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Capítulo 1 - Prólogo

Naruto On

A cada passo dado por mim ao decorrer daquele corredor extenso e apertado, mais uma pontada de
arrependimento batia forte em meu peito e dificultava a minha respiração, enquanto a mesma pergunta se
repetia incansavelmente em minha cabeça.
Como eu vim parar aqui?
Mãos firmes e fortes me guiavam grotescamente, seguido de um olhar atento que caia sobre mim,
observando com cautela cada mínimo movimento de minha parte, assim como se eu estivesse em alguma
posição de reagir ou fugir daquele ambiente assustador e desconhecido.
Afinal, eu estava algemado.
Desde muito pequeno, sempre tive o hábito de assistir a filmes e séries policiais, os quais envolviam
muita violência, tiros, perseguições, criminosos e até mesmo presídios. Me lembro perfeitamente de pensar
o quanto desprezava os bandidos por todo o mal que causavam as pessoas, sobretudo, sempre acabava
ficando ao lado dos policiais e considerava-os os verdadeiros heróis da história.
Eu nunca, em toda a minha vida, imaginei que chegaria a esse ponto. Às vezes, quando estou muito
abalado ou no fundo do poço, gosto de perguntar a mim mesmo o que o Naruto Uzumaki de doze anos de
idade, aquela criança inocente, brincalhona e amorosa, pensaria ao me ver atualmente? O que ele acharia
se me visse trajado com um uniforme laranja, algemado e acusado de um crime imperdoável e similar aos
que costumava assistir na televisão?
Ele ficaria absurdamente desapontado.
-Ei, Obito? -O carcereiro ao meu lado, o mesmo que, há minutos atrás, me revistou de um modo bem
invasivo e, naquele instante, guiava-me até o ambiente em que passaria os próximos anos de minha vida,
foi quem se pronunciou. Ele chamava por um outro homem moreno à nossa frente, que encontrava-se de pé
no final do corredor.
-Esse aqui vai pro bloco 4. Autoriza a nossa entrada, fazendo o favor.
-Bloco 4? -Arqueou a sobrancelha, me medindo dos pés a cabeça sem ser muito discreto. -Tem
certeza, Kakashi?
-Tenho sim. -Confirmou, erguendo meu queixo com brutalidade para mostrar-me ao seu
companheiro. -Não se deixe enganar por esse rostinho bonito, Obito. Foi ele quem matou o jovem Sai
Yamanaka, conhece o caso?
De imediato, meus ombros se retraíram e meu olhar caiu diretamente ao chão. Havia acabado de
sentir a tão familiar e dolorosa pontada em meu peito, a mesma que surgia toda a vez em que me recordava
do pior arrependimento de toda a minha vida.
Eu havia matado alguém.
E o pior de tudo é que foi um episódio bem recente, a quase sete semanas atrás.
Era para ser uma madrugada como qualquer outra. Eu me preparava para mais uma noite de
assaltos, que tinha com bastante frequência desde que Minato, o meu pai, abandonou tanto a mim quanto a
minha mãe, deixando para trás dívidas e mais dívidas em nossas costas.
Honestamente, o meu plano nunca foi me envolver no mundo do crime. Muito pelo contrário. Eu
sempre abominei pessoas que roubavam de outras para seus próprios benefícios e para saciar suas
vontades sem a menor consideração pelo próximo. No entanto, ao se deparar com um aluguel de meses
atrasado, estando desempregado e sem rumo, quase despejado da própria casa e com sua mãe precisando
de cuidados, faz com que você repense certas coisas na vida.
Roubar dos outros foi a primeira opção a qual eu recorri quando me vi sem saída e, inicialmente, deu
mais certo do que eu imaginei. Eram apenas assaltos inofensivos. Não envolviam agressividade e nenhum
tipo de contato físico com a vítima abordada.
Até que, um dia, o inesperado aconteceu.
A manhã seguinte seria o dia de pagar o aluguel da minha pequena e humilde casa, e o que eu mais
me machucava era o desespero da minha mãe. Ela não parava de chorar. Me pedia desculpas a todo o
momento por não estar em condições de trabalhar para nos sustentar, fora que insistia em dizer que era
tudo culpa sua.

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Eu simplesmente não suportei vê-la daquele jeito, culpando-se por algo que, definitivamente, não
tinha nada a ver consigo, mas sim com o homem que nos abandonou, o meu próprio pai. Diante do estresse
gigantesco que nos encontrávamos, me senti na obrigação de fazer alguma coisa. Só que, dessa vez, eu
faria algo grande.
Todos os meus roubos envolviam pessoas da minha região, mais humildes e idosas, porque assim,
tinha certeza de que elas não reagiriam aos meus assaltos. No entanto, para que eu pudesse conseguir
uma quantidade maior de dinheiro e em tão pouco tempo, isso precisava mudar. Por isso, tomei a decisão
de assaltar um bairro nobre da minha cidade, do lado oposto de onde eu costumava morar.
Com o plano já arquitetado em minha mente, deixei que o relógio marcasse quatro da manhã, um
horário em que as ruas estariam consideravelmente vazias para um sábado à noite. Fiquei à espreita de
uma boate em que alguns adolescentes de classe média alta costumavam frequentar, escolhendo com
cuidado a minha próxima vítima. Eu pretendia roubar alguém mais baixo do que eu, ou talvez até bêbado,
para que não tivesse condições de reagir ou ser violento.
Após longos minutos de espera, me deparei com a pessoa perfeita e que se encaixava em todas as
minhas exigências. Um garoto baixinho, sozinho e que andava distraído pelas calçadas, voltando para casa
sem preocupações. Aproximei-me com cautela e o abordei como sempre fazia, com toda a autoridade e
confiança possível.
Após isso, não consigo achar uma maneira de descrever em palavras os acontecimentos, visto que
muitos deles continuavam embaralhados e desconexos em minha mente perturbada.Porém, lembro-me
perfeitamente do momento do disparo.
O segundo em que Sai Yamanaka, um adolescente inocente de apenas dezesseis anos, que saiu de
sua casa para se divertir com os amigos e queria ficar longe de confusões, morreu em minha frente.
E tudo por minha causa.
Ele foi o único, entre todas as pessoas que já roubei durante minha fase criminosa, que teve coragem
o suficiente para me enfrentar e reagir a minha abordagem. O fato é que, como eu não estava habituado e
não tinha experiência com vítimas violentas e afrontosas, tratou-se de um ato involuntário apertar o gatilho
no instante em que ele veio na minha direção para me atacar, acertando-o na altura do peito.
Sai sangrou por longos minutos. Agonizou naquele chão sujo e frio, enquanto eu fugia igual o
covarde que sou, o deixando para morrer.
Eu nunca, enquanto eu viver, vou me perdoar por tudo o que fiz. Pretendo me culpar até meu último
suspiro por ter tirado a vida de um pobre adolescente, além de toda a dor que eu causei, tanto para a sua
família quanto para mim mesmo.
-Então foi ele que matou o Sai, hm? -O então Obito caminhou até mim, cruzando os braços. -Qual a
sua idade, garoto?
Baixei a cabeça, me sentindo intimidado.
-Dezoito...
Ambos os homens riram em conjunto sem qualquer motivo aparente, mas Kakashi parecia estar se
divertindo ainda mais com a situação. Suas gargalhadas, por algum motivo, me causaram arrepios ruins. O
medo que eu sentia naquele momento era inexplicável.
-Não dá pra acreditar que um pirralho desses foi capaz de cometer uma atrocidade tão grande.
-Kakashi também me avaliou. -Bom, ele vai ter o castigo que merece, não é mesmo?
-Com certeza. -Obito murmurou, parecendo habituado àquela rotina de recepcionar detentos. -Pode
levar, eu já autorizei a entrada dos dois.
-Certo. -Deu um empurrão em meu ombro, rosnando em meus ouvidos. -Anda logo, pivete.
Tremi da cabeça aos pés, obedecendo a todos as suas ordens, sem protestar. Em poucos minutos,
eu estaria dentro de uma cela e muito provavelmente a dividida com outros criminosos, os quais, sem
sombra de dúvidas, seriam mais perigosos e valentões do que eu.
Eu sentia vontade de chorar.
As lágrimas se acumulavam no canto de meus olhos, mas por alguma razão, não desciam de jeito
nenhum. O nervosismo era tanto, que meu corpo pareceu ter criado algum tipo estranho de bloqueio que
me impedia de chorar naquele momento.
-Ficou com medo, é? -Kakashi riu por me ver assustado. -É bom que esteja mesmo. Pessoas como
você merecem apodrecer atrás das grades até que se esqueçam da sensação de ter o sol batendo na pele.

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Nervoso, mordi meu lábio inferior para prender um soluço que insistia em sair. Eu estava aterrorizado
com o que escutei.
-N-Nada do que você diga vai me fazer sentir pior do que eu já estou... -Criei coragem para
responder, recebendo um puxão violento em meu cabelo, que me fez levantar a cabeça e gemer de dor.
-Toma muito cuidado com o jeito que você fala comigo, gracinha. -Aproximou nossos rostos,
acariciando minha bochecha de maneira lenta e perturbadora. Um sorriso também se fazia presente por sua
face e ele parecia estar verdadeiramente entretido com as lágrimas presas em meus olhos. -Eu não sei
como era a sua vida lá fora, mas aqui dentro, sou eu quem mando em você. Estamos entendidos?
Concordei frenético com a cabeça, me sentindo totalmente fraco e vulnerável. Se os policiais já eram
daquela forma, eu nem conseguia imaginar pelo o que passaria nas mãos dos detentos.
-Ótimo. -Se afastou normalmente . -Me dá seu pulso.
Agindo de maneira submissa, levantei minhas mãos algemadas e já logo recebi outra puxada violenta
de sua parte, onde fui trazido para frente com o intuito de ser solto. Ele tirou uma pequena chave do bolso e
retirou aquelas algemas apertadas e desconfortáveis de mim.
Massageei meu próprio pulso com um ar choroso, notando diversas marcas e cortes avermelhados
que ficaram em minha pele.
-Segura isso aqui. -Kakashi me estendeu uma pequena caixa de plástico, repleta de objetos
essenciais para a minha higiene pessoal dentro do presídio. -Tem pasta, escova de dente, uniforme,
sabonete e cuecas limpas.
Observei o conteúdo com mais atenção, torcendo o nariz com a qualidade dos produtos. Eram todos
amassados, sujos e parecendo até usados.
-Se você está achando isso aí ruim, então já pode começar a se preparar para o dia de amanhã.
-Sorriu maldoso, tentando me causar mais medo. E eu precisava admitir que estava funcionando, e muito.
-Você teve sorte, na verdade. Agora já é noite. Estão todos em suas devidas celas e não vão implicar com
você… Mas quando você acordar, pode se preparar para o pior.
Engoli em seco, comprimindo meus lábios para não questioná-lo sobre o que exatamente os outros
presidiários pretendiam fazer comigo pelo fato de eu ser o novato. Eu já tinha certa consciência de que todo
o recém-chegado em uma penitenciária ficava mais vulnerável do que o normal.
-Vamos logo, eu vou te levar até a sua nova casa. -Riu perverso, me fazendo andar em sua frente
para que tivesse total visão sobre mim. -Abre aqui pra mim, Obito.
Através do rádio comunicador, Kakashi recebeu uma resposta de seu companheiro, que abriu o
grande portão preto em nossa frente e liberou a nossa passagem. Eu estava tremendo tanto, que foi
literalmente impossível dar um passo.
-Anda logo, caralho. -Empurrou meu ombro com impaciência. -Eu não tenho a noite toda.
Caminhei com minhas pernas completamente bambas, encolhendo os ombros ao notar uma grande
e chamativa pintura em amarelo na parede à minha frente, a qual dizia "bloco 4". Eu não sabia o que aquilo
significava, mas também não estava em posição e nem em condições de fazer questionamentos sobre
nada. Apenas me deixei levar por aquele imenso corredor, mas que, naquele momento, encontrava-se
parcialmente escuro, deixando o clima ainda mais pesado e sinistro em minha humilde perspectiva.
-Mas o que é isso, hein?!
Vozes surgiram de repente.
E junto a elas, vieram assobios, risadas atrevidas e algumas palmas também. Parei novamente de
andar, paralisando involuntariamente no meio de várias e várias celas repletas de presidiários, que se
encontravam apoiados sobre as grades e olhando diretamente para mim.
Eu acho que nunca tremi tanto na minha vida.
-Trás o loirinho pra cá!
-Vem cá, delícia!
-Se eu pego um loiro desses, não sobra nada!
-Ei, gostoso, vem aqui comigo!
-Eu vou te chupar todinho!

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Eu senti meu fôlego se esvair, e como um ato inútil de defesa, abracei meu próprio corpo numa
tentativa de lidar com tanta atenção e vinda de tantas pessoas ao mesmo tempo. Eu estava sendo
assediado por mais de cinquenta detentos ao mesmo tempo. Aquilo era um pesadelo.
-Vão dormir, seus animais! -Kakashi berrou, me fazendo pular de susto, assim como alguns detentos
que pareceram se acalmar com as suas ordens. -Vem logo, puta que pariu!
O platinado me empurrou brutalmente pelo pescoço, continuando a me guiar para o final daquele
corredor e parecendo estar realmente impaciente por ter sido designado para aquele serviço. Paramos de
frente a uma cela qualquer, mas que, no caso, era a última de todas.
Olhei a parede ao seu lado, enxergando “444” pintado de amarelo. Eu deduzi que aquela seria a cela
em que eu ficaria pelos próximos tempos.
-Obito, abre a cela 444. -Chamou novamente pelo seu pequeno rádio na altura de seu ombro.
Seguindo o comando de seu companheiro de turno, a grade em minha frente foi destrancada e, em
seguida, aberta de modo bem lento por Kakashi — o que foi um tanto torturante para mim. Ainda não havia
caído a minha ficha de que eu realmente estava sendo preso.
Ergui minha cabeça sem fazer movimentos bruscos, prestando atenção em cada detalhe que se
encontrava lá dentro e, principalmente, atento ao tipo de pessoa que eu precisaria lidar e dividir a mesma
cela.
O lugar era extremamente minúsculo. Haviam dois beliches (quatro camas no total), um de cada lado
da cela, além de possuir uma pequena privada no canto direito, assim como uma cadeira e uma mesinha de
madeira no centro, a qual se encontrava riscada e completamente acabada.
Logo em seguida, veio o que eu mais temia.
-Mas que porra é essa, Kakashi?
Sentado ao lado inverso da cadeira detonada, um garoto loiro, claramente mais velho do que eu, com
cabelos longos e presos em um coque desajeitado, continha um cigarro recém-acesso entre seus dedos,
além de estar sem a sua camiseta e claramente habituado ao fato dos presidiários não possuírem pijamas.
Rapidamente, seu olhar caiu sobre mim. Ele me fuzilou sem dó e fez questão de mostrar o quanto
detestou a minha presença, mesmo que nem tivéssemos sido apresentados diretamente.
-Deidara, quantas vezes eu já te falei pra não fumar dentro da cela, caralho?! -Kakashi engrossou a
voz, dando um passo ameaçador para dentro da cela, acabando por me levar juntamente com ele. -Me dá
esse isqueiro agora mesmo! Onde foi que você conseguiu isso?!
Rindo em deboche, o loiro simplesmente ignorou a ordem que lhe foi concedida, levando o cigarro
aos lábios e tragando sem tirar os olhos de mim.
-Já chega, Deidara! -Bateu os pés e largou do meu braço, mas somente para retirar um objeto de seu
bolso, o que eu logo deduzi se tratar de uma arma de choque. -Você quer mesmo lidar com as coisas desse
jeito?! Me dê isso agora!
-Deidara, entrega o isqueiro pra ele.
Pulei involuntariamente pelo susto. Havia mais uma voz presente na conversa, só que mil vezes mais
tranquila e baixa do que a de Kakashi.
Levei meus olhos até o beliche ao meu lado esquerdo, me assustando com a presença de um garoto
ruivo e de pele branquinha, que se encontrava na cama de cima e carregando um livro em mãos, olhando
para a cena com um semblante tedioso e, de certa forma, sonolento.
O que me impressionou foi o fato de que eu não havia notado a sua presença desde que cheguei.
-Fica na sua, Gaara. -O então Deidara lhe cortou, revirando os olhos ao ter a arma de choque
apontada em sua direção, quase em contato com o seu pescoço. Talvez, por esse motivo, ele pareceu
ceder às ordens do outro, atirando o isqueiro nos pés do policial. -Toma aí, aproveita e enfia no seu cu,
Kakashi.
Gaara soltou uma risada com o comentário, provavelmente achando graça no que ouviu. Eu, por
outro lado, arregalei meus olhos com tal comportamento. Como ele tinha tanta coragem para enfrentar os
carcereiros daquela maneira?
-Como é?! -Kakashi simplesmente explodiu, avançando para cima do outro sem pensar e o puxando
brutalmente pelo cabelo, desmanchando todo o seu coque. Deidara travou o maxilar, o desafiando em
silêncio e não se deixando intimidar. -Da próxima vez que você sair da linha, eu juro que acabo com você.
Ficou claro?!
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O loiro, que até então permanecia sério e tomado pela raiva, soltou uma risada nasalada e
debochada, abrindo um sorrisinho sínico:
-Claríssimo, Kakashi.
-É assim que eu gosto. -Largou seus fios, olhando para os garotos com autoridade. Em seguida, ele
apontou diretamente para mim, o que me fez gelar da cabeça aos pés. -Esse será o novo companheiro de
vocês, estamos entendidos? Vocês terão que dividir a cela.
Deidara abriu sua boca em um perfeito “o”, claramente surpreso com a notícia, mas ao mesmo
tempo, odiando tudo o que ouviu.
-Você só pode estar brincando. -Negou com a cabeça, desacreditado. Levantou-se da cadeira para
ficar na altura do policial, não desistindo de desafiá-lo nem mesmo após a bronca horrorosa que tomou.
-Essa cela já tem gente, leva esse franguinho pra outro lugar!
Me encolhi com o apelido maldoso que ele usou para se referir a mim, especialmente ao notar que
Gaara havia aprovado e rindo baixinho da situação.
-Você sabe bem que não é assim que funciona, Deidara. -Argumentou e cruzou os braços com
impaciência. -O bloco 4 é o mais cheio de todos e essa cela é a única disponível no momento, tem duas
camas sobrando.
-Não está sobrando! -Rebateu, gesticulando enquanto falava. -O Suigetsu está com a gente!
-Verdade. -O ruivo acrescentou, umedecendo a ponta de seus dedos ao virar a página do livro.
Além de medo, eu me sentia um lixo. Ambos os garotos estavam fazendo de tudo para não me terem
em sua cela.
-O Suigetsu está na solitária. -Kakashi esfregava o próprio rosto, parecendo cansado para ter aquela
conversa. -Ele vai voltar para o bloco 5.
-Na solitária? -Gaara se interessou, rindo fraco. -O que aquele louco fez dessa vez, hein?
-Ele mordeu o pescoço de um dos polícias. -Revelou seriamente, arrancando gargalhadas divertidas
dos dois garotos. Eu, por outro lado, senti que poderia desmaiar a qualquer momento com todos os
absurdos que escutava. -Vocês acham isso engraçado? Por conta dessa "gracinha", ele voltou para o bloco
5 e agora a pena dele aumentou ainda mais.
-O azar é dele! -Deidara deu de ombros. -A questão é, nós não queremos esse franguinho aqui com
a gente!
Dei um passo medroso para trás, abraçando a pequena caixa de plástico contra meu peito.
-Vocês não estão em posição de querer nada, caralho.-Kakashi pareceu ter perdido o restante de sua
paciência, olhando para mim. -Pega as suas coisas e escolhe uma cama, já!
Assenti rápido e submisso, começando a me desesperar por vê-lo dar as costas, dando sinal de que
sairia da cela. A última coisa que eu queria e precisava era ficar sozinho com dois criminosos que, além de
perigosos, me odiavam.
-Não vai embora! -Deidara me ultrapassou, chocando nossos ombros com violência ao tentar
alcançar o policial. Para seu azar, ele já havia nos trançado na parte de dentro. -Filho da puta!
-Não adianta gritar, Dei. -O ruivo murmurou, soltando um pequeno bocejo como se já estivesse
habituado ao temperamento de seu companheiro de cela. -Ele não vai voltar.
-Vai se foder! -Xingou-o no mesmo tom, desferindo um chute na grade à sua frente, me fazendo
encolher os ombros pela barulheira excessiva e a agressividade vinda do mesmo.
Eu estava muito indefeso.
Fiquei paralisado que nem uma estátua no meio da cela, segurando em minhas mãos a mesma
caixinha de antes, imaginando se deveria ou não seguir as ordens anteriores do Kakashi para me acomodar
em alguma das duas camas que sobraram. Afinal, eu não queria já chegar causando uma má impressão
para os dois.
Após refletir por longos segundos, decidi me dirigir ao beliche do lado direito da cela, apoiando
minhas coisinhas na cama de baixo, onde, aparentemente, estava vazia. Quando eu estava prestes a me
deitar, sem saber ao certo o que deveria fazer ali dentro, levantei-me de abrupto pelo chamado escandaloso
que tomei:

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-Vaza daí, franguinho! -Deidara chegou gritando, avançando para cima de mim. -Escolhe outra cama,
eu vou usar as duas!
Concordei submissamente, pegando as minhas tralhas mais uma vez e tremendo na hora que passei
do seu lado, sentindo seu olhar queimar sobre mim enquanto ele me assistia de braços cruzados.
Novamente, fiquei parado no meio da cela com um olhar perdido, arrancando algumas risadas de Gaara, o
qual se divertia por me ver tão inofensivo e com as pernas bambas.
Era tão visível o meu grau de nervosismo.
-Você pode ficar com a cama de baixo, franguinho. -O ruivo declarou, fechando seu livro e
sentando-se com as pernas balançando no ar.
Soltei um suspiro aliviado com o que escutei assentindo positivamente com a cabeça e ficando
realmente agradecido com a autorização que recebi. Eu estava com medo de precisar passar a noite inteira
no chão gelado e sujo da prisão.
-O-Obrigado… -Notei que foi a primeira vez que disse alguma coisa desde que cheguei ali.
Posicionei as minhas coisas na ponta da minha mais nova cama, ainda em dúvida se deveria me
deitar ou continuar de pé onde eu estava.
Era tudo muito novo para mim.
-Qual é o seu nome? -Gaara sorriu meio divertido, falando comigo de cima do beliche.
-N-Naruto... -Me engasguei com o próprio ar.
Foi a vez de Deidara se divertir com a minha situação, rindo maldosamente enquanto tomava a
liberdade de sentar-se de frente para mim, na mesma cadeira que estava anteriormente.
Me surpreendi ao vê-lo levar um novo cigarro aos lábios, acendendo-o com um isqueiro diferente do
que o Kakashi levou consigo. Ele havia ignorado totalmente as ordens que recebeu, sem medo de ser
flagrado ou das consequências.
-Você parece ter uns dezesseis anos de idade, sabia? -O ruivo comentou, ainda me observando. Ele
me deixou sem falas, eu realmente não sabia o que lhe responder. -Não é, Dei?
-Sei lá. -Deu de ombros, assoprando a fumaça para cima. -Eu não me importo.
-Você só liga pra si mesmo. -Rebateu num tom brincalhão, recebendo em resposta um dedo do
meio, juntamente com um “vai tomar no cu” bem grosseiro. -Quantos anos você tem, franguinho?
-D-Dezoito. -Relevei com medo, me encolhendo com a risada alta e sarcástica que partiu de Deidara,
o qual se engasgava entre uma tragada.
-Porra, garoto. -O loiro refazia o coque em seu cabelo, me dando outra olhada indiscreta de cima a
baixo. -Você é uma criança, literalmente.
-Pois é. -Gaara virou sua cabeça para o lado, parecendo pensar em algo. -Você definitivamente não
tem cara de quem pertence ao bloco 4. O que você fez pra chegar até aqui, hm?
Não era a primeira vez em que ouvia o “bloco 4” ser citado em alguma conversa. Eu ainda não sabia
o que aquilo significava e nem como diferenciar os blocos entre si. Confesso que estava precisando de uma
explicação sobre isso, mas me encontrava inseguro e receoso demais para questioná-los sobre qualquer
coisa.
-Esse franguinho 'tá mais pro bloco 1. -Deidara riu com o próprio comentário, me deixando cada vez
mais confuso.
-Tem certeza que não te colocaram no bloco errado, Naruto? -Reparei que aquela era a primeira vez
que me chamavam pelo nome. De certa forma, isso me aliviou um pouco.
-E-Eu não sei...? -Minha voz saiu falha, mais como uma pergunta.
-Eles pelo menos te explicaram sobre os blocos? -Gaara, que agora retornava à se deitar em sua
cama, indagou curiosamente.
-N-Não, ninguém me explicou nada.
-Caralho, hein? -Deidara soprou a fumaça, olhando desacreditado para seu parceiro. -Nem pra
explicarem o esquema pro garoto. Os tempos mudaram, né?
-Os blocos são divididos de acordo com a gravidade dos delitos cometidos, franguinho. -O ruivo
apoiou seu cotovelo sobre o colchão. -Aqui na prisão vai até o bloco 5.

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Eu escutava tudo bem atentamente.
-O bloco 1 é o mais tranquilo e inofensivo de todos, só composto por pessoas que cometeram furtos,
vandalismo, pequeno valor de fraude e até desacato à autoridade. Coisas leves, entende?
Concordei com a cabeça, verdadeiramente interessado naquela explicação. Eu passaria bastante
tempo na prisão, por isso, precisava entender como as coisas funcionavam por ali.
-O bloco 2 também é um dos mais tranquilos do presídio. Tem corrupção, falsificação, adulteração,
golpes, extorsão e muito mais. -Explicou pacientemente, aceitando o cigarro estendido pelo loiro, tragando
calmamente antes de continuar. -Daí vem o bloco 3, que já é um pouquinho mais pesado.
-Pesado? -Repeti receoso.
-É um pouco pesado, mas nada comparado aos que vem depois. -Devolvendo o cigarro ao seu
companheiro. -No bloco 3, estão as pessoas que foram presas por violência no geral, sabe? Tipo assaltos,
brigas em bares, lesões corporais graves... Mas sem matar ninguém.
-Você considera brigas em bares pesado, Gaara? -Deidara soltou uma risada sarcástica. -Os
detentos do bloco 3 são todos uns imbecis.
-Você acha todo mundo imbecil, Deidara. -Rebateu, impaciente por ter sido interrompido.
-Continuando... O bloco 4, ou seja, o nosso bloco, é o segundo mais perigoso do presídio. Aqui ficam as
pessoas que cometeram homicídios simples e qualificados, latrocínio, tráfico de drogas, sequestro,
favorecimento a prostituição e etc.
Arregalei os olhos com o que escutei, ficando decepcionado comigo mesmo pelo simples fato de
estar no meio daquele tipo de gente.
Querendo ou não, eu era como eles agora.
-E por último, o bloco 5... -Gaara tencionou seus ombros por precisar entrar nesse ponto. Ele lançou
um olhar rápido ao seu parceiro, parecendo buscar por ajuda. -Como eu posso começar a explicar o bloco
5?
O loiro suspirou pensativamente, dando uma última tragada antes de apagar seu cigarro.
-Lá tem os piores tipos de seres humanos... Quer dizer, tipos de monstros. Os detentos daquele
bloco não tem que ser considerados humanos. -Olhou para mim. De início, achei que ele só estava dizendo
aquilo para me assustar, mas ao reparar em sua expressão facial, eu soube que era verdade. -Tem tortura,
genocídio, estupro, pedofilia, necrófila, terrorismo e muito mais.
Senti um calafrio horrível subir pela minha espinha. Meu estômago se embrulhou drasticamente,
trazendo com ele uma ânsia de vômito terrível. Eu realmente senri que poderia vomitar.
-Mas não é só isso. -Gaara complementou. -Para pertencer ao bloco 5 é necessário ter cometido pelo
menos dois delitos de cada categoria. As pessoas de lá não são necessariamente estupradores ou
necrófilos, mas são pessoas que cometeram, no mínimo, uns dez delitos ou mais.
Era muito para assimilar.
-M-Meu Deus... -Senti minha pressão cair, precisando sentar-me na cama e tombar meu pescoço
para baixo. Fechei meus olhos, respirando aceleradamente e apertando as minhas têmporas. -E-Eu... Eu
vou precisar ter contato com eles?
Deidara gargalhou com a pergunta.
-É claro que vai. -Respondeu, fazendo meu coração falhar uma batida. -Somos separados em blocos
só na hora de dormir, mas durante o dia, os detentos ficam todos juntos. Desde o bloco 1 até o bloco 5.
-A-Ah, não... -Levei a mão ao peito.
-Relaxa, franguinho. -O ruivo pendurou sua cabeça para fora da cama. -Poderia ser pior, não é, Dei?
Você está dividindo a cela com a gente. O ruim mesmo seria se você precisasse ficar com os os irmãos
Uchiha.
Notei que Deidara grunhiu com irritação, apertando seus próprios punhos ao escutar aquele nome
ser citado em nossa conversa.
-Irmãos Uchiha? -Utilizei o restante de meu fôlego para perguntá-lo, levemente receoso com a
resposta. Até então, eu só havia recebido notícias ruins.
-Oh, sim. -Gaara olhou para a parede ao seu lado, refletindo silenciosamente. -Eles são do bloco 5,
até o Kakashi tem medo deles.

7
Arregalei meus olhos pela centésima vez no dia, tal ato que não passou despercebido pelo ruivo, o
qual achou engraçado conseguir me assustar com tanta facilidade.
-A família Uchiha manda nessa prisão a mais tempo do que você pode imaginar. -Ele me prendia
cada vez mais naquela conversa. -Antes deles veio o Shisui, o Inabi, o Izuna, o Madara... E assim por
diante.
-E quem está no comando agora? -Eu não poderia deixar de perguntar.
Gaara riu fraco com a pergunta.
-Itachi Uchiha.
Senti cada pelo de meu corpo se arrepiar somente por escutar aquele nome e sem nem ao menos
conhecê-lo pessoalmente.
-E junto com ele, tem o Sasuke. -Completou, ao mesmo tempo em que Deidara batia os pés e bufava
impaciente com o assunto. -O Sasuke, além de ser o irmão mais novo do Itachi, é o seu braço direito. Pra
onde o Itachi vai, ele vai junto.
-Eles são todos uns filhos da puta! -Deidara xingou. -Esses dois e o restante do grupinho deles
também, que se acham os donos da prisão!
-Mas eles são os donos da prisão, Deidara. -Retrucou, rindo divertido. -Você só tem raiva deles,
porque o Itachi te deu um pau.
-Vai se foder! -Berrou, quase avançando para cima de si. -Você não sabe do que está falando!
Eu não estava entendo mais nada.
-C-Como assim? -Me arrisquei na hora de perguntar.
-O Deidara fazia parte da grupo dos Uchiha, acredita nisso? -Gaara decidiu me contar, mesmo sem a
permissão do loiro. -Eles andavam todos juntos, até que um dia o Dei acabou brigando com o Itachi por
algum motivo que eu não sei e que ele não me conta. Olha só a cicatriz na barriga dele!
Olhei diretamente para onde seu dedo apontava, suspirando assustado ao notar uma cicatriz imensa
e profunda na altura de seu abdômen, parecendo ainda estar cicatrizando..
-Eu também deixei aquele filho da puta com uma cicatriz no ombro! -Exclamou, sorrindo orgulhoso
pelo o que dizia. -Foi o melhor dia da minha vida ver o Itachi Uchiha sangrar por minha causa!
Engoli em seco.
Eles pareciam ser tão barra pesada, agressivos, corajosos e já adaptados a esse mundo do crime,
enquanto eu era somente uma criança em meio a eles e que não sabia nem como me defender.
Eu era um verdadeiro franguinho.
-A moral da história é: não se meta com o Itachi e nem com o irmão dele. -Gaara parecia querer
encerrar o assunto, soltando um bocejo. -O Itachi é a pessoa mais fria, sem coração e calculista que eu já
conheci em toda a minha vida, mas se você mexe com o Sasuke, ele se transforma. As únicas vezes em
que eu vi ele ter algum tipo de humanidade foi perto do irmão.
-Isso porque ele tem um caso com o irmão dele! -O loiro exclamou, arrancando umas boas risadas de
seu companheiro.
-U-Um caso?
-Não ouve o que o Deidara fala, franguinho. -O ruivo negou com a cabeça. -Ele só diz isso porque o
Itachi trata o Sasuke diferente e melhor do que todo mundo, mas isso não significa que eles tenham um
caso.
-Significa sim, porra!
-Não significa não. -Retrucou.
-Óbvio que significa!
-Não sign—
Ambos os garotos foram interrompidos por um som alto e violento, que ecoou por todo o interior da
cela. Olhei assustado para trás, enxergando Kakashi com um cassetete na mão, dando pauladas na grade
para chamar a nossa atenção.
-Vão dormir, agora!

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Pelo susto que tomei, corri obedientemente para a minha cama, deitando encolhido no canto da
mesma e não demorando para notar o quanto o colchão era duro e achatado. Deidara,
surpreendentemente, também acabou obedecendo, dirigindo-se até o seu próprio colchão no beliche de
cima.
Quando Kakashi se afastou, ele se pôs a xingá-lo mais uma vez:
-Caralho, como eu odeio esse homem! -Socou o próprio travesseiro. -Porra!
-Como eu já disse, você odeia todo mundo. -O ruivo murmurou de sua cama, bem em cima de mim,
ajeitando-se para ficar em uma posição mais confortável. -Vamos dormir, é melhor.
-Eu não vou dormir porra nenhuma. -Bufou, começando a tirar algo da fronha de seu travesseiro, o
que eu logo deduzi ser outro cigarro. -Quem tem que dormir aqui é você, franguinho. Amanhã o dia vai ser
cheio.
Fechei meus olhos com força só de imaginar pelo o que eu passaria na manhã seguinte. Eu estava
morrendo de medo, aquilo era fato.
-Ei, franguinho? -A voz de Gaara se fez presente depois de um tempo.
-O-O que?
-Não pense que você vai escapar de me contar, hein? -Riu baixo. -Eu ainda quero saber como você
veio parar aqui.
Eu decidi não lhe responder, embora também estivesse curioso a respeito dos dois. Afinal, para
pertencer ao bloco 4, segundo as explicações de Gaara, é necessário ter cometido delitos bem sérios,
incluindo homicídio.
No dia de amanhã — isso se eu sobrevivesse até lá — pretendia perguntá-los sobre isso.
Cansado demais após sobreviver a o dia mais estressante de toda a minha vida, virei meu rosto para
a parede, sentindo o uniforme me pinicar, além do colchão extremamente desconfortável por baixo de mim.
Naquele momento, eu tive certeza de que aquela noite seria a mais longa e insuportável que eu já vivenciei.

Capítulo 2 - Vantagens

Naruto On

Um novo dia começava. Quer dizer, pelo menos foi o que eu deduzi, até porque não tinha a opção de
abrir a janela para contemplar o céu e muito menos ter contato com a luz natural de fora. O barulho da
sirene — a qual eu imaginei se tratar de uma espécie de despertador para os detentos de toda a prisão —
foi o que me fez ter certeza de que estávamos no período da manhã.
Eu mal havia dormido a noite.
Passei minha madrugada inteira aos prantos e me afogando em lágrimas, fora que precisei tapar
minha própria boca para não fazer ruídos ou atrapalhar a noite de sono dos outros dois garotos que
estavam comigo. Embora eu estivesse psicologicamente abalado, seguido do fato de que não conseguia
parar de culpar a mim mesmo por toda a dor que causei aos outros, eu ainda tinha consciência de que não
poderia ser um incômodo para o Deidara e o Gaara.
Afinal, eu havia acabado de chegar e precisava me manter nos eixos para não ter problemas.
-Argh!
Virei minha cabeça lentamente para o lado, enxergando, mesmo que de modo embaçado por conta
de minhas lágrimas, Deidara soterrando seu próprio rosto no colchão, visivelmente irritado pelo fato de ter
sido acordado pela sirene.
-Porra, mas que inferno! -Exclamou enraivecido, socando o travesseiro e abafando sua voz nele.
Esfreguei meus olhos com exaustão, sentindo-os pesados e inchados, além de estar com uma dor de
cabeça insuportável depois de chorar a madrugada inteira e sem pausas. Enquanto isso, notei o braço de
Gaara tombar para fora do beliche um pouco mais acima de mim, anunciando que ele também estaria
despertando.
-Cacete, eu não dormi praticamente nada essa noite! -Gritou exaltado, sentando-se para olhar até
mim com ódio. -É tudo culpa sua, franguinho!
Fiquei uns cinco segundos com cara de tonto, tentando entender do que ele estava falando.

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-M-Minha culpa? -Me encolhi entre os lençóis.
-Você chorou a porra da noite toda! -Deidara gritava comigo e, ao mesmo tempo, arrumava o seu
cabelo, penteando-o agressivamente com os próprios dedos. -Já vou avisando que se você atrapalhar
minha noite de sono mais uma vez, eu acabo com você!
Assenti obedientemente, mas tentei me justificar enquanto o assistia amarrar seus fios com um
elástico e deixar parte deles cair na frente de seus olho:
-M-Me desculpa, eu não queria ter feito barulho e—
-Não interessa! -Me interrompeu aos berros. -Se você quer chorar, então chore longe daqui!
-Para com isso, Deidara. -Gaara, que naquele momento espreguiçava-se na cama de cima, estalou a
língua no céu da boca, incomodado com o tom exageradamente alto de seu companheiro. -A primeira noite
na prisão é assim mesmo, as pessoas sempre choram.
-Você vai defender esse franguinho agora?! -Ele descia pela escada de seu beliche, encarando-o
com indignação. -Vai se foder, cara!
-A vida já me fode todo o dia.
Diferente dos outros dois, eu permaneci encolhido na minha cama, também acompanhando o Gaara
descer pela escadinha. Fiquei imóvel no canto de meu colchão, tanto pelo medo que sentia de Deidara
quanto por simplesmente não saber o que fazer em seguida.
Eu nem imaginava como era a rotina deles.
-Levanta daí, Naruto. -O ruivo foi quem decidiu falar comigo, lançando-me um sorriso pequeno e
sonolento. -Agora é hora do café, a gente precisa se trocar pra descer até o refeitório.
Honestamente, era bom ter o Gaara para me explicar sobre as regras do presídio, além do fato de
que ele já havia me familiarizado em relação aos blocos. Eu até poderia dizer que o considerava uma
pessoa legal, mas dadas as circunstâncias em que nos conhecemos, dentro de uma cadeia, ambos
pertencentes ao bloco 4, decidi que não construiria uma opinião sobre si.
Pelo menos não por enquanto.
De qualquer forma, eu decidi lhe seguir. Levantei de minha cama sob os olhares raivosos do loiro,
que, naquele mesmo instante, se despia em minha frente e colocava o uniforme da prisão. Gaara também
fazia o mesmo, vestindo sua calça bem sonolentamente e bocejando à medida em que se movimentava.
Decidi copiá-los, mas me senti levemente envergonhado por precisar tirar a minha roupa na frente de dois
desconhecidos, mesmo que, dali para frente, eu soubesse que as coisas seriam daquele jeito.
-Vão logo com isso, seus animais!
A voz de Kakashi se fez presente pelo corredor.
E juntamente a ela, o barulho ensurdecedor de seu cassetete se chocando contra o metal de nossa
grade, chamando tanto a nossa atenção quanto a do restante dos detentos do bloco.
-Um dia eu ainda enfio esse cassetete no meio do cu dele. -Deidara resmungava sozinho, bufando ao
terminar de se vestir. -Um dia…
-Obito, pode abrir o bloco 4 pra mim. -Kakashi se apoiou na parede de nossa cela, chamando seu
parceiro pelo rádio comunicador.
Deidara e Gaara, mais do que habituados ao dia a dia no presídio, dirigiram-se até a frente da grade,
enquanto a mesma era aberta lentamente, assim como todas as outras do bloco. Senti meu coração falhar
uma batida, observando de olhos esbugalhados a quantidade absurda de detentos que circulavam o local,
todos aparentemente mais altos, fortes e ameaçadores do que eu.
Eu era, sem dúvidas, o mais fraco entre todos.
-Você vem franguinho? -Gaara olhou até mim, me notando encolhido no canto da parede.
-E-Eu tenho a opção de ficar aqui? -Indaguei esperançoso, passando a observar Kakashi, que batia
seus pés impacientemente enquanto esperava que saíssemos para fechar as celas.
-Não, você precisa sair. -Soltou uma risadinha, aproximando-se de mim. -Escuta, hoje você pode ficar
comigo, se quiser... Só pra não se sentir tão desprotegido e vulnerável, sabe?
Soltei todo o ar de meus pulmões, nem reparando que o havia prendido por todo esse tempo. Meus
ombros, por outro lado, se relaxaram de imediato. Sinceramente, era isso que eu estava precisando. Eu
desejava alguém para me fazer companhia e fazer com que eu me sentisse mais seguro e protegido,

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embora, no fundo, eu soubesse que, receber proteção dentro de uma cadeia, era algo difícil de se
acontecer.
Ali era cada um por si.
-Eu não estou garantindo com cem por cento de certeza que eles vão te deixar em paz por verem
você comigo, mas pelo menos você não vai ficar tão sozinho. -Me lançou um sorriso pequeno, dando mais
um passo para perto de mim.
Eu realmente não sei de onde tirei tanta boa vontade para isso, mas naquele instante, senti que
deveria agradecê-lo de alguma maneira, nem que fosse apenas com um sorriso.
E foi exatamente isso que eu fiz. Lhe lancei um sorriso mínimo e apagado, sobretudo, sei que foi o
bastante para lhe passar a mensagem de que me sentia agradecido pela oportunidade de ter a sua
companhia logo em meu primeiro dia.
-Anda logo, Uzumaki! -Kakashi estralou o cassetete contra a parede, perdendo o resto de sua
paciência por conta da minha demora.
Assustado, me desencostei da parede e corri atrapalhado para perto do Gaara, que soltou outra
risada com a minha postura, ainda achando graça em meu jeito submisso a todas as ordens que recebi
desde o momento em que cheguei. Juntos, passamos ao lado do platinado, tendo, por fim, a cela fechada
atrás de nós, reunindo todos os detentos do bloco 4 no corredor.
Eu estava em pânico.
Ainda ao lado do ruivo, me encolhi e baixei a cabeça discretamente, tentando passar despercebido
em meio a todos aqueles criminosos. Gaara, já acostumado, caminhou para o meio da multidão, me
deixando novamente imóvel no canto do corredor. Ele estava indo rápido demais para o meu gosto.
-Vem, franguinho. -Gesticulou com a mão. Notei que todos os presos seguiram para uma mesma
direção, sendo observados atentamente por Kakashi e mais alguns policiais desconhecidos por mim. -A
gente precisa ir agora.
-C-Certo…
Fiquei grato pela paciência de Gaara. Ele fez questão de me esperar e respeitou meu medo na hora
que precisei me embrenhar no meio da multidão. Passei o caminho inteiro de cabeça baixa, olhando
diretamente para meus pés e evitando fazer movimentos bruscos para não chamar a atenção de mais
ninguém.
Só que, infelizmente, isso não durou muito.
Ao sairmos pela porta final do corredor — talvez pelo fato do lugar ser curto no sentido de
comprimento e, consequentemente, pequeno no sentido largura — percebi que uma quantidade ainda maior
de detentos se aglomeram ao meu redor e, por conta disso, acabaram notando a minha presença no meio
do bando.
-Olha só pra esse loiro, hein? -Um deles passou a mão no meu cabelo, cutucando um de seus
companheiros. -Se liga nesse aqui, cara.
Apesar de tudo, eu decidi permanecer de cabeça baixa. O meu plano foi ficar imóvel e não esboçar
nenhuma reação diante do assédio, torcendo para que eles fossem embora o mais rápido possível e me
deixassem em paz.
-Porra, era de um desses que eu precisava na minha cela! -Logo atrás de mim, outro homem riu pela
comentário, aproveitando-se da situação para me encoxar e se esfregar no meu corpo.
Eu me sentia invadido.
Prensei meus lábios e apertei meus punhos com força, sentindo uma vontade gigantesca de reagir
ao assédio, embora tivesse consciência de que não poderia me arriscar a esse ponto.
Infelizmente, eu teria que aguentar.
-Deixa ele em paz, gente. -Gaara lançou um olhar de reprovação para os dois, parecendo
conhecê-los de algum lugar. -Ele é novo aqui.
-Você também é uma delícia viu, gracinha? -O primeiro homem tentou tocá-lo na bochecha, mas não
obteve sucesso. O ruivo afastou seu rosto com uma expressão de nojo e deu um passo para trás.
A conclusão que pude chegar naquele instante foi que, se nem mesmo o Gaara tinha sossego
estando preso a bem mais tempo do que eu, aquilo significava que eu jamais teria paz naquele lugar.
Percebi que os dois detentos pretendiam continuar nos atormentando, mas por alguma razão até então

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desconhecida, calaram-se com a presença de Deidara e mudaram de postura no momento em que ele
chegou — como sempre, carregado de uma feição impaciente, mas completamente alheio aos assédios
anteriores.
-Por que essa fila está demorando tanto?! -Ele chegou reclamando, empurrando os dois detentos
que, sem protestarem, decidiram se afastar. Deidara ficou na ponta dos pés, tentando enxergar a fila em
nossa frente. -Vai logo aí na frente, caralho! Eu estou com fome!
Alguns dos presidiários aprovaram a sua pequena rebelião e gritaram o mesmo que ele,
aparentemente incomodados com a fila e com a demora para o início do café da manhã.
-Todo dia é a mesma coisa. -Gaara murmurou próximo de meu ouvido, rindo baixinho com o alvoroço
que o loiro estava armando.
Voltei a observar o Deidara, refletindo silenciosamente o fato de vê-lo intimidar aqueles dois homens
tão facilmente ao ponto de ambos deixarem a fila somente com sua aproximação. O loiro nem ao menos
falou com eles, mas da mesma forma, botou ambos pra correr.
-Todo mundo respeita muito o Deidara aqui dentro. -Gaara pareceu ler os meus pensamentos,
comunicando-se comigo enquanto assistia seu companheiro de cela iniciar uma discussão com o Kakashi
por conta da fila.
-Como assim? -Perguntei curioso.
-O Dei matou um policial. -Revelou simplista, me deixando de queixo caído. Como eles diziam
aquelas coisas com tanta normalidade? -A história dele é bem interessante. O Deidara comandava todo o
trágico da cidade dele e selecionava só pessoas de confiança pra trabalhar junto, até que um dia, descobriu
um policial infiltrado no meio do negócio dele… Bom, ele matou o cara depois disso, obviamente.
Olhei assustado para o ruivo. Eu jamais imaginei que aquele seria o motivo que levou o Deidara a ser
preso. Sinceramente, me passaram outras coisas pela cabeça quando nos conhecemos.
-N-Nossa… -Foi o que eu consegui responder.
Gaara riu divertido.
-Pois é... Além disso, todo mundo sabe que o Deidara já fez parte do grupo dos Uchiha e que ele
também foi o único corajoso o suficiente nessa prisão pra enfrentar o Itachi.
Eu fiquei pensativo com a conversa.
Na minha opinião, o Gaara tinha muita sorte de ser amigo do loiro. Afinal, quando se sentisse
intimidado com alguma coisa, ele só precisaria chegar perto do Deidara e, assim, teria proteção.
-Mas e você, hein? -Chocou nossos ombros enquanto retomamos a caminhada até o refeitório. -Eu
ainda quero saber como você veio parar aqui.
Fitei o chão magoado, sentindo a mesma pontada familiar em meu peito ao precisar me recordar da
atrocidade que cometi. Se era ruim apenas de pensar, eu nem imaginava como seria precisar confessar a
um "desconhecido".
-Se você quiser, eu posso te contar a minha história. -Ele pareceu notar o meu desconforto.
Assenti curiosamente.
-Certo... -Riu baixinho, nenhum pouco incomodado por precisar tocar no assunto. -Indo direto ao
ponto, eu matei o cara que estuprou a minha irmã.
Virei meu pescoço para ele, quase trombando com o detento na minha frente.
-E não, eu não me arrependo. -Completou, talvez prevendo que eu lhe perguntaria sobre isso.
Fiquei um tempinho refletindo silenciosamente sobre a sua história, chegando a uma conclusão
digna. Era oficial. Eu tinha uma opinião positiva sobre o ruivo, independente de ele ter matado alguém a
sangue frio ou não.
-V-Você fez certo, eu acho. -Me arrisquei na hora de "consolar". Sinceramente, eu estava enjoado só
de pensar em todo o mal que aquele abusador causou a sua irmã. Estupro, pelo menos para mim, era algo
imperdoável e desumano.
-Eu não me importo se o que eu fiz foi certo ou não. -Deu de ombros. -Eu só fiz o que achei que
aquele porco imundo merecia.
Assenti positivamente, ficando quieto.

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-Mas e você? -Virou a cabeça. -O que foi que você fez pra chegar até aqui, hm?
Baixei minha cabeça, decidido de que me abriria com o ruivo, mesmo que doesse muito.
-E-Eu matei um garoto… -Minha voz soou tão falha, que foi necessária uma aproximação sua para
me ouvir melhor. -Mas eu não queria ter feito isso, de verdade. Eu nunca mataria alguém a sangue frio,
nunca…
-Tudo bem, eu acredito em você.
Levantei meu pescoço, ficando surpreso.
-A-Acredita?
Era a primeira vez que alguém realmente se importava em ouvir o meu lado da história.
-Eu acredito que você não quis fazer mal a ninguém. -Sorriu simples. -Sem julgamentos, franguinho.
Todos que estão aqui vão pegar pelo o que fizeram, arrependidos ou não, e nós não estamos em posição
de julgar ninguém.
-S-Sim. -Concordei meio atrapalhado, ainda surpreso com o quanto Gaara foi compreensivo comigo,
mesmo me conhecendo a menos de vinte e quatro horas. -Você tem razão, eu acho.
-Finalmente! -Era Deidara quem voltava gritando, empurrando todos os detentos para o lado, ao
mesmo tempo em que nos dirigimos a um lugar mais aberto e espaçado, o qual eu logo identifiquei se tratar
do refeitório.
-Esse é o refeitório. -O ruivo me confirmou.
Eu olhei ao meu redor. Minha primeira impressão foi: caramba, que lugar lotado. O fato é que,
naquele mesmo ambiente, havia detentos tanto de nosso bloco quanto dos demais (1,2,3 e 5). Alguns se
encontravam em uma fila meio desorganizada para pegar o café da manhã, outros andavam ao redor do
refeitório e a maioria estava devidamente sentada nas mesas.
De qualquer forma, era uma barulheira.
-Agora, a gente só precisa pegar um lugar nessa fila. -Suspirou cansado, desviando de uma pequena
briga que acontecia em nossa frente, onde alguns detentos discutiam pelo lugar na mesa. -Vem, pega sua
bandeja.
Seguindo o ruivo, me encolhi ao passar perto de um grupo com aproximadamente sete homens, os
quais me encararam de cima a baixo e sorriram repletos de segundas intenções. Decidi que o melhor seria
ignorá-los, apenas pegando a bandeira indicada por Gaara e esperando minha vez chegar.
Estava uma zona completa.
Brigas ocorriam a todo o vapor, envolvendo tanto presidiários quanto carcereiros, além dos gritos e
risadas altas que ecoavam pelo local.
-O que tem pra comer hoje?! -Notei que Deidara estava um pouco mais à nossa frente, praticamente
gritando para perguntar ao cozinheiro sobre a refeição do dia, mas que, para a minha surpresa, se tratava
de uns dos detentos vestidos com "roupas de cozinha".
-Os detentos trabalham aqui? -Indaguei com curiosidade, mas mudei completamente de postura ao
sentir mãos em contato com a minha bunda, apalpando-me de modo invasivo.
-Sim, todos nós somos designados para algum serviço aqui dentro. -Respondeu, e mesmo
presenciando o assédio que eu sofri, decidiu ignorar como se fosse a coisa mais normal do mundo.
-Ninguém te explicou nada mesmo, né?
-Não, nada.
-Depois eu te explico melhor. -Murmurou, estendendo sua bandeja para receber o alimento.
-Isso aqui é uma gororoba! -Deidara, mais uma vez, berrava em meio a fila, reclamando com o
homem responsável pela cozinha sobre a qualidade de sua comida, sendo acompanhado por alguns outros
presos que o apoiavam.
Antes mesmo que eu pudesse compreender o motivo da discussão, senti minha bandeja pesar em
minhas mãos. Virei rapidamente para frente, vendo que um dos ajudantes da cozinha despejou uma
espécie de caldo grosso e marrom em cima dela, juntamente com uma maçã que aparentava estar pobre e
machucada.
Olhei assustado até o cozinheiro, sobretudo, ele já estava concentrado em servir outra pessoa, não
dando a mínima para a minha presença.

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-Vem, franguinho. -O ruivo meneou com a cabeça, desviando de todos os homens e as brigas que
aconteciam ao nosso redor. -Vamos sentar ali.
Eu o segui sem protestar, indo até uma mesa no cantinho do refeitório e bem longe daquele tumulto.
No entanto, alguns outros homens já se encontravam sentados nela, o que, é claro, me deixou com um pé
atrás.
-Não se preocupe, eu conheço eles. -Gaara, outra vez, pareceu ter lido os meus pensamentos,
aproximando-se sorridente da mesa. -Oi, gente.
-Opa, olha só quem está aí! -Um garoto de cabelos compridos e olhos perolados foi quem o saudou
com simpatia, mantendo seus dois pés em cima da mesa. -De boa, cara?!
-E aí, Neji? -Sorriu pequeno, tomando a liberdade de se sentar em sua frente, deixando-me de pé
perto da mesa. -Shikamaru, vai um pouco mais pro lado, por favor?
O então Shikamaru somente bocejou em resposta, liberando um pequeno espaço no banco enquanto
olhava até mim, imaginando que seria eu quem me sentaria ao seu lado.
-Carne nova no pedaço, Gaara? -Um garoto moreno, aparentemente mais velho do que eu, me olhou
da cabeça aos pés com um sorrisinho interessado. -E aí, loirinho? Como vai?
-O-Oi… -Cumprimentei tímido, aceitando o chamado do ruivo para me sentar entre ele e o
Shikamaru.
Em seguida, apoiei minha bandeja cuidadosamente sobre a mesa, torcendo o meu nariz para o
alimento em minha frente, ciente de que todos dali me fitavam com curiosidade e, da parte de alguns, com
certa desconfiança.
-Neji, Shikamaru, Kiba... Esse aqui é o Naruto. -Apresentou-me para seus amigos, que apenas
acenaram com a cabeça em sinal de respeito. -Ele é novo aqui.
-De que bloco você é? -Kiba deu uma dentada em sua maçã, fazendo uma careta em seguida. A dele
também aparentava estar podre.
-E-Eu sou do bloco 4.
-Ele divide a cela comigo e com o Dei. -Gaara completou.
Todos eles me olharam surpresos.
-Cacete, não parece. -Neji riu baixo, enquanto Shikamaru concordava entre um bocejo. -Nós somos
todos do bloco 3.
Assenti, mostrando interesse na conversa. No fundo, era estranho pensar que eu pertencia a um
bloco mais perigoso do que o de todos eles.
-... Eu não quero mais saber de você armando alvoroço entre os detentos, Deidara.
Fomos todos atraídos pela voz pacífica e rouca de Obito, o outro carcereiro, que naquele instante,
trazia o loiro firmemente pelo braço, puxando-o juntamente com sua bandeja.
-Senta aí e come, por favor. -Pediu com uma calmaria incomum para os padrões daquela
penitenciária, o que, claro, me deixou surpreso, visto que já me encontrava acostumado com a impaciência
de Kakashi. -É sério, Deidara.
-Você diz isso porque não é obrigado a engolir essa gororoba do caralho! -Gritou ríspido, puxando
seu braço para longe do outro. -Eu vou ter uma intoxicação alimentar comendo isso!
-Come de uma vez e fecha essa matraca. -Falou com tédio, olhando rapidamente em direção aos
meninos. -Tira o pé da mesa, Neji. Aqui não é a casa da mãe Joana.
Ele bufou em resposta, mas acabou obedecendo contra a sua vontade. Quando Obito se afastou,
Deidara se pôs a gritar mais uma vez:
-Eu não aguento mais! -Socou a mesa com força, empurrando sua bandeja para frente, o que
ocasionou em pedaços de alimento voando em minha camiseta. Por algum motivo, ele ficou bravo comigo
também. -Esse franguinho vai grudar na gente agora, Gaara?!
-Dei, por favor—
A conversa foi estranhamente cessada pela parte do ruivo, enquanto o refeitório inteiro pareceu ter
feito o mesmo e entrado em um momento de silêncio realmente esquisito e assustador. Olhei ao meu redor
sem entender nada, notando que até os carcereiros se encontravam quietos e alguns até mesmo de cabeça
baixa.

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-São eles. -Neji sussurrou, misturando-se com o som da porta de entrada se abrindo.
-O que? Quem? -Virei meu pescoço para trás, recebendo, em resposta, um pisão em meu pé.
-Não encara. -Gaara baixou sua cabeça, me incentivando a fazer o mesmo. -São os irmãos Uchiha.
Soltei um suspiro assustado, sentindo um calafrio horrível subir pelo meu corpo. Apesar do medo, eu
estava me contorcendo de curiosidade para não olhar para trás. Pelo fato do ambiente estar silencioso, foi
mais do que audível o momento em que o grupo começou a andar em meio às mesas, passando bem ao
lado da nossa.
Levantei minha cabeça só um pouquinho, me assustando com a cena de Deidara com o pescoço
erguido, comendo sua maçã normalmente e sem se deixar intimidar.
De fato, ele era muito corajoso.
Quando o grupo se distanciou, pude observá-los com mais tranquilidade, notando que se tratavam de
seis pessoas, todos indo em direção a uma mesa mais afastada, mas que, por sinal, estava vazia, como se
estivesse reservada para eles.
-Q-Quem é o Itachi? -Perguntei baixinho ao ruivo, no entanto, não precisei aguardar por uma
resposta, visto que consegui identificá-lo somente por sua postura. A mesma coisa com o Sasuke, pelo fato
de ambos serem muito parecidos.
-É aquele ali. -Apontou exatamente para quem eu pensava. -E o garoto do lado dele é o Sasuke.
Eu não conseguia entender.
Quando o Gaara me contou sobre os irmãos Uchiha, eu imaginei que se tratassem de homens mais
velhos, cheios de cicatrizes, tatuagens, piercings e com os rostos ameaçadores.
No entanto, eles eram jovens até demais.
-O Itachi está mais sério do que o normal hoje, vocês não acham? -Kiba deu uma olhada discreta no
grupo. -Olha a cara dele, parece que vai matar alguém só com uma encarava.
-É mesmo. -Shikamaru estremeceu ao meu lado.
Deidara bufou com a situação.
-Essa cara de cu o Itachi tem desde que o mundo é mundo! -Berrou sem controle, recebendo
encaradas assustadas dos meninos, todos pedindo para que ele baixasse o tom de sua voz.
-Dei, fala baixo! -O ruivo repreendeu.
-Eu não tenho medo deles! -Gritou de propósito, olhando em suas direções. Para nosso completo
desespero, Itachi acabou o encarando de volta.
-Deidara! -Shikamaru chutou-o por baixo da mesa. -Você sabe que eles não gostam que encare!
-Foda-se!
-Q-Quem são o resto dos homens junto com eles? -Aproveitei a distração de todos para questionar
ao ruivo. Confesso que eu me encontrava realmente curioso em relação àquele grupo.
-Aquele ali... -Apontou para um garoto ruivo, mas que, para a minha surpresa, se parecia muito com
o Gaara, até mesmo no jeito de andar e gesticular. -É o Sasori. Ele anda com os Uchiha desde que entrou.
Olhei para ele e logo em seguida para Gaara, impressionado com a semelhança de ambos.
-Eu sei. -Ele riu, pensando o mesmo. -Somos muito parecidos, né? Teve uma vez que eu estava no
banheiro, de costas para o chuveiro, daí o Itachi começou a falar comigo achando que eu era o Sasori. Foi
muito estranho.
Soltei uma risada baixa, vendo-o apontar para outro homem, dessa vez, bem mais alto e de
aparência exótica, com seu cabelo tingido de azul e tatuagens da mesma cor por todo o corpo.
-Aquele ali é o Kisame, primo do Suigetsu, o garoto que costumava dividir a cela com a gente, sabe?
-Comentou rapidamente, passando para o próximo homem. -Aquele outro é o Pain.
-Pain? -Levantei a sobrancelha, estranhando o apelido.
-Sim, nem me pergunte o porquê do apelido, eu também não sei. -Riu baixo. -E aquele último ali é o
Jugo, mas pelo o que eu sei, ele é mais chegado no Sasuke.
Observei todos bem atentamente.

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-Esse é o grupo dos Uchiha. -Concluiu, dando uma colherada em seu caldo marrom.
Eu não conseguia parar de olhá-los, mas principalmente, não conseguia parar de contemplar os dois
irmãos e refletir o fato de ambos serem estranhamente jovens e bonitos para carregarem o posto de
criminosos mais temidos de toda a cadeia.
Aquilo era uma loucura.
-Olha só quem está de volta! -Deidara foi quem me tirou de meus devaneios, sorrindo de lado com a
presença de um garoto de cabelos esbranquiçados, sendo solto de algemas por um dos guardas. -Suigetsu,
já saiu da solitária?
-E aí, caras? -Respondeu sorridente, levando um empurrão no ombro do policial. -Saí agora pouco, já
fui liberado.
-É verdade que você mordeu o pescoço de um dos policiais? -O ruivo indagou brincalhão.
-Sim. -Deu de ombros. -O cara 'tava me irritando demais, daí eu só fui pra cima.
Todos riram em conjunto do que escutam, enquanto eu somente observava em silêncio.
-Senta aí com a gente, cara. -O loiro tapeou o assento ao seu lado, recebendo uma resposta
negativa do outro. -Por que não? Você tem um lugar melhor pra sentar?
-Tenho, na verdade. -Sorriu maldoso. -Agora que eu voltei pro bloco 5, o Kisame me chamou pra
sentar com eles.
Pude ver com clareza a expressão de Deidara mudar. Passou a ser uma bem irritada e sombria.
-Ah, então quer dizer que agora você vai andar com os Uchiha?
-Exatamente. -Cruzou os braços, sorrindo vitorioso. -Qual é, cara... Vai dizer que se você tivesse a
oportunidade de andar com eles, você não andaria? Porra, eles têm um monte de vantagens!
Arqueei a sobrancelha, sem entender a parte das “vantagens”.
-Enquanto vocês comem esse lixo aí, eu vou poder comer do bom e do melhor com eles. -Se gabou,
olhando enojado para o caldo marrom.
-Vai se foder, caralho! -O loiro deu um soco na mesa, chamando a atenção de alguns detentos ao
nosso redor. -Então vai lá, some da minha frente, filho da puta!
-Ora, não precisa ficar tão bravo. -Riu divertido. -Eu só estou fazendo o que qualquer outra pessoa
faria no meu lugar… Eu estou sobrevivendo.
Deidara levantou-se de abrupto, dando um sinal claro de que avançaria para cima dele, sobretudo, foi
rapidamente parado por Neji.
-Suigetsu, é melhor você ir embora. -Gaara o aconselhou, enquanto eu me encolhia ao seu lado por
presenciar uma briga tão de perto.
-Tsc, idiotas... -Resmungou, mas acabou segundo o conselho do ruivo e se afastando.
-Eu vou acabar com ele! -O loiro ainda gritava, quebrando seu garfo de plástico ao meio e jogando-o
em cima da mesa.
Enquanto o resto dos garotos tentavam lhe tranquilizar, virei curiosamente até Gaara, buscando por
explicações:
-Então os Uchiha tem vantagens aqui dentro?
-Exatamente. -Deu um gole em sua bebida. -É só você reparar no que eles estão comendo agora,
franguinho, olha com atenção.
Espremi meus olhos em direção ao grupo, sentindo minha barriga roncar ao me deparar com o tipo
de comida presente na bandeja dos Uchiha. Eram panquecas, cereais, ovos e bacon.
Aquilo era muito injusto.
-Além disso, os irmãos Uchiha dividem uma cela só entre eles. -Baixou o tom de sua voz, com medo
de que o loiro escutasse. -Só o Sasuke, o Itachi e mais ninguém, sendo que o normal é entre três a cinco
pessoas em cada cela.
-M-Mas por que eles têm tantas vantagens?

16
-Ué, porque eles são os Uchiha. -Respondeu sarcástico. -Até os policiais têm medo deles, Naruto.
Eles conseguem tudo o que querem.
-N-Nossa... -Era tudo o que eu conseguia dizer desde que cheguei.
No entanto, se tinha uma coisa que eu tive certeza após sobreviver ao meu primeiro café da manhã
na prisão, era que eu demoraria muito para me acostumar com essa nova vida de detento, para aprender
todas as regras da prisão e aceitar que, querendo ou não, há alguns criminosos que tem vantagens aqui
dentro.
Aquele era só o começo.
Sasuke On

Após o término do meu café da manhã, lancei um olhar rápido ao Jugo, que rapidamente entendeu o
recado e se levantou para pegar a minha bandeja vazia juntamente com a de Itachi, levando-as de volta à
cozinha. A mesa se encontrava mais barulhenta que o normal, visto que, Suigetsu, um garoto que ingressou
recentemente em nosso grupo, não parava de tagarelar e rir em nossos ouvidos.
Agindo com tanta extroversão, ele pensava com inocência que podia passar-nos uma boa visão de
si, quando, na realidade, eu sentia meu irmão se cansando cada vez mais com a sua presença.
Não demoraria muito mais tempo para o Itachi perder a sua paciência em relação a ele.
-...E então eu falei que ia me juntar a vocês e ele simplesmente explodiu comigo! Mandou eu me
foder, falou que eu morri pra ele e que eu era um filho da puta! -Suigetsu gesticulava agitadamente, bem
fora dos padrões de nosso grupo.
Na realidade, não tínhamos ninguém tão expressivo e animado como ele. Quem chegava mais perto
disso, sinceramente, era o Sasori.
-Dá pra acreditar?! -Bateu na mesa, soltando um barulho para mostrar que estava indignado. -Ah,
mas ainda bem que vocês me chamaram e—
-Já chega.
Aconteceu o que eu mais temia.
-Você fala demais, isso me irrita. -Itachi soava frio e ameaçador, como sempre. -Kisame, controle o
seu primo, senão eu juro que arranco a língua dele fora. Estamos entendidos?
-Com certeza. -Concordou submisso, segurando na gola de Suigetsu e puxando-o fortemente para
frente. -Você ouviu ele, pivete. Nem mais um piu.
Observei a discussão silenciosamente, mas em especial, o medo que Suigetsu sentiu com as
advertências que recebeu. Bom, se eu fosse ele, também sentiria o mesmo. Embora eu não me importasse
tanto com barulhos ou falações frenéticas como o Itachi, sei que meu irmão sempre fala sério e nunca, em
hipótese alguma, volta atrás com alguma ameaça que deixa no ar.
Se por algum acaso meu irmão disser que vai arrancar a língua do Suigetsu, então ele vai arrancar
mesmo e sem remorso algum.
-Sasuke. -Itachi chamou, virando-se lentamente para mim. -Venha comigo, precisamos conversar.
-Certo. -Concordei sem protestar.
Eu sabia exatamente o que estava por vir.
Levantei-me assim como ele, deixando o grupo para trás e seguindo ao seu lado. Notei meu irmão
lançar um olhar rápido para o outro lado do refeitório, encarando uma pessoa específica. Quando deixamos
o refeitório, nos dirigimos até uma parte mais afastada da penitenciária — perto da enfermaria, um corredor
escuro e estranho — onde quase nenhum detento frequentava.
-Sasuke, você vigia a porta, entendeu? -Itachi ordenou autoritário, sempre precisando agir de modo
frio perto dos outros, embora, quando ficavamos a sós em nossa cela, meu irmão costuma ser mais legal.
-Vamos, Obito.
Olhei para meu lado esquerdo, enxergando Obito Uchiha, que além de ser um dos carcereiros mais
conhecidos na penitenciária, é um primo distante de nossa família. Obito trabalha infiltrado na polícia e, na
verdade, joga ao nosso lado sem que ninguém daqui saiba. Graças a ele, temos vantagens e adquirimos
certas coisas que os outros detentos não possuem e jamais possuirão aqui dentro. Ele e o meu irmão
costumam ter “pequenas reuniões” diariamente, onde nosso primo o mantém informado sobre tudo o que
ocorre dentro e fora da prisão, além de outras coisas que Itachi não me conta, apesar de que eu também
nem me interesso tanto assim.

17
-Vigia a porta. -Ele me deu um último aviso.
-'Tá, eu sei. -Respondi impaciente.
Assisti ambos entrarem numa espécie de quartinho de limpeza minúsculo e empoeirado, tudo para
não levantarem suspeitas. Para mantê-los ainda mais escondidos, apoiei-me sobre a porta, refletindo
silenciosamente sobre tudo o que passei até aquele exato momento.
Honestamente, eu havia perdido a conta de quantos crimes cheguei a cometer juntamente com o
meu irmão até chegar onde estou. Por diversas gerações, nossa família foi marcada pela criminalidade.
Fomos ensinados desde muito pequenos e influenciados por aquela realidade, crescendo em meio ao
crime, a violência, a trapaça e tudo de pior que se pode imaginar.
Esse sempre foi o nosso destino.
Itachi sempre foi o que levou mais a sério os "negócios da família". Trabalhou com o tráfico, com
roubo e seguiu todas as ordens de nosso pai. Eu, por outro lado, não me identificava cem por cento com
aquela realidade, mas pelo fato de ter toda a minha família envolvida no mundo criminal, eu acabei por
pertencer também.
Roubos a bancos famosos, sequestros de filhos de celebridades para que pagassem a fiança,
assassinatos de trapaceiros que se envolviam em nossos negócios — tudo isso faz parte do meu currículo.
É claro que o Itachi foi quem mais atuou em nossos momentos de ação, no entanto, eu também o ajudava,
ficando do seu lado e sendo o seu braço direito.
Meu irmão é tudo o que eu tenho e eu passei a valorizá-lo ainda mais depois que soube da morte de
nosso pai, o Fugaku, que faleceu recentemente em uma troca de tiros com a polícia.
No momento, só tínhamos um ao outro.
-Ora, ora, ora...
Levantei minha cabeça e já logo cruzei meus braços com a triste e desinteressante chegada de
Orochimaru, um homem nojento e asqueroso pertencente ao bloco 5, que está sempre andando
acompanhado de Kabuto, um rapaz estranho que fica atrás de si, mas nunca fala nada ou tem qualquer tipo
de reação.
-O que você faz aqui tão sozinho, pequeno Sasuke?
-Eu já te disse pra não me chamar assim. -Rosnei com frieza e grosseria, enojado por somente
precisar respirar o mesmo ar que ele.
Orochimaru era odiado por todos os detentos da prisão, só que, ao mesmo tempo, temido também.
Seus crimes, embora não envolvessem assassinatos ou corrupções, envolviam coisas ainda piores:
pedofilia, estupro e prostituição.
Eu e o Itachi já nos desentendemos com ele o bastante para que eu perdesse a conta, especialmente
quando este arriscou uma tentativa de estupro comigo, o que, claro, não ocorreu. Além de eu saber muito
bem como me defender, o meu irmão também estava por perto quando Orochimaru tentou me tocar, o que
ocasionou em nós dois lhe batendo — literalmente acabando consigo — até que ele perdesse a sua
consciência e tivesse que ser levado às pressas para a enfermeira da prisão.
Depois disso, ele nunca mais chegou perto de mim, apesar de que já é comum vê-lo tentar abusar
sexualmente de outros presos e, muitas das vezes, conseguindo com os mais fracos.
-Onde está o seu irmão, hm? -Sorriu maldoso, olhando ao nosso redor como se fingisse procurá-lo
-Vocês estão sempre tão grudados, é estranho te ver sem ele.
-Ele foi ao banheiro. -Respondi somente o necessário.
-Oh, então quer dizer que você está mesmo sozinho? -Lambeu os próprios lábios, me fazendo
vomitar internamente. Como ele conseguia ser tão nojento? -Ouviu isso, Kabuto?
-Sim, eu estou. -Não me deixei intimidar.
-Ótimo, assim podemos aproveitar um pouco enquanto o Itachi está fora… -Caminhou lentamente até
mim. -O que você acha?
Além de pedófilo, estuprador e nojento, ele era um autêntico ninfomaníaco.
-Se você der mais um passo a coisa vai ficar bem feia pro seu lado. -Ameacei, dando uma batida
discreta na madeira atrás de mim, anunciando ao meu irmão que haviam pessoas por perto, visto que ele
forçava a porta e tentava sair.

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Orochimaru riu maliciosamente, mordendo seu lábio enquanto observava todo o meu corpo, fazendo
questão de ser bem indiscreto e mostrar-me o quanto me desejava.
Era repugnante.
-Depois conversamos, pequeno Sasuke. -Deu um sorriso indecifrável, olhando, em seguida, para
Kabuto. -Vamos, ainda temos assuntos a tratar no banheiro.
Eu agradeci por isso. A sua presença era realmente um incômodo e eu o odiava muito.
-Pronto. -Me desencostei da porta, autorizando o meu irmão a sair juntamente com o Obito, que foi
embora rápido o bastante para não levantar nenhuma suspeita.
Em seguida, eu me virei para o Itachi.
-Quem era? -Ele indagou.
-O Orochimaru.
Sua feição esfriou igual todas as vezes em que estávamos em sua presença ou simplesmente
citávamos ele em nossa conversa. Na verdade, ambos o odiávamos com todas as nossas forças.
-Ele tocou em você? -Me olhou preocupado.
-Não, eu não deixei.
-Ótimo. -Abriu um sorrisinho, parecendo orgulhoso de mim. -Vamos voltar para a cela? Eu não dormi
quase nada essa noite, estava pensando em tirar o resto da manhã para descansar.
-Pode ser. -Concordei. Quando eu digo que o meu irmão é mais legal quando estamos a sós, eu não
estou brincando, se bem que ele costuma ser bem duro comigo também. -Eu acho que também estou
precisando descansar.
-Vamos, então. -Tocou em meu ombro.
Juntos, andamos de volta ao bloco 5. O fato é que, enquanto todos os outros detentos passariam
seus dias trabalhando e se humilhando, eu e o Itachi poderíamos usar ele para descansar, até porque
temos vantagens.
Até que era bom ter o irmão mais temido da prisão.

Capítulo 3 - Tarefas
Naruto On
O refeitório a minha volta continuava da mesma maneira: barulhento, abarrotado e repleto dos mais
diversos tipos de criminosos. O tempo do café já havia chegado ao fim, portanto, cada detento tinha a
obrigação de levar a sua própria bandeja de volta à cozinha, para que, dessa forma, conseguíssemos
manter o ambiente limpo e não sobrecarregar os faxineiros.
-Vão logo com isso, seus animais! -Kakashi estralava seu cassetete na parede, enquanto Obito o
acompanhava, só que de modo bem mais tranquilo e simplista. -Deixem as bandejas na cozinha e voltem
para suas tarefas!
Segui até a fila obedientemente, entregando minha bandeja, assim como Gaara e Deidara, os quais
caminhavam juntamente comigo. Eu me encontrava levemente deslocado, visto que muitos dos detentos já
dirigiam-se para seus respectivos trabalhos, enquanto eu nem ao menos havia sido designado para algum.
-Vamos voltar para cela? -O ruivo sugeriu.
-Aham. -Deidara concordou, claramente impaciente com alguma coisa. Eu logo imaginei que se
tratasse do incidente anterior envolvendo o Suigetsu, fora sua frustração em relação a comida da prisão.
-P-Para a cela? -Perguntei confuso, e por alguma razão, isso pareceu irritar o loiro. Qualquer coisa
que eu dizia ou fazia era motivo para estressá-lo. -Eu achei que vocês tivessem tarefas para fazer.
-A gente tem. -O ruivo concordou. -Mas agora, na parte da manhã, é a hora dos detentos do bloco 4
tomarem banho. A gente precisa passar na cela pra pegar nossas coisas.
Levantei a sobrancelha.
-H-Hm… Tem horário específico pra tomar banho? -Era impressionante a quantidade de regras que
existiam dentro da prisão. Nenhum carcereiro havia se dado ao trabalho de me explicar como funcionavam
as coisas.

19
-É óbvio que tem. -Deidara decidiu me responder, carregando tédio em seu tom de voz. -‘Tá achando
que vai poder tomar banho a hora que quiser? Isso aqui não é um spa não, garoto.
Encolhi meus ombros.
-N-Não, eu não quis dizer isso, eu...
-Ignora ele, franguinho. -Gaara tocou em meu ombro, lançando um olhar de reprovação ao seu
amigo. -O que o Dei está querendo dizer é que aqui dentro temos horário para tudo, entende? Para comer,
tomar banho, trabalhar, dormir etc.
-A-Ah sim. -Assenti, desconfortável com os olhares de ódio que recebia do loiro. -Então agora é só o
bloco 4 que vai tomar banho, né?
-Isso mesmo.
Eu respirei aliviado.
Mesmo que fosse ruim precisar me despir na frente de um monte de desconhecidos, ainda era
melhor ficar nu somente para os presos do meu bloco. Quanto menos gente, melhor para mim.
-Eu só espero que dessa vez tenha água quente naquela porra de chuveiro. -Deidara encontrava
outro motivo pra reclamar. -Não dá mais pra ficar tomando banho gelado e passando frio.
-Eu também espero. -Ambos conversavam à medida que seguíamos em direção a cela.
Passamos pelo corredor que dava acesso até o nosso bloco, logo adentrando a nossa cela. Ela já se
encontrava aberta, assim como o restante das grades. Os detentos pareciam ter a mesma intenção que a
nossa e saiam carregados de toalhas e shampoos para tomarem banho.
-Hoje eu vou tomar uma ducha bem rápida. -O ruivo comentou, segurando em suas mãos um
sabonete e uma esponja bem imunda e rasgada no meio. -Daqui a pouco é a minha vez de regar as plantas
do pátio.
Eu escutava tudo com atenção, me sentindo totalmente deslocado em meio aos dois.
-A-Aqui tem um pátio?
-Tem sim. -Sorriu divertido. Para ele, era engraçado o fato de eu ser tão alienado diante das regras
da prisão. -Os detentos são autorizados a irem até o pátio aberto duas vezes por dia. Assim a gente pode
tomar sol, fazer exercícios, alongamentos e essas coisas.
Um sorriso bem mínimo, quase inexistente, cresceu por meus lábios.Por algum motivo, saber sobre o
pátio me fez um pouco mais contente. O fato de poder ver a luz do sol, pelo menos uma vez ao dia, me
deixou muito mais aliviado.
-Puta que pariu! -O loiro bufou, pendurando a toalha em seu ombro. -Como você tem paciência pra
ficar explicando cada coisinha pra esse franguinho, Gaara? Se eu fosse você, já teria mandando tomar no
cu faz tempo!
Me encolhi e abracei a toalha contra o peito, ofendido com a grosseira. Sinceramente, eu só queria
que o Deidara gostasse de mim, afinal, passaríamos um bom tempo juntos ali dentro.
-É que, diferente de você, eu gosto de ajudar as pessoas. -Rebateu indiferente, dando uma checada
rápida em mim. -E por falar em ajudar… Naruto, você quer que eu te ajude a arrumar um trabalho aqui
dentro? Eu posso falar com um dos carcereiros.
Meus olhos praticamente brilharam.
-O-Oh… Se não for muito incomodo, eu gostaria sim. -Lhe lancei um sorriso agradecido.
-'Bora fazer isso antes do banho, então.-
C-Certo.
-A gente te encontra lá no banheiro, Dei. -Virou para seu amigo. -Vai indo na frente.
-'Tá, que seja. -Bocejou ao passar do nosso lado, seguindo sozinho em direção ao banheiro.
Confesso que eu me encontrava um pouco nervoso com essa história de precisar ir atrás de um
serviço dentro do presídio. A última coisa que eu precisava era ser designado para tarefas que não possuía
nenhum tipo de experiência.
-Com quem eu tenho que falar para resolver isso? -Questionei apreensivo.
-Olha, eu acho que qualquer policial pode resolver isso pra gente. -Gaara deixou a cela junto comigo,
olhando ao redor do bloco como se procurasse por alguém. -Ah, olha o Obito ali. Talvez ele possa te ajudar.
Concordei com a cabeça, dando graças a Deus que se tratava dele, e não do Kakashi — o qual com
certeza não daria nenhuma atenção ao meu problema e perderia a paciência comigo.

20
-Oi, Obito. -Gaara saudou, recebendo um aceno de cabeça. -O Naruto quer saber com quem ele
precisa falar pra receber as tarefas aqui dentro.
-Fala com o Kakashi. -Respondeu simplista, apontando para o final do corredor. -Ele está na diretoria.
Pode ir lá, eu autorizo a sua entrada.
-Ah, obrigado. -Agradeceu por mim.
Nos distanciamos mais uma vez.
Eu fiquei bastante desapontado com o fato de precisar me comunicar de novo com o Kakashi, o que
com certeza acarretaria em diversas grosserias e patadas vindas de sua parte.
-É ali. -Gaara gesticulou para uma porta no canto do corredor, a qual, por sinal, já se encontrava
aberta. -Vai você, franguinho. Não dá pra eu entrar junto.
Admito que fiquei um pouco decepcionado por ter que entrar desacompanhado, no entanto, eu sabia
que precisaria ser um pouco mais independente dali para frente, especialmente agora que estou em uma
cadeia. Eu não poderia ficar na asa dos outros para sempre.
Andei relutante até o lugar indicado, e mesmo que a porta já estivesse escancarada, dei duas
batidinhas na madeira, esperando por uma autorização do Kakashi. Ele se encontrava sentado de frente ao
computador, com duas pernas apoiadas despojadamente em cima da mesa.
-Entra, Uzumaki. -Falou com tédio. -O que você quer?
-A-Ah... -Notei que ele nem ao menos me convidou para sentar. -Bem, eu gostaria de saber quais
tarefas eu vou precisar fazer aqui dentro. H-Hm… É que ninguém me explicou direito essa parte quando eu
cheguei e...
O platinado me interrompeu, bufando alto. Pelo o que pude perceber, ele detestou ter que sair da
posição em que estava. Em seguida, arrastou sua cadeira até perto do computador, passando os olhos
atentamente pela tela em sua frente.
-'Tá dizendo aqui no sistema que só tem dois trabalhos disponíveis no momento.
-Quais? -Indaguei curioso.
-Tem assistente de cozinha, mas é só no período da manhã para preparar o almoço… -Leu com
tédio. -E o outro é no período da noite, estamos precisando de gente para lavar os banheiros.
Por motivos óbvios, eu preferi a primeira opção.
-E-Eu posso ficar na cozinha? -Lancei rapidamente. Embora não tivesse tanta facilidade em cozinhar,
preferia mil vezes enfrentar panelas fervendo do que limpar banheiros sujos.
-Pode. -Deu de ombros. -Mas isso não depende só de mim, você precisa falar com o Deidara.
Levantei a sobrancelha.
-C-Com o Deidara?
-Aham… O Deidara é chefe de cozinha na hora do almoço, além de já ter uma equipe inteira
formada. -Bocejou com desinteresse. -Você vai ter que pedir a permissão dele pra entrar.
Estava bom demais para ser verdade.
-O-Oh, não... -Lamentei baixinho. Eu não queria de forma alguma limpar privadas, mas por outro
lado, também não gostaria de pedir a permissão do loiro para me juntar a sua equipe. -O Deidara não gosta
de mim, ele nunca vai deixar.
Kakashi riu debochado.
-Daí o problema já é seu, gracinha.
Engoli em seco, pensando em uma maneira de convencê-lo a me ajudar com o meu problema.
-P-Por favor, você não pode falar com ele no meu lugar? -Senti minha voz falhar. -O Deidara nunca
vai me escutar… Mas com você seria diferente, você é carcereiro e tem autoridade.
Diferente do que eu imaginei que ocorreria, o Kakashi não me pareceu desinteressado com o pedido
e muito menos me respondeu na base da grosseria. O que aconteceu a seguir me deixou um tanto confuso,
porém assustado.
Pude observá-lo espichar seu pescoço para vigiar o corredor atrás de si, conferindo se alguém
estava por perto. Em seguida, um sorriso malicioso cresceu por seus lábios, enquanto suas pernas se
abriram lentamente em minha frente.
Eu fiquei completamente sem reação.
-Se você quiser que eu fale com ele, vai ter que me dar algo em troca. -Mordeu seu lábio.

21
Inacreditável.
Além dos detentos, também haviam policiais que tentavam se aproveitar de mim. Naquele instante,
eu tive certeza de que não teria nenhum tipo de sossego durante minha "estadia" na prisão.
-O-O que...? -Eu sabia exatamente o que estava em jogo, mas precisei perguntar mesmo assim.
-Eu acho que você já entendeu. -Deslizou os dedos para o zíper de sua calça, abrindo-o
descaradamente. -Ou você estava achando que falaria com o Deidara só porque você me pediu?
Eu não conseguia acreditar naquilo.
É claro que seria incomparavelmente melhor ter o Kakashi para me ajudar a conseguir o trabalho na
cozinha, até porque, ele tem autoridade nessa prisão, algo que eu definitivamente não tenho. No entanto,
não estava em meus planos começar a me prostituir apenas para conseguir o que eu queria e muito menos
me envolver com os carcereiros para obter vantagens.
O jeito seria falar com o Deidara sozinho.
-N-Não... -Dei um passo para trás, assustado.
Ele riu maldoso.
-Bom, você quem sabe. -Suas pernas foram fechadas, assim como o zíper. -Então fale você mesmo
com o Deidara, eu não vou te ajudar.
E sem mais nem menos, voltou a posição de antes. Esticou seu corpo preguiçosamente por cima da
mesa, ignorando a minha presença.
Eu ainda me encontrava em choque.
-E-Eu... Eu já vou indo. -Foi difícil até de elaborar as frases em minha cabeça. -H-Hm... Obrigado?
Kakashi não me respondeu.
Aproveitei o momento de silêncio para virar de costas e sair daquela sala o mais rápido possível.
Corri de volta para o corredor, encontrando Gaara apoiado sobre a grade de nossa cela, parecendo esperar
por mim. Eu me aproximei sem dizer nada, ainda digerindo tudo o que aconteceu.
Eu nunca havia passado por nada parecido.
-Naruto, você está pálido. -Ele me olhou preocupado. -O que foi que aconteceu?
-E-Eu vou ter que pedir permissão pro Deidara para trabalhar na cozinha. -Por alguma razão, decidi
omitir a parte envolvendo o Kakashi. -Mas se ele não deixar, eu vou precisar trabalhar lavando os banheiros
de noite.
O ruivo fez uma careta, com certeza pensando o mesmo que eu. As duas opções eram ruins.
-Olha, vamos fazer o seguinte... -Ele meneou com a cabeça, me chamando para segui-lo.
Retomamos a nossa caminhada, indo em direção ao banheiro. -Depois do banho eu falo com o Deidara,
pode ser? Eu vou tentar convencer ele.
No fundo, eu sei que deveria deixá-lo fazer isso por mim — especialmente com ele se oferecendo —
mas como citei anteriormente, eu precisava começar a ser independente o mais cedo possível. Não daria
para ficar às custas do ruivo pelos próximos anos.
-N-Não, tudo bem... -Neguei com a cabeça. -Eu vou tentar falar com ele sozinho.
-Tem certeza? -Franziu o cenho, ao mesmo tempo em que entrávamos em um corredor
desconhecido por mim, o qual eu deduzi ser o do banheiro. -Você quer mesmo fazer isso?
Eu não tinha certeza, mas resolvi assentir:
-S-Sim...
Gaara não insistiu mais.
Enquanto isso, entramos por uma porta no final do corredor, a qual me deu a visão perfeita do
banheiro do presídio. A primeira coisa que me deparei foram as torneiras, várias delas sujas e enferrujadas,
assim como os espelhos logo à frente, totalmente rachados e embaçados.
Além disso, ao lado direito, encontravam-se várias privadas, todas elas sendo utilizadas e com mais
uma fila gigantesca de detentos esperando por suas vezes. Já o esquerdo era tomado por diversos
chuveiros, todos bem expostos e sem nenhum tipo de privacidade — havia vários homens pelados naquele
canto, tomando banho normalmente na frente de todos.
Eu engoli em seco.
-Sai dessa porra de chuveiro, caralho, a água quente vai acabar!

22
Não foi necessário me virar para saber de quem se tratava. Deidara, como sempre, iniciava uma
discussão com o detento ao seu lado e o empurrava para longe do chuveiro. O mais engraçado é que todos
pareciam habituados aos berros e nem sequer prestavam atenção.
-Franguinho, a gente precisa entrar no chuveiro logo. -Gaara me alertou, começando a tirar sua
roupa. Ele parecia acostumado com a ideia de ser visto nu. -A água quente vai acabar.
-E-Eu... -Olhei ao redor, abraçando meu corpo por me sentir observado. Muitos dos presidiários
olhavam em minha direção, mordendo seus lábios como se esperassem que eu retirasse o meu uniforme.
-É obrigatório tomar banho?
O ruivo me olhou sem entender.
-Não, não é. -Amarrou uma toalha em sua cintura, dirigindo-se a um dos poucos chuveiros livres.
-Mas não dá pra você ficar sem tomar banho para sempre, Naruto. Quer uma dica? Começa a se acostumar
agora. Quanto antes, melhor.
Aquilo fazia sentido.
Quanto antes eu me habituasse a aquela nova vida, melhor seria para mim. No entanto, aquele era
meu primeiro dia. Eu não me sentia preparado o suficiente para dar esse passo. Por isso, decidi que pularia
o banho só daquela vez.
Eu ainda teria que criar coragem.
-Merda, a água está muito fria. -Gaara reclamou, estremecendo ao se colocar debaixo do chuveiro.
-Filho da puta! -A voz de Deidara voltou a se fazer presente. O grito foi tão alto que, dessa vez,
acabou atraindo a atenção de seus companheiros de bloco, inclusive a do Obito — o carcereiro responsável
no momento. -A água está fria!
Fiquei assistindo uma nova discussão acontecer diante de meus olhos. O loiro avançou para cima de
um dos presidiários, pouco importando-se com o fato de estar sem roupa, querendo vingança por não terem
deixado água quente para si. De início, imaginei que a briga fosse ficar bem feia, entretanto, Obito se viu
obrigado a intervir e puxou Deidara de cima do outro homem.
-A água quente acaba muito rápido aqui. -Gaara também assistia a discussão, ensaboando seu
corpo com rapidez. -Por isso é sempre bom chegar antes que todo mundo.
Eu não tinha nem o que dizer.
Eram tantas regras, tantos detalhes, tantas normas que chegava a ser impossível decorar todas elas.
Eu ainda tinha muito a aprender.
-Vocês tem cinco minutos! -Obito checou seu relógio, gritando para que o ouvissem. Notei que o
Deidara já estava sentado em um dos bancos, ao mesmo tempo que recolocava seu uniforme com uma
carranca. -Comecem a se trocar!
Todos os presos se apressaram com o chamado. Secaram-se às pressas e, assim como o loiro,
colocaram suas roupas de volta. Gaara também fazia o mesmo, resmungando que não havia tido tempo o
suficiente para se limpar.
-Façam uma fila, quero todos em linha reta! -Ordenou. -Vamos todos até o pátio. Eu não quero saber
de confusões, entenderam?
-O pátio? -Olhei até o ruivo.
-Sim, agora a gente pode ir tomar sol. -Sorriu satisfeito. -Na verdade, vocês podem. Eu vou precisar
trabalhar no jardim ainda.
Foi verdadeiramente satisfatório saber que teríamos um tempinho para ver a luz solar.
-Vocês dois, entrem na fila! -Obito falava conosco, apontando para a linha formada até a saída do
banheiro.
Pensei em esperar até que todos entrassem na fila, para que, assim, tivesse a oportunidade de ser o
último. No entanto, fui obrigado a me embrenhar em meio a detentos desconhecidos, ficando atrás de
Deidara e na frente de um homem bem mais velho do que eu.
Era a primeira vez, desde o momento em que cheguei, que o Gaara não estava comigo. Foi
realmente apavorante ficar sozinho.
-Andando! -Obito exclamou, passando a fazer uma espécie de contagem e observando atentamente
cada preso que saia pela porta.
Baixei a cabeça e segui obedientemente a fila, me sentindo vulnerável por estar sozinho. Quando foi
a minha vez de passar pela porta e entrar na contagem do carcereiro, senti uma pequena agitação logo
atrás de mim, com alguns detentos conversando e rindo entre si:

23
-A gente viu que você não quis tirar a roupa, gracinha. -Um hálito horrível invadiu minhas narinas,
seguido de um arrepio ruim em meu pescoço. Havia um corpo bem colado ao meu, contra minha vontade.
-Foi realmente uma pena. Estávamos todos ansiosos para ver o novato.
Como da outra vez, senti que não deveria reagir ao assédio. Eu não possuía força e nem coragem o
suficiente para isso. O jeito, pelo menos por enquanto, era aguentar calado.
-Você é uma delícia. -Os comentários nojentos continuavam em meus ouvidos.
E dessa vez, houve algo a mais.
Arfei assustado ao sentir mãos alheias em contato com minha cintura. O homem de trás roçava sua
ereção lentamente em meu corpo, e talvez pelo fato de eu não reagir, outros detentos também sentiram-se
livres para me tocarem, apertando meus quadris, bunda e até coxas.
Eu me sentia violado e sujo.
Prensei meus lábios e comecei a chorar com o contato excessivo e invasivo que recebia em meu
corpo. Era a primeira vez que eu passava por isso. Me sentia tão fraco e desprotegido que, por um
momento, passou pela minha cabeça a ideia de gritar por ajuda, ou quem sabe, chamar um carcereiro e ser
taxado como dedo-duro.
No entanto, o inesperado aconteceu.
Deidara virou para trás, observando a cena com um ar de seriedade. Foi necessária apenas uma
encarada de sua parte para que os detentos se intimidassem e entendessem o recado.
Graças a ele, os assédios pararam por ali.
-Estão liberados! Vão direto para o pátio, já! -A voz de Obito quebrou o clima ruim.
Apesar das ordens para me locomover, eu fiquei paralisado na mesma posição até que tive certeza
absoluta de que todos os detentos estavam bem longe de mim, principalmente os homens que passaram a
mão no meu corpo.
Eu pude ter a oportunidade de ficar sozinho com o Deidara que, por algum motivo, também
permaneceu no banheiro, mantendo seus braços cruzados e um olhar autoritário e tedioso.
-M-Muito obrigado, eu…
Ele me calou antes que eu tivesse a chance de lhe agradecer. Rapidamente, me cercou contra a
parede e bloqueou minha saída com seus dois braços em cada lado de minha cabeça.
Eu me encolhi apavorado.
-Escuta o que eu vou te dizer com bastante atenção, franguinho. -Nossos rostos estavam
ameaçadoramente próximos. -O que eu tenho pra te falar é uma coisa muito séria, e não é porque eu gosto
de você, mas sim porque sinto pena.
Assenti diversas vezes com medo.
-Se você baixar a cabeça igual aconteceu agora, esses filhos da puta vão farejar seu medo. -Ele
apontou para a porta, referindo-se aos detentos anteriores. -Me diz uma coisa… Por que você acha que
ninguém mexe comigo ou com o grupo dos Uchiha?
-E-Eu… Eu não…
-Porque nenhum de nós baixamos a cabeça, porra. -O jeito que ele me olhava, sinceramente,
chegava a causar arrepios. -As pessoas me respeitam por isso, Naruto. Eu imponho limites e não deixo que
façam o que bem entendem comigo.
Concordei frenético, e embora assustado, eu me senti tocado com o seu sermão. Além do mais, foi
uma surpresa que Deidara não houvesse usado "franguinho" para se referir a mim, mas sim o meu nome
verdadeiro.
-Então vê se impõe limites da próxima vez, caralho! -Deu um soco na parede ao meu lado, bufando
alto quando me viu estremecer. -E vê se para de chorar! Aqui dentro as pessoas se aproveitam da sua
fraqueza, ouviu?!
Fui rápido na hora de secar a minha bochecha, fingindo que nada aconteceu:
-M-Muito obrigado, Deidara… -Eu estava realmente agradecido. Seus conselhos haviam sido úteis
para mim e eu pretendia segui-los.
-'Tá. -Afastou-se impacientemente.
Fiquei parado que nem estátua por mais uns dez segundos, digerindo tudo o que passei naquele
banheiro ainda no meu primeiro dia. De qualquer forma, também era a primeira vez que eu falava a sós com
o loiro, mesmo que não houvesse sido lá a conversa mais agradável do mundo.
Logo, uma ideia passou pela minha cabeça.
24
-D-Deidara?! -Corri atrapalhado, tentando alcançá-lo no corredor.
-Quê? -Ele não parou de andar e também não se deu o trabalho de olhar para trás.
-H-Hm, eu posso... po-posso... Q-Quer dizer…
O loiro se virou agressivamente para mim:
-Desembucha de uma vez, cacete! Eu odeio isso com todas as minhas forças! Para de gaguejar e
fala logo o que você quer!
Fiz cara de choro pela grosseria e pelo receio que senti em lhe perguntar o que planejei:
-H-Hm, o Kakashi me disse que você trabalha na cozinha, certo? E bom… Eu gostaria de saber se
poderia me juntar a você? -Pedi esperançoso.
-Não.
E sem mais nem menos, retornou a andar.
-M-Mas, Deidara...
-Eu já falei que não, caralho. -Ele tentava fugir de mim. -Preciso de pessoas com experiência na
cozinha e não franguinhos como você.
Eu sei perfeitamente que não deveria mentir, sobretudo, eu me encontrava completamente
desesperado naquele momento e fazendo de tudo para não precisar limpar os banheiros:
-Eu tenho experiência!
Ele parou em frente ao pátio aberto, virando-se para mim com a sobrancelha arqueada.
-Até parece.
-E-Eu estou falando sério... -Engoli em seco, mentindo na cara de pau. -Eu posso ser útil pra você.
Deidara me mediu de cima a baixo, soltando, em seguida, um grunhido alto:
-'Tá, mas hoje você só faz o teste, entendeu?! -Apesar de não estar oficialmente dentro de sua
equipe, fiquei bem mais aliviado. -Primeiro eu vou te avaliar!
-Certo, eu entendi. -Sorri minimamente.
-Esteja na cozinha às onze e meia, é o horário que começamos a preparar o almoço. -Deu as costas
novamente, seguindo ao pátio aberto.
Fiz uma nota mental do horário em que precisaria chegar na cozinha e, enquanto isso, o segui pela
mesma direção, contemplando pela primeira vez o pátio à minha volta. Na minha opinião, aquele era o lugar
mais legal de todo o presídio: grande, ensolarado e também possuía uma espécie de quadra, onde alguns
dos detentos divertiam-se jogando basquete. O restante estava sentado, tomando sol e até mesmo
trabalhando.
A quantidade de presos que rodeavam o local era surpreendente. Com isso, eu logo deduzi que
todos os blocos estavam reunidos ali. Me senti um pouco intimidado com isso, no entanto, uma pontada de
calmaria se expandiu pelo meu peito ao me deparar com Gaara, o qual regava algumas plantas no canto do
pátio, bem próximo de um gramado verdinho e bem cuidado.
Juntamente com ele estavam Kiba, Neji e Shikamaru. Aproximei-me dos três juntamente com o loiro,
enquanto o mesmo bufava com irritação, odiando o fato de eu estar o seguindo. Quando chegamos perto, o
ruivo notou a nossa presença e sorriu pequeno até mim:
-E aí, Naruto? Você sumiu de repente.
Me recordei do exato momento em que me perdi na fila do banheiros, mas decidi não comentar nada
a respeito do assédio que sofri e nem sobre o sermão que recebi do Deidara.
-Então é aqui que você trabalha? -Perguntei o óbvio, com um pouquinho de inveja da sua tarefa.
Regar plantas não dava tanto trabalho assim.
-Exatamente. -Sorriu simpático.
-Esse lugar é muito legal. -Eu era o mais fascinado entre todos eles. Os outros com certeza se
encontravam bem habituados e talvez até mesmo enjoados do pátio.
-Legal? -Deidara soltou uma risada sarcástica. -Você é mesmo um tapado, garoto.
Apesar de ter ficado chateado com o comentário, eu decidi ignorá-lo. O loiro julgava cada coisinha
que saía de minha boca.
-Os Uchiha estão bem agressivos hoje, vocês não acham? -Kiba, que naquele momento tragava o
seu cigarro, observava a partida de basquete que ocorria em nossa frente. -O Sasuke já derrubou seis
pessoas desde que o jogo começou.

25
-Mas o Itachi 'tá pior, cara. -Neji rebateu.
Decidi assistir uma parte do jogo, me assustando com a agressividade envolvida nele. Alguns dos
homens pertencentes ao grupo dos irmãos Uchiha também jogavam com eles, literalmente destruindo o
time adversário sem dó nem piedade.
-Eles são uns merdas! -Deidara gritou, acendendo seu cigarro e tragando com tanta força que ele
quase se engasgou. -Exibidos do caralho!
-Pode falar o que for, Deidara... -Kiba riu de seu ódio. -Mas você precisa admitir que eles são
gostosos e jogam bem pra caralho.
Fui atraído pelo momento em que Sasuke fez uma cesta, dando um pequeno toque de mão com seu
irmão e encarando o time adversário como se fosse realmente um campeonato.
-Vai se foder! -Xingou e se tossiu a fumaça, fazendo com que todos rissem de sua cara, inclusive o
Suigetsu, que havia tido a coragem de aparecer na rodinha mesmo após a briga de mais cedo. -O que você
está fazendo aqui?!
-Calma, flor. -Sorriu divertido, puxando o cigarro de seu dedo e deixando-o com uma veia saltando de
sua testa. -Eu ando com os Uchiha, mas isso não significa que precisamos deixar de ser amigos, né?
-Some daqui, caralho. -O loiro não se deixou cair pela conversa, arrancado o cigarro de seus lábios e
fazendo-o se engasgar assim como ele. -Eu não quero papo com um traidor como você!
-Qual é... -Suigetsu tocou em seu ombro, mas levou um empurrão. -Você quer mesmo estragar a
nossa amizade por conta disso?
-Amizade?! -Encarou-o incrédulo e riu com deboche. -Vai pra puta que pariu, cara. Some daqui antes
que a coisa fique feia pra você.
Os dois se encararam com ódio e de maxilar travado. Era óbvio que eles começariam a brigar a
qualquer instante, isso se Gaara não houvesse interrompido-os, sendo o mais sensato entre todos os
meninos da roda, visto que o restante estava adorando assistir a discussão.
-Vamos parar, gente. -Ele tocou em seus ombros. -Nós não queremos parar na solitária, sim?
Felizmente, isso acabou os amansando.
-Vocês são todos uns idiotas. -Suigetsu falou diretamente para nós, inclusive para mim. -Pau no cu
de todos vocês. Eu já vou indo.
Deidara tentou avançar, mas foi interrompido, mais uma vez, por Gaara:
-Deixa isso quieto, Dei. -Aconselhou, lhe lançando um sorriso calmo. -Acredite, vai ser melhor pra
você.
O clima se estabilizou novamente.
Acontece que, por alguma razão desconhecida, eu comecei a sentir uma dor tremenda em minha
barriga, seguido de uma ânsia de vômito. Foi algo bem aleatório e repentino, no entanto, piorou ainda mais
quando me recordei do café da manhã, ou melhor, quando lembrei daquela pasta nojenta e marrom que fui
obrigado a comer.
-Argh, olha só pra esses dois! -O loiro apontou para o outro lado da quadra, onde os Uchiha
encontravam-se sentados bem próximos um do outro. -Eles tem um caso, eu tenho certeza!
Gaara soltou uma risada fraca, enquanto eu apenas observava a cena. Itachi se encontrava apoiado
sobre a parede atrás de si, enquanto Sasuke mantinha-se deitado com a cabeça em sua perna, ambos
conversando distraídos.
-Não é nada demais, eles são só irmãos. -Foi a vez de Shikamaru se intrometer.
-Exatamente. -Acrescentou Neji.
Passamos um curto período de tempo a observá-los, até que os dois irmãos se levantaram,
dirigindo-se para longe do pátio com o restante de seu grupo. Foi nessa hora que a minha dor de barriga
voltou a todo o vapor, assim como a minha ânsia de vômito. Levei a mão ao peito e fechei meus olhos por
alguns segundos, sentindo um mal-estar inexplicável.
-Naruto, você está bem? -Gaara indagou preocupado.
-Cara, você está verde. -Neji também entrou na conversa.
Eu iria vomitar a qualquer momento.
-E-Eu estou passando mal. -Declarei o óbvio, recebendo uma careta enjoada de Deidara, que se
assustou ao me ver contrair o abdômen, dando sinal de que vomitaria. -Eu preciso ir ao banheiro.
-Naruto, espera! -O ruivo tentou falar comigo, mas eu não fiquei para saber do que se tratava.

26
Corri o mais rápido possível para longe do pátio, seguindo pelo mesmo corredor que passei
anteriormente, acabando por levar uma pequena bronca de Kakashi durante o percurso, o qual me afirmou
que não era permitido correr.
Eu também não fiquei para respondê-lo.
No momento em que cheguei no banheiro, entrei nele de cabeça baixa e abri a porta com a maior
agressividade do mundo, o que ocasionou em um eco estridente e exagerado por toda a quietude do
ambiente. Me dirigi até uma das cabines e me ajoelhei no chão na hora de colocar todo o meu café da
manhã para fora.
Foi horrível. Eu vomitei até perder o fôlego.
Meus olhos lacrimejavam, minhas pernas tremiam e minha respiração falhava. Enfraquecido, eu
precisei me apoiar na parede com as duas mãos, dando descarga logo em seguida e limpando minha boca
com a manga do uniforme. Acho que eu nunca havia passado tão mal em toda a minha vida.
Demorei um tempinho para recuperar meu fôlego e saí de dentro daquela cabine fedorenta e
minúscula, abrindo-a bem lentamente. Quando levantei a cabeça, senti cada pelo de meu corpo se arrepiar
com a cena em minha frente.
Eu não estava sozinho ali dentro.
Para meu completo desespero, lá estavam eles.
Os irmãos Uchiha e o restante de seu grupo estavam com a posse do banheiro. Alguns semi-nus em
minha frente, outros vestidos somente com toalhas e até mesmo pelados, prestes a ingressarem em seus
banhos.
Engoli em seco, completamente sem reação.
Itachi, que naquele instante, continha sua cintura revestida por uma toalha branca, cruzou os braços
na altura do peito, carregando frieza e autoridade somente em sua maneira de olhar.
-Você é o novato, certo?
Concordei positivo com a cabeça, dando um passo pequeno para trás. O fato de Sasuke estar me
encarando por cima dos ombros de seu irmão me deixou ainda mais em pânico. Assim como Jugo, ele
também estava somente de cueca.
-Quando eu falar com você, quero que me responda. -Ele engrossou a voz, me fitando de modo
ameaçador quando resolveu dar mais um passo até mim. Itachi era mil vezes mais alto do que eu, assim
como o restante dos membros daquele grupo. -Você é o novato?
-S-Sim, senhor... -A parte do “senhor” saiu completamente sem querer, mas foi o suficiente para
arrancar risadas de seus companheiros, que pareciam se divertir com a minha situação.
-Quietos. -Itachi calou-os somente com uma virada de pescoço, fazendo todos se encolherem,
menos Sasuke. -Qual é o seu nome, garoto?
-N-Naruto Uzumaki...
-Certo, Naruto. -Deu outro passo intimidador até mim, grudando minhas costas na parede da cabine.
-Você é novo por aqui, então não sabe como funcionam as coisas. Agora é a nossa hora do banho e não
gostamos de sermos interrompidos por ninguém, muito menos por novatos que não sabem as regras.
Assenti submisso com a cabeça, deixando claro que estava entendendo tudo e que os respeitava.
-Eu vou te dar uma outra chance, mas só porque você é novo. -A sua frieza era algo de se
impressionar. Ele nem ao menos piscava. -Você pode sair agora, mas eu não quero que isso se repita
novamente, estamos entendidos?
-S-Sim. -Optei por não dizer “senhor” dessa vez.
-Ótimo. -Afastou-se minimamente. -Considere-se um sortudo, Naruto. Mas da próxima vez que você
pisar na bola, não vamos ter piedade.
-C-Certo, eu entendi. -Eu me encolhia a cada frase que saia de sua boca, além de não estar sabendo
lidar com tantos criminosos do bloco 5 fitando-me com raiva em um só ambiente.
-Vai embora daqui. -Itachi apontou para a porta.
Concordei freneticamente, não pensando duas vezes na hora de correr até a saída, tendo o olhar de
todos pensando em mim, mas estranhamente, ainda mais o de Sasuke, que parecia me avaliar com certa
curiosidade.
Quando cheguei à porta, fui surpreendido pela inesperada presença de Gaara. Ele estava ofegante e
suado, parecendo ter corrido bastante para me alcançar. De qualquer forma, esbugalhou seus olhos ao me
ver acompanhado do grupo dos Uchiha, provavelmente se perguntando como eu ainda continuava vivo.

27
Itachi olhou em sua diração, usando um tom seco e indiferente ao recitar mais uma de suas ordens:
-Ensine as regras ao novato, Gaara, a não ser que você queira que façamos isso por você.
-Pode deixar, Itachi. -Ele assentiu. -Eu vou ensinar, não se preocupe.
Em seguida, tudo pareceu volta ao normal.
O grupo retornou ao seu banho, enquanto Gaara me puxava para fora, preocupado ao me ver em
estado de choque e não sabendo o que dizer depois de tudo o que eu passei ali dentro.
-Caramba, franguinho. -Ele riu em puro nervosismo. -É seu primeiro dia e você já está causando.
Eu nem conseguia rir junto. Aquilo era realmente muito sério. Ainda no meu primeiro dia, eu havia
pisado na bola com o grupo mais temido de toda a prisão. Sabia que isso nunca mais poderia se repetir,
caso contrário, eu pagaria bem caro.
Afinal, mexer com os Uchiha é como assinar sua sentença de morte.

••••
A minha vida realmente não me dava trégua.
Após passar o resto de minha manhã vomitando no gramado do pátio — isso porque tive que evitar o
banheiro por medo que os irmãos Uchiha continuassem por lá — sentia que poderia desmaiar com tamanho
estresse que sentia, visto que me encontrava correndo em direção ao refeitório, recebendo mais uma
bronca de Kakashi por conta de minha velocidade.
Eu estava atrasado para o meu primeiro dia de trabalho na cozinha. A verdade é que, se os Uchiha
não me mataram no banheiro, eu tive certeza de que o Deidara faria isso quando soubesse do meu atraso.
Cheguei correndo desesperadamente, me dirigindo para a parte traseira do refeitório, onde ficava
localizada a cozinha. Ao adentrar o local, recebi olhares confusos e até mesmo raivosos de alguns detentos,
os quais não estavam nenhum pouco acostumados com a minha presença.
-Naruto, você está atrasado, caralho! -Era impressionante o hábito do loiro em colocar um palavrão
em cada final de frase. -Onde você estava?!
-Vomitando. -Respondi ofegante, recebendo olhares de reprovação de todos os cozinheiros
presentes e até mesmo de Obito, que torceu o nariz com a minha justificativa.
-Eu não quero você vomitando na minha comida! -Deidara gesticulava loucamente. -Vai fritar os ovos,
anda! Faz alguma coisa útil, puta que pariu!
Assenti submissamente, dirigindo-me até o fogão e ficando ao lado de um detento qualquer. Ele já
estava fritando alguns ovos, parecendo bastante concentrado no que fazia.
Engoli em seco pela quinta vez no dia.
Eu não sabia como fritar um ovo.
Aquela não era a hora ideal para avisar ao chefe da cozinha, no caso, o Deidara, que não sabia
como fazer um mísero ovo. Por essa razão, decidi que copiaria os passos do cozinheiro ao meu lado. Com
isso, joguei o óleo na frigideira, mas acabei derramando mais do que o necessário, sentindo o olhar do loiro
queimar sobre mim enquanto avaliava meus passos.
Eu estava muito nervoso.
Tremi minhas mãos até a cartela de ovos, selecionando qualquer um e quebrando-o com cuidado no
balcão da cozinha. Sorri sozinho, feliz de não ter despejado parte de sua casca dentro.
Parti para o segundo passo, que no caso, foi o mais difícil de todos. Na hora em que liguei o fogão,
acabei queimando o meu dedinho na boca do mesmo e derrubando a frigideira no chão, o que causou o
maior barulho pela cozinha.
Percebi que até mesmo o Obito tapou seus ouvidos, já prevendo o escarcéu que Deidara faria para
cima de mim.
-Sua anta! -Ele berrou, batendo os pés. -Olha o que você fez, filho da pu—
-Deidara, os Uchiha chegaram. Preciso do almoço deles! -O loiro foi cortado por um dos detentos, o
mesmo que ficava do lado de fora e servindo a comida para os que chegavam.
Eu me recordei desse pequeno detalhe.
O grupo dos irmãos Uchiha sempre comiam do bom e do melhor, bem diferente do resto.
-Naruto, você leva a bandeja pra eles. -Deidara olhou em minha direção, nem pedindo a minha
opinião antes. -O prato está ali, aproveita e joga veneno também.

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Ainda do outro lado da cozinha, Obito encarou-o em repreensão pela piadinha, enquanto eu encolhi
meus ombros pelo desespero:
-E-Eu? P-Por que tem que ser eu? -Depois de tudo o que houve no banheiro, eu não gostaria mais
de passar perto deles de novo.
-Porque eu me recuso a servir eles! -Sua voz estava irritada. -E outra, você fodeu com o chão da
minha cozinha! Pega aquela bandeja, já!
Eu não estava conseguindo acreditar.
Como relutei um pouco diante de sua ordem, recebi um empurrão violento como incentivo. Fui a
contragosto, segurando duas bandejas em minhas mãos, as quais, para a minha infelicidade, possuíam os
nomes "Sasuke" e "Itachi" estampadas nelas. Outros três detentos também me acompanharam, carregando
o restante dos almoços com os outros nomes do grupo.
Eu me senti um pouco mais seguro por não estar sozinho, mas isso logo mudou quando precisei sair
da cozinha e seguir até o refeitório lotado.
O grupo já estava em sua habitual mesa, esperando impacientemente para serem servidos. Engoli
em seco, desviando de todos os detentos à minha volta, os quais provavelmente já imaginavam que toda
aquela comida boa, bem diferente do que normalmente consumiam, era pertencente ao tão temido grupo.
Ao me aproximar, comecei a tremer.
Não só minhas pernas, como o meu corpo inteiro chacoalharam, deixando as bandejas bambam em
minhas mãos. O restante dos presidiários em minha frente entregaram o almoço para seus respectivos
nomes, e eu fiquei por último.
Eu estava extremamente tenso.
Notei Sasuke e Itachi me fuzilando pela demora, impacientes e aparentemente famintos.
O que ocorreu no momento seguinte, mostrou-me ainda mais o quanto eu era azarado.
Inclinei-me sobre a mesa para entregar as duas bandejas, no entanto, fui surpreendido por mãos
alheias em contato com a minha bunda, pertencentes a alguns detentos que passaram atrás de mim — os
mesmos que me assediaram no banheiro — aproveitando-se de meu momento de vulnerabilidade para me
apalparem.
Com o susto, perdi o equilíbrio e o controle de minhas mãos, deixando o alimento todo virar.
Eu derrubei a bandeja no Sasuke Uchiha.

Capítulo 4 - Punição

Sasuke On

Após ter passado grande parte da manhã adormecido em minha cela juntamente com o Itachi,
decidimos que gastaríamos o restante de nossas energias jogando basquete, algo que fazíamos com
bastante frequência, especialmente quando precisávamos descontar nossas frustrações em algo ou
alguém.
Já devidamente limpos, de banho tomado e trocados, caminhávamos tranquilamente pelo presídio,
seguindo em direção ao refeitório para cumprirmos o nosso horário de almoço.
À medida que passamos pelos corredores, todos ao nosso redor, inclusive carcereiros, baixavam
suas cabeças em sinal de medo e respeito, intimidados com a nossa presença, mas em especial, com a
presença de meu irmão.
De uns dias para cá, Itachi vem se mostrando mais estressado e impaciente do que o habitual, o que,
é claro, se dá pelo fato de sua insônia estar se alastrando cada vez mais e o deixando desperto diversas
noites seguidas. Como o bom observador que sou, venho notando-o mais rude, frio e intolerante, inclusive
com o nosso grupo — usando-os como uma espécie de “saco de pancadas” para descontar sua raiva.
Itachi pode fazer o que bem entender com eles, e mesmo assim, ninguém vai ter coragem o
suficiente para reagir. Muitos deles estão sempre aguentando calados e com medo, além de nunca
protestarem contra as ordens e broncas que recebem. De vez em quando gosto de pensar que tenho sorte
de tê-lo como irmão, até porque sou o único que possuo certa "moral" com ele, apesar de que também não
curto nenhum pouco a ideia de enfrentá-lo ou deixá-lo irritado.
Eu costumo somente fazer o que ele me manda, sem questionar ou dar minha opinião antes. Se o
Itachi me pede para fazer algo, eu obedeço, mesmo que muitas vezes não concorde com o que está sendo

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feito. Nós somos irmãos, estamos no mesmo barco, mas possuímos opiniões completamente diferentes em
certos casos.
-Você está bem? -Questionei baixo, apenas para que ele me escutasse. Gostaria de me aproximar
mais, mas o Itachi já havia deixado claro que prefere que eu ande atrás de si.
-Sim. -Foi uma resposta curta, como sempre.
-Você conseguiu dormir pelo menos um pouco? -Persisti no assunto, passando a observá-lo com
atenção. Seu rosto pálido e com olheiras entregavam-me suas noites de sono mal dormidas.
-Não. -Negou secamente, precisando bancar o frio na frente de nosso grupo. -Depois a gente
conversa, Sasuke. Agora não, entendeu?
Me afastei com um suspiro cansado, decidido de não insistir mais no assunto. Não queria que o Itachi
perdesse a paciência mais uma vez naquele dia. Sinceramente, eu estava com pena de quem cruzasse o
seu caminho e precisasse lidar com ele naquele humor insuportável.
Ao chegarmos no refeitório, como o habitual, todos os detentos e carcereiros ficaram em completo
silêncio, demonstrando respeito enquanto passávamos e cientes de que meu irmão não gostava de ser
encarado, como já havia deixado claro algumas vezes.
-Cara, eu estou morrendo de fome! -Mesmo depois da bronca que recebeu, Suigetsu mantinha-se
extrovertido e falastrão, bem do tipo de gente que o meu irmão não gosta de conviver.
Eu só estava aguardando pelo momento em que Itachi perdesse sua paciência pra valer.
Me sentei ao lado do meu irmão, ficando com a cadeira da ponta e de frente para o Sasori, assim
como me sentava todos os dias. Nós possuíamos lugares marcados para cada integrante do grupo, e por
mais inútil e sem sentido que fosse, gostávamos daquela mesmice.
Alguns garotos conversavam entre si, no entanto, sempre bem discretos e silenciosos para manterem
a postura. Não tínhamos permissão de demonstrar nenhum tipo de emoção ou extroversão, pois segundo
Itachi, para sermos temidos, precisávamos estar sempre sérios. Era por esse motivo que ele odiava tanto o
Suigetsu — sendo o mais novo integrante de nosso grupo, era o único que não conseguia seguir essa
regra.
-Você deveria procurar ajuda. -Me aproveitei do momento de distração para puxar minha cadeira até
Itachi, preocupado ao vê-lo apertar suas pálpebras com os polegares, esgotado. -Não é saudável ficar
tantos dias sem dormir, Itachi.
Irritado, seu olhar foi de encontro ao meu.
-Eu já falei que agora não é hora de conversar sobre isso. -Engrossou a voz, o que me fez revirar os
olhos em resposta. O fato do Itachi nunca querer demonstrar fraquezas aos outros, nem mesmo perto do
próprio grupo, me tirava genuinamente do sério. -Da próxima vez que você revirar esses olhos pra mim, eu
vou garantir que você fique sem eles, ficou claro?
Ri debochado, que mesmo baixo, chamou a atenção de alguns dos nossos companheiros.
-Você não precisa me ameaçar só porque eu estou tentando te ajudar, Itachi. -Rebati.
Os garotos de nosso grupo ficaram tensos. De vez em quando, eu recebia algumas ameaças do meu
irmão na frente de todos, apesar de que ele nunca chegou a colocá-las em prática e muito menos me bater
pra valer. Nós sempre discutimos, mas jamais se passou disso.
Com um ar frio, senti sua mão deslizar de encontro a minha coxa, apertando-a dolorosamente para
que eu me calasse:
-Para de me desautorizar na frente do grupo, Sasuke. -Rosnou próximo de meu ouvido. -Depois a
gente conversa, eu já falei.
Empurrei sua mão por baixo da mesa. Senti vontade de respondê-lo, mas me segurei para não lhe
“desautorizar” na frente de todos.
Ele sempre precisava bancar o durão.
-Cadê a comida? -Suigetsu, completamente alheio à nossa discussão, virava sua cabeça em todas
as direções possíveis, procurando desesperadamente pelos ajudantes da cozinha que sempre vinham nos
servir.
-Você só pensa em comer, garoto? -Sasori se pronunciou após um tempo, também impaciente em
relação a ele. Ninguém ali gostava do Suigetsu, talvez somente o seu primo.

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-Sim. -Sorriu com os dentes.
Todos suspiraram com irritação.
-Eu já não fui claro o bastante quando disse que não queria mais conversas paralelas? -Itachi deu um
soco na mesa, o que foi o bastante para que todos pulassem de susto, inclusive o Suigetsu.
-Ah, desculpe. -Levantou as mãos em rendição.
-Olha a comida chegando. -O ruivo apontou, mostrando alguns dos ajudantes trazendo as nossas
bandejas. -Pronto, agora sossega.
As conversas logo voltaram em nossa mesa, no entanto, ainda mais baixas e discretas. Todos
estavam receosos com o fato de irritarem meu irmão. Enquanto isso, cruzei meus braços pela demora do
almoço, observando com atenção o conteúdo presente na bandeja de meus companheiros: espaguete com
molho vermelho, o favorito de nosso grupo, por sinal.
O fato é que todos os garotos já haviam sido devidamente servidos, menos eu e o Itachi.
Aquilo era bem incomum.
Costumávamos receber as bandejas primeiro do que todo mundo e geralmente pelo mesmo ajudante
de cozinha, mas que, estranhamente, não estava presente daquela vez. Obviamente, eu e meu irmão
estranhamos a situação.
No entanto, nossa dúvida logo foi esclarecida com a presença de outro garoto, o qual vinha
caminhando em nossa direção com as nossas bandejas empilhadas desajeitadamente. Para a minha
surpresa, se tratava do novato — o mesmo que abordamos mais cedo no banheiro.
Eu o avaliei da cabeça aos pés, notando que o meu irmão fazia o mesmo, embora cem vezes mais
impaciente com a demora do almoço. Era notável para mim — e para qualquer outra pessoa que prestasse
o mínimo de atenção — o quanto aquele garoto se encontrava nervoso. Suas mãos tremiam sem controle e
sacudiam as bandejas junto, ao mesmo tempo em que seus olhos caiam sobre nós, ora em mim ora no
Itachi
A maneira como o novato era desengonçado e tentava equilibrar os nossos almoços chegava a ser
engraçada. Ele estava desviando de alguns detentos que encontravam-se à sua volta, enquanto tentava ler
os nomes nas bandejas e distingui-las. Ao aproximar-se de nossa mesa, atraiu a atenção de todos do grupo
para si, especialmente pelo fato de não conseguir parar de tremer.
Em seguida, se inclinou desajeitadamente com a intenção de me entregar o primeiro almoço. De
começo, pensei que pudesse segurar a bandeja para ajudá-lo a se sair melhor, mas logo tive de largar mão
dessa idéia ao notar a presença de mais dois detentos que passavam atrás de si naquele mesmo instante,
sorrindo maliciosamente por vê-lo tão debruçado e exposto para qualquer um que passasse.
O novato encontrava-se em uma posição favorável para que o apalpassem.
Certamente, foi isso o que ocorreu.
Foi quando, em uma fração de segundos, a bandeja já estava em cima de mim. Não só a minha
como a do meu irmão também. Os dois almoços foram derrubados por ele, parte em meu cabelo e a outra
parte em meu peito e barriga, sujando todo o meu uniforme recém lavado.
A minha primeira reação foi me erguer.
Levantei-me de abrupto da cadeira, acompanhado dos suspiros exagerados vindos de literalmente
todos os presentes no refeitório, desde de detentos até carcereiros.
Em seguida, veio o silêncio.
Eu permaneci com a cabeça baixa, deixando o resto do espaguete escorregar pelo meu cabelo e cair
no chão à minha volta. Fiz o mesmo com a minha blusa e calça, limpando-as com as minhas próprias mãos
e ciente de que todos estavam me assistindo. Aquilo era muito humilhante, especialmente por eu ser um
Uchiha.
Ainda com o silêncio pairando pelo ar, virei meu pescoço violentamente em direção ao loiro,
imaginando os mais diversos tipos de vingança contra si e desejando que ele pagasse por toda a
humilhação que me fez sofrer.
Acontece que minha visão sobre si foi totalmente alterada quando me deparei com uma imagem que
não esperava ver: o novato estava à beira de suas lágrimas. Olhava para mim de olhos arregalados e tremia
incontrolavelmente diante do acidente que causou, fora o fato de não saber como lidar com tantas pessoas
o encarando e o julgando pelo o que fez comigo.

31
Ele temia o que aconteceria a seguir.
-M-Me desculpa... -Sua voz saiu em um sussurro, mas por estarmos próximos, foi audível.
Continuei parado de pé em sua frente, ciente do que estava por vir. Eu não tinha permissão para
reagir e nem fazer nada até que o meu irmão se pronunciasse em relação ao acidente.
Eu também tinha consciência de que não poderíamos deixar aquilo passar em branco, afinal, todos
os detentos haviam presenciado aquele momento humilhante. Se por algum acaso deixássemos o novato
impune, isso passaria a visão de que o grupo tinha compaixão ao próximo, algo que definitivamente não
temos.
Além do Itachi nunca permitir uma coisa dessas, a regra que temos é simples: "nós sempre damos
uma segunda chance, mas quando ela não é bem aproveitada, não podemos deixar passar".
-Você só pode estar brincando.
A voz grave e fria de meu irmão fez com que todos se encolhessem pelo refeitório, mas em especial,
o loiro, que naquele instante, continha todos os pelos de seu corpo arrepiados, juntamente com uma
tremedeira incontrolável.
Não só o novato como todo o restante da prisão, sabíamos o quanto ele estava ferrado.
-Nós te demos uma segunda chance, mas parece que você jogou ela pelo ralo, não é mesmo?
Virei meu pescoço minimamente para trás, sentindo Itachi tocar calmamente em meu ombro ao fazer
uma espécie de plateia ao nosso redor.
Todos assistiam, sem exceção.
-E-Eu sinto muito, p-por favor—
-Calado. -Uma palavra sua foi o suficiente para fazê-lo se encolher, deixando pequenas lágrimas
escaparem de seus olhos. -Sou eu quem estou falando agora.
O novato assentiu diversas vezes em resposta, demonstrando todo o respeito possível.
-Não gostamos de resolver as coisas assim, com todo mundo olhando. -Itachi apontou ao seu redor.
-Isso não faz o nosso estilo.
Aquilo era verdade.
Nós não precisávamos de uma plateia para botar medo nos outros. Nosso grupo sempre foi de
poucas palavras, intimidávamos os outros com o mínimo. Nossos acertos de contas geralmente ocorriam
longe do público, para que, dessa maneira, quando o indivíduo aparecesse arrebentado e repleto de
hematomas, todos saberiam que se tratava de um capricho nosso.
-Vamos lidar com você mais tarde, bem longe daqui. -Declarou friamente, dando um passo para
frente e cobrindo meu corpo com o seu. -Não pense que isso acabou por aqui, novato.
Os ombros do loiro se encolheram. Ele abria e fechava sua boca diversas vezes, talvez desejando
dizer algo para se defender, mas não conseguindo achar as palavras certas.
-Some daqui. -Rosnou secamente, para só então olhar ao nosso redor. -O show acabou!
Como o habitual, todos obedeceram às suas ordens, até mesmo os policiais, os quais rapidamente
retomaram suas tarefas anteriores junto com os presos. Ninguém tinha coragem de desobedecê-lo. Itachi,
por sua vez, lançou uma última encarada mortal ao loiro, virando de costas sem dizer absolutamente nada e
deixando-o completamente em choque na minha frente.
O novato, que até então eu não me recordava o nome, também não ficou para ver o que aconteceria
a seguir. Com suas pernas bambas, voltou chorando para a cozinha e soluçando enquanto passava em
meio aos detentos.
Suspirei pesadamente, absorvendo tudo o que aconteceu em silêncio. Aquele garoto definitivamente
estava muito encrencado.
Enquanto isso, decidi retirar o restante de macarrão presente em meu corpo, passando minhas
unhas entre meus fios e torcendo o nariz com o cheiro de tomate que eu exalava. Somente um bom banho
retiraria todos os vestígios de espaguete do meu copo. Sem informar a ninguém de meu grupo, dirigi-me
para longe da mesa com a intenção de voltar até minha cela para pegar uma troca de roupa e uma toalha.
Eu pretendia tomar uma ducha.

32
Como o bloco 5 ficava até que próximo do refeitório, não demorei para pegar as minhas coisas e
caminhar pensativamente em direção ao banheiro, quase não reparando na presença de meu irmão, que
vinha me seguindo a um tempo e adentrando o sanitário junto comigo.
-Que susto. -Levei a mão ao peito, murmurando irritado. O Itachi era o tipo de pessoa que chegava
do nada, mas sumia de repente.
-Fora. -Ignorando meu comentário anterior, Itachi ordenou que alguns dos presidiários deixassem o
banheiro e nos deixassem a sós.
Eu até preferia que eles saíssem, visto que não gosto de ser observado enquanto tomo banho.
-O que você quer? -Indaguei quando a porta se fechou, começando a tirar meu uniforme manchado
de molho de tomate. Aquela nem era a minha hora de tomar banho, mas como tínhamos vantagens, eu
podia usar o chuveiro a qualquer momento que desejasse. -Veio brigar comigo porque me preocupo com
você?
-Não começa, tá bom? -Suspirou cansado, bem menos alterado do que estava a pouco tempo atrás.
Quando eu digo que meu irmão é mais legal quando estávamos a sós, não é mentira. -Eu já te pedi pra não
falar sobre os meus problemas perto do grupo, você sabe que eu—
-Sim, eu já sei. -Interrompi-o antes que ele iniciasse o mesmo discurso chato. -Você sempre tem que
ser forte, não importa a situação e também não pode demonstrar fraquezas a ninguém. Você me lembra
disso todo o dia, Itachi.
Dirigi-me até o chuveiro mais próximo, ligando o registro na água quente e agradecendo por não
precisar tomar banho gelado, especialmente com o frio grotesco que estava fazendo.
-Exatamente. -Concordou, sentando-se em cima do balcão da pia e deixando suas pernas
balançando no ar. -Mas já que você está tão preocupado comigo, agora dá pra gente conversar sobre isso.
Não tem ninguém aqui.
-É sempre assim... -Murmurei, fechando meus olhos para aproveitar a água quente. -Quando não
tem ninguém perto você quer conversar, né?
-De novo isso, Sasuke? -Perguntou impaciente. -Você sabe que é tudo uma questão de
sobrevivência, eu já te expliquei isso mil vezes.
-'Tá, que seja. -Dei de ombros, fazendo uma careta de nojo ao sentir um pedaço de macarrão
escorregar pelo meu cabelo, misturando-se com o meu xampu.
-E esse novato, hein? -Eu tinha certeza que Itachi entraria nessa assunto. -Você não está com raiva
pelo o que aconteceu? Eu juro que só de lembrar eu tenho vontade de acabar com ele.
Reabri meus olhos, fitando-o pensativamente.
Para falar a verdade, eu não fiquei tão irritado com o acontecido quanto achei que ficaria. É claro que
foi humilhante ter espaguete escorrendo pelo meu cabelo na frente de todo mundo do refeitório, porém, ao
lembrar-me de que tudo se passou apenas de um acidente causado por outros detentos que apalparam o
novato, eu não me sentia mais tão raivoso.
Acontece que, se fosse algo feito por querer, tenho certeza de que já estaria querendo matá-lo
juntamente com o Itachi, só que, como não foi, eu me encontrava neutro diante da situação.
-Sim, eu estou. -Apesar de não ser verdade, foi o que precisei dizer ao Itachi, que com certeza não
entenderia meu ponto de vista se eu dissesse que não culpava o novato pelo o que aconteceu. -Qual é o
nome dele mesmo?
-E isso importa? -Rangeu os dentes ao se recordar do garoto. -O que ele fez foi inaceitável. Foi como
uma ofensa para o nosso grupo, mas principalmente para você.
Quando eu disse que, mesmo sendo irmãos, possuíamos opiniões completamente diferentes, eu não
estava brincando. O Itachi nunca se daria o trabalho de tentar entender o que aconteceu e que tudo só se
passou de um acidente estúpido.
-O que você pretende fazer com ele? -Perguntou interessado, referindo-se ao castigo que daríamos
ao novato. -Você quer cuidar disso sozinho ou quer que eu te ajude?
Aquela foi a brecha perfeita.
-Deixa que eu cuido disso sozinho. -Respondi com convicção, desligando o chuveiro. -A bandeja caiu
em mim, eu lido com o novato.

33
O fato é que, se fossemos acertar as contas com a colaboração do grupo todo, o garoto com certeza
se prejudicaria ainda mais. No entanto, como seria somente eu, poderia escolher a punição que desejasse,
contanto que eu o castigasse de verdade. Embora tudo isso se passasse de um acidente bobo, deixá-lo em
branco estava fora de cogitação.
Eram as regras de nosso grupo, afinal.
-Certo, você que sabe. -Murmurou, atirando-me a toalha de onde estava. -Só não esqueça de deixar
bem claro quem é que manda. Você não pode deixar isso passar de jeito nenhum, entendeu?
-Entendi. -Amarrei a toalha na cintura, querendo deixar aquele assunto um pouco de lado. Eu ainda
teria que pesquisar mais sobre o garoto e planejar uma punição “grande” o bastante para se encaixar ao
gosto do meu irmão.
-Bom garoto. -Sorriu minimamente, igual das vezes em que se orgulhava de mim. -Agora se troca,
daqui a pouco eu preciso me encontrar com o Obito.
-Certo. -Suspirei cansado. Eu não gostava nenhum pouco de bancar o porteiro dos dois e nem de
ficar parado do outro lado da porta que nem uma estátua. -Vê se não demora, tá? Da última vez você me
fez ficar trinta minutos de pé.
-Se você reclamar, eu te faço ficar uma hora inteira me esperando. -Rebateu, saindo de cima da pia.
-Vai logo, eu estou falando sério.
Bufei impaciente, terminando de me vestir.
O meu dia seria longo, porque além das reuniões insuportáveis do meu irmão com o Obito, eu ainda
teria que gastar o meu tempo pensando em uma punição para o novato que fosse boa o suficiente para
agradar o Itachi, mas que não fosse tão pesada ao ponto de detoná-lo.
Seria difícil encontrar um castigo ideal.
Naruto On

A noite já caía do lado de fora, trazendo com ela a alta e estridente sirene que anunciava o retorno
dos detentos para suas respectivas celas, além de significar o final do dia na penitenciária. Com o corpo
trêmulo, eu andava em meio à multidão e sentia meus olhos arderem após tanto tempo chorando, fora uma
ânsia de vômito que me consumia até o talo, tanto por conta da comida nojenta que fui obrigado a consumir
quanto pela situação desesperadora que me encontrava.
Eu nunca senti tanto medo em toda a minha vida.
-Naruto, eu te procurei o dia inteiro! -Gaara foi quem me alcançou no corredor, seguindo-me até
dentro da cela. -Por onde você andou?!
Aquela era uma pergunta complicada de se responder, visto que passei o meu dia todo fugindo pelo
presídio e escondendo-me atrás das paredes sempre que alguém cruzava meu caminho, com medo de ser
um dos Uchiha ou algum dos homens de seu grupo.
-E-Eu não sei... -Respondi atordoado, aproveitando para sentar em minha cama. Eu comecei a me
sentir minimamente mais seguro por estar dentro da cela.
Tanto o Gaara quanto o Deidara já sabiam sobre o ocorrido. Na verdade, o presídio inteiro já estava
ciente do que aconteceu no refeitório mais cedo.
-Você está bem, franguinho? -Parou em minha frente com um semblante preocupado, cruzando
meus braços ao me avaliar dos pés à cabeça.
Eu não iria dizer que estava, sinceramente, mal tinha forças para omitir meus sentimentos.
-N-Não... -Sussurrei em resposta, abraçando meus próprios joelhos quando recomecei a chorar, sem
conseguir me segurar na sua frente.
Eu estava extremamente apavorado.
Com um olhar de pena, Gaara tomou a liberdade de se ajoelhar em minha frente e ficar da minha
altura para que conversássemos melhor:
-Olha... -Olhou para o lado, parecendo buscar pelas palavras certas. Até eu sabia que não tinha mais
nada o que me dizer, eu estava encrencado de qualquer jeito. -Vai ficar tudo bem, não precisa chorar.
Aquele não era um bom conselho.
Como eu conseguia ser tão azarado?

34
Em meu primeiro dia, já havia derrubado duas bandejas cheias de comida em cima do Sasuke
Uchiha e feito o grupo mais temido de todo o presídio me odiar e jurar vingança contra mim.
Duas malditas bandejas.
-E aí? -Deidara era quem entrava, carregando entre seus lábios um cigarro ainda apagado. Ele me
fez pular de susto no colchão, mas isso porque imaginei que se tratasse de um dos Uchiha invadindo minha
cela. -O que está rolando aqui?
O ruivo suspirou pesadamente, sentando no chão à minha frente e optando por não responder a
pergunta feita pelo seu companheiro para poupar-me de mais estresse e pânico.
-Ah, o lance com os Uchiha, né? -Adivinhou o óbvio, rindo divertido com a situação. Deidara dirigiu-se
até sua cama, tirando um isqueiro de baixo de sua fronha para acender seu habitual cigarro. -Franguinho,
se serve como consolo, você ganhou um pouco do meu respeito por ter derrubado espaguete na cabeça do
Sasuke.
Isso também não serviu como consolo. Muito pelo contrário, só fez com que eu chorasse ainda mais.
Eu estava literalmente me tremendo de medo.
-Você chegou a ver a hora em que o Naruto derrubou a bandeja nele? -Gaara questionou
curiosamente. -Eu não consegui ver o momento exato, só depois que a merda já estava feita.
-Oh sim, eu consegui ver direitinho. -Riu entre uma tragada, parecendo se divertir. -Eu quase
comecei a aplaudir de dentro da cozinha, só não fiz isso porque o imbecil do Obito me impediu.
-Meu Deus... -O ruivo murmurou.
-Mas você deveria ter derrubado no Itachi também, franguinho, ia me fazer bem mais feliz. -Sorriu
maldoso em minha direção, rindo sozinho ao imaginar a cena. -Ah, ia ser tão lindo!
-Deidara, agora não é hora de fazer piadas. -Gaara resmungou com impaciência, olhando-me ainda
mais preocupado, visto que, naquele instante, encontrava-me engasgado em meio a um soluço. -Naruto,
você precisa ficar calmo.
Não adiantava receber palavras reconfortantes.
Abracei meu corpo só de imaginar toda a dor que enfrentaria quando me encontrasse com os Uchiha.
Não tinha nem como me defender, porque, além de todos do grupo estarem contra mim, eles são mil vezes
mais fortes do que eu.
Eu sou só um franguinho.
-Para de chorar, caralho. -Deidara estalou a língua. -Ficar chorando que nem um bebê não vai
adiantar em porra nenhuma, falou? Você está fodido de qualquer jeito, chorar só vai deixar as coisas piores.
-Deidara! -Gaara o repreendeu, desesperando-se ao me ver tapar o rosto com minhas mãos, ficando
abalado com o que foi dito. Eu estava temendo pela minha própria vida. -Franguinho, fica tranquilo, por
favor. Amanhã cedo você pode falar com algum carcereiro e—
-Não, péssima ideia. -O loiro foi rápido em interrompê-lo. -Sem essa de falar com algum carcereiro.
Aqui as coisas não funcionam assim, Gaara, você sabe bem disso.
-Então o que você sugere que ele faça?! -Indagou, parecendo tão desesperado quanto eu.
-Sei lá, o problema é dele, eu não me meto nessas coisas. -Soltou a fumaça calmamente.
-Deidara, você é quem tem mais experiência entre a gente. -Gaara ainda tentava achar uma solução
para me ajudar. -O que você faria no lugar do Naruto?
Ele suspirou, espremendo os olhos pensativamente.
-Não tem o que fazer, o Naruto está fodido de qualquer jeito. -Gargalhou de minha cara. -O único jeito
seria encontrar um grupo de pessoas para enfrentar os irmãos exibidos, mas ninguém vai querer fazer isso.
Você está sozinho nessa, franguinho.
Era isso que eu mais temia.
Eu estava completamente sozinho. Não teria ninguém para me defender dessa vez. Eu apanharia
sem dó dos criminosos mais temidos de toda a prisão e tudo por conta de um acidente estupido envolvendo
bandejas.
-Naruto Uzumaki?

35
Levantei minha cabeça com o susto gigantesco que tomei, olhando diretamente para a grade de
minha cela, onde Obito encontrava-se apoiado e me iluminando com a sua lanterna.
-H-Hm, sim? -Era um alívio ser um dos policiais.
-Venha comigo, agora é hora do seu turno de trabalho. -Falou calmamente.
Eu fiquei instantaneamente confuso.
-T-Trabalho? -Arqueei a sobrancelha. -Já é de noite… Eu trabalho na cozinha, senhor.
-Eu tenho ordens explícitas de te levar até os banheiros. -Obito destrancou a cela, sem me dar
explicações mais concretas. -A partir de hoje, você trabalha limpando os banheiros no final do dia.
Eu senti meu coração disparar.
-N-Não... -Neguei, levantando-me desesperado da minha cama. -Deve ser um engano, eu trabalho
na cozinha, pode conferir!
Além de estar completamente desapontado com o fato de precisar lavar banheiros, eu também me
encontrava apavorado com a ideia de precisar deixar a cela aquela hora da noite.
Os Uchiha poderiam estar me esperando sorrateiramente do lado de fora para me matar.
-Na verdade, você não trabalha mais. -O carcereiro escancarou a porta da cela, passando a iluminar
Deidara em cima de seu beliche. -Você conta pra ele ou eu conto, Deidara?
Antes mesmo de ouvir as explicações do loiro, eu já havia sacado tudo.
-Eu falei que hoje você faria um teste, franguinho. -Explicou simplista, apagando seu cigarro na
parede. -Você falhou e agora está fora da minha cozinha, é simples.
-M-Mas...
-Você derrubou minha frigideira, Naruto. -Levantou a sobrancelha. -Você acha que eu sou bobo? Era
tudo mentira aquela sua historinha de já ter experiência na cozinha, fora o caos que você causou hoje no
refeitório.
-Mas foi você mesmo que disse que gostou dele ter derrubado a bandeja no Sasuke, Deidara! -Gaara
tentou me defender.
-Eu gostei, mas não posso permitir que um franguinho desses, mentiroso e sem experiências, fique
na minha cozinha. -Explicou-se com tédio, me calando quando decidi abrir a boca. -Eu já tomei minha
decisão, não vou voltar atrás.
Não tinha como aquele dia piorar mais.
-Vamos logo. -Obito segurou em meu braço, suspirando cansado com a minha demora. -Nem é tão
ruim assim, quanto mais rápido for, mais rápido termina, sim?
Eu até tentei pensar dessa maneira, mas por conta de todo o pânico que me consumia, foi realmente
difícil ver as coisas pelo lado positivo. Enquanto isso, fui puxado para fora da cela, lançando um último olhar
de socorro para Gaara, o qual discutia seriamente com Deidara, dizendo-lhe algo como: “isso foi muita
mancada”.
-Você tem uma hora para terminar tudo, então certifique-se de que todas as privadas estejam
desinfetadas, entendido? -Ele falava com bem mais paciência do que o Kakashi, ao mesmo tempo em que
entregava um balde com diversos produtos de limpeza dentro. -Alguma dúvida?
-S-Sim, na verdade. -Mordi meu lábio inferior, ficando tenso ao chegarmos no banheiro, o qual se
encontrava no breu, assim como o resto da penitenciária. -Você vai ficar aqui comigo?
-Você quer dizer aqui no banheiro? -Arqueou a sobrancelha, acendendo a luz à nossa volta.
-I-Isso.
-Não, não vou. -Respondeu simplista, franzindo o cenho ao me ver estremecer com sua resposta. A
última coisa que eu queria era ficar sozinho na prisão, no escuro e sendo caçado pelos irmãos Uchiha.
-Olha, qualquer coisa é só chamar, tá bom? Eu vou estar na diretoria.
Não era exatamente o que eu queria ouvir.
-C-Certo, obrigado...
-Começa logo. -Virou de costas.

36
Suspirei assustado, olhando ao redor do banheiro com receio e procurando por qualquer sinal de vida
presente no cômodo. Por mais bobo que pudesse soar, eu estava me sentindo observado.
Tirei alguns produtos de dentro do balde e fui reconhecendo cada um deles. Pelo menos com
limpeza eu tinha muita experiência, visto que sempre precisei arrumar minha antiga casa por conta das
condições de saúde da minha mãe.
Comecei a limpeza pelas pias, torcendo o nariz com a quantidade de fios de cabelo presentes no
ralo, os quais deixavam-o literalmente entupido. Coloquei as luvas de plástico para iniciar o serviço e enfiei
minha mão para tirar os tufos de cabelo, quase vomitando mais uma vez naquele dia.
Em seguida, peguei a bucha deixada no balde, borrifando alguns produtos em volta do balcão e
esfregando-o até que ficasse bem branco. Fiz a mesma coisa com as outras seis pias, conseguindo me
distrair um pouco de meus pensamentos em relação aos irmãos Uchiha.
Estava tudo indo muito bem, até o momento em que decidi passar para os espelhos — que se
encontravam extremamente embasados e dificultavam ao máximo para que eu enxergasse o meu próprio
reflexo, além de alguns estarem trincados e outros caindo aos pedaços. Espirrei um produto específico para
vidros, passando o pano para limpá-lo, no entanto, tomei o maior susto de toda a minha vida ao notar que
meu reflexo não era o único refletido em minha frente.
Me virei com o coração a mil, deixando o pano cair no chão ao me deparar com Sasuke Uchiha.
De olhos arregalados, me encostei dramaticamente sobre o balcão, começando a sentir a minha
respiração falhar com a sua presença, e mesmo que razoavelmente distantes um do outro — ele parado na
porta e eu na pia — me senti incrivelmente intimidado. Procurei desesperado pelo resto de seu grupo, mas
aparentemente, ele havia vindo por conta própria.
Eu só não sabia se ficava aliviado por conta disso ou não.
Como nenhum de nós tomou a iniciativa de dizer nada, foi Sasuke o primeiro a se aproximar,
caminhando com suas mãos no bolso e uma feição neutra.
-Qual é o seu nome? -Foi tudo o que saiu de sua boca no momento exato em que parou a dois
metros de distância de mim.
Notei, mesmo que sob pressão, que aquela era a primeira vez que ouvia a sua voz com clareza.
-N-Naruto… Uzumaki... -Eu estranhei o fato de precisar repetir a mesma informação, visto que seu
irmão já havia me perguntado anteriormente.
-Naruto, hm? -Outro passo foi dado em minha direção, me deixando cada vez mais encolhido contra
a pia. -Bem, Naruto, você causou uma confusão e tanto no refeitório hoje mais cedo.
No fundo, eu ainda possuía uma pequena e ingênua esperança de que ele não estivesse no banheiro
por minha causa, mas ao ouvi-lo citar o acontecimento de mais cedo, eu me pus a chorar novamente.
Simplesmente não pude me segurar em sua frente. O medo que eu sentia falou mais alto do que
tudo. Talvez isso tenha me deixado com fama de medroso e chorão, mas eu realmente não me importava
mais. Se fosse preciso, eu me ajoelharia pelo seu perdão e imploraria para não apanhar.
-P-Por favor, me desculpa! -Fechei meus olhos e tapei-os com as minhas mãos, sentindo seu olhar
queimar sobre mim. -E-Eu não queria, eu juro que não queria! Foi só um acidente, eu me distraí e acabei
derrubando a bandeja em você, mas eu prometo que isso nunca mais vai acontecer!
Enquanto soluçava desesperado e me engasgava em meio ao meu choro, me encolhia pelo simples
fato de temer o fato de Sasuke perder a sua paciência em relação a mim. E foi exatamente isso o que
aconteceu:
-Já chega. -Falou por cima, calando-me no minuto em que parou de frente a mim e cruzou os braços
com um ar frio. -Se recomponha, eu não estou aqui para te ouvir chorar.
Fiz esforço para deixar de chorar, secando minhas lágrimas atrapalhadamente e abraçando meu
corpo por me sentir vulnerável a ele. O Sasuke era claramente mais alto e forte do que eu.
-Eu sei que o que aconteceu foi um acidente, eu não sou cego e nem idiota. -Declarou. O mais
impressionante era que ele não movia um músculo de sua face ao falar comigo, exatamente igual ao seu
irmão. -Você não é louco de derrubar uma bandeja em mim de propósito.
Concordei positivamente, mostrando-lhe que era exatamente isso que eu pensava. Até porque, quem
teria coragem o suficiente para derrubar uma bandeja repleta de comida em Sasuke Uchiha?
-S-Sim, eu nunca faria uma coisa dessas de propósito. -Reforcei, fungando meu nariz.

37
-Calado, eu ainda não terminei. -Tomei outro corte. -Você tem que aprender a hora certa de falar,
senão vai acabar se dando mal.
Assenti submisso com a cabeça, mostrando respeito diante de tudo o que ele me falava.
-Eu estou aqui porque fui o escolhido para te punir. -Anunciou sem relutar, prensando-me contra o
balcão quando decidiu chegar mais perto de mim. Eles definitivamente sabiam como intimidar alguém.
-Sendo um acidente ou não, você me fez passar por uma humilhação e nós não pretendemos deixar isso
barato.
Sei bem que o Sasuke já havia pedido para que eu parasse de chorar, e a última coisa que eu
gostaria era de irritá-lo ainda mais, entretanto, não deu para me segurar. Mais algumas lágrimas escorreram
de meus olhos, ao mesmo tempo em que meu corpo voltava a tremer só de imaginar a surra que levaria em
pouco tempo. Eu queria estar psicologicamente preparado, pois fisicamente, eu sabia que não aguentaria.
-Eu já disse pra você parar de chorar. -Ordenou irritado.
-P-Por favor, não me bate! -Eu estava soluçando tanto, que foi quase necessária uma aproximação
de sua parte para me compreender. -E-Eu te prometo, eu nunca mais vou fazer isso, eu—
-Já chega, eu falei. -O resto de sua neutralidade desapareceu, dando espaço para um olhar mais
afiado e raivoso. -Eu não vou bater em você… Mas você vai fazer algo para mim.
Pisquei meus olhos repetidas vezes, assimilando silenciosamente a sua última frase:
-O-O que você quer que eu faça? -Me encolhi só de pensar nas coisas horríveis que Sasuke poderia
me obrigar a fazer.
-Amanhã de noite, quando você estiver limpando os banheiros, preciso que você vá até o pátio e
pegue uma coisa para mim. -Seu olhar era intenso, penetrava no meu sem dó.
-Q-Que coisa? -Neguei com a cabeça, começando a me afligir outra vez. -E-Eu não posso sair do
banheiro, eu—
-Quieto. -Fechou seus olhos impacientemente, reabrindo-os com uma carranca. -Atrás do jardim tem
um vaso cinza com um cacto, você já viu?
Assenti relutante com a cabeça, lembrando-me exatamente da planta descrita por ele, até porque,
Gaara trabalhava na jardinagem e já havia regado ela em minha frente.
-Amanhã vão ter alguns saquinhos escondidos dentro da terra. -Explicou-se, me fazendo arregalar os
olhos de imediato. Eu sabia exatamente o que ele queria dizer. -Preciso que você traga eles para mim. Eu
vou estar te esperando aqui, no mesmo horário de hoje.
Assim como da outra vez, precisei de um tempo para assimilar tudo.
-M-Mas, eu não posso fazer isso. -Neguei. -Se eu for pego, a minha pena aumenta ainda mais, e—
-É um risco que você vai precisar correr, não acha? -Indagou friamente. -Como você trabalha nesse
horário, vai levantar menos suspeitas. Pegue o conteúdo que eu te descrevi e traga para mim amanhã
nesse mesmo horário.
-M-Mas e você? -Eu tinha um milhão de dúvidas.
-Eu dou um jeito de fugir do bloco, assim como estou fazendo agora. -Respondeu simplista,
divertindo-se ao me ver arregalar os olhos. -Estamos entendidos, novato?
Eu não poderia negar.
-S-Sim, senhor. -O “senhor” saiu sem querer mais uma vez.
-Ótimo. -Afastou-se, se dirigindo até a porta como se nada tivesse acontecido. -Ah, só mais uma
coisa... Se te pegarem, você está morto, então trate de tomar cuidado, ouviu?
Assenti submissamente, ficando completamente paralisado até que Sasuke seguisse seu caminho,
deixando-me em choque e pensativo no banheiro.
Talvez, só talvez tivesse sido melhor ter levado uma surra. O medo que eu sentia em relação a esse
“conteúdo” que o moreno me pediu para trazê-lo, estava me deixando de cabelo em pé.
Era oficial, eu nunca teria paz naquela cadeia.

38
Capítulo 5 - A decisão é sua

Sasuke On

Minha manhã foi resumida em uma só situação: durante todo o horário do café, eu permaneci em
minha cela junto com o meu irmão, segurando seu cabelo para trás enquanto o ajudava a colocar seu jantar
do dia anterior para fora.
Ele vomitava compulsivamente ajoelhado em frente à privada, preferindo utilizar o vaso sanitário de
nossa cela, e não o do banheiro principal. Como sempre, Itachi não queria correr o risco de ser visto em
uma situação de tamanha vulnerabilidade pelo restante dos detentos.
Até mesmo doente ele precisava bancar o durão.
O fato é que Itachi não adoecia com muita facilidade. Na verdade, eram raras as vezes em que eu o
presenciava verdadeiramente mal, sobretudo, com sua insônia alastrando-se cada vez mais,
consequentemente, houve uma queda significativa de sua imunidade, o que deixou-o exposto a qualquer
tipo de doença que circulava dentro da penitenciária, a qual, aparentemente, havia sido uma virose forte.
Parando bem para pensar, a última vez em que o vi adquirir algum tipo de "doença" foi logo quando
entramos no presídio e pegamos piolho dos outros detentos, o que, é claro, é bem menos preocupante do
que suas crises de vômito.
-Isso, coloca tudo pra fora. -Murmurei, não sabendo ao certo o que dizer ou fazer para ajudá-lo além
de puxar seus fios para trás.
Assisti seu abdômen se contrair mais uma vez, enquanto um último jato era liberado. Ofegante, Itachi
apoiou-se na parede em sua frente numa tentativa de se recompor, apertando a descarga.
-Você está bem? -Questionei, recebendo um olhar apagado e cansado como resposta.
-Estou. -Tentou não demonstrar o quão mal se encontrava. -Pega a minha escova de dentes, Sasuke.
Rapidamente, apanhei sua pequena nécessaire repleta dos mais diversos produtos de higiene,
incluindo uma escova e pasta de dente. Até nisso nós tínhamos vantagens, visto que podíamos escolher até
mesmo o nosso tipo de xampu favorito, enquanto os outros detentos possuíam produtos de má qualidade e
alguns vencidos.
-Toma. -Atirei em sua direção, observando-o sentar na parte de baixo do beliche, ou seja, na minha
cama. -Você quer que eu te busque água?
-Não. -Iniciou a escovação com um ar esgotado, fazendo careta pelo gosto ácido em sua boca.
-Agora você entende o que eu te falo? -Cruzei os braços e sentei na cadeira em sua frente. -Ficar
sem dormir de noite está prejudicando a sua saúde, Itachi. Você não pode continuar assim, está na hora de
procurar ajuda.
-Eu sei o que estou fazendo. -Rebateu, cuspindo o resto da pasta de dente na privada. -Eu já disse
que você não precisa se preocupar, Sasuke.
Suspirei cansado e encarei pensativamente a parede ao meu lado. Eu odiava com todas as minhas
forças quando o Itachi adoecia, porque, além de preocupado, eu ficava com medo.
No fundo, eu temia a ideia de perdê-lo.
Querendo ou não, meu irmão é a única pessoa viva da minha família e é quem sempre esteve
comigo, mesmo que muitas vezes não concordássemos com as mesmas coisas ou brigássemos com
frequência. Eu tinha certeza de que não conseguiria sobreviver sem ele. Preciso dele para continuar vivo,
tanto aqui dentro quanto lá fora, assim que saíssemos juntos dessa.
-É só uma virose, Sasuke. -Foi como se ele tivesse lido os meus pensamentos. -Eu não vou morrer
por causa disso, daqui a pouco vai passar.
-Eu espero que você esteja certo. -Murmurei, tensionando meus ombros só de imaginar em perdê-lo
para qualquer doença que fosse. Eu não aguentaria ficar sem ele nesse inferno, e muito menos assumir o
seu posto de criminoso mais temido. -Eu só não vejo qual é a dificuldade em pedir ajuda. Você é orgulhoso
demais.
-Não é questão de orgulho. -Itachi se levantou, dirigindo-se ao pequeno espelho de nossa cela,
parecendo querer conferir seu reflexo. -A insônia é, em partes, uma coisa boa para mim. Aqui não se pode
baixar a guarda, Sasuke, nem por um segundo. Eu não consigo dormir tranquilamente igual você.
Aquilo era péssimo.

39
Ser o criminoso mais temido de toda a prisão também tinha seu preço. O Itachi não confiava em
ninguém, nem mesmo em sua própria sombra, e permitia-se ficar acordado para vigiar qualquer mínimo
movimento ao seu redor.
-Eu não acho que você precise ficar acordado de madrugada vigiando a cela. -Levantei a
sobrancelha. -Você não acha que isso é, sei lá, paranoico demais?
Ele riu fraco.
-Aqui dentro nenhum cuidado é demais, entenda isso.
-Se você está dizendo... -Dei de ombros, levantando-me juntamente com ele, querendo mudar de
assunto. -Eu vou até o pátio, hoje vai ter jogo. Você vai ficar aqui descansando?
-Não, eu vou com você. -Caminhou até mim, precisando se apoiar na parede para não desequilibrar.
Eu o olhei levemente assustado. -Não me olha com essa cara, eu já disse que estou bem.
-É melhor você ficar aqui hoje. -Opinei, embora soubesse que não valeria de nada gastar o meu
tempo avisando-o sobre isso. -Como você vai jogar basquete nesse estado, me diz?
-Quem disse que eu vou jogar basquete? -Rebateu, irritando-se ao me ver parado de frente a porta,
impedindo a sua passagem. -Sai logo da frente, eu tenho uma reunião com o Obito.
-Quer que eu fale com ele no seu lugar? -Ofereci.
-Não. -Respondeu seco, perdendo o resto de sua paciência ao empurrar-me para longe da porta. -Eu
já te disse que as minhas conversas com ele são particulares.
Senti uma pequena pontada de curiosidade tomando conta de mim. Eu nunca me importei muito com
essas reuniões diárias de meu irmão com o Obito, no entanto, elas estão ficando cada vez mais longas e
frequentes. Às vezes, eu sentia como se ambos estivessem planejando algo, mas Itachi recusava-se a me
contar.
-Eu já entendi, você não confia em mim. -Decidi ser "dramático" para ver se conseguia arrancá-lo
pelo menos algum detalhezinho insignificante.
Só que, obviamente, o Itachi não era bobo de cair na minha conversa.
-Não adianta falar desse jeito comigo, eu não vou te contar. -Seu olhar caia no caminho à nossa
frente, sem me dar muita atenção.
Eu bufei em resposta, e ele riu vago.
-Você sabe que eu confio em você, Sasuke. Mais pra frente você vai saber, tá bom?
-Tá, tanto faz. -Fingi não ligar.
O restante do caminho nós percorremos em total silêncio, até o momento em que adentramos o
pátio. Ele estava abarrotado, como de costume. Naquele dia, em especial, os detentos pareciam bastante
empolgados e energéticos.
-Onde está o Obito? -Indaguei, atento a cada rosto presente no local.
-Daqui a pouco ele aparecesse. -Resmungou, andando com a mão tapando seus olhos pelo
incômodo da luz solar. Ao chegarmos em nosso banco favorito, Itachi tratou de expulsar alguns dos
detentos que estavam por perto. -Dá o fora.
Todos obedeceram com uma rapidez impressionante e, de certa forma, engraçada. Era divertido ver
o quanto o Itachi era poderoso ali dentro e botava medo em qualquer um que passasse. Em seguida,
sentamos juntos na mesma posição de sempre: o Itachi apoiado na parede e a minha cabeça na coxa dele,
com minhas pernas ocupando todo do banco.
-Hoje está muito sol. -Reclamei, tapando meu rosto. Eu sempre odiei o verão e dias de calor.
-Seu corpo precisa de vitamina D, Sasuke. -Itachi retirou minha mão da frente. -Você é muito pálido.
-Você que é. -Rebati secamente.
-Só não mais que você. -Retrucou, fechando seus olhos para desfrutar da luz solar.
Como eu não estava afim de iniciar uma discussão — e sabendo que o Itachi sempre gostava de
estar certo — eu decidi ficar quieto.

40
Caímos em um instante de silêncio, apenas escutando atentamente as conversas ao nosso redor,
mas, em especial, assistindo ao jogo que ocorria em nossa frente. O nosso grupo estava competindo com
alguns detentos do bloco 3.
Nós ficamos tanto tempo quietos, que foi quase como um susto ouvir a voz de meu irmão, soando
mais rouca e impaciente do que o normal:
-Ah, não. Olha só quem vem aí.
Levantei meu pescoço minimamente, revirando meus olhos com a desagradável presença de
Orochimaru, o qual vinha caminhando em nossa direção, como sempre, acompanhado de seu capacho, o
Kabuto. Seus olhos foram de encontro aos meus, lançando-me uma piscadela desnecessária e atrevida, no
entanto, eu e meu irmão retribuímos com uma carranca.
-Que nojo. -Rosnei, virando minha cabeça para outra direção, sentindo-me enojado somente por
precisar olhá-lo. -Manda ele embora, Itachi.
-Se esse asqueroso chegar perto da gente, eu juro que acabo com a raça dele. -Itachi acompanhou
seus passos em silêncio, até o momento em que este sentou-se no banco ao nosso lado, mantendo uma
distância razoavelmente segura. -Homem nojento do caralho.
-Boa tarde, Itachi. -Orochimaru aproveitou que estávamos prestando atenção em si e nos
cumprimentou como uma provocação, pois sabia perfeitamente que não gostávamos que ele se dirigisse a
nós. -Olá, pequeno Sasuke
Soltei um barulho para mostrar o quanto desprezava tê-lo por perto, mas principalmente, por estar
me chamando por aquele apelido.
-Eu adoro ver vocês desse jeito, um pertinho do outro. -Referiu-se ao fato de eu estar deitado no
Itachi, sorrindo perversamente e lambendo os lábios. -Me tirem uma dúvida, meninos... Vocês fazem outras
coisas quando estão sozinhos?
Eu literalmente quase vomitei com o que escutei, no entanto, não precisei responder nada para me
defender. O Itachi foi quem tomou a iniciativa:
-Se você não for embora agora, eu vou te matar, Orochimaru. -Seu rosto tornou-se sombrio.
-Ora, mas foi uma pergunta simples. -Riu malicioso, mordendo os lábios para mim. -Vocês dividem a
mesma cela, dormem juntinhos… Nunca rolou nada entre vocês, meninos? Eu adoraria participar, ou então
só assistir.
Em um movimento rápido, tive minha cabeça afastada de meu irmão, enquanto este se levantava
abruptamente e avançava para cima de Orochimaru. O pátio inteiro pareceu parar, até mesmo os detentos
do bloco 4 que, naquele instante, voltavam de seu horário de banho e entravam pela porta principal já com
aquela cena.
-Que parte você não entendeu? -As mãos de Itachi apertavam o pescoço alheio, prendendo-o contra
a parede. -Eu juro que te mato, seu pedófilo nojento.
Mesmo sendo brutalmente enforcado, Orochimaru se pôs a gargalhar da situação, parecendo gostar
de tê-lo tão próximo de si. Também não foi nada surpreendente acompanhar o exato momento em que ele
tentou beijar o meu irmão, o que, obviamente, não acabou bem.
Como resposta, Itachi chocou sua cabeça contra o cimento e a bateu incontáveis vezes até que
Orochimaru ficasse completamente tonto e atordoado com as pancadas que tomou.
Ninguém se atreveu a intervir, nem mesmo os carcereiros que circulavam o local.
-Se você quiser fazer essas coisas, peça pra sua putinha te ajudar. Entendeu, caralho? -Itachi
apontava para Kabuto. -Eu achei que já tivesse sido bem claro quando arrebentei você naquele dia. Eu não
quero te ver perto de mim e não quero que respire o mesmo ar que o meu.
Embora zonzo em consequência as pauladas que recebeu, Orochimaru escutava tudo atentamente e
carregava um sorrisinho em seus lábios.
-Se você encostar um dedo no Sasuke ou até se dirigir a ele, considere-se morto. -Deu seu último
aviso, jogando-o de volta ao banco como um saco de lixo. -Some da minha frente, porra.
Kabuto, que até então acompanhava tudo silenciosamente, aproximou-se de Orochimaru para
ajudá-lo a se levantar, carregando-o até outro banco um pouco mais distante do que o nosso, mas não o
bastante para que eu deixasse de me incomodar com a presença de ambos.
-Acabou a festa! -Itachi gritou para todos à nossa volta, também irritado com a atenção excessiva que
recebia. Tudo que meu irmão fazia era motivo para criar uma plateia entre os detentos.
41
-Wow. -Ri baixinho ao vê-lo revirar os olhos, sentando-se ao meu lado com um suspiro impaciente. -E
eu achando que você estava doente…. Mas parece que até assim você tem força pra arrebentar os outros,
não é?
-Não enche, vai. -Respondeu seco, massageando suas têmporas. -Hoje eu não estou bom pra
brincadeiras.
Decidi não incomodá-lo mais. Estava com medo de que Itachi perdesse o restante de sua paciência
comigo, por isso, caímos em outro momento de silêncio, onde cada um de nós ficou preso em seus nossos
próprios pensamentos.
Acompanhei distraidamente o jogo em minha frente, assistindo alguns dos garotos de nosso grupo
marcarem cestas no basquete. Eu quase não reparei no momento em que Obito se aproximou de nós,
lançando um olhar discreto ao meu irmão e fazendo uma espécie de sinal com a mão como se dissesse
“mais tarde”.
Isso acontecia com muito frequência.
Muitas vezes, eles marcavam reuniões em um certo horário, mas pelo fato de Obito ser muito
atarefado e não poder levantar suspeitas deixando o seu posto, ambos eram obrigados a remarcarem seus
pequenos encontros.
-Coloca isso pra dentro, seu filho da puta!
Uma voz rouca e familiar foi o que retirou-me de meu transe, atraindo minha atenção para um dos
bancos ao nosso lado, exatamente onde Orochimaru e Kabuto se encontravam.
Mais uma vez, não foi nada surpreendente me deparar com a cena de Orochimaru com as calças
abaixadas e o seu membro para fora. Ele masturbava-se descaradamente para Deidara e seu grupo do
bloco 3 e 4, onde todos estavam claramente perturbados com a sua atitude.
E entre eles, estava o novato.
Naruto era o mais desacostumado com aquele tipo de incidente, por isso, escondia-se atrás de
Deidara e permanecia de olhos arregalados e totalmente apavorado. Obviamente, ele acabou tornando-se
um dos alvos de Orochimaru que, gostando de sua vulnerabilidade, se tocava olhando diretamente em seus
olhos.
-Seu escroto do caralho! -Deidara foi o único a ter algum tipo de reação, enquanto o resto do grupo
apenas resmungava e dizia o quanto aquilo era nojento. -Você é um asqueroso! Eu juro que vou arrancar o
seu—
-Já chega, já chega! -Obito era quem chegava para interferir, lançando-nos um olhar rápido ao passar
na frente de nosso banco. -Orochimaru, pelo amor de Deus, sobe essa calça.
-Eu vou matar esse nojento! -Deidara deu sinal de que avançaria para cima do outro, no entanto, foi
parado pelo carcereiro, que rapidamente segurou-o pela cintura. -Me solta, caralho!
-Chega, Deidara, já está resolvido. -Empurrou-o para trás, suspirando impaciente ao olhar para o
causador de toda aquela discórdia. -Da próxima vez que você fizer isso, eu vou te levar para a solitária,
Orochimaru. Estamos entendidos?
-Mas é claro. -Mordeu os lábios com um sorrisinho malicioso. Fala sério, ele dava em cima até do
Obito. -Eu entendi sim, querido.
Ainda de olho na discussão, recordei-me brevemente da época em que Deidara pertencia ao nosso
grupo. Para falar a verdade, ele fazia um pouco de falta, visto que era um dos mais sensatos entre nós e
possuía opiniões similares às minhas.
Eu não sei ao certo o que levou-o a pular fora de nosso grupo, sobretudo, fui informado a respeito de
uma briga entre ele e o Itachi, apesar de que o meu irmão nunca chegou a me relatar ao certo o motivo da
mesma. Ou seja, era mais um tópico na lista de coisas que o Itachi não me contava.
-E o novato, Sasuke?
Virei meu pescoço até Itachi.
-O que tem ele? -Eu sabia exatamente onde ele queria chegar, mas tentei enrolá-lo por pura
indisposição em falar sobre o assunto.
-Você disse que ia cuidar dele. Como está indo sua punição?
Suspirei pesadamente.

42
Eu realmente não estava afim de conversar com o Itachi sobre a escolha da minha punição, mas isso
porque ela não envolvia nenhum tipo de violência — algo bastante praticado e normalizado em nosso grupo
— mas sim algo mais "pacífico" e que o prejudicaria de um forma tão ruim quanto levar uma boa surra
nossa.
-Quando você vai arrebentar com ele? -Olhou em direção ao Naruto, que rapidamente se encolheu
ao notar que estava sendo observado.
-Eu não vou bater nele. -Disse indiferente, sentindo o olhar de Itachi queimar sobre mim.
É claro que ele havia odiado minha resposta.
Como citado anteriormente, os acertos de conta vindos de Itachi, em cem por cento das vezes,
envolviam agressividade. Para ele, as coisas não se resolviam sem a boa e velha violência. No entanto, a
minha vontade não era machucar o novato fisicamente, afinal, a questão das bandejas havia sido um
acidente e que, para começo de conversa, sequer foi causado por ele.
-Como assim não vai bater nele? -Ele parecia irritado. -Você vai fazer o quê, então?
-Eu planejei uma armadilha. -Revelei. -Olha, eu estou com preguiça de te explicar tudo… Pode ficar
tranquilo que eu vou dar conta.
Itachi levantou a sobrancelha, e pelo seu tom de voz, deu pra notar que ele não estava gostando
nada daquilo:
-Nada disso, você vai me falar.
Bufei impaciente.
Seria complicado explicá-lo a emboscada que eu planejei, até porque, envolvia muito mais do que
somente eu e o Naruto. Outros fatores e pessoas contribuíram com a minha pequena punição.
-Hoje, depois da sirene, eu vou me encontrar com o novato no banheiro. -Olhei diretamente para
Naruto no outro banco. -Eu escondi uns saquinhos com cocaína em um dos vasos do jardim. O plano é ele
trazer todos para mim.
Itachi ficou extremamente confuso.
-O quê?! -Apertou o meu pulso, querendo partir para a ignorância sem nem escutar o resto. -Desde
quando você usa drogas?!
Ri de sua cara.
-Deixa eu terminar de explicar?
-Eu acho bom que você tenha uma explicação mesmo. -Rosnou e largou o meu braço. O Itachi, mais
do que ninguém, abominava o uso de drogas pesadas. Ele sempre me proibiu de usar, não que eu tenha
vontade, é claro. Eu também não sou ligado a essas coisas e não gostaria de ser dependente químico de
nenhuma delas.
-Eu consegui a droga com o Pain, você sabe, ele vende aqui dentro. -Relembrei e ele assentiu como
se fosse óbvio. Afinal, foi meu irmão quem autorizou-o a traficar em primeiro lugar.
Nada acontece nessa prisão sem que o Itachi saiba.
-Eu mandei ele buscar os saquinhos bem no turno do Kakashi. -Eu estava levemente impaciente de
precisar explicá-lo tudo. -É uma armadilha, Itachi. Ele vai ser pego, e como punição, vai ter sua pena
aumentada.
Itachi ficou alguns segundos em silêncio, assimilando cada informação dita por mim. Até que, por fim,
um sorriso mínimo surgiu em seus lábios:
-Você vai mandar o porco pro abate, é isso?
-Exatamente. -Sorri exibido. -Eu só achei que seria uma punição melhor do que simplesmente
arrebentar com ele.
Itachi sorria orgulhoso.
-Bom garoto. -Deu tapinhas em meu ombro. -É assim que se faz.
-Hm.
-Mas me diz uma coisa... -Ficou pensativo, olhando diretamente para o novato. -Você acha mesmo
que ele vai ser pego pelo Kakashi?

43
-O quê? Você acha que ele tem chance de sair dessa ileso? -Debochei, observando-o juntamente
com Itachi. O novato era um garoto muito frágil, chorão e atrapalhado. Ele nunca conseguiria pegar a droga
e trazê-la até mim sem ser pego ou ter sua pena aumentada. -Sem chance, o Kakashi vai encontrar ele
antes.
Itachi riu maldosamente.
-É, tem razão.
Aquele plano era perfeito e eu estava me gabando por tê-lo inventado sozinho. Com certeza
aconteceria como o planejado, sobretudo, eu só precisaria acertar alguns últimos detalhes antes de me
encontrar com o novato de noite.
-O Obito está me chamando. -Itachi anunciou, olhando para o outro lado do pátio. -Eu vou até lá, já
volto.
-É pra eu ir junto?
-Não, pode ficar aí. -Deu de ombros. -Dessa vez vai ser rápido.
-Certo. -Agradeci mentalmente por não precisar ficar servindo de porteiro para os dois.
Quando meu irmão se afastou, decidi me deitar novamente no banco com os meus próprios braços
servindo de apoio. Como o sol estava muito forte naquela manhã, foi mais do que perceptível o instante em
que alguém passou ao meu lado, visto que uma espécie de sombra formou-se por cima de mim.
Ergui minha cabeça curiosamente, deparando-me com uma cena levemente engraçada. Naruto
tentava passar por mim, caminhando na ponta dos pés para que não fizesse nenhum tipo de ruído e para
passar totalmente despercebido.
Era óbvio que eu não deixaria barato, especialmente sabendo que ele queria me evitar.
-Ei, novato? -Chamei secamente.
Cada pelo de seu corpo pareceu se arrepiar.
Paralisado de costas para mim, o loiro tratou de se virar com seus ombros tensionados e mexendo
em suas mãos nervosamente. Enquanto isso, eu decidi ficar de pé em sua frente, visto que, quando se quer
intimidar alguém, nunca pode estar deitado ou sentado.
-A-Ah... Olá, Sasuke… Q-Quero dizer… Olá, senhor. -Corrigiu-se atrapalhadamente e se encolheu
pelo próprio erro cometido.
Ele era mesmo um coitado.
O Naruto nunca sabia a hora de fechar a boca e definitivamente não sabia como se comunicar com
os seus superiores que, no caso, sou eu. Tenho dezenove anos — quase vinte — e não gosto nenhum
pouco de ser chamado de “senhor”. Assim como tenho certeza que o Itachi também não deve gostar.
-Só te parei para lembrar sobre hoje à noite. -Cruzei meus braços. Havia gostado do efeito que
causei nele, já que, apenas um passo dado em sua direção foi o suficiente para fazê-lo se encolher.
-Estamos entendidos, não é mesmo?
Naruto fez cara de choro com o questionamento. Na verdade, ele parecia querer dizer algo enquanto
abria e fechava a boca diversas vezes, mas simplesmente não tinha coragem de botar para fora.
-S-Sim, senhor, com certeza. -Assentiu com uma voz chorosa, baixando sua cabeça.
Avaliei ele de cima a baixo e descruzei meus braços com um suspiro impaciente. Sua cara de coitado
estava me irritando, especialmente quando notei que ele estava à beira das lágrimas.
-Certo. -Apontei para a direção oposta à minha. -Já pode ir agora.
Naruto me lançou um último olhar magoado e fungou seu nariz ao passar do meu lado, dirigindo-se
até o bebedouro presente no pátio. Continuei o assistindo de onde estava, e naquele instante, tive certeza
de que seria interessante ver como ele se sairia com a minha punição.
O novato, certamente, ia se dar mal.
Naruto On

Mais um dia chegava ao fim na penitenciária. Pelo menos para os outros detentos, é claro. Eu, por
outro lado, ainda precisaria deixar o "conforto" de minha cela em poucos minutos para realizar a limpeza
diária dos banheiros.

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Mas, por motivos óbvios, não era com isso que eu estava preocupado. Para falar a verdade, limpar
as privadas imundas e mal cheirosas dos sanitários era o de menos para mim.
O meu dia inteiro se resumiu em: sofrer por antecipação, chorar quando ninguém estava olhando e
temer ser pego pelo o que eu estava prestes a me meter. Sasuke Uchiha, de fato, escolheu a pior punição
possível, se bem que eu não gostaria nem um pouco de apanhar dele.
Afinal, ele era claramente mais forte do que eu e conseguiria acabar comigo com facilidade. E como
eu não queria pagar para ver isso acontecer, daria o meu melhor para trazer os saquinhos solicitados por
eles e, se meu anjo da guarda me permitisse, eu teria a sorte de sair impune e não ser flagrado por
ninguém.
-Franguinho, está tudo bem com você? -Gaara indagou preocupado, adentrando a cela juntamente
comigo e com o Deidara.
-Sim. -Menti descaradamente, o que não colou muito. Eu não parava de tremer.
Por mais que desejasse compartilhar minhas dores, medos e inseguranças com alguém, achei
melhor não contá-lo a respeito da punição que teria que sofrer. O Sasuke não tinha deixado totalmente claro
se queria ou não deixar a nossa "conversinha" do banheiro no sigilo.
Então, para não arriscar ser morto, decidi permanecer de boca fechada e sofrer sozinho.
-Não parece. -Tentou me encurralar. -Você ainda está assim por causa dos Uchiha, não é? Eles não
fizeram nada até agora, Naruto, talvez tenham até esquecido.
Deidara soltou uma risada sarcástica, sentando-se na cadeira em nossa frente.
-Os Uchiha nunca esquecem de castigar quem merece. -Levou um cigarro aos lábios, acendendo-o
habilidosamente. -Não iluda ele, Gaara. Os irmãos exibidos não vão esquecer dessa humilhação tão
facilmente.
Me sentei na minha cama, batendo os pés freneticamente no chão. Ambos nem imaginavam sobre o
meu encontro com o Sasuke e que a minha punição aconteceria em poucos minutos.
-Sabe o que é, Naruto... -O ruivo tomou a liberdade de se sentar comigo, tocando de leve em minha
coxa num pedido silencioso para que eu parasse de bater os pés. -Você foi o primeiro a fazer um absurdo
desses com um dos Uchiha. Ninguém nunca humilhou o Sasuke antes.
-Mas eu não humilhei ele! -Rebati, puxando meus fios em pura agonia. -Foi um acidente, Gaara, eu
juro! Passaram a mão em mim e—
-Eu sei que foi um acidente. -Interrompeu-me tranquilamente. -Mas o que eu quero dizer, é que
ninguém nunca chegou a esse ponto, entendeu? Pelo o que eu sei, você foi o primeiro a vacilar com o
Sasuke. Todo mundo tem medo de tocar nele por ele ser o protegido do Itachi.
Deidara estalou a língua.
-Será que dá pra deixar esse assunto de lado? Cacete, vocês falaram disso o dia inteiro, já deu no
saco! -Assoprou a fumaça para cima. -O Naruto está fodido e ponto final! O que falta é aceitar!
Pelo menos naquilo ele tinha razão.
Eu precisava cair na realidade o quanto antes. Não tinha como recusar o pedido do Sasuke. Eu teria
que obedecê-lo sem reclamar e fazer o que estivesse ao meu alcance para não ser pego.
-Ele está certo. -Murmurei, cobrindo o rosto com as palmas da mão. -Não tem o que fazer.
-É claro que eu estou certo! -Exclamou, sorrindo convencido. -Mas já que estamos falando umas
verdades aqui... Você está fedendo, franguinho.
Levantei minha cabeça, o encarando confuso.
-Se você não tomar banho amanhã, eu juro que te coloco debaixo daquele chuveiro na marra, ouviu
bem? -Ele soava ameaçador, mas tudo o que eu pude fazer foi arquear a sobrancelha. -E não me olha com
essa cara, não! Eu não quero você fedendo aqui dentro da minha cela!
Me virei até Gaara, esperando que ao menos ele pudesse me defender. No entanto, fui surpreendido
ao vê-lo assentir com a cabeça:
-É verdade, franguinho. -Fez uma careta. -Você está fedendo muito.
Rapidamente, inalei meu próprio uniforme, torcendo o nariz com o odor que saía de mim mesmo.
Além disso, reparei que meu cabelo estava bem oleoso, dado ao fato de não tê-lo lavado por
aproximadamente quatro dias.

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-M-Me desculpem. -Fiquei constrangido. -É que eu tenho medo de tirar minha roupa na frente de todo
mundo.
-Não interessa! -O loiro nunca estava disposto a escutar o meu lado. -Uma hora ou outra você vai ter
que tomar banho! Todo mundo passa por isso, você precisa enfrentar esse seu medo ridículo!
-Eu entendo você, Naruto. -Gaara sorriu de modo consolador, fazendo literalmente o oposto de seu
parceiro ao acariciar meu ombro. -É nojento o jeito que aqueles presos olham para nós, não é?
Concordei com a cabeça.
-Seus medrosos do caralho. -Resmungou, apagando seu cigarro na parede. -É só tirar a roupa, cara.
Que se dane se os outros estiveram olhando, deixe que olhem!
-Você só diz isso porque todo mundo te respeita, Dei. -O ruivo rebateu. Eu quase concordei com ele,
mas me mantive calado por puro medo de levar outro coice. -Eles mal olham pra você. Todo mundo tem
medo de te deixar irritado.
Deidara bufou em resposta, levantando-se para seguir até sua cama. Em pouquíssimo tempo, as
luzes se apagaram e todos seriam forçados a pegar no sono.
Menos eu.
-Se é assim, Naruto, amanhã você toma banho do meu lado. -Era uma frase um tanto estranha de se
pronunciar em voz alta, mas eu entendi o que ele quis dizer. -Assim ninguém vai ficar te incomodando. Está
feliz agora, caralho?
Eu fiquei surpreso, e o Gaara também.
-Ei, mas e eu?! -Ele entrou na conversa. -Eu também não quero que me incomodem!
-Tá bom, cacete. -Cedeu, ajeitando-se no colchão e cobrindo seu corpo com o lençol. -Amanhã vocês
pegam os chuveiros do meu lado..
Eu sorri minimamente com isso, mesmo não sabendo se sobreviveria até o dia de amanhã ou se
morreria pelas mãos do Sasuke.
-O-Obrigado… -Agradeci.
-Obrigado é o caralho. -Me olhou com tédio. -Eu só estou te oferecendo isso porque você ‘tá fedendo
mais do que peixe pobre!
Embora ele tentasse de tudo para me ofender, eu estava agradecido demais para ficar afetado com
os xingamentos. Aquele era o primeiro ato minimamente “bondoso” vindo de Deidara.
-Naruto Uzumaki?
Senti meu corpo estremecer com o chamado.
O momento que eu temia estava para acontecer.
-O-Oi, senhor. -Engoli em seco, me virando lentamente para trás quando a lanterna de Obito foi
ascendida no meio da minha cara.
-Está na hora do seu turno. Me acompanhe, por favor. -A calmaria em sua voz era algo
impressionante, entretanto, naquele momento, não estava me confortando nem um pouco.
-A-Ah, certo… -Me aproximei da grade, assistindo a mesma sendo aberta por ele. Enquanto isso,
lancei um olhar rápido para Gaara, quase como se estivesse me despedindo dele.
Eu queria mesmo ter contado tudo para ele.
-Você já sabe as regras, certo? -Perguntou pacífico, segurando desnecessariamente meu braço
enquanto me levava até o corredor do sanitário. -Os produtos vão estar lá dentro, você tem uma hora para
deixar tudo limpo.
-S-Sim, eu sei.
-Ótimo. -Murmurou, me arrastando sem muitas enrolações até o mesmo local de ontem, acendendo a
luz do banheiro, mas deixando a do corredor apagada. -Daqui uma hora eu venho te buscar, está bem?
Começa logo.
-S-Sim, senhor. -Olhei nervosamente ao meu redor, esperando encontrar o Sasuke ali.
Dessa vez, ele não estava.

46
Talvez o Uchiha fosse aparecer somente depois que eu pegasse os saquinhos suspeitos, isso se eu
conseguisse realmente conseguisse pegá-los, é claro. Sinceramente? Um dos meus maiores medos estava
sendo ir parar na solitária por favorecimento ao tráfico de drogas dentro da penitenciária e apodrecer lá
dentro para sempre.
-Qual é o problema? -Obito estranhou a minha relutância.
-H-Hm, não é nada. -Tentei disfarçar. Para que eu conseguisse pegar as drogas, precisaria que o
carcereiro saísse. -Você vai ficar comigo hoje?
-Não. -Negou. -Te vejo daqui uma hora.
E sem mais nem menos, saiu pela porta.
Fiquei imóvel com cara de tonto, recuperando meu fôlego silenciosamente e fazendo uma espécie de
respiração para acalmar meus nervos.
Eu estava tremendo feito um maluco.
Ao mesmo tempo, me lembrei das exatas palavras de Sasuke e o local em que os saquinhos
estariam escondidos. Eu não poderia errar de jeito nenhum, isso seria ainda mais arriscado e com certeza
me prejudicaria.
Segundo suas orientações, o conteúdo estaria em um vaso cinza com um cacto, mas que,
felizmente, eu sabia exatamente onde estava localizado. Gaara costumava pegá-lo no pátio.
Tirando coragem do fundo de minha alma, decidi espichar meu pescoço em direção ao corredor, me
deparando somente com a alastrante escuridão. Não dava para enxergar nada, apenas escutar os
murmúrios distantes de detentos que conversavam em suas devidas celas.
Deixei o sanitário na ponta dos pés, me encostando o máximo que pude nas paredes e espremendo
meus olhos para enxergar o que circulava ao meu redor. Mesmo no escuro, eu decidi ficar parcialmente
agachado enquanto seguia o caminho que dava acesso ao pátio.
Ao alcançar a porta principal, dei mais uma espiada rápida no corredor ao meu redor. Foi muita sorte
enxergá-lo totalmente vazio, sem nenhuma vigia policial por perto para dificultar o meu percurso.
Mas, por outro lado, era meio estranho.
Com um sentimento de adrenalina tomando conta de mim, andei discretamente até a parte de fora,
sentindo a brisa fria da noite bater em minha pele. No fundo, ainda não conseguia crer que estava
realmente fazendo uma coisa dessas.
Corri desajeitadamente para trás de uma moita, escutando um pequeno estalo ecoar pelo silêncio do
pátio. Me escondi o máximo que pude, sentindo meu coração bater acelerado com a presença de Kakashi,
o qual fazia a ronda noturna do local, enquanto utilizava fones de ouvido e cantarolava distraído uma
música.
Eu tentaria usar aquilo ao meu favor.
Esperei o platinado virar de costas e corri atrapalhado para o outro lado do gramado, levando alguns
tropeções no meio do caminho e me repreendendo mentalmente por ser tão desastrado, até em situações
de perigo. Me embrenhei em meio a algumas árvores aleatórias — e algumas até repletas de espinhos —
sorrindo ofegante ao me deparar com o vaso desejado. Aproximei-me cautelosamente, olhando em todas as
direções possíveis antes de começar a cavar a terra com as mãos trêmulas.
Eu sabia que precisaria me desculpar com o Gaara mais tarde por estar quase arrancando a planta
fora e feito a maior sujeira ao redor do vado, mas era inevitável. Continuei cavando desesperadamente,
suspirando em puro alívio ao encontrar dois saquinhos repletos de uma substância branca e um tanto
suspeita.
Eu sabia que estaria completamente ferrado se alguém me pegasse com aquilo em mãos.
A primeira coisa que fiz foi enfiá-los em meu bolso e, em segundo lugar, limpei minha mão na calça
do uniforme. Sequei algumas gotículas de suor em minha testa e espreitei o local mais uma vez, já
acostumado com a escuridão que me circulava.
Estava como antes.
Kakashi andava de um lado para o outro, assobiando distraidamente e chutando uma pequena
pedrinha pelo chão. Aproveitei o seu momento de alienação para utilizá-lo como fuga, encolhendo-me ao
passar pelo mesmo caminho.

47
Eu estava tão emocionado de ter conseguido chegar perto da porta, que senti como se minha vida
houvesse acabado no segundo em que me desequilibrei e caí barulhentamente no chão.
Tentei de todas as formas ser veloz na hora de me reerguer, mas como o grande atrapalhado que
sou, fiz ainda mais barulho do que o necessário, o que, querendo ou não, chamou a atenção de Kakashi. E
bem treinado do jeito que era, sua lanterna rapidamente me iluminou.
-Mas que porra é essa?!
Eu não tive nem chance de reagir.
O platinado veio até mim, pisando forte e marchando ameaçadoramente. Eu me encolhi e arregalei
os olhos, colocando as mãos na cabeça para me "render", além de, por algum motivo, ter ficado com medo
de apanhar.
-O que é que está acontecendo aqui?! -Ele me puxou pela gola do uniforme, prensando meu corpo
na parede, de costas para si. -Você está trazendo alguma coisa?! O que tem aqui no seu bolso, Uzumaki?!
Kakashi não se importava de me revistar de modo invasivo, tocando em meus braços, coxas e até
mesmo bunda. Eu estava tão sem reação com o flagra, que tudo o que consegui fazer foi ficar imóvel e
chorar silenciosamente.
Aquele era o fim.
-Eu não acredito nisso. -Riu irônico no instante em que suas mãos foram de encontro ao meu bolso
traseiro. -Era só o que me faltava.
Com o meu rosto grudado contra o cimento duro da parede, deixei minhas lágrimas escorrerem sem
controle, soluçando pela primeira vez.
-Olha pra mim, caralho. -Kakashi me virou para ele, batendo meu corpo violentamente. -Isso aqui que
eu estou vendo é cocaína?
Solucei desesperado e assenti com a cabeça, ciente de que não adiantaria mentir para ele e muito
menos botar a culpa no Sasuke ao dizer que estava somente lhe fazendo um favor.
Caso fizesse isso, aí sim estaria morto.
-Eu não estou acreditando nisso…-Repetiu o mesmo, dessa vez, rindo da minha cara. -Como você
consegue ser tão burro, garoto? Pra quem você ia levar essa droga, hein?
Eu o olhei apavorado.
Kakashi já tinha experiência o bastante para saber que aquela droga não me pertencia.
-Você vai direto para a solitária! -Trouxe meu rosto para frente, sorrindo maldoso. -Sabe quantos
anos a mais você vai pegar por conta disso, seu pivete? No mínimo uns cinco!
Eu estava literalmente me afogando em lágrimas.
Além de eu ter sido pego em flagrante, eu ainda teria minha pena aumentada consideravelmente, iria
parar na solitária e, assim que saísse, precisaria lidar com os Uchiha, visto que não cumpri com a minha
parte do acordo.
-N-Não, p-por favor... -Implorei, embora, lá no fundo, eu soubesse que de nada adiantaria. -E-Eu não
quis fazer isso, eu juro!
-Não quis, mas fez. -Rebateu com uma calmaria um tanto estranha, dando um sorrisinho ao retirar a
franja de meus olhos. -Isso é muito sério, Naruto, muito sério mesmo.
Me encolhi o máximo que pude quando senti suas mãos deslocarem para a minha cintura,
apertando-a e me trazendo para frente.
-Mas eu acho que posso te ajudar a resolver isso… -Enquanto falava, Kakashi olhava ao seu redor,
parecendo conferir se havia alguém por perto. -Eu posso fingir que não vi nada e que nunca te peguei com
drogas no bolso...
Eu sabia exatamente onde ele queria chegar.
-Mas você sabe bem a regra, não sabe? -Riu maliciosamente, mexendo no zíper de sua calça. -Eu só
te ajudo, se você fizer algo por mim antes.
Acompanhei silenciosamente sua calça ser abaixada e parar na altura de suas coxas. Eu o encarei
totalmente incrédulo e apavorado, não sabendo como reagir com aquela sugestão.

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-A decisão é sua, Naruto. -Mexeu com o meu psicológico. -Eu não vou te obrigar a fazer nada
comigo, você sabe. Mas, por outro lado, você vai se dar muito mal se não fizer isso por mim.
Meu estômago se embrulhou.
Eu não tinha escolha.
Naquele momento, a minha vida estava em jogo, tanto por conta do aumento de minha pena quanto
pelo fato de temer o que Sasuke poderia fazer comigo se eu não chegasse no banheiro em questão de
minutos com a droga em mãos.
A punição poderia ser ainda pior, poderia tirar a minha vida. E, somente por essa razão, eu tive que
me submeter a participar de sua proposta.
-Ajoelha. -Kakashi deu seu primeiro comando, sorrindo satisfeito por eu ter aceitado.
Cai dolorosamente de joelhos, chorando a todo o instante por estar me submetendo a algo tão sujo.
Retirando seu membro para fora, o platinado quis ser rápido ao trazer meu rosto para frente e gemeu baixo
com o primeiro contato de meus lábios em sua ereção já formada.
A ânsia de vômito era tanta, que eu não via a hora de poder sair dali para vomitar.
Com movimentos bruscos, o carcereiro forçava a minha cabeça e puxava meus fios violentamente
para mostrar-me o ritmo que desejava. Eu me sentia completamente nojento, especialmente nas vezes em
que engasgava e arrancava gemidos satisfeitos seus.
Como ele conseguia sentir prazer em me ver sofrendo e chorando daquele jeito?
A única coisa boa nisso tudo, foi que ele não demorou para atingir seu ápice, afastando-se para
despejar seu sêmen em meu rosto, atingindo minha boca e bochechas. Ainda de olhos fechados, escutei-o
fechar seu zíper novamente e subir a calça, respirando ofegante após atingir seu orgasmo.
-Levanta daí. -Desferiu chute em minha perna.
Obedeci com o corpo tomado por uma tremedeira jamais vivenciada por mim, limpando meu rosto
com uma careta enojada e chorosa. Eu estava pronto para correr ao banheiro e vomitar até não poder mais.
-Bom trabalho, gracinha. -Passou o dedão por meus lábios, e como o combinado, me estendeu os
mesmos saquinhos brancos. -Pega aqui a sua droga, leva lá pra quem você está devendo.
A humilhação era tanta, que eu apenas peguei o conteúdo sem dizer nada, passando ao seu lado em
meio a um choro desnecessário para ir embora dali como se nada tivesse acontecido entre nós, exatamente
como combinamos.
Quando deixei o pátio, pude chorar mais abertamente, soluçando alto, ainda com medo de que
alguém pudesse me ouvir e ver o que estava acontecendo. A última coisa que eu precisava era que me
vissem naquele estado deplorável.
Eu estava com nojo de mim mesmo.
Adentrei o sanitário aos prantos, chorando como nunca. Em meio as minhas lágrimas, eu o enxerguei
da mesma maneira, a luz acesa e intocada, sem nenhum toque de limpeza da minha parte.
No entanto, havia algo a mais.
Foi na base do susto que avistei Sasuke Uchiha. Ele estava apoiado na parede ao lado dos
chuveiros, me aguardando com os braços cruzados e tomado de uma postura autoritária.
Eu acho que, com o desespero que eu estava para me limpar e me livrar dos vestígios de tudo o que
fiz com o Kakashi, somente ignorei sua presença e atirei a droga em sua direção, que caiu aos seus pés
enquanto eu corria até a pia.
Em pânico, enfiei meu rosto na água fria da torneira e o esfreguei com força, querendo limpar
qualquer resíduo do acontecimento anterior. Minha violência foi tanta, que senti minhas unhas arranharem
minha pele, deixando-a ferida.
Eu podia sentir os olhos do moreno vidrados em mim, me assistindo com atenção e presenciando o
momento exato em que levei meus dedos à garganta e forcei meu vômito dentro da pia.
Após colocar todo o meu jantar para fora, apoiei meu corpo no balcão, me sentindo fraco e
totalmente esgotado. Enquanto isso, achei que o melhor a se fazer era ficar de frente para o restante do
banheiro, pois estava com nojo de olhar para o meu próprio reflexo.
Eu estava inconsolável.

