — ele não
pode terminar a frase porque acelera suas estocadas, movendo seus
quadris, então ele fode as palmas. Ele joga a cabeça para trás, os tendões de
seu pescoço tencionam e, assim como o resto dele, seu pau parece tão
louco, tão intenso, e tudo que eu quero fazer é mostrar a ele o quão único
ele é.

Único porque vou assumir que não há muitos homens com tantos
piercings no pau.

Knives deve gostar da dor, o que também me ajuda a entendê-lo um


pouco mais. As cicatrizes nos nós dos dedos por causa do quanto ele brinca
com suas estrelas, as tatuagens nele, os piercings... ele realmente gosta de
dor, ou ele acha que merece?

Seu queixo cai para o peito enquanto ele olha para mim. —Eu pensei
que nós íamos nos assistir?

— Desculpe, eu fui pega observando você, — eu digo e me sento,


ficando no nível dos olhos com a intimidação de seu pau. Não tenho
coragem de levá-lo na boca. Eu nunca fiz isso antes, mas também não
quero que façamos coisas para as quais não estamos prontos, apenas para
que eu fique desapontada quando sairmos deste celeiro para o mundo real
e voltarmos para quem costumávamos ser.

E se este celeiro for tudo o que existe? E se quando estivermos em casa,


a briga e a leve frustração voltem rugindo? A última coisa que quero é
fazer sexo com um cara que acaba me tratando como todo mundo com
quem ele já esteve.

Eu confio em Knives com minha vida. Eu sei que ele vai me proteger,
mas meu coração? O coração é outro assunto, delicado, algo que pode
quebrar sem ser recomposto.

A vida tem espaço para falhas, mas o coração não, ou a linha de falha o
faz fraturar.

Eu aperto meus lábios e sopro em seu pau latejante, tendo uma boa
visão dos piercings que decoram seu comprimento. Estou pasma por gostar
tanto disso. Eu nunca pensei que estaria em algo assim, mas minha língua
se contorce para sair e puxar os aros de prata, em seguida, lamber a escada.

Seus joelhos dobram enquanto eu o provoco. Minhas unhas arranham


ao longo de suas pernas enquanto eu movo seu corpo e agarro seus
quadris. Knives tem músculos em forma de V de cada lado, levando a uma
espessa mecha de cabelo ao redor da base de seu pau. Ele é mais do que eu
poderia ter imaginado.

Eu me inclino, ficando longe de seu pau, mas posso sentir o calor dele
enquanto coloco meus lábios na pele delicada de seu V, bem ao longo do V.
Eu me movo para o outro lado, beijando-o lá também, agarrando a luxúria
que tenho sentido por ele todo esse tempo. É bom deixar a raiva ir e apenas
ser.

Mantendo minhas unhas acariciando suas coxas, eu sopro ar em sua


cabeça de pau novamente, observando uma gota de pré-gozo pingar da
fenda. Eu quero lamber e prová-lo. Ele tem um gosto doce? Salgado?
Talvez ele tenha gosto de nada. Eu beijo meu caminho até suas costelas, e
ele está ofegante, seu estômago subindo e descendo enquanto ele luta para
respirar fundo.

— Jesus Cristo, se você continuar fazendo isso, eu posso gozar, — ele


admite, me pegando de surpresa. Ele age como se ninguém o tivesse
explorado também. Que tipo de mulher faria isso quando um homem
como Knives está com ela?

— Bom, — digo a ele, me certificando de manter distância de sua


virilha. Eu passo minhas unhas em seus lados e em torno de suas costas,
ficando longe de sua bunda enquanto eu as arrasto por sua espinha. Eu me
movo em torno de seus ombros, arrastando as pontas dos meus dedos em
seu peito. Beijo seu mamilo direito, lambo e sopro na ponta também.
Observo enquanto o botão rosa se aperta, reagindo ao frio e à umidade.
Sorrindo, eu mudo para o outro e faço o mesmo antes de beijar o meu
caminho para baixo em seu outro lado, amando o arranhar de seu cabelo
contra a minha palma.

Estou no nível de seu pau novamente, olhando para a besta diante de


mim. Eu não posso deixar de me perguntar como ele vai caber na minha
boca quando o dia chegar. Suas mãos pousam em meus ombros e, como
um adeus rápido, beijo a cabeça, deixando a gota de pré-gozo cair no meu
lábio inferior antes de me deitar no cobertor.

Lambendo-o de cima de mim para que eu possa provar seu sabor, eu


gemo quando minhas papilas gustativas despertam. Eu puxo minha
calcinha para baixo, lembrando o que eu disse sobre nos observarmos, e
abro minhas pernas para que ele possa me ver.

Tudo de mim.

Recostando, seus olhos semicerram quando ele me vê deslizar pelas


minhas dobras, os sons molhados se misturando com a chuva caindo no
chão lá fora. Como Knives, eu uso as duas mãos. Uma para mergulhar dois
dedos dentro de mim, enquanto eu uso a outra para circundar meu clitóris
inchado.

Minhas costas se curvam enquanto minhas coxas tremem, e Knives


rosna. —Porra, você está me matando. Ninguém nunca me provocou assim
antes. Você vai ser a minha maldita morte, Pequena Infernal. Eu sabia que
você era um maldito problema.

Lembro que preciso observá-lo, então abaixo minha cabeça para vê-lo
foder furiosamente seu punho, seu olhar fixo em minha boceta. —Knives, é
tão bom. — Quero dizer a ele para me tocar, mas já estou viciada em seu
beijo. Tenho medo que, se desistir, sempre vou querer mais dele. A
realidade é diferente de estar trancada sozinha.

Eu deveria saber.
Por muito tempo, minha mente foi dobrada e moldada por meu pai, um
homem que se certificava de ficar sozinho comigo sempre que podia.

Não, não consigo pensar nele agora. Eu não quero que ele estrague isso.

— Estou perto, — digo para Knives, sentindo o calor trêmulo de um


orgasmo se formando em meu corpo. —Estou tão perto. — Meus dedos do
pé enrolam e Knives puxa os aros novamente, esticando a ponta de seu pau
no ritmo de seus golpes.

— Essa boceta parece deliciosa. Você não tem ideia do quanto eu quero
provar você, o quanto eu quero deslizar e encher essa boceta até a porra da
borda até que você esteja pingando de mim. Estou perto. Caramba, estou
tão perto. — Sua mão empurra mais rápido, e eu movo meus dedos na
mesma velocidade, circulando meu clitóris em desespero, então caímos
juntos.

— Knives, — eu respiro. —Oh, oh, sim! — Eu empurro meus dedos o


mais longe que posso até que meus nós dos dedos me impeçam de ir mais
fundo. Meu corpo se inflama em uma série de fogos de artifício e suor.
Estou balançando contra minha mão, esperando que o atrito prolongue a
sensação.

— A minha morte, — ele sussurra antes de grunhir meu nome, —Mary!


— E riachos quentes de sêmen pousam em meu estômago. Não sei o que
esperar, mas não espero tanto. Eu suspiro quando uma sexta linha me
cobre, pousando na parte interna da minha coxa.
Eu não sei o que deu em mim, mas ele disse que queria provar. Sento,
fico de joelhos, limpo o gozo do meu estômago com uma das mãos e, ao
mesmo tempo, coloco uma das mãos em sua boca e a outra na minha.

Sua semente salgada desliza pela minha garganta, e Knives agarra meu
pulso em um aperto apertado com seus dedos, mantendo meus dedos em
sua boca enquanto ele pode. Ele chupa e lambe, gemendo quando me
prova. Ele me faz parecer uma refeição cinco estrelas, um prato gourmet do
qual ele nunca se cansa.

Eu caio para trás, exausta e alta. Nunca pensei que pudesse ser assim,
sexo sem sexo. Bem, isso era sexo? Não sei. Preliminares pode ser uma
palavra melhor para isso, mas foi melhor do que qualquer coisa que eu já
experimentei.

— Puta merda, — ele bufa, caindo para o lado.

Nós rimos ao mesmo tempo que notamos como estamos respirando


com dificuldade. Ele vira minha cabeça e traça meu queixo enquanto me
encara com... eu não sei... adoração?

— Você é incrível pra caralho, sabia disso? Eu nunca experimentei isso.


Eu normalmente... — ele se interrompe, e eu rolo, colocando minhas mãos
sob minha bochecha, e olho para a tatuagem em seu peito.

— Eu sei que você já esteve com muitas outras mulheres, Knives. Você
não tem que parar comigo. Você não vai me insultar nem nada. Só porque
eu não tenho muito para comparar, não significa que você não tenha. Eu sei
que tem. Você provavelmente está acostumado a apenas fazer sexo e... —
Estou prestes a começar a explicar por que não queria comparar, mas ele
me beija, é rápido sem língua, mas seus lábios são suaves e apaixonados
contra os meus.

— Você tem razão. Estou acostumado com isso. Estou acostumado a


foder com quem eu quiser, quando quiser. Eu as curvo e vou ao que
interessa, mas não há comparação, Mary. O que acabamos de fazer é o
número um para mim.

— Sim? — Eu pergunto, não querendo soar tão esperançosa, mas eu não


posso evitar. A forma como o aborrecimento por Knives se transformou me
dá esperança.

— Sim, Pequena Infernal. — Ele limpa minha barriga com a ponta do


cobertor, em seguida, dobra, colocando-o sob o lençol, para que não
rolemos na gosma molhada. —Venha, vamos dormir um pouco e amanhã
podemos ver se podemos voltar para casa. — Ele beija o topo do meu
ombro antes de puxar o cobertor.

Espero que a gente vire e vá dormir, mas Knives me surpreende


novamente, me puxando contra seu peito e me acariciando. Seu queixo está
no meu ombro e sua perna está jogada sobre a minha.

Ele gosta de abraçar!

Eu mordo meu lábio para parar o grito de excitação. Está bem ali,
borbulhando na minha garganta, precisando ser liberado. Eu engulo e
deixo a batida de seu coração contra meu ombro me embalar para dormir.
O fogo diminuiu, apenas alguns estalos e estalidos de vez em quando, mas
estou quente porque Knives está contra mim.

Bem quando estou prestes a morrer para o mundo, uma mão cobre
minha boca. Eu abro meus olhos, e é Knives. Ele coloca um dedo contra os
lábios, as sobrancelhas franzidas em preocupação enquanto permanecemos
o mais silencioso possível. A porta do celeiro se abre e duas vozes
masculinas estão discutindo.

— Não, não sei, tudo bem? Você tem que deixar Natalia ir. Eu vou te
dar dinheiro. Eu quero minha sobrinha de volta.

— Não até eu conseguir o que quero!

— Eu não sei onde sua filha está, Sr. St. James. Eu juro, mas eu quero
Natalia. Eu fiz o que você pediu da última vez...

Eu agarro Knives o mais forte que posso, sabendo que estou deixando
hematomas, mas é a única coisa que me impede de gritar quando ouço a
voz do meu pai. O que diabos ele está fazendo aqui?

— E veja como isso acabou. Você é inútil.

Bang. Bang. Bang.

Knives me cobre com seu corpo, assim como ele fez quando pensou que
o tornado estava prestes a nos levar, e quando a porta do celeiro bateu, ele
ergueu a cabeça. —Você está bem?

Eu estou tremendo. Eu não consigo formar palavras. —Aquele era meu


pai. Eu…
— Eu sei. Eu sei. Porra. Tudo bem, isso é uma bagunça. Eu preciso ir ver
o cara que ele atirou.

— Não! Knives, por favor, — eu sussurro e tento segurá-lo, mas ele beija
meu pulso interno antes de correr para o meio do celeiro.

— Puta merda, Máximo. Em que diabos você se meteu?

Não há resposta.

Eu deveria saber que meu pai voltaria para mim. Eu deveria saber que
ele voltaria para arruinar minha vida no momento em que eu encontrasse a
felicidade. E se eu conheço meu pai, sei que ele vai matar qualquer um e
todos em seu caminho para conseguir o que deseja.

Eu trouxe mais problemas aos Kings, algo que eles não merecem.
Knives será um alvo agora, todos estarão em perigo por minha causa.

Talvez eu devesse desaparecer, mas a ideia de partir dói mais do que a


morte. Prefiro que meu pai me mate do que me tirar da casa que construí
aqui.

E quando eu pensei que estava vivendo o sonho...

Meu monstro teve que emergir da escuridão.


Capítulo Nove

Nada pode me surpreender muito. Já experimentei quase tudo o que há


para ver e sentir que levaria um homem à suicídio, mas estar em um celeiro
remoto e abandonado com Mary e tendo a melhor noite da minha vida?
Isso me surpreendeu.

Beber com ela me surpreendeu. A profundidade de quanto eu a queria


me surpreendeu.

Encontrar Máximo Moretti em um celeiro abandonado, com dois tiros


no ombro e uma na coxa? Isso me surpreende.

E sabendo que foi o pai de Mary quem puxou o gatilho? Isso me choca,
porra.

Dois homens que têm a porra de uma sentença de morte na cabeça.

— Máximo? Muito tempo sem ver. — Dou um tapinha em seu rosto


suado e seus olhos se abrem. —Sim, seus ferimentos não são mortais, então
não jogue o cartão morto comigo. — Eu bato em seu rosto novamente, e um
chiado doloroso deixa seu peito. —Onde você esteve, amigo? Você sabe
quem está procurando por você?
Seus olhos se abrem então, e ele engole em seco quando sabe
exatamente de quem estou falando. —Eu... eu tenho minhas razões. Eu
juro, eu nunca machucaria nenhuma das damas que pertencem aos Kings.
Você tem que entender…

Eu envolvo minha mão em torno de sua garganta e o puxo pelo


pescoço. Máximo, porra do Moretti. O homem que Tongue estava
salivando depois do que fez, não apenas prendendo Skirt e ele no mesmo
ringue, mas por colocar uma faca na garganta de Daphne. Tongue é um
maníaco, um maldito homem instável, doente e distorcido, mas ninguém
fode com sua mulher.

— Exigimos pagamento por suas ações, — eu sussurro, deixando minha


respiração cruzar seu rosto com tanta esperança que ele possa cheirar a
porra da ameaça no ar. Depois de levá-lo de volta para a sede do clube, vou
me certificar de que drenamos todas as informações dele.

Ele deu as costas aos homens errados.

— Knives? — Mary pergunta do nosso canto escuro, nosso lugar, e a


decepção surge quando percebo que nosso momento de merda está
arruinado porque, por algum motivo, seu pai e Máximo decidiram invadir
aqui. De todos os lugares que eles poderiam arruinar, eles tinham que
arruinar isso.

Mary e eu já não temos o relacionamento mais estável sem pular na


garganta um do outro. Fizemos progresso. Mais do que progresso. Eu tive
que vê-la gozar, e eu queria ver isso centenas de vezes e mais.
— Vista-se, Mary.

— Mary? Como em Mary St...

Eu aperto a garganta de Máximo e sorrio com desprezo. —Você não


pode fazer perguntas sobre ela, porra. Eu fui claro?

— Como cristal, — Máximo diz, gemendo quando eu cavo meu joelho


em seu ombro.

De propósito.

Mary sai de trás da mobília velha, vestida com seus jeans apertados e
camiseta com sua jaqueta de couro na mão, em seguida, joga minhas
roupas para mim. Elas estão secas, felizmente, já que faz algumas horas, e a
tempestade parece ter passado com apenas uma névoa de chuva
salpicando o telhado de metal.

— Eu preciso de um hospital, — Máximo se esforça para dizer.

Eu levanto meu joelho de seu ombro e me visto. Mary fica longe de


Máximo, encostada na parede do celeiro, bem embaixo de um maldito
gancho que parece que segurava porcos ou vacas para alguém abater.
Depois de puxar minha camiseta, eu me aproximo e a movo para a
esquerda, porque tudo que consigo pensar é no gancho caindo e cortando
seu pescoço, assim como minha irmã. Beijo o topo de sua cabeça, odiando
que a felicidade que compartilhamos agora se foi.

Eu quero matar Máximo por arruinar minha maldita noite.


Seus olhos estão vermelhos e inchados, suas bochechas coradas de
medo e lágrimas enchem seus lindos olhos chocolate. Quero matar Máximo
por fazê-la chorar também, e também ao pai dela.

Oh, eu realmente quero o sangue do pai dela nas minhas estrelas ninja.

— Eu vou consertar isso. Você estará segura. Eu não quero que você
fique com medo, tudo bem? — Digo a Mary, preciso que ela veja que irei
protegê-la. Ela não tem nada com que se preocupar. Seu pai não vai colocar
as mãos sobre ela de novo, não enquanto eu estiver vivo.

E a história provou que me matar não é fácil.

Máximo tenta se levantar colocando seu peso nas mãos e nos joelhos. —
Oh, eu acho que não. — Eu bato meu pé em suas costas, e ele grita quando
seu corpo se inclina, e ele cai no chão. —Você não pode tentar sair daqui.
Você vai voltar comigo. — Eu o agarro pela parte de trás de seu cabelo e
arranco sua cabeça do chão, esperando que ele esteja desconfortável. Eu
poderia quebrar seu pescoço agora se eu realmente quisesse.

Tongue cortaria minha língua e daria a Happy se eu o fizesse. Esta é a


sua retribuição, mas tenho permissão para ficar com raiva pelo meu irmão,
e eu posso ficar com raiva porque Máximo é amigo do pai de Mary.

Nada de bom pode sair disso.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto a ele.

— Eu moro aqui.
Eu empurro sua cabeça contra o chão, meus dedos se contraindo por
uma estrela ninja, mas não tenho nenhuma contra mim. Eu também não
tenho minha arma reserva.

Que merda de show.

— Você não está exatamente em posição de ficar esperto comigo. Você


não tem ideia do quão profundo é a merda que você tem com os Kings.
Depois de tudo que fizemos por você e Moretti, seu maldito irmão, você
nos dá as costas.

— Estou fazendo isso pelo meu irmão! — Ele sibila, mas choraminga
quando eu empurro meu joelho no ferimento de saída em suas costas.

Eu quero saber tudo, mas é inútil arrancar a história dele agora, quando
eu sei que ele irá para a sala de jogos na sede do clube com alguns dos
caras, e eles obterão cada gota de informação dele. —O que há neste
celeiro? Por que o Pregador está aqui, hein? Não sabia que você era do tipo
religioso.

Seus olhos rolam para a parte de trás da cabeça e, por um minuto, acho
que ele está fingindo, então eu o chuto pra cacete. Mas ele não faz barulho.
Ele está completamente desmaiado. —Caramba. Eles sempre desmaiam
antes de eu arrancar informações. — Eu me viro para ver Mary dobrando
os cobertores e certificando-se de que o fogo está apagado, ela ainda está
chorando e suas mãos estão tremendo, mas ela está tentando se recompor.

Eu quero que ela desmorone.


Quero que ela perceba que não precisa mais ser forte, fugir ou se sentir
enjaulada. Ela pode cair e eu vou pegá-la.

E eu vou colocá-la de volta no lugar novamente

Mary não é o tipo de mulher que pode ser escondida. Ela precisa de sua
liberdade, e eu posso ser isso para ela.

— Como vamos voltar para a sede do clube? — Mary pergunta,


passando os braços pela jaqueta de couro quando ela estremece.

— O chefe da máfia tem que ter um telefone com ele, certo? — Viro um
Máximo inconsciente de costas e vejo sangue se espalhando sobre seu terno
e pingando no chão.

Uh.

Ele pode estar morrendo.

E eu não poderia me importar menos.

Eu procuro em seus bolsos, pego seu telefone e disco o número de


Reaper. Enquanto toca, eu olho ao redor do celeiro e desejo que não
tenhamos que sair. Este lugar era um pequeno refúgio para nós, ele me
curou de algumas maneiras e me abriu em outras.

E está arruinado porque se um homem como Máximo e seu pai estão


aqui, isso significa que este é um lugar que contém más intenções.

Não vou trazer Mary para um lugar que é um ponto de encontro para
homens como este.
— Máximo, — Reaper responde com um rosnado sombrio. —É melhor
você torcer para que eu não o encontre, porque quando eu o fizer, vou
arrancar seu coração do seu peito, esmagar ele com meu punho e, em
seguida, enfiar na sua garganta abaixo.

Estou muito feliz por não ser Máximo agora. —Sou eu, Reaper. Knives.

— Knives? — Ele parece chocado, e a ameaça em sua voz desaparece e é


substituída por confusão. —Que porra você está fazendo com o telefone do
Máximo? E onde diabos você esteve? Os caras estão tentando ligar para
você.

Eu realmente preciso de um telefone. —Eu não tenho meu telefone


ainda. Foram vinte e quatro horas agitadas. Mary está comigo...

— Eu pensei que ela estava na prisão.

— Eu a peguei ontem. Minha moto explodiu. O tornado aconteceu.


Estamos em um celeiro abandonado perto da Rota 50. Máximo está aqui.

Um estrondo vem do outro lado da linha, e há uma enxurrada de sons


ao fundo atrás dele. —Você vai ter que me contar o que aconteceu com
mais detalhes mais tarde. Estamos indo te pegar, não se mexa, porra, e não
ouse perder o Máximo.

— Nós temos mais problemas com que nos preocupar do que ele,
Reaper. A merda está se formando, e contarei tudo a você mais tarde.
Traga minhas estrelas ninja.

— Por que?
— Porque eu não as tenho e me sinto nu, — digo, de repente me
sentindo na defensiva. Eu estalo meu pescoço, irritado por ter que me
defender.

— Eu deveria saber que algo assim aconteceria. Seer me ligou e me


disse para dizer que você é um idiota. Qual é o problema com isso?

Um grande estrondo me afasta da conversa, e vejo a estrutura da cama


tombar e Mary murmura. —Sinto muito— para mim.

— Outra longa história, — eu digo, beliscando a ponta do meu nariz. —


Você pode apenas chegar aqui, por favor?

— Sim. Estarei aí em dez minutos.

A linha fica muda e eu coloco o telefone no bolso de trás. Quando me


levanto, tento encontrar algo sobre este lugar que me incomoda, mas é
apenas um celeiro. Encaro cada canto, avaliando as pilhas de feno, mas
nada se destaca para mim além de um monte de teias de aranha e o cheiro
de mofo de cavalo e chuva.

As rédeas estão penduradas no gancho contra a viga e eu passo por


cima de Máximo, arrancando as tiras de couro. Afasto as teias de aranha e
viro Máximo de bruços, puxo seus braços para trás e amarro as rédeas em
seus pulsos em um nó que sei que ele não consegue escapar. Quando estou
satisfeito, dou um passo para longe.

— Eles estão a caminho, — digo a Mary, que ainda está no mesmo lugar
de antes.

— Bom.
Eu não gosto de como ela disse isso. Eu não gosto que ela esteja
colocando distância entre nós. Ela nem me olha nos olhos. Estou prestes a
mostrar por que combinamos quando uma dúzia de Harley resmunga do
lado de fora. Desta vez, eu dou espaço a ela, porque não tenho certeza de
como estar com ela na frente dos caras. Ou talvez sim.

Eu não deveria me importar.

Mas estou em território desconhecido aqui. Ela não parece que me quer
por perto, mas se eu agir da mesma forma, estou condenado. Se eu der a
nós para o mundo antes que ela esteja pronta, estou condenado.

Que porra é essa? Negócio de relacionamento é uma merda.

Espero uma batida na porta.

Eu deveria ter sabido melhor.

A porta é derrubada e Tongue está parado na entrada, seu cabelo


desgrenhado caindo na frente de seu rosto e seus punhos cerrados ao lado
do corpo. Ele tem uma faca na mão e o desejo de matar em seus olhos.

Partículas de feno e poeira voam ao nosso redor, e Tongue olha da


esquerda para a direita, encarando Mary por alguns segundos antes de
entrar no celeiro, quebrando a porta derrubada ainda mais enquanto ele
caminha por ela. A madeira range e estilhaça com seu peso.

— Tongue! Não se atreva a matar ele. Eu quero respostas. — Reaper


entra na porta ao lado, esfregando o queixo quando vê Máximo amarrado
no chão.
— Eu quero a língua dele.

— Isso não é chocante. — Eu dou um tapinha no ombro de Tongue com


a minha mão, e o calor está irradiando dele em ondas.

Tongue se ajoelha no chão, rosnando como uma besta, pronta para


arrancar a cabeça do homem. Ele cava sua faca no chão e a arrasta na terra
e na palha. Seus dedos seguram a lâmina com força e ele não desvia o olhar
de Máximo. Ele não pisca.

Ele mal respira enquanto segura o pedido de Reaper. Tongue quer mais
do que a habilidade de Máximo de falar.

Ele quer sua vida.

— Carregue ele, Bullseye, — Reaper diz, virando a bochecha para o


ombro como se estivesse falando com alguém atrás dele.

Bullseye vem pela porta em seguida, girando um dardo na mão, o que


me faz desejar minhas estrelas. Bullseye deve ter visto a saudade em meu
rosto porque ele puxa duas estrelas de seu bolso, e elas brilham na luz do
amanhecer.

Tão lindo.

Ele as arremessa para o alto e eu as pego sem hesitar. Uma estrela é uma
das minhas mais recentes, mas a outra é uma que não toquei desde que a
fiz.

— Desculpe, estávamos com pressa e agarrei o que pude, — diz


Bullseye, levantando Máximo com um puxão. —O que você fez?
— Ele desmaiou. Não é minha culpa.

— As balas. Doc precisa...

— Deixe. Sua dor está longe de terminar. — Reaper sai do caminho


quando Bullseye joga Máximo por cima do ombro com um grunhido e sai.

— Talvez amarrar ele na parte de trás da caminhonete e arrastar sua


bunda para casa, — Tongue diz, se animando quando ele menciona as
opções. Ele para de franzir a testa e a escuridão em sua cabeça gira com a
ideia em seus olhos. Ele provavelmente está imaginando como Máximo
ficaria rolando no chão, perdendo membros, ficando ensanguentado. Ele
geme, fechando os olhos e lambendo os lábios. Ele agarra seu pau, que está
duro, e eu desvio meus olhos para olhar para o teto, em seguida, os deixo
cair para Mary. Pela primeira vez em uma hora, ela está com um sorriso no
rosto porque meu desconforto a diverte.

— Pare de se vingar, Tongue, — murmuro e sigo meu caminho em


direção a Mary. Eu preciso diminuir essa distância entre nós. Agora que a
tive, não quero que voltemos a ser como éramos antes.

Por que lutar contra algo que vem tão fácil e é tão bom?

— Eu não posso evitar. O pensamento dele morrendo está me


excitando. Eu preciso de Daphne, — ele diz sem vergonha, sem piscar que
ele acabou de admitir que a morte deixa seu pau duro.

— Bem, pare de gemer, literalmente, e vamos para casa. Tenho a


sensação de que vai ser uma longa noite. Bullseye? Amarre ele na sala de
jogos. Knives e Mary, vocês vão para a igreja quando chegarmos em casa.
Ah, que escolha de palavras horrível.

— Eu odeio a igreja, — Mary diz baixo, então só eu posso ouvir.

— Você pode adorar o chão que eu piso mais tarde, então, — eu a


provoco, esperando fazê-la sorrir.

— Como se eu até quisesse chegar perto de seus pés. Nojento, — ela


brinca de volta, e meu peito pisca de felicidade. Eu esperava que a natureza
provocadora não fosse embora em nosso relacionamento, apenas a briga.

Quando todos saem pela porta, Reaper volta atrás e me joga um molho
de chaves. —Bullseye está deixando sua moto para você levar de volta.
Vou ligar para Pocus e Seer e ver se eles não conseguem um preço em uma
personalizada boa em NOLA para você. Suas hogs1 são lindas, — diz ele,
assim que pego as chaves no ar. —Nós vimos sua moto. Está torrada pra
caralho. Nada é recuperável, Knives. Eu sinto muito.

— Está tudo bem, Prez. Merda acontece.

— A história da porra da nossa vida, — diz ele, caminhando do lado de


fora na lama que a chuva deixou para trás.

Antes de sairmos, coloco minha mão nos ombros de Mary e noto que ela
está olhando para longe de mim novamente. Seu lábio está tremendo e ela
continua enxugando as lágrimas que caem em seu rosto. Eu quero
consertar isso. Eu não quero que ela chore de novo. Isso... me faz sentir
coisas que não sentia há muito tempo. Duvido que esta seja a última vez
também.

1 Modelo de Harley
Aposto que todos os dias vou acordar e sentir uma emoção que está em
hibernação há vinte anos. Ela está me acordando do coma e quase não
reconheço o mundo que estou vendo ou a mim mesmo, mas gosto disso.

Isso também é novo para mim. Gostando de algo. Estive tão focado na
raiva e no dano, tão perdido na violência, que esqueci como ser.

— Você está bem?

— Eu não sei, — ela responde honestamente. —Não é uma coisa boa se


meu pai estiver aqui, Knives. Ele não está aqui para falar sobre Deus.

— Eu sei. — Eu envolvo meus braços em volta dela e a puxo para perto,


beijando sua testa como se eu fizesse isso todos os dias. Outro dia, eu
queria fechar a boca dela com uma fita adesiva, e agora o pensamento de
silêncio pressiona meu peito.

Mas se o Pregador quiser falar sobre Deus, vou me certificar de que,


antes de ele sair de Vegas, ele tenha uma reunião cara a cara com o homem
lá em cima.

Ninguém vai pegar o que é meu.

E se o fizerem, não é nada que uma estrela ninja na garganta não


consiga consertar.
Capítulo Dez

— Me conte tudo, do início ao fim. Eu não quero que você deixe nada
de fora. Mary, sente-se, por favor.

Minha bunda bate no assento com tanta força que eu deslizo para trás.
Eu teria batido na parede se o braço de Knives não me impedisse. Reaper
me deixa nervosa. Ele sempre fez isso. Ele pode ser a razão pela qual eu
fico ou vou. Ele detém o poder.

O poder pode ser uma coisa assustadora quando está nas mãos erradas.

— Você está bem, Mary. Ninguém está com problemas. Preciso de


detalhes antes de descermos.

— Lá em baixa…

— Não se preocupe, você não precisa ir e ver o que está para ser feito...

— Eu sei disso Knives, mas eu posso lidar com isso, — eu estalo.

— Eu não disse que você não podia, — ele se defende, cravando os


dedos na mesa.
— Eu sinto muito. Estou estressada. Eu não deveria descontar em você.
Eu não quero que a gente brigue. — Eu encontro sua mão e agarro-a.

— Awwnn, vocês dois se beijaram e fizeram as pazes. Eu sabia que isso


aconteceria depois do que aconteceu no Natal. Bullseye e Tank me devem
cinquenta dólares.

— Você tem apostado em nós? — Knives puxa uma estrela ninja e a joga
na mesa. Acho que ele está prestes a jogar uma no Reaper de tão bravo. —
Ninguém poderia ter me dito o que estava acontecendo entre nós? Achei
que ela era apenas um pé no saco...

— Ei, — eu digo, fingindo me ofender. Ele tem razão. E, pelo que sei,
ele ainda vai ser um pé no saco.

— Você sabe que estou certo, — diz ele, puxando a estrela da mesa.

— Nós imaginamos que vocês dois descobririam. Que bom que você
fez, estou cem dólares mais rico. — Reaper se inclina para trás em sua
cadeira e coloca as mãos no apoio de braço. —Me atualize. O que diabos
aconteceu?

— Bem... — Knives começa. —Eu fui pegar Pequena Infernal aqui da


tranca...

— Depois que você me deixou lá por dois dias!

— De qualquer forma, — ele fala arrastado. —Estávamos voltando


quando tentei lhe ensinar uma lição sobre velocidade...

— Quase me matando.
— Você morreu? — Ele sorri.

— Bem que poderia ter, — eu bufo, cruzando os braços.

— Eu encostei e nós brigamos...

— Você gritou comigo, e então jogou uma estrela ninja para mim.

— Semântica, — diz ele.

— Semântica! — Quase saio da cadeira em que estou sentada e o


estrangulo.

— Ela não estava ouvindo.

— Oh, você quer falar sobre ouvir. Ele bateu no tanque de gasolina da
moto com a estrela, tentando provar um ponto, e adivinha? Um homem
jogou um cigarro pela janela.

— E você não se moveria, — Knives zumbe, batendo a cabeça contra a


mesa.

— Sim, continue fazendo isso. Talvez isso coloque algum sentido em


sua cabeça.

— Tipo, como você teria levado uma pancada na bunda se eu não a


tivesse afastado da explosão, — contesta Knives. —Você estava chutando
pedras, porra.

— Fingindo que elas eram sua cabeça na época.


