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Capítulo 225 – Âncora

Tradutores: Banking| Revisão & Edição: Barão_d’Alta_Leitura

ARTHUR LEYWIN

Soltei um gemido sonolento, mal conseguindo ouvir minha própria voz devido
aos ventos passando por nós. Apoiando-me nas costas espetadas de Sylvie e
examinei meus arredores.

Eu podia ver o castelo voador à distância e, por um breve momento, fiquei


animado; Tessia estava aqui, e essa era a verdadeira razão de eu não ter ido
direto a Etistin para me preparar para a batalha que se aproximava. Essa breve
sensação de felicidade criou uma culpa que se contorcia no meu estômago, mas
eu a empurrei de volta para baixo, abraçando o mesmo vazio sem emoções.

Os guardas do castelo, notando Sylvie, separam-se em duas linhas, formando


um caminho para o cais de desembarque, que se abriu silenciosamente
conforme nos aproximamos.

Eu tive que dar o braço a torcer aos artífices dos tempos antigos — aqueles
magos sábios e poderosos foram responsáveis não apenas por erguer um
castelo inteiro no céu, mas uma cidade inteira também, além de conectar cada
cidade principal com um portal de teletransporte. O conhecimento e o poder
necessários para completar esses feitos de maestria mágica são inspiradores.

Isso levantou a questão: o que realmente aconteceu com eles? Descobrir a


resposta para essa pergunta não estava exatamente no topo da minha lista de
prioridades, então deixei o pensamento ir embora.

Vamos acabar com isso rapidamente. Estou pronto para descarregar alguma
bagagem emocional em uma foice ou talvez alguns retentores, eu disse,
pulando fora de meu vínculo.

Surpreendentemente, o cais de desembarque, que normalmente vivia cheio de


atividade e barulho, estava completamente vazio, exceto por uma figura
solitária próxima à porta. Levei um momento para perceber quem era por causa
de quão diferente ele parecia.
A poderosa confiança que Virion geralmente irradiava se foi, seu sorriso alegre
substituído por uma expressão sombria e cansada. Seu cabelo prateado estava
solto e as vestes que vestia pareciam um pouco grandes demais para ele, como
se ele tivesse perdido peso. Ainda assim, vendo eu e Sylvie, seu rosto suavizou
em um sorriso aliviado.

Andando até mim, o velho elfo imediatamente me envolveu com seus braços
em um abraço longo.

Eu fiquei chocado. Meu corpo congelou e, por um momento, minha mente ficou
em branco.

"Bem-vindo de volta. Você fez tudo que podia, Arthur ... você fez muito bem,”
disse ele suavemente, sua voz tão familiar, mas aparentemente desconhecida
ao mesmo tempo.

A casca gelada de apatia em que eu me fechei — longe da raiva, da dor e da


perda que tentavam arranhar seu caminho dentro de mim — rachou.

Pode ter sido o calor de seu abraço ou a gentileza de suas palavras, mas eu me
abri e tudo veio à tona. Pressionei meu rosto no ombro de Virion e deixei as
lágrimas correrem livremente, tremendo e soluçando como uma criança, suas
palavras ecoando em minha mente.

Você fez tudo que podia. Você foi ótimo.

Sylvie permaneceu em silêncio, mas eu senti sua pequena mão descansar


suavemente nas minhas costas, transmitindo tanta emoção quanto o abraço de
Virion.

Comandante, Lança e asura ... Ficamos ali, sozinhos na grande sala vazia,
amontoados, esquecendo por um momento quem éramos.

***

Eu segurei meu punho contra a porta, mas parei, relutante em bater.

Eu não acho que posso fazer isso sozinho agora. Tem certeza de que não quer
ver Tess comigo? Perguntei ao meu vínculo, que ainda estava em nosso quarto.
Ela precisa de você agora. Só você, Sylvie respondeu friamente, e eu a senti
bloquear nossa conexão mental, deixando-me perdido.

Virion havia dito a mesma coisa. Tessia se trancou em seu quarto, recusando-se
a ver quem quer que fosse, especialmente aqueles que mais queriam ajudar.

Se seus próprios pais ou avô não puderam chegar até ela, como eu poderia?

Essa foi a minha desculpa, de qualquer maneira. Sério, eu simplesmente não


queria ser o apoio de ninguém agora, não quando eu mal conseguia me segurar,
mas, ainda assim, Tessia precisava da minha ajuda, assim como eu precisava de
Sylvie e Virion.

Empurrei a escuridão, todos os pensamentos ruins, e os coloquei de lado por


enquanto. Eu lidaria com minhas próprias perdas em meu próprio tempo.

Prendendo a respiração, bati na porta.

Sem resposta.

Eu bati novamente. "Tess, é Arthur."

Ela não respondeu, mas eu podia ouvir seus passos leves se aproximando da
porta. Depois de um momento, a porta se abriu e nossos olhos se encontraram.

Eu tinha visto tantas emoções ganharem vida através daqueles olhos turquesa
vívidos dela — risos, alegria, raiva, determinação — mas esta foi a primeira vez
que vi tal desespero absoluto. Doeu-me vê-la assim; eu queria me afastar. Em
vez disso, entrei na sala, minha mente correndo. Ela parecia cansada,
desgrenhada, como se não tomasse banho há dias.

Limpando a garganta, eu disse: "Você não precisa de ajuda para se lavar, certo?"
Meu tom era leve, provocador. Eu esperava que ela me batesse, revirasse os
olhos, risse da minha estupidez infantil.

Sem dizer uma palavra, ela tirou o manto, deixando-me completamente


desprevenido. Eu consegui me virar antes que pudesse ver qualquer coisa, mas
quase tropecei nos meus próprios pés no processo, caindo no sofá. Deixei-me
cair sem graça nas almofadas grossas e pressionei meu rosto em um travesseiro
até que ouvi a porta do banheiro se fechar atrás de mim.
Esperei ansiosamente pelo que pareceu uma hora, resistindo à tentação de
perguntar se ela estava bem, até que Tessia saiu do banheiro com uma toalha
mal pendurada no peito e seu cabelo cinza escuro pingando poças de água atrás
dela.

Levantei-me, peguei outra toalha e a sentei na frente da pequena penteadeira


no canto de seu quarto. Tess manteve os olhos baixos, incapaz de olhar para seu
próprio reflexo.

Virion me contou tudo. Eu sabia as escolhas que ela tinha feito e as


consequências que resultaram delas. Ela se culpava, assim como eu, e eu sabia
que nenhuma palavra de consolo mudaria o que ela sentia naquele momento,
porque ela estava certa. Ela havia tomado decisões e pessoas morreram por
causa disso. Com o tempo, ela viria a entender que essa era a natureza da
guerra e que ela nunca seria capaz de salvar a todos. Às vezes, até nossas
melhores intenções nos levam ao erro ...

Então, fiquei em silêncio. Com gentileza, eu afaguei seus longos cabelos com a
toalha extra, então conjurei uma brisa quente e suave que soprou por seus
cabelos, secando-os.

Depois disso, peguei uma escova da penteadeira de madeira. Enquanto


penteava seus cabelos, vi-me olhando seus ombros nus, pensando em como
pareciam pequenos. Esses ombros carregavam um fardo pesado e o peso de
muitas expectativas. Era fácil esquecer que, antes dessa guerra, ela era apenas
uma estudante. Embora nossos corpos tivessem quase a mesma idade, minha
mente era muito mais velha. Tessia não tinha uma vida passada em que confiar
para obter experiência e fortaleza mental.

"Você... é muito ruim nisso." A voz de Tess era suave e rouca, mas ainda fez
meu coração pular uma batida.

"Não é como se eu tivesse experiência em fazer esse tipo de coisa", murmurei,


envergonhado. Parei e fiz menção de guardar a escova, mas Tess ergueu os
olhos, captando meu olhar no espelho.

"Eu... não mandei você parar."


“Sim, princesa,” eu respondi, a sugestão de um sorriso brincando em meus
lábios. Normalmente, ela faria beicinho por ser chamada de ‘princesa’, mas ela
apenas olhou para mim, sua expressão ilegível. Nós mantivemos contato visual
por vários longos momentos após eu começar a escovar seus cabelos
novamente. Quando quebrei o contato para olhar o que estava fazendo, ela
olhou de volta para suas mãos inquietas.

Por um tempo, eu apenas falei distraído enquanto escovava lentamente seu


cabelo. Repeti as histórias bobas de nossas desventuras juntos em Elenoir
quando éramos crianças. Embora estivéssemos treinando constantemente, e eu
tivesse passado muito do meu tempo assimilando a vontade bestial de Sylvia,
isso não significa que não relaxamos e nos divertimos.

Eu revivia uma memória particularmente nojenta quando ela me interrompeu.

"Fui eu quem disse que não deveríamos descer aquele barranco, não o
contrário", disse ela, rindo.

"Sério? Tenho certeza de que eu era o inteligente e cauteloso quando éramos


pequenos."

Ela revirou os olhos. "Inteligente, devo admitir, mas não diria exatamente que
você foi cauteloso. Ugh, ainda me lembro de encontrar as sanguessugas de
musgo por todo o meu corpo, mesmo horas depois de voltarmos para casa.”

Sufoquei uma risada, lembrando claramente o quão nojenta ela tinha ficado
com as inofensivas sanguessugas se contorcendo que grudaram em nossa pele.
Ela imediatamente voou de onde estava, parecendo ter sido chocada por um
raio.

"Por que você está rindo?" perguntou, estreitando os olhos.

Não respondi. Ao invés disso, dei minha melhor impressão de sua dança tire-
essas-sanguessugas-de-mim.

"Eu tinha oito anos!" ela protestou, batendo no meu braço.

“Você era uma princesinha delicada”, retruquei calorosamente, esfregando


onde ela havia batido.
Ela olhou para mim, mas quando levantei meus braços em submissão, ela se
virou totalmente para mim e colocou os braços em volta da minha cintura.
Lentamente, abaixei meus braços, uma mão acariciando levemente suas costas
nuas, a outra suavemente se enroscando em seu cabelo cinza sedoso.

Tess permaneceu imóvel, seu rosto enterrado em meu peito. A toalha caiu,
expondo mais de sua pele lisa, e de repente me senti muito consciente de seu
corpo exposto e seu cheiro inebriante.

Quando ela olhou para cima, seus olhos turquesa encontraram os meus, e
apesar do tom rosa subindo em suas bochechas e orelhas, pude ver meu
próprio desejo refletido de volta neles.

Ela fechou os olhos e franziu os lábios, e eu senti Arthur se afastando. Por um


momento, eu era o Rei Grey, naqueles primeiros dias: os dias de solidão, onde
questionava constantemente meu próprio valor, minha razão de ser; os dias em
que me entregava à intimidade física apenas para ter uma aparência de como
era ser amado - não como uma figura política, mas como uma pessoa.

Abaixei minha cabeça e, por um segundo, fiquei tentado a encontrar seus lábios
com os meus. Afinal, já tínhamos feito isso antes.

Mas, dadas as circunstâncias, não era o mesmo.

Dei um beijo suave em sua testa e a senti estremecer ao meu toque.

Ela se afastou, olhando para mim como se eu a tivesse batido. "Por quê? Não
sou atraente o suficiente? É porque você ainda me vê como uma criança? Eu já
tenho dezoito. Achei que isso tivesse ficado para trás! Ou... ou você também me
culpa pelo que aconteceu?"

"Você se culpa?" Perguntei, mantendo minha expressão impassível e minha voz


apática.

Tess baixou os olhos e assentiu. "Eu... eu fui egoísta... pensei que ..."

"Então você está crescendo." Eu a cortei, colocando uma mecha de cabelo atrás
da orelha. “Todos cometemos erros, mas o mais difícil é admiti-los e seguir em
frente para que não aconteçam novamente.”
Seus ombros tremeram quando ela fungou. “Então, não é porque eu não sou
atraente?”

Imediatamente, meu rosto queimou quando observei sua figura exposta. "Não,
não é porque você não é atraente. Eu só quero fazer isso corretamente, quando
pudermos realmente estar um com o outro, não quando estivermos tentando
escapar de outra coisa."

Desviando meus olhos relutantes de Tessia, virei minhas costas para ela. “Você
deveria se vestir. Há mais uma coisa que quero fazer por você."

A cozinha estava vazia quando chegamos, mas havia comida em abundância


armazenada nos recipientes resfriados.

"Você queria... comer comigo?" Perguntou Tess, olhando ao redor da cozinha.

Pegando um pedaço de carne embrulhado no armazenamento, eu o segurei.


"Eu quero cozinhar para você."

"Cozinhar? Por quê?"

Dei de ombros, juntando o resto dos ingredientes e colocando-os para preparar.


“Você cresceu com refeições feitas para você pelos chefs do castelo.”

Em vez de usar magia, peguei uma faca de cozinha e comecei a cortar e picar os
ingredientes. “Em Ashber, quando eu era criança, minha mãe costumava
cozinhar todas as nossas refeições. Ela dedicou seu tempo e energia em cada
refeição apenas para ver um sorriso em nossos rostos enquanto comíamos.”

Minha mão tremia, mas continuei cortando. “Sentado à mesa de jantar ... rindo
e brincando sobre boa comida. Foi uma daquelas coisas que eu nunca
realmente apreciei — não até que fosse... tarde demais.”

Rapidamente enxuguei uma lágrima. "Ah, a-algumas das especiarias devem ter
entrado em meus olhos. Me desculpe por isso. Quase esqueci da água.” Afastei-
me de Tess e abaixei o fogo sob a panela de caldo fervente.
Com os dentes cerrados, segurei os soluços que se formavam em meu peito,
mas as lágrimas não paravam. Minhas mãos tremiam e minha respiração saiu
em rajadas sufocadas.

Flashes de memória do meu tempo como uma criança crescendo em Ashber


perfuraram minha mente como estacas de ferro quente. Não seja estúpido,
Arthur, pensei. É apenas comida, seu grande idiota.

"Está bem. Estou bem, Art. " Sua voz era gentil e sua suave carícia foi o
suficiente para me deixar de joelhos.

Caí no chão frio e duro, segurando meu peito enquanto soluços fortes saíam da
minha garganta. Enquanto eu estava lá, minha cabeça no colo de Tess, o toque
quente de suas mãos me manteve ancorado, e o arrulhar suave de sua voz
moveu-se por mim como a magia nas pontas dos dedos de um emissor,
aliviando a dor pungente dentro de mim.

Capítulo 226 – Campo de Branco


Tradutores: Banking | Revisão & Edição: Barão_d’Alta_Leitura

Alduin bateu a porta ao sair furioso. A sala estremeceu ligeiramente com o


impacto.

"Isso não foi tão ruim. Não pensei que ele cederia tão facilmente,” Virion
respirou, afundando para trás em sua cadeira.

“Nem eu”, pensei alto, meus olhos ainda na porta pela qual Alduin havia saído.

A reunião do Conselho havia terminado há mais de uma hora, mas Alduin ficou
para protestar contra a decisão de Virion. Até a general Aya, que nunca
expressou sua opinião a respeito das ordens, implorou ao comandante Virion
para reconsiderar.

Eu não os culpei. Virion finalmente decidiu evacuar as forças de Elenoir e


concentrar as tropas na fronteira oeste para se defender contra os navios
Alacryanos vindos do oceano. Para os elfos, isso significava abandonar sua casa
e dá-las aos alacryanos.
Embora Alduin ainda estivesse com raiva, ele cedeu.

“Estou feliz que ele queira liderar a evacuação de nosso povo. Talvez ele
finalmente esteja percebendo o fato de que estamos lutando para proteger
todos em Dicathen, não apenas Elenoir.” Virion suspirou, esfregando as
têmporas. “E isso me dará mais tempo para me concentrar nos cenários
alternativos.”

Concordei. Formar estratégias para batalhas era apenas metade da tarefa em


tempos de guerra. Pensar em várias contingências e treinar todas as suas tropas
para saber o que fazer quando as coisas não funcionarem como planejado era
tão — senão mais — importante.

Ficamos sentados sem palavras por um momento antes de pigarrear. Eu sabia o


que ele iria perguntar. Era a mesma pergunta que ele lutava para me fazer
desde que cheguei ao castelo.

“Então, Arthur. Você já pensou no meu pedido?” Virion disse, a determinação


fria em seus olhos.

Encontrei seu olhar forte com meus olhos. "Sim, e temo que terei que o recusar
respeitosamente."

"E se eu pedisse?" ele desafiou.

"Então eu não teria escolha a não ser fazer."

Após uma pausa de silêncio, Virion soltou um suspiro derrotado, balançando a


cabeça. "Se seu pai não tivesse morrido, você teria dito sim?"

Minha mandíbula apertou e lutei para manter a calma, mas não culpei Virion
por perguntar. "Provavelmente."

Acenando com a mão em despedida, ele disse: “Tudo bem. Não vou forçar
mais.”

“Obrigado,” eu disse, genuinamente aliviado. Eu odiava recusar qualquer coisa a


ele, mas isso era algo que eu não podia fazer. "Além disso, ouvi dizer que o
General Bairon é bastante conhecedor da guerra, de qualquer maneira."
“É tradição da família Wykes ensinar a sua geração mais jovem a arte da guerra
e da batalha”, respondeu Virion. “Mas seu conhecimento vem de livros —
manuais de estratégia e teoria, contos de velhas guerras, sentido há muito
lutado e esquecido.”

“Comparado ao meu conhecimento... como um adolescente?” Eu rebati,


sorrindo maliciosamente.

Virion gargalhou. "Se eu pensasse que você era um adolescente normal, eu iria
tratá-lo da mesma forma que minha neta e colocar vocês dois, junto com o
resto de sua família, sob custódia protetora."

"Talvez eu aceite essa oferta", provoquei.

“Não há oferta, pirralho. Falando como comandante, não posso me dar ao luxo
de perder você, então se endureça,” ele rosnou. "Se você não vai liderar, pelo
menos suje as mãos com sangue."

“Sim, comandante,” eu saudei. “Basta ter aquele pacote de aposentadoria


antecipada esperando por mim.”

"Vou fazer", disse ele com uma risada cansada.

Conversamos um pouco mais enquanto Virion me dizia o que esperar assim que
Sylvie e eu chegássemos a Etistin, mas também revivemos algumas velhas
histórias do nosso passado. Afinal, era possível que nunca mais nos víssemos.

“Minha mãe e minha irmã devem chegar ao castelo no dia seguinte ou depois.
Por favor, cuide delas, caso eu não consiga voltar,” eu disse, estendendo minha
mão.

Havia uma parte de mim que queria dizer adeus pessoalmente à minha família,
ver seus rostos pela última vez, caso eu realmente não conseguisse sair dessa
batalha vivo, mas uma parte maior de mim estava com medo de vê-los.

Eu não queria admitir, mas fiquei um tanto consolado pelo fato de que, mesmo
se eu morresse, minha família restante poderia chorar por mim em vez de me
olhar com ódio, desdém ou apatia.
Se isso me tornasse um covarde, eu abraçaria o título. A luta me ofereceria uma
fuga, e se eu conseguisse salvar nosso povo dos alacryanos no processo, então
algum bem ainda poderia advir de minha covardia.

Virion apertou minha mão e me puxou para um abraço. “Você sabe que tratarei
Alice e Eleanor como se fossem meu próprio sangue. Eles receberão a mesma
prioridade de retirada que Tessia e o Conselho.”

"Obrigado." Eu me afastei de seu abraço e caminhei em direção à porta. Virei


uma última vez para olhar para Virion, a mandíbula cerrada e o corpo rígido
enquanto ele se forçava a permanecer composto. “Você é uma das poucas
pessoas neste mundo que fez esta vida valer a pena ser vivida e este continente
pelo qual valeu a pena lutar.”

***

"Tem certeza de que não precisa de nenhuma armadura?" Perguntei a meu


vínculo, preocupado em vê-la vestindo apenas uma longa capa preta sobre um
par de calças e uma túnica de mangas compridas. Seus longos cabelos cor de
trigo estavam puxados para trás e amarrados em uma trança, acentuando seus
grandes chifres.

“Minhas escamas são fortes o suficiente. Além disso, a armadura convencional


seria inútil quando eu alternar entre as formas,” ela respondeu. Continuamos
nossa jornada para a sala de teletransporte em silêncio.

As portas já estavam abertas e apenas um guarda estacionado na frente; muitos


dos soldados do castelo foram enviados para Etistin, deixando poucos para o
serviço de guarda.

