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Capítulo 28 - Trauma de infância

Sasuke On

Era o início de mais uma manhã. Embora não houvesse criado a coragem necessária para abrir os
meus olhos e ir de encontro a claridade, a sirene matinal já havia sido acionada, assim como o restante dos
detentos que já estavam despertos, tanto dentro de minha cela, quanto ao decorrer dos corredores e blocos.
Eu captava atentamente todo e qualquer tipo de som presente ao meu redor. Não só uma respiração
baixinha e aconchegante que batia suavemente em meus ouvidos, a qual eu tive certeza absoluta de que
pertencia ao meu bebê, como também uma confusão e falação frenética, indicando que outras pessoas,
além de mim e Naruto, estavam ativas naquela mesma cela.
Itachi, Deidara e Gaara. Foram as vozes que consegui distiguir com uma leve dificuldade em meio
aos meus fleches desconexos e revoltos de memória pertencentes ao dia anterior, além de, é claro, a dor de
cabeça quase insuportável e aguda que eu enfrentava por conta da ressaca.
Eu nunca havia bebido tanto em toda a minha vida. Junto com os tão desagradáveis e indesejáveis
efeitos colaterais da bebedeira em consequência ao dia anterior, veio também o temido arrependimento. Foi
um erro enorme de minha parte ter dado ouvidos ao Itachi e me deixado ser dominado pela vontade e
saudades momentânea que senti do álcool.
Era completamente absurdo pensar que realmente chegamos ao ponto de roubarmos três garrafas,
algo que eu, normalmente, não faria por puro respeito à cozinha, ao restante dos presidiários e, em
especial, ao Deidara.
Honestamente, eu não faço a mais vaga ideia do que se passou pela minha cabeça naquele
momento e, por qual razão, eu me deixei ser influenciado tão facilmente pelo meu irmão.
Um dos motivos pelo qual ainda permanecia com os meus olhos fechados, além de estar fisicamente
sensível e não conseguir suportar a claridade, era por conta da minha vergonha excessiva em relação ao
que aconteceu. Não só o Itachi que, no caso, já estava mais do que acostumado a me ver embriagado,
como também o Deidara, Obito e o meu bebê me viram naquele estado deplorável e hilário.
Parando para pensar com cuidado e atenção, grande parte da penitenciária, pelo menos os detentos
que frequentaram o refeitório no dia anterior e atravessaram em frente à janela da cozinha durante o meu
turno, me viram passar de todos os limites possíveis, além de terem presenciado a minha falta de respeito.
Se antes eu somente cogitava a hipótese de que causava uma má impressão aos funcionários e
presidiários da penitenciária, agora eu tinha quase certeza de que todos, sem exceção, me achavam um
garoto extremamente esquisito e sem noção.
Eu fiz papel de idiota, chorei que nem um descontrolado, passei vergonha e, ainda por cima, distratei
um monte de gente sem nenhum motivo aparente, tudo no mesmo dia e em menos de quinze minutos.
A verdade é que eu nunca deveria ter entrado na onda do Itachi.
-Hmmm... -Resmunguei sonolentamente, me abraçando mais ao corpo de Naruto como se pudesse
me fundir a si e camuflar qualquer vestígio de vergonha que sentia em relação a mim mesmo, além de, é
claro, fazer com que o restante dos garotos se calassem para que eu pudesse dormir mais um pouco.
-Bebê...?
Pude ouvir sua risada soar baixinha e amorosa em meus ouvidos, vindo seguida de uma pequena
carícia em minha testa, dando a entender que estaria retirando alguns fios meus para me incentivar a abrir
os olhos.
-H-Hm... Bom dia, dorminhoco. -Sussurrou carinhoso, passeando seus dedinhos de modo lento e
delicado em minha franja. Como já era de se esperar, ter recebido um carinho seu só serviu para me deixar
com menos vontade de abrir os olhos. Além de tê-lo me acariciando do jeitinho que eu tanto amava, reparei
que o Naruto também estava sem sua camiseta, algo que, apesar de não acontecer com muita frequência,
era extremamente confortável de se sentir. -Você está melhor?
Em resposta, esfreguei o rosto manhosamente em sua pele exposta e quentinha, abrindo meus olhos
para vir acompanhado de um bico involuntário e completamente mal-humorado. Sendo o mais sincero
possível, eu não estava nenhum pouco melhor, somente menos alterado se comparado a horas atrás.
As únicas coisas que, com certeza, me fariam bem naquele momento delicado, além de ficar
abraçadinho e a sós com o meu bebê, era de silêncio. E, sem dúvidas alguma, dentro daquela cela pequena
e abafada, com um monte de gente gritando desrespeitosamente, eu não conseguiria ter sossego.
-Uhum. -Murmurei emburrado, optando por não entrar em detalhes sobre os meus sentimentos de
vergonha e arrependimento. -Manda os meninos calarem a boca, por favor?
Naruto me olhou com preocupação.
-Você está com dor de cabeça? -Tocou em minha testa como se tivesse a intenção de sentir a minha
temperatura, algo que, pelo menos naquele caso, não tinha muito sentido.
-Muita. -Escondi o rosto preguiçosamente em seu peito. Querendo ou não, mesmo com os remédios
indicados pelo Guy, qualquer som ao meu redor, por mais mínimo que pudesse ser, estava me fazendo
muito mal. -Muita mesmo.
Naruto me abraçou de forma protetora.
-H-Hm... Gente? -Aumentou o tom de sua voz, o que, instantaneamente, ocasionou em um silêncio
momentâneo dos garotos. -Desculpe interromper, mas será que vocês podem falar só um pouquinho mais
baixo, por favor? É que o Sasuke está mal e precisa de silêncio.
Um sorriso carinhoso nasceu em meus lábios.
O meu bebê era mesmo muito educado, gentil e respeitoso. Qualquer outra pessoa, talvez até
mesmo eu, já teria perdido a sua paciência a muito tempo e mandado um “cala a boca” sem pensar a
respeito. No entanto, Naruto sempre faz questão de manter a sua simpatia e boa educação em todas as
situações.
Mas é óbvio que, diferente do loiro, eu sabia que não poderia contar com o restante dos garotos e
muito menos esperar uma reação cem por cento boa e positiva de todos eles.
-Ah, é mesmo?! -Mesmo estando de costas para o restante da cela, eu pude identificar facilmente a
voz áspera e grosseira de meu irmão. -Então manda esse pirralho vir aqui calar a minha boca! ‘Tá ouvindo,
Sasuke?!
Por me sentir inteiramente esgotado para respondê-lo com palavras e elaborar um xingamento
descente, eu apenas ergui o meu dedo do meio para a cela no geral, torcendo para que tivesse acertado a
pessoa certa e não direcionado para o Gaara, por exemplo.
-Eu vou fazer você engolir esse dedo! -Itachi exclamou ríspido, o que, certamente, significava que eu
havia acertado a direção.
Foi a vez de Deidara se intrometer com um riso sarcástico e completamente indignado.
-Engraçado que ontem você adorou mostrar esse seu dedo pra meio mundo, não é mesmo Itachi?!
-Implicou irritado. -Inclusive pra mim!
-Ah... Mas isso foi sem querer. -Riu de modo tranquilo e divertido. -Não era pra ter sido pra você,
chefe. Foi você e o Obito que chegaram bem na hora e acabaram virando o alvo.
-Você não tem o mínimo juízo! -Retrucou raivosamente, vindo seguido de um estalo baixinho, o que
eu logo imaginei ter se tratado de um tapa na cabeça de meu irmão. -Aonde já se viu uma coisa dessas?!
Eu ainda não te perdoei pelo o que aconteceu, Itachi!
-Me desculpa, Dei. -Pediu em um choramingo extremamente forçado e teatral. -Eu estou arrependido
do que fiz, falou? Te garanto que bem mais do que o Sasuke... Foi ele quem teve essa ideia irresponsável
da gente beber!
Grunhi com tamanha cara de pau.
-Mentira. -Murmurei em intromissão. Eu sentia vontade de me defender com bem mais emoção e
disposição, mas a minha dor de cabeça me impedia até mesmo de mexer a boca. -Isso é mentira, Deidara,
não acredita.
-É óbvio que é mentira, caralho! Eu não sou um idiota! -O loiro mais velho me apoiou. -A vida do
Itachi é resumida em fazer coisas ilegais e passar dos limites! É impressionante!
-É isso aí. -Concordei meio fraco e distante, tendo, a todo o instante, Naruto a acariciar os fios de
minha nuca -Falou e disse.
-E você também não me escapa, Sasuke! -Deidara me interrompeu, irritando-se pelo fato de eu estar
me vitimizando. Afinal, eu também havia tido uma grande parcela de culpa em relação ao que ocorreu na
cozinha. -O seu irmão eu já sabia que tinha uns parafusos a menos, mas você me surpreendeu muito! Eu
estou decepcionado!
Itachi gargalhou em provocação.
-Há! Toma na cara!
O bico presente em meus lábios, antes somente mínimo e involuntário, tornou-se consideravelmente
mais emburrado e, talvez, até mesmo com uma espécie de chateação envolvida no meio. Eu não gostei
nenhum pouco de saber que outras pessoas estavam decepcionadas comigo, tanto que, para transmitir a
ideia de que havia me afetado com o que escutei, eu juntei meu corpo mais ao do meu bebê em um abraço
necessitado.
-Bebê? -Chamei num misto de tristeza e insegurança. Parece que, namorar com o loiro, apesar de
me fazer um bem gigantesco e indiscritível, vem me tornando cada vez mais sentimental. A coisa que mais
me preocupava, não só naquele instante, como em todas as situações existentes, era magoar o Naruto.
-Você também está decepcionado comigo?
O loiro piscou confusamente.
-H-Hm... É claro que não, Sasuke. -Sorriu com toda a sua paciência e delicadeza. Era bom saber
que, assim como eu, o Naruto sempre faz um esforço para ser o mais compreensível e carinho possível
comigo, mesmo que, muitas das vezes, eu possa passar dos limites. -O que aconteceu ontem foi só um
deslize. Essas coisas são normais, está tudo bem.
-Mesmo? -Insisti só para confirmar.
-U-Uhum. -Abriu um sorriso meigo. -E outra, eu te achei muito fofinho bêbado, sabia?
Afundei minha face vergonhosamente em seu peitoral, escondendo, ao mesmo tempo, o sorriso
divertido que insistia em nascer pelos meus lábios. Eu sentia medo de saber sobre as coisas absurdas e
sem sentido que falei para o meu bebê enquanto estava totalmente fora de mim. Eu só me recordava de
uma pequena parcela delas, o restante era como uma espécie de borrão para mim.
-Eu falei muita besteira? -Indaguei curioso.
-Sim, pra caralho! -Deidara foi quem tomou a liberdade de responder. Meu corpo, por outro lado, se
encolheu involuntariamente com os gritos, tanto pelo susto, quanto pela pontada latejante que senti em
minha cabeça. -Você falou um monte de coisas nada a ver! Eu quase arranquei os meus próprios ouvidos!
Reparei, mesmo que de canto de olho, o meu bebê esboçar uma careta preocupada. Naruto
aparentava estar incomodado em relação ao tom de voz utilizado pelos garotos, mas em especial, por me
ver tão acoado com qualquer som um pouco mais alto.
-D-Dei? Fala mais baixinho, por favor? -Pediu novamente, sabendo que, entre os meninos, quem
mais costumava ultrapassar o limite de sua voz, definitivamente, era o Deidara. -O Sasuke está mal,
esqueceu? Vamos respeitar.
Ele bufou audivelmente, não muito contente por precisar ser calado e privado de sua maneira de se
expressar. Eu, geralmente, lido muito bem com todos os berros e surtos diários vindos de nosso grupo, mas
pelo fato da minha dor estar bastante intensa, a minha resistência foi prejudicada.
-É mesmo, galera. -A voz de Gaara invadiu a cela, decidindo participar da conversa após ter ficado
minutos em silêncio. -Vamos respeitar o próximo. Coitado do Sasuke.
-Seu hipócrita! -Deidara xingou ríspido, esquecendo-se, mais uma vez, de medir o tom de sua voz e
respeitar a minha dor. -Você era quem mais ‘tava gritando até agora! Parecia que ia gozar com esse livro do
caralho!
Por não entender a aleatoriedade e o exato contexto daquela frase, virei o meu pescoço
curiosamente em direção aos garotos, podendo observar a cela pela primeira vez naquela manhã, e não
somente de relance. Como já era de se esperar, estava uma bagunça. Por estar mais abarrotada que o
normal, o espaço ali dentro parecia mil vezes menor e muito mais desconfortável.
O meu irmão, como todas as outras manhãs, encontrava-se esticado sobre o chão, sem sua camisa
e praticando alguns abdominais, parecendo não ligar muito para o fato de estar de ressaca, mas sim para
se exibir.
Já os dois garotos, permaneciam a discutir um com o outro. O ruivo no beliche de cima, contendo um
livro específico em suas mãos, o qual eu, de imediato, identifiquei por pertencer a coleção de história
eróticas de Itachi, e o loiro mais velho a arrumar o seu cabelo em um rabo-de-cavalo, bem de frente ao
espelho.
Eu e Naruto éramos, como o habitual, os mais civilizados e tranquilos entre todos.
-Esse livro é incrível! -O ruivo exclamou, passeando seus olhos por cada letrinha presente na página.
-Obrigado por me emprestar, Itachi. Eu estou amando!
Meu irmão riu ofegantemente.
-É muito bom, né? -Ele grunhia dolorosamente a medida em que fazia os seus abdominais. -Em que
parte você parou?
-Eu parei na parte em que o empresário cancelou a reunião dele só pra chamar a assistente na sala.
-Comentou alegremente, apesar de possuir um sorriso malicioso em seu rosto. -Acho que vai dar bom, né?
-Essa parte é a melhor! -Riu entretido, talvez contente por ter, finalmente, encontrado alguém com os
mesmos gostos literários que os seus. -Eles vão transar pela primeira vez! A assistente vai ficar meio
insegura pelo fato de ser virgem, mas o empresário vai tirar uma camisinha do paletó dele e—
Eu não permiti que ele continuasse o assunto.
-Shhh! -Tentei fazer com que meu irmão se calasse, o que, consequentemente, fez minha cabeça
doer ainda mais. -Ai, que dor...
Naruto suspirou em preocupação.
-S-Sasuke? -Chamou choroso. Ele estava, claramente, com pena de mim. -Você quer outro remédio?
Eu busco lá na enfermaria.
Eu sorri carinhosamente em sua direção.
-Não precisa. -Respondi casado, sendo seguido pela voz de fundo do Gaara, o qual murmurou algo
como: “alguém aí disse enfermaria?”. -Acho que não vai adiantar. Eu só preciso tirar um tempo pra
descansar.
-Tem certeza disso? O que eu posso fazer por você? -Fez um biquinho fofo e involuntário.
Eu não suportei presenciar aquela cena adorável e ficar parado sem fazer nada a respeito. Mesmo
que bastante dolorido, eu tive que fazer um esforço para me erguer em direção a sua boca e lhe roubar um
selinho.
-H-Hm... Eu faço qualquer coisa por você, Sasuke. -Revelou genuinamente, contendo suas
bochechas levemente coradas por cima de seus risquinhos de nascença, os mesmos que ele sempre
detestou ter em seu rosto, mas que, em minha opinião, lhe davam um charme a mais. Absolutamente tudo
nele era perfeito. -Como você quer que eu te ajude? Me pede qualquer coisa que eu faço.
Eu suspirei completamente apaixonado.
-Qualquer coisa?
-U-Uhum. -Sorriu meigamente.
-Hmmm... -Fiz um barulho breve para mostrar que estava pensado. -Já sei.
-O quê?
-Continua mexendo no meu cabelo? -Pedi num tom, inconscientemente, manhoso e chorão. Como
Naruto havia me dado essa brecha, eu decidi segurar em sua mãozinha e levar, sem permissão , em
direção aos meus fios. -Faz carinho, bebê, por favor...
Naruto riu amorosamente.
-H-Hm... Faço sim. -Respondeu numa entonação carinhoso, divertindo-se por presenciar tamanha
carência de minha parte. Como das outras vezes, o loiro optou por utilizar as suas unhas na hora de
arranhar o meu coro cabeludo, já habituado a forma como eu gostava de ser acariciado. Sempre na altura
de minha nuca e passeando de modo lento entre os meus fios. -Assim?
Assenti com os lábios entreabertos.
-Uhum... Assim. -Soltei um suspiro manhoso, não conseguindo me manter de olhos abertos. Eu
sentia meu corpo inteiro ficar molenga entre os seus braços, além de ter meus pelos se arrepiando um por
um. Eu acho que nunca vou me cansar dessa sensação maravilhosa, ainda mais sabendo que, a pessoa
que está me proporcionando todo esse conforto, é o Naruto. -Obrigado, bebê...
Um beijo tímido foi estalado em minha cabeça.
-Eu vou começar a cobrar, hein? -Brincou com um riso infantil. -Dez reais por minuto.
-Ah, não... -Esfreguei meu rosto em sua pele para fazer manha. -É muito dinheiro, eu não tenho tudo
isso aqui dentro... Posso te pagar de outras formas?
Naruto tombou a cabeça inocentemente.
-Que formas?
Ri baixinho, dando um beijo em seu peito. Eu poderia muito bem me aproveitar da situação e de sua
inocência excessiva para fazer alguma piadinha com o cunho sexual, assim como Deidara e Itachi, com
certeza, fariam se estivesse em meu lugar. Acontece que, além do meu bebê ser puro demais para isso, eu
gosto de tratá-lo com respeito e carinho.
-Com beijos, é claro. -Sorri abertamente. -Vários e vários beijos. Essa é a minha oferta.
O loiro abriu um sorriso tímido, corando de leve com a “sugestão”.
-H-Hm... Certo, eu aceito.
-Então deixa eu adiantar meu pagamento. -Murmurei amorosamente, anestesiado pela vontade que
senti de beija-ló. Pelo menos daquela vez, eu não precisei fazer esforço algum para erguer a minha cabeça
e ir de encontro a sua. Naruto foi quem tomou a liberdade de alcançar os meus lábios.
Trocamos vários e vários selinhos, todos bem compridos e molhados. Não era nada muito agitado,
somente algo mais carinhosos entre nós. A cada estalinho causado por nossos lábios, sorrisos bobinhos e
apaixonados iluminavam ambos os rostos, unindo-se aos suspiros entregues que eu soltava pelo amor
absurdo que sentia estando com o meu bebê.
Eu o amava mais do que tudo. Além dele ser a minha salvação, o Naruto é o único motivo de eu
ainda ter forças para me levantar todos os dias nesse inferno de lugar e querer fazer cada dia valer a pena
ao seu lado, mesmo estando em uma prisão.
Eu faria tudo por ele.
-Lindo... -Sussurrei entre selinhos, roçando nossos lábios lentamente. O seu ar de timidez e as
bochechinhas coradas, deixavam o meu corpo inteiramente derretido e necessitado de mais beijos. -Você é
o meu bebê, só meu.
Seu rosto ficou ainda mais rosado.
-Fala que você é só meu, bebê? -Acariciei meu nariz ao seu, pedindo em um ato de completo
impulso. -Fala pra mim vai...
Sua risada soou tímida e infantil.
-H-Hm... É claro que eu sou só seu. -Permitiu que eu lhe roubasse outro selinho. -Mas você é meu
também. Só meu, Sasuke.
Mordi meu lábio inferior ao conter um sorriso emocionado. O meu bebê era o ser humano mais
adorável e maravilhoso de todo o mundo e, naquele mesmo instante, estava dizendo que eu pertencia a si.
Era só seu.
-Com certeza. -Juntei nossas testas, fitando de perto seus olhos inocentes e azulados que eu tanto
amava. -Eu sou só seu. Pra sempre.
Demos um outro selinho. Eu simplesmente amava ter momentos carinhosos e grudentos com o
Naruto, se bem que, pelo menos para mim, todo dia nos tratamos com o mesmo amor e cuidado se sempre.
A nossa relação é exatamente linda e saudável, além de ter se tornando a melhor coisa de meu dia a dia.
Só é uma pena que quase sempre somos interrompidos por alguém e, pelo fato de estarmos dentro
de uma na prisão, não temos toda a privacidade que desejamos. É por essa razão que eu valorizo tanto os
momentos em que ficamos juntinhos e totalmente a sós.
-...Sai do meio desse chão! -Os gritos que antes haviam sido cessados, voltaram com tudo e, como o
habitual, todos pertencentes a Deidara. Sua bronca, daquela vez, era dada diretamente para Itachi, o qual
permanecia fazendo exercícios e alongamentos aleatórios no chão. Aquela era a sua hora de praticar
algumas flexões. -Eu vou começar a te chutar que nem uma barata! Essa cela já é um ovo e você insiste em
ficar no meio do caminho!
-Au! -Itachi reclamou ao levar um chute em sua bunda. Apesar de ser importante para o meu irmão
se exercitar pela manhã e, de certa forma, eu o admirar secretamente por conta de sua disposição até
mesmo de ressaca, ele realmente estava atrapalhando a passagem. -Não chuta, chefe. Eu já estou
acabando aqui.
-Isso aqui é um manicômio! -Deidara passava de um lado para o outro na cela, tentando manter o
lugar organizado, visto que, na noite anterior, por conta do que eu e meu irmão aprontamos, acabamos por
bagunçar o local com todos os nossos tombos e tropeços, além de Gaara também ter decidido se unir a
nós, o que, em consequência, sobrecarregou ainda mais o ambiente. -Caralho, Itachi, já chega!
Outro chute foi desferido em seu traseiro.
-Porra, Deidara! -Xingou de volta, fazendo uma careta de dor. Nem mesmo apanhando o Itachi
desistia de fazer exercícios. -Espera!
-Todo mundo aqui já entendeu que você se acha um gostoso e que gosta de se exercitar, cacete! -Ele
gesticulava loucamente com uma vassoura em mãos, a mesma que, geralmente, era o meu bebê quem
utilizava para limpar a cela. -Ninguém aguenta mais você se exibindo, sendo um narcisista e tirando essa
camiseta do caralho! Você e o seu irmão são insuportáveis com essa mania, até pro Naruto vocês passaram
essa doença!
-Doença? Que doença?! -Questionou confuso.
-Essa doença de ficar sem a blusa! -Apontou para o loiro mais novo, o qual, de imediato, se encolheu
com a atenção que recebia. O meu bebê também havia decidido tirar o seu uniforme naquela manhã, assim
como eu e meu irmão. -Olha isso! Qual é o próximo plano de vocês?! Sair só de cueca pro refeitório?!
Gaara começou a gargalhar.
-Eu aposto cinquenta conto! -Gritou divertido.
-Cinquenta reais pra ir só de cueca até o refeitório? Eu topo fácil. -Itachi declarou convencido. -Se
vocês quiserem, eu tomo café da manhã pelado. E você, Sasuke?
Olhei tediosamente em sua direção.
-Não, obrigado. -Era difícil de me concentrar em manter um diálogo centrado com o meu irmão. O
afago que o meu bebê estava me proporcionando, me deixava incrivelmente sonolento e distante de todos.
-Diferente de você, eu não tiro a minha blusa pra me exibir, Itachi.
-Ora, então você tira por quê? -Desafiou.
-Eu tiro porque é mais confortável. -Expliquei com a voz totalmente tomada pelo sono. -O uniforme
daqui pinica demais, é uma merda.
-U-Uhum, exatamente. -Naruto concordou comigo, como se sentisse na obrigação de justificar o
motivo de estar como nós. -A blusa daqui é muito desconfortável e esfiapada. A minha intenção nunca foi
me exibir, gente.
Apoiei meu queixo em seu peito para olhá-lo diretamente nos olhos. Eu não queria que ele ficasse
preocupado em se explicar por uma coisa irrelevante como aquelas.
-Não se preocupe, bebê. -Tranquilizei com um sorriso leve. -A gente sabe que você não é um
exibido, muito diferente do Itachi que encontra qualquer situação possível pra se mostrar.
Itachi soltou um riso sarcástico.
-Quer saber de uma coisa? -Deu de ombros, retornando com os mesmos exercícios anteriores para
provocar a todos nós. -Eu sou um exibido mesmo! Coisas bonitas tem que ser mostradas, cambada de
invejosos!
Deidara bateu a vassoura em sua bunda.
-Invejosos é o seu cu! -Começou a limpar o chão ao seu redor, fazendo questão de jogar a poeira no
meio de sua cara. -Todo mundo já cansou de ver essa sua barriga de tanto que você fica sem blusa! Essa é
a verdade!
Meu irmão lhe enviou um olhar malicioso.
-Tem certeza disso, chefe? -Baixou o seu tom de voz como se quisesse soar atrevido. -Bom, você
não achou isso no dia em que nós—
A vassoura foi de encontro ao seu rosto.
-Eu vou te fazer engolir esse cabo! -Sacudiu o instrumento para lhe ameaçar, enquanto o outro tossia
compulsivamente por conta do pó. -Vou enfiar na sua goela! Que tal?!
Itachi o fitou num misto de irritação e choque.
-Você é muito agressivo. Credo. -Limpou a sua própria face, parecendo ter, finalmente, desistido de
seus exercícios. -Até desanimei.
-Ei, gente... -Gaara se pronunciou de repente, chamando a nossa atenção. -Por falar em desamino,
lá vem o Obito.
Viramos todos em direção ao corredor. Como citado pelo ruivo, o carcereiro não estava com uma
expressão muito agradável e convidativa, além de possuir uma postura de impaciência enquanto passava
lentamente entre os detentos, algo que, pelo menos para mim que o conhecia, significava que ele estava
irritado.
Era bem difícil de presenciar o Obito nesse humor, visto que, diariamente, ele agia com uma
pacificidade e compreensão em excesso com todos ao seu redor. Algo grave deveria ter ocorrido, o que eu
não demorei muito para perceber ao me dar conta de que Itachi ficou bastante inquieto com a sua presença.
-Merda! -Xingou afobado, levantando-se do chão como se quisesse fugir daquela situação a qualquer
custo. -Agora não dá!
-Não dá o quê, Itachi? -Perguntei perturbado.
-Eu não quero falar com o Obito agora! -Explicou às pressas, pouco se importando com a presença
de Gaara e Naruto, os quais pareciam tão perdidos quanto eu. -Agora não!
O Itachi, definitivamente, havia feito alguma besteira ou quebrado a confiança de nosso primo. É só
uma pena que ele nunca me conte nada, principalmente as conversas que ambos mantém quase todos os
dias às escondidas.
-O que foi que você fez? -Eu alternava sem parar em direção a grade e o meu irmão.
-Não dá tempo de explicar! -Exclamou em completo desespero, tomando a péssima iniciativa de
correr em direção a minha cama e de Naruto. Com a sua violência, até mesmo Deidara se tornou uma
vítima, acabando por se desequilibrar com a vassoura em mãos e cair de bunda no chão. -Me esconde!
Itachi simplesmente se jogou em nossa cama, empurrando-nos para que desencostássemos nossas
costas da cabeceira. O meu bebê ficou extremamente assustado com aquela situação, mas não disse muita
coisa quando o meu irmão se enfiou de baixo das cobertas, ficando “escondido” atrás de nós dois.
-Itachi? Que porra é essa?! -Tentei me comunicar consigo, recendo um “shhh” bem grosseiro
resposta. -Eu não acredito nisso...
Eu e Naruto estávamos, literalmente, servindo como uma barreira para camuflarmos a presença de
meu irmão, quase sentados por cima de seu corpo coberto pelo lençol. Era bastante óbvio que ele estava ali
e, em minha opinião, o Obito não cairia nessa tão facilmente.
-Ele chegou. -Gaara sussurrou com a intenção de manter o Itachi informado. O ruivo, claramente,
não estava entendendo muita coisa, mas assim como o Naruto, era do tipo de pessoa que, mesmo
desinformado e perdido, fazia de tudo para ajudar o próximo.
Eu comecei a ficar tenso com a situação.
Apesar de não estar envolvido e não fazer a menor ideia do que Itachi fez para chatear o carcereiro,
me bateu um certo nervosismo em saber que eu estava o acobertando.
Eu só torcia para que o Naruto não acabasse nos entregando. Afinal, o meu bebê sempre foi um
péssimo mentiroso, além de ser do tipo de pessoa que, mesmo se esforçando para ser fiel ao próximo,
acabava revelando certas coisas por pura ansiedade e insegurança.
Obito finalmente alcançou a grade.
-Bom dia, meninos. -Declarou desconfiado e sério, olhando de modo afiado para o interior de nossa
cela, parecendo observar cada detalhe mínimo e insignificante. -Deidara, o que você está fazendo jogado aí
no chão?
Foi só então que eu reparei. Do jeito em que o loiro foi derrubado, mesmo que sem querer, pelo meu
irmão, ele permaneceu na mesma posição, talvez por estar muito surpreso com o tombo que levou, ou
então por nem ter tido tempo o suficiente para pensar em se erguer diante do desespero de seu namorado.
-É aqui que eu pertenço, Obito. -Respondeu indiferente, dizendo, simplesmente, a primeira coisa que
veio em sua mente. De qualquer forma, por mais desanimadora que fosse a resposta, ele conseguiu fugir do
verdadeiro motivo de estar estirado no meio da cela. -O chão é o meu lugar. No meio da sujeira.
Notei Gaara presar seus lábios para não rir.
-Aham, sei... -Cruzou os braços. Em seguida, ele olhou na minha direção. -Sasuke?
Meu corpo gelou instantaneamente.
-Pois não?
-Aonde está o seu irmão? -Indagou simples.
Não só eu, como Naruto também, tensionou fortemente os seus ombros. Estava na cara que havia
alguma coisa fora dos eixos ali dentro, tanto por conta de nossas expressões faciais, quanto pela forma
como agíamos.
-Eu não sei. -Respondi da forma mais fria e indiferente possível. Sinceramente, agir com
“neutralidade”, me lembrou da fase horrorosa em que Itachi me obrigava a ser alguém que eu não era, além
de que, no início de tudo, eu tratava o meu bebê muito mal. -Ele saiu logo de manhã. Você sabe, meu irmão
tem insônia.
Obito permaneceu sério e pensativo.
-Eu não achei ele em lugar nenhum. -Revelou com uma pitada de ironia e desconfiança em sua voz,
tomando a infeliz iniciativa de adentrar a nossa cela. -Então quer dizer que o seu irmão sumiu do mapa, é
isso?
Ele estava tentando me encurralar.
-Eu realmente não sei. -Dei de ombros. -Eu nem me preocupo mais com isso, Obito. Ele some do
nada, mas depois sempre aparece.
Seus olhos continuaram a correr atentamente por nós quatro. Talvez o carcereiro soubesse que
estávamos mentindo, mas por não querer insistir ou deixar o clima mais pesado do que já estava, ele
decidiu deixar, pelo menos naquele momento, o assunto de lado.
-Certo. -Voltou lentamente para trás. Mesmo não podendo realmente ouvir, eu sabia que todos ali
dentro haviam suspirado em alívio. -Eu vou fingir que acredito nisso... Quando o seu irmão aparecer, diga
que eu preciso falar com ele urgentemente, Sasuke.
-Certo, pode deixar. -Respondi simplista.
O clima ficou ainda mais pesado.
Todos os garotos, inclusive eu, optamos pelo silêncio até que tivemos certeza de que Obito havia ido
embora, não só da cela, como também do bloco em que nos encontrávamos.
-Pronto, Itachi. -Declarei meio irritado por ter precisado mentir daquela forma. -Pode sair, você está
ocupando muito espaço.
Enquanto murmurava um “vai se foder”, meu irmão pode, finalmente, erguer o seu tronco, saindo
debaixo das cobertas e de trás das minhas costas. Eu, sinceramente, não entendia como alguém alto e
musculoso igual o Itachi, conseguiu caber direitinho naquela cama juntamente comigo e o Naruto.
-Porra, essa foi por pouco! -Saiu do colchão com um sorriso no rosto. -Valeu, cambada.
Eu o olhei completamente inconformado.
-Você não vai me contar o que foi isso?
-Não foi nada de mais. -Arrumou seu cabelo com os olhos fixos aos meus, arregalando-os de leve
como se pedisse pelo meu silêncio. -Eu já disse que só não queria falar com ele.
-Nossa, mas o Obito parecia muito bravo. -Gaara comentou meio perturbado. -E bastante íntimo seu
também...
Itachi discordou com a cabeça.
-É só impressão sua. -Bocejou para parecer o mais indiferente possível. -Enfim, depois eu vou ver o
que ele quer, mas provavelmente é algo relacionado à ontem. Ele ficou bravo com o incidente das bebidas.
Eu também decidi não insistir naquela história, por mais que fosse, obviamente, uma mentira.
-Você é um louco morfético. -Deidara xingou do chão, ainda estirado em meio a bagunça e a poeira
ao redor da cela. -Olha só o que você fez, seu animal! Me derrubou!
-Desculpa, chefe. -Riu baixinho, erguendo a mão para ajudá-lo a levantar. -Foi sem querer.
Surpreendentemente, o loiro aceitou ser erguido, apesar de que não deixar de lado a sua carranca
aparente e irritada. Quando ficou de pé, limpou o próprio traseiro e, em seguida, arrumou o seu cabelo
brevemente.
-Não fica bravo. -Itachi pediu com um sorriso, lhe roubando um selinho rápido. -Machucou?
-Sim, caralho. -Rosnou agressivamente. -Você é um maluco, Itachi, saiu me atropelando que nem um
touro!
Gaara gargalhou com a referência.
-Desculpa, mas é verdade. -Intrometeu-se com um sorriso divertido. -Parecia aqueles touros quando
vê o pano vermelho, sabe?
-Exatamente. -Deidara empinou o nariz.
-Foi mal, gente. -Sorriu levemente, estalando um último beijo nos lábios de seu namorado que,
embora não estivesse correspondendo, permitia que ele continuasse. -Bom, pelo menos a gente tem
história pra contar aqui dentro... Eu já to cansado de tanta mesmice.
-Eu também. -Gaara concordou. -Todo dia é a mesma coisa. Parece que nunca acontece alguma
coisa interessante ou especial, né?
Ao invés de respondê-lo com palavras, um sorriso largo e animador crescer pelo rosto de meu irmão,
como se o mesmo estivesse tendo alguma ideia ou se recordando sobre algo. O ruivo ficou um pouco
confuso com tal atitude, mas quem mais estranhou a situação, fui eu.
Itachi virou-se inteiramente para mim, me olhando intensamente como se eu já soubesse
exatamente sobre o que ele estava pensando.
-Você sabe que dia é amanhã, Sasuke?
Meu cenho se franziu em confusão.
-Sexta-feira? -Cocei a nuca, tentando puxar na memória o dia da semana em que estávamos. -Não,
eu acho que é quinta...
Foi a vez de Naruto sorrir grandiosamente.
-É mesmo! -O meu bebê exclamou numa felicidade bastante exagerada para o assunto que
estávamos mantendo. -É amanhã!
Eu alternei atordoadamente entre os dois.
-O que tem amanhã, gente?
-É o seu aniversário, sua anta! -Itachi gritou.
Uma careta perdida e confusa tomou conta de todo o meu rosto. Enquanto os dois garotos
esperavam sorridentemente para que eu reagisse a notícia, minha mente lutava para recordar-me sobre o
evento do dia seguinte.
-Ah... -Respondi num desanimo preocupante e perturbante de se presenciar. -Legal.
Eu havia esquecido o meu próprio aniversário.
Na verdade, eu nunca me importei muito com essa data. Os meus aniversários, desde que consigo
me recordar, sempre foram bastante deprimentes e solitários, especialmente pelo fato de eu nunca ter sido
um garoto de muitos amigos, além de possuir um pai ausente. Era sempre o Itachi quem tentava me colocar
para cima, mesmo sabendo que eu detestava com todas as minhas forças ficar mais velho.
-E-Ei, Sasuke? -Naruto me chamou baixinho. Ele parecia preocupado com o meu baixo astral em
relação àquela data. -Você está bem?
-Uhum, to sim. -Assenti com um sorriso fraco, apenas me abraçando ao seu corpo como se pedisse
silenciosamente para que mudássemos de assunto. O meu bebê, como todas às vezes, respeitou o meu
espaço e tempo, sabendo que, quando estivéssemos a sós, poderíamos conversar com mais calma. -Me
abraça, bebê?
Naruto correspondeu com um ar carinhoso, mas ao mesmo tempo, de preocupação. Já o meu irmão,
completamente alheio ao nosso diálogo, agitava com os garotos possíveis formas de comemorarmos o meu
aniversário.
-Ah, o meu bebezão ‘tá ficando mais velho! -Exclamou num tom brincalhão, vindo até mim com os
braços bem abertos. Eu acabei por me soltar do Naruto, mas apenas para retribuir o seu abraço
rapidamente, dando tapinhas fracos em suas costas enquanto o sentia estalar um beijo propositalmente
exagerado em minha cabeça. -Pra mim você sempre vai ser aquela criancinha mal-humorada que ia pra
escola com a lancheira do Bob Esponja!
-Argh, Itachi... -Resmunguei ao notar que todos a minha volta riam, comentando o quão adorável eu
ficaria com uma “lancheirinha”. -Para com isso. Aquela fase foi horrível.
-Foi a sua fase mais fofa! -Rebateu animado.
-Quantos anos você vai fazer, Sasuke? -Deidara questionou descontraído. -Treze?
Soltei uma risada fraca. o loiro sabia bem que eu não tinha treze anos, até porque, se eu fosse menor
de idade, não estaria em uma prisão e muito menos dividindo a mesma cela com ele.
-Eu vou fazer vinte. -Revelei triste.
-Ainda é um bebezão! -Itachi acrescentou.
-Nada a ver. -Deidara rebateu. -Ele já é um idoso.
-Idoso é o Orochimaru. -Gaara se intrometeu na conversa. -Somos todos jovens.
-Verdade. -Meu irmão concordou. -Inclusive o Naruto. Ele é o mais novo entre a gente.
Sorri carinhosamente para o meu bebê. Ele era, de fato, o mais novinho de nosso grupo, além de ser
o detento mais jovem dentro da prisão. O Naruto chegou somente três meses após completar dezoito anos
de idade.
-Enfim, a gente tem que pensar em uma comemoração! -Itachi retomou o assunto, mesmo sabendo
que eu odiava “festas” e ser o centro das atenção. -Alguém tem ideias?!
-Vamos fazer um bolo! -O ruivo sugeriu. -Como o Deidara trabalha na cozinha, ele pode cozinhar pra
gente! Eu quero de chocolate!
-Vai se foder, eu não vou fazer bolo nenhum. -Respondeu secamente. -‘Bora quebrar ovo na cabeça
do Sasuke lá no pátio, isso sim!
-Isso aí! -Meu irmão aprovou. -E jogar farinha no cabelo também! Ele vai ficar imundo e pagar o
maior mico na frente de todo mundo!
-Boa! -Eles bateram as mãos. -E pra finalizar, a gente prende o seu irmão e abaixa a calça dele na
frente de todo mundo! Vai ser lindo!
Eu olhei levemente assustado para os dois. O que, inicialmente, era para ser uma conversa sobre
comemorações felizes e amigáveis, agora se tratava de um plano macabro para me humilhar na frente de
todo mundo.
-H-Hm... Assim não, gente. -Naruto tentou me defender. Ele sabia tanto quanto eu que, a partir do
momento que os dois colocavam alguma ideia na cabeça, era difícil de tirar. -Vamos fazer alguma coisa
mais saudável e que não envolva sujeira. Que tal?
-Chato! -Deidara implicou. -Eu quase dormi enquanto você falava de tanto tédio!
O meu bebê fez um biquinho chateado.
-Não deixa eles fazerem isso comigo, bebê. -Forcei a minha voz para deixá-la bem sofrida, fingindo
estar com medo daquelas ideias absurdas. -Me salva desses malucos.
-E-Eu te salvo. -Deu uma gargalhada gostosa, vindo acompanhada daquele sorriso que eu tanto
amava. -Eu entro na frente pra te salvar e recebo a ovada no seu lugar, pode deixar.
-Não, eu não posso deixar isso acontecer com você. -Argumentei com seriedade. Eu me comunicava
como se o loiro realmente estivesse prestes a se sacrificar por mim. -Eu aguento a humilhação sozinho. Não
posso deixar você se sacrificar por mim, Naruto.
-M-Mas eu faço tudo por você, Sasuke. -Ele insistiu, abraçando-me com uma voz chorosa e
embargada. Nós havíamos esquecido por completo que o assunto principal se tratava de ovos e farinha, e
não sobre nos sacrificarmos um pelo outro. -Você é a minha vida.
Abracei o seu tronco protetoramente.
-E você é a minha, bebê... -Escondi a face em seu pescoço, fechando meus olhos com força só de
imaginar a possibilidade de ter o loiro arriscando a sua vida por mim. -Minha vida.
Itachi e Deidara olharam tediosamente para a cena.
-Eu quase dormi de novo. -O loiro bocejou. -Isso foi ridículo. Sério mesmo.
-Muito ridículo. -Meu irmão concordou. -Eu acho que eles se esqueceram de que a gente estava
falando em dar ovada no Sasuke, e não que eles iam parar num campo de guerra pra lutar pela vida um do
outro.
-Ah, eu achei fofo! -Gaara exclamou do beliche de cima, assistindo tudo com um sorriso no rosto. -Se
o Lee falasse isso pra mim, acho que eu chorava até desidratar!
Deidara rolou os olhos fortemente.
-Depois dessa eu até vou embora. -Virou as costas para nós, começando a pegar algumas toalhas,
shampoos e objetos essenciais para poder se lavar. -Eu vou tomar um banho antes de ir pra cozinha.
-Eu vou junto. -Itachi declarou.
-Ah, eu posso ir também?! -O ruivo perguntou animado, apesar de não ter esperado por uma
resposta dos dois, e sim decidido descer de sua cama para acompanhá-los. -Eu não tomo banho faz dois
dias, o negócio ‘tá crítico!
-Que nojo, Gaara. -O loiro implicou.
-Eu não tomo faz uns quatro. -Itachi revelou, ao mesmo tempo em que todos apanhavam suas
roupas para saírem juntos da cela. -Acho que esse é o meu maior recorde.
-Vocês são uns bando de porcos! -Deidara xingou enojado. -Por isso que o seu cabelo vira esse
ninho de passarinho, Itachi! E você, Gaara, cheira seu próprio sovaco pra você ver!
E foi dessa maneira que os garotos deixaram a cela. Ficamos a acompanhá-los passar pela grade,
todos com suas devidas mudas de roupas e shampoos em mãos, sem nem ao menos se despedirem de
mim e Naruto.
Eu pude, por fim, ficar a sós com o meu bebê.
Foi de se impressionar a forma como a cela ficou silenciosa e tranquila com a saída dos meninos.
Nenhum som era escutado por mim, a não ser a mesma respiração aconchegante e baixinha do loiro
batendo em meus ouvidos.
-H-Hm... A sua dor de cabeça vai melhorar agora, Sasuke. -Comentou distenso, tomando a
maravilhosa iniciativa de inverter as nossas posições no colchão. Agora era o meu bebê quem estava me
pedindo por carinho, com o seu corpo inteiro acomodado por cima do meu e a cabeça repousada no meu
peito. -É a sua vez de mexer no meu cabelo...
Soltei um riso carinhoso, estalando um beijo no topo de sua cabeça antes mesmo de iniciar meus
afagos. Embrenhei meus dedos entre os seus fios macios e loirinhos, podendo inalar de perto aquele cheiro
doce que eu tanto estava habituado a sentir, além de presencia-ló se esfregar manhosamente na minha
pele como aprovação ao carinho que estava recebendo.
Se tinha uma coisa que eu amava e admirava quando estávamos juntinhos, era o fato do meu bebê
se encaixar tão perfeitamente a mim, seja em nossos abraços, beijos, ou então quando decidia ficar no meu
colo, exatamente igual naquele momento. Ele cabia direitinho.
-Sasuke? -Chamou meigamente.
-Fala, meu bebê.
-Você quer conversar sobre aquilo? -Indagou baixinho, mantendo sua face cem por cento colada ao
meu peito, além de possuir seus olhinhos fechados e entregues ao carinho.
-Sobre o que você está falando, hm?
-H-Hm... Sobre o seu aniversário. -Respondeu delicado, talvez com medo de me recordar sobre esse
detalhe ou soar intrometido.
Meus ombros se tencionaram de leve.
-O que tem ele? -Perguntei em um sussurro.
Naruto ergueu a cabeça com um olhar similar a ideia de “você sabe bem sobre que eu estou
falando”. A verdade era que eu realmente sabia, mas não estava muito afim de entrar em detalhes e
relata-lo sobre o meu trauma de infância em relação ao meu aniversário.
-E-Eu vi como você ficou, Sasuke. -Apoiou o queixo em meu peito, fitando-me de perto com suas
imensidões azuladas e inocentes. -Tem alguma coisa te incomodando, não tem?
Ao mesmo tempo em que eu amava o fato do meu bebê me conhecer tão bem, muitas das vezes eu
ficava em desvantagem quando não tinha tanta vontade de tocar em um assunto.
-Não é nada... -Sorri fraco, retirando alguns fios loirinhos da sua testa. -Eu só não gosto muito do
meu aniversário, bebê.
Ele virou a cabeça pensativamente.
-Eu percebi. Mas por quê? -Indagou curioso, mas logo mudando sua postura ao notar o meu
desconforto com os questionamentos. -A-Ah, tudo bem... Eu entendo se você não se sentir a vontade para
me contar. É só que eu me preocupo com você, Sasuke, e queria poder te ajudar de alguma forma.
O bico magoado que se formou em meus lábios foi quase que involuntário. Eu odiava com todas as
minhas forças me recordar de todos os meus aniversários, mas nunca cheguei realmente ao ponto de
conversar sobre isso com alguém, nem mesmo com o Itachi, porque além de achar que ele não me
entenderia, eu também tinha uma certa vergonha desse assunto.
-H-Hm... Ei? -Naruto notou a maneira como eu me chateei de repente. Era chocante a forma como eu
ficava sensível perto do meu bebê, tanto que, desde que começamos a namorar, eu não conseguia mais
esconder nenhum sentimento e pensamento de si. -O que foi que aconteceu, Sasuke? Por que você ficou
tristinho? Eu falei alguma coisa errada?
-Não, bebê... -Respondi, já não conseguindo mais camuflar a tristeza que aguentei desde o momento
em que Itachi recordou-me sobre o meu aniversário. -Você não disse nada de errado.
Ele se ajeitou por cima de mim, ficando numa posição que facilitaria o nosso diálogo, além de poder
ter total acesso ao meu rosto e cada reação mínima vinda de minha parte.
-Sasuke... -Me olhou preocupado, acariciando atrás de minha nuca. -O que foi?
Minha testa se franziu em tristeza.
-Eu não gosto de lembrar do meu aniversário, me trás más recordações. -Revelei baixinho, me dando
conta de que aquela era a primeira vez que eu me abria em relação a isso com alguém. -Foram vários
fatores que me fizeram odiar essa data, sabe? Mas eu acho que o principal foi um dia em que o meu pai
planejou uma festa para mim e... Bem, deu tudo errado.
Naruto me ouvia atentamente, apenas assentindo com a cabeça com a intenção de me passar
confiança para que eu contasse-o.
-Eu nunca tive muitos amigos na escola, mas eu me lembro que, nessa época, se eu não me engano,
eu tinha por volta de uns doze anos, meu pai veio com uns papos de que já estava na hora de eu me
enturmar, e que eu deveria chamar alguns colegas da minha escola pra ir comemorar lá em casa. -A medida
que eu ia contanto, os fleches de memória daquela dia voltavam dolorosamente em minha mente. -Ele
insistiu tanto que eu acabei aceitando e deixando ele preparar uma festa pra mim.
-Uhum... -Murmurou interessado. -E aí?
-No final das contas, eu até que me animei um pouco, sabe? -Comentei chateado. A segurança que o
Naruto me passava para lhe contar qualquer coisa, era inexplicável. -Eu me lembro de ter ficado empolgado
com a ideia. Afinal, meu pai disse que também ia participar da minha festa junto com os meus colegas e,
naquela época, ele não tinha muito tempo para mim. O Fugaku só ligava pro trabalho ilegal dele.
-S-Sim, você já me contou essa parte. -Respondeu delicado. -O que mais?
Meu corpo inteiro se encolheu.
-Bom, ninguém apareceu... -Revelei em um sussurro quebrado. -Ninguém veio pra minha festa, nem
mesmo o meu pai que planejou.
Eu fiquei com muita vergonha em revela-ló o final de minha história. Eu sempre achei muito
humilhante contar esse evento para qualquer pessoa que fosse, porque além de ser um dos meus maiores
segredos, também foi o maior trauma que eu já sofri durante a minha pré-adolescência e que, de certa
forma, influenciou em minha personalidade mais fria e arredia naquela mesma época.
A única pessoa que ficou sabendo disso, além do meu pai, foi o Itachi, embora eu tivesse certeza
absoluta de que ele nem imaginava o quanto isso me atingiu e fez mal.
-Eu sei o que você deve estar pensando... -Retomei o assunto, sem coragem de olhá-lo diretamente.
Eu continuava constrangido, mas acima de qualquer coisa, incrivelmente magoado em relata-lo sobre o ódio
que eu supria pelo meu aniversário. -Eu, com os meus vinte anos na cara, afetado com uma festinha boba
de crianças... É ridículo, eu sei.
De relance, vi Naruto negar com a cabeça.
-N-Não, Sasuke... -Tocou na ponta de meu queixo, incentivando-me a ir de encontro aos seus olhos.
Sua feição era tomada por um misto de tristeza e carinho, se dando conta de que o mesmo bico chateado
permanecia ali comigo. -Não pense desse jeito, por favor. Não se culpe por ficar mal por conta isso, eu
entendo o quanto isso deve ter te machucado.
Aquilo era verdade. Naquela época, ter precisado fingir que não me importava com isso foi muito
difícil. No entanto, durante toda aquela semana que se passou, e alguns dos meus aniversários seguintes,
eu me recordo com clareza de me trancar no quarto para desabar e lamentar sobre tudo solitariamente.
-Você era só uma criança. -Me deu um selinho longo e carinhoso em meus lábios. -Eu sei o quanto
isso deve ter te marcado, mas os tempos são outros, sabe? Você não está mais na escola e muito menos
sozinho, Sasuke.
Juntei minha testa com a sua, permanecendo com a mesma expressão chorosa enquanto o escutava
falar. O Naruto nem sequer cogitava o quanto os seus conselhos e palavras me causavam um sentimento
de alívio, além de sempre me tirar da lama.
-E-Eu estou aqui com você. -Murmurou com um sorriso atencioso, beijando o biquinho que ainda
insistia em tomar conta de mim. -A gente pode fazer novas memórias, sabia disso? Você não precisa mais
odiar o seu aniversário desse jeito. Não só eu, como o resto dos meninos, queremos te ver feliz.
Meus lábios se tremelicaram em emoção. Eu não sabia se sorria com a declaração, ou se me
permitia deixar o choro guardado em peito durante anos, escapar por finalmente ter relevado o meu trauma
de infância a alguém.
-Amanhã vai ser legal. Eu prometo. -Naruto acariciou seu nariz ao meu, sorrindo com as bochechas
coradas. -Eu vou estar com você.
-Bebê... -Fechei meus olhos ao roçar o meu em reposta, nem sabendo ao certo a maneira como
respondê-lo após isso. O Naruto era um anjo e, como sempre, a minha salvação.
-H-Hm... Vem cá, me dá um abraço. -Pediu carinhosamente. Por já se encontrar em cima de mim, eu
só precisei que minhas mãos envolvessem a sua cintura e o meu rosto se escondesse de modo manhoso
na curvatura de seu pescoço. -Eu te amo muito, Sasuke.
-Eu te amo muito mais, meu bebê. -Beijei sua pele, sorrindo por ouvi-lo rir infantilmente pelas
cócegas. -Obrigado. Você é tudo pra mim.
Naruto afundou o rosto em minha cabeça.
-V-Você é o amor da minha vida. -Declarou com a voz abafada. -Conta comigo. Eu estou aqui para
tudo que você precisar. Sempre.
Em resposta, esfreguei, carinhosamente, a minha face contra o seu pescoço, dando incontáveis
selinhos seguidos naquela área como um agradecimento sincero por todo o cuidado que o meu bebê tinha
comigo.
Ninguém nunca me entendeu, aconselhou e se importou tanto comigo igual ao Naruto.
Já o loiro, assim como eu, passou a estalar beijos por todo o topo de minha cabeça, permitindo que
eu continuasse da mesma maneira em seu pescoço, até que tivesse coragem de avançar um pouco mais, e
passasse para a minha testa e bochechas.
Fechei meus olhos para desfrutar de seus selinhos, entreabrindo minha boca ao me dar conta da
textura molhadinha e macia que os lábios do meu bebê possuíam, mas que, para a minha surpresa,
seguiam lentamente na direção de meu pescoço.
Quando me dei conta de que Naruto pretendia me beijar naquela região, tombei minha cabeça para
lhe dar todo o acesso que desejasse ter a mim, mordendo meu lábio inferior ao sentir sua boquinha delicada
em contato com a minha pele, arrepiando cada pelo presente em meu corpo com a sensação.
Acariciei a sua cintura como um incentivo à continuar com aquele ritmo lento, já não conseguindo
mais prender os suspiros que escapavam sem querer de minha garganta. Era indescritivelmente gostoso
sentir os seus lábios rosados e úmidos descendo cada vez mais para baixo de mim, embora eu possuísse a
estranha sensação de que Naruto não estava levando aquilo tão maliciosamente, e sim algo mais inocente
e genuíno entre nós.
Eu logo comprovei a minha teoria.
Ao descer seus selinhos para meu peitoral, notei um sorriso meigo prender os seus lábios, o mesmo
que, geralmente, Naruto direcionava para mim com a intenção de ser carinhoso, e não para me provocar.
Apesar de saber exatamente que, pelo menos para o loiro, nada daquilo era algo tão erótico e
sensual quanto para mim, eu permiti que os seus beijos continuassem na mesma intensidade e descessem
até meus mamilos, tendo, a todo o momento, minhas mãos em contato com os seus quadris, subindo e
descendo naquela mesma área para lhe fazer um carinho e pedir por ainda mais contato.
Meu corpo se tornou inteiramente mole e arrepiado. A cada beijo estalado em meus mamilos, minha
cabeça se tombava de forma entregue no travesseiro, gemendo baixo com aquela sensação que o meu
bebê estava me proporcionando, mesmo que, no fundo, ele não fizesse a mais vaga ideia do quão bom
seus beijos estavam sendo para mim.
Por senti-lo descer cada vez mais, passando seus lábios lentamente pelo meu tórax e abdômen, eu
precisei erguer o meu pescoço para observá-lo, me apoiando com os cotovelos para checar até onde o meu
bebê pretendia chegar com isso, especialmente por estar bastante próximo de minha virilha e parado abaixo
de meu umbigo.
Eu estava muito duro. Minha ereção encontrava-se dolorosamente marcada e apertada por dentro da
calça, algo que, independente de seus beijos serem inocentes ou não, isso, com certeza, não passaria
despercebido por Naruto. Era a primeira vez que ele agia de modo tão confiante, mas que me deixasse tão
excitado e necessitado de alguém tipo de alívio.
Ele não demorou muito para perceber. O sorriso genuíno que antes tomava conta de seu rosto, foi
rapidamente tomado por uma feição surpreendida ao se dar conta de meu pênis marcado em sua frente.
Talvez Naruto estivesse se culpando desnecessariamente da forma sensual como havia me beijado, ou até
então, sentindo-se um depravado por ter me deixado com tanto tesão. Era besteira, é claro. Eu que fui o
culpado da história por ter deixado meus pensamentos e seus toques me invadirem de forma atrevida e
afervorada.
-Bebê... -Chamei preocupado, imaginando que talvez pudesse tê-lo deixado assustado ou
desconfortável, embora a minha voz estivesse em uma entonação bem mais rouca e entregue. -Me
desculpa por isso, por favor.
Eu nunca havia visto as suas bochechas tão coradas. Naruto, claramente, não sabia como agir, o que
me falar, ou se deveria se mexer e se distanciar da minha ereção. É claro que eu nunca falaria uma coisa
dessas, mas o meu desejo efetivo era que ele continuasse com os seus beijos e fosse um pouco mais para
baixo.
-Me perdoa... -Pedi novamente, acariciando o seu cabelo enquanto tentava regular minha respiração.
Tê-lo pertinho de minha virilha estava dificultando bastante no meu esforço em espantar os meus
pensamentos impuros. -Você não precisa fazer isso, sim?
Naruto mordeu seu lábio de modo inseguro e pensativo, talvez continuando a refletir na forma como
me beijou e se dando conta de que nem todos possuíam a mesma inocência e pureza que a sua. Eu
confesso que, ao mesmo tempo em que estava envergonhado por tê-lo deixado me ver assim, eu torcia
para que o loiro decidisse fazer algo a respeito.
-E-Eu... -Olhou timidamente em minha direção, corando de forma intensa ao notar a minha
expectativa e ansiedade em relação a sua resposta. -Eu acho que quero tentar...
Um gemido baixo rasgou a minha garganta.
O meu bebê havia se arriscado a experimentar novas coisas comigo. Eu, definitivamente, não o
culparia ou me chatearia caso ele negasse e não se sentisse pronto, até porque, a única experiência que
ele já teve parecida com essa, não foi nada agradável e confortável. Talvez a intenção de Naruto, além de
querer me fazer bem, é eliminar qualquer vestígio de memória envolvendo o seu trauma do passado.
Estando comigo, as coisas, com certeza, seriam bem diferentes. Eu estou ali para lhe tratar com
amor e cuidado, e não para força-lo a nada.
-Tudo bem... -Concordei meio fora de mim, retirando parte de seus fios da frente de seu rostinho
angelical, querendo ter total acesso a si. -Vai no seu tempo, bebê.
Eu não o apressaria de forma alguma. Além de estar ciente sobre sua timidez, eu também sabia bem
sobre a sua inexperiência. Apenas com a intenção de orientá-lo a dar os seus primeiros passos, tomei a
liberdade de colocar o meu membro para fora, retirando de modo lento para não assusta-ló ou lhe
pressionar.
Eu estava extremamente endurecido, pesado e molhado. A excitação do momento me deixava
ansioso e desesperado por algum tipo alívio, mas eu tinha ciência de que as coisas não funcionaram no
meu tempo, e sim na velocidade que o meu bebê desejasse.
Naruto me olhou envergonhado e inseguro.
-Sem pressa... -Reforcei baixinho. -Leva o tempo que precisar, sim?
Ele me respondeu com um aceno tímido.
Não foi necessário mais nenhum segundo de espera. De forma curiosa e inexperiente, suas mãos
foram de contato com a minha ereção, tocando na base ao aproximar sua face com os seus olhinhos baixos
e vergonhosos.
Eu gemi rouco com o primeiro contato de sua boca, sentindo-a roçar levemente em minha glande.
Sua língua foi a primeira a agir, passando de forma lenta pela minha fenda ao retirar o líquido viscoso que
vazava dali, arrepiando todo o meu corpo com aquela sensação que a muito tempo eu não sentia.
Puxei o ar pelos dentes, fazendo um barulho extremamente similar ao de uma cobra, ao mesmo
tempo em que sentia seus lábios envolverem a minha ereção, sugando o topo com uma delicadeza que,
sem dúvidas, se dava pelo seu medo de me machucar ou fazer algo de errado comigo.
-Hmmm... Assim mesmo, bebê. -Gemi baixo, embrenhando-me entre seus fios ao sentir sua boca
descer delicadamente pelo restante da minha extensão. A minha intenção era apenas acompanhar o seu
ritmo, e não força-lo.
Era inexplicavelmente gostoso sentir os seus lábios inexperientes subindo e descendo pelo meu
membro, mesmo que, de vez em quando, seus dentes se raspassem sem querer em minha pele. Mas eu,
sinceramente, não poderia me importar menos. Aquela cena era maravilhosa, especialmente pelo meu bebê
ser do tipo de pessoa que fechava os olhos ao me chupar, como se fosse ele quem estivesse recebendo e
sentindo o prazer no meu lugar.
A cada vez em que minhas unhas arranhavam seu coro cabeludo, isso parecia incentiva-ló a dar o
seu melhor, botando em prática os movimentos que eu mesmo já demonstrei em si anteriormente. Naruto
parecia ter se dado conta de que a minha glande era a parte mais sensível e prazeirosa de ser estimulada,
por essa razão, sempre me chupava com mais vontade e confiança naquele pontinho, até que tivesse
certeza de que meu corpo estava trêmulo e implorando por mais contato.
-Ah, Naruto... -Meu peito subia e descia acelerado, enquanto meu rosto era totalmente tomado por
uma coloração avermelhada em consequência ao prazer do momento, mantendo-se soterrado no
travesseiro para abafar os meus gemidos. Eu tentava a todo o custo abrir mais as minhas pernas para lhe
dar mais acesso a mim e buscar por mais contato, mas infelizmente, a minha calça me impedia. -Continua,
por favor, eu to quase...
Ele não precisou de muito mais tempo me chupando. Só foi necessário mais cinco segundos sendo
tocado pelo loiro para que meu corpo inteiro entrasse em um transe maravilhoso e atingisse o seu ápice.
Enquanto sentia meu líquido jorrar fortemente em sua garganta, meus olhos permaneceram fechados
com força, aproveitando ao máximo aquela sensação gostosa e indescritível que o meu bebê causou por
todo o meu ser.
Tentei controlar meus gemidos e batimentos cardíacos, ficando com as pernas extremamente
trêmulas ao reparar que Naruto continuava a me chupar, talvez por não saber ao certo a hora de parar, ou
então com a intenção de engolir o restante do líquido que soltei durante o meu orgasmo.
Por estar sensível e acabado demais, decidi que o melhor a se fazer, seria distanciar a sua boca com
delicadeza, já não suportando ter mais nenhum tipo de toque naquela região.
O meu bebê havia me deixado exausto.
Acariciei seus fios loirinhos com os meus olhos fechados e a testa franzida pelo cansaço, ficando,
simplesmente, paralisado por cima do colchão, sem forças para me movimentar.
O loiro, ao perceber o estado em que havia me deixado, tomou a liberdade de erguer as minhas
calças, cuidando de mim da mesma forma em que eu fazia quando era ele quem recebia a maior onda de
prazer entre nós.
Deixei com que Naruto me arrumasse na cama da maneira que achasse certa, ainda sem conseguir
acreditar na forma como ele me deixou complemente acabado em sua primeira experiência saudável com o
sexo oral.
Após isso, senti o colchão se afundar levemente ao meu lado, dando a entender que o meu bebê
estaria se deitando comigo e pedindo para que eu o abraçasse de volta ao repousar a sua mãozinha em
meu peito, o qual ainda subia e descia ofegantemente.
Abri meus olhos com o que ainda restava de minha energia, puxando-o lentamente pela cintura para
que pudéssemos juntar os nossos corpos em um abraço carinhoso. Enquanto Naruto acariciava meu
cabelo, eu fiquei a fazer o mesmo na altura de seu quadril, já sentindo o meu sono voltar a se manifestar.
-V-Você está bem, Sasuke? -Perguntou baixinho.
-Uhum, eu estou ótimo. -Ri sonolento. A verdade era que eu estava muito mais zen e relaxado se
comparado a minutos atrás, tanto que, até mesmo a minha dor de cabeça, havia simplesmente
desaparecido. -Obrigado, bebê. Eu amo muito você.
O loiro beijou delicadamente a minha testa.
-E-Eu te amo muito, muito mesmo.
Honestamente, eu não imaginava que precisasse tanto do toque, do carinho e da atenção do meu
bebê para passar por cima de minha ressaca e superar o meu trauma em relação ao dia seguinte. Aquele
era, definitivamente, mais um tópico na minha lista de vezes em que o Naruto me salvou.
Itachi On

Alguns minutos já haviam se passado desde que decidimos entrar de baixo dos chuveiros. O
sanitário, assim como geralmente ocorria quando era eu quem estava o frequentando, encontrava-se quase
cem por cento vazio. Apenas Deidara e Gaara, ou seja, os garotos que eu mesmo autorizei a me
acompanharem, estavam me fazendo companhia.
Ninguém ao lado de fora se atrevia a entrar.
Embora eu não fizesse mais parte do meu antigo grupo a um tempo, todos estavam cientes de que
eu não aprovava a ideia de partilhar o mesmo ambiente com detentos aleatórios e desconhecidos por mim.
Aquela era a minha hora de tomar banho.
Ficar sozinho foi algo que eu sempre preferi e optei, especialmente em momentos pessoais como
exercer minhas higienes pessoais e me levar. No entanto, pelo menos naquele caso, até que estava se
tornando algo agradável e divertido ter a companhia dos outros dois garotos, mas em especial, a de
Deidara.
Ambos eram pessoas engraças, além de que, eu e o ruivo acabamos nos aproximando com muita
facilidade, tanto por ele já ser amigo do meu namorado a um tempo, quanto por, surpreendentemente,
termos algumas coisas aleatórias e estranhas em comum, como por exemplo, gêneros literários favorito, e o
fato de odiarmos tomar banho diariamente.
Eu precisava admitir que era legal fazer novas amizades e expandir o meu círculo de amigos.
-Argh, que nojo! -Gaara reclamou do outro lado do banheiro. Pelo fato de eu e Deidara estarmos,
oficialmente, namorando, o ruivo achou melhor nos dar certa “privacidade” e utilizar os chuveiros do lado
oposto a nós, além de ter ficado de costas, e com a face inteiramente virada para a parede. -Eu vou vomitar!
Ah, que coisa mais escrota!
Virei-me curiosamente na sua direção, abrindo somente um de meus olhos para evitar que o
shampoo escorregasse por todo o meu rosto. Deidara, por sua vez, nem se deu o trabalho de checar seu
amigo, já habituado aos dramas e anúncios aleatórios que o mesmo costumava fazer em voz alta.
-Qual é o problema? -Perguntei descontraído.
-Tem gozo na parede! -Exclamou indignando, apontando para o azulejo com uma feição
completamente tomada pelo nojo. Aquilo era realmente verdade. Não só do seu lado do banheiro, como
também na parede em frente ao meu chuveiro, havia uma quantidade absurda de um líquido branco e
viscoso. -Qual é a dificuldade de ejacular no ralo, me diz?!
-É, realmente... -Ri levemente enojado. Para falar a verdade, eu já estava tão habituado aquela
situação que nada mais me abalava. -Eu só fico me perguntando como existe gente que consegue se
masturbar com outras por perto.
Deidara se intrometeu com um riso sarcástico.
-Pergunta pro Orochimaru. -Respondeu em desdém. Assim como eu, o loiro também se encontrava
com o shampoo em seu cabelo, retirando-o habilidosamente por baixo da água. Pelo fato de estar no
chuveiro ao meu lado, ficava mais fácil para que eu pudesse admira-ló em silêncio, e aproveitar o fato de
tê-lo inteiramente nu a centímetros de mim. -Ele é um especialista nessa parte. Eu acho que já vi o pinto
dele umas vinte vezes!
Meu cenho se franziu em completo desgosto. Embora eu soubesse que o meu namorado nunca daria
nenhum tipo de moral ou atenção a um homem velho e asqueroso como aquele, ainda me batia um certo
ciúmes em escutar tal afirmação.
-Aquele escroto já te mostrou o pau dele? -Indaguei sombrio e irritado, deixando de levar o meu
cabelo para que pudesse fita-ló.
O loiro riu num misto de diversão e descrença.
-O estranho seria se ele não tivesse me mostrado, Itachi. -Terminou de retirar o restante do produto
de seus fios. -Vai me dizer que ele nunca mostrou pra você...
Fiz uma careta extremamente enojada.
-Já, ele já mostrou, infelizmente.
-Viu só? -Murmurou descontraído. Éramos tão habituados com assédios, crimes e tudo do mais ilegal
possível, que conversar sobre esse assunto era algo normalizado entre nós. -Ele já mostrou pra geral, até
mesmo pro Gaara.
-Verdade! -Concordou do outro lado.
-Foi muito engraçado. -Deidara virou-se para trás, como se dessa forma quisesse implicar e
relembrar o seu amigo do dia exato em que ele virou uma vítima do Orochimaru. -O Gaara entrou em
choque e quase chorou, coitado.
O ruivo fingiu estar vomitando.
-Foi horrível, tá bom? -Sua voz soou falha e perturbada. -É claro que eu quase chorei! Eu não sou
igual vocês dois que conseguem responder a pessoa e reagir agressivamente... No meu caso, eu fiquei sem
saber o que fazer! Aquele morfético apareceu do nada, com as calças abaixadas, enquanto eu estava
regando as minhas plantinhas no jardim!
O loiro se virou irritado na direção do outro.
-Quem foi que deixou você usar os meus xingamentos, Gaara? -Implicou grosseiramente.
-“Morfético” é o meu bordão, caralho, arruma outro pra você!
-Seu bordão? -Riu ironicamente. -Você fica falando isso vinte quatro horas por dia no nosso ouvido e
não quer que a gente repita?!
-É verdade, chefe... -Entrei na conversa, ao mesmo tempo em que pegava meu sabonete para poder
me ensaboar. -Ninguém mais aguenta você falando isso. Muda um pouco o disco, arruma outros
xingamentos, sabe?
-Eu não vou arrumar porra nenhum! -Esguichou um pouco de shampoo na minha direção, o que não
me prejudicou em nada, visto que estávamos, literalmente, pelados e encharcados. -Bando de morféticos!
Neguei divertido com a cabeça.
Por mais aleatório que fossem os xingamentos utilizados pelo loiro, eu acho que sentiria falta caso
um dia ele parasse de usá-los ou arranjasse outros.
Prosseguimos o nosso banho em silêncio.
Cada um de nós estava focado em sua própria higiene pessoal. Enquanto eu o loiro penteávamos
nossos cabelos, fazendo de tudo para tirarmos os nós que aquele shampoo ruim e barato deixava em
nossos fios, Gaara era o mais descontraído de todos, utilizando uma bucha para esfregar a sua axila, ao
mesmo tempo em que cantarolava uma música aleatória e engraçada.
Em um momento qualquer, quando já estavam todos dando um fim à água quente da prisão e
utilizando-a sem moderação alguma, um barulho alto e alastrante pode ser escutado do lado de fora,
indicando que algo, ou alguém, pretendia adentrar o sanitário, mesmo sabendo que aquela era a minha vez
de frequenta-ló.
De repente, a porta foi aberta com violência.
Meu corpo se virou às pressas com o susto, sendo acompanhado dos dois outros garotos, os quais
encontravam-se tão assustados e surpreendidos do que eu. Não demorou muito para que conseguíssemos
identificar o indivíduo parado na entrada da porta.
Era o Obito.
-Safado! -Deidara foi o primeiro a reagir, olhando para o carcereiro com indignação e fúria,
sentindo-se invadido e “violado” por estarmos todos expostos, tanto a ele, quanto aos detentos que
passavam do lado de fora. -Qual é o seu problema, cara?! ‘Tá todo mundo, literalmente, pelado aqui dentro,
caralho!
O moreno cruzou os braços com uma feição tediosa e neutral, olhando em minha direção como se
esperasse por justificativas. Era claro que, uma hora ou outra, nossos caminhos se cruzariam aqui dentro.
Não daria para eu me esconder para sempre após ter “quebrado a sua confiança” e falado de sua vida
pessoal para o Deidara, algo que, desde o começo, combinamos de manter no sigilo total.
-Tarado de merda! -O loiro prosseguiu com os xingamentos, fechando o registro do chuveiro
juntamente comigo e Gaara, que apenas prensou seus lábios para segurar a risada diante da situação em
que nos encontrávamos. -Assediador!
-Chega, Deidara. -Obito cortou-o seriamente, parecendo estar bastante impaciente em relação a
demora que teve para me encontrar dentro da prisão, visto que eu estava, literalmente, fugindo de si. -Eu já
vi vocês três pelados um milhão de vezes, e você sabe bem disso. Eu tenho a autorização para entrar aqui
no banheiro quando eu bem entender.
-Tudo bem, mas você não precisava chegar fazendo esse escândalo todo, Obito. -Argumentei na
maior calmaria do mundo, amarrando uma toalha na minha cintura, enquanto fazia papel de desentendido.
-A gente quase morreu do coração.
O moreno estreitou os olhos na minha direção.
-Eu não fiz escândalo nenhum, Itachi. -Retrucou numa tranquilidade bem maior que a minha,
aparentemente impressionado com a minha cara de pau em fingir que nada havia acontecido. -Quem gritou
aqui foi o Deidara, como sempre. Eu estava apenas fazendo o meu trabalho e te procurando.
-Certo, aqui estou eu, semi-nu e a sua disposição. -Apontei para mim mesmo, tirando onda da
situação. -O que o senhor deseja?
-Sem essa, por favor. -Cruzou os braços seriamente. -Se você pensa que eu não sei que você anda
me evitando e se escondendo embaixo das cobertas, além de botar o coitado do seu irmão pra mentir por
conta do seu erro, você está muito enganado, Itachi.
Eu fiquei completamente sem falas. Não só eu, como os meninos também, os quais não se
conformaram em saber que Obito já estava ciente do meu esconderijo desde o começo.
-Venha logo, eu preciso falar com você. -Abriu a porta atrás de si para que eu o seguisse.
-Eu posso pelo menos me trocar? -Perguntei grosseiramente. -Ou você quer que eu saia desfilando
de toalha no meio de todo mundo?
-Seja breve. -Virou de costas.
Esperei até que a porta se fechasse mais uma vez para olhar em direção ao Deidara. Ele já estava
me fitando de volta e, estranhamente, possuía um ar meio chateado e arrependido.
-Foi mal. -Sussurrou sem que Gaara pudesse nos escutar. -Ele está bravo por conta do que eu deixei
escapar, né?
-É, eu acho que sim. -Dei de ombros. Eu nem estava tão chateado assim com o Deidara, embora ele
tivesse me arranjado um baita problema com o Obito. -Eu vou resolver isso logo de uma vez, depois eu te
conto.
-Certo, eu vou ficar te esperando.
Nos aproximamos para trocarmos um selinho, mas que nada mais foi do que um pequeno “boa sorte”
de sua parte. Em seguida, me dirigi até meu uniforme pendurado em um dos chuveiros, colocando-o de
volta ao meu corpo com uma lentidão desanimadora, fazendo de tudo para ir o mais devagar possível e
adiar o papo tedioso e desinteressante que eu, sem duvidas alguma, teria com o Obito.
Caminhei em direção a porta com as mãos no bolso, lançando um sorriso de despedida para Gaara,
sabendo que demoraria para voltar e encontrá-los novamente. As minhas conversas com o meu primo,
geralmente, duravam de quarenta minutos a uma hora, dependendo muito do assunto entre nós.
Como eu imaginei, o carcereiro ainda estava ao lado de fora, mantendo-se com as costas apoiadas
na parede enquanto me esperava com o que restava de sua paciência. Com apenas uma troca de olhar
entre nós, meneei com a cabeça para que ele me acompanhasse a um lugar mais reservado, o que, nada
mais era, do que o quartinho de limpeza que costumávamos ter a maioria de nossos encontros às
escondidas.
Entramos um seguido do outro, optando por acendermos a luz para que o clima ali dentro não ficasse
estranho e desconfortável. Eu não gostava de me encontrar naquele lugar minúsculo e apertado, mas era
aonde menos levantava suspeitas entre os detentos.
-Olha, eu já sei o que você vai falar... -Lancei tediosamente, apoiando-me de forma desleixada na
única parede presente atrás de mim. Eu mal cabia de pé naquele cubículo. -E eu sinto muito, falou? Me
desculpa por ter deixado escapar sobre a sua vida pessoal pro Deidara, mas eu te garanto que ele não vai
abrir a boca pra ninguém.
Obito negou com a cabeça.
-Eu não te chamei aqui pra isso, Itachi.
Meu cenho se franziu curiosamente.
-Então você me chamou por quê?
-Era para nos termos resolvido isso ontem, mas eu não pude conversar com você por conta desse
sua ideia absurda de roubar bebida do estoque da cozinha. -Relembrou com um ar tedioso e despontado.
-A gente precisa conversar sobre o plano.
Tanto minha postura, quanto o meu olhar, foram rapidamente alterados. Aquele assunto era
extremamente sério e importante para nós dois, além de que, eu precisava estar cem por cento focado para
discutirmos todos mínimos os detalhes que tanto planejamos.
-Certo. -Cruzei meus braços. -O que você tem para me dizer? Alguma novidade?
-Várias, na verdade. -Sorriu de lado. -E vários outros problemas também, Itachi. Parece que cada vez
que a gente resolve um, outros cinco aparecem pra dificultar a nossa vida.
-Qual é o problema dessa vez?
-O problema é que estamos planejando essa fuga a mais de doze meses, Itachi. Eu você e o seu
irmão, se lembra? -Arqueou a sobrancelha com um olhar sugestionável. -Desde que você foi transferido
para cá com o Sasuke, o plano só girava em torno de nós três... Acontece que agora temos mais duas
pessoas em jogo para nos preocuparmos, não é mesmo?
Olhei reflexivamente na sua direção.
-O Deidara e o Naruto... -Pensei alto.
-Exatamente. -Concordou positivo. -E te conhecendo bem como eu conheço, eu não acho que você
vá querer sair daqui sem o seu namorado, estou correto?
Meus ombros se tencionaram nervosamente.
-Assim como o Sasuke não vai querer sair desse inferno de lugar sem o Naruto. -Conclui em voz alta,
acabando por soltar um riso de tensão com os meus próprios pensamentos. -Mas é óbvio que ele não vai
querer... Eu sei o irmão que eu tenho, e também sei que ele vive pelo Naruto. É capaz dele preferir ficar aqui
com o namorado dele, do que fugir comigo.
Obito assentiu com a cabeça.
-É isso que eu estou querendo te dizer. -Me olhou com certa preocupação. -Temos um problema,
Itachi. Estava tudo programado para fugirmos alguns dias após o aniversário de vinte anos do Sasuke,
lembra? Mas agora, com esses dois no nosso caminho, eu realmente não sei mais o que vai acontecer.
Fechei os meus olhos com força, ao mesmo tempo em que apertava as minhas têmporas como se,
dessa maneira, pudesse ajudar o meu cérebro a trabalhar melhor e encontrar uma solução plausível para o
nosso problema.
Aquilo era extremamente preocupante. Desde o primeiro dia em que cheguei no presídio juntamente
com o Sasuke, a minha vida foi resumida nesse maldito plano. O motivo de eu precisar marcar tantas
reuniões com o Obito, sempre foi para planejar uma fuga perfeita e infalível.
Embora eu houvesse levado todo esse estresse e peso nas costas durante meses, eu nunca deixei
ninguém saber sobre isso, nem mesmo o meu próprio irmão. Tanto a minha, quanto a preferência do
moreno, era de deixarmos tudo no sigilo absoluto, pelo menos até que tivéssemos certeza de que o plano
estivesse perfeitamente bolado e arquitetado.
Acontece que, pelo menos até algumas semanas atrás, nós dois tínhamos tudo ao nosso favor para
fugirmos. Desde o dia da semana em que partiríamos, até a identidade falsa que o carcereiro conseguiu,
tanto para mim, quanto para o Sasuke. Além disso, assim como foi solicitado por Obito, eu também já havia
o revelado a localização exata do dinheiro que serviria como o seu pagamento por me ajudar durante todo
esse tempo.
Mesmo sendo da família Uchiha, Obito deixou claro que também gostaria de ser recompensado pela
fuga, porque além de ter, literalmente, se infiltrado na polícia como um favor a nós, ele também arriscaria
ser preso ajudando dois criminosos a fugirem.
O dinheiro foi a parte mais fácil de todas.
Após a morte de meu pai, grande parte dos lucros que acumulou com o seu trabalho sujo e ilegal, foi
levado pela polícia. No entanto, como qualquer outra pessoa precavida, Fugaku guardou uma pequena
parcela de sua “herança” e deixou-a escondida em algumas regiões da cidade para que, assim que eu
saísse da prisão, pudesse utilizá-la junto com o meu irmão, e recomeçar a nossa vida.
O único diferencial de seu plano, era que eu investiria o dinheiro deixado para mim em uma fuga, e
não na minha vida depois que ambos deixássemos a penitenciária. Estava fora de cogitação esperar mais
vinte anos dentro desse inferno de lugar.
Caso eu resolvesse cumprir a minha pena legalmente, sairia da prisão por volta de meus quarenta
anos de idade, algo que, pelo menos para mim, está fora de cogitação.
Quando mais cedo eu saísse, melhor seria.
O outro problema, mas que, em minha opinião, era o mais sério de todos, foi a forma como eu me
reaproximei do Deidara. Após terminarmos o nosso relacionamento a anos atrás, eu prometi a mim mesmo
que não deixaria mais nenhum sentimento me atrapalhar ou confundir o meu plano de fuga.
Eu precisava estar cem por cento focado a ele e, por essa razão, também precisei ser muito duro e
insensível com o Sasuke no começo de tudo, inclusive para impedi-lo de se aproximar do Naruto.
Ele sofreria demais na hora deixar a prisão e, consequentemente, o seu namorado. No entanto,
agora que eu mesmo estou junto com o Deidara novamente, não estava em nenhum de meus planos fugir
desse lugar sem ele, assim como o meu irmão, com certeza, não pensaria duas vezes em permanecer aqui
pelo Naruto.
A fuga que antes arquitetamos para somente três pessoas, precisaria ser urgentemente adaptada
para mais duas. O Obito estava certo quando disso que eu e o meu irmão nos recusaríamos a deixar a
prisão sem o Naruto e o Deidara. Eu precisava do meu namorado comigo, caso contrário, nunca conseguiria
viver com a cabeça totalmente fora desse lugar.
-Você acha que consegue mais duas identidades falsas? Uma para o Naruto e outra pro Deidara?
-Perguntei após minutos de silêncio e reflexão sobre o plano.
-Eu realmente não sei, Itachi... -Esfregou o próprio rosto. -Foi bem difícil de conseguir, eu precisei
dirigir até outra cidade. Nós teríamos que esperar mais tempo, entende?
-Ótimo, melhor ainda. -Declarei distenso. -Eu vou tirar esse tempo para contar sobre a fuga para o
Sasuke. Eu acho que já está na hora dele saber sobre tudo.
-Isso. -Assentiu com a cabeça. -Fala com ele, explica a situação e depois a gente volta a conversar,
beleza?
-Você acha melhor contar pro Naruto e o Deidara também? -Questionei preocupado.
-Nós nem sabe se eles realmente vão topar fugir com a gente, Itachi. -Me olhou seriamente. -Você
acha mesmo que o Naruto faria uma coisa dessas? Seja sincero...
Eu tirei um tempo para pensar.
-Sim, eu acho. -Respondi convicto. -O Naruto é muito ligado ao Sasuke. Além do mais, ele e o
Deidara são irmãos, esqueceu? Depois que a mãe dele morreu, eu acho que ele não tem mais nada a
perder, você não acha?
-É, eu acho que sim... -Obito deu de ombros. -De qualquer forma, conte para o Sasuke no máximo
até amanhã. Eu vou tentar conseguir as identidades o mais breve possível. Depois disso, nós dois
reavaliaremos o plano juntos.
-Entendi. Vai dar tudo certo. -Para falar a verdade, eu falei bem mais para mim mesmo do que para
ele. -A gente vai conseguir adaptar o plano e colocar o Deidara e o Naruto no meio dele. Você vai ver.
-Eu espero que você esteja certo.

