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In his
EYES
J. M. DARHOWER
Sinopse
Ignazio Vitale não é um bom homem.
Eu quero odiá-lo.
Às vezes, odeio.
Eu odeio isso.
Eu odeio isso.
Quando ele atinge o fim das minhas costas, seu dedo faz uma
pausa, antes de traçar a linha ao longo do cós da minha calcinha. Sinto
meu corpo ganhar vida, aquecendo, como se ele estivesse habilmente
acendendo um fogo, aquele que só ele sabe como acender.
Eu quero fugir.
Mas eu não vou, porque sei que ele vai me pegar se eu o fizer.
Só que ele está... Eu sei que ele está. Cada célula traidora
dentro do meu corpo está ganhando vida com o seu toque, todas as
terminações nervosas brilhando como fios desencapados. Se isso não é
real, nada é.
Seu dedo atinge a minha nuca e mais uma vez faz uma pausa,
desta vez por mais tempo. Cinco, dez, quinze... Eu conto os segundos
na minha cabeça, à espera de sua próxima jogada, tentando pensar no
futuro, como se este fosse um jogo de xadrez e eu pudesse planejar um
contra-ataque.
Vitale.
"Quero dizer, ouça essa merda,‖ diz ela, lendo suas anotações.
"Muitos homens são amados por seus inimigos, e odiados por seus
amigos, e são amigos de seus inimigos, e inimigos de seus amigos. O
que isso quer dizer?"
Seu tom de voz grave e sério me faz rir. "E eu que pensei que
você venerava o altar de Tupac Shakur2."
1
A autora faz menção ao rapper Dr. Dre e sua música “Bitches ain’t shit.”
2
Rapper americano.
de corrigi-la desta vez, não tenho certeza se ela realmente não
conseguiu se lembrar de qual é qual, ou se ela está apenas sendo
irônica neste momento. "Um covarde morre mil mortes... Um soldado
morre apenas uma vez. Isso é profundo."
"Sim, senhora."
3
Abreviação do termo “I owe you”, que significa uma promessa de pagamento ou um documento
assinado especificando o valor da dívida.
"Era supostamente para ser fácil," ela argumenta. "É filosofia,
é como opiniões. Não há respostas erradas quando é a opinião de
alguém, certo? Eu quero dizer... É supostamente ser racional e lógico,
coisas que fazem sentido, não esta besteira de ciência existencial."
"Positivo."
Eu estou no inferno.
4
Sófocles (em grego: Σοφοκλῆς, Sophoklês; 497 ou 496 a.C.- inverno de 406 ou 405 a.C ) foi um
dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores de tragédia ao lado de Ésquilo e Eurípedes,
dentre aqueles cujo trabalho sobreviveu. Suas peças retratam personagens nobres e da realeza.
Percam a esperança, vós todos que entrais aqui.5
O homem é Satanás.
"Reed."
Ah Merda. "Senhor?"
5
Essa frase de Dante foi traduzida de várias formas para o português, acreditamos que a mais correta
seria: Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança! Contudo a mais famosa é: Percam todas as
esperanças. Estamos todos no Inferno.
6
Dante Alighieri (Florença, 25 de maio de 1265 — Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321) foi um
escritor, poeta e político italiano. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido
como il sommo poeta ("o sumo poeta").
Ele não precisa me dizer duas vezes. Eu imediatamente
guardo o telefone na minha mochila, sem quebrar o contato visual. Ele
acena com rigidez, satisfeito com o meu respeito, e olha para o lado
para avisar o fim do tempo da prova.
"Beatrice."
7
Balada ou Bar.
temos que ir."
"Por quê?"
"Ele não caiu, não é?" Melody pergunta, olhando para trás, no
mesmo quarteirão em direção ao prédio. "Talvez você o deixou na sala
de aula."
"Eu não tenho isso," Santino diz, sua voz casual, como se o
homem intimidante, afinal, não o afetasse. "Eu não coloquei minhas
mãos nele ainda."
"Essa não é a resposta que eu queria ouvir."
Para me encarar.
"Eu sei." A voz de Santino é tão baixa que eu mal posso ouvi-
lo. "Eu sei que você vai."
"Seu?"
Olho para cima, um vislumbre de seu rosto pela primeira vez.
Puta merda, não é o que eu esperava, mas é tudo que eu sempre
imaginei de alguém tão marcante. Ele é mais velho, trinta pelo menos,
talvez beirando os quarenta, mas sua pele tem um brilho juvenil. Há
uma camada de cabelo ao longo de sua mandíbula como se ele não se
preocupasse em fazer a barba por alguns dias. Seu cabelo castanho não
é curto, mas não é muito longo também, um emaranhado de onda
rebelde empurrado para trás em sua cabeça. Ele passou um bom tempo
aperfeiçoando, ou ele apenas saiu da cama assim.
Apesar de, possivelmente (mas espero que não) ser muito mais
velho que eu, tenho que admitir que ele é lindo de morrer. Tão lindo, na
verdade, que mal posso me impedir de cobiçá-lo, e meus olhos
encontram os seus azuis brilhantes depois de um longo tempo o
fodendo com os olhos de todas as maneiras imagináveis.
E muito.
8
Atriz famosa por interpreter Sandy Oisson no filme “Grease – Nos tempos da brilhantina.”
"Não agora. Quero dizer hoje à noite."
Melody, por outro lado, recebe uma pulseira verde limão. Ela
sorri, levantando seu braço para mostrar para mim. Ela tem apenas
dezenove anos, não muito mais velha do que eu, mas sua identidade
falsa a coloca com idade mais velha, com vinte e um anos.
9
Filme lançado em 1985. Conta a história de cinco adolescentes que ficam detidos na escola em um
sábado inteiro por terem se comportado mal.
10
Boy band de música pop americana.
algumas pagas, outras compradas para ela por caras no clube
esperando que a noite não acabasse ali. Não tenho certeza de onde
metade delas vem, ou até mesmo o que elas são, para ser honesta, mas
tenho certeza que não paguei por elas, então não me importo.
11
A autora faz uma comparação com o personagem Peter “Maverick” Mitchell, interpretado por Tom
Cruise no filme “Top Gun.”
tarde... Uma, talvez duas da manhã pelo que posso dizer, as ruas ainda
vivas, mas a fila para entrar com poucas pessoas.
É ele.
Oh. Eu queria dizer isso em voz alta, mas não consigo fazer
meus lábios trabalharem. Eu pisco rapidamente, tentando tomar uma
respiração profunda, mas é em vão. Nenhuma quantidade de ar vai me
ajudar, pois eu já estou caindo. Meus joelhos falham, tudo
desaparecendo no escuro.
BAM
Capitulo 2
Almíscar.
Oh Deus, é colônia.
Ou é anoitecer?
Esforço meus ouvidos para escutar algo, mas não ouço nada,
apenas silêncio, exceto pelo som suave do ar do ventilador. Meu pânico
alivia um pouco quando eu vejo que ainda estou totalmente vestida,
com as roupas horríveis dos anos oitenta da noite passada.
Oh Merda.
Oh Merda.
Oh Merda.
"Eu estou."
Ugh, minha voz soa como uma lixa e parece tão áspera
quanto.
12
Cidade localizada no estado americano de Nova York, no condado de Onondaga. Está localizada às
margens do rio Onondaga e possui cerca de 145 mil habitantes.
armadura brilhante, mesmo que eu me recuse a ser a donzela em
perigo.
Ele sabe o meu nome, mas parece que a coisa certa a fazer é
me apresentar. Talvez seja um pouco menos estranho se ele não for um
completo estranho para mim.
Ele olha para mim, e mais uma vez, não sei o que dizer. Sinto-
me como uma tola, apenas sentada aqui, embrulhada em seus lençóis
com cheiro tão masculino, como imagino que ele cheira se eu chegar
perto o suficiente para sentir. Embora meu coração tenha se acalmado,
ainda me sinto ansiosa e minha cabeça dói como uma filha da puta.
"Sim."
"Sim."
"Bem o suficiente."
"Perto."
"Mais novo."
Ufa.
"Você me ouviu?"
"Sim, ouvi," ele confirma. "Você entrou pela porta e disse 'meu
telefone'."
Meu telefone.
Sério?
"Ligue-me algum dia," diz ele. "Seria bom saber como você se
parece sem essas roupas."
―Karissa, é sua mãe... Desculpe, eu perdi a sua chamada..."
Ela chorou quando disse a ela. Pensei que ela ficaria feliz, mas
ela chorou e implorou, pedindo-me para reconsiderar me mudar para
New York City. Eu disse a ela que eu tinha que seguir meu coração,
seguir os meus sonhos. Ela finalmente recuou, mas nunca aceitou
completamente minha saída.
Ela não pôde ficar com ele, então ela compensava comigo.
Eu posso?
"Também te amo."
"Praticamente."
―Parece o céu,‖ diz ela. ―Uma pena que não posso ficar.‖
―Vou ligar para você todos os dais,‖ ela diz. ―A cada hora.‖
Uma vez que ela sai, a porta fazendo click ao fechar atrás
dela, coloco meu livro de lado e me deito na cama.
Não atende.
Naz.
Eu poderia ligar para ele. Quer dizer, ele colocou seu número
e disse-me para ligar. Ele não faria isso, se ele, realmente, não quisesse
que lhe telefonasse, certo?
Lembra-se dela?
Malditos ladrões.
―Karissa.‖
Meu nome parece o céu dito pelos seus lábios enquanto ele o
diz no seu tom baixo e rouco. Quero pedir para dizê-lo de novo, e de
novo, e de novo. ―Você se lembra.‖
―Fico contente por você ter ligado. Pensei que talvez tivesse
perdido seu telefone de novo.‖
―Você pode.‖
Ele ri de novo, desta vez um pouco mais alto. ―Eu não quero
seu dinheiro, Karissa. Eu já tenho muito.‖
―Você.‖
―Eu?‖
14
Personagem da Vila Sésamo.
antes de mergulhar. As roupas dela estão mais na moda do que as
minhas, são mais reveladoras… Mais ela e um inferno menos de mim.
Desloco-me através do que está pendurado antes de vasculhar suas
gavetas, mudando algumas vezes antes de me decidir por um vestido
preto solto de mangas compridas que pesco do fundo do armário. Vai
ter que servir, porque tenho que descer em quinze minutos. Solto meu
cabelo, passando os dedos por ele. Está ondulado por estar preso no
alto todo o dia, mas não há nada que eu possa fazer para endireitá-lo.
Eu passo gloss nos lábios e coloco rímel, mal tendo tempo de passar
perfume antes de colocar minhas botas.
―Não,‖ ele diz. ―Não posso dizer que alguma vez tive o prazer.‖
―Que território?‖
―Trabalho.‖
Assim que ele diz isso, leva-me de volta para a aula de Santino
e as palavras que eu ouvi naquela tarde. “Eu sei por que você está aqui.”
É justo.
―Não.‖
Eu fico de boca aberta quando ela vai embora. ―Como você fez
isso?‖
―Fiz o quê?‖
―Telefonei antes.‖
―E?‖
―O dele e dela?‖
―Nããão. Nunca.‖
Ele sorri, empurrando o seu pela mesa para mim. ―Pode comer
o meu, também.‖
―Não, obrigada.‖
―Cheia?‖
―Sim.‖
―Falei com você mais sobre mim do que você me falou sobre
você.‖
―Por quê?‖
―Tenho,‖ ele diz, ―mas a maior parte de nós não tem relação de
sangue.‖
Tudo me diz para não ir, até o senso comum. Até mesmo as
palavras anteriores de Naz sobre não confiar nas pessoas, deveriam ter
me feito dar a volta.
Mas não é nada comparado com o que vejo em seus olhos. Ele
vira para mim assim que estamos sozinhos em sua casa. O ar está
pesado, e seus olhos estão escuros, o azul como a meia-noite na
iluminação fraca. É como o ver pela primeira vez novamente, mas sendo
cumprimentada por uma criatura completamente diferente.