Eu podia ver alguns rostos familiares esperando para nos mandar embora. Além
de Tess e do Tio Buhnd, Kathyln e a Tia Hester também estavam aqui.

“Parecendo muito ousado, jovem herói”, sorriu a Tia Hester. “As roupas
realmente fazem o homem.”
"É bom ver você de novo, Tia Hester", cumprimentei, estendendo a mão.
“Espero que você não leve o que fiz para o lado pessoal. Lamento se isso afetou
você de alguma forma.”

Hester Flamesworth aceitou meu gesto com um sorriso irônico. “Eu ouvi sobre
seu pai e o que Trodius estava planejando. O prestígio do nome Flamesworth
não é tão importante para mim, e espero que isso sirva para humilhar meu
irmão. Eu gostaria apenas de agradecer por permitir que ele vivesse.”

Eu balancei a cabeça, soltando sua mão antes de me virar para o Tio Buhnd. Dei
um tapinha no ombro do velho anão. “Eu sei que você está ansioso para sair
para o campo, Buhnd. O que você me diz, quer vir comigo?”

“Bah, e ter minha bunda puxada de volta por Virion? Vou passar. Além disso, o
velho precisa de uma ajuda aqui, com tudo o que está acontecendo hoje em
dia”, ele respondeu, olhando para mim. “Tenha cuidado ali. Sei que pode não
parecer agora, mas há pessoas que se preocupam com você e estão esperando
que você volte.”

Novamente, eu apenas balancei a cabeça. A promessa que fiz à minha mãe —


de que me certificaria de que meu pai estava bem — acabou sendo vazia. Eu
não queria fazer outra promessa que não pudesse cumprir.

Meu olhar finalmente caiu em Kathyln, que estava em silêncio.

“Obrigado por me despedir,” eu disse a ela, estendendo minha mão.

Kathyln hesitou antes de agarrá-la. Ela olhou para cima, e seu rosto
normalmente impassível estava cheio de preocupação e arrependimento. "Eu
gostaria de poder lutar ao lado de você e Curtis."

“Sua missão é tão importante, se não mais, para o futuro de Dicathen. Não se
preocupe,” eu disse, tentando confortar minha amiga e parceira de treino com
um sorriso. Entendi a sua ansiedade e frustração por não poder lutar na batalha
principal; é como me sinto por deixar para trás tantos com quem me importava.

O vereador Blaine e a vereadora Priscilla ordenaram que Kathyln fosse até a


Muralha para ajudar os soldados restantes a patrulhar a área e garantir que não
houvesse nenhum animal perdido se dirigindo à fortaleza. Depois que Trodius
foi levado embora, muitos dos soldados foram enviados para Blackbend City a
fim de serem transportados para Etistin, deixando a Muralha com uma grande
falta de lutadores capazes.

Os pais de Kathyln provavelmente pensaram que estar na Muralha era muito


mais seguro do que Etistin e dariam à sua filha inquieta algo para fazer.

Finalmente, virei-me para Tess, que já estava se abraçando e se despedindo de


Sylvie. As duas sempre foram próximas; Afinal, Tessia esteve na vida de Sylvie
tanto quanto eu. Para Sylvie, Tess era mãe, irmã e amiga ao mesmo tempo, e eu
podia sentir o coração do meu vínculo se partir um pouco quando ela disse
adeus.

Quando chegou a minha vez, também dei um longo abraço em Tess. "Ouvi dizer
que você vai ficar com minha irmã e minha mãe. Cuide bem delas."

"Não se preocupe, eu não vou deixar nada acontecer com elas", ela murmurou
enquanto puxava o pingente de folha de debaixo da camisa. “Lembre-se de
cumprir sua promessa.”

"Vou fazer o meu melhor", respondi, puxando meu próprio pingente. Olhamos
um para o outro em silêncio por um momento antes de eu desviar meu olhar.
Eu não conseguia tirar a imagem do cadáver do meu pai da minha cabeça.

Era eu que ia para a batalha, mas de alguma forma ainda temia por Tess. Eu
sabia que era infantil e irresponsável pensar nisso, mas o pensamento dela
sendo carregada para mim no mesmo estado que meu pai e, apesar de todo o
meu poder, eu sendo incapaz de fazer qualquer coisa me fez querer correr, fugir
— não apenas com ela, mas com Ellie e minha mãe.

Um aperto firme em meus braços me tirou dos meus pensamentos. Tess estava
com o mesmo sorriso de ontem à noite, depois que desmaiei na cozinha. Foi um
sorriso que transmitia perda e esperança, e foi apenas o suficiente para me dar
forças para passar pelo portão de teletransporte.

"Eu te vejo em breve. Todos vocês,” eu declarei. Então, sem mais nada a ser
dito, passei com Sylvie ao meu lado.
Depois que a sensação perturbadora de teletransporte passou, nós dois
descemos do pódio elevado que segurava o portal. Soldados com armaduras
pesadas estavam de cada lado de nós, cabeças baixas.

“General Arthur, Lady Sylvie. O general Bairon está esperando por você no
castelo,” o soldado à minha esquerda anunciou.

"Você vai nos guiar?" Perguntei.

"Na verdade, serei eu", uma voz familiar ressoou de baixo.

Era Curtis Glayder. Apesar de tudo o que havia acontecido, os anos o trataram
bem. Seu rosto bem barbeado e seu corte militar marcante faziam Curtis
parecer o cavaleiro branco arrojado que sempre desejou ser, completo com
armadura polida e espadas amarradas em ambos os lados de seus quadris.

Atrás dele estava Grawder, seu elo de leão mundial.

“Curtis,” eu disse como forma de saudação.

“Achei que você preferisse um rosto familiar, já que nunca esteve realmente por
aqui”, disse ele sério. "E mesmo que você já tenha estado aqui, tanto mudou
que duvido que sequer reconheça."

"Na verdade, eu nunca estive aqui, mas você está certo em que este lugar não
parece realmente uma cidade", observei, notando as vistas estranhas.

Para onde quer que eu olhasse, a cidade havia sido redesenhada com um único
propósito: a guerra. As lojas foram convertidas em locais de trabalho para os
armeiros, arqueiros, armeiros, armeiros, artesãos de couro, herbanários e todos
os tipos de comerciantes que trabalham dia e noite para preparar os soldados
de Dicathen para a batalha que se aproxima. A praça da cidade diante de nós
estava repleta de tendas onde trabalhadores não qualificados podiam ajudar
lavando e dobrando tecidos, amarrando pontas de flechas em hastes de
madeira e empacotando alimentos. Ninguém estava ocioso, com todo mundo
fazendo algo ou transportando para algum lugar.

Os soldados praticavam a marcha em seus pelotões enquanto seus oficiais


gritavam comandos. Becos foram convertidos em estandes de arco e flecha
onde os arqueiros se posicionaram quase ombro a ombro, lançando saraivadas
de flechas nas paredes feitas de montes de feno.

"Muito para aprender, certo?" Curtis disse enquanto nos guiava em direção a
uma grande torre de tijolos que ficou à distância. “A cidade inteira foi
reorganizada para funcionar como um reduto e centro de produção da batalha.
Esperamos manter a maior parte dos combates longe da cidade, impedindo sua
abordagem na costa.”

Apesar das garantias de Curtis de que a batalha seria travada em outro lugar,
estava claro que cada centímetro de Etistin tinha sido fortificado para se
defender contra uma incursão. Mas mantive meus pensamentos para mim
enquanto seguíamos o príncipe pelas ruas sinuosas e estreitas.

Apreciei o breve tour, no entanto, e os comentários animados de Curtis


ajudaram Sylvie e eu a relaxar. Além dos soldados fazendo treinamento físico e
exercícios de combate, o clima era leve. Todos pareciam muito confiantes,
apesar dos trezentos navios que se dirigiam para a cidade naquele exato
momento.

“Eu esperava uma atmosfera muito séria e intensa,” meu vínculo observou, sua
cabeça virando de um lado para o outro, apreciando a vista.

"Bem, ainda estamos a alguns quilômetros da costa onde a batalha real vai
acontecer", Curtis respondeu, apontando para as grossas paredes que pareciam
recém-construídas. “A cidade foi fortemente fortificada, é claro, e uma série de
túneis de fuga foram construídos embaixo de nós para evacuar os civis, se for o
caso. Mas, agora todos parecem bastante confiantes.

"De qualquer forma, o castelo fica por aqui." Curtis apontou para a estrutura
formidável, que havia sido desmontada e refortificada em uma fortaleza
imponente. Dezenas de magos ainda trabalhavam para completar as
fortificações, guiando lajes de pedra gigantes com magia. O castelo estava
situado em uma pequena colina com vista para o resto da cidade. Uma única
torre elevada olhava para baixo sobre as grandes paredes.

“Você disse que o general Bairon estava esperando por mim? Alguma ideia de
onde a General Varay possa estar?” Eu perguntei, olhando para a torre.
“Ela está atualmente ajudando na construção ao largo da costa”, explicou Curtis
antes de cumprimentar os soldados que guardavam a entrada da torre.

Sylvie e eu olhamos um para o outro, confusos. "Construção?"

Curtis me lançou um sorriso. “Você verá quando chegar lá. Vamos."

Subimos em uma caixa movida a mana e um sistema de roldanas que nos levou
até o topo da torre.

“Cortesia do Artesão Gideon, que passou um bom tempo nesta cidade,


trabalhando os outros artesãos e carpinteiros até os ossos”, explicou Curtis.

“Gideon?” Eu repeti, olhando cuidadosamente ao redor do interior da caixa.


“Ele está por aí? Pretendo checar com ele a respeito de seu progresso com o
sistema do trem.”

"Não, não acredito que ele esteja em Etistin no momento. Acho que ele estava
viajando com a General Mica para Darv. Algo relacionado à Guilda dos
Earthmovers, que foi responsável por grande parte do trabalho feito nas
cidades.”

Que pena, pensei. Eu gostaria de ter visto o velho.

"De qualquer forma, o cômodo principal fica logo no alto da escada, mas há
uma janela neste andar também. Você deveria dar uma olhada."

Curiosos, Sylvie e eu caminhamos em direção ao final da sala circular, que


parecia ser uma sala. Outro soldado guardava a base da escada.

Olhamos pela janela de visualização e, a princípio, não sabíamos exatamente o


que deveríamos estar olhando. Meus olhos percorreram a cordilheira ao norte
e, em seguida, o Sul até que meu olhar pousou na costa da baía de Etistin.

Sem dúvida, era isso que Curtis queria que víssemos.

Sylvie soltou um pequeno suspiro e meu queixo caiu.


Preenchendo metade da baía, que tinha mais de um quilômetro de largura, era
uma extensão de gelo e neve, criada para dificultar o desembarque dos navios
que se aproximavam.

“Incrível, não é? É nisso que a General Varay está trabalhando.” Curtis apoiou os
antebraços no parapeito da janela. “A maior batalha desta guerra será realizada
neste campo glacial.”

Capítulo 227 – Sirenes retumbantes


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Fiquei maravilhado com a conjuração de um fenômeno tão vasto, ainda mais


porque foi feito por apenas uma pessoa. Parecia provável que a General Varay
já estivesse exausta, mas o trabalho fora bem executado.

Eu estava curioso para saber o tipo de estratégia que Virion e o resto do


Conselho haviam planejado para utilizar este campo de gelo. Recebi
informações mínimas sobre as formações, desdobramentos e manobras
específicas das tropas antes de deixar o castelo. Esperançosamente, o General
Bairon ajudaria a esclarecer os detalhes.

"Pronto para subir, General?" Curtis perguntou.

Assentindo, segui o príncipe até o único lance de escadas que levava ao andar
de cima, Sylvie logo atrás de mim. No topo da escada, entramos no que presumi
ser o centro estratégico para a batalha aqui, e fui imediatamente lembrado das
salas de situação de meu tempo como Gray na Terra.

Havia fileiras de mesas com pessoas sentadas em frente a grandes pilhas de


pergaminhos de transmissão em vez de computadores. Eles estavam todos
virados para o centro da sala circular com uma visão do General Bairon, que
estava em um pódio elevado que estava olhando para uma grande mesa de
barro com uma superfície irregular e um grande orbe de vidro empoleirado no
topo de um artefato intrincado. Ao redor deste artefato havia mais de uma
dúzia de magos em espera.

Enquanto eu estava curioso sobre o propósito do orbe claro, interessava-me


mais a mesa de barro, que eu rapidamente percebi ser uma representação
aproximada do futuro campo de batalha. Um mago anão estava ao lado da
mesa, as mãos erguidas sobre ela enquanto manipulava a terra para a forma
apropriada.

O general Bairon Wykes, irmão mais velho de Lucas Wykes, estava discutindo
algo sobre a marcha. Quando ele finalmente se virou para olhar para mim, sua
expressão estava controlada, embora uma ligeira contração em suas
sobrancelhas sugerisse a profunda animosidade que, tenho certeza, ainda
turvava sob a superfície. Ainda assim, considerando que ele tentou me matar
quando nos conhecemos, e teria conseguido se Olfred não o tivesse impedido,
eu senti como se estivéssemos fazendo grandes avanços.

“General Bairon,” eu cumprimentei secamente, caminhando até a mesa de


guerra.

“General Leywin”, respondeu ele, sem se preocupar em descer do pódio.

Estudei o layout da mesa de guerra, notando as pequenas figuras de barro que


representavam as tropas.

“Estou presumindo que essas informações não são em tempo real, certo?” Eu
perguntei.

"Não, não é, General Arthur," o anão respondeu respeitosamente. “Eu só sou


capaz de avaliar e rastrear aproximadamente o progresso dos relatórios que
recebemos via rolagem de transmissão.”

“E o que é este orbe gigante?” Eu perguntei, olhando para Bairon em busca de


uma resposta.

“É um artefato que funciona como um meio para os adivinhos presentes”,


respondeu ele.

“Como os adivinhos estão obtendo informações do campo de batalha?”

“Esses magos que você vê aqui são desviantes de elite, capazes de adivinhar,
compartilhando sentidos com suas bestas ligadas. Os adivinhos serão capazes
de extrair imagens das mentes dos videntes e projetá-las no orbe”, respondeu
Bairon, estreitando os olhos com suspeita. "Há mais alguma coisa que eu possa
explicar para você, General Leywin?"

“Não se preocupe, vou me juntar às outros Lanças no campo de batalha. Já


recusei sua posição", disse sarcasticamente, irritado com a atitude da Lança.

“Pelo menos você teve o cérebro para recusar. A vida de dezenas de milhares
de soldados depende das escolhas feitas nesta sala”, retrucou Bairon. "Se você
não consegue nem mesmo manter sua própria família viva, como evitará que os
soldados morram desnecessariamente?"

"O que você disse?" Eu rosnei, a raiva que carregava dentro de mim desde o
momento em que vi os restos mortais de meu pai instantaneamente fervendo.

“Você me ouviu, garoto”, respondeu Bairon, um sorriso presunçoso aparecendo


em seu rosto geralmente sério.

“Vocês dois, parem”, meu vínculo exigiu, ficando entre nós. "E retraia sua
mana."

Olhando em volta, pude ver que a pressão que Bairon e eu estávamos


exercendo estava forçando as pessoas presentes na sala, todas as quais
olhavam para nós com medo. Acalmando-me, olhei para Bairon enquanto
erguia a mão. "Dê-me os documentos de avaliação que você recebeu do
Conselho e seguiremos nosso caminho."

Bairon relutantemente me entregou a pasta. Nele havia dezenas de páginas


destacando informações relevantes e vários pergaminhos de transmissão.

Ansioso para sair da presença do general, fiz meu caminho até a saída, parando
um pouco antes da porta que levava às escadas, Curtis e Sylvie ao meu lado. “E
o general Bairon? Para que os homens aqui não tenham a impressão errada,
quero assegurar-lhes que estamos do mesmo lado. Todos cometemos erros e
sofremos perdas. Nós dois perdemos membros da família nesta luta, não é?"

***
Passei pelas altas muralhas da cidade que marcavam a orla de Etistin
empoleirado nas costas de Sylvie. Fui virado para trás, usando meu corpo como
um quebra-vento para que eu pudesse ler as notas delineando a batalha que se
aproximava. Abaixo de nós, fileiras de soldados marchavam pelas colinas que
desciam para a baía de Etistin. Acima de nós, nuvens baixas e cinzentas estavam
soprando, e eu podia sentir a umidade no ar.

Algo não está batendo certo, pensei comigo mesmo, meus olhos vasculhando o
número estimado das forças alacryanas que se aproximavam.

‘O que há de errado?’ Sylvie respondeu, percebendo minha preocupação.

É que, se eu fosse o general alacryano, não haveria nenhuma maneira de iniciar


uma batalha em grande escala como esta.

Eu podia sentir a confusão do meu vínculo, então elaborei o que estava em


minha mente.

Pelo que descobrimos, os Vritra estavam se preparando para esta guerra há


muitos anos, desde o contrabando de espiões como a Diretora Goodsky à
envenenamento e corrupção das bestas de mana. Eles manipularam os anões
para apoiá-los e secretamente instalaram portões de teletransporte nas
masmorras da Clareiras das Bestas.

Tudo isso aconteceu bem debaixo de nossos narizes, muito antes que Dicathen
soubesse que outro continente existia!

Considerando isso, parecia contraintuitivo para eles abandonar repentinamente


suas maquinações e nos encarar de frente.

Se os números que me foram fornecidos estivessem corretos, sua força era


enorme e, como estavam chegando de navio, seus recursos eram limitados. A
jornada aqui já deve ter esgotado seu suprimento de comida e água em uma
quantidade considerável. Eles não tinham como reforçar ou reabastecer suas
tropas, e não havia para onde recuar se nós reivindicássemos a vantagem.

Claro, seus magos especializados eram uma força militar mais bem lubrificada e
coesa do que nossos soldados, dando-lhes uma vantagem em combate. Nós os
superávamos em número, embora levasse tempo para mobilizar todas as nossas
forças.

Eu estava pensando demais nas coisas? Talvez os alacryanos só quisessem


encerrar isso. Eu já sabia que Agrona queria evitar uma contagem
desnecessariamente alta de mortes de ambos os lados, já que sua luta real era
contra os asuras em Epheotus, então talvez ele pensasse que alcançar a vitória
em uma batalha formal como essa encerraria a guerra de forma limpa?

‘Talvez você devesse ter assumido a posição de general estratégico’, sugeriu


Sylvie depois de absorver todos os meus pensamentos sobre as informações
que recebi. ‘Você tem uma mente estratégica mais forte do que Bairon, e
nossos soldados merecem líderes que passarão suas vidas com sabedoria.
Depois do que aconteceu na Muralha— '

Não. Bairon é um verdadeiro bastardo, mas ele não é nenhum Trodius. Ele é
uma Lança e está certo. Não tenho uma mentalidade estável o suficiente para
tomar esse tipo de decisão agora, não quando sei que cada uma de suas mortes
seria causada pelas escolhas que faço.

Eu não poderia jogar xadrez usando a vida de nossos soldados como peões
quando já me sentia responsável pela morte de meu pai.

“Concentre-se, Arthur. Temos uma guerra para terminar” eu disse em voz alta,
batendo em minhas bochechas.

Com o general Bairon comandando a batalha, eu era apenas um soldado com


uma missão. De certa forma, isso era mais fácil. Minhas mãos ficariam
ensanguentadas em vez de minha alma.

Voe um pouco mais baixo, Sylv, enviei para o meu vínculo, fechando a pasta que
Bairon me dera e me virando.

Sylvie dobrou as asas e mergulhou até que eu pudesse ver as formas dos
soldados marchando abaixo.

Com um aceno de meus braços, lancei uma rajada de fogo, em seguida, fios de
raios entrelaçados através das chamas e, finalmente, conjurei uma série de
lâminas de vento que perseguiram umas às outras em volta da conflagração,
criando um espetacular show de luz elemental no céu.

Percebendo o que eu estava fazendo, Sylvie ergueu a cabeça e abriu sua grande
mandíbula para soltar um rugido ensurdecedor.

Ouvindo os aplausos e gritos das tropas abaixo, não pude deixar de sorrir.

Isso foi um pouco infantil da nossa parte, não? Perguntou meu vínculo, sua
risada profunda vibrando pelas minhas pernas.

De forma alguma, Sylv. A moral é um dos aspectos mais esquecidos, mas


importantes, das batalhas em grande escala, respondi.

Pouco depois, chegamos à baía de Etistin.