Capítulo 29 - Feliz aniversário, Sasuke

Sasuke On

Um calor leve e reconfortante tomava conta de minha pele. O sol da manhã, embora nunca fosse
bem recebido por mim, encontrava-se esquisitamente agradável, do tipo que me fazia suspirar mais
entregue e relaxar todo o meu corpo no ar “livre” do pátio aberto.
Por conter minha cabeça repousada sobre as coxas do meu bebê, ficava inexplicavelmente mais
prazeiroso desfrutar do clima morno que os raios solares nos proporcionavam, enquanto um afago delicado
era sentido por mim entre os meus fios negros e suados.
Antes mesmo de tirarmos um tempo para sentar e descansar, eu havia pedido, mais uma vez, ao
Naruto que me ensinasse os movimentos necessários para que pudesse executar uma “estrelinha” como a
sua.
Embora, dessa vez, eu houvesse obtido sucesso após umas trinta tentativas falhas, eu sentia como
se, na percepção do loiro, havia sido algo bastante cansativo ter que repetir os mesmos passos milhares de
vezes até que eu os decorasse, além de precisar me assistir dando várias e várias estrelas como uma
comemoração por, finalmente, ter conseguido o que eu tanto desejava.
De qualquer forma, eu estava orgulhoso de mim mesmo após tanto esforço, por mais que, dar uma
estrela, pudesse ser considerado algo irrelevante e infantil para muitos.
-Nossa, que dor nas costas. -Comentei de modo sofrido e aleatório, fazendo uma careta ao tentar
arrumar a minha postura por cima do banco. Aparentemente, todo aquele esforço desnecessário, e sem
nenhuma espécie de alongamento com antecedência, prejudicou muito a minha coluna. -Merda...
Naruto riu baixinho, arrumando minha franja para ganhar total acesso ao meu rosto.
-H-Hm... Eu avisei que não precisava de tanta pressa para aprender. -Sua voz soou soalha e
carinhosa, como sempre. -Agora vai ficar meio dolorido mesmo. Quer ir lá na enfermaria?
-Não, não precisa. -Neguei sorridente. Por mais que tenhamos trocado de enfermeiro, ainda era raro
que os remédios indicados pelo Guy fizessem efeito no meu corpo. -Passa a minha garrafinha, bebê?
Ao murmurar um “espera um pouco”, o loiro se inclinou para alcançar o objeto, dando um gole longo
e afobado sem pedir por uma permissão minha com antecedência. Ambos estávamos, visivelmente,
sobrecarregados, além de já termos chegado à conclusão de que exercícios não eram o nosso forte.
-Ei, deixa um pouquinho pra mim. -Cutuquei a sua cinturinha, sorrindo carinhoso quando o mesmo se
engasgou por conta das cócegas. -Eu to com uma baita preguiça de ir até o bebedouro.
-D-Desculpa... -Secou a própria boca com a manga do uniforme, devolvendo a garrafinha para mim.
-Eu também estou com preguiça.
Ri ao levar o bico da garrafa aos meus lábios.
-A gente tem preguiça de tudo, já reparou? -Bebi o restante do líquido de uma vez só, suspirando em
completo alívio por finalmente estar me refrescado de alguma maneira.
-Sim, eu já reparei. -Sorriu levemente. -É meio ruim ter preguiça de tudo, mas às vezes eu não
consigo evitar. Esse lugar me dá cansaço.
Assenti de modo compreensível.
-Eu também penso assim. -Declarei com sinceridade, devolvendo a garrafa para si. Reparei que o
meu bebê ainda tentou dar um último gole, mas ao notar que estava vazia, inflou as bochechas de forma
emburrada. -Teve uma vez, só que isso foi a muito tempo a trás, eu li em um livro que dizia que namorar te
deixa uma pessoa bem mais preguiçosa. Você sabia disso, bebê?
Naruto me fitou de maneira curiosa.
-É sério? -Tombou sua cabeça para o lado, abrindo um sorriso surpreendido quando lhe respondi
com um simples “aham”. -Bom, isso explica muita coisa.
Soltei uma risada divertida.
-Pois é. -Estalei um beijo na sua coxa. -Eu acho que sempre fui meio preguiçoso, mas depois que
você apareceu, ficou mil vezes pior.
-H-Hm... Eu sinto o mesmo. -Concordou meigamente, correspondendo ao meu pequeno selinho
quando decidi levantar o pescoço para que pudéssemos juntar os nossos lábios. -Isso foi tudo culpa sua,
Sasuke.
Fiz um barulho para me mostrar ofendido.
-A culpa foi sua, bebê, não minha. -Retruquei divertidamente. -Quem foi que mandou você chegar
todo lindo nessa prisão e roubar o meu coração desse jeito, hm?
Naruto corou levemente.
-E-Eu digo o mesmo de você. -Acariciou os meus fios, permanecendo com um sorriso tímido e
amoroso. -Quem mandou você ter esse rostinho bonito e me deixar apaixonado?
Eu senti meu corpo inteiro se derreter.
Por mais que já tenha repetido incontáveis vezes, uma pequena parte de mim ainda não
compreendia o motivo de Naruto ter escolhido ficar comigo, principalmente após todas as vezes em que lhe
tratei mal e o fiz sofrer.
Eu vou carregar essa culpa para sempre.
-H-Hm, Sasuke? -Me chamou após um tempo.
-Oi, bebê?
-Como você está se sentindo hoje? -Indagou com uma certa preocupação. -Digo, tem algum
pensamento te incomodando e que você gostaria de compartilhar comigo?
Demorou um pouco até que eu assimilasse aquela pergunta tão repentina vinda de Naruto. Para falar
a verdade, eu estava quase me esquecendo de um detalhe consideravelmente “importante” do meu dia.
Era o meu aniversário.
Eu tinha, oficialmente, vinte anos de idade.
Por não gostar nenhum pouco de ficar mais velho e, consequentemente, não curtir receber parabéns
ou comemorações das pessoas ao meu redor, Naruto pareceu compreender o meu lado e se contentar
apenas em me dar um “feliz aniversário” assim que acordamos, além de, é claro, ter me enchido de beijos,
carinho, selinhos e abraços do jeitinho que eu mais amava receber de si.
Além disso, o meu bebê me surpreendeu com um presente que, apesar de ter deixado claro que não
era grande coisa, me fez ficar extremante emocionado. Por não estar nada habituado com tanta atenção e
tantos mimos no dia do meu aniversário, ter recebido um desenho feito à mão de Naruto, o qual retratava,
realisticamente, uma imagem minha segurando uma bola de basquete na mão (o meu esporte favorito) e,
surpreendentemente, sem nenhum tipo de pano cobrindo o meu tronco, pois segundo ele, era para ser “o
mais real possível”, me deixou à beira de minhas lágrimas.
Aquele era, sem sombra de dúvidas, um dos melhores presentes que eu já havia recebido durante os
meus vinte anos de vida, por mais “simples” que pudesse ser. Mas, tirando o Naruto, uma pessoa que
sempre me presenteava em todos os meus aniversários, era o meu irmão, embora eu estivesse um pouco
surpreso com o fato de não tê-lo visto desde o minuto em que acordei.
Eu esperava que Itachi fosse o primeiro de todos a vir me dar parabéns, até porque, além do fato de,
por alguma razão desconhecida, gostar muito dos meus aniversários, ele também tem o costume de fazer
algumas brincadeiras sem graças comigo, como por exemplo, me acordar com um balde de água fria, ou
entrar no meu quarto cantarolando sempre a mesma frase: “Parabéns pela nova idade, Sasuke. A partir de
agora evite frequentar os museus, as pessoas vão te confundir com algum tipo de antiguidade!”.
Era no mínimo esquisito que ele não tenha dado sinal de vida a manhã inteira, assim como o Deidara
também. O loiro, em especial, sempre fora uma pessoa muito fácil de ser localizada aqui dentro na prisão,
tanto por ser “popular” entre os detentos, quanto pelo fato de armar uma confusão por onde passasse.
Aqueles dois estavam armando alguma coisa, eu podia sentir.
-S-Sasuke, ei? -Naruto me chamou com uma risadinha, abanando sua mão em frente ao meu rosto
para chamar a minha atenção. -Eu te fiz uma pergunta... Você está bem?
-Me desculpa, bebê. -Chacoalhei a cabeça. -Eu estou bem sim. Por um momento, eu até me esqueci
que hoje era o meu aniversário.
Ele me fitou levemente desconfiado.
-Tem certeza? -Levou a minha franja para trás. -Não tem nada te incomodando mesmo?
Eu sorri com carinho.
-Nadinha. -Respondi sincero. Inicialmente, eu realmente pensei que fosse me chatear de alguma
forma por conta dessa data, assim como em todos os outros anos. No entanto, pelo menos naquele período
da manhã, até que o meu aniversário estava sendo agradável. -Eu estou bem.
Em resposta, o loiro abriu um sorriso doce e aliviado, baixando seu pescoço para estalar um beijo
delicado na minha testa. Soltei um riso baixinho e apaixonado, segurando atrás da sua nuca para impedi-lo
de se distanciar de mim, ao mesmo tempo em que trazia meu rosto para pertinho do seu.
Nos beijamos naquela mesma posição, por mais complicada e atrapalhada que pudesse ser.
Confesso que estávamos um tanto quanto desgovernados, mas tudo ficava ainda mais gostoso e arrepiante
pelo fato de estarmos trocando sorrisos em meio ao nosso beijo.
-Você é lindo demais, bebê... -Elogiei-o de forma hipnotizada, abrindo meus olhos entre alguns de
nossos selinhos para que pudesse admira-ló próximo de mim.
-H-Hm... Você que é, Sasuke. -Respondeu com o rosto corado. -É perfeito.
Eu suspirei completamente apaixonado.
Ainda tínhamos a intenção de continuarmos com os nossos beijos, entretanto, além da posição
desfavorável em que nos encontrávamos ter dificultado a nossa situação, uma voz familiar e bastante
animada se fez presente pelos arredores do pátio, acabando por chamar a nossa atenção.
Olhei curiosamente até a origem do chamado, me deparando com Gaara a saltitar em nossa direção,
dando a entender que gostaria de interagir e dialogar conosco.
Por estar ciente de que não ficaria mais a sós com o Naruto, decidi que o melhor a se fazer no
momento era me erguer de suas coxas, soltando um resmungo de decepção por precisar me distanciar de
si, apesar de que, no segundo seguinte, o loiro foi quem tomou a liberdade de chegar mais pertinho de mim
e, como o habitual, se agarrar ao meu braço.
O ruivo, por outro lado, nos alcançou pouco tempo depois, aproximando-se de nós com os dois
braços bem abertos e espaçados, como se quisesse que retribuíssemos ao seu abraço.
-Bom dia, meninos! -Exclamou animado, indo primeiro na direção do loiro, para só então partir para
mim. -Oi, Sasuke! Feliz aniversário pro meu leonino favorito!
Correspondi ao seu abraço com um sorriso sem graça, me dando conta de que aquele era o segundo
“parabéns” que eu recebia no dia.
-Obrigado. -Respondi tímido, sentindo um beijo do ruivo ser estalado na minha cabeça.
-E como você se sente com vinte anos de idade?! -Indagou ao se sentar no chão do pátio, ficando
frente a frente para nós dois. -Muda alguma coisa?
-Ah, eu me sinto velho. -Ri de forma triste. -O tempo passa muito rápido. Isso me deixa mal.
-Que velho nada! -Retrucou indignado. -Vinte anos ainda é super jovem! Não é, franguinho?
-U-Uhum, é mesmo, Sasuke. -O meu bebê concordou, abraçando-se novamente a mim ao apoiar sua
cabeça em meu ombro. -Você não é velho coisa nenhuma, para com isso.
Me encolhi de forma chateada. Não importava o quanto me dissessem ao contrário, eu ainda me
sentia, de certa forma, muito velho. Além do mais, por estar, literalmente, dentro de uma penitenciária, era
como se minha vida não estivesse sendo aproveitada da maneira certa.
Fora desse lugar, as coisas, certamente, seriam diferentes. Além de que, eu poderia dar uma vida
decente e mais feliz ao meu bebê.
-H-Hm, Gaara? -Naruto o chamou após um curto período de silêncio. -Você viu o meu irmão por aí?
O ruivo o olhou de forma nervosa.
-Não, eu não vi. -Respondeu simples. Acontece que, por alguma razão, eu tive uma forte sensação
de que ele estava mentindo para o meu bebê. Eu sempre soube captar com perfeição qualquer tipo de sinal
indicador de uma mentira e, com o Gaara, a situação não foi muito diferente. Aquele era um dos meus
talentos secretos. -Essa madrugada eu fingi que estava com dor de barriga só para ir dormir na enfermaria.
Eu não fiquei na cela, esqueceu?
O loiro riu divertido e distraído, nem sequer reparando na maneira como estava sendo engano pelo
seu próprio amigo. Eu, por outro lado, espremi meus olhos desconfiadamente na direção do ruivo, decidido
de que tentaria arrancar a verdade de si.
-E o meu irmão, Gaara? -Perguntei somente com a intenção de avaliá-lo. Era muito ruim suspeitar
tanto assim das pessoas, mas por outro lado, eu gostava de confiar na minha própria intuição. -Você viu ele
por aí?
-Não, também não. -Respondeu levemente apreensivo, olhando para todas as direções possíveis,
menos para os meus olhos. Agora era certeza de que alguma coisa estava bem errada por ali. -Daqui a
pouco eles aparecem.
Cruzei meus braços na altura do peito.
-Tem certeza de que você não sabe nada? -O tom de minha voz tornou-se sombrio, deixando Naruto
com o cenho franzido em um misto de confusão e diversão, sem entender a minha mudança de humor
repentina em meio ao diálogo. -Não minta para nós, Gaara.
O ruivo comprimiu os lábios para não rir.
-Fala a verdade... -Pedi em puro desespero e curiosidade, sendo acompanhado pela voz de fundo do
meu bebê, o qual murmurava algo como “do que vocês estão falando, gente?”.
Gaara não me respondeu. A única coisa que fez, além de olhar sorridentemente para algo atrás de
meu corpo, foi berrar uma frase que, até então, não fez o menor sentido para mim.
-Agora, gente! -Exclamou determinado.
Eu não tive tempo para reagir. No segundo seguinte, uma quantidade absurda de farinha de trigo já
estava sendo despejada por todo o meu cabelo, vindo acompanhado de uma série de gargalhadas
extremamente altas e exageradas, as quais eu identifiquei, de imediato, por pertencer a Itachi e Deidara.
Em sinal de defesa, me levantei de abrupto dos bancos, precisando me largar de Naruto para que ele
não acabasse se sujando também. Tentei me virar e pedir para que os dois parassem com aquela
brincadeira , mas fui, mais uma vez, surpreendido de uma maneira um tanto quanto desagradável.
Ambos quebraram ovos na minha cabeça.
Foi só então que a minha ficha caiu. Assim como haviam combinado no dia anterior, os dois garotos
estavam botando em prática a ideia de me darem ovada como uma “comemoração” de aniversário e, pelo o
que me parecia, haviam colocado o Gaara no meio da plano para que o mesmo me distraísse.
-Porra! -Gritei irritado, mantendo meu pescoço baixo para deixar a sujeira escorrer.
-Enfia um ovo na calça dele, Itachi! -Deidara ordenou aos berros, arrancando gargalhadas de
aprovação do seu namorado. -Na cueca, caralho!
Meus olhos se arregalaram de imediato.
-Não, assim não! -Tentei me distanciar de meu irmão, sendo, automaticamente, segurado por trás.
Me debati em desespero, apesar de que, no fundo, eu sabia que não adiantaria me esforçar a isso. Além de
Itachi ter uma força maior se comparada a minha, eu também estava em desvantagem com dois deles me
atacando. -Na cueca não, porra!
Já era muito tarde. Suas mãos haviam escorregado de forma invasiva para dentro do meu uniforme
e, infelizmente, faziam pressão para que o ovo fosse esmagado contra a pele de minha bunda. Aquela
sensação era extremamente nojenta e desagradável.
-Argh, não! -Choraminguei com o que ainda restava de minhas forças, recebendo, em resposta, mais
uma rodada de farinha no meio da minha cara. Deidara havia assoprado o conteúdo branco por todo o meu
rosto. -Para com isso, inferno!
Eu me sentia inteiramente sujo.
-M-Meninos, já está bom! -A voz apreensiva do meu bebê se fez presente em meio à confusão. Eu
realmente não estava em condições de enxerga-ló naquele momento, mas deduzi que ele estivesse tão
incomodado quanto eu. -Tadinho, para...
Gaara também gargalhava junto com eles. Eu e Naruto, assim como em todas as outras situações,
éramos um dos mais sensatos.
-Chega com isso! -Me desprendi dos braços de Itachi, precisando tapar os meus próprios olhos para
impedir que a farinha entrasse em contato com eles. -Porra, eu vou ficar cego!
Tentei a todo custo limpar o meu rosto, ao mesmo tempo em que chacoalhava a minha cabeça para
deixar com que os vestígios de sujeira caíssem de meus fios. Além de estar imundo, eu também estava
cheirando incrivelmente mal.
Quando finalmente pude enxergar o ambiente ao meu redor, notei uma plateia gigantesca formada
perto de nós, tanto de detentos, quanto de carcereiros. Todos assistiam a cena levemente assustados e
surpreendidos, enquanto outros, um pouco mais ousados, riam entretidos com o meu estado deplorável.
-Eu vou matar você, Itachi. -Rosnei agressivamente, fazendo questão de sacudir o meu uniforme
bem perto de si, para que assim, parte do ovo e da farinha também voasse na sua direção. -Seu idiota...
-Ah, parabéns pela nova idade, Sasuke! -Ele sorriu divertido, recitando a mesma frase de todos os
meus aniversários. -A partir de agora evite frequentar os museus, as pessoas vão te confundir com algum
tipo de antiguidade!
-É mais fácil confundirem ele com um bolo! -Deidara acrescentou entre risadas.
Cruzei os meus braços impacientemente.
-Me desculpa por isso, Sasuke. -Gaara chamou a minha atenção, dando uma batidinha leve no meu
ombro para retirar o excesso da farinha. -Eu não queria fazer isso, mas os meninos me obrigaram a te
distrair.
Eu estava tentado levar a situação numa boa, apesar de que, internamente, eu havia odiado ser
“humilhado” publicamente e ter ficado com aquele cheiro horroroso de ovo.
-H-Hm... Vocês exageraram, gente. -Naruto reclamou. -Olha só como ele ficou. Caiu sujeira até em
mim
Foi só então eu pude me virar na sua direção. O meu bebê, apesar de bem menos sujo do que eu,
encontrava-se com uma quantidade considerável de farinha presente em seu cabelo e uniforme,
provavelmente pelo fato de ter ficado ao meu lado no momento em que fui “atacado” pelos dois garotos.
-Vocês são muito dramáticos! -Deidara implicou. -É só um pouco de ovo e farinha!
Soltei um som dramático e de indignação.
-Um pouco?! -Apontei para o meu corpo todo, da cabeça aos pés. -Eu pareço um bolo! Assim como
você mesmo disse!
-Ainda bem que os dois não levaram a sério a parte de abaixarem sua calça na frente de todo
mundo. -Gaara relembrou. Felizmente, o Itachi e o Deidara não eram tão loucos e sem noção ao ponto de
me deixarem pelado no meio do pátio. -Isso sim ia ser feio.
Naruto suspirou em lamentação.
-H-Hm... Tadinho. -Aproximou-se de mim com uma feição tomada pela pena. Para deixar o momento
ainda mais dramático e teatral, eu fiz questão de me fazer de coitado na frente de todos, apenas para
receber uma atenção a mais do meu bebê. -Não foi nada legal o que vocês fizeram com o Sasuke, meninos.
Forcei um bico pequeno e chateado em meus lábios, ao mesmo tempo em que encolhia os meus
ombros. Itachi, por sua vez, já ciente sobre todas as minhas intenções, olhou tediosamente na minha
direção. Ele era o único, entre todos os garotos, que sabia a verdadeira razão pela qual eu fingia estar triste.
Era apenas para ser mimado pelo Naruto.
-Bebê... -Choraminguei propositalmente. -Olha só o que eles fizeram comigo...
O loiro se comoveu com o meu drama.
-H-Hm... Não fica assim, Sasuke. -Suas mãozinhas foram de encontro ao topo de minha cabeça,
retirando as cascas, a gema e a gosma do ovo que havia restado. -Pronto, eu tirei o excesso. Não fica
chateado, sim?
Assenti cabisbaixo, conseguindo me manter no personagem por mais um tempo, mesmo com o meu
irmão me repreendendo com olhares, e se mostrando bastante incomodado com o fato de eu estar me
vitimizando para receber carinho e atenção do meu bebê.
-Q-Quer um abraço? -Naruto perguntou delicadamente, formando um biquinho em seus lábios por
não saber lidar com a minha expressão chorosa. -Um beijo?
-Quero os dois. -Pedi manhosamente.
Com uma risadinha tímida da parte do loiro, e um olhar nada agradável vindo de meu irmão, Naruto
juntou as nossas bocas em um selinho rápido, não conseguindo aprofunda-ló pelo fato de eu estar
completamente imundo. Apesar de tudo, foi estranhamente fofo ver os seus lábios rosados e delicados,
tornando-se esbranquiçados por conta da farinha de trigo.
-Ei, e o meu abraço? -Segurei em seu pulso quando o mesmo tentou se distanciar. Era claro que, se
o meu bebê quisesse pular essa parte, eu não iria obrigá-lo. No entanto, isso não me impedia de fazer o
mesmo drama de sempre para ser mimado. -Eu entendo... Você não quer ficar fedendo igual a mim, né?
Naruto negou afobado com a cabeça.
-H-Hm... Eu abraço você, Sasuke. -Abriu os braços para mim, caindo direitinho na minha conversa.
-Eu não ligo de ficar sujo por você.
Itachi revirou os olhos com força.
-Obrigado, bebê... -Abracei seu corpo ao meu.
Ficamos abraçados por bem menos tempo do que eu gostaria, mas pelo menos, o meu bebê se
mostrou disposto a me dar carinho em uma situação “crítica” como aquela.
-...Ah, não. Eu não estou acreditando nisso.
Não foi necessário nos virarmos para saber a quem pertencia aquela voz rouca e grave que, apesar
de sempre beirar a calmaria, dessa vez, soava um pouco mais indignada.
Era o Obito.
-Olha a sujeira que vocês fizeram. -Ele se aproximou com os olhos arregalados, levando a mão à
testa enquanto negava com a cabeça. -Sabe à vontade que eu tenho? É de fazer vocês limparem esse chão
com a língua.
Deidara, Gaara e Itachi gargalharam de forma entretida, nenhum pouco preocupados com a bagunça
que fizeram, com o fato de terem arruinado parte de minha amanhã e, de certa forma, terem
sobrecarregado os faxineiros.
-Meu Deus... -Ele me olhou de cima a baixo, não conseguindo manter-se totalmente sério ao notar
que o restante de um ovo, o qual, anteriormente, se encontrava grudado no tipo de minha cabeça,
escorregou por todo o meu corpo lentamente. -Pois bem... Feliz aniversário, Sasuke, eu te desejo tudo de
bom.
-Obrigado, Obito. -Agradeci meio mal-humorado. Somente o meu bebê estava do meu lado, sendo o
único, entre todos, que não tirou onda com a minha cara. -Desejo tudo em dobro pra você.
Itachi gargalhou como uma verdadeira hiena.
-Eu não to aguentando ver o Sasuke assim! -Secou o cantinho de seus olhos, me deixando com um
semblante ainda mais emburrado. -Porra, como eu queria ter uma câmera agora!
-Nossa, sim! -Deidara concordou. Em seguida, olhou pensativo para o carcereiro. -Ou, Obito? Você
não tem um celular não, caralho?
O moreno o fitou de forma óbvia.
-Sim. -Respondeu simples. -Assim como qualquer pessoa normal, eu tenho um celular.
-Então empresa pra gente, cacete! -Pediu irritado. -Pra gente tirar fotos do Sasuke!
Itachi se animou com a ideia.
-Sim, empresta! -Deu um passo empolgado até o nosso primo, o qual recuou ao negar calmamente
com a cabeça.
-Eu não vou emprestar o meu celular pra vocês, meninos. -Falou com toda a sua paciência. -Isso
está fora de cogitação.
Deidara grunhiu em frustração.
-Porra, empresta logo esse treco! -Tentou agarrar o aparelho de seu bolso, recebendo um empurrão
em sua mão. -Ninguém aqui ‘tá interessado em ver as suas fotos pelados, ou sei lá o que você esconde
nesse celular! A gente só quer tirar fotos entre nós!
O carcereiro discordou novamente.
-Eu não vou entregar o meu celular para os detentos da prisão aonde eu trabalho. -Explicou
pacificamente. -Esqueçam isso.
Tanto Itachi, quanto Deidara, bateram seus pés no chão em um ato pirracento e infantil.
-Então pelo menos tira uma foto nossa! -O mais velho pediu, começando a gesticular com a sua mão
para que nos aproximássemos de si. -Pra recordar o momento! Isso você pode fazer, não pode?
Obito ficou pensativo.
-É... Eu acho que tudo bem. -Deu de ombros.
-Boa! -Itachi exclamou. -Junta aí, cambada!
Gaara foi um dos que mais se animou entre nós. Eu, por outro lado, estava desacreditado de que iria
mesmo me submetendo a tirar uma foto com um macacão laranja, cheio de ovo e, ainda por cima, dentro de
uma prisão. De qualquer forma, seria no mínimo interessante ficar de frente a uma câmera para relembrar
os velhos tempos, até porque, faziam anos que eu não saia em uma fotografia.
-Eu não acredito nisso, Itachi. -Resmunguei ao seu lado, sendo posicionado no lugar em que o meu
irmão achou mais favorável para que eu aparecesse. Eu estava no meio de todo mundo. Gaara e Naruto
ficaram na minha esquerda, e os outros dois na minha direita.
Obito desbloqueou o seu celular, levantando-o até a altura de seu rosto para nós enquadrar na
câmera. Os meninos começaram a fazer sinais com as mãos e expressões divertidas, enquanto meu rosto
era tomado por uma careta tediosa e desconfortável.
Deidara e Itachi, como já era de se esperar, estavam com os dedos do meio levantados, enquanto os
outros dois garotos optaram por ficarem mais “normais” diante das câmeras. O ruivo fazendo o sinal de “paz
e amor” com os dedos, e o meu bebê com um sorriso largo, apenas abraçado ao seu amigo.
-Todos prontos? -O carcereiro indagou, recebendo um “vai logo, sua lesma do caralho!”, vindo do
loiro mais velho.
O flash foi acionado em nossa direção.
-Pronto. -Obito declarou, baixando seu celular ao imaginar que estávamos todos satisfeitos.
-Não, tira mais! -Itachi exclamou, juntando-se mais a Deidara para que ambos fossem o centro das
atenções na fotografia. -Vai logo!
Meus olhos se reviraram fortemente.
Era óbvio que isso ia acontecer. Meu irmão sempre foi alguém exatamente narcisista e, assim como
o Deidara, gostava muito de aparecer. Antes mesmo de sermos presos por todas as merdas que fizemos, o
Itachi era meio famoso em uma rede social qualquer, visto que gostava de publicar fotos sem camisa, as
quais, é claro, rendiam muitos likes, comentários e seguidores para si.
-Chega aí, Gaara! -Meu irmão o chamou animado, deixando eu e o Naruto “excluídos” ao lado deles.
-Aparece com a gente!
O ruivo saltitou até eles. Apesar de não se amar tanto assim quanto os outros dois, Gaara era do tipo
de pessoa que gostava de estar por perto de todo mundo, além de sempre entrar na onda do Itachi e do
Deidara.
-Isso aí vai longe... -Comentei distraidamente com o meu bebê, sabendo que, a partir do momento
que uma câmera estivesse apontada na direção do Itachi, ele ficaria lá por um bom tempo. -Eu conheço a
peça.
Naruto riu divertidamente.
-Ele gosta de tirar foto, né?
-Gostar é pouco. -Ri sarcástico. -Na época em que a gente ainda tinha um celular, era impossível se
comunicar com ele. O Itachi passava o dia todo tirando fotos de si mesmo.
-Bom... Autoestima é tudo. -Naruto acrescentou descontraído, enquanto ambos voltávamos a nossa
atenção para os garotos.
A cena ao nosso lado me deixou bastante constrangido e desacreditado. Além de terem praticamente
obrigado o Obito a ficar parado e tirando milhares de fotos suas, os três haviam se empolgado mais do que
o necessário e, naquele mesmo instante, faziam poses comprometedoras no meio de todo mundo,
gargalhando como se ninguém mais estivesse notando as suas existências.
Para a minha surpresa, todos eles encontravam-se parados em uma fila indiana, empinando seus
traseiros descaradamente um no outro, porque segundo eles, queriam ficar idênticos a “meninas em redes
sociais”.
Eu bati na minha própria testa.
A pior parte de todas, na minha opinião, foi quando o meu irmão e o Deidara começaram a pegar na
bunda um do outro e fazer cara de safados, ainda tirando onda com o fato de estarem parecendo “garotas
assanhadas”.
Eu não conseguia entender como, até mesmo o Gaara, aceitou se submeter a uma situação
vergonhosa daquelas. Mas, aparentemente, o ruivo realmente não se importava com isso, tanto que, ao
notar que os dois garotos estavam se apalpando, ele decidiu se ajoelhar no meio deles e sinalizar uma
“arminha” com a mão, enquanto Deidara afirmava que seu amigo era o “Mc Ruivinho Criminoso”, e ele e o
Itachi as dançarinas principais do clipe.
-H-Hm... Eu acho que eles se empolgaram mais do que o necessário. -Naruto declarou da maneira
mais “sensível” que pode, talvez segurando-se para não chamá-los de loucos, ou qualquer coisa parecida.
-Eu vou sair do enquadramento da câmera. Acho que não me sinto à vontade aparecendo nessas fotos.
-Imagina se essas fotos vazam com a gente atrás? -Perguntei meio perturbado, seguindo o loiro até
uma distância segura. -Vai parar na internet com a manchete: “Detentos fazem book sensual dentro da
prisão com a ajuda de um carcereiro, entenda o caso”.
O meu bebê começou a gargalhar.
-Pelo menos os três ficariam famosos fora daqui. -Sorriu em diversão. -H-Hm... Acho que o Dei iria
gostar de ter fãs, não é?
Olhei pensativamente em direção ao Deidara.
-Olha, eu acho que sim. -Ri de minha própria reflexão. -Mas eu também acho que ele seria daquele
tipo de celebridade que trataria todo mundo meio mal, sabe?
-Verdade. -Concordou sorridente. -E o Itachi?
-Acho que o Itachi seria quase o mesmo esquema, mas ele provavelmente botaria medo nos fãs
dele. -Opinei de forma descontraída. -Bom, a única celebridade gente boa dali, você já sabe quem é, certo?
Naruto assentiu com a cabeça.
-O Gaara. -Falamos em coro.
Felizmente, após o breve diálogo entre nós, a “sessão de fotos” dos garotos, finalmente, chegou ao
fim. Se dependesse dos três e, surpreendentemente, até mesmo do Obito, o qual aparentava estar entretido
com as poses engraçadas dos meninos, viriam muitas mais fotografias pela frente. No entanto, o carcereiro
foi quem precisou interromper o momento ao ser alertado sobre uma briga que estava ocorrendo ali mesmo
no pátio aberto, a qual precisaria ser controlada com urgência.
Sempre foi algo dentro dos padrões da penitenciária ocorrer discussões violentas entre os detentos,
entretanto, o que não foi nada comum naquela situação, foi o fato de Obito ter deixado o seu celular no
banco, esquecendo-se de sua existência na hora de parar a briga entre Suigetsu e um outro presidiário
desconhecido por mim.
Certamente, Itachi e Deidara repararam nisso.
Ao se darem conta de que o moreno, mesmo que de maneira não proposital, havia deixado o seu
celular avista e desbloqueado, ambos trocaram olhares indecifráveis, mas que, em compensação, fizeram
muito significado entre eles mesmos.
-Essa não... -Murmurei preocupado, já imaginando o que aconteceria caso eles conseguissem pegar
o aparelho. Eu não gostaria nenhum pouco de estar na pele do Obito.
-O que foi, Sasuke? -O meu bebê questionou curiosamente, inclinando o seu pescoço como se
desejasse ver o mesmo que eu. -O que você viu?
-Vem comigo. -Segurei em sua mão.
Levei o Naruto juntamente comigo até o banco próximo aonde a “sessão de fotos” ocorreu, me
deparando com a cena desesperadora de Itachi a agarrar no aparelho alheio e, sem pensar duas vezes, o
entregando para Deidara.
-Gente, o que vocês estão fazendo? -Perguntei retoricamente, até porque, nada era mais óbvio do
que duas pessoas pegando o celular de uma outra às escondidas. Eles queriam fuçar nas coisas do Obito.
-Itachi...
-Argh, Sasuke, relaxa! -Ele me cortou, já prevendo o futuro discurso que eu recitaria para cima de si.
-A gente só vai tirar umas fotos!
-É, fica suave! -Deidara apoiou, mesmo que, no fundo, houvesse uma pitada de sarcasmo presente
em sua voz. -Abre a câmera, Itachi.
E então, assim como das outra vez, uma nova sessão de fotos foi iniciada pelos dois. No começo,
fotos “descentes” estavam sendo tiradas. Por estarem sentados lado a lado no banco, ambos apenas
encostaram suas bochechas e tiraram selfies normais, acabando por incluírem até mesmo o meu bebê em
uma delas, o qual foi obrigado a se sentar no meio dos dois e receber um “chifre” em sua cabeça.
Algumas das vezes, eles também viraram o celular na minha direção, no entanto, eu fazia questão de
tapar o meu rosto, tanto por não gostar de aparecer na câmera, quanto pelo medo que sentia de Obito
acabar vazando aquele monte de fotografias sem sentido.
Em um momento qualquer, enquanto ambos mantinham suas línguas encostadas com a intenção de
tirarem uma foto de “casal” um tanto quanto estranha, Itachi decidiu testar as outras opções existentes na
câmera do Obito, sorrindo surpreendido ao se dar conta de que a mesma também conseguia gravar vídeos.
-Porra, aí sim! -Exclamou satisfeito, começando a fazer filmagens completamente esquisitas e
aleatórias do ambiente ao seu redor, fazendo questão de direcionar o flash no meu rosto e no de Naruto.
-Vai, Sasuke, fala aqui pra câmera como você está se sentindo no seu aniversário de vinte anos!
Mirei o celular com um ar tedioso.
-Com vontade de morrer. -Declarei seco, vindo acompanhado pela voz de fundo do meu bebê, o qual
soltou um: “Não diga uma coisa dessas, Sasuke.” -Para de me gravar, inferno, eu não gosto disso. Você
sabe bem.
-Como pode uma coisa dessas?! -Itachi implicou, dando um zoom gigantesco e inconveniente na
minha cara. -Um menino tão bonito e coberto de ovo se achar feio!
Lancei o meu dedo do meio para a câmera.
-E você, Naruto? -Ele apontou a câmera para o meu bebê, o qual, imediatamente, esboçou uma
expressão assustada e perdida. -O que você ‘tá achando do aniversário de vinte anos do seu querido
namorado aqui na prisão?
-A-Ah... Eu estou achando legal. -Sorriu de forma tímida. -É só uma pena que o Sasuke não goste
muito do aniversário dele.
A câmera voltou novamente para mim.
-Eu não gosto mesmo. -Empinei meu nariz.
Deidara estalou a língua impacientemente.
-Me dá essa merda de celular! -Arrancou o aparelho do outro. Em seguida, começou a clicar
curiosamente por toda a tela, até que um sorriso surpreso iluminou o seu rosto. -Olha! Tem a opção de fazer
vídeos em câmera lenta!
Gaara e Itachi ficaram boquiabertos.
Era como se, após todos esses anos sem um celular, eles não se recordassem de mais nada
relacionado a tecnologia básica.
-Grava um! -O ruivo incentivou, puxando o celular da mão de seu amigo. -Vai, franguinho, faz alguma
coisa legal! A gente vai te gravar em câmera lenta!
Naruto se encolheu ao meu lado.
-H-Hm... Como assim? -Me olhou como se pedisse por ajuda. Assim como eu, o meu bebê não
gostava nenhum pouco de ser o centro das atenções.
-Dá uma estrela! -Gaara iniciou o vídeo. -Vai logo!
Mesmo que levemente desconfortável, Naruto decidiu se enquadrar na câmera. Lancei-o um sorriso
tranquilo para lhe dar suporte, acompanhando o exato momento em que o loiro executou o movimento
solicitado por eles.
Os garotos, por outro lado, apressaram-se para conferir o vídeo, se aglomerando todos bem
próximos do celular. Seus olhos se esbugalharam em total admiração.
-Caralho, que foda! -Deidara deu um replay, virando o aparelho para Naruto ao seu lado. -Olha você
em câmera lenta, franguinho!
O meu bebê deu uma risadinha tímida.
-H-Hm... Apaga esse vídeo, Dei, eu to muito estranho.
-Eu não vou apagar porra nenhuma! -Agarrou o celular protetoramente. -A gente vai encher a
memória do Obito, isso sim!
Foi a vez de meu irmão puxar o aparelho, soltando um resmungo impaciente por precisar dividi-lo
com o restante dos garotos. Pelo o que me parecia, todos ali desejavam ter um pouco de tempo para
matarem a saudades que sentiam dos aparelhos eletrônicos.
-Vamos xeretar a galeria do Obito. -Itachi declarou com um olhar perverso. -Olha só pra isso, gente...
Espichei o meu pescoço para perto da tela.
Querendo ou não, eu também possuía uma certa curiosidade em saber sobre a vida pessoal do
carcereiro, visto que ele sempre se mostrou alguém muito fechado e reservado.
-Que porra é essa? -Deidara aproximou o seu rosto, espremendo os olhos para enxergar a tela. -Por
que caralhos o Obito tem um monte de fotos de mãos na galeria dele?!
Tanto eu, quanto Naruto, franzimos o cenho em confusão. Não haviam muitas fotografias no celular
de meu primo, somente algumas de seus animais de estimação e, surpreendentemente, de mãos
masculinas.
Gaara soltou um suspiro dramático.
-Aposto que é um fetiche!
-Sim! -Deidara concordou abismado. -Eu sabia que o Obito guardava algum tidpo de secreto! Ele tem
fetiche em mão, caralho!
Itachi discordou com uma gargalhada.
-Não é isso, gente... -Deu um zoom em uma das fotos. -Essa é a mão dele, viu só? Está meio
machucada. O Obito provavelmente tirou essas fotos para ver como estava.
Soltamos sons com a boca, mostrando que havíamos compreendido. Eu confesso que, até mesmo
eu, estava começando a cogitar a hipótese de que o carcereiro possuía algum tipo de fetiche em mãos
masculinas.
-Vamos ver outras coisas... -O loiro mais velho tomou posse do aparelho. Eu sabia que o correto a se
fazer seria interrompê-los. No entanto, estava extremamente interessante saber um pouco mais sobre a
vida do Obito. -Ah, chegamos na melhor parte de todas!
-O que é? -O meu bebê questionou curioso.
Deidara fez um ar de suspense.
-As mensagens do Obito.
Gaara e Itachi sorriram em expectativa.
O loiro clicou de modo ansioso no aplicativo, abrindo diretamente nos contatos mais recentes com
quem o moreno trocou mensagens. Haviam alguns grupos aleatórios com os amigos, família e até mesmo
um grupo da igreja. Contudo, o que, definitivamente, chamou mais a nossa atenção, foi um grupo com o
nome de “Os Carcereiros”.
Todos se entreolharam em silêncio. Ninguém precisou dizer nada para que chegássemos a
conclusão de que tínhamos a mesma curiosidade em relação àquele grupo.
De acordo com a foto de perfil e os participantes do mesmo, eu cheguei a conclusão de que, ”Os
Carcereiros”, nada mais era do que um chat com todos os funcionários dentro da penitenciária.
-Eu não acredito nisso... -Deidara tapou a própria boca em descrença. -Tem o número de todo mundo
aqui! Até do diretor Danzou!
Os olhos de Gaara brilharam.
-Por acaso tem o número do Lee?!
-Espera, deixa eu ver... -O loiro rolou a tela para baixo, avaliando nome por nome. -Não, ele não está
no grupo, mas o pai dele está.
-E o número do Kakashi, chefe? -Itachi sorriu maldoso. -Tem aí?
-Sim, dele tem. -Deidara devolveu o sorriso.
-Porra... -Murmurou, ainda desacreditado do que havíamos encontrado. -E o que a gente ‘tá
esperando pra causar nesse grupo?!
Eu o fitei em repreensão.
-Itachi, nem pense nisso... -Cruzei os braços seriamente. -Se vocês mandarem mensagens nesse
grupo, vão ser pegos rapidinho.
-O Sasuke tem razão, Itachi. Acho que ia dar merda se a gente mandasse alguma coisa nesse grupo
com um monte de gente... -O loiro deu uma pausa. -Mas isso não nos impede de mandar mensagens
individualmente pra cada um, não é? A gente pode se passar pelo Obito no privado!
Levei minha mão a testa.
-Assim que se fala! -O mais velho exclamou, dando um toque de mãos com o seu namorado. -Vamos
começar causando com o escroto do Kakashi! Ele sempre foi um grande filho da puta com a gente!
-Isso! -Deidara riu maldosamente. -Alguém aí tem ideias? A gente tem que mandar alguma coisa
bem desagradável pra ele!
O meu silêncio permaneceu firme. Embora eu apoiasse uma vingança bem pesada contra o Kakashi,
especialmente após ele ter judiado e corrompido a inocência do meu bebê, naquele momento, nenhuma
ideia me veio a mente.
Naruto, por sua vez, me surpreendeu bastante ao mostrar-se um dos mais atentos a conversa,
fazendo um barulho com a boca como se estivesse pensando em alguma ideia.
-H-Hm... E se a gente mandasse vírus pro celular dele? -Sugeriu baixinho. -Vocês sabem como isso
funciona? Se mandar vírus por mensagem, o celular da pessoa trava e para de funcionar por um tempo. Ele
só volta ao normal se levar até o concerto e tudo mais.
Todos o olharam impressionados, sendo eu, o mais chocado entre os garotos.
-Boa, franguinho! -Deidara sorriu orgulhoso, dando tapinhas fracos em sua cabeça. -Esse é o meu
garoto! Assim que se fala!
-Mandou bem, Naruto! -Itachi também o elogiou, enquanto eu permanecia com os meus olhos
arregalados. O meu bebê nunca se mostrou alguém vingativo, o que significava que, a raiva que ele possuía
pelo platinado, ainda estava acessa e ativa dentro de si. -‘Bora mandar um pornô pra ele! Daqueles com os
links cheios de vírus!
Gaara gargalhou em aprovação.
-Isso, manda um vídeo bem zuado!
Todos concordaram com aquela ideia absurda e fora do comum. Deidara, Gaara e Itachi começaram
a buscar por diversos sites pornôs com vírus, tendo Naruto como uma espécie de guia, apenas
orientando-os a escolherem algo que não prejudicasse o celular de Obito, mas sim o de Kakashi no
momento em que o mesmo clicasse no link.
No final das contas, após a pesquisa nenhum pouco sútil e descente de Itachi, a qual nada mais era
do que a frase: “Vídeos pornô pesadões, zuados e com vírus para travar o celular”, os garotos copiaram o
link presente e, sem pensar duas vezes , mandaram diretamente para o contato do platinado.
Naruto afirmou que o melhor a se fazer seria apagar aquela pesquisa inadequada do histórico de
Obito, entretanto, o meu irmão discordou, dizendo que gostaria de deixar a página aberta para tirar onda da
cara do carcereiro quando o mesmo decidisse abrir o seu navegador.
-E agora? -O ruivo perguntou com expectativa. -Com quem a gente vai zoar?!
-Vamos causar com o Diretor Danzou! -Itachi sugeriu. -Eu já tenho até uma ideia!
Esfreguei minha própria face de maneira desacreditada. Enquanto o Obito não aparecesse para
tomar o seu celular de volta, os três não dariam trégua. Eu, sinceramente, já havia desistido de gastar a
minha saliva para me comunicar com o meu irmão e tentar impedi-lo de continuar com aquela loucura.
O que mais me surpreendia, era o fato do meu bebê estar tranquilo em relação a isso. Até o Naruto
havia entrado na onda deles.
-O que você vai falar? -Deidara questionou.
Itachi não lhe disse nada. Como resposta, apenas abriu no contato do diretor, coçando sua garganta
antes mesmo de começar a gravar um áudio.
-É o seguinte, diretor... -Segurou a risada antes mesmo de continuar. -Eu e os meus capangas
sequestramos o Obito, falou? E em troca da vida do seu funcionário mais fiel e querido, queremos algumas
coisas de você!
Naruto ficou pálido. Acho que, no fundo, ele não imaginou que Itachi tivesse mesmo coragem para
mandar uma coisa daquelas.
Deidara, por sua vez, gargalhou entretido.
-Passa pra cá, Itachi! É minha vez! -Trouxe o celular para perto de si, começando a gravar um outro
áudio. -É isso aí, seu velho morfético! A gente ‘tá fazendo o Obito de refém aqui na nossa frente!
Eu tapei minha boca em descrença.
-Se você quiser que ele saia vivo, a gente vai ter que ter privilégios aqui dentro! -O moreno continuou.
-Eu quero uma cela individual com uma televisão de setenta polegadas!
-E eu quero a opção de ter um regime aberto ainda nesse mês! -Deidara complementou. -Apaga os
registros de “mal comportamento” da minha ficha agora mesmo! Senão eu juro por tudo que é mais sagrado
que o Obito vai pagar por isso! Ele ‘tá até chorando aqui na nossa frente!
Itachi comprimiu os lábios para não gargalhar.
-Sua vez, Gaara, fala o que você quer. -O loiro mais velho passou o celular para si.
-Certo... -O ruivo pegou o aparelho em mãos, ficando alguns segundos em silêncio como se refletisse
no que diria a seguir. -Diretor, eu quero ter um quarto dentro da enfermaria! E também quero que você
aumente o salário do Lee e do pai dele, porque eles merecem!
Deidara rolou os olhos entediado.
-Passa essa merda pra cá, Gaara. -Estalou a língua, dando uma última checada na tela em sua
frente. -Nem fudendo! O diretor ‘tá online!
-Meu Deus... -Murmurei preocupado. Aquela brincadeira havia passado dos limites, e as
consequências poderiam ser bem graves caso o diretor Danzou levasse os áudios a sério. -Eu que não vou
ficar aqui pra levar a culpa pelo o que aconteceu. Tchau pra vocês.
O meu bebê me olhou assustado.
-H-Hm... Sasuke? -Chamou apreensivo. -Aonde você vai? Eu posso ir junto com você?
Abri um sorriso carinhoso.
-Claro que sim, bebê. -Ergui o braço para que ele segurasse. -Eu vou tomar um banho. Não está
dando mais pra ficar com esse cheiro.
-Ah, que bonito! -Itachi ironizou. -Quando a água bate na bunda vocês fogem, né?! Vão deixar a
gente na mão, é isso?!
-Eu nunca quis participar disso, vocês que mandaram um monte de áudios pro diretor, eu e o Naruto
ficamos quietos. -Argumentei.
-Bando de covardes morféticos! -Deidara xingou. -Vai lá tomar o banho de vocês e não olha mais na
nossa cara!
Eu apenas revirei meus olhos. Pelo o que me parecia, o loiro mais novo também não estava muito
disposto a respondê-los, tanto que, para fugir da conversa, apenas aceitou o meu braço erguido e deixou
com que eu o guiasse para longe dali.
Caminhamos abraçados em direção ao sanitário, tendo, a todo o instante, vários pares de olhos
direcionados em nossa direção. É claro que eu não conseguiria passar despercebido estando inteiramente
sujo com ovo e farinha dentro de uma prisão.
Alguns detentos aleatórios mexeram comigo, sorriram, riram e me deram parabéns, enquanto a
minoria, como o Orochimaru e o Kabuto, me assediaram sem motivo algum, soltando assobios
inconvenientes e frases como: “Esse aí fica gostoso até mesmo sujo”.
Eu decidi não dizer nada. A única coisa que fiz, além de levanta-lós o meu dedo do meio, foi lançar
um olhar mortal a cada “elogio” que considerasse desconfortável. No caminho, acabamos até mesmo por
topar com o Kakashi que, para a nossa felicidade, mexia desesperadamente em seu celular, parecendo
assustado com algo que acabara de ver.
Eu e Naruto nos entreolhamos sorridentes.
O platinado, com certeza, havia aberto o link que os três garotos lhe mandaram.
Por fim, entramos no banheiro. Não foi necessário dizer nada para que, os poucos detentos
presentes ali dentro, entendessem o recado e saíssem para nos dar privacidade. Tanto eu, quanto o Naruto,
precisávamos tomar um banho com urgência.
Em passos cuidadosos, eu fui caminhando em direção ao interior do cômodo, me agarrando
atrapalhadamente nas paredes com o medo que sentia de tropeçar. Além da sola do meu tênis estar
coberta de ovo, o chão também estava escorregadio, o que dificultava ao extremo para que eu pudesse me
locomover.
O loiro, por sua vez, praticava uma espécie de “patinação” em meio ao molhado do piso, rodando e
escorregando com uma facilidade de se impressionar. Talvez por ter mais prática em ginástica, ele
conseguia se movimentar sem cair ou precisar se apoiar em algo.
-Naruto, cuidado pra não se machucar... -Alertei com seriedade, assistindo-o “patinar” em minha
direção com um sorriso brincalhão.
-H-Hm... Cuidado você também. -Gargalhou quando eu me desequilibrei e precisei apoiar minhas
mãos no chão. -Que legal! Eu nunca vi esse banheiro tão escorregadio antes!
-É, muito legal... -Murmurei meio preocupado.
-Eu vou jogar shampoo! Assim vai ficar mais escorregadio! -Exclamou animado. -Vai dar pra eu me
mexer bem melhor!
Meus olhos se arregalaram de leve.
-Shampoo, bebê? -Repeti perturbado. -Tem certeza? Eu vou cair de boca nesse chão...
Ele me ignorou completamente, passando deslizando na minha frente em direção a alguns dos
produtos esquecidos pelos detentos. Fiquei a assisti-lo despejar o conteúdo viscoso por todo o piso,
misturando-o com a água já presente anteriormente.
-Agora sim! -Riu infantilmente. -Vem, Sasuke!
Eu me agarrei medrosamente a parede. O loiro, por outro lado, começou a escorregar com ainda
mais velocidade e destreza. Era bom vê-lo se divertindo, mas por outro lado, parte de mim prezava pela sua
segurança.
-Naruto, vai devagarzinho... -Pedi baixinho, observando-o girar repetidas vezes com uma perna só.
Em uma das vezes em que passou patinando na minha frente, o meu bebê acabou por se distrair,
desequilibrando-se no meio daquela espuma toda. -Ei, cuidado!
Seu traseiro foi de encontro ao chão, vindo acompanhado de um choramingo dolorido.
Pelo menos naquele segundo, eu decidi ignorar o meu medo para que pudesse ir socorrê-lo.
Acontece que, além de eu ter tropeçado nas suas pernas, eu também acabei caindo por cima de seu corpo.
-A-Au... -Naruto resmungou risonho. A minha intenção era lhe ajudar, mas eu tinha quase certeza de
que havia o prejudicado ainda mais. -Oba! Você decidiu vir escorregar comigo, Sasuke?!
Eu o fitei levemente desacreditado.
-Não, bebê, eu vim pra te ajudar...
-Ah, mas eu estou bem! -Riu brincalhão. -Vamos escorregar de bunda!
Fiquei a observá-lo com um olhar perdido.
Ignorando por completo a sua dor, e também o fato de termos, literalmente, caído um em cima do
outro, Naruto fez impulso com os seus braços, rindo sozinho por estar escorregando com o traseiro em meio
a espuma e a água do banheiro.
Eu não esperava que fosse mesmo me submeter a isso, mas ao ouvi-lo me chamar para participar,
enquanto afirmava o quanto aquilo era divertido, eu decidi ceder ao meu bebê, dando de ombros antes fazer
o mesmo.
Passamos vários e vários minutos escorregando pelos chão. Não ligávamos para mais nada, nem
mesmo o fato de outros detentos estarem ao lado de fora, esperando para utilizarem o banheiro.
Tinha vezes em que escorregávamos de bunda, e outras que fazíamos corridas e apostávamos
quem, entre nós, seria o primeiro a cair. É claro que, em todas as vezes, fui eu quem perdi pelos tombos
que tomei naquele chão liso.
Em um momento qualquer, enquanto rodopiávamos com os traseiros no chão, rindo como se não
houvesse amanhã e apostando quem ficaria tonto em primeiro lugar, notamos a porta do banheiro ser
aberta, revelando a entrada de alguém que, certamente, não respeitava a minha vez de tomar banho, ou
então, somente não sabia sobre as regras.
Paramos, instantaneamente, de girar. O meu bebê arregalou os olhos em surpresa, corando
violentamente quando se deu conta de que estávamos sendo assistidos. Eu, por outro lado, lancei um olhar
nada agradável a pessoa que acabara de entrar, só então me dando conta de quem realmente era.
Para a minha surpresa, era o Lee.
-Oh... -O enfermeiro olhou ao redor com um semblante surpreso, tentando compreender o que estava
havendo ali dentro. Eu e Naruto no girando no chão, cheios de espuma e com nossas roupas cobertas de
farinha e ovo. -Me desculpe, meninos, eu não queria atrapalhar.
Naruto soltou uma risadinha envergonhada.
-H-Hm... Não tem problema. -Arrumou o seu cabelo, ajoelhando-se no chão para que pudéssemos
“recebê-lo” com decência.
-É que a pia da enfermaria quebrou, mas eu preciso lavar a mão. -Mostrou a sujeira presente em sua
pele, dando uma risada descontraída. Assim como o ruivo já afirmou milhares de vezes, ele era mesmo um
garoto muito agradável, se bem que me lembrava um pouco o jeito do Gaara.
-Pode usar a pia daqui. -Autorizei, apontando na direção da mesma. -Só cuidado para não tropeçar, o
chão está muito escorregadio.
-Certo, obrigado. -Murmurou concentrado.
Eu e o meu bebê ficamos a acompanhá-lo em silêncio, prensando nossos lábios para segurar a
nossa risada diante daquele momento constrangedor. O Lee, felizmente, não teve muitas dificuldades para
se locomover e, em pouquíssimo tempo, terminou de lavar as suas mãos.
Em seguida, voltou cuidadosamente em direção a porta, parando na mesma ao se virar de modo
breve em nossa direção.
-Divirtam-se, meninos. -Sorriu simpático.
-Obrigado. -Ri sem graça.
Por fim, a porta bateu.
Eu e Naruto nos entreolhamos.
-Cara, que flagra. -Murmurei surpreendido.
-Q-Que vergonha... -O loiro riu baixinho.
-Vamos tomar banho, bebê. -Sugeri entre risadas. -Acho que a gente já causou de mais.
-É melhor. -Concordou sorridente.
Nos levantamos em sincronia. Dessa vez, com a ajuda do loiro, eu consegui caminhar até os
chuveiros sem escorregar. Ambos retiramos as nossas roupas, me causando uma sensação de alívio por
finalmente estar me livrando daquele uniforme imundo e fedorento.
Ao ficarmos completamente nus, lhe lancei um olhar apaixonado, sorrindo em aprovação e carinho
quando o meu bebê decidiu utilizar o mesmo chuveiro que o meu, posicionando-se ao meu lado sem pedir
por uma permissão. A nossa intimidade estava mesmo muito grande. Eu, sinceramente, não me recordo de
já ter dividido um chuveiro com ninguém, nem mesmo com o meu próprio irmão mais velho.
-Água quente, fria ou morna, bebê? -Questionei com a mão no registro.
Ele riu baixinho e tímido.
-M-Morna, por favor.
-É pra já... -Girei a torneira até que estivesse com a água bem morna, do jeitinho que o meu bebê
mais gostava. -Prontinho.
Entramos em baixo da água ao mesmo tempo.
Aquela temperatura estava mesmo muito agradável. Era satisfatório termos os chuveiros só para nós.
Além da privacidade, também possuíamos a oportunidade de tomar banho com água quente, algo que, para
os outros detentos, era raro de se acontecer.
-‘Tá bom assim, hm? -Indaguei carinhosamente, me referindo a temperatura da água.
-Uhum. -Murmurou sorridente, fechando os olhinhos ao deixar a água escorrer por todo o seu corpo,
desde a altura de seu rosto, até os seus pés. -Me passa o shampoo, Sasuke?
-Aqui. -Trouxe o produto para perto de si. -Me deixe fazer as honras, por favor.
-H-Hm... Está bem. -Riu descontraído. -Já que você insiste...
Sorri divertidamente. Eu sempre tratei o Naruto como um verdadeiro bebê, mas lhe dar banho,
tirando a vez em que ele não estava em condições de se lavar por conta da morte de sua mãe, eu nunca
havia feito antes.
Prosseguindo com minha ideia inicial, despejei um pouco do conteúdo em seu cabelo, aproveitando
para fazer o mesmo no meu. Em seguida, trouxe o seu corpo para próximo de meu peito, esfregando seu
cabeludo num ritmo vagaroso e cuidadoso.
Seus ombros relaxaram instantaneamente.
Já era algo extremamente satisfatório receber carinho de alguém, no entanto, estar sendo acariciado
na temperatura morna de um chuveiro, era completamente diferente.
-Lindo... -Sussurrei com um sorriso apaixonado, sentindo-me hipnotizado com as suas bochechas
coradas e os dois olhinhos fechados para desfrutar do afago. -Você é a pessoa mais linda desse mundo,
sabia disso?
Naruto sorriu timidamente.
-H-Hm... Não sou. -Negou com a cabeça. -Esse posto já pertence a você, Sasuke.
Meu coração bateu mais acelerado.
-Somos o casal mais lindo desse mundo. -Declarei apaixonado. -Melhor agora?
-Uhum, melhor. -Ficou na pontinha dos pés para me roubar um selinho.
Eu não conseguia mais parar de sorrir.
-Fecha o olho, bebê. -Pedi calmamente, fazendo uma espécie de barreira para impedir que a espuma
escorresse para os seus olhinhos. -Isso, assim... Pronto. Já saiu tudo.
Naruto me fitou carinhosamente.
-H-Hm... Sasuke?
-Fala, meu bebê.
-E-Eu sei que você não gosta nenhum pouco do seu aniversário, mas eu estou muito feliz de poder
passar ele com você. -Abriu um sorriso meigo e abobado. -Obrigado por me dar a chance de ser o seu
namorado, Sasuke, você me faz muito feliz. Eu te amo muito.
Um sorriso emocionado rasgou o meu rosto.
Eu sentia uma vontade imensa de desabar. Minhas pernas tornaram-se bambas e fracas, ainda
lidando com a declaração tão linda e inesperada que eu recebi do meu bebê.
Eu o amava com todas as minhas forças.
-Bebê... -Puxei sua cintura para frente, chocando nossos corpos em um abraço. Por ter lhe apertado
mais do que o necessário, Naruto soltou um suspiro divertido e propositalmente sofrido, acariciando meu
cabelo com os lábios prensados na minha pele. -Você é a minha salvação, sabia disso? Eu te amo muito,
muito mesmo. Obrigado por tudo o que você já fez por mim.
O loiro estalou um beijo no meu pescoço.
-V-Você ‘tá querendo me fazer chorar, né?
-Eu, né? -Rebati emocionado. -Você que quer.
Ele riu baixinho, negando com a cabeça, enquanto murmurava um “eu não quero não”. O restante do
banho se passou quase que da mesma maneira. Ambos abraçados, trocando beijos, carícias e nos lavando
de forma bem lenta e preguiçosa, apenas curtindo a sensação da água morna, de estarmos completamente
a sós e, em especial, o fato de nossos corpos estarem colados um ao outro.
-Sasuke? -Me chamou após um tempo. Já estávamos a tanto tempo naquela posição, que até
mesmo a minha cabeça se encontrava repousada em seu ombro, assim como os meus olhos fechados por
conta do afago que recebia em meus fios. -A água morna já está acabando...
-É, eu senti. -Ri sonolento, detestando, internamente, o fato de precisar sair do chuveiro e dos braços
do meu bebê. -Melhor desligar o registro, Naruto.
Ele me obedeceu. Simultaneamente, o sanitário caiu o silêncio. Apenas o som baixinho de nossas
respirações e um leve gotejar da água caindo sobre o piso molhado.
Por termos deixado tanto as nossas roupas, quanto as toalhas na cela, tivemos que apelar para os
uniformes reservas do banheiro, andando nus até o armário presente no final do mesmo. Como não tinham
muitas toalhas, eu e o meu bebê tivemos que dividir uma, nos abraçando um ao outro para que
pudéssemos nos secar o mais rápido possível.
No final das contas, o uniforme que Naruto escolheu, ficou um pouco mais grande do que o normal
para si, enquanto o meu, por ser pequeno demais, fez com que eu decidisse sair sem a minha blusa.
-Vamos voltar? -Sugeri.
-Vamos. -Sorriu carinhoso ao agarrar-se em meu braço. -O que será que deu lá no pátio?
-Vish, eu não sei. -Fiz uma careta preocupada. Sinceramente, eu não ficaria nada surpreso caso o
diretor tivesse ido socorrer o Obito por realmente pensar que houvesse tido um sequestrado. -Vamos lá
conferir.
Saímos do banheiro agarradinhos. Dessa vez, por eu já estar limpo, não houve tanta atenção
direcionada até mim, se bem que, por mais convencido que pudesse soar, eu sempre fui alguém que,
naturalmente, atraia olhares alheios, assim como o Naruto também.
Dois minutos depois, já havíamos chegado ao nosso destino. O pátio encontrava-se um pouco mais
cheio do que anteriormente e, para a nossa surpresa, Obito e Danzou também estavam presentes.
Na verdade, o carcereiro estava a gesticular loucamente para cima dos três garotos, os quais
mantinham-se com as cabeças baixas, prensando os lábios como se segurassem as risadas e tentassem
permanecer sérios.
Deidara, Itachi e Gaara estavam levando a maior bronca.
Tentei me aproximar para ouvir sobre o que eles estavam falando, mas achei que seria mais esperto
de minha parte ficar o mais longe possível daquela situação. Afinal, eu e o Naruto não havíamos feito nada,
somente na parte de aparecermos na foto, mas que, em compensação, foi o incidente mais irrelevante
envolvendo o celular do Obito.
-Eu falei que ia dar merda... -Cruzei os braços, assistindo o exato momento em que Deidara tentou
dizer algo para se defender, mas foi calado grosseiramente pelo meu primo. -Nossa... Eu acho que nunca vi
o Obito tão bravo assim.
O meu bebê engoliu em seco.
-S-Será que eles vão pra solitária?
-Não... -Respondi sem pensar muito. -O Obito não deixaria uma coisa dessas acontecer com o meu
irmão, bebê.
O loiro franziu o cenho em minha direção.
-Como assim? -Tombou a cabeça. -O que tem o Obito e o seu irmão?
Meu corpo inteiro gelou.
-Ah, não é nada não... -Cocei minha nuca, tentando disfarçar o meu nervosismo. -Eu falei sem
pensar, eles não tem nada.
Naruto não se deixou convencer.
-S-Sabe, Sasuke... -Chamou a minha atenção. -Eu sei que eu posso ser bem ingênuo às vezes, mas
eu não sou burro.
-Eu nunca disse que você é burro, Naruto... -Me defendi. Eu confesso que estava um pouco
surpreendido com sua a entonação afrontosa para cima de mim. -De onde você tirou isso?
-Bom... -Ele olhou pensativo na direção do guarda. -É que eu já venho reparando a um tempo, e
também ouvindo algumas conversas entre você e os meninos, sabe?
A medida que Naruto ia falando, meus ombros se encolhiam só de pensar na possibilidade de que a
verdade sobre o carcereiro havia sido descoberta, se bem que, ultimamente, pelo menos em meu ponto de
vista, Itachi estava sendo bem indiscreto em relação a esse assunto.
-H-Hm... Já fazia um tempinho que eu queria te perguntar isso... -Mexeu em suas mãos
nervosamente. -Por acaso você e o Obito já namoraram no passado ou alguma coisa do tipo?
Pisquei atordoadamente.
-Namorar? Quê? -Foi a minha vez de tombar a cabeça para o lado. -Não, bebê, é claro que não. De
onde você tirou isso, hm?
-A-Ah, sei lá... -Olhou para o lado de forma constrangida. -É que eu notei vocês tão íntimos.
Pareciam que tinham alguma coisa.
Deixei um riso carinhoso escapar.
Apesar de ter se dado conta de que existia algo entre mim e o Obito, o Naruto errou feio ao pensar
que havíamos nos envolvido amorosamente. De qualquer forma, eu sentia como se, aquele momento, fosse
o ideal para revela-ló de uma vez o meu “segredinho”.
Afinal, eu não gostava nenhum pouco de esconder as coisas do meu bebê.
-O Obito é o meu primo, bebê. -Eu realmente não sabia ao certo como lhe contar esse detalhe, então
apenas decidi ser o mais breve possível. -Ele é um infiltrado da polícia que, basicamente, ganhou esse
emprego pra ajudar eu e o meu irmão.
Naruto entreabriu os lábios silenciosamente.
-É por isso que a gente tem tantas vantagens e tudo mais. -Ri sem graça. -Desculpa, bebê? Eu
queria ter te contado antes, mas o Itachi me fez prometer que eu não diria a ninguém.
Para a minha surpresa, o loiro não parecia tão surpreendido quanto eu esperava.
-H-Hm... Isso explica muita coisa.
-Você não está bravo comigo? -Questionei preocupado, segurando em sua mãozinha com um bico
leve e chateado. -Desculpa...
O meu bebê discordou calmamente.
-E-Eu não estou bravo com você, só um pouco surpreso com a situação. -Sorriu para mim. -O Dei
também sabe sobre isso, ou só eu?
-Eu acho que ele não sabe de nada. -Palpitei.
-Nossa... -Riu desacreditado. -Eu vou demorar um pouquinho pra digerir isso, mas tudo bem.
-De qualquer forma, não conta pra ninguém, tá bom? -Pedi delicadamente. -Eu confio em você, mas
cuidado pra não deixar escapar a informação pro Gaara, o Neji, ou sei lá.
Ele concordou positivamente.
-Pode confiar, Sasuke. -Sinalizou um zíper em sua boca. -Eu vou ficar bem quietinho.
Dei uma risada divertida.
-Vem, vamos até os meninos. -Ergui o meu braço para que ele segurasse novamente.
Caminhamos na direção deles. Com sorte, o discurso de Obito parecia estar chegando ao fim, apesar
de que, de longe, já foi possível enxergar com perfeição a carranca tediosa que Itachi e Deidara mantinham
em frente à seus superiores, enquanto o ruivo parecia beirar o arrependimento.
-...Não façam mais isso, entenderam?! -O voz do carcereiro soava abismada. -Isso foi muito sério,
meninos. Roubar o meu celular, se passar por mim e mandar mensagens ameaçando o diretor, foi algo
inaceitável!
-A gente não roubou nada, caralho! -Deidara rebateu. -Só pegamos emprestado! Era só pra dar uma
zuada com o pessoal dos seu contatos, Obito, não precisa ficar tão putinho!
O moreno ficou vermelho de raiva.
-Já chega, Deidara! -Ordenou irritado. -O que vocês três fizeram foi muito errado! Até com o Kakashi
vocês aprontaram! Travaram o celular dele com pornografia!
Meu irmão precisou segurar a sua risada.
-Isso não é engraçado, Itachi!
-Foi mal... -Tapou a própria boca.
-Agora sou eu quem vou ter que pagar o concerto do celular dele! Olha que legal! -Obito massageou
as próprias têmporas.
Deidara soltou um som de indignação.
-Por que você vai ter que pagar o concerto do celular daquele morfético?!
-Porque o link veio do meu celular! -Explicou enraivecido. -Do meu!
-Você não tem a obrigação de pagar nada, ué! -Empinou o nariz. -Quer saber?! Bem feito que o
celular daquele safado travou, eu não me arrependo! Assediador de merda! Escroto!
O carcereiro bateu na própria testa.
-Obito, vamos dar uma pausa por aqui, está tudo bem. -Danzou tocou amigavelmente em seu ombro.
-Eu já entendi que tudo se passou de uma brincadeira dos meninos, sim?
-Está vendo só?! -Deidara lhe provocou. -Até o velhote ‘tá suave e você não! Dramático!
-Deidara, você—
-Vamos tomar um chá na minha sala, Obito. -O diretor o interrompeu. -Venha, por favor.
-Certo... -Ele respirou fundo, lançando um último olhar desapontado para os três. -Isso não acabou
aqui, meninos, depois a gente vai conversar sério. Eu estou muito chateado.
Todos optaram pelo silêncio.
Eu confesso que fiquei com uma certa pena do Obito. Se eu estivesse em seu lugar, com certeza me
sentiria traído pelos garotos, afinal, ele sempre fez questão de ser muito legal e paciente com todos ao seu
redor.
Quando o moreno virou as costas, Itachi foi o primeiro a se pronunciar, soltando um riso meio
preocupado e arrependido.
-É, cambada... Acho que a gente passou dos limites.
-Acha? -Repeti desacreditado. -Coitado do Obito. Se eu fosse ele, não perdoaria vocês.
Gaara se encolheu chateado.
-Eu estou tão arrependido... -Abraçou os próprios joelhos, formando um biquinho em seus lábios.
-Acho que eu vou começar a trabalhar só pra pagar o concerto do Kakashi. O Obito vai me desculpar depois
disso, né?
Deidara grunhiu enraivecido.
-Trabalhar como, caralho?! -Deu um tapa atrás de sua cabeça. -Virando a puta da prisão?! Se liga,
Gaara, a gente não fez nada de errado! Só implicamos com quem merecia de verdade! O Kakashi é um
nojento!
Itachi concordou com a cabeça.
-A parte do Kakashi eu não me arrependo.
O meu bebê deixou um riso escapar.
-H-Hm... Essa parte eu também não.
Acabamos por rir em conjunto.
-Ah, gente... Mas a parte do diretor eu achei meio mancada mesmo. -O ruivo coçou a nuca,
mostrando-se envergonhado de si mesmo. -Ele é super legal com a gente.
O loiro mais velho deu de ombros.
-A gente só fez uma brincadeira! Eles que são uns dramáticos do caralho!
-Não, chefe, acho que a gente que se empolgou mais do que deveria. -Itachi argumentou, rindo sem
graça. -Mas valeu a pena. Fazia muito tempo que eu não mexia em um celular.
-Agora vê se você aprende de uma vez por todas a me escutar, Itachi. -Empinei o nariz
convencidamente. -Eu falei que isso ia dar errado. E vocês ainda queriam mandar mensagem no grupo com
todos os funcionários da prisão, seria ser mil vezes pior.
Gaara arregalou os olhos.
-Minha nossa... -Limpou uma gotícula de suor em sua testa. -Imagina se aquele áudio meu falando
do Lee e do pai dele vazasse no grupo?
-Ué, mas você não falou nada de mais. -Itachi tranquilizou-o.
-Eu sei... Mas eu tenho vergonha. -Riu tímido.
Deidara bufou entediado.
-Até quando você vai ficar com essa putaria de flertar com o Lee, mas não criar coragem pra se
declarar de uma vez?!
O ruivo o fitou levemente assustado.
-Eu não consigo fazer uma coisa dessas. -Choramingou baixinho. -Me declarar pra ele? Eu não sei,
gente... Acho melhor não.
-H-Hm... Mas o Lee é tão legal, Gaara, eu acho que ele gostaria de saber sobre os seus sentimentos
em relação a ele. -O meu bebê sorriu com carinho e compreensão.
-Ah... E como você sabe que o Lee é legal? -Perguntou confuso. -Você ja falou com ele?
Embora a pergunta não tenha sido direcionada para mim, eu resolvi respondê-la no lugar de Naruto.
-Sim, falamos com o Lee agora pouco. -Sorri fraco. -Eu também achei ele simpático.
Gaara espremeu os olhos na nossa direção.
-Aonde vocês falaram com ele?
-Err... No banheiro. -Respondi sem entender.
-No banheiro? E o que vocês estavam fazendo lá com o Lee? -Questionou incomodado.
-Aposto que no maior vuco vuco! -Deidara acusou. -Por isso que vocês demoraram tanto e deixaram
a gente sozinhos levando uma coça do Obito!
O meu bebê corou violentamente.
-Não é nada disso, gente. -Respondi perturbado. -Não foi “vuco vuco” nenhum. -Fiz aspas com o
dedo, sabendo exatamente o que Deidara queria dizer com isso. -A gente pagou o maior mico com o Lee,
isso sim.
-H-Hm... Verdade. -Naruto concordou.
-Mico? Ele flagrou vocês dois no ato? -Itachi sorriu divertido. -Que feio, Sasuke...
-Não é nada disso, eu já falei. -Estalei a língua. -A gente estava escorregando no chão do banheiro e
ele entrou bem na hora, só isso.
-Escorregando no chão? -Meu irmão fingiu estar pensativo. -Eu nunca ouvi falar... Que tipo de
posição sexual exótica é essa?
Soltei um grunhido irritadiço.
-Vai se foder. Você nunca me leva a sério.
-Isso não vem ao caso! -Deidara retomou o assunto. -Gaara, eu quero que você vá agora na
enfermaria e lasque um beijão no Lee!
O ruivo negou freneticamente.
-Você está louco?! Eu não vou fazer isso!
-Por que não, caralho?! -Empurrou seu ombro como um incentivo. -A gente só vive uma vez nessa
vida! Você vai mesmo deixar o seu medo idiota te atrapalhar?!
Gaara se encolheu no banco.
-Mas nem na época em que eu gostava de você eu tive coragem pra me declarar, Dei, e o olha que a
gente se conhece a bem mais tempo do que eu conheço o Lee... -Revelou sem pensar muito,
esquecendo-se completamente da presença de meu irmão. -Ah... Não é isso que você ‘tá pensando, Itachi.
-Que história é essa, caralho? -O moreno olhou seriamente em sua direção.
-Não é nada, Itachi. -O loiro interrompeu.
-O Deidara tem razão, Gaara. -Eu nem havia sido chamado na conversa, mas de vez em quando,
gostava de dar a minha opinião. -Se eu fosse você, seria sincero em relação aos meus sentimentos... Igual
eu fiz com o Naruto.
O meu bebê sorriu carinhoso para mim.
Felizmente, conseguimos deixar o ruivo refletindo se realmente valeria a pena se declarar para o Lee,
ou não.
-Certo... -Ele assentia inseguro com a cabeça, enquanto dava pulinhos ansiosos no banco. -A gente
só vive uma vez, né?
-Exato, caralho. Foi o que eu disse. -Deidara concordou.
-Legal... -Gaara se levantou de abrupto. -Eu vou falar com ele hoje mesmo!
Todos nós começamos a aplaudi-lo.
Eu estava contente por vê-lo criar a coragem necessária para se declarar, até porque, eu mesmo
entendo o quanto é difícil lidar com o medo de que seus sentimentos não sejam correspondidos. Antes de
contar ao meu bebê que eu gostava de si, me recordo com clareza de estar incrivelmente nervoso com a
sua reação.
Felizmente, o Naruto sentia o mesmo por mim.
-Legal, muito bacana que você vai se declarar pra ele e tudo mais... -Itachi chamou a nossa atenção,
não muito empolgado se comparado ao restante de nós. -Mas que história é essa que você gosta do
Deidara, hein?
-Eu não gosto dele. -Negou rapidamente. -Eu gostava dele, no passado. Mas já superei.
O loiro jogou os cabelos em exibição.
-Eu sou mesmo muito irresistível.
-É um convencido, isso sim. -Gaara implicou.
-Convencido, é?! Engraçado que você tava louco pra me dar! -Gritou provocativamente. -Morfético
tarado!
-Eu não estava louco pra te dar! -Corou violentamente. -Não diga essas coisas!
-Você queria sim! -Insistiu convicto. -E não queria só me dar, como também queria dar pro Naruto e o
Sasuke!
Fitei os dois garotos de forma assustada.
-Eu e o Naruto? -Levei a mão ao peito, olhando brevemente para o meu bebê, o qual mantinha sua
cabeça baixa em um sinal de constrangimentos. -Que história é essa?
-Ah, vai se ferrar, Deidara! -Gaara cobria o rosto envergonhado. -Eu te odeio!
Meu irmão assistia tudo silenciosamente.
-Nossa, cambada... -Riu levemente. -Eu não sabia desse triângulo amoroso de vocês.
-Não teve triângulo amoroso nenhum! -O ruivo se defendeu. -Deixa isso pra lá, falou? Vamos voltar
ao assunto de antes... O Lee!
Naruto concordou positivamente.
-H-Hm... Sim, vamos falar do Lee.
-Não tem mais o que falar sobre isso. -Itachi afirmou. -Vai lá e se declara pra ele, Gaara, simples e
fácil. Quanto mais você enrolar, pior vai ser, eu te garanto.
-É isso aí! Tem que ser jogo rápido! -Deidara reforçou. -Vai logo, e sem enrolação!
O ruivo assentia nervosamente.
-Tudo bem, eu vou agora...
Nos animamos juntamente com ele. Seria no mínimo interessante e divertido poder assisti-lo se
declarando para o Lee. Eu torcia de verdade para que ambos acabassem juntos.
-A gente vai junto pra assistir de camarote! -O loiro mais velho se levantou empolgado. -Se o Lee te
der um pé na bunda, vamos estar perto pra te consolar!
O ruivo encolheu os ombros pelo comentário.
-N-Não liga pro meu irmão, Gaara, vai dar tudo certo. -Naruto sorriu amorosamente.
-Obrigado, franguinho. -Abraçou-o de lado. -Eu espero mesmo que você esteja certo.
Todos nos levantamos para acompanhá-ló. Não pretendíamos entrar na enfermaria junto consigo, o
plano inicial, o qual foi rapidamente bolado por Itachi, era para que ficássemos na parte de fora, assistindo
tudo pela janelinha.
O caminho até nosso destino foi bastante tenso. Gaara ficou a tremer o tempo todo, mantendo-se
abraçado ao Naruto para que não perdesse o equilíbrio e, segundo ele, para não desmaiar de tanto
nervosismo.
Paramos todos em frente à enfermaria.
-É agora... -Engoliu em seco. Avistamos Lee no interior do cômodo, completamente sozinho e
mexendo em alguns remédios dentro do armário. -O pai dele não está.
-Melhor ainda. -Naruto sorriu calmamente. -Boa sorte, Gaara. Se lembre do que eu disse.
-Boa sorte. -Desejei com honestidade, vindo seguido de um “lasca um beijo na boca dele”, da parte
de Deidara. -Vai dar tudo certo.
Por fim, Gaara abriu a porta em nossa frente.
Querendo ou não, eu estava muito nervoso por ele. Caso o enfermeiro não possuísse os mesmo
sentimentos em relação a si, o ruivo, com certeza, ficaria extremamente arrasado e, possivelmente, choraria
com a situação.
Decidimos nos aproxima discretamente da janelinha, quase que acotovelando um ao outro para que
pudéssemos enxergar a parte de dentro. Apesar do pouco espaço, foi possível reparar que Gaara já estava
a se comunicar com o Lee, o qual aparentava estar o escutando com bastante calma e paciência.
-H-Hm... Eu não estou enxergando. -O meu bebê reclamou, tentando ficar na pontinha dos pés para
ver melhor. -Deixa eu ficar na frente, gente. Eu sou o mais baixo daqui.
-Nem pensar! -Deidara resmungou, dando um murro na barriga de meu irmão para que ele fosse pro
lado. -Quem chegou primeiro pega o lugar da frente, essa é a regra!
-Para de me bater, cacete! -Itachi resmungou, trombando sua cintura com a de seu namorado, o qual,
em consequência, também se chocou contra meu corpo.
-Não empurra, Itachi! -Bati meu quadril no de Deidara, “devolvendo” ele para o meu irmão.
-Eu virei o saco de pancadas de vocês agora, caralho?! -O loiro espaçou seus braços, afastando nos
dois ao mesmo tempo. -Vão se foder! Eu cheguei primeiro!
Em meio a briga para ver quem ficaria na frente, Naruto se aproveitou de nossa distração para
passar por baixo das pernas de Itachi e, por fim, se colocar na frente de todos, bem próximo da janelinha.
-Trapaceiro! -Meu irmão exclamou. -Passou embaixo das minhas pernas que nem um rato!
-H-Hm... Me desculpem. -Pediu tímido.
-Não dá pra você ficar aqui na frente, franguinho, a sua bunda é enorme! -Deidara implicou. -Ocupa
metade do espaço, porra!
O meu bebê se chateou com o comentário, ficando com as bochechas coradas.
-Tá bom, espera... -Puxei Naruto pela cintura, levantando-o do chão sem permissão. -Melhor agora,
bebê? ‘Tá vendo direitinho?
-U-Uhum... Muito obrigado, Sasuke.
Felizmente, arrumamos um jeito de todos nós olharmos a parte de dentro. Naquele mesmo instante,
Lee segurava nas mãos de Gaara, enquanto o outro mantinha a cabeça baixa, dizendo algo sem coragem
para olhá-lo cara a cara. No segundo seguinte, os olhos do moreno se arregalaram em surpresa, vindo
acompanho de seu rosto rubro, o qual ganhou uma coloração a mais pelo o que escutou.
-Acho que o Gaara já se declarou. -Itachi sussurrou. Aparentemente, ele estava certo, visto que, em
seguida, Lee tocou-o no queixo, levantando sua cabeça para que pudesse olhá-lo diretamente nos olhos.
-Meu Deus...
Ambos, por fim, encostaram os seus lábios.
Lee e Gaara estavam, oficialmente, se beijando.
-Boa, caralho! -Deidara começou a aplaudir, sem se preocupar com o entonação de sua voz. Eles,
com certeza, haviam nos escutado desde o início, mas estavam tão envolvidos em seu beijo, que nem ao
menos se derem o trabalho de virar para trás. -Isso! Agora sim!
Eu sorri abertamente.
-Ah, que lindos! -O meu bebê deu um gritinho empolgado e carinhoso. -Eles são muito fofos!
-São mesmo. -Concordei baixinho. Ver o Gaara conseguindo ficar com a pessoa que tanto amava,
me causava uma onda gigantesca de felicidade. Eu sei o quanto é bom estar apaixonado. -Eles combinam
muito.
Meu irmão foi o primeiro a se distanciar da porta.
-Vamos deixar eles a sós, cambada.
-É, acho melhor mesmo. -Me afastei juntamente com o meu bebê, colocando-o delicadamente de
volta ao chão. -Os dois precisam de privacidade agora.
-Agora ele vai andar com cara de bobão apaixonado o dia inteiro, quanto vocês apostam? -Deidara
riu divertido. -Que bom que o Lee também sente o mesmo, eu estava com medo do Gaara sair machucado.
-Pra mim já estava óbvio que o Lee sentia o mesmo, desde a primeira vez que os dois se viram na
diretoria. -Sorri com a recordação. -Foi tipo amor a primeira vista, ou sei lá.
Naruto sorriu carinhosamente para mim, segurando em meu braço para que andássemos lado a lado,
como o habitual.
-Ah, é... -Deidara também se recordou. -Foi bem óbvio que eles gostaram um do outro, até o diretor
Danzou deve ter percebido.
-Merda, eu queria ter visto eles se conhecendo. -Itachi resmungou.
-Só eu e o Sasuke tivemos essa oportunidade, bando de morféticos invejosos. -Empinou o nariz em
exibição. -Você e o Naruto nunca vão saber como foi o primeiro encontro deles.
Por estar abraçou comigo, reparei que o meu bebê não gostou nenhum pouco de ter o seu irmão
direcionando a palavra a si, tanto que, quando o mesmo olhou na sua direção, ele fez questão de formar um
biquinho emburrado e pirracento em seus lábios.
-Ihh, que cara é essa hein, Naruto? -Deidara estalou a língua. -Ficou bravo por quê?
-H-Hm... -Espremeu sua bochecha em meu braço de forma raivosa, porém adorável. -Por que você
falou que a minha bunda ocupa metade do espaço... Eu não gostei disso, Dei.
Itachi e Deidara caíram na gargalhada.
-Gente, para com isso... -Abracei Naruto protetoramente, sentindo-o esconder o rosto de forma
magoada em meu peito. -Vocês tem que começar a medir o jeito de falar com as pessoas. Tem gente que
não gosta, sabia?
-Ah, vai tomar no cu vocês! -O loiro lançou o dedo do meio. -Eu já cansei! Agora até falar da bunda
do garoto é motivo pra chororô!
-Eu achei o maior drama também. -Meu irmão concordou com o Deidara, como sempre. -Se falassem
isso da minha bunda, eu ia sair rebolando por toda a prisão!
Enquanto seu namorado ria loucamente, meus olhos se reviraram com força. Eles realmente não
respeitavam ninguém, nem mesmo uma pessoa que sabiam sobre o grau de timidez. Se eu bem conhecia o
meu bebê, sabia que ele começaria a odiar o tamanho de sua bunda por conta deles.
-Não falem mais assim dele, por favor. -Pedi com toda a minha boa educação, fazendo um carinho na
cintura do loiro para mostrá-lo que estava do seu lado. -Foi desnecessário.
-Argh, povo chato do caralho! -Deidara xingou. -Se não fosse seu aniversário, Sasuke, eu te dava
uma voadora nas costas!
Olhei tediosamente na sua direção.
-Por falar em aniversário... -Itachi chamou a minha atenção, sorrindo com expectativa. -Eu tenho um
presente pra você, Sasuke.
-Um presente? -Repeti desconfiado. -Que tipo de presente? Olha, se vocês foram me dar ovada de
novo, eu—
-Não é nada disso. -Me cortou. -Se você quiser ver, vai ter que vir comigo... Sozinho.
Franzi meu cenho sem entender.
-Err... Está bem. -Afastei o Naruto delicadamente de meu corpo. -Bebê, eu já venho, sim?
Ele concordou com um biquinho chateado, provavelmente desaprovando a ideia de ficar com o seu
irmão após o comentários que escutou em relação ao seu traseiro. De qualquer forma, eu não pretendia
demorar muito. Era só pegar o presente do Itachi e voltar.
Eu comecei a segui-lo para longe daquele corredor. Notei que, assim como eu, Deidara também
estava confuso em relação a esse “presente”, o que significava que meu irmão não havia lhe dito nada a
respeito.
Andamos até o final do corredor, nos afastando o máximo possível dos dois garotos. Itachi resolveu
entrar em um dos quartinhos de limpeza e, sem pensar duas vezes, me puxou para dentro. Aquele era o
local em que, geralmente, vínhamos nos encontrar com o Obito escondido de todos.
-O que é isso? -Perguntei sem entender. -Cadê esse tal presente?
Mesmo que no escuro do ambiente, eu notei um sorriso perverso crescer pelo seu rosto.
-Eu guardei o melhor presente da sua vida pro dia do seu aniversário de vinte anos.
-Do que você está falando, Itachi?
Ele segurou firmemente nas minhas duas mãos, aproximando nossos rostos para me fitar num misto
de intensidade e honestidade.
-A gente vai fugir. -Declarou em um fio de voz. -Vamos fugir desse lugar infernal ainda nessa
semana.
-O quê...?
-É isso que você ouviu, Sasuke, até o final dessa semana, seremos livres novamente.