Ele avança para mim. Sua voz baixa e rouca. ―Alguma vez
você esteve com um homem, Karissa?‖
―Não foi isso que lhe perguntei,‖ ele diz, parando bem na
minha frente, a ponta dos seus sapatos tocando os meus enquanto ele
olha para baixo, para mim. ―Eu não me importo com esses rapazes que
podem ter se atrapalhado entre as suas pernas uma vez ou duas. Eu
quero saber se você alguma vez já esteve com um homem.‖
É eletricidade.
―Você não tem que ter medo,‖ ele diz. ―Eu não vou te
machucar.‖
Então, ele me beija. Seus lábios são suaves — tão, tão suaves,
como veludo, um contraste forte com a aspereza do resto dele. Seu beijo
é gentil, pouco mais do que uma respiração contra os meus lábios que
eu inspiro faminta, tomando-o. Deixo um gemido suave sair, quase não
percebendo quando ele sussurra, ―a menos que você queira que eu o
faça.‖
Isso faz meu coração bater mais rápido do que antes, tão
freneticamente que minha visão se turva quando ele as tira junto com
sua boxer, deixando-o tão nu como eu.
Eu olho.
―Eu irei devagar com você,‖ ele diz, enquanto empurra para
dentro de mim pela primeira vez, movendo-se devagar, cobrindo meu
corpo com o dele.
Eu tento.
Droga, eu tento.
De novo.
E de novo.
E de novo.
Sem nada.
É lindo.
Estou fodida.
Literalmente.
Figurativamente.
Ele vai até a porta com quem quer que seja que esteja na
linha falando com ele, e deixa sair um suspiro enquanto segue para o
corredor. ―Não, eu ainda não o consegui, mas estou cuidando disso.‖
―Duas horas.‖
―Por quê?‖
―Porque é tarde.‖
―E?‖
―Pare?‖
Ele para.
―Gosto quando a minha mulher sabe o que quer,‖ ele diz, sua
mão à deriva de novo se movendo devagar pelo meu peito, antes de
atingir meu rosto. Estou espantada com suas palavras, até mais
chocada quando sua mão encontra minha boca. A ponta dos seus dedos
acaricia meu lábio inferior antes do seu indicador escovar minha língua.
―Eu também gosto quando ela tem o sabor como o Céu.‖
Estou sozinha.
Mas sozinha.
Está rasgado.
―Algum problema?‖
―Como?‖
―No entanto, estava linda nele,‖ ele diz. ―Estou contente por tê-
lo usado.‖
―Por quê?‖
Por quê? Que tipo de pergunta é essa?
Não respondo, mas pelo olhar dele, é óbvio que ele sabe a
resposta.
―Não tem que fazer isso,‖ eu digo. ―Nem sequer sei onde ela o
comprou, ou há quanto tempo o tem… Ou se ela sequer se lembra de
que tem ele, honestamente.‖
―Você está bem?‖ Naz pergunta quando vira na rua que leva
ao meu dormitório.
―Hum.‖
Olho fixamente para ele. Pensar menos, sentir mais. ―Eu sei,
mas não consigo evitar. Eu apenas… Eu não sei o que pensar.‖
―Então não pense,‖ ele diz. ―Não pense sobre isso. Apenas
desfrute pelo o que isso é.‖
―O que é isso?‘‖
Ele encolhe os ombros.
É isso.
Ele dá de ombros.
Diversão toca seus lábios, mas ele não responde, em vez disso,
coloca o carro em sentido inverso, afastando-se. Eu observo enquanto o
carro desaparece no trânsito, pasma.
Isso quer dizer que eu tenho oito horas e meia para agonizar,
para me convencer que isto é real, que não é uma ficção da minha
imaginação.
Ou metade da metade.
―Eu certamente espero que sim,‖ ele diz. ―Estou com fome e
lembro perfeitamente de ter sido prometido ontem que você cozinharia
para mim.‖
―Décimo terceiro andar,‖ ele brinca. ―Bom que você não seja
supersticiosa.‖
É um maldito desastre.
―É apertado.‖ Eu digo.
Ele balança a cabeça. ―É acolhedor.‖
―Sim, não vou discutir isso.‖ Ele olha entre o meu lado do
quarto e o da Melody, como se estivesse os comparando. Ele não espera
que eu lhe diga qual é o meu. Em segundos, ele vai para o meu lado,
seus olhos passando pelas minhas coisas.
―Sim, bem, quer dizer, não sei o que estamos fazendo aqui ou
o que você realmente quer ou…‖
―Mas?‖
―Porque se isso é tudo que foi para você, eu vou embora,‖ ele
continua. ―Saio por aquela porta agora mesmo. Não fodo mulheres
porque elas estão em dívida comigo… Eu o faço porque quero, porque
preciso, porque elas precisam de mim. E não posso dizer que de forma
dissimulada eu paguei o jantar para ter você nua, trocando favores
como se isso fosse um Instinto Básico. Eu não pago para ser
reembolsado, para ter você na minha cama. Mas se isso foi tudo o que
pareceu para você, alguma forma torcida de um arranjo de negócios que
está obrigada a prosseguir, eu vou embora.‖
―Por quê?‖
―Seu pai?‖ Ele pergunta, sua voz baixa. ―É isso que você vê
quando olha para mim?‖
―Ah, não. Bem, exceto por aquela garota que vimos, mas ela
está no outro lado do corredor.‖
―Bom.‖
―Porque,‖ ele diz, ―Eu quero ter certeza de que ninguém vai te
ouvir.‖
E de novo.
E de novo.
E assim, eu adormeço.
―E o que seria?‖
―Pensar.‖
―Você não sabe o que está pedindo,‖ ele responde. ―Não sou
um homem que apenas desiste no meio de algo. Se eu for mais longe, se
não me afastar agora, eu serei incapaz de me afastar.‖
―Eu não quero que você se afaste,‖ eu digo. ―Eu também gosto
de você.‖
―Rosa,‖ ele diz. ―Você sempre tinha alguma coisa rosa todas as
vezes que te vi… A capa do seu telefone é rosa… Assim como seus
lençóis.‖
―Peter Pan.‖
Ele dá outro passo para frente, tão perto que posso ver o azul
dos seus olhos agora. Ele fica olhando para mim na cama, sua
expressão séria. ―Alguém de quem você deveria ficar afastada.‖
―Estou lhe dizendo,‖ ele diz, sua voz tensa. ―Estou lhe
avisando. Não sou um homem bom, Karissa, e eu nunca serei. Por isso
não pense que pode me consertar, ou que alguma vez mudarei, porque
não vou mudar. Eu não posso. Você tem que saber, se isso for mais
longe, se me pedir para ficar, eu não vou conseguir deixar você ir.‖
Minha mão passa pela sua coxa de novo e arranha sua virilha,
entregando o veredicto final — ele não está condenado, mas talvez eu
esteja.
―Não,‖ ele diz de imediato, sua voz forte. ―Eu nunca lhe
baterei. E nunca lhe magoarei, a menos que você queira que o faça.‖
Não consigo imaginar alguma vez querer isso, mas a dor entre
as minhas pernas, a memória da forma como me machucou antes,
quando estava dentro de mim, envia um diferente arrepio pela minha
espinha.
Dias de nada.
Eu sou louca.
E afundo na miséria.
Eu afundo.
É minha mãe.
Ela notaria.
"Ótima. E você?"
"Você tem certeza de que está bem, querida?" Ela diz depois
de um momento. "Você está muito quieta."
E sozinha.
E com fome.
"Mal posso esperar," diz ela. "De qualquer forma, eu deveria ir.
Ligo para você mais tarde, ok?"
Naz.
"Eu vi você."
"No entanto, sei que você estava linda hoje," ele diz. "Não
estava mentindo."
"Como?"
Eu não sei.
"Revigorada?" Ela rola para o lado para olhar para mim. "Eu
me sinto como se tivesse sido espancada!"
"Você foi?"
Rindo, fecho meu livro e me sento. "Ainda bem que você não é
uma dama, então."
Eu vou.
Eu vou.
16
Referência a música da cantora Madonna.
Paul.
Minha testa franze. Eu não tenho certeza do que ele tem a ver
com a viagem. "Ele não ficou no seu resort ou algo assim, não é?"
"O quê? Não, claro que não. Isso seria louco se um cara
apenas aparecesse onde quer que eu fosse. Perseguidor." Conte-me
sobre isso.
"Felicidade."
"Desculpe, senhor."
"Sim, bem, você deve ser cuidadosa," diz ela. "Você sabe que
ele gosta de torturar os alunos. É, tipo, preliminares para ele, e se você
continuar assim, você pode acabar sendo a única fodida."
-Naz
Ela não termina sua pergunta, mas sei o que ela está
perguntando. Eu arruinei. Ou Naz fez. Minhas bochechas ficam
vermelhas. Ah merda.
Ele toca.
E toca.
E toca.
"Sinto muito," digo. "Não sabia. Recebi suas flores e queria lhe
agradecer."
"Mas nós não..." Minha voz cai ainda mais baixa. "Você sabe."
Ele exala novamente, em voz alta, mas desta vez não é de sua
exaustão. É frustração. "Eu não as enviei por dormir comigo, Karissa.
Não se degrade pensando que você vale isso. Enviei porque sou grato."
"Por você."
Ele ri. "Não, foi apenas um palpite dessa vez. A maioria das
mulheres gosta de flores."
"Sim."
"Eu vou ter que manter isso em mente," diz ele. "Estou feliz
que você goste das flores."
"Hey," diz ela, sem sequer olhar para mim. "Paul ligou, quer
me encontrar. Nossas próximas aulas estão lado a lado."
"Sério?"
"Legal."
"Tem certeza?"
"Ok."
Não vou mudar minha mente, mas não digo a ela, aliviada que
não vou ter que tentar explicar por que estou me vestindo para sair no
meio da tarde. Eu sei que deveria lhe dizer a verdade — estou
quebrando todas as regras que a minha mãe sempre me ensinou e
violando o código de amizade me esgueirando desse jeito. Certifique-se
que alguém sempre saiba com quem você está e o que você está
fazendo, como eles podem encontrá-lo, e nunca — jamais — vá a algum
lugar sem que um amigo saiba. É um pacto silencioso, que eu já violei
de novo e de novo, e nem sei por quê.
Timing perfeito.
Não lhe dou tempo para sair e abrir a porta para mim,
subindo ao lado dele de imediato. Ele está vestido como de costume,
terno preto, gravata escura, o cabelo uma onda sexy. Ele não fez a
barba, a barba mais espessa hoje do que eu já vi antes. O perfume
masculino de sua colônia enche o carro.
Naz acena.
"Fiz o que?"
"Ele me conhece."
"Você vai," diz ele. "Porque isso vai começar a acontecer com
você também."
Ele está certo. Eu não presto atenção no filme, e não sei se ele
presta, porque eu fico lá e caio dormindo em seus braços.
Estou nervosa quando saio pela porta, esperando que ele não
se importe que eu vá para outro lugar em sua casa. Ele não está na sala
de estar, e nem na cozinha. Eu subo as escadas, forçando meus
ouvidos para ouvir sons, mas não ouço nada. Rastejo pelo corredor
escuro, em direção ao banheiro, passando por portas fechadas. Não
existem luzes acesas, nenhum sinal dele em qualquer lugar até aqui.
Paro no corredor, suspiro e começo a me virar quando um movimento
me assusta. Eu grito, pulo, quando alguém me agarra por trás.
"Uh, sim," gaguejo, meus olhos atraídos para seu peito nu.
"Acordei e você não estava lá, e está ficando tarde, então pensei que...
uh, eu pensei..."
Jesus, mal posso pensar olhando para ele. Agora que eu sei
que elas estão lá, meus olhos são atraídos para sua pequena
quantidade de cicatrizes, apenas ligeiramente visíveis, dispersas e
veladas como estrelas em um céu nublado.
"Você deveria," diz ele, puxando-me contra ele, tão perto que
posso sentir o calor de seu corpo esquentando minha pele "Mas você
quer?"
Não.
... Besteira.