A primeira coisa que notamos foi a temperatura. Ao nos aproximarmos do


campo conjurado de neve e gelo, senti um frio cortante comendo a fina barreira
de mana que criei para me proteger sempre que voava.

Varay estava realmente em outro nível em comparação com o resto das outras
Lanças. Embora eu gostaria de dizer que poderia derrotar Varay em uma
batalha um contra um, não tinha certeza se conseguiria. Eu tinha a vontade de
dragão de Sylvia, era um conjurador quadra elemental e minha destreza de luta
talvez fosse incomparável em Dicathen, mas o poder de Varay e o controle
sobre sua mana pareciam absolutos. Tê-la como aliada era incrivelmente
reconfortante.

Sylvie pousou na soleira onde as praias costeiras se tornaram gelo. Era como se
um terreno baldio congelado tivesse caído do céu, enterrando metade da baía
no processo e deformando a terra ao redor; nuvens de hálito gélido ergueram-
se das fileiras de infantaria já reunidas ao longo da praia enquanto
permaneciam em silêncio tenso. O clima estava sombrio e havia um
pressentimento sinistro pairando no ar frio.

Mesmo com os capitães gritando de encorajamento e tentando levantar o


moral, eu quase pude ver o peso da morte que carregavam em seus ombros.
Com tantos olhos em mim, eu aparentemente permaneci impassível, mas meu
estômago revirou ao ver aqueles soldados todos alinhados, esperando para
lutar e morrer. Tentei não insistir nisso. Tentei trazer de volta aquele estado
desapegado e sem emoção em que confiei tanto durante minha vida como Rei
Grey.

Alguns dos soldados pareciam tão jovens, muitos até mais jovens do que eu, e
foram os rapazes e moças em particular que olharam para mim como se me
implorassem para lhes transmitir forças para enfrentar a batalha que estava por
vir. Eu encontrei seus olhos, tantos quanto pude, dando-lhes acenos de cabeça
e sorrisos encorajadores, e gostaria de pensar que nossa presença deu
esperança a muitos dos soldados.

"General Arthur, bem-vindo." A voz fria e suave cortou a névoa flutuante como
o facho de um farol, e toda a atmosfera pareceu mudar. A silhueta de uma
mulher vestida de armadura apareceu, tão elegante e feroz como um leopardo.

“General Varay”, cumprimentei minha colega Lança com um sorriso genuíno.

Ela estendeu a mão, apertando a minha com firmeza. Eu poderia dizer que ela
estava fazendo questão de mostrar nossa compostura para as tropas de
infantaria, e eu imitei seu ar de prontidão confiante. Sylvie, que permaneceu em
sua forma dracônica, abaixou a cabeça para deixar Varay tocar suavemente seu
focinho.

Caminhamos juntos em direção ao final da fila enquanto a General de cabelos


brancos explicava as formações e manobras básicas que haviam planejado. A
maior parte do que ela me contou estava contida no briefing que li no caminho
para cá, mas foi diferente ver tudo exposto na minha frente.

Passamos fileiras e mais fileiras de soldados de infantaria — aumentadores e


não magos — organizados em três fases. Esses seriam os primeiros homens a
atacar, encontrando nossos inimigos enquanto eles tentavam invadir a praia.

Ficou claro quando alcançamos os mágicos; lanças e machados foram


substituídos por bastões e varinhas, e em vez de armaduras, a maioria desses
homens e mulheres usava túnicas simples. Dentro das linhas de conjuradores e
arqueiros, vi alguns rostos familiares.

O primeiro foi o capitão Auddyr, de pé atrás de sua tropa de aumentadores de


elite, que faziam parte da linha de barreira que apoiaria e protegeria os
mágicos. Conheci o capitão quando fui enviado para minha primeira missão,
que logo depois se tornou a Batalha de Slore. Ele estava usando uma armadura
visivelmente extravagante, é claro. Trocamos um breve olhar e a única saudação
que recebi foi um leve aceno de cabeça antes que ele se voltasse para suas
tropas.

O segundo rosto familiar era Madame Astera, que, notei, não estava mais
disfarçada de cozinheira, mas vestira uma armadura simples e usava duas
espadas longas nas costas com facilidade. Tínhamos nos encontrado nessa
mesma missão e tivemos a oportunidade de treinar um com o outro. Eu sabia
que ela era uma forte combatente e uma líder respeitada. Reconheci alguns de
seus soldados também: a superconfiante Nyphia e o valentão Herrick, os quais
tentaram me derrotar em um duelo, mas falharam.

Madame Astera me lançou um sorriso e balbuciou as palavras, “parece bem”,


enquanto seus soldados pareciam maravilhados. Eu pisquei de brincadeira para
Nyphia e Herrick, provocando um rubor em um e um sorriso decepcionado no
outro.

Subimos um lance íngreme de escadas de pedra que seguia a inclinação do


terreno logo a leste da baía de Etistin.

Essa era outra vantagem estratégica que tínhamos. A elevação ascendente deu
aos nossos arqueiros e mágicos uma vantagem clara, pois eles teriam
visibilidade e alcance superiores. Paredes defensivas foram construídas por
magos da terra para fornecer cobertura às tropas neste nível caso os alacryanos
tentassem atacar a linha de fundo à distância. A verdade é que não sabíamos
muito sobre os tipos de feitiços em que seus Conjuradores poderiam se
especializar, então tentamos nos preparar para tudo e qualquer coisa.

Chegamos ao topo da colina bem a tempo de eu sentir a primeira gota de chuva


em minha bochecha. Demorou apenas alguns segundos para a única gota se
tornar um aguaceiro pesado. Sylvie estava prestes a levantar uma asa para nos
proteger da chuva, mas eu a impedi.

Somos todos soldados aqui. Estaremos todos lutando juntos na chuva de


qualquer maneira, eu disse, meus olhos focalizando o campo de gelo. Chuva e
neblina atrapalhavam nossa visão, e o som de nossos soldados ainda
marchando em direção à costa podia ser ouvido sob o forte barulho da chuva.

“Vamos ficar para trás na primeira onda. Os Videntes estarão de olho no campo,
e o General Bairon transmitirá informações sobre as forças inimigas para nós
logo depois”, disse a General Varay ao meu lado. “Muitas de nossas forças ainda
estão se mobilizando, então esperamos reforço contínuo, incluindo mais magos
do núcleo de prata.”

E assim, esperamos. Eu podia sentir a tensão aumentando e mais de uma vez


ouvi um capitão fazendo uma palestra animadora para suas tropas.

'A espera é mais agonizante do que eu imaginava', meu vínculo pensou, seus
olhos castanhos brilhantes tentando pegar um vislumbre de qualquer coisa
dentro da névoa acima do campo de gelo. Eu balancei a cabeça, desejando que
pudesse simplesmente voar para a flotilha inimiga e desencadear o inferno, mas
já sabíamos que seus escudos eram mais do que capazes de defender os navios,
mesmo de uma lança.

Mais e mais tropas chegaram. Alguns foram enviados para os dois lados da baía,
enquanto outros permaneceram como forças de reserva.

Parecia que horas haviam se passado, todos nós parados na chuva com os nós
dos dedos brancos a apertarem as nossas armas.

Essas formas estavam se movendo à distância? Seria o ronco baixo dos motores
a vapor, quase inaudível sob a chuva forte?

Uma rachadura como gelo quebrando ressoou pela baía.

Então, a buzina tocou.

Pude ver nossos homens enrijecerem quando a nota profunda e de metal


anunciou que os inimigos haviam pousado na borda externa dos campos de gelo
e seus soldados estavam desembarcando.

Um minuto se passou, depois dois e, finalmente, a segunda buzina tocou,


seguida pelo rugido forçado de mana da General Varay.

"Atacar!"
Capítulo 228 – Seguindo Ordens
Tradutores: Banking| Revisão & Edição: Barão_d’Alta_Leitura

A silenciosa tensão se dissipou, substituída pelos rugidos guturais de nossos


soldados e o tremor da terra enquanto avançavam.

Mesmo com todo o meu conhecimento e experiência no campo de batalha,


tanto nesta vida quanto na anterior, meus nervos estavam em chamas de
excitação.

Sylvie sentiu e estava em um estado semelhante. Sua descarga de adrenalina se


misturou com minha própria antecipação mal contida enquanto olhávamos para
as forças inimigas que se aproximavam movendo-se com cuidado pelos campos
de neve e gelo.

Nós nos inclinamos para frente, observando com expectativa enquanto nossas
forças colidiam com as deles. Nossa linha de frente era uma onda organizada de
soldados com aliados prontos para apoiá-los e fornecer cobertura, mas suas
forças pareciam desorganizadas, perdendo a eficiência tática que eu tinha visto
dos alacryanos em batalhas anteriores. Era difícil distinguir os detalhes, no
entanto, pois a névoa que envolvia o campo de batalha obscurecia-os.

Até mesmo os videntes atrás de nós mal foram capazes de nos dar qualquer
informação além do fato de que todas as nossas tropas inimigas usavam pouca
ou nenhuma armadura e seu equipamento em geral parecia ser uma mistura de
roupas e utensílios domésticos comuns transformados em armaduras.

Eu queria estar lá, no meio da batalha. Era uma tortura ficar de pé acima dela,
ouvir o estrondo de pés, o choque de aço, os gritos de homens moribundos.
Tudo se misturou, uma cacofonia tão alta que eu podia sentir os tremores nas
solas dos meus pés.

Você pode dizer o que está acontecendo? Perguntei a Sylvie.

Meu vínculo apenas balançou a cabeça.


Eu me virei para Varay. “Talvez devêssemos nos livrar da névoa, general. Eu não
posso dizer o que está acontecendo lá."

Ela recusou. “Nós sabemos o que está do lado deles. Temos que impedi-los de
saber o que está do nosso lado. Desviar-se do plano nesta fase é impossível.
Espere pelas ordens de Bairon e do Conselho."

Eu estava irritado, mas segurei minha língua. Ela estava certa — e mais do que
isso, não era minha função dar ordens aqui. Recusei a posição porque não
conseguia lidar com a responsabilidade agora. Quem era eu para fazer o que
quisesse só porque me sentia desconfortável?

Escolhendo confiar em Varay, Bairon e no Conselho, observei e esperei minha


hora chegar.

Flashes de luz seguidos por uma onda de gritos e gritos logo chamaram minha
atenção.

Parece que os alacryanos já enviaram seus magos, informei ao meu vínculo.

Foi um pouco desconcertante que eles implantassem seus magos tão cedo na
batalha. No entanto, lembrei-me do que Agrona disse sobre como Alacrya tinha
muitos mais magos devido aos experimentos que ele realizou ao longo de várias
gerações.

Seus magos parecem estar espalhados de forma inconsistente, no entanto,


Sylvie apontou.

Ela estava certa. Havia áreas no campo onde flashes de magia estavam
próximos ou agrupados, enquanto em outras áreas havia várias dezenas de
metros entre cada sinal de feitiço sendo lançado.

Mais uma vez, uma sensação de mal-estar me preencheu, mas permaneci


quieto. Meus olhos vasculharam o campo de batalha através da mortalha de
névoa que emanava do solo gelado, tentando encontrar qualquer sinal de um
retentor ou foice.

De repente, um movimento acima de nós chamou minha atenção. Olhando para


cima, vi uma frota de magos cavalgando em montarias aladas.
“As frotas aéreas estão aqui,” Varay anunciou enquanto dezenas de magos
navegavam acima e no campo de batalha.

Haveria três forças principais em jogo durante esta batalha. Em primeiro lugar,
estava a infantaria, responsável por fazer o primeiro contato e manter uma
pressão constante para a frente, impedindo os alacryanos de tomar qualquer
terreno. Em seguida, estavam as forças aéreas responsáveis por criar confusão
dentro da linha de retaguarda dos alacryanos, lançando feitiços sobre eles de
cima. Finalmente, havia as lanças.

As forças aéreas iluminaram o cenário nebuloso com seus feitiços, fazendo


chover partículas de fogo, relâmpagos e fragmentos de gelo.

Os gritos e gritos começaram a se misturar com os outros ruídos de fundo da


batalha. Vendo o olhar de Varay enquanto ela estudava o campo de batalha
atentamente, eu quase podia ver o peso de suas mortes pressionando seus
ombros.

A batalha continuou por mais de uma hora antes que minha paciência se
esgotasse.

“General Varay, deixe-me ir lá também”, pedi.

"Não. É muito cedo,” ela respondeu, estudando o campo de batalha. “A


primeira onda vai cair para o centro, puxando os alacryanos atrás deles, então
essas divisões vão se fechar como um vício. É quando você vai cair. "

Eu estava ansioso para chegar lá, para me sentir útil. Eu queria me provar e
começar a longa tarefa de vingar meu pai.

'Está bem. Teremos nosso tempo para contribuir, Arthur’, disse Sylvie. ‘Além
disso, parece que a maré da batalha está a nosso favor.’

Isso era verdade. Eu podia distinguir os contornos vagos das formações de onde
estávamos, e nossas forças pareciam estar segurando a linha, enquanto os
alacryanos estavam caindo quase tão rápido quanto podiam alcançar a costa.
Varay voltou seu olhar penetrante para mim. “Você entrará e terá como alvo
apenas seus poderosos magos. Você só ficará em campo por uma hora de cada
vez.”

Eu balancei a cabeça em compreensão. Varay e eu éramos os únicos magos de


núcleo branco presentes. Eu não poderia me cansar no caso de um retentor ou
foice — talvez ambos — aparecesse. Enfrentar as elites inimigas era nosso dever
mais importante.

“Prepare-se,” Varay instruiu.

Pulei nas costas de Sylvie, revestindo-me de mana.

Uma trombeta soou do lado esquerdo da baía, seguida imediatamente por


outra da direita.

"Vá!" Varay ordenou. "E não morra."

Achei que ela estava brincando, mas sua expressão severa dizia o contrário. Dei
a Varay um aceno severo, então Sylvie bateu suas asas poderosas, fazendo a
névoa girar ao nosso redor.

Ficamos abaixados, passando logo acima da próxima linha de soldados


enquanto eles avançavam, até que o chão virou neve.

Lute na forma humana e concentre-se em apoiar nossas tropas. Eu vou lidar


com a eliminação dos magos alacryanos, eu ordenei enquanto pulava das costas
de Sylvie.

'Entendi. Não sinto nenhum retentor ou foice, mas tome cuidado, Arthur.
Sempre tenha cuidado’, ela respondeu enquanto mudava para sua forma
humana e se inclinava para a esquerda, desaparecendo rapidamente no caos.

Caí com força no chão gelado, levantando uma nuvem de gelo. Atrás de mim, eu
podia ouvir o estrondo de botas blindadas enquanto uma linha de
aumentadores avançava para a batalha. À frente, pude ver nossa primeira leva
de tropas tentando se retirar. Grande parte do campo branco estava manchado
de vermelho e os cadáveres cobriam o chão. Mais se juntariam a eles conforme
a batalha progredisse.
Desembainhando a Dawn’s Ballad, eu a imbui em um fogo azul claro e segurei a
espada em chamas para aqueles atrás de mim verem.

“Por Dicathen!” rugi, liderando os magos de batalha sob seu comando.

Nós avançamos ao redor de nossas próprias forças, que estavam diminuindo a


velocidade de recuo, então irrompemos entre as fileiras alacryanas. Fiquei
surpreso ao encontrá-los ensanguentados e desorganizados, alguns soldados
agrupados enquanto outros estavam sozinhos. Não havia linha de frente, nem
divisão de forças para utilizar sua magia especializada.

Deixando de lado minhas dúvidas, eu me vesti com uma capa de raio e fogo e
soltei um grito de guerra enquanto nos aproximávamos da força inimiga
espalhada.

O ataque à frente pode ter sido uma visão inspiradora, mas o confronto foi
terrível. Eu senti tanto quanto ouvi: metal guinchou e ressoou, homens gritaram
de dor. O fraco zumbido da magia estava sempre presente enquanto ambos os
lados desencadeavam uma torrente de feitiços.

Meu primeiro oponente caiu com um único golpe de minha espada. Vários
outros se seguiram, e todos caíram com a mesma rapidez, mas não era só eu.
Nossa linha de aumentadores estava se movendo rapidamente através dos
soldados alacryanos, causando um número catastrófico de baixas enquanto não
recebíamos quase nenhuma.

O primeiro mago inimigo que encontrei estava sozinho, cercado por soldados
Dicathianos caídos. Seus ombros estavam curvados de exaustão; todo o seu
corpo estava terrivelmente magro, com um tom pálido doentio. Gavinhas de
relâmpago pendiam de suas mãos como chicotes, sibilando e estalando onde
tocavam a neve.

Ele rosnou para mim como um animal faminto — desesperado e enlouquecido.


Lembrei-me dos magos alacryanos contra os quais eu havia lutado em Slore,
como estavam focados, como eram organizados. Este mago selvagem não tinha
nada em comum com aqueles homens.
Deixando de lado minha curiosidade por um momento, corri para frente,
conjurando uma lâmina de gelo e um raio em minha mão livre e balançando-os
com todas as minhas forças. A lua crescente cortou o torso do mago inimigo
antes mesmo que ele tivesse a chance de levantar seus chicotes elétricos.

Segui em frente, procurando meu próximo alvo. Tentei me concentrar em


minha tarefa em meio ao caos da batalha, desligando-me dos gritos de inimigos
e aliados. Olhei ao redor do campo de batalha, ainda preocupado com a falta de
organização entre os magos, que pareciam ser poucos em número.

Manchas rosadas de sangue misturado com neve podiam ser vistas com mais
frequência do que o próprio branco, e, em alguns lugares desesperadores, o
solo tinha se tornado um vermelho escuro. Braços cortados ainda agarrados às
armas, pernas decepadas e cabeças abertas espalhadas pelo campo de batalha
como folhas após uma tempestade.

Se não fosse pelas experiências da minha vida anterior e a adrenalina correndo


em minhas veias, eu teria me ajoelhado e vomitado em mais de uma ocasião.

Depois de uma hora, Sylvie e eu nos reagrupamos e voltamos para o mirante


onde Varay esperava.

Eu podia sentir a dor e o horror emanando do meu vínculo, e meu estado de


espírito não era muito melhor. Fomos recebidos de volta pelos aplausos e vivas
dos soldados reunidos na retaguarda, mas isso só piorou as coisas. A maioria
dos soldados que recuaram para a retaguarda ficou ferida, muitos
inconscientes.

Eu não pude deixar de me perguntar: quantos membros perdidos desses


soldados eu havia encontrado no campo de batalha?

Médicos corriam carregando suprimentos enquanto os poucos emissores


disponíveis neste campo em particular já estavam à beira de uma reação por
usar excessivamente sua mana. Mas apesar de toda a atividade e barulho ao
nosso redor, eu senti como se estivesse assistindo tudo através de lentes
grossas e embaçadas.

"Bom trabalho", disse Varay, dando um tapinha nas minhas costas.


Eu concordei com a cabeça, então me afastei, eventualmente me sentando
abaixo de uma árvore na outra extremidade do acampamento. Sylvie se sentou
ao meu lado e nós dois nos reunimos silenciosamente.

Eu não estava cansado. Minhas reservas de mana não foram drenadas, apesar
dos quase cinquenta homens que matei naquela hora. Mas meu corpo ainda se
sentia pesado. Não era como lutar contra a horda de bestas. Esses soldados que
eu matei eram pessoas — pessoas que tinham famílias.

Apesar do meu cérebro gritar para eu não pensar sobre isso, era difícil não
pensar. A única pequena consolação que eu tinha era que eu estava apenas
seguindo minhas ordens. Era essa pequena diferença que distinguia um soldado
de um assassino.

Eu estava apenas seguindo ordens.

Grandes formações de soldados estavam prontas para atacar em um aviso


abaixo perto da costa. Os acampamentos estavam cada vez mais carregados de
soldados feridos que estavam sendo remendados e carregados em carruagens
de volta para Etistin.

Durante esse tempo, Sylvie e eu tínhamos ido ao campo de batalha quatro


vezes e estávamos nos preparando para nossa quinta corrida.

"Estou com fome, mas me sinto enjoado só de pensar em comida", respondi


baixinho. "Vamos acabar com isso."

Sylvie assentiu. “No entanto, estamos fazendo uma coisa boa. Nós salvamos
centenas, talvez milhares de vidas matando aqueles magos. "

"Eu sei, mas é só... deixa pra lá", eu suspirei.

Lendo meus pensamentos, ela disse em voz alta: "Você ainda acha que algo está
errado com eles?"