Capítulo 30 - Planos e desentendimentos

Sasuke On

Meus dedos batucavam ansiosamente por cima da madeira, assim como meus pés que,
involuntariamente, se batiam repetidas vezes ao chão, tentando lidar de maneira saudável com a situação
atual em que me encontrava.
Era quase de madrugada. Horas após a “comemoração” de meu vigésimo aniversário. O refeitório ao
meu redor encontrava-se sombriamente desabitado, silencioso e com quase todas as luzes apagadas, para
que, dessa maneira, não chamássemos a atenção de terceiros. Somente uma das lâmpadas permanecia
funcionando, a mesma que, propositalmente, iluminava o centro da mesa em que eu e Itachi ocupávamos.
Éramos os únicos presentes naquele ambiente. A não ser, é claro, o Obito que, a pedidos de meu
irmão, aceitou ficar de guarda na porta principal, monitorando a entrada dos detentos e carcereiros, mas
somente caso alguém se atrevesse a aparecer de repente.
Ninguém tinha a permissão de ficar fora das celas tão tarde da noite, se bem que, diferente de todo o
restante, nós tínhamos um motivo bem plausível para isso.
Estávamos esperando por Naruto e Deidara.
Itachi foi quem insistiu que nos reuníssemos o mais breve possível, naquela mesma noite. Os
meninos, por outro lado, embora tenham topado vir ao nosso encontro, não faziam a mais vaga ideia do que
estava acontecendo, e aonde queríamos chegar chamando-os para “passear” no refeitório logo após o
acionamento da sirene noturna.
Na verdade, nem mesmo eu estava muito ciente e devidamente informado sobre o plano inesperado
de meu irmão e Obito. Mesmo insistindo muito por explicações, Itachi deixou claro que, para que pudesse
me contar todos os detalhes de sua ideia, os outros dois garotos também precisariam estar presentes.
Em conclusão, eu passei o dia inteirinho sendo corroído pela minha curiosidade. Itachi não teve
piedade alguma na hora em me esperando e ansiando por respostas durante sete horas seguidas.
Eu nem precisava comentar o quão surpreendido e desacreditado estava em relação a tudo o que
escutei de si. Fugir dessa prisão sempre foi, acima de qualquer coisa, o nosso maior desejo. Sonhávamos
com esse dia desde a primeira vez em que pisamos o nosso pé aqui dentro, Itachi com os seus vinte e dois
anos, e eu com os meus dezoito recém-completados, contendo uma maturidade muito diferente se
comparado a atualmente.
Tenho recordações claras de todas as vezes em que conversei com o mais velho sobre como as
nossas sentenças demorariam para serem concluídas e que, se dependêssemos do sistema atual de
justiça, perderíamos nossas vidas inteiras engaiolados e envelhecendo dentro desse lugar.
Não dava para acreditar que, durante todos esses anos, o Itachi estava mesmo planejando uma fuga
com o Obito e, além disso, não se deu o trabalho de me contar nada a respeito.
Mas, ao mesmo tempo, eu até que compreendia o seu lado da história. Se ele houvesse me dito a
verdade desde o começo, eu certamente não conseguiria mais viver em paz aqui dentro. Sem dúvidas
alguma, passaria o restante de meus dias me perguntando se valeria mesmo a pena escapar ou se tudo
daria errado e, no final das contas, seríamos todos pegos novamente.
Talvez por saber sobre minha a ansiedade e preocupação excessiva, o meu irmão decidiu me privar
de toda a elaboração da fuga.
Eu estava confiando muito nele. Embora não soubesse de absolutamente nada relacionado ao seu
plano, a sua convicção e confiança em revelar-me o meu “presente de aniversário”, foi o que mais me
tranquilizou nessa história, especialmente por saber que o meu bebê também havia sido incluso nisso tudo.
Seria mentira se eu dissesse que não estava de queixo caído por Obito e Itachi terem decidido incluir
os dois irmãos no plano. Mas é claro que, caso isso não houvesse ocorrido, eu mesmo me pronunciaria a
respeito e insistiria para que Naruto nos acompanhasse.
Sobretudo, eu não conseguia deixar de pensar em como o meu bebê e, até mesmo eu, reagiríamos
quando soubéssemos todos os detalhes sórdidos do plano. Inicialmente, a minha intenção era topar, mas
caso eu sentisse que a ideia não estava tão bem elaborada quanto meu irmão me afirmou estar, ou que
alguma parte fosse muito arriscada para nós e, em especial, para o Naruto, eu negaria pelo bem coletivo.
Eu precisava, urgentemente, de repostas.
-Itachi? -Chamei ansiosamente pelo seu nome. Meu irmão, por sua vez, apenas reabriu seus olhos
com lentidão, fitando-me com impaciência em seu olhar. Aquela era a décima vez que eu lhe chamava
desde o momento em nos sentamos naquela mesa. -Quanto tempo mais vai demorar até eles chegarem?
-Como é que eu vou saber, Sasuke? -Devolveu amargurado. -Eu marquei nesse horário, logo depois
da sirene. Eles provavelmente devem estar despistando o Gaara numa hora dessas, por isso estão
demorando tanto.
Concordei nervosamente com a cabeça.
Antes mesmo de marcarmos a “reunião” com os meninos, Itachi deixou claro que somente nós quatro
poderíamos comparecer ao refeitório. Não estávamos permitidos a levar ninguém, nem mesmo o nosso
amigo mais íntimo que, no caso, se tratava do ruivo.
-Já era pra eles estarem aqui... -Levei os dedos a boca, roendo minhas unhas uma por uma. Eu era,
claramente, o mais ansioso entre todos. Obito e meu irmão estavam tão serenos que, sinceramente, me
causava uma certa inveja. Como alguém conseguia ficar tão relaxado diante de uma situação dessas?
-Será que aconteceu alguma coisa? Não é melhor eu sair pra preocupar o Naruto ou—
O moreno suspirou irritado, calando-me ao distanciar minha mão da boca. Eu estava prestes a roer
os meus próprios dedos.
-Na unha tem bactérias, Sasuke. -Alertou seriamente. -E eu aposto de você não lavou essa mão
hoje, não é?
Eu o fitei com indignação.
-Como você consegue ficar tão calmo, Itachi?
-É um dom. -Sorriu levemente. -E outra, eu já estou planejado isso a muito tempo, Sasuke... Muito
tempo mesmo. Eu meio que me acostumei com a ideia, entende?
-E esse sua ideia incluía me deixar curioso e sem respostas durante sete horas? -Indaguei ríspido,
ainda desacreditado de que fui obrigado a ficar horas seguidas sem explicações algumas. Para alguém que
possui um grau ansiedade similar ao meu, isso é extremamente desumano de se aguentar. -Você jogou a
bomba só pra me deixar ansioso, é isso?
-Eu já disse que não é isso, Sasuke. -Espreguiçou-se por cima da cadeira. -O plano precisa ser
contado quando todos estiverem juntos, senão não vai funcionar do jeito certo.
Remexi em minhas mãos nervosamente.
-Mas, Itachi, eu—
-Por favor, para de fazer perguntas. -Apoiou os cotovelos de forma esgotada, me fitando com uma
feição sofrida. Eu tinha consciência do quão chato deveria ser para ele me escutar repetindo os mesmos
questionamentos. -Espera até eles chegarem, Sasuke. Pode ser?
Cruzei os braços com um bico emburrado, soltando um grunhido raivoso antes mesmo de voltar a
bater os meus pés no chão. Eu odiava ser alguém tão ansioso.
Com a intenção de me distrair, continuei a batucar meus próprios dedos na mesa, fazendo sons e
ritmos aleatórios enquanto olhava distraidamente a escuridão do refeitório. O meu cérebro trabalhava sem
descanso, lidando e digerindo aos poucos o tal plano bolado pelo meu irmão, além de, é claro, estar
imaginando a maneira como o meu bebê reagiria ao saber de tudo isso, e até mesmo como o Deidara
ficaria com a notícia.
Eu tinha medo de que tudo desse errado.
Após longos minutos de espera e aflição, a quietude do refeitório foi tomada por um eco alto e
escandaloso, o qual vinha diretamente do corredor. De início, imaginei que se tratasse de um detento
qualquer que escapou durante a noite, mas, felizmente, me enganei ao notar que Obito gesticulava
tranquilamente para alguém, dando passagem para que o indivíduo viesse ao lado de dentro.
Naruto e Deidara adentraram o cômodo.
Embora estivesse aliviado em revê-los, reparei que ambos vieram carregados de expressões
desconfiadas, enquanto o meu bebê, sendo sempre o mais medroso se comparado a nós, permanecia
encolhido ao lado de seu irmão, segurando em sua mão, contra a vontade do outro, pelo desconforto que
sentia em estar frequentando o refeitório no meio da noite.
Eles sabiam que algo estava fora dos eixos.
-Finalmente. -Murmurei inquieto, ajeitando a minha postura rapidamente na cadeira. Eu queria
parecer o menos tenso possível para o Naruto. Deixá-lo nervoso, assim como eu mesmo estava, só pioraria
tudo. -Oi, bebê.
Forcei um sorriso e acenei em sua direção.
-H-Hm... Oi, Sasuke. -Respondeu delicado, porém recoso. Seus olhinhos passeavam atentamente
pelo cômodo, além de alternar entre mim e meu irmão, talvez perguntando-se a razão pelo qual estávamos
isolados no refeitório, além de termos colocado Obito como o nosso “guarda-costas particular”.
-Mas que caralho é isso aqui hein, Itachi? -Deidara chegou com um xingamento na ponta da língua,
olhando ao seu redor com uma careta perturbada. -Algum tipo de seita ou culto satânico? Até o Obito entrou
nessa?
Meu irmão riu brevemente.
-Vocês demoraram, chefe.
-A gente precisou despistar o Gaara. Foi como você pediu, ué. -Estalou a língua, tomando a
liberdade de se sentar ao lado do namorado, colocando seus dois pés despojadamente em cima da mesa.
-É uma reunião familiar isso aqui? Ah! Eu já sei... O Sasuke está grávido?!
Olhei entediado na sua direção.
-Ihhh, Naruto, agora você vai ter que pagar a pensão! -Gargalhou da própria piada, dando uma
cutucada provocativa em seu irmão mais novo, o qual permanecia de pé em frente à mesa. -Eu vou ser o
titio? Vocês vão querer que eu ou o Itachi batize essa criança?
Me deu uma certa agonia de presenciar o Deidara tão “feliz” e descontraído em meio a todos. Ele
nem sequer cogitava o quão séria e chocante aquela reunião iria se tornar.
-Para com isso, vai. -Pedi impaciente. Não era hora de fazer brincadeiras. Estávamos prestes a
sermos informados sobre um plano de fuga que mudaria as nossas vidas por completo. Isso se todos nós
topássemos participar, é claro. -Eu não estou grávido coisa nenhuma.
O loiro mais velho tapou a própria boca.
-Oh! -Fingiu estar surpreso, virando-se em direção a Naruto na hora de tocar em sua barriga,
acariciando-a como se realmente houvesse um bebê ali dentro. -Então é você! Meus parabéns, Naruto,
você vai ser mamãe!
O meu bebê negou com a cabeça.
-E-Eu não estou grávido, Dei. -Anunciou o óbvio, rindo baixinho ao senti-lo abraçar a sua barriga,
dando um beijo leve naquela mesma área enquanto murmurava um “O bebê está falando comigo”.
Itachi foi quem afastou o seu namorado.
-Isso aqui é sério. -Declarou frio, cortando totalmente o clima divertido entre os dois irmão. Em
seguida, apontou para a única cadeira vaga da mesa. -Senta ali, Naruto. O negócio vai demorar por aqui, eu
acho melhor você ficar o mais confortável possível.
O loiro engoliu em seco.
Embora estivesse visivelmente receoso com a situação, Naruto optou por obedecer às ordens de
meu irmão. Quando o mesmo se sentou ao meu lado, tentei lhe direcionar um sorriso tranquilizador, o que,
certamente, não deu muito certo naquele momento.
Estava muito difícil de atuar e forçar alegria em frente à ele. O meu bebê sabia bem que eu estava
desconfortável com alguma coisa. Felizmente ou infelizmente, Naruto me conhece melhor do que qualquer
um.
Estávamos todos, por fim, acomodados. Naruto ao meu lado, meu irmão de frente à mim, e Deidara
na minha diagonal.
A reunião podia, finalmente, começar.
-E então? -O loiro mais velho se pronunciou, voltando seus pés para cima da mesa. -O que ‘tá
rolando aqui?
Itachi respirou fundo. Ao invés de repreendê-lo com palavras, apenas tomou a liberdade de abaixar
os pés do seu companheiro, pedindo, silenciosamente, para que o mesmo agisse com seriedade naquele
momento delicado.
-Eu reuni todos vocês aqui essa noite, porque tenho uma coisa extremamente importante para
anunciar. -Entrelaçou os dedos por cima da mesa, mantendo uma postura ereta e impecável, a mesma que
a muito tempo eu não presenciava. -Antes de tudo, eu peço para que me ouçam com atenção e entendam
que, sem vocês, nada do que eu disser a seguir vai funcionar. Eu preciso de toda a colaboração e
compreensão possível.
Mesmo sem entender muita coisa, os meninos acabaram por assentir com a cabeça.
-O Sasuke já está sabendo de uma pequena parte disso. -Informou desnecessariamente, talvez por
não querer carregar o peso da notícia sozinho. -E já está mais do que na hora de vocês dois saberem
também.
O meu bebê ficou incrivelmente tenso.
Já o Deidara, assustou a todos nós com um murro violento na mesa.
-Porra! -Gritou rispidamente. -Para de enrolação, Itachi! Você sabe que eu odeio essas coisas!
Desembucha de uma vez!
Meu irmão o fitou em repreensão.
-Isso é coisa séria, Deidara. -Advertiu secamente. -Não me interrompa.
Por incrível que pareça, mesmo que após incontáveis grunhidos raivosos e reviradas de olho
pirracentas, o loiro se amansou.
Aquela era a hora que todos estávamos esperando. Como eu já sabia exatamente o que estava por
vir, decidi tocar na coxa do meu bebê, acariciando-a de leve para lhe passar algum tipo confiança e
mostrá-lo que estava ali do seu lado. De certa forma, senti-lo entrelaçar os seus dedinhos de volta aos
meus, também me tranquilizou em partes.
-Meninos... -Itachi chamou em suspense. -Nós todos fugir dessa prisão. Vamos dar o fora daqui ainda
nessa semana.
Silêncio.
O silêncio foi a resposta de todos nós.
Eu era o único, entre os dois garotos, que já havia recebido a notícia anteriormente. Mas, de certa
forma, ouvi-lo repetir a mesma coisa pela segunda vez, me atingiu de uma maneira ainda mais intensa,
além de que, ter os garotos participando da conversa, deixava tudo centenas de vezes mais apavorante.
O clima pesado e angustiante foi cortado por uma gargalhada escandalosa de Deidara.
Ficamos a assisti-lo rir descontroladamente em nossa frente, literalmente se contorcendo por cima da
cadeira como se houvesse acabado de escutar a piada do século.
-Essa foi boa, Itachi! -Deu um soco em seu ombro. -Muito boa mesmo...
O moreno travou o maxilar em sua direção.
Itachi estava incomodado com tamanha ignorância e desprezo vindo de seu namorado, e bem
quando insistiu para que o mesmo levasse aquela situação a sério. Em meio a diversas miradas e olhares
mortais, Deidara foi parando de rir aos poucos, franzindo o cenho ao se dar conta de que todos nós
estávamos amargurados, além de ter notado uma quantidade excessiva de suor escorrendo pelo meu rosto.
O loiro fechou a cara.
-Pera aí... -Baixou seu tom de voz, encolhendo os ombros lentamente. -Isso é sério?
Itachi assentiu positivamente.
-Vocês não estão brincando...?
-Não estamos brincando. -O moreno soou grosseiro, porém convincente. -Como eu já disse, isso é
sério, e é verdade.
Mais silêncio veio em reposta.
Deidara não era o único que estava abismado com a notícia. Mesmo que de relance, notei o meu
bebê se remexer em apreensão, apertando sua mãozinha contra a minha para buscar por segurança em
meio ao diálogo.
Para relembra-ló de que estava ao seu lado, acariciei sua pele discretamente, mantendo meus olhos
fixos aos de meu irmão para que pudesse escutar o que o mesmo tinha a dizer.
-Antes que vocês me atolem de perguntas que nem o Sasuke fez, eu vou explicar o plano todo
primeiro. -Declarou com formalidade. -Por favor, não me interrompam no meio... São vários detalhes a
serem contados e eu preciso de toda a concentração possível, tudo bem?
Deidara assentiu ansiosamente.
-H-Hm... Itachi...? -Naruto chamou em um fio de voz, ainda inconformado e atordoado com a
situação. Assim como eu, ambos os irmãos haviam sigo pegos desprevenidos. -Mas, eu—
-Quieto. -Levantou a mão para que ele se calasse. Não foi nada delicado o modo como ele tratou o
meu bebê, mas, sinceramente, tínhamos coisas muito mais importantes para se preocupar naquele
momento. -As perguntas vem depois, Naruto, como eu já disse. Primeiro o plano, depois vocês me
questionam e decidem se aprovam ou não.
O mais novo se calou de imediato. Em seguida, encolheu-se na cadeira e acenou para mostrá-lo que
havia compreendido.
-Primeiro de tudo, eu tenho que reforçar que, para que essa ideia funcione tranquilamente, eu preciso
da colaboração de vocês. -Olhou profundamente para cada um de nós. -O plano só vai dar certo se todos
vocês toparem participar, caso contrário, o tempo que eu e o Obito levamos para planeja-ló e adapta-ló para
mais duas pessoas, vai ir por água baixo.
Deidara soltou um som de surpresa.
-O Obito? -Ergueu uma sobrancelha, olhando rapidamente para trás. O carcereiro, assim como
anteriormente, permanecia servindo de “guarda” na porta principal, completamente alheio a todos nós. -Ele
também te ajudou?
-Sim. -Respondeu grosseiro. -Não interrompe.
-Foi mal... -Murmurou arrependido. Para o Deidara chegar ao ponto de se “desculpar” e deixar uma
grosseria daquelas passar despercebida, era porque estava efetivamente preso a história. -Pode continuar.
-Naruto. -Meu irmão o chamou.
-H-Hm... Sim? -Apertou a minha mão.
-Você sabe sobre o Obito, não sabe?
O meu bebê me olhou em desespero.
Até então, Itachi não fazia ideia de que eu havia “traído a sua confiança” e contato tudo em relação
ao nosso primo para o Naruto, se bem que, pelo o que eu pude perceber, Deidara também já estava
sabendo sobre.
-Pode falar, eu não vou ficar bravo. -Declarou simplista. -Você contou pra ele, Sasuke?
-Sim. Contei hoje mais cedo. -Admiti com uma pitada de culpa. -E você? Contou pro Deidara?
Ele concordou positivamente.
-Sim, já fez um tempo.
-O Obito é primo de vocês e blá blá blá! Todo mundo aqui já sabe disso, falou?! -O loiro mais velho
reclamou, acabando por atrair a atenção do carcereiro, o qual se interessou ao ouvir seu nome ser citado
em voz alta. -Conta logo, caralho! Eu já estou enlouquecendo!
-Certo. -Coçou a garganta, negando com a cabeça diante do desrespeito extremo de seu namorado.
-Como eu estava dizendo, esse plano não foi elaborado somente por mim, e muito menos de um dia pra
noite. Eu e o Obito trabalhando nele a anos, desde a primeira semana em que chegamos na penitenciária.
O meu bebê se virou até mim.
-D-Desde que vocês dois chegaram...?
-Eu não sabia disso, bebê. -Reforcei com os ombros tencionados. -Foi como o Itachi já disse pra
vocês... Só ele e o Obito sabiam sobre isso. Eu só fui descobrir hoje de tarde.
-Para de interromper, gente.
-D-Desculpa... -Naruto pediu baixinho.
Itachi suspirou antes de continuar.
-No começo, quando eu e o Deidara já não estávamos mais juntos, e o Sasuke nem sabia da
existência do Naruto, o plano girava somente entorno de nós três. -Apontou para nós e o nosso primo. -O
Obito concordou em ajudar a gente desde o começo. Como vocês já sabem, ele é um infiltrado na polícia.
Involuntariamente, todos olhamos na direção do carcereiro.
-Mas, apesar de tudo, assim como qualquer pessoa em sã consciência, o Obito não aceitou trabalhar
de carcereiro e arriscar ser preso apenas por consideração a nós. -Riu sarcástico. -Ele está fazendo isso
por dinheiro.
Deidara sorriu em desdém.
-Essa foi boa...
-Pois é. -Sorriu de lado. -O dinheiro é o que move tudo e todos, gente, e com ele não foi diferente. O
Obito foi recompensado com uma parcela da herança que o meu pai deixou para mim e o Sasuke, enquanto
a outra parte, nós vamos usar para fugirmos e recomeçar uma nova vida em outra cidade... Bem longe
desse inferno.
Meu coração pareceu bater mais forte.
-Bom, agora vamos aos detalhes... -Itachi estralou os dedos, se preparando para nos bombardear de
informações. -Vamos fugir esse domingo. Ou seja, daqui dois dias.
O meu queixo foi, literalmente, ao chão.
Em minha cabeça, teríamos muito mais tempo para nos preparamos até a tal fuga.
-Itachi, pelo amor de Deus, você—
-Calado, Sasuke Uchiha. -Ordenou autoritário. Itachi quase sempre me chamava pelo sobrenome
com a intenção de me dar alguma bronca. -Primeiro eu explico o plano, esqueceu? Depois você faz as
perguntas, cacete, não é tão difícil de entender.
Fechei a minha boca lentamente.
-Domingo é o dia da fuga. -Repetiu com o que restava de sua paciência. Eu e os meninos estávamos
inteiramente pálidos. Nós simplesmente não sabíamos como reagir e, para aqueles que possuíam algumas
dúvidas a respeito da fuga, assim como eu, éramos obrigados a mante-las guardadas até o final da
explicação. -Nós temos até lá para decorar e nos familiarizarmos com cada detalhe do plano.
Caímos em mais um momento de silêncio.
Meu irmão, por outro lado, gesticulou brevemente com sua mão, e sem retirar os olhos de nós três,
pediu silenciosamente para que o carcereiro se aproximasse. Como se já soubesse exatamente o que
estava por vir, Obito deu uma última checada no corredor a sua frente e, com uma postura distensa,
caminhou de forma lenta em nossa direção.
Ficamos a acompanhar sua chegada com curiosidade, especialmente ao notar que o mesmo retirava
algo de seu bolso, entregando, prontamente, uma espécie de envelope nas mãos de Itachi.
-Isso aqui... -Levantou o conteúdo na altura de seu rosto, chacoalhando de leve para fazer suspense.
-São as nossas identidades falsas.
O envelope foi escorregado até mim.
-Abre, Sasuke.
Eu o olhei desconfiado, sentindo Naruto se inclinar para mais perto de mim no instante em que
comecei a abrir o papel.
Tremi minhas mãos por cima do mesmo e, sem pensar muito a respeito, segui com o pedido de meu
irmão, retirando alguns outros papéis de seu interior. No total, eram quatro identidades falsas. Um minha,
outra de Naruto, Deidara e, por fim, de Itachi.
Eram todas compostas por fotos nossas, as mesmas que, anteriormente, tínhamos em nosso RG. No
entanto, os nossos nomes haviam sido completamente alterados, assim como a nossa idade e
nacionalidade.
Aquilo era extremamente profissional.
Em minha opinião, o indivíduo responsável por essa obra, certamente, conseguiria enganar a polícia
e, se bobear, até mesmo um profissional dessa mesma área com tal falsificação.
-Aonde vocês arranjaram isso...? -Avaliei cada identidade em minha frente. Aparentemente, o meu
novo nome era “Renan”, enquanto a minha idade havia voltado a ser dezenove. -Eu nem sei o que dizer.
Deidara soltou um som de desaprovação.
-Nicolas? -Fez uma careta, lendo o nome presente em sua identidade. -Porra, assim você me fode...
Vinte e cinco anos?
-H-Hm... O que está escrito no meu, Sasuke? -O meu bebê indagou com receio, nenhum pouco
confortável com toda aquela farsa.
Empurrei a sua identidade para si.
-Júlio, bebê. -Dei uma risadinha para descontrair. Mesmo que na tensão do momento, era estranho
imaginar o Naruto com um nome tão diferente do seu verdadeiro. “Júlio” definitivamente não combinava
nenhum pouco consigo. -Bom, acho que agora você tem dezenove anos.
Naruto ficou sério.
Além de estar completamente sem falas, ele era, de longe, o mais incomodado entre todos nós. Eu
tinha medo do que poderia estar se passando pela cabeça do meu bebê e que ele estava achando de tudo
aquilo.
-Vamos prosseguir, meninos. -Itachi chamou.
Voltamos nossa atenção para si.
-Essas identidades vão ajudar muito a gente nos primeiros dias da fuga. -Segurou a seu papel em
mãos. O nome falso de meu irmão, pelo menos para mim, era o mais incomum entre os nossos. “Germano”
era o que estava escrito. -Não percam de jeito nenhum.
-Por que vamos precisar delas? -Questionei em impulso, esquecendo-me completamente da principal
regra: “Não me interrompa”. -Aonde nós vamos depois daqui?
-Nós não vamos pegar um avião, se é isso que você está pensando. -Disse o que imaginou estar se
passando em minha cabeça. -Áreas públicas chamam muito a atenção, além de terem um policiamento bem
maior. Quando sairmos daqui, certamente, virão atrás de nós. Por isso que a identidade é tão importante. A
gente vai fugir daqui, inicialmente, com um carro. Depois vamos precisar nos locomovermos de ônibus.
Meu cenho se franziu.
-Ônibus?
-Sim. -Reafirmou com um sorriso. -Diferente dos aeroportos, andar de ônibus significa que não
precisaremos mostrar as nossas identidades para ninguém e muito menos passar por revistas. Seremos
anônimos durante todas as paradas e trocas de pontos que faremos até chegar no nosso destino.
-E onde exatamente é esse destino? -Deidara levantou uma sobrancelha, ainda bastante
desacreditado de tudo aquilo. Era como se tudo não se passasse de uma piada. -Um hotel cinco estrelas
em Las Vegas?
-Nós vamos sim para um hotel, mas com certeza não é um cinco estrelas e muito menos em Las
Vegas, chefe. -Riu fraco. -Vamos viajar durante algumas horas até um hotel que a amiga de confiança do
Obito administra.
-Na verdade, aquilo não é um hotel. -O carcereiro corrigiu. -A Konan é dona de uns chalés numa
cidade vizinha a nossa que, apesar de ser desconhecida por muitas pessoas, fica no interior. É bem longe
de tudo, literalmente no meio do mato.
-Sim, é no fim do mundo. -Itachi debochou. -O verdadeiro significado de “na puta que pariu.”
-É afastado, mas é seguro, além de ser a melhor opção que temos no momento. -Obito rebateu. -A
Konan estava me devendo um favor e me garantiu que poderíamos ficar tranquilamente escondidos e
protegidos por lá. O único problema, como eu já disse, é que o lugar é muito longe, tanto que, depois que
pegarmos os ônibus, teremos que fazer uma trilha extensa para conseguir chegar lá.
-Um trilha? -Deidara resmungou. -Merda, eu odeio mato! Odeio insetos, plantas, flores, sol e o ar livre
no geral!
Eu o fiquei em descrença.
-É sério que é com isso que você está preocupado, Deidara? -Ri forçado. -Às vezes eu queria ser
desapegado que nem você...
-Escuta aqui, eu tenho alergia a picada de pernilongo, falou?! -Esmurrou a mesa sem necessidade.
-Você tem que ver como fica a minha pele quando eu tomo picada! Queria ver você no meu lugar, seu
morfético!
Suspirei tediosamente. Na percepção de Deidara, qualquer coisa era motivo para ocasionar em
brigas e xingamentos, fora que, pelo menos para mim, “morfético” já estava extremamente ultrapassado e
enjoativo.
-Foco, gente. -Meu irmão bateu palmas para chamar nossa atenção. -Continuando... Esses chalés
vão ser o nosso destino temporário, nós vamos ficar por lá até a poeira abaixar. Depois, mais para frente,
decidiremos para onde ir com mais calma.
-Sim. Mas isso vai ser com vocês. -Obito se intrometeu. -Eu já vou ter ido embora.
-É. -Concordou com a cabeça. -O Obito só vai ficar com a gente no começo, depois disso, cada um
vai seguir seu caminho. Ele vai voltar pra Rin, e a gente continua todos juntos.
Eu o olhei reflexivamente.
-E pra onde você pretende levar a gente depois dos chalés, Itachi?
-Eu ainda não tenho certeza. -Fez um barulho pensativo. -Mas provavelmente para uma das
inúmeras casas que o papai deixou antes de morrer. Tem várias delas escondidas e inabitadas por aí. É só
a gente escolher a cidade ou o país, Sasuke.
Neguei com a cabeça. Ele fazia tudo aquilo parecer fácil, quando na verdade, estávamos literalmente
nos arriscando a pegar prisão perpétua por fuga, falsificação e tudo do pior possível para os nossas fichas
criminais.
-Saindo daqui, não seremos mais conhecidos como Itachi, Deidara, Sasuke e Naruto... -Ele sorriu
perversamente. -A partir de agora, seremos Germano, Nicolas, Renan e Júlio.
O loiro mais velho foi o único a gargalhar.
Eu e Naruto estávamos muito tensos para soltarmos quaisquer sorrisos. Na verdade, eu nunca havia
visto o meu bebê tão pensativo e descontente em toda a minha vida. Ele parecia mesmo estar levando a
sério a regra de “perguntas só ao final da explicação”.
-Certo. Agora vamos falar do dia da fuga em si... -Itachi sorriu abertamente. Ele estava, claramente,
esperançoso de que todos nós toparíamos participar dessa “loucura”. -Eu preciso de toda a atenção de
vocês, okay?
Somente eu e Deidara assentimos.
-Nós vamos fugir de noite, minutos depois da sirene. -Declarou sem muito alarde. -E vamos escapar
pela porta da frente.
-Pela porta da frente? -Repeti horrorizado. Aquilo era impossível. O portão principal era o mais
monitorado de todos, possuindo vigilância vinte e quatro horas, além de diversos guardas rondando pelos
telhados e cabines. -Você está louco?
-Nenhum pouco. -Sorriu maldoso. -Nós temos uma vantagem, esqueceu? Temos o Obito.
O carcereiro sorriu levemente, parecendo disposto a explicar aquela parte do plano.
-Pode ser difícil de acreditar, mas essa parte foi a mais simples de elaborar. -Sentou-se na ponta da
mesa. -Vamos escapar de um jeito fácil e sem chamar a atenção de ninguém.
-Como, caralho?! -Deidara questionou.
-Vocês se lembram quando o Itachi ficou doente? -Levantou a sobrancelha, querendo refrescar nossa
memória. Mais uma vez, apenas eu e Deidara concordamos, enquanto o loiro mais novo permaneceu
imóvel.
-Sim, é claro. -Respondi por todos. Eu acho que nunca irei me esquecer do período traumático em
que meu irmão ficou internado no hospital. Eu quase o perdi. -Mas o que isso tem a ver com o plano?
-Tudo, na verdade. -Obito prosseguiu. -Como todos vocês já sabem, o Itachi correu um grande risco
de vida. Ele estava tão mal, que precisamos pedir ao Danzou uma autorização para levá-lo ao hospital, algo
que, pelo menos nessa prisão, não ocorre com frequência.
Eu escutava tudo sem nem ao menos piscar. Pelo menos naquele instante, nada do que ele dizia
parecia fazer sentido para mim.
-Bom... Esse hospital foi a nossa salvação. -Sorriu de lado. -Quando o Itachi ficou internado, nós
conseguimos um atestado médico que diz explicitamente sobre a saúde do seu irmão e que, se a qualquer
momento ele piorar, a penitenciária tem a obrigação de autorizar outra saída dele até o hospital.
Minha testa se franziu.
-Eu acho que entendi... -Declarei antes que ele terminasse de explicar. -O Itachi vai fingir que piorou
da pneumonia só pra sair daqui?
-É, mais ou menos.
-Algumas horas antes da gente fugir, eu vou ir até a enfermaria e fingir que estou piorando de novo.
-Meu irmão voltou a se pronunciar. -Como os enfermeiros já foram avisados anteriormente sobre o meu
estado, e também já tem o meu atestado médico guardado, eles não podem negar a minha ida ao hospital.
Deidara gargalhou divertidamente.
-Você é um safado, Itachi! -Deu um tapa em sua coxa. -É um gênio safado!
-‘Tá, e o que mais? -Inquiri ansioso.
-É nessa hora que todos vocês entram. -Itachi sorriu para mim. -Sasuke?
-O quê? O que foi?
-Você vai me ajudar a derrubar os guardas junto com o Obito.
Meus olhos se esbugalharam.
-Derrubar os guardas...? -Virei meu pescoço para o lado, olhando em direção à Naruto como uma
confirmação de que havia escutado certo. Aparentemente, tínhamos ouvido o mesmo. O meu bebê estava
tão assustado quanto eu. -Como assim?!
-Você se lembra da pergunta que os policiais te fizeram antes de me colocarem dentro na
ambulância? -Estreitou os olhos para mim.
Eu refleti por volta de dez segundos.
-Sim, eu me lembro.
Ele abriu um sorriso vitorioso.
-Pois bem... Dessa vez, você vai precisar dizer que sim.
Deidara alternou atordoadamente entre nós.
-Que caralho que pergunta é essa? -Cutucou o seu namorado. -Do que vocês dois estão falando?!
-Antes de eu ir até o hospital, todos vocês se despediram de mim. Estão lembrados? -Indagou
retoricamente. Todos ali se recordavam do quão triste foi dizer adeus ao meu irmão sem ter certeza de que
ele voltaria vivo. -O Sasuke também veio me dar tchau lá na enfermaria, mas os policiais disseram que, por
sermos da mesma família, ele também tinha a opção de me acompanhar até o estacionamento como uma
despedida.
-Sim, mas eu não fui... -Conclui entristecido. -Desculpa por isso, Itachi. Só agora eu me dei conta do
quanto foi ruim não ter ido com você.
Meu irmão deu de ombros.
-Relaxa, eu sei que ninguém aqui gosta de despedidas. -Sorriu distenso. -Mas, dessa vez, eu preciso
que você tope me acompanhar, tudo bem? Peça para os policiais te deixarem ir até o estacionamento dar
tchau para o seu irmão mais velho.
-E o que a gente vai fazer chegando lá? -Meus dedos voltaram a se batucar nervosamente.
-Como eu já disse, nós três vamos golpear os guardas! -Exclamou animado. Para ele, aquilo era
como uma aventura. -Eu, você e o Obito!
O loiro mais velho tapou a própria boca.
-Eu acho que não consigo imaginar o Obito batendo em alguém... -Comentou aleatoriamente,
medindo o carcereiro de cima a baixo. -Dá um soco no Itachi agora, Obito, eu quero ver como você é com
raiva!
O moreno suspirou tediosamente.
-Eu não vou fazer isso, Deidara.
-E por que não?!
-Por que estamos no meio de uma explicação importantíssima. -Respondeu simplista.
-Dá um soco rapidinho, vai! -Implorou desesperado. -Então dá um chute!
-Dei, por favor... -Itachi repreendeu.
-Argh! Tá bom! -Estalou a língua.
-Para de ficar interrompendo, eu já pedi mil vezes. -Murmurou raivoso. -Estamos na parte mais
interessante. A parte do estacionamento.
-De domingo, apenas quatro guardas ficam de vigia no portão. É o dia mais “parado” de todos. -Obito
fez aspas com o dedo. -E com nós três, fica fácil de golpear todos eles.
-E quanto aos guardas no telhado? -Lancei preocupado. -Vai ser de noite... Eles vão estar com as
lanternas vigiando o estacionamento de cima, esqueceram?
O carcereiro não pareceu incomodado com esse detalhe.
-Bom, isso é verdade. Mas eu também já dei um jeito nisso.
-O que você fez? -Me inclinei curiosamente.
-Minutos antes de fugirmos, eu vou acionar um alarme por toda a penitenciária e espalhar uma falsa
denúncia de que no bloco 2 há uma suspeita de tráfico entre os detentos. -Revelou com um sorriso discreto,
parecendo orgulho do que ele mesmo pensou. -Eu escolhi o 2, porque sei que é o mais distante do portão
principal, assim, enquanto os carcereiros estiverem correndo para conferir a denúncia, teremos mais tempo
para nos ajeitarmos.
Eu fiquei boquiaberto.
Diferente do que eu imaginei no início, os dois realmente haviam planejado tudo com muito cuidado e
dedicação. Afinal, foram mais de dois anos trabalhando com cada detalhe para que tudo saísse perfeito e
impecável.
Eu estava confiando de verdade nesse plano.
-Tá bom, mas aonde é que eu e o franguinho nos encaixamos nisso tudo? -Deidara indagou
grosseiro. -Por que vocês não me escolheram pra meter a porrada nos guardas, caralho?!
-Exatamente porque sabemos o quanto você é intenso, impulsivo e sempre deixa as emoções
tomarem conta de você. -O carcereiro dissertou pacificamente, pouco se importando se estaria soando
rude. De qualquer forma, Obito realmente o conhecia muito bem por conta dos anos de convivência juntos.
-Nós te deixamos com o Naruto, porque ele é, incomparavelmente, mais controlado do que você.
-Ah, é?! -Bateu na mesa com força, apontando o dedo na cara de seu irmão. -E do que adianta a
pessoa ser super controlada, mas ser uma medrosa do caralho?!
Franzi meu cenho com toda aquela grosseira para cima do meu bebê. Me virei em sua direção,
imaginando que o mesmo estivesse chateado com o que acabara de escutar sobre si, entretanto, como da
outra vez, Naruto continuava amargurado, beirando a inexpressividade diante daquela discussão.
Ele estava me preocupando muito.
-Para de chilique, Deidara. -Sinalizou para que ele baixasse o tom. -O seu papel no nosso plano
também é útil. Não é, Itachi?
-Aham. -Passou o braço entorno dos ombros de seu namorado, beijando-o carinhosamente na
bochecha. -Você e o Naruto vão ficar do lado de dentro, só aguardado o nosso sinal pra saírem até o
estacionamento.
Deidara o empurrou para longe.
-E aonde que isso é um papel útil, porra?! -Esbravejou enfurecido. -Que coisa mais sem graça! Eu e
o franguinho vamos ficar de fora!
Eu suspirei em alívio.
Para Deidara, saber que não lutaria contra os guardas e não teria uma tarefa mais “arriscada” se
comparado a nós três, era algo incrivelmente decepcionante, mas, para mim, foi um alívio gigantesco e
satisfatório saber que o meu bebê ficaria longe do perigo.
-Que nada, Dei. -Tranquilizou-o. -Vocês também vão estar de guarda. Caso algum carcereiro se
aproxime pelo lado de dentro, vocês dois vão precisar golpear ele.
-É... Mas eu acho difícil alguém aparecer. -Obito acrescentou. -Com o alarme e a denúncia falsa,
todos vão estar concentrados no bloco 2 e nem vou lembrar do—
-Eu espero que alguém apareça! -O loiro gritou empolgado, dando outro soco fortíssimo por cima da
mesa, tremendo a mesma a nossa volta. -Se aparecer qualquer pessoa, nem que seja um detento, eu vou
estrangular até a morte!
Itachi riu brevemente.
-Esse é o espírito, chefe.
-Por enquanto, é isso. -Obito concluiu. Para eles, contar-nos sobre o plano era como tirar um peso
das costas. -Acho que não esquecemos de contar nada, não é, Itachi?
-Hmmm... -Tocou no próprio queixo. -Ah! A única coisa que faltou dizer, é que a gente vai usar a
ambulância para sair daqui. Depois, quando nos afastarmos o bastante da prisão, vamos deixar o carro de
lado e partir para o ônibus, assim como eu já disse no início.
-Uhum. -O carcereiro assentiu. -É óbvio que, antes de botarmos o plano em prática, nós vamos
recapitular tudo. Mas, por ora, é só isso.
Só isso. Era de se impressionar a forma como ambos estavam despreocupados e desapegados em
relação a fuga. A minha ansiedade estava a mil, não só por conta de tudo o que eu acabara de escutar, mas
também por não fazer ideia do modo como Naruto estava se sentindo em relação a isso.
Eu me virei para si. Ele continuava tão quieto e, ao mesmo tempo, tão frio. Era agonizante
presencia-ló naquele humor.
-Hora das perguntas, cambada. -Itachi espichou-se despojadamente na cadeira. -Agora vocês estão
autorizados! Me digam se aprovam essa maravilha de plano, ou não.
Deidara começou a bater palmas.
-É óbvio que eu aprovo! -Berrou animado, surpreendendo-me ao roubar um beijo de seu namorado.
Assim como o meu irmão, Deidara também era do tipo que topava tudo. -Porra! Eu não acredito que nós
vamos mesmo dar o fora daqui! Pau no cu do diretor Danzou!
-Mas o que o diretor tem a ver com isso? -Obito questionou sem entender.
-Ele não quis apagar os registros de mau comportamento do meu histórico quando eu pedi! Agora,
aqui pra ele... -Fingiu beijar os próprios ombros. -Beijinho no ombro daquele morfético! Espero que se foda!
Itachi riu em aprovação.
-E você, Sasuke? -Tombou a cabeça em expectativa. -Como se sente?
-Eu... -Dei uma pausa dramática. Acontece que, por mais arriscado que pudesse ser, eu estava com
a maravilhosa sensação de que tudo daria certo. Afinal, era o Itachi e o Obito quem haviam planejado os
mínimos detalhes. As duas pessoas mais inteligentes que eu conheço criaram um plano para fugirmos da
prisão, algo que, desde que cheguei, sempre fora o que eu mais desejei. -Eu adorei. É loucura, mas eu
estou botando fé de que tudo vai dar certo.
Meu irmão ficou extremamente animado com a minha resposta. Acho que, no fundo, ele não
esperava que eu fosse reagir tão bem assim.
-Esse é o meu garoto! -Inclinou-se por cima da mesa, juntando nossas bochechas ao me dar um
abraço caloroso e emocionado. -Agora sim, temos tudo pra fugir!
Correspondi com uma risada baixinha, dando tapinhas amigáveis em suas costas. Eu estava
realmente empolgado com a ideia, apesar de que, involuntariamente, uma pequena parte de mim
continuasse preocupada e receosa com alguns detalhes importantíssimos.
Como por exemplo, a opinião do meu bebê.
-Bom, temos quase tudo pra fugir. -Retruquei baixinho, afastando-me de meu irmão para que
voltássemos a posição inicial. Ainda precisávamos da confirmação do loiro mais novo, até porque, como
Itachi mesmo disse, o plano só funcionária perfeitamente se todos nós topássemos participar do mesmo. -O
Naruto ainda não disse nada a respeito.
Vários pares de olhos se viraram ao loiro.
Cuidadosamente, repousei minha mão sobre a coxa do meu bebê, acariciando-a de leve quando
notei sua cabeça baixa, escondendo dos meninos a sua expressão incômoda.
Eu nunca havia o presenciado dessa maneira.
-E você, Naruto? -Meu irmão chamou. Ele era o único, entre todos nós, que aparentava estar averso
o nosso plano. -O que você acha?
Fomos todos surpreendidos por um soluço.
Um soluço baixo e sofrido vindo do meu bebê.
Meu corpo inteiro foi tomado por uma onda de preocupação. Naruto não só estava cabisbaixo, como
também, aparentemente, estava chorando em nossa frente. Aquela notícia parecia mesmo tê-lo pegado
desprevenido e de uma maneira ruim.
-O-O que eu acho...? -Repetiu o mesmo questionamento feito por Itachi, levantando o pescoço
lentamente para ir de encontro aos seus olhos. -Isso é loucura...
Meu irmão não pareceu tão abalado.
Na verdade, a única coisa que fez, além de ajeitar sua postura por cima da cadeira, foi optar pelo
silêncio como um incentivo para que o mesmo prosseguisse. Estavam todos interessados no ponto de vista
do Naruto.
-Bebê...? -Chamei preocupado, tocando outra vez em sua coxa para lhe fazer um carinho.
O loiro, por sua vez, virou-se afobado na minha direção, revelando-me o tom mais avermelhado de
seus olhinhos, além da decepção que ele carregava nos mesmos. Aquela foi a primeira vez que eu senti o
Naruto verdadeiramente desapontado comigo.
-V-Você está mesmo de acordo com isso tudo, Sasuke? -Lentamente, senti suas mãozinhas
afastando as minhas. -Bem você...?
Meus ombros se encolheram.
-Mas, bebê, essa é a nossa única chance de sair daqui... -Tentei fazê-lo enxergar o nosso lado da
história. Era claro que, se o Naruto não concordasse de forma alguma com a ideia da fuga, eu jamais o
deixaria sozinho nesse lugar. Sobretudo, isso não me impedia de tentar convencê-lo do contrário. -A minha
pena é muito grande, assim como a do Itachi e do Deidara. Quando a sua sentença terminar, eu vou
continuar aqui dentro com eles.
-E-Essa não é a única maneira que existe de vocês saírem daqui, e você sabe disso. -Rebateu
embargado. -Você e os meninos ainda podem cumprir a pena legalmente. Pra que se arriscar ser preso de
novo, ou pior que isso, levar um tiro durante essa fuga?!
Foi a minha vez de abaixar a cabeça.
Em partes, o loiro estava certo. Era óbvio que correríamos alguns riscos em meio a fuga, mas, por
outro lado, eu sabia que o meu irmão não deixaria nada de ruim acontecer comigo, assim como eu nunca
deixaria nada acontecer com o Naruto.
Eu protegeria o meu bebê com toda a minha vida e, se fosse realmente necessário, morreria por ele
sem pensar duas vezes.
-E-Eu não posso deixar nada de ruim acontecer com você, Sasuke. -Lágrimas grossas desciam pelas
suas bochechas. -Nem com você, nem com os meninos.
Meus lábios começaram a tremer. Eu já não tinha mais controle sobre o modo como o meu bebê
mexia comigo e os meus sentimentos, além de sempre me deixar repensando sobre cada escolha minha.
Após nos conhecermos, o Naruto virou a minha maior prioridade.
Se o loiro não se sentisse à vontade para fugir, então eu ficaria com ele.
-Você tem razão... -Sussurrei magoado, mexendo em minhas mãos nervosamente. Em seguida, olhei
na direção do meu irmão, o qual assistia a discussão com uma sobrancelha arqueada. -Itachi, eu não vou.
Não posso me arriscar e deixar o Naruto sozinho aqui dentro.
Em resposta, ele revirou os olhos fortemente.
-Eu sabia que isso ia acontecer... -Esfregou a própria face, demostrando impaciência e cansaço
diante de nosso posicionamento. -Como eu já disse, nós só vamos poder fugir se todos forem. E você vai
comigo, Sasuke.
Discordei freneticamente com a cabeça.
-Não, eu não vou. -Declarei convicto. Por mais que me doesse deixar o meu irmão na mão, o loiro
era a minha prioridade. Deixa-lo sozinho nesse inferno, estava fora de cogitação. -Eu vou ficar aqui com o
Naruto. Já está decidido.
Ele fechou os olhos com lentidão, respirando fundo para manter-se controlado e formal diante de
nosso diálogo. Eu reconhecia cada mínimo gesto e expressão vinda de Itachi e, assim como todas as outras
mil vezes em que o presenciei perder a paciência, sabia que esse momento poderia chegar em breve.
-Você vai também. -Disse sombrio. -Você é o meu irmão mais novo e deve ficar comigo.
-Mas eu não posso deixar o Naruto sozinho! -Minha voz saiu mais descontrolada do que eu
esperava. Até mesmo Obito pareceu se assustar com aos meus gritos. -Foi como ele mesmo disse, Itachi,
essa fuga é muito arriscada para todos nós!
Ele me interrompeu com um riso nasalado.
-Que coincidência... -Negou desacreditado. -A cinco minutos atrás você estava amando a ideia de
fugirmos desse lugar... Foi só o Naruto abrir a boca que tudo mudou, não é?
Eu fiquei sem argumentos. Admitir que aquilo era verdade, seria como deixá-lo ganhar uma
discussão. Por mais que, no fundo, ainda possuísse à vontade de escapar, era melhor dar ouvidos ao meu
bebê daquela vez.
-Argh! Para de drama, Naruto! -Deidara se pronunciou após um tempo. Aparentemente, sua opinião
continuava firme ao lado de meu irmão e Obito. -Aceita logo de uma vez! O Itachi não colocaria a gente em
risco!
O meu bebê recomeçou a chorar.
-E como você tem tanta certeza que nada de ruim vai acontecer? -Enxugou suas lágrimas com a
blusa do uniforme. -M-Me desculpe, Dei, mas alguém tem que tomar as decisões por nós dois. Você nunca
usa a cabeça!
O loiro mais velho ficou ofendido.
Com um outro murro na madeira da mesa, Deidara levantou-se de abrupto, empurrando a cadeira
violentamente para trás ao causar um eco gigantesco por todo o ambiente.
-Como você se atreve, seu pirralho?! -Gritou enraivecido. Rapidamente, abracei o meu bebê contra
meu peito, deixando de lado o fato de tê-lo decepcionado comigo para poder lhe proteger de toda aquela
agressividade desnecessária de seu irmão mais velho.
Naruto se encolheu entre meus braços.
-Mas é verdade, Deidara... -Ele molhava todo o meu peito a medida em que discutia com o outro.
-V-Você nunca pensa nas consequências! Tem certeza de que quer se arriscar a pegar mais tempo aqui
dentro? Você tem mesmo coragem de largar tudo?
-Largar o quê, Naruto?! -Repetiu ácido. - Eu não tenho mais nada a perder! Nem lá fora, nem aqui
dentro!
-N-Nem aqui dentro? -Suas lágrimas redobram de quantidade. Era como se houvesse acabado de se
recordar sobre algo importante. -E o Gaara? Ele não é ninguém pra você?
O loiro mais velho, surpreendente, se acalmou. Além de ter deixado toda a sua raiva de lado, ele
ainda fez questão de se sentar novamente, baixando a cabeça enquanto ficava pensativo em relação ao
ruivo.
Eu nem havia pensado a respeito disso. Itachi e Obito tinham planejado tudo com perfeição, mas, por
outro lado, não chegaram ao ponto de incluírem o nosso amigo mais íntimo. De qualquer forma, eu não
poderia julga-lós.
Meu irmão, pelo menos até duas semanas atrás, não tinha nenhuma intimidade com o Gaara. Ambos
se aproximaram recentemente, bem depois do plano já estar elaborado.
-Eu tinha me esquecido disso. -Deidara engoliu em seco, mostrando-se levemente incomodado com
o fato de seu amigo não estar incluído. -O Gaara ficaria sem a gente.
O meu bebê me abraçou com força. Aquela frase havia o machucado de verdade. Eu, sinceramente,
também não gostava de imaginar o ruivo sendo deixado sozinho, se bem que, pelo menos agora, ele tinha o
Lee.
-Por que você não incluiu o Gaara, Itachi? -O loiro mais velho se virou para seu namorado,
perguntando com uma pitada de decepção em seu tom de voz. -Ele não vai com a gente?
Itachi grunhiu de raiva.
-Legal! Agora você também vai ficar bravo comigo, caralho?!
-Eu só te fiz uma pergunta, seu ogro! -Deidara o olhou enfurecido. A verdade era que estávamos
todos muito sobrecarregados com aquela notícia. -Grosseiro do caralho!
O restante de paciência que meu irmão possuía, simplesmente desapareceu.
-Quer saber de uma coisa?! -Foi a sua vez de socar a mesa, levantando-se agressivamente da
mesma. -Vocês são uns mal-agradecidos do caralho! Principalmente você, Naruto!
Travei meu maxilar em sua direção. Eu não gostava nenhum pouco quando algum dos meninos era
grosseiro com o meu bebê. Ele era muito frágil para receber tanto ódio.
-M-Me desculpa... -Choramingou baixinho, tremelicando seus lábios ao tentar segurar o choro. -Eu
não queria ter te causado essa impressão, mas eu me preocupo com vocês, meninos, e acho perigoso
que—
-Foda-se, caralho! -Berrou descontrolado. Meu irmão, certamente, não estava mais em condições de
dialogar. Sua paciência havia chegado no limite. -Você é insuportável, cara! Quer saber de uma coisa?! Se
dependesse de mim, eu levava o Gaara no seu lugar e te deixava apodrecendo nessa porra de prisão!
Eu fiquei boquiaberto.
-Acontece que, infelizmente, o Deidara e o Sasuke se importam com você! -Itachi continuava a
humilhá-lo sem piedade. -Caso contrário, pode apostar que seria o Gaara sentado aí na sua cadeira, e não
você!
Eu me levantei violentamente.
Agora quem havia chegado no meu limite, era eu. O jeito como meu bebê havia sido tratado, foi
completamente desumano. O Itachi não tinha o direito de falar com ele daquele jeito, nem mesmo estando
com raiva.
Tínhamos outras mil maneiras de resolvermos aquele conflito, mas, infelizmente, estávamos levando
a coisa para o lado pessoal e brigando um com o outro, quando, na verdade, deveríamos estar todos
unidos.
-Chega, caralho! -Me inclinei sobre mesa para que pudesse desafia-ló. Ouvir os soluços baixinhos do
meu bebê, deixava o meu sangue fervendo e necessitando de uma discussão. -Ou você começa a medir
seu jeito de falar com ele, ou a coisa vai ficar feia!
Itachi também fez o mesmo, aproximando nossos rostos para mostrar-me que não estava com um
pingo de medo de mim.
-A coisa vai ficar feia, é? -Riu maldoso. -Me mostra então o que você vai fazer, caralho!
Ao invés de enfrentá-lo como realmente deveria, eu fiz questão de me virar na direção do Deidara
que, naquele instante, observava toda a discussão inquietamente.
-Você não vai falar nada não?!
-Você por acaso está falando comigo? -Arqueou uma sobrancelha.
-Sim, eu estou falando com você! -Respondi ácido e perplexo. -Você não escutou todas as
barbaridades que ele acabou de falar sobre o seu irmão mais novo, porra?!
Deidara descruzou seus braços ao me olhar de cima baixo, atingido com a minha grosseria
repentina. Agora era oficial. Estávamos todos brigados. Até com o meu bebê eu havia me desentendido no
início.
-Escuta aqui, seu infeliz, eu acho melhor você baixar esse tom pra falar comigo! -Apontou o dedo na
minha direção. -Eu sempre mantive uma distância de você por respeito, mas não me importo de quebrar
isso agora mesmo!
Soltei um riso sarcástico.
-Que engraçado! -Exclamei em uma falsa animação. -Você é sempre um filho da puta grosseiro com
todo mundo, mas quando é pra repreender quem realmente merece, você fica quietinho!
Quando eu fui ver, as palavras já haviam escapulido de minha boca. Deidara, por sua vez, nada
contente com o que acabara de escutar, levantou-se novamente de abrupto.
A sua intenção, certamente, era me agredir.
-Eu vou acabar com você, seu filho da puta! -Gritou completamente fora de si. No segundo seguinte,
suas mãos já se encontravam presas em meus ombros, enquanto as minhas, em sinal de defesa, foram de
encontro ao seu cabelo, puxando-o fortemente por trás.
Começamos a brigar pra valer. Eu já não estava mais respondendo pelos meus próprios atos, assim
como o loiro que, com certeza, estava na mesma situação do que eu. Ao mesmo tempo em que eu
arrancava os seus fios fora, Deidara fazia algo parecido comigo, aproveitando-se do fato de eu estar sem o
meu uniforme para arranhar, descontroladamente, toda a minha pele.
Diferente do que imaginei, não foi o Obito quem se colocou em seu papel de carcereiro para
interromper o momento. Foi o meu irmão. Ao tentar se colocar entre nós, Itachi foi rapidamente interrompido
por mim que, mesmo ocupado em lutar contra o Deidara, consegui empurrar o seu rosto para trás,
fazendo-o grunhir em um misto de dor e fúria.
Foi uma péssima ideia de minha parte. Agora, não só o loiro, como o meu irmão também, estavam
jogando no mesmo time, os dois contra mim. Eu estava em desvantagem.
-Meninos, param com isso! -Obito pediu horrorizado, tentando se colocar no meio de nós três.
Naquele mesmo instante, meu irmão tentava me prender por trás, enquanto o loiro defendia-se de meus
chutes. -Vocês vão acabar se matando desse jeito, já chega!
Estávamos todos irreconhecíveis. Eu nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Mas, pelo o que me
parecia, foi uma maneira que todos nós encontramos de lidarmos com o estresse da notícia, por mais
violento que fosse.
O carcereiro tentou se infiltrar mais uma vez, ficando ainda mais preocupado quando Itachi começou
a me “enforcar” por trás, deixando-me com uma coloração avermelhada em meu rosto por conta de todo o
esforço e falta de ar.
Nem o Obito não estava dando conta. Os seus treinos como carcereiro, certamente, não foram uteis
o suficiente para lidar com aquela situação. Acho que, por essa razão, o meu bebê imaginou que poderia
ajudar em algo na hora de se colocar no meio da nossa briga.
Naruto também veio tentar nos separar.
Quando notei que o loiro se aproximava para intervir e, com lágrimas nos olhos, assistia toda a minha
luta contra seu irmão e o meu, eu pareci acordar de meu transe, me dando conta do ponto em que havia
chegado.
-P-Para! -Ele soluçou em desespero, visivelmente assombrado com a tanta brutalidade, e pelo fato
de eu estar incluso. Eu nunca fui uma pessoa de partir para a ignorância. -Para com isso, Sasuke!
Em resposta, empurrei o Deidara para longe, decidindo me “render” aos dois. A última coisa que eu
gostaria naquele momento, era que o meu bebê ficasse ainda mais decepcionado comigo.
Estávamos todos acabados. Os três ofegantes, arranhados e descabelados, mas, acima de tudo, de
mau um com o outro. O que, incialmente, se tratava de uma conversa “amigável” sobre um plano de fuga,
agora havia se transformado em uma briga coletiva.
-Vocês passaram dos limites, meninos. -O carcereiro declarou em estado de choque, talvez tendo a
mesma reflexão do que eu. Em que ponto foi que deixamos a conversa de lado para nos batermos? -Isso foi
ridículo.
Diferente de como Itachi e Deidara aparentavam estar, eu fiquei efetivamente arrependido com o que
aconteceu, especialmente sabendo que o meu bebê estava chorando por minha causa.
A nossa conversa sobre a fuga, pelo menos por enquanto, precisaria esperar.
-Eu vou embora daqui. -Itachi declarou friamente, olhando-me de cima abaixo com desprezo.
-Preciso de um tempo pra pensar.
Deidara, tão ofegante quanto eu, concordou seriamente com a cabeça.
-Eu vou com você. -Deu alguns passos para trás, mantendo seus olhos fixos aos meus. -Quanto mais
longe eu ficar desse daí, melhor.
Querendo ou não, eu fiquei cabisbaixo.
Assisti em silêncio ambos se distanciarem, enquanto refletia a maneira como uma opinião diferente
do restante, e no meio de pessoas que, definitivamente, não sabem respeitar o próximo, causa um efeito
ruim.
E só de pensar que tudo começou porque o meu bebê não se sentia a vontade para fugir e, em
consequência, acabou me influenciando também. O difícil era que eu realmente tinha vontade de seguir
com o plano, mas, por conta do Naruto e de seu bem-estar, achei melhor continuar aonde estava.
-...Você está bem, Naruto? -A voz de Obito se fez presente atrás de mim. -Quer que eu te pegue uma
água?
-N-Não, obrigado. -Naruto respondeu baixinho, ainda bastante abalado com tudo o que ocorreu nos
últimos minutos. -Eu quero voltar pra minha cela.
-Certo, vá descansar. -O moreno deu duas batidinhas em seu ombro. -É melhor mesmo.
Eu fiquei sem saber como reagir.
O loiro, por outro lado, começou a caminhar para longe do refeitório, e sem nem ao menos esperar
por mim. Talvez ele estivesse com coisas demais para processar em sua mente.
-Naruto, espera... -Ultrapassei o carcereiro, dando uma corrida para perto de si. Eu ainda estava
meio desengonçado por conta da briga, fora que, toda a pele de meu ombro e peitoral, encontrava-se
arranhada. -Ei?
Ele continuou a andar como se eu não houvesse lhe chamando. Decidi que o seguiria em silêncio até
o bloco 4, sem fazer barulhos por conta dos detentos adormecidos e os carcereiros cumprindo com os
turnos da noite.
Quando Naruto alcançou a cela 444, ou seja, a qual lhe pertencia, o meu coração pareceu disparar.
Ele pretendia entrar na mesma sem se dar o trabalho de falar comigo.
-Bebê...? -Chamei baixinho, conseguindo segurar o seu pulso antes que ele adentrasse a cela por
completo. Com sorte, o Gaara estava na enfermaria, bem longe de toda aquela confusão. -Ei, olha pra mim?
O meu bebê virou-se com lágrimas nos olhos.
-Me desculpa, por favor. -Pedi com o coração apertado, fazendo um pequeno carinho na sua
mãozinha. -Eu não queria ter brigado daquele jeito com o seu irmão, foi um erro meu. Tudo o que aconteceu
foi um erro.
Naruto afastou sua mão da minha.
-E-Eu preciso ficar sozinho, Sasuke.
Meu peito se apertou de forma ruim.
-Mas, bebê, eu—
-Isso foi muito pra mim. -Declarou esgotado. -Eu acho que preciso de um tempo sozinho pra
raciocinar tudo o que aconteceu, tá bom?
Por algum motivo, eu fiquei com uma vontade gigantesca de chorar. Talvez pelo fato de que, desde
quando começamos a namorar, o Naruto jamais pediu pra ficar longe de mim.
-Mas você está bravo comigo? -Perguntei falho, dando um passo relutante na sua direção. Doeu
ainda mais vê-lo se distanciar de mim. -B-Bebê, me perdoa...? Por favor.
-S-Só me deixa um pouco sozinho, Sasuke. -Pediu à beira de suas lágrimas, olhando fixamente para
seus próprios pés. -Será que dá pra você fazer isso por mim?
Senti os meus olhos se encherem de água.
-U-Uhum... -Funguei o nariz, já começando a sentir meus lábios se tremelicarem. -Tudo bem, bebê...
Eu volto depois.
Novamente, Naruto não me respondeu.
Apenas em passos lentos e pesados, o meu bebê dirigiu-se até beliche, e se deitou na cama de
baixo. Ele fez questão de virar as costas para mim.
Continuei por mais alguns segundos o encarando, sentindo minhas primeiras lágrimas desceram ao
me dar conta de tudo o que eu fiz nos últimos minutos e que, por minha culpa, Naruto também estava
chorando.
Ele deveria estar muito mal.
Não só por ter me presenciado, literalmente, cair na porrada com o Itachi e seu irmão, mas também
por ter sido destratado por ambos os garotos, fora a notícia chocante sobre a fuga que, além de abranger o
Gaara, também girava entorno de mim. Naruto não havia se contentado com o fato de que o plano foi algo
do meu agrado e que, inicialmente, eu queria topar.
Estávamos todos abalados. Cada um de nós possuía um motivo para estar mal, mas, na minha
perspectiva, o pior de tudo foi saber que o meu bebê estava decepcionado comigo.
O Naruto não queria nem olhar na minha cara.
Eu decidi que sairia da cela. Por mais que quisesse muito ficar ali dentro, deitar ao seu lado e
implorar para que ele me abraçasse e beijasse igual todas as noites em que passávamos juntos, eu sabia
que não funcionaria forçar nada disso.
O meu bebê precisava de um tempo sozinho.
Entre lágrimas e alguns soluços silenciosos, me dirigi para o corredor do bloco 4, refletindo aonde
ficaria no meio da madrugada. Eu não tinha mais para onde ir, até porque, a minha cela poderia estar sendo
ocupada pelo loiro mais velho e Itachi, o que, definitivamente, não daria certo caso eu aparecesse por lá.
Até com o Deidara eu havia brigado.
Isso nunca tinha acontecido antes. Com o meu irmão já era algo normalizado, se bem que, de uns
tempos para cá, havíamos combinado de manter a paz um com o outro.
Acontece que, com o Deidara, era algo inédito. Eu só torcia pra que ele não começasse a me odiar
de verdade, visto que, por conta de nosso tempo de convivência juntos, acabamos criando uma certa
intimidade.
Eu não queria ter arruinado tudo.
Sem mais forças para conseguir me manter em pé ou pensar em um ambiente plausível para que
pudesse esperar a poeira abaixar, decidi apenas escorregar pela parede, sentando ao lado da cela do meu
bebê.
Daquele canto, eu ainda conseguia escutar todos os seus soluços baixinhos, o que,
automaticamente, me fez chorar ainda mais.
Eu estava morrendo de medo do que aconteceria a seguir. O meu irmão desistiria da fuga? Ou será
que o Naruto começaria a me tratar diferente após presenciar tamanha violência de minha parte, inclusive
para cima de um membro de sua família?
As coisas precisavam melhorar urgentemente.
Itachi On

Estávamos na cozinha. Mesmo com o cômodo completamente vazio e escuro, eu e Deidara optamos
por esperar a poeira baixar ali dentro, apenas pelo receio que sentíamos de topar com os outros dois
garotos e, portanto, deixar as coisas ainda piores entre nós todos.
Deu tudo errado.
Tudo o que eu e Obito planejamos com tanto cuidado e dedicação, incluindo a conversa civilizada
que pretendíamos manter com os meninos sobre o nosso plano de fuga, havia ido por água abaixo.
Era inútil procurar alguém para culpar naquele momento. Todos nós havíamos errado. Tanto por
discutirmos um com o outro, quanto por não respeitarmos as opniões e posicionamentos alheios, além de
deixar a tensão do momento tomar conta de nossos corpos.
Era eu quem precisava concertar as coisas.
Estava fora de cogitação deixar a situação dessa maneira, especialmente nas vésperas de nossa
fuga. Estava tudo perfeitamente organizado para escaparmos. A última coisa que faltava era convencer a
única pessoa, entre nós, que não havia topado participar. O Naruto.
Sasuke também concordou com a ideia.
Embora, no final das contas, meu irmão tenha sido influenciado pelo seu namorado, eu sabia bem
que havia conseguido ganhar sua confiança através de meu plano. Eu até que compreendia o Naruto e
todas as suas preocupações, mas, ao mesmo tempo, ele precisava acreditar que eu nunca deixaria nada de
ruim acontecer com nenhum deles.
Eu e o Obito tínhamos tudo sobre controle.
Agora, eram os meninos quem precisavam fazer a parte deles e acreditar em nós dois.
-Dei? -Chamei relutante, mantendo-me sentado no balcão mais próximo da janela e com minhas
pernas balançando no ar.
-Hm? -Respondeu do outro lado.
O loiro, por alguma razão desconhecida, estava cortando alguns alimentos na bancada da pia e,
mesmo com a escuridão ao nosso redor, não parecia muito disposto a deixar sua tarefa de lado. Eu não
entendi muito bem o que levou-o a “cozinhar” no meio da madrugada, e bem após uma discussão entre os
meninos, mas decidi não questiona-ló.
-Desculpa. -Declarei cabisbaixo.
Ele largou a faca por alguns segundos, olhando até mim com a testa franzida. Não era nada comum
rolar pedidos de desculpas entre nós, no entanto, eu realmente achava eu precisávamos arrumar uma
forma de concertar o que aconteceu.
-Pelo o quê? -Devolveu, continuando a cortar os alimentos despreocupadamente.
-Por gritar com você. -Cocei minha nuca. -E por xingar o seu irmão daquele jeito... Eu não falei sério,
tá bom? É claro que eu nunca deixaria ele apodrecendo aqui na prisão e—
-Está tudo bem. -Deidara deu de ombros. -Eu entendo que você deve ter ficado irritado, Itachi. Deve
ser ruim planejar alguma coisa durante muito tempo, só pra um pirralho vir e te contrariar daquele jeito.
Levantei a sobrancelha.
-Você não ficou bravo com o que eu disse em relação ao Naruto?
-Sim, eu fiquei. -Me olhou seriamente. -Mas eu acho que não estou em posição de sentir nada depois
de ter avançado no seu irmão.
Ri sem humor.
-Pois é... -Suspirei frustrado. -Aquilo foi feio mesmo, e o pior de tudo é que eu acabei entrando no
meio. O Sasuke deve estar bem mal agora.
-Mal? Mal como? -Fez uma careta. -Tipo machucado?
-Não. -Neguei com a cabeça. -Mal psicologicamente, sabe? Essa brigas sempre deixam ele muito
chateado.
-O franguinho também deve estar. -Acrescentou preocupado. -Bom, é que você pegou a gente de
surpresa, Itachi.
-Eu sei... -Esfreguei meu rosto. -Mas não tinha outro jeito, chefe, tinha que ser assim.
O loiro me olhou pensativamente.
-É sério aquilo que você falou no final?
-Sobre o que você está se referindo?
-Sobre o Gaara. -Baixou a cabeça. -Se essa fuga acontecer—
-Ela vai acontecer. -Cortei-o antes de qualquer coisa. -Ela precisa acontecer, Dei.
-Certo... A fuga vai acontecer. -Corrigiu. -Mas, o que eu quero saber, é se o Gaara vai mesmo ficar
aqui sozinho na prisão.
Por mais triste que pudesse ser, eu tive que assentir com a cabeça.
-Sim. -Mesmo que de longe, vi a sua expressão mudar drasticamente. -Ele vai ficar aqui. Eu e o Obito
não conseguimos arranjar outra identidade. Não daria para simplesmente incluir outra pessoa, Dei, já foi
muito difícil colocar vocês dois no meio... Com o Gaara então, ficaria impossível.
Ele assentiu triste, porém com compreensão.
-A gente vai ter dois dias para se despedir dele. -Informei da maneira mais sensível que pude. -Acho
que é tempo o bastante, né?
O loiro não me respondeu.
-E a gente não vai poder contar pra ele sobre nada relacionado a fuga, não é?
-Não. -Neguei rápido. -Não podemos contar pra ninguém sobre isso, nem mesmo pra ele. Se
qualquer coisinha dar errado, ou se o Gaara deixar escapar para alguém, mesmo que sem querer, vai tudo
por água abaixo.
A cada palavra minha, Deidara ia ficando cada vez mais chateado.
-Então o Gaara vai pensar que fugimos sem nem dar tchau pra ele. -Pensou alto. -Quando ele
descobrir que a gente escapou, mas não nos despedimos, ele vai ficar muito mal.
-Sim... -Suspirei tristemente. -O Gaara vai ficar arrasado, principalmente por não termos incluído ele
na fuga.
O loiro me fitou afobado.
-Eu tenho que contar pra ele, Itachi.
-Não dá, chefe. -Discordei seriamente. -Desculpa, mas não dá. O Gaara vai ter que viver achando
que fugimos sem pensar nele.
-Ele vai odiar a gente. Já parou pra pensar?
-Já, mas não temos outra escolha. -Retruquei calmamente. Eu sabia o quanto estava sendo difícil
para o Deidara aceitar tudo isso e, com certeza, o quão estressante seria para o Naruto deixar o seu amigo
para trás, e sem lhe dar justificativas alguma. -Ei, vem cá...
Eu o chamei com os meus dedos.
Deidara largou a faca para vir até mim, sorrindo apagado quando abri meus braços para convida-ló a
um abraço.
Com sorte, o loiro não me deixou na mão. Ao sentar-se na bancada ao meu lado, permitiu que eu
passasse meus braços entorno de seu ombro. Acariciei suas costas em silêncio, pensando que, apesar de
todas aquelas discussões e decepções que estávamos enfrentando, aquilo seria por uma boa causa.
Era para sermos todos livres novamente.
-A gente precisa arrumar um jeito de convencer o Naruto. -Deidara murmurou, apoiando a cabeça
cansadamente em meu ombro direito. -Não dá pra fugir sem ele.
-Vamos falar com eles, chefe. -Declarei de forma tranquila. -Mas, dessa vez, sem brigas. Eu vou me
desculpar com os dois, e mostrar que eles podem confiar em mim e no Obito.
-Isso. -Assentiu positivo.
-Vamos fazer as coisas certas agora.
-Aonde será que eles estão agora? -Levantou sua cabeça, me fitando pensativamente. -No bloco 4?
Ou no 5?
-Hmmm, acho que no 4. -Dei o meu chute. -Vamos conferir. A gente precisa resolver isso antes que
amanheça, chefe, temos pouco tempo até a fuga.
-Certo, tem razão.
-Vem comigo. -Lhe roubei um selinho antes de puxa-ló para longe do balcão. Descemos lado a lado e
com as mãos entrelaçadas.
-Espera aí... -Me arrastou para perto da bancada, aonde, anteriormente, havia cortado os alimentos.
-Eu vou levar isso aqui também.
Deidara me mostrou um potinho azul.
-O que é isso? -Franzi o cenho.
-Uma pomada caseira. -Explicou sem muita paciência, colocando no bolso de sua calça. -É pro seu
irmão.
-O meu irmão? -Ri baixinho, ao mesmo tempo em que recomeçávamos a caminhar para longe dali.
-Por quê?
-Por que eu arranhei o coitado que nem um gato durante cio. -Justificou-se numa entonação óbvia.
-Ele ficou todo fodido!
Eu o olhei levemente surpreendido.
Para Deidara ter se dado o trabalho de preparar uma “pomada caseira” que, só pelo cheiro, reparei
que um dos ingredientes era mel, foi porque ele ficou mesmo arrependido.
-O Sasuke vai adorar. -Sorri em sua direção. -Olha só... Eu não sabia que o meu namorado agora
fazia atos de caridade para as pessoas.
-Ato de caridade são essas suas duas bolas caídas! -Estalou a língua. -Eu só preparei essa pomada
porque estava de bobeira, caralho!
-Aham, sei... -Provoquei.
-Se você continuar com isso, eu vou jogar essa merda no lixo e deixar o seu irmão caindo aos
pedaços! -Ameaçou, parando no meio do caminho para dar sinal de que jogaria o potinho no chão.
-Está bem, está bem! -Levantei as mãos na defensiva. -Sem caridade, então... O meu namorado é
muito mal, isso sim.
Deidara empinou o nariz.
-Melhor assim, seu morfético.
O restante do caminho passamos da mesma maneira. Ambos provocando um ao outro. Mas, de certa
forma, foi um jeito que encontramos de relaxar e descontrair até que estivéssemos no corredor do bloco 4.
Já de longe, eu pude enxergar o meu irmão.
Na verdade, não foi nada agradável presencia-ló jogado ao lado da cela 444, enquanto Obito,
surpreendentemente, permanecia sentado ao seu lado, gesticulando calmamente como se lhe
aconselhasse e o acalmasse diante de todo aquele estresse que passamos.
Cheguei ainda mais perto dos dois, notando Sasuke abraçado com os próprios joelhos, ao mesmo
tempo em que assentia com a cabeça a medida que o outro discursava do seu lado, soltando sons
baixinhos e entrecortados, os quais, rapidamente, eu identifiquei por serem soluços.
Ainda era muito estranho ver o Sasuke chorar.
De qualquer forma, me deu uma dorzinha no coração vê-lo com o nariz vermelho, o rosto contraído e
os cílios levemente úmidos por conta das lágrimas que deixava escapar. Pelo menos o Obito parecia estar
fazendo um bom trabalho lhe aconselhando.
-... Entendeu? Daqui a pouco tudo isso vai passar, e você vai ver que nem precisava ter ficado tão
mal. -Acariciou o ombro alheio.
Eu decidi forçar uma tosse.
De imediato, ambos os garotos se viraram na nossa direção, assustando-se com a nossa aparição
repentina no meio da madrugada. Acho que, no fundo, nenhum deles esperava que eu tentaria contato
ainda naquela noite.
-Ótimo, vocês estão aqui. -O carcereiro deu sinal de que se levantaria. -Pronto, Sasuke, agora vocês
podem se entender melhor.
-U-Uhum... -Assentiu com os lábios trêmulos, não muito confortável por todos nós estamos o
presenciando chorando. -Obrigado, Obito.
-Não por isso. -Sorriu amigável, bagunçando seus cabelos rapidamente. -Vejo vocês depois,
meninos, qualquer coisa me chamem.
Eu apenas concordei com a cabeça.
Enquanto esperávamos Obito se distanciar, notei que meu irmão levantava-se do chão, limpando seu
traseiro rapidamente para sair daquela posição tão “indefesa”.
Ficamos a nos encarar por alguns segundos, todos, aparentemente, beirando o arrependimento. Era
estranho pensar que, até mesmo o Deidara, havia deixado o seu orgulho de lado para concertar as coisas
entre nós e os outros dois meninos.
Pelo o que me parecia, fugir era uma coisa que todos tínhamos em comum, mas que, de certa forma,
também nos unia.
-Sasuke. -Dei um passo para frente, largando da mão de meu namorado. -Será que a gente pode
conversar?
Ele assentiu relutantemente.
-Vamos até a cela, então. -Sinalizei para que adentrássemos o seu interior. -O Naruto está lá dentro?
-Sim... -Choramingou. -Mas ele não quer falar comigo. O Naruto quer um tempo sozinho.
Deidara estalou a língua.
-Ele já teve tempo demais! -Me puxou para perto da grade, acabando por arrastar Sasuke juntamente
comigo. Não estávamos sendo muito respeitosos invadindo a privacidade de Naruto, entretanto, era por
uma boa causa. -Franguinho, levanta! A gente chegou!
O loiro mais novo, o qual se encontrava embrulhado entre as cobertas e com a face soterrada no
travesseiro, levantou-se de forma assustada, cessando seus soluços que antes rasgavam fortemente a sua
garganta.
-Naruto. -Chamei pelo seu nome. -A gente veio conversar com você. Sem brigas.
Ele me fitou magoado. Ainda era claro o modo como eu havia o machucado com o que disse em
relação a preferir deixá-lo de lado e levar o Gaara no seu lugar. Eu não deveria ter dito uma coisa dessas,
mas, naquele momento, foi a raiva que tomou conta de mim.
-Olha, gente... -Olhei ao meu redor. -Desculpa pelo o que aconteceu, falou? Naruto, eu nunca deveria
ter dito nada daquilo pra você.
O loiro encolheu-se entre os lençóis.
-Você não é insuportável. -Desmenti o que disse na fúria do momento. -Na verdade, você é a pessoa
mais gentil que eu conheço e, secretamente, eu te admiro muito por isso...
Ele me fitou surpreendido. Na verdade, todos ali dentro estavam de queixo caído.
-Sasuke. -Continuei com o meu discurso, olhando diretamente para si. Foi triste ver que meu irmão
permanecia com lágrimas em seus olhos. -Me desculpa também. Eu nunca deveria ter te batido. Você é
meu irmão mais novo, e o meu papel é te proteger, independente de qualquer coisa.
Lhe lancei um sorriso pequeno.
-Me desculpa também. -Sasuke pediu. -Eu não queria ter brigado daquele jeito com o Deidara e te
influenciado a participar também.
Assenti compreensivelmente, lhe transmitindo a ideia de que estava tudo bem.
-Vem cá, Sasuke. -Gesticulei com a mão.
Meu irmão caminhou com um bico em seus lábios. Abri meus braços para acolhê-lo em um abraço,
ficando feliz quando o mesmo correspondeu a mim, descansando sua cabeça por cima do meu ombro.
Até que era bom abraçar todo mundo.
-Te amo, sabia? -Lancei carinhosamente, não muito acostumado em lhe revelar tal sentimento com
muita frequência.
-Eu também. -Murmurou choroso.
Deidara fingiu coçar sua garganta.
-Sasuke?
Meu irmão o fitou curiosamente.
-Olha, pode esquecer porque eu não peço desculpas pra ninguém... -Começou retirando o potinho de
seu bolso. -Mas como bandeira de paz, eu te fiz essa pomada aqui para os seus arranhões.
Inclinou o conteúdo na sua direção, abaixando a cabeça levemente constrangido.
Eu sorri com carinho. O meu namorado ficava incrivelmente fofo cheio de vergonha.
-Ah, obrigado. -Sasuke pegou com um sorriso fraco, avaliando o pote rapidamente. -Desculpa por ter
puxado o seu cabelo, espero que não tenha machucado.
-Machucou sim. -Deu de ombros. -Mas acho que bem menos do que a sua pele.
Aquilo, definitivamente, era verdade. Qualquer um em sã consciência conseguia perceber o quanto
meu irmão estava sofrendo com os arranhões. Estavam todos em carne viva.
-E o abraço de vocês dois, hein?! -Incentivei divertidamente. -Tem que abraçar!
-Ué, você não abraçou o Naruto. -Deidara rebateu, incomodado com a posição em que estava sendo
colocado.
-Vocês dois primeiro! -Empurrei-os para perto um do outro. -Abraço! Abraço! Abraço!
Com ambos os rostos tomados por caretas envergonhadas, Deidara e Sasuke se aproximaram sem
jeito algum, abraçando-se de modo breve e um tanto quanto hilário, apenas dando tapinhas fracos nas
costas um do outro.
-Ah, que coisa linda! -Impliquei entre risadas.
-Você é um idiota, Itachi. -Meu irmão resmungou.
-Bom, acho que agora só falta eu me desculpar com o franguinho... -O loiro chamou a atenção do
outro. Naruto, por outro lado, permanecia quieto e encolhido. -Foi mal ter gritado com você, Naruto, eu sei
que você não gosta disso. Ah, e não foi nada legal da minha parte partir pra cima do seu namorado.
Para o meu alívio, Naruto reagiu secando as sua lágrimas e lhe direcionado um sorriso fraco
-B-Bebê...? -A voz de Sasuke voltou a soar chorosa. Virei-me curiosamente na sua direção, me
deparando com a cena de suas mãos entrelaçadas nervosamente na frente do seu corpo, enquanto um
beicinho voltava a se formar pelos seus lábios. -Você já quer falar comigo? Eu posso chegar perto de você?
O loiro assentiu pacientemente.
-H-Hm... Pode sim.
Sasuke foi quase que correndo aos tropeções na sua direção. Foi engraçado presencia-ló tão
necessitado da atenção e o perdão de seu namorado. Era como se ele fosse se ajoelhar a qualquer
momento para pedir desculpas.
-M-Me desculpa? -Chegou ao beliche com lágrimas nos olhos, já não se importando mais em conter
seus soluços na nossa frente. -Desculpa por tudo, bebê, por favor?
Ele sentou-se na ponta da cama, mantendo uma distância segura como se esperasse a autorização
do loiro para se aproximar.
-P-Posso chegar mais perto? -Continuou com o seu chororô desnecessário e incontrolável. -Me
desculpa... Você não quer, né? Tudo bem, eu vou ficar longe. Sem problemas.
Naruto soltou uma risadinha divertida.
-É claro que pode, Sasuke.
Eu acho que nunca vi o meu irmão tão emocionado com uma simples frase. Em milésimos de
segundos, ele já estava jogado entre os braços de seu namorado, apertando-o como se houvessem ficado
separados durante anos, e não por meia hora.
-D-Desculpa... -Não foi nenhuma surpresa quando o mesmo recomeçou a chorar. -Eu sou um idiota,
um imbecil, um escroto...
Naruto negava calmamente com a cabeça.
-V-Você não é nada disso, Sasuke. -Acolheu-o carinhosamente contra seu peito. -Não precisa se
desculpar tanto. Já passou.
-Mas você ainda me ama do mesmo jeito que antes, bebê? -Formou um outro bico em seus lábios.
-V-Você vai desistir de mim?
-H-Hm... Eu não vou desistir de você, Sasuke. -Afirmou com toda a convicção do mundo, iniciando
um carinho lento em seus fios quando o mesmo esfregou-se manhosamente no seu pescoço. -De verdade,
está tudo bem.
Isso, de certa forma, pareceu tranquiliza-ló por um momento. Estar entre os braços de seu namorado,
recebendo palavras de consolo e, ainda por cima, sendo acariciado, levou embora qualquer vestígio de
insegurança dentro de si após a discussão.
-Eu te amo muito, muito, muito, muito, muito, muito, bebê. -Repetiu a mesma palavra tantas vezes e
de maneira tão lenta que, sinceramente, eu e Deidara já estávamos rolando os olhos de tanto tédio.
-Muuuuuuito mesmo, sabia? Muitão, muito, muito mesmo.
O loiro abriu um sorriso apaixonado.
-E-Eu também te amo muito, Sasuke. -Abraçou-o com força. -Te amo muito, muito, muito, muito,
muito, muito e muito. Sério, eu te amo muuuuito mesmo. Muito, muito e muito.
Deidara foi o primeiro a perder a paciência.
-Tá bom, cacete! A gente já entendeu que vocês dois são gays e se amam pra caralho! -Berrou
enraivecido. -Já chega! Que coisa mais insuportável, puta que me pariu!
-Deixa eles terem o momento deles, chefe. -Observei a cena com um sorriso discreto. Aquele
dramalhão todo ainda duraria muito. -Uma hora eles param, é só esperar.
-Mas você tem certeza que ainda me ama do mesmo jeito? -Sasuke persistiu com os mesmos
questionamentos. Honestamente, era difícil de entender como ambos tinham tanta paciência um com o
outro. Se fosse comigo e o Deidara, nós certamente já teríamos discutido. -Você tem certeza que me perdoa
por tudo, bebê? É que você ficou tão triste. Eu achei que você fosse terminar comigo, Naruto....
O loiro discordou tranquilamente a medida em que beijava o topo de sua cabeça, se rendendo a todo
aquele drama vindo de meu irmão. Como sempre.
-E-Eu nunca faria isso... Você é a minha vida, Sasuke, eu jamais terminaria com você. -Levou sua
franja para trás, deixando com que o mesmo apoiasse o queixo em seu peito. -Eu só fiquei abalado com a
notícia, sabe? Aquilo realmente me pegou desprevenido.
Felizmente, ele me deu a brecha perfeita para embalarmos de volta ao assunto.
-Escuta, Naruto... -Chamei sensivelmente. -Eu entendo as suas inseguranças em relação o plano. E
também sei que isso foi muito repentino, não só para você, como para todo mundo. Mas, ao mesmo tempo,
eu queria que você soubesse que eu e o Obito jamais colocaríamos vocês três em perigo.
O loiro me escutava atentamente.
-Eu queria te pedir uma chance. -Me aproximei de si. -Uma chance pra mostrar que você pode
confiar em mim e no meu plano.
Ele mordeu o lábio de forma insegura.
-Bebê... -Foi a vez de Sasuke afastar a sua franja, acariciando seu rosto com carinho e paciência.
-Todos aqui estamos com medo, sabe? Mas foi como o Itachi disse... Eu jamais deixaria nada de ruim
acontecer com você.
Eu somente assentia com a cabeça.
-Se eu estou te colocando no meio disso, é porque eu sei que é seguro pra você. -Lhe roubou um
selinho. -Eu só quero o seu bem, Naruto, e sei que essa é a melhor opção para todos nós.
-Sim, com certeza. -Reforcei seriamente. -Por mais que não pareça, fugir desse lugar é o melhor a se
fazer no momento. E nós temos tudo para isso, um plano perfeito.
-Uhum. -Sasuke sorriu docemente. -Vamos ficar todos juntos, sim? Eu, você, o Itachi e o seu irmão.
Ninguém vai te deixar, bebê.
Sua testa se franziu em tristeza.
-E o Gaara...? -Perguntou em um sussurro.
Meus ombros se encolheram.
-Ele, infelizmente, não vai poder vir. -Olhei brevemente para Deidara, o qual já havia voltado a ficar
cabisbaixo. -Foi o que eu expliquei para o seu irmão... Não conseguimos arrumar outras identidades, eu tive
que me preocupar com vocês em primeiro lugar.
Os olhos de Naruto se encheram de água.
-E-Eu não posso deixar ele...
-Eu sinto muito. -Lamentei verdadeiramente. -Eu também gosto muito dele, mas vamos ter que ir
embora sem contar a verdade. Mas pelo menos vamos ter mais dois dias para nos despedirmos sem ele
saber.
-Eu não vou me despedir do Gaara. -Deidara se pronunciou. -Eu não conseguiria. Fora que eu odeio
despedidas.
-Desculpa por fazer vocês passarem por isso, mas esse é o único jeito. -Suspirei chateado. -Se serve
de consolo, tudo o que estamos deixando para trás, servirá ao nosso favor.
O loiro mais novo recomeçou a chorar.
-Ei, bebê... -Meu irmão secou suas lágrimas com uma feição preocupada, trazendo-o aos seus
braços para acolhê-lo em um abraço. -Está tudo bem... Não precisa pensar nisso agora, sim? Vamos
descansar um pouco.
Eu concordei com a cabeça.
-Eu acho melhor mesmo.
-Vamos dormir um pouquinho, hm? -Sasuke sussurrou em seu ouvido, deixando com que Naruto
escondesse o rosto em seu peito e abafasse os seus soluços. -Vai ficar tudo bem.
Troquei olhares magoados com o Deidara.
Apesar de tudo, Naruto era quem mais estava sofrendo com a notícia do Gaara, se bem que o loiro
mais velho também estava muito mal, mas só não demonstrava como o outro.
-Quer deitar também? -Sugeri para si.
-Vamos.
Dessa vez, optamos por deitar no beliche de baixo, do lado oposto dos dois garotos. Daquela cama,
podíamos observar mais de perto o estado em que ambos estavam, além de podermos ficar mais perto um
do outro.
Me abracei preguiçosamente ao loiro, apoiando minha cabeça em seu ombro enquanto ficava
pensativo. Naruto, por sua vez, estava inconsolável. Tremia e chorava entre os braços de seu namorado, o
qual o acariciava com paciência, lhe dando todo o carinho e atenção do mundo para distraí-lo.
Por estar presenciando o choro alheio, apenas um pensamento veio em minha cabeça.
Aquele sofrimento todo era doloroso, mas, no final das contas, seria por uma boa causa.
Capítulo 31 - A fuga
Naruto On