Knives rosna para mim, e se fosse possível, eu sei que o vapor estaria
subindo de seu corpo com a raiva que ele está ficando. Ele vira a estrela
sobre os nós dos dedos, algo que ele faz quando tem algo em mente.

— E o tornado aconteceu, — ele solta. —Nós tivemos que sair correndo


de lá. Eu a carreguei porque seus sapatos estavam pegando fogo.
Encontramos o celeiro. Máximo entrou no celeiro um pouco mais tarde, de
manhã cedo, acho. Estávamos esperando a tempestade passar e foi quando
o pai dela entrou.

Reaper está esfregando as têmporas e respirando fundo. —Vocês dois


vão me dar um aneurisma com suas brigas. Tanta discussão.

— Desculpe, — Knives diz ao mesmo tempo que eu. —Acho que há


algumas coisas que não vão mudar.

As palavras são mais profundas do que deveriam. Eu cerrei minha


mandíbula, lembrando a mim mesma que é por isso que não levei isso
adiante com ele no celeiro. —Meu pai veio em seguida e atirou em
Máximo. Eu não ouvi muito. Algo sobre uma mulher chamada Natalia.
Meu pai estava procurando por mim.

— Você quer voltar com ele...

— Não! — Knives atira ambas as estrelas contra a parede, em seguida


bate com o punho na mesa. —Ela não pode voltar com ele.

— Isso não depende de vocês, Knives.

— O inferno que não é, — ele zomba de seu Prez, e então percebe seu
erro quando Reaper se ergue.
— Tenha cuidado. Você não a controla. Sente a porra da sua bunda
antes que eu te amarre ao lado de Máximo.

Knives se abaixa na cadeira, em seguida, agarra a minha e a puxa para


mais perto dele. Sua mão cai no meu joelho, seus dedos brincando com o
buraco desgastado em meu jeans. —Desculpe, Prez. Ela não pode voltar.

— Ele está certo, Reaper. Por favor, a última coisa que quero fazer é
voltar para casa. Meu pai não é quem diz ser, e acho que Máximo sabe
mais.

— Por que você não quer ir para casa?

— Prez…

Reaper levanta a mão no ar, silenciando Knives no local. —Não vou


perguntar de novo.

— Hum... — a mesa fica borrada enquanto eu a encaro, e percebo que


estou à beira das lágrimas. Eu não quero dizer isso de novo. A mão de
Knives encontra a minha, e ele nos une entrelaçando nossos dedos.

Seu domínio sobre mim me fundamenta.

— Ele a molestou por doze anos, Prez. Ele não é um homem de Deus, —
Knives fala por mim, e estou tão aliviada quanto desapontada por não ter
conseguido encontrar forças para dizer isso a um homem que quer ajudar.
Quando falo com o Knives, é fácil.

Qualquer outra pessoa, quero que meus segredos permaneçam meus.

— Isso está certo?


Eu posso ver os dedos de Reaper dobrando em torno do martelo e o
osso range.

— Acho que precisamos ver o que Máximo sabe. Encontraremos seu pai
e cuidaremos dele, então descobriremos o que diabos a filha de Moretti tem
a ver com isso também.

Cuidaremos.

Eu não sou idiota. Eu sei exatamente o que isso significa.

E eu não me importo.

— Eu não vou deixar ele levar ela, Prez. De jeito nenhum.

— Sinto muito, — digo a Reaper. Eu fico olhando para a expressão fria


mascarando seu rosto. Ele parece tão bravo e, desta vez, não consigo evitar
que as lágrimas caiam sobre a mesa. —Eu não queria te causar problemas.
Eu não sei como ele me encontrou. Eu pensei que tinha fugido quando
corri... — Eu suspiro e fecho meus lábios. Nunca, nunca estive tão perto de
dizer essas palavras.

Uma cadeira range quando Knives se inclina para a frente. Ele gira
minha cadeira e seus olhos me analisam, confusos, mas então suas
sobrancelhas balançam um pouco quando alcançam a linha do cabelo, e as
íris azuis ficam ainda mais brilhantes. É como se uma lâmpada se
acendesse em sua cabeça enquanto ele me olhava.

— Você fugiu, — Knives diz horrorizado. —E você correu direto para


eles, não foi? Você queria estar no capítulo de Atlantic City. Eles não
roubaram você, ninguém vendeu você, ninguém traficou você, você foi até
eles de boa vontade.

As palavras ficam presas na minha garganta e a vergonha sobe pelo


meu pescoço. Eu sigo o sulco na mesa com meu dedo e tento pensar em
uma desculpa, uma mentira, algo que não faça a verdade soar tão ruim,
mas nada vem à mente.

— Sim.

— Por que? Por que você faria isso? De todos os lugares, você poderia
ter escolhido se salvar, e você os escolheu? Era como se você estivesse
pedindo para morrer.

Reaper limpa a garganta quando a tensão estranha aumenta.

— Você... você foi lá para morrer? — Knives sussurra em realização. —


Você sabia exatamente o que estava fazendo quando fugiu.

— Eu não poderia fazer isso sozinho, — admito. Esfrego as palmas das


mãos nas coxas quando elas começam a suar. —Eu queria morrer, mas
sabia que precisava de outra pessoa para fazer isso.

Knives se levanta, pega a cadeira e, com um grito agonizante, ele a joga


sobre a mesa. Ela bate contra a parede e eu pulo, fechando os olhos quando
a cadeira cai no chão. —Como você pode fazer aquilo? — Ele grita comigo.
—Como você pôde desistir de si mesma? Como você pode?

— Knives, isso é o suficiente, — diz Reaper.


— Não. Não é. Está longe de ser suficiente. Como você pode fazer
aquilo? Quanto a mim? Você estava apenas... você ia me deixar? Você teria
me deixado. Todo mundo sempre vai embora, — ele continua a gritar a
plenos pulmões, o que começa a reunir uma multidão do lado de fora. —
Você teria escolhido desistir de mim.

— Eu nem conhecia você, — digo a ele. —Tudo o que eu sabia era o que
sentia e, depois do que meu pai fez, ouvi sobre o capítulo de Atlantic City e
sabia que a vida tinha que ser melhor e, se eu morresse, morreria, — dou
de ombros.

— A. Morte. Não. É. Tão. Simples, — ele morde cada palavra e puxa


suas estrelas ninja livres. —A morte deixa para trás todos que te amam.

— Você não entendeu, Knives? — Eu pergunto. —Ninguém me amava.

Ele abaixa a cabeça, virando a estrela ninja sobre os nós dos dedos
enquanto pensa. Bullseye entra na sala e tenta guiar Knives para fora da
sala, mas Knives o empurra para longe.

Knives atira sua estrela, e ela passa por mim, caindo com tanta força
contra a parede que desaparece na fenda. —Eu teria perdido você, — diz
ele, batendo no peito. —Nunca mais quero perder nada. Eu perdi, e eu
perdi, e caramba, Mary, eu teria sentido sua falta se eu nunca tivesse te
conhecido. — Knives começa a sair pela porta e bate no ombro de Bullseye.
—Saia do meu caminho.
Os caras se afastam para deixar Knives passar, e eu quero ir atrás dele,
mas as batidas de seus pés descendo a escada me dizem que ele não quer
ser incomodado, já que Máximo está lá embaixo.

— Eu não sabia, — soluço, virando minha cabeça para Reaper. —Eu não
sabia sobre ele. Eu só... me senti inútil depois do que meu pai fez comigo
e... eu não faria isso agora. Eu sinto muito. Eu não queria te trazer
problemas. Está sempre à sua porta. É a última coisa que eu queria. — Eu
enterro meu rosto em minhas mãos e soluço. O rosto de Knives de coração
partido é tudo que vejo.

Eu teria sentido sua falta se eu nunca tivesse te conhecido.

As palavras se repetem em minha mente, dissecando o que ele quis


dizer e o que não queria. Preciso saber mais, mas decido dar espaço a ele.

— Ouça, eu conheço o Knives há muito tempo. Ele não lida bem com as
emoções. Muitas coisas aconteceram para ele e ele tende a colocar seus
sentimentos em uma caixa e empurrá-los para longe. Você meio que abre
aquela caixa para ele. Ele não sentia há muito tempo, deixe-o ter seu
espaço. — Reaper empurra a mesa para ajudá-lo a se levantar, e ele dá um
aperto reconfortante em meu ombro enquanto caminha atrás de mim para
fazer o seu caminho para fora.

— Sim, certo, — eu aceno, olhando para a estrela ninja embutida na


parede. Eu enxugo as lágrimas e decido sentar na sala sozinha para
organizar meus pensamentos.
Esta igreja é muito melhor do que o outro tipo. A verdade é falada aqui,
o amor está aqui, a dor está aqui.

Os Ruthless Kings são uma religião.

Ou, pelo menos, eles têm as qualidades de que a religião é feita. As


qualidades certas.

Como meu pai, muitas pessoas usam a religião para alimentar seu ódio.

Depois de tudo o que aconteceu, não sei em que acredito. Acho difícil
acreditar que meu caminho na vida sempre foi gravado na pedra para me
levar até aqui.

— Você está bem? — Uma voz suave vem da porta, e a irmã de Reaper,
Delilah, está lá, batendo na guarnição com os nós dos dedos. Ela
surpreendeu a todos quando apareceu há algumas semanas. Eles são muito
parecidos, mas é óbvio que Reaper é mais velho.

— Não sei.

— Já estive lá, — ela suspira, entrando sorrateiramente na sala. Ela é tão


pequena, como se uma brisa forte soprasse, ela vai flutuar para longe. Seu
cabelo loiro escuro está em uma trança holandesa pendurada sobre seu
ombro. Não sabemos muito sobre ela. Suas histórias são dela para contar
quando ela estiver pronta, com as quais posso me identificar. Todo mundo
sabe minha verdade agora, e eu não quero ver como eles vão olhar para
mim agora.
— Tudo ficará bem. Pode não parecer agora, mas será. Knives se
preocupa com você. Isso é óbvio desde que cheguei aqui, e tenho certeza de
que também era óbvio antes.

— Nós brigamos muito. Não sei. Talvez seja apenas sexo. — As


palavras não soam certas quando saem da minha boca. Elas deixam um
gosto ruim, porque eu sei que não é apenas sexo. É mais.

— Talvez você esteja brigando para parar o que realmente quer fazer.
Talvez você esteja brigando porque é isso que vocês dois têm feito por
tanto tempo, que vocês não sabem como ser. Leva tempo para aprender.
Ou talvez seja sexo. Isso seria tão ruim?

Meu corpo pega fogo quando penso no que aconteceu no celeiro. Sexo
com Knives não seria ruim, seria fora deste mundo.

E nunca poderia ser apenas sexo, porque eu sei que me apaixonaria por
ele se ainda não estivesse lá.

Talvez seja por isso que brigamos

É porque podemos nos amar, afinal.

Exceto que ele não quer amor. E eu não sei amar.


Capítulo Onze

— Me diga! — Eu balanço a estrela e faço um corte na bochecha de


Máximo. Estou muito puto. Desde que Mary me disse a verdade, sinto
vontade de matar alguém. Eu preciso infligir dor. Eu preciso descobrir
onde seu pai está para que eu possa jogar uma dúzia de estrelas em seu
corpo.

Máximo geme de dor, mas nenhuma vez tentou implorar por sua vida
ou puxar as alças da cadeira. É como se ele tivesse desistido. —Eu juro, —
seu sotaque italiano diz. —Eu juro, não sei muito. O Pregador St. James não
é o tipo de homem que aparece para uma visita. Eu nunca o conheci antes
desta noite.

— Com certeza parecia que vocês se conheciam, — eu cuspi, me


perguntando por que estamos prolongando a morte desse filho da puta.

— Eu digo que você me deixa cortar a língua dele e alimentar Happy, —


Tongue diz do canto. —Eu quero vingança pelo que você fez. Você tocou
em Daphne! — Tongue desembainha sua faca, e Reaper o impede de tentar
se aproximar.
— Isso é maior do que você. Fique quieto, — Reaper ordena, e Tongue
solta um suspiro pelo nariz. Ele mal consegue se conter e começa a andar,
sem tirar os olhos de Máximo.

Reaper suspira e estica os braços antes de se aproximar e pressionar o


dedo em um dos ferimentos de bala no ombro de Máximo. —Eu sugiro que
você nos diga tudo o que há para saber sobre este homem Pregador e por
que ele quer Mary.

Todo o corpo de Máximo treme com a dor que Reaper está infligindo ao
cavar o dedo dentro da ferida. —Tem tudo a ver com Natalia. Eu juro, não
estou tentando me envolver no plano dele. Ele queria informações. Seu
pessoal foi ao cassino. Eles fizeram perguntas. Eu disse que não tinha visto
Mary, mas Natalia se foi, e ele me mandou uma foto dela. Não é uma rede
de prostituição. É um leilão. Eu faria qualquer coisa pela minha sobrinha, e
não estou prestes a deixá-la ser vendida para um babaca de merda! Então,
se isso significa jogar Daphne ou Mary debaixo do ônibus por minha
própria carne e sangue, eu o farei!

Eu jogo uma estrela ninja nele, e ela cai entre suas costelas. Ele joga a
cabeça para trás, cerrando os dentes por causa da dor. —Você age como se
não fizesse o mesmo, — diz ele, com a saliva voando de sua boca. As veias
em seu pescoço saltam enquanto ele se recompõe. —Eu conheço todos
vocês, e não há nada que vocês não fariam um pelo outro.

Ele me tem lá. Eu trocaria Natalia por Mary em um piscar de olhos.


— Como os homens dele encontraram você? Como ele soube que
deveria vir aqui? — Reaper enfia o dedo indicador no ferimento de bala
novamente e Máximo grita, finalmente puxando as correias.

Pego uma estrela recém-feita de sua embalagem e a rolo sobre os nós


dos dedos. É uma das razões pelas quais tenho tantas cicatrizes nas mãos.
Demorou muita prática para jogar, pegar e brincar com elas como eu faço, e
eu errei.

Muito.

E agora sou um profissional do caralho, e tudo começou com a minha


primeira feita de facas.

— Eu não sei, Reaper. Juro que não sei.

— Isso não é bom o suficiente, — diz Prez.

— É tudo o que tenho. Natalia é tudo que tenho. Meu irmão, ele nem
me conhece. Eu não posso deixar sua filha desaparecer. Você a conheceu,
Reaper. Esta é Natalia.

Então, o homem Pregador leiloa mulheres. Acho que rezar não paga as
contas. Meu estômago revira quando penso em Mary e no que seu pai fez
com ela. Ele a estava preparando para leilões futuros? Ou ela era seu
próprio segredo depravado que ele sempre quis manter?

Para o inferno, eu jogo outra estrela, e ela pousa bem embaixo da que
está alojada em suas costelas. Porra, isso é bom. Eu rolo meus ombros, em
seguida, limpo o suor da minha boca e testa. —Ele está aqui, no entanto.
Em Vegas? Por quanto tempo?
— Até ele pegar Mary. — O cabelo normalmente perfeito de Máximo
está bagunçado, pingando de suor. Seu ombro sobe enquanto ele ofega.
Não há dúvida de que ele está com dor.

Eu agarro sua mandíbula e aperto o mais forte que posso, desejando


poder quebrar cada osso da porra de seu corpo. —Não há como ele a
conseguir. Você me escutou? Desculpe por desapontá-lo.

— O que Daphne tem a ver com isso?

— Ele disse que queria uma morena. Daphne era perfeita... — um grito
de fazer crescer o sangue enche a sala e sai do abismo aberto de sua boca.

Tongue cortou três dedos da mão de Máximo. Ele os encara com nojo
enquanto os examina e arranca o anel de ouro do dedo mínimo que ainda
está se contorcendo. Droga, Tongue se moveu rapidamente. Eu nem
mesmo o vi abaixar a faca na mão de Máximo.

Reaper não o repreende porque, no final do dia, você nos fode, você é
fodido em troca. Olho por olho.

— Estou alimentando Happy. De jeito nenhum você vai receber isso de


volta. Fique feliz por ter sua língua. — Com isso, Tongue recolhe os dedos
e sai da sala, chutando a porta aberta com o pé. Ele bate contra a parede, e
em sua partida, ele não a fechou.

E Moretti entra.

— O que você está fazendo com meu irmão? — Moretti pergunta, seu
sotaque tão forte quanto o de seu irmão. Algo nele parece familiar, como se
ele estivesse no modo de negócios. —Eu sugiro que você pare.
— Por quê você se importa? — Máximo suspira, o sangue pingando no
chão de onde seus dedos costumavam estar. —Você não se lembra de mim
mesmo.

Moretti sai do escuro e as queimaduras em seu braço não são tão graves
quanto pensei que seriam. —Mas eu sinto isso. O que você fez?

— Eu os traí, por um bom motivo, acredite em mim. Tudo bem? Porra!


Ele pegou meus dedos. Aquele bastardo louco! — Máximo tenta se livrar
das restrições novamente, mas é inútil. Ele está à nossa mercê até que
digamos o contrário.

— Por que? — Moretti pressiona. —Por que você faria isso com eles?

Bullseye interrompe lançando um dardo e acerta bem no músculo da


panturrilha de Máximo. Todos se voltam para ele quando Máximo
amaldiçoa. O dardo não é tão ruim quanto cortar seus dedos, mas tenho
certeza de que é desconfortável. —Oops, — Bullseye diz, encolhendo os
ombros. —Meus dedos escorregaram.

Moretti saca uma arma e aponta para a cabeça de Bullseye.

O único som na sala é o gotejamento de sangue saindo da mão de


Máximo.

— Eu pensaria duas vezes se fosse você, — rosna Tool, pressionando


sua chave de fenda contra o pescoço de Moretti.

— Eu colocaria uma bala entre os olhos dele antes que você enfiasse na
minha garganta.
Eu estendo a mão e puxo uma nova arma, apontando ela para a cabeça
de Moretti. Eu a engatilho, e o clique da bala deslizando no lugar sempre
me dá a mesma sensação de uma estrela ninja.

Quase.

— A minha é maior, — eu digo com um sorriso, notando a pequena


arma que ele tem. A minha vai explodir sua cabeça e pintar a porra das
paredes com seu cérebro. —Largue, — eu digo a ele, e quando ele não
escuta, eu movo a mira dele para Máximo. —Eu disse para largar isso,
Moretti. Você sabe que não temos medo de fazer comida de jacaré com
vocês dois.

— O que você fez, Máximo? — Moretti tem um tom de desespero na


voz. —O que você fez?

— É Natalia. Sua filha. Ela foi tomada como garantia.

Moretti larga a arma e recua. —Não, — ele diz, balançando a cabeça. —


Não! Natalia não. Por quê? Para que? Dê ao homem tudo o que ele quiser!

— Ele não pode. — Eu abaixo minha arma em seguida, apontando ela


diretamente para o chão. —O que o captor dela quer é algo que nunca mais
terá. — Se ele estiver em Vegas, vou procurar cada hotel, cada esquina,
cada casa, apartamento, cabana e tudo o que eu puder encontrar. Vou olhar
embaixo de cada pedra, olhar em cada buraco no chão, pedir a Badge para
olhar seus cartões de crédito, sua vida, e vou arruiná-lo, porra.

— Mas Natalia... — Moretti pergunta, esfregando o meio do peito.


— Sinto muito, Moretti. Não posso arriscar Mary por você. Eu não vou.
Este é o seu problema, você descobre isso. — Dou um passo à frente e
arranco as cinco estrelas do corpo de Máximo. Não tenho ideia do que
fazer com ele. Se fosse outra pessoa, ele estaria morto. Quase não entendo
por que não o matamos. Claro, temos uma relação de trabalho, mas ele
estragou isso quando essa merda aconteceu.

Acredito que Máximo não tenha todas as respostas que procuro. Por
exemplo, como o pai de Mary a encontrou? Por que eles foram para o
Máximo? E como diabos posso ter certeza de que eles nunca mais voltarão
aqui? Eu quero respostas. Talvez Mary os tenha, por acaso.

— Sinto muito, — sussurra Máximo. —Eu só estava fazendo o que


precisava fazer pela minha família.

Entendi. Eu fiz muito pela minha família, passei por muito, vi muito, e
acho que é por isso que estou tão bravo. De certo modo, pensei que
Máximo e Moretti eram parte dessa família fodida. Achei que poderíamos
contar com eles.

— Por que você não veio até nós, Máximo?

— Porque ele me pediu para não fazer isso, — diz ele.

Reaper, Tool, Bullseye e eu compartilhamos um olhar. —Então ele sabe


sobre nós? — Eu pergunto, os cabelos da minha nuca se arrepiam.

Máximo fecha os olhos, o suor escorrendo pela têmpora, e há uma


mancha de sangue em seu lábio de quando dei um soco no rosto dele cerca
de vinte vezes.
O homem levou uma surra como um campeão, admito.

— Muitos homens maus sabem sobre vocês. Como você pode se


surpreender? — Ele murmura estremecendo enquanto tenta se reajustar
para ficar confortável.

Sim, isso não está acontecendo.

— Como pode um pregador saber tanto sobre nós? — Bullseye


pergunta, arrancando seu dardo da perna de Máximo, que solta um grito
de dor repentino. Bullseye levanta o dardo e estala a língua quando vê um
pedaço de carne nos dedos do dardo. —Dói mais sair. Eu deveria ter
avisado você.

Máximo não perde o sarcasmo escorrendo na voz de Bullseye e franze


os lábios para mostrar os dentes que estão brilhando com sangue.

Graças a mim.

— Talvez ele não soubesse sobre Vegas, mas ele sabia sobre Atlantic
City, — eu digo quando as informações começam a se encaixar.

Como Mary sabia sobre o capítulo de Atlantic City? Talvez o pai dela
soubesse o que aconteceu e não se importou, e agora que a quer de volta,
ele foi e examinou todos os recursos, incluindo outros capítulos.

O que o trouxe aqui.

O telefone de Reaper toca, e quando ele o tira do bolso, ele suspira. —É


o Seer.
E aposto que ele viu tudo no dia em que me ligou. Tudo isso poderia ter
sido evitado.

Reaper desliza o dedo pela tela sensível ao toque. —Você está no viva-
voz, Seer.

Tool cava sua chave de fenda no pescoço de Moretti, mas não fura a
pele antes de colocar a cabeça da Phillip atrás da orelha. Era claramente um
aviso para não fazer movimentos bruscos.

O sotaque cajun de Seer enche a sala e eu sorrio, esquecendo o quanto


gosto de ouvi-lo. —Mon Amie2, é hora de um de vocês atender a porra dos
meus telefonemas. Vou presumir que agora não é o melhor momento,
considerando que Máximo está amarrado a uma cadeira, três dedos a
menos. Olá, Máximo, — cumprimenta Seer.

Máximo fica quieto.

— Você tem alguma informação nova agora que estamos ouvindo? —


Eu pergunto, precisando de todos os detalhes que posso para manter Mary
segura.

— Oui3. Você tem a luta da sua vida pela frente. Eu gostaria de ter
melhor... — mas parece ‘melhor’ vindo do Seer —... notícia. Mas o homem
com quem você está em guerra não é um bom homem. Um filho de Deus,
ele não é, mais parecido com a cria do Diabo. Sua pregação é uma
configuração, um disfarce. Ele está em Vegas. Um hotel alto.

— Eles são todos altos, Seer, — Reaper soa exasperado.


2 Meu amigo
3 Sim
— Oui, mas este tem um M nele.

— Esse é um detalhe melhor, obrigado. É isso, Seer? — Reaper esfrega


os olhos, sem dúvida exausto e irritado por toda essa merda continuar
acontecendo.

— Knives, eu sei que você não é do tipo que quer saber o que acontecerá
com o seu futuro. É por isso que você ficava quebrando seu telefone
quando eu ligava.

Linguarudo.

— Vocês vão perder Mary, Knives.

Todos prendem a respiração, até Máximo, mas provavelmente é porque


ele não consegue respirar.

E eu também não posso. Eu balanço minha cabeça, deixando cair as


estrelas em minha mão, e elas batem no chão. Os anéis deles tentando cair
para os lados continuam e continuam, eles rodopiam, como uma moeda
girando até que finalmente perde o ímpeto.

— Não, — eu murmuro. —Não. Eu acabei de pegá-la, Seer. Acabei de


perceber... — Eu esfrego a dor em meu coração, aquela que eu senti duas
vezes antes, quando perdi alguém que eu amava. É por isso que estou tão
isolado de tudo e de todos. Dói muito sentir qualquer coisa além do que eu
preciso ser pelo clube. —Não. Eu não posso perdê-la também, Seer. Suas
visões, você disse que podem mudar, certo? Elas mudaram. Elas não são
gravadas em pedra.

— Na maioria das vezes, elas são.


— Não dessa vez. Eu esperei muito tempo. Eu perdi muito. Eu não vou
perdê-la também. Você me ouve, seu filho da puta viajante! Ela é minha.
Eu finalmente tenho algo que é meu, porra, e nenhum de vocês idiotas vão
tirá-la de mim. Eu não me importo com o que tenho que fazer, aonde tenho
que ir, ela estará segura.

— Não é assim que funciona, Knives, e você sabe, — diz ele com
tristeza. —Sinto muito, Knives.

— Quando? — Eu coloco minha mão em meus quadris e inclino minha


cabeça para cima, olhando para o teto como se ele tivesse todas as
respostas, mas claramente não tem. Apenas o Seer o faz.

— Duas semanas a partir de hoje.

— O que acontece?

— Você realmente quer saber?

— Sim. — Porque farei tudo ao meu alcance para salvá-la.

— Ela salva você. — Seer aproveita esse momento para desligar o


telefone, me deixando olhando para uma tela em branco e um tom de
discagem.

Ela me salva.

Agora entendo por que não queria falar com ele, porque nada do que
ele tem a nos dizer é uma coisa boa. Eu estou cansado disso. Estou farto de
sempre lutar, porra. Estou ficando cansado. Quanta besteira um clube pode
aguentar antes de desmoronar?
— Knives... — Reaper começa a dizer, mas antes que ele possa dizer
uma palavra, eu giro nas minhas botas e saio pela porta.

Eu preciso limpar minha cabeça. Eu preciso dar um passeio, só que não


tenho a porra de uma moto porque ela explodiu.

Eu tenho que ser amaldiçoado. O universo adora tirar tudo de mim. Por
que não me matar? Por que me torturar consistentemente? Bato a porta
atrás de mim e corro escada acima, me afastando de Máximo, Moretti e
Reaper. Estou fugindo da dor que eles querem infligir.

Eu sou aquele que saiu aflito. Meu coração está em pedaços. Quando
chego ao topo da escada, me encosto na porta e fico um minuto sozinho.
Estou tonto. Memórias me bombardeiam: o som de metal esmagando, balas
voando, sangue, medo. Antes que eu perceba, sou aquela criança de novo,
me perguntando como vou sobreviver na vida sem minha pessoa ao meu
lado.

Eu não fui feito para estar com alguém.

Eu devo ficar sozinho.

Eu estou sempre sozinho.


Capítulo Doze

Eu ando para fora do meu quarto no canto da sede do clube. É atrás.


Um quarto recém-reformado perto da academia. Acho que Reaper queria
me dar espaço dos caras, mas eu quero estar perto de todos os outros. Por
mais que eu quisesse que meu pai me deixasse em paz, odeio ficar sozinha.
Às vezes, ele entrava furtivamente em meu quarto e me abraçava, e eu
estava com tanto medo. Eu não queria seu toque, mas queria a companhia.

Quão doente é isso?

É por isso que estou no sofá agora, dormindo com Tyrant aos meus pés
e Chaos perto da minha cabeça. Tyrant é o cachorro de Juliette e Chaos é de
Skirt. Adormeci assistindo a reprises de Friends, mas o som da porta da
frente abrindo e fechando me acordou. Eu olho para fora da janela quando
a luz de movimento se acende do lado de fora, e é quando vejo Knives. Ele
está encostado na grade da varanda, a respiração embaçada à sua frente
enquanto ele respira o ar frio, e ele baixa a cabeça.

Algo está errado.


Eu esfrego meus olhos e me levanto. Os cães gemem, não muito felizes
por serem empurrados e rolam de costas ao mesmo tempo. O único
cachorro que falta é a Lady. Ela está se agarrando à vida, e o veterinário
não entende o porquê. Isso está matando Poodle. Ele mal sai do quarto
para ficar com ela. É triste.

— Bons meninos, — eu digo a eles, acariciando suas cabeças, para que


eles saibam que são amados. Eu envolvo o cobertor fofo em volta de mim e
faço meu caminho até a porta da frente. Abro e fecho cuidadosamente atrás
de mim.

Knives ouve o clique da porta e se vira. Minha respiração fica presa com
o quão bonito ele é. Os olhos azuis escaldantes gravam uma marca em meu
coração na forma de seu nome. A caneca que ele tem na mão cai para a
virilha para cobrir a protuberância, e é quando eu noto que ele está usando
um macacão preto.

Isso abraça tudo.

Sim, a caneca não esconde nada. E por mais engraçado que seja que esse
motociclista fodão esteja em um macacão, eu me pego desejando poder
abrir os botões brancos para revelar o cabelo neste peito.

— Eu... uh... é dia de lavar roupa. Isso é o que eu visto quando preciso
lavar roupas, — diz ele, levando o punho à boca enquanto tosse. —
Ninguém geralmente me vê nisso.

— Eu gosto, — eu sorrio, mantendo minha mão agarrada ao cobertor.


Meus pés estão congelando e a varanda está tão fria quanto o ar. Sento em
uma cadeira de balanço, e ele esquece que está cobrindo sua protuberância
quando leva a caneca aos lábios, tomando um longo gole.

Meus olhos caem para sua virilha e se arregalam. É impressionante.


Posso ver o contorno de seus piercings também.

— Knives...

— Não, deixe-me. — Ele pousa a xícara no corrimão e se ajoelha. É


engraçado vê-lo em algo diferente de seu colete e jeans, mas algo sobre esse
macacão traz à tona seu lado vulnerável que ele mantém escondido. Como
se ele estivesse morrendo de vontade de sentir conforto, então ele faz isso
porque ninguém pode ver.

Ele acha que ninguém pode vê-lo, mas eu vejo. Eu vejo-o.

Eu vejo através dele.

Knives não é feito de estrelas ninja e sangue. Ele é feito de macacões e


dores para sentir o calor de estar seguro.

Eu nunca vou dizer isso em voz alta, mas eu serei seu macacão se ele me
permitir.

— Eu não posso... eu não sei como fazer isso. — Há uma dor em seus
olhos, a mesma dor que sentia quando ele jogou a cadeira. —Eu não faço
isso. E Seer...

— O que?

— Nada, — diz ele, mas eu sei que é alguma coisa. Ele está escondendo
de mim. Seer disse a ele algo que o assustou.
— Me diga.

Ele pega meu rosto em suas mãos e balança a cabeça. —Não. Não há
momento mais importante do que agora, e quero aproveitar cada momento
que tenho com você. — Ele pressiona seus lábios nos meus, suave, lento e
deliberado. Ele leva seu tempo abrindo minha boca para abrir espaço para
sua língua. Eu aprofundo o beijo e me inclino para frente, envolvendo
meus braços em volta de suas costas e puxando-o para o calor do meu
cobertor.

O frio não o afetou. Sua pele está quente, mas sua língua está fria. Eu
não sei quanto tempo ficamos sentados lá e nos beijamos, mas os grilos
estão no fundo e relâmpagos de calor brilham no céu.

Estou começando a me perguntar se Knives é a razão pela qual eu não


morri. Havia tantas chances para mim, mas nenhuma nunca veio, não
importa o quanto eu tentasse.

E ele estava lá o tempo todo.

No começo, eu pensei que ele era um incômodo, mas ele foi a graça
salvadora que eu não tinha ideia de que precisava.

— Eu quero você, — ele diz contra meus lábios, sem quebrar o beijo ou
nos separar. —Eu quero você toda. — Ele desliza a mão pelo meu queixo,
acaricia a curva do meu pescoço e coloca a mão no meio do meu peito. —
Eu nunca tive isso antes.

Eu nunca dei isso gratuitamente antes.


Não que eu planejasse dar a ele. Knives meio que balançou seu caminho
e roubou sem que eu percebesse. Ele teve meu coração por um tempo
agora, e eu lutei com ele para recuperá-lo. Eu só não sabia pelo que estava
lutando tanto até agora.

O coração é inconstante.

Ele quebra, ele conserta, mas nunca é o mesmo depois de ser


consertado.

Eu não quero ter que me consertar. Eu não quero que Knives me


destrua. Não tenho energia para me recuperar depois disso.

E eu acho que ele também não.