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E pelo fato de eu estar aos prantos, com restos de sêmen presos ao meu rosto, o uniforme sujo de
terra e os joelhos ensanguentados pelo tombo anterior, não sobraram dúvidas ao Sasuke de que algo
preocupante havia acontecido durante a minha ida ao pátio. Na verdade, pela primeira vez desde de que
nos conhecemos, notei uma mudança significativa em sua expressão fácil, que quase nunca esboçava
reações.
Seus lábios estavam entreabertos.
Ele me olhava levemente surpreso, franzindo o cenho como se estivesse lidando com algum tipo de
conflito interno e acabado de compreender ou, quem sabe, apenas ter uma vaga ideia do que poderia ter
acontecido comigo no pátio.
De fato, aquilo era muito humilhante.
-E-Eu fiz o que eu pude… -Soltei em um único fio de voz, observando-o avaliar o conteúdo em suas
mãos, parecendo notar um pequeno rasgo em um dos saquinhos. -M-Me desculpe, eu não queria ter
rasgado… E-Eu… Desculpe.
Ele não me respondeu nada, mas sinceramente, eu não esperava que ele dissesse e também nem
queria.Sasuke parecia tão atordoado quanto eu por me ver em uma situação daquelas.
-Ótimo. -Disse em voz alta após um tempo, me lançando um olhar um tanto estranho, mas
indecifrável. -Estamos resolvidos, então.
Um suspiro aliviado rasgou meus lábios. Pelo menos o meu problema com os Uchiha estava
resolvido.
-O-Obrigado... -Não sei bem o motivo pelo qual o agradeci, mas, naquele momento, eu não estava
raciocinando direito e só queria que ele fosse embora e me deixasse por conta própria.
Com uma última encarada esquisita, Sasuke franziu o cenho e saiu do banheiro rápido até demais,
parecendo pensativo e perturbado.
A única coisa boa foi que ele finalmente me deixou sozinho para que eu pudesse chorar a vontade e
sentir nojo de mim mesmo pelo ocorrido.
Eu estava vivendo um verdadeiro pesadelo.

Capítulo 6 - Não seja um covarde

Naruto On

Eu estava completamente distante.


Sentado bem ao canto da mesa, eu me encontrava afogado em meus próprios pensamentos,
remexendo meu garfo em meio àquela pasta amarronzada, mais conhecida como meu café da manhã.
A mesa, no geral, estava bem agitada naquela manhã. Os meninos do bloco 3 mantinham uma
conversa animada com Gaara e Deidara, todos aparentemente entretidos com a história sendo contada por
Kiba, o qual gargalhava de modo empolgado.
Eu, por outro lado, me mantinha totalmente alheio a qualquer conversa que estivesse ao meu redor,
nada disposto a ter nenhum tipo de diálogo com ninguém.
Foi assim a manhã inteira.
Desde o momento em que despertei com aquela maldita sirene, não senti vontade alguma de
conversar com ninguém, e muito menos rir juntamente com os garotos.
Eu estava devastado.
Gaara, logo reparando em meu estado pela manhã, perguntou-me pacificamente se eu estava bem,
além de ter se oferecido para me ajudar, caso eu precisasse de alguma coisa.
Embora não estivesse nada bem, eu não tive coragem o suficiente para contá-lo sobre o ocorrido da
noite passada.
A vergonha, o nojo e a repulsa que sentia de mim mesmo, foi o que me impediu de abrir-me com o
ruivo. A dimensão de sentimentos negativos que giravam em torno do ocorrido envolvendo o Kakashi, era
simplesmente impossível de colocá-los em palavras.
Por esse motivo, decidi aguentar isso sozinho.

50
Somente eu e Sasuke Uchiha presenciamos o estado deplorável em que fiquei na noite anterior. Isso
ocasionou em uma vergonha ainda maior de minha parte. Eu simplesmente odiei ser visto daquela maneira
por Sasuke, que provavelmente deve imaginar o que fui obrigado a fazer para entregá-lo as drogas em mão.
A minha vontade era de nunca mais precisar cruzar o seu caminho, e jamais olhar para sua cara
novamente. Porém, eu tinha consciência de que isso não iria acontecer. Embora ambos já estivéssemos
resolvidos, ainda seríamos obrigados a convivermos diariamente dentro da prisão.
Aquilo era um pesadelo.
Além do sufoco que precisei passar com os presídios, ainda teria que lidar com o fato de que me
envolvi com um dos carcereiros, mesmo que contra minha vontade.
Eu já sabia que seria difícil viver em uma penitenciária, só não imaginava que seria tão humilhante
assim.
-Ei, franguinho? -Gaara tocou em meu ombro, me causando um pequeno susto. -Está tudo bem?
Você não comeu nada.
-Eu não estou com fome. -Funguei meu nariz, segurando minhas lágrimas. Eu não poderia mais ter
uma de minhas crises de choro, pelo menos não na frente de todos.
-Tudo bem, então você pode pelo menos me contar o que tanto está te incomodando? -Virou-se de
frente para mim, abandonando a conversa com os meninos.
Encolhi meus ombros com a pergunta, olhando automaticamente até o fundo do refeitório, bem na
mesa aonde Sasuke Uchiha e o resto de seu grupo se encontravam. Reparei no quanto o moreno parecia
distante, tão pensativo quanto eu, fitando sua própria bandeja silenciosamente.
Senti um aperto ruim em meu peito.
Eu estava torcendo para que Sasuke não estivesse se lembrando do ocorrido. Aquilo era
extremamente embaraçoso para mim. Eu nunca quis ser visto daquele jeito por ele, e muito menos ter
chegado ao ponto de me envolver com o Kakashi para salvar minha própria pele.
-N-Não tem nada me incomodando. -Tentei dialogar normalmente, baixando minha cabeça ao notar
que o moreno me encarava de volta, só que com bem mais intensidade. -Eu estou bem, sério, mas obrigado
pela preocupação.
O assunto se encerrou por ali.
-Ei, vocês dois. -Deidara estalou os dedos, chamando nossa atenção. -Se vocês querem tomar
banho, então vamos agora. Peguem as bandejas, eu quero ser o primeiro a chegar pra conseguir água
quente.
Pelo menos uma coisa boa no meu dia estava garantida.
Como prometido na noite anterior, Deidara havia permitido que ocupássemos os dois chuveiros
disponíveis ao seu lado, porque desta forma, correríamos menos riscos de sermos assediados, tanto
verbalmente, quanto fisicamente.
Eu não sei como o Gaara estava se sentindo em relação a isso, mas para mim, era um alívio enorme.
Obviamente, os detentos não deixariam de me olhar, entretanto, eu estava na esperança de que pelo
menos parassem de mexer comigo.
-Levanta a bunda daí, seus molóides. -O loiro levantava-se juntamente com sua bandeja.
-Ah, eu já tinha até esquecido. -Gaara comentou, carregando sua própria bandeja juntamente
comigo, ambos seguindo atrás de Deidara. -Nossa, será que eu finalmente vou poder tomar meu banho em
paz? Que sonho.
Assenti com a cabeça, somente concordando.
-Estamos adiantados, isso é ótimo. -Deidara murmurou, entregando o que restou de seu almoço para
um dos ajudantes de cozinha, sendo acompanhado por nós. -Vamos até a cela. Vem rápido, vocês dois.
Fomos literalmente os primeiros a deixarem o refeitório, andando apressadamente até o bloco 4.
Adentramos a cela a procura de nossas coisas, pegando o essencial para nossa higiene, incluindo toalhas,
sabonetes e xampus.
-Anda logo, caralho! -O loiro gritava conosco, desesperando-se ao ouvir a serine tocar, anunciando o
final do horário de café, o que significava que em pouco tempo, o banheiro encheria de detentos do bloco 4.

51
Recebi um empurrão seu em meu ombro, literalmente me atirando para fora da cela, mais como um
incentivo para que eu os seguisse. Corremos me direção ao corredor de acesso ao banheiro, recebendo
diversas chamadas de carcereiros ao decorrer do caminho, os quais diziam para que não corrêssemos.
Apesar de tudo, fomos os primeiros a chegar.
Como a porta em nossa frente encontrava-se fechada, Deidara forçou a maçaneta para abri-la,
soltando um grunhido irritado quando não obteve sucesso.
-Porra! -Desferiu um chute na madeira. -Era para o Obito ter aberto a porta! Cadê aquele
arrombado?!
-Calma, daqui a pouco ele está aí. -Gaara bocejou, encostando-se na parede atrás de si.
-Ah, olha só! -O loiro exclamou, bufando ao ver Obito virar o corredor, caminhando bem lentamente
em nossa direção, girando a chave do banheiro em seu dedo. -Vai logo, caralho!
Carregando sua mesma expressão pacífica e tediosa, o carcereiro suspirou silenciosamente,
ignorando a sessão diária de xingamentos e palavrões vindos do loiro, aproximando-se para abrir a
fechadura.
-Anda! Abre de uma vez! -Deidara batia palmas em seu ouvido, apressando-o ao notar que outros
detentos se aproximavam. -Vai, sua lesma!
O moreno piscou bem lentamente, e somente como uma provocação, parou com a chave no buraco,
arqueando uma sobrancelha em sua direção.
-Lesma, Deidara? -Perguntou com tédio. -Você sabe que eu tenho o poder de te dar uma advertência
por conta desses xingamentos, não sabe? Eu sou o seu superior, exijo mais respeito.
-Eu não ligo! -Ele gesticulava de modo exagerado. -Só abre a maldita porta!
-Eu odeio esse trabalho. -Murmurou impaciente e amargurado, abrindo a porta em nossa frente.
-Pronto, está aber—
Sem antes poder terminar, recebeu um empurrão de Deidara, o qual passou acelerado do seu lado,
puxando Gaara juntamente com si.
Fiquei parado com cara de idiota, lançando um olhar rápido a Obito, que naquele instante, já me
olhava de volta. As coisas estavam um pouco estranhas entre nós, visto que na noite passado, quando ele
foi me buscar no banheiro, acabou me flagrando chorando e com a roupa suja de terra.
Obviamente eu tive que inventar uma desculpa sobre isso, mas honestamente, ele nem pareceu se
interessar em me ouvir. O Obito aparentava ser do tipo de pessoa que não ligava para nada.
Chacoalhei minha cabeça, adentrando o sanitário atrás dos dois garotos, deparando-me com o
cômodo vazio, sem nenhum detento para nos atrapalhar.
Deidara e Gaara já se encontravam nus, ambos conversando distraídos enquanto dirigiam-se para os
chuveiros do canto, os mais “escondidos” entre todos.
-Vem logo, franguinho. -O ruivo chamou, apontando discretamente para trás, aonde alguns outros
presidiários chegavam no local. -A gente não pode ficar reservando o seu chuveiro, tira logo essa roupa.
-A-Ah, certo. -Concordei atordoado, aproximando-me o máximo que pude dos dois, corando
intensamente quando precisei me despir.
Os dois garotos não pareceram ligar muito, no entanto, alguns dos detentos faziam questão de
olharem em minha direção. Eles sorriam perversamente, assoviavam e até cochichavam entre si.
Era extremamente constrangedor ficar pelado na frente de um monte de gente que você não
conhece.
-Caralho, que água boa! -O loiro exclamou, fazendo um barulho para mostrar o quanto estava
satisfeito.
Usei isso como incentivo para me aproximar, caminhando timidamente até os chuveiros, cobrindo
minhas partes íntimas ao me posicionar embaixo de um deles, ficando bem ao lado de Deidara, deixando-o
entre mim e Gaara.
Liguei o registro, mantendo minha cabeça baixa, imaginando que dessa forma seria menos
desconfortável para mim, visto que não precisaria me preocupar com olhares maliciosos vindos dos outros
detentos.

52
O banheiro se enchia aos poucos, trazendo cada vez mais pessoas, as quais ocupavam os chuveiros
ao nosso redor. Eu torcia internamente para que nenhum desconhecido resolvesse ficar do meu lado, para
que assim eu não precisasse me sentir tão observado.
Como o grande azarado que sou, foi exatamente isso que aconteceu.
Senti uma movimentação ao meu redor, indicando que um dos detentos se aproximavam. Mesmo
sem ele ter feito nada, tensionei meus ombros, encolhendo-me enquanto ensaboava meu corpo
envergonhadamente.
-Ei, gracinha? -Ele me chamou. -Você tem um sabonete a mais para me emprestar?
-N-Não. -Neguei apreensivamente. Olhei-o por rápidos dois segundos, mas que foram o suficiente
para reconhecê-lo. Aquele era o mesmo detento que me assediou da outra vez, juntamente com o resto de
seu grupo. -Eu não tenho, me desculpe.
-Ora, não tem problema. -Sorriu sínico, tomando a liberdade de invadir o meu espaço, quase
compartilhando o mesmo chuveiro que o meu. -Você pode me recompensar de outra maneira, o que me
diz?
Eu não pensei muito depois disso.
Como eu já me encontrava completamente traumatizado por conta de todos os assédios que sofri
(dando um destaque principal ao do Kakashi), com o meu psicológico abalado, e ainda por cima com medo
de qualquer coisinha, meu corpo pareceu ganhar vida própria na hora de passar para o chuveiro ao meu
lado, fugindo medrosamente daquele homem.
Esbarrei atrapalhadamente em Deidara, trombando meu corpo com o seu, fazendo-o derrubar seu
sabonete no chão, caindo bem em cima do ralo.
Ele grunhiu irritado, virando agressivamente para mim.
-O-Oi. -Gaguejei desajeitado, abraçando meu corpo de modo tímido, não sabendo o que lhe dizer
para deixar aquela situação menos constrangedora.
-Bom dia, você conhece uma coisa chamada “espaço pessoal”? -Indagou num tom de sarcasmo, ao
mesmo tempo em que retirava o xampu de seu cabelo. -Vaza aqui, franguinho. Tem um chuveiro pra cada
um.
E sem mais nem menos, virou de costas para mim, colocando-se embaixo da água mais uma vez.
-M-Mas... Mas eu—
-O que foi, caralho?! -Bateu os pés irritado, especialmente ao reparar que Gaara fazia o mesmo,
pulando para seu chuveiro juntamente comigo, provavelmente fugindo do mesmo que eu. Ficamos os três
apertados. -Que porra é essa, gente? O que isso tá virando, pelo amor de Deus?
Quando notou que estávamos na mesma situação, o ruivo soltou uma risada fraca. Um detento mais
velho tentava passar a mão em si, mas pelo fato de Gaara sem bem mais baixo e magricela, não teve como
se defender.
Estávamos na mesma.
-Você disse que ia ajudar a gente, Dei. -Relembrou, sorrindo de modo engraçado.
O loiro franziu o cenho de modo confuso, mas ao olhar para seus dois lados, soube exatamente do
que estávamos falando.
-‘Tá, mas desgruda de mim! -Abriu seus braços, empurrando-nos de volta aos nossos devidos
chuveiros.
-Poxa, Deidara. -O homem ao meu lado riu atrevidamente. -Você não deixou nada pra ninguém,
hein? Então quer dizer que essas duas gracinhas já são suas?
-O que?! Eles não são meus! -Respondeu indignado. -Isso é doentio pra caralho, eles não têm dono!
-Oh, melhor para nós estão. -Os dois assediadores trocaram olhares, sorrindo de modo perverso. -É
bom saber que estão disponíveis.
Me encolhi mais uma vez, desviando das mãos imundas do detento, pulando de volta para o chuveiro
de Deidara. Eu estava muito assustado.
-Deidara, faz alguma coisa. -Gaara sussurrava ao pé de seu ouvido.

53
-Mas que porra! -O loiro esbravejou irritado, segurando violentamente em meu braço ao puxar-me
para si, fazendo o mesmo com o Gaara. -Sim, caralho! Eles estão comigo, satisfeitos agora?!
Era claro o modo como ele havia agido por impulso na hora de declarar aquilo em voz alta. O
banheiro inteiro pareceu olhar em sua direção, inclusive Obito, que naquele instante, arqueava as
sobrancelhas em sinal de confusão.
-Ah, foi mal. -Um dos homens levantou as mãos como sinal de arrependimento. -Eu não sabia que
vocês estavam em um relacionamento de três.
Deidara ficou boquiaberto, negando desesperado com a cabeça.
-O que?! Não, não é isso—
-Nós já entendemos, cara. -O outro tentou parecer “compreensível”. -A gente vai deixar os seus
namoradinhos em paz.
Foi um alívio tremendo vê-los saírem dos chuveiros ao nosso lado, parecendo procurar por outras
presas para atormentarem. Eu pude respirar com mais tranquilidade, assim como Gaara, o qual desligava o
registro para finalizar seu banho.
-Valeu, Dei. -Agradeceu.
-S-Sim, muito obrigado. -Reforcei, murmurando baixinho. Pela expressão facial que o loiro carregava,
era claro que ele explodiria a qualquer momento.
-Eu vou matar vocês. -Rangeu os dentes, desligando o registro de modo violento, caminhando em
direção ao banco em nossa frente, bem aonde havíamos deixado nossas roupas. -Seus filhos da puta,
agora todo mundo vai achar que a gente está em um relacionamento a três!
O ruivo ria divertido da situação, enquanto eu somente me mantinha quieto, desaminado demais para
dizer qualquer coisa. Era óbvio que eu estava agradecido pelo o que Deidara fez, mas ainda continuava
afetado por conta dos assédios que sofri, e toda a situação envolvendo o Sasuke.
-Muito bem! Comecem a se trocar, vamos todos até o pátio! -Obito batia palmas para chamar a nossa
atenção.
Sequei-me rapidamente com a toalha, percebendo uma pequena melhoria em relação aos olhares
repletos de segundas intenções que recebia dos detentos.
Aparentemente, “pertencer” ao Deidara havia ajudado com a diminuição dos assédios, pelo menos
na hora do banho, é claro.
-Hoje tem jogo dos Uchiha. -Gaara comentou aleatoriamente, colocando seu uniforme de volta. -O
time do bloco 2 vai competir com eles.
-Eles não vão ganhar nem fudendo. -O loiro calçava seus sapatos, concentrado em arrumar o velcro
do tênis. -Por mais que eu odeie admitir, o grupo dos irmãos exibidos é bem mais forte.
-Pois é. -Suspirou baixinho. -Mas mesmo assim eu estou afim de assistir. Não é todo o dia que o
Obito é juiz em um jogo de basquete, sempre foi o Kakashi que tomou conta disso.
Senti meu estômago se revirar ao ouvir aquele nome ser citado em voz alta. Eu não sei se
conseguiria olhar para a cara de Kakashi. Ainda era tudo muito traumatizante para mim.
-Ótimo, então vamos logo. -Deidara arrumava seu cabelo, prendendo-o em um coque.
Seguimos em direção a porta, fazendo a mesma fila de sempre, a qual servia como uma espécie de
contagem para ver se haviam detentos faltando.
Fiquei contente de não ter sofrido nenhum assédio nesse meio tempo, e pelo o que me parecia,
Gaara estava da mesma forma.
Caminhamos até o pátio, observando com a atenção o ambiente a nossa volta. Estavam todos
posicionados ao redor da quadra, sentados em bancos e alguns até de pé, esperando pacientemente para o
início do jogo.
O grupo dos irmãos Uchiha se aqueciam em meio à quadra, fazendo alongamentos e treinando
algumas cestas para o jogo.
Meus olhos, mesmo que contra a minha vontade, foram de encontro a Sasuke. O moreno conversava
distraído com seu irmão, nada nervoso com o fato de que todos os detentos estariam o assistindo.
Ambos os irmãos estavam sem camisa, com suas calças do uniforme dobradas até a altura de seus
joelhos, e possuindo seus troncos suados por conta do calor que estava fazendo.

54
-Eles são um bando de exibidos. -Deidara rosnou ao meu lado, provavelmente observando o mesmo
que eu. -Vamos sentar.
Conseguimos um lugar próximo da quadra, bem na linha de visão do jogo. Os meninos do bloco 3 já
esperavam por nós, e para minha surpresa, até haviam guardado os nosso lugares.
Eu não tinha muita intimidade com nenhum deles, mas pelo o que me parecia, todos eram bem
bacanas.
-E ai, caras? -Kiba sorriu de modo estranho, olhando primeiramente para mim, e logo em seguida
para Gaara e Deidara. -Qual é a boa?
-Nenhuma, ué. -O loiro rebateu.
-Tem certeza que não tem nada de novo acontecendo? -Neji se pronunciou, levantando a
sobrancelha com um olhar malicioso.
-Não...? -Deidara ficou confuso.
-Cara, que história é essa que vocês três estão juntos? -Shikamaru era quem chegava, bocejando ao
sentar-se juntamente conosco nos bancos.
Eu e Gaara nos entreolhamos, cientes do escândalo que Deidara daria a seguir. Com uma veia
saltando em sua testa, o loiro agarrou na gola de Shikamaru, trazendo-o para frente.
-Quem te contou isso?!
-Todo mundo está comentando. -Explicou-se assustado, estranhando aquela agressividade tão
repentina. -Olha em volta, cara.
Não só ele, como todo o resto de nosso grupo, olhou ao redor do pátio, notando a atenção excessiva
que recebíamos, todos focados em comentarem sobre o suposto relacionamento entre mim e os meninos.
-Era só o que me faltava... -O ruivo negou desacreditado.
-Não tem nada acontecendo entre a gente, caralho! -Deidara gritou, não só para nós, mas sim para
que todo o resto pudesse escutar. -Bando de gente fofoqueira que não sabe o que diz!
-Pois é, as fofocas correm rápido aqui. -Gaara acrescentou, e eu somente assenti. -Isso aqui ‘tá pior
do que o ensino médio.
-Está vendo só o que vocês fizeram?! -Deidara gesticulava agressivamente, dando uma bronca em
nós dois. -Estão felizes agora?!
-Calma, Dei. -O ruivo riu fraco. -Daqui uns dois dias todo mundo já vai esquecer disso.
-S-Sim. -Decidi dizer alguma coisa, só para não jogar todo o peso no Gaara.
-Vocês me pagam. -Resmungou, calando-se ao notar a proximidade de Obito na quadra, o qual
chegava com um apito pendurado em seu pescoço.
O jogo estava prestes a começar.
-Muito bem, façam silêncio! -Apitou, agindo como um verdadeiro treinador. -Vamos conferir os times,
certo?
Os jogadores se posicionaram lado a lado.
-Time do bloco 5, estão todos presentes? -Ele fazia uma contagem, recebendo acenos positivos do
grupo dos irmãos. -Certo, aqui tem seis pessoas. Time do bloco 2, estão todos aí?
Com o seu cenho franzido, Obito contava atentamente os jogadores presentes no time adversário,
notando a falta de um deles.
-Falta um jogador. -Falou o óbvio. -Aonde ele está?
-Ele desistiu, senhor. -Um dos detentos do bloco 2, o qual aparentava ser o capitão do time,
informou-o. -Vamos jogar só nós cinco.
Todos caíram na gargalhada, gritando coisas como “covarde”, “amarelou”, “medroso” e etc.
-As regras são claras, vocês precisam de mais um jogador. -Cruzou os braços. -São necessárias seis
pessoas, senão vocês não jogam.
Os detentos pareciam frustrados, vaiando e gritando que aquilo era uma injustiça. As pessoas
queriam ver aquele jogo, queriam saber quem apanharia, quem jogaria melhor e quem iria perder.

55
-Sinto muito mais não vai rolar. -Deu sua palavra final, arrancando suspiros frustrados de todos,
inclusive do time dos Uchiha. Eles também estavam loucos para derrotarem quem quer que cruzasse seus
caminhos. -Se tiver algum time montado, e que dizer jogar no lugar desse, por favor se pronuncie.
O pátio ficou inteiramente silencioso.
Ninguém tinha coragem o suficiente para desafia-los. Eles eram os melhores, mais habilidosos e
mais fortes. Qualquer um apanharia deles, aquilo era fato.
-Ninguém? Está bem, o jogo esta canc—
-Ei, Deidara? -A voz de Suigetsu se fez presente em meio a quadra, interrompendo o carcereiro. Com
um sorriso debochado em seus lábios, ele batia a bola de basquete no chão, parecendo querer provocá-lo
daquele jeito. -O que você acha de jogar com a gente, hm? Como nos velhos tempos.
Os criminosos pareceram aprovar a ideia, enquanto alguns até o incentivavam, batendo palmas
animadamente.
-Não, valeu. -Respondeu amargurado, irritado por ter sido citado em meio aquela conversa. Afinal,
todos estavam prestando atenção em si. -Eu passo dessa vez.
-Ora, vamos lá! -Ele insistiu, apontando diretamente para o resto de nosso grupo. -Vocês e esse seu
grupinho de fracassados estão em seis pessoas, assim vai dar certinho!
Quando todos começaram a rir, encolhi-me ao lado de Gaara, desconfortável com tantos pares de
olhos em minha direção, mas em especial, com o de Sasuke. Eu sentia seu olhar queimar sobre mim, me
fitando com atenção e intensidade, avaliando-me silenciosamente.
-Vai se foder, filho da puta! -Gritou ríspido, socando o banco ao meu lado. -Eu não vou ceder às suas
provocações, nós não vamos jogar!
E então, o inesperado aconteceu.
-Qual é o problema, Deidara? -A pessoa que menos esperávamos, foi quem se pronunciou. Itachi
lhe lançava um olhar desafiador, surpreendendo até mesmo o seu irmão. Ninguém esperava que ele
insistisse tanto naquele jogo. -Você está com medo, é isso?
Eu acho que nunca tinha visto o Deidara tão irritado em toda a minha vida. Com o seu rosto
inteiramente vermelho pela raiva, o loiro apertava seu próprio punho com força, travando seu maxilar em
direção ao moreno.
-Não seja um covarde. -O Uchiha sorriu maldosamente, girando a bola habilidosamente em seu dedo
indicador. -Vem jogar com a gente.
Os detentos estavam incrivelmente agitados, fazendo barulhos animalescos, assoviando, batendo
palmas e gritando como se pedisse por aquilo.
-Seu desgraçado! -Levantou-se por impulso, assustando todos que estavam ao seu redor, inclusive
eu. -Nós vamos jogar, filho da puta!
O pátio foi a loucura.
O chão a minha volta literalmente tremia, dada a quantidade de gritos que ecoavam pelo local. Todos
comemoravam sua resposta final, inclusive Itachi, o qual sorria vitorioso, sabendo que havia conseguido
exatamente o que queria, como se já soubesse levar o Deidara ao seu limite e convencê-lo sobre algo.
-Dei, isso é loucura. -Gaara foi o primeiro a se pronunciar, enquanto eu somente absorvia tudo
silenciosamente. -Eu não quero jogar!
-Vocês vão jogar sim, caralho! -Deidara puxou-o pelo braço. -Levanta daí! Kiba, Neji e Shikamaru,
vem logo!
-Cara, você está falando sério? -Kiba arregalou os olhos.
-Seríssimo! -Ele não voltaria atrás com o que disse. -Vem, franguinho! Você também vai.
Meu corpo inteiro gelou.
-O-Oi? -Me agarrei ao banco. -N-Não, por favor... Eu não quero fazer isso. Me deixa aqui no banco,
eu posso torcer por vocês.
O loiro grunhiu irritado, perdendo sua paciência ao me puxar violentamente pelo braço.
-A gente não precisa de uma líder de torcida, Naruto! Você vai jogar, isso é uma ordem! -Com
somente um empurrão seu, fui atirado para o meio da quadra, ao lado oposto do time dos Uchiha.

56
Abracei meu próprio corpo, absurdamente desconfortável com as vaias que recebia de todos os
presidiários, mas principalmente, por conta do medo que eu estava sentindo.
-G-Gaara, eu não sei jogar basquete! -Eu juro que estava quase chorando de tanto nervosismo,
intimidado com os olhares vindos do time adversário. -O que eu vou fazer?!
-Relaxa, franguinho. -Gesticulou para que eu me acalmasse. -O jogo só dura vinte minutos, faz o que
você sabe, beleza?
Concordei ansiosamente com a cabeça, ficando em posição de “ataque”, tentando copiar os meninos
do meu time, que aparentemente sabiam jogar melhor do que eu.
-Os times estão formados, então? -Obito se aproximou, fazendo outra contagem rápida. -Ótimo,
quando eu apitar, vocês podem dar início, entendido?
Todos concordaram.
-Eu preciso que cada um de vocês marquem um jogador! -Deidara dava as ordens. -Deixem o Itachi
comigo!
-Ah, eu não pretendia marcar ele mesmo. -O ruivo riu fraco. -Eu fico com o Sasori, então.
-Eu vou marcar o Suigetsu. -Kiba decidiu escolher, antes que alguém “roubasse” quem ele tinha em
mente.
-Olha, eu prefiro marcar o Kisame do que o Sasuke. -Shikamaru também fez a sua escolha.
Troquei olhares com o Neji, ambos pensamento exatamente a mesma coisa. Nós não queríamos, de
jeito nenhum, ficar responsáveis por marcar o Sasuke Uchiha.
-Eu fico com o Pain! -Ele gritou antes que eu tivesse a oportunidade de decidir.
Engoli em seco, olhando diretamente para o outro lado da quadra, procurando medrosamente por
Sasuke. Ainda sem sua camisa, o moreno abanava sua própria pele, dando um gole em sua garrafa de
água, claramente acostumado com toda aquela pressão e atenção que recebia.
A dez minutos atrás eu desejava que nunca mais precisar fazer contato com o Sasuke, e agora
estava prestes a jogar basquete com ele.
-Naruto, você marca o Sasuke. -Deidara disse o óbvio, me fazendo estremecer.
Itachi encontrava-se no centro da quadra, bem aonde ocorreria a disputa de bola para dar início ao
jogo. Como já era de se esperar, Deidara foi quem teve coragem que enfrentá-lo, posicionando-se de frente
para ele, enquanto ambos trocavam olhares raivosos.
-Preparados? -Obito segurava a bola em mãos, prestes a lançá-la para cima. -Já!
O jogo começou violento.
Com somente um pulo, Itachi agarrou a bola em suas mãos, batendo-a em direção a cesta,
atropelando quem quer que estivesse em sua frente, embora tivesse seu caminho dificultado com a
presença de Deidara
Todos os meninos já marcavam seus escolhidos, atrapalhando suas passagens e distraindo-os para
que dificultassem o jogo do time adversário.
Eu era o único que me encontrava paralisado, totalmente encolhido no meio da quadra.
-Naruto, marca o Sasuke! -Kiba chamou minha atenção, apontando diretamente para o Uchiha mais
novo, que naquele momento, ia em direção ao seu irmão na intenção de ajudá-lo.
Sai de meu transe, correndo desajeitado até o moreno, alcançando-o bem na hora em que Itachi
contava com a sua ajuda, arremessando a bola para si.
Me posicionei em sua frente, tentando agarrar a bola antes dele, o que é claro, não deu certo. Em um
movimento rápido, Sasuke desviou de minha marcação, pulando de trás de mim para receber a bola,
atirando-a do meio do campo em direção a cesta.
Obviamente, ele fez um ponto.
Todos comemoraram, gritando o seu nome animadamente, ao mesmo tempo em que os irmãos
davam um toque de mãos.
Ao passar do meu lado, indo de volta para sua parte da quadra, Sasuke me fitou seriamente,
limpando algumas gotas de suor em sua testa.

57
-Se concentrem, caralho! -Deidara estava realmente levando aquele jogo a sério.
Reiniciamos da mesma maneira, cada um marcando seus próprios adversários, mas dessa vez, com
mais violência.
O Itachi carregava o jogo em seus costas, assim como Deidara também fazia o mesmo pelo nosso
time. Como Sasuke também o ajudava as vezes, eu precisava ficar seguindo-o aonde quer que ele fosse.
Eu estava com medo de irritá-lo, mesmo que fosse somente um jogo.
-Você virou a minha sombra agora, novato? -O moreno dirigiu-se até mim, sem tirar sua
concentração do jogo.
-E-Eu tenho que te marcar. -Expliquei nervosamente.
-Percebi. -Respondeu secamente, agarrando a bola que era lançada em sua direção, sem me dar a
chance de reagir, correndo para o lado contrário.
Sentindo-me esgotado demais para continuar correndo, desacostumado com tantos exercícios
físicos, apoiei-me em meus próprios joelhos, respirando ofegante enquanto olhava ao meu redor.
A plateia era gigantesca, desde presidiários até carcereiros. Passei meu olho por cada rosto presente
naquele local, sentindo meu coração falhar uma batida com a presença de Kakashi.
Eu não esperava vê-lo tão cedo.
Encostado na parede ao lado da quadra, o platinado assistia o jogo atentamente, olhando
diretamente para mim, carregando um sorriso um tanto quanto indecifrável em seus lábios.
Eu não conseguia saber á quanto tempo ele estava me encarando, mas vê-lo naquele instante, já foi
o suficiente para me deixar tonto e de estômago embrulhado, completamente alheio ao que ocorria a minha
volta.
Sentindo-me distante do jogo, somente passos eram ouvidos por mim, barulhos agudos da sola de
seus tênis raspando no chão da quadra, além das vezes em que a bola era quicada no cimento.
Eu sabia que precisava voltar a me concentrar no jogo, mas meu corpo parecia não deixar,
mantendo-me paralisado em meio ao campo, olhando apavoradamente para Kakashi.
-Naruto, olha a bola!
Ao tentar captar a direção em que a bola vinha, nem me liguei na velocidade da mesma, recebendo-a
com força bem em meu rosto, de um jeito extremamente violento e pesado.
O pátio caiu no silêncio, assim como os jogadores ao meu redor.
Com a dor insuportável que senti, fui cambaleando para trás, cobrindo minha face dolorida, ao
mesmo tempo em que ia perdendo meu equilíbrio, totalmente enfraquecido por conta da pancada.
No segundo seguinte, eu já estava caindo.
Braços firmes e fortes foram o que me impediram de ir ao chão, segurando-me com um cuidado
estranho e desconhecido por mim, utilizando seu corpo como um apoio para o meu.
O meu ouvido apitou, me impedindo de escutar o que acontecia ao redor, no entanto, eu ainda
possuía minha visão, por mais embaçada que estivesse, além de conseguir sentir os toques alheios.
Meu corpo foi caindo aos poucos, mas dessa vez, sendo posicionado com cuidado no chão, com um
toque sútil na parte de trás da minha cabeça, impedindo-me de receber outro baque em meu crânio.
Espremi meus olhos com a claridade do sol, ficando atordoado com a presença de Sasuke, o qual
se levantava de minha frente, carregando uma feição séria, porém neutra, afastando-se de mim para deixar
com que outras pessoas me ajudassem.
Notei a proximidade de Gaara, Deidara e até mesmo Obito. Todos tentavam falar comigo,
preocupados com o estado em que me encontrava, mas principalmente no momento em que decidi fechar
meus olhos, permitindo que meu corpo se desligasse.
Após isso, tudo ficou escuro.
•••
A superfície macia em que me encontrava deitado, fez com que eu franzisse meu cenho antes
mesmo de despertar, estranhando todo aquele conforto que me rodeava.

58
Com um gemido dolorido escapando de meus lábios, abri meus olhos bem lentamente, encarando o
ambiente ao meu redor, deixando meu cérebro se acostumar aos poucos com a ideia de estar em um local
diferente de onde costumava dormir.
Toquei em minha bochecha direita, soltando outro grunhido dolorido, recordando-me pouco a pouco
do acontecido.
-Oi, franquinho.
Me virei no susto, deparando-me com a agradável presença de Gaara, o qual me observava
atentamente, sentado em uma espécie de banco ao lado de minha cama.
-A-Aonde eu estou? -Fiz um esforço para me levantar, encostando as costas na cabeceira. O local ao
meu redor era bem diferente do resto da prisão. -Deus, o que aconteceu?
-Você está na enfermaria. -Sorriu calmamente, tomando a liberdade de se levantar. -Você desmaiou,
Naruto.
Olhei para um ponto fixo do quarto, passando a me lembrar do momento de meu desmaio. Algumas
memórias ainda estavam muito confusas para mim.
-O Itachi te deu uma bolada. -Fez uma pequena careta. -Foi muito feio, franguinho. Doeu até em mim
que estava assistindo.
-O Itachi? -Repeti. Eu nem sabia que havia sido ele que me acertou.
-É. -Concordou. -Você caiu em cima do Sasuke, sabia disso? Foi meio chocante. Eu achei que ele ia
te largar de qualquer jeito, mas até que ele não foi tão bruto assim.
Entreabri minha boca em surpresa, enquanto fleches de memória me atingiam com força,
recordando-me da sensação reconfortante de ter um corpo firme e confortável a me segurar, impedindo-me
de sofrer uma queda pesada.
Foi o Sasuke.
-C-Como... Como eu vim parar aqui? -Por alguma razão, a qual não sei dizer porque, imaginei que o
moreno também tivesse me trazido até aqui.
-O Obito te carregou. -Riu divertido, parecendo se recordar do momento exato. -Eu até pensei em me
oferecer para isso, mas acho que eu iria te derrubar. Eu sou muito fraco.
Sorri minimamente em sua direção, agradecido por ele pelo menos ter tido a intenção de me ajudar.
-A quanto tempo eu estou apagado?
-A meia hora.
Minha boca foi ao chão.
Meia hora era muito pouco. Pela dor e cansaço que sentia, eu imaginei que estivesse desacordado a
pelo menos um dia.
-Você está melhor? -Indagou ao me ver tentar levantar. -O Yamato pediu pra você esperar um pouco
para ir embora, é importante que você fique em observação, franguinho.
-Yamato? -Arqueei a sobrancelha, ignorando seu outro comentário.
-É o enfermeiro. -Explicou pacientemente. -Você escutou o que eu te falei, Naruto? É melhor você
ficar aqui por enquanto.
-Não, eu já estou melhor. -Tranquilizei-o, fazendo uma espécie de alongamento ao me levantar da
cama. Recebi um olhar duvidoso de sua parte. -Eu estou falando sério. A única dor que eu sinto é no rosto.
-É, eu imagino. -Riu da minha desgraça.
-Por que? Está tão feio assim? -Olhei ao redor, procurando desesperadamente por um espelho.
-Uhum. -Assentiu positivamente. -A pancada foi forte, Naruto. O Itachi sempre foi muito agressivo,
mas dessa vez ele se superou.
Suspirei cansado, massageando minha própria face com cuidado. Eu ainda me encontrava um pouco
confuso com todo o ocorrido, principalmente com esse acontecimento envolvendo o Sasuke.
-E-Eu vou no banheiro. -Declarei atordoado, dirigindo-me até a porta.
-Quer que eu vá com você?

59
-Não, não precisa. -Neguei. Eu iria sozinho, porque além de querer ver o meu próprio reflexo, eu
precisava absorver tudo o que aconteceu solitariamente. -Te encontro mais tarde.
O ruivo apenas assentiu em resposta, estranhando o fato de me ver querer sair dali tão rapidamente.
Ao passar pela porta, iniciei minha caminhada em direção ao banheiro, levemente perdido por nunca
ter precisado vir até a enfermaria. O lugar ainda era desconhecido para mim.
Apesar de tudo, consegui achar o meu caminho bem rapidamente, passando por alguns corredores
familiares. Reparei que vários detentos olhavam em minha direção, e alguns até riam de minha cara,
provavelmente recordando-se do jogo mais cedo.
Eu tinha virado uma piada.
Suspirei chateado, entrando no sanitário a minha frente, dando graças a Deus que estava vazio, pois
assim não precisaria interagir com mais ninguém.
Aproximei-me da pia, quase caindo para trás ao olhar meu próprio reflexo. O lado esquerdo de meu
rosto estava normal, já o direito era de se preocupar. Minha bochecha estava incrivelmente enxada,
arroxeada e com um pequeno corte.
Abri a torneira em minha frente, fazendo um concha com minhas mãos, enchendo de água para jogar
em meu rosto. Esfreguei-o com cuidado, deixando minha boca úmida, assim como meu nariz e olhos.
Por alguma razão, eu comecei a ficar com sede.
Toquei em minha garganta, sentindo-a seca, assim como meus lábios ressecados e entrecortados.
Eu não havia bebido água o dia inteiro, nem mesmo em meu café da manhã, até porque, eu havia decidido
pulá-lo.
Olhei para os dois lados, procurando por alguém, sentindo-me um pouco nojento com o que iria fazer
a seguir. Como não estava nada afim de ir até o bebedouro do pátio, por puro medo que os detentos ainda
estivessem jogando basquete, decidi que tomaria água da pia mesmo.
Enfiei meu rosto na torneira, bebendo a água dali mesmo, não me importando com mais nada, nem
com os germes que possivelmente estariam ali.
Eu estava tão desesperado para me hidratar, que quase nem reparei no barulho alta de uma
descarga ecoando pelo sanitário, fazendo-me levantar a cabeça de abrupto, batendo-a dolorosamente no
balcão.
Eu tinha muito azar, aquilo não era novidade.
Virei rapidamente para o lado, disfarçando o fato de que havia tomado água da pia, limpando minha
boca com a manga de meu uniforme.
Não era qualquer detento que estava ali comigo, para minha surpresa, se tratava de Sasuke Uchiha.
Como o idiota que sou, fiquei parado no cantinho das pias, bem aonde se encontrava o suporte de
papel, o mesmo que utilizávamos para secar nossas mãos.
Sasuke caminhou lentamente até pia, olhando-me de modo estranho e desconfiado, mas sempre
mantendo-se sério, lavando suas mãos sem deixar de me olhar.
Ficamos nos encarando por volta de cinco segundos, até o momento em que o moreno decidiu se
movimentar, retirando-se do balcão para vir em minha direção, fazendo meu corpo inteiro gelar.
Me encostei o máximo que pude no suporte de papel atrás de mim, abraçando meu próprio corpo,
verdadeiramente incomodado com o quão próximos estávamos. O Sasuke era muito intimidador, e ainda
fazia questão de me encarar bem intensamente e de perto, como se quisesse mesmo me causar algum
medo.
-Saia. -Foi a única palavra que saiu de sua boca, num tom baixo, porém rouco.
-S-Saia? Que saia? -Questionei confuso, não entendendo o motivo de ouvi-lo citar uma peça de
roupa tão aleatoriamente.
-Saia da frente, Naruto. -Respondeu com indiferença, deixando-me amargurado por ser tão desatento
ao ponto de pensar que Sasuke Uchiha estaria falando sobre saias e peças de roupas.
Me encolhi ao passar do seu lado, baixando meu rosto para que não roçássemos nossos narizes,
desconfortável e constrangido com o quão perto estávamos um do outro.

60
O moreno secava suas mãos, fazendo da mesma maneira que antes, sem nunca deixar de me
encarar. Eu não sabia aonde Sasuke queria chegar com tudo aquilo, mas se ele estivesse tentando me
assustar, eu precisava admitir que estava funcionado.
-Você é bem desatento, não é, novato? -Ele amaçava o papel em suas mãos, arremessando-o no lixo
ao seu lado.
-H-Hm, eu sou. -Respondi tímido e confuso, surpreso por estarmos mantendo um diálogo
normalmente. -O que te faz dizer isso sobre mim?
Sasuke riu fraco e sarcástico, causando-me alguns arrepios ruins.
-Eu queria que você tivesse tido a oportunidade de se ver jogando basquete. -Um sorriso mínimo e
debochado crescia em seus lábios, como se dessa maneira tirasse sarro de mim. -Chegava a ser hilário.
Como você consegue se desligar daquele jeito no meio de um jogo daqueles?
Me encolhi com o comentário, porque mesmo que não fosse nada demais, fazia com que eu
lembrasse do motivo de ter me desligado daquela maneira, logo antes de receber uma bolada de Itachi na
minha cara.
Eu ainda não havia superado o incidente com o Kakashi, e sinceramente, acho que nunca
conseguiria.
-E-Eu estava olhando para uma pessoa, e acabei me distraindo, só isso. -Respondi desanimado,
olhando para meus próprios pés.
Senti o olhar de Sasuke queimar sobre mim, mantendo-se quieto enquanto me observava. Se ele
fosse alguém atento, talvez até soubesse de quem eu estaria falando, ou até imaginasse que se tratava de
algo relacionando a noite anterior, ou até mesmo envolvendo o Kakashi.
Eu torcia para que ele não entrasse nesse assunto.
-Que seja. -Deu de ombros. -Da próximo vez tenha mais atenção, as pessoas não vão ter piedade de
você só por te verem distraído.
Levantei minha cabeça, fitando-o de modo confuso.
-S-Sim, eu sei.
Caímos em mais um momento estranho e silencioso, que logo foi cortado com a surpreendente ação
do moreno em levantar uma garrafa de água em minha direção, a mesma que havia levado para o jogo de
basquete, e que naquele instante, encontrava-se parcialmente cheia.
Fiquei imóvel, não sabendo se aceitava o plástico estendido para mim, ou se esperava por alguma
explicação sua.
-Vai, pega. -Chacoalhou a garrafa, carregando um olhar tedioso e impaciente. -Essa água aqui não é
da pia.
Senti meu rosto pegar fogo, enquanto meus lábios se entreabriam em surpresa. O Sasuke havia me
flagrado bebendo água diretamente da pia, e com certeza tinha me visto bater a cabeça no balcão, igual o
grande desajeitado que sou.
Estendi minha mão de modo relutante, estranhando tanta “generosidade” vinda do Uchiha. Já com o
conteúdo em mãos, abri a garrafa desconfiadamente, levando o nariz para cheirar a mesma.
Eu ouvi Sasuke bufar.
-Eu não coloquei veneno, se é isso que está pensando. -Cruzou os braços, tentando parecer
autoritário. -Bebe logo, eu preciso ir embora.
Por algum motivo, eu decidi confiar em si.
Levei a garrafa aos lábios, quase gemendo por estar tomando água boa de verdade, e não uma da
pia, e possivelmente contaminada. Fazia tanto tempo que eu não me hidratava, que acabei com o líquido
em menos de cinco segundos.
Quando a última gota caiu em minha garganta, tampei a garrafa novamente, corando ao devolvê-la
para seu dono, não sabendo se havia feito certo em tomar tudo, ou se deveria ter deixado pelo menos um
pouco.
-O-Obrigado, Sasu— senhor. -Me corrigi mais uma vez, repreendendo-me por ser tão alienado.
-Para de me chamar assim. -O Uchiha guardava sua garrafa de volta ao bolso, falando de modo
impaciente. -Eu não gosto disso.

61
-O-Oh, me desculpe. -Me encolhi com medo. Não era difícil de irritá-lo, por isso, eu sempre precisava
tomar cuidado com o que falava. -Como eu devo te chamar?
-Sasuke está ótimo. -Respondeu desinteressado.
Assenti para mostrar que havia entendido, mas para deixar bem claro que o respeitava. Era sempre
bom relembra-lo sobre isso. Eu nunca mais queria passar por nenhum punição, ou castigo vindo dele e de
seu irmão.
-Eu já vou indo. -Declarou após alguns segundos, passando do meu lado sem dizer absolutamente
nada.
Eu sei que deveria tê-lo deixado ir, e que quanto menos contato eu fizesse com ele, seria melhor para
mim. No entanto, decidi pará-lo na porta do banheiro, assustando a mim mesmo pela minha coragem.
-Sasuke?
Ele virou-se até mim, cruzando seus braços na altura do peito.
-O que?
Mordi meu lábio inferior, baixando a cabeça com um pouco de vergonha do que lhe diria a seguir.
Agora que eu havia o chamado, não poderia simplesmente deixar para lá.
-E-Eu queria te agradecer por hoje. -Eu estava me referindo ao ocorrido logo antes de eu desmaiar.
-Pelo o que? -Levantou a sobrancelha.
-A-Ah... Por não me deixar cair, sabe? -Corei levemente. Eu definitivamente não sabia como usar as
palavras certas.
O Uchiha não teve reação.
Já era de se esperar que ele não me responderia nada.
-Tá. -Sua resposta foi curta, e extremamente seca.
Em uma última troca de olhares, Sasuke virou-se mais uma vez, deixando-me sozinho novamente.
Pude respirar aliviado, não entendo o motivo de me sentir tão mais leve ao vê-lo sair
pela porta.
Ele me intimidava muito, aquilo era fato.

Capítulo 7 - Seduzir pra conferir


Sasuke On

Com o sol do final da tarde batendo em minha pele, eu observava com atenção todo o pátio ao meu
redor, admirando os tons alaranjados que refletiam no ambiente, deixando-o com um clima mais suave e
tranquilo, bem diferente do que realmente era.
Eu havia ficado o dia inteirinho de bobeira.
O fato de eu não precisar trabalhar, e não possuir nenhuma tarefa dentro da penitenciária, muitas
vezes acarretava em dias tediosos e repetitivos. Eu sempre tento ao máximo inovar, achar novas coisas
para fazer, no entanto, de uns tempos para cá, anda ficando cada vez mais difícil.
Honestamente, a melhor hora do meu dia era quando nosso time se reunia para jogar basquete, o
que infelizmente, não havia ocorrido no dia de hoje.
Desde ontem, após o acidente envolvendo meu irmão e o novato, Naruto Uzumaki, a diretoria decidiu
dar um tempo com os esportes. O estado em que o loiro ficou, falando especificamente de seu rosto, foi o
que mais assustou a todos.
Não era a primeira vez que algum detento se feria em meio a um jogo, entretanto, era a primeira vez
que acontecia algo tão grave ao ponto de fazê-lo desmaiar.
Apesar de toda a gravidade da situação, Itachi não recebeu nenhuma punição pelo o que fez.
Nenhum carcereiro teve coragem o suficiente para lhe dar advertências, e muito menos colocá-lo em
isolamento.

62
Eu tinha quase certeza de que meu irmão havia feito aquilo de propósito. O Itachi não superou o
evento do refeitório envolvendo as bandejas, e provavelmente achou que o jogo de basquete seria a
oportunidade perfeita para se vingar de Naruto, mesmo que eu já houvesse planejado um castigo para si.
E era exatamente isso que não saía da minha cabeça.
A minha punição não havia saído como o planejado. Quando mandei-o buscar as drogas para mim,
imaginei que Naruto seria pego por Kakashi, e dessa forma, teria sua pena aumentada, além de ser
mandado para a solitária.
Porém, algo diferente aconteceu.
Ao vê-lo adentrar o banheiro, trazendo as drogas em mãos, completamente devastado, aos prantos,
e sujo dos mais diversos tipos de substâncias, incluindo terra, sangue e até mesmo sémen, meu cérebro
juntou as peças rapidamente, entendendo com facilidade pelo o que Naruto havia passado.
O Kakashi tinha alguma coisa a ver com o que aconteceu, aquilo era fato para mim.
A curiosidade que eu sentia em relação ao que havia acontecido com o novato, estava mexendo
comigo. Eu precisava descobrir se minhas teorias eram realmente verdadeiras, ou somente paranóias de
minha cabeça.
Em conclusão, eu havia decidido investigar o que aconteceu.
Sinceramente, seria muito mais fácil apenas perguntar ao Obito sobre o platinado, visto que fiz o
mesmo quando precisei de informações sobre o Naruto, para que assim pudesse planejar seu castigo.
No entanto, essa situação era diferente.
Além de seu colega de trabalho, Kakashi sempre foi amigo do Obito. Se o moreno soubesse algo
comprometedor sobre ele, talvez tentasse protege-lo de mim, e dessa forma, eu correria o risco de não
receber informações verídicas.
O jeito seria descobrir sozinho.
Com um suspiro cansado, levantei-me do banco em que me encontrava, seguindo em direção ao
final do pátio, bem aonde ficava a academia do presídio, a qual era aberta duas vezes na semana.
Meu irmão costumava frequenta-lá, e por essa razão, decidi encontrá-lo para que pudéssemos
conversar. Adentrei o lugar tranquilamente, enxergando-o parcialmente cheio. Alguns detentos faziam
exercícios, pulavam corda, corriam nas esteiras e até faziam flexões.
Itachi era o único que utilizava o saco de boxe. Seus punhos iam de encontro ao material, desferindo
socos violentos e ritmados, contendo seu tronco nu excessivamente suado por conta do esforço que fazia.
Me aproximei, fazendo um barulho para mostra-ló que estava ali, parando bem do seu lado. Ele não
pareceu muito disposto a parar o que estava fazendo para dialogar comigo, por isso, eu mesmo tomei a
iniciativa de conversar.
-Oi.
-O que foi? -Lançou secamente. O Itachi não gostava muito de ser interrompido, mas honestamente,
eu não me importava com isso.
-Eu queria te fazer uma pergunta... -Parei de frente ao saco, tendo a visão perfeita de meu irmão
espancando-o, descontando toda a sua raiva em seus punhos. -O que você sabe sobre o Kakashi?
Com um olhar desconfiado, Itachi franziu o cenho em minha direção, tentando se concentrar em duas
coisas ao mesmo tempo, tanto em mim, quanto no exercício que fazia.
-Não muito, por quê?
Suspirei insatisfeito. Aquela não era a resposta que eu esperava.
-Eu acho que ele é um tarado. -Comentei sem pensar muito, tendo alguns fleches de memória me
invadindo.
Primeiramente me recordei do ocorrido envolvendo o Naruto, no momento em que o vi voltar com o
seu rosto coberto de sémen, além de ter notado o medo anormal do loiro ao presencia-lo na plateia do jogo
de ontem. Fora todas às vezes em que o vi sorrir para outros detentos, carregado de segundas intenções.
-Como assim? -Ele segurou o saco em seus mãos, olhando-me de modo sério e preocupado. -Que
história é essa, Sasuke? Ele tocou em você?
Neguei rápido com a cabeça.

63
-Não é isso. -Acalmei-o, com medo de que Itachi deixasse a academia para ir atrás do platinado. -É
só que eu comecei a reparar nele recentemente. Você nunca notou o jeito que ele olha pra alguns detentos?
É nojento.
Preferi omitir a parte do incidente no banheiro envolvendo o Naruto. Meu irmão nunca entenderia, ou
então pensaria que eu estaria protegendo-o, ou até me metendo aonde não fui chamado.
-Sim, eu já notei. Mas e daí? -Deu de ombros, desferindo outro soco no saco. -Todo mundo aqui é
nojento, Sasuke. Ou você achou que só o Orochimaru era um safado asqueroso? As pessoas que você
menos esperam, são as que cometem as maiores atrocidades.
-Eu sei, mas os carcereiros também? -Perguntei mais para mim mesmo, levemente desacreditado.
-Não era para os guardas, sei lá, serem algum tipo de bom exemplo pra todos esses criminosos?
Ele fez questão de rir da minha cara.
-Sasuke, às vezes você consegue ser muito ingênuo. -Sorriu levemente. -Ninguém aqui é bom
exemplo pra ninguém, nem mesmo os policiais. Muitos deles são corruptos, inclusive o Obito, e você sabe
bem disso.
Virei meu rosto para o lado, ficando enfezado com o comentário. Às vezes essa postura do Itachi me
irritava. Ele sempre quer ser o sabe tudo, além de ficar me dando lições de moral.
Pelo menos eu tive certeza de que meu irmão não poderia me ajudar em minha investigação contra o
Kakashi. Dessa vez, eu teria que fazer tudo cem por cento sozinho.
-...Se mais alguém perguntar se nós três estamos em um relacionamento, eu juro que vou arrumar
uma briga, e das feias!
A academia inteira pareceu parar, olhando em direção a porta de entrada, aonde Deidara e o resto de
seu grupinho vinham atrás de si, incluindo Gaara e Naruto.
Com um suspiro irritado, Itachi estalou a língua no céu da boca, parecendo incomodado com a
presença do grupo, mas principalmente, com a aparição de Deidara.
Após o jogo do dia anterior, ambos os garotos estavam ainda mais afiados um com o outro.
O grupo de Deidara não costumava frequentar a academia, mas naquele dia em especial, decidiram
aparecer por ali. Notei que alguns detentos ao meu redor sussurravam entre si, todos rindo enquanto
olhavam em direção ao Naruto, soltando piadinhas sobre o jogo e a bolada que o mesmo levou.
O loiro se encolheu com toda aquela atenção que recebia, ficando cabisbaixo com os comentários
que escutava sobre si.
-O novato virou a piada da prisão. -Itachi riu maldosamente, parecendo orgulhoso do que fez.
-É, graças a você. -Completei, assistindo com atenção o momento em que um dos presidiários
colocou o pé para Naruto tropeçar, gargalhando quando o mesmo se desequilibrou, mas não caiu. -O
pessoal ‘tá pegando pesado com ele.
-E desde quando você se importa? -Devolveu, arqueando a sobrancelha.
-Eu nunca disse que me importo. -Rebati no mesmo tom de grosseria.
-Mas parece. -Retrucou, desferindo um último soco violento contra o material, levantando-se para
beber água, jogando um pouco em seu tronco desnudo para refrescar-se. -Eu preciso tomar um ar, não dá
pra ficar no mesmo ambiente que o Deidara. Ele me irrita.
Levantei a sobrancelha, mas não disse nada.
Esse lance dos dois era algo que eu também possuía certa curiosidade em desvendar. Qualquer dia,
quando eu não estiver ocupado em resolver outras coisas, irei atrás de respostas sobre o passado de meu
irmão com o Deidara.
-Tchau pra você. -Itachi passou ao meu lado, nem se dando ao trabalho de me esperar.
Fiquei parado próximo ao saco de boxe, notando uma troca de olhares raivosa entre Itachi e Deidara,
que logo foi quebrada quando meu irmão deixou a academia.
Com um suspiro cansado, encostei-me na parede atrás de mim, sendo rapidamente atraído por um
olhar que queimava sobre mim, o qual eu logo identifiquei ser o de Naruto.
O loiro me fitava de modo meio tímido, mas também desconfiado, provavelmente estranhando minha
aparição ali na academia, e principalmente pelo fato de eu estar sozinho, até porque, eu ando sempre
acompanhado de meu grupo.

64
São raras às vezes em que estou oficialmente só.
-E aí, novato? -Um dos detentos mexeu consigo. -Quando vai ser o próximo jogo de basquete?!
A academia toda caiu na gargalhada.
Naruto encolheu seus ombros, laçando-me um breve olhar chateado, logo antes de ser consolado
por Gaara, o qual lhe pedia para que ignorasse todos aqueles comentários.
Como eu não estava nada afim de ficar para ver o que ia acontecer, e muito menos escutar as
piadinhas sem graça e maldosas sobre o jogo do dia anterior, decidi dar o fora dali, saindo pelo mesmo
lugar que o meu irmão, pensando que talvez pudesse alcançá-lo no caminho.
No entanto, dei de cara com outra pessoa.
Eu encontrei exatamente quem eu desejava investigar. Apoiado em uma parede próxima à quadra,
Kakashi encontrava-se sozinho, carregando uma expressão tranquila, porém indecente, observando de
modo indiscreto a passagem de Itachi bem em sua frente.
Não era nada difícil reparar nos olhares maliciosos e repletos de segundas intenções que o platinado
lançava para cima de meu irmão, aproveitando que o mesmo encontrava-se sem sua camiseta, mordendo
seus lábios atrevidamente, mesmo que Itachi estivesse totalmente alheio a situação.
Naquele momento, eu tive certeza de que tinha alguma coisa bem errada com ele.
Quando meu irmão se distanciou, um sorriso cresceu pelos lábios de Kakashi, rindo sozinho pelos
próprios pensamentos impuros que teve com ele. No fundo, o platinado sabia que nunca teria a
oportunidade de tocar no Itachi, pelo menos não do jeito que ele supostamente fazia com os outros
detentos.
Aquela era a minha vez de agir.
Meu plano inicial era seduzi-lo para conferir se minhas suposições sobre si estavam certas. Dessa
maneira, eu teria certeza sobre o seu caráter, além de descobrir se o que aconteceu com o Naruto
realmente teve relação com ele.
Caminhei calmamente em sua direção, ainda desacreditado de mim mesmo. Qual era o nível do meu
tédio para chegar ao ponto de investigar a vida de um carcereiro tarado, só porque fiquei minimamente
curioso em relação ao que houve com o Naruto?
Eu tive que rir sozinho.
Enquanto chegava perto de si, notei-o levemente desconfiado, ao mesmo tempo em que tragava o
seu cigarro, estranhando o fato de me ver caminhando em sua direção.
Nós nunca fizemos nenhum tipo de contato, nem mesmo conversamos. Eu usaria isso ao meu favor,
é claro. O Kakashi não me conhecia, somente sabia sobre o grupo o qual eu pertencia, mas não fazia ideia
do modo como eu agia ou pensava.
Eu daria um jeito de fazê-lo acreditar que eu estava interessado em si.
-E ai? -Forcei um sorriso, mantendo minhas duas mãos no bolso de minha calça.
-Oi. -Levantou a sobrancelha, avaliando-me silenciosamente.
Eu sabia que precisava dar o meu máximo, talvez até apelar para o lado “sexual” da coisa, como tirar
minha camiseta, assim como meu irmão fez.
-Você tem um cigarro aí? -Perguntei a primeira coisa que veio a minha cabeça, mesmo que nem
gostasse de fumar.
-Tenho. -Cruzou os braços na altura do peito, me dando uma encarava bem indiscreta, quase igual a
que deu em meu irmão. -Você quer um?
-Quero. -Sorri de lado, me arriscando na hora de dar um passo para perto de si, observando
atentamente a cada reação de sua parte.

-Eu não sabia que você fumava. -Sorriu juntamente comigo, estendendo um cigarro em minha
direção. -O seu irmão deixa você fazer essas coisas?
Ele me deu a brecha perfeita.

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-O meu irmão não precisa saber de tudo o que eu faço, não é? -Eu definitivamente não sabia como
seduzir, ou fazer expressões atraentes, mas eu sabia direitinho como usar as palavras certas e jogar com
elas.
Rindo maldosamente com o comentário, Kakashi pareceu aprovar a minha resposta. Foi a sua vez de
dar um passo em minha direção, aproximando-se com o isqueiro até mim, enquanto eu autorizando-o a
ascender o meu cigarro.
Traguei calmamente, notando-o olhar diretamente para minha boca, mordendo seu lábio inferior
quando soltei a fumaça em seu rosto, entreabrindo meus lábios numa falha tentativa de parecer mais
“sedutor”.
Eu sempre fui péssimo nessas coisas.
-E então? Deve ser bem chato pra você trabalhar aqui, não é? -Encostei-me na parede ao seu lado,
falando qualquer coisa que vinha em minha mente.
-É um saco. -Riu baixo, adorando o fato de eu estar puxando assunto com si. -Mas tem algumas
coisas boas também.
-Ah é? Tipo o que?
-Eu posso conversar com pessoas bonitas, como você. -Sorriu atrevido, inclinando-se cada vez mais
para frente, provavelmente achando que eu estaria gostando de toda aquela atenção.
Revirei meus olhos internamente, enojado com o comentário feito pelo outro.
Agora era oficial, eu tive certeza de que todas às minhas teorias estavam certas. O Kakashi era sim
quem eu pensava, um carcereiro que gostava de se aproveitar dos outros, e provavelmente fez o mesmo
com o Naruto, só que contra a sua vontade.
Eu já tinha a minha conclusão, por isso, não via motivos para continuar ali.
-Eu já vou indo. -Joguei o cigarro no chão, pisando em seguida para apagá-lo.
O platinado ficou um tanto confuso com a minha decisão tão repentina de ir embora, mas decidiu não
me perguntar a respeito. Como eu não estava mais conseguindo disfarçar, e muito menos manter um
sorriso em meu rosto, virei de costas para si, caminhando para longe dali, com medo de estragar o meu
disfarce.
Aquilo foi nojento.
No entanto, eu consegui ter uma certa ideia do que o Naruto passou, e não só ele, como todos os
detentos que já cruzaram seu caminho. O Kakashi não chegou a encostar em mim, mas mesmo assim, fez
o suficiente para que eu conseguisse ter uma ideia do tipo de pessoa que ele é.
A minha investigação estava concluída.
Naruto On

Como a noite já caia ao lado de fora, todos os detentos foram obrigados a deixarem o pátio aberto,
para que assim pudessem voltar até a área fechada da penitenciária. Os garotos de meu grupo, já
devidamente suados e ofegantes por conta da academia, conversavam distraidamente enquanto
atravessamos o corredor para sairmos do pátio.
-Hoje é noite de filme, não é? -Shikamaru questionou com um sorriso no rosto, como se já soubesse
a resposta que receberia.
-Sim. -Neji concordou. -Eu só espero que coloquem algum filme bom dessa vez, e não aqueles filmes
em preto e branco dos anos vinte.
Eu escutava tudo com bastante atenção, me animando minimamente com o fato de que, mesmo
estando presos, os detentos tinham a oportunidade de assistirem TV.
-Eu não sabia que tinham televisões aqui. -Comentei com Gaara, somente para que ele escutasse.
Depois de um tempo, acabei notando que as pessoas ao meu redor se incomodavam com as minhas
perguntas, e que muitas vezes, por conta de minha falta de atenção, são repetitivas. -Isso é muito legal.
-É mesmo. -O ruivo sorriu simpático. -Os guardas liberam as televisões em alguns dias da semana,
geralmente de noite. Aqui dentro tem uma sala específica pra isso.
-Tipo uma sala de cinema? -Indaguei, levemente animado.
-É, só que sem a pipoca e o conforto. -Riu tristemente, sendo acompanhado por mim.

66
-Para de iludir ele, Gaara. -Deidara interrompeu a nossa conversa, parecendo ter escutado tudo,
desde o início. -Não é cinema porra nenhuma. Aquela sala é minúscula, apertada e fede a chulé! Eu não sei
porque vocês gostam tanto de ficar lá.
-Porque tem uma televisão. -Gaara rebateu, falando o óbvio. -Você deveria vir com a gente hoje, Dei,
você nunca participa de nada aqui dentro.
-Eu não quero, valeu. -Respondeu enfezado, segurando em cima de seus punhos uma espécie de
saquinho com gelo, o qual pegou na enfermaria para aliviar a dor que sentia depois de tanto socar o saco
de boxe. -Se fosse passar algum filme bom, eu até pensava em ir, mas como não vai...
-E como você sabe se vai, ou não? -O ruivo insistiu. -Você deveria dar uma chance, Deidara. Vai por
mim, ficar reclamando e se privando de tudo aqui dentro, não vai fazer você odiar menos esse lugar.
O loiro ficou pensativo, e pelo o que me parecia, aparentava ter cedido ao pedido de seu amigo.
Afinal, talvez fosse mesmo agradável assistir a um filme, nem que fosse um bobo. Isso poderia nos distrair.
-É aqui. -Gaara apontou para uma sala no canto do corredor, a qual eu sempre vi trancada desde o
dia em que cheguei, mas naquele instante, encontrava-se aberta. -Vamos, já está pra começar.
O lugar era realmente apertado, no entanto, tinha cadeiras o suficiente para que todos de nosso
grupo de sentassem juntos. Vários detentos, dos mais variados blocos, já se encontravam devidamente
posicionados, esperando que o carcereiro colocasse o DVD.
Ficamos com os lugares de atrás, o que dificultou um pouco para que eu enxergasse, mas nada tão
impossível. Fiquei entre Gaara e Deidara, o que foi ótimo para mim, visto que não precisei me preocupar
com outros presidiários em contato comigo, fazendo piadinhas sobre o jogo, ou me assediando.
-Eu já estou odiando. -Deidara declarou com tédio, observando o ambiente ao nosso redor.
-Mas a gente acabou de chegar. -Kiba riu ao seu lado, recebendo uma carranca em resposta.
-Calma, eu to sentindo que dessa vez o filme vai ser bom.
Estávamos todos na expectativa, esperando pacientemente para que Obito ligasse a televisão, e o
filme começasse. Quando a tela se ascendeu, suspiros de frustração ecoaram por todo o lugar, inclusive um
grunhido exageradamente irritado vindo de Deidara.
-Filme de guerra? Sério mesmo, Obito? -O loiro foi o primeiro a se pronunciar, começando um
pequeno alvoroço entre os presidiários.
-Reclamem com o diretor, não comigo. -Obito suspirou com tédio, dando play no filme, mesmo que
naquela altura do campeonato, ninguém estivesse realmente interessado em assisti-lo. -Foi o Danzou quem
escolheu. Ele disse que seria educativo, e que faria vocês refletirem.
Confesso que foi um pouco frustrante até mesmo para mim. O diretor Danzou, o qual fundou nossa
penitenciária, nunca chegou a dar as caras aqui dentro, entretanto, era sempre citado entre os carcereiros,
principalmente quando estavam cumprindo com uma ordem sua.
-Refletirem minhas bolas! -O loiro rebateu, tendo o apoio do resto dos detentos ao seu redor. -Coloca
um filme que preste, caralho! Ninguém mais aguenta esses documentários em preto e branco, se o nosso
querido diretor acha que nós vamos absorver algum tipo de aprendizado baseado nisso, ele está muito
enganado!
Todos gritaram em aprovação, concordando com o pequeno discurso de Deidara. Até mesmo
Suigetsu, o qual acabará de se sentar atrás de mim, parecia apoiá-lo naquela causa.
Literalmente todos os detentos pensamento da mesma maneira.
-Eu odeio esse emprego... -Pelo fato de Obito estar próximo de mim, pude escuta-ló resmungar
solitariamente, logo antes de subir sua entonação. -Se vocês tiverem reclamações, vão até a sala do diretor!
-Nada disso, nós vamos resolver com você, aqui e agora! -Deidara levantou-se de seu assento,
passando um pouco dos limites na hora de subir em cima da cadeira, começando uma verdadeira rebelião.
-Nós todos estamos cansados disso! É, ou não é?!
Os criminosos urraram em resposta, tratando o loiro como uma espécie de líder daquele protesto,
alguns acabando por fazer o mesmo que ele, levantando de seus cadeiras para causar confusão. Eu
assistia a tudo com certo medo, enquanto Gaara somente ria, batendo palmas juntamente com os outros,
entrando na onda com o pessoal.
-Vocês querem assistir o que então, meu Deus do céu?! -Obito tentava ultrapassar a voz do loiro,
mas sempre mantendo sua feição tediosa. -Cinquenta tons de cinza?!

67
O ruivo caiu na gargalhada, assim com Suigetsu atrás de mim, acabando por me contagiar
juntamente com eles, só que de modo bem mais controlado. Eu precisava admitir que era um pouco
engraçado presenciar aquela situação.
-Seria mil vezes melhor do que essa merda! -Deidara falava em nome de todos, apontando
diretamente para a televisão. -Ninguém está interessado nessa porcaria de documentário, isso é ridículo!
-Já chega, Deidara. Sai de cima da cadeira, por favor. -O moreno cruzou os braços, pedindo
pacificamente.
-Eu não vou descer, caralho! -Berrou convencidamente, levantando seus braços para cima,
recebendo gritos e palmas em aprovação.
-Agora já deu no meu saco. -Resmungou para si mesmo, precisando passar em minha frente para
alcançar o loiro, agarrando em seu braço, antes mesmo de puxa-ló de cima da cadeira. -Senta aí e fecha
essa matraca!
-Eu nunca vou me calar, nunca! -Deidara se debatia, levando outro empurrão do moreno, o qual
forçou-o a se sentar novamente. -Isso não acabou por aqui, ouviu bem?!
-Briga mais com ele, Deidara. -Suigetsu incentivava-o atrás de mim, entretido com a discussão.
-Você não presta, Suigetsu. -Gaara o repreendeu, arrancando umas boas risadas suas, todas bem
maldosas. -Você sabe muito bem que o Deidara tem problemas pra controlar a raiva, e mesmo assim fica
colocando lenha na fogueira.
-Sim, eu sei mesmo. -Deu de ombros, observando o momento em que o loiro finalmente se acalmou,
batendo os pés irritado depois de receber uma ameaça de Obito, o qual dizia que lhe daria uma advertência.
-Olha ali, consola o namoradinho de vocês, gente.
Todos de nosso grupo caíram no silêncio, lembrando-se de como Deidara ficava furioso quando
faziam suposições sobre sua vida amorosa, mas principalmente, quando envolviam nós dois na conversa.
-O quê? Que cara é essa? -Suigetsu riu dos olhares ameaçadores que recebia do loiro, claramente
enraivecido com o comentário que escutou. -Tudo mundo já sabia que você era uma bicha, cara, só que
ninguém imaginava que você estaria em um relacionamento a três com esses idi—
Aquilo foi a gota da água.
Antes que pudesse terminar seu pequeno discurso, Suigetsu foi interrompido de modo violento e
inesperado. Sem nenhum aviso prévio, Deidara atirou-se na fileira de trás, mirando diretamente em cima de
si, na intenção de agredi-lo.
Com o susto que tomei, levantei-me juntamente com Gaara, grudando na parede ao meu lado, com
medo de ser atingido pelos dois. O loiro encontrava-se em cima de Suigetsu, desferindo socos em seu
rosto, e recebendo alguns em consequência.
A sala estava uma barulheira.
Todos esbravejavam, batendo palmas como se pedissem por mais, adorando presenciar aquela
discussão tão violenta.
-Já chega! -Obito foi rápido na hora de reagir, tirando o loiro com rapidez de cima do outro. Deidara
se debateu entre seus braços, mas acabou cedendo ao notar que havia ganhado a briga, deixando Suigetsu
estirado sobre o chão, bem mais fisicamente machucado. -Deidara você vai pra solitária! Suigetsu, você
também!
Olhei assustado para o ruivo, impressionado com sua calmaria diante da situação, assistindo a tudo
como se já estivesse habituado.
-Isso é injusto, esse filho da puta que começou! -Argumentou, tentando partir para cima de Suigetsu,
mas sendo parado outra vez.
Ambos os garotos estavam machucados, com seus rostos levemente ensanguentados, e lábios
cortados. Aquela era a primeira vez que presenciei uma briga tão feia, e tão de perto.
-Eu não quero saber! -Também era a primeira vez que vi Obito tão alterado. -Suigetsu, levanta! Você
também bem!
Mesmo que contra sua vontade, os dois foram obrigados a segui-lo, tendo seus braços seguradora
firmemente pelo carcereiro, um de cada lado.
-Eu vou sair, outro guarda vai vir ficar com vocês. -Anunciou sem muita paciência, antes mesmo de
deixar a sala.

68
-Meu Deus... -Murmurei, ainda desacreditado do que assisti. Eu sabia que o Deidara era briguento,
mas não imaginava que ele chegaria a esse ponto. -Eu não acredito que o Deidara foi mesmo pra solitária.
-Relaxa, isso é normal. -Gaara deu de ombros, bem menos tenso do que eu. -O foda mesmo é o
Suigetsu que já foi parar no isolamento pelo menos seis vezes só nesse mês. Acho que esse é o recorde
dele.
Arregalei os olhos.
-Seis vezes?
-Sim. -Riu baixo. -E olha que ainda é dia dez, nem na metade do mês nós estamos.
Uma memória bem repentina veio em minha mente, enquanto recordava-me do exato mês do ano
em que nos encontrávamos, especialmente ao ouvi-lo citar o dia.
-P-Pera, que dia é hoje? -Indaguei, sentindo meu estômago se embrulhar.
-Dez de julho. -Respondeu confuso. -Franguinho, você está pálido.
Um sentimento de angústia tomou conta de mim, deixando-me com um aperto inexplicável em meu
peito. Por um segundo, eu realmente achei que desabaria na frente do ruivo, segurando com todas as
minhas forças as lágrimas em meus olhos.
Era o aniversário da minha mãe.
-Naruto? Você está chorando? -Tocou em meu ombro, me fitando preocupado.
Mesmo que sem querer, acabei perdendo a noção do tempo dentro da prisão, esquecendo-me de
checar os calendários, e desse detalhe tão importante na minha vida.
Eu precisava urgentemente entrar em contato com a minha mãe.
-E-Eu preciso usar o telefone. -Olhei-o desesperado. -Aonde eu posso encontrar?
-Naruto, já é de noite, os telefonemas e as visitas só acontecem de manhã e—
-E-Eu preciso fazer uma ligação! -Exclamei, não conseguindo me conformar. -Você não entende, eu
preciso!
-Calma, fica tranquilo. -O ruivo se assustou com a minha mudança de humor tão repentina. -Você
pode tentar ir até a diretoria, fala com algum dos carcereiros, diz pra eles que é uma urgência. Isso é
urgente, né?
-S-Sim, é muito urgente. -Concordei, decidido de que utilizaria a sua ideia. -Obrigado, Gaara. Eu já
volto.
Sem esperar por uma resposta sua, sai atrapalhado para longe da sala, me culpando imensamente
por ter esquecido daquela data tão importante. Eu admito que, desde que cheguei, estava enrolando muito
para entrar em contato com a minha mãe, visto que não sabia com que cara falaria com ela.
Antes mesmo de eu ser preso, tive uma discussão pesada com Kushina, a qual se mostrou
completamente desapontada comigo, mesmo que eu tivesse deixado claro que, o que eu fiz, foi só um
acidente e nunca foi a minha intenção tirar a vida de um jovem de dezesseis anos.
Eu nem imaginava qual seria sua reação ao receber uma ligação minha.
Corri desesperadamente em direção a diretoria, querendo chegar o mais rápido possível, criando
diversos discursos em minha mente, pensando em uma maneira ideal de iniciar um diálogo com a minha
mãe.
No entanto, toda a pressa que eu sentia, simplesmente desapareceu.
Ao dar de cara com a porta da diretoria aberta, freei meus passos, arregalando meus olhos com a
presença de Kakashi, sentado da mesma maneira de sempre, de frente para seu computador, e com os pés
em cima da mesa.
Eu tive vontade de chorar.
Com a ausência de Danzou, era o platinado quem precisava tomar conta da diretoria. Ele era o
responsável por tudo, e infelizmente, para pedir por uma ligação, eu precisaria da sua autorização.
Aquilo estava fora de cogitação.

69
O trauma que eu sentia em relação ao que aconteceu, ainda não havia passado. A última coisa que
eu precisava naquele momento, era ficar a sós com o Kakashi, sabendo que ele poderia me pedir algo em
troca, aproveitando-se de meu momento de fragilidade para fazer igual da última vez.
A minha mãe era sim a minha prioridade, entretanto, eu tentaria achar outro modo de contatá-la sem
precisar pedir favores para o Kakashi. Honestamente, eu não estava pronto para falar com ele.
Com um suspiro chateado, tomei um rumo diferente daquele, indo à procura de outros carcereiros.
Na minha cabeça, se eu pedisse pela permissão de outros guardas para executar uma ligação, talvez eles
tomassem a iniciativa de me acompanhar por precaução, e assim eu não precisaria ficar sozinho com o
Kakashi, e nem correr o risco de passar pela mesma humilhante e traumatizante situação de antes.
Não custava tentar, afinal.
Passei meus olhos atentamente por cada corredor daquela penitenciária, enxergando-os totalmente
vazios, todos provavelmente enfurnados na sala de cinema. Em mais uma de minhas tentativas em
encontrar algum dos guardas, virei em um corredor desconhecido por mim, acabando por me deparar com
um deles.
Sorri aliviado com a presença de Obito, o qual caminhava tranquilamente para o final do corredor,
mas que por sinal, era a parte mais escura e silenciosa que eu já havia passado desde que cheguei na
penitenciária.

Ele estava acompanhado de dois outros detentos.


Primeiramente, imaginei que se tratassem de Deidara e Suigetsu, que provavelmente estariam sendo
levados para a solitária. No entanto, me surpreendi ao reconhecer Sasuke e Itachi.
Ambos os irmãos andavam acompanhados do carcereiro, conversando aos sussurros, de modo bem
sério, porém estranhamente íntimo. Tentei escutar com mais atenção, espiando por trás das paredes,
tentando ser o mais discreto possível.
Porém, como o grande desastrado que sou, eu acabei sendo descoberto.
-Naruto? -A voz rouca de Obito me fez gelar, notando-me pelo fato de eu ter raspado meu tênis no
chão, fazendo eco pelo local. -O que você está fazendo aqui?
Sai de trás da parede, achando que eu estava me escondendo, quando na verdade, aquilo só fez
com que eu parecesse um idiota e intrometido.
-E-Eu... -Tentei me explicar, intimidado com a presença de ambos os irmãos. Os dois me fuzilavam
com desconfiança, mas principalmente Itachi, fazendo questão de mostrar-se autoritário diante de mim.
-M-Me desculpe incomodar, senhor, mas eu preciso falar com você.
Com um semblante confuso, o guarda apenas assentiu com a cabeça, autorizando-me a prosseguir.
Andei timidamente para perto de si, olhando diretamente para meus pés, odiando precisar fazer contato
visual com os outros dois.
-E então? O que você quer? -Questionou distenso.
-H-Hm... E-Eu precisava fazer uma ligação. -Expliquei atrapalhado, olhando de modo rápido para
Sasuke, sabendo que o mesmo me observava por cima dos ombros de seu irmão.
-Os telefones só funcionam na parte da minha. -Explicou o que eu já sabia. -Espere até amanhã e
faça a ligação, agora eu preciso ir—
-N-Não! -Parei-o no meio do caminho, dando um susto até mesmo em mim, deixando Itachi
levemente irritado, e o Sasuke com certa curiosidade. -Q-Quero dizer... É urgente, eu preciso fazer hoje.
Com um suspiro cansado, Obito assentiu com a cabeça, fazendo um esforço para me entender, ou
então só tentando se livrar de mim o mais rápido possível.
-Vai até a diretoria, o Kakashi pode te ajudar com isso. -O moreno apontou para o final do corredor,
indicando o caminho que eu deveria seguir.
Eu comecei a me desesperar.
Ao vê-lo retornar a andar, sendo acompanhado somente por Itachi, visto que Sasuke ficou parado na
mesma posição, fitando-me pensativamente, eu me pus a chamá-lo novamente.
-E-Espera! -Exclamei, me encolhendo ao ouvir o Uchiha mais velho grunhir irritado, bastante
impaciente com a minha aparição.

70
-Dá o fora daqui, novato. -Itachi declarou ameaçadoramente.
-Pode deixar, eu cuido disso. -Obito olhou-o por breve segundos, me deixando confuso com aquela
intimidade entre eles. -Qual é o problema agora, Naruto?
-E-Eu não sei aonde é a diretoria. -Eu simplesmente falei a primeira coisa que veio na minha cabeça,
imaginando que dessa forma, o Obito poderia me acompanhar. -Preciso de ajuda pra encontrar.
Todos me olharam sem entender.
-Você não sabe aonde é a diretoria? -O carcereiro arqueou a sobrancelha, estranhando minha
declaração. A diretoria era o lugar mais óbvio de toda a penitenciária, definitivamente todos sabiam aonde
era localizava. Estava na cara que era mentira. -É sério isso?
-U-Uhum. -Assenti, olhando para o lado por não saber mentir, com medo de ser pego em minha
própria mentira. Pela cara que o Sasuke estava fazendo, claramente ciente de minha mentira, achei que ele
fosse arrumar um modo de me desmascarar na frente dos dois. -P-Por favor, vai ser super rápido, eu
prometo.
-Puta que o pariu. -Itachi resmungou sem paciência alguma, batendo seus pés repetidas vezes no
chão. Ele aparentava estar com pressa, mas pelo o que me parecia, eu estava os interrompendo. -Resolve
logo isso, Obito.
-Calma, espera. -Respondeu simplista, tirando um tempo para pensar. Notei-o olhar primeiramente
para mim, e logo sem seguida para Sasuke, parecendo ter tido alguma ideia. -Sasuke, você poderia fazer o
grande favor de mostrar aonde é a diretoria para o Naruto?
Aquela não era a resposta que eu esperava.
Com um olhar de superioridade, o Uchiha mais novo mediu-me de cima a baixo, trocando alguns
breves olhares com o seu irmão, o qual assentiu com a cabeça, parecendo autorizá-lo a concordar com a
ideia.
-‘Tá, tanto faz. -O moreno deu de ombro, suspirando silenciosamente ao passar por mim. -Vamos
logo, novato. Eu não tenho todo o tempo do mundo.
O Sasuke definitivamente não era a melhor companhia para isso, entretanto, era mil vezes melhor
tê-lo comigo, do que entrar em uma sala sozinho com o Kakashi. O medo que eu sentia dele, ainda era
grande de mais para ser colocado em palavras.
Na minha cabeça, pelo fato de o moreno ser um Uchiha, e pertencer ao grupo mais temido de toda a
prisão, isso poderia intimidar o platinado.
-A-Ah, certo. -Concordei, seguindo-o atrapalhadamente.
Saímos pelo mesmo corredor, ambos caminhando em silêncio, cada um preso em seus próprios
pensamentos, enquanto eu ficava mais à frente de si. Eu sentia com clareza seu olhar pesar sobre minhas
costas, fazendo com que eu me sentisse observado, e levemente pressionado também.
Eu sempre foi um péssimo mentiroso, nunca consegui disfarçar. O Sasuke com certeza estaria
suspeitando de alguma coisa.
-Naruto. -Chamou meu nome de repente.
-O-Oi? O quê? O que foi? -Respondi que nem um idiota, parando no meio do caminho, virando-me
assustado para trás.
-Você mentiu. -Declarou simplista, mantendo as mãos no bolso de seu uniforme.
-M-Menti? -Me fiz de desentendido, negando desesperado com a cabeça, parecendo mesmo um
culpado. -Menti sobre o quê?
-Você disse que não sabia aonde era a diretoria. -Explicou-se calmamente.
-M-Mas eu não sei aonde é. -Insisti, fazendo um esforço para não gaguejar em sua frente.
-Sim, você sabe. -Ao cruzar seus braços, utilizou somente o dedo indicador para apontar para trás,
sem mover nenhum músculo de sua face. -Você veio andando na minha frente o tempo todo, Naruto. Foi
você que me trouxe até aqui.
Após gastar cinco segundos com cara de idiota, assimilando a tudo silenciosamente, eu quase bati
em minha própria testa, inconformado com a minha falta de atenção. Eu havia me esquecido de fingir que
não sabia o caminho, e acabei fazendo o contrário, literalmente guiando o Sasuke até ela.
-E-Eu... Eu não—

71
Eu ia tentar me explicar, ou pelo menos achar uma desculpa boa o suficiente que não incluísse a
minha história com o Kakashi, e não precisasse contá-lo sobre as coisas que fui obrigado a fazer com o
platinado.
-Olha, tanto faz. -Me cortou, parecendo bem desinteressado com qualquer explicação que eu tivesse
para lhe dar. -Você já está aqui. Agora eu preciso ir embora.
-N-Não, por favor.
Eu não acreditei que estava mesmo implorando pela presença de Sasuke Uchiha.
De cenho franzido, o moreno mostrou-se confuso com o meu pedido, cruzando seus braços como se
esperasse que eu desse sequência ao que lhe diria.
-Q-Quero dizer... -Mordi meu lábio inferior, olhando constrangido para baixo. Precisar me submeter a
uma situação daquelas, implorar pela presença de alguém, somente para que não precisasse ficar a sós
com o Kakashi, era algo humilhante para mim. -V-Você pode entrar comigo, por favor?
Com um olhar duvidador, Sasuke me fitou pensativamente, dando uma checada rápida na diretoria,
tendo uma breve mudança de humor ao se deparar com Kakashi, levantando a sobrancelha como se
tivesse compreendido a situação.
De certo modo, eu tive uma leve impressão de que o moreno havia entendido o meu medo, mesmo
sem ter me feito nenhum questionamento.
-Tudo bem, mas seja breve. -Falou após um tempo, fazendo-me levantar a cabeça em surpresa.
-O-Oh, certo. -Assenti, ainda surpreso por ele ter topado. -H-Hm, será que você poderia ir na frente,
por favor?
Suspirando tedioso, o Uchiha passou por mim sem dar reposta alguma, ficando em minha frente
exatamente do modo como eu desejada. Andei desajeitado atrás de si, aproveitando nossa diferença de
altura para me esconder atrás de seus costas, aliviado por não ser o primeiro a adentrar a sala.
Para minha surpresa, Sasuke foi educado o suficiente para bater na porta, e mesmo que estivesse
aberta, posicionou-se no batente da mesma, talvez esperando por uma autorização. Eu admito que estava
começando a achá-lo diferente de seu irmão.
-Oh... Olá, Sasuke. -Ainda por trás de suas costas, escutei o platinado a se comunicar com si,
carregando uma entonação mais grave, e talvez até sexy. Eu estranhei. -O que eu posso fazer por você,
querido?
Fiz uma careta de aversão por conta do apelido, estranhando toda aquela “intimidade”, mas sem ter
tempo para pensar, visto que no momento seguinte, Sasuke já estava indo para o lado, expondo-me para
Kakashi.
Quando meus olhos foram de encontro aos do platinado, todo o sentimento de medo que eu possuía,
pareceu se duplicar. Eu não me sentia preparado o suficiente para interagir com ele, nem que fosse apenas
no quesito “profissional”.
-Olha só, você também veio. -Tirou os pés de cima da mesa, alternando seu olhar entre mim e o
moreno, aparentemente animado com a nossa presença. -Eu não sabia que vocês eram amigos.
-Nós não somos amigos. -Sasuke respondeu secamente, olhando impaciente para mim. -Fala logo o
que você quer, novato, eu tenho coisa melhor pra fazer.
Assenti submissamente, querendo acelerar as coisas tanto quanto ele, mas não sabendo lidar com o
medo que eu sentia. Kakashi me fitava da mesma maneira que fez em meio ao jogo de basquete, sorrindo
perversamente para mim, fazendo questão de mostrar-me que se lembrava do que fez comigo.
Tremeliquei meus lábios em meio a uma frase, travando na hora de falar. As palavras simplesmente
não saiam de minha boca.
Observei, mesmo que de canto de olho, Sasuke virar sua cabeça minimamente para o lado, confuso
com o meu silêncio. Kakashi, por outro lado, pareceu sorrir ainda mais, divertindo-se com minha situação.
-E então, Naruto? -Fez uma falsa cara de inocência, girando em sua cadeira de rodinhas. -No que eu
posso te ajudar?
Entreabri minha boca, mas mais uma vez, nada saiu. Eu me sentia vulnerável em frente a ele,
mesmo na companhia de Sasuke.
-E-Eu... Eu gostaria de fazer uma ligação. -Mexi em minhas mãos nervosamente, assustado com o
quanto minha voz estava falha. -É urgente.

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Com uma risada desdenhosa, o platinado negou com a cabeça, parecendo desaprovar o meu
pedido.
-Nada disso. As ligações só são autorizadas na parte da manhã.
O mesmo desespero de antes voltou a me invadir, recordando-me de que o dia estava prestes a
chegar ao fim. Eu teria pouco tempo para dar os parabéns para minha mãe.
-P-Por favor, é que é muito importante. -Era muito aviltante implorar daquela maneira, especialmente
para o Kakashi. -É aniversário da minha mãe e—
-Oh, é aniversário da sua mamãe, é? -Debochou, fazendo uma espécie de biquinho em seus lábios,
deixando-me encolhido com o comentário.
-U-Uhum. -Olhei de modo rápido e magoado para Sasuke, o qual aparentava estar atento em nossa
conversa, olhando seriamente para o platinado.
-Eu não ligo. -Inclinou-se sobre a mesa, logo antes de sorrir maldoso para mim. -Você deveria ter
pensado nisso mais cedo.
Mordi meu lábio apreensivamente, sentindo que poderia começar a chorar a qualquer instante. Aquilo
era muito importante para mim, especialmente pelo fato de eu estar sem falar com a minha mãe. Talvez
esse telefonema pudesse nos unir novamente.
-E-Eu estou te implorando. -Era humilhante agir dessa forma. Eu odiava o fato de ser tão emotivo ao
ponto de não conseguir conter minhas lágrimas na frente dos dois. -V-Vai ser rápido, eu prometo!
-Eu já disse que não. -Negou com a cabeça, contendo um sorriso. Ele poderia sim fazer um esforço
para me ajudar, mas estava fazendo aquilo de propósito. Talvez ele quisesse me ver sofrer. -Espera até
amanhã, e vê se da próxima vez você—
-Kakashi. -A voz de Sasuke se fez presente, assustando-me com sua participação tão repentina. -Eu
tenho certeza que você pode ceder cinco minutos do seu tempo para autorizar a ligação do novato, não é
mesmo?
Olhei-o de modo surpreendido, não sabendo se prestava atenção em si, ou na reação vinda de
Kakashi. Ambos se encaravam em silêncio, trocando sorrisinhos fingidos, deixando o clima levemente
pesado.
-E o que te faz pensar que eu cederia o meu tempo pra ajudar um pivete desses, Sasuke? -Devolveu
a pergunta, inclinando-se sobre a mesa.
-Ah, você vai ajudar. -O moreno não se deixou intimidar, tomando a chocante iniciativa de
aproximar-se da mesa, sentando-se na ponta da mesma. -A não ser que você queria que todos fiquem
sabendo do que você gosta de fazer nas horas vagas.
O platinado riu debochado.
-E o que eu gosto de fazer nas horas vagas?
-Ora, eu não sei... -O Uchiha fingiu estar pensando, olhando para o teto. -Assediar os detentos, por
exemplo?
Meu queixo foi ao chão.
Kakashi, antes repleto de autoridade e de seus sorrisos desdenhosos, calou-se automaticamente,
dando espaço para uma carranca em seu rosto.
Olhei assustado para o moreno, abraçando meu próprio corpo com o receio que sentia de tê-lo me
“defendendo”. Talvez o Kakashi pudesse se virar contra mim mais tarde.
-Você tem cinco minutos, Naruto. -O carcereiro declarou sem me dar as caras, falando comigo
enquanto trocava olhares com o Uchiha.
-C-Certo. -Decidi não me envolver no pequeno “momento” dos dois, decidido de que pensaria nisso
mais tarde. Naquele momento, eu precisava me concentrar na minha mãe.
Disquei o número atrapalhadamente, virando de costas para os dois homens, pensando que dessa
maneira teria um pouco de “privacidade”. A ligação chamou por volta de dez segundos, fazendo meu
coração disparar quando foi completada.
-Alô? -Era a voz da minha mãe.
Meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas.

73
-M-Mamãe? -Chamei por ela, fechando meus olhos com força. -S-Sou eu o Naruto.
A linha ficou muda durante um tempo.
-Meu filho... -Sua voz ficou embargada, fazendo-me apertar o telefone entre minhas mãos. -Eu estou
com muita saudades de você, Naruto.
-E-Eu também estou. -Não dei mais pra me segurar. Chorei baixinho com a saudades que sentia
dela, ciente de que Sasuke estava a me assistir, assim como o Kakashi. -F-Feliz aniversário, mamãe, eu te
amo.
-Eu também te amo. -Soluçou, contagiando-me no mesmo segundo. Tapei minha própria boca,
tremendo meu corpo inteiro. -Desculpa não ter ido te visitar, você sabe como as coisas andam difíceis.
Assenti, mesmo que ela não pudesse ver. Quando ele diz “coisas difíceis”, sei que ela está de
referindo a sua doença cardíaca, além de estar morando a favor na casa de uma amiga de infância.
-Não tem problema nenhum. -Tranquilizei-a. -E-Eu que tenho que te pedir desculpas por toda a dor
que eu te causei, mamãe, eu sei que sou uma pessoa horrível.
-Não, querido. -Respondeu, e mesmo sem lhe ver, sabia que ela estaria negando com a cabeça.
-Não fale assim, tá bom? Você não é nada disso, e agora eu exergo com clareza. Você nunca quis fazer mal
a ninguém, meu amor.
Levei a mão ao peito, fechando meus olhos com força, prendendo um soluço na dobra de meus
braços. Olhei discretamente para trás, enxergando com clareza toda a atenção de Sasuke depositava em
mim, mas em especial, na conversa que eu mantinha com minha mãe.
-Mamãe, eu preciso ir. -Anunciei, sentindo-me observado. -E-Eu te ligo depois, okay?
-Tudo bem, filho. -Concordou. -Até a próxima.
-T-Tchau. -Doeu precisar desligar, mas mesmo assim, voltei o telefone ao gancho.
Sequei minhas lágrimas rapidamente, baixando minha cabeça chateado, prendendo um pequeno
bico em meus lábios, só esperando que o Sasuke tomasse a iniciativa de deixar a sala para que eu o
seguisse também.
-O-Obrigado. -Agradeci ao Kakashi, mesmo nem tendo motivo.
Sem dizer absolutamente nada, o Uchiha virou suas costas, lançando uma última encarada
autoritária em direção ao platinado, enquanto eu seguia-o para fora dali.
Quando nos afastamos o suficiente, Sasuke virou-se minimamente para mim, continuando a andar.
-Para de chorar, Naruto. -Seu tom impaciente demonstrava o incomodo que eu estava causando em
si com todos os meus soluços baixinhos. -Não seja um bebê.
Senti minha bochecha esquentar pelo apelido “maldoso”, mas mesmo assim não disse nada. A
tristeza e emoção que eu sentia era maior que tudo.
-D-Desculpa. -Sussurrei.
-Posso ir agora? -Indagou com deboche, arqueando uma sobrancelha.
-P-Pode sim. -Assenti, mesmo que ele nem precisasse de minha autorização. -M-Muito obrigado por
me ajudar com o Kakashi, Sasuke.
-Eu não ajudei você. -Respondeu simplista. -Aquele safado precisava de uns cortes, eu só aproveitei
o momento para isso.
Assenti tímido, ciente de que Sasuke também sabia sobre o caráter de Kakashi. Talvez vários
detentos soubesses sobre ele, e até já tenham passado pelas suas mãos.
-De qualquer forma, obrigado. -Reforcei, brincando com os meus dedos envergonhadamente.
-Tá. -Ele sempre precisava ser seco. -Eu já vou indo. Te vejo por aí.
Levantei minha cabeça confuso, somente concordando em reposta. Eu não sabia o que o “te vejo por
aí” significava, mas por algum razão, tive certeza de que não seria a última vez em que conversaríamos
dessa forma.

74
Capítulo 8 - Cabo de guerra

Naruto On

Ajoelhado em meio ao chão do banheiro, meus braços trabalhavam com habilidade, esfregando o
pano por cada mínima sujeira presente no piso a minha volta.
Com minha calça dobrada na altura do joelho, eu deslizava com facilidade pelo chão, divertindo-me
solitariamente com toda aquela espuma branquinha e cheirosa que me rodeava, brincando de assopra-lá
em minhas mãos, usando isso como uma espécie de distração.
Em meio a uma pequena risada minha, sequei algumas gotículas de suor presentes em minha testa,
satisfeito com o resultado da limpeza. O banheiro estava brilhando, bem diferente de como se encontrava
logo antes de eu limpa-lo.
Pelo menos nisso eu era bom.
Desde muito pequeno, fui acostumando em ajudar nas tarefas de casa, visto que minha família nunca
possuiu condições financeiras para pagar faxineiros, além de minha mãe não ter saúde o suficiente para
isso, e pelo fato de meu pai ser um folgado.
Eu sempre soube como limpar, secar, lavar e manter o ambiente longe de bagunça.
Com um suspiro cansado, olhei distraidamente em direção a janela, assustando-me com a claridade
presente do lado de fora, aonde raios solares ultrapassagem as grades de metal, deixando o ambiente
naturalmente iluminado.
Não tinha mais necessidade de utilizar o interruptor do banheiro.
Aquela era a primeira vez, desde que comecei a trabalhar limpando os sanitários, que havia uma
mudança no horário de meu turno.
No dia anterior, logo quando retornei a cela após o chamado da sirene, esperei pacientemente para
que Obito viesse me buscar, como o habitual de todas as noites.
Estranhamente, ele não apareceu.
Após horas de espera, o carcereiro veio me ver no finalzinho da madrugada, afirmando que havia
perdido a noção do tempo, quando na verdade, eu tinha quase certeza de que Sasuke e Itachi tinham
alguma coisa a ver com isso.
Confesso que comecei a reparar nos três, especialmente após o pequeno “flagra” que tomei ao
espiona-lós no corredor da última vez, achando-os muito íntimos para o meu gosto. Talvez fosse apenas
algo de minha cabeça, mas honestamente, eu achei melhor não me envolver, e muito menos sair
perguntando sobre eles por aí.
Quando se está preso, você aprende na marra a manter sua boca fechada e nunca se meter aonde
não é chamado. Aqui dentro nada é da minha conta, e ponto final.
Sacudi minha cabeça, convicto de que voltaria a me concentrar no serviço, arrastando-me de quatro
pelo chão, limpando algumas manchas brancas próximas da porta de entrada, mas que sinceramente, eu
não possuía curiosidade para saber o que eram.
Talvez pelo fato de estar focado em limpa-las, me assustei ao me deparar com um par te tênis,
pisando na metade da entrada. Levantei meu pescoço assustado, dando de cara com Deidara, o qual se
encontrava acompanhado de Obito e Suigetsu.
Me arrastei desajeitadamente para o lado, acabando por molhar toda a minha calça, dando
passagem para que os garotos entrassem, entretanto, todos permanceram imóveis, olhando
silenciosamente em minha direção.
Eu não conseguia acreditar que estava realmente na presença do loiro, visto que não o via à
aproximadamente três ou quatro dias. Desde que Deidara foi mandando para o isolamento, venho
esperando-o voltar, desacostumando com a cela tão vazia, além de eu ter ficado bem mais vulnerável sem
ele junto com o nosso grupo.
Os detentos voltaram a mexer comigo em sua ausência.
-Já terminou, Naruto? -Obito indagou pacificamente, atento aos dois garotos em sua frente. Ambos
possuíam uma aparência preocupante, com seus cabelos desgrenhados, sujos e levemente pálidos. No
entanto, Deidara aparentava estar pior. -Esses dois precisam tomar banho, tem problema pra você?

75
-Eu estou quase terminando. -Declarei, tomando a liberdade de sorrir em direção ao loiro,
estranhamente feliz por tê-lo de volta, apesar de não ter sido correspondido. -Mas eles podem usar os
chuveiros, não tem problema nenhum.
-Ótimo. -O moreno ficou satisfeito. -Vão pro banho, eu venho buscar vocês daqui vinte minutos. Se
eu souber de brigas, vocês voltam direto para o isolamento, estamos entendidos?
Foi Suigetsu quem assentiu, enquanto o outro não demonstrou nenhum tipo de reação, parecendo
bem amargurado com a quantidade de tempo que passou preso, ou então cansado demais para dizer
qualquer coisa.
-Qualquer coisa me chama. -Ele dirigiu-se a mim, recebendo um aceno meu em resposta.
Quando o carcereiro deu as costas, ambos os garotos se entreolharam em silêncio, trocando olhares
raivosos, embora não tivessem feito absolutamente nada um com o outro.
No fundo, nenhum deles queria voltar para a solitária.
Suigetsu foi o primeiro a adentrar o banheiro, pisando com o tênis sujo por todo o chão já
devidamente limpo, causando-me um desgosto inexplicável por precisar ver todo o meu trabalho indo pelo
ralo.
Deidara, por outro lado, após notar o meu aborrecimento em relação a sujeira, suspirou esgotado na
hora de retirar seu tênis, sendo bem mais respeitoso do que o outro, passando por mim sem dizer nada.
Fiquei a observá-los retirarem suas roupas, posicionando-se em chuveiros do lado oposto um do
outro, para que assim não corressem o risco de se desentenderem novamente.
Decidi dá-los um pouco de privacidade, tomando a iniciativa de limpar o resto das portas, tanto a
principal, quanto às das cabines, orgulhoso de mim mesmo por todo o esforço que coloquei em minha
tarefa, mesmo que nem fosse grande coisa.
Aproveitei também para passar um pano na sujeira que Suigetsu causou, vendo de canto de olho o
momento em Deidara finalizou seu banho, desligando o registro, antes mesmo de amarrar uma toalha em
sua cintura, andando lentamente em direção a suas roupas.
Sinceramente, eu nunca havia o visto tão quieto.
Ao sentar-se no banco, o loiro começou a se trocar, colocando primeiramente suas calças,
aparentando estar cansado, ou até mesmo enfraquecido. Logo em seguida, quando decidiu se levantar para
ir de encontro a sua blusa, a qual se encontrava pendurava no chuveiro, acabou se desequilibrando, caindo
de bunda no chão.
Foi nesse exato momento que eu soube o quanto ele estava fraco.
Suigetsu gargalhou alto e exagerado por ter presenciado o tombo. Eu, por outro lado, não pensei
muito na hora de me aproximar, disposto a oferecê-lo minha ajuda.
-‘Tá tudo bem? -Questionei ao parar de frente para si, estendendo minha mão para ajudá-lo a
levantar.
-Sim. -Respondeu seco, desprezando a minha ajuda, fazendo um esforço para levantar-se sozinho,
olhando mortalmente para o outro. -Qual é a graça, filho da puta? Por acaso eu não te bati o bastante?
-Vai se foder. -Respondeu ríspido, lançando-o o dedo do meio, ao mesmo tempo em que retirava o
resto do xampu de seu cabelo.
-Eu acho que você precisa comer. -Dei o meu palpite, falando o que achei que o ajudaria. Fiquei a
assisti-lo recolocar sua camiseta, amarrando seu cabelo em um coque. -A quanto tempo você não come,
Deidara?
-A quanto tempo eu estou na solitária? -Indagou tedioso.
-A três dias.
-Então eu não como a três dias. -Respondeu grosso.
Eu suspirei assustado.
Três dias era tempo demais para ficar sem se alimentar, eram setenta e duas horas sem comer
absolutamente nada.
-E-Eles não te dão comida na solitária? -Perguntei de modo inocente, já imaginando o pior. Se aquilo
fosse verdade, os castigos da penitenciária poderiam ser considerados mesmo pesados.

76
Apesar de não estar incluído em nossa conversa, Suigetsu decidiu se intrometer, fazendo questão de
rir da nossa cara.
-Você é bem burro, loirinho. -Falou diretamente comigo, olhando-me com pena. -É claro que eles dão
comida, mas acontece que a bichinha aí prefere passar fome, porque tem nojo de comer os restos que
jogam pra gente.
Já era de se esperar que Deidara cederia as suas provocações, dando sinal de que avançaria para
cima dele uma outra vez, mesmo tendo acabado de sair da solitária, e estando naquele estado.
Ele realmente tinha problemas para controlar a raiva, aquilo era óbvio. No entanto, pelo fato de eu
estar presenciando o momento, me senti na obrigação de pará-lo.
-N-Não! -Foi na base do impulso que me coloquei em sua frente, levantando minhas duas mãos num
pedido para que ele fosse para trás. O loiro me fitou extremamente irritado, odiando ter sido parado por
mim.
-Sai da minha frente, caralho! -Ele até tentou gritar, mas sua voz também estava falhando. Com um
passo violento, tentou me ultrapassar, mas foi parado por mim mais uma vez por mim. -O que é isso?!
Quem você pensa que é pra me segurar assim, seu franguinho de merda!
Me encolhi com o comentário maldoso, mas dessa vez, eu não deixei isso me atingir, convicto de que
faria algo para impedi-lo de cometer o mesmo erro pela segunda vez. Se o loiro pisasse na bola, voltaria
novamente para o isolamento. Ele não poderia continuar desnutrido e desidratado.
Querendo ou não, eu estava começando a me importar com ele.
-N-Não faz isso, por favor. -Olhei-o desesperado, não me importando com os olhares raivosos que
recebia. -E-Eu não quero que você volte pra solitária, vai por mim, arrumar outra briga só vai te deixar pior.
Olha só pra você, está desidratado!
O banheiro caiu no silêncio.
Notei os olhos do loiro se fecharem, puxando seu pulso para longe de meu aperto, parecendo estar
fazendo uma espécie de contagem mental para se acalmar, tentando controlar sua raiva.
Suspirei aliviado, especialmente ao vê-lo lançar um último olhar mortal em direção ao Suigetsu,
sentando-se novamente no banco, apertando suas têmporas de modo esgotado.
Confesso que me orgulhei de mim mesmo por ter conseguido controlar a situação. Sem mim, talvez
ele tivesse estragado tudo.
-V-Você está bem? -Indaguei mais uma vez, preocupado ao vê-lo tombar sua cabeça para frente.
-Sim, eu só preciso comer. -Respondeu rude, bufando ao olhar pra mim. -Para de me olhar com essa
cara de pena, caralho. Se você continuar com isso, eu juro que afundo seu rosto na privada.
-D-Desculpa. -Dei um passo para trás.
O loiro rolou os olhos, fazendo esforço para se levantar, ignorando os olhares provocativos que
recebia de Suigetsu, o qual ainda fazia questão de arrumar briga, especialmente por vê-lo tão fraco.
-Cheguei. -Obito anunciou sua entrada, batendo palmas para chamar a nossa atenção. -Ótimo, vocês
já estão prontos. Vamos direto para o refeitório, agora é hora do café, vocês podem ser os primeiros a
pegarem as bandejas.
-Oba, que alegria. -O loiro ironizou, arrastando-se em direção a porta, quase caindo para o lado mais
uma vez. -Eu estou louco pra comer aquela gororoba nojenta.
-O azar é de vocês. -Suigetsu passou por nós de modo sorridente. -Eu vou comer do bom e do
melhor, como sempre.
Deidara espremeu seus olhos em direção ao outro, mas somente com um olhar de reprovação vindo
do Obito, pareceu se conter, bufando irritado.
Andamos os quatro para fora do sanitário, Suigetsu o e Obito um pouco mais à frente, enquanto eu
decidi acompanhar o ritmo do loiro, o qual andava levemente dobrado, precisando se apoiar nas paredes ao
nosso redor.
-H-Hm... Você precisa de ajuda? -Questionei com medo, já encolhendo meus ombros, esperando por
uma resposta agressiva e escandalosa.

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-Vai se foder, franguinho! -Gritou para cima de mim, perdendo seu equilíbrio novamente, batendo no
cimento ao seu lado. Com um suspiro dolorido, ele murmurou para que somente eu o escutasse. -Eu não
preciso da sua ajuda...
Suspirei silenciosamente, dando uma rápida checada no final do corredor, encontrando-o vazio. Os
outros dois homens já haviam sumido, e numa hora dessas, provavelmente estariam distante de nós.
-N-Não tem ninguém olhando. -Declarei baixinho, imaginando que o fato dele recusar minha ajuda,
era porque sempre foi muito orgulhoso. -Eu só vou te ajudar a ir até o refeitório.
Bufando impaciente, o loiro deu uma outra checada no corredor, assim como eu fiz anteriormente.
-Tá. -Respondeu seco, permitindo que eu me aproximasse. -Mas se você contar isso pra alguém, eu
te mato! Ouviu bem, caralho?!
-S-Sim. -Assenti medrosamente, ajudando-o a se desencostar da parede, passando seu braço ao
redor de meu ombro. Ele estava mesmo bem mais magro e fraco.
-Você está fedendo. -Declarou enfezado, cheirando-me com uma careta de nojo. Eu fiquei levemente
sem graça com o comentário.
-O-Oh, desculpa. -Senti meu rosto esquentar, enquanto ambos retornávamos a andar. -É que eu não
tomo banho desde que você foi pra solitária.
Ele arqueou a sobrancelha.
-E por que isso?
-B-Bem... -Era estranho dizer uma coisa dessas em voz alta. -É que sem você por perto fica difícil de
tomar banho em paz, entende?
-Meu Deus, era só o que faltava. -Riu irônico. -Agora você vai ficar dependendo de mim pra tomar
banho, é isso?
-É...? -Respondi envergonhado, recebendo um olhar de reprovação.
-Você é mesmo um tapado. -Murmurou, arrancando um sorriso mínimo de minha parte.
Era bom ver que estávamos progredindo em nosso relacionamento.
•••
A manhã passou voando, especialmente a hora do café da manhã, visto que ficamos todos da mesa
a observarem o desespero de Deidara na hora de se alimentar, comendo com gosto a tão odiada “gororoba”
que ele sempre falou mal.
A hora do banho, no entanto, foi algo bem demorado para mim. As partes ruins de meu dia são
sempre as que passam mais devagar. Os assédios verbais haviam parado, até porque, era o loiro quem me
acompanhava juntamente com Gaara, entretanto, continuava sendo bem desconfortável de lidar com tantos
olhares maliciosos.
Porém, assim como o ruivo já havia me dito anteriormente, uma hora ou outra eu precisaria me
acostumar com essa realidade.
-Que alegria! -Deidara soltou um suspiro de alívio, levantando as mãos para o alto logo que saímos
no pátio, contente por finalmente poder sentir a luz solar.
-Nossa, como está vazio. -Gaara comentou comigo, referindo-se a quantidade de pessoas que
circulavam o pátio. Depois que a diretoria proibiu os jogos de basquete por conta do incidente anterior, os
detentos perderam um pouco do interesse em ficar ao ar livre. -Ué, não era você que estava cansado,
Deidara?
Olhei para minha frente, me surpreendendo ao deparar-me com a cena do loiro dando uma estrela
no chão, num ato extremamente aleatório, mas que chamou a atenção de algumas pessoas ao nosso redor.
Ele definitivamente estava mais disposto do que de manhã, aparentando estar mais saudável
também. O café da manhã (mesmo que ruim), fora o banho que tomou, realmente fizeram um efeito bom
para ele.
-Correção, eu estava cansado. -Murmurou, limpando as mãos uma na outra. -Eu precisava me
alongar, fiquei muito tempo parado.
-Eu não sabia que você conseguia dar estrela, aonde você aprendeu? -O ruivo indagou curioso.

78
-Aprendi com a vida. -Deu de ombros, fazendo uma espécie de alongamento. -Eu sei fazer outras
coisas também.
-Tipo o quê?
-Ah, eu sei dar aquelas cambalhotas pra trás, sabe? -Devolveu a pergunta, zangando-se quando ele
negou com a cabeça. -Meu Deus do céu, você não sabe o que é dar um mortal para trás?
-Não. -Fez uma careta.
-Deixa que eu demonstro então. -Falou num tom de exibição, gesticulando para que nos
afastássemos. Os meninos de nosso grupo foram para trás, enquanto Deidara executava o tal movimento
em nossa frente, caindo perfeitamente de pé.
Alguns detentos ao nosso redor começaram a aplaudir, assim como nós, enquanto o loiro fingia fazer
uma referência em agradecimento.
-Me ensina?! -Gaara se impressionou com facilidade, chacoalhando os meus ombros. -Você viu isso,
franguinho?
-Sim. -Ri fraco, baixando minha cabeça ao me recordar de um pequeno detalhe. -E-Eu costumava
fazer aulas de ginástica quando era menor.
-Você ‘tá brincando?! -Ele ficou empolgado. -Então você também sabe fazer essas coisas malucas
aí?
Ri levemente com o termo utilizado por ele. “Coisas malucas” era engraçado para mim, visto que fui
acostumado a fazê-las desde os meus oito anos.
-Sei, mas só algumas. -Declarei em um tom baixo, torcendo para que ninguém pedisse que eu
demonstrasse.
-Deixa eu ver! -Foi Gaara quem exclamou, enquanto Deidara repetia a mesma frase, só que em um
tom bem mais tedioso, parecendo duvidar de mim.
-A-Ah, não... -Neguei com a cabeça, envergonhado com todos que me rodeavam, pedindo para que
eu demonstrasse o movimento, assim como loiro. -Faz tanto tempo que eu não faço e—
-Ah, nem vem! -Ele me cortou. -Vai logo, Naruto, é só fazer.
Fiquei desconfortável com tantos pares de olhos atentos caindo sobre mim, e especialmente porque
todos esperavam algo grandioso. Eu tinha medo de ter perdido a prática.
-T-Tá bom, vai. -Cedi, arrancando barulhos comemorativos dos meninos. -Mas eu estou bem
enferrujado, só para avisar mesmo.
Afastei-me assim como o loiro, escolhendo um movimento aleatório que eu costumava fazer em
minhas aulas, torcendo para que ainda soubesse como colocá-lo em prática.
Ainda envergonhado, dei uma pequena corrida como impulso, lançando meu corpo para frente,
executando o mesmo movimento que Deidara, só que dando duas cambalhotas seguidas.
Quando cai de pé, mesmo que bastante bambo, senti-me orgulho por ainda conseguir fazer coisas
como aquela, passando a escutar palmas e assobios dos meninos. Até mesmo Deidara parecia “contente”
pelo fato de eu ser levemente talentoso em alguma coisa, e não um desastre em basicamente tudo o que eu
faço.
-Olha aí se não é o grupo de fracassamos que eu mais amo.
Me virei na base do susto, sentindo meu coração falhar uma batida com a presença de Suigetsu, o
qual vinha acompanhado do resto de seu grupo, incluindo Sasuke e Itachi.
Todos mantinham-se estranhamente atentos em mim, provavelmente por terem me visto dar um
mortal para frente. Afinal, não era nada comum sair saltitando por aí, e muito menos dando cambalhotas
dentro de uma prisão.
Corei levemente com a atenção que recebia, decidindo voltar para perto de meu próprio grupo. Assim
que me coloquei atrás de Deidara, levantei meu pescoço à procura de Sasuke, deparando-me com seus
olhos negros a me fitarem intensamente.
Ele já estava me olhando de volta.
-Que pático. -Itachi soltou um riso maldoso e arrepiante, espremendo seus olhos em minha direção.
-Vejo que já ensinou o novato a ser um exibido igualzinho a você, não é, Deidara?

79
Tensionei meus ombros, abraçando meu corpo de modo automático, assim como todas às vezes em
que me sentia exposto e vulnerável.
-Vai tomar no seu cu! -O loiro deu sinal de que avançaria para cima do moreno, perdendo todo o seu
controle. No entanto, os meninos de nosso grupo controlaram a situação, segurando-o firmemente. -O único
exibido aqui é você, caralho!
-Eu adoro quando você usa palavras bonitas comigo. -Respondeu na base da ironia, sorrindo
divertido com a situação, parecendo gostar de ver Deidara chegar ao seu limite, debatendo-se aos braços
de seus amigos para ir pra cima de si. -Pode soltar, gente, quero ver se ele aguenta cinco minutos.
Arregalei meus olhos assustado, reparando na pequena plateia se formando ao nosso redor, todos
curiosos com a pequena discussão que se instalava entre nossos grupos. Mesmo que em meio à confusão,
Sasuke continuava imóvel, sempre mantendo-se neutro, olhando para a cena por cima dos ombros de seu
irmão.
-Eu vou te matar, filho da puta! -Sua força era tanta, que estava quase conseguindo se soltar dos
quatro meninos. -Me solta, porra!
-Já chega! -Era o Obito quem chegava para salvar a pátria, assim como sempre fazia,
posicionando-se na frente do loiro. -Você acabou de sair da solitária, Deidara, por favor se controle.
-Vai se foder! -Berrou, totalmente movido pela raiva.
Dei mais alguns passos para trás, querendo ficar o mais longe possível daquela discussão. Talvez eu
fosse um pouco igual ao Sasuke, que nunca quer fazer parte de nada, e muito menos se envolver em
situações como aquela.
-Chega, todo mundo. -O carcereiro havia arrumado um modo de acalma-ló, embora nosso grupo não
tivesse o soltado por precaução. -Vamos mudar o foco, sim?
-Foco? -Suigetsu riu sarcástico. -O que você sugere que a gente faça nesse tédio do caralho? Depois
que removeram os esportes por causa desse novato imbecil, ninguém tem mais o que fazer aqui dentro!
Encolhi meus ombros, baixando minha cabeça pelo comentário. O cancelamento dos esportes se
deu por conta da bolada que eu tomei, e todos já estavam sabendo disso.
-E é por isso mesmo que a diretoria sugeriu novas atividades. -Obito explicou com tédio, suspirando
aliviado ao ver que a confusão anterior já havia se amansado. -Por enquanto vocês não estão autorizados a
jogarem basquete, mas outros jogos estão disponíveis.
-Que jogos? -Indagou, cruzando os braços na altura do peito.
Notei o Uchiha mais velho se irritar com a atitude de Suigetsu, odiando vê-lo tão “autoritário”,
achando que tinha algum tipo de moral para andar na frente do grupo, e tomar a dianteira na hora de falar
por todos eles.
-Venham comigo. -O guarda meneou com a cabeça, chamando não só o grupo de Itachi, como
também o nosso. Eu pensei que Deidara fosse negar a proposta, mas pela raiva que ele sentia, foi sem
pensar duas vezes. -Estão todos vendo essa corda aqui?
Foi uma pergunta meio retórica, visto que a corda era gigantesca, e literalmente atravessava a
metade do pátio. Todos se posicionaram ao redor dela, esperando por explicações.
-O que tem ela? -O loiro indagou, bem mais controlado do que antes, embora ainda possuísse uma
pontada de irritação.
-Já ouviram falar em “cabo de guerra”? -Questionou simplista, recebendo acenos de cabeça em
resposta, todos cientes de onde aquilo daria.
Obviamente, todos ali em algum momento de suas vidas já brincaram de cabo de guerra, ou pelo
menos já ouviram falar sobre o jogo.
-Para quem não sabe, o cabo de guerra é uma atividade esportiva aonde duas equipes competem
entre si, se baseando em força e musculação para puxar a corda. -O moreno andou até o meio do pátio,
pisando em cima de um risco preto e chamativo. -Aqui é o limite. A equipe que conseguir puxar todos os
adversários para o outro lado da linha, vence o jogo. Alguma dúvida?
Todos permanceram em silêncio.
Aquilo foi muito repentino, em minha opinião. Eu não estava preparado para ser incluído em um cabo
de guerra, e muito menos competir com os criminosos mais temidos da prisão.
Eu torcia internamente para que Deidara não topasse entrar na atividade.

80
-Nós estamos dentro. -Itachi sorriu convencido, levantando uma sobrancelha em direção ao loiro,
como se dessa maneira esperasse por uma reposta sua.
-Nós também. -Deidara respondeu, mas sem pedir por nossa opinião.
-Ótimo. -Obito retirou-se do meio. -Usem esse jogo para descontar suas raivas e frustrações, e não
um no outro, sim? Eu acho que isso vai ajudar vocês.
-Que seja, nós vamos acabar com eles! -Suigetsu sorria maldoso.
Eu comecei a ficar ansioso e com medo.
-Deidara, por que você concordou, cara? -Kiba foi o primeiro a se pronunciar após sua terrível
decisão de se juntar aos Uchiha. -Eles vão acabar com a gente.
-É mesmo. -Neji murmurou, olhando com atenção para o perfil de todos os nossos adversários. -Eles
são claramente mais fortes que a gente.
-Olha, eu sei, tá bom? -O loiro estalou a língua no céu da boca, olhando diretamente para mim. -Eu
não sou bobo e nem cego, é óbvio que a gente não vai ganhar se baseando na força. Com o Naruto no
nosso time então, a derrota é certa.
Eu acho que estava tão acostumado em ser humilhado e xingado ali dentro, que esse pequeno
comentário acabou sem me atingindo. Aquilo era realmente a verdade, afinal.
Eu era claramente o mais fraco do grupo.
-Então por que você meteu a gente nessa? -Gaara questionou, parecendo decepcionado.
-Por que eu não podia dar pra trás, caralho! E o meu orgulho? Eu enfio aonde?! -Gesticulou irritado,
diminuindo a entonação quando os garotos do outro time olharam até si. -É o seguinte... Eu conheço uma
tática pra ganhar esse jogo, e a gente nem precisaria usar a força física.
Confesso que isso acabou chamando a minha atenção.
-Junta aqui, seus molóides. -Chamou todos nós, fazendo uma espécie de rodinha, enquanto
abraçávamos nossos ombros, criando certa privacidade. -Eu tenho um plano.
-‘Tá, e qual seria esse plano? -Shikamaru bocejou bem na nossa cara, sendo o menos
despreocupado entre nós, como sempre.
-Quando o jogo começar, nós vamos deixar eles puxarem a corda com a maior força que tiverem.
-Sorriu perverso, quase com chamas dentro de seus olhos. -E daí, na hora que a última pessoa do nosso
grupo estiver perto da linha preta, e os irmãos exibidos estiverem achando que vão ganhar, nós vamos
soltar a corda!
O grupo inteiro ficou em silêncio, carregando expressões confusas e atordoadas.
-Como assim, Dei? -Gaara riu nervosamente.
-Caralho, vocês são muito burros! -Bateu os pés, deixando o momento levemente engraçado por
estarmos todos grudados, quase encostando nossos rostos. -Suas antas, vocês nunca tiveram aula de
física?! Lei da ação e reação, gente!
-Não, na verdade. -Kiba rebateu. -Eu repeti o oitavo ano tantas vezes que acabei desistindo da
escola.
-Foda-se o oitavo ano! -Esbravejou, bufando em frustração. -Prestem atenção, eu só vou explicar
uma vez.
Assentimos em conjunto.
-Depois que deixarmos eles puxarem o nosso time inteiro para perto da linha preta, nós vamos soltar
a corda. E sabe o que vai acontecer? Os irmãos exibidos e o grupinho de filhos da puta dele vão todos cair
para trás, literalmente! Vamos usar a força deles, contra eles!
Os meninos fizeram um barulho com a boca, mostrando ao loiro que haviam entendido aonde ele
queria chegar. Aquele era um bom plano, honestamente. Entretanto, não havia sido de meu agrado, afinal,
derrubar os criminosos do bloco 5, e irrita-lós, definitivamente não era uma das minhas vontades ali dentro.
-G-Gente, vocês têm certeza? -Indaguei com medo, já imaginando o caos que ia ser quando o grupo
de Itachi caísse no chão por nossa causa. -Isso não é meio arriscado?
-Eu concordo com o Naruto. -Gaara me olhou preocupado. -Vocês querem mesmo arrumar briga com
eles, gente?

81
-É só um jogo, cacete! -O loiro afastou-se de nossa rodinha, notando que o grupo adversário já se
encontrava devidamente posicionado para começar. -Então está combinado, ao meu sinal vocês soltam a
corda.
Eu engoli em seco.
Aquela era uma péssima ideia.
Logo quando as coisas estavam indo minimamente bem entre mim e o Sasuke, e o incidente das
bandejas havia sido esquecido, o Deidara estava nos colocando em uma situação bem arriscada.
-Todos prontos? -Obito indagou.
Ficamos em linha reta, do outro lado da corda. Itachi e Deidara eram os primeiros, ficando cara a
cara um com o outro, enquanto Sasuke encontrava-se atrás de seu irmão, e eu atrás do loiro.
-Podem começar!
O primeiro tranco já foi o mais dolorido de todos. Fomos quase arremessados para frente, visto que o
outro grupo era mil vezes mais forte, além de ter um integrante a mais.
Puxamos a corda o máximo que conseguimos, todos bastante relutantes com o plano do loiro. Com a
força que fazíamos, senti minha mão rasgar, gemendo dolorido por isso, sentindo minha pele queimar em
consequência.
-Puxem, seus molóides! -Deidara dava as ordens, trocando olhares raivosos com o Uchiha mais
velho, o qual parecia nem se esforçar para puxar, de tão forte que era.
-Prestem atenção na linha!
Ele era realmente muito bom disfarçando a nossa verdadeira intenção naquele jogo.
Olhei para o chão, notando que eu, Deidara e Gaara, já havíamos passado do limite na linha preta.
Agora só teríamos que esperar que o último integrante de nosso grupo chegasse perto para que
soltássemos a corda.
-Você vai perder. -Itachi sorriu maldoso, provocando-o o máximo que conseguia, arrancando grunhido
furiosos do loiro. -Desiste, Deidara.
Enquanto todos se concentravam em fazer força, tirei alguns segundos do meu tempo para procurar
por Sasuke, surpreendendo-me ao vê-lo puxar com a maior naturalidade no mundo, olhando para seus
próprios pés, parecendo não fazer tanta questão de estar ali, porém dando o seu melhor para agradar o
time, ou talvez até o seu irmão.
-Deidara, a gente vai perder. -Kiba anunciou atrás de nós, sendo o último integrante do grupo a
chegar perto da linha preta, o que significa que precisávamos colocar o plano em prática, ou então
perderíamos mesmo.
-Não vamos não! -Gritou, olhando para nós com determinação. Todos já sabiam o que estava por vir.
-Soltem, já!
Foi tudo rápido demais, até mesmo para mim que já estava familiarizado com o plano. Em questão
de segundos, todos de nosso grupo já haviam largado a corda, o que ocasionou em um tranco gigantesco
para o grupo adversário, usando a força deles, contra eles próprios.
A pele de minha mão rasgou, causando um corte profundo, e que por sinal, havia começado a
sangrar. No entanto, eu não me dei o trabalho de prestar atenção nisso, visto que no momento seguinte, a
confusão já estava alastrada.
Literalmente todos do grupo dos irmãos haviam caído, inclusive os dois Uchiha. O que foi
extremamente engraçado pra o Deidara de assistir, para mim, foi algo assustador.
Itachi caiu dolorosamente em cima de Sasuke, causando uma careta no Uchiha mais novo, que
rapidamente abraçou seu próprio braço, parecendo ter se machucado pra valer. O resto dos integrantes
tiveram suas pernas e cotovelos ralados, se enraivecendo com a situação.
-Deidara, o que você fez...? -Gaara tapou a própria boca, e por alguma razão, saber que ele também
estava com medo, só serviu para me deixar pior.
Com um olhar de preocupação, acompanhei o momento em que Itachi levantou-se atordoado,
parecendo assimilar a situação silenciosamente, olhando em direção ao seu irmão, conferindo se o mesmo
estava bem. Sasuke, por sua vez, mantinha-se contraído pela dor, acariciando seu braço direito com um
semblante doloroso.

82
Eu comecei a me sentir muito culpado, especialmente por nunca ter presenciado um momento de
tanta “vulnerabilidade” do Uchiha mais novo.
-Seu maldito. -Itachi rosnou, ainda de costas para nosso grupo, repleto de ódio por termos
machucado seu irmão mais novo. -Eu vou acabar com você!
Naquele momento, eu tive certeza de que tudo estava perdido.
Uma multidão de detentos vieram em nossa direção, todos do grupo de Itachi, seguindo os mesmos
passos que seu líder na hora de nos atacar. Arregalei meus olhos, tendo a visão perfeito do Uchiha indo de
encontro com Deidara, voando em seu pescoço para enforca-lo.
Os presidiários ao nosso redor foram a loucura, enquanto Obito acionava o resto dos carcereiros
para controlarem a briga, já que envolvia muito mais do que só dois detentos.
Os meninos de nosso grupo se atracavam com os do bloco 5, enquanto eu, como o grande covarde
que sou, comecei a fugir, encolhendo-me em um cantinho do pátio.
Aquilo era muito assustador.
Surpreendentemente, até mesmo o Gaara se encontrava envolvido na briga, trocando alguns
empurrões com o Sasori. Notei também, mesmo que sobre pressão, que cada garoto de meu grupo brigava
com seu adversário anterior do jogo de basquete, como se todos ali tivessem acertos pessoais a tratarem
um com o outro.
Procurei desesperado pelo Uchiha mais novo, imaginando que, pelo fato de termos jogado basquete
juntos, ele fosse me escolher como alvo para bater-me.
No entanto, eu não o encontrei.
O Sasuke não estava no meio da multidão, e muito menos ajudando seu irmão a acabar com a raça
de Deidara, que naquele momento, recebia socos agressivos de Itachi, chutando-o para se defender.
-Aí está você!
Senti meu corpo inteiro gelar, tendo a visão horripilante de Suigetsu com sua boca ensanguentada,
encarando-me como se quisesse mesmo me matar.
Procurei ao meu redor por Kiba, sabendo que ele foi o único a enfrentar Suigetsu naquela briga,
sentindo meu estômago se embrulhar ao me deparar com seu corpo estirado sobre o chão, sendo socorrido
por alguns carcereiros, todos preocupando com o seu estado.
O Suigetsu havia mordido o seu pescoço, e deixando-o para sangrar.
-N-Não, por favor! -Comecei a tremer, já me preparando para o pior. Eu não teria chance contra ele,
na verdade, eu não conseguiria enfrentar nenhum dos garotos do bloco 5.
-É a sua vez! -Avançou para cima de mim.
Fechei meus olhos com força, literalmente me entregando para dor, sabendo que não teria
escapatória. Eu estava totalmente cercado.
Me encolhi inteiro ao sentir suas mãos me agarrarem com brutalidade, puxando-me para perto de si.
Comecei a me debater sem parar, tomando o segundo maior susto do meu dia ao abrir meus olhos,
assustado com o barulho que vinha de Suigetsu, como se o mesmo estivesse se agonizando.
A cena a seguir, fez o meu coração disparar.
Sasuke, utilizando o seu outro braço para descartar o machucado, enforcava-o por trás, asfixiando
Suigetsu com a dobra de seus braços, dando uma espécie de Mata-Leão em seu companheiro de bloco.
Abracei meus joelhos no canto da parede, assistindo apavorado o momento em que Sasuke foi o
deixando roxo, tirando todo o seu ar aos poucos, enquanto o mesmo se debatia desesperadamente.
O que mais me chocou, foi a força que o moreno possuía, mesmo que com somente um braço, além
da calmaria em seu rosto, apesar de estar golpeando seu adversário com tanta brutalidade.
O momento em que Suigetsu caiu no chão, desmaiando com a falta de ar, o Uchiha mais novo
suspirou ofegantemente, olhando diretamente até mim, talvez um pouco impressionado com o meu estado.
Eu não conseguia parar de tremer. Meu corpo se sacudia tanto, que dificultava até mesmo na minha
respiração.
-Vai embora daqui, Naruto. -Declarou, me assustando com a pontada de preocupação que seu olhar
carregava. -Rápido.

83
-S-Sasuke—
-Sai daqui, já! -Gesticulou ameaçadoramente, subindo o seu tom de voz pela primeira vez em minha
frente.
Me levantei trêmulo, assentindo um tanto atordoado, resolvendo obedecer às suas ordens, mesmo
que sob pressão. Iniciei minhas corrida para longe do pátio, acabando por levar alguns tropeções no
caminho, mas nada tão prejudicial para mim.
Quando alcancei a porta, eu tive que me virar para trás.
O pátio estava uma loucura, mas felizmente, vários carcereiros já haviam chegado no local, e
naquele momento, serviam como reforços para amansar a briga. E por último, mas não menos importante,
eu tive que dar uma checada no Sasuke.
Nossos olhares se cruzaram automaticamente.
Ele carregado de calma e neutralidade, embora eu soubesse que havia algo a mais, e eu repleto de
pavor e angústia.
Eu nunca iria esquecer do dia em que fui salvo por Sasuke Uchiha.
Sasuke On

A noite já caia dentro da penitenciária, trazendo com ela a revolta de nosso grupo em relação a briga
que ocorrerá mais cedo. Todos estavam aglomerados em nossa mesa do refeitório, o qual Itachi fez questão
de esvaziar, afirmando que queria “privacidade” para nós.
Estavam todos presentes, alguns machucados, outros somente com alguns arranhões, no entanto, o
mais assustado entre todos nós, definitivamente era o Suigetsu.
Com seu pescoço marcado, demonstrando com clareza o enforcamento que passou, era o que
deixava a todos levemente preocupados, inclusive ele.
Ninguém nem cogitava a ideia de que havia sido eu que o enfrentei, impedindo Suigetsu de fazer
uma besteira das grandes, e machucar o novato seriamente, assim como fez anteriormente com o Kiba,
deixando-o em um estado grave.
Honestamente, eu não fazia a mais vaga ideia de como estavam os garotos do bloco 4, entretanto,
eu não poderia deixar de admitir que muitos deles me surpreenderam, visto que causaram ferimentos sérios
nos companheiros de meu grupo, como por exemplo, no Itachi.
Meu irmão, mesmo que não demonstrasse, encontrava-se machucado por conta de Deidara, o qual
havia chutado-o com tanta força no abdômen, que o fez perder o fôlego por alguns segundos, recebendo
outros ponta-pés no mesmo lugar.
Sua pele estava completamente roxa, assim como o meu braço direito, que apesar de não estar
quebrado, estava muito dolorido pelo fato de Itachi ter caído em cima de mim.
-Você tem certeza que não sabe quem te enforcou, Suigetsu? -Kisame indagou com frieza, também
machucado pela briga que teve com Shikamaru.
-Tenho. -Assentiu com medo. -Era forte demais para ser um dos fracotes do bloco 4.
-Talvez tenha sido algum dos carcereiros. -Pain opinou.
-Não, aquela hora não tinha ninguém por perto. -Negou, parecendo distante em seus próprios
pensamentos. -Deixa pra lá. Esquece isso, falou?
A mesa caiu no silêncio, enquanto a atenção de todos era depositada em Itachi, como se dessa
maneira esperassem por uma ordem sua, ou pelo seu palpite final.
-Vamos dormir, é o melhor a se fazer agora. -Declarou com um ar de superioridade, deixando a
todos levemente confusos com a “ordem” tão fácil e aleatória que receberam. -Vocês ouviram o Obito, não
ouviram? A diretoria não pretende deixar barato o que aconteceu hoje mais cedo, amanhã todos vocês
teram os seus devidos castigos.
Eu tinha me esquecido desse pequeno detalhe.
Por conta da briga mais cedo, que por sinal, foi uma das maiores e mais sérias que aquele presídio já
teve, os carcereiros decidiram marcar uma reunião com Danzou, o qual apareceria por aqui no dia seguinte.
A coisa ia ficar feia para todos os que se envolveram na briga.
-Mas, Itachi— -Sasori tentou dialogar.

84
-Saiam daqui, vão para suas celas. -Ordenou, fechando seus olhos de modo impaciente. -Sasuke,
venha comigo, eu preciso falar com você.
-Certo. -Concordei, já imaginando que se tratasse de mais uma de suas reuniões insuportavelmente
chatas com o Obito.
Meu irmão se levantou silenciosamente, deixando todos de cenho franzido, estranhando aquela
atitude tão repentina e incomum da parte de seu líder. Eu, por outro lado, decidi me manter quieto e apenas
o segui para onde quer que ele estivesse me levando.
Ao virarmos no corredor do bloco 5, o qual se encontrava vazio por conta da noite de filme, notei
Itachi cessar seus passos, parando de costas para mim, deixando o momento estranhamente medonho por
estarmos no escuro.
-Itachi? -Chamei preocupado, aproximando-me com cautela, para só então tocar sutilmente em seu
ombro. -Está tudo bem com vo—
Em um movimento rápido, tive meu corpo prensado contra a parede atrás de mim, arrancando um
suspiro um tanto assustado, porém dolorido de minha parte pelo baque de meu braço no cimento.
Itachi me segurava firmemente, prendendo-me com seus dois braços na altura de meu rosto,
cercando o seu corpo com o meu.
-Mas que porra é essa, Sasuke? -A sua primeira frase já me fez franzir o cenho, sem entender tal
atitude.
-Do que você está falando, Itachi? -Soltei uma risada meio nervosa, tentando sair de sua frente, mas
sendo brutalmente parado mais uma vez, chocando meu corpo dolorosamente. -Ei, cuidado com o meu
braço.
-Eu sei que foi você. -Ignorou meu outro comentário, causando alguns arrepios pelo meu corpo,
embora por fora eu tivesse conseguido me manter indiferente. -Você acha que eu sou idiota, caralho? Eu só
não te desmascarei na frente do grupo, porque queria te dar uma chance de se explicar pra mim.
-Do que você está falando? -Questionei simplista, tentando pela segunda vez sair de seu aperto, mas
sem sucesso. -Me solta, Itachi.
Apenas como uma forma de provocação, ou talvez até mesmo por autoridade, meu irmão fez
questão de prender-me ainda mais, encostando nossos narizes ameaçadoramente, transmitindo toda a sua
raiva que sentia em relação a mim.
-Eu vi o que você fez, Sasuke. -Rangeu seus dentes, me fitando com uma intensidade fora do
normal. Travei meu maxilar, internamente intimidado com o que acabara de escutar. -Foi você que enforcou
o Suigetsu, não foi?
Engoli em seco, ciente de que não conseguiria mais sustentar aquela mentira.
-Foi, mas e daí? -Empurrei o meu nariz contra o seu, desafiando-o da mesma maneira. Foi a sua vez
de travar o maxilar, fuzilando-me silenciosamente. -Não era você que odiava ele? Você deveria me
agradecer.
Meu braço foi agarrado com força e violência, apertando no exato lugar da pancada, aonde mais doía
para mim. Soltei um grunhido de dor, lhe lançando meu melhor olhar de ódio, indo com a minha mão de
encontro ao seu abdômen, fazendo o mesmo com a sua pele machucada.
Sem pensar duas vezes, belisquei-o dolorosamente como vingança, me surpreendendo com o quão
forte e resistente o Itachi era, visto que não soltou nenhum tipo de som que demonstrasse sua dor.
Eu estava em desvantagem.
-Seu traidor de merda. -Rosnou enfurecido, usando sua mão livre para retirar a minha de seu
abdômen, prendendo-a na altura de minha cabeça. Eu tinha que aceitar a realidade, ele era dez vezes mais
forte do que eu. -De que lado você está, afinal? Por que você defendeu aquele novato?
-Eu fiz o que eu achei que era certo. -Respondi na base da grosseria, remexendo meu pulso para
soltar-me de si. -O Suigetsu é uma bomba-relógio, você sabe disso. Ele não pensa antes de agir, isso vai
acabar prejudicando a gente.
Itachi levantou a sobrancelha, apertando meu braço com ainda mais força, como se desse modo
quisesse decifrar qualquer mentira dentro de mim.
-Então você está me dizendo que não tem mais nenhum motivo pra você ter ajudado o novato?

85
-Por que eu ajudaria ele, Itachi? -Devolvi a pergunta, querendo que aquele assunto se encerrasse,
tanto por conta de minhas mentiras, quanto pelo dor que eu sentia. -Vê se me solta de uma vez, você está
ficando louco.
Puxei meu braço para longe de si, aliviado quando ele me soltou, finalmente afastando-se de mim.
Eu pude respirar com normalidade, visto que não precisei mais tê-lo grudado comigo, usando sua força
física para retirar a verdade de mim.
-Se eu descobrir que você está mentindo, Sasuke, eu vou—
-Você vai o que, hein? -Cortei-o, soltando uma risada desdenhosa. -Vai me matar?
-Eu vou fazer você pagar pelo o que fez. -Cruzou seus braços. -Se eu fosse você, não pagaria pra
ver do que eu sou capaz.
Encarei-o incrédulo.
Talvez ele só estivesse falando da boca para fora, mas eu estava realmente começando a achar que
meu irmão seria capaz de me machucar, mesmo que eu fosse sua única família.
Talvez eu tivesse mesmo que pagar para ver se isso era verdade, e se meu próprio irmão teria
coragem de fazer mal a mim, somente porque descumpri alguma ordem sua, ou porque não fiz algo de seu
agrado.
-Vamos pra cela. -Declarou após um tempo, medindo-me de cima a baixo. -Eu quero ficar de olho em
você, preciso que fique por perto.
Revirei meus olhos na cara dura, não querendo ficar em sua companhia, passando por ele sem dizer
nada, andando em sua frente como uma verdadeira criança birrenta.
Os dias do Itachi controlando a minha vida precisavam acabar com urgência.

Capítulo 9 - Desculpas e agradecimentos

Sasuke On

A sirene diária ecoou por todo o presídio, anunciando o início de mais um dia incrivelmente tedioso e
repetitivo dentro da penitenciária. No entanto, não havia sido toda aquela barulheira que me fez despertar,
visto que minha “noite de sono” foi resumida em meus pensamentos a mil, impedindo-me de adormecer
como eu realmente desejava.
Eu havia virado à noite desperto.
Sinceramente, o fato de eu não ter conseguido dormir não era o que estava me incomodando. Em
meu ponto de vista, o que realmente mexeu comigo, foi saber que meu irmão também havia ficado
acordado, ou seja, nós dois ficamos a madrugada inteira em claro, eu na cama de baixo, e ele na de cima,
mas não trocamos nenhuma palavra sequer.
O clima entre nós estava bastante pesado.
A discussão do dia interior tinha me deixado com um pé atrás. Eu nunca havia chegado ao ponto de
usar violência física com o Itachi, e muito menos brigar com ele daquela forma, enfrentando-o sem receio
algum.
As nossas discussões geralmente eram “leves”, visto que sempre bastou um olhar mais sério de meu
irmão para que eu baixasse minha cabeça. Acontece que dessa vez havia sido bem diferente, tanto que
decidi manter distância dele até que sentisse confiança o suficiente para voltar a me aproximar.
Esfreguei meu rosto de modo esgotado, sentindo os tão indesejáveis efeitos colaterais de não ter
dormido a noite, batendo forte em meu corpo. Honestamente, eu não conseguia entender como o Itachi
aguentava ficar tantas noites em claro por conta de sua insônia.
Se eu estivesse em sua pele, pode ter certeza que já teria perdido a cabeça.
Espichei meu pescoço para fora da cama, passando a escutar um som familiar, o qual eu logo
identifiquei como barulhos de ofegos, e suspiros arrastados, deparando-me com uma cena bastante comum
em meu dia a dia, principalmente na parte da manhã.
Itachi encontrava-se em meio ao chão da cela, fazendo algumas de suas flexões matinais, hora
utilizando os dois braços, hora segurando seu peso com somente um. Com sua pele exposta, tive a visão

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perfeita de seus músculos se tensionando, e mesmo que machucado por conta da briga do dia anterior, ele
não parecia se importar em força-se ao limite.
Eu também não conseguia entender toda aquela sua disposição logo cedo. Para mim, a parte da
manhã sempre foi a mais exaustiva e entediante.
-Todo mundo acordando! -Kakashi era quem gritava no corredor, já que estava tomando conta de
nosso bloco naquela semana. Ele batia seu cassetete nas paredes, chamando a nossa atenção. -Hora do
café, seus animais!
Itachi estalou a língua, reprovando todo aquele barulho do lado de fora, especialmente com a gritaria
do platinado. Nós dois não éramos obrigados a seguirmos as ordens igual a todo o resto, entretanto, era
realmente chato de aguentar tanto alvoroço logo de manhã.
Com um suspiro dolorido, o moreno levantou-se em minha frente, fazendo uma espécie de
alongamento, olhando-me por míseros segundos, mas que foram o suficiente para me fazer rolar os olhos,
completamente indisposto para manter um diálogo com ele.
-Escuta, Sasuke...
Confesso que senti meus ombros se tencionarem com o chamado tão repentino, mas como o
habitual, encenei um olhar bem indiferente e teatral, fingindo que não dava a mínima por ouvi-lo falar
comigo.
-Hm? -Soltei um som com a boca, começando a retirar o meu “pijama”, para que assim pudesse
vestir o uniforme principal.
Senti uma estranha aproximação de sua parte, observando-o de canto de olho, também disfarçando
o quão curioso estava com o fato de tê-lo caminhando até mim.
No momento em que retirei minha camiseta, me tensionei pelo susto de ter suas mãos gélidas em
contato com a pele de meu braço, tocando o meu ferimento, que naquela manhã, encontrava-se bem
arroxeado, quase preto.
Me virei na defensiva, imaginando que passaria por uma situação semelhante à da briga que
ocorrerá na noite passada, ou que levaria outra bronca de Itachi, mas para minha surpresa, ele fez o oposto
disso.
Com um toque sútil, o moreno acariciou meu braço direito, olhando fixamente para meu machucado,
carregando uma expressão meio distante, talvez até mesmo arrependida.
-Está doendo muito? -Nossos olhos finalmente foram de encontro, e talvez pela falta de luz na cela,
achei-os estranhamente marejados. Era esquisito vê-lo tendo um pouco de humanidade, mesmo que
comigo. -Você já foi na enfermaria?
-Não, eu não fui. -Afastei meu braço, sentindo-me desconfiado. Eu estava confuso com sua
“gentileza” tão repentina. -E já que você quer saber, sim, está doendo. Depois que você apertou ficou bem
pior, acredite se quiser.
Ele suspirou de modo lento e cansado, não deixando de notar no tom sarcástico e impaciente que eu
carregava em minha voz.
-Me desculpa, tá bom?
Levantei minha cabeça assustado, olhando-o como se houvesse escutado a maior atrocidade do
mundo. Minha boca se abriu em um perfeito “o”, o que acabou arrancando uma risada bem sem humor de
sua parte.
Até ele sabia que não era do tipo de pessoa que se desculpava com os outros, nem mesmo com a
própria família. O Itachi sempre foi orgulhoso demais.
-Como é? -Sacudi a cabeça, pensando ter ouvido errado.
-Você ouviu que eu sei. -Resmungou, soltando um suspiro silencioso ao tocar novamente em meu
braço, carregando um carinho incomum na hora de acariciá-lo. Apesar de tudo, eu apenas permiti que ele
continuasse. -Eu sei que tenho que me desculpar por conta do seu braço.
Levantei a sobrancelha.
-Só por causa disso, Itachi? -Pensei que talvez assim refrescasse a sua memória e pudesse lhe
relembrar das ameaças que recebi na noite passada.
-É, só por causa disso. -Ficou sério de repente, afastando sua mão de mim. -Eu fiz errado na hora de
te machucar, mas não me arrependo da conversa que tivemos, Sasuke.

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Soltei uma risada sarcástica.
-É claro que não... -Murmurei ironicamente.
-Você nunca deveria ter feito aquilo. -Falou duro, nem precisando citar o acontecimento para que eu
soubesse sobre que ele estava falando. -Defender aquele novato foi o—
-Eu já disse que não estava defendendo ele, Itachi. -Interrompi-o, me irritando com a sua insistência.
Eu havia deixado claro que aquilo não era verdade, mas claramente não tinha entrado em sua cabeça. -O
Suigetsu é pirado, completamente fora da caixinha. É sério que você não acha nenhum pouco perturbador o
fato dele sair por aí mordendo as pessoas?
-Sim, eu acho. -Respondeu de modo indiferente, colocando seu uniforme assim como eu. -Só que
ainda não me sai da cabeça você ter machucado um de nós pra ajudar aquele novato e—
-Eu não ajudei ele, porra! -Bati meus pés no chão, perdendo as estribeiras. Eram raras as vezes que
eu me exaltava na frente do Itachi, mas honestamente, ele estava me tirando do sério.
-Não grita comigo. -Seu olhar se tornou sombrio, deixando-me com uma carranca. -Você quer mesmo
lidar com as coisas assim? Eu estou fazendo um esforço pra ter uma conversa civilizada com você, Sasuke.
Eu tive que rir ironicamente.
-Eu deveria te agradecer, então? -Sorri desdenhoso. -Ou será que você já se esqueceu das coisas
que me fez ontem?
-Eu já te pedi desculpas por conta do seu braço, eu reconheço que passei dos limites.
-Eu não estou falando do meu braço. -Gesticulei, como se assim dissesse que não me importava
com esse detalhe. -Isso é o de menos pra mim, Itachi, só que o jeito que você falou comigo ontem, é uma
coisa que eu não vou esquecer com facilidade.
Seu ar de superioridade foi se desmanchando, trazendo uma feição pensativa, como se estivesse
passando por um momento de reflexão. Sinceramente, foi bom colocar todo aquele peso para fora, visto
que passei a noite inteira pensando nas ameaças de meu irmão, e imaginado se ele seria mesmo capaz de
me machucar.
-Você sabe que eu nunca te machucaria. -Declarou seriamente, dando um passo até mim.
-Não, eu não sei. -Neguei um pouco atordoado, afastando-me dele. -Eu sinceramente não sei mais o
que pensar, Itachi. Ontem você deixou bem claro que não se importaria em me castigar, ou você já se
esqueceu disso também?
Caímos em outro momento de silêncio, mas dessa vez, um de bastante tensão. No fundo eu ainda
torcia para que tudo não tivesse se passado de uma mentira, que suas ameaças foram algo momentâneo
por conta de sua irritação.
-Sasuke, você—
-Ei, vocês dois?
Fomos interrompidos de modo bastante inesperado, o que acabou causando um certo susto em mim.
Kakashi encontrava-se apoiado sobre nossa grade, carregando um semblante meio receoso, talvez pelo
fato de termos tido aquele pequeno “desentendimento” da última vez.
-O que é? -Itachi respondeu seco, odiando ter sido cortado.
-Eu tenho ordens para levá-los até a diretoria, vocês precisam me acompanhar. -Declarou
pacificamente, engolindo em seco ao notar o modo como eu o encarava, ainda enjoado pelas atrocidades
que descobri em relação a ele.
-Ordens de quem? -Cruzou os braços, levantando a sobrancelha. Até os carcereiros sabiam que ali
dentro nós tínhamos um tratamento especial, e não costumávamos receber ordens.
-Do diretor Danzou.
Eu e Itachi nos entreolhamos.
Ambos sabíamos exatamente o que estava por vir. Após a briga de ontem, os guardas da
penitenciária haviam marcado uma reunião com o diretor, visto que nunca haviam presenciado uma briga
tão pesada, e com tantos detentos feridos.
Pelo o que eu soube, o Kiba ficou em estado crítico, e quase não resistiu.

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-Vocês podem me acompanhar, por favor? -Reforçou, escancarando nossa cela para que o
seguíssemos.
Fiquei parado aonde estava, esperando por uma confirmação de Itachi. Se ele quisesse ir, eu o
acompanharia, mas caso o contrário, nós permaneceríamos na cela.
-Vamos. -Tocou em meu ombro, permitindo que eu o seguisse. Ao passarmos por Kakashi, lancei
meu melhor olhar de superioridade, gostando secretamente de todo o medo que estava causando em si.
Não foi necessário a companhia do guarda para que achássemos a diretoria. Eu e meu irmão
tomamos a dianteira, caminhando em sua frente, reparando no corredor consideravelmente vazio, até
porque, todos os detentos estavam em horário de café da manhã.
-Podem entrar na sala de reunião, estão todos esperando vocês. -Anunciou atrás de nós, apontando
para a porta no final da diretoria.
Eu levantei a sobrancelha.
-Todos? -Sussurrei para meu irmão, como se ele soubesse a reposta. Itachi estava tão confuso
quanto eu.
Permiti que o moreno fosse na frente, abrindo a porta de modo lento, deixando-me espiar dentro da
mesma. Naquele instante, eu soube o que Kakashi quis dizer com “estão todos esperando vocês”.
A sala estava repleta de gente.
Os garotos de nosso grupo encontravam-se todos sentados em fileiras, quase como se fossem
carteiras escolares, enquanto alguns detentos do grupo de Deidara também estavam presentes, só que do
outro lado da sala, mantendo uma distância razoável um do outro.
Além deles, Obito também marcava presença, e ao seu lado, pude identificar o Danzou. Eu
finalmente tive a oportunidade de conhecer o nosso diretor pessoalmente, e sinceramente, ele não era nada
como eu imaginava.
-Olha aqui, seu animal, se você não soltar a gente agora, eu vou te matar!
A sala inteira virou em direção a porta, assistindo o escândalo desnecessário que Deidara estava
armando, tendo seu braço puxado por um dos guardas, ao mesmo tempo em que Naruto também era
arrastado, só que de modo bem mais silencioso e respeitoso.
Eu finalmente pude ter a oportunidade de vê-lo após a briga. Ele estava bem, sem nenhum arranhão,
parecendo ter saído a salvo, exatamente do modo que desejei quando o aconselhei a deixar o pátio em
meio a briga.
Naruto era o único de seu grupo cem por cento impune.
-Me larga, seu filho da puta! -O loiro se debateu com força, desvencilhando-se do carcereiro. Seus
olhos penetraram em cada rosto daquela sala, franzindo o cenho de modo confuso e irritado. -Que porra é
essa aqui, hein? O que nós estamos fazendo aqui?!
-Sentem-se, por favor. -Danzou declarou de modo soalho, falando tanto com o loiro, quanto comigo e
meu irmão, que ainda nos encontrávamos de pé. Ele também tomou a liberdade de se sentar em nossa
frente, assim como um verdadeiro professor diante de sua sala de aula. -Peguem as carteiras vazias.
Eu e Itachi seguimos até o final da fileira, carregando olhares duvidadores. Eu me sentei na última
carteira, enquanto meu irmão ficou a minha frente, sentando-se com as costas apoiadas na janela, atento a
cada movimento ao redor da sala.
-Escuta aqui, eu não vou sentar até alguém me explicar o que está acontecendo aqui! -Deidara
esbravejou, dando um soco na mesa do seu lado. Naruto, por outro lado, andou timidamente até uma
carteira de sua fileira, dando sinal de que se sentaria. -Franguinho, não se atreva a fazer isso!
O Uzumaki parou no meio do caminho, não sabendo se seguia as ordens de seu companheiro, ou de
seu diretor. Ele era mesmo muito sugestionável.
-Deidara, por favor. -Obito pediu quase que de modo sofrido, demonstrando bastante cansaço em
relação a ele. -Pare de dificultar as coisas, só senta de uma vez.
-Argh! -Grunhiu, batendo os pés irritado ao dirigir-se até uma cadeira atrás de Gaara.
A sala inteira caiu no silêncio, todos esperando pela manifestação de Danzou, além de uma
explicação que justificasse a união dos dois grupos ali dentro, embora eu já imaginasse do que se tratava.

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-Estão todos presentes, Obito? -Danzou indagou, olhando fixamente para cada rosto presente ali
dentro, inclusive para mim.
-Todos, menos um. -Explicou. -O detento Kiba Inuzuka está na enfermaria em estado grave, e não
poderá comparecer.
Meus olhos foram de encontro a Naruto de modo automático. O loiro, possuindo sua cabeça baixa,
mexia em suas mãos nervosamente, mordendo seu lábio inferior de modo apreensivo, aparentando não ter
gostado de se recordar do acontecimento de ontem.
Se não fosse por mim, Suigetsu teria feito o mesmo consigo.
-Certo, teremos que começar a reunião sem ele. -Declarou, levantando-se para vir até a frente da
sala, andando com seus braços para trás. -Bom dia a todos, para os que não me conhecem, eu sou o
diretor Danzou.
Ninguém esboçou nenhuma reação.
-Eu chamei vocês todos aqui essa manhã, porque fui informado de uma briga que ocorreu ontem no
período da manhã, e que envolveu a todos vocês -Ele apontou para os dois grupos. -Estou certo?
Novamente, ninguém disse nada.
-Isso mesmo. -Kakashi foi quem respondeu por nós, sendo um dos únicos puxa saco do diretor.
-Entendo. -Cruzou os braços na altura do peito, parando de frente a primeira carteira de nossa fileira,
bem aonde Sasori se encontrava. -Primeiro de tudo, eu gostaria de saber... Quem de vocês é o Itachi
Uchiha?
Também não foi necessária uma resposta, visto que todos os presentes da sala viraram em direção
ao meu irmão, inclusive os carcereiros ao redor de Danzou. O moreno, por sua vez, travou o maxilar em
direção a ele, mantendo sua mesma postura impecável e autoritária.
-Oh, então você é o Itachi. -Sorriu de modo indecifrável.
-Sou eu mesmo. -Respondeu secamente, me deixando um pouco tenso com o que ocorreria a seguir.
-Certo. -Pude ver com clareza o modo como ele o avaliava. -Eu também gostaria de saber, qual de
vocês é o Deidara?
O mesmo aconteceu com o loiro. Fomos bem indiscretos na hora de virar em sua direção, dando a
resposta que Danzou desejava.
-Sou eu, por quê? Eu vou ser preso, é isso? -Riu ironicamente, debochando da cara do diretor,
apoiando seus dois pés em cima da mesa. -Manda o papo, velhote.
Alguns garotos de seu grupo ficaram tensos com sua atitude, inclusive o Naruto, que apesar de
acostumado com o temperamento de seu companheiro, ainda se inconformada com facilidade ao vê-lo
enfrentar seus superiores daquela maneira.
-Deidara, nós queremos respeito. -Obito foi quem o repreendeu, visto que Danzou não reagiu ao
comentário. -Você é o único da sala que está arrumando confusão, se controle e tira esse pé de cima da
mesa.
Com um grunhido irritado, o loiro foi obrigado a sentar-se decentemente, mas do mesmo jeito,
desobedeceu as ordens do carcereiro na hora de retirar seu isqueiro do bolso, levando um cigarro aos
lábios.
-Agora já chega, eu—
-Deixa ele, Obito. -Danzou só precisou levantar uma mão para que o moreno parasse no meio do
caminho. -Deixa o garoto fumar em paz, vamos prosseguir com a reunião.
Franzi o cenho em direção a Itachi, ciente de que ele me fitava da mesma maneira, ambos
ressabiados com tal atitude.
-Vocês dois... -O diretor alternou entre Deidara e meu irmão. -São os líderes de cada grupo, não é
mesmo?
-Eu não sou líder de ninguém. -O loiro assoprou a fumaça para cima. -Nós temos uma amizade, algo
bem diferente do grupo do Itachi. A relação deles é doentia, é na base do medo.
O clima ia ficando cada vez mais pesado.

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Itachi o fitava com uma raiva bem aparente, reprovando tal comentário, apesar de que eu concordava
em partes com o Deidara. Não demoraria muito para que ambos começassem a discutir.
-Isso não importa. -Danzou cortou-o. -Independente de vocês terem uma amizade ou não, os garotos
fazem tudo o que você manda, isso é fato. Eles te tratam como um líder, Deidara, só você que não enxerga.
Ele arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada a respeito. Talvez no fundo o loiro soubesse que
aquilo era uma verdade.
-E você, Itachi... -Virou-se até ele, sorrindo pequeno em sua direção. -Nada mais é do que o detento
mais temido dentro desse lugar, e fora dele também.
Itachi não mexeu nenhum músculo de sua face.
-Mas, sabe? Eu respeito isso, é algo natural, na verdade. Em diversos lugares, mas principalmente
em penitenciárias como essas, sempre tem que ter alguém mais respeitado e temido por todos, e bom, eu
acho que esse é a seu papel aqui dentro.
Observei com atenção as reações de meu irmão, o qual cruzava sua perna por cima da outra,
endireitando sua postura na cadeira, não possuindo nenhum tipo de comentário, ou fala para cima de
Danzou.
-Tá bom, muito obrigado pela sua introdução, já podemos ir embora? -Deidara apagava o cigarro em
cima da mesa, dando sinal de que se levantaria, só que parando no instante em que Obito levantou seu
dedo, ameaçado-o silenciosamente. -Mas que inferno!
-O ponto é... -Danzou sentou-se na mesa ao centro da sala. -Já faz um tempo que o grupo de vocês
vem dando trabalho aqui dentro. Eu recebo reclamações diárias dos carcereiros sobre mal comportamento,
brigas, discussões e etc.
Suspirei baixo, levemente irritado com aquela enrolação toda.
-Ele vai castigar a gente, é isso? -Sussurrei ao ouvido de Itachi, mais uma vez, achando que ele
sabia a resposta.
-Se ele pensar em algum tipo de castigo, pode ficar tranquilo que eu não vou permitir que incluam
nós dois. -Respondeu sem me dar as caras. -Eu não vou deixar ele fazer nada com a gente.
Por algum motivo, isso não me tranquilizou. O Danzou não aparentava ser como o resto dos policiais,
e nem alguém que abaixaria sua cabeça caso cruzasse comigo e Itachi nos corredores do presídio.
Ele parecia ser alguém rígido e decidido.
-Quando se tem líderes tão... poderosos como vocês dois, é comum que um deles se amansem com
a presença do outro, mas no caso de vocês, é bem diferente. -Ele voltou a conversar diretamente com
Deidara e Itachi. -Pelo o que me parece, vocês gostam mesmo de brigar entre si, e não se importam em
viverem discutindo.
Ele falou o óbvio. Todos de nosso grupo, e também do outro, estavam cientes de que ambos os
garotos não mediam esforços para brigarem por qualquer motivo aparente.
-Por isso eu preciso que vocês acabem com isso. -Sua voz tornou-se grave, trazendo um clima de
mais seriedade. -Façam as pazes, garotos, será o melhor para todo mundo, assim os grupos poderão
conviver em harmonia.
A sala entrou em um outro momento de silêncio, mas dessa vez, com todos fazendo questão de se
entreolharem, curiosos com a resposta final que nossos “líderes” lhe dariam.
-Nem pensar. -O loiro riu sarcástico, olhando enfurecido para meu irmão. -Eu nunca, enquanto eu
viver, vou levantar a bandeira branca pra esse filho da puta!
-Olha, que bom que você falou primeiro. -Itachi sorriu maldoso, pronunciando-se em alto e bom som
pela primeira vez. -Eu estava pensando a mesma coisa, acredita nisso?
-Olha só, que bom! -Deidara ironizou, fingindo bater palmas. -Pelo menos nisso a gente concorda,
Itachi! Viu só, querido diretor? Estamos progredindo! Agora será que dá pra deixar a gente ir embora,
caralho?!
-Deidara, já chega! -Obito o repreendeu.
-Se acalme, Obito. -Danzou não se deixou abalar pelo comentário, olhando para ambos os garotos
pensativamente. -Pelo o que me parece, nenhum de vocês está disposto a abri mão de seu orgulho pelo
bem coletivo, estou correto?

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-Nunca! -Ele gritou do outro lado da sala, enquanto meu irmão apenas observava, carregando um
sorrisinho em seus lábios.
-Certo, vocês fizeram suas escolhas. -Olhou rápido até Obito, enquanto o mesmo assentia com a
cabeça, parecendo saber o que viria a seguir. -Já que nenhum de vocês tomou a iniciativa de fazer as
pazes, considerem-se castigados. Tanto vocês, quanto seus grupos sofreram as consequências pela suas
decisões.
-Como é que é?! -Deidara socou a mesa, levantando-se violentamente. -Isso é uma escolha nossa,
velhote, você não tem o direito de castigar a gente!
-Eu tenho sim, na verdade. -Disse calmamente, indo até a saída. -O Obito explicará como as coisas
vão funcionar, mas lembrem-se, vocês tiveram a oportunidade de fazer a coisa certa, mas falharam.
Olhei abismado para meu irmão, o qual mantinha-se completamente neutro, assistindo em silêncio a
decepção dos meninos de nosso grupo, todos já imaginando o castigo que seriam obrigados a receber por
conta do orgulho de seu líder.
-Itachi? -Chamei, aproveitando a barulheira do ambiente para comunicar-se com si. -Não é melhor
acabar com isso de uma vez? Por que vocês não fazem as pazes? Talvez seja mesmo a melhor coisa a se
fazer.
-Não. -Fechou os olhos, negando grosseiramente. -Não se meta nisso, Sasuke. Você não precisa se
preocupar, eu não vou deixar ninguém castigar você.
-Mas eu não me importo com isso. -Tentei dialogar. -O que eu quero dizer é que—
-Eu sei o que estou fazendo. -Cortou-me secamente. -Fica na sua, eu cuido disso.
Encostei-me novamente na cadeira, cruzando os braços emburrado. Sinceramente, me cansava um
pouco tentar manter um diálogo saudável com o Itachi, visto que ele sempre considerava-se o dono da
razão.
É por isso que eu nunca dou a minha opinião, e sempre faço tudo o que ele manda sem reclamar.
-Volta aqui, isso ainda não acabou! -Deidara tentava avançar para cima de Danzou, o qual saia pela
porta sem se importar com o caos que causou. -Isso é injusto, caralho!
-Dei, se acalme. -Gaara pediu serenamente, tocando em seu ombro com cuidado. -Senta aqui,
vamos ouvir que tal castigo é esse, talvez nem seja tão ruim.
Era algo impressionante de se ver o modo como o grupo deles era compreensível. Todos
aparentavam serem amigáveis e pacientes um com o outro, bem diferente dos garotos com quem eu
sempre andei. Por mais que eu nunca fosse admitir em voz alta, eu possuía uma vontade secreta de ter um
grupo assim como o deles.
Quase que de modo involuntário, meus olhos correram em direção a Naruto, levando um pequeno
susto com o fato de já tê-lo me encarando de volta, por mais que eu não soubesse a quanto tempo. Ao ser
flagrado por mim, o loiro baixou sua cabeça rapidamente, escondendo seu rosto rubro de modo tímido.
-Está bem, prestem atenção! -Obito batia palmas, tentando controlar a confusão instalada na sala.
-Assim como já foi dito, vocês fizeram as suas escolhas, mas decidiram de modo errôneo! O castigo de
vocês já estava planejado caso não saísse como o Danzou desejava, todos vocês vão pagar pela decisão
de seus líderes!
A sala inteira grunhiu em frustração.
-Aonde ele quer chegar com isso? -Notei que Itachi falava comigo, ou talvez até mesmo sozinho, eu
sinceramente não soube identificar. -Ele quer que o grupo se vire contra mim, é isso?
-Isso é uma puta de uma injustiça! -Uma voz diferente das outras se pronunciou de modo mais
audível em meio à confusão, a qual eu logo identifiquei. Era o Suigetsu. -Se o Itachi não quer se resolver
com o Deidara, aí o problema já é dele! Ele não manda em mim, caralho, essa briga não tem nada a ver
com a gente!
Meus ombros se tencionaram, ao mesmo tempo em que os membros de nosso grupo suspiravam
assustados, impressionados com a “coragem” de Suigetsu em falar uma coisa dessas em voz alta,
especialmente referindo-se ao meu irmão daquela maneira.
-Suigetsu, já chega. -Kisame gesticulou para que ele se calasse, apreensivo ao ver Itachi virar seu
pescoço de modo lento e ameaçador, fuzilando o outro enfurecidamente. -Me desculpe, Itachi, eu vou
manter ele de boca fechada.

92
Seus punhos se apertavam com força, deixando a pele de sua mão branca, quase prendendo a
circulação de seu sangue. Ele estava dando o seu máximo para não descontrolar-se e avançar para cima
do outro.
Eu tive certeza de que depois dessa reunião, o Suigetsu estaria em apuros.
-Você acha isso uma injustiça, Suigetsu? -Foi meio chocante de ver o Obito perder sua postura em
frente a sala. -Sabe o que mais foi injustiça pra mim? O jeito que você deixou o Kiba! Por mim você
apodreceria na solitária até não poder mais, mas recebemos ordens explícitas do Danzou pra que ninguém
fosse levado para o isolamento até que resolvêssemos essa situação.
Levantei a testa em surpresa, realmente não esperando por isso.
-Finalmente alguém sensato. -Falei para mim mesmo, quase sussurrando. No entanto, pelo fato da
sala ter caído no silêncio, todos acabaram me escutando, olhando-me com expressões confusas, visto que
eu nunca fui alguém de me pronunciar em voz alta.
Reparei que meu irmão e Naruto eram os mais surpreendidos com o meu posicionamento, franzindo
o cenho silenciosamente.
-O que foi isso, Sasuke? -Itachi não perguntou bravo, mas sim atordoado.
Eu nem me dei o trabalho de responder, até porque, no momento seguinte, Obito voltava a se
pronunciar, só que dessa vez, bem mais intolerante conosco, explicando-nos sobre o tão comentado
castigo.
-Isso aqui é uma lista com o nome de vocês. -Ele chacoalhou um papel em sua mão. -Separamos
vocês em duplas e trios. Isso vai fazer parte do castigo, as duplas trabalharam juntas até que os líderes de
vocês decidam fazer as pazes!
-Como é que é?! -Deidara foi o primeiro a se pronunciar, não entendo absolutamente nada.
-Antes de começarem com os questionamentos, se aproximem. -Foi a vez de Kakashi falar conosco,
colando a lista na parede ao seu lado. -Vejam com quem ficaram, depois explicaremos com mais calma.
Todos se levantaram às pressas, literalmente se empurrando para a frente da sala, enquanto eu e
meu irmão nos levantávamos lentamente. Confesso que também fiquei com vontade de correr, mas como o
Itachi estava perto, eu tive que me conter.
Os detentos se aglomeraram ao redor da lista, o que dificultou um pouco na hora de lê-la, deixando
os mais baixos, como Sasori e Naruto, na ponta dos pés.
Passei meus olhos atentamente pela folha, ignorando o título da mesma, me concentrando em
encontrar somente o meu nome. Ao me deparar com “Sasuke Uchiha”, segui atentamente a setinha
correspondente, me deparando com outro nome ao lado do meu.
Naruto Uzumaki.
-Por que o meu nome está com o do Itachi?! -O loiro apontou o dedo na cara de meu irmão, o qual se
irritou com tal ato, dando um pequeno empurrão em sua mão.
-Como já dissemos, nós separamos vocês em duplas e trios. -O platinado retomava a explicação.
-Ninguém aqui vai ficar com os seus companheiros, e nem em suas zonas de conforto, vocês todos vão
trabalhar com garotos do grupo oposto ao seu.
-Trabalhar?! -Deidara estava quase arrancando os cabelos. -Eu trabalho na cozinha, meu filho, não
tenho tempo pra outros trabalhos, e muito menos com o Itachi!
-Eu acho que você ainda não entendeu.-Kakashi sorriu de lado. -O Itachi vai te ajudar na cozinha,
Deidara. Vocês trabalharam juntos até a segunda ordem... Ou até que decidam fazer as pazes, aí já é com
vocês.
Pisquei lentamente, absorvendo tudo em silêncio. Conferi a lista mais uma vez, observando que
juntamente com o meu nome e com o de Naruto, havia a palavra “banheiro”. Eu logo deduzi que meu
castigo seria ajudar o loiro em sua tarefa, ou seja, na limpeza noturna dos sanitários.
-Com licença, mas por que o meu nome e o do Sasori tem duas palavras juntas? -Gaara lia o papel
atentamente, bem menos alterado do que o resto de seu grupo. -Aqui está escrito: “jardinagem” e “oficina”.
-Isso é porque vocês vão se ajudar nessas duas tarefas. -Obito explicou. -Você trabalha com a
jardinagem, e o Sasori trabalha na oficina. Agora vocês dois dividiram os turnos.
Eu estava começando a entender.

93
Como eu e meu irmão éramos os únicos que não trabalhavam dentro da penitenciária, Deidara e
Naruto teriam uma certa “vantagem” estando conosco, visto que teríamos que cumprir apenas um turno de
trabalho, e não duas tarefas como todo o resto.
-Você só pode estar brincando. -Itachi riu sarcástico.
-Isso é um absurdo! -Deidara tremia de tanto nervosismo, passando dos limites na hora de arrancar a
lista da parade, jogando-a na cara de Kakashi. -Eu estou fora! Isso não prova absolutamente nada, fazer a
gente trabalhar juntos só vai pior tudo!
-Talvez seja verdade. -Obito deu de ombros, acalmando o platinado silenciosamente, o qual rangia os
dentes para não avançar para cima de Deidara. -Mas talvez trabalhar junto com quem você não se dá bem,
só mostre a vocês o quanto intrigas dificultam a nossa vida. Fazer as pazes é sempre a melhor opção, o
diretor Danzou espera que vocês enxerguem isso, garotos.
-Meu deus, essa é a maior asneira que eu já ouvi em toda a minha vida! -O loiro não mudaria de
opinião tão facilmente. -Eu estou fora, pode esquecer!
-A gente não está pedindo sua opinião, Deidara, nós estamos mandando. -Suspirou tedioso,
recolocando uma lista reserva de volta na parede. -Fiquem atentos ao seus turnos, quem trabalha no
período da noite já pode ir se preparando, as tarefas começam ainda hoje.
Franzi as sobrancelhas em surpresa.
-Hoje? -Perguntei para mim mesmo, não pensando duas vezes na hora de procurar por Naruto,
sendo bem discreto ao passar meus olhos por cada rosto presente, enxergando-o parado no cantinho da
sala.
Era a segunda vez que eu o flagrava que me olhando de volta. Contudo, nossa troca de olhares não
foi rápida igual das outras vezes. Passamos alguns bons segundos a nos encarrarem sem qualquer motivo
aparente, talvez somente porque ambos sabíamos que limparíamos um banheiro juntos em poucas horas.
-Fica tranquilo, Sasuke. -Itachi tocou em meu ombro, desconectando-me de Naruto. -Eu vou falar
com o Obito, talvez ele consiga tirar nós dois dessa.
Eu não disse nada.
Talvez no fundo eu até achasse melhor aceitar esse castigo de uma vez, visto que nem era tão ruim
assim. Afinal, eu passo os meus dias de bobeira dentro da prisão, e não faria mal algum contribuir um pouco
com a limpeza do ambiente.
-Estão liberados! -Kakashi anunciou, ignorando todos os xingamentos e reclamações para cima de si.
-Vem comigo, vamos falar com o Obito. -Itachi me chamou, esperando com que todos saíssem da
sala, inclusive o platinado, para que assim pudéssemos ter um pouco mais de privacidade. -Obito, que porra
é essa?
-Shhh... -Pediu baixinho, espichando seu pescoço para olhar o corredor. Após esse pequeno ato, o
carcereiro suspirou, coçando sua cabeça sem graça. -Foi mal, Itachi, dessa vez não deu pra salvar vocês.
-Como assim?! -Ele já começou a se alterar.
-Eu não posso simplesmente livrar vocês dessa, gente. -Olhou até mim também. -São ordens do
diretor. Se ele souber disso, vai acabar descobrindo sobre mim. Eu posso ser demitido, entendem?
Pelo o que me pareceu, essa última parte acabou amansando o Itachi. No fundo ele também não
gostaria que o Obito fosse demitido, até porque, com a quantidade de reuniões que ambos tinham, com
certeza estariam planejando algo, e precisavam um do outro sempre por perto.
-Aguenta essa. -O moreno tocou no ombro de meu irmão, enquanto o mesmo suspirava irritado.
-Mais pra frente eu vejo se tem um jeito de acabar com isso, mas por ora, tentem aguentar o máximo que
conseguirem.
Eu assenti positivamente, bem menos abalado que o Itachi.
-Vai ser insuportável trabalhar com o Deidara, eu acho que não vou conseguir. -Ele apertou os
próprias têmporas, arrancando uma mini risada minha. Por alguma razão, isso pareceu irritá-lo. -Pra você é
fácil, né?
-Como assim?
-Eu te conheço, Sasuke. -Riu irônico. -Você está todo felizinho que vai trabalhar com aquele novato,
ou você acha que eu não percebi?

94
Meus olhos se reviraram com força.
-De novo isso? -Rosnei. -Por favor, vê se esquece essa história, você está ficando maluco!
-Olha lá como você fala comigo! -Segurou na altura de meu cotovelo.
-Gente. -Obito coçou a garganta, meneando com a cabeça para que saíssemos da sala, visto que
Kakashi retornava mais uma vez, trazendo em suas mãos um copo de café. -Depois a gente conversa, sim?
Puxei meu braço para longe de si, empinando meu nariz ao passar em sua frente, deixando-o para
trás.
Essa nossa briga ainda iria longe.
Naruto On

Quando a grade de minha cela se fechou, eu nem me dei o trabalho de sentar em minha cama, visto
que em poucos minutos, Obito viria ao meu encontro para que eu cumprisse meu turno de trabalho, só que
dessa vez, acompanhado de alguém mais.
Sasuke Uchiha limparia o banheiro comigo.
Eu nunca imaginei que uma brincadeira tão “inocente” igual ao cabo de guerra, acarretaria em
tamanha confusão. Além dos garotos de nosso grupo estartem fisicamente feridos, dando um destaque
principal em Kiba, o qual ainda permanecia na enfermaria, nós também fomos obrigados a cumprirmos um
castigo dado exclusivamente pelo diretor da penitenciária.
Era tudo muito inusitado para mim, principalmente pelo fato de eu não ter participado “diretamente”
da briga. Eu nem cheguei a bater em ninguém, somente larguei a corda seguindo as ordens de Deidara, e
fugi como o grande covarde que sou.
É claro que se não fosse pelo Sasuke, as coisas poderiam estar bem piores para mim, eu poderia
estar que nem o Kiba. Ainda não me saía da cabeça o modo como tudo aconteceu, e como foi chocante ter
sido salvo pelo o Uchiha.
Obviamente eu utilizaria o nosso tempo a sós no banheiro para conversarmos, ou pelo menos tentar
puxar algum assunto com ele, afinal, eu precisava agradecê-lo pelo o que aconteceu.
-Merda, merda, mil vezes merda! -Deidara gritava descontroladamente, desferindo chutes no pé de
seu beliche. -Eu não acredito que eu vou ter que dividir a minha cozinha com o Itachi exibido Uchiha!
-E eu não acredito que vou ter que dividir as minhas plantas com o Sasori! -Era um pouco engraçado
ver o Gaara irritado, cruzando os braços emburrado, apesar de que ele estava bem menos alterado do que
o loiro.
-E eu não acredito que vou ter que limpar as privadas com o Sasuke...? -A frase saiu tão estranha
que eu comecei a rir de puro nervosismo, receoso do que poderia acontecer.
-Argh! -Deidara arranhou a madeira de sua cama, deixando um rastro com sua unha. Ele ficou uns
cinco segundos calado, até que um sorriso maldoso cresceu em seus lábios. -Já sei! Eu vou colocar veneno
no molho de tomate e falar pro Itachi provar, dai na primeira colherada ele cai duro no chão!
Gaara riu divertido.
-Okay, mas aonde exatamente você vai conseguir o veneno?
O loiro ficou em silêncio, olhando para ele reflexivamente, até que sua ficha finalmente caiu. Não
daria para encontrar nenhum tipo de veneno dentro de uma penitenciária, nem se ele fizesse muito esforço
para procurar.
-Merda! -Socou a parede atrás de si.
-Naruto Uzumaki?
Senti um pequeno calafrio tomar conta de mim, virando-me para ver Obito apoiado sobre nossa
grande, iluminando-me com a sua habitual lanterna.
-Oi, senhor.
-É hora do seu turno. -Falou simplista, abrindo a nossa cela.
-O-Oh, certo. -Olhei para ambos os garotos, carregando um olhar levemente assustado. Eu estava
nervoso com a situação, mas nem tanto assim. Nada comparado a primeira vez em que me encontrei com
Sasuke no banheiro. -Tchau, gente.
-Tchau. -O ruivo foi quem respondeu, enquanto Deidara resmungava alguma coisa.
95
Acompanhei o carcereiro para longe da cela, imaginando se Sasuke já estaria no banheiro quando eu
chegasse, ou se o Obito iria buscá-lo logo depois de mim. Eu estava com vontade de lhe perguntar, mas
decidi ficar de boca fechada.
Ao trajarmos o mesmo percurso de sempre, o carcereiro ascendeu a luz do banheiro, deixando a do
corredor apagado como habitualmente. O ambiente estava vazio, assim como eu já imaginei que estaria.
Sasuke não havia chegado.
-H-Hm, senhor? -Chamei, recebendo um “huh?” em resposta. -Aonde está o Sasuke Uchiha? Não
era ele que ia trabalhar comigo?
-Sim, é ele mesmo. -Respondeu. -O Kakashi já vai trazê-lo, pode ir começando a limpar.
-A-Ah, entendi. -Concordei atrapalhado, indo de encontro ao balde de limpeza do lado da porta. Para
a minha felicidade, o banheiro nem estava tão sujo se comparado aos outros dias.
-Não se preocupe. -O policial falou de repente, encostando-se no batente da porta. -O Sasuke nem é
tão ruim quanto parece, talvez vocês dois possam se dar bem.
Franzi o cenho confusamente.
-V-Você conhece bem o Sasuke? -Indaguei curioso, estranhando o fato de vê-lo falar tão
“intimamente” do Uchiha mais novo.
Com a minha pergunta, notei seus ombros tornando-se levemente mais tensos.
-Não, eu não conheço. -Disfarçou, coçando o nariz. -Vai, Uzumaki, começa logo.
-S-Sim, senhor. -Assenti atordoado, virando de costas para si, sentindo-o se afastar, até que eu
ficasse oficialmente só.
Confesso que estranhei tal comentário vindo dele, e tão aleatoriamente, no entanto, naquele
momento, meu cérebro não estava em condições de pensar sobre isso. Eu estava absurdamente ansioso
pela chegada de Sasuke.
Para me distrair, iniciei minha habitual limpeza, começando primeiramente pelos espelhos, jogando
água para tirar toda aquela sujeira, fazendo o mesmo com as pias a minha frente.
Deixei o balcão lotado de espuma, esfregando de modo ritmado toda a sujeira impregnada, acabando
por gemer dolorido com a minha própria força, visto que o machucado de minha mão, o qual ganhei em
meio ao jogo do cabo de guerra, ainda estava aberto.
-Pronto, Sasuke, está entregue.
Virei assustado em direção a origem da voz, batendo minhas mãos em cima do balcão, levantando
uma quantidade considerável de espuma para cima, voando diretamente em meu rosto e cabelo.
Me limpei atrapalhado, torcendo para que ninguém tivesse visto, mas para meu azar, Sasuke e
Kakashi me fitavam ao mesmo tempo, o moreno de modo neutro, enquanto o carcereiro ria da minha figura.
-Bom trabalho pra vocês. -O platinado declarou, saindo assoviando para longe dali.
Limpei minhas mãos no uniforme, ignorando a ardência de meu machucado, corando levemente com
a atenção que recebia do Uchiha, o qual vinha entrando lentamente, mantendo suas mãos no bolso de sua
calça.
-O-Oi, Sasuke. -Cumprimentei-o, pensando em um modo prático para iniciar um diálogo com ele,
mas que também não ficasse um clima estranho. Afinal, passaríamos bastante tempo juntos se Deidara e
seu irmão não decidissem fazer as pazes. -Como você está?
-Bem. -Respondeu meio seco, franzindo o cenho. -E você?
-E-Eu? -Me surpreendi por ter recebido a mesma pergunta.
-Sim. -Ele deve ter me achado um maluco. -Tem mais alguém no banheiro, Naruto?
-N-Não. -Baixei minha cabeça envergonhado. -Eu estou bem também.
-Legal. -Suspirou impaciente. -E aí, por onde eu tenho que começar? Quando mais rápido for, mas
rápido termina.
-A-Ah, claro. -Mexi em minhas mãos nervosamente, mordendo meu lábio inferior. -Hm, eu posso
limpar as privadas, assim você não precisa ficar com a parte ruim.

96
-Tá, e eu limpo o que, então? -Cruzou os braços, tomando a liberdade de se aproximar, saindo do
meio do banheiro.
-O que você quiser. -Respondi baixinho, com um pouco de medo de escolher por ele, mas acabar
desagradando-o. -S-Se você quiser, eu também posso limpar tudo, e você só finge que me ajudou, não tem
problema nenhum.
Sasuke negou com a cabeça, desaprovando minha sugestão. Fui ficando tenso com a nossa
proximidade, especialmente tê-lo parado em minha frente, erguendo seus braços para trás de mim,
mantendo meu corpo prensado contra o balcão.
Baixei minha cabeça para não precisar olhá-lo nos olhos, esperando desconfortavelmente que ele
pegasse o que tanto procurava, o que eu logo identifiquei ser o meu pano e o balde com a água da pia.
-Eu limpo as paredes. -Declarou normalmente, carregando uma voz mais grave pelo fato estar
falando baixo e perto de mim, deixando seu hálito de menta bater em minha pele.
Ao dirigir-se para a parede no outro canto do banheiro, fiquei uns cinco segundos com cara de tonto,
até que tive que acordar para a realidade, pegando o rodo ao meu lado para iniciar meu trabalho no chão,
despejando um pouco de água a minha volta.
Tentei me concentrar em limpar o piso, mas confesso que tive dificuldades, visto que meu copo
parecia ter vida própria na hora de me fazer virar em direção ao moreno, o qual limpava a parede de costas
para mim, conferindo-o a cada cinco segundos.
Honestamente, eu nunca imaginei que o Sasuke fosse se esforçar tanto para ajudar na limpeza do
banheiro. Ele estava indo bem passando o pano por cada mínima sujeira presente na parede.
Sacudi minha cabeça, voltando à realidade ao escutar um suspiro baixo e doloroso vindo do Uchiha,
enquanto baixava seu braço direito lentamente, acariciando-o em um local específico.
Senti uma pontada ruim em meu peito, recordando que possuía uma parcela da culpa por Sasuke
estar machucado dessa forma. O cabo de guerra trouxe prejuízo à todos.
-E-Está doendo muito? -Depois de uns minutinhos refletindo, finalmente tomei coragem para lhe
perguntar, sentindo meu rosto esquentar ao ir de encontro aos seus olhos negros e intensos. -Se você
quiser eu posso limpar nos lugares mais altos, assim você não precisa fazer tanto esforço.
-Não precisa, obrigado. -Respondeu indiferente. Outra vez, eu fiquei extremamente confuso com
tanta “educação” vinda de sua parte. Ele era mesmo diferente de seu irmão, eu precisava admitir. -Naruto,
você está sangrando.
-O-Oi? -Indaguei atordoado, olhando para o espelho atrás de mim, e por alguma razão, procurei por
algo em meu rosto. -Do que você está falando?
Ao me virar novamente, ali estava ele.
O Sasuke era rápido, eu precisava admitir. Parado de frente a mim, o moreno havia deixado de lado
os produtos de limpeza, olhando atentamente para minha mão, também deixando seu olhar no chão a
nossa volta.
O azulejo possuía gotículas de sangue, assim como o rodo que eu segurava em minhas mãos,
marcado pelo líquido avermelhado.
Meu machucado aberto havia causado a maior sujeira no banheiro, mandando pelo ralo todo o
trabalho que eu tive na hora de limpa-lo.
-O-Oh não... -Fiquei nervoso com a situação, mas principalmente pelo Uchiha estar me olhando.
Comecei a limpar minha mãe no uniforme, fazendo uma careta de dor por isso.
-Não faz assim. -Sasuke tocou em meu punho, impedindo-me de continuar. Fitei-o de modo confuso,
porém tímido, permitindo que ele segurasse em minha pele, virando a palma de minha mão para cima.
-Esse uniforme é esfiapado, ficar esfregando a mão assim só vai deixar pior.
Fiquei completamente paralisado, o autorizando a levar minha mão em direção a pia, ligando a
torneira para colocá-la em abaixo. Sasuke apoiava a palma de sua mão por baixo da minha, utilizando o seu
dedão para lavar meu machucado, parecendo bastante concentrado no que fazia.
Eu, por outro lado, me sentia estranhamente hipnotizado com tal atitude, não conseguindo me
lembrar da última vez em que alguém foi tão cuidadoso comigo ali dentro.
Ao pegar o sabonete, o Uchiha me deu uma encarada rápida, usando como um tipo de aviso
silencioso, alertando-me que iria arder. Fechei meus olhos, já esperando pelo pior, gemendo baixinho e
dolorido com a esterilização.
97
-Você é mesmo um bebê. -Comentou em voz baixa, chamando-me pelo menos apelido “maldoso”.
Dizendo que eu era um bebê, Sasuke quis passar a mensagem de que eu não aguentava nem mesmo a dor
de um machucado. -Pronto, dá o rodo pra mim, deixa que eu cuido disso.
-O-Obrigado. -Meu rosto ficou rubro, ao mesmo tempo em que eu levava a mão tratada ao peito,
ainda assimilando todo o ocorrido. -Sasuke?
-O quê?
-Me desculpa. -Declarei sem pensar muito, assistindo seu rosto se tornar um verdadeiro ponto de
interrogação. -D-Desculpa pelo o que aconteceu com o seu braço, eu nunca quis ter entrado naquele jogo
idiota.
-Tudo bem. -Deu de ombros, dando a entender que não ligava muito para isso. -Eu também queria
me desculpar com você.
Arregalei meus olhos em surpresa, já baixando minha cabeça magoado, e por alguma maneira,
ciente do que ele me diria a seguir.
-O que eu fiz você fazer pra conseguir a droga, não foi nada legal da minha parte. -Foi um jeito
estranho de se “desculpar”, só que foi bem válido para mim. -Eu nunca quis que você passasse pelo o que
passou com o Kakashi.
Senti meus olhos se enxerem de água.
Era inevitável não sentir-me emocionado de um jeito ruim, ao me recordar do que fui “obrigado” a
fazer para conseguir trazê-lo as drogas em mãos. Aquele foi, sem sombra de dúvidas, um dos piores
momentos de toda a minha vida.
-E-Está tudo bem. -Funguei meu nariz, secando uma única lágrima solitária que escapou. Estávamos
indo tão bem em nossa conversa, que eu não gostaria de estragar tudo chorando. -Ah, e obrigado por
ontem também. Sem você, talvez eu estivesse acabado que nem o Kiba.
Decidi lhe lançar um sorriso, que apesar de bem quebrado, foi o melhor que eu consegui naquele
momento.
-Relaxa. -Ele não sorriu de volta, entretanto, pude reparar em uma “melhoria” de sua parte, bem mais
suavizado desde o momento em que chegou. -Agora chega de desculpas e agradecimentos, vamos ao
trabalho, eu quero acabar isso logo.
-A-Ah, certo. -Assenti desajeitado, me recompondo mentalmente.
Aquele era o primeiro diálogo realmente descente que eu tive com o Sasuke Uchiha, e sinceramente,
eu gostei.

Capítulo 10 - O que está acontecendo comigo?

Itachi On

Devido ao clima frio e chuvoso, o pátio aberto encontrava-se estranhamente vazio, dando-me a visão
perfeita da chuva caindo em meio ao chão, bem fraquinha, mas que molhava gradualmente todo o ambiente
em minha volta.
Um vento congelante soprava em meu resto, deixando cada pelo de meu corpo arrepiado com a
sensação, embora eu gostasse de me sentir daquela maneira. Eu e Sasuke sempre preferimos dias mais
nublados e fechados, além de adorarmos ficar em meio a chuva, exatamente como nos encontrávamos
naquele momento.
Apesar de acharmos algo libertador aproveitar a garoa que caia do céu, o clima estava absurdamente
congelante, o que acarretou em uma pequena tremedeira da parte de meu irmão, o qual mantinha-se
apoiado em minha perna, abraçando seus joelhos contra o peito.
O clima entre nós dois ainda estava um pouco conturbado, no entanto, continuávamos a conversar
normalmente, mesmo que muitas vezes acabássemos nos desentendendo por coisas bobas, como por
exemplo, quem de nós ficaria com o beliche de cima.
Obviamente, sou eu quem sempre ganho as discussões.
O Sasuke vem se mostrando mais rebelde recentemente, agindo de modo mais rude, e até mesmo
me destratando na frente do grupo, o que é claro, eu não deixo passar. Com um bom puxão de orelha, ele
sempre acaba se amansando.