Doloroso. Em meio as milhares de palavras e significados existentes no mundo atual, a mais próxima
que encontrei para definir os meus sentimentos nas últimas vinte e quatro horas que se passaram, era essa.
Eu sentia dor.
Meu peito se apertava a cada vez que me recordava do que estava prestes a fazer naquela mesma
noite. Meus olhos, por outro lado, encontravam-se vermelhos, inchados, quase que irreconhecíveis. E, junto
com tudo isso, vinham as tão indesejáveis lágrimas.
Era o dia da fuga.
O dia que eu tanto temi desde o momento em que fui informado por Itachi, a quase quarenta e oito
horas atrás, sobre cada detalhe sórdido e bem elaborado de seu plano infalível para escaparmos todos
juntos da penitenciária.
Se eu dissesse que estava cem por cento de acordo com isso, estaria mentindo.
Eu não estava nenhum pouco feliz com a ideia, e muito menos confortável com todas as garantias do
Uchiha mais velho de que sairíamos impunes, e “sem nenhum arranhão”, como ele mesmo nos afirmou
diversas vezes.
Sendo o mais sincero possível, a única razão pela qual havia topado participar dessa loucura, era por
conta das vontades de meu irmão e, em especial, as de Sasuke.
Não tinha outra razão para eu querer escapar.
Durante essas últimas horas, passei o tempo todo me perguntando se realmente valeria a pena levar
isso adiante, e se Sasuke estava mesmo certo ao afirmar-me sobre essa ser a melhor opção que tínhamos
no momento.
Por alguma razão, eu não conseguia parar de lembrar da minha mãe. Não conseguia deixar de
imaginar no que ela pensaria me vendo participar de uma fuga ilegal, e arriscando ter a minha sentença
ainda mais prolongada.
Ela ficaria exatamente desapontada comigo.
Mas, por outro lado, eu não queria acabar sozinho. Permanecer na prisão, significava nunca mais ter
a oportunidade de ver o Sasuke, o Deidara e o Itachi novamente, as pessoas que, após a morte de Kushina,
tornaram-se a minha mais nova família.
Seria milhares de vezes pior perder contato com os meninos. Embora a fuga fosse extremamente
arriscada e, de todas as maneiras existentes, eu estivesse morrendo de medo de colocá-la em prática, a
minha decisão final foi me juntar a eles.
Eu sabia o quanto cada um deles desejava escapar. Até mesmo o Sasuke estava incluso nisso.
Todos eles estavam confortáveis e confiantes com o plano, quase como se não tivessem mais nada a
perder, o que talvez se desse pelo fato de suas sentenças serem incomparavelmente maiores do que a
minha.
Eu tinha muito mais a arriscar, devo admitir.
Mas, de alguma forma, caso essa fuga não saísse como o planejado, nós pelo menos ganharíamos
mais alguns anos de cadeia juntos. Continuaremos na mesma prisão, os quatro como uma família.
Infelizmente, era somente esse detalhe que estava conseguindo me tranquilizar, porque, de resto, eu
estava inconsolável. A minha insegurança, o meu medo, minhas paranoias em relação a fuga e, o principal
de tudo, a dor de perder o meu melhor amigo.
Eu deixaria o meu melhor amigo para trás.
Uma das pessoas mais gentis, carinhosas e generosas que eu já conheci em toda a minha vida seria
deixada de lado e sem a opção de nos despedirmos apropriadamente. Para falar a verdade, eu estava
começando a pensar exatamente como o Itachi. Talvez ele esteja realmente certo em relação ao fato de
Gaara merecer o meu lugar na fuga.
Ele é uma pessoa muito melhor do que eu, afinal.
Eu, sinceramente, não estava pronto. Não me sentia nenhum pouco preparado para me despedir
dele. Eu e os meninos havíamos enrolado o dia todo para que esse momento não chegasse, mas, de
qualquer forma, teríamos que fazer isso o mais breve possível.
Até porque, em pouquíssimas horas, estaríamos bem longe daqui.
Para espantar tantos pensamentos ruins e repletos de negatividade, sacudi a cabeça de um lado
para o outro, fungando o nariz com a intenção de segurar as minhas lágrimas. Eu havia chorado durante
horas. Aquilo era absurdamente difícil para mim, especialmente a parte de precisar deixar o ruivo para trás.
Eu passei o meu dia inteiro enfurnado na cela.
Meu corpo encontrava-se acomodado no colo de Sasuke, algo que, quase sempre, ocorria quando
eu estava bastante chateado com alguma coisa e queria receber uma atenção a mais, exatamente igual
naquele momento.
Estando no macio do colchão, eu sentia seus braços fortes entorno de minha cintura, acariciando-a
de forma leve e carinhosa, enquanto balançava ambos os nossos corpos em uma sincronia lenta e
confortável, causando-me uma sonolência pequena pelo fato de estar, literalmente, me ninando.
Eu gostava muito quando o Sasuke fazia isso.
Por mais infantil que pudesse parecer, estar no conforto de seu colo, abraçado ao seu corpo,
sentindo o seu cheiro que eu tanto amava e, ainda por cima, sendo ninado, era o que mais me transmitia
paz e sossego.
O Sasuke sempre sabia como me tranquilizar.
-Ei, Naruto... Melhorou? Você já ‘tá um pouquinho mais calmo? -Sussurrou rouco e baixinho para que
somente eu o escutasse
Deidara também estava presente na cela, deitado na cama do outro lado e com as costas viradas
para nós. Ele parecia estar adormecido, ou então somente desejando um pouco de “privacidade” para
refletir sobre o que estávamos prestes a fazer no dia de hoje. Em minha opinião, o problema do loiro nada
mais era do que a dor que sentia por ser obrigado a deixar o Gaara sozinho e sem justificativas algumas.
O Uchiha mais velho, por sua vez, estava em uma situação um pouco diferente, mantendo-se
apoiado ao lado de fora da grade, enquanto escutava atentamente Obito a orientá-lo sobre os últimos
detalhes do plano.
-U-Uhum... -Respondi choroso, espremendo minha bochecha em seu ombro.
-Mesmo, bebê?
-N-Não muito... -Pisquei devagar, sentindo meus olhos pesados e os cílios úmidos.
Sasuke suspirou em preocupação.
-Você está com sono? -Enxugou minhas lágrimas que, anteriormente, escorriam sem controle por
minhas bochechas. -Seu rostinho ‘tá bem sonolento... Quer dormir, hm?
Concordei lentamente com a cabeça.
Aquele noite havia sido, sem dúvidas alguma, a segunda mais difícil que já vivenciei desde o dia em
que cheguei na penitenciária. Em consequência a tantas lágrimas, soluços e pensamentos negativos, eu
não consegui tirar um tempo para dormir, o que, de certa forma, acabou prejudicando o Sasuke também.
Itachi afirmou que precisaríamos estar bem descansados para o dia de hoje. Acontece que, diferente
do que me foi aconselhado, eu fiz totalmente o contrário. Além de ter ficado desperto durante toda a
madrugada, eu acabei arrastando o Sasuke para fazer o mesmo comigo.
Agora eu e ele estávamos pagando o preço.
-Tudo bem, então. -Sorriu carinhoso, tocando em minhas pálpebras para incentivar-me a fechá-las.
-Fecha o olhinho, bebê. Eu vou fazer você dormir um pouquinho, sim?
Segui com o seu pedido sem protesto algum, afundando meu rosto em seu peito por não conseguir
mais me manter ativo. De forma simultânea, Sasuke balançou-me como um verdadeiro bebê, enquanto uma
carícia era sentida por mim em meu coro cabeludo, mantendo uma lentidão que, aos poucos, foi sugando
todas as energias que ainda me restavam.
Eu já estava entregue de corpo e alma. Aquela junção era perfeita para que eu pudesse cair no sono,
especialmente ao me dar conta do soar baixinho de sua voz melódica em meus ouvidos, fazendo sons e
cantorias bonitas.
Eu estava muito próximo de adormecer.
Estava tão perto de dormir que, sinceramente, a voz de Itachi ecoando pelo interior da cela, me
pareceu muito mais uma invenção de meu próprio cérebro do que com a realidade atual.
-Sasuke? -Ele chamou agitadamente.
Meus olhos se reabriram devagar.
O Uchiha mais novo, por outro lado, deixou de cantarolar imediatamente, olhando direto para a
grade, aonde seu irmão o aguardava seriamente e com os braços cruzados.
Até mesmo Deidara, o qual, aparentemente, estava caindo de sono juntamente comigo, virou-se em
direção ao mesmo, franzindo o cenho com um ar sonolento e irritado.
-Caralho... -Resmungou, estalando a língua por ter sido desperto pela voz de seu próprio namorado.
-Eu estava quase dormindo, Itachi.
-O Naruto também. -Sasuke acrescentou incomodado, talvez culpando o seu irmão por ter feito tanto
barulho. -Quase mesmo.
Deidara olhou sonolentamente para nós.
-Você canta ‘mo bem, Sasuke. -Elogiou em meio a um bocejo longo e exagerado. -Eu aproveitei pra
tentar dormir também. Sua voz me deu o maior sono, cara...
O Uchiha riu sem graça.
-Obrigado, eu acho.
-A gente deveria criar uma banda... -Sugeriu inconscientemente, claramente preso ao seu cochilo
anterior. -O que vocês acham?
-Uma banda? -Levantou a sobrancelha.
-Sim... -Coçou os olhos.
-Que tipo de banda?
-Uma banda de rock pesadão. -Riu fraco. -Chamada “Deidara e os Morféticos”.
-Deidara e os Morféticos? -Sasuke sorriu brincalhão, dando corda para que ele continuasse a falar.
-Então você vai ser o vocalista principal, é isso?
Ele negou com a cabeça.
-Eu vou ser o baterista. -Bocejou novamente. -Daí o Itachi vai tocar guitarra, você vai ser o cantor e o
Naruto vai fazer o backing vocal.
-Mas se eu sou o cantor principal, então acho que a banda deveria se chamar “Sasuke e os
Morféticos”, e não “Deidara e os Morféticos”. -Argumentou divertidamente.
O loiro ficou sério.
-Não. Eu que sou o principal. -Retrucou com uma carranca. -Deixa de ser invejoso, garoto.
Itachi forçou uma tosse.
-Sasuke, venha cá. -Chamou-o com os dedos, ignorando todo o diálogo aleatório entre os meninos.
-Eu e o Obito estamos recapitulando a nossa parte do plano. Precisamos de você.
Sasuke gemeu preguiçosamente.
-Tem que ser agora, Itachi? -Olhou preocupado para mim que, apesar de entender que ambos
precisavam cuidar do plano, não queria que ele fosse embora. -Não dá pra esperar uma meia horinha não?
-Não. -Respondeu secamente. -Eu acho que você está se esquecendo de que vamos fugir em menos
de seis horas. Precisa ser agora.
Ele suspirou derrotado.
-Está bem...
Me agarrei fortemente ao seu corpo, já prevendo exatamente o que estava por vir. A última coisa que
eu queria era me soltar de si.
-Bebê? -Chamou delicado, estalando um beijo em minha cabeça ao levar minha franja para trás. -Eu
vou sair um pouco, tudo bem?
Soltei um choramingo sofrido.
-Uhum... -Por mais que não quisesse ficar longe de seu corpo quente e acolhedor, eu compreendia
que o plano era de extrema importância no momento. -M-Mas vai demorar muito, Sasuke?
-Não, não vai. Pode ficar tranquilo. -Beijou a minha testa. -Já volto, viu? Amor da minha vida.
Eu sorri de volta, embora bem mais tímido e entristecido. Eu o amava muito.
Ao se distanciar de mim, decidi abraçar-me com o seu travesseiro que, além de possuir o seu
cheirinho gostoso, era macio como o seu abraço. Era chocante a maneira como eu já estava necessitado de
algum tipo de contato físico novamente. Reconheço que sempre fui alguém mais grudento do que o normal,
apesar de que, quando estou chateado, isso se torna ainda mais intenso.
Sasuke seguiu em direção ao Itachi. Ambos saíram para o corredor do bloco 5, encostando-se nas
paredes para ouvirem o que o Obito tinha a dizer sobre o plano. Pelo o que consegui escutar daquela
distância, os três garotos estavam planejando uma maneira de golpearem os guardas no estacionamento, já
que, em poucas horas, era o Uchiha mais velho quem precisaria fingir estar adoecido para ir até a
enfermaria.
Aquilo ainda era muito para mim.
De qualquer maneira, com a intenção de me distanciar de tantos pensamentos cansativos e pesados,
virei-me curiosamente na direção de Deidara, o qual encontrava-se sentado de pernas de índio no colchão,
penteando seu cabelo com a escova pertencente a Itachi.
Sabendo que ele não estava fazendo nada de muito interessante, e muito menos aparentava estar
ocupado, eu decidi que me aproximaria de si. Afinal, eu estava “abandonado” na cama e completamente
carente por atenção.
Levantei-me do colchão com um beicinho preguiçoso e magoado em meus lábios, internamente
incomodado com o fato de precisar me locomover para buscar pela atenção de alguém, já que Sasuke
estava demorando mais do que eu esperava.
Era o Deidara quem precisaria me aguentar.
-D-Dei? -Chamei choroso, chegando com os braços bem abertos para que assim não lhe restasse
dúvidas do que eu desejava.
O loiro me fitou perturbado.
-Abraço... Por favor. -Pedi manhoso.
-Argh, Naruto... -Estalou a língua. -Segura a sua onda, eu to penteando o cabelo agora.
Forcei um choro para tentar comovê-lo.
-Espera, caralho. -Me olhou irritado.
Eu o ignorei sem pensar duas vezes. Cheguei no colchão com os braços espaçados, sentando em
suas coxas enquanto entrelaçava minhas mãos atrás de seu pescoço. Reparei que ele ainda tentou lutar
contra mim, empurrando o meu corpo e se embolando atrapalhadamente com a escova de cabelo. No
entanto, acabou por ceder quando eu ameacei chorar novamente.
Receber carinho do Deidara era muito difícil.
-Sai daqui, franguinho, você é pesado. -Reclamou com uma carranca. -Sua bunda deve pesar uns
trezentos quilos ou mais.
Choraminguei com o comentário.
-P-Para, Dei... -Por mais que eu estivesse magoado com o que escutei-o dizer sobre o meu traseiro,
eu também estava carente de mais para sequer cogitar sair de seu colo. -A minha bunda não pesa trezentos
quilos...
-Ah, me desculpe, eu acho que me enganei. -Fez um falso tom de arrependimento. -Ela pesa
trezentos e cinquenta, então.
Mais lágrimas se acumularam em meus olhos.
-Tá bom! Tá bom! -Apressou-se para reverter a situação, levantando a escova de cabelo em
rendição. -Nada de falar da sua bunda, então!
Eu tive que, literalmente, engolir o meu choro. Era muito ruim a forma como qualquer coisinha
mínima estava me atingindo. Chegava a ser cansativo. Tanto para mim, quanto para as pessoas ao meu
redor.
-Cacete, mas não pode falar nada pra você também, hein? -Murmurou impaciente, ao mesmo tempo
em que prendia seu cabelo em um rabo-de-cavalo, deixando a franja cair em frente ao seu rosto. -Você só
chora, garoto!
Eu o olhei de forma pensativa.
-P-Por que você sempre deixa sua franja na frente do olho, Dei? -Troquei o assunto.
Ele franziu o cenho com a aleatoriedade. A verdade, é que qualquer assunto era incomparavelmente
melhor do que falar sobre a fuga, o Gaara e, agora, a minha bunda.
-Porque o meu rosto é desproporcional. -Respondeu óbvio.
Tombei a cabeça sem entender.
-H-Hm... Não é não.
-É sim. -Retrucou seriamente. -A parte direita do meu rosto é mais feia que a esquerda.
Eu neguei com a cabeça.
-Eu não acho.
-Você não acha, porque nunca presta atenção em nada, franguinho. -Suspirou irritado.
-H-Hm... Deixa eu ver. -Pedi curiosamente, sendo atrevido ao ponto de afastar sua franja para ganhar
acesso as duas partes de seu rosto ao mesmo tempo. O loiro, obviamente, não gostou nada disso. -Eu acho
que você está enganado, Deidara, não tem nada de errado com o seu rosto.
Ele afastou minha mão com uma carranca.
-Tem sim. -Persistiu amargurado. -Mas é claro que você não vai me dizer o contrário, Naruto, você é
gentil de mais pra isso.
-E-Eu só estou dando a minha opinião. -Falei calmamente. -Não tem absolutamente nada de errado
com o seu lado direito, é sério.
-Falou o garoto com o rosto perfeitinho. -Debochou secamente. -Loirinho do olho azul e tal.
Franzi o cenho sem entender.
-M-Mas você também é loiro do olho azul. -Cocei a nuca. -Igual a mim...
-Mas eu sou defeituoso, caralho! -Irritou-se com o nosso diálogo. -Entende de uma vez!
-V-Você não é defeituoso. -Rebati indignado. -Eu que sou... Olha só as minhas bochechas, tem essas
marcas estranhas.
-Tá bom, mas eu tenho uma marca de nascença escrota no meu peito. -Rebateu convencido. Era
como se estivéssemos competindo, sem motivo algum, para ver quem era o mais feio. -É mil vezes pior.
-H-Hm... Pode até ser, mas a minha bunda é estranha e tem um tamanho fora do normal. -Admiti
entristecido.
Ele gargalhou divertido.
-Bom... Isso é verdade mesmo.
-E aí, cambada? -A voz agitada e impaciente de Itachi se fez presente pela cela, interrompendo a
nosso diálogo. -Vocês vão ficar discutindo qual rosto é o mais próximo do padrão de beleza mundial, ou vão
vir aqui fora pra gente recapitular o plano?
Deidara grunhiu irritado.
-Eu não vou sair daqui! -Agarrou-se na borda da cama. -Vocês que venham explicar aqui dentro, eu
estou com preguiça!
Itachi massageou as próprias têmporas.
O moreno era, de longe, o mais sobrecarregado entre nós, visto que havia jogado o peso inteiro do
plano em suas costas e absorvido toda a responsabilidade para si.
-Certo. -Cedeu ao pedido de seu namorado. -Entra aí, Obito, o Deidara diz que se recusa a sair da
cela.
-É isso aí! -Meu irmão empinou o nariz.
O carcereiro suspirou derrotado, aparentando estar tão esgotado quanto Itachi. Estavam todos
bastante ansiosos com o plano. No entanto, pelo fato de serem os criadores originais do mesmo, a
responsabilidade caia mais forte para cima dos dois.
-Muito bem, meninos... -Obito começou, adentrando o interior da cela junto com os dois Uchiha.
-Vamos recapitular o plano uma última vez, certo? Eu sei que vocês já estão fartos de me ouvir falar sobre
isso, mas eu preciso ter certeza de que todos estão familiarizados com cada passo.
-Ah, não! -Deidara interrompeu. -Você fala devagar de mais, Obito! Isso me irrita!
O moreno o fitou tediosamente.
-Deixa que eu explico essa bosta! -Exclamou empolgado, dando um tapa desnecessário em minha
coxa. -Eu sou um professor bem melhor do que você, seu morfético!
Itachi deu de ombros.
-Deixa ele explicar, Obito. -Gesticulou com as mãos, mostrando-se totalmente indisposto a lutar
contra as vontades de seu namorado. -Assim a gente vê se eles estão mesmo sabendo sobre o plano.
-Certo, pode ser. -Concordou calmamente.
-Vai, chefe, explica pra gente.
O loiro coçou a garganta antes de começar.
-Bom, daqui a pouco o Itachi vai dar uma de ator e fingir que está doente, daí ele vai ir direto na
enfermaria pra mostrar que ‘tá na merda e tudo mais. -Sorriu convencido. -Depois que todo mundo acreditar
na mentira dele, o Obito vai levar ele até a ambulância e o Sasuke vai atrás fingindo ser uma esposa se
despedindo do marido antes de ir pra guerra!
O Uchiha mais novo riu confuso.
-Enquanto isso, eu e o franguinho vamos ficar de guarda na entrada do portão, e o Obito vai trollar os
carcereiros com um alarme falso de contrabando de drogas no bloco 2! -Fez um barulho para mostrar que
estava pensando. -Ah! E daí vocês três vão dar um cacete nos policiais lá de fora e dar o sinal pra eu e o
Naruto sairmos. Depois disso, é só sucesso!
Permanecemos em silêncio por um tempo.
-Pois bem... -O carcereiro deu uma risada fraca. -Você realmente explicou o plano inteiro, Deidara,
meus parabéns.
O loiro fingiu jogar os cabelos.
-Eu sou incrível.
Itachi olhou na minha direção.
-Vamos testar você agora, Naruto.
-H-Hm... O que tem eu? -Virei a cabeça.
-Fala pra mim o que a gente vai fazer logo depois de entrarmos na ambulância.
-A-Ah, sim... -Me encolhi desconfortavelmente com toda a atenção que recebia. A intenção deles era
conferir se estávamos realmente familiarizados com cada detalhe do plano. -Bem, depois disso, nós vamos
dirigir até um ponto de ônibus e fazer algumas paradas durante o percurso. Viajaremos até uma cidade no
interior, e lá faremos uma trilha que dá direito no chalé da amiga do Obito... Eu não me lembro do nome
dela, me desculpem.
-O nome dela é Konan. -Obito refrescou minha memória. -Muito bem, pelo o que eu pude perceber,
todos vocês estão cientes do plano.
Itachi sorriu orgulhosamente.
-Muito bem, cambada. -Bateu palmas. -Já está tudo pronto para hoje à noite. Daqui a mais ou menos
uma hora, eu vou ter que ir até a enfermaria pra colocar o plano em ação.
-Sasuke. -O guarda o cutucou. -Não se esqueça de pedir aos policiais para acompanhar o seu irmão
até a ambulância. É essencial que você vá junto conosco, certo?
-Aham, pode deixar. -Assentiu convicto.
Itachi soltou um barulho comemorativo.
-Eu estou tão feliz! -Sorriu abertamente. -Daqui menos de seis horas, vamos ser livres!
Era impossível acompanhar o seu humor.
Aquilo ainda era absurdo de mais para mim, afinal, estávamos nos arriscando a receber, caso
fossemos pegos, uma prisão perpétua, além de precisarmos deixar o Gaara para trás sem despedidas e
justificativas alguma.
Eu não estava conseguindo ficar em paz.
-Vocês estão liberados por enquanto, meninos. -Obito declarou. -Podem ir se despedir dos amigos de
vocês, da prisão e também arrumar suas coisas o quanto antes.
Meu corpo inteiro ficou trêmulo.
A hora que eu tanto temia, havia chegado. O momento que enrolei e adiei durante as últimas
quarenta e oito horas, desde o segundo em que fui informado sobre a fuga, estava prestes a acontecer.
Era hora de dar tchau ao Gaara.
E não só para ele, como também ao restante dos meninos de meu grupo que, apesar de não serem
tão próximos de mim, também fizeram vários dos meus dias aqui dentro. Eu considerava todos eles os
meus amigos, até mesmo o Suigetsu.
Um soluço baixinho rasgou minha garganta.
Era tudo tão difícil pra mim. No fundo, eu tinha consciência de que chorar não reverteria a situação,
mas, por outro lado, eram as lágrimas que me traziam pelo menos uma parcela de alívio em meio a tanta
dor interna.
Itachi foi o primeiro a franzir o cenho.
Por ter acabado de afirmar o quanto estava empolgado com o rumo de seu plano, presenciar-me
chorar lhe deixou um tanto quanto atordoado, especialmente ao me ver abraçar o seu namorado com força,
buscando por consolo em, literalmente, qualquer pessoa que estivesse por perto.
Deidara, felizmente, correspondeu a mim.
-E-Eu não quero dar tchau pra ele... -Solucei de maneira enrolada e difícil de ser compreendida. -O
Gaara não pode ficar sozinho... Eu preciso dele.
-Eu também queria que ele fosse, Naruto. -O loiro respondeu com toda a sua paciência que, apesar
de ser pouca, ele parecia fazer um esforço para prolonga-lá. -Mas a gente já conversou sobre isso, né?
-M-Mas eu quero o Gaara... -Insisti desesperado, pouco me importando se todos estariam me
assistindo desabar pela milésima vez naquele mesmo dia. -Eu não posso fazer isso... Não posso deixar ele!
Notei Sasuke se aproximar inquietamente.
Os garotos sabiam que, a partir do momento em que eu tinha alguma “crise”, era o Uchiha mais novo
que, geralmente, possuía o poder de controlá-la. Assim como quando era ele quem estava mal, e eu
sempre arrumava uma maneira de trazê-lo de volta à realidade.
-Bebê... -Chamou sensivelmente, esticando seus dois braços como um convite para que eu me
aconchegasse entre eles. Por mais que gostasse muito de abraçar o Deidara, eu sabia que era o Sasuke
quem sempre me mimava, dava atenção a todos os meus dramas, e também tinha paciência comigo,
independente da situação em que nos encontrássemos. -Vem aqui comigo, vem.
Eu me joguei para si sem pensar duas vezes.
Simultaneamente, o moreno me acolheu contra seu peito, abraçando-me em meio a cela e deixando
com que eu chorasse e desabasse o quanto achasse que era necessário. Aquele era, sem dúvidas, um dos
piores dias de toda a minha vida.
-Não chora, bebê, por favor... -Pediu baixinho, dando selinhos por toda a extensão de minha cabeça.
-Vai ficar tudo bem, tá bom? Você confia em mim?
Assenti entre lágrimas e soluços.
-Então pode ficar tranquilo. -Afastou meu rosto de sua pele, enxugando minhas lágrimas em um
misto de carinho e preocupação. -Eu estou te prometendo que vai dar tudo certo, Naruto. Acredita em mim,
por favor.
-M-Mas, Sasuke... -Juntei-me novamente ao seu peito, me aproveitando de qualquer brecha para
ganhar atenção e ser consolado por si. -E-Eu não quero dar tchau pro Gaara...
-Se você não der tchau pra ele, Naruto, vai se arrepender mais tarde. -Itachi intrometeu-se no
assunto, recebendo uma encarada nada agradável de seu irmão mais novo. -O que foi? Eu não falei por
mal, Sasuke, só estou dando a minha opinião.
Sasuke levantou o meu queixo.
-Bebê, por favor... -Fez um carinho em minhas bochechas, franzindo a testa em chateação. Era como
se, no fundo, ele também não soubesse mais o que dizer para me consolar. -Eu não aguento te ver chorar
desse jeito.
O Uchiha mais velho se aproximou de nós.
-Escuta, gente... -Sentou-se na cama ao lado de seu namorado, o qual mantinha a cabeça baixa e os
ombros encolhidos. -Eu estou indo agora pro pátio. Quero acabar logo com isso, e sem sofrer. Quem quiser
vir comigo, pode vir.
Apesar de ter feito amizade com o ruivo a menos tempo se comparado ao restante de nós, era
notável que Itachi também estava mal com a despedida, especialmente por ser um dos que não o
“autorizou” a vir conosco.
Éramos todos apegados ao Gaara.
-Você quer vir comigo, Naruto? -Ofereceu em expectativa. -É melhor ir todo mundo junto.
Me abracei mais contra Sasuke, como se, dessa forma, buscasse por uma confirmação sua.
Sempre quando ficava inconsolável e muito chateado com alguma coisa, era como se precisasse ser
guiado e ter as minhas decisões tomadas por alguém que eu confiasse, que, geralmente, acabava sendo o
Sasuke.
-Eu vou com você, bebê. -Me tranquilizou. -Eu também quero dar tchau pro Gaara.
-Ótimo. -Itachi murmurou, virando-se para o meu irmão que, infelizmente, continuava cabisbaixo.
-Dei?
Ele não teve nenhum tipo de reação.
-Você também vai com a gente? -Questionou cuidadoso, repousando a mão em sua coxa para
acariciá-la. -Estamos indo agora.
-Não. -Respondeu seco
Itachi o olhou impressionado.
-Você não quer se despedir do Gaara?
-Não, eu não quero. -Esfregou o próprio rosto em um típico sinal de cansaço.
O moreno suspirou em preocupação.
Como se soubesse exatamente do que seu namorado precisava, passou os braços carinhosamente
entorno de seus ombros, puxando-o para um abraço que, embora tenha sido recusado de início, Deidara
acabou por se render ao conforto do corpo alheio.
Saber que meu irmão não estava mais conseguindo lidar com tanta dor, me deixou indescritivelmente
pior. Todos estávamos com dificuldades para enfrentar a situação envolvendo o ruivo, além de que, em
breve, seríamos, oficialmente, fugitivos da polícia.
-Eu não posso dar tchau pra ele, Itachi. -Revelou magoado, recebendo, em reposta, um beijo de seu
namorado na bochecha. -Eu não vou me despedir. Já estou decidido.
-Tem certeza disso, Dei? -Passou a mão pelos fios loiro, encovando-os delicadamente com os
próprios dedos. -Você não acha que vai se arrepender mais tarde, hm?
-Talvez. -Deu de ombros. -Mas eu não posso simplesmente ter uma última conversa com ele como se
fossemos nos ver no dia seguinte.
Itachi assentiu compreensivelmente.
-Eu odeio despedidas. -Concluiu com a voz sombria. -Odeio com todas as minhas forças.
Outro beijo foi estalado em seu rosto.
-Desculpa ter que fazer você passar por isso, chefe. -Olhou em nossa direção. -E vocês também,
meninos. Eu nunca quis que nenhum de vocês sofressem por conta disso.
Sasuke sorriu entristecido.
-Está tudo bem. -Lhe consolou. -Eu sei que você quer o melhor pra gente, Itachi.
-Sim, eu quero. -Sorriu verdadeiramente. -Por mais que às vezes não pareça, eu me preocupo com
todos vocês, meninos, e tive que tomar essa decisão pelo bem coletivo, mesmo que me doa deixar o Gaara
para trás.
Um soluço baixinho rasgou a minha garganta.
Eu não aguentava mais chorar. O meu desejo era que tudo isso acabasse de uma vez.
-Shhh... Ei, não chora. -Sasuke apertou-me contra seu peito, assistindo seu irmão fazer o mesmo
com Deidara que, embora não estivesse nem próximo do meu estado, era um dos mais afetados entre nós.
-Eu te amo muito, bebê, não fica assim.
-A gente dá tchau pra ele bem rápido. -Itachi declarou calmamente. -Sem sofrer.
-Uhum. -O mais novo concordou. -Eu vou estar lá com você, Naruto. Vai ser rapidinho.
Concordei com os lábios trêmulos.
Embora se despedir “rapidinho” não fosse o conselho mais bem-pensado vindo de Sasuke e Itachi,
achei que o melhor a se fazer seria segui-los. Afinal, eu não estava em condições de pensar, e muito menos
tomar decisões.
-Última chance, chefe... -Chamou delicado. -Você vai mesmo ficar?
O loiro levantou-se de abrupto do colchão.
-Eu vou até a cozinha. -Deidara já havia tomado uma decisão e, pelo o que me parecia, não
pretendia voltar atrás. -Preciso ajeitar algumas coisas antes de irmos embora, fora que alguém tem que ficar
no meu lugar.
Todos o fitamos em surpresa.
Ele realmente não se despediria do Gaara.
-Certo... -Itachi concordou.
Meu irmão deu seu primeiro passo até a grade.
-Dei, espera. -Segurou em seu pulso.
-O que foi?
O Uchiha se colocou de pé.
-Deixa eu te dar um beijo antes. -Sorriu com carinho. Itachi sabia que seu namorado necessitava de
algum tipo de afeto, mesmo que, exteriormente, ele não demonstrasse. -Vem aqui, chefe, só um beijinho.
Com um semblante apagado, o loiro se permitiu ser puxado para os braços do outro, recebendo um
beijo em seus lábios que, por fim, lhe arrancou um sorriso. Foi fraquinho, mas ao menos demostrava
satisfação.
-Eu te amo. -Declarou sincero. -Não esquece disso, chefe.
-Hm. -Sorriu levemente. -Eu também te amo.
Inflei as minhas bochechas.
O Deidara jamais chegou ao ponto de dizer que me ama de volta, mesmo com todas as declarações
feitas constantemente por mim.
-H-Hm... Eu também te amo, Dei. -Declarei em um ato de ciúmes, encolhendo-me
envergonhadamente entre os braços do Uchiha. -Te amo mais do que o Itachi.
O moreno mais velho levantou a sobrancelha.
-Eu tenho minhas dúvidas. -Retrucou amargurado, aparentemente incomodado com a pequena
competição que criei entre nós. -Eu conheço o Deidara a mais tempo, Naruto.
-M-Mas ele é o meu irmão... -Rebati baixinho.
O loiro bufou irritadamente.
-É sério isso, gente? -Repreendeu. -Brigar por isso é o cúmulo do absurdo.
-Nós não estamos brigando, chefe. -Cruzou os braços na minha direção. -Estávamos apenas
discutindo amigavelmente sobre quem te ama mais.
-H-Hm... Mas eu te amo mais, Dei. -Falei por cima do mais velho que, imediatamente, estreitou os
olhos na minha direção. -Muito mais do que qualquer um.
Deidara me fitou com tédio.
-‘Tá, eu também te amo, franguinho.
Abri um sorriso amoroso e emocionado.
Minhas bochechas, por outro lado, se esquentaram violentamente, deixando-me envergonhado ao
ponto de precisar esconder meu rosto contra o peito de Sasuke.
-Bebê, você é muito fofo. -Ouvi o moreno sussurrar em minha orelha. -Sabia disso?
-H-Hm... Não sou não, Sasuke. -Sorri tímido.
-É sim... -Fez pequenas cócegas em minha cintura, sorrindo carinhoso por ter conseguido me
arrancar algumas risadas. -Ei?
Levantei a minha cabeça, me deparando com um biquinho pidão e adorável em seus lábios.
-Fala que me ama também, bebê? -Pediu manhoso. -Senão eu que fico com ciúmes...
Sorri apaixonadamente.
-E-Eu te amo muito, Sasuke.
Ele me roubou um selinho.
-Eu te amo muito mais, Naruto.
-E você, Sasuke? -Itachi implicou, impedindo que seu namorado deixasse a cela. -Não vai falar que
ama o Deidara antes dele sair? Só falta você!
Tanto o moreno, quanto meu irmão ficaram desconfortáveis.
Era exatamente isso que o Uchiha mais velho queria. Ele adorava colocar as pessoas em situações
constrangedoras e avaliar a maneira como cada uma delas reagiria.
Em outras palavras, Itachi gostava do caos.
-Ué, por que eu? -O mais novo rebateu, tentando trocar de assunto. -Fala você que ama o Naruto.
-É, Itachi, fala você. -Deidara apoiou.
-Tá bom. -Deu de ombros, sorrindo para mim como se não fosse nada. -Naruto, eu te amo.
Senti o meu rosto inteiro esquentar.
Eu, definitivamente, não estava esperando por isso.
-O-Oh... -Ri timidamente, olhando para meus próprios pés. -Eu também te amo, Itachi.
Deidara e Sasuke se entreolharam.
-Vamos! Agora eu quero ouvir vocês dois! -Ele bateu palmas. -Fala que ama o seu cunhado, Sasuke!
Olha só pra mim e o Naruto! Somos um exemplo!
Ri divertidamente.
-U-Uhum, é a sua vez.
O moreno me olhou indignado.
-Até você, bebê?
-F-Fala logo, Sasuke...
-Err... Eu te amo, Deidara. -Baixou a cabeça. Eu, por outro lado, senti cada parte de meu corpo se
derreter com tanto amor. O Sasuke ficava incrivelmente adorável com vergonha, embora eu não
conseguisse compreender ao certo o motivo de ambos ficarem tão constrangidos um perto do outro.
-Felizes agora?
Itachi cutucou o seu namorado.
-Fala você agora, chefe!
-Argh! Caralho, hein?! -Empurrou seu ombro para longe. -Eu te amo, Sasuke, porra!
Sorri abertamente junto com o mais velho.
-Ah, que lindos! -Soltou um som meloso e agudo para mostrar-nos que havia achado-os “fofos”.
-Agora só falta você dizer que me ama pra ficar completo, Sasuke!
Seu irmão o olhou com perturbação.
-Desde quando você ficou tão carente, Itachi?
-Fala que me ama agora. -Ordenou sombrio.
-Tá bom, calma... -Levantou as mãos como se estivesse sendo ameaçado. -Eu te amo.
-Eu também! -Sorriu como se nada tivesse acontecido. -Pronto! Agora o amor está no ar!
Rimos todos em conjunto. Apesar de tudo, Itachi havia arrumado um jeito de descontrair e nos
afastar de toda aquela tensão.
Pelo menos por alguns minutos, eu consegui me esquecer do verdadeiro motivo pelo qual estávamos
todos aglomerados naquela cela.
-Bom... -Deidara coçou a garganta, parecendo nos arrastar de volta a realidade com sua entonação
de desânimo. -Eu acho que já vou indo agora. A cozinha me espera.
Senti o clima voltando a torna-se pesado.
-Tudo bem. -Itachi assentiu, não muito contente com a decisão de seu namorado, mas entendendo
toda a sua dor em relação ao “abandono” de Gaara. -Qualquer coisa me chama, Dei. Eu e os meninos
vamos estar lá no pátio, beleza?
-Certo. -Concordou cabisbaixo. -Até mais tarde.
E por fim, ele se virou. Deidara deixou a cela sem se virar para trás, o que só comprovava ainda mais
a minha teoria de que meu irmão não voltaria atrás com a sua decisão.
Apenas eu, Sasuke e Itachi iríamos até pátio.
-Vamos indo, cambada? -Se virou para nós dois. -‘Bora acabar logo com isso, né?
-Aham, vamos. -Sasuke assentiu, estalando um beijo em minha cabeça.
Tudo o que pude fazer, além de me segurar ao máximo para não voltar a chorar, foi agarrar-me no
braço do moreno, deixando, como o habitual, que o mesmo me guiasse pelos corredores em direção ao
nosso destino.
Saímos os três lado a lado. Itachi em uma ponta, Sasuke em outra, e eu no meio dos dois, mantendo
minha cabeça baixa enquanto viajava em meus próprios pensamentos, imaginando a forma como me
despediria dos meninos, já que, a pedidos do Uchiha mais velho, não poderíamos deixar escapar nenhuma
informação sobre a fuga.
Em pouquíssimo tempo, já estávamos ao “ar livre” do pátio. Como faltavam alguns minutos para
anoitecer e, consequentemente, para que a lugar fosse evacuado pelos carcereiros, o ambiente
encontrava-se quase inteiramente vazio, apenas com alguns detentos aleatórios sentados nos bancos e
jogando conversa fora.
No entanto, quem realmente importava no momento, também estava presente.
Gaara estava nos bancos do fundo. E não só ele, como o restante de meu grupo também. Estavam
todos rindo, sorrindo e conversando entre si como se fosse apenas mais um dia normal dentro da
penitenciária.
Era normal para eles, é claro.
Para nós, era o fim de nossa jornada ali dentro.
-E-Eu não sei se posso fazer isso... -Fechei meus olhos de forma lenta e sofrida, sentindo-os
arderem em consequência a tantas horas que passei aos prantos, temendo aquele mesmo momento. -Eu
não vou conseguir.
-Você vai conseguir, bebê. -Tocou na ponta de meu queixo, sorrindo entristecido. -Lembra do que a
gente conversou? Vai ser rapidinho, tá bom? Eu vou estar junto com você.
Me abracei fortemente ao seu corpo.
Eu era tão grato ao Sasuke. Agradecido por toda a sua paciência, gentileza, compreensão e amor
para lidar comigo, mas, em especial, com a minha personalidade mais instável e “irritante”, como muitos
gostavam de nomear.
Ele era, sem dúvidas, o amor da minha vida.
-Os garotos já nos viram. -Itachi informou ao meu lado, apontando discretamente para o grupinho
formado ao redor do banco.
Gaara já acenava alegremente para nós.
Fazia algum tempo que eu e o ruivo não conversávamos com decência. Por tê-lo evitado de todas as
maneiras possíveis nas últimas quarenta e oito horas, ambos acabamos nos distanciando um pouco.
Agora era torcer para que ele não suspeitasse de nada.
-Oi, gente! -O ruivo veio saltitando na nossa direção, sorrindo simpático e alegre, como o habitual. Eu
acho que nunca vou conseguir entender o bom-humor excessivo do Gaara aqui dentro. Ele sempre foi quem
mais nos botou para cima. -Por onde vocês andaram?!
-Pelo chão. -Itachi respondeu descontraído, tentando disfarçar a tensão a nossa volta. O ruivo, por
sua vez, riu divertido com a resposta sarcástica. -E você? Por onde andou?
Um sorriso apaixonado rasgou o seu rosto.
-Com o Lee, é claro. -Apoiou-se intimamente no ombro de Sasuke, suspirando abobado com os
próprios pensamentos. Uma das únicas coisas que também me consolavam, era saber que o enfermeiro
continuaria ao seu lado, independente de nossa ausência. -Eu estou dormindo lá quase todas as noites.
Estamos criando mais intimidade, sabe?
Itachi sorriu levemente.
-Que coisa boa.
-Sim! -Abraçou o moreno mais novo de lado, espremendo suas bochechas com um ar amoroso e
distante. -Ele é tão lindo...
Sasuke riu baixinho.
-Mas e vocês, meninos? -Olhou curiosamente para nós.
Ninguém se arriscou a responder nada.
-O que ‘tá rolando? -Franziu o cenho. Não estávamos com as nossas melhores caras. No entanto, eu
era, de longe, o pior entre eles. Qualquer um em sã consciência repararia em meus olhos vermelhos e
inchados. -Ei, franguinho... Você andou chorando?
Minha testa se franziu em tristeza.
O Gaara estava preocupado comigo. Estava se preocupando com alguém que, mesmo contra a
minha vontade, o abandonaria em menos de seis horas e, possivelmente, nunca mais voltaria a vê-lo.
Me doía tanto fazer isso. Tanto.
-G-Gaara...
Sem pensar muito a respeito, juntei os nossos corpos em um abraço. Agarrei-o fortemente como
nunca fiz antes, afundando meu rosto em seu ombro e chorando sem controle por saber que aquela seria a
última vez.
A última vez em que estaria com ele.
-Naruto, o que aconteceu...? -O ruivo indagou em preocupação, acariciando minhas costas enquanto
trocava olhares com os meninos, perguntando-os silenciosamente o que estava havendo comigo. É claro
que nenhum deles se atreveu a responder. Estavam ambos de cabeça baixa. -Você está bem? Eu posso te
ajudar com alguma coisa?
Neguei frenético, sem fôlego e disposição para respondê-lo com palavras.
-Então o que foi, franguinho? -Afastou o meu corpo delicadamente, fitando-me com desespero e
apreensão. -O que houve?
Engoli meu choro com todas as minhas forças.
-E-Eu só queria dizer que... -Dei uma pausa antes de prosseguir. -Eu te amo, Gaara.
O ruivo prosseguiu em silêncio.
-V-Você é o melhor amigo que eu já tive. -Segurei sua mão contra a minha, transmitindo todas as
energias honestas e positivas de minha declaração. -Obrigado por tudo o que você já fez por mim. Você é a
melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha vida.
Um sorriso carinhoso iluminou o seu rosto.
-Ah, Naruto... -Apertou a minha mão de volta. Gaara não estava entendendo muita coisa, talvez
apenas imaginando que refleti sobre a nossa amizade e me emocionei de repente, igual geralmente ocorria
em meu dia a dia. Ele sabe o quanto sou sensível. -Eu também te amo. Você é muito especial pra mim, viu?
Solucei com tanta dor dentro do meu peito.
-Ei, não chora... -Ele riu baixinho, me puxando para um outro abraço apertado. -O que te deu hoje,
hein? Não precisa chorar por conta disso. Eu vou estar sempre aqui pra você.
Eu sabia bem disso.
Mas era eu quem não estaria sempre com ele.
Foi Sasuke quem me trouxe de volta à realidade. Tocou em meu ombro com delicadeza,
aproximando-se do ruivo com um sorriso triste e amarelo. Eu sentia como se tivesse mais um milhão de
coisas para dizê-lo, mas, naquele momento, foi como se meu cérebro houvesse criado algum tipo de
barreira e me impedido de pensar a respeito.
-Gaara... -O moreno chamou falho, juntando seus corpos em um abraço amigável. -Obrigado. Eu
gosto muito de vocês.
O ruivo franziu o cenho.
Tanto carinho repentino era, sem dúvidas, inédito para si. Era normal que tivéssemos momentos
afetivos entre nós e, de vez em quando, até mesmo com o Deidara. Mas, com o Sasuke, era
completamente diferente.
-Oh... -Abraçou-o de volta. -Eu também gosto muito de você, Sasuke.
O Uchiha distanciou-se com uma feição chateada. Ele só fingia ser durão em nossa frente, apesar de
eu saber bem quando o meu namorado estava com vontade de desabar.
-Gaara? -Foi a vez de Itachi se pronunciar, aproximando-se de si com os ombros encolhidos. -Vem
cá, cara.
Sem aviso prévio, puxou-o para um abraço.
Confesso que, embora dolorosa, foi uma cena fofa de se assistir. Por ser bem mais baixo que o
Uchiha mais velho, o ruivo precisou se colocar na ponta dos pés, sendo quase levantando pelo mesmo para
que ambos pudessem manter os corpos colados.
-Obrigado. -Se afastou com um sorriso apagado. -Você foi o meu primeiro amigo.
Gaara sorriu emocionado.
-Aí, gente... -Riu nervosamente. -Vocês vão me fazer chorar desse jeito, sabia?! Agora só falta o
Deidara vir aqui e dizer que me ama, assim que eu vou morrer mesmo!
Eu também queria muito que o meu irmão houvesse se despedido dele. Afinal, ambos são amigos a
muito mais tempo do que nós, além de Gaara possuir, claramente, uma preferência em relação ao loiro.
A amizade deles é muito forte e bonita, e talvez, por essa razão, Deidara não estivesse pronto para
deixá-lo de lado.
-O Deidara está ocupado no momento. -Itachi o cobriu. -Mas ele com certeza te ama muito.
Gaara tapou o próprio rosto.
-Chega, eu vou chorar desse jeito, meninos! -Gesticulou para que nos calássemos. -Já me emocionei
de mais pro meu gosto!
O ruivo estava disposto a deixar aquele assunto de lado. Já a minha vontade de chorar, continuava
absurda e intacta. Com a intenção de me consolar-me, senti as mãos de Sasuke circularem os meus
quadris, acariciando-os protetoramente para mostrar que estava ao meu lado.
-Você quer ir falar com o resto dos meninos, hm? -Sugeriu baixinho em meu ouvido.
-Isso, vão lá. -Itachi incentivou, visto que não era tão íntimo deles como nós. Para falar a verdade, ele
nunca havia chegado ao ponto de conversar com os garotos de meu grupo, talvez somente com o Suigetsu.
-Eu fico aqui com o Gaara esperando vocês.
O ruivo, mais uma vez, franziu o cenho sem entender. Ele parecia simplesmente ter se contentado de
que estávamos estranhos.
-Vamos, bebê? -Ergueu o braço para mim.
-U-Uhum... -Segurei-o de volta.
Iniciamos a nossa caminhada em direção aos bancos. De certa forma, eu pude respirar um pouco
mais aliviado longe do Gaara. Estava sufocante precisar esconder a verdade de si.
Ao chegarmos perto do grupo, fomos recebidos por assobios, palmas, risadas e piadinhas dos
mesmos. Era engraçada a maneira como nenhum deles haviam mudado desde o primeiro dia em que os
conheci.
-Olha só quem está aí! -Kiba provocou. -Caramba, hein? Quanto tempo!
-Sim! -Neji exclamou com um sorriso. -Depois que vocês começaram a namorar, nunca mais
apareceram pra falar com a gente!
Tentei lhes direcionar um sorriso.
-H-Hm... Me desculpem. -Me aproximei da ponta, aonde Shikamaru ocupava o lugar. Seria estranho
lhe pedir por um abraço de repente, mas eu sabia que me arrependeria caso não perguntasse. -Posso te
dar um abraço?
Ele franziu o cenho.
-Err... Pode sim.
Juntei os nossos corpos com força. Ao mesmo tempo em que fazia isso, notei Sasuke repetir um ato
parecido com Kiba, embora tenha se contentado apenas com um aperto de mão amigável.
Estavam todos meio confusos conosco.
Em seguida, eu parti para Neji.
Pelo fato de sermos um pouco mais próximos se comprado ao restante do garotos, ele me acolheu
com um sorriso pequeno. Já na vez de Suigetsu, decidi que faria como o Sasuke e, pelo fato de não sermos
tão chegados, o cumprimentaria com um aperto de mãos. No entanto, fui surpreendido quando o mesmo me
puxou pelo braço e abraçou-me com tapinhas na altura de minhas costas.
-Você é fofo, loirinho! -Bagunçou o meu cabelo. -Mesmo sendo meio irritante!
Encolhi os meus ombros.
-A-Ah... Obrigado, eu acho.
E, por fim, pulei para o Kiba. Era notável toda a sua dúvida e confusão diante de tantos abraços que
mais pareciam despedidas, entretanto, ele não protestou quando chegou a minha vez de cumprimentá-lo.
Continuava sendo doloroso precisar me despedir, mas confesso que me senti, de certa forma, um
pouco mais leve. Era bom abraçar as pessoas que eu gosto.
Com um último aceno de mãos, virei-me de volta a Itachi, deixando com que Sasuke terminasse de
dar tchau aos garotos.
Minha ficha parecia estar caindo de vez.
Era a última vez que eu estaria no pátio.
Foi um alívio descobrir que Gaara já havia ido embora. Imaginei que ele houvesse saído para passar
um tempo com o Lee, mas, para ser bem sincero, eu até que preferi dessa maneira. Não daria mais para
engana-ló e fingir que nada estava acontecendo.
Cheguei até o Uchiha com os olhos cheios de água, observando-o com os braços cruzados e um
semblante distante, parecendo refletir sobre tudo o que faríamos daqui para frente.
Estávamos vivendo os nossos últimos momentos dentro da prisão.
-C-Cadê o Gaara? -Questionei choroso, enxugando minhas lágrimas com a manga do uniforme que,
por sinal, já encontrava-se inteiramente úmida. -Ele foi ver o Lee?
-Aham. -Assentiu simplista. -Você já se despediu de todos os garotos?
Concordei em meio a um soluço.
-S-Sim...
Itachi ficou sem reação ao me presenciar chorar mais uma vez. No geral, era o Sasuke quem sempre
vinha correndo para me socorrer em momentos como esses. No entanto, por estar desesperado em busca
de qualquer consolo e pouco me importando com a pessoa que fosse, dessa vez, eu decidi me abraçar ao
moreno mais velho.
Juntei o meu corpo ao seu, sem pensar a respeito de minha inconveniência ou se ele desaprovaria
tanto grude de minha parte. Tudo o que eu queria era ser consolado por alguém, não importava o indivíduo.
Ao agarrar em volta de seu tronco, me senti ainda mais minúsculo o abraçando. Já era algo normal
sentir-me miúdo perto do Sasuke, mas com o seu irmão, o qual tinha o dobro de seu tamanho, foi ainda pior.
O Itachi era muito alto, embora estranhamento confortável.
Chorei, literalmente, contra a sua barriga, sentindo meus lábios tremerem e os olhos arderem
dolorosamente. Aquela havia sido a pior despedida de toda a minha vida.
Eu havia perdido o meu melhor amigo.
-Não chora, Naruto. -Pediu sem graça, desacostumado com tanto drama. -‘Tá tudo bem.
Sasuke logo se aproximou em um misto de preocupação e confusão. Não era todo o dia que seu
irmão me abraçava de volta.
-Ei, o que aconteceu aqui?
-O mesmo. -Itachi deu de ombros, simplesmente deixando com que eu inundasse a sua blusa do
uniforme. -Ele está mal por conta da despedida.
O mais novo suspirou em chateação.
-Bebê, vem cá comigo, vem. -Abriu os braços como um convite. -Me dá um abraço.
Ao invés de me soltar do Itachi, eu decidi me aproveitar da situação para puxa-ló também. Quanto
mais gente me abraçando, mais amado, protegido e consolado eu me sentiria.
No final das costas, ambos pareceram compreender qual era o meu desejo, e não protestaram contra
a mim. Nos abraçamos os três em meio ao pátio. E eu, para a minha felicidade, fiquei no meio de seus
corpos. Aquilo era bastante aconchegante. Os dois tinham um abraço gostoso e confortável.
Por fim, foi Itachi quem decidiu cortar o momento, obviamente.
-Pois bem... -Arrumou sua blusa, aproveitando para secar as lágrimas que deixei bem ali. -Eu preciso
ir agora, gente.
Sasuke o olhou com curiosidade.
-Pra onde você vai?
-Até a enfermaria. Já se esqueceu?
Aquela era a hora principal do dia.
Estávamos nos preparando para o momento em que Itachi fingiria estar doente e, em dentro de cinco
horas, uma ambulância viria busca-lo para que a fuga ocorresse como planejamos.
-Ah, sim... -Sasuke assentiu aflito. -Toma cuidado, Itachi, por favor.
Ele sorriu levemente.
-Pode deixar. -Deu duas batidinhas em sua cabeça. -Você também, viu? Não esquece de vir comigo
até o estacionamento, é importante que você tenha a autorização dos policiais.
-Eu sei.
Itachi aproximou-se para abraçá-lo.
-Vai dar tudo certo, tá bom? -Tranquilizou-o. Observei Sasuke fechar os olhos com força,
aparentemente receoso com o decorrer do plano a partir daquele momento. -Não precisa ter medo de nada.
-Eu acredito em você.
-Até mais tarde, então. -Declarou com tranquilidade. Em seguida, olhou na minha direção. -E você,
Naruto, fica bem.
Assenti chateado.
-B-Boa sorte, Itachi.
Ele sorriu para mim. Com uma última troca de olhares entre todos nós, acompanhamos em silêncio a
saída do Uchiha mais velho em direção a enfermaria, preparando-se para entrar em seu papel e enganar a
todos.
Era hora de colocarmos o plano em ação.
•••
Algumas horas haviam se passado. Eu imaginei que, com o decorrer do tempo, me sentiria mais
seguro e familiarizado com o que planejamos. Entretanto, com o cair da noite, a minha ansiedade em
relação a fuga tornou-se muito mais intensa se comparada a antes.
Estava chegando a hora.
Assim como o combinado com os meninos, cada um estava ocupando o seu posto no plano de fuga.
Itachi, como o esperado, encontrava-se “internado” na enfermaria da prisão, fingindo ter piorado de sua
pneumonia para conseguir-nos uma ambulância que, futuramente, serviria como nosso transporte.
Obito, por sua vez, preparava com cautela os últimos detalhes de sua tarefa em “acionar” um alarme
do bloco 2 e enganar os guardas para que pudéssemos ganhar mais tempo na hora de fugirmos pelo
estacionamento.
Já eu, Sasuke e Deidara, estávamos em uma situação um pouco diferente. Pelo fato de ainda não
estarmos ativos com nossos papéis no plano, fomos obrigados a permanecermos na cela do bloco 5 até o
horário solicitado.
O ambiente estava escuro, silencioso e, acima de tudo, com o clima pesado. Por estarmos no
período da noite, o restante dos detentos também permaneciam em suas devidas celas, alguns
adormecidos, enquanto outros apenas mantinham-se em seus próprios mundos e sem cogitar a hipótese de
que, daqui a menos de uma hora, seríamos quatro procurados pela polícia.
O único som presente ali por perto, além da respiração desconexa de Sasuke batendo em meus
ouvidos, eram os passos inacabáveis de meu irmão, o qual andava de um lado para o outro dentro daquela
cela minúscula.
A sirene já havia sido acionada. Aquilo significa que, em dentro de cinco minutos, era a vez do
Uchiha mais novo cumprir com a sua parte do plano e seguir até a enfermaria para se encontrar com o seu
irmão, acompanhá-lo até o estacionamento e, por fim, golpear os policiais na companhia de Itachi e Obito.
Nesse período de tempo, eu e Deidara também entraríamos em cena. Honestamente, eu estava
aliviado por termos recebido a tarefa mais “fácil” entre todas, porque, segundo o Obito, não teríamos muitos
problemas em ficarmos de guarda portão principal, já que seu falso alarme sobre o contrabando de drogas
distrairia a todos.
Ninguém se preocuparia em monitorar o portão com, supostamente, um grupo de detentos traficando
drogas no meio do noite.
O foco, certamente, seria no bloco 2.
-Deidara? -A voz de Sasuke ecoou com uma pitada de impaciência. Por estarmos lado a lado no
beliche de baixo, ficava mais fácil de sentir seus ombros tencionados diante de nossa situação atual. -Você
pode, por favor, parar de andar de um lado para o outro?
Meu irmão o ignorou complementarmente.
-Daqui a pouco você vai abrir um buraco no chão. -Persistiu incomodado. O Uchiha era do tipo de
pessoa que não gostava de presenciar movimentos repetitivos em sua frente, além de ficar duas vezes mais
nervoso sabendo que outro indivíduo estava no mesmo grau de ansiedade que o seu. -Para, por favor.
-Me deixa, garoto! -Exclamou enraivecido. -Eu não consigo ficar parado que nem uma estátua igual
vocês dois, falou?! Eu tenho a necessidade de ficar me mexendo, caralho!
Estávamos todos sobrecarregados ao limite.
Não fazíamos a mais vaga ideia do que estava se passando na enfermaria. A última vez em que
tivemos notícias de Itachi, foi a duas hora atrás, quando Obito deu uma passada rápida em nossa cela para
informar-nos que os enfermeiros já haviam acionado o hospital que o Uchiha ficou internado da última vez.
Aquilo era algo bom, eu acho. Segundo o meu namorado, significava que a ambulância já estava a
caminho da penitenciária.
Agora era torcer para que ele estivesse certo.
-E-Eu estou com tanto medo... -Murmurei choroso. O moreno, por sua vez, em um ato de proteção,
decidiu acolher-me protetoramente contra o seu peito, estalando um beijo em minha cabeça ao sentir meu
corpo inteiro se tremer. -Vai dar tudo certo, Sasuke?
-Uhum, vai sim, bebê. -Sorriu de modo reconfortante. -Vai ficar tudo bem.
Deidara riu em puro nervosismo.
-Eu espero que você esteja mesmo certo, Sasuke. -Começou a roer as próprias unhas, andando em
círculos sem parar. -Porra! Eu to quase borrando a cueca!
-Borrando a cueca? -O moreno repetiu.
-É! Borrando a cueca!
-Ah... Usa a privada. -Apontou para o vaso sanitário no canto da cela. -Mas vai rápido, Deidara.
Daqui a pouquíssimo tempo eu vou ter que descer e vocês vão vir logo depois.
-Eu não vou fazer isso na frente de vocês! -Estalou a língua. -Que coisa mais desagradável!
Tombei minha cabeça sem entender.
-M-Mas você já usou a privada um monte de vezes na minha frente, Dei—
-Na sua frente! Não na do Sasuke, caralho!
-Ah, mas eu não ligo, Deidara. -O Uchiha tranquilizou. -Quer que eu vire pro outro lado?
-Não! -Gritou irritado. -Eu não vou usar a privada, cacete, esquece isso!
Sasuke apenas levantou as mãos em rendição.
Eu chutaria dizer que estávamos aflitos de mais para nos importarmos com uma coisa tão irrelevante
como aquela. Em breve, estaríamos a quilômetros da penitenciária.
Eu estava com muito medo.
-Gente? -Sasuke chamou determinado, mirando cuidadosamente os ponteiros do relógio. -Essa é a
minha deixa. Eu preciso ir até a enfermaria agora mesmo.
Me agarrei fortemente ao seu braço.
-N-Não, Sasuke... -Lhe impedi de levantar. Já havíamos conversado anteriormente sobre não
atrasarmos o plano em hipótese alguma. No entanto, não pude deixar de sentir medo do que viria a seguir.
Eu queria tanto ficar com o Sasuke, só para ter certeza de que ele ficaria bem e não correria risco de levar
um tiro no estacionamento, ou qualquer coisa parecida. -Eu não quero que você vá..
-Ei... -Tocou em minha bochecha, acariciando por cima de minhas marquinhas de nascença, as quais
ele sempre teve uma certa obsessão, apesar de eu não entender o motivo disso. -Não vai acontecer nada
comigo, bebê.
-C-Como você tem tanta certeza?
Ele riu baixinho, talvez com a intenção de descontrair.
-Eu vou estar junto com o Obito, esqueceu? -Levou a minha franja para trás, acariciando
delicadamente os meus fios. -Ele é super responsável e não vai deixar nada acontecer.
De alguma forma, isso me tranquilizou.
Sasuke sabia perfeitamente o quanto eu confiava no carcereiro e ficava confortável com sua
presença, embora nem mesmo eu soubesse ao certo o por quê. O Obito me transmitia uma paz e
segurança inexplicável.
-E-Eu não posso mesmo ir com você?
-Não. -Negou com seriedade. -Eu não quero que nada te aconteça, Naruto. Se você fosse comigo,
teria que golpear os guardas com a gente e poderia acabar se machucando.
-M-Mas, Sasuke...
-Vamos seguir o plano direitinho, tá bom? -Pediu pacientemente. -Eu preciso que você confie em mim
agora, bebê. Pode ser?
Concordei com um beicinho.
-E-Eu estou torcendo muito por vocês. -Meus olhos se encheram de lágrimas. O medo que eu sentia
de algo grave acontecer com o meu namorado, era absurdo. -E-Eu te amo muito, Sasuke. Muito mesmo.
Você é a minha vida.
Ele encostou nossas testas carinhosamente.
-Eu te amo para sempre. -Beijou-me com um sorriso tranquilizador. -Meu bebê mais lindo desse
mundo. Você é tudo pra mim, sabia?
Solucei baixinho em resposta.
-Ei... Sem chorar, Naruto, senão eu choro junto com você. -Repreendeu com um biquinho. -Te vejo
daqui quinze minutos. Vai ser rapidinho.
-P-Promete?
-Prometo. -Roçou os nossos narizes, me roubando um último selinho antes de se distanciar com
lentidão. -Deidara?
De imediato, o loiro deixou de rondar a cela, observando o mesmo se levantar do colchão e caminhar
apreensivamente na sua direção.
-Toma conta do Naruto por mim? -Tocou em seu ombro, carregando uma entonação que eu,
particularmente, conhecia bem. Mesmo estando com as costas para mim, eu sabia que meu namorado
estava prestes a desabar. -P-Por favor? É só isso que eu te peço.
Deidara assentiu com a cabeça.
-Fica suave, Sasuke. -Lhe direcionou um sorriso fraco, dando duas batidinhas em sua mão. -O
franguinho vai ficar bem. ‘Tá comigo, ‘tá com Deus.
O moreno riu levemente.
-Obrigado... -Fungou o nariz.
Eu fiquei esperando o Sasuke se virar para trás uma última vez, mas ele simplesmente seguiu sem
me dar tchau. Talvez sua intenção fosse evitar que aquilo se transformasse em uma despedida dolorosa
entre nós.
Afinal, nos veríamos em quinze minutos.
Quando o mesmo deixou a cela, o ambiente tornou-se, mais uma vez, silencioso. Agora era a minha
vez de aguardar, juntamente com o Deidara, para que fôssemos até o portão principal, aonde ficaríamos de
guarda e daríamos cobertura para os meninos.
-Eu acho que agora eu vou usar a privada. -Deidara declarou de repente, olhando reflexivamente
para o vaso sanitário. -Foi mal, franguinho, você vai ter que me assistir.
Dei uma risada nervosa.
-N-Não tem problema, Dei. -Gesticulei como se não fosse nada. -Eu só não entendi porque você não
fez logo de uma vez aquela hora.
-Porque o Sasuke estava aqui, caralho. -Resmungou baixinho, baixando suas calças enquanto
sentava-se no vaso. -Você acha mesmo que eu vou soltar o barro com um maluco que eu mal conheço na
minha frente?
-Mal conhece? -Levantei a sobrancelha. -Mas vocês se conhecem a muito tempo. O Sasuke não ia
se incomodar com isso, ele entenderia a situação.
-‘Tá, que seja. -Pegou o papel higiênico em mãos. -Agora já foi. Quanto menos gente fazendo plateia
aqui dentro, melhor.
Decidi não insistir mais. Para dá-lo pelo menos um pouco de privacidade, fingi olhar para o relógio na
parede, acompanhando os ponteiros se moverem com lentidão.
Aquela era a hora de agirmos.
-Pronto. -Deu descarga. Em seguida, subiu sua calça do uniforme e colocou-se de pé em minha
frente. -A gente precisa ir agora.
-U-Uhum, eu sei.
-Vem. -Meneou com a cabeça. -E faça silêncio, ouviu? Você é escandaloso pra cacete, Naruto, eu
nunca vi alguém fazer tanto barulho pra andar! E vê se não tropeça!
Concordei inseguro. Sinceramente, o Deidara só me deixava mais nervoso dando-me tantas ordens e
insultando o meu jeito “peculiar” de andar. Mas, por outro lado, eu realmente temia a ideia de acabar
chamando a atenção de algum carcereiro por ter sido indiscreto.
Era por isso que eu havia decidido fazer tudo o que meu irmão mandasse. Caso fosse o Sasuke
quem estivesse me acompanhando, eu, certamente, estaria mais tranquilo pelo simples fato de saber sobre
a paciência e calmaria de meu namorado diante de todas as situações possíveis.
Entretanto, pelo menos dessa vez, eu teria que me contentar com o Deidara e todas as loucuras que
ele, possivelmente, cometeria na ausência dos meninos.
Assim como eu faria caso fosse o Uchiha ao meu lado, segurei-me de modo automático no braço do
loiro, me esquecendo por completo que estava lidando com alguém impaciente e que desprezava quaisquer
tipos de contatos físicos, especialmente no meio de uma fuga.
Acontece que, felizmente, ele não pareceu se importar tanto com isso. Afinal, estávamos com a
cabeça muito cheia para pensarmos nesse detalhe insignificante, além de que, estando grudado consigo,
talvez significasse para Deidara poder monitorar cada passo meu, e evitar que eu tropeçasse sem querer.
Iniciamos a nossa caminhada pelos arredores do bloco 5. Segundo as orientações de Obito, o portão
principal pelo qual sairíamos, ficava localizado no final daquele mesmo corredor.
Aquilo facilitaria muito o nosso trabalho, visto que não precisaríamos andar muito a procura de nosso
destino e, consequentemente, não chamaríamos a atenção de ninguém por estarmos fora de nosso bloco
original.
Ao alcançarmos uma distância considerável da cela, Deidara decidiu espreitar-se atrás de uma
parede, a mesma que, embora fosse próxima do portão, era coberta por uma das cabines de vigilância dos
carcereiros, a qual, felizmente, encontrava-se desabitada.
Ali era realmente um bom esconderijo. Se ficássemos bem grudados a parede, ninguém conseguiria
nos enxergar atrás da cabine.
Eu logo deduzi que o alarme falso sobre o contrabando de drogas, já havia sido acionado por Obito.
Para falar a verdade, eu tinha quase certeza sobre esse detalhe.
O corredor estava vazio de mais para o meu gosto, além de que, a penitenciária toda, no geral,
parecia estar completamente inabitada.
Os carcereiros estavam todos no bloco 2.
-O corredor está muito vazio. -O loiro sussurrou exatamente o que eu havia reparado, observando o
bloco com uma feição atenta. Estava silencioso, frio e, acima de tudo, quase beirando o breu. -Eu acho que
o Obito já acionou o alarme, você não acha?
Concordei positivamente.
-E-Eu também acho. -Murmurei receoso. -E agora, Dei? O que a gente faz?
-A gente espera o Itachi passar por aqui junto com o Sasuke e o Obito. -Informou baixinho. -O Itachi
provavelmente vai estar na maca e rodeado de policiais. Na hora que eles saírem pro estacionamento, a
gente fica de vigia no portão esperando o sinal deles. Entendeu?
Eu somente assenti com a cabeça. Já havíamos repassado o plano um milhão de vezes, mas mesmo
assim, ainda me causava um desespero pelo o que estávamos fazendo.
-D-Dei? -Chamei choroso.
-Quê?
-E-Eu to com medo... -Me agarrei ao seu braço direito. -Muito, muito medo.
-Eu sei que você está. -Resmungou. -Você ‘tá tremendo feito um maluco, franguinho.
-V-Vai ficar tudo bem mesmo, né?
-Vai, caralho. -Estalou a língua. -Agora cala a boca, estamos chamando muita a atenção.
Decidi apenas obedece-lo. Eu sabia que não estávamos chamando atenção alguma ali por perto, até
porque, o lugar estava vazio como nunca vi antes. No entanto, isso mudou de um segundo para outro, no
momento em que uma movimentação inesperada foi sentida por nós ao lado esquerdo do corredor, o
caminho que, geralmente, fazíamos para ir até a enfermaria.
-Abaixa, Naruto. -O loiro ordenou autoritário, empurrando a minha cabeça para baixo. -Fica perto de
mim. Não sai daqui de jeito nenhum.
Eu levei aquela ordem muito a sério. Me abracei ao seu tronco com uma força exagerada,
ajoelhando-me ao seu lado enquanto ambos espreitávamos com atenção a quem pertencia aquela
chegada.
Com sorte, era exatamente quem estávamos esperando.
Itachi, Sasuke e Obito.
Os garotos vinham acompanhados de mais dois policiais, os quais empurravam com velocidade o
Uchiha mais velho por cima de uma maca médica. Estava tudo ocorrendo como o planejado. Todos haviam
conseguido manter-sem em seus papéis.
Itachi fingiu estar doente, Obito fingiu ser o carcereiro responsável para acompanhá-lo até o hospital,
e Sasuke o irmão mais novo preocupado que só desejava despedir-se de seu único familiar vivo.
Foi tudo muito rápido.
Em questão de segundos, os três seguiram até o estacionamento, e nem se deram o trabalho de
olharem para trás. Para falar a verdade, eu cheguei a sentir o Sasuke inquieto como se estivesse me
procurando por ali, mas pelo fato de outros policiais estarem em volta, ele teve que se manter no
personagem.
Aquela era a nossa vez de agir.
-A barra ‘tá limpa. -Deidara anunciou quando o portão foi fechado novamente. -Agora a gente precisa
ficar perto da porta principal, beleza? Depois que os meninos derrubarem os guardas, eles vão dar duas
batidinhas no portão pra mostrar que a gente pode sair.
-M-Mas, Deidara... -Impedi que ele saísse de trás da cabine. -Não é melhor a gente ficar vigiando
daqui? Vamos ficar muito expostos parados na frente do portão, você não acha?
O loiro negou com a cabeça.
-Não, eu não acho. -Começou me levando para longe de nosso “esconderijo”. -Vamos seguir com o
plano, Naruto. Precisamos estar perto quando os meninos foram dar o sinal.
-A-Ah, tudo bem... -Engoli em seco. -Acho que você tem razão.
Eu me deixei ser arrastado por ele. O loiro optou por me dar a sua mão, entrelaçando nossos dedos
em um ato de proteção e prevenção para que eu não “escapasse” de si ou caísse no meio do caminho.
De qualquer forma, isso também acabou me tranquilizando. Ter contato físico com as pessoas que eu
amo, sempre me deixava mais leve.
Nos aproximamos cautelosamente do portão.
Estávamos, literalmente, no centro do bloco 5, ou seja, na linha de visão de todos. Qualquer um que
espichasse sua cabeça para fora da cela, saísse da enfermaria naquele mesmo instante, ou passasse de
frente ao bloco, teria a total visão de nós dois.
Mas, aparentemente, meu irmão não parecia tão preocupado com isso. O alarme falso no bloco 2
deixaria os carcereiros ocupados por um bom tempo. Segundo o protocolo de segurança explicado por
Obito, os guardas teriam que revistar cela por cela, até que tivessem certeza de que nenhuma substância
ilegal estivesse sendo contrabandeada ali dentro.
Por ora, estávamos em vantagem.
-Você ouviu isso? -Deidara perguntou de repente, aproximando o seu ouvido do portão, enquanto
escutava o lado de fora.
-O-Ouvi o quê?! -Me desesperei. -Já é o sinal? Eles já derrubarem todos os guardas?!
-Não, não é isso... -Murmurou baixinho, estreitando os olhos como se tentasse imaginar o que estava
se passando do outro lado. -São barulhos de socos, Naruto.
Senti as minhas pernas falharem.
-S-Socos? Como assim socos?
Meu irmão engoliu em seco.
-Isso quer dizer que os meninos já estão brigando com os guardas, franguinho. -Me olhou
aflitamente. -Eu estou escutando todos os barulhos dos golpes.
Mantendo a minha mão, involuntariamente, trêmula, levei-a com dificuldades em direção ao meu
rosto, o esfregando com força na intenção de me tranquilizar. Era oficial. Os garotos já estavam lutando
contra os policiais.
Sasuke estava ao lado de fora golpeando os guardas e, possivelmente, apanhando deles também.
Não dava para saber ao certo quem estava em vantagem. Mas, de qualquer forma, eu não podia fazer nada
a respeito.
-Vem cá escutar. -Me chamou.
-E-Eu não sei se quero fazer isso...
-Vem logo, cacete. -Puxou a minha mão. -Coloca o ouvido aqui no portão, dá pra ouvir direitinho. Vai
que a gente consegue identificar algumas vozes por aqui.
Eu acabei topando participar daquilo. Se realmente desse para distinguir quais dos meninos estavam
apanhando no momento, então eu gostaria de ficar ciente sobre a realidade, apesar de que, caso fosse o
Sasuke quem estivesse em perigo, eu não sei se conseguiria ficar parado sem fazer nada.
Por fim, eu aproximei o meu ouvido.
Incontáveis ruídos puderam ser escutados ao lado de fora. Socos, chutes, grunhidos, tapas, baques
e, acima de tudo, o som inconfundível de respirações ofegantes e entrecortadas soando por todo o
estacionamento.
Meus olhos se fecharam com força.
Nenhum deles parecia ser o Sasuke, embora não desse para ter cem por cento de certeza.
Tentei captar mais alguns sons suspeitos. Eu dei o meu máximo para escutar o lado de fora. Estava
totalmente focado e centrado em minha tarefa de monitorar cada passo dos meninos, tanto que, ao
identificar um estalo vindo detrás de mim, eu quase nem me dei conta de que, assim como nós dois, alguém
também estava se aproximando do portão principal.
No segundo seguinte, veio o inesperado.
Antes que tivesse a chance de me virar, um toque forte e grotesco em meu pulso foi o que
arrastou-me violentamente de volta à realidade. De início, imaginei que se tratasse de meu irmão ao meu
lado, talvez tocando-me com a intenção de chamar a minha atenção ou me avisar sobre algo importante.
Acontece que, embora Deidara fosse alguém, naturalmente, agressivo, aquele toque, ainda sim, era
bruto de mais para pertencer a si.
Havia mais alguém ali conosco.
Com um suspiro alto e exagerado, reagi ao susto virando-me de abrupto, sendo, instantaneamente,
acompanhado pelo meu irmão. Agora era oficial. Outra pessoa estava segurando no meu pulso.
Eu me deparei com o Kakashi.
-O que vocês estão fazendo aqui, caralho?! -O platinado rosnou enfurecido. Eu não estava mais
raciocinando direito. Foi tudo muito rápido. Tanto a sua chegada, quanto o fato de tê-lo me puxando
violentamente contra si. -É isso mesmo que eu entendi?! Vocês dois iam fugir?!
Meu corpo se tremia dos pés à cabeça.
Tínhamos sido pegos no flagra.
-Me responde, porra! -Persistiu com seus dedos apertando em volta de meu pulso, utilizando sua
mão livre para trazer-me pelo colarinho do uniforme. -O que caralhos vocês estão fazendo aqui atrás?!
Por alguma razão que, até então, eu não havia compreendido, Kakashi tinha se desgarrado do grupo
dos carcereiros. Ele parecia ser o único que não chegou ao ponto de verificar o chamado falso do bloco 2.
De qualquer forma, ele havia nos pegado completamente despreparados para enfrentá-lo, além de
ter-me escolhido, mais uma vez, como a sua vítima principal. Era claro que ele não escolheria enfrentar o
Deidara, e muito menos segurar daquela maneira em seu pulso.
Tinha que ser sempre com o mais fraco e vulnerável, ou seja, eu mesmo.
Foi nesse mesmo momento que meu irmão pareceu acordar e finalmente se dar conta do que estava
acontecendo, e da situação desesperadora em que estávamos enfrentado. Havíamos sido informados por
Obito sobre as possíveis chegadas de carcereiros no portão principal, mas não imaginávamos que seria tão
difícil assim de lidarmos.
-Solta ele, seu filho da puta! -Deidara aproximou-se tomado pelo pânico, aproveitando o meu braço
livre para segurar protetoramente no mesmo. -Larga agora, seu escroto! Larga o Naruto, porra!
O carcereiro não se deixou intimidar.
-Eu fiz uma pergunta, cacete! -Levou o meu rosto para frente, grunhindo enraivecido enquanto me
assistia aos prantos. -Responde, seu merdinha, o que vocês dois pretendiam?!
Deidara me puxou fortemente para o seu lado.
-Não encosta nele, caralho! -Gritou com todo o seu fôlego. Estavam ambos, literalmente, utilizando
os meus braços como um cabo de guerra, puxando-os um de cada lado. -Eu vou te matar, seu desgraçado,
solta o meu irmão!
Para ser ao menos um pouco útil em meio aquela discussão, comecei a me debater entre os seus
braços, tendo a minha visão, a todo instante, dificultada pelas lágrimas que insistiam a escorrer. Eu sabia
que precisava fazer alguma coisa, ou pelo menos tentar me defender diante de tamanha violência.
Aquela era uma questão de vida ou morte.
-Já chega! -Kakashi gritou de volta. Eu jurei sentir sua mão tateando o bolso de seu uniforme, o que,
de imediato, identifiquei por se tratar de uma busca veloz por sua habitual arma de choque. -Agora eu vou
arrancar a verdade de vocês! De um jeito ou de outro!
Os olhos do loiro se arregalaram.
-Naruto, bate na cabeça dele, porra! -Incentivou-me em meio ao caos. Eu estava sob muita pressão.
Ao mesmo tempo em que me debatia contra os braços alheios, sentia meu irmão puxar-me com todas as
suas forças para o seu lado, tentando me proteger e evitar que eu tomasse um choque, o qual, sem
dúvidas, acabaria comigo e com todas as nossas chances de fugirmos. -Acaba com esse filho da puta!
Lágrimas desciam em puro desespero.
Nada poderia ser feito pelo loiro naquela fração de segundos em que a arma foi levantada na minha
direção. Uma parte de mim, lá no fundo, sabia que, daquela vez, aquilo só dependia de mim. Eu precisava
me defender, ou então tudo iria por água baixo.
Por essa razão, eu fiz o que tinha que fazer.
Seguindo com os conselhos de meu irmão, utilizei a única parte de meu corpo que não estava sendo
imobilizada pelos dois.
Os meus pés.
Acumulei todas as minhas forças existentes na ponta do mesmo e, com a onda de adrenalina que
tomou conta do meu ser, chutei-o certeiramente em seu membro.
Eu deixei o Kakashi contorcido de dor.
O impacto foi tão violento que, no momento seguinte, seus braços já não possuíam mais forças o
suficiente para segurar-me. O platinado caiu de joelhos no chão, deixando com que sua arma de choque
escorregasse até os pés de Deidara, ao mesmo tempo em que tapava sua intimidade com uma careta de
dor extremamente marcante.
Eu havia o machucado pra valer.
Enquanto permanecia completamente tomado pelo choque do que eu mesmo causei a si, senti uma
movimentação a mais atrás de mim, relevando-me a inquietação de Deidara diante do que ocorrera no
último minuto.
Aproveitando-se da vulnerabilidade excessiva do platinado, meu irmão agarrou em sua arma de
choque e, sem pensar nas consequências de seus atos, “eletrocutou” o seu pescoço na intenção de
apagá-lo de uma vez.
Aquilo estava mesmo acontecendo.
Kakashi estava caído em nossa frente.
Um momento de silêncio pairou pelo ar.
Somente o barulho de nossas respirações se faziam presente, além dos soluços baixinhos que
insistiam em rasgar a minha garganta, ainda desacreditado de tudo o que fui capaz de fazer. Eu havia
machucado o Kakashi, e Deidara o “eletrocutado” com a mesma arma de choque que ele utilizou para nos
ameaçar incontáveis vezes desde que cheguei na prisão.
-D-Dei...? -Chamei falho.
A minha voz estava irreconhecível.
O loiro, por sua vez, aproximou-se de mim com uma feição preocupada.
-Você está bem? -Segurou o meu rosto entre suas mãos, me fitando com cautela. -Ele chegou a
encostar a arma em você?
Eu ignorei os seus questionamentos.
-D-Deidara... A gente matou ele? -Tremeliquei meus lábios. Por mais que não gostasse do Kakashi,
eu não queria que ele morresse. Não poderia viver com mais uma morte pendurada em minhas costas.
-Não, franguinho. -Me tranquilizou. -A gente não matou ele. O Kakashi só está desmaiado.
Eu não conseguia parar de chorar.
-E-Eu... -Olhei para a figura desmaiada ao chão. Aquilo era muito para mim. Foi quase tão ruim do
que quando matei o Sai, talvez porque, dessa vez, eu não havia o machucado sem querer. -E-Eu não sei o
que dizer. Eu... Eu não queria machucar ele, Deidara...
Como consolo, eu me juntei ao seu corpo.
O loiro me acolheu de imediato. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu senti uma intensidade
verdadeira em seu abraço. Ele sabia que eu não era uma pessoa violenta e, apesar de já ter tirado a vida de
alguém, não gostava nenhum pouco de presenciar certas situações, e muito menos agredir e desacordar
um carcereiro.
-Eu sei que você não queria machucar ele. - Acariciou minhas costas. -Mas você fez o certo, Naruto.
Ele teria acabado com você sem piedade, acredite no que eu digo.
Solucei contra o seu ombro.
-E outra... -Riu baixinho, afastando meu corpo com um sorriso. -Você castrou esse filho da puta! Deu
um chute nas bolas dele!
Soltei uma risada em meio às lágrimas.
Pelo menos isso o Kakashi merecia. Depois de tudo o que ele me fez passar, de todo o trauma e nojo
que me fez sentir de mim mesmo, além de, segundo as palavras de Sasuke, “judiar” de mim durante muito
tempo, era bom saber que ele havia recebido o troco.
Talvez, nesse caso, eu tenha feito o certo.
-A gente não tem muito tempo, Naruto. -Declarou ofegante. -Os meninos precisam de apressar,
senão o Kakashi vai—
Assim como da última vez, fomos interrompidos por um estalo vindo do lado de dentro, no mesmo
corredor em que nos encontrávamos. Por já estarmos mais atentos, a nossa primeira reação foi virarmos na
direção do carcereiro, conferindo se o mesmo já estava despertando, ou não.
Com sorte, ele continuava desmaiado.
Mas, por outro lado, isso significava que mais alguém estava presente naquele bloco.
-G-Gente...?
Acompanhamos a origem daquela voz falha e familiar. No susto do momento, percorri meus olhos até
o lado esquerdo do corredor, o mesmo que, como já citado anteriormente, dava acesso a enfermaria da
penitenciária.
O meu coração falhou uma batida.
Embora não fosse nenhum policial ou algum tipo de ameaça que dificultaria ainda mais a nossa fuga,
na minha opinião, era algo um milhão de vezes pior.
O Gaara estava nos assistindo.
Mantendo-se encolhido no canto da parede, o ruivo se estremecia de leve, contendo seu rosto pálido
e os olhos esbugalhados.
Eu não fazia a mais vaga ideia do tempo em que ele passou nos observando, mas diria que o
bastante para ter se dado conta do que estava acontecendo por ali, e o motivo pelo qual havíamos,
literalmente, desmaiado o Kakashi com um choque elétrico altíssimo.
O ruivo nos pegou fugindo sem ele.
-D-Deidara... Naruto? -Saiu de seu esconderijo, caminhando de forma insegura e receosa na nossa
direção, negando freneticamente com a cabeça para mostrar-se desacreditado. -O que vocês fizeram...?
Aquilo era um pesadelo.
De todas as pessoas que imaginei encontrar minutos antes de escapar da prisão, a última de todas,
sem dúvidas, era o Gaara. Não estava em meus planos ter que lidar com o meu melhor amigo e explicá-lo o
motivo pelo qual não havíamos o incluído em nossa fuga.
-Gaara... -O loiro chamou falho, aparentando estar tão surpreso quanto eu. Diferente de mim,
Deidara não havia se despedido de si. -O que você está fazendo aqui a essa hora?
O ruivo parou a um metro de nós.
-Eu estava na enfermaria com o Lee... -Seus olhos estavam fixos no carcereiro, engolindo em seco
com o que via. Ele parecia abismado de saber que nós fomos os responsáveis por desacorda-ló. -Quando
eu acordei, o Itachi estava em uma maca médica sendo levado por um monte de policiais... Eu fiquei
preocupado e vim ver o que estava havendo.
Aquilo não podia estar acontecendo.
-V-Vocês... -Levantou o pescoço, olhando para nós dois com os lábios trêmulos e o rosto tomado
pela medo diante da conclusão em que chegou. -Vocês iam fugir, meninos?
O silêncio foi a nossa resposta.
Eu estava absurdamente sobrecarregado por ter que lidar com tanto eventos marcantes e
estressantes seguidos.
-Vocês iam fugir sem me avisarem...? -Aumentou sua voz. Ele não soava irritado, talvez apenas
decepcionado conosco.
Um primeiro soluço rasgou a minha garganta.
-Escuta, Gaara... -Meu irmão tentou dialogar.
-Agora eu entendo. -Olhou reflexivamente na minha direção. -Por isso vocês vieram falar comigo hoje
mais cedo, não é? É por isso que você chorou daquele jeito, Naruto.
Concordei entre lágrimas.
-Aquele foi o seu jeito de me dar tchau? -Questionou em um sussurro. -Vocês iam mesmo embora
sem me contarem...?
-G-Gaara, por favor... -Tentei explicá-lo a situação. Eu, simplesmente, não tinha mais forças para
isso. Tudo o que eu queria era desmaiar e só acordar quando tudo estivesse bem. -N-Nós não podíamos
fazer nada...
Deidara concordou apreensivamente.
-É verdade, Gaara. -Deu um passo na sua direção. -A gente não queria nada disso.
O ruivo permaneceu tomado pela seriedade.
-Você nem veio falar comigo, Deidara... -Sussurrou magoado.
-Eu não consegui, Gaara! -Argumentou em raiva e desespero. -Eu não consegui, tá bom?! Não dava
pra falar com você como se nada estivesse acontecendo! Eu não conseguiria!
Os olhos do outro se encheram de lágrimas.
-E como eu vou viver sem vocês...? -Perguntou em um fio de voz.
Eu fiquei inteiramente quebrado.
-Me diz, gente, como eu vou ficar sem vocês dois? -Soluçou baixinho. Era como se, finalmente, a
ficha de todos houvesse caído.
Aquele era o nosso último momento juntos.
De canto de olho, notei meu irmão se remexer inquieto, puxando os próprios fios, ao mesmo tempo
se controlava para não desabar juntamente comigo e o ruivo.
-Foda-se. -Resmungou enquanto andava de um lado para o outro. -Foda-se, Gaara, você vem com a
gente! Eu não vou te deixar aqui, depois eu me entendo com o Itachi!
Eu o olhei impressionado.
-O quê...? -Gaara se afastou inseguro. -Ir com vocês?
-Sim! -O loiro agarrou em seu pulso, tentando puxa-ló para perto do portão. Naquele mesmo instante,
pequenas batidinhas puderam ser ouvidas por nós, indicando que, por fim, a briga ao lado de fora havia
terminado. -Esse é o sinal. A gente precisa ir agora, Gaara!
Ele negou afobado com a cabeça.
-Deidara, não... -Tentou se soltar de suas mãos. -Para com isso.
-Você vai com a gente, porra! -Persistiu descontrolando. -Isso é uma ordem, eu não vou te deixar
aqui!
-Deidara, me solta! -Gritou assustado, puxando o braço para longe do outro.
O loiro o fitou ofegantemente.
-Eu não vou com vocês... -Acariciou seu pulso com os olhos marejados. -Não dá, meninos, eu não
posso.
-M-Mas, Gaara... -Me intrometi, ignorando por completo as batidas repetitivas vindas de fora. Os
meninos, certamente, estavam preocupados com a nossa demora. -Eu preciso de você. Por favor.
Deidara não parecia ter se conformado.
-Por que você não vai, caralho?! -Avançou para cima de si. Seu corpo estava tremendo. Era a
primeira vez que eu presenciava o meu irmão tão desesperado com alguma coisa. -Você é burro?! Essa é a
chance da sua vida!
O ruivo discordou com a cabeça.
-Eu não poderia deixar tudo pra trás. -Declarou em um sussurro quebrado. -Eu tenho o Lee, gente. E
tenho a minha irmã também. Ela está grávida, esqueceram?
Meus ombros se encolheram.
-Eu quero ser um bom tio. -Sorriu triste. -E um bom namorado também. Eu entendo que vocês não
tenham mais nada a perder aqui dentro, meninos, mas eu tenho. E muito.
-A gente tem sim a perder... -A voz de Deidara falhou. -A gente tem você, Gaara.
Meu peito se apertou dolorosamente.
Até mesmo o meu irmão estava prestes a desabar. Aquele era um dos piores momentos de toda a
minha vida. Ver o Deidara daquele jeito, era de partir o coração de qualquer um.
-E-Eu vou sentir muito a falta de vocês, meninos. -Gaara soluçou de uma vez só. -Muito, muito
mesmo...
Eu vivenciei a cena mais emocionante de todas. Foi o Deidara quem tomou a iniciativa de abraçá-lo.
Juntou seu corpo fortemente com o de seu amigo, circulando os braços entorno de seu tronco e deixando
com que o outro entrelaçasse-os atrás de seu pescoço.
Era, realmente, um abraço de despedida.
Eu sabia bem o quanto ambos eram apegados um ao outro. Eles se conheceram bem antes do que
eu, e criaram uma amizade muito linda e genuína, pelo menos em meu ponto de vista.
Mesmo não sendo chamado para o abraço, eu decidi que o melhor a se fazer era aproveitar aqueles
últimos segundos dentro da prisão junto com eles. Atravessei o pequeno espaço que ainda nos separava e
embrenhei-me em meio aos dois para pedir por atenção.
Obviamente, eles também me acolheram.
Choramos como nunca fizemos antes. Aquela era a despedida oficial do trio. Depois de tudo o que
passamos ali dentro, todas as risadas, brigas, piadas e, o principal de tudo, a maneira como nos tornamos
uma família.
Os dois eram muito importantes para mim.
-Eu amo muito vocês, meninos. -O ruivo soluçou em meio ao abraço, recebendo, em reposta,
lágrimas e mais lágrimas vindas de nós. O Deidara estava tão inconsolável quanto eu. Para estar chorando
daquela maneira, era porque Gaara realmente fazia diferença em sua vida. -Não se esqueçam de mim, tá
bom?
-N-Nunca. -Apertei-o com força.
-Nunca mesmo. -O loiro acrescentou.
O meu desejo era que pudéssemos ter mais tempo para nos despedirmos, mas, infelizmente, isso
não era possível. Naquele mesmo instante, murros vindos do portão chamavam a nossa atenção, seguido
da voz desesperada de Obito, o qual gritava algo parecido com: “Meninos, chegou a hora!”.
-Vão lá, gente. -Gaara separou o abraço. -Vocês ouviram. Chegou a hora de vocês irem.
Deidara segurou em sua mão.
-Essa não é a última vez que a gente vai se ver, Gaara, eu prometo.
Ele assentiu com um sorriso.
-Vejo vocês algum dia, então.
Sorri com lágrimas nos olhos.
-A-Até algum dia, Gaara.
Por fim, o loiro precisou fazer força para me arrastar dali. Mantive meus olhos presos ao ruivo até o
meu último segundo ali dentro, prometendo a mim mesmo que eu ainda voltaria a vê-lo.
Aquela não era a última vez.
O portão foi aberto violentamente. Deidara foi quem me guiou para o lado de fora, me tendo
completamente inconsolável entre seus braços, chorando e soluçando como se não houvesse amanhã.
Eu estava totalmente fora de mim após tudo o que ocorreu durante a fuga.
As lágrimas dificultavam a minha visão, apesar de que, com muito esforço, consegui enxergar parte
do que estava acontecendo ali fora. Guardas abatidos sobre o chão, a noite escura tomando conta do céu,
um vento gélido batendo em meus cabelos e a garoa fina que caia suavemente em minha pele.
Estávamos livres.
Aquela era a sensação de liberdade.
-...Naruto?! -Era a voz de Sasuke.
Embora soasse desperado, de alguma forma, saber que o amor da minha vida estava vivo, me
causou uma onda de alívio gigantesca. Agora eu poderia, finalmente, voltar aos braços de meu namorado.
-Meu Deus, o que aconteceu?! -Voltei a realidade com o toque frio do moreno em minhas bochechas,
aproximando os nossos rostos para me avaliar com preocupação. O meu coração disparou drasticamente
pela milésima vez naquele dia. Sasuke estava sangrando. Seu nariz, bochechas e, em especial, a boca,
continham um corte fundo, provavelmente por conta da luta que manteve com os guardas -Por que ele está
chorando, Deidara?! Alguém machucou vocês?!
As vozes e os murmurinhos soavam distante para meus ouvidos, especialmente a de meu irmão que,
mesmo estando do meu lado, ao tentar justificar o verdadeiro motivo de estarmos aos prantos, ficou
abafada.
Eu acho que Deidara acabou comentando sobre o incidente envolvendo o Kakashi, porque a
expressão sombria feita por Sasuke, deixou os pelos de meu corpo arrepiados.
-... Eu vou matar aquele filho da puta! -Berrou enraivecido, gesticulando com as mãos de forma
violenta e descontrolada. -Eu vou acabar com aquele nojento!
Eu não consegui identificar a quem pertencia a voz que lhe respondeu, mas deduzi ser a de Itachi
quando o mesmo se aproximou de nós e, com o rosto coberto por arranhões, passou os braços entorno de
Deidara, abraçando-o carinhosamente enquanto dizia algo como: “O Kakashi já era” e “Precisamos sair
daqui, eles já notaram que os guardas sumiram”.
Em meio àquela confusão de vozes, senti aos mãos de Sasuke em contato com a minha cintura,
levantando-me do chão por saber que não estava em condições de andar, além de me incentivar a
entrelaçar as pernas entorno de seu corpo para levar-me com mais facilidade em direção a ambulância.
Durante o curto trajeto, notei Obito sinalizar com as mãos para que nos apressássemos, ao mesmo
tempo em que abria a parte de trás do veículo, a mesma que, segundo os meus conhecimentos rasos sobre
a área médica, se tratava do local aonde os pacientes eram socorridos a caminho do hospital.
Havia uma maca, soros fisiológicos, equipamentos básicos de saúde e, o principal de tudo, alguns
bancos que serviram como os nossos assentos durante todo o percurso.
Adentramos a ambulância um atrás do outro.
Itachi e Deidara seguiram em nossa frente, enquanto Sasuke me carregou com as mãos embaixo de
meu bumbum, acomodando-se no banco em frente ao outro casal.
-Troquem de roupa, meninos! -Obito pediu afobado, atirando algumas peças aleatórias no chão do
veículo. -Não podemos chamar a atenção com esses uniformes laranjas. Eu vou ficar dirigindo com o meu
da polícia caso alguém pare o carro, entenderam?
-Certo, vamos nos trocar. -Itachi concordou agitado. -Vai dirigir, Obito, sai logo daqui!
O carcereiro fechou a porta do veículo
Em menos de dez segundos, pude sentir os motores do carro acelerando e, por fim, correndo em alta
velocidade para longe da penitenciária. Não poderíamos monitorar o caminho. A nossa única opção era
confiar no Obito e em suas habilidades no volante.
-Bebê? -Sasuke me chamou ofegante. Por permanecer em seu colo e com a cabeça repousada
cansadamente em seu ombro, ele precisou me afastar de si. -Levanta agora, sim? A gente precisa trocar de
roupa.
-S-Sasuke... -Toquei em seus lábios, acariciando por cima do corte presente no mesmo. -Você está
machucado...
Ele forçou um sorriso para me tranquilizar.
-Não está doendo, Naruto. -Beijou os meus dedos. -Não se preocupe.
-Naruto, Sasuke. -Itachi chamou nossa atenção. Ele e meu irmão já se encontravam de pé, ambos
sem suas camisetas, enquanto abotoavam as calças jeans azul marinho que Obito entregou-nos. -Vão logo
com isso.
Eu precisei que me levantar de suas coxas.
Pelo veículo estar em movimento, fora o fato de continuar em estado de choque, demorou mais do
que eu esperava para vestir em meu corpo um simples moletom e uma calça skinny preta que,
particularmente, eu achei bem apertada em minha perna.
No entanto, com a ajuda do Uchiha mais novo, eu consegui ficar, no mínimo, apresentável. Ele, por
sua vez, acabou com uma regata larguinha e uma calça de moletom cinza.
Aquela era a primeira vez que eu via o Sasuke com uma roupa normal, sem ser o uniforme laranja e
padrão da penitenciária. Não só ele, como Deidara e Itachi também.
-Pronto. -Voltou para o assento, puxando-me delicadamente para que eu o seguisse. -Senta aqui no
meu colo, bebê.
Me deixei ser arrastado para si, sentando-me de frente ao seu corpo, com minhas pernas entorno de
sua cintura e a cabeça repousada no seu ombro. Fiquei a senti-lo acariciar toda a extensão de minhas
costas, respeitado o meu silêncio e deixando com que eu digerisse todos os eventos marcantes daquela
noite.
Por ora, ninguém sabia ao certo o que dizer.
Tanto eu, quanto Sasuke, Deidara e Itachi, optamos pelo silêncio. Apesar de tudo, havia sido, de
certa forma, doloroso para nós deixarmos a penitenciária. Foi lá que eu conheci o meu melhor amigo, o meu
irmão, o amor da minha vida e o meu cunhado.
Foi aonde eu conheci a minha família.
-Vai ficar tudo bem, gente. -O Uchiha mais velho se pronunciou, talvez ciente do que todos nós
estávamos refletindo.
Eu só esperava que ele estivesse certo.