17
Nome da Policia secreta na Alemanha Nazista.
poesias pior do que William McGonagall18.
"O que você fez na noite passada?" Ela pergunta. "Não, risque
isso. Com quem foi que você fez?"
18
Poeta escocês que ganhou notoriedade como um poeta de baixa qualidade que não mostrava
qualquer preocupação pela opinião negativa do seu trabalho. Escreveu cerca de 200 poemas.
"Só um cara?" Ela grita para mim. "Um cara sobre o qual você
não me contou!"
"Sim."
Segurando as mãos para cima, ela ri. "Tudo bem. Então, ele é
um aluno aqui ou algo assim?"
"Naz". Sua testa franze quando aceno. "Ele é mais velho que
eu, vive no Brooklyn e é um administrator independente. Qualquer
outra coisa que você precisa saber?"
"Contanto que você esteja segura," diz ela, "e que eu saiba
onde você está."
"Sim, mamãe."
"Eu não sei," diz ela. "Em algum lugar para comer uma pizza...
Talvez em um dos outros bairros. Você sabe, sair da cidade um pouco.
Você vai?"
Eu rio. "Sim."
19
Modelo de carro.
desejar que eu tivesse ficado para trás. Pelo menos não estou correndo
em direção a uma morte ardente.
"Eu ouvi falar desse lugar," Paul grita sobre o som do vento
soprando ao nosso redor. "Eles dizem que é uma merda para conseguir
uma mesa."
Melody olha para trás, gritando que ela vai me ver de volta no
quarto, quando retiro meu telefone e chamo um táxi. Ele leva um
momento para aparecer, o passeio até a casa de Naz dura apenas
alguns minutos. É preciso cada centavo no bolso para pagar a
passagem. Vou até a porta da frente, batendo. É perto do crepúsculo,
sua Mercedes estacionada na garagem.
Ele sorri, não admitindo ou negando que foi ele, quando fica
de lado para me deixar entrar.
"Disney World."
"Sim," ela diz. "Você sabe com Mickey Mouse e Pato Donald e
Platão, o cachorro."
Eu não ouço qualquer outra coisa que ela diz, suas palavras
caem em ouvidos surdos. Olho para cima, enquanto nos aproximamos
do prédio de filosofia e meu coração faz uma batida antes de chutar em
alta velocidade, batendo tão ferozmente que minha visão embaça em
torno das bordas, obscurecendo tudo dentro de um quadro de
escuridão.
Naz.
Nada de vertigem.
Nenhum sorriso.
"Jesus, Kissimmee, você não me disse que ele era o sexo com
pernas."
"Senhor."
"Eu espero que você saiba o que está fazendo," diz ele.
C-
Capitulo 8
Os livros de Naz são tão diversos quanto a sua coleção de
filmes.
Naz está sentado em sua mesa. Não tenho certeza do por que,
já que ele está me observando. Eu o olho e ele concorda. ―A maioria
deles.‖
―Nada,‖ ele diz. ―Eu abandonei antes de ter que escolher uma
opção,‖
―Eu precisei.‖
―Por quê?‖
Aquele olhar.
Ele não diz nada enquanto olha para mim. Nada sobre o que
ele acabou de fazer, mas de alguma forma eu o entendo. O que
aconteceu com ele foi ruim... Ruim o suficiente para parar a sua vida e
enviá-lo para um caminho totalmente diferente.
―Eu não sei.‖ Ele solta meu pulso e pressiono minha mão
aberta contra seu peito, sentindo levemente sua pulsação firme. ―Isso é
quem eu sou agora. Quase não lembro mais daquele homem.‖
Ele empurra a cadeira para trás, e solta minha mão que está
em seu peito. É minha deixa para me afastar quando ele começa a
abotoar a camisa novamente. Volto em direção a estante examinando
sua coleção de livros didáticos. ―Você gostava de filosofia na faculdade
ou algo assim? Você tem um monte de livros sobre o assunto.‖
Eu não sei que resposta eu esperava, mas não era isso. "Então
vocês são amigos?"
Esse pensamento me assusta.
"Diabo?"
"Bobagem," diz ele. "O homem não é mais que uma barata
desagradável."
"Uh, sim, mas eu realmente tenho que ir," digo, pegando meu
telefone para ver as horas. "Eu posso simplesmente pegar algo na volta
aos dormitórios."
"Eu te levo.‖
"Não precisa."
"Bobagem."
"Bem... Sim."
"O que foi que eu disse naquela noite no seu quarto? Eu disse
que não havia como voltar atrás. Por isso, não comece a querer me
afastar agora. Eu sou seu, Karissa, a qualquer hora do dia ou da noite."
Culpada.
"Eu tenho uma festa para ir neste fim de semana," diz ele.
"Venha comigo."
Ele sorri. ―Basta dizer que você vai comigo e eu me viro com o
resto.‖
Pretensiosa. Eu.
REFRESCANTE.
"Não."
"Agora mesmo?"
"Uh, sim."
Não sei o que dizer, mas isso não importa, porque ele não
espera eu responder de qualquer maneira. Encosto-me do lado do
elevador, esperando, e parece que estamos parando de andar em andar.
No momento em que estamos chegando ao décimo terceiro andar,
Melody e eu somos as únicas no elevador. Melody começa a sair, mas
eu a seguro e a puxo de volta pressionando o botão do lobby.
Ela franze a testa e olha para mim. ―Para onde estamos indo?‖
"Por quê?"
"Sim."
―Sr. Vitale disse que lhe enviaria essa tarde,‖ diz ela, dando-
me o que eu suponho ser seu sorriso mais simpático, embora pareça
congelada. ―Ele deixou instruções, traje de noite para você e um vestido
para sua amiga... Para substituir um que foi danificado?‖
Ouço aquela voz gélida. ―Sr. Vitale disse que é para escolher o
que você gostar e não o que achar que pode pagar.‖
Melody está com uma dúzia de vestidos que ela quer provar e
me empurrando alguns ao longo do caminho. Eu rio enquanto ela os
prova. Alguns chamativos e reveladores, nada que eu usaria. Eu
encontro um vestido preto simples do meu tamanho e o pego, indo em
direção ao provador quando outro me chama a atenção. Está em uma
arara de vestidos de rosa a roxo, mas a cor vai em algum lugar no meio,
como framboesa.
E é do meu tamanho.
E, caramba, é lindo.
―Ignazio Vitale,‖ diz ele, dando um beijo em sua mão. ―Eu ouvi
muito sobre você, Senhorita Carmichael."
Ele ri, soltando a mão e se vira para mim. ―Eu duvido disso.‖
―Nós não estamos nesse ponto,‖ diz Naz, fazendo uma pausa
antes de oferecer um tranquilo ―ainda‖ que me atinge com tanta força
que perco a cor. Ele não está olhando para mim, no entanto, vejo que
ele está à procura da vendedora. Ele acena e ela vem com um sorriso no
rosto enquanto se aproxima. Naz vem em minha direção. ―Quanto é?‖
Ele solta uma risada alta como se fosse a coisa mais absurda
que já ouviu. ―Quem é que vai me roubar, Karissa?‖
Eu não sei o que dizer, então apenas concordo com ele. Ele
pega nossas coisas, os vestidos e os sapatos, e caminha até a saída
comigo ao lado dele. Melody, a contragosto, nos segue loja afora depois
de pegar nossas mochilas escolares, franzindo a testa enquanto olha em
volta para as janelas com saudade. ―Eu poderia viver naquele lugar.‖
Quando ele olha para mim, sinto-me como uma mulher, uma
mulher digna do olhar que ele dá, digna de sua admiração, digna de um
vestido de designer e um jantar, e o que quer que seja o inferno que
está na caixa em sua mão.
Ele puxa o colar para fora e deixa a caixa de lado quando ele
anda para trás de mim. Meu cabelo já está puxado para cima e preso —
trabalho de Melody — por isso é fácil para ele colocar e fechar. Ele se
inclina para baixo, beijando minha nuca, quando pego o pingente para
olhá-lo.
Ele responde da mesma maneira que ele fez da outra vez. "Por
que não você?"
"Por que você faria isso?" Eu pergunto. "O que você ganha com
isso?"
"E você não é?" Ele pergunta. "Na minha opinião, eu ganhei na
loteria."
"Ugh." Eu faço uma careta. "Então, o que, você vai beber a sua
parte esta noite?"
"Eu vou beber mais do que a minha parte," diz ele. "Já que eu
paguei por estes ingressos, tenho a intenção de beber cada gota de
álcool que têm no lugar."
Mas isso não é para mim, e nunca será, e não tenho tanta
certeza de que algum dia possa ser para ele. Estou imaginando uma
sala cheia de Santinos, julgando, ridicularizando e apontando seus
bastões para as pessoas que eles acham que não pertencem. "Eu não
acho que posso fazer isso."
"Acho que você pode," diz Naz, pegando minha mão quando
ele me leva para fora. Lá, estacionado em frente à sua casa, está uma
limusine. O motorista abre a porta traseira e Naz me leva para dentro.
Os assentos de couro são legais, o ar moderado, uma garrafa de
champanhe em um balde de gelo na minha frente.
"Isso é um absurdo."
"É ilegal."
"Isso te incomoda?"
"O quê?"
"Quebrar a lei," diz ele. "Você sente remorso? Você quer fazer
penitência? Pedir perdão? Jura que nunca mais vai fazer isso de novo,
que você vai ser uma boa menina para sempre, que você nunca vai
aprontar ou correr ou roubar Wi-Fi ou atravessar fora da faixa ou fazer
xixi fora de novo?"
"Sim."
"Tudo ilegal," diz ele. "Não é grande coisa."
"Mas—"
Meu encontro.
"Eu não acho que isso seja uma boa ideia," digo assim que
estamos na pista de dança.
No noticiário, principalmente.
Raymond Angelo.
Sou grata por Naz dizer que era possessivo, porque acho que
não há nenhuma maneira no inferno que ele me entregaria a um
homem como Raymond. Meu coração bate duro quando Naz hesita por
um momento, antes de ele zombar. "Você não saberia o que fazer com
ela, se você a tivesse, meu velho."
Eles riem.
"Uh, tudo bem." Eu não sei mais o que dizer. Naz beija minha
bochecha, sussurrando que ele estará de volta, quando segue Raymond
para a borda da pista de dança. Eles conversam calmamente antes de
se abraçarem e se separarem.
Naz volta para mim, seus olhos examinando meu rosto. Ele
me puxa de volta para os seus braços, agindo como se nós não
tivéssemos sido interrompidos.
Ele se inclina para trás para olhar para mim. "A melhor
pergunta seria você sabe quem ele é."
"Ele é um criminoso."
"Eu não sou nada como ele. Eu bebo, com certeza, tudo bem,
mas ele..."
Escolho acreditar.
"Sim."
"Pare."
"Não é essa."
Ele não para, e eu não estou surpresa. Eu sabia que não era a
palavra certa, mas eu não posso dizê-la. Eu não posso usar uma
palavra segura. Nem agora, nem por isso. Eu não posso gritar
"vermelho" ou mesmo "amarelo", quando tudo que eu quero é verde.
Quando tudo que eu quero é senti-lo dentro de mim, para que ele me
consuma, para ser o ar que respiro e a única coisa que ele precisa.
"Eu não vou," diz ele. "Eu não posso. Você é minha agora."
Eu sou bonita.
Eu sou especial.
Eu sou sua.
Eu quero vê-lo.
É reconfortante.
"O futuro."
"Ainda não tenho certeza," diz ele. "Ele ainda está se unindo
para mim."
Ugh, patético.
"Mas você tem coisas para fazer, e eu ainda estou usando este
vestido, e realmente preciso de um banho, e tenho aula de manhã,
então eu deveria voltar para o dormitório, você sabe, por causa de tudo
isso."
"Isso eu já ouvi."
É a terceira vez que corro com todas as minhas desculpas
sobre por que preciso ir, mas eu não soo mais confiante do que fiz na
primeira vez. Cada pedaço disso é verdade, claro, mas estou temendo
dizer adeus a esse homem.