98
-Eu não estou aguentando de frio. -Ele murmurou trêmulo, afundando seu rosto em minha coxa,
deixando seus dentes baterem incontrolavelmente. -Deve estar fazendo uns dez graus, ou menos.
-É. -Respondi indiferente, nenhum pouco incomodado com a temperatura. Como já citei
anteriormente, eu sempre gostei de me sentir daquela forma. -Se você está com tanto frio assim, pode
entrar.
-Eu vou mesmo. -Declarou, abraçando seus próprios braços ao se levantar, esfregando-os numa
falha tentativa de se aquecer. -E você deveria também, Itachi, é loucura ficar tanto tempo aqui fora.
-Não, eu estou bem aqui. -Dei de ombros, enquanto ele arqueava uma sobrancelha. Agora qualquer
coisa que eu fizesse, era motivo pro Sasuke desconfiar de mim. Ele claramente não havia superado a nossa
última briga. -Vai lá, eu ainda quero me preparar pra esse maldito turno de trabalho que eu vou ter que
enfrentar.
Ele riu fraco.
-‘Tá, boa sorte.
Fiquei observando-o deixar o pátio, agradecendo mentalmente por ter a oportunidade de ficar
sozinho, mesmo que por pouco tempo, visto que em alguns minutos eu precisaria ir até a cozinha, aonde
Deidara estaria me esperando para que começássemos a preparar o almoço.
Cumprir um turno inteiro de trabalho com o loiro, e ainda por cima diariamente, seria absurdamente
insuportável de aguentar. Honestamente, eu ainda estava bastante desacreditado por precisar me submeter
a isso.
Porém, não seria eu quem abriria mão do meu orgulho para que fizéssemos as pazes, se o Deidara
quisesse isso, ele mesmo teria que vir até mim se desculpar. Eu me recusava a tomar a inciativa.
Nosso relacionamento é algo complicado de ser explicado, especialmente por já termos sido
“próximos” no passado, e possuirmos uma certa história na época em que o loiro ainda pertencia ao meu
grupo.
Eu e meu irmão sempre gostamos de discutir com bastante cautela quem é “interessante” o
suficiente para se juntar ao nosso grupo, e quem seria de certa forma, útil para nós em algum sentido. Com
o Deidara, isso não foi diferente.
Sendo um recém-chegado dentro da penitenciária, Deidara atraiu-me com sua personalidade e
temperamento. O loiro foi o único novato que conheci, que nunca baixou sua cabeça para ninguém, além de
nunca ter permitido qualquer tipo de assédio para cima de si. Ele sempre foi mais ágil, esperto e durão do
que todo o resto.
Naquela época, por volta de dois anos atrás, eu o considerei bom o suficiente para ingressar ao
nosso grupo.
O meu convite, é claro, foi aceito por ele.
Após isso, começamos a passar bastante tempo juntos, nos conhecendo aos poucos, e muitas vezes
conversando pra valer, algo bastante incomum vindo de mim, visto que a única pessoa com quem sempre
gostei de manter um diálogo cumprido e elaborado, era com o meu irmão.
Eu reconheço que estávamos bem chegados, muito mais do que eu deveria permitir. O nosso
envolvimento foi ficando cada vez mais sério, e perigosamente aparante também.
Falando a verdade, eu perdi a noção de quantas vezes demos desculpas esfarrapadas ao grupo
para escaparmos de ocasiões chatas, somente para que pudéssemos ficar a sós, e transar em qualquer
buraco dentro da penitenciária.
Nunca chegamos a demostrar afeto em público, apesar de que eu tenha quase certeza que o Sasuke
já havia reparado em nós dois, e somente não comentou nada por pura incerteza, ou por medo de me
aborrecer.
E foi por esse motivo que as coisas começaram a desandar entre nós dois. Eu sempre fiz questão de
deixar claro que não queria assumir nosso relacionamento, e inicialmente, o Deidara realmente parecia ter
entendido o meu lado.
Até que um dia, o inesperado aconteceu
Em meio a nossa habitual mesa do refeitório, nosso grupo jantava silenciosamente, enquanto eu e
Deidara aproveitávamos a situação para trocarmos olhares maliciosos e repletos de segundas intenções,
ambos querendo exatamente a mesma coisa.

99
Foi quando o loiro decidiu se pronunciar, esquecendo de nossa regra principal na hora de chamar por
mim, dizendo-me que precisava falar comigo em particular. Obviamente, todos da mesa estranharam tal
comportamento, até porque, eles sabiam que a única pessoa que tinha autorização para chamar por mim,
era somente o meu irmão.
Eu logo o respondi, afirmando que aquela não era uma boa hora, mantendo minha postura para
disfarçar a situação. Contudo, o loiro insistiu, ignorando minha repreensão, dizendo que era um caso de
urgência, me deixando receoso com o fato de que os garotos pudessem descobrir sobre nós.
Eu continuei negando, mas dessa vez, de modo extremamente bruto, usando toda a minha grosseira
para disfarçar o clima instalado entre nós. Me lembro com clareza o momento em que sua expressão
tornou-se sombria, mas de certa forma, chateada também.
Dias se passaram após o incidente, nós ainda nos encontrávamos às escondidas, só que com bem
menos frequência. Eu comecei a nota-ló cada vez mais distante, e por essa razão, decidi ir atrás de si,
descobrindo o real motivo de tê-lo tão afetado e irritado.

Flashback On
-Você está tendo um caso com o seu irmão?
Eu tive que sacudir minha cabeça, ficando uns cinco segundos em silêncio, até que uma risada curta
e baixa escapou de meus lábios, deixando-o ainda mais enfurecido.
-Como é que é? -Pensei ter escutado errado.
-Eu perguntei se você está tendo um caso com o seu irmão, caralho. -Deidara fez questão de repetir,
falando palavra por palavra, tudo bem pausadamente.
Meu rosto tornou-se sério.
-De onde você tirou isso? -Perguntei grosseiramente, começando a odiar o fato de tê-lo duvidando de
mim. Eu nunca o trairia dessa forma, e muito menos com o meu próprio irmão. -Essa é a coisa mais nojenta
que eu já ouvi, Deidara, o que te faz pensar isso?
-O que me faz pensar isso? -Riu sarcástico, esfregando o próprio rosto. -Você me trata igual merda,
Itachi!
Travei o maxilar, cruzando os braços na altura do peito. Confesso que o meu silêncio, pela primeira
vez em muito tempo, foi por falta de argumentos. O que eu poderia dizer para ele, afinal? Aquilo era, em
partes, uma verdade.
Eu sempre o tratei muito mal na frente dos outros, colocando-o na mesma posição que o resto do
grupo, como se ele fosse só mais um dos membros que eu precisava aturar, e não o meu namorado.
-O quê? Agora vai ficar quietinho, é isso? -Me olhou inconformado. -Eu estou cansado Itachi,
cansado de você, cansado do jeito que você fala comigo, do jeito que você me destrata, cansado de tudo!
Isso, eu e você, é tóxico!
-Eu já falei que é tudo uma questão de sobrevivência e—
-Foda-se você e a sua sobrevivência! -Socou a parede atrás de si. -Se você quer ficar com o Sasuke,
então vai lá! Fica com ele, e me esquece! Você trata ele melhor que todo mundo mesmo... Agora só falta se
assumirem!
Segurei em seu pulso, parando-o no meio do caminho. Eu não deixaria que ele saísse daquela
forma, e muito menos com aquele pensamento errôneo. O Sasuke sempre foi a minha prioridade, e por
mais que eu gostasse de tratá-lo melhor e diferente do que os outros, o Deidara também era importante
para mim.
-Me solta, filho da puta! -Puxou seu braço para si, dando um empurrão em meu peito, fazendo-me
fechar os olhos para controlar a minha raiva. Eu simplesmente odiava quando ele começava com um de
seus pitis, e não me dava a oportunidade de falar.
-Eu não tenho um caso com o Sasuke, caralho! -Insisti, rosnando próximo de seu rosto, prensando-o
contra a parede. -Para de falar essas merdas! Você precisa acreditar em mim, eu nunca—
-Isso já não importa mais! -Debateu-se violentamente, conseguindo se soltar de mim. -Eu não quero
mais saber de você, Itachi. Quer saber de uma coisa? Você me faz mal!
Dei um passo para trás, sentindo uma pontada aguda em meu peito. Eu precisava admitir que aquela
briga havia mexido comigo.

100
-Vai lá com o Sasuke. -Passou ao meu lado, chocando nossos ombros com sua cabeça baixa, talvez
estando tão chateado quanto eu.
Eu fiquei sem reação alguma, e por isso, nem me dei o trabalho de correr atrás de si.
Flashback of

Após essa nossa discussão, as coisas ficaram tensas e difíceis de se aguentar. Mesmo que depois
de brigados, Deidara ainda ficou mais um tempo em meu grupo, o que acabou me enchendo de esperança,
imaginando que ele ainda quisesse algo comigo.
Entretanto, eu rapidamente mudei de opinião.
A nossa última briga foi a mais séria de todas, até porque, não envolveu somente nós dois, visto que
até mesmo o Sasuke acabou incluído.
Foi bem no horário de nosso banho, os garotos do grupo se lavavam embaixo do chuveiro, enquanto
Deidara mantinha-se encostado no canto da parede, observando com raiva a cena em sua frente.
Um ato completamente inocente entre mim e Sasuke, foi o que acabou mexendo com a cabeça de
Deidara, fazendo-o enxergar erroneamente a situação uma outra vez. Eu nunca imaginei que ensaboar as
costas de meu irmão fosse deixa-lo tão enciumado e fora e si.
Os momentos seguintes, foram de pura tensão. Ver o loiro avançar para cima de meu irmão,
aproveitando que o mesmo estava com a guarda-baixa, fez o meu sangue subir de um modo inexplicável.
Ele nem chegou a encostar no Sasuke direito, visto que consegui alcança-lo a tempo, não medindo
esforços na hora de agredi-lo fisicamente, sendo retribuído na mesma violência.
Foi por conta dessa briga que recebi minha maior e mais profunda cicatriz em meu ombro, deixando
uma na mesma largura em seu abdômen.
Após isso, nunca mais fomos os mesmos, eu simplesmente não consegui perdoa-lo pelo o que
aconteceu, além dele não ter conseguido superar o fato de que precisei me basear em minhas próprias
regras de sobrevivência por puro medo de que outras pessoas descobrissem sobre nós.
Chacoalhei minha cabeça de um lado para o outro, esfregando meu rosto úmido pela garoa,
espantando aquelas memórias, que além de antigas, eram dolorosas.
Levantei-me com bastante esforço, quase grunhindo de tanta frustração. Aquela era a hora de meu
turno, e sinceramente, eu não fazia ideia de como as coisas iriam funcionar. Afinal, eu nunca precisei
trabalhar aqui dentro.
Eu mando nesse lugar desde o dia em que pisei nele.
Caminhei desanimado para a parte de dentro da penitenciária, não me preocupando em me secar,
molhando todo o piso com a água que escorria de meu cabelo e uniforme. Os presidiários que limpavam o
local me fitaram um pouco amargurados, mas somente com uma encarava raivosa minha, baixaram suas
cabeças medrosamente.
-E aí, Itachi?
Eu nem precisei me virar para saber que se tratava de Obito, o qual vinha caminhando ao meu lado,
tentando disfarçar o fato de estar conversando tão intimamente comigo.
-Oi. -Respondi mal-humorado.
-Você ‘tá indo pra cozinha? -Indagou tranquilamente, girando um molho de chave em seu dedo
indicador. -Agora é a hora do seu turno.
-Eu sei. -Resmunguei, nenhum pouco afim de manter um diálogo com ele. No fundo, eu me
encontrava levemente irritado com o Obito. Ele poderia sim ter feito um esforço para me livrar desse castigo,
mas não deu o seu melhor. -É você quem vai tomar conta da cozinha hoje?
-É, sou eu mesmo.
-Ótimo. -Dei graças a Deus. Se fosse qualquer outro carcereiro, tipo o Kakashi, eu com certeza me
irritaria ainda mais.
Ambos seguimos em direção ao nosso destino, observando o refeitório se encher aos poucos. O
horário do almoço seria em pouco tempo, e por isso, precisávamos chegar com antecedência para
prepará-lo.

101
Adentramos a cozinha em conjunto, comigo um pouco mais à frente, tendo a visão perfeita do
momento em que varias cabeças viraram-se em minha direção, todos chocados com a minha presença.
Obviamente, ninguém ali esperava que eu, Itachi Uchiha, trabalharia preparando comida para outros
detentos.
-O que vocês tão olhando, cacete? -Desafiei-os, dando um passo ameaçador para frente, botando
medo em todos.
-Pega leve, Itachi. -Obito sussurrou ao meu ouvido. Eu estava me segurando para não iniciar uma
discussão bem ali.
-Ah não, olha só pra isso!
Também não foi necessário procurar pela origem da voz. No segundo seguinte, Deidara já estava
caminhando agressivamente em minha direção, segurando em sua mão uma espátula, usando-a como uma
espécie de ameaça.
-Você está encharcado, caralho! -Ele apontou para a poça de água que se formava ao meu redor
devido a chuva que tomei. Seu rosto começou a se tornar rubro, o que é claro, era por conta de sua raiva.
-Vai se secar, seu animal! Eu não vou deixar você trabalhar nesse estado!
A sua gritaria foi tão repentina, que demorou por volta de uns dez segundos para que eu assimilasse
tudo a minha volta, dando a oportunidade de Obito responder por mim.
-Não começa, Deidara. -Avisou, tocando em meu ombro. -Ele acabou de chegar, vamos com calma,
sim?
-Com calma?! -Agora ele levantava a espátula em direção ao moreno, ameaçando-o com o material.
-Ele cagou com a minha cozinha inteira, olha só pra isso! Não faz nem um minuto que esse filho da puta
chegou, e o lugar já está todo destruído!
Eu tive que rir de seu exagero. O que mais me impressionava, era que depois de dois anos o
conhecendo, ele continuava exatamente o mesmo.
-Mas que dramalhão, hein? -Impliquei com ele, sorrindo para irritá-lo. -Você nunca se cansa de gritar
e fazer escândalo? A sua garganta não dói não, Deidara?
-Sabe o que vai doer?! -Ergueu a espátula, chacoalhando-a violentamente para cima de mim.
-Quando eu enfiar essa porra aqui na sua goela!
-Ei, ei, já chega! -Obito o parou, empurrando seu ombro para trás. -Por favor, gente, vamos tentar
manter a ordem, sim? Deidara, explique para o Itachi o que ele deve fazer, mas sem brigas.
Sorri provocativamente em direção ao loiro, cruzando meus braços na altura do peito. Com um
grunhido enfurecido, Deidara baixou sua espátula, esfregando seu rosto para se acalmar.
-Você vai fritar os ovos, caralho! -Falou diretamente comigo, colocando um palavrão desnecessário
no final da frase. Toda aquela gritaria já estava me cansando. -Pelo menos isso você sabe fazer?!
-Sei. -Respondi seco.
-Ótimo, você é um por cento menos inútil, meus parabéns. -Fingiu bater palmas, atirando uma
frigideira em minha direção, quase acertando a minha cara. Eu o olhei enraivecido, soltando todo o ar de
meus pulmões para controlar minha irritação. -Pode me olhar com essa cara de demônio, eu não ligo! Aqui
nessa cozinha quem manda sou eu!
-Menos, Deidara. -Obito murmurou atrás de nós, sentando-se em uma bancada vazia. -Comecem
logo, o almoço é daqui vinte minutos!
A cozinha inteira começou a se preparar, cada um seguindo com suas respectivas funções.
Deidara foi o único que ficou parado, olhando-me com os seus braços cruzados, enquanto batia seus
pés impacientemente no chão.
Soltei um suspiro irritado, decidido de que seguiria as “ordens” de Obito, torcendo para que o tempo
passasse rápido. Passei com a frigideira ao seu lado, dirigindo-me até o fogão, mas que para a minha
infelicidade, ficava de frente a janelinha da cozinha, ou seja, qualquer pessoa que passasse do lado de fora,
me veria trabalhando de cozinheiro.
Eu tinha quase certeza de que ele me colocou ali na intenção de me humilhar.
-O prato do dia está grudado aqui na parede, seus animais, prestem atenção nos ingredientes! -O
loiro berrava para toda a cozinha escutar, deixando todos os detentos encolhidos de medo.

102
Honestamente, aquilo me parecia trabalho escravo. O Deidara pegava muito pesado com os seus
ajudantes, não que eu me importasse, é claro. No entanto, se ele começasse a me destratar também, eu
não mediria esforços para retribuir na mesma moeda.
Liguei o fogão rapidamente, não me recordando da última vez em que cheguei perto de um. Faziam
muitos anos que eu não cozinhava. Joguei olho na panela, selecionado alguns ovos da cartela, quebrando
todos com perfeição.
O loiro me avaliava indiscretamente, passando atrás de mim com sua espátula, batendo-a
ritmadamente na palma de sua mão. Ele realmente pensava que estava me intimidando daquela maneira,
quando na verdade, a única coisa que ele estava fazendo, era me tirando do sério.
Passei um tempo concentrado em frita-los, temperando da maneira que eu achei correta, não me
importando com a lista de ingredientes ao meu lado, a qual dizia explicitamente quais temperos eu deveria
utilizar.
Depois de uns dois minutos da mesma forma, suspirei assustado ao sentir mãos alheias em contato
com o meu cabelo, puxando-o para trás de modo bem agressivo e completamente inesperado. Me virei na
defensiva, já esperando pelo pior, deparando-me com Deidara a me fitar enfurecido.
-Seu nojento! -Ele segurava meus fios para cima, mantendo-os presos em um rabo-de-cavalo com
suas próprias mãos. -Prende esse cabelo, você é o único porco que está com ele solto!
-Me larga. -Rosnei grosso, odiando o fato de tê-lo me segurando daquela forma, mas principalmente,
por estar em contato com o meu cabelo.
-Prende o cabelo, caralho! -Ignorou o meu pedido, puxando meus fios com ainda mais força,
esgotando toda a paciência que ainda me restava. Eu fiz questão de fazer o mesmo com ele, agarrando
violentamente em suas madeixas. -Seu filho da puta, me solta!
Grunhimos em conjunto, ambos soltando ruídos enfurecidos, puxando nossos cabelos com uma
agressividade fora do normal. A cozinha inteira pareceu parar para assistir, inclusive alguns detentos que
passavam do lado de fora, todos assustados com tamanha gritaria.
Obito, por sua vez, mantinha-se sentado no balcão, assistindo a cena com suas pernas cruzadas, ao
mesmo tempo em que devorava um pote de azeitonas, parecendo se divertir com o que via.
-Amarra esse cabelo, seu nojento! -Deidara puxou os fios de minha nuca para trás, levando meu
pescoço junto.
-Me solta, ou eu vou te matar! -Fiz o mesmo com ele, desgrenhando todo o seu penteado ao puxa-lo
dolorosamente.
-Senhor, faz alguma coisa! -Um detento qualquer foi quem chamou por Obito, impressionado por ele
não estar fazendo nada, apenas sentado, comendo, e entredito com a situação. -Eles vão quebrar tudo!
-Certo, vamos parar! -Ele finalmente reagiu, soltando uma risada fraca ao descer do balcão,
caminhando em nossa direção. -Garotos, por favor, soltem.
Com uma última encarada repleta de ódio, eu e Deidara acabamos nos acalmando, soltando do
cabelo um do outro. Nossos fios ficaram bagunçados, além de estarmos com nosso coro cabeludo dolorido.
-Itachi, prende o cabelo. -Obito declarou após um tempo, apontando para alguns presidiários ao
nosso redor. -É uma questão de higiene, todos são obrigados a prenderem.
-Viu só?! -O loiro gritou provocativamente. -Ou você prende esse cabelo nojento, ou você vai ter que
usar uma toquinha!
-Era só você ter me pedido com educação, seu maluco do caralho! -Berrei no mesmo tom, dando um
tapa no fogão atrás de mim, que por sinal, já havia feito os ovos serem queimados. -Você já chegou
puxando o meu cabelo!
-Com educação?! -Agarrou na espátula uma outra vez, querendo avançar novamente para cima de
mim. -Eu nunca, nunca, nunca vou ter um pingo de educação com você! Eu quero mais é que você se—
-Garotos, por favor. -O carcereiro pediu pacificamente, retirando o material das mãos do loiro,
suspirando de modo bastante esgotado. -Mantenham uma distância segura um do outro, sim? Dessa forma
conseguiremos evitar futuras discussões.
-Eu acho ótimo. -Declarei com raiva, fitando-o mortalmente, sendo retribuído da mesma forma.
-Quanto mais longe eu ficar dessa maluco, melhor para mim.
-Isso, perfeito. -Obito fingiu traçar uma linha imaginária com sua mão, dando a entender que estava
separando nós dois. -Itachi, daqui pra cá, é aonde você fica. E você, Deidara, fica com o lado direito.
103
O loiro empinou o nariz emburrado, mas também não disse nada que concordasse ou discordasse
com a ideia do moreno. Talvez no fundo fosse mesmo melhor que mantivéssemos a cozinha “separada”
daquela maneira.
-Prende o cabelo, por favor. -Obito falou comigo.
-Eu não tenho elástico. -Respondi grosso.
-Deidara, empresta um pra ele.
-Oi?! -O silencioso do loiro durou pouco. -Você só pode estar brincando!
-Não. -Suspirou cansado. -Agiliza logo, os detentos já estão pra chegar e vocês nem começaram
direito. É só um maldito elástico, Deidara.
-Argh! -Ele bufou, tirando um elástico da cor laranja florescente de seu pulso, atirando-o
raivosamente em minha direção. -Esse é o meu elástico favorito, se você perder, eu te mato!
Confesso que não consegui me segurar com sua justificativa, rindo inconformado de sua ameaça.
Até mesmo com um elástico o loiro era possessivo.
-Prende um coque! -Acrescentou aos berros, fazendo o mesmo em seu próprio cabelo.
Amarrei meu cabelo como foi solicitado, me sentindo ridículo por precisar me submeter a isso. Virei
de costas para o resto da cozinha, voltando a me concentrar em fritar os malditos ovos.
Cada detento presente já havia voltado para suas devidas tarefas, o que facilitou para que eu
pudesse retomar a minha concentração também, recolocando outros ovos na frigideira. Retemperei a
comida da mesma forma, cozinhando na base da agressividade, batendo as panelas, socando as gavetas e
até mesmo xingando sozinho.
-...Aonde está o Itachi, ele não vai almoçar com a gente?
Arregalei meus olhos, reconhecendo a voz irritante de Suigetsu ao lado de fora, a qual vinha se
aproximando cada vez mais da janelinha em minha frente. Em um movimento rápido, me agachei de frente
ao fogão, escondendo-me para que o resto do grupo não me visse naquela situação.
-Meu irmão está trabalhando na cozinha. -Dessa vez foi Sasuke quem se pronunciou, e pelo som de
sua voz, pude deduzir que todos estavam perto, e talvez até parados de frente a janela.
-Ué, eu não estou vendo ele. -Suigetsu espichou seu pescoço para dentro da cozinha, procurando
atentamente por mim. -Que pena, ia ser legal tirar onda com o nosso querido líder.
Apertei meu punho com força, sentindo meu sangue ferver com o comentário que escutei. Se antes
eu já estava com vontade de me vingar do Suigetsu, agora eu tive certeza de que não poderia deixar aquilo
passar.
-Fica quieto, Suigetsu. -Kisame o repreendeu, e pelo estalo que escutei, parecia tê-lo puxado para
longe da janela. -Desculpa, Sasuke, não conta pro seu irmão, tá bom?
-Pode deixar. -Meu irmão concordou, o que me deixou ainda mais enfurecido. Sinceramente, foi bom
saber que eu não poderia confiar no Sasuke para me contar as coisas. -Vamos andando.
Esperei até que todos tivessem saído, escutando atentamente os passos dos garotos se afastando.
Quando senti uma distância segura da parte deles, levantei-me novamente, tomando um susto ao dar de
cara com o Sasuke.
-Oi. -Ele riu baixo por me ver naquele estado, escondido, descabelado e com uma carranca
gigantesca estampada em meu rosto. -Como você está bonito.
-Não começa. -Resmunguei, internamente impressionado com o fato de Sasuke ter descoberto o
meu “esconderijo”. -Como você sabia que eu estava aqui?
-Porque eu te conheço muito bem, Itachi, por mais que você não me conte as coisas. -Sorriu
pequeno, apoiando o queixo no metal da janela. -Você ouviu, não ouviu?
-O quê?
-O que o Suigetsu falou. -Arqueou a sobrancelha, refrescando minha memória. -Eu sabia que você
estava escutando, por isso não disse nada.
-Hm. -Soltei somente um som com a boca, fitando-o de modo desconfiado. -Será mesmo? Ou será
que se eu não tivesse por perto você concordaria com eles?
Sasuke ficou sério, estampando uma carranca em seu rosto, talvez ainda mais feia do que a minha.

104
-Fala sério. -Balançou a cabeça em negação, aparentemente desacreditado. -Eu achei que você
confiasse em mim, Itachi. Você sabe que eu nunca deixaria eles falarem mal de você na minha frente.
-‘Tá, deixa isso quieto. -Sacudi a cabeça, limpando uma gota de suor que escorria por minha testa.
-Essa cozinha está uma sauna, é sério, que inferno.
Ele riu divertido.
-Se eu pudesse eu te ajudava.
-Ah, acredite... -Ri sem humor, olhando brevemente para trás, aonde Deidara gesticulava
exageradamente para cima de seu ajudante, parecendo brigar com o mesmo. -Você não ia querer.
-É, tem razão. -Concordou, observando o loiro assim como eu. -Limpar os banheiros já está sendo
suficiente para mim.
Levantei uma sobrancelha, mas não disse nada.
-O que foi? -Ele fez o mesmo. -Que cara é essa?
-A gente nem teve tempo de conversar sobre o seu novo trabalho. -Me apoiei na janela juntamente
com ele, encarando-o de perto, porém sério. -Está gostando de passar um tempo com o novato?
Foi clara a sua mudança de humor, tornando seu rosto tedioso e irritado com o meu comentário.
Ainda não me saía da cabeça o fato de Sasuke ter ajudado aquela novato, além de o cuidado excessivo que
meu irmão teve com ele no dia em que jogamos basquete.
Eu precisava ficar de olho nesses dois.
-Você é muito irritante, Itachi. -Bufou ao afastar-se de mim. -Não dá mesmo pra conversar com você.
-Eu já te disse pra não falar assim comigo. -Avisei duramente, levantando o dedo em sua direção. -Já
não basta você me desautorizando na frente do grupo, Sasuke.
-Eu não faria isso se você não fosse tão chato e insuportável! -Cruzou os braços de modo
emburrado, empinado seu nariz para mim.
Fechei meus olhos na intenção de me controlar, bastante desacostumado em ver o meu irmão tão
rebelde. Parece que desde que aquele novato chegou, as coisas entre nós estão desandando. Talvez seja
só coisa da minha cabeça, no entanto, eu pretendia continuar em alerta.
-Ei, volta aqui. -Chamei grosseiramente, inconformado ao vê-lo dar as costas para mim. -Seu pirralho
de merda, de noite a gente vai conversar sério, você está me ouvindo?!
Sasuke me ignorou completamente, dando de ombros ao me deixar falando sozinho. Bufei
enraivecido, atirando as panelas grotescamente na pia, causando um barulho alto e escandaloso na
cozinha.
Novamente, todos os detentos viraram em minha direção, assistindo eu perder a raiva pela milésima
vez, deixando-me ainda mais enfurecido pelo fato de ter uma plateia me assistindo, prestando atenção em
basicamente tudo o que eu fazia ali dentro.
-Tão olhando o quê?! -Gritei para todos ao meu redor, desferindo um chute no fogão a minha frente.
Aquilo estava absurdamente insuportável de aguentar.
Com um suspiro esgotado, virei-me novamente para frente, terminando de fritar aquela rodada de
ovos, colocando-os em um prato separado, o qual seria levado para os ajudantes que trabalhavam servindo
os detentos.
Limpei minha testa repleta de suor, bufando ao precisar quebrar novos ovos, embora contente pelo
fato de Deidara ter me deixado em paz. O plano do Obito de nos separar realmente deu certo.
O refeitório começou a se encher, trazendo assim diversos outros detentos que passavam em frente
a janela, mas que para a minha felicidade, nem sequer olhavam para a minha cara, e os que notavam a
minha presença, não me encaram por puro medo, ou com receio de me irritarem.
Em um momento qualquer, enquanto terminava de fritar a nova rodada de ovos, senti uma presença
a mais em minha frente, dando a entender que alguém estaria parado de frente a janelinha, e
provavelmente me encarando.
Levantei minha cabeça impaciente, já imaginando que se tratasse do Sasuke, pronto para xingá-lo
dos mais diversos nomes e lhe dar uma boa bronca por sua falta de educação. Contudo, me surpreendi ao
me deparar com dois outros garotos, os quais eu rapidamente identifiquei serem do bloco 4.

105
Era o Gaara e o Naruto, o novato que trabalhava com o meu irmão.
Ambos os meninos me fitavam esquisitamente, e da parte do loiro, até mesmo com um certo medo,
parados de frente a janela como se esperassem alguma coisa de mim.
Por alguma razão, isso me irritou.
-Posso ajudar vocês, caralho?
Naruto foi o primeiro a se encolher com minha grosseria, escondendo-se medrosamente atrás do
ruivo, enquanto o mesmo coçava sua garganta, claramente sem graça com a situação.
-Me desculpe, nós viemos ver o Deidara. -Informou do modo mais formal e educado que conseguiu.
-É que ele costuma ficar aqui.
-Pois é, mas quem está aqui sou eu. -Falei o óbvio, suspirando irritado ao jogar a frigideira no balcão,
fazendo com que os dois garotos pulassem de susto. Virei de costas para eles, gritando à procura de
Deidara. -Ei, você? Seu maluco do caralho?
Parado de frente ao microondas, o loiro virou-se ameaçadoramente, quase como se pudesse me
matar com uma só encarada.
-Você está falando comigo? -Perguntou sombrio, espremendo seus olhos em minha direção.
-Por acaso tem mais algum outro maluco do caralho aqui dentro? -Devolvi na base da ironia. -Os
seus namoradinhos estão aqui pra te ver.
Apontei meu dedo na cara dos dois, que naquele instante, olharam para nós um pouco assustados, e
até mesmo desconfortáveis por estarem presenciando a nossa briga.
-Vai se foder! -Esbravejou, trazendo em sua mão a mesma espátula, ainda achando que com ela
poderia me transmitir algum tipo de medo. -Namoradinhos é o seu cu!
Deidara chegou me empurrando, chocando sua cintura contra a minha, afastando-me violentamente
da janela. Trocamos alguns empurrões pequenos, mas nada tão grave para que acarretasse em uma nova
discussão.
-O que vocês querem, porra? -Apoiou-se na janela, ao mesmo tempo em que eu pulava para a
bancada do lado.
-Dei, você prometeu. -Gaara sorriu inocente, parecendo relembra-lo sobre algo que ambos haviam
combinado. -Poxa, você já se esqueceu?
-Seus interesseiros do caralho. -Murmurou aborrecido. -E eu achando que vocês vieram me ver
porque queriam saber como eu estava. É nessa hora que a gente vê quem são as nossas verdadeiras
amizades!
O ruivo riu divertido, sendo acompanhado de Naruto, só que de modo bem mais tímido. Os dois
garotos ficaram no aguardo, parados de frente a janela, enquanto esperavam pelo loiro, que ia em direção
ao balcão para buscar algo.
Acompanhei tudo silenciosamente, o observando pegar dois saquinhos plásticos escondidos em cima
do microondas, os quais continham tapoeres fechadas.
-Toma aqui, seus morféticos. -Atirou em direção a eles, olhando discretamente para trás. -O Obito
não pode ver, dá o fora daqui.
Naruto foi o primeiro a abrir o material, sendo bem indiscreto na hora de apoiá-lo na janela, dando a
visão perfeita do conteúdo para qualquer um que estivesse prestando atenção em si. Como eu me
encontrava atento a conversa, pude identificar com clareza o que tinha lá dentro.
Eram asinhas de frango fritas, as quais foram feitas exclusivamente para o meu grupo, para que
somente nós comêssemos. Pelo o que eu sei, não é permitido que mais nenhum outro grupo coma do bom
e do melhor como nós.
-Você é idiota?! -Deidara gritou para Naruto. -Que parte você não entendeu, caralho? Eu preciso que
você seja discreto!
-Desculpa. -Abaixou o alimento nervosamente.
-Ah, Deidara! -Gaara sorriu animadamente, puxando o rosto de seu amigo para lhe dar um pequeno
beijo da bochecha, mesmo que contra a sua vontade. -Você é um amor! As pessoas não te conhecem de
verdade, sabia?!

106
-Vai se foder, nunca mais faz isso! -Ele empurrou o ruivo, limpando sua bochecha de modo
exagerado. -Leva pro Kiba também, ele ainda está na enfermaria, talvez isso deixe ele melhor.
Arqueei a sobrancelha.
Sinceramente, eu não me recordava do Deidara ser tão “gentil” assim. Em meu ponto de vista, para
ele se dar o trabalho de preparar comida pra esses dois, e ainda por cima esconder, era porque realmente
gostava deles.
-Tchau, some daqui. -Expulsou-os com um empurrão em cada ombro. -E você, seja mais discreto,
franguinho.
-Pode deixar. -Riu sem graça, e mesmo assim, escondeu o saquinho de um jeito bem visível e
atrapalhado.
Ao afastarem-se, Deidara soltou um suspiro silencioso, virando ao dar de cara comigo. Trocamos
olhares tediosos por alguns segundos, até que o mesmo decidiu se pronunciar.
-O que foi, hein? Perdeu o cu na minha cara?
-E você? -Retruquei, cruzando os braços. -Perdeu a classe e ‘tá procurando ela em mim?
-A única coisa que eu perdi com você, foi a minha paciência. -Rebateu.
-A sua paciência? -Ergui a sobrancelha, rindo desdenhoso. -Como se pode perder algo que nunca
existiu?
-Olha aqui, seu lazarento, eu vou—
-Atenção a todos! -Obito bateu palmas, calando-o de modo inesperado. Todos os detentos prestaram
a atenção em si. -O turno acabou, todos os cozinheiros estão liberados!
Eu gemi de tanto alívio, praticante urrando de felicidade. Todos da cozinha me olharam assustados,
mas eu sinceramente não me dei o trabalho de xinga-los.
-Toma aqui. -Soltei o meu cabelo agressivamente, atirando o elástico no rosto de Deidara. -Tchau pra
você.
-Eu espero nunca mais te ver. -Respondeu seco.
Também não me dei o trabalho de respondê-lo, literalmente correndo para longe daquela cozinha,
empurrando todos os outros detentos que passavam pela porta.
Aquilo foi absurdamente insuportável de se aguentar, e eu honestamente não conseguia acreditar
que seria dessa forma todos os dias, até que um de nós se cansasse e tomasse a iniciativa de se desculpar.
Eu sobrevivi ao meu primeiro turno de trabalho.
Sasuke On

Em passos largos e apressados, minhas pernas levavam-me rapidamente em direção a cela, fugindo
na cara dura de meu irmão, o qual vinha correndo enfurecido atrás de mim.
A poucos minutos atrás, logo antes da sirene da penitenciaria ecoar por todo o lugar, anunciando o
final do dia, eu e Itachi tivemos outra discussão, só que dessa vez, eu admito que passei um pouco dos
limites na hora de mandá-lo a merda em frente ao grupo todo, desautorizando-o perto dos garotos.
O Itachi já se encontrava irritado por conta do que aconteceu mais cedo em seu turno do trabalho, e
agora, depois desse outro incidente, estava insistindo em me dar uma bronca por conta de minha “falta de
educação”. No fundo, toda essa minha afronta para cima dele, era somente o tremendo cansaço que eu
sentia em relação a tê-lo controlando a minha vida vinte e quatro horas por dia.
Uma hora ou outra, eu sabia que iria explodir.
-Você quer apostar corrida, é isso?! -Ele gritava atrás de mim, ultrapassando os carcereiros na hora
de me alcançar, entrando na cela juntamente comigo. Infelizmente, eu estava cercado. -E agora, o que você
vai fazer, hein?
-Me deixa em paz! -Exclamei, assistindo a grade se fechar atrás de si. Em poucos minutos, eu sairia
novamente para comprimir meu turno de trabalho com o Naruto. -Você está completamente pirado!
Eu sinceramente perdi a conta de quantas vezes chamei-o de maluco, desde o dia em que brigamos
seriamente após o jogo de cabo de guerra. Em meu ponto de vista, o Itachi estava mesmo perdendo sua
cabeça, ficando cada vez mais controlador.

107
-Eu já te pedi um milhão de vezes para não falar assim comigo! -Veio para cima, mas não chegou a
encostar em mim. -Eu não vou mais tolerar esse seu comportamento imaturo e irritante! Da próxima vez que
você me desrespeitar daquele jeito na frente do grupo, a gente vai brigar muito feio!
Cruzei meus braços ao prensar os lábios, deixando uma risadinha involuntária escapar,
relembrando-me do exato momento em que xinguei-o na frente dos garotos. Foi muito engraçado ver a
reação dos outros, eu precisava admitir.
Eu nunca fui de enfrentar o Itachi publicamente, e por essa razão, todos caíram em um silêncio
agonizante, esperando que meu irmão acabasse comigo, quando na verdade, a única coisa que eu recebi
por conta de minha “malcriação”, foi um bom puxão de orelha, até que minha pele ficasse bem ardida e
dolorida.
-Qual é a graça?! -Levantou seu punho em minha direção. Eu estava gostando de testar a sua
paciência, e ver até onde ele era capaz de chegar comigo. -Eu estou falando com você!
-Não é nada! -Gritei no mesmo tom. -Se eu fosse você, começaria a me preocupar com outras
coisas, como por exemplo, com o Suigetsu. É ele quem está de desrespeitando, não eu!
Como o bom manipulador que sou, consegui mudar o rumo de nossa conversa, desviando-a
perfeitamente de mim. Foi bom ter relembrado o Itachi sobre o Suigetsu, visto que sentia certa curiosidade
em saber o que ele pretendia fazer em relação a isso.
Se eu bem conheço o meu irmão, ele não deixaria isso barato.
Suspirando de modo irritado, Itachi baixou seus punhos lentamente, estampando uma carranca ao se
recordar dele. Em passos lentos, fiquei a observá-lo ir até o beliche, sentando-se na cama de baixo,
aparentando estar cansado.
-Eu vou resolver isso amanhã. -Declarou em um tom baixo, esfregando o próprio rosto. -Não dá pra
deixar isso passar. Eu fiz um favor ao Kisame deixando aquele pivete entrar no nosso grupo, mas agora já
deu no meu saco.
Assenti com a cabeça.
-Eu concordo com você.
-Eu preciso pensar com cuidado no que eu vou fazer. -Apertou as próprias pálpebras, esquecendo
completamente da nossa discussão anterior, deitando-se cansadamente em minha cama.
-Se você quiser, eu posso te ajudar a pensar. -Falei, talvez na intenção de tranquiliza-ló, dirigindo-me
para perto do espelho de nossa cela, olhando aleatoriamente para meu reflexo. -Você pretende machucar
ele, ou só expulsar do grupo?
Um silêncio tomou conta do lugar.
Fiquei esperando-o me responder, arrumando meu cabelo em frente ao meu próprio reflexo,
estranhando tanta demora de sua parte para dar-me uma resposta.
-Itachi? -Franzi o cenho, olhando em sua direção.
Tomei um pequeno susto ao vê-lo de olhos fechados, dormindo serenamente com suas mãos
entrelaçadas na altura do peito, literalmente capotado de tanto cansaço.
Soltei um suspiro chateado.
Por mais que brigássemos com muita frequência, e também tivéssemos nossos momentos de
intrigas, era extremamente doloroso de ver o Itachi passar por tanto estresse, além de sofrer com sua
insônia diária, e sempre precisar se manter frio em frente a todos, fingindo que não se importa com nada.
No fundo, no fundo mesmo, eu ainda tinha esperança de que ele possuísse o mesmo coração de
quando éramos menores.
Caminhei silenciosamente em sua direção, ajeitando-o decentemente na cama, colocando suas duas
pernas para dentro do colchão, tirando o seu tênis com cuidado, e cobrindo-o confortavelmente com o
lençol.
Ele nem sequer se mexeu, de tão esgotado que estava.
-Sasuke Uchiha?
Me virei curiosamente em direção a grade, enxergando-a escancarada, ao mesmo tempo em que
Kakashi iluminava-me com sua lanterna, carregando uma expressão indiferente, e talvez até mesmo
tediosa.

108
-É a hora do seu turno. -Completou.
-Eu sei. -Respondi secamente, dando uma última checada em meu irmão.
-Me acompanhe, por favor.
Segui até ele, fazendo questão de olhá-lo da mesma forma de sempre, com bastante superioridade e
seriedade. O Kakashi me enojava muito, aquilo era fato.
Ambos trajamos o mesmo percurso de sempre, com ele pouco mais à frente, clareando com a
lanterna todo o ambiente ao nosso redor. Os corredores naquela hora eram um verdadeira breu.
-Você não precisa ir comigo até o banheiro, eu sei o caminho. -Declarei, fazendo-o parar.
-Ótimo, melhor para mim. -Murmurou, iluminando a minha cara com lanterna. -Te vejo daqui uma
hora, então.
-‘Tá.
Agradeci mentalmente ao vê-lo dar as costas para mim, seguindo assobiando para a diretoria, me
deixando sozinho na escuridão. Andei tranquilamente em direção ao banheiro, escutando barulhos
baixinhos próximos do mesmo, indicando uma movimentação lá dentro.
O Naruto havia chego primeiro novamente.
Ao chegar na porta, fui bem discreto na hora de espiar a parte de dentro, tendo uma visão levemente
engaçada em minha perspectiva. Completamente alheio a mim, o loiro ria de modo bem infantil e baixinho,
brincando com a espuma que rodeava-o no chão, assoprando-a em suas mãos.
Ele era mesmo um bebê, eu não tinha mais dúvidas. Honestamente, eu estava pensando seriamente
em oficializar o apelido. Fala sério, quem em sã consciência se divertiria lavando um banheiro dentro de
uma prisão? O Naruto parecia uma criancinha.
-Oi. -Decidi que dessa vez seria eu quem o cumprimentaria primeiro.
Com um suspiro assustado, Naruto virou-se com o corpo encolhido, corando de leve por ter sido
flagrado em um momento tão vergonhoso como aquele, se bem que eu não me importei nenhum pouco de
presenciar aquela cena.
-O-Oi. -Sorriu pequeno e tímido, batendo suas mãos uma na outra, tirando o excesso de espuma de
sua pele. -Eu já comecei a limpar.
-É, eu percebi. -Ri fraco, me apoiando no batente da porta. -Eu acho que você exagerou na espuma.
-É. -Riu envergonhado, baixando seu rosto rubro. O banheiro estava lotado de espuma, parecia uma
verdadeira piscina, só que cheirosa. -Desculpa, eu fui tão no automático que nem percebi.
Dei de ombros.
-Eu nunca disse que isso era ruim. -Rebati normalmente. -Deixa eu te ajudar com isso.
Adentrei o cômodo com lentidão, indo em direção aos panos próximos da pia, sentindo o piso
extremante escorregadio, até mesmo para mim que sempre tive uma ótima condenação motora.
-S-Sasuke, cuidado para não cair.
Como se suas palavras tivessem algum tipo de poder, senti minhas pernas perderem o controle,
escorregando de repente no azulejo do banheiro. Eu até tentei me segurar na pia, só que no segundo
seguinte, eu já estava no chão.
Cai de bunda por cima daquela espuma toda, molhando todo o meu uniforme, além de alguns
vestígios terem voado diretamente em meu rosto e cabelo, deixando-me em um estado realmente
humilhante e constrangedor.
Fechei os olhos por alguns segundos, tentando assimilar tudo silenciosamente, escutando a
respiração de Naruto mais desregulada do que o normal, provavelmente culpando-se por me ter feito cair.
-Sa-Sasuke? -Chamou relutante, fazendo-me abrir os olhos para fita-lo. Naquele instante, Naruto
arrastava-se de joelhos até mim, mantendo uma distância segura. -M-Me desculpa, por favor, eu nunca—
Eu o calei com uma risada.
A carranca que antes tomava conta de mim, foi substituída por um riso curto, porém divertido,
deixando de lado toda a meu jeito rabugento e inexpressivo, pelo menos por um tempo.

109
Com um olhar surpreendido, o loiro me fitou de olhos arregalados, claramente em choque por me ver
tão mais solto e simpático do que o normal. Eu confesso que desde que comecei a me desapegar do Itachi,
e também a enfrentá-lo, sinto que estou cada vez mais leve, mas é claro, sempre mantendo o meu controle.
Valeria mesmo a pena brigar com o Naruto pela quantidade de espuma que ele colocou, ou seria
melhor apenas dar risada e poupar-me de um estresse a mais em minha vida?
A opção dois me pareceu melhor.
-Você está bem? -O loiro mordeu o lábio apreensivo, indagando inocentemente. -P-Por acaso você
bateu a cabeça?
Eu soltei uma outra risada, só que dessa vez, com um pouco mais de humor. Naruto deu um passo
para trás, arqueando a sobrancelha silenciosamente, até que um sorriso também se fez presente em seu
rosto, embora bastante confuso e tímido.
Ele definitivamente não estava me reconhecendo. Na verdade, nem mesmo eu estava.
-Eu estou bem. -Limpei a espuma de meu cabelo, negando com a cabeça, totalmente desacreditado
de mim mesmo. -E não, eu não bati a cabeça, Naruto.
Ele riu baixinho.
-D-Desculpa. -Corou levemente. -É que eu não estou acostumando a te ver... A-Ah, quero dizer—
-A me ver sorrir? -Completei, enquanto ele assentia tímido. -É, eu sei.
Naruto ficou pensativo, abrindo sua boca como se quisesse me dizer algo, parecendo criar coragem
para isso. Eu acho que pelo fato de eu estar estranhamente mais solto e extrovertido do que o normal, isso
pareceu encorajá-lo.
-H-Hm, eu acho que você fica bem melhor assim. -Declarou baixinho, baixando sua cabeça quando
encarei-o seriamente. -Me desculpa, eu não quis extrapolar.
-Não, está tudo bem. -Dei de ombros, nenhum pouco incomodado com o comentário. -Você não
disse nada de errado, bebê.
O apelido saiu de modo tão involuntário e incontrolado, que até mesmo eu me assustei, sentindo
vontade de tapar minha própria boca na intenção de me repreender. Eu nunca imaginei que tivesse tanta
necessidade de chamar alguém por um nome, igual eu sentia quando ficava perto do Naruto.
Fala sério, esse apelido era a cara dele.
-O-Oh... -O loiro tornou-se inteiramente vermelho, claramente surpreso e envergonhado com o
apelido tão repentino. Eu já havia chamado-o assim anteriormente, só que nunca tão diretamente. -T-Tudo
bem.
Me repreendi mentalmente por ter agido de forma tão aberta, e me deixando levar tão facilmente
perto dele. Sacudi minha cabeça, absurdamente irritado comigo mesmo, tendo uma mudança de humor
significativa na hora de me levantar, limpando minha calça como se nada tivesse acontecido.
-Eu vou limpar as paredes. -Declarei frio, sem lhe dar as caras.
O menor ficou ajoelhado no chão, olhando-me de modo bastante atordoado e tristonho, não
entendendo o que me levou a ficar bravo tão repentinamente, e em tão pouco tempo.
Eu baixei minha guarda muito facilmente perto dele, e sinceramente, eu não gostei nada disso. Foi a
primeira vez em muito tempo que perdi o meu controle daquela forma, me transformando ao ponto de
demostrar simpatia e afeto à alguém sem ser o meu irmão.
Isso era muito inusitado e assustador para mim.
Me dirigi até a parede mais distante de si, ficando de costas para não precisar olhá-lo nos olhos,
apertando meu punho com força, descontando toda a minha raiva e confusão em relação a mim mesmo na
hora de limpar o cimento.
Eu não estava mais me reconhecendo.
Deixei minha testa tombar na parede, fechando os olhos para regular minha respiração. Eu sentia
uma vontade absurda de olhar para trás, mesmo que não soubesse ao certo o porquê.
Deixando de lutar contra mim mesmo, virei meu pescoço discretamente para trás, saciando minha
própria vontade de observá-lo, soltando um suspiro baixinho e surpreso com o que vi diante de meus olhos.

110
Com o seu uniforme encharcado, Naruto limpava o chão de quatro, dando a visão perfeita de suas
nádegas arrebitadas e marcadas pela água, deixando-o bem exposto e aparente para mim.
Virei meu rosto para frente, apertando meus olhos com força, mordendo meus lábios para espantar
meus pensamentos, sentindo uma onda de sentimentos completamente inusitados tomando conta de mim.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo comigo, mas também não perderia o meu tempo ali
dentro para descobrir.
-Eu vou embora. -Declarei grosseiramente, jogando o pano no chão.
Naruto me olhou sem entender, carregando um semblante magoado e confuso.
-S-Sasuke, você está bem? -Indagou delicadamente, preparando-se para se levantar. -E-Eu posso
ajudar—
-Não. -Cortei-o secamente. -Eu já vou indo.
Atirei o balde para perto de si, causando um barulho ecoante pelo banheiro, fazendo-o se encolher
com tamanha violência de minha parte.
Dei as costas para ele, literalmente correndo para longe daquele lugar, pouco me importando se
receberia uma advertência por ter deixado o serviço.
O que está acontecendo comigo?

Capítulo 11 - Queda de energia

Naruto On

Após o término do nosso horário de banho, todos os detentos do bloco 4 dirigiram-se ao pátio aberto,
cumprindo obrigatoriamente com a mesma rotina de sempre. Eu, por outro lado, mudei um pouco o meu
rumo na hora de seguir em direção a minha cela, procurando por um pouco de privacidade para ir ao
banheiro, visto que não era permitido frequentar o sanitário enquanto outro bloco o utilizava.
Naquele momento, teríamos que dar a vez ao bloco 1.
Andei solitariamente pelos tão conhecidos corredores do presídio, sentindo uma sensação de leveza
tomar conta de mim, estranhamente orgulhoso de minha “evolução” desde o dia em que cheguei. Me
recordo com clareza o receio que sentia em andar sozinho até mesmo para ir no bebedouro. Comparado
com antigamente, as coisas estão bem melhores para mim.
Querendo ou não, você acaba amadurecendo de alguma forma aqui dentro.
Adentrei minha cela distraidamente, cantarolando uma musica qualquer, utilizando minha toalha para
secar o meu cabelo, retirando a umidade de meus fios.
Joguei-a de qualquer jeito em cima de minha cama, dando uma checada rápida no corredor, um
pouco envergonhado por precisar fazer minhas necessidades de modo tão público e visível para qualquer
um que passasse.
Com o meu rosto corado, baixei minhas calça ao sentar-me no vaso, fitando meus próprios pés para
evitar qualquer tipo de contato visual com os detentos que passassem em frente à cela. Para o meu alívio, o
corredor não estava tão movimentado assim.
Parando bem para pensar, fazia um tempo que eu não via a penitenciária tão “parada”. A ideia do
Danzou em nos castigar realmente serviu para alguma coisa, como por exemplo, a diminuição de brigas e
confusões no pátio aberto e refeitório.
Como o grupo dos irmãos Uchiha está mais ocupando do que o normal, todos bem atarefados com
os seus novos serviços, automaticamente houve uma melhoria no relacionamento de nosso grupo com o
deles.
Sem eles por perto, as coisas estão se amansando cada vez mais, apesar de eu ainda preciso ter
contato obrigatório com um deles.
Obviamente, eu não poderia deixar de pensar no Sasuke, e especialmente no acontecimento da noite
anterior. Quando nos desculpamos diretamente e com honestidade em nosso último encontro, imaginei que
pudéssemos criar uma certa “amizade”, até porque, trabalharíamos juntos por tempo indeterminado.

111
Inicialmente, eu realmente pensei que Sasuke pudesse achar o mesmo que eu, e que se
mantivéssemos algum tipo de diálogo em nosso turno, talvez pudéssemos nos conhecer melhor, além de
ser menos tedioso.
Eu admito que foi efetivamente chocante me deparar com o grande e temido Sasuke Uchiha soltar
sorrisos e risadas em minha presença, além de não ter se deixado cair em irritação por conta do tombo que
levou (diga-se de passagem que foi causado por mim), e o principal de tudo, tê-lo me chamando por um
apelido carinhoso.
Meu rosto esquentava involuntariamente toda a vez em que me recordava o modo como a palavra
“bebê” saiu tão naturalmente de seus lábios, sem maldade alguma, somente no sentido atencioso e afetivo.
Eu confesso que gostei, e até me senti mais íntimo dele, embora o momento seguinte, tivesse bagunçado
toda a minha cabeça.
A mudança de humor tão repentina de Sasuke me confundiu, e muito. Nós estávamos indo tão bem,
conversando normalmente e até mesmo rindo, no entanto, era notável que algo havia o incomodado e até
feito ele sentir-se desconfortável.
Eu estava absurdamente curioso para saber o que levou-o a mudar de humor tão drasticamente, e
por essa razão, pretendia tirá-lo para conversar assim que nos encontrássemos, mas é claro, eu iria com
calma e muito respeito.
Eu precisa saber se havia feito algo de errado para ele.
-Naruto?!
Tive meu raciocínio quebrado por uma voz rouca, grossa e exageradamente alta vinda do corredor.
Eu não precisei me esticar para saber que era Deidara quem chamava por mim.
-O-Oi? -Me atrapalhei para respondê-lo, torcendo para que ele não entrasse na cela. Seria muito
constrangedor. -Eu estou usando a privada, Deidara.
Foi burrice minha pensar que o loiro me respeitaria ao ponto de dar-me algum tipo de privacidade. No
segundo seguinte, ele já estava entrando na cela com a maior violência e rapidez do mundo, me fazendo
pular pelo susto, quase caiando dentro do vaso.
-D-Deidara? O quê...? -Chamei atordoado, sentindo minhas bochechas esquentarem. Eu não sabia
se subia às minhas calças, ou se permanecia imóvel aonde estava.
-Aonde você estava?! -Ele gesticulava escandalosamente, carregando uma feição raivosa.
-E-Eu disse pro Gaara que viria até a cela. -Me expliquei calmamente, erguendo minha calça e dando
descarga logo em seguida. -O que foi que aconteceu?
-Escuta bem o que eu vou te falar, Naruto! -Ele segurou em meus ombros, me puxando
grotescamente. -Se eu souber que você anda autorizando o Suigetsu a sentar com a gente no refeitório, ou
até mesmo voltar pra nossa cela, eu vou matar você!
Minha cara de tonto entregou a ele toda a confusão que eu sentia em relação a sua frase. Eu não
fazia a menor ideia do que ele estava falando.
-C-Como assim?
-O Suigetsu foi expulso do grupo dos irmãos exibidos. -Sorriu tão alegremente, que eu senti como se
estivesse recebendo a notícia mais feliz de todos os tempos. -Aquele filho da puta apareceu com o olho
roxo hoje de manhã! Ah, você tinha que ter visto a cara dele!
-Com o olho roxo? -Repeti curiosamente. -Como assim? Alguém bateu nele?
O loiro me olhou com tédio.
-É claro que baterem nele, franguinho. -Respondeu num tom óbvio, zombando de meu
questionamento. -Ninguém sabe direito o que aconteceu, só que ele apareceu machucado hoje de manhã, e
sozinho também.
-Sozinho? Nem o primo dele ficou com ele?
-Não. -Riu maldoso, batendo palmas. -Cara, que alegria! Eu nunca imaginei que ficaria tão feliz com
uma decisão vinda dos irmãos exibidos!
Levantei a sobrancelha.
-V-Você acha que foi o Sasuke e o Itachi que machucarem ele?

112
-Claro que sim, porra. -Estalou a língua. -Ah não... Não vai me dizer que você está com dó dele,
Naruto! Escuta bem, eu não vou deixar você incluir o Suigetsu no nosso grupo só porque ele está excluído,
ouviu bem?!
Assenti afobado com a cabeça.
-E-Eu nunca faria isso. -Acalmei-o. Não estava em meus planos começar a ser legal com o Suigetsu,
não depois de tudo o que ele fez. -Pode ficar tranquilo.
-Eu acho bom! -Apontou o dedo na minha cara. -Eu já dei uma coça no Gaara porque ele ficou de
“mimimi”, falando que eu não deveria desejar o mal dele! Pise na bola, e você é o próximo, franguinho!
-E-Eu não vou fazer nada, Deidara, pode ficar relaxado. -Me encolhi com medo. -O Suigetsu não
merece a minha compaixão e nem a de ninguém aqui dentro.
O loiro espremeu seus olhos desconfiado.
-Hm. -Cruzou os braços. -Eu acho bom mesmo. Você e o Gaara tem o coração muito mole, eu não
duvido que vocês acabem ficando do lado daquele morfético.
Soltei um riso baixinho. Os xingamentos utilizados por ele eram bem diferenciados.
-Qual é a graça, palhaço?
-N-Nada. -Neguei com a cabeça. -Eu estou do seu lado, Deidara, só isso mesmo.
Ele me fitou tedioso, rolando os seus olhos ao passar por mim, deixando-me plantado dentro da cela,
saindo por ela sem dizer absolutamente nada.
-E-Ei, aonde você vai? -Fui atrás dele. Se ele fosse para o pátio, eu pretendia segui-lo.
-Pátio. -Respondeu sem me dar as caras, somente o necessário. Corri atrapalhadamente para
alcançá-lo, tropeçando sozinho em meus próprios pés. -Meu Deus, você não consegue ser normal?
-D-Desculpa. -Corei levemente, pelo simples fato de ser verdade. Eu sou extremamente
desengonçado e desatento. Sempre fui, na verdade.
O resto do caminho nós percorremos no silêncio, chegando rapidamente em nosso destino. Como
estávamos no inverno, o dia estava bastante fechado, com nuvens pretas tapando o sol da manhã. Poucos
detentos circulavam o pátio, talvez por conta do frio insuportável que fazia.
-Aonde está o Gaara? -Indaguei atrás de si, procurando atentamente pelo ruivo.
-Sei lá, provavelmente regando as plantas dele. -Deu de ombros, dirigindo-se para perto de Neji e
Shikamaru. Ambos os garotos estavam estranhamente cabisbaixos, talvez ainda entristecidos por conta de
seu amigo. -E aí, gente?
-Oi, cara. -Neji sorriu pequeno, dando espaço para que nos juntássemos a eles no banco.
-Alguma notícia do Kiba? -Indagou esperançoso, sendo recebido por um aceno negativo. -Merda.
-Ele continua na mesma, eu acho. -Shikamaru declarou. -Os carcereiros não deixam mais a gente
visitar ele, eu só não sei por quê.
Deidara grunhiu irritado, olhando diretamente para o fundo do pátio. Segui atentamente em sua
mesma direção, me deparando com a surpreendente cena de Suigetsu sozinho, sentado em um dos bancos
com o seu olho roxo, enquanto abraçava seus próprios joelhos tristemente.
Eu posso ser um tremendo idiota por pensar dessa forma, mas eu realmente acabei ficando com
pena dele. Talvez o meu coração seja muito mole mesmo.
-Aquele filho da puta... -Rosnou.
-Alguém sabe da história toda? -Neji olhou para nós dois. -Digo, alguém sabe por que ele foi expulso
do grupo?
-Não. -Neguei, enquanto o loiro fazia o mesmo. -Vocês também não sabem?
-Também não.
Caímos no silêncio.
O clima estava bastante pesado.
Além de todos estarem preocupados com o estado de Kiba, a temperatura gélida que nos rodeava
também servia para que ficássemos ainda mais para baixo.

113
Com um suspiro silencioso, apoiei o queixo entre meus joelhos, olhando distraidamente o pátio ao
meu redor. Confesso que em meio a todos aqueles detentos que circulavam o local, eu buscava
especificamente por um.
Eu queria saber do Sasuke.
Cacei-o entre os presidiários e carcereiros, tendo um pouco de dificuldade para encontrá-lo, visto que
todos os presentes utilizavam o mesmo uniforme. Haviam vários e vários homens com o tão conhecido
macacão laranja.
Contudo, não demorou muito mais tempo para que eu o localizasse. De frente ao bebedouro, Sasuke
carregava sua garrafa de água em mãos, enchendo-a solitariamente, aparentemente concentrando no que
fazia, mas totalmente alheio aos meus olhares.
Pela primeira vez em muito tempo, ele estava oficialmente sozinho.
Tentei procurar pelo Itachi também, ciente de que os dois irmãos quase nunca se desgrudavam,
apesar de que eu não tivesse o achado. Imaginei que o mais velho estivesse em sua cela, ou até mesmo
frequentando a academia no presídio, que por sinal, estava aberta naquela manhã.
-Eu vou beber água. -Disse para os garotos, recebendo apenas acenos em resposta.
Me levantei relutante, criando uma certa coragem para ir até ele, imaginando uma formal ideal para
que pudéssemos iniciar um diálogo. Não daria para simplesmente chegar lhe perguntando o que houve na
noite anterior, ou se eu havia feito algo de errado.
Me aproximei com cautela, parando bem discretamente atrás de si. O moreno encontrava-se um
pouco inclinado, concentrado em terminar de encher sua garrafinha, totalmente alheio a mim.
Criei coragem o suficiente, e toquei em seu ombro.
-S-Sasuke?
Não demorou muito para que ele se virasse.
Carregado de uma feição neutral e tranquilizada, o Uchiha virou-se despreocupado, não possuindo
nenhum tipo de mudança em seu humor por estar em minha presença. Eu, por outro lado, dei uns dois
passos para trás, notando a forma como o havia “cercado” no bebedouro, deixando-o perigosamente
próximo de mim.
Eu não queria que ele sentisse desconfortável e nem nada do tipo.
-Oi. -Respondeu simples, sem mexer nenhum músculo de sua face, a não ser a sua boca.
-O-Oi. -Devolvi nervosamente.
Ficamos em silêncio.
Eu comecei a me arrepender de tê-lo chamado. Em minha cabeça, imaginei que Sasuke estivesse
me achando estranho por não estar dizendo nada, ou até impaciente com a minha demora.
-Eu posso te ajudar, Naruto? -Indagou distenso, levando a garrafa aos lábios, dando um gole com
seu olhar preso ao meu.
Eu não pude deixar de suspirar insatisfeito, internamente aborrecido pelo fato de ouvi-lo me chamar
de “Naruto”, e não pelo apelido utilizado da última vez. Eu desejava escuta-lo uma outra vez, para que
assim tivesse absoluta certeza de que Sasuke Uchiha realmente me chamou de “bebê”.
-H-Hm, eu queria conversar com você. -Declarei tímido, mexendo em minhas mãos nervosamente. O
moreno, por sua vez, retirou a garrafa dos lábios, lambendo-os lentamente em minha frente, esperando com
paciência por mim. -Bem, eu queria saber se... se você está bem?
Com a palma de sua mão, o Uchiha secou a umidade presente em sua boca, não obtendo nenhuma
outra mudança de humor. Era difícil falar com o Sasuke, visto que não conseguia ter a mais vaga ideia do
que ele estava sentindo. Ele mascarava muito bem as suas emoções por trás de sua feição inexpressiva.
-Eu estou bem. -Cruzou os braços, apoiando-se desleixadamente no bebedouro. -E você?
-A-Ah, eu também. -Cocei minha cabeça envergonhado, um pouco incomodado com o rumo da
conversa. Se eu continuasse daquela forma, nunca conseguiria pergunta-lo sobre o que eu realmente
queria saber. -Sasuke?
Eu repeti seu nome de modo desnecessário e idiota, me arrependendo automaticamente por tê-lo
chamado uma outra vez.

114
-Sim? -Me olhou de modo estranho, mas que não beirava a impaciência. Foi bom saber que eu ainda
não havia chegado ao ponto de irritado-lo com o meu jeito tão atrapalhado e impulsivo de falar. -Fala,
Naruto, eu estou ouvindo.
Não daria para enrolar por muito mais tempo.
-B-Bem, é que eu queria saber se eu te fiz alguma coisa, sabe? -Mordi meu lábio inferior, baixando
minha cabeça por sentir-me sem graça.
O moreno franziu o cenho.
-Você não me fez nada. -Negou calmamente.
-Tem certeza? -Questionei de modo nem impulsivo e apreensivo, o deixando ainda mais confuso.
-Q-Quero dizer... É que ontem no banheiro, você—
-Esquece isso. -Me cortou, e pela primeira vez em nossa conversa, pareceu ter perdido um pouco de
sua paciência. -Você não me fez nada, Naruto, eu já falei.
Me encolhi com a grosseria repentina, percebendo o desconforto aparente na voz do Uchiha por
precisar tocar no assunto do banheiro. Era evidente que algo tinha acontecido, mas eu havia deixado
passar.
-O-Oh, tudo bem. -Assenti cabisbaixo. -Me desculpa pelo incomodo, Sasuke, eu já vou indo.
-Espera.
Eu parei no mesmo segundo.
Seu rosto, apesar de suavizado, possuía algo a mais, talvez uma certa preocupação ou receio. Eu
sinceramente não soube identificar.
Eu não disse nada, apenas segui com o meu silêncio, permitindo que ele se abrisse comigo. Fiquei a
observá-lo entreabrir os lábios com lentidão, procurando por coragem para dizer-me algo.
-Sasuke?
O nosso momento foi cortado.
Com um semblante desconfiado, Itachi aproximava-se para perto de seu irmão, tocando
protetoramente em seu ombro, me medindo com bastante seriedade e irritação, claramente incomodado
com a minha presença.
-E-Eu já vou indo. -Declarei atrapalhado. Eu admito que fiquei frustrado por não conseguir ouvir o que
o moreno tinha para me dizer.
O Sasuke não reagiu, e também não me impediu de ir embora. Com uma última troca de olhares,
ambos nos comunicamos silenciosamente, talvez pensando a mesma coisa. Eu gostaria de ter tido mais
tempo para conversar com ele.
Andei desanimado para longe dos dois, retornando para o mesmo banco de antes, mas que por sinal,
apenas Deidara continuava sentado. O resto dos meninos haviam ido embora, provavelmente para
cumprirem seus turnos de trabalho.
-Nossa, mas que demora pra beber uma água, hein? -O loiro me olhou impressionado. -Foi no
bebedouro da China, é isso?
Soltei uma risadinha desanimada, sentando-me novamente ao seu lado, abraçando meus joelhos
pensativamente. A curiosidade que eu sentia em relação ao Sasuke, mas em especial, ao que ele iria me
dizer antes mesmo de ser interrompido, estava tomando conta de mim.
Talvez de noite, quando estivéssemos em nosso turno de trabalho, eu tentaria retomar o assunto.
-Bom dia, meninos.
Levantei meu pescoço curiosamente, sentindo um calafrio estranho tomar conta de mim. Parado em
nossa frente, Orochimaru encontrava-se acompanhado de Kabuto, e como o habitual, carregado de
sorrisinhos maliciosos e repletos de segundas intenções.
Confesso que desde que presenciei-o se masturbar em minha frente, estou sempre tentando evitá-lo
ao máximo, me escondendo toda a vez em que preciso cruzar com ele nos corredores, ou em qualquer
lugar do presídio.
Esse cara me dá arrepios.

115
-Vai tomar no cu. -Deidara respondeu irritadiço, arrancando uma risada surpresa e atrevida do mais
velho. -Cai fora, velho safado, ninguém quer você aqui.
-Ora, mas pra que tanta grosseria? -Caminhou lentamente, chegando perto de nós a medida que eu
me encolhia, encostando-me cada vez mais em Deidara. -Eu tenho certeza de que o seu amigo não quer
que eu vá embora, não é mesmo?
Eu fiquei paralisado e em silêncio.
-Qual é o seu nome, lindo?
-Na-Naruto. -Abracei meu próprio corpo, intimidado com sua proximidade. A cada passo seu, eu fazia
questão de grudar-me ainda mais ao loiro.
-Naruto, hm? -Repetiu, mordendo o lábio. -Me diz uma coisa, Naruto, você é novo aqui, certo?
Assenti com a cabeça.
-Eu imaginei. -Sorriu atrevido. Ele estava tão perto de mim, que foi como sua sombra estivesse me
cobrindo. -É óbvio que você é novo, senão eu já teria reparado na sua presença faz tempo. Qual é a sua
idade, querido?
-Naruto, não fala. -Deidara me aconselhou. -Sai fora, Orochimaru, ele não quer transar com você, vai
arrumar outro.
-E quem disse que eu quero isso? -Fez um falso olhar inocente. -Eu só quero conhecê-lo melhor, e
olhando pra esse rostinho bonito, eu chutaria que você tem uns dezoito. Estou certo?
Concordei relutante, recebendo uma cotovelada do loiro em repreensão.
-Oh, você é um bebê. -Falou como um gemido, lambendo os lábios lentamente.
Eu fiz uma careta enojada, mas involuntária.
Era incomparavelmente melhor ouvir o Sasuke me chamar de “bebê”, do que o Orochimaru. A
diferença entre eles, foi que quando o Uchiha me apelidou daquela forma, eu gostei e me senti bem, já o
mais velho, eu senti somente nojo.
-Me diz só mais uma coisinha, Naruto... -Ele tomou a terrível iniciativa de sentar-se no banco ao meu
lado, sendo automaticamente acompanhado por Kabuto. Me afastei medrosamente, quase subindo em cima
de Deidara, o qual observava a cena com tédio. -Eu nunca te vi trabalhando aqui pelo pátio de manhã, que
tarefa você cumpre aqui dentro?
Aquela não me pareceu uma pergunta mal-intencionada.
-E-Eu... Eu limpo os banheiros. -Respondi confuso. -Mas é só no turno da noite, de dia eu não faço
nada.
-Hm, entendi. -Sorriu bem maldosamente.
Deidara bufou de modo audível.
-Mas que caralho, hein?! -Bateu com força no banco. -Vai atormentar outro, tarado de merda! Olha o
Itachi e o Sasuke logo ali, não era deles que você gostava?! Vai lá assediar eles!
Talvez pelo modo como o loiro gritou, ambos os irmãos viraram atordoados até nós, observando a
cena de cenho franzido. Itachi pareceu nem se importante tanto, entretanto, não foi nada difícil de reparar o
modo como Sasuke se afetou com a presença de Orochimaru, olhando primeiramente para ele, e logo em
seguida para mim.
O mais velho riu maliciosamente.
-Oh não, aqueles dois estão fora do meu alcance, eu já me conformei com isso.
-O que você quer dizer com isso, hein?! -Deidara levantou-se violentamente do banco, me fazendo
cair para o lado, tirando todo o meu apoio por estar encostado em si. -Você pensa que somos fáceis assim,
que estamos dentro do seu alcance?!
Numa hora daquelas, todos os detentos ao redor já assistiam a discussão, inclusive os dois irmãos.
O loiro nunca média esforços para gritar e chamar a atenção de quem quer que estivesse por perto.
-Seu lazarento, some daqui antes que eu te mate! -Foi para cima dele, gesticulando grotescamente.
-Fora, caralho!

116
O Orochimaru não pareceu nada intimidado com as ameaças, no entanto, decidiu levantar-se
juntamente com Kabuto, sorrindo tranquilamente para nós dois, mas principalmente para mim.
-Certo, eu já vou indo. -Mordeu os lábios em minha direção, causando-me ainda mais arrepios. -Foi
bom finalmente te conhecer, Naruto. Te vejo por aí, lindo.
Não esbocei reação alguma, literalmente suspirando de alívio ao vê-lo se distanciar. Assim como o
Kakashi, ficar em sua presença me causava uma sensação incrivelmente ruim.
-Você é idiota, caralho? -Deidara Perguntou logo após sua saída, desferindo um tapa agressivo atrás
minha cabeça, me fazendo gemer de dor. -Sério, Naruto, você tem merda nessa sua cabeça?
Me encolhi assustado.
-C-Como assim?
-Como assim? -Arqueou a sobrancelha, rindo irritado. -Por que você contou sobre o seu trabalho pro
Orochimaru? Porra, franguinho, essa foi de foder.
-E-Eu não entendi, o que eu fiz de errado? -Indaguei inocentemente.
-Você não pode sair falando da sua vida pro Orochimaru, porra! -Me olhou indignado. -E agora, hein?
E se ele aparecer no banheiro pra te pegar de noite, me diz?!
Arregalei meus olhos assustado, me encolhendo de medo.
Tinha vezes em que o Deidara dizia certas coisas somente para me assustar, no entanto, eu tive uma
estranha certeza de que aquela vez era pra valer.
-O-Oh, não... -Me repreendi por ter sido tão ingênuo ao ponto de revelar algo importante sobre mim.
-E agora? O que eu vou fazer, Deidara?!
-Eu não sei, franguinho. -Estalou a língua. -Não adianta perguntar pra mim. Eu disse pra você ficar de
boca fechada, mas você não me escutou.
Um desespero começou a tomar conta de mim. Bem quando eu estava começando a me sentir
minimamente “seguro” dentro da penitenciária, superando aos poucos o incidente com o Kakashi, era mais
essa que aparecia para me atormentar.
-D-Deidara? -Chamei choroso, segurando medrosamente em seu braço. -P-Por favor, me ajuda.
-O que você quer que eu faça, caralho? -Devolveu com raiva, puxando seu braço para longe de mim.
-Não tem o que fazer. Eu avisei pra você, não avisei? Agora lide com isso.
-M-Mas, eu—
-Se vira, Naruto. -Me interrompeu grosseiramente.
Lhe lancei um olhar magoado, me sentindo ainda mais vulnerável quando o loiro decidiu se
distanciar, deixando-me oficialmente sozinho no banco. Eu pensei na possibilidade de correr atrás de si,
mas honestamente, isso só serviria para irritá-lo ainda mais.
Eu precisaria lidar com esse medo sozinho.
Sasuke On

Pela primeira vez em muito tempo, era eu quem estava quieto, pensativo e mal-humorado, enquanto
meu irmão encontrava-se curioso a respeito de meu silêncio, perguntando a todo o momento o que estava
acontecendo comigo.
O Itachi sempre foi o mais misterioso entre nós dois, quem guardava mais segredos e sofria em
silencioso, sendo orgulhoso o suficiente para nunca querer compartilhar nada comigo. Desde sempre ele
gostou de carregar o peso de seus próprios pensamentos sozinho, e eu sempre o respeitei, é claro, embora
tivesse certa curiosidade em relação ao que se passava em sua cabeça.
Naquele dia, estava tudo diferente.
O meu dia foi resumido em meus pensamentos me afogando sem dó, lutando para expulsar a ideia
de que Naruto estava mesmo mexendo comigo de algum modo, embora eu não soubesse como.
Eu já havia admitido para mim mesmo que me interessava, mesmo que contra a minha vontade, em
saber dele, e até gostava quando conversávamos. No entanto, ainda era novidade me sentir tão “atraído”
por alguém, ao ponto de desejar que voltássemos a nos ver em breve.
Dessa vez, eu me permitiria aproximar dele e veria até onde tudo poderia dar. Talvez pudéssemos
até nos tornar amigos, algo que aqui dentro, eu nunca tive a oportunidade de ter. Se isso realmente
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acontecesse, essa seria a primeira vez em que eu teria algum tipo de amizade com alguém, e que não
fosse forçada de minha parte.
-Sasuke? Eu estou falando com você.
Sacudi minha cabeça, reparando na quantidade de tempo em que Itachi ficou falando comigo,
enquanto eu somente observava sua boca se movimentando, mas contendo minha cabeça e pensamentos
presos em outro lugar.
-O que foi? -Perguntei calmo.
-Esquece. -Respondeu impaciente, soltando o seu cabelo preso em um elástico. -Eu estou tentando
falar com você o dia inteiro, mas já deu pra perceber que não vai adiantar nada continuar tentando.
Como não obteve nenhuma resposta de minha parte, Itachi soltou um suspiro irritado, retirando seu
tênis na hora de subir no beliche, pegando a cama de cima, como sempre.
Já estávamos no período da noite, o que significava que em pouco tempo eu voltaria a cumprir mais
um turno de trabalho, só que dessa vez, eu não iria embora de repente, e nem deixaria com que o Naruto
fizesse tudo sozinho.
As coisas seriam diferentes.
-Talvez se você também se abrisse comigo, eu começasse a te contar mais as coisas. -Murmurei na
cama de baixo, esfregando meu rosto de modo esgotado. Eu acho que nunca havia pensado tanto em toda
a minha vida. -Mas você não confia em mim, né? Assim fica difícil.
Ele bufou audivelmente.
-Eu confio em você, Sasuke.
-Não parece. -Retruquei. -A última vez que você me contou alguma coisa por pura e espontânea
vontade, sem eu precisar ficar implorando pra você me falar, foi aquela vez que uma pomba fez cocô na sua
cabeça... E olha que já faz dois anos!
Itachi riu baixo, e pela movimentação no beliche, presumi que ele estivesse me olhando. Ergui meu
pescoço para fora da cama, encontrando-o inclinado para baixo.
-Tem razão. -Suspirou silencioso. -Eu não te conto muito as coisas, mas não é porque eu não confie
em você.
-Então é por quê? -Me ajeitei sobre o travesseiro, ficando interessado.
-Sei lá, Sasuke. -Ficou pensativo. -Eu não gosto de ficar te preocupando com as minhas merdas, é
coisa minha.
Eu fiz questão de esboçar minha maior e melhor cara de tédio, repreendendo-o silenciosamente.
-Quantos anos você acha que eu tenho, Itachi? Doze? -Arqueei a sobrancelha. -Eu não sou mais
uma criança que precisa ser privada dos problemas e da maldade do mundo, sabia? Eu posso te ajudar,
você é só cinco anos mais velho que eu.
Ele sorriu pequeno, quase cansado, tombando sua mão para fora do beliche, pedindo
silenciosamente para que eu a segurasse. Estranhei tal ato, pelo simples fato de nunca termos momentos
“afetivos”, mas decidi segurar de volta, entrelaçando minha palma brevemente com a dele.
-Okay, você me convenceu. -Chacoalhou nossas mãos como uma espécie de “acordo” entre nós. -Eu
vou começar a te contar mais as coisas, mas só se você me disser o que tanto está te incomodando hoje.
-Sabia. -Murmurei decepcionado, largando de sua mão. -Eu sabia que você ia fazer isso.
-Falando sério, eu posso fazer alguma coisa pra te ajudar? -Indagou preocupado. -É algum detento
que está mexendo com você?
Olhei-o por breves segundos.
O “mexendo” para ele, significava que alguém estava me incomodando ou ameaçando, entretanto,
meu significado de “mexer” estava totalmente voltado para o meu psicológico, o qual se encontrava
totalmente confuso em relação aos meus sentimentos.
Se eu contasse para o Itachi sobre o Naruto, ele com certeza desaprovaria, e também deduziria que
eu estava gostando dele, o que não é verdade, é claro.
O meu desejo é apenas conhecer melhor o Naruto, e talvez até mesmo criar uma certa amizade com
ele. Só que nada a mais, e nada a menos que isso.

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-Já sei... -Ele tentava adivinhar, espremendo os olhos pensativamente. -É um carcereiro que está te
incomodando? É o Kakashi? Não se preocupa, eu posso acabar com ele facinho, deixa comigo e—
-Não é nada disso. -Interrompi-o. Se eu bem conheço o Itachi, ele daria um jeito de escapar da cela
para ir atrás do Kakashi, sem nem ao menos saber a verdadeira história. -Ninguém está mexendo comigo,
Itachi, pode ficar sossegado.
Ele ficou confuso.
-Certo, então o que tanto te incomoda?
Eu estava decidido de que não me abriria com ele em relação ao Naruto. Talvez eu passasse a
contá-lo sobre outras coisas, só que envolvendo os meus sentimentos, eu preferia guardar só para mim.
Eu precisava inventar uma desculpa e bem rapidamente.
-Sei lá, eu fiquei pensando no que a gente fez com o Suigetsu hoje. -Falei simplesmente a primeira
coisa que veio em minha cabeça. -Você machucou feio ele.
Se fosse possível, Itachi ficou ainda mais confusão com a minha “confissão”. Aquela foi uma péssima
desculpa. Eu mesmo havia o apoiado para castigar o Suigetsu, e agora estava fingindo estar “arrependido”.
-Como assim, Sasuke? -Ele estava praticamente pendurado na cama de cima, deixando seu pescoço
cair para baixo. -Não foi você que me apoiou e disse que não gostava dele?
Ele estava me encurralando, como sempre. O Itachi tinha o dom de conseguir me cercar e arrancar a
verdade de mim a força. Eu faria de tudo para isso não acontecer.
-É, eu sei. -Olhei para o lado reflexivamente. -Ah, deixa pra lá.
-Sasuke. -Me chamou rude e autoritário. -Você está mentindo pra mim.
-Não estou. -Camuflei meu nervosismo.
-Sim, você está. -Insistiu grosseiramente. -Ou você fala, ou eu vou parar de—
Eu agradeci a todos os santos possíveis quando uma luz entrou em contato com o meu rosto,
anunciando a chegada do carcereiro responsável por me levar até o banheiro. Para minha maior felicidade,
se tratava de Obito.
-Boa noite, gente. -Ele abria a cela, enquanto meu irmão calava-se com sua presença, me lançando
um último olhar de seriedade. -Desculpa, eu interrompi alguma coisa? É a hora do seu turno, Sasuke.
-Não, você não interrompeu nada. -Respondi-o sem lhe dar as caras, ainda concentrado em trocar
olhares com o meu irmão. A nossa relação era mesmo baseada na bipolaridade. Nós tínhamos os nossos
momentos de “amizade”, mas sempre acabávamos brigando no final. -Eu já estou indo.
Me levantei emburrado da cama, passando pelo Itachi sem dizer nada, odiando internamente o fato
de ter um irmão tão inteligente, e me conhecer tão bem ao ponto de desvendar qualquer mentira contada
por mim.
Sai da cela em silêncio, enquanto Obito deixava-a aberta para quando eu voltasse, cantarolando
distraidamente, fazendo alguns sons ritmados com a sua boca. Como eu já sabia o caminho para o
banheiro, nem me dei o trabalho de esperá-lo, e por isso, passei a andar em sua frente.
Ficamos o resto do caminho no silêncio, apenas a escutar o barulho da tempestade que caia ao lado
de fora. Ao chegarmos na porta do banheiro, Obito despediu-se com um aceno de cabeça, ao mesmo
tempo em que eu adentrava o cômodo.
Olhei ao meu redor, procurando atentamente por Naruto, franzindo o cenho por não encontrá-lo em
lugar algum. No entanto, após a descarga tomar conta do lugar, misturando-se com o barulho distante da
chuva, eu deduzi que o mesmo estivesse em uma das cabines do banheiro.
Apoiei-me na bancada das pias, sentando em cima de uma delas, deixando minhas pernas
balançando no ar. Eu estava pronto para “recebê-lo”, e ainda tinha o meu pequeno plano em mente.
Hoje eu me permitiria levar perto dele, e não deixaria o serviço para que somente ele fizesse. Eu o
ajudaria pra valer.
Quando a porta foi aberta, Naruto saiu de cabeça baixa, notando minha presença em menos de dois
segundos, erguendo seu pescoço com um suspiro baixinho e assustado. Era impressionante que de todas
às vezes em que nos encontramos nesse banheiro, eu sempre o assustava de algum modo.
-Oi. -Saudei-o normalmente.

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-O-Oi, Sasuke. -Riu tímido pelo próprio susto que levou, caminhando em direção a bancada,
olhando-me por alguns míseros segundos antes de escolher a pia que estava ao meu lado, abrindo a
torneira para lavar as mãos. -H-Hm, desculpa por ainda não ter começado a limpar o banheiro, eu acabei de
chegar.
-Não tem problema. -Respondi tranquilo, enquanto o mesmo terminava de lavar suas mãos,
sacudindo-as no ar para tirar a umidade. -Hoje eu vou ficar até o fim pra te ajudar.
O loiro sorriu pequeno com o comentário.
-Fico feliz de saber. -Suas bochechas tornaram-se levemente rubras, ao mesmo tempo em que uma
feição mais seria tomava conta de si. -O-Olha, eu sei que você já me disse que eu não te fiz nada, mas por
favor, me desculpa se eu tiver feito alguma coisa pra você na outra noite.
Fiquei imóvel em cima do balcão, assistindo-o morder os próprios lábios de modo tímido e
apreensivo.
-B-Bem, é que às vezes eu falo coisas sem pensar, ou faço coisas que podem ser consideradas
irritantes... -Ele explicava-se de modo atrapalhado, e até mesmo exagerado. -E eu entendo se isso te
incomodar, sabe? Então, por favor, se eu fizer alguma coisa que te irrite, é só me falar.
Pisquei bem lentamente, assimilando sua explicação longa e desnecessária silenciosamente. Não
tinha motivo algum dele se desculpar comigo, até porque, ele não havia feito absolutamente nada para mim
na noite anterior.
Na verdade, sou em quem fico um pouco “impressionado” pelo fato de Naruto se esforçar para ser
tão delicado e atencioso comigo, visto que foi por minha causa que ele sofreu nas mãos do Kakashi.
O loiro havia me perdoado rápido demais.
Isso só me mostrava ainda mais o quanto ele era diferente dos outros detentos da penitenciária, e
como o seu coração era bom. Ele era puro demais para estar em meio a bandidos, assassinos, psicopatas,
golpistas e tudo de pior que se pode imaginar.
-E agora você deve estar irritado comigo por eu ter falado demais, não é? -Ele se repreendeu
sozinho, baixando sua cabeça quando voltou a corar. -M-Me desculpa, eu vou ficar quieto, é melhor.
-Não é nada disso. -Declarei pacificamente após um tempo de silêncio, tomando a iniciativa de
descer do balcão. Ao parar de frente para si, notei aleatoriamente a nossa diferença de altura. Isso só o
deixava ainda mais parecido com um bebê diante de mais olhos. -Eu não me importo que você fale, Naruto.
Pode conversar comigo.
Ele me encarou em surpresa, descendo seus olhos ao sentir seu rosto esquentar novamente,
lançando-me um sorriso pequeno.
-T-Tudo bem. -Concordou um pouco sem graça.
-E aí? Vamos começar? -Perguntei num tom cansado, me referindo ao banheiro ao nosso redor. Se
não iniciássemos a limpeza logo, passaríamos ainda mais tempo lá dentro, não que eu me importasse, é
claro. Eu não estava com a menor vontade de voltar para a cena. -Você pegou os produtos?
-A-Ah, peguei. -Assentiu, dando uma corridinha em direção ao balde apoiado no canto da parede.
-Você quer começar limpando o quê?
-Deixa que eu limpo as pias. -Aproveitei que estava perto da bancada, recebendo de bom grado o
pano e alguns produtos estendidos por ele em minha direção. -E você? Vai limpar o quê?
-O chão. -Sorriu pequeno, provavelmente gostando do fato de estarmos conversando normalmente,
sem nenhum drama da parte de nenhum de nós. -M-Mas eu não sei se tem sabão.
Ele conferiu os produtos com um biquinho preso em seus lábios, ajoelhando-se em meio ao chão do
banheiro. Fiquei observando-o em silêncio, ainda chocado com o fato de Naruto parecer uma verdadeira
criancinha.
Quando encontrou o que tanto procurava, segurou o produto em mãos, soltando uma risadinha ao
chacoalha-ló para mim.
-Achei.
-Eu fico surpreso que ainda tenha sabão. -Comentei num tom meio debochado. -Da última vez você
exagerou um pouco demais, o banheiro ficou parecendo uma piscina.
-É, ficou mesmo. -Riu baixinho. -E-Eu vou precisar me contentar com esse pouquinho, mas não sei
se vai dar pra lavar o chão inteiro só com isso, fora as paredes também.

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-Qualquer coisa é só pegar mais. -Dei de ombros. -Tem uma salinha no corredor cheia de produtos, é
só pegar lá.
Ouvi ele murmurar um “tem razão”, ao mesmo tempo em que se aproximava da pia para encher os
bandes de água. Em quanto isso, eu me encontrava concentrado em passar um pano no balcão, além de
tirar os cabelos do ralo.
Fiz uma careta enjoada ao tirar a tampa do ralo, sendo obrigado a enfiar a mão dentro, retirando
milhares de tufos de cabelo, todos com uma aparência nojenta e grudenta.
-Que nojo. -Murmurei para mim mesmo. Às vezes eu tinha mania de pensar alto.
-Demais. -O loiro concordou ao meu lado, carregando uma expressão ainda mais enjoada que a
minha, esperando o seu balde se encher. -Mas o ralo do chuveiro é pior.
Ri sem humor, sendo acompanhado por ele, imaginando a nojeira que deve ser limpar aquele
pedaço. Além de feder, o ralo deve estar absurdamente entupido de tantos fios de cabelo.
Ao terminar de encher os baldes, Naruto me lançou um outro sorrisinho tímido, passando ao meu
lado pra voltar ao mesmo lugar de antes, atirando água por todo o chão, causando um barulho alto no
ambiente.
Em seguida, o loiro esguichou sabão por todo o azulejo, começando a dobrar sua calça. Observei
discretamente o momento em que Naruto ergueu sua calça, dobrando-a na altura de seu joelho, se
agachando para iniciar a limpeza.
Como eu não queria passar pelo mesmo da noite anterior, virei de costas para si, negando com a
cabeça como se me repreendesse, voltando a me concentrar em manter a pia limpa.
O ambiente foi tomado pelo silêncio, cada um se concentrava em limpar sua devida parte do
banheiro, enquanto escutávamos atentamente o barulho da tempestade.
Para comprovar ainda mais a minha teoria de que Naruto era um verdadeiro bebê, muitas das vezes
em que trovejava, seu corpo se contraia em um susto, ao mesmo tempo em que eu assistia tudo bem
discretamente pelo reflexo do espelho.
-N-Nossa, que chuva, né? -Comentou, talvez para puxar conversa. Pelo tom de sua voz, eu consegui
identificar um certo medo.
-Uhum. -Concordei, prendendo um riso ao vê-lo se encolher novamente, mas dessa vez, por conta da
luz que havia piscado. -Mas eu gosto do clima assim.
-E-Eu não gosto. -Ele esfregava o pano medrosamente, tomando um outro susto quando a lâmpada
falhou por míseros dois segundos, mas voltou logo em seguida. -Eu acho que a luz vai acabar.
-É mesmo. -Respondi de modo indiferente, mas no fundo, me divertindo com o fato de vê-lo
apavorado por conta de uma chuva.
Eu nunca torci tanto para uma luz acabar em toda a minha vida.
Em meio a sustos e trovejadas, foi quando a lâmpada piscou repetidas vezes, até o momento em que
falhou de uma vez, fazendo um espécie de barulho como se mostrasse que a mesma tivesse quebrado.
O ambiente ficou no breu total, até porque, à luz do corredor também estava apagada.
-S-Sasuke? -A voz trêmula e baixinha de Naruto se fez presente no ambiente.
Prensei meus lábios com vontade de rir, já imaginando que ele estivesse se tremendo de medo.
Querendo ou não, eu me divertia um pouco com esse jeito medroso do Naruto.
Fiquei escutando os passos dele, além de suas mãos em contato com a parede, tateando a todo
momento em meio à escuridão. Senti sua proximidade cada vez mais, além de suas mãos escorregando no
balcão, talvez procurando por mim, quando finalmente senti um toque seu em minha mão, a qual
encontrava-se apoiada na pia.
-S-Sasuke, é você? -Ele sussurrou com a voz falha.
-É claro que sou eu, Naruto. -Respondi irônico, e sem pensar muito, afastei minha mão de si. -Quem
mais seria?
-E-Eu não sei...
-Fica tranquilo, a luz já vai voltar. -Declarei num tom tedioso, apoiando-me com as costas na pia.
Naquela escuridão, não daria para fazermos nada. -Agora a gente vai ter que esperar.

121
Não deu nem um minuto.
Como o esperado, as luzes de emergência se ascenderam, trazendo a claridade uma outra vez.
Naruto, que naquele instante encontrava-se de frente a mim, também se assustou por conta disso, corando
ao notar que eu o observava, além de estarmos bem próximos.
Eu não deixaria aquela oportunidade passar por nada.
-Você tem medo de escuro, bebê? -Impliquei, achando a hora perfeita para botar em jogo o seu mais
novo apelido.
Suas bochechas, antes rosadas, tornaram-se violentamente vermelhas, claramente envergonhado
com o meu questionamento, e talvez até mesmo o apelido utilizado por mim.
Sorri de lado, cruzando os meus braços como se esperasse por sua resposta.
-E-Eu... -Ele olhou para os lados de modo constrangido. -Eu vou pegar mais sabão.
E sem mais nem menos, deixou o banheiro às pressas, me deixando plantado com um sorriso
divertido preso em meus lábios. O Naruto era do tipo de pessoa que literalmente fugia de situações como
aquela.
Chacoalhei minha cabeça em negação, retornando a limpar o balcão. Fiquei esperando por volta de
cinco minutos para que o loiro retornasse, me surpreendendo quando houve uma outra queda de energia
por conta da chuva.
Nem as luzes de emergência estavam sustentando a tempestade ao lado de fora.
Agora era oficial, não só o banheiro, como toda a penitenciária estava no breu. Fui tateando aos
paredes ao meu redor, não sabendo se permanecia dentro do banheiro, ou se saia no corredor atrás de
Naruto.
Ele provavelmente estaria com medo e perdido.
Decidi que não ficaria sozinho no sanitário, e sairia a procura do loiro, na intenção de ajudá-lo a
encontrar o tal sabão para a finalização da limpeza. Sai com os olhos arregalados, numa falsa tentativa de
enxergar alguma coisa, tendo somente a luz da lua vinda do pátio aberto como uma forma iluminação.
-Naruto? -Chamei, sentindo um calafrio estranho quando somente o eco de minha voz se fez
presente.
Usei uma tática para mentalizar o corredor, seguindo em direção a salinha de faxina, a mesma aonde
o loiro provavelmente teria ido.
A cada passo, eu me preocupava mais por não ter nenhum sinal de Naruto, o qual provavelmente
estaria escondido em algum canto, ou com medo de retornar ao banheiro na escuridão.
-Ei, Naruto? -Chamei impaciente, finalmente alcançando a salinha de faxina. -Cadê você?
Mesmo já sabendo que não funcionaria, testei o interruptor da sala, forçando meus olhos para
enxerga-ló lá dentro. Eu tive uma estranha certeza de que havia ouvido alguém respirar, ou até mesmo um
suspiro mais audível.
O que aconteceu à seguir, só serviu para confirmar a minha teoria.
Com uma outra trovejada, a luz da penitenciária se ascendeu por breves segundos, piscando de
modo falho, mas que não me impediu de enxergar a cena inesperada e horripilante a minha frente.
Como eu deduzi, o Naruto estava mesmo na salinha de faxina, só que acompanhado da nojenta e
desagradável presença de Orochimaru.
Com o seu corpo prensado contra a parede, o loiro chorava silenciosamente, mas desesperado,
sendo impedido de soltar qualquer tipo de ruído e som, visto que continha a mão de Orochimaru tapando a
sua boca, deixando-o com o rosto grudado no cimento.
O mais velho segurava-o firmemente, mantendo-o imobilizado e exposto, revelando para mim a pele
das nádegas do loiro. Sua calça, já baixada pelo outro, encontravam-se na altura de suas coxas, mas para
meu alívio, Orochimaru ainda continha suas roupas.
Talvez eu tivesse chegado a tempo para salva-lo da atrocidade que aquele asqueroso pretendia
cometer.
-Orochimaru, sai de cima dele! -Fazia muito tempo que minha voz não saia tão descontrolada. A raiva
que eu sentia em relação ao que eu via era tanta, que chegava a ser impossível de colocar em palavras.
-Tira as mãos de cima dele, filho da puta!

122
Com somente um passo repleto de fúria vindo de minha parte, foi o suficiente para que Orochimaru o
largasse, e mesmo que sentindo-se ameaçado, sorriu de modo maldoso e completamente perturbador para
mim.
Naruto, por sua vez, foi rápido em desgrudar-se da parede, aproveitando o momento de distração do
mais velho para correr em minha direção, tropeçando nervosamente em seus próprios pés.
Foi tudo questão de segundos, quando o seu corpo se chocou contra o meu, abraçando-me de modo
assustado e completamente desesperado, procurando por algum tipo de proteção e ajuda.
Ele nem estava raciocinando direito.
Eu não pensei muito na hora de corresponder ao seu abraço, segurando em sua cintura
protetoramente, pouco me importante se tínhamos intimidade o suficiente pra isso, ou não. Se ele precisava
se sentir protegido, então eu daria um jeito de fazê-lo sentir-se assim comigo.
Com o estado de choque em que Naruto se encontrava, fui eu quem precisei ajudá-lo a se arrumar,
tomando a liberdade de subir suas calças, mas obviamente, com bastante cuidado para não apavora-lo
ainda mais.
Naquela altura do campeonato, ele nem havia percebido que estava tão exposto para mim.
-Seu escroto. -Rosnei em direção a Orochimaru, não sabendo se partia para cima de si, ou se me
preocupava com o Naruto. -Como você saiu da sua cela?!
Para fazer meu sangue ferver ainda mais, o mais velho apenas gargalhava, parecendo se divertir
com a situação. Olhei repleto de ódio em sua direção, sentindo um nó em minha garganta ao ver o seu
uniforme marcado, revelando-me seu membro endurecido.
A minha vontade de matá-lo triplicou.
Eu juro que estava quase avançando para cima de si, me segurando ao máximo para não deixar o
loiro na mão. No entanto, o que me impediu de verdade, foi o momento em que Orochimaru decidiu fugir,
saindo da salinha após escutar passos vindos do corredor.
Eu deduzi que fosse algum dos carcereiros, entretanto, deixei que eles mesmo fizessem o trabalho
deles e prendê-lo. Naquele momento, eu decidi que me concentraria em Naruto.
Após o mais velho fugir igual a um covarde, fiquei a sentir o corpo pequeno e delicado do loiro se
tremer contra o meu, mantendo seu rosto afundando em meu peito. Mesmo que diante de uma situação
daquelas, eu não pude deixar de pensar em quanto tempo fazia que eu não abraçava alguém.
Honestamente, aquela era a primeira vez em muito tempo. Me lembro que a última vez em que
realmente abracei alguém pra valer. Foi logo quando eu e Itachi recebemos a notícia da morte de nosso pai.
Faz muito, muito tempo.
-Naruto, ei? -Chamei seriamente, tentando afastá-lo de mim. -Olha pra mim. Ele chegou a tocar em
você?
Negou atordoado, soluçando desesperado contra o meu peito. No estado em que ele se encontrava,
seria impossível mantermos algum tipo de diálogo.
-Naruto, por favor, olha pra mim. -Tentei distancia-lo uma outra vez, desacostumado com tanto
contato excessivo. Ele não me largava de jeito nenhum. -Calma, ele já foi. Deixa eu te ver.
Não adiantava.
Suspirei preocupado, cedendo ao abraço tão demorado e apertado o loiro, dando-o o que ele tanto
desejava. Se o Naruto quisesse ficar assim comigo, então eu permitiria. Talvez dessa forma ele se sentisse
mais protegido.
-Vamos, eu vou te levar pra sua cela. -Declarei baixo e calmo, acariciando sua cintura de modo
relutante. -Vem comigo, a gente vai rápido.
Como ele não obteve nenhuma reação a não ser chorar, eu mesmo tive que agir, começando a andar
com ele agarrado a mim, literalmente arrastando-o pelos corredores daquela forma.
-N-Não, ele está aqui, e-ele ainda está aqui. -Ele não falava coisa com coisa, mas eu até que
conseguia compreender.
-Não, ele não está, bebê. -Pensei que utilizando o apelido poderia deixar a situação mais “leve” de
certa forma. -Pode confiar. Você está comigo, não vai acontecer nada.

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Continuei a andar, pouco me importando de estarmos perdendo o nosso turno de trabalho, ou se
levaríamos alguma advertência por isso. A medida em que íamos caminhando, eu o puxava com cuidado,
enquanto o mesmo permaneceria agarrado a mim, mas especificamente ao meu braço, dificultando um
pouco na hora de andar.
Quando finalmente alcançamos o bloco 4, tive que pedir bem baixinho para que ele parasse de
chorar, visto que outros detentos poderiam escutar, e até mesmo gerar fofocas.
Eu não poderia ser visto daquela forma.
-Pronto, estamos aqui. -Falei aos sussurros, parando em frente à sua cela, a última de todas. Quando
os turnos eram a noite, as celas dos detentos que precisavam trabalhar geralmente ficavam destrancadas.
-Ela está aberta, Naruto, pode entrar.
Ele continuou a negar, indisposto a me soltar.
Suspirei cansado, passando a reparar em uma movimentação a mais dentro de sua cela, indicando
que um de seus companheiros estavam acordados. Ao observar com mais atenção, notei que se tratava de
Deidara, o qual erguia seu pescoço do travesseiro, franzindo o cenho com a minha aparição incomum ali
por perto.
Com um cigarro em mãos, o loiro desceu de seu beliche, carregando um olhar desconfiado,
aproximando-se da grade com um semblante cansado, cabelos desgrenhados e também sem a sua
camiseta.
-Mas que porra é essa?
Ao ouvir a voz de seu companheiro, Naruto ergueu sua cabeça, largando de meu braço por sentir-se
aliviado com uma presença mais “familiar” para ele.
-Abre a cela pra ele. -Pedi calmo, observando-o literalmente tremer suas mãos ao tentar abri-la, mas
não obtendo sucesso.
-Como assim? -Perguntou irritado, olhando primeiramente para o loiro, e depois para mim. -Qual é a
sua, cara? Você me aparece aqui na cela de madrugada que nem uma alma penada e agora não vai me
contar o que está acontecendo?
Eu não me dei o trabalho de explicá-lo nada.
Com um suspiro impaciente, Deidara abriu a grade confusamente, sendo surpreendido por um
abraço inesperado e apertado de Naruto, o qual me deixou de lado para recorrer a si, jogando-se em seus
braços.
O mais velho, inicialmente, não soube como reagir muito bem, mas também não reclamou ao notar
que o mesmo estava chorando e também tremendo, acabando por “corresponder”, segurando em seu
quadril.
-O que você fez com ele, hein? -Ele perguntou agressivo, achando que a culpa era minha.
-Não foi eu. -Respondi rude. -Foi o Orochimaru.
Ao citar o nome me voz alta, Naruto se pôs a chorar ainda mais, agarrando-se de modo
extremamente desesperado ao outro, quase acordando Gaara, o qual dormia serenamente no beliche de
cima.
-Eu sabia. -Deidara estalou a língua. -Eu sabia que aquele velho safado ia aprontar alguma!
-Ele não chegou a abusar dele. -Expliquei com calma. -Eu consegui impedir.
-Meu Deus. -Murmurou enraivecido, tentando afastar Naruto de si, mas assim como eu, não
conseguindo de forma alguma. -Me solta, franguinho, já passou.
-Então eu já vou indo. -Declarei indiferente, não conseguindo desgrudar meus olhos de Naruto. Ele
estava tão indefeso, tão machucado e traumatizado. -Até mais.
-‘Tá, tchau. -Respondeu rude, fechando a cela na minha cara.
Apesar de ter dito que iria embora, eu ainda fiz questão de observá-los por mais um tempo. O fato de
Naruto ter sentido-se mais confortável com a presença de Deidara do que comigo, era algo compreensível.
Afinal, eles já se conheciam a mais tempo, ficavam o tempo inteiro juntos, e supostamente estavam
em um relacionamento, se isso fosse verdade, é claro.
No entanto, eu tinha que admitir que foi de certa forma “frustrante” não ter passado toda essa
segurança ao Naruto, não da forma como Deidara passou.

124
Talvez eu estivesse um pouco incomodado com essa relação dos dois.

Capítulo 12 - A falta que um abraço faz

Naruto On

Quando a sirene diária ecoou por toda a penitenciária, eu já me encontrava desperto, não precisando
de nenhum tipo de incentivo para começar um novo dia. Meus olhos, já abertos, arregalados e
completamente ardidos, foram o que me impediram de cair no sono durante toda a noite, além do medo
inexplicável que eu sentia.
Com o meu corpo encolhido entre os lençóis, meu nariz escorria sem controle, sendo acompanhado
de uma dor de cabeça insuportável, tudo em consequência a minha crise de choro e ansiedade em meio a
madrugada.
Sem o Deidara, eu realmente não sei o que teria sido de mim na noite passada.
Mesmo depois de insistir muito, além das incontáveis lágrimas que soltei em puro desespero, o loiro
não cedeu ao meu pedido de dormir em sua cama, afirmando grosseiramente que não gostava de “grude”, e
que eu não era mais uma criancinha que precisava dividir o colchão com alguém.
Contudo, Deidara acabou permitindo, mesmo depois de reclamar muito, que eu dormisse com minha
mão entrelaçada na sua, ele no beliche de cima, e eu no de baixo. O loiro conseguiu pegar no sono com
facilidade, já eu, fiquei segurando sua mão durante a noite toda, não me importando com o fato de estar
suada, e nem com a câimbra que eu sentia por não me mexer.
Aquele mínimo contato fez com que eu me sentisse um pouco mais protegido.
Fora isso, era impossível deixar de pensar no principal e verdadeiro motivo de Orochimaru não ter
chegado ao ponto de cometer tal atrocidade comigo.
Eu não conseguia parar de pensar no Sasuke.
Foi ele quem me salvou de sentir na pele uma experiência completamente traumatizante, não só
uma, como duas vezes desde o dia em que cheguei na penitenciária.
Além do terrível incidente envolvendo o Orochimaru, o moreno também fez questão de me defender
do Suigetsu, que naquela época, ainda pertencia ao seu grupo, fora a vez em que tive o seu apoio para
conseguir um telefonema, ajudando-me a enfrentar o Kakashi.
Como eu só fui pensar nisso agora? O Sasuke sempre me ajudou. Mesmo que no começo
tivéssemos tido algumas desavenças, agora eu enxergo com clareza todo o “bem” que ele me fez.
Não me saia da cabeça o modo como o Uchiha deixou de lado todo o seu porte neutro e frio para
salvar-me de Orochimaru, não medindo esforços para me proteger, além de ter aceitado de bom grado o
meu abraço tão desesperado e impulsivo.
Eu nunca imaginei que me sentiria tão seguro nos braços de alguém, especialmente se esse alguém
for uma pessoa que, até então, eu não possuía nenhum tipo de “intimidade”.
Eu já havia tomado uma decisão.
Quando nos víssemos da próxima vez, eu faria de tudo para que nos aproximássemos ainda mais,
fora o agradecimento que eu pretendia planejar, e declarar da melhor forma possível a minha gratidão pelo
o quê ele me fez na noite anterior.
Eu não via a hora de revê-lo e ficar em sua companhia.
-Mhmm...
Levantei somente meus olhos, observando silenciosamente Deidara despertar de seu sono, ao
mesmo tempo em que Gaara fazia o mesmo, só que do outro lado da cela. O ruivo, até então, não fazia a
menor ideia do que havia acontecido comigo a horas atrás.
-Eu não estou acreditando nisso... -O loiro resmungou com o seu rosto enterrado no travesseiro,
soltando um suspiro impaciente ao sentir que minha mão continuava entrelaçada com a sua. -Ainda,
franguinho? Não vai me dizer que você passou a madrugada toda de mãos dadas comigo?
Lhe respondi apenas com um aceno de cabeça bem tímido e medroso, arrancando dele uma
carranca tedioso após saber de minha resposta.

125
-Porra, você ainda está chorando? -Indagou irritado, impressionado com o fato de eu não ter
conseguido conter minhas lágrimas desde o minuto em que cheguei na cela. -Naruto, já passou, tá bom?
Não vai acontecer nada! Agora solta a minha mão!
-N-Não... -Choraminguei quando ele tentou se afastar de mim, passando a segura-ló com ainda mais
força. Eu ainda não estava preparado para lhe soltar, não com o medo absurdo que eu sentia. -P-Por favor,
deixa eu ficar assim.
-Eu já disse que não! -Puxou sua mão com violência, me fazendo bater na cabeceira da cama.
Esbocei minha melhor feição chateada, sentindo uma vontade ainda maior de chorar. Eu havia acordado
extremamente afetado e traumatizado. -Deixa de ser medroso, franguinho! O Orochimaru não vai mais tocar
em você, o seu super-herói já te salvou!
Eu não sabia se chorava mais pelo fato de ouvi-lo mencionar o nome de Orochimaru em voz alta, ou
se me emocionava ao recordar-me de meu “super-herói”, e o modo como fui salvo por Sasuke.
Deus, eu precisava muito falar com ele.
-Já deu de chorar! Você só sabe fazer isso nessa sua vida! -Gritou enfurecido, incomodado ao ver
que minhas lágrimas haviam aumentado.
-D-Desculpa. -Me encolhi magoado, prendendo um soluço que insistia em sair de minha garganta.
-E-Eu não consigo parar...
-Então faça um esforço, caralho!
-Gente, o que está acontecendo? -Gaara indagou sonolentamente, confuso com tamanha gritaria
logo pela manhã. Ele olhou primeiro para o loiro, passando em seguida para mim, franzindo o cenho ao me
ver tentar engolir o choro. -Ei, qual é o problema, franguinho?
Eu odiaria precisar explicá-lo tudo o que eu passei.
-O safado do Orochimaru tentou abusar dele. Qual é a novidade nisso? Aquele velho já tentou pegar
todo mundo! -Deidara resumiu a situação bem rapidamente, reclamando enquanto descia de seu beliche.
-Só que o Naruto não para de chorar, e isso já está começando a me irritar.
O ruivo me fitou extremamente assustado, talvez esperando por alguma confirmação minha, ou um
aceno de cabeça que lhe dissesse que aquilo era realmente a verdade.
-Eu não acredito... -Gaara desceu pela escadinha de seu beliche, caminhando assustado até mim.
-Isso é verdade, Naruto?
Assenti choroso com a cabeça, tremendo meus lábios numa falha tentativa de segurar as minhas
lágrimas. Eu já havia irritado muito o Deidara, e não queria que ele se estressassem ainda mais, até porque,
o loiro já havia feito o grande favor de dormir de mãos dadas comigo.
-Ele machucou você, Naruto? -O ruivo se ajoelhou em frente à minha cama, me olhando preocupado.
-Não, não machucou coisa nenhuma. -Deidara falou por mim. -Foi o príncipe encantado Sasuke que
salvou ele, dá pra acreditar numa coisa dessas?
-O Sasuke? -Levantou uma sobrancelha.
-U-Uhum... -Concordei tímido, sentindo uma sensação estranha ao me recordar mais uma vez de
meu abraço com o moreno. Eu tenho consciência de que talvez ele não tivesse gostado tanto assim, só que
para mim, eu me senti bastante acolhido com o seu contato. -E-Ele foi muito gentil comigo.
O loiro fez um barulho com a boca, fingindo que estava vomitando, enquanto Gaara ficava pensativo,
talvez assimilando a ideia de que Sasuke poderia sim ser alguém bom, e não a cópia exata de seu irmão
mais velho.
-Que estranho. -Comentou de testa franzida. -Bom, fico feliz que não tenha acontecido nada de ruim
com você, Naruto.
Eu juro que tentei lhe lançar um sorriso, mas foi literalmente impossível. Não havia acontecido nada
comigo no aspecto físico, mas psicologicamente, eu me sentia completamente quebrado.
Bem quando eu já estava me adaptando a essa vida na penitenciária, conseguindo me virar sozinho
para certas coisas, e superando aos poucos o evento anterior com o Kakashi, o Orochimaru veio para piorar
a situação.
-Bom dia, garotos, vamos levantando! -A voz de Obito se fez presente no corredor, bem tranquila,
porém alta, com a intenção de chamar a nossa atenção. Era realmente impressionante a diferencia entre ele
e o Kakashi. -Vão se trocar!

126
-Boa, gente! Vamos levantando para mais um dia incrivelmente insuportável nessa porra de lugar!
-Deidara fez questão de gritar próximo da grade, provocando o carcereiro. -É isso aí, Obito. Vai me dizer
que você gosta desse emprego? Todo mundo sabe que você odeia esse lugar.
O moreno aproximou-se da grade, carregando uma feição tediosa.
-Fecha essa matraca, e começa a se trocar. -Pediu calmo, gesticulando o mesmo para Gaara, o qual
encontrava-se parado no meio da cela. -Vai, Naruto, você também. Levanta daí.
Um calafrio horrível tomou conta de mim.
Eu não me encontrava nenhum pouco preparado para deixar o “conforto” de minha cela e enfrentar
um refeitório lotado, aonde Orochimaru com certeza estaria me esperando.
Além disso, o fato de eu ter sofrido outro assédio, fez com que o meu medo em relação ao Kakashi
se manifestasse novamente, me deixando ainda mais desconfiado e inseguro.
Agora eu tinha certeza de que qualquer pessoa dentro daquele lugar poderia acabar comigo com
facilidade, e se quisessem, fazer o que bem entendessem com o meu corpo.
Eu sou um verdadeiro fracassado e uma pressa muito fácil aqui dentro da penitenciária.
-Uzumaki, levanta dessa cama. -Obito ordenou ao notar que eu não havia me mexido, sem entender
o motivo de eu estar agarrado ao lençol de minha cama. -O que está acontecendo? Por que ele está
tremendo?
Não pareceu uma pergunta direcionada a mim, mas sim aos outros dois garotos.
-Ah, não... -O guarda suspirou tedioso, parecendo ter deduzido algo. -O que você fez com ele,
Deidara?
-Eu?! -Berrou na defensiva, ao mesmo tempo em que vestia seu uniforme na base do ódio. -Eu não
fiz nada, caralho! Quem sabe se você tivesse feito o seu trabalho e trancado as malditas celas a noite, o
Orochimaru não teria escapado!
Foi inevitável não recomeçar a chorar, mas dessa vez, acompanhado de soluços. Cada vez que
aquele nome era citado em voz alta, eu me sentia ainda mais apavorado e desprotegido. Gaara e Obito me
olharam com preocupação, enquanto Deidara parecia bem mais irritado do que preocupado comigo.
-Calma, franguinho. -O ruivo tomou a iniciativa de se aproximar, sentando-se em minha cama. -Não
vai acontecer nada, okay? O Orochimaru não vai mais encostar em você.
-C-Como você sabe?! -Perguntei um pouco alterado, dando um susto nos garotos ao meu redor. Eu
estava extremamente cansado de aguentar aquele peso sozinho. -Como você tem tanta certeza de que eu
não vou passar por isso de novo?! Não existe só o Orochimaru nesse lugar, todos aqui são maldosos,
inclusive os carcereiros!
A frase saiu involuntariamente de minha boca.
Naquela altura do campeonato, até mesmo Deidara parou o que estava fazendo, aparentemente
surpreendido com o meu pequeno “surto”. Obito, por sua vez, franziu o cenho confuso, apoiando-se com as
mãos para dentro da grade.
-Como assim, Naruto? -Indagou calmo. -Algum carcereiro te faz mal?
Cobri meu rosto com as duas mãos, pouco me importando se estaria pagando de chorão na frente de
todos. Eu estava cansado de sentir tanto medo, e toda a maldita hora. Eu não podia nem baixar minha
guarda na presença dos carcereiros, visto que muitos deles poderiam ser iguais ao Kakashi.
-Que história é essa, hein? -Deidara cruzou os braços, aparentemente interessado no que escutou de
mim. -Que papo é esse de carcereiro?
Abracei meus próprios joelhos, negando com a cabeça como se dissesse para deixar pra lá. Eu não
pretendia contá-los sobre isso, pelo menos não com o Obito por perto. Somente o Sasuke sabia de meu
“envolvimento” com o Kakashi.
Com um olhar afiado, o loiro espremeu os olhos em minha direção, parecendo me avaliar em
silêncio. No fundo, ele sabia que havia alguma coisa de errado.
-Obito, cai fora daqui.
-Como é? -O carcereiro riu sem humor.
-Estou falando sério. -Deidara apontou para trás, pedindo para que ele saísse. -A gente precisa falar
com o Naruto e você está atrapalhando. A fofoca não é com você, dá licença.

127
Franzi o cenho sem entender, sendo acompanhado dos outros dois garotos.
-Eu não entendo vocês. -O guarda suspirou silenciosamente, mas também não insistiu em ficar. -Só
vão logo com isso, o café é em dez minutos.
Foi o loiro quem assentiu, disfarçando o clima estranho que havia se instalado ali dentro, visto que
nenhum de nós estávamos entendendo nada. Quando Obito deu as costas, Gaara foi o primeiro a se
pronunciar.
-Que fofoca é essa que você está falando? -Riu sem entender.
-Não tem fofoca nenhuma, seu jegue. -Estalou a língua, cruzando os braços ao olhar para mim. -Eu
só mandei o Obito embora, porque sei que o Naruto está escondendo alguma coisa da gente.
Me encolhi assustado.
-E-Eu?
-É, você. -Levantou uma sobrancelha.
-E-Eu não estou escondendo nada. -Tentei disfarçar, olhando para os lados.
-Sim, você está. -Ele batia os pés no chão, num ritmo duro e impaciente. -Eu vou perguntar mais uma
vez... Que papo é esse de que aqui tem carcereiros maldosos, e não sei o quê?
Olhei para Gaara como um pedido de socorro, mas aparentemente, ele estava tão curioso quanto o
Deidara, provavelmente imaginando que havia mesmo algo de errado comigo.
-N-Não é nada, sério. -Mexi em meus dedos nervosamente. -Eu falei por impulso.
-Aham, e eu não nasci ontem. -O loiro estava me cercando. -Quer saber, Naruto? Eu não vou te
obrigar a falar nada, mas eu também não quero que você me faça de idiota. Eu sei bem que tem alguma
coisa acontecendo, e não é de agora. Eu ando reparando em você faz um tempo.
-É verdade, franguinho. -Gaara completou, me olhando com preocupação. -Já faz um tempinho que
você está... diferente?
Mesmo que sobre pressão, eu não pude deixar de corar ao saber que ambos os garotos haviam
reparado em mim por todo esse tempo. Eu nunca gostei de me sentir observado, só que o fato de eu não
conseguir esconder meus sentimentos, geralmente acabava me entregando.
Senti minha garganta se fechando, trazendo aquela mesma sensação incômoda de antes de chorar,
sendo acompanhada de meus olhos que se enchiam de água aos poucos.
Eu nunca havia chegado ao ponto de falar em voz alta sobre o meu terrível “envolvimento” com o
Kakashi. Como citado anteriormente, apenas o Sasuke sabia sobre isso, mas nem mesmo com o moreno
eu cheguei a contar sobre o ocorrido.
Foi ele quem havia deduzido.
-Pode contar pra gente, Naruto. -Gaara falava delicadamente, tocando em minha mão por cima do
colchão. -Seja lá o que for, a gente vai te ajudar. Não é, Dei?
-É. -Respondeu meio seco.
Eu tive que criar muita coragem para colocar tudo para fora, e talvez pelo fato de Deidara também ter
concordado em me ajudar, isso me deu mais segurança.
-A-Aconteceu uma coisa...
-Tudo bem, que coisa? -O ruivo conversava com bastante calma, me dando tempo e espaço. -Foi
com algum carcereiro, é isso?
Concordei positivo, baixando minha cabeça por precisar me recordar do acontecido. Parado um
pouco distante de mim, notei que Deidara me olhava pensativamente, como se já tivesse sacado tudo antes
mesmo de eu contar.
-Foi com o Kakashi? -O loiro deu o seu chute, não sendo tão delicado quanto o Gaara, mas também
sem ser grosseiro. -Foi, não foi?
Assenti magoado, mas por outro lado, gostando do fato de que ambos estavam deduzindo a história
individualmente, sem que eu precisasse contá-los.
-Ele fez algum mal pra você? -O ruivo procurava pelas palavras certas.

128
-E-Ele sabia uma coisa sobre mim e me chantageou. -Expliquei em meio a lágrimas. -E-Eu precisei...
Precisei fazer—
-Tudo bem, não precisa falar. -Gaara me parou, ciente de que eu não conseguiria terminar a frase.
Ambos os garotos trocaram olhares silenciosos, provavelmente imaginando o pior. -Só me diz uma coisa,
franguinho... Que “coisa” é essa que ele sabia sobre você?
Pelo menos aquilo era “simples” de explicar.
-F-Foi logo depois que eu derrubei as bandejas no Sasuke. -Eu explicava um pouco atrapalhado,
mas nada que dificultasse no entendimento. -Eu precisei buscar uns saquinhos de cocaína como punição, e
o Kakashi acabou me descobrindo.
Eles se entreolharam assustados.
-E-Eu não queria ter feito aquilo... -Abracei meu próprio corpo, sentindo nojo de mim mesmo ao me
recordar do que tive que fazer para sair ileso. -M-Mas não teve jeito.
-Saquinhos de cocaína? -Deidara ficou pensativo. -Os Uchiha não usam drogas. Eu aposto que o
Sasuke só te mandou buscar os saquinhos porque queria que você fosse pego, franguinho. Esse era o
plano dele desde o início.
Sinceramente, saber desse detalhe não me abalou. Se aquele tivesse sido mesmo o plano do
Sasuke, agora não vinha mais ao caso. Ele já havia sido bom e se desculpado de modo honesto comigo,
além de eu já tê-lo perdoado.
-Esquece isso. -Gaara falou por mim. -O importante agora é focar nessa história do Kakashi.
-Tudo o que eu mais quero é deixar isso para trás. -Eu deixei mais lágrimas escorrerem, todas bem
silenciosas. -E-Eu tento de verdade, mas parece que ainda está preso comigo. Minha cabeça me faz reviver
isso várias e várias vezes... E agora com o Orochimaru, eu não sei se vou suportar.
Escondi meu rosto em meio aos meus joelhos, ciente de que os dois garotos estavam me assistindo,
e muito provavelmente criando suas próprias conclusões em relação a minha história.
Para falar bem a verdade, foi um alívio contá-lo sobre isso.
-Franguinho? -Senti o toque sútil do ruivo em meu ombro, acariciando-o de modo reconfortante. -Por
que você não contou isso pra gente antes, hm?
-E-Eu não sei. -Respondi atordoado. -M-Me desculpa.
Eu também não fazia ideia do porquê estava me desculpando com eles.
-Aquele Kakashi é realmente um nojento, doente e filho da puta. -Deidara ficou mais atingido do que
eu imaginei. -Quando eu ainda era novato, ele também tentava se aproveitar de mim, e encontrava qualquer
motivo pra ficar passando a mão na minha bunda.
-Isso é sério? -Gaara arregalou os olhos, enquanto eu o acompanhava. -Nossa, ele nunca fez nada
comigo, gente. Eu acho que ele deve gostar de loiros, né?
Deidara esboçou uma careta brava e enojada, como se dessa maneira reprovasse o comentário do
ruivo.
-Foi mal, eu não deveria ter dito isso. -Ele se desculpou pelo comentário desnecessário, soltando
uma risada nervosa. -Enfim, a gente precisa decidir o que vamos fazer a respeito disso.
-N-Não, por favor. -Era isso que eu mais temia. -Eu não quero fazer nada a respeito disso.
O loiro levantou uma sobrancelha.
-Então o que você quer que a gente faça por você, franguinho?
-S-Só não me deixa sozinho, por favor. -Pedi tímido, mas desesperado, odiando ter que precisar
depender dos outros pra me sentir seguro. -É só isso que eu peço.
Gaara sorriu carinhoso.
-Você pode ficar comigo a hora que quiser, Naruto. -Acariciou meu ombro. -Eu não me importo
nenhum pouco. Nós dois vamos ficar do seu lado, não é Dei?
O mais velho continha uma feição tediosa, mas apesar de não gostar tanto assim da ideia, acabou
assentindo.

129
-‘Tá, tudo bem. -Levantou as mãos em redenção. -Só que eu não gosto nenhum pouco de grude,
Naruto. Eu não quero que você fique me abraçando, tá bom?
Concordei envergonhado.
-Ah, no fundo você gosta de grude que eu sei, pode falar! -O ruivo o provocou, rindo divertido quando
o abraçou de modo forçado, deixando o outro se debatendo entre seus braços. -Abraçar faz bem, sabia?
-Me solta, porra! -Empurrou-o impaciente, estalando a língua no céu da boca. -Não faz mais isso,
caralho, já não basta aquele beijo que você me deu na cozinha outro dia!
Ri baixo, começando a me sentir um pouquinho melhor.
-Tá bom, então vamos andando? -O ruivo sugeriu, referindo-se ao café da manhã.
Eu rapidamente neguei.
-E-Eu acho que prefiro ficar aqui na cela por um tempo. -Me agarrei mais aos lençóis. Embora
tivéssemos conversado sobre o meu maior medo atualmente, eu ainda não me sentia preparado para sair.
-Tudo bem pra vocês?
-Claro. -Gaara foi quem assentiu, enquanto o loiro apenas permanecia em silêncio. -Pode deixar, eu
fico aqui com você.
Meus olhos praticamente brilharam em agradecimento.
-Tem certeza? -Indaguei inseguro.
-Aham. -Sorriu simpático. -A gente prometeu que não ia te deixar sozinho, e outra, eu não estou
nenhum pouco afim de comer aquela pasta nojenta.
-Eu que diga. -O loiro completou. -Mas eu acho que vou descer, preciso ver como o Kiba está.
-Isso, vai lá. -Gaara o incentivou. -Depois me conta se tiver novidades.
-‘Tá.
Ficamos a observá-lo sair pela porta, deixando-nos sozinhos dentro da cela. Trocamos alguns
sorrisos pequenos, os meus bem tímidos, como sempre, e os seus carinhosos. O Gaara é uma das
melhores pessoas que eu já conheci, independente de termos nos encontrado dentro de uma prisão.
-Olha, eu vou ler meu livro, beleza? -Declarou sorridente, dirigindo-se até o seu beliche. -Ás vezes eu
acabo dormindo, mas se isso acontecer, é só você me chamar que eu acordo.
Ri levemente.
-Tudo bem.
Decidi que faria o mesmo para passar o tempo, pegando um livro qualquer que Deidara estava lendo
na noite anterior, torcendo para que ele não se importasse de empresta-ló para mim.
Ficamos ambos concentrados em nossas próprias histórias, e pelo o que me parecia, o ruivo não se
importava nenhum pouco em ficar em silêncio, assim como eu.
Depois de vários minutos daquela mesma forma, eu realmente consegui me distrair um pouco,
esquecendo pelo menos por um tempo de todo o medo que eu sentia em relação aos assédios que eu sofri,
e a deixar a minha cela, mesmo sabendo que isso ocorreria em breve.
-Naruto? -Gaara me chamou de repente.
-Oi? -Respondi distante, passeando meus olhos por cada palavra daquela página.
-Eu acho que tem alguém aqui pra te ver.
Franzi o cenho de modo confuso, baixando meu livro sem pensar duas vezes, pronto para
questiona-ló sobre tal afirmação, sentindo meu coração falhar uma batida com a presença de Sasuke.
Encostado na parede de minha cela, o moreno carregava em mãos a sua garrafa de água, contendo
seus olhos negros e intensos presos em mim, talvez me observando a muito mais tempo antes de eu
realmente notar sua presença.
Seu rosto era tomado por uma feição relaxada, porém neutra, transmitindo-me a ideia de que veio em
paz, talvez até mesmo para que tivéssemos mais um de nossos diálogos, como os da noite anterior.
-Sasuke? -Chamei atordoado, levantando-me de abrupto do travesseiro, arrebentando minha cabeça
na madeira do beliche, esquecendo completamente que havia uma outra cama em cima da minha. -A-Au...

130
Gaara começou a gargalhar da minha cara, deixando meu rosto pegando fogo de vergonha,
especialmente quando o moreno também decidiu rir, só que de modo bem mais contido, apenas com uma
risada baixinha e rouca.
-Eu acho que vou deixar vocês dois a sós. -O ruivo fechou seu livro, tomando a iniciativa de descer
pela escadinha de seu beliche. -Tudo bem pra você, franguinho?
-C-Claro. -Concordei atrapalhado, massageando minha cabeça dolorida, me repreendendo por ser
tão desastrado.
Quando Gaara passou ao lado de Sasuke, ambos trocaram acenos de cabeça, despedindo-se
silenciosamente. Eu, por outro lado, tomei a liberdade de me sentar com as costas apoiadas na cabeceira,
imaginando que o moreno se aproximaria de mim.
Como o esperado, o Uchiha caminhou em passos lentos até a cama, com seus olhos presos aos
meus, parando de pé bem a minha frente.
-Oi, Naruto.
-Oi. -Sorri tímido, observando-o colocar as mãos no bolso, olhando curiosamente ao seu redor. A
minha cela poderia ser considerada zoneada, especialmente por conta de Deidara, o qual deixava suas
roupas, livros e toalhas jogadas. -H-Hm, senta aqui, Sasuke.
Decidi que lhe “convidaria” a chegar mais perto, para que assim conversássemos com mais atenção
e intimidade. Dobrei minhas pernas na altura de meu peito, dando-o espaço no colchão, ficando
envergonhado quando o mesmo não reagiu ao meu chamado.
-M-Mas se você preferir ficar de pé...
-Tudo bem, eu sento. -Declarou calmamente, aceitando de bom grado o espaço que eu lhe
proporcionei, sentando-se bem próximo de meus pés, me deixando ainda mais encolhido no canto da cama.
-Como você está? Eu esperava te ver no café, mas você não apareceu.
-O-Oh... -Baixei minha cabeça, brincando com meus próprios dedos. Eu tinha muitas coisas para
falar com o Sasuke, e pretendia colocá-las para fora naquela conversa. -Eu estou bem, eu acho. Bom, é que
eu ainda estou criando coragem para sair da cela.
Sasuke me olhou de um jeito estranho, o que automaticamente me deixou inseguro, pensando que
eu estivesse falando outra bobagem, ou passando vergonha em sua frente.
-E-Eu sei, isso é besteira, né? -Fiz uma careta envergonhada. -Eu sei que eu não deveria ter tanto
medo assim, é só que—
-Não fala isso. -O moreno me cortou, carregando um tom bem tranquilo e reconfortante. -É
perfeitamente compreensível você se sentir intimidado depois do que aconteceu ontem. Não é besteira sua,
Naruto.
Lhe enviei um sorriso calmo.
-S-Sobre ontem... -Aproveitei a oportunidade para engatar no assunto. Fiz questão de arrumar a
minha postura, e mesmo que de rosto corado, encarei-o bem profundamente como uma forma de gratidão.
-Eu acho que não consigo achar palavras para te agradecer por tudo, Sasuke.
Um sorriso pequeno cresceu por seus lábios.
-Não precisa me agradecer, bebê.
Meu rosto esquentou violentamente.
Ainda era bem inusitado ser chamado daquela maneira por Sasuke, entretanto, eu não poderia negar
o modo como me sentia estranhamente bem, mais leve e até mesmo mais íntimo do moreno quando ele se
referia a mim daquela forma.
Eu gostava muito de ser chamado de bebê, pelo menos pelo Sasuke, é claro.
-N-Não, eu preciso sim. -Insisti, não sabendo como reagir ao outro comentário. Eu queria agradecê-lo
da melhor forma possível, e mostrá-lo o quanto significou para mim ter recebido a sua ajuda. -Sasuke...
-Sim?
Desci meu olhar até o colchão, focando em sua mão repousada sobre o lençol, bastante próxima da
minha. O que eu pretendia fazer a seguir, talvez pudesse ser considerado invasivo pelo moreno, no entanto,
eu pretendia arriscar.

131
Com os meus olhos presos aos seus, arrastei minha mão em direção a sua, não pensando muito na
hora de toca-lá por cima do colchão, causando um pequeno susto no mais velho.
Palavras não eram o suficiente para agradecê-lo por tudo, mas talvez um toque pudesse mostrá-lo
toda a gratidão que eu guardava dentro de mim, tanto por ter sido salvo, quanto pelo abraço que trocamos
na noite passada.
-Você me salvou, Sasuke. -Sussurrei como se fosse algum tipo de segredo, observando com atenção
a reação do Uchiha ao sentir-me acariciar a sua mão.
Diferente do que eu pensei, aquele pequeno ato não pareceu incomoda-ló, e muito menos
ultrapassar o seu limite e espaço pessoal. Na verdade, foi estranhamente emocionante de ver o modo como
Sasuke olhava para nossas mãos juntas, parecendo aproveitar aquele pequeno contato entre nós, ficando
imóvel por não saber como reagir.
Talvez ele não fosse do tipo de pessoa que recebia muito carinho, ou que fazia contato com ou outros
com frequência, e por isso ficou tão sem reação.
-Eu não salvei você, Naruto, eu só te fiz mal desde o dia em que você chegou. -Declarou seriamente,
arrancando-me um suspiro frustrado quando decidiu afastar nossas mãos, separando-as bem lentamente.
-Como você ainda fala comigo depois de tudo o que eu fiz você passar, inclusive com o Kakashi?
Foi algo bem surpreendente e repentino de se escutar vindo de Sasuke. Porém, como estávamos
mantendo um diálogo bem honesto e tranquilo, eu não tentei não demostrar o meu choque tanto assim.
-P-Porque você já me pediu desculpas, Sasuke. -Eu fiquei com vontade de toca-ló de novo, mas tive
que me segurar para não deixá-lo desconfortável. -As pessoas erram, sabe? E se elas se arrependem de
verdade, é o nosso dever perdoar.
Ele me olhava em silêncio, no entanto, bastante pensativo, e de certo modo até mesmo sofrido. Era
estranho vê-lo demostrar qualquer outro tipo de emoção sem ser a sua tão habitual feição fria e neutral.
-Você acha mesmo? -A sua pergunta também saiu como um sussurro.
-S-Sim, eu acho. -Lhe lancei um sorriso triste. Aquela conversa estava seguindo com um rumo bem
diferente do que eu imaginava. -Eu não sinto nenhuma raiva de você, Sasuke. Na verdade, eu sinto apenas
gratidão.
Eu tive que me arriscar na hora de toca-ló uma outra vez, repousando minha mão por cima da sua,
gostando de poder me aproximar um pouquinho mais dele.
-O-Obrigado, mais uma vez. -Sorri timidamente, internamente satisfeito pelo fato de Sasuke não ter
de afastado dessa vez, embora ainda estivesse desacostumando com tanto contato.
-Não tem de quê. -Respondeu num tom baixo, ainda de olhos vidrados em nossas mãos. Eu
esperava que ele pudesse reagir de alguma forma, ou talvez até mesmo entrelaça-las de volta, entretanto,
algo diferente ocorreu. -Ah, eu tenho uma coisa pra você.
Fiz uma careta confusa, largando de sua mão no instante em que senti-o se movimentar, dando a
entender que procuraria algo no bolso de seu uniforme. Inclinei meu rosto curiosamente, me surpreendo ao
ter uma maçã estendida em minha direção.
-U-Uma maçã? -Perguntei num tom tímido, mas surpreso, aceitando de bom grado o alimento.
Observei-a com atenção, notando como a mesma era bem mais “cuidada” do que as que eu consumava
receber em meu café da manhã.
-É. -Ele sorriu pequeno. -Eu sempre ganho uma no café, mas eu não gosto. Pode pegar, você ainda
não comeu nada hoje.
-O-Oh, muito obrigado. -Sorri da melhor maneira que pude, precisando baixar meu rosto para que ele
não me visse corar por conta de uma maçã. -Eu também sempre ganho uma no café, só que na maioria das
vezes está pobre.
Decidi dar uma dentada na fruta, soltando um suspiro de aprovação com o sabor, não me recordando
da última vez que comi algo tão bom, sem exagero algum. Aquela fruta era fresta e doce, bem diferente das
que eu recebia diariamente.
Comecei a comer desesperadamente, só então reparando na fome em que eu me encontrava,
escutando Sasuke rir baixinho com a minha rapidez na hora de devora-lá, deixando meu rosto todo
lambuzado e grudento.
-Você estava mesmo com fome, né? -Indagou num tom meio brincalhão, estendendo sua mão para
pegar o que restou de minha maçã, atirando no lixo ao seu lado. -Se eu soubesse teria trazido mais.

132
-M-Me desculpa. -Sorri envergonhado, limpando minha boca com a própria blusa de meu uniforme,
tirando toda a sujeira instalado. -É que fazia muito tempo que eu não comia uma coisa boa de verdade.
-É, eu percebi. -Riu nasalado, me surpreendendo uma segunda vez ao levantar a garrafa de água em
minha direção. -Toma.
Novamente, eu não pude deixar de corar com todo o “cuidado” que Sasuke estava tendo comigo,
primeiramente lembrando de mim na hora de me trazer o café, e agora me oferencendo sua garrafinha.
-Pega, Naruto. -Chacoalhou na minha cara, fazendo uma expressão engraçada e confusa, não
entendo o que me levou a ficar imóvel por longos cinco segundos.
-A-Ah, certo. -Aceitei a garrafa, abrindo a tampinha para bebê-la. Como já estava na metade, eu
acabei com o líquido em pouquíssimo tempo. -Obrigado.
Ele aceitou o plástico de volta, correspondendo ao pequeno sorriso que eu lhe lancei, me deixando
cada vez mais preso em todo o seu cuidado e bondade em relação a mim.
Notei que Sasuke me encarava de modo atento, mas não para meus olhos, e sim para um ponto fixo
de meu rosto, parecendo ter visto algo. Eu logo tratei de tocar em minhas bochechas, procurando pelo o
que ele tanto olhava.
-O que foi? -Questionei atordoado.
-Você está todo sujo, bebê.
-A-Aonde? -Tentei não demostrar o efeito que aquele apelido causava em mim, limpando meu rosto
de modo atrapalhado, tentando caçar a possível sujeira em minha pele.
Em minhas várias tentativas de me limpar, tive meus movimentos cessados por Sasuke, o qual
parou-me bem calmamente, segurando em meu pulso para afastá-lo de meu rosto.
Fiquei paralisado com cara de tonto, completamente sem reação quando o moreno decidiu chegar
ainda mais perto de mim, arrastando-se tranquilamente pelo colchão, aproximando nossos rostos para
passar o seu dedão em minha pele, limpando a sujeira na altura de minha bochecha.
-Pronto. -Sussurrou pertinho de mim, soltando o seu hálito de menta em minhas narinas. Apesar de
já ter me limpado, reparei que seus olhos ainda caiam em mim, mais especificamente em minha bochecha.
-Ei, posso te fazer uma pergunta?
-U-Uhum...
-O que são esses risquinhos na sua bochecha?
-O-Oh... -Toquei em cima dos tais “risquinhos” citados por ele, baixando minha cabeça
envergonhado. -São feios, né? Eu tenho desde que nasci, é uma marca de nascença, eu acho. Na escola, o
pessoal costumava me apelidar de raposinha.
-Não são feios. -Rebateu seriamente. -Na verdade, combina muito com você.
Eu sei que nem foi grande coisa, até porque, o Sasuke falou com um tom indiferente, mas para mim,
valeu a pena escutar um elogio sair de sua boca, e ainda por cima sobre uma insegurança minha.
-O-Obrigado. -Agradeci-o pela milésima vez só naquela conversa.
Caímos em um momento de silêncio, mas que sinceramente, não foi estranho. Ficamos a nos
encarar, hora trocando alguns sorrisos pequenos, e hora olhando ao nosso redor.
Eu esperava que Sasuke puxasse outro assunto comigo, ou iniciasse uma nova conversa, mas me
entristeci ao vê-lo dar sinal de que se levantaria da cama, provavelmente querendo ir embora.
-Então, eu já vou indo. -Declarou simplista, parando de pé a minha frente. -Te vejo por aí.
-A-Ah, certo... -Confesso que foi um tanto frustrante assisti-lo se distanciar de mim, indo em direção a
grade. Eu sabia que deveria deixá-lo ir, e que nós dois já havíamos conversando o suficiente por hoje,
entretanto, foi como se minha boca tivesse criado vida própria. -Sasuke, espera.
Ele parou bem na saída, virando-se lentamente para trás.
-O quê?
Eu não pensei muito na hora de me levantar, andando desengonçado até o moreno, tropeçando em
meio às roupas de Deidara espalhadas no chão. O Uchiha me fitou meio assustado, e até mesmo
surpreendido com a minha atitude tão repentina, virando-se inteiramente para mim quando parei em sua
frente.

133
-O que foi, Naruto? -Perguntou novamente, não grosseiro, mas sim confuso.
Mordi meu lábio nervosamente, tomando coragem para me aproximar ainda mais de si, aproveitando
que havíamos evoluído um pouco mais em nosso relacionamento. Apesar de minha proximidade fora do
comum, Sasuke não pareceu relutar, e também não se distanciou, talvez querendo saber aonde eu chegaria
com aquilo.
Eu fiz o que eu tento desejava, juntando meu corpo ao seu em um abraço de agradecimento.
Entrelacei meus braços atrás de seu pescoço, precisando ficar na ponta dos pés para alcançá-lo,
transmitindo toda a minha gratidão em nosso contato.
Senti seu corpo se tencionar, ainda desacostumando com o fato de ter alguém o abraçando e ainda
por cima sem aviso prévio. Embora soubesse de seu pequeno desconforto, eu decidi permanecer colado a
si, sorrindo involuntariamente quando finalmente fui correspondido, sentindo suas mãos em contato com
minha cintura.
Fechei meus olhos por alguns segundos, me sentindo confortável e protegido, mesmo que seu toque
ainda fosse bastante frouxo e inseguro, talvez não sabendo ao certo como reagir.
Obviamente, foi ele quem tomou a iniciativa de se afastar, quebrando o nosso pequeno momento
com uma expressão um pouco confusa, assimilando tudo silenciosamente.
-Eu já vou indo. -Declarou meio inquieto, olhando para os seus próprios pés, sem coragem de
olhar-me de volta. -Tchau, Naruto.
-T-Tchau, Sasuke.
Quando o moreno deixou a cela, a minha ficha finalmente caiu. O Sasuke havia correspondido ao
meu abraço, e dessa vez, não foi porque estávamos em uma situação similar à da noite anterior, mas sim
porque ele realmente quis.
Ele quis me abraçar de volta.
Itachi On

Em passos lentos e pesados, nosso grupo se dirigia até o refeitório da penitenciária, todos
carregados de seus portes frios e autoritários, intimidando qualquer detento e carcereiro que passasse por
nós.
Eu, como sempre, me encontrava na frente de todos, guiando-os em meio aos corredores, andando
juntamente com Sasuke, o qual estava estranhamente pensativo desde que nos encontramos após o
horário do café da manhã. Eu pretendia conversar com ele, é claro, mas esperaria que todos saíssem para
que tivéssemos mais privacidade.
-Estão dispensados. -Declarei friamente ao grupo, visto que não queria ser atrapalhado em meu mais
novo “emprego” na cozinha. -Sasuke, você fica.
Ele não reagiu ao meu chamado, mantendo-se de cabeça baixa, olhando para os próprios pés com
uma expressão distante. Bufei audivelmente, não entendendo o motivo de vê-lo tão distraído de uns dias
para cá.
-Sasuke? -Levantei seu queixo, indo de encontro com seus olhos.
-O quê? O que é? -Perguntou atordoado, olhando ao seu redor. Os garotos do grupo já não estavam
mais conosco, o que significava que poderíamos conversar melhor. -Cadê todo mundo?
Franzi o cenho.
-Eu acabei de dispensar eles, Sasuke. -Expliquei com toda a minha paciência. -Em que planeta você
está?
Ele chacoalhou a cabeça.
-Desculpa.
-Tem alguma coisa te incomodando? -Perguntei só por perguntar, até porque, era mais do que claro
para mim que havia algo de errado com ele.
-Não é nada. -Negou com a cabeça, embora seus olhos me dissessem outra coisa. Ele estava
perdido, inquieto, mas principalmente, receoso sobre algo. Eu estava muito curioso em relação ao que se
passava em sua cabeça. -Itachi?
-Oi? -Respondi preocupado, tocando na ponta de seu queixo, agoniado com o fato de meu irmão não
conseguir me olhar nos olhos. O Sasuke estava muito esquisito. -O que foi? Qual é o problema?

134
O mais estranho de tudo foi o que aconteceu a seguir.
Mesmo estando no meio de todo mundo, o Sasuke não se importou em me surpreender com um
abraço, deixando-me completamente sem reação, especialmente porque vários detentos ao nosso redor
olhavam para a cena chocados, e até mesmo assustados.
Desde o dia em que entramos nessa penitenciária, ninguém nunca viu nenhum de nós demostrar
afeto em público, e sinceramente, eu também não me senti nada confortável com esse abraço, pelo menos
não com todo mundo olhando.
-Sasuke? -Chamei, tentando afastá-lo de mim, receoso com o fato de que as pessoas poderiam
comentar, ou até pensar que nós estávamos amolecendo de certo modo. -Me solta, por favor.
Empurrei-o delicadamente, me sentindo confuso com tanto carinho vindo dele, mas de certa forma
preocupado também. Fazia pelo menos dois anos que eu não abraçava alguém.
Naquele momento, eu tive absoluta certeza de que algo estava o incomodando.
-As pessoas estão olhando. -Informei-o com a maior sensibilidade que pude, empurrando seus
ombros para longe de mim, afastando seu rosto de meu peito. -O que foi isso?
Seu rosto se contraia em aflição.
-Você não está cansado disso, Itachi? -Questionou de modo sofrido, ao mesmo tempo em que
apontava para o nosso redor. -Você não se cansa de sempre esconder o que sente por medo do que os
outros vão pensar?
Juntei minhas sobrancelhas, esboçando minha melhor careta confusa.
-Como assim, Sasuke?
-Sei lá, Itachi. -Ele se irritou por eu não estar o entendendo. -Ás vezes eu sinto falta de como as
coisas eram antigamente, e eu paro pra pensar o quando faz falta receber um abraço de vez em quando.
Eu fiquei sem reação.
Quando o foi a última vez que eu vi o meu irmão tão emotivo?
-Olha, Sasuke... -Eu não sabia nem o que dizer pra ele. Honestamente, eu não estava acostumado a
lidar com situações desse tipo.
-Quer saber? -Ele ficou bravo, talvez não comigo, mas sim consigo mesmo, não me deixando
terminar a frase. -Eu não deveria ter te falado isso. Bom trabalho pra você, Itachi, eu já vou indo embora.
-Espera, Sasuke. -Tentei alcançá-lo, mas já era tarde demais. Meu irmão havia corrido para longe de
mim, literalmente fugindo daquela conversa.
Suspirei silenciosamente, balançando a cabeça em negação. Apesar de estar preocupado com o
Sasuke, eu decidi que deixaria aquilo passar, afinal, poderia ser apenas drama de adolescente.
Naquele momento, eu precisaria me concentrar em outra coisa, como por exemplo, o maldito turno
de trabalho que eu precisaria enfrentar. A última coisa que eu queria era brigar com o Deidara.
-Merda. -Murmurei irritado, seguindo solitariamente para a parte de trás da cozinha, torcendo para
que fosse Obito o carcereiro responsável, e não qualquer outro guarda.
Passei pela porta com a minha melhor expressão de ódio, já aguardando os olhares de medo que
receberia dos ajudantes de Deidara. Como de costume, foi isso que ocorreu, só que dessa vez, com uma
pessoa a mais incluída.
Meus olhos foram automaticamente de encontro a Naruto, o qual encontrava-se agarrado
medrosamente ao braço de Deidara, olhando apavorado para Kakashi, o carcereiro responsável pela
cozinha. O mais velho, por sua vez, parecia alheio ao medo de seu companheiro, concentrado em mexer no
microondas, reclamando sobre a qualidade do mesmo.
De cenho franzido, adentrei o lugar com meus olhos vidrados no novato, não entendo o motivo de
vê-lo ali dentro, mas já odiando sua presença desde o início. Ele nem fazia parte da cozinha, mas já estava
me irritando só com aquela cara de coitado dele.
-Olha só, que alegria! Você chegou! -Deidara exclamou falsamente assim que me viu, andando em
minha direção com cara de tédio, tendo Naruto atarracado ao seu braço, sem lhe dar espaço pessoal. -Eu já
te disse que não gosto de grude, franguinho! Me solta, caralho!

135
Ele tentava empurrar o mais novo, enquanto o mesmo lutava, escondendo seu rosto na altura de seu
ombro. Eu levantei a sobrancelha, tentando compreender a situação sozinho, sem precisar pergunta-ló
nada.
-Ajudante novo? -Questionei debochado, referindo-me ao novato.
-Não. -Respondeu rude, cansado de lutar contra o outro, deixando-o segurar em seu braço esquerdo.
-Ele não trabalha aqui.
-Então o que ele está fazendo aqui? -Cruzei os braços, e mesmo que eu não quisesse, acabei
sentindo-me curioso em relação aos dois juntos.
-Não é da sua conta, caralho. -Respondeu ríspido. -Vai fritar os ovos, praga. Pode começar a
trabalhar!
Soltei um riso irônico.
-Oh, sim... Com essa delicadeza que você me pediu, pode ter certeza que eu vou trabalhar.
-Respondi-o na base da ironia, sorrindo ao ver que ele começava a perder sua paciência, ficando corado de
raiva. -Cadê sua espátula? Você não vai me ameaçar com ela hoje?
-Eu vou te ameaçar com as minhas próprias mãos, que tal assim?! -Ele tentava avançar para cima de
mim, mas era Naruto quem o impedia, quase pendurando-se em cima de si. -Porra, Naruto, me solta!
Eu comecei a rir.
-Vocês são patéticos, os dois.
-Seu filho da puta! -As discussões já estavam começando a todo o vapor. -Eu vou te mostrar quem é
patético aqui!
-Chega, Deidara! -Kakashi gritou do outro lado da cozinha, assistindo a cena com um semblante
indiferente, ao mesmo tempo em que devorava um saquinho de batata-palha. -Vai trabalhar!
Eu não pude deixar de reparar na forma anormal como Naruto se encolheu com o pronunciamento do
carcereiro, tomando a liberdade de abraçar o loiro, mas dessa vez, escondendo o rosto em seu peito. Fiz
uma cara de tédio, bufando bem audivelmente, mostrando o quanto desprezava a sua presença.
-Me solta, caralho! -Ele empurrou o mais novo violentamente, quase o arremessando em cima da
bancada. Em seguida, apontou o dedo na minha cara numa falsa tentativa de me intimidar. -E você, seu
verme, vai trabalhar!
Sorri de lado.
-Claro, princesa.
Com um grunhido alto e escandaloso, o loiro demonstrou o desprezo que sentiu em relação ao
apelido, dando a entender que avançaria para cima de mim novamente, mas sendo parado por Naruto, o
qual o abraçou por trás, murmurando algo como “o Kakashi está me olhando de um jeito estranho”.
Eu tive que bufar mais uma vez.
Aquele pirralho era insuportavelmente chato, medroso, chorão e irritante. Honestamente, eu não
conseguia entender o que o Deidara viu de mais nele, e como ele tinha paciência para aguenta-ló.
Se fosse mesmo verdade essa história de que os dois estão em um relacionamento a três juntamente
com o Gaara, eu ficaria de queixo caído. O Deidara definitivamente não é desse tipo de pessoa.
Eu precisaria investigar mais a respeito para descobrir a verdade.
-O que você está esperando, caralho?! -O loiro se irritou por eu não ter saído do lugar. -Vai fritar os
malditos ovos, sua mula!
Eu acho que estava tão acostumando em ouvi-lo gritar, que suas “broncas” nem me pareciam mais
tão ofensivas como antigamente. Eu simplesmente virei de costas para si, caminhando em direção ao
fogão, já tirando o meu próprio elástico do bolso, para que assim não tivesse que pedir um emprestado para
ele.
Prendi meu cabelo em um coque, querendo evitar a sessão diária de palavrões e xingamentos que
Deidara provavelmente soltaria se me visse com ele amarrado em um rabo-de-cabelo, assim como eu estou
acostumado a ficar.
Tentei me concentrar em fritar os ovos, ignorando toda a barulheira e o calor insuportável ao meu
redor, pensando que se me mantivesse calado, talvez o tempo passasse mais rápido.

136
-...Naruto, esquece! Você não vai dormir comigo essa noite, eu já te disse que odeio gude! -A voz de
Deidara se fez presente pela cozinha toda, no entanto, as pessoas não pareciam tão interessadas na
conversa. -Quantos anos você tem, caralho?! Onze?!
Virei meu pescoço discretamente para trás, colocando meu cabelo atrás da orelha, querendo escutar
melhor o que ambos conversavam. Sinceramente, aquilo havia me chamado a atenção.
-E-Eu fiz dezoito três meses antes de entrar aqui, eu achei que já tinha te dito. -O mais novo
explicou-se medrosamente.
-Foi uma pergunta retórica, seu paspalho! -Gritou em sua orelha. -Eu sei a sua idade, cacete!
Aquilo era no mínimo estranho.
Pelo o que eu escutei da conversa deles, eu deduzi que ambos tivessem o costume de dormirem
juntos, o que só confirmou ainda mais a minha teoria de que eles estavam em um relacionamento.
-A-Aonde você vai?! -Naruto se desesperou ao ver Deidara andar para longe.
-No depósito! -Gritou irritado, passando bem ao meu lado no fogão, enquanto eu disfarçava o fato de
estar escutando tudo o que eles falavam um para o outro. -Não vem atrás de mim!
-P-Por favor, você prometeu que ia ficar comigo, Deidara. -Ele veio atrás do outro com uma
expressão chorosa, fazendo o loiro parar no meio do caminho. -V-Você pode me abraçar?
-Não! -Berrou ao meu lado, quase me deixando surto. Tapei minhas orelhas, soltando um suspiro
impaciente. Eu sempre odiei gritaria. -Você quer um abraço, é isso?!
-Q-Quero.
-Então pede pro Itachi! -Ele me envolveu na conversa do nada. -Sabia que ele adora abraços?!
Abraça ele, caralho!
Com somente uma virada de pescoço minha, Naruto se tremeu da cabeça aos pés, encolhendo-se
com o olhar maldoso e raivoso que eu o enviava. Se aquele pirralho se atrevesse a me abraçar por conta da
piadinha de Deidara, eu iria definitivamente matá-lo.
-D-Deidara, espera! -Ele correu atrás do outro, o qual já se encontrava distante. -Eu vou junto com
você!
O novato alcançou-o na entrada do depósito, enquanto Deidara gritava algo como “fecha essa porta”.
Quando a porta bateu, eu não pude deixar de inclinar meu pescoço, curioso para saber o que ambos
estavam fazendo ali dentro.
Tentei me distrair e manter minha cabeça cheia, focando em terminar de fritar aqueles ovos. Porém, a
cada minuto que se passava, eu ficava mais agoniado com a demora dos dois, pensando nos mais diversos
tipos de coisas que poderiam estar se passando lá dentro.
Limpei minha testa com um suspiro irritado, batendo meus dedos nervosamente na bancada,
incomodado comigo mesmo por tamanha curiosidade. Eu não estava acreditando que faria mesmo isso,
mas eu havia decidido espiona-lós no depósito.
Dei uma chocada rápida ao meu redor, disfarçando na hora de me dirigir ao final da cozinha, pouco
me importando na hora de deixar os ovos queimando na frigideira. Nenhum detento pareceu notar a minha
saída, todos aparentemente concentrados no que faziam, o que é claro, foi uma grande vantagem para
mim.
A porta do depósito continha uma placa gigante e clara, explicando especificamente que a entrada
era somente autorizada para funcionários oficiais da cozinha, algo que eu não era.
Eu simplesmente não me importei com o aviso.
Primeiramente, coloquei meu ouvido na porta, escutando com atenção os barulhos vindos do lado de
dentro. Eu arregalei meus olhos com o que ouvi. Eram suspiros baixinhos e entrecortados, extremamente
similares a gemidos.
Afastei-me de abrupto, encarando a porta de modo assustado, não acreditando que eles estavam
mesmo juntos. Como o Deidara conseguia ficar com um garoto daqueles?
Senti uma raiva estranha tomar conta de mim, sendo totalmente tomado pelo impulso na hora de
escancarar a porta, batendo-a exageradamente forte na parede, causando um barulho gigantesco pela
cozinha e depósito.
A cena a seguir só serviu para me deixar com fama de idiota.

137
Eles não estavam transando e nem se beijando, muito pelo contrário. Naruto me olhava assustado e
encolhido, contendo seus olhos cheios de lágrimas, enquanto Deidara parecia “consola-ló” de certa forma.
Os suspiros não eram gemidos, mas sim soluços vindos do novato, o qual provavelmente estaria com
medo de alguma coisa.
-Que porra é essa?! -Era óbvio que o loiro não deixaria barato. -Você é idiota, caralho?! O que você
está fazendo aqui?!
Fiquei parado com a mão na maçaneta, travando meu maxilar em direção aos dois. Eu nunca
admitira em voz alta, mas eu havia realmente ficado sem falas.
-Você não viu a placa, seu verme?! -Deidara apontou para o aviso chamativo na porta, me olhando
como se eu fosse um louco. Sinceramente, eu estava começando a me sentir como tal. -Será que se eu
colocar um aviso de “proibido a entrada de animais” você me entende?!
Sacudi minha cabeça, saindo de meu transe ao ouvi-lo falar comigo daquela maneira, esboçando
minha melhor feição de raiva. Eu não estava só irritado com ele, mas sim comigo mesmo.
-Vai se foder. -Rosnei.
-Vai você! -Retrucou, enquanto o novato apenas assistia tudo. -Qual é a sua, hein?! Cai fora da
minha cozinha, seu morfético!
Eu não estava mais me entendendo.
Virei de costas para os dois, batendo à porta do depósito violentamente, deixando todos da cozinha
assustados comigo. Passei entre os detentos sem olhar para ninguém, pouco me importando em deixar o
meu turno de lado, querendo sair dali o mais rápido possível.
Corri para longe da cozinha, chamando a atenção dos presidiários que circulavam os corredores,
todos desacostumados em me ver tão afobado. Para o meu alívio, eu me encontrei com Sasuke, o qual
passava distante em frente à cozinha.
-Sasuke? -Chamei num tom meio desesperado, dando-o um susto.
-O que foi, Itachi? -Ele me olhou preocupado, se aproximando. -Está tudo bem?
Eu não pensei muito depois disso.
Segurei em seu pulso, assustando-o ao puxa-ló para longe dali, indo em direção ao banheiro, aonde
eu sabia que teríamos mais privacidade, e que eu tinha certeza de que ninguém estaria me observando.
Adentrei o sanitários agressivamente, dando graças a todos os santos por não ter quase ninguém,
apenas alguns detentos desocupados, mas que também nem se importaram tanto conosco.
Sasuke me perguntava a todo o momento o que estava acontecendo, mas eu somente parei de
puxa-lo quando finalmente entramos em uma das cabines, enquanto eu a fechava por dentro, impedindo
qualquer um de entrar.
-Itachi, pelo amor de Deus, o que é isso? -Ele me olhou com medo, o que de certa forma me
incomodou. Talvez ele estivesse pensando que eu iria castiga-ló, ou qualquer coisa do tipo. -O que
aconteceu?
Assim como ele, eu o surpreendi com um abraço.
Colei meu corpo ao seu, o abraçando como nunca fiz antes, ou pelo menos desde a época em que
éramos crianças, fechando meus olhos quando ele correspondeu, talvez até numa intensidade maior do que
a minha.
Ele tinha razão, afinal.
A falta que um abraço faz no nosso dia a dia, muitas vezes é esquecida entre nossos problemas, e
deixamos de lado o carinho que sentimos um pelo outro por medo de demonstrarmos nossos sentimentos
em público.
Só mesmo o Sasuke para me ver numa situação dessas, tão mudado e emotivo, dependendo de seu
abraço para me sentir melhor, sem nem ao certo saber porque fiquei tão afetado após o incidente da
cozinha.
Eu começaria a abraçá-lo mais.

138
Capítulo 13 - Ensinamentos

Sasuke On

Sentado sobre a cadeira de minha cela, meus olhos percorriam atentamente cada palavra presente
naquela página, lendo distraidamente um livro qualquer que Itachi me emprestou, mas que sinceramente,
era bem desinteressante.
Como já havíamos terminado o nosso café, decidimos ficar um tempo em nossa cela, visto que não
queríamos ir até o pátio naquela manhã. Deitado de bruços em sua cama, meu irmão encontrava-se da
mesma maneira, mexendo em seus lábios minimamente, algo que fazia quando estava realmente preso e
concentrado em alguma coisa, e que no caso, era na história que lia.
Eu conhecia bem aquela cara.
Os livros favoritos de Itachi, os únicos que ele não permite que eu pegue emprestado, são repletos
de cenas picantes e explícitas, as quais ele passa horas entretido, por mais que tente esconder de mim. Eu
já havia fuçado nas suas coisas umas três vezes, e em todas elas, encontrei as tais histórias.
-O seu livro ‘tá legal? -Impliquei com ele, deixando um pouco de lado o que eu lia, quase bocejando
de tanto tédio.
-Uhum. -Respondeu sem me dar as caras, nem sequer reparando no tom irônico utilizado por mim.
Ele estava realmente muito entretido na história.
Soltei uma risada baixa.
Desde ontem de tarde, logo após o estranho incidente entre mim e Itachi, falando especificamente da
surpreendente iniciativa que meu irmão tomou de me abraçar, eu venho me sentindo ainda mais próximo
dele, embora ele continue, de certa forma, com o seu perfil frio e grosseiro.
Eu não consigo nem imaginar o que levou-o a demostrar tanto carinho por mim e tão de repente,
entretanto, eu também não posso negar o quanto gostei de receber um abraço seu.
Na verdade, seria injusto se eu citasse somente o abraço de Itachi, visto que teve outro.
O motivo de eu ter me sentindo tão afetado e confiante ao ponto de “desabafar” com o meu irmão
sobre sentir saudades de como as coisas eram no passado entre nós, além da falta que fazia receber afeto
de vez em quando, se deu por conta de meu pequeno momento com o Naruto no dia anterior.
E pelo o que me pareceu, desabafar com o Itachi realmente pareceu funcionar.
Talvez conversar com o meu irmão sobre certas coisas, nem seja tão ruim o quanto eu imaginava. Na
maioria das vezes, eu evito ao máximo contá-lo sobre meus pensamentos e opniões, por medo de que ele
não aprove ou se zangue, no entanto, dessa vez eu sinto que foi diferente.
A sua pequena demonstração de afeto no dia anterior, me deu esperanças de que as coisas
poderiam sim voltar a serem como eram antes, e que ainda há uma pequena possibilidade de Itachi possuir
o mesmo coração de quando éramos menores, antes mesmo de sermos influenciados a seguir com o
mundo do crime.
-Que tédio. -Resmunguei baixinho, tombando minha cabeça para trás, observando o teto sem motivo
algum.
-É. -Respondeu indiferente, e mais uma vez, sem nem ao menos me olhar nos olhos. A verdade era
que o Itachi não estava nem um pouco entediado. -Vai dar uma volta, Sasuke.
-Dar uma volta aonde? -Rebati.
-Eu não sei. -Murmurou desinteressado, provavelmente me achando um incômodo ali dentro. O Itachi
só queria ler o livro dele em paz. -Vai até o pátio, os garotos estão lá.
Fiz uma careta de reprovação.
Eu já sou obrigado a ver e conviver com os meninos de nosso grupo diariamente. A última coisa que
eu queria era ir falar com eles por pura e espontânea vontade. Sinceramente, eu já estou bem enjoado de
todos.
Eu nunca admitira em voz alta, e muito menos para o Itachi, mas me fazia um pouco de falta dialogar
e conhecer gente nova. A única pessoa com quem eu converso é o meu irmão, mas mesmo assim, ainda
tenho que tomar cuidado e medir minhas palavras para falar com ele, visto que posso desagrada-ló de
algum modo.

139
Eu queria falar mais com o Naruto.
O loiro está sendo o único, tirando os garotos de meu grupo, com quem eu estou mantendo um
diálogo comprido, e até mesmo interessante e envolvente, que me faz realmente ter vontade de vê-lo
novamente.
Eu admito que cheguei ao ponto de procurar por ele no horário do café, me sentindo preocupado
quando não o encontrei, lembrando-me de que o mesmo provavelmente estaria preso em sua cela, ainda
traumatizado com o ocorrido.
A ideia de levá-lo uma fruta passou pela minha cabeça, no entanto, a única coisa que me impediu, foi
o fato de Itachi estar grudado comigo, sempre andando na minha cola. Pode ter certeza que se ele me visse
com uma maçã na mão, com certeza questionaria para aonde eu estava indo.
-‘Tá, eu vou sair. -Declarei em voz alta.
-Tchau. -Respondeu alheio a mim. De certa forma, isso de deu uma vantagem. Eu não precisaria ficar
me explicando e dizendo para onde eu pretendia ir.
Eu iria até a cela do Naruto.
Pelo fato de eu não ter visto o loiro no café, e também não ter encontrado nenhum de seus outros
dois companheiros, Gaara e Deidara, eu pretendia checar se estava tudo bem, ou se o Naruto precisava de
alguma coisa.
Caminhei tranquilamente pelos corredores, seguindo pelo caminho do bloco 4, levemente nervoso
por estar indo encontrá-lo. Seria o segundo dia seguido em que eu apareceria na sua cela, mas dessa vez,
não teria uma “desculpa” certa para isso. Eu não estava levando fruta nenhuma, o que significava que eu
iria lá exclusivamente para vê-lo.
Ao chegar no bloco desejado, alguns detentos ao meu redor olharam-me de modo esquisito,
estranhando o fato de eu estar andando por um bloco alheio, e ainda por cima sozinho. Todos sabiam que
eram raras as vezes em que eu saia de perto do meu irmão.
Me dirigi para a final do corredor, localizando o número 444 pintado na parede, indicando-me a cela
de Naruto. Me aproximei um pouco sem jeito, não pensando em como começaria a conversar com ele,
apenas indo por impulso e adentrando de uma vez, aproveitando que a mesma estava com a grade aberta.
Contudo, a visão que tive foi diferente.
Apesar de Gaara e Deidara estarem presentes, me frustrei ao ver que o loiro não se encontrava junto
deles. Confesso que fiquei um pouco sem graça por ter chegado tão de repente, ainda mais quando o ruivo
acabou me notando, baixando o livro que estava lendo.
-Ah... Oi, Sasuke. -Me cumprimentou de modo formal, porém simpático.
-Oi. -Respondi simplista, não demostrando a pequena vergonha que senti. Gaara encontrava-se
sentado na cadeira de sua cela, parado ao lado do beliche, bem aonde Deidara estava adormecido, coberto
com um lençol até a altura de sua cintura. -Desculpa, eu não queria incomodar.
-Relaxa. -Sorriu pequeno, dando uma chocada rápida em seu companheiro, colocando a mão em sua
testa como se medisse sua temperatura. -O Deidara adoeceu, eu decidi ficar um pouco com ele. Você está
procurando o Naruto?
Concordei positivamente.
-Ele acabou de sair. -Revelou tranquilo, o que me deixou automaticamente confuso. Pelo o que eu
sei, o loiro não estava conseguindo deixar sua cela sozinho, e muito menos andar por aí sem ninguém.
Vendo minha expressão pensativa, Gaara pareceu deduzir o que eu estava imaginando. -O Obito foi junto
com ele.
Agora fazia mais sentido.
-E você sabe pra onde ele foi? -Questionei curioso.
-Ele foi até a ala de visitas. -Explicou-me pacientemente. -O Naruto disse que queria ligar para a mãe
dele, ou sei lá.
-Ah, entendi. -Respondi na mesma calmaria, baixando um pouco o tom de minha voz quando Deidara
começou a se mexer. -Obrigado, eu já vou indo.
-Não tem de quê. -Me lançou um último sorriso, logo voltando a se concentrar em seu livro.

140
Aproveitei essa brecha para sair dali, convicto de que iria à procura do loiro na ala de visitas. O Obito
poderia estar fazendo companhia para ele, mas mesmo assim, eu não conseguia deixar de me preocupar,
principalmente por saber que Orochimaru continuava “á solta” dentro da penitenciária.
Fazia tanto tempo que eu não ia até a ala de visitas, que foi quase como se meu cérebro tivesse
apagado o caminho de minha memória. Falando bem a verdade, eu nunca cheguei a fazer uma ligação à
alguém, e muito mesmo recebi visitas aqui dentro.
Cheguei em meu destino após um tempo, encontrando o lugar parcialmente cheio. Vários detentos
faziam filas para utilizarem os telefones, enquanto alguns conversavam pessoalmente com seus parentes e
amigos na sala de visita ao lado.
Procurei por Naruto com atenção, não demorando muito para encontrá-lo um pouco mais à frente de
mim, sendo um ponto de destaque para meus olhos, visto que era o garoto mais baixinho e loirinho de todos
naquela fila, além de estar encolhido em meio àqueles presidiários.
Apesar de tê-lo localizado, franzi o cenho por não encontrar Obito, o qual era para, supostamente,
estar o acompanhando e deixando-o protegido naquele momento tão difícil e traumático para ele.
Ver que ele estava solitário foi como me sentir na obrigação de vigiá-lo de longe, decidido que não
me aproximaria, mas somente para dá-lo certa privacidade na hora de conversar com sua mãe.
O loiro era o próximo da fila, mas mantinha-se de cabeça baixa, claramente receoso com tantos
detentos a sua volta. Fiquei com os meus braços cruzados, observando com atenção qualquer mínimo
movimento ao seu redor, protegendo-o a distância.
Ao se aproximar do telefone, trazendo o seu cartãozinho de autorização para utilizá-lo, notei uma
proximidade fora do normal de um outro detento, o qual eu rapidamente identifiquei ser o Suigetsu.
Travei meu maxilar, fuzilando-o como uma águia, observando de longe cada passo seu em direção
ao menor. Se ele se atrevesse a chegar perto do Naruto, eu não mediria esforços para intervir.
Como o esperado, a aproximação de Suigetsu foi ficando ainda maior, assim como a minha vontade
de chegar perto do loiro. Resolvi desistir da minha própria ideia de dá-lo privacidade, caminhando até
Naruto quando reparei que o outro havia parado do seu lado.
A medida que eu chegava perto, todos os detentos que circulavam o local me davam passagem,
enquanto alguns até mesmo pulavam para a fila do lado, não querendo dividir o mesmo espaço comigo.
-...Me empresta o seu cartão, loirinho? -Suigetsu indagou calmo, bem diferente de como estava
acostumado a agir. Naruto, por outro lado, encontrava-se assustado com sua aproximação repentina. -Eu só
quero fazer uma ligação, o meu cartão está bloqueado.
-N-Não dá, me desculpe. -Ele ia para trás, enquanto o outro chegava perto. -Eu só tenho direito a
uma ligação, e eu preciso falar com a minha mãe.
-Mas o meu motivo é mais importante. -Insistiu, o cercando na parede atrás do telefone. -Você pode
falar com a sua mãe depois, eu preciso falar com o meu advogado.
O loiro negou, abraçando o cartão entre seu peito, ficando desesperado quando Suigetsu o prensou
contra o cimento, tentando tirar o conteúdo de si a força.
-Me dá essa merda. -Irritou-se com o menor, puxando o cartãozinho de sua mão, o que
automaticamente deixou-o encolhido.
Eu não fiquei esperando para ver como o Naruto reagiria a seguir, até porque, eu tinha consciência
de que ele não faria absolutamente nada, e com certeza deixaria que o outro ficasse com o seu cartão.
Eu precisava ajudá-lo.
-Suigetsu. -Chamei atrás de si, vendo com clareza o momento em que seus ombros se tencionaram
com a minha voz. Eu havia chegado muito de repente, tanto que até mesmo o Naruto havia se assustado.
-Me entrega esse cartão.
Ele virou-se lentamente, carregando uma expressão séria, porém assustada, afastando o cartãozinho
do telefone. Tirei somente uma mão dos bolsos de minha calça, estendendo em sua direção, esperando
silenciosamente que ele me entregasse sem discussões.
-Vai logo. -Reforcei, assistindo de canto de olho as reações de todos a nossa volta, inclusive as de
Naruto. Qualquer coisa que eu, ou o meu irmão fizéssemos dentro da prisão, sempre era motivo para gerar
plateia.
-Tsc. -Ele soltou uma risada baixa e debochada, entregando-me o conteúdo com violência,
chocando-o na palma de minha mão.
141
Permaneci da mesma forma, até que tivesse certeza de que Suigetsu estava longe o suficiente de
Naruto e que agora ele poderia executar a sua ligação com tranquilidade.
Me virei para o loiro, enxergando-o encolhido no cantinho da parede, abraçando seu próprio corpo.
Me aproximei com cautela, reparando no modo como havíamos progredido, visto que ele não se assustava
mais quando eu decidia chegar perto de si.
Isso era muito bom para mim.
-Aqui, bebê. -Estendi o cartão para si, encorajando-o a sair do canto da parede. Com um sorrisinho
envergonhado, Naruto aceitei o conteúdo de bom grado, baixando sua cabeça na intenção de esconder seu
rosto rubro de mim. -Pode fazer a sua ligação agora.
-M-Muito obrigado, Sasuke. -Ele mexia no cartãozinho de modo tímido, talvez esperando que eu o
deixasse a sós para que pudesse realizar a sua ligação, mas sem ser atrapalhado.
-Eu já vou indo então. -Declarei calmo, querendo dá-lo alguma privacidade. Eu não pretendia deixar a
ala de visitas, mas sim me afastar o bastante para não deixá-lo desconfortável.
-N-Não, espera! -Me chamou um tanto desesperado, parando-me no meio do caminho ao tocar
brevemente em minha mão. Olhei diretamente para nossas mãos, uma outra vez, quase que entrelaçadas,
enquanto ele corava por ter agido de modo tão impulsivo. -Q-Quero dizer... Você pode ficar aqui comigo?
Talvez pelo modo como permaneci imóvel, ocupado demais em me concentrar no toque em que o
loiro me proporciona, Naruto acabou soltando-me, provavelmente imaginando que eu estaria incomodado
com o contato.
-D-Desculpa. -Murmurou baixinho, afastando sua mão da minha.
-Não foi nada. -Sussurrei da mesma maneira, relocando minhas mãos no bolso do uniforme, assim
como sempre fazia. -Eu fico com você, pode fazer a sua ligação.
Ele sorriu em agradecimento.
-T-Tem certeza? -Perguntou inseguro. -Eu não quero te atrapalhar, Sasuke.
Soltei uma risada baixinha e rouca.
-Me atrapalhar? -Repeti, negando com a cabeça. -Eu não tenho nada pra fazer aqui dentro, Naruto.
Você não está me atrapalhando.
-O-Oh, certo... -Sorriu tímido, tomando a iniciativa de se aproximar do telefone, precisando ficar na
pontinha dos pés para colocar o cartão de autorização, ao mesmo tempo em que eu encostava na parede
do seu lado, sendo uma espécie de segurança para ele. -Eu vou ligar pra minha mãe.
-Tudo bem. -Eu não entendi muito bem porque ele me contou isso, mas talvez fosse para deixar-me
ciente de que teria um diálogo mais pessoal com alguém.
De qualquer forma, fiz questão de desviar meu olhar de si, para que assim pudesse mostrá-lo que eu
não tinha a intenção de me meter em sua vida pessoal, e muito menos presta atenção em sua conversa.
O loiro discou o número rapidamente, levando o telefone ao ouvido, mordendo seu lábio inferior
ansiosamente. Após alguns segundos de espera, observei discretamente o momento em que a ligação se
completou.
-M-Mamãe? -Chamou esperançoso, porém baixinho. Pelo sorriso chateado que abriu em seguia, eu
tive certeza de que ela havia o respondido. -Sim, eu estou bem, e você? Eu estou com muita saudades.
Olhei aleatoriamente para meus próprios pés, tentando ao máximo não parecer um intrometido para
ele. Reparei no curto espaço de tempo em que o loiro ficou em silêncio, até que escutei com clareza o seu
nariz fungar, dando a entender que o mesmo estava lutando para conter suas lágrimas.
Eu levantei minha cabeça preocupado.
-A-Aqui dentro? -Repetiu algo que sua mãe havia lhe perguntado. -Sim, mamãe. As pessoas me
tratam muito bem aqui. Nem é tão ruim quanto a senhora imagina, são todos bem amigáveis.
Eu não pude deixar de me sentir afetado com o que escutei, especialmente por saber que aquilo não
era verdade. Naruto estava omitindo todos os incidentes e assédios que passou aqui dentro, somente para
que sua mãe não se preocupasse.
Embora tivessem mesmo pessoas “amigáveis” ao redor dele, como o Gaara e o Deidara, foram
muitas coisas ruins que também aconteceram com ele, e que não poderiam serem ignoradas.

142
-U-Uhum. -Ele prensava os lábios uns nos outros, tentando ao máximo não omitir nenhum tipo de
som, apenas deixando lágrimas silenciosas escorrerem. -N-Não, mamãe, eu não estou chorando.
Olhei para baixo novamente, me sentindo incomodado por presenciar um momento como aquele. Eu
queria poder fazer algo por ele e ajudá-lo de alguma forma, só que eu não fazia ideia de como. Naquele
momento, eu decidi deixá-lo conversar com sua mãe em paz.
-T-Tudo bem, eu entendo. -Ele secava suas bochechas com o polegar. -Eu te ligo amanhã, não tem
problema nenhum. Mas, por favor, eu não quero que você me visite aqui, okay?
Naruto ficou mais um tempinho em silêncio, escutando com bastante atenção ao que sua mãe dizia
do outro lado da linha.
-N-Não é isso, mãe. -Falou em um tom tranquilizador. -É só que eu não quero que a senhora saia daí
pra vir aqui me ver. Além de ser longe, você precisaria ser revistada e assinar um monte de papéis. Eu não
quero te incomodar, entende?
Apesar de não estar incluído na conversa, eu não pude deixar de concordar com ele. Para visitar
alguém dentro de uma penitenciária, tem uma série de regras que precisam ser seguidas. Primeiramente,
sua mãe teria que ser revistada de modo bem invasivo pelos carcereiros, o que poderia ser considerado, de
certa forma, humilhante.
Além disso, não seria permitido que nenhum dos dois se tocassem, o que deixaria a situação e clima
entre eles ainda pior. Ver alguém que você ama e não poder toca-lá com decência é a pior coisa que existe.
-I-Isso, assim é melhor. -Ele assentia com a cabeça, mesmo que ela não pudesse ver.
Assisti com atenção outro de seus momento de silêncio, até que um soluço baixinho escapou de
seus lábios, tornando sua feição ainda mais chorosa e chateada. -Eu também te amo muito, mãe.
Suspirei silenciosamente, esperando que a ligação entre eles se encerrasse, já começando a pensar
no que lhe diria a seguir. Eu não gostava nenhum pouco de ver o Naruto chorar daquele jeito.
-T-Tchau. -Despediu-se entre soluços, deixando para trás o seu plano inicial de camuflar o seu choro.
-Um beijo.
Recoloquei as mãos em meu bolso, apoiando-me com somente um pé na parede, olhando
preocupado para o loiro, o qual devolvia o telefone ao gancho, soluçando bem baixinho com uma expressão
quebrada. Ele virou-se para mim, caminhando com os olhos vidrados em seus próprios pés, saindo da fila
para dar espaço ao próximo detento.
Ao parar em minha frente, Naruto secou as bochechas com suas duas mãos, como se assim
quisesse deixar pra trás a conversa que teve. Em seguida, levantou sua cabeça de modo sofrido, me fitando
timidamente e com um biquinho magoado preso em seus lábios.
-Ei, bebê... Você está bem? -Questionei do modo mais “sensível” que consegui, nenhum pouco
habituado a consolar pessoas, e muito menos vê-las chorar em minha frente.
Seu rosto, já úmido por conta de suas lágrimas, tornou-se um pouco mais rubro com o meu
questionamento, mas em especial, por conta do apelido, o qual eu comecei a utilizar de modo automático
para referir-se a ele.
Apesar de tudo, ele assentiu com a cabeça.
-S-Sim. -Suspirou tristemente. -É só que eu fico muito emotivo quando falo com a minha mãe. Eu
sinto muito falta dela.
Concordei com a cabeça, querendo lhe passar a ideia de que entendia os seus sentimentos, embora
a saudades que eu sentisse de minha própria mãe nem fosse tão grande assim, visto que a perdi quando
ainda era muito novo.
Eu não me lembro muito dela.
-Eu entendo. -Completei.
Ele me olhou de modo pensativo, com seus dois olhinhos brilhando pelas lágrimas anteriores,
parecendo refletir sobre algo que acabara de pensar.
-S-Sasuke? -Ele sempre chamava pelo meu nome antes de fazer qualquer pergunta que estivesse
inseguro para anunciar em voz alta.
-Hm?
-Como é a sua mãe?

143
O pequeno sorriso que prendia meus lábios foi se desmanchando aos poucos, trazendo em seu lugar
uma feição seria, mas pensativa, deixando-o instantaneamente arrependido da pergunta que me fez.
-M-Me desculpa. -Mexeu em suas mãos nervosamente, baixando a cabeça. -Eu não queria ter
extrapolado... de novo.
Neguei com a cabeça.
-Não é nada disso. -Dei de ombros. -É só que eu não sei muito sobre a minha mãe.
Ele me olhou curiosamente.
-Qual é o nome dela?
-Ela chamava Mikoto. -Fiz questão de referir-me a minha mãe no passado, visto que não estava com
muita vontade de lhe contar a história de sua morte, a qual faleceu por conta de uma doença grave. -Morreu
quando eu tinha quatro anos.
Foi a sua vez de entristecer-se com o que escutou, deixando sua expressão curiosa de lado, sendo
tomado por uma completamente magoada e arrependida, provavelmente se repreendendo por ter me feito
falar sobre o assunto.
-E o seu pai? -Indagou baixinho, com seus olhos estranhamente marejados.
-Morreu em uma troca de tiros com a polícia. -Revelei num tom frio, não demonstrando nenhum tipo
de emoção ao contá-lo. A morte de meu pai não foi tão triste para mim, visto que nunca fui próximo dele. A
única pessoa de minha família com quem sempre fiquei e que sempre cuido de mim, foi o Itachi.
O loiro entreabriu os lábios, demonstrando sua melhor feição sofrida. Fiquei confuso e surpreso ao
reparar em seus olhos, os quais enchiam-se de água aos poucos, aparentemente comovido com a minha
história.
Acompanhei em silêncio o momento exato em que uma lágrima solitária desceu por sua bochecha,
escorrendo a caminho de seu queixo. Eu sinceramente não entendi o que levou-o a se emocionar tanto
assim, visto que os pais nem eram seus.
-E-Eu sinto muito, Sasuke. -Deu um passo pequeno para perto de mim.
Lhe lancei um sorriso meio apagado, estando bem menos atingido do que ele. O mais engraçado
nisso tudo é que os pais são meus, mas quem sofreu mais com a história foi o Naruto.
Ele é mesmo uma pessoa pura.
Isso só me faz refletir ainda mais o porquê de alguém como ele, tão frágil e dócil, precise passar por
todas as situações horrorosas que ele passa. Embora eu já tivesse consciência do que levou-o a ser preso
em primeiro lugar, visto que pesquisei sobre o Naruto a um tempo atrás, bem na época em que havia
planejado sua punição, ainda não me entrava na cabeça que ele foi mesmo capaz de matar alguém.
De acordo com o que li a respeito dele, o loiro afirmou ao juiz que tudo não se passou de um
acidente, entretanto, o fato de possuir uma arma ilegalmente e já ter um histórico criminal envolvendo
assaltos, foi também um dos motivos que estar dentro da prisão.
Para sem bem sincero, eu acreditava nas palavras de Naruto e sei que ele nunca quis machucar
ninguém. O loiro só fez o que fez, porque queria ajudar a sua mãe, bem diferente de mim, que cometi todas
aquelas atrocidades no passado por conta do histórico de minha família, seguindo as ordens de meu pai,
juntamente com Itachi.
-E a sua mãe? -Decidi mudar o rumo da conversa, desviando ela de mim. -Como ela é?
-E-Ela é incrível. -Sorriu de forma magoada e distante, logo baixando sua cabeça como se tivesse se
recordado de algo. -Ás vezes eu penso como ela ainda continua me amando, sabe? Mesmo depois de todo
o mal que eu causei para as pessoas, ela continua do meu lado.
Quando ele retornou a chorar, recordei-me aleatoriamente do diálogo que tive com o loiro em sua
cela, decidido de que o relembraria sobre algo que conversamos, mas que talvez pudesse o ajudar.
-Olha... -Chamei sua atenção, pensando em uma forma ideal para acabar com suas lágrimas.
Sinceramente, eu não conseguia me reacordar da última vez em que “consolei” alguém. -Uma vez alguém
me disse que se as pessoas erram, mas se arrependem de verdade do que fizeram, nós temos a obrigação
de perdoar.
Eu mencionei exatamente a mesma coisa que Naruto me disse no dia anterior, logo depois de eu
questiona-lo como ele ainda continuava a conversar comigo, mesmo depois de todo o mal que eu lhe
causei, dando um foque principal no incidente com o Kakashi.

144
O menor levantou seu pescoço, soltando um suspiro baixinho e surpreso, provavelmente
impressionado com o fato de eu ainda me recordar com detalhes de nossa conversa, mas em especial,
desse pequeno ensinamento seu.
Honestamente, eu nunca me esqueceria disso.
-Eu aposto que sua mãe já perdoou você. -Conclui meu pequeno discurso, lhe lançando um sorriso
mínimo, torcendo para que isso tivesse o ajudado.
Em meio às lágrimas que escorriam pelo seu rosto, foi realmente satisfatório de presenciar um
sorriso abrindo-se pelo seu rosto, mostrando seus dentes branquinhos e alinhados por alguns míseros
segundos, até que o inesperado aconteceu.
Pelo fato de já estarmos próximos, Naruto só precisou se inclinar um pouquinho para alcançar meus
braços, enterrando-se neles sem qualquer aviso prévio, escondendo seu rosto em meu peito, ao mesmo
tempo em que circulava seus bracinhos ao redor de meu tronco.
Suspirei assustado, reparando na pequena plateia que se formou ao meu redor para assistir aquele
momento tão incomum, especialmente por eu nunca ser visto em situações desse tipo, e é claro, por eu ser
um Uchiha.
Eu poderia ter agido que nem o Itachi, e simplesmente empurrado-o para longe de mim, afirmando
que não me sentia a vontade em abraçá-lo com várias pessoas olhando. No entanto, foi como se meu corpo
tivesse reagido por conta própria, correspondendo a aquele seu abraço de agradecimento, apertando-o
ainda mais contra mim.
Circulei meus braços entorno de sua cintura, ainda um pouco desacostumando com situações como
essas, mas dessa vez, disposto a dar o meu melhor em nosso abraço.
Deixei meu rosto afundar no topo de sua cabeça, inalando discretamente o cheiro doce de seu
cabelo, que mesmo misturando-se com o xampu da penitenciária, continha um cheirinho próprio seu.
Abraçar era muito bom, e por ser uma coisa que eu não fazia com muita frequência, ficava ainda
melhor, especialmente se fosse com o Naruto. Ainda era algo inusitado o modo como eu me sentia bem
perto dele.
-O-Obrigado, Sasuke. -Pelo fato de estarmos pertinho um do outro, seu sussurro saiu bem mais alto
do que o normal.
-Não tem de quê, bebê. -Respondi pacificamente, sentindo seu sorriso crescer ainda mais em contato
com o meu peito. -Pronto.
Me distanciei com calma de seu corpo, porque mesmo que estivesse gostando, ainda era algo meio
incomum para mim, principalmente sabendo que outras pessoas nos olhavam.
Naruto afastou-se com um sorriso tímido, revelando-me suas bochechas úmidas e coradas, as quais
eu fiz uma estranha questão de secar, passando meu polegar em uma última lágrima que escorreu por cima
de seus risquinhos adoráveis.
Quando eu fui perceber, um sorriso involuntário prendia meus lábios, o que deixou-me ainda mais
confuso comigo mesmo, me fazendo sacudir a cabeça, forcei-me a voltar ao normal.
-Eu tenho que ir. -Declarei meio fora de mim, dando um passo para trás. Eu não precisava ir embora,
mas acontece que toda a vez que eu fico muito tempo com o Naruto, meu corpo começa a ter umas reações
esquisitas.
-T-Tudo bem. -Concordou docemente, sem questionar para onde eu iria.
Eu pensei que já tivesse sido claro comigo mesmo quando disse que precisava ir embora, no
entanto, foi como se meu corpo me obrigasse a permanecer aonde eu estava, principalmente quando notei
uma proximidade ainda maior do loiro.
O espaço pessoal que mantínhamos após o nosso pequeno abraço foi se quebrando aos poucos.
Naruto me fitava de modo tímido, mas determinado, parecendo criar coragem para fazer algo, assim como
das vezes em que refletia com antecendência se deveria me perguntar algo ou não.
Seu rosto foi se inclinando até o meu, o que instantaneamente me deixou paralisado, entreabrindo
meus lábios ansiosamente, esperando pelo seu próximo passo. Eu não conseguia me lembrar da última vez
em que havia ficado tão perto de alguém daquela forma, tirando o meu irmão, é claro.
No segundo seguinte, veio a surpresa que eu tanto esperava. O contato de seus lábios em minha
bochecha fez o meu coração disparar. Meus olhos se fecharam bem lentamente e de modo involuntário,
respirando pesado com o beijo sútil e delicado que recebi, mesmo que houvesse sido bem rápido.

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Ao se afastar de mim, escutei com clareza o estalinho de seu beijo em meu ouvido, me retirando
daquele transe tão bom em que Naruto me colocou. Sinceramente, eu também não conseguia me recordar
da última vez em que recebi um beijo de alguém.
-Te vejo por aí, Sasuke. -Sorriu doce e tímido, tomando a iniciativa de deixar o local antes mesmo do
que eu.
Meus pés pareciam estar grudados no chão, me impedindo de sair, ou dar qualquer passo para
deixar aquele lugar. Meus olhos, por outro lado, acompanharam a saída do loiro, o qual virou-se uma última
vez ao chegar na porta, carregando um semblante envergonhado.
Com a minha mão levemente trêmula, toquei em minha própria bochecha, carregando um olhar
distante e reflexivo, acariciando o lugar exato em que recebi o beijo seu.
Não tinha mais o que fazer, e nem como continuar a negar para mim mesmo. Eu teria que ser
maduro o suficiente para admitir que o loiro estava me bagunçando e mexendo com a minha cabeça.
Eu acho que gosto do Naruto, só que mais do que deveria me permitir gostar.
Deidara On

Meu corpo se arrastava desanimadamente em direção a cozinha, carregando um cansaço


inexplicável em minhas costas, além do fato de ter Naruto agarrado ao meu braço, não me dando nenhum
segundo de paz e espaço pessoal desde o momento em que acordei.
Falando bem a verdade, até de madrugada esse garoto fez questão de me encher a paciência, me
acordando no meio da noite para relatar o pesadelo que teve com o Orochimaru, pedindo entre lágrimas
para que eu o deixasse se juntar a mim em meu colchão.
Obviamente, a minha reposta foi negativa.
Aquilo era o cúmulo do absurdo. Me acordar no meio da noite, chorando que nem uma criancinha e
só por conta de um sonho ruim, me mostrou ainda mais o quanto ele é infantil e que não deveria de jeito
nenhum estar aqui no meio de todos esses criminosos.
Muitas vezes eu me pego pensando como o Naruto chegou ao ponto de matar alguém, sendo que
não consegue nem ao menos andar normalmente sem tropeçar em seus próprios pés?
Digo, como ele conseguiu mirar a arma no garoto e ainda por cima acertar o disparo? Do jeito que ele
é lesado, eu não ficaria surpreso em saber que ele acabou atirando em si mesmo sem querer.
-D-Deidara? -O loiro choramingava, quase se pendurando em cima de mim. Ele passou o dia
inteirinho me seguindo, quase como se fosse o meu cachorro de estimação. Acontece que um animal não
anda agarrado a ninguém desse jeito, o Naruto está mais para um carrapato. -E se o Kakashi estiver na
cozinha hoje?
Bufei irritado, sentindo um cansaço incomum tomar conta de mim. Eu havia acordado gripado, mole e
completamente sonolento, mas mesmo assim estava sendo obrigado a aguentar esse pirralho me
amolando, além das futuras discussões que eu teria com o Itachi, o qual infelizmente dividiria o turno
comigo.
-D-Deidara? -Chamou de novo, notando que nos aproximávamos da cozinha.
-O que foi, caralho? -Perguntei impaciente. Minha garganta estava doendo muito, o que talvez fosse
dificultar nos futuros berros que eu pretendia dar na cozinha.
-S-Se o Kakashi estiver na cozinha, você vai me abraçar? -Indagou num tom inocente, esgotando
meu último pingo de paciência em relação a ele. Deus, como eu odiava grude.
-Que inferno você com essa história de abraço! -Esbravejei, sacudindo meu braço na intenção de
descola-lo de mim. Eu havia chegado ao ponto de tossir em sua cara, só para ver se ele se tocava que eu
estava doente e me deixava ir. Pelo o que me parecia, nem isso adiantou. -Eu não gosto disso, porra! Vê se
entra na sua cabeça!
Ele ficou encolhido com a grosseria, mas também não me largou, ficando ainda mais inseguro
quando atravessamos a porta, adentrando a cozinha juntos. Senti em minha pele o choque térmico da
temperatura, visto que o lado de fora estava congelando, mas o de dentro uma verdadeira sauna.
-D-Deidara... -Me chamou com medo, enquanto todos os meus ajudantes olhavam em minha direção,
já habituados em verem o Naruto comigo. No dia anterior, só faltou eu carregar ele no colo de tanto que
ficamos grudados. -O Kakashi está aqui?

146
Suspirei irritado, espremendo meus olhos ao procurar pelo platinado, caçando-o atentamente em
meio aos detentos. Apesar de não tê-lo localizado, acabei encontrando algo ainda pior em meu ponto de
vista.
Localizado no fundo da cozinha, Itachi encontrava-se acompanhado de seu irmão mais novo, o qual
permanecia de pé ao seu lado, olhando ao redor com uma feição desconfiada, mas tediosa, parecendo
nenhum pouco satisfeito com o fato de estar ali.
Além disso, Obito também estava junto deles, conversando normalmente com ambos, como se fosse
a coisa mais normal do mundo deixar pessoas de fora, como o Sasuke, entrarem na cozinha sem a minha
autorização.
Meu sangue ferveu de modo inexplicável.
-D-Deidara? Você está bem? -Naruto chamou calmamente do meu lado, o que por alguma razão, me
deixou ainda mais enfurecido.
Afastei-o violentamente de mim, não medindo minha força na hora de lhe empurrar para o lado,
pisando agressivo em direção aos três garotos, inconformado com a cara de pau do Itachi em trazer o seu
irmão para a minha cozinha, muito provavelmente com a intenção de me irritar.
Ele, mais do que ninguém, sabia muito bem o quanto sentia raiva do Sasuke.
-Que porra é essa, caralho?! -Cheguei como um verdadeiro maluco, bem pior do que o Itachi no dia
anterior, falando especificamente do incidente do depósito.
Sasuke foi o que mais se assustou com a minha chegada, enquanto Obito e Itachi viram-se de cenho
franzido, ambos acostumados com o meu temperamento. Naruto, por outro lado, foi rápido em correr até
mim, juntando-se a nós por não querer ficar sozinho.
-S-Sasuke? -O menor chamou assim que se aproximou, escondendo-se timidamente atrás de minhas
costas, parecendo gostar da presença do outro.
-Eu perguntei que porra é essa?! -Repeti aos berros, apontando o meu dedo na cara de Sasuke, o
qual mantinha-se neutro diante de mim.
-Você é cego, ou o quê? -Itachi indagou em um tom provocativo, empurrando minha mão para longe
do seu querido e protegido irmão mais novo, logo abraçando-o de lado. -Eu decidi que o meu irmão vai ficar
aqui comigo hoje. Não é, Sasuke?
O mais novo não esboçou nenhuma reação, talvez odiando internamente a ideia de precisar ficar
com o seu irmão na cozinha. Para falar bem a verdade, o Sasuke estava mais concentrado em trocar
olhares com Naruto, o qual permanecia atrás de mim.
Eu tive que rir sarcasticamente com a sua resposta.
-Nem pensar. -Discordei num tom sombrio. -Eu nunca vou permitir uma coisa dessas! Já não basta
um Uchiha exibido aqui na minha cozinha, e agora eu vou ser obrigado a aguentar dois?! Esquece, caralho!
Foi a vez de Itachi rir, só que de modo bem mais maldoso e atrevido.
-Qual é o mal nisso? -Sorriu com uma falsa inocência, arqueando a sobrancelha. -O Naruto não está
aqui com você? Nada mais justo do que o Sasuke também me acompanhar, você não acha?
Apertei meus punhos com força.
Eu estava dando o meu máximo para não avançar para cima dele. O único motivo de o Naruto estar
comigo, era por conta de seu trauma, um motivo realmente plausível. Já para ele, a única razão de querer
que o Sasuke ficasse na cozinha consigo, era na intenção de me irritar.
-Você não vai fazer nada, cacete?! -Ao invés de pagar de louco para cima deles, apelei para o lado
de Obito, esperando que ele fizesse alguma coisa.
-Eu já autorizei o Sasuke a ficar com o Itachi. -Explicou calmamente, levantando suas mãos em um
pedido silencioso para que eu deixasse-o terminar de falar. -Seria errado se eu não deixasse, Deidara. Você
também me pediu para o Naruto te acompanhar, e eu autorizei.
-Isso é diferente e você sabe! -Avancei para cima dele, quase explodindo de tanto ódio,
principalmente ao escutar as risadas provocativas de Itachi. -Se esses filhos da puta ficarem na minha
cozinha, eles vão ter que trabalhar também! Eu não vou deixar esses exibidos só coçando o saco, e de
bobeira!