Capítulo 32 - Longe das grades

Sasuke On

O ar livre. Aquela era a tão aguardada e indescritível sensação de estar liberto, solto, desacorrentado
e, acima de tudo, longe de tudo relacionado a penitenciária. Estávamos, por fim, vivenciando o conforto de
vestirmos roupas normais, poder correr sem nos preocuparmos com as advertências dos carcereiros, ir para
qualquer direção sem topar com alguma grade ou parede e, o melhor de tudo, não ter horário para nada.
Aquela maldita sirene havia desaparecido.
Era estranho de se pensar que, a menos de vinte e duas horas atrás, tínhamos horário para
absolutamente tudo. Acordar, tomar café, trabalhar, tomar banho, dormir e, literalmente, viver as nossas
vidas.
Agora estávamos livres. Livres para criarmos nossos próprios horários, ter o nosso próprio tempo,
ritmo, e até mesmo destino. A prisão já era passado. Um “passado recente”, é claro, mas, de qualquer
forma, ficou para trás.
Nada disso foi fácil. O fato de termos conseguido escapulir sem muitas interferências, não significava
que percorremos o caminho inteiro sem nenhum tipo de dificuldade. Para chegar aonde chegamos,
houveram diversos conflitos, tanto entre nós, quanto com o plano em si.
Após vinte e duas horas enfurnado dentro de um ônibus fedorento, apertado, abafado e
desconfortável, precisando mudar de ponto a cada três horas e sem direito ao básico, você acaba
aprendendo certas coisas.
Como por exemplo, nesse longo e quase que torturante período tempo, eu me descobri uma pessoa
extremamente paciente, muito mais do que imaginava e aparentava ser.
Ter suportado as constantes crises de raiva e impaciência de Deidara, além de suas horas e mais
horas seguidas de reclamações, foi um teste severo para a minha saúde mental.
Mas, para falar a verdade, isso não foi o pior.
Nas primeiras doze horas de viagem, estava tudo, na medida do possível, controlado. A única coisa
ruim, pelo menos em meu ponto de vista, foi precisar lidar com a fragilidade excessiva do meu bebê, o qual
se mostrou bastante quebrado e cabisbaixo diante dos eventos traumáticos que enfrentou durante a fuga,
incluindo, é claro, o ataque que sofreu de Kakashi, fora a despedida emocionante que teve com o seu
melhor amigo.
Se bem que, essa parte, também foi o de menos. Com muita paciência, amor, carinho e abraços,
Naruto acabou cedendo ao cansaço e se permitindo cochilar durante algumas horinhas no assento ao meu
lado, mantendo sua cabeça repousada em meu ombro.
Já o restante, foi absurdamente desgastante.
Eu briguei dezesseis vezes com o Itachi. Não me recordo ao certo o motivo de cada uma delas,
apesar de que, a mais recente de todas, estava mais do que fresca em minha memória. O motivo de meu
irmão ter ficado tão irritado e, consequentemente, descontado a sua raiva em mim, foi porque presenciou o
Naruto quebrando a nossa primeira “regra”.
O combinado era que não falássemos com estranhos em hipótese alguma. O meu bebê não só fez
isso, como também revelou o seu nome verídico a uma senhorinha sentada no banco do lado que, embora
não aparentasse ser uma ameaça para nós e o nosso plano, deixou Itachi à beira de um colapso nervoso.
Naruto havia errado em conversar com aquela idosa, e eu sabia bem disso. Mas, em minha
percepção, o diálogo entre os dois, além de rápido, havia sido algo inocente, visto que se tratava,
literalmente, de margaridas, as flores que a senhora carregava em um vaso.
De qualquer forma, Itachi foi incrivelmente insensível com o loiro, especialmente se levássemos em
conta o fato de que, a horas atrás, o meu bebê enfrentou diversas situações traumatizastes e pesadas.
A verdade era que ninguém mais tinha forças para aguentar tantas horas presos em um só ambiente,
olhando um para a cara do outro e se estressando pelos mais diversos motivos, todos absurdamente fúteis
e superficiais.
Se pudesse ranquear os top piores momentos que passei dentro daquele ônibus, unindo-se com os
maiores absurdos que escutei dos meninos em seus momentos de fúria e estresse, colocaria, em
primeiríssimo lugar, a vez em que Itachi comentou aleatoriamente sobre os “barulhos insuportáveis que eu
fazia com a boca”, e que se irritava pra valer com o fato de eu respirar tão alto.
Em segundo lugar, escolheria o momento em que Deidara se desentendeu com Naruto por conta de
um cinto de segurança e, no final, acabou com o objeto ao redor do pescoço de seu irmão mais novo,
afirmando que lhe enforcaria caso ele não o respeitasse.
E por último, mas não menos importante, nomearia o momento em que Obito passou mal do
estômago e, por conta do veículo estar chacoalhando mais do que esperávamos, o moreno não conseguiu
chegar a tempo da janela, acabando por vomitar no tênis de Deidara, o qual, como o esperado, armou um
berreiro dos grandes no meio de todo mundo.
No final das contas, todos ficamos de mal um com o outro por, no mínimo, umas sete horas seguidas.
Havíamos chegado a um ponto que, até mesmo o Obito, o qual sempre se mostrou alguém tranquilo e
compreensivo, precisou se distanciar para não se alterar conosco.
Agora, saindo de nossa última parada, todos andávamos em direção a mata, beirando a estrada
enquanto observávamos alguns carros passarem em alta velocidade, todos desatentos e despreocupados
com a nossa presença, nem sequer olhando para o lado.
Ninguém cogitava que éramos foragidos.
Isso era bom, é claro. Aparentemente, havíamos conseguido passar despercebidos pelos arredores
da estrada, se bem que, pela quantidade de vezes em que brigamos e nos desentendemos dentro daquele
ônibus, era bem provável que ao menos algum passageiro tenha nos notado.
-Que calor da porra! -Deidara reclamou, abanando suas mãos agitadamente como se realmente
pudesse fazer alguma diferença. Pelo fato de estarmos em uma cidadezinha no interior, bastante afastada
de tudo e todos, o clima era um pouco mais elevado de dia, apesar de que, segundo Obito, durante a noite,
a temperatura costumava cair drasticamente, chegando a bater cinco graus ou menos. -Eu vou morrer!
Nossa senhora!
Estava realmente muito calor, embora eu não estivesse tão afetado com isso. Pelo fato de estarmos
no período da tarde, muito em breve começaria a anoitecer. Era o frio que entraria em cena, ou seja, o meu
clima predileto.
-É só não se mexer tanto assim, chefe. -Itachi lhe aconselhou com certa impaciência. Estávamos
todos sobrecarregados após horas de brigas e discussões, além de não termos conseguido descansar o
bastante pelo medo de toparmos com algum policial que nos reconhecesse. A penitenciária, sem sobra de
dúvidas, já havia acionado a mídia e avisado-os sobre a nossa fuga na noite passada. -Se está tão calor
assim, tira esse moletom preto.
Estávamos com a mesma roupa do dia anterior. Para falar a verdade, eu era o mais sortudo entre os
meninos. Pelo fato de estar vestindo uma regata branca, o calor não me afetava tanto assim, embora o sol
estivesse batendo impiedosamente em meus ombros.
Eu ficaria, sem dúvidas, queimado e ardido.
-E eu fico sem blusa aqui?! -Perguntou indignado, referindo-se ao fato de não possuir nenhuma
vestimenta por baixo do moletom. -Fico peladão no meio desse povo do interior?!
Meu irmão suspirou esgotado.
-Dei, não tem absolutamente ninguém aqui. -Apontou para a estrada ao nosso lado. A medida em
que andávamos em direção a mata, íamos nos afastando cada vez mais do asfalto e dos carros. -Tira logo
essa camiseta.
O loiro estalou a língua.
Eu, sinceramente, não compreendia o seu receio excessivo em tirar a blusa. Se já andávamos dessa
forma diariamente em uma prisão, rodeado de assassinos e criminosos, qual era o problema de ficar sem
uma peça de roupa em uma cidade desconhecida?
-Está bem... -Murmurou emburrado, começando a retirar o moletom que tanto o atormentava naquela
calor desumano. No entanto, foi só ele começar a se despir que, no mesmo instante, um carro prateado
passou buzinando, gritando algo como: “Eita, loirinho gostoso, assim você acaba comigo!”. -Vai tomar no cu,
seu filho da puta! Gostosa é aquela sua mãe!
O meu bebê se encolheu ao meu lado.
Naruto parecia ter se esquecido que, mesmo longe da prisão, os assédios ainda existiam. E talvez
ainda mais sérios, inconvenientes e desagradáveis se comparado aos que precisávamos enfrentar todos os
dias.
-Mas que filho da puta! Escroto! -Deidara continuou a xingar, amarrando o casaco em sua cintura
enquanto chutava uma pedrinha violentamente pelo chão. -Eu odeio homens!
Obito franziu o cenho sem entender.
-Mas você é um homem, Deidara. -Rebateu um pouco mais à frente de nós. Por serem os nossos
“guias”, tanto ele, quanto Itachi, foram designados para cuidarem do mapa e do caminho, além de estarem
com duas mochilas em suas costas, as quais aparentavam estar pesadas e lotas dos mais diversos tipos de
objetos. Desde a arma pertencente à Obito, até alimentos ruins e baratos que nos ajudaram a sobreviver
nas últimas vinte e duas horas. -E namora um homem também.
-Verdade. -Itachi acrescentou baixinho, mantendo-se concentrado no mapa em suas mãos, ao
mesmo tempo em que lutava contra o vento, o qual insistia em bagunçar os seus fios negros. -Eu sou um
homem, Deidara.
-Essa não! Jura?! -O loiro ironizou. -Jura mesmo que você é um homem, Itachi?! Eu nunca tinha
reparado nesse detalhe chocante! Poxa, muito obrigado por me avisar, viu?!
Soltei um riso baixinho.
Embora tenhamos tido diversos conflitos e dificuldades desde o momento em que escapamos da
penitenciária, ainda sim, estávamos indo melhor do que eu imaginava.
O único detalhe que não me deixava ficar em paz, era o fato do meu bebê continuar muito apagado e
abatido. O loiro mais velho, de alguma forma, parecia ter “superado” os últimos incidentes, ou então
somente aprendido a reprimir a sua dor. Acontece que Naruto reagia de formas bem diferentes.
O seu humor permaneceria o mesmo por um longo e torturante período do tempo.
-Eu estou cansado! -Deidara reclamou pela centésima vez no dia, desacelerando seus passos a
medida em que tentava regular a respiração. -Porra! A gente já está andando a mais de três horas!
-Três horas? -Meu irmão repetiu. -Eu acho que não, chefe. É bem menos que isso.
Observei Obito retirar o seu celular do bolso.
-Pior que é verdade, Itachi. -Ele suspirou enquanto olhava a hora. Apesar de ser o único entre nós
com algum tipo de aparelho eletrônico, o moreno achou melhor se precaver e colocá-lo no “modo avião”
para que ninguém pudesse nos rastrear. -Estamos andando a mais de três horas.
-Nossa, nem parece. -Riu descontraído, sendo, sem dúvidas, o mais contente e satisfeito com a
nossa fuga. Itachi estava adorando poder guiar-nos e passear a pé. -Eu não estou nenhum pouco cansado,
acredita?
-É claro que você não está! -O loiro implicou, não parando nenhum segundo sequer de se abanar ao
meu lado. Eu já havia levado três “tapas” na cara por conta de sua agitação excessiva com as mãos. -Eu
sou sedentário, falou?! E admito sem vergonha! O Naruto faz ginástica, o Obito é policial, e você e seu
irmão são os machos alfas fortões! No momento, eu sou o fracote!
Afastei a mão do loiro ao levar outro safanão em minha bochecha, ciente de que ele não estava me
batendo propositalmente.
-Se te consola, Deidara, eu também estou cansado. -Enxuguei as gotículas de suor presentes em
meu rosto. -Estamos todos desacostumados com exercícios físicos.
-Eu não estou. -Meu irmão retrucou em um tom convencido, querendo, claramente, jogar em nossa
cara que era o mais “aventureiro” e forte de todos. -Exercícios é comigo mesmo.
Rolei os olhos tediosamente.
-É claro que você não está cansado, Itachi. -Murmurei ácido. -Você é praticamente uma máquina. Eu
nunca vi alguém gostar tanto de fazer exercícios, me dá preguiça só de pensar.
Ele riu vitoriosamente.
-Quando você pega gosto pela coisa, nunca mais para! -Alongou os braços. -A cada dia que passa
eu fico mais forte e gostoso!
Obito riu ao seu lado.
-Essa foi boa...
-O quê? ‘Tá duvidando de mim?
-Não é isso. -Rebateu. -É que o seu amor-próprio é uma coisa surpreendente.
Soltei um barulho desdenhoso.
-Esse aí é narcisista desde o dia que nasceu. -Me intrometi. -Quando o Itachi era pequeno, ele foi
chamado por uma agência de modelo pra sair na capa de uma revista infantil. Depois disso, esse idiota
passou três meses seguidos se gabando. Foi muito doentio.
-Doentia é a minha beleza! -Argumentou com um sorriso confiante. -Cambada de invejosos! Não
conseguem se contentar com o fato de eu ser o mais gato e gostoso desse grupo!
O loiro mais velho fingiu coçar a garganta.
-Depois do Deidara, é claro. -Corrigiu a si mesmo. -O meu namorado é o mais lindo.
-Hm. -Empinou o nariz. -Melhor assim.
-Mas acho que todos aqui concordam que eu sou o mais forte, certo? -Continuou a se gabar sem
parar. -E tenho o abdômen mais definido.
Soltei um grunhido tedioso.
-Foda-se, Itachi, ninguém liga. -Resmunguei mal-humorado. Eu não tenho o costume de ser,
gratuitamente, grosseiro com as pessoas, mas, pelo fato de já termos brigado mais de quinze vezes nas
últimas horas, outra discussão seria a mesma coisa que nada. -Já deu desses seus ataques de narcisismo.
-Eu não falei com você, seu pirralho recalcado do caralho! -Engrossou a voz. -Você tem inveja porque
eu sou o mais musculoso e tenho a bunda mais durinha daqui!
Bati fortemente em minha própria testa.
-É cada absurdo que eu sou obrigado a escutar... -Reclamei sozinho. -Eu mereço uma coisa dessas,
senhor? -Olhei para cima como se estivesse me comunicando com Deus.
Naruto, por sua vez, riu vago ao meu lado.
-É melhor ouvir uma coisa dessas do que ser surdo, né, bebê? -Cutuquei sua cintura com um sorriso,
aproveitando-se de sua primeira interação comigo após três horas quieto.
-U-Uhum. -Sorriu apagado.
Deidara começou a gargalhar.
-“Bunda mais durinha” foi foda, Itachi. -Implicou. -De onde você tirou essa asneira?
-É verdade, ué! -Ao mesmo tempo em que se comunicava conosco, ele virava para o lado esquerdo
da estrada, aonde o sol se fazia presente com mais de intensidade. -Vem aqui apertar a minha bunda pra
você ver!
-Era só o que me faltava... -Reclamou.
-Vem logo! -Insistiu empolgado. -Garanto que você não vai se arrepender!
No final das contas, Deidara acabou cedendo ao pedido de meu irmão e, por pura curiosidade,
apertou o seu traseiro com uma expressão avaliativa. Ao senti-lo entre seus dedos, o loiro suspirou
surpreso, ficando verdadeiramente impressionado.
-Caralho, Itachi. -Continuou a apalpa-ló sem parar, deixando Obito com uma careta perturbada e
desconfortável diante do que assistia. -Você tem o que nesse cu? Aço?
-Eu avisei! -Sorriu em exibição. -Fala se não é a bunda mais durinha que você já sentiu!
Obito fingiu pigarrear.
-Bom, agora que vocês dois já se apalparam e tudo mais, será que dá pra se concentrar no caminho,
Itachi? -Deu batidinhas no mapa.
-Ah, sim... -Riu divertido, apontando para uma área específica do papel, fazendo, em seguida, o
mesmo com o caminho ao nosso lado, querendo mostra-nos uma passagem “escondida” em meio às
árvores. -É bem ali.
Estávamos prestes a entrarmos na trilha.
Senti o Deidara se estremecer ao meu lado.
-Ali? -Repetiu com um riso nervoso. -No meio desse mundaréu de árvores? Cheio de bichos, insetos,
aranhas, mosquitos, centopeias aranhas, cobras, e eu já disse aranhas?
-Exato. -Itachi sorriu abertamente. -Ah, cara! Como eu amo fazer trilha! Essa aí é um pouco extensa
e apertada, a gente vai precisar se esforçar pra chegar até os chalés, cambada.
O loiro mais velho deu um passo para trás.
-Eu não vou. -Murmurou sombrio. O ponto fraco de Deidara, certamente, eram insetos e alguns
répteis, como cobras. Eu não tinha tanto medo se comparado a ele, mas confesso que não curtia nenhum
pouco a ideia de ter que lidar com certos bichos, como por exemplo, vespas. -Foi mal, gente, mas não dá
pra mim. Eu to falando sério.
Meu irmão gargalhou divertido.
-Nem é tão ruim assim, chefe. -Parou no meio do caminho. Agora que já havíamos localizado a trilha,
precisaríamos pular a pequena cerca que dividia a estrada da floresta. -Insetos são inofensivos. Eles não
fazem mal para nós.
-Fala isso pra picada de aranha que eu levei quando era menor! -Gritou alterado, recusando-se a
pular a barreira juntamente conosco. Naruto e eu, por outro lado, sem muitas dificuldades, ultrapassamos o
murinho na companhia de Obito e Itachi. Para nossa sorte, a cerca tinha apenas meio metro de altura. -Eu
fiquei internado uma semana no hospital, falou?! Foi uma armadeira que me picou! Uma aranha-armadeira,
caralho!
Obito suspirou esgotado.
-Vem logo, Deidara. -Sinalizou com as mãos, chamando-o para perto. -A gente não vai deixar
nenhuma aranha te picar, tá bom?
-É, Dei. -Itachi confirmou. -Você anda no meio de todo mundo, pode ser? Eu e o Obito ficamos na
frente, e o Naruto e o meu irmão na parte de atrás. Assim os bichos que tiverem vão pular na gente, e não
em você.
Discretamente, eu engoli em seco.
Apesar de não demonstrar tanto receio se comparado ao loiro mais velho, era desconfortável
imaginar que, em pouquíssimos minutos, entraríamos em uma trilha numa floresta, no meio do nada, lotada
de bichos e com o dia escurecendo.
-H-Hm... Sasuke? -A voz baixinha do meu bebê chamou a minha atenção. Em seguida, senti seu
toque delicado entorno de meu braço direito, buscando por proteção diante do matagal desconhecido em
que estávamos prestes a explorar. -Você está bem?
Agarrei-me de volta ao seu corpo.
-Eu não gosto muito de insetos... -Murmurei baixinho para si. Eu só confiava no Naruto para saber a
respeito de meu medo. O meu irmão, por exemplo, com certeza implicaria comigo. -Eles me dão calafrios.
Eu fico todo arrepiado perto deles, sabe? É muito ruim.
O loiro assentiu compreensivamente.
-E-Eu protejo você deles, Sasuke. -Declarou inocentemente. -Não precisa ter medo. Se algum inseto
tentar te atacar, eu espanto.
Abri um sorriso carinhoso.
-Promete, bebê? -Sussurrei inseguro, sentindo-me estranhamente acolhido com o que escutei. Se
Naruto afirmou que me protegeria de todos os insetos horríveis e asquerosos que encontraríamos na trilha,
então eu me permitiria ser defendido por si.
-Uhum, prometo. -Aproximou nossos rostos para me roubar um selinho. Apesar de amar com todas
as minhas forças receber beijos do meu bebê, dessa vez, foi uma experiência um pouco dolorosa. Pelo fato
de ter, literalmente, lutado contra diversos policiais, alguns dos machucados causados pelos mesmos
continuavam bastante sensíveis, como por exemplo, o de meus lábios. -M-Me perdoa, Sasuke, eu me
esqueci completamente.
Neguei despreocupado com a cabeça.
-Não tem problema. -Trouxe meu pescoço para frente, encaixando nossas bocas de uma maneira
indolor para mim. -Já passou.
-E-Está doendo muito? -Perguntou chorosamente, levando suas mãozinhas até os hematomas
presentes em meu rosto. Fiquei a sentir seus dedinhos passeando por minha pele, acariciando-a
cuidadosamente com um biquinho. -Você está cheio de machucados...
-Não está doendo, bebê. -Tranquilizei-o com um sorriso. -Eu estou bem.
Sem dizer mais nada a respeito, o meu bebê abraçou-se a mim como se sentisse pena e culpa do
que fui obrigado a “sofrer” durante a fuga. Acolhi-o carinhosamente contra o meu peito, estalando beijos por
sua cabeça e bochechas cheinhas, internamente preocupado por tê-lo tão fragilizado entre os meus braços.
Eu só queria que chegássemos logo nos chalés. Quando eu e Naruto ficássemos a sós, poderíamos
conversar privadamente, sem interrupções, e até mesmo desabafar um com o outro sobre os nossos
sentimentos.
-Você está cansado, hm? -Perguntei retoricamente. Era clara a maneira como Naruto estava
esgotado, apesar de que, diferente de seu irmão, fez um esforço para se manter em silêncio e não
incomodar ninguém. Depois de tanto levar “patadas” dos meninos a respeito de sua “personalidade
insuportável”, o meu bebê aprendeu a ficar calado. Eu odiava isso, é claro, mas foi uma decisão
inteiramente sua dar ouvidos as besteiras dos garotos. -Quer que eu peça pro Itachi dar uma pausa?
Ele discordou com a cabeça.
-N-Não, eu estou bem. -Murmurou com a bochecha espremida contra meu ombro, deixando-o com
uma aparência adorável e angelical. -Eu posso tirar o meu moletom, Sasuke? ‘Tá muito quente.
Arrumei os fios suados de sua franja, avaliando o seu rostinho corado e tomado por um biquinho
amuado. Se Naruto não estivesse sofrendo tanto por conta do calor, eu com certeza já teria implicado com a
sua “fofura” naquele momento. O meu ponto fraco era ver o meu bebê todo vermelhinho.
-Olha, bebê, se você quiser, pode. -Olhei em direção a trilha. -Mas a gente vai entrar no meio da
mata agora, entende? Tem muitos insetos e pernilongos. Você vai ser uma presa fácil sem nenhuma blusa
no corpo.
Naruto me fitou em preocupação.
-M-Mas, Sasuke... E você que ‘tá vestindo só uma regata? -Apontou para os meus braços expostos.
-Você que vai ser a presa fácil entre nós.
-Bom, isso é verdade... -Ri baixinho. Honestamente, eu não me importava muito comigo mesmo,
contato que o meu bebê estivesse longe do perigo. -Eu passo o repelente que o Obito trouxe.
-Então vai lá pegar com ele, Sasuke. -Ordenou com seriedade. Eu só conseguia sorrir apaixonado.
Era muito linda a forma como nos preocupávamos um com o outro em qualquer situação. -Vai lá antes que
eu tire o meu moletom e te faça trocar de roupa comigo.
Ri divertidamente.
-Tudo bem, eu já vou. -Me virei em direção aos meninos. Por estamos “na entrada” da trilha, Deidara
já possuía o repelente em mãos e, sem pensar no próximo, borrifava o produto pelo seu corpo todo sem
moderação alguma, afirmando que não deixaria nenhum espaço “desprotegido”. -Ei, deixa um pouco pra
mim.
Ele me olhou irritado.
-Já acabou! -Atirou o repelente de volta para Obito, o qual suspirou derrotado ao se dar conta de que
também tornaria-se um alvo dos pernilongos. -Você deveria ter pedido antes!
Naruto se remexeu inquieto.
-D-Dei, eu não acredito que você não deixou nada pra gente. -Pronunciou-se em alto e bom som
para todos. -Agora você vai ter entregar o seu moletom pro Sasuke.
-Nem fudendo! -Gesticulou enraivecido. -Eu não vou ficar sem nada cobrindo o meu corpo dentro
dessa floresta! Esquece!
-M-Mas é injusto, Deidara. -Argumentou angustiado. -Você deixou os meninos sem repelente
nenhum. Olha só o Sasuke, ele ‘tá só com uma regata. É o mais desprotegido.
Eu apenas permaneci em silêncio e deixei com que o meu bebê me defendesse.
-Eu não vou dar meu moletom, caralho! -Abraçou o próprio tronco para proteger a peça de roupa. -O
Sasuke não tem medo de insetos, eu que tenho! Vocês precisam entender que isso aqui é o meu escudo!
Meus ombros se tencionaram.
Por um breve momento, eu cogitei a ideia de admitir aos meninos sobre o meu receio excessivo em
relação aos insetos, tanto os que voam, quanto os que rastejam.
Pelo menos, desse jeito, eles entenderiam o meu lado.
-H-Hm... Já que é assim, então eu vou te dar o meu, Sasuke. -Declarou determinado. -Espera aí, eu
vou tirar o meu casaco.
Afastei a sua mão delicadamente da barra.
-Não, Naruto. -Sorri doce. -Fica pra você, sim? São só algumas picadas, eu aguento.
-Eu também aguento algumas picadas, Sasuke, não se preocupe. -Começou a retirar a peça. -Veste
isso, por favor.
Impedi que o loiro se livrasse do casaco, parando o mesmo na altura de seu abdômen. Deslizei o
tecido de volta a posição inicial, me deparando com um beicinho irritado e marcante em seu rosto,
provavelmente desaprovando tanta teimosia de minha parte.
-S-Sasuke, aceita logo. -Pediu choroso.
-Não, Naruto, eu não quero.
-P-Por favor, você já está todo machucado... -Soluçou baixinho. -E-Eu só quero cuidar de você,
Sasuke. Me deixa te ajudar.
O meu bebê estava mesmo muito sensível.
De alguma forma, Naruto sentia-se atingido e até mesmo culpado por tudo o que aconteceu durante
a nossa fuga. Se considerava inútil se comparado aos meninos, o que, automaticamente, fazia com que
buscasse por qualquer brecha para me ajudar, especialmente por estar ciente sobre os meus
“machucados”.
-Ah, meu bebê... -Contrai meu rosto em um misto de tristeza e preocupação. Trouxe-o até meu peito
para lhe acolher em um abraço, sentindo seu corpo estremecer a medida em que soluçava. -Você já cuida
muito de mim, sabia? Muito, muito mesmo. Não precisa ficar angustiado por causa disso, tá bom?
-E-Então aceita o meu moletom... -Choramingou magoado.
-Eu não posso fazer isso com você. -Rebati da maneira mais sensível que pude.
-M-Mas, Sasuke...
Itachi foi o primeiro a se irritar conosco.
-Puta que pariu, cara! -Bufou enfurecido. Honestamente, demorou mais do que eu imaginava para
que os meninos perdessem a paciência. -Toma logo essa porra de moletom, Sasuke! Fica com o meu!
Ele atirou a peça no meu rosto.
-Deixa que eu tomo as malditas picadas! -Estalou a língua. -Prefiro ser atacado por um enxame de
abelhas do que ter que ficar aguentando todo esse dramalhão insuportável de vocês dois!
Naruto se encolheu com a grosseria.
-Não fala assim, Itachi. -Pedi com toda a minha paciência, sem forças para dar início a uma nova
discussão com o meu irmão. -Será que dá pra respeitar o próximo? O Naruto não está bem, e precisa de
todo o apoio possível.
Seus olhos se reviraram com força.
-Veste logo essa merda de moletom. -Pediu com um pouco mais de “educação” -A gente precisa ir
antes que anoiteça.
Deidara suspirou apavorado.
-Anoiteça?! -Olhou até seu namorado como se esperasse por justificativas. -Você está brincando,
né?! Insetos e noite não combinam, caralho! Eu me recuso a entrar!
Itachi grunhiu em irritação, puxando os próprios fios para mostrar-se esgotado e completamente
sobrecarregado. Nós simplesmente não aguentávamos mais olhar para a cara um do outro. A única pessoa
com quem gostaria de ficar, sem ser a minha própria companhia, era com o meu bebê.
-Deidara, por favor. -Obito tentou dialogar. -A gente está te prometendo que nenhum bicho vai
encostar em você, tá bom?
O loiro o fitou em desconfiança.
-Nem as aranhas?
-Nem as aranhas. -Sorriu fraco. -Você já está lotado de repelente, os bichos vão querer distância de
todos nós nessa trilha.
-Certo... -Ele pareceu ceder. Era surpreendente a maneira como Obito transmitia confiança para
qualquer pessoa que fosse. Honestamente, sem ele, estaríamos perdidos. -Mas se algum bicho me atacar,
eu juro que ataco você em seguida, Obito.
-Combinado, então.
Suspiramos, conjuntamente, em alívio.
Pelo o que me parecia, poderíamos prosseguir com o plano sem mais intervenções, se bem que,
pelo menos para mim, ainda seria difícil enfrentar uma trilha desconhecida.
Itachi recomeçou a caminhar em direção a entrada, seguindo com o mapa em mãos e junto com o
Obito ao seu lado. A ordem ficou a mesma de antes. Os dois na frente, Deidara no meio, e eu e Naruto
atrás.
Aproveitei também para vestir o moletom de Itachi que, mesmo sendo um pouco maior do que o meu
corpo, me transmitiu um certo conforto. O único problema, era o cheiro que o tecido possuía. Estava
fedendo a suor.
-Argh, que nojo. -Fiz uma careta, cheirando embaixo de meus braços. Aquele aroma, aparentemente,
pertencia ao meu irmão. -Seu moletom está com um cheiro horrível, Itachi.
Ele rosnou agressivamente.
-Se você reclamar mais uma vez, eu juro que te faço entrar pelado no meio dessa mata, cacete! -Me
ameaçou. -E ainda te jogo em cima de um formigueiro! Seu rabo vai ficar assado com tanta picada! Que tal
assim?!
Eu o olhei assustado.
-Itachi, se acalme. -Obito tocou em seu ombro. -Vamos entrando. Sem brigas, sim?
Com uma última troca de olhares entre nós, Itachi virou-se novamente em direção a trilha, bufando
irritado enquanto arrumava seu cabelo em um coque, sendo seguido por Deidara que, assim como ele,
queria evitar o calor e o vento que bagunçava seus fios.
Aquela era a hora que tanto esperamos.
Andamos relutantemente até a entrada da trilha. Ela era realmente muito estreita. Já no início,
tivemos que nos espremermos para atravessar a “passagem” entre algumas árvores. O interior da mesma
era exatamente como eu imaginava. Escuro e úmido, além de ser desconfortavelmente apertado.
O meu bebê agarrou no meu braço.
-Ei, ‘tá tudo bem? -Perguntei baixinho.
-U-Uhum.
Eu o olhei de cima abaixo.
O receio de Naruto também era aparente. O loiro, diferente de mim, não tinha medo de insetos, mas
sim do desconhecido e o escuro. Além disso, notei as suas pernas levemente trêmulas, o que eu logo
deduzi pertencer a um dos efeitos colaterais de seu cansaço.
Estávamos todos andando a horas.
-Você deve estar exausto, né? -Beijei o topo de sua cabeça. O meu bebê era tímido e inseguro de
mais para protestar contra a decisão de meu irmão em caminharmos sem pausas. -Sobe nas minhas
costas, bebê.
-N-Nas suas costas? -Repetiu com certa vontade. Ele queria vir comigo, é claro, mas o seu medo de
atrapalhar era sempre maior. -Não precisa, Sasuke, eu sou pesado.
Neguei com uma risadinha.
-Por favor, Naruto. -Formei um beicinho em seus lábios. -Eu vou me sentir bem mais protegido com
você atarracado comigo.
Eu consegui ganhá-lo com essa afirmação.
-Tudo bem... -Concordou relutante. -Mas eu só vou ficar um pouco, tá bom? Você não merece ficar
me carregando o caminho todo.
-Vem logo, seu teimoso. -Chamei brincalhão.
Posicionei-me de costas para si, fazendo um breve sinal de autorização para o mesmo subisse. Com
um pulinho pequeno de sua parte, segurei firmemente na altura de suas coxas, sentindo-me muito mais
aliviado por tê-lo pertinho de mim, além de estar o ajudando a descansar por alguns minutinhos.
O meu bebê suspirou em satisfação. Após horas e mais horas de pé, para ele, era um alívio poder
ser carregado por alguém. Naruto logo repousou o queixo em meu ombro, enquanto, com as suas
mãozinhas, ele entrelaçou na frente de meu pescoço.
-‘Tá confortável aí atrás, meu bebezinho? -Indaguei amorosamente.
-Sim... -Sorriu contra meu pescoço, estalando um beijo no mesmo. -Muito obrigado, Sasuke.
-Não tem de quê.
Em seguida, recomeçamos a caminhar.
Segundo as palavras de meu irmão, caso andássemos rápido, chegaríamos nos chalés antes do
anoitecer, embora, internamente, eu duvidasse um pouco disso. O dia já estava caindo, assim como a
temperatura também.
Nem parecia que, a quinze minutos atrás, estávamos todos derretendo pelo calor.
-A gente já ‘tá chegando? -Deidara questionou em um fio de voz, debatendo-se atrapalhadamente
entre os galhos e as árvores ao nosso redor. Pelo menos por enquanto, eu não havia visto nada de muito
suspeito e aterrorizante. Os únicos insetos que nos rodeavam, eram formigas e pernilongos. -Itachi, eu falei
com você, porra!
-Não, chefe, a gente não ‘tá chegando. -Respondeu com a cabeça baixa, observando o mapa com
cautela e atenção. -Sossega aí, pode ser? Vai demorar um pouco.
O loiro gemeu em frustração.
-Eu estou com sede! -Reclamou novamente, tocando na própria garganta com uma feição sofrida.
-Obito, eu quero água!
Sem se dar o trabalho de olhar para trás, o moreno abriu o zíper da mochila, enfiando sua mão para
buscar por alguma das garrafinhas que trouxemos da penitenciária.
-Só tem a garrafa do Sasuke. -Mostrou o conteúdo cheio pela metade. Aquela era a minha única
lembrança da prisão, além, é claro, do desenho que eu guardei do meu bebê. De alguma forma, eu tinha um
apego inexplicável por aquela garrafinha. Ela era um “símbolo” de minha aproximação com o Naruto. -Você
já bebeu a sua inteira, Deidara.
-Então me dá a garrafa do Sasuke!
-Peça primeiro para ele. -Afastou o objeto. -Já não basta o que você fez com o repelente.
O loiro olhou na minha direção.
-Posso tomar a sua água, Sasuke?
-Pode, só não toma tu—
Calei-me ao presenciar a sua afobação em apanhar a minha garrafa, virando todo o líquido
desesperadamente e de uma vez só, sem se importar com o restante das pessoas.
-Não toma tudo! -Afastei o bico de sua boca, acabando por derramar parte da água no chão e em seu
moletom. -Porra, Deidara!
-Tira as suas patas de mim! -Empurrou a minha mão. -Eu preciso me hidratar, caralho!
-Olha só o que você fez! -Reclamei indignado, assistindo o loiro dar tapinhas no fundo da garrafa,
tentando fazer com que as últimas gotas se desprendessem da mesma. -A garrafinha era minha! Você não
deixou nada!
Itachi bufou audivelmente.
-Meu Deus! -Virou para trás. -Vocês não conseguem conviver em harmonia, caralho?!
Ri sarcasticamente.
-Olha só quem fala!
-É, olha só quem fala! -O loiro me apoiou.
-Chega, eu não aguento mais vocês! -Apertou as próprias têmporas. -Quando a gente chegar nos
chalés, eu juro por Deus que não olho mais na cara de ninguém aqui!
-‘Tá, por mim tanto faz! -Dei de ombros. -Eu também não quero olhar na cara de vocês!
-Eu também não! -Deidara empinou o nariz e, com a intenção de fazer pirraça, passou disparado na
frente de todos nós, ultrapassando, inclusive, os nossos “guias”. -Cambada de morféticos! Vão se foder!
-Deidara, aonde você vai? -Obito chamou preocupado. -Não fica longe da gente.
Ele levantou o dedo do meio.
-Chefe, não vai embora assim. -Itachi alertou, observando o mesmo pirraçar e bater os pés como
uma verdadeira criancinha. -Você vai se perder sem a gente, ouviu?
-To nem aí! -Gritou de longe, virando-se para trás com um semblante convencido. -Eu sei exatamente
como me cuidar sozi—
Antes que pudesse se gabar e terminar a frase, Deidara foi interrompido de uma maneira um tanto
quanto desagradável. O loiro deu de cara com uma teia de aranha, literalmente.
A teia atravessava toda a passagem. Pelo fato de estar conectada de uma árvore até a outra, ele não
conseguiu se desviar a tempo, o que, certamente, acabou mal. Como o esperado, a sua reação não foi
nenhum pouco sútil.
Deidara simplesmente surtou.
Com um berro estridente e escandaloso, o loiro se debateu enlouquecidamente de um lado para o
outro, correndo com desespero na direção oposta.
Itachi, que assistia a cena assustado, acolheu-o instantaneamente ao se dar conta de que o mesmo
gritava por ajuda, sacudindo seus ombros e cabelo para retirar a teia e, possivelmente, a aranha presente
em si.
De imediato, freei os meus passos e paralisei no meio do caminho, evitando chegar perto de Deidara
para não me arriscar e precisar fazer contato com aquele inseto indesejável.
Até mesmo o Naruto que, naquele instante, permanecia esgotado e quase adormecido em minhas
costas, assustou-se com a nossa agitação repentina, levantando a cabeça curiosamente para assistir o seu
irmão abraçado com o meu, berrando e esperneando para que o mesmo retirasse a aranha e os vestígios
da teia de seu corpo.
-Tira, Itachi! Tira essa porra do meu cabelo! -Ele se descabelava. -Meu Deus! Tira! Tira!
-Dei, se acalma! -Segurou em seus ombros. -Eu já olhei! Não tem nada, caralho!
Ele choramingou em um misto de medo e repulsa. Foi uma cena realmente chocante. Eu nunca
imaginei que presenciaria o Deidara com tanto medo, visto que o mesmo sempre se mostrou alguém forte e
valente.
-Fica tranquilo... -Itachi o abraçou, acariciando seu cabelo enquanto segurava a risada, talvez
refletindo exatamente o mesmo que eu. Era esquisito ver o seu namorado tão medroso e “inofensivo”. -Já
passou, chefe.
-D-Dei, o que aconteceu? -Naruto perguntou confuso, tentando compreender o que havia acabado de
ocorrer. -Alguém se machucou?
-Não, bebê, pode ficar tranquilo. -Virei meu pescoço para trás. -O Deidara topou com uma aranha,
mas não foi nada de mais. Pode voltar a dormir, sim?
O loiro mais velho me fitou enfurecido.
-“Não foi nada de mais”?! -Repetiu abismado, distanciando-se do abraço de Itachi. -Eu quase tive um
treco aqui! Quer saber de uma coisa, Sasuke?! Vai tomar no cu com força!
Ergui as mãos como um pedido de desculpas.
-Eu te odeio muito, Obito! -Declarou repentinamente, virando-se agressivo para o moreno. -Você me
prometeu que nenhum bicho ia encostar em mim! Seu mentiroso!
-Foi você quem saiu fazendo pirraça e agindo que nem uma criança, Deidara. -Retrucou
pacificamente, nenhum pouco atingido com a acusação que recebera. -Eu falei pra você ficar por perto, mas
você não me escutou.
Ele bateu os pés em um ato birrento.
-Pronto, cambada, já passou. -Itachi gesticulou para que nos acalmássemos. -Vamos continuar, pode
ser? Fiquem todos juntos dessa vez, assim não teremos mais problemas e interrupções no caminho.
-E sem brigas também. -Obito acrescentou. -Vamos manter a paz até chegarmos nos chalés, pode
ser, gente?
-Sim, por favor. -Concordei com a cabeça.
-U-Uhum. -Ouvi o meu bebê murmurar. Embora fosse o mais quietinho entre todos, Naruto
continuava prezando pela paz e amizade coletiva. -Sasuke, eu vou descer.
-Já, bebê? -Indaguei confuso.
-Sim. -Pulou das minhas costas. -Eu já estou bem descansado, muito obrigado por isso.
Sorri carinhosamente.
-Não precisa agradecer. -Lhe roubei um selinho. -Vem cá, fica pertinho de mim.
Como se já soubesse exatamente o que eu desejava, Naruto agarrou-se ao meu braço direito,
sorrindo fraquinho ao se dar conta de que, mesmo longe dos corredores da prisão, continuávamos com a
mesma mania.
Eu nunca me cansaria disso.
-Itachi? -Deidara se pronunciou logo quando recomeçamos a andar. -Eu estou cansado. Me leva nas
costas também?
-Eu levaria, chefe... -Olhou brevemente para trás. -Mas eu preciso carregar a mochila e me
concentrar no mapa. Me desculpa.
Ele choramingou forçadamente.
-Obito? -Chamou esperançoso. -Eu não estou mais aguentando andar. Me leva nas costas, vai.
-Eu não consigo também. -Sacudiu a mochila para mostrá-lo o peso da mesma. -Ou eu carrego você,
ou a mochila. Os dois não dá.
Faltava pouco para o loiro começar a se arrastar pelo chão. Ele era, visivelmente, o mais esgotado
entre todos. A cada passo dado por nós, Deidara tropeçava em seus próprios pés, gemia dolorosamente e
implorava para que déssemos uma pausa.
Se antes imaginei que o meu bebê seria o mais difícil de se lidar e que daria mais “trabalho” durante
a fuga, é porque não cogitava o quanto Deidara era reclamão, sedentário e, de certa forma, mimado.
-Eu não vou suportar mais isso. -Anunciou embargado, tombando o seu corpo involuntariamente para
o lado. -Acho que eu vou desmaiar. ‘Tá ficando tudo preto...
Naruto começou a se preocupar de verdade.
-G-Gente, alguém ajuda o Deidara! -Apesar de estar falando coletivamente, o loiro olhou diretamente
para mim. -Tadinho dele, Sasuke.
Querendo ou não, foi difícil de não me afligir ao cogitar a possibilidade de seu corpo cedendo ao
cansaço e caindo duro no meio da trilha. No entanto, o pior de tudo era ver que meu irmão e Obito não
estavam levando o seu “drama” tão a sério quanto eu e Naruto.
Ele precisava, urgentemente, de ajuda.
-Deidara. -Chamei inquieto. -Você quer subir nas minhas costas?
Com o pingo de energia que ainda lhe restava, seus olhos pareceram brilhar em reposta.
-Sim... -Cambaleou desnorteado na minha direção. -Pelo amor de tudo o que é mais sagrado,
Sasuke, me carrega.
Com uma risada sem graça, permiti que o loiro se aproximasse de mim. Seu corpo estava tão
sobrecarregado que, por pouco, ele nem teve forças para pular em minhas costas.
De início, precisei fazer um esforço para ajudá-lo a se posicionar corretamente atrás de mim. O lado
bom, foi que consegui lhe segurar da mesma forma que fiz com o meu bebê, visto que ambos,
aparentemente, possuíam quase o mesmo peso.
No final das contas, eu não tive dificuldades de me locomover consigo.
Na verdade, foi muito mais fácil desse jeito.
Sem o Deidara reclamando e tirando os nossos guias do sério, ajudou o meu irmão a se concentrar
no mapa e, consequentemente, achar um jeito de irmos mais rápido ao decorrer daquela trilha medonha.
Antes mesmo de chegarmos na metade do caminho, o loiro já havia adormecido em minhas costas, o
que eu rapidamente constatei ao sentir sua respiração pesada batendo em meu pescoço, além de seu
ronco baixo e engraçado ecoando em meus ouvidos.
Durante todo o tempo, o meu bebê fez questão de me fazer companhia.
Passamos o percurso inteiro abraçadinhos. Como o habitual, Naruto me transmitiu conforto e
confiança estando do meu lado, mesmo que, na maior parte do tempo, tenhamos optado pelo silêncio, tanto
para deixar o Deidara dormir, quanto para permitir que o meu irmão focasse no trajeto.
As duas horas de trilha passaram voando.
-O Dei fica tão bonitinho dormindo. -O meu bebê comentou com uma risadinha, pronunciando-se
após longos quinze minutos de silêncio. A nossa última conversa, se deu por conta de meu medo infantil em
passar ao lado de um bicho-pau, apesar de que, com a presença de Naruto, acabou ficando tudo bem.
-Olha a bochecha dele, que gracinha.
Virei-me cuidadosamente para trás.
-Eu só espero que ele não babe em mim. -Ri descontraído. Além de sua bochecha estar espremida
em meu ombro, notei que, diferente de quando entramos na trilha, o loiro estava inteiramente encolhido pelo
frio. A temperatura já havia mudado de maneira drástica, assim como Obito nos alertou. Em poucos
minutos, quando finalmente anoitecesse, ficaria ainda pior de suportar. -Como é que ele consegue dormir
desse jeito? Essa posição é super desconfortável.
-H-Hm... Não é desconfortável, Sasuke. -Retrucou, agarrando-se novamente ao meu braço com a
intenção de se aquecer. Com sorte, eu havia convencido Naruto a continuar com o seu moletom, caso
contrário, ele estaria congelando. Era por essa razão que eu me preocupava tanto com o Itachi. Ele era o
único uma sem blusa. -Você é muito gostoso de abraçar.
Sorri carinhosamente.
-Eu sou gostoso de abraçar? -Repeti com um riso divertido. Aquela era uma afirmação inocente, é
claro, mas, de certa forma, engraçada de se escutar sobre mim mesmo. -Me explica melhor, eu acho que
não entendi.
-B-Bem... -Fez um barulho pensativo, unindo-se com um beicinho adorável. -Você é muito
confortável, Sasuke. O seu abraço é muito, muito bom. Seu cheirinho é tão gostoso... E eu gosto bastante
de ficar no seu colo também. -Me fitou com um olhar doce e inocente. -Você inteirinho é gostoso e
confortável de sentir.
Eu senti cada partezinha de meu corpo se derreter com a justificativa do meu bebê.
Ele sabia bem como me deixar sorrindo que nem o bobão apaixonado que eu sou.
-Oh, bebê... -Se não fosse pelo Deidara em minhas costas, eu já teria lhe enchido de beijos até que o
mesmo implorasse para eu parar. -Você também é muito gostoso de abraçar, sabia disso? Muito, muito
mesmo.
Suas bochechas tornaram-se rubras.
-H-Hm... Eu sou?
-Muito, muito, muito! -Sorri abobado. -A coisa mais gostosa desse mundo é te abraçar. Não existe
coisa melhor que isso.
O meu bebê abriu um sorriso tímido.
-Olha só o que você fez... -Cutuquei sua cintura com um ar brincalhão. -Me deixou cheio de vontade
de te encher de beijos e abraços. E agora? Como a gente faz, hm?
Naruto riu infantil.
-Agora a gente espera até chegar nos chalés.
Forcei um biquinho chateado.
-Mas vai demorar tanto, bebê...
Ele negou com uma risadinha.
-S-São só mais vinte minutos, Sasuke. A gente vai chegar antes de anoitecer.
-Hmm... -Suspirei em expectativa. -Eu não vejo a hora de chegar pra ficar abraçadinho com você,
bebê. Eu vou te encher de carinho.
O loiro me roubou um selinho.
-H-Hm... Eu não vou desgrudar mais de você, Sasuke, vou te dar um montão de beijos. -Sorriu com
as bochechas coradas.
-Olha lá, hein... -Estreitei meus olhos. -Eu vou cobrar mesmo, ouviu? Quero um beijão seu!
O meu bebê gargalhou adoravelmente.
No final das contas, eu fiquei verdadeiramente ansioso para chegarmos nos chalés. No momento, o
maior desejo era tomar um banho quentinho, colocar um pijama e ficar agarradinho com o Naruto até pegar
no sono.
-Ei, vocês dois, casal melação? -Itachi implicou. -Estamos chegando. Agora vamos passar pela parte
mais escura da trilha. Eu sugiro que vocês liguem as suas lanternas.
Eu e o loiro nos entreolhamos.
Diferente das lanternas que os dois “guias” carregavam em mãos, as nossas eram péssimas no
quesito iluminar. Ambas eram, literalmente, chaveiros. Aqueles tipos de chaveirinhos que costumávamos
ganhar de brinde em festas infantis ou comprar como uma lembrancinha em alguma viagem.
Infelizmente, foi a única iluminação que Obito conseguiu nos proporcionar, no entanto, era melhor do
que nada. Precisávamos de toda a luz possível para enxergarmos o caminho.
Fizemos exatamente o que nos foi solicitado.
Ligamos os chaveiros de modo sincronizado, para que assim pudéssemos adentrar a parte escura e
profunda da trilha com um pouco mais confiança. Como já estávamos próximos dos chalés, tivemos que nos
embrenharmos entre alguns bambus, os mesmos que, por mais estreitos que fossem, eram a única
passagem disponível até o nosso destino.
Pelo menos para mim, essa parte foi a mais desconfortável de todas, especialmente se levássemos
em conta os barulhos agonizantes de insetos ao meu redor, além do fato de ter sentindo o receio do meu
bebê se duplicando por conta daquela escuridão excessiva.
Ambos tínhamos medos, mas eles eram completamente diferentes um do outro.
-E-Eu to com medo, Sasuke... -Escondeu o rosto em meu braço. -Aqui é muito escuro.
-Shhh, ‘tá tudo bem. -Tentei consola-ló, embora, no fundo, estivesse reconfortando a mim mesmo. O
chaveiro tremia sem parar em minha mão. O fato de estar no escuro e não conseguir enxergar nenhum dos
insetos que nos rodeavam, me deixava absurdamente agoniado. Assim como o Deidara, eu poderia topar
com algum deles a qualquer instante. -Eu estou aqui com você.
Itachi iluminou-nos com a lanterna.
-Ei, cambada, toma cuidado agora... -Deu uma pausa dramática, antes mesmo de direcionar a luz a
um conjunto de bambus próximo de nós. Naquele mesmo ponto, havia uma colmeia gigantesca de vespas.
-A gente vai passar por baixo delas, não façam movimentos bruscos, entendido?
O meu coração pareceu falhar uma batida
Eu odiava vespas. Na verdade, odiava todo e qualquer tipo de inseto, apesar de que, esse, em
especial, era um dos que mais me causavam medo. O tamanho desse bicho era algo surreal, além do
barulho assustador que ele fazia para voar e, é claro, o seu ferrão.
Aquilo era um verdadeiro pesadelo.
-S-Sasuke... -Naruto chamou por mim, parecendo ter lido os meus pensamentos. -Vai ficar tudo bem,
tá bom? É só a gente fazer que nem o seu irmão falou... Sem movimentos bruscos. As vespas não vão ligar
pra gente, se a gente não ligar pra elas, certo?
Concordei com as mãos trêmulas.
-Certo, eu entendi...
-Respira, ‘tá tudo bem... -O loiro acariciou o meu braço. -Não olha pra cima, okay?
Assenti mais uma vez.
Eu decidi seguir com o conselho sensato e bem pensado do meu bebê. Não olhar para cima era,
definitivamente, o melhor a se fazer naquele momento delicado. Poderia ser pior, afinal. Como por exemplo,
se o Deidara estivesse acordado, ele já teria extrapolado e chamado a atenção de todas as vespas.
-Vamos. -Naruto me segurou protetoramente.
Caminhamos agarrados em direção a colmeia e, embora o meu bebê não ligasse muito para insetos,
eu pude senti-lo incomodado por precisarmos passar debaixo de centenas de vespas selvagens.
Relutantemente, eu ergui os meus olhos.
Mesmo que de modo breve, pude enxergar Obito e meu irmão ultrapassando a colmeia e saindo
despercebidos em meio as vespas.
Agora era a nossa vez de enfrentá-las.
Meu corpo tremia tanto, mais tanto que, sinceramente, eu fiquei com medo de derrubar o Deidara.
Era quase impossível manter a coordenação de meus pés e braços enquanto o segurava adormecido em
minhas costas.
Por fim, nós passamos embaixo da colmeia.
O barulho torturante e arrepiante de suas asas batendo acima de nossas cabeças, deixava todos os
meus pelos levantados. Eu só queria fugir dali. Queria correr daquele lugar e nunca mais olhar para trás.
Acontece que, infelizmente, eu não podia me arriscar tanto assim. “Sem movimentos bruscos”, foi o
que Itachi declarou, e eu pretendia seguir com o seu conselho até o fim.
-N-Naruto... -Chamei em um fio de voz, sentindo minhas forças se esvaindo ao notar o zumbido das
vespas se aproximando cada vez mais. -Naruto, elas estão perto... Elas estão muito próximas, eu estou
sentindo.
-S-Só não olha pra cima, Sasuke. -Sussurrou baixinho como se os insetos realmente pudessem nos
entender. -Continua andando.
Eu juro que tentei continuar.
O meu plano, desde o início, era passar totalmente despercebido pelos bichos. No entanto, isso
mudou em uma fração de segundos.
Aquele zumbido alto e traumatizante foi o que influenciou-me a ter um surto de desespero, unindo-se
ao momento exato em que as vespas deram um rasante violento da colmeia e passaram voando perto de
meus ouvidos.
Elas chegaram muito perto de mim. Muito.
Foi então que eu comecei a me debater. Sacudi minha cabeça juntamente com o restante de meu
corpo, soltando sons chorosos e perturbados com a minha boca, acabando por esquecer-me
completamente da primeira regra de todas. “Sejam discretos e não façam movimentos bruscos”.
Já era muito tarde.
E tudo ficou um milhão de vezes pior quando eu tomei a minha primeira picada. Foi no canto de meu
pescoço e, sem exagero algum, doeu muito mais do que eu esperava.
Eu já estava totalmente fora de mim, tanto que, sem ter mais consciência de meus próprios atos,
acabei por derrubar o Deidara no chão, assim como o Naruto que, ao notar a quantidade de vespas que nos
rodeavam, decidiu correr juntamente comigo, pouco se importando em deixar o seu irmão para trás.
A colmeia toda pareceu despertar.
-Porra! -Itachi berrou a alguns metros de nós, parecendo ter se dado conta do caos que aquilo havia
se tornado. Na verdade, não era muito difícil de compreender a situação. Eu e Naruto corríamos na sua
direção, enquanto um enxame de vespas vinham logo atrás de nós, além de seu namorado estar,
literalmente, caído no chão. -Vocês deixaram o Deidara pra morrer!
O loiro havia mesmo ficado para trás.
Além de ter acordado assustado pelo tombo que levou por minha causa, ele também foi surpreendido
pelos incontáveis zumbidos e insetos que sobrevoavam agressivamente a sua cabeça, tentando lhe picar a
todo custo.
-Levanta, chefe! -Gesticulou aflitamente. -Olha as vespas! Sai daí, caralho!
Por fim, Deidara reagiu.
Estávamos todos nos debatendo enlouquecidamente. Sendo o mais realista possível, eu era o alvo
principal dos insetos. Os meninos também corriam e esperneavam escandalosamente, mas, de alguma
forma, todas elas vinham na minha direção como se realmente pudessem farejar o meu medo e me
denominarem o culpado entre eles.
Eu levei mais uma picada.
Dessa vez, a ardência foi em meu maxilar.
Não dava tempo de prestar atenção e conferir cuidadosamente se todos estavam bem. No entanto,
pelo o que pude observar durante a correria, somente eu e Obito havíamos levado picadas, se bem que isso
já foi o bastante para fazer com que eu me sentisse culpado.
-Rápido, entrem aqui! -Itachi sinalizou para que o seguíssemos, virando ao lado direito da trilha de
bambus. Felizmente, conseguimos despistar algumas das vespas em meio à escuridão. -Os chalés são ali
na frente!
Eu nunca fiquei tão aliviado em toda a minha vida. Havíamos, finalmente, chegado em nosso destino
e, embora quase todos os insetos já houvessem desistido de nós, não paramos de correr em momento
algum.
De longe, eu consegui visualizar as chaminés.
A fumaça cinza que subia em meio à escuridão da noite, preenchendo a floresta com um cheiro
marcante e estranhamente agradável de lenha queimada. Mesmo nunca tendo frequentado aquele lugar, de
certa forma, eu me senti acolhido e protegido.
-Chegamos, meninos! -Obito declarou ofegante, diminuindo seus passos a medida em que nos
aproximávamos da entrada. -É aqui! Estamos finalmente a salvo!
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Não só pelo alívio de ter sobrevivido as vinte e quatro horas mais estressantes e apavorantes de toda
a minha vida, como também pelo fato de ter, literalmente, enfrentado os meus piores medos durante os
últimos minutos.
Itachi foi o primeiro a deixar de correr.
Ao chegarmos no gramado aberto dos chalés, o mesmo que, surpreendentemente, era composto por
uma piscina e uma jacuzzi, além de uma recepção com as paredes a base de madeira, todos nos atiramos
no chão.
Aquilo era um verdadeiro alívio coletivo.
Todos, sem exceção, estávamos esgotados.
-Caralho... -Itachi fechou os olhos, deitando-se de barriga para cima enquanto sorria com a
respiração acelerada. -Conseguimos, gente.
Deidara se jogou ao seu lado.
-Puta que pariu... -Levou a mão ao peito, soltando uma risada fraca. -Finalmente.
Diferente da reação positiva e alegre que todos os meninos tiveram, eu deixei as minhas lágrimas
tomarem conta de mim. O cansaço, a dor e, em especial, a culpa que eu sentia por ter despertado a colmeia
inteira de vespas, foi o misto perfeito para começar a chorar.
-B-Bebê... -Choraminguei como uma verdadeira criancinha assustada e inofensiva, tremendo meus
braços na sua direção para lhe pedir por um de seus abraços gostosos e acolhedores. -Eu levei duas
picadas...
Naruto me recebeu protetoramente, sendo o único, entre todos os meninos, ciente sobre o meu medo
em relação as vespas, além da culpa que eu carregava por ter feito o nosso grupo fugir daquela maneira e,
em consequência, feito o Obito levar uma picada
-H-Hm... Fica calmo, Sasuke, por favor. -Pediu com a voz tomada pela preocupação. -Aonde você
tomou as picadas? Mostra pra mim.
-A-Aqui... -Toquei em meu pescoço. -E aqui também. -Acariciei o meu maxilar, me arrepiando só de
pensar que aquele inseto repugnante e assustador chegou ao ponto de deixar dois de seus ferrões em mim.
Naruto aproximou o seu rosto, afastando o meu cabelo enquanto avaliava as picadas com a testa
franzida, parecendo saber exatamente o que estava fazendo.
-Eu estou vendo... -Roçou a pontinha de seu dedo em meu maxilar. -Dói aqui?
-U-Uhum... -Funguei o nariz. -‘Tá inflamado?
-Não muito. -Sorriu de forma reconfortante. -H-Hm... Fica tranquilo, Sasuke, eu sei bem como tratar
disso. Chegando nos chalés, a gente cuida direitinho dessas picadas, combinado?
Assenti com um beiço chateado.
Embora gostasse muito de ser cuidado e mimado pelo meu bebê, dessa vez, eu estava efetivamente
traumatizado com aquelas duas picadas. Vespas eram mesmo o meu ponto fraco. Eu nunca havia passado
por nada parecido antes.
-D-Desculpa, bebê... -Pedi choroso, aproveitando-me de seus braços desocupados para me
embrenhar novamente entre eles e pedir por consolo. -Eu não queria ter acordado a colmeia inteira. Espero
que ninguém tenha se machucado muito por minha culpa.
Ele riu carinhoso antes de beijar minha testa.
-N-Não tem problema, Sasuke. -Sorriu atenciosamente. -Eu estou bem. Na verdade, estamos todos
muito bem, né, gente?
Deidara empinou o nariz.
-Eu não estou! -Discordou emburrado. -Se vocês acham que eu vou esquecer o jeito como eu fui
abandonado, humilhado e atirado no chão em meio àqueles bichos, podem tirar o cavalinho da chuva,
caralho!
-Desculpa, Deidara... -Pedi arrependido, olhando chateado na sua direção. -É que eu me desesperei.
Você se machucou?
O loiro deu de ombros.
-Na verdade não. -Coçou a garganta, parecendo ter se comovido, momentaneamente, com o meu
drama. -Mas foi humilhante do mesmo jeito, tá bom?! Eu acordei no chão e cheio de bichos querendo me
ferroar!
Itachi riu em provocação
-Ah, chefe, mas aposto que se fosse o contrário, você também teria deixado o Sasuke pra morrer.
Notei-o abrir a boca para retrucar, mas logo a fechando como se houvesse acabado de refletir sobre
o que seu namorado lhe afirmou.
-Bom... Pensando por esse lado, é verdade. -Sorriu descontraído. -Se fossem aranhas, eu acho que
teria deixado o Sasuke tomar no cu sozinho.
Nesse sentido, pelos menos estávamos quites.
-Obito? -Chamei inquieto, me encolhendo entre os braços do meu bebê numa falha tentativa de me
esconder após tamanha vergonha que senti dos problemas que causei. Só era uma pena que Naruto fosse
pequeno de mais para me camuflar. -Você está bem?
Ele sorriu tranquilamente na minha direção.
-Estou sim. -Ao mesmo tempo em que acariciava a área de sua picada, ou seja, perto de seu
pescoço, ele tentava tirar o ferrão com o seu próprio dedo. -Pronto! Tirei, agora não tem mais risco de
inflamar.
Eu o olhei impressionado.
Como ele tinha coragem de arrancar o ferrão daquela forma, e sem se preocupar com o veneno, com
infecções ou com a dor?
-Vamos indo, meninos? -Obito levantou-se do gramado, fazendo um breve alongamento em nossa
frente. -Ainda precisamos passar na recepção, pegar as chaves com a Konan e, no meu caso, tomar um
banho. Eu não vejo a hora de dormir. Estou esgotado.
Itachi concordou com a cabeça.
-Levanta, cambada. -Riu quando grunhimos coletivamente por conta da preguiça. -Forças, gente,
daqui a pouco vocês vão poder dormir em uma cama confortável de verdade.
-Me sigam. -Meu primo acrescentou. -A recepção é logo ali.
Por fim, fomos obrigados a levantar. Me permiti ser guiado pelo meu bebê, sentindo sua mãozinha se
entrelaçar em volta de meu braço direito. Como eu continuava muito abalado e choroso por conta das
picadas, fiquei o caminho todo de bico e cabeça baixa.
Para chegarmos a recepção, atravessamos toda a extensão do gramado que, além de possuir as
piscinas no centro do mesmo, também abrigava os chalés ao lado esquerdo, todos bem pequenos, feitos de
madeira e, de certa forma, convidativos. Pelo o que me parecia, não haviam muitos hóspedes no momento,
o que eu logo deduzi ao notar o clima “desértico” que o ambiente possuía.
Haviam nós e, no máximo, mais umas três pessoas. Afinal, aquele não era um lugar muito conhecido
e desejado pelo público. Segundo Obito, as pessoas costumavam frequentar os chalés quando queriam
“sumir do mapa” ou, no nosso caso, fugir da polícia.
-Konan? -O moreno chamou atentamente, atravessando a porta com todos atrás de si. A recepção
também era pequena, quase no mesmo estilo que os chalés. Possuía um visual exótico, com tapetes a base
de pelos de animais e umas pinturas estranhas de gatos e cachorros nas paredes. Além disso, também
tinha um sininho de aviso na bancada, o qual logo foi pressionado por Obito. -Nós chegamos.
Ficamos todos em silêncio.
-Konan? -Ele tentou mais uma vez.
No segundo seguinte, fomos recebidos por uma figura feminina, a mesma que, misteriosamente,
surgiu de uma porta ao lado direito da recepção, carregando em seu colo um cachorrinho pequeno e de
pelagem preta.
Meus olhos brilharam de imediato.
Não só os meus, como os de Naruto também.
Honestamente, nós nem ligamos muito para a presença da garota de cabelos roxos e repleta de
piercings, mas sim para o filhotinho adorável em seus braços. Fazia muito tempo que eu não via um
cachorro e, sinceramente, animais foram o que mais me fizeram falta enquanto estivesse na prisão.
-Olá, Obito. -Ela sorriu discreta, largando o filhotinho no chão ao notar que eu e o meu bebê
sinalizávamos para ele, fazendo sons e gestos fofinhos como se o mesmo pudesse nos entender. -A quanto
tempo...
-Realmente. -Devolveu o sorriso. -Como você está? Tudo bem?
-Aham. -Seu olhar penetrava em cada um de nós, avaliando-nos silenciosamente. Konan não deu
tanta atenção para eu e o Naruto que, naquele instante, nos encontrávamos agachados e coçando a barriga
do filhotinho, mas, em compensação, ao colocar seus olhos em meu irmão, ela abriu um sorriso atrevido e
simpático. -Oh, e quem seria você?
Deidara arqueou uma sobrancelha.
-Ah, eu sou o Ita—
Obito calou-o com uma tosse forçada.
-Esse é o Germano, Konan. -Corrigiu rapidamente. Todos, rapidamente, entendemos o recado.
Mesmo sendo sua amiga de confiança, não poderíamos arriscar e revela-lá os nossos nomes verídicos.
-Esse aqui é o Nicolas... -Apontou para o loiro mais velho, o qual cruzou os braços com um olhar nada
amigável. -E aqueles dois são o Júlio e o Renan.
O meu bebê acenou simpaticamente.
-Qual é o nome dele? -Perguntei curioso, referindo-me ao cachorrinho, o mesmo que, naquele
instante, enchia-me de lambidas gosmentas e amorosas no rosto.
-Poppy. Ela é fêmea. -Respondeu simplista, embora mantivesse seus dois olhos presos em meu
irmão, mordendo seu lábio inferior sem vergonha alguma. -Então, Germano, por acaso a gente se conhece
de algum lugar?
Itachi franziu o cenho sem entender.
-Err, eu acho que não.
-É, acho que eu nunca te vi mesmo... -Olhou-o de cima a baixo, dando um passo audacioso em sua
direção. -Um homem bonito como você não seria facilmente esquecido por mim.
Deidara riu desacreditado.
-Com licença, caralho?! -Puxou Itachi pelos cabelos, logo segurando-o pela cintura. -Ele já tem dono,
sua morfética, vaza daqui!
-Oh... -Esboçou uma careta enjoada. -Vocês são gays ou alguma coisa do tipo?
-Sim! Somos todos gay, sem exceção! -Gritou alterado. -Gostamos de rola, pinto e pau! Mais alguma
dúvida?! Quer saber quem é o ativo da ralação?! Ou quem paga o melhor boquete?!
Meu irmão piscou levemente perdido.
-Bem, na verdade eu sou bisexu—
-Fecha essa boca, Germano! -Deidara puxou sua orelha. -Bisexual ou não, você é o meu namorado,
porra! Só meu!
-Pois bem... -Obito coçou a garganta, parecendo estar constrangido. Mal havíamos chegado, mas
Deidara já estava a arrumar confusões. -Você pode dar as chaves dos quartos, Konan? Estamos todos bem
cansados. Amanhã eu resolvo os detalhes com você, pode ser?
Ela assentiu sem graça.
-Aqui está. -Estendeu três chaves para si. -Até amanhã, meninos.
O loiro passou com o nariz empinado, marchando para fora enquanto arrastava o meu irmão consigo.
Obito, por sua vez, sinalizou para que viéssemos junto e, embora eu quisesse muito continuar interagindo
com a Poppy, o meu cansaço falou mais alto.
Eu e Naruto seguimos logo atrás deles.
Aparentemente, a cachorrinha simpatizou com nós dois, visto que veio nos seguindo até o lado de
fora. Só era uma pena que não pudemos dá-la muita atenção. Estávamos muito ocupados com os gritos de
Deidara e o Itachi, os quais se empurravam em meio ao gramado, discutindo o fato de meu irmão ter “caído
nos encantos daquela bruxa morfética de cabelos roxos”.
Eu ri divertido com a cena.
-Os chalés são aqui. -Obito interrompeu a discussão ao atirar os molhos de chaves para cada uma
das duplas. -Cada casal fica em um, e eu fico sozinho no último.
Os chalés selecionados eram um ao lado do outro, quase iguais às celas da prisão. Eu e o meu bebê
ficamos com o 5, o Itachi e o Deidara com o 6 e o Obito com o 7.
-S-Será que a Poppy pode entrar com a gente, Sasuke? -Naruto fez um biquinho, assistindo o
filhotinho se esfregar em nossas pernas. Eu me agachei novamente para lhe proporcionar um afago atrás
de suas orelhinhas felpudas. -Ela é tão fofinha!
-É mesmo. Ela bem que podia dormir com a gente essa noite, né? -Sorri carinhoso, dando um beijo
leve em seu focinho. Eu pretendia continuar a lhe dar carinho, mas o momento foi completamente cortado
quando meu irmão implicou comigo, soltando algo como: “Olha só que lindo! Duas cadelas interagindo uma
com a outra!” -Pronto, estragaram o clima.
-Entrem, meninos. -Meu primo aconselhou. -Vocês vão ficar gripados aqui fora, está muito frio. Se
precisarem de alguma coisa, eu estarei lá no meu quarto, tudo bem?
O meu bebê o parou rapidamente.
-H-Hm... Você pode me emprestar as pomadas de queimadura e inflamação?
-Claro, aqui está. -Estendeu-o duas caixinhas azuis. Eu sabia que a verdadeira intenção de Naruto,
era cuidar de meus machucados. -Boa noite, meninos, vejo vocês amanhã.
Todos respondemos em coro.
Por fim, cada um entrou em seu quarto.
O interior era exatamente como eu pensei, só que mil vezes melhor. Era tudo tão aconchegante.
Apesar de pequenino, havia uma cama de casal ocupando, literalmente, todo o espaço do quarto, enquanto
uma mesinha encontrava-se apertada ao seu lado.
Mas o melhor, na minha opinião, era o banheiro. A quanto tempo fazia que eu não frequentava um
sanitário limpo e higiênico? Tinha até mesmo uma banheira do meio, além da pia e a parede serem todas
bem limpinhas e a base de um mármore beje.
Os olhos do meu bebê brilharam.
-A-Aqui é tão lindo...
-É mesmo. -Concordei sorridente, abraçando-o carinhosamente por trás. -Tem até um aquecedor.
Acredita nisso?
Ele riu desacreditado.
-Vamos ligar? -Perguntei, me referindo ao frio insuportável que fazia ao lado de fora. -A gente precisa
ficar aquecidos, deve estar uns quinze graus ou menos.
-U-Uhum.
Deduzi que o controle em cima da mesinha fosse o responsável pelo aquecedor. Peguei-o em
minhas mãos e cliquei em um botão vermelho, o qual aparentava ser o principal, logo suspirando satisfeito
quando o mesmo expeliu um ar quentinho e confortante.
-Pronto, agora sim. -Beijei o topo de sua cabeça, acolhendo-o contra o meu peito. Finalmente
poderíamos colocar em prática o que tanto conversamos na trilha. Podíamos ficar juntinhos, abraçados e
trocando beijos. -Já vai esquentar, bebê, é só esperar.
-H-Hm... Sasuke? -Chamou tímido. -Eu posso tirar a minha roupa? É que eu estou fedendo e preciso
tomar um banho.
-É claro que você pode tirar. -Sorri carinhoso, arrumando os fios de sua franja. Eu não entendia
porquê Naruto sempre pedia pela minha permissão antes de fazer as coisas, mas em especial, desde que
saímos da prisão. Ele parecia inseguro em relação a nossa nova vida fora das grades e, por essa razão,
gostava de buscar pela minha confirmação. -Eu vou tirar também, preciso urgentemente de um banho.
Ele riu baixinho.
Estávamos mesmo muito sujos.
Começamos a retirar as nossas roupas ao mesmo tempo. Sinceramente, foi um alívio. Embora
estivesse muito frio, poder me livrar daquele moletom pesado e fedorento, deixou o meu corpo
instantaneamente mais leve.
Quando fiquei somente de cueca, juntei as peças usadas e fedorentas em uma pilha a parte,
exatamente igual fazia na penitenciária. Alguns costumes nunca iam embora, afinal. Em seguida, segui o
meu bebê em direção ao sanitário, o qual, sem vergonha alguma, caminhou totalmente nu até a ponta da
banheira, me lançando um olhar envergonhado, porém sugestionável.
Eu rapidamente compreendi o que ele desejava.
-Você quer entrar, bebê?
Assentiu tímido.
-M-Mas só se você vier comigo...
-É claro que eu vou. -Me aproximei para beijar seus lábios, puxando-o pela cintura ao trocarmos um
selinho breve e delicado. -Vamos fazer assim... Você separa os nossos pijamas, e eu preparo a banheira,
pode ser?
-Uhum.
Cada um se dirigiu para um canto do banheiro. Enquanto o meu bebê selecionava algumas das
peças de roupas proporcionadas pelos chalés, as quais nada mais eram do que blusas e calças de moletom
cinzas, eu fiquei ocupado em encher a banheira, sentando-me na borda da mesma para conferir a
temperatura.
-Pronto. -Anunciei em voz alta. A água estava morna, do jeitinho que o Naruto mais gostava. Ele, por
sua vez, retornou com uma pequena pilha de objetos em suas mãos. Haviam toalhas, pijamas e as
pomadas que Obito nos emprestou. -Já pode entrar.
Foi a minha vez de retirar a cuca. Só faltava isso para que ficássemos inteiramente nus.
Permiti que o loiro entrasse em primeiro lugar e decidisse que canto ficaria na banheira. No final,
acabamos um em cada ponta da mesma, ambos frente a frente com o outro.
Eu esperava poder ficar agarradinho com o meu bebê, mas sabia que, pelo menos no início, Naruto
tinha outras intenções. Antes de tudo, ele faria questão de cuidar dos meus machucados.
-H-Hm... Chega mais perto de mim, Sasuke. -Pediu concentrado, abrindo a caixinha azul que Obito
lhe entregou. Obedientemente, deslizei até o seu corpo coberto por espuma, encaixando-me de boa
vontade entre as suas pernas abertas. Estávamos frente a frente. -Eu vou tirar os ferrões, tudo bem? Tem
que fazer isso rapidinho, senão inflama.
Eu comecei a me desesperar.
-Naruto...
-N-Não vai doer, Sasuke, eu prometo. -Sorriu amoroso. -Pode confiar em mim.
Concordei relutantemente.
-Tudo bem... Pode tirar.
Para permitir que mexesse em minhas picadas de vespa, era porque eu realmente confiava no meu
bebê e em suas habilidades. O medo e trauma que eu possuía em relação aquele bicho, era algo fora do
normal, assim como Deidara se sentia com as aranhas.
Ao inclinar seu rostinho até o meu, procurando por uma proximidade e visão favorável para os seus
“serviços médicos”, entrelacei minhas mãos nervosamente por baixo da espuma, fechando meus olhos para
poupar-me da cena horripilante daqueles dois ferrões saindo de dentro da minha pele.
Naruto foi extremamente delicado durante o processo. Mas, de qualquer forma, eu não conseguia
parar de tremer. Meus olhos se encheram, involuntariamente, de lágrimas, no momento em que o loiro tocou
na área de meu maxilar, espremendo a picada de leve até que o conteúdo saísse em suas mãos.
Eu solucei que nem uma criança.
Nem estava doendo, mas só a agonia que eu sentia era o bastante para me deixar mal.
-E-Ei... -Me olhou preocupado, formando um biquinho trêmulo e choroso por me presenciar tão
angustiado. Só o Naruto mesmo para ter o “privilégio” de me ver tão indefeso, chorão e medroso. -Eu
machuquei você, Sasuke? Quer que eu pare?
Neguei com a cabeça.
-P-Pode continuar...
Ele me roubou um selinho antes de prosseguir.
Tocou delicadamente na área de meu pescoço, me fazendo tomba-ló para o lado com a intenção de
ganhar total acesso ao mesmo. Quando Naruto afastou meu o cabelo, eu me desesperei novamente.
Aquela área era bem delicada.
-B-Bebê... Vai doer? -Segurei seu braço em um ato impulsivo.
-Nenhum pouco. -Tentou soar o mais tranquilo possível. Assim como eu, Naruto queria acabar com o
meu sofrimento de uma vez. -Vai ser rapidinho, tá bom? Fica bem parado.
Fechei os meus olhos com força.
Por fim, o último ferrão saiu de mim. O bom é que não doeu o quanto eu esperava, mas, por outro
lado, sangrou um pouco mais do que quando Naruto tratou do meu maxilar.
-H-Hm... Prontinho, Sasuke. -Limpou a área dolorida, estalando um beijo carinhoso na mesma. Eu
chorei por puro alívio. Nunca mais queria passar por nada parecido na minha vida. -Já passou.
Sequei minhas lágrimas com um semblante sem graça, só então me dando conta da vergonha que
foi fazer tanto drama e escarcéu por causa de duas picadas.
Com sorte, o meu bebê me entendia muito bem e também respeitava os meus medos. Estando com
o Itachi, por exemplo, eu levaria uma surra de xingamentos sobre o fato de estar agindo como uma
criancinha.
-Obrigado, bebê... -Acariciei o ponto dolorido.
-Não tem de quê. -Sorriu com carinho. -Deixa eu só passar a pomada. Vem cá.
Me aproximei de si mais uma vez. Pelo menos dessa vez, foi algo rápido e indolor. O loiro espalhou o
conteúdo viscoso pelas áreas atingidas, dando-me alguns beijinhos naqueles mesmos pontos durante o
processo, os quais, aos poucos, aliviaram toda a minha dor e tremedeira momentânea.
-Pronto, está feito.
Impedi que ele se distanciasse.
-Beija mais, bebê... -Pedi manhoso. Se já estávamos em um momento carinhoso como aquele, nada
mais justo do que me aproveitar de sua boa vontade e cobra-ló sobre o que o mesmo me prometeu durante
o trajeto. Eu queria que Naruto me enchesse com um “montão de beijos”. -Dá beijo. Eu quero mais.
Ele riu tímido e carinhoso.
Cumpriu com a sua palavra ao trazer seu rosto ao meu, estalando beijos atrás de beijos por toda a
extensão de minha face, sem deixar nenhum cantinho faltando. A medida em que sentia seus lábios macios
roçando em minha pele, meu sorriso aumentava cada vez mais, aproveitando também para retribuir quando
o mesmo passava pela minha boca.
O meu bebê me beijava sem parar. Eram tantos beijos que, sinceramente, eu havia perdido a conta.
Nas bochechas, queixo, nariz, testa, pálpebras e até mesmo pescoço.
Sempre que retornava aos meus lábios, eu tirava proveito para dar uma aprofundada no momento,
mordiscando sua carne e me permitindo roçar minha língua com a sua, arrepiando-me dos pés à cabeça
com a textura viciante e macia que a mesma possuía.
Aquela era a melhor coisa do mundo.
Abraçar e beijar o Naruto era gostoso de mais.
-Ei, você é perfeito, sabia? -Elogiei com um sorriso bobo, separando nossos lábios ao notar que
estava animado de mais para o meu gosto. O meu bebê não parecia estar no mesmo clima que eu, mas sim
cansado por conta da viagem. -É o meu bebezinho.
O loiro corou levemente.
-V-Você é lindo de mais, Sasuke. -Levou parte de meus frios úmidos para trás da orelha. -O amor da
minha vida, sem dúvidas.
-Eu sou? -Forcei um biquinho.
-U-Uhum. -Riu com os olhinhos quase se fechando. -É o meu amor. Só meu.
Beijei-o novamente. Eu sentia minha barriga inteira borbulhar em emoção. Aquele era o verdadeiro
significado de “borboletas no estômago”, e somente o meu bebê conseguia me proporcionar esse efeito
arrepiante e gostoso.
O restante do banho, nós passamos da mesma maneira. Trocamos beijos, sorrisos e abraços a todo
o instante. Confesso que, durante algumas vezes, fiquei com vontade de dar um passo a mais, mas não
tinha certeza se Naruto estava tão afim quanto eu para levar aquilo adiante. No final, eu deixei as coisas
como estavam e não insisti em nada.
-H-Hm... Sasuke? -Chamou entre alguns beijos e outros, fazendo-me abrir meus olhos para prestar
atenção em suas palavras. Seus olhinhos estavam pesados, assim como seus lábios rosados e inchados
após tanto ser mordiscado e chupado por mim. -Eu estou ficando com frio. A água esfriou muito.
Aquilo era realmente verdade.
Passamos tanto tempo presos e vidrados em nossos beijos, que quase nos esquecemos da
temperatura congelante ao lado de fora.
-Vamos sair, bebê. -Sugeri preocupado. -Eu não quero que você pegue um resfriado.
Inclinei meu braço para apanhar as toalhas.
Eu esperava que cada um de nós ficasse com uma, no entanto, ao me levantar da banheira
juntamente com o meu bebê, ele fez questão de se abraçar novamente ao meu corpo, pedindo
silenciosamente para que nos cobríssemos com a mesma toalha.
Aparentemente, essa mania também continuava intacta. Quando tomávamos banho na prisão,
também costumávamos dividir a mesma toalha. Mas, sinceramente, tinham certas coisas que eu gostaria
muito de manter, e uma delas, definitivamente, era isso.
-Meu bebê mais lindo. -Murmurei contra o topo de sua cabeça, sentindo seu corpinho delicado e
gélido se tremer contra o meu. -Vamos pro ar quente. Aqui está muito frio.
Guiei-o até o quarto ao lado, escutando, a todo instante, os seus dentes baterem um ao outro.
Apesar de termos sofrido um choque térmico, ficamos ambos, instantaneamente, aquecidos naquela área.
O aquecedor realmente havia feito efeito, fora que foi uma ótima ideia de minha parte tê-lo ligado com
antecedência.
-H-Hm... Bem melhor. -O loiro sussurrou, sorrindo pequeno contra meu peito. -Agora está bem
quentinho.
Ri carinhosamente.
-Eu quero me deitar... -Deslocou-se de meus braços em direção ao colchão, se deitando sem roupa
alguma em meio as cobertas felpudas e limpinhas. -Oh, meu Deus...
Eu o olhei preocupado.
-O que foi?
-É que essa cama é tão confortável... -Fechou os seus olhinhos, esfregando o rosto manhosamente
no travesseiro. Eu confesso que precisei morder os meus lábios com a cena de seu corpinho esparramado
entre os lençóis, enquanto seu rosto era tomado por uma expressão entregue. -É tão bom...
Eu fiquei com vontade de me deitar também.
-H-Hm... Vem cá, Sasuke. -Gesticulou com um sorrisinho sonolento e as bochechas coradas.
-Vou sim, bebê, deixa eu só colocar uma roupa. -Informei agitado, enquanto vestia a blusa cinza do
“pijama” que, por sinal, ficou um pouco apertada em meus braços.
-N-Não. -Naruto me parou no meio caminho, impedindo-me de colocar uma cueca. -Vem assim
mesmo...
Eu o olhei levemente surpreso.
O meu bebê estava, literalmente, pedindo para que eu me deitasse sem roupa junto consigo. Tentei
não levar as coisas muito na maliciosidade, e me recordar de sua inocência excessiva, mas confesso que
estava sendo corroído por vê-lo pelado em minha frente, além de já ter ficado, anteriormente, excitado por
conta de nossos beijos na banheira.
-Tudo bem. -Concordei, por fim. Caminhei com somente a blusa cobrindo o meu tronco, mirando
discretamente o seu corpo delicado e a cinturinha fina marcada pelo lençol. Ele já havia se coberto até a
altura dos quadris.
Eu me joguei no colchão ao seu lado.
O alívio que senti foi imediato. Era muito confortável. A última vez que me senti tão entregue e
acolhido, tirando os momentos em que sempre estou ao lado de Naruto, foi na época em que dormia na
minha própria casa.
-Que delícia... -Murmurei com um sorriso, cobrindo-me até a altura de meu peito com o mesmo
cobertor do loiro. Rapidamente, senti suas mãozinhas correrem de encontro ao meu peitoral, puxando de
leve minha camisa como se pedisse por algo. -O que foi, hm?
Fitei seus olhinhos tímidos e adoráveis.
-H-Hm... Você pode tirar a sua blusa, Sasuke?
Franzi o meu cenho.
Sem entender aquele questionamento repentino, decidi conceder ao seu pedido. Afinal, a camiseta
estava mesmo apertada para mim. Retirei-a sem muito alarde, rindo docemente quando o meu bebê sorriu
em aprovação, abraçando-se a mim da mesma forma de sempre. O rosto colado ao meu peito e meus
braços entorno de sua cintura.
Foi só então que eu me toquei.
Talvez Naruto estivesse acostumado a me sentir sem blusa alguma tomando conta de meu tronco,
até porque, eu sempre andava dessa forma na penitenciária. Havia virado um costume nosso,
especialmente na hora de dormirmos juntos. Aquele era mais um tópico para a lista de manias que
continuávamos a seguir mesmo longe das grades.
-V-Você é tão gostoso de sentir, Sasuke. -Sussurrou com os olhinhos fechados, estalando um beijo
próximo de meus mamilos.
-Você também é, Naruto. -Devolvi com a voz enrouquecida, mordendo os lábios de leve ao sentir um
outro selinho seu, mas dessa vez, em cima de meu bico. -Muito mesmo.
Fechei meus olhos por breves segundos, me permitindo entregar a sensação de seus lábios macios
e molhados estimulando aquele pontinho, beijando lentamente e deixando-o cada vez mais endurecido e
sensível.
Suspirei pesado quando o meu bebê passou para o outro mamilo e, em um ato impulsivo, escorregou
a língua naquela área, corando solitariamente pelo arfada entregue que me arrancou com sua iniciativa
ousada.
Embrenhei-me entre seus fios úmidos e loirinhos, olhando para si enquanto o assistia chupar a minha
região, fechando seus olhinhos como se estivesse mesmo a receber o prazer em meu lugar. Gemi rouco e
baixinho com a visão, esfregando, discretamente, minhas coxas uma na outra, tentando aliviar aquele
incômodo entre minhas pernas.
Quando Naruto afastou seus lábios, estando prestes a retornar para meu outro mamilo, eu pude
senti-ló levemente relutante com alguma coisa. Com um último beijo molhado naquela mesma região, o meu
bebê levantou a sua cabeça, fitando-me em um misto de vergonha e vontade.
-S-Sasuke?
Afastei a sua franja, respirando ofegante.
-Fala, bebê...
-H-Hm... V-Você quer fazer amor comigo?
Eu jurei sentir meu membro se endurecer ainda mais. Entreabri os lábios em excitação,
umedecendo-os devagar enquanto fitava aquele rostinho inocente e angelical a esperar por uma reposta de
sua pergunta que, sem dúvidas, havia sido extremamente difícil para ser elaborada e colocada em prática
por si.
Naruto queria fazer amor comigo.
-Ah, bebê... Eu quero tanto.
Seu rostinho foi tomado por uma coloração rosada.
Acariciei as suas bochechas cheinhas e coradas, aproveitando-me do fato de tê-lo grudado ao meu
peito para passear por seus risquinhos adoráveis, admirando cada traço delicado e atraente que ele
possuía.
Eu o amava mais do que tudo.
-Deita direitinho, sim? -Pedi com a voz grave e tomada pela ansiedade, ciente de que, mesmo tendo
me pedido por isso, não seria ele quem daria os primeiros passos. -Isso, assim...
Quando o mesmo acomodou-se de maneira reta no colchão, deitando no travesseiro e com as
pernas ainda cobertas pelo lençol, eu me permiti ficar por cima de si, apoiando os braços dos dois lados de
sua cabeça, porém sem jogar o meu peso para não machuca-ló.
Lentamente, puxei as cobertas para longe de suas coxas, enquanto mordia meu lábio inferior por
possuí-lo pelado e exposto de corpo e alma embaixo de mim. Tirei alguns segundos para observá-lo. Os
lábios entreabertos, as bochechas rubras e os dedinhos apertando ansiosamente o lençol, implorando com
o seu olhar para que eu prosseguisse com os meus atos e fizesse amor consigo da maneira como queria.
Eu lhe daria tudo o que ele desejasse.
Por estar ciente, tanto da sua, quanto da minha ansiedade em relação ao nosso momento, optei por
ser breve e segurar na base de meu membro, prensando meus lábios ao começar a masturba-ló entre suas
pernas.
Naruto acompanhava tudo em silêncio, admirando-me indiscretamente enquanto e roçava suas
coxas manhosamente por não conseguir mais suportar tanta demora de minha parte. Estávamos bem
excitados.
Fiz questão de fixar meus olhos aos seus, direcionando minha ereção até a sua entrada para roçar
de leve naquela região, contendo meus gemidos com somente aquela sensação que, apesar de pouca, era
considerada uma das melhores para mim. Era o momento antes de fazermos amor. Aonde transmitíamos
confiança e gratidão um para o outro.
Comecei penetrando a minha glande. Fui deslizando calmo e cauteloso, arfando enrouquecido com
todas as expressões entregues e manhosas feitas pelo meu bebê. Sua testa franzida e o rostinho
avermelhado afundado no travesseiro, deixava cada mínima parte de meu corpo arrepiada.
Introduzi toda a minha extensão para dentro de si, estocando em movimentos sutis e excessivamente
lentos. Eu amava tanto ser carinhoso com o Naruto. Gostava de tratá-lo do jeitinho que ele merecia. Com
muito amor, cuidado e afeto.
Encostei nossos peitorais para ganhar mais acesso ao seu interior apertado, agarrando-me com um
braço na cabeceira, enquanto com o outro, decidi repousar em seus quadril, aproveitando para acaricia-lo a
medida em que estocava a sua entrada aveludada, atuando com tranquilidade para deixá-lo se acostumar
aos poucos com o meu tamanho.
-Assim, bebê? -Busquei por sua confirmação, sussurrando com os lábios próximos aos seus,
podendo, ainda mais de perto, acompanhar a sua respiração acelerada e entrecortada.
Em reposta, entrelaçou suas pernas na altura de minha cintura, permitindo que eu agisse e o guiasse
da maneira que bem entendesse e achasse mais prazeirosa para ambos. Seus olhos fechados, de alguma
forma, transmitiam-me a ideia de confiança. Era como se estivesse entregue ao ponto de não precisar
perder tempo conferindo meus passos e decidir se aprovava-os ou não.
Isso me deu mais confiança também.
Foi o momento certo para estoca-ló com um pouco mais de ritmo e intensidade, buscando a todo o
momento por seu pontinho sensível e difícil de ser alcançado. Seus gemidos logo tornaram-se mais
frequentes, soando agudos e manhosos em meio aos meus desconexos, que ecoavam sem parar com a
sensação pulsante de minha ereção o alargando e lhe causando espasmos a todo o momento.
Era tão bom. E, acima de tudo, quente. Minha pélvis era a que trabalhava mais ativa, se chocando
freneticamente ao seu interior para arrancá-lo gemidos longos e fininhos, além de suas unhas fincadas em
minhas costas, arranhando-me maravilhosamente até que estivessem atarracadas com minha bunda, a
apertando com força em um pedido por mais.
Eu gemi completamente embriagado.
-Isso, desse jeito, vai... -Afundei o rosto em seu pescoço, respirando ofegante e pesado naquela
área. Suas mãozinhas em contato com minhas nádegas haviam me derretido por completo. Era tudo tão
anestesiante. -Ah, assim ‘tá gostoso de mais, Naruto, eu te amo tanto.
O meu bebê sibilou confuso em resposta, mostrando-se indisposto a me responder com cem por
cento de coerência e concordância.
Mas, de certa forma, eu sabia que ele sentia o mesmo. Soube perfeitamente ao atingir o seu pontinho
mágico, surrando minha glande sem parar naquele nervo pequenino e sensível, deixando-o, literalmente,
nas nuvens.
Naruto gemia em estado de êxtase. Batia seu quadril ao meu em movimentos necessitados e, de
certa forma, atrapalhados, judiando de minhas nádegas com arranhões e apertos fortes, nem sequer
cogitando o quanto aquilo me deixava louco e à beira de meu ápice.
-Mhmm, bebê... -Mordisquei a curvatura suada e cheirosa do seu pescoço, sincronizando nossos
corpos a cada estocada minha. Com sorte, chegaríamos lá juntos.
Gemi arrastado ao sentir minha virilha formigar, esquentando-a por completo com a proximidade
prazeirosa de meu orgasmo. Minha pélvis se chocava em desespero e necessidade, causando um barulho
erótico e molhado por todo o cômodo, penetrando o corpo alheio em uma busca pela sensação que tanto
procurávamos em conjunto.
Foi quando a tão esperada onda de prazer me atingiu com força. Gemi grosso e abafado pelo nome
do meu bebê, chamando-o a todo o instante como se pudesse prolongar aqueles segundos maravilhosos e
fazer com que Naruto me desse cada vez mais daquilo.
Jorrei meu semen fortemente no seu interior, não desacelerando em momento nenhum, ciente de
que o loiro também estava a beira de seu ápice e ainda necessitava de minha boa vontade para continuar a
penetra-ló.
Mesmo próximo de meu esgotamento, estoquei-o mais algumas vezes, fechando os meus olhos ao
sentir seu corpinho se tremer por baixo do meu, gemendo manhoso pelo meu nome e contraindo o seu
interior, deixando, no final das costas, ambos os abdomens cobertos pelo seu semen.
Eu pude, por fim, ir parando aos poucos. Fui prestando atenção em cada gemido sensível do meu
bebê, respirando ofegante e trêmulo contra o seu pescoço, sem forças alguma para ir de encontro a luz
fraquinha do quarto.
Eu estava acabado.
E não só eu, como Naruto também.
Rocei meu rosto manhosamente na sua curvatura, estalando alguns selinhos delicados e molhados
enquanto o sentia afrouxar seu toque em meu traseiro, parecendo se dar conta de que ainda o segurava
entre seus dedinhos atrevidos.
-Eu te amo tanto, bebê...
Senti suas mãozinhas em contato com meu coro cabeludo, retirando os fios suados e grudados de
minha testa. Assim como eu, o loiro não possuía vontade alguma de mudar de posição, e muito menos abrir
os seus olhos.
-E-Eu te amo muito, Sasuke... -Devolveu timidamente, soltando um riso baixinho quando inalei o
aroma doce de sua pele.
Entrelacei meus braços na sua cintura.
-Vem cá, vem. Me abraça.
Puxei-o contra meu peito. A minha intensão era que retornássemos para a nossa posição inicial que,
além de estarmos antes de fazer amor, também era a que sempre ficávamos quando queríamos cair no
sono.
Beijei o topo de sua cabeça, sorrindo ao sentir suas mãozinhas repousarem em meu peitoral,
buscando por mais contato com o frio que fazia ao lado de fora. Mesmo com o aquecer, decidi cobrir os
nosso corpos com o edredom mais grosso e felpudo da cama, abraçando-o em um ato de carinho e para
aquecê-lo.
-Dorme bem, bebê. -Sorri amorosamente com o seu biquinho sonolento.
-H-Hm... Boa noite, Sasuke. -Beijou a minha pele.
Aquela era a nossa primeira noite longe da prisão, dormindo em uma cama diferente e longe de
nossos uniformes laranjas. Mas, sinceramente, não poderia ter sido melhor.
Aquele era só o início de uma nova fase.

Capítulo 33 - Historias para dormir


Itachi On

Após incontáveis horas vivenciando o verdadeiro significado de esforço, estresse e dedicação para
atravessar a trilha e, no final das contas, chegar nos chalés, eu estava, por fim, desfrutando da agradável e
terapêutica sensação que a água quente proporcionava por todo o meu corpo desnudo.
Aquele era, de longe, o melhor banho de toda a minha vida. Não só a minha pele, mas também o
meu interior, era enxaguado e ensaboado por completo, mandando pelo ralo todos os resíduos pesados e
negativos que precisei lidar durante a fuga.
Eu me sentia a salvo.
Havíamos chegado a menos de três horas, mas, de alguma forma, foi tempo o bastante para que eu
me acostumasse com a ideia de estar longe da penitenciária e me sentisse acolhido dentro daquele quarto.
Ele era, incomparavelmente, melhor do que a minha antiga cela. Desde as cores claras e suaves que as
paredes possuíam, até a cama de casal que, sem sombra de dúvidas, era a parte mais confortável e
convidativa de todas.
Estava tudo perfeito, exatamente como eu e Obito planejamos desde o início. Foi a decisão mais
plausível ter apostado e investido nesse plano, embora, em partes, ainda me martelasse a cabeça o fato de
que, muito em breve, teríamos que partir para um novo destino.
Não daria para permanecermos na mesma localização por um longo período de tempo. A polícia,
certamente, já estava a nossa procura e, apesar dos chalés serem bastante afastados e escondidos das
cidades, não podíamos simplesmente baixar a guarda e subestimar as forças investigadoras.
Eu ainda tinha muito o que pensar a respeito disso. Estava em minhas mãos selecionar um destino
bom e seguro o bastante para que eu e o restante dos meninos viajássemos.
Era muita pressão para mim. Por isso que, quantos antes eu me decidisse em relação a nossa futura
moradia, menos peso carregaria em minhas costas.
-...E eu juro que vou sentar a minha mão na cara daquela bruxa morfética!
Sacudi minha cabeça para espantar tantos pensamentos pessimistas e desgastantes, sabendo que,
pelo menos naquele instante, estava fora de cogitação deixá-los tomaram conta de minha mente. Mais tarde
eu me preocuparia com os próximos detalhes.
Ao mesmo tempo em que escutava Deidara tagarelar sobre algo que, honestamente, eu não fazia
ideia do que se tratava, meus olhos permaneciam fechados, permitindo com que as gotículas de água
escorressem por todo o meu corpo. Apenas uma fina e quase transparente cortina com a estampa de
caracóis era o que me separava do loiro. Do “outro lado”, prestava atenção no som distante da escova em
contato com os seus fios úmidos, penteando-os com violência a medida em que reclamava em voz alta.
-... Entendeu, Itachi?!
-Aham. -Murmurei sem fazer ideia do que ele estava falando, acabando por soltar um bocejo
comprido e audível pelo cansaço. -Chefe, me empresta a escova, por favor?
Houveram cinco segundos de seu silêncio.
Até que, em seguida, a cortina que nos separava foi aberta com brutalidade, deixando-me exposto e
surpreendido diante de tamanha “falta de privacidade”. Não que eu me importasse muito com esse detalhe.
Na verdade, o pior foi ter que me deparar com a expressão raivosa de Deidara, enquanto suas veias
saltavam para fora da testa.
-Nossa, chefe, o que foi?
-Foi um bocejo que eu escutei?! -Levantou a escova como um sinal de ameaça. Ele estaria mais
“assustador” se não fosse pelo coque adorável e bagunçado que tomava conta de seu cabelo, além da
calça de moletom rosa e larguinha que o mesmo vestia. -Você estava bocejando enquanto eu falava,
caralho?!
Lentamente, levei minha mão até o registro, o desligando sem fazer movimentos bruscos.
-Sim, eu estava... -Admiti relutante.
Seu rosto tornou-se inteiramente vermelho.
-Filho da puta! -Gritou abismado, atirando a escova na minha direção. Eu precisei segurar o objeto no
ar para que o mesmo não se despedaçasse na parede atrás de mim. -Então quer dizer que eu estou a meia
hora conversando sozinho, porra?! Você ao menos faz ideia do que eu estava falando?!
Tirei alguns segundos para pensar.
-Que eu sou um gostoso e você me ama?
Ele grunhiu enfurecido.
-Vai se foder, Itachi! -Deu um empurrão no ombro, fechando a cortina logo em seguida.
Cai na gargalhada dentro do chuveiro, ao mesmo tempo em que o escutava bater os pés em direção
ao quarto, dizendo coisas como: “Eu sabia desde o começo! Aquela bruxa te hipnotizou! Você caiu nos
encantos dela e não quer mais saber de mim, caralho!”.
-Ei, Deidara, volta aqui! Vamos conversar! -Espichei meu pescoço para fora da cortina, sorrindo
provocativamente na sua direção. -Do que você está falando, hein? Fala pra fora, poxa! Às vezes parece
que tem uma rola entalada na garganta e—
Do colchão, ele me atirou um travesseiro.
-A única rola entalada vai ser a minha no seu cu! Desgraçado! -Berrou enraivecido.
Comprimi meus lábios para segurar a risada, tomando a liberdade de me enrolar com a toalha e sair
do boxe com a mesma amarrada em minha cintura. Deixei o excesso de água pingar no tapete do banheiro
e, quando me considerei seco o suficiente, parti para o cômodo do lado.
-Dei? -Chamei doce, observando-o com o nariz empinado e apoiado contra a cabeceira da cama.
-Você está bravo comigo?
Seu pescoço virou-se agressivamente.
-Sim! Eu estou bravo!
Me aproximei com a escova de cabelo em mãos, sentando-me na ponta da cama.
-Poxa, então nem vai rolar de você pentear o meu cabelo? -Sacudi o pente próximo de seu rosto. Eu
sabia bem sobre a sua cisma em relação ao meu cabelo. Por alguma razão, o loiro se incomodava a cada
vez em que o via despenteado e embaraçado, e, quando podia, gostava de “dar um trato” no mesmo.
Ele bufou irritado e, sem dizer mais nada a respeito, arrancou o objeto de minhas mãos, parecendo
ter cedido aos seus instintos.
Abri um sorriso vitorioso, o qual foi instantaneamente interrompido por um tapa ardido atrás de minha
cabeça, indicando para que eu me virasse de costas. Fiz o que me foi solicitado, sentindo, em seguida, a
escova em contato com o meu cabelo, penteando-o brutalmente e sem pensar na minha dor.
Deidara estava fazendo aquilo de propósito.
-Caralho, chefe... -Resmunguei doloroso. Meu coro cabeludo ardia intensamente. E tudo ficava ainda
pior quando o pente era embrenhado entre os meus nós, puxando-os até que a minha raiz fosse
arrebentada. -Porra! Vai com calma, essa aí doeu!
Ele estalou outro tapa na minha cabeça.
-Seu marica! Você que pediu por isso, cacete, agora vai ter que aguentar até o fim!
-Chega, você é muito bruto! -Tentei me distanciar do colchão, mas sem sucesso. O loiro me segurou
por trás, puxando-me agressivamente pelos cabelos. -Ah, seu filho da puta! Meu pescoço até estralou!
-Eu falei pra você aguentar, porra!
-Você não faz o serviço direito! -Exclamei revoltado, empurrando a sua mão para o mais longe
possível. -Eu não quero mais! Me larga, seu pirado do caralho!
Deidara atirou a escova na minha cara.
-Se eu sou tão pirado assim, então por que você não pede pra bruxa morfética pentear esse ninho de
passarinho que você chama de cabelo, hein?! -Eu sabia bem que ele estava se referindo a Konan. -Anda
logo! Eu aposto que ela vai adorar te receber lá na recepção!
Eu estava prestes a retrucar com a mesma grosseria e acidez. No entanto, calei-me de imediato ao
presencia-ló baixar a cabeça, cruzando os braços enquanto olhava para o próprio colo. Foi nesse momento
que eu me dei conta. O loiro estava efetivamente inseguro em relação ao que ouviu a Konan dizer sobre
mim. Talvez estivesse até mesmo imaginando que nos conhecíamos de algum lugar, quando, na verdade,
eu jamais havia visto aquela mulher em toda a minha vida.
-Ei, Dei... -Deixei a briga anterior de lado, me arrastando de volta para a cama. Quando toquei por
cima de sua mão, ele a afastou lentamente. -Deidara? Qual é... Olha pra mim.
-Sai, Itachi. -Ordenou chateado. -Vai lá com ela, eu sei que vocês dois já tiveram um caso.
Soltei um riso fraco e nasalado.
-Você tem que parar com essa mania chata de acusar as pessoas de terem um caso com as outras,
chefe. -Sentei-me ao seu lado no colchão, pouco me importando se ele ainda desejava manter distância.
-Porra... Primeiro fui eu e o Sasuke, depois o Obito e o Danzou, e agora isso? Fala sério, né?
O loiro me olhou inseguro.
-Então quer dizer que vocês dois nunca se viram antes?
-Não, eu nunca vi ela na minha vida. -Respondi com honestidade. -E outra, Deidara, e se eu já
tivesse visto a Konan? E daí?
-Se você tivesse visto ela, eu—
Calei-o ao encostar meu indicador em seus lábios.
-Eu só tenho olhos pra você. -Declarei apaixonado, sorrindo quando suas bochechas ganharam uma
coloração um pouco mais avermelhada. -Quando você vai entender isso, hein? Seu cabeção...
Deidara fitou a parede ao seu lado.
-Eu te amo muito, sabia disso? -Toquei em seu queixo, atraindo-o de volta a mim. Ele era tão lindo.
Tanto que, de vez em quando, me pegava pensando se realmente o merecia. -Você é a minha maior fonte
de alegria.
Acho que, no final das contas, eu consegui arrumar um jeito de conquista-ló. Um sorriso leve e sem
graça tomou conta de seu rosto perfeito, assim como um suspiro pesado e pensativo vindo de seu interior.
-‘Tá, me convenceu. -Estalou a língua. -Eu acredito em você.
Abri um sorriso grandioso.
-E você não vai dizer que me ama de volta?
-Não. -Cruzou os braços em pirraça. -Você me chamou de “pirado do caralho”, Itachi. Eu não vou
esquecer dessa tão fácil, falou?
Ri em indignação.
-E você falou que o meu cabelo parece um ninho de passarinho! -Retruquei divertido. -Mas mesmo
assim eu disse que te amava!
-Esquece, eu não vou falar. -Empurrou o meu ombro. -Para de forçar!
-Está bem... -Levantei as mãos em rendição. -Mas se eu morrer essa noite, você vai se arrepender
pelo resto da sua vida, ouviu bem?
Ele me mirou tediosamente.
Ninguém mais caia ou dava moral aos meus dramas. Nem o Sasuke, e muito menos o Deidara. Para
falar bem a verdade, era mais possível que o Naruto começasse a acreditar nas minhas mentiras. Ele era o
mais ingênuo de todos nós, afinal.
-É aí que você se engana. Se você morrer, eu vou continuar em paz comigo mesmo. -Notei ele se
espichar até o travesseiro, dando a entender que gostaria de deitar-se. -Eu não vou me arrepender de coisa
nenhuma. Tudo o que eu tenho pra dizer, eu já te disse em vida, Itachi.
-Pois saiba que eu vou me certificar de que você não tenha mais paz enquanto viver. -Desamarrei a
toalha de meus quadris, buscando por uma cueca ao redor do quarto. -Se eu morrer, eu volto pra puxar o
seu pé, Deidara. Vou te perturbar até o seu último dia de vida.
Ele fez uma careta de desgosto.
-Porra... Já não basta te aguentar em vida, agora eu vou ter que te aturar na morte também? -Suas
mãos puxavam o cobertor até a altura de seu pescoço, procurando ficar o mais aquecido possível em meio
ao frio insuportável do lado de fora. -Vai assombrar o Naruto, não eu. Do jeito que aquele garoto é medroso,
é capaz de morrer do coração quando ver o seu fantasma.
Soltei uma gargalhada divertida.
-Imagina eu de fantasma? -Levei minha mão a cintura, fazendo uma “pose” para me exibir. -Eu ia ser
o mais gostoso de todos. Pálido, sarado, fortão e com a bunda bem durinha!
O loiro soltou um som tedioso.
-Vai cagar, Itachi. -Virou de costas para mim. -E bota logo uma cueca.
Olhei novamente ao meu redor.
-Não tem nenhuma cueca aqui, chefe.
-Tem sim, procura direito.
-Não tem não... -Revistei o pequeno closet do quarto, aonde, em tese, deveria haver algumas peças
de roupas disponibilizadas pelos funcionários dos chalés. -São todas menores do que eu. Não tem o meu
número.
Ele virou-se com os olhos estreitados.
-Ou será que essa é só mais uma desculpa sua pra ir até a recepção falar com a Konan?
Rolei os olhos fortemente.
-Depois dessa, eu vou dormir pelado.
-Preguiçoso do caralho. -Xingou ríspido. -Procura direito essa bosta! Folgadão!
-Ah, não... -Murmurei sofrido. -Eu já estou muito cansado. Vou dormir sem nada mesmo.
-Não se atreva!
Sem paciência alguma para argumentar e lutar contra a sua teimosia, eu logo tratei de me deitar ao
seu lado na cama. O loiro ficou a resmungar sobre o fato de precisar dividir o edredom comigo, mas, no final
das contas, ao sentir meu corpo em contato com o seu, pareceu mudar rapidamente de ideia.
Abracei-o carinhosamente por trás, aproveitando também para apagar o abajur na mesinha do
canto. Em seguida, afundei meu rosto em sua nuca, fechando meus olhos enquanto inalava o seu cheiro
doce e gostoso.
-Você cheira tão bem... -Elogiei embriagado, sentindo seus pelinhos se arrepiarem com o contato
breve de meus lábios em sua pele.
-Eu sei. -Respondeu convencido. -Diferente de você, eu tomo banho todo o dia, Itachi.
Soltei um riso baixo, acariciando sua cintura fina e acentuada por baixo da coberta. Eu nunca fui
alguém muito chegado com a ideia de dormir abraçado com outra e muito menos dividir uma cama, mas,
sinceramente, com o Deidara era diferente. Ele era confortável.
-Boa noite. -Murmurei sonolento, estalando um beijo na sua nuca. Aquilo era muito reconfortante.
Desde o ambiente escuro e silencioso em que nos encontrávamos, até o contato de seu corpo quente ao
meu.
-Boa noite. -Devolveu distante, quase entregue ao seu sono. -E eu também te amo.
Abri os meus olhos de abrupto.
-Como é?
Ele não me respondeu.
-Owwnt! -Impliquei entre risadas, sacudindo a sua cintura para lhe “despertar”. -Então você realmente
ficou com medo de eu morrer e se arrepender de não ter dito que me amava?!
Deidara choramingou incomodado, claramente esgotado para lidar com tanta agitação vinda de mim.
Ele só queria dormir.
-Sim, Itachi, eu fiquei morrendo de medo de me arrepender e ver você como um fantasma, parado no
pé da minha cama, todo pálido e com a bunda durinha. -Respondeu com a voz enrouquecida pelo sono,
virando seu pescoço minimamente para trás. -Dorme, caralho.
Sorri grandiosamente.
-Ah! Eu também te amo, chefe! -Beijei a sua bochecha de modo exagerado e molhado, escutando-o
resmungar um: “Que nojo, você babou em mim”. -Boa noite! Tenha bons sonhos, viu?! Sonha comigo! Um
sonho bem erótico, safado e com bastante sex—
-Cala a boca, cacete. -Pediu com o seu último fiozinho de paciência. Se Deidara não estivesse com
tanto sono, ele, sem dúvidas, já teria partido para a ignorância. -Dorme logo.
Eu decidi ceder ao seu pedido. Foi por pena, é claro. Entre todos os meninos, meu namorado foi
quem mais cansou durante a trilha, tanto que, diferente do restante, precisou ser carregado e quase perdeu
os seus sentidos.
Já estávamos ambos de olhos fechados. Em meio à escuridão, eu sentia seu corpo se encolher
contra o meu, buscando, inconscientemente, por mais contato diante do clima gélido ao lado de fora, algo
que, rapidamente, foi concedido por mim. O fato de estarmos abraçados foi o que me causou mais sono.
Como já citei anteriormente, o Deidara era muito cheiroso e confortável.
Eu estava prestes a adormecer. Aquele era um dos estágios mais comuns de meu sono, o mesmo
que, honestamente, fazia tempo que eu não vivenciava. Parece que, estar longe da prisão, espantava
grande parte de minha insônia e dificuldade diária para dormir.
Segundos antes de me deixar levar pelo cansaço, eu fui obrigado a reabrir meus olhos. Não só eu,
como Deidara também. Um som alto e incomum foi o que chamou a nossa atenção, dando a entender que
algo havia sido desligado ou até mesmo queimado dentro do quarto.
Era o som de algo “explodindo”.
-Que porra é essa? -Ele virou-se para mim. -É o registro do chuveiro que queimou?
Neguei com a cabeça.
-Acho que não. -Cocei os olhos, tomando a liberdade de ligar o abajur. -É a luz, talvez?
Foi a sua vez de discordar.
-Ah, eu já sei... -Riu sem humor. Foi só então que eu reparei na pequena quantidade de fumaça
saindo de sua boca. O quarto estava ficando frio novamente. -O aquecer queimou.
Eu quase chorei de tanta decepção. Estava tão bom daquele jeito. Ambos abraçados, confortáveis,
no calor e sem contratempos.
-Puta que pariu... -Reclamei amargurado.
-Que belo hotel hein, Itachi? -Implicou comigo, parecendo avaliar a máquina recém-queimada em
cima de nós. -Espelunca do caralho.
Eu o fitei em repreensão.
-Chefe, eu avisei que não ia ser nenhum hotel de luxo em Las Vegas, não avisei?
-Sim, mas você também não me avisou que ia ser essa pocilga. -Levantou-se contra a sua vontade,
ficando de pé no colchão para alcançar o aquecedor. -Agora sou eu quem vou ter que bancar o mecânico
nesse pardieiro dos infernos.
-Para de reclamar. Você sabe que essa era a nossa única opção, Deidara. -Deitei de lado na cama,
assistindo-o apertar aleatoriamente um monte de botões numa falha esperança de que a máquina voltasse
a funcionar. -Cuidado aí, eu não quero que você tome um choque.
-Eu sei o que estou fazendo... -Murmurou concentrado, franzindo a testa ao enfiar sua mão atrás do
aquecedor, acabando por encontrar, em consequência, a tomada.
Esbocei algumas caretas preocupadas e involuntárias ao assisti-lo mexer na parte traseira do
aparelho, no entanto, não protestei contra a sua iniciativa. Eu decidi confiar em suas habilidades como
“mecânico”.
No final das contas, não acabou sendo uma boa ideia deixá-lo trabalhar por conta própria.
Segundos depois, a situação mudou de modo drástico quando o loiro tocou em um ponto específico
da tomada, acabando por sentir algo bastante indesejável na palma de sua mão. Ele não levou nenhum
choque ou nada parecido, mas, em compensação, se deparou com algo ainda pior em seu ponto de vista.
Atrás do aquecedor, havia uma aranha.
Eu nunca vi o meu namorado tão desesperado em toda a minha vida. Foi pior do que na trilha, devo
admitir. Deidara simplesmente jogou o restante de sua sanidade fora e berrou. Berrou tão alto que,
sinceramente, se tivessem patrulhas policiais atrás de nós na mata, uma hora dessas, já teriam o escutado.
O aracnídeo, inicialmente, subiu em sua mão.
Mas, por conta de seu pânico e agitação, o inseto acabou “voando” para outro ponto do quarto e
sumiu no meio da escuridão.
A minha primeira reação foi socorrê-lo.
-Deidara?! -Levantei-me preocupado da cama, assistindo-o sacudir as mãos e dar pulos de agonia no
colchão. De acordo com os meus conhecimentos rasos sobre aranhas, aquela era uma “pernuda” que, com
sorte, era bem menos inofensiva se comparada a que lhe mordeu quando era menor. -Ela te picou?!
Ele negava totalmente fora de si, esperneando e desarrumando os lençóis embaixo de seus pés. Por
não saber ao certo como tranquiliza-ló, dei a volta no colchão, parando de frente para ele.
-Deidara, calma! -Tentei segurar em seu pulso, mas ele foi rápido em saltar de volta ao chão,
correndo para longe de mim. -Ei, aonde você vai?!
Ele parou de frente à saída.
-Eu vou dormir com o Naruto e o Sasuke! -Gritou desesperado e, de certa forma, irritado. Era como
se fosse minha culpa o inseto ter subido em sua mão. -Mata essa aranha, Itachi, senão eu não volto mais
aqui, caralho!
E sem mais nem menos, ele saiu correndo.
Fiquei parado e pelado com cara de idiota, absorvendo silenciosamente os últimos acontecimentos.
Eu não estava acreditando que precisaria mesmo caçar uma aranha inofensiva pelo quarto e, ainda por
cima, concertar um aquecedor meia boca.
Já do lado de fora, pude escutar com clareza o desespero de meu namorado, o qual esmurrava a
porta número 5, ou seja, a do outro casal, para que eles o deixassem entrar.
-Abre essa joça, caralho! -Ele berrava sem dar a mínima para os outros hóspedes. Era de se
impressionar que Obito não tenha saído para ver o que estava acontecendo, se bem que tinha uma grande
chance do mesmo estar capotado de sono. -Sasuke, Naruto, socorro!
A porta do chalé foi aberta violentamente.
-Mas o que é que está acontecendo aqui? -Aquela voz sonolenta e assustada pertencia ao meu
irmão. Eu nem precisei vê-lo para saber que o mesmo estava horrorizado com aquela gritaria toda e
provavelmente achando que a polícia havia nos encontrado. -Você está bem?! Cadê o Itachi?!
-Me deixa entrar! -Pelo baque, deduzi que Deidara havia o empurrado para o lado e adentrado o
quarto velozmente. Eu logo comprovei a minha teoria ao escutar Naruto chorando baixinho, também
imaginando que algo sério havia acontecido. -Meu Deus, eu vou morrer! Ela encostou em mim! Subiu na
minha mão, Sasuke, na minha mão!
-Quê?! -Ele já não entedia mais nada. -Quem subiu na sua mão?! O Itachi?!
Gargalhei solitariamente.
Eles não estavam falando coisa com coisa.
-A aranha, puta que pariu! -Berrou enlouquecido. -A aranha subiu em mim!
Tanto Sasuke, quanto Naruto, se calaram durante alguns segundos, provavelmente se dando conta
de que, todo aquele drama e gritaria desesperadora, era por conta de um inseto, e não uma perseguição
policial.
Depois de um longo período de silêncio, pude ouvir meu irmão se pronunciar irritado.
-Com todo o respeito, Deidara, mas você é completamente maluco. -De fundo, reparei nos soluços
de Naruto diminuindo aos poucos. -Olha o estado que você deixou o seu irmão. Olha como você me deixou,
cara, eu to tremendo... Que absurdo.
-Vai tomar no cu, seu morfético! -Respondeu com a mesma grosseira. -Eu queria ver se fosse você
tendo que lidar com uma colmeia de vespas dentro do seu quarto! Certeza que você ia armaro chilique do
século!
-Não, eu não ia. -Rebateu ácido. -Eu acho que pensaria antes de bater na porta alheia gritando e
pedindo socorro às três da manhã depois de fugirmos de uma prisão.
-Não interessa! -Pelo rangido vindo do outro cômodo, imaginei que ele estivesse se deitando na
cama do casal. -Eu vou dormir aqui! Queiram vocês, ou não!
Logo em seguida, os diálogos foram ficando cada vez mais distantes, visto que Sasuke tomou a
liberdade de fechar a porta, ao mesmo tempo em que resmungava algo como: “Eu quase fiz xixi nas calças,
cara”. Eu, por outro lado, continuei parado em frente à entrada, refletindo se deveria seguir com o pedido de
meu namorado, me dar o trabalho de caçar a aranha e concertar o aquecedor, ou se deveria simplesmente
largar mão de tudo e também ir dormir no quarto do Sasuke.
A opção dois me pareceu mais plausível.
Sem forças alguma para permanecer no frio e na companhia de uma aranha, fui atrás de minha
toalha e, somente para não sair nu e morrer de hipotermia, amarrei-a em minha cintura novamente. Passei
para o lado de fora, sentindo na pele o choque térmico gigantesco causado pela ventania gélida e áspera.
Deveria estar uns dez graus ou menos. Mas, de qualquer forma, eu tive sorte do chalé número 5 ser,
literalmente, grudado com o 6.
Em pouquíssimos segundos, eu já estava de frente a porta. Deduzi que a mesma estivesse
destrancada por conta do incidente anterior, por isso, decidi girar a maçaneta sem alarde e sem bater antes.
Eu estava correto, afinal.
Quando a escancarei, tentando a todo o custo fugir do frio exterior, suspiros assustados,
acompanhados de um gritinho fino, o qual, de imediato, identifiquei por pertencer a Naruto, tomaram conta
do quarto. Ninguém esperava que eu também fosse aparecer por ali.
-Ah, pronto... -Sasuke murmurou amuado. Pelo o que pude reparar, ele estava prestes a se deitar de
volta na cama para consolar o seu namorado que, por sinal, ainda chorava baixinho e apavorado. -Virou
festa isso aqui.
Deidara, que encontrava-se deitado na ponta do colchão, me fitou em um misto de medo e
expectativa.
-Você matou a aranha, Itachi?!
-Não. -Me apoiei no batente da porta. -Eu desisti. Fiquei com preguiça de procurar ela.
-Porra! -Socou o travesseiro. -Eu que não volto mais lá! Pode esquecer, ouviu?!
-Eu também não vou voltar. -Comecei a adentrar o cômodo, arrancando olhares nada agradáveis de
meu irmão, o qual, certamente, tinha o desejo de ficar a sós com o Naruto. -Pelo menos aqui o aquecedor
ainda funciona.
-Que saco... -Ouvi Sasuke murmurar, estalando a língua enquanto embolava-se com o edredom
caído no chão. Eu passei a observá-lo atentamente. Tanto o seu estado, quanto o de Naruto, me chamou
bastante a atenção. Era como se ambos houvessem se trocado às pressas. Estavam com as calças de
moletom do avesso, cabelos bagunçados, além do loiro também estar sem a sua camiseta, algo que, pelo
menos no seu caso, era incomum. -Olha essa bagunça...
Eu abri um sorriso malicioso.
-Nossa... -Me pronunciei em um falso tom de surpresa, fingindo inalar o cheiro do quarto. -Que cheiro
de sexo é esse, hein? O que é que vocês aprontaram aqui dentro, cambada?
Sasuke me fitou mortalmente.
O loiro mais novo, por sua vez, acabou lhes “entregando” ao corar violentamente, olhando para o
próprio colo enquanto mordia os lábios.
Eu acertei em cheio.
-Olha aí, chefe... -Ri entretido. -Acho que rolou uma festinha antes da gente chegar.
-Você vai entrar logo de uma vez, ou vai ficar falando merda ai na porta, Itachi? -O moreno indagou
amargurado, me olhando de cima abaixo com a testa franzida. -E por qual motivo você está só de toalha
nesse frio?
Fiz uma pose “sexy” no batente da porta.
-Gostou? -Sorri divertidamente, escorregando minha mão de maneira lenta e “provocante” por toda a
extensão de meu abdômen. -Eu vim aqui desfilar pra vocês.
Ele me fitou com tédio e impaciência.
-Se vocês quiserem, eu posso fazer um striptease. -Caminhei até o centro do quarto. -É a minha
especialidade.
-Vai se trocar logo. -Ordenou irritado, terminando de dobrar o edredom que, anteriormente,
encontrava-se amaçado no chão, provavelmente por conta de sua afobação em atender a porta e socorrer o
Deidara. -Eu e o Naruto estamos com sono. Ninguém aqui quer te ver pelado, Itachi.
-Eu quero ver! -Deidara pediu brincalhão, ciente de que, caso alguém me desse corda, eu levaria a
brincadeira até o fim. -Vai, Itachi! Mostra pra gente a sua “especialidade”!
Sorri vitoriosamente.
Mesmo sem o incentivo e a aprovação dos outros dois garotos, deixei a toalha deslizar lentamente
até os meus pés, arrancando uma gargalhada entretida de meu namorado, enquanto Naruto que, segundos
antes, havia tomado a terrível iniciativa de me espionar, corou ferozmente com a cena e escondeu o rosto
na palma da mão.
-Podem olhar mais um pouco, eu não ligo. -Levei a mão a cintura, desfilando como um “modelo” em
direção o closet de meu irmão, a fim de procurar por uma cueca descente para vestir. -Eu sei que eu sou
gostoso.
Sasuke correu para tapar os olhos de seu namorado.
-Coloca logo uma roupa, Itachi! -Gritou ríspido, permitindo que o loiro escondesse o rosto em seu
peito. -Que absurdo! Não faça essas coisas na frente do Naruto, porra!
-Nossa, mas que exagero, hein? -Eu procurava a cueca de forma propositalmente lenta, apenas para
lhe deixar irritado. -É só um corpo, gente... Os homens das cavernas andavam pelados o tempo todo,
sabiam disso? As roupas foram inventadas bilhares de anos depois, seus ignorantes.
-Verdade! -Deidara concordou, divertindo-se com todas as reações hilárias dos meninos. Sasuke já
estava mais do que acostumado com as minhas loucuras, no entanto, Naruto era, de longe, o mais
envergonhado de todos. Ele nem sequer olhava na minha direção. -Um corpo é só um corpo! Tudo o que o
Itachi tem, a gente também tem!
-Uhum, exato... -Murmurei sorridente. -A única coisa que vocês não tem, é a minha beleza.
Sasuke atirou um travesseiro na minha bunda.
-Nós já saímos da pré-história a um bilhão de anos! Se você quiser desfilar pelado, vá fazer isso em
numa praia de nudismo, não na frente do meu namorado! -Ele literalmente espremia o face de Naruto contra
seu peito, impedindo-o de ver qualquer coisa.
Deidara deu pulos animado.
-Itachi, vamos em uma praia de nudismo?!
-Vamos! -Concordei de imediato.
Dessa vez, Sasuke me atirou um sapato.
-Põe a porcaria da cueca!
-Tá bom, tá bom... -Resmunguei, já prevendo a baita discussão que precisaria enfrentar caso
decidisse passar mais um segundo sem roupa. Peguei uma cueca qualquer do armário, vestindo-a com o
olhar irritado de meu irmão queimando em minhas costas. -Pronto, Sasuke, pode libertar o seu namorado.
Naruto afastou seu rosto lentamente.
-Você não tem juízo, Itachi. -Murmurou ácido, deitando-se novamente ao lado do loiro. Apesar de
estar no meio do colchão, Naruto optou por se virar na direção de Sasuke, permitindo que o mesmo lhe
puxasse de volta aos seus braços. -Vem cá, bebê.
-H-Hm... Vocês são doidinhos, meninos. -O loiro acusou, sendo acolhido por meu irmão que, sem
retirar seus olhos dos meus, beijou-o protetoramente no topo da cabeça. -Eu até perdi um pouco do sono...
E você, Sasuke?
-Eu também. -Suspirou derrotado. -Mas pode ter certeza que eu vou dormir bem rapidinho se o Itachi
e o Deidara saírem daqui, voltarem pro quarto deles e deixarem a gente a sós.
O loiro mais velho riu desdenhoso.
-Pode esquecer! -Agarrou-se fortemente no colchão. -Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira! Vai
você dormir no frio e na companhia de uma aranha, Sasuke!
-Eu não. -Respondeu seco. -Vai vocês. Esse quarto é meu e do Naruto, esqueceram?
Me aproximei sorridente da cama.
-Dá um espacinho? Eu vou deitar também.
Sasuke choramingou em decepção.
-Bebê... Eu to pensando seriamente em ir dormir no outro quarto com as aranhas. -Afundou o rosto
em seu pescoço. -O que você acha? Eu não quero ficar aqui com eles.
Naruto riu baixinho.
-H-Hm... Tadinhos, Sasuke. -Sorriu em nossa direção. -Eu gosto da companhia do Itachi e do Dei.
Por mim vocês podem ficar, meninos.
-Há! Toma na cara! -Gritei provocativamente, vindo acompanhado da voz de fundo de meu irmão, o
qual murmurou um: “Eu não esperava isso de você, bebê”. -Vai, passa logo pro lado, Sasuke, eu vou deitar
também!
Ele me fitou em desespero.
-Você vai deitar do meu lado?!
-Sim! -Exclamei empolgado.
Deidara, por sua vez, estalou a língua.
-Ah, não! Vai dormir no outro quarto, Itachi, aqui já está cheio! -Apontou para a porta, literalmente me
expulsando do cômodo. -Não dá pra ficar com quatro mamutes em cima desse colchão! A gente vai quebrar
a porra da cama!
-Mamutes, cara? -Sasuke repetiu ofendido.
-É, mamutes! -Deu tapas em sua própria barriga, querendo mostrá-lo as “banhas” presentes na
mesma. -Quanto vocês apostam que a gente vai arrebentar o pé dessa cama?!
Me sentei na ponta do colchão, dando alguns pulinhos para testar a resistência das “molas”.
-Bom... -Sorri maliciosamente em direção ao casal. -O Sasuke e o Naruto já deram conta dela antes
da gente chegar aqui, chefe. A cama já deve estar quebrada faz tempo.
O moreno estreitou os olhos, desaprovando meu comentário desnecessário ao presenciar o rosto de
seu namorado tornar-se um verdadeiro tomate, enquanto o mesmo se encolhia entre os seus braços.
-Argh, que nojo! -Deidara fingiu estar vomitando, limpando as mãos freneticamente na calça de
Naruto. -Eu espero não ter tocado em nenhum líquido branco e suspeito!
Sasuke rosnou impaciente.
-Então vão embora daqui! -Foi a sua vez de apontar para porta. -Se vocês estão tão incomodados
com a cama, com líquidos suspeitos e com mamutes, saiam logo!
-Eu já disse que daqui eu não saio, caralho! -O loiro persistiu determinado. -Eu vou ficar!
-Então vê se para de reclamar!
-E quem você pensa que é pra falar assim comigo, hein?! -Ele levantava o travesseiro para
ameaça-ló. -Eu sou quase três anos mais velho que você! Me respeita, seu pirralho!
-É você quem tem que respeitar, você está no meu quarto! -Rebateu sensatamente.
-Ei, ei, ei... -Baixei a almofada das mãos alheias. Já estava muito tarde da noite, fora que, a horas
atrás, havíamos passado por muito estresse. Não era uma boa brigáramos novamente. -Vamos dormir, sim?
Naruto assentiu com a cabeça.
-H-Hm... Isso. Vamos dormir, meninos. Eu não gosto quando vocês brigam. -Olhou de maneira doce
e inocente até o meu irmão. -Eu estou ficando com muito sono, Sasuke.
Imediatamente, o moreno pareceu se derreter e entregar-se ao pedido de seu namorado, sorrindo
carinhoso quando o mesmo soltou um bocejo baixinho e, de certa forma, fofo.
-‘Tá com sono, bebê, hm? -Murmurou ao lhe roubar um selinho, suspirando apaixonado com a cena
do loiro coçando seus olhos e se permitindo aconchegar-se entre seus braços.
-U-Uhum...
-Tudo bem, então. -Puxou o edredom para cobri-lós por inteiro. Foi nesse momento que eu aproveitei
para me deitar também, me posicionando na ponta esquerda e ao lado de Sasuke. Deidara estava em uma
ponta, eu na outra, e Naruto entre Sasuke e o seu irmão. -Boa noite, bebê, dorme com os anjinhos.
Revirei os olhos com tamanha breguice.
-H-Hm... Dorme com Deus, Sasuke.
-Eu te amo muito, Naruto, muito mesmo. -Eles continuaram a se comunicar, sussurrando como se
não estivéssemos ao lado deles e escutando palavra por palavra. -Sabia que você é o amor da minha vida,
hm?
Naruto riu baixinho e sonolento.
-V-Você é a pessoa que eu mais amo no mundo, Sasuke. Sabia disso? -Pelo estalo baixinho, deduzi
que ambos houvessem trocado um selinho. -Eu te amo muitão, mais do que a sua altura junto com a do
Itachi.
-Ah, é? -Sasuke riu carinhoso, me deixando cada vez mais entediado com o papo. -Então você me
ama bastante mesmo, né? Porque o Itachi é um poste. -Deu uma pausa comprida, refletindo
silenciosamente sobre o que acabara de afirmar. -Não, ele é bem mais do que isso... O Itachi é a Torre
Eiffel.
Virei o meu pescoço ameaçadoramente.
-Vai se foder.
-Vai você. -Ele devolveu.
-Vai tomar no cu todo mundo, que tal? -Deidara xingou do outro lado. -E para de puxar esse cobertor,
porra! -Arrancou o tecido do corpo de Naruto. -Aprende a dividir!
Ri desacreditado.
-Olha só quem fala, chefe.
Ele levantou a cabeça para me fitar.
-Escuta aqui, seu morfético, eu vou—
-H-Hm... Calma, Dei. -Naruto acalmou a situação, cedendo a parte de seu cobertor para si. Como só
havia um edredom no colchão todo, ficava difícil de cobrir todo mundo. Eu, por exemplo, estava sem nada
para me esquentar. -Pronto, vê se agora melhorou.
-Melhorou. -Murmurou emburrado.
O mais novo soltou uma risadinha carinhosa.
-Boa noite, Deidara. -Beijou a sua bochecha rapidamente, deixando-o com uma carranca amuada
antes mesmo de virar-se novamente para o meu irmão. -Boa noite, Sasuke.
-Boa noite, bebê.
-H-Hm... Boa noite, Itachi. -Ele falou até mesmo comigo. -Dorme com os anjos.
-É... Boa noite. -Bocejei longamente.
Por fim, caímos no tão aguardado silêncio.
Fui eu quem tomei a iniciativa de desligar o abajur. Simultaneamente, todos pareceram entrar no
clima escuro e aconchegante do quarto, permitindo-se fechar os olhos e tentar adormecer de uma vez por
todas.
Assim como os meninos, eu também me forcei a fazer o mesmo. Fechei minhas pálpebras e me
encolhi no colchão, abraçando meu próprio corpo numa falha tentativa de espantar o frio. Mesmo com o
aquecedor no máximo e funcionando a todo o vapor, o edredom ainda me fazia muita falta.
Inicialmente, para fugir da temperatura congelante, tentei puxar parte do tecido felpudo para mim. É
claro que o meu plano não certo. Deidara foi o primeiro a notar a minha movimentação, estalando a língua
enquanto resmungava um: “Para, caralho”.
Eu suspirei derrotado.
Meu corpo já estava começando a tremer. Foi uma péssima ideia ter vestido apenas uma cueca, se
bem que eu não imaginava que precisaria dividir a cama com outras três pessoas, sendo que, uma delas,
no caso, o meu namorado, é extremamente egoísta.
-Que droga... -Reclamei sozinho.
Com um olhar de cachorro pidão, observei a cena dos três garotos cobertos, quentinhos, grudados e,
no caso de Sasuke e Naruto, até mesmo abraçados um com o outro. Eu comecei a sentir vontade de fazer o
mesmo.
Me aproximei de meu irmão que, mesmo com as costas viradas para mim, eu tive certeza de que já
estava quase adormecido, e me permiti abraçá-lo por trás. Eu acho que, no final das contas, o toque gelado
de minha mão acabou lhe incomodando, fora o barulho frenético de meus dentes se batendo uns contra os
outros.
Sasuke se remexeu desconfortavelmente.
-Argh, Itachi... -Reclamou sonolento. -Sua mão está muito fria. Me solta.
-Foi mal. -Aqueci minhas palmas. -Pronto, agora melhorou.
Eu o abracei novamente.
-Sai daqui... -Sacudiu seu corpo para que eu lhe largasse, aparentemente incomodado com a minha
proximidade. -Você está todo gelado.
Estalei a língua.
-Fica parado. -Imobilizei-o para que ficasse na posição em que eu desejasse e achasse mais
aconchegante. -Eu preciso de contato humano pra me aquecer. O edredom não me alcança.
-E o que eu tenho a ver com isso? -Sussurrou irritado, fazendo de tudo para que Naruto não
acordasse entre os seus braços, embora eu tivesse quase certeza de que ele ainda estava desperto. -Eu
não quero contato humano.
-Ah, engraçado que com o “seu bebê” você fica agarradinho, né? -Impliquei desdenhoso.
Ele se virou com uma carranca.
-Você nunca me abraçava quando eu pedia, Itachi. -Respondeu amargurado. Ele estava jogando
sujo. Falando dos meus erros do passado somente para me atingir. -Lembra disso? Eu te abraçava, mas
você sempre me empurrava e me maltratava. Agora sou eu quem não quero mais.
Do outro lado da cama, Deidara começou a aplaudir.
-Essa doeu em mim! -Simulou um barulho para fingir estar machucado e atingido. -É isso aí, Sasuke,
mandou bem. Lei do retorno!
-Agora fica aí passando frio. -Sasuke acrescentou, virando-se mais uma vez ao seu namorado, o
qual, até então, não havia demonstrado nenhum tipo de interesse em participar da conversa.
-Toma na cara, Itachi! -O loiro continuou a me provocar, deixando-me com uma feição fechada e
levemente chateada. -O Sasuke disse tudo! Você era a própria radiação! Ninguém te suportava de tão
tóxico!
-Uhum. -Meu irmão concordou. -Você me proibia de dar a minha opinião, falar com o Naruto, e até já
atirou uma bola de basquete na cara dele.
-É, isso aí! O coitado até desmaiou!
Cruzei meus braços e mirei o teto com um ar irritadiço, mas, de certa forma, arrependido. Na minha
cabeça, todos já haviam esquecido e superado as minhas “mancadas” do passado. Mas, aparentemente, o
“velho Itachi” ainda existia para todo mundo.
-H-Hm... Gente? -Naruto chamou baixinho e sonolento. Seus olhos permaneciam fechados, apesar
de que, desde o início, ele parecia estar atento a conversa. -Não fala assim do Itachi, tadinho. Ele se
arrependeu de todas as coisas ruins que fez e evoluiu. Agora é a nosso dever perdoar e deixar o passado
para trás, vocês não acham?
Sasuke e Deidara prestavam atenção.
-D-Do que vai adiantar vocês ficarem jogando na cara dele tudo de mal que ele já fez? -Bocejou entre
uma palavra e outra. -Eu não gostaria que as pessoas ficassem me lembrando sobre os meus erros, vocês
gostariam? Deve ser muito difícil e doloroso tentar mudar, mas ser constantemente relembrado dos seus
arrependimentos.
Discretamente, eu abri um sorriso.
O Naruto era quase um anjo. Quase.
Meu irmão, por outro lado, começou a ficar cabisbaixo. Era surpreendente a maneira como o seu
namorado tinha influência sobre si e na maneira como pensava. Naruto quase sempre o fazia mudar de
opinião ou enxergar as coisas em um ponto de vista diferente.
-H-Hm... Você não acha que deve pedir desculpas pro seu irmão, Sasuke? -Sugeriu sensivelmente,
deixando-o com um ar choro e pensativo.
Ele se virou novamente para mim.
-Me desculpa, Itachi.
-Tudo bem. -Sorri fraco.
-Eu deixo você me abraçar. -Ofereceu-me os seus dois braços. Ri com a sua mudança de humor e
opinião drástica, mas aceitei o abraço de bom grado, sorrindo para Naruto que, naquele instante, assistia
toda a cena.
-Obrigado. -Sussurrei para si.
Ele assentiu com um sorriso doce.
-H-Hm... E você, Dei? -Cutucou o seu irmão. -Não vai pedir desculpas pro seu namorado?
-É... Foi mal aí, Itachi. -Me mandou um beijo no ar. -Mas você era tóxico sim!
Separei o meu abraço com o Sasuke, fitando-o com cara de poucos amigos.
-Você não estava dormindo não, chefe?
-Eu não consigo dormir! -Retrucou com raiva, se remexendo sem parar entre os lençóis. -‘Tá muito
apertado com quatro mamutes aqui! A bunda do Naruto ocupa todo o espaço e me joga pra fora do colchão!
O mais novo se encolheu com o comentário.
-Olha o tamanho disso! -Deidara afastou o cobertor, “revelando” o traseiro de seu irmão. -Não dá pra
dormir com esse troço virado pra mim!
Sasuke estalou a língua em reprovação, abraçando o loiro por trás ao notar que o mesmo virava o
traseiro timidamente para si, tentando a todo custo escondê-lo de nós.
-Se ele resolve me dar uma bundada, eu morro na hora! -Persistiu no mesmo assunto.
-P-Para, Dei... -Choramingou atingido, sendo, a todo o instante, consolado por meu irmão, o qual lhe
acariciava por trás. -Eu não gosto quando você fala assim de mim.
-Eu não estou falando de você! -Rebateu inconveniente. -Eu to falando desse rabão gigantesco que
você tem, caralho!
Sasuke negou desacreditado.
-Para, gente. -Pediu sério. -Porra, mas que saco, vocês só sabem falar de bunda.
-U-Uhum... É verdade. -Naruto acrescentou com um biquinho. -É muito chato.
-É insuportável pra caralho. -Resmungou ácido. -Todo mundo já estendeu que a bunda do Itachi é
feita de aço e a do Naruto é grande. Vocês falam disso o tempo todo, já encheu o saco.
-Você diz isso, porque tem inveja! -Deidara acusou. -Admite de uma vez!
-É isso aí. -Me intrometi no diálogo, sorrindo convencido. Aquela era a brecha perfeita pra implicar
com o Sasuke. -Você morre de recalque porque a minha bunda é durinha, a do Naruto é grande, a do
Deidara é arrebitada e a sua não passa de dois pneus furados!
O loiro mais velho começou a gargalhar.
Ambos rimos muito, muito mesmo. De vez em quando, eu mesmo me surpreendia com a minha
capacidade incrível e inalcançável de criar piadas e elaborar xingamentos de última hora. Era um dos meus
melhores dons.
Sasuke, por sua vez, ficou verdadeiramente ofendido. Ele tinha mesmo o menor traseiro se
comprado ao restante do grupo, no entanto, era a primeira vez que eu citava esse fato em volta alta.
-“Pneus furados” foi bom de mais! -Deidara secava suas lágrimas de alegria. -Porra, pior que parece
muito! A bunda do Sasuke é tão miúda que parece dois pneuzinhos murchos!
-Sim! -Concordei entre risadas, dando um toque de mãos com o mesmo.
Naruto franziu a testa em um misto de irritação e desconforto, abraçando o seu namorado ao notar
que o mesmo nem se deu o trabalho de defender-se dos comentários.
-M-Meninos, isso não foi legal. -Chamou a nossa atenção -Não é certo falar do corpo dos outros.
-Argh, franguinho! -Empurrou seu ombro. -É só uma brincadeira! Vocês são muito sensíveis!
-É, cara! -Concordei descontraído, cutucando meu irmão que, naquele momento, permanecia de bico
e com os braços cruzados, recebendo carinho, atenção e, como o habitual, sendo mimando pelo seu
namorado. -A bunda do Sasuke é normal, eu estava só zoando!
Ele me fitou enraivecido.
-Eu vou dormir no outro quarto. -Deu sinal de que se levantaria. -Bebê, me desculpa, mas eu não
quero mais ficar aqui. Eu estou morrendo de sono e só quero dormir em paz.
Naruto se desesperou.
-N-Não, Sasuke... -Segurou em seu pulso, impedindo-o de levantar. Ele possuía um olhar choroso e
pidão. -Fica comigo, por favor.
É claro que meu irmão iria repensar.
-H-Hm... A gente vai ficar quietinhos, eu juro. -Olhou até mim como um pedido para que eu
reafirmasse sua promessa. -Não é, meninos?
Como eu também não gostava nenhum pouco da ideia de ter o meu irmão no outro quarto, sozinho e
morrendo de frio por conta do aquecedor quebrado, eu acabei concordando.
-Sim, vamos ficar bem quietinhos. -Prensei os lábios para não rir. -Deita aí, Sasuke.
O moreno estreitou os olhos em desconfiança.
-Está bem... -Cedeu ao chamado de seu namorado, que gesticulava para ele se deitasse ao seu
lado. -Mas nós vamos dormir mesmo, né? Eu estou podre de sono. A gente andou o dia todo e eu só quero
descansar.
-U-Uhum... Pode confiar. -O loiro assentiu positivo. -Vem cá me abraçar, Sasuke.
O moreno sorriu com carinho. Aceitou a mão estendida de Naruto, permitindo-se ser guiado até que
estivesse na mesma posição de antes. Agarrado com o seu namorado.
-Pronto, cambada. -Bocejei audivelmente. -Vamos dormir agora. Até eu estou ficando com sono.
-Agora fui eu quem perdi o sono. -Deidara se pronunciou. -Vai, Sasuke, canta aí pra gente dormir!
Uma música de ninar!
-Não. -Negou cansado.
Naruto, por sua vez, se animou com a ideia.
-H-Hm... Eu amo muito quando você canta pra mim, Sasuke. -Revelou amorosamente, deixando o
outro com um sorriso sonolento e carinhoso. -A sua voz é muito linda.
-Obrigado, bebê... -Ambos deram um selinho.
-Canta pra gente, Sasuke. -Dei corda.
-Não, eu não canto na frente das pessoas. -Bocejou esgotado. -Só na do meu bebê...
-Vai logo! -Deidara insistiu entusiasmado. -A sua voz me dá o maior sono!
-Não, gente, esquece.
-Canta, canta, canta! -Comecei a bater palmas, sendo acompanhado por Deidara. -Poxa, só uma
palhinha! Canta sertanejo!
-Sertanejo nada! -O loiro reprovou. -Manda um rap aí pra gente, caralho!
-Sim! A gente solta a batida e você faz o rap!
Sasuke grunhiu com impaciência.
-Canta você, Itachi! -Gritou comigo. -Se você quer tanto assim, canta por conta própria!
-Ah, está bem, já que você insisti... -Cocei a garganta, abrindo minha boca para começar a
cantarolar. No entanto, fui rapidamente interrompido por um travesseiro em contato com a minha cara.
-Quem foi que fez isso?!
-Fui eu mesmo! Você canta mal pra cacete, Itachi! -Deidara xingou. -Ninguém é obrigado a te escutar
se esguelhando! Queremos os nossos ouvidos intactos, muito obrigado!
Lhe lancei meus dois dedos do meio
-Gente, por favor... -Sasuke choramingou, escondendo a face no pescoço alheio. -Eu só quero
dormir, só isso... É pedir demais?
-Mas eu ainda estou sem sono! -Deidara argumentou. -Eu acho que não vou mais conseguir dormir!
Sorri sugestivamente em sua direção.
-Quer que eu te conte uma historinha pra dormir, chefe?
Ele me devolveu o mesmo olhar.
-Eu quero. -Sorriu brincalhão. -‘Bora fazer aquele jogo que todo mundo daqui provavelmente já
brincou na infância? -Sugeriu-me aleatoriamente. -Sabe do que eu estou falando? Você começa inventando
uma história, daí eu continuo contando do meu jeito, até chegar num ponto que não dê mais pra continuar e
a gente fique com sono.
Naruto pareceu se animar com a sugestão.
-H-Hm... Eu posso jogar também, Dei? -Sorriu inocente. -Eu adoro contar histórias!
-Oh, sim... É claro que você pode jogar. -O mais velho sorriu maldoso para mim. Ambos estávamos
pensando o mesmo. Era óbvio que causaríamos muito naquela brincadeira. -Sasuke, você também está
incluído.
-Eu não quero participar... -Resmungou seco e sonolento, mantendo-se soterrado na pele de Naruto.
-Não contem comigo.
-Ninguém aqui está te perguntando nada, nós estamos afirmando que você vai participar! -Deidara
rebateu. -Vai, você começa, Itachi.
-Certo... -Forcei um som pensativo, sorrindo ao me deparar com a ideia perfeita para iniciarmos a
nossa história. -Em uma noite chuvosa, duas amigas voltavam a pé para casa. Elas estavam saindo de uma
festa, e uma delas estava bêbada e toda vomitada.
De canto de olho, reparei Naruto torcer o nariz, mostrando-se pouco atraído à maneira como a
história se iniciou, no entanto, decidiu não comentar nada a respeito.
-É a sua vez, chefe.
-Hmm... -Ele tirou alguns segundos para refletir, espremendo os olhos enquanto mirava o teto. -Uma
das amigas se chamava “Maria Morfética” e ela era bem travessa. Uma safadinha e que gostava muito de
aprontar!
Gargalhei em aprovação.
-Sua vez, franguinho! -Lhe cutucou.
-H-Hm... Certo. -Naruto não parecia nenhum confortável com o rumo que aquela história estava
tomando, mas, por outro lado, também não queria abandonar o jogo. -A Maria Morfética, apesar de ser bem
travessa e adorar pregar peças nas pessoas, era uma menina muito gentil. Por isso, se ofereceu pra levar a
sua amiga bêbada, Carol, para casa.
Sasuke riu baixinho com a continuação.
Ao citarmos “travessa” na história, obviamente queríamos transparecer um outro significado para a
palavra. No entanto, o “seu bebê” sempre fazia questão de afastar quaisquer tipos de malícias e segundas
intenções vindas de nós.
-Sua vez, Sasuke. -Cutuquei-o na cintura.
-Argh... -Ele resmungou, afastando-se do pescoço de seu namorado para pensar a respeito da
história. -‘Tá, depois disso, a Maria Morfética leva a Carol até a casa dela, mas chegando lá, elas se
deparam com um cena chocante e inesperada na sala de estar.
Aquela era a minha vez de prosseguir.
-Hmm... A cena chocante, na verdade, nada mais era do que o presença do irmão da Maria
Morfética, o João Morfético, que estava totalmente pelado no sofá da sala.
Deidara riu alto e exagerado.
-Agora eu estou gostando! -Batemos nossas mãos. -Bom, depois de encontrarem o João Morfético
peladão no sofá, a Maria manda ele colocar uma roupa e ter respeito com as visitas, só que a Carol nega,
dizendo que preferia que ele continuasse nu na frente dela.
Sorri travesso em direção a Naruto.
-Naruto? Agora é você.
Eu estava ansioso para ver a maneira como ele reagiria e continuaria com a história.
-Bebê... -Sasuke chamou-o seriamente, sentindo seu namorado inseguro com a posição em que
estava sendo colocado. -Você não precisa continuar se não quiser, sim? Os meninos só falam besteira.
-Shhh, cala a boca, Sasuke. -Tapei a sua boca. -Deixa ele jogar com a gente!
-A-Ah... -Mordeu os lábios constrangido, provavelmente buscando por uma saída menos vergonhosa.
-Bem, na verdade, tudo aquilo só se passava de uma pegadinha de mal gosto, porque, assim como a Maria
Morfética, o João também adorava pregar peças nas pessoas e andar sem as roupas só para deixar as
meninas envergonhadas.
Sasuke riu sarcástico enquanto me cutucava.
-Olha aí, Itachi... Estão falando de você.
Deidara, por sua vez, revirou os olhos.
-Você está estragando tudo, franguinho!
-Não, assim está ótimo, bebê. -Sasuke o apoiou, lhe lançando uma piscadela. Em seguida, por já
conter uma ideia na ponta da língua que se desviasse da “maliciosidade” criada por mim e Deidara, ele
prosseguiu rapidamente. -Depois disso, o João Morfético se deu conta do quão ridículo aquilo estava sendo,
fora o mico gigantesco que ele estava pagando e foi colocar as roupas dele de volta. Já a Carol e a Maria
foram direto para o quarto dormir, porque elas estavam com muito, muito, muito sono.
Ri enquanto negava com a cabeça.
Era óbvio que meu irmão não estava se referindo a história, mas sim ao fato de que, em sua
realidade, ele estava caindo de sono.
-Bom, agora é a minha vez... -Cocei a garganta, carregando um sorriso discreto e maldoso.
-Chegando no quarto, a Maria Morfética deu a louca. Assim como o seu irmão, João, ela resolveu tirar todas
as roupas de uma vez. A Carol, por outro lado, ficou bem animadinha com aquela cena e—
Foi a vez de Sasuke tapar a minha boca.
-Meu Deus! -Arregalou os olhos indignado. -Como pode existir um ser humano que fale tanta
besteira?! Como você consegue, Itachi?!
-Deixa ele continuar! -Deidara afastou-o de mim. -Porra, Sasuke! Ele parou na melhor parte! Eu
quero saber o que aconteceu!
O restante da paciência de meu irmão, pareceu ter se esgotado.
-Eu vou te dizer o que aconteceu! -Gritou completamente alterado e enfurecido, quase como se
pudesse soltar fumaça de seu nariz a qualquer instante. -O Sasuke Uchiha entrou pela porra da janela,
invadiu a casa da Maria Morfética e matou todo mundo sem piedade!
Deidara esboçou uma careta assustada.
-Nossa, Sasuke, calma. -Olhei impressionado para si, especialmente ao reparar que seu namorado
estava no mesmo estado que eu. Encolhido entre os braços de Sasuke e tentando não fazer movimentos
bruscos para não irritá-lo ainda mais. -Parabéns, viu? Você conseguiu estragar a brincadeira com esse seu
surto infantil e desnecessário.
Seu rosto tornou-se inteiramente vermelho.
-Surto desnecessário?! -Repetiu aos berros. -Agora você vai me dizer que não se lembra das
quatrocentas vezes em que eu te falei que queria dormir?! -Deu um murro violento no colchão, fazendo
Naruto dar um pulinho de susto. -Eu estou cansado, porra! Nós andamos o dia todo! Eu quero sossego!
Apesar de ter ficado incomodado com a sua grosseira exagerada e repentina, em partes, eu
compreendia o seu lado. Meu irmão foi um dos que mais se manteve paciente durante todo o trajeto e,
agora, só queria descansar, até porque, já se passavam das quatro horas da manhã. Ele estava pedindo
pelo mínimo.
Um pouco de silencio e sossego após um dia tão desgastante como aqueles.
O Sasuke estava sobrecarregado.
-Está bem, calma... -Gesticulei para que ele parasse de gritar. -Nós já entendemos. Vamos ficar
quietos dessa vez, tá bom?
-Não! -Ele gritou por cima de mim. -Eu não quero mais você aqui no quarto, Itachi, vaza agora!
-Sinalizou até a saída. -Sai você também, Deidara, some da minha frente!
O loiro riu debochado, cruzando os braços em sua famosa pose de “afronta”. Em qualquer outro
momento, eu teria deixado com que ambos se entendessem sozinhos, mas, naquele momento, eu achei
melhor controlar a situação. Fazia tempo que eu não via o Sasuke tão bravo e descontrolado.
-Chefe, é melhor a gente sair mesmo. -Comecei a me levantar da cama, recebendo um olhar
deprimido de Naruto. Ele parecia ter gostado de passar um tempo conosco e não estava tão disposto a se
despedir. -O Sasuke está muito estressado. Amanhã nós todos conversamos com mais calma, beleza?
-Não, eu vou ficar! -Cruzou os braços. -O Sasuke não manda em mim!
-Dei... -Me aproximei ao dar a volta na cama, sussurrando ao pé de seu ouvido. -Acredite, você não
vai querer ficar aqui agora.
-Eu não tenho medo dele! -Afastou a minha mão. -Ele não dura cinco minutos comigo!
-Não é questão de medo, Deidara. -Olhei até o moreno por breve segundos, assistindo-o se deitar
com as costas viradas para nós dois. Seu corpo era acolhido carinhosamente pelo de Naruto, o qual
acariciava seu cabelo com um olhar preocupado, provavelmente surpreso com o seu “chilique” anterior.
-Quando o Sasuke quer, ele consegue ser muito insuportável. Não é uma boa hora pra ficar aqui, entende?
Eu conheço a peça... É só dar um tempo que amanhã ele volta arrependido e pedindo desculpas por ter
gritado com a gente.
O loiro estalou a língua emburrado.
-‘Tá, Itachi, mas aonde é que a gente vai dormir? -Começou a se levantar do colchão, saindo do lado
de seu irmão que, no mesmo instante, se despediu com um aceno choroso. O Naruto queria mesmo que
continuássemos ali com eles. -Eu que não vou voltar pro quarto da aranha! Nem me sugira isso, ouviu?!
-Eu não ia sugerir. -Entrelacei minha mão com a sua, dando um último tchau ao Naruto e
escutando-o murmurar algo como: “Boa noite, e me desculpa, meninos”. -Vamos pedir pra ficar no quarto do
Obito.
Ele riu desacreditado.
-Eu não acredito que a gente vai apelar pro Obito. -Saiu bufando para o lado de fora.
-Pois é... -Ri baixinho. -Mas ele vai ajudar a gente. O Obito é generoso que nem o Naruto.
-Eu acho bom ele ajudar mesmo! -Deidara andava até o chalé 7, aonde meu primo estava
repousado. Em seguida, começou a desferir socos na madeira da porta. -Obito?! Abre a porta! A gente vai
congelar aqui fora, porra!
Abracei meu próprio corpo para espantar o frio, dando uma olhada rápida no gramado atrás de mim.
Aquele lugar era mesmo muito esquisito. Eu sabia que não estava em posição de reclamar sobre nada, mas
a arquitetura, localização e até o fato de não conter nenhum tipo de iluminação a noite, era bizarro.
Parece que, as pessoas que frequentavam os chalés, realmente queriam desaparecer.
-Obito, acorda, caralho! -Ele gritou de novo.
Logo, passos lentos e preguiçosos ganharam vida ao lado de dentro. A porta, por fim, foi aberta.
Virei-me novamente para frente, me deparando com a cena incomum e engraçada de meu primo parado no
batente, possuindo seus cabelos bagunçados, um olhar confuso e sonolento, além de um pijama claramente
improvisado, que nada mais era do que a mesma calça de moletom rosa que Deidara utilizava.
-Meninos... -Abraçou o próprio tronco pelo frio, olhando para a parede como se procurasse por um
relógio. -Que horas são?
-Quatro da manhã. -Respondi sorridente.
Ele entreabriu os lábios em confusão.
-O que foi que aconteceu? -Sua voz era tomada por uma rouquidão profunda e lenta. -Vocês estão
bem? Aonde está o Sasuke e o Naruto? -Olhou para o corredor, fazendo o mesmo comigo ao me medir de
cima a baixo. -Por que você está só de cueca? Tem outras pessoas aqui nos chalés, Itachi, você não está
mais em uma prisão.
-O Sasuke botou a gente pra correr. -Expliquei sem muita paciência. -E o Deidara não quis ficar no
nosso quarto porque tinha uma aranha e o aquecedor quebrou do nada.
Ele suspirou esgotado.
-O que foi que vocês fizeram pro Sasuke? -Coçou os olhos sonolentamente.
-A gente não fez nada demais! -Deidara empinou o nariz. -O Itachi que tem um irmão maluco e
descontrolado!
-Se o Sasuke expulsou vocês, é porque alguma coisa vocês fizeram. -Insistiu seriamente. Obito sabia
tanto quanto eu sobre a paciência de meu irmão, e que nada o levaria a expulsar alguém de seu quarto de
repente e sem justificativas. -O que houve?
-Por que você quer saber, hein?!
-Porque assim eu posso pensar se deixo vocês entrarem ou não. -Cruzou os braços. -Dependendo
do que vocês fizeram, eu prefiro que vocês dois procurem outro quarto. Vocês são muito agitados e
bagunceiros, meninos.
Olhei derrotado até Deidara.
-Conta logo pra ele, chefe.
-Argh! -Bateu o pé no chão. -O Sasuke ficou putinho porque eu bati na porta dele gritando, acordei
ele e o Naruto, daí o Itachi fez um striptease pra gente, eu chamei ele de mamute, o Itachi falou que ele tem
dois pneus furados no lugar da bunda e, no final, o Sasuke surtou e matou a Maria Morfética!
Obito piscou atordoadamente.
Como sempre, Deidara nunca se esforçava para explicar as coisas direito.
-O Sasuke matou quem? -Repetiu assustado.
-Só deixa a gente entrar, Obito, por favor. -Pedi desesperado, observando a fumaça sair de minha
boca a medida em que eu falava. -Eu prometo que não vamos te atrapalhar.
Precisou de mais alguns segundos de espera até que Obito tomasse uma decisão. Mas, no final das
contas, ele pareceu ter ficado com um pouco de pena de nós, visto que, em seguida, escancarou a porta,
dando passagem para que Deidara passasse.
-Finalmente, caralho! -O loiro correu até o quarto, gemendo aliviado com o calor reconfortante do
aquecedor. -Agora sim!
Na hora em que eu fui passar, ele me parou.
-Coloca uma calça, por favor, senão você não dorme na minha cama. -Pediu calmamente.
Arqueei a sobrancelha como se esperasse por justificativas.
-Eu não quero você roçando em mim. -Completou com um ar tedioso, me arrancando uma
gargalhada exagerada. -É sério, Itachi.
-‘Tá com medo de gostar, é?! -Ri atrevido. -Essa sua pose de hétero não me engana, Obito!
-Você vai colocar a calça ou eu vou ser obrigado a te expulsar junto com o seu namorado? -Indagou
cansado.
-Já vou, já vou... -Segurei a minha risada. -Espera só um pouco.
Fui rápido em retornar ao meu próprio chalé, entrando sem me preocupar em ascender a luz. Estava
muito frio sem o aquecedor, fora que alguns outros bichos haviam entrado pelo fato de termos esquecido a
porta aberta.
Haviam duas mariposas sobrevoando a cama.
Ignorei completamente os insetos e parti para o closet, colocando a mesma calça de moletom rosa
que os outros dois garotos. Haviam as verdes também, mas pelo o que deduzi, elas tinham um tamanho
menor.
Voltei até o quarto de meu primo, abrindo a porta para me juntar aos outros dois. Deidara já estava
deitado em um canto da cama, enquanto Obito conferia algo em seu celular, buscando por seus fones de
ouvido no closet.
-Voltei. -Anunciei desnecessariamente.
Me dirigi até o colchão, tomando a liberdade de me deitar ao lado de Deidara e pegando o lugar no
meio do colchão. O loiro já estava com um olhar sonolento e coberto até a altura de seu pescoço com o
único edredom presente.
Eu sorri apaixonado.
Aproximei nossos lábios para lhe deixar um selinho, abraçando-o carinhosamente contra meu peito
no mesmo instante em que Obito resolveu se deitar, levando seu fone ao ouvido. Ele não aprecia muito
disposto a conversar, além de já estar desconfortável o suficiente com a nossa presença. De canto de olho,
notei o moreno clicar em uma playlist com o nome “Para Dormir”, o qual continha algumas músicas lentas,
assim como sons relaxantes das ondas do mar e da chuva caindo.
Eu ri divertido.
-Ei, adorei sua playlist.
-Boa noite, Itachi. -Virou de costas para mim, ignorando o meu comentário. -Apaga a luz.
-Boa noite.
Levei a mão ao abajur, e o apaguei.
Dessa vez, o sono até que veio rápido. A junção do escuro e o fato de estar de volta aos braços de
meu namorado, mesmo que, dessa vez, estivesse na presença de Obito, fez com que eu relaxasse todos os
músculos de meu corpo. Eu tinha tudo para adormecer com rapidez. Mas é claro que, como da outra vez,
havia algo para me “atrapalhar”.
Por estar com minhas pernas entrelaçadas as de Deidara, eu o sentia pressionar seu joelho contra o
meu membro. De início, não entendi se aquele era um ato proposital ou não. No entanto, ao senti-lo
movimentar o mesmo lentamente contra mim, me dei conta do que ele realmente desejava naquele
momento.
-Você não vai querer fazer isso aqui, não é? -Indaguei baixo e enrouquecido, umedecendo meus
lábios ao sentir minha ereção ganhando vida, tanto pelo seu toque, quanto por conta de seu olhar
provocante e irresistível.
-E se eu quiser? -Devolveu atrevidamente.
Mordi o inferior de meus lábios em excitação.
Ele sabia bem como me provocar e retirar todos os vestígios de minha sanidade, mesmo estando,
literalmente, dividindo a cama com um outro indivíduo alheio a nós. Pensando nesse detalhe preocupante,
olhei afobado para o outro lado do colchão, procurando por sinais de que Obito estava nos escutando.
Para a minha sorte, ele já dormia serenamente. Seus fones de ouvido também eram uma vantagem
para nós, fora o fato de estar completamente esgotado após horas caminhando.
-Foda-se. -Anunciei agitado. Não daria para simplesmente resistir a um pedido daqueles. Tudo o que
eu mais desejava era sentir o seu corpo quente e gostoso contra o meu.
Deidara entendeu o meu recado e, rapidamente, correspondeu a mim. Juntamos nossos lábios em
sincronia, beijando-se um ao lado do outro no travesseiro. Nossas línguas agiam ferozmente. Se roçavam
com vontade e rapidez, vindo acompanhadas de mordidas e mãos bobas atrevidas.
Meus dedos deslizavam por sua cintura fina, a apertando e arranhando como resposta aos seus
puxões deliciosos entre os fios de minha nuca, deixando-me arrepiado e necessitado de mais. Com o
mesmo desespero em que nos beijávamos e tocávamos, trouxe-o, sem pensar duas vezes, para cima de
meu colo, deixando com que o mesmo sentasse em meus quadris e inclinasse seu tronco para que
mantivéssemos nossas bocas seladas.
Meus dedos, por outro lado, subiram provocativamente em direção ao seu abdômen, arranhando-o e
sentindo sua pele por completo. Ele era maravilhoso. Conseguia me deixar louco com o mínimo, somente
por estar sentando sobre a minha ereção.
Logo seus lábios foram de encontro ao meu pescoço. Chupava, beijava e lambia aquela área até
deixar-me com a cabeça tombada em aprovação, arfando entregue com a textura macia e quente de sua
língua.
Buscando por ainda mais contato, segurei firme em sua cintura, incentivando-o a se friccionar
deliciosamente contra a minha reação. Os movimentos experientes e bem posicionados de seus quadris
acabavam comigo.
-Dei... -Gemi como um pedido para que avançássemos de uma vez. Eu já não suportava mais
esperar, e sabia que não poderíamos demorar muito por conta dos riscos. Obito poderia despertar ao nosso
lado, mas, de certa forma, saber que poderíamos ser flagrados a qualquer instante, me deixava ainda mais
afervorado. -Tira essa calça.
Ele me obedeceu desesperadamente.
Enquanto o admirava arrancar suas peças de roupa, eu fazia o mesmo por baixo de si, deixando
apenas o meu membro para fora. Ele já estava pesado, dolorido e extremamente necessitado de algum tipo
de alívio.
Por impulso, o loiro levantou-se um pouco e segurou na base de meu pênis, introduzindo,
inicialmente, apenas a minha glande. Arfei inaudível com a sensação, mal conseguindo puxar meu fôlego ao
senti-lo deslizar sobre o restante de minha extensão ereta.
Um gemido baixo rasgou sua garganta. Passou a mover-se lentamente, subindo e descendo em meu
membro num ritmo que considerou apropriado para suprir sua própria vontade. O barulho molhado
resultante ao atrito de nossas peles me fazia arrepiar, além de minhas mãos que deslizavam em contato
com o seu traseiro, apertando a carne entre meus dedos ao incentiva-lo a acelerar.
-Gostoso. -Gemi grosso com os olhos fixos aos seus, sentindo uma maior intensificação com a
frequência em que sentava.
Minha ereção latejava dolorosamente em seu interior. Batia fundo dentro de si e voltava com tudo,
repetindo os mesmo movimentos freneticamente, até que o loiro estivesse com seu pescoço jogado para
trás, mordendo os lábios em uma falha tentativa de conter os gemidos.
Separei suas nádegas entre minhas mãos, chocando minha pélvis contra si em desespero para
alcançar o meu orgasmo, não conseguindo deixar de admirar cada mínima reação sua. Eu queria poder
ouvi-lo gemer por mim. Mas sabia que, pelo menos naquele instante, estava fora de cogitação.
Aquela mesma sensação de queimação tomou conta de minha virilha. Por saber que não duraria
mais tanto tempo, deslizei em direção a sua ereção, envolvendo-a em minha mão antes mesmo de lhe
masturbar, acompanhando a mesma velocidade em que sentava e colidia os nossos quadris.
Ele gemia baixo e embriagado. Meus lábios, por outro lado, se prensavam para que não soltasse
qualquer tipo de ruído pelo prazer.
-Hmm, Dei... -Joguei meu pescoço para trás, atingindo meu orgasmo no momento em que seus
movimentos tornaram-se ainda mais desesperados a procura de seu próprio ápice.
Ao senti-lo se contrair em minha ereção, não pude deixar de gemer arrastado e contemplar a cena de
seu corpo se tremendo pelo prazer, ao mesmo tempo em que ejaculava por cima de mim.
Permaneci com minhas mãos repousadas em seu traseiro, sentindo seus movimentos se cessando
aos poucos, vindo acompanhado de ambas as respirações ofegantes e os corpos suados. Afundei o meu
rosto no travesseiro no momento em que o mesmo saiu de cima de mim, sendo rápido em erguer as minhas
calças caso o Obito decidisse acordar de repente.
Deidara, por outro lado, jogou-se ao meu lado no colchão, arrumando a sua calça na mesma
velocidade para que não levantássemos suspeitas ou fôssemos flagrados. Em seguida, virei-me em sua
direção com um sorriso fraco, permitindo que o mesmo se aconchegasse novamente entre os meus braços.
Nós não dissemos mais nada um para o outro. O cansaço falou mais alto dessa vez. No primeiro
instante em que meus olhos se fecharam, eu já estava totalmente entregue.
Adormecemos em um milésimo de segundos.
Naruto On