— Me leve então, — eu digo.

Nós nos afastamos um do outro, mas não muito, apenas para que
possamos nos olhar nos olhos. Eu poderia olhar em seus olhos para sempre
e nenhuma vez me cansar de suas profundezas. Ele tem muito por trás
daquelas prisões azuis. Eu costumava pensar que ele era gelado, mas, na
verdade, ele é um prisioneiro em seu próprio corpo e está implorando para
ser libertado.

Ele me levanta em seus braços, o cobertor arrastando ao longo da


varanda, e ele dá os passos com cuidado. Não sei para onde vamos, mas
confio nele. Ele anda ao redor do prédio e segue em direção à entrada dos
fundos do ginásio. Quase quero ficar do lado de fora, mas podemos ser
apanhados e não quero que ninguém nos veja.

— O que há de errado? Mudou sua mente? — Ele pergunta.


— Não quando se trata de você. — Eu arrasto meu dedo por sua barba.
É grosso e áspero, assim como o resto da pele de seu corpo. —Eu só queria
que pudéssemos estar fora pela primeira vez. Adorei ficar sozinha com
você no celeiro.

Ele acaricia minha bochecha com a sua, e sua respiração assombra


minha orelha. —Eu gostei também. — Ele se levanta e olha para os fundos
da propriedade. —Vou me certificar de construir nosso próprio celeiro.

— Você faria isso por mim?

— Eu daria minha vida por você, Pequena Infernal. Você quer o celeiro?
Eu vou trazer aqui. Você quer as estrelas? Eu vou engarrafar para você.
Você quer a lua? Vou encontrar uma maneira de dar a você. Vou encontrar
uma maneira de dar tudo a você. Eu odeio que não percebemos o que
sentimos um pelo outro antes. Perdi muito tempo. Receio não ser capaz de
lhe dar todas as coisas que você merece.

— Knives, estou bem aqui. Eu não vou a lugar nenhum tão cedo.

O olhar em seus olhos me diz que ele não acredita em mim. Não tenho
certeza do que o assustou, mas tenho certeza de que tem algo a ver com o
Seer. Não vou perguntar porque não quero saber. Eu só quero estar com
Knives.

— Me leve para a cama, — eu digo, puxando sua barba enquanto estalo


meus dedos.
Ele sorri e abre a porta. Quando está entreaberta, ele a abre com o
quadril para que possamos passar. —Tão atrevida pra caralho. Você e
aquela boca.

— O que você vai fazer sobre isso?

— Prender com fita adesiva.

— Eu gostaria de ver você tentar. — Eu levanto meu queixo em desafio,


e quando ele pisa no chão do ginásio, suas botas ecoam.

Essa é outra coisa que amo sobre ele vestindo este macacão. Ele está
com suas botas malditas e os cadarços estão desamarrados.

Ele é uma bagunça e só deixa transparecer em momentos como este.

Macacões e botas desamarradas

Minha nova combinação favorita.

Ele para no meio do ginásio e me senta. Ele pega o cobertor de mim e o


coloca no meio, afofando-o, de forma que fique um quadrado uniforme ao
longo do piso escorregadio. —Fique aqui. Eu voltarei. — Ele leva seus
lábios ao topo da minha cabeça, e suas botas fazem barulho a cada passo
que ele dá. Ele pressiona alguns botões e é quando o teto se abre.

Eu suspiro. Eu não tinha ideia de que poderia fazer isso. As estrelas


estão aos milhões, rodeadas por tons de preto e azul.

— Eu sei que não é o celeiro, e eu sei que não os engarrafei, mas talvez
este possa ser um segundo próximo.
— É perfeito. Venha aqui. Venha olhar as estrelas comigo, — eu digo,
estendendo minha mão, dizendo-lhe silenciosamente para voltar para mim.

Suas botas fazem barulho novamente quando ele cruza o piso. Quando
ele chega ao cobertor, ele tira as botas e se deita. Eu me aninho ao seu lado,
olhando para o vasto céu que parece conter mais perguntas do que
respostas.

— Seer me disse que você iria morrer em duas semanas. Você morre me
salvando, Mary. Eu não posso... eu não posso perder você também.

Eu rolo em cima dele, desejando que ele não tivesse me contado, mas
não estou brava. Eu empurro meu cabelo para fora do meu rosto e acaricio
sua bochecha. —Não consigo pensar em uma maneira melhor de morrer do
que protegendo a pessoa que eu... — Estou prestes a dizer amor? É muito
cedo para isso. Isso é? Há quanto tempo estou realmente apaixonada por
ele e neguei, lutei contra ele? Muito tempo, mas tenho muito medo de
admitir. —Se foi isso que ele viu...

— A morte realmente não te assusta? — Ele pergunta.

— Não, mas só porque ele viu não significa que vai acontecer.

— Ele disse um de nós.

— Vamos provar que ele está errado, Knives. Nós lutamos por tanto
tempo e agora temos algo pelo que lutar. Não vamos parar de lutar agora.

— Enquanto eu estiver lutando por você e não com você, serei um


homem feliz, — diz ele, trazendo seus lábios aos meus, me beijando sob as
estrelas. Ele me trouxe o ar livre, exatamente como disse que faria. Ele pode
não ter engarrafado as constelações ou me trazido a lua, mas ele me trouxe
uma memória que durará para sempre.

Ele puxa minha camiseta pela cabeça e desabotoa meu sutiã com um
movimento de seus dedos, liberando meus seios. Ele nunca interrompe o
beijo, e quando ele puxa as alças dos meus braços, Knives reúne meu
cabelo e coloca os fios grossos sobre meu peito para esconder meus seios.

Inclinando-se para trás, ele admira sua obra-prima. —Há muito tempo
eu queria ver esse cabelo escuro cobrindo seus seios. Você é linda pra
caralho, Mary. — Ele belisca meus mamilos e eu suspiro. —Mas eu quero
ver você assim completamente nua. — Ele alisa as mãos pelo meu corpo até
que seus dedos engancham no cós do meu short e o puxa até os joelhos,
levando minha calcinha com ele.

O tempo para enquanto eu estou desnudada diante dele.

E eu me perco no silêncio enquanto ele fica sem palavras, olhando para


mim com tanta força que é como se ele estivesse me queimando em sua
memória. Ele puxa meu cabelo do lado direito, cobrindo meus seios, e as
pontas do meu cabelo param no meu quadril. Eu amo como ele me olha
como se eu fosse a única estrela que ele vê.
Capítulo Treze

Eu não sei como ela pode estar tão calma sobre a morte. Eu sei que já
matei dezenas de pessoas, mas quando a morte está perto de mim, isso me
assusta muito. Quando ela disse que tínhamos que continuar lutando, eu
sabia que ela estava certa.

Não importa o que aconteça, a visão do Seer não pode se tornar


realidade.

Eu vou lutar, com unhas e dentes, pele e osso, sangue e tripas, até que
eu tenha dado tudo de mim para ter certeza de que ela tem respiração em
seus pulmões. Eu não vou ficar em silêncio e vê-la morrer. Não serei o cara
do lado de fora olhando para dentro e vendo seu mundo passar por ele.

Ela parece gostosa pra caralho com o cabelo caindo em cascata sobre os
seios. É melhor do que todos os sonhos que já tive com ela. Meu pau está
latejando, puxando contra o material fino do meu macacão. Eu deveria
estar envergonhado por ela me ver assim, mas por alguma razão estranha,
ela gosta disso. Ela se senta, seus longos fios de cabelo sedutores ainda
cobrindo seus seios redondos, e suas pontas cor-de-rosa espetadas, duras e
esperando para serem chupadas. Suas mãos deslizam pelos meus braços,
traçando o contorno das minhas tatuagens, parando na que se parece
exatamente com ela.

Ela não pergunta.

Ela não precisa.

Suas unhas fazem cócegas enquanto ela gentilmente as passa pelos


meus braços antes de chegar ao meio do meu peito. Um arrepio me
percorre. Ela trabalha com os botões, abrindo-os um por um. Com cada
centímetro de pele exposta, ela beija meu peito. Ela desce, seus lábios
ficando cada vez mais baixos até que ela está no último botão.

Minha mão se move por conta própria, pegando um lado de seu cabelo
e jogando-o sobre seu ombro esquerdo. Eu quero vê-la. Tudo dela. Quando
o seio dela fica exposto, tenho que conter um gemido. Claro, eles são
perfeitos pra caralho. Mamilos redondos e empinados que são vermelhos e
me lembram aqueles doces de goma que eu amo tanto.

Sua pele é macia, cremosa e perfeita. A luz das estrelas é muito forte, e a
lua em meia-crescente no céu brilha, dando a Mary um brilho etéreo.

Reaper gastou uma tonelada de dinheiro no telhado retrátil porque


Sarah mencionou algo sobre observar as estrelas com ele e, claro, ele fez
tudo para fazer.

Estou feliz por poder usá-lo em meu benefício.

Ela traça as cristas do meu abdômen, levantando os cílios para que seus
olhos encontrem os meus. Ela me transformou em um idiota maldito, assim
como o resto dos caras que estão apaixonados por suas mulheres. Suas
mãos agarram as lapelas do meu macacão e as deslizam pelos meus braços.
O material fica pendurado em meus quadris e Mary sobe com beijos na
minha barriga, meus músculos se contraem com a suavidade de seus
lábios.

Quando ela está quase no nível dos meus olhos, ela inclina o queixo
para cima, para que nossos olhares se encontrem. Isso me fez respirar
atordoado. Ela é tão linda.

Eu só trepei antes. Tratava-se apenas de entrar e sair, um alívio


temporário para a dor permanente que sentia, mas não quero isso com
Mary.

Ela é a solução permanente.

E eu vou lutar como o inferno para garantir que esse amor não seja
temporário. Não vou deixar morrer em duas semanas. Finalmente tenho
minha chance de felicidade. Eu não estou mais sozinho.

Eu agarro seu queixo e trago meus lábios nos dela. É quase doloroso
beijar alguém tão perfeito porque, a qualquer momento, eu sei que posso
não ser capaz de sentir a perfeição novamente. Nosso beijo é preguiçoso e
lânguido. Nós levamos nosso tempo explorando a boca um do outro.
Nossas línguas lutam pelo domínio, o que me faz sorrir contra sua boca. Eu
não espero nada menos dela.

Meu pau lateja dolorosamente, ciente do que está prestes a acontecer.


Eu a empurro contra o cobertor, nunca interrompendo o beijo. Ela empurra
o macacão para baixo em minhas pernas, e meu pau bate contra sua perna,
pesado e gotejando com pré-sêmen.

— Você tem camisinha? — Ela pergunta, fazendo com que cada gota de
luxúria que estou sentindo pare.

— Onde eu colocaria um preservativo? No meu bolso do macacão? Eu


não sabia que isso ia acontecer.

— Você deve estar sempre preparado.

Eu a prendo contra o chão, a briga me excitando mais do que deveria, e


eu decido que um preservativo nunca teria importado. —Eu não estou te
fodendo com uma camisinha, Mary. Nós tivemos uma barreira entre nós
por muito tempo, e eu não estou prestes a sentir essa boceta pela primeira
vez com látex. Eu vou possuir você, cru. E você sabe o que vai fazer? — Eu
pressiono minha mão entre suas pernas e rolo meu polegar sobre seu
clitóris. Mal posso esperar para enterrar meu rosto entre suas pernas.

— O que? — Ela tem um brilho desafiador em seus olhos quando ela


enfrenta meu desafio.

— Você vai deitar e superar isso. — Eu mergulho três dedos dentro de


seu canal, sem me preocupar em esticá-la ou fazê-la se acostumar comigo.

Ela nunca vai se acostumar comigo.

E nenhuma quantidade de preparação vai mudar isso.


Suas unhas cravam em meus ombros e ela choraminga, cedendo a mim,
me dando controle. Porra, finalmente. Isso é tudo o que preciso para fazê-la
me ouvir?

Que dificuldade.

— Você é tão apertada, Pequena Infernal. Mal posso esperar para sentir
você enrolada em meu pau, — digo, observando seus seios saltarem e
continuo a foder com os dedos. Seus olhos se fecham como se ela estivesse
com dor, e eu paro. —Você está bem? — Eu deveria ter pensado em como
sexo comigo seria uma sensação por ela. Eu serei o primeiro depois de seu
pai. —Nós não temos que...

— Não, eu te quero tanto. Você me faz sentir tão bem. Nunca me senti
tão bem antes. Não pare.

Eu puxo meus dedos de seu calor e os levo à minha boca, lambendo o


doce néctar. Eu quase caio de bunda quando sua mão envolve em torno de
mim, me dando um aperto forte. Eu gemo, fechando meus olhos enquanto
ela faz o que quer comigo. Seus dedos deslizam para cima e para baixo na
Jacob’s Ladder, e eu estou tremendo com a sensação de como é bom. Não
são muitas as mulheres que brincam com os piercings, o que é uma pena.
As barras aumentam a sensibilidade. Eu entendo que eles podem ser
intimidantes, mas Mary não hesita, porra. Ela puxa os aros, e o gemido que
sai da minha boca ricocheteia nas paredes do ginásio, cantando meu prazer
de volta para mim.

— Isso doeu? — Ela pergunta, me esfregando com uma das mãos


enquanto puxa os aros com a outra.
Eu mal consigo respirar. Acho que poderia gozar assim. —Sim, — eu
respondo.

— Você gosta de dor?

— Sim.

Ela torce os aros, e a pele grita para ela parar, mas minhas bolas se
contraem. Eu agarro seu ombro e seguro meu orgasmo. Eu não quero isso.
Ainda não.

— Você acha que merece?

— Sim, — eu respondo honestamente, e sua mão deixa meu pau. —O


que? Não, volte. Continue fazendo isso. — Eu pego sua mão, mas ela a
puxa para longe, e assim que eu olho para baixo, ela está beijando a cabeça,
mergulhando a língua nos aros. —Oh, foda-se. — Minha cabeça cai para
trás sobre meus ombros e eu fico olhando para a noite estrelada,
apreciando seu beijo suave em cada barra que ela encontra.

— Você não merece dor, Knives. — Suas palavras são lufadas de ar


suaves que dançam sobre a carne sensível. —Se você quer dor porque
gosta, é uma coisa, mas eu não vou te dar dor porque você acha que a
merece. Isso não é prazer, Knives. Isso é tortura. Eu não quero torturar
você.

— Você está. Agora, você está me torturando pra caralho... — minhas


palavras são interrompidas quando ela suga a ponta em sua boca,
lambendo a fenda com a língua. —Oh, foda-se. Querida, você me faz sentir
tão bem. — Ela está insegura enquanto me leva para o fundo de sua
garganta. É óbvio que ela nunca fez isso antes, e inferno, se isso não me faz
querer derramar em sua garganta e ver meu gozo escorrer de seus lábios.

Ela engasga, sufoca, mas então cantarola, então agarra minha bunda
para me puxar para mais perto. Seu nariz está enterrado em meu pedaço
de cabelo aparado enquanto ela me usa, sua língua lambendo e brincando
com os piercings como se ela estivesse experimentando um pirulito.

Serei seu maldito pirulito sempre que ela quiser. —Porra, Pequena
Infernal. É isso que eu estive perdendo esse tempo todo? Achei que a única
coisa que essa boca poderia fazer era ser uma vadia. — Eu enterro a mão
em seu cabelo e fecho os olhos, apreciando a boca quente me levando
melhor do que qualquer uma antes. Ela morde em resposta às minhas
palavras, e eu resmungo, entendendo que é a maneira dela me dizer para
calar a boca. —Faça isso de novo, — eu digo, surpreso por ter gostado de
ter meu pau mordido.

Eu posso dizer que ela está confusa com a ruga aparecendo em sua
testa, mas ela faz isso de qualquer maneira, e as barras esfregam com a
pressão, então sua língua gira em torno de mim, e eu estou perdido.
Arrepios se espalharam pela minha espinha, e a ameaça de escorrer por sua
garganta está se tornando uma possibilidade real.

Mas eu quero estar dentro dela.

Eu puxo para fora de sua boca e a empurro para o chão, cobrindo seus
lábios com os meus. Sua boca está vermelha, inchada e cuspe por toda
parte. É um beijo desleixado, mas saber que sua boca está molhada de tanto
me chupar me deixa maníaco.
Eu empurro suas pernas e me coloco entre elas, pressionando meu pau
entre suas dobras, eu avanço. Ela geme quando os piercings esfregam seu
clitóris. Eu não posso evitar o sorriso que aparece em meus lábios. Por mais
que eu queira estar dentro dela, quero sentir a maciez de seus lábios me
abraçando enquanto a levo ao orgasmo fodendo seu clitóris.

— Knives. Oh meu Deus. — Seu corpo estremece e suas mãos voam


acima de sua cabeça. É como se ela não soubesse o que fazer com seu
corpo.

Eu olho para baixo, observando a ponta espiar por entre sua bainha com
cada investida. Eu acelero, precisando que ela chegue ao orgasmo antes de
deslizar para dentro.

Não tenho vergonha de admitir isso, mas não vou durar muito. Nunca
senti essa intensidade antes com alguém. Sempre foi sobre sexo, nunca
sobre qualquer outra coisa, e com Mary, é tudo o mais.

— Knives! — Meu nome reverbera na sala. É música para meus ouvidos


ouvir sua voz clamando por mim repetidamente enquanto ela goza. Suas
costas se arqueiam, sua boca se abre e suas pernas tremem ao meu redor
enquanto o controle que ela tem em torno de meus quadris enfraquece.

— Porra, finalmente, — eu rosno, e desta vez quando eu puxo para trás,


eu empurro para dentro dela. As bolas dos piercings esfregam contra suas
paredes aveludadas, e eu tenho que me dar um minuto para me acalmar.
Se eu me mover, eu vou gozar.
E de jeito nenhum vou ter esse fim tão rápido. Eu quero que este
momento dure a porra da noite toda. Ou pelas próximas duas semanas. Se
ela ficar na cama comigo por quatorze dias, nada pode acontecer com ela,
certo? Apenas orgasmos alucinantes.

— Se mova, — ela implora, seus dedos cavando na carne da minha


bunda.

— Ainda não. — Eu me abaixo nos cotovelos e roubo outro beijo.

— Eu disse se mova, droga.

— E eu disse não, — eu bufo.

— Eu quero te sentir.

— Eu vou gozar. Você quer isso? Eu não quero que isso acabe tão
rápido, mas você parece ter um efeito negativo sobre mim!

— Então me foda!

Deus, ela realmente me irrita. —Você quer ser fodida? — Eu a viro de


bruços e mantenho sua cabeça baixa. —Então eu vou te foder. — Eu saio e
bato em casa. Sua bunda treme com as batidas constantes. —Você quer me
sentir enchendo você? Você quer que eu perca o controle?

— Sim! Porra, sim, eu quero, — ela geme, empurrando sua bunda para
trás.

Seu lindo buraco enrugado destaca para mim, e sem pensar duas vezes,
enquanto eu estou entrando em sua boceta apertada como um torno, eu
coloco meu dedo em minha boca. Eu deixo ir com um estalo, contorno seu
buraco com a ponta do meu dedo e seus quadris tremem.

Eu não vou dar a ela tempo para me dar mais sua boca. Ela vai calar a
boca pelo menos uma vez na vida e aceitar o que eu der a ela. Eu empurro
meu dedo indicador profundamente. —Eu vou pegar essa bunda também.
Cada buraco, Pequena Infernal. Vou esticar você e arruiná-la para todos os
outros. — O suor pinga em meus olhos e meu cabelo cai sobre minha testa.
Eu fico olhando para onde estamos conectados e amo como meu pau está
brilhando com seus sucos.

Ela se levanta e passa o braço em volta do meu pescoço. —Você me faz


sentir tão bem. Eu amo seu pau. Eu amo os piercings, — ela engasga com
uma respiração pesada.

Ela está querendo me matar.

Eu a giro, mantendo-nos presos juntos, e mordo seu lábio inferior. Estou


bravo pra caralho com o quanto eu a quero. Eu não estou perto o suficiente.
Isso não é suficiente. Eu rosno enquanto solto, então, como um selvagem,
selo nossos lábios. Eu caio de joelhos, agarro a carne de sua bunda e uso a
nova alavanca para moê-la contra mim.

Ela choraminga e eu gemo, seus sons são uma sinfonia tocando minha
garganta. Ela geme com cada impulso, cada estocada.

E eu gozo.

Meu corpo fica rígido e eu jogo minha cabeça para trás e grito,
saboreando cada jato que cobre suas entranhas. Ela cai contra mim no
momento em que seus músculos internos têm espasmos, e seus dentes
travam no meu ombro enquanto ela sufoca seus próprios gritos enquanto
tem um orgasmo.

Eu também não paro.

Eu a fodo e a seguro com força, deixando minha testa cair contra seu
peito com cada movimento de sua boceta para cima e para baixo.

Eu não posso perder isso. Eu não posso perdê-la.


Capítulo Quatorze

Eu acordo na minha cama, e se não fosse pela dor entre minhas pernas,
eu teria pensado que a noite passada foi um sonho. Não me lembro como
cheguei aqui, mas não vou questionar porque a noite que tive com o
Knives é algo que nunca pode ser explicado, apenas sentido. A intensidade
que compartilhamos, a paixão, o suor...

Nunca fui tão ousada em toda a minha vida

Bocejo, esticando os braços sobre a cabeça, e gemo quando certos pontos


do meu corpo me atingem com uma pitada de dor. Estou definitivamente
machucada.

Valeu a pena.

Eu me sento e percebo que estou sozinha. Seu lado da cama está frio
quando coloco minha mão contra o travesseiro. Ele já se foi há um tempo.
Não tenho certeza de como me sinto sobre isso. Acordar sozinha depois da
noite que compartilhamos, não quero que seja devastador, mas é. Talvez eu
fosse apenas mais uma garota para ele, afinal?
— Tão estúpida. — Eu caio para trás e afundo no colchão. Meus olhos
ardem e pressiono as palmas das mãos contra os olhos para conter as
lágrimas. Eu deveria ter sabido melhor. Um motociclista como Knives não
faz relacionamentos. Ele tem vadias do clube e quem ele quiser, na
verdade. Não que as vadias do clube sejam algo para se preocupar agora, já
que nenhuma delas está por perto. Tem sido muito perigoso e elas não
querem correr o risco de serem mortas como suas amigas.

Eu pensei que elas eram minhas amigas também, mas no momento em


que as coisas ficaram difíceis, elas fugiram, e eu percebi que não sou nada
assim. Claro, eu fugi depois de lidar com meu pai, mas isso é diferente. Eu
nunca fugiria da minha família. Minha verdadeira família. As vadias não
são da família, são? É por isso que nenhum dos caras nunca me tocou. Eu
era mais para eles do que isso, e fico feliz em saber que tinha um lugar para
chamar de lar durante todo esse tempo em que estava tentando encontrar
um lar.

A única pessoa que está faltando é Becks. Ela já se foi há algum tempo,
mas neste ponto, estou começando a me perguntar se ela vai voltar. Ela
parece o tipo nômade, não fica no lugar por muito tempo porque fica
inquieta. Estou com saudades dela e espero que ela esteja bem, já que não
tive notícias dela.

— Ei, o que há de errado?

Eu coloco meu braço para baixo dos meus olhos e fico boquiaberta com
Knives, que está segurando uma bandeja de comida. O cheiro de café e
bacon me fez sentar, segurando o cobertor contra o peito. —Eu pensei que
você tinha ido embora.

— Eu fui embora, — diz ele, inclinando a cabeça em confusão. —Eu


queria fazer o café da manhã para você. Não posso dizer que vai ser bom.
Pode haver casca de ovo nos ovos, mas eu tentei.

Eu amo ele. Ele é tão diferente do que eu pensava que ele era. —Você
não precisava fazer isso, — eu digo, correndo para abrir espaço para ele na
cama.

— Eu queria, — diz ele, colocando a bandeja no meu colo. —Você


merece o café da manhã na cama. — Ele empurra meu cabelo do meu
ombro, em seguida, coloca atrás da minha orelha antes de bater na ponta
do meu nariz com o dedo.

— Bem, se eu comer uma casca de ovo, tenho certeza de que terá um


gosto tão bom.

— Awwnn, espero que você engasgue com isso.

Eu suspiro, pegando o garfo e fingindo esfaqueá-lo no braço. —Pirralho.

— Estou brincando. Há apenas uma coisa que eu quero que você


engasgue, e com certeza não é o café da manhã, — ele abaixa a voz.

Eu empurro seu ombro, e ele escorrega da cama, caindo no chão com


um baque duro. —Oh meu Deus, Knives. Você está bem? — Eu movo a
bandeja para o lado e vou para fora da borda do colchão. Eu caio em seu
colo, montando nele, e me inclino para lhe dar um beijo. —Eu sinto muito.
Eu não queria te empurrar.
— Claro que não, — ele grunhe, colocando as mãos tatuadas em meus
quadris.

— Eu realmente não queria. O que posso fazer para compensar você?

Ele abre um olho, a cor intensa do gelo congelando minhas veias


enquanto ele delibera. —Bem, — ele começa a dizer, antes de balançar
contra o meu centro dolorido. Eu gemo sugestivamente quando sinto sua
ereção, bem quando meu maldito estômago ronca.

— É embaraçoso. Que maneira de estragar o momento, certo?

— Não. Minha mulher precisa ser alimentada. Acho que podemos ter
pulado o jantar ontem à noite, mas não se engane, quando você terminar,
vou te foder, Pequena Infernal.

Eu mordo meu lábio, então deixo seu colo e subo de volta na cama,
balançando minha bunda no ar para deixá-lo louco.

— Não me tente, — ele rosna, batendo na minha bunda para me fazer


sentar, mas isso só me deixa mais quente. —Você vai ser a minha morte.
Coma sua comida. — Ele pega um pedaço de bacon e o enfia na minha
boca. Eu gemo em apreciação quando o sal explode na minha língua, junto
com um toque de bordo. —Lá vai você de novo, fazendo aqueles malditos
barulhos. O bacon é realmente tão bom? — Ele dá uma mordida e acena
com a cabeça. —Certo, é discutível.

Eu rio, pegando uma colher cheia de ovos e apenas engulo. Eu não


quero arriscar morder uma casca de ovo. Se eu fizer isso, talvez não
consiga comer o resto do meu café da manhã. Caímos em um silêncio
confortável, comendo nossa comida e desfrutando de pequenos toques um
no outro. De vez em quando, ele põe a mão no meu joelho ou me dá uma
uva, e esses gestos pequenos, os simples que todos esquecem, são tudo
para mim.

Um homem como Knives não dá seu toque a ninguém, não assim.

— Quando você disse que pensava que eu tinha ido embora, você
realmente quis dizer que pensava que eu tinha partido.

Aproveito esse momento para morder uma maldita casca de ovo. Mas
eu não faço careta, eu não engasgo, eu prendo minha respiração e engulo,
porque ele tirou um tempo de sua manhã para me fazer comida. Eu pego o
café e tomo um gole, lavando os pedaços duros e pedaços da casca. Eu
aceno, então empurro os ovos ao redor do prato. —Eu sei, eu não deveria,
mas eu acordei dolorida e feliz, então eu senti por você, e você não estava
lá.

Ele coloca dois dedos sob meu queixo e me força a virar a cabeça. —Me
ouça, — diz ele, com o cabelo molhado do banho. Ele está fora do macacão
agora, vestido com jeans desbotados, uma camiseta e seu colete. —Eu não
estou indo a lugar nenhum. Eu preciso que você acredite nisso. — Ele
desliza sua mão sobre a minha, e eu amo as diferenças. Minha pele está nua
em comparação com a dele. Ele tem uma grande flor vermelha em uma das
mãos, seus nós dos dedos são decorados com estrelas e letras tradicionais.

Ele é tão diferente de mim por fora, mas somos iguais por dentro, e isso
é tudo que importa.
— Você está acostumado com um certo tipo de mulher, Knives, — digo
a ele.

— Não, eu não estou. Não estou acostumado com nenhum tipo de


mulher, porque nunca conheci uma mulher como conheci você nos últimos
meses. Nenhuma mulher me deixa louco do jeito que você deixa, e
nenhuma mulher me excita como você. Nenhuma mulher jamais me
colocou de joelhos tão rápido. Não sou alguém que fica com medo, Mary,
mas o que a Seer disse me assustou muito.

— Nada vai acontecer comigo.

— Tudo o que ele disse se tornou realidade até agora.

— Se lembre do que dissemos ontem à noite, — eu digo. Eu quero


mudar de assunto. Eu não quero mais falar sobre isso. Se eu morrer
salvando Knives, morrerei por alguém importante. Que melhor maneira de
morrer? —Como está o Máximo?

— Ele ainda está amarrado à cadeira. Seu irmão, Moretti, também está
lá. Mesmo que Moretti não se lembre de Máximo e sua filha, ele diz que se
lembra de como ele se sente, então eles estão falando sobre Natalia.

— É mesmo necessário mantê-lo aí embaixo? Ele tem três dedos a


menos, — eu aponto. —E não é como se ele fosse realmente o cara mau. Ele
não é meu pai. Eu sinto que é onde a atenção precisa estar.

— Ele deu as costas ao clube. Reaper não tem certeza do que fazer com
ele.
Eu entrego a ele a bandeja, e Knives coloca o prato vazio e a bandeja na
cômoda. —Eu sei o que fazer com você, — digo em um ronronar baixo,
esfregando minha mão sobre a protuberância atrás de seu zíper.

— Isso está certo? — Suas mãos caem para a minha bunda e agarram as
bochechas. —Como você está se sentindo?

— Dolorida, — eu sussurro, lambendo seu pescoço. —Mas da melhor


maneira.

— Você me quer de novo? Sua boceta é ávida por meu pau, Pequena
Infernal?

Meu buraco dolorido vibra com a necessidade, não querendo nada mais
do que ser esticado por seu pau. Eu quero sentir os piercings esfregando
contra aquele ponto dentro de mim. Eu quero senti-lo derramar dentro de
mim novamente. Eu balanço minha boceta nua contra seu jeans, molhando-
os com a luxúria líquida que ele faz irromper de mim.

— Porra. Isso vai ser rápido. Eu preciso muito de você, porra, — diz ele,
mergulhando as mãos entre nós para se libertar. A pesada cabeça bate no
meu clitóris no momento em que ele está livre, e as argolas deixam uma
leve ferroada para trás. Eu jogo minha cabeça para trás e gemo e esfrego
minha fenda sobre sua carne, semelhante ao que ele fez comigo na noite
passada.

Eu não sei o que há sobre isso, mas senti-lo contra mim assim me excita
tanto que eu sei que se apenas fizéssemos isso, eu poderia chegar ao
clímax. —Oh, você me faz sentir tão bem, querido. — Eu acelero minha
velocidade, perseguindo cada faísca que inflama através do meu corpo
depois que seu pau esfrega sobre meu clitóris.

— Eu preciso de mais. Foda-se, — ele rosna, e quando estou prestes a


deslizar para baixo, ele se enfia dentro de mim, empurrando ao máximo,
enviando uma onda elétrica por todo o meu corpo. —Olhe para você, — ele
me admira, deslizando as mãos sobre meus seios e estômago. Cada
arranhão de suas mãos, cada deslize de seu pau, cada respiração
aquecendo a pele do meu pescoço de seus lábios, eu caio.

Eu caio nele.

Eu me apaixonei por ele.

Eu me apaixono por ele.

— Eu vou gozar, Pequena Infernal, — ele rosna, me fodendo com tanta


força que a cama se move pelo chão e o colchão geme. —Goza comigo. —
Seus dedos torcem e puxam meu clitóris, me eletrificando, e meus braços se
abrem exatamente quando minhas costas se curvam e meu orgasmo me
possui.

Ele geme no fundo de sua garganta, um som de puro prazer quando


sente minha liberação escorrendo por seu eixo. Em mais três estocadas, ele
se planta dentro de mim, esvaziando seu calor tão profundo quanto a
biologia permite que ele vá.

— Nada é melhor do que você. Você me ferrou, Mary. Você me prendeu


na sua teia.
— Eu entendo o seu pau de demônio agora, — eu suspiro, tirando meu
cabelo do meu rosto suado enquanto eu caio na cama.

Meu corpo treme enquanto ele ri. —Meu o quê?

— Seu pau demônio. 666. Ele me possui, — eu suspiro, engolindo para


cobrir minha garganta seca.

Sua risada é alta, sacudindo meus seios enquanto ele deita a cabeça no
meu peito, seus dedos cavando em meus lados. —Pau demônio, hein? Eu
nunca ouvi isso antes.

— Eu pensei que você nomeou assim por causa da tatuagem.