147
Sasuke olhou um pouco enfezado para seu irmão, parecendo desaprovar a ideia de estar ali,
especialmente ao me ouvir dizer que ambos precisariam trabalhar. Talvez ele só estivesse ali para seguir
com as ordens de Itachi.
-Bom, nada mais justo. -Obito concordou comigo. Dessa vez foi o Itachi quem ficou com uma
carranca. -O Sasuke vai ter que trabalhar, mas isso significa que o Naruto também vai precisar fazer alguma
coisa aqui dentro.
Olhei rapidamente para o loiro, que apesar de concentrado na conversa, ainda permanecia atento ao
Uchiha mais novo, ambos presos em um momento somente deles, se encarando em silêncio.
-Fechado. -Falei convicto, sem pedir pela opinião de Naruto. O Itachi conseguia ser bem filho da puta
em incluir o irmão dele nos meus negócios, e somente para me irritar, no entanto, eu conseguia ser pior
ainda se tentasse.
Com o Sasuke trabalhando ali dentro, eu arrumaria um jeito de usar isso ao meu favor, e é claro, na
intenção de atingir o Itachi.
-Como eu sou o chefe dessa cozinha, eu dito as regras. -Sorri sombrio em direção aos dois irmãos.
-Sasuke, eu já decidi a sua tarefa aqui dentro. Você vai cuidar do lixo e colocar ele para fora.
Apontei diretamente para a lixeira no canto da cozinha, a qual encontrava-se completamente lotada
dos mais diversos tipos de alimentos, os quais foram acumulados durante uma semana, todos podres e
fedendo absurdamente mal.
-Você vai precisar separar entre recicláveis e orgânicos. -Informei sorridentemente, já imaginando o
cheiro que ele ficaria mais tarde. -Depois disso, eu preciso que você leve eles para fora, lá no lixão do pátio.
Com um semblante enojado, Sasuke virou-se ameaçadoramente para seu irmão, fazendo questão de
mostrá-lo o quanto detestou a sua ideia de incluí-lo em seu serviço, sendo que ele não tinha nada a ver com
isso. O Itachi, por sua vez, travou o maxilar em minha direção, me odiando pela tarefa nojenta que designei
ao seu querido irmãozinho.
-Alguma reclamação, Itachi? -Perguntei no mesmo tom inocente utilizado por ele anteriormente,
virando minha cabeça para o lado.
-Olha aqui, seu—
-Deixa isso quieto, Itachi. -O Uchiha mais novo interrompeu-o com um suspiro irritado, falando
diretamente comigo. -Eu começo agora?
-Agorinha. -Sorri desdenhoso. -E quanto a você, Itachi, pode ir começando a fritar os ovos.
Ele me lançou um olhar mortal, mas que sinceramente, só me fez rir ainda mais. Eu simplesmente
amava quando as pessoas tentavam ferrar comigo, mas eu acabava saindo por cima.
-E eu, Deidara? -Naruto me chamou num tom baixo, puxando a manga de meu uniforme.
Virei-me com um semblante tedioso, quase me esquecendo de sua inclusão naquela situação. O
Naruto era muito lesado. Se eu o designasse para qualquer tarefa um pouco mais “avançada” ali dentro, era
capaz dele colocar fogo na minha cozinha.
-Você vai... -Coloquei o dedo no queixo, olhando ao redor como se pensasse em algo. Ao dar de cara
com uma bancada vazia, avistei um refrigerante a base de guaraná, o mesmo que meus ajudantes
utilizavam para umedecer a massa de bolo. -Cuidar das massas.
Ele ficou com uma expressão confusa.
-Caralho, viu? -Bufei irritado, odiando o fato do Naruto ser tão lento as vezes. -É só você pegar
aquele refrigerante e despejar um pouco em cima da massa pronta. Alguma dúvida?
-Não...?
-Ótimo. -Respondi entediado, dando-o um empurrão no ombro como incentivo. -Ah, e nada de tomar
o meu refrigerante, ouviu?! Se eu pegar você fazendo isso, eu vou te matar!
-T-Tá bom. -Ele concordou meio assustado, aproximando-se do balcão indicado por mim.
Soltei um suspiro satisfeito, olhando ao meu redor com os braços cruzados. Cada um deles estava
focado em suas devidas tarefas, mesmo que, de certa forma, estivessem as executando de maneira
parcialmente errada.
O Sasuke era o pior de todos.

148
A cozinha inteira parecia parar para assistir a sua crise de tosse exagerada, claramente enjoado com
o fato de precisar entrar em contato com aquele lixo todo, separando os restos de cascas, espinhas de
peixes, carnes podres e alimentos vencidos em um saco a parte.
Itachi o aconselhava de longe, embora também fizesse algumas caretas enojadas quando seu irmão
tapava o próprio nariz, ficando com os olhos lagrimejados por conta do cheiro insuportável.
-Você vai vomitar desse jeito. -O Uchiha mais velho não sabia se ria de sua cara, ou se deixava sua
frigideira de lado para ajudá-lo. -Tapa o seu nariz com alguma coisa, Sasuke.
-Tapar com o quê? -Virou-se agressivo, carregando na ponta de seus dedos uma espinha de peixe.
-Não tem nada aqui, Itachi.
-Sei lá, usa a sua blusa. -Sugeriu, dando de ombros.
Sasuke revirou os olhos sem que o outro visse, mas mesmo assim, acabou seguindo com o seu
conselho, usando parte de sua camiseta para tapar o nariz, o que de certa forma, facilitou em seu trabalho.
Eu não conseguia parar de rir, não acreditando que estava mesmo amando o fato de ter os irmãos
exibidos trabalhando comigo. Se o Itachi quisesse trazer o seu irmão mais vezes, eu iria permitir.
Decidi checar o Naruto também, caminhando discretamente em sua direção, visto que o enxerguei
fazendo algumas coisas suspeitas. Parei atrás de si, cruzando meus braços quando o mesmo olhou para os
dois lados, parecendo querer conferir se tinha alguém o espiando.
Em seguida, o loiro levou o refrigerante aos lábios, desobedecendo totalmente as minhas ordens na
hora de experimenta-lo, parecendo gostar do sabor.
-Sua mula! -Gritei em sua orelha na intenção de lhe assustar, flagrando-o de um jeito bem inesperado
para ele. -O que eu te disse sobre tomar o meu refrigerante, caralho?!
Naruto começou a tossir com o susto, sendo bem pior do que o Sasuke na hora de se engasgar,
deixando com que o refrigerante saísse pelo canto de sua boca, e também pelo seu nariz.
Naquela altura do campeonato, todos haviam parado para assistir a cena, inclusive os dois irmãos.
Segurei em seus ombros com brutalidade, virando-o de frente para mim, dando tapas agressivos em seus
costas para que ele se desengasgasse.
-Olha pra cima! -Eu desferia vários tapas violentos, enquanto o mesmo ia ficando vermelho, deixando
toda a espuma do refrigerante se acumular em sua boca. -Que nojo! Você ‘tá parecendo um cachorro com
raiva!
-Mas o que é isso, meu Deus? -Obito chegava para ajudá-lo, olhando para a cena preocupado.
-Naruto, olha pra cima, assim você vai desengasgar mais fácil.
O moreno segurou no queixo do menor, ajudando-o a olhar para o teto, facilitando muito no processo.
Fiquei de braços cruzados, assistindo de perto o escândalo do Naruto, assim como o resto da cozinha,
todos aparentemente chocados com a situação.
-Você está bem? -O carcereiro perguntou, dando batidinhas em suas costas. -Faz um joinha com a
mão para eu saber.
Ele gesticulou da maneira indicada, respirando completamente ofegante, parecendo querer recuperar
o seu fôlego. Além dele ter babado por todo o seu rosto e uniforme, ele também chegou a cuspir em minha
comida no balcão.
-Você quase matou ele, Deidara. -Obito falou de modo consideravelmente tranquilo para o que
acabou de afirmar.
-Quem mandou tomar o meu refrigerante! -Eu não deixaria que ele ficasse me culpando dessa forma,
afinal, o errado da história foi o Naruto. -Toda a ação tem uma reação!
O moreno suspirou cansado.
-Toma, Naruto. -Lhe estendeu sua garrafinha de água. -E você, Deidara, vai trabalhar.
Fiz um barulho com a minha boca, mostrando o quanto estava desapontado com tal atitude. Era o
Naruto que se fazia de coitadinha, e eu que tinha que levar bronca depois.
Estalei a língua, saindo dali batendo os meus pés, dirigindo-me até um dos muitos fogões presentes
na cozinha, querendo ascende-lo para começar a preparar o prato do dia. Como tudo naquela cozinha é um
lixo, eu precisei de um fósforo para utilizá-lo, visto que o mesmo não funcionava no botão automático.

149
Em uma de minhas varias tentativas de ascende-ló, pensei ter tido vitória quando o fogo entrou em
contato com o gás, no entanto, um vento forte e violento vindo do lado de fora, invadiu a cozinha, apagando
todo o meu trabalho.
Olhei em direção a porta, a mesma que havia sido aberta, enxergando Sasuke a carregar dois sacos
de lixo em suas costas, ainda com sua blusa tapando o seu nariz.
Suspirei irritado, mas decidi não dizer nada.
Parti para a minha segunda tentativa de ascender o fogão, riscando meu fósforo com habilidade,
trazendo-o com cuidado para a boca do fogão. Quando estava prestes a ascende-lo de novo, um outro
vento forte bateu em minhas costas, apagando todo o meu trabalho.
-Caralho! -Berrei exageradamente alta, causando um susto em todo mundo, principalmente em
Sasuke, o qual voltava do pátio com as mesmas sacolas. -Para de ficar abrindo e fechando essa porta, sua
praga!
O moreno me fitou como se eu fosse louco.
-Mas você que me pediu para levar o lixo lá pra fora. -Explicou-se calmo e neutro.
-Não interessa! -Soquei no balcão. -Para de ficar entrando e saindo que nem o papai Noel com essas
sacolas nas costas! É por isso que eu fico gripado!
Sasuke franziu o cenho, trocando olhares confusos com o seu irmão do outro lado da cozinha, o qual
também observava tudo em silêncio.
-Mas o que isso tem a ver? -Indagou atordoado.
-Aqui dentro ‘tá um calor da porra, lá fora ‘tá um frio do caralho! -Eu explicava tudo aos berros,
soando um pouco confuso aos seus ouvidos. -É esse maldito choque térmico que me deixa doente!
A cozinha toda parou para me assistir.
-Me desculpa...? -Sasuke levantou a sobrancelha, não sabendo ao certo como me responder.
-Argh! -Exclamei irritadiço, deixando de lado o meu serviço no fogão, atirando a panela em cima da
pia. Era impossível não perder a paciência no meio desses idiotas.
-Deidara, aonde você vai? -Obito perguntou quando passei por ele, ainda ao lado de Naruto, o qual
acariciava sua própria garganta, parecendo se recuperar de sua crise de tosse.
-No freezer! -Gritei sem lhe dar as caras.
Pelo menos no freezer em poderia trabalhar em paz. Embora fosse muito frio, eu teria um pouco de
privacidade, e não precisaria ficar aguentando os irmãos exibidos, e os dramas de Naruto, o qual sempre
fazia questão de se fazer de coitadinho.
Cheguei abrindo a porta com tudo, me enfiando lá dentro sem pensar duas vezes, deixando-o aberto
para poder respirar um pouco. Eu pretendia organizar os congelados em caixas específicas, para que assim
facilitasse a vida dos cozinheiros na hora de pegar os alimentos.
Suspirei silenciosamente, levemente trêmulo pelo frio que fazia, mas adorando o fato de estar
sozinho, sem nenhum pirralho me abraçando, ou sem nenhum Uchiha para me tirar do sério.
Me coloquei na ponta dos pés para alcançar as caixas, colocando os ingredientes congelados em
seus devidos lugares, conseguindo me distrair um pouco de tanto estresse.
Embora eu estivesse a sós, ainda era possível escutar as conversas do lado de fora, inclusive o
momento em que a porta da cozinha foi aberta mais uma vez, dando a entender que Sasuke estava de
saída, trazendo aquele vento violento novamente.
Para meu completo desespero, a porta do freezer bateu.
Suspirei assustado, ficando em choque por uns cinco segundos, deixando as caixas de lado para
forçar a maçaneta, me desesperando um pouco quando a mesma não abriu.
-Cacete. -Resmunguei, abraçando meu próprio corpo pelo frio que fazia. -Maldito Sasuke!
O único jeito de sair dali, seria se alguém do lado de fora abrisse para mim. No entanto, eu era
orgulhoso o suficiente para não querer gritar por ajuda, sabendo que seria um tanto vergonhoso ser visto
naquela situação, especialmente após a pequena gritaria que armei no meio de todos.
Eu teria que fazer alguma coisa a respeito.

150
-Ei, alguém? -Gritei impacientemente com a boca próxima da porta. -Obito, você está ouvindo,
caralho?!
Ninguém respondeu.
-Merda. -Xinguei sozinho mais uma vez, começando a tremer pra valer com o clima gélido alo dentro.
Pelo fato de eu estar gritado, as coisas ficavam ainda pior. -Tem alguém aí?!
O silencio se fez presente novamente.
Encostei-me na parede atrás de mim, esfregando meus próprios braços numa falha tentativa de me
aquecer. Na minha cabeça, não teria porque eu ficar desesperado, visto que uma hora ou outra, alguém
notaria o meu sumiço.
Para meu total alívio, meu ouvido pode captar sons lentos e duros de passos se aproximando,
indicando que alguém estaria passando de frente ao freezer.
-Ei, você? -Chamei próximo da porta. -Abre aqui, eu estou preso.
Eu só torcia para que não fosse uma certa pessoa que eu tinha em mente.
-Deidara? -Como tudo na minha vida da errado, a voz do outro lado pertencia a ninguém mais,
ninguém menos do que Itachi Uchiha. -É você?
-Não, não... É a sua mãe. -Ironizei, querendo permanecer com o meu orgulho, desferindo um chute
fraco na porta. -Abre, caralho.
Pelo som ao lado de fora, deduzi que o mesmo estivesse se encostando sobre a porta, ao mesmo
tempo em que soltava uma risadinha.
-Só se você pedir por favor.
Ri de modo desdenhoso.
-Vai sonhando.
-Poxa, então você vai ter que continuar aí.
Grunhi irritado, chutando a porta uma outra vez, só que com ainda mais violência. Eu estava
simplesmente odiando depender do Itachi para sair dali.
-Vai falar, ou não? -Indagou num tom estranhamente brincalhão. -Ah, tive uma outra ideia!
-O que é? -A minha paciência já estava se esgotando.
-Se você disser que me ama, eu te solto. -Ele sugeriu, dando uma risada ladina, mas divertida,
adorando o fato de me ter na palma de sua mão.
-Ha-Ha-Ha. -Ri de modo irônico, dando pausas. -Eu prefiro congelar aqui dentro do que falar que te
amo, seu verme!
Ele me acompanhou em minha risada, mesmo que a sua fosse verdadeira.
-Tudo bem, você que sabe. -Soltou um suspiro forçado, só para me mostrar que estava se afastando.
-Te vejo quando você virar gelo, então.
Quando seus passos foram se tornando distantes e menos audíveis, parte de mim se desesperou.
Meu medo de que ninguém me notasse ali dentro começou a se manifestar, mesmo que de modo
involuntário.
-Espera, caralho! -Chamei, socando a porta para chamar sua atenção.
-Sim?
-Eu te amo, seu filho da puta! -Berrei do modo mais enojado e irritado que consegui, chutando o
metal com toda a minha violência.
Itachi ficou em silêncio do outro lado.
Apertei meus próprios punhos, enraivecido comigo mesmo por ter sido obrigado a me submeter a tal
humilhação. Quando escutei a porta ser destrancada, esbocei minha melhor feição de ódio, pronto para
voar em seu pescoço.
Itachi continha um sorriso brincalhão, mas atrevido em seus lábios, daqueles que eu costumava ver
quando ainda estávamos juntos. Depois que nos distanciamos, confesso que foi difícil de presencia-lo sorrir,
assim como eu.

151
-Eu te odeio muito. -Rosnei cheio de ódio.
-Está liberado. -Escancarou a porta, apoiando-se no batente da mesma, me observando passar para
o lado de fora.
Sai dali sem olhar para trás, me repreendendo por ter precisado passar por isso. Depois de tudo o
que aquilo idiota me fez passar, eu nunca imaginei que diria aquelas três palavras para ele novamente,
mesmo que de “brincadeira”.
Esses turnos de trabalho precisavam acabar com urgência.

Capítulo 14 - Ele é só uma criança

Itachi On

A luz do final da manhã invadia a pequena janela do banheiro, batendo diretamente em meu rosto,
fazendo-me fechar os olhos para aproveitar ainda mais daquela sensação. O clima ao lado de fora
continuava frio, no entanto, o sol encontrava-se esquisitamente brilhoso naquele dia.
Enquanto eu me concentrava em escovar os dentes, aproveitando o fato de ter o banheiro vazio,
visto que dispensei o resto dos garotos de meu grupo, Sasuke me acompanhava em sua “limpeza” diária,
enxaguando seu corpo de baixo do chuveiro.
-Eu ainda estou fedendo. -Ele resmungava, praticamente arrancando seu coro cabeludo com as
próprias unhas, enchendo seu cabelo de xampu para tirar o cheiro ruim impregnado. -Eu nunca mais vou
concordar em te acompanhar na cozinha, Itachi.
Soltei um riso fraco, virando-me para cuspir o resto de pasta na pia.
-Você vai sim. -Rebati descontraído. -Para de drama, Sasuke. Eu duvido que você ainda esteja
fedendo. O turno de trabalho foi ontem de tarde, já é um novo dia.
Ele me olhou com tédio, levantando uma sobrancelha como se me desafiasse. Eu sabia o quanto
meu irmão odiava quando eu o contrariava, por mais que o motivo fosse bem bobo.
-Vem aqui me cheirar então. -Foi um pedido bem estranho, principalmente se fosse escutado fora de
contexto, no entanto, eu acabei cedendo ao seu chamado. -Cheira o meu cabelo.
Aproximei meu nariz de seu coro cabeludo, inalando bem brevemente, fazendo uma careta
involuntária com o cheiro azedo e fétido que ele exalava. Dessa vez eu precisava admitir que o Sasuke
estava certo.
-É, realmente. -Me afastei com um sorrisinho mínimo. -Lava isso aí direito.
-Hm. -Espremeu os olhos em minha direção, sendo bem afrontoso na hora de jogar um pouco de
água em meu rosto. Sinceramente, desde o momento carinhoso que tivemos um com o outro, parece que
estamos um pouco mais próximos. -Isso é culpa sua, Itachi.
Limpei minha bochecha lentamente, negando com a cabeça.
-Correção, isso é culpa do Deidara. -Eu fiz questão de deixar isso bem claro. Quando decidi que
levaria meu irmão comigo para a cozinha na intenção de provocar o loiro, eu nunca imaginei que ele
chegaria ao ponto de submeter o Sasuke a uma tarefa daquelas. -Ele foi bem sacana com você.
-Ele só foi sacana comigo porque te odeia. -Acrescentou, desligando o registro do chuveiro, deixando
o banheiro automaticamente silencioso. -Caso contrário, ele não teria sido tão maldoso assim.
De certa forma, eu não fiquei nada feliz escutando isso.
Eu não poderia descartar a ideia de que Deidara poderia sim me odiar depois de tudo o que
aconteceu, entretanto, algo me dizia que o loiro ainda possuía algum tipo de consideração por mim, nem
que fosse bem mínima, até porque, passamos quase dois anos juntos.
Você não consegue simplesmente odiar alguém depois de todo o tempo que passaram juntos, ou
consegue?
Eu sinceramente não fazia ideia do que se passava na cabeça de Deidara, no entanto, eu torcia para
que todo esse ódio que ele semeava por mim atualmente, fosse algo para camuflar o fato de que ainda
existem sentimentos positivos dentro dele em relação a nós dois.

152
Pelo menos de minha parte, eu não conseguia lhe odiar, nem com muito esforço. Parece que desde
que começamos a trabalhar juntos, ficar próximo dele fez com que sentimentos e sensações antigas que
estiveram comigo no passado se desencadeassem.
É inevitável não me recordar de meu passado estando ao lado do Deidara.
-Já acabou esse banho? -Perguntei impaciente, tomando a iniciativa de me sentar sobre o balcão da
pia. O Sasuke sempre foi de demorar no chuveiro. -Eu preciso ir logo, daqui a pouco eu tenho que estar na
cozinha.
Ele fez uma careta.
-Você vai sozinho, eu não vou com você. -Resmungou amargurado, enxugando seu corpo com a
toalha. -Lide com o Deidara por conta própria. Eu ainda acho que você deveria fazer as pazes com ele,
Itachi. Parece que esses turnos de trabalho estão estressando todo mundo.
Levantei minha sobrancelha, ouvindo atentamente a sua opinião.
-Tipo, ontem de tarde eu passei perto do jardim e vi o Sasori e o Gaara brigando bem feio, quase
saindo no tapa. -Comentou seriamente, secando seus fios com a toalha, amarrando-a de um jeito
engraçado na cabeça. -A mesma coisa com o Pain e com o Neji.
Olhei para um ponto fixo a minha frente, refletindo silenciosamente sobre isso. Desde que esse
castigo começou, eu sempre escutei o Sasuke comentar sobre os turnos alheios, mas nunca sobre o seu
com o Naruto. Falando bem a verdade, me parece que ele está sempre evitando tocar no assunto do
novato.
-Aham, mas e você? -Provoquei-o. -Quando é que você vai começar a me contar sobre o seu turno
com o novato?
Eu notei seus ombros se tencionando. Não foi nada tão drástico, mas foi o suficiente para que eu
reparasse em seu pequeno nervosismo. Por mais que o Sasuke tentasse esconder as coisas de mim, na
maioria das vezes eu acabava descobrindo.
-O que é que tem o meu turno? -Indagou de costas para mim.
-Você está gostando de passar um tempo com o Naruto? -Questionei com seriedade. Se eu quisesse
arrancar alguma coisa de si, eu precisaria ser duro.
-Não. -Respondeu com um indiferença. Ao mesmo tempo em que falava comigo, Sasuke calçava seu
tênis e também passava desodorante. -Eu já estou pronto. Vamos?
Era disso que eu estava falando.
Toda vez em que ingressávamos em qualquer assunto envolvendo o novato, meu irmão fazia de tudo
para desviar. Eu não era bobo e nem nada. A minha certeza de que ele estava escondendo algo de mim era
quase cem por cento.
-Uhum. -Concordei desconfiado, descendo de cima da pia. -Eu ainda preciso me encontrar com os
garotos no refeitório, eles disseram que precisam falar comigo. Você pode ficar com eles enquanto eu
trabalho na cozinha.
Ele revirou os olhos com força, desaprovando a minha sugestão.
-O que foi dessa vez? -Indaguei impaciente. O Sasuke estava mesmo muito mudado. Como já citei
outras vezes, parece que desde que aquele novato chegou, ele vem se mostrando mais rebelde e afrontoso
em certas situações, fora o fato de estar bem mais desapegado de mim. -Eu já te falei que não gosto
quando você revira os olhos pra mim, Sasuke.
-Não é isso. -Estalou a língua. -É só que eu estou cansado do nosso grupo. Eles são todos chatos e
sem graças.
Franzi o cenho.
-Eu achei que você se desse bem com eles.
-Sei lá, Itachi. -Ficou irritado. Outra coisa que eu também venho notando, é que toda a vez em que eu
não entendo o que ele quer dizer, meu irmão fica bravo comigo. -Eu estou cansado de todos eles.
-Beleza, se você está tão cansado assim deles, então vem trabalhar comigo lá na cozinha. -Sugeri
com um sorrisinho maldoso, já sabendo que ele iria negar a minha proposta.
-Eu passo.
-Ótimo, então para de reclamar. -Cortei o assunto de vez. -Vamos logo.

153
Com uma feição tediosa, Sasuke seguiu-me para longe dos chuveiros, abrindo a porta do banheiro
para que saíssemos. Ao lado de fora, vários detentos de um dos blocos da prisão faziam fila para entrarem,
todos esperando pacientemente para que saíssemos, visto que não queriam nos incomodar e muito menos
invadir o nosso espaço.
Eu havia feito um bloco inteiro esperar por nós.
-Você por acaso vai ter alguma das suas reuniões insuportavelmente chatas com o Obito hoje?
-Sasuke questionou logo quando deixamos o cômodo.
Suspirei impaciente.
-Você é quem está insuportavelmente chato hoje. -Retruquei rudemente. Se o Sasuke quisesse
bancar o grosseiro comigo, eu conseguia ser mil vezes pior. -E já que você perguntou, sim, eu vou ter.
Ele fez um barulho com sua boca, mostrando o quanto estava desapontado com a resposta.
Sinceramente, até que as coisas estavam indo bem entre nós desde manhã, mas foi só eu tocar no assunto
do Naruto que ele ficou irritado de uma hora para a outra.
-Escuta, eu não estou nada afim de servir de porteiro pra vocês dois hoje, falou? -Empinou o nariz
como uma verdadeira criança malcriada, me fazendo respirar fundo para não iniciar uma discussão.
-Eu não preciso mais de você pra isso. - Resmunguei irritado. -Você já não faz falta.
-Ótimo. -Deu de ombros.
Sasuke passou emburrado do meu lado, afastando-se o bastante para me mostrar que não queria
mais manter um diálogo comigo. Eu também não fui atrás de si, deixando-o ir para onde ele bem quisesse,
e que no caso, foi até o pátio aberto.
Quando estivesse bem perto do horário de almoço, meu irmão com certeza voltaria correndo atrás de
mim e de nosso grupo, era só esperar. Soltei um suspiro cansado, seguindo em direção aos garotos, os
quais encontravam-se sentados em nossa habitual mesa, ambos me aguardando para que pudéssemos
conversar.
Me aproximei com a minha melhor postura, estranhando levemente o fato de todos estarem tão
quietos e receosos, enquanto alguns até batiam os pés nervosamente no chão, parecendo relutantes sobre
algo.
Eu tive certeza de que alguma coisa estava errada. Na verdade, eram bem raras as vezes em que os
meninos me convocavam para alguma “reunião”. Geralmente, era eu quem iniciava os diálogos entre nós,
ou dava avisos importantes.
-Oi. -Cumprimentei a todos assim que cheguei perto da mesa, assistindo o pequeno susto que alguns
deles tomaram com a minha voz. -E então? O que vocês têm de tão urgente para me falar que não
poderiam esperar o meu turno terminar?
Tomei a liberdade de me sentar em cima da mesa, ficando na ponta da mesma. Daquele ângulo,
pude observar com clareza todas as suas expressões faciais. Aparentemente, os garotos pareciam decidir
em silêncio quem deles tomaria a iniciativa de falar comigo.
-Escuta, Itachi... -Sasori foi quem tomou coragem, coçando sua nuca meio sem jeito. -A gente tem
uma coisa pra te contar.
-Eu sei. -Respondi frio, utilizando um tom óbvio, embora internamente curioso com todo aquele
suspense. -Fala logo de uma vez, eu não tenho todo o tempo do mundo.
O ruivo suspirou pesado, trocando alguns olhares breves com o resto dos meninos, parecendo
procurar por autorização para prosseguir. Quando recebeu acenos em resposta, virou-se inteiramente para
mim, esboçando uma feição meio preocupada.
-Nós descobrimos uma coisa que achamos que você gostaria de saber. -Explicou-se de modo meio
atrapalhado e confuso, mas que logo foi esclarecido. -É sobre o Sasuke.
Logo tudo ficou bem claro para mim.
Obviamente, eu não havia contado isso para o meu irmão, no entanto, desde que venho notando-o
estranho, pedi discretamente para que os garotos de meu grupo ficassem de olho em nele. Eu não solicitei
que eles seguissem o Sasuke para onde quer que ele fosse, mas sim para ficarem atentos aos seus atos
dentro da penitenciária.
Pelo o que me parecia, eles haviam descoberto algo interessante, ou talvez até preocupante em
relação ao meu irmão.

154
-O que é? -A curiosidade que eu possuía estragava toda a minha postura. Me aproximei do ruivo,
inclinando-me sobre a mesa, quase subindo em cima da mesma para chegar mais perto de si. -O que vocês
descobriram?
Uma outra troca de olhares entre eles foi realizada, o que acabou me deixando ainda mais tenso e
irritado. Eu sempre odiei com todas as minhas forças pessoas enroladas e demoradas, ou seja, que nunca
iam direto ao ponto.
-Fala logo, caralho. -Eu não medi esforços pra partir para a ignorância, virando o queixo do ruivo
violentamente para mim, causando-o um susto. -Para de ficar olhando para eles, me conta logo de uma vez.
Ele engoli em seco.
-Eu e o Kisame vimos o Sasuke na ala de visitas ontem de manhã. -Ele não parava de fazer
suspense. -Só que acompanhado do novato. O Naruto Uzumaki.
Ergui a sobrancelha.
-E daí? -Não foi tão surpreendente saber que meu irmão estava acompanhado de Naruto, entretanto,
para que os garotos tivessem convocado uma reunião comigo, era porque o flagraram fazendo algo
consideravelmente “perigoso” ou chocante. -O que vocês viram?
-O Naruto estava beijando ele.
A mesa caiu num silêncio agonizante.
Meus olhos, antes presos em Sasori, passaram a penetrar em cada rosto presente ao meu redor,
carregando choque, ódio e também irritação, como se dessa forma eu quisesse conferir se sua confissão
era verdadeiramente real.
-Como é que é? -Minha voz saiu sombria. Por um momento, eu realmente pensei que tivesse
escutado errado.
-Explica isso direito, Sasori. -Kisame se intrometeu, reparando no clima horroroso que havia se
instalado entre nós. -Eles não estavam se beijando. Foi o Naruto quem beijou o Sasuke, e foi na bochecha.
Apesar de não ter sido um beijo de verdade, mas sim algo mais “leve”, a minha raiva em relação ao
que eu ouvi não havia ido embora.
-Eles estavam se abraçando e beijando em público. -Acrescentou receoso. -Nós achamos esquisito,
ainda mais porque você comentou que o Sasuke estava agindo de forma estranha. A gente achou melhor te
contar.
Outro momento de silêncio pairou pelo o ar, todos esperando nervosamente pelo o que eu faria a
seguir. Os garotos sabiam sobre minhas regras e sabiam o quanto eu odiava ser desobedecido,
principalmente pelo meu irmão mais novo.
O fato de Sasuke estar se relacionamento carinhosamente com aquele novato, e ainda por cima em
público, algo que o deixa com uma visão menos perigosa e mais vulnerável aos olhos dos outros detentos,
era realmente algo para se preocupar.
Se nem eu, que sou o seu irmão mais velho, permito que ele me abraçasse em público, porque ele
tinha que fazer isso com outras pessoas, e que no caso, é o Naruto?
O único motivo de eu ter negado o seu abraço naquele dia, foi porque em público não se deve fazer
essas coisas. Eu posso até estar soando repetitivo e insensível no ouvido de muitos, mas aqui dentro na
penitenciária, não se pode baixar a guarda nenhum minuto sequer, e muito menos demostrar afeto e carinho
publicamente.
O Sasuke pisou feio na bola aceitando abraçar e beijar aquele novato, especialmente por ele ser um
Uchiha.
-O que você vai fazer a respeito? -Dessa vez foi uma voz diferente que se pronunciou, uma que
raramente participava de nossas conversas. Era o Jugo. Ele era mais próximo do Sasuke do que de mim, e
com certeza estaria prezando pela segurança dele. -Você vai castigar ele?
-Isso não é da sua conta. -Respondi sombrio.
Na verdade, o meu plano não era castiga-lo.
Inicialmente, eu tentaria manter uma conversa civilizada com ele, mas se eu bem conheço o meu
irmão, pode ter certeza de que ele iria perder as estribeiras, especialmente se o assunto for relacionado ao
Naruto.

155
-A nossa intenção nunca foi fazer fofoca. -Sasori reforçava nervosamente. -Só que como você pediu
pra gente ficar de olho no Sasuke, achamos melhor deixar você ciente.
-Eu sei. -Concordei irritado. Fechei meus olhos para apertar minhas próprias pálpebras, suspirando
cansado. -Era só o que me faltava...
-O Sasuke vem aí. -Pain foi quem avisou, deixando todos levemente tensos, olhando na direção em
que ele apontava.
Acompanhei os garotos, avistando meu irmão a caminhar em nossa direção, carregando sua mesma
postura impecável, igualzinha a minha, mantendo suas duas mãos no bolso do uniforme. Como o esperado,
ele retornou ao nosso grupo perto do horário do almoço.
Decidi sair de cima da mesa, visto que Sasuke me fitava desconfiado, especialmente por todos
estarem de cabeça baixa, aguardando ansiosamente pelo o que ocorreria a seguir.
-Oi. -Saudou a todos num tom mal-humorado, empinando o nariz ao passar do meu lado,
sentando-se em sua habitual cadeira.
Meu plano era chamá-lo para conversar longe de todos, entretanto, pelo fato dos garotos já saberem
sobre o seu pequeno deslize, eu achei melhor começar o diálogo na frente deles, até porque, de certa
forma, isso seria humilhante para o Sasuke, e talvez fizesse-o abrir os olhos.
Meu irmão sempre odiou tratar se seus assuntos pessoais na frente de outras pessoas,
principalmente do nosso grupo.
-Sasuke. -Chamei duro.
Somente seus olhos se levantaram até mim, fitando-me com a melhor cara de tédio que conseguiu
esboçar, para só então passar para o resto dos garotos, franzindo o cenho ao ver o modo como todos o
encaravam de volta.
Ele imaginava que algo estava errado.
-O que foi? -Indagou ressabiado.
Do modo mais intimidador que consegui, inclinei-me novamente sobre a mesa, ficando o mais
próximo possível dele. Eu pretendia ir direto ao ponto, até porque, sempre odiei enrolação.
-Que história é essa que você anda beijando e abraçando o Naruto em público? -Pelo fato de nossos
rostos estarem praticamente colados, não foi nada difícil de notar sua mudança de humor. O Sasuke ficou
inteiramente pálido e tenso. -O que foi, hm? Agora você fica quietinho?
Seus olhos tornaram-se ainda mais escuros, trazendo com eles uma feição completamente tomada
pelo ódio. Em movimentos lentos, Sasuke também decidiu me desafiar, encostando nossos narizes
ameaçadoramente, mostrando a mim, e a todos que nos observavam, que ele não tinha medo de mim.
Não só o nosso grupo, como parte do refeitório e dos carcereiros também assistiam a cena
assustados. Eram raríssimas as vezes em que nos desentendíamos publicamente. Para mim, sempre foi
necessário que permanecêssemos unidos.
-Quem você andou mandando me seguir? -Sasuke rosnou agressivo, aproveitando o fato de
estarmos perto um do outro para empurrar seu nariz contra o meu.
-Eu não mandei ninguém te seguir. -Retruquei de volta, num tom grosso e enrouquecido. -Eu mandei
que ficassem de olho em você. Só que eu nunca imaginei que você fosse tão indiscreto a esse ponto,
parece que tudo o que eu te ensinei, você jogou no lixo.
Eu consegui sentir com clareza todo a fúria que ele estava sentindo e carregando por mim. Na
verdade, qualquer um com um pingo de atenção em nossa discussão conseguiria enxergar isso.
-Você é completamente nojento, Itachi.
Suspiros altos, surpresos e exageradamente assustados ecoaram ao nosso redor. A plateia em
nossa volta se chocou de um modo que eu nunca vi antes, de queixo caído com a “coragem” de meu irmão.
Era como se todos estivessem esperando pelo pior, querendo saber como eu agiria a seguir.
Eu não poderia deixar aquilo barato, pelo menos não na frente de todos.
-Seu pirralho de merda. -Eu não pensei muito na hora de agarrar em seu braço, apertando sua pele
de modo doloroso. Sasuke, por sua vez, levantou-se de sua cadeira, fazendo isso para ficar de minha
altura. -Cala essa maldita boca, caralho. Você sabe muito bem que é o errado da história.

156
Todo a raiva que ele transmitia em relação a mim, de repente transformou-se em um riso. Numa
risada completamente debochada e maldosa.
-Errado? -Seu olhar alternava sem parar entre meu olho esquerdo e o direito. -Você tinha a opção de
ter vindo conversar comigo na boa, sem criar essa plateia toda... Mas como sempre, você precisava se
mostrar, não é mesmo, Itachi?
Travei meu maxilar, o apertando com ainda mais brutalidade. Pelo o que me parecia, nem utilizando
a minha força física estava fazendo com que ele se calasse.
-Você não confia em mim ao ponto de mandar os seus garotos me seguirem, mas não consegue
enxergar o que está de baixo do seu próprio nariz. -Ele soava confuso em meus ouvidos.
-De que merda você está falando? -Puxei-o para mais perto de mim.
-Você não confia no seu próprio irmão mais novo, mas confia nesse bando de traidores e mentirosos
com quem você anda. -Nessa última frase, Sasuke fez questão de olhar para os garotos de nosso grupo,
deixando-os de ombros tencionados. -Me solta, porra!
Ele irritou-se com o fato de eu estar o segurando, puxando seu braço para longe de mim, olhando ao
seu redor enfurecidamente. Ele parecia aproveitar a plateia que se formava para expor todos os seus
pensamentos.
-Saiba que esses garotos com quem você anda, são todos uns traíras! -Eu sinceramente estava
desacostumado em ver o Sasuke se descontrolar publicamente. Eu sempre o considerei “tímido” no aspecto
falar em público. -Todos eles te apunhalam pelas costas, Itachi, todos!
Mesmo que sobre pressão, não pude deixar de erguer uma sobrancelha, penetrando nos rostos de
cada garoto presente no meu grupo. Todos eles, sem exceção, possuíam feições culpadas e medrosas,
como se soubessem exatamente sobre o que o meu irmão estava falando.
-Eles estão sempre falando de você, Itachi, não só entre eles, mas também com outras pessoas! -Ele
apontava violentamente para a cara deles, mas principalmente para a de Sasori. -É só você quem não
percebe! E sabe por quê? Porque você está sempre ocupado demais em controlar a vida da única pessoa
que sempre esteve ao seu lado e foi fiel a você nessa porra de grupo!
Eu sabia que Sasuke estava falando de si mesmo. Contudo, eu também tinha consciência de que
meu irmão estava conseguindo desviar o assunto inicial sobre o novato, colocando no lugar um ainda mais
pesado.
Se aquilo fosse realmente verdade, eu havia acabado de descobrir que o grupo de meninos com
quem sempre andei desde que cheguei na penitenciária, era repleto de traidores e mentirosos.
-Abra os seus olhos, Itachi! -Ele deu um murro na mesa, totalmente alterado. Naquela altura do
campeonato, até os detentos presentes no pátio aberto haviam saído para assistirem a cena.
-Sasuke, já chega. -Ordenei ríspido. Eu admito que havia ficado um pouco preocupado com sua
revolta tão repentina. -Vamos sair daqui, a gente conversa em outro lugar.
-Não, porra! -Puxou sua mão para longe de mim. -Eu estou cansado isso! Esse grupo é uma farsa, é
completamente tóxico!
Eu realmente não sabia mais o que dizer.
A minha decisão foi deixar com que o Sasuke dissesse o que bem quisesse, e só depois eu lidaria
com ele. Não daria para calá-lo naquele estado, não do modo como ele se encontrava, totalmente fora de si
e descontrolado.
-Eu sei bem o que todos vocês pensam... -Ele tomou a infeliz iniciativa de se comunicar com os
detentos que circulavam o refeitório. -“O Itachi Uchiha é um assassino cruel, frio, calculista, durão e
perigoso.” Mas deixa eu contar uma coisa para vocês... Ele não é!
-Sasuke Uchiha, agora basta. -Segurei grotescamente em seu pulso, querendo calá-lo o mais rápido
possível.
No entanto, ele estava determinado a continuar.
-O Itachi Uchiha que vocês tanto temem, o que vocês consideram um verdadeiro monstro, é o
mesmo que veio me pedir um abraço quando estava triste!
Meus olhos se arregalaram instantaneamente.

157
A minha ficha não estava caindo. Eu não conseguia acreditar que o meu próprio irmão havia chegado
ao ponto de me expor daquela maneira, contando para todos sobre os meus momentos de recaída e
carência quando estávamos sozinhos.
Aquilo era algo que eu não poderia perdoar.
-Já chega, caralho! -Berrei descontroladamente, sentindo minha garganta arder em consequência.
Os presidiários a nossa volta se encolheram assustados, juntamente com Sasuke, que apesar de ter criado
coragem para fazer aquele discurso, acabou se amansando com os meus gritos. -Eu não vou mais tolerar
isso!
-Itachi, você não—
Eu o calei com violência.
Pela primeira vez em minha vida, a minha paciência se esgotou ao ponto de machuca-lo fisicamente,
agarrando brutalmente nos cabelos de sua nuca, puxando-os violentamente para trás, causando um gemido
alto e dolorido do mesmo.
Se eu deixasse aquilo passar na frente de todos, os detentos com certeza passariam a acreditar no
pequeno discurso de Sasuke. Eu teria que castigar o meu irmão na frente de todos, para que assim, a
minha posição e visão dentro daquela penitenciária continuasse a mesma.
-Mais uma palavra, e eu juro que acabo com você! -Eu puxava seus fios para trás, levando seu
pescoço junto, assistindo a todas as suas expressões doloridas e raivosas. -Some da minha frente agora,
caralho!
Quando finalmente o soltei, fiz questão de empurra-ló para longe de mim, utilizando toda a minha
força para realizar tal ato, o que acarretou em um pequeno tombo de sua parte, caindo de bunda no chão do
refeitório, algo realmente humilhante pelo fato de todos estarem olhando.
Outro gemido dolorido escapou por conta de seu tombo, mas dessa vez, bem mais audível, visto que
todos os detentos haviam feito silêncio, assistindo de olhos arregalados a briga entre nós.
Meu irmão permaneceu de cabeça baixa, talvez aceitando o fato de que havia sido humilhado em
público, enquanto eu assimilava silenciosamente tudo o que havia ocorrido nos últimos minutos.
Nós não dissemos mais nada um para o outro.
Sinceramente, acho que não tinha mais nada para ser dito, pelo menos não naquele momento.
Sasuke foi o primeiro a tomar a iniciativa de se levantar, deixando-me com um aperto estranho no peito ao
me fitar de olhos marejados, indo embora em passos duros e largos.
Eu pude respirar com mais alívio.
Não foi nada agradável brigar com o Sasuke dessa forma, e principalmente com todo mundo
olhando. No entanto, eu sabia que havia sido o certo a se fazer, especialmente por ele ter tentado me expor
e humilhar publicamente.
A minha segunda reação, foi virar em direção ao meu grupo.
Por mais que a briga tivesse sido com o meu irmão, eu não poderia esquecer de todas as coisas que
Sasuke me disse em relação aos garotos.
-Isso não acabou por aqui. -Informei-os num tom ameaçador, nada disposto a descurtir o sentido de
lealdade com eles. Mais tarde eu pretendia interrogá-los pra valer, e se caso fosse verdade, as coisas
ficariam sérias. -Depois eu lido com vocês.
A mesa inteira engoliu em seco como verdadeiros culpados, baixaram suas cabeças
silenciosamente, nem se dando o trabalho de se defenderem.
Suspirei esgotado, tomando a liberdade de caminhar para longe dali. A medida que eu andava, os
presidiários abriam espaço para eu passar, baixando suas cabeças em sinal de respeito. Depois dessa,
ninguém teria coragem de mexer comigo.
Pelo menos era o que eu esperava.
Por mais estressado que eu estivesse, eu infelizmente teria que enfrentar o meu turno de trabalho, e
possivelmente um Deidara gritando e fazendo escândalo, como sempre.
Segui em direção a parte de trás da cozinha, sentindo o olhar de todos caindo sobre mim, temendo o
que eu poderia fazer com eles, principalmente agora que eu me encontrava no mais puro estresse.

158
Os ajudantes presentes na cozinha com certeza fariam o possível para não me irritarem , no entanto,
eu sabia que havia alguém que não mediria esforços para me deixar ainda mais fora de mim.
Eu não poderia me esquecer do Deidara.
-Boa tarde, você conhece uma coisa chamada “chegar no horário”, caralho?! -A voz alta e rouca de
Deidara invadiu a cozinha toda, quebrando todo o meu raciocínio.
Levantei minha cabeça, tendo a visão perfeita do loiro a me fitar com cara de poucos amigos, e como
o habitual, acompanhado de Naruto Uzumaki.
Meus olhos tornaram-se automaticamente sombrios, fuzilando o novato com toda a minha boa
vontade, sentindo uma raiva inexplicável por precisar estar em sua presença.
Além de estar irritado consigo por conta de meu irmão, ainda me incomodava de modo imensurável o
fato de vê-lo pendurado em Deidara, mas dessa vez, abraçando-o pra valer, parecendo realmente
assustado com algo.
-Não me enche. -Respondi do modo mais “educado” que pude. A última coisa que eu queria era
arrumar briga com o loiro, pelo menos não depois de todo o estresse que eu passei. -Hoje eu não estou pra
brincadeiras.
-E quem é que te disse que eu estou pra brincadeiras?! -Retrucou aos berros, arrastando Naruto
juntamente com si, tendo dificuldades na hora de se locomover por conta dele. -Se você trabalha na minha
cozinha, precisa seguir com às minhas regras! Eu não quero mais você chegando atrasado, caralho!
-‘Tá, agora faz silêncio, por favor. -Respondi com tédio e cansaço, massageando minhas próprias
têmporas. Ainda não me saía da cabeça o modo como eu havia discutido com o Sasuke. Foi uma de nossas
brigas mais sérias.
-Vai se foder! -Falar com ele era como falar com as paredes. -Eu falo o quanto eu quiser, caralho,
aqui nessa cozinha quem manda sou eu!
Suspirei com exaustão, simplesmente virando de costas, deixando ele falar sozinho, ainda
escutando-o reclamar sobre a minha demora e afronta em falar com ele daquela forma. Como eu não
estava nada afim de interagir com ninguém, apenas me dirigi para perto do fogão, me sentindo
estranhamente cabisbaixo.
Eu sentia os olhos de Deidara queimarem sobre mim, como se ele já soubesse que havia alguma
coisa de errada comigo, ou até estivesse ciente de minha discussão com o Sasuke. Na verdade, não era
nada difícil de reparar no meu desanimo dentro daquela cozinha.
Tentei afastar todos aqueles pensamentos de mim, me concentrando em começar o meu serviço. Eu
já estava me cansando daquela rotina tão repetitiva, e por isso, comecei a cozinhar na base do ódio,
temperando e fritando os ovos de qualquer jeito.
A medida que eu preparava a comida, meus ouvidos captavam cada conversa ao meu redor, desde
os ajudantes decidindo que vegetal usariam na sopa, até outras mais interessantes, como o diálogo entre
Deidara e Naruto.
-...Mas o Obito já está aqui, Deidara. Por que o Kakashi também tem que ficar na cozinha? -A voz
chorosa e baixinha de Naruto se fazia presente. Embora estivéssemos um pouco distantes, eu conseguia
fazer um esforço para compreendê-lo.
-Eu não sei, franguinho. -Respondeu irritado, dando murros ritmados no microondas, murmurando
algo sobre a qualidade do mesmo. -Se bem que eu também odeio isso. A cozinha fica muito sobrecarregado
com ele, fora que o Kakashi é um puta de um folgado.
Virei-me discretamente para trás, passando a entender sobre o que eles estavam falando. O
platinado encontrava-se sentado em cima de um dos balcões, mantendo suas pernas abertas e espaçadas,
ao mesmo tempo em que beliscava a comida que estava sendo preparada pelos detentos.
Talvez por conta da quantidade de dias que passei trabalhando na cozinha, eu meio que acabei
reparando no medo em que o Naruto tinha do Kakashi, embora eu não soubesse ao certo o porquê.
-F-Faz alguma coisa? -O mais novo choramingou.
-O que você quer que eu faça, caralho? -Perguntou agressivo, revoltando-se ao ponto de chacoalhar
o microondas com as duas mãos, desistindo de esquentar a comida. -Quer que eu expulse ele daqui?!
-U-Uhum. -Eu não achei que ele fosse concordar, e muito menos levar a sério a pergunta de Deidara.
No entanto, ele me parecia tão traumatizado com algo, que nem ao menos notou a ironia presente na frase.
-Você pode fazer isso, por favor?

159
Eu senti uma pequena vontade de rir.
O Deidara não seria tão louco ao ponto de ceder a um pedido de uma criança chorona e enfrentar o
Kakashi só por conta de um medo bobo, ou seria?
-Pera, eu tive uma ideia. -A voz do loiro tornou-se baixa e pensativa. Fiquei tentando escutar o que
eles tanto sussurravam um com o outro, embora eu só tivesse conseguido captar alguns sons do novato
choramingando, dizendo algo como “isso é uma péssima ideia”. -Ei, vocês?!
Pelo o que me parecia, eu estava errado.
O Deidara conseguiu ser maluco o suficiente para chamar a atenção de todos que circulavam a
cozinha, interrompendo tanto a tarefa dos detentos, quanto a dos dois carcereiros.
-Eu quero fazer uma votação! -Ele olhou ao seu redor com determinação, enquanto Naruto escondia
seu rosto medrosamente. -Levanta a mão quem aqui gosta do Kakashi!
Ninguém teve reação.
Nenhuma alma viva levantou a mão com o questionamento feito.
-Certo, como eu imaginava. -O loiro sorriu de lado, ao mesmo tempo em que Kakashi o fitava
enraivecido, mas sem entender nada. -Agora levanta a mão quem aqui gosta do Obito!
Quase todos ao meu redor reagiram ao questionamento, erguendo suas mãos em sinal de
aprovação. Até mesmo Naruto se manifestou, levantando somente o seu dedo indicador de modo tímido.
Obito, por sua vez, engasgou-se com a garrafa de água, soltando uma risada meio sem graça, não
entendendo o que levou o loiro a fazer aqueles tipos de perguntas tão de repente.
-Como o esperado. -Deidara sorriu convencido, aparentemente orgulhoso de seus ajudantes de
cozinha por terem escolhido o Obito. -Eu acho que já deu pra perceber que ninguém aqui gosta do Kakashi,
não é?!
Apesar de seu questionamento ter sido um pouco “arriscado”, os seus ajudantes acabaram
concordando receosamente com a cabeça, enquanto eu apenas me encostava sobre o fogão, esperando
para ver aonde tudo aquilo ia dar.
-Tem alguma coisa que você queira me dizer, Deidara? -Kakashi se pronunciou hostilmente,
caminhando em passos ameaçadores para perto dele.
-Eu já não fui claro o bastante?! -O loiro não se deixou intimidar, muito diferente de Naruto, que ao
notar o guarda caminhar em sua direção, começou a se tremer inteiro. -Você está atrapalhando aqui dentro,
caralho! Os meus ajudantes não ficam a vontade com você!
Cruzei meus braços na altura do peito, soltando um riso fraco. Quando eu digo que o Deidara não
mudou nada desde que nos conhecemos, é disso que eu estou falando. A única coisa “diferente”, é que ele
ficou mais frio depois do nosso término.
-Eu vou te dar um segundo pra você calar essa maldita boca. -O platinado aproximava-se com uma
de suas mãos no bolso, dando a entender que segurava algum instrumento, como seu cassetete, arma de
choque e etc. -Eu já estou cansado de pegar leve com você, Deidara.
-E eu já estou cansado de você atormentando os meus ajudantes e dando uma de folgado aqui
dentro da minha cozinha, porra! -O loiro gesticulava para cima dele, enquanto Naruto abraçava-o por trás.
-Dá o fora, só o Obito aqui já está bom! Vai fazer alguma coisa que preste, seu asqueroso!
-Deidara, já chega. -Obito tentava acalmar a situação, assistindo tudo de longe. -Voltem para o
trabalho, por favor.
-Eu não vou parar até que vocês entendam que ninguém quer o Kakashi na cozinha! -Deidara falava
com o Obito, mas olhava diretamente para o platinado, o qual mantinha-se parado em frente a si. -Alguém
precisa falar as verdades aqui dentro, caralho!
A discussão estava ficando pesada, especialmente porque envolvia um carcereiro. Os guardas, com
exceção do Obito, costumavam perder a paciência com muita facilidade, e não mediam esforços para
castigar os detentos das formas mais cruéis possíveis.
-Eu te falei que não ia mais pegar leve com você, aquele foi o seu último aviso! -Kakashi retirava sua
arma de choque do bolso, fazendo com que todos os detentos recuassem de imediato, cercando Deidara e
Naruto no balcão. -Retire o que disse, ou você sofrerá as consequências!
Eu estava muito inquieto com aquela discussão. Não seria nada agradável presenciar o Kakashi
maltratar fisicamente o Deidara daquela forma.

160
-Nunca! -O loiro gritou de volta, não se intimidando com o fato de ter uma arma de choque apontada
em sua direção, e nem por ter o Naruto chorando atrás de si, implorando para que ele parasse. -Eu nunca
vou me calar, nunca!
-Kakashi, por favor. -Obito pedia calmamente, embora estivesse tão inquieto quanto eu. -A violência
não leva a nada, vamos discutir isso civilizadamente.
O platinado parecia refletir silenciosamente se deveria prosseguir com a agressão, ou se daria
ouvidos ao seu companheiro. Eu, por outro lado, cansado de ficar só assistindo e sem fazer nada, me
aproximei de modo discreto e cauteloso, preocupado com o que o guarda seria capaz de fazer.
Por um momento, eu realmente pensei que as coisas tinham se acalmado, e que o Kakashi tinha
refletido o bastante e percebido que não valia a pena se deixar levar pelo loiro. No entanto, o Deidara foi
quem não deixou barato, não pensando direto na hora de lhe provocar.
-Covarde. -Fingiu uma tosse.
Aquilo foi a gota da água, pelo menos para o Kakashi.
Sua arma de choque, antes baixada próxima de seu bolso, foi rapidamente erguida em direção ao
loiro, sendo completamente tomado pela raiva na hora de avançar para cima de si.
Foi tudo rápido demais.
Eu não consegui esperar que Obito tomasse a iniciativa de intervir na discussão, e por isso, fui bem
impulsivo na hora de me intrometer por conta própria, sentindo uma raiva estranha tomar conta de mim ao
vê-lo tentar machucar o Deidara.
O Kakashi foi rapidamente imobilizado por mim.
Na verdade, foi bem fácil de pará-lo. Pelo fato do carcereiro estar de costas e totalmente alheio a
mim, com somente um movimento de minha parte, consegui segura-ló com firmeza, evitando o contato da
arma de choque no pescoço do loiro.
A cozinha toda caiu no silêncio.
Kakashi tentava a todo custo se virar para trás, querendo saber quem havia sido tão rápido e
habilidoso o bastante para interrompê-lo. Enquanto isso, eu me concentrava em trocar olhares com o loiro, o
qual mantinha-se de olhos arregalados, tendo Naruto agarrado a si, chorando e tremendo como uma
verdadeira criança assustada.
-Larga a arma. -Rosnei em seu ouvido, prendendo seu braço armado para cima.
Ele debatia-se de modo raivoso, soltando alguns grunhidos enfurecidos, provavelmente
reconhecendo a minha voz. Por mais que ele lutasse, eu consegui permanecer firme, apertando sua mão
ocupada como se o obrigasse a largar o instrumento.
-Solta. -Reforcei duramente.
Ele acabou cedendo.
O Kakashi sabia que não teria chances contra mim, especialmente por Obito não ter intervido e
simplesmente deixado que eu fizesse o que bem entendesse com ele.
Quando a arma de choque caiu no chão, causando um eco alto no silêncio daquela cozinha, meus
pés foram em contato com o objeto, chutando-o para longe de Deidara, para que assim o carcereiro não
tivesse a oportunidade pega-lá novamente.
-Dá o fora daqui. -Ordenei frio, não me importando nenhum pouco com o fato de estar mexendo com
um dos carcereiros.
Kakashi, ainda meio ofegante e assustado, olhou em direção a Obito, talvez esperando que o mesmo
ficasse do seu lado. No entanto, ao notar que nem mesmo ele parecia aprovar sua atitude, sentiu-se
bastante intimidado comigo, me lançando um último olhar mortal antes de dar as costas para nós.
Em meio ao silêncio que ainda se fazia presente, virei-me novamente para Deidara, ciente de que
seus olhos continuavam presos em mim, assim como os do novato, que embora não tivesse parado de
chorar, me fitava surpreendido.
-Você está bem? -Indaguei baixo, olhando diretamente para o mais velho, pouco me importando com
a presença de Naruto.
-Sim. -Respondeu seco, não parecendo nenhum pouco agradecido pelo o que eu fiz. -Você não
precisava ter feito isso. Eu sei muito bem como me defender sozinho.

161
Suspirei esgotado.
-Eu sei que você sabe. -Respondi num tom baixo e cansado. -Só que eu não consegui ficar parado
vendo ele fazer aquilo.
Deidara ficou um pouco atordoado com a minha confissão e talvez até mesmo desconfiado. Seus
olhos me penetravam sem dó, ignorando todos os pedidos baixinhos e desesperados de Naruto para que
ele o abraçasse de volta, parecendo se concentrar somente em mim.
De certa maneira, eu gostei disso.
-Eu acho que já vou indo. -Declarei simplista, olhando para o lado um pouco inquieto. -Se você
precisar de alguma coisa, é só me chamar.
Ele chacoalhou a cabeça, parecendo voltar à realidade.
-Eu não vou precisar. -Rebateu grosseiro.
-Certo. -Respondi sem lhe dar as caras. -Até mais.
E sem mais nem menos, virei de costas para si. O meu turno nem havia terminado, entretanto,
depois de tudo o que aconteceu hoje, desde a briga com o meu irmão, até o modo como as coisas estavam
entre mim e Deidara, eu sentia que precisava de um descanso.
Aquele dia havia sido um dos mais estressantes que eu já tive dentro da penitência.
Naruto On

Meus olhos encontravam-se atentos a tela em minha frente, assistindo silenciosamente ao filme que
estava sendo espelhado na televisão da penitenciária, embora o mesmo fosse incrivelmente tedioso e sem
sentido.
Ao meu lado esquerdo, Gaara encontrava-se da mesma forma, dando o seu melhor para se
concentrar na história do filme, que mesmo sendo chata, era a única coisa que tínhamos para fazer naquela
noite.
Em geral, os garotos ao meu redor estavam animados. A volta de Kiba ao nosso grupo foi realmente
um alívio. Embora ele estivesse machucado fisicamente e com uma cicatriz bem aparente em seu pescoço,
era muito bom vê-lo ativo e interagindo conosco.
A única pessoa que não parecia tão feliz assim, era o Deidara. Seus olhos, apesar de fixos na tela,
encontravam-se incrivelmente distantes e apagados, aparentemente pensativo sobre algo ou alguém.
-O que será que o Dei tem, hein? -Gaara sussurrou ao meu ouvido, tão atentado à ele quanto eu.
-Você faz ideia?
Na verdade, eu até imaginava.
Após o incidente de mais cedo na cozinha, o qual envolveu tanto o Kakashi, quanto o Itachi, não foi
nada difícil de perceber a sua mudança de humor. Sinceramente, o fato de termos sido salvos por Itachi,
realmente mexeu comigo, o que significava que talvez isso também tenha deixado-o afetado de alguma
forma.
De qualquer maneira, era muito ruim vê-lo tão quieto e cabisbaixo.
-Eu não sei. -Decidi omitir meus pensamentos de Gaara, observando o loiro juntamente consigo. Ele
parecia tão tristonho e magoado, o que me fazia pensar ainda mais que ele talvez quisesse uma
companhia, ou até mesmo um abraço. -Será que ele quer um abraço?
O ruivo riu baixinho.
-Não, franguinho. -Sorriu de modo carinhoso pra mim. -O Deidara não gosta de abraços, nem mesmo
quando está triste. Na verdade, ele gosta de enfrentar os problemas dele sozinho.
Aquilo era compreensível.
Eu sabia que haviam pessoas que preferiam guardar seus problemas e aflições para si mesmo,
entretanto, sempre quando eu me sinto chateado ou sozinho, eu gosto muito de pedir um abraço e receber
carinho de alguém.
Talvez no fundo o Deidara também sentisse o mesmo, mas era orgulhoso demais para pedir isso a
alguém. Por essa razão, eu havia decidido que tentaria me aproximar de si, afinal, ele havia sido muito bom
para mim permitindo que eu ficasse com ele na cozinha.
Eu só queria retribuir o favor.

162
-Eu vou falar com ele. -Informei Gaara.
-Péssima ideia. -O ruivo me repreendeu. -Vai por mim, Naruto, você não vai querer lidar com o
Deidara agora. Quando ele está pensativo assim, o melhor a se fazer é deixar ele sozinho.
Fiz uma cara pensativa.
-Eu não acho. -Rebati inocentemente. -Olha só pra ele, Gaara. Está na cara que ele precisa de um
abraço.
Ele soltou mais uma de suas risadas, negando desacreditado com a cabeça.
-Certo, talvez você tenha razão. -Deu de ombros. -Vai lá tentar, então. Mas se ele for grosso, não
diga que eu não te avisei.
-Beleza. -De certo modo, ele acabou me incentivando. Eu acho que eu estava tão acostumando em
receber patadas do Deidara, que se ele fosse grosso comigo daquela vez, nem me atingiria tanto assim. -Eu
estou indo lá.
-Boa sorte.
Me levantei com coragem, caminhando até o lado oposto da sala, recebendo diversos xingamentos
dos detentos, os quais mandavam-me abaixar a cabeça, visto que eu estava bem na frente da tela.
Cheguei perto de Deidara, o qual encontrava-se de cabeça baixa, quase nem notando minha
presença quando decidi me sentar do seu lado, contagiando-me automaticamente com o sua feição
chateada. Era muito estranho ver ele assim.
-Oi. -Puxei a manga de seu uniforme, lhe lançando um sorriso pequeno.
-O que você quer? -Não foi a resposta que eu esperava, porque além de grossa, foi extremamente
impaciente.
-Eu vim ficar com você. -Respondi baixinho, me encostando o máximo que pude em si, querendo
mostrá-lo que estava ali para lhe fazer companhia.
-Eu não quero ficar com você. -Respondeu hostil, afastando-se rudemente, odiando o fato de eu ter
me aproximado tanto. -Já não basta você grudado comigo vinte e quatro horas por dia. É irritante.
Encolhi meus ombros chateado.
-Vai embora, eu quero ficar sozinho. -Informou grotescamente, virando seu rosto para o outro lado,
querendo cortar o assunto comigo.
Fiquei imóvel em cima da cadeira, refletindo se deveria mesmo deixá-lo a sós, ou não. Talvez pelo
fato de ele não ter sido tão rude assim, eu imaginei que, no fundo ele ainda me quisesse ali.
Foi por essa razão que eu decidi abraçá-lo.
Juntei meu corpo ao seu do modo mais carinhoso que consegui, não querendo deixá-lo passar por
todo aquele sofrimento sozinho, por mais que eu não soubesse pelo o que ele estava passando.
Os primeiros cinco segundos, Deidara não teve reação. Eu até imaginei que o seu silêncio fosse
porque ele estivesse gostando de todo aquele carinho, mas me enganei completamente ao sentir meu corpo
ser afastado, batendo violentamente de volta na cadeira.
-D-Deidara? -Chamei assustado.
-Some daqui, porra! -Ele gritou alto o suficiente para chamar a atenção de todos, fazendo meu corpo
se encolher com medo. -Eu já falei que não te quero aqui, me deixa em paz!
-M-Me desculpa, eu—
-Desculpa é o caralho! -Ele empurrou meu ombro quando tentei me aproximar novamente,
fazendo-me gemer dolorido. -Você é surdo, ou o quê?! Some da minha frente, desgruda de mim de uma
vez!
Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
-Você é irritante e insuportável! -O fato de todos estarem escutando a nossa conversa, deixava o
momento ainda pior. -Eu não aguento mais você grudado comigo, caralho! Vê se entende de uma vez... Eu
não gosto de você, porra!
Foi inevitável não começar a chorar. Meus lábios se tremeram involuntariamente, trazendo uma
ardência em meus olhos e nariz, deixando lágrimas grossas e silenciosas descerem pelo meu rosto.

163
A minha intenção nunca foi irritá-lo ainda mais. Eu achei que tivéssemos progredido em nosso
relacionamento, e até criado uma amizade, mas pelo o que me parece, eu estava enganado.
O Deidara nunca vai gostar de mim.
-Dei, pega leve. -A voz de Gaara se fez presente de repente, enquanto um toque sútil era depositado
em meu ombro. Virei-me para trás, enxergando-o de pé atrás e mim. -Ele é só uma criança.
-Ele não é a porra de uma criança! -Esbravejou descontroladamente, me deixando ainda mais
atingido. -Vai se foder você também, Gaara! Vê se me deixa em paz, vocês dois!
Dei um passo para trás, não conseguindo conter minhas lágrimas, nem mesmo com todo mundo me
assistindo. Não era bom ficar chorando na frente de todos, entretanto, eu realmente não consegui me
segurar.
-Ei, franguinho? -O ruivo me chamou delicadamente. Eu poderia ter ficado para ouvir o que ele tinha
para me dizer, mas naquele momento, era a minha vez de querer ficar sozinho. -Naruto, volta aqui!
Ignorei os seus chamados, deixando ele e Deidara para trás, saindo correndo dali por me sentir
humilhado e completamente quebrado. Meus pés levavam-me em direções aleatórias, mas o mais longe
possível da sala de cinema.
Minhas lágrimas impediam-me de enxergar o caminho em minha frente, visto que seguia mais pelo
automático, aproveitando que o presídio estava vazio por conta da noite de filme para andar por onde eu
quisesse.
Em meio a os vários corredores por onde passei, cessei meus soluços ao parar em um específico,
escondendo-me atrás da parede para conferir se o que eu vi era mesmo real.
Foi necessário secar as minhas lágrimas para ter certeza de que Obito e Itachi estavam juntos, e
mais uma vez, conversando às escondidas no mesmo corredor que os vi da última vez.
Porém, dessa vez, o Sasuke não estava junto.
-...Eu fiquei sabendo do que aconteceu hoje, Itachi. -A voz de Obito era baixa, mas ainda era possível
ser escutada por mim.
-Pois é. -Itachi esfregava o próprio rosto. -Eu não quero falar sobre isso, tá bom? Já foi difícil demais
tratar o Sasuke daquele jeito na frente de todo mundo, e agora que não estamos nos falando, ficou ainda
pior.
Levantei a sobrancelha.
Eu não estava entendo absolutamente nada.
Primeiramente, o fato de tê-los conversando tão intimamente, já era algo que me confundida muito.
Em segundo lugar, eu não fazia ideia de que os dois irmãos haviam brigado e que não estavam mais se
falando.
Me aproximei ainda mais para escuta-lós com mais clareza, me repreendendo mentalmente por ter
feito um barulho a mais, causando um estralo na madeira do chão. Fui rápido em me esconder atrás da
parede, levando minha mão ao peito, sentindo meu coração acelerado de tanto medo.
-Você ouviu isso? -Aquela desconfiança toda pertencia a Itachi.
-Ouviu o quê?
-Eu acho que tem alguém escutando a gente, Obito. -Ele sussurrou. -Eu vou ir conferir.
Meu coração quase saiu pela boca. Embora os passos do Uchiha estivessem cada vez mais
próximos, era como se meu corpo me prendesse no lugar, com medo de deixar o ambiente e fazer ainda
mais barulho.
Na minha cabeça, permanecer imóvel me pareceu uma opção bem plausível.
-Quem está aí? -Sua voz estava cada vez mais próxima da parede.
Minhas pernas começaram a ficar bambas, e sem que eu percebesse, lágrimas de medo se
acumularam em meus olhos. Fechei meus olhos com força, apertando meus punhos nervosamente,
simplesmente esperando pelo pior.
O pior rapidamente chegou.
O susto de ter tido minha boca tapada, sendo acompanhado de mãos firmes e habilidosas
puxando-me para trás, fez com que o meu desespero se manifestasse ainda mais. Foi tudo tão rápido, que

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segundo seguindo, meu corpo já estava sendo empurrado para dentro de uma porta, a qual eu rapidamente
reconheci como o quartinho de faxina presente naquele mesmo corredor.
Me debati descontroladamente, chorando pelo medo de estar sendo agarrado por um desconhecido,
virando-me agressivamente para trás, e por alguma razão, imaginando que se tratasse de Kakashi ou
Orochimaru.
Contudo, a minha visão foi uma completamente diferente.
Sasuke era quem dividia aquele quartinho extremamente minúsculo e apertado comigo.
Meus lábios se entreabriram de modo trêmulo e surpreso, procurando por palavras para demostrar o
meu choque, mas sendo rapidamente calado com a mão do moreno, o qual rapidamente se encostou a
mim, tapando a minha boca com firmeza.
Arregalei meus olhos com medo, observando de perto seu dedo indicador ir de encontro aos seus
lábios, pedindo silenciosamente para que eu ficasse quieto e não omitisse nenhum ruído.
-Quem é que está aí?
A voz de Itachi se fazia presente ao lado de fora, bem rouca e ameaçadora, me fazendo tremer dos
pés à cabeça. O vão embaixo da porta me dava a visão perfeita de todos os passos do Uchiha mais velho, o
qual circulava o local com atenção.
Tentei focar somente no Sasuke, assistindo com aflição seus olhos atentos a porta, enquanto seu
maxilar encontrava-se travado, talvez esperando pelo pior, com medo de que Itachi encontrasse-nos ali
dentro.
-Itachi, fica tranquilo, não tem ninguém aqui. -Obito soou mais distante da porta.
-Eu não estou louco, eu sei que escutei alguma coisa. -Rebateu frio, com sua voz ainda mais próxima
de nós.
-Eu não disse que você é louco. -Suspirou cansado. -Vem, esquece isso, vamos conversar longe
daqui.
-Certo. -Ele concordou por fim.
Permaneci com os meus olhos vidrados em Sasuke, tremendo incontrolavelmente que nem uma
criancinha, esperando pelos próximos comandos do moreno. Eu só voltaria a me mexer quando ele me
autorizasse.
O moreno, por sua vez, mordia seu lábio inferior em um pequeno sinal de atenção e aflição, espiando
pela minúscula fresta da porta seu irmão se distanciar, conferindo se estávamos seguros o bastante ali
dentro.
Foi um alívio e estranhamente satisfatório ver seus ombros relaxarem, enquanto um suspiro
silencioso deixava seus lábios. Seu rosto, antes atento ao lado de fora, virou-se lentamente para mim,
carregando uma expressão preocupada e seria, finalmente afrouxando seu toque em minha boca.
-Você está bem? -Indagou baixinho, assoprando seu hálito fresco e gostoso de menta em meu rosto.
Estávamos perigosamente próximos.
-S-Sim. -Concordei atordoado, ainda não conseguindo parar de tremer.
-Tem certeza? -Reforçou, franzindo o cenho desconfiado. Seu dedo indicador, antes imóvel na altura
de sua cintura, entrou em contato com o meu rosto, tocando delicadamente na ponta de meu queixo,
fazendo-me olhá-lo nos olhos -Ei, você andou chorando?
Mesmo diante de tanto estresse, minhas bochechas não deixaram de esquentar. Meu coração batia
acelerado no peito, estranhamente hipnotizado com toda aquela sua proximidade, tendo seu corpo colado
ao meu naquele ambiente minúsculo e escuro, me fitando de modo tão intenso e penetrante.
-Fala comigo, bebê. -Sussurrou preocupado, tomando a liberdade de utilizar seus dedões,
passando-os lentamente por minhas bochechas, secando minhas lágrimas presentes em cima de meus
risquinhos. -Você está tremendo muito.
-E-Eu estou bem. -Sussurrei de volta, não conseguindo parar de olhá-lo. -N-Não foi nada demais, já
passou.
Talvez pelo fato de tê-lo me tocando, fazendo um pequeno carinho em minhas bochechas, grande
parte de meu medo foi desaparecendo aos poucos. Fechei meus olhos por alguns segundos, tentando
regular a minha respiração, desfrutando do afago delicado que recebia em minha pele.

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-Isso, respira. -Pediu num tom baixo e enrouquecido, me dando tempo para recuperar-me de meu
susto. -Já vai passar.
Quando me senti relaxado o bastante, reabri meus olhos lentamente, arfando bem baixinho pelo
susto de tê-lo ainda mais próximo de mim. Suas mãos repousavam carinhosamente dos dois lados de
minha bochecha, enquanto seus olhos pareciam me avaliar, checando cuidadosamente se eu estava bem.
-S-Sasuke... -Chamei seu nome aos sussurros, gostando de sentir sua respiração quentinha se
misturando com a minha. Os olhares do moreno se alternavam, hora em minha boca, hora em meus olhos.
-Obrigado.
-Não foi nada, bebê.
Apesar de eu já estar me sentindo melhor, suas mãos macias continuavam repousadas sobre mim,
passavam-me segurança e tranquilidade, me acariciando de um jeito bom e delicado, me fazendo querer
ainda mais daquilo.
Seus lábios entreabertos também convidavam-me a me aproximar, me incentivando a chegar ainda
mais perto de si, puxando meu rosto com delicadeza para frente, assim como o seu que vinha por conta
própria.
Foi como se nós dois já soubéssemos o que estava por vir, simplesmente se entregando àquele
momento tão íntimo e desejoso entre nós.
No seguindo seguinte, nossos lábios já haviam se tocado.
O toque úmido de sua boca deixou a minha respiração pesada. Ter sua carne pressionada contra a
minha, fez com que arrepios imediatos tomassem conta de meu corpo, trazendo um rubor a mais em
minhas bochechas.
Trocamos um selinho longo e molhado, mas sobretudo, bem carinhoso. Eu nunca imaginei que
pudesse me sentir tão bem com o contato de lábios alheios, enquanto recebia um carinho sútil e cuidadoso
em minhas bochechas.
O nosso pequeno beijo me passou segurança.
Ao senti-lo se desconectar de mim, foi inevitável não deixar escapar um resmungo frustrado,
causando um estalo baixinho e úmido pelo ambiente. Reabri meus olhos bem devagarzinho, tendo a visão
perfeita de Sasuke fazendo o mesmo, abrindo os seus de modo lento e estranhamente tímido.
Eu senti como se estivesse flutuando. Era bem difícil de colocar em palavras.
Os segundos seguintes foram todos bem silenciosos. Nossas respirações encontravam-se lentas,
mas desreguladas, o que era bem estranho pelo fato de termos apenas trocado um selinho.
Eu sentia como se meu coração fosse sair pela boca.
-S-Sasuke. -Chamei inquieto, me frustrando ao sentir suas mãos se distanciarem de mim.
Tentei lhe lançar um sorriso pequeno, mas que não chegou a ser visto por ele. O Uchiha afastou-se
o bastante de mim, quebrando o momento entre nós, olhando meio confuso para o chão.
-Eu preciso ir. -Declarou baixinho, não conseguindo me olhar nos olhos.
-E-Espera, Sasuke...
Ele alcançou a maçaneta.
-Eu te vejo depois, Naruto. -Falou de costas para mim.
Meus ombros se encolheram.
-T-Tudo bem. -Sussurrei cabisbaixo, deixando-o se distanciar. Se o Sasuke precisasse de um tempo
para digerir o nosso beijo, eu lhe daria com a maior tranquilidade. -Tchau, Sasuke.
Ele não me respondeu.
Fiquei a assistir a porta sendo aberta causando um eco pequeno pelo corredor, logo voltando a ser
fechada, deixando-me uma outra vez no escuro. Aquele lugar sem o Sasuke era incrivelmente frio e
sombrio.
Ainda não havia entrado na minha cabeça o que tinha acabado de acontecer, mas eu tinha certeza
que uma hora ou outra, a minha ficha ia cair.
Eu ia finalmente me dar conta de que beijei o Sasuke Uchiha.

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Capítulo 15 - Eu nunca vou me perdoar

Naruto On
Haviam se passado apenas quinze minutos desde o início do horário de café. O refeitório, como
todos os dias, se enchia gradualmente com os mais diversos tipos de criminosos, desde detentos dos
blocos mais inofensivos, até os dos mais perigosos.
Meus olhos captavam todos os movimentos ao meu redor, acompanhando a entrada de cada
presidiário pela porta do refeitório, caçando em meio a eles a pessoa responsável pela minha falta de sono
na noite anterior, e também a razão de minha dor de cabeça após tanto refletir durante a madrugada.
Após uma noite inteira em claro, a minha ficha tinha finalmente caído.
Eu havia beijado o Sasuke Uchiha.
As batidas de meu coração se aceleravam descontroladamente a cada vez que me recordava da
forma como nos relacionamos na noite anterior. Ter sido salvo por Sasuke uma outra vez, dividir um
ambiente absurdamente apertado e escuro com ele, e ainda por cima beija-ló, continuava sendo algo
completamente inédito para mim.
Eu reconheço que o beijo que trocamos não foi algo tão aprofundado, e sim apenas um selo. No
entanto, eu não poderia deixar de pensar o quanto me senti bem daquela forma, gostando de experimentar
a sensação rápida de seus lábios aos meus, além de ter me derretido internamente com todo o carinho e
cuidado que recebi de si.
Eu já havia reconhecido o efeito positivo que nosso pequeno beijo havia causado em mim e por todo
o meu corpo. Contudo, eu não sabia se poderia dizer o mesmo de Sasuke.
Inicialmente, quando dividimos aquele ambiente extremamente minúsculo, ficando colados um ao
outro, eu senti como se o Uchiha estivesse partilhando a mesma vontade que eu, correspondendo ao beijo
com sentimentos similares aos meus.
Porém, ao vê-lo deixar o quartinho com tanta rapidez, dando o seu máximo para não me olhar nos
olhos e agindo de modo confuso e frio, fez com que eu duvidasse um pouco de suas verdadeiras intenções
na hora de me beijar.
Talvez ele só tivesse feito por impulso.
Talvez o nosso beijo foi somente fruto de um sentimento e clima momentâneo que se instalou para
Sasuke, algo que ele nunca mais pretende repetir e que se arrependeu de fazer, e portanto, fugiu tão
atordoado no momento em que separamos nossos lábios.
No entanto, também tinha a última opção.
O moreno poderia ter feito isso porque realmente quis. Ele poderia ter me beijado porque sentiu
vontade e se sentiu confiante e atraído por mim. Ou então, se eu fosse pensar ainda mais a fundo, o Uchiha
talvez pudesse sentir algo por mim, talvez mais do que somente uma atração física e momentânea.
Eu não pretendia admitir em voz alta, mas o meu desejo efetivo era que a última opção fosse a mais
verdadeira e honesta de todas. Seria muito emocionante e revelador saber que Sasuke sente algo por mim,
pelo menos mais do que somente uma pequena atração.
De qualquer forma, eu pretendia ir atrás de si, e mesmo que estivesse com vergonha de iniciar um
diálogo consigo, eu faria de tudo para encontrá-lo o mais rápido possível.
-Terra chamando Naruto!
Dei um pequeno pulo em cima do banco, virando em direção à Gaara, o qual fazia questão de gritar
em meu ouvido, chamando a minha atenção por eu não estar o escutando.
-Desculpa. -Sacudi a cabeça, notando que o resto da mesa também olhava para mim. Kiba, Neji e
Shimakaru carregavam expressões curiosas, como se estivessem aguardando por uma resposta minha.
-Vocês falaram comigo?
-Sim. -Neji respondeu. -A gente queria saber se você ficou sabendo da briga de ontem.
Fiz uma careta pequena e confusa, mostrando-os que não fazia a menor ideia do que eles estavam
falando. Para falar bem a verdade, eu sou sempre o último a ficar sabendo das coisas dentro de nosso

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grupo, e possivelmente um dos últimos da penitenciária a ficar ciente das brigas e confusões entre os
detentos.
-Que briga? -Indaguei curioso.
-A briga entre os irmãos Uchiha. -Neji respondeu num tom óbvio, como se todo mundo já estivesse
sabendo, menos eu. -Cacete, Naruto. Você é realmente bem desligado, né?
Fiquei uns cinco segundos em silêncio.
Eu já havia ouvido falar dessa briga. Na verdade, eu não precisei que nenhum de meus amigos me
contassem, visto que ouvi parte dela ser contada diretamente da boca de Itachi no dia anterior, bem quando
estava o espionando com o Obito.
Obviamente, eu não fazia ideia do que levou os dois irmão a discutiram, mas pelo o que eu ouvi o
Itachi disser, sei que foi bem séria, fora que eles estão sem se falar.
-E aí, Deidara? -Kiba desviou o assunto, sorrindo amigável para o loiro, o qual chegava em nossa
mesa com sua bandeja nas mãos, carregando uma expressão completamente apagada e esgotada. Parece
que eu não fui o único com problemas para dormir à noite. -Senta aí.
-Oi. -Respondeu cabisbaixo, mas seco, aceitando o convite de seu amigo, sentando-se no banco da
ponta, aonde conseguia ter a visão perfeita de todos nós.
Nossos olhos foram rapidamente de encontro.
Depois do modo como Deidara me tratou na noite anterior, nós não havíamos trocado nenhuma
palavra sequer. Para falar bem a verdade, nem mesmo Gaara estava falando com o loiro, o que na minha
cabeça, isso significava que estávamos todos de mal um com o outro.
Era horrível ficar assim com ele.
Por mais que o Deidara seja grosseiro comigo, eu gosto muito dele, muito mesmo. Foi extremamente
doloroso e difícil de ouvi-lo dizer todas aquelas malvadezas para mim, no entanto, isso fez com que eu
abrisse meus olhos para certas coisas.
Eu teria que parar de seguir o Deidara para aonde quer que ele fosse, visto que ele mesmo deixou
bem claro que não gostava de mim. Toda a fé que eu carregava dentro de mim, pensando que talvez
fôssemos amigos, havia se esvaziado.
Ele nunca vai gostar de mim, pelo menos não do jeito que eu o considero.
-Cara, você está bem? -Shikamaru indagou meio preocupado, assistindo o loiro esfregar o próprio
rosto, revelando suas olheiras extremamente marcadas para nós.
-Sim. -Respondeu curto e grosso. -Me deixa em paz, por favor. Continua a conversa de vocês, eu só
quero ficar quieto.
-Ah, tudo bem. -Ele ficou meio confuso, mas também não insistiu. -Então, Neji... Continua o que você
estava falando.
-Ah, sim... -Coçou a garganta. -Eu não consegui descobrir porque os irmãos Uchiha brigaram, mas
pelo o que me contaram, o Sasuke expôs ele pra todo mundo.
Redobrei minha atenção na conversa. Era impressionante, mas toda a vez que algum assunto era
relacionado ao Sasuke, eu ficava cem por cento atento.
-Expôs? Como assim? -O ruivo estava tão curioso quanto eu.
-Sei lá, falou umas verdades pra todo mundo ouvir, sabe? -Deu de ombros. -Enfim, o negócio foi
muito feio, quem estava por perto contou que o Itachi acabou batendo no Sasuke e tudo mais.
Meus olhos se arregalaram de modo assustado, sendo acompanhado de Deidara, que após ouvir a
conversa, levantou sua cabeça de modo atento.
-O Itachi bateu nele? -Gaara franziu a testa em surpresa. -Tipo... Na frente de todo mundo?
Neji concordou positivo.
-Cara, porque eu nunca estou por perto pra ver essas coisas?! -O ruivo estalou a língua, dando um
gole em seu suco de modo emburrado.
-Pois é. -Ele concordou, suspirando pensativo. -O foda é que eu não vi nenhum dos dois irmãos hoje
de manhã, nem mesmo o grupo deles deu as caras aqui no refeitório.

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Aquilo fazia sentido.
Faziam mais de vinte minutos que eu estava procurando pelo Sasuke, mas ele ainda não havia
aparecido para se alimentar. Apesar de tudo, eu ainda tinha esperanças de que o encontraria até o final do
horário de café.
Saber que o moreno brigou com o seu irmão, e ainda por cima apanhou dele, só me deixava com
ainda mais vontade de vê-lo para que pudéssemos conversar. Talvez ele também estivesse precisando de
uma companhia e um pouco de carinho.
-Deidara, acho que você não pode fumar aqui no refeitório. -A voz de Kiba foi o que me trouxe de
volta à realidade. Olhei em direção ao loiro, ficando internamente preocupado ao vê-lo levar um cigarro aos
lábios, tremendo suas mãos para acendê-lo. -Se alguém te pega fazendo isso, vai dar problema.
-Eu não ligo. -Respondeu de modo hostil, tragando seu cigarro com os olhos fechados, parecendo
tentar se tranquilizar. O Deidara geralmente fumava quando estava nervoso.
-Eu estou preocupado com o Deidara. -Sussurrei chateado no ouvido de Gaara, o qual também
assistia a cena, cerrando seus olhos pensativamente em direção ao loiro. -O que será que tanto incomoda
ele?
Deu de ombros.
-Eu não sei, franguinho. -Sussurrou de volta. -Mas não tem muito o que a gente fazer agora,
entende? Você não viu o jeito que ele te tratou ontem? O Dei quer ficar em paz.
Suspirei chateado.
-Eu só queria poder ajudar de alguma forma.
-Você é um amor. -O ruivo riu carinhoso e brincalhão, bagunçando os meus cabelos levemente.
-Relaxa, daqui a pouco passa, você vai ver.
Desviei meu olhar do loiro, visto que o mesmo me olhava de volta, assoprando a fumaça
agressivamente, irritando-se com o fato de eu não parar de encara-ló.
-Você acha que as coisas vão ficar bem entre nós? -Indaguei choroso. -S-Será que eu devo pedir
desculpas pelo o que eu fiz, Gaara?
-Não, franguinho. -Respondeu de modo paciente e calmo, me enviando um sorriso reconfortante.
-Deixa ele quietinho, tá bom? Você não fez nada de errado, é o Dei quem está muito estressado.
Assenti com a cabeça, ficando cabisbaixo.
Outro motivo de eu estar tão inseguro com esse meu distanciamento com o Deidara, era porque
agora eu ficaria desprotegido novamente. Eu tinha consciência de que o Gaara também estava do meu
lado, só que eu simplesmente não conseguia me sentir seguro com ele.
A única coisa boa nisso tudo, é que eu acabei descobrindo que o Orochimaru está no isolamento.
Contudo, ainda tinham outras pessoas com quem eu precisava me preocupar, como por exemplo, o Kakashi
e os detentos que viviam mexendo comigo na hora do banho, ou quando o Deidara não estava por perto.
-O que você está fazendo aqui?
Novamente, eu tive meus pensamentos interrompidos, só que dessa vez, pela voz rouca e irritada de
Neji, o qual olhava para trás de mim com uma feição raivosa.
Virei-me assustado e curioso, dando de cara com o inesperado, a última pessoa que eu esperava ver
naquele dia tão confuso e estressante para mim. Era o Suigetsu.
Me agarrei de modo discreto e medroso em Gaara, não gostando nenhum pouco de sua presença,
especialmente depois de tudo o que ele fez. Na verdade, eu estava mais curioso a respeito do que o Kiba
iria fazer, visto que os dois não se falavam desde o dia do jogo de cabo de guerra.
-Eu queria falar com o Kiba. -Suigetsu informou a todos nós, e pelo seu tom de voz, eu deduzi que
ele estivesse triste e talvez até mesmo arrependido. -E aí, cara? Será que a gente pode conversar?
-Ele não tem nada pra falar com você. -Neji falava pelo seu companheiro, rosnando agressivo. -Se
manda, idiota.
Troquei alguns olhares rápidos com Gaara, o qual retribuía o meu abraço, talvez tão receoso quanto
eu com a presença de Suigetsu. Ele ficou com fama de louco entre os garotos do nosso grupo.

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-Qual é, eu só quero me desculpar, cara. -Ele saiu de trás mim, o que fez com que eu e o ruivo
suspirássemos aliviados, afrouxando o nosso abraço. Nós éramos claramente os mais medrosos dali. -Por
favor, me dá uma chance de me explicar.
Olhei diretamente para Kiba.
Aquilo só dependia dele. Embora o Neji tentasse lhe defender, e lhe privar do mal, no final, era ele
quem decidiria se perdoaria o Suigetsu ou não. Para falar bem a verdade, eu estava começando a ficar com
pena dele.
O meu coração é mesmo muito mole.
-Se vocês perdoarem esse morfético, eu juro que nunca mais olho na cara de vocês. -A voz grave e
fria de Deidara se fez presente na conversa, deixando Kiba ainda mais tenso com a situação em que estava
sendo colocado. -Eu estou falando sério. Esse filho da puta não merece o nosso perdão.
De certa forma, ouvir isso me deixou chateado.
Aquilo também não era a decisão do Deidara. Ficar chantageando o Kiba, só porque ele não gostava
do Suigetsu, era algo muito errado a se fazer. Eu sei que nunca deveria ter me intrometido na conversa, e
que eu era o com menos moral de nosso grupo, mas como sempre, o meu coração falou mais alto.
-D-Deixa o Suigetsu se explicar, gente. -Declarei bem baixinho e receoso, já fechando meus olhos
como se esperasse pelo pior.
As grosseiras rapidamente começaram para cima de mim, e é óbvio, da parte de Deidara, o qual não
mediu esforços para me humilhar novamente, especialmente por estar irritado e completamente de pavio
curto.
-Fica quieto, caralho! -Socou a mesa com violência, derrubando seu copo de suco pela mesma. Me
encolhi de modo automático, abraçando Gaara de lado. -Eu estou farto de você, porra! Cala essa maldita
boca, seu pirralho chorão, ninguém se importa com essa sua opinião de merda!
O Deidara nunca havia me tratado tão mal.
Me silenciei no mesmo segundo, baixando minha cabeça ao sentir meus olhos arderem, anunciando
a chegada de mais lágrimas. Eu odiava ser tão sensível e me afetar tanto com as coisas que eram ditas
para mim.
Mas honestamente, não tinha como não se magoar com tamanha estupidez. Primeiro ele diz que não
gosta de mim, depois grita comigo novamente, utilizando palavrões e xingamentos pesados.
Parece que tudo fica mil vezes pior pelo fato de eu gostar muito do Deidara e me importar de verdade
com a sua opinião em relação a mim.
-Para com isso, Deidara. -Gaara o repreendeu de modo assustado, impressionado com o modo como
ele estava me destratando. -Eu já te pedi para pegar leve. Para de descontar suas frustrações na gente, ele
não fez nada pra você.
-Cala a boca você também, seu imbecil! -Gritou com o rosto avermelhado, liberando toda a sua raiva
guardada. -Vai pra puta que pariu vocês dois!
Naquela altura do campeonato, a situação entre Kiba e Suigetsu havia sido completamente
esquecida. Eu me encontrava tão quebrado emocionalmente, que ajudar a defender o Suigetsu nem
passava mais pela minha cabeça.
-Olha, eu falo com você depois. -Ele falou diretamente com Kiba, um pouco desconfortável por
presenciar a discussão instalada em nosso grupo. -Me encontra mais tarde lá no pátio, pode ser?
-‘Tá. -Kiba concordou desconfiado, recebendo um olhar de reprovação de Neji, o qual provavelmente
pensava da mesma forma que Deidara.
A mesa entrou em um momento de silêncio.
Eu me segurava ao máximo para não chorar, sentindo o toque consolador de Gaara em minhas
costas, acariciando-a num pequeno ato de reconforto, embora também estivesse claramente chateado com
a briga.
Deidara, por sua vez, bufou de modo audível e irritando, empurrando sua bandeja violentamente
antes de se levantar, deixando seu café da manhã intocado, indo embora sem dizer absolutamente nada.
-E-Eu só faço besteira. -Choraminguei para o ruivo no minuto em que Deidara deixou a mesa, me
sentindo humilhado e envergonhado.

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-Não faz não. -Rebateu seriamente. -Vai ficar tudo bem, tá bom? O Deidara já vai melhorar e as
coisas vão voltar a ser como eram antes.
Por mais chateado que eu estivesse, eu tentei ao máximo acreditar em suas palavras e me
convencer de que ficaria tudo bem. Repousei minha cabeça no ombro do ruivo, espremendo minha
bochecha em sua pele, olhando ao redor com um biquinho amuado em meus lábios.
Pelo fato do horário de café estar quase no fim, o refeitório encontrava-se parcialmente vazio,
somente com algumas mesas ocupadas. No entanto, entre todos os detentos e carcereiros que restavam no
local, meus olhos conseguiram captar uma pessoa em especial, que mesmo vestida com o tão comum
macacão laranja, foi um destaque para mim.
Eu encontrei o Sasuke.
Meus batimentos cardíacos aumentaram drasticamente, enquanto eu levantava minha cabeça de
abrupto, não esperando vê-lo tão de repente. Eu acho que nunca vou entender o modo como fico afetado
com a sua presença.
O moreno estava sozinho, distante e de certa forma cabisbaixo, quase igual a Deidara. Em passos
lentos e preguiçosos, Sasuke caminhava com sua bandeja em mãos, indo por conta própria até uma das
mesas no canto do refeitório, querendo ficar o mais longe possível dos detentos.
Todos estavam comentando.
Todos sabiam sobre a briga, e muito provavelmente estariam imaginando por onde andava o Itachi e
o resto de seu grupo. Sinceramente, eu também possuía certa curiosidade a respeito disso, só que nada era
maior do que a minha vontade de ir falar com ele.
Eu iria até o Sasuke, mesmo que de certa forma eu ainda estivesse tímido por conta de nosso
pequeno selinho.
-Ei, aonde você vai? -Gaara questionou, me notando inquieto.
-Vou fazer xixi. -Menti meio atrapalhado, levantando-me do banco, deixando-o um pouco desconfiado
ao meu lado. -Te vejo depois.
-Beleza.
Me levantei desengonçado e às pressas, temendo que o tempo do café terminasse e eu não
conseguisse conversar o suficiente com o Sasuke. Ao mesmo tempo em que eu andava em sua direção,
minha mente trabalhava em possíveis formas de iniciar um diálogo consigo, não querendo deixá-lo
desconfortável, ou ainda pior do que provavelmente já estaria após a briga.
Quando cheguei perto de si, pude enxergar com ainda mais clareza o modo como o Uchiha se
encontrava. Com sua cabeça baixa, o mais velho remexia a colher em sua comida, que apesar de ser um
café da manhã bem atraente e reforçado, ele não parecia estar com apetite.
Eu tomei coragem para chamá-lo.
-Bom dia, Sasuke. -Minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, enquanto um sorriso tímido e
doce era estampado em meus lábios, esperando que talvez isso pudesse melhorar o seu humor.
A sua reação foi rápida. O som de minha voz foi o suficiente para fazê-lo erguer seu pescoço,
deixando a bandeja de lado para fazer contato visual comigo, revelando-me suas olheiras bem marcadas e
profundas.
Aparentemente, todos que eu conhecia haviam dormido mal.
-Bom dia. -Embora seu dia não tivesse nada de bom, o moreno fez questão de me responder, dando
o seu máximo para sorrir de volta para mim, mas de um jeito bem mínimo e cansado.
Dada a sua reação na noite anterior, eu gostei muito de ver que ele não estava estranho comigo e
nem tentando se distanciar de mim.
-H-Hm, será que eu posso me sentar? -Aproveitei sua boa vontade em falar comigo, entrelaçando
minhas mãos nervosamente na frente de meu corpo.
A sua resposta também foi breve.
-Pode sim. -Me autorizou com a voz rouca e fraca, piscando seus olhos lentamente pelo cansaço. O
Uchiha puxou sua bandeja para perto de si, dando a entender que eu poderia ficar à vontade para me
sentar.
Meu coração estava disparado.

171
O espaço que Sasuke me ofereceu para que eu sentasse, mostrava-me especificamente que eu
deveria ficar no banco em sua frente. No entanto, como todos os meus outros momentos de impulsividade,
decidi que me sentaria em outro lugar, girando ao redor da mesa para chegar ainda mais perto de si.
Ele acompanhou meus passos de modo silencioso e confuso, mas também não protestou quando
tomei a iniciativa de me aconchegar ao seu lado, dividindo o mesmo banco consigo, mas é claro, mantendo
uma distância razoável para dá-lo espaço pessoal.
Depois de tudo o que eu ouvi o Deidara dizer e todos os foras que ele me deu, eu estou começando
a ficar com um medo excessivo de incomodar as pessoas. Afinal, eu sou mesmo muito irritante.
Ao me acomodar do seu lado, juntei minhas mãos em meu colo, não sabendo muito bem o que fazer
em seguida, olhando para Sasuke de modo tímido, sabendo que o mesmo me encarava de volta, mantendo
o peso de sua cabeça apoiado em seu cotovelo em um sinal de esgotamento.
-P-Posso ficar aqui? -Indaguei inseguro, visto que o mesmo não disse nada, apenas permaneceu
piscando sonolentamente. A última coisa que eu queria era lhe tirar do sério. -Se eu estiver te incomodando,
por favor, me fala.
Sasuke riu breve e cansado.
-Você nunca me incomoda, Naruto. -O tom de sua voz soava tão baixinho, que foi quase necessária
uma aproximação ainda maior de minha parte. -Pode ficar tranquilo.
Sorri envergonhado, mas gostando de ouvir isso de alguém, especialmente saindo da boca de
Sasuke. Já havia virado rotina eu me pegar pensando se estaria incomodando as pessoas, ou irritando-as
com o meu jeito tão grudento e emotivo.
-Você não me acha irritante? -Questionei inocente. Por mais que ele já tivesse respondido, eu
sempre precisava confirmar.
-Não, eu não acho. -Respondeu paciente.
-Mesmo? -Insisti, nem reparando na quantidade de perguntas repetitivas e chatas que eu estava lhe
fazendo. -B-Bom, é que eu entendo se você achar, sabe? Eu também me acho bem chato às vezes.
Ele me calou com uma risada fraca.
-Você não é nada disso, bebê. -Apoiou-se ainda mais sobre seu cotovelo, parecendo lutar para se
manter acordado.
Eu corei intensamente.
Por mais que ele tivesse confirmando que não estava incomodado com a minha presença e nem por
eu estar sentado do seu lado, a minha insegurança falava mais alto.
Eu tentaria de tudo para ser o menos inconveniente e chato possível.
-V-Você está bem, Sasuke? -Indaguei preocupado, me arrastando de modo lento sobre o banco,
quase encostando nossas coxas. -Eu posso te ajudar com alguma coisa?
-Eu estou bem, não se preocupe. Foi só uma noite de sono mal dormida. -Respondeu distenso,
tentando me passar segurança. -E você?
-O que tem eu? -Fiquei confuso.
-Como você está, Naruto? -Ele riu baixinho de minha falta de atenção, fechando seus olhos por
breves segundos, talvez exausto demais para mantê-los abertos.
-O-Oh... -Sacudi minha cabeça, corando levemente. Eu sentia como se estivesse ficando cada vez
mais distraído. -E-Eu estou bem também... Só estava preocupado com você.
Ele franziu o cenho.
-Comigo? Por que? -Levantou sua cabeça calmamente, ajeitando sua postura no banco, virando seu
torso e pescoço para mim.
-B-Bem... -Eu estava receoso com o fato de precisar citar a briga dos dois irmãos. Como já citei
anteriormente, eu não queria deixá-lo ainda pior. -É que eu fiquei sabendo da sua briga com o seu irmão.
Sua feição tão tranquila e sonolenta, foi rapidamente tomava por uma mais tensa e incomodada,
desaprovando o assunto em que estávamos ingressando.

172
-M-Me desculpa. -Pedi arrependido, encolhendo meus ombros. -E-Eu não queria ser intrometido. É
só que eu estava pensando se você não precisava de alguma coisa, ou então de alguém para conversar,
sabe?
Observei seus ombros tão tensos quanto os meus, enquanto seus olhos se prendiam em um ponto
fixo da mesa, parecendo pensativo sobre a briga, ou sobre o que eu acabara de lhe dizer.
-Você viu a briga? -Inquiriu sem me dar as caras, num tom meio sério e sem graça.
-N-Não. -Discordei com a cabeça. -Foram os meninos que me contaram.
Ele suspirou silencioso, soltando todo o ar de seus pulmões, mostrando-se bastante exausto por
precisar entrar no assunto de sua briga com o Itachi. Se isso fosse lhe deixar ainda mais chateado, eu
pretendia corta-lo com rapidez.
-Deixa isso quieto. -Ele deixou de observar a mesa, sacudindo sua cabeça como se espantasse
todos os seus pensamentos. -Não foi nada demais.
Eu sabia que isso não era verdade.
Do modo como todos falaram da briga, era óbvio que havia sido algo bem sério e pesado,
especialmente para Sasuke, que foi quem apanhou entre eles.
Ele apenas não queria falar sobre isso, e é claro que eu o respeitaria.
-Você tem irmãos? -O moreno indagou de repente, parecendo ter refletido sobre algo. Ao mesmo
tempo em que me fitava pensativamente, ele levava sua colher a boca, comendo uma salada de frutas, que
por sinal, aparentava estar bem saborosa.
-E-Eu gostaria, mas não tenho. -Respondi meio chateado, estranhando um pouco a pergunta
repentina. Talvez ele só tivesse curiosidade em saber coisas sobre a minha vida, assim como eu sinto em
relação a sua. -E você? Só tem o Itachi?
-Sim, só ele. -Respondeu calmo, cutucando o seu café.
O mais engraçado de tudo era que ambos nos recordávamos de nosso beijo da noite anterior, mas
era como se estivéssemos fazendo de tudo para não tocar no assunto, provavelmente por uma vergonha da
parte dos dois
Sinceramente, talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam e esperar a hora perfeita para que
engatássemos nesse assunto, até porque, estava mais interessante ver a conversa fluir naturalmente entre
nós.
-Você quer um pouco?
Sacudi minha cabeça, percebendo a quantidade de tempo em que passei olhando para sua bandeja.
O moreno, por sua vez, mantinha sua colher erguida em minha direção, referindo-se a sua salada de frutas.
Minhas bochechas esquentaram violentamente.
-N-Não, obrigado. -Olhei para meu próprio colo.
Era impressionante o modo como eu nunca conseguia disfarçar. Eu fiquei tempo demais olhando
para a sua salada de frutas, sentindo meu estômago roncar e desejando que meu café fosse igual ao seu,
visto que nessa manhã, fui obrigado a me alimentar do habitual caldo marrom.
Ele provavelmente havia reparado em meus olhares famintos.
-Pode pegar, Naruto. -Insistiu com um sorriso fraco, achando graça em minha vergonha. Ele fazia
questão de trazer a sua colher para ainda mais perto de mim. -Toma.
Agora não tinha mais como recusar.
O talher estava quase em contato com a minha boca, enquanto Sasuke praticamente empurrava o
alimento para mim, sabendo que o meu verdadeiro desejo era aceitar, mesmo que eu estivesse um tanto
envergonhado para isso.
Eu decidi ceder.
Inclinei minha cabeça para frente, enquanto o Uchiha fazia o mesmo com a sua colher, dando-me o
alimento diretamente em minha boca, aparentemente feliz por eu ter aceitado. Meu rosto esquentou
instantaneamente até a altura de minhas orelhas, principalmente ao notar aonde seus olhos caiam sobre
mim.

173
Com os lábios entreabertos, Sasuke soltava sua respiração bem lentamente, olhando de modo direto
para minha boca, assistindo-me devorar todas as frutinhas presentes em sua colher, não deixando sobrar
nenhum vestígio.
Afastei minha boca devagar, mastigando sem conseguir me desconectar de seus olhos negros e
intensos, os quais rapidamente entraram em contato com os meus, revelando-me a pequena vergonha que
sentiu por ter gasto tanto tempo atento em meus lábios, mas em especial, por não ter sido tão discreto.
Apreciei o sabor adocicado das frutas, aproveitando o fato de estarmos ainda mais próximos para
reparar em cada traço de seu rosto, não conseguindo deixar de corar pelo clima que havia se instalado
entre nós e em como foi tudo tão leve e natural.
Parecia que as coisas entre mim e Sasuke estavam, de certa forma, cada vez mais reveladoras.
-Gostou? -Ele perguntou com se nada tivesse acontecido, desviando seu olhar do meu, levando a
colher de volta ao prato.
-U-Uhum. -Sorri tímido, limpando o cantinho de minha boca.
-Pode ficar pra você, então. -Empurrou a bandeja para mim, cedendo não só a sua salada de frutas,
como também o resto dos alimentos presentes na mesma. -Eu não estou com fome.
Olhei assustado para ele
-T-Tudo isso? -Meu rosto ficou inteiramente vermelho. -Eu não posso aceitar, Sasuke.
Ele me surpreendeu com uma risadinha divertida.
-É só uma bandeja, bebê. -Apoiou-se novamente em seu cotovelo, sorrindo ao empurrar seu café
para ainda mais perto de mim, incentivando-me a aceitar. -Come o quanto você quiser, eu não quero mais.
Olhei para a bandeja e em seguida para ele.
-T-Tem certeza?
-Aham. -Assentiu calmo.
Já que ele estava me oferencendo, eu também não faria uma desfeita daquelas de não aceitar, até
porque, eu estava morrendo de tanta fome. Não dava mais para viver só daquele caldo marrom.
Aceitei a bandeja de modo meio relutante, corando por me sentir observado por ele, nem sabendo
por qual alimento começar. O Sasuke e o grupo dele realmente comiam do bom e do melhor, aquilo era fato.
Peguei a colher já repousada no prato, terminando o resto da salada de frutas, amando o fato de
estar comendo algo tão bom e em grande quantidade. Em seguida, parti para a fatia de bolo, quase
derretendo com o sabor do mesmo.
-N-Nossa. -Fechei meus olhos por alguns segundos, fazendo um barulho exagerado com a boca,
mostrando toda a minha satisfação. -Isso está muito bom.
A risada de Sasuke ecoou em meus ouvidos, me fazendo abrir os olhos para enxerga-lo atento em
mim, carregando um sorrisinho amigável em seus lábios, bem diferente de como que eu estava acostumado
a vê-lo.
Ver ele sorrir era estranhamente satisfatório.
-Essa comida é melhor, não é? -Perguntou tranquilo, recebendo apenas um aceno tímido em reposta,
visto que eu estava muito ocupado em mastigar. -Quando você tiver vontade de comer, pode vir me pedir.
Me engasguei em meio a uma colherada, não esperando que ele fosse me dizer isso, arrancando
algumas risadas baixinhas suas, o qual se divertia por me ver tão surpreso.
-O-Oh, não... -Corei violentamente, limpando minha boca. -E-Eu não posso ficar te pedindo comida
toda a hora, não seria justo. A minha vontade de comer parece que nunca acaba, acho que você não me
aguentaria.
Seu sorriso aumentou discretamente, achando graça em meu jeito tão desengonçado de falar,
sempre me enrolando inteiro com as palavras. O Deidara estava certo quando disse que eu nunca
conseguido ser normal.
-Eu não vejo problema em dividir com você, bebê. -Declarou tranquilo.
Se fosse possível, minhas bochechas se tornaram ainda mais rubras, o que causou um sorriso ainda
maior em Sasuke, mas sem nunca mostrar seus dentes. Ele parecia se divertir com o meu jeito.

174
-A-Ah, tudo bem. -Sorri do modo mais doce e simpático que consegui, olhando para a bandeja com a
intenção de disfarçar minha vergonha. Eu ficava muito sem jeito quando o Sasuke era cuidadoso, e de certa
forma, carinhoso comigo. -Obrigado.
-Sem problemas. -Murmurou, deixando sua cabeça tombar novamente, apoiando-se cansadamente
em seu cotovelo.
Caímos em um momento de silêncio.
Enquanto eu me concentrava em terminar o meu café da manhã, deixei com que Sasuke
“descansasse”, evitando falar com ele para que o mesmo ficasse em paz, visto que estava de olhos
fechados, quase adormecendo em cima da mesa, com sua respiração bem lenta e pesada.
Eu passei a olhá-lo.
Confesso que me aproveitei de sua distração para admirar cada traço seu sem ser visto,
acompanhando seu peito subindo e descendo ao respirar, além de sua feição serena, parecendo
profundamente relaxado naquele momento, sem nenhuma preocupação ou conflito aparente.
O Sasuke me parecia ele mesmo daquele jeito, completamente natural.
Eu gostei de vê-lo assim. Ver o modo como o moreno era quando não estava perto de seu irmão ou
sendo temido por todos os detentos por conta de seu histórico e crimes do passado. Era como se ele
estivesse sendo verdadeiro comigo.
Notei seus olhos se abrindo sonolentamente, talvez por sentir-se observado por mim, querendo
confirmar se eu estaria mesmo o assistindo. Minhas bochechas esquentaram com intensidade, no entanto,
isso não me impediu de parar o que eu estava fazendo, não me importando de ter sido flagrado o
observando tão descaradamente.
O Sasuke era muito bonito, do tipo de beleza que você se sente preso e até mesmo impressionado,
perguntando-se como alguém consegue carregar tamanha formosura.
-Qual é o problema, Naruto? -Indagou numa entonação rouca, fazendo com que os pelos de meu
corpo se arrepiarem.
-M-Me desculpe. -Sussurrei em resposta, e por mais que eu tentasse, não consegui parar de olhá-lo.
-Pelo o quê, bebê? -Devolveu tranquilamente, ajeitando-se decentemente sobre o banco, encostando
nossas coxas de modo breve. -Por me olhar?
Meu rosto pegava fogo.
-U-Uhum. -Respondi constrangido, mas meio atordoado.
Um sorriso pequeno cresceu em seus lábios, nada tão especial, mas que foi o bastante para me
deixar afetado, assim como todas as outras vezes em que o via sorrir para mim.
-Não tem problema. -A fato de ele estar me olhando da mesma forma que da noite anterior, hora em
meus olhos, hora em minha boca, fez com que meu coração disparasse. -Eu não me importo.
-A-Ah... -Foi tudo o que eu consegui dizer, conseguindo ouvir meus próprios batimentos cardíacos,
permitindo que Sasuke se inclinasse para ainda mais perto de mim. -Sasuke—
O clima foi inesperadamente cortado pelo barulho da sirene, a qual anunciava o final do café da
manhã.
O barulho alto e ecoante fez com que Sasuke fosse para trás, parecendo acordar de seu transe,
assim como eu, que rapidamente me recompus com um pulo assustado, corando violentamente pelo modo
em que nos encontrávamos.
Por mais alguns centímetros e nossas bocas já teriam se tocado novamente.
Olhei envergonhado ao meu redor, notando o modo como os presidiários se comportavam, todos se
apressando para devolverem as bandejas, prontos para irem ao pátio ou para suas devidas tarefas.
No meu caso, eu teria que ir tomar banho.
-E-Eu preciso ir. -Cruzei meu olhar com o seu, vendo que ele continuava atento em mim.
-Tudo bem. -Concordou calmamente.
Eu fiquei com dúvida de como nos despediríamos.

175
-H-Hm... Te vejo de noite, então? -Perguntei, apesar de já saber a resposta. No período da noite
voltaríamos a nos ver no banheiro, para que assim pudéssemos cumprir o nosso horário de trabalho.
-Sim, vejo você lá. -Sorriu pequeno.
Eu sorri de volta.
-T-Tchau, Sasuke. -Toquei em seu joelho por breves segundos, dando uma espécie de batidinha
como se anunciasse minha saída.
-Tchau, Naruto.
Me levantei meio atrapalhado, carregando a bandeja juntamente comigo, quase tropeçando no pé da
mesa, escutando um riso baixinho vindo do moreno. Sai dali com o rosto quente, me repreendendo por ser
tão desastrado.
As coisas entre mim e Sasuke estavam melhores do que nunca. Nós não havíamos chegado ao
ponto de conversar sobre o beijo, mas honestamente, eu não achei isso ruim.
Estava bom ver o nosso relacionamento fluir naturalmente, e de certa forma, até mesmo saudável.
Eu mal podia esperar para vê-lo novamente.
Sasuke On

Meu corpo inteiro pesava. Meus ombros, costas, pernas e principalmente pálpebras, eram o que me
deixavam ainda mais esgotado, dificultando na hora de me manter ativo e acordado, ao mesmo tempo em
que eu andava desanimadamente de volta para a minha cela.
Aquele dia foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais estranhos e solitários que eu já tive dentro da
penitenciária.
Após uma noite inteira desperto, eu já me encontrava psicologicamente preparado para como seria a
minha vida, pelo menos por algum tempo, a partir de agora. Foi algo extremamente inusitado e esquisito
ficar tanto tempo longe de meu irmão e de seu grupo, sem falar com nenhum deles.
Eu nem sabia por onde começar.
A minha cabeça estava uma completa loucura, enfrentando incontáveis situações e conflitos ao
mesmo tempo, e tentando lidar com eles sem perder a minha lucidez. Eram tantas coisas, que
sinceramente, eu sentia como se fosse explodir a qualquer minuto.
Pelo menos um de meus vários “problemas” já estavam resolvidos.
Os meus sentimentos por Naruto, eram algo que eu estava aprendendo a lidar aos poucos. Um dos
vários motivos pelo qual eu não consegui pegar no sono, foi definitivamente o fato de não parar de pensar
em nosso beijo e em como as coisas andavam entre nós.
Eu havia beijado o Naruto.
Eu, Sasuke Uchiha, me senti atraído por alguém ao ponto de não conseguir me controlar, sentindo
uma estranha necessidade de beija-ló, provando a sensação de ter meus lábios em contato com os seus,
mesmo que por míseros segundos.
Sinceramente, eu já havia jogado a toalha.
A minha madrugada desperto, apesar de bem dolorosa psicologicamente, fez com que eu
enxergasse as coisas de forma diferente, admitindo para mim mesmo que não faria mais sentido querer me
privar de meus sentimentos em relação a Naruto e lutar contra as próprias vontades de meu corpo quando
ficava próximo de si.
Eu tinha decidido me entregar.
Embora ainda fosse algo muito novo para mim, eu estava casando de fingir que não me atingia todas
às vezes em que o loiro vinha falar comigo, ou então quando tínhamos um momento mais “íntimo”.
A minha decisão final foi ser maduro e admitir para mim mesmo que o Naruto estava sim mexendo
comigo.
-Ei, você?
O caminho que eu percorria até a minha cela, foi rapidamente interrompido por uma voz rude e
grave, a qual eu consegui identificar antes mesmo de me virar.
Era o Deidara.

176
-O que foi? -Respondi neutro, parando no meio do corredor com as mãos em meu bolso. Eu e o loiro
não costumávamos dialogar, especialmente dentro do bloco 5. Era bem estranho ver ele por ali.
-Cadê o seu irmão? -Inquiriu agressivo, e pelo fato de ter se aproximado de mim, pude observar com
mais clareza o estado em que ele se encontrava. Além de estar com uma aparência abatida e cabelos
desgrenhados, ele inalava a nicotina pura, dando a entender que havia fumado em excesso. -Responde,
caralho.
Sacudi a cabeça.
-Eu não sei. -Devolvi no mesmo tom ignorante, dando de ombros. -Provavelmente na cela, eu não vi
ele o dia todo.
Na verdade, nem mesmo de manhã eu havia me encontrado com o Itachi. Quando despertei, meu
irmão já não se encontrava mais na cela, o que significava que ele havia saído antes mesmo da sirene
matinal.
Primeiramente, eu imaginei que ele havia ido se encontrar com o grupo, mas depois de tudo o que eu
falei em relação a eles, duvido muito que o Itachi vá correr atrás deles. Apesar de estarmos seriamente
brigados, eu tenho certeza de que ele prestou bem a atenção no que eu disse sobre àqueles traíras.
Eu espero que agora ele abra os olhos, apesar de que isso já não é mais da minha conta. O Itachi
me desapontou, e muito. Eu não pretendo falar com ele por um bom tempo, pelo menos não com a raiva
que ainda sinto dele depois de ter me machucado e humilhado na frente de todo mundo.
Foi ele quem sempre me disse que nunca encostaria um dedo em mim, mas não mediu esforços na
hora de me agredir com aquela plateia toda em sua frente, como sempre, querendo se mostrar para os
outros.
Eu estou extremamente chateado com o Itachi.
-Então avisa o seu querido irmão que dá próxima vez que ele não aparecer na cozinha, eu vou
arrebentar ele. -O loiro pediu sombrio.
-Não vai rolar. -Neguei calmo. -Bem, é que eu não estou falando com o meu irmão no momento, não
sei se você sabe.
Eu nem daria o trabalho de lhe explicar, visto que todos os detentos já estavam cientes da “briga dos
irmãos Uchiha”.
-Foda-se. -Rebateu hostilmente. -O imbecil do Itachi não aparece pra trabalhar e sou eu quem
preciso ficar levando bronca naquela pocilga. Dá o recado pra ele!
E sem mais nem menos, retornou a andar.
Fiquei a assisti-lo se distanciar, carregando uma careta meia confusa em meu rosto, refletindo
silenciosamente sobre isso. O meu irmão não havia nem se dado o trabalho de aparecer em seu turno.
Chacoalhei minha cabeça, voltando a seguir o meu próprio rumo também, sabendo que em poucos
segundos eu precisaria ver o meu irmão, no entanto, isso não significava que eu iria fazer contato com ele.
Adentrei minha cela desconfiadamente, torcendo o nariz pelo cheiro azedo e nojento que circulava o
local. Olhei ao redor atordoado, encontrando meu irmão deitado sobre o beliche de cima, e para minha
surpresa, tremia seu corpo incontrolavelmente pelo frio.
Me aproximei com cautela, o enxergando de costas para mim, coberto pelo lençol finíssimo de seu
colchão, fazendo de tudo para se manter aquecido. A privada, por outro lado, encontrava-se com a tampa
aberta, enquanto uma quantidade considerável de vômito se acumulava na mesma e ao seu redor.
Eu fiquei assustado.
Por mais que estivéssemos brigados, foi inevitável não me sentir preocupado vendo-o daquela forma,
tão doente e fraco. Eu pensei que talvez pudesse chamá-lo e perguntar se estava tudo bem, mas o que
ocorreu a seguir, fez com que eu mudasse de ideia.
Mesmo enfermado, Itachi virou-se para mim, percebendo minha presença dentro da cela, fazendo
questão de me olhar com irritação, mostrando-me que mesmo enfraquecido, ainda possuía ódio por mim
depois de tudo o que aconteceu entre nós.
De certa forma, isso também me deixou irritado.
A preocupação que eu sentia em relação a ele foi desaparecendo aos poucos. Nem mesmo doente o
meu irmão dava um tempo com essa história de se manter forte na frente dos outros, e sinceramente, eu já
estava farto disso.

177
Se ele quisesse ficar de mal de mim para sempre, então que assim fosse. Não seria eu quem correria
atrás de si para buscar pelo seu perdão e baixar minha cabeça só porque fiz algo que não o agradou.
A nossa briga só começou.
-Sasuke Uchiha?
Virei meu pescoço para trás, localizando Kakashi apoiado sobre a grade, utilizando sua lanterna para
me iluminar. Ele não precisou dizer mais nada para que eu soubesse que já era hora de meu turno.
Dei uma última checada em Itachi, o qual já havia se virado novamente para a parede, mostrando-me
que não estava afim de dialogar e muito menos olhar para a minha cara.
Eu também decidi não me importar com ele.
Empinei meu nariz, passando pelo beliche sem falar nada, sabendo que o platinado estava a minha
espera. Após ter a grade aberta, lancei um olhar indiferente para o carcereiro, já odiando o fato de precisar
ter ele me acompanhando até o banheiro.
Fui andando na frente, ignorando as ordens explícitas que recebíamos de nunca ficar um passo a
frente ou atrás dos guardas. Tínhamos sempre que ficar na sua linha de alcance.
-Pronto, está entregue. -Ele murmurou meio tedioso, parando ao lado da porta do banheiro. -Te vejo
daqui uma hora.
-‘Tá. -Respondi rude e enojado, mostrando-o o quanto detestava precisar dialogar consigo.
Quando o platinado virou de costas, deixando de iluminar-me, tomei a liberdade de adentrar o
sanitário, visto que o breu do corredor estava começando a me dar arrepios. Eu nunca tive medo de escuro
e nem nada do tipo, entretanto, após o incidente com Orochimaru, eu comecei a ficar mais atento.
-O-Oi.
Levantei minha cabeça de modo rápido, reconhecendo aquela voz tímida e doce automaticamente.
Meus olhos foram de encontro a Naruto, o qual encontrava-se estranhamente escondido atrás de uma das
pias, carregando um sorrisinho fraco e bochechas coradas.
Eu sorri na mesma intensidade.
-Ei, bebê... O que você está fazendo escondido aí? -Perguntei meio confuso, pisando em sua
direção, só então reparando no chão úmido a minha volta. -Ah, desculpe.
Olhei ao meu redor, fazendo uma careta pequena e desapontada comigo mesmo. Eu havia pisado
com o tênis sujo em todo o chão limpo, o que deve ter deixado o loiro frustrado.
-N-Não tem problema. -Soltou uma risadinha baixa. -Eu nem comecei a limpar direito.
-Quer que eu tire o tênis? -Indaguei receoso.
-Não precisa. -Ele saia de trás da pia, mordendo seu lábio inferior, dando uma espiada no corredor.
-H-Hm... O Kakashi já foi?
Meu sorriso foi se apagando aos poucos.
-Foi sim. -Suspirei silencioso. Era realmente muito ruim ver o Naruto com medo de tudo e todos, e
nesse caso, por minha culpa. Eu fui umas das razões pela qual Kakashi judiou de si. -Pode ficar tranquilo.
Ouvi ele murmurar um “que bom”, ao mesmo tempo em que se dirigia para o centro do banheiro, nem
sequer imaginando na forma como havia me deixado afetado. Mesmo depois de ter lhe pedido desculpas,
eu ainda sentia como se fosse uma das grandes razões de seu trauma.
Eu havia ajudado aquele abrute a tirar a inocência de uma pessoa tão pura e carinhosa. Sem contar
o Orochimaru, mas nesse caso não foi minha culpa.
Eu nunca vou me perdoar pelo o que fiz ele passar.
-E-Eu acho que o Kakashi deveria ser preso também. -Naruto murmurou com um biquinho amuado e
pensativo, ao mesmo tempo em que retirava os produtos de um dos baldes de limpeza. -E ele ficaria no
bloco 5.
Uma sensação ruim tomou conta de mim.
Naruto, por sua vez, soltou um suspiro assustado, como se dessa maneira estivesse repreendendo a
si mesmo pelo o que disse, olhando para mim com as bochechas coradas e olhos arregalados.

178
-M-Me desculpa. -Negou desacreditado com a cabeça. -Eu não quis dizer que ele é igual a você,
Sasuke. Eu só falei sobre o bloco 5, porque é o mais perigoso e—
-Eu sei, bebê. -Interrompi-o, entendendo exatamente o que ele quis dizer com aquilo. Quando ele
citou o meu bloco, foi querendo me passar, do jeitinho dele, a ideia de que o Kakashi era uma pessoa má.
-Não se preocupe com isso. Às vezes eu me acho tão ruim quanto ele.
O loiro me olhou assustado, negando diversas vezes com a cabeça.
-N-Não, Sasuke. -Deixou o balde de lado, apoiando-o em cima da pia. -V-Você não é nada disso, por
favor, não se compare com o Kakashi.
Lhe lancei um sorriso triste e pequeno.
De certa forma, eu me sentia bem em vê-lo tentar me colocar para cima, mesmo que no fundo eu
soubesse que nada disso iria adiantar. A opiniões negativas que eu já carregava sobre mim mesmo pelas
atrocidades que cometi no passado, não seriam facilmente esquecidas.
-Eu já matei pessoas, Naruto. -Admiti inquieto, conseguindo calá-lo no mesmo segundo. Diferente do
que eu pensava, ele não pareceu tão surpreso assim, mas sim curioso a respeito. -Duas pessoas.
-E-Eu também matei alguém, Sasuke. -Sua voz saiu completamente embargada e arrependida, o que
me causou um pequeno susto. Eu não queria fazer o Naruto chorar.
Olhei agoniado para ele.
-Eu matei porque precisei. -Declarei num tom de arrependimento. Era como se estivéssemos
competindo para ver quem era o pior entre nós. -O seu caso foi um acidente, Naruto, o meu não.
O loiro de aproximou cautelosamente, parecendo disposto a escutar a minha história, parando de
frente a mim como um incentivo para que eu prosseguisse e contasse-o sobre o meu passado.
-Você não vai querer saber, Naruto. -Alertei-o pacificamente, sem vontade de contá-lo sobre os dois
maiores arrependimentos de minha vida.
-E-Eu acho que depois de tudo o que eu passei, eu tenho estômago o suficiente para ouvir a sua
história, seja lá qual for. -Rebateu com convicção, entrelaçando suas mãos nervosamente. -Pode me contar,
Sasuke.
Suspirei pensativo.
-Tudo bem. -Eu decidi ceder. Se o Naruto quisesse tanto saber, então eu o contaria. Afinal,
estávamos ambos no mesmo barco. -Foi a quase três anos atrás, quando eu ainda nem sonhava que seria
preso. A minha família por parte de pai era envolvida em uns negócios ilegais, sendo mais específico, com a
venda de drogas.
Ele prestava atenção em cada palavra que saia de minha boca.
-Nossos negócios iam bem, mas naquela época, eu nem sequer sabia das coisas direito. Eu era novo
demais. -Eu tentava buscar as palavras certas para explicá-lo. -Uma facção inimiga estava de olho nos
negócios do meu pai e até já tinham tentado sabotar a gente umas três vezes.
-S-Sabotar? -Repetiu interessado.
-Uhum. -Concordei positivo. -Eles queriam o nosso dinheiro e as nossas mercadorias. Então, para
conseguirem atingir o nosso líder, ou seja, o meu pai, eles sequestraram o Itachi.
O loiro arregalou os olhos, entreabrindo a boca em surpresa.
-Eles pegaram o meu irmão só pra chantagear o nosso pai. -Me dava arrepios me recordar de como
foi assustador receber a notícia de que Itachi estava sobre a mira de dois criminosos rivais. -Eles queriam
quatro milhões em dinheiro, uma quantidade absurda para a nossa família. Como a gente não tinha toda
essa grana, eu tive que entrar em cena.
Naruto já parecia ter entendido aonde eu iria chegar com aquilo.
-Enquanto meu pai distraía os dois sequestradores, eu fui o encarregado de ir por trás e atirar neles.
-Revelei cabisbaixo, sentindo um aperto forte em meu peito. -Eles eram pessoas ruins, disso você pode ter
certeza, mas isso não me dava o direito de tirar a vida deles.
A história acabou com um clima horroroso e pesado.
-S-Sasuke? -Ele chamou doce e preocupado, incomodado em me ver de cabeça baixa, odiando
precisar me recordar desse dia.

179
Eu nunca havia contado isso para ninguém.
Senti uma aproximação maior de sua parte, até que seus pés entraram em minha linha de visão,
dando a entender que ele estaria parado de frente a mim. Ergui meu pescoço lentamente, suspirando em
surpresa ao tê-lo colado comigo, me olhando com aflição e pena.
-V-Você não teve escolha. -Declarou num tom baixo, tocando brevemente em minha mão, tentando
me consolar daquela maneira. -Era a vida do seu irmão nas suas mãos.
-Eu sei. -Sussurrei de volta, permitindo que ele segurasse na minha mão, quase entrelaçando com a
sua. -Mas mesmo assim eu me arrependo.
Um sorriso triste cresceu pelos seus lábios.
-V-Você é uma boa pessoa, Sasuke. -Naruto afirmou com convicção, me deixando com um aperto
esquisito no peito. Eu também permiti que ele me desse carinho, aproveitando a textura macia de sua
mãozinha, a qual acariciava a minha de volta. -Tenha isso em mente sempre.
Mesmo não acostumado, sorri de modo carinhoso para ele, aproveitando o fato de tê-lo agarrado
com a minha mão, puxando-o um pouquinho mais para frente, gostando de sentir seu corpo perto do meu.
-Obrigado, bebê. -Sussurrei com meus olhos presos aos seus, umedecendo meus lábios por saber
que Naruto estava atento em minha boca, observando-a com as bochechas coradas.
-D-De nada.
As coisas fluíram naturalmente, como se ambos já estivessem esperando por esse momento e
quisessem a mesma coisa desde o início.
No seguindo seguinte, nossos lábios já estavam conectados. Fechei meus olhos de modo lento e
entregue, ciente de que Naruto estaria fazendo o mesmo, aproveitando o toque úmido de sua boca na
minha, causando um estalinho baixo e molhado pelo selinho trocado entre nós.
Diferente da outra vez, não nos contentamos com somente um selo, depositando outro logo em
seguida, mas dessa vez, com um pouco mais de intensidade e lentidão.
Abri meus olhos devagar, respirando pertinho de sua boca, tendo uma vontade ainda maior de
aprofundar nosso beijo, completamente preso com a cena de Naruto corado, esperando por mais com seus
olhinhos fechados.
Eu lhe daria mais.
Juntei nossas bocas com desejo e necessidade, movimentando minha carne calmamente contra a
sua, seguindo um ritmo cuidadoso e delicado, dando para Naruto, e para mim mesmo, um tempo pequeno
de assimilação.
Logo minhas mãos estavam em sua cintura, o que incentivou o loiro a entreabrir sua boca, tocando
timidamente com uma de suas mãozinhas em minha nuca, permitindo que eu aprofundasse o nosso beijo.
O encaixei foi absolutamente perfeito.
O contato de nossas línguas me fez delirar, não conseguindo me recordar da última vez em que beijei
alguém com tanta vontade e carinho, desfrutando do gosto viciante e da textura quentinha de sua boca
pequenina e delicada.
Minhas mãos acariciavam seus quadris, mantendo um ritmo lento e cuidado, ficando completamente
anestesiado com todos os ofegos baixinhos e fininhos que escapavam de si, gostando de sentir o modo
como minha língua massageava a sua, deixando nosso beijo cada vez mais molhado.
Nossas respirações se mesclavam perfeitamente, assim como nossos batimentos cardíacos.
Estávamos ambos tão entregues naquele momento que era como se nada pudesse dar errado entre nós.
Eu me sentia quente, entregue e afervorado, desejando nunca mais parar de sentir aquela sensação
tão gostosa e viciante de seus lábios macios e leves se roçando nos meus, causando arrepios e arfadas
roucas de minha parte, gostando de sentir seu carinho tímido atrás de minha nuca, retribuindo o toque que
eu lhe proporcionava em sua cintura.
Eu queria mais daquilo, muito mais.
Juntei meu corpo mais ao seu, como se dessa forma pudesse ter mais daquilo, me grudando a
Naruto com necessidade. Eu já estava totalmente fora de mim, sendo inteiramente tomado pelo calor do
momento na hora de deslizar pela sua pele, agarrando naquelas nádegas durinhas e apertadas por dentro
de seu uniforme.

180
Eu me encontrava tão anestesiado, que não imaginei que Naruto pudesse reagir mal.
Com um suspiro assustado, o loiro desconectou nossas bocas, causando um susto de minha parte
também, que rapidamente retirei minhas mãos de sua bunda, dando um passo pequeno para trás.
A expressão facial de Naruto fez meu coração se apertar.
-Naruto? -Chamei preocupado, mas ainda atordoado pelo beijo, tentando tocar em seu rosto, me
desesperando quando o mesmo se distanciou, olhando para mim de modo magoado e choroso. -Ei, eu fiz
alguma coisa que você não gostou?
Eu não obtive uma resposta de sua parte, no entanto, foi o suficiente para mim quando seus lábios
começaram a tremer, anunciando que ele começaria a chorar.
Eu fiquei ainda mais apavorado, negando confuso com a cabeça.
-Ei, bebê... -Dei um passo para frente, enquanto ele dava outro para trás, querendo manter distância
de mim.
Foi nesse segundo que a minha ficha caiu.
Depois de tudo o que o Naruto passou aqui dentro da penitenciária, desde os assédios físicos e os
verbais, fora os dois terríveis e traumáticos incidentes que ele sentiu na pele, o loiro ainda não sentia-se
suficientemente preparado para dar um passo a mais.
Eu fui extremamente sem noção e desrespeitoso tocando-o daquela forma, especialmente pelo fato
de Naruto estar traumatizado e psicologicamente abalado com os assédios que sofreu.
Eu nunca deveria ter lhe tocado com tanta intimidade e ousadia sem lhe perguntar antes.
-Naruto, me desculpa. -Meu coração estava disparado e apertado. Eu nunca havia sentido algo
parecido antes. -Eu não queria...
Ele me cortou com um soluço.
Seus olhos estavam cheios de água, enquanto seu rosto de tornava rubro, talvez por conta do choro
ou até então de vergonha. Eu tentei uma última vez chegar perto de si, mas como das outras vezes, o loiro
foi para trás, abraçando seu próprio corpo como se quisesse se proteger de mim.
Isso me doeu.
-Naruto... -Chamei num tom desesperado, não reconhecendo a mim mesmo.
O loiro não ficou para me ouvir.
Em passos rápidos, Naruto me ultrapassou em uma corrida, como se dessa forma tentasse fugir de
mim, deixando-me totalmente sem reação dentro do banheiro, paralisado no mesmo lugar que antes.
Pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia um completo lixo. Eu me sentia nojento e asqueroso
por ter tocado em alguém daquela forma, mesmo sabendo por tudo o que o Naruto já havia passado.
Eu fiz ele chorar e se recordar da forma que foi tratado todas as vezes em que foi assediado ali
dentro.
Eu mal havia o beijado e agora havia o perdido.

Capítulo 16 - Sou eu quem estou com defeito

Itachi On

Os corredores estreitos e compridos da penitenciária nunca estiveram tão desalinhados e


embaralhados, extremamente similares a um labirinto em meu ponto de vista, dificultando ao extremo na
hora de me locomover em direção ao refeitório.
Os olhares dos detentos, antes intimidados e acovardados com a minha presença, passaram a
serem de estranheza e choque, todos visivelmente desacostumados com tamanha falta de coordenação
vinda de mim, visto que não conseguia caminhar em linha reta sem que me corpo tombasse para o lado.
Eu havia piorado muito.

181
Pelo o que me parece, desde a briga que tive com o Sasuke, o mal estar que venho sentindo por
todo o meu corpo está se alastrando cada vez mais. Por conta de minha insônia, está se tornando algo bem
comum eu me sentir abatido e esgotado, fazendo minha imunidade baixar com ainda mais frequência.
Dessa vez eu estava realmente assustado.
Eu nunca havia chegado ao ponto de me sentir tão mal. Tontura, náuseas, tremedeira e vômito, tudo
isso faz parte dos sintomas que venho aguentando durante esses dois dias. Aparentemente, não ter Sasuke
do meu lado fez com que tudo ficasse ainda pior, entretanto, eu simplesmente me recusava a correr atrás
de si.
A humilhação que ele me fez passar não seria esquecida com facilidade. Depois de tudo o que eu fiz
pelo meu irmão, tudo o que eu ensinei, todos os sacrifícios e todas às vezes em que cuidei de si, eu ainda
estava desacreditado da forma como ele havia me retribuído, humilhando-me em frente à todos.
Não havíamos trocado nenhum palavra desde a nossa discussão, entretanto, eu estava preferindo
desse modo. O meu plano era esperar com que minhas forças voltassem ao normal, para que assim
pudesse decidir de forma consciente o que faria a respeito do Sasuke e seu comportamento.
-Droga... -Murmurei desorientado, esbarrando desastradamente em um detento qualquer, sentindo
meu corpo fraco e pesado, como se eu fosse desmaiar a qualquer momento.
O que eu mais desejava naquele momento era poder ficar deitado. Faziam quase quarenta e oito
horas que eu não deixava a minha cela, no entanto, pelo fato de eu já ter faltado em meu turno de trabalho
no dia anterior, o Obito deixou claro que isso não poderia se repetir novamente.
Querendo ou não, eu precisaria fazer um esforço para ir trabalhar na cozinha.
Com o restante de minhas forças, dei o meu máximo para deixar o bloco 5, ignorando os olhares que
recebia dos presidiários e carcereiros, me concentrando somente em permanecer de pé e não desmaiar na
frente de todos eles.
Se eles vissem o modo como eu estava doente, poderiam tirar vantagens de minha fraqueza,
especialmente depois do que eu passei com o Sasuke no refeitório. Eu sentia que, por conta de meu irmão,
meu nome havia sido um pouco manchado entre os detentos.
Eu precisava dar o meu melhor para permanecer sendo temido e autoritário ali dentro. Deixar essa
doença e a briga com o Sasuke me abater, estava totalmente fora de cogitação.
Ao chegar no refeitório, suspirei em alívio por ter conseguido me manter de pé, disfarçando para
todos que estivessem em minha volta o modo como eu estava tonto e acabado, apoiando-me discretamente
sobre as paredes para seguir até a cozinha.
O caminho nem era tão longo e difícil assim, mas pelo fato de eu estar meio fora de mim, dificultava
muito na hora de alcançar o meu destino. Quando estava prestes a adentrar o cômodo, dirigindo-me para a
parte de trás da cozinha, fui rapidamente parado com um toque firme em meu ombro.
Me virei completamente na defensiva, já me preparando para o pior, repreendendo-me mentalmente
por não ter notado a presença de ninguém com antecedência, o que significava que eu estava baixando a
minha guarda com frequência. Eu demorei muito tempo para aprender a como identificar uma aproximação
alheia, e sentia como se estivesse perdendo isso.
Mesmo estando afastado de mim, eu só desejava que o Sasuke continuasse a seguir com os meus
ensinamentos. Apesar de tudo, eu ainda me preocupava com ele, com quem ele estaria andando, e como
ele estaria lidando com as coisas sozinho, visto que não estávamos mais juntos e muito menos com o nosso
grupo.
E por falar no grupo, não foi nada surpreendente me virar com o chamado que recebi, dando de cara
com os garotos com quem costumava andar até dois dias atrás.
Sasori, Kisame, Pain e Jugo, todos eles estavam presentes. Carregados de suas expressões
arrependidas e receosas, os garotos me fitavam em silêncio, e como o habitual, esperavam que um deles
tomasse a iniciativa de falar comigo.
Como todas as outras vezes, foi o Sasori quem teve coragem.
-Bom dia, Itachi. -Me cumprimentou do modo mais simpático que pode, no entanto, eu me encontrava
ocupado demais em tentar focar a minha visão em si, enxergando dois do Sasori no lugar de um. -A gente
pode conversar com você?
Eu não consegui formular uma resposta.

182
A minha linha de raciocínio estava falhando juntamente com o meu corpo, o qual dava o seu melhor
para me manter ativo. Às minhas pernas, por outro lado, tremiam sem parar, dando a entender que
falhariam a qualquer minuto.
Obviamente, isso não passou despercebido aos olhos dos meninos.
-Itachi, você está bem? -Pain questionou de cenho franzido, olhando-me dos pés à cabeça. -Você
está pálido. Não é melhor ir na enfermaria?
Neguei desnorteado com a cabeça.
-Não. -A última coisa que eu queria era ir na enfermaria, aonde Yamato me daria os mesmos
remédios de sempre e diria um monte de coisas que eu já sei. -Eu não quero conversar com vocês agora.
Vejo vocês depois.
-Tem certeza que você não quer ajuda? -Sasori reforçou, dando um passo pequeno até mim, mas
logo se contendo ao deparar-se com o meu olhar de fúria.
Eu nunca poderia aceitar ser ajudado por eles.
-Some daqui, todos vocês. -Tentei soar o mais frio e superior possível, mas naquela altura do
campeonato, até mesmo a minha voz estava falhando. -Fora, porra!
Eles ficaram um pouco impressionados comigo, trocando olhares rápidos entre si, logo dando as
costas para mim, decidindo que seguiram as minhas ordens. Era bom saber que, mesmo separados, eu
ainda tinha poder sobre eles.
Eu pretendia lidar com os garotos mais tarde.
Não estava em meus planos deixar isso passar, principalmente depois dos absurdos que ouvi o
Sasuke dizer em relação a eles. Por mais que nós dois estivéssemos brigados, eu não acho que meu irmão
tenha inventado essa história toda, se bem que ele sempre gostou muito de desviar o assunto para evitar
certas conversas.
Eu teria que correr atrás disso depois.
Juntei o restante de minhas forças para adentrar a cozinha, abrindo a porta bem lentamente, sentindo
um choque térmico gigantesco em minha pele. O clima frio certamente dificultava em minha tremedeira, e
pelo fato da cozinha estar absurdamente quente, acabava me deixando ainda mais desamparado.
Percorri meus olhos pelo ambiente ao meu redor, tentando focar a minha visão em cada rosto
presente ali dentro, acabando por encontrar Obito junto aos ajudantes, tomando conta daquele turno.
De certa forma, foi bom saber que o moreno era quem ficaria conosco dessa vez. Eu não teria a
mínima paciência para aturar qualquer outro carcereiro que fosse, especialmente por conta do que houve da
última vez.
O bom é que o Kakashi realmente abriu mão da sua tarefa na hora de inspecionar a cozinha,
provavelmente com medo de mim pelo o que aconteceu.
-Você está atrasado!
Acompanhei a origem daquela voz tão rouca e escandalosa, não precisando de esforço algum para
reconhecer Deidara. Apesar de tonto, não consegui deixar de notar o modo como o loiro se encontrava
naquela manhã. Cabelos emaranhados, olheiras profundas e um aroma forte de cigarro era o que tomava
conta de si.
Sua feição continuava a mesma, completamente irritada e raivosa, no entanto, naquele dia em
especial, algo parecia o incomodar pra valer. Eu lhe conhecia bem o suficiente para saber que toda a sua
fúria se dava por algum motivo e que ele não mediria esforços para descontar em quem quer que estivesse
ao seu redor.
Pelo o que me parecia, o Naruto foi o primeiro a sofrer com isso, visto que já não se encontrava mais
presente na cozinha. Secretamente, eu amei o fato de não precisar dividir o mesmo ambiente com aquele
pirralho chorão e irritante.
-Eu já estava planejando te buscar pelos cabelos lá na sua cela! -Ele gritava alto e agressivo,
entretanto, era como se minha cabeça abafasse todos os sons ao meu redor. -Vai trabalhar, seu vagabundo!
Pisquei meus olhos de modo lento e sofrido, sentindo minha visão embasar cada vez mais, ciente de
que o loiro me fitava de modo estranho, embora eu não pudessse ver sua expressão facial com muita
clareza.

183
Eu estava tão psicologicamente e fisicamente esgotado, que simplesmente decidi seguir com a sua
“ordem”, sem força alguma para contrária-ló, ou iniciar uma discussão. A última coisa que eu precisava era
me desentender com o Deidara, sendo que já estava tudo absurdamente péssimo com o Sasuke.
Me arrastei até o fogão aonde costumava ficar, apoiando-me atrapalhadamente sobre o balcão,
acabando por derrubar algumas panelas no caminho, deixando os ajudantes de Deidara assustados com o
meu estado, enquanto alguns até se atreviam a me perguntar se eu estava bem.
Espremi meus olhos para focalizar a minha visão, enxergando um detento qualquer a ocupar o meu
lugar, fritando os ovos aonde eu deveria estar. Se eu tivesse forças, com certeza já teria contrariado-o e lhe
perguntado o que ele estava fazendo ali, no entanto, tudo o que eu consegui fazer foi virar as costas,
voltando a me aproximar de Deidara.
-Deidara... -Chamei pelo loiro, levando um susto com a minha própria voz, a qual saiu tão baixa, que
acabou não sendo escutada por ele. -Deidara?
Ele virou-se agressivamente, deixando o microondas de lado por alguns segundos, fazendo questão
de me mostrar o quanto estava odiando me ter ali dentro.
-O que foi, caralho?! -Deu um murro desnecessário no balcão, olhando-me de cima a baixo antes de
cruzar os braços. O meu estado era preocupante e claro para qualquer um que me medisse com mais
atenção.
-Aonde eu fico? -A minha pergunta saiu um tanto confusa, até mesmo para meus ouvidos. Eu não
estava mais em condições de elaborar frases e questionamentos descentes. -O fogão... Tem alguém lá.
Ele fez uma careta exagerada e perturbada, me olhando como se eu tivesse acabado de dizer a
maior besteira do mundo. O loiro não estava nada habituado a me ver tão desorientado e fora de mim.
-É claro que tem alguém lá! -Berrou para cima de mim, deixando um apito incomodo invadir os meus
ouvidos. -Eu tive que te substituir, caralho! Não dava pra ficar dependendo da sua boa vontade em aparecer
aqui, seu imbecil!
Tudo o que eu mais queria era que ele parasse de gritar e simplesmente me dissesse o que eu
precisava fazer logo de uma vez. Eu sentia como se minha cabeça fosse explodir a qualquer momento.
-Para de ficar panguando no meio da minha cozinha, seu animal! -Deu um pequeno empurrão no
meu ombro, mas que foi o suficiente para que eu quase caísse para trás. Nesse estado, qualquer um
poderia acabar comigo. -Vai cortar as batatas, porra! Eu preciso de vegetais pra sopa!
Acompanhei com o olhar exatamente para onde ele apontava, localizando uma bancada ao seu lado,
a qual se encontrava colada com o microondas. O balcão estava repleto de batatas, cenouras e outros
vegetais, os quais deveriam começar a serem cortados por mim.
-Agiliza, sua mula! -Bateu palmas em meu ouvido, chamando a minha atenção. -Meu Deus, você está
parecendo um louco hoje! Muito mais do que o normal!
Ignorei todos os xingamentos e gritos vindos de si, cambaleando até perto dos alimentos, torcendo
para que Deidara fizesse silêncio pelo menos por alguns segundos. Me apoiei cansadamente sobre o
balcão, fechando meus olhos lentamente, precisando limpar minha testa úmida pelo suor.
Eu nunca havia me sentido tão fraco em toda a minha vida.
Quando reabri meus olhos, tive que respirar bem fundo com a intenção de encontrar algum tipo de
boa vontade para prosseguir com aquela tarefa. Segurei cautelosamente na faca, a mesma que não era tão
afiada por conta da política da penitenciária, pegando uma batata qualquer para corta-lá.
Reparei que Deidara continuava próximo de mim, exercendo a mesma tarefa que a minha, só que
cortando outros tipos de legumes na bancada do lado.
Tremi minhas mãos em cima do vegetal, tendo muita dificuldade na hora de parti-lo no meio, visto
que não estava conseguindo focalizar meus olhos de modo claro e correto. Estava tudo muito embaçado e
confuso, por isso, eu acabei indo mais pelo meu instinto, fazendo pressão com a faca, suspirando dolorido
ao sentir a pele de meu dedo ser cortada por mim mesmo.
-Seu jegue! -A voz de Deidara voltou a se fazer presente, fazendo questão de berrar em meus
ouvidos, parecendo ter assistido tudo desde o começo. -Qual é o seu problema, porra?! Você é tão inútil que
não consegue nem cortar um batata?!
Levei meu dedo até a boca, chupando o ferimento para que não escorresse ainda mais em cima do
balcão, notando que algumas gotículas de sangue haviam pingado próximas dos alimentos.

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-Eu não enxerguei. -Tentei me justificar, mas honestamente, nem faria mais sentido fazer esforço
para manter minha lucidez naquele estado.
-Então usa óculos, caralho! -Ele tirou a faca da minha frente, bufando irritado ao atira-lá dentro da
pia, me tratando como uma verdadeira criancinha que não tinha permissão para mexer com instrumentos
afiados. -O que deu em você hoje, hein?!
Virei meu pescoço lentamente para ele, esperando encontrar a mesma expressão de todos os dias, a
irritada e impaciente. Eu admito que tive que espremer meus olhos para conferir se estava mesmo
enxergando direito, ou se tudo não se passava de um truque de minha mente.
Eu só poderia estar alucinando.
Me aproximei ainda mais de Deidara, e mesmo que já estivéssemos colados, precisei chegar bem
perto de si, finalmente conseguindo concentrar a minha visão. Seu rosto, apesar de conter a mesma fúria de
sempre, era tomado por seus olhos vermelhos e úmidos, enquanto algumas lágrimas finas escorriam pelas
suas bochechas.
Eu fiquei, de certa forma, assustado.
No entanto, quem se encontrava ainda mais incomodado com a situação, era o loiro. Quanto mais eu
me aproximava de seu rosto, querendo conferir se aquilo era mesmo real, mais ele se afastava para trás,
grudando seu corpo no microondas.
-O que você está fazendo, caralho?! -Ele não demorou para reagir a minha proximidade, dando um
empurrão agressivo no meu ombro, o que rapidamente quebrou o transe em que eu me encontrava. -Você
está ficando maluco, só pode! Olha ai, parece que ‘tá possuído!
Sacudi a minha cabeça, irritado comigo mesmo por estar agindo dessa forma e parecendo um
verdadeiro louco na percepção de todos.
-Chorando... Você está chorando? -Indaguei atordoado, esfregando meus próprios olhos numa falsa
tentativa de fazê-los funcionarem novamente.
Um momento de silêncio pairou no ar.
-Eu não estou chorando, seu idiota! -Gritou alterado, desferindo outro murro, só que dessa vez, no
microondas. Reparei que o loiro apontava para o balcão a sua frente, mas mais precisamente para um
vegetal. -Eu estava cortando cebolas, cacete!
Agora fazia muito mais sentido.
Eu me surpreenderia se ele estivesse mesmo chorando. O Deidara nunca foi frágil, muito pelo
contrário, desde a época em que namorávamos, o loiro sempre se mostrou alguém fechado e que preferia
guardar as coisas para si.
Em certos casos e situações, eu sempre me identifiquei muito com ele.
Parando bem para pensar, a única vez em que o vi demostrar qualquer tipo de tristeza em minha
frente, foi quando ele recebeu uma ligação do orfanato aonde cresceu durante toda a sua infância, sendo
informado de que a diretora do mesmo havia falecido. Só que isso foi a quase três anos atrás.
A história do Deidara também não é nada feliz, e eu mais do que ninguém, sei o quanto ele sofreu
quando ainda era mais novo.
Na época em que ainda estávamos juntos, ele costumava me contar as coisas. Eu adorava passar
meu tempo ouvindo sobre o seu passado, visto que sempre o achei uma pessoa muito forte e interessante.
Acontece que as coisas já não são mais como eram antes, porque naquela época, ele ainda me amava e
confiava em mim.
-O que está acontecendo, meninos? -A chegada de Obito foi bem inesperada, pelo menos para mim.
Além de doente, eu estava extremamente distraído.
-O Itachi ficou louco! -Deidara explicou o seu ponto de vista aos berros. -Interna ele, vai ser melhor
para todo mundo!
O carcereiro me olhou de cenho franzido, medindo-me de cima a baixo com um olhar atento e
preocupado.
-Você está bem, Itachi?
-Uhum. -Assenti com a cabeça, piscando várias e várias vezes seguidas, tentando enxerga-ló
decentemente em minha frente.

185
-Não parece. -Levantou uma sobrancelha. -Ele não está louco, Deidara, ele está doente.
-Não. -Neguei rápido, balançando minha cabeça confusamente, ficando ainda mais tonto por isso. Eu
precisei me apoiar novamente no balcão atrás de mim. -Eu estou bem, estou ótimo.
-É, eu estou vendo. -Obito ironizou. -Vamos, eu te levo até a enfermaria.
-Não! -Dei um passo para trás, puxando meu braço para longe de si, perdendo o meu equilíbrio por
ter me mexido com tanta rapidez. -Eu não vou sair daqui!
Os garotos se entreolharam de modo confuso, ambos estranhando o meu comportamento.
-Itachi, você está acabado. -O moreno insistiu, ao mesmo tempo em que eu levava minha mão a
testa, sentindo uma dor de cabeça absurda tomar conta de mim. -Olha só pra isso, você não está
conseguindo nem ficar de pé.
De certa forma, eu fiquei irritado com o que escutei. Eu tinha consciência de que minha situação era
crítica, mas saber que outras pessoas também haviam reconhecido e reparado no meu estado, me deixava
com uma raiva enorme de mim mesmo por não ter conseguido ser forte.
-E-Eu consigo ficar de pé... Eu consigo. -A minha voz soou falha e arrastada, enquanto meu corpo ia
tombando para todas as direções possíveis, trazendo uma sensação de peso em minhas costas.
Minha visão foi ficando turva e embaçada, muito mais do que já estava antes. Minhas pernas foram
falhando aos poucos, assim como a minha audição. Era como se meu corpo estivesse esgotado demais
para manter-se ativo, querendo se desligar de tudo e todos a minha volta.
-Ele vai desmaiar. -Pude ouvir a voz de Deidara, que embora estivesse distante, soava um pouco
impressionada.
Em uma última tentativa de permanecer desperto, virei-me em direção ao loiro, querendo negar a sua
afirmação e deixar claro de que estava bem o suficiente para continuar trabalhando.
Foi nesse minuto que minhas forças se esgotaram.
Minhas pernas deixaram de me sustentar, assim como meus joelhos, os quais dobraram-se
involuntariamente, jogando todo o meu peso para frente, indo de encontro a pessoa mais próxima de mim
naquele momento, o Deidara. Meu corpo se chocou com o seu, enquanto eu me entregava a ideia de que
não conseguiria mais aguentar me manter ativo.
Em meus últimos segundos de memória, tive a oportunidade de sentir o esforço que o loiro fazia para
me manter de pé, segurando firmemente embaixo de meus dois braços, enquanto meu rosto era espremido
em seu ombro, sem fôlego nenhum para reagir.
Depois disso, tudo ficou preto.
•••
O ambiente a minha volta era barulhento.
Gavetas batendo, passos apressados, murmúrios distantes e o som baixinho e reconfortante de uma
respiração bem fraquinha batendo suavemente em minha bochecha, me trazendo uma sensação de leveza
e calmaria por todo o meu corpo.
Remexi minha cabeça de um lado para o outro, entreabrindo minha boca para respirar por ali, me
sentindo estranhamente confortável, especialmente com a superfície macia e lisinha em que eu me
encontrava deitado, muito diferente do colchão duro de minha cela.
Apertei meus olhos com força, me acostumando com a claridade do ambiente antes mesmo de
abri-los, passando a reconhecer um perfume que invadia minhas narinas, que embora fosse bom e familiar
para mim, foi o que me fez abrir minhas pálpebras bem lentamente.
A luz presente no teto foi a primeira coisa que enxerguei. Pelo fato de minha visão continuar
desfocada, foi necessária uma espera maior de minha parte para que meus olhos se acostumassem com a
ideia de que mais alguém estava presente comigo, observando-me despertar com atenção.
Pisquei repetidas vezes, ainda bastante fora de mim, franzindo o cenho atordoado com a imagem
que tive diante de meus olhos. A luz forte da lâmpada entrava em contato com a silhueta inclinada por cima
de mim, me passando a ideia de que estava brilhando.
Por um momento, eu realmente achei que tinha morrido. Eu pensei ter entrado em contato com a luz,
especialmente por reconhecer a pessoa que tanto me encarava, focalizando meus olhos no rosto sério e
pensativo de Deidara.

186
Ao notar que eu estava despertando, retomando minha consciência aos poucos, o loiro afastou-se de
modo rápido, roçando seus fios longos e cheiros por toda a minha bochecha, olhando-me com cara de
poucos amigos.
-Olha só, ele está vivo. -Ele parecia falar com alguém em especial, carregando tédio em seu tom de
voz, entretanto, eu continuava preso a ideia de que havia morrido. -E está pálido que nem um fantasma.
Por alguma razão, eu me senti estranhamente bem com a sua presença. Pelo fato de eu estar em um
lugar que até então eu não reconhecia, saber que havia alguém conhecido comigo, fazia com que eu me
sentisse “seguro” de certa forma.
-É, realmente. -Uma outra voz invadiu os meus ouvidos, entrando também em minha linha de visão,
juntando sua cabeça com a de Deidara, ambos me observando com atenção. Era o Obito. -Mais pálido que
uma assombração.
Franzi o cenho confusamente.
Fiz um esforço para erguer o meu pescoço, olhando ao redor um pouco perdido, suspirando dolorido
com as pontadas fortes e agudas que invadiram o meu corpo. Ao encostar minhas costas na cabeceira,
pude avaliar o ambiente com mais atenção, reconhecendo de imediato aonde eu estava.
Era a enfermaria da prisão.
-Você desmaiou. -Obito me informou o óbvio. Eu estava irritado comigo mesmo por ter me deixado
chegar ao ponto de desmaiar na frente de um monte de gente. -Como você está?
-Eu estou bem. -Respondi seco, chutando o lençol que cobria o meu corpo, incomodado com todo o
cuidado que eu havia recebido. Tudo o que eu queria era ir embora dali o mais rápido possível.
-Ei, você não pode levantar. -O carcereiro me alertou, enquanto Deidara somente observava minhas
ações ao seu lado. -Ordens do Yamato.
Olhei com irritação para os dois, detestando estar recebendo ordens, mesmo que fossem médicas.
-Eu já estou melhor. -Informei impaciente, ignorando totalmente o seu conselho na hora de me
levantar da cama, sentindo tudo ao meu redor girar, precisando me apoiar na parede ao meu lado. -Eu
quero ir embora daqui.
Deidara soltou uma risada desdenhosa.
-Se ele desmaiar, eu juro que por Deus que não vou carregar ele de novo, Obito. -Falou com o
moreno, mas trocando olhares comigo.
Eu fiquei automaticamente confuso.
-Como foi que eu cheguei aqui? -Comecei a interroga-lós, preferindo conversar diretamente com o
loiro. -Você me carregou?
-Infelizmente sim. Sobrou pra mim e pro Obito te carregar. -Respondeu tedioso. -Não dava pra te
deixar caído na minha cozinha, ia atrapalhar os meus ajudantes.
Aquilo não poderia ficar pior.
-Você é pesado pra caralho. -Completou, sorrindo maldoso quando eu o repreendi pelo comentário,
apertando meus olhos em sua direção. -Eu quase te larguei no meio do caminho.
Revirei os olhos impacientemente.
Além de eu ter desmaiado e demonstrado fraquezas na frente deles, o Deidara e o Obito ainda
tiveram que me carregar pela penitenciária inteira até chegar na enfermaria, o que significava que vários
detentos poderiam ter me visto nesse estado, inclusive o meu irmão.
Eu não gosto nem de pensar nessa possibilidade.
-Eu preciso ir. -Obito informou de repente, retirando-me de meu transe. Notei que ele havia
respondido ao chamado que recebeu em seu rádio comunicador. -Está tendo uma briga no refeitório, eu
tenho que resolver. Itachi, por favor, fique aqui até o Yamato voltar.
Suspirei pesadamente, mas também não disse nada, internamente curioso a respeito de minha
doença, torcendo para que o enfermeiro trouxesse notícias boas sobre minha saúde e não ruins.
Quando Obito deixou a sala, senti como se minhas pernas fossem falhar novamente, e por isso,
tomei a iniciativa de me sentar, mas dessa vez, em uma cadeira no canto da parede, ficando de frente à
Deidara.

187
-Você está com pneumonia em nível avançado. -Deidara me informou repentinamente, fazendo-me
levantar o pescoço para encara-ló de modo confuso. -Eu ouvi o Yamato falando com os ajudantes dele, ele
já diagnosticou você.
Passei por um momento de reflexão.
Enquanto o loiro aguardava que eu tivesse algum tipo de reação diante do que me foi revelado, meu
cérebro trabalhava em varias maneiras de reagir à notícia. “Nível avançado” talvez fosse algo para se
preocupar, no entanto, eu já havia pego pneumonia antes e escapado ileso.
Nem era tão sério assim, afinal.
-Legal. -Foi tudo o que eu consegui dizer.
-Legal? -Ele repetiu, rindo ironicamente. -Você é mesmo um maluco, puta que pariu.
-O que você quer que eu faça, caralho? -Devolvi impaciente, já cansado de todas as suas grosseiras.
Agora que eu estava mais consciente, eu conseguiria respondê-lo da mesma forma. -Quer que eu comece a
chorar? É isso?
Ele ficou em silêncio, me fitando de maxilar travado e com os olhos afiados.
-Faz um favor e me deixa em paz. -Completei num tom seco e rouco, olhando para o lado oposto ao
seu.
-Quer saber? Vai se foder! -Respondeu ríspido, batendo os pés no chão. -Eu nem sei porque ainda
estou aqui mesmo... Fica aí sozinho então, seu filho da puta, mal agradecido!
Virei minimamente para si, não conseguindo mais manter minha postura ao vê-lo dar as costas para
mim, já começando a se dirigir até a porta. Talvez eu tivesse que deixá-lo ir, visto que eu mesmo havia
pedido para que o loiro me deixasse em paz, no entanto, eu não consegui me conter.
Meu corpo pareceu criar vida própria, agindo totalmente por impulso na hora de segurar em seu
pulso, impedindo-o de dar mais um passo para longe de mim, o parando em frente a cadeira aonde eu
estava sentado.
As coisas estavam tão ruins para mim, tão péssimas e estressantes, que deixar o loiro sair dali com a
ideia de que eu não me sentia satisfeito com a sua presença, estava fora de cogitação. Eu já estava, de
certa forma, mal por não ter a companhia do Sasuke, e sentia como se não pudesse deixá-lo escapar dessa
vez.
Talvez aquela doença estivesse começando a afetar os meus neurônios.
-Me larga, caralho! -Ele virou-se na defensiva, tentando a todo custo se soltar de mim. Eu estava
utilizando o restante de minhas forças para prendê-lo ali comigo. -Você enlouqueceu?! Tira as suas patas de
mim, seu animal!
Ele chacoalhava seu corpo todo, soltando grunhidos enraivecidos por eu estar segurando-o daquela
maneira, e sem dizer absolutamente nada. Após tanta insistência, acabei cedendo ao seu pedido,
largando-o com muito esforço, enquanto o mesmo ia para trás, segurando no próprio pulso e me fitando
como se eu tivesse mesmo enlouquecido.
-Maluco do caralho! -Gritou de novo, afastando-se com uma careta raivosa e confusa.
Entreabri meus lábios ao notar que o mesmo chegava perto da porta, mas sem nenhum som saindo
de minha boca. Eu estava travado, completamente sem reação, e de certa forma, surpreso comigo mesmo
pelo o que fiz.
Com uma última troca de olhares, o loiro saiu da sala às pressas, deixando-me plantado com cara de
idiota, sentindo um aperto esquisito em meu peito, odiando secretamente o fato de ter ficado sozinho ali
dentro.
Por mais que as ordens médicas afirmassem explicitamente que eu deveria permanecer ali e
repousar, eu sei que não aguentaria esperar por Yamato, e muito menos passar uma noite dentro da
enfermaria sendo medicado.
Eu sairia mais cedo ou mais tarde, e é claro, tentaria ir à procura do loiro. Eu não gostei nenhum
pouco de como as coisas ficaram entre nós e pretendia tentar mudá-las logo quando o encontrasse.
Quanto mais tempo eu passava com o Deidara, mais memórias e sentimentos escondidos dentro de
mim se manifestavam novamente.
Naruto On

188
O livro que eu segurava em minhas mãos era mais uma de minhas tentativas falhas de distração,
enquanto eu dava o meu melhor para me concentrar na história do mesmo, que embora fosse realmente
interessante, não estava conseguindo me prender da maneira certa.
As palavras presentes nas páginas eram lidas por mim, mas não chegavam a serem filtradas em meu
cérebro. Era como se minha cabeça estivesse flutuando em outro lugar, presa em alguém que eu me
forçava ao máximo para esquecer e distanciar de meus pensamentos.
Sasuke Uchiha.
Já havia virado rotina eu me pegar pensando naquele moreno, relembrando nossas conversas e
momentos juntos, e em como ele era completamente diferente quando estava comigo, sempre atencioso,
carinhoso, e de certa forma, até mesmo brincalhão.
No entanto, daquela vez era diferente.
Nas outras vezes em que me recordava de Sasuke, era somente pensando em nossos diálogos ou
pequenas coisas que o Uchiha fazia, mas que me deixavam sorridente e com uma sensação boa em meu
estômago.
Agora eu tinha algo bem mais sério para pensar, algo que me fez passar mais uma de minhas noites
dentro da penitenciária totalmente desperto, refletindo solitariamente a forma como as coisas entravam
ocorrendo entre nós, e é claro, o mais importante de tudo: o nosso beijo.
Dessa vez, eu não demorei muito para cair na real e perceber que havíamos mesmo nos beijado pra
valer. A única coisa que eu demorei para admitir a mim mesmo, era a forma como eu havia lidado com tudo
isso.
Eu estava morrendo de vergonha de me encontrar com o Sasuke novamente.
O meu dia se resumiu em eu fugindo de um lado para o outro na prisão, me escondendo atrás das
paredes quando precisei cruzar o meu caminho com o moreno, e corando violentamente só com a sua
presença, mesmo que ele não tivesse notado nenhum de meus esconderijos.
Eu sei que ele me procurou.
Eu tinha consciência de que ele passou de manhã pela minha cela, foi atrás de mim na ala de visitas
e até mesmo apelou para o lado do Gaara, questionando meu sumiço ao ruivo.
Todavia, eu ainda não me sentia preparado o suficiente para iniciar um diálogo consigo, e muito
menos colocar em palavras os meus sentimentos, e o modo repentino e exagerado que deixei o banheiro na
noite anterior.
Eu havia gostado do nosso beijo, isso é fato.
Era uma sensação inexplicável o modo como eu me senti bem beijando-o, transmitindo todo o
carinho e desejo que eu tinha pelo Sasuke, sabendo que ele estava me retribuindo da mesma forma, ambos
carregando a mesma vontade.
A encaixe foi absolutamente perfeito, tanto de nossos lábios, quanto de nossos sentimentos. Era
óbvio que nós dois queríamos aquilo, que estávamos ansiando pelo beijo desde o dia em que trocamos o
nosso primeiro selinho, entretanto, as coisas não fluíram exatamente da forma como eu imaginava.
Embora eu tivesse me derretido com o nosso beijo, me sentindo entregue e seguro aos braços de
alguém pela primeira vez em muito tempo, o modo como as coisas terminaram me deixou completamente
arrasado. Eu não queria ter agido daquela forma, e muito menos feito o Sasuke de sentir mal e culpado.
Como eu iria explicar isso para ele?
Como eu encontraria palavras boas o bastante para justificar o modo como eu me senti invadido e
me recordei de todas às vezes em que sofri em mãos alheias por conta de assédios?
Eu sentia raiva de mim. Eu me odiava por não ter conseguido desfrutar do beijo da maneira correta,
desperdiçando a chance de mostrar ao Sasuke que eu também sentia o mesmo por ele, tudo porque minha
mente me traiu, arrastando-me para os mesmos pensamentos de sempre, revivendo os momentos horríveis
que passei aqui dentro.
O Sasuke não fez por mal, eu sei bem disso.
Sou eu quem estou traumatizado e quebrado. Fui eu quem estraguei tudo e fiz com que ele se
sentisse mal consigo mesmo, imaginando que eu havia sentindo medo dele ou até nojo de nosso beijo.
Eu desejava falar com ele, mas sabia bem que não encontraria uma forma ideal de iniciar um diálogo
e nem de explicá-lo por tudo o que eu passei e pensei. Por enquanto, eu preferia ficar fugindo de si.

189
-...Hein? Eu te fiz uma pergunta, franguinho.
Baixei meu livro rapidamente, olhando diretamente para Gaara, o qual se encontrava deitado sobre o
beliche de cima, esperando pacientemente por uma resposta minha.
-Oi? -Indaguei, sacudindo minha cabeça.
-Já está na hora do jantar. -Repetiu pacientemente, repousando seu próprio livro no colchão. -Você
quer ir comer agora?
Além de eu estar sem fome, também não estava em meus planos deixar a cela para ir até o refeitório.
Se eu me encontrasse com o Sasuke, igual quase aconteceu na hora do café da manhã, eu com certeza me
desesperaria e ficaria sem reação.
Eu odeio ser tão tímido e estranho às vezes.
-Eu estou sem fome. -Declarei do modo mais indiferente que consegui.
-De novo? -Ele arqueou a sobrancelha. -Mas você disse a mesma coisa na hora do almoço.
O Gaara estava me cercando, provavelmente ciente de que alguma coisa estava acontecendo
comigo. Se ele prestasse só um pouquinho mais de atenção, saberia que era relacionado ao Sasuke. Isso
se ele já não soubesse, é claro.
-Vamos comer, vai. -Insistiu calmamente, já começando a descer de seu beliche. -Eu me preocupo
com você, franguinho. Poxa, nem o café da manhã você comeu direito. O que está havendo?
-Não é nada. -Forcei um sorriso.
Ele cruzou os braços, parando de frente a cadeira da cela, exatamente aonde eu estava sentado.
-Você não me engana e—
Fomos rapidamente interrompidos por um barulho alto vindo da grade de nossa cela, anunciando a
chegada de mais alguém. Espichei meu pescoço curiosamente, não sabendo se ficava aliviado ou não com
a presença de Deidara.
Eu já estava começando a achar que era o Sasuke.
O loiro, assim como no dia anterior, encontrava-se no mesmo estado. Sua feição raivosa e
impaciente continuava direcionada a nós, enquanto em passos largos, ele adentrava a cela, bufando
enraivecido para ninguém em especial, talvez somente querendo anunciar que estava irritado com algo.
Nós três continuávamos da mesma forma, todos brigados um com o outro, embora eu estivesse
odiando essa situação com todas as minhas forças.
-Oi, Dei. -Gaara tentou dialogar, impressionado com o seu mal-humor, especialmente quando ele
começou a chutar as próprias roupas que se encontravam no chão, grunhindo pela zona de nossa cela.
Nem faria sentido ele reclamar, visto que a maior parte da bagunça era somente sua.
-Você andou mexendo nas minhas coisas?! -O loiro gritou de repente, me fazendo pular de susto na
cadeira. Notei que ele falava diretamente comigo, enquanto seus olhos transbordavam de raiva. -O que
você está fazendo com o meu livro, caralho?!
Me encolhi assustado, fechando a página calmamente, tentando não fazer movimentos bruscos.
-B-Bem, é que dá última vez você tinha deixado eu ler e—
-Não interessa, porra! -Me cortou aos berros, assustando até mesmo os detentos que passavam do
lado de fora. -Eu não quero mais você mexendo nas minhas coisas, seu pirralho chorão! Me dá essa merda,
agora!
O livro foi arrancado violentamente de minhas mãos, fazendo com que meu corpo batesse na parede
atrás de mim, causando um baque alto em minha cabeça. Pelo o que me parecia, Gaara pareceu se
incomodar com isso, especialmente quando eu gemi de dor, acariciando o lugar atingido.
-Ei, assim não! -Pediu para o loiro, com medo de que a discussão se tornasse mais seria. -Cuidado
com ele, Deidara!
O mais velho avaliava o livro em suas mãos, deixando seu olhar ainda mais sombrio ao notar a
página em que eu havia deixado. Eu tinha me esquecido de voltar na parte da história que ele parou.

190
-Seu idiota! -Exclamou irritado, chegando perto de meu rosto para gritar ainda mais alto, como se
quisesse mesmo me intimidar. -Você é um imbecil do caralho! Eu pedi pra não desmarcar a minha página,
seu burro!
-M-Me desculpa... -Pedi embargado, já começando a sentir lágrimas se acumularem em meus olhos.
Dessa vez, eu faria de tudo para não chorar. -Foi sem querer, eu juro.
O meu pedido de desculpas foi completamente interrompido pelo loiro, o qual decidiu me calar de um
modo bem agressivo. O livro, que antes se encontrava em suas mãos, foi rapidamente de encontro a minha
cabeça, batendo forte no topo da mesma.
Soltei um soluço assustado, fechando meus olhos com medo, não conseguindo mais reconhecê-lo
nesse estado. Mesmo que o Deidara fosse alguém naturalmente grosseiro, vê-lo agir dessa forma ainda era
novidade para mim.
-Deidara! -O ruivo se aproximou preocupado e de olhos arregalados, com medo de que a coisa
ficasse pior. -O que você está fazendo?!
-Eu estou cansado de ser legal com você, porra! -Ele gritava na minha cara, me deixando paralisado
em cima da cadeira. -Não mexe mais nas minhas coisas, entendeu?!
Assenti desesperado e submisso, castigando-me por não ter conseguido me conter e começado a
chorar novamente. Além do medo que eu sentia, também tinha a decepção em saber que Deidara
continuava maldoso comigo.
-O que deu em você, hein?! -Gaara tentava controlar a situação, se aproximando cautelosamente de
mim. -Sai de perto dele, Deidara, deixa o garoto respirar!
-O que foi?! -O mais velho afastou-se de mim, levantando o livro em direção ao ruivo, o qual
rapidamente se encolheu. -‘Tá querendo apanhar também, porra?!
Eu estava trêmulo e impressionado, assimilando tudo silenciosamente. O Deidara estava bem pior do
que ontem, dando a entender que havia passado por algo que mexeu ainda mais consigo.
Com a quietude da cela, o loiro foi abaixando o livro aos poucos, talvez percebendo o modo como
havia sido violento e passado dos limites. Com uma última troca de olhares entre nós, Deidara soltou um
grunhido enraivecido, deixando o cômodo sem olhar para trás.
Eu fiquei uns cinco segundos em choque.
-Ei, você está bem? -Gaara inquiriu preocupado, tocando em meu ombro calmamente.
Assenti ofegante com a cabeça, levando a mão ao peito.
-Isso não está certo. -O ruivo negou com a cabeça, esfregando o próprio rosto enquanto pensava.
-Olha, eu acho que já está na hora de você fazer alguma coisa a respeito disso, franguinho.
Levantei uma sobrancelha.
-C-Como assim?
Ele tomou a liberdade de se agachar em minha frente, assim como sempre fazia quando queria falar
comigo seriamente ou ficar da minha altura. Eu comecei a ficar tenso antes mesmo dele falar.
-O Deidara está descontando as raivas dele em cima de você, porque ele sabe que você é um dos
únicos que não reage. -O ruivo tocou em meu joelho, apoiando-se em cima dele. -Ele grita, te destrata, mas
você não faz nada à respeito. É como se ele estivesse sempre te maltratando e você aguentando tudo
calado.
Abaixei minha cabeça chateado. Infelizmente, aquilo era verdade.
-Por isso, eu estava pensando... E se você tentar enfrentar ele? -Sugeriu pensativo.
Pisquei confuso.
-C-Como é? -Perguntei com o último fio de voz que me restava.
-É só ir atrás dele e chamar ele para conversar, entende? -O ruivo, como todas às vezes, procurava
pelas palavras certas para me ajudar. -Chega nele e fala que vocês precisam conversar, é simples.
-Mas o que eu vou falar, Gaara? -Eu já estava começando a ficar desesperado. Aquela ideia era bem
arriscada.

191
-Fala que você não acha certo que ele te trate dessa forma, Naruto. -Explicou paciente. -Diz pro
Deidara como você se sente, fala como é desumano o jeito que ele está lidando com os problemas dele e
jogando tudo para cima de você.
Esbocei uma careta bem sofrida e apreensiva.
Eu queria muito que o Deidara parasse de me maltratar, e que as coisas voltassem a serem como
eram antes. No entanto, ainda tinha todo o medo que eu sentia em relação a ele, e como seria difícil
enfrentá-lo do modo como Gaara me sugeriu.
-Confia em mim, tá bom? -Ele se levantou de minha frente, acariciando meu ombro de modo
reconfortante. -Eu acho que se você conversar com ele na boa e explicar direitinho como você se sente, o
Deidara vai te ouvir.
Baixei minha cabeça pensativamente.
Eu confiava mesmo no Gaara e gostava de escutar suas opniões e conselhos, visto que geralmente
eram todos úteis e válidos. Agora era só torcer para que o loiro me escutasse e não levasse as coisas para
o lado da violência física, até porque, eu não teria nenhuma chance contra ele.
-T-Tudo bem. -Concordei receoso. -Eu vou falar com ele.
-Legal. -Suspirou silencioso, feliz por eu ter topado. -Aproveita que o Deidara está no refeitório e vai
atrás dele. Não deixa pra falar com ele muito tarde, Naruto.
-Agora? -Arregalei meus olhos.
-Agora. -Riu fraco. -Vai lá, conversa só vocês dois. Eu te encontro mais tarde, pode ser?
-Okay. -Concordei meio desapontado. Eu não queria ir falar com ele sozinho, mas tinha consciência
de que sua implicância era comigo, não com o Gaara. -Até mais, então.
-Até mais.
Andamos os dois até a porta da cela, cada um seguindo com um rumo diferente. Enquanto o ruivo
dirigia-se para o corredor oposto ao meu, eu tomei o trajeto de sempre para ir até o refeitório.
Não demorou mais de um minuto para chegar em meu destino, adentrando o refeitório de mãos
suadas e ombros tencionados, já me preparando para o pior. Dessa vez, eu precisaria ser forte e tentar me
impor na frente do Deidara.
Não daria mais para sofrer em silêncio e aguentar tamanha grosseira vinda do loiro. O lado bom, é
que talvez com esse diálogo entre nós, poderíamos até mesmo ficar amigos pra valer.
Não custava sonhar, afinal.
Percorri meus olhos por cada detendo presente no ambiente, notando o lugar um pouco vazio, já que
o horário da janta tinha acabado de começar. O pessoal costumava chegar um pouco mais tarde no jantar,
visto que todos ficavam cansados de suas tarefas do dia.
Por essa razão, foi fácil encontrar o Deidara.
Parado próximo de uma das mesas, o loiro encontrava-se com o pé apoiado em um dos bancos,
enquanto com uma de suas mãos, ele ascendia um cigarro preso em seus lábios.
Apesar de estar sozinho, os presidiários ao seu redor olhavam para a cena confusos, todos cientes
de que não era permitido fumar em ambiente fechado, embora ninguém tivesse coragem o suficiente para
contraria-ló.
Aquela foi a minha deixa para me aproximar.
Eu nem tive tempo de criar um diálogo em minha cabeça, visto que em menos de cinco segundos, eu
já me encontrava de frente para si, segurando nervosamente em minhas mãos na frente de meu corpo,
esperando que ele virasse para mim e notasse minha presença.
-D-Dei? -Puxei a manga de seu uniforme, decidido de que usaria seu apelido para diminuir a tensão.
O loiro virou-se com raiva, segurando o cigarro com uma de suas mãos, assoprando a fumaça de
propósito em minha cara.
-Eu vou te dar cinco segundos pra você dar o fora, franguinho. -Declarou frio, deixando o momento
um pouco constrangedor pelo fato de que alguns detentos sentados na mesa em nossa frente, assistiam
toda a nossa discussão. -Eu estou falando sério, rala daqui.
Engoli em seco.

192
Ele com certeza não estava para brincadeiras, no entanto, eu daria o meu máximo para não desistir
de meu plano e mostrá-lo que queria conversar e resolver as coisas de uma vez.
-Não. -Neguei, fazendo um esforço tremendo para não gaguejar. Quando notei que ele me olhava
com ódio, quase avançando para cima de mim, eu decidi prosseguir. -P-Por favor, deixa eu falar com você.
Eu vou ser rápido, prometo.
Em movimentos lentos, acompanhei seu braço se esticando para perto da mesa, apagando o cigarro
em cima de uma das bandejas dos detentos, fazendo tudo isso sem deixar de me fitar, além de ter recebido
reclamações por ter espalhado cinzas de sua bituca pelo alimento alheio.
-Fala logo, caralho. -Rosnou impaciente, cruzando os braços em um ato de superioridade. -E sem
gaguejar, ouviu? Desembucha de uma vez, você me irrita.
Era impossível não me atingir com as ofensas, só que dessa vez, eu estava disposto a continuar.
-E-Eu... -Comecei já me engasgando. Eu tive que engolir minha própria saliva para prosseguir e não
deixá-lo irritado. -Eu só queria que você soubesse que eu fico muito triste quando você grita comigo,
Deidara.
Os detentos os nosso redor, os mesmos que assistiam a nossa discussão, começaram a gargalhar
de repente, aparentemente entretidos com a minha justificativa, especialmente por ter sido tão “leve” e
“inocente”.
Me encolhi envergonhado.
Se eu quisesse que ele me levasse a sério, precisaria ser mais duro com as minhas palavras, por
mais que fosse difícil para mim colocar em prática.
-E-Eu estou falando sério. -Reforcei, falando tanto com os presidiários que riam de mim, quanto com
o próprio Deidara, o qual assistia a tudo com uma carranca tediosa. -Eu não me sinto bem com o jeito que
você fala comigo, é muito desnecessário e grosseiro.
Agora os detentos soltavam sons com a boca, fingindo que haviam aprovado a minha justificativa,
quando na verdade, continuavam a se divertir comigo, tirando onda com a minha cara. Deidara, por sua vez,
virou seu pescoço lentamente em direção aos homens, calando-os com apenas uma encarada.
Eu decidi prosseguir.
-E-Então, eu queria que você parasse de gritar e brigar comigo. -Tentei esboçar uma feição seria e
autoritária, igual às que eles costumavam fazer, no entanto, acabou saindo mais como um biquinho
emburrado e amuado. -É muito chato e me deixa muito mal.
Caímos em um momento de silêncio.
Enquanto eu e o resto da plateia de detentos aguardávamos por sua resposta final, não pude deixar
de notar o modo como sua feição foi se transformando, trazendo com ela um sorriso irônico e uma risada
alta e exagerada.
-Você só pode estar brincando com a minha cara, não é? -O loiro fingiu limpar o cantinho de seus
olhos, balançando a cabeça em negação. -Você é mesmo um tapado, Naruto.
Me encolhi chateado.
-Você é ridículo. -Continuou, carregando um ar de deboche e superioridade. -Sério, só faça um favor
a si mesmo e olhe ao seu redor. Estão todos rindo de você.
Com um aperto em meu peito, fiz o que eu nunca deveria ter feito, olhando ao meu redor por
sentir-me humilhado, enxergando os mesmos detentos de antes a rirem de minha cara, me deixando ainda
pior.
Ao mesmo tempo em que meus olhos percorriam por cada rosto presente por perto, focando nas
gargalhadas altas e maldosas que caiam sobre mim, eu nunca imaginei que encontraria ele no meio
daquela confusão.
Ninguém mais, ninguém menos do que Sasuke Uchiha.
Embora o moreno estivesse levemente distante da mesa, e alheio a discussão instalada, ele
permanecia atento à todos ao seu redor, observando o ambiente como uma verdadeira águia, parecendo
procurar especificamente por alguém.
Eu sabia que ele estava buscando por mim, assim como na hora do café e do almoço.
A minha reação foi completamente inesperada e imprevisível, até mesmo para mim.

193
Eu me encontrava tão desesperado e com medo de precisar interagir com o Sasuke cedo demais,
que acabei tomando a pior decisão de todas. Eu me escondi de baixo da mesa.
Deixei Deidara e o resto dos presidiários rindo de minha cara, sendo bem impulsivo na hora de me
agachar, engatinhando para baixo da mesa daquele mesmos homens, pouco me importante se viraria alvo
de ainda mais piadas.
-Naruto, que porra é essa? -O loiro questionou atordoado. Eu nem estava mais prestando atenção
em si. Naquele momento, eu me concentrava somente em espionar o Sasuke por uma fresta entre os
bancos, assistindo-o procurar atentamente por mim. -Você ficou maluco?
Eu nem me dei o trabalho de respondê-lo.
O meu medo de ser encontrado e flagrado era gigantesco. Seria absurdamente constrangedor se o
Sasuke me visse naquele estado, escondido embaixo de uma mesa naquele chão imundo.
-Você é mesmo uma criança, viu?! -Deidara continuava falando. -Eu juro por Deus que—
A voz do loiro foi rapidamente interrompida por ele mesmo, que para a minha total surpresa, havia
acabado de se abaixar para baixo da mesa, entrando em meu esconderijo juntamente comigo. Eu o olhei
assustado, não entendo o que levou-o a se juntar a mim e enfrentar aquele ambiente tão minúsculo e sujo.
-‘Tá olhando o que, caralho?! -Perguntou impaciente, diminuindo sua entonação ao espiar o lado de
fora por uma outra fresta, parecendo se esconder de alguém, assim como eu. -Parem de chutar, seus filhos
da puta!
Além do fato de estarmos agachados naquele ambiente apertado e nojento, com a mesa cheia de
chicletes grudados na parte de cima, os detentos ainda faziam questão de nos chutar, rindo entretidos com
a nossa situação.
-O-O que você está fazendo aqui? -Questionei confuso.
-Eu que te pergunto! -Devolveu hostilmente, ainda focado em observar o lado de fora. -Mas que
merda...
Me sentindo curioso, tentei enxergar o mesmo que ele, observando o ambiente por uma fresta
próxima a sua, surpreendendo-me ao me deparar com Itachi. O Uchiha mais velho, apesar de estar
andando um pouco dobrado e arrastado, aparentava estar que nem Sasuke, procurando por alguém
específico.
Eu rapidamente juntei as peças.
O Deidara estava se escondendo do Itachi, idêntico a mim que estava fugindo do Sasuke.
Sacudi minha cabeça um pouco desacreditado, mas também resolvi não questiona-ló, com medo de
parecer intrometido ou de deixar as coisas ainda piores entre nós. Decidi que voltaria a me concentrar em
meu próprio problema, procurando por Sasuke uma outra vez.
Eu não o encontrei.
Olhei em todas as direções possíveis, trocando de posição e tentando procurar em outras frestas,
mas pelo o que me parecia, o moreno já havia deixado o refeitório. Eu pude finalmente suspirar aliviado.
Baixei minha guarda por alguns segundos, dobrando meus joelhos até a altura de meu peito, convicto
de que ficaria um pouco mais embaixo da mesa, só para ter certeza de que o Uchiha mais novo havia
mesmo ido embora.
No segundo seguinte, o inesperado aconteceu.
Eu tomei um dos maiores sustos de toda a minha vida, não só eu, como o Deidara também, ambos
nos deparando com a toalha da mesa sendo erguida, enquanto Sasuke aparecia em nossa linha de visão,
também se assustando com a nossa presença.
Foi um momento muito estranho.
Ficamos os três a nós encararem em silêncio, eu completamente pálido, enquanto Sasuke continha
seu cenho franzido, me observando como se perguntasse o que eu estaria fazendo embaixo de uma mesa
com o Deidara.
De alguma forma, ele havia descoberto o nosso esconderijo.
-O que você está fazendo parado aí, seu idiota?! -O loiro foi o primeiro a reagir, temendo a ideia de
que Itachi o encontrasse. -Ou você entra aqui ou você vaza, caralho! Para de ficar dando sopa aí fora, você
está atrapalhando o meu plano!

194
Eu continuava sem saber como agir.
Meu rosto pegava fogo até a altura de minhas orelhas, enquanto meu corpo inteiro permanecia
paralisado. Pelo fato de Sasuke ter levantado a toalha bem na minha frente, foi o que deixou o momento
ainda mais constrangedor.
Eu não achei que o Uchiha fosse levar a sério o pedido de Deidara, mas me surpreendi novamente
ao vê-lo se ajoelhar, passando para baixo da mesa juntamente conosco, não tirando um segundo de sua
atenção de mim.
Eu fiquei ainda mais sem jeito.
-É sério isso? -Deidara arqueou uma sobrancelha em sinal de deboche, não acreditando que o
Sasuke tinha mesmo se submetido a uma situação daquelas. -Faz silêncio vocês dois, isso é uma ordem.
Com mais uma pessoa ali de baixo, o nosso pequeno esconderijo ficou ainda mais apertado,
deixando-me praticamente grudado com o moreno. Eu tive que abaixar minha cabeça para não roçar o meu
nariz ao seu, escondendo também o meu rosto rubro.
-Naruto. -Seu hálito fresco bateu em minha bochecha, dando a entender que ele continuava me
encarando, pouco se importando com a nossa proximidade ou com o ambiente em que estávamos. -Você
pode olhar para mim, por favor?
Entrelacei minhas mãos nervosamente, subindo somente meu olhar até si, me perdendo por alguns
segundos em seus olhos negros e inconfundíveis, os quais fitavam-me de modo apreensivo e arrependido,
esperando que eu concordasse em falar consigo.
Eu não consegui ficar muito tempo olhando para ele.
Fleches da noite passada me invadiram com força, impedindo-me de permanecer conectado ao seu
olhar, me sentindo completamente envergonhado, ciente de que não conseguiria explicar ao Sasuke o que
me levou a deixar o banheiro com tanta pressa e aflição.
-Por favor. -Reforçou num tom baixo e enrouquecido, tocando em minha mão por cima do chão. -Eu
te procurei o dia inteiro.
-Escuta, se vocês forem ficar conversando, saiam logo daqui! -Deidara estalou a língua, meio alheio
ao nosso diálogo. -Mas saiam discretamente, eu não quero ser visto nessa situação!
Meu coração estava disparado.
Eu desejava tanto conversar com o Sasuke, queria contá-lo sobre tudo o que pensei na noite anterior
e também nas coisas que ando pensando sobre nós dois, até mesmo o fato de que estou apegado a ele,
independente dos conflitos que estamos enfrentando.
Eu queria deixar claro que não senti nojo dele em nenhum segundo sequer, e que o nosso beijo foi
mais do que perfeito para mim, embora eu tenha agido daquela forma e estragado tudo, como sempre.
Sou eu quem estou com defeito.
Eu sou o problema entre nós dois, o Sasuke não tem nada a ver com isso. Eu tenho medo de me
sentir assim para sempre e nunca mais permitir que ninguém me toque pra valer, assim como o moreno
tentou na noite anterior.
Acontece que eu não estava pronto para falar com o Sasuke, pelo menos não no dia de hoje.
-Naruto, por favor, me dá uma chance pra eu me explicar. -Ele insistia, carregando um pingo de
aflição em sua voz. A cada palavra sua, meu peito de apertava ainda mais. -Olha pra mim, bebê.
Por mais que eu tentasse, eu não conseguia. A vergonha que eu sentia era maior do que qualquer
coisa naquele momento. Eu estava com raiva de mim mesmo por não conseguir colocar para fora tudo o
que eu estava sentindo.
-Shh, faz silêncio, caralho! -O loiro deu um murro no pé da mesa. -Vaza daqui, Sasuke, você está
atrapalhando!
Eu sabia que ele continuava me olhando.
Mesmo que eu não pudesse vê-lo, eu tinha uma estranha certeza de que seus olhos permaneceriam
presos a mim, esperançoso de que eu ainda levantaria a cabeça e olharia-o de volta, além de que lhe daria
a chance de se explicar.
No entanto, isso não ocorreu.

195
-Tudo bem, eu vou te dar espaço. -Sua mão permanecia repousada na minha, mas naquele
momento, me depositava um pequeno carinho, o que fez com que eu me sentisse ainda pior comigo
mesmo. -Eu espero o quanto for necessário.
Também não houve uma resposta minha.
Me doía imensuravelmente fazer com que o Sasuke achasse que havia me causado algum mal ou
me machucado, quando na verdade, sou eu quem estou quebrado.
Apesar de tudo, eu só torcia para que ele não desistisse de mim por conta de minha demora ou
achasse que eu estava sendo dramático e chorão, como as pessoas sempre me dizem.
Eu não queria que ele abrisse mão de mim.
-Depois a gente se fala. -Ele anunciou aos sussurros, tanto para não incomodar o Deidara, quanto
para me passar a ideia de que respeitava a minha decisão de não querer conversar sobre o ocorrido.
Ainda sem coragem de olhá-lo nos olhos, acompanhei sua saída de soslaio, o qual foi bem discreto
na hora de deixar a mesa, me fitando uma última vez antes de abaixar a toalha, afastando-se para me dar
espaço.
Eu senti uma vontade absurda de chorar.
Eu não queria que o nosso encontro tivesse sido assim, mas pelo o que me parecia, foi necessário
para que eu soubesse que o Sasuke continuava pensando em mim e se preocupando com o que
aconteceu.
Da próxima vez em que nos víssemos, eu torceria para que minha mente estivesse relaxada o
bastante para entrar nesse assunto com o moreno e contá-lo sobre tudo o que eu estou passando.

Capítulo 17 - Apegados um ao outro

Sasuke On

Minha manhã havia começado na correria de sempre. Quando o inconfundível som da sirene matinal
ecoou pelos meus ouvidos, eu iniciei o meu dia levando um susto, dando de cara com o Obito na porta de
minha cela, que apesar da escuridão do ambiente, revelava-me seu semblante preocupado e aflito.
Como não era nada comum ele aparecer tão de repente, e principalmente no período da manhã, eu
estranhei demasiadamente. No entanto, com uma breve explicação de sua parte, entendi de imediato o
verdadeiro motivo do sumiço de meu irmão, e o fato dele não ter passado a noite em nossa cela.
Através de fofocas e fuxicos entre os detentos, eu acabei descobrindo tarde demais que meu irmão
havia desmaiado em seu turno de trabalho no dia anterior, no entanto, eu não imaginei que sua situação
tivesse piorado ainda mais nessa madrugada, e que por conta disso, foi necessário que Itachi
permanecesse na enfermaria durante toda a noite.
Pneumonia em nível avançado, foi o que o Obito me informou.
-Porra, Itachi... -Resmunguei para mim mesmo, terminado de escutar atentamente a tudo o que o
carcereiro me relatava, mantendo-me apoiado na grade com minhas duas mãos para fora. -Pneumonia é
grave.
-Sim, foi o que eu disse para ele. -Concordou calmamente, apoiando-se de frente a mim. -No
momento ele está dopado, os enfermeiros deram alguns remédios fortes e ele capotou. Foi uma madrugada
bem difícil.
Eu me preocupei com essa última frase.
-Madrugada difícil? -Repeti curioso.
-É. Depois que o Itachi desmaiou ontem, o Yamato solicitou que ele ficasse em observação por
alguns dias. -Explicou pacientemente. -Mas o seu irmão é um teimoso, você sabe. Ele fugiu da enfermaria e
tomou vento lá no pátio aberto.
Neguei desacreditado com a cabeça.
-Depois disso, ele piorou demais. -Completou, suspirando cansado. -O Itachi chegou a aparecer aqui
na cela de vocês, mas eu acho que você não chegou a ver ele, né?
-Não. -Eu tentei me recordar de tê-lo visto chegar, mas nenhuma imagem vinha na minha cabeça.
-Acho que eu estava dormindo.

196
-Enfim, ele passou mal de novo. Foi o Kakashi quem teve que avisar a gente, o seu irmão se
recusava a deixar a cela, mesmo tendo piorado muito. -Concluiu.
Como é que eu não escutei tudo isso?
Eu acho que me encontro tão focado na história do Naruto ultimamente, deixando de dormir por
conta de meus pensamentos em relação a ele, que acabei capotando na noite passada, nem reparando no
momento em que meu irmão passou mal dentro de minha própria cela.
-Porra... -Repeti a mesma coisa, apoiando minha testa no gelado da grade. Querendo ou não, a
preocupação que eu sentia em relação ao Itachi estava me corroendo por dentro. -Eu posso ver ele?
Obito me fitou surpreso.
-Você quer ver ele? -Devolveu a pergunta, provavelmente recordando-se da discussão seríssima que
tivemos um com o outro recentemente. -Quer dizer, você pode, claro. Mas ele está dormindo, como eu já
disse.
-Melhor ainda.
Eu preferia assim.
Era muito melhor observar o meu irmão enquanto ele dormia do que aparecer de repente na
enfermaria para conversar consigo. Honestamente, eu nem saberia o que dizer. Embora estivesse
preocupado com o Itachi, eu continuava muito bravo e desapontado.
-Tudo bem. -Concordou, destrancando a minha cela. -Aparece lá quando você quiser, agora eu vou
precisar ir até o refeitório. Depois a gente conversa, okay?
-Tá bom.
Embora a minha saída já estivesse liberada, eu tive que tirar um tempo para refletir e decidir com
calma o modo como o meu dia funcionária. Logo antes de pegar no sono, eu havia planejado correr atrás do
Naruto novamente, não para pressiona-ló a falar comigo, mas sim para checar se ele precisava de alguma
coisa.
Nós dois estávamos afastados, mas isso não me impedia de conferir a distância como ele estava
levando as coisas e lidando com os seus traumas aqui dentro.
Eu havia lhe dado espaço para pensar e digerir o acontecido entre nós. Não seria necessário
mencionar novamente o quanto eu estava mal comigo mesmo pelo o ato impulsivo que tomei durante nosso
beijo. Na verdade, chegava a ser bizarro o modo como eu estava arrependido e agoniado, desejando
profundamente que o loiro me perdoasse pelo ocorrido.
Durante meus anos fora da prisão, não consigo me recordar ao certo quantas pessoas me envolvi
sexualmente, tanto mulheres quanto homens. No entanto, eu nunca, em toda a minha vida, me senti tão
culpado por ter feito alguém chorar e passado dos limites na hora de toca-ló.
Quando eu digo que o Naruto mexe comigo de um jeito que ninguém nunca mexeu, eu não estou
mentindo. O seu perdão era a coisa que eu mais desejava no momento, e eu esperaria o tempo que for
necessário para poder me justificar pra ele.
Chacoalhei minha cabeça, querendo voltar à realidade, por mais difícil que ela fosse. Além do
problema envolvendo o Naruto, agora eu teria que lidar com o meu irmão doente.
Eu pretendia vê-lo muito em breve, aproveitando o fato de que ele permanecia dopado para que não
precisássemos interagir.
Vesti uma blusa rapidamente, visto que estava acostumado a dormir sem nada em meu tronco, já
que todo e qualquer tipo de uniforme aqui dentro é esfiapado e pinica, logo calçando o meu tênis e me
dirigindo para fora.
Os corredores estavam vazios, o que significava que todos provavelmente estariam aglomerados no
refeitório para cumprirem o seu horário de café. Apesar de ter poucas pessoas circulando o local, eu não
pude deixar de notar o modo como alguns presidiários me olhavam.
Eles estavam intimidados comigo, bem mais do que normalmente ficavam.
Pelo o que me parecia, ter o meu irmão doente e ausente de tudo e todos, fez com que eu me
tornasse a mais nova “abelha rainha” da prisão. Eu não gostava nenhum pouco disso, mas era melhor que
fosse eu a comandar o lugar do que qualquer outro detento perigoso e sem noção.
Por enquanto, era eu quem ditaria as regras por ali.