Eu acho que nunca dormi tanto em toda a minha vida. Na verdade, estava começando a duvidar
verdadeiramente se havia batido algum tipo de recorde mundial relacionado a maior quantidade de horas
adormecido.
Após tudo o que passamos, desde a fuga a quase três dias atrás, o trajeto do ônibus, a trilha e a
chegada nos chalés, foi uma benção ter uma cama confortável e quentinha para dormir, além do toque e
abraço acolhedor de meu namorado. Essas foram razões o bastante para que eu capotasse pelo sono e só
acordasse vinte e uma horas depois.
De certa forma, foi um evento que, embora incomum, acabou sendo engraçado. Desde o segundo
em que Deidara e Itachi saíram do nosso quarto de madrugada, deixando, inclusive, Sasuke atingido por
conta da discussão que mantiveram, eu hibernei como um verdadeiro animal no inverno.
Permaneci adormecido desde as quatro da manhã, até as duas da madrugada seguinte.
Eu dormi mais do que todos os meninos e, durante todo o tempo em que me mantive inativo, senti a
agradável presença de Sasuke.
Ele ficou sempre do meu lado. Andando ao redor do quarto, regulando a temperatura para me manter
aquecido e tomando conta de mim para que eu descansasse o quanto desejasse. Embora tenha sido bom
recarregar as minhas energias, segundo os relatos dos meninos, todos eles se preocuparam com a minha
demora para acordar e com o fato de eu ter “morrido enquanto dormia”. Por essa razão, revezavam para vir
até o quarto e conferir se eu ainda estava respirando.
A hora de acordar, por outro lado, foi a pior de todas. Meus olhos se abriram por volta das duas da
manhã, o horário em que todos os garotos já estavam adormecidos novamente.
Foi um pesadelo horrível que me trouxe de volta a realidade. Eu estava sonhando com a prisão, os
meninos, a fuga e o Gaara. No sonho, éramos todos capturado pela polícia e mandados cada um para uma
penitenciária diferente, sem direto de ficarmos juntos.
Cogitar a hipótese de ficar separado dos garotos, me deixou inconsolável. Foi motivo o suficiente
para que eu acordasse chorando e chamando pelo nome de Sasuke sem parar, o qual, como o habitual, me
socorreu de imediato, afirmando que isso jamais ocorreria e que ficaríamos juntos para sempre.
Logo após isso, eu continuei acordado. Foi a minha vez de tomar conta do Sasuke e deixá-lo
descansar pelo tempo que desejasse.
Agora, com o entardecer alaranjado tomando conta do céu, eu e os garotos permanecíamos na área
das piscinas. Estávamos todos de roupa de banho, até mesmo o Obito.
O ex carcereiro mantinha-se sentado em uma das “cadeiras de praia” no gramado, mexendo em seu
celular com um óculos escuro, além de estar totalmente alheio a bagunça e gritaria frenética do restante dos
meninos.
Itachi, Deidara e Sasuke, por outro lado, aproveitavam a piscina principal. Com um sorriso discreto no
rosto, eu assistia o loiro e seu namorado brincarem de “lutinha”, afundando a cabeça um do outro embaixo
da água e molhando todo a grama.
Já Sasuke, estava em uma situação um pouco diferente. Após ter participado de algumas das
brincadeiras dos meninos, como por exemplo, “marco polo” e “briga de galo”, além de uma que envolvia
mergulhar para adivinhar o que cada um estava falando embaixo da água, ele, por fim, permanecia com os
braços cruzados sobre minhas pernas, aproveitando o fato de eu estar somente com os pés dentro da
piscina para utilizar-me de apoio.
-...Filho da puta! Você quase me afogou! -Itachi tossia compulsivamente, agarrando-se na borda da
piscina com o cabelo totalmente bagunçado e encharcado. -Eu to falando sério! Eu podia ter morrido,
Deidara!
-Esse era o intuito da brincadeira, caralho! -Atirou água em sua direção. -Fracote! Você não aguenta
me enfrentar!
-Você que é um psicopata! -Gritou irritado, devolvendo uma quantidade ainda maior de água para si.
Os dois logo iniciaram uma guerrinha dentro da piscina, o que, consequentemente, fez com que eu, Sasuke
e até mesmo Obito, fôssemos “atingidos”. -Quem é o fracote agora?!
-Meninos, parem. -Obito pediu da cadeira, secando o seu óculos e a tela de seu celular com uma
feição incomodada. -Vocês estão jogando água—
Ele foi calado com um jato no meio de seu rosto, o qual, sem novidades alguma, foi atirado por
Deidara. Os meninos realmente não respeitavam ninguém, nem mesmo eu e o Obito que não queríamos
nos molhar pelo frio.
-H-Hm... Para de jogar água em mim, gente, por favor. -Pedi educadamente, me encolhendo quando
mais algumas gotículas entraram em contato com a minha pele. Nem era tanto assim, mas só pelo fato de
já estar ficando de noite, o frio era quem mais se fazia presente. -Eu não quero mais me molhar.
-Para, Itachi. -Sasuke estalou a língua, permanecendo com o seu rosto enterrado em minhas coxas.
Eu lhe proporcionava um carinho entre seus fios úmidos, assistindo sua pele branquinha tornar-se cada vez
mais arrepiada pelo clima gélido. -Para, porra! Que coisa chata! Eu vou te afogar nessa piscina!
-Vem aqui tentar então! -O moreno gritou do outro lado. -Eu não estou gostando nenhum pouco
desse seu jeito afrontoso pra cima de mim, ouviu?! Mais uma dessas, e eu juro que prendo o seu cabelo no
ralo da piscina!
Neguei com a cabeça enquanto ria.
Os meninos sempre se ameaçavam e brigavam entre si, mas no final das contas, nunca faziam nada
um contra o outro.
-E-Ei, Sasuke? -Chamei baixinho, ficando preocupado ao senti-ló estremecer por dentro da piscina.
Suspirei apaixonado quando o mesmo levantou seu pescoço, indo de encontro aos meus olhos com um
sorriso doce, embora, seus lábios, possuíssem uma coloração levemente arroxeada. -Não ‘tá frio aí dentro?
Eu não quero que você fique gripado...
Ele riu despreocupado.
-Eu já vou sair. -Estalou um beijo em minha coxa. -Espera só um pouquinho.
Acompanhei silenciosamente a sua saída da piscina. Ao invés de utilizar a escadinha principal,
Sasuke foi rápido e ágil em sair pela borda, sentando-se ao meu lado com o corpo inteiro pingando, desde o
seu cabelo, até o seu shorts de banho. Aproveitei o momento para entregá-lo à minha toalha, a enrolando
em seus ombros para lhe aquecer.
-H-Hm... Prontinho. -Murmurei carinhoso.
-Obrigado, bebê. -Se encolheu entre o tecido felpudo, roubando-me um selinho antes mesmo de
deitar a sua cabeça em meu ombro. Estalei um beijo em seu coro cabeludo, sentindo, a todo o instante, o
aroma forte e familiar de cloro de piscina. -Você está tão quentinho...
-É você que está frio. -Rebati docemente e, mesmo estando encharcado, permiti que Sasuke se
embrenhasse entre os meus braços para buscar por mais calor e contato. Ri baixinho com as pequenas
cócegas de seus fios molhados contra o meu peito, além de seus dedos enrugadinhos por conta do tempo
em que passou na piscina. -Melhorou?
-Uhum. -Beijou o meu pescoço. -Sabia que eu te amo muito, Naruto? Muito, muito mesmo.
Sorri completamente apaixonado. O Sasuke era muito lindo, mas ficava ainda mais adorável quando
me dizia coisas fofas e que me deixavam, a maioria das vezes, com as bochechas coradas.
-H-Hm... Sabia que você é o amor da minha vida? -Devolvi o questionamento. -Sabia também que eu
te amo mais do que tudo nesse mundo e não vivo sem você?
-Ah, bebê... -Suspirou abobado, distribuindo selinhos atrás de selinhos em meu pescoço, e sorrindo a
medida em que eu soltava gargalhadas pelas cócegas. -Sou eu que não vivo sem você.
-N-Não... Eu que não vivo. -Rebati risonho.
Ele levantou a cabeça.
-Desculpa, bebê, mas eu que não vivo. -Sorriu brincalhão. De vez em quando, nós fazíamos isso.
Gostávamos de “discutir” sobre quem se amava mais até que um de nós cedesse e admitisse a derrota.
-Nem adianta insistir.
-Nada disso, Sasuke.
-É sim, Naruto.
-Não é. -Neguei com a cabeça. -Eu que não vivo sem você. Pronto, ganhei.
-Ganhou nada. -Cutucou minha cintura. -Eu que ganhei dessa vez. Eu não vivo nenhum minuto sem
você.
-E eu não vivo nenhum segundo.
-‘Tá, mas eu não vivo nenhum milésimo e—
Novamente, fomos interrompidos por uma “onda” inesperada de água em nossa direção. Dessa vez,
foi Itachi quem implicou conosco. Tanto ele, quanto Deidara, se incomodavam com a maneira como éramos
grudentos e amorosos um com o outro.
-Vai se foder! -Sasuke xingou, decepcionando-se ao notar que sua toalha também havia sido
atingida. Nem parecia que, a segundos atrás, o moreno estava utilizando palavras bonitas comigo. -Seu
idiota!
-O que foi, hein?! -Itachi cerrou os punhos como se estivesse chamando-o para “lutar”. -Quer brigar,
caralho? Pode vir, otário!
-A hora que você sair, eu acabo com você! -Ameaçou de volta. -Só espera, imbecil!
Ri descontraído ao seu lado.
-H-Hm... Sasuke?
-Oi, meu bebezinho? -Voltou com sua postura carinhosa e tranquila que eu tanto amava.
-Eu vou dar uma volta por aí, tudo bem?
Ele me fitou curiosamente.
-Você vai aonde?
-A-Ah, é que eu vi uma biblioteca perto da recepção... -Eu nem precisei terminar a minha justificativa.
Sasuke sabia bem o quanto eu gostava e apreciava a leitura. Tanto que, na penitenciária, passava horas de
meus dias caçando livros e biografias. -E eu também vou procurar a Poppy. Quero fazer carinho nela.
Os olhos do moreno brilharam em resposta.
-Eu vou junto. -Começou a se levantar. O Sasuke também era do tipo chegado aos animais.
Conhecemos a Poppy a menos de três dias, mas, de alguma forma, já estávamos bastante apegados a ela,
e Konan não parecia se incomodar em deixá-la solta para interagir conosco. -Eu também quero ver a Poppy.
Me levantei juntamente consigo.
-H-Hm... Então vamos. -Agarrei-me, como o habitual, em seu braço direito. Sasuke ainda estava um
pouco molhado, mas eu não me importei muito com esse detalhe. -Você sabe aonde é a recepção, né?
-Sei sim. -Sorriu levemente.
Com sorte, o nosso “destino” era próximo da área da piscina. Atravessamos o gramado em menos de
dez segundos, parando em frente à recepção ao nos darmos conta de que Konan estava no balcão,
pintando as suas unhas enquanto falava distraidamente no telefone.
A Poppy, por sua vez, estava dormindo na caminha do lado, coberta por um lençol rosa clarinho que
realçava a sua pelagem preta.
Ele era absurdamente adorável.
-...Aham, sei. É foda essas fitas mesmo, mano. -Konan comunicava-se a base de gírias com a
pessoa ao outro lado da linha, avaliando a coloração roxa e marcante de seu esmalte. -Espera só um
pouquinho, Hidan...
Ela olhou curiosa na nossa direção, provavelmente estranhando a nossa aparição.
-Eu posso ajudar vocês, meninos? -Alternou entre mim e o moreno. -Vieram ver a Poppy?
Sasuke assentiu positivamente.
-H-Hm... Mas eu também gostaria de saber se a biblioteca está aberta. -Completei timidamente,
sentindo meu namorado se distanciar e partir até a cama da cachorrinha.
-Ah, está sim. -Respondeu simplista, ao mesmo tempo em que sinalizava para o Sasuke,
autorizando-o a pegar a filhotinha no colo. -Podem entrar se quiserem. Mas não comam lá dentro, por favor.
E não quebrem nada
-A-Ah... Pode deixar. Muito obrigado.
Konan assentiu em reposta.
-Fala, Hidan, eu estou ouvindo... -Prosseguiu com a ligação, pouco se importante com a nossa
presença e com o fato de que, naquele mesmo instante, Sasuke soltava sons fofos e agudos com a boca,
comunicando-se com a Poppy enquanto a mesma lambia carinhosamente o seu nariz. -É, to ligada, mas eu
não achei certo ela ter te bloqueado, saca?
Ignorei o restante de seu diálogo e parti para a porta ao lado do balcão. A biblioteca ficava bem
naquele ponto. Sasuke veio logo atrás de mim e, como já era de se esperar, trouxe a Poppy entre os seus
braços.
O interior do cômodo era menor do que eu esperava. A biblioteca da prisão tinha bem mais opções
de livros e prateleiras. Contudo, eu me senti bastante atraído com a arquitetura e os móveis presentes na
mesma, embora ela estivesse tomada por uma grande quantidade de pó e sujeita.
-Caraca, que chiqueiro. -Sasuke resmungou sozinho. Ele tinha essa mania de comentar certos
incidentes e situações em voz alta. -Você não acha, Poppy? Não acha esse lugar nojento? -Forçou sua voz
para soar infantil.
-S-Sasuke... -Repreendi com uma risadinha. -Fala baixo, senão a Konan vai te ouvir.
Ele fez uma careta.
-Desculpa... -Murmurou arrependido. -É que eu esperava mais desse lugar. -Passou o dedo entre as
prateleiras. -Olha quanta poeira tem aqui, bebê. Até na prisão era mais limpinho.
-É... Tem razão. -Ri descontraído. -Me empresta um pouco a Poppy, Sasuke?
O moreno se agarrou mais forte ao animal, formando um biquinho a medida em que recebia lambidas
em suas bochechas.
-Ah, Naruto... Deixa eu ficar só mais um pouquinho com ela, por favor?
-H-Hm... Mas é a minha vez, Sasuke. -Retruquei brincalhão. -É que ela é muito fofa!
-Ah, não... -Choramingou sofrido. -Vê os seus livros primeiro, bebê, depois eu te entrego a Poppy,
pode ser?
Neguei divertido com a cabeça.
-Está bem... -Cedi ao seu olhar e beicinho adorável. -Mas depois é a minha vez, Sasuke.
-Combinado.
Por fim, deixei com que Sasuke apreciasse a companhia da cachorrinha, e sai pelo meu tour ao redor
da biblioteca. Como o moreno não curtia muito livros e biografias, ele ficou perambulando pra lá e pra cá,
falando com a Poppy em seu colo e a tratando como um verdadeiro bebê. Confesso que, lá no fundo, fiquei
até com um certo ciúmes do filhote.
De vez em quando, escutava-o murmurar coisas como: “Você ama o Sasuke, não ama, Poppy?”, ou
até mesmo: “O Sasuke é bem mais legal do que aquela Konan, né? Pode deixar que eu vou te sequestrar
dela”.
Eu somente sorria com cada comentário engraçado seu, passeando meus olhos pelas prateleiras a
procura de livros interessantes e que me chamasse a atenção. Muitos deles eu já havia visto e até mesmo
lido na prisão, no então, teve uma prateleira, em especial, que me chamou bastante a atenção.
Havia um rádio de cor prateada em meio a algum dos livros. Pelo o que pude perceber, ele era uma
antiguidade, talvez conservado pela Konan em um ambiente que imaginou estar a salvo e longe de mofo.
Por algum motivo, ele me chamou muito a atenção. Se eu não me engano, já havia visto um parecido
na casa de meu avô Jiraya quando o mesmo ainda estava vivo. Eu costumava escutar músicas e até
mesmo partidas de futebol naquele aparelho.
-H-Hm... Sasuke? -Me aproximei da prateleira, esfregando o objeto para retirar a sujeira. Em seguida,
assoprei-o entre as minhas mãos, ajustando a pequena “antena” presente no mesmo. -Olha só o que eu
encontrei.
-O que você achou aí, bebê? -O moreno apareceu com a cachorrinha em seu colo. -Um rádio?
-Uhum... -Murmurei concentrado, girando algum dos botões com a esperança de que o aparelho
encontrasse algum sinal. -Eu vou ver se dá pra sintonizar em alguma rádio.
Sasuke riu divertido.
-Você vai colocar música?
-N-Não. -Sorri descontraído. -Eu só vou fuçar mesmo. Fazia tempo que eu não vai um desses.
-Será que a gente pode mexer nesse troço? -Ele esticou o pescoço em direção a entrada,
provavelmente conferindo se Konan estava nos observando. -Eu espero que sim.
-H-Hm... Vamos mexer rapidinho. -Movimentei mais alguns botões, sorrindo vitorioso quando
consegui sintonizar em uma rádio qualquer. -Ah, eu acho que deu!
-... Situação muito grave, além de ser altamente perigosa para toda a população da cidade. -A voz do
locutor soou confusa e cortada.
-Aumenta um pouquinho, bebê.
Mexi rapidamente no volume.
-... Com quatro criminosos perigosos à solta, a polícia está seguindo pistas para encontrá-los o mais
rápido possível. As patrulhas aumentaram consideravelmente em cidades costeiras, aeroportos, prédios e
casas abandonadas e até mesmo florestas.
Eu e Sasuke nos entreolhamos.
-No momento, os quatro criminosos são os mais procurados do país. -O locutor continuou a detalhar
a notícia. -Ainda não se tem muitas informações a respeito de suas localizações, no entanto, a polícia
recebeu uma denúncia anônima que contava tê-los visto em um dos pontos de ônibus ao oeste da cidade.
Por enquanto, foi decidido que as fronteiras serão fechadas para impedir que os criminosos possam
escapar.
-S-Sasuke...
Ele me calou com um “shhh” apreensivo.
-Qualquer um que tiver mais alguma informação a respeito dos quatro fugitivos, favor entrar em
contato com a polícia imediatamente. -Ele citou um número telefônico digito por digito. -Os procurados são:
Naruto Uzumaki, Deidara Namikaze e Sasuke e Itachi Uchiha, os dois criminosos que, anteriormente,
pertenciam a uma das facções mais procuradas pela polícia.
Minhas pernas, literalmente, falharam.
Eu cai dolorosamente de joelhos no chão.
-Os irmãos Uchiha são extremamente perigosos. -Dessa vez, uma voz feminina se pronunciou. -Eles
são agressivos e imprevisíveis. Não podemos deixar nenhum deles à solta, isto está fora de cogitação.
-Com certeza. -O homem completou. -Por isso, colocaremos em nossa site fotos oficiais de cada um
deles, com peso, altura e características físicas para que a população fique o mais familiarizada possível.
-Traremos mais informações em breve. -A voz feminina prosseguiu. -Inclusive para termos certeza de
que, Obito, um dos principais funcionários da prisão, foi um dos sequestrado pelos criminosos, ou somente
um cúmplice por trás dessa fuga.
De canto de olho, notei Sasuke cambalear atrapalhadamente para trás, colocando a Poppy no chão
antes mesmo de apoiar-se na prateleira, respirando ofegante enquanto tentava digerir tudo o que escutou.
Já imaginávamos que seríamos procurados pela polícia, no entanto, esse primeiro choque de termos
escutado os nossos nomes em rede nacional, nos deixou sem chão.
Éramos oficialmente os criminosos mais procurados do país. Quando foi que minha vida chegou a
esse ponto? Estavam todos atrás de nós, e se não fizéssemos nada a respeito, em breve seríamos
encontrados.
-Naruto.
Levantei minha cabeça lentamente, indo de encontro ao rosto pálido e suado de Sasuke.
-A gente precisa contar pro Itachi. Agora.

Capítulo 34 - Epílogo

Sasuke On
Nove horas dentro do carro. Pelo menos eu acho. Sinceramente, parei de contar quando a
madrugada se fez presente ao lado de fora, trazendo com ela o clima gélido e a escuridão profunda do
caminho pelo qual passávamos.
Estávamos a horas seguindo, literalmente, no meio da mata, afastando-nos cada vez mais dos
chalés que, anteriormente, havíamos nos abrigado e, embora tenhamos ficado por curtas setenta e duas
horas no mesmo, de certa forma, acabou tornando-se um ambiente acolhedor para todos nós.
Eu acho que nunca precisei deixar um lugar com tanta pressa. Desde o momento em que Naruto
encontrou o rádio e fez com que descobríssemos notícias ao nosso respeito, incluindo o fato de que
éramos, oficialmente, os criminosos mais procurados de todo o país, eu e os meninos precisamos fugir
novamente.
Não estava em nossos planos ficarmos tão pouco tempo nos chalés. Era para permanecermos no
mesmo por, no máximo, duas semanas.
Acontece que, infelizmente, nem tudo ocorre exatamente como o planejado. Pelo menos foi o que
Itachi afirmou-nos ao mostrar que teríamos que estar preparados para o que viesse pela frente, incluindo o
fato de que a polícia estava atrás de nós, colocando patrulhas por toda a parte e fechando as fronteiras para
impedir nossa saída da cidade.
Felizmente, ele tinha outra carta na manga.
Era uma das vantagens de ter um irmão tão inteligente. O Itachi sempre sabe o que fazer,
independente da situação. E, nesse caso, não foi diferente. Embora, de início, o mais velho tenha se
mostrado abalado com o fato de ter os nossos nomes anunciados novamente em rede nacional, já que, na
época em que trabalhávamos para Fugaku, o mesmo havia ocorrido, até que ele lidou bem com toda a
situação e acabou sendo bastante útil ao tranquilizar-nos juntamente com o Obito.
Foi realmente difícil de digerir a notícia. O meu bebê, por exemplo, se mostrou um dos mais atingidos
e surpresos com o fato de ter seu nome e sobrenome sendo citado em uma rádio policial. Eu precisei de
muita paciência para consola-ló e prometer que nada de ruim aconteceria com nenhum de nós.
Foram horas e mais horas com Naruto ao meu colo no banco traseiro, chorando e soluçando como
da última vez em que fugimos. Me partia o coração vê-lo daquela forma, é claro, mas uma hora ou outra, ele
precisaria arrumar uma maneira de aceitar a sua nova realidade.
Éramos os criminosos mais procurados do país.
Ainda estávamos da mesma maneira. Os cinco aglomerados no Jipe velho e gasto que Konan
emprestou-nos às pressas, sentindo-o chacoalhar de um lado para o outro a medida em que passávamos
pelas estradas de terra.
Seria como um suicídio ter optado por frequentar as avenidas. Obito e Itachi acharam melhor que
gastássemos mais tempo e gasolina no meio da mata, do que nos arriscarmos a ter o nosso carro parado
pela polícia na rua.
Era um bom plano. Apesar de que, todo aquele balanço que o carro estava fazendo, me
proporcionava uma baita ânsia de vômito, além do fato de que, durante quatro vezes, o Jipe havia ficado
atolado na lama, fazendo com que tivéssemos que sair para empurra-ló e sujar-nos de terra até a altura dos
joelhos.
Segundo as palavras de meu irmão, faltavam menos de três horas para que chegássemos em nosso
novo destino. Foi difícil decidir qual seria a nossa próxima parada, já que, após os chalés, não tínhamos
mais nada em mente. Obito era o único que, desde o início, sabia exatamente o que queria, e já havia
deixado claro que voltaria diretamente para a Rin.
Nós quatro, por outro lado, estávamos arriscando tudo e indo em direção a uma das centenas de
casas que Fugaku deixou como “herança” para mim e meu irmão. Na verdade, aquilo estava mais para um
sítio. Assim como os chalés, optamos por um lugar no meio do mato, só que, nesse caso, em uma cidade
distante da qual a polícia estava vasculhando.
Eu, particularmente, gostava muito daquele sítio.
Quando Mikoto ainda estava viva, e mesmo depois de morta, eu e Itachi costumávamos frequenta-ló
e passar um tempo juntos no mesmo para esvaziar a mente de toda a confusão do dia a dia, além da
pressão que nosso pai insistia em botar para cima de nós.
Eu até que sentia saudades de lá.
-... Certo, agora um filme com a letra H.
Com os olhos fechados, eu acompanhava de maneira desconexa todos os diálogos e burburinhos
dentro do carro. Faziam menos de três minutos que eu havia acordado, mas, mesmo assim, ainda criava
coragem para ir de encontro à dura e perigosa realidade que enfrentávamos. Em minha cabeça, eu ainda
despertaria em minha cela ao lado de Naruto e com Itachi e Deidara no beliche de cima.
-...Harry Potter. -Era a voz de Obito.
-Ah, eu já sei! -Deidara gritou por cima. Notei que, a medida em que o loiro tagarelava, uma
sensação estanha e incômoda tomava conta de minha testa, assim como se estivessem a cutucando ou
espremendo. -High School Musical, porra! Eu falei antes que você!
-Não falou não. -O moreno rebateu.
Abri meus olhos lentamente.
A visão que tive foi um tanto incomum e, de certa forma, esquisita. Na parte de frente, continuavam
todos na mesma posição. Obito no volante e Itachi ao seu lado. Mas, nos bancos traseiros, foi uma surpresa
me dar conta de que meu corpo inteiro estava esticado, inclusive em cima dos dois outros irmãos que, sem
reclamarem, pareciam permitir que eu dormisse por ali mesmo.
Eu fiquei extremamente atordoado.
Não me recordava de ter caído no sono naquela posição, visto que, anteriormente, estava sentado na
janela esquerda. De qualquer forma, tudo ficou ainda mais perturbador quando notei minha cabeça
repousada na perna de Deidara e o restante de meu corpo esparramado por cima de Naruto que,
aleatoriamente, brincava de “Adoleta” e “Parara parati” com o meu irmão.
-Perere peretiperere... -Ambos cantavam e batiam suas mãos de maneira sincronizada. Itachi com o
seu tronco virado para trás, enquanto o meu bebê permanecia inclinado por cima de mim, sorrindo divertido
por seu cunhado ter topado participar daquela brincadeira tão infantil. -Piriri piritipiriri.
Eles deveriam estar morrendo de tanto tédio.
-Agora um palavrão com a letra C! -Deidara berrou entretido em seu jogo com o moreno.
Sonolentamente, tomei a liberdade de fitar o seu rosto, notando que, por alguma razão desconhecida, era
ele quem estava cutucando a minha testa. -Cu! Ganhei! Chupa Obito!
Soltei um gemido dolorido quando o loiro espremeu fortemente a minha pele.
-Ah, olha só! A Bela Adormecida acordou! -Implicou com um sorriso brincalhão. -Eu estava
estourando suas espinhas!
Esbocei uma careta enojada, afastando sua mão para livrar-me daquela situação constrangedora em
que me encontrava. Em seguida, me levantei atordoadamente de sua coxa, coçando meus olhos enquanto
observava cada mínimo detalhe ao meu redor.
Para a minha surpresa, já era de manhã.
Por volta das seis horas, eu logo imaginei. O sol batia bem fraquinho no vidro, mas era impedido de
adentrar totalmente o carro por conta da quantidade de árvores ao seu redor.
Ainda estávamos no meio da mata.
-...Pororo porotipororo. -Naruto e Itachi estavam verdadeiramente presos naquele joguinho bobo e
curtindo a ideia de brincarem um com o outro. A sincronia de suas mãos era mesmo perfeita. -Pururu
purutipururu.
Honestamente, aquele era o momento mais aleatório e sem sentido de toda a minha vida.
-Bebê...? -Chamei confuso, sentindo um beiço sonolento e involuntário nascer pelos meus lábios.
Não era a minha intenção interromper a brincadeirinha dos dois, no entanto, eu espera que Naruto pudesse
me explicar como eu fui parar deitado em cima de todo mundo e com o Deidara estourando as minhas
espinhas. -O que aconteceu?
O meu bebê me fitou amorosamente.
-H-Hm... Bom dia, Sasuke. -Riu baixinho, deixando de dar atenção ao meu irmão para que eu
pudesse acolher-me em seus braços. Agora que já estava devidamente sentado no banco do meio, pude
me encolher contra si, afundando meu rosto manhosamente na curvatura cheirosa de seu pescoço. -Você
dormiu bastante. A gente achou melhor te deixar deitado pra descansar um pouquinho.
-Eu to com tanto sono... -Respondi perdido, abafando um bocejo contra a sua pele. Seus dedinhos,
por outro lado, foram ligeiramente de encontro ao meu cabelo, ajeitando os fios de minha franja enquanto
me acariciava de forma lenta e carinhosa. -Hmmm...
-Você pode dormir mais um pouco, se quiser. -Ofereceu com a voz doce. -Eu te acordo quando a
gente estiver chegando.
Assenti lentamente com a cabeça.
-Nossa senhora! -Itachi se intrometeu do banco da frente, ao mesmo tempo em que fuçava no
porta-luvas do Jipe, provavelmente buscando algo para se entreter em meio a tanto tédio. -Vai dormir de
novo?! Porra!
Eu o fitei enfezado.
-O que foi? Eu não posso mais dormir agora?
-Você já dormiu umas quatro horas! -Implicou com os olhos focados na pequena “gaveta” em sua
frente, sorrindo ao encontrar um cubo-mágico que, mesmo empoeirado, parecia funcionar perfeitamente.
-Ficou deitadão em cima de todo mundo! Folgado!
-Eu não pedi por isso, falou? Vocês que me colocaram nessa posição. -Rebati cansado, ainda preso
ao meu sono anterior e sem forças para pensar em argumentos. -Eu não queria ter acordado em cima de
todo mundo e com o Deidara estourando as minhas espinhas como se fosse a coisa mais normal do mundo.
O loiro mais velho riu em desdém.
-Você deveria me agradecer, garoto! -Me olhou de cima a baixo. -A sua testa tava parecendo um
Choquito! Eu te fiz um favor!
Cobri minha testa com um olhar ofendido.
-É que quando eu fico muito tempo no carro a minha pele fica oleosa e nasce espinhas... -Me
justifiquei desnecessariamente. -Mas não precisava sair estourando. Isso é estranho.
-Mal-agradecido! -Xingou ríspido.
-Você que deveria ter pensado antes de mexer na testa alheia. Agora vai ficar marca. -Tentei
enxergar meu reflexo através do retrovisor. -Olha só isso... ‘Tá cheio de marquinhas.
-O tapa que eu vou dar na cara de vocês que vai deixar marca! Que tal?! -Itachi estalou a língua,
impedindo que seu namorado argumentasse contra mim. -Eu não quero mais saber de brigas nesse carro!
Já deu!
Por incrível que pareça, ninguém mais se manifestou contra ele, nem mesmo o Deidara.
O bom dessa vez, foi que, no tempo em que estivéssemos no carro, não houveram tantas discussões
como na última fuga. Para falar a verdade, estavam todos tensos demais para darmos início a brigas, fora
que, no começo, antes mesmo de eu cair no sono, combinamos de fazer silêncio em respeito ao meu bebê
que estava completamente apavorado e abalado.
-‘Tá, que seja... -Deidara deu de ombros. -Vai, Obito, vamos continuar. Agora uma cor com a letra G.
-Com a letra G? -Repetiu pensativo, mantendo seu olhar atento na estrada de terra que, por sinal, era
bem apertada e esburacada. -Eu não sei...
O loiro batia as pés pensativamente.
-Green! -Exclamou de repente ao conseguir pensar em alguma coisa, se bem que, no mesmo
instante, Obito respondeu a palavra “gelo”. -Ah, nem vem! Gelo não é cor!
-“Green” também não é.
-Claro que é, porra! “Green” é verde em inglês!
-Sim, mas nós combinamos que o jogo ia ser só em português, Deidara. -Rebateu calmo.
-Suave, mas gelo não é cor! Não vale!
-“Green” também não vale. -Olhou-o brevemente pelo retrovisor. -A brincadeira não é assim. Já é a
segunda vez que você fala uma palavra em inglês. Primeiro foi “dog”, e agora isso?
Itachi gargalhou enquanto terminava de montar o lado vermelho do cubo-mágico.
-Eu nem sabia que você falava em inglês, chefe.
-Eu não falo em inglês. -Murmurou emburrado. -Na verdade, eu só sei falar as cores e alguns
animais. Eu quase repeti de ano por conta dessa merda de língua.
O moreno abriu um sorriso exibido.
-Eu falo inglês. -Se gabou, olhando, em seguida, para mim. -E o Sasuke também.
-É... -Bocejei desinteressado, me derretendo por inteiro com a carícia que recebia do meu bebê em
minha nuca e coro cabeludo. Eu acho que nunca vou me cansar dessa sensação. -E você, bebê? Fala
inglês?
-Uhum, falo sim. -Riu baixinho. -Além de ginástica, eu costumava fazer aulas de inglês duas vezes
por semana. Até que era legal.
-Porra! -Deidara socou o banco com um olhar desapontado. -Só eu que não sei falar inglês nessa
merda?! Você também fala, Obito?!
-Sim, eu falo. -Respondeu simplista.
-Ah, vão se foder! -Cruzou os braços, observando a paisagem ao lado de fora com uma carranca.
-Cambada de nerds!
-Mas eu não falo só inglês. -Itachi continuou a se exibir, preenchendo mais um lado de seu
cubo-mágico. Dessa vez, era a cor azul. -Eu sei japonês, espanhol e um pouco de alemão.
-Então fala uma frase inglês aí! -O loiro provocou. -Quero só ver, espertalhão!
O moreno tirou um tempo para pensar, até que, após curtos dez segundos, um sorriso maldoso
cresceu em seus lábios.
Eu tinha certeza de que o Itachi diria alguma besteira.
-Suck my dick, bitch.
Simultaneamente, caiu na gargalhada pelo o que ele mesmo disse, deixando Obito com uma
expressão desconfortável ao seu lado. Meu irmão tinha a opção de selecionar, literalmente, qualquer
palavra existente na língua inglês, mas, como o habitual, precisava incluir palavreados chulos em seu
vocabulário e que deixassem todos sem graça.
-Eu mereço... -Resmunguei contra o pescoço de Naruto, escutando-o soltar uma risadinha
constrangida. -Desculpa por você ter precisado ouvir uma coisa dessas, bebê.
-H-Hm... Não tem problema. -Afastou meus fios ao beijar delicadamente minha testa, sorrindo
quando retribui na mesma intensidade em sua curvatura. -Eles já disseram coisa pior. Eu já estou
acostumado.
Neguei desacreditado com a cabeça.
Itachi e Deidara, sem sombra de dúvidas, foram um dos que mais corromperam a inocência do meu
bebê. Antes de começarmos a andar todos juntos, o Naruto não tinha o costume de entender piadinhas de
duplo sentido. Agora, já havia virado rotina vê-lo desvendar cada uma delas.
-Do que é que você está rindo? -O loiro mais velho levantou a sobrancelha. -Qual é a graça? O que
foi que você falou?
Itachi secou o canto de seus olhos.
-Deixa pra lá, chefe. -Sorriu divertido, ciente de que seu namorado não fazia a mais vaga ideia do
que aquela pequena frase em inglês significava. -É besteira minha.
-Ah, mas agora você vai falar! -Chutou o seu banco, assistindo-o cair na gargalhada novamente.
-Franguinho? Você que entende de inglês... O que foi que ele disse?!
O meu bebê se encolheu no banco.
-B-Bem... -Corou violentamente com a posição em que estava sendo colocado, olhando desesperado
até mim como se pedisse por ajuda. Deidara havia escolhido a pior pessoa possível para questionar sobre a
tradução. -Ele falou coisa feia... Muito feia.
-Que “coisa feia” ele falou, caralho?!
Eu olhei em sua direção.
-Chupa o meu pau, vadia. -Respondi simples.
O loiro me fitou extremante ofendido.
-Chupa você o meu, sua puta! -Devolveu enfurecido e alterado, me dando um empurrão no ombro.
-Qual é a sua, cara?! Vai se foder!
Discordei assustado com a cabeça.
-Quê? Não, cara... -Tentei concertar a situação, vindo seguido das gargalhadas histéricas de Itachi e,
surpreendentemente, risos tímidos de Naruto e Obito. -Você entendeu errado. Eu não disse isso pra você.
Essa é a tradução da frase que o meu irmão te falou. “Chupa o meu pau, vadia”.
Deidara piscou lento e atordoado.
Permaneceu com os olhos vidrados de maneira reflexiva aos meus, até que pareceu assimilar tudo o
que acabara de acontecer. Por fim, soltou um riso curto e divertido, mesclando-se as gargalhadas alheias
que ecoavam no carro.
-Ah... Foi mal. -Deu tapinhas em meu ombro. -Eu reconheço que surtei atoa. Agora eu entendi...
Desculpa te chamar de puta.
Ri meio perturbado.
-Sem problemas... Eu acho.
Itachi virou-se para trás com o rosto vermelho e a voz falhando de tanto gargalhar.
-Puta merda, eu vou morrer! -Ele não conseguia parar de rir, tanto que, de vez em quando,
engasgava-se com sua própria saliva e tossia compulsivamente. -Caralho, Obito, por que você não gravou
esse momento?!
-Como é que eu ia saber que o Deidara não ia entender o significado, Itachi? -Devolveu
tediosamente. -Eu não tenho bola de cristal.
-Você é lento, isso sim! -Retrucou sorridente. -O Deidara estava certo! Você é uma lesma!
Obito suspirou esgotado. Muitas vezes, eu admirava a paciência de meu primo em aturar tantos
xingamentos e piadinhas dos meninos sem responder nenhuma delas a altura.
Eu, sinceramente, não sei se conseguia ser assim.
-Você é um louco morfético, Itachi! -Deidara socou o topo de sua cabeça. -Mais uma dessas, e eu
juro que enfio esse cubo-mágico dentro do seu cu! E eu não to nem aí se ele não é do formato do seu rabo,
ouviu?! Eu dou um jeito de entrar rapidinho!
-Credo, chefe, foi só uma brincadeira. -Acariciou o ponto atingido, cessando suas risadas aos
poucos. -Você é muito agressivo.
-Para de drama e passa esse cubo pra cá! -Esticou sua mão. -Anda logo!
Itachi virou com um olhar desconfiado.
-Se eu te der, você vai enfiar ele no meu cu?
-Eu vou te fazer engolir esse negócio se você não me dar agora, caralho! -Enfiou-se entre o vão dos
bancos da frente, fazendo com que Obito freasse o carro de abrupto. Eu precisei me segurar ao meu bebê
para que ele não se machucasse ou batesse a cabeça.
-Deidara! -O nosso “motorista” repreendeu, olhando irritado em sua direção. -Quantas vezes eu já te
disse pra não me assustar enquanto eu estiver dirigindo? Para de ficar gritando no meu ouvido, senão eu
vou bater o carro e vamos todos morrer aqui mesmo!
-Meu Deus, que exagero! -O loiro rebateu. -Eu nem encostei em você, Obito!
-Você não precisa encostar em mim pra me assustar. -Ajeitou o seu cinto de segurança, olhando até
mim e Naruto como se quisesse conferir se estávamos bem. -Não faça mais isso, Deidara. Entendeu?
Itachi riu levemente.
-Chefe, dessa vez ele tem razão. -Entregou, por fim, o cubo-mágico em suas mãos. -Você tinha que
ter visto o Sasuke e o seu irmão na hora que o carro freou. Por sua causa, os dois quase arrebentaram o
chifre no para-brisa.
O meu bebê me fitou confuso.
-C-Chifre? -Sussurrou ofendido.
-Nem pergunta, bebê. -Sinalizei para que ele deixasse pra lá. Era uma perda de tempo dar ouvido às
loucuras de meu irmão. -Eu desisti de tentar entender o Itachi faz tempo.
-H-Hm... Está bem. -Riu baixinho.
Notei Deidara retornar ao banco de trás, empinando o nariz ao posicionar-se em seu lugar de antes,
ou seja, ao meu lado.
-Quem te chamou na conversa, hein, Itachi? -Começou a mexer no cubo, embaralhando todas as
cores que seu namorado havia completado anteriormente. -O papo não chegou no bueiro, seu morfético!
-Meninos, por favor, parem de gritar. -Obito suplicou esgotado. -Por que vocês dois não conseguem
ser civilizados que nem o Sasuke e o Naruto? Não é tão difícil assim.
Dessa vez, o loiro tomou a liberdade de chutar, propositalmente, o seu banco.
-Seu puxa saco do caralho! -Acusou em um tom de deboche. -Todo mundo já sabe que você tem
preferência por esses dois pirralhos!
O moreno deu de ombros.
-Eu tenho mesmo, e daí? O Sasuke e o Naruto são agradáveis e não me dão trabalho, muito
diferente de vocês dois.
Abri um sorriso convencido, escutando o meu bebê rir tímido com o que escutou.
-H-Hm... Eu também gosto muito de você, Obito. -Naruto lhe direcionou um sorriso doce, recebendo
outro de meu primo, o qual fitou-o de forma breve pelo retrovisor. -Você é muito legal.
-Obrigado, Naruto. Você é um garoto muito fofo e gentil. -Respondeu simples, deixando-o com as
bochechas coradas ao meu lado.
Cutuquei sua cinturinha para provocá-lo.
-Ouviu só, bebê? -Sorri carinhoso pelas cócegas que lhe proporcionei, inclusive ao escutar sua
risadinha gostosa e infantil. -Você é muito fofo. Todo mundo concorda.
-N-Não sou não, Sasuke. -Um beicinho nasceu em seus lábios. -Você que é fofo.
-Só não mais que você. -Lhe roubei um selinho. -Meu bebê mais fofinho desse mundo.
Seu rostinho ganhou uma coloração a mais.
-H-Hm... Você que é o meu bebê.
Abri um sorriso doce.
-Eu sou?
-U-Uhum... -Apertou minhas bochechas sem qualquer aviso prévio, espremendo-as de leve até que
meus lábios estivessem no formato de um biquinho. -É o meu bebezão. E eu não ligo se você é mais velho
do que eu, Sasuke.
Ri divertido só de imaginar em como estaria o meu rosto naquele momento. Além de estar sendo
amaçado pelas mãozinhas do meu bebê, ele era tomado por um ar apaixonado.
-Combinado, então. -Minha voz soou um pouco estranha pelo fato de minha boca estar sendo
achatada. -A partir de agora, eu sou o seu bebezão e você é o meu bebezinho.
Naruto riu em aprovação.
-Combinado.
Aproximei nossos rostos para depositá-lo um selinho. Admito que foi um tanto “peculiar” beijar o meu
bebê daquela maneira, especialmente por tê-lo espremendo os meus lábios como anteriormente.
-Já que você é o meu bebezinho... -Sussurrei entre um beijo e outro. -Vem aqui. -Bati em minha coxa
para chamá-lo ao meu colo. -Não tem cinto de segurança aqui no banco de atrás, e eu preciso te proteger
caso o carro bata.
Naruto riu meigo e carinhoso.
De imediato, deslizou com um sorriso até o meu colo, provavelmente sem pensar muito em sua
segurança, mas sim no fato de que, naquele momento, desejava ficar o mais perto possível de mim.
Acolhi-o com um suspiro abobado, deixando com que ele se sentasse de ladinho em minhas coxas,
da maneira como geralmente ficava e considerava mais confortável.
-Pronto. -Entrelacei meus braços ao redor de sua cintura, beijando sua bochecha cheinha. -Agora eu
virei o seu cinto de segurança pessoal.
-H-Hm... Eu me sinto muito mais seguro também. -Abraçou atrás de meu pescoço. -Muito obrigado,
Sasuke, eu te amo.
Acariciei o meu nariz ao seu.
-Eu te amo mais do que tudo.
Por breves segundos, o carro caiu num silêncio bom. Sendo bem realista, estavam todos presos em
seus mundinhos e ocupados com suas próprias tarefas. Obito em dirigir o veículo, Itachi em encontrar algo
interessante no porta-luvas e Deidara quebrando a cabeça para completar o cubo-mágico.
-Caralho. -Pude ouvir o loiro resmungar. -Como funciona esse negócio, Itachi?
-Ué, gira os lados até completar uma cor. -Explicou com uma má vontade de se impressionar,
totalmente alheio aos movimentos de seu namorado. -É fácil.
-Fácil pra você que é um puta gênio! -Agora ele remexia o objeto mais violentamente, fazendo
combinações mal-pensadas e sem sentido com os quadradinhos. -Mas que porra!
O moreno olhou para trás.
-Chefe, o cubo-mágico é feito pra desestressar. -Informou calmamente. -Conhece essa palavra? Se
você ficar irritado desse jeito, não vai adiantar de nada.
-Mas essa merda não funciona! -Deidara começou a desferir murros no cubo, batendo-o, em seguida,
no banco do carro. -Caralho!
-O que você acha que vai acontecer se você ficar batendo no cubo desse jeito, Deidara? -Itachi
provocou, ao mesmo tempo em que retirava um mangá infantil da gaveta em sua frente. -Eu te ajudo.
Alternativa A: Ele vai se montar magicamente. Alternativa B: Ele vai continuar da mesma forma, talvez um
pouco mais quebrado por conta da sua violência.
-Alternativa C: Eu monto essa merda inteira e te faço engolir em seguida! -O loiro estalou a língua.
-Eu sei que não vai adiantar nada ficar batendo nele, porra! Eu não sou burro!
-Então por que você insistir em bater?
-Porque eu quero!
O meu bebê riu baixinho.
-H-Hm... Eu posso tentar, Dei?
-Toma essa bosta! -Jogou em sua direção, fazendo-o pegar o objeto no ar.
Acompanhei com um sorriso discreto o meu bebê avaliando o cubinho em suas mãos,
movimentando-o curiosamente com um olhar e biquinho concentrado.
Como o Naruto conseguia ficar adorável até mesmo montando um cubo-mágico?
-N-Não parece ser tão difícil... -Falou sozinho, arrancando uma risadinha de minha parte.
-Deixa eu te dar uma dica, bebê. -Toquei em sua mãozinha por cima do cubo. -Começa resolvendo
as pecinhas brancas e, em seguida, monta uma cruz com as arestas, desse jeito, olha... -Movimentei a
minha mão contra a sua, completando uma pequena parcela do lado. -Entendeu, mais ou menos?
Naruto me fitou surpreendido.
-U-Uau! Você é muito bom, Sasuke!
Ri carinhosamente.
-Foi o Itachi que me ensinou.
-H-Hm... Você é muito inteligente, Itachi. -Sorriu atencioso para o banco da frente. -Você e o Sasuke,
na verdade.
-Obrigado. -O moreno agradeceu sincero. -É a genética, né, Sasuke?
-Sim. -Ri baixinho.
Deidara bufou tediosamente.
-E eu sou o quê, Naruto? Uma porta?! -A sua voz possuía uma pitada de ciúmes.
O mais novo negou desesperado.
-N-Não, Dei... -Sorriu fraco. -Você também é inteligente. Só que o seu pavio curto complica um pouco
as coisas e te faz desistir rápido.
Ele empinou o nariz.
-Vai se foder.
-Ei, não fala assim com ele, tadinho. -Defendi o meu bebê da maneira mais sensível que pude,
abraçando-o protetoramente contra mim. -O Naruto só falou a verdade.
-Fica quieto você também, lazarento!
Suspirei em silêncio. Às vezes, a melhor maneira de se lidar com o Deidara, era ignora-ló e não dar
moral às suas patadas.
-H-Hm... Eu to conseguindo, Sasuke?
Virei-me novamente ao Naruto.
Avaliei o cubo entre suas mãozinhas, sorrindo de orelha a orelha ao notar que o loiro havia
completado a cor branca e verde. O meu bebê é mesmo muito inteligente e aprende as coisas bem rápido,
independente do que seja.
-‘Tá certinho. - Respondi orgulhoso, deixando-o com um sorriso ainda maior no rosto. -Quem é o meu
bebê mais inteligente desse mundo, hm? -Sussurrei ao roçar meu nariz no seu.
-M-Muito obrigado por me ensinar, Sasuke. -Devolveu com as bochechas vermelhinhas. -Olha, Dei!
Eu consegui duas arestas! -Mostrou o cubinho para o seu irmão. -Não é legal?
Deidara o mirou com uma carranca.
-Me dá essa merda aqui!
Em um movimento rápido e ágil, o loiro mais velho arrancou o cubo de suas mãos e, sem
justificativas alguma, abriu o vidro do jipe e atirou o objeto no meio da estrada de terra.
Ficamos todos estáticos com sua ação.
O meu bebê era o mais surpreendido e, de certa forma, chateado. Agora que havia aprendido a
monta-ló, teria que deixar sua mais nova habilidade de lado por conta dos surtos sem sentido de seu irmão
mais velho.
-D-Deidara, por que você fez isso? -Choramingou em meu colo, tremelicando seus lábios de leve.
-Eu tinha gostado de montar.
-Nossa, cara, pra que isso? -Repreendi com uma feição abismada, consolando Naruto com um
pequeno carinho em seus quadris.
Itachi olhou até seu namorado.
-Chefe... Por que você jogou o cubo?
-Ah, vão se foder! -Cruzou os braços na altura do peito. -Eu joguei porque eu quis, ué!
-Por que você quis? -Ergui a sobrancelha. -Ou será que é por que você não conseguiu se contentar
que todo mundo sabia montar o cubo-mágico, menos você? -Perguntei em um tom pacífico. -Assim como
todo mundo sabia falar inglês e você não fazia ideia, não é?
Ele me fitou enfurecido.
Era claro que eu havia lhe cutucado no ponto certo.
-Você ‘tá querendo morrer, é isso?! -Levantou a mão em amaçada. -Repete! Eu quero ver!
Antes que pudéssemos dar início a uma nova discussão, fomos abruptamente interrompidos por
Obito, o qual freou o carro de repente.
-Meninos... -Chamou em afobação. -Olhem.
Seguimos para onde o seu dedo apontava.
A estrada de terra havia chegado ao fim. Em qualquer outra situação, eu ficaria aliviado por não
precisar mais lidar com tanto balanço, mas, daquela vez, tinha um bom motivo para estarmos todos de
ombros tencionados.
-Nós vamos entrar na rodovia. -Informou ao recomeçar a acelerar o carro, embora, dessa vez, ele
dirigisse mais devagar. -Pegamos um atalho pela estrada de terra, mas precisamos da rodovia pra chegar
no nosso destino. Esse é o único caminho até a fronteira da cidade.
Eu havia quase me esquecido desse detalhe.
-Itachi... -Chamei com certo desespero.
-Ei, fica tranquilo. -Ele sorriu até o banco de trás, acariciando minha perna como uma espécie de
conforto. -A gente faz exatamente como o combinado, lembra?
Assenti nervosamente.
Aquela era a hora em que arriscaríamos tudo.
Antes mesmo de entramos no Jipe e seguirmos pela estrada, combinamos que, no momento em que
alcançássemos a rodovia principal, precisaríamos arrumar uma forma de ficarmos pelo menos um pouco
escondidos da patrulha policial.
Como ultrapassar a fronteira era a única maneira de deixarmos a cidade, bolamos um plano que,
embora não fosse muito bem pensado, era a única coisa que tínhamos no momento. Iríamos todos nos
arriscar ao ponto de esconder-nos no porta-malas do carro.
Era o nosso único esconderijo no momento.
-Podem ir indo para parte de trás, meninos. -Obito aconselhou, desacelerando propositalmente o
veículo para termos tempo de nos locomovermos antes de cruzarmos com os guardas. -Rápido, por favor.
Estávamos, mais uma vez, nas mãos de Obito.
Era ele quem dirigiria e lidaria com os policiais caso algum deles nos parasse. A única vantagem que
tínhamos no momento, era o fato de que, diferente de mim e os meninos, o ex-carcereiro não possuía
nenhum tipo de foto sua rondando a internet como procurado.
Pelo menos por enquanto, quase ninguém sabia de sua existência e identidade.
-Vamos indo, bebê. -Chamei delicadamente, dando pequenas batidinhas em sua coxa para
incentiva-ló a levantar. Ele estava nervoso, é claro, mas aquela não era hora de ficarmos paralisados por
conta do medo. -A gente tem que ir agora até o porta-malas.
Ele assentiu completamente atordoado.
Ao mesmo tempo em que Naruto se erguia de meu colo, notei meu irmão passar agilmente para o
nosso banco, preparando-se para que entrássemos todos juntos atrás do carro.
O meu bebê foi o primeiro a passar para trás.
Por conter suas pernas trêmulas, o loiro teve um pouco de dificuldade em se locomover, mas nada
que atrapalhasse muito a passagem dos demais. Ao se acomodar no canto esquerdo do porta-malas, ele
me chamou com a mãozinha, sendo, aparentemente, o mais apavorado entre nós.
A pedidos de Naruto, eu fui em seguida.
Passei para trás sem muitos contratempos, sentindo, logo atrás de mim, a presença exagerada de
Deidara, o qual embolou-se de maneira desengonçada entre os bancos, batendo a cabeça no teto enquanto
resmungava um “aí, caralho”.
Por fim, veio Itachi. Ele foi o mais veloz de todos ao passar suas pernas compridas por cima do
banco e acomodar-se no outro canto.
Agora estávamos os quatro no porta-malas.
Eu e Naruto tomando posse do lado esquerdo, e Itachi e Deidara do direito. Estava bastante
apertado, devo confessar, mas, sinceramente, não estávamos ligando muito para isso e nem para o fato de
estar um tremendo calor.
-Se cubram com o lençol. -Obito aconselhou do volante, mantendo uma postura
impressionantemente tranquilizada. Era tudo um disfarce, obviamente. Logo de frente a si, centenas de
carros da polícia tomavam conta da fronteira, parando veículos aleatoriamente para inspecionar o seu
interior. -Eles já notaram a nossa presença, vão logo.
Agora já não tinha mais volta.
Nesse mesmo sentido, foi o meu irmão quem tomou a iniciativa de estender o lençol preto que
trouxemos dos chalés por cima de nós, deixando-nos, instantaneamente, escondidos e encolhidos por baixo
do mesmo.
Aos poucos, notamos o carro desacelerar.
Todos tínhamos vontade de saber o que estava acontecendo ao lado de fora, no entanto, o plano era
que ficássemos em silêncio e não fizéssemos nenhum tipo de pergunta ao Obito, até porque, se os policiais
notassem-o se comunicando com alguém, provavelmente suspeitariam de si e pediriam para conferir a parte
traseira do veículo.
Era crucial que ficássemos quietos.
-S-Sasuke... -A voz do meu bebê soou baixinha em meus ouvidos, vindo acompanhada de um soluço
e um aperto forte em meu braço direito, assim como se pedisse por proteção. -E-Eu to com tanto medo...
Eu também estava. Com muito medo.
-Ei, bebê, shhh... -Pedi em um cochicho. -Vem cá, sim? Me abraça. Vai ficar tudo bem.
Deixei com que Naruto se encolhesse entre os meus braços. Abracei-o protetoramente, abafando,
em consequência, suas lágrimas e soluços contra o meu peito. Ele estava totalmente em pânico, e a maior
evidência disso era o seu corpo que se tremia sem parar.
Eu juro que estava quase da mesma maneira.
Estava à beira de minhas próprias lágrimas ou de sofrer um colapso nervoso. E tudo ficou um milhão
de vezes mais apavorante quando o carro parou de andar de repente, e um suspiro de Obito se fez
presente no banco da frente
-Bom dia, senhor. -Era a voz de meu primo, vindo acompanhada do som familiar e arrastado do vidro
descendo. -Como vai?
-Bom dia. -Dessa vez, era um vozeirão grosso e desconfiado. Eu deduzi que se tratasse de um dos
policiais. -Eu posso saber para onde você está indo a essa hora da manhã?
Ele ficou por volta de três segundos calado.
-Estou indo ver a minha namorada.
-Sua namorada? -Repetiu ressabiado.
-Sim, senhor.
-Eu posso ver a sua habilitação, por favor?
-Claro, só um instante.
Eu e os meninos nos entreolhamos.
Ainda estávamos da mesma forma. Todos absurdamente nervosos, suados, ofegantes e, no meu
caso, prestes a desabar. Até mesmo o Deidara roía as suas unhas e mantinha-se agarrado ao tronco de
meu irmão.
-Aqui está. -Obito provavelmente estaria entregando a sua carteira de motorista.
O policial permaneceu em silêncio.
-Certo... -Coçou a garganta. -Com o que você trabalha? Eu posso saber?
-Eu sou policial, na verdade.
-Oh, é mesmo?
-É sim, senhor.
-Então você certamente ficou sabendo sobre a fuga da prisão a uns dias atrás, estou certo?
-Sim. -Deu uma risada fraca. -Eu imaginei que as fronteiras estariam desse jeito. Que loucura, não é?
Eu me pergunto como aqueles criminosos conseguiram escapar tão facilmente... Isso é um completo
absurdo.
De canto de olho, notei Itachi sorrir de lado.
O Obito era mesmo um ótimo ator.
-Pois é. -A voz desconhecia prosseguia. -De qualquer forma, estamos inspecionando todos os carros
que querem cruzar a fronteira. E eu terei que olhar o seu.
Meu corpo foi tomado por uma onda de adrenalina.
E não só o meu, como o do meu bebê também. Eu acho que nunca havia visto o Naruto com tanto
medo em toda a minha vida, nem mesmo quando Orochimaru tentou se aproveitar de si. Isso, de alguma
forma, me deixou ainda mais preocupado e ansioso.
-Claro, fique à vontade.
Obito também deveria estar bem nervoso.
-Sa-Sasuke... -Naruto me chamou mais uma vez, contendo sua voz incrivelmente falha, quase que
irreconhecível. O seu estado era mesmo de seu preocupar. Eu, sinceramente, achei que ele vomitaria ali
mesmo. -E-Eu...
-Shhh... -Calei-o ao prensar seu rosto contra o meu peitoral. -Chora baixinho, bebê.
Aquela era uma frase um tanto rude e insensível de ser dita para alguém naquele estado, mas, por
outro lado, eu não tinha escolha. Era a nossa vida e liberdade em risco.
As lágrimas já se acumulavam em meus olhos.
Somente em situações de extremo risco e nervosismo eu me sentia dessa maneira. Com uma
vontade imensa de desabafar. A última vez em que passei por isso, foi quando precisei salvar o meu irmão
de um sequestro e, por conta disso, eu atirei em dois homens.
Aquele dia eu chorei muito. Muito mesmo.
A verdade é que era uma sensação inexplicavelmente boa poder proteger o Naruto e ser o seu
porto-seguro em momentos como esses, mas, no fundo, eu também desejava ser protegido por alguém.
Por algum razão, eu olhei em direção à Itachi.
E, dessa mesma forma, foi como se meu corpo tivesse criado vida própria. Sem pensar muito a
respeito de meus atos, deslizei-me até perto de meu irmão, aproveitando o fato do porta-malas ser
minúsculo para que pudéssemos ficar o mais próximos possível.
Foi surpreendendo a maneira como Itachi se deu conta do que eu queria, antes mesmo que eu
compreendesse os meus próprios desejos.
Ele sabia bem que eu estava em busca de proteção. Por isso, com o Deidara agarrado ao seu lado
direito, Itachi permitiu que eu tomasse posse de seu esquerdo e o abraçasse exatamente como Naruto
estava fazendo comigo. Com necessidade e medo.
Por fim, foi quando eu comecei a chorar.
Foi um momento que, embora angustiante, serviu para mostrar que todos ainda precisávamos uns
dos outros, independente das discussões. As lágrimas que desciam por minhas bochechas eram
silenciosas, mas foram o bastante para que Itachi reparasse em meu estado e beijasse o topo de minha
cabeça para mostrar que estava ali comigo, fazendo exatamente o mesmo com Deidara.
No final das contas, o meu irmão também era o porto-seguro e protetor de todo mundo.
Nesse meio tempo, passos puderem ser ouvidos ao redor do veículo. Sabíamos que o policial se
aproximava e, a qualquer minuto, poderia abrir o porta-malas e flagrar a todos nós.
Eu acho que nunca senti tanto medo antes.
-O que tem aqui no porta-malas? -Era aquela mesma voz. Por alguma razão, eu soube que nunca
mais me esqueceria dela, mesmo não vendo diretamente o seu rosto.
-Minhas malas. Eu vou passar alguns meses na casa da minha namorada. -Obito mentia muito bem.
-Ela mora longe.
-Sei... -Deduzi que o homem estivesse parado de frente para nós. Eu me abraçava muito, mais muito
forte ao Itachi, assim como o meu bebê fazia comigo, e o Deidara com o seu namorado. Não tinha mais o
que fazer, apenas esperar para ver o que o futuro nos aguardava. -Bom, acho que está tudo certo por aqui.
Fico feliz de saber que todos os policiais foram avisados sobre a fuga. Eu não achei que a notícia chegaria
tão longe.
Suspiramos, conjuntamente, em alívio.
-Eu acho difícil os policiais não ficarem sabendo. -Eu sabia que meu primo também estava aliviado
no banco da frente, mas ainda precisava soar despreocupado. -As rádios e os jornais só falam disso agora.
-Tem razão. -A voz se distanciava. -Pois bem, você está liberado. -Deu batidinhas no capô do carro.
-Desculpe a demora.
-Imagina, senhor. Até mais.
-Até mais.
O carro, por fim, voltou a acelerar.
Mas, de qualquer forma, eu não conseguia parar de chorar. Nem eu, e nem o Naruto. Ambos ainda
estávamos muito em choque com o acontecido, embora eu tivesse quase certeza de que o meu bebê
estava pior.
-Ei, gente... -Itachi chamou sensivelmente, provavelmente esperando pelo sinal de Obito para que
pudéssemos sair de uma vez daquele do porta-malas. -Já passou, calma.
Eu ainda não conseguia me mexer.
Enquanto meus braços permaneciam, protetoramente, em volta do meu bebê, eu também desejava
que Itachi me abraçasse por ainda mais tempo. Pelo menos até que tivéssemos certeza de que tudo ficaria
bem.
-Meninos, já está tudo bem. -Obito anunciou do banco da frente. -Podem sair, nós já atravessamos a
fronteira.
Abri os meus olhos lentamente.
Eu nem ao menos reparei que havia os fechado.
-‘Tá tudo bem. -Itachi reforçou, soltando de meu corpo pouco a pouco para me passar segurança,
enquanto, com o Deidara, ele fazia igual. -Já acabou, tá bom?
Respirei fundo para controlar as minhas emoções. Agora que já estávamos a salvo, eu teria que ser
forte em dobro para socorrer o meu bebê, o qual, diferente de mim e os meninos, permanecia com o rosto
colocado ao meu peito e chorando sem controle algum.
-Naruto... -Funguei meu nariz, chamando por si da maneira mais doce que consegui. -Ei, bebê, olha
pra mim? Por favor.
-Já está tudo bem, franguinho. -Deidara reforçou, acariciando o ombro de seu irmão sutilmente.
-Pode confiar.
Lentamente, o loiro distanciou seu rosto de mim, tremendo seus lábios enquanto olhava ao seu redor
com a intenção de conferir se aquele momento era mesmo real.
Abri um sorriso carinhoso para si, enxugando suas lágrimas cuidadosamente. Mesmo estando
inconsolável, eu ainda considerava o meu bebê muito corajoso, até porque, ele passou por diversas
situações que muitas pessoas jamais aguentariam enfrentar e, mesmo depois de tudo, continua intacto.
-S-Sasuke... -Choramingou com certa timidez pelo meu nome, abraçando-se novamente ao meu
tronco, enquanto, por alguma razão, as suas bochechas ficaram rosadas.
-Ei, o que foi? -Franzi meu cenho, distanciando alguns fios suados de sua testa.
-E-Eu... H-Hm... Eu fiz xixi nas calças.
O meu coração se apertou um pouquinho.
Eu fiquei morrendo de pena do Naruto.
-Oh, bebê... -Ri fraco para descontrair, contente por Itachi e Deidara não terem tirado onda com a
situação. -Não tem problema nenhum. Você não precisa se envergonhar por isso, viu?
-É, fica suave. -Deidara apoiou, fazendo uma pequena careta. -Eu também fiz um pouco.
Meu irmão o fitou impressionado.
-Você mijou nas calças, chefe?
-Mijei. E vocês têm sorte de eu não ter borrado a cueca! Quando eu fico muito nervoso, eu tenho
vontade de cagar!
Ele conseguiu nos arrancar algumas risadas.
-‘Bora logo sair daqui, pelo amor de Deus! -O loiro abanava-se descontroladamente pelo calor. -Eu
estou derretendo!
-Sim, ‘tá uma suruba das grandes aqui atrás. -Itachi murmurou. -E olha que eu já participei de
várias...
Deidara parou no meio do caminho.
-Você já participou de uma suruba, Itachi?
-Sim... Mas eu não quero falar sobre isso.
-Meu Deus... -Balançou a cabeça. Ele nem parecia mais se surpreender com as coisas que escutava
de seu namorado. -Tira logo esse lençol daqui, porra, que calor!
Fui eu quem tomei a liberdade de afastar a coberta. Simultaneamente, todos suspiramos em alívio,
levantando nossas cabeças e nos deparando com a estrada em nossa frente.
Não era mais de terra. Agora era asfalto puro.
Deidara foi o primeiro a deixar o porta-malas, saindo com um sorriso no rosto ao ajoelhar-se no
banco do meio. Logo em seguida, foi o Itachi. O moreno passou suas pernas por cima do banco e foi de
costas para a parte da frente, batendo, em consequência, o traseiro no rosto de seu namorado.
-Porra... -Deidara empurrou a sua bunda. -O outro vem logo com o cu na minha cara.
-Foi mal aí. -Itachi murmurou.
Quando chegou a minha vez, eu decidi levar o meu bebê junto comigo, especialmente pelo fato de
Naruto não ter criado coragem para soltar-se totalmente de meus braços. Foi um pouco complicado passar
para o outro lado com alguém atarracado a mim, mas, como todas as outras vezes, eu dei o meu jeitinho.
-Agora eu que vou na frente! -Deidara declarou repentinamente, passando para o parte da frente de
maneira veloz. -Chupa Itachi!
-Ah, vai se foder, chefe. -O moreno resmungou amargurado, nenhum pouco a vontade por precisar
sentar-se nos bancos de trás. A ordem continuava a mesma, embora, dessa vez, o meu irmão estivesse
substituindo o Deidara. -Eu achei que já tivesse deixado claro que o banco da frente é meu.
-Foda-se, meu anjo! Nada pode me abalar agora! -Colocou os pés no painel, arrancando um olhar
nada agradável de Obito. -Que cara é essa, hein?! -Cutucou o meu primo. -Agora é só curtição! Nós
ultrapassamos a fronteira!
-É... Só curtição. -Obito murmurou tedioso. -Eu não vejo a hora de sair daqui, isso sim.
-Você disse alguma coisa? -O loiro desafiou.
-Ele disse que a gente precisa comemorar! -Itachi respondeu por si, me abraçando de lado ao estalar
um beijo exageradamente comprido em minha bochecha. -Estamos livres e fora do perigo!
Soltei um riso baixo.
Apesar de não demonstrar muito, eu também estava bastante contente de termos ultrapasso a
fronteira sem contratempos e estarmos indo para uma de minhas antigas casas que, em tese, era
considerada segura.
-Você está melhor, hm? -Indaguei aos sussurros para o meu bebê, o qual espremia sua bochecha
coradinha em meu ombro, monstrando-se cansado e, de certa forma, traumatizado com o que ocorrerá
minutos atrás. -Quer dar uma dormida? Pode deixar que eu te acordo quando a gente chegar.
-U-Uhum... Eu quero dormir, Sasuke.
-Tudo bem. -Beijei carinhosamente a sua testa. -Deita aqui... -Sinalizei para que ele repousasse a
cabeça em minha perna. Assim como fiquei logo quando adormeci, permiti que o meu bebê se espalhasse
por todo o banco e, sem nem ao menos pedir pela permissão de Itachi, esticasse suas pernas por cima de
si. -Pronto, bebê. ‘Tá confortável?
Ele assentiu com um ar sonolento.
Iniciei um carinho pequeno em sua nuca e coro cabeludo, sorrindo apaixonado no momento em que
seus olhinhos se fecharam, dando espaço a uma feição adorável e angelical em rosto. Seus cilícios longos
e curvilíneos eram o que mais destacavam-se, repousando artisticamente em suas bochechas rosadinhas e
levemente amaçadas em minha coxa.
Eu o amava mais do que tudo.
-...Não tem nada pra ouvir nesse rádio! -Deidara mexia aleatoriamente nos botões do carro, fazendo
caretas atrás de caretas com as músicas que tocavam. -Porra! Como é que a gente vai comemorar com
essas músicas de merda?!
-Conecta sua playlist aí, Obito. -Itachi debochou entre risadas. -Coloca aquela tal de “Para Dormir”.
Aposto que só tem música feliz!
Ele o fitou amargurado através do retrovisor.
-As minhas playlists são ótimas, tá bom? -Obito parecia ter ficado verdadeiramente ofendido. -Eu
tenho muito orgulho delas.
O loiro o fitou em expectativa.
-Empresta o seu celular, Obito!
-Não. -Negou rápido. -Nem começa, Deidara.
-Empresta! -Esticou sua mão até o bolso alheio, arrancando o aparelho na maior cara de pau. -Qual é
a senha dessa bosta?!
-Eu não vou te dizer.
-Itachi? -Olhou esperançoso até o seu namorado. -Qual é a senha do Obito?
-Sei lá. -Deu de ombros. -Tenta colocar “Rin”.
O loiro digitou rapidamente.
-Caralho... Não é isso. -Suspirou pensativo. -Que dia a Rin faz aniversário?
-E eu lá sei, chefe?
-Você é um inútil também, hein, Itachi?! -Estalou a língua. -Porra! Nunca sabe de nada!
-Ué. Você também não sabe, cacete.
Ainda focado em dar carinho ao meu bebê adormecido, acompanhei pelo canto de olho o loiro digitar
inúmeras senhas sem sentido no celular de meu primo, inclusive algumas que incluíam a palavra “Danzou”,
“Danzou, eu te amo” e, até mesmo, “Danzou, come o meu cu”.
Ri enquanto negava com a cabeça.
O Deidara ainda estava preso a ideia de que Obito tinha um caso com o diretor Danzou.
-Para com isso. -O moreno tentou puxar o celular de si. -Você vai bloquear desse jeito.
-Me dá o seu dedão! -Ignorando totalmente seus pedidos, Deidara agarrou na mão alheia,
pressionando, contra a vontade de meu primo, a sua digital no aparelho. Querendo ou não, o celular foi
desbloqueado. -Boa, agora sim!
Itachi se animou também.
-Entra nas playlists dele!
Enquanto meu irmão se inclinava de leve para alcançar o banco da frente, Deidara mexia no único
aplicativo de música presente do celular, deixando Obito cada vez mais aflito ao seu lado. Eu apenas
acompanhava tudo em silêncio, tentando não fazer movimentos bruscos para não acordar o Naruto e
também para deixá-lo descansar até chegássemos.
-Deus é pai! Mas que mau gosto! -Itachi exclamou impressionado. -Só tem essas bandas nada a ver
dos anos oitenta!
-Sim! -O loiro concordou. -Porra, não tem nada eletrônico nas suas playlists, Obito?
Ele fez uma careta.
-Não. Eu odeio essas músicas bate-estaca.
-Bate e o quê? -Meu irmão repetiu.
-Essas músicas da geração de vocês. -Gesticulou para que deixassem pra lá.
-Eu também prefiro as músicas dos anos oitenta, Obito. -Me intrometi na conversa. -São bem
melhores.
Ele sorriu levemente para mim.
-Só você me entende, Sasuke.
-Bota um pancadão logo de uma vez. -Itachi deu de ombros, voltando a encostar-se em seu banco.
-Pesquisa aí, “playlists pesadonas”.
Como já era de se esperar, Deidara fez exatamente o que seu namorado solicitou. De modo breve,
digitou o título correspondente, deparando-se com inúmeras playlists de outros usuários do aplicativo, todas
com títulos extremamente pornográficos.
Eu fiz uma careta de desgosto.
-Ah, essa deve ser boa! -Virou a tela para mim e o meu irmão. As músicas possuíam nomes piores
ainda. -Qual eu coloco, Itachi?
-Coloca no aleatório. -Sugeriu sorridente.
Mais uma vez, o loiro seguiu com as ordens de seu namorado, dando play em uma das centenas de
canções presentes. Nos primeiros dois segundos, eu quase fiquei surdo. O grave que a música possuía era
extremamente forte, além de fazer com que as janelas tremessem.
Eu e Obito nos encolhemos no banco.
Itachi e Deidara, por outro lado, riram, bateram palmas e assoviaram em aprovação, aumentando o
volume no máximo. A letra era o cúmulo do absurdo, fora que a voz do cantor soava totalmente estranha e
parecia que ele estava falando em outra língua.
-Abaixa essa merda! -Tentei falar por cima, mas foi em vão.
Ninguém me escutava.
Tapei os ouvidos do meu bebê, reparando na maneira como o mesmo se remexia contra a minha
coxa, esfregando o rosto manhosamente como se fosse despertar a qualquer momento em meio daquele
caos gigantesco e com aquela porcaria de música tocando no máximo.
-Porra, eu amei! -Itachi comemorou. -A letra é incrível! Esse cantor é o meu ídolo agora!
Naruto abriu os olhos lentamente.
O pobrezinho do meu bebê acordou bem na parte em que o cantor dizia algo relacionado a “sarra
com a bunda no chão” e “desce de perna aberta”. Pelo menos foi o que eu consegui entender, é claro.
Estava realmente difícil de distinguir as palavras com aquela batida e grave exagerado.
-Já chega! -Obito falou por cima da música, desligando a mesma com uma carranca. -Esses foram os
dois piores minutos da minha vida. Me devolve essa porcaria, Deidara.
-Vocês são insuportavelmente chatos! -O loiro reclamou, jogando o celular de volta para o outro.
-Nem música a gente pode ouvir mais!
-Esse lixo não é música. -Obito rebateu, dando uma olhada rápida na tela de seu telefone, enquanto
mantinha-se concentrado na estrada. -Ah, não... O que é que você fez aqui?
Deidara sorriu de orelha a orelha.
-Eu adicionei umas músicas pesadonas na sua playlist de “Banho” e “Para Dormir”. -Explicou
naturalmente. -Me agradeça mais tarde quando você for tomar banho e começar a tocar essas belezuras!
Obito negou desacreditado.
Ele parecia mesmo levar a sério as suas playlists.
-H-Hm... Sasuke?
Virei até a origem daquela voz manhosa e sonolenta.
-Oi, meu bebê? -Arrumei sua franja. -Acordou, né? Desculpa por isso, foram os meninos.
-N-Não tem problema. -Bocejou baixinho, erguendo seu tronco para que se sentasse em meio a mim
e Itachi. -A gente já está chegando?
-Sim, estamos perto. -Obito foi quem respondeu. -Vocês já sabem como vai funcionar, não é?
Todos assentimos com a cabeça.
-Eu deixo vocês na porta da casa e vou embora em seguida. A Rin vai estar me esperando com um
carro, e esse aqui vai ficar para vocês. -Relembrou brevemente. -Não fiquem dando mole lá fora. Entrem de
uma vez e evitem ficar saindo de casa nos primeiros dias.
-A gente já sabe. -Itachi murmurou.
-Que bom que a gente está chegando. -Naruto sorriu fraquinho, abraçando-se carinhosamente ao
meu braço. -Você ‘tá ansioso pra rever a sua casa, Sasuke?
-Uhum, to sim, bebê. -Beijei sua bochecha. -Eu tenho muita saudades de lá.
-H-Hm... E você, Itachi? -O meu bebê lhe fitou curioso. -Está ansioso pra chegar?
-Sim, na verdade. -Sorriu para si. -Acho que faz uns cinco anos que eu não vou pra lá.
-É, por aí. -Completei pensativo.
Realmente, faziam anos que não frequentávamos nenhuma de nossas casas. Eu mentira se dissesse
que não tinha vontade de retornar para a nossa residência “oficial”, a mesma em que crescemos. Mas só de
estar de volta a um de nossos sítios era um tremendo alívio e, de certa forma, nostálgico.
Eu mal podia esperar para revê-ló.
Naruto On

