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Copyright © 2022 Giovanna Oliveira

Todos os direitos reservados.

Amor Secreto (Família Collalto | Máfia Italiana | Livro 1)


1ª Edição

Os personagens e acontecimentos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não foi pretendida
pelo autor.

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recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico,
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A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei n. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Todos os direitos desta edição reservados pela autora:

Giovanna Oliveira
Edição Digital / Criado no Brasil

Capa: Giovanna Oliveira


Revisão: @correcaolivrosmiih
Diagramação Digital: Giovanna Oliveira
Leitura Beta: Alice Couto
Ilustração: @aika_ilustra
Sumário
Sinopse

Aviso

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10
Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30
Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Capítulo 41

Capítulo 42

Epílogo

Capítulo Extra

Agradecimentos

Redes sociais

Sobre a autora
Sinopse
Hanna Collalto não quer saber de amor. Seu coração foi
quebrado há alguns meses e ela tem que conviver com a lembrança
disso diariamente. Então, ela tenta ficar focada nos assuntos da
família e seus estudos. Sua família tem poder e ela aprendeu a lidar
com isso desde nova. O problema é que o homem por quem é
apaixonada está sempre por perto, sendo um lembrete do que não
pode ter.

Matteo Lombardi está em conflito. Desde pequeno foi criado para


herdar o cargo do pai e estar ao lado do melhor amigo nos negócios
da Famiglia. Está noivo da sua amiga de infância, mas não para de
pensar na garota que mexe com sua cabeça há alguns meses. Ele
não sabe o que fazer.

Ela é uma das princesas da máfia italiana.


Ele é o futuro consigliere.
Eles terão que superar o que sentem para conseguir informações
sobre o inimigo. Não será uma tarefa difícil, certo?
Aviso
Este livro conta uma história que surgiu na minha mente e pediu
licença às outras para passar na frente e ser concluída primeiro.
Hanna e Matteo tem um espaço especial no meu coração e espero
que tenham um espacinho no seu também.
A história pode conter gatilhos, como cenas de violência, morte,
sangue, tortura, sequestro, sexo descritivo, palavras de baixo calão,
consumo de álcool e drogas ilícitas. Caso você não se sinta bem
lendo esse tipo de conteúdo, aconselho que não leia essa história.
Se esse não for o seu caso, desejo uma ótima leitura e que você
surte bastante, grite, se emocione e se sinta dentro desse universo.
Essa é minha primeira história publicada e espero que
venham muitas ao longo dos anos!
Não esqueça de deixar sua avaliação ao concluir a leitura,
porque me ajuda muito.
Beijos e boa leitura!
Prólogo
Algo estava errado.
Escutei um barulho vindo de trás da porta e levantei rápido da
cama. Não iria conseguir dormir antes de saber o que estava
acontecendo. Logo que fiquei de pé, percebi que não estava no meu
quarto. Que estranho! Ouvi outro barulho, agora de algo caindo no
chão, e acabei dando um pulo para trás. Respirei fundo e fui até a
porta com cuidado.
Não deveria estar com medo, fui treinada desde os meus 14
anos e sabia me defender se necessário. Mas algo me dizia que eu
não iria gostar do que encontraria quando passasse para o outro
lado. Abri a porta tentando não fazer muito barulho e saí na ponta
dos pés. Minha respiração falhou quando vi uma mancha de sangue
no meio do corredor.
— Merda! — Sussurrei.
Aquele não era um bom sinal. Alguém estava ferido. Meu pai?
Minha mãe? Não, ela viajou com meus irmãos mais novos e não
estavam no país. Nicolas? Um som alto vindo do jardim me fez parar.
Ouvi alguém gritando e olhei pelo vidro da janela ao meu lado, que ia
do teto ao chão.
— Você achou mesmo que fugiria de mim? — Um homem
berrava ao andar pelo gramado do jardim. Ele se aproximava de uma
pessoa que estava de joelhos, virada na minha direção e de cabeça
abaixada, segurando o braço.
— Eu vou te matar, seu desgraçado! — Eu reconhecia aquela
voz, mas não conseguia ver seu rosto.
— Nos seus sonhos, garoto! — O homem apontou a arma
para a cabeça do outro.
O que estava de joelhos levantou a cabeça e nossos olhares
se encontraram. Ele sibilou um “Desculpa!” e continuou me olhando.
Coloquei uma mão na boca em choque enquanto a outra pousava na
minha barriga. Isso não pode estar acontecendo! Eu queria gritar.
Abri os olhos e me sentei rapidamente na cama. Minha
respiração estava acelerada e estava tremendo. Que diabos! Passei
a mão pelo cabelo, para afastar as mechas que caíam sobre meus
olhos. Senti meu rosto molhado e passei a mão na bochecha,
capturando uma lágrima. Estava chorando por conta de um sonho.
— Não era real — sussurrei e soltei o ar tentando me acalmar.
Era só um maldito sonho!
Capítulo 1
— Hanna, anda logo!
Escuto o grito do meu irmão e reviro os olhos.
— Já tô indo!
Termino de passar o gloss e dou mais uma conferida no espelho.
Ok, tô muito gata! Escolhi um vestido longo lilás, as alças ficam
caídas pelos braços e possui uma grande fenda na perna. No cabelo,
optei por deixar solto e fiz algumas ondas nas pontas, e para
maquiagem, acabei escolhendo uma mais clássica, minha preferida.
Sorrio vendo o resultado, respiro fundo e saio do meu quarto.
Mal começo a descer as escadas e escuto as reclamações de
Nicolas.
— Ela não sabe que não podemos nos atrasar?
— Pare de reclamar, mio figlio[1]! — Minha mãe fala com uma
voz doce, enquanto arruma a gravata dele.
Mamãe está com um vestido longo azul marinho de ombro
único e prendeu o cabelo em um coque. Ela é uma mulher muito
bonita, com olhos cor de mel e cabelo castanho claro. Muitas
pessoas falam que sou uma cópia fiel dela, de quando ela tinha
minha idade. A única diferença são as mechas mais claras que faço
no cabelo há alguns anos.
— Cheguei! — Eles olham em minha direção e papai é quem
se aproxima de mim.
— Você está linda, bambina mia[2]. — Ele segura minha mão e
me roda pela sala.
Papai está vestindo um terno cinza escuro, que deixa seus
olhos azuis mais destacados. Observo que a gravata é azul, o
mesmo tom do vestido de mamãe. Não consigo evitar o sorriso ao
constatar que estão combinando. Tão fofos!
— Grazie papà[3]! — Agradeço e ele leva minhas mãos aos
lábios, depositando um beijo carinhoso.
— Vamos? — Ele vai em direção a mamãe, oferecendo o
braço para apoio, e eles saem pela porta principal.
— Você realmente está muito bonita, sis[4]! — Nicolas me
chama pelo apelido e se aproxima de mim, também oferecendo o
braço para me dar apoio, que aceito. — Animada?
— Você sabe que não curto muito esses eventos — faço uma
leve careta e ele sorri. — Quem sabe não encontro um pretendente
hoje? — Pisco para ele e é a sua vez de fazer uma careta.
Nicolas nunca foi um irmão ciumento. Sempre respeitou minha
vida privada, nunca arrumando confusão com os meninos que
chegam em mim, apesar de ser um pouco protetor. Sou eternamente
grata por isso, porque não suportaria se ele fizesse um show cada
vez que alguém se aproximasse de mim.
Entramos no nosso carro e o motorista nos leva até o hotel
onde a festa está acontecendo. Não demora muito para estarmos
entrando pelo salão todo decorado, cumprimentando as pessoas que
passam por nós. Papai e mamãe são os anfitriões e se afastam para
dar atenção a todos os convidados.
Durante o ano acontecem algumas festas de confraternização,
isto é, festas para reunir as principais famílias da máfia italiana que
residem nos Estados Unidos, seus associados e aliados. Meu pai,
Alessandro Collalto, é o Capo[5] da máfia na América. Resumindo, a
família Collalto é a que comanda a máfia italiana atualmente.
Meu bisavô tomou o poder ainda no século passado e decidiu
fazer algumas alterações no comando. Giuseppe e Maria Collalto
tiveram dois filhos: Giulio e Dante. Cada um deles ficou responsável
por comandar uma parte da máfia: nonno[6] Giulio comandava a
parte italiana e pops[7] Dante comandava a parte americana.
Meu pai tomou posse quando pops decidiu se aposentar e,
agora, o próximo na linha de sucessão para se tornar Capo é o meu
irmão, Nicolas. Desde que nasceu ele vem sendo preparado para
esse momento, que está cada vez mais próximo.
Olho em volta do salão a procura de algum conhecido, até avistar
o rosto de Abigail. Nós ficamos amigas há alguns anos por
frequentarmos o mesmo colégio e sermos meninas da máfia. Ela era
uma das poucas pessoas que me entendiam e também detestava
esse tipo de evento.
Nicolas ainda está ao meu lado, então me aproximei do seu
ouvido para lhe avisar onde estava indo.
— Vou encontrar Abby! — Ele acena com a cabeça confirmando
que escutou o que falei e me afasto dele.
Caminho em direção a minha amiga e ela sorri assim que me vê.
Faço sinal para ela, e vejo quando pede licença aos seus pais. Abby
caminha com um sorriso travesso no rosto e a no meio do caminho.
— Nossa, você vai arrasar corações hoje! — Ela fala e jogo meus
cabelos para trás, fazendo cena.
— Você também não está nada mal, garota! — Pego sua mão e
faço ela dar uma volta. — Vai conseguir um pretendente hoje,
aposto!
— Dispenso. — Ela faz uma careta e balança a cabeça em
negativa.
Não aguentamos e começamos a rir, porque sempre é assim. A
gente não aguenta os homens indo atrás de nós por conta do nosso
status.
— Vocês deveriam parar de falar essas coisas. — Escuto uma
voz atrás de mim e já sei quem é antes mesmo de me virar. Tava
demorando. — Alguns dos rapazes podem escutar, ou pior, os seus
pais.
— Boa noite para você também, Vanessa. — Viro em direção a
garota, com um sorriso debochado no meus lábios, e sei que ela
percebe. Ficamos nos encarando por alguns segundos. — Fique
tranquila, minha família já me escutou falando sobre isso. — Pego a
mão de Abby, que está observando nossa interação em silêncio, e a
puxo em direção ao bar.
— Um dia você vai ter que se casar, todas sabemos disso.
Essa garota é insuportável! Solto minha amiga e me viro
novamente.
— Quando eu for casar — me aproximo, olhando bem nos olhos
dela — você será convidada. Não se preocupe. — Sorrio falsamente
e ando em direção ao bar, com Abby logo atrás de mim.
— Por que ela tem que ser sempre assim? — Abby questiona.
— Porque ela quer provar que é perfeita. — Solto o ar com
força. — E quer mostrar como seria uma ótima opção para se casar
com meu irmão.
Desde pequenas, as mulheres da máfia são ensinadas a
serem educadas, obedientes e que seu casamento será uma aliança,
um contrato. Isso é comum entre famílias tradicionais. Graças a
Deus a minha não é!
Além de alterar o comando, meu bisavô suavizou as regras
que envolvem o casamento. Na minha família quase não existe mais
casamento arranjado. Quando necessário, claro que ainda fazemos
isso, mas a maioria pode escolher com quem deseja se casar.
Outra coisa que mudou, mas quase não se é falada, é que as
mulheres também são treinadas e podem continuar seus estudos se
assim desejarem. E melhor parte: as mulheres Collalto tem poder
dentro da máfia. Mas essa última parte é meio secreta, para não
haver revolta das outras famílias e tentarem roubar o poder.
Eu sei, meu bisavô estava muito à frente da sua época.
Amém!
Abby e eu pegamos um drink no bar e começamos a andar
pelo salão. Mesmo não tendo idade para beber, não iriam negar
nada para uma das princesas da máfia. Avisto meu irmão ao lado
dos amigos acenando para nós e puxo minha amiga pelo braço para
perto do grupo.
Nicolas era o solteiro mais cobiçado da sociedade por ser o
herdeiro, além é claro de possuir maravilhosos olhos azuis e um
cabelo castanho igual ao de papai. Ele detestava quando as
mulheres chegavam perto dele somente por causa da sua posição
social. Era pior ainda quando eram as mães empurrando as filhas em
cima dele. Por isso, quando tínhamos que ir a esse tipo de evento,
ele sempre estava rodeado por seus amigos: Michael, Matteo, Tyler
e Bianca.
— Até que enfim! — Bianca suspirou ao me abraçar. — Não
aguentava mais esses nojentos falando sobre mulheres.
Bianca era uma mulher linda, com seus cabelos cacheados
volumosos e seus olhos castanhos claros. O seu vestido longo
vermelho, com decote profundo nas costas, valorizava o tom da sua
pele negra.
— Os incomodados que se mudem, Bibi. — Michael falou,
mas logo se arrependeu quando ela bate em seu braço. — Ai! Você
é malvada.
— Você não viu nada, lindinho! — Ela pisca com um olho e
sorri para ele.
Michael era o mais novo do grupo, e também era meu primo.
Arranca suspiros de mulheres e homens por onde passa, com seus
olhos esverdeados e cabelo castanho claro, quase loiro, e sua pose
de dono do mundo. Ele vive implicando com Bianca, mas sei que no
fundo é só uma brincadeira saudável entre eles.
— Ainda acho que um dia ou vocês se matam ou se pegam.
— Tyler disse balançando seu copo com uísque, mas muda de lugar
no momento que Bianca vira o corpo na sua direção.
Tyler era o mais sério deles, com seus cabelos pretos e olhos da
mesma cor. Quase nunca o via sorrindo, mas sei que ele é uma
pessoa com um coração gigante. Não consegui conter o sorriso
quando vi sua cara séria mudar para assustada, ao ver a
movimentação da amiga. Acho que nunca vou me acostumar com a
interação deles.
— Vocês parecem crianças! — Falo e percebo que Abby tenta
segurar uma risada, mas não tem muito sucesso.
— As únicas crianças aqui são você e sua amiga, priminha. —
Michael leva seu copo com bebida à boca.
— Não sei se lembra, priminho — olho para ele e o vejo
levantando a sobrancelha. — Fiz dezoito anos há dois meses.
Michael solta uma risada pelo nariz.
— Grande coisa! — Resmunga.
— Para de drama, Michael! — Meu irmão me puxa para o lado
e olha nos meus olhos, tentando desvendar o que estou sentindo. —
Tudo bem até agora?
— Sim. — Respondo e ele semicerra os olhos. Eu conheço
Nicolas e, provavelmente, ele tinha visto Vanessa falando comigo. —
Não se preocupe! Tudo sob controle.
Ele assente e volta para a roda de conversa com seus
amigos, que não estavam prestando atenção na nossa interação ou
quiseram nos dar espaço. Abby estava ao lado de Bianca e elas
riam de algo que Tyler falava, enquanto Michael fazia uma careta.
— Ele só tá preocupado com você, pequena. — Olho para o
lado e vejo Matteo, melhor amigo do meu irmão e futuro consigliere[8]
da máfia.
— Eu sei, mas posso lidar com aquela patricinha. — Escuto a
sua risada e sorrio para ele.
— Qualquer coisa já sabe, é só chamar. — Abre um sorriso,
que deixa suas covinhas evidentes.
— Obrigada, mas sou treinada! — Pisco um olho e saio,
deixando Matteo sorrindo com minha resposta.
Chamo Abby para continuarmos nossa volta pelo salão.
Paramos para conversar com algumas meninas da nossa idade, um
ou outro amigo de papai me cumprimenta e alguns rapazes nos
param para conversar e nos elogiar. Enfim, o mesmo de sempre
acontece.