— Eu só queria a tatuagem, mas agora que penso nisso, faz sentido, e


você está inflando meu ego, então, por favor, não pare de falar.

— Cale a boca.

— Cale a boca, — diz ele com um sorriso, em seguida, começa a fazer


cócegas em meus lados. —Você.

— Não! Não! — Eu grito, gritando de tanto rir enquanto ele me faz


cócegas das axilas aos quadris. Seu pau ainda está dentro de mim, e toda
vez que tento fugir, ele endurece novamente. —Oh meu Deus, eu me
entrego. Eu vou.

— Me diga que você me ama e eu vou parar.

— O que... — minhas palavras são quebradas enquanto eu desço do


alto das cócegas. —O que?
— Diga que você me ama e eu paro. — Seu rosto fica sério, a expressão
divertida desaparece e a máscara séria cai sobre ele. Seus olhos azuis não
são tão convidativos. Como se ele não ouvisse a resposta que deseja, ele
poderia me matar em vez disso.

Amá-lo pode me matar de qualquer maneira.

— Eu te amo, — eu digo a ele, pressionando minha mão em sua


bochecha.

— Mesmo? Você não está dizendo isso apenas porque eu pedi para você
dizer isso?

— Bem, sim, — eu puxo alguns fios de cabelo de seu peito quando a


emoção cai de seu rosto. —Ei, você sabe que sim. Eu acho que eu tenho há
muito tempo. Por quê?

— Eu nunca fui amado antes, então queria saber se você iria. Eu


também te amo, você sabe. E se você não fizesse, eu faria você me amar.

— Você nunca teria que me obrigar. Eu simplesmente, apenas... faço.

Uma batida vem da porta, estragando o doce momento que estamos


tendo. Eu estava pronta para pular naquele pau de demônio novamente e
dar outro passeio depois que ele admitiu que me amava.

— Vá embora! — Knives diz, lambendo os lábios enquanto ele puxa


para fora de mim, apenas para deslizar de volta, o que rouba minha
capacidade de respirar.

— Knives, Mary, você vai querer vir aqui.


A cabeça de Knives cai no meu estômago e murmura algo que não
consigo entender.

— Slingshot, nós sairemos em um minuto, — eu grito.

— Knives, você vai querer correr, — alerta Slingshot, e isso chama a


atenção de Knives.

Ele se levanta e sai, resmungando de descontentamento e, se não me


engano, choraminga quando encara minha boceta. —Um dia desses, vamos
ficar na cama o dia todo. Eu vou foder essa boca... — ele esfrega os dedos
nos meus lábios, —... essa buceta, — ele dá um tapa entre minhas pernas e
minhas pernas tremem, — ... e essa bunda. — Seu dedo percorre o buraco
proibido, me provocando. —Eu quero possuir cada centímetro de você.

— Você possui, Knives. Você faz. Mais do que qualquer pessoa jamais
fez.

Ele leva meus dedos à boca e me dá um beijo. —Venha, vamos ver o


que está reservado para nós e por que preciso embalar o calor.

— Oh, você está embalando calor.

Ele bate na minha bunda quando eu me levanto, e minhas bochechas


doem de tanto sorrir. Ele se levanta e se enfia na calça jeans, com cuidado
ao fechar o zíper. —Por que você não vai sem mim? Eu vou te alcançar, —
eu digo, abrindo uma gaveta para puxar uma calcinha preta simples, mas
sexy.

— Você não está usando isso aí.


— Eu não estaria apenas usando isso, — digo revirando os olhos. —Vou
usar calças.

— Sim, mas então eu saberia que você está usando ela, e então não serei
capaz de me concentrar em ser o grande homem mau que eles querem que
eu seja, porque tudo o que vou ser capaz de pensar é na sexy roupa íntima
que você está usando.

— Você vai viver.

Ele cruza os braços e me observa me vestir. Seus olhos ficam aquecidos


enquanto eu entro em uma calça jeans, levando meu doce tempo, então eu
o torturo. Visto uma camiseta, depois minha jaqueta de couro, prendo o
cabelo para cima e vou escovar os dentes. Quando estou no banheiro, passo
perfume e aplico meu batom vermelho. Não tenho certeza do que se trata,
mas me faz sentir fortalecida.

Saio do banheiro e os punhos de Knives se fecham. —Você faz isso só


para me testar.

Esfrego um dedo em seu peito enquanto me afasto dele e vou em


direção à porta do quarto. —Não tenho ideia do que você está falando.

Oh, mas eu tenho.

Eu amo testá-lo.
Capítulo Quinze

Eu paro no meu quarto e pego algumas estrelas ninja a pedido do


Slingshot. Mary está atrás de mim, segura e viva, e é difícil não pensar no
que nos espera em treze dias. Ela é tão indiferente sobre isso, e isso me
irrita.

Eu não me importo com o que temos que fazer. Eu não me importo se


eu tiver que trancá-la na prisão treze dias a partir de agora, ela não vai a
lugar algum se não estiver perto de mim. Eu vou ter certeza disso. —Você
está pronta para ir ver o que está acontecendo? — Eu pergunto a ela,
percebendo como eu não gosto que sua jaqueta de couro não tenha meu
emblema de propriedade nela

Puta merda.

A dor na minha bunda é o amor da minha vida.

Vá entender, porra.

Eu quero meu nome tatuado nela também. Eu quero que não haja
dúvidas de quem ela pertence. Todo mundo aqui sabe, mas todo mundo lá
fora não. Um olhar para a mulher tatuada em meu braço e, em seguida, um
olhar para a mulher ao meu lado, torna óbvio que pertenço a ela. Quero
que fique óbvio que ela pertence a mim.

— Sim, as vozes estão ficando mais altas, então isso não pode ser bom,
— diz ela.

Eu envolvo meu braço em volta de seu ombro enquanto caminhamos


pelo corredor para a sala principal, e dizer que as vozes estão ficando mais
altas é um eufemismo.

Reaper e Mercy estão indo na garganta um do outro.

Whistler está atrás de Mercy, segurando alguém pela nuca que já viu
dias muito melhores. One, o braço direito de Whistler, tem uma arma
apontada para a cabeça do estranho.

— Vá para a sala com as outras meninas, Mary. Pego você quando for
seguro.

Ela acena para mim, me dando grandes olhos redondos de cachorrinho


quando Reaper se vira e aponta para ela. —Ela fica! — Sua voz estrondosa
a fez estremecer.

Mercy balança a cabeça e diz algo, mas não consigo ouvir, já que Tool o
empurra por trás, o que começa uma porra de uma briga. Mercy ergue o
punho para trás e dá um soco em Tool, que desaloja a chave de fenda de
sua orelha e ela cai no chão com estrépito. Tyrant se agarra ao braço de
Whistler, e Yeti está na frente de Tool, rosnando tão fundo que a baba
começa a escorrer de seus caninos.
Outro dos homens de Whistler, Socks, de acordo com seu patch, leva
um duro golpe de Skirt. Socks tropeça para trás, e antes que eu possa puxar
Mary para mim, ele bate nela, derrubando ela e sua cabeça salta contra a
parede e seus olhos rolam para trás.

— Mary! — Eu mergulho para ela, pegado ela em meus braços antes


que ela possa bater no chão.

Tudo bem. Agora estou puto pra caralho. —É o suficiente! — Eu grito,


arremessando uma estrela pela sala até ela cair bem no ombro de Whistler.
Eu jogo outra antes que alguém possa pensar, me certificando de que a
próximo caia em Socks. O filho da puta.

Todos param de gritar e Doc sai da cozinha, enxugando as mãos depois


de lidar com Máximo, e se agacha para checar Mary. —Eu cuido dela, —
ele sussurra.

Eu me levanto lentamente, querendo matar todos na sala. —Que porra


está acontecendo?

Algo me atinge na testa e vejo Slingshot do outro lado da sala,


escondendo o estilingue nas costas, apontando para Patrick, que então joga
um saco de bolinhas em seu rosto. Um irmão MC chato de cada vez.

— Você me pegou com uma estrela ninja, — geme Whistler, encostado


no sofá. —Eu sabia que você era bom com elas, mas puta merda. — Ele
pega a estrela e tem que deixar o cara que está segurando, mas ele
permanece onde está, então ele não é um prisioneiro. —Alguém tire essa
merda de mim.
— Sem chance no inferno, — Bullseye diz atrás dele, então se move
para o lado e acerta a estrela, arrancando um chiado de Whistler. —Ops.

— Knives, Mary está bem. Ela só foi nocauteada, — Doc me informa.

— Apenas nocauteada? Ela não seria nocauteada se todos na sala


pudessem agir civilizadamente.

— Knives, isso foi antes de Mercy chegar à nossa porta e dizer que tinha
informações sobre o pai de Mary. Aparentemente, o FBI o está
investigando há algum tempo, — diz Reaper.

Eu avanço e pressiono uma estrela sob o queixo de Mercy antes que ele
possa piscar. —Você é bom no seu trabalho? Ele abusou dela durante doze
anos. Doze. Onde você e seus agentes estavam?

— Sinto muito, eu não sabia disso, — diz ele, as rugas ao redor dos
olhos não apenas mostrando a idade, mas também a tristeza. Eu odeio
saber que ele é sincero. —Espero que possamos derrubá-lo. Ele realmente
construiu um nome para si mesmo ao longo dos anos. — Mercy olha para o
cara que eles trouxeram, que tem um capuz preto na cabeça. —Ele pode
ajudar.

— Por que ele está encapuzado? — Patrick pergunta, colocando um


amendoim na boca. Desde que parou de beber, Patrick comeu seu peso em
amendoins. Acho que o ajuda a ficar longe da garrafa.

— One que fez isso. Ele disse que não gostou da aparência 'triste' do
cara.
— Eu não gosto de pessoas tristes. Eles me assustam, — One diz,
encolhendo os ombros enquanto guarda sua arma.

— Essa porra de estrela dói! Tire ela daqui, — grita Socks.

— Ninguém o ajuda. Ele é a razão pela qual Mary foi nocauteada, — eu


digo.

— Sim, sofra idiota, — Bullseye resmunga, e ele e eu batemos os nós


dos dedos.

Mercy arranca a estrela do ombro de Whistler, e os joelhos do cara


dobram enquanto ele morde os lábios para conter a dor. —Obrigado, — diz
ele em uma respiração presa.

Mercy me olha de lado e joga minha estrela para mim, então arranca o
capuz preto do cara. —Eu acredito que vocês se conhecem, — Mercy
afirma. —Thomas, este é o seu irmão. Mason.

O sangue sobe à minha cabeça. Meu coração bate tão rápido. Tenho
certeza de que está prestes a sair do meu peito. —Isso é impossível. — Eu
tropeço e Reaper me pega. Meu mundo se inclina enquanto fico tonto, as
memórias inundam minha mente e sua morte se repete uma e outra vez na
minha cabeça na velocidade da luz neste exato momento.

— Thomas, — Mason diz meu nome com uma familiaridade que apenas
um irmão faria. Ele luta para se livrar do aperto, mas não consegue. —Me
solte. Thomas, sou eu. É Mason. Juro por Deus, sou eu.

— Não, — eu balanço minha cabeça. —Não! — Eu grito. Eu não


consigo respirar. Eu não consigo respirar, porra. Eu suspiro por ar,
pressionando minhas mãos na minha cabeça quando a pressão se torna
muito insuportável. —Não pode ser você. Você não pode. Eu assisti você
morrer! Eu vi.

— Sou eu. Você sempre assume a responsabilidade por suas ações, —


diz ele, colocando meu mundo torto de volta no lugar.

Apenas Mason saberia as últimas palavras que dissemos um ao outro.

— Você não pode ser real, — eu sussurro, minhas mãos tremendo. Eu


olho para Mary, precisando dela mais do que nunca agora, mas ela ainda
está inconsciente. —Você morreu.

— Sim, é uma longa história, — diz Mercy. —Ele já é agente do FBI há


algum tempo. Ele está disfarçado para o pai de Mary.

Existem tantas perguntas.

— Quem é Mason? — Slingshot pergunta, colocando um bolinho na


boca. Todos se voltam para ele e olham fixamente para sua pergunta mal
cronometrada. —O que? O que eu disse? Oh, por favor. Como se ninguém
mais estivesse curioso?

— Mason era meu irmão adotivo. Eu o vi morrer quando eu tinha


quinze anos, depois que ele matou três caras que constantemente me
intimidavam. É assim que eu sei que isso está errado. — Aponto para o
homem que se autodenomina Mason, depois para Mercy. —Você entendeu
errado. Este homem não existe mais. E se ele estava seguro, por que ele está
amarrado com abraçadeiras?
— Isso é coisa de abraçadeiras, — diz Mercy. —Ninguém confia em
ninguém. — Ele arranca minha estrela ninja da minha mão e corta o
plástico grosso, para que as mãos do estranho fiquem livres. O cara que diz
que é Mason.

— Eu preciso ir. Eu preciso limpar minha cabeça.

— Thomas...

Silencio Mason com um soco rápido na mandíbula, depois outro, e


quando ele fica desequilibrado, coloco uma estrela em minha mão do bolso
do corte a que fiz com as facas que encontrei na estrada todos esses anos
atrás e jogo o mais forte que posso pelo ar. Eu nunca joguei uma estrela
com tanta força na minha vida, mas estou tão bravo.

Doeu pra caralho.

A estrela vira para a direita, longe de prejudicar seu coração, o que é


muito ruim. Ela se aloja profundamente no músculo de seu ombro. Mason
tropeça para trás e leva a mão ao ferimento. O sangue está derramando,
mas ele viverá.

— Eu mereço isso, — diz ele, como se não tivéssemos passado anos sem
conversar. Como se eu não tivesse ido todos os dias sem lamentar meu
irmão. Como se eu não visitei seu túmulo todos os malditos dias e
desejasse como o inferno estar em seu lugar.

— Você merece isso? — Eu pergunto, dando um passo em direção a ele,


então volto, porque eu não quero estar em qualquer lugar perto dele agora.
Ainda não acredito que seja ele mesmo. —Isso é uma porra de uma piada,
certo? Você espera que eu acredite que meu irmão morto trabalhou para o
FBI todos esses anos? O que... ele fingiu sua morte e não teve permissão
para contar a ninguém? E então, bum, coincidência, ele trabalha para o pai
da minha Old Lady? Dê o fora daqui.

— É tudo verdade. Até o último pedaço disso, — Mercy diz. —É uma


longa história sobre como o encontramos, mas...

— Não há mas, — minha garganta queima enquanto eu grito. —E eu


não dou a mínima. Você está morto para mim há vinte anos. Você pode
estar morto por mais vinte. — Eu me aproximo e arranco a estrela de seu
ombro e começo a sair pela porta, então paro. Eu volto para Mercy. —Há
quanto tempo você sabe? Você soube o tempo todo?

— Não, apenas recentemente. Quando fui colocado no caso, eles me


deram o arquivo, — diz ele. —Lamento que você tenha que descobrir
assim, mas Mason é nossa melhor pista para derrubar o pai dela.

— Não, Seer é.

— Verificamos todos os hotéis com a letra M, e ele não estava lá Knives.


Mason pode ser nossa melhor aposta, — reconhece Reaper.

— Prefiro morrer a pedir sua ajuda. Uma pessoa que mentiria para seu
irmão sobre estar vivo... todo esse tempo, sabendo que ele era tudo que eu
tinha, e ainda escolheu me deixar sozinho? — Eu travo o olhar nele, e
Mason dá um passo à frente, segurando a mão no ombro. Eu levanto
minha mão e balanço minha cabeça. —Não faça isso. Nada do que você
diga jamais me fará perdoá-lo. Qualquer informação que você tiver sobre
Mary e sobre o pai dela, conte ao Reaper. Eles vão me atualizar. Eu não
quero ouvir nada de você. E vai se foder Mercy, — acrescento para o
inferno.

Porra, que se foda todo mundo.

— Doc, me ligue quando ela acordar, e eu volto logo. Eu preciso limpar


minha cabeça. Eu não quero que ela pense que eu a deixei. Eu nunca
deixaria ninguém de quem gosto. Eu sempre estarei de volta. — Saio
correndo pela porta da frente, com vergonha de admitir que não só estou
com raiva, mas também tenho lágrimas nos olhos. Estou sentindo centenas
de emoções.

Uma parte de mim está feliz por ele estar vivo. Puta merda, meu irmão
está vivo, mas uma parte de mim se sente estúpida. Eu me sinto como
aquele garotinho que não sabia nada sobre o mundo, e eu odeio isso. Eu
trabalhei pra caramba para não ser aquele garoto, mas aqui estou. Mais
uma vez, Mason está se mostrando o cavaleiro da porra da armadura
brilhante, e eu sou deixado para vê-lo salvar o dia à distância.

Eu paro onde eu normalmente estaciono minha moto para ver a vaga


vazia. Estou confuso por um segundo, me perguntando para onde diabos
minha moto foi, apenas para lembrar que ela queimou totalmente na lateral
da estrada, então eu não posso dar um passeio.

— Filho da puta! — Eu grito com toda a força dos meus pulmões. Eu


não preciso andar assim de qualquer maneira. Andar com raiva nunca é
uma coisa boa, é assim que os acidentes acontecem. Você se torna mais
descuidado e não tão consciente do que está ao seu redor. Eu preciso estar
aqui para Mary quando ela acordar de qualquer maneira.

— Está tudo bem, Knives? — Braveheart levanta a cabeça do galpão de


segurança onde ele controla o portão.

— Parece que está tudo bem, Braveheart? — Eu atiro para o garoto, me


sentindo mal. Nada disso é culpa dele. Eu esfrego a mão no rosto, tentando
me orientar. —Sinto muito, Braveheart. Eu não queria explodir.

— Está tudo bem, — diz ele, seu grande pomo de adão balançando
enquanto ele engole. Ele está usando seus óculos hoje, o que me lembra de
quando ele começou a prospectar para o clube. Ele geralmente usa lentes
de contato hoje em dia, então vê-lo usando a armação preta me faz lembrar
de um garoto idiota que não tinha ideia de quais eram seus pontos fortes.

Ele é muito parecido com Skirt, mais um lutador do que um lutador


profissional, mas puta merda, Braveheart tem coração de leão. Isso me
surpreende porque ele é alto e magro, um pouco estranho também.

— Bem, se você quiser conversar... — Ele deixa as palavras saírem


como uma isca, e eu me pergunto se eu deveria aceitá-lo. Ainda estou
irritado com a tensão na sede do clube. Pode ser bom conversar com
alguém que também não está chateado. —Eu tenho bebida alcoólica, — diz
ele, segurando uma garrafa de uísque.

— Você cachorro. O que diabos você está fazendo com isso? — Calor
disparando na minha garganta é exatamente o que eu preciso.
— Não podemos ter nenhuma perto de Patrick, o que é bom, mas aqui
eu fico entediado e com frio. O uísque ajuda.

— Você sabe que não tem que ficar aqui fora, certo? Por favor, me diga
que alguém lhe disse isso.

— Hum... — ele empurra os óculos para cima da ponte do nariz e torce


a tampa do uísque. Ele engole e tosse com o tempero do uísque. —Não... —
ele admite, e seu esquecimento flagrante me faz jogar minha cabeça para
trás e rir. Oh meu Deus, o pobre coitado.

Eu pego o uísque dele e agito a garrafa para ele antes de suspirar e


tomar um gole. —Eu precisava disso. Braveheart, cara, você não precisa
proteger o portão o tempo todo.

— Sim eu quero. Muita merda aconteceu. Muitas pessoas nos


machucaram. Estou aqui. Noite e dia. Eu observo a estrada. Eu observo o
portão. Eu não quero que ninguém machuque minha família novamente.

Ele se sente culpado. Ele não olha para mim. Ele não precisa. Eu vejo em
seu perfil enquanto ele olha para a estrada. O queixo de Braveheart está
tenso e ele enfia as mãos no bolso da jaqueta. Está frio aqui fora, solitário e
ele se sente obrigado a nos proteger.

— Você não fez nada de errado, — digo a ele, colocando a garrafa na


prateleira na frente dele. —Essas pessoas vêm até nós de todos os ângulos,
de todos os aspectos. Aconteça o que acontecer aqui, não é sua culpa. Você
deve estar dentro de casa com todos. Acredite em mim quando digo, não
há obrigação aqui de desperdiçar sua vida em uma porra de galpão
quando há pessoas que se preocupam com você lá dentro, Braveheart.
Tank está lá, abençoado seja sua alma de ursinho de pelúcia, ele pula
quando Happy está perto. Ele não tem um osso de bravura em seu corpo.

Isso faz Braveheart sorrir. —E você? — Ele pergunta. —Por que você
não está lá dentro?

— Porque alguém está lá que está morto para mim há muito tempo.
Preciso de um minuto para envolver minha cabeça em torno disso.

— Oh, o cara que Mercy trouxe?

— Sim. Ele tem informações sobre o pai de Mary, mas como posso
confiar nele? Como ele entrou no FBI? Por que ele não me contou? E se ele
não estivesse do nosso lado? Ele sabe alguma coisa sobre Máximo e por
que diabos ele está trabalhando para o Homem Pregador?

Braveheart solta um suspiro e partículas congeladas enchem o ar


enquanto ele pensa no que dizer. Ele levanta os pés, colocando-os na
prateleira para ficar confortável. —Essas são muitas perguntas, Knives.
Perguntas para as quais só ele sabe as respostas.

— Eu não quero falar com ele, Braveheart. Eu não acho que posso.

— Pela Mary? — Ele me pergunta. —Talvez não faça isso por você. Faça
isso por ela. Depois de tudo isso dito e feito, você não precisa mais falar
com ele.

E pensar nisso dói como o inferno também. —Me dê isso. — Eu roubo a


garrafa dele novamente e tomo outro gole. —Não deixe Patrick ver isso.
— Não, eu a mantenho trancada como Prez diz para fazer. Se Máximo
agisse pelas nossas costas, se ele fosse tão viscoso quanto eu penso que é, o
que aconteceria?

— Guerra, — eu digo, a palavra fazendo meu estômago revirar. Muitas


vidas seriam perdidas. —Moretti precisa se lembrar. Se ele conseguir
recuperar sua memória, acho que saberíamos muito mais do que sabemos.
Logo depois que nossa parceria se solidificou, aconteceu a explosão do
hotel e não fomos capazes de crescer como queríamos. Máximo veio e
mudou tudo.

— Algo está acontecendo com ele, Knives. Vou ser honesto e nunca
disse isso em voz alta, mas não acho que ele seja confiável. Cada
movimento que ele faz, cada vez que ele fala, eu não entendo como Reaper
pode olhar além do óbvio. Ele tem que saber que Máximo não está do
nosso lado. Ele tem que saber.

— Reaper tem muito em que pensar agora. Ele está tentando manter a
paz. Temos famílias aqui.

— De qualquer forma, eles estão em perigo até que a ameaça seja


neutralizada.

— Sim, eu concordo. Quanto mais penso em suas palavras, mais elas


ressoam em Mary. O clube não é mais minha única família, Mary também.
Até que sua ameaça seja resolvida, ela sempre estará em perigo.

— Oh, antes que eu esqueça. — Braveheart volta para seu galpão e pega
um pacote, entregando-o para mim. —Isso veio pelo correio para você.
Eu levanto uma sobrancelha com curiosidade e rasgo o pacote. É meu
novo telefone. Finalmente. Com tudo acontecendo, pelo menos algo deu
certo hoje.

— Obrigado, Braveheart. — Não me refiro apenas ao telefone, mas pelo


olhar que trocamos, tenho certeza que ele entende o que quero dizer.

— A qualquer hora, Knives.

Eu me viro e vou para o clube, sugando todo o meu orgulho e toda a


minha dor para ir cuidar de Mary.

Mason está morto. Meu passado não tem voz aqui.

É tudo sobre Mary e como posso ter certeza de que ela está segura.
Capítulo Dezesseis

Awwnn.

— Puta merda, — eu digo em uma respiração presa quando começo a


despertar. Minha cabeça está me matando. Eu sinto que fui atingida por
um taco.

Eu vi Whistler...

Mas não, não foi isso que aconteceu.

— Pequena Infernal.

Eu estremeço quando olho para a esquerda para ver Knives sentado em


uma cadeira, e ele parece tão aliviado por me ver acordada. —O que
aconteceu?

— Alguém atropelou você e você tropeçou e bateu com a cabeça.

— Você nos preocupou, — diz Sarah da cama ao meu lado. —Desculpe,


estou aqui para monitorar o pequeno esquilo, pois estou com algumas
dores.

— Oh não, está tudo bem? O bebê está bem? — Eu pergunto a ela com
pressa.
— Estou bem. Eu tenho que ir com calma. Os músculos do meu
estômago nunca cicatrizaram adequadamente depois de ser golpeada...

— Não diga assim. Não é engraçado, — Tongue diz da escuridão em


algum lugar. E sua declaração é seguida por um assobio.

Isso é assustador. Estou feliz por ter acordado com o Knives ao meu
lado.

— De qualquer forma, ele pode ser difícil de levar a termo porque não
terei força muscular para meu estômago crescer e isso vai bagunçar meus
quadris e pélvis.

Tongue sai do outro canto e passa por nós, de cabeça baixa, e sobe as
escadas com Happy amarrado ao peito.

— Tongue! Eu vou ser... — mas Tongue fecha a porta antes que ela
possa terminar a frase. —Certo. — Ela coloca a mão na barriga, que ainda
está plana. Se bem me lembro, ela não está tão longe e já está tendo
problemas. Tenho certeza que ela está com medo.

— Tudo bem, Sarah. Tudo parece bem. Sem exercícios, — diz o Doc.

Sarah franze os lábios e estreita os olhos. —Defina exercício.

Doc esfrega as têmporas e, em seguida, coloca as mãos em uma posição


curvada sob o nariz. —Nada de sexo violento. Nada que force os músculos
do estômago. Fique com baunilha. Extra baunilha. Vou ter uma conversa
com Reaper.
Sarah geme dramaticamente e cai de costas na cama. —Baunilha?
Ninguém gosta de baunilha aqui, doutor.

— Oh, estou tão triste por você, — Doc faz beicinho.

— Você é mau.

— Você vai me agradecer quando estiver segurando seu bebê pela


primeira vez.

Sarah fica com uma expressão melancólica nos olhos ao pousar a mão
na barriga, mas o momento é arruinado quando passos altos e fortes
descem correndo as escadas do porão. É o Reaper. Seus olhos estão
arregalados e ele parece assustado. —Boneca? O que há de errado? Por que
você está aqui embaixo? O que aconteceu? O bebê está bem? Você está
bem? Por que ninguém veio me buscar! — Ele ruge, e as paredes de aço
inoxidável vibram com o estrondo. —Oh meu Deus, não, — Reaper se
inclina contra a parede, derrotado, quebrado, e seus olhos lacrimejam. —
Nós perdemos o bebê? Sarah... — Ele se vira e abre um buraco na parede, e
todos ficam tão chocados com a conclusão rápida que ninguém fala para
acalmá-lo.

— Reaper, não. Oh meu Deus, não. O bebê está bem, — Sarah diz,
balançando as pernas sobre a cama para ficar de pé. Ela puxa os adesivos
que se conectam aos monitores de sua barriga, puxa a camisa para baixo e
corre até ele. A mão dela pousa no meio das costas dele, e ele a puxa para
frente para onde não podemos mais vê-la porque seu corpo cobre o dela.

— Você está bem. O bebê está bem?


Eu tiro os olhos deles, meu coração partido por Reaper e Sarah. O alívio,
o medo e o tremor em sua garganta fazem meus olhos arderem.

— Eu estava sentindo algumas dores e você estava em uma reunião.


Não era o mesmo tipo de dor de antes, — explica Sarah. —Os músculos do
meu estômago não cicatrizaram como deveriam e carregar ele pode ser
complicado e perigoso. Doc quer ficar de olho em mim. Muito perto. Mas o
bebê está saudável. E... Doc encontrou algo que acho que você realmente
vai gostar. Quer ouvir?

Reaper não diz nada, e vejo enquanto Sarah o arrasta para a cama onde
ela estava sentada momentos atrás. Eu aperto a mão de Knives e, por
algum motivo, me sinto realmente sortuda por fazer parte deste momento
com eles. Knives beija minha têmpora e leva seus lábios ao meu ouvido. —
Eu quero isso com você.

— Mesmo? — Eu digo, me segurando para não derrubá-lo no chão e


começar a trabalhar em uma família. Eu nunca pensei que isso poderia
acontecer. Eu pensei que sempre estaria à mercê do meu pai, mas eu corri,
pensando que estava correndo para a morte, quando na verdade isso me
levou bem aqui, para a liberdade

— Mesmo.

Estou prestes a perguntar o que mudou quando Doc esguichou a geleia


na barriga de Sarah e usa uma máquina de ultrassom.

Reaper está segurando a mão dela, seu corpo inteiro tremendo. É difícil
ver este grande homem mau, o Presidente dos Ruthless Kings, ficar
emocionado e com medo. Knives se inclina e dá um tapa nas costas de
Reaper, dando a ele um aceno encorajador.

Um gesto de que tudo ficará bem, mas posso dizer que Reaper não
acredita.

Doc coloca a varinha na barriga de Sarah e aponta. —Tudo bem, Reaper.


Você vê esta área? A cinza.

— Sim, — ele engasga.

— Esse é o músculo. É frágil, mas não está no pior estado. Aqui


embaixo, — Doc vira a varinha mais para baixo e procura por algo
específico. —Onde está... — ele continua tentando, e então um barulho
rápido toma conta dos alto-falantes.

Thump thump thump thump.

— Esse é o batimento cardíaco do seu bebê, Reaper. Forte e saudável.

Reaper encara Doc com olhos lacrimejantes e suas bochechas ficam


vermelhas. —Sim?

— Sim, Reaper. Você quer que eu grave para você?

Reaper acena com a cabeça, apertando a mão de Sarah com tanta força
que temo que ele vá quebrá-la. —Por favor, por favor, por favor. Eu quero
ouvir isso todos os dias.

Até Doc está ficando emocional.


— Claro, — ele diz, pressionando alguns botões. —E aquele pequeno
feijão aí é o seu bebê. — Ele aponta para uma pequena bolha na tela, e não
posso dizer que é um bebê, mas acredito no Doc.

Reaper não consegue parar de olhar para o computador. Ele levanta o


dedo, passando-o sobre o ponto branco. Ele olha para Sarah e pousa a mão
em sua barriga, protegendo-a. A largura de sua palma cobre sua barriga,
mas me faz prender a respiração.

— Obrigado, — a voz de Reaper falha. —Eu te amo muito, Boneca. —


Ele se puxa para frente e a beija sem sentido.

Eu não posso evitar. Estou chorando muito e começo a bater palmas. —


Parabéns. Estou muito feliz por vocês.

— Mary, — Knives revira os olhos, mas mantém um sorriso no rosto


enquanto tenta abaixar minhas mãos, mas eu dou de ombros e continuo
batendo palmas. —Eles não querem uma salva de palmas.

— Não me diga o que fazer, — digo com o canto da minha boca, e


Reaper faz uma reverência. —Yay! Você fez isso.

— Sim, nós fizemos. — Ele não diz isso de uma forma arrogante, mas
de uma forma orgulhosa e reconfortante. —Ei, Doc. Você se importa se
ficarmos aqui por um tempo e assistirmos a tela? Eu só... não estou pronto
para sair ainda.

— Eu vou dizer que vocês dois merecem. Leve o tempo que precisar.

— Quando podemos descobrir o sexo?


— Não quero saber, — diz Reaper. —Não importa. Feliz e saudável, isso
é tudo que eu quero que vocês dois sejam.

— Awwnn.

— Tudo bem, Doc. Acho que ela está tendo sintomas de concussão, —
Knives diz sobre mim.

— Tenho permissão para ficar feliz por eles. E você não deveria ser... —
Uma dor dispara pela minha cabeça quando penso na luta lá em cima. —
Não há algo importante que você precisa fazer? Não me lembro o que é...

— Você perdeu todas as coisas importantes, — Doc diz, piscando uma


luz em meus olhos para verificar minhas pupilas. —Você não teria se
lembrado, então não se esforce. O irmão de Knives voltou dos mortos e,
aparentemente, ele trabalhou com seu pai porque ele é do FBI disfarçado.

— O que? — Eu fico olhando para Knives, que está lançando uma


estrela nos nós dos dedos. Eu agarro dele e escondo debaixo da minha
bunda. —Mason está de volta? Eu pensei que você disse...

— Ele está... estava... era... eu não sabia que ele estava vivo. Não sei se é
ele.