197
Passei de cabeça erguida por todos eles, caminhando com a minha postura de sempre, minhas duas
mãos em meu bolso e o corpo ereto. Por mais que eu não gostasse nenhum pouco das ordens de meu
irmão, eu admito que acabei seguindo essa pequena parte.
Postura era algo importante.
Deixei o bloco 5, caminhando apreensivamente em direção a enfermaria, tomando o caminho mais
lento de propósito, como se me preparasse mentalmente para encontrar o Itachi desacordado e com o seu
corpo ligado em um monte de máquinas.
Enquanto eu tomava coragem para chegar em meu destino, diminuindo meus passos cada vez mais,
passei próximo a biblioteca da penitenciária, a mesma que não entro a mais de um ano, visto que é
necessário ter um cartãozinho especial para frequenta-lá, algo que eu particularmente não tenho e também
não me interesso.
No entanto, eu parei de frente a ela.
Pelo fato de ser um lugar “aberto” e não ter nenhuma porta para separa-lá do lado de fora, foi bem
fácil para mim de localizar um garoto loiro, baixinho e encolhido em meio as prateleiras, sentado
solitariamente no chão, ao mesmo tempo em que carregava um livro em suas mãos.
Era o Naruto.
Eu fiquei muito aliviado em saber que ele estava bem. Apesar de estar alheio a mim, o menor
carregava um biquinho concentrado em seus lábios, folhando o livro atentamente, deixando-o
estranhamente fofo em meu ponto de vista, especialmente por estar lendo um conto infantil, o qual eu logo
identifiquei como “Peter Pan”.
Eu sorri pequeno com a cena.
Me aproximei ainda mais da biblioteca, parando na catraca da mesma, aonde um detento qualquer
tomava conta da entrada, autorizando somente pessoas que tivessem o cartãozinho especial.
-Você tem o cartão? -Indagou desinteressado.
-Não. -Respondi na mesma entonação.
-Sinto muito, mas você não pode entrar. -Declarou secamente, levantando uma revista até seu rosto,
a qual continha fotos pornográficas de garotas.
Eu suspirei irritado.
-Abre essa merda. -Eu não estava com paciência para ninguém. -Isso é uma ordem, vai logo.
O detento abaixou a revista meio assustado, parecendo ter se dado conta de com quem estava
lidando. Com a ausência do Itachi, estava ainda mais fácil de conseguir as coisas.
-Pode entrar. -Me autorizou, baixando sua cabeça e tom de voz, liberando minha passagem na
catraca.
Entrei com cara de poucos amigos, mas disposto a deixar esse pequeno incidente de lado, visto que
naquele momento, eu tinha outras coisas para me preocupar.
Como já mencionei antes, eu não faria pressão para que o Naruto concordasse em dialogar comigo
sobre o acontecido, mas também não teria problema em pelo menos pergunta-ló se ele estava bem ou se
precisava de alguma coisa.
Andei até o centro da biblioteca, parando bem de frente a sessão em que o menor se encontrava.
“Livros infantis” era o nome dela. Como o loiro estava completamente alheio a mim, nem reparando que eu
me encontrava de pé em sua frente, eu resolvi dar duas batidinhas na parede, querendo chamar sua
atenção.
-Oi. -Me encostei desleixadamente na prateleira, mantendo minhas mãos no bolso da calça, mas não
conseguindo deixar de sorrir com o modo como Naruto se assustou, fechando seu livro aflitamente,
tentando esconder o fato de que estava lendo algo infantil demais para a sua idade. -Peter pan, hm?
Suas bochechas ganharam uma coloração a mais, tanto por conta de minha presença repentina,
quanto pelo fato de ter sido flagrado por mim. Ele ficava envergonhado muito fácil, e muitas vezes sem
motivo.
-U-Uhum... -Apesar do susto, foi um alívio tremendo reparar em um sorriso pequeno repuxando seus
lábios, dando a entender que ele não estava tão incomodado assim com a minha presença. -V-Você gosta
dele?

198
Eu sorri satisfeito.
Ontem de noite o Naruto nem sequer conseguia olhar na minha cara, mas pelo o que me parecia, as
coisas já estavam diferentes nesta manhã. Ele deve ter refletido com mais cuidado e levado em conta o que
eu lhe falei quando estávamos de baixo da mesa.
-Gosto. -Concordei descontraído, observando ele se levantar do chão, limpando seu traseiro e
joelhos sujos de poeira. Aquele chão era imundo, igual todo o resto da penitenciária. -Mas eu prefiro o
capitão gancho.
O loiro riu tímido e baixinho, juntando suas duas mãos na frente do corpo, olhando para seu pé de
modo sem graça, talvez ainda sem saber como reagir em minha frente.
-Como você está? -Questionei interessado.
-Eu estou bem, eu acho.
-Acha? -Repeti preocupado, especialmente quando ele baixou sua cabeça, mexendo em seus
dedinhos nervosamente. -Tem alguma coisa te incomodando?
-H-Hm, eu acho que já estou pronto. -Declarou meio atrapalhado, apesar de eu já ter sacado
rapidamente sobre o que ele estava falando. -Já estou pronto pra conversar com você.
Meu sorriso cresceu discretamente, enquanto uma onda de alívio tomava conta de todo o meu corpo.
O Naruto havia mesmo repensado sobre a situação e aproveitado o espaço pessoal que eu lhe
proporcionei. Ele queria voltar a falar comigo, para que assim eu pudesse me justificar e arrumar as coisas
entre nós.
-Tudo bem. -Cruzei meus braços, meneando com a cabeça para que ele chegasse mais perto de
mim. -Vem, bebê. Vamos sair daqui.
-P-Pra onde a gente vai? -Perguntou curioso, embora já tivesse concordado em se aproximar,
parando bem em minha frente.
-Vamos conversar na minha cela, pode ser? -Sugeri calmamente, não querendo que ele pensasse
que eu estivesse carregado de segundas intenções. O único motivo pelo qual eu queria voltar para a minha
cela, era porque outros detentos estavam entre nós e poderiam ouvir a nossa conversa. -Lá a gente vai ter
mais privacidade.
-Ah, tudo bem. -Concordou sem protestar.
-Vamos. -Deixei ele passar na minha frente, andando juntamente consigo para fora da biblioteca,
fazendo questão de fuzilar o mesmo detento que me desentendi na entrada, o qual desviou seu olhar de
mim medrosamente.
Ao deixarmos o local, Naruto parou no meio do corredor, esperando que eu o guiasse para o bloco 5,
provavelmente com medo de entrar sozinho ou talvez porque não soubesse como chegar até lá. Passei em
seu lado, tocando calmamente na altura de suas costas, passando-o segurança enquanto andávamos.
Ficamos o caminho inteiro em silêncio, o que foi o suficiente para que eu planejasse pelo menos um
pouco de minha justificativa em relação ao que aconteceu. Eu estava arrependido de verdade, e pretendia
colocar tudo para fora logo quando engatássemos no assunto.
-Pronto. -Declarei assim que chegamos em minha cela, parando ao lado da grade para dá-lo
passagem primeiro. Dei uma chegada rápida no corredor, notando que o mesmo permanecia vazio, mas
mesmo assim, era bom ficar atento em quem estava por perto.
O loiro entrou envergonhado, parando no centro com uma postura insegura, olhando ao seu redor
como se estivesse intimidado. Aquela cela também era do Itachi, e ele provavelmente estaria pensando
sobre isso.
-Meu irmão não vai aparecer. -Acalmei-o, fazendo uma nota mental de não me esquecer de visitar o
Itachi logo após minha conversa com o Naruto. -Ele está na enfermaria.
-O-Oh... Ele está bem? -Indagou preocupado. Aparentemente, o Naruto não estava ciente de seu
desmaio na cozinha.
-Não muito. -Suspirei chateado. -Eu vou ver ele depois, mas isso é assunto para mais tarde.
Ele assentiu com a cabeça, permitindo que eu me aproximasse mais uma vez, parando de frente a si
em uma distância de dois passos. Naruto levantou seu pescoço timidamente, corando um pouco com o meu
modo de olhar, enquanto eu criava certa coragem para iniciar o diálogo.

199
-Me desculpa, Naruto. -Foi a primeira frase que saiu de minha boca, a qual veio de modo
completamente involuntário e desesperado. -Me desculpa pelo o que eu fiz, eu estou com vergonha de mim
mesmo.
Seus lábios se entreabriram em surpresa, autorizando-me com o seu silêncio a prosseguir com
minha justificativa. Eu, por outro lado, retirei as mãos de meu bolso, apertando meus punhos nervosamente,
agoniado demais para manter-me parado.
-Eu gosto de você, bebê. -Declarei meio fora de mim, me arriscando em dar mais um passo na sua
direção, precisando baixar um pouco o meu pescoço para fita-ló nos olhos. Mesmo diante daquela situação,
eu não pude deixar de reparar novamente em nossa diferença de altura. -Gosto de verdade. E eu nunca
quis que você se sentisse vulnerável e assustado por minha causa.
Tomei a liberdade de tocar em uma de suas mãos, fazendo um carinho delicado até a altura de seu
pulso, não desgrudando nenhum segundo de seus olhos, os quais encontravam-se marejados e
arregalados, acompanhados de suas bochechas rubras e lábios trêmulos.
Ele estava bastante preso em tudo o que lhe falava.
-Eu queria que você se sentisse sempre protegido do meu lado. -Revelei bem seriamente, quase em
um tom sofrido. -Queria que você se sentisse bem comigo, Naruto. Só que eu fiz você sentir o oposto.
Seus olhinhos piscavam de modo bem lento e choroso, transbordando interesse e concentração em
minha declaração.
-Me desculpa mais uma vez. -Pedi agoniado, quase não conseguindo me reconhecer diante de nosso
diálogo. Quando foi a última vez que eu implorei pelo perdão de alguém? -Eu estou arrependido de verdade.
Cessei minhas carícias em sua pele, apreensivo por ele não ter reagido de nenhuma maneira, nem
mesmo soltado algum som com a boca que comprovasse que havia aprovado o meu pedido de desculpas.
Seus olhos alternavam sem parar entre os meus, dirigindo silenciosamente cada palavra dita por mim.
Em seguida, veio a reação que eu tanto esperava.
Seu corpinho trêmulo e delicado foi de encontro ao meu, juntando-se de modo inesperado a mim,
embora eu não tivesse desaprovado nenhum pouco a sua iniciativa em me abraçar tão de repente. Seu
rosto entrou em contato com o meu peito, escondendo-se de modo tímido, enquanto seus bracinhos
circulavam meu tronco carinhosamente.
Correspondi seu abraço de imediato, segurando delicadamente na parte de trás do seu pescoço,
acariciando sua cintura e os cabelos de sua nuca, apoiando-me com o meu queixo em sua cabeça,
desfrutando da melhor forma que pude a nossa proximidade.
-E-Eu também gosto de você, Sasuke. -Falou embargado, ignorando totalmente a minha justificativa,
focando somente na parte em que revelei-o sobre os meus sentimentos em relação a ele. -Muito mesmo.
Suspirei um pouco emocionado, fechando meus olhos com força. Enterrei meu rosto no topo de sua
cabeça, inalando seu cheirinho tão leve e conhecido por mim, antes mesmo de estalar um beijo rápido e
discreto em seu coro cabeludo, gostando de lhe fazer carinho e receber também.
-M-Me desculpa também. -Naruto pediu baixinho, levando sua cabeça para me olhar nos olhos,
encaixando seu queixo em meu peito. -Eu não queria ter feito você pensar que eu senti nojo de você,
Sasuke.
Sorri triste para ele.
-D-Desculpa ter agido daquela forma. -Abaixou o rosto, se afastando lentamente de meu corpo. No
entanto, eu continuei com minhas mãos em sua cintura, querendo mantê-lo o mais perto possível de mim.
-É só que eu não consegui evitar de pensar em tudo o que eu passei, foi como se todos os meus
pensamentos ruins surgissem de repente e—
-Eu entendo, Naruto. -Cortei-o calmamente. Ele não precisaria me explicar tudo o que sentiu na hora
de nosso beijo, visto que eu entendia perfeitamente sobre todos os seus traumas. -Não precisa me pedir
desculpas. Você não teve culpa, está bem?
Foi a sua vez de sorrir entristecido para mim.
-Eu prometo que nunca mais vou avançar seu limite daquele jeito. -Olhei profundamente para dentro
de seus olhos, transmitindo honestidade e convicção. -A partir de agora eu só vou te tocar com a sua
autorização.
Suas bochechas ficaram rubras até a altura de suas orelhas, enquanto um sorriso tímido nascia pelos
seus lábios.

200
-A gente vai com calma, bebê. -Sussurrei essa última parte, fazendo um pequeno carinho em sua
cintura, gostando de senti-lo pertinho de mim. -Vamos no seu tempo.
Com um aceno de cabeça envergonhado, o loiro voltou a chocar nossos corpos, dando-me outro
abraço de agradecimento, arrancando uma risada baixinha e enrouquecida de minha parte. O Naruto era
alguém muito carinhoso, e se qualquer pessoa lhe desse algum tipo de abertura, ele se sentia confortável
para abraçar.
Eu não reclamaria de jeito nenhum, afinal, qualquer carinho vindo dele era bem-vindo para mim.
-Ei, deixa eu olhar pra você. -Levantei sua cabeça delicadamente, tocando em apenas um dos lados
de sua bochecha, afastando-o o suficiente para que tivesse seu rosto próximo do meu.
Afaguei sua pele rosada e macia, passeando meu dedão por cima de cada risquinho presente em
sua bochecha, permitindo que nossas respirações se mesclassem, a dele um pouco mais agitada e ansiosa,
enquanto a minha beirava a calmaria, soando pesada.
Umedeci meus lábios com a língua, embriagado com a clima instalado entre nós tão de repente,
ciente de que Naruto sentia o mesmo, mirando em minha boca com os seus próprios olhos, autorizando-me
a prosseguir com o que eu tanto desejava naquele momento.
Eu queria beija-ló novamente.
Em movimentos delicados, trouxe seu rosto devagarzinho para mais perto do meu, deixando a
tensão aumentar entre nós dois, observando o momento exato em que o loiro fechou os seus olhos,
correspondendo ao pequeno selinho que estalei em sua boca.
Dessa vez eu pretendia ir com calma.
Rocei meus lábios cuidadosamente sobre os seus, fazendo o mesmo com os nossos narizes, não
conseguindo manter-me com os olhos fechados, hipnotizado com todas as pequenas reações vindas de
Naruto.
Estalei um outro beijo em sua carne, não esperando muito para dar mais um em seguida,
depositando um selinho atrás do outro, todos bem úmidos e lentos, admirando os sons baixinhos que
rasgavam a sua garganta, além da pele de sua bochecha tornando-se ainda mais avermelhada.
-Vem cá, bebê. -Chamei baixo, praticamente colado em sua boca, me controlando ao máximo para
não beija-lo devidamente em meio a cela.
Naruto reagiu meio atordoado, abrindo seus olhinhos de modo lento e confuso, apenas se deixando
ser levado por mim até a parede no canto de minha cela, a mesma que ficava do lado da grade, ou seja,
fora da linha de visão de qualquer um que passassem no corredor.
Naquele canto, ambos estaríamos escondidos.
Encostei suas costas cautelosamente sobre o cimento, cercando seu corpo com o meu, não
demorando muito mais para voltar do modo como estávamos antes, segurando delicadamente em sua
cintura no segundo em que fiz contato com os seus lábios, pedindo passagem com a minha língua.
Sua resposta veio rápido.
Nossas línguas se roçaram com lentidão, seguindo um ritmo carinhoso e desejoso, assim como as
carícias trocadas entre nós, todas bem amorosas e respeitosas, seguindo exatamente com o tempo que
Naruto desejava e gostava.
Seu toque em minha bochecha acompanhava cada movimento feito com minha cabeça, enquanto eu
me afundava cada vez mais em sua boquinha tão viciante e macia, lambendo, sugando e chupando sua
língua da melhor maneira que podia, como se estivesse mesmo tentando saciar toda a minha vontade.
Os barulhos molhados do roçar de nossas línguas deixavam a cela mais quente e abafada,
camuflando a temperatura congelante ao lado de fora, o que deixava nossos corpos ainda mais unidos,
encostando-se um ao outro numa tentativa de se aquecer.
Estava tudo tão bom.
Meu corpo correspondia ao seu de modo inexplicável, encaixava-se em sua boca com perfeição e
vontade, deixando minha nuca arrepiada, assim como o resto dos pelos do corpo de Naruto, estando
aparentemente mais sensível do que eu.
Querendo ou não, eu já estava começando a ficar excitado, tudo em consequência a cada toque e
carícia de sua parte, além dos ofegos baixinhos e fininhos que deixavam os seus lábios, mesmo com tão
pouco entre nós.

201
Eu precisei interromper o momento.
-Ei, bebê... -Separei nossas bocas, deixando um pequeno fio de saliva preso entre nós, precisando
dar outro selinho para quebrá-lo. -Vamos parar por aqui, sim?
Seu peito descia e subia acelerado, enquanto sua respiração permanecia ofegante, olhando para
mim de rosto corado e lábios inchados, o que me deixou com ainda mais vontade de continuar de onde
paramos.
Contudo, aquilo não poderia acontecer.
Eu havia prometido ao Naruto que iríamos com calma, e no estado em que eu me encontrava, não
queria arriscar e passar dos limites com ele novamente.
-T-Tudo bem... -Concordou atordoado, ainda assimilando o nosso beijo. Aproveitei para lhe dar um
último selinho, afastando meu corpo do seu para dar uma pequena espiada no corredor. Já estava um
pouco mais cheio. -Você vai ir ver seu irmão agora, Sasuke?
-Vou sim. -Assenti tranquilamente, achando adorável o modo como ele não conseguia me olhar nos
olhos, mexendo em seus dedos envergonhadamente. -Eu pretendo ir antes que ele acorde.
-Q-Quer que eu vá com você? -Indagou atenciosamente, corando quando o olhei surpreso. -Quero
dizer, se você não quiser a minha companhia eu entendo e—
-Eu quero. -Interrompi a sua justificativa desnecessária. Na verdade, eu acho que nunca desejei tanto
a presença de alguém antes.
Ele sorriu tímido.
-Você tem certeza de que quer ir? -Eu tive que confirmar. Não seria nada agradável de ver o Itachi
desacordado e ligado em um monte de máquinas na enfermaria.
-Uhum. -Concordou positivo, carregando o mesmo sorrisinho meigo. -E-Eu quero ficar com você,
Sasuke.
Lhe enviei o sorriso mais agradecido e carinhoso que consegui esboçar, adorando internamente o
fato de tê-lo tão apegado a mim, visto que eu me encontrava da mesma maneira em relação a ele.
-Vamos, então. -Toquei calmamente em suas costas, dando a entender que ele poderia passar em
minha frente. O loiro, por sua vez, não entendeu muito bem o recado, segurando carinhosamente em meu
braço, me passando a ideia de que queria andar do meu lado.
Eu também não protestei contra isso.
Se ele quisesse ficar agarrado ao meu braço e andando pertinho de mim, eu iria permitir. Afinal, era
eu quem estava no comando naquela penitenciária, além do fato de que meu irmão não estava por perto
para se meter e controlar a minha vida.
Andamos para fora da cela, seguindo pelo caminho mais curto até a enfermaria. Dessa vez eu estava
bem mais confiante em ir ver o Itachi, o que talvez se desse pelo fato de que Naruto estivesse me fazendo
companhia.
Os detentos em nossa volta olhavam para a cena um pouco ressabiados, todos desacostumados em
me ver tão próximo de alguém, especialmente estando longe do meu irmão. Entretanto, ninguém se atrevia
a perguntar nada, embora estivessem comentando a situação entre si.
Olhei rapidamente para o loiro, o qual mantinha-se completamente desligado de todos os olhares
direcionados a nós dois, sorrindo tímido por estar abraçado ao meu braço, feliz com o fato de eu estar
permitindo que ele andasse junto comigo.
O Naruto é mesmo muito desligado.
Em menos de dois minutos, conseguimos finalmente alcançar a enfermaria, apesar de que
tivéssemos que lidar com olhares vindos de praticamente todos os presidiários e guardas ao decorrer dos
corredores.
A porta da mesma se encontrava fechada, o que geralmente ocorria quando algum dos detentos
ficava internado, para que assim o paciente tivesse certa “privacidade”.
Suspirei pesadamente, parando de frente a entrada. O minha reação dependeria muito do estado em
que meu irmão se encontrava, e sinceramente, eu torcia para que ele não estivesse tão mal igual o Obito
me relatou.

202
-Você está bem? -A voz meiga e doce de Naruto se fez presente em meu ouvido, fazendo-me virar o
pescoço para observa-ló grudado a mim, não me largando por nenhum segundo desde que deixamos a
cela.
-Estou sim. -Sorri pequeno, não conseguindo me recordar da última vez em que alguém demostrou
um carinho e uma preocupação tão aparente por mim. -Vamos entrar.
Ele concordou com a cabeça, o que acabou me passando uma segurança maior para prosseguir.
Quando finalmente girei a maçaneta, logo tive que retirar minha mão da mesma, visto que no segundo
seguinte, a porta da enfermaria havia sido aberta pelo lado de dentro.
Dei um passo para trás, arrastando Naruto juntamente comigo, o qual me agarrou com firmeza,
provavelmente pelo susto de ter a porta sendo escancaradas com uma agressividade desnecessária.
Foi bem fácil de identificar a figura parada em frente a nós. Era o Deidara.
O loiro, logo notando a nossa presença, levantou seu pescoço curiosamente, revelando-nos sua
expressão deprimida e distante, mas que logo foi alterada ao colocar os olhos em mim, transformando-se
para uma completamente raivosa.
-O-Oi, Dei. -Naruto se distanciou de mim, embora o nosso pequeno “abraço” não tivesse passado
despercebido pelos olhos do mais velho, o qual levantou uma sobrancelha desconfiado. -Está tudo bem? O
que você está fazendo na enfermaria?
Aparentemente, ele se aborreceu com os questionamentos.
-Não é da sua conta! -Gritou de modo desnecessário, estalando a língua no céu da boca. -Vê se me
erra, pirralho chato da porra!
Franzi meu cenho com tamanha grosseria, desaprovando de imediato o seu modo hostil dele em se
dirigir ao Naruto, sendo que o mesmo havia lhe feito uma simples pergunta e inocente.
-Pega leve com ele. -Defendi-o com toda a minha paciência, tocando discretamente nas costas do
menor, o qual encolhia-se chateado pelo modo como estava sendo tratado. -Ele só está preocupado com
você.
Deidara se irritou comigo também.
-E você é quem? O guarda-costas dele?! -Seus gritos iam aumentando cada vez mais. -Vai se foder
vocês dois! Eu estou cansado dessa merda!
-D-Deidara, espera! -Naruto tentou pará-lo, carregando uma voz chorosa e magoada, mas sendo
brutalmente afastado pelo outro, o qual empurrou-o ao passar do seu lado, chocando os nossos ombros
propositalmente.
-Deixa ele sozinho. -Segurei delicadamente em seu pulso, impedindo-o de correr atrás dele. -O
Deidara está com a cabeça quente agora, não vai adiantar falar com ele.
-S-Será que ele está bem?
-Eu não sei. -Tentei parecer o mais compreensível possível, embora estivesse internamente chocado
com o fato de Naruto ainda se preocupar com ele, mesmo após ter sido tratado feito lixo. -Escuta, Naruto...
Ele virou-se chateado para mim.
-O-Oi?
-Você não pode deixar as pessoas pisarem assim em você, bebê. -Procurei soar sensível,
aproveitando para levantar o queixo do loiro, querendo que ele me fitasse nos olhos. -Eu entendo que o
Deidara é o seu amigo, mas deixar ele te tratar assim, só vai dar abertura para que outras pessoas hajam
da mesma forma.
Um biquinho choroso surgiu pelos seus lábios.
-E-Eu sei. -Seu rosto tornou-se rubro. -Mas eu já tentei conversar com ele, Sasuke. Eu tentei mostrar
que era muito chato o jeito que ele falava comigo e que me magoava muito, só que o Deidara não me
escutou.
Eu quase deixei escapar uma risadinha, inconformado com o modo como Naruto era adorável. Ele
provavelmente teria falado com o Deidara delicadamente, sem impor o que realmente pensa, o que
obviamente não funcionou.

203
-E-Eu não consigo ser grosso com as pessoas. -Lamentou, fazendo uma careta sofrida para mim.
-Nem quando eu assaltava as pessoas eu era mal-educado. Na verdade, eu costumava tratar as minhas
vítimas bem até demais.
Ri soltamente.
-Como você assalta uma pessoa tratando ela bem, bebê? -Eu não conseguia parar de sorrir perto
dele, tanto que minhas bochechas estavam começando a doer. Não era algo frequente eu der tanta risada.
-É meio contraditório, não acha?
-Eu sei. -Riu sem graça, escondendo seu rosto corado. -Tinha vezes que as pessoas até me
perguntavam se era algum tipo de piada.
Neguei com a cabeça desacreditado, não aguentando ouvi-lo falar sobre algo tão sério, mas que ao
mesmo tempo chegava a ser engraçado e adorável. Eu comecei a imaginar como seria ser assaltado pelo
Naruto. Deve ser muito hilário.
-Olha, eu não estou pedindo pra você ser grosseiro de graça com o Deidara. -Retomei o assunto
anterior. -Mas eu também não quero que você fique calado quando ele te tratar mal igual aconteceu agora
pouco. Você precisa se impor, Naruto, senão as pessoas nunca vão te levar a sério.
Ele concordou chateado.
-T-Tudo bem, eu vou tentar.
-Muito bem. -Sorri levemente orgulhoso, querendo deixar o assunto para trás, pelo menos naquele
instante. -Vamos entrando.
Eu já tinha enrolado demais.
Aquela era a hora de ver o estado em que o meu irmão se encontrava. Abri a maçaneta devagar,
enquanto Naruto vinha andando atrás de mim, me dando espaço pessoal para que eu pudesse ter o meu
próprio momento.
A enfermaria, no geral, encontrava-se vazia. Apesar da luz solar ao lado de fora, os enfermeiros
optaram por deixarem o interruptor acesso, iluminando exatamente a cama em que meu irmão se
encontrava deitado em meio ao cômodo.
Meu coração disparou de um jeito ruim.
Parei ao lado da porta, respirando lento e assustado, me esquecendo completamente de como era
ver o Itachi tão mal e enfraquecido. Faziam muitos anos que eu não o via tão acabado assim.
Ele estava pálido, magro, utilizando um uniforme diferente do habitual, aparentando sendo uma roupa
hospitalar, além de ter a dobra de seu braço esquerdo ligado à um soro, tomando-o em sua veia.
Eu não consegui chegar perto dele.
Me encostei dramaticamente na parede atrás de mim, soltando todo o ar de meus pulmões, sentindo
uma sensação horrível tomar conta de todo o meu peito. Embora eu estivesse decepcionado com todas as
atitudes de Itachi, meus sentimentos em relação a ele não haviam mudado.
Ele é o meu irmão, eu o amo independente de seu temperamento e defeitos. Pensar que talvez eu
posso perdê-lo, e ter que lidar com tudo sozinho, tanto dentro da prisão, quanto fora daqui, estava me
corroendo por dentro.
Ele não pode morrer, eu não vou deixar.
-Sasuke?
Um toque sútil e cuidadoso foi de encontro ao meu punho, o mesmo que eu apertava com força, não
sabendo lidar com tantas sensações negativas ao mesmo tempo. Me virei meio assustado, logo sentindo
uma calmaria incomum ao me deparar com o olhar tão tranquilizador e dócil de Naruto.
-Vamos sair daqui. -Anunciei no tom mais indiferente que pude, embora eu tivesse quase certeza de
que ele reparou no estado em que eu fiquei. -Eu não quero mais ficar aqui.
-Tudo bem. -Ele assentiu compreensivamente, me lançando um sorriso triste. Saber que o Naruto
estava comigo, melhorava um pouco o meu humor.
Virei as costas para meu irmão, nada disposto a permanecer naquele ambiente frio e agonizante. Eu
nunca gostei de hospitais e enfermarias, especialmente se alguém importante para mim estivesse
precisando de cuidados médicos.

204
Abri a porta meio fora de mim, sentindo a presença de Naruto logo atrás, o qual deu uma pequena
corrida para me alcançar, aparentemente preocupado com o modo que fiquei depois da pequena visita que
fiz ao Itachi.
-S-Sasuke? -Ele me chamou, enquanto eu parava distante da porta, ficando de costas para si. -Está
tudo bem com—
Sua fala foi rapidamente interrompida pela sirene da penitenciária, a mesma que anunciava o início
dos turnos de trabalho, além do horário diário do banho de algum dos blocos.
-Eu estou bem. -Respondi o que imaginei que ele queria me perguntar. -Não se preocupe.
O loiro se aproximou cautelosamente, carregando um olhar sofrido e preocupado, aparentemente
sem acreditar no que eu lhe falei. Qualquer um em sã consciência repararia em minha mudança de humor.
-Agora não é o seu horário de tomar banho, Naruto? -Desviei o assunto, levando minhas mãos ao
bolso do uniforme.
-S-Sim, mas...
-Então você não pode se atrasar. -Cortei sua fala, prevendo que ele me encheria de perguntas sobre
o Itachi e o meu emocional. Eu não estava afim de falar sobre isso, na verdade, eu queria ficar um pouco
sozinho para esclarecer os meus pensamentos. -Depois eu te procuro, tá bom? Vai tomar o seu banho.
Naruto me fitou magoado.
-A-Ah, tudo bem. -Concordou, chegando próximo de mim na intenção de se despedir. Apesar de eu
estar afetado com o que aconteceu, permiti que ele viesse até mim. -Te vejo depois, Sasuke.
Seus lábios foram de encontro a minha bochecha, beijando-a lentamente, o que me fez fechar os
olhos por alguns segundos, aproveitando o carinho que recebia de si, especialmente naquele momento tão
delicado para mim.
Quando senti que o loiro se distanciaria novamente, segurei firme em uma cintura, aproveitando que
o corredor estava vazio para juntar as nossas bocas, querendo me despedir com decência, mesmo que
fôssemos nos encontrar em pouco tempo.
Nos beijamos com lentidão, sem língua e nem nada, apenas roçando nossos lábios com carinho, e
da minha parte, descontando um pouco de minha tristeza em nosso beijo. Ainda era algo completamente
novo para mim o modo como o Naruto me fazia bem.
-A gente se vê depois, bebê. -Declarei baixinho.
-T-Tchau, Sasuke. -Sorriu tímido e corado, desconectando sem corpo do meu.
Lhe lancei um último sorriso, seguindo em uma direção completamente aposta a sua, querendo ficar
só para clarear os meus pensamentos. Embora estivesse tudo absurdamente péssimo com o Itachi, as
coisas com o Naruto estavam mais do que resolvidas.
Nós dois estávamos apegados um ao outro.
Deidara On

O pátio aberto estava lotado, quase sobrecarregado naquela tarde fria, como se todos os detentos
houvessem tido a mesma ideia de se unirem em um só lugar para se aquecerem, fugindo do clima
congelante trazido pelo inverno.
A barulheira ao meu redor estava insuportável, no entanto, isso não me impedia de escutar
atentamente todas as conversas vindas dos meninos de meu grupo, os quais encontravam-se sentados em
nosso banco de sempre, mas dessa vez, acompanhados de Suigetsu.
Eu simplesmente não conseguia aceitar uma coisa dessas.
Como foi que o Kiba conseguiu perdoar ele depois de tudo o que aconteceu? O Suigetsu, além de ter
feito mal para si, também já fez para mim e até mesmo para o Naruto. Aquilo era um absurdo e
completamente inaceitável.
Por essa razão, eu estava dando o meu melhor para ser o mais desagradável e grosseiro com os
meninos, torcendo para que isso fizesse-os abrirem os olhos e perceberem que aquela era uma péssima
ideia.
-...Certo, minha vez. -Neji comandava um jogo qualquer que eles haviam inventado, aonde cada um
deles deveriam responder à pergunta jogada na roda. -Quando foi a última vez que vocês transaram?

205
Os garotos soltaram risos e barulhos de aprovação, ao mesmo tempo em que eu revirava os olhos,
acompanhando discretamente todas as reações de Naruto, o qual se mantinha neutro diante do jogo,
embora eu o conhecesse bem o suficiente para saber que ele estava odiando aquilo tanto quanto eu.
-Ontem de noite. -Kiba respondeu, provavelmente brincando, arrancando gargalhadas de seus
companheiros. Fala sério, qualquer coisa para eles é motivo de dar risada. Como eles conseguem ser tão
felizes? -E você, Suigetsu?
Só de ouvir o nome dele, eu já me coloquei em posição de ataque, pronto para implicar com qualquer
resposta que ele soltasse. Quando eu disse que tentaria ser o mais desagradável possível, eu não estava
brincando.
-Desde que eu entrei aqui, ué. -Deu de ombros. Esbocei a minha melhor cara de tédio, bufando
desinteressado, querendo mostrar-lós o quanto estava odiando tê-lo em meu grupo. -E você, Gaara?
-Vish, já faz um tempão. -Riu sem graça. Os meninos, por outro lado, começando a soltar piadinhas,
afirmando que ele precisava “desencalhar”. -E você, Deidara?
Eu odiei ter sido incluído no jogo.
Cruzei meus braços enfezado, optando por omitir a resposta. Se eu respondesse à pergunta com
honestidade, estaria me entregando de cara, revelando a todos que já tive um envolvimento aqui dentro da
prisão, mas que na verdade, foi um relacionamento amoroso.
-Eu já disse que não vou jogar enquanto o Suigetsu estiver aqui, caralho. -Repeti a mesma coisa pela
quinta ou sexta vez, falando com o maior desprezo do mundo.
-Qual é, cara... -Shikamaru tentou dialogar comigo, aparentemente rendido ao pedido de desculpas
do Suigetsu. -Dá uma chance pra ele, o cara disse que quer mudar.
-E você acredita nesse, filho da puta?! -Questionei, já começando a me irritar. -Vocês são todos uns
ingênuos, todos!
As coisas andavam tão estressantes ultimamente, que qualquer coisinha mínima é motivo para me
tirar do sério. Um exemplo disso, foi na hora do café da manhã.
Eu iniciei uma discussão séria e desnecessária com o Kiba por ele sempre mastigar de boca aberta,
afirmando que isso me incomodava e enojava muito, o que acabou deixando-o bravo também, retribuindo a
“gentileza” na mesma moeda.
No final das costas, foi o Obito quem precisou separar a nossa briga.
Para falar bem a verdade, nem mesmo eu estou me aguentando. Eu vejo as pessoas em minha volta
se cansando de mim, comentando o quão bruto e insuportável eu estou, mas sinceramente, eu não consigo
parar, pelo menos não no grau de estresse em que eu me encontro de uns dias para cá.
-Tudo bem, vamos pular o Deidara. -Neji interrompeu a futura discussão que se instalaria entre nós,
pulando para o próximo participante. -E você, Naruto? Quanto tempo faz que você não transa, hein?
Na vez do mais novo, em especial, todo mundo parou para ouvir. Era como se todos carregassem
uma curiosidade enorme em relação a sua vida sexual, o que na minha opinião, é um tanto perturbador e
sem noção.
-E-Eu... -O loiro ficou inteiramente rubro, olhando até Gaara como se pedisse socorro. Acontece que
até mesmo o ruivo estava curioso ao seu respeito. -Eu nunca fiz isso.
A nossa roda caiu no silêncio.
Os meninos se entreolharam assustados, como se nunca ter se relacionado sexualmente com
alguém fosse a coisa mais incomum e estranha da face da terra. Pelo o que me parecia, somente eu e o
Gaara compreendemos o seu lado, embora eu tivesse decidido guardar minha opinião para mim, apenas
suspirando irritado com o jogo.
Aquilo já estava começando a me incomodar.
-E você está esperando o quê? -Kiba se pronunciou, sorrindo maldoso. -Você já é maior de idade,
cara. Eu perdi minha virgindade com quinze anos!
Risadas e assobios invadiram a conversa, todos aparentemente aprovando o comentário sem noção
de Kiba. Eu tive que rolar meus olhos novamente, quase dormindo de tanto tédio no meio daqueles idiotas.
Absolutamente qualquer coisa para eles era motivo de piada.
-N-Não é isso. -Naruto se pronunciou, tentando concertar a situação. Ele estava tão vermelho que eu
até me assustei. -É só que eu não achei a pessoa certa ainda, sabe?

206
As gargalhadas ficaram ainda mais altas, enquanto os apelidos maldosos surgiam entre elas.
“Santinho”, “virgem”, “puritano” e etc, tudo isso fazia parte do vocabulário deles. Naruto, por sua vez,
começou a ficar cabisbaixo, tremendo seus lábios levemente, anunciando que começaria a chorar.
Isso também me tirou do sério.
Se o Naruto começasse a chorar por conta daquilo, eu ficaria muito estressado com ele. Esse garoto
realmente não tem boca para se defender, chega a ser impressionante. A coisa mais fácil e satisfatória
desse mundo é mandar um bom “vai se foder” na lata pra quem está te tratando feito merda.
Às vezes eu só queria que ele reagisse mais.
No entanto, eu também não poderia deixar de me irritar com o resto dos garotos. Qual era a porra do
problema em ser virgem? Honestamente, o Naruto tinha sorte de não ter tido pressa em perder a sua
virgindade e aberto as pernas para qualquer cafajeste por aí, igual eu fiz logo que entrei nesse inferno de
lugar.
-Gente, para com isso. -Gaara tentava defendê-lo, enquanto o loiro segurava suas lágrimas na frente
de todos. -Cada um tem o seu tempo. A gente precisa respeitar isso.
Bufei tediosamente, não acreditando que o Naruto estava mesmo à beira de suas lágrimas só porque
era virgem. Esse jeito chorão dele me irritava muito, embora eu entendesse me partes de onde veio tanta
sensibilidade, visto que, assim como eu, ele teve uma infância meio conturbada.
-Vamos trocar o assunto, então. -Neji foi parando de rir aos poucos. -Eu tenho outra ideia. Deidara,
essa você tem que participar!
Espremi meus olhos desconfiado.
-O que é dessa vez?
-É aquele jogo que a gente fez outro dia. -Tentou me relembrar. -Escolhe alguém dá roda e fala uma
coisa que te irrita na pessoa, daí ela vai ter que fazer o mesmo com você.
Fiz uma careta tediosa.
-É sério isso? -Eu não estava para brincadeiras.
-É, vai logo! -Me incentivou. -Com você é muito engraçado, você não tem medo de magoar ninguém!
Todos concordaram com risadas, enquanto eu somente revirava os olhos, já decidido de que
escolheria o Suigetsu para implicar.
Eu possuía uma lista enorme de coisas que me irritavam sobre ele na minha cabeça, no entanto,
quando notei que Naruto ainda se encontrava chateado, com uma lágrima solitária descendo por sua
bochecha, eu mudei de ideia.
Eu implicaria com ele.
-Me irrita pra caralho o Naruto chorar tanto. -Joguei a tal informação na roda. Os meninos fizeram
sons de aprovação com a boca, ao mesmo tempo em que Gaara me fitava enfezado, deixando o loiro ainda
mais afetado em meio ao jogo.
-Sua vez, loirinho! -O Suigetsu incentivava o caos, como sempre.
Cruzei meus braços na altura do peito, desafiando-o em silêncio. Eu sabia que ele não iria me
responder, e se respondesse, seria algo completamente sem sentido e inocente.
-O Deidara grita desnecessariamente e é muito escandaloso. Isso me irrita muito. -Para a minha
surpresa, ele reagiu.
Agora os garotos batiam palmas, jogando ainda mais lenha na fogueira, aparentemente
inconformados, mas felizes por Naruto ter finalmente reagido à algum xingamento ou comentário maldoso
meu.
No fundo, no fundo mesmo, eu fiquei satisfeito em vê-lo se impor, embora por fora, eu tivesse que
mostrá-lo que não gostei nenhum pouco de tê-lo me desafiando na frente de todo mundo.
-Como é que é?! -Me levantei de abrupto do banco, sendo parado por Shikamaru, o qual segurou em
meu braço. -Repete, franguinho! Eu quero ouvir, caralho!
O loiro rapidamente perdeu a sua postura, escondendo-se atrás de Gaara, o qual ria entretido com a
cena, não acreditando que Naruto realmente havia criado coragem para se impor.
-Calma, gente. -O Kiba também gargalhava. -É só um jogo, vamos todos nós acalmar.

207
-Eu vou puxar o seu pé à noite! -Eu gritava em direção ao Naruto, me debatendo nos braços de
Shikamaru. -‘Tá ouvindo, porra?! O “escandaloso” aqui vai te matar essa noite, pode se preparar!
Era óbvio que eu não o mataria. No entanto, eu gostava de ameaço-ló para que ele passasse o dia
inteiro se cagando nas calças e morrendo de medo. Dessa vez seria a mesma coisa, visto que ele ficou todo
encolhido com a ameaça.
-Vai se foder todo mundo nessa merda! -Berrei em plenos pulmões, empurrando o Shikamaru para
longe de mim, cansado de ficar no meio daqueles idiotas. -Eu vou dar o fora daqui antes que eu acabe
matando alguém!
O pessoal não conseguiu me levar a sério, principalmente quando decidi dar as costas ao grupo,
escutando-os chamarem pelo meu nome, dizendo que era apenas um jogo e que eu não deveria ter ficado
tão aborrecido. Como estava irritado demais para respondê-los, apenas levantei os meus dois dedos do
meio, pisando emburrado para longe dali.
Do jeito que eu estava nervoso esses dias, permanecer junto com o grupo só pioraria ainda mais o
meu humor, por isso, eu decidi que faria uma caminhada para aliviar o meu estresse.
Fui seguindo meio que sem rumo, deixando minha mente trabalhar sozinha, tendo os mesmos
pensamentos de sempre. Pelo o que me parecia, deixar minha cabeça funcionar sozinha não foi uma boa
opção, visto que quando me dei conta, já me encontrava de frente a enfermaria da prisão.
Eu não conseguia acreditar nisso.
Sacudi minha cabeça, ficando enfurecido comigo mesmo, perguntando-me a todo o momento o
porquê de eu estar me sentindo desse modo, tão preocupado e angustiado com o estado atual de uma certa
pessoa.
O Itachi não estava me deixando em paz.
E quando eu digo que o Itachi não está me deixando em paz, eu estou me referindo aos meus
pensamentos, os quais eu tento mudar a todo o custo, mas eles sempre acabam voltando até ele contra a
minha vontade.
Por mais orgulhoso que eu fosse, eu precisava admitir para mim mesmo que foi bem preocupante
vê-lo desmaiar em minha frente lá na cozinha, além de presenciar o estado critico que ele se encontrava
hoje mais cedo.
Eu tinha vindo visita-ló na enfermaria.
Inclusive, eu havia feito de tudo para ser o mais discreto possível e para que ninguém me visse
assistindo-o dormir. Contudo, ao me encontrar com Naruto e Sasuke na saída (diga-se de passagem que
estranhei um pouco a presença do loiro) senti como se tivesse sido flagrado, e isso não me fez bem.
Eu não deveria estar ali de novo.
Eu não poderia insistir na ideia de vê-lo novamente, mesmo que ele estivesse bem fraco e doente.
Depois de tudo o que o Itachi me fez passar, todas as minhas crises e vezes em que sofri por conta dele, eu
não deveria estar aqui me preocupando com esse idiota.
Só que naquele momento, o meu coração falou mais alto.
Girei a maçaneta lentamente, dando uma espiada pequena na parte de dentro, não conseguindo
enxerga-ló muito bem, visto que um enfermeiro encontrava-se parado de frente a sua cama.
Abri a porta com certa naturalidade, fingindo que não estava ali só para conferir como estava o Itachi,
entrando de cabeça erguida e nariz empinado, torcendo para que o moreno estivesse adormecido. Seria
muito estranho conversar com ele daquele jeito.
Assim como tudo na minha vida nunca da certo para mim, o Itachi encontrava-se desperto e sentado
com suas costas apoiadas na cabeceira, sendo atentamente examinado por Yamato, o qual escutava sua
respiração com um estetoscópio.
O moreno estava de tronco nu, o que só me mostrava ainda mais o quanto ele estava pálido e um
pouco mais magro, deixando seu peito subir e descer de modo bem lento e sofrido, aparentemente com
dificuldades para manter sua respiração regulada.
Nossos olhos foram rapidamente de encontro.
O Itachi, mesmo doente e distante, foi o primeiro entre todos da enfermaria a notar a minha presença,
me avaliando com uma feição surpresa, mas ao mesmo tempo que beirava o alívio, como se estivesse
contente por finalmente ver um rosto conhecido.

208
Eu gostei de ter lhe transmitido esse efeito.
-Deidara? -Yamato me chamou, levantando uma sobrancelha. -Eu posso te ajudar?
-Não. -Neguei meio atordoado, logo me dando conta de que não poderia lhe dar uma resposta
negativa. Se eu estava na enfermaria, era porque precisava de algo. -Quer dizer, sim.
Notei que Itachi repuxava seus lábios em um sorriso, mesmo que bem discreto e fraco.
-Está bem. Do que você precisa? -Questionou, ao mesmo tempo em que retirava o estetoscópio de
seu ouvido, dando uma batidinha fraca nas costas do Uchiha, anunciando que ele poderia deitar-se
novamente.
-Eu estou com dor de cabeça. -Menti a primeira coisa que veio na minha mente, deixando ambos os
homens desconfiados. -Me dá um remédio aí.
-Tudo bem. -Concordou com um suspiro breve. -Espere aí, eu vou buscar no estoque.
-‘Tá. -Respondi indiferente, feliz por ter conseguido mascarar a minha verdadeira intenção.
Quando Yamato deixou o cômodo, batendo à porta do estoque no corredor ao lado, um silêncio
penetrante pairou pelo ar. O único som presente entre nós era a respiração áspera e baixa de Itachi, a qual
me deixou estranhamente agoniado.
-Deve ser de tanto gritar. -O Uchiha falou do nada, o que acabou me causando um certo susto,
virando meu pescoço curiosamente para si. A voz dele estava muito diferente, muito mais fraca e rouca.
-Do que você está falando? -Arqueei a sobrancelha, dando um passo em sua direção.
-A sua dor de cabeça. -Soltou um riso fraco, engasgando-se de repente, vindo seguido de uma série
de tosses. Eu fiquei apreensivo. -Deve ser de tanto que você grita.
Olhei entediado para ele, mas guardando os meus berros e palavrões para outra hora. O Itachi nem
estava em condições para me responder na mesma entonação.
-Você não está com moral pra falar assim comigo. -Apontei para o soro ligado ao seu braço. -Olha só
pra você, eu te avisei que era coisa séria.
-Eu sei, eu estou horrível. -Sorriu de modo apagado, fechando seus olhos por alguns segundos, logo
abrindo-os de modo sofrido e esgotado. -Acho que nunca estivesse tão acabado antes.
Revirei meus olhos.
-Eu odeio isso. -Resmunguei impaciente, me atrevendo a dar mais alguns passos até si, parando
bem no pé de sua cama. -Odeio quando as pessoas fazem isso.
Ele levantou a sobrancelha.
-Odeia o quê?
-Odeio quando a pessoa sabe que é bonita, mas fica se auto-diminuindo pra receber elogios.
-Expliquei enfezado, não deixando ele se vitimizar para mim, nem mesmo estando naquele estado. -Tipo o
que você fez agora.
Um sorriso nasceu em seus lábios.
-Então quer dizer que eu sou bonito? -Virou sua cabeça levemente para o lado, me deixando
completamente sem reação.
Merda.
-Não foi isso que eu quis dizer, seu idiota. -Tentei concertar a situação, revirando meus olhos para
disfarçar o ocorrido. Eu não havia medido minhas palavras e acabei deixando escapar que o achava bonito.
-Aprende a interpretar uma frase e depois vem falar comigo.
-Eu sei interpretar muito bem, para a sua informação. -Sorriu ladino para mim. -E pelo o que eu
entendi, você acabou de dizer que eu sou boni—
-Argh, você é um narcisista mesmo! -Cortei-o, estalando a língua no céu da boca. -Esquece isso,
caralho! Muda o disco!
Ele riu enfraquecido, negando com a cabeça.
-Não grita, senão sua dor de cabeça vai piorar. -Provocou, como se no fundo soubesse que minha
“dor” era tudo uma desculpa minha para vir vê-lo.

209
-Vai se foder. -Xinguei, virando minha cabeça para o lado, cortando o assunto consigo. -Nem
morrendo você para, né?
-Não mesmo. -Brincou com a própria desgraça, ajeitando sua cabeça no travesseiro, ficando em uma
posição favorável para que conversássemos melhor. -E se eu morrer? Você vai sentir minha falta?
Meu estômago se embrulhou de repente.
Querendo ou não, eu não gostei nenhum pouco do se questionamento, por mais que tivesse sido
“inocente” e “brincalhão”.
-Para de falar em morte. -Estalei a língua, preferindo não responder a sua pergunta. -Não se
preocupe que você vai viver muito ainda. Vaso ruim não quebra.
Ele riu meio triste e preocupado.
-Eu espero que você esteja certo. -Suspirou de modo cansado, massageando as próprias têmporas.
-Você sabe do Sasuke? Ele está bem?
Minha expressão de fechou ainda mais.
-Sei lá, deve estar. -Dei de ombros. -Eu não falo com o seu irmão, Itachi.
-Você não viu ele por aí? -Insistiu determinado.
-Na verdade sim. -Me recordei brevemente de tê-lo visto com o Naruto logo cedo. -Eu vi ele aqui na
enfermaria hoje de manhã, ele veio te ver.
Seu sorriso cresceu duas vezes mais.
-Que cara é essa? -Eu fiquei meio confuso com a sua reação.
-O que você estava fazendo aqui na enfermaria hoje mais cedo? -Levantou uma sobrancelha, como
se também soubesse que apareci à algumas horas atrás para vê-lo.
Soltei um som com a boca, mostrando-o que estava irritado com as perguntas.
-Não é da sua conta, seu embuste. -Reclamei, desaprovando o seu interrogatório. -Eu só estava de
passagem, e acabei encontrando o seu querido irmãozinho junto com o Naruto.
Seus lábios foram voltando ao normal, apagando o sorriso presente no mesmo.
-Com o Naruto? -Repetiu meio sombrio.
-É. -Ri desdenhoso. -Eles estão bem coladinhos, sabia? Não é por nada não, mas eu acho que aí
tem coisa.
Itachi olhou para o lado pensativamente.
-Então quer dizer que agora eu não tenho mais um caso com o meu irmão? -Tocou no assunto do
nada, me deixando instantaneamente nervoso. -Agora é o Naruto que tem?
Ele era muito sem noção por querer conversar sobre esse assunto tão delicado entre nós em um
momento daqueles. Além do mais, eu não estava com humor para aquilo.
-Você quer mesmo falar sobre isso, Itachi? -Perguntei sério, sem mexer nenhum músculo de minha
face.
-Você tem razão, é melhor não. -Concordou, me olhando meio desconfiado. -Eu não quero brigar
com você de novo.
-Ótima escolha. -Murmurei, olhando para meus próprios pés com a intenção de mudar de assunto.
Pelo o que me parecia, deixar de encara-ló nos olhos acabou adiantando. Caímos em outro momento
de silêncio, o qual foi rapidamente quebrado pela presença de Yamato. O enfermeiro voltava do estoque,
trazendo o tal remédio para dor de cabeça em mãos.
-Toma aqui. -Estendeu o comprimido para mim, juntamente com um copo de água.
-Valeu. -Aceitei, precisando tomá-lo na frente dos dois. Mesmo não estando com dor, eu tive que dar
o meu máximo para engolir. -Eu já vou indo, então.
Depois que consumo o tal remédio, não teria porque eu permanecer ali. Eu me recusava a deixar o
meu orgulho de lado e ficar na companhia do Itachi. Talvez uma outra hora eu voltasse, mas é claro, eu viria
com outra desculpa.
Eu nunca admitira ao Itachi que estaria ali para vê-lo, por mais doente que ele estivesse.

210
Capítulo 18 - Proposta irrecusável

Naruto On

Como todas as outras manhãs na penitenciária, os detentos foram despertos bem cedo, sendo
retirados à força de suas camas pela sirene matinal. No entanto, naquele dia em especial, eu não me sentia
tão esgotado e indisposto, visto que aparentemente, as coisas haviam começado bem.
O Deidara estava de bom humor.
Para falar a verdade, eu não sei se poderia descrevê-lo como “estando de bom humor”, até porque, o
seu humor nada mais é do que os mesmos palavrões e xingamentos, só que nesse caso, com um pouco
mais de emoção e sorrisos.
Eu me sentia curioso a respeito de sua disposição tão repentina naquela manhã, mas sinceramente,
eu estava com medo de pergunta-ló. As coisas andavam conturbadas entre nós, especialmente após a
nossa discussão do dia anterior, a mesma que decidi seguir com o conselho de Sasuke e enfrentá-lo.
E por falar em Sasuke, foi impossível não sorrir de imediato com os meus próprios pensamentos,
recordando-me brevemente do dia anterior.
Se eu tivesse que dar um chute, diria que o meu ânimo naquela manhã também se dava pelo fato de
que as coisas entre mim e o moreno estavam extremamente saudáveis.
Honestamente, nem tentando eu conseguiria encontrar palavras que descrevessem todos os
sentimentos positivos que estão me preenchendo em relação a nós dois e o nosso envolvimento.
Está tudo perfeito em meu ponto de vista.
Eu me sinto incrivelmente bem perto do Sasuke, além de sentir-me seguro, e de certa forma, até
mesmo amado. O moreno, apesar de sempre carregar seu porte frio e sério, vem se mostrando alguém bem
carinhoso, além de estar aceitando de bom grado todos os meus abraços e beijos.
Ele é o único que não reclama de mim.
O Uchiha já deixou claro, mesmo que indiretamente, que não se importa nenhum pouco com o fato
de eu ser tão grudento e chorão, além de não ligar para todas às vezes em que insisto em abraçá-lo e
beija-ló.
Eu já estou absurdamente apegado ao Sasuke.
Era como se eu estivesse começando a depender dele. De noite, logo antes de dormir, tudo o que eu
consigo pensar é em quando nos veremos novamente, sentindo uma vontade fora do normal de ficar em
sua presença e lhe beijar uma outra vez.
O Sasuke me dá borboletas no estômago.
-...Quem veio visitar você, Dei? -Levantei meu pescoço curiosamente, sendo retirado de meu transe
pela voz sonolenta e ressabiada de Gaara, o qual andava calmamente do meu lado.
A poucos minutos atrás, quando Kakashi entrou em nossa cela afirmando que nós três estávamos
sendo solicitado na ala de visitas, já foi de se esperar que o ruivo ficasse desconfiado, até porque, nunca
fomos chamados ao mesmo tempo.
Isso significava que eu e os meninos tínhamos algum telefonema em espera ou alguma visita
pessoal. No meu caso, eu já imaginava que se tratasse de uma ligação de minha mãe, mas da parte dos
dois, eu não fazia a mais vaga ideia.
Deidara preferiu não responder à pergunta, andando em silêncio a medida em que seguíamos para
nossos destino.
-É a sua família? -Questionei calmo e de modo bem inocente. Como todas as outras vezes, eu
escolhi a pergunta e a hora errada para abrir a minha boca.
-Família? -O loiro riu sem humor. -Que família, Naruto?
Meu peito se apertou.
Olhei de soslaio em direção a Gaara, o qual havia acabado de baixar sua cabeça, caminhando
solitário como se quisesse evitar aquela conversa. Eu não deveria ter tocado no assunto.
-A-Ah, então não são eles quem vieram te ver hoje? -Tentei concertar a situação.

211
-Não, não são. Como eu já te disse, eu não tenho família nenhuma. -Respondeu seco com a intenção
de cortar o assunto. Ele havia acordado tão “bem” que eu não queria retirar isso dele. -Achei que eu já
tivesse te explicado sobre isso.
Neguei com a cabeça.
-Você só me falou que cresceu em um orfanato, mas não me disse nada sobre sua família em si.
-Rebati pacificamente, soando o mais compreensível possível. -M-Mas tudo bem, se você não quiser contar,
eu entendo.
Ele começou a ficar irritado comigo.
-Não tem nada pra contar, caralho. -Estalou a língua, bufando irritadiço. -Minha mãe está morta e
meu pai é um vagabundo imprestável que me enfiou em um orfanato porque engravidou uma mulher
qualquer por aí.
Olhei chateado e surpreso para ele.
-Aquele babaca me trocou pela outra família dele e agora deve estar vivendo bem feliz e contente
com o outro filho dele. -Concluiu com desdém.
-E ele nunca veio te ver? -Questionei delicadamente, tomando todas as suas dores para mim. Deve
ter sido muito difícil para ele. De certa forma, eu entendia por tudo o que o loiro passou, visto que meu pai
também é muito ausente. Eu não falo com o Minato a mais de um ano. -N-Nem no seu aniversário?
Deidara gargalhou forçado.
-Você acha que estamos em algum filme da Disney, porra? -Indagou agressivo, me dando um
pequeno choque de realidade. Os meus questionamentos estavam começando a incomoda-ló de verdade.
-Mais alguma pergunta? Quer saber meu signo agora? Ou minha cor favorita?
Gaara se animou de repente.
-Eu sei o seu signo. É Touro! -O ruivo se envolveu em nossa conversa, talvez querendo descontrair.
-E sua cor favorita é azul!
O loiro o olhou com uma careta meio perturbada e engraça, o que acarretou em risadas baixinhas de
minha parte. O Gaara sabia mesmo como melhorar o clima, sempre desviando de assuntos chatos e
pesados.
-Como você sabe de tudo isso, cara? -Indagou desconfiado, espremendo os olhos em sua direção.
-Que coisa mais estranha da porra. Por acaso você é obcecado ou secretamente apaixonado por mim?
-É claro que não. -O ruivo riu fraco. -É só que eu sempre presto muita atenção em vocês e em tudo o
que vocês me falam.
Por alguma razão, eu gostei de saber disso.
-Você sabe o meu signo e minha cor favorita, Gaara? -Perguntei curioso. Era legal conversar com
eles sobre coisas leves e aleatórias.
-É claro que sei. -Sorriu simpático. -O seu signo é Libra, certo? E sua cor favorita é amarelo.
Concordei positivo com a cabeça, sorrindo tímido e corado em sua direção. Era bom saber que tinha
pelo menos alguém que prestava atenção em mim e se interessava pelas minhas coisas. O Gaara sempre
me fazia muito bem, assim como o Sasuke também.
-Agora eu quero ver quem de vocês sabe sobre mim! -O ruivo se colocou no meio de nós dois,
abraçando os nossos ombros de modo brincalhão. Eu soltei uma risadinha em aprovação, enquanto
Deidara resmungava que não gostava de contato físico. -Qual é o meu signo e minha cor favorita?!
-Sei lá. -O loiro deu de ombros, puxando de seu bolso o seu habitual isqueiro, dando a entender que
começaria a fumar. -Eu não me importo com essas coisas idiotas.
-Chato. -Murmurou tedioso, passando sua atenção para mim, esperançoso de que eu respondesse.
-E você, franguinho? Sabe?
-Eu acho que sim. -Ri sem graça, fazendo um pequeno barulho para mostra-ló que estava pensado.
-É Capricórnio, né? E sua cor favorita é roxo.
O ruivo sorriu abertamente.
-Acertou! -Exclamou, batendo palmas animados. Soltei um som de comemoração, arrancando
bufadas e reviras de olhos vindas do loiro, o qual murmurava algo como “vocês são muito infantis. -Eu sabia
que você não me decepcionaria, Naruto!

212
Rimos em conjunto, quase nos esquecendo do verdadeiro motivo de termos saído da cela.
Estávamos os três bem próximos da ala de visitas, e por conta disso, tivemos que passar pelo corredor do
bloco 5, o caminho obrigatório para chegar em nosso destino.
Eu logo me recordei do Sasuke.
Como eu me encontrava ansioso para que nos víssemos novamente, percorri meus olhos por cada
centímetro daquele corredor, esperançando de que fosse lhe encontrar caminhando por ali.
Contudo, a pessoa que acabei localizando, definitivamente não me causou sentimentos positivos e
muito menos borboletas no estômago.
Eu vi o Orochimaru.
Encostado sobre a parede no final do corredor, o mais velho encontrava-se acompanhado de Kabuto,
o qual se mantinha quieto e imóvel, nunca demostrando qualquer tipo de reação perto de seu companheiro.
Meu estômago se embrulhou.
Eu não esperava vê-lo tão cedo, especialmente quando Obito me informou que ele passaria um bom
tempo na solitária, visto que havia tentado abusar sexualmente de um dos carcereiros, um tal de Asuma,
responsável pelo bloco 2.
-G-Gente...? -Eu usei o restante de meu fôlego para chamar os meninos, sentindo minha pressão cair
de uma hora para outra. O motivo de todos os meus traumas estava logo em minha frente. -Gente?!
Ambos os garotos pararam de andar, olhando-me com a testa franzida. Gaara foi o primeiro a reparar
no meu estado, me fitando preocupado quando comecei a tremer. O único caminho para chegar até a ala de
visitas, seria passando pelo Orochimaru.
-O que foi, Naruto? -O ruivo se aproximou.
-O-Olha... Olha ali. -Apontei diretamente para a figura que eu tento temia. O mais velho avaliava cada
detento que passava próximo de si, lambendo os lábios de modo desnecessário e perturbador. -É o
Orochimaru.
Gaara ficou pálido juntamente comigo.
-Ah, não. -Lamentou, fazendo uma careta sofrida. -Eu não acredito que a gente vai ter que passar por
ele. Deidara, faz alguma coisa?
-Eu?! -Engasgou-se com o cigarro, quase chamando a atenção de Orochimaru. Quanto mais
passássemos despercebidos por ele, melhor seria para mim. -O que vocês querem que eu faça, caralho?!
-Sei lá, grita com ele igual você faz com todo mundo! -Sugeriu, rindo em seguida quando o loiro
espremeu os olhos irritado.
Eles não estavam levando a situação tão a sério. Para mim, era algo incrivelmente desesperador
precisar cruzar o mesmo caminho que o homem responsável por todas as minhas crises de pânico e
ansiedade aqui dentro da penitenciária.
-Eu não vou fazer nada, caralho. -Tragou o seu cigarro calmamente. -Para de enrolar, vocês dois. É
só a gente passar sem dar bola pra ele. O Orochimaru não vai fazer nada, seus covardes.
Eu comecei a entrar em pânico.
-N-Não... -Dei um passo para trás. -Eu não vou passar por ele. Eu me recuso.
Deidara me olhou entediado, enquanto Gaara carregava preocupação. Era bem vergonhoso precisar
passar por todo aquele estresse apenas para atravessar um maldito corredor.
-Então eu fico com você, Naruto. -O ruivo declarou, arrancando um olhar abismado do loiro. -A gente
espera ele sair dali, okay? Eu não ligo de ficar aqui mais uns minutinhos.
-Meu Deus. -O mais velho negou com a cabeça, revirando os olhos com a nossa enrolação. Eu até
imaginei que ele fosse concordar em esperar o Orochimaru sair também, mas me enganei ao vê-lo agarrar
no pulso do ruivo, puxando-o violentamente para si. -Você vem comigo, Gaara.
-O quê? Por que?! -Ele ficou confuso.
-Porque o Naruto tem que aprender a enfrentar os medos dele, porra! Eu não vou deixar você ficar
passando a mão na cabeça dele!
-Mas, Deidara—

213
-Está decidido! -Cortou sua fala, me olhando com convicção. -Lide com isso sozinho, franguinho.
Meu coração falhou uma batida.
-O-O que...? -Tentei dialogar, mas sem sucesso.
O loiro deu as costas para mim, levando Gaara a força junto consigo, pouco se importando em me
deixar plantado no meio do corredor, tremendo de medo por precisar atravessa-ló, só que dessa vez, sem
ninguém para me acompanhar.
-N-Não, por favor! -Eu tentei ir atrás deles, mas já era tarde demais. O meu medo foi o que me parou.
Deidara e Gaara já estavam próximos da ala de visitas, ou seja, passando por quem eu tanto temia.
Diferente do que Deidara me afirmou, o Orochimaru acabou sim mexendo com eles, mas foi logo
cortado pelo loiro, o qual gritou algo parecido com um “vai se foder!”, lançando-o o seu dedo do meio de
costas para si.
Agora era oficial, eu estava sozinho.
Esse incentivo do Deidara para que eu enfrentasse meus medos não era nada saudável para mim.
Como eu iria lidar com isso sozinho?
Em minha cabeça, ainda tinha a opção de retornar a minha cela e ignorar o chamado que recebi na
ala de visitas. Entretanto, eu sabia que era a minha mãe quem estava tentando me telefonar e eu não me
perdoaria por não atende-la.
Engoli em seco.
Para piorar ainda mais a minha situação, o corredor estava se esvaziando, somente com um
carcereiro bem distante de mim, mas que dialogava distraído com um detento qualquer, totalmente alheio a
mim.
Eu tive que me arriscar sozinho.
Tirei a coragem do fundo de minha alma, tremendo como uma verdadeira criancinha na hora de
continuar com a minha caminhada, encostando-me na parede oposta à de Orochimaru, sendo o mais
discreto possível para que ele não me notasse.
Fui andando na ponta dos pés, podendo escutar com clareza as batidas de meu coração, as quais
encontravam-se incrivelmente aceleradas e desreguladas.
A medida que eu ia chegando perto de si, minha respiração tornava-se cada vez mais alta e
escandalosa, o que infelizmente acabou chamando a atenção dos dois homens, tanto de Kabuto, quanto a
de Orochimaru.
Meu corpo inteiro gelou.
Ambos me fitaram com maliciosidade, só que com numa intensidade bem maior da parte de
Orochimaru. Eles pareciam se divertirem com a minha figura, gostando de me botar medo, especialmente
pelo fato do corredor estar vazio.
Orochimaru foi o primeiro a se movimentar, apenas virando seu pescoço em minha direção, mas que
foi o suficiente para que eu me desesperasse, soltando um gritinho assustado e involuntário, correndo na
direção oposta à sua, ou seja, querendo voltar para o início do corredor.
Contudo, eu não consegui nem ao menos completar dois passos.
No desespero do momento, choquei meu corpo violentamente com o de outra pessoa, que naquele
instante, encontrava-se parada atrás de mim. Gemi dolorido com o baque do meu nariz no ombro alheio,
levantando meu pescoço com o susto, me deparando com a reconfortante presença de Sasuke.
O moreno era bem desse tipo de pessoa que chegava de repente e em situações inesperadas.
-S-Sasuke? -Chamei trêmulo, cobrindo meu nariz machucado.
-Fica atrás de mim, Naruto. -Declarou autoritariamente. Ele estava ocupado demais em literalmente
fuzilar o Orochimaru com os seus próprios olhos, travando o maxilar em sua direção. -Vem pra perto de
mim.
Apesar de já estarmos bem próximos, eu me juntei ainda mais contra si, seguindo o seu conselho na
hora de me colocar atrás de seu corpo, abraçando seu braço esquerdo medrosamente.
Sasuke começou a andar, puxando-me protetoramente junto com ele, mantendo-se ao lado aposto
dos dois homens, os quais sorriam perversamente para nós, parecendo entretidos com a situação.

214
Orochimaru não se intimidou tanto assim com os olhares penetrantes e raivosos do Uchiha, mas pelo
menos foi o suficiente para que conseguíssemos passar por eles “intactos” sem que nenhum dos dois se
atrevessem a enfrentar o moreno.
Quando finalmente atravessamos aquele corredor extenso e que parecia nunca ter fim, entramos
juntos na ala de vistas, parando na entrada da mesma. Eu pude finalmente afrouxar o meu aperto em seu
braço, abrindo meus olhos que nem percebi que havia os fechado por conta do medo que senti.
Sasuke, por sua vez, virou-se calmamente até mim, aproveitando que eu havia o soltado para se
movimentar, carregando um ar de seriedade e preocupação.
-Ei, bebê... -Chamou cuidadoso, tocando nos dois lados de minha bochecha, levantando minha
cabeça delicadamente, deixando-me automaticamente corado. -Você está bem? Se machucou?
Eu consegui respirar com muito mais alívio. A presença de Sasuke era uma benção para mim,
literalmente.
-S-Só o meu nariz. -Respondi honestamente, soltando uma risadinha tímida para descontrair. -O seu
ombro é muito duro.
O moreno, antes tomado de seu porte sério e afligido, deixou um sorriso nascer pelos seus lábios,
rindo baixo e enrouquecido com o minha pequena afirmação.
-Então eu devo me desculpar por isso? -Perguntou num tom meio brincalhão, mas sempre
mantendo-se pleno. Reparei que ele avaliava meu nariz, tocando na ponta de meu queixo para facilitar o
processo. -Desculpa pelo meu ombro ser duro? É isso?
Sorri largamente, soltando uma risada meio abobada com o seu questionamento. Eu comecei a sentir
as mesmas borboletas no estômago tomando conta de mim.
-N-Não. -Respondi tímido, notando um sorriso carinhoso surgir pelos seus lábios, aumentando de
intensidade quando minha risada ecoou baixinha e infantil, parecendo gostar do modo como ela soava.
-Não precisa se desculpar sobre nada. Sou eu quem preciso te agradecer... De novo.
-Você também não precisa me agradecer por nada. -Rebateu paciente, fazendo um carinho sútil na
pele de minhas bochechas, deixando meu rosto ainda mais quente. -Mas você tem que tomar mais cuidado,
bebê. Não anda por aí tão sozinho, tudo bem?
Concordei chateado com a cabeça, carregando o mesmo biquinho amuado de sempre, mas dessa
vez, acompanhado de algo a mais. Eu estava morrendo de medo.
-E-Eu não sabia que o Orochimaru tinha saído da solitária. -Revelei assustado. Era como se meus
pesadelos estivessem voltando a todo o vapor. -Ele deveria ficar lá para sempre.
Sasuke riu sem humor.
-Eu também acho. -Suspirou breve, olhando para o mesmo corredor por onde passamos, carregando
uma expressão séria e raivosa. -Ele é completamente nojento.
Assenti silencioso, baixando minha cabeça.
-E-Eu estou com medo. -Choraminguei, preferindo muito mais desabafar com o Sasuke do que com
qualquer outra pessoa. O Deidara, por exemplo, com certeza me julgaria. -Eu tenho medo dele tentar
alguma coisa contra mim de novo.
Meu corpo se estremecia só de pensar na possibilidade de passar por alguma situação parecida com
a última. Eu cheguei muito perto de ser abusado e literalmente ter a minha primeira experiência sexual com
um homem asqueroso daqueles.
-Ele não vai fazer nada com você. -A voz grave e reconfortante de Sasuke me passava segurança
em meio ao nosso diálogo, além do fato de tê-lo deixado segurar em minha cintura, juntando nossos corpos
de modo íntimo e protetor. -Eu não vou deixar.
Me concentrei em suas pequenas carícias na pele de meus quadris, sentindo-me protegido por estar
entre seus braços e ainda por cima ouvindo-o afirmar que não deixaria nada de ruim acontecer comigo.
-Você pode ficar comigo sempre que quiser, Naruto. -Afirmou com seriedade, querendo deixar o mais
claro possível que me queria sempre por perto. -No café, no pátio, no jantar... Quando você quiser, eu estou
aqui.
Eu comecei a me emocionar.
É bem difícil ser alguém tão emotivo e sensível, especialmente quando se ouve coisas tão carinhosas
e cuidadosas saindo da boca de alguém que você gosta muito. O Sasuke mexia demais comigo.

215
Preferi guardar minhas palavras para uma outra hora, optando por lhe agradecer com um gesto de
afeto, juntando nossos corpos em um abraço forte e confortável. Me coloquei na ponta dos pés,
entrelaçando meus braços em sua nuca, fechando meus olhos ao sentir seu toque se intensificando em
minha cintura.
O Uchiha segurava firmemente em meus quadris, quase como se fosse me levantar, precisando
agachar-se um pouco para afundar o rosto em meu pescoço, estalando um beijo rápido e carinhoso em
minha pele, causando-me arrepios gostosos por todo o meu corpo.
-M-Muito obrigado, Sasuke. -Agradeci timidamente, preferindo continuar com o nosso abraço. Era
muito bom quando ficávamos com os nossos corpos colados. -Eu queria poder ficar com você sempre,
principalmente de noite.
Ele afastou seu rosto lentamente, quebrando nosso abraço para voltar para a posição inicial,
encarando-me de cenho franzido.
-Por que de noite? -Perguntou curioso.
-H-Hm... É quando eu tenho mais medo. -Corei levemente, com receio de parecer muito infantil para
ele. Se eu tivesse dito isso para o resto do meu grupo, pode ter certeza que todos já estariam rindo. -F-Ficar
na cela de noite é o pior. Os meninos dormem e eu fico sozinho.
Sasuke virou sua cabeça lentamente para o lado, dando a entender que estava pensativo, digerindo
silenciosamente a minha confissão. Com a minha insegurança de sempre, eu comecei a imaginar que ele
havia desaprovado a minha justificativa e me achado uma criancinha boba.
Mas pelo jeito, eu me enganei.
-Vem pra minha cela essa noite, bebê.
Aquela foi a minha vez que ficar quieto.
-C-Como assim? -Indaguei sem entender.
-Vem dormir na minha cela essa noite. -Repetiu, só que dessa vez, num tom mais baixo. Senti meu
rosto se esquentar violentamente, enquanto a mesma sensação de arrepios surgiam por todo o meu ser.
-Você pode ficar comigo, assim não vai se sentir tão sozinho e desprotegido.
Meu coração batia acelerado.
-M-Mesmo? -Questionei como se ele estivesse tentando me enganar. -Mas como, Sasuke?
O Uchiha parecia entender aonde eu queria chegar.
-Eu convenço o Obito. Ele é o carcereiro mais de boa que tem. -Sorriu pequeno e convencido. -Pode
deixar comigo, okay?
Aquela proposta era irrecusável.
-T-Tudo bem. -Assenti corado, ainda desacreditado de que iria mesmo passar a noite na cela do
Sasuke. Isso definitivamente me ajudaria a sentir-me mais seguro e poderia até mesmo me poupar de meus
pesadelos de sempre. -Eu aceito.
O moreno sorriu fraco e satisfeito, puxando meu corpo delicadamente para frente. Eu sabia bem
aonde ele queria chegar com isso, especialmente ao reparar em seu rosto inclinado para mim, precisando
descer um pouco o seu pescoço para encaixar as nossas bocas.
Juntamos nossos lábios com lentidão, apenas trocando um selinho, que apesar de não ter sido
aprofundado, fez com que todos os meus pelos se arrepiassem, deixando meu corpo involuntariamente
mole e derretido. Toda vez que nos beijávamos eu ficava da mesma forma.
-Combinado, então. -Concluiu o assunto, parecendo tão animado quanto eu. -Hoje a noite, depois do
nosso turno, a gente vai direto pra minha cela. Pode ser?
-U-Uhum. -Por fora eu tive que me manter relaxado, mas por dentro, eu estava quase explodindo de
ansiedade. -Combinado.
Caímos no silêncio de sempre, o mesmo que geralmente se instalava quando finalizávamos algum
assunto.
-Eu preciso atender a minha ligação. -Relevei, quase me esquecendo que minha mãe estava em
espera na linha, querendo falar comigo a alguns minutos. -H-Hm... Quer vir comigo?
-Vamos. -Sorriu pequeno, aceitando meu convite de bom grado, tocando na parte de trás de minhas
costas, dando a entender que eu poderia guia-lo.

216
Como eu nunca entendia o recado, aproveitei para segurar em meu braço direito, abraçando-o
carinhosamente ao meu lado. O Uchiha soltou uma risadinha baixa, mas também não protestou contra
aquilo, permitindo que seguíssemos grudados até a ala de visitas.
O ambiente estava cheio naquele dia.
Observei com atenção cada rosto presente, seguindo em direção aos telefones presos no gancho,
não precisando pegar nenhuma fila para conseguir a minha ligação. Quando já havia alguém na linha de
espera, tinha um telefone específico para isso.
Tentei procurar por Deidara e Gaara, não demorando muito para avista-lós, enxergando o loiro a
conversar com um senhor alto e vestido formalmente, o qual eu logo deduzi ser o seu advogado. O ruivo,
por sua vez, foi quem mais me preocupou.
Me aproximei para perto dele, levando o Sasuke juntamente comigo, parando no único telefone
disponível ao lado do Gaara. Para o meu desespero, ele estava chorando junto ao telefone, parecendo
realmente emocionado.
-G-Gaara? -Chamei baixo, não querendo interromper a conversa dele.
O ruivo virou-se até mim, me lançando um sorriso meio triste, fazendo um sinal com a mão como se
dissesse que não era nada. Ele nem parecia se importar em ver o Sasuke grudado comigo ou então só
estava alheio demais a situação.
Lancei um olhar meio chateado para o moreno, o qual também parecia não ter gostado nenhum
pouco de ver o Gaara chorando. Entretanto, resolvemos não falar sobre isso, dando-o espaço para
continuar sua conversa.
Tirei o telefone do gancho a minha frente, soltando-me de Sasuke para que pudesse conversar com
a minha mãe, deixando-o encostado na parede ao meu lado, entre mim e o Gaara.
Disquei o número rapidamente, apertando no botão de autorização para que a ligação entre nós dois
se completasse. Mordi meu lábio ansiosamente, soltando um suspiro de alívio quando a chamada se iniciou
e a voz doce e cansada de minha mãe invadiu o meu ouvido.
-Alô?
-Oi, mãe. -Sorri pequeno. -Como a senhora está? Me desculpe pela demora, aconteceram... umas
coisas.
Troquei um olhar rápido com o moreno, ciente de que ele sabia exatamente sobre o que eu estava
falando. Não daria para simplesmente contar para a minha mãe que não pude atende-lá antes por conta do
medo que senti de um assediador.
-Ah, filho... -Sua voz estava bem fraquinha. De vez em quando, uma tossida ou outra invadia a nossa
conversa. -Eu estou bem na medida do possível. E você, como está?
Franzi o cenho.
-Como assim, mamãe? -Eu não gostei nenhum pouco de sua resposta. -O que a senhora tem?
-Só os mesmos probleminhas de saúde. -Declarou calmamente. A sua doença cardíaca me
preocupava muito. -Eu fui no hospital agora pouco, está a mesma coisa de sempre, você sabe.
Suspirei entristecido.
-Você está se cuidando? Não esquece de tomar os remédios. Por favor, mãe. -Alertei
cuidadosamente. -É muito importe que você se cuide.
-Não se preocupe, Naruto. Você sabe que eu sempre me cuido. -Riu doce. -Enfim, eu não te liguei
pra conversar sobre os meus problemas. Eu tenho uma novidade...
Me animei instantaneamente.
-Novidade? Qual?
-Eu agendei uma visita para te ver. -Revelou animada. -Foi hoje mesmo, eu só preciso confirmar o
dia direitinho, mas em pouco tempo estaremos juntos, filho.
Era para eu supostamente ficar feliz com a notícia. Entretanto, isso não ocorreu. O meu pensamento
não mudou em relação a sua vinda para a penitenciária. Além de ser longe de nossa casa, eu sabia o
quanto seria difícil para ela se locomover com sua doença.
-Mãe... -Chamei triste. Eu comecei a ficar com vontade de chorar. -Por que você fez isso?

217
-Eu sei o que você vai falar, Naruto... -Ela já estava prevendo o futuro discurso que eu lhe daria. -Isso
foi uma decisão minha, tudo bem? Nem tente me fazer mudar de ideia... Eu estou morrendo de saudades
de você.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
-E-Eu também estou. -Funguei o nariz, não conseguindo passar despercebido pelo Sasuke, nem
mesmo virando meu rosto para o outro lado. -Tudo bem, então. Eu não vejo a hora de te ver, mamãe.
-Eu também não vejo a hora. -Eu tive certeza de que ela estava sorrindo. -Um beijo, meu amor... Fica
bem, okay?
-U-Um beijo, eu te amo. -Respondi embargado, recebendo outro “eu também” em resposta.
No momento seguinte, a ligação já havia se finalizado.
Fiquei por mais uns cinco segundos com o telefone no ouvido, escutando o apito repetitivo do
mesmo, indicando que a linha já havia caído. Eu estava muito feliz, embora preocupado.
-Ei? -O toque reconfortante de Sasuke quebrou o meu raciocínio. Recoloquei o telefone no gancho,
lhe enviando um sorriso pequeno. -Você está bem?
-Sim. -Concordei positivo, não focando muito em meu problema naquele momento, visto que ainda
me encontrava preocupado com o ruivo. Espichei meu pescoço para o lado, me desesperando um pouco
quando não o localizei. -Cadê ele? Cade o Gaara?
Comecei a olhar em todas as direções possíveis, completamente afligido por não encontra-ló.
-Calma, bebê. -Tocou em minha mão. -Ele foi no banheiro. A irmã dele ligou, eles marcaram de se
ver, é só isso.
Pisquei meus olhos de modo lento e confuso.
-Eu escutei a conversa. -Completou, sorrindo pequeno. Pelo o que eu sei, fazia muito tempo que o
Gaara não via a irmã dele pessoalmente. -Temari é o nome dela, certo?
Assenti com a cabeça.
-A minha mãe também vem me ver. -Acrescentei, fazendo uma nota mental de procurar o Gaara mais
tarde.
-Eu sei também.
Ri baixinho.
-Como você conseguiu ouvir duas conversas ao mesmo tempo, Sasuke? -Inquiri curioso.
-É um dom. -Se gabou. -Enquanto um ouvido ficava atento em você, o outro trabalhava na conversa
do Gaara.
Gargalhei divertidamente, sendo acompanhado por ele, que apesar de sempre ser mais contido,
carregava o mesmo humor do que eu.
-Eu preciso ir agora, bebê. -Segurou em minhas duas mãos, trazendo-as para frente de nossos
corpos. Eu logo imaginei que naquele momento seria o seu tempo de tomar banho. -Te vejo a noite?
Concordei sorridente.
-Ótimo. -Sorriu satisfeito. Como se eu já soubesse o que estava por vir, inclinei meu rosto para
receber um beijo seu, trocando um selinho rápido e carinhoso. -Até de noite, então.
-Até de noite.
Sasuke On

Faziam mais de duas horas que eu me encontrava na mesma posição, sentado em meio ao ambiente
gélido e escuro da enfermaria, observando com certa distância a figura pálida e fraca de meu irmão, o qual
permanecia com o seu corpo interligado à um soro médico.
O Itachi estava dormindo.
Ele nem sequer imaginava que fiquei tanto tempo ao seu lado, fazendo companhia para si durante o
seu sono. Apesar de nossa briga mais recente, eu gostava de ficar perto dele e conferir como ele estava
lidando com a doença e sendo cuidado ali na enfermaria.

218
-Sasuke? -A voz de Yamato invadiu meus pensamentos. Virei meu pescoço para si, mantendo-me
ereto sobre a cadeira, com minhas pernas e braços cruzados. -Eu vou precisar fechar a enfermaria, já está
tarde.
Suspirei silencioso, mas também não disse nada.
-Você quer que eu avise o seu irmão que você passou por aqui? -Indagou atencioso.
-Não. -Neguei rápido. Ele me olhou meio confuso, mas eu sinceramente fiquei com preguiça de
explicá-lo o motivo de minha decisão. -Não comenta nada, por favor.
-Tudo bem. -Concordou sem questionar. -Eu vou até o estoque. Te vejo amanhã.
Assenti com a cabeça.
Fiquei esperando a porta se fechar, até que tive absoluta certeza de que estava sozinho. Levantei-me
calmamente da cadeira, andando em passos curtos e silenciosos para perto de meu irmão, sentindo uma
pontada ruim a cada centímetro que me aproximava de si.
Eu parei do seu lado.
Era a primeira vez, desde que o Itachi adoeceu, que eu fiquei tão perto dele. Sua respiração soava
áspera e pesada, sendo acompanhada de seu peito desnudo, o qual subia e descia de modo sofrido, como
se estivesse fazendo um esforço para mantê-lo vivo.
Soltei um suspiro chateado.
Era doloroso vê-lo assim. Além de eu estar completamente desacostumado em presenciar o meu
irmão tão fraco e vulnerável, ainda me batia o mesmo sentimento desesperador de sempre.
Eu não poderia perdê-lo de jeito nenhum.
Olhei para os dois lados, querendo conferir se alguém estava por perto, me arriscando na hora de
tocar em sua mão. Além de pálida, estava incrivelmente fria. Eu estava cogitando a ideia de esperar o
Yamato voltar e reclamar sobre a temperatura da quarto, porém tive que me soltar do Itachi, visto que o
mesmo se movimentou de repente, dando a entender que acordaria a qualquer segundo.
Eu entrei em desespero.
Me afastei rapidamente de si, dando uma corrida rápida e silenciosa até perto da porta, nada
disposto a ficar para vê-lo despertar. Na verdade, eu não poderia permanecer por mais nenhum segundo ali
dentro.
Eu estava muito atrasado para o meu turno.
Dei uma última checada no moreno, o qual se remexia meio inquieto, apertando seus olhos como se
fosse acordar a qualquer instante.
Aquela foi a minha deixa para sair dali.
Sai da enfermaria como se nada tivesse acontecido, enxergando o corredor vazio, dado ao fato de
que todos os detentos já estavam em suas devidas celas, enquanto outros, assim como eu, estavam
seguindo para suas respectivas tarefas noturnas.
Eu estava esquisitamente animado.
Saber que depois de meu trabalho com o Naruto, ambos retornaríamos a minha cela juntos, era algo
que estava melhorando o meu de modo considerável. Eu já havia convencido o Obito quanto a isso, apesar
de que inventei uma desculpa bem esfarrapada e que não passou despercebida por ele.
O carcereiro provavelmente deve suspeitar de nós dois, mas sinceramente, eu não poderia me
importar menos.
-Sasuke? -E por falar em Obito, eu fui rapidamente retirado de meu transe pela voz rouca e
irreconhecível do mesmo, o qual encontrava-se no final do corredor, chamando-me com a sua mão para que
eu me aproximasse.
-Boa noite. -Cumprimentei assim que o alcancei.
-Toma aqui. -Ele me estendeu um balde de plástico, repleto de produtos de limpeza novos e
embalados. -É para hoje. Os outros produtos estão vencidos e alguns acabaram.
Aceitei o conteúdo de bom grado. Haviam produtos para todo e qualquer tipo de limpeza, inclusive
uma mangueira que eu nunca havia visto antes.

219
-É isso. -Ele foi bem breve, dando dois tapinhas em meu ombro. -Te vejo amanhã.
-Tchau. -Me despedi, retornando minha caminhada para o banheiro.
Enquanto ninguém olhava para mim, eu admito que dei uma corrida pelos corredores, querendo
chegar o mais rápido possível em meu destino, mas logo desacelerando os meus passos quando virei no
mesmo ambiente de sempre, e como habitual, encontrava-se no breu.
Os barulhos baixinhos e distantes vindos de dentro do banheiro já ecoavam em meus ouvidos, dando
a entender que o loiro se encontrava bem atarefado. Eu me senti um pouco mal, visto que perdi a noção do
tempo enquanto estava com o Itachi e acabei deixando-o fazendo tudo sozinho.
Me aproximei da porta, encostando-me no batente da mesma, ficando de queixo caído com o modo
como o sanitário estava incrivelmente limpo e cheiroso. O loiro já estava quase terminando o serviço, e
naquele momento, encontrava-se ocupado em limpar as pias de costas para mim.
-Cheguei. -Anunciei em voz alta, não me surpreendendo nenhum pouco ao vê-lo se assustar com a
minha presença, levando a mão ao peito. -Ei, calma... Sou eu.
Ele riu ofegando e tímido pelo próprio susto.
-O-Oi, Sasuke. -Corou desnecessariamente. -Desculpa, eu estava bem distraído, nem notei você
chegar.
Ri fraquinho.
-Me desculpe por só chegar agora. -Comecei entrando no banheiro, tomando cuidado para não sujar
o chão com o meu tênis. -Eu estava na enfermaria com o Itachi.
-O-Oh... -O loiro me olhou chateado. -Ele está bem, Sasuke?
-Eu não sei, bebê. -Respondi honesto, tentando parecer o mais relaxado possível. -Eu não falei com
ele, na verdade. O meu irmão estava dormindo, nós nem chegamos a conversar.
-Eu espero que ele fique bem. -Esboçou uma feição preocupada e magoada, mas que em minha
perspectiva, foi estranhamente adorável. Eu não aguentava quando ele aparecia com esse biquinho nos
lábios.
-Ele vai ficar. -Eu estava tentando consolar a mim mesmo também. -O Itachi é forte.
O loiro sorriu docemente em minha direção.
-E-Eu vou torcer muito por ele. -Declarou tímido, o que me deixou com o peito aquecido. Mesmo
sendo, muitas vezes, maltratado pelo meu irmão, o Naruto não guardava rancor algum dele.
Ele é mesmo o ser humano mais puro que eu conheço.
-Bom, agora deixa eu fazer alguma coisa pra te ajudar. -Troquei o assunto rapidamente, me referindo
a limpeza do banheiro. Ergui o balde que estava em minhas mãos, chacoalhando-o em sua direção. -Por
onde eu começo?
O loiro riu brevemente, fazendo um barulho para mostrar-me que estava pensando, colocando o seu
dedinho indicador no queixo para olhar ao redor.
-Ah, eu só não limpei as paredes ainda. -Apontou para o azulejo atrás de mim. -Você pode limpar
elas?
-Posso.
-Certo, eu vou terminar aqui. -Mostrou-me a bancada da pia, a qual estava repleta de espuma e com
a mesma mangueira que recebi de Obito jorrando água em cima do balcão.
Concordei com um sorriso pequeno, me aproximando da parede para começar o mais rápido
possível, torcendo o meu nariz pelas manchas instaladas na mesma. Como os detentos conseguiam sujar
até ali?
Peguei um dos produtos dentro do balde, esguichando por toda a altura da parede, fazendo
desenhos aleatórios pelo azulejo. Em seguida, escolhi um pano qualquer, me colocando na ponta dos pés
para limpar incialmente a parte de cima.
Dei o meu melhor para deixar tudo o mais limpo possível, soltando resmungos baixos e enojados por
conta das manchas brancas em minha frente. Honestamente, se fosse o que eu estava pensando, eu me
surpreenderia muito. Passei bastante tempo focado em minha tarefa, até que tive meu raciocínio quebrado
pela risada fininha e infantil de Naruto, a qual invadiu os meus ouvidos.

220
Me virei curiosamente, me deparando com uma cena adorável.
O loiro havia molhado, mesmo que sem intenção, o próprio rosto com a mangueira, revelando-me
sua face, blusa e até mesmo cabelo úmido pela pequeno acidente. Ri baixinho com a cena, notando suas
bochechas tornando-se rubras por ter sido flagrado.
-Como é que você conseguiu molhar o próprio rosto? -Impliquei com ele de brincadeira, sorrindo
involuntário quando seu rosto ficou ainda mais corado.
-É que eu liguei a mangueira do lado errado. -Riu de sua própria desgraça. -Q-Que desastre.
-Você é um desastrado, bebê. -Comentei em um tom meio brincalhão, arrancando um biquinho de
indignação seu. -Quem é que liga a mangueira do lado errado? Me diz?
Era óbvio que eu estava somente brincando com o Naruto e ele sabia disso.
Com uma última troca de olhares brincalhona entre nós, voltei minha concentração para a parede,
disposto a continuar com o meu trabalho, mas sendo completamente surpreendido por um inesperado jato
de água batendo em minhas costas, molhando grande parte de minha blusa.
Soltei um suspiro com o susto, virando-me lentamente para trás, mantendo meus lábios entreabertos
em surpresa, juntamente com uma feição seria. Naruto, por sua vez, continha a mangueira erguida em suas
mãos, literalmente se entregando para mim.
Ele havia me molhado de propósito.
Ao ver minha expressão de desgosto, o loiro se entristeceu automaticamente, encolhendo-se por
achar que eu havia desaprovado a sua brincadeirinha.
-S-Sasuke? Me desculpe, eu—
Foi a minha vez de interrompe-ló.
Sem pensar muito nas consequências, esguichei o produto em minhas mãos na sua direção,
acertando todo o seu pescoço e blusa, deixando-o manchado de um tom azulado. Naruto fechou os olhos
em surpresa, ficando boquiaberto com a minha reação, logo reabrindo-os com um sorriso divertido.
Eu já sabia bem o que viria a seguir.
Logo a mangueira já estava sendo apontada em minha direção uma outra vez, enquanto
brincávamos de um espécie de guerrinha de água, só que da minha parte, com os produtos do balde.
Se o Obito achou que eu utilizaria o balde para a limpeza do sanitário, ele estava muito enganado.
Risadas e gritinhos da parte do loiro ecoavam por todo o banheiro, enquanto eu só conseguia sorrir
entretido com a situação, ficando cada vez mais ensopado com a quantidade de água jogada em minha
direção.
Em uma hora qualquer, em meio a gargalhadas e sorrisos, Naruto tomou a péssima decisão de mirar
a mangueira no meu rosto, o que me fez fechar os olhos automaticamente, fazendo com que o menor
abaixasse “sua arma”, provavelmente pensando que eu havia desaprovado sua atitude novamente.
Eu fiz questão de fazer silêncio.
Eu queria fazer um suspense e deixá-lo “com medo” de minha reação a seguir, esperando o
momento ideal para surpreendê-lo.
-S-Sasuke? -Me chamou de novo.
Reabri meus olhos com um sorriso perverso, mas divertido, avançando para cima de si sem dizer
absolutamente nada, arrancando outro gritinho infantil do loiro, o qual logo entendeu aonde eu queria
chegar com a brincadeira, tentando a todo custo fugir de mim.
Eu fui mais rápido do que ele.
Atravessei o banheiro com rapidez, segurando em sua cintura por trás, impedindo-o de correr de
mim, não conseguindo deixar de sorrir com todas as suas risadinhas fofas e divertidas.
Ele se debatia um pouco entre meus braços, mas eu realmente não precisei de muito para prendê-lo,
arrancando outro gritinho seu na hora de levantá-lo pelos quadris, colocando-o sentado em cima da pia,
levantando uma quantidade considerável de espuma ao nosso redor.
Naruto ainda tentou escapar de mim, querendo descer do balcão, mas eu fui mais astuto em
prendê-lo com os meus dois braços apoiados em cada lado de sua coxa, me encostando mais ao seu
corpo.

221
-E então? Você desiste? -Provoquei-o divertidamente, inclinando meu rosto propositalmente para
perto do seu.
-A-Assim não vale! -Suas risadas gostosas deixavam o meu peito aquecido. Ele ainda tentou descer
novamente, mas era impossível com os meus dois braços cercando-o. -Você é mais forte do que eu!
-Sim, eu sou. -Fiz um falso olhar convencido. -Agora desista, vai ser melhor pra você.
Naruto choramingou de brincadeira, nem sequer reparando o efeito que estava causando em mim.
Ter o loiro da minha altura, sentadinho sobre o balcão da pia e com o meu corpo encaixado em meio a suas
pernas, estava definitivamente acabando comigo.
-Tudo bem, eu desisto. -Me fitou de rosto corado, fazendo o mesmo biquinho adorável e tímido de
sempre em seus lábios.
Meus olhos foram rapidamente de encontro a sua boca.
Mordi meu próprio lábio, sentindo-me completamente preso e atraído por sua boquinha rosada e
úmida, já fantasiando diversas formas de experimentá-la em meio aquele banheiro, aproveitando o fato de
que estávamos completamente sozinhos.
Em minha cabeça, o clima entre nós já estava esquentando, deixando a tensão de sempre fluir pelo
ar. Mas na perspectiva de Naruto, talvez as coisas não tivessem chegado a esse nível.
-Bebê? -Chamei baixo, umedecendo meus lábios com lentidão, não conseguindo me desgrudar dos
seus. Eu não queria ser invasivo com ele, principalmente se o Naruto não estivesse no clima. Por isso, eu
decidi perguntar com antecedência. -Eu posso beijar você?
Caímos num silêncio penetrante.
Com a pequena demora para a sua resposta, tive que me desconectar de sua boca, levando minha
atenção até seus inconfundíveis e hipnotizantes olhos azuis, suspirando em aprovação ao nota-ló na
mesma situação que eu, olhando diretamente para os meus lábios.
Para a minha felicidade, estávamos os dois no mesmo clima.
-U-Uhum. -Assentiu tímido, molhando os lábios assim como eu.
Aquela resposta foi o suficiente para que eu fizesse o que tanto queria desde o momento em que
entrei pela porta daquele banheiro.
Juntei nossas bocas com certa necessidade, me envolvendo instantaneamente com o primeiro toque
de nossos lábios. As mãozinhas de Naruto foram direto para minha nuca, entrelaçando timidamente,
autorizando-me a prosseguir com o modo como eu desejasse.
Pedi passagem com a minha língua, roçando na sua carne quentinha e macia, desfrutando de sua
delicadeza e carinho na hora de me beijar, transmitindo toda a sua pureza para mim.
Seus afagos lentos e cuidados nos fios de minha nuca me arrepiavam sem pena, deixando-me
complemente embriagado com a sensação de poder beija-ló e receber um carinho seu ao mesmo tempo.
Encaixei-me perfeitamente entre suas pernas, colando nossos corpos com necessidade, deixando de
lado a ideia de cerca-ló com minhas mãos, passando a utilizá-las para acariciá-lo, deslizando meu toque por
suas coxas fartas e grossas, subindo lentamente até a altura de sua cintura e depois voltando.
O loiro se arrepiou por completo.
Seu corpinho se tremeu entre meus braços, o que me fez arfar em aprovação, aprofundando o nosso
beijo com ainda mais desejo, mantendo um toque ritmado pelas suas pernas, hora deslizando por sua coxa
coladinha no uniforme e hora subindo em direção a seus quadris, acariciando com lentidão.
O Naruto é bem sensível.
Dizem que pessoas que nunca se relacionaram sexualmente com alguém costumam serem mais
sensíveis a toques, mas no caso do loiro, era algo mais extremo. Ele se arrepiava por absolutamente tudo.
Eu nunca precisei lhe interrogar para saber sobre a sua virgindade. São pequenos detalhes que me
fizeram perceber isso desde o início.
Assim como da outra vez, eu não precisei de muito para começar a ficar quente, colando-me mais
contra o seu corpo no balcão, como se dessa forma pudesse saciar toda a minha vontade. Eu sabia que
precisaria ir devagar com ele, por mais que estivesse excitado.

222
Separei nossas bocas sem dar satisfações, quebrando o contato gostoso de nossas línguas,
fazendo-o abrir os olhos de modo atordoado. Vê-lo tão entregue a mim só servia para me deixar mais
afervorado, e por isso, fiz o que achei que ele iria gostar, distribuindo pequenos beijos pelo seu rosto.
Beijei suas bochechas, queixo, nariz, sempre mantendo um ritmo lento, descendo cada vez mais
para baixo. O loiro estremecia de leve, tombando seu pescoço involuntariamente para o lado, assim como
suas pernas que se abriam aos poucos, permitindo que eu me aproximasse ainda mais.
Quando cheguei em seu pescoço, inalei seu cheirinho viciante, roçando meu nariz como se dessa
forma pudesse fazê-lo soltar mais daquele cheiro, dando um beijo calmo e molhado em sua pele.
Ele se arrepiou automaticamente.
Um gemido baixinho e manhoso rasgou sua garganta, jogando uma descarga elétrica para o meu
pau, o qual já se encontrava apertado sobre minha calça do uniforme.
Beijei cada cantinho do seu pescoço, estalando selinhos atrás de selinhos, sentindo-o jogar a cabeça
ainda mais para o lado, fechando seus olhinhos num sinal de aprovação. O seu rosto corado deixava tudo
ainda mais quente, talvez pelo fato dele não estar acostumado a ser tocado nessa forma.
Dei uma lambida longa e lenta pela sua pele, tendo seu corpo completamente mole e bambo entre
meus braços, apoiando suas mãozinhas em meu ombro. Subi lentamente até a altura de sua orelha, dando
uma mordida fraca em seu lóbulo, escutando-o gemer mais arrastado.
Os seus gemidos eram a coisa mais excitante que eu já escutei em toda a minha vida. Eram bem
manhosos e fininhos.
Olhei para baixo por alguns segundos, reparando no modo como Naruto encontrava-se inquieto, logo
me surpreendendo com a sua ereção aparente por dentro de seu uniforme.
Seus olhos permaneciam fechados, como se desse modo estivesse esperando que eu continuasse a
lhe beijar e lamber, ao mesmo tempo em que seu rosto pegava fogo até a altura de suas orelhas,
claramente sem saber lidar com situações como aquela.
Eu não poderia deixar essa oportunidade escapar.
-Ei, bebê? -Estalei outro beijo em seu pescoço, afundando-me naquela pele cheirosa e viciante. A
pergunta que eu faria a seguir, talvez pudesse soar um pouco invasiva nos ouvidos do loiro. -Você quer que
eu te alivie?
O mesmo silêncio de sempre se fez presente entre nós.
Eu sabia que talvez o Naruto demorasse para me responder. Além de não estar acostumado com
perguntas desse tipo, ainda tinha toda a situação de seus traumas. Eu jamais o pressionaria para aceitar,
isso seria algo que ele decidiria por conta própria.
Ele teria que confiar em mim e saber que eu nunca faria algo sem a sua permissão.
Com a sua pequena demora, afastei meu rosto de seu pescoço, indo direto em encontro com os seus
olhos. Já era de se esperar que ele estivesse extremamente vermelho e inseguro com o meu
questionamento.
-Não precisa ficar nervoso. -Acalmei-o, já imaginando o conflito interno pelo qual ele estaria
passando. Com as minhas duas mãos, eu acariciava suas coxas com cuidado, dando espaço e tempo para
que ele pensasse. -É só se você quiser, Naruto.
Eu devo admitir que estava torcendo para que sua resposta fosse positiva.
-E-Eu... -Ele tentou formular uma frase, mas ficou tão corado que nem conseguiu falar. Sorri tranquilo
para ele, passando-o a segurança que ele tanto desejava. -U-Uhum.
Sorri satisfeito, mas ao mesmo tempo estranhamente emocionado. O Naruto havia confiado em mim
para toca-ló de modo íntimo e isso não tinha preço. Por essa razão, eu faria de tudo para que ele se
sentisse o mais confortável possível.
Aproximei nossos rostos novamente, lhe dando um pequeno selinho.
-Relaxa. -Foi tudo o que eu consegui formular para dizê-lo, recebendo um aceno bem tímido em
resposta.
Voltei a beija-ló uma outra vez, mantendo o ritmo lento de sempre. Eu nunca gostei de nada feito às
pressas, nem mesmo um beijo. Permiti que sua língua se roçasse na minha, sendo chupada e sugada por
mim, acompanhada do mesmo carinho em suas coxas.

223
Minhas mãos deslizavam para cima e para baixo, indo de encontro a sua virilha e rapidamente
voltando para a posição inicial. Eu estava no aguardo para que Naruto pudesse assimilar a nossa situação e
se tranquilizar entre meus braços.
Eu resolvi dar um passo a mais.
Em movimentos cuidadosos, toquei brevemente em sua ereção, apertando-a de leve por cima da
calça, quase nem acreditando no modo como Naruto se derreteu, gemendo manhoso contra a minha boca.
Acariciei-o com toda a minha delicadeza, precisando abrir meus olhos para observar todas as suas
reações, gemendo juntamente com ele por conta de sua sensibilidade. O loiro se tremia por completo e eu
nem ao menos havia o tocado diretamente.
Mordi meu lábio inferior, assistindo com admiração o momento em que adentrei sua calça, tocando
diretamente em seu penis ereto e pulsante, além de senti-lo úmido, o que facilitou muito para deslizar o meu
punho.
-M-Mhmm... -Seus olhos se fecharam involuntariamente, enquanto seu ar batia em minha face,
gemendo e suspirando próximo de mim.
No estado em que ele estava, eu sabia que nosso momento não duraria muito.
Comecei a masturba-ló num ritmo lento, puxando sua pele até embaixo e subindo até sua glande em
movimentos delicados, não conseguindo parar de olhá-lo nenhum segundo sequer. Cada mínima reação
sua fazia com que meu membro se endurecesse ainda mais.
Circulei sua cabeça com o meu polegar, arrancando um gemido mais dengoso e arrastado seu,
enquanto sua testa se franzida em uma verdadeira expressão prazerosa, não conseguindo manter seus
olhos abertos.
-Assim, bebê? -Perguntei enrouquecido, hipnotizado com o modo como eu estava lhe fazendo bem.
Eu queria fazer tudo certo para agradá-lo.
O loiro assentiu meio confuso e fora se si, gemendo com a boquinha entreaberta, tombando seu
pescoço lentamente para trás.
Aquela foi a oportunidade perfeita para mim.
Afundei meu rosto novamente contra seu pescoço, beijando-o lentamente ao mesmo tempo em que o
masturbava, delirando com todas as suas reações aos meus toques, gemendo ainda mais alto e manhoso.
Acelerei os movimentos de meu punho, subindo e descendo por toda a sua extensão, dando um
mordida fraca e molhada em sua pele, querendo descontar todo o tesão que sentia por tê-lo gemendo com
os meus toques.
Ele estava bem próximo de chegar em seu limite.
Seus gemidos iam aumentando de volume e intensidade, ficando mais fininhos, dengosos e
desesperados. Seu quadril se remexia contra minha mão, procurando loucamente por mais contato, ao
mesmo tempo em que suas mãozinhas iam de encontro ao meus ombros, apertando-os num sinal de
desespero.
Eu continuei com rapidez, tão desesperado quanto ele para vê-lo chegar em seu orgasmo e se
tremendo de prazer por minha causa. Distribui mais alguns beijos pelo seu pescoço, não precisando de
muito mais para fazê-lo gozar, atingindo seu ápice de modo intenso.
Com um gemido alto e entregue, o loiro gozou em minha mão, tremendo seu corpinho inteiro pelo
prazer que sentiu, apertando meu ombro por não saber ao certo como lidar com aquela sensação tão
maravilhosa que o atingiu.
Continuei trabalhando em sua ereção, desacelerando o ritmo aos poucos, nem reparando que havia
gemido juntamente consigo, marcando todo o seu pescocinho com mordidas e alguns chupões.
Quando notei que seus gemidos tornaram-se dolorosos e sensível demais após o orgasmo, retirei
minha mão com cuidado, estalando um último selinho em seu pescoço antes de me distanciar, já prevendo
o modo como Naruto ficaria após isso.
Extremante tímido e inseguro.
-Ei? -Chamei delicadamente, enxergando-o de cabeça baixa, mordendo o próprio lábio de modo
envergonhado e rosto rubro. -Vamos limpar você, sim?

224
Sem pedir por uma autorização sua, puxei alguns papéis do suporte ao meu lado, limpando
primeiramente minha mão, logo passando para sua virilha, tendo cuidado na hora de entrar em contato com
o seu membro, visto que Naruto já estava muito sensível.
Ele ficou ainda mais corado, subindo sua calça rapidamente quando joguei o papel fora, entrelaçando
suas mãos nervosamente em sua coxa, ainda sem conseguir levantar a cabeça.
-Vem, bebê. -Peguei em sua cintura, puxando-o para a ponta do balcão. -Deixa eu tirar você daí.
Eu sabia que ele conseguia descer sozinho, mas mesmo assim, fiz questão de coloca-ló no chão,
deixando-o de pé na minha frente, pensando que dessa forma ele poderia me olhar nos olhos sem sentir-se
tão tímido.
-Naruto? -Toquei na pontinha de seu queixo, não gostando nenhum de vê-lo tão envergonhado. -Olha
pra mim, por favor.
Ele obedeceu.
Mesmo que de rosto inteiramente corado, seus olhos foram de encontro aos meus, me transmitindo
exatamente a timidez que estava sentindo. Eu daria o meu máximo para que ele não se sentisse assim
comigo.
-Quer ir para cela? -Sugeri, mostrando para o loiro que não precisaríamos conversar sobre isso se
ele não quisesse. -Lembra? Você vai dormir lá na minha hoje.
Seus lábios se entreabriram em surpresa, como se estivesse se recordando sobre esse pequeno
detalhe. Foi realmente um alívio, além de ter sido estranhamente satisfatório, acompanhar um sorrisinho
tímido nascer pelos seus lábios.
-E-Eu tinha me esquecido.
-Você ainda quer? -Indaguei preocupado. Eu também não queria força-ló a ir dormir comigo se ele
não estivesse mais à vontade.
-Q-Quero.
Eu sorri satisfeito e contente.
-Então vamos? -Perguntei descontraído, dando o meu máximo para não deixá-lo desconfortável.
-U-Uhum.
Como todas as outras vezes, toquei na parte de trás de suas costas, dando a entender que ele
poderia passar em minha frente. Porém, como sempre, Naruto optou por ficar do meu lado, segurando
carinhosamente em meu braço direto.
Era bom saber que, mesmo envergonhado, ele continuava sentindo-se bem comigo.
Soltei uma risadinha rouca, caminhando para fora do banheiro junto consigo. Como já havíamos
terminado a faxina, eu apenas desliguei a luz do sanitário, deixando o corredor inteiro escuro, sem nenhuma
iluminação para facilitar o nosso caminho.
Isso deixou o Naruto tenso ao meu lado. Seu toque eu meu braço tornou-se medroso, provavelmente
se recordando de que foi numa situação dessas que o Orochimaru tentou se aproveitar de si.
-Pode ficar tranquilo, bebê. -Acalmei-o, permitindo que ele abraçasse o meu tronco, tentando buscar
proteção em meio à escuridão do ambiente. -Ninguém vai fazer nada pra você, nós já estávamos chegando.
Tentei dar o meu máximo para que fôssemos o mais rápido possível para o bloco 5, pegando um
atalho em direção a minha cela, a qual era uma das primeiras daquele corredor.
-Está vendo? Já chegamos. -Abri a grade com rapidez, fazendo silêncio para não acordar os
detentos. Naruto ainda ficou mais um tempo agarrado comigo, até que teve certeza de que eu tranquei a
minha cela. -Pronto, está fechada.
Eu não sabia muito bem o que fazer agora.
Na verdade, eu estava esperando que nos deitássemos para dormir, até porque, já era bem tarde e
ambos tivemos um dia cheio. Pelo o que me parecia, o loiro também estava querendo a mesma coisa, visto
que olhou em direção ao beliche, soltando um bocejo fraco.
-Vamos dormir? -Sugeri calmamente.
-S-Sim. -Riu envergonhado.

225
-Olha... -Olhei para as duas camas, pensando em como ficaria a distribuição. -Eu fico com a cama do
meu irmão, pode ser? Você dorme na minha, é a de baixo.
Ele corou levemente.
-A-Ah... Tudo bem.
Eu até deixaria o Naruto escolher em qual cama ele gostaria de dormir, mas do jeito que o Itachi é, eu
não duvido que ele consiga farejar o cheiro do Naruto no seu travesseiro.
-Bom, boa noite. -Sorri fraco para ele, já começando a subir pela escadinha do beliche, visto que o
loiro fez o mesmo na parte de baixo. -Qualquer coisa me chama.
-E-Está bem.
Sentei-me no colchão, começando a retirar a minha camiseta. Eu não gostava nenhum pouco de
dormir com o uniforme, especialmente porque ele estava molhado por conta de minha brincadeira com o
Naruto.
Em seguida, me deitei do modo mais confortável que consegui, fechando meus olhos na intenção de
relaxar. Eu não pretendia dormir. O meu plano era ficar acordado até que o loiro pegasse no sono.
A cela caiu em um silêncio bom.
Apenas o barulho de nossas respirações ecoavam pelo ambiente, apesar de que o beliche não
parava de se movimentar, dando a entender que Naruto estava inquieto, provavelmente incomodado com
algo.
-S-Sasuke? -Me chamou baixinho.
-Sim?
-E-Eu estou com medo. -Ele sussurrou desnecessariamente, o que me fez sorrir um pouco.
Apesar de tudo, eu entendia o seu lado.
Essa seria a primeira vez que ele passaria a noite com o Orochimaru “à solta” após o incidente entre
eles. Era compreensível que ele se sentisse assustado.
-Você quer ficar conversando comigo? -Dei essa opção. -Eu fico acordado até quando você quiser.
Não tem problema nenhum.
Ele fez silêncio novamente.
-E-Eu posso deitar com você?
Outro sorriso cresceu pelos meus lábios.
Inicialmente, eu não quis oferecer que dormíssemos na mesma cama por conta do desconforto da
mesma. Além de ser muito pequena, era dura. No entanto, o Naruto não pareceu se incomodar com esses
detalhes, e sinceramente, eu também não.
-Pode sim, bebê. -Já comecei me levantando do colchão. -Deixa que eu vou aí, okay?
-O-Okay.
Desci pela mesma escadinha, tendo a visão adorável de Naruto encolhido entre os meus lençóis,
carregando uma expressão meio medrosa, mas fofa. Sorri sozinho por isso, especialmente ao notar que o
mesmo se encostou sobre a parede, dando espaço para que eu me deitasse também.
Entrei naquele espacinho minúsculo, embora ele não tenha se importado nenhum pouco com a
minha proximidade, corando timidamente quando me deitei por completo, ficando cara a cara consigo.
-Pronto. -Sussurrei ao me arrumar do seu lado. -Não precisa ter medo de nada. Eu estou aqui com
você.
Naruto sorriu tímido, mas emocionado. Eu não esperava que ele fosse mesmo fazer isso, mas
também não desaprovei ao sentir seu corpinho se juntar com o meu, escondendo seu rosto em meu peito
desnudo.
Eu não levei isso na maldade em momento algum. O Naruto era puro demais para estar carregado
de segundas intenções. Aquele abraço era algo carinhoso entre nós, aonde ele procurava por proteção em
alguém que confiava.

226
Retribui o seu abraço do modo como ele desejava, segurando protetoramente em sua cintura,
deixando seus mãozinhas repousarem em meu peito. Faziam anos que eu não dormia abraçado com
alguém do meu lado, e honestamente, eu não me recordava de ser tão confortável assim.
Tudo com o Naruto é bom.
-B-Boa noite, Sasuke.
Eu sorri sonolento contra o seu coro cabeludo.
-Boa noite, bebê.

Capítulo 19 - Antes que o pior aconteça

Naruto On

Eu despertava aos poucos de um sono profundo e confortável, bem diferente de todas as outras
vezes em que dormi na penitenciária. Um som baixinho e reconfortante, o qual eu logo identifique como
sendo de uma respiração, soprava no topo de minha cabeça, balançando levemente os meus fios.
Desfrutando dessa sensação que tomava conta de mim, relaxei meu corpo instantaneamente,
entreabrindo meus lábios para suspirar em aprovação, me sentindo envolvido com o toque confortável e
protetor que recebia em minha cintura, mantendo-me preso a um corpo quente e forte.
Meus olhos se abriram com lentidão.
A claridade presente no ambiente era pouca, pelo menos para mim, que naquele instante, continha
meu rosto inteiro enterrado sobre a pele alheia, não demorando muito para reconhecer o indivíduo, tanto
pelo seu cheiro, quanto pelas recordações da noite anterior.
Eu estava abraçado com o Sasuke.
Afastei meu pescoço de modo assustado, distanciando-me de seu peito nu, corando violentamente
com a minha própria situação. Apesar do modo agressivo como me movimentei, isso não foi o bastante para
interromper o sono do moreno, que naquele momento, dormia de modo pesado e sereno.
O Sasuke estava incrivelmente lindo.
Com uma respiração lenta e distensa, seu peito descia e subia com tranquilidade, enquanto seus fios
negros e brilhosos caiam perfeitamente em frente à sua testa, pinicando suas pálpebras de modo charmoso
e atraente.
Cada mínimo detalhe seu atiçava uma batida a mais em meu coração apaixonado e afeiçoado, me
causando arrepios positivos e a mesma sensação de borboletas em meu estômago.
O jeito como o Uchiha me afeta é inexplicável.
Eu me sentia incrivelmente confortável perto dele. Apesar de minha timidez e vergonha excessiva
para certos aspectos, eu consigo ser quem eu realmente sou junto à ele, e estava orgulhoso de mim mesmo
pelo o que aconteceu na noite anterior.
Eu havia evoluído.
Ter confiado no Sasuke e deixando-o dar um passo a mais em nosso relacionamento foi algo de
extrema importância para mim. Eu não sei dizer ao certo se para ele foi tão marcante e significante assim,
mas em meu ponto de vista, foi um grande avanço para nós dois.
Quanto mais tempo passávamos juntos, mas próximos ficávamos.
Arregalei meus olhos minimamente, reparando em uma movimentação a mais da parte de Sasuke,
dando a entender que o mesmo despertaria a qualquer segundo do meu lado, especialmente quando a
sirene matinal foi ativada, ecoando escandalosamente por toda a penitenciária.
Como eu não gostaria nenhum pouco de ser flagrado naquela situação tão embaraçosa, observando
sua figura adormecida com tanta admiração, eu fechei meus olhos ligeiramente, fingindo que estava
dormindo e torcendo para que Sasuke não tivesse reparado em mim.
Para a minha infelicidade, aconteceu o contrário do que eu desejava, como sempre.
A risada sonolenta e rouca do moreno invadiu os meus ouvidos, mostrando-me com clareza que
havia reparado em minha péssima atuação na hora de fingir que continuava adormecido.

227
-Eu sei que você está acordado, Naruto. -Sua voz soou meio brincalhona, enquanto seu toque em
minha cintura tornava-se mais firme, acariciando-me como pequenas cócegas. Eu sorri involuntariamente,
estragando todo o meu disfarce. -Pode abrir os olhos.
Criei coragem para obedecer ao seu pedido, indo envergonhado de encontro aos seus olhos, me
perdendo momentaneamente em suas órbitas negras e inconfundíveis.
-H-Hm... Bom dia, Sasuke. -Cumprimentei tímido, porém doce, sentindo minhas bochechas pegarem
fogo, tendo o Uchiha a centímetros de meu rosto, carregando um sorriso pequeno e sonolento.
-Bom dia. -Respondeu baixo, escorregando sua cabeça pelo travesseiro em que dividíamos,
inclinando seu pescoço na intenção de juntar nossas bocas. Eu fiquei inteiramente derretido e com cara de
bobão, apenas por conta do pequeno selinho trocado entre nós. -Você conseguiu dormir pelo menos um
pouco?
-E-Eu dormi a noite toda. Na verdade, é a primeira vez que eu durmo direto aqui dentro, sem ficar
acordando toda hora. -Ri envergonhado, sendo o mais sincero possível.
Seu sorriso aumentou discretamente.
-A mesma coisa comigo. -Declarou honesto.
As batidas de meu coração se aceleraram de repente. O Sasuke havia sentido a mesma coisa
dormindo junto comigo, o que só serviu para me deixar ainda mais apegado à ele e no envolvimento entre
nós dois.
-M-Muito obrigado por ter concordado em ficar comigo, Sasuke. Eu sei que te dei trabalho, mas é que
eu estava com muito medo de alguma coisa acontecer e—
Ele me interrompeu com uma risadinha.
-Você não me deu trabalho nenhum, bebê. -Acariciou minha cintura, me deixando cada vez mais
preso a cada toque, olhar e carinho vindo de si. Me apegar ao Sasuke era um caminho sem volta. -Eu já
disse que você pode ficar comigo quando quiser. Pode dormir aqui mais vezes, tá bom?
Meus olhos brilharam em resposta.
Eu havia dormido tão bem junto à ele, que saber que poderíamos repetir isso mais vezes, me deixava
com um sorriso de orelha a orelha. Ficar entre os seus braços durante à noite espantou qualquer resíduo de
medo dentro de meu peito.
O Sasuke é como um escudo para mim.
-E-Eu posso mesmo? -Indaguei somente para confirmar. Se ele me desse essa brecha, eu arrumaria
um jeito para que ficássemos juntos o tempo todo, inclusive na hora de dormir.
-É claro que pode. -Confirmou com um aceno positivo. -É só você me pedir, tudo bem?
Concordei sorridente.
Com essa abertura sua, eu daria o meu melhor para ficar o mais próximo possível de si, embora eu
sentisse um pouco de receio do Sasuke acabar enjoando de mim por conta de meu grude excessivo.
Eu teria que dá-lo um certo espaço também.
-Vamos levantar? -Sugeriu, mas não esperou por uma resposta minha.
Pelo fato do corredor estar se enchendo gradualmente, com vários detentos e carcereiros circulando
em frente à grade, Sasuke foi quem se levantou primeiro, fazendo uma espécie de alongamento em meio a
cela, erguendo seus braços para cima e depois remexendo os seus ombros.
Eu, por outro lado, decidi seguir os seus mesmos passos, soltando um último bocejo antes de lhe
acompanhar, meio decepcionado por precisar deixar o “conforto” de sua cama. Com o Sasuke do meu lado,
estava tudo muito mais quentinho e aconchegante.
Fiquei parado de frente à si, assistindo-o se alongar com uma expressão meio perdida, não sabendo
ao certo o que fazer, pelo menos não até que um dos carcereiros viessem abrir a cela para que
pudéssemos sair.
Apesar de tudo, era uma cena realmente atraente ver o modo como o moreno se comportava pela
manhã, exibindo seu abdômen e peito nu para qualquer um que passasse ao lado de fora, parecendo bem
mais ativo do que eu, alongando seus músculos um por um.

228
-Ouch. -Resmungou dolorido, tombando seu pescoço para o lado na intenção de estrala-ló. Soltei
uma risada baixinha, arrancando um sorriso leve de sua parte quando reparou que eu estava o observando
desde o início. -O quê? Você não estrala os seus ossos, não?
Neguei sorridente.
-Não, na verdade.
-Você não sabe o que está perdendo. -Fez o mesmo ato, só que dessa vez, do outro lado de seu
pescoço. -É muito bom.
Tentei copia-ló da mesma forma, tombando minha cabeça para o lado esquerdo, forçando para que
saísse o mesmo som e tivesse o mesmo efeito que os ossos de Sasuke. No entanto, além de eu não ter
conseguido estrala-ló, algo ainda pior aconteceu.
-Naruto... O seu pescoço.
Franzi o cenho confusamente, virando minha cabeça numa tentativa falha de olhar para o meu
próprio pescoço. Procurei atentamente pelo espelhinho de sua cela, soltando um suspiro assustado ao me
deparar com o meu próprio reflexo, enxergando uma quantidade considerável de marcas em minha pele.
Estavam todas meio roxas e vermelhinhas, marcando o exato ponto aonde Sasuke beijou, mordiscou
e chupou o meu pescoço na noite passada. Como era a primeira vez que eu passava por algo parecido,
fiquei por volta de uns dez segundos em frente ao espelho, carregando uma expressão meio distante.
-Bebê? -Suas mãos foram de encontro a minha cintura, retirando-me de meu transe ao me segurar
por trás, olhando para os nossos reflexos juntos. Sua feição beirava o arrependimento, como se houvesse
sido uma completa crueldade ter feito isso comigo. -Me desculpa. Eu não achei que ficaria tão marcado
assim.
Virei-me lentamente para si, corando um pouco com a situação. Nunca ninguém havia me tocado e
beijado com tanto desejo, por essa razão, ficar com marcas em minha pele era algo novo para mim, apesar
de que eu não estava achando tão ruim assim.
-T-Tudo bem. -Neguei com a cabeça, passando a ideia de que não me importava tanto assim. -Não
tem problema.
-Tem sim. -Suspirou seriamente, repreendendo a si mesmo pelo o que fez. Sua mão entrou em
contato com a minha pele, acariciando sutilmente cada marquinha presente em mim. -Eu deveria ter ido
com mais calma.
-N-Não, Sasuke... -Toquei por cima de sua mão, afagando delicadamente. -Está tudo bem, sério
mesmo. Eu não me importo com isso.
O moreno sorriu meio apagado.
-Você não se importa em sair assim, bebê? -Indagou preocupado.
Eu realmente não ligava.
Honestamente, nenhum de nós parecia se importar muito em sermos vistos juntos pelos outros. Já
ocorreu algumas vezes de nos beijarmos e abraçarmos em público, sem se preocupar com os olhares que
receberíamos dos outros detentos e carcereiros.
Eu não sei aonde o Sasuke estava querendo chegar com as coisas, mas para mim, estava ótimo
poder andar colado com ele e sem nenhuma preocupação em dar santificações ao próximo sobre o nosso
envolvimento.
-Não. -Respondi envergonhado.
-Tem certeza? -Tocou na ponta de meu queixo, mantendo minha cabeça levantada e olhar
inteiramente preso ao seu. -Se você se importar, eu vou entender.
-Eu não me importo. -Senti minhas bochechas se esquentarem. Eu tinha vergonha de admitir que
gostei de me sentir assim, era como se eu pertencesse ao Sasuke e ele pertencesse a mim. -H-Hm... A não
ser que você se importe que eu saia desse jeito.
Ele sorriu pequeno.
-Nenhum pouco, na verdade. -Afagou as minhas bochechas, escorregando seus dedões por cima de
minhas marquinhas, parecendo satisfeito com ambas as respostas. Nós dois possuíamos o mesmo
pensamento e não nos importávamos em sermos vistos juntos. -Então deixa eu me trocar. A gente já sai,
está bem?

229
-U-Uhum. -Concordei timidamente. Fiquei a assisti-ló se distanciar de mim, indo de encontro a
mesinha ao lado de sua cama, a mesma aonde ele empilhava os seus uniformes. -Acho que hoje eu vou
precisar ficar com a minha roupa do dia anterior.
Sasuke riu brevemente.
-Pelo menos você está cheirando a amaciante. -Comentou distraído, ao mesmo tempo em
selecionava uma blusa qualquer para trocar-se, se arrumando em minha frente. -Lembra? Ontem de noite a
gente usou os produtos de limpeza para outra finalidade.
-É, você tem razão. -Sorri abobado, recordando-me de nossa brincadeirinha na noite passa. Fazia
muito tempo que eu não me sentia tão feliz e livre dentro da penitência. O Sasuke realmente tem um efeito
muito positivo sobre mim. -O-Ontem foi muito legal...
Ele virou-se para mim, carregando um sorriso distendo e carinhoso. Eu simplesmente amava quando
o Sasuke me olhava dessa forma.
-Foi mesmo. -Concordou, terminando de calçar o seu tênis. Minha bochechas logo ganharam uma
coloração a mais, tendo o moreno caminhando até mim, segurando em minha cintura para que juntássemos
nossos corpos e consequentemente as nossas bocas. Foi apenas um selinho bem curto e carinhoso entre
nós. -Eu me diverti muito com você ontem, bebê.
Sorri tímido em resposta.
-E-Eu também.
Não foram apenas as brincadeiras entre nós que me deixaram tão contente. Na verdade, eu nunca
imaginei que desejaria tanto ser tocado outra vez, especialmente estando tão repleto de traumas. O Sasuke
estava me ajudando muito a superar tudo isso.
-Bom dia, meninos.
A voz inesperada e enrouquecida de Obito foi o que quebrou o nosso momento. No entanto, apesar
de sua chegada tão repentina, notei que o Uchiha fez questão de permanecer com suas mãos em minha
cintura, me segurando firmemente em sua frente.
Era como se ele desejasse que o nosso envolvimento viesse a público, tanto para os guardas, quanto
para os detentos.
-Bom dia. -Cumprimentei educado, visto que o Sasuke permaneceu quieto.
-Naruto, eu tenho um aviso para você. -Ele apoiava-se sobre a grade, tirando uma espécie de bilhete
de seus bolso. Notei ele espremer os olhos para ler, franzindo o cenho brevemente. -Ah, a sua mãe está na
ala de visitas. Kushina Uzumaki, certo? Você já tem autorização para ir.
Meu coração acelerou automaticamente.
Aquela notícia era realmente maravilhosa.
Eu não esperava que minha mãe viesse até a penitenciária tão cedo. Quando conversamos no dia
anterior, imaginei que ela fosse demorar por volta de uma semana para aparecer por aqui. No entanto, pelo
o que me parecia, a sua ansiedade encontrava-se ainda maior do que a minha para que nos víssemos.
Me virei animado para Sasuke, carregando um sorriso largo e emocionado, dando um pequeno
pulinho de alegria. O mais velho possuía um olhar carinhoso, aparentemente contagiado por me ver tão feliz
com a notícia.
-A minha mãe está aqui, Sasuke! -Informei-o de modo desnecessário, visto que o mesmo já havia
escutado tudo desde o início. -Ela veio me ver!
-Sim, bebê. -Confirmou com um sorriso atencioso, sendo rapidamente surpreendido por um abraço
meu. Eu estava muito contente com aquela notícia, e por isso, sentia uma necessidade de dividir isso com
alguém importante para mim.
Abracei seu tronco com força e afeição, arrancando uma risada divertida sua, visto que apertei-o
mais “forte” do que o habitual. O moreno, por sua vez, correspondeu com uma carícia pequena atrás de
minha nuca, estalando um beijo rápido em meu coro cabeludo.
-E-Eu estou muito feliz. -Escondi meu rosto corado em seu peito.
-E eu estou muito feliz por você. -Murmurou contra o topo de minha cabeça, inalando o cheiro de
meus fios. -Sua mãe também deve estar muito ansiosa pra te ver.
Aquele dia estava absolutamente perfeito.

230
Eu sentia como se nada pudesse estragar o momento. Acordar ao lado do Sasuke pela manhã e
agora receber uma visita da minha mãe, estava realmente se tornando o ponto alto de minha “hospedagem”
aqui dentro da prisão.
-A cela está aberta. -Obito informou simplista, destrancando a grade para que pudéssemos sair. -Vejo
vocês mais tarde, meninos.
-Até mais. -Sasuke respondeu por nós dois, aceitando por todo esse tempo o meu abraço tão
comprido e emocionado. Eu ainda não havia o soltado. -Ei? Você não quer ver a sua mãe agora?
Isso era tudo o que eu mais desejava.

Contudo, minha ansiedade para vê-la também se dava pelo fato de que não nos falávamos frente a
frente fazia muito tempo. A última vez em que eu vi a Kushina pessoalmente, foi no dia do meu julgamento,
ou seja, quando o juiz anunciou a minha sentença.
Eu tinha medo de que as coisas estivessem diferente entre nós. Afinal, eu havia tirado a vida de um
jovem e ido parar em uma penitência. Não era como se fosse a coisa mais normal do mundo para uma mãe
como ela, ter um filho criminoso e assassino igual a mim.
-E-Eu quero muito. -Respondi emocionado, fazendo o nosso abraçado durar ainda mais. Era muito
bom ter alguém que aceitasse o meu jeito mais grudento e carinhoso aqui dentro, principalmente se esse
alguém é o Sasuke. -Muito mesmo.
-Então o que você está esperando, hm? -Indagou paciente, afastando nossos corpos com
delicadeza, querendo me olhar nos olhos.
-H-Hm... Você quer vir comigo? -Questionei esperançoso, desejando verdadeiramente a sua
presença. Eu não estava pedindo para que ele viesse falar com a minha mãe, mas sim para estar por perto
junto a mim, o que com certeza me passaria mais segurança.
Sasuke concordou positivo.
-Claro. Se você quiser, eu vou.
-Eu quero. -Sorri vitorioso. Naquele momento, eu me encontrava tão ansioso com o encontro que
teria com a minha mãe, que quase me esqueci de um detalhe importantíssimo e que não poderia passar
despercebido. -Ah, não...
-O que foi?
-O meu pescoço... As marcas nele. -Toquei em minha pele. Uma coisa era aparecer marcado para os
detentos, mas era algo completamente diferente com a minha mãe. Não daria para simplesmente chegar
desse modo, pelo menos não em nosso primeiro encontro após meses. -Minha mãe não vai gostar nenhum
pouco de me ver assim, Sasuke.
Ele esboçou uma careta preocupada.
-Você acha?
Concordei com a cabeça.
O Sasuke não conhecia a minha mãe, por essa razão, nem sequer imaginava o modo como ela era
extremamente observadora, inteligente e super-protetora quando se tratava de mim.
Se a mamãe reparasse nas marcas, com certeza me encheria de perguntas em relação a prisão, os
meus amigos, relacionamentos e com que tipo de pessoas eu estou me metendo.
Para ela, saber que estou envolvido com um outro “criminoso”, falando diretamente do Sasuke,
provavelmente a deixaria nervosa com a situação e com uma pulga atrás da orelha.
-Bom, se você está dizendo... -Suspirou em arrependimento. Eu sabia que ele ainda estava se
culpando pelas marcas que deixou em mim. -Então vamos dar um jeito de cobrir isso.
-C-Como?
Seu cenho de franziu pensativamente, ao mesmo tempo em que seus olhos vagavam por toda a
cela, procurando por algo que pudesse cobrir e esconder o meu pescoço da linha de visão da minha mãe.
-M-Minha mãe é muito esperta e observadora. -Comentei aflito. Eu não queria lhe botar pressão, mas
sabia que se não fôssemos inteligentes o bastante, seríamos flagrados com facilidade. -Ela presta atenção
em tudo, sabe?

231
-Fica tranquilo. -Murmurou, mordiscando o próprio lábio de modo atento. Seus olhos percorriam por
cada centímetro ao nosso redor, até que finalmente caíram na pequena pilha de roupas ao lado da sua
cama. -Eu já sei.
-O quê? -Perguntei esperançoso.
O mais velho foi em direção ao monte de uniformes, mexendo em meio as peças meio afobado,
jogando algumas calças, cuecas e meias em cima de sua cama, deixando o lugar um pouco zoneado.
Fiquei a observá-lo curiosamente, até que uma blusa qualquer foi escolhida por si, sendo inclinada em
minha direção.
-Aqui, pega. -Sacudiu o uniforme para mim.
Aceitei o conteúdo de bom grado, esticando a blusa na frente de meu rosto. Aquele era o seu mesmo
uniforme de sempre, não tinha nada de especial. O único detalhe era que a peça ficaria duas vezes maior
em meu corpo se eu a colocasse.
-Eu não entendi. -Virei minha cabeça para o lado. -É pra eu vestir isso?
-Sim. -Riu baixinho, aproximando-se de mim. -Olha... Essa blusa é a maior que eu tenho. Dá pra
você tentar dobrar a gola na altura do seu pescoço e esconder a sua pele direitinho.
-A-Ah... -Soltei um som para mostrar que havia entendido. Dei uma outra checada na blusa, rindo
sozinho com a minha própria situação. -Tudo bem, vamos tentar.
-Isso, coloca ela. Se não der certo, a gente pensa em outra coisa. -Declarou tranquilizado. Como se
ele já soubesse o que estava por vir, virou-se de costas para mim sem dizer nada, me dando certa
“privacidade” para que eu pudesse me trocar.
Eu tive que sorrir por isso.
O Sasuke quis ser o mais respeitoso possível comigo, provavelmente imaginando que eu ficaria
envergonhado ou sem graça com a situação, embora eu já tivesse aprendido a ficar pelado e semi-nu na
frente de um monte de pessoas.
Essas coisas a gente aprende, mas nunca se acostuma de verdade.
O moreno voltou para perto de seu monte de roupas, arrumando-os no mesmo lugar, usando como
uma desculpa para que eu me trocasse logo de uma vez e ele não precisasse ficar me olhando.
Tirei a minha própria blusa, colocando a sua às pressas, rindo solitariamente pelo tamanho que havia
ficado em meu corpo, totalmente gigante. Dei uma checada rápida em meu reflexo, refletindo se isso iria
realmente adiantar ou apenas deixar a situação ainda pior.
-Sasuke?
O Uchiha se virou com o meu chamado, avaliando-me da cabeça aos pés, prestando atenção no
modo como a roupa havia caído em mim. Quando um sorrisinho cresceu pelos seus lábios, eu soube que
estava bom o suficiente para que saíssemos daquela forma.
-Está ótimo. -Andou novamente até mim. Deixei que ele se aproximasse e mexesse na gola de minha
blusa cuidadosamente, dobrando com a intenção de cobrir as marcas. -Só que a blusa ficou meio grande
pra você.
-E-Eu sei. -Ri envergonhado. -Eu estou parecendo um saco de batatas.
-Não, nada disso. -Seu sorriso leve e carinhoso amolecia todo o meu corpo, além do fato de tê-lo
bem próximo de mim, afastando alguns fios loiros de minha testa. -Ficou lindo.
O meu coração se acelerou drasticamente, além de meu rosto ter se transformado em um verdadeiro
tomate.
Aquela era a primeira vez que o Sasuke me elogiava tão “diretamente”. Isso só serviu para mostrar
ainda mais o modo como estávamos evoluindo. Eu tinha certeza que, em pouquíssimo tempo, elogios
também fariam parte de nosso vocabulário um com o outro.
Com essa outra abertura do Sasuke, eu também começaria a elogia-ló com mais frequência e botar
para fora todos os meus pensamentos positivos em relação a ele.
Qualquer motivo que eu encontrasse, eu lhe elogiaria sem pensar duas vezes.
-Vamos indo? -Sugeriu com uma risada brincalhona, divertindo-se por me ver completamente sem
graça com o comentário.
-U-Uhum. -Foi o que eu consegui responder.

232
Dessa vez, o Uchiha não precisou tocar em minhas costas para que eu entendesse o recado e
andasse em sua frente. Talvez pelo fato dele já imaginar o que eu faria à seguir, seu braço foi rapidamente
esticado para mim, dando a entender que eu poderia segura-ló.
Eu sou muito previsível mesmo.
Soltei uma risada tímida, aceitando o seu braço direito de bom grado, logo percebendo que aquilo
havia virado uma coisa nossa. Andar pela penitenciária agarrado com o braço do Sasuke já era normal pra
nós dois.
Caminhamos para fora da cela, saindo diretamente no corredor do bloco 5, o lugar mais próximo da
ala de visitas dentro da penitenciária. Não haviam tantos detentos circulando o local, até porque, todos
estavam cumprindo o horário de café no refeitório.
Pelo fato de não estar tão cheio assim, foi fácil para mim de localizar dois garotos mais à nossa
frente, os quais eu logo identifiquei como Gaara e Deidara, ambos saindo do bloco 4 para entrarem no
mesmo corredor que o nosso.
Não demorou muito para que eles notassem a nossa presença.
-Naruto?! -Gaara gritou afobado no fundo do corredor, me deixando assustado ao lado de Sasuke. O
moreno também não parecia entender o motivo de tanto desesperado vindo de meu amigo, especialmente
quando o mesmo começou a correr na nossa direção, sendo surpreendentemente acompanhado por
Deidara. -Meu Deus, você está vivo!
Me desconectei de Sasuke, abrindo meus braços meio atordoado ao notar que Gaara tinha a
intenção de me abraçar. Esperei que ele e Deidara chegassem até mim, chocando meu corpo contra o do
ruivo, correspondendo ao seu abraço desesperado.
Ele me apertava muito forte, o que me fez soltar um suspiro dolorido, ainda confuso com tudo o que
estava acontecendo. Olhei de relance para Sasuke, notando-o tão perdido quanto eu diante da situação.
-G-Gente, o que aconteceu? -Afastei o Gaara com delicadeza.
-Seu lazarento! -Foi a vez de Deidara se pronunciar, chocando sua cintura com a do ruivo na hora de
empurra-ló para o lado, avançando em minha direção com uma feição irritada. -Aonde você estava,
caralho?!
O loiro não pensou duas vezes na hora de puxar a minha orelha, dando-me uma espécie de bronca,
o que me fez soltar um gemido de dor, deixando Sasuke meio desconfortável ao meu lado, não gostando
nada de ver o Deidara agir de modo tão bruto comigo.
-A-Au! ’Tá doendo! -Empurrei sua mão, massageando o meu próprio ouvido. Os dois me olhavam
como se esperassem por alguma justificativa minha. -Eu estava com o Sasuke, gente. Por quê? O que
aconteceu?
-O que aconteceu?! -Deidara repetiu a pergunta, alternando entre mim e o Uchiha. - Porra, que tal se
você avisasse a gente com antecedência que não ia passar a noite na cela?!
Pisquei de modo confuso.
-Franguinho, por que você não avisou a gente antes? -Gaara perguntou com a voz sofrida.
-E-Eu esqueci, gente... -Confesso que fiquei um pouco surpreso com a preocupação excessiva deles
em relação a mim. -Desculpa, nem passou pela minha cabeça. Não vai acontecer de novo, tá bom?
Troquei alguns olhares breves com o Sasuke, o qual permanecia um pouco atrás de mim, assistindo
a discussão com uma expressão neutra e atenta. Eu não fazia ideia do que estava se passando pela sua
cabeça naquele momento.
-Idiota! -O loiro continuava me xingando. -Seu animal, anta, embuste, arromba—
-Ele já entendeu, Dei. -Gaara suspirou mais tranquilizado. Aquilo continuava muito estranho. -Sabe o
que é, Naruto... Quando você não apareceu depois do seu turno, a gente chamou o Kakashi para perguntar
sobre você, e bom, a resposta dele não foi das melhores.
Franzi a testa sem entender.
-C-Como assim?
-Eu não sei. -Nem o ruivo estava conseguindo se explicar. -Eu acho que o Kakashi achou engraçado
ver eu e o Deidara preocupados com você, sabe? Então, ele tocou ainda mais terror na gente, falando que
você tinha ido parar na solitária e que ia ficar um mês lá.

233
Arregalei meus olhos assustado.
Nem mesmo o Sasuke parecia entender o que levou o platinado a falar uma coisa daquelas.
-Por que ele diria uma coisa dessas? -O Uchiha questionou pacificamente, interessado na conversa.
-Sei lá! -Deidara estalou a língua, talvez incomodado com o fato do moreno ter se intrometido em
nosso diálogo. -Talvez porque ele seja um pirado do caralho! Aquele cara usa drogas, eu tenho certeza!
-Eu também acho. -O ruivo concordou. -Deve usar umas drogas bem pesadas. Daquelas que
derretem o cérebro das pessoas, sabe?
-Eu não acho que ele use drogas. -Sasuke continuava a dialogar com eles. Eu não sei o porquê, mas
achei legal e interessante vê-lo conversando com os meus amigos. -O Kakashi sempre quer causar. Ele
gosta do caos.
-Caos?! -O loiro continuava indignado, sendo o mais revoltado entre nós com a situação. -Se aquele
filho da puta gosta de causar, então ele que me aguarde! Da próxima vez que ele cruzar o meu caminho, eu
juro por tudo que é mais sagrado que eu vou enfiar um—
Gaara precisou calá-lo com bastante paciência, apenas tocando em um de seus ombros, lhe
lançando um olhar rápido como se pedisse para que ele se acalmasse.
-Bem, agora já foi. -O ruivo concluiu. -Só não faça mais isso, Naruto. Por favor, tá bom?
-Tudo bem. -Concordei meio desapontado comigo mesmo. Eu nunca imaginei que minha ausência
causaria tanta angústia e preocupação. -Desculpa, mais uma vez.
Caiamos num silêncio penetrante.
-Vocês estão indo para a ala de visitas? -Gaara foi quem quebrou a momento.
-Sim. -Respondi. -Vocês também vão?
-Sim, a minha irmã veio me ver. -Sorriu de modo emocionado, o que acabou me contagiando
também. Eu estava muito feliz por ele, pois sabia que os dois não se viam desde a seu julgamento, assim
como eu e a minha mãe.
-A minha mãe também veio. -Revelei, arrancando um sorriso ainda maior seu. Deidara, por sua vez,
assistia a cena com um semblante distante e apagado. -E você, Dei? Quem veio te ver?
Ele me olhou com tédio.
-O meu advogado. -Foi uma resposta meio triste se comparada a nossa. -Eu estou vendo se é
possível diminuir o tempo da minha sentença.
Sasuke se interessou novamente pelo assunto.
-Quantos anos você pegou?
É claro que o Deidara não deixaria barato.
-Não é da sua conta.
Olhei meio chateado para o loiro, não gostando nenhum pouco de vê-lo tratar o moreno tão mal,
embora Sasuke estivesse beirando a indiferença, pouco se importando com os xingamentos e patadas
vindas de Deidara.
-Tudo bem... Vamos, então? -Gaara sugeriu, querendo cortar o clima ruim.
-Vamos. -Concordei, olhando rapidamente para Sasuke. Seus olhos continuavam presos aos de
Deidara, mas após sentir-me segurar em seu braço, ele logo se virou para mim. -Você está bem?
-Por que será que o Deidara me odeia tanto? -Questionou num tom baixo, recomeçando a caminhar.
Ri baixinho para descontrair.
-O Deidara não gosta de ninguém.
-Eu sei, mas tipo... -Deu uma pausa, olhando para frente. -Parece que comigo é mais do que com o
resto, você não acha?
-H-Hm... -Fiz uma expressão pensativa. -Eu acho que é porque você é irmão do Itachi, né? Pelo o
que eu percebi, o Dei não gosta nada dele.
Sasuke deu de ombros.

234
-É... Deve ser isso.
O assunto de encerrou por ali.
Ficamos o resto do percurso em silêncio, apenas agarrados um ao outro. Eu sentia as batidas de
meu coração aumentarem a cada passo dado por mim em direção a ala de visitas. Quando finalmente
alcançamos a porta de entrada, eu pude observar o lugar com mais nitidez, sentindo meu corpo vacilar com
a visão em minha frente.
Minha mãe estava à minha espera.
Kushina encontrava-se sentada em uma das mesas na área de vistas pessoais, vestindo um de seus
vestidos floridos e sapatilhas pretas, ao mesmo tempo em que batucava seus dedos ansiosamente, olhando
ao redor à minha procura.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
-É ela, Sasuke... -Apertei o braço do moreno, me abraçando mais a ele. -É a minha mãe.
O Uchiha seguiu com o seu olhar para o exato ponto aonde eu lhe mostrava, sorrindo pequeno
quando se deparou com a minha mãe, parecendo ter simpatizado com a sua figura, mesmo que distante
dela.
-Ela é linda, bebê. -Comentou sincero, me fazendo sorrir ainda mais. -Igualzinha a você.
Minhas bochechas se esquentaram violentamente. Entretanto, nada era mais forte do que a emoção
que eu sentia em finalmente poder falar com a minha mãe.
-Vai lá, Naruto. -Me incentivou, separando-se cuidadosamente de mim. Eu acho que, no fundo, eu
estava precisando desse empurrão do Sasuke. -Eu te espero aqui, sim?
Concordei meio fora de mim, me distanciando do Uchiha com um leve empurrãozinho seu, mantendo
meus olhos presos em Kushina. Andei aos tropeções para perto de si, esbarrando em alguns detentos no
caminho, não acreditando que finalmente poderíamos dialogar.
Quando cheguei perto o suficiente de Kushina, pensei em uma forma ideal para chamá-la, mas que
infelizmente não pode ser colocada em prática, visto que no segundo seguinte, ela já havia me notado.
Seus olhos foram rapidamente de encontro aos meus.
-Naruto... Filho? -Sua voz saiu bem fraquinha. Pelo fato de estarmos próximos, pude notar o modo
como ela encontrava-se com a aparência bem mais abatida se comparado a última vez em que nos vimos.
-Que saudades de você!
Eu abri meus braços para recebê-la, me sentindo instantaneamente acolhido com o seu toque tão
reconfortante e conhecido por mim. Eu senti muita falta daquilo. Poder sentir o seu cheiro doce e viciante,
igualzinho quando eu era mais novo.
-M-Mamãe... -Choraminguei, enterrando meu rosto em seu ombro, não conseguindo conter as
minhas lágrimas. -Que saudades.
Eu poderia ficar horas daquela mesma forma, colado ao seu corpo e matando a saudades que sentia
de si. Porém, como tudo o que é bom dura pouco, alguma coisa tinha que nos interromper.
-Ei, vocês dois? -Um carcereiro nos chamou, o qual eu logo identifiquei como o Asuma, responsável
pelo bloco 2. -Sem abraços. Não é permitido.
Tivemos que nos separar com muito esforço.

Estávamos ambos chorando, mas aparentemente, eu era o mais emocionado entre nós. Eu sempre
fui, na verdade. Com o meu coração apertado, permiti que ela secasse as minhas lágrimas, até que nos
sentamos sobre a mesa, frente a frente um do outro.
Eu queria poder ficar do seu lado, mas tive que me contentar com aquilo mesmo.
-C-Como você está, mãe? -Toquei em sua mão pálida e fria por cima da mesa, recendo um olhar de
reprovação do carcereiro. Não era permitido se tocar. -Me fala tudo o que está acontecendo. Você ainda
está morando na casa da Tsunade?
-Sim, eu estou. -Sorriu docemente. A Tsuande era sua amiga de infância, a qual permitiu que mamãe
vivesse em sua casa quando eu fui preso e pelo fato dela não poder ficar sozinha por conta de seus
problemas cardíacos. -Ela te mandou um beijo, a propósito.
Sorri entristecido.

235
-É mesmo? -Eu sempre gostei muito da Tsunade. Quando eu era criança, ela costumava cuidar de
mim no horário de trabalho dos meus pais. -E-Ela não me odeia, mamãe?
-É claro que não, meu amor. -Notei que ela tentou pegar na minha mão novamente, mas foi
rapidamente parada por Asuma. -Ela sabe que foi um acidente. A consideração dela por você continua a
mesma de sempre.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Era cem vezes mais difícil falar sobre o “acidente” que eu causei estando perto da minha mãe. Eu
ainda me sentia extremamente culpado pelo o que aconteceu e sabia que, enquanto eu vivesse, nunca me
perdoaria por isso.
-E você, querido? -Kushina mudou de assunto, prevendo que eu ficaria mal se engatássemos nessa
conversa. -Me conta como são as coisas aí dentro. É tão ruim quanto falam?
Suspirei silenciosamente, pensando em uma forma ideal de contá-la como funcionavam as coisas
dentro da penitenciária. Obviamente, eu não lhe relataria sobre os assédios que sofri e muito menos a
respeito de Kakashi e Orochimaru.
Eu tentaria contar as coisas boas que aconteceram comigo.
-Nem é tão ruim assim. -Sorri do modo mais reconfortante que pude, notando um suspiro aliviado
escapar de seus lábios. Ela ainda se preocupava muito comigo. -Eu tenho amigos aqui dentro. Pessoas
boas, sabe?
Kushina franziu o cenho, fazendo o seu famoso olhar desconfiado, duvidando do que me ouviu dizer.
Eu não a julgaria, até porque, é meio difícil de acreditar que tinham pessoas realmente legais e atenciosas
dentro de uma prisão.
-Pessoas boas?
-Uhum. -Ri baixinho. -Eu tenho um grupinho de seis amigos.
-E você é amigo de todos eles? -Indagou interessada. Eu sabia que ela começaria a fazer um monte
de perguntas a respeito deles, até que tivesse absoluta certeza de que eu estava “a salvo”. -Eles são mais
velhos que você? Qual é a idade deles?
-C-Calma, mamãe. -Acalmei-a, não gostando nenhum pouco quando ela começou a tossir,
engasgando-se sozinha por ter falado rápido demais e perdido o fôlego. -Eu sou o mais novo entre eles.
Mas sou íntimo de só dois meninos do grupo, o resto são apenas colegas.
-Ah, é? -Ela dava tapinhas em seu próprio peito, regulando sua respiração. -E qual é o nome deles?
-Gaara e Deidara. -Revelei sorridente. Pensei que talvez pudesse mostrá-los, visto que ambos
também encontravam-se no mesmo ambiente que nós dois. -Ah, eles estão aqui, mamãe... Olha.
Apontei para o final da sala, mostrando primeiramente o Deidara. O loiro encontrava-se de pé,
gesticulando agressivamente para cima de seu advogado e desferindo murros violentos na mesa,
parecendo brigar com o mesmo.
Eu escolhi a pior hora possível para apresentar o Deidara.
-Oh... -Kushina me olhou de modo estranho. -Ele é mesmo uma boa pessoa, filho?
Ri sem graça.
-É sim. -Confirmei com um sorriso fraco, querendo trocar de assunto. -E aquele ali é o Gaara.
O ruivo estava em uma situação bem diferente.
Ele e sua irmã encontravam-se numa mesa próxima da nossa e conversavam animadamente entre
si, ambos com os olhos cheios de lágrimas, parecendo realmente alegres e emocionados por verem um ao
outro.
O Gaara merecia toda a felicidade do mundo.
-Ele parece ser legal. -Comentou distraída, avaliando-os em silêncio. -São só esses dois?
Meu rosto se tornou rubro de repente.
-H-Hm... -Eu não pretendia contá-la sobre o Sasuke, mas como ela perguntou, eu decidi que o
melhor a se fazer seria mostrá-lo. Afinal, o Uchiha é a pessoa com quem mais estou grudado e pegado aqui
dentro. Ele é muito especial para mim. -Tem outra pessoa.

236
-Quem? -Levantou a sobrancelha, não entendendo o que me levou a ficar sorrindo que nem um
bobão e com o rosto avermelhado.
Virei meu pescoço para trás, percorrendo meus olhos à procura de Sasuke. Como ele disse que iria
me esperar, foi fácil de localiza-ló, apoiado com um pé na parede da entrada, ao mesmo tempo em que
mantinha seus braços cruzados e o olhar preso no chão, aguardando pacientemente por mim.
-A-Aquele ali é o Sasuke Uchiha.
Seus olhos caíram no moreno, avaliando-o da cabeça aos pés com um semblante sério. Eu fiquei um
pouco tenso com a sua reação, especialmente quando suas mãos foram de encontro a gola de minha
camiseta, desdobrando-a de modo inesperado.
Eu gelei da cabeça aos pés.
-Foi ele quem fez isso em você? -Indagou com os braços cruzados.
Eu fui muito burro de achar que a minha mãe não iria perceber. Era óbvio que ela reparou nas
minhas marcas desde o segundo em que eu entrei por aquela porta, mas só estava esperando o momento
certo para me perguntar.
-M-Mãe... -Eu estava pensando em arrumar uma desculpa, mas apenas me cansei de esconder as
coisas dela. -Sim, foi ele.
Ela assentiu como se já soubesse.
-Você gosta dele, Naruto?
-U-Uhum. -Eu estava inteiramente corado. -Gosto muito mesmo.
-Deixa eu conhecer ele. -Pediu autoritária.
Levantei minha cabeça assustado.
-C-Como é?
-Eu acho que tenho o direito de conhecer o garoto que o meu filho gosta. Não acha? -Ergueu uma
sobrancelha.
Eu estava muito confuso.
-M-Mas, você não liga por ele ser... Digo, por ele estar preso também? -Eu me atrapalhei inteiro para
falar. Era estranho ver minha mãe tão interessada em conhece-ló, especialmente sabendo que o Sasuke
também era um criminoso.
-Isso vai depender do que eu vou sentir quando falar com ele. -Respondeu, como se já tivesse
certeza de que o Uchiha toparia conversar com ela. -E outra... Eu conheço bem o filho que eu tenho. Você
nunca ficaria com alguém que te trata mal, Naruto, e muito menos uma pessoa ruim.
Nisso ela tinha razão.
-Chama o garoto. -Insistiu, batendo os pés impacientemente no chão. -Qual o nome dele mesmo? Eu
já esqueci.
-S-Sasuke, mamãe. -Respondi preocupado. -Tem certeza disso?
-Tenho, vai logo. -Ela deixou um sorriso escapar. -Anda, chama ele. A gente só tem mais cinco
minutos.
Eu não estava acreditando que ia mesmo fazer isso.
Virei meu pescoço em direção ao moreno, fazendo uma espécie de sinal com as minhas mãos,
levantando-as para cima com a intenção de chamar sua atenção. Como Sasuke já encontrava-se ligado em
mim, foi fácil de atrair seu olhar em minha direção.
Ele franziu o cenho meio assustado.
-V-Vem aqui. -Eu sabia que não era possível me escutar daquela distância, mas mesmo assim
continuei a falar, gesticulando para que ele se aproximasse. -Vem, Sasuke.
Não foi nada difícil de notar o modo como o Uchiha ficou “inseguro” com o chamado, aparentemente
surpreso por ter sua presença solicitada. Ele veio caminhando em passos curtos, mantendo suas duas
mãos no bolso, ficando estranhamente tímido ao chegar perto de nós dois.
Eu olhei para a minha mãe.

237
Também não era nada difícil de notar o jeito como os seus olhos caiam sobre o moreno,
impressionada com alguma coisa que viu em si. Provavelmente deveria tê-lo achado atraente ou algo
parecido. Afinal, o Sasuke é uma das pessoas mais bonitas que eu já conheci.
-Boa tarde. -O Uchiha cumprimentou assim que parou de frente a mesa, usando um tom meio
envergonhado e baixo. Confesso que achei extremamente fofo o fato de vê-lo fazer um esforço para ser
simpático, mesmo desacostumado com visitas de fora.
Logo sua mão foi estendida para Kushina, sorrindo meio tímido e tenso, querendo saúda-lá
educadamente.
-Boa tarde. -Mamãe respondeu de volta, dando uma olhada indiscreta em si. Apesar de ter demorado
para aceitar sua mão, ela acabou cumprimentando-o com um toque. -Como vai, Sasuke?
-Vou bem. E a senhora? -Devolveu de forma tranquila, ficando sem graça quando Kushina continuou
com sua mão presa a dele, segurando-a com os olhos espremidos em sua direção.
Eu sabia muito bem o que ela estava fazendo.
A minha mãe estava “sentindo” o Sasuke.
Ela fazia isso com muita frequência, especialmente quando conhecia pessoas novas. Acontece que o
Uchiha não estava acostumado com isso, e por essa razão, não conseguia entender o motivo de estar
sendo segurado daquela forma.
Eu estava morrendo de vergonha.
-Eu vou bem também. -Respondeu por fim, soltando de sua mão com um sorriso.
A boa notícia é que ela havia gostado do Sasuke, caso contrário, não teria sorrido de volta, e sim dito
algo como “quais são as suas intenções com o meu filho?”, ou então, “porque você está preso?”.
-Você tem uma energia boa, Sasuke. -Kushina comentou simpática, arrancando uma risada leve e
envergonhada do moreno. -Eu gosto disso.
-M-Mãe... -Repreendi constrangido.
-O que foi? É verdade.
-Obrigado, senhora. -Sasuke não sabia ao certo como agradecer.
-Não tem de quê. -Sorriu para si. Notei que mamãe tinha mais coisas para falar, mas foi interrompida
por Asuma, o qual fez uma espécie de sinal com as mãos, como se dissesse que o tempo tinha acabado.
-Ah, mas que pena.
-V-Você precisa ir, mamãe? -Perguntei choroso.
-Infelizmente, meu amor.
-E-Eu vou sentir saudades. -Foi inevitável não começar a chorar, especialmente quando Kushina
tentou me abraçar, mas foi parada pelo carcereiro. Aquela regra era horrível. -Obrigado por vir, mãe. Eu te
amo muito.
Ela sorriu triste.
-Eu também te amo muito, Naruto. -Mandou beijos no ar. -Não se esqueça, tá bom?
Concordei positivo, já começando a soluçar.
-Foi um prazer, Sasuke. -Olhou em direção ao moreno, carregando uma expressão meio sofrida.
-Cuida bem do meu filho, ‘tá?
O Uchiha sorriu em reposta, tocando discretamente na altura de minhas costas.
-Pode deixar.
Trocamos sorrisos por uma última vez, até o momento que Kushina teve que se virar, caminhando
para longe de mim sem olhar para trás. O tempo que tivemos para nos vermos foi extremante curto, no
entanto, valeu a pena ficar em sua companhia.
Eu estava precisando dela.

Itachi On

238
O clima gélido e penetrante que rodeava o ambiente, fazia meu corpo inteiro se estremecer por
debaixo das cobertas, me fazendo puxa-lás ainda mais para cima, apertando meus olhos com força na
intenção de criar coragem para abri-los.
Faziam dias que eu estava naquela mesma situação. Era sempre o mesmo esquema. Eu acordava,
tomava todos os meus remédios, que por sinal, eram bem fortes e pesados, e em seguida, caia em um sono
profundo, perdendo o meu dia inteirinho dormindo.
Eu simplesmente não tinha mais forças para me manter acordado. Aquele era o efeito daqueles
malditos comprimidos que estavam me obrigando a tomar para melhorar a minha situação atual.
Aparentemente, não estava funcionado.
Mesmo com todos os medicamentos, soros, exames e cuidados tomados por Yamato, eu
sinceramente não estava notando uma melhoria, fora o fato de ter escutado uma conversa entre dois
enfermeiros, aonde ambos afirmavam que meu estado estava bem crítico.
Eu tentava permanecer o mais forte possível diante de tudo isso, no entanto, eu sentia como se
minhas forças estivessem se esgotando cada vez mais.
Remexi meu corpo preguiçosamente, me sentindo esquisitamente dolorido, mesmo passando cem
por cento de meu tempo imóvel e deitado. Fui movimentando minha cabeça, braços e ombros, destravando
meus músculos um por um, descendo por todos eles até parar em minha perna.
Eu não consegui move-las.
Havia um peso a mais em minhas coxas, indicando que algo ou alguém fazia um certo peso sobre
mim, mantendo-me imóvel da cintura para baixo.
Eu abri meus olhos lentamente com a sensação.
Focalizei minha visão com cuidado, tomando um pequeno susto com a cena que tive em minha
frente. O “peso” presente em minhas coxas, nada mais era do que o meu irmão, o qual encontrava-se
sentado em uma cadeira de frente à mim, adormecido com sua cabeça em minhas pernas, usando-me
como espécie de travesseiro.
Aquela era a primeira vez que eu o via desde que fiquei internado. Pelo o que Deidara me relatou,
Sasuke já veio me ver outras vezes, mas pelo fato de eu sempre estar dormindo, nunca tenho a
oportunidade de conversar com ele.
Querendo ou não, eu sorri bem mínimo e involuntário com a sua presença, me sentindo menos
solitário e abandonado. Ficar muito sozinho naquele ambiente era quase torturante para mim, por mais que
eu nunca fosse admitir a ninguém.
Movimentei minhas pernas com cuidado, não querendo acorda-ló, mas sentindo-as extremamente
dormentes e doloridas. Tentei ser o mais cuidadoso possível, mas infelizmente, o sono do meu irmão
sempre foi muito leve, assim como o meu.
-Mhmm... -Sasuke resmungou sonolento, esfregando o rosto em minha coxa. Fiquei em silêncio e
meio sem saber o que fazer, já imaginando como ficaria o clima entre nós dois. Fazia muito tempo que não
conversávamos. -Mas o que...?
Eu tinha quase me esquecido dessa mania dele de falar sozinho.
Esperei pacientemente até que seus olhos se acostumassem com a claridade, indo de encontro aos
meus com uma expressão perdida e meio engraçada, dado ao fato de que seu cabelo encontrava-se
zoneado.
Ele soltou um suspiro assustado.
Pelo o que me parecia, meu irmão não esperava me ver acordado, assim como eu não imaginava
que despertaria de repente e lhe veria adormecido ao meu lado.
Nenhum de nós sabia o que dizer.
Eu e o Sasuke somos diferentes em muitos aspectos, mas se tem uma coisa que somos idênticos, é
o fato de nunca sabermos reagir em situações desse tipo e nem iniciar um diálogo após uma briga entre
nós.
-Oi. -Foi ele quem tomou a iniciativa de me cumprimentar, utilizando um tom baixo e meio
preocupado. A minha aparência não era das melhores. -Como você está?
Suspirei dolorosamente.

239
-Sei lá, eu já estive melhor. -Eu não queria respondê-lo com um “estou mal”, apesar de que o Sasuke
com certeza já sabia sobre isso. -E você?
Ele deu de ombros.
-Estou bem.
Eu fiquei internamente aliviado.
O Sasuke estava sozinho pela penitenciária e precisando carregar um peso que deveria pertencer a
mim. Na minha ausência, era ele quem estava sendo temido e intimidando a todos, e eu mais do que
ninguém, sei o quanto ele odeia passar por isso.
-Mesmo? -Perguntei falho e preocupado.
Ele concordou positivo.
-Sim, eu estou bem. -Me assegurou. -As coisas andam difíceis sem você, mas eu estou conseguindo
aguentar.
Senti uma pontada ruim no peito.
-Alguém está mexendo com você? -Eu já havia começado a criar um monte de paranoias na minha
cabeça. -Como você está lidando com as coisas sozinho?
-Ninguém está mexendo comigo, Itachi. -Me tranquilizou. -Eu sei me cuidar sozinho... É só que você
faz falta para mim.
Olhei para o meu próprio colo.
O Sasuke também fazia muita falta para mim, apesar de que eu não imaginava que ele estivesse
sentindo o mesmo por mim. Depois de nossa briga, eu não imaginei que ele fosse querer falar comigo.
Na verdade, nem mesmo eu imaginei que fosse querer interagir com ele com cedo. Acontece que,
depois que eu fiquei doente, as coisas ficaram diferentes de certo modo.
Eu enxerguei o quanto ele faz falta para mim.
-O Yamato me disse que você está reagindo bem aos remédios. -Comentou distraidamente, puxando
sua cadeira para chegar mais perto de mim. -Você também está se sentindo melhor recentemente?
Neguei com a cabeça.
-Isso é mentira. -Olhei no fundo de seus olhos. Aquilo era tudo conversa afiada. O Yamato apenas
lhe informou que eu estava reagindo aos remédios, porque não queria acusar pânico nele. Se eu fosse
morrer em breve, o Sasuke precisaria começar a se preparar para enfrentar tudo sem mim. -Eu não estou
melhorando, Sasuke. Acredite se quiser, mas eu ouvi a conversa dos enfermeiros.
Seu olhar tornou-se apreensivo, enquanto suas mãos se remexiam de modo inquieto, algo que fazia
quando estava muito nervoso com alguma situação e se sentia impotente.
-O que os enfermeiros disseram? -Perguntou com um pingo de medo.
-Disseram que eu estou piorando. -Declarei sério, sem demostrar o medo que sentia em relação ao
meu futuro. -Os remédios não estão mais fazendo efeito. A minha situação está crítica, segundo eles.
Sua testa se franziu de modo sofrido.
-Escuta, Sasuke... -Toquei por cima de suas mãos, não gostando nada de vê-las trêmulas e suadas.
-Eu não sei se vou conseguir superar isso.
-Não fala isso, Itachi...
-Deixa eu terminar, okay? -Interrompi o seu futuro discurso motivacional, que sinceramente, não
funcionaria comigo naquele momento. -Eu estou fraco. Me sinto cada vez mais esgotado e debilitado, e
acho que não vou conseguir passar por isso.
As reações de Sasuke eram péssimas.
Cada palavra minha fazia com que suas mãos se tremessem ainda mais, ficando frias e molhadas,
mostrando-me o efeito negativo causado pela notícia em seu corpo. Sua testa se contraia em aflição,
enquanto seus olhos piscavam repetidas vezes, não conseguindo mantê-los presos aos meus.
Se eu bem o conhecia, isso significava que meu irmão estava fazendo um esforço para não cair em
lágrimas na minha frente.

240
-Por isso, eu queria falar com você sobre uma coisa. -Toquei na ponta de seu queixo, desejando que
seus olhos fossem de encontro aos meus. -Toma cuidado, Sasuke. Eu sei que você está apegado ao
Naruto, e sei também que vocês dois estão juntos...
Seus olhos se arregalaram bem discretamente, tentando não demostrar o susto que sentiu por saber
de minha descoberta. Eu já havia juntado as peças a algum tempo, mas o ápice para mim, foi o que o
Deidara me contou recentemente.
-Eu não posso te impedir, mas posso te alertar. -Larguei de seu queixo, conseguindo prender toda a
sua atenção em mim. Ele nem sequer piscava. -As pessoas são más, Sasuke. Elas se aproveitam das suas
fraquezas e machucam quem você ama.
Eu já havia lhe dito isso várias vezes, mas dessa vez, pretendia refrescar sua memória de um jeito
diferente.
-Eu te ensino isso desde quando você era pequeno. -Relembrei com um sorriso bem mínimo e
sofrido. -Quando eu digo para você não demostrar sentimentos em público, não é porque eu quero o seu
mal, Sasuke. É porque as pessoas são cruéis e sempre esperam os nossos momentos de recaída para
fazerem o pior.
Seus lábios começaram a tremer.
-Quando eu não estiver mais por perto para te orientar, tome muito cuidado com as coisas que você
vai fazer e falar em público, principalmente agora que você está com o Naruto. -Eu queria concluir o meu
discurso. -Estão todos de olho em você e sempre esperando a hora certa para te machucarem, tanto
fisicamente, quanto psicologicamente.
Eu não tinha mais nada para falar.
O silêncio que caímos foi de extrema importância para que meu irmão assimilasse todo o meu
discurso silenciosamente, olhando para mim com uma feição chateada e apreensiva, diferente de como eu
estava acostumado a vê-lo.
No segundo seguinte, veio o inesperado.
Sasuke me surpreendeu com um abraço, se agarrando a mim de modo desesperado e angustiante.
Ele apertava o meu tronco, mas tomava muito cuidado para não fazer tanta força, talvez com medo de me
machucar ou deixar o meu estado ainda mais crítico.
-Eu não quero que você morra, Itachi.
Meu peito se apertou.
Deixei o resto do meu orgulho de lado, correspondendo ao seu abraço com uma intensidade ainda
maior, pouco me importando se sentiria dor por estar fazendo tanto esforço. Meu coração se acelerou ao
notar o modo como sua voz soou embargada e chorosa.
Se o Sasuke começasse a chorar, eu realmente não sei o que eu faria.
A minha decisão foi me manter em silêncio, apenas aproveitando o momento entre nós, deixando-o
com a cabeça apoiada em meu ombro pelo tempo que ele precisasse, até que estivéssemos em condições
para continuar o nosso diálogo.
Em um momento qualquer, enquanto continuávamos unidos, abri meus olhos, os quais eu nem
reparei que havia fechado, olhando de relance para a porta da enfermaria.
Eu vi o Deidara.
O loiro encontrava-se parado no batente da mesma, olhando para a cena com uma expressão
distante, não parecendo tão incomodado com o que via, mas de certa forma, triste.
Eu fiquei feliz de saber que ele estava ali, até porque, o Deidara também era um das pessoas que eu
gostaria de conversar antes que o pior acontecesse.
-Sasuke? -Chamei calmamente, acariciando suas costas. O mais novo levantou sua cabeça,
separando-se de mim com uma feição quebrada. Ele não chegou a chorar, mas seus olhos estavam
visivelmente avermelhados e marejados. -Vai beber uma água, dar uma volta... Amanhã a gente conversa,
tá bom?
-Tudo bem. -Assentiu cabisbaixo, tocando em meu ombro como despedida. -Boa noite.
-Boa noite.

241
Sasuke levantou-se de minha frente, andando até a porta em passos curtos, trocando olhares rápidos
com Deidara, embora nenhum dos dois houvessem dito nada um para o outro, até o momento em que meu
irmão saiu pela porta, deixando a enfermaria silenciosa novamente.
Olhei diretamente para o loiro, o qual mantinha-se com os braços cruzados, parecendo pensar em
uma desculpa para estar no mesmo ambiente que o meu. Eu sabia que, no fundo, ele tinha vindo somente
para me ver, assim como das outras vezes.
-Oi. -Sorri pequeno em sua direção. -Vem aqui.
-Você está falando comigo? -Levantou uma sobrancelha.
-E por acaso tem mais alguém aqui na enfermaria? -Fingi procurar por outras pessoas. O Yamato
tinha acabado de sair, mas voltaria em pouco tempo. -Vem, senta aqui comigo.
Reparei que ele pretendia abrir a boca para protestar contra o meu pedido, mas pareceu ter mudado
de ideia, soltando um suspiro irritado ao caminhar até mim, ainda relutante com o que estava fazendo.

Deidara puxou a cadeira em minha frente, a mesma que meu irmão estava utilizando anteriormente,
ficando a poucos centímetros de mim, logo fazendo uma espécie de movimento com a cabeça como se
perguntasse “o que você quer?”.

-Você está lindo hoje. -Lancei ladino, pouco me importando com a minha aleatoriedade.
-E você está acabado. -Rebateu indiferente, não reagindo de nenhuma forma ao meu comentário
anterior em relação a si. -Tipo... Muito mesmo.
Ri de minha própria desgraça.
-Obrigado.
-De nada. -Cruzou as pernas, olhando para o lado meio sem jeito. -E como você está?
Eu quase limpei os meus próprios ouvidos.
-Como é? -Ri fraco.
-Eu não vou repetir. -Respondeu grosseiro, me olhando com um ar tedioso. -Você não é surdo que eu
sei.
Sorri do modo mais aberto que consegui.
-Bom... -Suspirei cansado, virando minha cabeça provocativamente para o lado. -Eu estou bem
melhor agora.
Deidara soltou um som de reprovação com a boca, revirando os olhos com força.
Eu sabia bem o quanto isso o irritava, no entanto, eu simplesmente não conseguia evitar. Quando eu
estava junto com ele, sentia uma estranha necessidade de soltar frases provocativas desse tipo o tempo
todo.
-Mas... -Dei uma pausa, sorrindo sozinho pela própria sentença que eu criei em minha cabeça. O que
eu diria a seguir, talvez deixasse-o ainda mais bravo comigo. Sinceramente, eu só torcia para que ele não
fosse embora. -Eu ficaria ainda melhor se você me desse um beijo.
Diferente o que eu pensava, não demorou tanto assim para ele reagir.
Com uma risada forçada e teatral, o loiro fingiu achar graça em minha afirmação, quando na verdade,
havia desaprovado a minha brincadeirinha.
-Ah, sim... Claro. -Fez uma cara de desgosto, negando com a cabeça com uma risada desacreditada.
-E um tapa nessa sua cara de pau? Vai te deixar mais feliz ou não?
Ri divertido.
Eu gostaria de gargalhar com mais vontade, mas as minhas dores e falta de fôlego eram o que me
impediam. Conversar assim com o Deidara me fazia lembrar da época quando tínhamos bastante
intimidade para dialogar sobre qualquer coisa.
Eu faria de tudo para voltarmos a ter isso.
-Poxa... -Fiz uma falsa expressão magoada. Eu já estava começando a ficar com sono por conta dos
remédios, mas não queria dormir enquanto não conseguisse o que queria. -Nem um selinho?

242
-Não, caralho. -Rosnou impaciente, estalando a língua no céu da boca. -O que deu em você, hein?
Ficou maluco de vez? É isso?
Ele me deu uma brecha perfeita.
-Sim. -Me inclinei sobre a cama, querendo ficar ainda mais próximo de si. -Maluco por você.
Comecei a rir de mim mesmo, levemente orgulhoso por estar conseguindo pensar em “cantadas” tão
rapidamente. O loiro, por sua vez, me olhava como se eu tivesse mesmo enlouquecido de vez, piscando de
modo lento e assustado.
Eu sempre o provoquei muito, mas naquele dia em especial, eu estava gostando de extrapolar para
cima de si.
-É... Pirou de vez. -Resmungou sozinho.
-Não vai rolar nenhum selinho, então? -Insisti divertido. Quanto mais eu me aproximava de si por
cima da maca, mas ele ia para trás, fazendo expressões engraçadas.
-Eu já disse que não, porra. -Empurrou meu ombro.
Eu não conseguia aceitar uma resposta negativa sua. No fundo, no fundo mesmo, eu sentia como se
ele quisesse a mesma coisa do que eu, mas só era orgulhoso demais para aceitar e colocar em prática.
Por essa razão, eu mesmo decidi tomar a iniciativa.
Aproveitando o fato de que já estávamos próximos, a centímetros um do outro, inclinei meu rosto em
direção ao seu, chocando minha boca com a sua de modo bem rápido, lhe roubando um selinho desajeitado
e brincalhão, mas sobretudo, carinhoso.
O seu rosto se tornou automaticamente vermelho.
Eu sinceramente não soube identificar se era por conta da vergonha que sentiu ou se estava irritado
comigo. Entretanto, o momento seguinte entre nós, acabou esclarecendo todas as minhas dúvidas.
Com uma feição enraivecida, o loiro não mediu esforços na hora de me agredir, desferindo um tapa
ardido em minha bochecha esquerda, me fazendo arregalar os olhos assustado.
Eu realmente não esperava por isso.
Não foi um tapa forte. Por essa razão, tudo o que eu consegui fazer foi sorrir divertidamente com sua
reação. O Deidara não havia sido inteiramente agressivo na hora de me bater, provavelmente com medo de
me machucar ainda mais.
Foi um tapa “inofensivo”.
Eu comecei a rir pra valer, sentindo meu peito doer e meu fôlego se esvair. No entanto, era inevitável
não me sentir dessa forma com tudo o que aconteceu nos últimos segundos.
Se eu fosse morrer, morreria feliz com o que aconteceu entre nós dois.
-Seu filho da puta! -Empurrou meu ombro novamente, levantando-se da cadeira violentamente. Seu
olhos queimavam para cima de mim, me fuzilando sem pena. -Louco, morfético! Vai pra um manicômio,
caralho!
-Ei, não vai embora. -Minha voz saiu falha. -Fica aqui comigo.
-Vai pra puta que pariu, Itachi! -Gesticulou loucamente para cima de mim, claramente irritado com o
que eu fiz. Ele só precisava de um tempo para esclarecer as coisas. -Eu nunca mais venho te ver!
Entreabri minha boca numa falsa expressão de surpresa.
-Oh... Então quer dizer que você veio aqui pra me ver?
Ele ficou em silêncio.
-Vai se foder! -Gritou enfurecido, mostrando-me o dedo do meio antes mesmo de dar as costas para
mim. Ao chegar na porta, ainda tentei chamar por si, mas o loiro foi rápido em passar pela saída,
esbarrando em Yamato que voltava do estoque.
-Espera... -Tentei chamar de novo, mas comecei a tossir em consequência.
-Itachi, por favor, não faça esforço. -Yamato pediu calmamente, voltando com ainda mais remédios.
Eu sabia que quando os tomasse, voltaria a cair no mesmo sono profundo de sempre. Contudo,
dessa vez, eu poderia dormir com tranquilidade e mente limpa.

243
Afinal, eu havia me acertado com o Sasuke e dialogado com o Deidara.
Melhor ainda, eu beijei ele.

Capítulo 20 - Tempos difíceis

Sasuke On

Em passos curtos e indispostos, meu corpo se arrastava preguiçosamente pelos corredores do bloco
5, seguindo sem rumo algum pela penitenciária, aproveitando o período da manhã, um dos horários mais
vazios do dia, para que pudesse caminhar solitariamente e esclarecer os meus pensamentos.
Angústia. Era esse o sentimento que me definia.
Minha cabeça estava a mil, lutando constantemente e incansavelmente para expulsar a ideia de que
meu irmão não iria conseguir passar por cima daquela maldita doença que estava tomando conta de si.
Eu estava dando o meu máximo para ignorar todos os pensamentos negativos que me consumiam
em relação ao estado de Itachi, especialmente quando me recordava de nossa conversa tão honesta e
emocionante na noite anterior.
Eu nunca o vi tão para baixo.
Vê-lo tão desesperançoso, abatido e pessimista era absurdamente doloroso de se assistir,
especialmente sabendo que Itachi sempre foi alguém que acreditou muito em si mesmo e nas suas
melhorias.
Eu estava extremamente preocupado.
Se eu o perdesse, não aguentaria viver tanto tempo dentro da prisão e muito menos fora, quando
minha sentença finalmente expirasse.
Eu cresci a minha vida inteira ao lado do Itachi. Foi ele quem sempre tomou conta de mim, enquanto
meu pai não dava a mínima para a nossa existência, deixando-nos dias sozinhos para cuidar dos “negócios
da família”.
O Fugaku sempre preferiu o Itachi. Ele sabia que meu irmão tinha mais “afinidade” com o mundo do
crime, além de estar sempre seguindo com suas ordens e ensinamentos sobre a grande e temida família
Uchiha.
Contudo, independentemente das decisões de Itachi em relação ao crime, ele nunca me deixou
sozinho. O meu irmão preferiu ficar do meu lado e cuidar de mim até o fim, mesmo quando meu pai insistiu
para que ambos deixassem o país juntos e me largassem com os meus avós, os quais infelizmente já
faleceram.
Querendo ou não, ambos somos bem apegados e dependentes um do outro em vários aspectos e
eu, mais do que ninguém, sei que ele também sofreria muito se o mesmo acontecesse comigo.
Eu não posso perdê-lo de jeito nenhum.
Suspirei longamemnte e esgotado, sacudindo minha cabeça para espantar tantos pensamentos
negativos e sombrios. O Itachi ainda estava vivo e era isso que importava. O melhor a se fazer, além de lhe
dar todo o apoio que eu conseguisse, era torcer para que tudo ficasse bem.
Naquele momento, eu sentia como se precisasse arrumar uma forma de me distrair um pouco. Ter
gasto horas de minha madrugada preso a esses mesmos sentimentos ruins acabou me fazendo muito mal.
Eu desejava achar algo para mudar um pouco o rumo de meus pensamentos.
Ou melhor, achar alguém.
Eu queria me encontrar com o Naruto.
O loiro com certeza me faria o mesmo bem de sempre, além de conseguir me distrair de minha
situação atual. A sua presença tão pura e sorriso inocente espanta qualquer resíduo de tristeza e frieza
dentro de mim.
O Naruto era a solução de tudo.
Com um sorriso mínimo e involuntário, tomei um caminho diferente do qual eu estava acostumado a
seguir, virando no corredor do lado direito, entrando automaticamente na área do bloco 4. Eu pretendia
“buscar” o loiro em sua cela e pergunta-ló se poderia lhe fazer companhia no café da manhã.

244
A medida que eu atravessava o corredor, os detentos ao meu redor me olhavam com respeito e
receio, encostando-se nas paredes com a intenção de abrirem passagem para mim.
Era estranho ver o efeito que eu causava em todo mundo.
Passei de cabeça erguida em meio à todos, carregando a mesma postura de sempre, mãos em meu
bolso e feição inexpressiva. Eu não curtia tanto aquela atenção toda que estava recebendo com a ausência
de meu irmão, entretanto, era bem melhor do que ser desrespeitado pelo resto.
Ao me aproximar da cela 444, pude escutar com clareza as conversas presentes ao lado de dentro,
além da risada meiga e infantil de Naruto, dando a entender que o mesmo teria acordado feliz naquela
manhã.
Saber disso melhorou o meu humor também.
-...Gente, vocês sabiam que morrem noventa e seis elefantes por dia?! -A voz de Gaara se fez
presente num tom alto e assustado, sendo acompanhado de um suspiro indignado, o qual eu logo
identifiquei ter saído da boca de Naruto. -Isso é tipo... Trinta mil elefantes por ano!
Espichei meu pescoço curiosamente para perto da grade, observando a movimentação ao lado de
dentro. Estava uma completa bagunça, pelo menos em meu ponto de vista.
Gaara se encontrava sentado em meio a cela, segurando em mãos um livro qualquer com o título
“Animais selvagens”, ao mesmo tempo em que Naruto o rodeava com uma vassoura, tirando a poeira do
piso com a intenção de organizar as coisas por ali.
Deidara, por sua vez, trocava de blusa com uma carranca bem aparente em seu rosto, chutando
algumas roupas no chão ao seu redor e resmungando sozinho sobre a bagunça instalada na cela, falando
algo como “eu estou cansado dessa vida de merda”.
Eu ri bem baixinho.
-Que dó! -Naruto lamentou, fazendo uma voz bem chorosa. -Eu não acredito numa coisa dessas! São
os caçadores que matam, não é? Eles tiram a vida dos elefantes só para pegarem o marfim... Isso é muito
injusto.
-Sim! -Gaara exclamou. -Elefantes são tão dóceis! Uma vez eu vi um documentário que falava sobre
o modo como eles agem quando estão perto de humanos... Eles são iguais filhotinhos! Gostam de carinho e
tudo mais!
Deidara soltou um som audível com a boca, mostrando-se incomodado com tamanha falação entre
os dois, perdendo sua paciência na hora de prender o próprio cabelo, amarrando seus fios num
rabo-de-cavalo mal feito e despenteado.
-Eu quero um elefante de estimação. -O ruivo comentou distraído, mostrando uma gravura do livro
para Naruto, o qual fez uma expressão fofinha em seu rosto, resmungando um “eu também quero”. -Será
que ele cabe aqui dentro da cela?
Eu sinceramente não estava entendendo o que levou os dois garotos a conversarem sobre elefantes
tão aleatoriamente.
-Foda-se os elefantes! -O mais velho esbravejou irritado, atirando sua camiseta usada em cima da
cama, logo massageando as próprias têmporas. -Será que dá pra parar de ficar falando com essa voz
infantil e irritante? Eu estou com dor de cabeça!
Ambos se calaram instantaneamente, entreolhando-se com os lábios prensados um no outro,
segurando as risadas entre si. Era legal ver a amizade que os três possuíam, apesar de que isso me fazia
refletir se algum dia eu teria a oportunidade de ter amigos assim, sem ser o Naruto, é claro.
Com o silêncio instalado entre eles, foi o momento ideal para que eu anunciasse a minha chegada.
Sem saber ao certo como chamá-los, fingi uma tosse bem teatral, esbarrando na grade
propositalmente, querendo que os três soubessem que eu estava os assistindo.
Naruto e Gaara se viraram assustados com a minha aparição, enquanto Deidara esboçava uma
careta tediosa em minha direção, mostrando-se bem desinteressado com a minha presença.
-Bom dia. -Cumprimentei de modo simplista e educado, um pouco sem graça com o clima que eu
mesmo criei.
-Bom dia. -Gaara respondeu simpático, ao mesmo tempo em que Naruto sorria meigo para mim,
segurando a vassoura de modo tímido em suas mãos, contendo seu rosto desnecessariamente corado.

245
-O que tem de bom no dia? -Deidara devolveu hostil, terminando de colocar o tênis sem nem me dar
as caras.
-Deidara... -O ruivo o repreendeu com uma expressão fechada, recebendo um dedo do meio em
resposta.
Apesar das grosserias, eu não me ofendi nenhum pouco com as suas patadas do loiro e muito
menos com os sinais ofensivos.
-Oi, Sasuke. -Naruto acenou de longe, sorrindo ainda mais largo quando decidi chamá-lo com a
minha mão, gesticulando para que ele chegasse ainda mais pertinho de mim. Quanto mais próximo eu
ficasse dele, melhor seria.
Notei que Gaara e Deidara optaram por nos dar um certo “espaço”, decidindo que arrumariam o resto
das coisas ao redor da cela. Eu, por outro lado, escancarei a grade em minha frente para dar passagem e
espaço ao Naruto.
Eu tive a melhor recepção de todas.
Antes que pudesse falar qualquer coisa, o loiro já se encontrava agarrado a mim, abraçando o meu
tronco com toda a sua delicadeza e pureza de sempre. Um sorriso carinhoso e emocionado cresceu pelos
meus lábios, aceitando de bom grado o seu abraço tão repentino, fechando meus olhos ao afundar o rosto
no topo de sua cabeça.
O Naruto não fazia ideia do quanto eu estava precisando daquilo. Ele nem ao menos cogitava a
necessidade que eu sentia de ficar perto dele, especialmente naquele momento tão delicado e complicado
para mim.
-Bom dia, bebê. -Repeti a mesma coisa, fazendo de tudo para que o nosso abraço durasse ainda
mais. Se ele desejasse ficar agarradinho comigo pelo resto do dia, eu permitiria sem problemas algum.
-Como você está, hm?
-Eu estou bem. -Murmurou contra meu peito, sorrindo meigo ao me olhar nos olhos, me dando a
visão perfeita se suas bochechas tornando-se rubras. -V-Você é lindo, Sasuke.
Um sorriso confuso e brincalhão cresceu pelos meus lábios, não entendendo o que levou-o a me
elogiar tão repentinamente, principalmente no estado deplorável em que eu me encontrava. Naquela
manhã, em especial, eu estava me sentindo horrível e acabado.
Pelo fato de não ter dormido muito durante a noite, minhas olheiras estavam mais profundas do que o
normal, além de eu ter deixado de pentear o meu cabelo por pura preguiça.
-Ah, é? -Baixei o meu pescoço, juntando seu corpinho mais ao meu, dando a entender que gostaria
de juntar nossos lábios. Trocamos um selinho bem breve, mas que foi o bastante para mostrá-lo o quanto
eu estava agradecido, tanto pelo seu elogio, quando pela sua presença. -Você acha mesmo?
-U-Uhum. -Reforçou sua afirmação. -Muito lindo.
Eu passei a entender de onde vieram tantos elogios repentinos. No dia anterior, eu havia elogiado o
Naruto da mesma maneira, o que provavelmente lhe deu confiança para fazer o mesmo comigo. Eu só não
esperava que fosse de modo tão aleatório assim, se bem que eu não me importava nenhum pouco com
isso.
-Você é muito mais. -Devolvi sorridente, sentindo meu coração bater mais acelerado, da mesma
maneira que sempre ocorria quando eu ficava perto do Naruto.
Eu gostava de como o meu corpo reagia à ele.
-E você? Como está? -O loiro indagou interessado, virando sua cabeça de modo adorável. -Tem
notícias do Itachi?
Foi inevitável não me entristecer com a pergunta, tanto que meu sorriso diminuiu de modo
considerável. Obviamente, Naruto não deixou de notar a minha mudança de humor, e por essa razão,
sacudiu a própria cabeça meio atrapalhado, parecendo querer trocar de assunto para não me chatear ainda
mais.
-H-Hm... Você quer sentar com a gente no café da manhã, Sasuke? -Ofereceu aleatoriamente, dando
uma checada rápida em seus dois companheiros, os quais foram rapidamente atraídos para a nossa
conversa.
Gaara sorriu com a pergunta.
-É, vem com a gente, Sasuke! -Reforçou simpático, arrancando um olhar indignado de Deidara, o
qual observava a cena levemente boquiaberto. -Os meninos vão gostar de ter você lá.
246
Aquela proposta era bem tentadora.
É deprimente passar todas as minhas refeições completamente sozinho, e como foram eles quem me
ofereceram, eu também não faria uma desfeita de recusar o convite.
-Ah... Se não tiver problema, eu vou sim. -Falei meio sem graça, olhando diretamente para Deidara,
já prevendo que ele desaprovaria a ideia de me incluir.
-Não tem problema nenhum. -Gaara falou rapidamente por cima do loiro, o qual já havia aberto a
boca para reclamar. -Nós estávamos indo agorinha. Vem com a gente, então.
Naruto sorriu animado em minha frente, dando pequenos pulinhos, aparentemente contente por eu
ter aceitado acompanha-lós no café da manhã.
-Era só o que me faltava... -Deidara resmungou, rindo com desdém ao passar para o lado de fora da
cela, sendo acompanhado de Gaara. -Quer saber de uma coisa? Que se foda essa merda. Eu não tenho
nem mais forças pra reclamar.
Ambos os garotos o olharam com estranheza.
-Você está esquisito desde ontem, Dei. -O ruivo comentou ressabiado, iniciando sua caminhada em
direção ao refeitório, sendo automaticamente acompanhado pelo resto de nós. -O que ‘tá rolando? Eu posso
te ajudar com alguma coisa?
-S-Sim, qualquer coisa estamos aqui. -Naruto reforçou. Sorri pequeno ao senti-ló segurar em meu
braço, reparando em como aquilo havia virado algo automático e carinhoso entre nós, especialmente
quando caminhávamos juntos.
O mais velho estalou a língua.
-Não tem nada acontecendo.
Gaara e Naruto se entreolharam.
-Tem certeza? -O ruivo insistiu.
-Sim, caralho. -Respondeu impaciente. -Eu estou tendo problemas com o meu advogado, é só isso.
-Ah... -Gaara pareceu cair em sua conversa. -O que o seu advogado te disse ontem?
Ele suspirou irritado.
-Eu estava vendo se era possível diminuir a minha sentença. -Relembrou. Eu estava começando a
me sentir um pouco intrometido no meio deles. -Só que aquele arrombado veio com uns papos de que a
minha ficha de mal comportamento é muito grande e não daria para salvar a minha pele.
Notei o Naruto se entristecer com a notícia.
Deve ser realmente chato de escutar o seu próprio advogado lhe dizer uma coisa daquelas. Porém,
já era de se esperar que isso fosse acontecer, especialmente se o Deidara solicitasse a diminuição de sua
sentença.
Em alguns casos, quando o detento possuí um bom comportamento dentro da prisão, é possível que
sua pena diminua em até dois anos.
Contudo, a postura de Deidara nunca foi das melhores. Além de xingamentos e palavreados chulos,
o loiro está sempre arrumando brigas, tanto com os presidiários, quanto com carcereiros.
-Poxa, Dei... -Gaara lamentou. -Eu sinto muito por isso.
Ele deu de ombros, rindo forçado.
-Eu já estou acostumado com tudo dando errado na minha vida.
Caímos em um silêncio ruim.
Troquei alguns olhares com Naruto, o qual encontrava-se na mesma situação que eu, com um pouco
de pena do Deidara. No entanto, nenhum de nós pareceu querer dizer nada a respeito, nem mesmo pra
consola-ló.
O melhor seria mudar de assunto.
-Que fome. -Gaara comentou aleatório. -Tomara que tenham mudado um pouco o cardápio, eu não
aguento mais aquele caldo nojento. Todo dia é a mesma coisa!
Naruto assentiu ao meu lado.

247
-Verdade.
-A hora do almoço é a melhor hora. -O ruivo sorriu pequeno em direção ao Deidara. -Tem a melhor
comida de todas.
Naruto concordou sorridente.
-E o melhor chefe também.
Ri baixinho, entendendo exatamente aonde os dois estavam querendo chegar com aquilo. Os elogios
eram todos para o Deidara, tentando anima-ló após a notícia que seu advogado lhe deu.
Honestamente, isso só me deu ainda mais vontade de ter amigos também.
Notei um sorriso se repuxar nos lábios do mais velho, lutando para manter sua postura em nossa
frente, mas amando internamente o fato de estar recebendo tanta atenção e comentários positivos.
-É claro, né? -Empinou o nariz convencidamente. -Tudo o que eu faço é perfeito. Quando é que
vocês vão entender isso?
Os dois garotos riram em conjunto, enquanto eu somente sorria com a cena, me sentindo meio
deslocado no meio deles, mas feliz por estar interagindo com alguém que não fosse somente o Itachi e o
Naruto.
O resto do caminho eu percorri no silêncio, ouvindo atentamente o Gaara e o Naruto tagarelarem
sobre os elefantes da África, ainda presos ao livro que o ruivo leu anteriormente.
Ao chegarmos no refeitório, suspirei derrotado com a quantidade de pessoas que o rodeavam, o que
provavelmente dificultaria para que achássemos um lugar, fora a barulheira insuportável que se instalava,
com brigas e discussões ocorrendo a todo o vapor.
Todo dia era a mesma coisa.
-Vem, gente. -Gaara chamou, apontando para uma mesa no canto do refeitório, a mesma aonde seu
grupo já havia tomado posse. -Vamos sentar.
Segui atrás do ruivo juntamente com Naruto ao meu lado, o qual já se encontrava habituado em se
sentar com os meninos. Eu, por outro lado, não sabia ao certo o que pensar sobre isso e nem como o resto
do grupo reagiria assim que me vissem junto a eles.
Ao chegar perto da mesa, reparei que todos já estavam se alimentando, gargalhando e conversando
sobre assuntos aleatórios, enquanto Suigetsu e Kiba faziam uma espécie de luta-de-braço em meio a todos
para verem quem dos dois era o mais forte.
-E aí, caras? -O ruivo cumprimentou normalmente, gesticulando para que Shikamaru lhe desse um
espaço na hora de sentar.
A mesa inteira olhou em minha direção.
Era algo inusitado para todos eles me verem tão próximo ao Naruto, além do fato de eu estar
literalmente me sentando sem pedir permissão a ninguém, sendo puxado pelo loiro para ficar do seu lado no
banco.
-Senta, Sasuke. -Naruto sorriu inocente, abrindo um espacinho para que eu me acomodasse na
ponta, sobrecarregando ainda mais a mesa. -V-Vem aqui comigo.
-Com licença. -Decidi falar alguma coisa, sentando-me meio sem graça junto ao Naruto, baixando
minha cabeça minimamente.
Apesar de meu constrangimento, as conversas entre os garotos continuaram normalmente, o que de
certa forma, foi algo bom para mim. Ninguém aparentava estar prestando atenção em minha pessoa ou
preocupados em fazer perguntas sobre a minha aparição.
Em meio ao meu silêncio, fui rapidamente atraído por um toque sútil e carinhoso em meu braço
direito, enquanto Naruto agarrava-se a mim novamente, espremendo sua bochecha de modo tímido e
adorável em meu ombro.
Sorri doce e involuntário com o seu pequeno ato, depositando um beijo mais demorado no topo de
sua cabeça, aproveitando para inalar o cheiro de seus fios. Eu estava amando internamente o fato de
estarmos os dois juntos e sem preocupações algumas.
Era muito bom não dar satisfações a ninguém.
-Você não vai comer, bebê? -Indaguei curioso, visto que Naruto era o único entre os garotos sem
uma bandeja.