Acho que já era quase meia noite. Abby havia ido encontrar
seus pais que a estavam procurando e eu tinha acabado de sair do
banheiro quando escutei alguém me chamar.
— Hanna — viro na direção da voz e percebo ser a mãe de
Matteo. Donatella Lombardi sorriu ao me ver e me aproximei dela. —
Você está linda como sempre, querida!
— Obrigada, senhora Lombardi. — Abraço a mãe de Matteo.
— Como você está? — Pergunta e vejo meu irmão e o amigo se
aproximando. — Sua mãe comentou que vai para faculdade.
Ansiosa?
— Sim! — Sou sincera, porque realmente estou ansiosa para
começar a estudar.
— Fico feliz, minha querida! — Consigo enxergar a sinceridade
na sua voz.
Infelizmente, algumas pessoas ainda não aceitavam que as
mulheres da máfia fossem para faculdade, mas Donatella não era
uma delas.
— Minha irmã vai ser a advogada mais foda da Famiglia[9]! —
Nicolas para ao meu lado, passando o braço pelo meu ombro,
enquanto Matteo para do outro e sorri para mim.
— Não tenho dúvidas! — A senhora responde sorrindo.
Uma música começa a tocar e nossa atenção vai para o
centro do salão. Papai e mamãe começam a dançar uma valsa e eu
conseguia enxergar a troca de olhares entre eles. Mesmo não
podendo mostrar muito afeto em público, dava para ver que era um
casal que se amava muito, e eu sabia que era isso que desejavam
para mim no futuro.
— Tenho certeza que você vai encontrar o amor em breve, vai se
casar e ter muitos filhos. — Donatella fala, colocando a mão no meu
ombro. Sinto um bolo se formar na minha garganta, mas sorrio
concordando.
O que ela não sabia era que eu não tinha mais esperanças
para o amor. Havia decidido deixar o meu coração fechado para esse
sentimento há alguns meses, pois já tinha encontrado o amor, mas
ele não era recíproco. O homem que amava havia quebrado meu
coração e se casaria em breve. No entanto, preciso dizer que ele não
sabia que meu coração era seu para quebrá-lo.
Esse homem estava ao meu lado.
Capítulo 2
Alguns casais se dirigiram para a pista de dança quando a
banda começou uma nova música.
— Me concede essa dança, senhorita? — Nicolas faz uma
reverência exagerada, o que me faz sorrir.
— Será um prazer! — Entro na sua brincadeira e ele pega
minha mão.
Nos juntamos aos outros casais e começamos a dançar.
Começamos a nos movimentar pelo salão em silêncio, mas não
demora para meu irmão puxar assunto.
— O que ela falou com você? — Estava demorando para ele
perguntar algo sobre minha conversa com Vanessa.
— O mesmo de sempre! Casamento é o único tema na mente
daquela garota. — Meu irmão suspira. — Sabe que ela quer casar
com você, né?
— Deus que me livre! — Ele arregala os olhos e balança a
cabeça. — Nunca vou me casar com ela, guarde bem minhas
palavras.
— Ninguém mandou ficar com ela mais de uma vez. Agora
aguenta!
— Se eu, realmente, um dia tiver que me casar… — ele
pondera e o corto.
— Você vai ter que se casar, Nicky! — Falo um pouco alto
demais, atraindo a atenção de algumas pessoas. Coloco um
pequeno sorriso no rosto para disfarçar e continuo falando, só que
agora mais baixo. — Vai casar e ter mini herdeiros. — Ele revira os
olhos, com um sorriso falso no rosto.
Ficamos em silêncio por alguns minutos e a música vai
chegando ao fim. Nicolas foge tanto dos seus sentimentos, sempre
foi assim. Sei que ele esconde coisas de mim, mas eu consigo
enxergar o que ele tenta guardar lá dentro do coração. Respiro fundo
e tomo coragem para perguntar.
— Por que você não…
— Vou procurar outro par! — Ele me interrompe e vai se
afastando, com um sorriso irônico nos lábios. — Como você mesma
disse, terei que me casar. Então, vou ver se encontro uma
pretendente por aí.
Vejo Nicolas se aproximando de um grupo de meninas e
convidando uma delas para dançar. Será que um dia ele vai aceitar
que o que sente não irá mudar? Meus pensamentos sobre a vida
amorosa do meu irmão são interrompidos no momento que uma
pessoa para do meu lado. Meu corpo imediatamente fica em estado
de alerta.
— Agora é a minha vez? — Matteo está com a mão estendida
esperando uma resposta.
Suspiro.
— Ok, mas essa é minha última dança! — Vejo um pequeno
sinal de um sorriso surgir no canto dos seus lábios enquanto
concorda com a cabeça.
— Sempre fugindo das danças, pequena. — Sussurra próximo
do meu ouvido quando começamos a dançar.
Sinto um frio na barriga e, como é uma música lenta, temos
que ficar mais próximos um do outro.
— Não gosto de ficar sendo bajulada por esses filhinhos de
papai. — Dou de ombros e ele solta uma risada baixa. Sinto meu
corpo arrepiar em resposta e o silêncio ganha espaço por alguns
segundos, mas logo volto a falar. — Cadê sua noiva? Não a vi hoje.
— Percebo que ele fica surpreso com a pergunta.
— Ela está na Itália com a família. Não conseguiu chegar a
tempo. — Ele não parece chateado com isso e assinto, continuando
nossa dança.
A verdade é que não tenho interesse em saber onde está sua
noiva. Melanie é uma mulher muito bonita. Seus cabelos são
castanhos, mas existem várias mechas coloridas mesclando com a
sua cor natural. Seu pai é italiano e sua mãe é coreana e ela acabou
sendo a mistura perfeita dos dois.
Eu só fiz a pergunta porque não é comum no nosso meio,
pessoas que estão noivas comparecerem aos bailes sem seu par. No
entanto, sei que o noivado deles ainda não foi anunciado para a
sociedade, somente família e amigos próximos sabem do
compromisso.
Observo Matteo enquanto ele está distraído prestando
atenção nas pessoas ao nosso redor. Ele sempre foi bonito, com seu
cabelo preto cortado nas laterais e maior na parte de cima, e seus
olhos cinzas que me lembravam um dia nublado. Está usando um
terno preto e uma camisa da mesma cor, dispensando uma gravata.
Ele sempre fica bonito de preto.
Fico me perguntando quando foi que me apaixonei por ele.
Nos conhecemos desde sempre, já que seu pai é o consigliere do
meu. Lembro que sempre estava me protegendo do meu irmão
quando éramos crianças e que me ajudava com algumas lições
quando estava com dúvidas.
Sempre fui a irmãzinha do seu amigo, nada além disso. E
estava tudo bem, sabe? Pelo menos estava até eu perceber que
queria algo além da sua amizade e proteção. Por que eu tinha que
ser tão clichê e me apaixonar pelo melhor amigo do meu irmão?
Ficamos em silêncio pelo resto da música. Estamos tão
próximos que fica difícil respirar. O cheiro do seu perfume
amadeirado entra no meu sistema a cada segundo e seus dedos
nas minhas costas estão subindo e descendo lentamente.
Impressão minha ou está ficando quente aqui?
Quando a música chega ao fim, dou um passo para trás e o
agradeço com um pequeno sorriso. Eu só quero sair daqui o mais
rápido possível. Viro de costas para ele e começo a seguir em
direção ao bar, sem prestar muita atenção no caminho, quando
acabo esbarrando em alguém.
— Cuidado! — Sinto as mãos de Tyler na minha cintura me
equilibrando para não cair. — Não estava prestando atenção,
Hanna? — Ele pergunta em um tom brincalhão, mas suas
expressões continuam sérias.
— Tudo bem? — Matteo chega me soltando das mãos de
Tyler e coloca a mão no meu rosto, me olhando preocupado. — Você
tá bem, pequena?
— Tô bem! — Falo baixo e desvencilho da mão dele. — Não
precisam se preocupar, ok?
— Certeza?
Por que ele tem que se preocupar tanto?
Matteo ainda me olha preocupado, tentando encontrar algum
sinal no meu rosto para ter certeza que estou bem. Eu queria que ele
parasse de me olhar assim.
— Ela já disse que tá bem, Matt! — Tyler fala colocando a
mão no ombro do amigo e o agradeço mentalmente por isso. — Bora
encontrar o pessoal!
Matteo ainda está um pouco relutante, mas aceita ir com o
amigo quando faço um sinal com a cabeça para ele ir. Suspiro
aliviada quando ele se afasta e fico observando ele ir ao encontro
dos amigos.