— Eu o conheceria? — Eu pergunto. —Se ele trabalhasse para o meu


pai?

Os olhos de Knives escurecem, e a cor cristalina substitui o azul


brilhante, algo que acontece quando ele está chateado. —É melhor ele
torcer para nunca ter encontrado você, porque vou matá-lo de novo.
— Por que você não está falando com ele?

— Porque você é mais importante. Ele pode esperar. Seu pai pode
esperar. Você se machucou e eu quero estar ao seu lado. Quero ter certeza
de que você está bem. Quando eu souber que você está segura, vou falar
com ele.

Moretti sai da sala de jogos e, ao se encaminhar para uma cama


próxima, deixa pegadas ensanguentadas atrás de si.

Doc fecha a porta da sala de jogos no momento em que Máximo grita.

— Não acho que meu irmão seja um bom homem, — diz Moretti. —Não
me lembro por quê, mas não acredito quando diz que o pai de Mary levou
Natalia. Algo em meu instinto me diz, Reaper.

— Vamos descobrir. Acho que esta noite, todos devem se acomodar.


Relaxar. Amanhã, tentaremos tirar tudo do caminho. Faremos um plano.
Mary estará segura e talvez possamos salvar algumas outras de suas garras
também. Não será fácil, mas nada que não vale a pena. — Reaper esfrega o
estômago de Sarah e fecha os olhos para ouvir a música do batimento
cardíaco no monitor.

— Parabéns, Reaper. Estou feliz por você, — diz Moretti, tentando


sorrir, mas seus olhos estão tristes.

— Não vou deixar ninguém machucar minha família, e isso inclui seu
irmão. Acho que ele está tentando jogar com a gente. Estou começando a
me perguntar o que mais ele está atrás se ele está envolvido nisso.
— Eu gostaria de poder dizer a você, — diz Moretti, colocando os
cotovelos sobre os joelhos. —Eu gostaria de saber.

Não consigo imaginar não ser capaz de me lembrar de nada. Cada


memória que Moretti faz é uma de suas primeiras. Somos tudo o que ele
conhece, e eu me pergunto se é por isso que ele ficou aqui. Eu sei que Doc
disse que ele poderia sair, mas ele optou por não ir.

— Eu juro, Reaper. Se eu me lembrar de alguma coisa, uma coisinha,


avisarei você, mas minha cabeça está escura. Não há nada. Eu quero
protegê-lo. Ele é minha carne e sangue. Ele é meu irmão.

— Eu sei, — Reaper diz com compreensão, não apenas por seus irmãos
MC, mas por sua irmã que surpreendeu a todos no Natal. —Não é de você
que eu duvido, Moretti. Tudo bem?

Moretti balança a cabeça, levanta-se e sai. Ele está com os pés leves
enquanto sobe os degraus para se dirigir ao seu quarto.

— Parece que todos os problemas giram em torno da família, — diz


Knives, traçando o local onde um anel ficaria na minha mão esquerda. —
Família pode ser uma verdadeira dor de cabeça, não é?

— Você precisa falar com ele antes de conseguir informações dele, — eu


ofereço, esperando que ele escolha ser colocado ao lado de seus problemas
e se tornar uma prioridade. —Fale com seu irmão antes de falar com o lado
agente dele. Você não será capaz de falar se não fizer as perguntas que sei
que estão rolando em sua cabeça.

— Você vem primeiro.


— Knives...

— Você vem primeiro. Fim da discussão, Mary. Eu te amo, mas por


favor, não force isso. Mason pode não estar morto para nenhum de vocês,
mas ele está para mim. Quanto mais cedo descobrirmos isso, mais cedo ele
pode ir embora.

Eu sei que Knives não quer dizer isso. Ele está com raiva e tem todos os
motivos para estar, mas não seremos capazes de seguir em frente. Knives
vai se arrepender de ter Mason deixando sua vida novamente. Eu não
posso empurrá-lo embora.

— E não me fale se ele conhece você. E se ele ajudou seu pai a chegar até
você todas as noites? — Knives balança a cabeça, se levanta da cadeira e se
deita ao meu lado. —É algo imperdoável. Eu mesmo vou matá-lo se
descobrir isso.

Quero dizer que Mason não tem nada a ver comigo, mas não sei disso, e
não posso consolar Knives se não tiver toda a verdade. Em vez disso, corro
meus dedos por seu cabelo e sigo o conselho de Reaper.

Amanhã é um novo dia, mas uma voz no fundo da minha cabeça


sussurra: só mais doze.
Capítulo Dezessete

São oito da manhã. Todos estão na Igreja. Nunca vi todas as cadeiras


serem ocupadas antes, mas aqui estamos. Bebo meu café, incapaz de olhar
para Mason, que está sentado à minha frente. Ele está olhando para mim
também. Eu posso sentir isso, aquele manto invisível me cobrindo e a
energia deformando o cabelo ao longo dos meus braços, me provocando
para olhar.

Mas eu não vou.

Eu não vou desistir.

Ele me deixou pendurado por vinte anos, ele pode lidar com o fato de
que eu mudei depois de sua morte.

— Thomas, — ele diz meu nome para chamar minha atenção, mas eu o
ignoro. É infantil? Pode ser. Eu sinto que tenho o direito de estar furioso.
Não. Louco não é a palavra certa.

Devastado.

Ele era meu único amigo no mundo, uma pessoa que pensei que nunca
me trairia. Ele fez o que disse que nunca faria: ele me traiu.
— Thomas, por favor, você tem que falar comigo. Eu sei...

Tongue bate sua faca entre o indicador e o dedo médio de Mason. —Ele
não tem que fazer absolutamente nada, Mason. Continue pedindo para ele
falar. Vou alimentar o Happy com a sua língua. Sua voz é irritante pra
caralho. — Tongue arranca a lâmina da madeira e zomba de Mason. —E eu
não dou a mínima que você conheça Knives. Eu esfaqueei meu próprio
irmão, bem em sua língua. Se eu pude fazer isso com ele, imagine o que
farei com você. — Tongue esfrega a lâmina de ônix contra a bochecha de
Mason, mas Mason não recua.

Alguns outros membros entram na sala e fecham a porta. Meus


pensamentos estão em Mary. Ela ainda está lá embaixo se recuperando da
concussão que Socks lhe deu. Estou preocupado com ela, mas em vez de
estar lá com ela, eu tenho que estar aqui, porque de alguma forma, de
alguma forma, meu irmão ex-morto está conectado ao pai de Mary.

Mundo pequeno, porra.

Muito pequeno.

Se a Terra tivesse um planeta gêmeo, eu pegaria Mary e daria o fora


daqui, porque a maneira como as pessoas estão conectadas aqui me deixa
inquieto.

O martelo feito de um de nossos primeiros inimigos bate na mesa


quando Reaper chama Igreja para a sessão. Todos têm uma xícara de café
na frente deles, a sala se enche de aroma. Os goles são a única coisa que
preenche o silêncio.
Eu odeio o silêncio de qualquer maneira. É muito alto, com ataques
infinitos de possibilidades e me deixa sozinho com meus pensamentos.

Não posso ter isso.

— Tudo bem, — Reaper diz, já beliscando a ponte de seu nariz. —Antes


de começarmos. Seus desgraçados vão ouvir algo e, com sorte, parte da
tensão terá ido embora. — Ele pega seu celular e eu sorrio ao redor da
borda da minha caneca.

Eu sei o que ele vai fazer, mas não vou dizer nada. Este é o seu
momento, e ele está orgulhoso e animado. Ele aperta o play, e o sorriso
maior, mais brega e feliz do caralho floresce em seu rosto quando o
batimento cardíaco de seu bebê soa na sala.

— Essa é a porra do meu filho. É lindo, não é?

Todos sentados ao redor da mesa batem na madeira e, em seguida,


aplaudem, todos exceto Mason, porque ele não faz parte desta vida e não
sabe o que fazer.

Agora quem é o estranho?

— Reaper, parabéns cara, — Mercy diz, estendendo sua mão.

— Obrigado, Mercy.

— Muito bem, Reaper!

— Feliz por você, Prez.

— Espero que seja uma menina, então ela vai te deixar maluco, — diz
Skirt na parte de trás. Pela primeira vez em semanas, ele não tem Joey
amarrado ao peito e parece um pouco perdido. Por hábito, suas mãos vão
para o peito, como se ele a sentisse lá, mas então quando ele sente o ar, ele
coça seus peitorais para tentar evitá-lo.

— Não se atreva, Skirt. Eu não consigo lidar com uma garota. Eu vou
matar todos os meninos.

— Sim, os meninos, — a voz de Skirt fica sombria, se tornando


ameaçadora. —Vou fazer com que eles briguem comigo para levar Joey a
um encontro.

— Você vai matá-los, Skirt. Como isso é justo?

— Vocês não lutam com justiça, vocês lutam para vencer, e se eles são
meninos inteligentes, eles vão descobrir isso.

— Jesus, tudo bem, — Reaper diz, pressionando o botão mudo em seu


telefone. Quando o batimento cardíaco para, ele franze a testa, toca
novamente e respira fundo.

Acho que Reaper está com mais medo do que deixa transparecer.
Perder seu primeiro filho em um aborto fodeu com ele. Isso iria bagunçar
qualquer um, mas agora que Sarah está grávida de novo, se ele não estiver
ouvindo aquele batimento cardíaco, por um momento, é como se ele
pensasse que iria desaparecer.

É assim que ele ficou a noite toda. Eu não acho que ele dormiu.

— Precisamos entrar no caminho certo. Devíamos ouvir os agentes do


FBI. Eles são a razão pela qual estamos todos aqui, certo?
Mercy fica ao lado de Reaper e gesticula para Mason se levantar.
Tongue rosna no ouvido de Mason enquanto ele se levanta, tentando
assustá-lo, mas Mason ainda não reage. Eu sei que Tongue está em uma
missão agora. Ele terá que assustar Mason, ou será um pesadelo para todos
nós.

— Thomas...

— Não fale com ele, porra, — Tongue diz, empurrando Mason para
frente.

Nenhum dos meus irmãos MC corrige Tongue pelo que ele fez. Mason
se encontrou na cova dos lobos, e eu não sei se ele vai sair vivo.

Mercy limpa sua garganta. —Tudo bem, eu sei que há muita tensão no
ar. Existem muitos problemas que precisam ser resolvidos. O primeiro
lugar para começar é com você, Knives.

Eu termino meu café e estalo os lábios, em seguida, jogo a caneca bem


na cabeça de Mason. Ele se esquiva, os olhos verdes arregalados de choque.
—Eu prefiro não, Mercy. Vamos falar sobre como salvar Mary.

— Não. Você vai ficar muito chateado. Isso precisa ser resolvido, — diz
Mercy, — para que tudo corra bem. Mason, explique.

Mason puxa uma cadeira extra do canto, vira e monta nela. Parece que
algumas coisas não mudam em nada. É a única maneira que ele usa para se
sentar em uma cadeira quando éramos crianças. Sempre muito legal para a
escola. —Meu nome é Mason Fletcher. Thomas Underwood é meu irmão
adotivo.
— Era. Esta não é a porra de uma novela, Mason. Continue para que
possamos passar para negócios mais importantes.

— Isso é importante. Você quer saber o que aconteceu comigo? Você se


lembra do Louis? Bem, ele era o filho de um traficante. Os policiais? Eles
apenas atiraram em mim, mas não me mataram como pensavam. Eu
sobrevivi. Eu estava em coma, mas quando acordei, estava em outro lugar.
Proteção de testemunhas, para que ninguém pudesse me encontrar. Eu não
poderia ir até você, Thomas. Eu não tive permissão para isso.

Eu bato meu punho na mesa. —Besteira! Merda de merda. Eu teria ido


até você. Você era tudo que eu tinha, Mason. — Eu bato no meu peito. —Eu
estava sozinho.

— Você foi para os Kings.

— Que bom, porque eles se tornaram minha família.

— Isso é o que eu queria para você. Eu realmente pensei que estava


morto, mas quando acordei, queria estender a mão, mas não era permitido.
Quando fiz dezoito anos, decidi ser agente e...

— E você decidiu me deixar em sozinho de qualquer maneira. A


proteção a testemunhas era uma desculpa, mas depois disso? Já se
passaram vinte anos, Mason. Suas desculpas não significam nada para mim
agora. Você está morto para mim desde que eu tinha quinze anos e ainda
está morto para mim agora.

Sento, tentando acalmar meu coração acelerado, e Tongue me dá um


aceno de cabeça, uma forma silenciosa de me apoiar. Eu estou com meus
irmãos. Esta é a minha casa. Minha verdadeira casa. Não estou com
pessoas que vão me abandonar.

—E meu nome não é Thomas. É Knives, — eu o corrijo. —O que você


sabe sobre o pai de Mary?

— Eu vi Mary...

Antes que eu possa piscar ou inspirar, tenho uma estrela em cada mão e
as jogo.

Bam.

Uma em cada ombro.

— Que porra é essa! — Ele grita.

Mercy me lança um olhar irritado e exasperado e arranca o metal do


ombro de Mason.

— Você a conhecia? Você sabia e deixou isso acontecer com ela?

— Eu não sabia. Eu me certifiquei de que ela estava segura e que ela


nunca chegou à casa de leilões subterrânea que seu pai tinha.

— E as outras mulheres? Por que demorou tanto para obter as


informações de que você precisava?

— O nome dele nunca esteve em lugar nenhum. Precisávamos de


evidências. Tínhamos suspeitas. Uma tonelada de suspeitas. Mas ele nunca
faz nada sozinho.

— Exceto quando se trata de Mary, — eu zombo.


— Sim, é o que me trouxe aqui. Eu o segui e a agência me falou de um
contato. Eu conheci Mercy e eles colocaram Mercy no caso.

— Certo, você tem alguma informação útil?

— Ele e Máximo estão trabalhando juntos há algum tempo. Seu aliado


não é seu aliado, Reaper.

Reaper não parece surpreso, mas também não parece que acredita nisso.
Ele balança para frente e para trás em sua cadeira, mantendo as pernas no
chão e usando o chão como alavanca.

— Daphne, — a voz de Tongue é sombria, depreciativa e faz um voto


de assassinato. Sua faca atinge a mesa novamente, e desta vez ele a arrasta
até a borda. Seus ombros sobem em batidas rápidas, e sua língua passa
rapidamente sobre o lábio. Ele está praticamente vibrando em sua cadeira
para descer e matar Máximo.

— Tongue, respirações profundas, — Reaper diz, dando a Tool um


olhar de advertência para ter certeza de que estamos preparados para
impedir que Tongue vá embora.

Tongue não tem a capacidade de se controlar, não realmente, e não


quando se trata de Daphne. Ele está... obcecado por ela. Eu diria que é
quase insalubre. Ele a observa constantemente, mas quando não está perto
dela, percebo que ela o procura.

Mas ele está sempre lá na escuridão.

Ele a ama mais do que tudo. Mais do que este clube, disso eu tenho
certeza.
Eu entendo. Eu me sinto assim, de uma maneira saudável, em relação a
Mary.

— Ele ia tirar Daphne de mim, — Tongue diz. —Ninguém leva


Daphne.

— Tongue, Daphne está segura, lembra? Ela está aqui. Ela está em seu
quarto, provavelmente lendo. Ela está sempre lendo, — Reaper o lembra,
tentando passar pela névoa que envolveu seus olhos.

Quando ele se lembra de que Daphne está em seu quarto, ele relaxa. —
Daphne, — ele repete, em seguida, leva a faca ao nariz e cheira, o que o
transforma em um idiota sorridente.

Por que ele sentiria o cheiro?

— Tudo bem, você tem Máximo aqui, certo? — Mason me pergunta.

Eu.

Eu não respondo, e Reaper me lança um olhar de advertência. —Nós o


pegamos.

— Alimentei Happy com três dos dedos de Máximo. Happy não estava
feliz por não ser uma língua, mas ele aceita qualquer guloseima.

— Quem porra é Happy? — Mason pergunta.

— Meu gatinho do pântano, — Tongue diz com um tom de ‘duh.’

As sobrancelhas de Mason franzem quando ele tenta pensar sobre o que


é um gatinho do pântano, mas ele encara Reaper para obter mais
esclarecimentos.
Pelo menos ele não está olhando para mim.

— É um crocodilo.

— Você tem um crocodilo aqui? — Mason se endireita na cadeira.

— Sim, e se você tentar fazer algo a respeito, vou alimentá-lo com você,
— Tongue avisa.

— Tudo bem, precisamos de um plano.

— Mary é o plano, — diz Mason. —Ela é uma isca. Use ela, pegue seu
pai, boom. Feito.

Não me lembro de me levantar. Não me lembro de caminhar até Mason.

Tudo que sei é que agora, minha mão está enrolada em sua garganta, e
bato a parte de trás de sua cabeça contra a parede, mais ou menos como
Mary bateu com a cabeça na noite passada. Eu levanto Mason do chão até
que seus dedos dos pés mal tocam o chão, e ouço uma comoção atrás de
mim, mas estou muito focado em Mason para me importar. Eu aperto meu
aperto, observando seu rosto ficar vermelho e as veias em seus olhos
estourarem. —Eu não sou mais aquela porra de garoto, Mason. Eu não sou
fraco, então me deixe ser claro para você quando digo que usar Mary de
qualquer forma não é uma opção. Se você tentar usá-la, vou arrancar sua
espinha de seu corpo. Você pode estar acostumado a comandar o show,
mas aqui, você não importa, porra.

— Vamos, Knives.
Eu me viro para ver Mary na porta, seu lindo cabelo escuro em um
grande ninho no topo de sua cabeça. Ela está com sono. Ela está vestindo
calça de moletom, uma regata branca simples e uma jaqueta cinza com
zíper que abraça suas curvas.

— Mary, não vou arriscar você, — informo ela, caso ela não saiba.

— Estou oferecendo.

Eu soltei a garganta de Mason, e a porra do silêncio na sala me


ensurdece.
Capítulo Dezoito

Eu gosto do plano? Não.

Eu deveria ter ouvido o plano? Também não. Nenhuma mulher é


permitida na Igreja a menos que seja convidada, mas me convidei quando
percebi que a reunião era principalmente sobre mim. Tenho o direito de
saber e abri a porta na hora certa porque Knives estava sufocando o irmão.

— Você não pode estar falando sério. Você não está pensando direito.
Você bateu com a cabeça ontem à noite, — diz Knives, tentando arranjar
desculpas para o porquê de eu querer prosseguir com o plano. Eu entendo
que ele está com medo. Eu também. Meu pai é um homem horrível, e se ele
colocar as mãos em mim? E se os Ruthless Kings não puderem me
encontrar e eu estiver perdida para sempre?

É uma chance que tenho que aproveitar. Não se trata apenas de mim, é
sobre todas as mulheres que meu pai vendeu, leiloando-as como se fossem
peças de mobiliário antigo.

Por quanto tempo ele me manteve prisioneira, apenas para manter


outras mulheres prisioneiras também? Como pode um homem como meu
pai se levantar todos os dias fingindo pregar a fé, mas roubar a fé dos
outros?

Mason está ofegante, esfregando a garganta e olhando para Knives com


tristeza. Ele não está com raiva. Ele não está tentando atacar, ele apenas
parece... triste. Ele sente falta de seu irmão.

— Eu não tinha permissão para entrar em contato com ninguém do meu


passado, Knives. Nunca. Você tem que entender, — ele explica com uma
voz rouca e tensa. —Eu estava farto do meu passado.

— E você ainda acabou, — Knives diz a Mason, virando a cabeça para o


ombro, mas sem olhar para trás para encarar a pessoa que costumava ser
seu melhor amigo. Knives vem até mim, andando atrás dos homens que
estão sentados nas cadeiras, e os olhos de Reaper endurecem enquanto ele
me encara.

Provavelmente porque entrei na sala quando não era permitido.

— Você não vai. Você não será isca. Eu fui claro? — Knives é severo,
apontando um dedo para mim e apertando sua mandíbula. —Eu não vou
deixar você se colocar em perigo. Eu não vou.

— Não fale assim comigo. Não me trate com condescendência. Não fale
comigo como se eu fosse uma criança. Eu sei o que estou fazendo.

— A resposta é não, Mary.

— Não depende de você, — eu digo, percebendo a mudança em nossa


discussão. Isso não é briga. Isso não é para zombar. Este é um verdadeiro
argumento de fazer ou quebrar. Eu mudo de pé, nunca encontrando a
temperatura congelante de seus olhos.

Ele está chateado.

— O inferno que não depende de mim. Eu não me importo com o que


tenho que fazer. Vou jogar sua bunda na prisão de novo, — ele ameaça.

Eu suspiro, descruzando os braços do meu peito como se ele tivesse me


dado um tapa no rosto. —Você não ousaria.

— Eu poderia. Se isso significasse mantê-la segura, eu faria qualquer


coisa. Se isso significa que você me odeia e nunca mais fala comigo, eu farei
isso. Sua vida é mais importante do que qualquer outra coisa. Vou arriscar
que você não me ame mais se isso significar que seu coração ainda está
batendo forte e seus pulmões ainda estão respirando. Não confunda isso
por um minuto de merda, Mary. Eu sou aquele homem que você pensava
que odiava, lembra? Segure-se nisso se precisar, porque eu farei qualquer
coisa... — Ele enche meu espaço, e eu dou um passo para trás para fora da
sala. Ele me segue, e o calor de seu corpo aquece o meu. —Qualquer coisa
para mantê-la segura. Não brinque comigo sobre isso, eu estou te
implorando, — ele me implora

— Knives...

— Mary, por favor, — suas palavras se quebram, como uma represa em


um rio, a barreira racha e ameaça derramar. Ele está prestes a quebrar,
porque Knives está provando que ele já está fraturado. —O que eu preciso
fazer? Eu vou fazer isso.
— Precisamos saber o que fazer, — diz Mason atrás dele.

Knives gira e lança uma estrela, acertando seu irmão adotivo no braço
novamente. —Você pode calar a boca antes que eu decida te matar. Para o
bem. Você pode esperar. Você esperou todos esses anos para mostrar seu
rosto, você pode esperar mais um pouco.

— Vinte, — grunhe Mason em aborrecimento, segurando seu bíceps


contra ele enquanto puxa a prata. —Já se passaram vinte anos.

— Semântica. Todos os anos se misturam quando alguém morre e


desaparece de sua vida.

No momento em que ele diz as palavras, sei que não são destinadas
apenas a Mason, mas também a mim. Ele acha que eu irei e nunca mais
voltarei. Na minha mente e no meu coração, eu sofro por Knives por causa
da mentalidade que ele tem.

Eu entrelaço nossos dedos e o puxo para fora da porta. —Nós vamos


conversar. Estaremos de volta mais tarde.

— Não, o inferno que nós... — Eu bato a porta antes que Knives possa
dizer qualquer outra coisa. —Você é tão mandona pra caralho.

— Aprendo com os melhores.

— Você...

— Knives! — Maizey surge da cozinha em seu vestido de princesa, ela


agita sua varinha no ar e a acerta na perna com o bastão brilhante. —Você
agora será feliz!
Ah. Ela é tão fofa.

— Garota, não agora, — ele rebate, em um tom áspero que ele nunca
usa com Maizey.

— Knives! — Eu o repreendo, e Maizey faz beicinho, seus grandes olhos


castanhos cheios de lágrimas. Não há como pará-lo. Ela geme, joga sua
varinha em Knives e corre na direção de Sarah, que está cortando maçãs
para fazer uma torta.

Skirt ficará feliz.

Maizey envolve os braços em volta da coxa de Sarah e enterra o rosto


para chorar.

— Você está brincando comigo? — Eu digo, as palavras um assobio


áspero dirigido a Knives. —Peça desculpas a ela, agora.

Knives pensa sobre isso por um minuto e acena com a cabeça,


percebendo que ele fodeu naquele momento com Maizey. Nossos
problemas podem esperar. Sarah levanta o queixo quando Knives fica na
frente dela, uma postura que apenas uma mãe adota para proteger seu
filho, e Knives se ajoelha. —Maizey, me desculpe. Você não merecia isso.
Tenho muita coisa acontecendo e descontei em você. Eu não deveria.
Espero que você possa me perdoar, esguicho.

Maizey funga, esfregando suas bochechas molhadas contra o jeans de


Sarah antes de virar suas bochechas rechonchudas para Knives. —É isso
que você quer dizer?

— Eu juro.
— Promessa de mindinho, — ela diz, levantando seu dedinho no ar.

Knives levanta o dedo mínimo dele, que é muito maior do que o dela, e
o fecha ao redor do minúsculo. —Promessa de mindinho.

— Você tem que beijar ou não importa, — ela funga, esperando que
Knives ceda às suas demandas.

Ele abaixa o rosto e beija sua mão. O sorriso desdentado brilha em seu
rosto, e ela faz o mesmo, dando um beijo molhado em seus dedos. —Eu
vou deixar o escritório do papai de felicidade. Eu preciso da minha
varinha. — Ela corre para onde sua varinha está no chão, a pega e se dirige
para a porta da Igreja.

— Ah não. Maizey, querida, você não pode incomodar seu pai quando
ele está no escritório, — Sarah grita, mas é tarde demais.

Maizey se foi, e o rugido de risadas vindo da igreja pode ser ouvido da


cozinha, seguido por um grito estridente.

— Se você fizer minha filha chorar de novo, Knives, eu vou te matar, —


diz Sarah como se estivesse tendo uma conversa normal enquanto corta as
maçãs com fatias calmas e controladas.

— Sim, senhora, — diz Knives, engolindo em seco.

— Knives! Traga sua bunda de volta aqui, porra agora, — Reaper berra
da igreja.

Não se Reaper o matar primeiro.


— Nós realmente precisamos conversar, — digo a Knives. —Eu vou
contar ao Reaper.

— Não, eu vou, — ele diz. —Vamos conversar, mas minha postura não
está mudando, — ele diz desafiadoramente, não deixando espaço para
discussão.

Se eu sei alguma coisa sobre nós, sempre há espaço para discussão.

Mordo minha língua até que ele saia da sala e levanto minhas mãos
para estrangular o ar, fingindo que é seu pescoço enquanto solto um
rosnado frustrado. —Ele é tão impossível. Ele não vai me ouvir. Ele não
entende que isso precisa acontecer.

— Ele se preocupa com você, Mary. Pense se não fosse um problema, o


que você pensaria se ele concordasse com Reaper em colocá-lo em perigo?

— Como você sabe que tem a ver com isso?

— Essas paredes não são tão grossas quanto Reaper gosta de pensar. Eu
posso ouvir tudo o que eles falam. Não diga isso a ele, ou ele irá colocar à
prova de som, — ela pisca.

Puxo uma cadeira, me jogo e suspiro. Eu não olho para longe do


corredor, então eu sei quando ele vai voltar. Quanto mais esperamos para
falar sobre isso, mais eu me acalmo e percebo que Sarah está certa. Poderia
ser pior. Knives simplesmente não daria a mínima para mim e me deixaria
balançar como isca.
Tenho sorte, eu sei, mas o que mais há para fazer? Se eles não
conseguem encontrar meu pai em Vegas, nós o atraímos. Eu sou a melhor
maneira de fazer isso.

— Eu só quero ajudar. Eu sei o risco, e eu sei que Knives já passou por


tanto...

— Mary, todos os caras já passaram por tanta coisa. Esses homens, eles
estão unidos apenas pela pura vontade. Todo mundo tem sua história. Não
sei muito sobre Knives, mas sei o suficiente para saber que ele perdeu
muito. Ele finalmente tem você, uma nova história, você não acha que ele
tem medo de ver como acaba? Especialmente com o que o Seer disse. Ele
deve estar pirando.

Isso me faz pensar sobre todas as Old Ladys e o que elas passaram. Eu
gostaria que mais garotas estivessem aqui agora. Juliette trabalha com Tool,
Joanna parece precisar dormir o tempo todo desde que está grávida, Dawn
acabou de ter um bebê, Sunnie... bem, eu não sei onde Sunnie está, na
verdade. Tudo que sei é que ela não está aqui.

— Eu quero que ele confie em mim.

Sarah abaixa a faca e se senta ao meu lado. —Você acha que ele não faz?
Não é você que ele não confia, Mary. É o mundo. É todo mundo ao nosso
redor. São homens como seu pai, homens como o Groudskeeper, homens
como Máximo que o fazem perceber que nunca pode deixá-la sozinha ou
desprotegida. Depois de tudo que este clube passou nos últimos anos, o
único lugar onde existe confiança é aqui.
— Caralho! — Knives ruge antes de bater na porta, e a batida faz minha
mão cair no meu peito.

Eu expiro e esfrego minhas têmporas. —Eu sei. Eu sei, você está certa. É
melhor eu ir ver como ele está. Isso não parece bom.

— Isso nunca acontece. Reaper provavelmente convocou uma votação.

O que significa que se Knives está louco, Reaper votou a favor do que
eu queria.

Eu roubo uma fatia de maçã do balcão enquanto me levanto e mordo a


crocante suculenta. O sabor explode na minha língua, mas as maçãs
Granny Smith, que geralmente são azedas, estão sem gosto. Não tem o
mesmo gosto quando sei que Knives está com raiva de mim. Maçãs Granny
Smith são minhas favoritas também. —Eu preciso ir ver como ele está. Eu
odeio o quão chateado ele está, — eu digo, jogando a outra metade da
maçã na minha boca enquanto me afasto e vou em direção ao homem que
tem meu coração.

Mas ele também é uma bomba-relógio. Seu fusível está ficando cada vez
mais curto, até que estou preocupada que o homem que conheci e amei terá
ido embora por causa das circunstâncias ao seu redor. Knives escondeu
como ele realmente se sentia por muito tempo agora, e agora que seu
passado está de volta, eu duvido que ele seja capaz de esconder como se
sente novamente

— Ele tem muita coisa acontecendo. Tudo o que ele pensava que
conhecia, ele não conhecia de todo. Mantenha isso em mente, certo? Tenho
certeza de que ele não sabe como processar tudo. — Sarah me dá um
sorriso caloroso. Agradeço, mas não faz nada para me fazer sentir melhor.

Enfio as mãos nos bolsos da jaqueta e dou a ela o melhor sorriso que
posso e sigo em direção à porta, a luz que vem de dentro brilha pela fenda.

Eu sinto que estou prestes a encontrar meu criador caminhando em


direção à luz. Meu pai costumava pregar que a luz contém aceitação e paz,
mas acho que ele entendeu tudo errado.

As mesmas coisas que acontecem no escuro acontecem na luz também.


A única diferença é que você pode ver o que está acontecendo, em vez de
imaginar.
Capítulo Dezenove

Nunca senti como se odiasse Reaper antes, mas agora é discutível. Não
acredito que votaram sem mim porque ele disse que eu estava muito perto
do assunto. Muito perto? Muito perto? Que piada. Se isso acontecesse com
Sarah, Reaper teria feito um grande inferno, mas porque ele é Prez, ele é
capaz de fazer o que quiser.

Ele tem o melhor interesse do clube no coração.

Tenho que continuar dizendo isso a mim mesmo, embora sinta que
ninguém está levando meu coração em consideração. Parece carente.
Parece que sou um verdadeiro maldito maricas quando se trata de meus
sentimentos.

E talvez eu esteja. Eu os mantive trancados por tanto tempo. Eu me


anestesiei e funcionou por muito tempo, até que Mary aconteceu.

Fodida Mary.

Ela alcançou dentro de mim com seu calor e descongelou minha alma.
A caixa de Pandora foi aberta e agora meus sentimentos estão
transbordando e não posso contê-los. É como veneno, matando
completamente quem eu costumava ser e me transformando nisso... eu
nem sei o quê.

Eu não reconheço quem eu sou.

— Ei. Eu estive procurando por você.

— Você me encontrou. — Eu penduro minha cabeça e olho para o chão.


Mesmo tendo chovido outro dia, o deserto ainda está rachado e seco, como
se não visse água há meses.

Quando saí do clube, dei a volta em direção aos fundos, onde a casa de
Skirt costumava estar. Estou sentado em uma pilha de blocos de concreto
no meio do estacionamento. Vamos tentar reconstruí-lo em breve. Os
suprimentos estão chegando lentamente. Seria mais fácil se tivéssemos
uma loja de ferragens. O processo de construção seria mais rápido, e Skirt e
sua família podem ter seu próprio espaço. Mas agora, o clube é mais seguro
para eles viverem, considerando que nós realmente não festejamos mais, e
as prostitutas não estão lá. Se quisermos beber, vamos ao Kings Club. E se
ficarmos bêbados demais, Tool tem quartos extras nos fundos com camas
onde podemos dormir.