248
Ele fez uma careta pequena.
-N-Não, eu estou sem fome.
-Tem certeza? -Virei minha cabeça para encara-ló, fazendo com que ele levantasse a sua. -Se você
quiser, pode ficar com a minha comida.
Ele riu timidamente.
-N-Não precisa, sério. -Fez um bico amuado e completamente adorável em seus lábios. -Hoje eu
acordei com dor de barriga.
Eu o olhei preocupado.
-Sua barriga deve estar doendo por conta dessa comida ruim. -Resmunguei. O pessoal responsável
pelo café da manhã e pelo jantar eram muito descuidados. Eles geralmente davam alimentos vencidos e de
péssima qualidade para os detentos comerem. -Você precisa comer algo que preste. Fica com a minha
comida hoje, beleza?
Ele corou levemente.
-T-Tudo bem. -Cedeu com um risinho tímido. Em seguida, voltou a me abraçar para que ficássemos
na mesma posição de antes, parecendo curtir a ideia de ficar agarrado comigo o tempo inteiro. -Mas eu
também não quero que você deixe de comer, Sasuke. A gente divide, pode ser?
Ri carinhoso para si.
-Pode sim.
Pelo fato de eu nunca precisar me levantar para pegar a minha bandeja, já sabendo que algum
ajudante da cozinha viria me entregar a qualquer momento, eu aproveitei para fazer o mesmo que o Naruto,
deitando minha cabeça cuidadosamente por cima da sua e sorrindo pequeno com essa sensação.
Eu nunca imaginei que fosse gostar tanto de ficar grudado com alguém.
Pisquei meus olhos de modo sonolento, me sentindo estranhamente confortável naquela posição,
mesmo estando no refeitório de uma penitenciária, diante de tanta gritaria e confusão.
Além disso, tudo ficava ainda melhor com o carinho tímido que eu recebia do loiro por cima de minha
mão, a qual se encontrava repousada em sua coxa.
-Com licença?
Me virei curiosamente para trás, querendo checar a origem daquela voz desconhecida,
deparando-me com um um ajudante qualquer da cozinha, o mesmo que carregava em mãos uma bandeja
bem mais caprichada do que o normal.
Era o meu café da manhã.
-Obrigado. -Agradeci simplista, aceitando o conteúdo de bom grado. Lancei um sorrisinho para
Naruto, que naquele momento, praticamente salivava em cima da comida, impressionado com a quantidade
e boa qualidade da mesma. -Pega, bebê.
Empurrei a bandeja em sua direção.
Haviam panquecas, morangos, mel, geleia, manteiga, pães frescos e até um suco de maracujá
natural. Tudo do bom e do melhor.
-N-Nossa. -Ele riu meio desacreditado. Era como se todos aqueles alimentos em sua frente não se
passassem de uma miragem. -Eu estou começando a achar que a minha dor de barriga era fome.
-Viu só? -Me apoiei com o cotovelo na mesa, rindo baixinho ao ver seus lábios entreabertos em
surpresa, parecendo esperar por uma autorização minha para devorar tudo. -Come o quanto você quiser, eu
não estou com muita fome hoje.
-T-Tudo bem. -Concordou distante, completamente vidrado na bandeja.
Em meu ponto de vista, era meio triste ver o modo como uma boa alimentação e de boa qualidade
fazia falta em seu dia a dia. Por essa razão, eu pretendia dá-lo do bom e do melhor sempre que ele
quisesse e precisasse.
Afinal, eu me preocupo com a sua saúde.

249
Enquanto observava o loiro de atracar com as panquecas, enfiando tudo de modo desesperado na
boca, eu quase nem reparei que o resto dos meninos também olhavam em minha direção, salivando
indiscretamente para cima da bandeja.
Até mesmo o Deidara parecia estar com vontade, assistindo Naruto se alimentar com o seu
estômago roncando audivelmente.
Querendo ou não, eu comecei a ficar com um pouco de pena deles. Os garotos também nunca se
alimentavam direito, sempre obrigados a comerem aquele caldo marrom diariamente, mais conhecido entre
os detentos como “gororoba matinal”.
O melhor a se fazer era ser educado e oferecê-los um pouco do alimento.
-Hã... Vocês querem? -Sorri sem graça.
Eu acho que não deveria ter feito essa pergunta.
A bandeja, antes sobre a posse de Naruto, foi rapidamente arrancada de sua mão, sendo puxada
violentamente para o centro da mesa.
Os garotos se aglomeraram em volta do café da manhã, todos se empurrando, batendo e até mesmo
se chutando para conseguirem os alimentos, deixando-me levemente surpreendido com tamanho
desespero.
Eu assistia a cena imóvel e sem saber como reagir, acabando por levar alguns empurrões dos
meninos por estar em meio à confusão, mesmo que nem estivesse participando diretamente.
Para a minha maior surpresa, até mesmo o Naruto estava envolvido na briga pela comida.
O menor, possuindo um morango preso entre os lábios, tentava a todo custo pegar mais alguns antes
que a fruta acabasse, recebendo um tapa ardido em sua mão, o qual eu logo identifiquei ter vindo de Gaara.
O ruivo, aparentemente, também estava determinado a conseguir os morangos.
Eu estava muito assustado.
Me levantei atordoado do banco, cansado de levar chutes sem nem ao menos estar incluído, ficando
de pé para acompanhar a “briga” de longe.
Metade do refeitório olhava em nossa direção, inclusive alguns carcereiros, que observavam a cena
com o cenho franzido, mas sem intenções de intervirem.
-Seu guloso do caralho! -Deidara, o qual segurava um pote de geleia protetoramente, tentava
arrancar um dos três pães da mão de Neji, que naquele momento, fazia de tudo para enfia-lós na boca sem
precisar dividir com ninguém. -Cospe essa porra!
-Nunca! -Gritou com a boca cheia, engasgando-se pela quantidade absurda que tentou engolir em
mastigar.
-Para, Gaara! -Os berros de Naruto se avultaram em meio ao tumulto, dando-me a visão perfeita dos
dois garotos brigando por um mísero morango em cima da mesa. O loiro ainda possuía a fruta entre os
lábios, fazendo com que sua voz saísse engraçada. -Eu vi primeiro!
-Não viu não! -Rebateu na mesma entonação, chocando sua cintura com a de Naruto na intenção
empurra-ló, conseguindo comer o alimento rapidamente antes que o outro pudesse reagir. -Para de me
empurrar, eu já comi!
-Isso é injusto! -Retrucou chateado. Eu achei que Naruto houvesse tido sorte por ter ficado com pelo
menos um morango. No entanto, me enganei ao ver Deidara inclinar a mão em sua direção, arrancando a
fruta de seus lábios sem permissão. -E-Ei, o morango era meu, Deidara!
Eu não sabia se ria com a situação ou se arrumava um jeito de parar com tudo.
-Por acaso tinha o seu nome escrito no morango?! -Perguntou com a boca cheia, cuspindo vestígios
da fruta que deveria ser de Naruto. -Quem mandou ficar bobeando com o negócio na boca?!
Aquilo estava passando um pouco dos limites.
A seriedade da situação não se dava somente por conta das briguinhas, mas sim pelo fato de que
estava virando algo pessoal entre alguns garotos, fora que os carcereiros estavam começando a ficarem
cada vez mais preocupados.
Eu decidi que faria alguma coisa.

250
Ao invés de me envolver no meio daquela confusão ou gritar para que eles parassem de brigar entre
si, eu resolvi ser mais esperto do que isso, procurando atentamente pelo mesmo ajudante que deixou a
bandeja anteriormente.
-Ei, você? -Chamei pelo detento assim que o avistei em uma mesa próxima da nossa. -Isso, você
mesmo... Vem aqui!
O ajudante andou atrapalhado em minha direção, assistindo a cena em sua frente um pouco
assustado, além de estar receoso com o fato de eu ter lhe chamado de modo tão repentino.
-Você pode trazer mais bandejas para eles, por favor? -Pedi educadamente. Se o Itachi conseguia
arranjar comida para o seu antigo grupo, então eu também poderia alimentá-los e resolver essa situação
desesperadora.
Ele assentiu submisso.
-É pra já, senhor. -Deu as costas de modo desengonçado e medroso.
Eu odiava ser chamado de “senhor”, mas também não brigaria com ele por esse motivo bobo. Afinal,
o garoto estava apenas fazendo o seu trabalho e seguindo com uma ordem minha.
Esperei pacientemente com os braços cruzados, assistindo a discussão se tornar cada vez mais
seria entre os garotos, mas nada que beirasse a violência física.
Meus olhos, em especial, estavam presos em Naruto, o qual continha um biquinho meio magoado
nos lábios, triste e com raiva por não ter conseguido comer muita coisa.
Eu sorri pequeno.
Como ele consegue ser lindo até mesmo quando está bravo?
-Senhor, aqui está. -O mesmo ajudante voltava da cozinha, mas dessa vez, acompanhado de outros
três que o ajudavam a levar as bandejas. Todas elas possuíam o mesmo café da manhã, tudo de ótima
qualidade. -Aonde a gente deixa?
-Naquela mesa. Pode deixar lá.
Com acenos positivos de cabeça, os três cozinheiros se dirigiram diretamente para o lugar apontado.
Eu, por outro lado, segui logo atrás deles, observando de perto o momento em que os garotos colocaram os
olhos nas bandejas, parando imediatamente de brigarem com a presença dos ajudantes.
Eles me olharam levemente impressionados.
-Podem comer, é pra vocês. -Sorri pequeno, soltando uma risada sem graça. Aquele seria o meu
presentinho para eles. -Eu pedi para eles trazerem.
No momento seguinte, vieram os gritos comemorativos.
As bandejas foram arrancadas desesperadamente das mãos dos ajudantes, enquanto cada um se
concentrava em devorar o próprio café da manhã, mas dessa vez, sem se preocupar com a refeição alheia.
Com um sorriso satisfeito, me aproximei novamente da mesa, sentindo-me contente por ter
concertado a situação. Todos haviam ficado com uma boa impressão minha, diferente da visão que o Itachi
sempre me obrigou a passar, fora que eu estava fazendo o bem ao próximo.
-Sasuke, você é demais! -Kiba exclamou com a boca cheia.
-Agora você virou meu ídolo, cara. -Shikamaru concordou, ocupado em se empanturrar com pães e
geleias.
-Porra, Sasuke! Eu te amo! -Até mesmo Suigetsu apelou para o lado emocional da coisa, apesar de
eu saber que aquilo não era verdade. Ele sempre foi muito interesseiro.
Soltei um riso envergonhado.
-Não foi nada.
Tomei a liberdade de me sentar ao lado de Naruto, rindo baixinho ao vê-lo lamber os próprios lábios
sujos de geleia de uva, devorando sua comida com bastante vontade. Até mesmo a pontinha de seu nariz e
as bochechas estavam meladas, o que eu logo identifiquei ser de mel.
-Gostou, bebê? -Levei sua franja cuidadosamente para trás, rindo pequeno ao notar alguns de seus
fios entrando em contato com a comida sem que ele percebesse.

251
-U-Uhum, muito. -Concordou com um sorriso infantil. Mesmo com a sua boca melada, Naruto não
pareceu se importar em juntar os nossos lábios, roubando-me um selinho inesperado e carinhoso em
agradecimento. -Muito obrigado, Sasuke.
Eu sorri feito um idiota.
-Come devagarzinho, Naruto. -Alertei atenciosamente, umedecendo meus próprios lábios para retirar
a geleia que restou de nosso selinho. -Assim você vai engasgar.
-D-Desculpa. -Corou levemente.
Os minutos seguintes passaram voando.
Eu passei grande parte de meu tempo assistindo os meninos se alimentando e me certificando de
que Naruto estava comendo direitinho, querendo deixá-lo o mais satisfeito possível.
O loiro devorou tudo com rapidez, acabando com a bandeja inteira em pouquíssimo tempo,
finalizando sua refeição com um gole grande e exagerado de seu suco de maracujá.
Apesar de tudo, o Naruto foi bem pontual.
Quando o último vestígio de suco desceu pela sua garganta, a sirene anunciando o final do café da
manhã, ecoou escandalosamente pelo ambiente, relembrando a todos os detentos que deveriam voltar para
às suas respectivas tarefas.
No meu caso, eu tinha outra coisa em mente.
Como o meu trabalho era apenas no período da noite, o meu plano inicial era ir até a enfermaria para
visitar o meu irmão. Eu queria saber como ele estava lidando com a doença, além de já estar com muitas
saudades suas, mesmo tendo-o visto nem menos de vinte e quatro horas.
-Bebê? -Chamei delicado, assistindo alguns dos garotos se levantarem da mesa, despedindo-se do
resto para seguirem com o seu dia normalmente. -Eu preciso ir agora.
Ele me olhou curioso.
-Aonde você vai?
-Vou ver o meu irmão. -Informei meio entristecido, já prevendo o estado que eu sairia da enfermaria
caso o Itachi tivesse piorado. -Acho que ele está dormindo, mas isso não importa.
-V-Você quer que eu vá com você? -Indagou preocupado, parecendo disposto a me acompanhar
caso eu lhe autorizasse.
Sorri carinhoso em sua direção.
Para falar a verdade, eu estava apenas esperando que o Naruto se oferecesse para vir comigo. Eu
não queria incomoda-ló e insistir pela sua companhia em um ambiente triste daqueles, mas aparentemente,
o loiro também fazia questão de estar sempre comigo.
-Quero. -Concordei sorridente.
Sem lhe dizer mais nada, levantei meu braço em sua direção, esperando que Naruto entendesse o
recado na hora de segura-ló. Com um sorrisinho tímido, suas mãozinhas entraram em contato com a minha
pele, grudando-se a mim para que pudéssemos andar lado a lado.
Fui eu quem o guiei para longe do refeitório, seguindo em direção ao corredor mais vazio da prisão,
bem aonde se localizava a enfermaria. Internamente, eu estava amando o fato de tê-lo colado a mim em
todas as situações possíveis, até mesmo para visitar o meu irmão doente.
-S-Se o seu irmão estiver acordado, eu devo esperar do lado de fora? -Perguntou
desnecessariamente baixo, talvez por conta da quietude do ambiente aonde nos encontrávamos.
Era algo impressionate o modo como aquele corredor era escuro e silencioso se comparado ao resto
da penitenciária.
Chegava a ser sombrio.
-Sim, eu acho melhor. -Respondi calmamente. Embora o Itachi já soubesse sobre o meu
envolvimento com o Naruto, isso não significava que ele gostaria de receber uma visita sua. -Mas eu tenho
quase certeza que ele está dormindo.
Na intenção de conferir minha própria afirmação, espichei meu pescoço para enxergar a enfermaria,
notando-a fechada, assim como sempre ficava quando algum paciente estava internado em estado grave.

252
Me aproximei juntamente com o Naruto, ficando na ponta dos pés para enxergar através do vidrinho
da porta, checando cuidadosamente para ver se o Itachi estava desperto ou não.
A visão que eu tive, foi diferente de tudo o que eu poderia imaginar.
Apesar de meu irmão estar adormecido, exatamente como eu pensei, ele não estava totalmente
sozinho. Deidara se encontrava sentado em sua frente, lhe observando dormir com um semblante apagado
e distante, contendo sua mão repousada na de Itachi por cima da cama.
Eu suspirei involuntariamente assustado.
-S-Sasuke? -Naruto me chamou preocupado, franzindo o cenho em minha direção. -O que foi? O que
você viu?
-O Deidara está lá dentro. -Respondi aos sussurros, digerindo aquela informação lentamente. Já era
de se esperar vê-lo ali na enfermaria, mas não agindo de modo tão íntimo com o meu irmão. -E ele está
segurando a mão do Itachi.
O menor arregalou os olhos.
-É sério? -Tentou ficar na pontinha dos pés para alcançar o vidro. -D-Droga, eu não consigo ver.
Ri baixinho, gesticulando para que ele se aproximasse.
-Vem cá, bebê. -Segurei dos dois lados de sua cintura, levantando-o com facilidade para que ficasse
da minha altura e na linha de visão do vidro. Ficamos os dois a observarmos a cena, Naruto contendo os
lábios entreabertos em surpresa, enquanto eu permanecia sem saber como reagir. -Eu não acredito que
eles estão juntos.
O loiro virou assustado para mim.
-Você acha que eles estão juntos?! -O tom de sua voz ultrapassou um pouco o limite necessário,
recebendo um pequeno “shh” de minha parte. -Desculpa...
-Eu não sei. -Sussurrei de volta. Ainda na parte de dentro, notei Deidara meio inquieto, virando seu
pescoço lentamente para trás, como se já soubesse que estava sendo observado. -Merda...
Desci o Naruto do modo mais cuidadoso que consegui, mas na afobação do momento, o menor
acabou chocando o seu braço na porta, causando um barulho alto na quietude do corredor.
O Naruto realmente não sabia como ser discreto.
-Vem, Naruto. -Fui eu quem tomei a dianteira da situação, puxando sua mão para que saíssemos
dali. Seria muito feio e constrangedor se o Deidara flagrasse nós dois o espionando na maior cara de pau.
-Rápido, vamos ali.
Não tinham muitas opções de esconderijos no momento, e pelos barulhos vindos de trás de nós, era
possível identificar que Deidara estaria perto, provavelmente querendo conferir quem estava o espiando
daquela maneira.
Eu fiz o que achei que salvaria a nossa pele.
Empurrei o Naruto para dentro de um quartinho de limpeza, o mesmo que ficava ao lado da
enfermaria, mas que para a minha surpresa, se tratava do mesmo lugar aonde demos o nosso primeiro
beijo.
Estranhamente, da última vez em que estivemos ali dentro, nós também estávamos nos escondendo
de meu irmão.
Fechei a porta silenciosamente, virando-me para conferir como o loiro estava, tendo uma espécie de
Deja Vu por estar dividindo aquele ambiente tão apertado e escuro junto com ele.
Apesar do sufoco da situação, até que era agradável ficar tão pertinho dele.
-S-Sasuke? -Chamou medrosamente.
-Shh... -Encostei meu dedo indicador em seus lábios, mantendo-o parado quando notei uma
aproximação do lado de fora.
Naquele exato momento, Deidara estava passando em frente ao quartinho, procurando de modo
afiado pelos intrometidos que estavam o espionando. Por alguma razão, eu sentia como se o loiro já
soubesse que se tratava de mim e Naruto.

253
Quando reparei no pavor que Naruto estava sentindo, com medo de ser flagrado naquela situação,
eu também comecei a ficar receoso com o fato dele soltar algum som involuntário com a boca que nos
entregasse.
Por essa razão, tomei a liberdade de juntar seu rosto ao meu peito, abraçando-o firmemente com a
intenção de cala-ló, mas também para espantar um pouco de seu medo.
Mesmo que fosse somente o Deidara ao lado de fora, era bastante tenso ficar escondido daquela
maneira.
-Pronto. -Sussurrei de modo quase inaudível, espiando por uma fresta extremamente minúscula o
momento em que o mais velho deu as costas para nós, indo embora com uma pulga atrás da orelha.
-Calma, bebê. Ele já foi.
Separei-me de seu corpo delicadamente, sorrindo carinhoso ao vê-lo abrir seus olhinhos, os quais
encontrava-se fechados pelo medo que sentiu de ficar ali dentro.
-Era só o Deidara, não ia acontecer nada. -Tranquilizei-o, segurando protetoramente em sua cintura.
-Exatamente porque era o Deidara que eu fiquei com medo. -Justificou-se, soltando uma risada meio
tensa. -N-Não é a primeira vez que a gente passa por uma situação dessas, né?
Sorri de lado.
-Não mesmo. -Eu estava tentando manter a minha sanidade em sua frente, mesmo estando em um
ambiente tão apertadinho e escuro como aquele. -Você se lembra da última vez, bebê?
Ele corou levemente.
-U-Uhum. -Assentiu com um sorrisinho tímido. Naruto provavelmente estaria se recordando de
quando nos beijamos. Agora que já éramos mais próximos, seria muito mais gostoso e satisfatório beija-ló
ali dentro. -Lembro sim.
-E o que você acha de aproveitar que já estamos aqui para repetir, hm? -Lancei ladino, mordendo
meu próprio lábio pela vontade absurda de senti de provar a sua boquinha na escuridão daquele quartinho.
Suas bochechas tornaram-se absurdamente vermelhas.
Ele não era nada habituado com perguntas desse tipo, mas sinceramente, quantos antes o Naruto se
acostumasse, melhor seria. Às vezes eu consigo ser bem atrevido quando estou preso a um momento de
excitação, embora a minha intenção não seja deixa-ló desconfortável em momento algum.
-S-Sasuke... -Chamou como uma espécie de súplica, entreabrindo os próprios lábios ao mirar
desejosamente em minha boca.
Ele não fazia ideia do quanto aquilo acabava comigo.
Dessa vez, eu não precisei lhe perguntar com antecedência se poderia beija-ló. Eu já tinha certeza
de que o Naruto estava no mesmo clima do que eu, além de possuir a mesma vontade que a minha.
Fui eu quem tomei a iniciativa de juntar as nossas bocas.
Aproveitando que minhas mãos já se encontravam em sua cintura, puxei seu corpo para unir-se
ainda mais a mim, mergulhando instantaneamente na sensação viciante de seus lábios se chocando com os
meus.
Com a vontade recíproca que ambos possuíamos de aprofundar o beijo, logo nossas línguas
estavam se roçando, me fazendo delirar com o gostinho adocicado de geleia que seus lábios ainda
possuíam, parecendo deixar tudo ainda mais desejoso entre nós.
Suas mãozinhas logo ganharam vida em meio ao beijo, embrenhando-se entre os cabelos de minha
nuca, puxando-os devagarzinho em aprovação, permitindo que eu chupasse sua carne do modo que eu
desejasse, sugando-a para sentir a sua textura e gosto embriagante se mesclando com o meu.
Era um beijo molhado e lento, do jeitinho que eu gostava.
Com o clima gostoso instalado entre nós, foi inevitável que não déssemos um passo a mais,
seguindo de modo natural e automático na hora de adentrar minhas mãos por dentro de sua blusa, tocando
naquela cinturinha fina e acentuada, arranhando de leve a sua pele macia e quentinha.
Um gemido baixinho e afeminado rasgou sua garganta, deixando o beijo ainda mais obsceno pelo
fato de nossas bocas estarem entreabertas, enquanto nossas línguas se roçavam desleixadamente do lado
de fora.

254
Eu estava pronto para ir um pouco mais além, mas tinha consciência de que não dependia só de
mim. Meu membro já se encontrava extremante duro e apertado por dentro de minha calça do uniforme,
algo que, para um beijo de apenas dois minutos, era surpreende.
O Naruto me deixava maluco.
Apesar da minha situação, o loiro também não estava muito diferente. Mesmo que de olhos
fechados, eu conseguia sentir suas coxas se esfregando manhosamente, tentando a todo custo se livrar
daquela sensação incômoda que sua ereção recém-formada lhe proporcionava.
-Bebê? -Quebrei o contato de nossas bocas, tendo a visão perfeita de seus olhos abrindo-se de
modo lento e atordoado. Sua boquinha úmida e rosada, mesmo na escuridão do ambiente, deixava o
momento ainda mais excitante. -Eu posso chupar você?
Eu não perderia aquela oportunidade de jeito nenhum.
O Naruto estava desesperado por algum tipo de atenção, mas era tímido e inexperiente demais para
pedir que eu o aliviasse. O melhor a se fazer, pelo menos para mim, era oferecer os meus serviços à ele.
-Alguém já fez isso por você? -Perguntei delicadamente, apesar de que, no fundo, eu já sabia a
reposta.
Se ele desejasse verdadeiramente e aceitasse a minha proposta, seria eu quem o mostraria pela
primeira vez a sensação maravilhosa de ser chupado por alguém mais experiente.
Não houveram palavras da parte de loiro, apenas um simples e tímido aceno negativo, confirmando a
minha teoria de que Naruto nunca havia passado por essa experiência.
-Você quer que eu faça isso por você? -Perguntei pacientemente, mas cuidadoso, tentando me
manter lúcido diante de meus próprios questionamentos.
Eu torcia para que sua resposta fosse positiva.
Como da última vez, deixei com que o loiro pensasse por um curto período de tempo, respeitando o
seu ritmo e traumas já sofridos anteriormente.
Em minha cabeça, se eu o mostrasse como aquilo era bom, especialmente sendo feito por alguém
que você gosta, talvez o Naruto pudesse se sentir a vontade e confiante em fazer igual comigo num futuro
mais próximo.
-Q-Quero. -Suas bochechas viraram verdadeiros tomates, além de seus olhos não conseguirem se
manter presos aos meus.
Eu sorri emocionado.
O loiro havia confiado em mim novamente.
Em pouco tempo, eu sentia que poderíamos estar dando um passo ainda maior do que esse, apesar
de que eu não estava com pressa alguma para isso.
Era bom ir com calma e respeitar o seu tempo.
-Tudo bem. -Murmurei, aproximando-me para lhe dar um pequeno selinho. A minha prioridade era
fazer ele se sentir bem. -Fica tranquilo, bebê.
Ele assentiu nervosamente.
Distribui alguns selinhos estalados pelo seu rosto, tudo na intenção de tranquiliza-ló, me derretendo
internamente com a cena de seus olhinhos fechados, permitindo que eu escorregasse os meus beijos cada
vez mais para baixo.
Percorri o seu pescoço, dando lambidas lentas e habilidosas, deixando-o arrepiado com o mínimo,
deslizando minha boca pelo seu peito, abdômen, barriga até finalmente me ajoelhar de frente para si.
Eu olhei para cima.
Seu rostinho inocente e corado acabava com toda a minha sanidade, tão puro se comparado a mim,
mas com o seu membro visivelmente marcado no uniforme, talvez ainda mais endurecido do que o meu.
Aproximei meu rosto de sua virilha, distribuindo alguns selinhos por volta de sua ereção, seguindo um
ritmo bem tranquilo e respeitoso, ao mesmo tempo em que descia sua calça e cueca delicadamente,
fazendo de tudo para deixá-lo o mais confortável possível.

255
O seu membro, duro e proporcional para seu tamanho, logo saltou para fora do pano, deixando-o
ainda mais corado com a situação, especialmente ao notar o sorrisinho que crescia em meu rosto,
reparando no modo como Naruto já se encontrava molhado.
Sem lhe dizer mais nada, umedeci meus lábios com os olhos fixos aos seus, aproximando-me de sua
glande lentamente, segurando cuidadosamente em sua base da hora de estalar um beijinho no topo.
Naruto se estremeceu por completo.
Sua sensibilidade era algo admirável. Seu corpo se arrepiava de modo intenso, sendo seguido de
gemidos baixinhos, os quais escapavam involuntariamente apenas com os selinhos que eu distribuía em
sua cabecinha.
Dei uma lambida lenta em sua glande, retirando o líquido perolado que vazava da fenda, sentindo
meu próprio membro latejar por dentro da calça, apreciando cada gemido manhoso que rasgava sua
garganta.
Suas mãozinhas encontravam-se completamente imóveis, entrelaçadas uma a outra como se não
quisesse exercer movimentos bruscos que me fizessem parar de lhe proporcionar aquela sensação tão
prazeirosa.
Desci meus lábios por toda a sua extensão, massageando-a deliciosamente com a minha língua,
indo e voltando com a cabeça, mas sempre dando uma atenção a mais em sua glande, chupando naquele
pontinho até que suas pernas tremessem e sua cabeça tombasse para trás.
-A-Ah, Sasuke... -Gemeu manhoso e arrastado, agarrando de modo tímido e inexperiente em meus
fios, utilizando suas unhas para me acariciar.
Outra descarga elétrica foi direcionada ao meu pau, deixando-me com a cabeça trabalhando a todo o
vapor, imaginando como seria tê-lo gemendo o meu nome daquela maneira, mas em uma situação um
pouco diferente.
O Naruto ficaria ainda mais lindo e gostoso sendo penetrado por mim, gemendo daquele jeitinho tão
desesperado e manhoso por ter meu pau entrando e saindo de seu interior intocado e apertadinho,
enquanto eu aproveitaria a sensação de mostrá-lo como é ter sua primeira vez com alguém que realmente o
desejava.
Os meus próprios pensamentos me deixaram ainda mais rígido. Eu precisa urgentemente me aliviar
também.
Enquanto minha boca trabalhava por toda a sua ereção, engolindo-o com vontade e dando o meu
melhor para leva-ló ao seu limite, eu decidi que faria o mesmo comigo, libertando meu membro de dentro do
uniforme para alivia-ló, começando a me masturbar ao mesmo tempo em que o chupava.
-P-Por favor... -Ele gemia entregue e bem desconexo, espremendo seus olhinhos em minha direção,
pedindo silenciosamente para que eu não parasse de chupa-ló.
Ele estava próximo de seu limite, assim como eu.
Minha mão escorregava rápido por minha ereção, acompanhando o ritmo de minha boca, a qual o
fazia delirar, estremecendo o seu corpinho inteiro, anunciando o quão próximo estava de seu ápice.
Com um gemido alto e manhoso, o loiro gozou fortemente em minha boca, me fazendo arfar contra o
seu pau, chegando ao meu próprio orgasmo juntamente a ele, fechando meus olhos ao ter meu cabelo
puxado por si, deixando o momento ainda mais quente e excitante.
Eu continuei chupando-o sem parar, até que tivesse certeza de que havia engolido todo o seu semen,
impressionado com o modo como Naruto ficou trêmulo e fraco, gemendo extremamente dolorido e sensível
após seu orgasmo.
Retirei a boca de seu membro, subindo minhas calças bem rapidamente, ficando preocupado ao
vê-lo se apoiar na parede atrás de si, não conseguindo manter-se de pé por conta de suas pernas bambas.
-Ei... Bebê? -Segurei firmemente em sua cintura, deixando com que ele jogasse todo o seu peso para
cima de mim. -Você está bem?
-U-Uhum. -Assentiu ofegante, enterrando o rosto em meu ombro para recuperar-se de seu orgasmo.
Se o Naruto já estava naquele estado com o mínimo, eu nem conseguiria imaginar como ele ficaria
quando transássemos pra valer.
-Certeza? -Insisti preocupado, começando a me sentir culpado por tê-lo deixado naquele estado. Eu
estava com medo de ter sido muito bruto. -Desculpa, bebê.

256
-N-Não, Sasuke. -Resmungou sonolento, esfregando seu rosto manhosamente em meu pescoço.
-Está tudo bem.
Eu fiquei com vontade de segura-ló em meu colo, principalmente por conta de suas pernas, os quais
ainda continuavam a tremer.
-Vem cá. -Murmurei, segurando em sua cintura na hora de levantá-lo, apoiando seu corpo na
minúscula bancada atrás de nós, acabando por derrubar alguns produtos em cima da mesma. -Vamos
limpar você.
Aproveitando que já estávamos em um quartinho de limpeza, peguei um rolo de papel higiênico e
uma espécie de enxaguante bocal que eu encontrei, usando um pouco do produto para enxaguar a minha
boca, logo utilizando o papel para limpar-me.
Eu fiz o mesmo com o Naruto.
O menor encontrava-se apoiado de modo sonolento contra a parede, mantendo seus dois olhinhos
fechados, provavelmente aproveitando o escurinho para descansar. Ele parecia muito um bebê naquela
posição.
Ele era o meu bebê.
-Prontinho. -Murmurei ao terminar de limpa-lo, reparando que Naruto nem ao menos havia se
mexido. Talvez o loiro fosse do tipo de pessoa que ficava com bastante sono após um orgasmo. -Deixa eu
descer você.
Fiz o mesmo ao colocá-lo de volta ao chão, sendo surpreendido por um outro abraço seu, só que
dessa vez, um mais tímido e carinhoso, talvez até mesmo de agradecimento.
De todas as pessoas com quem me relacionei sexualmente, eu nunca fui tão íntimo de alguém ao
ponto de abraçar e aceitar receber carinho após transarmos. Eu sempre saia em falar nada e nunca mais
olhava na cara da pessoa. No entanto, com o Naruto é completamente diferente.
Eu gosto dele de verdade.
-Vamos sair daqui? -Ri baixinho, dando um beijo rápido no topo de sua cabeça. -Se você quiser eu te
levo até a sua cela pra você dormir e—
-Não. -Negou rápido. -Eu quero ficar com você, Sasuke.
Meu sorriso aumentou discretamente.
-Tudo bem. -Me separei de si, disposto a abrir a porta para que saíssemos. -Vamos até a enfermaria,
então.
Dessa vez, eu não precisei erguer o meu braço para que Naruto se agarrasse a mim. Foi ele quem
tomou a iniciativa de juntar nossos corpos, me acompanhando para o lado de fora.
Pelo fato de termos ficado bastante tempo no escuro, ambos tivemos que espremer os olhos por
conta da claridade do outro lado, rindo em conjunto de nossas expressões meio sonolentas. Qualquer um
que passasse ali perto saberia o que fizemos dentro do quartinho.
Sem mais delongas, seguimos diretamente até a enfermaria, reparando que a mesma permanecida
com a porta fechada. Girei a maçaneta cuidadosamente, tentando não fazer tanto barulho caso o Itachi
continuasse adormecido.
Como da outra vez, a visão que tive foi diferente.
A enfermaria estava completamente vazia, sem nenhum enfermeiro circulando o local, apenas com a
cama de meu irmão no centro da sala. Para minha surpresa, Deidara continuava sentado de frente para si,
mas dessa vez, lendo um livro qualquer como uma espécie de distração, esperando o Itachi despertar.
-D-Dei? -Foi Naruto quem o chamou.
O loiro se virou na defensiva.
-Caralho. -Resmungou pelo susto, alternando entre mim e o menor. -Vocês parecem duas
assombrações.
-H-Hm... O que você está fazendo aqui? -Naruto o interrogou, fingindo-se de desentendido. Eu sorri
bem discretamente, gostando do modo como ele estava o “investigando”.
O loiro fechou o seu livro bem lentamente, levantando-se da frente de meu irmão com uma feição
indiferente, embora eu imaginasse que, por dentro, ele estivesse refletindo sobre a resposta que nos daria.

257
-Eu estou esperando o Yamato. -Respondeu simplista, cruzando os braços na altura do peito. -E
você, hein? O que veio fazer aqui?
-E-Eu vim acompanhar o Sasuke. -Sorriu tímido para mim, agarrando-se mais ao meu braço. -Ele
veio ver o Itachi.
-Não me diga. -Respondeu com um ar tedioso, dando de ombros. -O seu irmão está dormindo desde
que eu cheguei. O Yamato falou que já era para ele ter acordado, mas pelo jeito os remédios estão ficando
cada vez mais fortes.
Franzi o cenho.
O efeito dos remédios duravam por volta de oito horas, e pelo o que eu sei, meu irmão tomava os
comprimidos durante a madrugada. Já era para ele ter acordado a pelo menos uma hora atrás, a não ser
que o Yamato tenha mudado totalmente a receita.
Contudo, eu sabia que o enfermeiro não faria isso de uma hora para outra, pelo menos não sem
antes de me consultar. Eu deixei bem claro que queria ser informado de absolutamente tudo sobre o
tratamento de meu irmão, especialmente quando descobri que o Yamato andava mentindo para mim.
-Que estranho. -Murmurei meio desconfiado, afastando-me de Naruto para me dirigir até a maca de
meu irmão.
Cruzei meus braços na altura do peito, parando de frente para ele, o observando dormir com um
pingo de preocupação batendo em meu peito. Aquilo era estranho. Ele estava mais pálido e magro que o
normal, além de bem mais abatido se comparado a última vez em que nos vimos.
Percorri meus olhos por cada centímetro de seu corpo, parando especificamente em seu peito nu e
exposto, aguardando que ele subisse e descesse, apenas para me certificar de que Itachi continuava
respirando.
No entanto, isso não aconteceu.
Uma onda de calafrios tomou conta de todo o meu ser, enquanto minha cabeça se sacudia em
confusão, pensando ter visto errado por conta do estresse. O meu irmão precisava estar respirando em
minha frente, nem que fosse bem fraquinho e áspero.
Eu havia visto certo.
O Itachi não estava respirando.
-Não, por favor. -Foi a única frase que eu consegui formular no momento. Minha voz saiu
irreconhecível, inteiramente chorosa e entrecortada, o que provavelmente deixou os garotos assustados
atrás de mim. -Itachi?!
-O que aconteceu? -A voz de Deidara soava distante e preocupada em meus ouvidos.
Aquilo não podia ser real.
-Ele não está respirando, porra! -Gritei completamente alterado, sentindo meu coração bater a mil por
hora. Me aproximei do corpo de meu irmão, tremendo dos pés à cabeça, não sabendo ao certo o que fazer.
-Pelo amor de Deus, cadê o Yamato?!
Eu me sentia impotente.
Embora eu conhecesse bem pouco sobre medicina básica, já era de se esperar que eu fosse me
sentir um inútil diante daquela situação, sem saber como retomar a sua respiração ou utilizar as máquinas
presentes ao meu redor.
Se eu tentasse alguma coisa arriscada, poderia prejudicá-lo ainda mais.
-Alguém chama o Yamato! -Me virei aos berros para os dois garotos, sentindo meus olhos
queimarem como nunca antes, pouco me importando se estava à beira das lágrimas e de perder a minha
cabeça em frente a eles.
Por alguma razão, eu não olhei para o Naruto.
Naquele momento, eu senti que seria o Deidara quem teria mais agilidade e pulso para encontrar o
Yamato dentro daquela penitenciária enorme, enquanto Naruto serviria para ficar por perto me dando o
apoio necessário.
-Corre, por favor! -Gritei novamente, sentindo minhas pernas falharem em consequência. Cada parte
mínima de meu ser temia absurdamente a ideia de perder o meu irmão mais velho e deixar a sua vida se
desaparecer diante de meus olhos. -Vai logo, Deidara!

258
O mais velho reagiu rapidamente.
Seu rosto, assim como o meu, beirava a palidez completa. Diante do estresse da situação, achei ter
visto seus olhos marejados e avermelhados, mas honestamente, eu não tinha tempo para pensar nesse
detalhe.
A vida de Itachi estava em minhas mãos.
-Itachi?! Por favor! -Chamei entre gritos, como se ele realmente fosse me escutar a qualquer
momento. Segurei dos dois lados de seu rosto com firmeza, dando tapas fracos em sua bochecha com a
intenção de acorda-ló. -Puta que pariu!
Naruto estava absurdamente tenso atrás de mim, observando a cena com os olhos arregalados e
cheios de água, talvez sentindo-se ainda mais impotente do que eu.
Entendendo de medicina ou não, eu não ficaria parado vendo o meu próprio irmão mais velho morrer
na minha frente.
Eu estava determinado a fazer alguma coisa, nem que fosse mínima.
Aproximei-me de Itachi com determinação, inclinando meu corpo por cima do seu com a intenção de
chegar perto de seu rosto. Tudo o que eu sabia sobre “sobrevivência” e “medicina” eu aprendi com o meu
pai, e naquele momento, pretendia botar em prática.
Com toda o meu cuidado e habilidade, tapei o nariz de Itachi com uma mão, não pensando duas
vezes na hora de encostar minha boca com a sua, copiando os movimentos exatos de uma respiração boca
a boca, lhe emprestando o ar de meus pulmões.
Fiz tudo no tempo certinho, dando pequenas pausas e me recordando de cada passo que aprendi
com Fugaku. Quando separei nossas bocas, um pingo de esperança tomou conta de meu ser, o qual logo
de esvaiu ao notar que meu irmão continuava da mesma maneira.
-Itachi?! -Chamei por seu nome desnecessariamente, já não conseguindo lutar contra minhas
próprias lágrimas. -Merda!
Eu não desistiria tão facilmente.
Juntei nossas bocas novamente, colocando mais força e agilidade em meus movimentos, sentindo,
mesmo que sobre pressão, a aproximação de Naruto logo atrás de mim.
-S-Sasuke... -Chamou embargado. -Põe a cabeça dele para trás.
Me virei confuso para si.
-C-Confia em mim, faz desse jeito. -Me olhou com convicção. O Naruto acabou me passando tanta
segurança, que para ser bem sincero, eu estava quase lhe pedindo para que tentasse ressuscitar o Itachi no
meu lugar. -Tenta de novo.
Eu repeti os mesmos passos novamente.
Seguindo os comandos de Naruto, posicionei a cabeça dele para trás no travesseiro, tapando o seu
nariz na hora de entrar em contato com a sua boca, fechando meus olhos com força ao lhe transmitir todo o
ar de meus pulmões.
Eu nunca fui alguém muito religioso, mas naquele instante, os mais diversos tipos de presses
passavam pela minha cabeça.
O Itachi tinha que sair dessa.
Foi algo indescritivelmente aliviante e emocionante sentir o meu irmão se contrair por baixo de mim,
reagindo repentinamente ao meu oxigênio emprestado, despertando de seu desmaio com uma crise de
tosse violenta.
Afastei minha boca atrapalhadamente de si, arregalando meus olhos ao reparar em sua face
acizentada, a qual finalmente parecia ganhar “vida” em minha frente, desengasgando-se dolorosamente.
Eu comecei a chorar de tanta emoção.
Honestamente, não chegava a ser um choro de alegria, mas sim um de completo alívio,
momentaneamente contente por ter conseguido literalmente salvar a vida do meu irmão mais velho.
Eu devia isso ao Naruto também.
-Itachi... -Solucei sofrido, não conseguindo me recordar da última vez em que passei por uma
situação tão estressante e que me fez chorar tanto assim. -Você está bem. Calma. Vai ficar tudo bem.

259
A minha vontade era de abraçá-lo com força e desfrutar da sensação de tê-lo vivo entre meus
braços, principalmente após vê-lo chegar tão perto da morte. No entanto, eu tinha consciência de que não
poderia encostar em si.
Ele estava fraco e sensível demais.
O melhor a se fazer era esperar pelo Yamato.
-...Vai logo, caralho! -Como se meus pensamentos tivessem algum tipo de poder, a voz escandalosa
e estranhamente embargada de Deidara se fez presente na enfermaria.
Me virei assustado em direção à porta, acompanhando a entrada de Yamato, o qual chegava
juntamente com mais quatro enfermeiros. Para minha surpresa, até mesmo Obito estava presente,
carregando uma expressão preocupadíssima em seu rosto.
No entanto, o mais surpreendente de tudo, era o estado em que Deidara se encontrava.
O loiro estava inconsolável.
Se antes eu tinha as minhas suspeitas sobre um possível envolvimento entre ele e o meu irmão,
naquele instante, eu tive certeza de que eles tinham ou já tiveram algo.
O Deidara estava chorando pelo Itachi.
-Levanta ele. -Yamato dava as ordens para os enfermeiros, chegando ao meu lado na maca para
tratar de meu irmão. -Liguem ele no oxigênio. Alguém vai pegar mais soro no estoque, rápido!
Enquanto alguns ajudantes trabalhavam em volta da cama de Itachi, ligando-o a algumas máquinas e
lhe dando os medicamentos necessários, eu me afastei para deixá-los fazerem o seu serviço, me
aproximando de Obito e Deidara juntamente com o Naruto.
Estávamos todos muito tensos.
-Garotos? -Yamato chamou a todos nós , aproximando-se com sua prancheta médica. -Não se
preocupem, o Itachi vai ficar bem e—
-Ficar bem?! -Deidara interrompeu-o aos berros, assustando à todos que o rodeavam. Eu nunca
havia o visto chorar antes, e pelo o que me parecia, o Naruto também não. -Você é um puta de um
irresponsável! Que tipo de médico deixa o seu paciente sozinho?!
Nesse ponto ele tinha razão.
-Eu sei o que estou fazendo. -Respondeu com toda a sua paciência. -Eu já disse que ele vai ficar
bem, Deidara. Confie no meu trabalho.
Eu realmente pensei que o loiro pudesse se acalmar, até porque, já estávamos com problemas
demais por ali. No entanto, fomos todos, mais uma vez, surpreendidos pela imprevisibilidade de Deidara.
O mais velho não mediu esforços para acertar Yamato no rosto, desferindo um soco violento e bruto
em seu nariz, fazendo-o grunhir pela dor e susto de ser fisicamente agredido tão repentinamente.
-Você quase deixou o Itachi morrer, caralho! -Gritou completamente enfurecido, contendo sua mão
manchada com o sangue alheio, pronto para agredi-ló novamente. Felizmente, Obito foi mais rápido na hora
de segura-ló por trás, fazendo o seu papel de carcereiro. -Me solta, filho da puta!
-Deidara, já chega! -O moreno usava toda a sua força para pará-lo. -Você vai pra solitária!
Naruto arregalou os olhos assustado.
-N-Não, não faz isso, senhor. -Tentou defender o seu amigo. -Ele só está chateado.
-Nada justifica agredir um funcionário! -Rebateu justamente. -Andando, Deidara. Nós vamos agora...
E para de se debater!
Apesar da violência excessiva do loiro, eu também não gostaria nenhum pouco que ele sofresse as
consequências e fosse parar no isolamento. Talvez mais tarde, se eu tivesse cabeça para isso, tentaria
convencer o Obito a tira-ló de lá.
-Sasuke? -Yamato tocou em meu ombro, carregando uma expressão dolorida e o nariz
ensanguentado. -Eu estou falando sério, você não precisa se preocupar com nada.
Eu empurrei sua mão para longe.

260
-Vê se agora vocês tomam vergonha na cara e levem o meu irmão para um hospital de verdade.
-Respondi raivosamente. Eu também não pretendia deixar aquilo barato. -O Itachi quase morreu na minha
frente. Você tem noção do que é isso?
-Eu tenho, mas—
-Vocês são uns incompetentes. -Cortei-o grosseiramente, negando com a cabeça desacreditado. -O
Deidara estava certo... Que tipo de médico larga o paciente sozinho?
Ele ficou sem palavras.
No fundo, o Yamato sabia que estava errado.
Ele errou muito feio em deixar o Itachi sem supervisão alguma, especialmente no estado em que ele
se encontrava. Se não fosse por mim, pelo Deidara e pelo Naruto, o meu irmão já não estaria mais aqui
comigo.
-Vamos embora, Naruto. -Ordenei autoritariamente, não para intimidar o loiro, mas sim para que
Yamato soubesse sobre minha decepção em relação a ele. -Eu não quero mais ficar aqui.
-A-Ah, vamos. -Concordou submisso, e mesmo que diante de tanto estresse, segurou delicadamente
em meu braço, deixando que eu lhe guiasse para longe dali.
Aquele dia precisava acabar com urgência.
••••
As luzes da penitenciária já estavam todas apagadas, marcando por volta de onze e meia no relógio,
um horário que, pelo menos antes da minha vida virar de ponta cabeça, eu costumava dormir sem
preocupações.
Naruto estava comigo em minha cela.
Enquanto o loiro colocava o seu “pijama”, o que nada mais era que uma regata soltinha
acompanhado da mesma calça de hoje mais cedo, eu somente retirava a minha blusa do uniforme,
sentando-me cansadamente no colchão.
Não haviam palavras para descrever a angústia que eu sentia em meu peito naquela noite, mas
aparentemente, ter o Naruto comigo deixava tudo um pouco melhor.
-Como você sabia? -Perguntei de repente, causando um pequeno susto em si. Eu havia ficado tanto
tempo sem falar, que minha voz saiu mais rouca do que o normal. -Como você sabia sobre a respiração
boca a boca?
-O-Oh... -O menor tomou a liberdade de se aproximar, sentando ao meu lado na cama. -Bem, na
verdade eu aprendi na internet. Como a minha mãe tem problemas no coração, eu achava bom saber sobre
essas coisas.
Assenti para mostrá-lo que entendi.
Para falar bem a verdade, eu não estava muito afim de conversar com ninguém e o Naruto parecia
saber bem disso. Ele era sempre muito respeitoso e entendia que somente a sua companhia me fazia um
bem inexplicável.
-Sabe, Sasuke... -Sua mãozinha foi de encontro a minha coxa, me fazendo um carinho pequeno. -Eu
sei que hoje foi um dia difícil pra você e a última coisa que você quer é falar sobre isso, mas saiba que se
você quiser chorar, não precisa ter vergonha de mim.
Olhei chateado para si.
Seu sorriso puro e carinhoso deixava meu coração mole, quebrando toda e qualquer tipo de barreira
que criei durante o resto de meu dia, evitando chorar ainda mais em sua frente para que não perdesse a
minha postura.
O Naruto sabia bem o quanto eu queria desabar, inclusive, ele já imagina que, durante todas às
vezes no dia em que lhe informarei que iria até o banheiro, foi para me derramar em lágrimas sem ninguém
me ver.
Eu acho que já estava na hora de ganhar um consolo seu, especialmente por só ter nós dois ali
dentro da cela.
Sentindo-me envergonhado para dizer qualquer coisa, apenas fiz o que achei que me faria bem,
aproveitando que o loiro se encontrava sentado sobre a pontinha de minha cama para esticar o resto de
meu corpo, deitando minha cabeça em suas pernas.

261
O Naruto não protestou em momento algum.
Afundei meu rosto em sua coxa, mais com a intenção de me esconder, sentindo que começaria a
chorar a qualquer minuto, não conseguindo tirar da minha cabeça a imagem horrível de meu irmão quase
sem ar.
O Itachi quase morreu hoje.
Eu sentia que poderia me afundar nos mesmos pensamentos ruins de sempre, isso se Naruto não
tivesse iniciado um carinho lento e gostoso em meu coro cabeludo, me fazendo fechar os olhos de imediato,
suspirando baixinho em aprovação.
Eu não imagina que estivesse precisando tanto receber carinho de alguém.
-Sasuke? -Chamou doce, me fazendo abrir os olhos de automático. Virei meu rosto sonolentamente
para cima, me deparando com um sorriso tímido e sincero prendendo os seus lábios. -Eu te amo.
Meu coração acelerou de repente.
Aquela era a primeira vez que o Naruto me falava uma coisa dessas. Eu não esperava que ele fosse
dizer isso tão cedo, mas sinceramente, foi a melhor coisa que eu me disseram em muito tempo.
-Eu também te amo, bebê. -Respondi sem pensar duas vezes. Eu já havia caído na real que o meu
“gostar” do Naruto é algo bem mais poderoso e intenso.
Eu amo ele.
Seu rosto se tornou inteiramente rubro, arrancando um sorriso mínimo meu, mesmo enfrentando
tanta tristeza dentro de mim.
Como se ambos já soubéssemos o que estava por vir, levantei meu pescoço para alcançar os seus
lábios, enquanto Naruto fazia o mesmo, descendo o seu para que trocássemos um selinho longo e
apaixonante.
-Q-Quer dormir, Sasuke? -Ofereceu de repente. Pelo seu rostinho sonolento, eu pude deduzir que
quem queria dormir era ele e não eu. -Senão a gente fica acordado, não tem problema.
-Vamos dormir, é melhor. -Declarei, me levantando preguiçosamente de suas coxas.
Deixei com que Naruto deitasse primeiro, sabendo que o seu cantinho em minha cama era grudado
na parede. Sorri apaixonado com a visão de seu corpinho se encolhendo manhosamente entre os meus
lençóis, se cobrindo pelo frio que fazia.
Deitei-me juntamente com ele, levantando o mesmo lençol para me cobrir também, sendo
automaticamente recebido por um abraço seu. Aquilo era maravilhoso demais. A sensação de nossos
corpos unidos em um espacinho tão minúsculo e quente como aquele era muito boa.
Afundei meu rosto em seu pescoço, invertendo um pouco as posições naquela noite. Era o loiro
quem estava me acariciando dessa vez, consolando-me com pequenos afagos em meu cabelo, deixando
meu corpo se relaxar contra o seu.
Eram tempos difíceis, mas com o Naruto, eu sabia que conseguiria passar por cima disso tudo.

Capítulo 21 - Eu odeio despedidas


Deidara On

Devida a quantidade de horas que passei enfurnado naquele ambiente minúsculo, enferrujado e
gélido, acabei por perder a noção do tempo ao meu redor, não conseguindo mais distinguir os horários entre
manhã, tarde e noite.
Eu estava na solitária.
O fato de frequenta-lá com uma frequência maior do que deveria, fez com que eu me acostumasse,
de certa forma, a lidar com a solidão e a claustrofobia ali dentro, se bem que ainda é extremamente
estressante ficar horas e mais horas sem fazer absolutamente nada.
A maior parte de meu tempo eu passo deitado na pequena cama presente ao canto da cela, se é que
podem mesmo chamar aquilo de cama. O colchão, além de feder absurdamente mal, é um milhão de vezes
mais desconfortável se comparado aonde estou acostumando a dormir diariamente.
No entanto, o pior de tudo é a comida.
Isso sim é um castigo.
262
Os alimentos selecionados aos detentos presos na solitária são os piores e mais nojentos de todos,
fazendo com que a gororoba matinal que estamos sempre habituados a comer, se torne algo apetitoso se
comparado a isso.
Eu nem sei dizer ao certo o que é aquela substância que os carcereiros trazem nas bandejas, a qual
eu nunca me arrisquei a comer por puro medo de pegar uma intoxicação alimentar séria ou morrer
envenenado com aquela coisa escrota.
Algumas vezes, quando é o Obito quem está responsável por levar as refeições aos detentos, eu
costumo choramingar para ele me trazer algo verdadeiramente comestível, visto que sempre me recuso a
consumir o que está me sendo entregue.
Talvez por ter certa pena de mim ou com receio de eu morrer de fome, o moreno acaba me dando
parte de seu almoço às escondidas, afirmando que eu não poderia contar a ninguém. É claro que eu nunca
faria uma coisa dessas. Quem seria o idiota de se auto-entregar daquela forma?
No momento, eu só torcia para que o próximo carcereiro a fazer contato comigo fosse o Obito e não
qualquer outro que com certeza não seria bonzinho o suficiente para cair na minha conversa e me alimentar
decentemente.
-Vida miserável do caralho. -Resmunguei solitário, me encolhendo desconfortavelmente pelo frio que
fazia, abraçando meus próprios joelhos com a intenção de me esquentar.
Estava tudo tão difícil ultimamente.
Por mais que fosse algo meio doentio a se pensar, eu sentia como se precisasse estar no isolamento.
Estando totalmente sozinho, pude esclarecer meus pensamentos com calma e chorar em paz, sem ninguém
me observando ou sentindo pena de mim.
Eu odiava isso.
Odiava com todas as minhas forças chorar na frente dos outros e receber olhares de compaixão.
Geralmente, quando estou muito mal e afetado com alguma coisa, costumo me colocar embaixo das
cobertas de minha cama e esperar a madrugada chegar para desabar silenciosamente.
Porém, essa última vez foi bem diferente.
Como eu pude chegar ao ponto de desabar daquela maneira na frente de todo mundo?
Todos os meus anos de prática para segurar o choro e a emoção perto dos outros foram literalmente
por água a baixo. Ainda era surpreendente a forma como o Itachi continuava a ser alguém de extrema
importância na minha vida, mesmo depois de tudo o que aconteceu entre nós dois.
Parando bem para pensar, nós nunca chegamos ao ponto de sentar para conversar decentemente
sobre todos as nossas brigas, decepções e discussões. No entanto, eu sinto que se algum dia fizéssemos
isso, as coisas poderiam sim melhorar entre a gente, se bem que eu ainda espero pacientemente pelo seu
pedido de desculpas.
Eu posso ter errado feio em alguns aspectos na nossa relação, mas foi ele quem me magoou
incontáveis vezes e me tratou feito lixo durante nosso namoro.
Aquele idiota nem sequer imagina o quanto me fez sofrer quando terminamos.
Na verdade, ele até deve cogitar a forma como eu fiquei. Há uma possibilidade de Itachi ter sentido o
mesmo do que eu com o nosso término, apesar de que ele nunca veio me procurar para que
conversássemos a respeito disso.
Foi recentemente que o Itachi começou a correr atrás de mim. Aparentemente, foram os malditos
turnos de trabalho que fizeram com que nos reaproximassem novamente, deixando tudo ainda mais
estranho quando o moreno adoeceu.
O Uchiha aparenta mesmo querer mudar as coisas entre nós, e sinceramente, eu estou começando a
querer isso também. Aquele beijo estupido que ele me roubou foi o que mais me deixou pensativo, porque
além de mostrar-me que Itachi estava disposto a fazer as pazes, isso significou que ele ainda possuía
sentimentos por mim.
Aquele imbecil só nasceu para me confundir.
De qualquer forma, eu estava me sentindo completamente agoniado por não ter notícias suas. Eu
precisava saber sobre o seu estado e como ele estava lidando com a doença, especialmente depois do
incidente com o Yamato.
Como pode existir um profissional tão irresponsável e incompetente?

263
Sinceramente, eu não me arrependo nenhum pouco de ter dado um soco na cara dele. Se o Obito
não tivesse me impedido, eu juro que teria arrebentado com ele ainda mais.
-...Ei, você?
Dei um pequeno pulo em cima do colchão, virando-me curiosamente para a “porta”, observando o
pequeno espaço embaixo da mesma, o qual servia para facilitar a entrega das refeições aos detentos,
sendo aberto pelo lado de fora.
-Vem pegar a sua comida. -Aquela voz, infelizmente, pertencia ao Kakashi.
Em seguida, uma bandeja com a mesma substância nojenta citada anteriormente foi empurrada para
mim. Querendo ou não, eu precisava me levantar para buscá-la.
-Cadê o Obito? -Indaguei secamente, ajoelhando-me de frente para o buraco da porta, enxergando o
platinado a me fitar com o mesmo tédio e frieza de sempre. Eu tinha um asco inexplicável desse cara. -Eu
não vejo ele desde ontem. Aonde ele está?
-Está no refeitório. Sou eu quem estou no comando agora. -Respondeu indiferente, levantando-se de
frente à porta. -Come logo isso aí.
Fiz uma careta enojada, puxando a bandeja para mim. Aquele caldo alaranjado, escroto e fedorento,
era o que aparentemente serviria como a minha refeição. Se o Kakashi achava que eu iria me alimentar
com aquilo, ele estava muito enganado.
-Isso aqui é um lixo. -Afirmei ríspido, jogando a bandeja de volta para si. Pela violência com que a
empurrei, parte do caldo acabou por cair no chão, bem próximo de seus sapatos. -Eu que não vou comer
essa porra.
Escutei sua respiração se tornar mais pesado, dando a entender que já estava começando a ficar
impaciente com a situação.
-Então você que se foda. -Rebateu grosseiramente. -Eu já fiz a minha parte trazendo a bandeja pra
você, Deidara.
Apertei meus punhos com força.
-Me traz algo que preste, caralho! -Desferi um soco violento na porta, sentindo meu pulso arder em
consequência. -Eu não como a dois dias!
-Eu não vou te trazer nada. -Pelo som de sua voz, deduzi que o carcereiro estivesse se afastando. -É
isso ou nada, você escolhe.
Grunhi enraivecido, não pensando duas vezes na hora de chutar fortemente o metal em minha frente,
acabando por derrubar a bandeja inteira no chão ao lado de fora, causando um barulho ecoante e
escandaloso.
-Volta aqui, seu filho da puta! -Gritei em alto e bom som. Naquela altura, eu já não me importava mais
em medir as minhas palavras e muito menos se ficaria mais tempo na solitária por conta de mal
comportamento. -Eu te mato quando sair daqui, ouviu bem?!
A porta bateu na minha cara.
Aquele filho da puta tinha saído e me deixado sozinho novamente.
-Merda! -Soquei a parede novamente, grunhindo de dor pelo meu próprio ato.
Eu estava morrendo de fome.
-...Eu posso saber qual é o motivo de tanta gritaria? -Um voz grava e inconfundível invadiu o
ambiente. Era o Obito.
Eu quase gemi em alívio com a sua presença.
Agachei-me novamente de frente à porta, tentando a todo custo enxergar o que estava acontecendo
do lado de fora. Encaixei meus dois olhos na pequena abertura do metal, levando um susto com o que vi
diante de meus olhos.
Além da presença agradável de Obito, o qual mantinha-se parado e ereto de frente para Kakashi,
outras duas pessoas também estavam em sua companhia, as quais eu logo identifiquei como Naruto e
Sasuke.
Eu certamente não esperava vê-los ali.

264
-O que você acha, Obito? -Devolveu na mesma entonação. Os olhos do platinado caiam no “casal”
em sua frente, estranhando suas presenças assim como eu, mas não se atrevendo a perguntar nada. -É o
Deidara fazendo escândalo, como sempre.
Eu fiquei com vontade de respondê-lo aos berros, mas como estava mais curioso a respeito da
aparição dos dois garotos, decidi ficar em silêncio para escutar a conversa.
-Pode soltar ele. -Obito informou com toda a sua paciência. -Eu já tenho a autorização do diretor
Danzou.
Meus lábios se repuxaram em um sorriso.
-Tem certeza? -O platinado o olhou desconfiado. Não era nada comum um detento ficar tão pouco
tempo no isolamento, apesar de que, para mim, pareceu uma eternidade naquele inferno. -Você falou com
ele?
-Sim, Kakashi. -Confirmou com a cabeça. -Me dá a chave da cela, eu libero ele. Vai tomar um
chazinho, você anda muito estressado ultimamente.
Kakashi riu sarcástico.
-Toma. -Atirou o molho de chaves para si, dando outra olhada rápida no casal. Naruto, como o
habitual, encontrava-se agarrado medrosamente ao Sasuke, receoso com a presença do carcereiro. -Te
vejo no intervalo.
-Vai com Deus. -Respondeu simplista, dando uma pequena batida em seu ombro.
Eu suspirei em alívio.
-Deidara? -Obito me chamou, talvez ciente de que eu havia escutado toda a conversa.
-Aqui, caralho. -Coloquei a minha mão para fora do buraco, ansioso para ser solto e poder me
alimentar e movimentar com decência. -Vai logo, me tira daqui.
Me levantei às pressas do chão, limpando a minha calça, traseiro e joelhos sujos por conta daquele
lugar imundo, aguardando até que a porta fosse aberta. Quando o carcereiro destrancou a cela, empurrei o
metal violentamente para trás, pronto para comemorar a minha “liberdade”
Isso se o Naruto não tivesse me impedido.
Antes que eu pudesse dar qualquer passo, fui surpreendentemente parado por um abraço
exagerado, apertado e carinhoso da parte do loiro, o qual me deixou instantaneamente imóvel no meio da
saída.
Por mais que já tivéssemos conversado sobre o fato de eu não gostar de abraços, o Naruto não
parecia ter se conformado com isso.
-Eu estou fedendo, franguinho. -Avisei com toda a minha paciência, tentando empurrar o seu corpo
para trás. Eu estava fraco demais para impedi-lo. -Você vai ficar cheirando mal também.
-E-Eu não me importo. -Murmurou choroso contra o meu ombro, determinado a fazer o nosso abraço
durar, pelo menos até que eu decidi correspondê-lo também.
Eu sabia bem de onde vinha tanto carinho repentino. Por mais que o Naruto já fosse alguém
grudento por natureza, o garoto provavelmente estaria se recordando de minha crise que presenciou na
enfermaria.
Isso deve ter mexido com ele.
De qualquer maneira, era vergonhoso demais saber que os três garotos a minha frente haviam me
visto chorar daquele jeito.
Com um suspiro derrotado, decidi ceder ao seu abraço de uma vez por todas. Como o mais novo não
me largaria até que eu o correspondesse, dei batidinhas fracas e sem vontade nas suas costas, achando
graça no modo como Naruto ficou satisfeito de sentir que eu havia o retribuído.
-Tudo bem, agora já chega. -Empurrei seu ombro para trás, utilizando o restante de minha força.
Notei que estavam todos a olharem em minha direção, como se dessa forma esperassem por respostas de
minha parte. -O que foi, hein? Que caras são essas?
-V-Você está bem? -Naruto me olhou preocupado, voltando a sua posição inicial ao lado de Sasuke.
O moreno, por sua vez, carregava uma expressão bem distante e pensativa, parecendo apreensivo com
alguma coisa. Eu logo imaginei que se tratasse de Itachi. -Como você está se sentindo hoje?

265
-Eu estou bem. -Respondi distenso, mas desconfiado com tanta preocupação. -Foram só dois dias na
solitária, nem foi tão ruim assim.
Naruto trocou olhares rápidos com o Uchiha.
-N-Não é disso que eu estou falando, Dei. -Coçou a nuca envergonhado. -O que eu quero saber é se
você já está melhor desde a última vez em que nos vimos, sabe? É que você chorou muito e—
Eu o cortei com rapidez.
-Eu estou ótimo, Naruto. -Interrompi sua fala de modo rude, olhando para o lado levemente sem
graça. -Eu não chorei coisa nenhum, para de ficar inventando história.
Era óbvio que eu iria me fazer de desentendido e pagar de louco na frente deles. Confirmar que eu
havia chorado, seria como admitir que perdi toda a minha dignidade que construí ao longo dos anos aqui
dentro da penitenciária.
-C-Como assim? -Virou a cabeça sem entender.
-Isso mesmo que você ouviu. -Respondi emburrado, empinando o meu nariz. De canto de olho, notei
que Obito segurava a sua risada, olhando para os próprios pés com os lábios prensados um no outro. -Qual
é a graça, palhação?
O moreno deixou um riso escapar.
-Nada não. -Negou com a cabeça. Era claro que nenhum dos três tinham realmente caído na minha
conversa. Por mais que eu dissesse que nunca chorei, todos eles presenciaram o estado em que fiquei na
enfermaria. -Meninos, falem logo para o Deidara o que vai acontecer hoje. Eu preciso sair para resolver
algumas coisas agora.
-Tudo bem. -Sasuke concordou. -Até mais tarde, Obito.
-Até mais.
Ficamos a acompanhar sua saída, até que tivemos certeza de que estávamos os três a sós em meio
ao corredor da solitária. Quando a porta bateu, Sasuke virou-se apreensivamente para mim, possuindo uma
feição meio sofrida.
-Que horas são? -Indaguei curioso. Antes de qualquer coisa, eu queria ficar ciente sobre o horário em
que nos encontrávamos.
-Sete da noite. -Foi o Uchiha quem me respondeu. -Desculpa por só ter te tirado daí hoje, mas eu e o
Naruto tivemos que insistir bastante até o Obito autorizar.
-‘Tá, tudo bem. -Dei de ombros. Pelo menos eles se importaram o bastante para lutarem pela minha
liberdade. -O que está acontecendo?
Por favor, que o Itachi esteja bem.
-O Itachi vai ser transferido para um hospital de verdade. -Informou com a voz falha e entrecortada.
Eu esperava vê-lo aliviado com a notícia, mas aparentemente, o moreno se encontrava aflito. -Vai ser daqui
a meia hora. A ambulância já está vindo buscar ele.
Uma pontada esquisita se manifestou dentro de mim.
-Meia hora? -Questionei, soando involuntariamente mais sofrido do que o Sasuke. -Você já se
despediu dele?
Ele negou cabisbaixo.
-Eu estava esperando por você, na verdade. -Declarou de modo estranhamente amigável. Talvez o
Sasuke estivesse disposto a partilhar o mesmo sentimento de dor que sentíamos em relação à doença de
Itachi. -Eu sei que você também tem um carinho pelo meu irmão, por isso nós achamos legal te chamar.
Olhei diretamente para meus pés.
Por um lado, era bom ver que o Itachi finalmente teria os cuidados necessários e seria tratado com
decência em um hospital verdadeiramente preparado para o seu caso. Contudo, era muito ruim saber que
ficaríamos sem notícias suas por um tempo, pelo menos até que ele melhorasse pra valer.
Isso se ele melhorasse mesmo.
-Eu queria te agradecer, Deidara. -Sasuke chamou a minha atenção. -Por conta do seu... Bom, por
conta do soco que você deu no Yamato, a diretoria achou melhor se reunir para conversar sobre o caso do
meu irmão e todos concordaram que seria melhor transferir ele para um hospital.

266
Eu preferi escutar em silêncio.
Na verdade, eu nunca soube ao certo como reagir a esses tipos de momentos “amigáveis” com gente
que eu não tenho tanta intimidade.
-Na verdade... -Ele sacudiu a cabeça, reformulando sua frase ao dar uma olhada carinhosa no loiro
ao seu lado. -Eu também queria agradecer você, Naruto.
O mais novo sorriu timidamente.
-Sem as suas dicas, talvez o Itachi não estivesse mais aqui comigo. -Tocou cuidadosamente em sua
bochecha, acariciando por cima de sua coloração avermelhada. -Eu não tive tempo de te agradecer antes,
mas eu só queria que você soubesse que eu vou ser eternamente grato por isso, bebê.
-N-Não precisa me agradecer, Sasuke. -Respondeu num tom emocionado. -Eu sempre vou fazer de
tudo para ajudar você. Sempre mesmo.
E então, veio o tão esperado abraço.
Seus corpos se chocaram carinhosamente em minha frente, me deixando plantado com uma cara de
idiota, emboçando uma expressão involuntariamente incomodada com tanto grude e apelidos “fofos” entre
eles.
O meu namoro com o Itachi nunca foi assim.
Embora tivéssemos os nossos momentos mais carinhosos, o máximo de apelido que tínhamos um
com o outro era algo mais “rude” e brincalhão, como palavrões e xingamentos estranhos, mas que sempre
nos faziam rir.
Eu meio que sentia falta disso.
-Legal, gente. -Cocei minha garganta, batendo meu pé repetidamente no chão. Ambos os garotos
interromperam o momento, sorrindo afetuosamente um para o outro. -A gente vai ver o Itachi ou não?
Eu já não fazia mais questão de esconder o meu nervosismo e ansiedade em relação a visita que
faríamos ao Uchiha mais velho. Se ele estivesse acordado dessa vez, eu realmente não tinha a mais vaga
ideia do que iria lhe dizer.
Eu sempre odiei despedidas.
-Vamos. -Sasuke concordou com um sorriso fraco, visivelmente mais contente se comparado a
quando chegou. O Naruto parecia mesmo conseguir melhorar o seu humor. -Quanto antes a gente chegar,
melhor.
Fui eu quem tomei a iniciativa de sair dali.
Mesmo estando enfraquecido e morrendo de fome, eu deixaria meu estômago um pouco de lado
para ir de encontro ao Itachi. O meu nervosismo era muito mais aparente se comparado ao casalzinho, os
quais trocavam risadinhas e sorrisos atrás de mim.
O caminho para a enfermaria foi mais longo do que eu esperava. Talvez pelo fato de eu estar muito
ansioso com a situação ou andando muito lentamente por conta da falta de vitamina em meu copo, para
mim pareceu uma eternidade.
Por essa razão, foi tão para mim assustador ao chegar na porta.
Ela estava fechada, como o habitual.
Mas em compensação, uma quantidade considerável de policiais rodeavam o corredor ao nosso
redor, todos bem treinados e preparados para transportarem o moreno assim que a ambulância viesse
buscá-lo.
Mesmo estando gravemente doente, as pessoas ainda morriam de medo de baixarem as suas
guardas perto do grande e temido Itachi Uchiha. Quando dizem que ele é o criminoso mais perigoso aqui de
dentro e até mesmo fora, isso não é mentira.
Suas histórias de vida são realmente impressionantes. De todas as que ele já me contou, me recordo
de ficar boquiaberto durante uns dez minutos, digerindo todos os absurdos vivenciados por ele.
-...Você não vai entrar? -A voz de Sasuke se fez presente atrás de mim. Virei meu pescoço
atordoado, nem reparando na quantidade de tempo em que passei parado de frente à porta com cara de
otário. -Pode falar com ele primeiro, eu entro depois.
Era bem melhor assim.

267
Já seria difícil demais conversar com o Itachi naquela situação, e saber que os outro dois garotos
também estariam nos assistindo, me deixaria ainda mais nervoso.
Privacidade era do que nós dois precisávamos naquele momento.
-Certo. -Concordei simplista.
Dei as costas para os dois, engolindo em seco antes de finalmente girar a maçaneta. Tentei deixar
toda a minha tensão para trás, adentrando o cômodo de cabeça erguida e peito estufado, o que obviamente
não durou muito tempo, tudo em consequência ao clima instalado do lado de dentro.
Era frio e escuro, como sempre.
Para o meu alívio, o Yamato não estava presente, assim como nenhum outro enfermeiro que
geralmente circulava o local. A única presença viva naquela sala, além de mim, era o Itachi.
Fechei a porta cuidadosamente, tentando não fazer muito barulho caso o moreno estivesse
adormecido. Caminhei para perto da maca, reparando em seus olhos fechados e pesados, enquanto seu
corpo permanecia ligado a uma máquina médica, a qual acompanhava com cuidado todos os seus
batimentos cardíacos.
O importante era que ele continuava respirando.
Cruzei meus braços um pouco inquieto, acompanhando em silêncio o momento em que sua cabeça
começou a se remexer, dando a entender que despertaria a qualquer segundo de frente para mim e se
depararia comigo a observá-lo dormir.
Tentei arrumar a minha postura para parecer o mais despreocupado possível, querendo consolar
tanto a mim mesmo, quanto a ele próprio. Quanto mais relaxado eu estivesse diante de si, melhor seria para
nós dois.
Seus olhos se apertaram atordoadamente, abrindo-se de modo sofrido e doloroso, piscando devagar
para se acostumar com a claridade em sua volta, mesmo sendo bem mínima. Ele estava bastante sensível
e vulnerável, diferente de todas as outras vezes em que o vi.
Assim que sua visão se focalizou, um sorriso fraquinho e adoentado surgiu pelos seus lábios.
-Ei... -Chamou baixinho por mim. Até mesmo a sua voz estava diferente, apesar de possuir a mesmo
tom grave de sempre. -Você está aqui.
Sorri um pouco sem graça.
-É, né? -Rebati num tom óbvio. -Eu ainda não aprendi a virar um holograma, tive que vir te visitar
pessoalmente.
Ele riu entre arfadas.
Era impressionante como nunca perdíamos a piada, nem mesmo estando diante de uma situação tão
delicada como aquela. Nós dois sempre fomos assim. Gostávamos de nos provocar até o limite, o que
geralmente ajudava a descontrair em situações como essas.
-Vem, senta aqui comigo. -Deu tapinhas fracos no colchão, chamando por mim.
Inicialmente, eu relutei um pouco o seu pedido, apesar de que, honestamente, eu não estava nada
afim de me sentar na mesma cadeira em que sempre ficava quando vinha lhe visitar.
-Vem. -Reforçou com um sorriso.
Eu cedi ao seu chamado de uma vez por todas.
Me acomodei relutantemente na beirada de sua cama, reparando no esforço que Itachi fez na hora
de se sentar, fazendo uma careta de dor ao encostar suas costas na cabeceira.
Eu não queria que ele fizesse tanto esforço assim, mas de certa forma, valeu a pena pelo fato de
termos conseguido ficar cara a cara, muito mais próximos do que eu geralmente permitiria caso ele não
estivesse doente.
Dessa vez, eu abriria uma exceção.
-Você está ainda mais lindo desde a última vez em que eu te vi. -O sorriso ladino de sempre nascia
pelos seus lábios.
Neguei em reprovação com a cabeça.

268
-Coitado de você, essa doença ‘tá mesmo mexendo com a sua cabeça, né? -Tentei não transparecer
que havia me atingido com o seu elogio repentino. -Eu fiquei dois dias na solitária, meu filho. Agora me diz,
aonde é que eu estou lindo?
-Você é sempre lindo. -Rebateu atrevidamente. Seu sorriso, antes aparente e marcante, foi
rapidamente substituído por uma expressão confusa. -Ei, por que você foi pra solitária?
Eu me calei rapidamente.
O Sasuke deve ter tido os seus motivos para não conta-ló sobre toda a confusão que ocorreu na
enfermaria quando ele desmaiou. O Itachi não sabia nada sobre ter sido salvo pelo seu próprio irmão caçula
e muito menos que eu cheguei ao ponto de chorar por si.
Eu pretendia respeitar o seu silêncio.
-Ah, você sabe... -Dei de ombros, fingindo não ser nada demais. -O mesmo de sempre. Eu briguei
feio com um dos carcereiros filhos da puta e me jogaram no isolamento.
Ele riu fraco, negando com a cabeça.
-Você não mudou nada mesmo, né? -Seu rosto possuía um olhar estranhamente carinho, o mesmo
que costumava me direcionar quando ainda estávamos juntos. -A única diferença é que você ficou mais frio,
mas isso foi por culpa minha.
Franzi o cenho sem entender.
Antes que pudesse lhe fazer quaisquer tipos de questionamentos, calei-me instantaneamente ao ter
sua mão pálida e trêmula erguida em minha direção, arriscando-se na hora de tocar em meu rosto, tirando
parte de minha franja cuidadosamente da frente de meus olhos.
Fiquei imóvel por não possuir nenhum tipo de reação, alternando sem parar entre seus olhos negros
e profundos, os quais beiravam a tristeza e sofreguidão, transmitindo-me um sentimento de arrependimento.
-Fui eu quem machuquei você. -A frase saiu como um sussurro. Seu toque gélido e suave entrava
em contato com a minha bochecha, utilizando seu dedão para me acariciar. -A gente tinha tudo para dar
certo. Fui eu quem estraguei as coisas entre nós.
Neguei atordoado com a cabeça.
Eu não estava sabendo lidar com aquele momento tão intimido instalando entre nós. A mesma
pergunta se repetia várias e várias vezes em minha mente, tentando me recordar da última vez em que
permiti que alguém me tocasse com tanto carinho.
-Deixa isso quieto, Itachi. -Por mais que quisesse, eu simplesmente não consegui afastar o meu rosto
de si. Seu toque me prendia de forma inexplicável, assim como cada palavra que saia de sua boca. -Agora
não é hora de falar sobre isso.
Eu queria resolver as coisas entre nós, mas somente quando o Uchiha estivesse melhor e consciente
o bastante para que pudéssemos dialogar com decência. Aquele era um momento delicado demais para
conversamos sobre o nosso passado conturbado.
-Não, agora é a hora perfeita. -Insistiu com convicção. Sua mão deslizou por toda a minha face, me
fazendo entreabrir os lábios ao entrar em contato com o meu queixo, segurando delicadamente em sua
ponta. Ele sempre teve essa mania de querer que eu o olhasse nos olhos. -A gente nunca sabe o que o
futuro nos aguarda.
Outra pontada ruim tomou conta de meu peito.
-Para de falar como se você fosse morrer em breve, Itachi. -Desaprovei o seu futuro discurso
motivacional sobre a vida. Eu não deixaria ele falar sobre morte daquela forma. -Você vai sair dessa. A
gente conversa sobre isso quando você voltar do hospital, beleza?
Ele negou com a cabeça.
-Me escuta, tá bom? -Sorriu cansado, dando o seu melhor para se manter acordado. Aqueles
remédios sempre o deixavam muito grogue e sonolento. -Eu quero resolver as coisas com você, Deidara.
Quero mesmo.
Permaneci em silêncio.
Por que esse idiota escolheu esperar o seu suposto último dia de sua vida para querer concertar as
coisas comigo?

269
Saber que talvez eu nunca mais fosse vê-lo deixava tudo um milhão de vezes pior em minha
perspectiva. O Itachi precisava urgentemente sair dessa. Isso era tudo o que eu mais queria no momento,
além do fato de poder resolver as coisas com ele de uma vez por todas.
-Eu me arrependo muito de tudo o que te fiz passar. -Revelou seriamente. Foi só então que reparei
na sua mão, a qual permanecia presa ao meu queixo, fazendo de tudo para que eu não deixasse de mira-ló
nos olhos. -Durante todo esse tempo que eu fiquei na enfermaria, eu tive bastante tempo para pensar sobre
isso, sabe?
Assenti com a cabeça.
-E eu sinto muito se te machuquei, Dei. -Soltou um choramingo. Foi o ápice para mim ouvi-ló
desenterrar o apelido que ele mesmo inventou, mas que após o nosso término, somente os meus amigos
passaram a usá-lo.-Me desculpa se for tarde demais para dizer isso, mas eu te juro que se pudesse, com
certeza voltaria no tempo para concertar as coisas.
Puta que pariu.
Eu não conseguia acreditar que estava mesmo me emocionando com essa sua declaração clichê ao
ponto de sentir vontade de perdoa-ló de uma vez por todas. O Itachi realmente mexe comigo de um jeito
que ninguém nunca conseguiu.
Ele me machucou muito, muito mesmo.
Mas, por outro lado, ele foi a primeira pessoa que eu amei de verdade. O primeiro ser humano que
eu criei algum tipo de laço na minha vida, e que me mostrou o amor de outra forma, sem ser a qual eu já
conhecia, a mesma que eu nunca acreditei por conta do abandono que sofri de meu pai.
-Você me desculpa? -Sua testa se franziu em tristeza.
Aquele imbecil estava mesmo jogando sujo para cima de mim, fazendo caras e bocas para agir feito
um coitado e somente para que eu aceitasse o seu pedido de desculpas.
E o pior de tudo é que eu iria mesmo ceder.
-Seu morfético... -Xinguei-o com a voz completamente falha, pelo simples fato de não saber como lhe
responder.
Itachi riu divertido, porém emocionado.
-Vai tomar no cu. -Neguei atordoado com a cabaça, cobrindo meu próprio rosto.
-Vem aqui, me abraça. -Seus braços se abriram como um convite para que eu me encaixasse a si.
No fundo, o moreno sabia bem que havia conseguido o meu perdão desde o momento em que me pediu
para que eu sentasse ao seu lado. -Vem logo, senhor estressado.
-Seu idiota do caralho. -Xinguei-o novamente.
Eu finalmente deixei o meu orgulho de lado.
Depois de tanto tempo, finalmente havia chegado a hora de fazer o que tanto me fez falta durante
meus anos na penitenciária, mas que para mim, sempre foi difícil demais para admitir, tanto em voz alta,
quanto para mim mesmo.
Eu abracei o Itachi Uchiha.
Embora dar abraços continuasse não sendo o meu forte, eu não pude deixar de suspirar em alívio e
aprovação por ter meu corpo junto ao seu, dando o meu melhor para aproveitar todos os sentimentos
positivos colocados por nós dois naquele pequeno momento.
O Uchiha não me segurava com tanta força e segurança, talvez por ainda continuar muito fraco e
debilitado. No entanto, só de ter as suas mãos repousadas em minha cintura, já serviu para matar a
saudades dos velhos tempos.
-Se você morrer, eu te mato, seu lazarento. - Rosnei agressivamente contra seu ombro, mas não
conseguindo manter a minha postura ao senti-ló rir contra mim, arriscando-se novamente na hora de
depositar um beijo em meu pescoço.
Eu também não protestei contra isso.
-Ei, deixa eu olhar você. -Chamou calmamente.
Retirei meus braços entrelaçados de trás do seu pescoço, afastando meu corpo bem lentamente,
ainda meio surpreso e desacreditado por termos mesmo nos acertado depois de tanto tempo.

270
Quando nossos olhos foram novamente de encontro, não foi nada difícil de reparar nas segundas
intenções que Itachi carregava em meio ao nosso momento carinhoso, aproveitando-se de nossa
proximidade por cima daquela cama minúscula e apertada.
Ele mirava descaradamente em direção a minha boca.
O moreno nunca foi alguém muito delicado e nem habituado a pedir por uma permissão antes de me
beijar, apesar de eu nunca ter me importado com isso, sempre permitindo que ele me roubasse um beijo ou
outro quando estávamos juntos.
Aparentemente, nem mesmo adoentado as coisas mudaram.
Em um movimento rápido e preciso, Itachi decidiu deixar-se levar pelo clima instalado entre nós,
desencostando seu corpo da cabeceira ao juntar seus lábios nos meus.
Eu fechei meus olhos de modo automático.
A surpresa de sua iniciativa completamente repentina, simplesmente desapareceu com a sensação
reconfortante e familiar que senti ao ter nossos lábios unidos, exatamente igual ao último beijo em que
trocamos antes mesmo de nosso doloso término.
Ainda possuímos a mesma química de sempre.
Nos encaixávamos com perfeição, sem precisar fazer nenhum tipo de esforço para que nos
completássemos. A nossa conexão continuava a mesma, causando arrepios positivos em ambos os corpos,
ajudando-nos a matar a saudades de nossas línguas se roçando uma a outra.
Aquele era um beijo mais lento e carinho, algo bem diferente do que estávamos acostumado. Sempre
fomos um casal meio apressado, aproveitando-se de nossos momentos mais íntimos para saciar todas as
nossas vontades com rapidez e desesperado.
Talvez pela saudades que sentíamos um do outro, fora o fato de Itachi estar mais fraquinho e
vulnerável do que o normal, ambos prosseguimos de modo calmo e cuidadoso, se acariciando
respeitosamente.
Enquanto eu continha minha mão emaranhada entre seus fios negros, acariciando-os lentamente e
dando puxões fracos, a sua mão permanecia repousada em minha nuca, seguindo com o mesmo ritmo que
o meu.
Relembrar seu gosto, textura e ternura foi o ponto alto de meu ano na penitenciária. Eu não me
recordava do quanto fazia falta para mim beija-ló daquela forma, e no fundo, eu sabia que o Itachi estava
sentindo o mesmo.
Ele estava tão entregue quanto eu.
-Dei? -Separou as nossas bocas com lentidão. Reabri meus olhos levemente ofegante, tendo outra
surpresa ao senti-ló encostar nossas testa, fitando-me de perto com um ar carinhoso. -Eu senti a sua falta.
Sorri meio fora de mim
-Eu também, sua praga.
Ele riu divertido.
Tínhamos a intenção de juntarmos nossas bocas mais uma vez, isso se um barulho ao lado de fora
não tivesse nos interrompido, anunciando a entrada de mais alguém na enfermaria.
Permaneci sentado ao lado de Itachi, pouco me importando se seríamos vistos juntos ou não. Pelo o
que me parecia, o Uchiha também estava tranquilo em relação a isso, sorrindo pequeno ao notar que eu
não havia me distanciado.
Sasuke era quem entrava pela porta.
-Com licença. -Pediu meio sem graça, dando um olhada discreta e desconfiada em nós dois. Nossos
sorriso nos entregavam, assim como nossa proximidade por cima daquela maca. -Desculpa atrapalhar.
Itachi negou com a cabeça.
-Não tem problema. -Chamou-o com sua mão para que se aproximasse. -Vem cá, Sasuke.
Aquela era a minha deixa de sair.
-Eu já vou indo. -Declarei meio chateado.

271
-Você não precisa ir. -Itachi segurou em minha mão, parando-me no meio do caminho. -Fica aqui até
eu ir embora.
Eu nunca faria uma coisa dessas.
Despedidas realmente não era o meu forte.
Além do mais, eu sabia que ambos os irmãos também precisavam de um momento só para eles,
assim como eu precisei de um para conversar a sós com o Itachi.
-É que eu preciso mijar. -Respondi com toda a minha sinceridade. Eu precisava mesmo ir no
banheiro, fora que estava quase caindo de fome e gostaria de me alimentar antes de retornar à cela. -E
comer também.
Notei Sasuke rir atrás de mim.
-Tudo bem, vai lá. -Encostou-se dolorosamente na cabeceira. -Então, eu acho que isso é um ade—
-Shh, cala a boca. -Cortei o seu futuro discurso de despedida. Pelo menos comigo, às vezes o Itachi
conseguia ser bem dramático e emocionado. -Você sabe que eu não gosto disso.
Ele riu enfraquecido.
-Tudo bem. -Deu de ombros com um olhar brincalhão. -Sem despedidas, então.
-Isso. -Devolvi na mesma entonação. Eu pretendia apenas me virar de costas e sair daquela
enfermaria como se tivesse certeza absoluta que fosse vê-lo bem em breve. -Eu vou indo.
Eu fiz exatamente o que eu disse que faria.
Me virei sem dar satisfações aos dois, caminhando lentamente até a porta, ao mesmo tempo em que
escutava Itachi rir da minha cara, aparentemente surpreso por eu ter mesmo levado a sério essa coisa de
não querer dar tchau para ele.
Mantive o meu plano até que estivesse no corredor, deixando a porta da enfermaria levemente
entreaberta, apenas com uma pequena fresta. Com a minha respiração ofegante e desregulada,
encostei-me na parede atrás de mim, acabando por ouvir uma pequena parte da conversa dos irmãos.
-...Você vai ficar bem. -Sasuke falava com convicção. -Eu tenho certeza disso.
-Eu espero que você esteja certo. -Respondeu falho, sendo acompanhado de uma pequena crise de
tosse. -Se cuida enquanto eu estiver fora, tá bom?
-Você também. -Murmurou embargado.
Espichei o meu pescoço para espia-lós, enxergando o momento exato em que Sasuke juntou os seus
corpos, abraçando-o como um sinal de despedida, deixando o momento ainda mais difícil para os dois.
Isso é o tipo de coisa que eu nunca faria.
Não importa o quão doente esteja a pessoa, me despedir de alguém dessa maneira está fora de
cogitação. Isso é uma das poucas coisas na minha vida que realmente me machucam.
Despedidas são dolorosas demais.
Sasuke On

Haviam se passado apenas quinze minutos desde que a sirene noturna ecoou por toda a
penitenciária, anunciando o final de mais um dia incrivelmente repetitivo e esgotante.
Com o chamado inconfundível de todas as noites, os detentos não demoraram muito para retornarem
até suas devidas celas e blocos, prontos para colocarem seus pijamas e se prepararem para a manhã
seguinte.
Eu, por outro lado, estava desfrutando de um dos melhores horários do meu dia.
Embora fosse extremamente doloroso ter o meu irmão distante, especialmente agora que a diretoria
finalmente resolveu mandá-lo para um hospital descende, eu estava agradecido por ter a companhia de
Naruto em minha cela.
Aquele dia foi extremamente difícil.
Me despedir do Itachi foi uma das coisas mais difíceis que fiz em toda a minha vida. O nosso diálogo
foi bem simples e rápido, mas em compensação, foi um dos mais sinceros que tivemos em toda a nossa
vida.

272
Mesmo tendo a opção de acompanhá-lo até o estacionamento da prisão em um sinal de despedida,
eu não aguentei ficar para ver a ambulância o levando para longe de mim. Seria ainda mais difícil assisti-ló
entubado por cima daquela maca e sendo carregado por todos aqueles policiais.
Ambos ficaríamos por tempo indeterminado sem se ver e sem ter notícias um do outro.
Talvez eu até pudesse apelar para o lado do Obito e questiona-ló por notícias do Itachi. No entanto,
eu era compreensível o bastante para saber que o carcereiro não me daria respostas cem por cento
concretas e verídicas, até porque, ele não possui a autorização da diretoria para ir visitar o meu irmão.
Diante de tanto estresse, o meu plano era fazer de tudo para lidar com a minha ansiedade e, para a
minha sorte, eu tinha o Naruto para me ajudar com essa parte.
Na verdade, o loiro não precisava fazer muito esforço para me deixar sorridente e confortável ao seu
lado. Estando em sua agradável presença, o meu humor melhorava de modo inexplicável.
O Naruto é mesmo o meu porto-seguro.
Suspirando longamente e em aprovação, senti cada músculo de meu corpo se relaxar e entregar ao
afago delicado que recebia em meu cabelo, arrepiando meus pelos a cada vez em que Naruto utilizava suas
unhas para arranharem o meu coro cabeludo, mantendo um ritmo bem lento e carinhoso.
Eu estava me derretendo naquela posição.
Com suas costas apoiadas na cabeceira, o loiro lia atentamente um livro qualquer sobre o
funcionamento do corpo humano, permitindo que eu ficasse deitado entre suas pernas abertas e
espremendo minha bochecha sonolentamente na altura de sua barriga.
Meus olhos se abriam e fechavam sem parar, lutando a todo instante para manter-me desperto,
apesar de ser um tanto difícil de evitar, especialmente por conta daquele afago tão gostoso que eu recebia
em meu cabelo.
Eu havia acordado muito carente.
Me dava até uma certa vergonha em admitir o quanto eu estava necessitado de algum tipo de
carinho. Pelo o que me pareceu, não foi necessário dizer muito ao Naruto para que ele percebesse o quanto
eu estava precisando de um momento a sós junto a si.
O loiro já me conhecia muito bem, assim como eu também já sabia de tudo em relação a ele.
No passado, enquanto o Uzumaki ainda não havia entrado na minha vida, eu costumava enfrentar
solitariamente algumas noites como essas, lidando com a tristeza e carência numa frequência considerável.
Quando sentia muita a falta de afeto, eu costumava abraçar o meu travesseiro durante toda a
madrugada e lamentar silenciosamente sobre a minha vida miserável sem que o Itachi pudesse me ver ou
escutar.
Eu nunca cheguei ao ponto de pedir abraços para o meu irmão em meus momentos de carência, se
bem que, atualmente, isso até que poderia acontecer entre nós, até porque, ambos estamos bem mais
próximos do que antigamente.
-Sasuke? -A voz doce e atenciosa do meu bebê se fez presente em meio a cela, me fazendo abrir os
olhos sonolentamente. -Você sabia que o estômago pode aumentar de volume oitenta vezes mais quando
são ingeridos muitos alimentos no nosso corpo?
Soltei uma risada baixinha.
O tom curioso e interessado de Naruto foi o que me fez virar para encara-ló, tentando ao máximo não
fazer movimentos bruscos que o influenciassem a parar de me dar carinho.
-É mesmo, bebê? -Sorri apaixonado, me deparando com o seu biquinho concentrado e adorável,
focado em ler o seu livro e continuar a me acariciar. -Eu não sabia disso.
-Pois é... -Murmurou com o cenho franzido. -O legal é que eu estou aprendendo mais aqui dentro do
que quando estava no ensino médio.
O acompanhei em uma risada divertida, sentindo sua barriga se contrair por baixo de mim, me
transmitindo uma sensação esquisitamente confortável.
Quando caímos em outro momento de silêncio, aconcheguei-me ainda mais contra o seu corpo
quente e delicado, sentindo que poderia adormecer a qualquer instante naquela posição.

273
Ao fechar meus olhos novamente, decidido de que me entregaria ao meu sono depois daquele dia
tão estressante, não pude deixar de escutar o som alto e repentino vindo de baixo de mim, o qual eu logo
identifiquei como sendo o estômago de Naruto.
Pelo fato de estar deitado em cima de sua barriga, pude escutar com clareza todos os ruídos
engraçados e esquisitos que saiam de dentro de si, fazendo-me reabrir os olhos para rir com a situação.
-Olha só que coincidência... -Impliquei divertidamente com ele, levantando meu pescoço de modo
preguiçoso para olha-ló nos olhos. -Foi só você falar de estômago que o seu começou a dar sinal de vida.
O loiro corou levemente com a sua situação.
-Você está com fome, hm? -Indaguei interessado, deitando-me de bruços e com os dois braços
apoiados em sua barriga. Por mais obsceno que pudesse soar, era muito confortável ficar no meio de suas
pernas. -Se você quiser, eu posso dar um jeito de conseguir alguma coisa agora.
Ele negou com um sorriso tímido.
-N-Não, Sasuke... -Riu de modo infantil. -Eu juro que não estou com fome. Acho que se eu comer
mais alguma coisa hoje, eu vou começar a passar mal.
Levantei a sobrancelha desconfiadamente.
Apesar de ter me certificado que Naruto se alimentou bem em todas as refeições do dia, eu ainda me
preocupava com o fato de não deixa-ló inteiramente satisfeito.
-Tem certeza? -Perguntei só para confirmar.
-U-Uhum. -Assentiu com um sorrisinho. -Olha só pra isso.
Ao notar que o loiro se movimentava por baixo de mim, me distanciei de seu corpo contra a minha
vontade, observando-o levantar a sua regata branca, a mesma que utilizava como pijama, até a altura de
seu umbigo.
Com uma expressão fofa, o menor olhou para sua própria barriga, apertando-a de leve com a
intenção de mostrar-me a pequena dobrinha que se formava no local.
-Eu até dei uma engordada. -Revelou com as bochechas coradas, me fitando com um ar brincalhão.
Eu não conseguia entender o motivo de tê-lo achado tão adorável naquela posição, especialmente por estar
apertando a sua barriguinha. -E-Eu acho que você está me mimando demais, sabia?
Soltei um riso divertido.
Eu precisava admitir que estava mesmo o mimando em excesso e fazendo de tudo para deixá-lo feliz
nesse inferno de lugar. Além de oferecê-lo comida de boa qualidade no horário das refeições, eu também
havia começado a ceder o meu tempo do banho para ele.
Recentemente, o menor havia reclamado aleatoriamente sobre os olhares perversos e maliciosos
que sempre recebia de seus companheiros de bloco no horário do banho, afirmando que isso o incomodava
muito.
Por sentir preocupação e ciúmes de si, permiti que Naruto aproveitasse o meu tempo de banho para
que pudesse se lavar com calma, cuidado e sem se sentir observado por todos aqueles abutres nojentos.
Enquanto ele se duchava, depilava e fazia tudo o que não conseguia fazer em frente aos outros, eu
permaneci ao lado de fora para lhe dar privacidade e servir como o seu “segurança particular”.
-Eu gosto de mimar você, bebê. -Sorri tranquilo, acariciando suas coxas lisinhas e expostas em volta
de meu corpo. Pelo fato de ter se depilado, sua pele estava mais macia do que o normal. -Você não gosta
disso?
-N-Não! -Se atrapalhou para me responder, negando corado com a cabeça. -Quer dizer, eu gosto
muito, Sasuke. É só que me sinto mal por não poder te dar nada em troca, sabe?
Meu coração ficou amolecido.
-Você já faz muito por mim, Naruto. -Revelei seriamente. A minha mudança de humor foi bem
repentina, tanto que acabou assustando o loiro. -Por favor, não diga uma coisa dessas. Você nem imagina o
quanto a sua presença é um presente para mim, bebê.
Seu rosto tornou-se inteiramente rubro.
-S-Sasuke... -Resmungou num tom choroso. Ele sempre ficava muito emocionado com qualquer tipo
de declaração direcionada para si, mas em especial, quando vinha de mim. O meu bebê era muito emotivo
e sensível. -Não fala assim...

274
Ri baixinho de suas reações adoráveis.
-Mas é verdade. -Reforcei com um sorriso doce, morrendo internamente de amores com a cena em
minha frente. O loiro tapava sua própria face com as suas mãozinhas, talvez emocionado demais para dizer
qualquer coisa. -Ei... Vem aqui.
Levantei-me do meio de suas pernas, rindo carinhosamente ao me arrastar por cima do colchão,
encostando-me na cabeceira ao seu lado. Retirei suas mãos cuidadosamente da frente de seu rosto, não
precisando de muito para receber um abraço do loiro, o qual rapidamente agarrou-se ao meu corpo e, assim
como das outras vezes, se enterrou timidamente em meu peito.
-E-Eu te amo, Sasuke. -Sussurrou de modo desnecessário, porém meigo, depositando um beijo
rápido e inocente na pele exposta de meu peitoral, ocasionando em um sorriso ainda maior de minha parte.
-Muito, muito mesmo.
Pelo fato de termos admitido recentemente que nos amávamos de verdade, os “eu te amo” entre nós
dois começaram a surgirem com ainda mais frequência.
-Eu também amo muito você, bebê. -Fiz um carinho pequeno em sua nuca, sorrindo feito um bobão
contra a seu cabelo. Quando eu imaginei que me apaixonaria pelo novato inocente e atrapalhado da prisão?
-Deixa eu te dar um beijo, sim?
Separamos nossos corpos em sincronia, trocando sorrisos carinhosos e marcantes, logo trazendo
nossos rostos para perto um do outro. O primeiro contato de nossos lábios já foi o bastante para me deixar
amolecido, fazendo-me suspirar em aprovação com o gostinho refrescante de hortelã presente em sua
boca, o qual se dava por conta da pasta de dentes.
Procurando por mais daquele sabor, lambi seu lábio inferior com vulgaridade, me derretendo por
completo ao entrar em contato com sua língua macia e de gosto viciante, chupando-a com vontade para
que pudesse sentir sua textura.
Beijar o Naruto era sempre muito satisfatório, tanto por conta dos sentimentos positivos que
carregávamos e partilhávamos um com o outro, quanto pelo fato do meu bebê saber bem como usar a sua
língua junto a minha.
Com um suspiro entregue e ofegante, desconectei nossas bocas por conta de minha falta de fôlego,
finalizando o beijo com uma mordida leve em seu lábio inchado e vermelhinho.
Reabri meus olhos com a respiração completamente descompensada, tendo a visão perfeita do loiro
a copiar os meus movimentos, soltando um ofego baixinho ao abrir suas imensidões azuladas e
penetrantes.
-Você é lindo demais, Naruto. -Elogiei-o meio fora de mim, fazendo de tudo para que
permanecêssemos na mesma posição em que nos encontrávamos por cima daquela cama, ambos bem
colados um ao outro.
Ele corou violentamente.
-V-Você é muito mais, Sasuke. -Devolveu timidamente. -É a pessoa mais linda que eu já vi.
Sorri com sinceridade.
Me sentindo embriagado com o clima instalado entre nós, aproximei nossas bocas uma outra vez, lhe
dando um selinho bem cumprido e apaixonante, não conseguindo deixar de sorrir contra os seus lábios,
ciente de que Naruto estaria fazendo o mesmo.
Era muito bom estar apaixonado por ele.
-Vem cá, deita comigo. -Chamei-o para me acompanhar, aproveitando o fato de já estarmos próximos
de meu travesseiro. Eu não tinha mais a intenção de dormir, pelo menos não depois do beijo entre nós dois.
Ele havia tirado todo o meu sono. -Fica aqui do meu lado.
Esperei até que o loiro estivesse deitado em seu cantinho de sempre, apanhando o mesmo livro que
lia anteriormente, talvez com a intenção de retomar a sua leitura enquanto estivéssemos deitados.
Pelo fato de estar extremamente carente naquela noite, não demorou muito para que eu estivesse o
abraçando de ladinho, escutando-o rir baixinho quando decidi apoiar minha cabeça próxima de seu
pescoço, disposto a ler juntamente com ele, por mais que eu não tivesse acompanhado o livro desde o
início.
Por dentro, eu estava me mordendo para pedi-ló por um pouco mais de carinho, mas pelo fato de
Naruto estar concentrado, decidi não interrompê-lo com palavras, agindo de modo bem carente e impulsivo
na hora de segurar em sua mão, tirando-a de perto do livro para leva-lá até o meu cabelo.

275
O meu bebê rapidamente entendeu o recado.
Mesmo que rindo um pouquinho de minha carência tão excessiva, o menor sorriu carinhoso e corado
para mim, satisfazendo a minha vontade na hora de retomar suas carícias em meu coro cabeludo,
deixando-me instantemente amolecido.
Aproveitamos aquele momento de silêncio para que pudéssemos nos concentrar no livro, lendo
distraidamente sobre as mais diversas partes do corpo humano. Eu devo admitir que aprendi muito nesse
pequeno período de tempo e, mesmo que com sono, consegui adquirir várias informações interessantes.
Depois de umas cinco ou seis páginas daquele mesmo capítulo, Naruto finalmente pulou para o
próximo, parando em uma parte um pouco mais “interessante” se comparada às outras.
O capítulo do livro se chamava: “O funcionamento do corpo na relação sexual”. Além do título ser
atraente, haviam gravuras que poderiam ser consideradas levemente constrangedoras e invasivas,
especialmente para Naruto, o qual não estava habituado a conversar sobre esse tema.
De relance, tentei captar qualquer tipo de reação desconfortável da parte de Naruto, precisando
prensar meus lábios ao reparar em seu rosto absurdamente vermelho, apertando o livro de modo
visivelmente nervoso.
Até as suas carícias haviam se cessado.
-Bebê? -Chamei risonho, levantando minha cabeça para encara-ló. -Você está bem?
-H-Hm? -Chacoalhou a sua cabeça, desviando os olhos do livro para leva-lós até mim. Ele ficou
ainda mais constrangido ao reparar que eu estava rindo. -E-Ei... Por que você está rindo?
Limpei o cantinho de meus olhos.
-Desculpa. -Neguei com a cabeça, sorrindo docemente para si. O meu bebê era muito tímido para
esses tipos de assuntos. -É que você ficou nervoso do nada, eu achei que tinha acontecido alguma coisa.
O menor mordeu o seu lábio inferior, baixando o livro como se estivesse pensando em algo. Quando
o Naruto ficava desse jeito mais silencioso, era porque estava querendo me fazer alguma pergunta mais
pessoal ou “arriscava”.
-S-Sasuke? -Chamou baixinho.
-Sim?
-C-Como é fazer amor com alguém? -Seus olhos caíram em constrangimento, mirando seu próprio
colo por não ter coragem de me encarar de volta.
Eu sorri com carinho e compreensão.
Primeiramente, o fato de escutar a frase “fazer amor” saindo de sua boca, já foi o bastante para me
deixar sorrindo feito um bobão apaixonado, admirando cada pequena reação sua por estar me perguntando
sobre um tema tão delicado para si.
Ele deveria carregar bastante curiosidade sobre o assunto, até porque, nunca havia passado por uma
situação parecida. As únicas vezes em que foi tocado com mais intimidade, se deu por conta de minha
iniciativa.
-Fazer amor é uma expressão muito forte. -Respondi com sinceridade, nenhum pouco constrangido
em falar sobre o assunto. -Amor a gente só faz com quem ama de verdade, sabe? E eu nunca fiz isso com
ninguém.
O menor levantou seu pescoço em surpresa, fitando-me com os lábios entreabertos e bochechas
rubras. Aquela frase havia o prendido de alguma forma.
-Você quer saber qual é a sensação de transar com alguém, é isso? -Questionei delicadamente.
-U-Uhum.
-Certo... -Olhei para cima, estreitando meus olhos para pensar em uma maneira ideal de respondê-lo.
-É uma sensação muito boa, na verdade. Quando você acha a pessoa, a posição e o momento perfeito,
tudo fica ainda melhor.
Ele me olhou pensativamente.
-H-Hm... E pode doer?
Aqueles perguntas estavam ficando cada vez mais específicas.

276
-Olha, bebê... -Toquei em sua mãozinha por cima do colchão, sorrindo com toda a minha paciência.
-Tudo depende da pessoa com quem você está se relacionando.
Sua cabeça se virou curiosamente.
-Primeiro de tudo, você precisa ter vontade e confiar na pessoa. -Embora eu nunca tivesse praticado
essa coisa de “se relacionar com alguém que confie”, foi bom ter mencionado esse detalhe ao Naruto.
-Pode doer um pouquinho no começo, mas se você estiver se envolvendo com alguém cuidadoso e que
também se preocupe com o seu prazer, pode ter certeza que você vai conseguir se soltar e aproveitar o
momento.
Finalizei o meu pequeno discurso com um sorriso no rosto. Eu estava orgulhoso por conseguir
elaborar uma explicação descente, apesar de que fiquei um pouco receoso com o fato de ter lhe dito alguma
besteira.
-E-Então quer dizer você nunca fez amor? -Questionou com inocência, referindo-se ao fato de eu
nunca ter transado com alguém estando verdadeiramente apaixonado pela pessoa.
-Não, eu nunca fiz. -Sorri pequeno. -Eu sempre fiz mais pelo prazer, sabe? Para você ter uma noção,
eu perdi a minha virgindade com catorze anos de idade.
Naruto me olhou impressionado.
-Pois é... -Ri sem graça. -Era uma garota da minha escola, ela chamava Sakura. Mas é claro que não
significou nada pra mim, eu nem gostava tanto dela. A gente transou mais pelo calor do momento.
-N-Nossa... -Baixou sua cabeça. -Acho que eu estou meio atrasado, né?
Neguei rapidamente, rindo bem baixinho.
-Não existe essa coisa de estar atrasado. -Toquei na pontinha de seu queixo, levantando-o para mim.
Ele era tão adorável ficando todo tímido para falar sobre esse assunto. -Você faz quando sentir vontade e
pronto. Sem pressão nenhuma, bebê.
Naruto assentiu pensativo.
-Mas sabe... -Retirei alguns fios loiros de seus olhos, sorrindo carinhosamente para si. -Pode ter
certeza que com você, eu poderia chamar de “fazer amor”.
O menor corou violentamente.
Ri entretido com o assunto, imaginando que essa sua curiosidade repentina talvez fosse porque
Naruto estivesse refletindo a ideia de se relacionar sexualmente comigo.
Afinal, nós já estávamos em um nível avançado de nosso relacionamento, só não havíamos
oficializado nada. Honestamente, não precisamos nos rotular como “namorados” para sabermos que
estávamos oficialmente juntos.
De qualquer forma, eu estava contente pelo Naruto ter confiado em mim para perguntar sobre o
assunto, sendo que poderia ter conversado sobre isso com qualquer outra pessoa, tipo o Gaara ou o
Deidara.
-Ei, Naruto? -Chamei com a intenção de trocar o assunto, me relembrando de um detalhe
importantíssimo de nosso dia. -Como será que o Deidara está?
Ele me olhou angustiado.
-Eu não sei... -Esboçou uma feição sofrida. Ambos estávamos cientes do estado em que o loiro ficou
na enfermaria, e que provavelmente estaria sofrendo no momento. -Eu não falei muito com ele hoje.
-Será que ele está chorando? -Perguntei aleatoriamente, imaginando a cena de Deidara desabando
em lágrimas dentro da cela. Não era muito a cara dele, mas mesmo assim, eu não conseguia deixar de
pensar.
Naruto ficou ainda mais afetado com a minha hipótese.
-T-Tadinho dele... -Fez um biquinho. -O pior é que o Dei está sozinho mesmo. O Gaara também está
lá, só que ele sempre dorme primeiro que todo mundo e não acorda mais.
-Poxa, que pena. -Lamentei com sinceridade. Não tinha muito o que fazer no momento. Eu também
estava mal com a situação do Itachi, mas pelo menos tinha a companhia do Naruto, já o Deidara não. -Com
sorte amanhã ele vai estar melhor.
Naruto permaneceu em silêncio, carregando uma expressão meio inquieta e reflexiva.

277
-E se a gente dar uma passada lá? -Sugeriu com um ar inocente. -Digo, passar a noite com ele,
sabe?
Foi a minha vez de ficar quieto.
-E-Eu acho que ele está precisando de uma companhia, Sasuke. -Me olhou com esperança, torcendo
que eu topasse ajudá-lo em sua iniciativa. -Lá tem quatro camas, cabe todo mundo.
Soltei um riso divertido.
-Você acha que ele vai gostar de ter nós dois lá? -Arqueei a sobrancelha. O Deidara já não me
odiava como antes, entretanto, ainda era imprevisível o modo como ele reagiria caso aparecemos de
repente em sua cela. -Ah, vamos pelo menos tentar... Se ele não gostar, a gente volta.
-Isso! -Naruto bateu palmas, feliz por eu ter aceitado. -Vamos logo, então.
O menor estava verdadeiramente animado com a ideia, tanto que literalmente saltou de minha cama,
já correndo para a grade sem nem ao menos se trocar. Eu, por outro lado, o segui em meio a risadas, não
acreditando que deixaríamos mesmo a nossa cela durante a madrugada para ir ao encontro de Deidara.
-Bebê, você vai de meia? -Gargalhei soltamente. Ele não havia nem ao menos se dado o trabalho de
colocar um sapato. -Vai ficar toda suja.
-Ah, tudo bem. -Sorriu de modo infantil. -E você? Não vai colocar uma camiseta?
Tinha esse detalhe também.
Eu estava de tronco nu, assim como sempre ficava durante todas as noites. Inicialmente, pensei em
procurar por uma blusa qualquer ao redor da cela, mas como estava uma tremenda bagunça, eu sabia que
demoraria muito para achar uma limpa e descente.
-Eu vou assim mesmo. -Dei de ombros, o acompanhando em uma gargalhada. -‘To com preguiça de
procurar uma blusa.
Dei uma corrida para perto de Naruto, alcançando-o com o meu braço erguido para si. Ao nos
abraçarmos como o habitual, fui eu quem tomei a iniciativa de abrir a grade, fazendo o mínimo de barulho
possível para não chamar a atenção dos detentos.
Saímos ambos nas pontas dos pés, rindo baixinho de nossa ideia de jericó em fugir no meio da
madrugada e vagar pelos corredores da penitenciária. Estava tudo muito escuro e silencioso, o que
automaticamente deixou o Naruto inseguro ao meu lado.
-S-Será que já morreu alguém aqui? -Sua voz infantil e medrosa me causou risadas, as quais eu tive
que fazer esforço para engolir. -Eu estou falando sério, Sasuke... E se a alma de algum detento que morreu
nesse bloco estiver vagando por aqui?
Soltei uma gargalhada, precisando tapar minha boca. O meu bebê era mesmo muito medroso e
acreditava em diversas histórias relacionadas a fantasmas e coisas paranormais, muitas vezes até mesmo
sem sentido.
-Se tiver algum espírito, pode deixar que eu estampo ele. -Murmurei brincalhão, conseguindo guia-ló
para fora de meu bloco, ingressando automaticamente no corredor do bloco 4. -Está vendo só? Sem almas
penadas.
Eu acho que acabei falando cedo demais.
O bloco 4, por alguma razão, encontrava-se ainda mais escuro e quieto do que o 5, o que de certa
forma, acabou me causando alguns calafrios esquisitos também, apesar de eu ter escondido esse detalhe
do Naruto.
Segui de cabeça erguida pelo corredor, tentando transparecer que não estava com medo de nada.
No entanto, em um momento qualquer, quando estávamos perto da cela 444, um barulho alto e
escandaloso se fez presente ao meu lado, me fazendo suspirar assustado
-Caralho... -Levei a mão ao peito, reconhecendo com rapidez a origem daquele som. Ao meu lado
esquerdo, havia um detento qualquer a utilizar a privada de sua cela e, naquele momento, havia dado
descarga. -Que susto.
Naruto riu de minha cara.
-E-Eu achei que você não estivesse assustado. -Provocou em um falso tom desafiador, rindo
baixinho quando estreitei meus olhos em sua direção, fingindo estar ofendido. -É só uma privada, Sasuke.

278
-É, né? Mas foi você quem ficou colocando caraminholas na minha cabeça. -Cutuquei sua cinturinha
como pequenas cócegas. -É melhor a gente fazer silêncio agora, eu não quero assustar o Deidara.
-Verdade. -Acrescentou aos sussurros.
Nos aproximamos cuidadosamente de sua cela, tendo a visão perfeita da movimentação ao lado de
dentro. Assim como Naruto me afirmou, Gaara encontrava-se adormecido em sua cama, deixando Deidara,
o qual ainda estava desperto, completamente sozinho.
O loiro permanecia deitado na parte de cima do beliche, carregando entre os dedos um cigarro
recém-acendido, ao mesmo tempo em que fitava o teto de modo pensativo, hora tragando calmamente,
hora soltando a fumaça de seus pulmões.
Ele parecia bem distante em seus pensamentos.
-Dei? -Naruto chamou baixinho, dando uma batidinha na grade em sua frente.
O mais velho, por sua vez, levantou-se levemente assustado, franzindo o cenho com a nossa
aparição tão repentina, especialmente ao notar que eu também o acompanhava.
-Mas que porra é essa? -Fez uma careta perturbada, tomando a liberdade de descer pela escadinha
de seu beliche. -O que vocês estão fazendo aqui?
-Nós viemos te ver. -O menor sorriu amoroso, abrindo a grade sem pedir por uma permissão do
outro, já começando a me arrastar para dentro. -Como você está?
Deidara levantou uma sobrancelha.
-Eu estou ótimo. -Tragou seu cigarro novamente, dando uma olhada indiscreta em nós dois. Nossas
roupas estavam mesmo deploráveis. Naruto estava apenas de meia e com o sua calça dobrada na altura
dos joelhos, enquanto eu não possuía nenhum tipo de tecido cobrindo o meu tronco. -Meu Deus, vocês
voltaram da guerra ou o quê?
Acompanhei Naruto em uma risada.
-A gente ficou com preguiça de se trocar. -Fechou a cela cuidadosamente atrás de nós. Apesar do
pouco barulho que fizemos, Gaara já estava prestes a despertar na cama de cima. -Queríamos ver você, só
isso.
-Não vai dizer que vocês vieram me vender drogas no meio da noite. -Riu de sua própria piada, ainda
referindo-se às nossas vestimentas e o fato de termos aparecido ali tão de repente. -Muito obrigado, mas eu
não estou interessado.
-N-Não é nada disso. -Naruto riu divertido, precisando baixar o tom de sua voz quando o ruivo
começou a se remexer, esfregando o próprio rosto no travesseiro. -Nós vamos passar a noite aqui.
O loiro esboçou outra feição perturbada.
Reparei que ele tinha a intenção de nos questionar sobre nossa decisão tão repentina de aparecer
por ali, mas foi rapidamente calado por Gaara, o qual despertava de seu sono, murmurando algumas frases
aleatórias e sem sentido.
-Olha aí... -Deidara implicou com ele, enquanto o mesmo se sentava sonolentamente sobre a cama,
olhando para a cena com um semblante perdido, tentando entender o que estava acontecendo ao seu
redor. -Engraçado que ele tava dormindo até agora, né? Foi só eu falar de drogas que o Gaara acordou.
O ruivo franziu o cenho sem entender tal afirmação, especialmente quando eu deixei uma risada
escapar, divertindo-me com a referência que o loiro utilizou para a piada.
-O que...? -Gaara nos olhou atordoado, coçando suas pálpebras. -O que vocês estão fazendo aqui,
gente?
-Aparentemente, é uma festinha do pijama. -Deidara zombou. Apesar dele estar dando o seu máximo
para não demostrar, já era de se imaginar que ele estaria passando por muita coisa internamente. -Ainda
bem que é só isso mesmo, eu já estava começando a achar que o Sasuke queria abrir uma roda de oração
pro Itachi.
Embora o assunto fosse sério e pesado, eu não pude deixar de rir com o comentário feito pelo loiro.
O Deidara tinha piada para quase tudo, e mesmo que muitas vezes fossem inconvenientes, ele pelo menos
conseguia descontrair.
-Festa do pijama? -O ruivo repetiu, rindo com os olhos quase fechados. -Legal.

279
-É, isso aí. -Deidara continuou a tirar onda com a nossa cara, subindo de volta ao seu beliche com a
intacto de se deitar. -Vai ser super legal. Vamos passar a noite toda falando sobre meninos, fazendo guerra
de travesseiro, pintando as unhas e jogando PPP.
Notei que Gaara e Naruto franziram o cenho com o último comentário, ambos trocando olhares
confusos e curiosos entre si.
-O que seria jogar “PPP”? -O ruivo indagou com toda a sua inocência.
Talvez pelo fato de ter amigos que brincavam disso na época de minha escola, eu sabia bem como
funcionava aquele joguinho tosco.
-Sério que vocês não sabem o que é “PPP”? -Tragou o seu cigarro com um olhar de deboche. -Vocês
não tiveram adolescência, caralho?
-Eu sei o que é. -Me intrometi no assunto, mesmo sem ter sido chamado.
-E-Ei, o que é isso? -Naruto ficou ainda mais curioso pelo fato de eu saber sobre aquela brincadeira e
ele não. -Me explica, Sasuke?
-É um jogo idiota, bebê. -Cocei minha nuca, imaginando como poderia explicá-lo sobre isso. -Se
chama: Pega, pensa ou passa.
Ambos continuaram sem entender.
-Meu Deus... -O loiro implicou por cima do beliche, assoprando sua fumaça de modo irritado. -É o
mesmo que eu falar três nomes para o Sasuke, por exemplo, Orochimaru, Kabuto e Kakashi... Daí ele tem
que me responder quem entre os três ele pega, quem ele pensa e quem ele passa.
Fiz uma careta enojada.
Ele havia escolhido os piores nomes possíveis para exemplificar o jogo.
-Eu prefiro arrancar a minha língua fora. -Respondi com frieza e honestidade, não conseguindo me
imaginar numa situação dessas.
O mais velho riu com sarcasmo.
-É, eu também. -Apagou a bituca na parede, olhando tedioso para os dois garotos. -E aí?
Entenderam o jogo agora?
Os dois também possuíam uma expressão bem enjoada e perturbada com a explicação.
-Sim. -Gaara foi quem respondeu. -Eu não quero brincar disso não, muito obrigada.
-E-Eu também não. -Naruto respondeu com certo desgosto. -Eu prefiro dormir, isso sim.
Ri baixinho ao seu lado.
-Ué, e a festa do pijama? -Gaara indagou, realmente levando a sério a piadinha de Deidara. -Era tudo
fachada?
-Óbvio que era. -O mais velho estalou a língua. -Eles vieram aqui só para dormiram. Eu não estou
afim de falar com ninguém hoje e muito menos fazer uma festa do pijama.
Eu e Naruto trocamos sorrisos breves.
Ambos sabíamos que, mesmo dando o seu máximo para esconder, Deidara havia gostado
internamente de nossa inciativa em fazê-lo companhia, caso contrário, ele já teria nos mandado embora faz
tempo.
Já que estávamos todos muito chateados naquela madrugada o que seria melhor do que ficarmos
tristes em conjunto?
-Então quer dizer que amanhã nos vamos acordar todos juntinhos? -O ruivo sorriu divertido, disposto
a se deitar assim como Deidara. -Adorei essa ideia.
-E-Eu também. -Naruto concordou sorridente, dando uma olhada rápida ao redor da cela. Como
estávamos ambos os garotos deitados, só faltava eu e ele fazermos o mesmo. -Em qual cama você vai
dormir, Sasuke?
-Eu quero dormir aonde você estiver. -Respondi sem pensar duas vezes. Deidara, por sua vez, soltou
um som que simulava um vômito, desaprovando tanto grude entre nós. -Mas só se você quiser, é claro.
Ele sorriu timidamente.

280
-E-Eu quero muito. -Suas bochechas tornaram-se rubras. -Vamos dormir na minha cama então.
-Vamos.
Acompanhei-o até a cama de baixo da que Deidara, esperando que Naruto ficasse encostado na
parede, aonde ele geralmente ficaria caso estivéssemos na minha cela.
Todos os abajures já estavam apagados, deixando o clima automaticamente mais leve e sonolento,
especialmente por já ser bem tarde da noite. Quando nossas cabeças se encostaram lado a lado no
travesseiro, meu corpo relaxou instantemente.
-Eu acho bom você não roncar, Sasuke. -A voz de Deidara se fez presente na cama de cima. -Eu
estou falando sério.
Ri levemente.
-Eu não ronco.
-Hm, eu acho bom. -Murmurou irritado.
-Olha só quem fala... -Gaara riu do outro lado da cela. -Você ronca que nem uma porca grávida,
Deidara.
Senti a cama se movimentar, dando a entender que o loiro estava inquieto no “andar de cima”.
-Como é que é?! -Subiu o tom de sua voz. -Eu só não desço dessa cama pra afundar o seu rosto no
vaso porque eu estou com sono! Mas amanhã a gente vai resolver isso, entendeu caralho?
-Aham. -O ruivo bocejou sem preocupações, virando-se para o lado da parede, de costas para todos
nós. -Boa noite pra vocês.
-Boa noite. -Eu e Naruto respondemos entre risadas.
Quando a cela caiu novamente no silêncio, virei-me de frente para Naruto, encontrando seus dois
olhinhos já fechados. Suspirei apaixonado com aquela cena, beijando-o delicadamente na testa, assistindo
um sorriso pequeno crescer pelos seus lábios.
Sem lhe dizer mais nada, puxei-o pela cintura até mim, afundando meu rosto na pele de seu
pescoço, fechando meus olhos para aproveitar o conforto de seu corpo e o cheiro delicado que ele inalava.
Foi dessa maneira que eu adormeci.

Capítulo 22 - Ele não é tão frágil

Sasuke On

Apesar da quietude em que o ambiente se encontrava, sem nenhum som incômodo ou alastrante que
servisse para interromper o meu sono, eu acabei despertando por conta própria, antes mesmo que a sirene
matinal fosse acionada por toda a penitenciária.
Me remexi sonolentamente em meio aos lençóis da cama, sentindo, mesmo que de olhos fechados,
uma presença a mais sobre o colchão, a qual me transmitiu uma sensação de paz e conforto.
Eu não precisei conferir para saber que, aquele corpo quentinho e delicado entre os meus braços,
pertencia ao de Naruto.
Um sorriso sonolento e involuntário nasceu por meus lábios, me dando o incentivo necessário para ir
de encontro a claridade ao meu redor, abrindo meus olhos bem devagar.
O meu bebê estava mesmo do meu lado.
E não só ao meu lado, como também abraçado comigo.
Com o meu braço direito entorno de sua cintura, o loiro continha seu rosto, como todas as outras
vezes, bem próximo de meu peito, deixando sua figura ainda mais adorável pelo fato de ter a bochecha
espremida por cima do travesseiro, mantendo os lábios em um biquinho pequeno e o rosto vermelhinho por
conta do calor excessivo daquela manhã.
Outro sorriso clareou o meu rosto.
Eu, sinceramente, nunca imaginei que acordaria tão feliz e disposto dentro de uma prisão. Mesmo
atormentado pelos meus crimes e erros do passado, vivendo ao redor de ladroes, golpistas e assassinos,
eu nunca me senti tão livre e vivo.

281
O Naruto é mesmo a minha salvação.
Suspirando em conforto e aprovação, revolvi juntar o meu corpo mais ao seu, me permitindo dormir
um pouco mais antes que a sirene finalmente fosse acionada.
Encaixei meu rosto no topo de sua cabeça, fechando os olhos ao estalar um beijo pequeno e
delicado em seu coro cabeludo, escutando-o soltar sonzinhos manhosos e inconscientes em meio ao seu
sono.
Embora o clima estivesse bem quente e abafado, anunciando a tão esperada chegada do verão, eu
não me importei nenhum pouco em ficar cem por cento colado a si.
Estava bom demais daquele jeito.
Quando pensei que talvez pudesse me entregar novamente ao sono e descansar da maneira que eu
tanto desejava, um barulho repentino e conhecido por mim se fez presente ao redor da cela, anunciando a
chegada de alguém em sua entrada.
Virei meu pescoço de modo desconfiado, deparando-me com a presença de Gaara e Kakashi.
Embora a “dupla” fosse um tanto aleatória em meu ponto de vista, eu decidi esperar que o carcereiro
fechasse a grade para que pudesse “interrogar” o ruivo sobre a sua saída antes do horário.
-Gaara? -Chamei em meio ao silêncio instalado no cômodo, assustando até mesmo a mim pelo tom
grave e rouco de minha voz. Eu tive que tossir para voltar ao normal. -Desculpa, eu não queria te assustar.
O ruivo, que até então mantinha sua mão ao peito, soltou um riso divertido e simpático, sorrindo
sonolento em minha direção.
-Eu esqueci que você estava aí. -Coçou sua nuca. -Bom dia, Sasuke.
-Bom dia. -Respondi meio envergonhado. Era algo bem inusitado partilhar a cela com tanta gente e
ser visto acordando daquele jeito, especialmente por estar dividindo a cama com o Naruto. -O que o
Kakashi queria com você?
-Oh... -Sacudiu a cabeça, optando por utilizar um tom mais baixo, talvez com medo de que os
meninos despertassem. -Ele disse que eu tinha uma ligação da minha irmã. Eu fiquei com medo de ser
coisa séria, mas na verdade, ela me ligou pra contar uma notícia muito boa.
Geralmente, quando pessoas de fora precisavam fazer ligações urgentes e importantes para os
detentos em horários que não são permitidos, é a diretoria quem tem que discutir o motivo e decidir se vai
autorizar ou não.
-A minha irmã está grávida. -Revelou emocionado, sorrindo de orelha a orelha. -Ela só mentiu que
era um assunto urgente pra diretoria poder autorizar a ligação dela. O que aquela idiota queria mesmo era
me assustar e contar a notícia para mim antes de todo mundo.
Foi impossível não sorrir junto com ele.
-Que legal. -Eu tentei exclamar com vontade, mas como o Naruto estava literalmente colado comigo,
foi quase impossível. -Então quer dizer que agora você vai ser tio?
O ruivo assentiu levemente corado, possuindo um sorriso abobado em seus lábios.
-Isso mesmo. -A sua animação era mesmo contagiante. -Eu estou muito contente.
-Que notícia maravilhosa. -Sussurrei sorridente. Por alguma razão, eu fiquei extremamente animado
junto com ele. -E o sexo do neném? Ela já sabe?
-Não, ainda não. -Respondeu agitado. -Mas eu sinto que vai ser uma menina, sabia? Quando ela me
contou, eu fiquei imaginando uma bebezinha.
-Que coisa mais fofa. -Devolvi aos sussurros. Eu nunca tive muito contato com crianças, mas sempre
achei gravidez uma coisa mágica e adorável. -Quando ela descobrir, você—
Eu não pude terminar a minha frase.
O som infernal e irritante da sirene diária interrompeu o meu raciocínio, cortando todo o diálogo entre
nós. Embora aquele barulho ecoasse diversas vezes por dia, eu ainda não havia me acostumado a lidar
com ele.
Me dava muita dor de cabeça.
-Ah, mas que pena... -Gaara murmurou, esboçando uma careta bem sofrida. -Eu queria dormir mais
um pouco.

282
Eu lamentei silenciosamente junto com ele.
Estar com o Naruto naquela posição era maravilhoso demais, mas como tudo o que é bom sempre
dura pouco, todos nós precisaríamos deixar a cela muito em breve e seguirmos com as nossas rotinas.
-Mhmm...
Os mesmos sons manhosos e sonolentos escaparam da boca de Naruto, anunciando que o loiro
despertaria a qualquer instante.
Virei meu pescoço para assisti-ló acordar, sorrindo apaixonado com a imagem de seu rosto se
escondendo ainda mais contra meu peito, apertando seus olhinhos por conta da claridade.
-Bebê? -Chamei baixinho, iniciando um carinho sútil no seu cabelo, levando seus fios loirinhos para
trás. Aparentemente, isso só serviu para deixá-lo ainda mais molenga. -Chegou a hora de acordar.
O menor soltou um som de lamentação, seguido de um choro bem forçado e teatral.
Gaara me acompanhou em uma gargalhada, ambos entretidos com a sua figura tão decepcionada e
irritadinha por precisar deixar o conforto de nosso abraço.
-Bom dia. -Fiz pequenas cócegas em sua cintura, deixando-o com um bico ainda mais aparente e
emburrado em seus lábios. Pelo fato de termos dormido muito tarde, não conseguimos ter uma noite de
sono totalmente saudável. -Ei, não faz essa carinha...
Lhe roubei alguns selinhos com a intenção de desperta-ló e espantar sua má vontade e indisposição
naquela manhã.
-H-Hm... Bom dia. -Respondeu por fim.
-Naruto, eu vou ser tio! -Gaara exclamou sem lhe dar muitas justificativas, dando pulos de alegria ao
redor da cela.
-Quê? -O loiro piscou atordoado.
-Isso mesmo que você ouviu! -Bateu palmas animado. Ao mesmo tempo em que comemorava a
notícia, o ruivo retirava seu pijama de frente a nós, disposto a vestir o uniforme de sempre. -Podem começar
a me chamar de titio Gaara.
Ri divertido com tamanha alegria vinda de si, utilizando-a como um incentivo para que eu me
levantasse também. Mesmo que com muito esforço, larguei do corpo de Naruto por alguns instante, dando
um último beijo no topo de sua cabeça antes de me levantar.
O menor ficou a resmungar um pouco de meu afastamento, mas compreendeu que precisávamos
nos arrumar o quanto antes, até porque, em pouco tempo os carcereiros viriam nos cobrar.
-Pera... -Naruto esboçou uma expressão distante, sentando-se em pernas de índio no colchão, antes
mesmo de coçar os seus olhinhos pelo sono. -Sua irmã está grávida?
Aquela pergunta era bem óbvia.
-Sim! -Gritou sorridente. O Gaara estava tão agitado que, sinceramente, eu não sabia como o
Deidara ainda não havia acordado no beliche de cima. Na verdade, nem mesmo o chamado da sirene foi o
bastante para desperta-ló. -Eu vou ter uma sobrinha ou sobrinho!
O mais novo sorriu amoroso.
-Que máximo! -Aquela notícia também fez com que Naruto se levantasse da cama, o incentivando,
assim eu, a iniciar o seu dia. -Quando vai dar pra saber o sexo do bebê?
-Ah, isso eu não sei. Eu não entendo dessas coisas, franguinho. -Riu sem graça. Ao terminar de
vestir o restante do seu uniforme em silêncio, Gaara se animou novamente. -Eu vou contar pro Dei!
Pela expressão facial de Naruto, ele não pareceu aprovar muito aquela ideia.
-V-Você vai acordar ele? -Indagou preocupado. -Acorda ele com cuidado, Gaara. Da última vez o Dei
não gostou nenhum pouco disso, lembra?
-Eu sei, eu sei! -Respondeu afobado, sem dar muita importância para o seu aviso.
O ruivo deu uma pequena corrida para perto do beliche, tomando a arriscada iniciativa de subir pela
escadinha do mesmo, parando no último degrau para ficar o mais próximo possível de companheiro.

283
Deidara, ainda adormecido, permanecia com seu rosto soterrado contra o travesseiro, além de
possuir seus fios loiros e compridos espalhadas pela cama, deixando-o numa posição engraçada e
desarrumada.
Pelo fato de estar de bruços, seu ronco era abafado no colchão, mas mesmo que baixinho, era
possível ser escutado por nós do lado de fora.
-A-Acorda ele com delicadeza. -Naruto reforçou ao meu lado. -Eu não quero que ele acorde de
mau-humor.
-Deixa comigo. -Murmurou determinado. Com um sorriso travesso, Gaara acariciou o cabelo alheio,
levando parte de sua franja para trás, revelando-nos a face adormecida e serena do loiro. -Ei, Deidara?
Ele não teve nenhuma reação.
-Deidara...? -Sussurrou delicadamente, apoiando seu queixo por cima do colchão. Era mesmo de se
impressionar o modo como o Deidara tinha o sono pesado. No meu caso, sempre bastou que fizessem o
mínimo de barulho para que eu acordasse. -Você está acordado? Dei?
O mais velho nem sequer se mexia.
-Sua cozinha está pegando fogo! Acorda, pelo amor de Deus, Deidara! -O ruivo gritou de modo
inesperado e escandaloso, dando um susto não só em sua vítima, como também em mim e no Naruto.
Com um sobressalto assustado, o loiro chutou suas cobertas para fora do beliche, levantando-se
violentamente e atordoado, olhando ao seu redor com um semblante apavorado e os cabelos absurdamente
zoneados.
Seus olhos, arregalados e avermelhados, penetraram em cada rosto presente na cela, parando
especificamente no de Gaara, o qual abraçava sua própria barriga, enquanto gargalhava da situação que
ele mesmo criou.
Eu acho que nunca me segurei tanto para não rir. Permanecer neutro e imóvel diante daquela cena
foi uma das coisas mais difíceis que eu fiz em toda a minha vida, mas é claro, eu tive que fazer um esforço
por respeito ao Deidara.
Naruto, por outro lado, tapava sua própria boca em um sinal de choque, imaginando os mais diversos
tipos de reações que o mais velho poderia ter diante do que acabara de acontecer.
-Bom dia, Dei! -Gaara cumprimentou alegremente, voltando ao chão antes que o outro pudesse
reagir agressivamente para cima de si. -Eu vou ser titio! Minha irmã está grávida!
Caímos em um silêncio curto e penetrante.
-Vai se foder, sua praga! -Um murro duro e violento foi desferido por cima do travesseiro, levantando
algumas penas presentes no mesmo. -Eu vou te matar!
O loiro exalava a ódio.
Seus olhos vermelhos pelo sono, juntamente com o seu cabelo enosado e desgrenhado, o deixava
com uma aparência realmente intimidadora, quase como se estivesse possuído por alguma coisa.
Até mesmo eu havia ficado com um certo receio do que vi, tanto que acabei por retribuir ao pequeno
abraçado de Naruto, o qual segurava em meu braço medrosamente.
-Calma! -O ruivo foi andando para trás, ao mesmo tempo em que o mais velho descia pelo beliche,
caminhando em passos curtos e sombrios atrás de si. -Você não está feliz por mim?!
O travesseiro foi arremessado em seu rosto.
-Vocês são todos uns filhos da puta! -Xingou aos berros, acabado por incluir eu e o Naruto na
conversa, mesmo que não tivéssemos nada a ver com isso. -É um que me acorda pra falar que vai ser tio, o
outro que me acorda por causa de pesadelos, agora só falta o Sasuke me acordar pra contar que fez xixi na
cama, porra!
Ficamos os três em silêncio, trocando olhares risonhos, mas assustados. Até a pessoa mais corajosa
do mundo pensaria duas vezes antes de enfrentar o Deidara naquele estado.
-Nossa, Dei... -Gaara se fez de coitado, segurando entre o peito o travesseiro que fora atirado em
seu rosto. -Me desculpa, tá bom? Eu só te acordei porque pensei que você ficaria feliz pela notícia, mas
pelo jeito eu estava enganado.
-Me acordasse de outro jeito, caralho! -Seus gritos de avultavam em meio ao corredor do bloco,
atraindo a atenção de alguns detentos desocupados e curiosos. -Nunca mais faça isso! Entendeu?!

284
-Entendi. -Resmungou emburrado, atirando o travesseiro de volta para si. -Pode deixar que eu nunca
mais vou te contar nada. Só o Naruto e o Sasuke merecem a minha amizade, você não.
Deidara grunhiu em irritação.
-Parabéns pra você, caralho! -Começou a bater palmas ironicamente. -Felicidades pra sua irmã
também. Feliz agora?!
O ruivo foi deixando sua carranca de lado, sorrindo aos poucos por ter conseguido o que tanto
queria.
-Obrigado! -Exclamou alegremente, agindo como se ambos não estivessem quase se matando a
segundos atrás. -Pronto, era só isso que eu queira te contar mesmo.
O mais velho revirou os olhos.
-Bom dia, meninos.
Uma voz diferente invadiu nossa conversa.
Não foi necessário nos virarmos para sabermos que, aquele tom grave e sereno, pertencia ao Obito.
Apoiado com os braços sobre a grade, o carcereiro carregava em mãos uma espécie de molho de
chaves, olhando para a cena em sua frente com o cenho franzido.
Eu não havia chegado a informa-ló que passaria a noite na cela de Naruto com o resto dos meninos.
Para ele, estava sendo uma surpresa ver-me dividir o mesmo ambiente com os outros dois.
-Bom dia. -Respondi por todos, aproximando-me curiosamente de si. Eu estava esperançoso de que
ele pudesse ter alguma informação sobre o estado e paradeiro de meu irmão. -Por acaso você tem notícias
do Itachi?
Ele negou com a cabeça.
-Nada.
Meus ombros se encolheram.
-Porra, como assim “nada”? -Deidara indagou atrás de mim. Pelo barulho que vinha de si, deduzi que
ele estivesse ascendendo um cigarro e levando aos lábios. -Você não sabe nem se ele chegou vivo?
-Isso eu sei, Deidara. -Respondeu com tédio. -O Itachi chegou bem no hospital, se é isso que vocês
querem saber.
Eu suspirei aliviado.
Aquela informação nem era tão grande e importante, mas do mesmo jeito, eu fiquei contente em
saber que meu irmão não teve nenhum tipo de complicação a caminho do hospital.
-Terminem de se trocar. -O moreno acrescentou pacificamente. -Hoje o dia está muito bonito. Se eu
fosse vocês, iria até o pátio aberto para tomar um pouco de sol.
Senti Naruto e Gaara se animaram.
-Finalmente chegou o verão! -O meu bebê exclamou com um sorriso adorável.
Eu nem gostava tanto assim de climas mais quentes e abafados, mas só pelo fato de vê-lo contente
com esse pequeno detalhe, eu automaticamente o acompanhei em um sorriso largo.
-Bem que podia ter uma piscina lá no pátio, né? -O ruivo inquiriu distraído. -Eu ia adorar.
-Sim! Seria muito legal! -Naruto concordou com toda a sua inocência, sorrindo distante ao pensar
nessa possibilidade.
Deidara fingiu um vômito.
-Que maravilha! Uma piscina dentro da penitenciária! -Tirou sarro da situação, fingindo bater palmas.
-Seria ótimo para pegar todo e qualquer tipo de doença existente! Sífilis, gonorreia, aids, herpes e clamídia!
O ruivo fez uma careta de nojo, enquanto Naruto encolhia-se com o comentário.
-Ah! Fora os assédios, né? -Riu com desdém, gostando de acabar com todas as expectativas dos
meninos. -No primeiro mergulho vocês iam levar umas cinquenta passadas de mão na bunda.
-Isso não faz nem sentido, Deidara. -O carcereiro rebateu, intrometendo-se na conversa mesmo sem
ter sido chamado. -Essas são doenças sexualmente transmissíveis, elas não se pegam nadando em uma
piscina.

285
O loiro o fitou com irritação.
-Eu sei disso, idiota! -Estalou a língua. -Foi só jeito de dizer!
-‘Tá, tanto faz. -Deu de ombros, destrancando a cela com o seu mesmo semblante neutral.
-Coloquem o uniforme e já podem sair.
A conversa terminou por ali.
Nós acabamos seguindo com as ordens dadas pelo carcereiro. Como Gaara era o único
devidamente vestido entre nós, ele decidiu esperar do lado de fora, dando espaço para que pudéssemos
fazer o mesmo.
Pelo fato de estar muito calor, decidi que permaneceria sem a minha blusa, sentindo uma preguiça
absurda de ir até o bloco 5 para buscar o meu uniforme. Naruto, por sua vez, apenas trocou a sua regata do
pijama, calçando seus sapatos juntamente comigo e Deidara.
Quando terminamos de nos trocar, saímos de encontro ao ruivo, indo em direção ao corredor vazio
do bloco 4. Agindo de modo automático, o meu bebê logo estava grudado ao meu braço, abraçando-me de
ladinho como sempre costumávamos fazer.
Sorri carinhosamente para si, aproveitando para lhe dar um beijo estalado no topo da cabeça, o lugar
que eu geralmente alcançava quando estávamos caminhando lado a lado.
O trajeto até o pátio aberto foi rápido e silencioso, visto que estavam todos claramente ansiosos para
sentirem em suas peles o clima quente do verão e contemplarem o cel azulado.
Ao chegarmos no local desejado, foi impossível não se surpreender com a quantidade absurda de
detentos que circulavam o ambiente. O número de pessoas era bem maior do que geralmente veríamos em
dias mais frios e chuvosos.
A única coisa boa foi que eu não era a única pessoa sem a minha camiseta.
Diversos presidiários andavam pelo local com seus troncos expostos, alguns fazendo exercícios,
conversando entre si, tomando sol, enquanto outros “brincavam” com as bolas que os carcereiros
disponibilizavam de vez em quando.
Fazia muito tempo que eu não via os presos tão contentes. O fato de vê-los praticarem esportes
também era, de certa forma, algo animador. Desde o jogo de basquete em que Naruto levou uma bolada de
Itachi, a diretoria havia proibido os esportes por conta do estado em que o loiro ficou.
Mas, aparentemente, as coisas tinham mudado por ali.
-...Ei, vocês aí?! -Aquela voz distante e agitada pertencia a Suigetsu.
Os meninos, surpreendentemente, eram o grupo que estavam com uma das bolas em mãos. Pelo
fato de ter poucos “equipamentos” de esporte dentro da prisão, os detentos precisavam ficar revezando
entre si.
Aquela era a vez do grupo deles utilizarem.
-Querem jogar com a gente? -Perguntou sorridente, chamando-nos com a mão para que nos
aproximássemos.
Todos os meninos, sem exceção, estavam sem as suas camisetas. Seus troncos estavam suados,
assim como suas testas e peitorais. O calor era realmente penetrante e incômodo por baixo daquele sol da
manhã.
-O que vocês estão jogando? -Gaara indagou curioso. Notei que Deidara também tomou a iniciativa
de arrancar a sua blusa, resmungando sozinho sobre aquele clima infernal. Assim como eu, o loiro preferia
temperaturas mais frias. -Isso aí é uma bola de vôlei?
-Sim, eles proibiram as bolas mais pesadas. -Kiba foi quem respondeu. -Nós estávamos começando
a jogar queimada. Querem entrar também?
-Eu quero. -O ruivo sorriu pequeno com a ideia. Era muito bom quando participávamos de atividades
diferenciadas ali dentro. -Vocês são bem agressivos, mas é bem melhor do que morrer de tédio.
Eles riram em conjunto.
-Você vem, Deidara? -Neji girou a bola em seu dedo indicador, lhe lançando um sorriso desafiador.
-Tsc, pode ser. -Deu de ombros, aproximando-se da rodinha.
Só eu e o Naruto ficamos para trás.

286
-E vocês, meninos? -Gaara chamou por nós, sorrindo em expectativa. -Vão jogar também?
Eu queria muito participar.
Na época em que eu andava com o grupo do Itachi, passávamos quase o dia todo jogando basquete
e treinado no pátio aberto. Eu estava morrendo de vontade de relembrar como era praticar esportes em
grupo.
No entanto, eu estava com medo pelo Naruto.
Talvez eu pudesse estar soando chato ou até mesmo super-protetor demais, mas a ideia de ter o
meu bebê incluso em meio a um jogo de queimada com criminosos que provavelmente não mediriam
esforços para serem o mais violentos possíveis, não me agradava nenhum pouco.
Acho que, depois do acidente que Naruto sofreu no jogo de basquete, eu venho me preocupando
ainda mais em tê-lo participando de atividades dentro da penitenciária.
Eu não queria que ele se machucasse e novo.
-Você vai jogar, Sasuke? -A voz doce e meiga do loiro quebrou o meu transe. Seus olhinhos pisavam
inocentemente para mim, nem sequer imaginando o conflito interno pelo qual eu estava passando. -Ou você
prefere fazer outra coisa?
Sorri carinhoso em sua direção.
-Você quer jogar, bebê? -Devolvi o questionamento. É claro que, se ele quisesse mesmo jogar, eu
não o pararia. No entanto, isso não me impediria de ficar tomando conta de si e o protegendo. -Você decide.
-Eu quero. -Deu pulinhos animados. -Vai ser legal!
Essa não era a resposta que eu esperava.
-Tudo bem. -Concordei com uma risada fraca, olhando em direção ao resto dos meninos, os quais
aguardavam por nossa resposta final. -Vamos jogar, então.
Todos comemoraram em resposta.
-Ótimo! Então vamos chamar mais pessoas. Tem que ter mais gente pro jogo ficar divertido. -Kiba
olhava ao seu redor, procurando por mais participantes. -Ei, vocês aí?
Um grupo aleatório de seis detentos, os quais encontravam-se sentados nos bancos a tomarem sol,
rapidamente olharam em sua direção, franzindo o cenho com o chamado repentino.
-Querem jogar queimada? -Inquiriu esperançoso.
Eles concordaram de imediato.
Apesar de ser realmente mais divertido com bastante pessoas incluídas no jogo, eu não pude deixar
de me preocupar ainda mais em relação ao resultado que isso tudo teria. Eu não conhecia aqueles detentos
e também não fazia ideia de como eles agiriam para cima do Naruto.
Eu faria de tudo para protegê-lo enquanto estivéssemos no mesmo time.
-Sasuke e Naruto? -Neji chamou de repente, jogando a bola em minha direção para que eu a
segurasse no ar. -Vocês dois escolhem os times, pode ser?
Eu também não esperava por isso.
O fato de precisar escolher as equipes juntamente com o Naruto, fez com que eu perdesse todas as
minhas oportunidades de estar no mesmo time que ele para poder lhe proteger caso algo ruim acontecesse.
O loiro ficou super empolgado com a ideia.
-Ah, que legal! -Exclamou com toda a sua inocência. Mais uma vez, ele nem sequer imaginava as
coisas que estavam se passando na minha cabeça. -Vamos ser oponentes, Sasuke!
Forcei um sorriso, tentando camuflar a minha preocupação excessiva em relação a si.
-É mesmo, bebê.
-Tudo bem, quem vai começar escolhendo? -Shikamaru foi quem indagou, aparentando ser um dos
mais ansiosos para iniciar o jogo. -Faz “par ou ímpar” pra decidir.
Me virei de frente para Naruto, detestando interinamente o fato de precisar ficar longe do meu bebê
durante o jogo.
-Par. -Lancei meio sem vontade.

287
-Ímpar. -Respondeu sorridente.
-Par ou ímpar...
Tinham quatro dedos em sua mão, enquanto somente um havia sido levantado por mim. Eram cinco
dedos no total, ou seja, um número ímpar.
O Naruto ganhou.
-Ganhei! -Bateu palminhas.
-Você começa, bebê. -Sorri pequeno para si.
Nos posicionamos ambos lado a lado, mantendo um curto espaço entre nós dois.
-Eu quero o Gaara. -Declarou sem pensar muito. O Naruto estava escolhendo o seu time por pura
afinidade e não de acordo com suas habilidades.
O ruivo, levemente sorridente por ter sido escolhido em primeiro lugar, dirigiu-se saltitante para perto
de seu amigo, dando um pequeno toque de mãos com o mesmo.
-Eu quero o Deidara. -Chamei pelo loiro. Ele rapidamente levantou a cabeça, fitando-me com uma
feição neutral e meio desinteressada.
Por mais que o Deidara fosse alguém agressivo, era bem melhor ter ele no meu time do que qualquer
outra pessoa que com certeza não pensaria duas vezes na hora de machucar o meu bebê.
O engraçado era que eu estava montando o meu time pensando no bem estar do Naruto e não em
realmente ganhar o jogo.
-H-Hm... -O menor fez um barulho pensativo, enquanto o ruivo lhe aconselhava ao seu lado, dando
diversas sugestões de nomes. -Neji, você é do meu time.
-Então eu quero o Kiba. -Falei rapidamente.
Esperamos até que os dois chegassem perto de seus devidos grupos para continuarmos.
-Eu fico com o Shikamaru. -Naruto declarou após um tempo, aceitando de bom grado os conselhos
de Gaara e Neji, os quais tagarelavam sem parar em seu ouvido.
-Bom, então o Suigetsu fica comigo. -Declarei meio amargurado. Além de eu não gostar dele,
também tinha o fato de Suigetsu ser um dos mais violentos entre os garotos, fora que ele já havia tentado
machucar o meu bebê. -Eu não sei o nome do resto... Vamos distribuir aleatoriamente, pode ser?
Naruto concordou positivo.
Como não conhecíamos o restante dos detentos que estavam participando, decidimos que três deles
viriam de modo aleatório para o meu grupo, enquanto o resto foi convocado para o time do loiro.
As equipes estavam formadas.
Tirando os nomes que eu não fazia a mais vaga ideia, os times eram: Sasuke, Deidara, Kiba e
Suigetsu VS Naruto, Gaara, Neji e Shikamaru.
Em minha opinião, até que os jogadores estavam bem distribuídos em questão de habilidades, se
bem que ainda me preocupava o modo como tudo aquilo acabaria.
-Vamos ficar cada time de um lado do pátio. -Apesar de não ser o “capitão” do time, era o Deidara
quem comandava o posicionamento do jogo. -Franguinho, a sua equipe fica do lado esquerdo.
-Tudo bem. -Concordou sem protestar.
Ambos as equipes se dirigiram para os lugares indicados, abrindo um espaço considerável em meio
ao pátio aberto, logo atraindo olhares de alguns detentos e carcereiros que circulavam ao nosso redor.
Pelo fato de estarmos com a bola, nós éramos o foco principal de atenção.
-Sasuke, como você está com a bola, o seu grupo vai começar! -Neji gritou do outro lado.
O seu time já estava bem distribuído e posicionado no meio do “campo”, cada um parado em um
canto específico do mesmo.
Para meu desespero, o Naruto estava bem no centro de tudo, ou seja, na mira de todos.
-Tudo bem. -Engoli em seco.

288
Obviamente, eu usaria o fato de estar com a bola ao meu favor. Mesmo que o meu bebê estivesse
literalmente de frente para mim, sendo uma “presa” fácil diante de meus olhos, eu decidi que miraria em
outra pessoa.
O jogo começou comigo.
Utilizando toda a minha força e esforço, atirei a bola aleatoriamente em direção à Shikamaru, o qual
conseguiu se agachar a tempo, desviando com perfeição e habilidade de meu ataque.
O grupo adversário, por sua vez, revidou com rapidez, mirando especificamente em um dos detentos
aleatórios de meu time. Neji conseguiu queimá-lo de primeira, arrancando grunhidos de frustrações dos
meninos.
-Porra, a gente ficou com os piores! -Suigetsu xingou atrás de mim. -Deixa comigo que eu vou
queimar um deles rapidinho!
Era isso que eu não queria.
Comecei a roer as minhas unhas em pura agonia, acompanhando aflitamente o momento em que
Suigetsu mirou na equipe alheia, atirando a bola em direção ao Naruto.
Para o meu alívio, o loiro não estava tão desligado como sempre ficava e, por sorte, conseguiu se
desviar a tempo, dando um pequeno pulo para o seu lado esquerdo.
Eu sorri com orgulho.
-Assim está muito parado! O jogo vai ficar chato desse jeito! -Deidara reclamou ao meu lado. -Obito,
cadê você, caralho?!
Paramos o jogo com a chegada do carcereiro.
-O que foi, Deidara? -Perguntou com tédio, aproximando-se do campo com o chamado que recebeu.
O moreno carregava duas bolas de vôlei em suas mãos, as quais haviam acabado de serem retiradas da
diretoria. -Qual é o motivo de tanta gritaria dessa vez?
-A gente precisa de mais bolas! -Ele falava por todos nós, apesar de que ninguém havia falado nada.
-Me dá essas na sua mão!
Ele negou com a cabeça.
-Não, vocês já tem uma.
-Porra, por favor! -Implorou com a voz repleta de indignação, sendo acompanhado do restante de
meu time. -Com uma bola só não tem graça, a gente precisa de mais!
Aquela era uma péssima ideia.
-Se eu der as malditas bolas você vai parar de gritar? -Obito indagou cansado.
O loiro sorriu largamente.
-Passa pra cá! -Puxou o conteúdo de sua mão.
Em seguida, Deidara lançou uma das bolas para Kiba, deixando o meu grupo com duas delas,
enquanto o outro permanecia com apenas uma, sendo que a mesma estava nas mãos de Neji.
-Boa, agora vai ficar bem melhor! -Suigetsu riu em aprovação. -Vamos recomeçar!
Eu olhei em direção à Naruto.
Ele estava tão sorridente diante da situação, parecendo aprovar a quantidade de bolas que seriam
acrescentadas em meio ao jogo, bem diferente de mim que, internamente, estava me corroendo com o
medo de alguém machuca-ló fisicamente.
Quando se trata do meu bebê eu sou mesmo bem protetor.
-Já! -O grito de Suigetsu deu início à uma nova partida.
O jogo recomeçou com violência.
As bolas voaram de um lado para o outro, me deixando instantaneamente perdido com tamanha
confusão instalada entre os grupos.
Por eu estar no bem centro do campo, os meninos me consideravam um alvo mais fácil se
comparado aos outros, apesar de que eu estava conseguindo me desviar com bastante destreza, hora me
abaixando e hora pulando para o lado oposto da bola.

289
Os garotos eram realmente bem agressivos.
Em menos de cinco minutos de partida, Suigetsu e Deidara já haviam queimado dois dos presidiários
aleatórios do grupo adversário, fora o Shikamaru que, em um momento qualquer de distração, acabou
levando uma bolada do loiro em seu peito.
O nosso grupo, por outro lado, continuava quase cem por cento intacto, apenas com um detento
faltando, se bem que ele não fazia tanta diferença assim.
Em meio a tanta confusão, eu não havia desistido de buscar pelo Naruto, tanto que deixei meu grupo
na mão, procurando pelo loiro ao redor de toda aquela correria entre os grupos.
A cena que eu vi em minha frente, foi diferente de tudo o que eu imaginava. O Naruto estava
realmente conseguindo se defender sozinho de todas as bolas que eram enviadas em sua direção, embora
não utilizasse-as em nenhum momento para mirar na equipe oposta.
Eu fiquei ainda mais orgulhoso do meu bebê.
-Sasuke, olha a bola, cara!
Eu quase fui atingido.
A bola vinda em minha direção, a qual foi arremessada agressivamente por Gaara, por pouco não me
atingiu em cheio no rosto. A sorte foi que eu consegui me agachar a tempo, mas nem me toquei de que
alguém estaria logo atrás de mim para recebê-la.
Foi o Deidara quem foi atingido.
Me virei meio atordoado e assustado com a situação, tanto pelo susto que eu tomei, quando pelo
barulho do baque na pele alheia.
O loiro havia recebido a bolada em seu nariz.
-Você ‘tá bem? -Perguntei preocupado, observando-o tapar a própria face e fechar os seus olhos pela
dor.
-Sim. -Respondeu seco, me dando a visão perfeita de seu nariz levemente ensanguentado. -Eu fui
queimo, agora só sobrou vocês dois.
Eu olhei ao meu redor.
Foi só então que eu reparei na quantidade de jogadores que haviam sobrado em meu time. Sem ser
eu, apenas Kiba havia restado juntamente comigo, enquanto o outro time, surpreendente, continuava com
três pessoas.
O Naruto era uma delas.
-Vamos continuar, Sasuke. -Kiba me incentivou, atirando uma das bolas em minha direção. -Acho
que dá pra gente ganhar!
A equipe adversária estava composta apenas por Naruto, Gaara e mais um detento, o qual eu ainda
não sabia identificar pelo nome. Era somente uma pessoa a mais.
Contudo, eu não pretendia subestima-lós.
Nós iríamos levar a partida até o fim, por mais que estivéssemos em desvantagem. Do outro lado,
Gaara deu início a mais uma rodada, atirando a bola certeiramente na nossa direção, mas não obtendo
sucesso quando ambos conseguimos desviar.
Kiba, por sua vez, copiou os mesmos movimentos o ruivo, mirando em direção ao grupo oposto, mas
mais especificamente em direção ao Naruto, o qual, para a minha alegria, conseguiu agarrar a bola no ar.
-Boa, franguinho! -O ruivo comemorou, deixando-o corado e surpreso consigo mesmo pelo o que
acabara de fazer. -Você é muito bom nesse jogo!
Pelo fato de Kiba ter sido queimo pelo loiro, eu estava oficialmente sozinho.
Troquei alguns olhares rápidos com o time adversário, não conseguindo deixar de sorrir em direção à
Naruto, embora não estivesse gostando nenhum pouco de precisar levar a minha equipe inteira nas costas.
As duas bolas estavam comigo.
Eu tinha duas chances de acertar os meninos, caso contrário, ficaria em muita desvantagem. Por
mais que não quisesse queimar o meu bebê, eu precisaria pelo menos tentar “vingar” o meu time.

290
Sendo o menos agressivo possível, tive que pensar duas vezes antes de mirar a bola em direção ao
loiro, aproveitando que o mesmo encontrava-se perfeitamente em minha linha de visão.
Eu não consegui acerta-ló.
Embora a bola não tivesse encostado diretamente em sua pele, algo ainda pior aconteceu em meu
ponto de vista. O Naruto acabou por se desequilibrar ao tentar se defender de mim, tropeçando nos próprios
pés e caindo dolorosamente de bunda na chão.
Um gemido dolorido escapou de seus lábios, me deixando automaticamente arrependido por tê-lo
machucado daquele jeito, mesmo que não houvesse sido proposital.
Eu me aproximei sem pensar duas vezes.
-Naruto? -Chamei preocupado.
O jogo já não me importava mais.
Cruzei o campo sem dar satisfações ao meu time, escutando os xingamentos agressivos de Deidara,
o qual gritava coisas como: “otario”, “morfético” e “animal”, enquanto o restante dos garotos me repreendiam
por estar deixando a partida para prestar socorro ao adversário.
Ao chegar próximo do limite, pensando que talvez pudesse ajudar o Naruto a se levantar, eu fui
novamente surpreendido por si, recebendo uma bolada inesperada em minha coxa.
O meu bebê havia me queimado.
-E-Eba, a gente ganhou! -Comemorou com as bochechas coradas, sendo acompanhado pelo
restante de seu time, todos tão chocados quanto eu pelo fato de terem ganhado. -Eu queimei você, Sasuke!
Pisquei meus olhos de modo confuso.
Em meio aos gritos comemorativos do grupo adversário, fiquei a refletir silenciosamente sobre o tudo
que aconteceu nos últimos minutos. Durante todo o jogo, eu fiquei com medo de machucar o Naruto ou
vê-lo ser ferido pelos outros meninos, mas não imaginava que ele fosse ser tão bom ao ponto de se
aproveitar de um momento de “fraqueza” meu para me queimar.
Foi então que eu percebi. O meu bebê não é tão frágil quanto eu pensava.
-Sasuke?!
Fui atraído pela cena de Naruto correndo para mim, carregando um sorriso adorável e iluminado por
todo o seu rosto. Tudo o que eu precisei foi abrir os meus braços, recebendo-o de bom grado contra o meu
peito.
-D-Desculpa, eu não queria ter te queimado. -Fez um biquinho choroso, beijando meu peitoral como
uma espécie de pedido de desculpas. -Depois eu me arrependi muito.
Eu sorri com carinho.
Apesar de eu sempre estar tentando protegê-ló de tudo, o Naruto também possuía muito afeto e
cuidado comigo. Ele nunca quis me queimar, assim como eu não também queria ter ficado no time
adversário ao seu.
-Não tem problema nenhum. -Beijei sua cabeça. -Você é muito bom naquele jogo, Naruto.
-M-Mesmo?
-Aham. -Sorri com orgulho, levantando seu queixo para mim. -Você era, de longe, o melhor jogador
do seu time.
Ele sorriu timidamente.
-H-Hm... Obrigado, Sasuke.
-Você se machucou? -Trouxe suas mãozinhas para frente de nossos corpos. Virei sua palma para
cima, me deparando com um pequeno corte em sua pele, o qual surgiu por conta de seu tombo. -Está
doente muito?
-Nenhum pouco. -Riu baixinho. -A única coisa que está me incomodando é o meu suor.
Acompanhei o momento exato em que o loiro levantou os próprios braços, cheirando suas axilas com
uma careta pequena. Pelo fato de ser um dos únicos a ter ficado com sua camiseta, o Naruto também foi
um dos que mais suou.

291
-Quer tomar um banho, bebê? -Ofereci com um sorriso. Tudo o que ele desejasse, eu faria o que
estivesse ao meu alcance para atende-ló. -A gente pode ir agora, não tem problema.
-A-Ah... -Ele riu sem graça. -Se não tiver problema, eu quero sim.
Aquele nem era o horário do meu banho, mas mesmo assim, eu faria um esforço para conseguir um
espacinho de tempo para que o meu bebê pudesse se lavar com calma e cuidado.
-Vamos, então? -Ergui meu braço para si.
-U-Uhum.
No segundo seguinte, estávamos ambos caminhando lado a lado e, como o habitual, com o Naruto
agarrado no meu braço direito.
Nos despedimos de modo breve do restante dos garotos, seguindo em direção ao banheiro da
penitenciária, o qual provavelmente estaria sendo ocupado pelo bloco 2.
Por ser perto do pátio, demoramos menos de um minuto para alcançarmos nosso destino, parando
em frente à porta aberta do mesmo.
O loiro ficou um tanto inseguro pelo fato de terem outros detentos na parte de dentro, já eu, estava
pronto para expulsa-lós o quanto antes.
-Ei, vocês? -Chamei autoritário.
Haviam sete presidiários terminando de se trocarem, mas da mesma forma, todos eles pareceram se
intimidar com a minha chegada.
-É a minha vez de usar o banheiro. -Tentei soar o menos rude possível, especialmente por ter o
Naruto do meu lado. -Saiam, por favor.
Ninguém protestou contra mim.
Foi realmente impressionante a rapidez com que os detentos terminaram de se trocar, deixando o
sanitário numa velocidade exagerada e passando ao meu lado com a cabeça baixa.
Quando o último homem saiu, eu me virei em direção ao menor.
-Pronto, bebê. -Sorri levemente. -Pode tomar o seu banho agora, eu fico te esperando do lado de
fora, está bem?
Ele assentiu tímido.
-M-Muito obrigado, Sasuke.
-Não tem de quê. -Lhe lancei uma piscadela.
Na intenção de deixá-lo mais confortável, sai novamente para o corredor, fechando a porta para que
nenhum detento que passasse por ali pudesse vê-lo se duchar.
Fiquei parado de frente ao sanitário, servindo como uma espécie de segurança para si, observando a
movimentação ao meu redor com os braços cruzados e olhar afiado.
Nem havia tanta gente circulando aquela área, mas mesmo assim, era bom ficar de olho. Pelo o que
me parecia, ninguém se atrevia a chegar perto do banheiro, todos já cientes de que Naruto estava na parte
de dentro e que também pertencia a mim.
Em um momento qualquer, até mesmo o Orochimaru passou de frente à porta, mas, talvez por conta
de minha determinação em cuidar de Naruto e a mirava repleta de ódio que lhe enviei, o mais velho acabou
nem se dando o trabalho de vir falar comigo.
E assim eu fiquei pelos próximos minutos.
Assistindo a correria ao meu redor, enquanto aguardava pacientemente pela saída do loiro. Eu sabia
que o Naruto não era lá dessas pessoas que tomavam banho rápido, mas daquela vez, ele estava
demorando mais do que o normal.
Sentindo-me curioso e preocupado em relação a sua demora, encostei meu ouvido sobre a madeira
da porta, escutando somente alguns ruídos indicando que o chuveiro continuava aberto e jorrando água.
Tentei captar mais algum som, já começando a criar diversas paranóias em minha cabeça,
imaginando que aquele silêncio se dava pelo fato de que Naruto havia caído e batido a cabeça no chão.
Na afobação do momento, sendo totalmente consumido pelos meus pensamentos negativos,
encostei-me mais do que o necessário sobre a porta, acabando por abrir uma pequena fresta na mesma.

292
Eu sabia que não deveria espiar a parte de dentro e que o certo a se fazer era dá-lo privacidade. No
entanto, a minha preocupação e super-proteção em relação a si, mais uma vez, falou mais alto.
Eu espiei pela fresta.
A boa notícia era que ele estava bem.
Contudo, as minhas reações diante do que vi em minha frente, não foram nada bonitas e sutis.
Seu corpinho, úmido, magro e exposto, foi a primeira cena que eu me deparei. Com os meus lábios
entreabertos em admiração, eu observei atentamente as incontáveis gotículas de água que escorriam
artisticamente pelo seu rosto, peitoral, coxas e bunda.
Seus dois olhos mantinham-se fechados, desfrutando da água morna que batia em sua pele macia e
bronzeada, ao mesmo tempo em que esfregava seus bracinhos com a esponja na intenção de ensaboar-se.
Eu estava completamente hipnotizado.
De qualquer forma, eu sabia o quanto aquilo era errado, e a última coisa que eu queira era ser
desrespeitoso com o meu bebê. Por essa razão, chacoalhei a minha cabeça em descrença, desviando o
olhar diretamente para o chão, mordendo meu lábio inferior em agonia.
Eu estava duro.
Meu membro se apertava dolorosamente por dentro de minha calça, enquanto a mesma imagem se
repetia incansavelmente na minha cabeça. O Naruto era tão lindo. Cada mínimo detalhe de seu corpinho
delicado me deixava maluco e sedento pelos seus beijos e toques.
-Meu Deus... -Murmurei desacreditado, esfregando meu próprio rosto para espantar tantos
pensamentos sujos e eróticos.
Me sentindo estranhamente ofegante com aquela situação, encostei-me novamente sobre a porta
atrás de mim, jogando todo o meu peso para cima da mesma.
O que eu não contava, era que a porta se abriria com o baque de meu corpo.
Suspirei assustado ao cambalear para trás, perdendo o equilíbrio de minhas pernas ao adentrar o
banheiro sem a minha intenção, quase não conseguindo me manter de pé pelo susto gigantesco que tomei.
Eu realmente não esperava por isso.
Sem saber ao certo como reagir pelo o que eu mesmo causei, me virei atordoado em direção ao
Naruto, pronto para pedi-ló milhões de desculpas pela invasão de privacidade e implorar pelo seu perdão.
Felizmente, ou não, o loiro havia sido ligeiro na hora de cobrir o seu corpo com a tolha, amarrando-a
habilidosamente na altura de sua cintura. Seus olhos estavam levemente arregalados, enquanto suas
bochechas beiravam a vermelhidão, assimilando silenciosamente o acidente causado por mim.
-Naruto... -Chamei meio atrapalhado, recompondo meu fôlego e equilibro. -Me desculpa. Foi sem
querer, eu juro.
Ele entreabriu os lábios sem saber o que dizer.
-Calma, eu vou fechar a porta. -Declarei afobado, não pensando muito em minhas ações na hora de
empurrar a maçaneta pelo lado de dentro, imaginando que Naruto estivesse desconfortável e se sentindo
invadido. -Pronto, ninguém viu nada.
Sua risada tímida e baixinho me deixou um pouco mais aliviado.
-Q-Que susto você me deu, Sasuke. -Notei ele amarrar a toalha mais contra a sua cintura, corando
levemente por isso. -Eu achei que fosse outra pessoa.
-Desculpa. -Pedi mais uma vez. Eu estava fazendo um esforço gigantesco para manter meus olhos
presos aos seus e não desce-los para o resto de seu corpinho. -Você quer que eu te espere lá fora?
Caímos em um silêncio estranho.
O Naruto, assim como eu, dava o seu melhor para manter-se conectado aos meus olhos, apesar de
que, pelo fato de eu ser uma pessoa bem atenta e observadora, pude nota-ló secar todo o meu corpo,
parando especificamente em meu membro.
Ele havia notado que eu estava excitado.
Seu rosto se tornou um verdadeiro tomate.

293
-Bebê? -Chamei enrouquecido. Suas reações me deixaram um pouco preocupado, mas ao mesmo
tempo, me faziam ficar embriagado com o momento quente instalado entre nós. -Ei, você está bem?
O loiro assentiu atordoado.
-Tem certeza? -Dei um passo em sua direção.
Eu confesso que estava me aproveitando da situação para poder ficar um pouquinho mais pertinho
dele. É claro que eu só prosseguiria com as minhas ações se ele autorizasse e se sentisse confortável.
-U-Uhum. -Suas bochechas estavam inteiramente rubras, deixando-o ainda mais bonito e atraente
diante de meus olhos. -E-Eu estou bem.
Dei mais um passo.
-Não parece. -Parei de frente para si. Foi necessário baixar o meu pescoço para ir de encontro aos
seus olhinhos hipnotizantes e envergonhados. -Ei...
Segurei firmemente em sua cintura por cima daquela toalha, arrancando um ofego surpreso e
baixinho de si. Ainda era de se impressionar o modo como o meu bebê era sensível a qualquer tipo de
toque vindo de mim.
-Eu posso te dar um beijo? -Levantei seu queixo com delicadeza, precisando morder os lábios para
lutar contra a minha vontade de atacar a sua boquinha.
Ele assentiu tímido em resposta.
Para que juntássemos nossos corpos, Naruto ficou na pontinha dos pés para me alcançar, enquanto
eu precisei baixar o meu pescoço, fechando meus olhos instantaneamente com o choque desejoso de
nossas bocas.
Era um beijo mais intenso e profundo.
Talvez pelo fato de nós dois já estarmos excitados, não demorou muito para que nossas línguas
entrassem em contato, roçando-se desesperadamente em uma briga por espaço, causando estalos
molhados e eróticos por todo o sanitário.
Variando um pouco as nossas funções, eu deixei com que o meu bebê fizesse o que bem
entendesse com o nosso beijo, permitindo que sua boquinha macia e rosada chupasse a minha com
vontade, sugando minha língua em movimentos habilidosos e gostosos.
O Naruto sabia mesmo como me deixar louco.
Nosso beijo era molhado e viciante, do tipo que me fazia querer cada vez mais. Eu me derretia
inexplicavelmente a cada mínimo toque seu, além de desfrutar de seus pequenos puxões e carícias que
recebia em meu cabelo, todas bem tímidas e delicadas.
Minhas mãos trabalhavam sem parar em sua cintura, afagando com bastante cuidado e necessidade,
desejando sentir sua pele diretamente em contato com os meu dedos, além de querer seu corpo ainda mais
colado ao meu dentro daquele banheiro vazio.
Eu fiz o que tanto desejava.
Tomado pela excitação do momento, puxei sua cinturinha em minha direção, chocando seu corpo
delicado ao meu, o que, consequentemente, fez com que sua toalha se desamarrasse e deslisasse para
baixo.
Eu abri meus olhos com preocupação.
Embora eu não ligasse nenhum pouco para o fato de tê-lo nu em minha frente, o Naruto talvez
pudesse não aprovar o ponto em que estávamos chegando.
Para a minha surpresa, seus olhos nem sequer se abriram.
O meu bebê estava tão excitado com o nosso beijo, que pouco se importou em ficar sem nenhum
pano cobrindo o seu corpo. Tudo o que o loiro fez, além corar ainda mais com a situação, foi trazer a sua
boquinha de volta para a minha, pedindo em silêncio para que não parássemos de nos beijar.
Isso só serviu para me deixar mais duro.
Saber que o Naruto estava peladinho entre os meus braços e desesperado para que eu lhe desse
mais beijos e carinho me deixou com o corpo completamente afervorado em excitação.
Se ele queria mais contato, então eu também arriscaria na hora de lhe tocar.

294
Deslizando por sua cinturinha acentuada, minhas mãos foram cautelosamente de encontro a pele de
suas nádegas expostas, acariciando-as delicadamente como uma espécie de teste, apenas para conferir se
Naruto aprovaria tal ato.
O menor rapidamente separou nossas bocas.
-Ei... -Retirei minhas duas mãos, olhando para si com certo receio. -Tudo bem? Eu posso te tocar
assim?
Sem conseguir manter seus olhos presos aos meus, apenas um aceno positivo foi o bastante como
resposta.
Eu estava, mais uma vez, emocionado.
Me recordo com clareza de quando o Naruto não permitia que eu o tocasse com intimidade e tinha
medo de muito contato. Era realmente tocante o modo como o meu bebê havia evoluído e estava confiando
em mim.
Eu sorri com os meus próprios pensamentos.
Retornei a juntar as nossas bocas, deslizando minhas mãos de volta para a sua bunda gordinha e
avantajada, apertando aquela carne gostosa com vontade.
Naruto gemeu fino contra minha boca, tendo seu corpo arrepiado a cada toque mais íntimo e firme de
minha parte. Minhas mãos, por outro lado, trabalhavam em suas nádegas, abrindo-as para os lados e
massageando-as habilidosamente até que ele se tremesse entre meus braços.
O nosso beijo estava indo longe demais, pelo menos o bastante para permanecermos no banheiro de
uma prisão.
-Bebê? -Separei nossas bocas. Eu estava tão excitado e tão fora de mim, especialmente por
permanecer com minhas mãos repousadas em seu traseiro, que quase nem consegui formular uma frase.
-Vamos pra minha cela.
Ele corou violentamente.
-Não dá pra ficar aqui desse jeito. -Expliquei com o resto de sanidade que me ainda restava. -Alguém
pode entrar. Coloca o seu uniforme, a gente vai pra cela rapidinho, pode ser?
O menor concordou ainda mais atordoado do que eu, separando-se de meu corpo com as pernas
trêmulas pela excitação. Mesmo que o tocando intimamente a segundos atrás, decidi virar-me de costas
com a intenção dá-lo privacidade para se trocar, mas também para me controlar.
Fazia muito tempo que eu não ficava tão excitado.
-P-Pronto. -Murmurou timidamente.
Eu me virei para si.
Suas mãozinhas estavam entrelaçadas na frente de seu corpo, cobrindo a sua ereção por dentro da
calça de uniforme, a qual estava bastante aparente para mim e para qualquer um que prestasse um
pouquinho mais de atenção em si.
O problema era que eu estava ainda pior.
-Vem, Naruto. -Ergui minha mão para si.
Dessa vez, nós não caminhamos abraçados.
Pelo fato de estarmos muito ansiosos para chegarmos na cela, o loiro apenas entrelaçou sua
mãozinha com a minha, deixando com que eu lhe puxasse para longe dali.
Eu acho que nunca andei tão rápido em toda a minha vida. Na verdade, eu estava quase correndo
junto com o Naruto. O que eu queria era chegar o mais cedo possível naquela cela e fazer o que eu tanto
desejei desde o primeiro dia em que coloquei os meus olhos em si.
-Pronto, bebê. -Declarei ansiosamente, deixando com que ele passasse em minha frente para dentro
da cela.
O corredor, felizmente, estava vazio.
De qualquer forma, eu não poderia arriscar ser visto naquele estado com o Naruto. Por essa razão,
eu bolei um plano rápido e eficaz.
-Joga esse lençol pra mim, Naruto. -Pedi inconscientemente autoritário.

295
Mesmo que de cenho franzido, o loiro me atirou o conteúdo sem pedir justificativas.
Aproximei-me novamente da grade, ficando na posta dos pés ao fazer uma espécie de gambiarra
para prender o cobertor na parede, impedindo a visão de qualquer pessoa que passasse em frente a minha
cela.
Ninguém veria o que estava se passando do lado de dentro.
-Pronto. A gente precisa de privacidade. -Murmurei para mim mesmo, apesar de que o Naruto estava
prestando atenção em tudo. -Deita na cama, bebê.
Ele concordou submissamente.
Ao deitar sua cabeça no travesseiro, me dirigi rapidamente para perto de si, arrancando e chutando
meu tênis de qualquer jeito no caminho. Seu rosto tornou-se rubro quando eu subi por cima de seu corpo na
cama, mas sem soltar o meu peso para não lhe assustar.
Nós nos beijamos novamente.
Foi um beijo desesperado e agitado, com direto a língua, mordidas e até mesmo carícias mais firmes
e assanhadas. Em meio a tanta ousadia entre nós, tomei a liberdade de segurar na barra de sua blusa,
levantando aquela peça com a intenção de arrancá-la.
Ele estava incrivelmente lindo daquele jeito.
Sure bochechas coradas, tronco nu e ereção marcada por baixo de mim, eram somente alguns dos
incontáveis detalhes que me deixavam babando pelo seu corpinho.
Seus olhos, embora tímidos e inocentes, suplicavam desesperadamente por qualquer tipo de atenção
da minha parte, ficando constrangido com os olhares safados e afervorados que eu lhe enviava.
Aquela era a hora da verdade.
-Naruto? -Chamei seriamente, mirando no fundo de suas imensidões azuladas e dóceis. -Você quer
fazer isso?
Eu não precisei explica-ló o que aquilo significava.
-E-Eu quero, Sasuke.
O meu bebê queria fazer amor comigo.
Eu sorri completamente fora de mim.
-Tudo bem. -Acariciei seus risquinhos presentes em suas bochechas. Pelo fato de estar bem colado
a si, eu podia senti-lo tremer por baixo de mim, aparentemente nervoso com essa nova experiência que
enfrentaria. -Ei, fica calmo, sim?
Ele engoliu em seco.
-Sou eu, bebê... Não precisa ter medo de nada. -Sussurrei carinhosamente. -A gente vai
devagarzinho.
Um sorriso tímido cresceu em seus lábios.
-T-Tudo bem... -Assentiu nervoso. -Eu confio em você, Sasuke.
Eu abri um sorriso amoroso.
-Eu vou tirar a sua calça, tudo bem? -Agarrei no elástico da mesma, olhando para si como se
esperasse por uma confirmação.
-U-Uhum.
Desci sua calça com toda a minha delicadeza, não me esquecendo durante nenhum segundo de que
o Naruto era virgem. Eu precisaria ter o dobro de cuidado consigo, caso contrário, poderia assusta-ló ou lhe
machucar.
Pelo o que eu saiba, acho que nunca cheguei a tirar a virgindade de alguém, então, de certa forma,
isso também estaria sendo inédito para mim.
Quando arranquei seu uniforme fora, não pude deixar de notar que o loiro já se encontrava sem a
cueca, provavelmente por ter esquecido de vesti-la em nossa afobação de deixar o banheiro às pressas.
De qualquer forma, isso facilitou um pouco as coisas para mim.

296
Sem desviar meus olhos dos seus, levei dois de meus dedos a boca, chupando-os de modo lento e
obsceno, dando o meu melhor para deixando-los bem molhados e lubrificados.
Em seguida, deslizei minha mão para a área mais baixa de seu corpo, tocando brevemente na altura
de suas nádegas, fazendo tudo isso nem deixar de mira-ló, sempre carregando tranquilidade e paciência.
Eu queria transmiti-lo a ideia de que faria tudo no seu tempo e sem pressa alguma.
-Agora eu vou te preparar, bebê. -Informei delicadamente. Não era um costume meu falar durante
uma transa, mas com o Naruto, era completamente diferente. Eu queria deixá-lo a par de tudo. -Relaxa,
sim?
Recebi um aceno positivo.
Mordi meu lábio inferior, penetrando somente a ponta de meu dedo na sua entradinha, sentindo meu
membro se endurecer ainda mais ao vê-lo corar violentamente com a situação, soltando um ofego baixinho
com os seus olhos presos nos meus.
Fui enfiando meu dedo aos pouquinhos, não conseguindo deixar de apreciar cada mínima reação
sua, aproveitando que estava por cima de seu corpinho para monitora-ló caso ele sentisse alguma dor ou
desconforto.
Fiz movimentos lentos de vai e vem, alargando aos poucos aquele buraquinho apertado, tendo a
visão privilegiada de seu rostinho se afundando timidamente contra o travesseiro, gemendo baixinho a cada
cutucada que meu dedo lhe proporcionava em seu interior.
O Naruto já estava tão sensível.
Foi necessário que eu fizesse o mínimo para deixá-lo com as pernas trêmulas, abrindo-as
involuntariamente em um sinal de aprovação e necessidade por mais contato.
Eu passei para o segundo dedo.
Penetrei bem devagarzinho, arrancando um gemido mais fininho e dolorido seu, apesar de ter uma
mistura prazeirosa no meio, mostrando-me que o mesmo estaria lutando para se acostumar com a
sensação.
Eu nem conseguia imaginar em como ele ficaria com o meu pau dentro se si.
-Isso, já vai passar... -Sussurrei cuidadosamente, tesourando o seu interior de modo ritmado,
procurando ser o mais delicado possível para que o meu bebê não sentisse tanta dor. -Prontinho.
Ele já estava preparado.
Retirei meus dedos lentamente de sua entrada, escutando-o gemer em um leve tom de frustração, o
que, estranhamente, me deixou ainda mais quente.
Sentindo-me ansioso para que nos relacionássemos, me ajoelhei habilidosamente em sua frente,
apenas para que pudesse retirar a meu uniforme e libertar o meu membro endurecido e dolorido.
Com a pressa excessiva que sentia, acabei por levar a minha cueca juntamente com a calça, quase
gemendo em alívio por finalmente me libertar daquele tecido apertado e agarrado.
As reações de Naruto me deixavam maluco.
Seu olhar adorável e inocente, mesmo que diante de um momento tão íntimo como aquele, caia
timidamente sobre o meu corpo nu, observando-me pela primeira vez sem roupa alguma em sua frente.
Estávamos ambos expostos um para o outro.
-Ei... -Retornei a mesma posição em que estávamos anteriormente, com o meu peito erguido por
cima do seu. Nossas respirações se mesclavam perfeitamente, a minha distensa e pacífica, enquanto a sua
beirava a ansiedade. -Tudo bem? Você está confortável?
-U-Uhum...
-Fica tranquilo. -Retirei alguns fios loiros de sua testa, sorrindo carinhosamente. Eu nunca, em toda a
minha vida, me dei ao trabalho de ser tão cuidadoso e amoroso com alguém durante uma transa. -Eu vou
colocar, tudo bem?
Ele concordou com a cabeça.
Com uma última troca de olhares entre nós, direcionei meu membro até a sua entradinha, precisando
morder os meus lábios para conseguir penetra-ló sem soltar ruídos, introduzindo apenas a ponta de minha
glande.

297
Eu estava me segurando muito.
Agarrei na cabeceira em minha frente, utilizando-a como uma espécie de apoio para que pudesse
entrar dentro de si, mantendo um ritmo incrivelmente lento, mas que, apesar de bem cuidadoso, fez com
que alguns gemidos dolorosos escapassem de seus lábios.
-Dói muito? Quer que eu pare? -Indaguei preocupado.
-N-Não. -Negou com a cabeça. -P-Pode ir.
Mesmo que receoso, eu seguiria com o seu pedido.
Introduzi toda a extensão de meu membro para dentro de sua cavidade, sentindo meu corpo pegar
fogo com a ideia de estar preenchendo-o por completo, mesmo que permanecesse imóvel.
Segurei em um dos lados de sua cintura, exercendo o meu primeiro movimento dentro de sua
entradinha, gemendo baixo com a sensação prazeirosa de ter seu interior macio e aveludado em volta de
meu pau.
Seus olhinhos se fecharam de imediato, franzindo sua testa em sinal de prazer e um pouco de dor, a
qual eu tinha certeza que logo desapareceria quando se acostumasse com o meu tamanho.
Movimentei meu corpo lentamente em seu interior, deslizando devagarzinho por toda aquela
entradinha apertada, sentindo suas paredes se rompendo a cada investida cuidadosa que eu lhe
proporcionava.
Seus gemidos tornaram-se finos e manhosos, desfrutando da sensação maravilhosa de ter a sua
cavidade tocada e alargada pela primeira vez em sua vida, e por alguém que realmente o desejava e queria
lhe dar prazer.
A cada penetrada de minha parte, meus olhos se semicerravam pela luxúria, acelerando
gradualmente de velocidade para deixá-lo o mais acostumado e confortável possível.
A visão que eu tinha era maravilhosa.
Ficar por cima daquele corpinho delicado, escutando seus gemidos dengosos a cada investida funda
de meu pau, além de ter suas mãozinhas em contato com os meus ombros, apertando-os timidamente em
um sinal de inexperiência, era excitante demais para mim.
Eu estava ficando completamente maluco.
Gemidos roucos e baixos escapavam de minha garganta, me perdendo por completo na sensação de
poder penetra-ló da maneira que eu sempre desejei, conseguindo desfrutar daquela cavidade quentinha e
virgem.
-‘Tá gostoso assim, hm? -Iniciei um carinho pequeno em sua cintura, afundando-me ainda mais em
meio às suas pernas, sentindo as mesmas se abrirem em sinal de aprovação.
O meu bebê assentiu totalmente perdido em sensações, espremendo seus olhinhos ao olhar
diretamente para os meus, contendo sua boquinha rosada e pequenina entreaberta pelo prazer.
Eu não sabia por quanto tempo mais o Naruto iria durar.
De qualquer forma, ele já estava bem alargado para que eu pudesse aumentar a minha velocidade e
consequentemente lhe transmitir mais sensações prazeirosas.
Em um sinal de apoio, segurei firme na cinturinha do loiro, estocando com ritmo e profundidade,
passando a misturar os meus gemidos com os de meu bebê, mesclando-os em uma trilha sonora perfeita.
Sua voz sempre fininha e a minha grave e enrouquecida.
-A-Awwn, Sasuke... -Gemeu desesperado por mim, apertando seus olhinhos quando sentiu seu
corpo se tremer, reagindo ao meu com uma sincronia perfeita, batendo seu quadril freneticamente contra a
minha pélvis.
Seus olhos se abriram de abrupto.
Em consequência as minhas incontáveis estocadas em sua cavidade, suas costas se arquearam
involuntariamente contra o colchão, enquanto um gemido alto e manhoso rasgou a sua garganta,
deixando-o incrivelmente sensível por baixo de mim.
Eu havia encontrado sua próstata.
Seu corpinho inexperiente e desacostumado se contorcia manhosamente com aquela sensação
gostosa que tomava conta de si, tendo o meu pau atingindo aquele pontinho mágico e frágil dentro de sua
cavidade.

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Sentindo-me anestesiado pelo prazer, afundei meu rosto na pele de seu pescoço, conseguindo
penetra-ló com mais facilidade naquela posição, gemendo contra aquele pescocinho cheiroso e macio, me
arrepiando por inteiro ao senti-lo arranhar toda a extensão de minhas costas, parando com suas unhas na
altura de minha bunda.
-Ah, bebê... Que gostoso. -Gemi rouco no seu ouvidinho.
O Naruto estava muito perto de seu ápice.
Eu conseguia senti-lo se tremer a cada vez em que o meu pau entrava e saia de seu interior,
cutucando sem parar o seu ponto mais sensível e prazeiroso.
Continuei com a mesmo ritmo e velocidade, sentindo minha virilha formigar maravilhosamente,
anunciando o quão próximo eu estava de meu próprio orgasmo.
Choquei nosso corpos com sincronia, ciente de que Naruto também jogava seu quadril loucamente
contra mim, gemendo manhoso e desperado para atingir o seu orgasmo.
Fechei meus olhos com força, afundando meu rosto no pescoço do meu bebê, penetrando em seu
interior até senti-ló se apertar contra o meu pau, me transmitindo uma sensação inexplicavelmente
prazeirosa.
Enquanto gozava por baixo de mim, Naruto gemia fininho e entregue com o orgasmo intenso que lhe
atingiu, apertando minha bunda inconscientemente pelo prazer que seu corpinho vivenciou, fazendo com
que eu atingisse o meu próprio ápice.
Eu gozei forte na sua entradinha, gemendo falho e enrouquecido contra a pele de seu pescoço,
precisando morde-lá para não gritar com todas as sensações maravilhosas e esplêndidas que tomaram
conta do meu ser.
Fui parando de penetra-ló aos poucos, escutando de pertinho todos os seus gemidos sensíveis e
doloridos, anunciando o quão esgotado Naruto estava após o seu orgasmo.
Com o que ainda restava de meu fôlego, retirei meu membro cuidadosamente de si, sentindo meu
sémen escorrer para fora da sua entrada, acompanhado de um ofego doloroso e sofrido de sua parte.
Deixei meu corpo cair exausto sobre o seu, afundando meu rosto em seu peitoral magro e delicado.
Sua respiração, tão descompensada quanto a minha, fazia com que minha cabeça subisse e descesse por
cima de seu peito, enquanto ambos nos recuperávamos silenciosamente do orgasmo.
-S-Sasuke? -Sua voz soou bem tímida e incrivelmente falha.
Levantei meu tronco lentamente, imaginando que talvez pudesse estar lhe machucando naquela
posição. No entanto, o que eu recebi em seguida, foi melhor do que qualquer coisa que eu poderia imaginar.
Em um movimento inesperado, seu corpinho exposto e magro se juntou ao meu, encaixando-me
perfeitamente em meio às suas pernas, enquanto seus braços se entrelaçavam carinhosamente atrás de
minha nuca.
Correspondi ao seu abraço de imediato, afundando meu rosto manhosamente em seu pescoço ao
apertar seu tronco entre meus braços, sorrindo apaixonado com a sensação reconfortante que senti em
meu estômago.
-E-Eu te amo. -Sussurrou em meu ouvido.
Eu fechei meus olhos com força.
-Eu te amo muito, bebê.
O Naruto era absolutamente tudo para mim.
Ainda era surreal para mim o fato de termos feito amor. Ele foi a única pessoa na minha vida com
quem me relacionei sexualmente e não fugi logo em seguida por não querer me apegar ou ter qualquer tipo
de contado.
Eu o amo com todo o meu coração.
-Vamos deitar, sim? -Sugeri sonolento, deixando um selinho rápido em seu pescoço. -Vem aqui
comigo.
Assim como todas as outras vezes, permiti que Naruto se colocasse ao lado da parede, assistindo-o
cobrir-se timidamente com os lençóis de minha cama, corando de leve quando me deitei ao seu lado, me
colocando por baixo das cobertas junto consigo.

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-Me abraça, vem. -Chamei num tom carente e desnecessariamente sofrido, arrancando uma
risadinha tímida de sua parte.
Abri meus braços para recebê-lo, mas acabei por me encaixar por conta própria contra os seus,
abraçando sua cintura ao afundar o meu rosto no seu pescoço, inalando sua pele cheirosa com apreciação.
-H-Hm... Você está com sono, Sasuke? -Indagou delicadamente.
-Muito. -Sorri sonolento contra a sua pele. -E olha que ainda são duas da tarde.
-E-Eu também estou. -Devolveu com um bocejo, rindo sem graça. -Será que tem problema se a
gente dormir agora?
-Sei lá, mas eu não me importo. -Ri baixinho. Eu nunca imaginei que fosse virar do tipo de pessoa
que se sente sonolento após transar. -Vamos dormir, depois eu me entendo com o Obito.
Ele riu divertido.
-Tudo bem.
Me aconcheguei confortavelmente entre os seus braços, entrelaçando nossas pernas por baixo dos
lençóis, querendo ficar o mais colado possível em si, mesmo que ambos estivéssemos pelados e suados.
-Bebê...? -Chamei num tom baixo e pidão.
-Oi?
-Faz carinho no meu cabelo? -Perguntei levemente envergonhado. O Naruto era a única pessoa que
eu autorizava a me ver tão amoroso e carente desse jeito.
Ele riu tímido e carinhoso.
Sua resposta foi rapidamente substituída por uma ação, me fazendo suspirar em aprovação ao sentir
suas mãozinhas delicadas e habilidosas indo em contato ao meu coro cabeludo, acariciando-o do jeitinho
que eu desejava.
Sorri satisfeito entre seus braços, podendo fechar meus olhos para me entregar ao sono.
Estar deitado com o Naruto, abraçado ao seu corpo e recebendo um carinho seu logo após termos
feito amor era o mais do que o suficiente para me fazer dormir sem preocupações.
Pouco me importava se ainda eram duas da tarde.

Capítulo 23 - O sumiço
Naruto on

A madrugada predominava ao lado de fora, trazendo com ela um clima mais fresco e agradável,
amenizando o calor exagerado que os detentos foram obrigados a enfrentarem durante todo o período da
manhã e tarde na penitenciária.
Apesar de sempre preferir estações mais quentes e coloridas, eu precisava admitir que, aquele dia
em especial, havia feito um calor absurdamente desumano. Uma prova concreta disso, foi o estado em que
eu e Sasuke ficamos após passarmos a nossa manhã inteira frequentando o pátio aberto.
No meu caso, algumas marcas de queimadura do sol se faziam presentes em meu coro cabeludo e
nariz, enquanto o Uchiha, pelo fato de ter ficado sem a sua camiseta e possuir uma pele mais branquinha se
comprada a minha, continha seus ombros e bochechas violentamente coradas e ardidas.
O Sasuke, infelizmente, chegou a ter insolação.
Foi uma cena bastante preocupante vê-lo tão febril por conta do sol e das queimaduras em sua pele,
mas, como nada nessa penitenciária funciona direito, a máximo que pudéssemos fazer para amenizar a
situação, foi passar uma pomada médica indicada pelo Yamato.
O moreno estava profundamente adormecido ao meu lado.
Mesmo que houvéssemos “quebrado as regras” e dormido durante toda a tarde, o Uchiha não se
importou em pegar no sono uma outra vez, afirmando-me que se sentia muito esgotado e enfraquecido por
conta de sua insolação.
Ele estava dormindo desde as nove horas da noite. E eu, como o bom companheiro que sou, fiquei
ao seu lado desde o começo, dividindo o mesmo colchão consigo e permitindo que ele me abraçasse
enquanto estivesse entregue ao seu sono.