Meus pés estão doloridos por conta das longas horas que
fiquei em cima do salto. Passo pela porta principal da nossa casa
com os saltos na mão e vou direto para o sofá, me jogando nele.
Meus pais vem logo atrás, conversando sobre algum assunto de
trabalho, e percebo que mamãe não está contente.
— Está tarde, querido! Não pode deixar isso para amanhã?
— Você sabe que não posso, meu amor! — Papai responde e
mamãe fecha os olhos com força balançando a cabeça. Ele coloca a
mão no seu rosto com carinho. — Não fica assim.
— Quando, Alessandro? Quando? — Mamãe aumenta o tom
da voz, mas não grita. Papai respira fundo e passa a mão pelo
próprio rosto.
Sento no sofá e fico observando a conversa que já vem
acontecendo há alguns meses. Eu já decorei as falas dessa
discussão: minha mãe não quer mais que meu pai saia de casa
durante a madrugada para resolver problemas da Famiglia. Ela fala
que ele já não tem mais idade para lidar com isso de perto e fica
preocupada. Papai diz que não tem outra opção. E assim segue o
embate entre eles
— Me dê alguns meses — papai coloca as mãos nos ombros
dela. — Vou começar o treinamento dele hoje mesmo.
Ele dá um beijo na testa dela e se afasta, indo em direção a
porta. Minha mãe está em choque, com os olhos arregalados e a
boca aberta, sem emitir um som. E eu? Eu levantei em um pulo.
— Espera aí! — Papai para com meu grito, mas continua de
costas. — Treinamento? — Nenhuma resposta vem de imediato, só
o silêncio de uma madrugada de verão. Então, decido reforçar. —
Você vai começar o treinamento para o Nicolas assumir?
— Boa noite, meninas! — É a única coisa que ele fala antes
de seguir para o carro, que o motorista já trouxe de volta e está
esperando com a porta aberta.
Fico parada sem saber como reagir a notícia. Nicolas
finalmente vai assumir como Capo. Tudo está prestes a mudar nesta
casa. Olho para mamãe, que continua no mesmo lugar, sem se
mover.
— Mãe? — Estou preocupada e me aproximo com cuidado,
para não assustá-la. — A senhora está bem? — Ela parece sair
levemente do transe e assente com a cabeça.
— Vamos dormir, mia figlia[10]. — Ela coloca a mão nas
minhas costas e vai me guiando para a escada.
Eu sei que ela não está bem com a notícia de que seu
primogénito vai assumir o principal cargo da máfia, mas ela também
sabia que esse era o preço para papai deixar de lado as saídas da
madrugada. Tudo nessa vida tem um preço a se pagar.
Subimos a escada em silêncio. Quando chegamos no topo,
ela faz o sinal da cruz na minha testa e depois dá um beijo. Observo
ela seguir pelo corredor em direção ao quarto, até desaparecer pela
porta, e vou em direção ao meu. Tento fazer o mínimo de barulho
quando abro a porta, para não acordar meus irmãos mais novos que
estão dormindo.
Fecho a porta e me encosto nela. Minha mão vai ao peito, no
local que fica o coração, e é nesse momento que vem a realização.
Se Nicolas vai se tornar Capo, Matteo vai… Balanço a cabeça para
afastar esse pensamento. Não preciso me preocupar com isso, não é
da minha conta.
Tomo um banho morno, deixando o meu corpo mais relaxado.
Faço meu skin care noturno e coloco o pijama, uma camisa larga de
Friends[11]. Saio do banheiro e caminho em direção a minha cama.
Estou com muito sono, não nasci para socializar em festas e ter que
ficar lidando com os garotos que querem se aproximar por conta do
legado da minha família. Nenhum deles está interessado em mim,
estão interessados no poder e prestígio que ganhariam ao se casar
comigo.
Deito e fecho os olhos desejando que esse dia acabe logo,
mas é só fazer isso que me lembro das palavras do meu pai.
Merda!
— Amanhã vai ser um longo dia — sussurro.
Capítulo 3
Não sei porque concordei com isso.
Quando meus amigos me chamaram para ir ao Trix Club
depois da festa, minha primeira opção foi recusar. Não estava no
clima de ir para a balada e muito menos continuar socializando por
hoje. Mas Nicolas, meu melhor amigo, sabia como me convencer e
aqui estamos, em uma mesa na área vip bebendo e jogando
conversa fora.
— Por que a Bianca não veio? — Tyler questiona.
Ele está apoiado na grade, observando as pessoas dançarem
no andar de baixo. Estou focado na minha bebida e continuo quieto.
Não vou me envolver nas confusões de Bianca, até perceber que ela
realmente precisa de ajuda. Quando não obtém uma resposta, olha
na nossa direção com a sobrancelha levantada.
— Ela disse que ia pra casa, porque estava cansada. Nada
demais. — Respondo levantando os ombros, demonstrando que não
estou preocupado. Tomo um gole da minha cerveja e vejo Tyler me
encarar. — O que foi?
— Ela estava estranha no final da festa. — Tyler sai do lugar
que estava e senta ao meu lado no sofá.
— Deve ser por conta daquele filho da puta que estava indo
embora acompanhado. — Michael fala entredentes, vira o resto do
conteúdo do seu copo de uísque e chama o garçom com o dedo,
pedindo outra dose.
— Achei que ela já tinha superado. — Confesso que estou um
pouco confuso.
Bianca havia terminado o relacionamento de alguns meses
após descobrir que o filhinho de papai estava ficando com uma
suposta amiga dela. Sorrio quando lembro que esse mesmo termo
foi usado há algumas horas por Hanna quando ela disse que
detestava ser bajulada por filhinhos de papai.
— Qual a graça, Matt? — Michael pergunta e percebo que
meus pensamentos haviam me tirado da realidade. Percebo a
preocupação em seu olhar. — Bianca tá mal, talvez a gente…
— Nós convidamos ela! — Tyler o corta. — Fizemos nossa
parte. Agora vamos ficar de olho para ver como ela vai estar nesses
próximos dias. — Michael e eu concordamos com a cabeça e não
tocamos mais no assunto.
O clube está cheio, como sempre. A música alta impede que
as pessoas conversem normalmente lá embaixo. Sendo honesto,
confesso que detesto lugares cheios assim. Porém, hoje me sinto
pior por ter aceitado o convite e estar aqui. Lembro que enquanto
estou me divertindo com meus amigos, minha noiva está viajando
com a família.
Meu Deus, minha noiva!
Ainda não me acostumei com esse novo termo para falar
sobre Melanie. Éramos muito amigos na infância, mas com o passar
do tempo nos afastamos. Eu precisava me dedicar ao treinamento, já
que em alguns anos me tornaria consigliere. Ela vinha de uma
família muito tradicional, então seu tempo livre foi dedicado a aulas
de etiqueta e outras aulas para ser a esposa perfeita no futuro. Cada
um seguiu seu caminho e estava tudo bem. Tudo mudou quando ela
me mandou uma mensagem há alguns meses.
Aquela maldita mensagem.
— Olha aquela garota ali — Tyler me traz novamente para o
presente e olho na direção que ele está apontando. — Está
totalmente na sua, Matt.
— Não, obrigado! — Balanço a cabeça negando. — Hoje só
vou ficar com a cerveja.
— Se você não quer — Michael termina de virar o outro copo
e já vai se levantando. — Tem quem queira! Com licença, ragazzi[12].
Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça, e logo vejo que
chegou uma mensagem do meu pai. O que ele quer a essa hora? É
só o tempo de ler o que está escrito, para meu corpo fica em alerta.
Viro minha cerveja em um gole e levanto do sofá.
— Temos que ir. — Tyler me olha confuso enquanto balança seu
copo de um lado para o outro, totalmente despreocupado. — Agora,
Tyler! — Falo firme, fazendo com que ele levante rapidamente e
vamos na direção de Michael, que conversa com tal garota. —
Michael, vamos embora! — Grito por conta da música alta e nos
encaramos por um breve segundo para ele entenda a urgência da
situação.
Michael pede desculpa para a menina e nos acompanha. Sei que
ainda vai reclamar por perder uma foda. Estamos indo em direção a
saída do clube quando me lembro que está faltando a pessoa mais
importante do grupo. Que merda, Nicolas!
— Cadê ele? — Pergunto a um dos vários seguranças que estão
parados, espalhados pelas paredes do local, de olho em tudo que
acontece.
— Da última vez que o vi, estava indo em direção ao corredor dos
banheiros vip, senhor. — Me responde e aceno com a cabeça em
agradecimento.
Viro para meus amigos e aviso que podem ir para o carro,
enquanto vou atrás de Nicolas.
Não demora muito para encontrá-lo saindo por uma das
portas dos banheiros, passando a mão pelo cabelo bagunçado.
Quando me vê, abre um sorriso e fico encarando meu amigo com os
braços cruzados. A garota que estava com ele sai logo depois, com o
batom vermelho todo borrado, e ajeitando o vestido para baixo. Ela
está sorrindo, mas quando me vê fica envergonhada por ter sido
pega no flagra e passa por mim com passos apressados.
— Por que essa cara de julgamento, Matteo? — Nicolas
questiona ao se aproximar, também cruzando os braços.
— Você sabe o porquê. — É a única coisa que respondo e
vejo quando ele levanta as mãos, balançando a cabeça. Esse é o
sinal de que não quer falar sobre, então resolvo dizer o porquê de
estar aqui — Precisamos ir.
Não preciso explicar o motivo, porque ele compreende.
— O que aconteceu? — Neste momento não é meu melhor
amigo brincalhão que está perguntando, e sim o futuro Capo.
— Um dos nossos foi pego passando informação para os
russos. Querem a gente lá, só sei isso.
— Caralho! — Ele diz antes de irmos nos encontrar com
nossos amigos e seguirmos para o armazém.