Quase prefiro. Eu não sinto falta das vadias do clube. Eu sinto falta de
Becks, embora ela não fosse uma prostituta. Ela era uma ótima massagista.
Eu poderia usar uma massagem agora.

As coisas na sede do clube não serão assim para sempre. As vadias do


clube vêm e vão o tempo todo, mas quando elas voltarem, o drama entre
elas e as Old Ladys voltará, e com a atitude de Mary, não tenho dúvidas de
que ela mataria uma delas.

Não que eu alguma vez lhe desse uma razão para isso. Kings
implacáveis podem ser bastardos, mas nós não trapaceamos. Assim que
encontramos nossa Old Lady, nenhuma outra boceta servirá.

É uma forma dura de colocar as coisas, mas é verdade. É porque


nenhuma outra mulher nos faz sentir pra caralho ou nos torna fracos como
as nossas mulheres.

— Knives, eu sei que você não quer que isso aconteça e entendo o
porquê. Eu te amo. Se a situação se invertesse, eu também não gostaria que
você fizesse isso. Você e os caras, estão sempre correndo para o perigo.
Você não acha que isso me incomodou antes? Você pode ter me deixado
louca, mas eu me preocupava toda vez que você saía por aquela porta para
cuidar dos negócios do clube.

— Sim? — Eu pergunto, levantando uma sobrancelha grossa para ela.

— Você está tão surpreso?

— Um pouquinho. Você me surpreende, só isso. — Abro meu bolso do


corte e pego uma estrela, mas esta é diferente. É velha, feita à mão e um
pouco enferrujada. —Lembro de quando conheci o pai de Reaper e ele
disse: 'tenho um filho da sua idade.' E Reaper é alguns anos mais velho que
eu, mas acho que seu pai estava tentando me fazer sentir melhor depois de
tudo o que aconteceu. — Não sei por que estou dizendo isso a ela, não faz
sentido, mas sinto que devo. —Seu sargento de armas, você não o conhece,
ele morreu alguns anos depois, pegou as facas que eu tinha na mão quando
cheguei na sede do clube e me fez isso. Elas são afiadas, então tome
cuidado.

— Essas são as facas com as quais você se defendeu no dia em que


pensou que Mason morreu?

— Sim, são estas. É feio, certo? Não são lisas e bonitas como as minhas
outras, mas são irregulares, quase mais ameaçadoras, já que têm aquele
toque de faca.

— Seu nome faz sentido agora, — ela brinca, me cutucando no ombro.

— Eu quero que você fique com ela, — digo a ela. Nunca pensei que
seria tão emocionante dar algo para alguém que amo que foi construído
porque sentia falta de alguém de quem me importava.

— Eu não posso pegar isso.

— Você precisa de algo para se proteger. Por favor, se você vai fazer
isso, preciso saber que você está bem.

— Você não vai lutar comigo?

— Não tenho energia para lutar com você, Pequena Infernal. Eu não
posso ir contra o Prez. Ele vai me matar. Especialmente depois que fiz
Maizey chorar. — Eu me sinto muito mal com isso. Não posso acreditar
que gritei com uma garotinha que só estava tentando me fazer feliz. —Eu
não quero que isso aconteça. Não sei o que faria se perdesse você também,
Mary. Você é tudo que eu não sabia que precisava. Depois que minha
família morreu, depois de Mason, não tenho coragem de passar por outra
perda.

— Mason está de volta. Você não o perdeu, — diz ela, colocando a mão
no meu joelho. —Por que você não vê isso?

— Porque eu sei que eventualmente, vou perdê-lo de qualquer maneira.


É mais fácil me manter distante dele. Você não sabe o quanto eu lutei nos
lares adotivos. Você não sabe o quanto eu gostaria de ter morrido naquele
acidente de carro com minha família. Mason fez com que o pouco de amor
que eu tinha pela vida valesse a pena.

Ela deita a cabeça no meu ombro e a brisa leva um momento para


passar. Seu cabelo comprido dança, e o cheiro de seu shampoo atinge meu
rosto. É aquela merda barata, suave, mas cheira tão bem, como morango
com creme. Ela poderia ter o shampoo mais caro, e tudo o que ela diz é,
‘nada faz meu cabelo brilhar assim.’

Bom, porque eu sentiria falta do cheiro dela.

Ficamos sentados sem dizer uma palavra um ao outro, apenas curtindo


a paz e o sol no meu rosto e minha garota ao meu lado

É quando me ocorre.

Está quieto. Não há um som. É apenas o vento levantando poeira e


alguns abutres no alto.

O silêncio não está me incomodando, mas ainda está falando alto.


Ainda está muito alto.
E está dizendo que filho da puta sortudo eu sou.

Eu envolvo meu braço em torno de Mary, minha maior dor na bunda de


todos os tempos, e a pego para colocá-la no meu colo. —Só não morra, tudo
bem?

— Você lida com a morte todos os dias, — ela diz, pressionando seus
lábios contra minha bochecha.

— Sim, mas eu posso superar essas mortes. — Eu fecho meus olhos e


saboreio a sensação de seus biquinhos vermelhos contra mim, a suavidade
da carne gorda pastando contra mim. Sei que não será a última vez que
vou senti-la, vou ter certeza disso, mas parece que sim.

Com o que Seer disse, com a ameaça de seu pai, é difícil para mim
permanecer positivo.

— Você está dizendo que não vai conseguir me esquecer, Thomas


Underwood?

Eu gemo quando ela usa meu nome completo. Não sou chamado assim
desde os quinze anos. —Venha aqui. — Eu a viro para que ela possa me
encarar, a maldita brisa aproveitando outra oportunidade para soprar em
seu cabelo, então eu o pego, segurando-o para que não se enrosque. Eu
quero uma foto dela assim. Isso me lembra que não temos fotos juntos e, se
tivermos, é com o resto do clube, e estamos o mais longe que podemos
estar um do outro.

Sempre lutamos para ficar longe, mas agora temos que lutar para ficar
juntos.
E um beijo mudou tudo.

— Eu nunca seria capaz de esquecer você, Mary. Você precisa saber


disso...

— Knives…

— Olhe para mim. — Eu agarro seu queixo em minha mão e a forço. —


Eu posso superar muitas coisas. Eu tenho e sempre vou, mas não você.
Quando tudo isso acabar, e você estiver de volta bem aqui onde deveria
estar... — Eu agarro sua bunda para garantir que ela me entende. —Você
vai ser a Sra. Underwood.

Ela engasga e então me dá um tapa no rosto. Mary cobre a boca com a


mão e a água brilha em seus olhos.

— Ai, Pequena Infernal. — Eu levanto minha mão até minha bochecha e


a esfrego.

Em seguida, como a mulher maluca que ela é, ela esmaga seus lábios
contra os meus.

Ela vai me dar uma chicotada por não ser capaz de decidir o que ela
quer fazer comigo. Ela recua e me dá um tapa novamente, minha bochecha
em chamas e meu pau duro. Eu adoro quando ela me deixa louco. —Não é
engraçado. Não brinque assim. Além disso, você sabe que é muito cedo...

— Eu não estou rindo, estou? Eu não estou brincando, e eu não dou a


mínima se for muito cedo. Vivemos em Vegas. Eu vou casar com sua
bunda na strip, na frente de Elvis e de todos. Amanhã. Eu não dou a
mínima.
— Você está falando sério?

— Mortal. — É muito cedo de acordo com os padrões da sociedade e


das pessoas normais, mas que se foda a sociedade. Eles nunca fizeram nada
por mim de qualquer maneira. Há uma coisa que tenho em uma gaveta do
meu quarto. É um saco plástico, empurrado para trás. Ele contém as
alianças de casamento dos meus pais. Eles são os únicos itens que tenho
deles. Eles são tudo que me resta deles.

Curiosamente, o anel do meu pai cabe em mim.

E eu vou usar.

O anel de noivado da mamãe era simples, um diamante em forma de


lágrima em uma aliança de ouro rosa, mas posso ver Mary usando.
Combina com ela. Eu salvei os anéis todos esses anos, não tendo coragem
de me separar deles, e é por isso.

— Eu poderia dar um tapa em você de novo.

— É melhor você não dar, a menos que você queira se curvar e ser
fodida, — eu digo, minha bochecha ainda formigando em sua palma.

— Desculpe, fiquei chocada e tive que me certificar de que não estava


sonhando.

— Você geralmente se belisca se pensa que está sonhando, Pequena


Infernal.

— Sim, mas que diversão seria?


Lá vai ela, checando todas as minhas malditas caixas e me deixando
louco. Eu aperto meus lábios contra os dela, mergulhando minha língua
dentro de sua boca quente, e desta vez o beijo é mais doce. Minha barba
esfrega contra seu queixo, e minha palma desliza em sua garganta,
segurando ela semidura, então ela não se move.

Eu termino o beijo e coloco minha testa contra a dela, ofegante. —Você


vai se casar comigo ou o quê?

— E se eu disser não? — Ela se inclina para trás, com o batom


manchado, então levanto meu dedo e limpo de seu queixo. Eu gosto
quando ela está toda fodida e bagunçada porque eu sei que fui eu.

— Muito ruim pra caralho. Você vai se casar comigo de qualquer


maneira. Eu só estava pedindo para ser legal.

Ela se joga para trás e cai em meus braços, rindo da minha resposta. Eu
deslizo minha mão por sua espinha e a faço voltar para mim, peito contra
peito. Seus braços envolvem meu pescoço e sua risada finalmente morre. —
Eu acho que não tenho escolha no assunto, tenho?

— Não, — eu declaro.

— Então case comigo esta noite. — Ela aumenta minha aposta, tentando
ver se estou blefando.

— Esta noite então, Pequena Infernal.

Ninguém vai tirar minha esposa de mim.


Vou arrancar as unhas e dentes, arrancar a carne do osso se alguém se
atrever.

Ela é a porra da minha Pequena Infernal, minha caixa de Pandora das


porras das emoções.

Esse casamento tem que acontecer agora porque, no fundo da minha


mente, em onze dias, talvez eu não tenha essa oportunidade.
Capítulo Vinte

Puta merda. Ele me pediu em casamento.

Acho que disse sim. Não tenho certeza. Eu não diria não. Estou apenas
surpresa. Já nos conhecemos há algum tempo, mas somos amantes há
poucos dias. Se meus pais soubessem o que eu estava fazendo, bem, acho
que isso não importa, porque eles não importam mais.

Isso importa. Knives é importante. Os Ruthless Kings são importantes.

Minha casa é importante.

— Nós vamos nos casar! — Knives grita enquanto passamos pela porta
do clube, e todos, quero dizer, todos, incluindo os cães, olham para nós
com a boca aberta. É cômico.

E isso está me deixando nervosa, porque ninguém parece feliz, mas


ninguém está bravo.

Bem, Reaper não parece muito animado.

Grilos.
Isto é estranho. Eu sei que não é o melhor momento, mas um pouco de
suporte ajudaria muito agora. —Knives, talvez...

— Não, — ele me corta e agarra minha mão com mais força. —Vou me
casar com ela e sei que todos vocês, idiotas, acham que é uma hora ruim,
mas que hora melhor seria do que agora? Com toda essa merda
acontecendo, tudo que eu quero é ser feliz. Ela me faz feliz e eu quero viver
a porra da minha vida antes de irmos atrás do pai dela...

— Knives, temos muito o que planejar. Casar-se agora não é uma boa
ideia. Seu pai está aqui.

— Exatamente, ele está aqui e não vai a lugar nenhum sem ela. Se em
onze dias algo acontecer com ela, quero saber que fiz tudo o que queria
com ela.

— Nada vai acontecer com ela, Knives. Vamos nos certificar disso.

— Eu prometo, Thomas, — Mason tem a coragem de falar.

Knives perde a paciência e sua raiva o engolfa. —Você não sabe disso!
Você. Não. Sabe! — A saliva voa de sua boca enquanto ele grita. Ele
aponta para Mason e zomba. —Você não tem o direito de me prometer
porra nenhuma. Você não passa de um maldito mentiroso. O pai dela, ele
pode esperar um dia. Ele esperou quase um ano, ele pode esperar mais um
dia, não pode?

— Porra, sim! Vamos te casar irmão, porra! — Skirt levanta o punho no


ar e aplaude.

— Vamos fazer isso!


— Estou dentro. Oh, ei, posso ser o padrinho? Você sabe que sou o seu
favorito, — diz Slingshot, tomando um gole de sua garrafa de água.

— Happy pode ir? — Tongue se arrasta do canto. —Seria o primeiro


casamento dele. Ele pode ser o menino das flores. — Há tanta empolgação
em suas palavras que sei que Knives dirá que sim. Não tenho certeza se
eles permitem crocodilos onde quer que estejamos indo, mas tenho certeza
que eles descobrirão.

— Alguém disse que vai se casar? — Sarah grita da cozinha. Ela corre
para a sala principal e empurra Reaper para fora do caminho. —Você vai se
casar? — Ela me pergunta e para bem na minha frente e pega minhas mãos
nas dela. —Mesmo?

— Eu acho que sim? Sim? Contanto que esteja tudo bem com todos.

— Que se foda todo mundo. Se eles não querem que eu me case, eles
não são a família que eu pensei que eles eram, — Knives diz, olhando para
suas botas.

Eu aperto sua mão e ele a devolve, mas acho que eles estão mais
surpresos do que contra nós.

— Ei, você vai se casar, — diz Reaper, e uma vez que sua afirmação é
ouvida, a energia muda na sala e o zumbido que eu queria quando
entramos está lá. Posso sentir o zumbido de antecipação. Há uma salva de
palmas e Knives solta um grande suspiro e pragueja. Ele não se importa
com a opinião de ninguém, ele só quer a aprovação de seu Prez. —Bem,
isso significa que todas as nossas bundas feias precisam ir se limpar.
— E nós precisamos te dar um vestido. Oh meu Deus! Você vai se casar,
— grita Sarah novamente e começa a se arrastar no lugar.

— Boneca sem pular, — Reaper sugere, gentilmente.

Se eu não soubesse por que ele disse isso a ela, pensaria que ele estava
controlando, mas sei que ele está preocupado.

— Vamos fazer compras. Há uma pequena butique na livraria da


Daphne que é tão fofa, — diz Sarah, passando seu braço pelo meu
enquanto me guia até o sofá.

— Posso ir? — Tongue pergunta enquanto ele se senta ao meu lado. Em


seus braços, ele segura Happy, acariciando o topo de sua cabeça e, embora
Happy ainda seja um pouco pequeno, seus dentes são grandes.

Dentes grandes, afiados e pontiagudos.

Isso pode rasgar minha carne sem pensar duas vezes.

— Você quer? — Sarah pergunta a ele, sentando-se ereta e esperançosa.

— Eu gostaria.

Eu sei que o relacionamento deles tem sido um pouco difícil desde que
eles entraram em uma discussão e Tongue acidentalmente a esfaqueou,
mas eles estão lentamente voltando a ficar juntos como melhores amigos.

— Eu gostaria disso, — sussurra Sarah, brincando com uma mecha de


seu cabelo. —Você tem um ótimo conselho. Lembro quando você ajudou
com meu vestido de baile. Eu não poderia ter feito isso sem você.
— Eu não poderia ter feito muitas coisas sem você. Como viver, — diz
ele, acariciando Happy pela espinha enquanto ele veste seu colete de
‘animal de apoio emocional.’

Aparentemente, Happy é um crocodilo dócil e reconfortante que


Tongue pode levar às lojas, quem sabia?

— Bem, não temos muito tempo, — Sarah funga, batendo nas coxas ao
se levantar. —Eu vou me trocar e devemos ir às compras. Escolha um lugar
para se casar e nós te encontraremos lá, Knives! — Sarah enxuga a
bochecha enquanto se afasta. Reaper coloca a mão em seu ombro enquanto
eles desaparecem no corredor para chegar ao quarto em que estão
hospedados.

— Eu digo que nos casaremos no hotel do Máximo. Esse é o maior


'foda-se' que eu posso pensar, — eu digo com uma mordida, cavando
minhas unhas em meus antebraços enquanto penso sobre ele fazendo
parceria com meu pai.

— Droga, você é uma Pequena Infernal, — diz Patrick, jogando um


amendoim para o alto e pegando-o na boca.

A mão de Knives pousa na minha nuca, quente e calejada, enviando


excitação pela minha espinha. É como eu respondo toda vez que ele me
toca. —Ela é muito mesmo. — Ele me segura com força e traz seus lábios
nos meus. —Eu vou me casar com você, Pequena Infernal.

— Sim?

— Sim, e você vai gostar disso, porra.


Gosto disso? Eu vou adorar.

— Tudo bem, estou pronta, — Sarah chama. Ela se pavoneou muito


mais feliz do que antes. Seu pescoço está corado e seu cabelo está em um
coque mais bagunçado agora, parecendo um tipo de ninho. A frente de sua
camisa está dobrada para dentro, enquanto as costas não, e ela tem um
chupão no pescoço. Reaper sai em seguida, e sua camiseta está virada para
trás, mas ninguém vai dizer nada a ele. —Você está pronta? — Sarah me
pergunta.

— Você está? Você é aquela que usa dois sapatos diferentes. — Eu


aponto para seus pés, uma bota, um chinelo.

Eu vou arriscar aqui e dizer que ela pretendia colocar a outra bota.

— Oh. Eu vou... me deixe... apenas... — Ela se vira e segue em direção


ao seu quarto novamente.

Nesse ritmo, não vou me casar até que esteja morta.

O telefone de Knives toca e, quando ele o tira do bolso, ele o bate na


testa. —É o Seer.

— Não! — Todos na sala gritam ao mesmo tempo, não querendo que


ele responda.

— Sim, que se foda todos vocês. A última vez que não respondi, minha
moto explodiu e quase morremos em um tornado estranho. — Seu dedo
desliza pela tela e ele leva o smartphone ao ouvido. —Ei, Seer. — Ele não
parece nem um pouco entusiasmado para falar com Seer. —O que? Claro,
fico feliz em ouvir de você. Só estou um pouco nervoso, só isso. — Ele não
diz nada enquanto para, para ouvir. —Claro, sim. Espere. — Knives traz o
telefone para baixo e pressiona um botão. —Tudo bem, você está no viva-
voz.

O sotaque Cajun de Seer vem imediatamente pelo telefone. —Só queria


ligar e dar os parabéns. Vocês estão me pegando de surpresa. Você gosta
de me manter alerta.

— Obrigada, Seer, — eu digo. É difícil ser legal com um homem que


sabe que vou morrer, mas não é culpa dele que ele saiba. Tenho certeza de
que se ele fizesse o que queria, ele não gostaria de saber metade das
informações em sua cabeça por causa do que vê.

— E vá com o vestido que te faz pensar no futuro, Mary.

Quase pergunto por quê, mas ele desliga o telefone, nos deixando
imaginando do que se tratava.

— Tudo bem, sinto muito. Agora, estou pronta, — anuncia Sarah.

— Eu quero que Bullseye vá com você, — Reaper diz.

— Tongue está vindo com a gente.

— Tongue vai como amigo, não como guarda. Quero alguém lá que se
concentre no ambiente, não em tule.

— Eu quero ir. Eu quero ir! Posso comprar um vestido de princesa? —


Maizey diz, já usando um vestido de princesa. Ela usa isso todos os dias.
Sarah tem sorte de lavá-lo e, quando o faz, Maizey tem um ataque terrível.
— Você pode conseguir o que quiser, fod.... o que quiser, Maze, —
Reaper diz, se controlando antes de soltar um palavrão.

— Sim! — Maizey grita. —Posso caminhar com Happy pelo corredor. —


Mostrando o quão destemida ela é, ela estende a mão para dar um tapinha
na cabeça de Happy, e o maldito crocodilo fecha os olhos.

Eu juro, ele está sorrindo, me mostrando todos aqueles dentes.

— Certo, vamos lá se não quisermos nos apressar. Eu posso conseguir


algo na loja de Trixie, — Sarah diz casualmente, e o rosnado de Reaper
pode ser ouvido do outro lado da sala.

— Boneca…— ele avisa.

— Tudo bem, estamos saindo ou nunca vamos sair daqui. — Sarah pega
minha mão e me arrasta para longe do sofá.

— Tchau, — eu digo para Knives, soprando um beijo para ele.

— Eu te vejo no corredor, Pequena Infernal.

Isso está realmente acontecendo.

Eu dou a ele meu maior e mais brega sorriso que posso antes de Sarah
abrir a porta. Tongue e Bullseye estão bem atrás de nós, um silvo baixo
vindo de Happy.

— Você acabou de comer, — Tongue nega.

Happy estala as mandíbulas e seus dentes batem juntos, o que me faz


recuar e quase cair escada abaixo. Não tenho certeza se vou gostar da ideia
de um jacaré como animal de estimação. Estou tentando. Eu realmente
estou.

— Mais uma, — Tongue enfia a mão no bolso, e quase vomito quando


vejo uma língua grande. —Aí está, — diz ele, deixando cair de cima de sua
cabeça. Happy pega e engole até não sobrar nada além de um pedaço de
carne entre os dentes.

— O que é que foi isso? — Eu pergunto com horror, me perguntando


como Tongue tem línguas em tão curto espaço de tempo.

— Língua de touro. Não é sempre que posso usar humanos, então faço
pedidos no açougue próximo.

— Certo, — eu digo, quase em transe.

Happy para de sibilar, então isso é uma vantagem.

— Eu amo meu carro novo, — diz Sarah, enquanto procura as chaves


em sua bolsa.

Reaper comprou para ela um Range Rover novo. É top de linha e


seguro. É preto, como todos os outros SUVs. A placa do carro na frente diz
‘BONECA’ em letras maiúsculas douradas e as janelas são pintadas de
preto. Eles são à prova de balas também, e tenho certeza de que o metal
com o qual ele personalizou o carro é à prova de fogo até certo ponto.

Depois do que aconteceu no Natal, Reaper não se arriscou em protegê-


la quando se tratava de carros.

— Escute, escute, — Sarah ri enquanto clica no botão que trava.


— Boneca, coloque sua bunda no carro antes que eu bata nela.

— Por que o papai iria bater em você, mamãe? Você está em apuros? —
Maizey diz, puxando sua camisa.

Bullseye, Tongue e eu sufocamos uma risada. Sarah estava muito


animada para nos mostrar o Range Rover.

— Estou sempre com problemas, querida. Sempre, — Sarah diz, abrindo


a porta dos fundos. Ela segura a mão de Maizey e a ajuda a subir em seu
assento infantil.

— Vou ter que falar com o papai sobre isso. Isso não é legal.

— Oh meu Deus, crianças são os melhores do caralho, — Bullseye ri do


banco de trás.

— Você disse um palavrão! Me dê cinco dólares. — Maizey estende a


mão e espera, chutando as pernas curtas sobre o assento.

Bullseye parece surpreso com as palavras dela, colocando a mão no


peito em uma posição delicada. —Desculpe, o que?

— Papai disse para pedir cinco dólares de todos os que xingam. Eu


tenho cinquenta dólares. Cinquenta e cinco agora, porque você
amaldiçoou.

— Pedido de Prez? Isso é uma fodida merda, — Bullseye enfia a mão no


bolso, em seguida, faz uma pausa quando percebeu o que fez. —Caramba!
— Você me deve quinze. Continue assim, amigo, — Maizey gorjeia e
mexe seus dedos pintados de rosa. Bullseye estreita os olhos para ela,
puxando uma nota de vinte dólares.

Ele dá um tapa na mão dela enquanto Sarah se senta no banco do


motorista. —Você tem troco?

— Vamos chamá-lo de bom. Sabemos que você vai escorregar, — afirma


Maizey, e todos no carro estão rindo até não conseguirem respirar.

— Garota, você conhece o seu negócio, — diz Bullseye.

— Todo mundo colocou o cinto de segurança? — Sarah pergunta


enquanto ajusta o espelho retrovisor.

— Sim, — eu digo, virando no banco do passageiro para verificar


Bullseye e Maizey, então olho para trás para ver Tongue afivelado também.

Happy tem sua própria cadeirinha.

Como é essa minha vida?

Sarah deixa cair os óculos de sol sobre o rosto e coloca o carro em


movimento. Quando chegamos ao portão, Braveheart está lá e aperta o
botão para abri-lo. Quando o acidente aconteceu durante o Natal e Reaper
e os homens tentaram sair do complexo, o Groudskeeper cortou os fios da
caixa de eletricidade e o portão não se moveu, então Reaper instalou caixas
elétricas de reserva para que isso não acontecesse novamente.

Nós acenamos e seguimos nosso caminho, dirigindo pela Rota 50.


Quando passamos pela árvore em que Sarah e Patrick se chocaram, Sarah
acelera e Bullseye estende a mão para dar um tapinha em seu ombro. A
árvore está quebrada, a casca está solta e o corpo do tronco está queimado.

É como se tivesse acontecido ontem, mas já se passaram semanas.

— Mal posso esperar para ver Daphne, — Tongue diz do nada. —Ela
vai se encontrar com os pintores hoje para pintar a livraria. Ela ainda não
tem um nome para a loja.

Tongue nunca foi muito falador antes, mas ele podia falar sem parar
sobre Daphne. Ele está feliz, e é por isso que suponho que ele nomeou seu
crocodilo, espere, seu gatinho do pântano, Happy.

— Teremos que ajudá-la a pensar em um nome, — diz Sarah.

— Ela está lá com os pintores? Sozinha? — Bullseye pergunta, e Sarah e


eu gememos porque sabemos o que isso fará com Tongue.

— Ela está bem. Instalei câmeras em todos os cantos. Eu posso ver ela.
— Ele levanta o telefone e nos mostra. —Ela está lendo um livro agora,
mas... não estou gostando de como aquele cara fica olhando para ela. Sarah,
se apresse.

— Estou indo no limite de velocidade. — Sarah zomba e dá a Bullseye


um olhar desagradável em seu espelho retrovisor.

O resto da viagem é silencioso. Estou presa olhando pela janela, me


perguntando como passei de filha de um pregador a esposa de um
motociclista.
A única coisa que eu mudaria é que gostaria que tivesse acontecido
antes.
Capítulo Vinte e Um

Paramos na cidade próxima a Vegas, onde Daphne trabalha. Não é uma


viagem longa, apenas cerca de quinze minutos. A cidade é uma daquelas
em que você para, para usar o banheiro antes de vir para Las Vegas. É
pitoresco e há uma loja de doces chamada Paula's. É pintado em diferentes
tons de rosa, como chiclete e rosa choque. Há uma máquina de algodão
doce na janela, e minha boca saliva. Já se passou uma eternidade desde que
eu comi algodão doce.

Ao lado da confeitaria fica uma loja de ferragens, há um homem mal-


humorado parado do lado de fora, murmurando coisas sem sentido para si
mesmo enquanto fuma um cigarro. Ele está com um avental bege e,
quando me vê olhando, ele zomba de mim antes de entrar.

Cara legal.

Há uma estrada que corta a cidade e dos dois lados há edifícios de


tijolos. O lugar é quase histórico. Como se tivesse saído do Velho Oeste há
cem anos. É difícil encontrar edifícios que se parecem com este em Vegas.
Tudo é moderno e elegante, não há charme.
Maizey segura a mão de Sarah e Tongue segura Happy em sua tipoia
amarrada ao peito. O rabo de Happy balança de um lado para o outro, e as
pessoas que passam por nós nos ficam bem afastadas quando veem um
crocodilo.

Bullseye se inclina contra um parquímetro e balança. Eu estendo a mão


para firmá-lo. Sua pele está úmida e seu rosto perdeu toda a cor. —
Bullseye? Você está bem?

— Acho que meu açúcar está baixo.

— Você tem verificado isso? — Sarah pergunta. —Você sabe que tem
que verificar.

— Se estiver baixo, isso acontece, se não, me sinto ótimo. Por que se


preocupar em verificar isso?

— Então, isso não acontece, ou algo pior Bullseye, — eu digo.

— Vou atravessar a rua correndo e ver se a confeitaria tem uma coca ou


algo assim. Eu já volto, — Sarah me diz.

Estou na ponta da língua para pedir algodão doce, mas agora não é um
bom momento, considerando que Bullseye parece que está prestes a
desmaiar. Ele está suando e perde as forças, seus joelhos dobram quando
ele cai no chão. —Não estou me sentindo muito bem, — diz ele. —Estou
muito tonto.

— Eu sei, eu sei, — começo a entrar em pânico. E se Sarah não voltar a


tempo? E se ele entrar em choque? —Ela estará de volta em breve, Bullseye.
— Tio Bullseye? Você está bem? — Maizey pergunta, acenando sua
varinha no ar. —Você vai ficar bem melhor.

— Pode apostar que sim, — diz ele, tentando parecer feliz e crível, mas
não o faz.

Um sino soa ao longe e eu levanto minha cabeça para ver Sarah


atravessando a rua, uma garrafa de suco de laranja na mão junto com
algodão doce

Aposto que é para o Bullseye.

Homem de sortudo.

— Aqui. — Sarah abre a garrafa e a entrega para Bullseye, que engole,


suco de laranja escorre de cada lado de sua boca. Sarah agarra um pedaço
de algodão doce e o enfia entre os lábios dele. —Pronto, talvez você veja
como é importante cuidar de si mesmo.

Bullseye murmura em torno do algodão doce. Desaparece alguns


segundos depois de derreter, e ele toma outro gole de suco de laranja.
Ficamos sentados lá por alguns minutos, Bullseye deitado de costas com os
olhos fechados enquanto espera o açúcar fazer efeito. —Sinto muito. Vou
tentar fazer melhor, — diz ele, terminando o suco de laranja.

— Nós só queremos que você fique seguro, — diz Sarah, afastando seu
cabelo castanho escuro da testa.

Ele acena com a cabeça, mas posso dizer que ele se sente fraco. Não
fisicamente, mas mentalmente. Ele levanta a mão e Tongue o ajuda a se
levantar. —Vamos pegar um vestido de noiva para você. Puxa, eu não
posso acreditar no Knives, aquele louco fod.. de pedra vai se casar.

— Bom trabalho, tio Bullseye, — Maizey o elogia.

Tongue entra na livraria primeiro. A porta está aberta e o aroma de tinta


me atinge no rosto.

— Ei, vou entrar na boutique. Vocês vão falar com Daphne. Eu quero
um minuto para olhar sozinha. Diga oi para ela por mim, — eu digo.

— Sim, estaremos lá em breve, — responde Sarah.

Eu passo por cima de um chiclete na calçada, grata por ter visto na hora
certa, então não estraguei meu sapato. Eu paro do lado de fora da boutique,
amando o quão fofa ela é. Existem dois manequins na vitrine. Um está
vestindo uma saia de couro com uma blusa vermelha, mas o próximo
chama minha atenção. Parece um vestido vintage, cor de pêssego suave. As
mangas caem nos ombros, envolvendo os bíceps, e há uma combinação de
seda por baixo dos belos detalhes de renda. Parece apertado no busto, mas
solto na cintura.

Eu olho para o nome da boutique, querendo nada mais do que


experimentar este vestido.

Ruby’s Rarities.

Isso é adorável.

Eu pulo um dos degraus, já que há apenas três, e quando chego ao topo,


abro a porta. O sino toca, e ainda há um visco pendurado na porta do
Natal. Com uma olhada ao redor da loja, eu simplesmente sei que este é o
lugar onde vou comprar meu vestido.

— Olá, bem-vinda ao Ruby's! Estarei com você em apenas um minuto.


— Uma mulher baixa com um corte curto diz de uma escada vacilante
enquanto ela troca uma lâmpada.

— Você está segura aí em cima? — Eu pergunto.

— Oh sim. Eu faço isso todo... uau... — a escada balança, — ... o tempo.

— Apenas me avise.

— Tudo na loja está com 50% de desconto. Fique à vontade.

Quero perguntar a ela por que tudo está à venda, mas acho que não é da
minha conta. —Na verdade, eu adoraria experimentar o vestido na janela,
se estiver tudo bem. Vou me casar esta noite, então adoraria ver se é esse.

— Parabéns! — Ela diz, o metal da escada rangendo. Ela não é alta o


suficiente para alcançar a luz com a escada. Ela está na ponta dos pés,
esticando os braços e mostrando a língua enquanto as pontas dos dedos
tocam a lâmpada. —Só um segundo, — ela grunhe.

A porta se abre e Bullseye entra, seguido por Tongue, Sarah e todos os


outros. Bullseye encara o desastre no meio da sala. Ele corre para a escada
no momento em que ela se inclina para o lado, e Ruby grita.

E testemunhar Bullseye salvando ela é como algo saído de um filme. Ele


a pega na hora certa, embalando ela em seus braços.