“Sim, Sylv. Estamos ganhando, então tentei não analisar demais, mas ainda está
em minha mente. Eu não fiz exatamente um estudo aprofundado sobre os
alacryanos, mas isso — eles,” eu disse, apontando para o campo. “Eles não são
as tropas organizadas que Agrona criou. Não da maneira que eu tinha
imaginado eles, pelo menos."

“Talvez eles fossem a elite”, respondeu Sylvie.

"Talvez você esteja certa" Suspirei.

Talvez eu realmente tenha superestimado Agrona e os alacryanos. Apesar de


todo o planejamento que fizeram ao longo dos anos, os Vritra ainda estavam
tentando invadir um continente inteiro. É normal que tenhamos uma vantagem.

Foi quando ouvi um dos soldados feridos falando.

Eu me virei e corri para o homem. Ele estava deitado em uma mesa com um
médico enrolando uma nova gaze em torno de seus ferimentos.

"O que você disse?" Eu perguntei, fazendo-o pular.

“G-G-Ge-General! Me desculpe. Eu não deveria ter dito algo tão ultrajante!" ele
exclamou, os olhos arregalados de medo.

“Eu preciso saber o que você disse agora. Algo sobre ‘libertado’?”

“Eu-eu acabei de dizer que me senti um pouco... mal por eles,” ele respondeu,
sua voz caindo para um sussurro. “Um dos alacryanos, pouco antes de eu matá-
lo, me implorou para não o fazer. Ele disse algo sobre lhe ser concedido
liberdade se ele viver.”

"Eles teriam liberdade concedida?" Sylvie repetiu, virando-se para mim com
uma expressão de preocupação. “Eles escravizam seus soldados?”

Os pensamentos se aceleraram na minha cabeça enquanto eu processava e


conectava tudo: o quão destreinados os soldados pareciam, quão espalhados
seus magos espalhados estavam, a desunião entre suas tropas que os fazia
parecer mais como se estivessem lutando contra todos, e até mesmo a falta de
uniforme e armadura que os ajudassem a se diferenciarem de seus inimigos.

"Eles não são soldados", murmurei, olhando para Sylvie. "Esses são apenas seus
prisioneiros."
Os olhos de Sylvie se arregalaram em realização enquanto ela fazia a pergunta
que realmente importava. "Então, onde estão seus verdadeiros soldados?"

Capítulo 229 - Sangue Contaminado


Tradução: Heaning | Revisão & Edição: Barão_d’Alta_Leitura

ALDUIN ERALITH

Observei enquanto Merial acariciava suavemente o cabelo de nossa filha,


prendendo os fios soltos atrás da orelha. Pálidas colunas de luar as envolveram,
emprestando uma atmosfera serena à sala silenciosa.

Quanto tempo se passou desde a última vez que estivemos juntos assim? Eu me
perguntei. Demasiado longo.

Passamos a melhor metade da noite conversando, como uma família de


verdade, até que Tessia finalmente adormeceu.

Ela tinha ficado tão forte, tão bonita. Era a cara de sua mãe, mas tinha minha
teimosia. Ouvi-la falar — ouvi-la falar de verdade — sobre como ela estava e
sobre seus planos para o futuro... era o que eu precisava.

Isso reafirmou minha decisão.

Fiz meu caminho em direção à porta, dando uma última olhada em minhas duas
meninas. Merial ergueu os olhos para mim e, embora seus olhos estivessem
marejados de lágrimas, vi nela a determinação da raiz que racha a pedra, da
árvore que cresce além da copa para espalhar suas folhas na luz, da cigarra que
espera fora da geada, enterrado dentro das raízes. Não havia mais palavras para
compartilhar, mas ela acenou com a cabeça, me dizendo tudo que eu precisava
saber.

Acenando para trás, minha expressão dura, saí da sala. Eu já estava no castelo
há vários anos, mas nunca antes ele me pareceu tão grande e árido. As
arandelas iluminando o corredor piscaram loucamente enquanto eu passava,
quase como se elas soubessem e estivessem me repreendendo.
Eu só dei alguns passos antes de ceder sob a pressão que pesava sobre mim.
Inclinei-me contra a parede para me apoiar enquanto a tensão crescia e me
espancava, se espalhando pelo meu rosto e membros como um incêndio. Minha
respiração veio em suspiros gaguejantes e meu coração martelou tão
ferozmente contra o meu peito que temi que minhas costelas quebrassem. Os
corredores vazios cambaleavam e giravam com cada pequeno movimento que
eu fazia, até que, como um bêbado, tropecei e caí no chão.

Enterrei meu rosto nos joelhos, segurando meu cabelo com as mãos trêmulas
enquanto pensava na conversa da noite anterior.

Vi o vínculo de Arthur em sua forma humana. Seu comportamento era casual,


mas refinado quando ela se aproximou de mim.

"O que é agora?" Rosnei, dando um passo involuntário para trás. Eu sabia
exatamente quem era. Era óbvio apenas pela maneira como ela se portava e
pela expressão em seu rosto que este não era realmente o vínculo de Arthur —
era Agrona.

“Que rude de sua parte, Rei Alduin”, ela — ou melhor, ele — respondeu. "Eu
pensei que éramos amigos."

"Amigos? Eu fiz o que você pediu, mas minha filha ainda quase morreu lá no
campo! Se não fosse pelo General Aya— "

"Se meus soldados a evitassem propositalmente como se ela carregasse algum


tipo de praga, sua filha não ficaria apenas machucada por sua própria
inadequação", ele interrompeu, sem expressão. "Ela ficaria desconfiada, e isso
não é algo que você deseja."

Eu cerrei meus dentes de frustração. "Por que você está aqui? Eu fiz o que você
pediu. Contrabandeei seus homens para que eles pudessem matar os
prisioneiros."

"Eu vim para um assunto diferente, Rei Alduin", disse ele. “Atualmente, nossos
lados estão engajados na costa oeste. Para você — para seu povo — deve ter
sido um golpe terrível. Isso significa, é claro, que você abandonou sua casa.”
O lado emocional de mim queria atacá-lo. Como ele ousa entrar aqui e falar
como se não tivesse nada a ver com isso, como se não fossem suas tropas que
expulsaram os elfos, mas anos como uma figura política me treinou para manter
o silêncio e mascarar minha expressão.

“Eu queria ouvir de seus próprios lábios,” Ele continuou. "Onde está a sua
lealdade?"

"O que você quer dizer? Deixar você matar prisioneiros inúteis é uma questão,
mas se você está sugerindo — mesmo remotamente — que eu traio meu
povo... "

"Não 'trair seu povo'. Você já fez isso." Ele interrompeu. "Estou perguntando se
sua lealdade está com todos os Dicathen, desde os desertos áridos de Darv até
as costas de Sapin — onde os elfos estão capturados e vendidos como escravos
até hoje — ou com o seu reino, seu povo.”

Eu não respondi e sabia que ele sentia minha hesitação.

“Eu irei cessar os ataques em todos os territórios élficos. Desde que não
ataquem nenhum Alacryano, seu povo terá segurança garantida. Isso se
estende, é claro, a sua esposa e sua filha problemática.”

Eu queria desviar o olhar daqueles olhos grandes e estranhos, mas descobri que
não podia.

"O que você quer?" Eu finalmente perguntei.

"Semelhante à última vez, eu preciso que você conceda a alguns dos meus
homens acesso ao castelo — bem como à cidade de Xyrus."

Eu ri.

Ri de um asura que provavelmente era capaz de limpar minha existência com


um toque de seu dedo, mas não consegui me conter. A ideia era ridícula,
absurda. Finalmente, minha risada diminuiu e, em seu rastro, o silêncio pareceu
frio como uma sepultura.
De repente, Agrona estalou os dedos como se tivesse acabado de se lembrar de
algo. “Eu esqueci que você sempre precisa daquele empurrãozinho extra, Rei
Alduin. Que tal isso, então: sua filha morrerá se você não o fizer. Ela não apenas
morrerá, mas também provavelmente matará algumas pessoas ao seu redor no
processo."

"O-o quê?"

Agrona bateu em seu esterno, onde um núcleo de mana estaria. “Você conhece
aquelas bestas corrompidas que têm causado tantos problemas para você?
Bem, assim como eles, o cerne da sua filha foi envenenado."

A raiva cresceu dentro de mim e agarrei Agrona pelo colarinho. "O que você fez
com ela?"

"Eu não fiz nada", disse ele alegremente. "Por mais irônico que seja, você pode
culpar o namorado da sua filha por isso."

Levei um momento para perceber o que ele quis dizer. A vontade da besta do
guardião Elderwood — que minha filha havia assimilado — tinha sido
envenenada... e a envenenou.

A força deixou minhas mãos e eu liberei Agrona, então me deixei cair de volta
na minha cadeira.

“Eu daria a vocês uma demonstração, mas isso pode causar problemas para o
nosso pequeno plano. Além disso, acho que você já sabe que eu não minto. "

Balancei minha cabeça, tentando forçar as memórias para fora, e continuei pelo
corredor.

Parei na frente de outra sala no mesmo andar. No momento, estava ocupado


pela mãe e irmã de Arthur. Uma mistura de emoções cresceu em mim enquanto
eu olhava para a porta fechada. Eu tive pena deles. A família Leywin tinha
servido na Muralha, lutando contra a horda de bestas. O que aconteceu com o
pai de Arthur foi realmente lamentável, e eu pressionei inflexivelmente para a
prisão de Trodius Flamesworth por suas ações.
No entanto, não pude deixar de culpar o jovem Lança. Eu tinha cuidado dele
como uma família. Ele era tão próximo do meu pai e da minha filha. Sempre
considerei o papel dele em nossas vidas uma bênção e sou grato por ele estar ali
para cuidar de Tessia. Quantas vezes ele a ajudou?

No entanto, se não fosse por Arthur — se ele não tivesse dado a Tessia aquele
núcleo...

Esfreguei minhas têmporas, deixando escapar um suspiro trêmulo. Eu não podia


mudar o passado, e não havia motivo para me demorar em meus
arrependimentos.

Meus passos ficavam mais pesados quanto mais perto eu chegava da sala de
teletransporte. Era como se minhas botas fossem de chumbo. Eu olhava para
trás sobre meus ombros a cada poucos passos, a culpa e o medo me arrastando
para baixo.

Os soldados habituais que montavam guarda em cada lado do portão estavam


ausentes conforme planejado. Não foi difícil de arranjar; ninguém tinha
permissão para passar pelo portão, já que a maioria das Lanças estava em
Etistin.

Exercendo mana por todo o meu corpo, abri as grossas portas de ferro. Dando
uma última olhada no caso de alguém estar por perto, fechei as portas atrás de
mim.

A sala circular parecia muito maior agora que tinha sido esvaziada, com as
únicas características reais sendo um pódio que segurava a doca de controle e o
arco de pedra antigo esculpido com runas incompreensíveis.

Sem perder mais tempo, subi ao pódio. Minhas mãos tremiam quando as
levantei sobre o painel de controle e, por outro segundo, hesitei. O que eu fiz
agora

mudaria todo o curso da guerra, mas para mim, não havia outra escolha senão
esta.
Fechando meus olhos, empurrei o painel. Imediatamente, senti a mana sendo
sugada de mim, mas segurei firme até que as runas começaram a brilhar.

Um brilho dourado imaculado emanava das esculturas misteriosas, então uma


luz multicolorida envolveu o interior do arco para formar um portal. A sala
silenciosa foi preenchida com um zumbido profundo quando a antiga relíquia
ganhou vida.

Minutos se passaram, mas ninguém chegou.

"Onde ele está?" Sussurrei, passando a mão trêmula pelo meu cabelo enquanto
andava para frente e para trás dentro da sala.

Continuei xingando baixinho, fazendo qualquer coisa para me impedir de


pensar. Eu não conseguia pensar. Se o fizesse, só duvidaria de mim mesmo.

Não. Estou fazendo a coisa certa. Pela primeira vez, eu estava fazendo o que era
melhor para o povo — meu povo. Agrona não estava errado; os humanos
capturaram elfos e anões durante séculos. Quase perdi minha própria filha para
escravos humanos. Não importaria se Agrona ganhasse a guerra.

Mas balancei minha cabeça. Não. Não, Agrona ainda é um demônio, não posso
esquecer isso.

Mas os humanos sempre tiveram a vantagem. Com meu pai assumindo o


comando do esforço de guerra, pensei que isso teria mudado, mas não mudou.
Na verdade, foi meu pai quem abandonou Elenoir em favor do reino humano.

Agora seria eu quem salvaria Elenoir. Com minhas ações, manteria meu povo
seguro.

Olhando para minhas mãos, percebi que ainda estavam tremendo. Eu estava
mentindo para mim mesmo? Eu estava apenas tentando justificar o que estava
prestes a fazer?

Não importava. No mínimo, eu precisava salvar Tessia. Que tipo de pai eu seria
se não pudesse manter minha única filha segura?
Raiva e desespero borbulharam dentro de mim quando percebi como minhas
emoções foram manipuladas pelas palavras de Agrona. Ele estava certo; Tessia
foi o empurrão final que eu precisava.

Uma batida profunda chamou minha atenção para o portão de teletransporte.


Eles estão aqui!

Dentro do brilho multicolorido do portão, uma silhueta apareceu, lentamente


ficando mais nítida até que uma figura real entrou. A criatura tinha quase dois
metros de altura, embora os dois chifres serrilhados que cresciam em seu couro
cabeludo o fizessem se sentir ainda maior. Ele examinou a sala até que seus
olhos escarlates me encontraram.

"Você é o elfo chamado Alduin?" o homem perguntou em uma voz profunda e


ressonante.

Eu me ergui em toda a minha altura e, com apenas um leve tremor em minha


voz, disse: "Sim, estou."

Ele ergueu um frasco de vidro cheio de um líquido verde escuro.

Avancei e alcancei o vil, que só poderia ser o antídoto para a corrupção que
crescia dentro do núcleo de mana da minha filha, mas parei quando uma chama
negra fumegante irrompeu dele.

Recuei, de repente com medo de que Agrona não cumprisse sua promessa.
"Isso é meu! Agrona e eu tínhamos—”

Sua mão se fechou em volta do meu pescoço antes mesmo de eu perceber que
ele havia se movido. Seu aperto ficou cada vez mais forte, sufocando minha
traqueia enquanto me levantava do chão. "Lorde Agrona mostrou misericórdia
ao se rebaixar até mesmo para se comunicar com um inferior como você."

Meu corpo lutou instintivamente; mana circulou por meus membros e em


minhas mãos enquanto eu tentava me soltar, mas não conseguia me concentrar
—minha cabeça girava e manchas escuras dançavam em minha turva visão.
Quando ele finalmente me soltou, meu corpo dobrou para frente e eu deslizei
para o chão em uma pilha, ofegando por ar pela garganta dolorida.
“Esse seu Comandante Virion não suspeita de nada, correto?”

Rapidamente, balancei a cabeça. “Eu disse a todos que seria o encarregado de


liderar a evacuação de Elenoir.” Minha voz saiu em um gemido rouco.

“Então traga seu sangue para esta sala e saia por este portal,” ele afirmou. "Eu
terei deixado o frasco aqui quando você voltar."

M-meu sangue?"

“O que seu povo chama de família’”, disse ele, impaciente. "Além disso, traga a
mãe e a irmã de Arthur Leywin com você."

Eu me levantei trêmulo. "O que? Por quê?"

Seu olhar penetrante era tudo o que era necessário para mostrar seu ponto de
vista — que isso não era uma negociação.

“Ok,” Eu respirei, virando-me para sair. Empurrei as portas ligeiramente, mas


dei uma olhada rápida para trás, vendo a criatura antes de sair. Eu trouxe um
demônio para a própria casa dos líderes de Dicathen — um lacaio, talvez até
uma Foice. Desviando meus olhos de sua figura ameaçadora, saí da sala de
teletransporte. “Perdão, meu pai.”

Capítulo 230 – Traição


Tradutores: Banking | Revisores: Barão_d’Alta_Leitura

ARTHUR LEYWIN

“Temos nossas ordens aqui, General Arthur”, afirmou Varay, perfurando-me


com um olhar gelado. “Devemos continuar engajando as tropas de Alacrya.”

Rangi meus dentes em frustração. “General Varay, certamente você já percebeu


que os inimigos contra os quais lutamos não podem ser a força principal dos
alacryanos. Eles são desorganizados, desesperados, e muitos deles estão até
mesmo desnutridos e completamente doentes!”

Varay se manteve firme, mascarando suas emoções. “Você se esqueceu de que


somos soldados? Não cabe a nós decidir o que fazer com essas informações. Já
enviei uma atualização ao General Bairon e ao Conselho. Vamos agir de acordo
com suas ordens, mas por enquanto continuaremos a fazer o que nos foi dito.”

“Então me deixe junto ao meu vínculo voltar a Etistin — não, ao castelo. Vou
falar com o comandante Virion e chegar a um...”

“Você não está aqui porque não queria a responsabilidade de tomar decisões
difíceis?” a general me cortou. “Você queria ser um soldado pois não queria
carregar o fardo de tomar decisões.”

Minha boca se abriu, mas nenhum som saiu. Ela estava certa. Eu tinha escolhido
estar aqui, lutar sem pensar e não ter o peso da vida de outras pessoas em
meus ombros.

Fiz uma reverência à General Varay antes de me virar para ir embora.

Meus pensamentos vagaram até que me vi de volta à área isolada onde havia
montado acampamento. Lá, vi Sylvie reabastecendo sua mana. Um olho se
abriu ligeiramente, sentindo que eu estava perto. “Como foi?”

“Nada mudou”, resmunguei, sentando-me em uma grande pedra ao lado dela.


“Vamos continuar lutando contra eles.”

“Bem, prisioneiros ou não, ainda não podemos deixá-los avançar”, disse Sylvie
com uma onda de empatia.

“Mas isso” — gesticulei aos milhares e milhares de soldados abaixo,


descansando, e os milhares a mais no campo, lutando — “é um exagero. Temos
muito mais tropas do que o necessário, se tudo o que enfrentarmos for uma
horda de prisioneiros descoordenados e desesperados.”

“Verdade” concordou Sylvie. Ela se levantou e esticou seus membros humanos


e logo olhou para mim maliciosamente com o canto do olho. “Então, o que
estamos esperando?”

Eu levantei uma sobrancelha. “O que?”

“Por favor, Arthur”, disse ela, revirando os olhos. “Eu poderia ler seus
pensamentos mesmo sem nosso link. Sei que você já decidiu partir.”
Mais uma vez, encontrei minha boca aberta, mas nenhuma palavra saiu.
Balançando a cabeça, dei ao meu vínculo um sorriso caloroso e baguncei seu
cabelo louro-trigo. “Então não diga que eu não avisei. Estamos tecnicamente
cometendo traição ao desobedecer às ordens e sair durante uma batalha.”

O corpo de Sylvie começou a brilhar quando sua forma mudou para a de um


dragão negro enorme. “Esta não é a primeira vez que cometemos traição e
provavelmente não será a última.”

“Eu criei você tão bem”, ri, pulando nas costas largas do meu vínculo e
agarrando uma ponta preta, meu ânimo melhorou. Apesar do que havia
perdido, eu ainda estava cercado por pessoas que estimava muito, e era meu
dever protegê-las.

Nós disparamos para o céu, rapidamente limpando as colinas que se estendiam


desde a baía de Etistin.

‘Quer parar em Etistin antes de seguirmos para o castelo?’ Sylvie perguntou.

‘Não há sentido. Bairon não é o tipo de pessoa que escuta — especialmente a


mim — e o castelo cortou todos os links para os outros portões de
teletransporte. A única maneira é voar, então não temos tempo a perder.’

Eu esperava que a General Varay pudesse vir atrás de nós, mas depois que os
primeiros trinta minutos se passaram, eu sabia que estávamos livres. Nesse
ínterim, deixei-me cair no sono, aproveitando a jornada pacífica e tranquila
após o caos da batalha.

Cenas da minha vida anterior começaram a ressurgir, como acontecia com tanta
frequência agora, trazendo consigo as emoções de outra vida.

Lembrei-me da sensação de confusão que tive em relação a Lady Vera quando a


ouvi falar sobre as partidas manipuladas para aquele homem uniformizado.
Uma parte de mim estava com raiva dela por não confiar que eu seria capaz de
vencer as partidas com minhas próprias forças.