Quando chegamos ao nosso destino, os seguranças já


estavam esperando na entrada. Um deles nos acompanhou para
dentro do armazém, passando brevemente pela situação: homem, 37
anos, faz parte do grupo terceirizado que fica na fronteira com o
território russo. Foi pego passando informações sobre o novo
carregamento. Resumindo, ele poderia entregar as informações sob
tortura ou ficar calado que o resultado seria o mesmo, a morte.
Entramos no escritório que tem ali e encontro meu pai sentado
no sofá com os cotovelos apoiados na perna. Giuseppe, pai de
Michael, está apoiando na parede com os braços cruzados,
enquanto seu irmão Alessandro, atual Capo e pai de Nicolas, está
sentado na cadeira atrás da mesa encarando as quatro figuras que
acabaram de passar pela porta.
— Mandou nos chamar? — Nicolas começa a andar em
direção ao pai.
Eu encaro o meu, que desvia o olhar na hora. Estranho! Algo
está prestes a acontecer, só não sei se bom ou ruim. Meu olhar
muda de direção quando escuto Alessandro pigarrear, atraindo a
atenção de todos nós.
— Está na hora, mio figlio[13]! — Ele solta um suspiro. Meu
melhor amigo para abruptamente e coloca as mãos entrelaçadas nas
costas, em posição de soldado. — Quero que você lide com esta
situação. Será seu primeiro teste para saber se está preparado para
o cargo.
Estou surpreso.
De todas as coisas que imaginei após receber a mensagem,
juro que nunca passou pela minha cabeça que seria assim que
minha noite terminaria. Se Nicolas vai ser testado, isso quer dizer
que eu também. Olho para meu pai, buscando respostas, e ele só
assente.
— Estou preparado, papà[14]! — É a única coisa que sai da boca
do meu amigo e seu pai assente.
— Ótimo! — Alessandro levanta da sua cadeira e passa pela
mesa, ficando de frente para o filho. — Agora é com você e sua
equipe. Quero os resultados o quanto antes na minha mesa. — Ele
termina de falar e vai em direção a porta.
Meu pai também levanta, coloca a mão no meu ombro quando
passa por mim e dá uma leve apertada, como se estivesse me dando
a bênção. Giuseppe faz um sinal com a cabeça para o filho, que
responde da mesma forma. Nós quatro nos viramos para encarar os
três, que estão parados na porta. Eles se viram e acenam com a
cabeça, e nós fazemos o mesmo, antes deles saírem de vez do
nosso campo de visão.
Ficamos em silêncio por alguns segundos absorvendo tudo que
foi falado.
Nicolas está no comando.
Ele ficou responsável pela situação e nós somos a sua
equipe.
— Qual o plano? — Michael é o primeiro a falar e nós nos
viramos para aguardar a ordem do nosso amigo.
— Tirar qualquer informação útil do traidor. — Nicolas não
demora para responder e assentimos em concordância. — Vamos
ver por quanto tempo ele aguenta ficar calado.
— Começar devagar até ir atingindo o limite. — Tyler conclui.
Não é atoa que ele será o chefe dos soldados e será o
responsável pelo treinamento.
— Vamos ao trabalho! — Nicolas fala e concordamos. Andamos
pelo corredor em direção a uma das salas que é destinada aos
trabalhos de tortura.
Nós aprendemos como lidar com esse tipo de situação desde
novos. Nosso treinamento começa quando completamos 14 anos e,
desde então, aprendemos a lutar, atirar e torturar. Dependendo do
seu futuro cargo, você aprende questões burocráticas. Além disso,
você pode optar por fazer uma graduação após concluir os estudos.
Porém, nunca pode deixar o treinamento de lado.
Olho para o corpo que está amarrado a cadeira no centro da sala.
O homem levanta a cabeça e vejo o sorriso no seu rosto quando
percebe quem está ali.
— Achei que seu pai fosse mais esperto e não mandasse
garotinhos para fazer o trabalho. — Ele debocha.
Ah, se ele soubesse…
Encosto no batente da porta e cruzo os braços. Não vou sujar as
minhas mãos dessa vez. Nicolas fica parado a poucos centímetros
do indivíduo, enquanto Tyler e Michael vão em direção a mesa com
todos os objetos usados para torturar.
— Você acha que o Capo é burro? — Nicolas está com um
postura de comando impecável quando faz a pergunta. O homem
solta uma risada debochada e meu melhor amigo começa a dobrar
as mangas da camisa social branca com calma. — É uma pena,
sabe? — Ele solta um suspiro e acompanho um sorriso perigoso
surgir no seus lábios quando Tyler lhe entrega o soco inglês.
O homem não tem chance de dizer mais nada. O sorriso que
estava carregando minutos antes desaparece antes do primeiro
golpe. Nicolas não para tão cedo, deferindo socos, depois retirando
as unhas uma a uma com alicate, entre outras coisas. O traidor não
dura muito e começa a soltar as informações. Quando terminamos, a
sala está ensanguentada e o corpo na cadeira, sem vida.
— Que horas são? — Pergunta enquanto caminha na minha
direção.
— Quase 7 da manhã. — Respondo e Nicolas começa a
limpar as mãos em uma toalha que lhe entrego.
— O que faremos com o corpo? — Tyler questiona e Nicolas
se vira para nosso amigo.
— Pode entregar para os seguranças que já estão
acostumados a dar um jeito nisso. — Comanda, e Tyler assente com
a cabeça.
— Podem ir se quiser, Nick. — Michael se aproxima de nós.
— Leve as informações para o zio[15] e eu ajeito as coisas aqui com
o Ty.
Nicolas agradece o primo e saímos da sala. Antes de
seguirmos em direção a casa do meu amigo, tomamos um banho no
banheiro privado que tem no escritório. Sinto meu corpo relaxar
depois que termino e coloco uma muda de roupa limpa.
Percebo que, mesmo não tendo me esforçado como meu
amigo, estou cansado. Foi uma noite muito intensa. A primeira noite
que a responsabilidade realmente bateu na nossa porta e tivemos
um gostinho do que será nossa vida pelos próximos anos.
— Está pronto? — Pergunto quando saio do banheiro e
encontro meu amigo deitado no sofá, com o braço sob os olhos. Ele
levanta em um impulso e caminha em direção a porta.
— Vamos! — Ele faz sinal com a cabeça para seguí-lo, e vou
sem reclamar.
Nicolas não pergunta se vou direto para o meu apartamento
ou se eu o acompanharei, porque ele já sabe a resposta. Dirigi para
sua casa, pois temos que passar todas as informações que
conseguimos para nosso Capo.
Como já disse, se esse é seu teste, também é o meu.
Capítulo 4
Desço as escadas pela manhã e sigo em direção a cozinha
para tomar meu café. Uma mesa grande de oito lugares fica
localizada no canto e percebo que somente meus pais estão ali.
Papai está sentado na cadeira na ponta da mesa lendo as últimas
notícias em seu tablet e mamãe está sentada ao seu lado tomando
uma xícara de café.
— Bom dia! — Anuncio minha chegada e dou um beijo no
rosto de cada um antes de sentar no meu lugar de sempre.
— Bom dia, figlia[16]! — Mamãe sorri. — Dormiu bem?
— Dormi sim! — Pego uma torrada e começo a passar geléia de
frutas vermelhas nela.
— Por que temos que acordar tão cedo? — Observo Giulio, meu
irmão mais novo, entrando na cozinha coçando os olhos. — Estou de
férias!
— Para aproveitar o dia. — Papai responde sem tirar os olhos do
tablet.
— Tô com fome! — Maya, a mais nova de nós, vem logo atrás do
nosso irmão, agarrada em uma de suas bonecas. — Tem bolo de
chocolate? — Pergunta antes de parar ao meu lado.
— Tem sim, florzinha! — Pisco para ela, que sorri, antes de
subir na cadeira e sentar.
Escuto minha mãe pigarreando e olho na sua direção. Dona
Dalila está com uma cara nada amigável para o marido.
— Hora do café, querido! — Papai larga o tablet sem protestar
e começamos a comer.
Passamos um tempo assim, conversando, rindo da história
que Maya conta sobre seu sonho maluco e tomando nosso café da
manhã tranquilamente. Eu gosto dos nossos momentos em família, e
nas férias fica mais fácil estarmos todos reunidos durante as
refeições.
A campainha toca e a nossa governanta, a Signora[17] Fiori,
vai atender. Escuto passos de uma pessoa se aproximando e logo o
visitante aparece.
— Buongiorno, famiglia[18]! — Sophia entra na cozinha e vai
direto cumprimentar os meus pais.
Não contenho o sorriso, porque minha prima finalmente está
aqui. Sophia é a minha melhor amiga e a prima que possuo mais
contato, talvez por termos a mesma idade. Seus cabelos longos e
loiros estão presos em uma trança lateral e usa um macacão curto
soltinho.
— Bom dia, minha querida! — Mamãe faz o sinal da cruz na
testa dela, que sorri em agradecimento.
— Sente-se conosco, bambina[19]. — Papai fala apontando
para a cadeira ao lado de Maya. — Deve estar cansada e com fome
após longas horas de viagem.
— Você sabe que já fiz 18 anos, né? — Ela pergunta
enquanto puxa a cadeira para se sentar. — Não sou mais criança,
zio!
— Sempre será uma criança para mim — papai responde,
fazendo com que ela revire os olhos em brincadeira e ele sorri.
— Oi, estranha! — Chamo sua atenção e ela olha na minha
direção.
— Também senti sua falta, Hanna! — Ela sorri e faço uma
careta. — Você vai ter todo o tempo do mundo para matar essa
saudade. — Sophia pisca para mim e sei o que ela quer dizer com
isso. Minha prima decidiu fazer faculdade aqui, então, ela vai vir
morar com a gente.
— Vai ficá quanto tempo, Soph? — Minha irmãzinha pergunta.
Sophia pega as mãozinhas dela e segura entre as suas.
— Um tempão, lindinha! — Os olhos da minha irmã brilham com
a resposta. Ela adora quando nossa prima vem nos visitar. — Você
vai até enjoar de mim. — Ela que faz uma careta engraçada e minha
irmã solta uma risada gostosa de criança.
O resto do café da manhã é recheado de assuntos aleatórios,
com Sophia falando sobre a viagem que fez da Itália até aqui, Giulio
reclamando que ainda está com sono, Maya pedindo para
brincarmos com ela e meus pais observando tudo com um sorriso no
rosto. Eles amam quando meus primos vêm nos visitar e a casa fica
mais cheia.
Quando terminamos de comer, Maya puxa mamãe para a sala
de TV para assistir desenho com ela, meu irmão avisa que vai voltar
para o quarto e eu, Sophia e papai caminhamos em direção a sala.
Papai está perguntando sobre a parte da nossa família que mora na
Itália, quando a porta da frente é aberta e vejo Nicolas e Matteo
passarem por ela. Ambos estão com olheiras e semblantes
cansados. Meu irmão para por um segundo quando vê que não
estamos sozinhos.
— Não sabia que teríamos visita logo cedo — ele fala
enquanto se aproxima.
— Bom dia pra você também! — Sophia é irônica e meu irmão
a olha com os olhos cerrados.
— Bom dia, Soph. Quanto tempo! — Matteo abraça minha
prima e ela retribui o carinho. Depois, ele vem na minha direção e faz
o mesmo. — Bom dia, pequena.
— Bom dia, meninos. — Digo ao me desvencilhar do seu
abraço. Nicolas desvia seu olhar de Sophia e sorri para mim.
— Conseguiram? — Papai pergunta, atraindo a atenção de nós
quatro. Os rapazes acenam com a cabeça e ele aponta para o
escritório. — Então, vamos! — Os três saem da sala sem dizer mais
nada.
Sophia me direciona um olhar questionador e dou de ombros,
porque não sei o que está acontecendo ao certo. Talvez tenha haver
com a conversa dos meus pais na noite passada, mas não tenho
certeza. Pode ser só uma teoria da minha cabeça.
Subimos para o quarto que será seu pelos próximos anos e
ela coloca a bolsa em cima da escrivaninha antes de se jogar na