"Você sabe que eu tenho água quente," diz ele, "e roupas
limpas."
"Roupas de mulheres?"
Huh. Isso é tudo o que ele diz, antes de voltar para seu
telefone.
"Mas você não tem coisas para fazer?" Eu pergunto. "Eu não
quero incomodá-lo."
"Sim."
Sua casa está fria quando chegamos lá. Posso ver a minha
respiração sempre que eu expiro, uma nuvem de neblina no ar em torno
de mim. Eu tremo, passando os braços em volta de mim, mas o frio não
parece incomodar Naz. Ele coloca seu casaco e colete para baixo no sofá
da sala enquanto me observa.
"Eu não mudei minha mente," diz ele, "e eu não vou mudar.
Você sabe muito bem que eu não desisto no meio do caminho,
especialmente algo como isso. Eu estive esperando por este momento
por muito tempo, Ray. Tanto quanto você."
"Santino tem enrolado," diz ele. "Eu vou lhe fazer outra visita
esta semana e acender um fogo sob a sua bunda para obter o arquivo."
"Você se assusta facilmente," diz ele. "Só estava vindo para ver
você. Você se foi há um tempo."
"Eu disse para você se sentir em casa,‖ diz ele. "Não quero que
você sinta que têm que andar nas pontas dos pés, com medo de fazer
algo errado ou algo que não deva, como ouvir conversas telefônicas."
"Claro que não," diz ele. "Será que você encontrou alguma
coisa?"
"Você me pesquisou?"
"É claro," diz ele. "Você nunca pode ser muito cuidadoso.
Tinha que ter certeza de que você era quem você disse que era."
Capitulo 11
Dia a dia.
De hora em hora.
"Você mudou."
21
Foi um filósofo e pensador chinês do período das primaveras e outonos.
Smalls22."
"Eu só quero tentar ir bem," diz ela, batendo seu livro fechado.
"Paul tirou um B na classe de Santino ano passado, então eu realmente
quero ter um também, para que ele não ache que eu sou uma idiota ou
algo assim."
"Ha, olha quem está falando! Você passou de botas sem salto
para Jimmy Choos de novecentos dólares."
"Isso é de um rapper?"
22
Mais conhecido pelo apelido The Notorious Big, Biggie Smalls foi um rapper americano. É considerado,
junto com tupac, um dos maiores rappers da história do Hip Hop.
23
Do original – I went from ashy to nasty to classy, a autora usa a frase de um dos raps de Big Smalls.
gastar com o melhor de tudo. Sapatos. Roupas. Flores. Orgasmos.
"A questão é," digo, voltando-me para Melody "você não deve
se sentir como se você tivesse que trabalhar para impressionar Paul. Se
ele já não está impressionado, se ele já não acha que você é brilhante,
então, que se dane ele."
Ela fecha a cara para mim, mas não responde, porque ela
sabe que estou certa. Lançando o livro de lado, ela se levanta,
alongando, enquanto vai até o espelho para colocar mais gloss. Eu
começo a passear pelos canais novamente. Estou tão pronta tanto
quanto estaria, vestindo jeans, um suéter e meu cachecol favorito. Tudo
o que tenho a fazer é colocar minhas botas sem salto acima
mencionados.
"Contei o quê?"
"Seu o quê?"
"Bem, você disse a sua mãe sobre o seu tanto faz o que ele é?"
"Você acha?"
"Eu sei que sim. Esta é uma mulher que tentou me impedir de
ir ao baile porque ela estava apavorada. Tentei explicar que não haveria
acompanhantes, mas isso apenas a assustou mais. Ela quase chorou
quando eu insisti em ir, dizendo-me que não era seguro, que tive que
prometer a ela que eu não iria deixar a dança, que eu não iria a lugar
nenhum sozinha com qualquer pessoa sem que ela soubesse. Estou
surpresa que ela não sentou no estacionamento e assistiu o tempo
todo." Faço uma pausa. "Na verdade, ela deve ter feito isso. Mas o ponto
é que ela é suscetível de ter um acidente vascular cerebral, quando eu
contar a ela sobre Naz."
"Sim, por que não? Você me deixa pegar suas roupas o tempo
todo."
ASSASSINATO.
"Porque é ilegal."
O silêncio é ensurdecedor.
"Ei você aí," diz ela, sorrindo calorosamente para ele, antes de
seus olhos se voltarem para mim. "Encontro você no quarto,
Kissimmee."
Assim que fecho meu cinto de segurança no lugar, ele sai com
o carro e se funde com o tráfego, sem dizer uma palavra. Seus olhos
estão focados na estrada, correndo entre o para-brisa e o espelho
retrovisor, nenhuma uma vez virando para o meu lado. Estabeleço-me
no assento, deixando-o em seu silêncio conforme nós dirigimos através
de Manhattan em direção à ponte.
"Claro."
Fico tensa, olhando para ele com choque com sua raiva
aparente. Ele joga o cardápio de volta na gaveta e fecha antes de falar
novamente. "Dê-me as duas coisas. Sim. E apresse-se."
Eu não o sigo.
Sua voz é calma, mais calma, quando ele pergunta, "O que
você está fazendo?"
"Matando porcos."
24
A panacota ou panna cotta é uma sobremesa típica da região italiana do Piemonte, elaborada a partir
de nata de leite, açúcar, gelatina e especiarias, especialmente canela.
Não posso imaginá-lo jogando jogos como este.
"Claro, seja qual for." Ele senta no braço do sofá ao meu lado
e oferece um pequeno sorriso. A visão disso, embora tensa, clareia o ar.
Ele pode ser louco, mas ele não está com raiva de mim. "Você está linda
esta noite. Sinto-me mal por não levá-la para jantar. Eu deveria estar
exibindo você."
"Terrível."
"Huh." Ele puxa a mão dele do meu rosto. "Se ficar muito
ruim, deixe-me saber e vou cuidar disso."
"Você vai fazer meus testes para mim? Fazer o meu dever de
casa?"
"Não agora."
"Sim."
"Claro que é." Ele olha para mim, e parece que ele quer dizer
mais, mas ele hesita novamente. "Você já ouviu falar do Conselho de
Carneades25? Santino explicou isso a você?‖
"Não."
"Sim."
Ele me olha incisivamente. Não sei o que dizer sobre isso. Não
sei o que pensar.
"É irrelevante neste caso, porém," ele diz. "Eu daria a prancha
para você."
26
Personagem principal de Titanic.
mais e mais para as profundezas do seu abismo.
E eu o amo.
Foda-se, eu o amo.
Tão forte.
Muito forte.
Ele acaba não muito tempo depois. Ele não puxa para fora
desta vez. Eu posso senti-lo vir para dentro de mim, convulsionando,
enchendo tudo de mim com tudo dele pela primeira vez.
Estou sozinha.
Tem que ser, pelo menos, três horas da manhã, talvez quatro.
Nós não fomos para a cama antes da meia-noite, fazendo amor mais
uma vez antes de adormecer. A segunda vez não tinha sido nada além
de suave, nenhuma agressão presente, como se tivesse sido removido
na sala. A lembrança disso faz o cabelo na minha nuca arrepiar. Ele
não pediu desculpas por isso.
"Está na garagem."
"Por quê?"
"Não foi isso que eu quis dizer," diz ele, seus olhos deixando os
meus para olhar para sua mão em volta da minha garganta.
Oh. Aquilo.
"Você gostou?"
"Nada agora."
Ele começa a se afastar, mas pego seu braço para detê-lo, não
querendo ir lá para cima sem ele. Ele para, olhando para onde eu o
estou tocando. Meus olhos seguem a mesma direção, e eu hesito, vendo
as marcas de unhas em seu braço. "Eu fiz isso em você?"
Vendo como Naz não cozinha muito, ele não tem muitos
pratos para lavar. Ele termina os copos antes de passar para uma faca,
lavando-a com tanta força com um pano, que me preocupo que ele vá se
cortar. Ele joga tudo em uma máquina de lavar louça quando termina,
liga para lavá-los mais uma vez, antes de se virar para mim. "Boa
tarde."
"Seu ônibus?"
"Mas eu só... Eu não posso lhe pedir para fazer isso," eu digo.
"E minha mãe, ela não iria gostar. Ela não gosta de estar perto de
pessoas, e eu não disse exatamente a ela... Quer dizer, ela não sabe..."
"Ela não sabe que você está vendo alguém," ele adivinha,
fixando as mangas.
"Eu vou estar aqui quando você voltar," diz ele. "Vá, antes que
você perca a sua chance."
Killer corre e pega sua bola, trazendo-a para mim. Ele cutuca
a minha mão, olhando para mim. Eu arranco a bola de sua boca
enquanto me movo para a porta. "Nós vamos esperar lá fora."
Ele não vai longe. Ele nunca vai. Acho que é por isso que
minha mãe valoriza muito ele. Ele nunca a deixa, nunca vagueia longe
do seu lado por muito tempo.
Eu a estou matando.
"Isso é novo?"
"É lindo," diz ela, dando um passo mais perto. Ela agarra o
colar, olhando para ele. "Onde você conseguiu isso?"
"Eu não sei," diz ela, hesitante. "Eu acho que talvez seja hora
de seguir em frente agora."
"Eu posso abrir uma loja em qualquer lugar," diz ela. "Talvez
para o oeste. Finalmente ficar longe de Nova York para sempre. Você
sempre quis ver a Califórnia."
"Sim, mas..."
"Nós podemos ter uma pequena casa perto da água," diz ela.
"Killer vai adorar a praia. É perfeito. Vai ser como nos velhos tempos,
você e eu na estrada aberta, começar de novo em algum lugar. O que
você diz, Kissimmee?"
Sua atitude blasé sobre isso me frustra a tal ponto que quase
dói. Ela nunca vai entender a minha necessidade de estabilidade?
Minha necessidade de um lugar para chamar de lar, finalmente?
Eu sei que não é culpa minha. Não é minha culpa que ela é
desse jeito. Não é minha culpa que ele a deixou. Mas foda-se, se eu não
me sinto culpada de qualquer maneira.
Não sei por que estou ligando para ele, e eu me sinto boba
quando o seu correio de voz pega. É uma mensagem automática. Nem
sequer começo a ouvir a sua voz.
"Eu amo você, Kissimmee," ela diz. "Eu ligo para você, ok?"
Karma.
Ele sorri, seus olhos mudando da flor para mim. "Na verdade,
estou esperando para pegar uma de suas alunas."
"Para você," diz ele, segurando a rosa. "Uma flor bonita para
uma menina bonita."
E queima.
"Outras o quê?"
"Outras meninas."
"Eu disse a você que a amava," disse ele. "O que eu vou ter
que fazer para que você acredite?"
Ele hesita, sua voz caindo ainda mais baixa. "Eu já lhe dei
razão para não confiar em mim?"
"Não."
"Não, não quero que você faça isso," eu digo. "Eu só... Eu não
sei."
"Ah, senhorita Reed, que gentil de você nos agraciar com sua
presença," diz ele, fazendo com que mais de uma centena de pares de
olhos virassem para mim. "Por favor, sente-se, fique à vontade. Sinta-se
em casa. Eu vou esperar."
"Oh, não, eu sinto muito," diz ele. "Espero que vir assim para
a aula não tenha sido nenhum problema. Odiaria ser um inconveniente
ou ocupar muito do seu precioso tempo. Sei que tem coisas muito
melhores para fazer do que filosofia. Suas notas certamente refletem
essa noção."
Ele não olha para mim, seu olhar segue Santino na parte da
frente da sala. Ele se esconde ali por um momento antes de dar um
passo para trás, balançando a cabeça enquanto se afasta.
"Lá vai você," diz ele. "Eu daria, pelo menos, um B por isso se
o tivesse aplicado a si mesma."
"Você está devendo uma dissertação hoje," diz ele. "Você fez
isso pra mim?"
"Ele disse que não sirvo para a filosofia." Largo minha bolsa
no chão e jogo para baixo na minha cama. "Ele disse que falo um monte
de merda, mas não sei o que qualquer daquelas coisas significa."