Nunca enfrentei Lady Vera ou fiz qualquer pergunta, mesmo enquanto


continuava a competir em partidas em que meus oponentes se retirariam ou se
renderiam imediatamente. Quem era eu para questionar as decisões do meu
mentor? Ela me deu uma nova vida. Por seu treinamento, tive a oportunidade
de me tornar rei.

Embora meu orgulho tenha sido ferido por Lady Vera não ter confiado em
minhas habilidades o suficiente para me deixar lutar de frente, aceitei as vitórias
vazias. Então, chegou o dia das rodadas finais. Eu, junto com todos os outros
competidores que venceram o torneio estadual, viajei até a capital, Etharia,
para ter a chance de me tornar o próximo rei.

Não havia um cronograma consistente para quando a competição da Coroa do


Rei fosse realizada, no entanto. Ficou puramente a critério do Conselho, que
viria a uma votação quando eles pensassem que o atual rei não estava
cumprindo suas expectativas. Perder um duelo de Paragon contra outro país,
incorrer em uma lesão debilitante ou simplesmente ficar muito velho —uma
votação pode ser alçada por qualquer um desses motivos.

O rei anterior a mim, o rei Ivan, havia perdido um braço em seu último duelo de
Paragon, que incitou a competição da Coroa do Rei em que participei. O
vencedor da Coroa do Rei ganhava a oportunidade de lutar contra o atual
monarca, e se o desafiante vencesse, ele ou ela se tornaria o próximo rei. Se o
governante ganhasse, no entanto, ele permaneceria em sua posição até que o
vencedor da próxima Coroa do Rei viesse para desafiá-lo. Depois que o
Conselho considerou o rei inapto, esse ciclo vicioso havia de continuar até que
um novo rei fosse escolhido.

Memórias de Lady Vera e do grupo de treinadores e médicos responsáveis por


me manter em ótimas condições durante o torneio passaram pela minha
mente. Lembrei-me de todos nós empurrando a multidão de espectadores
enquanto todos tentavam entrar no estádio. Assim que chegamos à nossa área
de espera designada, pude sentir a diferença na atmosfera.

Lembrei-me vividamente da tensão palpável enquanto esperávamos. Durante o


estágio final da Coroa do Rei, era legal para os competidores desferir golpes
letais em seus oponentes.

Todos os competidores, inclusive eu, sabiam que poderiam morrer naquele dia.
Lady Vera e os outros treinadores fizeram o possível para manter esse
pensamento afastado, mantendo-me focado através de vários exercícios.
Os rostos daqueles contra os quais eu havia lutado estavam claros em minha
mente: jovens e velhos, pequenos e grandes, todos os lutadores no topo de sua
classe. Mais importante para mim, nenhum deles foi subornado por Lady Vera
para entregar a partida.

Tentei me convencer de como Lady Vera era ótima, raciocinando que ela
propositalmente limpou o caminho de obstáculos para mim, não porque ela não
confiasse em minhas habilidades, mas porque ela queria que eu estivesse no
meu melhor nas rodadas finais.

Se eu soubesse então o que aquele dia acarretaria. O que eu teria feito de


diferente se soubesse a verdade sobre Lady Vera?

‘Arthur!’ A voz de Sylvie perfurou meus sonhos, acordando-me assim que ela
desviou para evitar um arco gigante de relâmpago. Outro arco se seguiu,
perfurando as nuvens abaixo.

A essa altura, tanto Sylvie quanto eu sabíamos quem era o responsável.

“Bairon!” rugi, amplificando minha voz com mana enquanto pulava de Sylvie.
“Qual o significado disso?”

Uma figura se ergueu das colinas de nuvens abaixo de nós, junto com vários
soldados montados em gigantes pássaros armados.

“Você desobedeceu a ordens diretas e fugiu da batalha, então pergunta o


significado de minhas ações?” Bairon estrondou, sua voz rolando como um
trovão pelo céu. “Aconselho você a voltar ao seu posto, Arthur. Não vou pedir
gentilmente de novo.”

“Gentilmente?” Foi Sylvie quem respondeu, a voz rouca de sua forma dracônica
perigosa reprimindo a raiva. “Você nos atacou por trás, lançando feitiços que
poderiam destruir edifícios inteiros em uma Lança e em um Asura?”

Houve um momento de hesitação antes de Bairon responder. “Estamos em


guerra, e seu vínculo humano escolheu receber ordens em vez de as dar. Estou
apenas cumprindo meu dever para com meus subordinados.”
“Já chega!” Eu disse. “Você recebeu as atualizações da General Varay. As forças
inimigas com as quais estamos lutando na baía são todas prisioneiros de Alacrya
— escravos famintos. Precisamos reorganizar nossas tropas e patrulhar a força
principal do inimigo antes...”

“Essas decisões cabem a mim e ao Conselho tomar,” Bairon interrompeu,


aproximando-se, seus soldados o cercando. “Sua opinião foi divulgada e será
considerada oportunamente, mas você não está em posição de dar ordens a
ninguém.”

Minha mandíbula cerrou-se com tanta força que se podia ouvir meus dentes
rangerem, mas eu estava mais frustrado comigo mesmo do que com Bairon. É
verdade que escolhi fugir. Mesmo agora, eu hesitaria em assumir uma posição
de liderança, mas não podia apenas ficar parado e assistir enquanto
dançávamos nas mãos de Agrona.

“Por favor, deixe isso de lado. Só estaremos ajudando o inimigo se gastarmos


nossa energia lutando aqui. Vamos para o castelo. Vou obter a aprovação do
Comandante Virion assim que chegar, se é isso que você quer.” Eu disse,
forçando-me a me acalmar. “Vamos, Sylv.”

Os soldados montados se espalharam, preparando seus feitiços, e Bairon


flutuou para bloquear nosso caminho, apontando uma mão coberta por um raio
diretamente para nós.

“Garanto-lhe que este não vai errar, General Arthur. Este é o seu último aviso
para voltar ao seu posto.”

“Por que você e seu irmão sempre recorrem a violência?” rosnei.

Enfurecido, Bairon voou em nossa direção, seu corpo inteiro envolto em um


raio.

Trazer Lucas pode ter sido um golpe baixo, mas era óbvio que essa
demonstração de poder tinha menos a ver comigo deixando meu posto e mais a
ver com Bairon provando que era superior a mim.

Envolvendo-me em mana também, conjurei um arsenal de lanças de gelo,


aproveitando a umidade das nuvens abaixo.
Sylvie liberou um raio de mana puro de sua boca, diretamente em Bairon,
enquanto eu lançava as lanças de gelo nos soldados montados.

A formação se quebrou quando os soldados de Bairon desviaram para evitar


meu feitiço. O próprio Bairon teve que parar para se defender contra o amplo
cone de pura energia, dando-nos uma breve janela para romper sua linha.

‘Sylvie. Vamos!’ Agarrei sua perna enquanto ela voava por mim, puxando-nos
para além de Bairon e seus soldados antes que eles pudessem reagir.

Enquanto nos afastávamos, correndo pelo céu, Bairon lançou sua capa contra
nós. Era um artefato mágico, sem dúvida, porque a capa logo se dispersou em
uma grande rede composta de fios de metal que ele foi capaz de controlar com
seu raio.

‘Forma humana, agora!’ Eu ordenei.

O corpo do meu vínculo encolheu para o de uma menina assim que a rede nos
cercou. Sylvie formou uma barreira de mana que pegou a rede, mas deu aos
outros soldados tempo suficiente para se reagruparem.

‘Podemos machucá-los?’ Sylvie perguntou impaciente, ainda evitando que a


rede elétrica se fechasse sobre nós.

Os soldados montados lançaram seus feitiços também, e seu poder combinado


foi o suficiente para colocar rachaduras na barreira de mana do meu vínculo.

Concordei. ‘Apenas não os mate.’

Sylvie respondeu conjurando dezenas de flechas de mana fora de sua barreira e


lançando-as contra os soldados, enquanto eu manipulava as nuvens abaixo de
nós.

Com um aceno de braço, saquei a Dawn’s Ballad e cortei a rede de metal


carregada de raios. Com Bairon distraído pelas flechas de mana, seu artefato foi
facilmente desativado e nós dois ficamos livres.

Enquanto Sylvie distraía os soldados lançando uma saraivada interminável de


flechas de mana contra eles, conjurei um presentinho para o próprio Bairon.
Formando uma esfera comprimida de vento em minha mão, eu a combinei com
fogo e relâmpagos, criando uma bola de fogo azul rodopiante do tamanho de
Sylvie em sua forma de dragão que crepitava com trilhas de eletricidade.

Bairon retraiu sua rede e já estava se preparando para se defender do meu


ataque quando um tremeluzir distante chamou minha atenção.

Eu não fui o único que percebeu. Todos pararam o que estavam fazendo
enquanto olhávamos para a origem do fenômeno, ainda a quilômetros de
distância. Aprimorei meus olhos com mana e pude apenas distinguir fortes
ondas vermelhas e negras ao longe — até que uma guinada de choque e
realização bateu em mim, vinda do meu vínculo.

Eu me virei a Sylvie para ver seus olhos arregalados de horror. E, porco tempo
depois, ela falou em voz alta para que todos ouvissem: “Isso é... o castelo.”

Capítulo 231 – Lembrança


Tradutores: Banking | Revisores: Barão_d’Alta_Leitura

“Seth, reporte-se à General Varay. Ela ficará encarregada da batalha em Etistin.”


Bairon ordenou, gesticulando para que o soldado se afastasse.

Ele encontrou meus olhos por um segundo antes de concordar. “O resto de nós
irá direto para o castelo.”

Sylvie se transformou de volta em sua forma de dragão e nós imediatamente


decolamos.

Tentei permanecer equilibrado, confiando que os Anciões Hester, Buhnd e o


Virion seriam suficientes para lidar com quem quer que fosse o intruso.

Mas as chamas pretas e vermelhas ondulando ao longe eram um sinal sinistro...


E se fosse um Retentor ou mesmo um Ceifador? Eu desviava minha mente do ‘e
se’ pensando em uma estratégia ao entrar. Tentei não pensar em minha mãe e
irmã, como também em Tess, que deveriam estar seguras ali.
‘Vai ficar tudo bem.’ Sylvie me assegurou, mas ela não conseguiu evitar que sua
preocupação vazasse para mim.

Não respondi e, ao invés disso, manipulei o vento para diminuir a resistência


que estava puxando Sylvie para trás. Eu estava fazendo qualquer coisa que
pudesse para tentar chegar mesmo que um segundo mais adiantado.

Continuei manipulando o vento enquanto também circulava mana pelo meu


corpo, a me preparar para uma luta. Olhando para trás, pude ver Bairon e os
outros soldados montados ficando lentamente para atrás, incapazes de
acompanhar Sylvie, mas não diminuímos.

‘Por favor, todos fiquem bem.’ orei, e então o castelo estava sobre nós.

A barreira que protegia a fortaleza voadora do céu havia sido destruída,


permitindo que os fortes ventos soprassem as chamas escuras.

Sylvie facilmente abriu um buraco na porta fechada da doca de carregamento e


pousamos lá dentro. Uma espessa nuvem de fumaça preta oleosa encheu a
doca de carregamento, obscurecendo minha visão. Felizmente, a camada de
mana em que me envolvi evitou que a fumaça nociva entrasse em meus
pulmões.

“Vamos.” Eu disse a Sylvie, que tinha voltado à sua forma humana.

Sem correr riscos, acendi a vontade do dragão dentro de mim. Sob Realmheart,
minha visão se tornou monocromática, exceto pela mana ambiente ao meu
redor, que se destacava como milhares de vaga-lumes multicoloridos em meio à
fumaça cinza. Com minha visão aprimorada e acuidade de mana incomparável,
seria impossível para quaisquer inimigos se aproximarem furtivamente de nós,
mesmo em meio à fumaça pesada e aos ventos fortes gritando pelas aberturas
do castelo danificado.

Ficando perto, começamos nossa busca dos quartos desmoronados e


corredores escuros dos andares inferiores. Nós avançamos pelo chão fraturado,
evitando qualquer entulho que havia sido deslocado das paredes ou caído do
teto. Batidas ecoaram de cima e até ao nosso redor, enquanto os ventos
uivantes tornavam quase impossível ouvir qualquer sinal de batalha em que
pudéssemos ajudar. A única coisa que podíamos fazer era vasculhar cada
cômodo com cuidado, dando um passo de cada vez.

‘Aqui.’ Meu vinculo me chamou de uma sala adjacente.

Lá dentro, encontrei Sylvie no chão, curvada sobre o que parecia ser uma
pessoa parcialmente enterrada sob uma montanha de entulho. Meu peito
imediatamente apertou e o pânico agarrou meu estômago, mas Sylvie me
garantiu que não era ninguém que conhecíamos.

Depois de movermos alguns dos escombros, ficou claro que o infeliz elfo tinha
sido um dos poucos guardas restantes no castelo.

Esfreguei a ponta do meu nariz, envergonhada e frustrada com o quão frágil


meu estado mental atual era. Depois de tomar um momento para me
recompor, inspecionei o cadáver. Por meio de Realmheart, fui capaz de dizer
que o mago caído havia morrido no fogo, mas não pude ver nenhuma marca de
queimadura no uniforme do guarda. Levantei um pedaço de tecido e uma cota
de malha para examinar a carne por baixo.

'O que é isso?'

“Não há marcas de queimadura.”

“Ele morreu pelo fogo?” Ela disse em voz alta, surpresa.

Ouvindo outro estrondo à distância, levantei-me. “Venha, vamos continuar


andando.”

Continuamos pelo corredor, vasculhando cada cômodo nos andares inferiores,


em busca de qualquer um que ainda poderia estar vivo. Tudo o que
encontramos foram cadáveres, todos queimados até a morte, mas sem nenhum
ferimento à mostra.

‘Eu não entendo. Talvez seja um fogo que queima por dentro?’ Sylvie sugeriu.

‘Não importa neste momento. Tudo o que precisamos saber é que nosso
oponente usa um fogo que na verdade não queima as vítimas fisicamente.’
Enviei de volta, levantando uma parede caída que bloqueou nosso caminho.
Com as escadas quase inutilizáveis pela destruição, Sylvie e eu subimos os níveis
do castelo através dos muitos buracos no teto e no chão. Apesar da capacidade
do meu Realmheart Physique de detectar até as menores flutuações de mana,
estávamos tensos. Meu peito se contraiu de ansiedade cada vez que
encontramos um cadáver, e eu senti uma explosão de vergonha com meu alívio
cada vez que verificamos que não era ninguém que conhecíamos bem.

Depois de pesquisar vários andares, Sylvie e eu encontramos sinais de uma


grande batalha. Lanças de pedra intrincadas projetavam-se do chão e das
paredes, e golens de terra jaziam espatifados no chão.

‘Isso… '

‘Sim, eu sei.’ Interrompi, sinalizando para ela ficar perto.

Por causa da mana aglutinada nas lanças de pedra e nos soldados conjurados,
demorou um pouco para que finalmente encontrássemos a fonte dos feitiços.

Ajoelhei-me na frente do anão idoso, minha mão em seu pescoço, tentando


encontrar o pulso. Ele se mexeu ao meu toque e soltou uma tosse áspera.

“Ancião Buhnd!” exclamei. Transformei o chão sob ele em uma cadeira,


sentando-o para que ele não sufocasse com seu próprio sangue.

Eu me virei para o meu vínculo. “Sylv!”

“Sim.” Ela se abaixou, colocando as mãos no peito do meu mentor. Uma luz
suave emitida de suas palmas, passando pelas roupas e pele do anão.

Depois de dez penosos minutos de vida com o éter sendo transmitido ao Ancião
Buhnd, finalmente tivemos outra reação.

“Ancião Buhnd — ei, vamos lá, fique comigo” disse gentilmente, dando um
tapinha em sua bochecha enquanto o anão franzia as sobrancelhas.

“Ar... thur?” Seus olhos se abriram, mas fecharam novamente após alguns
segundos.

“Sim! É Arthur. O que aconteceu? Quem fez isso em você?”


Ele soltou um gemido de dor. “Você tem que... sair daqui, garoto.”

“Não fale assim, Buhnd!” Eu rebati. “O que aconteceu aqui? Eu preciso saber o
que estamos lidando.”

Buhnd puxou minha túnica, puxando-me para perto. “Escute, seu tolo. O castelo
— o Conselho — está acabado. Se você quiser fazer algo por Dicathen, você
deve ficar vivo.”

“Está bem, está bem. Terei cuidado, mas para fazer isso, preciso saber o que
aconteceu. Foi um Retentor? Um Ceifador? Que tipo de magia poderia fazer
isso?”

Sentindo o aperto de Buhnd afrouxando quando sua força o deixou, eu me virei


para o meu vínculo. “Sylvie, o que está acontecendo? Por que ele não está
melhorando?”

Os braços de Sylvie tremeram e gotas de suor escorreram de seu rosto. “Não


sei, mas não consigo continuar assim.”

Dei um passo para trás, inspecionando o anão ferido. Como todos os outros
cadáveres pelos quais passamos, seu corpo estava crivado de partículas de
mana vermelha. Os fios roxos que Sylvie emitiu em seu corpo estavam
atualmente combatendo qualquer feitiço de fogo que estava corroendo sua
vida, mas o éter não o estava curando. Não, estava mantendo o feitiço sob
controle, mas o feitiço de fogo parecia capaz de se multiplicar e estava se
espalhando rapidamente.

Minha frustração ferveu para fora de mim como um grito gutural, e eu


esmaguei uma das pontas de pedra que Buhnd tinha conjurado. Ajoelhando-me
na frente do anão moribundo, agarrei sua mão.

Assim que Sylvie parasse de emitir sua magia de cura, Buhnd começaria a
morrer novamente, e meu vínculo também sabia disso.

Buhnd colocou sua mão grande sobre a minha, apertando-a suavemente. “Est-
está tudo bem.”
Embora parecesse consumir cada grama de força que lhe restava, Buhnd forçou
a abrir os olhos mais uma vez e voltou o olhar para Sylvie. “Pequena asura, você
pode continuar assim por mais um minuto? Eu... eu acho que isso será o
suficiente para dizer o que você precisa saber. "

Meu vínculo acenou com a cabeça, suas sobrancelhas franzidas em


concentração.

Ignorando as lágrimas rolando pelo meu rosto, pressionei minha testa contra a
do Ancião Buhnd. “Que você esteja em paz, onde quer que esteja.”

O conceito de religião sempre me escapou, tanto nesta vida quanto na anterior.


Mas, à medida que mais entes queridos morriam, eu me descobri desejando
estar errado, que realmente houvesse um deus todo-poderoso e uma vida após
a morte onde todos que eu conhecia estivessem em paz, esperando pelo resto
de nós. No mínimo, esperava que eles tivessem um destino semelhante ao meu,
reencarnado em um mundo diferente para viver uma nova vida. Se fosse esse o
caso, porém, eu esperava que eles fossem poupados das memórias de sua vida
passada.

“Sinto muito, Arthur.” Meu vínculo sussurrou, colocando a mão nas minhas
costas.

Eu balancei minha cabeça. “Não é sua culpa.”

Depois de passar alguns minutos evocando uma tumba de barro digna de uma
pessoa como o Ancião Buhndemog Lonuid, nós dois seguimos em frente.

Meu mentor anão me contou o pouco que sabia sobre nosso oponente, que
Buhnd confirmou ser um Ceifador. Aparentemente, ele empunhava um fogo
negro fumegante que corrompia tudo com o que entrava em contato. Parecia
outra forma desviante de magia, como as pontas de metal preto que Uto fora
capaz de conjurar ou o veneno preto que a bruxa fora capaz de usar.

O Ancião Hester e Kathyln haviam partido para a Muralha antes que a Foice se
infiltrasse no castelo, mas Alduin e Merial Eralith, junto com Tessia e minha
família, não estavam em lugar nenhum quando tudo isso aconteceu.
Foi um alívio que eles não estivessem aqui, mas outra parte de mim estava
ainda mais ansiosa. Perguntas encheram minha cabeça: ‘Se eles escaparam,
para onde foram? Como eles sabiam que seriam atacados? Ou seu
desaparecimento oportuno foi apenas uma coincidência?’

‘Eu sei que é difícil, mas você não deveria pensar sobre tudo isso agora.’ Meu
vínculo estava preocupado, e eu podia sentir que ela estava fazendo o seu
melhor para me manter no momento. ‘Dê um passo de cada vez. Vamos superar
isso juntos, Arthur.’