cama.
— Lar doce lar — ela fala e eu estou em pé sorrindo para a
cena.
— Já tá assim? — Ela levanta um pouco o corpo, apoiando o
peso nos braços e me encara. — Até parece que você não estava na
sua casa há algumas horas atrás.
— Realmente estava, mas essa sempre foi a minha segunda
casa e será meu futuro lar pelos próximos anos. Tenho que me
acostumar a chamar de lar em vez de “destino das férias”. — Ela faz
sinal de aspas com os dedos.
— Então está animada para morar aqui? — Questiono, me
sentando na beirada da cama e Sophia faz o mesmo, cruzando as
pernas.
— Para morar com você? Claro que sim! — Respira fundo e
solta uma risada irônica. Já até imagino o motivo disso. — Para
morar no mesmo local que seu irmão? Não, obrigada! — Balança a
cabeça e pego na sua mão.
— O que aconteceu? — Questiono olhando nos seus olhos e
ela desvia o olhar.
— Tô cansada da viagem e preciso de um banho urgente! —
Ela se levanta indo em direção a mala, que algum dos soldados deve
ter trazido para cima, abre e pega uma muda de roupa. — Podemos
falar disso depois? — Ela se vira para mim e eu aceno com a cabeça
concordando.
Sophia manda um beijo no ar e caminha em direção ao
banheiro. Suspiro, porque sei que o depois nunca chega. Ela nunca
quer conversar sobre isso e eu respeito sua decisão. Isso não quer
dizer que vou desistir de descobrir.
Levanto da cama, saio do quarto e vou em direção ao meu.
Tenho que terminar de fazer algumas coisas que não consegui
concluir ontem por conta da festa. Arrumar a bagunça que fiz com as
maquiagens em cima da penteadeira é uma delas, então começo por
ela.
Fico tão concentrada no que estou fazendo que não percebo
as horas passando e, quando vejo, já está quase na hora do almoço.
Minha barriga está roncando, então decido ir para a cozinha beliscar
algo enquanto a Segnora Fiori não vem avisar que a comida está
pronta.
Quando chego no final da escada, encontro Nicolas deitado
no sofá. Ele parece estar muito cansado, com um dos braços caídos
e o outro cobrindo os olhos. Me aproximo devagar para não acordá-
lo.
— Não estou dormindo — ele fala com os olhos ainda
fechados me dando um leve susto.
— Você me assustou, seu idiota! — Dou um tapa leve na sua
perna e ele afasta o braço, abrindo os olhos com um sorriso no canto
dos lábios.
— Desculpa, sis! — Ele se senta e me sento ao seu lado. —
Como foi sua noite?
— Eu que deveria estar te perguntando isso, Nicky! — Ele suspira
e eu coloco a mão na sua perna. — O que aconteceu? Parece que
você não dormiu nada essa noite. — Ele coloca sua mão sob a
minha e me encara.
Sinto um aperto no peito, porque acho que já sei qual será sua
resposta.
— Papà vai se aposentar, Hanna. — Engulo em seco com a
afirmação. — Vou assumir o lugar como Capo da máfia italiana na
América.
Demoro alguns minutos para assimilar tudo que meu irmão está
falando. Mesmo já sabendo desde ontem, ouvir ele dizendo as
palavras em voz alta é totalmente diferente. Ele vai se tornar Capo!
Nicolas só tem 23 anos, meu pai não é tão velho assim para abrir
mão do poder.
Mas Lucca assumiu o lugar do pai com 22, né?
Meu primo, irmão mais velho de Sophia, se tornou Capo na
máfia na Itália, porque o pai deles morreu há 4 anos em uma
emboscada. Não é a mesma coisa que está acontecendo aqui,
porque com Lucca foi questão de necessidade.
— Você tá bem, Hanna? — Nicolas me olha preocupado.
— Mesmo já esperando por isso, ainda é muita informação para
processar. — Tento dar um sorriso, mas falho. Nicolas assente e
aperta minha mão com força, tentando passar confiança.
— Fica tranquila, papà vai me testar primeiro para saber se estou
preparado para assumir o cargo.
— Qual será o teste? — Pergunto e Nicolas encosta no sofá,
jogando sua cabeça para trás. Ele está muito cansado, não deve ter
dormido nada na noite anterior.
— Ele e sua equipe vão ter que ir para a Itália resolver algumas
coisas.
— O que seu pai teria para resolver na Itália? — Sophia desce as
escadas e olha para o meu irmão, cruzando os braços.
— Não sei, princesa! — Ele levanta a cabeça novamente,
olhando para ela, e dá de ombros. Percebo o olhar de irritação que
minha prima direciona a ele. — Pergunta para o seu irmão.
— Vou perguntar. — Ela tira o celular do bolso do short jeans e
vai em direção às portas que levam ao jardim. Antes de sair, se vira
para nós. — E não me chame mais assim, Nicolas! — Ela o
repreende.
Fico olhando até ela desaparecer do meu campo de visão e me
viro novamente para meu irmão, que está olhando na mesma direção
que eu estava há alguns segundos.
— O que foi isso? — Aponto para a porta.
— Não faço ideia! — Ele responde, mas percebo uma mudança
no seu olhar. Será que estou enxergando tristeza no seu olhar?
— Ok! — Balanço a cabeça, afastando meus pensamentos sobre
isso, e volto ao assunto que importa no momento. — Você acabou de
dizer que papà vai com a equipe para Itália. — Nicolas confirma com
a cabeça. — Isso quer dizer…
— Quer dizer que eu vou estar no comando pelas próximas
semanas — ele levanta do sofá. — Será um teste para todos, Hanna.
Não sou só eu que vou assumir minhas responsabilidades, mas
Matteo, Michael e Tyler também vão assumir as deles. — Ele abaixa
o corpo, depositando um beijo na minha testa, e caminha em direção
a escada.
Fico sentada pensando em como tudo vai mudar. Meu irmão vai
ser Capo, Matteo seu consigliere, Michael será seu Underboss[20] e
Tyler vai comandar os soldados. Vendo pelo lado positivo, papai terá
mais tempo para treinar Giulio, que já está quase na idade de
iniciação, e também terá mais tempo para ficar com Maya. Além
disso, ele terá mais tempo para dedicar à mamãe, que percebo que
sente a falta do marido.
Meus olhos passeiam pela sala e param nas fotos que ficam em
cima da lareira. Uma em especial chama a minha atenção. É uma
fotografia antiga, eu, meus irmãos e meus primos reunidos na beira
da piscina da casa de férias na Toscana. Maya devia ter um ano.
Alguns estavam sorrindo, outros fazendo careta, mas todos sem
preocupação alguma. Éramos crianças e amávamos passar alguns
dias juntos.
As mães eram quem tomavam conta da gente, enquanto
nossos pais trabalhavam e apareciam nos finais de semana. Era
perfeito. Foi a última vez que nos reunimos todos ali, porque foi um
pouco depois disso que o zio Marcelo morreu.
— Eu odeio o Lucca! — Sophia volta para a sala pisando duro
e parecendo ter chamas nos olhos.
— O que aconteceu? — Levanto e paro na sua frente
segurando seus braços.
— O idiota do meu irmão não me contou que estamos sendo
ameaçados. — Ela solta uma risada debochada. — Achou que seria
melhor me deixar no escuro.
— Mas tá todo mundo bem, certo? — Me preocupo e ela
balança a cabeça confirmando.
— Mamma[21] viajou com minhas irmãs e vários seguranças,
foi pra Disney em Paris para distrair as meninas. Já meus irmãos
estão tomando conta de tudo com a ajuda do nonno. — Ela respira
fundo, tentando controlar seus sentimentos. — Seu pai vai pra lá
ajudar a resolver a situação e pops já está a caminho.
— Essa parte eu já sabia. — Ela me olha confusa. — Sobre
meu pai. Nicolas vai ser testado e vai ficar no comando pelas
próximas semanas. — Sophia arregala os olhos e pragueja baixinho.
— Ótimo! — Ela se solta das minhas mãos e passa por mim
subindo as escadas. —- Tudo que eu precisava era estar aqui com
seu irmão mandando em tudo e todos.
Não consigo segurar a risada, porque Sophia e Nicolas às
vezes parecem cão e gato. Observo ela desaparecer pela escada e
volto a olhar para a foto de todos nós reunidos em um verão na
Toscana.
Tudo era tão simples!
Capítulo 5
Faz uma semana que meu pai foi para a Itália com o nosso
Capo e me deixou no seu lugar como consigliere enquanto Nicolas
está no lugar do pai no comando. Isto é um teste! Minha mente fica
me lembrando todo dia.
Estou analisando alguns papéis, relatórios de compra e venda
de armas, enquanto meu melhor amigo saiu para resolver algum
problema que surgiu em um dos clubes que a família possui. Passo a
mão pelo cabelo e suspiro. Não aguento mais ver números!
Olho para o teto do escritório que fica na mansão Collalto, e
me pergunto como minha vida mudou em tão pouco tempo. Há
alguns dias eu era só um jovem se divertindo com os amigos. Agora
já possuo responsabilidades, em que uma falha pode acabar
afetando várias pessoas.
— Atrapalho? — Escuto sua voz e instantaneamente um
sorriso surge nos meus lábios.
Olho para a porta e Hanna está com metade do corpo para
dentro do escritório, esperando uma resposta. Faço um gesto com a
mão para ela entrar e a observo caminhar até a mesa com um
sorriso travesso nos lábios.
Ela está usando um cropped preto, de golinha alta e sem
manga, e um short jeans soltinho todo desfiado. Nos pés não usa
nada, mas sei que é um hábito seu andar descalça em casa. Seu
cabelo está preso em um rabo que parece estar solto, caindo pela
lateral do ombro.
— Do que tá precisando? — Pergunto e vejo que ela brinca
com os dedos, sinal de que está nervosa.
— Preciso da sua ajuda. — Estreito meus olhos na sua
direção e ela entrelaça os dedos na frente do corpo, em sinal de
súplica. — Por favor!
— O que foi dessa vez? — Mal termino a pergunta e ela já
está sorridente, sentando-se na cadeira à minha frente e cruzando a
perna.
Engulo em seco.
— Nada demais — ela dá de ombros. Se eu não a
conhecesse há anos, poderia até acreditar. — Preciso que me ajude
a convencer meu irmão a me deixar sair com as meninas hoje.
— Por que precisa da minha ajuda? — Nicolas não tem o
costume de interferir na vida da irmã. A não ser que seja porque…
— Ele anda meio superprotetor desde que papai o deixou no
comando. — Ela suspira impaciente. — Você sabe, por conta das
ameaças que parte da nossa família vem recebendo. — Concordo
com a cabeça. Ele anda preocupado com a segurança da família
desde que ficou sabendo das ameaças que enviaram a Lucca.
— Vou ver o que consigo fazer para te ajudar. — As palavras
saem da minha boca antes que eu possa pensar sobre o assunto.
Quero me bater por sempre agir desta forma quando o
assunto está relacionado a ela. Hanna levanta em um pulo, dá a
volta na mesa e para ao meu lado.
— Obrigada por sempre estar do meu lado! — Sinto seus lábios
encostarem na minha bochecha e meu corpo responde de imediato
ao contato.
Sinto a eletricidade entre nós.
Será que ela também sente?
Fico observando Hanna sair pela porta e passo a mão pelo
rosto soltando um longo suspiro. É muito difícil dizer não quando
Hanna me pede ajuda. Não sei ao certo o motivo, mas desde sempre
a defendi nas brigas que tinha com o irmão e estava sempre a
disposição quando ela precisava de ajuda com alguma coisa.
Sempre foi assim.
Quando ela fez 17 anos, comecei a perceber como a
garotinha que vivia me pedindo ajuda estava se tornando uma
mulher. Lembro como se fosse ontem o aperto no peito que senti
quando a vi em uma festa conversando bem próxima de um garoto
da sua escola e os olhares que ele direcionava a ela. Eu estava me
corroendo de ciúmes. Naquele dia eu jurei que enterraria esse
sentimento, porque para mim era nítido que ela só me via como um