"Você me ligou."
"Oh, sim... Eu vi que seu carro ainda estava lá, então liguei
para ver o que você estava fazendo."
"Ah, eu estava apenas tratando de alguns negócios. Você
voltou ao seu dormitório?"
Ela ri, desejando-me uma boa noite. Paul não diz nada. Não
acho que ele goste tanto de mim também, e isso é bom. Ele observa a
televisão e joga as meias sujas no meu chão e come meu macarrão
Ramen e a cereja no topo do sorvete é que ele tem uma melhor nota em
filosofia do que eu.
Ele vive em seu pequeno mundo, onde ele é o rei, e estou mais
do que feliz em ser sua serva... Embora, quando ele olha para mim,
piscando com aquela covinha, sinto-me como nada menos do que a sua
rainha.
Ele puxa para o tráfego e vai direto para o Brooklyn. Ele tira o
terno e afrouxa a gravata quando chegamos à sua casa, jogando as
chaves sobre a mesa da sala de estar.
"Você tem certeza que não está com fome?" Ele pergunta.
"Posso fazer alguma coisa para você."
Ele ri. "Acho que tenho algo que você pode fazer sozinha."
"Oh, eu sei que não tenho," diz ele. "Além disso, meus dedos
estarão ocupados fazendo outras coisas esta noite."
Capitulo 14
Estou pasma.
Não entendi.
Espero até que a maior parte dos meus colegas tenham ido
embora antes de me aproximar de sua mesa. Ele olha para mim, sua
expressão em branco, e não fala. Ele aparenta que sou a última pessoa
com quem ele quer falar.
"Olha, senhorita Reed, não sei o que você quer que eu diga. Se
você preferir ter o F que o papel merece, vou alegremente dar a você.
Mas estou bem certo, que sobre o tema, você é bem versada sobre
matéria, mesmo que você não coloque esforço para mostrar isso."
Eu estou no inferno.
Exames Finais.
Ela ri, jorrando para fora uma definição que faz tão pouco
sentido para mim como as próprias palavras. Aceno, fazendo sinal para
ela me mostrar o próximo.
Probabilidade.
Outra risada.
"Por favor, faça isso," diz ela. "Afunde o fedor para longe."
Melody geme quando ele finalmente olha para o lado, mas ele
só solta uma gargalhada quando joga sua camisa perto do seu cesto de
roupas transbordando, como se fosse uma bola de basquete. Ele recua
de volta para o lado de sua namorada, se jogando na cama, colocando a
cabeça em seu colo. Melody cobre os olhos com as mãos, atirando-me
um olhar de desculpas.
Ele retoma o seu lugar, indo direto para mexer em seu bastão.
Observo-o por um momento antes de tomar uma respiração profunda e
olhar para o meu teste, lendo a primeira pergunta.
Quem é você?
Considero isso.
Eu não sei.
Para mim.
Bizarro.
Realmente tarde.
Oh merda.
Oh merda.
Oh merda.
Eu estou fodida.
Quase caio no chão quando cedo com alívio. Naz. Ele solta seu
aperto o suficiente para me virar e o encarar, encontrando seus olhos
na escuridão. Meu coração ainda está batendo, meu estômago
revirando com a descarga de adrenalina e medo. Preciso tirá-lo do meu
sistema antes que eu vomite.
"Eu só... Meu Deus!" Saio de seus braços e agarro meu peito,
desejando que meu coração se acalme. "Como diabos você entrou aqui?"
"Apenas entrei. Sua segurança por aqui não é muito confiável,
Karissa. A garota no lobby olhou diretamente para mim e não disse
uma palavra. E para não mencionar o fato de que você deixou sua porta
aberta. O lugar praticamente tem uma placa com os dizeres 'entre',
então eu pensei em entrar, e talvez..." Ele estende a mão, roçando pela
minha bochecha antes de passar o dedo ao longo do meu lábio inferior.
"...vir para dentro."
"Eu perdi a minha vida," diz ele em voz baixa. "E então eu
quase morri."
"Da próxima vez," diz ele. "Esta noite não é para jogar.‖
"Amar."
Ele está tão quieto. Se não fosse o jeito que ele está me
tocando, eu acharia que ele estivesse dormindo. Fiquei ali, começando a
cochilar, quando sua voz suave quebra o silêncio. "Foi uma espingarda
de 12 milímetros. Eles passaram horas tirando todo o chumbo grosso
do meu peito, mas isso não importa, porque o meu coração foi
quebrado."
"Ela não percebeu," diz ele. "Ela nem sequer olhou para cá."
"Que pensamento?"
"O pensamento de ser visto," diz ele. "A emoção de talvez ser
pega. De alguém a observando quando você fica saciada, desejando que
fossem você, ou que eles fossem o cara lhe fodendo, afogando-se em
ciúme, porque eles sabem que nunca vão ter a mesma sorte. Nunca.
Eles nunca vão ter você, Karissa... Nunca serão você. Porque você é
minha — minha e só minha."
É errado.
É errado.
"Sim, estou lidando com isso," diz ele, com a voz tranquila e
fria como pedra, o tom violento, insensível me empurrando ainda mais
em direção ao limite. Eu posso sentir isso subindo em mim e agarro os
lençóis, dedos enrolando novamente. "Eu vou estar lá neste fim de
semana."
Oh Deus.
Oh Deus.
"Não acho que eu vou estar sozinho," diz ele. "Tenho certeza
que ela vai estar mais do que feliz, em... Vir27."
27
A autora faz um jogo de palavras com a palavra Come em inglês que significa vir e gozar.
para o meu peito. Ele espalma um seio, varrendo seu polegar sobre o
mamilo ereto.
"Huh o quê?"
Huh. Mais uma vez. Ele e essa maldita palavra que não é nem
mesmo uma palavra real. "O quê?"
"Onde?"
"Você passou?"
"Tenho certeza que você passou," diz ele. "Então, por que você
não pode ir comigo?"
Nem tenho certeza de quanto tempo ela estará lá, para ser
honesta, ou se ela já se foi.
Não disse a Naz. Não sei como ele vai levar um relacionamento
de longa distância, mesmo que seja apenas por dois meses.
Talk shows.
Namorados traidores.
Programa de jogos.
Filosofia: C
Oitenta e oito.
Minha voz soa suave. Limpo minha garganta e repito, mas Naz
interrompe antes que eu possa terminar a palavra. "O que está
acontecendo?"
Ele olha para mim por cima dos óculos antes de voltar para o
seu livro. "Senhorita Reed, o que posso fazer por você?"
"Você fez?"
"Sim. Eu precisava de um B. Eu estava a apenas um."
Hesito. "Sim."
"Talvez sim, mas deixe que isso seja uma lição para escolher
suas palavras cuidadosamente, porque as pessoas vão levá-la pela
primeira impressão e considera-la pelo o que você diz e não o que você
quer dizer."
"Mas eu—"
"Isso vai se resolver," diz ele. "O que você precisa é de algum
tempo longe, de algum tempo para limpar a cabeça e não pensar em
tudo. Venha comigo neste fim de semana."
"Snooki?"
―Você verá.‖
Rolando meus olhos, olho para fora da janela assim que nos
aproximamos do jato particular estacionado ao lado, o carro parando
28
Caramelo tipo puxa-puxa feito de óleo vegetal ou manteiga e corante. Apesar do nome desse doce ser
Salt Water — água salgada —não está presente em sua composição.
29
Lenda de um animal que se diz ter habitado a floresta de Pine Barrens, ao sul de Nova Jersey.
30
Distrito localilzado em Nova Jersey.
31
Reality Americano que segue oito pessoas que moram em uma mesma casa, seguindo seu dia a dia.
32
Personagem do reality the Jersey Shore.
33
Seriado americano de drama.
bem próximo. Um grupo de pessoas aguarda ao lado dele, conversando
enquanto outros carros descarregam bagagens, seus pertences sendo
carregados na aeronave.
―Sim senhor.‖
―Eu sei que você não se encaixa Karissa, mas essa é uma das
minhas coisas favoritas sobre você. Você se destaca.‖
Eu sei que Naz é mais velho que eu, e talvez as pessoas vejam
nossa diferença de idade como um extremo, mas ele ainda é bem jovem,
magnífico e incrivelmente sexy. Há uma atração nele que não posso
negar — não que eu queira negar. Mas Raymond é muito mais velho,
talvez tenha idade suficiente para ser o avô daquela mulher, e não tem
um pingo de apelo sexual nele.
Todos, exceto para Naz. Ele parece não estar prestando muita
atenção. Ele inclina a cabeça para mim, sua respiração abanando
contra minha bochecha quando ele sussurra, "Você está bem?"
―Huh.‖
―Você? Surpreso?‖
Não sei o que o homem quis dizer com aquilo, como Naz afeta
a reputação de Raymond, mas é claro que Naz não gostou nadinha
disso.
É um voo de 5 horas – cinco longas horas, horas enormes, eu
olho incessantemente para o relógio de Naz contando os minutos. Nem
ao aterrissar descubro para onde estamos indo. Pergunto para Naz
algumas vezes, mas ele só resmunga, deixando-me no escuro, até que
as rodas do avião tocam o chão novamente. Os braços de Naz ainda
estão ao meu redor, ainda tão pesado quanto antes... Ele não fala há
um tempo. Os outros conversam animadamente sobre isso ou aquilo,
então Naz me puxa mais próxima dele. ―Bem vinda a Las Vegas.‖
Ele concorda.
Minha sobrancelha sobe. Olho para ele, vendo que ele está
olhando para frente, como se não tivesse falado nada.
―Por enquanto?‖
Naz sai do carro, parando ao meu lado. Ele olha bem menos
impressionado, como se este fosse só mais um lugar no mapa, uma
parada na estrada da vida, mas para mim é a vida alterando. Alguém
carrega nossas malas enquanto andamos diretamente para uma
entrada remota, a mão de Naz pressionada nas minhas costas, guiando-
me, não me deixando ficar para trás, A recepção privada que somos
levados é elegante, isolada da entrada principal, o tipo de lugar que
esperava que Naz ficasse – descolado na superfície, tranquilo, enquanto
um mundo de agitação está apenas alguns passos de distancia..
Não espero que ele diga mais nada, passo voando por ele,
subindo de dois em dois degraus. Paro quando chego ao topo, ofegando
tão alto que Naz me escuta lá de baixo, baseado no som da risada dele.
―Podemos,‖ ele diz, ―mas que tal irmos a algum lugar ao invés
disso?‖
―Onde?‖
―Qualquer lugar que você queira ir.‖ Ele termina o que está
fazendo e seu telefone começa a tocar.
―Qualquer coisa?‖
―Um x-bacon.‖
―Sim.‖
"Qualquer coisa?"
"Sim, qualquer coisa," diz ele. "Mesmo x-bacons."
―É por isso que eu gosto de lugares que não são como esse.‖
Eu murmuro, ―porque eles têm ketchup na mesa.‖
34
Responsável por atender quaisquer pedidos que os hóspedes tenham.
Ele chama o garçom, que faz seu caminho direto para nós.
Naz diz a ele para trazer um pouco de ketchup e o homem concorda,
correndo e retornando um momento depois com uma molheira cheia
com o que eu acho que é o que eles pensem ser ketchup, mas parece
um inferno de tomates cozidos pela forma como é volumoso. Eu
mergulho a ponta do meu dedo para provar, avaliando. Lá está o gosto
do vinagre balsâmico mais uma vez.
―Ketchup,‖ Naz diz, sua voz é neutra. ―Eu pedi por ketchup.‖
―Sim, isso—‖
O garçom corre mais uma vez enquanto olho para Naz. Ele
continua a comer, sem se afetar, enquanto o garçom volta momentos
depois com uma nova vasilha com o que é sem dúvidas ketchup desta
vez. Eu agradeço a ele, encarando a vasilha, hesitando, enquanto Naz
solta um suspiro exasperado.
―Cerveja nunca é,‖ ele diz, segurando sua garrafa para mim,
oferecendo-me.