Eu dei a ela um aceno conciso. Fiquei grato por ela ter estado comigo durante
tudo o que passei. Eu não conseguia imaginar onde estaria se não a tivesse ao
meu lado, e ela sabia disso.

A ideia de alguém conhecer quase todos os pensamentos e emoções que


passaram pela minha cabeça teria sido desconcertante para mim se eu não
percebesse o quão grato eu estava por isso. Talvez fosse apenas porque era
Sylvie, e não outra pessoa, mas eu estava grato pelo vínculo que tinha com ela.

‘Arthur!’ Meu vínculo gritou.

‘Sim, eu sei.’ Vi a flutuação de mana próxima. Mesmo sem Realmheart, seria


impossível não sentir a colisão de poderes.

Bairon está atualmente envolvido com um Ceifador, pensei, vendo a magia


desviante se mover pela atmosfera.

'O que deveríamos fazer?'

‘Estou indo. Fique atrás e me dê cobertura com escudos de mana.’

Retirei Dawn’s Ballad do meu anel dimensional e coalizei a mana através dos
meus membros. Eu podia sentir o calor enquanto as runas corriam por meus
braços, pernas e costas e brilhavam com uma luz dourada. A força endureceu
cada fibra do meu corpo enquanto eu enterrava meu calcanhar no chão.
Eu sabia que usar Burst Step iria sobrecarregar meu corpo, mas com minha
experiência em lutar contra os soldados pessoais de Agrona, eu sabia que tinha
que acabar com isso rápido se quisesse alguma chance de ganhar.

‘Okay. Vai!’ Sylvie sinalizou, espalhando mana em volta do meu corpo.

Desejei que a mana fluísse pelas minhas pernas, cronometrado em


milissegundos para maximizar a explosão de força que receberia.

O mundo ficou borrado ao meu redor enquanto eu dava um único passo


aprimorado pela mana, e meus olhos e cérebro lutavam para coletar, traduzir e
classificar o fluxo de imagens. Se meus reflexos não fossem intensificados com o
uso de magia interna com relâmpagos, seria mais provável que eu me matasse
ao bater em uma parede do que realmente machucar meu inimigo.

Ignorando a dor lancinante que corroeu a parte inferior do meu corpo, eu corri
para frente, indo em direção ao Ceifador.

Usei tudo que pude para poder parar.

A ponta dentada da minha espada azul estava a centímetros de distância da


garganta do alacryano. Eu poderia ter matado ele. Eu estava tão perto, mas não
consegui.

Encarei a Ceifador, uma onda de emoções emergiu quando ele olhou para mim
com uma expressão divertida.

“Você cresceu.”

Eu ouvi a voz de Bairon gritar comigo por trás, mas não consegui entender o que
ele estava dizendo por causa do sangue latejando em meus ouvidos.

Eu apertei mais forte a empunhadura da Dawn’s Ballad, incapaz de desviar


meus olhos do brilho vermelho penetrante daquele Ceifador em pé na minha
frente.

Os dois chifres serrilhados enrolados sob suas orelhas e a capa ensanguentada


que refletia seus olhos vermelhos brilhantes o tornavam inconfundível: era ele.

O mesmo Ceifador que matou Sylvia.


Capítulo 232 – Pilar ondulante
Tradutores: Banking | Revisores: Barão_d’Alta_Leitura

Meu tempo com Sylvia passou pela minha mente, e revivi o tempo que passei
com ela em um instante. Os poucos meses que passamos juntos formaram laços
que geralmente não seriam construídos em tão pouco tempo.

Talvez seja porque havia pouco que eu tinha reencarnado nesse mundo, mas
para um homem adulto nascido no corpo de uma criança, Sylvia se tornou meu
consolo. Na frente dela, eu poderia realmente agir como eu mesmo, e para ela
— mesmo combinando minha idade das duas vidas — eu ainda era apenas uma
criança.

Até hoje, um dos meus maiores arrependimentos foi deixar Sylvia. Eu era jovem
e fraco na época, mas ainda pensava nisso — o que teria acontecido se eu
tivesse ficado. Ela estaria viva hoje? Ela ainda estaria comigo agora?

No começo, eu não queria nada mais do que vingança por ela. A mensagem que
ela transmitiu para mim sobre aproveitar esta vida fez pouco para diminuir a
raiva que eu sentia do ser demoníaco responsável por sua morte. No entanto,
com o passar do tempo, a sede de vingança foi se dissipando lentamente.

Eu mentia para mim no começo, pensando que eu não poderia fazer nada
porque eu era muito fraco. Então, eu treinei e treinei. Fui à escola para treinar e
aprender e até mesmo fui a Epheotus para aprender com os Asuras. Contudo,
estando cara a cara com o responsável por tudo isso, eu senti muita culpa e
raiva.

Eu estava com mais raiva de mim mesmo, por pensar pouco em Sylvia
atualmente, do que com o Ceifador na minha frente — o responsável pela
morte de Sylvia.

“É você.” fervi, segurando o punho da minha espada para manter minhas mãos
firmes. “Aquela noite! Você foi aquele que...”

Minhas próximas palavras congelaram dentro da minha boca quando olhei para
trás do Ceifador em uma parede mais distante. Perto dela, a forma inclinada de
Virion — mortalmente pálida e imóvel — estava esparramada sobre uma pilha
de escombros. Bairon sentou-se ao lado dele e estava perdendo a consciência.

“Eles estão vivos, por enquanto.” Disse o Ceifador.

Dei outro passo em frente, pressionando a Dawn’s Ballad contra a garganta


acinzentada dele. Uma aura geada cobriu minha lâmina junto com magias de
vento e raio conforme eu alimentava mais e mais meu feitiço.

O Ceifador permaneceu imperturbável enquanto as auras elementais


irradiavam da minha arma logo abaixo de sua mandíbula afiada, em vez disso,
ele estava me estudando com interesse. “É impressionante ver você
empunhando mana em um grau tão proficiente, mesmo que seja devido a Lady
Syl...”

Seu corpo borrou a alguns metros de distância, esquivando-se da explosão


elemental liberada da minha lâmina com velocidade e precisão desumanas. O
castelo retumbou em protesto quando suas paredes reforçadas por mangueiras
racharam e se estilhaçaram.

“Não se atreva a dizer o nome dela.” Rosnei, preparando-me para atacar


novamente.

Gavinhas de mana se enrolaram no meu entorno, sua intensidade refletindo


minhas emoções. O chão embaixo de mim desmoronou com a pressão
enquanto eu balançava mais uma vez, desenhando um arco azul-petróleo no ar.

Meu oponente ficou parado, porém, deixando minha lâmina cortá-lo — ou


assim pensei.

O corte que minha espada havia feito em seu pescoço ardeu em chamas antes
de fechar em ferida como se não existisse.

Por meio de Realmheart, pude dizer que ele estava manipulando suas chamas
negras em um grau tão alto que podia se tornar quase intangível, como fumaça.

‘Arthur!’ Sylvie gritou através de nosso link telepático, acabando de chegar.

‘Sylv! Ajude Virion!’ Pedi, meu olhar mudando para frente e para trás entre o
avô de Tessia e o Ceifador parado a apenas alguns metros na minha frente.
‘E você? Você não pode vencê-lo sozinho!’ Ela respondeu.

‘Virion vai morrer se você o deixar assim!’ Querendo manter a atenção da


Ceifador em mim, comecei uma onda de ataques, não apenas com minha
espada, mas com todos os elementos que havia em meu arsenal. Lancei rajadas
de vento, de raios, de fogo azul, mas nada parecia feri-lo.

Após um momento de hesitação, Sylvie correu em direção a Virion e Bairon.

Tudo que eu conseguia pensar era em ganhar tempo enquanto meu vínculo
curava os outros. Juntei tanto mana ambiente como minha mana em minha
mão para acender uma chama branca. Com o poder e controle que ganhei com
o núcleo branco, liberei o feitiço, congelando o Ceifador em uma tumba de gelo.

Ele, com seus mais de dois metros de altura, vestido com uma armadura negra
reluzente, estava envolto em uma tumba de gelo. Sua expressão, mesmo
congelado, permaneceu arrogante e indiferente.

Com um grito, disparei um raio de relâmpago no meu oponente congelado,


despejando energia e poder no feitiço até que toda a sala foi coberta por uma
névoa de gelo.

Se não fosse por Realmheart, eu não teria visto a Ceifador atacar diretamente
no meu rosto.

Esquivei, xingando em minha cabeça.

Cada luta anterior contra um dos Retentores tinha deixado eu e Sylvie quase
mortos. A luta contra Uto teria nos matado se não fosse pela Ceifadora, Seris.
Mas desta vez foi diferente.

Mesmo contra uma Ceifador, seres divinos capazes de usar artes mana
conhecidas apenas pelos asuras dos clãs do basilisco, eu estava sendo capaz de
me virar.

Esquivar-se do punho revestido de fogo do Ceifador, no entanto, fez-me


perceber que ele parecia estar se segurando. Não tive tempo de considerar o
porquê, apenas para aceitar que era verdade e tentar capitalizar sobre isso.
O mundo mudou de um tom monocromático para sua versão negativa
conforme acendi o Static Void, parando o tempo. Ignorei o doloroso estresse
causado pelo uso da habilidade e me reposicionei para ficar atrás dele.

Eu sabia que isso não era suficiente. Não importava se ele não pudesse se
esquivar do meu ataque — ele não precisava.

As partículas de mana na atmosfera eram todas incolores, incapazes de ser


usadas no vazio do tempo congelado, o que fazia com que as partículas roxas do
éter se destacassem ainda mais.

Lady Myre me disse que, embora eu pudesse sentir o éter devido à minha
afinidade com todos os quatro elementos, talvez eu nunca fosse capaz de
controlá-lo conscientemente sem o poder emprestado do Static Void.

Ficando sem tempo e sem ideias, tentei mesmo assim. Por mais louco que
pareça, chamei as partículas flutuantes de éter para me ajudar de alguma
forma. Gritei, implorei, rezei dentro do reino congelado e apenas quando pensei
que nada iria funcionar, algumas das partículas começaram a se reunir em torno
da Dawn’s Ballad, revestindo sua lâmina com uma fina aura roxa.

Com medo de que esse poder se dissipasse em breve, eu imediatamente liberei


o Static Void e balancei minha lâmina revestida de éter.

Apesar de parar o tempo, o Ceifador parecia saber exatamente onde eu estava,


como se esperasse que eu usasse o Static Void.

O que ele não esperava, no entanto, era que meu próximo ataque fosse
infundido com éter.

A Dawn’s Ballad brilhou em um crescente roxo. O próprio tecido do espaço


parecia deformar em torno da minha lâmina enquanto ela passava pelo
Ceifador, deixando um grande corte oco.

Seu olhar de indiferença azedou enquanto grunhia de dor. Ele apertou o peito e
o sangue jorrou entre seus dedos.

Só com aquele ataque, minha mente girou e meus braços ficaram pesados. Uma
dor arrepiante irradiou do meu núcleo de mana, mas fui capaz de levantar
minha espada a tempo de bloquear o golpe de uma mão envolta em chamas
negras.

O Ceifador agarrou a Balada da Dawn em sua mão em chamas, olhando para


mim com olhos cheios de fogo negro e ódio.

Tentei puxar minha espada de seu alcance, mas não tive força. Eu só pude
assistir enquanto o mesmo fogo se espalhava da mão do Ceifador para a Dawn’s
Ballad, e sua brilhante lâmina verde-azulada se embotava e ficava cinza.

Assim que as chamas negras a envolveram completamente, ela se estilhaçou na


mão do Ceifador.

“Isso é pelo ferimento.” Ele disse com raiva.

Afastei-me, colocando alguma distância entre nós enquanto agarrava o punho


quebrado de minha amada espada.

A Ceifador não perseguiu. Em vez disso, virou-se para onde Sylvie, Bairon e
Virion estavam. “Suas artes do éter ainda não são fortes o suficiente para curar
suas feridas, Lady Sylvie.”

“Cale-se!” Bati, conjurando e condensando várias camadas de gelo para fazer


uma espada.

“Embora eu esteja confiante de que serei capaz de derrotá-lo, temo que este
castelo entre em colapso durante o processo.”, afirmou ele, olhando de soslaio
para mim. “Abandone esta fortaleza e eu recuperarei o fogo da alma que está
consumindo suas vidas.”

Meu corpo ficou tenso, sem vontade de acreditar nele. “Você só vai nos deixar
ir?”

Eu tinha certeza de que Sylvie e eu poderíamos nos defender contra ele, mas
uma batalha prolongada significaria a morte certa para Virion e Bairon.

“Já completei minha tarefa aqui, e já faz muito tempo que um ser inferior
conseguiu me ferir.”
‘Arthur. Ele tem razão. Eu não posso curá-los e usei muita força antes tentando
salvar o Ancião Buhnd.’

Apesar das palavras do meu vínculo, eu não baixei minha guarda. Com
Realmheart ainda aceso e minha espada de gelo conjurada pronta para atacar o
Ceifador, fiz a ele a única pergunta que realmente importava: “A Princesa Tessia
Eralith, Alice Leywin e Eleanor Leywin ainda estão vivas?”

O sorriso predatório dele enviou calafrios na minha espinha. “A princesa, junto


com sua mãe e irmã, estão seguras. Você descobrirá mais no momento
apropriado — se decidir aceitar minha oferta.”

A espada de gelo se dissipou e eu liberei Realmheart. Suas palavras se


acomodaram em meus ombros com o peso do castelo em colapso, quase me
deixando de joelhos.

Meu maior medo havia se concretizado. Meus entes queridos foram levados,
ferramentas para serem usadas contra mim nesta guerra, e foi inteiramente
minha culpa. “Onde eles estão? O que você fez com eles?” Eu queria que fosse
um comando, mas minha voz saiu como um gemido.

“Não é minha função dizer a você.” Disse ele, virando-se de mim e caminhando
em direção a Virion e Bairon.

******

Voei em silêncio ao lado de Sylvie, que carregava Virion e Bairon em suas costas.
O castelo foi ficando menor e menor atrás de nós enquanto abandonávamos
seus destroços em ruínas, derrotados.

‘Arthur, sua família vai ficar bem.’ Sylvie me assegurou, seus pensamentos
eram gentis e consoladores.

Eu cerrei meus punhos para evitar que tremessem. ‘Eu tenho que salvá-los, Sylv.
Não importa o que aconteça, não posso deixar o que aconteceu com meu pai
acontecer com minha mãe, com ... com Ellie.’

‘Eu sei. Vamos fazer tudo o que pudermos.’


Acampamos em uma área remota a alguns quilômetros a nordeste de Etistin,
perto do rio Sehz. A visão de nós — duas lanças e o comandante — no estado
em que estávamos criaria pânico em massa.

Fiz uma fogueira e conjurei uma tenda de pedra para me proteger enquanto
Sylvie começava a curar Virion e Bairon novamente. Depois de cerca de uma
hora ou mais, a respiração dos dois foi ficando mais regular até que eles
simplesmente adormeceram. Sylvie e eu sentamos lado a lado em frente ao
fogo, perdidos na dança da chama.

Superficialmente, tudo parecia calmo, mas, por baixo, eu era uma confusão de
emoções agitadas, selvagens e raivosas. Sentar e fazer nada além de esperar me
consumia, mas nós dois estávamos perdidos.

Nenhum de nós disse nada por um longo tempo. O sol havia se posto; nosso
acampamento estava iluminado apenas pela luz laranja do fogo. Cutuquei com
um pedaço de pau, não porque precisava, mas porque ficaria louco se não
estivesse fazendo algo.

“O que faremos agora?” Sylvie perguntou baixinho, lendo meus pensamentos.

“Encontrar Tess, Ellie e minha mãe.” Respondi.

Meu vínculo se voltou para mim, seus olhos brilhantes de topázio refletindo a
luz do fogo. Eu podia sentir sua incerteza e, apesar de seus melhores esforços
para evitar que seus pensamentos vazassem, pude ouvir a pergunta que ela
queria fazer: ‘A guerra acabou?’

Era quase impossível mentir para alguém quando vocês compartilhavam os


sentimentos e podiam ouvir os pensamentos um do outro. Entre nós havia uma
teia de emoções confusas, e era difícil dizer onde meus pensamentos
terminavam e os dela começavam.

Um gemido de dor chamou nossa atenção nos fazendo virar nossas cabeças
para o rumo da tenda.

Era Virion. Ele esfregou a cabeça por um momento antes de se levantar


rapidamente. Uma aura sinistra o envolveu enquanto ele acendia sua vontade
de fera.
“Virion. Virion! Está tudo bem” eu disse, meus braços erguidos diante de mim.

Desorientado, o comandante levou um momento para inspecionar os arredores


antes de finalmente perceber que não estávamos no castelo.

“O que... o que aconteceu — o Ceifador!” ele engasgou. “Meu filho! Tessia!


Buhnd! Temos que ajudá-los.”

Passei meus braços em torno de Virion, abraçando-o com força. Ele lutou,
tentando se livrar do meu aperto, freneticamente me dizendo que
precisávamos voltar.

Quando se acalmou, Virion chorou. O comandante, o próprio pilar de Dicathen,


quebrou completamente.

Pensei na pergunta não feita de Sylvie quando abracei Virion, com lágrimas
escorrendo dos meus olhos também.

Se a guerra não estava acabada, com certeza tinha um sentimento de que


estava. Parecia que os alacryanos haviam vencido. Não apenas parecia que eles
tinham vencido, mas também como Agrona havia nos superado em todas as
jogadas. Eu fui tão arrogante...

O que foram meras duas vidas mortais de experiência quando comparadas com
a vida intelectual e repleta em sabedoria de um antigo asura?

Capítulo 233 – Corrompendo Gray


Tradutores: Banking | Revisores: Barão_d’Alta_Leitura

“Aqui.” Lady Vera se sentou ao meu lado, abrindo uma garrafa de água e
entregando-a para mim. “Beba isso e tente se acalmar.”

Concordei antes de beber o liquido claro. Imediatamente, minhas


preocupações, nervosismo e estresse acumulado desapareceram.

“Há algo de errado com a água?” ela perguntou, preocupada.


“N-não. Eu estava tão nervoso que desceu pelo lugar errado.” Eu disse,
tomando outro gole.

“Bom, continue bebendo. Você se sentirá melhor quando terminar de beber


tudo e fazer alguns exercícios respiratórios. Neste ponto, precisamos manter
seu corpo e mente em ótima forma.”

Fiquei olhando fixamente para Lady Vera — minha madrinha, professora e


mentora — alguém semelhante a uma irmã mais velha para mim. Ela olhou para
trás, sorrindo daquela maneira confiante que me fez sentir tão seguro por estar
ao seu lado.

“Você está quase lá, Gray. Basta vencer mais um duelo e você será o herdeiro
aparente até a idade de assumir o título de rei.” Disse ela, inclinando-se para
perto. “Com sua habilidade e talento, este torneio é apenas um trampolim para
coisas maiores.”

“Você está certa.” Eu me preparei, pensando na diretora Wilbeck.

Até hoje, fico furioso com a rapidez com que seu caso foi encerrado, apesar da
gravidade da situação. Isso me fez suspeitar que algo estava acontecendo, mas
para confirmar isso e chegar ao fundo de tudo, eu precisaria da autoridade de
um rei.

Como Lady Vera disse, este torneio seria apenas um trampolim para me tornar
rei e ganhar o apoio de Etharia para lançar uma investigação internacional
completa. Eu encontraria quem fez isso e usaria minha total autoridade como
rei para garantir que eles pagassem por sua morte.

“Você sabe que meu país natal, Trayden e Etharia, assinaram um acordo
recentemente, mas essa aliança tem sido um pouco tensa. Eu tenho fé que você
vai se tornar um grande rei que será a ponte entre nossos dois países, Gray.”

Olhei para Lady Vera, esperançoso. “Você realmente acha isso? Mesmo com o
meu passado?”

“Seu passado? Você é membro da família Warbridge, assim como eu.” Apesar
de seu tom severo, sua expressão se suavizou em um sorriso caloroso. “Vou
garantir que ninguém duvide disso.”
Meu peito apertou e as lágrimas ameaçaram vir à tona. Engolindo e sentando
ereto, senti uma nova determinação. “Obrigado, Lady Vera. Eu não vou te
decepcionar.”

“Claro que você não vai.” Ela colocou a mão firme no meu ombro. “Você já
adivinhou quem será seu oponente final, certo?”

Minhas mãos se fecharam em punhos. “Claro.”