irmão.
Tudo mudou há dois meses.
Começo a ter flashes da noite do seu aniversário de dezoito
anos e balanço a cabeça para afastar a memória. Não posso pensar
nisso agora. Preciso esquecer isso. Estou noivo!
Volto minha concentração aos papéis que estão jogados pela
mesa e me perco no tempo. Somente quando Nicolas passa pela
porta, percebo que a luz do sol que entrava pela janela já foi embora
trazendo a escuridão da noite.
— Eu imaginava que era cansativo ser Capo, mas estou
acabado — ele se joga no sofá, deitando com as pernas cruzadas e
as mãos na cabeça.
— Resolveu a situação no clube? — Encosto na cadeira e
coloco minhas mãos entrelaçadas em cima da barriga.
— Um babaca estava perseguindo uma das dançarinas. Tive
que dar um aviso nele e depois fui ver como a garota estava. Queria
dar a ela a semana de folga, mas ela preferiu continuar trabalhando,
disse que vai ajudar a não pensar no imbecil. — Quando termina de
relatar o que aconteceu, já mudou de posição e está sentado no sofá
com os cotovelos apoiados nas pernas.
Eu conheço meu melhor amigo e consigo ver que além do
cansaço, que já deixou claro que está sentindo, ele está preocupado.
Consigo enxergar nos seus olhos que alguma coisa está fazendo
com que os seus neurônios trabalhem mais que o normal.
Levanto da cadeira e vou até o bar que tem no canto, servindo
dois copos de uísque. Caminho na sua direção, entregando-lhe uma
dose da bebida, que ele agradece, sentando ao seu lado no sofá.
— Pode começar a falar — ele me olha confuso. — O que tá
rolando?
— Tá tão na cara assim? — Uma risada fraca sai do seus
lábios e ele suspira quando balanço a cabeça confirmando. —
Recebi uma ligação quando estava saindo do clube.
— O que queriam? — Já mudo minha postura, ficando em estado
de alerta. Essa ligação pode estar ligada às ameaças. Justo hoje que
Hanna me pediu ajuda.
— Você! — Ele diz e olha nos meus olhos. Arregalo os olhos, pois
estou confuso.
Por que iriam me pedir em troca de algo?
Qual será a ameaça que envolve meu nome?
Nicolas percebe minha mente trabalhando em teorias e
balança a cabeça.
— Não é o que você está pensando.
— Então, por favor, clareie minha mente. Já estou criando mil
teorias aqui. — Aponto para minha cabeça. Nicolas levanta e
começa a passar a mão no cabelo, antes de me encarar novamente.
— Quem me ligou foi o Spencer.
Fico ainda mais confuso.
— Espera — levanto e fico à sua frente. — O cara que tem um
cassino em Las Vegas e nossos pais suspeitam que está traindo a
Famiglia e fazendo esquema com os russos?
— Ele mesmo. — Nicolas encosta na mesa e cruza os braços
enquanto eu tento entender o que ele quer comigo.
Não tem motivo para isso. Nunca tive contato com o cara, além
das festas que frequentamos de vez em quando.
— Por que ele me quer? — Olho para Nicolas, mas ele desvia o
olhar. Algo me diz que não vou gostar do que ele tem para falar.
— Ele quer uma reunião de negócios — continuo olhando para
ele, esperando terminar de contar o que Spencer quer comigo. — Vai
ter um evento no cassino e ele ficou sabendo que estamos no
comando enquanto nossos pais estão resolvendo assuntos na Itália.
Quer conversar conosco. — Ele pausa novamente e finalmente volta
a olhar na minha direção.—- O evento é para casais e… ele soube
que você está noivo.
Estou surpreso.
Muito surpreso, na verdade. Quase ninguém sabe sobre meu
noivado, porque ele ainda não aconteceu oficialmente. Estamos
esperando Melanie voltar da viagem para pedirmos a bênção do
Capo em um jantar e depois faremos a festa para anunciar a
sociedade, como manda a tradição.
Mesmo assim, ainda não entendi por que Spencer está pedindo
por mim. Ele quer uma reunião, certo? Então, por que não pede a
presença de Nicolas? Ele será o próximo Capo, não eu.
Espera! Nicolas disse evento para casais?
— Ele me quer, porque quer que eu esteja neste evento com
minha noiva? — Pergunto e Nicolas confirma com um aceno de
cabeça. — Não vai ser possível! Melanie me enviou uma mensagem
esta manhã confirmando que terá que atrasar a volta para resolver
assuntos familiares.
— Eu sei — olho para meu amigo surpreso com sua
afirmação. Como assim ele sabe? — Falei com ela no caminho para
casa, antes de conversar com você. Ela deu passe livre para alguma
garota de nossa confiança fazer o papel da “noiva feliz” — faz aspas
com os dedos.
Inacreditável.
— Você falou com a Mel antes de falar comigo? — Ele
assente e eu passo a mão pelo cabelo, nervoso. Não é possível! —
Porra, Nicolas! Eu sou seu melhor amigo e logo serei seu consigliere.
Você tem que falar primeiro comigo, não com outra pessoa.
— Sua noiva! — Frisa e sinto os pelos da minha pele arrepiar
com o termo que ainda não me acostumei. O fuzilo com o olhar. —
Queria conversar com ela, saber se ela se sentia confortável com a
situação.
— Não importa! — Grito, mas não assusto meu amigo, que
continua na mesma posição. — Ainda assim, deveria conversar
comigo primeiro.
— Estou conversando agora, Matteo. — Ele já desencostou
da mesa e para bem na minha frente. — Agora temos que pensar em
como isso vai funcionar. Você viaja em dois dias.
— E se eu não aceitar? — Questiono, mas infelizmente já sei
sua resposta.
— Você não tem essa opção. — Ele fala o que já previa. —
Ou devo te lembrar que isso tudo é um teste? — Ele roda o dedo no
ar, como se mostrasse tudo à nossa volta, e não espera minha
resposta, pois não terá uma.
Eu sei que ele está certo.
— Então, quem vai ser minha adorável noiva? — Quero saber
quais opções ele pensou para esse plano dar certo. — Você disse
que tem que ser alguém de confiança.
— Sim. E tem que ser alguém que você conheça e que
também te conheça, para não levantar suspeitas.
— Bianca? — Penso na nossa amiga. Ela seria a opção
perfeita, já que nos conhecemos há anos e sabemos tudo um do
outro.
— Ela tá passando por um momento difícil. Não acho que vai
topar. — Fala e estreito meus olhos para meu amigo, que ele
balança a cabeça. Ele já falou com ela sobre isso. — Ela só não tá
legal agora, ok?
— Ok! — Levanto as mão em sinal de rendição, porque pelo
visto ele já planejou tudo sem me consultar. — Então, quem?
— Bom… — ele olha para cima e suspira antes de voltar o
olhar na minha direção. — No momento, só temos uma opção.
Não sei se quero saber qual é a única opção disponível.
Acho que não vou gostar da resposta.
Capítulo 6
— Você só pode estar brincando! — Sophia se levanta da
cadeira e apoia as mãos na mesa, encarando meu irmão. Consigo
ver o princípio de um sorriso no canto dos seus lábios, mas ele
balança a cabeça e fixa o olhar nela, enquanto Matteo está em pé ao
seu lado sem conseguir olhar na nossa direção.
— Vamos escutar o que ele tem para falar, Soph. — Tento
amenizar a situação. A verdade é que ainda não processei tudo o
que ele acabou de falar.
— Não é uma brincadeira, Sophia. Estou falando sério. — Ele
para de olhar para nossa prima e busca meus olhos. — O que me
diz?
— Olha o que você tá falando, Nicolas. Você tá pedindo para sua
irmã fingir ser a noiva do Matteo. — Sophia está nervosa, e
conhecendo ela, sei que está se segurando para não voar no
pescoço do meu irmão.
Minha prima sabe sobre os meus sentimentos por Matteo. Somos
melhores amigas e confidentes. Ela sabe o quanto chorei depois que
ele anunciou que iria casar com Melanie e o quanto sofro toda vez
que os vejo juntos. Sophia só está tentando achar outra solução para
proteger meu coração, porque se eu fingir ser a noiva dele,
certamente voltarei com meu coração despedaçado.
— Por que eu não posso ir no lugar dela? — Sophia empina o
queixo ao perguntar e meu irmão encosta na cadeira.
— Porque preciso ficar de olho em você. Seu irmão está
recebendo ameaças e não podemos correr riscos. — Nicolas tem um
sorriso convencido no rosto e Sophia solta o ar com força. Ela nunca
admitiria em voz alta, mas sabe que meu irmão está certo. — Hanna
é nossa única opção. — Ele olha na minha direção. — Eu confio em
você, sis! Não pediria algo assim se não fosse tão importante.
Ele não sabe sobre meus sentimentos, não sabe que estará
me colocando em uma posição complicada. Penso em vários
motivos para mostrar que essa situação não vai dar certo: tenho
sentimentos por Matteo, ele não é meu noivo de verdade, podem
descobrir que estamos mentindo e dar tudo errado… São tantas
opções. No entanto, Nicolas sabe que eu faria de tudo pela minha
família, e sei que é por esse motivo que está me pedindo ajuda.
— Ok! Vou fingir ser a sua noiva. — Me direciono a Matteo e
ele me olha surpreso. Talvez não esperasse uma resposta positiva
em relação ao plano do meu irmão. Viro para Sophia e ela está
buscando encontrar respostas no meu olhar, então, sorrio para
mostrar que está tudo bem, e olho por último para meu irmão. — Só
preciso saber uma coisa.
— O que quer saber? — Escuto a voz de Matteo e nossos
olhares se encontram. É a primeira vez que ele fala algo desde que
entramos no escritório, percebo que parece ansioso com tudo isso.
— Eles só ficaram sabendo que você está noivo? Não sabem
quem é a sua noiva? — Estou confusa quanto a isso. Se eles
souberem que Melanie é a noiva e eu aparecer no lugar dela, vai dar
merda.
— Não. — Meu irmão é quem responde e volto minha atenção
a ele. — Só ficaram sabendo do noivado, mas não sabem quem é a
escolhida de Matteo. Como vocês sabem, o noivado ainda não foi
oficializado. Agora, não me pergunte como ficaram sabendo do
noivado, pois ainda é um mistério. — Matteo confirma com a cabeça.
— Certo. — Mordo o lábio inferior e penso sobre. — Então,
quando viajaremos?
Meu irmão e o melhor amigo trocam olhares.
— Daqui dois dias vocês embarcam para Las Vegas. — Meu
irmão volta seu olhar para mim.
Meu Deus, tão rápido? Minha cabeça está funcionando
desesperadamente, buscando motivos para não aceitar. Entretanto,
penso na importância desta missão para os dois. Preciso ajudar meu
irmão nessa fase de treinamento.
— Estarei pronta! — Levanto da cadeira e passo a mão na calça
jeans antes de me virar para sair do escritório, com Sophia logo atrás
de mim.
Antes de passar pela porta, escuto meu irmão me chamar.
— Obrigada por aceitar. — Ele já está de pé em frente a mesa
com Matteo ao seu lado, que me olha como se tentasse desvendar
como estou me sentindo em relação a tudo isso.
— Tudo pela família, Nicky! — Ele assente, pois compreende o
que quero dizer, e saio do local.
Sinto quando Sophia pega minha mão e aperta forte enquanto
seguimos para a escada. É sua forma de mostrar que me apoia e
está ali comigo não importa o que aconteça. Agradeço ao céu por tê-
la ao meu lado.
Uma voz no fundo da minha mente está me questionando se
fiz a escolha certa em aceitar fingir ser a noiva de Matteo. Sei que vai
ser difícil ficar ao seu lado durante uma semana fingindo ser uma
noiva feliz e apaixonada. Quem eu quero enganar? Vai ser muito
difícil só a parte do feliz, pois apaixonada eu já sou. Só me resta
fazer uma coisa para não sair machucada dessa história. Tenho que
guardar meus sentimentos bem fundo no meu coração, guardá-los a
sete chaves!