―É seu aniversário.‖
―Amanhã.‖
―Perto o bastante.‖
―Então beba.‖
―Não.‖
―Não sei, só é.‖ Ela diz. ―Ele não costuma trazer mulheres…
Nunca trouxe. Já estou com Ray faz cinco anos agora e nunca o vi com
ninguém.‖
Ela ri. ―Oh, não somos casados. Mas estamos juntos todo esse
tempo.‖
Muito.
―Um sinal de que seu talismã da sorte não é tão bom quanto
você pensou?‖ Um cara brincalhão grita, um cara que reconheço do
avião, o mesmo que o aborreceu no caminho para cá. Naz não cai na
provocação com uma resposta enquanto ele conta o dinheiro. Ele joga
seu dinheiro, não se incomodando com despedidas.
35
Alusão ao jogo de Basebol no qual o arremessador consegue uma bola boa. Aqui Raymond quer dizer
que o cara implicou acertando o Naz pela segunda vez;
longe dos olhos curiosos. Ele para, virando-se para mim, levantando
suas sobrancelhas. Sua expressão é tão séria que eu congelo. ―O que
ela falou para você?‖
―Quê?‖
Ele fica dessa forma por um tempo, mas desvanece quando ele
abre os olhos. Ele solta meu rosto e agarra minha mão, levando-as a
pressionar seu peito. ―Eu contei a você o que aconteceu.‖
As cicatrizes.
"Eu te amo."
"Eu te amo."
"Eu te amo."
"Se você pudesse ler minha mente..." Ele faz uma pausa, rindo
sombriamente. "Você estaria tremendo."
"Eu estou pensando que a única maneira que você poderia ser
mais perfeita neste momento," diz ele contra a minha pele "seria se eu
estivesse fodendo você tão duro que as pessoas no lobby poderiam ouvir
seus gritos."
Eu tremo, mas ele ainda não acabou.
Assim que digo isso, sua mão está no meu pescoço de novo,
puxando minha cabeça para cima, forçando-me a olhar para ele. "Não
diga a menos que você queira dizer isso."
"Eu prometo."
"Eu vou."
Eu sei isso.
Ele me ama.
Eu me lembro.
Eu sinto.
Eu não posso.
Fazendo-me estremecer.
"Vai se foder."
Estou fodida.
"Você sabe, ok, que seja," eu rosno. "Você acha que é tão
forte? Você não pode sequer lutar limpo. Você é o único fraco aqui.
Covarde do caralho. Patético."
E me fode.
E me fode.
Seu aperto é tão forte que acho que ainda vou sentir isso
amanhã, marcas incorporadas em minha carne em tons profundos de
preto e azul, conforme ele arrebata meu corpo, destruindo minhas
entranhas. Luto com ele, tentando soltar minhas pernas, cada impulso
dolorosamente profundo. Agarro sua mão, empurrando contra seu
corpo, lutando com suas mãos. Minhas unhas cavam em sua pele,
deixando marcas em sua armadura, tirando sangue que não o afeta em
nada.
Ah Merda.
Ele agarra minha mão quando se inclina para mim, tão perto
que nossos narizes tocam. Meu coração dispara. Estou esperando
veneno. Em vez disso, ele me surpreende com um beijo.
"É isso aí, meu bem," diz ele contra os meus lábios. "Lute
comigo antes que eu lhe foda até a morte."
Acho que ele pode ser capaz disso, mas fui longe demais para
admitir isso em voz alta. Estou trabalhado, em sobrecarga emocional.
"Você não é homem o suficiente."
É traiçoeiro.
É aterrorizante.
Ele me quebrou.
Mas eu não tinha ideia que ser quebrada poderia ser tão bom.
"Naz?" Eu chamo, mas ele não reage, como se ele não tivesse
me escutado. Minha voz cai mais baixo, um sussurro em causa.
"Ignazio?"
Ele se move.
Ele retarda suas estocadas até que ele mal está se movendo,
cobrindo meu corpo com o seu, fazendo amor comigo. Sinto em cada
célula do meu corpo, ouvindo quando ele geme em meu pescoço, seu
hálito quente ventilando contra a minha pele. Ele é normalmente calmo
durante o sexo, a não ser que esteja me provocando, mas ouvi-lo
agora... escutar seus suspiros trêmulos e gemidos tensos. Envolvo meus
braços em torno dele com força, girando os cachos macios em sua nuca
em torno de meus dedos. É doce, doce... Doce pra caralho... Conforme
ele trilha beijos ao longo do meu queixo antes de puxar para trás o
suficiente para olhar para mim.
Ele ainda não diz nada, mas a curva de seus lábios, o sorriso
suave que ele oferece na escuridão, ilumina o ar entre nós. É lindo. Tão
bonito.
É tudo.
Ele é tudo.
É sexy.
Malditamente sexy.
"É o seu nome," digo, enquanto coloco meus brincos. "É como
todo mundo te chama."
É peculiarmente íntimo.
"Por que?"
Ele sorri. "Algo como isso, embora roupa tende a ser opcional,
nesse caso."
36
É um filme de comédia americana baseado no livro homônimo de Frances Mayes.
estou aproveitando com o que sobrou do calor enquanto eu puder.
"Para o céu?"
Posso dizer que ele esta sendo sincero pela sua voz genuína.
"Eu não poderia pedir-lhe para fazer isso."
"Eu sei," diz ele. "É por isso que me ofereci em seu lugar."
"Sim," diz ele. "Quando você ama uma pessoa, você quer o que
é melhor para ela... Mas quando você está apaixonado por ela, você a
quer para si mesmo. E isso não é sempre a mesma coisa. Só porque eu
quero você, não significa que sou a melhor coisa para você... Porque não
sou. Sei que não sou. Não é fácil conciliar. Porque sei que eu deveria
deixar você ir, devia deixá-la se afastar de mim agora, mas não posso
fazer isso. Não posso. Sou egoísta, e estou apaixonado por você, e não
quero nada mais do que mantê-la para mim mesmo."
"Eu juro," digo. "Eu quis dizer isso quando lhe pedi para ficar
naquela noite, e quero dizer isso agora. Estou apaixonada por você,
também."
"Você quer saber que futuro eu vejo? O que vejo para você?"
"Eu vejo que você terá tudo que você sempre quis," diz ele.
"Tudo que você sempre sonhou. Roupas, sapatos, casas, carros...
Barcos."
Eu rio. "Barcos?"
"Mas você ainda pode tê-lo," diz ele. "Qualquer coisa que você
queira da vida. Você pode terminar a faculdade e construir uma vida do
jeito que você quer que seja. Família, filhos... O que você quiser. Vejo
isso para você."
"Pode ser," diz ele em voz baixa. "Se Deus quiser, será."
Ah Merda.
Ah Merda.
Ah Merda.
Ele olha para baixo, para a caixa na sua mão, puxando o anel
dela depois de um momento, segurando-o na frente dele.
É simplesmente impossível.
Seus olhos levantam para olhar os meus novamente, e vejo a
verdade ali, à espreita na escuridão. "Você realmente quer dizer isso?"
"Case comigo."
Case comigo.
Ele sabe.
"Eu vou," sussurro contra sua boca. "Eu vou me casar com
você."
Capítulo 19
O ar está elétrico.
"Ray."
De novo.
Estou chocada.
"Cara de short azul," ele ecoa com uma risada. "Existe uma
razão?"
Não tem, mas não vou admitir isso. O cara com o short azul
tem um design em seu cabelo raspado na lateral da cabeça. É
fascinante.
"Por quê?"
"Fui casado uma vez," diz ele em voz baixa, respondendo o que
eu desejava perguntar. "Foi há muito tempo — há muito, muito tempo
atrás. Sinto como se fosse em uma outra vida. Eu era uma pessoa
diferente, então, um homem diferente. Eu não tinha muito, mas eu
tinha ela... E então eu não a tinha mais. "
"Eu lhe disse o que aconteceu," diz ele, e assim que ouço
essas palavras, eu sei. Ele perdeu sua família. "Ela tinha apenas dezoito
anos. Ela não merecia o que aconteceu com ela. Ela deveria ter
sobrevivido... Eles deveriam ter sobrevivido."
"Eles?"
"Um covarde," diz ele. "Um tolo. Ele merecia ser punido, mas
as autoridades o deixaram livre. Eles o deixaram ir embora. Então jurei
que um dia o faria pagar."
Posso vê-lo melhor agora que está mais perto, posso ver a
tristeza à espreita em seus olhos. Não penso duas vezes antes de
estender a mão e colocá-la em seu rosto, sentindo-o áspero, cabelos
eriçados contra a palma da minha mão. Naz não gosta muito de ser
tocado... Ele prefere fazer o toque, ser o único no controle, mesmo que
seja apenas para mostrar. Posso não saber tudo sobre a sua história,
mas isso é algo que eu sei. É algo que aprendi por estar com ele.
"Eu não vou deixar isso acontecer de novo," ele repete. "Você é
especial para mim, Karissa. Não esperava que você fosse."
"Não sei o que esperava," diz ele, "mas não esperava sua
inocência."
"Você é," diz ele. "Você pode rosnar, chiar e miar, e talvez às
vezes você traz para fora aquelas garras, mas sei como fazê-la ronronar.
Sou o rei da selva. Sou o predador."
Ele não diz nada em resposta, e não digo mais nada, quando
ele finalmente puxa minhas mãos para longe dele, ligando seus dedos
com os meus para me puxar em direção às escadas. Ele me leva até o
segundo andar, para o quarto principal, onde lentamente e com cuidado
me tira das minhas roupas. Eu nervosamente fico à frente dele nua
enquanto seus olhos examinam meu corpo.
"Nunca esqueça."
Naz as tira bem em frente de mim e não diz mais nada antes
de desaparecer pelo quarto. O som fraco de água corrente atinge meus
ouvidos depois de um momento, o chuveiro no banheiro. Curiosa,
escorrego para fora da cama e me junto a ele.
Algo me diz que, pelo olhar em seus olhos quando ele olha
para mim, que uma luta com ele hoje seria tão implacável quanto a
brutalidade a que assistimos no ringue de boxe.
Ele não para por aí. Não posso fazer nada, mas fico lá
enquanto o homem me lava da cabeça aos pés, ensaboando cada
centímetro do meu corpo antes de enxaguá-lo. Ele não diz uma palavra,
nem sequer me olha nos olhos de novo ao acabar. Seus olhos trilham ao
longo da minha pele, uma vez que estou limpa, demorando-se sobre as
contusões sumindo ao longo do meu pescoço. Estendendo a mão, ele
esfrega as pontas dos dedos ao longo delas, mas ele ainda não faz
nenhum comentário.
"Nosso avião sai em duas horas," diz ele. "Nós vamos ter que
sair em breve."
Tempo perdido.
"O quê?"
"Não sei," diz ela. "A polícia está investigando, mas não acho
que prenderam alguém. É só que... Wow. Alguém o matou."
"Quem faria uma coisa dessas?" Olho para Naz, que está
arrumando meus livros em silêncio. "Naz?"
Fico olhando para ele. Como ele pode ser tão inatingível?
Claro, Santino não era bom, mas Naz conhecia o homem.
"Eu sei," sussurro. "Minha mãe sempre disse que Nova Iorque
era muito perigosa."
Disse a ele que era uma loucura; eu não poderia viver com ele.
"Uh, sim."
Ela solta um grito mais alto quando pega minha mão, pulando
com prazer, gritando comigo para derramar todos os detalhes. Explico o
que posso, o que me lembro. Não é muito uma história, mas o olhar
sonhador que ela traz em seus olhos me diz que é o suficiente para fazê-
la desmaiar.
"Ok."
Ele sai sem esperar por mim para acompanhá-lo. O que eles
vão fazer? Expulsar-me? Certamente não é a primeira vez que ele anda
por estes corredores sozinho.
"Estou."
E talvez ela tenha, mas estou feliz assim. Não posso pisar no
mesmo rio duas vezes, mas tudo bem, porque há mais rios lá fora, a
água inexplorada e, eu vou começar a explorar com o homem dos meus
sonhos.