“Eu sei que ela é uma velha amiga e vocês dois cresceram juntos, mas não se
esqueça que ela deixou tudo de lado por isso. Esqueça os rumores; ninguém a
forçou a lutar — e com seus poderes, ninguém pode.”

Assim que ela terminou de falar, o telefone de Lady Vera tocou.

“Olá? O que!” Ela olhou para mim. “Ok, estarei aí em breve.” Ela terminou, sua
voz severa.

“Desculpe, Gray, um parceiro de negócios meu está aqui, e eu preciso ir para


fora já que não é permitido sua entrada. Certifique-se de terminar a água e
concentre-se em se acalmar.”

Levantei a garrafa de água. “Não se preocupe, eu vou ficar bem.”

Com um aceno de cabeça apertado, Lady Vera começou a falar novamente com
quem estava do outro lado do telefone. Quando ela alcançou a porta para sair
da minha sala de espera pessoal, a porta se abriu, surpreendendo a nós dois.

“Cuidado!” Lady Vera rosnou ao homem, que na verdade era um zelador


puxando um carrinho de limpeza.

O homem magro e barbudo fez uma reverência apressada antes de sair do


caminho. “Me desculpe.”

Estalando a língua, lady Vera se adiantou para dar uma olhada no zelador, mas
foi distraída por algo dito em seu telefone.

“Eu estarei lá! Quero filmagens de todos os ângulos!” ela retrucou enquanto
desaparecia pela porta.
O zelador deixou a porta fechar e caminhou em minha direção, a cabeça ainda
abaixada, o rosto escondido sob o boné azul-marinho.

“Você realmente deveria ter mais cuidado, senhor.” Eu avisei. “Há muitas
pessoas importantes nestes corredores, pessoas que você não quer irritar
acidentalmente.”

O zelador não falou. Em vez disso, ele olhou diretamente para mim e arrancou
sua barba grossa e grisalha. Em seguida, as feições do zelador começaram a se
distorcer ligeiramente, revelando um rosto que não poderia ser mais familiar.

“N-Nic—”

O zelador, ou melhor, meu velho amigo Nico disfarçado de zelador colocou a


palma da mão na minha boca. “Não fale muito alto.”

Sua mão permaneceu até que eu confirmei a ele que havia me acalmado.
Limpando minha boca, falei com meu amigo que vinha me ignorando nos
últimos meses. “Onde você esteve? Você está com uma aparência horrível —
Aquela barba falsa... é um artefato de disfarce? Isso não é ilegal?”

Nico me ignorou enquanto seus olhos percorriam a sala. Era óbvio que os
últimos meses não foram fáceis para ele; seu rosto era magro, seus lábios
rachados e seu cabelo despenteado. Ele claramente não estava cuidando de si
mesmo.

“Não temos muito tempo antes de sua partida contra Cecilia.” Disse ele,
atrapalhado através do carrinho de desinfecção antes de retirar um dispositivo
do tamanho da palma da mão. “Eu preciso que você ouça isso agora.”

Afastei o dispositivo. “O que está acontecendo, Nico? Eu sei que você está
preocupado com Cecilia, mas você tem me ignorado nos últimos quatro meses e
agora você entra aqui um pouco antes da minha partida e me distrai assim? O
que você está tentando fazer?”

“Por favor.” ele disse, desespero evidente em sua voz. “Apenas ouça.”

E foi o que fiz. Apesar de faltar menos de uma hora para a minha partida contra
a Cecília, coloquei os fones de ouvido junto com o Nico e comecei a ouvir.
“Esta é... Lady Vera?” Eu perguntei, ouvindo sua voz através do pequeno alto-
falante em meu ouvido.

Ele me incentivou a continuar ouvindo e assim fiz. À medida que os clipes de


áudio continuavam, ficava cada vez mais difícil continuar ouvindo.

“Besteira.” eu cuspi, puxando o fone de ouvido da minha orelha. “Planos para


capturar Cecilia durante este torneio? Que tipo de piada de mau gosto é essa? O
que você está fazendo, Nico?”

“Não é uma piada — como eu poderia brincar sobre Cecilia?” ele perguntou, as
lágrimas brilhando em seus olhos cansados. “Eu sei que Lady Vera tem sido boa
para você, mas é por isso. Tudo era por este dia.”

“Você ficou louco nesses últimos meses?”

“É aqui que tenho estado nos últimos meses.” Nico puxou as mangas do
uniforme e as pernas da calça, mostrando cicatrizes vermelhas profundas que
corriam ao redor de seus pulsos e tornozelos. "Fui trancado por nossa própria
embaixada de Etharian porque estava tentando tirá-la do prédio do governo em
que ela foi detida. Passei fome e fui torturado, mas consegui escapar. Desde
então, tenho reunido evidências em torno de Vera Warbridge para fazer você
me ajudar.”

Meus olhos se arregalaram e eu balancei minha cabeça. “Não. Não, você está
mentindo. Isso não faz sentido. Em primeiro lugar, por que Lady Vera precisaria
levar Cecilia? Trayden e Etharia são aliados!”

“É exatamente por isso que eles querem agora”, explicou ele, impaciente.
“Quem quer que tenha controle sobre Cecilia, ou o que os Traydens chamam de
O Legado, tem controle sobre os dois governos inteiros.”

Fiquei abalado com o termo familiar: O Legado. Aquele homem chamou Cecilia
de legado enquanto me torturava. Mas eu nunca disse isso a Nico.

“Ok, então como faço parte disso? Por que Lady Vera precisaria de mim
especificamente, em vez de qualquer outro candidato a rei?”
“O governo Ethariano tem confinado Cecilia para sua própria proteção. Ela só
aparece em público durante os torneios.”, ele respondeu imediatamente. “Lady
Vera precisava de você porque você é órfão. Existem regras rígidas sobre quem
tem permissão para participar dos torneios da Coroa do Rei, especialmente nas
rodadas finais. Lady Vera só foi permitida aqui porque ela é sua tutora legal,
algo que não pode acontecer com outro candidato de uma família rica.”

Meditei sobre suas palavras por um momento, perdido em pensamentos e de


repente uma batida repentina na porta nos fez pular.

“Candidato Gray? Eu sou um dos facilitadores aqui. Lady Vera Warbridge me


pediu para dar uma olhada em você.” Disse uma voz rouca do outro lado da
porta.

Fitei Nico. Ele olhou para trás com os olhos arregalados, seu corpo inteiro
tremendo.

"Estou bem. Por favor, diga a ela que não quero ser incomodado até a hora do
duelo.” Respondi em voz alta.

O facilitador reconheceu minhas palavras e se despediu, mas Nico e eu


esperamos mais alguns minutos antes de nos movermos. Espiei pela porta para
ter certeza de que ninguém estava do lado de fora antes de voltar para Nico.
“Olha, é óbvio que você já passou por muita coisa. Eu não vou denunciá-lo, mas
não posso acreditar em você. Você precisa sair daqui.”

“Gray,” Nico implorou, cruzando as mãos sobre as minhas mais uma vez. “Eu
estou te implorando. Consegui traçar um plano com alguns amigos depois que
me libertei há algumas semanas. Tudo está em movimento, mas preciso da sua
ajuda se vamos escapar com Cecilia!”

“Fugir com Cecilia?” Eu ecoei. “Você ao menos se ouve agora? Estamos


competindo uns contra os outros pela Coroa do Rei! Você está me dizendo para
jogar tudo isso fora porque acha que há algum tipo de conspiração maluca
acontecendo agora? Eu vi a última luta de Cecilia; ela está completamente bem
e saudável!”
“Você não sabe o que a família Warbridge vai fazer com Cecilia assim que
colocar as mãos nela!” Ele gritou desesperadamente, começando a remexer nos
bolsos. “Veja! Eu não queria te mostrar isso, mas isso tem que provar.”

Peguei a foto amassada de sua mão trêmula, ainda cético em relação a suas
palavras até que vi quem estava na foto. Embora embaçado e levado às pressas,
não havia dúvida de que era Lady Vera conversando com um homem, o qual
tinha, escorrendo pelo rosto, uma cicatriz.

“Não lembra dele? Foi ele quem tentou sequestrar Cecilia!” Nico disse,
apontando freneticamente para o homem borrado e cheio de cicatrizes.

“Isso não pode ser... não, não é. Ouça, Nico, isso está muito embaçado para
dizer. Eu não vou — eu não posso — descartar tudo que Lady Vera fez por mim
por causa de uma foto borrada.” respondi, devolvendo a foto para ele.

Minhas mãos tremiam e meu coração batia forte contra minha caixa torácica.
Eu precisava de água.

Eu me atrapalhei com a tampa da garrafa transparente e tomei um longo gole.


Instantaneamente, pude me sentir acalmando, me sentindo melhor — mais
forte, mais lúcido.

Lady Vera estava certa. Eu precisava cuidar do meu corpo, ficar hidratado.
Respirando fundo, virei para Nico. “Se algo do que você me disse hoje for
mentira, você pode ser condenado à prisão perpétua. Se for verdade, e alguém
descobrir, então você provavelmente será morto. Como amigo, vou fingir que
isso nunca aconteceu, mas você está louco se acha que vou participar.”

Nico caiu de joelhos, olhando para mim em desespero. “Gray! Por fav...”

"Vou ajudá-lo, Diretora Wilbeck e Cecilia fazendo o que venho fazendo todo
esse tempo — me tornando rei.” Eu me virei, caminhando em direção à porta.
“Agora, se me dá licença, minha partida está prestes a começar.”

O árbitro — um homem magro, de meia-idade, com uma barba grisalha bem


aparada — estava vestido com um terno preto formal. Ele manteve as mãos
atrás das costas enquanto falava. “Será que os dois finalistas entrarão no
palco?”
Meus passos ecoaram enquanto eu subia os degraus de mármore que levavam
à plataforma quadrada de duelo — e eu podia ouvir seus passos do outro lado
também. O público limitado que pôde ser ‘testemunha’ deste evento foi
silenciado e aguardava ansiosamente o próximo representante de Etharia.

Usando uma técnica de respiração que Lady Vera havia me ensinado, acalmei
meu ser enquanto subia na plataforma reforçada. No entanto, vendo meu
oponente e velha amiga pisar na plataforma à minha frente, não pude deixar de
estremecer.

O próprio ar ao redor dela parecia estar cheio de eletricidade enquanto minha


pele formigava desconfortavelmente. Uma aura de ki puro era visível e
condensada tão densa que eu temia que nem mesmo a lâmina mais afiada
pudesse penetrá-la.

Bastou um olhar para perceber o quão ultrapassado eu estava. Um olhar e eu


sabia que ninguém em todo o torneio, exceto ela, teria a chance de se tornar o
próximo rei. Cecilia parecia saber disso, pois seus olhos exalavam confiança. Ela
estava mais pálida do que o normal — mais doente — e as olheiras mostravam
o quão cansada ela estava, mas seu comportamento ainda expunha sua
arrogância.

“Em honra à competição, os dois finalistas prestarão homenagem ao rei em


cargo de Etharia, Rei Ivan Craft.” Anunciou o árbitro, apontando para o pódio
mais alto.

Eu me curvei profundamente da maneira tradicional antes de voltar para a


minha oponente. Cecilia, por outro lado, mal baixou a cabeça antes de voltar o
olhar para mim.

Por um momento, o tempo pareceu diminuir enquanto trocávamos olhares. As


palavras de Nico ecoaram em minha mente, abalando minha confiança. Nico
havia dito desde o início que Cecilia havia sido capturada pelo nosso próprio
governo, mas eu não conseguia acreditar nele. Cecilia parecia ter optado por
deixá-lo para buscar a realeza — exatamente como eu fiz.

O árbitro se colocou entre nós dois. “Finalistas. Mostrem seus respeitos um ao


outro.”
Ele recuou e eu me curvei em respeito, como era tradicional, mas Cecilia
manteve o queixo erguido e olhou para mim. O árbitro ignorou e sinalizou para
que preparássemos as armas.

Desembainhei minha arma, golpeando a espada habilmente no ar antes de


apontar sua ponta brilhante diretamente para Cecilia. Eu não podia perder o
foco — ela era outro oponente que eu tinha que derrotar.

A expressão de Cecilia permaneceu inalterada enquanto ela elegantemente


erguia a mão vazia. Nessa mão formou-se uma arma de ki em forma de uma
rapieira. Ao contrário de outras armas de ki que eu tinha visto, entretanto, sua
manifestação foi quase instantânea e sem falhas nos detalhes.

Houve um coro de suspiros abafados e murmúrios da plateia. Eu não os culpei;


foi impressionante. O árbitro, porém, manteve seu profissionalismo, não
exibindo nenhuma mudança de atitude ao sinalizar aos técnicos para
levantarem a barreira de ki.

Assim que a cúpula translúcida envolveu totalmente a arena, o árbitro baixou a


mão. “Que comece o duelo!”

Jogando de lado a hesitação que nublava minha mente, irrompi para frente,
brandindo minha espada revestida de ki. Anos de treinamento com Lady Vera
haviam fortalecido minha reserva de ki a um ponto que eu pensei não ser
poderoso o suficiente. Embora eu ainda cambaleasse um pouco abaixo da
média dos praticantes, com meus instintos poderosos e reflexos aguçados, fui
capaz de utilizar cada gota de ki que tinha em meu arsenal.

Esses mesmos reflexos me fizeram parar no meio da corrida. Cada fibra do meu
corpo gritava para que eu não me aproximasse mais de Cecilia enquanto ela
permanecia imóvel.

Senti uma gota de suor rolar pelo lado do meu rosto enquanto eu mudava de
tática, escolhendo ao invés disso circular cuidadosamente ao redor dela.
Duas coisas aconteceram quase instantaneamente. Primeiro, uma careta cruzou
o rosto pálido de Cecilia. Depois, ela lançou uma enxurrada de golpes
penetrantes de ki de uma só vez.

Meus olhos se arregalaram em choque. Seja por sorte ou instinto, eu consegui


tecer através dos seus ataques casuais enquanto dezenas de golpes penetrantes
eram projetados de sua arma de ki, avançando mais perto a cada desvio e
esquiva, até que eu estava ao alcance para atacar.

Fintei com um corte para baixo antes de girar e girar atrás dela, atingindo Cecilia
na parte de trás dos joelhos com um corte largo.

O ataque deveria ter feito suas pernas dobrarem, mas em vez disso uma forte
onda de dor correu pelo meu corpo.

“Fraco” Cecilia murmurou baixinho.

Recusei-me a deixá-la me incitar a fazer algo estúpido. Reposicionando-me,


golpeei Cecilia com uma série rápida de ataques radicais mais rápidos do que os
olhos podiam acompanhar.

Mas eu não conseguia perfurar a aura espessa de ki envolvendo seu corpo


minúsculo.

Cecilia respondeu, apunhalando sua rapieira translúcida aos meus pés.

O ataque foi fácil de evitar, mas o que se seguiu foi o terreno reforçado se
estilhaçando com o impacto do ataque dela.

Sério? Isso é injusto! Amaldiçoei, tentando escapar da nuvem de destroços


formada ao nosso redor. Antes que eu pudesse reagir, uma mão agarrou meu
pulso e me prendeu no lugar com uma força que parecia quase impossível vinda
de um corpo tão pequeno.

“Isso é tudo o que você conseguiu, mesmo com todo o treinamento que
recebeu?” Cecilia zombou, praticamente suspirando de decepção.

“Cale a boca!” Cuspi, puxando minha mão livre de seu alcance. As declarações
de Nico sobre Cecilia sendo presa contra sua vontade e sendo forçada a
competir pareciam uma besteira total neste momento.
A atitude dela era igual à daqueles candidatos presunçosos de famílias ricas —
intolerante e arrogante.

Afastei-me da nuvem de poeira que se dissipava bem a tempo de me abaixar


sob uma explosão de puro ki.

A barreira em torno da arena de duelo tremeu com o impacto e os olhos do


árbitro se arregalaram de surpresa.

Momentos depois, Cecilia disparou para a frente, as duas mãos segurando sua
arma ki, pronta para atacar. Eu me esquivei do golpe, mas a aura em torno de
sua arma de ki foi afiada o suficiente para deixar um corte profundo na lateral
do meu pescoço, tirando sangue.

Cecilia se moveu com pressa, sua lâmina brilhante se transformando em um


borrão de luz indistinguível enquanto ela me atacava imprudentemente.

Cada vez que eu aparava sua arma de ki, fagulhas voavam e lascas apareciam ao
longo de minha lâmina, embora, com ki, eu a estivesse reforçando.

Eu sabia que não poderia manter isso para sempre, ou minha arma se
desintegraria em minha mão, então confiei em meu próprio corpo para evitar
seus golpes.

Abaixei, volvi, teci e girei em uma velocidade que só eu poderia executar com
tanta precisão e tempo. Seus ataques eram monstruosamente fortes e rápidos,
mas sua esgrima não estava no mesmo nível que a minha.

De repente, a arma de Cecilia sumiu de vista quando ela posicionou a palma da


mão agora vazia diretamente no meu rosto.

Mais uma vez, meu corpo gritou a mim que eu estava em perigo, e eu reagi
agarrando seu braço estendido e puxando-o para longe enquanto o aproveitava
para me posicionar ao seu lado.

E foi liberado, da palma da mão aberta de Cecilia, um cone de energia brilhante,


bem onde eu estava.
“Tudo o que você pode fazer é desviar e correr?” disse ela, seu tom casual,
como se isso fosse apenas um treino.

O cotovelo coberto de ki da Cecilia bateu diretamente no meu esterno, me


lançando vários metros para trás e me deixando sem fôlego.

No momento em que eu ainda estava deitado de costas — minha boca se


abrindo e se fechando como a de um peixe fora d'água enquanto eu tentava
desesperadamente sugar o ar — Cecilia veio correndo em minha direção com
uma arma ki recém-formada na mão.

Tentei desesperadamente alcançar minha espada, mas ela estava alguns


centímetros fora de alcance. Então agarrei o chão, tentando arrastar meu corpo
dolorido para minha única chance de sair disso com vida, mas já era tarde
demais. A sombra de Cecilia passou por mim e pude ver o brilho de sua arma.

Não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser fechar os olhos e esperar o
golpe que encerraria a partida — talvez até mesmo encerraria minha vida.

Mas a dor nunca veio. A espada ki de Cecilia se enterrou no chão a centímetros


do meu rosto e o impacto mais uma vez destruiu o piso reforçado abaixo de
mim, enviando uma onda de dor pelo meu corpo.

Minha oponente sorriu com seu rosto perto do meu. “E com isso você teria
morrido.”

“Já chega!” gritei. Agarrando minha espada que havia caído ao meu alcance,
golpeei Cecilia em sua cintura usando cada grama de ki que consegui reunir no
momento. Minha lâmina não conseguiu cortar a aura protetora de ki enrolada
em seu corpo, mas a força conseguiu empurrá-la para longe de mim.

Cecilia torceu o corpo, pousando agilmente em pé com um sorriso malicioso no


rosto. Ela não era mais a amiga com quem eu cresci. Nico estava realmente
delirando, pensando que tudo era forçado a ela pelo governo.

Segurei a espada com a mão direita, retirando o ki que protegia meu corpo. Se
eu quisesse derrotá-la, não seria capaz de fazer isso desperdiçando meu
precioso ki na defesa.
Percebendo isso, Cecilia retirou sua arma, deixando a rapieira brilhante
desaparecer.

Ela assumiu uma postura ofensiva e gesticulou para que eu viesse. Ela não disse
nada, mas não precisava. Ela nem mesmo me via como uma ameaça,
acendendo em mim uma raiva e uma nova determinação de derrotá-la a todo
custo.

Soltando um rugido, imbuí o ki em minhas pernas em pulsos explosivos,


combinando com o meu passo. Alcancei-a em três passos a uma velocidade que
a pegou de surpresa. Eu balancei então minha espada para cima, esperando
pelo menos desequilibrá-la, mas Cecilia ficou parada e deixou sua barreira de ki
absorver o impacto do meu ataque.

A mão dela, revestida com uma espessa camada de ki, conseguiu agarrar a
ponta afiada da minha lâmina reforçada.

Então puxou a espada, levando-me junto a ela, e me deu um tapa no rosto com
as costas da mão.

Consegui proteger meu rosto no último segundo, mas ainda assim fui jogado no
chão. Voltando a ficar de pé, fui imediatamente recebido por uma enxurrada de
ataques de Cecilia enquanto ela balançava minha própria espada contra mim.