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Contendo seu rosto soterrado em meu peito e as pernas entrelaçadas nas minhas, Sasuke
permanecia com o seu corpo inconscientemente unido ao meu, numa posição que considerou menos
dolorosa para suportar a ardência de suas queimaduras.
Eu estava lhe fazendo um carinho.
Meus dedos passeavam delicadamente entre seus fios negros e bagunçados, arranhando-os de
modo bem preguiçoso até a altura de sua nuca, sendo o mais cuidadoso possível pelo fato de sua pele
estar “frágil”.
Eu suspirei em preocupação.
Sentindo-me curioso a respeito do horário, dei uma checada rápida no relógio da cela, me
assustando com o fato de já estar bem mais tarde do que eu esperava, quase marcando uma e cinquenta
da madrugada.
Aquilo significava que, o horário de reaplicar outra camada de pomada nas suas queimaduras, já
havia se passado a muito tempo.
Eu estava com muita pena de acorda-ló apenas para isso.
Mas, ao mesmo tempo, não seria nada inteligente e cuidadoso de minha parte deixar de seguir as
ordens de Yamato e excluir os “medicamentos” ideias para aliviar as queimações em sua pele.
O único jeito seria passar a pomada em seu corpo sem que ele despertasse.
Exercendo movimentos excessivamente cuidados e concentrados, eu consegui erguer o meu braço
até a mesinha ao lado do beliche, ao mesmo tempo em que torcia para que Sasuke não acordasse por
minha culpa.
Além do fato de eu ser uma pessoa extremamente desastrada e desengonçada, o Uchiha também é
conhecido por ter um sono muito leve, o que com certeza não seria uma boa combinação em uma situação
como aquela.
Felizmente, eu consegui agarrar a pomada sem que ele despertasse.
Sorrindo vitoriosamente, voltei para a minha posição inicial, encostando minhas costas na cabeceira
e apertando um pouco do “creme” em minhas mãos, espalhando uma nas outras para conseguir distribuir
pelo seu corpo.
Inicialmente, toquei de modo cuidadoso na pele de seus ombros, deixando-os com uma textura bem
gosmenta e melosa, mas que com certeza valeria a pena para aliviar tamanha queimação.
Em seguida, parti para suas costas largas e musculosas, espalhando outra camada por toda a sua
extensão, sendo o mais gentil possível para não acorda-ló ou deixar a sua pele ainda mais sensível e
machucada.
E, por fim, eu tive que partir para o seu rosto.
Foi inevitável não deixar de sorrir carinhoso ao ter minhas mãos em contato com o seu narizinho
arrebitado e bochechas coradas, precisando distribuir o creme delicadamente naquela área.
Em consequência disso, Sasuke acabou por se remexer em meio ao seu sono, esfregando sua face
manhosamente contra a palma de minha mão, aproveitando, mesmo que de modo inconsciente, o carinho
sútil e delicado que eu lhe proporcionada.
Eu ri bem baixinho.
O moreno é alguém bastante carinhoso e carente em alguns momentos, mas em especial, quando
está perto de mim. Ninguém sequer cogita que, o grande e temido Sasuke Uchiha, pode ser tão necessitado
de afeto.
-Hmmm...
Deixei de espalhar a pomada, ficando o mais imóvel possível para que ele não despertasse.
Observei-o retomar a sua posição inicial, soterrando o rosto sonolentamente contra o meu peito,
estalando, em seguida, um beijinho fraco no meu peitoral, talvez como uma forma de agradecimento por eu
ter cuidado se si.
Eu corei sem que ele pudesse ver.
Aparentemente, ter me relacionado sexualmente com o Sasuke pela primeira vez, fez com que eu
ficasse, inicialmente, um tanto sem jeito perto de si. Nós havíamos feito amor a menos de doze horas, mas
mesmo assim, as imagens continuavam a se repetir sem parar na minha cabeça.

301
Foi tão bom.
Eu nunca imaginei que me sentira tão confortável perto de alguém ao ponto de me entregar de corpo
e alma daquela maneira.
O meu maior medo sempre foi me relacionar com alguém grosseiro ou que me tratasse mal e só
ligasse para seu próprio prazer. Mas, com o Sasuke, foi absolutamente perfeito.
Estando com ele, eu não liguei nenhum pouco sobre o fato de ter perdido a minha virgindade dentro
de uma prisão.
O importante de verdade foi que o mais velho se preocupou comigo, respeitou o meu tempo, meu
ritmo e se dedicou em me dar prazer, além de ter sido incrivelmente cuidadoso e carinhoso.
Foi simplesmente maravilhoso.
Não tinham palavras o suficiente que pudessem descrever as sensações positivas e prazeirosas que
tomaram conta de todo o meu ser enquanto nossos corpos estavam completamente colados e
sincronizados.
Era oficial. Eu havia feito amor com o Sasuke Uchiha, mas sentia como se minha ficha só fosse cair
quando eu despertasse pela manhã.
-Naruto Uzumaki?
Virei-me assustado em direção à grade, sentindo meu coração disparar com o som daquela voz
rouca e fria chamando pelo meu nome tão repentinamente. Para a minha infeliz surpresa, o indivíduo
parado em frente a cela se tratava de Kakashi.
Eu franzi o cenho em sua direção.
Mesmo que na escuridão do corredor, pude nota-lo fazer o mesmo, parecendo estranhar a minha
proximidade e intimidade excessiva com o Sasuke, fora o fato de eu estar em um bloco que definitivamente
não pertencia.
Eu não fazia ideia se o carcereiro sabia alguma coisa sobre o meu relacionamento com o Uchiha,
embora fosse um tanto óbvio pelo fato de estarmos sempre juntos, abraçados e nos beijando por aí.
-H-Hm... O que foi? -Respondi atordoado, recebendo a luz forte de sua lanterna em minha cara. Foi
necessário espremer os meus olhos e tapar os do moreno para que ele não acordasse. -O que aconteceu?
Um silêncio estranho veio em resposta.
-Eu preciso que você me acompanhe. -Declarou seriamente. Mesmo não sabendo o motivo de sua
aparição, meus pelos se arrepiaram desconfortavelmente, vindo acompanhado de uma sensação incomoda
em meu peito. -Venha comigo.
Me encolhi medrosamente contra a colchão, abraçando-me mais ao Uchiha, como se ele realmente
pudesse me salvar diante daquele aperto ruim que eu havia acabado de sentir.
-Pra onde você vai me levar? -Indaguei desconfiado. De certa forma, ainda era extremamente
desagradável precisar “interagir” com o Kakashi após o incidente traumatizante que sofri por sua causa.
O carcereiro suspirou cansado.
-Até a diretoria. -Começou a destrancar a cela, fazendo um eco alto e exagerado pelo corredor. Ele
nem se preocupou com o fato de Sasuke estar dormindo. -Você tem uma ligação em espera.
Outra pontada tomou conta de mim.
-U-Uma ligação?
-É. -Respondeu impaciente.
Meu medo de deixar a cela se redobrou.
Primeiramente, o fato de precisar acompanhar o Kakashi até a diretoria, no meio da noite e na
escuridão da penitenciária, causava-me calafrios por todo o corpo. Mas, o principal de tudo, era que, se
aquela informação fosse mesmo verídica, havia alguém tentando falar comigo durante a madrugada.
Sem ser a minha mãe, ninguém ao lado de fora me ligava para dar notícias ou perguntar por mim. A
única pessoa que sempre se preocupava em me telefonar era a Kushina, o que significava que ela poderia
estar em apuros ou precisando me falar algo urgente.
Ligar no meio da madrugada nunca é normal.

302
-Certo, eu estou indo. -Respondi falho.
Eu já estava prevendo o pior.
Mesmo que na preocupação e afobação do momento, eu ainda tive todo o cuidado necessário para
deixar a cama sem que o Sasuke acordasse, o que obviamente não ocorreu.
Ele acabou despertando entre meus braços.
-Hmm... Bebê? -Chamou sonolento e manhoso, agarrando-se ao meu corpo como se não quisesse
que eu fosse embora.
-Oi, oi... -Sussurrei timidamente. Eu estava bastante desconfortável com o fato de Kakashi estar nos
observando. -Eu preciso sair.
-Aonde você vai? -Indagou enrouquecido, claramente perdido por conta de seu sono.
-E-Eu vou usar a privada. -Menti descaradamente. Sorte a minha que o Sasuke estava de olhos
fechados, caso contrário, ele com certeza teria decifrado a minha mentira. -Já venho, tá bom?
-Uhum.
Ele me largou por fim.
Eu não tinha nada a esconder a respeito da ligação. O único problema era que, se o Uchiha me visse
acompanhado de Kakashi, ele com certeza iria querer vir atrás de mim para se certificar de que ficaria tudo
bem, e eu não queria que ele fizesse ainda mais esforço por minha causa.
Eu conseguia lidar com isso sozinho, por mais medroso que fosse.
Me desconectei cuidadosamente do corpo de Sasuke, passando por cima de si para chegar ao outro
lado, observando-o se agarrar no travesseiro para preencher o vazio que eu lhe causei quando me levantei.
Em seguida, calcei meu tênis de qualquer jeito, nem me dando o trabalho de amarra-ló, tendo a
lanterna de Kakashi acompanhando cada mínimo movimento meu. Me aproximei da grade de modo aflito,
passando pelo platinado com os meus olhos atentos a si.
Eu não pretendia baixar a minha guarda perto dele, não depois de tudo o que ele me fez.
-Venha logo. -Reforçou autoritariamente.
Quando o carcereiro passou a andar em minha frente, eu precisei prensar os meus próprios lábios
com a vontade angustiante que senti de lhe perguntar sobre o motivo de minha ligação ou se ele sabia algo
a respeito.
Eu estava morrendo de nervosismo.
Mas, ao mesmo tempo, eu não poderia descartar a ideia de que poderia ser apenas algo “bobo”,
assim como a irmã de Gaara fez para revelá-lo que estava grávida. A Temari ligou em um horário aleatório e
mentiu o motivo da ligação apenas para ter a autorização da diretoria.
Era a cara da minha mãe fazer uma coisa idiota e maluca dessas.
Eu ri sozinho com os meus próprios pensamentos, passando a ter certeza de que Kushina havia feito
o mesmo. Ela provavelmente queria me contar alguma coisa e estava ansiosa demais para esperar pelo
período da manhã.
-Qual é a graça? -Kakashi virou para mim, arqueando uma sobrancelha.
Eu me encolhi desconfortavelmente. Era muito melhor quando o Obito me acompanhava.
-N-Não é nada.
-Que seja. -Deu de ombros. Ao nos aproximarmos da porta, o platinado girou a maçaneta da diretoria
e ascendeu a luz de dentro para que eu passasse em sua frente. -O telefone já está fora do gancho. Eu vou
te esperar aqui fora.
Eu somente assenti com a cabeça.
Passei por si de cabeça baixa, enquanto o mesmo se encostava no batente da porta, querendo me
dar certa “privacidade” para que eu pudesse realizar a ligação, mas também não podendo me deixar
totalmente sozinho dentro daquela sala.
Me aproximei ansiosamente da mesa, agarrando no telefone sem muito alarde, levando a minha
orelha com um sorriso largo e emocionado. Mesmo que fosse tarde da noite, era sempre muito bom
conversar com a Kushina, especialmente quando ela tinha novidades para me contar.

303
-Mamãe? -Atendi sorridente.
A linha ficou completamente muda.
-Alô, mãe? -Repeti novamente.
O silêncio foi preenchido por um suspiro fraco e entrecortado do outro lado da ligação.
-Naruto?
Meu cenho se franziu.
Aquela voz definitivamente não pertencia a de Kushina, apesar de ser um tanto familiar em minha
perspectiva. Ao refletir por volta de uns cinco segundos, eu pude identificar de quem se tratava.
Aquela voz, um tanto baixa e deprimida, pertencia a Tsunade, a amiga de minha mãe.
-H-Hm... Sou eu. -Respondi levemente confuso. -Tsunade? É você?
Pude escutar o seu nariz se fungar.
-Sim. Sou eu mesma, querido.
Eu apertei o telefone nervosamente.
Embora a Tsunade tenha tomado conta de mim durante toda a minha infância e ter uma certa
consideração pela minha pessoa, não fazia sentido nenhum ela me ligar no meio da noite.
Tinha alguma coisa muito errada.
-Tsunade, o que você—
-Naruto... -Ela não me deixou questiona-lá sobre nada. Mesmo que não estivéssemos dialogando
pessoalmente, eu pude notar com clareza o tom sofrido e chateado que sua voz possuía. -Eu preciso te
contar uma coisa.
Meu coração disparou de repente.
-O que houve? -Indaguei com o último fio de voz que me restava.
Ela soluçou bem baixinho.
-A sua mãe, ela...
-Não. -Neguei desesperadamente com a cabeça. Eu não podia deixa-lá terminar aquela frase. Eu
não me permitiria ouvir uma coisa daquelas. -Ela não...
Seu choro ficou aparente. Naquela altura, Tsunade já considerava impossível esconde-lo de mim e
segurar as suas lágrimas em meio a nossa ligação.
-Ela faleceu, querido.
Caímos no pior silêncio que eu já vivenciei.
-Eu sinto muito, muito mesmo. -Lamentou chorosamente. -Você sabe como funciona aquela doença
maldita. Ataques cardíacos vem em momentos inesperados, querido. Os médicos não puderam fazer nada.
A mesma pontada em meu peito, antes pequena e somente suportável, de repente se tornou um
sentimento alastrante e que tomou conta de todo o meu ser, não me deixando exercer nenhum tipo de
movimento e fala.
Aquele era o verdadeiro significado de estar em choque. Eu estava total e completamente fora de
mim, não conseguindo chorar, soluçar, falar e muito menos respirar.
A minha mãe estava morta.
A mulher que me criou durante toda a vida, me viu crescer, me amamentou, educou e me deu amor,
estava oficialmente morta.
Aquilo era demais para eu suportar.
Eram tantos sentimos ruins, tantos pensamentos negativos, que foi como se o meu corpo começasse
a vacilar, me deixando distante da realidade. Aquela sensação de sentir-se falho era bem conhecida por
mim, a mesma que sempre ocorria logo antes de eu desmaiar.
Eu não me importei com Isso.

304
A tristeza dentro de mim era tanta, mais tanta, que desmaiar naquele momento seria como uma
espécie de refúgio para mim. Embora eu soubesse que depois acordaria ainda mais devastado, tudo o que
eu mais desejava era poder escapar daquela realidade torturante.
Desmaiar no chão frio e duro da diretoria foi um dos sentimentos mais aliviantes que eu já senti em
toda a minha vida.
Sasuke On

Acordar sobressaltado com o som desagradável e escandaloso da sirene matinal já foi o bastante
para deixar-me mal-humorado naquele início de manhã, além do fato de ter tateado o colchão ao meu lado
e não ter sentido o corpo quentinho e delicado de Naruto.
Involuntariamente, um bico emburrado e sonolento cresceu pelos meus lábios, tudo em conta a falta
de contato e afeto que senti com a ausência do loiro. Já os meus olhos, pesados e semicerrados pelo sono,
passearam atentamente por cada canto de minha cela, tendo esperança de que encontraria o meu bebê por
ali.
Estranhamente, o Naruto não estava presente.
Ergui meu tronco com uma rapidez e preocupação exagerada, acabando por soltar um gemido
dolorido em consequência, esquecendo-me completamente das queimaduras sérias que tomavam conta de
meu corpo.
Era oficial. O Uzumaki havia mesmo sumido.
Talvez o seu “sumiço” nem fosse um motivo tão grande para se preocupar, até porque, ele era livre
para sair a hora que bem entendesse. No entanto, eu não poderia deixar de pensar que isso definitivamente
não era de seu feitio.
Quando foi que o Naruto saiu sem avisar e me deixou dormindo sozinho?
Eu digo quando. Nunca.
Isso jamais havia acontecido antes.
-Que estranho... -Murmurei sozinho, coçando minha cabeça enquanto olhava perdido ao meu redor.
Embora a cela estivesse vazia, eu não pude deixar de notar na movimentação ao lado de fora,
indicando que os detentos e carcereiros já estavam bem ativos, todos arrumados e uniformizados para se
dirigirem ao refeitório.
Eu tomei isso como um incentivo para sair de minha cama.
Cautelosamente, levantei-me do colchão sem muita vontade, tomando todo o cuidado necessário
para não prejudicar ainda mais as minhas queimaduras. Em seguida, me dirigi ao pequeno espelho
presente na parede de minha cela, parando de frente ao meu reflexo com uma expressão sonolenta e
engraçada.
Meus fios negros encontravam-se armados e bagunçados, enquanto meus olhos beiravam uma
vermelhidão esquisita, permanecendo estreitados por conta de meu sono.
Contudo, a parte mais chamativa de todas eram as minhas bochechas. Era evidente que eu havia me
descuidado e esquecido completamente de passar protetor soltar, tanto que cheguei ao ponto de ter
insolação, algo bastante gave em minha perspectiva.
A parte boa de ter adquirido uma pele queimada e vermelhinha, era que eu tinha o Naruto para tomar
conta de mim. Foi o loiro quem passou pomada no meu corpo diversas vezes ao dia, me fez uma
massagem gostosa e prometeu que continuaria a cuidar de mim assim que acordássemos pela manhã.
O único problema era que ele não estava ali.
Eu comecei a ficar preocupado de novo.
-Aonde foi que você se meteu, Naruto? -Perguntei para o nada, literalmente “falando com as
paredes”. Desde pequeno, eu sempre tive a estranha mania de falar sozinho, tanto que meu irmão
costumava implicar comigo e dizer que eu via fantasmas pela casa.
De qualquer forma, eu pretendia ir atrás do meu bebê o mais breve possível.
Chacoalhei a cabeça para voltar à realidade, dirigindo-me ao monte de roupas presente na mesinha
da cela, escolhendo uma blusa aleatória e amassada para “combinar” com a calça que eu já vestia. Em
seguida, calcei meus tênis com um pouco de pressa, me sentindo absurdamente ansioso para ir de
encontro ao Naruto.

305
Era impressionante como eu não conseguia mais me desprender dele. Passamos a semana
inteirinha grudados, trocando beijos, abraços e até mesmo fizemos amor, mas, mesmo assim, eu insistia em
vê-lo o máximo de vezes possível.
Sai de minha cela levemente afobado, observando o corredor ao meu redor como uma verdadeira
águia, atentando a cada rosto para conferir se Naruto estava por perto.
Ele não estava no bloco 5.
-Merda... -Reclamei solitariamente.
Embora estivéssemos literalmente presos, haviam diversos lugares para onde o loiro poderia ter ido.
Banheiro, biblioteca, refeitório, pátio, no bloco 4 ou em qualquer outro corredor existente na penitenciária.
Eu não sabia nem por onde começar.
Com tantos cômodos para conferir, decidi que o melhor a se fazer seria seguir em linha reta e passar
em cada ambiente de acordo com a ordem dos corredores.
Aparentemente, o próximo lugar era o bloco 4.
Iniciei uma corrida ansiosa até a última cela do corredor, a mesma que Gaara, Deidara e Naruto
dividiam. Espichei meu pescoço esperançosamente para dentro da mesma, sentindo-me frustrado com a
visão que tive.
Não tinha absolutamente ninguém.
-Porra. -Xinguei mais uma vez.
Eu não desistiria tão fácil, não até que tivesse o meu bebê entre os meus braços.
A minha próxima parada era na biblioteca. Eu não estava botando muita fé em encontrá-lo por lá, até
porque, eram raras às vezes em que o Naruto realmente decidia frequenta-lá.
Pelo o que me parecia, eu estava certo.
Não havia nenhum sinal dele.
Eu estava começando a ficar desesperado, mas, ao mesmo tempo, conseguindo me manter lúcido
pelo fato de ter mais três lugares para conferir. O refeitório, o banheiro e o pátio. Esse eram os ambientes
que o Naruto mais ficava no seu dia a dia.
A minha corrida continuou a todo o vapor.
Primeiramente, eu passei pelo refeitório. As mesas estavam lotadas e sobrecarregadas, o que
obviamente dificultou para que eu pudesse localiza-lo em meio a todos aqueles detentos ou encontrar
qualquer garoto de seu grupo para pedir informações ao seu respeito.
Novamente, eu não obtive sucesso.
Passei empurrando todos os presos que cruzavam o meu caminho, recebendo alguns olhares
assustados e de estranheza por conta de minha agressividade. Eu estava encharcado, literalmente molhado
pelo suor acumulado durante os meus últimos dez minutos de minha busca.
-Naruto?! -Abri a porta do banheiro violentamente, pouco me importando se haveriam outros
presidiários do bloco 1 tomando banho e se trocando.
Vários pares de olhos se viraram em minha direção, todos fitando-me como se eu fosse um
verdadeiro maluco. As pessoas estavam me julgando silenciosamente por conta de minha invasão de
privacidade e desespero.
Infelizmente, nenhum deles era o Naruto.
-Caralho! -Gritei descontroladamente.
Empurrei à porta novamente, reparando, mesmo que sobre pressão, nas batidas desgovernadas e
completamente apressadas de meu coração. Ele estava muito disparado.
A minha última parada era no pátio, e se caso eu não o localizasse, a situação poderia ser nomeada
oficialmente como “preocupante”.
Eu corri como se não houvesse amanhã, recebendo, no mínimo, uns três chamados de carcereiros
durante o meu trajeto, todos pedindo-me autoritariamente para que eu não corresse pelos corredores.
Eu finalmente cheguei no local desejado.

306
Estava muito sol, assim como no dia anterior. Foi necessário utilizar minhas duas mãos como uma
espécie de fuga dos raios solares, colocando-as por cima de meus olhos para enxergar o ambiente a minha
volta.
Haviam detentos jogando bola, tomando sol, rindo e até mesmo brigando entre si. No entanto,
nenhum entre eles era o Naruto.
Querendo ou não, aquela foi a hora que eu comecei a me desesperar pra valer.
Esfreguei meu próprio rosto aflitamente, apoiando-me de modo dramático e trêmulo na parede atrás
de mim, já começando a criar diversas teorias sobre o que poderia ter acontecido com o meu bebê.
Eu odiava ser alguém tão paranóico.
Qualquer coisinha mínima que acontecia com as pessoas que eu amo, já era um gatilho gigantesco
para que eu começasse a me afundar negativamente em meus próprios pensamentos e esperar pelo pior.
Acontece que eu quase sempre estou certo quando digo que alguma coisa está errada.
Antes que pudesse ter qualquer tipo de reação precipitava e começar a me alterar de verdade, eu
decidi que procuraria pelo Naruto uma última vez ao redor do pátio, apenas para confirmar se havia visto
certo.
Embora eu não tenha o encontrado, eu avistei algo um tanto suspeito.
Localizado em um dos bancos próximos a quadra, Orochimaru e Kabuto permaneciam sentados lado
a lado, ambos observando a movimentação silenciosamente ao seu redor, provavelmente com a intenção
de caçarem as suas próximas vítimas.
Normalmente, eu teria deixado aquilo passar, até porque, não existe nada mais comum do que o
Orochimaru a buscar por novas presas.
No entanto, por eu estar completamente desesperado à procura do loiro, além do fato de ter recebido
uma piscadela maliciosa do mais velho, o meu sangue ferveu de modo inexplicável.
-Filho da puta!
Eu não estava mais usando a cabeça.
Avancei agressivamente em sua direção, acabando por assustar todos os detentos que jogavam
distraídos ao meu redor, os quais não estavam nada habituados a me verem tão alterado e violento.
Apesar de eu possuir o sobrenome Uchiha e ser irmão de um dos criminosos mais temidos de todo o
país, eu nunca fui alguém de levantar a minha voz em público e muito mesmo partir para a ignorância.
Sobretudo, quando se trata do Naruto, já é outra história.
-O que você fez com ele?! -Agarrei na gola de sua camiseta, trazendo seu corpo brutalmente para
frente, deixando até mesmo Kabuto, o qual nunca esboçava nenhum tipo de emoção, apavorado com a
minha violência. -Cadê o Naruto, seu filho da puta?!
Ele começou a gargalhar.
Sua risada, nojenta e perturbadora, penetrou os meus ouvidos como facas, deixando-me ainda mais
enfurecido com o fato de não ter recebido uma resposta descente, apenas uma gargalhada bem irônica e
maldosa.
O Orochimaru estava debochando de mim.
-Seu asqueroso!
Eu não pensei na hora de lhe atingir no rosto.
Meu punho foi de encontro ao seu nariz, utilizando toda a minha força para descontar o aflição e
angústia que sentia em relação ao sumiço de Naruto, mesmo que, no fundo, eu não tivesse cem por cento
de certeza de que o mais velho estivesse envolvido.
-Cadê ele?! Aonde ele está, caralho?! -Repeti aos berros. Naquela altura, todos do pátio haviam
parado o que estavam fazendo para assistirem Orochimaru se contorcer de dor e tapar o próprio nariz
ensanguentado. -Responde ou eu vou acabar com você!
-Sasuke?!
A voz de Obito invadiu os meus ouvidos.

307
Me virei completamente fora de mim, ignorando a dor aguda de meu punho pelo soco que desferi na
carne alheia, sentindo meus olhos queimarem pelas lágrimas de raiva que se acumularam
involuntariamente.
Era a primeira vez que eu me sentia assim.
-O que aconteceu? -O carcereiro me olhou assustado. Até o Obito sabia que não era de meu feitio
sair socando as pessoas sem motivo algum. -O que deu em você?
-Eu quero saber aonde está o Naruto! -Eu fiz questão de berrar bem audivelmente, olhando ao redor
como se suplicasse por qualquer tipo de informação sobre o paradeiro do loiro. Alguém tinha que ter visto o
meu bebê em algum lugar. -Aonde ele está, porra?!
-Sasuke, se acalme. -Tocou amigavelmente em meu ombro, carregando uma expressão
tranquilizadora. -Eu tenho certeza que ele está por aí. Não precisa ficar nervoso, sim?
O Obito não compreendia a gravidade da situação. Eu conhecia o Naruto melhor do que qualquer um
e tinha consciência que ele nunca, em hipótese alguma, deixaria a cela sem me acordar em primeiro lugar e
informar a sua localização.
Fora isso, eu conhecia perfeitamente bem os seus “esconderijos” dentro da prisão e sabia de cor
todos os lugares que ele frequentava.
Ninguém o conhecia tão bem quanto eu naquela penitenciária e, por essa razão, não podiam ter a
audácia de pedirem para que eu me acalmasse.
-Não! -Empurrei sua mão. -Ele sumiu, Obito, eu quero saber dele agora!
-Sasuke, por favor—
-Obito?
A inesperada e desagradável chegada de Kakashi foi o que nos interrompeu.
O platinado, possuindo o seu mesmo porte frio e neutral, olhava para a cena com o cenho franzido,
alternando entre mim e Obito com um olhar desconfiado.
Eu tinha me esquecido complemente dele.
Além do Orochimaru, eu conhecia muito bem a história de Kakashi com o Naruto. Ele havia judiado
muito do meu bebê, e se tivesse outra oportunidade como aquela, com certeza não mediria esforços para
lhe machucar de novo.
Eu o olhei repleto de ódio.
-O que está acontecendo aqui? -Interrogou tedioso, conversando diretamente com Obito, mas
contendo seus olhos presos aos meus.
-O Sasuke quer saber sobre o Naruto. -Respondeu pacífico, sendo acompanhado do som repetitivo e
ritmado de meus pés se batendo ansiosamente no chão. -Você sabe dele, Kakashi?
Caímos em um curto momento de silêncio.
-Sim, eu sei, na verdade.
Meus olhos se arregalaram.
-Aonde ele está?! -Dei um passo violento em sua direção, sendo rapidamente segurado pelo moreno,
o qual me parou pela cintura.
-Ele está na enfermaria desde madrugada. -Revelou na defensiva.
O meu peito se apertou dolorosamente.
Aparentemente, o Naruto estava na enfermaria desde madrugada e ninguém se deu o trabalho de vir
me avisar.
A minha cabeça estava a mil.
As mesmas paranoias de sempre começaram a invadir minha mente, trazendo com elas a imagem
desesperadora do loiro a chamar pelo meu nome durante a noite e implorando por um socorro meu, mas
não conseguindo pelo fato de eu estar adormecido e distante.
Aquilo era tudo culpa minha?

308
Eu não ficaria parado ali. Por mais que não fizesse a mais vaga ideia do que levou o meu bebê a
passar a noite na enfermaria, eu não ficaria imóvel e esperando a boa vontade do Kakashi em me relatar o
que aconteceu.
Eu simplesmente me virei de costas e corri.
Corri como nunca corri na minha vida. A cada passo desesperado dado por mim, meus braços
trabalhavam com violência, empurrando todos os homens que cruzavam o meu caminho e atrapalhavam a
minha corrida até a enfermaria da penitenciária.
Eu derrubei cinco pessoas no caminho.
Pouco importava se eu levaria advertências ou passaria o resto de minha semana no isolamento.
Naquele momento, a única coisa que eu precisava era chegar o mais rápido possível para conferir se
Naruto estava bem.
Desde o momento em que acordei e não o senti ao meu lado, eu tinha certeza de que havia algo de
errado acontecendo. É por isso que eu nunca duvido da minha intuição.
Ao chegar no corredor da enfermaria que, por sinal, era sempre o mais vazio e escuro da prisão,
reparei que a porta da mesma se encontrava entreaberta, como se alguém houvesse acabado de
adentra-lá.
Eu aproveite para me aproximar também.
Cheguei no cômodo na maior correria, abrindo a porta com uma violência bastante desnecessária,
especialmente pelo fato de eu estar em um “ambiente médico” e que exigia certo respeito pelos pacientes.
A cena em minha frente foi o bastante para me fazer esquecer sobre tudo ao meu redor.
O meu bebê, a pessoa que eu mais amo e me preocupo nesse mundo, encontrava-se atirado no
chão gelado e imundo da enfermaria, desabando em meio a lágrimas e esperneando como se não
houvesse amanhã.
Seu corpo, pequeno e delicado, se tremia incontrolavelmente entre os braços de Deidara, o qual
mantinha-se ajoelhado ao seu lado como se quisesse lhe dar apoio, sendo acompanhado por Gaara que,
mesmo no estresse do momento, trazia em suas mãos uma espécie de pano, utilizando-o para limpar,
desesperadamente, o rosto e as roupas manchadas do menor.
O Naruto estava inteiramente vomitado.
E, não só ele, como o Deidara também.
Pelo fato de ter o meu bebê abraçado a si, o loiro mais velho também continha seu uniforme
totalmente sujo pelo vomito alheio, embora ele não parecesse se importar muito com esse detalhe, e sim
com o fato de consolar e acalmar o seu companheiro.
Aquela foi a pior visão que eu já tive.
-O que aconteceu?! -Indaguei apavorado, escancarando a porta para anunciar a minha chegada.
Obviamente, a pergunta não foi direcionada para o Naruto que, naquele momento, não estava em
condições de me responder. Eu queria respostas dos garotos. -Pelo amor de Deus, o que é isso?!
-Sasuke, graças a Deus! -Gaara me fitou tão desesperado quanto eu, contendo seus olhos
avermelhados e cheios de água. -Faz alguma coisa! A gente não ‘tá sabendo mais lidar com isso!
Ele não havia respondido a minha pergunta.
-O que foi que aconteceu, porra?! -Questionei novamente. A minha intenção não era ser grosseiro
com o ruivo, mas, honestamente, eu não pude evitar.
Aquela cena era completamente desesperadora.
-A mãe dele morreu. -Deidara informou ofegante, bem menos alterado do que o seu companheiro,
embora também possuísse uma feição preocupada, especialmente por ter o loiro contra os seus braços,
literalmente se afogando em lágrimas. -Morreu hoje de madrugada.
O choro de Naruto se intensificou.
Meu coração, por outro lado, se despedaçou em mil pedaços.
Eu precisei levar a mão ao peito para regular a minha própria respiração, não entendo o motivo de ter
me sentindo tão atingido com aquela notícia. A Kushina não era a minha mãe e nem sequer pertencia a
minha família, mas somente pelo fato de eu amar o Naruto com todas as minhas forças, suas dores foram
automaticamente transmitidas para mim.

309
O meu bebê havia perdido a mãe dele.
-Voltei, meninos. -O voz soalha de Yamato se fez presente por todo o cômodo. Levei meus olhos
para si, enxergando-o carregar uma espécie de seringa em suas mãos, contendo um líquido amarelado
dentro da mesma. -Isso vai acalmar o Naruto, eu só preciso que vocês segurem ele para que eu possa
aplicar.
Meu cenho se franziu de imediato.
De acordo com os meus entendimentos rasos sobre medicina, o Yamato pretendia aplicar uma
espécie de sedativo no Naruto. Aquilo era extremamente perigoso. O enfermeiro definitivamente não tinha o
conhecimento necessário sobre a ficha médica do loiro para isso e havia tomado aquela decisão por conta
própria, sem consultar nada ou ninguém.
Aquilo era muita irresponsabilidade.
O meu bebê poderia ter herdado algum tipo de problema cardíaco similar ao de sua mãe ou então
qualquer outra doença aleatória, mas que consequentemente faria com que ele reagisse mal ao efeito do
sedativo e corresse risco de vida.
O Yamato, mais uma vez, estava sendo um péssimo profissional.
-Não faz isso! -Berrei descontrolado, avançando para cima de si antes que ele prosseguisse com
aquela ideia horrorosa. Deidara e Gaara me fitaram confusos, enquanto Yamato encolhia-se por minha
violência repentina. -Eu não vou deixar você aplicar isso nele!
O enfermeiro entreabriu a boca em surpresa, ao mesmo tempo em que eu arrancava a seringa de
sua mão, espatifando-a de modo agressivo no chão, somente para ter certeza de que ele não tentaria sedar
o Naruto.
Aquilo só pioraria tudo.
Se o intenção do Yamato era que o loiro melhorasse e superasse sua perda de maneira saudável,
não era um maldito sedativo que faria com que ele se sentisse melhor. Haviam outras formas de consola-ló
e cuidar de si.
-Você ia dar a porra de um sedativo pra ele! -Apontei o dedo na sua cara, sentindo meu rosto ferver
pela raiva. Primeiro foi o Itachi e agora o meu bebê. Eu estava tendo que salvar mais uma pessoa que amo
por conta de sua irresponsabilidade. -Que tipo de médico você é? Você queria acabar com ele, é isso?!
Gaara arregalou os olhos.
-Você ia dopar o Naruto?! -O ruivo levantou-se junto comigo, parecendo ter compreendido a
gravidade da situação. -É sério isso?!
-Maluco do caralho! -Deidara xingou com os dentes cerrados, abraçando-se mais à Naruto como se
pudesse protegê-lo daquilo. -Você não presta, seu filho da puta! Já não basta quase ter tirado a vida do
Itachi?!
Estávamos todos contra ele.
-Meninos, vocês entenderam tudo errado... -Ergueu as mãos na defensiva, andando para trás a
medida que eu apertava meus punhos, precisando fechar os olhos para não cometer uma loucura. -Isso é
para o bem do Naruto!
-Seu irresponsável do caralho! -Gritei rispidamente, sentindo minha garganta arder em consequência.
A última vez em que me alterei tanto assim foi quando briguei com o Itachi no refeitório. -Eu não vou deixar
você tocar nele!
Dei as costas para si, aproximando-me de Deidara e Naruto com o coração acelerado, disposto a
tomar conta do meu bebê longe daquele ambiente tóxico e de um jeito que eu sabia que funcionaria.
Eu cuidaria dele com muito carinho e paciência, e não o enchendo de remédios perigosos e
desnecessários, os quais só serviriam para piorar o seu estado.
Ajoelhei-me de frente aos dois garotos, franzindo minha testa pela tristeza de ver o menor se contrair
em meio ao choro, puxando a camiseta de Deidara enquanto soluçava descontroladamente. Ele estava tão
fora de si, que nem ao menos havia me notado.
-Pode entregar ele pra mim. -Olhei fundo nos olhos do mais velho. -Eu vou cuidar dele.
Deidara assentiu com a cabeça.

310
Foi difícil fazer com que Naruto soltasse do corpo alheio para ir de encontro ao meu. O mais velho
precisou fazer força na hora de empurra-ló para longe, o que rapidamente mudou quando o meu bebê
colocou os olhos em mim, parecendo se dar conta de que eu estava parado em sua frente para ajudá-lo.
O Naruto se jogou nos meus braços.
-Calma, bebê... -Abracei-o de volta por cima daquele piso sujo e frio, fechando meus olhos ao senti-lo
se tremer entre os meus braços, molhando todo o meu peito pelas incontáveis lágrimas que escapavam de
si. -Vamos sair daqui, sim?
Ele não estava em condições de ficar de pé.
Eu tentei por diversas vezes fazê-lo se levantar, mas a cada tentativa de desdobrar os seus joelhos,
Naruto desabava ainda mais, mostrando-se bastante fora de si e quase inconsciente de seus próprios atos
naquele momento tão delicado.
Eu fiz o que achei que seria o mais fácil.
Levantei o seu corpinho daquele chão imundo, segurando com cuidado na dobra de seus joelhos e
na altura de suas costas, conseguindo carrega-ló em meu colo com facilidade. O loiro, por sua vez, afundou
o rosto na altura de meu pescoço, utilizando-o para abafar todos os seus soluços sofridos.
O Naruto cheirava muito mal. Era um aroma azedo e fétido, o que obviamente se dava por conta de
sua crise de vomito compulsiva. Mas, honestamente, eu não me importei nenhum pouco com esse detalhe e
também não liguei se ficaria fedendo juntamente com ele.
Tudo o que eu queria era cuidar de si.
-Ei, tudo bem... -Eu tentava me comunicar de alguma maneira, ao mesmo tempo em que seguia para
longe daquele cômodo, andando apressado ao decorrer do corredor escuro da enfermaria. -Eu estou aqui,
sim?
Ele não dizia absolutamente nada.
Eu nunca havia visto o Naruto tão mal. O meu bebê estava tão devastado e indefeso, que não
conseguia nem ao menos formular uma frase. Ele estava apenas deixando-se ser levado por mim e
confiando para que eu tomasse conta de si.
A medida em que eu cruzava os corredores, todos olhavam apavorados em nossa direção.
Os presidiários e guardas acompanhavam a minha passagem, confusos e assustados com o fato de
Naruto estar literalmente gritando de desespero em meu colo, enquanto eu corria sem me dar o trabalho de
olhar para ninguém, somente focado em chegar no meu destino.
Eu finalmente alcancei o banheiro.
Por possuir minhas duas mãos ocupadas, eu tomei a liberdade de chutar a porta, sem me importar
com o fato de que assustaria os detentos ao lado de dentro.
Quando a madeira bateu na parede, uma quantidade considerável de presidiários olharam em minha
direção, alguns semi-nus, escovando os dentes, enquanto outros se encontravam embaixo dos chuveiros.
-Fora daqui, caralho! -Ordenei autoritário.
Ninguém protestou contra mim.
Na verdade, ninguém era louco de me enfrentar naquele estado. Até mesmo eu estava surpreendido
com tamanha violência e brutalidade vinda de mim durante os últimos trinta minutos. Eu estava muito
alterado.
Quando o último preso passou pela porta, eu fiz questão de chuta-lá novamente pelo lado de dentro,
fechando-a para que todos de fora entendessem o recado de que não poderiam entrar naquele momento.
Eu e Naruto precisávamos de privacidade.
-Shhh, prontinho... -Sussurrei delicadamente, carregando o seu corpinho de modo cuidadoso até a
bancada da pia. Por ele não conseguir se sustentar de pé, o melhor a se fazer seria apoiá-lo em algum
lugar.
O meu plano inicial era lhe dar um banho.
Por mais que não fosse algo tão grandioso e consolador, eu sabia que aquilo era o melhor a se fazer
no momento, especialmente por ele estar quase se afogando em seu próprio vomito. Deixar o meu bebê
limpinho e arrumado era o primeiro passo para fazê-lo se sentir melhor.

311
-Senta aqui na bancada. -Pedi com toda a minha paciência. Fui eu quem tomei a liberdade se
senta-ló por cima da pia, recebendo em troca um abraço ainda mais apertado de si, o qual recusava-se a
largar de meu corpo. -Eu preciso que você me solte agora, sim?
Ele negava completamente fora de si.
-Eu não vou deixar você. -Falei o que eu imaginei que estaria se passando na sua cabeça. Se o
menor achava que eu iria lhe abandonar em algum momento, ele estava muito enganado. -Vamos só tomar
um banho, tá bom? Vai ser rapidinho, bebê.
Mesmo que quisesse muito permanecer abraçado comigo, o loiro não tinha forças para lutar contra
mim.
Fiz um esforço para distância-ló de mim, não conseguindo deixar de me entristecer com a cena
horrorosa de seu rosto avermelhado e ensopado, enquanto suas mãozinhas se esfregavam em suas
pálpebras a medida que mais lágrimas escapuliam de seus olhos.
Aproveitando que o loiro estava de minha altura por cima da bancada, agarrei na barra de sua blusa
para ajuda-ló a retirar aquele pano manchado e fedido, fazendo o mesmo com a minha camiseta, já
prevendo que eu me molharia inteiro para lhe dar banho.
Em seguida, parti para a sua calça do uniforme, descendo o tecido cuidadosamente até a altura de
seus calcanhares, também precisando desamarrar os seus tênis.
Eu deixei o Naruto somente de cueca.
Embora ele continuasse bastante inconsciente de seus próprios atos, eu não pretendia me aproveitar
daquele momento tão delicado para deixá-lo completamente exposto em minha frente. Eu o respeitaria até
mesmo nessa situação.
-Você consegue ficar de pé? -Perguntei pacientemente.
A única coisa que recebi como resposta foram lágrimas e mais lágrimas de tristeza.
Como ele não me dizia nada, eu me arrisquei na hora de desce-ló do balcão. É claro que foi uma
péssima ideia. Se eu não fosse alguém tão ligeiro e esperto, o Naruto já teria caído de cara no chão por
minha culpa.
Era oficial, pelo menos naquele momento, o Uzumaki não estava em condições físicas e psicológicas
para sustentar o peso de seu próprio corpo. Ele estava dependendo de minha força de vontade em
segura-ló.
E, obviamente, eu ficaria até o fim.
-Vem cá. -Murmurei baixinho. Em apenas um movimento habilidoso, segurei em seus quadris para
fazer impulso, conseguindo levantar seu corpo e fazer com que suas pernas se entrelaçassem em minha
cintura, assim como suas mãozinhas atrás de meu pescoço. -‘Tá confortável assim?
Eu nem sei porquê ainda me dava o trabalho de pergunta-ló. O Naruto, novamente, me respondeu
apenas com lágrimas e soluços.
-Vamos para o chuveiro. -Segurei embaixo de seu bumbum, carregando-o facilmente até a ducha
mais próxima de nós, tomando bastante cuidado para não tropeçar naquele chão molhado e escorregadio.
Quando centralizei nossos corpos por baixo daquele chuveiro, senti Naruto se agarrando ainda mais
contra mim, como se já esperasse que eu abriria o registro. Fomos surpreendidos por uma água bem morna
e pesada.
Eu gemi de dor.
As minhas queimaduras estavam sendo muito prejudicadas, tanto por ter o loiro as arranhando
inconscientemente, quanto pelo fato da temperatura estar muito quente.
Contudo, eu faria um esforço para aguenta-las até o fim ou pelo menos até que tivesse certeza de
que Naruto estaria melhor.
-‘Tá tudo bem, shhh... -Abracei seu corpo com carinho, unindo nossos peitorais úmidos e expostos.
Iniciei um carinho sútil em seu cabelo, ao mesmo tempo em que esperava minha pele se acostumar com
aquela temperatura tão dolorosa. -Você não está sozinho, Naruto. Eu estou aqui com você.
Todas as suas respostas eram resumidas em soluços e lágrimas, apesar de que eu conseguia
identificar um forte ar de agradecimento que o meu bebê carregava por eu estar cuidando de si tão
carinhosamente.

312
Aproveitando que Naruto encontrava-se cem por cento ensopado pela água, eu peguei um shampoo
no balcão ao meu lado, o mesmo que algum detento qualquer esqueceu ao sair do banheiro, e espremi um
pouco do creme em seu cabelo.
Eu tive bastante dificuldades em ensaboar os seus fios loirinhos e macios, até porque, eu estava
precisando segurar todo o peso de seu corpo com apenas uma mão.
-Fecha o olhinho, bebê. -Pedi delicadamente, voltando a colocar sua cabeça por debaixo da água,
fazendo uma espécie de barreira em sua testa para que a substância não escorresse para seus olhos.
-Pronto, já foi.
Só tinha mais um passo a seguir, e então, nós dois poderíamos retornar a minha cela para que
ficássemos sozinhos e à vontade.
-Deixa eu pegar o sabonete. -Eu achei melhor ficar lhe informando sobre tudo o que eu pretendia
fazer, embora eu tivesse quase certeza de que ele não estava me escutando.
Mesmo que fosse uma tremenda falta de higiene da minha parte, eu não pude evitar de “pegar
emprestado” o sabonete que um dos detentos também esqueceram por ali, utilizando-o para ensaboar o
seu corpinho.
Segurei mais firmemente por baixo de seu bumbum, ajeitando-o em meu “colo” para que pudesse
espumar o seu corpo com decência.
Delicadamente, passei minhas mãos por cada cantinho de sua pele bronzeada, fazendo uma
massagem lenta em suas costas, cintura, coxas e pescoço, retirando qualquer vestígio de vomito presente
em seu corpo, servindo também, de certa forma, para mandar parte de sua tristeza embora pelo ralo.
A água quentinha que escorria pela sua pele estava começando a fazer efeito, diminuindo, pelo
menos um pouco, a quantidade de lágrimas e soluços que saiam de si. Pelo o que me parecia, ter lhe feito
um carinho por baixo daquela temperatura morna e gostosa, serviu para desestressa-ló por alguns
minutinhos.
-Isso, bebê... -Beijei o topo de sua cabeça, sorrindo pequeno com a sua melhoria. Eu estava
orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido reverter parte da situação. -Vai ficar tudo bem, tá bom? Já
acabou.
Eu pude finalmente desligar o registro.
O cômodo voltou a cair no silêncio, sendo apenas preenchido pelo som abafado e baixinho de seus
soluços entrecortados. Seu corpo continuava a se tremer nervosamente entre meus braços, mas dessa vez,
acompanhado do frio que o ambiente fazia.
-Vem, vamos secar você. -Sussurrei em seu ouvido, iniciando uma caminhada cuidadosa com o loiro
de volta a pia, apoiando-o na bancada em minha frente para que ficasse entre as suas pernas.
Por sorte, o sanitário possuía uma espécie de armário em cima do balcão, o qual continha uniformes
e toalhas reservas caso os detentos se esquecessem de trazer. Foi somente necessário levantar a minha
mão para alcançar a portinha que dava acesso as roupas e toalhas nunca usadas.
-‘Tá frio, né? -Eu tentei me comunicar com o Naruto uma outra vez, passando a toalha pelos seus
ombros com a intenção de cobri-ló. Apesar de não ter obtido uma resposta sua, era incrivelmente
satisfatório ver que seu choro havia diminuído. -Deixa eu pegar outra toalha.
Aproximei o pano de seu cabelo, enxugando os seus fios recém-molhados com a intenção de tirar o
excesso de umidade e espantar o frio penetrante daquele banheiro. Eu também estava bem encharcado,
mas não me importava tanto com o fato de ter minha calça pingando no chão ao nosso redor.
-Isso, está ótimo. -Falei baixinho. O meu bebê não estava dando nenhuma atenção para as coisas
que eu lhe dizia. A cada vez que eu me pronunciava, eu estava literalmente falando sozinho. -Eu vou tirar a
sua cueca, tá bom?
Foi surpreendente e satisfatório receber um aceno positivo seu. Aquilo significava que ele havia me
escutado pelo menos daquela vez
Possuindo a sua autorização, eu tomei a liberdade de retirar aquele pano encharcado e apertado de
seu corpinho delicado, deixando-o inteiramente nu em minha frente.
Mesmo estando exposto para mim, meus olhos não caíram em si com segundas intenções. Eu me
preocupei apenas em lhe vestir com uma nova cueca, dispensando quaisquer tipos de pensamentos
impuros de minha parte.

313
Em seguida, apanhei uma blusa de tamanho consideravelmente grande para seu corpo, lhe ajudando
a colocar a peça com toda a minha paciência, até porque, o loiro ficava se enroscando o tempo todo.
E, por fim, foi a vez de sua calça.
Essa foi a parte mais difícil. Pelo fato do meu bebê estar sentado, demoramos um pouco para subir o
pano por suas coxas, mas, felizmente, eu consegui dar um jeito de deixá-lo arrumado e inteiramente
uniformizado para que pudéssemos deixar o banheiro.
-Pronto, terminamos. -Anunciei com um suspiro longo e cansado. Embora aquela primeira etapa
houvesse sido concluída, eu sabia que ainda teria muito sofrimento por vir. -Você consegue andar agora,
bebê?
A sua resposta foi um tanto deprimente.
Somente com um aceno negativo, o loiro fitou-me com os olhinhos repletos de lágrimas, erguendo
seus dois braços em minha direção com um ar completamente choroso, dando a entender que gostaria de
ser carregado por mim.
Eu sorri entristecido.
Se o meu bebê queria vir no meu colo, então eu aceitaria de imediato. Retornei a segura-ló na
mesma posição em que ficamos quando tomamos banho, com suas pernas em volta de minha cintura,
enquanto minhas mãos repousavam embaixo de seu traseiro.
Daquela maneira, era fácil de me locomover.
Caminhei calmamente para fora do sanitário, distribuindo alguns beijos delicados no topo de sua
cabeça, ansioso para que pudéssemos chegar em minha cela o mais breve possível e ter certa privacidade
para descansarmos.
Pelo fato de quase todos os detentos estarem no pátio aberto, eu não tive muitas dificuldades para
leva-ló até o bloco 5. O caminho estava vazio, o que foi ótimo para que Naruto pudesse chorar em paz, sem
ter uma plateia aglomerada ao seu redor para assisti-lo se contorcer em agonia.
Nós finalmente alcançamos a minha cela.
-Ei, Naruto... Chegamos. -Anunciei aliviado, abrindo a grade pelo lado de fora.
Adentrei o cômodo com o loiro no meu colo, me dirigindo até a cama para que pudesse larga-ló no
colchão, mas apenas para arrancar aquela calça molhada e apertada de minhas pernas.
Tomar banho com ela foi uma péssima ideia.
Aparentemente, tê-lo deixado “sozinho” na minha cama, e por somente alguns segundos, já foi o
bastante para que ele se desesperasse por conta de nosso distanciamento e falta de contato naquele
momento tão delicado.
-N-Não... -A voz baixinho e chorosa do meu bebê se fez presente pela primeira vez, chamando-me
com a mãozinha para que eu voltasse a me aproximar. -V-Volta, por favor.
-Ei, fica tranquilo... -Olhei preocupado para si. Eu precisei terminar de arrancar a minha calça às
pressas, chutando-a de qualquer jeito pelo chão. Em seguida, me apressei para ir de encontro ao menor,
sentando na ponta do colchão apenas de cueca. -Pronto, eu estou aqui.
O Naruto me recebeu com outro abraço.
Abri meus braços para aconchegá-lo ao meu peito, apertando o seu tronco como se tivesse o poder
de transferir parte da sua dor interior para mim. O seu choro persistia de modo abafado, molhando minha
pele com todas as suas lágrimas grossas e pesadas.
-S-Sasuke... -Chamou embargado, esfregando seu rosto em meu peito como se pedisse por ajuda e
afeto diante de tanta tristeza que o preenchia. -E-Eu... Minha mãe...
-Shhh. -Interrompi-o delicadamente. Aquela era a hora do Naruto descansar. -Vai ficar tudo bem.
Confia em mim, sim?
Embora eu estivesse dando o meu melhor para lhe consolar, eu tinha consciência de que não
adiantaria enche-ló de frases motivacionais e reconfortantes em um momento tão angustiante igual aquele.
Ainda não foram criadas palavras que pudessem reconfortar uma perda tão grande e pesada como
aquela.
Ele havia perdido a mãe dele.

314
-Deita aqui no meu colo. -Ofereci num tom doce e compreensível. Naruto veio sem pensar muito,
esperando minhas costas se apoiarem na cabeceira para sentar-se por cima das minhas coxas, abraçando
a parte de trás da minha nuca e afundando o rosto em meu pescoço. -‘Tá tudo bem, bebê...
Iniciei um afago delicado em seu cabelo, distribuindo selinhos lentos e carinhosos por toda a sua
cabeça e testa, beijando-o aonde eu conseguia alcançar. O loiro estava muito inconsolável, mas ao mesmo
tempo, sentindo-se extremamente esgotado.
Suas mãozinhas iam de encontro às suas próprias têmporas, apertando-as com uma careta dolorida,
mostrando-se bastante cansado e sobrecarregado após gastar tantas horas chorando e soluçando.
Ele precisava mesmo dormir um pouco.
Sequei as suas lágrimas uma por uma, aproveitando que o meu bebê estava em meu colo para
começar a trata-lo como um. Eu ninei o Naruto como se ele fosse um verdadeiro bebezinho, fazendo alguns
sons melódicos com a minha boca na esperança de que isso pudesse descontrair e o tranquilizar.
Aparentemente, a minha ideia deu certo.
Com o tempo, seus soluços foram se tornando mais baixinhos e cansados, enquanto seus olhos iam
se fechando contra meu peitoral, se entregando ao carinho pequeno que eu lhe proporcionava, além de
estar gostando de minha “cantoria” extremamente aleatória, mas que, com sorte, serviu para deixá-lo
entregue e com com bastante sono.
O Naruto dormiu após ser ninado por mim.
Passei a olhar o seu rostinho avermelhado e úmido pelas lágrimas anteriores, sentindo meu peito se
apertar só de pensar por toda a dor que ele estaria passando interiormente.
Eu sabia bem como era perder algum ente querido de sua família, especialmente quando se tratava
de uma mãe, apesar de que a minha havia falecido quando eu ainda era muito novo.
Eu quase não tenho memórias da Mikoto.
De qualquer forma, eu não pretendia lhe deixar na mão de maneira alguma, nem por saber que,
possivelmente, quando ele acordasse novamente, estaria ainda pior.
O Naruto havia me ajudado muito quando o meu irmão ficou doente, o que significava que aquela era
a minha hora de ficar ao seu lado e lhe orientar da melhor maneira possível.
Eu ficaria com o meu bebê até o fim.

Capítulo 24 - Mudanças e finais felizes

Itachi On

As coisas estavam finalmente voltando aos eixos. Minha saúde, embora permanecesse um pouco
desestabilizada, havia melhorado consideravelmente se comparado ao estado grave e preocupante que
fiquei durante dias na enfermaria da penitenciária.
Ficar internado no hospital foi uma das piores experiências de toda a minha vida. Os dias eram todos
iguais, corriqueiros, cansativos e, sobretudo, extremamente solitários. Para ser bem sincero, ficar amarrado
a uma cama durante horas e mais horas, era muito mais estressante do que estar dentro da prisão.
Por mais absurdo que pudesse soar, eu estava com um pouco de saudades da penitenciária. Não
eram os detentos e carcereiros que me faziam falta, mas sim certos ambientes que eu costumava
frequentar, como a minha cela, minha cama e o pátio aberto.
Além disso, tinham os meninos.
Em primeiro lugar, eu me encontrava ansioso para rever o Sasuke o mais breve possível. O jeito que
nos despedimos foi bastante dramático e agonizante, o que me deixava com ainda mais vontade de
encontra-ló para que pudéssemos mudar essa áurea tão triste.
Eu queria que o meu irmão me visse bem e saudável. O meu objetivo era chegar de cabeça erguida
para mostra-lo que estava muito melhor e que, aquela fase difícil e deprimente que enfrentamos, havia
finalmente chegado ao fim.
Fora o Sasuke, tinha o Deidara.

315
Eu já havia decidido que, assim que pisasse na prisão, o loiro seria, com certeza, uma das minhas
prioridades. Eu iria atrás de si sem pensar duas vezes, especialmente após tudo o que ocorreu entre nós
dois da última vez.
A gente finalmente se acertou.
E não só nos resolvemos, como também nos beijamos e trouxemos de volta à vida todos os
sentimentos fortes e encadeados que sentíamos um pelo outro, mas que sempre nos privávamos pelo
simples fato de termos medo e sermos orgulhosos demais para isso.
Era um alívio estar de bem com o Deidara.
Aproveitando o fato de que as coisas estavam ótimas entre nós, eu não perderia essa oportunidade
de jeito nenhum. Dessa vez, por mais difícil que pudesse ser, eu lutaria por ele.
Talvez ainda desse tempo de recompensa-ló pelos meus erros do passado. Eu acho que, ter ficado
em um estado de vida ou morte, fez com que eu repensasse certas coisas e, entre elas, sobre o modo como
eu estava lidando com as pessoas que eu amo.
Do que adiantaria me privar dos meus sentimentos pelo Deidara? Por mais que me causasse um
certo medo levar tudo entre nós “a público”, eu daria o meu máximo para lidar com a situação do modo mais
cuidadoso possível e não deixar com que outras pessoas estragassem e se aproveitassem disso.
Eu continuaria sendo Itachi Uchiha, o criminoso mais poderoso e temido de toda aquela penitência,
mas dessa vez, estaria rendido ao meu relacionamento com o loiro.
Isso se ele ainda me quisesse, é claro.
O Deidara muda de humor muito fácil. Ele sempre fora uma pessoa muito impulsiva, explosiva e
imprevisível. Eu não me surpreenderia de saber que o loiro havia desistido de nossa relação, se bem que
ele pareceu mesmo ter me perdoado quando conversamos da última vez.
De qualquer forma, eu iria procurá-lo.
-...Você está bem? -Uma voz grave e familiar quebrou todo o meu raciocínio.
Virei meu pescoço minimamente para o lado, me deparando com a presença de Obito, o qual se
encontrava sentado ao meu lado no banco da ambulância, enquanto observava-me com o cenho franzido.
Depois de dias, eu estava finalmente sendo transportado de volta à prisão.
Embora eu me encontrasse em uma situação bastante desconfortável, com as minhas duas mãos e
calcanhares presos por algemas, acompanhado do fato de que vários policiais encontravam-se amontoados
dentro do veículo, todos com armas apontadas para mim, eu estava estranhamente sorridente.
-Estou. Por quê? -Devolvi simplista.
O moreno arqueou uma sobrancelha.
-Bom, é que você está sorrindo a meia hora para os policiais. -Riu em um tom perturbado. Os
guardas, por outro lado, fitavam-me com caras fechas e desconfiadas, mantendo suas armas miradas em
minha testa. -Tem certeza de que está tudo bem?
-Aham. -Murmurei cansado, fechando meus olhos ao deixar minha cabeça cair para trás. Pelo fato de
eu ter acabado de acordar, meu corpo estava meio leve e avoado, o que talvez se desse por conta do efeito
do soro. -Como estão as coisas por lá?
Um silêncio estranho veio como resposta.
Reabri meus olhos de modo lento e ameaçador, não gostando nenhum pouco de sua demora em
responder a uma pergunta tão simples como aquela. Querendo ou não, eu já comecei a me preocupar com
o que poderia ter ocorrido na minha ausência.
Poderia ter acontecido alguma coisa com o Sasuke ou com o Deidara.
-Obito? -Chamei sério.
-Ah, Itachi... -Coçou a nuca, olhando para baixo com um semblante pensativo. -Eu não posso te dizer
que está tudo as mil maravilhas, porque isso seria mentira.
Meu cenho se franziu de imediato.
Pelo fato de ter me movimentado mais do que o necessário e, consequentemente, puxado minhas
algemas pela aflição do momento, os policiais ao meu redor se colocaram em “posição de ataque”,
destravando o gatilho em minha direção como se esperassem pelo pior.

316
-O Sasuke está bem?! -Perguntei estressado, começando a criar um monte de imagens aleatórias e
horrorosas em minha cabeça sobre o que poderia ter acontecido na prisão durante o tempo em que fiquei
fora. -Tem alguma coisa a ver com o Deidara?!
-Não, Itachi. -Negou pacificamente, fazendo um sinal rápido e discreto com sua mão para que os
guardas baixassem suas armas. -Tivemos alguns problemas com o Yamato, só isso.
Levantei uma sobrancelha.
-Com o Yamato?
-O seu irmão e o Deidara estão querendo denunciar ele para a diretoria da prisão. -Riu pelo nariz.
-Mas, sabe... Eu estou começando a concordar com essa ideia deles.
-Explica direito essa história. -Pedi rudemente. Eu simplesmente odiava quando o Obito dizia as
coisas pela metade e me deixava curioso. -O que o Yamato fez com eles?
-Com eles? -Repetiu numa entonação meio surpresa e sarcástica. -O problema foi o que ele fez com
você, Itachi.
Eu precisei sacudir a minha cabeça.
-Quê? -Indaguei atordoado, franzindo o cenho sem entender. -O que foi que ele fez comigo?
-Você não está sabendo de nada mesmo, né?
-Não. -Respondi irritado. -Acho que você está se esquecendo de que eu fiquei quase quatro dias
fora, Obito.
-Pois é. -Soltou um riso fraco. -Pouco tempo para se ficar internado, não acha?
Meus olhos caíram pensativamente em si.
Eu fiquei por volta de duas semanas doente na enfermaria sobre os cuidados do Yamato e, mesmo
tomando todos os remédios indicados por ele, eu não obtive nenhuma melhoria. No entanto, quando fui
transferido para outro ambiente e com outros profissionais de saúde, foi como se meu estado tivesse
melhorado em um passe de mágica.
Era como se, na penitenciaria, eu estivesse apenas me afundando e piorando a cada dia mais, mas,
após deixar aquele ambiente, a minha doença se curou (quase cem por cento) de modo misterioso.
-Você acha que o Yamato estava tentando me sabotar? -Indaguei sombrio após alguns segundos de
reflexão.
-Eu acho que não. -Deu de ombros, dando uma espiada rápida na janela atrás de si, parecendo
conferir se estávamos chegando. -Se fosse assim, ele estava tentando sabotar o Naruto também.
-O Naruto? -Repeti curioso.
-É. Recentemente tivemos alguns problemas com o Naruto e o Yamato. -Revelou indiferente. -Eu não
acho que ele esteja querendo sabotar os pacientes, mas a falta de profissionalismo dele acabou
prejudicando vários detentos.
Minha testa se franziu em surpresa.
Eu estava pronto para fazê-lo mais algumas perguntas a respeito disso, inclusive para saber o que o
Yamato, aparentemente, havia feito comigo enquanto eu estava inconsciente.
No entanto, eu fui interrompido.
-A gente já chegou. -Informou com um sorriso pequeno, especialmente ao ver a minha animação tão
repentina e incomum diante de seu aviso. -Agora os meninos vão poder te contar pessoalmente tudo o que
aconteceu enquanto você não estava.
Ignorando o seu último comentário, dei uma olhada curiosa na janela atrás de mim, acompanhando o
momento exato em que o portão da penitenciária foi aberto, dando passagem para que o veículo entrasse
no estacionamento.
Os policiais ao meu redor ficaram ainda mais atentos quando eu decidi me levantar do banco, sendo
guiado por Obito ao decorrer do corredor minúsculo da ambulância, para que assim pudesse sair pelo
“porta-malas”.
Foi realmente desconfortável andar algemado daquela forma. Eu acabei tropeçando algumas vezes e
enroscando o meu pé no caminho, mas com a ajuda do carcereiro, eu consegui descer do outro lado com
sucesso.

317
Eu estava finalmente ao “ar livre”.
O estacionamento, talvez por conta da escuridão da noite, encontrava-se mais vazio e silencioso que
o normal, carregando um ar sombrio pelo fato de estar garoando, tendo um vento frio e úmido batendo em
minha face.
-Que horas são? -Perguntei impressionado. Eu passei tantos dias trancado em um quarto de hospital
e sem ter ideia do horário, que acabei perdendo a notação do tempo.
-Oito da noite. -Respondeu simplista. -Daqui a pouco a sirene vai tocar.
Aparentemente, eu havia chego na prisão antes do horário rotineiro que tínhamos para ir dormir. Com
sorte, eu conseguiria rever o Deidara antes que o mesmo resolvesse voltar para a sua cela.
-Me dá o seu pulso. -Obito pediu calmamente, carregando em mãos a chave que serviria para me
soltar das algemas. Levantei meus braços em sua direção, reparando no medo absurdo e aparente que os
guardas sentiram ao perceberam que eu seria solto. -Pera, agora eu vou soltar os seus pés.
Permaneci imóvel quando o moreno se agachou em minha frente, tendo, a todo o instante, diversas
armas apontadas para mim, todas prontas para dispararem caso eu executasse movimentos muito
exagerados e suspeitos em suas concepções.
-Pronto. -Levantou-se novamente, carregando um ar brincalhão. -Está livre.
Olhei para si com cara de poucos amigos, desaprovando a sua piadinha desnecessária e sem graça.
O fato de eu estar livre daquelas algemas, não significava que eu também estaria livre da minha sentença.
-Pode abrir o portão. -O moreno chamou por alguém através de seu rádio comunicador, fazendo um
pequeno sinal com a mão para o carcereiro que estava de plantão na cabine de fora. -O Itachi vai entrar.
E então, o grande e chamativo portão preto em minha frente, foi finalmente aberto para me dar
passagem. Aquela entrada, apesar de ter outras quatro iguais a ela no presídio, era a que dava acesso,
especificamente, para o bloco 5.
-Toma aqui, são as suas coisas. -Me estendeu uma sacola cheia de roupas usadas, a mesma que
ficou comigo durante o tempo em que passei no hospital. -Pode entrar, você já tem autorização.
-Certo. -Segurei o conteúdo em minhas mãos, olhando pensativamente para si. -O pessoal por acaso
sabe que eu já sai do hospital?
Ele negou com a cabeça.
-Não, ninguém sabe. -Apoiou-se na ambulância atrás de si, cruzando os braços na altura do peito. -A
diretoria não me deu permissão para avisar. A sua chegada vai ser uma surpresa para todo mundo.
Eu sorri levemente.
Seria no mínimo interessante ver como todos reagiriam quando eu entrasse pela porta.
-Tudo bem. -Sacudi minha cabeça, querendo voltar à realidade. Eu já estava enrolando demais para
entrar. -Depois a gente se fala. Não se esqueça que ainda temos varias coisas para discutir e decidir, Obito.
-Eu sei. -Assentiu calmamente. -Mas a gente vê isso depois. Vai ver o seu irmão, Itachi.
Aquela era a hora de retornar a “minha casa”.
Com um último aceno de cabeça entre nós, foi quando eu tomei o impulso necessário para que
pudesse adentrar o portão, seguindo com a minha melhor postura para o lado de dentro, possuindo meu
corpo ereto e cabeça erguida.
O pequena passagem que dava acesso para o outro cômodo era estreita e escura, mas sobretudo,
bastante pequena. Não demorou muito para que eu estivesse frente a frente com o tão conhecido corredor
do bloco 5.
A movimentação continuava a mesma.
Era, como sempre, muito barulhento. Diversos detentos corriam de um lado para o outro, alguns
presos em seus próprios mundinhos, enquanto outros arrumavam confusões, gritavam desnecessariamente
e até se batiam entre si.
Eu exerci o meu primeiro passo.
O silêncio foi quase que instantâneo. Os homens circulando o ambiente, aos poucos, foram se
calando com a minha presença, todos arregalando seus olhos em medo e surpresa, receosos com a minha
aparição tão repentina em meio à noite, e literalmente sem nenhum tipo de aviso prévio.

318
Ninguém esperava que eu fosse sobreviver.
Todos torceram pelo meu mal. Enquanto eu estive doente, foi como se eu tivesse adquirido uma
espécie de poder que pudesse ler os pensamentos e energias negativas que os detentos jogavam para
cima de mim a cada vez em que passavam de frente a enfermaria.
O desejo de todos, por mais que não admitissem em voz alta, era que eu nunca mais desse as caras
na penitenciária. Mas, para o azar deles, eu sempre fui alguém extremamente difícil de derrubar.
A cada passo dado por mim, os presidiários se encostavam submissamente nas paredes, baixando
suas cabeças em sinal de respeito, enquanto abriam um espaço maior do que o necessário para que
pudesse passar sem ser atrapalhado e interrompido durante meu trajeto.
Ninguém tinha coragem o suficiente para me olhar nos olhos.
O meu foque principal naquele momento era poder retornar a minha cela e, consequentemente, dar
de cara com o meu irmão, caso ele já estivesse preparado para ir dormir.
Porém, o que ocorreu em seguida, foi diferente de tudo o que eu esperava encontrar.
Meus olhos foram de encontro ao final do corredor e, pelo fato de ter uma passagem inteira aberta
para mim, pude enxergar com clareza o momento em que Sasuke adentrou o bloco 5, mantendo-se focado
em seus próprios pés e com a cabeça baixa.
Eu senti meu coração disparar.
Embora estivéssemos meio distantes um do outro, eu consegui reparar no ar mais triste e desolado
que o meu irmão carregava naquela noite, o qual foi rapidamente alterado ao ter seu pescoço erguido em
minha direção e seus olhos sendo atraídos para o início do corredor.
Ou seja, atraídos para a mim.
Foi uma situação emocionante, pelo menos para mim, é claro. O mais novo permaneceu
completamente imóvel e paralisado, olhando em minha direção como se quisesse conferir se aquele
momento era mesmo real ou somente um fruto de sua imaginação fértil.
Eu ri emocionado.
Minha ansiedade para poder toca-ló e falar consigo aumentava cada vez mais, e só piorava pelo fato
de Sasuke não estar reagindo de maneira alguma. Ele estava, literalmente, petrificado na mesma posição,
enquanto todos ao nosso redor pareciam esperar por uma reação sua tanto quanto eu.
Tudo o que eu fiz foi abrir os meus braços.
Eu os abri como um convite para que ele pudesse se aproximar, mas também para confirmá-lo de
que a minha presença era realmente real e que, naquele instante, eu queria poder tê-lo bem perto de mim.
A saudades que eu sentia era absurda.
E então, como se um choque de realidade tivesse tomado conta de todo o seu ser, o Sasuke
simplesmente disparou. Aproveitando aquela passagem que os detentos haviam nos proporcionado, o meu
irmão correu no meio de todos como se sua vida dependesse disso, vindo de encontro a mim com os seus
braços erguidos em minha direção.
Os nossos corpos finalmente se chocaram.
A sacola que antes eu carregava em minhas mãos, foi rapidamente atirada para o lado, dando
espaço para recebê-lo com decência. Como eu já me encontrava forte e quase cem por cento recuperado,
dessa vez, eu consegui abraçá-lo com toda a minha força e vontade.
Eu pude levanta-ló do chão, fazendo com que suas pernas se entrelaçassem ao redor de minha
cintura em um abraço bem apertado e que a muito tempo não recebia.
Meus olhos se fecharam com um sorriso.
Por mais que houvéssemos passado por momentos tristes e traumatizantes, sempre brigando entre
si e enfrentando situações difíceis, eu sentia como se, dessa vez, as coisas pudessem ser diferentes entre
nós. Ter ficado muito doente, embora tivesse sido algo ruim e angustiante, serviu para que eu pudesse
enxergar as coisas de outra forma.
A partir de agora, eu aproveitaria cada segundo ao lado Sasuke e sem me preocupar com coisas
fúteis e inúteis, as quais meu irmão sempre me aconselhou a deixar de lado.

319
-Você ‘tá cheirando bem. -Foi a primeira coisa que eu lhe disse, sorrindo quando tentei coloca-ló de
volta ao chão, mas sendo ainda mais apertado por si. -Que bom que você não deixou de tomar banho na
minha ausência.
Pude escuta-ló soltar um riso divertido, mas embargado, provavelmente desaprovando a minha
brincadeira fora de hora, especialmente em um momento tão emotivo como aquele.
-Deixa eu te ver. -Pedi com toda a minha paciência, conseguindo arrumar um jeito de desconecta-ló
de mim e voltar o seu corpo ao chão em minha frente.
Quando nossos olhos foram de encontro um outra vez, um sorriso ainda maior tomou conta de mim,
observando com atenção cada mínimo traço de seu rosto, como se tivesse a intenção grava-ló em minha
mente caso resolvêssemos ficar mais tempo separados.
-Você está fofo. -Comentei com um ar brincalhão. -A sua bochecha está toda vermelha. Quando eu
falei que te faria bem tomar sol, eu não quis dizer pra você torrar a sua pele inteira, Sasuke.
Seu riso rouco e divertido invadiu os meus ouvidos.
-Eu esqueci de passar protetor.
-Percebi. -Acrescentei sorridente.
Permanecemos à nos encarar em silêncio. Era como se quiséssemos guardar na memória o
momento em que finalmente soubemos que tudo iria ficar bem, até porque, estávamos juntos mais uma vez.
Nada, nunca mais, iria me separar do Sasuke novamente.
-Ei... -Franzi o cenho em sua direção. Assim como havia reparado anteriormente, tinha algo de
errado com o meu irmão. Algo parecia incomoda-ló. -O que foi que aconteceu?
Seu sorriso, antes grandioso e aparante por conta de minha chegada, tornou-se algo fraco e forçado.
Era como se eu houvesse acabado de tocar em sua ferida e estivesse prestes a abri-la de modo doloroso.
-Aconteceu muita coisa, Itachi. -Suspirou derrotado, esfregando sua face lentamente. -Mas a gente
não precisa falar disso. Você está bem e é isso o que importa agora.
-Não. -Sorri fraco, negando com a cabeça. -Conversa comigo. O que houve?
Somente pelo diálogo que tive com o Obito, eu já tinha uma vaga ideia de que, enquanto estivesse
longe, vários eventos importantes haviam ocorrido. No momento, eu desejava ficar ciente de tudo o mais
detalhadamente possível e esperava que Sasuke pudesse me contar, e também desabafar comigo.
-Bom, primeiro de tudo... -Ele parecia querer listar os acontecimentos um por um, imaginando
cuidadosamente por onde começaria. -Você quase morreu, Itachi. Eu acho que isso já foi motivo o suficiente
pra me deixar para baixo durante todo esse tempo.
Meus ombros se encolheram tristemente.
Foi difícil para mim ter ficado internado no hospital, mas havia sido ainda mais complicado para o
Sasuke que precisou ficar sem notícias minhas durante todo esse tempo.
-Eu estou aqui agora, tá bom? -Relembrei-o cuidadosamente sobre esse detalhe, precisando tocar
em seu ombro para que ele se desse conta de que eu estava bem e em sua frente. -Não vai acontecer mais
nada.
-Eu sei, mas... -Suas palavras estavam levemente enroscaras e confusas. Não foi difícil de reparar no
momento em que seus olhos foram preenchidos por lágrimas, ganhando juntamente a isso uma coloração
mais avermelhada. -Porra, Itachi. Você quase morreu na minha frente. Foi por muito pouco.
Meu cenho se franziu em confusão.
-Eu estava lá quando aconteceu. -Revelou numa entonação baixa e sofrida, piscando repetidas
vezes para que pudesse espantar qualquer resíduo de seu choro. -Fui eu quem te ajudei a sair dessa. Eu e
o Naruto.
-O Naruto? -Tombei minha cabeça para o lado. -Do que você está falando, Sasuke?
-A gente teve alguns problemas com o Yamato. -Comentou sombriamente, contando-me exatamente
o que Obito havia me relatado na ambulância. -Ele não estava na enfermaria quando você passou mal. Fui
eu quem precisei te ressuscitar, Itachi.
-Me ressuscitar? -Repeti abismado. Eu não me lembrava de absolutamente nada. O único momento
gravado em minha minha memória era de acordar com os enfermeiros ao meu redor afirmando-me que eu
havia tido uma “pequena” recaída, mas que tudo ficaria bem.

320
-Sim. -Assentiu com a cabeça. Eu acho que nunca havia visto o Sasuke consvesando de modo tão
emotivo e honesto em toda a minha vida. -Eu fiz a respiração boca a boca que o papai ensinou para nós
dois, mas só funcionou com as dicas que o Naruto me deu.
Meus lábios se entreabriram em surpresa.
Eu havia ficado tão mal ao ponto de ter precisado de um socorro médico de meu próprio irmão mais
novo, o qual nem ao menos era especializado em medicina?
Eu sobrevivi por muita sorte.
-O único motivo de você estar vivo... -Deu uma pausa dramática, olhando no fundo dos meus olhos.
-É por causa do Naruto.
Não só nós, como todo o corredor ao meu redor pareceu ter ficado em silêncio. Eu precisei de uns
dez segundos sem dizer absolutamente nada para que pudesse assimilar tantos eventos relatados por
Sasuke.
O mais surpreendente era que ainda haviam várias coisas que eu não sabia.
-Eu não sei o que dizer. -Respondi sincero.
-Eu já imaginei que você ficaria assim. -Riu forçado, disposto a deixar o clima o menos tenso
possível. -Foi um momento muito difícil. Todos ficaram mal por você... Inclusive o Deidara.
Levantei meu pescoço instantemente.
-Ele chorou quando achou que você tinha morrido. -Revelou com um sorriso pequeno, parecendo ter
se dado conta do efeito que me causou ao citar o nome do loiro em voz alta. -Ah... E ele deu um soco no
Yamato também.
Outro momento de silêncio foi necessário para que eu assimilasse aquela sentença. De início,
imaginei que Sasuke estivesse brincando comigo, entretanto, eu lhe conhecia bem o suficiente para
conseguir decifrar qualquer tipo de mentira em seu olhar.
Ele estava sendo realmente honesto.
-Eu também não sei o que dizer. -Ri de nervoso. O Deidara, a pessoa que eu amo, mas que sempre
considerei a mais forte e fria que eu conhecia, aparentemente, havia chegado ao ponto de chorar com a
ideia de me perder. -Porra, como assim?
Sasuke riu desanimado.
-É, eu te disse que várias coisas tinham acontecido. -Suspirou longamente. -Sabe de uma coisa,
Itachi...
Olhei curioso para si.
-Eu gosto mesmo do Naruto. -Revelou de modo completamente aleatório. O moreno abriu um sorriso
triste e apaixonado para ninguém em especial, talvez somente por estar se recordando de seus momentos
com loiro. -Você estava certo desde o início.
Cruzei meus braços com seriedade.
-Se lembra no início de tudo, quando você costumava implicar comigo e falar que eu gostava do
“novato da prisão”? Eu sempre dizia que era coisa da sua cabeça. -Ele riu fraco, parecendo entretido com
suas próprias lembranças. -Bom, você estava certo, afinal.
Eu fiquei, mais uma vez, sem falas.
O fato de meu irmão ter tocado naquele assunto tão aleatoriamente e ter sentido-se confortável para
desabafar comigo sobre os seus sentimentos pelo Naruto, era porque sabia que eu também estava
envolvido emocionalmente com alguém no momento.
E que, no caso, era o Deidara.
Pelo o que me parecia, com a minha ausência durante todos esses dias, o Sasuke conseguiu juntar
as peças de alguma forma e descobrir sobre o meu caso com o loiro.
Já não valia mais a pena esconder de si.
-Sasuke, quando é que você vai entender... -Olhei fundo em seus olhos negros e idênticos aos meus.
-Eu sempre estou certo. Sempre.
O mais novo riu divertido.

321
Dava para ver o quanto estava lhe fazendo bem saber que, após o tempo em que passei no hospital,
eu havia repensado sobre as minhas opiniões e decisões em relação a tudo e todos ao meu redor, inclusive
sobre o seu envolvimento com o loiro.
Enquanto me encontrava internado e em um estado de vida ou morte, eu prometi a mim que, caso eu
saísse vivo, as coisas seriam diferentes. Apesar de ainda ser algo extremamente novo para mim, eu faria
um esforço para começar a entender o lado e os sentimentos do meu irmão.
-O pior é que é verdade. -Me fitou de modo impressionado e reflexivo. -Você sempre sabe das
coisas, Itachi. Parece um tipo de super-poder, ou sei lá.
-Não é nada isso. -Neguei risonho. -É só que eu te conheço melhor do que qualquer um, Sasuke.
Ele me olhou carinhosamente.
Outra coisa que eu também reparei no momento em que coloquei os meus olhos em si, foi que
Sasuke estava muito mais leve e sentimental do que o normal, talvez até mesmo apaixonado.
Aquilo, com certeza, era por conta do Naruto.
-E aonde está o seu namorado? -Perguntei curioso, mas também com a intenção de puxar conversa.
Fazia muito tempo que não dialogávamos decentemente.
Diferente do que eu imaginei que ocorreria, o meu irmão não pareceu contente com o fato de me
ouvir dizer “seu namorado” com tanta naturalidade e calmaria. Os seus ombros, encolhidos e tensionados,
entregaram-me sua tristeza em relação ao meu questionamento.
-Na nossa cela. -Respondeu honesto, olhando para seus próprios pés de modo cabisbaixo.
Eu fiz uma careta de reprovação.
Por mais que estivesse fazendo um esforço para ter pensamentos positivos e aceitar a relação dos
dois, eu não gostei nenhum pouco de saber que outras pessoas, sem ser o Sasuke, estavam frequentando
a minha cela.
-Como é? -Indaguei incomodado. Eu sempre gostei muito de privacidade, além de nunca ter curtido a
ideia de “dividir”. Um dos motivos pelo qual desejei ter uma cela individual, era porque não queria pessoas
intrometidas e bagunceiras ao meu redor. -O Naruto está aonde?
-Na nossa cela, Itachi. -Repetiu seriamente. Assim como anteriormente, seus olhos retornaram a
ganhar uma coloração avermelhada e tornaram-se úmidos. -A mãe dele morreu ontem de madrugada.
Eu não tinha argumentos contra isso.
-Ele precisa de apoio. -Explicou chateado. -O Naruto já é alguém sensível e instável naturalmente,
agora com essa notícia, eu realmente não sei o que vai ser dele.
-Ele está muito mal? -Perguntei sem pensar. Era óbvio que o loiro estaria devastado com o
acontecido. A mãe dele havia morrido. Quando a Mikoto faleceu, apesar de eu ter apenas oito anos de
idade, foi um momento extremante difícil para mim. -Que pergunta. É claro que ele está.
-É, ele está. -Concordou magoado. -Tipo, muito mesmo. No momento ele está dormindo, mas
demorou muito para acalmar ele.
Eu lamentei silenciosamente.
-Ele está dormindo na minha cama?
-E isso importa, Itachi? -Me olhou incrédulo, negando com a cabeça. -É sério que você está me
fazendo essa pergunta?
-Tá bom, foi mal... -Levantei minhas mãos na defensiva. Eu não queria iniciar uma discussão com o
Sasuke num momento tão delicado como aquele, mas a minha possessão com o que é meu, mais uma vez,
falou mais alto. -Eu estava só brincando.
Sasuke me olhou entediado.
-O Naruto está na minha cama, se você quer tanto saber. -Soltou um som de reprovação. Eu estava
dando o meu máximo para mudar, mas querendo ou não, ainda haviam algumas coisas que me
incomodavam. Afinal, ninguém muda de um dia para o outro. -Eu estava indo agora pegar alguma coisa
para ele comer.
-Ah, sim. -Segurei a sacola que antes havia deixado no chão, pendurando-a na altura de minhas
costas. -E eu estava indo deixar as minhas coisas de volta na nossa cela.

322
O meu irmão, mais uma vez, me olhou repleto de tédio e irritação, desaprovando quando resolvi dar
o ênfase na palavra “nossa”, ainda desacostumado com o fato de precisar partilhar as minhas coisas.
Com o tempo, talvez eu me acostumasse.
-Bom, eu vou pegar o jantar do Naruto. -Informou com um suspiro chateado. -Talvez ele acorde com
fome. De qualquer jeito, eu preciso fazer ele comer alguma coisa.
-Tudo bem. -Concordei com a cabeça. O Sasuke sempre foi alguém bem mais preocupado com o
próximo do que eu, mas aparentemente, após se relacionar com o loiro, essa sua característica havia
apenas de alastrado. -Então eu já vou indo também.
-Itachi... -Me parou no caminho, segurando em meu braço. -Por favor, não faça nada na nossa cela,
tá bom?
Eu o olhei levemente surpreso.
-O que você acha que eu vou fazer?
-O Naruto está dormindo lá. -Relembrou pacientemente, como se eu já não soubesse desse detalhe
absurdo. -Pega leve, tá bom?
Soltei um som de indignação.
-Porra, você acha que eu vou fazer o que com o garoto? -Inquiri irritado. Pelo fato de eu estar dando
o meu máximo para mudar, era frustrante saber que o Sasuke não estava acreditando em mim. -Que eu vou
matar ele?
-Ora, eu não sei. -Deu de ombros, cruzando os braços. -Me diz você, Itachi.
-Vai a merda, Sasuke. -Soltei inconformado, olhando-o de cima a baixo. -Não se preocupe, eu não
vou fazer nada com o seu namoradinho. Eu só vou deixar minhas coisas na cela e depois vou procurar o
Deidara.
-Hm, certo. -Me fitou com os olhos estreitos em desconfiança. -Depois eu apareço por lá.
-Legal. -Respondi irritado. Aquele havia sido o nosso primeiro “desentendimento” desde a minha volta
do hospital. -É impressionante como a gente não consegue ficar cinco minutos sem brigar, hein? Puta que
pariu!
-Puta que pariu digo eu. -Rebateu emburrado, entretanto, sem conseguir manter sua postura de
durão por muito tempo. O mais novo acabou soltando uma risada baixa e breve. -Depois eu falo com você,
até logo.
-Tchau. -Acenei tediosamente.
Quando Sasuke passou ao meu lado, seguindo ao refeitório para buscar comida no último horário
disponível para o jantar, eu decidi que continuaria rumo à minha cela, sentindo-me incrivelmente mais leve
após ter feito contato com o meu irmão.
Eu mal via a hora de encontrar o Deidara.
A passagem continuava aberta e espaçada para que eu a atravessasse. Todos os presidiários agiam
de modo incrivelmente respeitoso e medroso a cada passo dado por mim ao decorrer daquele corredor.
Com sorte, a minha cela era uma das primeiras do bloco, não demorando muito para que eu
estivesse a adentrando de cabeça erguida.
Meu corpo foi tomado por uma onda de alívio.
Era estranho o fato de ter me sentido tão “em casa” e aconchegado por estar de volta à minha cela.
Nada havia mudado por ali. As mesmas fotos estavam grudadas na parede de minha cama, os meus livros
encontravam-se empilhados no pé do beliche, enquanto o monte de roupas sujas de Sasuke permanecia
intocado na mesinha entre as camas.
O único diferencial era a presença de Naruto.
Assim como Sasuke me informou, o loiro encontrava-se adormecido em sua cama, abraçando entre
seu peito um travesseiro, parecendo estar, inconscientemente, deprimido e necessitado de afeto diante de
um momento tão triste e frágil como aquele.
Eu não fiquei o observando por muito tempo.
O meu desejo era sair dali o mais rápido possível e conseguir me encontrar com o Deidara antes que
a sirene noturna tocasse.

323
Por essa razão, fui rápido em escalar a escada de meu beliche, fazendo o mínimo de barulho
possível para que o loiro não despertasse de seu sono. Ao posicionar minhas coisas por cima do colchão,
retornei a descer pelo mesmo local, me repreendendo mentalmente por ter me mexido mais do que o
necessário, o que, consequentemente, fez com que a cama de baixo chacoalhasse.
Eu tentei ficar imóvel quando notei que Naruto começou a se remexer, entretanto, para o meu azar,
sons baixinhos e entrecortados começaram a escapulir de sua boca, assim como seus olhos que se abriram
lentamente por conta da movimentação.
O loiro, literalmente, acordou chorando.
Quando tateou a cama ao seu redor e se deu conta de que estava sozinho, além do fato de ter se
recordado do verdadeiro motivo de ter pegado no sono anteriormente, lágrimas se acumularam em seus
olhos azulados e sonolentos, vindo acompanhado de soluços.
-S-Sasuke...? -Chamou falho e embargado pelo meu irmão, tremelicando seus lábios enquanto
olhava atordoado ao seu redor.
Seus olhos rapidamente caíram em mim.
-S-Sasuke? -Repetiu novamente, coçando os seus olhos com um bico choroso, parecendo perdido
por conta de seu sono. Ao sacudir a sua cabeça, Naruto pareceu compreender que, a figura parada em sua
frente, na verdade, era eu, e não o seu namorado.
O menor se encolheu medrosamente entre os lençóis.
Seu corpo, antes somente trêmulo por conta de seu choro, tornou-se incontrolavelmente bambo com
a minha presença. Suas lágrimas redobraram de quantidade, enquanto seus soluços aumentaram de
volume e intensidade.
-E-Eu quero o Sasuke... -Soluçou sofrido e assustado, abraçando os próprios joelhos como uma
espécie de mecanismo defesa contra mim. -C-Cadê? Cadê o Sasuke?
Eu realmente causo muito medo nas pessoas.
-O meu irmão já vem. -Respondi simplista, tentando não exercer movimentos bruscos para não
deixá-lo ainda pior. O Naruto estava realmente muito mal e fragilizado. -Ele foi buscar alguma coisa pra você
comer.
Em resposta, recebi somente mais lágrimas e soluços. A minha presença, aparentemente, estava lhe
deixando ainda pior.
-Escuta... -Me arrisquei na hora de dar um passo em sua direção. Automaticamente, seus olhos se
arregalaram pelo medo. -Eu nem sei se você está em condições de me entender agora... Mas eu gostaria
de te agradecer.
Eu consegui ganhar alguns segundos de seu silêncio.
-O Sasuke me contou que foi você quem ajudou ele a me ressuscitar. -Mantive um tom baixo e
soalho. -Ele disse que, sem você, eu não teria saído vivo daquela.
Naruto permaneceu em um silêncio completo, secando as lágrimas de suas bochechas coradas, ao
mesmo tempo em que olhava atentamente em minha direção.
-Bom, obrigado por isso. -Declarei meio sem jeito. Eu fiz um esforço para lhe enviar um sorriso que,
mesmo sendo bem fraco, foi o bastante para mostrá-lo que eu estava verdadeiramente agradecido. -Você
me salvou.
Os lábios do loiro se entreabriam em surpresa.
Era algo novo para si me ver agir de modo tão “legal” e educado. Na verdade, era inusitado até
mesmo para mim. Embora eu não levasse jeito com as pessoas, não daria para deixar de agradecer ao
garoto que, literalmente, salvou a minha vida.
-E eu sinto muito pela sua mãe. -Completei com honestidade, lhe enviando outro sorriso bem fraco e
apagado. -Eu entendo a sua dor.
Apesar de eu ter tentado ser compreensivo com os sentimentos alheios, acabou sendo uma péssima
ideia citar a sua perda em nossa conversa. Aparentemente, o Naruto não estava pronto para falar sobre
isso, visto que, no momento seguinte, retornou a chorar.
Eu fiquei sem saber o que fazer diante de seu choro, mas felizmente, o meu sentimento de
impotência não durou muito. Como se fosse algo planejado pelo destino, meu irmão apareceu de repente na

324
grade, carregando em mãos uma bandeja repleta de alimentos, enquanto continua uma feição preocupada
estampada em seu rosto.
-Naruto? -Chamou cuidadosamente, adentrando a cela com uma certa pressa, passando por mim
sem dizer absolutamente nada. Fiquei a assisti-lo apoiar a bandeja na mesinha ao lado da cama,
sentando-se, em seguida, na ponta do colchão. -Pronto... Eu já voltei, sim?
O menor apenas lhe estendeu os braços, parecendo ter perdido todas as suas forças para falar ou
pedir que ele o abraçasse. Como se já entendesse o que Naruto queria dizer com aquilo, Sasuke
arrastou-se para perto de si, aceitando de bom grado o seu abraço.
Eu fiquei levemente perdido e sem graça por presenciar o momento em que o Uzumaki decidiu
sentar-se em seu colo, ficando em uma posição como se estivesse pedindo para ser, literalmente, ninado
pelo meu irmão.
-Eu to aqui, bebê. -Sussurrou delicadamente, sacudindo o corpo de Naruto em movimentos lentos e
cuidados, ao mesmo tempo em que fazia alguns sons melódicos e aleatórios próximos ao seu ouvido, os
quais eu não conseguia escutar com clareza pelo fato de estar meio distante. -Prontinho, já passou.
Aquela era a minha hora de ir embora.
-Sasuke? -Chamei baixo. -Eu estou indo.
Ele levantou o pescoço para mim.
-Tudo bem. -Respondeu chateado, parecendo estar se concentrando em falar comigo, ao mesmo
tempo em que consolava o loiro. -Espera... Itachi?
-Oi?
-Obrigado. -Sorriu sincero.
-Pelo o quê? -Levantei a sobrancelha.
-Por estar se esforçando a mudar. -O moreno carregava um ar orgulhoso e emotivo. -Isso significa
muito para mim. Sério mesmo.
Eu sorri de volta.
O meu irmão estava finalmente reconhecendo e aceitando que havia uma grande possibilidade de eu
conseguir mudar. Eu daria o meu máximo para isso, tanto para fazê-lo feliz, quanto para fazer bem a mim
mesmo.
-Te vejo depois, Sasuke. -Sussurrei para si, notando que o loiro havia se aquietado em seu colo e
parecia estar à beira de seu sono novamente.
-Até mais.
Virei de costas para eles, disposto a sair daquele ambiente deprimente e finalmente ir de encontro a
uma das pessoas que mais me faziam feliz em minha vida.
Eu iria atrás do Deidara.
Pelo fato de já estar tarde, marcando no relógio que faltavam menos de cinco minutos para que a
sirene noturna fosse ativada, eu comecei a correr em direção ao bloco 4, disposto a adentra-ló antes que
algum carcereiro viesse me impedir.
Apesar de ter recebido alguns chamados de guardas no caminho, eu consegui chegar ao bloco
alheio com rapidez, dirigindo-me a cela 444, a última de todas.
Eu desacelerei meus passos.
A última coisa que eu queria era chegar correndo e matar o loiro de susto. Por essa razão, fui
encostando-me discretamente nas paredes, chegando perto da grade para que pudesse espichar o meu
pescoço para dentro.
E então, ali estava ele.
O meu corpo inteiro se arrepiou somente com a ideia de estar o vendo depois de tanto drama entre
nós, mas em especial, após o nosso tão esperado beijo na enfermaria.
O único problema era que ele não estava sozinho.

325
-...Deidara, se eu morrer, você vai fazer um discurso no meu enterro? -Gaara, o qual permanecia
deitado junto ao loiro, ambos dividindo o colchão enquanto fumavam com os olhos fixos no teto, indagava
alheio à minha presença. -Responde com sinceridade, é sério.
Deidara se engasgou entre uma tragada.
-Mas que porra de pergunta é essa? -Riu assustado. -Para de falar em morte, cara.
O ruivo, por sua vez, assoprou a fumaça de seu cigarro, parecendo estar distante em seus
pensamentos. O clima dentro daquela cela, aparentemente, estava bastante triste e pesado, assim como na
minha e de Sasuke.
Todos estavam atingidos com a morte da mãe do Naruto.
-Sei lá... -Deu de ombros. -Depois do que aconteceu hoje, eu fiquei pensando no dia em que eu
morrer, ‘tá ligado? Você vai fazer um discurso ou não?
-Eu não vou fazer discurso, porque eu vou morrer antes do que você, Gaara. -Assoprou seu cigarro
juntamente ao ruivo, formando uma nuvem de fumaça pela cela.
-Quem foi que disse isso?
-Eu disse, caralho. -Estalou a língua. -Você não é do tipo que morre cedo. Fica relaxado.
O clima estava realmente horrível.
Por essa razão, decidi que aquela era a hora perfeita para interrompê-los e finalmente saber qual
seria a sua reação diante de minha aparição tão repentina.
Seguindo com a minha ideia inicial, deixei de ficar na espreita, adentrando a cela com um sorriso
pequeno em meu rosto, fazendo alguns sons proporcionais para que ambos me notassem de uma vez.
O ruivo foi o primeiro a reparar em mim.
Pelo fato de estar na ponta do beliche, Gaara pulou pelo susto de me ver parado no meio do cômodo,
literalmente imóvel e com os olhos fixos no loiro. Após soltar alguns palavrões baixinhos e levar a mão ao
peito, Deidara foi o próximo a erguer seu tronco com o cigarro preso aos lábios, parecendo querer entender
o que estava acontecendo.
Ele ficou completamente pálido e atônito.
-Voltei. -Declarei descontraído, sorrindo levemente em sua direção.
Ambos os garotos se apoiaram com as costas na parede, Gaara parecendo sem graça com a
situação, enquanto o mais velho mantinha seus olhos fixos em mim, piscando repetidas vezes como se
quisesse conferir se aquele momento era mesmo real.
-Hã... Eu vou usar o banheiro. -O ruivo alternava entre mim e o loiro, reparando no clima instalado
entre nós. -Te vejo depois, Dei.
Seu companheiro não lhe respondeu de volta.
Ao descer a escadinha do beliche, Gaara passou por mim levemente sem graça, me lançando
apenas um sorriso rápido e tímido, o qual foi retribuído por mim com um aceno de cabeça. Eu não tinha
nada contra ele, para falar bem a verdade, sempre o achei uma pessoa muito zen.
Quando o ruivo deixou a cela, mais um momento de silêncio caiu sobre nós.
-E então? -Provoquei, sorrindo divertido. -Você não vai falar nada?
-Quando você voltou? -Indagou seriamente, apagando o seu cigarro na parede.
-Acabei de chegar. -Cruzei meus braços ao andar em sua direção, parando a centímetros do beliche.
-Posso sentar com você?
Deidara acenou positivamente.
Quando comecei a subir pela escada, o loiro encolheu os seus pés para me dar espaço, deixando
com que eu sentasse de frente para si. Seus olhos encontravam-se fixos aos meus, aparentando continuar
um pouco desacreditado de minha chegada.
-Você está lindo. -Elogiei aleatoriamente, secando o seu corpo de cima a baixo. Ele estava sem a sua
camiseta e com os cabelos levemente bagunçados, o que o deixava estranhamente mais atraente. -Eu
estava com saudades de você.

326
-Você é um desgraçado, Itachi. -Xingou num tom fraco e falho, negando com a cabeça. -Por que
ninguém avisou que você estava vindo? Você queria me matar do coração, é isso?
-A diretoria não me deu autorização pra contar sobre a minha volta. -Expliquei com um sorriso,
arrastando-me sobre o colchão para ficar mais perto de si. -Você não estava com saudades de mim?
Deidara olhou para o lado.
-Infelizmente eu estava. -Riu desacreditado. Meu sorriso, se fosse possível, aumentou ainda mais.
-Ninguém dava notícias suas, eu estava começando a ficar—
-Preocupado? -Olhei-o de modo sugestionável. -Preocupado comigo?
-É. -Me fitou entediado.
Eu sorri largamente.
-Que amor. -Brinquei.
-Vai se foder. -Respondeu ríspido, prensando seus lábios para conter um sorriso. -Você é um
morfético do caralho, isso sim.
-Sim, eu sou. -Entrei em seu joguinho, sorrindo provocativamente. -Mas você me ama mesmo assim,
certo?
Seu pescoço se levantou de abrupto.
-Que história é essa? -Me olhou indignado. -Quem foi que disse que eu te amo, caralho?
-Você não me ama? -Tombei minha cabeça para o lado, lhe lançando um olhar desafiador.
Ele ficou em silêncio.
-Eu fiquei sabendo que você... -Dei uma pausa proposital, sorrindo sozinho antes mesmo de falar o
que eu pensei em voz alta. -Chorou por mim. É isso?
Eu tive uma das cenas mais maravilhosas e hilárias de toda a minha vida. O Deidara, a pessoa mais
seria e bruta dessa penitenciária, ficou vermelho com o “flagra” que levou.
Inicialmente, eu não soube identificar se era de raiva ou vergonha, mas ao escuta-ló rir em descrença
e desferir um soco violento no seu travesseiro, eu soube que era por estar bravo, ou talvez somente na
intenção de disfarçar o seu constrangimento em minha frente.
-Quem foi que te disse essa asneira?! -Perguntou agressivo, apertando seu travesseiro
nervosamente. Suas bochechas estavam incrivelmente vermelhas. -Foi o lazarento do seu irmão, não foi?!
Gargalhei divertidamente.
-Isso não vem ao caso. -Sequei algumas lágrimas no canto de meus olhos. -Então é verdade?
-O quê, caralho?
-Você chorou por mim?
Seus olhos caíram em seu colo.
-Quem cala consente. -Provoquei novamente, já não conseguindo conter minha risada.
Deidara me olhou enfurecido.
-Vai tomar no cu! -Me deu um empurrou no ombro, quase me jogando para fora do beliche. -Vaza
daqui! Eu não quero mais a sua companhia, seu idiota!
-Não, não... -Me agarrei a madeira da cama, lutando contra si. -Me desculpa, eu estava só brincando.
O loiro me fitou repleto de ódio.
-Tudo bem, a gente não precisa falar mais nada. -Acalmei a situação. No fundo, eu já sabia as suas
resposta para todas as perguntas que lhe direcionei. -Vamos dormir, é melhor.
Ele me olhou impressionado.
-Dormir? Dormir aonde?
-Aqui. -Sorri abertamente.
-Nem pensar, Itachi.

327
No mesmo instante, a sirene noturna ecoou por toda a penitência. Aquilo significava que, todos os
detentos deveriam retornar às suas devidas celas e deixarem de perambular pelos corredores.
-Oh, mas que pena. -Lamentei com um falso olhar tristonho. -Acho que eu vou ter que ficar por aqui
mesmo. Vai demorar muito para voltar até o bloco 5.
-Não vai demorar não. -Riu desacreditado. -Some da minha cama, Itachi. Eu não gosto de grude,
você sabe disso.
-Poxa... Por favor, Dei. -Apelei para o lado emocional da coisa, o olhando de modo falsamente
inocente e pidão. -Eu quero dormir com você hoje.
Ele ficou completamente sem falas.
-Quem cala consente, capítulo dois. -Impliquei mais uma vez, ganhando, em resposta, um travesseiro
no meio da minha cara.
-Chega, vai embora! -Tentou me empurrar de novo, mas sem sucesso. -Volta pra tua laia, seu animal!
-Pra minha laia? -Eu gargalhava, ao mesmo tempo em que ele fazia força para me atirar para fora do
colchão. -Mas o meu lugar é do seu lado, Dei.
Ele grunhiu de modo esgotado e frustrado.
-Se eu disser que sim, você vai parar de falar essas coisas idiotas, caralho?! -Perguntou estressado.
Era claro que o Deidara precisava dessa desculpa para deixar com que eu dormisse ao seu lado.
-Vou. -Sorri vitorioso.
Ele finalmente parou de me empurrar.
Soltei alguns sons comemorativos, arrastando-me para a ponta de sua cama, enquanto o loiro se
dirigia para a parte da parede, bufando e revirando os olhos com a situação em que eu estava o metendo.
Quando me aconcheguei no colchão, esperei que o loiro se deitasse ao meu lado para me encostar o
mais próximo possível de si.
-Desencosta. -Murmurou irritado, virando de costas para mim.
Eu o ignorei completamente.
Com um riso provocativo, abracei sua cintura por trás sem uma permissão sua, apoiando meu queixo
carinhosamente em seu ombro. O loiro começou a se debater entre meus braços, mas eu logo tratei de
reverter a situação, começando a distribuir beijos pela pele bronzeada e exposta de seu pescoço.
Deidara suspirou em aprovação.
Era como se ele estivesse tentando lutar contra mim, mas ao mesmo tempo, aprovando cada toque e
carícia que eu insista em lhe dar.
-Boa noite. -Sussurrei próximo de seu ouvido, afastando minha boca de sua pele arrepiada.
O loiro não me respondeu. Contudo, foi possível senti-ló se entregar, de certa forma, a ideia de me
ter abraçado a si. No final das contas, todo o seu drama e relutância para não dormir comigo, foi embora de
repente.
O Deidara queria que eu estivesse ali.
Naruto On

Eu estava na mesma situação a mais de seis horas seguidas. A madrugada toda, incluindo parte de
minha manhã, havia se resumido em apenas uma situação. Lágrimas, choros, soluços e uma dor absurda
no meu coração.
Meu corpo permanecia aconchegado sobre o colo de Sasuke, encolhido e trêmulo em consequência
a perda mais triste, horrível e traumatizante que já vivenciei em meus dezoito anos de vida.
A cada lágrima que escorria por meu rosto avermelhado e inchado, vindo acompanhado de meus
soluços entrecortados e sofridos, os quais rasgavam dolorosamente a minha garganta após horas aos
prantos, era o Uchiha quem se esforçava ao máximo para arrumar uma maneira de me tranquilizar.
Mesmo que internamente, eu estava morrendo de pena do Sasuke.
Eu me sentia culpado por tê-lo feito permanecer ativo durante toda a noite, me consolando e
aguentando o meu choro alto, exagerado e que parecia nunca terminar.

328
Olheiras se faziam presentes por baixo de seus olhos, enquanto um ar cansado tomava conta de
todo o seu rosto, observando com preocupação eu me contorcer por cima de si, sem saber lidar com tanta
dor e sofrimento.
Embora meu estado fosse crítico, o Sasuke havia conseguido me ajudar muito durante esse tempo.
Sem a sua presença, eu realmente não conseguiria imaginar o que seria de mim diante dessa situação tão
frágil e difícil.
Eu, sinceramente, acho que não suportaria aguentar toda essa dor sem ninguém.
A parte que eu mais gostava era quando o moreno começava a cantar para mim. Por mais irrelevante
que pudesse soar em um momento como aqueles, escutar sua voz rouca, bonita e melódica, me trazia uma
paz momentânea quase que inexplicável.
A junção de sua voz tranquilizadora, fora o fato de estar deitado em seu colo, recebendo um carinho
e sendo, literalmente, ninado como uma criança, foi o que mais me tirou da lama durante as piores horas de
toda a minha vida.
Aquele era um desses momentos.
O momento em que o Uchiha estava cantarolando em meus ouvidos, ao mesmo tempo em que
sussurrava palavras bonitas e tranquilizadoras, dizendo-me a todo instante que tudo ficaria bem, além de
sempre deixar claro que não sairia do meu lado.
Era uma benção escutar isso.
O Sasuke era tudo o que me restava. Ele era a única pessoa que, além da minha mãe, ficou comigo
em todas as situações possíveis.
A dor de saber que não passei os últimos momentos de vida ao lado de Kushina, além de ter perdido
a oportunidade de abraça-lá, cuidar de si e dizer que a amava por uma última vez, era grande demais para
ser colocada em palavras.
Mas, com a presença de Sasuke, por mais doloroso que fosse, talvez pudesse ser algo suportável.
Eu só precisava que ele ficasse do meu lado e não pensasse em desistir de mim.
-Shhh, vai passar... -O moreno sussurrava de modo baixo e carinhoso em meu ouvido, piscando seus
olhos lentamente pelo sono que sentia de ter virado à noite comigo. Eu estava me sentindo muito culpado
por isso. -Eu amo muito você, bebê. Não precisa mais chorar.
Em resposta, o máximo que consegui fazer, além de lhe encharcar com minhas lágrimas, foi apertar
seu tronco em um sinal de agradecimento por ele estar sendo tão atencioso e paciente comigo.
Eu o amava muito.
-S-Sasuke... -Chamei entre soluços, tocando em minha própria garganta com uma careta dolorosa,
sentindo-a arder em consequência a tantas horas chorando e gritando.
-‘Tá doendo a garganta, bebê? -Perguntou preocupado, ao mesmo tempo em que secava minhas
bochechas com os polegares. Ao me ver assentir com a cabeça, ele pareceu ter se recordado sobre algo.
-Toma aqui. Eu peguei um pouco de água pra você.
O moreno apanhou sua garrafinha de água, ajeitando-me mais contra seu colo ao abrir a tampinha,
segurando na parte de trás da minha cabeça para me ajudar a beber.
Fechei meus olhos ao sentir o líquido entrar em contato com minha boca, descendo pela minha
garganta e aliviando, de certa forma, a sensação de queimação na mesma.
Eu acabei com o conteúdo rapidamente.
-Isso, muito bem. -Murmurou baixinho, talvez contente por eu ter conseguido beber água sem chorar
ou vomitar de nervosismo. -Você precisa comer alguma coisa, Naruto.
Eu neguei rapidamente com a cabeça.
-N-Não quero, Sasuke. -Choraminguei cansado. O Uchiha havia me trazido o jantar na noite anterior,
mas por conta do estado em que me encontrava, eu não consegui comer.
-Por favor, bebê. -Pediu docemente, retirando alguns fios da frente de minha testa para que pudesse
me olhar nos olhos. -Come pelo menos um pouco. Por mim, pode ser?
Eu não tinha como dizer “não“ aquilo.

329
Por mais que estivesse enjoado e sem fome alguma, eu sabia que o Sasuke queria o meu bem e que
também estava dando duro para cuidar de mim. O melhor a se fazer era me entregar aos seus cuidados e
obedece-ló.
Em resposta, eu assenti com a cabeça.
-Quer comer o cereal? -Perguntou sorridente, parecendo orgulhoso por eu estar me esforçando a
ficar bem. -Ou quer a laranja?
-C-Cereal.
-Ótima escolha. -Riu baixinho com a intenção de descontrair, pegando o potinho ao seu lado,
juntamente com uma colherzinha e logo entregando para mim. -Pronto, toma aqui.
Aceitei o cereal sem vontade alguma, sentindo meu estômago se embrulhar somente com a ideia de
precisar consumir alguma coisa. Eu estava prestes a desistir de me alimentar, mas por sentir que Sasuke
estava alegre com a minha atitude, eu fiz um esforço por ele.
Levei a colher até minha boca, fazendo uma careta chorosa e de reprovação, sem conseguir sentir o
verdadeiro gosto da comida por conta de meu nariz entupido. A medida em que mastigava o cereal, eu
sentia o Uchiha distribuir selinhos lentos e carinhosos por toda a minha cabeça e bochechas, murmurando o
quanto estava orgulhoso de mim.
O potinho em minha mão foi se esvaziando aos poucos. Quando o último cereal foi engolido por mim,
Sasuke sorriu doce em minha direção, aproximando nossos lábios para me roubar um selinho.
-Obrigado por isso, Naruto. -Me abraçou por cima de seu colo, deixando com que eu voltasse a me
acomodar na mesma posição de antes, com a minha cabeça apoiada em seu peito. -Eu fico muito feliz que
você tenha se alimentado.
Eu o abracei de volta.
Caímos em um silêncio profundo, o qual fazia tempo que não vivenciávamos. Pelo fato de eu estar
muito cansado, especialmente após ter passado toda a minha madrugada chorando, foi realmente
confortável ter tirado alguns minutinhos para tentar me acalmar.
Fechei meus olhos ao sentir o moreno acariciar minhas costas, apoiando seu queixo delicadamente
por cima de minha cabeça, parecendo estar tão cansado quanto eu.
Eu imaginei que pudéssemos tirar aquele tempinho para descansarmos juntos e afastar todas as
energias negativas de dentro de mim, entretanto, me enganei completamente ao ouvir um barulho vindo de
perto da grade.
Abri os meus olhos com curiosidade, sendo rapidamente acompanhado por Sasuke, o qual me
abraçou de modo protetor ao se deparar com a presença de Kakashi.
-Naruto? -O platinado chamou num tom de suspense, apoiando-se preguiçosamente entre os vãos
da grade. -Você tem uma visita.
Meu cenho se franziu instantaneamente.
-H-Hm... Como? -Perguntei falho.
-Eu disse que você tem uma visita. -Repetiu sem muita paciência. Ele começou a abrir a cela sem
antes deixar com que eu assimilar aquela informação. -Venha comigo.
Eu me abracei mais ao Sasuke.
Por alguma razão, eu fiquei com muito medo de deixar a cela. Não me passava pela cabeça quem
poderia estar me visitando em uma hora dessas, sendo que, a única pessoa que vinha me ver durante todo
o tempo em que passei na prisão, foi a minha mãe.
Isso quando ela ainda estava viva.
-Quem é que veio ver o Naruto? -O moreno pareceu ter se dado conta de meu conflito interno,
perguntando desconfiado por mim.
-Sei lá. -Kakashi deu de ombros, suspirando em irritação. -Nem se eu soubesse eu poderia te dizer.
O Naruto precisa ir até a ala de visitas e conferir por conta própria.
Eu me virei apreensivamente para Sasuke.
-Você quer ir, bebê? -Perguntou sério.

330
A verdade era que eu não queria sair da cela e muito menos deixar o colo gostoso e confortável do
Sasuke, mas ao mesmo tempo, a minha curiosidade em relação a quem poderia estar querendo falar
comigo, estava me consumindo.
Talvez fosse a Tsunade querendo me ver.
-V-Você vem comigo, Sasuke? -Questionei com um bico involuntário e choroso.
-Com certeza. -Sorriu carinhoso, beijando o topo de minha cabeça. -Vem, vamos levantar.
Dessa vez eu não tinha uma desculpa para ser carregado pelo Sasuke. Por mais que não estivesse
com forças para andar, eu não queria me aproveitar de sua boa vontade para pedi-lo que me levasse no
colo até a ala de visitas.
Eu teria que ir por conta própria.
-Já pode ir embora, Kakashi. -O Uchiha declarou frio, levantando-se do colchão com os olhos fixos no
outro. -A gente não precisa da sua companhia para isso.
O carcereiro riu sarcástico com a grosseira.
-Ótimo. -Deu de ombros. -Tchau pra vocês.
Quando ele deixou a nossa cela, Sasuke virou-se com um olhar cuidadoso, avaliando-me da cabeça
aos pés para conferir se eu estava mesmo em condições físicas e psicológicas de deixar a cela.
-Vem, segura no meu braço. -Ergueu em minha direção, sorrindo como se estivesse me relembrando
sobre aquela nossa mania.
Eu aceitei seu braço de bom grado. Me agarrei a si de modo necessitado e também com medo de
minhas pernas falharem no meio do caminho.
Eu estava extremamente fraco.
Começamos a caminhar para o corredor do bloco 5, o qual, para o meu alívio, se encontrava vazio.
Apesar de eu ser uma pessoa consideravelmente sociável, naquele dia, eu não estava com vontade de
interagir com mais ninguém.
Sasuke foi me guiando com toda a sua paciência, acompanhando meu ritmo lento e desgovernado
sem reclamar, fazendo força para me arrastar até a ala de visitas que, por sorte, ficava bem perto do bloco
em que nos encontrávamos anteriormente.
Ao alcançarmos o corredor que dava acesso ao cômodo, senti o Uchiha cessar os seus passos,
parecendo ter visto algo ou alguém que prendeu a sua atenção.
Eu levantei meu pescoço curiosamente.
Meus olhos foram rapidamente de encontro a entrada da ala de visitas. Deidara encontrava-se
parado e solitário, olhando em nossa direção como se esperasse que chegássemos perto de si para que
pudéssemos dialogar.
Sasuke foi me guiando ao seu lado, cumprimentando o loiro de modo breve, o qual apenas retribuiu
com um aceno de cabeça, tragando seu cigarro com os olhos fixos em mim.
-E aí, franguinho? -Chamou calmamente.
-Oi. -Respondi num desanimo preocupante.
-Você está melhor? -Me olhou de cima a baixo. Aquela pergunta era um tanto inconveniente se
levasse em conta a situação em que eu me encontrava.
-Aham. -Pisquei de modo lento e sofrido. Eu não conseguia nem mais chorar. Era como se meu
estoque de lágrimas houvesse acabado.
Deidara trocou alguns olhares com Sasuke.
-O que você está fazendo aqui? -O moreno indagou curioso.
-O cretino do meu advogado veio me ver. -Riu sarcástico, assoprando a fumaça em nossa cara. -Se
ele vier com aqueles papos de que eu não tenho um bom comportamento, eu vou socar o nariz dele na
mesa!
Sasuke riu breve.
-Você sabe do meu irmão, Deidara?

331
-Não. -Deu de ombros, jogando o seu cigarro no chão, antes mesmo de apagá-lo. -Ele estava comigo
na cela, mas sumiu do nada no meio da noite sem dar justificativas.
-Típico do Itachi. -Respondeu simplista. O Sasuke não parecia nada surpreso com o fato de seu
irmão ter passado a noite na cela do loiro. -Vamos, Naruto?
Eu somente assenti com a cabeça.
Me deixei ser arrastado pelo Uchiha, passando por Deidara de cabeça baixa, sem vontade de olhar
na cara de ninguém. Talvez conversar um pouco com a Tsunade fosse me fazer bem, ou então poderia me
deixar ainda mais devastado.
Não dava para saber como eu reagiria.
Adentramos a ala de visitas lado a lado, sendo automaticamente recebidos por Obito, o qual
carregava em mãos uma prancheta e parecia ler o conteúdo atentamente.
-Oi, Naruto. -Me cumprimentou, umedecendo a ponta os dedos ao virar uma página. -Ah, sim... A sua
visita já está à espera. Vai ser através de um vidro, não vai ser permitido fazer contato direto com a pessoa.
Alguma dúvida?
Não só eu, como o Sasuke também ficou sem entender. Se fosse a Tsunade me esperando, por qual
razão ela iria querer conversar comigo através de um vidro e não cara a cara, assim como a Kushina fez da
última vez?
Talvez ela tenha medo de mim pelo o que eu fiz com o Sai.
-H-Hm... Tá bom. -Eu decidi somente aceitar.
-É por ali. -Apontou com o dedo para mostrar a direção. Eu notei que o Sasuke tentou me
acompanhar, mas foi rapidamente segurado por Obito. -Você não pode ultrapassar daqui. Me desculpe.
Sasuke me olhou como se pedisse desculpas.
-Tudo bem se você for sozinho, bebê?
-Uhum.
-Eu vou ficar te esperando aqui, beleza? -Encostou-se na parede ao lado do outro.
Eu assenti positivamente.
Sem dizer mais nada, virei de costas para os dois, caminhando de cabeça baixa até o lugar indicado
pelo carcereiro. Sem ser eu, haviam mais sete pessoas recebendo visitas através das cabines de vidro.
Os detentos permaneciam ao lado de externo, enquanto seus amigos e familiares ficavam de fora,
conversando com a boca próxima de um microfone para que pudessem se escutar.
Eu ergui minha cabeça à procura de Tsunade.
Penetrei meus olhos em cada rosto presente no local, procurando através dos vidros por minha tão
esperada visita. Apesar de não tê-la encontrado, meu olhar foi atraído para a última cabine de todas, a qual
era ocupada por um homem loiro e alto, o qual parecia estar esperando nervosamente por alguém.
Meu coração disparou de repente.
Aquele homem solitário e cabisbaixo sentado a centímetros de mim, apenas separado por um vidro
fino e transparente, era o meu pai.
Depois de quase dois anos desaparecido e sem dar sinal de vida, o Minato, ou melhor, o motivo de
eu ter iniciado os assaltos para ajudar a minha mãe e ter vindo parar em uma prisão, estava sentado a
minha espera.
Meu corpo pareceu ter criado vida própria.
Ao mesmo tempo em que estava detestando a sua presença e me recordando de todo o mal que ele
causou tanto a mim, quanto a Kushina, nos abandonado e deixando suas dívidas em nossas costas, eu
sentia uma espécie de alívio por saber que alguém da minha família, sem ser eu, ainda estava vivo.
Com minhas pernas bambas e fracas, me aproximei da cabine com o peito palpitando, sentindo uma
emoção ruim tomar conta de todo o meu ser, especialmente ao vê-lo levantar sua cabeça, indo finalmente
de encontro aos meus olhos.
A sua expressão não era das melhores.

332
Minato carregava asco e decepção. Ele me olhava da cabeça aos pés com um semblante enojado,
provavelmente desaprovando o fato de me ver, literalmente, atrás das grades, vestindo um macacão laranja
para detentos.
Permanecendo em um silêncio penetrante, eu tomei a liberdade de me sentar em sua frente, não
conseguindo parar de mira-ló nos olhos, sentindo minhas órbitas arderem pela vontade absurda que sentia
de chorar com sua aparição.
-Naruto. -Chamou enrouquecido pelo meu nome. Seus lábios encontravam-se próximos do
microfone, enquanto sua cabeça se sacudia em descrença, aparentando estar inconformado com a ideia de
me ver preso. -O que foi que aconteceu?
Um riso sombrio rasgou minha garganta.
-“O que foi que aconteceu”? -Repeti friamente, sentindo uma lágrima solitária descer por minha
bochecha. -Você quer mesmo falar sobre isso, pai?
Seria muita falta de noção se o Minato se atrevesse a me perguntar o verdadeiro motivo de eu estar
na prisão. Tudo de ruim que aconteceu na minha vida, pelo menos grande parte dela, foi por culpa do meu
pai.
-Primeiro, eu recebo a notícia de que a sua mãe morreu... E então eu vou até a casa da Tsunade e
descubro que o meu próprio filho está na prisão. -Riu com um ar sombrio, negando com a cabeça.
-Inacreditável, Naruto.
Meus lábios se entreabriram em perplexidade.
-Você sempre foi uma criança problemática, mas eu nunca imaginei que chegaria a esse ponto.
-Declarou insensivelmente, pouco se importando em me dizer tantas malvadezas em um momento frágil
como aquele.
Eu estava muito arrasado. Eram tantos eventos ruins ocorrendo ao mesmo tempo que,
honestamente, eu não sabia ao certo o modo como lidaria com aquela visita.
A minha vontade era de explodir.
-Foi tudo sua culpa, pai. -Meus olhos ardiam pelas lágrimas, as quais se acumulavam de modo
involuntário e doloroso. -O motivo de eu estar aqui, o motivo da mamãe ter ficado tão doente... Foi você
quem deixou a gente.
-O motivo de você estar aqui? -Levantou uma sobrancelha, rindo cruelmente. -Então quer dizer que
eu fui o culpado por você ter matado um adolescente de dezesseis anos?
Meu peito se apertou drasticamente.
-Eu nunca pedi por isso, Naruto. -Cruzou os braços com sua melhor postura, sorrindo de modo frio e
perverso. -Você fez isso por conta própria. Fez porque é um assassino.
Minhas lágrimas desciam incontrolavelmente.
-N-Não, isso não é verdade. -Neguei atordoado com a cabeça, precisando apertar meu próprio peito
numa falha tentativa de espantar tamanha dor e sofrimento. -Foi um acidente, eu nunca quis matar ele. Eu
juro.
Minato riu em desdém, transmitindo-me a ideia de que não se importava com nenhum tipo de
justificativa de minha parte.
-A mamãe acreditava em mim. -Choraminguei baixinho. -E-Ela sabia que eu nunca machucaria
alguém de propósito.
-A sua mãe era uma mulher ingênua e idiota. -Inclinou-se propositalmente para perto do vidro. Era
como se Minato estivesse fazendo de tudo para deixar-me ainda pior e fragilizado. -Ela nunca soube
enxergar o que estava de baixo do próprio nariz dela.
Meus punhos se apertaram com força.
-Ela não enxergava que o próprio filho era um assassino. -Sussurrou provocativamente. -A Kushina
sempre foi tonta e inocente demais quando se tratava de você, Naruto.
Uma onda de fúria tomou conta de mim.
Foi como se toda a raiva e decepção que acumulei dentro de mim durante todo esse tempo,
houvesse simplesmente explodido. Em apenas um movimento rápido, meu punho foi de encontro ao vidro,
socando-o de modo completamente violento e descontrolado.

333
A minha força ocasionou em uma rachadura comprida por toda a sua extensão.
O som alto e estridente do vidro se quebrando em minhas mãos ecoou audivelmente por todo o
ambiente, chamando a atenção de todos os detentos ao meu redor, inclusive de Sasuke, Obito e Deidara,
os quais viraram assustados em minha direção.
-Cala essa boca! -Rosnei com minha face colada ao vidro, deixando o material embaçado por conta
de minha proximidade. Minato, por outro lado, encolheu-se de modo involuntário sobre a cadeira, ficando
claramente surpreendido com a minha violência repentina. -Você não sabe do que está falando e não tem o
direito de abrir essa maldita boca pra falar da minha mãe!
A sala inteira caiu no silêncio.
Os únicos barulhos presentes, além de minha respiração ofegante, eram os passos apressados e
desesperados que vinham de trás de mim, os quais anunciavam que havia alguém se aproximando.
Meus olhos se mantiveram arregalados e cheios de água, observando o momento em que Minato
decidiu se levantar da cadeira, sem exercer movimentos bruscos pelo receio que sentia de que eu me
alterasse novamente e acabasse arrebentando o vidro por inteiro.
A sua intenção era ir embora.
Foi como se Minato houvesse vindo me visitar apenas para me provocar e deixar-me ainda mais
fragilizado com a situação, e agora estava convicto de que fugiria igual um covarde para nunca mais
precisar olhar na cara de seu filho que ele mesmo abandonou.
-...Naruto?
Um toque leve e cuidadoso em minha cintura foi o que me trouxe de volta à realidade. A voz rouca e
calma de Sasuke soou próxima de meus ouvidos, desacelerando instantaneamente os meus batimentos
cardíacos e regulando a minha respiração.
-Ei... Olha pra mim. -Pediu baixinho. Seus braços circularam meus quadris, me abraçando e
acariciando por trás, conseguindo sugar qualquer vestígio de raiva e vingança que eu carregava dentro de
mim.
Meus olhos se encheram de lágrimas novamente.
Virei-me trêmulo e afobado para si, deixando com que meu corpo se encaixasse entre em seus
braços aconchegantes e musculosos, me afundando desesperadamente em seu peito quando recomecei a
chorar.
Eu estava horrorizado.
A verdade era que eu nunca havia agido de modo tão furioso e descontrolado em toda a minha vida o
que, consequentemente, acabou me deixando perdido e assustado comigo mesmo, sem saber como reagir
diante dessa nova adrenalina que meu corpo vivenciou.
-Shhh, já passou... -O moreno afagava meu cabelo, mandando embora toda aquela raiva e
negatividade que eu havia acumulado durante minha conversa com o Minato. -Você está comigo agora, não
vai acontecer nada.
Como sempre, o Sasuke era minha salvação.
-Naruto? -A voz falha de Deidara invadiu meus pensamentos.
Separei meu rosto do peitoral de Sasuke, franzindo o cenho com o chamado que recebi,
especialmente ao notar que os olhos do loiro se encontravam fixos na cabine em que eu estava
anteriormente, parecendo acompanhar a saída de Minato para longe da prisão.
Ele estava assustadoramente pálido.
-Por que você estava falando com o meu pai?
Tanto eu, quanto o Sasuke e o Obito, olhamos em direção ao loiro com as testas franzidas e
sobrancelhas arqueadas, tentando compreender aquele seu questionamento completamente aleatório e
sem sentido.
-C-Como...? -Sacudi a cabeça sem entender.
Fomos todos surpreendidos, mais uma vez, pela super imprevisibilidade do Deidara.
Contendo o rosto vermelho e contraído pela raiva, o mais velho avançou em direção à cabine aonde
eu me encontrava, socando-a com uma violência ainda maior do que a minha por cima da rachadura já
existente.

334
Ela arrebentou ainda mais o vidro em sua mão.
-Minato, seu filho da puta! -Gritou sem controle, chamando a atenção de meu pai, o qual já deixava o
local às pressas. -Eu estou te vendo!
Minato, por sua vez, ficou inteiramente pálido.
Ele parecia ter reconhecido o Deidara e, aparentemente, se sentido receoso com a sua presença.
Meu pai pareceu ter tirado alguns segundos para refletir sobre a ideia de se aproximar de si, mas como o
grande covarde que se mostrou ser, ele simplesmente virou de costas e começou a correr.
-Seu desgraçado! -Berrou ao notar que o outro estava fugindo, desferindo mais um murro na cabine.
O vidro simplesmente se partiu em pedaços. -Foge igual você sempre fez, seu filho da puta! Some pra
sempre!
-Deidara, para com isso! -Obito continha os olhos arregalados, impressionado com tanta violência
vinda do loiro. Em consequência aos nossos socos, o vidro havia deixado de resistir e se quebrado por
inteiro. -Você ‘tá doido?!
Ele virou-se completamente alterado.
Seu punho, assim como o meu, encontrava-se levemente ensanguentado. No entanto, o que mais
me assustava em si, era o estado em que ele havia ficado por encontrar o meu pai.
-D-Deidara... -Chamei atordoado. Eu precisei me soltar dos braços de Sasuke para dar um passo em
sua direção. -O que foi isso..?
-Aquele desgraçado foi embora! -Ele gritava com o seu dedo apontando para trás, referindo-se
claramente à saída Minato. -Foi embora assim como ele fez quando me largou naquela porra de orfanato!
A cada palavra que saia de sua boca, mais confuso eu ficava diante da situação.
-D-Do que você está falando? -Dei outro passo para perto de si. -Por que o meu pai te largaria em
um orfanato? Ele nem te conhece.
Caímos em um silêncio reflexivo.
Eu sempre fui alguém muito lento e demorado no quesito raciocinar situações, entretanto, aquele
momento foi uma exceção. O conjunto de informações que adquiri naqueles últimos minutos, de repente
vieram à tona e ficaram claras em minha mente.
Deidara parecia estar da mesma forma.
Nossos olhos estavam conectados, alternando sem parar de um para o outro, ambos parecendo
terem se dado conta do que estava acontecendo e do que tínhamos acabado de descobrir.
-Gente... -A voz de Sasuke soou falha e surpreendida atrás de mim. -Vocês são irmãos.
A frase ficou ainda mais emocionante sendo dita em voz alta. E, pelo o que me parecia, o loiro
parecia ter sentido o mesmo, embora estivesse com os sentimentos bem mais contidos e controlados do
que eu.
Meus olhos estavam, mais uma vez, cheios de lágrimas pela emoção do momento.
-Eles são meio-irmãos, na verdade. -Obito corrigiu, soltando uma riso fraco ao se encostar na parede
atrás de si, assistindo tudo com um sorriso no rosto. -Que legal, por essa eu não esperava. Eu to chocado.
Eu não esperei mais nenhum segundo.
Com os meus braços abertos em sua direção, foi somente necessário me inclinar um pouco para que
estivesse junto ao seu corpo, o abraçando forte e apertado, sentindo lágrimas descerem por conta daquela
descoberta linda e marcante.
Eu tinha um irmão mais velho.
Todas as vezes em que a Deidara me falou sobre o seu pai, dizendo como o mesmo era malvado e
ruim por tê-lo abandonado em um orfanato e ido morar com a mulher que ele engravidou, eu nunca imaginei
que estivesse incluído nessa história tão triste.
Mas, aparentemente, ela tinha um final feliz.
Ter sido preso, embora houvesse sido a situação mais difícil de toda a minha vida, também me trouxe
muitas coisas boas. Além de eu ter conhecido o amor da minha vida, agora eu sei que não estou mais
sozinho, sem família e jogado solitariamente no mundo.

335
O Deidara era a minha família.

Capítulo 25 - Criando laços


Sasuke On

As batidas leves e ritmadas do lápis em contato com o papel era o único barulho existente e audível
no cômodo. A mesa em minha frente encontrava-se sobrecarregada com cadernos, canetas e algumas
tintas coloridas que a diretoria decidiu disponibilizar para que os detentos pudessem se entreter em seus
tempos livres.
Sentado retamente sobre a cadeira, minhas mãos trabalhavam por cima de uma das folhas em
branco, desenhando aleatoriamente algumas imagens e objetos que vinham em minha mente, enquanto
dava o meu máximo para manter Naruto distraído e ocupado com alguma atividade verdadeiramente
saudável.
Estávamos ambos na biblioteca.
Honestamente, era a primeira vez que eu frequentava aquela área da penitenciária por vontade
própria e não apenas para procurar pelo Naruto ou então para me encontrar com o Obito às escondidas.
Era até que agradável ficar naquele ambiente tão silencioso e vazio, visto que quase nenhum detento
aparecia por ali. As únicas pessoas que se interessavam por livros, sem ser o Naruto, era o Gaara e o Itachi
que, no caso, preferia buscar por literaturas eróticas.
A ideia que eu tive realmente havia ajudado o meu bebê a relaxar um pouco e se desprender de seus
pensamentos negativos após tantas situações estressantes e traumatizastes que foi obrigado a enfrentar
nas últimas quarenta e oito horas.
O Naruto estava acomodado em meu colo.
Mantendo-se sentado sobre minhas coxas, o loiro continha seu tronco inclinado para frente,
parecendo atarefado e concentrado em não borrar nenhuma parte de seu rascunho.
Ele havia desenhado um anjinho com asas, auréola e um cabelo ruivo e cumprido.
Aparentemente, aquela personagem era para ser a Kushina. Embora fosse de partir o coração vê-lo
sofrer tanto com a morte de sua mãe, desenhá-la em um papel talvez fosse uma maneira que o meu bebê
encontrou de lidar com o luto de sua morte, especialmente por não estar autorizado a deixar o presídio para
ir ao seu enterro na manhã seguinte.
-Que desenho lindo, bebê. -Fiz um carinho lento em sua cintura, elogiando-o com um sorriso
carinhoso. A sua escolha de cores era realmente atraente e bem-pensada, fora que ele desenhava muito
bem. -Deixa eu ver?
-Uhum. -Me estendeu o papel.
Juntei minha bochecha com a de Naruto, segurando o desenho na altura de nossos rostos para que
ambos pudéssemos observa-ló ao mesmo tempo. O menor parecia satisfeito com o resultado, embora
possuísse um sorriso bem apagado e tristonho preso em seu rostinho, ainda lidando com o fato de que sua
mãe não estava mais entre nós.
-Você é muito talentoso. -Esfreguei nossas bochechas de modo manhoso e proposital, sorrindo ao
escuta-ló soltar uma risada baixinha e bastante infantil. Era muito bom ver ele se distrair um pouquinho. -Os
seus outros desenhos também ficaram lindos, sabia?
-H-Hm... Você acha? -Riu tímido.
-Acho sim. -Murmurei contra seu pescoço, aproveitando o fato de Naruto estar em meu colo para
estalar alguns selinhos em sua pele, fazendo-o se contorcer manhosamente pelas pequenas cócegas e
arrepios que lhe causei. -Muito, muito mesmo.
Os seus outros desenhos também eram muito fofos e caprichados, envolvendo animais, flores,
sorrisos, a até mesmo personagens de desenhos animados. No entanto, o principal entre todos era um que
o loiro havia utilizado um pincel e até mesmo passado a caneta para realçar os traços.
-Você acha que o Dei vai gostar? -Perguntou num tom inocente, referindo-se ao desenho que eu
observava. Ele era, de longe, o mais chamativo e realista entre todos. O rabisco se tratava de um garoto
loiro com uma espátula na mão, usando na cabeça um chapéu de chefe de cozinha. -Eu desenhei ele. Você
viu?
Soltei um riso alto e divertido.

336
-Eu acho que o Deidara vai adorar.
Eu tinha quase me esquecido a respeito da grande e surpreendente revelação de horas atrás. Se
aquela informação era absurda e chocante até mesmo para mim que não tinha nada a ver com a história, eu
nem conseguia imaginar em como estava a cabeça do meu bebê em um momento como aqueles.
O Deidara e o Naruto eram irmãos.
Apesar da situação desagradável que levou-os a descobriram que são pertencentes a mesma
família, eu sentia como se essa nova notícia houvesse vindo na hora certa, além de ter servido como uma
espécie de consolo para o Naruto.
Em sua concepção, saber que não estava mais sozinho no mundo, unindo-se ao fato de que possuía
alguém de sua mesma linhagem sanguínea ao seu lado, foi mais do que necessário para combater todo o
sofrimento de ter perdido sua mãe.
O meu bebê reagiu muito bem a tudo isso.
Por mais emocionado que tenha ficado na hora, foi notável o modo como tudo o atingiu de forma
bastante positiva e bonita. O loiro estava extremamente contente com o fato de ter um irmão mais velho
vivendo consigo.
Mas, em contrapartida, eu não fazia ideia do que esperar do Deidara.
O loiro mais velho não aparentou ter ficado tão tocado com o ocorrido, apesar de que ele sempre foi
conhecido no quesito ser ótimo em “esconder suas emoções de todos a sua volta”, assim como o meu
irmão faz.
No momento em que Naruto o abraçou, eu confesso que fiquei bastante tenso com o fato de Deidara
não retribuí-lo e, consequentemente, acabar machucando o meu bebê. Mas, aparentemente, ele lidou bem
com a situação.
Embora ele tenha o correspondido com uma expressão um tanto quanto distante, séria e receosa,
deu para notar que ambos conseguiram se deixarem levar pelo momento e manter um abraço bonito.
Mas, infelizmente, isso não durou muito.
Pelo fato de Deidara ter quebrado a cabine de vidro em um de seus momentos de fúria, Obito deixou
claro que, para que ele pudesse escapar de outra semana longa e torturante dentro da solitária, seria
necessário prestar “serviços comunitários” na prisão durante uma semana no horário do café da manhã.
Foi nessa hora que os dois irmãos tiveram que se distanciarem e cada um seguir para um lado.
Desde então, nós não havíamos visto o Deidara, o que provavelmente significava que o mais velho estava
ocupado com os seus serviços ou então somente precisando de um tempo para assimilar tudo o que
aconteceu.
Mas, apesar de tudo, Naruto não foi incluído no castigo do carcereiro.
Mesmo tendo participado do momento de tensão com o Minato e, surpreendentemente, sendo a
primeira pessoa entre eles a quebrar o vidro, Obito achou melhor não incluí-lo no castigo por puro respeito a
sua perda mais recente. O moreno sabia bem o quanto o meu bebê estava sofrendo e que não teria forças
para aguentar um “serviço comunitário”.
Eu mentiria se dissesse que não estava surpreendido com a força e descontrole de Naruto em sua
última discussão com Minato.
Mas, ao mesmo tempo, era mais do que justificável que ele tenha se alterado tanto e chegado ao
ponto de “partir para a violência” daquela forma. Todos nós temos os nossos limites e, aparentemente, o do
loiro foi ultrapassado ao citarem de modo maldoso e cruel a sua mãe já falecida.
Eu não o culpava de forma alguma.
A única coisa que me preocupava, além do corte largo que sua mão possuía por ter quebrado o vidro
da cabine, era o modo como Naruto ficou assustado consigo mesmo por conta de sua violência. Era como
se o meu bebê estivesse se auto-descobrindo e, aos poucos, se dando conta de sua força interior.
Talvez, só talvez, isso fosse algo bom.
-Sua mão ‘tá melhor, Naruto? -Questionei com tranquilidade, acariciando por cima do curativo que eu
mesmo fiz. Depois do que houve com o Yamato, eu me recusava a deixá-lo frequentar aquele ambiente
tóxico.

337
-Mais ou menos. -Olhou para sua própria mãozinha com um biquinho chateado, parecendo se
recordar do verdadeiro motivo de te-lá machucado. Relembrar sua briga com Minato continuava sendo
doloroso para si, até porque, havia ocorrido a somente algumas horas atrás. -‘Tá ardendo muito ainda.
Sem dizê-lo mais nada, eu apenas tomei a liberdade de trazer sua mão enfaixada delicadamente até
a minha boca, distribuindo beijos lentos e cuidadosos por cima de seu corte, espantando quaisquer
vestígios de dor e tristeza que aquele ferimento carregava.
-Prontinho, vai passar. -Murmurei contra sua mão, dando-lhe um último selinho leve e fraquinho.
Naruto, por sua vez, sorriu envergonhado em minha direção, aprovando o fato de estar sendo cuidado por
mim e recebendo carinho. -Melhorou?
-U-Uhum. -Assentiu com as bochechas avermelhadas, abraçando-se ao meu tronco com um sorriso
tímido e cansado, ficando de ladinho por cima de minha coxas. -Eu te amo muito, Sasuke.
Eu suspirei completamente apaixonado.
-Eu te amo mais. -Encostei nossas testas, esfregando propositalmente os nosso narizes em um ato
extremante aleatório e carinhoso.
-H-Hm... Não, eu amo mais. -Piscou seus olhinhos azulados com um ar meigo e calmo, causando-me
pequenas cócegas com os seus cílios. -Muito, muito mais.
Meu sorriso, se fosse possível, cresceu ainda mais.
-Me desculpa, bebê, mas eu amo mais. -Rebati entre sussurros, mordendo a pontinha de seu nariz
seu nenhum aviso prévio, arrancando risadas gostosas e infantis de sua parte. -Nem adianta falar que me
ama mais. Eu te amo infinitamente mais do que você vai falar. Pronto, acabou a brincadeira.
O loiro fez um biquinho de indignação.
-Ei, assim não vale...
-Vale sim. -Lhe roubei um selinho. -Sou eu quem faço as regras por aqui.
Reparei que Naruto estava prestes a retrucar contra mim, mas foi inesperadamente interrompido por
um barulho alto e escandaloso vindo da entrada da biblioteca.
-... Não me interessa se eu não tenho a porra do cartão de autorização, caralho! Abre esse treco
agora senão eu vou te matar!
Ambos espichamos o pescoço curiosamente.
Não foi nada surpreendente nos depararmos com o Deidara parado de frente a catraca da biblioteca,
parecendo armar uma confusão das grandes para que o detento responsável autorizasse a sua entrada,
mesmo que, assim como eu, ele não possuísse o cartãozinho.
Fora isso, notei que Gaara também o acompanhava em sua “invasão” a biblioteca, permanecendo
atrás de si como se tentasse se comunicar e chamar a sua atenção, mas sendo completamente ignorado
pelo outro.
A biblioteca inteira parou para olhá-los.
-Libera a nossa entrada senão a chapa vai esquentar pro teu lado! -Ele dava murros grotescos e
pesados na madeira da mesa, deixando o detento encolhido pelo medo. -Vai logo, seu morfético! Abre pra
gente!
Eu e Naruto nos entreolharmos assustados.
-Até que enfim! -Gritou com as mãos para o alto, contente pelo presidiário ter finalmente cedido as
suas ameaças e dado passagem para que ambos entrassem de uma vez. -Vem logo, Gaara, para de ficar
falando!
-Como assim “para de ficar falando”?! -O ruivo perguntou abismado, vindo atrás de si com uma feição
pálida e surpreendida. -Você acaba de me contar que é irmão do Naruto e não quer que eu te faça
perguntas?!
Eles não estavam medindo o tom de suas vozes. Para falar bem a verdade, estavam todos olhando
em suas direções e, por mais que tivessem poucas pessoas ao redor do cômodo, os detentos presentes
pareciam interessados no diálogo de ambos.
Deidara olhava atentamente a sua volta.

338
Ele parecia buscar por alguém em especial, visivelmente agitado e ansioso com alguma coisa. Eu
logo imaginei que de tratasse de Naruto, embora não tivesse cem por cento de certeza pelo fato do loiro ser
alguém bem imprevisível e intenso.
-Me responde, Deidara! -Gaara puxava a manga de seu uniforme, soltando alguns gritinhos e sons
de indignação por estar sendo ignorado. -Me fala, me fala, me fala!
O loiro grunhiu em irritação.
-Para de gritar, caralho! -Empurrou a mão de seu companheiro, perdendo o resto de sua paciência.
-Por causa desse seu chilique desnecessário, metade da prisão sabe que o Naruto é o meu irmão!
-Se você me explicasse as coisas direito, eu não precisaria ficar gritando pra chamar a sua atenção,
caramba! -Rebateu numa entonação ainda mais alta e exagerada, fazendo eco por toda a biblioteca. Eles
realmente não sabiam como serem discretos. -Olha ali, é o Naruto!
Ambos notaram a nossa presença.
O meu bebê ficou meio sem jeito ao se dar conta de que o resto da biblioteca também olhava em
nossa direção, mas por outro lado, não pareceu se importar tanto com o fato dos dois garotos terem tomado
a iniciativa de se aproximarem, ambos se acotovelando para alcançarem nossa mesa.
-Franguinho, é verdade?! -O ruivo chegou gritando, deixando Naruto instantaneamente encolhido por
cima de meu colo. -Me fala se isso é verdade, pelo amor de Deus!
-H-Hm... O quê?
-Você e o Deidara são irmãos?! -Berrou com os olhos arregalados, apoiando-se com os dois braços
na mesa ao se aproximar do rosto do meu bebê, talvez com a intenção de decifrar qualquer tipo de mentira
dentro de si.
Caímos em um silêncio longo e estranho.
Apesar da quietude de Naruto, o mais velho permanecia com os braços cruzados atrás do ruivo,
carregando, junto com isso, uma expressão séria, talvez esperando que o menor dissesse a verdade de
uma vez por todas para que seu companheiro deixasse de duvidar de suas palavras.
Naruto, por sua vez, assentiu positivamente.
-S-Sim, nós somos. -Revelou meigamente, sorrindo com suas bochechas coradas. -Somos
meio-irmãos, na verdade.
O queixo de Gaara foi ao chão.
-Viu só?! -Deidara soltou um riso curto e sarcástico, dando um empurrão no ombro do outro como
uma espécie de provocação. -Toma na cara, seu lazarento!
O ruivo se virou surpreendido.
-Eu achei que era mentira! -Seus olhos estavam esbugalhados em descrença. -Gente, como assim?!
Eu to passado!
-Por que eu mentiria pra você, Gaara? -Indagou tedioso, tomando a liberdade de se sentar na ponta
de nossa mesa, quase em contado com os desenhos de Naruto. -Não tem motivo.
-Mas tipo... -Ele alternava sem parar entre os dois irmãos, atordoado e perdido demais para formular
qualquer tipo de pergunta. Eu também fiquei muito surpreendido com a notícia, mas não tanto quanto o
Gaara. -Vocês não tem nada a ver um com o outro!
Naruto e Deidara se entreolhavam em silêncio.
-Legal, os dois são loiros dos olhos azuis, mas fora isso, não tem nada! -Riu perturbado, parecendo
procurar desesperadamente por semelhanças marcantes entre os dois. -Vocês são completamente
diferentes! O Naruto é um amor de pessoa e você é um potro, Deidara!
O mais velho o olhou ofendido.
-Como é que é?!
-Não, é sério! -O ruivo levantou aos mãos na defensiva. Em seguida, olhou até mim como uma
espécie de pedido de socorro e sentou-se junto ao loiro por cima da mesa. -Sasuke, me diz uma coisa que
eles tem em comum e eu juro que calo a minha boca!
Eu não esperava ser incluído no assunto.

339
Pisquei atordoadamente, olhando fixamente para o Naruto sentado em meu colo, o qual carregava
uma expressão meio tímida e sem graça, passando, em seguida, para Deidara.
-Bom... -Cocei minha nuca sem saber o que dizer. Eu havia cogitado a ideia de falar algo sobre os
dos dois estarem em um relacionamento comigo e com o meu irmão, entretanto, achei melhor não tocar no
assunto por respeito ao Deidara. -Ah, os dois sabem fazer aqueles movimentos de ginástica, sabe? Dar
mortais, estrelas, cambalhotas e etc.
Embora eu tenha me atrapalhado um pouco em minha explicação, isso pareceu ter deixado o Gaara
momentaneamente satisfeito. Notei ele ficar um tempo sem dizer nada, alternando novamente entre os dois
irmãos, até que soltou um suspiro longo.
-É, nisso você tem razão. -Cruzou os braços impressionado. -Mas eu ainda estou chocado.
Deidara bufou audivelmente.
-Pronto?! Já acabou o escândalo?
-Já. -Murmurou baixinho e pensativo.
Outro momento de silêncio caiu entre nós.
Eu imaginei que fosse ficar um clima meio estranho pelo fato de Naruto e Deidara não terem trocado
nenhum palavra sequer desde o momento em que descobriram sobre a tal notícia, entretanto, me enganei
ao sentir o meu bebê se remexer em meu colo, dando a entender que gostaria de se levantar.
Larguei de sua cintura com muito esforço, permitindo que o loiro ficasse de pé em minha frente,
possuindo seus olhos timidamente fixos e conectados aos do mais velho, além de conter suas mãos juntas
na frente de seu corpo em um pequeno sinal de insegurança.
-H-Hm... Deidara? -Chamou envergonhado.
Com o chamado que recebeu, o mais velho somente se ajeitou por cima da mesa, descruzando seus
braços ao notar que o menor se aproximava de si, ao mesmo tempo em que carregava em mãos o desenho
que havia me mostrado anteriormente.
Eu sorri como se já soubesse o que estava por vir.
O meu bebê tinha a intenção de lhe entregar o desenho como uma espécie de gratidão pela
descoberta que fizeram recentemente, além de querer agrada-ló e mostrar que estava disposto a “assumir”
o seu posto de irmão mais novo.
-Eu fiz pra você. -Estendeu o papel em sua direção, possuindo um sorriso doce e as suas bochechas
avermelhadas.
Mesmo que levemente relutante, Deidara acabou aceitando o conteúdo, olhando de modo curioso
para a folha. Seus olhos percorreram o desenho com atenção, deixando Naruto ansioso e agoniado de
frente para si, parecendo procurar desesperadamente por sua aprovação.
Felizmente, a reação do outro foi positiva.
Embora não estivesse nada habituado a receber presentes e muito menos lidar com gestos e
demonstrações de carinho, Deidara fez um esforço para ser agradável e lhe enviar um sorriso, mesmo que
bastante sem graça.
-Fofo. -Foi a única palavra que saiu de sua boca, vindo acompanhada de pequenas batidinhas na
cabeça de Naruto. -Obrigado.
Um sorriso clareou o rosto do menor.
O meu bebê ficou claramente emocionado com o fato de Deidara ter sido tão legal e “carinhoso”
consigo, além de ter aprovado o desenho que ele se esforçou tanto para fazer com a intenção de agradá-lo.
Talvez por ser uma das primeiras vezes em que ele agia de forma tão atenciosa, Naruto se sentiu
seguro e a vontade para abraçá-lo novamente.
Sem pedir por uma permissão, juntou seu corpo ao do mais velho com um sorriso doce, fechando
seus olhos ao repousar a cabeça no ombro alheio, pouco se importando com a demora de Deidara em
retribuí-lo.
O mais velho, por outro lado, ficou, inicialmente, sem jeito com tanto grude e afeto, mas assim como
da outra vez, acabou por corresponder com pequenos tapinhas em suas costas, carregando um sorriso
pequeno.

340
-H-Hm... Eu te amo. -Naruto declarou amorosamente, sem pensar muito nas consequências ou em
como o seu irmão reagiria. Embora tenha sido uma declaração bastante impulsiva, deu para notar que foi
sincera e autêntica.
Eu fiquei com medo da reação de Deidara.
O meu bebê, diferente de seu irmão, é alguém que sempre se permitiu receber afeto e atenção das
pessoas, além de se apegar facilmente a qualquer um que o tratasse com um pouco mais de carinho e
soubesse lidar com o seu jeitinho mais grudento e carente.
Ele não via problema em se declarar para as pessoas e muito menos em expor seus sentimentos
para qualquer um que estivesse por perto. No entanto, qualquer um em sã consciência sabia que Deidara
não era dessa forma e muito menos do tipo de gente que, por mais próxima que a pessoa fosse,
corresponderia a um “eu te amo”.
Eu tinha medo do Naruto sair magoado.
-Hã... Obrigado. -Deidara afastou o mais novo de seu corpo, empurrando seus ombros com um olhar
levemente perdido. Foi claro o modo como o Naruto ficou confuso por não ter sido correspondido da
maneira que desejava.
Talvez por terem acabado de se descobrirem irmãos, Naruto imaginou que o mais velho o daria
liberdade para que ambos pudessem ser mais carinhosos e atenciosos um com o outro, entretanto, talvez
isso fosse algo novo e muito precipitado para Deidara.
-Ah, que amor! -Gaara sorriu largamente, soltando um gritinho de aprovação. -Fofos demais! Meus
meninos maravilhosos!
Eu sorri juntamente com o ruivo.
Por mais que Deidara não tenha reagido da maneira que todos nós desejávamos, já foi um grande
passo ver ele correspondendo ao abraço do meu bebê e não ter agido de modo frio e rude com sua
pequena declaração.
-Cala a boca, vai. -O loiro estalou a língua. -Vamos fazer logo o que a gente tem pra fazer aqui,
Gaara. Daqui a pouco eu tenho que ir até a cozinha.
-Ah, sim... -O ruivo pareceu se dar conta do verdadeiro motivo de estarem na biblioteca. -A gente
precisa falar com você, Sasuke.
Levantei meu pescoço curiosamente.
-O que houve? -Por alguma razão, eu imaginei ter sido algo relacionado ao Itachi, até porque, eu não
o tinha visto desde o dia anterior. Ele tinha simplesmente sumido.
-Eu e o Gaara vamos até a diretoria fazer uma denúncia contra o Yamato. -Deidara levantou-se da
mesa, passando normalmente ao lado de Naruto, o qual permanecia sorridente com o fato de seu irmão
tê-lo tratado bem. -A gente precisa de você pra ir junto. O seu irmão foi quem mais saiu prejudicado nisso
tudo.
-Sim, ele tem razão. -Gaara acrescentou seriamente. -Você é a maior testemunha do que aconteceu,
Sasuke. Você literalmente teve que ressuscitar o seu próprio irmão por conta da irresponsabilidade do
Yamato.
Me causavam arrepios somente por me recordar do que fui obrigado a fazer para manter o meu
irmão mais velho vivo. O que o Yamato me fez passar naquela enfermaria e o trauma que ele causou tanto
em mim, quanto em Itachi, era algo imperdoável.
Além do mais, tinha todo o evento envolvendo o Naruto, que eu com certeza não deixaria de
comentar para a diretoria caso os meninos realmente estivessem convictos de prosseguir com a denúncia
contra ele. O meu bebê também foi uma vítima nessa história toda.
-Tudo bem, vamos fazer isso. -Concordei positivamente. -Mas vocês não acham melhor levar o Itachi
para falar por conta própria?
-Não. -O loiro negou rápido. -Ele estava inconsciente e não se lembra de quase nada. A gente acha
que o melhor a se fazer é levar pessoas que presenciaram o acontecimento.
-Isso. -Gaara concordou. -Eu também vou pra relatar o que eu vi da vez em que estávamos os três
com o Naruto na enfermaria. Aquilo foi um absurdo. Sério, aquele cara é louco.
Mesmo que de canto de olho, reparei o meu bebê se entristecer ao ouvir os garotos tocarem no
assunto do dia da enfermaria, ou seja, no dia em que sua mãe veio a óbito.

341
Ainda era absurdamente difícil para ele se recordar e lidar com essa situação tão delicada. Embora
tenha se passado algum tempo desde o ocorrido, o Naruto ainda estava sofrendo muito e tendo incontáveis
recaídas perto de mim.
A coisa que ele mais odiava era ficar sozinho.
Por estarmos muito grudados, eu cheguei à conclusão que, a cada vez em que eu me afastava, o
loiro parecia entrar em pânico, como se pensasse que seria abandonado por mim ou que eu desistiria de
ficar do seu lado.
O Naruto estava claramente necessitado da companhia de alguém. E eu, como o ótimo namorado
que sou, venho ficando do seu lado quase cem por cento do dia, lhe dando bastante carinho, beijos,
abraços, atenção e fazendo de tudo para ajudá-lo a se sentir menos sozinho e enfrentar tanta tristeza.
-Certo, eu entendi. -Declarei com seriedade, disposto a participar da denúncia. Eu daria o meu
melhor para soar o mais convincente possível na diretoria, para que assim Yamato pudesse ser substituído
e nunca mais voltar a prejudicar ninguém. -Vocês vão agora?
-É. -Deidara concordou.
-Ótimo. -Foi a minha vez de levantar. Ao me ver de pé, o meu bebê tratou de se aproximar de mim,
sendo recebido com um sorriso carinhoso de minha parte. -Você vem, bebê?
Deidara discordou com a cabeça.
-Não, o franguinho não pode ir. -Alertou com os olhos fixos em seu irmão, o qual fitou-o de volta com
inocência, bastante aéreo e perdido sobre o que estávamos planejando. -É melhor o Naruto não ficar na
sala. Só lembrando que vamos contar para o diretor que o Yamato pretendia sedar ele. Três pessoas já está
bom, senão fica muito confuso e difícil de entender.
Olhei para o meu bebê agarrado ao meu braço.
Seus olhinhos azulados me fitavam inocentemente, nem sequer imaginando sobre que estávamos
falando e muito menos ciente do fato de que Yamato tentou seda-ló em uma momento de tanta fragilidade
sua.
Naruto nem cogitava as situações que quase foi obrigado a se submeter nas mãos daquele
enfermeiro irresponsável e sem juízo.
-Certo, você tem razão. -Suspirei frustrado. Não daria para simplesmente levar o Naruto e deixá-lo
ouvir sobre tudo o que aquele louco pretendia fazer consigo, especialmente agora que está passando por
um momento de luto.
-H-Hm, Sasuke?
Baixei meu pescoço para ir de encontro aos olhos do loiro, os quais já miravam os meus com certa
curiosidade e apreensão. Ele parecia estar ciente de que algo estava errado, mas não sabia ao certo o quê.
-Oi? -Respondi doce.
-Do que vocês três estão falando?
-Nós vamos até a diretoria. -Informei muito por cima, não querendo encher sua cabeça com outros
assuntos. -Tivemos alguns problemas com o Yamato e precisamos ir resolver com o diretor. É mais ou
menos isso.
O loiro tombou a cabeça para o lado.
-Eu posso ir com você?
Ali estava o maior problema.
Já era previsto que o Naruto pediria para nos acompanhar, principalmente por estar evitando ao
máximo ficar sozinho. Sua carência e necessidade de atenção estava muito maior do que o normal, além do
seu medo desnecessário de ser abandonado por todos que ama.
-Eu preciso que você entenda, bebê... -Retirei alguns fios loirinhos de sua testa, olhando seriamente
para si. -Dessa vez não vai dar pra você vir com a gente, tudo bem?
Seu cenho se franziu em confusão.
-P-Por que não? -Perguntou frágil e choroso. O seu humor instável estava se tornando algo difícil de
lidar, mas felizmente, eu sou uma pessoa com bastante paciência e que sabia bem como tratá-lo. -Por favor,
deixa eu ir. Eu não quero ficar sozinho, Sasuke.

342
Suspirei em preocupação.
Caso o Deidara ou o Gaara não estivessem me acompanhando, eu com certeza pediria para que um
deles fizessem companhia para o meu bebê enquanto eu estivesse “longe”, entretanto, como foram eles
quem tiveram a ideia da denúncia, eu não tinha muitas outras opções.
-Você não consegue ficar dois minutos sozinho, Naruto? -Deidara perguntou tedioso, parecendo fazer
um esforço para entender a situação. -É só ir até a nossa cela e ficar deitado, daqui a pouco a gente volta.
-M-Mas eu não quero ficar sem ninguém. -Choramingou baixinho, se abraçando ao meu tronco de
modo pidão e necessitado. -Não me deixa sozinho. Por favor.
-Meu Deus, haja paciência. -O loiro esfregou a própria face, batendo os pés impacientemente no
chão. -Sasuke, resolve logo isso aí. Eu não tenho o dia todo, falou?
Algumas pessoas não conseguiam entender a real situação de Naruto e, por conta disso, acabavam
sentindo raiva e impaciência diante de suas atitudes tão “infantis”. No entanto, eu era um dos que
compreendia perfeitamente todo o seu medo e insegurança em ficar sem ninguém após o que houve com a
sua mãe.
Ele precisava muito de suporte e companhia.
-Tudo bem, eu não vou te deixar sozinho. -Dei um beijo no topo de sua cabeça, me rendendo ao meu
bebê. Eu não conseguiria ser tão desapegado ao ponto de deixá-lo sem ninguém, mesmo que por poucos
minutos. -A gente arranja alguém pra ficar com você.
-Deixa o Naruto com o Neji, sei lá. -Gaara sugeriu aleatoriamente. -Ele é de boa.
-Não vai rolar. Os meninos estão no turno de trabalho deles. -O loiro relembrou, claramente irritado
com a demora e todo o “drama” que seu irmão estava fazendo. -O que custa ficar dois minutos sozinho,
Naruto?!
O menor se encolheu entre meus braços.
Pelo fato de conhecê-lo melhor do que todo mundo, eu sabia bem o quanto Naruto odiava ser um
fardo para as pessoas ao seu redor.
-Tudo bem, calma. -Gesticulei para os garotos, querendo amenizar a situação. Ficar gritando com o
meu bebê só pioraria tudo. -Eu tive uma ideia. Alguém sabe do Itachi?
Ambos me olharam sem entender.
-Eu sei. -O ruivo respondeu desconfiado, parecendo tentar adivinhar sobre o que eu estava
planejando. -A hora que eu fui até a ala de visitas, eu cruzei com o Itachi no caminho. Acho que ele estava
indo pra cela.
-Beleza, então vamos até o bloco 5. -Declarei convicto, passando a observar Naruto entre meus
braços, o qual permanecia abraçado em meu tronco com um bico amuado e carente. -Meu irmão vai poder
ajudar a gente nisso.
Deidara levantou uma sobrancelha.
-Ah, legal. -Riu em perturbação. -O plano é deixar o seu irmão de babá? O Itachi fazendo companhia
pro Naruto. Tem certeza disso?
Assenti positivo com a cabeça.
Diferente dos meninos, eu tive a oportunidade de observar de perto o modo como meu irmão estava
se esforçando a mudar e dando o seu máximo para ser alguém agradável com as pessoas ao seu redor,
inclusive com as que eu amo.
O Itachi havia, surpreendentemente, chegado ao ponto de agradecer o meu bebê pelo o que
aconteceu na enfermaria, além de tê-lo tratado bem enquanto eu estava longe.
Eu havia decidido lhe dar um voto de confiança e, dessa maneira, poderia ter certeza se ele estava
mesmo disposto a mudar ou somente fingindo sua simpatia.
-Tá bom, se você quer assim... -Deidara deu de ombros, ainda duvidoso de minha ideia. Talvez com
o meu plano, o loiro também pudesse enxergar o quanto meu irmão estava diferente desde que voltou do
hospital. -Vamos, então? A gente já enrolou demais.
-Vamos. -Concordei.

343
Sem mais delongas, andamos para fora da biblioteca. Os dois garotos caminharam mais à frente,
enquanto Naruto permaneceu colado ao meu braço, mantendo seus olhos fixos ao chão e com uma
expressão triste no rosto.
Era preocupante ver a forma como qualquer coisinha mínima estava o atingindo desde a morte de
Kushina. A sua angústia, com certeza, se dava pelo fato de ter deixado Deidara irritado e bem quando
estava fazendo de tudo para agradá-lo, além de, é claro, estar se sentindo um fardo diante de todos.
-Ei, bebê... -Chamei baixinho, somente para ele me escutar. -Está tudo bem. Eu sei bem no que você
está pensando e não quero que você fique se culpando, sim?
Não houveram respostas de sua parte, somente um abraço mais apertado e necessitado em meu
braço direito, dando a entender que estava, mais uma vez, verdadeiramente agradecido pela minha
paciência e dedicação em cuidar de si.
Beijei carinhosamente o topo de sua cabeça, prosseguindo com a minha caminhada atrás dos
garotos, os quais conversavam entre si sem prestar muita atenção por onde passavam, apenas seguindo de
modo automático ao decorrer dos corredores.
Quando alcançamos o bloco 5, Deidara e Gaara foram desacelerando seus passos, olhando para
mim como se esperassem que eu tomasse a iniciativa de adentrar a cela e ir contar para o Itachi sobre o
que planejamos.
-Podem ir indo. -Falei para os dois. Eu já imaginava que demoraria um pouco para convencer o Itachi
sobre o que eu pretendia lhe pedir e, por essa razão, não queria que ambos ficassem parados a minha
espera. -Depois eu alcanço vocês, beleza?
-Certo. -Eles apenas concordaram com a cabeça e seguiram reto até a diretoria.
Quando os meninos se distanciaram, eu me aproximei de minha cela.
Espichei meu pescoço para dentro, espiando o lado de dentro entre as aberturas da grade. Assim
como Gaara me informou, o meu irmão, felizmente, estava presente. Caso contrário, eu começaria a ficar
realmente preocupado a respeito de seu sumiço desde a noite anterior.
Arrastei o Naruto junto comigo, observando de perto o moreno deitado sobre a minha cama, sem a
sua blusa do uniforme e com as costas apoiadas na cabeceira, ao mesmo tempo em que carregava em
mãos um livro com um título bem erótico e chamativo.
Eu forcei uma tosse para chamar sua atenção.
-Itachi?
Seu livro, antes imóvel na altura de seu rosto, foi baixado ameaçadoramente, se desconectando de
sua leitura para fitar-me com um olhar sério, como se me repreendesse pelo fato de ter o interrompido em
uma parte importante e, com certeza, picante da história que lia.
-Boa tarde. -Declarou misteriosamente, olhando, em seguida, para Naruto ao meu lado, o qual
permanecia na mesma posição de todos os dias. Agarrado no meu braço e com o rosto escondido em meu
peito.
-Bom tarde? -Repeti em descrença. -Aonde você estava, Itachi? Você literalmente sumiu de
madrugada e ninguém mais te viu.
O mais velho deu de ombros.
-Eu estava por aí. -Fechou o livro lentamente.
-Por aí? Por aí, aonde? -Insisti abismado.
-Por aí, Sasuke. -Me olhou irritado. -Eu, hein... Você é o meu irmão mais novo ou o meu namorado?
Eu faço o que eu quiser!
Soltei um riso sarcástico e teatral.
-Eu sou alguém que me preocupo com você! -Exclamei enraivecido. Mal havíamos nos visto, mas já
estávamos brigando. -Você tem que parar com essa mania de sumir do nada! Eu já estava aqui feito um
idiota imaginando que você tinha piorado e voltado pra enfermaria!
-Eu não voltei pra enfermaria! Eu estou bem aqui, você não está vendo?! -Apontou para si mesmo.
-Mas se você quer tanto saber pra aonde eu fui, eu falo! Eu fiquei a madrugada toda conversando com o
Obito no pátio, porque eu não estava conseguindo dormir. Feliz agora?!

344
-Você é louco. -Declarei simplista. -Por conta desse seu sumiço, você acabou perdendo a maior
revelação da história dessa prisão.
Seu cenho se franziu curiosamente.
-Você sabia que o Naruto e o Deidara são meio-irmãos? -Indaguei convencidamente, como se
pudesse esfregar na cara de Itachi que descobri a “fofoca” antes do que ele.
-Sim, eu sabia. -Cruzou os braços. -Na verdade, todo mundo já está sabendo, Sasuke. O Obito veio
me contar agora pouco.
Minha boca se entreabriu em surpresa.
-E você não está nenhum pouco chocado?
-Ah, sei lá... Mais ou menos. -Bocejou desinteressado. O Itachi realmente é um cara muito estranho e
difícil de se lidar. -Fala logo o que você quer, Sasuke. Você ‘tá me atrapalhando.
Aquela era a hora de jogar a bomba.
-Eu preciso que você me faça um favor e fique fazendo companhia para o Naruto por alguns
minutinhos. -Declarei tudo bem rapidamente, para que assim ele não tivesse a oportunidade de me encher
de perguntas. -Eu vou até a diretoria denunciar o Yamato com o Deidara e o Gaara, por isso não posso ficar
com ele no momento. Alguma dúvida?
Itachi piscou lentamente.
-Como é? -Forçou uma risada. -Eu acho que não entendi.
-Ah, você entendeu sim. -Fui adentrando a cela juntamente com o Naruto, chegando perto de si como
se estivesse literalmente empurrando-o para o meu irmão. -Você vai fazer esse favor por mim, não vai,
Itachi?
Ele me olhou completamente abismado.
-Não, eu não vou. -Negou grosseiro. -Nem se eu quisesse eu poderia, Sasuke. Agora eu tenho que ir
até a cozinha, não dá pra ficar levando ninguém junto comigo.
-Que desculpa mais esfarrapada! -Impliquei. -Você já me levou pra cozinha uma vez, assim como o
Deidara já levou o Naruto um milhão de vezes. Você vai levar ele e ponto, está decidido!
O moreno gargalhou alto em deboche.
-“Está decidido”?! -Me olhou impressionado. -E desde quando você manda em mim, seu pirralho?!
Foi só eu ficar fora por três dias que você já se acha o dono do pedaço, é isso?
Espremi meus olhos com raiva.
-Eu achei que você tinha mudado, Itachi. -Olhei para si com decepção, abraçando o meu bebê mais
contra meu peito. -O que custa fazer isso por mim? Me diz?
Itachi ficou momentaneamente sem falas.
-O Naruto não está bem. -Observei o loiro se encolher entre os meus braços, provavelmente
sentindo-se ainda pior por Itachi estar o desprezando daquela forma. -Ele só precisa da companhia de
alguém, nada mais que isso.
Eu confesso que estava fazendo um pouco mais de drama do que era realmente necessário, mas
somente como um teste para ver se meu irmão mudaria de opinião ou me mostraria que mentiu desde o
começo quando disse que queria ser diferente.
-Quer saber? -Dei uma pausa dramática. -Eu vou embora. Obrigado por nada, Itachi.
Virei de costas juntamente com o loiro, disposto a sair daquela cela, mas somente como um teste
para ver o modo como o moreno reagiria diante com o meu discurso.
-Espera, Sasuke. -Chamou meio desperado.
Eu sorri largamente sem que ele pudesse ver.
Tentando permanecer com a minha postura, eu cocei minha garganta de modo indiferente, virando
novamente com uma feição tediosa.
-O que foi?

345
Itachi fechou os olhos, esfregando a própria face como se refletisse sobre o que faria a seguir. Se o
mais velho aceitasse fazer companhia ao meu bebê para não deixá-lo sozinho e sentindo-se abandonado,
eu acreditaria pra valer que ele estava mesmo disposto a se tornar alguém melhor.
-Tudo bem, eu fico com ele. -Declarou por fim, carregando uma entonação meio cansada e
desacreditada de si mesmo.
Eu não consegui esconder o minha felicidade.
-Ótimo! -Sorri orgulhoso para ele. Em seguida, passei a prestar atenção no Naruto, que parecia estar
meio distante e alheio às nossas decisões. -Bebê? Prontinho, você não vai mais ficar sozinho. O Itachi vai te
fazer companhia, ‘tá?
O loiro assentiu tímido contra meu peito.
-Vai lá com ele. -Dei pequenas batidinhas em seu bumbum, incentivando-o a se soltar de mim para ir
“interagir” com o meu irmão. Seria interessante ver a maneira como Itachi agiria perto dele. -Vai sem medo,
Naruto.
Por fim, o menor se desconectou de meu corpo, entrelaçando suas mãos timidamente uma na outra
e andando de cabeça baixa para o centro da cela, aonde meu irmão o observava com uma carranca
tediosa.
-Comportem-se, garotos. -Brinquei com um sorriso largo, recebendo em troca um dedo do meio de
Itachi e um olhar levemente medroso do meu bebê. -Vejo vocês depois.
Em seguida, virei de costas para ambos, saltitando propositalmente para longe da cela, sentindo-me
estranhamente bem e leve após ter “juntado” os dois.
Além de ser um tremendo alívio saber que o Naruto não estava mais sozinho e nem sofrendo com o
seu medo de ser abandonado, ainda tinha o fato de que ambos teriam a oportunidade de se aproximarem
um do outro, ou ao menos se comunicarem decentemente.
Era impressionante como as coisas mudavam.
No passado, ou seja, a umas duas semanas atrás, eu com certeza não deixaria o meu bebê aos
cuidados de Itachi. Era muito bom ter essa liberdade de poder confiar nele.
Prosseguindo com o meu plano inicial, segui em direção a diretoria com um sorriso no rosto, quase
me esquecendo do verdadeiro motivo de ter juntado o meu irmão ao Naruto.
O Deidara e o Gaara estavam me esperando.
Para falar bem a verdade, os dois pareciam bem desapegados da minha presença e aparentavam
estarem discutindo sobre algo, visto que gritavam um com o outro sem se importarem com a plateia ao
nosso redor.
-...Eu acho uma injustiça o que você fez comigo, só isso! -O ruivo parecia se esforçar para que seu
companheiro entendesse o seu ponto vista. -A cela não é só sua, Deidara. Não é só porque você entrou
primeiro na prisão que tem o direto de tomar posse do lugar! Aposto que o Naruto concorda comigo!
-O que o franguinho tem a ver com isso?! -Rebateu aos gritos, fazendo um eco gigantesco por todo o
ambiente. Eu nunca compreendi como o Deidara conseguia gritar tanto e sem se importar com o fato de
todos estarem o assistindo. -Ele passou a noite toda na cela do Sasuke, caralho!
-Exatamente! -Bateu os pés no chão. -Sou sempre eu que tomo no meu cu, sempre! Por culpa sua
eu precisei inventar uma desculpa pra passar a noite na enfermaria, ou seja, em uma das camas do nosso
inimigo!
-Que inimigo, Gaara?!
-O Yamato! -Berrou alterado. Era uma das primeiras vezes que eu presenciava um momento de tanto
“descontrole” do ruivo. -E agora com que cara eu vou denunciar ele depois dele ter sido a única pessoa que
me abrigou durante a noite?!
-Quem mandou pedir pra passar a noite na enfermaria, caralho?! Eu nunca te expulsei da nossa cela,
você que saiu por conta própria na noite passada!
Gaara forçou uma risada de indignação.
-E você acha mesmo que eu ficaria confortável dormindo no mesmo ambiente que você e o Itachi?!
-Suas bochechas tornaram-se rubras pela adrenalina do momento. -Vai saber o que vocês dois pretendiam
fazer lá dentro! Eu não quero mais que você faça da nossa cela um motel, falou?! Essa foi a primeira e
última vez!

346
-Motel?! -Repetiu enfurecido, agarrando na gola do uniforme alheio. -Agora eu vou te mostrar o
motel, seu filho da—
A briga foi rapidamente interrompida.
Ambos se calaram instantaneamente com o barulho alto e inesperado da porta se abrindo.
Eu, por outro lado, apenas observei com curiosidade a surpreendente saída de Obito, que passava
para o lado de fora da diretoria, carregando em seu rosto uma feição nada agradável, parecendo
desaprovar a gritaria que ambos haviam armado.
-Qual é o motivo de tanto chilique? -O moreno perguntou baixo, fazendo um esforço para manter sua
voz controlada e soalha. -O diretor Danzou está lá dentro, garotos.
Deidara e Gaara se entreolharam em silêncio.
-Vocês me pediram para que eu solicitasse a presença dele e eu fiz isso como um favor a vocês,
agora por favor, se controlem. -Alternou seu olhar autoritariamente entre os dois. -Principalmente você,
ouviu Deidara?
O loiro soltou um som para mostrar-se ofendido.
-É isso mesmo. -Obito reforçou. -Da última você passou dos limites, Deidara. Você xingou o diretor
de “velhote” e agiu com muito desrespeito. Foi uma vergonha.
-Eu só falei as verdades! -Retrucou convencido. -E você, hein?! Por que você paga tanto pau pra
esse velho, Obito?!
O carcereiro suspirou tediosamente.
-Aposto que você tem um caso com ele! -Gritou sem pensar, deixando tanto eu, quanto Gaara,
impressionados com sua coragem em exercer uma acusação daquelas. -É isso aí! Eu sei que você e aquele
velho morfético estão em um relacionamento as escondidas! Sai do armário, Obito!
O moreno ficou, literalmente, sem falas.
-Eu só não vou te responder, Deidara, porque não quero brigar aqui na frente da diretoria. -Declarou
com o que restava de sua paciência, apontando o dedo na cara do outro. -Mas considere-se castigado.
Você vai passar mais uma semana fazendo serviços comunitários.
-Vai se foder! -Xingou alterado, pouco se importando em estar falando com um superior seu. -Se
você ficou tão afetado com o que eu falei, é porque é verdade!
-Chega, Deidara. -Engrossou sua voz. -Só por isso, você vai pegar mais uma semana de serviços. E
se reclamar, pega mais uma.
-Mas, eu—
-Dei, melhor parar. -Gaara o aconselhou, tocando em seu ombro. -Vamos entrar de uma vez. Chega
de falar besteira.
Felizmente, ele resolveu seguir o conselho de seu companheiro e se calar. Eu, sinceramente, nunca
vi alguém falar tanta besteira igual o Deidara, e sem medo de ser repreendido.
-Vamos logo. -Obito murmurou com um suspiro longo e esgotado, abrindo a porta para nos dar
passagem. -Podem entrar, o diretor já está esperando por vocês.
Gaara foi o primeiro a passar pela porta, vindo acompanhado de mim e, por último, do loiro.
Assim como nos foi informado, Danzou se encontrava presente, permanecendo sentado em frente à
mesa com suas duas mãos entrelaçadas por cima da madeira, além de possuir um postura impecável.
Ele não havia mudado. A última vez em que estive frente a frente consigo, foi quando ele declarou
os castigos aos grupos, bem antes de eu cogitar a ideia de estar completamente apaixonado pelo meu
bebê.
-Boa tarde, garotos. -Cumprimentou com um sorriso discreto. -Sentem-se, por favor.
Nos entreolhamos silenciosamente.
Como haviam somente duas cadeiras de frente para a mesa, eu decidi ceder o meu lugar para os
garotos, preferindo ficar de pé em meio aos dois, mantendo meus braços cruzados na altura do peito. Eu
realmente não estava para brincadeiras. Aquilo era sério.
-E então? -Inclinou eu tronco em nossa direção. -No que eu posso ajudá-los?

347
Eu reparei que Deidara pretendia começar o seu discurso e, como das outras vezes, não carregava
uma expressão nada agradável em seu rosto. Para previnir mais descontroles naquela sala, eu decidi falar
por cima dele.
-Nós gostaríamos de fazer uma denúncia contra um dos funcionários aqui da penitenciária. -Comecei
formalmente. -A gente sabe o quanto é difícil para a diretoria aceitar reuniões como essas, afinal, nós
somos somente presidiários que não deveriam ter opniões, mas achamos que você realmente deveria tirar
um tempo para ouvir isso.
-É isso aí. -Deidara concordou, mantendo suas duas pernas abertas e espaçadas, ao mesmo tempo
em que girava na cadeira de rodinhas. Sua postura não era das melhores. -A gente veio aqui pra meter o
louco no Yamato. Aquele lazarento quase matou duas pessoas em menos de uma semanas!
Danzou trocou alguns olhares com Obito, como se quisesse confirmar a acusação do loiro ou saber
se tudo não se passava de uma brincadeira de mal gosto. Ao receber um aceno positivo de seu funcionário
de confiança, ele permitiu que prosseguíssemos.
-Primeiro, tivemos problemas no caso médico do meu irmão mais velho. -Eu decidi que seria eu
quem falaria sobre o Itachi. -Ele pegou pneumonia e parecia piorar a cada dia mais na enfermaria. Depois
de um tempo, eu acabei descobrindo que o Yamato estava mentindo para mim sobre as dosagens dos
remédios e sobre o estado do meu irmão, só que o mais absurdo de tudo, foi o fato do Itachi quase ter
morrido na minha frente.
-O Sasuke teve que beijar o próprio irmão pra manter ele vivo! O que isso te parece?! -Deidara se
intrometeu entre gritos, referindo-se ao fato de eu ter feito respiração boca a boca no Itachi. -E quer saber
de uma coisa?! Eu soquei a fuça do Yamato! E faria tudo de novo porque ele mereceu!
Obito deu um peteleco discreto no loiro.
-Dei, por favor... -Gaara sussurrou em seu ouvido, querendo acalmar a situação. -Bom, fora isso,
também tivemos alguns problemas sérios com um amigo muito querido nosso, o nome dele é Naruto
Uzumaki.
-Aquele filho da puta queria sedar meu irmão, o que você acha disso, velhote?! -O loiro deu um murro
na mesa, fazendo Danzou pular pelo susto, além de ter feito sua xícara de café tremer por cima da madeira.
-Ele nem fazia ideia da ficha médica dele e só foi metendo o louco como se tivesse autorização!
-Sim, exatamente. -Concordei bem menos alterado. -O Yamato não se preocupado em checar a ficha
médica do Naruto e eu, como o seu namorado, conheço bem sua história de vida e sei que na família dele
já tiveram alguns casos de problemas cardíacos, o que poderia muito bem ter prejudicado ele.
Notei que Obito assentia com a cabeça, provavelmente orgulhoso com o meu discurso e por eu estar
conseguindo manter minha postura e “profissionalismo”, diferente do loiro.
-Eu tenho certeza que outros detentos também tiveram problemas com o Yamato, mas esses foram
os dois principais que a gente presenciou. -Gaara completou seriamente. -Agora esperamos que vocês
possam fazer algo a respeito, porque sabemos que isso não está em nossas mãos.
A sala caiu no silêncio.
Aquilo, realmente, dependia somente da boa vontade de Danzou. Se ele decidisse não dar a mínima
para a nossa denúncia, então teríamos que nos conformar com a presença de Yamato, caso contrário, as
coisa poderiam melhorar na penitenciária.
-Eu acho que vocês me deram argumentos muito plausíveis, garotos. -Sorriu pequeno em nossa
direção. -Mas, para ser bem sincero com vocês, eu já estava querendo demitir o Yamato faz um tempo.
Recentemente, um enfermeiro me mandou o seu currículo e eu fiquei muito interessado em contrata-ló.
Obito sorriu de lado.
-Voce está falando do Guy, senhor?
-Sim. -Concordou positivo. -Inclusive, eu trouxe ele hoje para conhecer um pouco da penitenciária,
acho que vocês vão gostar de conhecê-lo. Pode entrar, Guy.
Acompanhamos o segundo em que a porta foi aberta, enquanto um homem alto, com os cabelos
pretos e sobrancelhas grossas, adentrava a diretoria vestido com um jaleco branco.
Entretanto, o mais impressionante de tudo, foi o que veio a seguir.
Um garoto, um pouco mais baixo que o Guy, talvez beirando a minha idade, entrou acompanhado
dele. Ele era, claramente, o filho do enfermeiro. Os dois eram quase idênticos no quesito aparência.
-Meninos, esse é o Guy. -Apontou para o adulto. -E esse é o Lee, seu filho e assistente.
348
Os olhos de Gaara praticamente brilharam.
Na verdade, não foi nada difícil de notar o clima que se instalou naquela sala. Foi uma troca de
olhares quase que imediata. Era como se ambos estivessem sido atraídos um pelo outro
momentaneamente e sem se importarem que estávamos assistindo-os.
Foi tão óbvio que até o Obito deu risada.
-É um prazer conhecê-los. -Guy saudou a todos com um sorriso.
-Olá. -Lee cumprimentou com um sorriso simpático, mantendo seus olhos negros vidrados aos do
ruivo, o qual apenas entreabriu os lábios sem saber o que dizer.
Para falar a verdade, foi um momento fofo.
-Me parece que vocês estavam certos, meninos. -Danzou anotava algo em seu computador. -Eu vou
providenciar a demissão do Yamato o mais cedo possível. Obrigado pela honestidade.
-A gente que agradece pelo seu tempo. -Agradeci por todos. Até que o Danzou não era tão ruim
quanto parecia. -Vamos indo, gente?
-A-Ah, vamos. -O ruivo sacudiu a cabeça, sorrindo sem graça em direção a Lee. -Tchau.
-Até mais. -Ele respondeu atenciosamente.
Saímos da sala um ao lado do outro, ficando em silêncio até chegarmos no corredor. Eu imaginei que
Deidara fosse implicar com algo relacionado ao que viu entre Gaara e Lee, mas aparentemente, ele deu um
espaço para que o ruivo pudesse digerir o acontecido.
Talvez essa demissão do Yamato realmente tivesse vindo por uma boa causa. Tanto para o bem dos
detentos, quanto para unir um possível casal.
Itachi On

Mantendo meus lábios entreabertos em descrença, eu acompanhava com uma feição perdida a
saída de meu irmão, digerindo em silêncio o fato de ter topado fazer companhia para o Naruto enquanto ele
estivesse “fora”.
Sinceramente, mudar estava sendo bem mais difícil do que eu pensei. Não estava em meus planos
me submeter a uma situação dessas e muito menos ser testado pelo meu próprio irmãos caçula por conta
de minha promessa.
O pior de tudo é que eu realmente não sei lidar com pessoas, especialmente quando são tão
carentes, grudentas e sentimentais como o Naruto.
Ficar com o loiro talvez pudesse servir como uma espécie de treinamento para mim. Eu poderia
aprender a ser gentil e compreender os sentimentos alheios, ou então, seria somente mais um motivo para
me deixar nervoso e arrependido de ter topado “cuidar” do namorado do meu irmão mais novo e,
surpreendentemente, o irmão mais novo do garoto que eu gosto.
Aquela situação era extremamente confusa.
O Naruto e o Deidara eram meio-irmãos.
Eu fiquei bastante desacreditado da notícia, embora tenha feito de tudo para permanecer o mais
indiferente possível. Só que, ao mesmo tempo, eu sentia uma espécie de nojo de mim mesmo, visto que
não pude deixar de me recordar das incontáveis vezes em que senti ciúmes de Deidara com o Naruto e
deduzi que ambos tivessem um caso.
Parando pra pensar, isso é uma suposição bem nojenta e absurda de se fazer.
De qualquer forma, demoraria muito para que eu digerisse essa informação, entretanto, isso me
ajudaria a ter o desejo de tratar o Naruto melhor, até porque, ele é importante para as duas pessoas que eu
mais amo no mundo.
-Meu Deus... -Resmunguei, esfregando meu próprio rosto como se isso pudesse me ajudar a
assimilar minha situação atual.
O Naruto estava, literalmente, imóvel no meio da cela, olhando para a minha cara com certo receio e
timidez, como se esperasse que eu tomasse a iniciativa de falar ou fazer alguma coisa para cortar o clima
entranho entre nós.
-Pois bem... -Cocei minha garganta, tomando a liberdade de me levantar da cama. Somente com
esse pequeno movimento, Naruto encostou-se na parede atrás de si, me dando espaço para que eu

349
pudesse me locomover. -Infelizmente eu preciso ir até a cozinha, então eu acho que você vai ter que vir
comigo.
Ele não respondeu nada.
Mas, sinceramente, eu também não esperava que ele fosse me dizer alguma coisa. Ele estava
inseguro e envergonhado demais para falar comigo, permanecendo parado com as mãos entrelaçadas na
frente de seu corpo.
Com um suspiro arrastado, me aproximei de si com minha feição inexpressiva, notando ele recuar a
medida que eu chegava perto.
-Com licença. -Pedi do modo mais educado que consegui, deixando-o com uma expressão confusa
presa em seu rosto. -Você está na frente das minhas roupas.
-O-Oh... Me desculpe. -Ele foi para o lado.
Enquanto eu pegava uma blusa aleatória na pilha de roupas, vestindo-a de qualquer jeito para que
não precisasse sair com o meu tronco nu, ambos ficamos nos encarando em silêncio, comigo beirando a
seriedade e o Naruto com o rosto contraído pela insegurança.
Em seguida, para cortar o clima estranho, me dirigi até perto da grade, calçando meu tênis e o
amarrando de modo breve.
Olhei mais uma vez em direção ao loiro, me deparando com uma cena um tanto quanto hilária. Com
suas bochechas coradas, Naruto observava o meu livro repousado por cima do colchão, o mesmo que
possuía uma capa bem obscena e explícita, especialmente para alguém com sua personalidade e
inocência.
-Gostou? -Impliquei com uma risada maldosa. O menor, por sua vez, deu um pulo como se houvesse
acabado de tomar o maior flagra de toda a sua vida. -Se você quiser, eu posso te emprestar.
O loiro negou afobado.
-N-Não, obrigado.
-Por quê? -Ergui uma sobrancelha. Até que era divertido ver o modo como Naruto lidava com
situações embaraçosas. -Você não curte pornografia entre homens e mulheres? Eu tenho de tudo... Gay,
lésbico, hétero. Pode escolher.
Se fosse mesmo humanamente possível, seu rosto tornou-se ainda mais avermelhado. Eu,
sinceramente, achei que ele fosse começar a chorar por conta de tanta vergonha.
-E-Eu... -Se engasgou com a própria saliva. -Eu não gosto dessas coisas, mas obrigado.
Minha risada soou perversa e divertida.
-Certo. -Dei de ombros, meneando com a cabeça para que ele chegasse perto. -Vamos, eu tenho
que ir agora.
O loiro concordou positivamente. Deixei com que ele se aproximasse e passasse na minha frente, o
que realmente não adiantou de nada, visto que Naruto preferiu vir caminhando atrás de mim, como se
tivesse medo ou insegurança em ficar de costas para a minha pessoa.
Não teve nenhum tipo de interação entre nós dois ao decorrer do percurso. Eu estava mais ocupado
em fuzilar qualquer detento que se atrevesse a olhar em nossa direção, todos aparentemente curiosos com
o fato de Naruto estar me seguindo.
Era estranho para todos me ver tão junto a ele, até porque, o comum é vê-lo grudado com o meu
irmão. Eu sempre odiei toda essa curiosidade excessiva dos presos para absolutamente tudo relacionado a
mim.
Quando alcançamos o refeitório, eu dei uma olhada breve para trás, reparando no quanto Naruto
estava atingido e envergonhado com os olhares que recebia, além de estar incomodado com os
comentários indiscretos que todos faziam ao nosso respeito.
Talvez ele fosse do tipo de pessoa que se importava com o que os outros pensavam.
-Itachi?
Meus passos se cessaram de imediato.
Eu não precisei olhar para saber de onde vinha aquele chamado repentino. Aquela voz, infelizmente,
pertencia a Sasori, o que significava que, possivelmente, o resto de meu antigo grupo também estaria por
perto.

350
Fazia muito tempo que não nos falávamos.
Honestamente, eu precisava me resolver com os garotos de meu antigo grupo desde a discussão
que tive com o Sasuke no refeitório, pouco tempo antes de eu ficar internado.
-Olha só quem resolveu aparecer. -Impliquei ironicamente, fitando-os de modo mortal e afiado.
Sinceramente, eu admirava a coragem deles em virem falar comigo após me apunhalarem pelas costas.
-Quanto tempo, não?
Reparei, mesmo que de canto de olho, Naruto se encolher com a presença dos garotos, dando
alguns passos para trás como se quisesse fugir da situação. Não só o loiro, como todo o resto dos detentos
que assistiam ao nosso redor, sabiam que eu tinha assuntos pendentes a tratar com o meu antigo grupo.
-Então quer dizer que vocês finalmente saíram do buraco que ficaram escondidos? -Lancei em
provocação. O fato de respirar o mesmo ar que eles já me deixava irritado. -Que coragem. Sentiram a
minha falta, por acaso?
O ruivo suspirou cansado, trocando olhares breves com os seus outros companheiros, parecendo,
como nos velhos tempos, criar coragem para iniciar um diálogo comigo.
-Nós viemos te pedir desculpas, Itachi. -Declarou calmamente, vindo acompanhado de acenos
positivos do resto do grupo, como se todos estivessem concordando com suas palavras. -A gente sabe que
errou e—
Eu não permiti que ele terminasse.
Toda a raiva acumulada dentro de mim, a qual eu carregava por conta da traição do grupo, acabou
sendo descontada para cima de Sasori. Ele foi o azarado de apanhar por todos e receber um soco de minha
parte no nariz.
O refeitório inteiro parou para assistir.
Apesar dos traidores serem um dos mais surpreendidos com a minha violência, o Naruto era, de
longe, o mais assustado entre todos, mantendo seus olhos esbugalhados e ombros encolhidos por ter
presenciado aquela discussão tão de perto.
-Que isso sirva de exemplo para vocês. -Limpei o resto de sangue presente em meu punho na calça
de meu uniforme, deixando meu olhar cair sombrio no resto dos garotos. -Eu não quero mais olhar na cara
de vocês.
Estavam todos acuados pelo medo.
-Se nossos caminhos se cruzarem, vocês que mudem de corredor. -Eu dava passos ameaçadores
para perto deles, observando-os recuarem lentamente, ao mesmo tempo em que Sasori tapava seu nariz
machucado. -Se toparmos um com o outro no banheiro, pátio ou refeitório, mudem os seus horários e
desapareçam da minha frente, senão eu juro que a coisa vai ficar feia.
Recebi acenos submissos e medrosos.
-Sumam da minha frente pra sempre. -Rosnei.
Foi realmente de se impressionar a velocidade com que eles literalmente sumiram de perto de mim.
Todos os garotos correram em direção ao pátio, levando muito a sério a regra de não dividirmos mais o
mesmo ambiente.
Apesar de tudo, foi uma sensação de alívio poder me livrar deles de uma vez. Eu nunca consegui
enxergar o quanto eles eram tóxicos tanto para mim, quanto para meu irmão, mesmo com o Sasuke sempre
me alertando.
Agora eu tinha um problema a menos.
-Vamos logo. -Virei meu pescoço para o loiro.
-C-Certo. -Concordou receoso.
Continuei minha caminhada para o final do refeitório, ignorando quaisquer tipos de comentários e
olhares que recebia ao decorrer de meu percurso, apenas mantendo-me focado em chegar até a cozinha.
Eu nem sabia ao certo o porquê ainda me submetia a trabalhar dentro da prisão, mas sinceramente,
eu dava qualquer desculpa pra ficar perto do Deidara. O único problema era que ele ainda estava na
diretora com o Sasuke.

351
Adentrei a cozinha de cabeça erguida, sabendo que Naruto vinha logo atrás de mim, acabando por
sentir na pele o choque térmico de sempre. Era impressionante como aquele ambiente era extremamente
quente e abafado se comparado ao resto da penitenciária.
Pelo fato de já estarem habituados a minha presença, nenhum detento reclamou, nem mesmo o
carcereiro responsável por aquele turno que, no caso, infelizmente era o Kakashi.
Me dirigi tediosamente até o fogão, não precisando pedir licença para ninguém, visto que todos
abriam caminho e davam espaço para eu passar, diferente do loiro que, por não ser um “funcionário” oficial
da cozinha, acabava levando alguns empurrões e topadas de ombro no caminho.
Me aproximei de meu posto de sempre, pegando uma bancada inteira só para mim, logo lendo o
papel de instruções grudado na parede, o mesmo que definia quais tarefas cada um deveria seguir no dia.
Não foi nenhuma novidade para mim ter o meu nome associado com a palavra “ovo frito”.
-“Itachi (morfético) Uchiha, ovo frito”. -Ri da escrita presente no quadro. Aquela letra, sem sombra de
dúvidas, pertencia ao Deidara. -Eu mereço.
Como eu já estava bastante adaptado a cozinhar naquela região, eu sabia a exata localização de
todas as panelas, temperos, óleos e cartelas de ovos. O loiro, por outro lado, parecia ter ficado ainda mais
perdido em meio aos cozinheiros, ficando atrás de mim com o seu corpo encolhido e cabeça baixa.
Ele parecia não querer atrapalhar o pessoal, embora fosse bastante difícil para os outros de se
locomoverem com um garoto parado no meio dos corredores.
Iniciei o meu trabalho de sempre, jogando óleo na frigideira para fritar os ovos que serviriam como o
almoço. Eu confesso que estava um tanto difícil de trabalhar naquela temperatura, unindo-se ao fato de que
Naruto parecia não entender que sua presença dificultava os serviços e as tarefas de todo mundo.
Em menos de cinco minutos ali dentro, notei vários detentos soltando reclamações e xingamentos,
todos repreendendo o Uzumaki por estar literalmente de bobeira ali dentro e atrapalhando a passagem de
todo mundo.
Eu até que compreendia a sua necessidade de ter uma companhia após a morte de sua mãe,
entretanto, me escolher foi uma péssima decisão. Estar comigo, para ele, talvez fosse um jeito de ter
certeza de que Sasuke voltaria para buscá-lo e não o abandonaria, mas para mim, era bem difícil de
aguentar, especialmente por eu ser alguém quieto e que gosto de espaço pessoal.
-...Ele está atrapalhando! -Um dos cozinheiros gritava impacientemente. Mesmo que preso em meus
próprios pensamentos, eu consegui compreender que ele referia-se ao Naruto. -Alguém fala pro Kakashi
tirar ele daqui! O garoto não está fazendo nada!
Me virei com o cenho franzido.
-Se o Naruto não for ajudar, então ele também não vai ficar! -Outro ajudante acrescentou, recebendo
o apoio imediato do resto de seus colegas. -Expulsem ele!
Meus olhos se reviraram tediosamente.
Se fosse qualquer outra pessoa, ou até mesmo no passado, eu com certeza teria deixado os
detentos arrastarem o loiro a forças para fora da cozinha. Entretanto, eu havia feito uma promessa ao
Sasuke de que seria sua companhia e, por essa razão, não poderia deixá-lo ser linchado daquela forma.
-Ele vai ajudar. -Falei um pouco alto. A minha intenção era chamar a atenção de todos. -O Naruto vai
fritar os ovos comigo.
Talvez pelo fato de ser eu, ou seja, o Itachi Uchiha falando, ninguém teve coragem de me contradizer
e fazer questionamentos. O loiro, por sua vez, me olhou levemente assustado, talvez perguntando-se
silenciosamente se eu estava falando sério.
-Escuta... -Me virei em sua direção. -Se você quiser ficar aqui comigo, vai ter que trabalhar.
Naruto assentiu submissamente.
-Vem me ajudar a fritar os ovos, senão você vai ser expulso. -Abri um espaço ao meu lado no fogão,
esperando que ele chegasse perto.
Ele veio meio nervoso e atrapalhado, mas não protestou quando eu coloquei uma frigideira em sua
frente, dando a entender que ele poderia começar a cozinhar.
Como o meu desejo era agilizar o processo e ir embora daquele ambiente quente o mais rápido
possível, eu não fiquei prestando muita atenção no que o Naruto fazia, apesar que, de canto de olho, eu
pude nota-ló parado, como se estivesse somente encarando o fogão.