O céu ainda está escuro. É tão cedo que mal parece 'amanhã'
ou 'manhã' quando Naz reaparece no dormitório. Ele mais uma vez sobe
para o meu quarto sem que ninguém o libere, passando direto pela
segurança frágil do dormitório, lembrando-me quão inseguro um lugar
como este pode ser. A morte de Santino permanece na minha mente,
sabendo que há um assassino perambulando me colocando no limite.
Talvez morar com Naz seja a melhor ideia. Pelo menos com ele
estou segura. Ninguém é estúpido o suficiente para mexer com ele.
"Não," ele diz, olhando para suas mãos, antes de se virar para
longe de mim e inspecionando minhas coisas. Terminei de arrumar a
noite passada, tudo dentro de caixas exceto meu travesseiro e cobertor.
"Isso tudo deve caber no carro, mas se não couber, podemos voltar mais
tarde."
"Ok."
Ele leva menos de dez minutos por conta própria para levar
tudo lá embaixo para a Mercedes, estacionada em um lugar cobiçado ao
longo do meio-fio. Ele tem tudo pronto e carregado antes mesmo de eu
mesma conseguir calçar os meus sapatos. Digo-lhe que vou encontrá-lo
no carro quando puxo o cobertor da cabeça de Melody e a puxo para
sentar.
"Até logo, prostituta," diz ela. "É até logo, não adeus."
Casa. Uma palavra tão simples, mas a conotação faz algo soar
dentro de mim. Realmente nunca senti como se estivesse pisando em
solo estável, como se houvesse algum lugar que eu poderia chamar de
casa permanentemente. Minha vida sempre foi uma série de
temporários: cidades novas, pessoas novas, escolas novas e casas
novas. Tudo novo. O mundo à minha volta flutuou, tantas variáveis que
meu problema na vida sempre foi descobrir a resposta de quem eu sou.
Meu permanente.
Ele faz com que seja mais fácil encontrar minha resposta, a
encontrar o meu lugar.
Minha casa.
"Eu vou."
"Estou feliz por estar aqui," sussurro, mas ele já foi embora
antes que as palavras saíssem dos meus lábios.
Bisbilhotar.
Vi o que Naz tem na superfície, mas vou mais fundo, quero ver
mais do homem, as partes dele que estão escondidas. Olho através das
prateleiras e armários, até mesmo buscando em sua gaveta de tralhas
na cozinha, antes de voltar para o quarto e me voltar para as suas
coisas.
Você pode dizer muito sobre uma pessoa pelo o que eles
mantém escondido em sua gaveta de roupas íntimas. É o seu lugar
privado, o único lugar que não esperam que ninguém toque por
decência. É onde sempre escondi minhas cartas de amor, o meu
controle de natalidade quando cheguei aos dezesseis anos sem o
consentimento da minha mãe, o vibrador que eu comprei no meu
aniversário de dezoito anos... Mas a gaveta de Naz é uma cidade
fantasma.
Que decepção.
Outra decepção.
Encontro uma porta que leva para baixo que eu assumo ser o
porão, um almiscarado odor úmido flutuando fora dele. Não há nenhum
interruptor de luz, e as escadas são frágeis, o pouco de luz que filtra
para baixo por trás me iluminando toneladas de teias de aranha, por
isso não me atrevo a descer até lá.
Não, obrigada.
"Estou," diz ele. "Sinto que poderia dormir por uma semana."
"Sim, bem, é sono de beleza para a bela," diz ele, olhando para
mim "mas não há descanso para os cruéis."
"Eu chamo."
"Eu chamaria."
"Porque você é humana," diz ele. "É normal ser curiosa, e você
é uma mulher inteligente... Esperaria nada menos."
Não tenho certeza do que dizer. Ele não parece nenhum pouco
chateado, mas seu tom indiferente pontuando minhas ações desde o
começo como se ele me conhecesse melhor do que eu me conheço,
ainda me enerva. "Não, eu não encontrei nada."
"Sim," diz ele. "Embora, tenha que dizer, fiquei surpreso que
você só tinha um vibrador. Isso está em desacordo com a tigresa que
você se transforma quando a deixo nua."
"Você está?"
Rolo meus olhos. "Eu sei disso. Só não sabia que eles ainda
estavam por perto. Você nunca falou sobre eles."
"Nós não somos próximos," diz ele. "Ray é mais um pai para
mim do que meu próprio pai sempre foi."
"Eu roubei," ele admite. "Ele era dono de uma loja naquela
época... Uma pequena loja da esquina, mas era uma fachada para este
círculo de jogo. Costumava passar por ela no meu caminho da escola
para casa. Entrei um dia, peguei um refrigerante, e paguei por isso com
uma nota de cinco dólares. Assim que o rapaz abriu o registro, alguém
na parte de trás chamou por ele. Quando ele não estava olhando, eu
cheguei ao balcão, roubei o dinheiro do registro, e sai."
"Sim, mas não tão ruim como poderia ter sido," diz ele. "Eu
levei a surra como um homem, lambi minhas feridas e fui para casa.
Meu orgulho foi ferido mais do que qualquer coisa. Não estava bravo por
ele ter me pego, ou por ter me batido... Estava bravo porque ele me
roubou. Você vê, antes de ele sair, ele pegou meus cinco dólares."
Eu posso ver onde isso vai dar. "Estou supondo que você fez
alguma coisa sobre isso."
Ele sorri. "Eu fui até a loja e quis meu dinheiro de volta."
"O quê?"
"Um trabalho."
Ele sempre faz tudo parecer tão fácil, tão curto e seco, preto e
branco, quando o mundo é muito confuso para ser categorizado de
forma tão simples.
"Positivo."
Não discuto, saio do carro e sigo até a varanda. Ele faz uma
pausa e bate na porta, e apesar de ser bobagem, porque já lhe disse que
ela não estava aqui, sou tocada pelo respeito que mostra.
Ela se foi.
"Ela fugiu."
"Parece que ela correu para fora daqui," diz ele. "Como se ela
estivesse fugindo de alguma coisa."
"Por perder o seu tempo," digo. "Por ter feito você dirigir todo o
caminho até aqui para nada."
"Não foi por nada," diz ele, virando-se. "Pelo menos sabemos
agora."
Ela não pode ficar muito tempo, tem de encontrar seus pais
para o almoço na cidade. Dou tchau, fazendo planos para nos
encontrarmos novamente na próxima semana, e ela começa a se
afastar, mas faz uma pausa depois de alguns passos. "Oh, eu quase
esqueci! Isso veio para você no outro dia... Foi enviado para o
dormitório."
Policia.
"Sobre?"
"Bem, juro que ele estava vivo. Ele estava! Eu nunca faria algo
assim. Não sou esse tipo de pessoa!"
"Eu acredito em você," diz o detetive Jameson. "Nós estamos
apenas tentando montar uma linha do tempo daquela tarde."
"A qual é a minha noiva, que vocês estão cientes agora," diz
Naz. "Assediar uma jovem mulher é bastante inconveniente de você,
Jameson. Pensei que sua mãe tivesse lhe ensinado melhor do que isso."
Ele olha para mim. Esticando sua mão, ele a coloca em minha
bochecha, acariciando a pele com o polegar. "Eu sempre vou aparecer."
"Você promete?"
"Eu prometo."
Estou sentada na cama, o bilhete da minha mãe esparramado
em meu colo. Meu olhar se desloca através dos números várias vezes,
recitando-os na memória. Estou enrolando, eu sei disso, e talvez seja
sem sentido, mas estou quase com medo de ligar para ela.
Por quê?
"Quem?"
Meu estômago cai quando olho para o papel. Sei que eu tenho
os números certos. "Carrie," digo. "Carrie Reed?"
"Não importa agora," diz ela com desdém. "Estou feliz que você
está bem."
"Você disse que estava pensando sobre isso," digo. "Eu não
esperava que você pegasse e deixasse tudo para trás. Fui verificar você
e—"
"Imagino."
"Foi muito bom," diz ele em voz baixa. "Mas você não deve
nunca se ajoelham diante de mim."
"Você foi levada para a delegacia de polícia hoje. Isso tem que
ser perturbador."
"Foi," admito. "Eles pensam que eu... Quer dizer, eles
pensavam que eu tinha algo a ver com o que aconteceu com Santino."
"Não, eles não pensam," diz ele. "Eles não acham isso."
"Só porque eles disseram, não significa que seja verdade," diz
ele. "Eles não acham que você matou Santino."
Eu espero que ele concorde, ria, mas ele não diz nada. Ele não
faz barulho. O silêncio que sufoca o quarto é ensurdecedor, assustador,
e não sei o que dizer depois disso. Fiquei ali, olhando para a escuridão,
quando a mão de Naz esfrega meu lado nu, segurando-me firmemente
como se nunca fosse me deixar ir.
"Ok, então."
Ele para.
"Claro."
"Eu sei por que você deixou," digo, dando um passo para trás.
Há alguns metros entre nós, mas de repente me sentindo muito perto.
"Você deixou porque você é um covarde de merda."
"Kissimmee..."
"Você está errado," digo. "Ela era uma bagunça, nunca podia
se estabelecer ou confiar, sempre correndo por sua causa."
"O que quer que seja que o ajude a dormir à noite, amigo,"
digo. "Você não estava lá. Você não viu isso. Você não viveu isso. Eu
não me importo com a merda das suas desculpas... Ir para longe de nós
é imperdoável, e se ela pensou que explicar isso para mim iria torná-lo
melhor, ela está muito enganada."
"Não aja dessa forma," diz ele. "Eu mereço ser ouvido. Eu sou
seu pai."
"Você a achou?"
"Sim," ele diz. "Eu estou interessado em ouvir o que ele tem a
dizer."
Meu sangue corre frio quando ela diz o nome dele... Seu
último nome... o nome que aquelas pessoas usam para ele. Isso não
está certo. Ela não sabe dele. Eles não se conhecem. Eles não podem.
"Eu não vou machucá-la, Carmela, mas não vou deixá-la ir."
"O que está acontecendo é que a sua mãe não está feliz em vê-
la perto de mim."
"Você sabe quem eu sou," diz ele. "A pergunta que você deve
estar se fazendo é quem são eles."
Ela não olha para mim, mas sei que ela ouve as minhas
palavras. Seu alarme cresce quando eu o chamo de Naz. Ela implora
mais. "Por favor, ela é minha filha... A minha menina. Ela já sofreu o
suficiente. Não faça isso com ela."
"Eu não fiz nada para ela," diz Naz, sua mão deslocando mais
para cima, apertando minha garganta. Suspiro quando ele se inclina
para baixo, beijando meu templo. "Nada que ela não queria que eu
fizesse."
"Não."
"Aposto que ele saiu pela porta de trás, quando me viu, não
foi?" Minha mãe não responde essa pergunta, que parece responder o
suficiente para Naz. Ele ri amargamente. "Uma vez um covarde, sempre
um covarde."
"Diga-me o que posso fazer," diz ela. "Só... Seja o que for.
Apenas me diga."
"Eu não posso fazer isso," diz Naz. Minha mãe faz um barulho
estranho com sua negação. Estou atordoada demais para reagir. Um
dos braços de Naz me deixa ir quando ele se aproxima da porta do
carro. "Entre."
Mas este não é o meu Naz, o Naz que eu caí de amor, e Ignazio
Vitale assusta o inferno fora de mim.
"Tudo isso."
Ele fica quieto por um momento enquanto tira seu casaco. "Eu
disse que um dia iria encontrá-lo."
"O quê? Quem?"
"Isso não é verdade," diz ele. "Eu sabia quem você era,
Karissa, mas não a usei para que pudesse matá-lo. Nunca foi a minha
intenção matar Johnny. Eu disse que queria fazê-lo pagar."
"Como?"
Oh Deus.
Eu zombo.
"Não, tudo o que eu lhe disse era verdade. Só porque não lhe
disse tudo isso não significa que menti. Todo mundo tem segredos."
"Eu não."