“Meu treinador estava certo. Vocês dois eram pesos mortos me segurando,
especialmente Nico.” Ela sussurrou. “Estou feliz por ter conseguido me livrar de
vocês dois.”

A menção do nome de Nico trouxe outra onda explosiva de raiva. Apesar de


suas conclusões serem malucas, ele fez tudo porque se importava com Cecilia —
até a amava. O fato de ela cuspir aquilo naquelas emoções me deixou louco,
apesar de todas as acusações que ele havia feito a Lady Vera.

“Cale-se!” Rugi. Envolvendo minha mão em ki, evitei seu próximo golpe para
baixo — o fim de seu padrão de ataque — e desviei a lâmina para que ficasse
enterrada no chão.

Mesmo com minha espada lascada, o ki que ela imbuiu ao redor formou um
ataque forte o suficiente para dividir o piso reforçado e prender a espada.
Eu imediatamente segui com um soco poderoso em sua mandíbula e outro
logo abaixo de suas costelas.

Meus nós dos dedos pareciam ter atingido uma parede de concreto, mas o
golpe fez Cecilia cambalear por um instante, o que foi tempo suficiente para eu
arrancar minha espada do chão.

Naquele exato momento, uma explosão balançou a arena, envolvendo toda a


plataforma de duelo em nuvens de poeira e destroços. A barreira translúcida
em torno da arena de duelo estremeceu, tremeluziu e então desapareceu
enquanto um coro de gritos e berros enchiam o lugar.

Fiquei parado por um momento, confuso com a virada dos eventos até que um
lampejo de movimento saiu do canto dos meus olhos.

“Este duelo acabou!” Ela gritou enquanto corria em minha direção.

Ela lançou uma onda de golpes com sua arma ki recém-formada, liberando
crescentes agudos de energia. Os ataques bombardearam o terreno ao meu
redor, levantando ainda mais poeira e destroços na situação já caótica que se
desenrolava. No entanto, mantive o foco, querendo terminar este duelo tanto
quanto ela.

Agarrando minha espada com as duas mãos, infundi o ki restante que ainda
havia em sua lâmina e rezei para que suportasse mais um ataque. Dentro da
cortina de fumaça de poeira que obscurecia minha visão, consegui localizar a
sombra tênue de Cecilia no ar.

Seu plano de usar aqueles ataques chamativos para obstruir minha visão dela
pode ter funcionado na maioria das vezes, mas meus sentidos aguçados e
instintos me permitiram adivinhar seu próximo movimento.

Soltei um rugido primitivo, levantando minha espada e dirigindo sua ponta


afiada direto para a figura sombreada de Cecilia com todas as minhas forças,
apertando minha mandíbula para o impacto que viria.

No entanto, o recuo que eu esperava ao colidir com sua aura protetora nunca
veio.
Em vez disso, observei minha espada deslizar profundamente no peito de Cecilia
e ficar manchada de vermelho em suas costas.

Senti seu peso caindo em mim; o fluido quente e viscoso escorrendo pelas
minhas mãos e pelos meus braços.

“Eles... não me deixaram... me matar. Sinto muito... esta era... a única maneira.”
Cecilia murmurou com sua respiração irregular.

Eu soltei minha espada, minhas mãos tremendo ferozmente. “O que? por quê?
Como?”

“Enquanto... eu viver, Nico será... preso... usado contra... mim.”

Tropecei para trás e Cecilia caiu em cima de mim. Para meu horror, a lâmina
afundou mais fundo nela e ela soltou um suspiro de dor.

“N-N-Não... isso não pode ser...” gaguejei, incapaz até mesmo de formar o resto
da frase enquanto sufocava os soluços se formando em minha garganta.

A poeira do último ataque de Cecilia e da explosão ao redor da arena tinha se


dissipado enquanto eu continuava segurando Cecilia. Apesar de todos os filmes
de ação que eu tinha visto no orfanato do personagem principal morrendo
dramaticamente, a morte de Cecilia estava longe de ser a mesma.

Ela simplesmente parou de respirar e caiu mole. Foi isso.

“Não! Como? O que é que você fez!?” Lady Vera gritou do meu lado.

Virei minha cabeça em direção ao som da voz, mais por instinto do que como
uma resposta real. À minha esquerda estavam duas figuras, uma masculina e
uma feminina. Ambos usavam armaduras militares, os rostos cobertos por
máscaras de tecido. No entanto, o homem havia tirado os óculos que cobriam
os olhos, revelando dois olhos de cores diferentes.

Talvez se estivesse em qualquer outra situação, eu teria reagido de forma


diferente. Eu tinha encontrado um dos homens responsáveis pela morte da
Diretora Wilbeck. Eu também tinha acabado de ouvir a voz inconfundível de
Lady Vera por trás da máscara da mulher agressora ao lado dele.
Nico estava certo, mas isso não importava para mim agora. Eu tinha matado
uma amiga — não, eu havia matado a mulher que meu melhor amigo amava.

O mundo ficou em silêncio enquanto eu olhava fixamente — o assassino de um


olho castanho com cicatrizes e com um olho verde puxando Lady Vera para
longe e fugindo.

Observei — o árbitro e os juízes freneticamente fazendo seu caminho em nossa


direção enquanto os guardas corriam ao redor, tentando controlar o caos.

E do canto dos meus olhos, perto da própria entrada de onde eu vim,


testemunhei Nico enquanto sua expressão se transformava em horror e
desespero.

Capítulo 234 – Acordo expirado


Tradutor: Banking | Revisor: Lockard

PONTO DE VISTA DE ARTHUR LEYWIN

Muito depois do sol se pôr e a noite rastejar, trazendo um frio junto com ele,
sentei-me sem pensar, perto do fogo. Acima de mim, as estrelas, tão
semelhantes às do meu mundo anterior, brilhavam como pó de cristal no
horizonte.

Virion, como uma criança fraca, voltou a dormir depois de chorar. Seu corpo
estava em um estado gravemente enfraquecido e seu núcleo de mana estava à
beira de se despedaçar. Bairon ainda não tinha acordado, seus ferimentos
recebidos da Foice eram muito mais graves do que eu esperava inicialmente.

Horas devem ter se passado desde a última vez que me movi de meu assento.
Depois que a raiva se dissipou, os planos para salvar minha família e Tess - os
planos de vingança e justiça - desapareceram, arrastados para um vazio
impensado.

Então eu sentei no chão, correndo meus dedos preguiçosamente pela terra


macia abaixo de mim, sem ideia para onde ir a partir daqui. Os alacryanos agora
tinham controle sobre o castelo - e com ele, a habilidade de acessar o resto dos
portões de teletransporte por todo o continente. Não precisava ser um gênio
para adivinhar que eles iriam atacar a cidade de Xyrus em seguida, e depois,
iriam prosseguir através do continente, destruindo lentamente as forças de
Dicathen.

Considerando o estado atual de Virion, não tínhamos nem um líder. As Lanças


foram espalhadas, certamente serão abatidas uma de cada vez. Depois que as
Lanças caíssem, as pessoas ficariam indefesas.

Folhas esmagadas atrás de mim. Sylvie tinha saído do abrigo de terra, mas
bastou um olhar para eu perceber que não era meu vínculo, apesar de sua
forma física.

“Vamos dar uma volta, vamos?” Ela disse, e sua voz era a mesma, mas a
cadência e o tom eram estranhos.

Meu coração acelerou e eu me peguei tremendo de raiva, mas o segui sem


palavras. Caminhamos por cinco minutos, acompanhados apenas pelo estalar
de galhos e pelo som das folhas sendo esmagadas sob nossos pés. Uma onda de
emoções passou por mim enquanto eu olhava para as costas do responsável por
todas as mortes e misérias que nosso povo teve que suportar.

Minha mente disparou para pensar em algo para dizer, para pensar em algo
para fazer.

“Uau!” Sylvie respirou, sentando-se em um tronco caído. “Controlar este corpo


mesmo para coisas simples como caminhar é um trabalho árduo.”

Eu encarei o líder do Clã Vritra e governante de Alacrya e caí de joelhos na


frente dele.

Agrona franziu as sobrancelhas, contorcendo o rosto de Sylvie em uma


expressão de surpresa e frustração antes de relaxar rapidamente.

“Que coisa, que mudança inesperada de eventos.” ele disse enquanto eu


baixava meu olhar para o chão abaixo dele. “O herói, e outrora rei poderoso,
admitiu a derrota?”
“Agrona,” eu disse com os dentes cerrados. “Você me mostrou o seu ponto. Por
favor, deixe Tessia e minha família irem.”

"Por quê?"

Eu cavei meus dedos na terra. “Porque... eu aceito seu acordo. Vou me retirar
desta guerra.”

Agrona gargalhou, levantando a mão delicada de Sylvie para cobrir sua boca.
Seus olhos de topázio brilharam de alegria. “Você acha que nosso acordo ainda
está de pé, Gray? Você era a única variável imprevisível, o único ser em
Dicathen que tinha a menor chance de me atrapalhar, mas como você mesmo
disse, eu fiz meu ponto. Mesmo você - com todos os seus dons e vantagens
inerentes - só alcançou isso.”

Os olhos de Sylvie, atados com desgosto, olharam para mim. “O próprio fato de
você nem mesmo ter dito ao seu vínculo de que sou capaz de possuir o corpo
dela, me diz que você sempre esperava perder, desde o início.”

“Então o que... o que você quer?” Eu exigi. “Por que você apareceu na minha
frente de novo?”

“Mais uma vez, fazendo perguntas que não tenho obrigação de responder.” As
expressões de Agrona no rosto de Sylvie eram tão estranhas que tive problemas
para lê-las. Isso foi um olhar de preocupação? Suas sobrancelhas estavam
franzidas de preocupação? Eu não sabia dizer. “Não espero ter o prazer de me
encontrar assim de novo, então... adeus.”

Eu me levantei com dificuldade. “E-espere, e quanto ao meu-”

E assim, Sylvie caiu para trás, inconsciente.

Gritando de ressentimento, bati com o punho coberto de mana no chão,


acordando a floresta e seus habitantes.

“A-Arthur?” Sylvie chamou, cansada e desorientada. “O que está acontecendo?”

Eu deixei a barreira mental, que eu estava aprimorando e fortalecendo


especificamente para proteger Sylvie do conhecimento do poder de Agrona
sobre ela, cair, permitindo que meu vínculo lesse meus pensamentos e
memórias sem obstruções.

“Desde que você quebrou o selo que Sylvia colocou em você, Agrona tem sido
capaz de assumir o controle de sua consciência por curtos períodos de tempo.”

A expressão de Sylvie mudou rapidamente de confusão, para medo, para nojo.


Sua boca se abriu, como se fosse me fazer uma pergunta, e então se fechou
quando ela encontrou a resposta em minha mente.

“Lamento não ter contado.”

Em pé, trêmula, Sylvie caminhou lentamente até mim. Seus pensamentos e


emoções estavam escondidos de mim. Como eu ainda estava de joelhos,
ficamos cara a cara. Sua mão direita veio e me deu um tapa na bochecha com
uma força desumana, quase me jogando para trás. O golpe teria quebrado o
pescoço de uma pessoa normal.

“Pronto. Estamos quites agora.” Sylvie se inclinou para frente, envolvendo os


braços em volta do meu pescoço e enterrando o rosto no meu ombro.

Eu agarrei meu vínculo de volta com força, com tanto medo de perdê-la
também. Fiquei grato quando ela me deixou entrar, me deixou sentir o que ela
sentia, para que eu pudesse saber que ela não me odiava pelo que eu fiz.

Eu não apenas perdi, mas também implorei ao meu inimigo de joelhos. Sylvie
sabia que a raiva, a culpa, a tristeza e a humilhação rasgavam minhas entranhas
e o próprio fato dela saber e aceitar isso, era o suficiente para eu seguir em
frente.

Mordendo meu lábio até sentir um gosto amargo metálico e quente, chorei
silenciosamente, a poeira de cristal acima de nós estava trêmula e turva.

Quando Sylvie e eu finalmente voltamos para nosso acampamento, ficamos


juntos do lado de fora, guardando o abrigo onde Bairon e Virion estavam
dormindo.

Em algum momento, devo ter adormecido também, porque Sylvie teve que me
cutucar mentalmente, me dizendo para acordar. Meus olhos se abriram e eu
pulei, apenas para ver Virion e Bairon tendo uma acalorada discussão com o
pequeno corpo humano de Sylvie interposto entre eles.

“Nós temos que voltar! Nossas tropas precisam de nós, comandante!” Bairon
rosnou, cambaleando ligeiramente enquanto lutava para ficar de pé.

“E fazer o quê?” Virion explodiu. “É tarde demais.” O comandante encostou-se


na tenda de barro para se apoiar. Seus olhos se voltaram para mim, percebendo
que eu estava acordado. “Boa. Arthur, devemos nos preparar para sair.”

"Sair? Onde?" Eu perguntei, confuso.

“Nosso comandante diz que a guerra está perdida.” Interrompeu Bairon, com a
voz cheia de condescendência. “Parece que seu ferimento por lutar contra a
Foice o tornou incapaz de liderar.”

Virion perfurou a Lança com um brilho ameaçador. “A guerra está perdida,


Bairon. Com o castelo em suas mãos, eles têm acesso a todos os portões de
teletransporte em todo o continente. É apenas uma questão de tempo até que
eles consigam descobrir como controlá-los totalmente.”

“Então, o que você tem em mente?” Eu perguntei para Virion.

Os joelhos de Virion se dobraram, caindo para frente até que Sylvie o segurou.

“Obrigado.” Ele disse ao meu vínculo antes de se virar para mim. “Camus,
Buhnd, Hester e eu, junto com alguns outros amigos de confiança, construímos
um abrigo para se refugiar, apenas no caso de um desastre, embora ninguém
esperasse um resultado como este.”

Pensar no ancião Buhnd enviou uma dor aguda em meu peito, mas eu engoli.
“Onde fica?”

“Você não pode estar falando sério.” Interrompeu Bairon. “Você é uma lança.
Temos o dever de zelar por nosso povo. Vamos abandoná-los e deixá-los todos
morrerem pelos alacryanos?”

“Não estamos abandonando ninguém!” O tom de Virion assumiu parte de sua


antiga autoridade. “Mas se atacarmos cegamente de volta à batalha, e qualquer
um de nós morrer, não deixaremos esperança para o futuro!”
“O futuro...” Sylvie ecoou.

“Sim! O futuro. Precisamos nos recuperar se quisermos uma chance de retomar


Dicathen.” Virion continuou.

Os ombros de Bairon caíram e, pela primeira vez, vi a Lança deixar seu manto de
autoridade e poder cair, e ele parecia muito frágil e vulnerável. “Então... não há
nada que possamos fazer agora para vencer esta guerra?”

“Nossa melhor chance é permanecermos vivos e reunir as lanças .” Respondeu


Virion, parecendo sinceramente aflito.

‘O que você acha que devemos fazer?’ Sylvie perguntou, sabendo que meus
pensamentos ainda estavam cheios com a Tessia e minha família.

Soltei um suspiro antes de olhar para os dois com um olhar enrijecido. “Sylvie e
eu levaremos vocês dois para onde quer que esteja este abrigo secreto, mas
depois disso vamos procurar minha mãe, minha irmã e Tess.”

“Arthur...” Havia uma distância tangível na voz de Virion quando ele disse meu
nome, um som oco e quase dolorido.

Eu balancei minha cabeça, segurando minha mão. No meu dedo médio estava
um anel de prata simples que Vincent tinha dado a mim e minha mãe. “Este é
um artefato conectado a um anel que minha mãe tem. É minha única esperança
e não posso abandoná-la, sabendo que ainda há uma chance dela estar viva.”

Eu o mantive desligado durante a guerra, mas através da conexão entre os dois


anéis e o fato de que ela e minha irmã tinham o pingente da Fênix Wyrm, era
possível. E que o anel não foi ativado porque ela ainda estava viva... não porque
ela o havia retirado.

“Vou direcionar os Dicatheanos que eu encontrar de volta ao abrigo durante


minha busca, mas preciso fazer isso.” Concluí.

“Eu entendo.” Virion sussurrou, fechando os olhos.

Silenciosamente, comecei a trabalhar, destruindo o abrigo de terra e apagando


todos os sinais de que já havíamos parado aqui para descansar.
“Então... onde é esse abrigo, Comandante Virion?” Perguntou Bairon.

Virion usou um galho próximo para desenhar um mapa aproximado de


Dicathen, indicando nossa posição com um círculo. “O refúgio que encontramos
fica perto da costa sul do Reino de Darv, ao longo das Grandes Montanhas...”

“Encontramos?” Eu interrompi. “Achei que você havia dito que você e os


anciãos o haviam construído.”

“A maior parte do que parecia ser uma caverna feita pelo homem. Nós apenas
construímos em cima dele e o escondemos mais.” Ele acrescentou.

“Bem, como vamos atravessar os quase mil quilômetros que serão necessários
para chegar a este abrigo? Não podemos voar; é muito perigoso.” Observou
Bairon.

“Você está certo. E será igualmente arriscado pegar um portão de


teletransporte para uma cidade dentro de Darv. Devemos esperar até o
anoitecer?”

“Que tal isso?” Sugeri, desenhando uma linha irregular que atravessava Sapin.
“Estamos a cerca de uma hora de caminhada do rio Sehz, que desce por Darv e
vai até o oceano. Vamos descer o rio até o anoitecer e viajar o resto pelo céu.”

“Há cidades construídas ao longo do Sehz, no entanto.” Sylvie rebateu. “Não


estaremos visíveis viajando por cima da água?”

"Quem disse alguma coisa sobre viajar por cima da água?"

***

“Isso é fascinante.” Virion se maravilhou, observando os animais aquáticos e


bestas de mana passando pelo topo das costas de Sylvie enquanto avançávamos
pela água. Eu estava ocupado concentrando-me nas múltiplas camadas de
feitiços que precisava administrar continuamente para tornar possível nossa
jornada subaquática.

Tive de criar dois bolsões de ar, um nas costas de Sylvie para permitir que
Virion, Bairon e eu respirássemos e ficássemos secos, e outro em volta da
cabeça de Sylvie. Embora não estivéssemos submersos fundo o suficiente para
ter que nos preocupar com a pressão da água, isso significava que manter as
bolsas de ar estáveis era um pouco mais difícil.

Para acelerar nossa jornada, eu estava usando a magia da água para nos
empurrar mais rápido, e Sylvie havia formado uma barbatana feita de mana que
se conectava à ponta de sua cauda. Pode não ter sido tão rápido quanto voar,
mas estávamos percorrendo uma grande distância.

Embora Virion parecesse estar gostando desse novo meio de transporte, o


mesmo não poderia ser dito de Bairon. A pobre Lança estava agarrado com
tanta força às costas de Sylvie que, mesmo através de suas escamas duras, ele
reclamou para mim sobre a dor.

“Como você pensou na ideia de viajar debaixo d'água?” Virion perguntou,


girando para a esquerda e para a direita para ver tudo ao nosso redor. Por um
momento, pude ver o velho Virion, o homem com quem cresci quando apareci
pela primeira vez em Elenoir com Tessia.

“Você esqueceu que eu sou muito inteligente?” Eu provoquei, evitando sua


pergunta.

Ficamos bem fundo na água, exceto nas vezes em que tínhamos de reabastecer
nossas bolsas de ar. Depois que o espanto inicial passou, nós quatro viajamos
em silêncio, meditando em nossas próprias mentes, com pouco desejo de
conversar. Sylvie e eu ainda conversávamos telepaticamente, mas mesmo essas
conversas diminuíam, à medida que cada um de nós sucumbia aos próprios
pensamentos sobre o futuro sombrio.

A água ao nosso redor começou a escurecer conforme o sol se punha, indicando


que poderíamos voltar à superfície em breve.

Sem fazer uma pausa, nós quatro nos lançamos fora do rio e no céu roxo e azul
profundo.

Você ficará bem em voar com eles nas costas? Eu perguntei a Sylvie, pulando de
suas costas. Virion e Bairon ainda mal conseguiam usar mana depois da luta
contra a Foice.
‘Eu vou conseguir’ Respondeu ela, batendo suas asas poderosas para acelerar.

Eu segui ao lado deles, voando sozinho para diminuir seu fardo. Observei
quando a terra abaixo de nós começou a se transformar em deserto enquanto
cruzávamos a fronteira para Darv. Eu dei uma última olhada para trás, tentando
não pensar sobre as batalhas acontecendo e o caos se espalhando por nossas
tropas, enquanto elas eram deixadas sem seu comandante.

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