Estou terminando de fechar a mala.


Se eu tentar colocar mais uma mísera peça de roupa vai
acabar explodindo. Sophia está sentada na cadeira da minha
escrivaninha mexendo no celular. Ela me obrigou a levar várias
roupas para ter opções, já que não sabemos ao certo como será o
evento.
Sophia é apaixonada por moda e é esse o curso que escolheu
fazer. Sempre que fico em dúvida do que vestir, ela é a primeira
pessoa que peço a opinião. Tenho certeza de que, se ela quiser
investir na carreira depois de formada, vai fazer muito sucesso pelo
mundo.
Já terminei de fechar o zíper da mala e me jogo na minha
cama. Fico olhando para o teto do meu quarto e viro rosto quando
sinto o colchão afundar ao meu lado. Encontro olhos verdes me
encarando.
— Tem certeza do que tá fazendo? — Ela me olha preocupada e
fico feliz pela sua preocupação, porque sei que ela se importa.
— Tivemos essa conversa várias vezes nas últimas 48 horas.
— Seguro sua mão e aperto. — Vou ficar bem, Soph!
— Eu só não quero te ver triste depois que tudo passar. — Ela
levanta o tronco, sentando-se e cruzando as pernas. — Vocês nunca
tiveram nada, e lembra como ficou quando ele contou que estava
noivo? — Suspiro antes de me sentar de frente para ela. Seguro
suas duas mãos e olho nos seus olhos.
— Eu vou ficar bem, Soph! Já te falei que dessa vez meu
coração está preparado. — Falo mesmo não estando 100% certa
disso. — É só uma missão para conseguir informações.
— Tudo bem, não vou falar mais sobre isso. — Ela balança a
cabeça e levanta a palma da mão, em sinal de rendição. — Só me
promete que se precisar desabafar vai me ligar, não importa a hora.
Combinado? — Ela levanta o dedo mindinho esperando minha
resposta. Eu sorrio e levanto o meu, entrelaçando nossos dedos.
— Eu prometo! — Ela sorri também e tenta separar nossos
dedos, mas não deixo ela se soltar. — Promete fazer o mesmo? —
Sophia levanta uma das sobrancelhas questionando meu pedido. —
Você vai ficar aqui sem minha companhia e com meu irmão te
vigiando 24 horas por dia.
Demora alguns segundos, mas vejo a compreensão no seu
olhar e ela assente confirmando. Solto seu dedo e ela levanta da
cama.
— Vou ver se ele já chegou e você termina de ajeitar as
coisas aqui. — Gira o dedo no ar, mostrando a leve bagunça que
deixei em cima da cama, e caminha em direção a porta. Ela para no
meio do caminho e gira o corpo de volta. — Não importa o que
aconteça durante a viagem, estarei aqui para juntar cada caquinho
do seu coração se for preciso.
Sorrio. Não esperaria nada diferente vindo dela. Sophia
sempre foi meu ombro amigo e a pessoa que recorro quando preciso
desabafar ou simplesmente chorar.
— Não esperaria menos que isso de você!
Compreendo a preocupação da minha prima. Eu não estou
tão confiante que ficarei bem depois disso tudo, mesmo falando que
vou ficar. Mas é aquilo, né? Um pequeno sacrifício para um bem
maior. Minha família precisa saber se o tal Spencer é de confiança
ou está ajudando os russos e passando informações nossas.
A única coisa desse plano que ainda fica martelando na minha
cabeça é o motivo de Melanie não poder voltar da Itália e cumprir
com o papel de noiva. Ok, eles ainda não têm a benção do Capo,
mas isso não é motivo para não voltar e ajudar a Famiglia. Deve ter
alguma coisa que ela está escondendo. E eu vou descobrir o que é.
Percebo que estava perdida em meus pensamentos quando
escuto Sophia gritando meu nome.
Está na hora.
Depois de descer a escada e entrar no jatinho da família, não
vai ter volta. Terei que ser a noiva de Matteo por uma semana.
Hora do show!
Capítulo 7
O piloto avisa que vamos pousar e olho para Hanna sentada
na poltrona à minha frente concentrada analisando alguns papéis.
Ela está usando um vestido solto turquesa e seu cabelo está
praticamente solto, somente algumas mechas de cada lado estão
presas e se encontram na parte de trás.
— Encontrou algo interessante? — Tento puxar assunto, já
que não falamos quase nada durante o voo.
— Spencer é esperto. Tudo que faz é calculado e ele tem
aliados na polícia, por isso nunca é pego. — Ela fala sem tirar os
olhos do papel.
Tudo que Hanna acabou de dizer é verdade. Spencer nunca fez
algo sem pensar em todos os cenários possíveis, além de ter aliados
políticos sempre ao seu lado. Não me surpreende se ele realmente
estiver jogando para os dois lados e estiver tentando formar uma
aliança com os russos. Afinal, ele é um dos nossos associados, não
nasceu dentro do nosso mundo.
A garota na minha frente não para de ler e reler tudo o que pode
para estar bem preparada. Hanna foi treinada para situações deste
tipo. Sua família sabe como é importante as mulheres saberem lidar
com momentos assim e, além disso, incentivam elas a treinar defesa
pessoal. Por isso estou tranquilo com a presença da princesa da
máfia nesta missão, Hanna é uma ótima lutadora. Arrisco dizer que é
uma das melhores da nossa geração.
— Qual é o plano inicial? — Olho na sua direção e ela está me
encarando, esperando uma resposta. Não encontro nenhum papel
em suas mãos, todos estão largados nas mesinhas que nos separa.
— Vamos fazer reconhecimento do local. Será um evento com
vários casais, então será mais fácil passar despercebido no meio de
tantas pessoas. — Ela assente e tomo coragem para tocar no
assunto que ainda não conversamos. — Vamos ter que demonstrar
que somos um casal, para não gerar desconfiança.
Será que ela percebeu o nervosismo na minha voz?
— Certo. — Noto como sua voz falhou um pouco. Ela também
está nervosa.
Hanna morde o canto do lábio inferior e isso mexe comigo.
Fecho os olhos para tentar me concentrar e não perder a cabeça no
primeiro instante que estamos juntos. Vai ser uma longa semana.
— Vamos ter que dormir no mesmo quarto? — Abro os olhos
ao escutar sua pergunta.
— Fiz reserva para uma suíte com uma sala e dois quartos. —
Ela parece aliviada com minha resposta. — Teremos que encontrar
uma desculpa para a falta de um anel no seu dedo — aponto para
sua mão e ela olha na direção do dedo anelar da sua mão esquerda.
— Podemos dizer a verdade. — Levanto a sobrancelha
questionando. Nós nem estamos noivos de verdade, então, não
entendo o que quer dizer com isso. — Vamos falar que o noivado
oficial ainda não aconteceu. Essa é a verdade, não é? —
Compreendo seu ponto de vista e concordo. Ela está falando sobre a
verdade do meu verdadeiro noivado.
— Ok! Precisamos resolver mais algumas questões sobre nosso
“noivado” — faço aspas com os dedos e ela me olha confusa. —
Como qual será a nossa história e… se for necessário — coço a
cabeça porque não sei como dizer o resto. — Preciso da sua
permissão para beijá-la. — Falo de uma vez só e tão rápido que não
sei se ela entendeu.
No entanto, no momento em que encontro seu olhar, percebo
que ela escutou perfeitamente o que disse. Nunca imaginei que
estaria nesta situação: noivo da minha amiga de infância, mas
fingindo ser noivo da garota por quem tive sentimentos no passado e
jurei enterrar.
Que merda de situação fui me meter?
A voz no fundo da minha mente fica me lembrando que tudo isso
faz parte do teste. Tenho que provar para meu pai que estou
preparado para assumir seu cargo. Se para mostrar que sou capaz
tenho que jogar esse jogo e ficar uma semana fingindo estar noivo
da única pessoa por quem realmente tive sentimentos na vida, então,
faço esse esforço.
— Permissão concedida. — Escuto sua voz e percebo que
não estava mais prestando atenção nela. Balanço a cabeça para
afastar novos pensamentos e ela sorri para meu olhar confuso. Não
lembro direito do que exatamente estávamos conversando. — Se for
necessário, você pode me beijar, Matteo. — Explica e assinto.
Certo, estávamos falando sobre um possível beijo.
Hanna sempre esteve por perto, mesmo depois que descobri
meus sentimentos por ela, isso nunca foi um problema. Ficava puto
quando via que ela estava com alguém? Claro que sim. Mas eu não
tinha o direito de me meter na sua vida. Ela me via como o melhor
amigo do irmão que estava sempre por perto, e eu entendia isso.
Ficar perto dela já era suficiente. O problema é que agora estaríamos
muito próximos.
Tenho que manter o foco na missão e não deixar que os
sentimentos tomem conta, estragando tudo.

O motorista para o carro na frente da entrada do hotel, um prédio


enorme com pilastras na frente e um chafariz gigante na rotatória.
Muitas pessoas entram e saem da porta principal e vejo quando
Spencer Burke sai por ela ajeitando o terno. Me viro de frente para
Hanna e seguro sua mão entre as minhas. A eletricidade
percorrendo o meu corpo.
— Está pronta?
— Vai dar certo! — Ela pisca o olho e um sorriso surge no canto
dos meus lábios.
Gosto da sua confiança.
Saio do carro e Spencer vem na nossa direção, estendendo a
mão para mim.
— Bem vindo ao Stars, Matteo Lombardi! — Estendo minha mão
para cumprimentá-lo. — Fizeram uma boa viagem?
— Tudo correu perfeitamente, Spencer! Obrigada pelo convite. —
Olho para o prédio na minha frente. — Uma bela construção.
— Tudo do melhor para meus clientes. — O homem sorri com
orgulho do seu negócio. — Fiquei surpreso quando me contaram do
seu noivado. — A curiosidade está presente no seu tom e percebo
quando seu olhar avista algo por cima do meu ombro.
Hanna é alguns centímetros mais baixa que eu. Por isso, quando
ficou atrás de mim após sairmos do carro, Spencer não a viu.
— O que temos aqui? — O sorriso do homem amplia no rosto
e consigo enxergar a malícia em seu olhar, isso me incomoda um
pouco.
— Olá, senhor Burke! — Hanna para ao meu lado e estende a
mão para cumprimentar o homem, que deposita um beijo no dorso
dela. — Muito obrigada pelo convite. Foi muito atencioso da sua
parte.
Eu conheço essa mulher praticamente desde que me entendo
por gente, e consigo identificar a falsidade na sua voz. Quero rir do
idiota que está olhando para ela com admiração e um sorriso gigante
no rosto. Ela nunca vai cair no seu jogo!
Hanna dá um passo para trás após Spencer soltar sua mão.
Ela colocou um sorriso no rosto e pega a minha mão, entrelaçando
nossos dedos. Sinto que ela está olhando na minha direção, porque
sinto minha pele queimar. Contudo, continuo olhando para o dono do
cassino que, por sua vez, continua olhando para minha noiva. Ela
não é sua noiva de verdade! Uma voz grita na minha cabeça. Mas
isso não impede meus pensamentos de acabar com o homem mais
velho.
— Podemos entrar, amor? — Finalmente desvio o olhar do
homem e olho para ela, sentindo meu coração errar uma batida ao
escutá-la me chamando assim. — Estou um pouco cansada da
viagem e aposto que teremos uma longa programação essa semana.
Estou certa, senhor Burke? — Ela olha na direção do nosso anfitrião.
— Por favor, me chame de Spencer — ele pede e ela assente
com um pequeno sorriso. — Mas você está certíssima, minha
querida! — Ele olha para mim e bate no meu ombro. — Agora
entendo porque ainda não anunciou seu noivado oficialmente,
garoto. — Ergo minha sobrancelha e ele solta uma risada, antes de
virar de costas e seguir para dentro do edifício. — Claro que o
anúncio do noivado da filha do chefão será feito em grande estilo!
Hanna aperta forte a minha mão e o seguimos em direção a
recepção. Spencer pede para a recepcionista a chave do nosso
quarto e ela não disfarça o olhar na minha direção, me comendo com
os olhos.
Sei que sou bonito. Não vou ser hipócrita e ficar mentindo
sobre ter sempre uma mulher me olhando desse jeito. A verdade é
que sou como a maioria dos homens da minha idade. Porém,
confesso que apesar de já estar acostumado com a atenção que
recebo tanto do sexo feminino quanto do masculino, sempre me sinto
um pouco desconfortável.
Escuto Hanna bufar ao meu lado. Ela gira o corpo ficando de
frente para mim e coloca uma mão apoiada no meu peito, fingindo
arrumar minha camisa social.
— Comporte-se, noivinho! — Ela fala baixo e percebo seu
deboche. Me encara antes de continuar. — Esse jogo precisa ser
jogado por ambas as partes. Então, não fique dando trela pra
qualquer uma que aparecer. — Bate a mão no meu peito e volta a
girar o corpo quando Spencer retorna.
— Aqui está — estende a mão me entregando a chave, que é
um cartão. — Teremos um jantar de boas vindas às 20 horas no
salão principal. Espero vocês! — Ele se despede, claro que antes dá
mais uma olhada na mulher ao meu lado, e sai em direção a porta.
Provavelmente, vai receber mais convidados.
Andamos em silêncio em direção aos elevadores. Estamos
hospedados no 18º andar, o que faz com que demore um pouco para
o elevador apitar avisando que chegamos. O corredor é extenso e
nosso quarto fica quase no final. Quando abro a porta, fico
impressionado com o luxo do lugar. Sabia que Spencer havia
investido muito neste negócio e que era um cassino cinco estrelas,
mas não imaginava que seria assim.
Hanna entra primeiro e fica parada no centro da sala, que tem
um sofá grande, uma mesa de centro, uma TV de 60 polegadas e
uma mesa pequena de quatro lugares no canto. Além da mini
cozinha e uma varanda que tem vista para as ruas movimentadas e
luminosas de Las Vegas.
Ela gira pelos calcanhares e parece observar todos os
detalhes do quarto. Quando avista as duas portas, uma ao lado da
outra, aponta para elas antes de virar o rosto na minha direção.
— Tem diferença entre os quartos?
— Não. Pode escolher o que preferir.
Ela assente e vai em direção a porta que fica ao lado da
varanda.
— Estarei pronta para sairmos às 20 horas em ponto. — Não
espera uma resposta e fecha a porta.
Dou mais uma olhada na sala antes de me jogar no sofá. Encosto
minha cabeça em uma das almofadas e solto um suspiro. Será que
ela sentiu ciúmes dos olhares da recepcionista? Não, ela só quer que
você jogue esse jogo direito, idiota. A voz volta a aparecer na minha
mente.
Tento mudar meus pensamentos.
Será uma longa noite tendo que me socializar com pessoas
desconhecidas, além de ficar de olho nas movimentações de
Spencer. Precisamos começar a trabalhar e descobrir qual seu
envolvimento com os russos. Talvez eu deva tirar um cochilo antes
de sairmos. E é isso que pretendo fazer quando me levanto e vou em
direção à segunda porta.
Deito na cama somente de calça jeans, porque já tirei o tênis, a
meia e joguei a camisa social que estava usando em cima da cadeira
da escrivaninha que tem no quarto. Fico virando meu corpo de um
lado para o outro até ficar encarando a parede que divide o meu
quarto do quarto dela. Tão perto, mas ao mesmo tempo continua tão
longe.
Capítulo 8
Termino de prender a presilha dourada com strass no cabelo,
depois de ter feito cachos com o babyliss, e dou uma conferida no
espelho. Optei por um tubinho preto curto, sem manga e de gola alta,
um scarpin vermelho, brinco de argolas e um conjunto de anéis. Fiz
uma maquiagem mais básica, com delineado e passei batom
vermelho para combinar com o sapato.
Meu objetivo quando comecei a me arrumar era levantar
minha autoestima, pois não estava pulando de alegria com minha
atual situação. Objetivo concluído com sucesso! Estou muito gata.
Penso enquanto me admiro no espelho. Não me arrumei para atrair o
olhar do homem que está no quarto ao lado, e sim, para me sentir
bem comigo mesma.
Já desisti de fazer com que Matteo me olhasse com outros
olhos desde o dia em que ele anunciou seu noivado com Melanie.
Não quero ser aquela pessoa que vai destruir um relacionamento. Se
eles optaram por ficarem juntos, se ele escolheu ela como noiva,
tenho que aceitar. Mesmo que isso não seja fácil.
Pego meu celular na mesa de cabeceira e vejo que faltam dez
minutos para o horário marcado. Saio pela porta do quarto e
encontro Matteo sentado no sofá mexendo no celular. Ele ergue o
olhar sobre o aparelho e o tempo parece estar passando em câmera
lenta. Matteo demora ao passar seus olhos por todo meu corpo, da
cabeça aos pés, e percebo que eles vão ficando cada vez mais
escuros.
Tomo meu tempo para observá-lo também. Ele está vestindo
uma calça jeans escura, uma camisa social preta com as mangas
dobradas até o cotovelo e os dois primeiros botões estão abertos,
sapato social também preto e um relógio prata no pulso. Um visual
que eu já deveria estar habituada, já que ele quase sempre se veste
assim, mas que tira meu fôlego toda vez.
— Você está linda, pequena! — Sua voz sai rouca, fazendo
com que meu corpo acorde, mandando sinais para minha parte
íntima.
— Você também não está nada mal! — Não consigo evitar e
acabo mordendo o canto do meu lábio inferior.
Seus olhos acompanham o movimento e, não sei como é
possível, mas seus olhos azuis ficam ainda mais escuros, como uma
noite sem estrelas no céu. Foco no plano, Hanna! Lembro do motivo
por estarmos aqui.
— Podemos ir?
Matteo demora um pouco para entender o que quero dizer,
mas logo balança a cabeça confirmando e se levanta do sofá. Ele
passa por mim, quase esbarrando no meu ombro, e sinto o cheiro do
seu perfume amadeirado. Inferno, por que tem que ser tão cheiroso?
Pega a arma em cima da mesa e coloca nas costas, abre a porta e
fica esperando eu sair primeiro, antes de fechar e garantir que está
trancada. Guarda o cartão de acesso no bolso da calça e vamos
andando lado a lado em silêncio pelo corredor até chegar ao
elevador. Observo ele bater os dedos na perna enquanto olha a porta
de metal já fechada. Acho que não sou a única que está ansiosa com
tudo isso.
O salão principal fica no segundo andar e, quando a porta do
elevador se abre, vejo várias pessoas andando de um lado para o
outro. Existem alguns grupos conversando espalhados pelo salão,
algumas pessoas estão no bar e poucos estão sentados em suas
devidas mesas. Sabia que era um evento grande, mas não imaginei
que teriam tantas pessoas.
A hostess é muito profissional e não demora a indicar os nossos
lugares, antes de seguir para o próximo casal que acabou de chegar.
Olho para Matteo quando percebo que além dos nossos nomes nos
cartões em cima da mesa, estão os nomes do anfitrião, sua família e
um outro casal. Ele acena levemente a cabeça. Enxergo através do
seu olhar que ele também compreendeu o que está acontecendo.
Spencer nos quer por perto e precisamos descobrir o motivo.