"Você tinha," diz ele. "Eu fui o seu segredo. Nós mantemos as
partes mais escuras de nós para nós mesmos até que achamos que os
outros estão prontos para vê-los. Às vezes isso nunca acontece, mas eu
sabia que esta noite... Sabia que era hora de você me ver."
"Eu sou," ele admite, "mas não finja estar surpresa. Você
sabia isso sobre mim o tempo todo."
"Eu não."
"Vingança."
"Por quê?" Pergunto novamente. "O que você fez com ele?"
"Nada," diz ele. "Não era de mim que ele queria vingança. Ele
fez isso para se vingar do pai da minha esposa."
"Não vou lhe machucar," diz ele em voz baixa, e fecho meus
olhos, incapaz de lidar com a expressão de seu rosto, o olhar que quer
que eu acredite, que quase me faz acreditar.
Vermelho.
Tantas vezes.
Quem teria esperado que eu me apaixonaria cegamente pela
maior ameaça de todas?
Capítulo 23
O mundo continua girando.
Eu continuo me movendo.
Mas eu sofro.
Ele diz que nunca iria me machucar, mas ele não percebe que
ele já me machucou.
Fico olhando para ele como costumava olhar para o meu livro
de filosofia, como se todas as respostas fossem magicamente se
transferir para o meu cérebro, então eu saberei o que eu deveria saber,
então entenderei o que até agora me escapou. Meu estômago dá um nó,
comprimindo o voo das borboletas que ele produz em mim, até que seu
olhar vira em minha direção. Ele não se move nada, exceto seus olhos
quando se conecta comigo cuidadosamente. Eu me sinto como uma
criança sendo vigiada, mas ele ainda olha para mim como se eu fosse
uma mulher.
Ele olha para mim como se ele precisasse de mim mais do que
do ar que respira.
Não usei a minha voz durante toda a semana, por isso estou
surpresa que ainda funciona quando abro minha boca. "O que você está
lendo?"
Ele não reage. Ele não parece surpreso que eu falei. Seus
olhos ficam colados ao livro até que ele vira a página. "O Príncipe."
"É Maquiaveli."
Viro-me para ele, vendo que seus olhos estão abertos agora,
olhando-me com desconfiança.
"É mesmo?"
"Em Manhattan."
"Sim."
"Comecei há pouco tempo," diz ele. "O que posso fazer por
você?"
"Ontem."
Ela repete o que disse, algo sobre Paul. Eu não sei. Ainda não
ouço. Minha mente está presa no bilhete, meu estômago em nós. Ainda
não sei o que fazer, o que pensar.
Nós ficamos aqui por uma hora quando Paul faz uma pausa e
se espreme em nossa mesa. Suspirando, olho para longe deles quando
eles começam a ficar melosos, meu olhar mudando para a janela.
Minha expressão cai, meus músculos tencionam, quando vejo a familiar
Mercedes estacionada do outro lado da rua.
Devo-lhe muito.
"Mais forte."
Ele olha para mim. "Eu não posso conseguir qualquer coisa
assim."
"Corte a merda, Paul. Não tenho tempo para isso. Você pode
conseguir isso?"
"Quando?"
Ele começa a balbuciar sobre como ele não costuma fazer esse
tipo de coisas, como ele sabe que cometeu um erro, como ele ama
Melody e não quer que nada arruíne isso. Não respondo, e ele se cala
quando ela retorna do banheiro e retoma seu assento.
"Eu sei," diz ele. "Mas você não disse nada sobre não precisar
de uma para a volta para casa."
Semântica.
É sexta-feira.
"Na verdade," digo, virando-me para ele, "Eu acho que prefiro
cozinhar."
"Desde quando?"
"Só porque não faço isso não significa que eu não possa.
Minha mãe me ensinou um pouco."
Maria...
Sua esposa?
"Nós fomos para casa depois, e sua mãe não enviou nenhuma
sobra. Penso muito sobre isso nos dias de hoje. Ela sempre enviava as
sobras quando jantávamos lá. Mas ela não enviou naquela noite." Ele
faz uma pausa a poucos metros a minha frente, olhos fixos nos meus.
"Faz-me perguntar se ela não se incomodou porque ela achou que
estaríamos mortos pela manhã, de qualquer maneira."
Cada mordida que ele dá, prova isso mais e mais. Não é o
suficiente para causar-lhe danos. Apenas o suficiente para fazê-lo
dormir para que eu possa sair.
Nós bebemos vinho por minha sugestão. Eu preciso de
coragem líquida, e espero que a intoxicação mascare o aparecimento da
droga em seu sistema. Certifico-me que ele tenha a sua parcela. Preciso
estar lucida o suficiente para ir embora.
O homem que sorri para mim do outro lado da mesa, que fala
brincando, que me chama de sua perdição, lembra-me
surpreendentemente do homem que eu me apaixonei. No entanto
quando ele se despe de todas as pretensões, e bloqueia toda a dor e
raiva, ele é o que existe lá no fundo.
Ele anda por trás de mim, parando rente a mim, sua mão
colocada sobre meu quadril enquanto ele me puxa para trás em direção
a ele. É mais do que ele me tocou há algum tempo, desde o dia em que
eu disse a palavra de segurança bem aqui onde estou. Sua outra mão
afasta meu cabelo, e tremo quando sinto sua respiração no meu
pescoço. Ele beija a pele enquanto sua mão no meu quadril vagueia
para frente, por baixo do vestido, deslizando dentro da minha calcinha.
Não posso evitar.
Eu não vou.
Muito tempo.
Isso dói.
Isso dói.
Ele não leva muito tempo antes que eu sinta seus músculos
tencionarem. As últimas estocadas são profundas, agonizando,
enquanto ele geme no meu cabelo e goza dentro de mim. Quando ele
finalmente acalma seus movimentos, seu corpo cede contra o meu,
pesado e saciado, sua respiração ofegante.
As lágrimas caem, logo que ele sai da cozinha. Levo uns bons
vinte minutos para me recompor. Eu limpo meus olhos e arrumo
minhas roupas, cuidadosamente enquanto vou em direção ao escritório.
Ele está sentado à sua mesa, com a cabeça baixa em cima de seu livro.
Espero que ele esteja sonhando, que ele esteja feliz e em paz,
mesmo que apenas por um momento, porque quando ele acordar, eu sei
que ele vai ficar furioso.
Um minuto passa.
Em seguida, outro.
E outro.
Dez minutos vem e vão, em seguida quinze. Começo a entrar
em pânico. E se tudo isso foi para nada? Cerca de 20 minutos se
passam antes de um carro aparecer na rua, se movendo lentamente até
parar bem em frente de mim. É uma BMW preta, cara e nova. A janela
do passageiro desce enquanto meu coração dispara.
"Esperando," diz ele. "Ela estava com medo que você não
viria."
Ele olha para mim. "Porque ela não achou que você fosse
capaz de escapar."
"Eu sei mais do que você. Você não passa de um meio para
um fim para ele, algo para ele brincar. Ele não é estúpido. Ele está
passando o tempo, e você facilita isso para ele. Isso é tudo o que é."
"Você está errado," digo em voz baixa. "Ele não pode ser
corrigido."
"Sim, bem, por que você acha isso? Hein? Poderia ter sido a
bala que ele tomou no peito?"
Ele agarra o volante com força. Ele não gosta que eu retruque
para ele. "Há dois lados para cada história."
"Dezenove."
"Sim."
Ele dá de ombros.
"Então, por que você está aqui agora?" Pergunto, minha voz
baixa e acusatória. Estou tentando manter a calma, mas não entendo
como ela pode se sentar nesta sala, nesta casa com ele. Como ela pode
correr para ele depois do que ele fez. "Por que você está perto dele?"
"Ele não tinha escolha," diz ela. "Ele teve que... Ele tinha que
fazer alguma coisa."
"Não, você não sabe," diz ela incisivamente. "Vitale pode jogar
de vítima na coisa toda, e ele era uma vítima... Ele era... Mas ele não
era o único."
Naz.
Olho para o seu nome até que ele para de tocar. Estou prestes
a lançar o telefone de volta na minha bolsa quando vibra novamente.
Correio de voz.
John, por outro lado, está sentado no seu sofá, brincando com
a arma. Ele não afasta o olhar enquanto me cumprimenta. "Bom dia."
Sem dizer nada, sento em uma cadeira, sem olhar para John.
Minha mãe, ao ouvir a voz dele, sai da cozinha. "Oh, bom dia,
querida."
"Dia."
Tap
Tap
Tap
Tap
Naz.
Ignazio.
Meu coração está batendo tão forte que tenho certeza que ele
pode sentir isso quando me prende na cama. Estou prestes a
hiperventilar, apavorada, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ele
só está lá, restringindo-me, olhando com tanta força que nem sequer
acho que ele pisca. Algo marca sua pele, uma pequena faixa em seu
queixo, com pequenas manchas ao redor de seu pescoço.
Sangue.
"Se eu lhe soltar, você não pode gritar," diz ele, com a voz
decidida e sem emoção. "Você entende?"
Eu tento acenar.
"Eu quero dizer isso," avisa. "A última coisa que você quer
fazer é acordar sua mãe."
A voz está confiante, mas o meu bom senso grita mais alto.
Pessoas se desapaixonam. Nem todo mundo cumpre as suas
promessas.
"Karissa, é você?"
John.
Morto.
Não olhe.
Não pense.
Não respire.
Não.
Ele sai, batendo a porta do carro atrás dele, e vai direto para
dentro, sem esperar por mim. Eu desmorono assim que ele se vai,
soluçando alto e forte, ofegando enquanto tento recuperar o fôlego. Isso
corre para fora de mim, purgando como uma inundação, enquanto as
lágrimas caem até que meu peito cede à pressão e resta mais nada
dentro de mim.
Absolutamente nada.
Ou duas.
Eu sou fraca, e estou com medo, mas não sou uma covarde.
Posso ter o sangue de Rita em mim, mas isso não é tudo o que eu sou.
Sou filha do homem, mas não sou ele. E talvez isso me faça mais forte
do que penso.
"Você me usou." Não sei por que dói tanto, mas desperta a
minha culpa, como se fosse minha culpa que tudo isso aconteceu.
"Você me usou para encontrá-los."
"Eu tentei não envolvê-la," diz ele. "Fiz tudo o que podia para
não arrastá-la para isso."
"Percebeu o quê?"
"Que você não tinha ideia de quem você era," diz ele. "Você
não tinha ideia de onde você veio. E eu não deveria ter me importado...
Não deveria importar... Mas você me fez lembrar de outra pessoa,
alguém que morreu por causa de quem seu pai era."
"É por isso que você não pode me matar," eu sussurro, minha
voz tremendo. "Eu o lembro dela."
"Qual é a diferença?"
Quero dizer a ele que não acho que ele teria sofrido de uma ou
outra maneira, mas não acho que vale a pena o esforço. Matar-nos não
teria afetado John tanto quanto eu acho que Naz acredita. Nem todos os
homens têm os que amam por perto. Se o meu pai pôde tão facilmente
ir embora, pôde viver sua vida rodeado por cercas brancas em
subúrbios, sabendo que sua família estava lutando para viver,
removendo a carga de nós de seu mundo teria sido apenas uma bênção.
Naz sabe disso lá no fundo. Ele mesmo me disse — somente
um covarde deixa sua família. Ninguém era mais importante para John
que ele próprio.
Talvez seja isso que parou Naz, a verdade que meu pai
realmente não se importava comigo. Talvez não foi o amor que me
salvou. Talvez tenha sido a falta dele.
Eu não sei.
Eu odeio isso.
Eu o odeio.
"Eu sei," diz ele em voz baixa. "Você disse que não iria... Você
disse que queria dizer isso... Mas eu sei que você faz."
Uma vez pensei que a realidade não poderia ser tão fascinante
como a fantasia, mas eu estava errada. Então, muito errada. Pode ser o
caso de outras pessoas, mas eles não conhecem Ignazio Vitale. Eles não
o encontraram. Eles não viram o que eu vejo em seus olhos.
Vitale.
Eu o amo.
Eu o amo.