352
E era realmente isso que estava acontecendo.
O Uzumaki estava imóvel, contendo gotículas de suor acumuladas em sua testa, enquanto mordia
seu lábio inferior em um misto de nervosismo e vergonha.
-Você não vai ajudar? -Perguntei confuso.
Ele virou-se com os ombros encolhidos para mim, parecendo estar constrangido ou inseguro para me
dizer alguma coisa, tanto que acabou chegando mais perto, comunicando-se comigo aos sussurros.
-E-Eu não sei fritar ovo. -Baixou a cabeça.
Sinceramente, eu não fiquei surpreso.
Na verdade, pouca coisa estava me surpreendendo ultimamente. Honestamente, ele tinha cara de
ser do tipo de gente bem inexperiente no quesito cozinhar, apesar de que fritar um ovo é a regra básica da
sobrevivência de qualquer ser humano.
-Certo... -Cocei minha nuca. -Tem como você pelo menos tentar seguir os meus passos? É que você
realmente precisa fazer alguma coisa aqui dentro, senão vai ser expulso.
-A-Ah... Eu vou tentar. -Murmurou nervoso.
Eu tentei continuar o meu trabalho da maneira mais lenta possível para ver se o loiro conseguia me
acompanhar, mas aparentemente, nem com toda a minha lerdeza ele estava dando conta.
Sinceramente, estava me irritando um pouco a forma como ele era desengonçado com as mãos,
utilizando-as de forma errônea e exagerada. O auge para mim foi vê-lo tentar quebrar um ovo e acabar por
despedaça-lo inteiro no balcão, sujando, em consequência, os pratos lavados a nossa volta.
-Ah, não... -Sacudi minha cabeça, precisando apertar minhas próprias têmporas. Ele havia feito a
maior bagunça. -Assim não dá, cara.
-M-Me desculpa... -Trouxe sua mão para perto do peito, mostrando-me o modo como ela se
encontrava trêmula. -É que ele escorregou.
Por mais absurdo que pudesse soar, eu até que acreditava nele. O Naruto estava muito nervoso, fora
que sua mão direita possuía um curativo gigantesco, dando a entender que havia se machucado
recentemente. Isso acabou deixando-o ainda mais estabanado.
-Tudo bem. -Eu me esforcei para ser o mais compreensível possível. -Tenta quebrar de novo, mas
longe dos pratos. Olha, assim...
Eu quebrei a casca perfeitamente por cima da frigideira, exercendo meus movimentos sutis para que
ele acompanhasse o ritmo.
-Viu só? Agora tenta você. -Sugeri.
O loiro limpou suas mãos suadas no uniforme, tremendo-as até a cartela. Ao selecionar um ovo
aleatório, tentou copiar os meus passos, acabando por se descuidar e esmaga-ló novamente. Ele estava
realmente muito tenso.
-Não, assim não. -Passei um pano pela sujeira que ele causou, deixando-o encolhido ao meu lado,
com se sentisse um fardo para mim. Eu confesso que comecei a sentir um pouco de pena dele. -Pera, eu já
sei.
Sem me preocupar em pergunta-ló com antecedência, eu me dirigi para trás de seu corpo,
deixando-o de ombros tencionados e com o pescoço virado para mim, como se quisesse ter certeza de que
eu não lhe enforcaria ou até mesmo o mataria por trás.
Pelo fato de eu ser bem mais alto que o Naruto, foi fácil para mim de enxergar a bancada por cima de
si. Eu tomei a liberdade de segurar em suas mãos, “juntando” com as minhas para poder orientá-lo com os
meus próprios movimentos. Assim ficaria muito mais fácil para ele de visualizar e compreender.
O loiro ficou, inicialmente, meio receoso com a nossa proximidade, entretanto, quando eu comecei a
movimentar as nossas mãos, trazendo-as juntas para perto de um dos ovos e quebrando-o perfeitamente,
como se fosse ele quem estivesse exercendo os passos, um sorriso pequeno cresceu pelos seus lábios.
-Entendeu? -Larguei de suas mãos, voltando ao meu lugar de antes. -Tenta mais uma vez.
Um pouco mais confiante, o Uzumaki selecionou outro ovo na cartela, suspirando esperançoso antes
de tentar quebrá-lo. Com todas as minhas dicas, felizmente ele conseguiu se sair bem melhor do que antes,
embora ainda tenha sobrado alguns vestígios de casca na gema.

353
-Eba! Eu consegui. -Sorriu emocionado, como se quebrar um ovo fosse a coisa mais difícil e
desafiadora do mundo. -Assim ‘tá certo?
-Sim. -Ri fraco. Era engraçado ver o modo como ele se orgulhava de si mesmo fazendo o mínimo.
-Agora começa a fritar. Liga o fogão.
Pelo o que me parecia, controlar o fogo ele sabia fazer, mesmo que bem destrambelhado.
Ao ascender a boca do fogão, o loiro voltou a observar os meus passos com a intenção de me copiar,
selecionando os mesmos temperos e jogando-os por cima do alimento.
A medida que o ovo ia espirrando, Naruto gemia pela dor, afastando seu corpo e tentando desviar
dos vestígios de gordura que batiam dolorosamente em sua pele. Eu, por outro lado, apenas ria entredito
com a sua situação, o deixando com uma careta engraçada e constrangida no rosto.
-Desliga o fogão, senão vai queimar. -Aconselhei calmamente. -Já está bom.
Eu confiei cedo demais em suas habilidades na cozinha. Estava indo tudo muito bem, mas é claro
que, no final das contas, algo sempre tem que dar errado. Ao tentar desligar o fogo, Naruto acabou
apoiando, sem querer, a sua mão em um dos queimadores do fogão.
Obviamente, ele se machucou.
O pior nem foi o fato dele ter se queimado com o fogo, mas sim o que houve em seguida.
Naruto, como sempre muito atrapalhado, acabou por se contrariar e remexer mais do que o
necessário, deixando a frigideira com óleo fervendo cair em seu corpo, despejando por toda a sua barriga e
coxas.
Ele gritou pela dor que sentiu.
-Misericórdia. -Murmurei tão afobado quanto ele, também acabando por receber vestígios de óleo
fervendo em minha panturrilha. -Au!
-A-Ai... ‘Tá doendo! -O loiro sacudia o seu corpo, tentando lidar com suas queimaduras sem fazer
muito escândalo, o que, obviamente, não funcionou. Todos pareceram parar o que estavam fazendo para
observarem ele se contorcer pela dor, enquanto lágrimas grossas se acumulavam em seus olhos. -Dói
muito!
-Tá bom, calma. -Pedi levemente perdido. Se eu não o ajudasse naquele momento, era capaz do
Sasuke pensar que fui eu quem joguei óleo fervendo em si de propósito. -Senta aqui.
Afastei as panelas violentamente de cima da bancada, dando espaço para que Naruto pudesse se
sentar. Mesmo que com muita dificuldade, o menor conseguiu se acomodar, fazendo uma careta de dor
enquanto tocava em sua pele, não sabendo se lidava com as queimaduras em suas coxas, barriga ou dedo.
Pelo fato de não saber como proceder, eu apenas fiz o que geralmente fazia quando era o Sasuke
quem se machucava em sua infância. Sem a permissão dos cozinheiros, eu abri o congelador ao meu lado,
retirando uma quantidade um tanto quanto absurda de gelo.
Em segundo lugar, enrolei vários cubos de gelo em panos, entregando dois deles para que Naruto
colocasse em suas queimaduras, enquanto o outro eu mantive em minhas mãos, levantando a calça de
uniforme do outro até a altura de suas coxas.
-Aí, aí! -Gritou desesperado assim que eu pressionei o pano em sua perna, contorcendo-se por cima
do balcão.
-Aguentei aí. -Murmurei concentrado. Ele estava exercendo os mesmos movimentos que eu, só que,
em seu caso, pressionado o gelo em sua barriga e dedo indicador. -O gelo vai aliviar um pouco a ardência.
Passamos por volta de dois minutos naquele mesmo esquema. Com uma plateia enorme ao nosso
redor, Naruto chorava baixinho pela dor, enquanto ambos tentávamos aliviar as sensações incômodas de
suas queimaduras.
-O Sasuke vai me matar. -Resmunguei para mim mesmo, rindo logo em seguida. É claro que eu não
estava estava com medo do meu irmão, mas sim das coisas que ele poderia pensar ao meu respeito.
-Melhorou aí?
-U-Uhum.
-Me dá a sua mão. -Segurei-a antes mesmo dele me autorizar, levando sua mão até perto da pia.
Deixei a água fria escorrer em sua queimadura no dedo, aproveitando para despejar um pouco de água em
suas coxas. -Saindo daqui, vai direto pra enfermaria, okay?

354
Ele concordou com um bico choroso.
As coisas finalmente pareciam terem se acalmado. Após tanto escândalo entre nós, eu finalmente
pude olhar ao meu redor. Estava uma bagunça. Eu havia molhado todo o chão ao meu redor, além do
balcão estar sujo de óleo e a frigideira atirada no meio do corredor.
Apenas para não sobrecarregar os faxineiros, tomei a liberdade de pegar a panela que Naruto
derrubou, notando que o ovo dentro dela continuava, surpreendentemente, intacto.
Sentindo-me curioso a respeito da qualidade do mesmo, peguei um garfo no balcão para provar o
alimento, ciente de que o loiro havia dado duro para cozinha-ló e que aquele era, oficialmente, o seu
primeiro ovo frito.
Um sorriso discreto cresceu em meus lábios.
-O seu ovo está bom. -Elogiei ao sentir o sabor, estendendo o garfo em sua direção. Ele me fitou com
um olhar surpreendido. -Prova aí.
Mesmo que levemente relutante, Naruto decidiu engolir o seu choro, deixando-o de lado para
experimentar o alimento, cortando um pedaço pequeno e delicado.
Ele abriu um sorriso orgulhoso.
-F-Ficou muito bom.
-Como eu disse... -Ri enfraquecido. -Foi um desastre, mas pelo menos ficou gostoso.
Como eu já citei anteriormente, o Uzumaki era do tipo que se emocionava muito fácil com as suas
conquistas, além de ser alguém que, ao receber uma abertura mínima de qualquer pessoa, se sentia à
vontade para “forçar” uma intimidade e dar um passo à mais.
Aparentemente, comigo não foi diferente.
Talvez pelo fato de eu ter cuidado tão bem de si em um momento de fragilidade sua, unindo-se ao
fato de eu ter o ajudado a progredir na cozinha e elogiado a sua comida, Naruto se sentiu confiante para me
abraçar.
O namorado do meu irmão veio me dar um abraço.
Ainda por cima do balcão, o loiro me agarrou sem pedir por uma permissão, juntando sua bochecha
com a minha ao me abraçar de lado, deixando-me com os olhos arregalados e arisco com tamanha falta de
noção.
A primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi empurra-ló o mais rápido possível. No entanto,
como tudo naquele dia estava um tanto quanto estranho, meus olhos foram rapidamente de encontro a
janelinha em minha frente, aonde, surpreendentemente, Sasuke e Deidara nos assistiam em silêncio.
Ambos estavam com os cenhos franzidos, enquanto meu irmão possuía uma pitada de descrença,
parecendo não acreditar no que estava vendo diante de seus olhos.
Infelizmente, eu tive que pagar de bom garoto e permitir que Naruto me abraçasse por mais algum
tempo, somente para que Sasuke não pensasse que eu o tratei mal o tempo todo.
-Chega, né? -Ri perturbado, tentando distancia-ló de mim. -Me solta, ‘tá calor.
O loiro estava tão envolvido em “nosso” abraço, que quase nem reparou na entonação mais
sarcástica e impaciente que eu carregava em minha voz. Ele me largou com um sorriso, fitando-me de
bochechas coradas e com um ar carinhoso.
-Gente? -Sasuke chamou da entrada, olhando para nós com uma careta confusa. Deidara, por outro
lado, possuía um certo tédio em sua feição, algo que eu, particularmente, definiria como ciúmes. -Boa
tarde...?
-Oi, Sasuke! -O menor o saudou sorridente, balançando suas pernas no ar.
O moreno o olhou de cima a baixo.
-Bebê... -Ele ficou preocupado ao notar sua cara de choro, fora o fato de Naruto estar com a calça e
a blusa erguida, revelando suas queimaduras avermelhadas e recentes. -O que foi que aconteceu aqui?!
Dei espaço para que meu irmão chegasse perto de seu namorado, me encostando na parede atrás
de mim. Sasuke começou a avaliar todos os seus ferimentos do outro, fazendo um monte de perguntas
desesperadas e confusas.
-Itachi, foi você? -Indagou num tom de acusação, deixando-me boquiaberto.

355
-É claro que não, porra! -Me defendi e, por alguma razão, eu olhei em direção ao Deidara como se
ele pudesse me ajudar. O loiro mais velho apenas observava tudo de longe e com os braços cruzados. -A
gente só estava cozinhando e a frigideira escorregou!
-H-Hm, é verdade, Sasuke. -O loiro confirmou calmamente, sorrindo simpático em minha direção. -O
Itachi é muito legal, ele não me fez nada.
Sasuke ficou, novamente, sem reação.
-É isso aí. -Ri maldoso, jogando um olhar provocativo para o loiro no fundo da cozinha. -Eu sou muito
legal, gente.
Deidara revirou os olhos com força.
-Certo... -O moreno coçou a nuca, ainda desconfiado da situação, embora, de certa forma, parecesse
feliz com o que ouviu. -Vem cá, Naruto, vamos cuidar dessas queimaduras.
-Vai cuidar como? -Deidara perguntou do fundo da cozinha, carregando a mesma espátula de
sempre em suas mãos. -A gente acabou de mandar o Yamato pro olho da rua, caralho.
-Eu tenho uma pomada na minha cela. -Respondeu simplista, ajudando o seu namorado a descer do
balcão, o qual esboçou uma careta de dor. -Vamos indo, bebê?
-Uhum. -Sorriu amorosamente.
-Não usem a minha cama. -Alertei sério, arrancando uma risada do loiro mais velho.
-Idiota... -O mais novo murmurou.
-E-Espera, Sasuke... -Naruto parou no meio do caminho. Em seguida, largou do braço de seu
namorado para correr na direção de Deidara, o qual apenas ficou imóvel quando recebeu um beijo estalado
de seu irmão em sua bochecha. -Te amo.
Sem esperar por repostas, o loiro voltou a se aproximar de seu namorado, deixando todos nós com
sorrisos direcionados para Deidara, o meu um tanto quanto brincalhão, enquanto Sasuke lhe lançava um
simpático.
Esperei que ambos saíssem da cozinha para que pudesse, finalmente, ter um momento a sós com o
loiro, voltando minha atenção para o final de cozinha. Surpreendentemente, ele já havia saído e, naquele
momento, estava indo em direção ao armazém.
Deixei o meu posto com a intenção de alcançá-lo, adentrando o mesmo cômodo que o seu antes que
a porta batesse. O loiro estava bastante distraído e parecia checar algumas caixas, mantendo-se levemente
agachado enquanto contava os alimentos.
Eu não deixaria aquela oportunidade passar de jeito nenhum.
Com um sorriso travesso, estalei um tapa ardido em sua bunda, aproveitando o fato de Deidara estar
inclinado para dar um pequeno aperto em seguida. O loiro, obviamente, virou em minha direção como um
verdadeiro furacão.
-Que porra é essa, caralho?! -Gritou sem antes saber de quem se tratava, parecendo, mesmo que
bem pouco, acalmar-se ao notar que se tratava de mim. -Você é idiota?!
-Oi, chefe. -Brinquei, sorrindo ladino. -Como você está lindo hoje, hm?
Era claro que ele também não deixaria barato.
Aproveitando que estava com a espátula em sua mão, Deidara utilizou-a para me castigar na mesma
intensidade, batendo o instrumento certeiramente em meu traseiro.
-Au! -Gritei com um sorriso.
-Seu morfético! -Xingou, prensando os lábios para não sorrir. -Fora daqui, vai.
-Ah, não... -Lamentei falsamente, segurando em sua cintura para trazê-lo para frente. -Você quer
mesmo que eu vá embora?
-Só lembrando que foi você quem saiu essa noite sem dar satisfações. -Estreitou os olhos em minha
direção. Ele havia deixado ser puxado para perto de mim. -Então, sim, eu quero que você vá embora agora.
Soltei um riso nasalado, aproximando nossos rostos lentamente.
-Desculpa, Dei. -Tirei parte de sua franja da frente de seus olhos, me dando total acesso de seu rosto
lindo e angelical. -Eu tenho insônia, você sabe. O que você acha de eu te recompensar por isso, hm?

356
O loiro ficou em silêncio, talvez esperando que eu desse a minha sugestão. Eu, por outro lado, tomei
a liberdade de aproximar minha boca de seu ouvido, deixando-o arrepiado ao soltar minha respiração
naquela área.
-Me encontra no pátio aberto essa madrugada, um pouco antes do sol nascer. -Sussurrei
enrouquecido. -Assim a gente vai poder ter um momento a sós sem esse bando de curiosos ao nosso redor.
Me afastei lentamente para ver suas expressões.
-Temos um encontro, chefe? -Provoquei sorridente.
-Aí depende de você... -Entrou em meu jogo. -Você vai me levar um buquê de flores e uma caixa de
chocolates?
Franzi minha testa em surpresa.
-Eu não sabia que você curtia essas coisas românticas, chefe. -Encostei nossos narizes, precisando
morder meus lábios para não atacar os seus.
-Eu não curto, mas gosto de chocolate. -Rebateu debochado. -Vê se arranja alguma coisa doce pra
mim nesse caralho de prisão que eu sei que você consegue, ouviu?
Eu ri soltamente.
-É pra já. -Sorri atrevido. -Mas você deixa eu te dar outra coisa por enquanto?
-Que coisa?
A minha resposta foi substituída por meus atos, quebrando o pequeno espaço que ainda nos restava
ao encostar as nossas bocas. Passei minha língua entre seus lábios rosados, deixando com que Deidara
fizesse o mesmo, roçando-as ao lado de fora, apenas lambendo uma a outra antes de aprofundarmos o
beijo.
Foi um momento quente e excitante, aonde mantínhamos uma sincronia gostosa, com minhas mãos
acariciando a sua cintura, enquanto as suas se embrenhavam nos fios de minha nuca, puxando-os até que
eu me arrepiasse da cabeça aos pés.
Eu queria poder ficar daquele jeito para sempre, mas como tudo o que é bom dura pouco, foi o loiro
quem tomou a iniciava de quebrar o nosso beijo, fitando-me com os lábios úmidos e inchados.
-Eu preciso ir, senão alguém vai perceber. -Alertou meio atordoado, ainda preso ao contato
satisfatório de nossas bocas.
-Deixe que percebam. -Rebati seriamente.
-Não dá, Itachi. -Soltou um pequeno riso. -Eu te vejo no pátio essa madrugada, okay?
Soltei um suspiro frustrado.
A madrugada ainda ia demorar demais, mas por outro lado, seria ótimo para que pudéssemos ficar
sozinhos, com privacidade e sem ninguém para nós incomodar.
-Tudo bem. -Cedi chateado. -Me dá só mais um beijo?
O loiro aproximou nossos lábios, me depositando apenas um pequeno selo.
-Mais um. -Pedi necessitado.
Com um riso divertido, ele me roubou outro.
-Outro, com vontade. -Implorei.
Deidara trouxe minha nuca agressivamente para frente, beijando-me uma última vez com um selinho
demorado e apertado, causando um estalo alto quando separou nossas bocas.
-Pronto, cacete?
-Pronto. -Sorri meio abobado. -Te vejo de madrugada, hein? Não vai miar.
-É sempre você que mia, Itachi. -Rebateu tedioso.
-Sim, sim... Porque eu sou um gato. -Lancei sem pensar muito, rindo sozinho de minha capacidade
em fazer piada com tudo.
-Ah, vai se lascar. -Estalou a língua, chocando nossos ombros ao me deixar rindo sozinho.

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Embora o dia houvesse sido muito estranho, várias coisas boas aconteceram. Eu pude relembrar o
beijo de Deidara, provei que estou disposto a mudar para meu irmão e, surpreendentemente, criei um certo
laço com o Naruto.
Agora eu mal podia esperar pela madrugada.

Capítulo 26 - Antes do sol nascer

Deidara On

Um forte sensação de peso tomava conta de todo o meu ser. Meu corpo, que lutava para manter-se
ativo, se encontrava no estágio mais comum de meu sono, o mesmo que geralmente me deixava meio
desperto, mas ao mesmo tempo, meio adormecido, num misto bastante estranho e desconfortável.
Eu estava me segurando ao máximo para não dormir.
Na verdade, a minha madrugada inteira foi resumida em pequenas cochiladas de minha parte e, em
seguida, um leve sentimento de inutilidade por não ter conseguido lutar contra o sono e me manter de olhos
abertos.
Acontece que, se eu dormisse pra valer, nem mesmo Deus conseguiria me acordar depois.
Para a minha infelicidade, eu tenho um sono absurdamente pesado e profundo, que, sem sombra de
dúvidas, me impediria de cumprir com o combinado que eu e Itachi fizemos.
O nosso pequeno “encontro” noturno ainda estava de pé. Na verdade, o moreno havia feito questão
de me relembrar sobre isso pelo menos umas dez vezes no dia anterior, além de ter se mostrado realmente
empolgado com a ideia de ficarmos a sós no pátio aberto.
Querendo ou não, ele também acabou me contagiando.
Eu admito que estava bastante ansioso para que o relógio andasse mais rápido e o horário
combinado por nós, ou seja, uma hora antes do sol nascer, chegasse o mais breve possível.
-Antes do nascer do sol... -Sussurrei sozinho, rindo enquanto negava com a cabeça. Aquilo era
extremamente brega, mas ao mesmo tempo, a cara do Itachi. -Eu mereço.
Cocei minhas pálpebras numa falha tentativa de me manter ativo, tomando a liberdade de me sentar
com as costas apoiadas na cabeceira. Eu queria encontrar uma posição bem ruim e incômoda para ficar,
até porque, permanecer deitado no quentinho dos meus lençóis só pioraria tudo.
Ao me “acomodar” desconfortavelmente por cima da cama, senti como se minhas costas estivessem
sendo pinicadas, anunciando que algo “afiado” estava em contato com a minha pele.
De início, imaginei que se tratasse das penas soltas e pontiagudas do meu travesseiro, entretanto,
mudei rapidamente de opinião ao tatear o colchão, encontrando uma folha de papel perdida entre as minhas
cobertas.
Com a testa franzida, levantei o papel até a altura de meu rosto, precisando forçar minha visão para
enxergar na escuridão da cela. Era por conta da frescura de Gaara em não querer ligar o abajur, fora o
medo infantil de Naruto em ficar com a luz acessa, pois, segundo ele, atraia as “almas penadas do
corredor”, que eu demorei tanto para identificar o conteúdo.
Após muito esforço, eu finalmente focalizei a minha visão.
Aparentemente, aquela folha que quase me esqueci da existência, mas que guardei de modo
aleatório embaixo de meu travesseiro, nada mais era do que o desenho que Naruto havia feito para mim no
dia anterior.
Um riso fraco rasgou minha garganta.
A descoberta recente que fizemos sobre o nosso grau de parentesco ainda era muito chocante e
repentina para mim. Entretanto, eu não precisei, em momento algum, perguntar ao Naruto sua opinião em
relação a isso, visto que ele mesmo mostrou-se bastante animado com a ideia de ter um irmão mais velho.
Sendo bem sincero, eu também estava feliz.
Pelo fato de ser uma notícia muito nova, ainda era difícil para mim de digerir que, o garoto que eu
sempre odiei, ou seja, a criança que fez Minato me abandonar em um orfanato, era, na realidade, o menino
chorão e grudento que eu dividia a minha cela na prisão.

358
Mas, tirando essa parte deprimente de minha história, era muito bom saber que eu não estava mais
tão sozinho nesse mundo e que alguém próximo a mim continha o mesmo sangue que o meu correndo em
suas veias.
Descobrir que o Naruto era meu meio-irmão, talvez fosse o universo me testando para que eu agisse
de modo mais compreensivo e carinhoso consigo, assim como o loiro sempre fez questão ser com todos em
sua volta, inclusive comigo. E, para falar bem a verdade, era isso que eu estava tentando fazer.
Eu tentaria ser um bom irmão mais velho.
Mesmo que bastante desacostumado com esse lance de “família feliz”, eu daria o meu máximo para
ser alguém importante para o Naruto, diferente do que o nosso pai sempre foi para nós dois. Talvez, dessa
forma, ambos pudéssemos nos ajudarmos mutualmente a preencher esse vazio horrível e doloroso que
Minato deixou em nossos peitos após termos sido abandonados friamente.
Agora, felizmente, tínhamos um ao outro.
-H-Hm... Não...
Como se meus pensamentos tivessem algum tipo de poder, a voz falha e infantil de Naruto ecoou
repentinamente pela quietude da cela, anunciando que o mesmo estaria despertando na cama de baixo, ou
somente falando enquanto dormia, algo que ele geralmente fazia quando estava tendo pesadelos.
-Volta a dormir, franguinho. -Anunciei indiferente, chacoalhando o beliche com a intenção de tirá-lo de
seu transe. -As almas penadas não vão invadir a nossa cela. Confia em mim.
O cômodo voltou a cair no silêncio.
Pelo fato de ter conseguido reverter a situação, me acomodei novamente na mesma posição,
soltando um suspiro impaciente com tanta enrolação. Aquela demora toda estava começando a me irritar e
eu, sinceramente, não sabia quanto tempo mais aguentaria ficar acordado. O meu chute era que o Itachi
estava no mesmo grau de ansiedade em sua cela, mas pelo fato de ter insônia, ficava bem mais fácil para
ele se manter ativo e de olhos abertos.
-Que saco. -Murmurei emburrado, deixando minha cabeça cair para trás.
Fechei meus olhos de modo involuntário, sentindo meu corpo tornar-se cada vez mais leve, como se
fosse ceder a mais um de meus cochilos. Entretanto, meu momento de recaída não durou muito. Um som
baixo e arrastado, mas sobretudo, bastante familiar para mim, ecoou repentinamente em meus ouvidos, me
fazendo abrir os olhos de abrupto.
A primeira reação que tive foi me virar para o lado direito, ganhando total acesso ao restante da cela.
Para a minha surpresa, havia uma silhueta erguida na frente de minha cama, parecendo me observar em
meio ao breu e o silêncio alastrante do ambiente.
-Caralho... -Murmurei assustado, levando minha mão ao peito para estabilizar meus batimentos
cardíacos. Apesar de estar lidando com um momento de susto e tensão, eu fiz um esforço para identificar o
indivíduo parado na minha frente. -Naruto?
Eu não precisei de nenhuma confirmação.
A escuridão penetrante do cômodo não me impediu de reconhecer aquela figura. Tanto o formato de
seu cabelo, quanto o som baixo e entrecortado de seus soluços, foi o bastante para que eu desvendasse
com quem estava lidando.
Aquele era, sem dúvidas, o meu irmão.
Com o cenho franzido, tateei as paredes habilidosamente ao meu redor, conseguindo alcançar o
abajur presente entre os dois beliches. Apesar de Gaara estar adormecido do outro lado, eu decidi ascender
a luz sem pedir por uma permissão antes e pouco me importando se acordaria alguém.
A iluminação nem era tão alastrante assim, entretanto, foi potente o suficiente para que eu tivesse
total acesso a expressão quebrada e chateada de Naruto à minha frente, o qual continha suas bochechas
coradas e ensopadas por conta de suas lágrimas.
-O que houve? São os pesadelos de novo? -Indaguei interessado. Muitas vezes, o Naruto costumava
me acordar para compartilhar os seus sonhos ruins, os quais geralmente incluíam “almas penadas”, o
Kakashi e, na maioria dos casos, o Orochimaru. -Eu já te disse, franguinho, você precisa superar isso.
O loiro negou sofrido com a cabeça.
-N-Não é isso, Dei... -Fungou o nariz, secando suas lágrimas com a manga do pijama.
-Então o que foi? -Ergui uma sobrancelha.

359
-E-Eu sonhei com a minha mãe. -Declarou embargado. -Foi um sonho muito lindo...
Eu fiquei, momentaneamente, sem falas.
-E-Ela ainda estava viva... -Seus lábios começaram a tremer. -N-Nós dois estávamos na nossa antiga
casa, rindo juntos e vendo um filme... Estava tudo tão perfeito.
Meu silêncio permaneceu firme.
-E daí eu acordei. -Sua voz soou meio distante e fria, algo que, sinceramente, me preocupou um
pouco. -E-Eu acordei e me dei conta de que ela morreu. A minha mãe está morta.
Entreabri os lábios sem saber o que dizer.
-E-Eu estou com muita saudades dela. -Choramingou baixinho, abraçando o próprio corpo como se
quisesse preencher todo aquele vazio que estava sentindo em relação a sua perda. -Muita, muita saudades.
Era verdadeiramente ruim vê-lo desolado daquela maneira, embora fosse bastante compreensível
que ele estivesse tão preenchido por pensamentos negativos, até porque, sua mãe havia falecido a
pouquíssimo tempo, fora que o seu funeral seria em algumas horas, logo no período da manhã.
Naruto nem ao menos estava autorizado a ir.
Aparentemente, não poder se despedir de Kushina do modo como desejava, fez com que o loiro se
sentisse ainda mais deprimido e arrasado com a situação. Eu, sinceramente, não conseguia imaginar pelo o
que ele estava passando.
-Escuta, Naruto... -Cocei minha nuca, vindo acompanhado de um leve sentimento de impotência. Eu
realmente não era um bom conselheiro, fora que não existiam palavras que servissem de consolo em uma
situação pesada como aquela. -Eu sinto muito.
O loiro, por sua vez, encolheu os ombros em um sinal de dor, franzindo a testa ao recomeçar a
chorar, precisando abafar seus próprios soluços na dobra de seu braço, parecendo não querer despertar o
Gaara.
O Naruto estava mesmo sofrendo demais.
Eu realmente queria ser útil de alguma forma, mas tudo o que eu consegui fazer, além de escuta-ló
desabafar, foi ficar olhando para ele com cara de idiota e sem saber o que dizer.
-D-Deidara? -Chamou em um lamento.
-O quê?
-P-Posso subir aí? -Indagou choroso, esfregando os próprios olhos com um bico amuado e pidão.
-Eu não quero mais ficar sozinho. Por favor.
Acho que, dessa vez, não tinha como negar.
Embora o loiro não estivesse completamente “sozinho” igual dizia estar, eu sabia bem o quanto o
Naruto tinha a necessidade de ficar quase cem por cento de seu tempo grudado a alguém, mas em
especial, junto ao Sasuke.
Pelo o que eu sei, até mesmo na hora de dormir os dois costumam ficar colados. Era como se, ficar
sem ninguém, causasse em seu corpo o mesmo efeito de uma abstinência.
-Tudo bem. -Eu cedi ao seu pedido. Se eu quisesse ser alguém importante para o Naruto, então teria
que começar a me esforçar para isso, por mais que não gostasse nenhum pouco de contato físico em
excesso. -Sobe aí.
Deu para notar o quanto minha resposta deixou-o satisfeito. Num passado próximo, ou seja, a uns
três dias atrás, eu jamais teria cedido um espaço de minha cama para dividir com o loiro em um momento
de fragilidade sua, entretanto, naquele instante, eu estava literalmente me grudando a parede para que ele
pudesse caber comigo na parte de cima.
Naruto, por sua vez, subiu atrapalhadamente pela escada, deitando-se por cima do espaço em que
lhe proporcionei, parecendo fazer de tudo para ficar o mais perto possível de mim.
Para a minha surpresa, eu nem fiquei tão incomodado com a sua proximidade como imaginei que
ficaria, embora tenha sido um tanto quanto exagerado senti-lo se agarrar ao meu braço direito, abraçando-o
fortemente como se quisesse que eu lhe retribuísse.
Naruto começou a soltar uma série de sons chorosos e manhosos com a boca, sacudindo meu braço
para que eu reagisse de alguma forma, aparentemente incomodado por eu estar imóvel e sem saber o que
fazer. Aquele parecia ser um pedido silencioso seu para que eu o correspondesse na mesma intensidade

360
-O que foi? -Me fiz de desentendido.
-H-Hm... É pra você me abraçar. -Insistiu num tom tímido, porém pidão, esfregando o rosto em meu
braço para incentivar-me a fazer o mesmo. -Por favor.
-É sério isso? -Questionei desacreditado. -Você é muito carente, franguinho. Eu já deixei você deitar
aqui e você ainda quer abraço?
-U-Uhum...
-Meu Deus. -Estalei a língua. -Era só o que me faltava agora.
Honestamente, eu não conseguia entender como o Sasuke tinha tanta paciência para aguentar
situações como essas diariamente, embora meu chute fosse que o moreno também era uma pessoa
bastante carente, só que bem mais contido que o Naruto.
Aqueles dois realmente se mereciam.
De qualquer forma, eu decidi ceder de uma vez por todas. Permiti, mesmo que contra a minha
vontade, que Naruto chegasse um pouco mais perto de mim, para que assim pudesse repousar a minha
mão em suas costas, acariciando de leve ao escuta-ló soltar um suspiro satisfeito e fechar os olhos.
O meu plano era fazê-lo dormir para que pudesse “escapar” sem ser visto, até porque, muito em
breve eu precisaria deixar a cela para ir me encontrar com o Itachi no pátio.
Quando a cela voltou a cair no silêncio, senti o Naruto se juntar mais a mim, ignorando mais uma vez
a minha regra do “espaço pessoal”, a mesma que fiz questão de recitar milhares de vezes, tanto para ele,
quanto para o Gaara.
É um verdadeiro inferno conviver com dois garotos tão carinhosos e grudentos.
Nos minutos que se passaram, eu fiquei grande parte do meu tempo olhando para pontos aleatórios
da cela, hora em direção ao teto, hora fitando o ponteiro do relógio, ao mesmo tempo em que escutava a
respiração do loiro se tornar cada vez mais pesada, batendo certeiramente em meu pescoço.
Faltavam pouquíssimos minutos para eu me encontrar com o Itachi. Por essa razão, decidi exercer
meus primeiros movimentos por cima do colchão com a intenção de me levantar, sendo o mais delicado
possível para que Naruto não despertasse mais uma vez.
Ao desconecta-ló cuidadosamente do meu braço, tentei passar por cima de si sem fazer movimentos
muito bruscos. Mas, infelizmente, ocorreu o contrário do que eu desejava. Eu tomei mais um susto dos
grandes ao olhar de relance em direção a grade, me deparando com outra silhueta erguida na minha frente.
Eu dei um pulo exagerado no colchão.
-Porra! -Levei a mão ao peito, mas dessa vez, sem conseguir conter os meus gritos. Pelo fato do
abajur estar acesso, iluminando uma parte considerável da cela, eu consegui identificar a figura com certa
facilidade. -Sasuke?!
A resposta veio mais rápido do que eu esperava.
-Oi... -Sussurrou de volta, fazendo uma careta ao se dar conta de que havia me assustado. Na
verdade, ele estava parecendo um verdadeiro maluco. Chegou na minha cela do nada, sem a sua camisa,
sem fazer ruídos e com o cabelo todo desgrenhado. -Posso entrar?
-Entra, caralho. -Respondi irritado. Aquele era o segundo susto que eu tomava em menos de quinze
minutos. -Depois de você ter quase me matado do coração, entra aí.
Com um riso sem graça, o moreno utilizou minha autorização para adentrar o interior da cela,
mantendo seus olhos fixos em Naruto, parecendo ignorar todo o restante a sua volta, inclusive a falação
completamente aleatória e sem sentido de Gaara, o qual parecia estar em meio a um sonho agitado.
-O que você está fazendo aqui? -Questionei atordoado, reparando, mesmo que de canto de olho, no
Naruto se remexendo do meu lado. -Porra, o que custava ter feito um barulho pra anunciar sua chegada?
Eu quase infartei.
-Foi mal. -Declarou baixinho. -É que eu não estava conseguindo dormir. O Naruto faz muita falta pra
mim. Eu meio que acostumei a ficar com ele na minha cama todas as noites.
Soltei um som tedioso.
Aparentemente, não era só o meu irmão quem sofria de abstinência quando não estava perto do seu
namorado. O Sasuke estava na mesma situação, tanto que fez questão de deixar o seu próprio bloco no
meio da madrugada somente para vir vê-lo.

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-H-Hm... Sasuke? -A voz de Naruto soou de modo sonolento e repentino. Após tanta barulheira e
movimentação vinda de nós dois, era óbvio que ele iria despertar. -É você?
Um sorriso amoroso clareou o rosto do Uchiha.
-Ei, bebê... -Aproximou-se da escadinha do beliche, deixando-me com cara de tédio ao decidir subir
até o último degrau para que tivesse total acesso ao outro. -Sou eu sim.
-D-Deita comigo, Sasuke. -Pediu manhoso, mantendo-se agarrado ao meu braço e com os dois olhos
fechados, parecendo meio inconsciente do que falava. -Eu quero você.
O Uchiha me deu uma olhada rápida.
Eu não achei que ele fosse ser realmente capaz de fazer uma coisa dessas, mas como tudo anda me
surpreendendo muito ultimamente, o moreno tomou a liberdade de subir em cima da minha cama, sem nem
antes pedir por uma permissão minha.
Agora estávamos todos juntos. Eu, Naruto e Sasuke compartilhando a minha cama.
-Ah, não... -Soltei um riso meio desacreditado, especialmente quando o loiro, o qual encontrava-se no
meio de nós dois, decidiu se agarrar ao braço de Sasuke, dividindo sua atenção entre nós dois. -Assim não
dá. Eu vou embora agora, vocês me dão licença.
-N-Não, Dei... -Naruto choramingou, me segurando firmemente quando eu decidi me levantar, ficando
de pé no colchão. -Fica também. Eu quero a companhia dos dois.
-Nem pensar! -Exclamei irritado. -Eu que não vou ficar deitado com dois marmanjos! Me solta senão
eu vou pisotear vocês!
Após tanto puxar minha mão, o mais novo me largou com muito esforço. Eu, por outro lado, fui
passando atrapalhadamente por cima dos dois garotos para seguir até a escadinha, quase pisando em cima
da barriga do Sasuke.
-Cuidado aí. -O Uchiha murmurou sorridente.
Quando alcancei o chão, bufei audivelmente com a situação que havia sido submetido, olhando em
direção aos dois garotos com uma carranca. Ambos já estavam abraçados um com o outro, de olhos
fechados e pouco se importando com o fato de estarem deitados no beliche que pertencia a mim.
-Folgados do caralho. -Murmurei emburrado.
Em seguida, aproveitando o fato de que havia sido obrigado a me retirar de meu próprio colchão, eu
tomei a liberdade de pegar meu maço de cigarros, já me preparando para ir de encontro a Itachi no pátio,
visto que a hora de nosso “encontro” havia finalmente chegado.
Sem me preocupar com despedidas, até porque, ambos os garotos provavelmente já estariam
adormecidos e abraçadinhos por cima da minha cama, eu tomei a liberdade de sair sem falar com ninguém,
abrindo a grade e indo de encontro ao corredor do bloco 4.
Estava silêncio, é claro. Mas, de certa forma, até que era bom andar pela penitenciária sem ninguém
ao meu redor para me atrapalhar ou ficar esbarrando em mim.
Para falar bem a verdade, nem era permitido sair da cela durante a noite para ir até o pátio, mas
como nada com o Itachi é totalmente dentro da lei, eu realmente não me importei de me arriscar para ir ao
seu encontro.
Ao passar por todos os outros blocos abaixo do quatro, eu finalmente fui de encontro ao meu destino,
precisando checar o ambiente ao meu redor para ter certeza de que nenhum carcereiro estaria me
observando. Por mais que fosse uma coisa boa para mim, eu precisava admitir que o policiamento durante
o período da noite era realmente fraco.
Sem mais delongas, passei pela passagem que dava acesso ao pátio, tendo a visão perfeita do céu
em tons alaranjados. Parte encontrava-se azulada, enquanto o resto beirava um laranja claro, quase
amarelo.
Faltava pouquíssimo tempo para amanhecer.
Tentei localizar Itachi em meio a escuridão, desviando das luzes de vigia dos carcereiros que, apesar
de estarem cumprindo com os seus trabalhos noturnos, não aparentavam estarem tão preocupados em
exercerem os seus turnos com precisão e dedicação.
Talvez pelo fato de minha visão ser muito boa e potente, eu consegui identificar, mesmo que de
longe, uma certa movimentação atrás das moitas do “jardim”, bem aonde Gaara costumava praticar
jardinagem e pagar de louco toda a vez em que eu pisava nas suas plantas ou arrancava alguma flor.

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Sem pensar muito a respeito, apenas comecei a me embrenhar em meios as árvores e arbustos do
pequeno jardim, aproveitando para ascender um cigarro no caminho, sentindo-me estranhamente ansioso
para o meu encontro com o Uchiha. Vê-lo de madrugada e às escondidas me dava uma sensação bastante
nostálgica e agradável.
Aparentemente, eu estava certo.
Localizado no fundo do jardim, Itachi encontrava-se apoiado sobre o tronco de uma árvore, mantendo
suas duas mãos no bolso da calça e, sem qualquer motivo aparente, estava de tronco exposto. Era um
lugar bastante afastado e escuro se comparado ao restante da “floresta”.
-Mas que mania que você e o seu irmão tem de ficar sem camisa, hein? -Impliquei com ele, não
conseguindo conter o meu sorriso ao vê-lo se assustar com a minha chegada. -Do jeito que vocês dois são
metidos, aposto que fazem isso só pra se exibirem.
O Uchiha abriu um sorriso ladino.
-Boa noite, chefe. -Me olhou de cima a baixo, medindo-me indiscretamente a cada passo dado por
mim em sua direção. -Poxa, como foi que você acertou? Eu vim desse jeito só pra te impressionar e me
exibir pra você. Gostou?
Dei de ombros, fingindo estar indiferente.
-Na verdade não. -Assoprei a fumaça de meu cigarro para cima. -Muito previsível.
Ele gargalhou entretido.
-Vem cá, vem. -Me chamou com o dedo.
Decidi quebrar a pequena distância que ainda restava entre nós, tragando o meu cigarro enquanto o
acompanhava morder seu lábio inferior em minha direção, esperando até que eu estivesse frente à frente
consigo.
-Eu posso saber o motivo de você ter escolhido um lugar tão afastado e bizarro igual a esse pra me
encontrar? -Indaguei desconfiado, ignorando os seus olhares penetrantes e repletos de segundas
intenções. -Você vai me matar ou o quê? Se for assim, fala logo de uma vez pra eu implorar meu perdão a
Deus.
Sua risada soou baixinha e enrouquecida.
-Eu queria um pouco de privacidade pra nós dois. -Respondeu numa entonação grave, umedecendo
seus lábios enquanto mirava diretamente nos meus. -Queria ficar sozinho com você pra poder fazer isso...
Como se ambos já soubéssemos o que estava por vir, Itachi inclinou-se ligeiramente até o meu rosto,
encostando nossos lábios em um selinho longo e apertado. Foi apenas um beijo para nos
“cumprimentarmos”, algo rápido e carinhoso entre nós.
Reabri meus olhos ao me afastar si, causando um estalo baixinho quando desconectei as nossas
bocas, liberando, em seguida, o que ainda restava de minha tragada anterior. O moreno, por sua vez,
exerceu os meus atos, soltando a fumaça presente em sua boca, a mesma que compartilhei consigo sem
querer.
-Ah, Dei... -Lamentou com um sorriso fraco, mostrando-se levemente insatisfeito com o sabor do
cigarro. -Eu não gosto quando você fuma, sabia? Me preocupa de verdade.
Embora eu tenha me sentido “importante” pelo fato de alguém se preocupar com a minha saúde e a
quantidade de nicotina que eu ingeria diariamente, ao mesmo tempo, me deu uma brecha perfeita para que
eu pudesse provocá-lo.
Sem respondê-lo absolutamente nada, tomei a liberdade de retirar mais um cigarro de meu bolso,
levando a minha boca juntamente com o outro, logo o acendendo para que pudesse tragar os dois ao
mesmo tempo.
-Dois cigarros? Sério mesmo? -Itachi fez uma careta de reprovação, especialmente quando eu decidi
assoprar a fumaça em sua cara, rindo sozinho ao vê-lo tossir de modo bem dramático e exagerado.
Provocá-lo era o meu passa-tempo predileto. -Bom, eu ia te dar um presente, mas depois disso, esquece...
Levantei meu pescoço interessado.
-Ah, agora gostou, né? -Riu maldoso. -Tira esses cigarros da boca que eu te dou.
Eu o olhei com uma feição tedioso.
-Se você acha que pode me chantagear com presentinhos—

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Eu me calei de imediato ao vê-lo retirar de seu bolso uma embalagem da cor vermelha e marrom.
Aquilo era, aparentemente, uma barra de chocolate, a mesma que ele havia prometido que me traria no dia
anterior.
Honestamente, eu não imaginei que ele fosse mesmo se lembrar ou levar a sério o meu pedido, mas
pelo o que me parecia, o Itachi estava tentando ser simpático e me gradar.
-Me dá esse caralho. -Arranquei o alimento violentamente de suas mãos, jogando um dos meus
cigarros na grama, enquanto o outro eu tomei a liberdade de direcionar até os lábios alheios, enfiando em
sua boca sem pedir por uma permissão. -Toma, fuma aí e fica quieto.
Abri a embalagem do chocolate às pressas, sentindo minha barriga roncar somente com a ideia de
poder consumir algo doce após tanto tempo longe de açúcar, ao mesmo tempo em que escutava o Uchiha
se engasgar, tossindo por conta do gosto ruim e efeito da nicotina.
-Meu Deus, que felicidade... -Murmurei com um sorriso no rosto, embriagado com o gosto adocicado
que o alimento possuía. -Porra, aí sim!
Itachi me fitou enfezado, ainda preso ao fato de ter sido “obrigado” a fumar um cigarro, entretanto, ao
me ver soltar sons satisfeitos e de aprovação, ele acabou sendo contagiado por mim e abriu um sorriso
descontraído.
-De nada, viu? -Implicou comigo, cruzando os braços de modo convencido. -Não foi nada fácil
conseguir esse negócio.
-Aonde você achou isso? -Indaguei interessado, limpando com a manga de meu uniforme o que
ainda restava do chocolate na minha boca. -E nem venha me falar que foi na cozinha. Eu sei que não é
permitido doces e chocolates lá dentro.
Notei que ele ficou, pelo menos por alguns segundos, completamente sem falas.
-Desembucha logo, caralho. -Olhei desconfiado para si. Era estranho vê-lo enrolar tanto para me
responder, especialmente por Itachi ser alguém que sempre possuía uma resposta para absolutamente tudo
na ponta de sua língua. -Não vai me dizer que você ‘tá envolvido com tráfico e contrabando de comida aqui
dentro!
Ele riu soltamente, negando com a cabeça.
-Não é isso... -Encostou-se novamente na árvore, olhando pensativamente para um ponto aleatório
do jardim. Itachi aparentava estar refletindo se deveria me contar algo, ou não. -Bom, se você quer tanto
saber... Eu consegui o chocolate com o Obito.
Eu precisei de cinco segundos para raciocinar.
-Com o... Obito? -Levantei uma sobrancelha. Aquela informação era um pouco absurda. Por mais
“bonzinho” que o carcereiro pudesse ser, não tinham motivos que o levasse a trazer um chocolate para
dentro da prisão, e somente porque o Itachi pediu. -Conta outra, vai.
-Eu to falando sério, Dei. -Rebateu pacientemente, parecendo buscar as palavras certas para tentar
me convencer. -Como você acha que eu consigo as coisas boas aqui dentro? Você acha que é só estalar os
dedos e tudo do bom e do melhor vem que nem uma encomenda pra mim?
Meus olhos alternavam sem parar nos olhos do moreno, como se dessa maneira pudesse buscar por
qualquer tipo de mentira dentro de si. Em minha cabeça, ainda dava tempo de tudo aquilo não se passar de
uma brincadeira ou mais uma de suas piadinhas.
-O Obito é um conhecido meu fora da prisão. -Revelou calmamente, fazendo um pequeno sinal com
a mão para que eu me mantivesse em silêncio e deixasse-o prosseguir com a sua explicação. -Ele é o meu
primo. Meu e do Sasuke, na verdade.
Meu queixo foi ao chão.
Tirando o fato de Naruto ser o meu meio-irmão, essa notícia, sem sombra de dúvidas, é pertencente
ao segundo lugar na minha lista sobre as “revelações mais chocantes da penitenciária”. Mas, fora o fato
dessa ser uma informação bastante inesperada, parando bem para pensar, até que fazia sentido.
Eu sempre notei a forma como o Obito tratava o Itachi e o Sasuke com mais “intimidade” se
comparado ao restante dos detentos, além de ser, visivelmente, mais chegado neles. Os três estavam
sempre conversando, rindo e até mesmo se tocando de modo mais amigável.
Eu até cogitei a ideia de que os dois irmãos pudessem ter uma amizade com ele, mas não que eram
pertencentes a mesma família, e muito menos que o carcereiro, na verdade, era corrupto e, aparentemente,
um infiltrado entre os funcionários da prisão.

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-Como assim?! -Questionei abismado, tentando buscar na memória alguma vez em que cheguei a
suspeitar sobre esse detalhe. A verdade era que nem à semelhança física dos três havia chamado a minha
atenção. -Quem mais sabe sobre isso? O Naruto sabe?!
Itachi pareceu incomodado com essa ideia.
-Cara, eu espero que não... -Riu com um ar receoso. -Eu fiz o Sasuke prometer que não contaria à
ninguém. Bom, também não era pra eu estar te contanto, mas eu confio em você.
Notei ele sorrir simpático em minha direção, mas sinceramente, eu nem consegui retribuí-lo. O meu
choque em relação a notícia ainda era bem grande. Pelo fato de conhecer o Obito a muito tempo, saber
depois de anos que ele era parente dos dois irmãos Uchiha era algo que eu demoraria bastante para digerir.
-Dei, fala alguma coisa. -Pediu num tom brincalhão. -Por que você ficou tão em choque? Eu,
sinceramente, nem acho que isso seja algo tão surpreendente assim.
-Não acha?! -Olhei desacreditado para si. -Porra, se coloque no meu lugar! Eu achava que o Obito
era super fiel a essa prisão do caralho! Para você ter uma noção, eu até pensava que ele tinha um caso
com o diretor Danzou!
O moreno precisou de uns cinco segundos de silêncio, me fitando totalmente surpreendido, antes
mesmo de começar a gargalhar sem controle algum, precisando apoiar-se no tronco atrás de si para não
perder o equilíbrio.
-Um caso com o diretor Danzou?! -Repetiu com a voz falha após tanto rir, enxugando as lágrimas de
alegria que se acumularam no cantinho de seus olhos. -Claro que não, Deidara! O Obito é hétero, fora que
ele tem esposa!
Meus olhos se arregalaram ainda mais.
-Ele tem esposa?! -Minha voz saiu mais descontrolada do que eu esperava. Eu nunca havia parado
para pensar na vida do carcereiro fora da prisão. -Quem é?!
-Ela chama Rin. -Respondeu entre risadas, negando divertido com a cabeça. -Caralho, Dei. Você
precisa parar de falar que as pessoas têm um caso umas com as outras. Primeiro fui eu e o Sasuke, e
agora o Obito e o Danzou?
Espremei os olhos em sua direção.
-Para a sua informação, eu quase sempre estou certo quando suspeito de um caso! -Apontei o dedo
em sua cara, não gostando nenhum pouco de ser contrariado. -E só pra você saber, eu ainda acho que
você e o Sasuke tiverem algum rolo às escondidas!
-A gente não teve rolo nenhum, Deidara. -Retrucou num tom de desgosto, incomodado por eu estar
voltando nesse assunto. -Ele é o meu irmão mais novo, caralho. Você está literalmente me acusando de
incesto, isso é nojento!
-E daí? -Dei de ombros, mantendo-me firme em minha opinião. -Meu filho, incesto não é crime a
partir do momento em que vocês dois são maiores de idade! Você poderia muito bem estar envolvido com
ele, caralho!
-Você ficou maluco?! -Itachi realmente não sabia se dava risada das minhas “acusações” ou se
irritava com o meu posicionamento em relação ao assunto. -Chega dessas suas ideias absurdas, Dei! Isso é
completamente asqueroso!
Eu não me daria por vencido, é claro.
-Ah! Engraçado que eu sempre te via cheio de ciúmes quando o Naruto estava comigo! -Relembrei
todas as vezes em que o Uchiha se enraiveceu e ficou, visivelmente, afetado quando o meu irmão estava
por perto. -Você diz que é nojento eu ficar pensando sobre incesto, mas você mesmo achava isso quando
me via com o franguinho!
-Isso é diferente! Eu pensei dessa forma porque não fazia ideia de que vocês dois eram irmãos,
porra! -Argumentou com as mãos levantadas em um sinal de defesa. -Eu admito que fiquei com ciúmes,
mas e daí? Agora eu mudei minha opinião, enquanto você continua achando que eu transava com o meu
próprio irmão!
Meus lábios se entreabriram em descrença.
-‘Tá vendo só?! -Gritei alterado. -Você admitiu!
-Eu não admiti nada, seu maluco!

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-Seu morfético do caralho! -Empurrei seu ombro sem pensar muito em meus atos, fazendo-o bater as
costas violentamente no tronco. As minhas bochechas ardiam pela raiva do momento. -Eu sabia, eu sabia!
Você me chifrava com o Sasuke!
O Uchiha negou desesperado com a cabeça.
-Seu safado! -Xinguei enfurecido, extremamente inconformado com a minha descoberta.
-Vagabundo, cachorro! Como eu pude ser tão idiota assim?!
Os olhares de Itachi tornavam-se cada vez mais tensos e angustiados, parecendo disposto a
encontrar uma maneira de reverter a situação e me convencer do contrário. Antes que pudesse ter a
oportunidade de xingá-lo de mais nomes ou então agredi-lo, eu fui rapidamente interrompido.
-Deidara, chega! -O moreno engrossou sua voz. Eu tive meu pulso segurado fortemente por si,
somente como uma precaução para que eu não o empurrasse novamente. -Para com isso. Deixa de gritar e
me escuta pelo menos uma vez nessa sua vida, caralho.
Minha boca se fechou instantaneamente.
-Você não precisa ficar inseguro em relação a nada disso. -Seus olhos permaneciam fixos aos meus,
transmitindo-me honestidade e seriedade. -Quando eu digo que só tenho olhos para você, eu não estou
brincando, Dei.
Surpreendentemente, eu comecei a sentir uma pitada de vergonha. Além do fato de não estar
acostumado com declarações, notei que todo o meu escândalo foi realmente bastante desnecessário e
exagerado.
-Eu te amo. -Sorriu com carinho. Seu toque, por outro lado, se afrouxou em meus pulsos para
escorregar até minhas mãos, entrelaçando-as perfeitamente com as suas. -E eu jamais te trocaria por
ninguém, Dei, muito menos pelo meu irmão mais novo.
Meu rosto se esquentou involuntariamente.
Fazia muito, muito tempo que o Itachi não dizia que me amava. A última vez, se eu não me engano,
foi meses antes de brigarmos sério e nos separamos durante anos. Eu, sinceramente, estava com
saudades de ouvi-lo soar tão carinhoso e amoroso comigo.
-Pronto? Se acalmou, chefe? -Implicou com uma risada enrouquecida, tocando em minha franja na
hora de levá-la até atrás de minha orelha, ganhando total acesso ao meu rosto. -Você é lindo demais, sabia
disso?
Eu nem me esforcei para esconder meu sorriso.
-Você também é. -Elogiei sem pensar muito, arrancando um sorriso convencido e exibido do outro. O
Itachi já era, naturalmente, alguém bastante narcisista, entretanto, ficava ainda pior quando inflavam o seu
ego. -Ah, eu retiro o que disse. Você é tão feio que até dói.
O moreno gargalhou de modo brincalhão e descontraído, revelando-me seus dentes branquinhos e
alinhados, além de ter levado sua mão a barriga, fechando seus olhos para rir com ainda mais vontade.
Eu precisava mesmo admitir. O Itachi era o ser humano mais lindo e charmoso que eu já havia
conhecido em toda a minha vida.
Apesar de se mostrar alguém bem sério e frio para todos ao seu redor, ele sabe bem como se soltar
perto de quem realmente gosta e tem intimidade, além do fato de ficar mil vezes mais atraente quando está
sorrindo.
Internamente, eu amava com todas as minhas forças o fato de ser uma das pessoas com quem o
Uchiha se sentia a vontade para ser quem verdadeiramente era cem por cento de seu tempo. No fundo, a
sua personalidade mais grotesca e arredia era somente uma máscara para sobreviver diariamente e poder
carregar o posto de criminoso mais temido da prisão e, surpreendentemente, do país também.
-Você ‘tá olhando o quê, hein? -Indagou com um sorriso pequeno, flagrando o meu momento de
reflexão em relação a si. -Eu sou tão lindo e gostoso assim? Admite logo, chefe.
Revirei os olhos com força.
-Às vezes eu queria ter a sua autoestima. -Declarei com sinceridade. -Eu nunca vi alguém se amar
tanto assim, puta que pariu.
Ele deu de ombros, sorrindo orgulhoso.
-É um dom.

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-E por acaso é de família esse amor-próprio todo? -Indaguei curiosamente. -O Sasuke e o Obito
também se amam nesse nível doentio?
-O Obito eu não sei, mas o meu irmão tem dias que se recusa a passar perto do espelho porque diz
que vai quebrar. -Riu sozinho com as recordações. -É besteira dele, claro. O Sasuke também é muito
bonito... Mas é claro eu sou mais.
Bufei audivelmente, arrancando uma risada alta e divertida do mesmo. Ele, obviamente, só dizia
aquelas coisas idiotas para me irritar.
-Mas, enfim... -Sacudiu a cabeça, disposto a mudar o rumo de nossa conversa. -Chega de falar dos
outros. Agora eu quero me concentrar em nós dois.
-Ah, é? -Cruzei os meus braços, olhando-o sugestivamente. -E o que você quer fazer?
Seu sorriso, antes somente discreto, tornou-se ladino e provocativo, mordendo seu lábio inferior em
um sinal de aprovação ao meu questionamento, talvez gostando da brecha que, mesmo sem ser a minha
intenção, acabei lhe dando.
Ao notar suas mãos vindo em minha direção, permiti ser puxado pela cintura, sentindo seu toque
firme e habilidoso trazendo-me até o meio de seus braços, os quais me acolheram instantaneamente em um
aperto íntimo e caloroso na altura de meus quadris, agindo como um pedido para que nossos lábios fossem
conectados novamente.
O beijo se iniciou devagar, seguindo um ritmo sútil e arrepiante, permitindo que ambos sentíssemos e
apreciássemos a textura macia de ambas as línguas se roçando em uma sincronia perfeita, misturando
nossos gostos e dando vida ao sabor viciante e distante do chocolate consumido por mim anteriormente.
Suspirando em aprovação, o Uchiha deu o seu máximo para buscar por mais, chupando minha
língua em movimentos experientes e desejosos, recolhendo habilidosamente cada vestígio adocicado
presente em meus lábios.
O escuro e a privacidade que aquele jardim transmitia era outro fator que influenciava
inexplicavelmente para que déssemos o nosso melhor durante o beijo, além de possuir uma liberdade maior
para que pudéssemos nos tocar e acariciar da maneira como desejássemos.
Em pouco tempo, suas mãos já se encontravam repousadas na altura de minha bunda, apertando
por cima do uniforme enquanto me proporcionava uma massagem lenta e prazeirosa, acariciando aquela
região como se pudesse senti-la sem o pano.
Eu estava, oficialmente, mole entre seus braços. Foi em pouco tempo que consegui me sentir
inteiramente envolvido e fora de mim e, pelo o que me parecia, o Itachi não estava muito diferente.
Seu corpo tremia de leve a cada arranhão que eu lhe proporcionava, deslizando de trás da sua nuca
para escorregar de modo lento e torturante pelo seu tronco nu, marcando toda a extensão de seu abdômen
definido e deixando rastros em sua pele branquinha até a altura de sua virilha.
-Ah, Dei... Assim você me enlouquece. -Gemeu com os lábios prensados aos meus, deixando sua
carne ser puxada entre meus dentes. -Você é maravilhoso demais.
Sorri atrevidamente com as nossas bocas seladas, descartando a ideia de respondê-lo apenas com
palavras, me atrevendo na hora de toca-ló intimamente e lhe dar o que ele tanto desejava naquele
momento.
Deslizei minha mão lentamente por toda a extensão de seu tórax, me arriscando ao apertar seu
membro já endurecido por cima da calça de uniforme. Um gemido grosso e baixinho rasgou a sua garganta,
precisando desconectar os nossos lábios ao sentir-me acariciar sua ereção em movimentos leves.
Aproveitei o nível em que já nos encontrávamos para aproximar a minha boca de seu pescoço,
enterrando meu rosto em sua pele na hora de beija-lá com lentidão, passado minha língua por cada
cantinho de sua extensão e chupando alguns pontos que eu sabia que o faziam delirar.
Suas pernas, involuntariamente, começaram a vacilar, assim como o seu pescoço que era tombado
para o lado, permitindo que eu o tratasse do jeito que quisesse e o fizesse se sentir bem com os incontáveis
chupões e mordidas leves até a altura de sua orelha.
Entre suspiros longos e pesados, Itachi acariciou meu coro cabeludo, empurrando, quase que de
modo inconsciente, a minha cabeça cada vez mais para baixo, fazendo-me descer meus lábios por sua
clavícula e traçar com uma trilha de saliva em direção ao seu peitoral.
O Uchiha segurou firmemente atrás de meu pescoço, permitindo que eu descesse meus beijos por
todo o seu corpo, soltando gemidos baixos ao ter-me lambendo sua barriga e abdômen, dando mordidas
fracas até que estivesse ajoelhado de frente para si.

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Olhei brevemente para cima, me deparando com o moreno a morder seu lábio inferior, carregando
um ar de excitação e ansiedade, enquanto acariciava de modo lento os fios de minha nuca, trazendo meu
rosto para frente como se pedisse para que eu o aliviasse de uma vez por todas.
Fiz questão de umedecer meus lábios com os olhos fixos aos seus, dando um sorriso leve ao vê-lo
baixar a calça de seu uniforme, arfando silenciosamente quando seu membro saltou para fora,
revelando-me sua ereção pesada e vazando pré-gozo da fenda.
Sem muita enrolação de minha parte, tive o incentivo de Itachi para que pudesse envolver seu pau
em minha boca, iniciando com uma lambida comprida em sua glande e retirando o líquido perolado presente
do topo.
Em seguida, tomei seu membro inteiro em minha boca, precisando conter o meu sorriso ao ouvi-lo
gemer de modo enrouquecido, puxando meus fios para me incentivar a descer por toda a sua extensão e
sugar com mais pressão e vontade.
Alternei meus movimentos entre rápido e lento, delirando internamente com todos os sons entregues
e prazeirosos que escapavam de sua boca a cada vez em que lambia a sua base, subido até o topo ao dar
uma atenção especial à sua glande inchada e melada.
-Hmm... Isso, assim ‘tá tão bom. -Gemeu ao inclinar minha cabeça para cima, fazendo com que eu o
olhasse nos olhos.
O Uchiha estava perdido, sem conseguir falar com coerência alguma e muito menos pensar, somente
consciente para arranhar o meu coro cabeludo e acompanhar meus movimentos de vai e vem ao jogar sua
pélvis para frente.
Aos poucos, suas pernas foram se tornando mais trêmulas, assim como seus olhos que se fechavam
pelo prazer, enquanto sua cabeça tombava de modo entregue no tronco atrás de si, acompanhado de
gemidos altos e roucos.
Permaneci exercendo movimentos frenéticos até que senti seu pau inchar em minha boca,
despejando ,segundos depois, o seu sêmen em minha garganta, gozando fortemente com um gemido
arrastado, enquanto puxava meus cabelos com uma violência inconsciente.
Arfei dolorosamente contra sua ereção, engolindo todos os vestígios do líquido sem deixar escapar
nada, sentindo, aos poucos, seu toque em meu cabelo se tornar mais suave e carinhoso, acariciando-o de
modo fraco enquanto sentia sua respiração ofegante e os seus batimentos acelerados.
Eu finalmente me afastei de si.
Causei um estalo alto e erótico com a minha boca, olhando para cima com a intenção de conferi-ló.
Me deparei com o seu tórax e pescoço suado, enquanto sua cabeça permanência, cansadamente, tombada
no tronco, recuperando seu fôlego gradualmente.
Eu sorri levemente convencido.
Era satisfatório saber que havia chegado ao ponto de deixá-lo naquele estado. Mas, ao mesmo
tempo, eu sentia uma espécie de felicidade pelas coisas finalmente estarem voltando ao normal. Agora que
estávamos juntos de novo, eu sabia que teríamos muitos mais momentos como esses daqui pra frente.
-Ei... -Me chamou com um sorriso esgotado, acariciando minha nuca ao me incentivar a ficar de pé.
Eu, por outro lado, me levantei com normalidade, limpando meus joelhos e arrumando o meu cabelo de
modo rápido. -Vem cá.
Aproximei-me de seu rosto para corresponder ao seu selinho, sentindo meu estômago formigar de
modo esquisitamente agradável e confortável. Era muito bom estar oficialmente de volta com o Itachi.
-Já está amanhecendo. -Ele comentou aleatoriamente, olhando de modo atento para cima. -Senta
aqui.
Sem protestar, eu o acompanhei na hora de me sentar com as costas apoiadas no tronco, ficando
lado a lado consigo enquanto olhávamos reflexivamente para o céu. Eu confesso que aquela posição me
trouxe um pouco de sono, especialmente por eu ter virado à noite toda em claro.
-Você está com sono? -Indagou sorridente ao me ouvir bocejar.
-Óbvio, né. -Estalei a língua. -Foi muito brega essa sua ideia de querer me encontrar no meio da
madrugada, Itachi.
Ele riu divertidamente.
-Eu achei que seria romântico. -Murmurou baixinho e, apesar de estar ciente de que eu não gostava
de muita proximidade, ele tomou a liberdade de apoiar a sua cabeça em meu ombro. -Você não gostou?
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-Gostei. -Respondi sincero e, por incrível que pareça, eu permiti a sua aproximação. Daquela vez, eu
o correspondi ao ponto de deixar minha cabeça cair por cima da sua. -Mas da próxima vez marca mais
cedo, falou? Eu não quero chegar parecendo um zumbi de tanta olheira.
-Pode deixar. -Riu baixinho.
E foi desse jeito que assistimos o sol nascer.
Sasuke On

O cair da tarde na penitenciária chegava de modo estranhamente agradável e relaxante para todos
os que frequentavam o pátio aberto. Por mais que estivéssemos em época de verão, a temperatura ao lado
de fora era tomada por um vento forte e refrescante, o qual camuflava, mesmo sem que notássemos, o
calor penetrante e indesejável daquele mês.
O dia todo, no geral, havia sido bastante divertido e alegre, o que, sinceramente, soava um pouco
absurdo pelo fato de estarmos, literalmente, presos e sem autorização alguma para que pudéssemos deixar
aquele ambiente tóxico, perigoso e corriqueiro, o qual já estávamos tão habituados a vivermos.
Durante toda a minha manhã e tarde, eu aproveitei bastante com o meu bebê. Por continuar
extremamente deprimindo e traumatizado com a morte de sua mãe, unindo-se ao fato de que havia perdido
o seu funeral naquela manhã, eu decidi dar o meu melhor para distrair o Naruto e desvia-ló um pouco de
tantos pensamentos negativos.
E, pelo o que me parecia, minha ideia havia sido realmente bem-sucedida.
Acordar ao seu lado, levá-lo para tomar café e enche-ló de beijos, abraços e sorrisos, foi somente
alguns dos meus incontáveis planos que decidi botar em prática para que pudéssemos passar nossa manhã
juntos de modo saudável e gostoso.
Já durante a nossa tarde, permanecêssemos a maior parte do tempo no pátio aberto, rindo de coisas
bobas, interagindo com os outros meninos do grupo, tomando, com moderação, vitamina D em nossas
peles, participando de alguns jogos aleatórios e sem sentido e, por fim, assistindo o sol se pôr com
admiração.
Agora, com o cair da noite por cima de nossas cabeças, ambos desfrutávamos dos nossos últimos
minutos do dia no pátio. Naruto, que permanecia sentado em um dos bancos da “quadra”, assistia-me com
um sorriso atento, avaliando silenciosamente todos os meus passos e o fato de eu estar tentando a todo
custo executar um dos diversos movimentos de ginástica que o loiro sabia praticar.
Na realidade, Naruto havia demonstrado, pelo menos umas vinte vezes, a como dar uma “estrelinha”
e, de todas as vezes em que eu tentei botar em prática, os meus movimentos saíram incrivelmente
horrorosos e hilários se comparados aos seus.
Acontece que o meu bebê é uma pessoa muito talentosa e, mesmo me ensinando com toda a sua
paciência e dedicação, eu não cheguei nem perto de atingir a sua estatura.
-Sasuke, descansa um pouquinho. -O loiro sugeriu delicadamente, esboçando uma feição preocupa
ao me ver tentar dar outra estrela, mas caindo, em seguida no chão duro e desconfortável do pátio.
-Cuidado, assim você vai se machucar!
Ri entretido de minha própria situação, permanecendo com o meu corpo estirado em meio ao chão.
Eu estava a pelo menos uma hora dando o meu máximo para copiar todos os passos do loiro e, como o
bom persistente que sempre fui, prometi a mim mesmo que não desistiria até conseguir executar o tal
movimento da “estrela”.
-Acho que, por enquanto, eu cheguei no meu limite. -Declarei derrotado, finalmente criando coragem
para me erguer. Em seguida, andei mancando em direção ao menor, abanando meu rosto e tronco suado,
enquanto agradecia mentalmente pelo vento fresco que aquele final de tarde estava me proporcionando.
-Eu to muito cansado.
Cheguei no banco com a respiração ofegante, sentando-me, sem permissão alguma, no colo
aconchegante e confortável do meu bebê, reparando o quanto suas coxas eram muito mais convidativas se
comparado aos assentos duros e rachados da quadra.
Mesmo sendo maior e mais pesado do que o Naruto, ele não pareceu se incomodar nenhum pouco
em me receber, embora tenha soltado um som forçado e divertido para tirar onda com a minha cara e me
mostrar que estava sendo esmagado.
-Olha lá, hein? -Impliquei divertidamente. -Se eu estiver te esmagando, você me avisa.

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-Pode deixar. -Riu meigamente, sorrindo de modo carinhoso ao sentir-me abraçar o seu tronco,
roubando de si um selinho rápido e um tanto quanto salgado por conta de meu suor. -Você é leve, não se
preocupe.
-Hm, bom saber. -Murmurei sorridente.
Sinceramente, eu nunca imaginei que ficar sentado no colo de alguém pudesse ser algo tão
confortável e que, de certa forma, saciasse até mesmo a minha carência. Pelo o que me parecia, namorar
com o Naruto, além de me fazer um bem inexplicável, me fez dar mais valor às coisas simples e banais da
vida.
Eu já não conseguia mais imaginar a minha vida sem o meu bebê nela.
-Ei, bebê? -Chamei de modo doce e reflexivo, ganhando, de imediato, a sua atenção. -Você se
lembra do começo de tudo isso? Quando você chegou aqui e a gente nem cogitava a ideia de que nos
gostaríamos tanto assim?
-H-Hm... Lembro sim. -Riu entretido, tão preso em seus pensamentos quanto eu. -Eu lembro de ter
derrubado as bandejas na sua cabeça e ter feito você e o seu irmão me odiarem.
Eu fiz careta constrangida.
-Nossa, aquilo foi feio, hein? -Perguntei meio perturbado. -Eu fiquei super afetado só por causa de
uma bandeja. Nem sei quem deu mais chilique... Se fui eu ou o Itachi.
Sua risada soou meiga e divertida.
-Verdade. -Assentiu positivo, aparentando não gostar tanto assim de se recordar sobre esse evento.
-Aquele dia eu pensei que o seu irmão fosse me matar.
-Não, eu nunca deixaria ele fazer uma coisa dessas. -Engrossei minha voz de repente, agindo como
se isso fosse realmente acontecer a qualquer instante. -O Itachi teria que passar por cima de mim primeiro.
Naruto gargalhou carinhosamente, abraçando-se mais ao meu corpo como se tivesse a intenção de
me fazer voltar a vida real. Na nossa realidade atual, surpreendente, o meu irmão mais velho estava se
dando bem com o meu namorado.
Estava tudo, estranhamente, perfeito.
-...Atenção, todos os detentos! -Uma voz grossa e artificial interrompeu os meus pensamentos,
ecoando pelos auto-falantes ao nosso redor. -O pátio vai fechar em cinco minutos! Retornem para as suas
devidas celas, enquanto os que possuem trabalhos noturnos, favor cumprirem adequadamente com os seus
turnos!
Eu e Naruto nós entreolhamos.
-Ah, não... -Lamentei decepcionado. Por conta da perda mais recente de Naruto, os carcereiros
permitiram que ficássemos alguns dias sem trabalhar. No entanto, a nossa pequena pausa havia,
infelizmente, chegado ao fim, o que significava que precisaríamos voltar a limpar privadas e ralos todas as
noites. -Eu não quero ir, Naruto.
Ele suspirou preguiçosamente.
-Eu também não quero. -Seus lábios possuíam um biquinho emburrado. -Mas, sabe... É bem menos
tedioso limpar o banheiro quando eu estou na sua companhia, Sasuke. Você deixa tudo mil vezes melhor.
Eu sorri completamente abobado.
-Eu digo o mesmo de você, bebê. -Lhe roubei um selinho. -É impressionante como você me faz feliz,
sabia?
O loiro corou violentamente, afundando seu rosto na curvatura de meu pescoço. Eu acho que nunca
vou conseguir entender o motivo de alguém como o Naruto, tão lindo, inocente e gentil, ter escolhido ficar
comigo, um criminoso do bloco mais perigoso e temido da prisão.
-H-Hm... Vamos indo? -Sugeriu calmamente.
-Só se você me carregar até lá. -Brinquei, ainda me recusando a deixar o colo tão confortável do meu
bebê para ir limpar um banheiro imundo e fedido. -Daí eu penso se te ajudo a limpar ou não.
O loiro gargalhou de modo gostoso e infantil.
-Tudo bem, mas se eu te derrubar, a culpa não vai ser minha. -Retrucou num tom brincalhão.

370
Aparentemente, o loiro levou mesmo a sério a ideia de tentar me carregar até o banheiro,
aproveitando que eu já me encontrava posicionado em seu colo para tentar me erguer. Eu confesso que me
surpreendi ao sentir o meu bebê ficar de pé, me levantando junto consigo ao dar os seus primeiros passos
em direção à porta do pátio.
-Ah, eu não acredito! -Comecei a rir, sendo automaticamente acompanhado por ele. -Eu to adorando
isso aqui, pode continuar!
-P-Para de me fazer rir, senão eu não vou te aguentar! -Além de seus braços, seu corpo inteiro se
tremia a medida em que ele gargalhava de nossa própria situação. Tudo ficava ainda mais engraçado pelo
fato dos detentos e carcereiros estarem nos olhando de modo estranho. -Para de rir!
O loiro não conseguiu mais me segurar.
Por conta de nossas risadas, Naruto se tornou mais fraco e vulnerável, acabando, mesmo que sem a
sua intenção, me soltando de seus braços. O resultado já era de se esperar. Meu corpo foi direto ao chão,
enquanto o menor tapava sua própria boca, olhando para mim com preocupação e arrependimento.
-S-Sasuke, você está bem?! -Agachou-se apreensivo para me ajudar. Minha resposta, por outro lado,
foi substituída por sorrisos e risadas. -Eu achei que tinha te machucado!
-Não machucou não, bebê. -Sequei o cantinho de meus olhos. -Eu estou muito bem.
-M-Me desculpa. -Segurou embaixo de meus braços, ajudando-me a levantar com um certo receio. O
meu bebê realmente achava que eu estava ferido. -É que eu não consigo fazer as coisas rindo. Acho que já
deu pra perceber.
-Não foi nada demais, sério. -Sorri divertido em sua direção, limpando o meu traseiro. -Eu não sabia
que você era tão forte assim.
Ele negou timidamente com a cabeça.
-E-Eu não sou forte. -Respondeu baixinho, correspondendo ao meu chamado para que
retornássemos a nossa caminhada em direção ao banheiro. -Você que é leve.
-Eu peso uns setenta quilos. -Rebati descontraído. -E você?
-H-Hm... Pior que eu nem sei. -Coçou a nuca enquanto pensava, agarrando em meu braço direito
para que pudéssemos andar lado a lado. -Acho que cinquenta e pouco.
O restante do caminho nos percorremos entre risadas, ao mesmo tempo em que conversávamos
sobre temas bastante estranhos, inclusive chutando, aleatoriamente, qual seria o peso dos nossos outros
amigos, como o Gaara, Deidara e Itachi.
Ao chegarmos no corredor de nosso destino, eu precisei suspirar derrotado, sentindo, mesmo que de
longe, o cheiro desagradável e nojento que o banheiro exalava. O seu interior, para a nossa infelicidade,
estava ainda mais precário.
Naruto tapou a própria boca em descrença ao se deparar com o sanitário imundo, quase caindo para
trás pelo susto que levou com a sujeira que o chão possuía. A boa notícia era que as privadas já estavam
limpas, visto que outros detentos foram designados para nosso trabalho enquanto estávamos fora.
Entretanto, os azulejos estavam extremamente críticos.
-Pessoal porco dos infernos. -Reclamei sozinho, quase me esquecendo de que o loiro conseguia me
escutar. -O que custa deixar o lugar limpo, me diz?
-C-Como foi que eles conseguiram sujar as paredes? -Indagou meio surpreendido. Ambos nos
aproximamos do azulejo com os narizes torcidos, observando um líquido branco e viscoso grudado no
mesmo, o qual eu, particularmente, não me arriscaria dizer o que era. -O que é isso, Sasuke?
-Eu não sei, bebê. -Virei o ombro de Naruto para o outro lado, querendo preservar a sua inocência e
deixá-lo longe daquela nojeira. -Vamos começar a limpar logo, pode ser?
-Tudo bem. -Assentiu convicto, aproximando-se da pia para buscar os baldes e produtos de sempre.
-Vamos começar pelo chão?
-É melhor. -Concordei enojado.
Iniciamos a nossa tarefa a mil. O loiro foi o primeiro a despejar um balde de água por todo o sanitário,
causando um eco gigantesco e automático pelo corredor. Eu, por outro lado, esguichei alguns produtos
cheirosos e fortes a nossa volta, jogando, inclusive, nas paredes.

371
Como os carcereiros não haviam nos disponibilizado nenhum rodo naquela noite, fomos obrigados a
nos agacharmos naquele chão repugnante com a intenção de ensaboa-ló, dobrando nossas calças um
pouco a cima do joelho para facilitar o processo.
A divisão foi quase que automática. Eu fiquei com o lado direito do sanitário, enquanto Naruto
trabalhou com o esquerdo. Ambos estávamos tão concentrados em limparmos aquela sujeira toda com os
panos, que quase nem conversamos um com o outro ao decorrer do processo.
A medida que o chão era limpo por nós dois, íamos chegando mais perto do centro, ou seja, cada
vez mais próximos um do outro. Aquela hora, infelizmente, era a pior de todas. Eu havia tido o azar de ficar
com a limpeza do ralo principal, a parte mais indesejada de todo o banheiro.
Ainda de quatro no chão, eu precisei respirar fundo para abrir aquele pequeno buraco, tapando o
meu próprio nariz rapidamente ao retirar a tampa. Mesmo que com a respiração presa, o cheiro pareceu
arrumar uma outra forma de me invadir, fazendo-me recuar para trás com uma ânsia de vômito gigantesca e
topar, em consequência, com o Naruto.
-Au! Cuidado. -Declarou brincalhão, estalando um pequeno tapinha em minha bunda. Pelo o que me
parecia, o meu traseiro havia batido em seu rosto. -Você está com o bumbum na minha cara, Sasuke.
Se fosse qualquer outra pessoa, ou em qualquer outro contexto, eu com certeza assimilaria aquela
frase à algo sexual. No entanto, por eu estar morrendo de nojo daquele ralo, fora o fato de Naruto ser puro
demais para me dizer uma coisa daquelas, eu deixei passar.
-Desculpa, bebê. -Virei meu pescoço para trás, sentindo meus olhos se enxerem de lágrimas pelo
fedor que eu estava sendo obrigado a aguentar. -É que aqui está bem difícil.
-Tudo bem. -Murmurou risonho.
De qualquer forma, eu decidi dar o meu melhor e não ficar reclamando, para que assim pudesse
acabar com aquele sofrimento de uma vez por todas. Para agilizar o processo, joguei alguns produtos no
buraco, ao mesmo tempo em que retirava os milhares fios de cabelo que, aparentemente, estavam
entupindo o mesmo.
Após tanto segurar o meu vômito, eu finalmente consegui dar conta do serviço. O ralo estava,
oficialmente, limpo. Sorrindo em vitória, decidi que levaria meu traseiro uma outra vez para trás, mas
somente com a intenção de provocar o Naruto e mostrá-lo que havia terminado a minha parte primeiro.
Sobretudo, o que aconteceu em seguida, foi o contrário do que eu esperava.
Antes que tivesse a oportunidade de chocar o meu corpo contra o seu, virei meu pescoço novamente
para trás, deixando meu plano completamente de lado com a cena que vi diante de meus olhos.
Daquela vez, quem estava com o rosto colado ao corpo alheio, era eu. Mantendo-se de quatro e de
costas para mim, Naruto continha sua calça do uniforme úmida na altura de sua bunda, revelando-me
perfeitamente as suas nádegas marcadas e quase transparentes por dentro daquele tecido finíssimo.
Com um suspiro inaudível, eu admirei o loiro se movimentar ritmadamente, indo com o seu corpo
para frente e para trás a medida em que passava o pano pelo chão. Seu bumbum estava incrivelmente
próximo e exposto para mim, causando-me uma vontade absurda de lhe tocar, morder, apertar e fazer o que
eu bem entendesse com ele.
Havíamos ficado alguns dias sem nos beijarmos e relacionarmos pra valer, o que,
consequentemente, fez com que a minha excitação em relação a nós dois crescesse de modo considerável.
Aquela hora, sinceramente, parecia perfeita para mim.
Estávamos ambos sozinhos naquele banheiro, sem ninguém para nos incomodar e, ainda por cima,
com o Naruto se expondo bastante para mim, mesmo que não percebesse.
Com o meu corpo quente e afervorado, eu não precisei de muito esforço para inclinar minha mão em
sua direção, acariciando suas nádegas em movimentos sutis e delicados, apenas sentindo em minha pele a
sua carne gostosa e apertada por dentro daquela calça.
Naruto, obviamente, reagiu com rapidez.
Ao soltar um suspiro assustado, o loiro se virou com o rosto violentamente corado, assistindo o
momento exato em que retirei minhas mãos de cima de si, encarando-o para lhe perguntar se estava
fazendo algo errado ou o deixando desconfortável.
Apesar de meu pequeno receio em agir de modo desrespeitoso, o meu bebê pareceu não se importar
com esse fato, me surpreendo ao morder seu lábio inferior de modo tímido e simplesmente voltar a olhar
para frente como se me desse permissão para que eu prosseguisse.

372
Eu suspirei bem baixinho.
Por obter uma autorização sua, eu pude retornar com às minhas carícias no mesmo ritmo, lhe
proporcionando toques leves e assanhados em seu traseiro, enquanto sentia o loiro tentar se manter lúcido
para terminar a sua tarefa sem interrupções.
Utilizei minhas duas mãos para massagear as suas nádegas, me ajoelhando perfeitamente trás de si
ao sentir o meu pau se endurecer, entregando-me por completo aos suspiros baixos e fininhos que o meu
bebê deixava escapar a cada vez em que eu apertava a sua carne entre meus dedos.
-M-Mhmmm... -Gemeu em aprovação.
Por saber que Naruto queria e pedia por mais contato, eu decidi dar um passo a mais por nós dois,
indo de encontro ao elástico de sua calça na hora de abaixá-la até a altura de suas coxas, mas somente
como um pequeno teste para ver se o loiro aprovaria, ou não, o ponto em que estávamos chegando.
Ao permanecer na mesma posição, sem ter quaisquer tipos de reações negativas aos meus toques,
eu pude finalmente fazer o que tanto desejava e expor as suas nádegas gordinhas, bronzeadas e atraentes
para mim.
Possuindo os meus lábios umedecidos e trêmulos pela excitação do momento, eu aproximei meu
rosto lentamente de seu traseiro, distribuindo selinhos fracos e suaves em suas duas covinhas presentes no
final das costas, sentindo seu corpinho se tremer ao ansiar por mais atenção e beijos meus.
Fui descendo minha boca com uma lentidão torturante, dando mordidas leves ao decorrer de sua
pele macia e cheirosa, até que tive certeza de que alcancei o pontinho que eu tanto desejava. Por estarmos
ambos em uma posição favorável e compatível, minhas mãos logo estavam de volta em suas nádegas,
separando-as cuidadosamente para revelar-me sua entrada rosadinha e pequenina.
Inclinei meu rosto com vontade e ansiedade, me afundando naquela abertura sem pensar duas
vezes. Naruto gemeu alto com o primeiro contato lento e experiente de minha língua, se alucinando por
completo com aquela sensação tão nova e gostosa que sentia em seu interior.
Mesmo que de modo inconsciente, o meu bebê trouxe as suas mãozinhas até meus fios negros e
bagunçados, gemendo entregue ao segura-lós com certa timidez e inexperiência, não conseguindo deixar
de arquear as suas costas pelo prazer absurdo e inusitado que tomava conta de si.
O loiro se tremia incontrolavelmente a cada vez em que minha língua deslizava para dentro de si,
tendo, a todo o instante, minhas mãos ao redor de suas nádegas, facilitando o processo na hora de manter
a sua entrada bem abertinha e espaçada para mim.
Seu fôlego se esvaia aos poucos e seu corpo lhe causava espasmos, reagindo de modo entregue e
inexperiente a sensação úmida e quente que tomava conta de si, enquanto eu continuava a suga-ló sem
parar, hora indo em direção às suas bolas e hora voltando até a sua entradinha, penetrando a minha língua
o mais fundo que conseguia para ouvi-ló gemer o meu nome daquele jeitinho agudo e gostoso que só ele
sabia.
-S-Sasuke... Ah, por favor. -Pediu desconexo, contendo seu rosto corado e contraído por não estar
habituado a lidar com tanto prazer.
O Naruto estava perto de seu limite. Não só pelo fato de nunca ter experimentado ser chupado
daquela maneira, mas sim por estar mais sensível e entregue do que o normal.
Eu afastei a minha boca rapidamente de si.
O meu bebê se tremeu inteiro com o meu distanciamento, quase não conseguindo se manter de
quatro com o apoio de seus braços.
Ainda com minhas mãos ao redor de seu traseiro, pude observar com nitidez a sua cavidade ainda
mais rosada e úmida se comparado a antes, pulsando involuntariamente pelo tesão e a falta que sentia de
minha língua.
-Bebê? -Chamei enrouquecido, conseguindo me arrastar pelo chão até que estivessem em uma
posição de frente para si. Seu rosto corado e os olhinhos fechados me deixavam, estranhamente, mais
excitado. -Vem cá, deixa eu te levantar.
Sem esperar por respostas suas, ajudei-o a se erguer por baixo de seus braços, nem me dando o
trabalho de levantar as suas calças. Era como se ambos já soubéssemos o que viria a seguir e, por essa
razão, foi tão fácil para mim de guiar o loiro para a cabine mais próxima, tendo-o trêmulo e enfraquecido ao
meu lado até que decidimos adentrar uma.
Ao fechar e trancar a porta da mesma com certa afobação, eu me virei para si com um olhar
completamente anestesiado pelo tesão, sentindo meu pau pulsar somente com a ideia de poder fazer amor

373
bem gostoso com o meu bebê dentro daquela cabine minúscula e apertada, e sem ninguém para nos
interromper.
-Ei... -Chamei baixinho, puxando-o pelo braço até que estivesse com o corpo colado ao meu peitoral.
Retirei alguns fios rebeldes de sua testa suada, fitando-o intensamente com a minha respiração tão
ofegante quanto a sua. -Você quer fazer isso, hm?
Ele assentiu timidamente.
-E-Eu quero, Sasuke.
Um gemido involuntário rasgou a minha garganta.
Lhe roubei um selinho pequeno ao me dirigir consigo até a privada, tomando a liberdade de me
sentar na mesma com a tampa baixa. Em seguida, trouxe-o delicadamente entre as minhas pernas abertas,
agarrando na barra de sua blusa ao retira-lá sem permissão, vendo Naruto fazer o mesmo com a sua calça,
e abaixa-lá por completo até a altura de seus pés.
Eu tirei um tempo para observa-ló bem indiscretamente, mordendo meu lábio inferior com força ao
fitar aquele corpinho inteiro em minha frente. Logo depois, para acelerar o processo, trouxe o menor para
frente com a cintura, olhando-o com cuidado e carinho enquanto o incentivava a se sentar em minhas
coxas.
-Você fica por cima hoje, pode ser? -Acariciei sua perna apoiada sobre da minha, quase não
suportando a ideia de tê-lo peladinho no meu colo e pressionando, mesmo que inconscientemente, a sua
bunda em meu membro endurecido. -Vai ser gostoso. Eu prometo.
Mesmo que inseguro, o meu bebê assentiu.
Mantendo meus olhos fixos aos seus, eu retirei minha ereção para fora da calça, não precisando me
preocupar com a minha blusa pelo fato de ter passado o meu dia inteiro sem nada em meu tronco. O loiro,
por outro lado, acompanhava cada passo meu com o rostinho corado e os lábios entreabertos, nem sequer
cogitando o quanto eu amava esse jeitinho todo tímido e inocente que o meu bebê tinha de olhar, mesmo
diante de um momento tão safado como aquele.
Sem mais enrolações, segurei em meu pau para direciona-ló até a sua abertura, mantendo minha
outra mão em sua cinturinha com a intenção de guia-ló da maneira correta e não lhe machucar tanto assim.
Mesmo que envergonhado, Naruto era esperto ao ponto de saber que aquilo também dependia de si e que,
para que nossa transa funcionasse, ele precisaria se sentar por cima de mim e aceitar ser direcionado até o
meu membro.
Quando minha glande entrou em contato com a sua cavidade, seu rosto se contraiu em um misto de
vergonha e dor, mordendo seu lábio apreensivamente ao notar-me preocupado com as suas reações.
-Bebê? ‘Tá doendo? -Indaguei cuidadoso, lhe proporcionando um pequeno carinho em suas coxas.
-Vai no seu tempo, viu? Vai devagarzinho.
Com um aceno envergonhado, ele foi deslizando lentamente pela minha extensão, seguindo um
ritmo que considerou confortável para si e gemendo baixinho ao apoiar-se de modo inexperience em meus
ombros, provavelmente a intenção de utiliza-lós como uma apoio.
Ao tê-lo completamente dentro de mim, soltei um suspiro longo e prazeiroso, me sentindo afervorado
pelo fato de estar o preenchendo por completo e prestes a alarga-ló mais uma vez com o meu pau.
Em sua primeira sentada, foi claro o modo como Naruto estava nervoso com a nova posição,
mantendo sua cabeça baixa e os olhinhos fechados ao soltar um gemido manhoso, apenas
acostumando-se com o meu tamanho em sua entrada apertada e quase nunca tocada.
Seus movimentos de vai e vem por cima de minha ereção prosseguiram lentos e cuidadosos, me
fazendo morder os lábios com firmeza, enquanto o observava se contorcer e deslumbrar do deleite. Aquela
visão era a mais maravilhosa que eu já havia presenciado em toda a minha vida. Naruto ficava incrivelmente
lindo cavalgando em meu pau a procura de mais prazer.
Seus gemidos fininhos logo aumentaram de intensidade, unindo-se aos meus enquanto soávamos
através do prazer que sentíamos mutualmente. Eu permanecia acompanhando o seu ritmo, sem força-lo ou
pedir por mais, apenas deixando com que ele sentasse na velocidade que desejava, enquanto minha
cabeça se tombava para trás e minhas mãos seguravam firme na cintura do meu bebê, aproveitando a
sensação de meu pau pulsando constantemente em sua entradinha a medida que ele sentava em mim.
Entre gemidos dengosos e agudos, seus fios loirinhos se grudavam em sua testa, tensionado suas
costas a cada vez em que minhas bolsa batiam em sua bunda, parecendo acertar o seu interior de forma
gostosa e da maneira que ele desejava.

374
-Aí, bebê... Não para não. -Gemi rouco.
Meus olhos se fechavam com o prazer, não acreditando no fato de estar tão perto de gozar e em tão
pouco tempo por ter o meu bebê sentando em meu colo de um jeitinho bastante inexperiente mas, ao
mesmo tempo, incrivelmente prazeiroso para ambos.
Em resposta, o loiro sibilou desconexo, cravando as suas unhas em minhas costas ao jogar seu
pescoço para trás, cavalgando de modo acelerado ao encontrar sozinho o seu pontinho mais gostoso e
delirante em seu interior. Aquela cena, realmente, era maravilhosa demais para eu suportar.
Meu orgasmo se aproximava com intensidade.
-Continua, vai... -Pedi embriagado pelo prazer, permitindo ser arranhado descontroladamente por ele,
ao mesmo tempo em que acompanhava os seus movimentos com minha mão repousada em sua bunda,
chocando a minha pélvis freneticamente em sua entrada. -Ah, bebê... Eu vou gozar.
No segundo seguinte, eu atingi o meu ápice.
Com uma revirada de olho, deixei meu corpo jorrar jatos seguidos de gozo em seu interio, não
conseguindo deixar de apreciar o fato de ter chegado ao meu orgasmo com a sua voz manhosa e gostosa
chamando pelo meu nome.
Em seguida, veio o meu bebê.
Em um gemido alto e desesperado, Naruto ejaculou fortemente em meu abdômen, mordendo seu
lábio ao jogar sua cabeça para trás, tendo, a todo o instante, as minhas mãos repousadas em sua bunda,
apertando-a até que tivesse certeza de que o loiro estava bem satisfeito e realizado.
Aos pouquinhos, seus movimentos foram se tornando cansados e fraquinhos, vindo acompanhados
de uma tremedeira prazeirosa de seu corpo, enquanto Naruto parecia tomar coragem para reabrir seus
olhos e regular a respiração. Eu, por outro lado, permaneci com os meus serrados pela exaustão,
acariciando seu bumbum ao vê-lo finalmente se acalmar de uma vez por todas.
-Ei... -Chamei com uma voz doce, porém rouca, acompanhando o exato momento em que seus olhos
se abriram, indo timidamente de encontro aos meus. -Foi bom, hm?
O loiro concordou envergonhado.
-Vem cá, vem. -Segurei em sua cintura, permitindo, calmamente, que Naruto afastasse sua entrada
de meu pau e fizesse com que meu sêmen escorregasse para fora. Em seguida, acolhi-o carinhosamente
entre os meus braços, sentindo seu rosto se afundar em meu pescoço e suas mãozinhas apertarem o meu
tronco. -Eu te amo muito, bebê.
-E-E te amo muito também, Sasuke. -Murmurou baixinho, depositando um selinho sonolento na
curvatura de meu pescoço. -H-Hm... Você é o amor da minha vida.
Eu sorri completamente emocionado.
-E você é o meu. -Sussurrei docemente. -É o meu bebê. Só meu, mais de ninguém.
Sua risada soou baixinha em meu ouvido.
Nos minutos seguintes, fiquei a fazer um carinho lento em sua cintura, esperando com que ambos
nos recuperássemos de nossos orgasmos que, por sinal, foram bastante intensos e fortes.
Surpreendentemente, mesmo que naquela posição desconfortável, o loiro estava prestes a dormir no
meu colo, mantendo sua cabeça apoiada em meu ombro, com os olhinhos fechados e um biquinho
sonolento e adorável nos lábios.
-Ei, Naruto, não vai dormir, hein... -Alertei delicadamente, afastando-o para que pudesse olhar em
seus olhos. -Deixa eu limpar você.
Aproveitando que estávamos literalmente sentados no vaso, eu tomei a liberdade de puxar um rolo
de papel higiênico, arrancando alguns pedaços para limpar meu membro, abdômen e qualquer parte de sua
pele suja de sêmen, inclusive a sua entradinha.
-Pronto. -Beijei o topo de sua cabeça. -Vamos nos trocar. Nosso turno já acabou.
Foi fácil para mim me trocar, visto que apenas precisei erguer a minha calça e cueca para cima. No
entanto, para o loiro, houveram algumas dificuldades pelo fato dele estar um pouco dolorido e também com
bastante preguiça de se movimentar.
-Está doendo muito? -Perguntei preocupado, acariciando o seu traseiro.
-N-Não. -Riu baixinho.

375
-Mesmo?
-Uhum. -Sorriu carinhoso. -Eu estou bem.
Mesmo que com a uma confirmação sua, eu decidi me agachar atrás de si, dando um beijo pequeno
na altura de seu bumbum. Após vê-lo corar, ergui meu braço em sua direção, pedindo silenciosamente para
que ele segurasse, mas também para eu ajudá-lo a andar.
Saímos daquela cabine como se nada tivesse acontecido, ambos quietos e sorridentes apôs o
momento maravilhoso entre nós dois. O corredor, como de costume, estava escuro, o que,
surpreendentemente, nem incomodou tanto assim o meu bebê. Ele estava contente e relaxado demais ao
meu lado para ficar com medo das “almas penadas”.
Não foi necessário discutirmos em qual cela passaríamos naquela noite, visto que ambos estávamos
dispostos a ficarmos juntos e, pelo fato de Naruto também estar querendo muito a companhia do Deidara
recentemente, eu achei melhor irmos até o bloco 4.
Após pouquíssimos minutos de caminhada, adentramos o corredor tão conhecido por nós, seguindo
em silêncio até a última cela de todas, ou seja, a do número 444. Ambos imaginamos que Deidara e Gaara
já estariam adormecidos como o resto dos detentos, entretanto, mudamos rapidamente de ideia ao
espicharmos os nossos pescoços para dentro.
Para a nossa surpresa, quem estava frequentando a cela de Naruto no lugar do Gaara aquela noite,
era o meu irmão.
-Itachi? -Chamei levemente atordoado, observando de cenho franzido a cena de Itachi e Deidara
deitados juntos sobre o beliche de cima, ambos carregando livros em suas mãos. -O que você está fazendo
aqui?
Ele me olhou de modo estranho.
-Ué, eu que te pergunto. -Respondeu seco. -Eu vim passar a noite com o Deidara.
-Contra a minha vontade. Só para deixar claro. -O loiro mais velho acrescentou, umedecendo a ponta
de seus dedos ao mudar a página, nem se dando o trabalho de olhar em nossa direção. -Eu gosto de dormir
sozinho, como todos vocês já sabem.
Itachi riu entretido, não se deixando abalar.
-Então já pode ir se acostumando, chefe. -Chegou com o corpo mais perto de si, apoiando o queixo
em seu ombro com a intenção de irritá-lo. -Você não vai mais se livrar de mim, ouviu bem?
Reparei que, mesmo revirando os olhos, Deidara estava lutando contra o seu sorriso.
-H-Hm... Cadê o Gaara? -Naruto indagou curioso, sentindo falta do ruivo ao olhar em direção a sua
cama. -Ele não vai dormir aqui hoje?
-Aonde você acha que ele está, franguinho? -O loiro devolveu tediosamente. -Agora o Gaara só fica
naquela enfermaria do caralho.
-Ah, é verdade. -Sorri levemente, me incluindo na conversa sem ser chamado. -Ele gostou mesmo
daquele filho do enfermeiro.
-Pois é. -Concordou debochadamente. -Daqui a pouco ele vai fingir que ‘tá com dor no cu só pro Lee
examinar. Quanto vocês apostam?
Itachi começou a gargalhar como uma verdadeira hiena, chacoalhando o ombro do loiro a medida em
que se engasgava com a própria risada, deixando o outro com uma expressão tediosa no rosto, a qual eu,
sinceramente, me arriscaria dizer que era somente para conter o seu sorriso.
-O pior vai ser se o garoto recusar e passar a vez pro pai dele. -Meu irmão complementou, secando
as suas lágrimas de alegria, as quais se acumularam no canto de seus olhos. Fazia muito tempo que eu não
o via tão contente perto de alguém. -Daí vai sobrar pro Guy examinar o Gaara.
Mesmo tentando ao máximo se segurar, Deidara não conseguiu permanecer sério e acabou
gargalhando juntamente com ele. Ambos tinham um humor bem ácido e diferenciado se comparado ao meu
e de Naruto. Nossas piadas eram muito mais leves e saudáveis, enquanto as deles sempre envolviam
palavrões ou algo sexual.
-Essa foi boa. -O loiro mais velho elogiou com um sorriso orgulhoso, dando um toque breve de mãos
com o seu companheiro. -Até que você ‘tá aprendendo bem, Itachi.
-É claro que eu estou... -Sorriu em provocação. -Eu tenho o melhor chefe do mundo, esqueceu?

376
Eu e Naruto nos entreolhamos meio assustados.
Era algo realmente estranho vê-los tão íntimos. Foi meio de repente a maneira como eles se
reaproximaram, mas sinceramente, era bom demais saber que ambos estavam felizes e haviam finalmente
se acertado.
-Ei, Naruto? -Após minutos de risada, Itachi o chamou de repente. -Adivinha só o que eu estou
lendo?
O meu bebê corou levemente ao meu lado.
-H-Hm, o quê? -Agarrou-se ao meu braço de modo receoso como se, no fundo, soubesse
exatamente sobre o que ele estava falando.
-Eu vou ler um trecho aqui pra ver se refresca a sua memória... -Abriu o seu livro em uma página
aleatória, olhando com certo suspense em nossa direção. -“E então, com uma penetrada forte, o empresário
ejaculou no interior de sua assistente, finalmente tirando a sua virgindade na sala aonde costumava fazer
suas reuniões matinais—
Meus olhos se arregalaram de abrupto.
-Itachi, para com isso! -Repreendi desesperado. Eu não conseguia acreditar que ele estava mesmo
lendo um de seus livros eróticos para o meu bebê. -Isso é uma baixaria! É horrível!
Deidara, por sua vez, ria alto em aprovação, nem ligando para o fato de seu irmão mais novo estar
absurdamente desconfortável com a situação e encolhido ao meu lado.
-Continua, Itachi! -Incentivou com um sorriso divertido. -‘Tava ficando interessante.
-Certo. -Coçou a garganta antes de continuar, lançando um olhar maldoso para mim. -“Mas, naquele
momento, ele só se importava com o prazer. O corpo daquela jovem era uma delícia. Suas curvas, boca,
seios, bun—
Eu precisei interrompê-lo novamente.
Dessa vez, eu não me contentei apenas em calá-lo com palavras. Por estar muito desesperado em
deixar o Naruto ouvir uma coisa daquelas, o que, de certa forma, soava irônico pelo fato de termos transado
a minutos atrás, eu tomei a liberdade de agarrar um dos travesseiros ao meu lado e atirar até ele.
O único problema foi que a minha mira deu errado. Quem recebeu o travesseiro de modo violento em
sua cara, foi o Deidara.
Ficamos os três em silêncio, olhando em sua direção como se esperássemos pelo pior. Ao reabrir os
seus olhos, revelando-nos seus cabelos bagunçados e expressão raivosa, não demorou muito para que ele
revidasse, jogando outro travesseiro em minha direção.
Foi a minha vez de “apanhar”.
Quando recebi o conteúdo em meu rosto, precisei de uns cinco segundos para assimilar, piscando de
modo atordoado enquanto sentia os olhares de todos caindo sobre mim.
-Gente, é sério que vocês vão brincar de guerra de travesseiro? -Itachi indagou sarcástico. -Que
coisa mais infantil e—
O seu companheiro o calou agressivamente.
Aparentemente, até mesmo o meu irmão havia virado uma vítima da brincadeira. Seu cabelo ficou
inteiramente despenteado com a batida que recebeu em sua face. De início, eu imaginei que ele fosse
revidar da mesma maneira no loiro mais velho, mas me enganei completamente ao vê-lo agarrar outro
travesseiro e atirar em direção ao meu bebê sem dar justificativas.
Quando a almofada bateu em sua face, Naruto soltou um suspiro surpreso, olhando para meu irmão
levemente assustado e se perguntando o motivo dele ter feito isso.
-Pronto, agora todo mundo apanhou! -Arrumou o seu cabelo com uma carranca. -Já deu, né? Eu não
gosto dessas brincadeiras.
Meu cenho se franziu com raiva.
Agarrei outro travesseiro que estava no chão e joguei de modo bruto em sua direção, batendo
certeiramente em seu rosto. Eu não havia gostado nem um pouco do fato dele ter “machucado” o meu bebê.
-Qual é o seu problema?! -Indagou raivoso.
-Eu que te pergunto! -Devolvi.

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-Ah, quer saber?! -Puxou o travesseiro das mãos de seu companheiro, atirando violentamente na
minha cara. -Toma!
E assim se iniciou a guerra de travesseiros mais violenta que eu já participei em toda a minha vida.
Não só eu e Itachi, como, consequentemente, Naruto e Deidara acabaram entrando em nossa “briga” pelo
fato de estarem no meio de nós dois.
Estavam todos batendo em todos, sem frescura nenhuma. Até mesmo no meu bebê eu jogava o meu
travesseiro, embora eu estivesse pegando mais leve com ele. Mas, com o resto, era uma violência meio fora
do normal.
Os travesseiros pareciam verdadeiras armas e escudos de defesa.
Ambos os garotos até tomaram a iniciativa de descerem do beliche para que pudéssemos nos
“espancar” com mais vontade no meio da cela, todos escolhendo os seus alvos aleatoriamente, apenas se
batendo entre risadas como se não houvesse amanhã.
Em um momento qualquer, quando já estávamos suados e sem fôlego com a brincadeira, Itachi foi
quem, por acaso, ficou no meio de todos nós, ou seja, virou o meu alvo e do resto dos garotos. Se aquilo
não fossem travesseiros nós, sinceramente, já teríamos matado ele.
Foi a primeira vez que eu vi o meu irmão tão “indefeso”.
-Mata esse morfético! -Deidara exclamou entre risos, parecendo tão entretido com a brincadeira
quanto nós. -Vai até ele se render!
-Nunca! -Itachi gritou em posição de defesa, aguentando ser espancado somente para não deixar o
seu orgulho de lado. Como sempre. -Eu prefiro morrer!
-... Meninos?
Paramos nossas risadas e gritaria no mesmo segundo, deixando de lado também a nossa pequena
guerra de travesseiros. Viramos todos em direção a grade, possuindo nossos cabelos bagunçados e
respirações ofegantes, logo nos deparando com a presença de Obito.
-Já está tarde. -O moreno declarou simplista, sorrindo de leve ao ver o estado de Itachi. Ele era o
mais descabelado entre todos. -Vão dormir.
Nos entreolhamos em silêncio.
-É, gente. -Meu irmão arrumou o seu cabelo, agindo como se nada tivesse acontecido. -Vamos
dormir, é melhor.
O meu bebê soltou um som chateado.
Estava mesmo divertido a forma como interagimos um com o outro. Fazia tempo que eu não me
sentia tão feliz e entregue a uma brincadeira daquela forma. Ver, principalmente, o Itachi feliz, era muito
gratificante.
-Vamos deitar, bebê? -Sugeri calmamente.
-Uhum.
Quando Obito deixou a cela, cada um voltou para seu beliche normalmente, esquecendo do que
houve anteriormente. Deitei ao lado de Naruto na cama de baixo e nos mesmos travesseiros que utilizamos
antes de tudo.
Eu acho que, após esse momento divertido entre nós, cada um foi dormir com o humor saudável e
um sorriso no rosto, mas em especial, eu e o Naruto. Ao nos abraçarmos como de costume, com o loiro
agarrado ao meu tronco e o rosto em meu peito, eu estalei um beijo no topo de sua cabeça, me permitindo,
finalmente, pegar no sono.
Aquele dia havia sido realmente feliz.

Capítulo 27 - Trabalhos novos e bebedeiras

Naruto On

O dia havia começado bem. Aquela manhã, sem sombra de dúvidas, estava se tornando uma das
mais leves e felizes que eu já vivenciei desde o dia em que cheguei na penitenciária. O fato de estar “de
bem” com todo mundo, incluindo o Itachi e o Deidara, deixava tudo ainda mais agradável.

378
Estávamos todos no pátio aberto.
Não só os garotos conhecidos por mim, como também o restante dos detentos, por alguma razão
desconhecida, decidiram se aglomerarem no mesmo ambiente, dispostos a tomarem sol, interagirem entre
si e encontrarem alguma forma de se divertirem em meio a tanto tédio.
Alguns jogavam bola, outros, um pouco mais cultos, liam os livros que a biblioteca disponibilizava,
inventavam brincadeiras aleatórias e até mesmo conversavam amigavelmente com os carcereiros. No
entanto, a dupla mais chamativa entre todos eles era, de longe, os irmãos Uchiha.
Localizados no centro do pátio e em minha linha de visão, ambos os garotos permaneciam entretidos
com um jogo que decidiram “trazer de volta à vida”, mas que, em meu ponto de vista, era
desnecessariamente violento.
“Cinco minutos sem perder a amizade”, foi o que Sasuke sugeriu para o mais velho, numa tentativa
nenhum pouco saudável de relembrar, entre eles, as suas infâncias, mas em especial, a época em que
costumavam brincar de “lutinha” um com o outro.
Aquele jogo, segundo a explicação impaciente e nada formal de Deidara, era uma desculpa
esfarrapada para que os dois irmãos pudessem se bater durante cinco minutos e ver quem aguentava
apanhar por mais tempo.
Acontece que, além do fato de ambos já estarem bem fortes e crescidos, muito diferente de quando
eram somente duas criancinhas, já haviam se passado muito mais do que cinco minutos desde que os
garotos deram início aquele jogo agressivo e perigoso.
Fazia meia hora que eles estavam ”brigando”.
Meus olhos acompanhavam com atenção o Uchiha mais novo estirado sobre o chão do pátio,
enquanto Itachi, o qual não media esforços para ser o mais bruto possível, permanecia sentado por cima de
si, tentando a todo o custo acerta-ló em sua face, embora estivesse tendo algumas dificuldades pelo fato de
Sasuke saber bem como se defender.
Eles realmente estavam levando aquilo bem a sério.
-H-Hm... Deidara? -Chamei levemente preocupado, não sabendo se deveria fazer algo para
interromper aquele jogo, ou não. A situação estava fugindo do controle, fora que todo mundo havia parado
para assistir aquela cena. -Você está vendo isso?
-Vendo o quê? -Sua voz soou tediosa. Pelo fato de estar deitado no banco, com sua cabeça próxima
da minha coxa e os olhos tapados por conta do sol, o loiro nem sequer prestava atenção no ambiente ao
seu redor.
-A briga. -Respondi baixinho.
Ao abrir somente um de seus olhos, o mais velho espichou o pescoço para o lado, acompanhando,
em silêncio, a luta no meio do pátio. Naquele mesmo instante, era o Sasuke quem estava por cima do Itachi,
puxando violentamente o seu cabelo, enquanto o outro apertava seus olhos com os dedões, fazendo o mais
novo grunhir de dor.
Deidara começou a gargalhar da situação.
-Eles só estão brincando, franguinho. -Deu de ombros, voltando sua atenção ao céu. O loiro era,
incomparavelmente, mais desapegado e despreocupado do que eu. -É normal, eles sempre fizeram isso.
Fiz uma careta de perturbação.
O modo como ambos estavam se tratando, pelo menos para mim, não me parecia nenhum pouco
com uma “brincadeira”. A minha maior preocupação era que o Sasuke saísse muito machucado ou que o
Itachi acabasse o prejudicando de alguma maneira.
De qualquer forma, eu tentei ao máximo me concentrar em outra coisa e desviar minha atenção para
algo um pouco mais saudável e interessante, apesar de que ainda me batia um sentimento enorme de
aflição por ter o meu namorado apanhando daquela maneira.
Na intenção de me distrair, olhei até Deidara de modo aleatório, assistindo-o puxar de seu bolso um
isqueiro e um maço de cigarro, dando a entender que começaria a fumar.
Logo o cigarro estava acesso, sendo direcionado ansiosamente para seus lábios secos e
necessitados de nicotina. Para ser bem sincero, me preocupava um pouco a quantidade que o loiro fumava
diariamente, embora eu soubesse que não adiantaria nenhum pouco dialogar com ele sobre isso.
-‘Tá olhando o quê? -Perguntou desconfiado, assoprando a fumaça diretamente em minha cara.
-Quer uma tragada?
379
-N-Não, obrigado. -Neguei afobado. -Eu não gosto dessas coisas. Tenho medo de me viciar.
-Muito bem, melhor assim. -Murmurou, parecendo orgulhoso de mim. -Eu só estava te testando
mesmo. Pelo menos pra você, eu nunca ofereceria um cigarro.
Mesmo não entendo ao certo aquela afirmação, eu decidi apenas sorrir carinhoso em sua direção,
imaginando que o loiro estivesse tentando me proteger desse vício, ou porque não queria me ver preso,
assim como ele, a esse hábito nada saudável.
-Desde quando você fuma? -Indaguei curioso.
-Sei lá, acho que desde os dezesseis. -Olhou pensativo para a bituca entre seus dedos. -Não, acho
que eu comecei com quinze anos.
Minha testa se franziu em surpresa.
-N-Nossa, você começou muito cedo. -Declarei o óbvio. Se fosse possível, eu comecei a ficar ainda
mais preocupado com a sua saúde. -E você nunca pensou em... parar?
-Claro que já pensei. -Tragou novamente. -Mas quem disse que eu consigo parar?
Tombei minha cabeça pensativamente.
-P-Posso fazer alguma coisa para te ajudar? -Deixei a frase escapar soltamente. Eu nem sabia se
realmente existia uma forma de ajudá-lo nessa situação, no entanto, não custava nada perguntar. -Eu me
preocupo com você, Dei.
Muito diferente da resposta curta e seca que eu esperava receber, o mais velho me surpreendeu
positivamente ao sorrir de modo breve para mim, negando com a cabeça ao deixar a fumaça escapar de
seus lábios.
-Não precisa se preocupar com isso. -Deu duas batidinhas em minha coxa. -Eu estou bem.
Lhe respondi com um sorriso largo e doce.
Eu sempre gostei muito de conversar a sós com o Deidara e, aparentemente, após a nossa
descoberta recente em relação ao grau de parentesco que possuíamos, os assuntos entre nós dois se
tornaram ainda mais interessantes. Eu o considerava o melhor irmãos de todos, mesmo que o loiro fosse
um tanto quanto grosseiro e boca suja.
-H-Hm... Eu te amo. -Declarei de modo completamente aleatório, pelo menos para ele que, com
certeza, não estava ciente de meu momento de reflexão sobre nós dois. Em seguida, antes que o loiro me
respondesse de modo rude e hostil como geralmente fazia, aproveite para beijar, rapidamente, a sua testa.
-Muito mesmo.
Como o esperado, o mais velho torceu o nariz, desaprovando tanto grude e declarações vindas de
mim. Ele já havia me dito diversas vezes que se incomodava com isso, mas eu simplesmente não podia
evitar.
-Você tem que parar que fazer essas coisas do nada, franguinho. -Limpou a sua testa com uma
expressão tediosa, sentando de pernas de índio no banco. -Eu nunca vi alguém tão aleatório igual você,
puta que pariu.
Soltei uma risada divertida.
Apesar de ele nunca me corresponder da maneira como eu desejava, já era um grande avanço o
Deidara não me empurrar ou gritar comigo quando eu lhe fazia algum carinho.
Tirando proveito daquela oportunidade, tomei a liberdade de me abraçar a si, repousando a cabeça
em seu ombro para que assistíssemos juntos a movimentação ao redor do pátio.
Embora ele tenha ficado, inicialmente, inquieto com a minha aproximação, aos poucos seu corpo foi
se tornando menos tenso, até que, por fim, a sua cabeça se acomodou por cima da minha.
Eu suspirei satisfeito.
Depois de todo o tempo em que eu lutei para ganhar a sua atenção, era bom saber que o loiro havia
finalmente me “notado” e deixado com que eu me aproximasse de si.
Quando estava prestes a comentar sobre esse detalhe e agradecê-lo pela oportunidade que ele
estava me dando, tive minha atenção totalmente voltada a uma sombra larga e escura, a mesma que tapou,
tanto os raios solares que batiam em meu corpo, quanto os que refletiam em Deidara.
Ambos erguemos a cabeça em sincronia.

380
-Ah... -O loiro fez um som de lamentação e desinteresse, distanciando-se de mim como se possuísse
uma certa vergonha de ser visto naquela situação. -É o Obito.
O carcereiro, por sua vez, olhava em nossa direção com o cenho franzido, claramente confuso com
tamanha proximidade entre nós, enquanto carregava um potinho com algumas frutas cortadas em cubinhos,
o mesmo que geralmente serviam no café da manhã.
-Eu não entendo mais nada que acontece aqui nessa prisão. -Murmurou muito mais para si mesmo
do que para nós dois. -Enfim... Posso me sentar aqui?
-Não. -Deidara negou com o nariz empinado, mas sendo completamente ignorado pelo outro. Obito
simplesmente sentou-se na ponta do banco, provavelmente querendo um lugar para se alimentar em paz,
visto que o resto dos assentos estavam todos ocupados. -Ninguém quer a sua companhia, chispa daqui!
-H-Hm... Eu quero a sua companhia, Obito. -Falei por mim mesmo, recebendo, em reposta, um olhar
indignado de meu irmão e um sorriso leve do moreno.
-Obrigado, Naruto. -Agradeceu simplista, abrindo o seu potinho de frutas sem se preocupar com o
fato de não ser bem-vindo pelo Deidara. -Eu sempre te achei legal, muito diferente do seu irmão.
Ri de modo tímido e divertido, especialmente ao notar que o loiro havia ficado ofendido com o que
escutou. O engraçado era que o Deidara sempre provocava e tratava todo mundo muito mal, mas quando
alguém o afrontava de volta e respondia na mesma moeda, ele não conseguia se conformar.
-Vai se foder! -Xingou ríspido, ficando ainda mais irritado pelo fato do moreno estar comendo sem
preocupações algumas e, inclusive, ter apanhado o seu celular do bolso para mexer distraidamente em
nossa frente. -Isso, finge que não está ouvindo! Eu sei bem que você ‘tá falando com a Rin!
Um silêncio profundo veio em resposta.
Na verdade, o que mais me prendeu a atenção foi o fato de Obito ter se atingido pra valer com o que
escutou, muito diferente da maneira como geralmente lidava com todas as besteiras vindas de Deidara.
-O que você disse? -Questionou seriamente, olhando, em seguida, na direção de Itachi, parecendo
refletir sobre algo.
-É isso aí que você ouviu! -O loiro cruzou os braços. -Eu sei de tudo o que acontece nessa prisão!
Franzi o meu cenho sem entender.
-D-Dei? -Puxei a manga de seu uniforme, querendo participar daquela conversa e me manter
informado. -Quem é Rin?
Notei Obito espremer os olhos em direção ao loiro, negando discretamente com a cabeça para pedir
pelo seu silêncio. Eu realmente não fazia ideia do que estava acontecendo entre eles, mas aparentemente,
ambos sabiam sobre alguma coisa e não queriam me contar.
-Ninguém, franguinho. -Respondeu com os olhos fixos no outro. -Deixa isso pra lá.
O moreno suspirou longamente.
-Eu não acredito nisso... -Resmungou num misto de irritação e descrença. Em seguida, levantou-se
do banco de modo inquieto, deixando o seu café da manhã intocado. -Avisa pro Itachi que eu preciso falar
com ele depois. Entendeu?
-‘Tá. -O loiro respondeu distante, bastante pensativo se comparado a como estava anteriormente. Ele
parecia arrependido do próprio conflito que causou. -Pode deixar.
Ficamos a acompanhar a saída do carcereiro.
-Caralho... -Deidara murmurou quando o moreno se afastou, esfregando o próprio rosto em um sinal
de nervosismo. -Eu acho que não deveria ter dito isso. Simplesmente escapou.
-Dito o quê? -Perguntei, começando a me preocupar com tamanho suspense entre os dois. -Do que
você está falando, Dei?
-Não é nada, Naruto. -Respondeu sério.
Eu pretendia insistir naquele diálogo até que o loiro me soltasse alguma informação útil ou suspeita,
entretanto, Deidara estava bem mais disposto do que eu para mudar o rumo de nossa conversa, tanto que
encontrou a brecha perfeita para me distrair.
-Ah, olha quem chegou! -Exclamou numa falsa animação, virando meu queixo em direção a entrada
do pátio. -Lá vem o Gaara!

381
Apesar de continuar preso ao nosso assunto anterior, eu decidi acompanhar a “entrada triunfal” do
ruivo, o qual chegou, literalmente, saltitando no pátio aberto, cumprimentando todos os detentos e
carcereiros com um sorriso largo, inclusive, até mesmo o Sasori, o garoto que nunca se deu bem em sua
vida.
Gaara aparentava estar tão feliz e preso em seu próprio mundo, que nem ao menos se importou em
passar pelos dois irmãos Uchiha que, no caso, permaneciam rolando um com o outro no chão e brincando
de lutinha.
Quando o ruivo finalmente nos alcançou, fomos ambos recebidos de uma maneira um tanto quanto
grudenta e carinhosa de sua parte. O nosso amigo se sentou entre nós dois e abraçou nossos ombros
amigavelmente.
-Bom dia, meus meninos maravilhosos. -Saudou com um sorriso amoroso, depositando um beijo
longo tanto na minha cabeça, quanto na de Deidara. -Como vocês estão nessa manhã, hm?
Mesmo sem saber ao certo o motivo de tanta animação vinda de Gaara, eu acabei sorrindo
juntamente com ele, correspondendo ao seu abraço com uma risada carinhosa. O meu irmão, por outro
lado, esboçou uma carranca tediosa, estando a língua ao afastá-lo de si.
-Eu estou bem. -Respondi com calma e simpatia. -E você?
-Ah, eu estou ótimo! -Exclamou emocionado, espremendo nossas bochechas em um abraço
apertado e caloroso. -Nunca estive melhor!
Deidara olhou impressionado em sua direção.
-Eu tenho até medo de saber o que rolou essa madrugada na enfermaria. -Implicou. -Você e o Lee
transaram ou o quê?
-Oi? -Gaara se engasgou, ficando ofendido e assustado com os questionamentos. -Claro que não. A
gente mal se conhece, Deidara.
-Ué, mas e daí? -Deu de ombros. -E por acaso você precisa saber a porra da vida inteira do garoto
pra liberar o seu—
-Não termine essa frase. -Cortou-o com uma feição perturbada. -Eu não sou igual você, Dei. Eu
morro de vergonha dessas coisas, falou? Nós só estamos flertando, não é nada de mais.
Eu olhei carinhosamente para o ruivo.
-E-Eu acho que vocês dois formam um casal muito fofo, Gaara. -Elogiei com sinceridade, arrancando
de si um sorriso completamente abobado e apaixonado.
-Aí, você acha mesmo?! -Escondeu seu rosto em meu ombro. Era engraçado ver o Gaara todo
bobinho e corado por conta do Lee. -Eu também acho!
Deidara permanecia com um olhar tedioso.
-Agora é sério, Gaara, desde quando você gosta de homens? -Indagou reflexivo, tentando puxar na
memória alguma vez em que suspeitou sobre a sexualidade de seu companheiro. -Você nunca me contou
nada sobre isso.
-Você também nunca me perguntou. -Respondeu simplista. -Se você tivesse me perguntado, eu teria
te responderia.
Troquei alguns olhares curiosos com o loiro.
-Ah, gente... -Gaara reparou em nosso interesse a respeito de sua história. -Eu me descobri faz
tempo. Na verdade, foi logo que eu entrei aqui na penitenciária.
Ambos redobramos a nossa atenção.
-Bom, teve uma época que eu comecei a gostar do Deidara. -Admitiu sem nenhum pingo de
vergonha, carregando um sorriso pequeno com a lembrança. -Tipo, gostar pra valer mesmo.
O queixo de meu irmão foi ao chão.
-Oi?! -Gritou alterado, arregalando os olhos em direção ao seu amigo. -Como assim, caralho?! Do
que você está falando?!
-É sério. -Gaara riu timidamente. -Eu te amava muito, cara. Só que também teve uma época que eu
fiquei bem afim do Naruto. Isso foi um pouco mais recente.
Franzi minha testa em surpresa.

382
-V-Você gostava de mim? -Levei a mão ao peito, sentindo meu rosto se esquentar. Eu estava
lisonjeado pelo fato de alguém, sem ser o Sasuke, ter se atraído por mim. Eu sempre me considerei alguém
extremamente desinteressante e irritante. -Sério mesmo?
-Sim. -Sorriu simpático. -No seu caso foi uma coisa mais passageira, sabe? Eu diria que o meu amor
pelo Deidara durou muito mais, mas mesmo assim, eu gostava demais de você.
Eu comecei a gargalhar da situação.
-Do que você está rindo, seu animal?! -Deidara desferiu um tapa na minha cabeça, completamente
abismado com o que acabara de escutar. -O Gaara ficava de pau duro pra nós dois, caralho! Você não
percebe, Naruto?! Toda vez que a gente se trocava ou tomava banho, ele ficava igual um safado olhando!
-Eu nunca faria isso! -O ruivo rebateu desesperado, ficando verdadeiramente afetado com aquela
acusação. -Gente, que tipo de pessoa vocês acham que eu sou?! Sim, eu gostava de vocês, mas isso não
significa que eu seja um pervertido! Eu sempre vou respeitar vocês acima de tudo!
Assenti compreensivelmente com a cabeça.
Aquelas acusações eram mesmo muito sérias e, pelo menos para mim, o Gaara não era do tipo de
gente que nos desrespeitaria dessa maneira. Na verdade, como eu já citei milhares de vezes, o ruivo é, de
longe, uma das melhores pessoas que eu já conheci.
-H-Hm... Eu acredito no Gaara, Dei. -Toquei no ombro do meu amigo, dando-o o meu suporte e
apoio. -Ele não faria isso com a gente.
-É claro que eu não faria. -Reforçou seriamente. -Eu estou chocado que você pense isso de mim,
Deidara, sério mesmo.
O mais velho permanecia em estado de choque.
-Você tem mais alguma coisa pra contar?! -Indagou com um certo medo. -Fala logo de uma vez,
caralho! Eu não quero mais surpresas!
-Bem... -O ruivo mexeu em suas mãos nervosamente. -Já que você perguntou, eu vou falar. Teve
uma época, bem antes do franguinho entrar, que eu curtia o Sasuke.
Eu fiquei, inicialmente, sem reação.
-Mas, tipo... -Ele tentou concertar a situação, principalmente ao reparar em minha expressão perdida.
-Era só uma atração carnal, ‘tá ligado? E durou muito pouco, foi só uns dois ou três meses.
-E por acaso teve alguém que você não curtia?! -Deidara implicou com o ruivo. -Porra, Gaara, você
era uma piranha! Não vai dizer que você também gostava do Itachi!
-Não, do Itachi não. -Respondeu neutro. -Por ele eu nunca senti nada. Foram só vocês três mesmo.
Assim como da outra vez, eu levei tudo aquilo de modo muito leve e tranquilo. Saber sobre as
paixões antigas do ruivo não foi nada de mais para mim, até porque, todos nós já tivemos épocas em que
ficamos confusos em relações a certas pessoas e sentimentos.
-A-Ah, tudo bem. -Sorri amigavelmente. -Eu fico feliz que você tenha superado essa fase e
encontrado alguém que goste de verdade.
-“Tudo bem”?! -O mais velho riu em perturbação e descrença. -O Gaara acabou de dizer que queria
pegar o seu namorado e você diz “tudo bem”?!
-M-Mas isso é passado, Dei. -Tentei dialogar.
-Passado é o caralho! -Esmurrou o banco. -Eu to cansado de ver vocês dois agindo que nem a
Madre Teresa! Principalmente você Naruto!
Me encolhi com sua grosseria desnecessária.
-Me irrita ver vocês dois sempre bancando os santinhos! -Apontou o dedo em nossa cara. -Já deu no
meu saco! Como alguém consegue passar dezoito anos sem nunca ter dito um mísero palavrão na vida?! É
demais pra mim!
Na parte do “palavrão” eu sabia que ele estava, claramente, se referindo a mim.
-M-Mas eu não me importo com isso e—
-Eu não quero saber! -Gesticulou para que eu me calasse. Quando eu digo que é muito difícil ser
amigo/irmão do Deidara, eu não estou mentindo. A forma como ele é imprevisível e estourado é bem
complicada de se lidar. -Pra mim já deu!

383
Eu e Gaara preferimos optar pelo silêncio.
Na verdade, estávamos ambos com os lábios prensados um no outro, segurando nossas risadas
diante daquela situação. O Deidara estava irritado com nós dois pelo simples fato de nos considerar
“santinhos” e educados.
Realmente não dava para entender ele.
Eu pretendia tentar retomar a nossa conversa e puxar algum outro assunto, isso se não houvesse
sido interrompido por um grito alto e rouco que ecoou ao redor do pátio, o qual eu identifiquei, de imediato,
ser o de Sasuke.
Levantei meu pescoço apreensivamente, me deparando com a cena de Itachi por cima de seu irmão,
mantendo-o com a face colada no chão, enquanto ria divertido a medida em que o outro se rendia,
afirmando repetidas vezes algo como: “você venceu, agora me solta”.
Eu fiquei bastante inquieto com a situação, mas logo tratei de me acalmar ao notar que Sasuke
também estava dando risada e levando aquilo na brincadeira. Quando seu irmão finalmente o soltou, o mais
novo se virou com a barriga para cima, aproveitando que estava jogado no chão para olhar de modo
esgotado e ofegante para o céu.
A briga entre os dois havia chegado ao fim.
O Uchiha mais velho, por sua vez, se levantou do cimento e, com o seu tronco suado e cabelos
desgrenhados, seguiu mancando em nossa direção, possuindo sua respiração excessivamente
desgovernada e alguns arranhões aparentes em sua pele.
Estavam ambos bastante acabados.
-E aí, cambada? -Cumprimentou a todos nós, apressando-se para pegar a garrafinha de água que
pertencia a Sasuke, virando todo o líquido de uma vez só, sem deixar nenhum vestígio para seu irmão.
-Alguém sabe que horas são?
-Hora de você sossegar esse cu e parar de agir que nem uma criancinha de dez anos! -Deidara
respondeu mal-humorado e com o nariz empinado, ainda preso a pequena “discussão” que tivemos. -Já deu
dessas suas brincadeiras de mão! Você e o seu irmão perderam a manhã toda se batendo, porra!
O pior de tudo é que era realmente verdade. O que era para ser somente uma brincadeira de cinco
minutos entre os dois, se tornou algo longo, violento e que parecia nunca ter fim.
O meu chute era que Deidara também estivesse afetado pelo fato de Itachi não ter lhe dado toda a
atenção que ele esperava receber durante aquela manhã, e sim ter decidido passar mais tempo com o
Sasuke.
Com aquela grosseira repentina, o moreno franziu o cenho.
-Eu perdi alguma coisa? -Perguntou atordoado, olhando tanto para mim, quanto para Gaara.
-Nada de mais. -O ruivo foi quem respondeu, dando de ombros. -Basicamente, o Deidara está bravo
porque o Naruto é muito gentil e nunca falou um palavrão na vida.
-É. -Complementei com um riso tímido. -Mas eu tentei dizer pra ele que não ligo pra essas coisas. Eu
gosto de ser gentil com as pessoas.
Itachi riu brevemente de nossa explicação, não pensando duas vezes na hora de se sentar ao lado
de seu namorado, passando seus braços em torno do ombro alheio com a intenção de abraçá-lo.
-Sai daqui, você ‘tá suado e fedendo. -Reclamou emburrado quando o Uchiha esfregou a face
propositalmente na curvatura de seu pescoço. -Para, idiota.
-Ei, não precisa ficar bravo com o Naruto. -Beijou sua pele carinhosamente. -Eu acho que sei uma
forma de resolver isso...
Acompanhei curiosamente o Uchiha se aproximar do ouvido de seu namorado, sussurrando algo com
os olhos fixos aos meus, acabando por arrancar, sem muito esforço, uma risada de aprovação vinda de
Deidara.
-Naruto? -Itachi me chamou. -Você sabe soletrar, certo?
Meu cenho se franziu de imediato.
-H-Hm... Sei sim. -Respondi sem entender.
-E você, obviamente, já aprendeu sobre as vogais na escola, não é? -Continuou com aquelas
perguntas completamente sem sentido.

384
-Já. -Assenti inocentemente.
-E você sabe quais são elas? -Questionou sorridente, ao mesmo tempo em que meu irmão prensava
os seus lábios para não rir.
-Hã... Pelo o que eu sei, são: A, E, I, O, e U.
-Muito bem. -Concordou positivamente, fingindo estar orgulhoso de minha reposta óbvia. -Agora
vamos fazer uma brincadeira... Adiciona a letra “C” na frente de todas elas.
Tombei minha cabeça confusamente.
-H-Hm... Certo. -Aceitei respondê-lo na maior inocência. -Vai ficar: ca, ce, ci, co e cu.
E então, sem mais nem menos, ambos os garoto começaram a gargalharem como se não houvesse
amanhã, sendo, inclusive, acompanhados pelo Gaara, o qual aparentava ter compreendido a situação e o
jogo pelo qual fui submetido a participar.
Eu, por outro lado, estava sem entender nada.
-E-Eu disse alguma coisa errada? -Me encolhi de modo inseguro no banco, imaginando que talvez
pudesse ter errado a pergunta feita por Itachi. -O que foi que eu fiz?
-Essa foi boa... -O ruivo secava o cantinho de seus olhos, fitando-me com um ar carinhoso e
tranquilo, como se admirasse a inocência que eu possuía diante de todos eles. -Franguinho, eles só te
mandaram soletrar porque queriam que você falasse “cu”.
Pisquei completamente atordoado.
-Eles queriam ouvir você falando um palavrão, entende? -Explicou pacientemente, enquanto os
outros dois permaneciam entretidos em suas risadas, dando um toque de mãos entre eles. -E você caiu
direitinho.
Eu senti meu rosto se esquentar violentamente.
Por mais que eu sempre tentasse levar as coisas muito na brincadeira e de um jeito leve, eu não
curtia nenhum pouco a ideia de ser enganado daquela forma, especialmente para fazer algo que eu não me
sentia a vontade.
Quando o Itachi me fez aquelas perguntas, ele não estava me incentivando a respondê-las para
brincarmos de modo saudável, a intenção dos dois era, desde o começo, tirar onda com a minha cara.
O pior de tudo era que eu não conseguia ficar irritado com a situação, mas sim triste por não ter
percebido as suas intenções com antecedência. Talvez eu seja mesmo muito inocente e gentil com todo
mundo e, assim como Deidara sempre me diz, esteja na hora de eu mudar um pouco o meu jeito de pensar
e agir com o próximo.
-E-Eu não gostei disso, gente. -Murmurei sincero e chateado. Se o Sasuke estivesse comigo, ele não
mediria esforços para me defender. -Essas brincadeiras me magoam.
Se fosse mesmo possível, Itachi e Deidara riram ainda mais alto, ambos se aproveitando de minha
fragilidade para se entreterem.
Eles dois eram mesmo bem engraçados, mas muitas vezes, passavam dos limites em algumas
situações, inclusive para cima de mim, pelo simples fato de eu ser o mais fácil de ser atingido entre todos de
nosso grupo.
-Você tem que começar a levar as coisas mais na brincadeira, Naruto! -Deidara implicou. Era algo
meio irônico ouvi-lo falar uma coisa dessas, principalmente por ele ser um dos que mais se altera quando
vira alvo de piadas. -Olha aí, parece que vai chorar!
-É mesmo. -Itachi concordou descontraído. -Você e o Sasuke são muito sérios. Toda vez que eu faço
alguma graça com o meu irmão, ele fecha a cara igualzinho você.
Também era bastante irônico escuta-lo falar daquela forma, até porque, o Uchiha mais velho, antes
mesmo de ficar internado e ir parar no hospital, era uma das pessoas mais sérias e fechadas que eu
conhecia.
-Você precisa aprender a ser mais descolado como a gente. -O moreno cruzou os braços
convencidamente. -Já sei a primeira coisa que você vai fazer.
Mesmo que incomodado com aquele diálogo, eu levantei o meu pescoço de modo atento,
permanecendo com os meus braços cruzados e com um bico amuado. Apesar de não gostar quando ambos

385
tiravam onda com a minha cara, ao mesmo tempo, eu queria que eles me achassem alguém divertido e
“descolado”.
-Vai até o meu irmão e trolla ele. -Itachi sugeriu sorridentemente. As suas ideias eram sempre muito
maldosas e pesadas. -Chega no Sasuke e diz que você quer terminar com ele.
Meu irmão gargalhou em aprovação.
-Boa! -Deu um outro toque de mãos com o seu namorado. Aparentemente, até mesmo o Gaara havia
aprovado a ideia, tanto que sorria juntamente com os dois e botava pilha para que eu concordasse. -Ah,
franguinho, essa você não pode negar!
Eu estremeci só de pensar naquela ideia.
Por mais que fosse apenas uma brincadeirinha “inocente”, o Sasuke é, sem sombra de dúvidas, a
pessoa que eu mais amo e me importo na minha vida. Não estava em meus planos terminar o meu
relacionamento com ele e muito mesmo para suprir a necessidade dos garotos em presenciarem o caos.
Eu não queria aceitar participar daquilo.
-H-Hm... Gente, eu acho melhor não. -Neguei bastante inseguro. -Eu sou péssimo pra essas coisas,
além de eu ser horrível com mentiras. O Sasuke não vai cair nessa.
-Ah, mas pelo menos tenta! -Itachi insistiu. Eu sabia bem que eles não desistiram fácil dessa ideia,
especialmente por saberem que eu tinha o desejo de ser alguém mais “divertido” perto deles. -Vamos,
Naruto... Eu quero muito ver como o meu irmão vai reagir!
-Eu acho que ele vai ficar tão em choque que nem vai saber o que dizer! -Deidara opinou. -Ou então
ele vai chorar!
Itachi discordou com a cabeça.
-Não, chorar não. -Ele parecia ter certeza sobre esse detalhe. -Eu tenho certeza que o Sasuke vai
achar que é algum tipo de brincadeira. Por isso você tem que insistir muito, Naruto.
Eu não conseguia acreditar que estava mesmo me envolvendo naquilo.
-M-Meu Deus... -Murmurei preocupado. Embora fosse apenas um joguinho entre nós, eu estava
muito nervoso. -É sério mesmo?
-Vai logo, cacete! -Recebi um empurrão do loiro. -Ele ‘tá logo ali! A gente vai aqui e assistindo de
camarote!
Eu engoli em seco.
Procurando por algum tipo de ajuda ou consolo, eu decidi olhar até o Gaara, o qual apenas acenou
positivamente com a cabeça, transmitindo-me a ideia de que eu deveria prosseguir com o plano e que tudo
ficaria bem no final. Por algum motivo, saber que o ruivo estava comigo, me deixou bem menos tenso.
Afinal, ele era quem mais tinha juízo entre os garotos, além de ser o mais sensato de todos.
Respirei fundo e, com um receio absurdo, decidi seguir trêmulo em direção ao Uchiha. A medida em
que eu caminhava em sua direção, meu cérebro trabalhava a todo vapor em possíveis formas de iniciar o
diálogo que combinei com os meninos e também para que pudesse soar o mais convincente possível.
Aquilo era algo muito difícil para mim, mas eu sabia que, se por algum acaso o Sasuke acreditasse
em mim, pelo menos o Deidara e o Itachi começariam a me respeitar da maneira como eu desejava e talvez
deixassem de me usar como alvo de suas piadas maldosas.
Ao alcançar o moreno, pude enxerga-lo com ainda mais nitidez e clareza. Assim como anteriormente,
Sasuke permanecia deitado sobre o chão do pátio, contendo o seu corpo inteiramente suado, desde o seu
tórax exposto, até seus braços, testa e peitoral.
Quando ele me notou, se dando conta de que a minha sombra era o que cobria os raios em contato
com sua face úmida e pálida, um sorriso carinhoso nasceu pelos seus lábios, aproveitando a minha
chegada como um incentivo para se sentar decentemente.
-Oi, bebê. -Esticou suas pernas, dando dois tapinhas no chão para que eu me sentasse ao seu lado.
-Vem cá, vem.
O meu coração estava disparado.
-H-Hm... Oi. -Respondi baixo e desaminado. A minha vontade verdadeira era de abraçá-lo com todas
as minhas forças, assim como sempre fazíamos quando estávamos juntos.

386
Sasuke me olhou de modo estranho.
Era claro que, em sua perspectiva, tinha algo de errado acontecendo comigo. Querendo ou não, ele
me conhecia muito bem, e sabia que eu sempre o abraçava, beijava, sorria e também pedia por carinho. No
entanto, daquela vez, eu nem ao menos olhei diretamente em seus olhos.
-Ei... -Chamou doce, arrumando sua própria franja ao jogá-la para trás. Ele estava muito lindo
daquela forma, mas infelizmente, eu não estava autorizado a elogia-ló. -O que foi que aconteceu, hm?
-E-Eu preciso falar com você. -Lancei com o olhar fixo no chão. Se eu fosse prosseguir com o plano,
então precisaria ficar longe de seus olhos, caso contrário, o Uchiha, com certeza, decifraria a minha mentira.
-É uma coisa... séria.
Sua expressão tornou-se preocupada.
-Claro, pode falar. -Aproximou-se de minha perna, acariciando minha coxa em um sinal de apoio e
carinho. Todo o seu cuidado comigo só estava fazendo com que eu me sentisse ainda mais culpado. -Você
está bem, Naruto?
Eu virei meu pescoço discretamente para trás.
Itachi, Deidara e Gaara estavam cem por cento atentos em nossa conversa, nem sequer disfarçando
os seus sorriso e curiosidade em relação a como eu agiria a seguir. Só faltava a pipoca. Aquele desafio
estava se tornando, literalmente, uma atração para eles.
-Não, eu não estou bem. -Eu acho que nunca fiz um esforço tão grande para não gaguejar, olhando
brevemente para o moreno com a intenção de captar as suas reações. Naquele mesmo instante, ele me
fitava preocupado e atento, mas ao mesmo tempo, parecendo disposto a me escutar e ajudar com o que eu
precisasse. -E-Eu quero terminar com você, Sasuke.
Em seguida, eu fechei meus olhos com força.
Agora já era tarde. Eu já estava cem por cento envolvido naquela brincadeirinha sem graça.
-O quê...? -Perguntou falho. Eu estava sem coragem para fazer qualquer tipo de contato visual. -O
que foi que você disse, Naruto?
Meu corpo se estremeceu pelo nervosismo.
-V-Você ouviu. -Respondi baixinho. A última coisa que eu desejava era repetir aquilo. Foi doloroso
demais para mim -Eu não vou repetir.
Consequentemente, veio o tão esperado silêncio.
Para ser bem sincero, eu esperava que o Sasuke fosse reagir muito mais rápido ou me encher de
perguntas a respeito de minha decisão repentina. Ele sempre foi alguém bastante ligeiro em todos os
aspectos existentes, mas aparentemente, eu havia realmente o pegado muito desprevenido.
-Bebê...? -Me chamou embargado, numa entonação que eu, sinceramente, escutei bem pouco desde
que nos conhecemos. -Olha pra mim, por favor.
Lentamente, eu levantei a minha cabeça.
E então, o meu coração se despedaçou em mil pedaços. Não era somente o seu tom de voz que
transmitia uma sensação ruim e a ideia de que o moreno estava magoado. O Sasuke estava, literalmente,
com os olhos marejados.
Eu fiquei completamente sem reação.
-Me desculpa... -Pediu com a voz fraca e desestabilizada, tremendo sua mão involuntariamente por
cima de minha coxa. -Me perdoa se eu te fiz alguma coisa ou te machuquei de alguma forma e acabei não
percebendo. Eu prometo que vou mudar, mas por favor, não faz isso comigo, bebê.
Meus olhos se encheram de lágrimas.
-Você é tudo o que eu tenho. -Seus lábios começaram a tremelicar. -Não termina comigo, eu te
imploro. Eu não vivo sem você.
Aquela brincadeira estava indo longe demais.
Nada mais importava para mim. Muito menos a aprovação estúpida e irrelevante do Itachi e do
Deidara. O Sasuke havia caído em minha conversa e, naquele mesmo instante, estava à beira de suas
lágrimas em minha frente, pensando que eu possuía o desejo real de acabar com o nosso relacionamento.

387
De tudo o que escutei-o dizer, o que mais me doeu, foi saber que o Uchiha realmente pensava que
havia feito algo e me machucado. Como ele pode cogitar essa hipótese depois de todo o bem que me fez e
todas as vezes em que tomou conta de mim?
Para mim, foi o ápice.
Eu simplesmente me joguei em seus braços.
-S-Sasuke, me desculpa, por favor... -Pedi completamente angustiado, sentindo minhas lágrimas
descerem sem controle. O moreno, por sua vez, ficou, inicialmente, perdido por conta de minha mudança de
humor. -Era mentira, era tudo mentira. Os meninos me incentivam a fazer uma brincadeira com você. Eu
nunca vou deixar você. Nunca mesmo.
E então, para me deixar ainda pior, o Sasuke começou a chorar.
Seus braços, antes imóveis pela tensão do momento, foram rapidamente de encontro a minha
cintura, segurando-a com força ao afundar seu rosto em meu pescoço. Meu coração, de imediato, se
despedaçou ao me dar conta de que soluços baixinhos e sofridos escapavam de sua garganta, talvez pelo
alívio de tudo aquilo só se passar uma brincadeira, ou então, ainda preso ao choque anterior.
-B-Bebê... -Choramingou contra o meu pescoço, esfregando manhosamente o seu rosto com os
olhos fechados e um biquinho chateado. -Por favor, não faz mais isso.
-M-Me perdoa, por favor. -Pedi novamente, sentindo um arrependimento absurdo. Eu não conseguia
parar de chorar junto com ele. -Eu estou tão arrependido... E-Eu te amo demais, Sasuke.
-Eu te amo muito, bebê. Mais do que tudo. -Sua voz soava falha e chorosa. -Eu não ia aguentar te
perder. Você é a minha vida, Naruto.
-V-Você é tudo pra mim, Sasuke. -Afundei o rosto no topo de sua cabeça, distribuindo alguns selinhos
pelo seu coro cabeludo. -Eu prometo que nunca mais vou fazer isso, tá bom? A gente vai ficar juntos pra
sempre.
Eu acho que, com essa última frase, eu consegui retirar uma grande parte da tensão existente dentro
de seu peito. Fui afagando seus fios negros e macios, assim como ele foi acariciando a minha cintura,
mantendo sua face escondida em minha pele a medida em que se recuperava do susto.
Aquela brincadeira, sem dúvidas alguma, nos fez muito mal.
No final das contas, eu havia perdido todo e qualquer tipo de respeito vindo de Deidara e Itachi, mas
sinceramente, eu não poderia me importar menos. O Sasuke era tudo o que me preocupava naquele
momento.
-D-Desculpa... -Pedi outra vez. Eu iria me culpar para sempre. O Sasuke, muito diferente de mim,
não era do tipo que se emocionava com facilidade, visto que só chorava em casos extremos e pesados. -Foi
burrice minha ter dado ouvido a eles. Eu sou um monstro.
-Não é não, bebê. -Beijou o meu pescoço, distanciando o seu rosto de mim. Suas bochechas úmidas
e o nariz vermelhinho deixavam o meu peito apertado. -Você só me pegou desprevenido. Agora eu sei bem
do que tudo isso se trata, eu conheço bem as brincadeiras do Itachi.
Franzi a minha testa tristemente.
-‘Tá tudo bem, bebê. -Ele afirmou calmamente, prevendo que eu voltaria a chorar. A rapidez com que
o Sasuke me perdoou foi realmente de se impressionar. -Foi só um susto. Já passou, sim?
Eu o abracei novamente.
Dessa vez, aproveitei nossa proximidade para enxugar as lágrimas em seu rosto, fazendo, em
seguida, o mesmo comigo. Eu nem conseguia imaginar o que estaria se passando na cabeça do Deidara e
do Itachi, mas em especial, por estarem vendo aquela cena.
-H-Hm... Vamos sair desse chão? -Sugeri docemente. Já estávamos a tempo o bastante atirados e
chorando no meio de todo mundo. -Vem cá.
O moreno concordou sem me dizer nada, apenas deixando-se ser levantado e guiado por mim.
Como o habitual, me agarrei em seu braço para que pudéssemos caminhar lado a lado, seguindo de volta
até o banco aonde o restante dos garotos nos esperavam.
Notei o Sasuke um pouco tímido para retornar, principalmente por saber que todos tinham o visto
chorar e tremer daquela maneira. Já era normal presenciarem algum tipo de drama e chororô vindo de mim,
entretanto, com o Uchiha era algo muito diferente.
-Olha só quem voltou! -Itachi sorriu em nossa direção. -Sejam bem-vindos!

388
Sasuke foi o primeiro a se sentar no banco, escolhendo ficar o mais longe possível de seu irmão e
não medindo esforços para me puxar até seu colo. Quando me acomodei por cima de suas coxas, o moreno
abraçou carinhosamente a minha cintura, possuindo um bico emburrado e os olhos fixos com os de Itachi, o
repreendendo e culpando por tudo o que acontecendo.
-Ah, o Sasuke fica muito fofinho quando chora! -O Uchiha mais velho persistia com as suas
provocações, enquanto Deidara continuava a botar pilha e rir de todas as suas piadas. -Dá até vontade de
apertar!
-Não me dirija mais a palavra, Itachi. -Respondeu frio, tendo, a todo instante, minha mão a acariciar
sua nuca, fazendo de tudo para que deixássemos aquele incidente de lado. -Você passou dos limites.
Os dois garotos realmente não levavam nada a sério, especialmente quando estavam juntos um do
outro. A única pessoa que, aparentemente, ficou comovida em me ver chorar juntamente com o Sasuke, foi
o Gaara.
-V-Você está melhor? -Perguntei delicado, somente para que o moreno me escutasse. Ele,
claramente, ainda estava chateado com o que aconteceu. -Desculpa, de novo.
-Relaxa... -Murmurou baixinho ao unir nossas testas, roçando ambos os narizes com uma expressão
chorosa, porém adorável. Apesar de tudo, o Itachi estava certo quando disse que seu irmão ficava “fofinho”
chorando. -Eu amo muito você, bebê.
-E-Eu também te amo muito. -Respondi doce, me derretendo internamente ao vê-lo fungar o seu
nariz vermelhinho e apoiar a cabeça carinhosamente em meu ombro. -Mais do que tudo nesse mundo.
Em resposta, seu rosto se esfregou de modo carente na pele de meu pescoço. Eu logo tratei de
iniciar um afago lento e delicado em seus fios, sabendo exatamente o que ele desejava com toda aquela
manha. O Sasuke quase nunca precisava me dizer o que queria para que eu o desvendasse, assim como
ele sempre sabia o que eu estava pensando.
A nossa conexão era muito linda e forte.
-Deidara, por que você não faz carinho no meu cabelo também? -Itachi questionou num tom divertido
e sarcástico. -O que custa?
-O que custa?! -Repetiu irritado, agarrando nos fios alheios ao passar sua unha de modo violento
entre eles. A sua intenção era mostrá-lo o modo como seu cabelo se encontrava embaraçado. -Olha isso! É
puro nó, caralho!
Itachi fez uma careta de dor.
-Au! Cuidado aí, chefe.
-Cuidado nada! -Ele continuou a despentear os seus fios, soltando de seu rabo-de-cavalo para poder
desfazer os nós. -Fica parado senão eu arranco seu cabelo fora! Ouviu?!
Soltei um riso divertido.
É nessas horas que eu vejo com clareza a diferença entre o meu relacionamento com o Sasuke e o
relacionamento dos dois. Eu não sei se conseguiria namorar uma pessoa tão agressiva e impaciente igual
ao Deidara.
Mas, de qualquer forma, eles se completam de um jeito estranhamente bonito e fofo.
-Pronto, bem melhor! -Deidara sorriu orgulhoso. Embora ele tenha mesmo desembaraçado o cabelo
alheio, grande parte dos fios, devida à sua força e agressividade, haviam saído em suas mãos. -Existe uma
coisa chama “escova”, Itachi, você deveria experimentar um dia.
O moreno virou-se com os olhos estreitados.
-Eu penteio o meu cabelo, tá bom?
-Penteia minhas bolas! -Retrucou. -Isso aí parece um ninho de passarinho, isso sim.
Itachi fez um som para mostrar-se ofendido.
-Quer ver um cabelo hidratado e penteado? -O loiro empinou o nariz em exibição. -Passa a mão no
meu, seu morfético.
Com um sorriso brincalhão, o Uchiha levou a mão até o cabelo alheio, acariciando com um cuidado e
calmaria bem maior se comparado ao seu namorado. Em seguida, deu uma cheirada rápida no topo de sua
cabeça, fingindo fazer uma careta enjoada.
-É... Ele é hidratado, mas é fedido.

389
-Fedido é esse seu cu! -Empurrou o ombro do outro. -Escuta aqui, seu—
Felizmente, a discussão foi interrompida pelo som inconfundível da sirene.
Aquilo significa que, o horário de “lazer” dos detentos havia chegado ao fim. Naquele momento, era
hora de todos seguirem para suas respectivas tarefas, isso é claro, quem possuía um trabalho no período
da tarde.
-Eu preciso ir pra cozinha. -Deidara murmurou emburrado. -E você também, Itachi.
-Eu sei, chefe. -Sorriu pequeno. -To ansioso pra fritar uns ovos com você.
-Eu não vou fritar nada com você. -Rebateu mal-humorado. -Hoje eu tenho que resolver umas coisas
importantes, inclusive a falta de ajudantes na cozinha. Um monte de gente pediu pra sair nesse último mês.
Itachi começou a gargalhar.
-É claro que pediram! -Enxugou o cantinho de seu olho. -Aquilo é trabalho escravo, Deidara, você
trata todo mundo feito merda! Ninguém mais aguenta você gritando e balançando aquela espatula do
caralho pra lá e pra cá!
-Eles são todos uns fracotes e lazarentos! -Xingou ríspido. -Eu preciso de gente que saiba trabalhar
sobre pressão!
-Chama o Sasuke. -Sugeriu ironicamente. -Eu acho que nunca vi alguém trabalhar tão mal sob
pressão na minha vida. Quando era semana de provas no colégio, ele chegava em casa tremendo que nem
um descontrolado.
Ao ouvir seu nome ser citado, Sasuke ergueu o pescoço de meu ombro, possuindo um ar sonolento
por ter ficado bastante tempo imóvel e recebendo carinho em seu cabelo.
-Eu disse pra não falar comigo, Itachi.
-Eu não falei com você, eu falei de você. -Sorriu em desdém. -É diferente.
-H-Hm... Mas como você vai resolver o problema da cozinha, Deidara? -Indaguei simplista, querendo
trocar de assunto para que os dois irmãos não começassem a se desentenderem novamente. -O que você
tem em mente?
Meu irmão me fitou pensativo.
-Por que você e o Sasuke não vem trabalhar comigo na cozinha? -Sugeriu seriamente. -Não era você
que queria ter alguma tarefa lá dentro desde o começo, Naruto?
Mais uma vez, o Uchiha mais novo levantou a cabeça de minha pele, mirando o loiro de modo
perdido e atordoado. Eu precisava admitir que aquela oferta era bem tentadora.
Tanto eu, quanto o Sasuke, estávamos ambos cansados e enjoados de trabalharmos no banheiro.
Aquela era a tarefa mais asquerosa de toda a penitenciária, bem mais do que os detentos que são
designados para cuidarem do lixo no pátio aberto.
-Não precisa ser pra sempre. -Continuou. -Pode ser até eu achar alguém pra substituir vocês dois. É
algo temporário.
Eu olhei sugestivamente para o Sasuke.
-H-Hm... O que você acha? -Perguntei doce.
-Olha, sem querer ofender, Deidara... -O moreno coçou sua nuca. -Mas você grita muito. Eu vou
acabar me estressando e ficando louco. O Itachi estava certo quando disse que eu não trabalho bem sob
pressão.
Notei meu irmão repuxar os lábios para manter a calma e não respondê-lo na base da grosseira,
especialmente quando o Uchiha mais velho começou a gargalhar da situação.
-Eu não vou gritar com vocês. -Respondeu num tom bastante duvidoso. Ele estava mesmo
desesperado por ajudantes, caso contrário, já teria nos xingado a muito tempo.
-E-Eu só vou entrar se o Sasuke for comigo. -Me abracei de modo delicado ao seu tronco,
recebendo, em resposta, um sorriso carinhoso de sua parte. -Eu gosto de trabalhar com ele.
Itachi revirou os olhos com força.
-Aceita logo esse trabalho. -Falou diretamente com o seu irmão. -Pelo menos todo mundo vai ficar
junto. É melhor assim, não é?

390
-E quem disse que eu quero ficar com você, Itachi? -Retrucou tediosamente. -Já não basta dividir a
cela com você diariamente.
-Sasuke? -Chamei atenciosamente, disposto a interromper aquela futura discussão. O moreno, por
sua vez, deixou de lado a sua feição de ódio para me fitar com carinho e compreensão. -Aceita o trabalho
se você quiser, okay? Sem pressão nenhuma.
-Tudo bem, eu entro. -Acariciou os nossos narizes um com o outro. -Entro por você, Naruto... E não
pelo Itachi.
-Certo, que maravilha! -Deidara fingiu estar animado. -A “família” toda reunida!
-Isso não vai durar muito não. -Itachi declarou cansado. -Nos primeiros cinco minutos a gente vai
brigar feio e alguém vai desistir.
-Só se for você. -Sasuke rebateu frio. -Eu não vou desistir coisa nenhuma.
-Pois eu também não. -Sorriu sínico.
-Argh, tá bom! -Até o loiro, que sempre adorou se envolver em brigas, estava ficando farto daquela
situação. -Vamos logo. Eu não tenho o dia todo!
E assim se iniciou o nosso primeiro dia de “trabalho em família”.
Itachi On

De modo preguiçoso e arrastado, eu e os garotos caminhávamos para longe da diretoria, seguindo


em direção a cozinha após termos feito uma pequena parada para que Sasuke e Naruto se candidatassem
como os “novos cozinheiros” e trabalhassem conosco.
O nosso pedido foi concedido pelo diretor.
A partir daquele dia, todos trabalharíamos, temporariamente, em conjunto. A ideia de nos unirmos
não era muito de meu agrado, até porque, eu tinha quase certeza de que não conseguiria convincer por
muito tempo com o meu irmão no mesmo ambiente, fora que, a única razão pela qual permaneci com a
minha tarefa, era para ficar a sós com o Deidara.
Agora eu teria que aturar mais duas pessoas.
-Vamos entrando. -O loiro mais velho foi quem abriu a porta principal, fazendo com que um ar quente
e abafado vindo de dentro, batesse certeiramente em nosso corpo. -E sem fazer essas caras de merda!
Agora aguentem!
Claramente, os mais acostumados com aquela área e temperatura, sem ser o Deidara, eram o
Naruto e eu. Nós dois já havíamos passado por ali diversas vezes, diferente do Sasuke que, ao sentir
aquele calor desumano, começou a se abanar descontroladamente.
-Se você ficar se mexendo que nem um maluco, vai ser pior. -Deidara aconselhou. -Acredite, eu
aprendi do pior jeito possível.
Como o esperado, com a nossa presença, os ajudantes da cozinha olharam curiosamente para nós.
Quando Deidara nos afirmou que estava com falta de cozinheiros, eu não imaginei que pudesse ser tanto.
Comparado com as últimas vezes, estavam realmente faltando muitos detentos, fazendo com que, os que
ainda permaneceram fiéis a cozinha, trabalhassem em dobro para cobrirem o resto.
-O que a gente vai ter que fazer, Dei? -Naruto questionou a medida em que seguíamos para o centro
da cozinha, esperando para que recebêssemos as “ordens” e trabalhássemos como o restante. -Eu vou
cozinhar?
-Nem a pau! -Negou rapidamente. -Você é um desastre na cozinha, franguinho!
-H-Hm... Então, o que eu vou fazer?
-Hoje você lava a louça. -Apontou em direção a pia. A quantidade de pratos, panelas e talheres sujos
era verdadeiramente impressionante, formando uma espécie de montanha por cima de tudo. -Amanhã,
quem sabe, eu deixo você cuidar do freezer.
-A-Ah, tudo bem, eu acho. -Abaixou a cabeça. Era claro que o Naruto queria reclamar, mas era muito
gentil e tímido para isso.
-E eu? Vou fazer o quê? -Sasuke perguntou com um receio aparente, já se preparando para o pior.
-Por favor, só não me deixa cuidando do lixo igual você fez daquela vez.
Deidara riu curto e vago.

391
-Você sabe cozinhar?
-Sei. -Respondeu simplista.
-Sabe nada! -Me intrometi de repente. -Quem cozinhava lá em casa era eu! Você sempre foi um
folgado do caralho!
-Eu?! -Sasuke me fitou indignado. -Folgado era você, Itachi! Quem cozinhava lá em casa eram os
empregados! Você ficava o dia todo bundando no quarto e só saía quando o papai voltava daquele trabalho
ilegal dele!
O loiro mais velho bufou audivelmente.
-Você sabe cozinhar? Sim ou não, Sasuke?
-Sei sim. -Olhou com ódio para mim. -Pode me colocar em qualquer coisa. Eu me viro.
-Ótimo. -Suspirou impaciente. -Você cuida das massas. Não tem ninguém pra isso ainda.
Diferente dos garotos, eu não precisei questiona-ló, em momento algum, sobre a minha tarefa dentro
da cozinha. Como todos os outros dias, quem seria o responsável pelos alimentos fritos, incluindo os ovos,
seria eu.
-Atenção todos! -Deidara gritou, chamando, não só a nossa atenção, como a do restante de seus
assistentes. -Eu vou sair para resolver umas coisas, por isso, vou deixar alguém no comando aqui no meu
lugar! Quem quer ficar?
Todos levantaram as mãos.
Eu sabia que, mesmo sendo um desejo interior e silencioso, os assistentes do loiro queriam se
tornarem um dos chefes. Por ter batalhado mais entre eles para, literalmente, virar o dono da cozinha,
Deidara servia como uma espécie de inspiração para o restante dos detentos.
Eu, por outro lado, embora não possuísse nenhum tipo de desejo de ser o chefe, acabei por entrar na
onda dos assistentes, erguendo o meu braço divertidamente num pedido silencioso para que o loiro me
escolhesse como “a pessoa que vai ficar no comando”.
-Me escolhe, chefe! -Pedi com um sorriso largo e travesso. Obviamente, além de tê-lo feito suspirar
tediosamente, o Deidara não me levou a sério. -Por favor, eu quero!
Seu silêncio persistiu enquanto ele pensava.
-Eu já me decidi, abaixem as mãos. -Ordenou autoritário. Ao obedecermos, ficamos todos em silêncio
para esperarmos por sua resposta final. -Naruto, você fica no comando.
O menor levantou o pescoço assustado.
-M-Mas eu nem me candidatei... -Sussurrou inseguro, principalmente ao perceber que todos o
olhavam com inveja, inclusive eu, que não consegui disfarçar o meu ciúmes. Eu deveria ter sido o escolhido
pelo Deidara, e não ele. -Coloca o Itachi, é melhor.
-Não, vai ser você. -Insistiu convicto. -E nada de retrucar. Eu já tomei a minha decisão.
Naruto abaixou a cabeça envergonhado.
-Quem tiver qualquer tipo de dúvida ou problema, fale com o Naruto! -Apontou indiscretamente para
o seu irmão, o qual ficava cada vez mais corado e encolhido com a atenção que recebia. -Ao trabalho,
caralho!
Todos seguiram para suas respectivas tarefas.
Enquanto Naruto caminha inseguro em direção a pia, tanto para cumprir com sua tarefa principal de
lavar a louça, quanto para ficar atento caso algum detento viesse falar consigo, eu fiquei a acompanhar o
meu irmão fazer o mesmo, lançando um pequeno beijo e um olhar carinhoso para seu namorado, o qual
retribui numa intensidade mais tímida.
Eu revirei meus olhos tediosamente.
Por mais que o Deidara tenha escolhido o seu irmão para, talvez, lhe “treinar” ou mostrar que
acreditava em suas capacidades, eu não pude deixar de ficar enciumado e me sentindo, de certa forma,
descartado. Afinal, diferente de mim, o Naruto nem ao menos havia pedido pelo “papel de substituto”.
De qualquer forma, gostando ou não, eu teria obrigação de prosseguir com as minhas tarefas. Com
um suspiro impaciente, me dirigi para a minha bancada de sempre, agradecendo mentalmente pelo
ambiente estar vazio, o que significava que eu poderia pegar todo o espaço só para mim.

392
Cheguei arregaçando as minhas mangas, pronto para começar o trabalho de uma vez e fritar os ovos
o mais rápido possível. Com o tempo que passei na cozinha, eu meio que aperfeiçoei as minhas habilidades
e me tornei mais ligeiro no quesito cozinhar.
Entretanto, diferente do que geralmente ocorria, daquela vez em especial, o balcão não possuía os
ingredientes necessários para que eu pudesse cozinhar. Talvez pela falta de assistentes, os ovos não havia
sido retirados do “estoque” que ficavam armazenados.
-Argh... -Resmunguei com preguiça.
Quando qualquer detento precisava pegar algo no estoque, era necessário pedir por uma autorização
do chefe com antecedência, ou seja, o Deidara. No entanto, naquele caso, era o Naruto quem precisaria ser
informado sobre esse detalhe pequeno e insignificante.
Eu decidi não dizer nada para ele.
Não só por estar com preguiça, mas sim porque eu realmente considerava algo muito irrelevante.
Eram só uns malditos ovos, afinal.
-Que se dane. -Dei de ombros.
Em seguida, virei de costas para todos, indo em direção ao estoque de modo discreto, não querendo
chamar muita a atenção do resto. Felizmente, o Naruto estava ocupado com a louça, fora que um detento
qualquer estava lhe perguntando algo relacionado a temperos.
Entrei pela portinha minúscula que dava acesso ao interior do armazém, ascendendo a luz com
curiosidade, logo me deparando com uma quantidade gigantesca de alimentos dos mais diversos tipos,
cores e tamanhos.
Meus olhos brilharam de imediato.
Não só por ter conseguido encontrar o que eu tanto desejava, mas sim por ter me deparado com
várias e várias garrafas de bebida. Tinha vinho, champanhe e vodka. Em qualquer outra hora, eu até me
perguntaria o motivo da diretoria armazenar bebidas alcoólicas em uma prisão, mas naquele instante, eu
não estava mais raciocinando direito.
Faziam anos que eu não bebia algo alcoólico.
Por mais que eu sempre implorasse para que Obito me trouxesse, às escondidas, bebidas alcoólicas
de fora, ele dizia ser algo muito arriscado, tanto para mim, quanto para ele.
Aquela era a minha chance.
Antes de tomar qualquer decisão precipitada e ilegal, eu tomei a liberdade de espichar o meu
pescoço para fora da porta, espiando o movimento ao meu redor. Estavam todos distraídos, inclusive o meu
irmão.
Estava perfeito demais. No entanto, para ficar ainda melhor, eu precisava de uma companhia.
-Sasuke? -Chamei aos sussurros.
Ele nem sequer virou para trás.
-Ei, Sasuke? -Aumentei meu tom de voz.
Assim como antes, seus olhos permaneceram fixos na bancada, cuidando das massas com
habilidade e dedicação.
Como seria muito arriscado gritar o seu nome no meio de todo mundo, eu decidi pegar algo para
chamar a sua atenção em silêncio. Na ansiedade do momento, eu agarrei um saco de pão aleatoriamente e,
sem pensar duas vezes, arremessei o conteúdo em sua cabeça.
-Sasuke, caralho? -Repeti irritado.
Ele, aparentemente, me notou dessa vez.
Em um movimento lento e ameaçador, meu irmão virou seu pescoço para trás, esboçando uma
carranca de desgosto e raiva ao se dar conta de que era eu quem o chamava. Pelo o que me parecia, ele
ainda estava bravo com a brincadeira que eu e o Deidara fizemos.
-Vem cá. -Gesticulei com a mão.
Com uma careta de perturbação e confusão, Sasuke topou caminhar até mim, mantendo seus braços
cruzados e uma postura ereta, passando-me a ideia de que ainda não havia me perdoado pelo o que
aconteceu antes.

393
Eu esperei ele chegar com um sorriso.
-Entra aqui. -Puxei seu braço para dentro, fechando a porta antes que ele tivesse a oportunidade de
me dizer qualquer coisa.
-Que droga é essa, Itachi? -Afastou seu braço de mim, olhando ao redor com certo receio. -O que
você está fazendo aqui? Era pra gente estar trabalhando.
-Shh, cala a boca. -Murmurei impaciente. O Sasuke, mesmo sendo um criminoso, às vezes
conseguia ser muito “certinho”. -Olha isso.
Apontei para a prateleira das bebidas.
Assim como eu, Sasuke teve uma reação um tanto quanto interessante. Embora tenha sido bem
menos eufórico e indiscreto do que eu, o mais novo mordeu seu lábio em um pequeno sinal de vontade,
tentando ao máximo não demonstrar a forma como se atingiu.
Eu e o meu irmão sempre fomos do tipo que curtíamos beber. Antes de irmos parar na prisão,
costumávamos participar de algumas das festas ilegais do papai e, como o Fugaku não dava a mínima para
nós, passávamos nossas noites bebendo, dando PT e, muitas vezes, acabamos até mesmo arrumando
parceiros e parceiras para passarmos a noite.
Sinceramente, eu não sinto falta daquela época, somente da bebida. Naquele tempo nós estávamos
perdidos, frios e, acima de tudo, transávamos com qualquer pessoa que víamos pela frente. Hoje em dia,
felizmente, eu tenho o Deidara, e o Sasuke o Naruto.
Eu me sentia, estranhamente, completo.
-Deu saudades, né? -Sorri de lado, tendo certeza de que meu irmão havia tido o mesmo “flashback”
que eu. -E aí? O que você me diz?
-Eu não digo nada. -Respondeu seco. -Eu não vou beber com você, Itachi.
-Ora, mas por quê? -Me apoiei na prateleira atrás de mim. -Não vai me dizer que você ainda está
bravo com aquela brincadeira.
-Sim, eu estou. -Engrossou a voz.
-Ah, me desculpa, tá bom? -Ri baixinho. -Eu não sabia que você ia reagir tão mal e chorar daquele
jeito. E outra, eu nem sei porque você está tão afetado, você deveria ficar bravo com o seu namorado e não
comigo.
Sasuke me olhou tediosamente.
-Foi o Naruto quem concordou em participar da brincadeira, esqueceu? -Sorri divertido.
-Vai a merda. -Estalou a língua. -De qualquer forma, a gente não pode fazer isso, Itachi. As pessoas
vão descobrir e o Naruto pode sair prejudicado por nossa causa. Não esqueça que é ele quem está no
comando agora.
-Relaxa, é só a gente não exagerar. -Rebati calmamente, lhe transmitindo a ideia de que já havia
arquitetado um plano infalível em minha mente, quando na verdade, o que eu queria mesmo era beber.
-Confia em mim, Sasuke.
Ele olhou pensativamente para o chão.
No fundo, assim como eu, ele sabia o quanto queria aceitar aquela oferta.
-Argh, está bem. -Suspirou derrotado. -Mas se alguém descobrir, eu boto a culpa em você.
-Eu não me importo. -Dei de ombros. -Todo mundo tem medo de mim, esqueceu? Para a solitária a
gente não vai, pode ficar tranquilo.
Por mais que sempre fizéssemos coisas erradas, nós nunca realmente chegamos ao ponto de irmos
para o isolamento. Eu nunca deixaria o meu irmão passar por uma experiência daquelas, assim como o
Obito não permitiria que isso acontecesse com nós dois.
-Chega aí. -Meneei com a cabeça. -Eu vou te dar pezinho e você pega as bebidas lá em cima, pode
ser?
-Meu Deus... -Murmurou, ainda meio chocado com o que estávamos fazendo. -Certo, mas se você
me derrubar, eu vou te bater.
-Ui, que medo, eu vou fazer xixi nas calças. -Impliquei com ele, arrancando de si um riso sarcástico e
teatral. -Vem logo, idiota.

394
Juntei minhas mãos na altura de seus pés, permitindo que Sasuke se apoiasse nelas e tomasse
impulso para “ficar de pé”. Esperei ele se apoiar em meus ombros e, sem esforço algum, o moreno ergueu
seu braço para cima, pegando três garrafas de cada bebida.
Coloquei seu corpo ao chão com segurança, sorrindo ainda mais ao me dar conta de que Sasuke
também estava animado, olhando para todas as garrafas com certa ansiedade.
-Ao ataque. -Arranquei a vodka de sua mão.
Começamos a mil. Eu acho que, por conta do longo período de tempo em que passamos sem
consumir nenhum vestígio de álcool, iniciamos a nossa bebedeira de modo totalmente desesperado e
descontrolado, virando o líquido no gargalo mesmo.
Ao mesmo tempo em que eu sentia a minha garganta queimar, Sasuke estava na mesma situação
com as outras garrafas, alternando entre o vinho e o champanhe. Ele estava tão ansioso quanto eu para
sentir o efeito viciante e embriagante do álcool em nosso sangue.
-Minha vez. -Tirou a garrafa sem permissão da minha boca, fazendo com que eu me engasgasse
brevemente. -Eu quero vodka.
-Me dá essa aí, então. -Peguei a de vinho.
Nós continuamos a todo vapor. Para ser bem sincero, eu nunca cheguei ao ponto de beber tanto e
em tão pouco tempo. Nós estávamos quase acabando com as três garrafas em menos de cinco minutos.
Ficar muito tempo sem beber, aparentemente, fez com que a minha sede pelo álcool só aumentasse.
-Sasuke, Sasuke... -Eu o chamei com um sorriso amarelo e distante. Já era óbvio o modo como
ambos estávamos alterados, caso contrário, o meu irmão não estaria tão sorridente comigo. -Puxa o meu
dedo.
Ele olhou até o meu dedo erguido para si.
-Por quê? -Começou a rir.
-Só puxa. -Sacudi o dedo, enquanto com a outra mão, eu levei a garrafa de champanhe até minha
boca. -Vai logo, seu medroso.
Mesmo sem entender, ele me obedeceu.
No mesmo segundo em que o mais novo puxou o meu dedo, eu sincronizei os meus atos ao seus,
arrotando no meio de sua cara.
Ambos começamos a gargalhar sem controle.
Nós, definitivamente, não éramos do tipo de pessoa que, após bebermos muito, virávamos
brincalhonas, mas naquele dia, estávamos muito diferente, talvez um pouco mais felizes.
Eu sempre fui um bêbado muito “brigão” e “filósofo”, enquanto Sasuke era do tipo de pessoa que
bebia e ficava incrivelmente melancólico e sentimental. Era bom mudar um pouco e ficar mais
bem-humorado.
-Está quase acabando. -Sasuke murmurou com o gargalo na boca. -Eu acho que a gente exagerou,
Itachi.
-Que nada. -Ri divertido. A verdade era que eu já estava completamente fora de mim. -Vem cá,
vamos dar um último gole.
Deixei com que Sasuke chegasse perto de mim e, como se ele já soubesse o que havia passado em
minha cabeça, o mais novo abriu a sua boca, incentivando-me a despejar o restante de vodka dentro da
mesma.
Quando o líquido desceu pela sua garganta, eu tomei a liberdade de sacudir a sua cabeça, igual
geralmente fazíamos em festas para que ficássemos bêbados e tontos com mais rapidez.
-Cacete... -Sasuke sorriu alterado, apoiando-se na prateleira atrás de si. Eu comecei a rir sem parar
de sua cara. -‘Tá tudo girando.
-Sim. -Tombei minha cabeça. -Fazia muito tempo que eu não me sentia assim.
Nós começamos a rir sem motivo algum.
-Merda. O que a gente faz com as garrafas? -O moreno olhou para o chão ao nosso redor.

395
Estava uma bagunça. Além das garrafas estarem espalhadas e vazias pelo estoque, haviam
vestígios de todas as bebidas pelo chão, indicando, certamente, que alguém tinha se aproveitado da
ausência de Deidara para se divertir.
-O que a gente faz agora? Bota a culpa em alguém da cozinha? -Sasuke estava começando a se
desesperar. Quando eu digo que o meu irmão é muito sentimental quando está bêbado, eu não estou
brincando. Ele já estava se arrependendo do que fizemos. -Ah, não... O Naruto vai ficar triste comigo, Itachi.
-Shh, nada disso. -Colei meu dedo indicador aos seus lábios. Do jeito que o Sasuke era, eu não
duvidaria nada que ele começasse a chorar e, consequentemente, acabasse nos entregando. -Sem
chilique. Vamos resolver isso civilizadamente antes que o Deidara volte.
Ele concordou extremamente atordoado.
-Eu não quero magoar o Naruto. -Choramingou para mim, aumentando, mesmo sem perceber, o seu
tom de voz. -Não quero, Itachi...
-Para com isso. -Repreendi, tapando sua boca. -Sasuke, a gente tem que limpar isso.
-Como? -Questionou com minha mão colada em seus lábios. -O Naruto vai ver?
-Esquece o Naruto, caralho. -Resmunguei sem paciência. -Vai ser como uma cena do crime, agora a
gente precisa esconder os corpos.
-Corpos? Que corpos? -Sasuke olhou ao seu redor. -Você matou alguém?
-Não, sua anta. -Respondi irritado. Não estávamos mais falando coisa com coisa. -Vamos fingir que
as garrafas são os cadáveres, sacou? A gente tem que achar um jeito de esconder elas antes que alguém
veja.
Meu irmão assentiu completamente perdido.
-Você está em condições de andar? -Indaguei duvidoso ao olhá-lo de cima a baixo. -Fica de um pé
só, deixa eu ver o seu estado.
Sasuke tentou copiar o exato movimento que eu o incentivei a fazer, mas obviamente, não deu muito
certo. Ao tentar se equilibrar com apenas um pé, meu irmão caiu para o lado, topando seu ombro
fortemente na prateleira.
-Porra... -Eu precisei me apressar para segurar os alimentos que, por pouco, não espatifaram
audivelmente no chão. Qualquer mínimo barulho chamaria a atenção do pessoal de fora. -Você está
péssimo.
Sasuke começou a se desesperar outra vez.
-Ah, não... -Esfregou a própria face, fazendo alguns sons para mostrar que estava com medo e com
vontade de chorar. -O Naruto vai perceber. Eu vou chatear ele, Itachi.
-Já deu dessa história do Naruto! -Chacoalhei seu ombro, disposto a trazê-lo de volta a “realidade”.
-A gente tem coisas mais importantes pra se preocupar! Os cadáveres!
Sasuke olhou para as garrafas no chão, entendendo a minha pequena “metáfora”.
-Certo, está bem... -Fungou o nariz.
-Engole esse choro! -Apontei o dedo na sua cara. Mais tarde, com certeza, riríamos muito dessa
situação. -Vamos ao trabalho, pega uma garrafa e eu escondo o resto.
-Aonde a gente vai esconder? -Indagou preocupado, agachando-se para pegar a de vodka. -Aqui
dentro?
-Não. -Neguei convicto. Eu não estava raciocinando muito bem, mas estava, incomparavelmente,
melhor do que o Sasuke, o que, de modo natural, me transformava em uma espécie de líder. -A gente vai
ter que jogar no lixo da cozinha. Ninguém olha lá, fora que os restos de alimentos vão todos direto pro pátio.
Assim não vai levantar suspeitas.
-Uhum, você tem razão. -O mais novo assentiu, provavelmente não entendo nada, mas mesmo
assim, disposto a me seguir. -Você é muito esperto, Itachi. Eu te admiro.
-Obrigado. -Respondi simplista. Nós dois estávamos mesmo falando muito besteira, fora que o meu
irmão nunca me elogiaria de graça, especialmente estando bravo comigo. -Vem logo, esconde a garrafa
direito.

396
Eu decidi esconder duas das garrafas por baixo da minha blusa, enquanto Sasuke, para a minha
surpresa, tomou a liberdade de enfiar dentro de sua calça. É óbvio que eu comecei a rir de sua cara, não
acreditando mesmo que estávamos nos submetendo aquilo.
-Anda devagar. -Alertei seriamente. -Se você topar ou cair em cima de alguma coisa, vai chamar
muito a atenção das pessoas.
-Aham, eu sei. -Concordou determinado. Porém, ao dar o seu primeiro passo, caiu para o lado mais
uma vez. -Au...
-Eu mereço. -Murmurei impaciente, tomando a iniciativa de segurar em sua mão. Sairíamos do
estoque de mãos dadas, o que, com certeza, seria estranho para quem nos visse. No entanto, era melhor
do que ter o Sasuke tropeçando em tudo e em todos. -Agora vem.
Eu tomei coragem para abrir a porta.
Saímos com as garrafas escondidas de modo bem indiscreto, só que, para a nossa sorte, a cozinha
estava “agitada”. Além de diversas panelas de pressão estarem ligadas e causando um barulho
ensurdecedor, parte dos detentos encontravam-se aglomerados em volta do Naruto, lhe fazendo diversas
perguntas e tirando dúvidas que, provavelmente, ele não fazia ideia de como responder.
Com sorte, o Sasuke não reparou nesse pequeno detalhe, caso contrário, ele, sem sombra de
dúvidas, pararia o que estava fazendo para ajudar o seu namorado e pedir para que o restante dos detentos
parassem de perturba-ló, até porque, Naruto é um garoto muito tímido e inexperiente na cozinha.
-A barra ‘tá limpa. -Sussurrei em seu ouvido, apontando para a lixeira mais próxima. -Vamos jogar ali
mesmo. Coloca por baixo dos outros lixos, assim ninguém vai ver.
Meu irmão fez o que lhe foi solicitado.
Entreguei o restante das garrafas para si e fiquei lhe dando cobertura de longe. Sasuke caminhou
aos tropeções em direção a lixeira, escondendo as garrafas por baixo de um monte de embalagens,
conseguindo disfarçar, pelo menos um pouco, o nosso “crime”.
Em seguida, gesticulei para que ele voltasse até mim, para que assim, pudéssemos ficar juntos e
arrumarmos uma forma de escondermos o fato de que haviam dois criminosos bêbados dentro de uma
prisão.
-Agora sim, os cadáveres estão escondidos. -Continuei usando a mesma metáfora. -Vem aqui, anda
devagar, pelo amor de Deus.
Não adiantou muito alerta-lo. Meu irmão, apesar de ter tentado muito, não conseguiu manter o seu
equilíbrio por muito tempo e, com sorte, acabou caindo na minha direção, dando tempo para que eu o
segurasse por baixo dos braços.
-Caralho! -Precisei me abraçar a ele. Eu tentei fazer força para levantá-lo, mas tudo ficava ainda pior
pelo fato de que alguns detentos ao lado de fora, passavam em frente a janelinha e observavam a cena
levemente assustados. -Vocês estão olhando o quê?!
E então, eu lancei o dedo do meio a eles.
Por alguma razão desconhecida, o Sasuke achou isso muito engraçado e começou a rir
descontroladamente ao me ver mostrar o dedo do meio aos detentos.
Ele passou a me copiar.
A cada pessoa que passava na janela, Sasuke mostrava o seu dedo do meio, deixando todos meio
confusos e perturbados com a situação. Afinal, não era nada comum ver o meu irmão abraçado comigo e,
ainda por cima, rindo e fazendo gestos obscenos para as pessoas.
-Você está parecendo um louco. -Comecei a rir junto com ele. Seria muita irresponsabilidade deixá-lo
continuar com isso, no entanto, como eu estava muito bêbado, tudo o que eu fiz foi entrar na onda e
continuar a lançar meu dedo do meio para todos. -Vão se foder!
-Vai tomar no cu, todo mundo! -O moreno, naquele instante, levantava os dois dedos. -Você aí, vai
tomar no olho do seu cu!
Eu nunca, em toda a minha vida, havia visto o Sasuke tão alterado assim. A nossa ideia de sermos
discreto havia ido por água a baixo.
-Chupa o meu pau! -Gritei para um detento qualquer, o qual ficou totalmente boquiaberto com o meu
palavreado chulo. Em um momento qualquer, enquanto xingávamos absolutamente todo mundo, eu
reconheci dois dos homens que passavam em nossa frente. Era o Sasori e o Kisame. -Ah, olha só quem
está aqui!
397
Ambos viraram curiosos para mim.
-Você, você mesmo! -Sasuke apontou para o ruivo. -É um fofoqueiro do caralho!
-Eu não suporto nem olhar pra cara de vocês dois! -Completei em meio a gargalhadas e sorrisos
amarelos. -Filhos da puta! Traidores!
Eles nem ao menos estavam nos levando a sério, para falar a verdade, o único sentimento que
estávamos transmitindo, era de confusão e medo. Parecíamos verdadeiros malucos.
-Olha só, Itachi, o Orochimaru! -Meu irmão me cutucou.
-Ah, que maravilha! -Ironizei, apoiando-me na janela para ter uma visão melhor do mesmo. -A putinha
dele está junto! Ei, Kabuto?!
Os dois homens olharam em nossa direção.
-Kabuto, eu nunca ouvi a sua voz desde que cheguei aqui! -Informei aleatoriamente. -O seu dono não
deixa você falar, não?!
Até mesmo Orochimaru, o qual sempre levou as coisas muito na maliciosidade em qualquer situação,
começou a estranhar o nosso comportamento e, surpreendentemente, não nos deu nenhum tipo de moral.
-Fala alguma coisa, Kabuto! -Sasuke entrou na minha brincadeira. -Sua voz deve ser linda!
Começamos a gargalhar sem parar, dando um toque breve de mãos. Estávamos passando de todos
os limites possíveis e existente, mas naquele instante, era como se nada mais importasse para nós dois.
Estamos ambos felizes e unidos.
-Olha, é o Gaara! -Sasuke berrou com um sorriso, acenando contente para o ruivo que, rapidamente,
olhou para até nós. -Do Gaara eu gosto, eu não vou xingar ele!
-Sim, eu também gosto dele! -Apoiei meu queixo juntamente com o de meu irmão na janela, ao
mesmo tempo em que juntávamos as nossas mãos para fazermos um coração para o ruivo. -Nós te
amamos, Gaara!
O garoto começou a dar risada da situação, negando com a cabeça como se dissesse que não
estava entendendo nada. No entanto, mesmo que bastante perdido, ele nos correspondeu ao fazer um
coração também.
Continuamos a mostrar o dedo do meio para todo mundo, xingando todos que passavam sem
nenhum motivo aparente, até que, após um curto período de tempo, demos de cara com mais duas pessoas
conhecidas por nós.
Era o Obito e o Deidara.
O Sasuke ficou instantaneamente pálido.
Eu o acompanhei na mesma intensidade. Não só por estamos com os dois dedos do meio levantados
diretamente para eles, mas sim pelo fato de termos sigo pegos de “vadiagem”, sem fazer nada e,
visivelmente, alterados.
Ambos olharam assustados em nossa direção.
-Sujou. -Murmurei para o moreno, baixando o meu dedo lentamente ao me dar conta de que Deidara
estava bravo, assim como Obito que, por mais calmo que pudesse ser, parecia meio irritado naquele
memento. -Agora sujou feio.
O loiro começou a dar a volta pela janela, sendo automaticamente acompanhado pelo carcereiro,
dando a entender que ambos tinham a intenção de entrarem na cozinha.
-Itachi, o que a gente faz?! -Meu irmão começou a se desesperar de novo, arrumando o próprio
cabelo como se quisesse ficar mais apresentável. -E agora?!
-Calma, Sasu—
A porta de cozinha foi aberta violentamente.
-Mas que porra está acontecendo aqui dentro?! -Deidara berrou descontrolado.
Foi só então que eu me dei conta de que, além de mim e do Sasuke, o restante da cozinha também
estava uma verdadeira zona. Todos os assistentes, sem exceção, estávamos em volta de Naruto e, como o
esperado, tinham o deixado sobrecarregado com tanta atenção.

398
-Dei, que bom que você chegou! -O loiro mais novo exclamou em alívio, abrindo passagem com os
braços para se distanciar da aglomeração ao seu redor. -Eu me demito!
Acompanhei em surpresa Naruto devolvendo a espatula nas mãos de seu irmão, ao mesmo tempo
em que resmungava algo como: “Eu não sei como você aguenta isso.”
Honestamente, fazia tempo que eu não via o Deidara tão bravo assim, mesmo que ele fosse,
naturalmente, alguém bem estressado.
-É só eu deixar a cozinha por dez minutos que já vira esse puteiro! -Esmurrou o balcão. -Olha só pra
esse lugar, caralho! Itachi e Sasuke, mas o que significa isso?!
Não só ele, como Obito também tomou a liberdade de se aproximar, deixando Naruto e o restante
dos assistentes impressionados. Talvez fosse algo óbvio para as pessoas ao nosso redor que estávamos
sobre efeito de alguma substância.
-Oi, chefe. -Tentei lhe saudar de modo normal e sorridente, o que, infelizmente, acarretou em um
arroto alto e com cheiro de álcool no meio de sua cara. -Opa, mil desculpas.
Seu rosto ficou vermelho de raiva.
-Vocês andarem bebendo, seus bandos de filhos da puta?! -Gritou extremante irritado, como se, no
fundo, já soubesse a resposta. -Me responde, anda logo!
Sasuke segurou nervosamente em meu braço.
Eu não pretendia me render ou contar a verdade e, pelo o que eu percebi, o meu irmão pensava da
mesma maneira. No entanto, tudo mudou no momento em que Naruto se aproximou de nós dois, dando um
passo à frente para avaliar Sasuke de cima a baixo.
-H-Hm... Sasuke? -Chamou doce, porém com certa preocupação. -É verdade? Você bebeu?
Meu irmão simplesmente desabou.
Eu sempre detestei muito o fato de Sasuke se tornar mil vezes mais sentimental quando bebia, mas
naquele caso, eu odiei ainda mais. Ele havia, literalmente, nos entregado com o seu chororô e
sentimentalismo por achar que Naruto estava decepcionado com sua atitude.
-B-Bebê... -Choramingou de modo confuso e embargado, abraçando-se ao seu corpo como um
pedido de desculpas. -Me perdoa.
O loiro mais novo o acolheu com um abraço preocupado, acariciando seu cabelo quando o mesmo
afundou o rosto no pescoço alheio, murmurando alguns pedidos de desculpas e coisas completamente
inaudíveis para mim.
-É, eu acho que eles beberam. -Naruto fez uma pequena careta, chegando a essa conclusão após
escutar seu namorado se enrolar atrapalhadamente m com as palavras.
Deidara me lançou um olhar mortal
-É, a gente bebeu um pouco. -Sorri travesso. -Mas bem pouquinho mesmo.
Obito negou desacreditado com a cabeça.
-Seu morfético! -Bateu com a espátula em minha cabeça. -Vocês beberam do meu estoque?! Aquilo
era para cozinhar, caralho!
-Foi mal... -Acariciei meu coro cabeludo. -Eu estou arrependido, falou?
Não, eu não estava. Mas o meu irmão sim.
-Isso é um absurdo. -Obito reclamou. -Aonde você estava com a cabeça, Itachi? Eu tenho um monte
de assuntos importantíssimos para resolver com você, e agora, como a gente faz com você nesse estado,
me diz?
-Ah, Obito... Meu primo querido! -Exclamei em alto e bom som, sem nem me dar conta de que outras
pessoas poderiam ouvir. -Mas eu estou consciente, pode me falar!
-Itachi, faça silêncio! -Pediu irritado.
Com sorte, Naruto não estava prestando muita atenção.
Na verdade, ele estava ocupado demais em cuidar do meu irmão, o qual, aparentemente, havia
começado a chorar. Aquele era o maior recorde do Sasuke. Chorar duas vezes ao dia era realmente de se
impressionar.

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-‘Tá tudo bem, Sasuke. -O loiro dava selinhos em sua cabeça, escutando seu namorado choramingar
entre seus braços. -Não precisa chorar por causa disso.
-Me desculpa? -Fitou seus olhos com um bico chateado e as bochechas úmidas. -Você está bravo
comigo, bebê? Eu te magoei?
Naruto negou pacientemente.
-Claro que não. -Enxugou calmamente as lágrimas alheias. -Eu não estou bravo, okay?
-Mesmo? -Insistiu num tom manhoso. -Mesmo, mesmo? Certeza?
-Mesmo, mesmo. Certeza. -Respondeu com um sorriso doce. -Está tudo bem.
Às vezes eu queria que o Deidara também fosse compreensível e carinhoso assim. Mas, no seu
caso, só faltava ele me matar de tanta raiva e decepção pelo o que eu fiz.
-Desculpa. -Sasuke pediu de novo, abraçando a cintura de seu namorado ao esfregar o rosto na
curvatura de seu pescoço. -Você me ama ainda, bebê? Eu ainda sou o seu namorado?
Naruto riu com carinho.
Talvez ele estivesse se dando conta do quanto o meu irmão é engraçado, sensível e chorão quando
está bêbado, apesar de que, desde que Sasuke começou a namorar o Naruto, ele tenha se tornado muito
carente e amoroso.
-E-Eu te amo pra sempre, esqueceu? -Acariciou as suas costas. -É claro que você é o meu
namorado. Não precisa se preocupar.
Eu comecei a gargalhar aleatoriamente.
-Para de rir, seu idiota! -Deidara desferiu um tapa ardido atrás de minha cabeça. -Quanto vocês
beberam?!
-Ah, umas três garrafas e tal. -Me apoiei de modo desleixado em Obito, o qual apenas me fitou com
tédio. -Nem foi tanto.
O loiro mais velho bateu em sua própria testa.
-Deixe as broncas pra depois, Deidara. -O carcereiro me afastou de seu ombro. -O Itachi precisa
descansar. Amanhã eu tenho muitas coisas para discutir com ele. Preciso dele consciente. Você consegue
deixar ele na cela?
-Argh, tá bom. -Estalou a língua. -Vem, Itachi.
Eu me joguei amorosamente em seus braços.
-Eu te amo, Dei. -Beijei os seus lábios.
-Infelizmente, eu também te amo. -Respondeu mal-humorado, ajudando-me a andar para longe da
cozinha. -Você vem, franguinho?
-U-Uhum. -Concordou com uma risadinha. -Vamos indo, Sasuke?
-Você vai ficar comigo na cela, bebê? -Indagou manhosamente, permitindo que o loiro se agarrasse
ao seu braço.
-Sim, claro. -Lhe deu um pequeno selinho.
E assim se foi o nosso primeiro dia de trabalho juntos. Todos como uma família.

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