O carro estacionou em frente à uma casa azul clara. Na verdade, era um baita casarão. Apesar de
ser no meio do mato, afastada e repleta de árvores em volta para “escondê-la” de olhares alheios, eu me
apaixonei de primeira.
Aquele era o sítio do Sasuke e do Itachi.
Me causava uma certa ansiedade pensar que, a partir de agora, moraríamos por ali. Era algo
temporário, é claro. Itachi afirmou que, nos primeiros meses de nossa fuga, teríamos que trocar de
localização de tempo e tempo, pelo menos até que a poeira abaixasse. Mas, de qualquer forma, era
interessante saber que poderíamos conhecer um pouco mais sobre a infância dos dois entrando em sua
casa.
Eu estava louco para conferir o seu interior.
-Nós chegamos, meninos. -Obito declarou o óbvio, destravando seu cinto de segurança juntamente
com Deidara. -Depois de doze horas no carro, nós estamos à salvo.
Eu sorri em um misto de alívio e felicidade.
-Finalmente! -Itachi comemorou, abrindo a porta de modo veloz e afobado. -Argh! Eu não sinto
minhas pernas!
Aproveitando a passagem que o Uchiha mais velho deixou, eu sai pelo seu lado da porta,
observando Sasuke fazer o mesmo à minha direta. Realmente. Eu não conseguia sentir nenhuma de
minhas pernas. Estavam ambas molengas e com um formigamento estranho.
-Que casa bonita. -Deidara comentou, parando logo ao meu lado. -Eu adoro azul.
Sorri interessado para si.
-H-Hm... É a sua cor favorita, não é?
-Aham. Só que eu prefiro azul escuro do que claro.
-Meninos? -Obito chamou a nossa atenção, colocando-se de frente para nós. De canto de olho, notei
Sasuke se aproximar, repousando seu queixo no topo de minha cabeça e entrelaçando suas mãos em
minha cintura. -A Rin está logo ali. -Apontou para o outro lado do “quintal”, aonde um carro de cor vermelha
o aguardava. -É aqui que a gente se despede.
Meu coração se apertou momentaneamente.
Eu não queria dar tchau para o Obito. Assim como o Gaara, eu me apeguei muito a ele, mesmo que,
de certa forma, não tivéssemos tanta intimidade quanto eu tinha com o ruivo.
-Vem cá, cara. -Itachi foi o primeiro a tomar a iniciativa de dar tchau. Ambos deram um toque de
mãos, seguido de um abraço apertado com batidinhas nas costas. -Obrigado por toda a ajuda, você salvou
a gente um monte de vezes. Eu te devo uma.
-Você não me deve nada. -Riu simpático. -Eu não vou dizer que foi um prazer ajudar vocês na fuga,
mas acho que vai me fazer falta ver você e os meninos todos os dias.
Senti os meus olhos marejarem.
Por que eu tinha que ser tão sensível?
-Ah, Obito, eu vou sentir sua falta! -Deidara lamentou com um sorriso triste. -Sua voz me irrita, você é
chato, parece uma lesma, mas eu gosto de você! -Abriu os braços em sua direção, deixando o outro com
cara de tédio.
De qualquer forma, o moreno correspondeu ao abraço com um sorriso fraco, acariciando suas costas
de modo breve e amigável.
-Vê se toma juízo, hein? -O ex carcereiro bagunçou seus cabelos. -Você é pirado.
-Pirado é o seu cu! -Devolveu grosseiro.
Ele negou com a cabeça, rindo antes mesmo de olhar em direção a mim e Sasuke.
-H-Hm... Obito? -Fui eu quem tomei a iniciativa de me pronunciar. -Eu vou sentir muito a sua falta.
Dei uma corridinha tímida em sua direção, sentindo-o aceitar meu abraço de primeira. Um bico
choroso formou-se pelos meus lábios, especialmente quando um beijo breve e quase que fraternal foi
depositado por si em minha cabeça. Eu sabia que Obito tinha o maior carinho por mim e pelos meninos.
-Eu também vou sentir sua falta, Naruto. -Sorriu carinhoso. -Se cuida, sim? E toma conta desses
malucos. Você é quem mais tem juízo daqui.
-P-Pode deixar. -Ri tristemente.
Por fim, foi a vez do meu namorado.
O moreno caminhou com um olhar chateado e os ombros caídos, entrelaçando os braços no pescoço
de seu primo em um abraço apertado. Ambos ficaram um tempo naquela posição, até que o momento foi
finalizado pelo mesmo beijo amigável na cabeça de Sasuke.
-A gente se vê qualquer dia, meninos. -Sorriu para todos nós. -Se precisarem de mim, já sabem
aonde me encontrar. -Sacudiu o seu celular. -Eu dei o meu número pro Itachi.
Acenei com os olhos cheios de lágrimas.
-T-Tchau, Obito...
-Até mais. -Sasuke reforçou. -Fica bem.
Ficamos a assistir o moreno se distanciar de vez. Seguiu em direção ao carro vermelho com certa
pressa, sendo recebido por uma garota que, inesperadamente, abriu a porta do veículo e jogou-se em seus
braços.
Aquela era a Rin, eu logo deduzi.
Sorri sozinho quando ambos beijaram-se com saudades e, momentos depois, a garota decidiu
acenar simpaticamente para nós.
Eu e os meninos a cumprimentamos de volta.
-H-Hm... A Rin é muito linda.
-É mesmo. -Sasuke concordou.
-Que estranho ver o Obito beijando. -Itachi comentou completamente aleatório. -Não é?
Deidara deu um empurrão em seu ombro.
-Será que dá pra parar de falar merda? -Estalou a língua. -Vamos entrar logo de uma vez? Eu quero
trocar essa calça mijada!
Corei violentamente.
-E-Eu também preciso trocar a minha...
Sasuke riu baixinho.
-Vamos, bebê.
Agarrei-me ao seu braço direito, sendo guiado por si até a porta de entrada. O carro de Obito já havia
acelerado e, naquele mesmo instante, buzinava como um último sinal de despedida e levantava poeira em
nossas faces.
Itachi foi quem abriu a fechadura.
Espichei meu pescoço para enxergar o lado de dentro, sentindo, aos poucos, a mão de Sasuke se
soltando de mim. Ele foi o primeiro a andar até o interior da residência, parando no centro da sala de estar
composta por dois sofás de cor avermelhada, uma mesa de centro, uma TV empoeirada e diversas
prateleiras de tons amarronzados.
O Uchiha mais velho o acompanhou.
Ambos os irmãos pararam um ao lado do outro, permanecendo de costas para mim e Deidara como
se, dessa forma, observassem a casa silenciosamente, matando a saudades da mesma e, possivelmente,
sentindo a nostalgia invadir cada célula de seus corpos.
O Sasuke estava muito emocionado.
Eu nem precisei olhar em seu rosto para saber que ele estava à beira de suas lágrimas, relembrando
sua infância e provavelmente sobre seus já falecidos pais. Apesar de quase nunca tocar nesse assunto, eu
sabia o quanto o meu namorado sofria com as suas perdas.
-Por que caralhos eles estão parados que nem dois idiotas? -Deidara sussurrou para mim.
-H-Hm... Eles estão emocionados, Dei.
-Ah... -Avaliou a cena em sua frente, levantando a sobrancelha quando um soluço baixinho se fez
presente pela sala. -Eita... Eu acho que o Sasuke está chorando.
O meu coração se apertou instantaneamente.
A minha intenção era correr para socorrê-lo o quanto antes e lhe acolher em meu abraço, contudo,
parei de imediato ao me dar conta de que seu irmão já havia feito isso. Itachi havia tomado a iniciativa de
abraçá-lo e, pelo o que me parecia, dividia o mesmo sentimento que o seu, embora não estivesse chorando.
Para falar a verdade, eu nunca o vi chorar.
-H-Hm... Vamos deixar eles terem o momento deles. -Sugeri baixinho, fechando a porta atrás de mim.
Adentrei a casa timidamente, sendo acompanhado por Deidara que, sem vergonha alguma, começou a
fuçar a sala inteira, mexendo nas prateleiras e porta-retratos presentes nas mesmas.
Me aproximei de um retrato aleatório.
Haviam dois idosos no mesmo. Ambos sentados em cadeiras de balanço, enquanto duas
criancinhas, as quais, rapidamente, eu deduzi ser o Sasuke e Itachi, brincavam juntas ao redor de seus
possíveis avós.
Abri um sorriso carinhoso.
O meu namorado era o ser humano mais fofo desse mundo. Haviam diversas fotografias do Sasuke.
Uma dele tomando um picolé de morango com os lábios melados, outra dele sorrindo e abraçado com uma
pelúcia de dinossauro, e até mesmo uma dele e Itachi bebês dentro de um bercinho e com os lábios
encostados em um selinho inocente.
-O-Oh, meu Deus... -Segurei a foto dos dois irmãos em mãos, virando-a para Deidara. -Vê se não é a
coisinha mais fofa desse mundo.
Assim como eu, o loiro também carregava um porta-retratos em mãos. Ele mostrou-o ao mesmo
tempo para mim. Se tratava de uma foto adorável de Itachi criancinha, empinando uma pipa de coloração
vermelha no jardim.
-Eles eram bonitinhos mesmo. -Concordou.
Guardei o retrato no mesmo lugar que antes.
Apesar de estar adorando passear pela casa e ver fotografias do Sasuke quando era criança, seria
falta de educação desarrumar o lugar bem no primeiro dia em que cheguei.
-...Não chora, por favor.
Discretamente, virei-me em direção às vozes baixinhas e embargadas que ecoavam pelo cômodo,
sorrindo fraco com a cena de Itachi a secar as lágrimas de seu irmão, o qual, dolorosamente, possuía seu
rosto contraído.
-Desculpa... -Ele sussurrou de volta. -Eu estou bem. Foi só um momento reflectivo.
Eu senti como se aquela fosse minha deixa para me aproximar de ambos. Cheguei com um sorriso
atencioso, abrindo bem os meus braços para acolher o meu namorado em um abraço. Sem relutar, Sasuke
enterrou-se contra mim, espremendo sua bochecha em meu ombro com um biquinho chateado.
-E-Ei, você era a criança mais fofa desse mundo, sabia? -Comentei aleatoriamente com a intenção
de descontrair. -Era uma gracinha... Continua sendo, na verdade.
-Você que é uma gracinha, bebê. -Murmurou embargado. -Coisa mais linda.
Beijei sua cabeça com um sorriso.
Itachi, por sua vez, forçou uma tosse.
-Ou, cambada? -Chamou agitado. -Vamos subir até os quartos? Assim a gente divide quem vai ficar
com qual, e o Deidara troca essa calça nojenta com cheiro de mijo velho.
O loiro empurrou seu ombro.
-Vai se foder, sua praga.
-Vamos. -Sasuke concordou. -Eu te empresto uma roupa também, bebê.
-H-Hm... Certo.
Seguimos todos em fila indiana até a escadaria bege e de mármore no final da sala. Haviam poucos
degraus na mesma o que, no final das contas, fez com que chegássemos rapidamente no andar de cima. Já
naquela mesma área, tinham três portas, as quais, segundo a explicação breve de Itachi, tratavam-se todas
de suítes. Uma que, antigamente, pertencia a si, a outra de seu irmão, e a última de seu já falecido pai.
-Esse é o meu quarto. -Sasuke murmurou, apontando para a porta da esquerda, enquanto, do lado
oposto, Deidara e Itachi adentravam outro cômodo.
Eu não respondi nada, apenas esperei com que ele criasse coragem para abri-lá.
O interior do mesmo me surpreendeu um pouco. Aquele era o típico quarto de qualquer adolescente
em filmes teens, embora, internamente, eu não imaginasse que o de meu namorado fosse ser assim.
Repleto de posters de bandas antigas, um banheiro ao lado esquerdo e uma varanda com uma rede, a qual,
lindamente, tinha visão para o quintal.
Eu sorri em admiração.
Adentrei o cômodo de maneira tímida, avaliando cada cantinho do mesmo. As paredes eram de um
tom azul escuro, sua cama era de casal e haviam algumas pelúcias em cima da mesma. Fora que, seu
closet, era gigantesco. Eu imaginei que teriam diversas opções para que eu escolhesse o que vestir.
-Pode pegar o que você quiser aí no meu armário, Naruto. -Declarou meio distante, observando de
maneira emocionada o seu antigo quarto. -As roupas são de quando eu tinha uns quinze anos, mas acho
que vão te servir.
-A-Ah, tudo bem. -Decidi apenas concordar e deixá-lo, mais uma vez, ter o seu momento.
Me dirigi até seu guarda-roupa, abrindo o mesmo com curiosidade. Havia bastante poeira, mas, de
qualquer forma, as roupas continuavam descentes e intactas. A maioria de suas vestimentas se tratavam de
seu antigo uniforme escolar e também blusas com as mesmas bandas de seus pôsteres.
Sem pensar em algo muito elaborado para vestir, peguei uma camiseta qualquer com o símbolo dos
Rolling Stones, juntamente com uma calça de moletom preta e uma cueca da mesma cor. Comecei a me
despir de costas para o Sasuke, rindo sozinho ao me dar conta de que, mesmo aquelas roupas pertencendo
ao seu “eu” de quinze anos de idade, elas estavam bem grandinhas em meu corpo.
-H-Hm... Olha, Sasuke. -Virei-me sorridente para si. -Você já era bem alto e forte com quinze anos,
né? É que as suas roupas ficaram meio grandes para mim.
Deixei de tagarelar imediatamente.
A cena em minha frente, fez meu coração se despedaçar em milhares de pedacinhos.
Sentado sobre a ponta de sua cama, Sasuke chorava silencioso, segurando em mãos a mesma
pelúcia verde de dinossauro que vi anteriormente em seu porta-retratos. Ela deveria ter um grande valor
sentimental para si. Pelo o que sei, foi Mikoto quem a comprou, fora que, aquele bichinho, costumava ser o
seu único companheiro quando ele era menor, principalmente por não ter tido tantos amigos em sua
infância.
-E-Ei... -Chamei com o coração apertado, me aproximando do colchão quando o moreno abraçou o
dinossaurinho contra seu peito, fechando os olhos como se mil memórias estivessem o atingindo. Deveria
estar sendo muito difícil e doloroso voltar para a sua antiga casa e relembrar de sua vida inteira antes de se
envolver, contra a sua vontade, no mundo do crime. -Vem cá, Sasuke...
Ao sentar-me sobre a cama, abri meus braços para envolvê-lo em um abraço apertado e caloroso,
aproveitando também para lhe encaixar em meio às minhas pernas abertas.
Sasuke chorou contra meu pescoço. Soluçou baixinho e sofrido a medida em que sentia meus dedos
embrenhando-se em fios negros e acariciando-os de forma lenta e carinhosa.
O meu namorado era só um neném inofensivo.
-B-Bebê... -Chamou fraquinho. Minha pele estava bastante molhada em consequência as suas
lágrimas, mas eu, sinceramente, não poderia me importar menos. -Desculpa...
-H-Hm... Não me peça desculpas, Sasuke. -Pedi docemente. -Está tudo bem. Você só se emocionou,
isso é completamente normal.
Pude escuta-ló fungar o nariz.
-D-Desculpa por tanto drama... -Pediu novamente, mostrando-se levemente constrangido em ter
chorado por uma pelúcia.
-E-Ei, nada disso... -Afastei seu rosto delicadamente, segurando-o entre as minhas mãos. Seus olhos
e bochechas estavam úmidas e avermelhadas, além de seus lábios formados em um biquinho. -Eu já disse
que tudo bem se emocionar. Se eu estivesse no seu lugar, estaria um milhão de vezes pior.
Olhei sorridente para a pelúcia em seu colo, cutucando sua cintura para descontrair.
-H-Hm... E qual o nome desse dinossaurinho?
O seu beicinho tornou-se mais aparente.
-Tutty... -Sussurrou choroso. -Chama Tutty.
Eu quase me derreti de tanto amor.
Quem vê o Sasuke de longe, não imagina o quão carente, carinhoso e, muitas vezes, sensível, ele
pode ser quando ninguém está por perto. Eu amava a maneira como o meu namorado mostrava-se sempre
genuíno ao meu lado.
Aquele era o verdadeiro Sasuke Uchiha.
-Minha mãe que me deu. -Acariciou a pelúcia, olhando reflexivamente para a mesma. -Eu dormia
abraçado com ele desde os quatro anos. Todas as noites...
-É mesmo? -Arrumei os fios rebeldes de sua franja. -Desde os quatro? É bastante tempo.
-Uhum. -Abriu um sorriso sem graça. -Eu senti muita a falta dele na prisão... Não era a mesma coisa
dormir abraçado com aquele travesseiro fedido. -Riu fraco. -Só não conta pra ninguém sobre isso, bebê.
Senão o Itachi e o Deidara vão tirar onda comigo e com o Tutty.
Ri com um ar apaixonado.
-Pode deixar, eu não vou contar. -Lhe roubei um selinho. -H-Hm... E você acha que o Tutty vai se
importar se eu dormir abraçadinho com você essa noite? Ou ele vai ficar com ciúmes?
Sasuke me fitou carinhosamente.
-Eu acho que o Tutty vai ter que aguentar o ciúmes. -Encostou as nossas testas, piscando seus olhos
repetidas vezes para causar-me coceguinhas com os seus cílios. -Ele está em segundo lugar agora. É só
com você que eu durmo abraçado.
Abri um sorriso abobado.
-H-Hm... Eu acho bom mesmo. -Espremi meus olhos em um falso ar irritado. -Senão eu que vou
começar a ficar com ciúmes do Tutty.
-Jamais, bebê. -Beijou meus lábios. -Você é único na minha vida, e tem o melhor abraço desse
mundo. Ninguém te supera.
Beijei-o lentamente de volta.
-Eu te amo. Te amo muito, Naruto. -Sasuke roçou nossos narizes. -Porra, eu te amo muito, muito
mesmo... -Parou de falar quando eu ri surpreso pelo palavrão. -Desculpa o palavreado feio... É que eu te
amo demais.
-E-Eu te amo tanto, Sasuke... -Entrelacei minhas mãos com a suas, acariciando-as por cima da
minha coxa. -Você tem noção de que é a pessoa que eu mais amo nesse mundo?
Ele abriu um sorriso emocionado.
-Eu sou, é?
-Sim. É o amor da minha vida.
Sasuke roubou-me outro selinho.
-Meu bebezinho mais lindo...
Eu o beijei exatamente da mesma forma.
-H-Hm... Meu bebezão mais lindo.
Escutei-o dar batidinhas no colchão.
-Vem cá... -Lentamente, ele deslizou até o final do cama, aonde um travesseiro velho e empoeirado o
aguardava. -Deita comigo?
Eu assenti sorridente em resposta. Me deixei ser guiado por si, deitando-me ao seu lado para que
dividíssemos a mesma almofada. Já o moreno, foi ligeiro em me puxar pela cintura, colando nossos corpos
calorosamente um ao outro.
O abraço do Sasuke era mesmo o melhor do mundo.
-É a primeira vez que eu trago alguém aqui pro meu quarto, sabia? -Murmurou contra o topo de
minha cabeça, inalando meu aroma com os seus olhos fechados. -E é a primeira vez que alguém deita na
minha cama comigo.
Sorri fraquinho contra seu peito.
-H-Hm... Mas e o Tutty?
-O que tem ele?
-Ele já dormiu aqui com você antes.
Sasuke riu brincalhão.
-Bom, isso é verdade... Mas eu estava me referindo a alguém real. Entende?
Levantei minha cabeça para fita-ló nos olhos.
-E-Eu me sinto lisonjeado em ser o primeiro. -Declarei da maneira mais honesta e doce que
conseguia. Eu sabia o quanto Sasuke foi sozinho quando era menor e, provavelmente, naquela mesma
época, não estava acostumado a ter uma companhia e muito menos alguém dormindo em sua cama.
-Agora você vai ter que me aguentar... Vou dormir na sua cama para todo o sempre!
Sasuke abriu um sorriso apaixonado.
-É tudo o que eu mais quero, bebê.
Colamos nossas bocas carinhosamente.
Eu amava muito beija-ló. O nosso encaixe era sempre perfeito, fora que, em todas as vezes,
conseguíamos transmitir os sentimentos e o amor intenso que sentíamos um pelo outro.
-Naruto... -Chamou com os lábios levemente prensados aos meus. -Você ouviu isso?
Abri meus olhos de modo atordoado.
-H-Hm?
-Você ouviu esse barulho? -Repetiu sério, porém, dessa vez, acompanhado de um eco no andar de
baixo. Era o som familiar da porta se abrindo. A de entrada, eu logo deduzi. O aperto de Sasuke, por outro
lado, tornou-se mais protetor em meus quadris. -Porra...
Eu me encolhi contra seus braços fortes.
-S-Sasuke... O que é isso?
-Ei, shhh... -Colou seu indicador em meus lábios, permanecendo em silêncio numa tentativa de
captar mais algum som. -Itachi? É você?
Nada. Nenhuma resposta veio do lado de fora.
-E-Eu to com medo, Sasuke... -Declarei choroso.
-Fica aqui, Naruto. -Ele começou a se levantar da cama, distanciando-me delicadamente de seu
corpo. -Eu vou ver o que é, beleza?
-N-Não, Sasuke! -Segurei fortemente em sua mão, impedindo-o de seguir sozinho até a porta. -Eu
vou com você, eu não—
-Não. -Negou rápido, afastando minha mão. -Você fica, Naruto. -Insistiu sério, me cortando quando
tentei falar por cima si. -Isso é uma ordem, bebê.... Você fica aqui, sim?
Me encolhi medrosamente no colchão. Era claro que o Sasuke não mandava em minhas ações e, no
fundo, nem quisesse me obrigar a nada, mas eu sabia que não teria forças para lutar conta si. De onde
estava, o assisti iniciar sua caminhada até a porta, indo pé ante pé para espionar, primeiramente, o corredor
do andar de cima. Nesse meio tempo, decidi me abraçar ao Tutty, apertando-o contra meu peito enquanto
sentia meu coração disparar.
Poderia ser qualquer coisa. Inclusive a polícia.
Eu estava tremendo de medo.
Sasuke abriu uma fresta da porta. Olhou o corredor com os ombros tencionados, me deixando
momentaneamente aliviado ao murmurar um: “Itachi. Graças a Deus”.
Os outros dois garotos estavam no corredor de cima.
-Vocês ouviram isso, gente? -Sasuke indagou.
-Sim. -Meu irmão foi quem respondeu, possuindo uma entonação ressabiada. -Não foram vocês?
-Não... Eu achei que fosse vocês.
Todos ficaram em silêncio.
Foi quando um outro som se fez presente novamente, mas, dessa vez, um pouco mais próximo das
escadarias. Era como se alguém estivesse se locomovendo no andar de baixo.
-Caralho... -Sasuke deu um passo para trás. -É sério, gente, que porra é essa?
-Eu desço pra ver o que é. -Itachi ofereceu-se calmo e estranhamente sorridente. Eu, por outro lado,
arqueei a sobrancelha. Aquela era uma reação bem esquisita se levássemos em conta a situação
apavorante em que nos encontrávamos. -Vocês ficam aqui, pode ser?
-Eu vou com você. -O Uchiha mais novo declarou em um ato de bravura, deixando o sorriso anterior
de seu irmão passar despercebido. Era somente eu quem havia reparado no quanto Itachi estava estranho?
Era quase como se ele já soubesse do que aquilo tudo se tratava.
-Certo. Vamos lá ver o que é. -Bocejou desinteressado. -Vem, Sasuke.
Eu soltei um soluço alto e involuntário.
-S-Sasuke... -Chamei antes que ele se virasse de costas. -P-Por favor, não vai embora.
-Ei, está tudo bem, bebê. -Abriu um sorriso tranquilizador, embora, no fundo, eu soubesse o quanto
ele estava nervoso. -Eu e o Itachi sabemos nos cuidar, sim? O Deidara vai ficar aqui com você. Espera só
um pouquinho.
Assenti com os olhos cheios de lágrimas.
Sem mais enrolações, os dois irmãos partiram em direção às escadas. Assim como eu, Deidara
também roía suas unhas, espichando o pescoço numa falha tentativa de enxergar o que estava se
passando no andar de baixo.
-D-Dei... -Chamei entre lágrimas.
Ele virou-se até mim, entendendo, de imediato, o que eu desejava. Se fosse a polícia quem estivesse
dentro da casa, eu não queria ter que passar por aquele medo sozinho. Eu precisava de alguém para pelo
menos abraçar e, se fosse necessário, me proteger também.
-V-Vem aqui?
O loiro aceitou minha mão estendida para si, entrelaçando com a sua ao deixar-se ser puxado por
mim até a borda da cama. Quando ele se sentou, eu me agarrei desesperadamente ao seu tronco, não me
contentando apenas em abraçar o Tutty.
-D-Deidara?
-Para de falar, sim? -Pediu sério, mantendo seu olhar preso a porta semi-aberta em nossa frente. -Eu
estou tentando escutar, Naruto.
Concordei atordoado.
Eu já não suportava mais passar por tantas situações de estresse e perigo. Até quando
precisaríamos viver com esse medo todo?
-Você ouviu alguma coisa, franguinho? Porque eu não—
O loiro deixou de falar, franzindo o cenho como se houvesse acabado de escutar algo.
-Risadas?
-H-Hm...? -Murmurei confuso.
-Isso são... Risadas?
Olhamos um para a cara um do outro. Ao mesmo tempo em que nos encarávamos reflexivamente e,
de certa forma, assustados, os mesmos risos citados por ele se fizeram presentes novamente. O Deidara
estava certo.
Itachi estava gargalhando no andar de baixo.
-D-Dei, o que é isso?
Ele esboçou uma careta perturbada.
-Meu Deus, era só o que me faltava... -Separou o nosso abraço. -O Itachi deve estar zoando com a
nossa cara, Naruto, só pode.
-E-Eu não acho que seja isso...
-Vamos lá ver, então. -Sugeriu agitado, puxando a minha mão. -Vem logo. E não faz essa cara de
medo. Se a gente estivesse em perigo, o Itachi não estaria rindo, franguinho.
Até que fazia sentido.
Mesmo ainda possuindo uma pitada de receio, me deixei ser guiado por si até a porta do quarto.
Fomos de mãos dadas em direção a escada, descendo a mesma com dificuldades, visto que, diferente de
si, eu andava com certa lentidão, ainda não achando uma boa ideia estarmos nos arriscando tanto ao ponto
de corrermos, literalmente, em direção a origem daqueles barulhos suspeitos.
Ao chegarmos no pé da escada, paramos.
Havia mais alguém com o Sasuke e Itachi, eu podia sentir. E não só por conta das mesmas risadas
vindas do mais velho, mas sim pelo fato de que, antes mesmo de olhar em qualquer outra direção daquela
sala, a feição surpresa de meu namorado entregou toda a situação.
-Eu voltei, seus morféticos!
Segui assustado e atordoado em direção a origem daquela voz. A mão de Deidara, por outro lado, se
apertou dolorosamente contra a minha. Era óbvio que ele estaria tenso e, possivelmente, pensando o
mesmo que eu.
Aquilo não podia ser real. Ou podia?
O nosso melhor amigo, o mesmo que conhecemos na prisão e nos despedimos com muito esforço e
sofrimento a alguns dias atrás, estava sentado no sofá da sala. Só que, daquela vez, não vestia o macacão
laranja de todos os dias. As suas roupas eram normais, assim como as nossas. Tratava-se de uma calça
jeans e um moletom verde escuro.
Era difícil de acreditar que o Gaara estava em minha frente.
-E então? -O ruivo levantou-se da almofada, alternando entre mim e meu irmão com um sorriso
emocionado e os olhos marejados. -Quem vai ser o primeiro a me abraçar?
A reação de Deidara foi mais rápida do que eu esperava.
Mas, de qualquer forma, a sua movimentação afobada e repentina também serviu para retirar-me de
meu transe. Foi impossível segurar minhas lágrimas com aquela supresa maravilhosa, unindo-se com a
cena emocionante do loiro a correr em direção ao seu amigo, pulando em seus braços e entrelaçando suas
pernas na cintura alheia.
Eu ri em meio a lágrimas.
Era engraçado ver a maneira como o Gaara segurava o meu irmão, especialmente pelo fato de ser
mais baixo e fraco que o loiro.
Aquela era a minha vez de me aproximar. É óbvio que eu também precisava de um momento para
me abraçar ao ruivo e assimilar de uma vez por todas que ele estava parado em minha frente, mesmo que
eu não soubesse como. Corri desesperado em direção aos dois, sendo aceito por Gaara que, ao devolver o
loiro até o chão, me acolheu imediatamente.
Ele estava chorando, assim como eu.
Da mesma maneira como abraçou-se a Deidara, o ruivo retirou meus pés do chão, apertando forte
minha cintura enquanto desabava juntamente comigo. Eu não conseguia acreditar que estava mesmo o
tocando e o sentindo mais uma vez. Eu pensei que jamais fosse vê-lo novamente.
Aquilo era como um milagre.
-G-Gaara... -Eu soluçava sem controle. -Eu estava com tanta, tanta saudades.
-Eu também estava, franguinho. -Ele chorava contra meu ombro. -Muita mesmo.
Nesse meio tempo, Deidara voltou a se aproximar de nós. Optou por juntar-se ao nosso abraço,
talvez desejando ficar o mais próximo possível de seu amigo. Deixamos o Gaara em meio ao nosso abraço
em grupo.
-Meus meninos maravilhosos... -Murmurou sorridente. Assim como costumava fazer, o ruivo beijou as
nossas cabeças, apesar de que, dessa vez, Deidara não recuou e nem reclamou pelo grude. Ele se permitiu
receber carinho. -Eu estava morrendo de saudades de vocês. Amores da minha vida.
Itachi riu baixinho no canto da sala.
-E o meu abraço e o do Sasuke, Gaara? -Apontou para si e seu irmão que, assim como eu, era um
dos mais chocados. -Não vai rolar?
O ruivo abriu um sorriso grandioso.
Largou-nos com um certo esforço, saltitando para os braços do Uchiha mais velho que, com um
sorriso amigável, abraçou-o com força e repleto de saudades.
-Você fez muita falta, Gaara. -Declarou com a voz serena e, em partes, carinhosa. Eles mantinham
seus corpos unidos. O ruivo na pontinha dos pés, e o outro levemente agachado. -É muito bom ter você de
volta.
-Vocês também fizeram muita falta pra mim. -Fungou o nariz, separando-se do corpo alheio para
seguir até Sasuke, que, silenciosamente, assistia tudo com os lábios entreabertos e os olhos arregalados.
-Sasuke! Que saudades!
O moreno abriu os braços para lhe receber, mesmo que, assim como eu e Deidara, não estivesse
entendendo absolutamente nada, mas, em especial, a maneira como o ruivo veio parar, de repente, em sua
antiga casa.
Aquilo ainda era muito repentino.
-Gaara... -A voz de meu irmão se fez presente atrás de mim. Ele se aproximou em passos relutantes,
tocando em meu ombro e mantendo uma distância “segura” de seu amigo, assim como se quisesse deixar a
sua ficha cair de vez. -Você ‘tá aqui, tipo... Como você saiu de lá? Como você achou a gente?
O ruivo o fitou sorridente.
-Bem... -Virou-se para Itachi, o qual, diferente de nós, possuía uma postura inteiramente relaxada e
orgulhosa. -Eu tive uma ajudinha.
Olhamos todos na direção do Uchiha.
Deidara, por sua vez, criou coragem para dar mais um passo, encarando o seu namorado em um
misto de dúvida e descrença.
-Itachi... Foi você que tirou ele de lá? -Sacudiu a cabeça. -Mas como?
O mais velho passou os braços entorno dos ombros de seu amigo, ficando em silêncio para
causar-nos ainda mais suspense.
-Sim. Fui eu. -Sorriu sincero para o ruivo. -O Gaara é importante para vocês, assim como também se
tornou alguém importante pra mim. -Ele justificava-se serenamente. -E bom... Eu decidi pagar a fiança dele.
Deidara e Sasuke esbugalharam seus olhos.
O meu queixo, por outro lado, foi ao chão.
-Eu recebi o dinheiro de um “doador anônimo” horas após vocês fugirem. -Gaara prosseguia com a
explicação, sorrindo divertido com nossas expressões surpresas e hilárias. -No começo, eu pensei que se
tratasse da minha irmã, mas eu sei que as condições financeiras dela não são das melhores. -Riu baixinho
com a lembrança. -Mas, depois de um tempo, tudo ficou mais claro. Uma tal de Rin veio me visitar no dia
seguinte, só que, até então, eu não fazia ideia de quem era aquela garota. Daí ela me contou que estava ali
para fazer um favor ao Obito, e eu consegui juntar as peças rapidinho.
Sasuke arqueou a sobrancelha.
-O Obito também estava sabendo disso?
-Sim. -Itachi assentiu. -Eu decidi que tiraria o Gaara da prisão no dia em que a gente fugiu.
Felizmente, o Obito topou me ajudar, e a Rin também concordou em fazer esse favorzinho de ir buscar o
Gaara na prisão por ele.
Deidara estava boquiaberto.
-E por que você não contou pra gente, caralho?! -Bateu os pés no chão. -Por que você não disse
logo de uma vez que o Gaara sairia da prisão?! Porra! Eu fiquei sofrendo atoa durante todo esse tempo, é
isso?!
O ruivo sorriu grandioso.
-Owwnt! Você sofreu por mim, Dei?
-Vai se foder, morfético! -Xingou ríspido, embora, ao mesmo tempo, estivesse prensando seus lábios
para não sorrir.
-H-Hm... Eu sofri muito por você, Gaara. -Admiti sem vergonha alguma, relembrando as incontáveis
vezes em que chorei durante o trajeto do ônibus, da trilha, dos chalés, do carro e etc. O ruivo nunca deixou
de sair da minha cabeça. -Eu só consegui pensar em você esse tempo todo.
Ele abriu um sorriso carinhoso.
-Ah, franguinho! -Espaçou os braços como um contive para que eu me aproximasse. -Vem me
abraçar agora, isso é uma ordem!
Soltei um riso tímido e divertido, dando uma corrida pequena para atravessar o espaço entre nós. Em
poucos segundos, e eu já estava novamente em meio os seus braços, escutando diversas frases
relacionadas à o quanto ele me amava e o quanto eu era fofo.
-Vem você também, seu loiro morfético! -Gaara puxou meu irmão pelo braço, abraçando-o “contra a
sua vontade”. Precisaríamos de muito mais tempo juntos e grudados para matarmos a saudades um do
outro. -Vai, Itachi, pode continuar contando.
O moreno riu entretido.
-Bom, respondendo a pergunta do Deidara... Eu não contei sobre isso, porque queria fazer uma
surpresa. -Deu de ombros. -E outra, não valeria a pena ter dito para vocês antes, cambada, vocês ficariam
ansiosos atoa. A gente não poderia ter visto a Gaara antes disso. Já estava combinado que a Rin traria ele
até a casa em que a gente decidisse ficar.
Olhei curiosamente para o meu amigo.
-H-Hm... Você gostou da Rin, Gaara? Ela parece ser muito legal.
-Sim, ela é! -Sorriu simpático. -Aí, gente... Mas coitada dela, sério. Eu falei pelos cotovelos dentro
daquele carro. Contei minha vida inteira pra garota. Ela tava quase abrindo a porta e me jogando no meio
da estrada!
Rimos todos em conjunto.
-É bem a sua cara mesmo. -Deidara resmungou. -Do jeito que você é, aposto que ficou falando sobre
os elefantes e o quanto eles são adoráveis e mansos.
-Falei mesmo, tá bom?! -Empinou o nariz. -E ela adorou! Diferente de você, Deidara, as pessoas se
importam com os animais e a natureza!
O loiro deu de ombros.
-Eu odeio tudo relacionado a natureza.
-Você odeia tudo e todos, chefe. -Itachi provocou.
Meu irmão lhe enviou o dedo do meio.
-Enfim, gente... -Gaara pronunciou-se mais uma vez, sorrindo com carinho para cada um de nós. -Eu
só tenho que agradecer vocês por tudo isso, e principalmente o Itachi por ter gasto o precioso dinheiro dele
só pra pagar a minha finança e me tirar da prisão.
O mais velho discordou com a cabeça.
-Não precisa me agradecer. -Deu tapinhas em seu ombro. -O dinheiro que eu usei pra pagar a sua
fiança era só uma pequena parcela da herança que o meu pai deixou pra mim. A gente ainda tem a parte do
Sasuke. Agora só precisamos aprender a como administrar o restante com sabedoria.
Olhei para si com carinho e admiração.
Quem diria que o Itachi Uchiha frio, antipático, violento e exibido que conheci a meses atrás, gastaria
parte de seu dinheiro para tirar alguém da prisão. A verdade era que eu sentia muito orgulho do meu
cunhado e da pessoa incrível que ele se transformou.
A evolução do Itachi é linda demais.
-H-Hm... Muito obrigado, Itachi. -Decidi lhe agradecer também, enviando-o um sorriso emocionado e
repleto de honestidade. -O que você fez foi muito lindo e gentil.
Sasuke tocou em seu ombro.
-O Naruto tem razão, Itachi. -Abraçou-o de lado, mostrando-se ainda mais orgulhoso de seu irmão.
Era comovente a maneira como o mais velho havia tornado-se uma pessoa melhor. -Isso foi muito generoso
da sua parte.
Deidara começou a bater palmas, provocando-o com um sorriso brincalhão.
-É isso aí, Itachi. -Aproximou-se de seu namorado, abraçando o lado esquerdo de seu ombro,
enquanto, com a sua outra mão, manteve eu e o Gaara por perto. -Eu vou até dizer que te amo agora pra
você ficar feliz.
-H-Hm... Nós todos te amamos, Itachi. -Corrigi com um sorriso tímido.
-É! Nós te amamos! -Gaara exclamou.
Sasuke beijou a sua bochecha.
-É, eu também te amo, Itachi.
O mais velho ficou, em partes, sem graça com todos os elogios e demonstrações de afeto que
recebeu, embora, externamente, o seu sorriso convencido disfarçasse um pouco isso.
-Owwnt! Obrigado, cambada! -Ele riu baixinho quando decidimos abraçá-lo em conjunto, deixando-o
no meio de todos nós. Eu sempre fui uma pessoa que, naturalmente, gostava de abraçar, mas quando era
com um monte de pessoas incluídas, ficava ainda melhor. -Eu sei que vocês me amam e que eu sou
demais!
Sasuke grunhiu irritado.
-Pronto, gente... -Separou o abraço. -Começou os ataques de narcisismo dele.
-Tava bom demais pra ser verdade. -Deidara acrescentou entediado. -É claro que o Itachi ia estragar
o momento. Eu nem sei porque a gente ainda tenta.
-H-Hm... Não, gente. -Tentei puxar todos de volta para o abraço. Estava tão confortável daquela
maneira. -Voltem aqui, por favor.
Sasuke riu carinhosamente.
-Vem cá me dar um abraço, bebê. -Chamou-me com o dedo. -Você eu quero abraçar.
Soltei um riso tímido, seguindo até seus braços abertos para ser acolhido com o mesmo amor e
cuidado de sempre. Quando eu digo que abraçar o Sasuke é a melhor coisa do mundo, eu não estou
brincando.
-...Eu to esperando você contar as fofocas pra gente, Gaara! -Meu irmão se pronunciou em meio aos
diálogos e burburinhos presentes na sala. -Eu quero saber tudo o que aconteceu desde que a gente fugiu!
Joga na roda!
-Nossa, sim! -Itachi concordou. -E o Lee?! Como ele lidou com a sua saída? Ele gostou?
-Sentem no sofá que eu tenho um monte de coisas pra contar! -O ruivo apontou para a mobília, indo
em direção a mesma para nos incentivar a segui-lo. -Vocês precisam ficar o mais confortáveis possível!
Eu e Sasuke rimos lado a lado.
Caminhamos até os três, optando por ocuparmos apenas uma almofada, para que, dessa forma,
todos os meninos coubessem no mesmo sofá e não tivessem que tomar posse do outro. Por essa razão,
me deixei ser puxado pelo moreno até que estivesse sentado em suas coxas, sorrindo quando ele fez
cócegas em minha cintura e beijou o meu pescoço.
Eu e Sasuke ficamos na ponta esquerda, seguido de Itachi, Deidara e Gaara.
-Gente, antes de qualquer coisa... -O ruivo se pronunciou, tateando o bolso de seu jeans a procura
de algo. -Olha isso aqui!
Ele levantou um celular.
Os olhos de Itachi e Deidara brilharam em resposta.
-Porra! Um celular de última geração! -O loiro arrancou o aparelho de si. -Você comprou quando?!
-O Lee me deu de presente no dia em que eu saí da prisão. -Justificou-se com um sorriso. -Ele e a
Temari ficaram muito felizes com a minha saída. Eu vou morar com a minha irmã e o bebê dela a partir de
agora, daí eu vou poder ver o Lee sem ser na enfermaria. Dá pra acreditar numa coisa dessas?!
-Que coisa boa, Gaara. -Sasuke comentou sorridente. -E que belo presente também. O Lee deve te
amar muito.
-Ó se ama! -O loiro riu. -Caralho, esse celular deve ter custado uns dez mil reais!
-Que exagero, chefe.
-O Lee não me falou o preço, gente, isso é falta de educação. -Explicou sensatamente. -Mas é claro
que eu fiquei agradecido. Eu tinha até esquecido como era poder pegar e mexer em um celular livremente.
Na prisão a gente não tinha essa opção, né?
Sasuke riu ironicamente.
-A não ser no dia em que vocês roubaram o celular do Obito.
-É. -Concordei com uma risadinha.
-Ah, que saudades! -Itachi suspirou. -Eu daria tudo pra ver aquelas fotos que a gente tirou de novo.
Vou pedir pro Obito revelar elas e me enviar, daí a gente faz de porta-retrato.
Meu namorado fez uma careta.
-Aquelas fotos são horríveis. -Murmurou para mim. -Eu estava todo sujo de ovo e farinha.
-V-Você é lindo de qualquer jeito, Sasuke.
-Igual você, bebê. -Elogiou de volta.
-Por falar em foto... -Gaara puxou seu celular de volta, abrindo rapidamente na câmera antes de
levantar o braço para que nos enquadrássemos na mesma. -Olhem pra cá e digam X!
Ao invés de dizerem “X” como foi solicitado, os garotos soltaram um “eu não vou dizer essa breguice”
e “X é o seu cu”, vindo seguido de um dedo do meio da parte de Deidara e Itachi, enquanto eu e Sasuke
apenas acompanhávamos o Gaara em um sorriso simples, esperando ele bater a foto.
-Aí, vocês são muito lindos, eu não aguento! -Meu amigo deu zoom no rosto de cada um de nós.
-Minha primeira foto no meu celular novo!
-Não vai postar nada, hein? -Itachi alertou seriamente. -O país inteiro ‘tá caçando a gente. Se a
polícia ver essa foto, fodeu.
-Relaxa, eu nem uso minhas redes sociais. -Murmurou despreocupado. -Não vejo necessidade em
ficar postando fotos.
Sasuke olhou para seu irmão.
-Você deveria seguir o exemplo dele, Itachi. -Cutucou seu ombro. -Ao invés de passar o dia inteiro
tirando fotos de si mesmo e implorando por curtidas com os seus posts sem camisa.
-Eu fazia isso no passado, tá bom? -Empurrou sua mão. -Cacete, Sasuke, você é realmente invejoso,
né? -Riu debochado. -Eu me lembro muito bem do recalque que você sentia todas às vezes em que as
minhas fotos batiam cinco mil likes, enquanto as suas só tinham dez!
O mais novo negou desacreditado.
-Eu nem postava foto, Itachi! Você que me obrigou a criar um perfil só pra ficar curtindo, comentando
e divulgando as suas fotos!
-Eu nunca fiz isso! -Rebateu ofendido. -Você está mentindo na cara dura! Eu nunca te obriguei a criar
perfil nenhum, caralho!
Todos assistiam a discussão em silêncio.
-Obrigou sim! -Sasuke estava agitado por baixo de mim. -Meu Deus! Você é muito cara de pau! Você
não só me obrigou a criar, como também me fez colocar o nome de usuário “Itachi_eu_te_amo” e te passar
a minha senha pra você ficar comentando nas próprias publicações e aumentar o engajamento delas!
Deidara começou a gargalhar.
-Seu infeliz... -Itachi resmungou sombrio. -Você quer mesmo ver quem é o mais cara de pau? Seu
chupa-fama! Eu nunca vou me esquecer da vez em que eu postei uma selfie nossa, e você ficou se
achando durante uma semana com os comentários que recebeu!
Ri baixinho só de imaginar a situação.
-H-Hm... Isso é verdade, Sasuke?
-Não acredita nele, bebê! -Sasuke pediu desesperado. A coisa já estava indo para o lado pessoal. -O
Itachi é tão, mas tão narcisista, que apagou a nossa foto juntos porque não conseguiu se contentar com o
fato dos elogios não terem sido só pra ele!
-Eu apaguei aquela publicação porque fiquei com pena de você, seu desgraçado! -Eles gesticulavam
agressivamente um para cima do outro. -Eu estava te ofuscando naquela foto! Ninguém nem ligou pra você!
Eu exclui pelo bem da sua autoestima!
-Mentiroso! -Socou o braço do sofá. -Os seus seguidores me elogiaram tanto que você ficou com
inveja! Eu lembro muito bem! O recalcado aqui é você, Itachi, sempre foi!
-Ah, mas agora você vai ser só! -Itachi agarrou na gola de seu moletom. -Eu vou—
Gaara fingiu pigarrear.
-Gente? -Interrompeu a discussão. -Eu acho que encontrei o perfil antigo do Itachi.
-Nem fudendo... -Deidara arrancou o aparelho de sua mão. Já o restante dos meninos, incluindo eu,
nos aglomeramos em volta do loiro, espichando os pescoços para enxergar a tela. -Eu não acredito!
Aquele era mesmo o perfil antigo do Itachi.
Assim como descrito por Sasuke, haviam diversas fotos de seu irmão sem camisa, no espelho, só de
sunga, cueca e algumas selfies com a iluminação realmente boa. Além disso, a conta possuía milhares de
seguidores, comentários e likes para dar e vender.
-Fala se não é um narcisista... -O Uchiha mais novo implicou. -O pior é que ele ainda tinha uns fãs
esquisitos que acompanhavam tudo o que ele postava. Acredita numa coisa dessas, bebê?
Gargalhei divertido.
-Caramba, o Itachi era tipo um digital influencer. -Gaara comentou entre risos. -Nossa, essa foto ‘tá
boa. -Apontou para um post em que ele estava na praia, parado de pé, sem sua camisa e com um óculos
escuro realmente estiloso. -Quem tirou?
-O Sasuke. -Respondeu com um sorriso exibido. -Eu estou muito gato mesmo.
-Além de me fazer criar fã clubes, o Itachi ainda me obrigava a ser o fotógrafo particular dele.
-Murmurou para mim. -Eu me sentia um idiota correndo atrás dele feito um paparazzi com a câmera.
-H-Hm... Mas as fotos que você tirou ficaram muito lindas, Sasuke. -Elogiei docemente. -O seu irmão
teve sorte de ter tido um fotógrafo tão bom igual você.
Ele me fitou apaixonado.
-Obrigado... -Depositou um beijo breve em meus lábios. -E você, hm? Tinha perfis em redes sociais?
Corei levemente com a lembrança.
-U-Uhum. Tinha sim.
Os olhos de Sasuke brilharam.
-Ah, bebê... As suas fotos devem ser tão lindas. Eu queria muito ver.
-N-Não eram não... -Ri timidamente. -Eu não postava muita foto minha, sabe? Eram mais fotografias
de paisagens, da minha mamãe, de gatinhos e dos desenhos que eu fazia.
O moreno abriu um sorriso carinhoso.
-Eu queria muito ter te seguido nessa época. -Sussurrou para mim. -Eu ia dar em cima de você
através dos comentários e curtir todas as suas fotos até você me notar.
Senti o meu rosto se esquentar.
-H-Hm... Eu acho que não ia ter coragem de fazer o mesmo, mas pode ter certeza que eu ia curtir
todos os seus comentários e te enviar um monte de coraçãozinhos coloridos.
Ele suspirou com um ar abobado.
-Que bom que a gente não se conheceu pela internet, então. -Riu baixinho. -Senão o seu celular não
ia parar de apitar com notificações minhas. Eu ia te encher o saco o dia inteirinho, bebê, até você não
aguentar e me bloquear.
-E-Eu que ia te encher o saco, Sasuke. -Lhe roubei um selinho. -Te mandaria um monte de
mensagens fofinhas, textinhos de amor e poemas escritos por mim. Você ia ficar tão de saco cheio, que ia
me bloquear.
-Eu jamais te bloquearia. -Acariciou os risquinhos presentes em minha bochecha. -Eu leria todos os
seus textinhos e poemas com o maior amor do mundo, sem exceção!
Juntamos nossos lábios com sorrisos bobos.
-H-Hm... Então eu acho que teria amado te conhecer pela internet também, Sasuke.
-Com certeza. -Riu com os lábios levemente prensados aos meus. -Eu ia me apaixonar pelas suas
fotos, pelo seu jeitinho fofo de trocar mensagens, pelos seus poemas e, no final, me apaixonaria ainda mais
quando a gente se conhecesse pessoalmente.
-U-Uhum... -Murmurei entre um beijo e outro, não conseguindo deixar de sorrir somente ao imaginar
aquela situação improvável, mas fofa. -Eu me apaixonaria por todas as suas fotos, pelo seu rostinho lindo,
pelas suas mensagens e o seu jeitinho carinhoso e protetor.
Sasuke suspirou carinhoso.
-Ah, meu bebezinho... -Colou nossos lábios em um selinho longo e amoroso. -Você ‘tá querendo que
eu me apaixone ainda mais por você, é isso? Será que isso é mesmo possível?
-H-Hm... Eu te pergunto o mesmo, Sasuke.
Demos início a mais um beijo. Sem se importar com a presença dos meninos, e muito menos com os
diálogos e gargalhadas que ecoavam de fundo, roçamos nossas línguas com carinho e lentidão, sorrindo
entre os estalos molhados que ecoavam involuntariamente pela sala, nos permitindo transmitir o amor
intenso que sentíamos um pelo outro.
Queríamos ter um momento só nosso. Era óbvio que, na hora em que subíssemos de volta ao quarto
do Sasuke, ficaríamos abraçadinhos e trocando carinho, como sempre. Eu amava ficar a sós com o meu
namorado, e sabia que ele sentia o mesmo.
-... E você, chefe? Tinha alguma rede social?
As conversas permaneciam ativas e agitadas entre meninos. Como ainda estávamos presentes na
sala, decidimos interromper o nosso beijo, rindo baixinho ao darmos um último selinho para quebrar a
pequena e quase invisível linha de saliva que restou.
-Ah, eu tinha. Mas eu não usava não. -Deu de ombros, ao mesmo tempo em que fuçava no celular de
seu amigo, o qual, aparentemente, havia lhe passado sua senha e deixado com que ele colocasse a sua
digital. -Essa época eu provavelmente estava ocupado traficando e fugindo da polícia. Eu não era uma
influencer filinho de papai igual você, Itachi.
O Uchiha sorriu nostalgicamente.
-Saudades da minha época de fama.
-Por falar em fama... -O loiro riu surpreso, franzindo o cenho com algo que via no celular de seu
amigo. -Caralho, Gaara, você é outro que tem um péssimo gosto musical, hein?
O ruivo o fitou ofendido.
-Ei, você ‘tá na minha playlist?
-Sim. -Virou a tela com um ar tedioso. -Lady Gaga, cara? Sério?
Itachi começou a gargalhar.
-Porra, chefe! Mas ela é gata!
-Essa playlist não é minha! -Arrancou o telefone de sua mão. -É da minha irmã! A gente divide a
mesma conta! -Agora ele clicava em outra lista, devolvendo nas mãos de seu amigo. -Essa aqui que é
minha...
Ambos os namorados olharam para a tela com curiosidade. Pelo o que me parecia, as músicas
haviam sido aprovadas por eles. Eu não consegui enxergar direito, mas, de canto de olho, notei algumas
canções parecidas com as que escutamos no carro do Obito.
-Aí sim! -O mais velho soltou um som comemorativo. -É disso que eu to falando! Só pancadão!
Sasuke o olhou surpreendido.
-Você também curte essas baixarias, Gaara?
-Ah, eu curto. -Deu de ombros com um sorriso brincalhão. -Eu acho engraçado.
-É claro que ele curte! -Deidara circulou os braços entorno de seu ombro. -Ele é o MC Ruivinho
Criminoso, lembram?!
Itachi gargalhou ainda mais alto.
-Nossa! Eu já tinha me esquecido disso!
-Meu Deus, essa você desenterrou. -O ruivo o acompanhou em uma risada. -‘Tá aí uma maneira de
você ficar famoso de novo, Itachi! Começa a compor músicas e vira um MC!
Inicialmente, era para ter sido uma sugestão brincalhona e inocente, mas, aparentemente, o Uchiha
mais velho gostou muito da ideia.
Muito mesmo.
-Caralho, sim! Eu vou investir na minha carreira de MC! -Bateu palmas. -Gaara, a gente deveria fazer
uma dupla!
-Nossa, ótima ideia! -De imediato, o ruivo concordou com aquela loucura. -É um bom jeito de
descolar uma grana também! Nós somos bonitos, vamos ganhar milhares de fãs!
Sasuke me fitou meio assustado.
-Sim, a nossa beleza vai conquistar todo mundo! -O moreno cruzou as pernas em um pequeno ato de
exibição. -Agora a gente só precisa decidir um nome artístico pra mim!
Deidara deu pulinhos no sofá, mostrando-nos que havia acabado de ter alguma ideia.
-MC Moreno da Bunda Durinha! -Gritou empolgado. Os meninos, por sua vez, começaram a
aplaudi-lo em aprovação. -Combina muito com o Itachi, pode falar!
Foi a minha vez de olhar até Sasuke, deixando um riso rasgar minha garganta ao presenciar a sua
feição perturbada diante do diálogo.
-Cacete, chefe! -Puxou-o para colar seus lábios em um beijo estalado e de agradecimento. -Eu amei
esse nome! Você é muito criativo, sabia disso?!
-Perfeito! Então a gente já tem o feat, Itachi! -Gaara deu um toque com o Uchiha. -Mc Ruivinho
Criminoso e MC Moreno da Bunda Durinha!
-Agora a gente precisa das dançarinas e de um cenário descente pro clipe! -Berrou animado. Não
dava para acreditar que eles estavam mesmo levando a sério a ideia de se tornarem MC’S e cantarem
baixarias.
-O clipe vocês gravam aqui mesmo! -Deidara sugeriu. -Lá no quintal vai ficar bom!
-Chefe, você vai ser uma das dançarinas! -Anunciou sem antes pedir por sua permissão, olhando na
minha direção pensativamente. -Você e o Naruto! Vocês dançam pra gente!
Eu não esperava ter sido incluído naquela maluquice.
-H-Hm... Não, gente—
-Eu topo muito! -Meu irmão, surpreendente, concordou com aquilo. -Eu e o franguinho vamos ser os
dançarinos principais do clipe!
Eu e Sasuke trocamos mais olhares. Era engraçado saber que, mesmo não dizendo nada um para o
outro, estávamos sentindo e pensando exatamente o mesmo.
-‘Tá, mas os dançarinos também precisam de um nome artístico... -Gaara acariciou o próprio queixo,
olhando, primeiramente, em direção ao meu irmão. -MC Morfético, claro!
Itachi deu início a mais uma salva de palmas.
-Combinou demais!
-Eu adorei também! E o franguinho vai ser MC Gorila, eu não quero nem saber! -Deidara declarou
repentinamente.
-H-Hm... Gorila? -Sussurrei confuso para Sasuke.
Ele levantou as mãos sem entender.
-Por que gorila? -Gaara riu sem antes saber o significado.
-Por que os gorilas tem a bunda gigante, e o Naruto também tem!
Todos caíram na gargalhada.
É claro que eu não gostei nenhum pouco do que escutei. Sasuke, por outro lado, já ciente da maneira
como me senti ofendido com o comentário, afagou minha cintura como forma de consolo, sussurrando em
meu ouvido para que eu não ligasse para aquela besteira.
-Agora só falta o Sasuke! -O mais velho lhe incluiu. -Ele vai ser uma das dançarinas também?! Ou
um dos cantores?!
Gaara negou com a cabeça.
-O Sasuke tem que ser aqueles caras que ficam atrás dos clipes, ‘tá ligado? -Todos avaliavam o meu
namorado. -Vai ser tipo aqueles figurantes que ficam fumando narguilé, usando óculos espelhado e
carregando um copão de uísque na mão!
Por algum motivo, o Itachi também amou essa ideia.
-Vai ficar incrível! -Cutucou seu irmão que, diferente de si, estava zero empolado com a ideia de
aparecer em um vídeo clipe. -De qualquer forma, não ia dar pro Sasuke ser um dos dançarinos mesmo. A
bunda murcha dele não ia colaborar no rebolado!
Novamente, os garotos caíram na gargalhada.
Eu nem tive tempo de consolar o meu namorado, já que, no segundo seguinte, uma lâmpada se
ascendeu na cabeça de Deidara.
-Caralho, gente! Esse pode ser o nome artístico do Sasuke! -Sorriu grandiosamente. -MC Pneuzinho
Murcho!
Os meninos aprovarão a ideia com mais aplausos e risadas.
Já o moreno, assim como eu, ficou levemente afetado com o comentário. Eu já havia reparado que
meu namorado não gostava muito quando comentavam sobre o seu traseiro. Era mais uma coisa que
tínhamos em comum, por mais aleatória que fosse.
-Ei? -Chamei docemente, tocando na pontinha de seu queixo para incentiva-ló a levantar a cabeça.
-H-Hm... Eu acho o seu bumbum muito fofo, Sasuke.
Ele riu pelo elogio esquisito, formando um biquinho em seus lábios.
-Mesmo, bebê? -Indagou numa entonação brincalhona. -Você não liga do seu namorado ter dois
pneus furados no lugar da bunda?
-N-Nenhum pouco. -Ri amoroso. -Eu gosto muito do seu bumbum... E você? Se importa que eu tenho
a bunda de um gorila?
-Não me importo nenhum pouco, meu bebezinho. -Esfregou nossos narizes. -Eu também gosto do
seu bumbum e acho ele muito fofo.
Rimos ambos em conjunto.
Aquele era um assunto bem estranho.
-...Bom, então está decidido! -Itachi prosseguia com o mesmo assunto. -Agora a gente só precisa de
alguém pra gravar!
-Deixa que eu gravo. -Sasuke se pronunciou. -Eu prefiro gravar do que aparecer fumando e de
óculos espelhado nesse clipe de vocês.
-Nada disso! -Deidara discordou. -A gente precisa do Sasuke nesse clipe! Ele tem um gingado
misterioso e bonitão! A mulherada gosta disso! Pensem na fama, gente!
-Mas não dá pra ser misterioso em um clipe de safadeza e com um copão de uísque na mão, chefe.
-Rebateu. -A gente precisa arranjar um jeito do Sasuke se soltar no nosso clipe!
-Se soltar? Porra, e você quer que o garoto faça o quê?! -Levantou a sobrancelha. -Bata na nossa
bunda enquanto a gente dança?!
Como das últimas vezes, era para ter sido apenas um questionamento irônico, mas, novamente, o
Uchiha pareceu ter gostado da ideia. Tanto que, com um olhar sugestionável, fitou o rosto de seu irmão
mais novo, o qual cortou-o com uma negada rápida de cabeça.
-Não, Itachi. -Ele parecia saber exatamente o que o mais velho estava pensando. -Eu não vou bater
na bunda de ninguém, e muito menos deixar alguém me filmar fazendo isso.
Ri enquanto negava com a cabeça.
Os meninos estavam sonhando alto demais. É claro que nada disso aconteceria. Caso eles
cogitassem a ideia de gravarem um clipe para postar, a polícia nos acharia facilmente.
-‘Bora chamar o Obito então, sei lá! -O loiro sugeriu. -Ele fica fumando atrás com o Sasuke, daí a
gente chama a Rin pra dançar!
-Sim! Eu acho que consigo convencer ele! -Itachi se animou novamente. Sasuke e eu, por outro lado,
nos entreolhamos silenciosamente. Era claro que o Obito jamais toparia participar de um clipe
comprometedor daqueles. -Ele pode chamar MC Corrupto! É bem a cara dele!
Gaara se engasgou de rir com o nome.
-Combinado! Daí eu chamo o Lee pra gravar, e a minha irmã pode dançar também!
Sasuke arqueou a sobrancelha.
-Mas a sua irmã não está grávida?
-Sim! Mas e daí? Ela dança assim mesmo! -Deu de ombros. -Eu obrigo ela!
O moreno entreabriu os lábios sem saber ao certo o que responder. Eu não conseguia parar de rir. As
reações do Sasuke eram sempre muito boas e bem explícitas diante dos diálogos e ideias absurdas dos
garotos.
-Certo... Eu acho que por hoje já deu, né. -Ele murmurou ao meu ouvido, dando pequenas batidinhas
em minha coxa como se pedisse para que eu me levantasse. -Gente, eu vou ir dormir um pouco. Estou
cansado da viagem.
Itachi o olhou impressionado.
-Deus é pai! Vai dormir de novo?!
-Vou. -Respondeu tedioso, bocejando quando me levantei de seu colo. -Posso? Ou você não vai me
deixar dormir também?
-Pode, né. -Deu de ombros. -Vai lá.
Senti ele entrelaçar as nossas mãos.
-Naruto...? -Chamou manhoso. -Você sobre comigo?
-H-Hm... Você quer que eu vá junto?
-Uhum... Quero muito. -Sorriu sonolento. -Eu quero ficar abraçado com você, bebê.
Sorri com carinho.
-E tem como recusar um convite desses?
-Então vamos...
-Espera só um pouquinho. -Impedi que ele me arrastasse. Eu também estava com muita vontade de
ir até o quarto com o Sasuke, mas antes, queria dar um último abraço nos garotos como um agradecimento
por aquele dia. A felicidade de ter o Gaara de volta, incluindo o orgulho que eu tinha do Itachi e o amor que
sentia pelo meu irmão, precisavam ser valorizados. -H-Hm... Meninos?
Me aproximei, em primeiro lugar, de Itachi.
Como ele estava na ponta do sofá, foi o primeiro a receber um abraço meu. O moreno me acolheu
com um sorriso leve, acariciando minhas costas amigavelmente, embora não soubesse ao certo o que
levou-me a botar em prática esse ato afetivo tão de repente.
-Você é fofo. -Itachi declarou risonho, me deixando com as bochechas coradas ao bagunçar meus
cabelos. -Mas é aleatório.
-N-Não sou não. -Ri baixinho
Em seguida, eu passei para Deidara.
O loiro me fitava com um sorriso discreto, assim como se já estivesse esperando por um abraço meu.
Me aproximei sorridente, entrelaçando os braços em seu pescoço ao estar um beijo na sua bochecha.
-H-Hm... Te amo.
-Eu também.
-Também o quê?
-Você sabe...
-E-Eu quero ouvir você dizer...
-Eu também te amo, Naruto, porra.
Se fosse possível, meu sorriso tornou-se ainda maior.
-Agora sim. -Me afastei, deixando-o com uma expressão tediosa. -Bem melhor.
-Morfético do caralho.
Ignorei o xingamento e, por fim, segui até Gaara.
Gargalhei divertido ao notar que meu amigo já me aguardava com os braços bem abertos e um
sorriso iluminado no rosto. Abracei-o com vontade, lhe acompanhando em risadas quando começamos a
nos espremer aleatoriamente, tentando medir quem dava o abraço mais forte e apertado entre nós.
-Ah, eu te amo, franguinho!
-Eu também te amo! -Sorri com as bochechas coradas, me distanciando de seu corpo.
Agora eu me sentia muito mais leve e amado.
Sasuke, por sua vez, assistia tudo do pé da escada, ainda sem compreender de fato o que me levou
a abraça-lós tão repentinamente.
-É... -Ele coçou a nuca. -Bem, eu estou com preguiça de andar até vocês, mas considerem-se todos
abraçados por mim também.
Ri brincalhão ao caminhar em direção ao meu namorado que, de imediato, ergueu-me seu braço
para que eu me agarrasse à si.
-Até mais tarde! -Acenei simpático para os meninos.
-Até! -Eles responderam em coro.
No final das contas, eu e o moreno pudemos subir lado a lado, trocando sorrisos e risadas amorosas
até que entrássemos novamente em seu quarto. Como Sasuke estava com sono, eu imaginei que ele fosse
querer se deitar em sua cama, contudo, me surpreendi ao nota-ló me guiar até a varanda de seu quarto,
aonde a mesma rede com vista para o jardim florido nos aguardava.
Por ainda estar de manhã, a paisagem estava mais linda e colorida do que o normal. Os pássaros
cantavam, as borboletas sobrevoavam a grama e os raios solares batiam certeiramente no tecido da rede.
-Deita primeiro. -Ele gesticulou em direção a rede. Arqueei a sobrancelha, mas decidi obedecê-lo, me
deitando com as pernas totalmente esticadas e espaçadas para o lado. -Pronto, agora eu deito aqui no
meio...
Sasuke veio em seguida. No entanto, optou por encaixar-se em meio às minhas pernas abertas,
ficando de bruços e com a cabeça repousada em meu peito. Seus olhinhos se fecharam de imediato,
parecendo já ter experimentado aquela posição anteriormente.
-Eu amava essa rede quando eu era criancinha... -Enquanto ele se explicava, eu dei um impulso leve
com os pés para que começássemos a balançar. -Minha mãe deitava assim comigo... Era muito bom.
Sorri docemente.
-H-Hm... Aqui é muito confortável mesmo. -Direcionei minha mãos até seus fios negros, levando a
sua franja para trás. -Esse sítio é muito lindo. Agora eu entendo o carinho que você tem por ele.
Ele assentiu com as pálpebras fechadas.
-Eu queria poder ficar aqui pra sempre... -Murmurou sonolento. -Com você, o Itachi, o Deidara... -A
medida em que ele falava, sua voz se tornavam mais distante. -Mas a gente vai precisar ficar trocando de
casa durante alguns meses. Não podemos correr o risco de sermos encontrados pela polícia.
-U-Uhum, tem razão... -Iniciei um afago em seu cabelo, arranhando de leve até a altura de sua nuca.
-Eu também queria poder ficar aqui.
Sasuke suspirou entregue com o carinho.
-Naruto...?
-Oi?
-Não importa aonde a gente vá... Eu sempre, sempre, sempre vou estar com você.
Sorri sem que ele pudesse ver.
-H-Hm... Sempre mesmo, Sasuke. -Beijei o topo de sua cabeça. -Não importa aonde.
-Eu te amo tanto... -Estalou um beijo no meu peito, esfregando-se manhosamente naquele mesmo
ponto. -Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo, bebê.
-Eu te amo mais do que tudo, Sasuke. -Cochichei com a voz baixinha e carinhosa, notando-o cada
vez mais sonolento em meio ao balanço gostoso da rede e o afago que eu lhe proporcionava. -Te amo pra
sempre.
Ele sorriu uma última vez.
Até que, por fim, adormeceu em meu peito.
Eu passei a observá-lo. Fitei seu rostinho pálido, os fios negros caindo sobre sua testa, e a maneira
como seu peito subia e descia por cima do meu a medida em que respirava e sincronizava os nossos
batimentos cardíacos.
Milhares de flexes de memórias me atingiram.
Não dava para acreditar em tudo o que passamos até aquele exato momento. Desde o momento em
que fui preso, me tornei a presa mais fácil da prisão, conheci o meu irmão, meu melhor amigo, meu
cunhado e, no final, o amor da minha vida. Eu me apaixonei pelo criminoso mais temido de todo o presídio,
que, no final das contas, não era nada do que aparentava e diziam ser. O Sasuke era apenas um garoto
carente, sensível, generoso, traumatizado, mas, sobretudo, que estava em busca de carinho e de alguém
que pudesse amar e amá-lo de volta do jeitinho que ele era.
Eu agradecia por ser esse alguém. Fui eu o destinado para lhe amar mais do que tudo.
Agora que estávamos a salvo e longe das grades ficava difícil de imaginar em como seria o nosso
futuro como os fugitivos mais procurados do país, apesar de que, lá no fundo, eu tinha absoluta certeza que
estaríamos sempre aprisionados um ao outro.
Só que, dessa vez, em um bom sentido.