— Oh, Deus. Obrigada, — ela diz em respirações agitadas.


— De nada. — Bullseye continua a olhar para ela, e Sarah bate no meu
quadril com o dela quando temos a mesma ideia.

Bullseye coloca Ruby no chão, bem, acho que é Ruby. Ela nunca disse
qual era seu nome, mas ela tem um grande anel de rubi em seu dedo, então
tem que ser ela. Bullseye sorri quando vê o quão baixa ela é. A testa dela
chega ao estômago dele, e ela é magra. —Você é minúscula, — diz ele.

— Minha atitude tem um metro e noventa, então é melhor você prestar


atenção nas piadas curtas. — Ela acena com o punho no ar. A carranca em
seu rosto cai quando ela se afasta de Bullseye e me encara. —O vestido na
janela, certo? Já está aí há algum tempo. Estou esperando a pessoa perfeita
para pedir isso. Acho que ficará ótimo em você.

— O de pêssego? — Tongue pergunta. —Isso vai ficar lindo com seu


cabelo para cima e sua tez. Boa escolha.

— Oh meu Deus, que porra é essa? — Ruby dá um grito estridente ao


ver o jacaré.

— Você me deve cinco dólares, — diz Maizey. —Pague.

— Ela não conta, querida, — sussurra Sarah, beijando o topo da cabeça


da filha.

— Isso é Happy. Ele tem permissão para entrar aqui. Ele é meu animal
de apoio emocional.

Ela aponta o dedo para todos nós e ri. —Vocês são meio malucos, não
são? — Ela se afasta de Happy e sobe na vitrine, então abre o zíper do
vestido do manequim. —Eu vi tudo agora. Droga, jacarés como animais de
apoio emocional. Eu preciso de uma taça de vinho depois de ver isso. Eu te
digo isso.

— Ela está falando com a gente? — Maizey sussurra alto o suficiente


para ela ouvir.

— Desculpe, eu faço isso. — Ruby pula da vitrine e tropeça, batendo


direto em Bullseye novamente.

— Continuamos nos encontrando assim. Vou precisar do seu nome, —


diz ele, exibindo seu sorriso arrogante.

— Está na loja. — Ela passa por ele e segue em direção ao camarim. Ela
desliza a cortina vermelha para o lado e pendura o vestido. —Vou pegar
alguns saltos. Não de stripper. Não que eu tenha algo contra strippers, mas
algo de classe, — ela me diz.

— Mamãe, o que é uma stripper?

— Uma mulher que gosta de dançar e ganha dinheiro, — explica Sarah


com um tom questionável.

— Eu quero ser uma stripper! — Maizey aplaude.

— Nunca querida, nunca. Papai não vai permitir isso nunca.

Eu ri enquanto vou em direção ao provador. O chão é todo de carpete


felpudo, mas está tudo limpo. Nada foi atualizado, o que me faz gostar
ainda mais desta loja. Brinco com o tecido entre os dedos, sentindo a renda
envelhecida. Tento imaginar a história que esse vestido contém, mas sei
que qualquer coisa que penso não fará justiça. —Ei, Ruby? De quando é
este vestido? — Eu pergunto.

— Dos anos 50. É um original, um verdadeiro clássico. — Sua voz se


aproxima, e ela coloca um salto de sete centímetros no chão. Os sapatos são
da cor nude com uma tira fina no tornozelo e, ela está certa, o salto não é
stripper.

— Certo, experimente. Vamos ver, — Tongue diz, fazendo cócegas no


queixo de seu gatinho do pântano.

Fecho a cortina e tiro a roupa, começando pelos sapatos. Meus dedos do


pé cavam no material áspero do tapete, e quando eu tiro minhas calças, o
espelho expõe os hematomas de Knives em minhas coxas. Meu coração
bate forte quando penso nele, e isso me faz despir mais rápido. Mal posso
esperar para encontrá-lo no corredor.

Entrando no vestido, tenho cuidado ao fechar o zíper, já que é muito


antigo. Eu me curvo, colocando meus pés nos saltos. Antes de mostrar aos
meus amigos, dou uma olhada no espelho na parede e suspiro. Quase não
me reconheço. Ele se encaixa perfeitamente em mim. O vestido para logo
abaixo do meu joelho, abraçando minhas curvas e mostrando a crista
delicada da minha clavícula, já que as mangas abraçam meus braços. Eu
torço meu cabelo para cima como Tongue sugere, amarrando-o como eu
costumo fazer sem uma presilha de cabelo. Meus olhos lacrimejam.

Há um brilho em mim que não consigo explicar enquanto olho para


mim mesma. Talvez seja o leve decote em forma de coração do vestido ou
como os eventos desta noite aconteceram tão rápido que eu não posso
acreditar que estou aqui.

Tudo que sei é o que me trouxe aqui. Preciso ser a mulher que Knives
merece. Eu estive perdida no ano passado, tentando encontrar uma
maneira de viver novamente. Tenho feito trabalhos para o Reaper, nada de
especial, que tem que parar, e preciso me esforçar mais para encontrar algo
em que sou boa. Para mim. Para Knives.

Ele vai me ajudar a encontrar meu caminho.

Ele tem até agora, e eu sei que com ele, posso fazer qualquer coisa.

Abro a cortina e olho para baixo, saindo para que todos possam ver. Eu
estou nervosa. E se eles odiarem?

Todos ficam boquiabertos de admiração.

— É isso.

— Eu amo isso.

— Tão lindo!

— Dê um giro, Mary, — Bullseye diz.

— Oh, eu sabia que iria encontrar o lar perfeito dele, — Ruby sorri,
enxugando as lágrimas sob os olhos. —Desculpe, eu adoro casamentos.
Não se preocupe comigo.

— Vamos ter a melhor noite de nossas vidas antes de não podermos, —


eu digo. —Vou ficar com ele, se você não se importa.
— Absolutamente não, — Ruby diz, seu anel brilhando na luz. —É todo
seu.

Eu quero que esta seja a melhor noite, já que minha vida está em um
cronômetro, mas meu pai terá um rude despertar. Eu vou lutar pelo resto
da minha vida

Dizem que tal pai, tal filha, mas não acho que seja verdade. Não sou
nada como ele, a menos que você considere o quanto eu quero Knives,
então acho que nossa ganância é a mesma. Nós apenas o aplicamos de
forma diferente.

— Você acredita que vai se casar? — Sarah pergunta com lábios


trêmulos, seus hormônios levando o melhor dela. —Você já passou por
muito.

Eu não sabia antes, mas agora faço.


Capítulo Vinte e Dois

Puta merda.

Eu estou nervoso.

Aparei minha barba, raspei os lados da cabeça e estou usando um terno.

Eu nunca uso a porra de um terno. A última vez que qualquer um de


nós se arrumou foi para o baile de formatura de Sarah. Eu me olho no
espelho, esfrego minha barba com uma das mãos e faço uma expressão
impressionada.

Droga, eu limpo bem pra caralho. Eu realmente estou.

Eu mergulho minha mão no forro de seda preta do meu bolso interno e


retiro o saco plástico com os anéis. Eu sei, deveria estar em uma caixa
bonita, mas eu não tenho uma.

— Você está bem? Você está ficando com medo?

Eu não tenho que olhar para ver quem é. Eu reconheceria essa voz em
qualquer lugar. —O que diabos você está fazendo no meu quarto, Mason?
— Endireito minha gravata e pego minha colônia. Eu não uso
frequentemente, apenas em ocasiões especiais, e considero esta a ocasião
mais importante da porra da minha vida.

— Estou verificando você, — diz ele, encostado na porta do meu quarto.

— Bem, não. Esse não é mais o seu trabalho, lembra? — Coloco a


colônia na cômoda, pego quatro estrelas e as coloco no bolso da calça.

— Sempre será meu trabalho. Você não acha que eu acompanhei você?
Pensou o quê? Que eu esqueci de você? Você é meu irmão.

— Eu era seu irmão. Era. — Eu agarro a borda da cômoda antes de me


empurrar e ficar de frente para ele. —Você me deixou para trás como todo
mundo.

— Thomas…

— Meu nome não é porra de Thomas, certo? Você não pode me chamar
pelo meu nome. Há uma pessoa neste mundo que pode me chamar assim,
e estou prestes a me casar com ela. Fique fora do meu caminho esta noite,
Mason. Apenas pare, — eu imploro a ele. —Somente. Pare. Não estrague
este dia para mim. Aja como se você não existisse. Você parece ser bom
nisso. — Eu empurro por ele, batendo meu ombro no dele enquanto eu saio
do quarto, deixando meu passado e quem eu costumava ser para trás.

Quando caminho para a sala principal, sinto que falta uma parte de
mim, e não é porque Mary não está aqui. É o fato de Mason ter voltado à
minha vida do nada, e não importa o quanto eu lute com ele para ficar
longe de mim, no fundo, estou feliz pra caralho por ele estar aqui. Estou
feliz por ele estar vivo, mas não consigo superar tantos anos com ele vivo e
me sentindo como se estivesse me afogando.

— Bem, olhe para você. Afinal, você não é tão feio, — diz Tank,
vestindo um terno azul-claro que não agrada aos olhos, mas combina com
ele.

Não sei como ou por que, mas ele possuiu o visual.

— Tanto faz, eu pareço melhor do que você. Eu pareço melhor do que


todos vocês, — eu aponto. Todo mundo está com o terno que usaram no
baile de formatura de Sarah.

Provavelmente é o único que possuem.

Exceto Reaper.

Ele está vestindo preto sobre preto, parecendo mais que está prestes a
foder a merda do que a um casamento.

— Está tudo pronto? Onde estão Moretti e Máximo?

— Moretti está vindo. Eu e Mercy vamos ficar aqui para ficar de olho no
Máximo. Estou pensando que ele pode nos dar mais informações do que
tem dito, — diz Mason atrás de mim. —Vá se casar. Estaremos aqui para
manter o forte.

Eu aceno, não tendo energia ou coração para arrancar sua cabeça


novamente. Moretti vem do porão, vestindo um terno caro e impecável,
algo que costumava usar o tempo todo, e está puxando a gola. —Não
acredito que costumava usar isso o tempo todo. Tem certeza? — Moretti
dirige sua pergunta para Reaper.

— Tão certo quanto você disse que queria que o Tool chupasse seu pau,
— Reaper ri, balançando na ponta dos pés enquanto enfia as mãos nos
bolsos.

— Eu realmente disse? — Moretti vira o olhar para Tool, que parece


muito desconfortável. —Eu posso ver por quê. Você é um homem de
aparência maravilhosa. Você ainda não chupa pau?

Juliette ri, escondendo o rosto no ombro de Tool enquanto ele olha para
o chão, branco como um lençol. —Não. Não, caralho. Desculpe, Moretti.
Juliette é minha Old Lady.

— Bem, todos nós podemos chupar um ao outro, eu não me importo, —


Moretti diz assim que Tool toma um gole de água, que ele prontamente
cospe em um jato massivo.

E agora Patrick está encharcado. —Oh, porra, Patrick. Eu sinto muito.

Patrick pega um lenço e enxuga o rosto. Sunnie o ajuda também,


pegando um guardanapo do bar no canto da sala principal.

Eu realmente sinto falta daquele maldito bar, mas eu sentiria mais falta
de Patrick se ele não estivesse aqui, e se nós tivéssemos bebida em toda
parte, eu não acho que ele teria uma chance no inferno de sair vivo.

— Está bem. Basta responder ao homem, tudo bem? — Patrick dá a


Tool um sorriso malicioso, provocando ele.
Tool gira em sua cadeira enquanto Moretti espera pacientemente,
desabotoando a gola do colarinho. —Desculpe, Moretti. Juliette e eu apenas
nos chupamos. Estou lisonjeado, no entanto.

— Está tudo bem, não me lembro de gostar de homens também, mas


aqui estamos. — Ele mexe com a gola da camisa novamente e xinga alguma
coisa em italiano. —Tem certeza que eu usei isso? Isso não faz sentido. Eles
são desconfortáveis pra caralho. Quem usaria algo assim?

— Um homem rico da máfia, — digo, esperando que ele entenda que as


roupas que veste são as que englobam a reputação que conquistou.

— Bem, esse não é mais o caso, é? — ele diz, tristemente. —Certo,


vamos casar o Knives. — Ele inclina a cabeça enquanto me estuda.

— Não, desculpe, Moretti. Eu também não faço. Eu vou casar com


Mary, lembra?

— Nenhum de vocês é divertido. Você é tão chato quando se trata de


sua vida sexual, — ele bufa. —Podemos ir? Estar neste clube está me
deixando mal-humorado. — Moretti sai pela porta e, por algum motivo,
todos nós seguimos o exemplo como se ele fosse o responsável por colocar
o show na estrada.

Quando todos nós saímos e fechamos a porta, percebo como o momento


é sério. Nunca pensei que estaria aqui ou que me casaria. Eu desço as
escadas o primeiro passo, o primeiro passo para começar o resto da minha
vida, quando meu telefone toca.
— Não atenda, — diz Slingshot, lançando uma bolinha em mim. —É
hora de casar com Mary. Veja o que eu fiz lá? Você fez? — Ele ri de sua
própria piada. —Eu sou engraçado pra caralho.

— Você é um idiota do caralho, isso é o que você é, — diz Poodle.

Eu faço o que eles dizem. Ignoro a ligação porque não há nada neste
mundo que me impeça de aproveitar minha noite, a menos que seja Mary
ligando para dizer que não quer se casar. Ou e se ela não aparecer e eu
estiver parado no final do corredor parecendo um verdadeiro bastardo?

Merda. É assim que as pessoas se sentem quando estão apaixonadas?


Espero que a ansiedade acabe, porque meu estômago está dando nós.

Um bando de caras sobe em suas motos e meu coração torce, me


lembrando que tenho que dirigir a porra de um carro. Eu odeio dirigir um
carro. Não sou o melhor nisso, mas faço se for preciso.

Meu telefone toca novamente enquanto eu caminho para o Bronco, e


quando eu paro na porta do motorista, meu estômago gira e os cabelos na
minha nuca se arrepiam. Algo não está certo. Eu olho ao redor para ver
qual é o problema, mas os caras estão rindo e se divertindo. Já faz muito
tempo desde que todos nós nos reunimos e nos divertimos. Muita merda
aconteceu. Esta noite é a noite que merecemos para nós mesmos.

Mas algo está errado. Eu sinto. É como quando você acorda um dia e
tem aquela dor no estômago, aquela que lhe diz para não sair da cama
porque você sabe que algo ruim vai acontecer. Então, você atribui isso a
nada, apenas pensamentos negativos estúpidos, mas você sai pela porta,
dirige para o trabalho e sofre um acidente de carro, ou derrama café quente
em cima de você, ou vê algo que não era supostamente para ver, e você diz
a si mesmo: 'eu deveria ter ficado na cama.'

Eu sinto que nunca deveríamos ter deixado o clube.

Estou fazendo o meu melhor para deixar e ignorar, mas toda vez que
alguém faz isso aqui, uma merda ruim acontece.

O sol está se pondo, as temperaturas mais baixas começaram e, embora


o horizonte seja lindo na orla do deserto, a beleza camufla a feiura que está
sendo escondida agora.

Só não tenho ideia do que seja.

Meu telefone toca novamente, vibrando mais intensamente do que da


última vez, ou talvez seja apenas a sensação, e decido atender. Meus
membros estão lentos, minha mente está confusa. Um suor frio me cobre.
Eu me inclino contra a caminhonete, olhando para o nome na minha tela.

Eu sei que ela se foi quando vejo o nome do Bullseye.

Não posso dizer como sei, mas sinto, e é assim que sei.

Eu tento o meu melhor para responder, eu faço, mas estou congelado.

— Você vai responder isso, Knives? Ele continua tocando sem parar. É o
Seer? — Reaper coloca um cigarro entre os lábios e o acende, me
observando com o canto do olho. Quando não o atendo, ele sopra a fumaça
e o telefone toca mais uma vez.

Então o telefone de outra pessoa toca.


E de outra pessoa.

Em seguida do Reaper.

Meu novo telefone mostra o nome de Bullseye novamente, e com uma


entrada de ar profunda e quebrada, eu deslizo meu dedo pela tela e coloco
no viva-voz. —Ela se foi, não é? — Eu me sinto morto por dentro, como se
Reaper cavou um buraco em meu peito e arrancou meu coração.

— Knives, porra, finalmente! — Bullseye entra em pânico enquanto fala.


Ele deve estar correndo porque há estática no fundo, como se ele estivesse
se movendo. —Não sabemos o que aconteceu. Ela saiu da loja. Vestida.
Estávamos caminhando para o carro bem atrás dela e entramos, e foi
quando percebemos que ela não estava conosco. Verificamos dentro da loja
novamente. Eu corri tudo, Knives. Ela não está aqui. Ela simplesmente
sumiu. É como se ela tivesse desaparecido. Um minuto, ela está lá, rindo e
falando, feliz. Tudo o que ela fez foi falar sobre o vestido, e você sabe o
quanto ela te ama, e então parou. Mary não está aqui. Ela não está em lugar
nenhum. Mary! — Ele grita o nome dela e ouvi-lo sem ela responder mata
algo dentro de mim.

Reaper arranca o telefone da minha mão. —Ninguém desaparece assim


porra, Bullseye! Quero que todos procurem, exceto Sarah. Eu estarei lá para
buscá-las. Não quero que você saia dessa área antes de falar com todos.
Procure por toda parte, até mesmo nas lixeiras. Porra, olhe! — Reaper
desliga o telefone e solta um rugido feroz, jogando meu novo telefone no
maldito deserto.

Ele pode mantê-lo.


— Knives, olhe para mim, — Reaper agarra meus ombros, mas estou
completamente mole. Não consigo pensar, respirar ou me mover. —
Knives? Nós a encontraremos. Sempre as encontramos. Sempre. Ela vai
ficar bem. Knives, — ele estala os dedos na minha frente.

Eu espero raiva. Espero que a fúria assuma o controle para entrar em


um caminho de guerra, mas tudo o que sinto é esse entorpecimento de
novo. Meu passado está repetindo tudo de novo. É por isso que eu não
queria chegar perto.

Todo mundo sempre vai embora. E eu sempre fico sofrendo por todos.

Reaper me dá um tapa no rosto, e todos os olhos estão em mim. —


Porra, me escute, você não pode desistir. Agora não. Não quando ela mais
precisa de você. — Ele me dá um tapa de novo, mas suas palavras não
penetram.

— Sim, Reaper. Não é disso que ele precisa, — diz Skirt. As soqueiras
brilham contra o sol quando ele as coloca.

— Eu não queria machucar ele no dia do casamento.

— Ele não vai se casar, Reaper, — diz Skirt, lançando o punho no ar e


me socando bem na mandíbula. A dor sobe para minha cabeça, meu
coração e me acorda. Eu estou sanguinário.

Eu caio no chão e grito.

— É isso. Deixe sair, Knives. Deixe sair.


Meus ouvidos zumbem com a batida e o sangue se acumula na minha
boca. O gosto disso, a dor, me traz de volta ao presente.

Mary está desaparecida. Eu levanto minha cabeça assim que o sangue


escorre pelo meu queixo.

— Lá está ele, — diz Skirt, tirando o soco inglês.

A areia mói contra a ponta dos meus dedos enquanto eu fico de pé, uma
fúria silenciosa me preenchendo enquanto eu olho para o clube e volto para
dentro. O barulho de botas contra o chão me diz que meus irmãos estão
atrás de mim.

Há um homem que pode saber onde ela está. E desta vez, vou ouvir
meu instinto.

Eu não vou sair deste clube, não até que eu tenha as respostas, e não até
que eu tenha feito a porra do inferno.
Capítulo Vinte e Três

Oh não, vou me atrasar para o meu próprio casamento.

Não, atrasar não é a palavra certa

Eu não vou conseguir.

Minha cabeça gira com tontura e a náusea se espalha dentro do meu


estômago como uma tempestade rodopiando no meio do mar.

Não vomite no vestido vintage, Mary. Aconteça o que acontecer, faça o que
fizer, mantenha o vestido seguro.

Quando eu sair daqui, pelo menos espero sair daqui, vou me casar com
Knives como planejamos. Reaper estava certo, nós nunca deveríamos ter
deixado o clube. Agora não era hora de ser egoísta, mas eu queria ser. O
clube nunca chega a ser egoísta, e eu queria mais para mim, assim como o
Knives.

Isso é o que arriscamos. Sabíamos que algo ruim iria acontecer, mas
achei que poderíamos ter uma noite só para nós.
Que piada. Ninguém pode ficar uma noite sem que algo de ruim
aconteça.

— Mary, é bom ver você de novo. Você precisa de alguma coisa,


querida?

O som da voz do meu pai me faz virar nos lençóis de seda da cama
luxuosa. Há um lustre no meio da sala e uma espreguiçadeira no canto com
detalhes dourados e almofadas brancas.

Virando para a minha esquerda, noto a vista de Vegas. A matriz


piscante de diferentes luzes me hipnotizou por um segundo. Há uma
grande roda-gigante à distância. Vermelhos, brancos, verdes, azuis, neons,
os hotéis ao nosso redor fazendo um show para atrair todos os turistas.

Os dedos do meu pai pastam no meu pescoço enquanto eu olho pela


janela, e minha pele se arrepia como mil baratas. —Eu senti tanto sua falta.

— Não me toque, porra. — Eu fujo dele até minhas costas baterem na


cabeceira da cama.

— Mary, — ele diz. —Você sabe o que acontece quando essa boca bonita
deixa uma maldição neste mundo. — Ele começa a desabotoar as calças. —
Eu procurei por você em todos os lugares. E quando o Sr. Moretti disse que
você estava com um grupo de motoqueiros. Eu sabia que tinha que te
salvar.

O cinto estala no ar quando ele vira na cama, parecendo mais


ameaçador do que nunca. Seu cabelo branco está penteado para trás e sua
barba está alguns tons mais escura, um cinza a caminho de virar neve. Ele
tem uma corrente de ouro em volta do pescoço com uma cruz de ouro
pendurada nela, estabelecendo-se no meio de seu peito.

E se bem me lembro, tem seu verso bíblico favorito gravado no metal.

Colossenses 3:20.

Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor.

Um monte de merda grande, se você me perguntar. Nunca vi um


homem mais desprezível em toda a minha vida. Ele não serve a Deus, ele
serve a si mesmo.

Em vez de enrolar o cinto em volta do meu pulso como costumava


fazer, ele o envolve em volta do meu pescoço, puxando o cinto com força.
Minhas mãos voam para o meu pescoço e eu suspiro. Eu chuto e minhas
costas se curvam enquanto eu luto para respirar. Meus dedos se enrolam
em torno da faixa preta para afastá-la das minhas vias respiratórias, mas
está muito apertada.

O sangue corre para o meu rosto e eu engasgo, suspiro e tusso.

— Você pensou que poderia ficar longe de mim? Você pensou que
poderia fugir de mim? Você nunca pode fugir de mim. Eu fodidamente
possuo você, Mary. Você é minha. Onde você achar que pode ir, eu a
seguirei. Você não vai me desobedecer novamente. Você vai me servir, vai
ficar de joelhos e me adorar. É o que você deve fazer. — Ele puxa com mais
força para transmitir suas palavras, e estou preocupada que ele não vá
desistir.
Vou morrer. Eu sei o que ele quer dizer quando diz que preciso ficar de
joelhos. É algo que nunca fiz antes com ele. O medo penetra na medula de
meus ossos quando disseco suas palavras.

O único homem por quem já me ajoelhei foi Knives, e não me importo


se meu pai me matar, Knives é o único homem que adorarei. Meu pai pode
ir para o inferno.

Ele esfrega sua ereção contra meu braço e as lágrimas picam meus
olhos. Com a dor do cinto no meu pescoço, o terror de senti-lo ao longo do
meu braço, minha liberdade está lentamente se esvaindo. Estou de volta
em suas garras e sei que desta vez, ele vai se certificar de que nunca vai me
deixar ir.

Ele envolve o cinto em torno da coluna da cabeceira, o que me faz


levantar para tirar a pressão, mas não funciona. Eu não consigo respirar
fundo. Minha traqueia está contraída e mal consigo engasgar. Meu coração
está disparado e meus pulmões já estão queimando. Ele se atrapalha com o
zíper. O som dele baixando me fez chutar com mais força, lutando mais
para fugir. Eu puxo o cinto, apertando ainda mais a constrição.

Agora eu não consigo respirar de jeito nenhum.

— Você é um presente de Deus, Mary. Meu presente. Sua mãe odiava o


quanto eu te queria. O quanto te amei. Ainda amo você. Eu acho que você
sempre deveria ser minha. — Ele puxa seu pau, um que eu já vi muitas
vezes, e eu fecho meus olhos.
Sua mão esfrega minha perna, seus dedos cavando nos mesmos lugares
que Knives fez, pressionando contra os hematomas.

Hematomas que sobraram de amor e desejo. Knives me queria tanto


que ele não conseguia se conter, e meu pai está arruinando a paixão que
Knives deixou para eu lembrar.

Meu pai geme, fodendo seu punho enquanto levanta meu vestido ainda
mais. —O que é isso? — Ele pergunta sem fôlego, rastreando as impressões
digitais que Knives deixou para trás. Ele anda de joelhos na cama e se
acomoda entre minhas pernas. Ele tenta separá-las, seu pau duro e
vazando, com raiva que eu ousei estar com outra pessoa. —Você era uma
prostituta, Mary? Você abriu as pernas para outra pessoa? — Suas mãos
engancham em volta das minhas coxas para separá-las, mas eu as
mantenho fechadas, as bordas da minha visão ficando pretas com a falta de
ar.

Quanto mais luto, mais não consigo respirar.

Se eu não lutar, ele consegue o que quer.

Eu.

Eu me recuso a deixar outro homem me ter.

— Foi aquele cara de merda com você na boutique? Foi ele? — Ele ruge,
puxando minhas pernas com tanta força que os músculos se contraem e
doem. Eu grito, a dor insuportável na parte superior da minha perna. Sinto
que está puxado ou forçado e, no momento de fraqueza para tentar me
recompor, meu pai abaixa a cabeça e inspeciona os hematomas. —Eu vou
te perdoar, — diz ele, beijando uma das marcas.

Uma lágrima escorre do canto do meu olho por causa de seu beijo. —Eu
não quero seu perdão, — eu resmungo, levantando minha perna, que se
dane a dor, e chuto novamente. Meu pé bate em seu rosto, mas não é o
suficiente para ele se afastar de mim.

Ele prende minhas pernas e rasteja pelo meu corpo, mantendo as mãos
apertadas em meus quadris para me manter abaixada. Seu pau nu esfrega
contra minha perna e eu soluço, não o querendo em qualquer lugar perto
de mim.

—Por favor pare. Pare! Eu não quero você. Te odeio. Saia de cima de
mim. Saia! — Minha voz está rouca enquanto luto para gritar o mais alto
que posso, mas a alça em volta do meu pescoço torna isso impossível.

Ele me dá um tapa, tirando sangue ao abrir meu lábio inferior. Quando


ele percebe, ele esmaga seus lábios contra os meus e lambe a gota.

Eu faço a única coisa que sei fazer. Eu mordo seu lábio tão forte quanto
posso até que posso sentir sua carne ceder enquanto meus dentes afundam.
Seu sangue flui em minha boca, e ele grita, se afastando de mim. Seu pau
está flácido agora, e ele está cobrindo a boca com as mãos. Eu cuspi,
jogando seu sangue que se juntou na minha língua. Uma névoa vermelha
cobre seu rosto, e quando ele deixa cair as mãos, o jeito que ele olha para
mim não promete nada além de tortura.
Seus olhos castanhos dançam como demônios enquanto ele olha para
mim e para baixo. —Você encontrou fogo enquanto estava fora.

Penso no apelido de Knives para mim: Pequena Infernal. Suponho que


sim.

Não vou deixar esse monstro apagar minhas chamas.

— Isso só torna mais divertido para mim. — Ele alcança o poste na


cabeceira da cama e desenrola o cinto, em seguida, afrouxa o fecho, e eu
ofego, dando boas-vindas ao oxigênio. É tudo o que ele me dá, porém,
antes de me sufocar novamente e colocar o cinto em volta do poste. —Eu te
amo muito, — diz ele, esfregando o nariz na minha bochecha.

Eu paro de lutar por um momento, precisando tomar o máximo de ar


que puder. Quanto mais energia eu tiver, melhores serão as chances de
escapar.

— É por isso que vai doer tanto quando alguém vai ser seu dono.

Eu não sou perfeita. Tento melhorar minhas feições, mas o choque me


abala.

— Oh sim. Sua beleza é dinheiro, querida. — Ele traça meu queixo com
seus lábios, inalando enquanto lambe as lágrimas do meu rosto. —Nosso
tempo vai chegar ao fim. Acho que você vai deixar alguém muito feliz.
Haverá um leilão em dez dias. Tantas outras mulheres, tantos homens
querendo comprar.

— Você me venderia? — Eu engasgo.


— Eu amo você. Eu não quero, mas há uma oferta na mesa para você
que é boa demais para ser rejeitada. — Ele verifica seu relógio e suspira,
colocando um beijo na minha bochecha. —Eu tenho um sermão para dar.
Eu faço igreja virtual agora, e ela trouxe muitos novos crentes, Mary. Você
poderia fazer parte disso, você poderia estar ao meu lado em vez disso,
você quer isso?

Ele está me dando uma opção?

Eu puxo o cinto em volta do meu pescoço, zombando dele. —Você está


me dando uma opção? Achei que o dinheiro era bom demais para ser
verdade?

— Se você quisesse ficar comigo, começar uma família, estar ao meu


lado como minha esposa, não vou colocá-la nesse leilão. Quero saber se
você vai ser minha ou se quer ser de outra pessoa. Sua fidelidade não tem
preço para mim.

A bile sobe pela minha garganta, ajudando o cinto a me sufocar ainda


mais. Uma família? Ele quer que sua própria filha tenha mais filhos com
ele?

Eu não consigo me conter. A bile sai da minha boca, desce pelos lábios e
pelo queixo. O que seus seguidores pensariam? Ele não pode se casar com
sua própria filha. Ele está delirando.

— Nossa linha de sangue permanecerá pura e sagrada, — diz ele,


finalmente tirando o cinto do meu pescoço. Eu me curvo e vomito sobre a
cama, a bile do estômago queimando minha garganta. —Eu sei que vai
demorar um pouco para se acostumar, mas acho que você ficará feliz.
Posso dizer ao comprador que não estou mais interessado. Você decide.

Então, minhas opções são: ser estuprada pelo meu pai pelo resto da
minha vida ou ser estuprada por outra pessoa. Com meu pai, pelo menos,
Knives saberia como me procurar. E se eu estiver no leilão e o homem que
me compra morar na Europa? Knives nunca será capaz de me encontrar
então, mas a ideia de estar com meu pai, por anos, forçado a ter seus
filhos... não sei se vou conseguir fazer isso também.

— Onde está a mamãe? — Eu pergunto, cuspindo o resto da saliva na


minha boca. —Ela está bem com isso?

— Eu vendi sua mãe há um ano, querida. Não tenho ideia de onde essa
vadia está. Ela não era uma verdadeira crente. — Ele ajeita as calças e fecha
o zíper.

— Não! Seu filho da puta desgraçado. Como você pôde fazer isso com
ela? — Eu me lanço na cama para... eu não sei, matá-lo? Mas com um tapa
no rosto, minha cabeça vira para o lado, e eu voo para o chão, caindo com
um baque forte no meu ombro.

— Se você não escolher corretamente, talvez a veja. — Com essa nota,


ele se afasta, fechando a porta do hotel atrás de si.

Estou escorregando em meu próprio vômito, chorando, e sei que


qualquer escolha que eu fizer, vai me matar. Eu costumava querer isso,
mas agora que tenho algo pelo qual viver, a última coisa que quero fazer é
morrer.
Colocando meu cotovelo no colchão, eu o uso para me levantar. Tenho
que tentar o meu melhor para não olhar para o vômito contra meu braço ou
perna. Preciso ligar para Knives, mas quando olho ao redor do quarto, noto
que não há um telefone.

Mas existe um bloco de notas.

Caminhando até ele, meu coração partido por causa da minha mãe e
pelo que ela está passando, eu pego o bloco de papel grosso. Meus olhos se
arregalam quando vejo o nome.

O Máximo deve estar por trás desse leilão.

O bloco de notas diz: ‘Circus Circus.’ É um bloco de notas antigo,


porque o hotel e o cassino não têm mais nome enquanto ele reforma.

Estou em uma teia cheia de mentiras e enganos.