Capítulo 35 - Bônus: Piolhos, Wi-Fi e Polaroids

Sasuke On

Minhas mãos trabalhavam astutamente na pilha de louça em minha frente. Enxaguavam os talheres,
pratos, panelas e copos que, anteriormente, serviram para que eu e os meninos cozinhássemos e nos
alimentássemos na mesa de almoço. Eu estava a pelo menos meia hora naquele mesmo esquema. Parado
de pé em frente a pia, sentindo meus dedos se enrugarem à medida em que a água tomava conta deles e
quase derretendo de calor dentro daquele cômodo desumanamente abafado.
Estava muito quente naquela tarde.
E infelizmente, o ar-condicionado instalado recentemente por meu irmão só surgiu efeito na sala de
estar. Para desfrutar de seu uso refrescante, seria necessário locomover-me até o cômodo do lado, algo
que, pelo menos naquele momento, estava fora de cogitação.
Eu estava encarregado da limpeza da casa.
E para falar bem a verdade, as tarefas domésticas estavam bastante mal divididas entre nós. Desde
que chegamos no antigo sítio de meu pai há exatos quatro meses, combinamos que cada um ficaria
responsável por um “cargo” dentro de casa. Nas primeiras duas semanas, até que tudo correu bem.
Estavam todos verdadeiramente empenhados em manter a casa limpa para que pudéssemos conviver em
harmonia e sem o habitual cheiro de mofo que costumávamos sentir diariamente na prisão.
Acontece que, pouco a pouco, isso acabou.
Os meninos simplesmente pararam de se importar com a nossa moradia. Eles já não ligavam mais
para a sujeira, a poeira e muito menos para a pilha de louça suja que, se não fosse por mim, alcançaria o
teto com tantos pratos que empilhamos um em cima do outro.
É claro que, quando eu digo “os meninos”, estou me referindo diretamente ao Itachi e o Deidara. O
meu bebê também não perdeu o costume de ajudar na faxina e a organizar o que os outros dois fazem
questão de deixar fora do lugar, se bem que, de vez em quando, Naruto vem se mostrando mais preguiçoso
e desacostumado do que o normal — talvez pelo fato do sítio ser incomparavelmente maior do que sua
antiga residência e, claro, do que o banheiro do presídio que éramos obrigados a lavar juntos.
Um exemplo disso foi na semana passada.
Enquanto Deidara — após muito batermos boca para que ele movesse a bunda do sofá e fizesse
alguma coisa naquela casa que não fosse assistir televisão — preparava o almoço para nós, eu pedi para
que o meu bebê me fizesse o favor de pendurar as nossas roupas já lavadas no varal, algo que, apesar de
ele ter topado fazer, acabou executando a tarefa de maneira errônea.
Ao invés de pendurá-las devidamente com os prendedores, o loiro apenas jogou as peças de
qualquer jeito no varal, o que, em consequência, fez com que elas ficassem com um mau cheiro por terem
permanecido dobradas por um longo período de tempo. Eu não disse nada a respeito, é claro. Não gosto
nenhum pouco de cobrar o Naruto, fora que havia sido a primeira vez que ele “pisava na bola”, diferente dos
outros dois garotos que, todo santo dia, me tiravam do sério.
Itachi era o mais folgado de todos.
Eu, sinceramente, nunca havia visto alguém arrumar tantas desculpas esfarrapadas para não fazer
absolutamente nada. O Deidara, por exemplo, se salva pelo simples fato de saber cozinhar e acabar
preparando algumas das refeições quando insistimos muito. Já o meu irmão, não. O Itachi fica o dia inteiro,
literalmente, de bobeira, perambulando pra lá e pra cá, enchendo o meu saco, o do Naruto e o de seu
namorado sem qualquer motivo aparente.
Tem vezes que ele vai até o quintal para tomar sol, mas outras diz que vai "dar uma voltinha rápida"
no mato e deixa todo mundo preocupado quando demora pra voltar, e na hora que volta, se tranca no quarto
e dorme até o horário da janta.
Estava impossível de lidar com ele.
Resumidamente, sou eu quem estou fazendo tudo dentro de casa. Como já disse, tenho a ajuda de
Naruto quando lhe peço, embora não goste da ideia de tirar o meu bebê de seu conforto para executar
tarefas chatas.
É por essa razão que venho aguentando tudo sozinho e calado. Acontece que, como esperado, eu
estou começando a me cansar fácil e ficar muito sobrecarregado com as tarefas. E, sinceramente, tudo
piora com esse clima insuportável. Ontem, por exemplo, eu achei que fosse desmaiar enquanto cortava a
grama do jardim por baixo daquele sol escaldante. O bom foi que o Naruto se preocupou ao ponto de me
trazer um copo de água, passar protetor solar em minha pele e até mesmo me buscar um boné.
Se dependesse do Itachi e do Deidara, eu já teria morrido de insolação e desidratação.
-... E vai tomar um banho, cacete!
Desviei meu olhar da pia por breves segundos, acompanhando o momento exato em que a
mini-porta da cozinha foi aberta de abrupto, dando espaço a uma gritaria desnecessária vinda da sala de
estar, incluindo a entrada de Itachi no mesmo cômodo que o meu.
Ri surpreso.
Depois de quase dois dias enfurnado no quarto, meu irmão finalmente deu as caras no andar de
baixo. Fazia tempo que o Itachi não saia de seus "aconchegos" para vir interagir devidamente conosco e,
honestamente, ele estava podre. Seu cheiro e aparência eram deploráveis.
-Eu já vou tomar banho, chefe, relaxa aí.
-É óbvio que você vai tomar, senão na minha cama você não dorme! -Deidara berrou da sala de
estar, vindo acompanhado de uma musiquinha irritante no fundo. Naruto e seu irmão estavam a mais de
duas horas assistindo vídeos na TV e no celular de Itachi que, surpreendentemente, ele concordou em
emprestá-los. Meu irmão era o único entre nós que possuía algum tipo de aparelho eletrônico caso
precisássemos nos comunicar com o Obito em situações de emergências, se bem que, até agora, ele
somente utilizou-o para tirar fotos e gravar vídeos de si mesmo. -Fedorento! Cascão!
-A cama não é sua, falou?! -Itachi rebateu, caminhando em minha direção com um prato sujo de bolo
de chocolate — o qual Deidara preparou após seu irmão literalmente se ajoelhar aos seus pés e implorar
para comer algo doce. -Essa casa inteira é minha, Deidara, esqueceu?!
-Passou a ser minha no momento em que eu pisei aqui! -Devolveu grosseiramente. -Vai tomar
banho, senão eu juro por Deus que te enfio debaixo daquele chuveiro à força!
Ri vago em meio a discussão.
Pelo menos alguém daquela casa tinha o poder de convencer o Itachi a tomar banho, porque eu,
sinceramente, já havia perdido as esperanças. Ele estava imundo. Até mesmo a sua barriga continha
sujeira. Fala sério, quem suja a barriga?
Eu o olhei de cima a baixo.
E ele ainda tinha coragem de ficar sem camiseta para mostrar-nos ainda mais a imundície que seu
corpo se encontrava, se bem que, caso Itachi estivesse com algum tipo de vestimenta, o tecido já estaria
fedendo e com manchas fortes e amarelas de suor em suas axilas.
-‘Tá me secando desse jeito por que, bunda murcha? Quer um beijo? -Indagou risonho e cutucou
meu traseiro com a ponta do garfo. Outra coisa que aconteceu durante esses últimos quatro meses — fora
o fato de eu ter me tornado o empregado oficial da casa — foi que Itachi e Deidara começaram a me
chamar de "bunda murcha" apenas para me provocar. -Ou é só inveja do meu corpo lindo e sarado?
Rosnei, afastando o talher.
-Muito pelo contrário. -Fiz questão de esboçar minha melhor carranca quando ele espreguiçou-se ao
meu lado, erguendo seus dois braços para cima e espalhando o aroma “agradável” de suas axilas. -Puta
que pariu, Itachi, você está fedendo muito.
Ele deu de ombros.
-Eu não estou sentindo nada.
-Você não sente, mas isso não significa que as pessoas ao seu redor não sintam. -Argumentei
enojado. -A quanto tempo você não toma banho, hein? Seja sincero.
Itachi soltou um barulho pensativo.
-Uma semana, eu acho.
-Uma semana?! -Deixei o prato escorregar da minha mão, causando um barulho estridente pela pia.
-Porra! Você bateu seu recorde!
Sorriu abertamente.
-Bati mesmo.
-E você se orgulha disso, Itachi?!
-Sim! -Ele realmente não parecia se importar com o fato de estar fedendo incrivelmente mal. -Mas
não se preocupe, eu estou indo pro banho agora mesmo. -Apoiou seu prato na pia. -Só vim deixar mais isso
aqui pra você lavar.
Lhe lancei o meu melhor olhar mortal.
Como eu odiava isso. Detestava quando estava chegando ao fim do “serviço” e alguém aparecia para
deixar ainda mais louça para mim. O engraçado é que, quase cem por cento das vezes, é o Itachi quem faz
isso.
-E não faz essa cara de cu, não! -Ele copiou a mesma expressão feita por mim. -Lava os pratos
direito e sem reclamar, ouviu? -Deu um peteleco no meio da minha testa. -Senão eu juro que enfio o seu
rosto aqui no meio do meu sovaco!
Imediatamente, eu tapei meu nariz. Precisei me segurar para não colocar meu almoço inteiro para
fora ao vê-lo levantar seus braços novamente e tentar me aproximar daquela região nojenta.
-Argh, Itachi! -Berrei em desespero, me debatendo para fugir daquele pesadelo. -Me solta, seu
doente! Você está fedendo!
Ele riu entretido.
-Agora aguenta! Aguenta a catinga!
Minha face estava a centímetros de sua axila fedorenta e, infelizmente, eu estava perdendo as
minhas forças. Foi quando, milésimos mais tarde, eu fui completamente dominado e puxado com
brutalidade em direção àquela área úmida.
Itachi conseguiu o que tanto queria.
O meu rosto contra o seu sovaco asqueroso.
-Toma essa! -Ele comemorou
Eu gritei muito alto. Muito mesmo.
Desferi socos atrás de socos em suas costelas numa esperança de que ele me deixasse respirar.
Demorou um pouco para que Itachi cedesse, no entanto, logo quando isso ocorreu, eu nem me dei o
trabalho de parar para discutir. Apenas corri aos tropeções até a pia, enfiando meu rosto debaixo da água e
esfregando-o loucamente.
Tudo o que eu desejava era me livrar daquela humilhação, retirar o suor que restava em minha face e
me sentir limpo de novo.
Eu estava morrendo de raiva do Itachi.
-Agora vê se aprende! -Pude senti-lo desferir um tapa em meu traseiro, divertindo-se com o fato de
eu estar praticamente me afogando na torneira e tossindo a ponto de vomitar. -Sou eu quem mando aqui,
bunda murcha!
Não querendo deixar barato, consegui agarrar a bucha lotada de espuma e atirar a tempo em sua
direção, aproveitando que Itachi correu até a porta para esguichar detergente por todo o seu cabelo e
costas. Com sorte, eu consegui atingi-lo o bastante antes que ele deixasse o cômodo. O único problema foi
que o restante da cozinha ficou uma lama por conta da nossa “briguinha” — toda molhada, escorregadia e
com marcas pretas do calçado de meu irmão pelo chão.
Eu grunhi de tanto ódio.
-Eu te odeio muito, Itachi!
Ainda na sala, ele gritou de volta:
-Me mama!
-Cuzão! -Devolvi aos berros.
-Quem é que vai mamar quem?! -Logo pude reconhecer a voz de Deidara que, como o habitual,
arranjava uma maneira de se intrometer nas conversas/brigas alheias, especialmente quando elas
envolviam o meu irmão.
-Você é quem vai me mamar essa noite, chefe.
-Só se for nos seus sonhos! -Simulou um barulho de vômito. -Eu me recuso a tocar nessa sua rola
fedida enquanto você não tomar um banho!
-Porra, mas que drama! -Exclamou em indignação. Em sua cabeça, estávamos realmente o
acusando do maior absurdo do mundo, e não lhe dizendo a mais pura verdade. E a verdade é que o meu
irmão fede pra caramba. -Naruto, você acha mesmo que eu estou fedendo a esse ponto?!
Era óbvio que ele incluiria o meu bebê.
Por alguma razão desconhecida, durante o período em que convivemos todos juntos no sítio, Naruto
virou uma espécie de conselheiro em meio às discussões de Deidara e Itachi. Resumidamente, é ele quem
sempre dá o pitaco final e decide qual dos meninos está certo quando os dois não conseguem se resolver
por conta própria. O fato é que Naruto não parece se importar em bancar o terapeuta para ajudá-los, fora
que ambos consideram o meu bebê alguém justo e que sempre faz o que é certo.
E eu também concordo.
-H-Hm... Mais ou menos. -Respondeu educadamente. É óbvio que ele estava mentindo. O Itachi
fedia tanto que, sinceramente, eu não consigo imaginar como o Deidara aguentou dormir ao seu lado
durante todos aqueles dias.
-Toma na cara, morfético!
Itachi ficou um tempo em silêncio.
-Eu não esperava isso de você, Naruto.
O meu bebê soltou um som chateado.
-M-Me desculpa... -Pediu arrependido. -Eu não queria te magoar, Itachi, mas você me perguntou e eu
quis ser sincero com você.
Da cozinha, eu sorri meio bobo.
-Você ‘tá certíssimo, Naruto! -Fiz questão de gritar bem próximo da porta. -Ninguém mais suporta
essa mania horrorosa do Itachi de ficar sem tomar banho. Alguém tem que dizer!
-É isso aí! Você não percebe que ninguém mais aguenta ficar perto de você, Itachi?! -Deidara tentava
a todo custo fazê-lo enxergar a realidade. -Você fede em vida, porra!
-Tá bom, caralho, eu já entendi.
-Então o que você ‘tá tentando provar ficando uma semana sem tomar banho?! -Eu tive certeza de
que o loiro estaria cruzando seus braços e batendo os pés com impaciência. -Que você é um porco?! Ou
que é um abutre?!
-Eu quero preservar a água do mundo, chefe, e tomar banho gasta muita água doce. -Respondeu a
primeira coisa que veio em sua cabeça, o que, obviamente, era uma mentira. -Eu sou um adorador da
natureza, tá bom?
Eu comecei a rir de frente para a pia.
-Acho que essa é a maior asneira que você já falou na sua vida, Itachi. -Neguei com a cabeça.
-Inventa outra desculpa que essa aí não colou.
Pude escutá-lo grunhir, ofendido:
-Então quer dizer que agora todos vocês se viraram contra mim, porra?! Vão se foder!
-Se você continuar desse jeito, é o nosso relacionamento que não vai mais ser preservado! -Deidara
ameaçava sem medo. -Eu juro que termino com você!
Itachi ficou caladinho.
-Você não faria isso...
-Eu faria sim! E vou fazer agora mesmo se você não tomar banho!
-Eu já estou indo, chefe. Cacete. -Estalou a língua, parecendo, por fim, ter cedido ao desejo de todos.
Eu juro que quase chorei de tanta alegria. Aquilo era um milagre divino! Não dava para acreditar que, depois
de uma semana, o Itachi finalmente tomaria banho. -E eu já vou avisando que vou usar o seu xampu,
Naruto.
O meu bebê riu baixinho.
-H-Hm... Tudo bem. Mas acho que ele não é exatamente pro seu tipo de cabelo.
-Tanto faz. -Ele parecia dar de ombros. -O cheiro do seu é muito bom, fora que o meu xampu me dá
uma alegria esquisita. Eu fico o dia inteiro me coçando e cheio de bolinhas no rosto.
O pior é que era verdade. O xampu do meu bebê tem um cheirinho muito agradável e gostoso de
frutas vermelhas. Só que, por outro lado, era extremamente esquisito sentir o aroma do meu namorado
impregnado no Itachi.
-Quer saber por que você fica o dia inteiro se coçando que nem um cachorro?! -Deidara voltou a
implicar. -Você deve estar lotado de piolhos, isso sim! É isso que dá ficar uma semana sem lavar o cabelo!
Apesar de tudo, meu irmão não se abalou:
-Bom, se eu estou com piolho, então todos vocês estão também. -Eu tive certeza de que ele estava
sorrindo com maldade. -Eu uso o pente de todo mundo aqui, principalmente o seu, Deidara. Então sugiro
que vocês dêem uma boa olhada no cabelo, meninos.
Neguei com a cabeça, desacreditado.
Eu tinha total consciência de que meu irmão estava apenas blefando sobre essa história de ter
piolhos. Acontece que, conhecendo o Deidara como eu o conhecia, sabia que ele ficaria extremamente
paranoico com a ideia de ter centenas de bichinhos andando pelo seu couro cabeludo e, em consequência,
também influenciaria o meu bebê a pensar o mesmo.
Bom, no final das contas, eu estava certo.
Não deu nem um minuto. Na verdade, foi em menos de trinta segundos que a portinha da cozinha foi
aberta com certo receio. Virei-me curiosamente em direção à entrada, me deparando com a cena — em
minha visão, estranhamente fofa — de Naruto escorrendo os dedinhos entre os fios de seu cabelo e
coçando-os com um bico choroso, olhando até mim como se pedisse por minha ajuda.
-S-Sasuke...?
-Oi, meu bebê? -Respondi amorosamente, deixando o restante da louça de lado para lhe dar toda a
minha atenção. -Ei, toma cuidado pra não tropeçar, viu? O idiota do Itachi molhou o chão inteiro.
Ele caminhou cuidadosamente até mim.
-O que aconteceu, hm? -Abanei minhas mãos para retirar o excesso de água e recebê-lo com um
abraço. Notei que, apesar de ter me retribuído e circulado seus braços ao redor de meu tronco, Naruto ficou
com a cabeça meio distante, ainda preso à ideia de que havia pego piolhos do Itachi.
-M-Minha cabeça está coçando tanto... -Informou em um sussurro. -Eu acho que estou com piolho,
Sasuke, e o Deidara também.
Ri fraquinho.
-Fica tranquilo, bebê. -Afaguei suas bochechas coradas pelo calor. -O Itachi só disse aquilo pra botar
medo em vocês dois, sim? Nem tem como ele ter pego piolho. Ele não teve contato com ninguém durante
esses últimos meses que não fosse a gente, lembra?
-M-Mas, Sasuke, eu...
Não foi surpreendente ver a fala de Naruto ser interrompida pela porta que, daquela vez, foi aberta
com violência. Foi quando o furacão — vulgo Deidara — entrou logo em seguida. No momento em que a
maçaneta se chocou contra a parede, o mais velho começou a coçar-se sem controle algum, soltando
gemidos e grunhidos pelo incômodo que sentia em seus fios.
-Eu estou com piolho! -Exclamou desesperado. Obviamente, chegando dessa forma e berrando sem
importar-se com o próximo, ele acabaria botando medo em seu irmão que, no segundo em que escutou
aquelas quatro palavras, ignorou completamente o meu aviso anterior e choramingou em um misto de nojo
e medo entre meus braços. -Porra, como essa merda coça!
Eu suspirei meio impaciente.
-Gente, vocês não estão com piolho. -Tentei controlar a situação. -Eu estava dizendo agora mesmo
pro Naruto, Deidara, não tem como o meu irmão ter pego piolho se ele não teve contato com outras
pessoas nesses últimos meses.
Ele me olhou irritado.
-Meu Deus, você é burro ou o quê?! -Gritou comigo, ao mesmo tempo em que raspava as unhas
violentamente em seu couro cabeludo. -O Itachi vive se metendo no meio do mato, eu tenho certeza que ele
pegou lá! E se bobear pegou pulga, carrapato e sarna! A gente vai ter que olhar a nossa virilha e o sovaco
também, é onde esses bichos mais gostam de ficar!
O meu bebê estremeceu.
-S-Sasuke, eu não quero ter carrapatos... -Me abraçou com força. Era quase como se eu tivesse o
poder de lhe proteger daqueles bichinhos. -O que eu faço agora?
-Shh, fica tranquilo… -Beijei sua cabeça calmamente. -Vocês não estão com nada disso, bebê, é tudo
psicológico. É só você prestar atenção... Antes do Itachi falar que tinha piolho, vocês estavam se coçando
desse jeito?
Ele ficou reflexivo.
-N-Não, não estava coçando...
-Viu só? -Cutuquei sua cintura, sorrindo ao me dar conta de que havia conseguido lhe convencer do
contrário. -É só coisa da sua cabeça, pode ficar tranquilo.
-Não é coisa da nossa cabeça! -Deidara argumentou, fazendo de tudo para que sua versão da
história fosse escutada. -Eu to sentindo os bichos andando, botando ovos e acasalando em mim!
Eu o olhei perturbado.
-E não me olha com essa cara de merda! -Me fitou com irritação. -Eu não estou louco, Sasuke!
Suspirei derrotado.
-‘Tá, eu tive uma ideia... -Olhei para o meu bebê entre meus braços e, em seguida, para Deidara,
chamando-o brevemente com a minha mão. -Chega aí, eu vou ver se tem piolho no cabelo de vocês dois.
Surpreendentemente, não houveram protestos algum diante de minha ideia. Os garotos aparentavam
estar tão desesperados com a situação, que apenas cederam e fizeram uma fila em minha frente para que
eu conferisse a cabeça de cada um. Em primeiro lugar, fiz o meu bebê se virar de costas para mim e
comecei a mexer em seus fios à procura de piolhos. Notei que seus ombros se tencionaram à medida em
que eu cutucava sua raiz, sobretudo, ele parecia confiar de verdade no que eu estava fazendo.
-Não tem nadinha, bebê... -Murmurei concentrado, estreitando meus olhos para observar
cuidadosamente cada centímetro de seu couro cabeludo. -Nenhum piolho por aqui.
-H-Hm... Tem certeza, Sasuke?
-Uhum, tenho sim. -Sorri paciente, virando-o com delicadeza para mim. -Você está livre.
Com um suspiro inaudível, ele se permitiu relaxar novamente. Deidara, por sua vez, claramente
agoniado com tanta "enrolação" de nossa parte, chocou a cintura contra a de seu irmão ao empurrá-lo para
o lado e tomar seu lugar em minha frente.
-Vaza, franguinho! -Virou de costas para mim, batendo os pés ansiosamente. -Olha direito isso aí,
Sasuke! Eu to falando sério!
-Então fica parado. -Toquei em seu ombro para que ele deixasse de se mexer tanto. -Como você
quer que eu veja seus possíveis piolhos se você não para quieto?
-Eu já disse que quando eu fico nervoso tenho a necessidade de me mexer, porra! -Virou o pescoço
para me fuzilar. -Para de me dar ordens e faz o serviço, bunda murcha!
Eu tive que respirar fundo.
Sinceramente, esses últimos quatro meses morando com os meninos e passando vinte e quatro
horas do meu dia “trabalhando” para eles e aguentando xingamentos e comentários inconvenientes a
respeito de minha bunda, foram um teste severo para minha paciência. E o fato é que eu estou realmente a
ponto de explodir com alguém.
-Você não tem nada nesse cabelo também. -Estalei a língua, olhando seus fios de qualquer jeito.
-Como eu já tinha dito, não é mesmo?
-Vai a merda! -Xingou, ignorando o favor que fiz para si. -Você que deve ‘tá lotado de piolhos e
carrapatos! O Itachi usa as suas toalhas!
Franzi a testa, confuso.
-Desde quando o Itachi usa as minhas toalhas? -Eu não estava assustado com os bichinhos que,
possivelmente, meu irmão poderia me passar, mas sim com a falta de higiene em dividir a minha toalha com
um indivíduo tão fedorento igual a ele. -Que história é essa agora?
-É isso aí que você escutou! Se eu fosse você, daria uma boa olhada no seu próprio sovaco!
-Apontou para a região de meus braços. -Os carrapatos adoram regiões quentes!
-Não, obrigado... Eu já olhei muitos sovacos por hoje. -Pensei alto, nem sequer reparando nas
expressões confusas dos meninos ao me escutarem pronunciar uma frase tão sem sentido como aquela.
-Se eu estivesse com carrapatos, pode ter certeza que eu já teria reparado.
-H-Hm... Então nós estamos livres, Sasuke?
-Sim, bebê. -Declarei paciente. -Não tem nenhum bichinho andando em vocês. Pode ir fazer as suas
coisas sem medo, tá bom?
Ele respirou aliviado.
-M-Muito obrigado, Sasuke. -Ficou na pontinha dos pés para alcançar a minha boca. -Eu te amo
muito.
Beijei o seu biquinho, sorrindo carinhoso.
-Eu te amo mais.
Enquanto isso, Deidara permaneceu observando-nos com tédio, e somente como uma provocação,
implicou comigo a medida em que era arrastado por seu irmão de volta para a sala:
-M-Muito obrigado, bunda murcha, eu também te amo muito! -Imitou a voz e entonação de Naruto,
mostrando seu dedo do meio sem qualquer motivo e saindo rápido para que eu não tivesse tempo de
retribuí-lo na mesma moeda.
Quando a porta fechou novamente, eu suspirei.
-Eu mereço.
Sentindo-me esgotado, passei a olhar o ambiente ao meu redor. Por conta de minha briga anterior
com Itachi, eu seria obrigado a limpar o chão inteiro da cozinha. Não poderia correr o risco de deixá-lo
naquele estado — até porque, se não fosse eu quem passasse um pano ali, mais ninguém mexeria a bunda
para secá-lo — o que poderia acarretar em algum tombo, tanto meu quanto do meu bebê, e eu realmente
não queria que ele se machucasse por minha culpa.
Sinceramente? O meu desejo era que o Itachi e Deidara escorregassem — mas de preferência, o
meu irmão. E eu juro que pagaria de louco e fingiria que não vi o carpete naquele estado.
Novamente, tive que respirar fundo.
Não, eu não agiria com tanta malvadeza. Iria limpar o chão daquela vez, mesmo que fosse Itachi
quem deveria lidar com toda essa sujeira, já que foi ele quem veio me encher o saco e me humilhar
enquanto eu lavava a louça.
Sem vontade alguma, peguei o rodo atrás da porta juntamente com um pano velho e surrado.
Joguei-o em cima da poça de água e comecei a esfregá-lo, inclusive por cima das pegadas pretas deixadas
sem querer pelos meninos. Até que foi uma tarefa fácil se comparada ao restante das que executei durante
o dia, mas que precisou ser interrompida pela metade quando escutei o meu nome ser chamado
repentinamente na sala:
-Sasuke?
Era a voz do meu bebê.
-Oi? -Respondi de volta.
-Vem aqui, por favor?
Franzi o cenho, curioso.
-Só um minuto, bebê.
Encostei o rodo de volta na parede, dando uma última checada no chão. Ainda estava meio
"melado", mas, sinceramente, o meu cansaço fez com que eu não me importasse mais com o visual.
Contanto que Naruto não corresse o risco de levar um tombo, para mim estava ótimo.
Limpei as gotículas de suor da minha testa e parti para o cômodo do lado. Preciso confessar que,
quando adentrei a sala, meu corpo sofreu uma espécie de choque térmico. O ar-condicionado realmente fez
efeito por ali, diferente da cozinha, que era praticamente uma sauna. Eu gemi com a sensação. O calor
estava quase me matando durante aquela semana, por isso, eram poucas as vezes que eu tinha a
oportunidade de me sentar em algum canto refrescante e descansar.
Os garotos estavam na área dos sofás.
Na realidade, Deidara estava deitado e ocupando todas as almofadas, enquanto o meu bebê
permanecia agachado atrás da televisão, mexendo em alguns fios com uma feição atenta, parecendo não
saber exatamente o que fazer.
-Ei, bebê? -Chamei por ele, assistindo o mais velho dar uma gargalhada enquanto via algo no celular
de meu irmão, ignorando completamente a minha presença. -Do que você precisa?
-H-Hm… É que o Wi-fi parou de funcionar do nada. -Mostrou o aparelho correspondente piscando
com uma luzinha vermelha. -Eu não sei no que devo clicar pra ele voltar ao normal.
Deidara fez um som de insatisfação.
-É, arruma isso aí, Sasuke. -Gesticulou com as mãos sem me dar as caras. -Vai logo, senão eu vou
gastar todo o 3G do seu irmão.
Eu o fitei com impaciência.
-É só tirar da tomada e colocar de novo, isso geralmente ajuda. -Ele aconselhou. -Se não adiantar, dá
um murro no aparelho que ele volta na hora!
-Ué, então por que você não fez isso por conta própria? -Eu fiquei sem entender. -Se você sabia
como arrumar o Wi-fi, por que eu tive que sair da cozinha e vir até aqui? Você podia muito bem ter
levantado do sofá e ajudado o Naruto.
Ele deu de ombros.
-Eu fiquei com preguiça de me mexer.
Minha boca quase foi ao chão.
Fala sério, aquilo era o cúmulo do absurdo. Até mesmo Naruto pareceu surpreso com a resposta que
escutou de seu irmão, olhando em sua direção como se aguardasse por justificativas plausíveis.
-Você é um folgado, cara! -Dessa vez, eu não deixaria passar. -O que custava você ter ajudado ele?
Eu estava ocupado na cozinha!
-Vai se foder! -Me lançou o dedo do meio. -Eu já disse que fiquei com preguiça, caralho, eu estou
cansado! Não dormi bem essa noite, falou?! O seu irmão tava fedendo a cu do meu lado! A minha
madrugada foi um inferno perto dele!
Antes que eu tivesse a chance de retrucar, Naruto se aproximou com uma feição chorosa:
-M-Me desculpa, Sasuke… -Fez biquinho. -Eu não queria ter atrapalhado e te tirado da cozinha. É
que eu fiquei com medo de mexer em alguma coisa errada e acabar levando choque.
Abracei sua cintura pela frente, ao mesmo tempo em que fuzilava o loiro no sofá. Ele realmente não
se importava com o fato de ter atrapalhado o meu serviço, ter me feito ir ali completamente à toa e também
de ter deixado o seu irmão na mão.
-Não tem problema. -Beijei sua testa quando ele me abraçou. -Eu te ajudo, tá bom? Diferente de
certas pessoas, eu gosto de ajudar o próximo e não sou preguiçoso ao ponto de arrumar um monte de
desculpinhas só pra não me mexer.
Deidara riu sarcástico.
-Indireta pra mim, fofo? -Esboçou um falso semblante chateado. -Vem falar comigo quando esse seu
rabo crescer! Bunda murcha!
Naruto se meteu dessa vez:
-D-Dei, para de falar assim com o Sasuke. -Olhou decepcionado para seu irmão, que não deu a
mínima para o chamado que recebeu. -Não é legal falar do corpo dos outros e muito menos tratar o próximo
com grosseria.
-Não se mete, franguinho! -Ameaçou jogar uma almofada em nossa direção. -Quer saber de uma
coisa?! Vocês dois são insuportáveis pra caralho!
Eu ri desacreditado.
-O insuportável aqui é você, cara!
-Vai tomar no seu cu, porra!
-Isso é um absurdo. -Para não respondê-lo com a mesma grosseria, optei por manter a calma. -É
absurdo o jeito que você trata a gente, Deidara
-Absurdo é o tamanhozinho da sua bunda!
Encolhi meus ombros, lhe fitando com ódio.
Obviamente, eu possuía milhares de respostas na ponta da minha língua para lhe dar, inclusive uma
como: "Por que você não consegue parar de falar da minha bunda? Você é tão inseguro que precisa ficar
apontando defeitos nos outros para se sentir melhor?". Sobretudo, eu decidi ser maduro e ficar quieto mais
uma vez. Estar cansado fisicamente, de certa forma, também influenciou no meu estado mental. Eu já não
tinha mais forças pra discutir e tentar fazer o Deidara e o Itachi enxergarem o quanto estão sendo folgados
e me levando ao limite ali dentro.
Enquanto isso, pude sentir um toque delicado em torno de meu braço, o qual me trouxe
instantaneamente de volta a realidade:
-S-Sasuke, não fica triste com o que o Dei te falou…
Eu ri baixinho.
-Eu não estou triste não, bebê. -Acariciei suas bochechas entre minhas mãos. Não estava em meus
planos contar a Naruto o quanto eu andava sobrecarregado — isso porque não queria preocupá-lo e muito
menos fazê-lo trabalhar em meu lugar para aqueles dois folgados. -Vem, vamos descobrir o que aconteceu
com esse Wi-fi, sim?
Percebi que ele assentiu meio chateado, mas, mesmo assim, concordou em me acompanhar.
Ainda com o Naruto pendurado no meu braço, eu me agachei de frente ao aparelho. E mesmo que
irritado com o comportamento grosseiro e imaturo de Deidara, pedi educadamente para que ele repetisse
todas as instruções que me deu anteriormente sobre o aparelho. No final das contas, eu realmente acabei
usando a força bruta para fazer o Wi-fi funcionar. Foi somente com um murro que a luzinha se tornou verde
de novo.
-Prontinho, bebê. -Sai de trás da televisão, sentindo meu nariz coçar em consequência a poeira
instalada na região. -Agora funcionou.
Naruto sorriu em agradecimento e me abraçou com força, circulando os bracinhos ao redor de meu
tronco.
-O-Obrigado, Sasuke… Você é incrível.
Ri carinhoso, beijando a sua cabeça.
-Não tem de que, bebê, você é maravilhoso.
-H-Hm… Eu e o Dei estávamos vendo televisão até agora. -Apoiou o queixo em meu peito, sorrindo
doce. -Você quer ver também?
Honestamente, eu não estava muito a fim de assistir nada — especialmente os programas aleatórios
que o Deidara colocava e obrigava todo mundo a acompanhar, tipo "Largados e Pelados" e outros que
envolviam sobrevivência na selva — por outro lado, eu queria muito descansar e ficar um tempinho deitado
no ar-condicionado e na companhia de Naruto antes de ir regar as plantas no quintal.
-Claro, quero sim.
Ele sorriu com a minha decisão.
E sem dizer muita coisa, me arrastou consigo na direção do sofá, pedindo com delicadeza ao seu
irmão que encolhesse os pés e desse um espaço para nos sentarmos também. O loiro ficou a reclamar e a
me olhar com cara de poucos amigos, mas, por fim, cedeu um cantinho em sua almofada. Com isso, o meu
bebê permitiu que eu me sentasse primeiro e, logo depois, veio sorridente até o meu colo, pouco
importando-se com o fato de eu estar com o tronco suado e grudento pelo calor.
-Você não quer tirar essa blusa, hm? -Perguntei ao pé de seu ouvido, circulando sua cintura ao
senti-lo se acomodar de ladinho em minhas coxas. -'Tá todo mundo sem, fica também.
Ele negou com a cabeça, sorrindo atencioso.
-Eu nem estou com tanto calor.
-Sério? Eu tô derretendo.
-O-Oh… Quer que eu saia de cima de você?
Eu o abracei com mais força.
-Não, bebê… -Neguei manhoso. -Você fica.
Naruto riu doce.
-Está bem.
Eu esperei até que ele se ajeitasse novamente em meu colo para que pudesse repousar minha
cabeça em seu ombro. Naruto foi logo de encontro aos meus fios suados e permaneceu brincando com eles
durante um tempo, dando-me alguns beijos e selinhos de vez em quando, os quais me faziam sorrir
apaixonado e até mesmo suspirar com sonolência. Eu acho que consegui descansar um pouco daquela
forma, fora que o ar-condicionado aliviou verdadeiramente o meu mal-estar em consequência ao calor.
Em um instante qualquer de silêncio — apenas com a caixa de som do Itachi ecoando no andar de
cima com algum funk extremamente aleatório e inapropriado tocando — e eu quase dormindo por conta do
carinho que recebia do meu bebê, Deidara me "despertou" ao dar uma gargalhada.
Naruto o fitou curiosamente.
-H-Hm… Do que você está rindo, Dei?
-Nada, é que eu tô falando com o Gaara. -Respondeu em meio a risos, ficando de ponta cabeça no
sofá para tirar uma foto extremamente estranha de seu rosto e em um ângulo quase que desumano. -A
gente 'tá trocando fotos.
Eu observei a tela de longe.
Deidara era quem mais conversava com o ruivo através de mensagens e, de vez em quando,
convidada eu e os meninos para participarmos de suas ligações de vídeos e matar a saudades. Pelo o que
eu sei, Gaara está muito feliz com sua nova vida e super empolgado com o nascimento de seu sobrinho,
além de seu namoro com o Lee, é claro.
Novamente, Deidara riu alto.
Observando o celular de soslaio, vi que Gaara havia lhe enviado uma foto sentado no vaso sanitário
com a legenda "a feijoada do almoço fez efeito", além de estar com uma careta de dor para representar um
incômodo em sua barriga.
Eu acabei rindo junto também. Sempre achei o ruivo alguém muito engraçado e carismático.
-E-Eu sinto muita falta do Gaara. -Naruto choramingou em meu colo, sorrindo nostálgico com suas
lembranças. -E do Obito também.
Beijei seu pescoço como um consolo.
-É, eles fazem muita falta, bebê.
-'Bora encher o saco do Obito! -O loiro animou de repente, invertendo sua posição no sofá para
sentar ao nosso lado. -Vamos ligar por vídeo, faz tempo que a gente não perturba ele!
-Faz tempo que a gente não perturba ele? -Repeti, rindo incrédulo. -Você e o Itachi ligam pra ele
umas cinco vezes por semana, cara.
-Quê? Nada a ver!
-Tudo a ver. Ontem mesmo vocês ligaram pra ele só pra mostrar uma pomba morta no quintal.
Deidara ficou sem argumentos.
-Foda-se! Vamos ligar de novo!
Naruto remexeu-se, contente.
-Sim, faz tempo que eu não falo com ele!
-É mesmo, vocês dois nunca estão por perto quando a gente liga pro Obito!
Ele se aproximou, saindo de meu colo.
-D-Deixa eu aparecer…
-Certeza que ele vai desligar na nossa cara! -Riu descontraído. -Esse morfético nunca atende!
Eu também estava começando a achar que meu primo não atenderia. Obito deixou mais do que claro
que deveríamos utilizar o celular de Itachi somente em casos de emergência. E bom, ligar para matar a
saudades, encher o seu saco e mostrar uma pomba morta no quintal, não é exatamente uma situação de
risco.
O celular tocou, tocou, tocou e nada.
Eu achei que Deidara fosse desistir de tentar, no entanto, quando o assunto era perturbar os outros,
nisso ele tinha o dom. Persistiu por mais uns dois minutos, tendo, a todo o instante, Naruto do seu lado para
ajudá-lo a monitorar a ligação, ambos com os rostos próximos a tela.
Quando, de repente, a chamada completou.
-O que você quer, Deidara?
Eu ri sem nem ao menos estar participando diretamente da conversa. Tive certeza de que Obito não
estaria nenhum pouco contente com aquela ligação, o que eu logo deduzi ao reparar na sua entonação fria
e desinteressada.
-Ué, onde você está?! -Deidara aproximou o celular de seu rosto, enquanto eu, curiosamente,
cheguei um pouco mais perto para tentar enxergar o meu primo. -Que lugar é esse?!
-Eu estou na academia. -Murmurou entediado, baixando o som de seu fone. Era como se Obito já
soubesse que o loiro gritaria em algum momento da chamada. -Não posso falar agora, estou muito
ocupado.
-Nossa, mas que desculpinha de merda! Você pode muito bem falar enquanto faz os seus exercícios!
-Desafiou. -Mas que pena… Porque os seus preferidinhos estão aqui do meu lado querendo conversar com
você!
Obito se interessou um pouco mais.
-O Naruto e o Sasuke estão aí?
-E-Eu estou aqui, Obito! -O meu bebê exclamou, pegando o celular de seu irmão. Pude ver o rosto de
meu primo se clarear em um sorriso, ao mesmo tempo em que deixava os exercícios de lado para lhe dar
total atenção. -Que saudades!
-Eu também estou, Naruto. Como vão as coisas por aí? Vocês estão tendo algum problema?
Ele negou sorridente.
-Nenhum problema, eu acho… -Fez um biquinho pensativo, e eu tive que deixar uma risadinha
escapar ao ver a maneira como o meu bebê ficava adorável na câmera do celular. -A única coisa ruim é que
está muito calor. Tipo, eu gosto bastante do verão, mas parece que aqui é…
-É a boca do inferno nesse caralho! -Deidara gritou por cima. -Calorzão da porra!
Imediatamente, Obito arrancou um de seus fones de ouvido e esboçou uma careta de dor. Reabriu
seus olhos e suspirou com impaciência, baixando um pouco mais o volume de seu celular.
-Eu entendo, Naruto, aí é quente mesmo.
-Pois é, às vezes os meninos até passam mal por conta do clima. -Riu descontraído, tentando puxar
assunto. -E aí? Está muito calor?
-Mais ou menos. -Ele secou algumas gotículas de suor acumuladas em sua testa. -Mas agora que eu
estou praticando exercícios, fica pior.
Deidara grunhiu sem nenhum motivo.
-Odeio gente fitness!
-Não é minha culpa se você fica o dia inteiro deitado e sem fazer nada, Deidara. -Devolveu simplista.
-Eu sou feliz me exercitando.
-Caguei pra você!
-Então, Naruto… -Obito fez questão de dar ênfase no nome do loiro, mostrando seu desejo em
dialogar somente com ele. -Não esqueça de se hidratar, tá bom? Esse clima seco deixa todo mundo mal, é
bom beber água o tempo todo.
O meu bebê assentiu, bastante atento a cada instrução que meu primo lhe passava.
-H-Hm… Pode deixar. -Notei ele virar o celular, assim como se quisesse mostrá-lo a mesinha de
centro em nossa frente — a qual estava tomada por quatro ou cinco copos de água deixados ali pelos
meninos. Acontece que, desastradamente, seu joelho se chocou contra o cantinho do móvel, o que
acarretou em dois dos copos virando no tapete e se espalhando até o carpete. -O-Oh! Me desculpem,
meninos, foi sem querer…
-Argh, franguinho! -Deidara levantou o pé, reclamando por ter sido molhado. -Porra! Já é a segunda
vez que você derruba esses copos!
Franzi o cenho em reprovação.
-Relaxa, cara, ele já disse que foi sem querer.
-D-Desculpa, Sasuke… -Naruto devolveu o celular para seu irmão, disposto a se agachar e limpar a
"sujeira" que fez. -Deixa que eu limpo.
-Não, bebê. -Toquei em sua mão, impedindo que ele prosseguisse. Em seguida, me ajoelhei de frente
aos copos, começando a pegá-los um por um. -Está tudo bem, deixa que eu limpo. A água foi pra trás da
TV, você pode levar um choque.
Obito pigarreou.
-O que aconteceu aí, meninos?
-O Naruto derrubou um monte de copos! -Deidara desferiu um tapa na cabeça de seu irmão, que
soltou um som manhoso em resposta. -Pra variar, né?! Nunca vi alguém tão desastrado, parece que faz de
propósito só pra me irritar!
-Menos, Deidara.
-É verdade, ué! -Mesmo que de canto de olho, notei o mais velho virar a câmera para mim — o que
foi um tanto quanto desconfortável, já que eu estava, literalmente, de quatro no chão e secando a região
próxima da televisão com um pano qualquer que encontrei pela sala. -Daí sobra pra nossa empregada da
bunda murcha limpar a bagunça dele!
Virei meu pescoço ameaçadoramente.
-Vai se foder, cara.
-Shhh, limpa isso aí e cala a boca!
-Oi, Sasuke. -Obito saudou, meio desconfortável por eu estar com o traseiro assustadoramente
próximo da câmera. -Tudo bem?
-Oi… Tudo sim e com você?
-Tudo bem também.
Deidara chutou a minha bunda.
-Cala essa boca, empregada! -Exclamou. -Você não está sendo paga pra ficar de conversinha!
Eu me virei pronto para revidar.
Aquilo era muito humilhante, mesmo que se passasse apenas de uma "brincadeirinha". Brincadeira
de mau gosto, no caso. Irritado, deixei o pano de lado e parti para cima sem pensar nas consequências,
cansado de ser humilhado e não fazer nada a respeito. Aparentemente, Deidara achou graça quando eu
comecei a bater a almofada nele, por isso, largou o celular e se defendeu da mesma maneira, deixando
Obito assistindo tudo através da tela e o meu bebê apreensivo com a briga.
-M-Meninos, parem com isso, por favor.
Não estávamos o escutando. Ajoelhado sobre o sofá, eu o cercava e acertava almofadadas violentas
no meio de sua cara, recebendo várias outras com a mesma intensidade. Na realidade, eu estava levando
aquilo mais a sério do que deveria e descontando toda a minha raiva naquela briguinha infantil, muito
diferente do loiro, que não parava de rir e me provocar.
Naruto, por sua vez, tentou nos parar mais uma vez. Se aproximou, preocupado — talvez com medo
de que a discussão ficasse mais séria — entrando no meio das almofadas para que parássemos. Bom, no
caso, realmente funcionou. Talvez o meu bebê soubesse que eu jamais iria querer machucá-lo, então, para
não atingi-lo, eu larguei minha "arma" e me distanciei, respirando ofegante após ter me debatido tanto.
-Vai ter revanche, pode esperar! -O loiro me lançou o dedo do meio. -Bunda murcha!
Dessa vez, eu lhe devolvi meus dois dedos.
-M-Meninos, não briguem assim. -Naruto repreendeu. -Eu fico triste quando vocês discutem desse
jeito, é muito chato.
-Ele fica me provocando, bebê! -Me defendi, com medo de que Naruto tenha se desapontado comigo.
-Você viu o que ele fez! Chutou a minha bunda e me chamou de empregada!
-S-Sim, eu vi… -Pegou as almofadas que caíram no chão, organizando o cômodo mesmo sem ter
tido nenhum envolvimento em nossa discussão. -Você deve desculpas pra ele, Dei. Não acha?
-Eu não! -Apoiou os pés no braço do sofá, dando de ombros para mostrar que não dava a mínima
para mim. -Ele é a nossa empregada, ué! Tem que trabalhar pra gente, e sem reclamar!
Cerrei os punhos com ódio, pronto para argumentar. No entanto, Naruto pareceu ter tomado frente da
situação antes do que eu:
-O Sasuke não é nosso empregado… Ele está apenas fazendo o favor de arrumar a casa pra gente.
-Rebateu sensivelmente. -Imagina como deve ser chato pra ele organizar a bagunça de todo mundo e ainda
precisar ficar levando chutes? Você gostaria de passar por isso?
-Blá, blá, blá! -Deidara debochou. -Tô nem aí!
Naruto me olhou, derrotado.
Era como se, no fundo, ele também não soubesse mais o que fazer a respeito. Era tão difícil lidar
com o Deidara, mas, acima de tudo, cansativo. Eu estava completamente esgotado.
-Sasuke!
Automaticamente, me virei até a escada.
-Acho que tem alguém te chamando. -Deidara apontou, sorrindo ao se dar conta de que tratava-se de
Itachi. -Vai lá, empregada, precisam de seus serviços no andar de cima
-Olha aqui, seu…
-Sasuuuke! -Itachi berrou por cima do funk, engasgando-se com a própria saliva e começando a
tossir. -Corre aqui, caralho!
Olhei até o meu bebê como se pedisse socorro.
-H-Hm… Você quer que eu vá no seu lugar, Sasuke? -Sugeriu, notando o estado em que eu me
encontrava. -Eu vou, sem problemas.
-Melhor não, bebê. -Comecei a me preparar mental e fisicamente para o que quer que meu irmão
precisasse. -Eu não duvido que ele esteja pelado ou algo parecido. Deixa que eu resolvo.
-A-Ah… -Encolheu os ombros. -Tudo bem, tem razão.
-Já venho, está bem? -Me aproximei para pedir por um selinho. Os beijos do meu bebê sempre me
davam forças para continuar. -Eu te amo.
-E-Eu te amo mais.
Tentei não sorrir tão cansado para si.
Seguidamente, virei-me em direção a escada de mármore e parti para o andar de cima com uma má
vontade gigantesca. Sinceramente, eu estava quase me arrastando enquanto subia os degraus. E tudo
ficava ainda pior à medida em que eu me aproximava de seu quarto, visto que a música indecente que
Itachi escutava começava a se sobressair e martelar os meus ouvidos.
Indisposto, abri a porta de seu quarto — ou melhor, do maior chiqueiro daquela casa — e adentrei o
ambiente meio relutante, com medo de que meu irmão estivesse apenas me enganando e planejando enfiar
meu rosto em sua axila asquerosa novamente. Tentei ignorar o fedor e a bagunça ao meu redor — dando
um destaque em seu closet aberto com roupas suas e de Deidara espalhadas pelo chão, além da cama de
casal completamente zoneada e com os lençóis embolados — partindo até o banheiro no canto do cômodo,
o qual encontrava-se fechado.
Eu nem me dei ao trabalho de bater.
Cheguei escancarando a madeira, ficando instantaneamente surdo com o volume que aquela
caixinha de som se encontrava. Era absurdo. No entanto, o que me deixou ainda mais de cara foi notar que
Itachi ainda não havia entrado no banho. Ele estava seco, fedendo e sem nenhuma gotícula de água
escorrendo por seu corpo.
Bom, pelo menos ele já estava pelado.
-Você ainda não entrou no banho?! -Me esgoelei por cima do funk — ou melhor, por cima de uns
gemidos femininos que faziam parte da batida da música. -Abaixa essa merda!
Surpreendentemente, ele me obedeceu.
-Por que você ainda não entrou no banho? -Indaguei novamente, só que, dessa vez, com o
reconfortante silêncio nos rodeando. -O que você 'tá fazendo pelado até agora, Itachi?
Itachi riu sem motivo.
-Eu estava usando a sua câmera Polaroid.
Franzi o cenho.
-Usando o quê?
De costas para mim, ele se olhava no espelho.
-Ah, você sabe… -Passeou as mãos por sua barriga e abdômen, avaliando o seu reflexo com um ar
calmo, porém vitorioso. -Eu tava tirando umas fotos minhas com aquela sua câmera que você ganhou do
papai a uns anos atrás.
-Com a minha câmera?!
-É… -Ele me estendeu uma Polaroid, sorrindo normalmente. -Toma, eu tirei essa pra você.
Eu peguei a foto em minhas mãos.
-Itachi… -Após uns cinco segundos em total silêncio, eu o chamei perturbado, ainda com meus olhos
fixos na fotografia. -Por que é que você me deu uma Polaroid sua pelado?
Ele riu como se não fosse nada.
-É pra você guardar e lembrar de mim…. Quando eu morrer. -Continuou a admirar-se no espelho,
como o verdadeiro narcisista que era. -Coloca na sua carteira ou cola na parede do seu quarto.
-Você ficou louco? -Sacudi a cabeça. -Itachi, eu não vou colar uma foto sua pelado na porra do meu
quarto. Toma essa merda.
-Não, não… Fica pra você. -Empurrou minha mão de volta. -Eu tirei algumas pro Deidara também,
acho que ele vai gostar. -Apontou para as inúmeras Polaroids em cima da pia — e em todas, é claro, ele
estava sem roupa. -O resto eu vou colar pela sala, cozinha e lavanderia.
Eu bati na minha própria testa.
-Essa casa é um hospício, puta que pariu.
Itachi riu sozinho, olhando seu próprio traseiro no espelho e o acariciando sem qualquer motivo.
-Eu sou muito lindo… Não dá, sério.
-Por que você me chamou aqui, cara? -Indaguei perturbado, nenhum pouco confortável com o
momento em que nos encontrávamos. -Foi só pra me dar essa merda de Polaroid?
-Claro que não, eu te chamei porque o chuveiro não liga. -Apontou para o box. -Acho que ele
quebrou ou sei lá.
Eu o olhei em confusão.
-E por que você não tentou arrumar?
-Eu fiquei com preguiça.
Ótimo. Temos um Deidara 2.
Ou melhor, temos mais um folgado nesta casa.
-Vai se foder. -Lancei, exausto. -Eu tô cheio de vocês, arruma sozinho essa merda. Eu me recuso a
ajudar outro folgado, pra mim já deu!
Itachi deu de ombros.
-Por mim tanto faz. Quem vai ter que suportar o fedor do meu sovaco vão ser vocês, não eu.
Droga. O pior é que ele tinha um ponto.
Caso eu não o ajudasse a ligar a porcaria do chuveiro, seria eu e os meninos quem sairíamos
perdendo. E falando sério, simplesmente não dava mais para suportar o cheiro do Itachi. Ele precisa tomar
um banho com urgência.
-Você é um filho da puta. -Xinguei com ódio.
-Somos filhos da mesma mãe, Sasuke.
Passei bufando ao seu lado. Fiz questão de chocar nossos ombros ao me dirigir até o chuveiro,
arregaçando minhas mangas como se já esperasse pelo pior. Mexer com fios e registros não era lá o meu
forte, sobretudo, eu tive que aprender a me virar nesse quesito desde que passei a morar com os meninos
aqui no sítio.
Fiquei na ponta dos pés e comecei a fuçar em cada botão existente no chuveiro. Não demorou muito
para que eu percebesse o que estava fora dos eixos por ali e, habilidosamente, mudei da opção "desligado"
para "ligado". Eu não podia acreditar que Itachi não havia tido a capacidade de alterar a função do registro.
Tinha que ser muito preguiçoso para simplesmente não se dar conta de que aquele era o problema.
-Arrumei. -Anuncie de má vontade. -Quer água quente ou fria?
-Fria.
Passei o registro para a opção "verão".
-Pronto.
Itachi sorriu para mim.
-Olha só, que menino mais inteligente! -Me deu tapinhas na cabeça, passando para o interior do box
no momento em que eu saí. -Parabéns!
-Você é um idiota.
-Mas e aí… -Ligou o chuveiro, colocando-se debaixo da água fria com naturalidade. Eu nunca
entendi essa pira do Itachi em tomar banho com temperaturas tão baixas, mesmo que estivéssemos no
verão. -Você vai ficar aqui assistindo eu me banhando ou vai dar o fora e deixar eu escutar as minhas
músicas?
-Eu vou sair, é óbvio. -Fui em direção a sua caixinha de som, dando "play" na música a pedidos dele.
Acontece que, de repente, eu comecei a sentir um incômodo na barriga. Um incômodo bem familiar, no
caso. Eu estava prestes a ter diarréia. -Ah, merda…
Itachi nem me escutou.
Para a minha sorte, meu irmão já estava de costas para mim e cantarolando seus funks sem
importar-se com mais nada. Eu não queria ter que fazer algo do tipo, todavia, aproveitei o momento para
usar a privada de seu banheiro. Era constrangedor. Só que, por outro lado, eu não podia simplesmente
correr até o meu.
Eu também havia o interditado.
Isso mesmo, fui eu quem entupi a privada do meu quarto e do banheiro de baixo. E agora, muito
provavelmente, também entupiria a de meu irmão. Somente Naruto estava ciente disso — após eu conta-ló
com muita vergonha sobre o estado de minha barriga e também aconselhá-lo a não utilizar o nosso
banheiro por um tempo.
O fato é que nossas refeições vêm me fazendo muito mal recentemente. Notei que somente eu estou
sendo afetado pelos alimentos — alguns de qualidade questionável — que estamos comendo, fora que eu
tenho uma dieta "especial" por ser intolerante a lactose. Já tentei avisar o Deidara a respeito, mas,
obviamente, ele não deu a mínima.
Agora, sou eu quem estou pagando o preço.
-Porra… -Abracei minha barriga, fazendo uma careta com a dor gigantesca que me atingiu.
Eu estava suando frio.
Tentava colocar tudo para fora o mais silenciosamente possível, torcendo para que Itachi não notasse
minha presença em momento algum. Só que, infelizmente, eu não tinha o poder de impedir que o aroma
"agradável" de minha diarréia se espalhasse de repente pelo banheiro.
-Puta merda, cara! -Itachi se virou assustado, tossindo com o cheiro. -Cacete!
Eu cobri o rosto no momento em que ele me notou sentado na privada.
-Porra, você comeu um urubu?! -Tapou o nariz, abanando as mãos como se realmente pudesse
mandar o fedor embora. -Por que você 'tá cagando no meu banheiro?! Sai daqui, cara!
-Eu entupi todas as privadas, tá bom?! -Revelei em desespero. -Era isso que você queria ouvir?!
Itachi socou o vidro do box.
-Seu mentiroso safado! -Gritou abismado. -E você ainda saiu me acusando de ter entupido a privada
de baixo… Mas foi você esse tempo todo!
Sim, eu fiz isso.
Eu realmente acusei o meu irmão de uma coisa que sabia que era mentira e que, no caso, fui eu
quem fiz, mas fiquei com vergonha de admitir.
-Desculpa, falou?! Eu estava envergonhado!
-Cagão!
-Para de me chamar assim! -Me contorci, tanto pela dor quanto pelo constrangimento. Não tinha
como aquele dia piorar. -Eu já estou acabando!
-É melhor mesmo!
Mesmo que não fosse possível, eu tentei acelerar as coisas por ali. Me forcei a liberar tudo o que
estava preso em meu intestino e, aleatoriamente, para passar o tempo, fiquei assistindo o Itachi lavar o
cabelo dele. Até que ele cuidava bem de seus fios, se bem que a maneira como os penteava era errônea.
Mas, claro, eu não iria me intrometer em nenhum de seus métodos, já que nem estava em posição de
reclamar de nada.
Eu finalmente terminei.
Só que, como nada naquele dia estava dando certo para mim, notei que havia sujado a minha cueca
durante aquele episódio. Sim, eu havia borrado as calças, como diria o Deidara.
Aquilo era extremamente vergonhoso.
E eu juro que senti vontade de chorar ali mesmo, sentado no vaso sanitário. Naquele instante,
prometi a mim mesmo que nunca mais comeria nada que tivesse ciência de que me faria mal mais tarde. Eu
passaria fome, mas jamais me humilharia daquela forma novamente.
-Acabou aí?
-Sim… -Dei descarga, mas permaneci sentado.
-O que foi?
Eu rangi os dentes antes de perguntar:
-Posso tomar banho também?
Itachi arqueou a sobrancelha.
-Vai no seu banheiro.
-Não dá… Eu estou todo sujo.
-Cacete, Sasuke. -Estalou a língua. -É sério isso?
-Por favor. Eu estou odiando isso tanto quanto você. -Comecei a me levantar, sentindo meu rosto
queimar de leve. Fazia tempo que eu não sentia tanta vergonha. -Dá um espaço, vai.
Ele grunhiu, incomodado.
-Está bem, mas fica longe, hein! -Abriu um espaço considerável entre nós. -Não vem esfregar essa
bunda suja em mim, não!
-Vai se foder.
Adentrei o box com uma carranca.
Obviamente, não haviam palavras para descrever o quanto eu estava desconfortável com aquela
situação, no entanto — e com sorte — meu irmão pareceu ter se esquecido rápido do ocorrido. Ele
implicaria comigo mais tarde, isso era fato, só que, naquele instante, estava bem mais preocupado em
cantarolar os seus funks e lavar o cabelo com o xampu do meu bebê.
Foi um momento muito estranho.
Fui obrigado a escutar todas as suas músicas inapropriadas enquanto me lavava, fora que precisei
atura-lo cantar todas elas e ainda por cima fazer umas coreografias esquisitas em minha frente. Nos
trombamos algumas vezes dentro do box, mas nada que acarretasse em outras discussões ou comentários
que me lembrassem do que fui obrigado a passar.
Eu terminei primeiro do que ele.
Enxaguei o último excesso de sabonete do meu corpo e apanhei uma toalha qualquer — a qual
deduzi pertencer a Deidara. Em seguida, fechei o box e deixei a água escorrer de meu corpo em cima do
tapetinho, permanecendo parado por uns dois minutos sem fazer nada. Querendo ou não, aquelas músicas
estavam começando a entrar na minha cabeça. Eram todas do mesmo ritmo. O que mudava era a letra,
apesar de que se baseavam na mesma coisa: sexo e drogas.
Sem comentar nada a respeito, abri a porta e parti em direção ao meu próprio quarto, notando que
Itachi também havia finalizado o seu banho e desligado o chuveiro. Tomei cuidado para não molhar o chão
do corredor — o qual eu passei a manhã inteirinha encerando — e escancarei a minha porta com rapidez,
adentrando o cômodo com um suspiro indisposto.
Quando tive certeza de que estava sozinho, deixei minha toalha cair até meus pés, sacudindo meu
cabelo de leve com a intenção de secá-lo. Confesso que, olhar até a minha cama e não poder deitar, foi um
desafio. Eu estava esgotado. No entanto, ainda precisaria dar conta de regar as plantas no quintal, terminar
de cortar a grama e ainda por cima retirar as roupas do varal.
Dormir ficaria para mais tarde.
Quando dei por mim, estava cantarolando algumas das músicas do Itachi enquanto me dirigia até o
closet, tendo que parar no meio do percurso para me auto-repreender. Não, eu não viraria um funkeiro.
Aquelas músicas eram "chiclete", por isso que estavam na minha cabeça, não havia outro motivo. Eu não
apoio nada disso e sou um amante de canções antigas.
-Era só o que me faltava… -Reclamei sozinho.
Abri o armário com irritação, buscando qualquer shorts para não ter que sair pelado pela casa. Não
estava em meus planos vestir nenhuma blusa naquele calor infernal, assim como não estava em nenhum de
meus planos ver a porta de meu quarto ser aberta com violência:
-...Caralho de Wi-fi, o Sasuke consertou que nem o rabo dele!
Desesperado, escondi meu corpo nu atrás da porta do armário, inclinando somente o pescoço para
enxergar o indivíduo que havia invadindo o meu quarto daquela forma tão exagerada.
Sem surpresas alguma, era o Deidara.
E para completar, o meu irmão vinha atrás.
-Chefe, esse Wi-fi sempre foi zoado, não sei por que você encasquetou com isso só agora.
-Eu quero falar com o Gaara, tô vendo se pelo menos aqui tem sinal! -Quando Deidara entrou em
minha linha de visão, observei-o subir em minha cama e ficar de pé, levantando o celular como se
procurasse desesperadamente por alguma rede. -Nem essa merda de 3G funciona!
Eu me irritei com a cena.
-Sai de cima da minha cama, Deidara. -Pedi grosseiro, o que, mesmo sem a minha intenção,
acarretou em um susto da parte dos dois. Acho que ninguém esperava que eu estivesse escondido atrás do
armário. -Você está bagunçando tudo.
Itachi inclinou o pescoço até mim.
-Ué, de onde você surgiu?!
-'Tá fazendo o que escondido aí atrás, bunda murcha? -Deidara riu sem entender.
-Eu estou pelado, se vocês não perceberam. -Declarei o óbvio. -Quantas vezes eu já disse pra bater
na porta antes de sair entrando?
O loiro me ignorou completamente.
-Itachi, faz alguma coisa! Não está funcionando!
-O que você quer que eu faça, chefe? -Andou até a minha cama, e só então eu reparei que ele
estava de toalha e encharcando o chão que me esforcei tanto para limpar naquela mesma manhã. -Quer
que eu brigue com o Wi-fi? Obrigue ele a funcionar de novo?
Deidara rosnou sem paciência.
-Desce lá e mete um soco no aparelho, isso geralmente ajuda!
-Porra, então deve ser por isso que o Wi-fi não funciona, né, caralho?! -Respondeu com indignação.
-Vocês ficam metendo a bica no aparelho e ainda querem que ele funcione perfeitamente?!
-O que você sugere?! -Virou-se para seu namorado. -Que a gente faça carinho nele?!
-Eu sugiro que vocês sejam um pouco mais pacientes! É a porra de um aparelho, ele não vai
funcionar no tempo de vocês, chefe!
Ele riu sarcástico em resposta.
-E você tem super moral pra falar de paciência, né, Itachi?! -Apontou o dedo em sua cara, ainda de
pé por cima de meu colchão. -Pelo menos não sou eu quem fico enchendo o saco de todo mundo quando a
comida demora pra sair! Nem o Naruto te aguenta mais, porra, você é insuportável quando 'tá com fome!
Silenciosamente, eu tive que concordar.
Itachi é quem mais sente fome entre nós, o que, em consequência, faz com que apresse o
"cozinheiro" e o perturbe até que sua refeição fique pronta — e no caso, quem está sempre na cozinha e
aguentando o meu irmão, é o Deidara.
-Não é minha culpa se eu sinto fome, cacete!
-Então começa a cozinhar por conta própria, que tal?! -Cruzou os braços. -Igual ao Wi-fi, eu também
tenho o meu tempo e não quero gente me apressando pra eu trabalhar mais rápido!
Eu tossi para interrompê-los:
-Gente, sai do meu quarto, por favor.
-Agora não, bunda murcha. -Itachi gesticulou, pedindo para que eu ficasse quieto. -Estamos
resolvendo uma parada aqui, tá bom?
Eu grunhi de tanto cansaço.
-Itachi, sai daqui e leva o seu namorado junto, vai logo. -Apontei para a porta, dessa vez, um pouco
mais sério. -Porra, vocês dois são extremamente inconvenientes, não percebem? Eu quero me trocar em
paz.
-Espera, cacete.
-Espera nada! -Levantei a voz. -Sai daqui, cara! Você já molhou o chão inteiro que eu me esforcei pra
encerar, o Deidara subiu na minha cama e bagunçou tudo que eu arrumei, e agora sou eu quem tenho que
ficar quieto enquanto vocês brigam por causa da porra de um Wi-fi? Fala sério!
O loiro me olhou com deboche.
-'Tá estressadinho, é? -Sentou feito gente na minha cama. -Ninguém aqui está te impedindo de se
trocar, você que 'tá escondido aí atrás.
-Esse não é o ponto, cara! -Tapei meu rosto em exaustão. -Faz o favor e levanta da minha cama, vai.
Você 'tá sentado em cima da minha pelúcia.
Deidara olhou para trás.
E como eu já imaginava que ocorreria, gargalhou alto de minha cara ao se dar conta de que eu
realmente me importei com o fato do meu dinossaurinho de pelúcia — o Tutty — estar sendo esmagado por
seu traseiro.
-Hmm… Acho que eu não vou levantar não, tô suave aqui. -Como provocação, esfregou sua bunda
em cima do Tutty. -É tão confortável.
Apertei meu punho com força.
-Sai de cima dele. Agora.
-Ah, não… -Rebolou na cara da pelúcia. -Seu dinossauro vai ficar com o cheiro do meu cu por mais
um tempo.
Itachi gargalhou com a frase, mas logo se calou quando eu me virei enfurecido para si.
-É, chefe… Levanta aí, vai. -Coçou a nuca. -O Sasuke gosta muito desse dinossauro.
-Mas a minha bunda 'tá tão confortável aqui...
Eu dei um murro no armário.
-Itachi, tira ele de cima! -Me alterei pela segunda vez. -Faz alguma coisa, porra!
-Calma. -Gesticulou para mim. Assim como Naruto, meu irmão sabia sobre o carinho que eu possuía
por aquela pelúcia. -Deidara, sai logo de cima do bicho. Para de arrumar confusão.
O loiro empinou o nariz.
-Você vai ter que vir aqui me tirar.
Eu juro que estava quase arrancando a porta do armário fora. Era agonizante assistir a cena e não
poder fazer nada a respeito — isso porque eu estava pelado. O Tutty era um dos únicos presentes que
ganhei de Mikoto e que continuava intacto após todos esses anos. Por isso, ver alguém o esmagando com
tanta indiferença era como um insulto, tanto para mim como para minha já falecida mãe.
-'Bora, chefe, levanta. -Itachi bateu palmas, dando-lhe um leve empurrão nas costas. -Vamos sair
daqui, eu arrumo o Wi-fi pra você.
-Tira as patas, caralho, eu não vou sair! -Cruzou os braços. -Já disse que aqui está bom!
Meu irmão me olhou preocupado.
O fato é que ele sabia que, caso não desse um jeito de tirar o loiro de cima da pelúcia em pouco
tempo, aquilo viraria uma briga séria.
-Levanta, Deidara. -Puxou seu braço. -Vai logo.
-Me larga, porra!
-É sério, caralho, levanta esse cu daí.
-Não! Meu cu está bem confortável aqui!
Itachi bufou, perdendo a paciência.
-Vem logo, cacete! -Tomou a terrível decisão de puxar o Tutty pelo rabo, tentando retirá-lo do traseiro
de seu namorado. -Para de ser infantil!
Eu me apavorei.
-Não puxa ele assim, Itachi!
-Não, não e não! -Deidara sentou com ainda mais força no Tutty, agarrando-se aos lençóis. -Você
tem que parar de fazer as vontades dele desse jeito! O Sasuke 'tá ficando mimado pra caralho, porra! Não
percebe que ele tá surtando por causa de uma pelúcia?! Uma pelúcia feia e idiota!
Meu rosto pegava fogo pela raiva.
-Ele gosta da pelúcia, caralho! -Meu irmão puxava seu rabinho sem parar. -Por favor, colabora!
-Nunca, pode esquecer!
-Deidara, puta que pariu, sai de cima!
-Eu não vou sair!
Um barulho de rasgo de fez presente pelo quarto.
E de maneira instantânea, os meninos pararam.
Ambos pararam e se acalmaram, porque sabiam exatamente o que tinham acabado de fazer. E mais
do que qualquer um, Itachi tinha consciência do que estava por vir no momento em que se afastou do seu
namorado e se deu conta de que o rabo do meu dinossaurinho saiu em sua mão.
Eles rasgaram o meu Tutty no meio.
-Essa não… -Itachi lamentou.
Meus olhos se encheram de água.
Honestamente, eu nunca imaginei que ficaria tão atingido ao presenciar uma pelúcia ser
descosturada em minha frente. Nesse mesmo sentido, sem me importar mais com a minha nudez, minhas
pernas pareceram ter criado vida própria ao me levarem para longe do armário.
Reparei, mesmo que sob pressão, no susto leve que Deidara tomou com a minha decisão em me
aproximar de ambos e, por isso, finalmente retirou seu traseiro do que restou do Tutty.
A visão que tive foi ainda pior.
Além de seu rabo ter sido arrancado brutalmente, o olho do meu dinossaurinho também havia sido
descosturado — o que talvez se desse por conta da pressão do traseiro do loiro contra o colchão.
Eu fiquei extremamente inconsolável.
Mas acima de qualquer coisa, enfurecido.
Apanhei a toalha que deixei caída no chão e amarrei desajeitadamente em minha cintura,
observando os meninos abriram espaço para que eu passasse, se encostando no batente da porta com um
leve receio de que eu surtasse. Me ajoelhei dramaticamente na frente da cama, sem coragem alguma de
encostar no Tutty. Minhas mãos tremiam como se eu houvesse acabado de perder um membro da minha
família. Tudo o que pude fazer no momento, além de fechar os olhos pela dor no peito que me atingiu, foi
acumular toda a raiva que passei durante o dia e me preparar para liberá-la em cima de Itachi e Deidara.
-Sasuke? -Itachi chamou.
Eu me levantei de abrupto.
-Sai daqui, caralho! -Gritei em plenos pulmões, segurando minhas lágrimas o máximo que pude em
frente aos dois. -Cai fora do meu quarto, seus filhos da puta! Sumam daqui, agora!
Ambos agarraram-se um ao outro, surpresos.
-Olha só o que vocês fizeram! -Eu berrava tanto, mas tanto, que sentia minha garganta arder em
consequência. -Conseguiram o que vocês queriam, caralho?! Destruir a porra da última lembrança que eu
tinha da minha mãe?!
Mesmo que minimamente, notei que Deidara encolheu os ombros com o que escutou. E não só ele,
como o meu irmão também.
Eu acho que nunca, desde o dia em que passamos a conviver todos juntos, estive tão bravo com os
dois. Era uma junção de tudo. O cansaço físico e mental que tomava conta de mim, a humilhação que estou
passando diariamente, os comentários a respeito de meu corpo, a pressão em manter a casa limpa, em não
preocupar o Naruto, em ser um bom namorado e, especialmente, o estresse geral após a fuga da prisão.
Querendo ou não, uma hora eu iria explodir.
Acontece que esse momento chegou.
-O que vocês ainda estão fazendo aqui, porra?! -Soquei a parede ao meu lado, simplesmente
partindo para cima dos dois. Empurrei a primeira pessoa que vi em minha frente e que, nesse caso, foi o
meu irmão. Eu acho que se não fosse pelo Deidara — que o segurou firmemente pelo braço — ele teria
caído no chão. -Some do meu quarto, eu não quero olhar na cara de vocês!
Itachi olhou assustado para seu namorado.
Eu provavelmente estaria pagando de louco na frente de todos, mas isso já não importava mais.
Também imaginei que Naruto houvesse escutado toda a minha gritaria do andar de baixo, o que eu logo
confirmei ao identificar passos apressados ecoaram ao decorrer dos degraus, ao mesmo tempo em que
Deidara e meu irmão deixavam o quarto com as faces meio perdidas e estáticas.
Acho que, no fundo, ambos sabiam que haviam pisado feio na bola. Estavam ainda sem reação
diante de meu "surto", até porque, é difícil eu me alterar e agir com tanta violência. De qualquer forma,
continuei segurando as minhas lágrimas por mais um tempo, até que tive certeza de que os dois haviam
deixado o cômodo de vez.
Eu me recusava a chorar na frente deles.
Mas, obviamente, não pude aguentar por muito tempo. Sabia que, no minuto em que batesse meus
olhos em Naruto, desabaria tudo o que tinha para desabar. Com a porta ainda aberta, assisti o meu bebê
correr atrapalhado até o quarto com a intenção de me socorrer e compreender o que exatamente havia
acontecido, além do motivo de tanta gritaria. Ele estava tão preocupado, que nem ao menos parou os
meninos no caminho para questioná-los a respeito, mesmo com ambos demonstrando boa vontade de
contá-lo caso fossem abordados.
Ele mesmo veio descobrir por conta própria.
Quando adentrou o cômodo, não demorou para bater os olhos na pelúcia rasgada em cima do
colchão, fora o fato de eu ter decidido sentar-me novamente ao lado de Tutty e lamentar a sua "morte".
Naruto soube rapidamente do que se tratava, mas, acima de tudo, ele imaginava que não era somente o
dinossauro que me chateou.
Haviam muitas mais coisas por trás.
-E-Ei, Sasuke? -Chamou delicado.
-Fecha a porta, Naruto... Por favor.
Ele obedeceu, preocupado.
Quando trancou a fechadura com a chave — talvez porque o meu bebê desejava a máxima
privacidade para que conversássemos — foi o instante em que eu desabei pra valer.
Levei as mãos ao rosto e chorei.
Não queria preocupar tanto o Naruto, mas eu simplesmente não tinha mais forças para me segurar.
Mesmo sem vê-lo diretamente, senti sua agradável proximidade, inclusive no momento em que sentou-se
na ponta do colchão sem antes pedir por uma permissão — talvez ciente de que sua presença era sempre
um consolo para mim. Eu também não esperei ele tomar iniciativa alguma. Fui eu quem pedi ao meu bebê
que me abraçasse, circulando os braços por sua cintura delicada e enterrando o rosto em seu pescoço.
Eu chorei feito criança.
A única coisa boa naquilo tudo era sentir o Naruto me beijar, e saber que ele estava me dando
espaço para falar a hora que eu me sentisse à vontade e preparado para isso. Como esperado, eu solucei
até ficar sem fôlego. Cheguei ao ponto de encharcar sua pele por completo, fungando manhoso a cada vez
que sentia seus dedinhos entre meus fios recém-úmidos do banho.
Com isso, levantei o rosto à procura de ar.
Sabia o estado em que minha face se encontrava, inteiramente vermelha e inchada, mas Naruto não
pareceu se importar com isso ao trazer meu pescoço para frente e beijar meus lábios com carinho e
paciência. Secou minhas lágrimas com um sorriso doce e afagou minhas bochechas com suas mãozinhas
macias, o que, por algum motivo, me fez chorar ainda mais.
-N-Não se preocupe com o Tutty, tá bom? Eu vou costurar ele pra você. -Declarou atencioso, talvez
ciente de que aquele era o menor dos meus problemas, mas que, de alguma forma, foi o gatilho principal
para que eu desabasse. -Seu dinossaurinho vai ficar novinho, eu prometo.
Eu o abracei novamente.
E dessa vez, me permiti afundar o rosto em seu peito. Eu só queria que o meu bebê me desse
carinho e dissesse que tudo ficaria bem, mesmo que, no fundo, eu não acreditasse que as coisas realmente
melhorariam naquela casa. Bom, pelo menos na parte do carinho ele tinha o poder de me ajudar. Fechei os
olhos no segundo em que senti seus lábios passearem pela minha cabeça, distribuindo beijos enquanto
dava inaladas discretas pelo cheiro gostoso de meu xampu.
-E-Eu tô tão cansado, bebê… -Anuncie em um momento de fragilidade, ciente de que Naruto
concordava com o queixo encostado em minha cabeça, me incentivando a desabafar. -Tão cansado de
tudo. Hoje foi tão esgotante pra mim... Eu não aguento mais ter que fazer tudo sozinho e aguentar tanta
coisa calado.
-V-Você não precisa ficar calado, Sasuke. Sabe disso, não sabe? -Indagou delicado. -Você sabe que
pode falar comigo sobre o que está te incomodando.
-E-Eu sei, bebê… -Eu o abracei mais forte. -Mas eu não gosto de preocupar você com essas coisas.
E eu não quero que você passe pelo o mesmo que eu estou passando e se sinta sobrecarregado por conta
dos meninos, entende? Prefiro fazer tudo sozinho do que deixar você trabalhando e aguentando aqueles
dois folgados.
Naruto suspirou, negando com a cabeça como se desaprovasse a minha decisão em me
auto-sobrecarregar daquela maneira.
-Eu só queria que eles me levassem a sério pelo menos uma vez e entendessem que eu não consigo
mais fazer tudo sozinho… -Apertei sua camiseta, recomeçando a soluçar. -E-Eu odeio o que eles fazem
comigo... Me tratam como o empregado deles e ficam toda a hora falando da minha bunda. Eu não gosto
disso, bebê.
-H-Hm… Eu sei que você não gosta. -Afirmou com compreensão, e pelo seu tom de voz, deduzi que
Naruto estivesse a ponto de chorar também. Ele provavelmente teria se afetado com o meu desabafo. -Você
vive dizendo pra mim que não se importa com certas coisas, mas eu percebo que muitas delas te
machucam, Sasuke.
Fechei os olhos, magoado.
O meu bebê me conhece muito bem.
-E tipo… E-Eu tento falar que essas coisas me incomodam, mas eles não me escutam. Assim como
eu tento falar que sou intolerante a lactose e ninguém parece dar a mínima se eu vou passar mal ou não.
-Escondi meu rosto, envergonhado com o rumo do diálogo. -Eu passei mal hoje de novo, bebê. Me desculpa
pela privada.
Ele riu baixinho, tocando na ponta de meu queixo para que eu o encarasse mais uma vez.
-N-Não tem problema nenhum, Sasuke. -Me beijou, e eu tive certeza de que ele estava se segurando
para não chorar. Seus olhos encontravam-se úmidos e tristonhos. -Eu prometo que vou resolver isso, tá
bom? Também não aguento mais ver você sofrendo tanto. Vou falar com os meninos por você, eles vão me
escutar.
Franzi a testa, deixando outro soluço escapar.
-Posso falar com eles agora, se você quiser.
Eu neguei desesperado.
-N-Não, bebê… Por favor. -Segurei em sua mão, fazendo bico ao encostar minha testa na sua e lhe
roubar um selinho. -Eu quero ficar com você agora. Só você.
Ele riu com carinho.
-Tudo bem… -Me beijou de volta. -E-Eu também quero ficar só com você. Parece que a gente não
tem mais tanta privacidade como antes, né?
Assenti chateado.
-Uhum…
Eu me aproveitei de nossos selinhos para beijá-lo devidamente. Como já não tínhamos mais tanta
privacidade desde que virei o empregado oficial da casa, quis pedir passagem com a língua para aprofundar
o momento o quanto antes — lembrando-me também de que a porta estava trancada, ou seja, nada e nem
ninguém poderia nos interromper.
Foi um beijo mais molhado do que o normal, o que provavelmente se deu pelo fato de eu não
conseguir parar de chorar. Deixava minhas lágrimas caírem enquanto roçavamos nossas línguas
lentamente uma a outra, o que, de alguma forma, era inexplicavelmente bom.
Eu me senti vivo novamente.
Querendo mais contato, eu o puxei delicadamente para o meu colo. Encostei as costas na cabeceira
e passei a beijá-lo com minhas mãos por dentro de sua blusa, massageando sua cintura com apertos fracos
e me derretendo a cada som manhoso que o escutava soltar entre um beijo ou outro, fora as vezes em que
passeava seus dedinhos por meu cabelo e me arranhava até a nuca.
Naruto também se remexia em meu colo. Talvez se tratasse de um ato involuntário, mas o atrito que
causava em meu membro revestido pela toalha me fazia arfar contra seus lábios macios.
Eu passei a ajudar em seus movimentos. Com as mãos ao redor de seu corpo, o incentivei a se
esfregar em minha pelvis e me aliviar enquanto não estávamos totalmente sem roupa. A fricção entre
nossos corpos era gostosa. Me arrancavam gemidos baixos à medida em que remexia meu quadril para
acompanhá-lo, masturbando meu pênis devagar por dentro da toalha.
Excitado, eu separei nossas bocas.
-B-Bebê… -Chamei choroso, mordendo os lábios por senti-lo quase que diretamente em contato com
o meu membro. -Faz amor comigo?
Assisti de pertinho seu rosto ruborizar com o questionamento. Com a respiração ofegante e um ar
desejoso, Naruto assentiu tímido. E apesar de envergonhado, ele sorriu para mim. Um sorriso doce e
apaixonado. Eu me derreti por completo quando recebi outro beijo, mas, dessa vez, no cantinho de meus
lábios, tendo meu peito empurrado cuidadosamente até que estivesse deitado na posição que o meu bebê
desejava.
Minha cabeça no travesseiro e ele por cima.
Ainda em meio a lágrimas, sorri apaixonado quando me dei conta de onde Naruto queria chegar com
aquilo. Ele queria cuidar de mim, só que, acima de tudo, me deixar descansar. Era como se, naquela
posição em que estávamos, o meu bebê me revelasse indiretamente que "faria o trabalho" daquela vez,
algo que quase nunca acontecia quando fazíamos amor.
Eu me deixei relaxar, assim como ele desejava.
Não sabia o motivo de não conseguir parar de chorar, mas continuei manhoso até mesmo no
momento em que o ajudei a tirar sua regatinha laranja, observando de perto seu corpo lindo e que eu tanto
amo. Meio ansioso, também aguardei ele retirar seu shorts, fazendo parecido ao desamarrar a minha toalha
e atirá-la em qualquer canto do quarto. Eu estava rígido até demais. Com isso, me toquei durante breve
segundos, esperando até que Naruto colocasse sua cueca de ladinho e me fitasse envergonhado enquanto
eu me direcionava até sua entrada.
Arfei alto com o primeiro contato.
Acho que Naruto levou realmente a sério a parte de me deixar descansar, porque, daquela vez, foi
ele quem se deixou acostumar com o meu tamanho, introduzindo meu membro aos poucos com gemidos
baixinhos. Logo em seguida, meus lábios se entreabriram e meu pescoço tombou sobre o travesseiro,
demonstrando o quão entregue eu me encontrava por ter seu corpo perfeitamente encaixado por cima do
meu.
Tentei acompanhá-lo com minhas mãos em sua cintura, gemendo à medida em que meu pênis ficava
mais duro e pesado. O meu bebê não me olhava diretamente. Sentava com os olhos fechados e a cabeça
mais ou menos para trás, envergonhado o bastante com a posição em que se encontrava — já que, como
citado anteriormente, o Naruto não costumava ficar por cima.
De qualquer forma, era muito bom.
Eu estava delirando mais rápido do que imaginei, o que talvez se desse por conta de meu cansaço
excessivo naquela tarde. Era tão, tão gostoso. O Naruto sabia bem o que fazia, mesmo que muitas vezes se
mostrasse inseguro nesse quesito.
Eu me agarrei aos lençóis. Ainda não havia conseguido deixar de chorar completamente, então
passei a deduzir que também se tratasse da emoção de fazer amor com a pessoa que mais amo nesse
mundo, juntamente com o prazer intenso que sentia no momento. Meu peito subia e descia, acelerado.
Meus olhos, por outro lado, não se desgrudavam de seu corpo perfeito em movimento, entrando e saindo
rápido de meu pênis.
Seus gemidos nublavam a minha mente. Sua voz era linda aos meus ouvidos, assim como seu
corpo, olhos e lábios. Absolutamente tudo nele. Eu joguei minha cabeça para trás, e mesmo que cansado,
tentei chocar minha pélvis contra a sua quando senti que atingiria meu ápice em breve.
Naruto gemeu manhoso quando o penetrei meio atrapalhado e eufórico, claramente anestesiado pelo
tesão. Tentei manter meus olhos abertos para observá-lo, mas o formigamento familiar em minha virilha me
fez revirar-los em prazer, enquanto gemidos atrás de gemidos escapavam involuntariamente de minha
garganta. Eu chamava pelo meu bebê sem parar. Queria dizer o quanto eu o amava e o quão perfeito ele
era ao me ver, no entanto, as únicas coisas que saíam eram lágrimas e sibilos confusos.
Foi quando uma onda de prazer tomou conta de todo o meu ser. Estremeci por inteiro com as mãos
em volta de sua cintura, sem controle algum de minha pélvis que, mesmo sentindo-me esgotado, se
chocava frenética para prolongar o orgasmo. Jorrei meu semen fortemente em seu ânus, sentindo meu
corpo inteiro pegar fogo com aquela sensação maravilhosa.
Naruto respeitou minha sensibilidade.
Parou de sentar aos poucos, gemendo fraco enquanto me assistia tremer, chorar e ofegar, tudo ao
mesmo tempo. Eu estava mesmo acabado. Notei que ele também tomou cuidado na hora de sair de cima
de mim, o que, querendo ou não, me fez suspirar frustrado. Estava tão bom sentir o meu bebê daquela
forma.
Quando finalmente deixou o meu colo, eu fiz força para abrir minhas pálpebras. Sabia que estava
suado e derrotado, mas ainda queria lhe direcionar um sorriso e agradecê-lo por aquele momento
maravilhoso. Ao ir de encontro aos seus olhos tímidos e doces, fiz questão de chamá-lo com o dedo para
que se aproximasse e deixasse para se trocar depois.
Ele concordou.
Veio até mim com o rostinho corado, aceitando meus dois braços bastante abertos em sua direção.
Esperei ele deitar ao meu lado para que pudesse me acomodar em seu peito suado, secando minhas
últimas lágrimas com um sorriso tranquilo e que a muito não esboçava. Eu não sabia que estava precisando
tanto daquilo.
-Eu te amo tanto, bebê, tanto… -Beijei seu pescoço manhosamente, fechando meus olhos à medida
em que regulava minha respiração. -Muito obrigado por isso. Você é perfeito, Naruto.
Naruto riu carinhoso, levando minha franja excessivamente úmida para trás.
-V-Você sabe que eu te amo mais do que tudo, não sabe? -Sussurrou atencioso, o que, sem querer,
começou a me dar sono. A voz do meu bebê era quase como uma canção de ninar para mim. -Espero que
você esteja um pouquinho melhor, Sasuke… Não se preocupa com mais nada, tá bom? Pode descansar, eu
vou resolver tudinho pra você. Eu prometo.
-Mas, bebê… -Chamei distante. Naruto sabia bem como me desligar do mundo real. Foi só começar
a brincar com o meu cabelo que, de imediato, meu corpo inteiro amoleceu. -Você promete que não vai
trabalhar no meu lugar? Eu não quero que você passe por tudo o que eu passei e…
-Prometo, shhh… -Acariciou meu rosto, tocando a pontinha de seu dedo em meus lábios. -H-Hm…
Pode confiar em mim, Sasuke, eu vou cuidar de tudo.
Assenti sonolento, espremendo minha bochecha contra seu peito. Daquela forma, eu escutava seu
coração bater, e assim como o meu, notei que ainda estava meio acelerado por termos feito amor a menos
de cinco minutos. Eu me permiti focar em seus batimentos enquanto pegava no sono, além de, claro, me
aproveitar de seus dedinhos correndo por meu couro cabeludo.
Antes de finalmente adormecer, pude sentir Naruto se remexer de leve no colchão e, em seguida, um
ventinho agradável bater pela minha face. Deduzi que ele houvesse acabado de ligar o ventilador com a
intenção de aliviar o calor, já que, largar de meu corpo, estava fora de cogitação. O meu bebê tomaria conta
de mim até que eu adormecesse, isso eu tinha certeza.
E foi com esses mesmos pensamentos que eu peguei no sono entre seus braços suados.
••••

Faziam uns cinco minutos que eu estava desperto. Ainda não estava ciente sobre o horário exato —
já que nem ao menos havia criado coragem para abrir meus olhos — mas tive certeza de que estava de
noite. As cigarras cantando ao lado de fora e os morcegos sobrevoando minha janela foram o que me
fizeram deduzir que o dia já havia se posto.
Sonolentamente, apalpei o colchão.
Ainda tinha esperanças de que encontraria o Naruto em algum canto de minha cama, o que,
infelizmente, não aconteceu. O meu bebê havia se levantado antes mesmo de eu acordar.
De olhos fechados, eu fiz bico.
Não queria ter que voltar para a dura realidade. Mentiria se dissesse que já não estava mais
chateado com tudo o que ocorreu horas atrás, apesar de que, ter feito amor e desabafado com o meu bebê,
melhorou o meu humor consideravelmente. Sobretudo, ainda precisaria lidar com o restante dos meninos,
algo que, sinceramente, eu não estava nem um pouco a fim. O Itachi e o Deidara me chatearam muito, e eu
não esqueceria o que aconteceu com tanta facilidade.
-Hmmm… -Me espreguicei pela cama.
Era hora de levantar.
Por mais que eu quisesse, não valeria a pena voltar a dormir, já que, com isso, teria dificuldades para
pegar no sono novamente mais tarde. A única coisa boa em tudo isso era que eu estava realmente
descansado. O Naruto fez certo na hora de me incentivar a adormecer.
Dormir também melhorou o meu humor.
Soltei um último bocejo alto antes de me sentar na cama. Notei que ainda estava pelado, fora que o
ventilador continuava ligado. O calor diminuiu bastante se comparado a horas atrás, o que foi satisfatório
para mim. Climas quentes me irritavam, pois traziam suor, queimaduras e, o pior de tudo, pernilongos e
bichos irritantes.
Indisposto, eu me levantei à procura de uma cueca. Durante o caminho até o armário, aproveitei para
tirar o ventilador da tomada, reparando também que Naruto havia recolhido minha toalha e as roupas que
deixamos jogadas pelo chão — fora que o Tutty havia simplesmente desaparecido da minha cama.
Imaginei que o meu bebê tivesse pego a pelúcia para costura-lá como havia prometido, sobretudo,
tentei não pensar muito em seu paradeiro. Apenas apanhei um shorts branco qualquer e o vesti sem me
preocupar com blusas. Seguidamente, dei uma checada em meu reflexo para ajeitar meu cabelo e conferir a
minha cara de sono.
Meu rosto ainda estava bastante inchado.
Sem forças para fazer algo a respeito, parti até o corredor em busca do Naruto. Eu estava muito
grudento com ele nos últimos dias — mais do que já éramos, no caso — o que talvez se desse pelo fato de
não estarmos tendo muitos momentos a sós recentemente, além de eu andar muito estressado e precisar
de carinho constante.
Dei uma checada no andar de cima.
O corredor estava vazio, fora que o quarto de meu irmão permanecia aberto, dando-me a visão de
seu interior estranhamente organizado. Eu precisei coçar os olhos para ter certeza de que havia visto certo.
Então quer dizer que o Itachi e o Deidara arrumaram o quarto deles?
Que milagre era aquele?
Durante o percurso até a escada, também reparei que o chão encontrava-se meio escorregadio. Com
isso, olhei curioso até meus pés, me dando conta de que o carpete estava completamente limpo. Ou melhor,
encerado do jeitinho que eu fiz de manhã antes de ter meu trabalho destruído pelo Itachi.
O que estava acontecendo por ali?
Desconfiado, comecei a descer os degraus em direção a sala. Notei que a televisão estava ligada no
andar de baixo, enquanto as vozes dos meninos se misturavam entre si. No entanto, não consegui prestar
atenção em outra coisa que não fossem as Polaroids com as imagens de meu irmão pelado coladas
alinhadamente pelas paredes da escadaria de mármore.
Eu fiz uma careta perturbada.
Aquela casa era realmente um hospício. Não dava para acreditar que o Itachi levou mesmo a sério a
ideia de colar fotos dele sem roupa pela casa inteira, e o pior de tudo, os meninos, aparentemente,
concordaram com isso — quer dizer, o Deidara concordou. O Naruto provavelmente apenas engoliu a
situação.
Fui descendo e conferindo cada Polaroid.
Algumas eram de seu abdômen, outras de seu corpo inteiro no espelho, algumas dele empinando o
traseiro na pia e, por fim, apenas de sua bunda. Eu não sabia se ria ou chorava com o que via, por isso,
decidi apenas seguir em frente e esperar para questioná-lo a respeito depois.
Em seguida, mais uma surpresa.
Na realidade, eu me esqueci completamente das Polaroids quando coloquei meus olhos na sala,
simplesmente não crendo ao me separar com o cômodo perfeitamente arrumado.
Isso mesmo. O chiqueiro que eu chamo de sala de estar, estava limpinho, cheiroso e organizado.
Fiquei estático no primeiro degrau.
Parece que, quando o Naruto me afirmou que resolveria tudo por ali, ele não estava brincando. Eu só
esperava que o meu bebê não tivesse limpado a casa completamente sozinho, porque eu, mais do que
ninguém, sei o trabalho que dá.
Notei que os meninos estavam no sofá.
E sem repararem em minha presença, os três permaneciam atentos a televisão, ou melhor, a um dos
programas de sobrevivência na selva que o Deidara obrigava todos nós a assistirmos diariamente, o
"Largados e Pelados". Naruto estava sozinho na poltrona do canto, enquanto o meu irmão e seu namorado
ocupavam o sofá inteiro, Itachi com a cabeça deitada na perna alheia e os pés apoiados no braço da
mobília.
-...Se vocês fossem participar do Largados e Pelados, o que vocês levariam? -O loiro mais velho
indagou, ao mesmo tempo em que espremia as espinhas quase inexistentes na testa de seu namorado.
-Pode levar uma coisa só.
-Um desodorante. -Itachi respondeu.
-Desodorante? Por quê?
-Por que meu sovaco fede pra caralho, chefe, imagina ficar vinte dias sem tomar banho aí. -Riu
divertido. -Até que eu ia gostar, na verdade. Mas o desodorante também serviria pra acender fogueiras e
espantar os bichos com fogo.
-Mas aí você ia precisar de um isqueiro pra acender a fogueira, né? -Deidara pensou. -Como você vai
fazer fogo só com o desodorante?
-Simples… Peidando.
O loiro gargalhou alto.
-Como assim, cara?!
-Eu espirro o desodorante e solto um peido ao mesmo tempo, ué! Pum é gás, porra! -Riu junto
consigo. -O fogo vai ascender na hora!
Notei o meu bebê riu também.
-E você, franguinho?
-H-Hm… O que eu levaria pro programa?
-É.
-Acho que repelente. -Riu baixinho. -Ou alguma rede contra insetos.
Itachi concordou.
-Bem pensado. E você, chefe?
-Um facão, óbvio! -Exclamou. -Eu ia meter a faca em qualquer coisa que se mexesse perto de mim!
-Você ia acabar matando alguém, isso sim. -Ele provocou. -Imagina se a gente fosse todos juntos pra
esse programa? O primeiro inseto que aparecesse você e o Sasuke iam correr que nem duas gazelas
peladas até o meio da selva, topar com um urso e morrer! Só ia sobrar eu e o Naruto pra contar a história!
Mesmo sem estar participando da conversa, eu me senti diretamente ofendido com o que escutei. E
não só eu, como o Deidara também.
-Nossa, vai se foder muito! -Deu um tapa em sua cabeça, arrancando-o um gemido dolorido em meio
a risadas. -O Naruto é outro também! O primeiro bicho que topasse, ou ele desmaiaria ou ia tentar dialogar
com o animal pra não ser devorado!
Itachi gargalhou em aprovação:
-"H-Hm… Por favor, senhor urso, eu não queria invadir o seu território, me perdoa!"
-Caralho, ficou igualzinho! -Ficou boquiaberto. Itachi havia imitado até mesmo o tom de voz choroso
do meu bebê. -Você ouviu isso, franguinho?!
Naruto negou com a cabeça.
-H-Hm… Eu não falo desse jeito, meninos. -Fez biquinho por ter virado alvo de piadas. -E outra, eu
jamais tentaria me comunicar com um urso desse jeito… Eu subiria em uma árvore pra me proteger dos
perigos que ficam embaixo.
Solitário, eu sorri carinhosamente.
-Mas em cima da árvore também tem perigo, Naruto. -Itachi rebateu. -Tem um monte de bicho que
sabe voar e rastejar… Se bem que pra mim tanto faz se o lugar é alto ou não, eu não tenho medo de nada.
Deidara riu sarcástico.
-Você só se paga de macho alfa, Itachi! -Implicou. -Aposto que se topasse com um urso ia baixar a
bola rapidinho!
-Há! Você que pensa! -Sorriu convencido. -Esse programa foi feito pra mim! Eu amo a selva e amo
andar pelado, literalmente nasci pra viver nesse tipo de ambiente! Se eu topasse com um urso ia fazer ele
correr de volta pro buraco que saiu!
-Coitado, 'tá se achando o Tarzan!
-Eu sou muito melhor que o Tarzan!
Eu resolvi tossir para ser notado.
Imediatamente, todos se viraram na minha direção. Foi mais como um susto, na realidade. Era como
se estivessem esperando a minha presença a algum tempo. Deidara e Itachi eram os mais afobados,
enquanto o meu bebê apenas me lançava sorrisos leves como se soubesse exatamente o que eu estava
pensando.
Naruto sabia bem que eu continuava em choque com a limpeza geral da casa.
-Sasuke. -Itachi chamou, erguendo a cabeça do colo de seu namorado. -Você acordou.
Concordei, sem graça.
-Ah, merda… -Deidara murmurou, levantando-se meio atrapalhado da almofada. Os dois estavam
muito esquisitos, como se estivesse planejando alguma coisa. -Sasuke, senta aqui no sofá.
-Errr… Está bem?
Tentei lançar alguns olhares ao meu bebê para questioná-lo sobre o comportamento estranho e
incomum dos dois, sobretudo, ele não parecia estar disposto a me contar tão cedo.
Como solicitado, eu me sentei.
Já os meninos, ficaram parados na minha frente e me olhando com sorrisos estranhos, no entanto,
ao ser cutucado por seu namorado, Itachi pareceu voltar para a realidade:
-A gente já volta, fica aí!
Eu mal tive tempo de responder.
Ambos saíram correndo em direção a cozinha, se trombando meio atrapalhados antes de entrarem
pela porta. Com o cenho franzido, me virei novamente até o Naruto, me surpreendendo ao notar algo
erguido em minha direção.
Era a minha pelúcia.
-H-Hm… Eu arrumei o Tutty, Sasuke. -Sacudiu o dinossauro entre suas mãos, sorrindo com as
bochechas coradas. -Ele está novinho!
De imediato, meus olhos lacrimejaram.
-B-Bebê… -Notei ele se levantar e caminhar em minha direção. Ainda com um sorrisinho, me
entregou a pelúcia e sentou do meu lado no sofá, me assistindo segurá-lo entre minhas mãos. Nem dava
para acreditar. Estava mesmo novinho, como se nunca tivesse sido rasgado por ninguém. -Muito, muito
obrigado.
Eu o abracei com força, juntamente com o Tutty.
-Eu te amo tanto, Naruto. -Sussurrei de olhos fechados. -Você nem imagina o quanto isso significou
pra mim. Obrigado, bebê.
-H-Hm… Imagina, Sasuke. -Beijou minha bochecha. -Eu te amo muito, faria tudo por você. Também
sei o quanto o Tutty tem significado na sua vida, por isso fiz questão de costurar.
-Amor da minha vida… -Murmurei ao lhe roubar um selinho. -Eu não vivo sem você, sabia?
-E eu só vivo por causa de você. -Devolveu apaixonado. -Te amo pra sempre.
-Meu bebê…
Fomos interrompidos pelo barulho da porta.
Me virei até a origem do som, deparando-me com a cena aleatória de Deidara e Itachi carregando um
prato de espaguete e um copo de limonada em mãos, respectivamente. E por coincidência, tratava-se de
minha comida e bebida predileta.
Eu ergui a sobrancelha quando ambos se aproximaram de mim, sorrindo nervosos e se entreolhando
com certo receio.
-Toma, Sasuke. -Itachi me estendeu a limonada, enquanto Deidara apoiava o prato de macarrão na
mesinha de centro. -Eu que fiz a limonada!
-E eu que fiz o macarrão. -O loiro completou com um sorriso amarelo. -Sem queijo porque eu sei que
você é intolerante à lactose.
Eu estava sem reação.
-Err… Obrigado, gente.
O meu bebê riu baixinho, admirando a cena.
-Pode comer! -Meu irmão me incentivou. -Eu imagino que você deve estar com fome depois de ter
cagado tudo o que consumiu no almoço!
Deidara lhe deu um tapa.
-Porra… -Susurrou em repreensão, notando rapidamente que eu fiquei envergonhado. -O plano não
era tratar ele bem, caralho? Para de falar da diarréia do menino, que sem noção!
-Desculpa, cacete, eu não falei por mal!
Eu estava cada vez mais confuso.
-Gostou da minha limonada? -Itachi sorriu tanto, mas tanto, que eu fiquei assustado. Quase subi em
cima do meu bebê quando ele decidiu se sentar ao meu lado, aproximando nossos rostos com exagero. -Eu
preparei com muito carinho.
-Ah… Gostei sim, obrigado. -Agradeci, notando Deidara dar a volta no sofá e parar logo atrás de
mim. -O que você está fazendo aí atrás?
Meu ombro foi tomado por suas mãos.
-Uma massagem, você 'tá muito tenso.
Eu olhei extremamente confuso até o Naruto.
Mas que mordomia toda era aquela?
-Você é lindo, Sasuke. -Itachi elogiou de modo perturbador. -Lindo mesmo, 'tá ligado?
Ri com o cenho franzido.
-Obrigado, Itachi. -Dei tapinhas em sua coxa, sem compreender o rumo do diálogo. -Eu também ia te
elogiar, mas acho que nem precisa, né? Você já se acha lindo o suficiente.
-É… Não precisa. -Deu de ombros. -Enfim, eu só queria te falar isso mesmo. O Naruto disse que a
gente deveria começar a se elogiar com mais frequência, e não só apontar os defeitos um do outro.
Sorri até o meu bebê.
-Ele disse, é?
-Disse. -Coçou a garganta. -Desculpa ter zoado a sua bunda, eu juro que nunca mais vou fazer isso.
A gente só queria te irritar, e bom, não tinha muito do que falar... Você é inteiro bonito, então implicamos
com a sua bunda por falta de opção, essa é a verdade. Não é mesmo, chefe?
Deidara murmurou um "aham".
-Então, pra recompensar, a gente fez uma lista das dez coisas que mais gostamos em você. -Meu
irmão prosseguiu, sorrindo orgulhoso. -Tipo… Você é uma pessoa muito empática e carinhosa.
-Sim, e você tem uma paciência de ouro. -O loiro completou, dando seu máximo para ser "fofo" e
soar gentil. -E também é cheiroso.
-Isso, e você também é muito fiel e sincero.
-E a sua postura é boa!
Itachi o olhou entre risos.
-Postura, chefe?
-Sim, eu reparo muito nisso! -Apontou para as minhas costas, mostrando-o a maneira como eu
estava sentado. Ereto e com o corpo perfeitamente alinhado. -É difícil pra quem tem escoliose, tá bom?!
Naruto concordou ao meu lado.
-H-Hm… Eu tenho escoliose, é péssimo.
-É de família, franguinho, o Minato também tinha.
-U-Uhum, verdade…
Itachi bateu palmas, retomando.
-Vamos prosseguir com a lista! -Olhou de volta para mim. -A sua voz também é bonita.
-Verdade, você canta 'mo bem.
-Ah, tem o seu sorriso também. A gente acha muito bonito. -Cutucou minha bochecha, me
arrancando um riso sem graça. -E eu tenho inveja porque você nunca precisou usar aparelho, enquanto eu
precisei fazer até cirurgia na mandíbula!
Deidara o fitou, chocado.
-Na moral?
-Sim, chefe, eu tinha a mordida invertida.
-Eita…
Naruto chamou minha atenção com uma risadinha:
-H-Hm… O que os meninos querem dizer, Sasuke, é que eles sentem muito por terem falado do seu
bumbum, e que na verdade eles te acham muito bonito. -Sorriu doce. -Assim como eu. Você é a pessoa
mais linda do mundo!
Abri um sorriso meio tímido, mas apaixonado.
Eu nunca havia recebido tantos elogios em minha vida, sendo que, muitos deles, sequer havia
reparado em mim mesmo. Até que aquele era um "pedido de desculpas" digno e criativo.
-A gente queria se desculpar pela sua pelúcia também. -Itachi sinalizou para Deidara, o qual, de
imediato, saiu de trás de mim. -Sabemos que o Naruto costurou, mas a gente não se orgulha do que
aconteceu lá no quarto. Né, Deidara?
O loiro assentiu, parando de pé ao lado de seu namorado e ganhando um abraço na cintura.
-É… Desculpa, Sasuke. -Coçou a nuca, sem graça. -Eu não sabia que era um presente da sua mãe,
foi bem chato da minha parte.
Sinceramente? Eu continuava em choque.
Como foi que o meu bebê conseguiu convencer os dois a me prepararem um jantar sem lactose,
limparem a casa inteira e se desculparem?
Acho que, no final das contas, ambos estavam verdadeiramente arrependidos do que fizeram.
-Me desculpa por ter feito você chorar e chegar nesse estado. Eu não sabia que você se sentia tão
sobrecarregado. -Itachi sorriu triste. -O Naruto fez a gente prometer que vamos começar a te ajudar mais
aqui em casa a partir de hoje. E agora eu estou prometendo pra você também.
Eu quase me belisquei.
Aquilo só podia ser um sonho. Será que eu ainda estava dormindo na minha cama?
-Desculpa por ter te empurrado. -Decidi me pronunciar também. -E ter gritado também.
Itachi riu, mostrando que não era nada.
-Não tem problema. -Passou o braço por meu ombro, me puxando para um abraço. -Já passou, fico
feliz que a gente tenha se entendido.
Assenti com o rosto contra seu ombro.
-Eu te amo, 'tá? Muito mesmo. -Murmurou sorridente. -Às vezes é bom falar.
Eu fiquei levemente emotivo.
-Eu também. Muito.
Notei que o meu bebê assistia a tudo com um sorriso orgulhoso, parecendo aprovar o resultado da
possível conversa que teve com os meninos enquanto eu estava adormecido. Ele realmente conseguiu
consertar as coisas.
Deidara, por sua vez, permanecia com os braços cruzados e um ar aliviado. No entanto, teve sua
atenção rapidamente alterada quando Naruto fez biquinho em sua direção, parecendo querer ganhar um
abraço e um "eu te amo" também.
-Que foi, hein?
Ele abriu seus bracinhos.
-H-Hm… Abraço.
Deidara o fitou com tédio.
-Ah, não… Tô com preguiça.
-Por favor, Dei.
-Argh, vem você aqui então. -Estalou a língua, mostrando-se indisposto a dar, literalmente, dois
passos até o seu irmão. -Eu não quero me mexer.
De qualquer forma, Naruto foi de bom grado.
-F-Fala que me ama… -Pediu sorridente quando o abraçou. -Por favor.
-Eu te amo.
-Muito?
-Muito.
Itachi fez um som "fofinho" com a boca.
-Ah, cambada, tô feliz que a gente se resolveu! -Sacudiu meu ombro. -Sabe o que a gente deveria
fazer agora? Todo mundo junto?
Deidara chutou:
-Terminar Largados e Pelados?
-Não. -Sorriu em suspense. -Brincar de "O que você preferiria?".
Tanto eu quanto Naruto, fizemos caretas.
Nós simplesmente odiavamos esse jogo.

Na primeira vez em que meu irmão e seu namorado surgiram com essa ideia, topamos participar na
maior inocência, achando que se tratava apenas de uma brincadeira comum e que envolvesse perguntas
saudáveis e engraçadinhas para sairmos do tédio neste sítio. Acontece que, com o Itachi e o Deidara, nada
é saudável. E eu deveria ter pensado nisso antes de ter me envolvido no jogo, colocado o meu bebê no
meio e o traumatizado.
As perguntas colocadas em jogo, como eu já deveria ter previsto, são extremamente nojentas,
doentias e, acima de tudo, impossíveis de serem respondidas. O pior de tudo é que os meninos nos
envolvem no meio e nos colocam em posições que, literalmente, dá vontade de vomitar. Da última vez que
jogamos, eu quase coloquei meu jantar para fora com uma pergunta feita por Deidara para mim. Mas não é
minha culpa se tenho a imaginação mais fértil do grupo.
-Vamos! -Deidara comemorou, correndo para o lado de meu irmão no sofá. -Faz tempo que a gente
não joga!
O meu bebê relutou.
-H-Hm… Eu não quero jogar, meninos, mas obrigado.
-É, eu também não quero. -Fiz uma careta de desgosto. -Brinquem vocês dois.
Itachi me olhou chateado.
-Por que vocês não querem jogar?!
-Por que vocês fazem perguntas nojentas e absurdas. -Expliquei o óbvio. -Eu quase vomitei da última
vez, não sei se vocês estão lembrados.
-Vocês são uns maricas, isso sim! -O loiro implicou. -Não conseguem nem participar de um joguinho
infantil! Bando de morféticos fracassados!
-Joguinho infantil? -Repeti, incrédulo. -Cara, vocês literalmente perguntaram se a gente preferia
lamber o saco fedido do Danzou ou receber uma sentada na cara do Orochimaru.
Ambos gargalharam alto, muito alto.
-E olha que essa foi a pergunta mais leve que vocês fizeram, eu nem quero lembrar do resto.
Naruto concordou comigo.
-Ah, cara, vocês são uns chatos! -Itachi nos atirou uma almofada quando decidimos sentar na
poltrona do canto. -Essa brincadeira é incrível!
-Incrível pra vocês que são doentes. -Puxei o meu bebê para meu colo, beijando seu pescoço
cheiroso quando ele acomodou-se em mim. -A gente não quer jogar e pronto, superem.
-E se a gente pegar mais leve nas perguntas dessa vez? -Meu irmão sugeriu. -Sem envolver nada
doentio e nojento?
Eu o fitei duvidosamente.
-A gente vai fazer perguntas mais… saudáveis.
Eu e Naruto nos entreolhamos.
-O que você acha, bebê?
-H-Hm… Eu não sei. -Riu pensativo. -Vamos dar uma chance. Se ficar bizarro, a gente sai do jogo.
Sorri divertido, lhe dando um beijo.
-Combinado.
De canto de olho, vi que Deidara e Itachi bateram as mãos, ambos carregando sorrisos um tanto
quanto suspeitos. Eu estava voltando a ficar com medo do que os dois seriam capazes de fazer ao decorrer
daquele jogo.
-Está bem. -Itachi coçou a garganta, prensando os lábios para conter sua risada. -O que vocês
prefeririam… Ficar grávidos de trigêmeos ou passar mais nove meses na prisão?
Franzi o cenho, desconfiado.
Certo, até que aquela foi uma pergunta "respondível".
-Fácil! -Deidara começou. -Voltar pra prisão, é óbvio! Já tô acostumado mesmo, e eu não quero um
monte de pirralhos me amolando, já não basta o Naruto! Deus que me perdoe!
O meu bebê fez biquinho.
-H-Hm… Eu ia preferir ficar grávido.
Sem a minha intenção, meus olhos brilharam.
-É mesmo, bebê? -Perguntei carinhoso, sorrindo abobado ao pensar no impossível. O Naruto grávido
de nossos filhos. -Você preferiria, hm?
Ele riu doce para mim.
-U-Uhum… Eu gosto muito de crianças.
-Eu também gosto... -Sorri pertinho de seus lábios, completamente bobo e apaixonado ao somente
cogitar a hipótese de que, um dia, poderíamos ter filhos juntos. -Eu acho que você seria um ótimo pai, bebê.
-V-Você também seria, Sasuke. -Levou minha franja para trás, sorrindo carinhoso. -O melhor de
todos.
Deidara grunhiu com tédio.
-Era só o que me faltava agora, o casal melação com vontade de ter filhos. -Cutucou o Itachi. -Se
essa casa encher de pirralhos, eu termino com você e dou o fora daqui, ouviu bem?
-Ué! Termina comigo por que, porra?! O que eu tenho a ver com a vontade deles em ter filhos?!
-Não é você que vive dizendo que a casa é sua e os caralho?! -Desafiou, cruzando os braços. -Pois
então lide com a situação e não permita que nenhuma criança entre aqui! Eu não tenho paciência, porra!
Vou acabar matando alguém!
Itachi negou com a cabeça.
-Credo, chefe. São só crianças.
-Ah! Virou a Madre Teresa agora! -Lhe fitou, inconformado. -Nem parece que semana passada tava
xingando os tufos porque o Naruto não parava de chorar e dizendo que nunca ia conseguir ter filhos assim!
Você é um hipócrita!
-É diferente! -Se defendeu. -Eu gosto de crianças, só não tenho muito jeito com elas! Mas eu seria
um bom tio, falou?! Tio Itachi!
Eu ri de sua cara, pronto para provocá-lo:
-Eu que não ia deixar meus filhos terem contato com você, Itachi. -Cutuquei Naruto para que ele
levasse na brincadeira também. -Você é muito irresponsável. Aposto que ia levar as crianças pra passear na
mata e ia perder todo mundo lá.
Deidara riu em aprovação:
-Fora que o filho de vocês ia aprender a falar "caralho" e "morfético" antes de "papai".
-Se é assim, ele ia aprender a andar pelado também. -Itachi sorriu convencido. -Eu vou ensinar essa
criança a como se amar de verdade!
-Uma coisa é se amar, Itachi, a outra é ficar o dia todo tirando fotos de si mesmo, beijando o próprio
reflexo no espelho e rebaixando as pessoas ao seu redor pra sobressair a sua "beleza". -Expliquei
sensatamente. -Eu não quero que meus filhos sejam assim, muito obrigado.
Deidara bateu palmas de repente.
-Por falar em pelado, pensei na próxima pergunta! -Olhou-nos com expectativa. -O que vocês
prefeririam… Andar completamente sem roupa durante vinte e quatro horas na rua, sem direito de se
esconder, com todo mundo te olhando e te julgando, ou espelhar uma foto de vocês pelados no telão da
Times Square em Nova Iorque por duas horas?
Eu fiquei em silêncio para assimilar a pergunta.
-Só lembrando que passam 340 mil pessoas por dia na Times Square! -Completou sorridente.
-Pensem bem!
-Muito fácil. -Itachi riu vitorioso. -Vocês sabem quantas celebridades ganharam fama em Nova Iorque
nos últimos anos? Meu sonho é ficar famoso com as minhas fotos pelados!
Neguei com a cabeça, e Naruto me acompanhou com uma risadinha. Eu acho que nunca vou me
acostumar com a loucura dos meninos.
-Eu ia preferir andar pelado! -Deidara anunciou. -Seria uma desculpa pra bater em alguém caso eu
fosse assediado ou julgado na rua!
-Cara, qual é a sua pira de sair batendo em todo mundo? -Indaguei curioso. -Tudo que acontece você
já sai querendo socar as pessoas ao seu redor. Tipo… Por que você é tão agressivo?
Naruto e Itachi concordaram.
-Verdade, chefe, todo mundo aqui apanha de você! -Lhe provocou com uma cotovelada. -Até o
coitado do Naruto que não abre a boca!
-H-Hm… O Dei já me falou que esse é o jeito que ele demonstra amor. -O meu bebê justificou. -Eu
não gosto quando ele fica me dando tapas, mas pelo menos eu sei que ele me ama.
Itachi se engasgou de tanto rir.
-Vocês são muito doentes! Puta merda!
-Pelo menos nisso a gente concorda. -Ri perturbado. -Essa casa é um hospício.
-Mas e vocês dois, hein?! -Deidara chamou. -Tão calados por que?! Responde a porra da pergunta
logo! Andar sem roupa ou espelhar uma foto peladão no telão da Times Square?!
-Sei lá, cara. -Estalei a língua. -Acho que andar pelado.
-U-Uhum, eu também. -O meu bebê concordou, corando. -Mas as duas opções são ruins.
-Nossa! -Itachi gritou, batendo os pés no chão com ansiedade. -Eu pensei em uma pergunta muito
boa, puta que pariu! Eu sou um gênio!
Suspirei preocupado.
-Lá vem. -Sussurrei para Naruto. -To até com medo.
-S-Sim… Eu não quero nem ver.
-Deidara, essa vai pra você! -Sorriu abertamente até seu namorado. -Presta atenção!
-Tá bom, caralho, eu não sou surdo.
-Pela vida do Naruto… Pela vida dele, hein! Você tem que fazer isso que eu vou falar! -Fez suspense.
-Pelo seu irmão, você deixaria o Orochimaru te foder em um palco na frente de todo mundo que você
conhece, de mim, do Sasuke, do Gaara, do Obito, do Neji e etc, com um microfone dentro da sua goela pra
todo mundo escutar você gemendo?!
Tudo o que eu fiz foi olhar até o Naruto.
E como o esperado, o meu bebê encontrava-se extremamente sem graça por ter sido envolvido
naquela pergunta absurda e asquerosa.
-Todo mundo estaria olhando! -Itachi continuou, notando que Deidara ficou pensativo. -Até pipoca a
gente ia comer enquanto assistia você!
Eu ri com a aleatoriedade.
-Pipoca, Itachi?
O loiro, por sua vez, grunhiu enojado antes de finalmente dar-nos sua resposta final:
-Eu acho que deixaria.
Meu irmão ficou boquiaberto.
-Chefe?!
-Ué, caralho?! Não é pela vida do garoto?!
-Sim, mas caralho! Tô chocado que você topou!
Eu tirei um tempo para refletir também.
A pergunta não foi direcionada para mim, no entanto, pela vida do Naruto, eu toparia qualquer coisa.
Inclusive transar com o Orochimaru em um palco com todo mundo que eu conheço me assistindo e, ainda
por cima, comendo pipoca.
Com esses pensamentos, eu ri sozinho.
Mesmo detestando imaginar essas coisas escrotas, eu precisava admitir que os meninos eram bem
criativos com suas perguntas, embora extremamente sem noção e inconvenientes.
-Sasuke, tenho uma pergunta pra você. -Itachi me chamou. -É boa, hein!
Eu suspirei, preocupado.
-Se ela não incluir a vida de ninguém e nem o Orochimaru me comendo em um palco, eu aceito.
-Certo, então aqui vai ela… -Sorriu perverso. -O que você preferiria? Tatuar "Propriedade do Itachi"
na sua bunda e publicar uma foto pra todo mundo ver, ou tatuar uma das minhas Polaroids pelado no seu
braço pra me homenagear?
Surpreendentemente, até o Naruto riu.
-Eu mereço. -Esfreguei minha própria face, digerindo a pergunta. -Sei lá, Itachi, acho que na bunda.
Eu ia precisar mostrar a minha cara na foto?
-Sim, é óbvio! As pessoas precisam saber que é você!
-É… Eu tatuaria na bunda então, eu não mostro pra ninguém mesmo. O braço já é outra história.
-Pois eu tatuaria as duas! -Deidara brincou. -Tatuaria na bunda e no braço pra te homenagear, Itachi!
-Owwnt, chefe! -Beijou seus lábios, lhe lançando um sorriso divertido. -Que amor! Obrigado!
Naruto e eu nos entreolhamos, risonhos.
-Franguinho, eu tenho uma pergunta pra você!
Imediatamente, ele se encolheu.
-A-Ah, não… Eu não quero, Dei.
-Você quer sim! -Insistiu, e eu senti o meu bebê tensionar o corpo por cima de mim. -O que você
preferiria… Beijar um mendigo que não escova os dentes a quinze anos, com aquele bafão de bode, a
língua branca e os dentes todos apodrecidos, ou chupar o dedão do pé do Itachi cheio de micose, fungos e
com a unha até preta?!
Naruto ficou assustado. Só que, acima de tudo, completamente enjoado com a pergunta. Ele também
era muito sensível quando tratava-se de se imaginar fazendo coisas nojentas.
Meu irmão gargalhou.
-Vai se foder, chefe! Não mete meu dedão no meio!
-H-Hm… Eu prefiro não responder. -Me olhou como se pedisse ajuda. -Não prefiro nenhum dos dois.
-Deixa de ser chato, porra! Escolhe um! -O loiro insistiu. -Pela vida do Sasuke, então!
Era claro que eles me envolveriam nisso.
-Bebê, não precisa responder isso.
-B-Bem… Pela vida do Sasuke… -Engoliu em seco, visivelmente desconfortável. Naruto não queria
participar, só que, ao mesmo tempo, não queria "pagar de chato" como sempre. -A-Acho que eu… eu
chuparia o dedão do Itachi.
Os meninos gargalharam com a resposta.
-Gente, vocês são muito idiotas. -Xinguei com risos perturbados. -Vocês perguntam essas coisas
absurdas e colocam a nossa vida no meio… Tipo, é claro que a gente vai topar fazer essas coisas nojentas
pra salvar um ao outro.
Itachi discordou.
-Você me desculpe, mas eu não deixaria o Orochimaru me foder com uma plateia pela sua vida,
Sasuke.
Eu franzi a testa, indignado.
-Ah, legal. Você ia me deixar morrer, então?
-Sim.
-Bom saber. -Fiz um "joinha" em sua direção. -De boa, não esperava menos de você.
-Ah, vai ficar putinho agora?! Vai me dizer que você toparia uma coisa dessas pra me salvar?!
-Pela sua vida? É óbvio!
-Bom, eu fico agradecido, mas eu jamais me submeteria a isso! Tenho dignidade!
-Então quer dizer que a sua dignidade vale mais do que a vida do seu irmão? -Questionei, tentando
fazê-lo enxergar o que estava dizendo. -É isso mesmo que eu estou entendendo?
Itachi ficou pensativo, abrindo e fechando a boca como se não soubesse o que dizer.
-Argh, 'tá… -Estalou a língua. -Mas depois eu te matava com as minhas próprias mãos!
Deidara riu alto, divertindo-se com a situação.
-Eita, franguinho, que cara é essa? -Acotuvelou o Itachi, querendo mostrar o estado que seu irmão se
encontrava. -Vai vomitar, é?
Eu olhei até o meu bebê, curioso.
Ao decorrer da brincadeira, não imaginei que ele fosse ficar tão mal. A boca contraída, a testa
franzida e os olhos fechados como uma tentativa de se acalmar e regular a sua respiração.
Eu fiquei preocupado.
-Ei? -Levei a mão até sua testa. -'Tá tudo bem, bebê? Ficou enjoado, foi?
Ele assentiu, soltando o ar lentamente.
-Foram as perguntas, não foram? -Estalei a língua. Os meninos realmente não tinham noção. Falar
do Orochimaru perto do Naruto ainda era um tópico sensível, embora eu soubesse que eles não fizessem
por mal, mas sim para descontrair. -Vem cá, vamos tomar um ar.
Notei que Itachi se segurava para não rir.
-D-Desculpa, Sasuke…
-Fica tranquilo. Amor da minha vida. -Murmurei carinhoso, permitindo que ele se segurasse em meu
braço para subirmos as escadas. -Eu também passei mal da última vez, lembra?
Ele riu fraquinho.
-S-Sim… Essas perguntas são muito nojentas.
-São mesmo, bebê.
Ainda sobre os degraus, pude escutar os meninos rirem de nossa cara, prosseguindo com a
brincadeira sem noção alguma do que fizeram:
-O que você preferiria, Itachi… Lamber o cuzão do Kakashi cheio de bosta ou comer os pentelhos de
todos os funcionários da prisão?
Eu me apressei para puxar o Naruto. Se ele escutasse mais alguma coisa nojenta daquelas,
provavelmente vomitaria a caminho de nosso quarto. Com isso, escancarei a porta e logo a fechei para que
nenhum som a ultrapassasse. Em seguida, levei Naruto até a varanda para que ele pudesse tomar um ar,
fazendo sinal para que sentássemos os dois juntinhos na rede.
O meu bebê permitiu que eu fosse primeiro e esperou eu abrir meus braços para acolhê-lo. Me deitei
confortavelmente e o aceitei contra meu peito, beijando sua cabeça quando ele fez o mesmo em meu
pescoço, murmurando que a ânsia de vômito estava começando a passar.
Eu optei por não balançar a rede para que não o deixasse pior. Com isso, apenas permaneci
observando o céu estrelado e lhe dando carinho, arranhando suas costas por dentro de sua regatinha.
Naruto gostava muito disso. Por isso, quando começou a ronronar manhosamente, eu ri contra a sua
cabeça, fechando os olhos com o vento fresco que batia por nossas fases.
Eu amava momentos como aquele.
-S-Sasuke?
Olhei para seu rosto sonolento.
-Oi, bebê?
-Posso dormir? -Naruto se esforçava para não fechar os olhos. -H-Hm… 'Tá tão bom aqui.
-É claro que você pode. -Respondi carinhoso, começando a falar baixinho para deixá-lo descansar.
Agora era a minha vez de tomar conta do Naruto, assim como ele fez comigo mais cedo. -Dorme aqui
comigo, sim? Mais tarde eu te levo pra cama, bebê, não se preocupa.
Ele sorriu, fechando as pálpebras.
-Obrigado, Sasuke... E-Eu te amo muito.
-Eu também te amo muito, Naruto. -Sussurrei de volta, descansando meu queixo em sua cabeça.
-Dorme bem, meu bebê. Amor a minha vida.
E ele dormiu entre meus braços. Não sei quanto tempo passei o observando e sentindo sua
respiração pesar a medida em que sonhava distante de mim, mas admirá-lo também me causou sonolência.
Foi enquanto me pegava pensando em Naruto e agradecendo por tê-lo comigo, que o sono me envolveu
como um abraço.
Eu adormeci pensando no quanto o amava.

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