E quanto mais eu luto, mais eu afundo.


Capítulo Vinte e Quatro

Já se passaram dez dias desde a última vez que vi Mary. Dez dias
longos e deprimentes. Eu me perdi. Tudo o que faço é vasculhar a cidade.
Todo dia. À noite torturo Máximo, mas o desgraçado ficou quieto. Suas
feridas estão infeccionadas e ele cheira a merda. Se ele não falar logo, vou
cortar sua língua e, bem na frente de Máximo, vou alimentar Happy com
ela.

Então vou começar a tirar de outras partes do corpo.

Eu não dormi. Eu me embriaguei até o estupor.

E eu acordo à noite, gritando seu nome, o medo apertando meu coração


quando meus sonhos se transformam em pesadelos. Estou sempre
segurando o lençol, encharcando os cobertores de suor e estendendo a mão
para ela.

Apenas para descobrir que seu lado da cama estava frio.

Eu sinto falta dela.

Deveríamos nos casar, e meu trabalho, meu único trabalho, era protegê-
la.
Eu estou correndo contra o tempo.

Hoje é o dia que o Seer disse que Mary iria morrer. Tenho que garantir
que isso não aconteça. Os últimos dez dias me fizeram perceber o quão
preciosa é a vida com Mary. Eu não entendia isso antes, mas agora que
penso nisso, todas as brigas que travamos antes de eu beijá-la, eu não teria
sido capaz de ficar sem isso.

— Knives, você precisa descansar um pouco, — Reaper diz, parado


perto da pia. Ele se inclina contra o balcão, cruza as pernas na altura do
tornozelo e toma um gole de café. Eu não sou o único cansado. Todo
mundo está.

Pesquisamos todos os hotéis em Vegas. De cima a baixo, porra. Ela


desapareceu e é hora de eu começar a pensar que talvez ela não esteja mais
aqui. Eu vou precisar procurar por ela no mundo todo.

Cada maldita cidade, vila e edifício abandonado que este maldito


mundo tem a oferecer, vou demoli-lo. Eu vou encontrá-la.

E se eu a encontrar em seu túmulo, irei me juntar a ela.

Eu preciso da minha Pequena Infernal.

A briga, a frustração, a loucura que ela me faz sentir, eu preciso disso.


Eu sempre precisei disso.

— Descansar? — Eu rio amargamente, esfregando meus olhos com as


palmas das minhas mãos para trazer vida de volta a eles. —Você não iria
descansar se esta fosse Sarah, assim como qualquer um de vocês não iria.
Você quer que eu descanse? Você quer que eu ria também? Conte uma
piada? Dance? Que porra você quer! — Eu bato meu punho na mesa, e
todos olham para longe de mim. —Ela se foi.

— Nossas respostas estão lá embaixo, eu sei disso, — Mercy diz. —


Máximo sabe muito mais do que diz. Eu posso sentir isso.

— Eu também, — diz Mason, passando a mão pelo cabelo.

Ele mudou muito e não mudou nada. Seu cabelo está mais longo, e a
barba em seu rosto não é para deixar crescer mais, mas porque ele sempre
se esquece de se barbear.

— Acho que devemos ser um pouco mais criativos, — acrescenta


Tongue, olhando para Happy, que está a seus pés.

— Você quer que nós o ameacemos com um bebê jacaré? O que isso vai
fazer?

— Tortura. Happy está crescendo, mas sua mordida é forte, — Tongue


diz com orgulho, estufando o peito como se seu filho fosse o melhor que
existe.

Só posso imaginar Tongue como um pai de verdade. Ele seria tão


protetor, tão intenso, e seus filhos provavelmente estariam tão fodidos da
cabeça.

Eu coloco minha cabeça em minhas mãos e meu estômago ronca, mas


eu ignoro. Não consigo nem pensar em comer agora. Eu não fui capaz de
engolir nada. Não com as imagens vívidas passando em minha mente a
cada segundo de cada dia.
E se ela estiver chamando por mim? E se ela estiver chorando todos os
dias? E se ela estiver lutando e isso não tiver importância? E se ele a estiver
usando? Eu não consigo tirar os olhos dela da minha cabeça. Eles estão
implorando para que eu a salve, e eu não posso.

Eu estou farto disso. Vou matar Máximo pelo que ele fez. Eu não dou a
mínima se ele é irmão de Moretti ou não.

Ninguém merece viver depois do que fez, mas enquanto a vida de


Natalia estiver em suas mãos, não posso ficar louco. Temos que salvar
Natalia também. Vidas inocentes não podem ser sacrificadas. Tenho que
tentar pensar com inteligência.

Encontramos Mary. Encontramos Natalia.

Matamos Máximo.

Eu vou matar o pai dela.

Essa merda está feita e Moretti pode assumir o comando da máfia


novamente. Pelo menos com ele, não tínhamos que nos preocupar com
merdas como essa.

Eu verifico para ter certeza de que estou com minhas estrelas ninja e me
levanto da cadeira. A vida da minha garota tem uma porra de uma bomba-
relógio. Eu não vou deixar isso explodir.

Abro a porta do porão e desço correndo os degraus. Eu não conto a


ninguém o que estou fazendo. Não estou pedindo permissão a Reaper para
o que posso e não posso fazer com o Máximo.
Eu só vou fazer isso, porra.

Abrindo a porta da sala de jogos, o metal bate contra a parede quando


eu entro. A cabeça de Máximo está curvada, sua respiração é difícil e
agitada e seu terno nada mais é do que restos encharcados de sangue,
cortes e urina que o saturam.

Seus dias fodidos estão contados.

Eu o agarro pela espessura de seu cabelo e jogo sua cabeça para trás, em
seguida, dou um tapa em seu rosto. —Acorde inferno! — Ele não se move,
ele apenas geme. —Eu disse, acorde!

Quando ele não o faz, eu o solto. Ao longo da parede há um balcão com


várias ferramentas, mas é a gasolina que estou procurando.

Vou colocar fogo nele e mandar sua alma podre de volta para o inferno.

Pegando uma página do livro de Boomer, pego a jarra vermelha de


gasolina e sigo em direção a Máximo, circulando ele como um leão, uma
besta esperando para matar, porra.

É incrível como passei de nada a sentindo tudo em apenas alguns dias


de estar com Mary.

Sento a jarra no chão, o chão vibrando em uma frequência estridente


com o peso, e tiro algumas estrelas ninja do meu bolso.

Talvez isso o acorde.

Agarrando a prata entre meus dedos, admiro os ganchos pontiagudos


nas pontas da estrela e, em seguida, jogo-a no ar. O som de uma lâmina
girando soa antes de atingir o olho de Máximo. Seu olho esquerdo se abre e
ele começa a gritar. O sangue flui por sua bochecha direita em fluxos
grossos, e minhas narinas dilatam quando ouço sua dor.

Eu estava pegando leve demais com ele antes. Eu atiro outra, caindo
bem em sua virilha, e outro gemido doloroso implora para eu parar.

Nunca.

— Você pegou meu olho de merda! Você pegou meu olho! — Máximo
puxa as restrições fazendo o seu melhor para sair da armadilha em que
está. —E meu pau! Meu pau está sangrando.

— E você vai perder o controle se não começar a falar. — Eu seguro


minha estrela contra a luz e a deixo brilhar. O reflexo de Máximo é
espelhado no metal. Sua boca está aberta, implorando por misericórdia,
implorando para eu deixá-lo ir porque ele não consegue mais lidar com a
dor.

Passos soam na porta e eu vejo Reaper, Tool, Bullseye, Tongue e Happy.


E aquele filho da puta louco está fora de sua coleira, abrindo a boca em um
silvo mortal quando ele cheira sangue.

— Que diabo é isso? O que é aquilo! — Máximo balança para frente e


para trás para soltar a cadeira, mas é inútil. É soldada ao chão e não vai a
lugar nenhum.

— Esse é o réptil que vai te comer no jantar se você não começar a falar,
e é melhor você me contar tudo, Máximo. Ou vou arrancar a pele do seu
pau com a ponta da minha estrela ninja. Eu vou levar meu tempo. Vou
garantir que a cada segundo você esteja em completa agonia. — Eu arranco
a estrela de seu pau, que estava mais em sua virilha, mas a ameaça estava
perto o suficiente. —Você ainda não me leva a sério? Você entende?
Moretti já nos disse para fazer o que quiséssemos com você, porque nem
ele confia em você. O homem que não consegue se lembrar de nada lembra
o que ele sente por você. O que isso quer dizer?

Eu puxo sua cabeça para trás novamente para que eu possa ver melhor
seu rosto na luz. Seu olho bom está lacrimejando e a estrela está presa no
fundo de seu outro olho. Para descobrir o quão sério estou, eu o retiro, e
seu globo ocular vem junto.

Ele grita até vomitar. Eu mal tenho tempo de sair do caminho, então
isso não respinga nas minhas botas. O olho está quase cortado em dois, os
nervos vermelhos e pingando atrás, e o buraco na órbita do olho está
prestes a se tornar um lar para a gasolina. Com dois dedos, aperto o olho e
o arranco de minha arma. É mais mole do que eu pensei que seria.

— Faça isso, Happy, — eu digo, jogando o olho para o crocodilo. Ele o


pega rapidamente, estalando as mandíbulas antes de engoli-lo.

— Bom menino, — Tongue diz, elogiando-o enquanto ele dá um


tapinha em sua cabeça.

— Eu prometo que vou alimentar Happy aos poucos com você, e então
vou queimar seus malditos ossos, mas não antes de fazer você assistir
Happy comer seu pau. Então, meu Prez vai arrancar seu coração de seu
peito, e você vai vê-lo parar de bombear. Happy vai comer isso também.
Cansei de brincar, Máximo. Onde ela está!
Silêncio.

Isso é frustrante pra caralho. Eu odeio silêncio.

Pego a jarra e começo a derramar gasolina em seu corpo. Eu sei que


queima as feridas abertas, mas não me importo. Eu não me importo com
nada agora. Enfio o bico entre seus lábios e ele tosse com a fumaça que
inala da gasolina. —Vou fazer você beber isso. Qual é o seu papel nisso?
Qual é o plano do pai dela? Por que diabos você estava no celeiro? Onde
ela está? O que há de tão especial hoje?

Ele balança a cabeça ansiosamente, seus grandes olhos castanhos


pingando lágrimas enquanto o abismo do outro lado chora sangue. Eu
arranco o bico de seus lábios e jogo para o lado, em seguida, pego a mesma
estrela que o cegou e coloco contra seu pescoço.

— Fale, — eu digo.

— Ele é um parceiro de negócios. No início, eram apenas drogas. Eu não


queria entrar em mais nada. Quando você está na minha linha de trabalho,
não é difícil descobrir quem é quem. Todo mundo sabe sobre o Pregador
que não segue a Bíblia, se é que você me entende. Ouvi dizer que ele estava
procurando por sua filha. Eu tinha uma foto e qualquer informação faria
minha rede triplicar. As lutas cresceriam, o dinheiro aumentaria, o poder. É
tudo uma questão de poder, — diz ele, o sangue jorrando de seus lábios
quando ele fala. —Eu não sabia que ela era uma Old Lady senhora no
começo. Quando ele veio para o hotel, ele viu Natalia, e ele disse até que
ele conseguisse Mary, ele iria ficar com ela. Eu o encontrei no celeiro, que é
onde todas as transações, drogas, humanos e tudo o mais relacionado
acontece. Ele disse que haveria um leilão. O último do ano. Natalia estaria
nisso se eu não obedecesse, mas então comecei a pensar, qual é o
problema? Moretti não se lembra dela mesmo, e ela vai ficar bem. Ela é
uma garota inteligente. Ela pode sair dessa...

Eu o impeço de falar agarrando seus ombros e sacudindo-os —Onde é o


leilão? A que horas começa? — Me lembro de Mason nos avisando que seu
pai faria algo assim.

— É no meu hotel. O elevador, lado leste, leva você a um nível que


ninguém nunca viu antes.

— E quanto ao ataque ao clube há alguns meses? — Reaper pergunta.


—Eu sabia que era uma merda de duvidoso que aquele universitário atirou
em nós depois de trabalhar no seu clube. Foi você, não foi?

— Sim, — diz Máximo. —Eu queria estar no topo. Eu queria ser aquele
que controlava Vegas. Eu te disse a verdade, por favor, me deixe ir. Por
favor. Eu sinto muito.

Reaper fica na cara de Máximo. —Quando voltarmos, vou mergulhar na


porra da sua alma, Máximo. É melhor você contar as horas de sua vida
como um homem livre.

— Por favor. Eu vou trabalhar para você. Vou colocar todos os meus
homens à sua disposição. Eu vou te dar dinheiro. Tudo. Por favor, me
deixe ir. Eu sinto muito. Eu sinto muito.
— Salve isso, — Reaper se encaixa. —Eu não quero o seu dinheiro. Eu
não quero suas desculpas. Eu não quero merda sua, mas o seu maldito
coração batendo em minhas mãos enquanto eu esmago a sua vida.

— Por favor, apenas me deixe ir. Eu farei qualquer coisa. Nunca quis
que nossa aliança acabasse assim.

— Você deveria ter pensado sobre isso antes de decidir foder com os
Ruthless Kings.

Saímos da sala de jogos e trancamos a porta.

Deixá-lo vivo é difícil, mas não há mais tempo a perder.

Tenho que chegar até Mary antes que alguém a compre.

Eles nem sabem que o que eles oferecem nunca seria suficiente.

Ela é inestimável pra caralho.


Capítulo Vinte e Cinco

Minha energia se foi. Eu já passei fome, fui esbofeteada, me masturbou,


mas pelo menos meu pai não fez sexo comigo.

Essa é a única fresta de esperança em tudo isso.

Eu disse a ele que não queria me casar com ele, porque talvez quando
alguém me comprar, eles não sejam tão cruéis quanto ele. Talvez eu tenha
sorte.

Ele me manteve drogada com um tranquilizante para me manter na


linha nos últimos dez dias. Não o suficiente para me nocautear, mas o
suficiente para me manter maluca. Ele tirou mil fotos minhas em lingerie.
Tenho certeza que elas estão postadas em todos os sites imagináveis. Meu
pai até fez um folheto, então quando os compradores chegam, eles têm algo
para consultar enquanto se escondem atrás de janelas escuras.

Agora, todas as mulheres estão em uma sala, ombro a ombro, tremendo


de frio e choque da situação. Não há janelas, nem ventilador, é uma sala
simples e básica com quatro paredes e uma porta pela qual não podemos
sair.
— Mary? — Uma voz familiar diz atrás de mim.

Eu me viro e suspiro quando vejo Natalia, a filha de Moretti. Ela é um


pouco mais jovem do que eu, e posso ver a inocência em seus olhos
vermelhos e bochechas molhadas. —Natalia, o que você está fazendo aqui?
— Esta é a primeira vez que vejo todas as mulheres. Eu não sabia se seria a
única ou o quê, mas é claro que não sou.

Os homens sempre acham que podem fazer o que quiserem conosco.

— Meu tio, Máximo. Ele desistiu de mim, — chora Natalia.

Eu não estou surpresa. Máximo sempre me irritou.

— Tudo vai ficar bem. — Eu envolvo meus braços em torno dela e a


trago para um abraço apertado. —Eles vão nos encontrar, certo? Elas vão.
— Tenho que acreditar nisso, ou estarei perdida no momento em que pisar
naquele palco. Estou usando um sutiã transparente que se cruza na frente,
calcinha de renda preta e meias. Meu cabelo está solto, mas recebi ordens
para brincar com ele e dar um show aos compradores.

Natalia está vestindo uma camisola azul claro, uma camisola curta sexy
que mostra seu peito pequeno e sua barriga lisa.

— Eu ouço três milhões? — Meu pai anuncia pelo alto-falante que está
conectado no canto direito da sala. —Vendido!

Quase espero ouvir o golpe de um martelo, mas é silencioso.

— A seguir, temos um convidado especial, — diz ele, acelerando o


ritmo do meu coração.
A porta se abre e um homem que eu nunca vi antes examina a sala. Ele é
alto e musculoso, me lembrando um fisiculturista, e seus olhos caem sobre
mim. Ele não pergunta, ele não gesticula para que eu vá até ele, em vez
disso, ele estende a mão e me agarra pelo cabelo.

— Não! — Natalia grita, tentando segurar minhas mãos para evitar que
eu seja arrastada porta afora. —Não, Mary! Por favor, não faça isso, — ela
implora enquanto as outras mulheres choram na parede dos fundos, longe
da porta.

O cara ainda não fala nada. O jeito que ele tem meu cabelo agarrado faz
meu couro cabeludo queimar. Eu alcanço para agarrar suas mãos para tirar
a pressão, mas ele me derruba com sua grande bota e começa a me puxar
pelo chão.

O corredor se transforma em um longo túnel à medida que me afasto da


sala que contém uma dúzia de mulheres. As paredes são cinza, o chão é
preto e é como se eu estivesse deslizando em poças de tinta. Estou
esperando para afundar no chão. O azulejo é tão imaculado, tão brilhante,
que conforme a luz brilha contra ele, eu sei que vai me levar para o
desconhecido.

As botas do meu captor batem no chão, tambores altos que trazem


medo em minha alma. Quando ele para, uma porta se abre e ele me joga
para dentro da sala. Rolo para o meio e as folhas do carpete queimam
minha pele. Estou com muito medo de me levantar.

Mas eu levanto.
Eu me empurro em minhas mãos então novamente para ficar de pé.
Estou cercada por um vidro preto. Não consigo ver o que há do outro lado,
mas não tenho dúvidas de que são homens desprezíveis em ternos caros
debatendo se me querem.

Erguendo o queixo, faço o meu melhor para mostrar que não estou com
medo do que vai acontecer comigo. Meu coração está partido e eu sei meu
destino. Qualquer coisa que esses homens façam comigo não será nada
comparado à dor que já sinto.

— Cavalheiros. — A voz do meu pai é ouvida no alto-falante


novamente. —Esta adorável senhorita se chama Mary St. James. Ela é linda,
vigorosa e tem cabelo que você pode segurar por dias enquanto bate nela
por trás. Ela sempre esteve com um homem, e esse sou eu. Você vai querer
colocar as mãos nesta aqui.

Jogo o cabelo por cima do ombro e mostro o dedo do meio a cada janela.

Meu pai ri pelo interfone e uma luz vermelha pisca acima de uma das
janelas.

— Oh, já temos um lance chegando, — ele assobia. —As apostas


começam nos 5 milhões. Nós podemos fazer melhor do que isso. Você
nunca terá uma boceta como essa. É apertada, quente e úmida.

A maneira como meu pai fala sobre mim me deixa doente. Eu mal
consigo ficar em meus próprios pés, e ele está mentindo para eles.
Ele não é o único homem com quem estive, e odeio ter doze anos de
memórias para provar que ele não era um sonho, mas estremecimento,
experiência.

Outra luz vermelha se apaga, depois outra da esquerda, mais uma à


direita. É um show de luzes e eles não param de piscar.

— Doze milhões, — a voz do meu pai abaixa em um tom sexual. —


Posso pedir quinze? — Mas assim que ele faz a pergunta, o vidro à minha
direita se estilhaça com um tiro. Eu grito de surpresa, e através do vidro
posso ouvir suspiros e murmúrios chocados.

Eu olho para cima para ver Knives lá, segurando o pescoço de um


estranho, uma estrela em sua garganta.

Meu coração pula na minha garganta.

— Vendido, — diz Knives, cortando a lâmina no pescoço do homem até


que ele comece a sangrar.

Eu recuo quando outra parede de vidro se quebra com outra bala, e


Slingshot está lá. Eu nunca o vi usar sua arma além de lançar balas, mas
quando ele a usa, é uma pedra afiada que é lançada. Atinge o cara contra a
têmpora, e quando ele cai inconsciente para trás, o Slingshot quebra seu
pescoço.

Outra janela se quebra.

E outra.

Então outra.
Todos os Kings estão lá, suas botas esmagando o vidro enquanto matam
todas as ameaças. O dardo de Bullseye atinge um homem entre os olhos,
Tool enfia sua chave de fenda na garganta de um homem, Tongue corta a
língua de outro cara, em seguida, caminha para todos os cômodos para
fazer o mesmo com os outros, e Reaper aparece.

Com meu pai em suas garras.

— Mary! — Knives caí da janela, aterrissando em seus pés e lentamente


parando como uma espécie de super-herói. —Você está bem? Ele te
machucou? Cristo, ele fez. Olhe para o seu pescoço, Pequena Infernal... —
Ele me balança em seus braços e me beija por todo o rosto até que nossos
lábios se encontrem. —Eu estava tão preocupado com você.

De repente, percebo que estou chorando. Soluços grandes e agitados


atormentam meu corpo. Mas ele está aqui. Ele me resgatou. Ele está me
mantendo segura. Os braços fortes e musculosos de Knives me segura com
força, e sou capaz de me acalmar e me perder em suas garras novamente.

Eu finalmente reúno forças para abrir meus olhos e olhar para ele. Ele
parece horrível. Seu cabelo cresceu, sua barba está mais longa e
desgrenhada, o que não é dele, e ele tem olheiras.

— Meu pai gostava de usar o cinto no meu pescoço todos os dias e se


masturbar até gozar.

— Ele...
Eu olho para longe, com vergonha, mas balanço minha cabeça. —Ele só
se masturbou depois de me ver lutando contra seu cinto, — digo,
levantando meus dedos para o meu pescoço preto e azul.

— Apenas? — Knives rosna. — Apenas?

— O que você quer fazer? — Reaper diz. —Uma morte rápida é muito
fácil.

Meu pai está tremendo. —Não, não, espere! Espere! Eu tenho dinheiro.
Eu tenho muito dinheiro. Mary, você não vai deixar eles fazerem isso
comigo, certo? Você me ama. Você me ama!

— Te odeio! — Não sei o que dá em mim, mas eu roubo a estrela de


Knives, que é a que ele me deu, a sua original. A que ele fez quando tinha
apenas quinze anos. Ele deve ter encontrado minha jaqueta no caos de tudo
isso. Antes que eu me mova mais um centímetro, Knives joga sua jaqueta
em cima de mim, e eu caminho até Reaper.

Mas eu não consigo subir lá.

Reaper sorri, então empurra meu pai para baixo. Ele atinge o chão, cai
de costas e geme. Knives pisa em seus braços e Reaper pula, pousando em
suas pernas. Uma se quebra com a força e meu pai solta um gemido de dor.

— Eu te odeio tanto, isso dói fisicamente meus ossos, — digo a ele


enquanto monto em seu estômago. —Você quer me beijar? — Eu aperto
seus lábios junto com as lágrimas queimando meus olhos e, com a estrela,
começo a cortar seus lábios. Eu os jogo para o lado até que tudo que vejo
são dentes e gengivas.
Tongue ri, tonto e animado para adicionar à sua coleção.

— Você roubou minha inocência. Você me estuprou. — Eu deslizo para


trás, abro o zíper de suas calças e aperto seu pau patético até que eu sei que
está doendo.

— Por favor, — ele chora. —Não faça isso. — As palavras são difíceis de
ouvir, pois ele não tem lábios para falar.

— Você nunca me ouviu! Você nunca parou! Doze anos! — Lágrimas


quentes e gordas escorrem pelo meu rosto. Eu puxo suas calças para baixo
e uso a borda serrilhada da estrela para cortar seu pau. Meu pai grita de
agonia, e é o som mais catártico que já ouvi na minha vida. Eu jogo os
centímetros para Tongue, mas ele ignora.

— Eu quero que Happy coma ele! Não quero mais nada do meu pai,
está me ouvindo? Nada! — Eu grito, então com as mãos ensanguentadas,
eu o esfaqueio bem no coração, uma lágrima caindo do meu queixo para
sua boca exposta. —Você queria que eu te amasse. Seu bastardo doentio e
pervertido.

— Vou assumir a partir daqui, — Reaper me diz suavemente, e Knives


agarra meus ombros para me guiar para longe.

— Eu quero ele tão longe, Reaper. Eu quero que ele seja apagado do
planeta. — Meu corpo inteiro está tremendo incontrolavelmente e, quando
olho para as minhas mãos, tudo que vejo é sangue.
— É isso aí, Mary, — diz Reaper, usando a estrela embutida no peito do
Pregador enquanto ele corta para arrancar seu coração. —Que o diabo te
mastigue e cuspa, e que Deus não tenha piedade de sua alma.

Knives me afasta, e os gritos de meu pai soam estranhamente familiares


como os meus ao longo dos anos. Saímos pela porta de onde eu vim, e o
guarda-costas que me trouxe ao palco está lá, apontando uma arma bem no
meio do peito de Knives.

Eu acho que é isso. É aqui que eu morro para salvar Knives. Valeu a
pena.

Eu faço a única coisa que me passa pela cabeça. Eu pulo na frente dele
para pegar a bala quando a bala do cano é liberada, mas nada acontece.

Eu finalmente abro meus olhos para ver Mason pulando na nossa


frente, levando o tiro no peito. Com uma arma na mão, ele aponta para o
guarda e atira.

O guarda cai no chão em uma pilha gigante inútil quando a bala acerta
entre seus olhos.

— Mason! Mason, não. Não! — Knives caí no chão ao lado de seu irmão,
e eu faço o mesmo, pegando a mão de Mason na minha. —Eu acabei de te
ver de volta. Eu deveria trabalhar meus sentimentos. Você não pode... não,
— Knives está cheio de negação enquanto pressiona a mão contra a ferida
sangrenta no peito de Mason. —Nós deveríamos ser irmãos de novo. O que
você estava pensando levando uma bala por mim, de novo? — Knives
levanta a cabeça de Mason em seu colo. —Você vai ficar bem. Você ficará
bem.

— Eu queria que você tivesse a vida que você sempre mereceu. Era eu
ou Mary, — ele resmunga, uma pitada de sangue espumando em sua boca.
—Tinha que ser eu. Você estava certo... — ele tosse asperamente, lutando
para recuperar o fôlego, —...eu não deveria ter deixado você sozinho. Eu
deveria ter encontrado você. Considere isso... — ele tosse novamente, —...
assumir a responsabilidade.

— Você a salvou para mim, — Knives chora. —Obrigado.

— Eu nunca parei de ter suas costas, Knives.

— Thomas. Me chame de Thomas.

Mason sorri, seu rosto branco como a morte e o suor escorrendo pelas
têmporas. —Thomas. Meu irmão.

— Seu irmão, — diz Knives. —Tudo bem. Está tudo bem, Mason. Você
pode ir. Eu ficarei bem. Graças a você, sempre estarei bem.

Mason cruza os olhos comigo, outro sorriso fraco em seus lábios, e sua
mão cai em cima do Knives que está pressionando contra seu peito. E então
seu peito esvazia quando ele exala seu último suspiro.

— Não, — Knives agarra seu irmão contra ele, abraçando seu cadáver.
—Sinto muito, sinto muito, sinto muito, sinto muito, — ele sussurra.

Os caras da outra sala se amontoam. Reaper está encharcado de sangue,


mas ele se ajoelha ao lado de Knives e desenrola os dedos da camisa de
Mason. —É hora de deixar ir, Knives. Temos que sair daqui. Vamos trazê-
lo conosco e ter um enterro adequado.

— Deixar ir? — Knives pergunta com os olhos vermelhos.

— Deixar ir, — afirma Reaper.

— Não sou bom nisso, — Knives responde, estendendo o braço para


mim. —Eu não sou bom em deixar ir de jeito nenhum.

Eu pego suas mãos imediatamente e Knives me puxa para um abraço


apertado. —Eu nunca vou ser capaz de retribuir a ele. Ele sempre me
salvou e agora me deu você.

Mason garantiu que a previsão do Seer não se concretizasse.

— Há mais garotas em uma sala no final do corredor, à esquerda, —


digo a Reaper.

Reaper assume o comando e pega as chaves do corpo do guarda morto


antes de entregá-las a Skirt e dizer a ele. —Vá buscar as meninas.

— Obrigado por vir me buscar e sinto muito por Mason. — Eu começo a


chorar. A adrenalina está começando a diminuir. Estou sobrecarregada e
exausta.

— Eu sempre virei por você, assim como meu irmão sempre veio por
mim. Você nunca terá que se preocupar com isso. — Knives dá um beijo na
minha testa.

Um minuto depois, Natalia sai da outra sala com as meninas.


Reaper se inclina e pega o corpo de Mason. —Venham todos. Nós
estamos indo para casa.

Seguimos Reaper para fora, as mulheres cobertas por jaquetas dos caras
enquanto todos nós nos amontoamos nas caminhonetes.

Quando chegamos em casa, podemos dizer que algo está errado.

Está quieto.

— Moretti e Máximo se foram! — Sarah grita pela porta da frente


enquanto Reaper pula do lado do motorista do Ford Raptor.

E nada de bom acontece no silêncio.


Epílogo

Um mes depois

— Agora você pode beijar a noiva, — Reaper oficializa, finalmente me


dizendo para beijar minha noiva. E eu não vou me privar disso também. Eu
a mergulho sobre minha perna, seguro sua nuca e a beijo até saber que seus
joelhos estão fracos e sua boceta está molhada.

Assobios e gritos soam, e quando eu termino o beijo, ela morde meu


lábio. —Você faz um show de propósito.

— Como se você não gostasse de ser o centro das atenções, — eu pisco,


levantando ela até que ela fique em pé novamente. Eu aperto sua mão na
minha e a levanto no ar quando outra rodada de aplausos soa.

Eu só queria que meu irmão pudesse estar aqui para ver isso.

Passei muito tempo ficando com raiva dele, muito tempo me apegando
ao passado e à raiva que sentia, para poder ter construído novas memórias
durante seus últimos dias na terra. Poderíamos ter tomado uma cerveja
como homens, conversado como homens, rido como homens, e não alguns
garotinhos tolos.

Mas eu sou teimoso e sei como guardar rancor, mas nunca vou fazer
isso de novo.

Deixamos um assento aberto para ele, e Mercy está sentada ao lado


dele, o distintivo do meu irmão posicionado na cadeira.

Nunca serei capaz de agradecê-lo o suficiente por salvar a vida de


Mary.

Decidimos nos casar na sede do clube. Com amigos e família ao nosso


redor. Yeti, Tyrant e Chaos estão no chão.

Lady está nos braços de Poodle. Ela durou tanto, mas não sabemos por
que ela está aguentando. Estou feliz por ela estar aqui, no entanto. Estou
feliz que todos que amo estão aqui para me ver seguir em frente com
minha vida.

Mary se inclina e sussurra. —Estou grávida e, se for um menino, quero


chamá-lo de Mason.

Minha cabeça vira para o lado com tanta força e rapidez que quase
perco o equilíbrio. Não consigo encontrar as palavras. Minha mente está
confusa. Pego a mão dela, aquela com o anel da minha mãe, e seguro com
força. —Você está falando sério? Não brinque comigo, Pequena Infernal.
Essa é uma piada cruel.
— Sem brincadeira. Eu descobri esta manhã, — diz ela, colocando a
mão contra minha bochecha. —Você está feliz? — Ela pergunta, seus
longos cílios sombreando suas bochechas enquanto ela pisca.

A aliança de ouro que pertencia ao meu pai agora está em minha mão, e
enquanto eu olho para as alianças de casamento, a emoção borbulhando
em meu peito quase faz meu coração parar.

Houve um tempo em que eu pensava que felicidade era algo merecido,


mas não é.

A felicidade é algo que alguém espera.

E eu não poderia estar mais feliz.

— Filho da puta! Ela está gravida! — Eu abaixo, sorrindo de orelha a


orelha, em seguida, pego ela em meus braços.

— Você me deve cinco dólares! — Maizey diz, a pequena malandra


usando um vestido roxo de princesa.

Eu sorrio e coloco outro beijo em minha esposa. Quando seus lábios


tocam os meus, tudo desaparece. É ela. E eu.

E nosso bebê.

E conforme meu mundo se endireita, eu percebo que está quieto. O


ruído de fundo é abafado por amor e felicidade.

Este. Este é o silêncio em que posso viver, porque não estou mais
sozinho.
Eu tenho uma família.

E minhas estrelas ninja, é claro.

Fim.
K.L. Savage é o pseudônimo de duas amigas viciadas no amor
bruto, que decidiram que estavam cansadas de procurar o tipo de
livro que queriam ler.
Elas tinham uma coceira que precisava ser coçada e, como toda
garota sabe, nada coça melhor do que um alfa.
Elas escrevem sobre corajosos, machos alfa, às vezes seus lados
sombrios e as mulheres que amam.
Se você tem a mesma coceira, seus machos alfas devem
consertar isso.

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