Não demora muito para todos estarem em seus lugares e


Spencer já ter feito um discurso agradecendo a presença de todos,
que aplaudiram ao final. Tudo está correndo bem, com algumas
conversas sobre negócios aqui e ali. O jantar logo foi servido, uma
massa com filé mignon e molho de queijos especiais, que estava
uma delícia.
Quando os garçons começaram a retirar os pratos, Spencer e
sua esposa, uma mulher muito bonita e agradável, pediram licença e
se levantaram para dar mais uma volta e conversar um pouco mais
com os outros convidados. O outro casal que estava na nossa mesa
eram duas pessoas de mais idade, que também pediram licença
para se retirar, pois estavam cansados da viagem e queriam
descansar. Assim, sobraram na mesa eu, Matteo e Kimberly, a filha
de Spencer, uma garota de dezesseis anos que não parava de puxar
assunto com Matteo.
Eu não era boba. Reconhecia o olhar de desejo da garota e sabia
que ela estava interessada em Matteo. Ela se aproxima cada vez
mais dele, debruçando sobre a mesa, fazendo com que seu decote
fique mais aparente, e faz perguntas sobre a Itália. Ele não demora
para começar a falar sobre seus lugares preferidos.
Homens! Suspiro.
Percebo que estou sendo excluída da conversa e começo a
ficar com raiva da garota e de Matteo, que parece ter esquecido que
eu existo. Será que ele esqueceu que o plano é fingir que somos um
casal? Você está com ciúmes. A voz na minha cabeça grita e fecho
os olhos tentando afastar esse sentimento.
Sinto quando coloca a mão na minha coxa, fazendo um leve
carinho com o polegar. Abro os olhos e o olhar da garota acompanha
o movimento que ele faz sob a minha pele. Involuntariamente, um
sorriso surge em meus lábios. Ele é meu, criança! O pensamento
não dura muito, porque logo minha mente me lembra que ele
também não é meu noivo de verdade.
— Tem um lugar muito especial na Toscana — a voz de
Matteo me traz de volta a realidade. — A casa de férias da família
Collalto. Sempre gostei de ir para lá quando era mais novo.
Infelizmente, faz alguns anos que não vou. — Ele dá um pequeno
sorriso para mim e percebo através dos seus olhos que realmente
sente saudades de lá.
— Podemos ir para lá no próximo feriado prolongado. — Falei
o que estava passando pela minha cabeça, sem pensar muito sobre,
e ele me olha surpreso. — Podemos combinar com meus primos e
com Nicolas. — Dou de ombros, como se não fosse nada demais.
— Seria ótimo! — Ele aperta um pouco minha perna. — Sinto
saudade dos nossos passeios a cavalo.
A lembrança de nós dois apostando corrida pelo campo com
nossos cavalos e das brincadeiras que me faziam gargalhar faz com
que um sorriso brote em meus lábios. Ele volta a fazer carinho com o
polegar na minha coxa e acabo me perdendo olhando nos seus
olhos acinzentados. Sinto os pelos da minha nuca arrepiarem. Ele
desvia o olhar do meu e desce em direção aos meus lábios e,
involuntariamente, mordo o lábio inferior.
— Parece ser um lugar adorável. — Escuto a voz fina da
garota e volto a encará-la.
— É um dos meus lugares preferidos — falo.
Kimberly faz uma cara de poucos amigos para mim. Volto
minha atenção para Matteo, seus olhos em um tom de cinza mais
escuro estão me observando atentamente. Vou usar isso a meu favor
e me livrar da garota inconveniente.
— Podemos ir para o quarto, amor? — Tento fazer uma voz
melosa e pelo canto do olho vejo a garota revirar os olhos.
— Claro, pequena! — Ele levanta, estende a mão na minha
direção e aceito sua ajuda para me levantar. Antes de me
acompanhar, Matteo vira na direção da garota. — Foi um prazer te
conhecer, Kimberly.
— O prazer foi todo meu, senhor! — Consigo perceber o tom
malicioso na sua voz. É a minha vez de revirar os olhos, e ela vê o
que eu faço.
Matteo coloca a mão na minha cintura enquanto caminhamos
em direção a saída. Cumprimentamos algumas pessoas pelo
caminho e entramos no elevador com um outro casal. Nos
despedimos quando a porta abre no nosso andar. Porém, antes de
continuar em direção ao nosso quarto, escutamos vozes alteradas
vindas do lado oposto do corredor.
Uma troca de olhares com Matteo é suficiente para que ele
coloque o dedo na frente dos lábios, me pedindo para fazer silêncio.
Ele começa a caminhar na direção das vozes e o sigo. Tiro meu salto
e seguro com as mãos, para não fazer barulho e denunciar nossa
aproximação.
— Eu já te falei que não é assim que funciona. — Escutamos
um homem gritar.
Matteo estica o braço na frente do meu peito, fazendo com
que eu pare de andar. Ficamos escondidos atrás da parede, na curva
do corredor.
— O chefe não gosta desse tipo de joguinho, Salomão. Ele
quer o dinheiro dele. — O homem continua alterado.
— Você sabe que não depende de mim, Marlon. — Outro
homem responde. — Estou esperando receber o dinheiro deles.
Fico me perguntando quem são eles. Matteo está parado de
forma protetora à minha frente, colado na parede, tentando ter uma
visão melhor. Mesmo em situação de total alerta, meu corpo
corresponde a sua aproximação.
— Não importa! Spencer quer a parte dele até o final do
evento ou você sabe o que vai acontecer. — O primeiro homem, o tal
de Marlon, ameaça com uma voz que me causa arrepios.
— Ele não teria coragem de me entregar para a Famiglia. — A
voz de Salomão sai trêmula e escuto uma risada cínica vinda do
outro.
— Não duvide.
Escuto o barulho de uma movimentação próxima e no mesmo
instante Matteo pega a minha mão, me puxando pelo corredor, e
tentando não fazer barulho pelo caminho. Quando estamos quase
em frente aos elevadores novamente, escuto passos de alguém se
aproximando.
Começo a entrar em pânico.
Sei que fui treinada para agir em situações de espionagem,
mas nunca tive que colocar meu treino em prática. No que fui me
meter? Minha respiração está acelerada. Matteo aperta forte a minha
mão e, em um giro rápido, me prende contra a parede. Não entendo
o motivo do que fez. Olho para seus olhos buscando resposta, mas
ele está encarando meus lábios, como se pedisse permissão para
dar o próximo passo. Isso faz parte do plano. Minha consciência grita
e lembro do que combinamos: temos que parecer um casal real.
Os passos vão ficando mais próximos e escuto as vozes dos
homens que estávamos espionando. Minha respiração parece estar
ainda mais acelerada, mas agora o motivo é outro.
Sempre pensei em como seria esse momento. Meu primeiro
beijo com Matteo. Não sou inexperiente, já fui beijada por alguns
garotos da minha idade, e talvez alguns homens mais velhos.
Durante um tempo, fantasiei como seria ter os lábios dele colados
aos meus. Sonhava com ele chegando no meu quarto, dizendo
palavras bonitas e sendo gentil. Bem clichê, eu sei! Mas eu sou uma
mulher romântica. Nunca passou pela minha cabeça que nosso
primeiro beijo seria durante uma missão, quando ele já estivesse
comprometido com outra pessoa.
Borboletas no estômago.
Sem responder a pergunta silenciosa que ele fez, coloco
minha mão na sua nuca e o puxo para um beijo.
Capítulo 9
Quando os lábios dela chocaram contra os meus, fiquei por um
breve momento sem reação. Não imaginei que Hanna tomaria a
iniciativa de me puxar para um beijo. Na hora em que girei seu corpo
e a coloquei contra a parede, consegui enxergar em seus olhos
como estava nervosa. A única coisa que pensei na hora que escutei
os homens se aproximando, foi seguir com o plano e fingir ser um
casal. Precisávamos de uma desculpa para estar ali, no meio do
corredor, naquele momento, sem gerar desconfiança.
Eu parei de pensar no que estávamos fazendo quando ela
começou a brincar com os fios do meu cabelo. Senti que o que tinha
começado como um beijo tímido, já começava a tomar outra
proporção. Aprofundo nosso beijo e as nossas línguas começaram
uma dança sincronizada. Minhas mãos parecem ganhar vida própria,
uma vai na direção de seu rosto e a outra fica na base da sua
coluna. Estou no meu limite, se eu abaixar a mão mais um
centímetro, não vai ter volta. Vou perder totalmente o controle.
Há meses ficava pensando como seria ter seu corpo colado
no meu, sua boca na minha, seu corpo deitado na minha cama, seus
cabelos espalhados pelo meu lençol… Foco, Matteo! Meus
pensamentos não estão me ajudando, porque logo sinto uma ereção
se formando. Tenho que me controlar, para não assustar Hanna.
A mão dela não sai da minha nuca, seus dedos passam pelo
meu cabelo e ela fica puxando levemente os fios. Sinto que minha
ereção vai aumentando a cada segundo e ela está começando a
incomodar dentro da calça. A última gota do meu juízo se vai quando
ela coloca a outra mão no meu peito e morde meu lábio inferior.
Minha mão faz o caminho até sua bunda e aperta levemente o local,
fazendo com que ela solte um gemido na minha boca.
Essa garota será o meu fim, tenho certeza disso agora.
O momento é interrompido quando escutamos alguém
fingindo uma tosse. Me afasto dela, que abre os olhos lentamente.
Consigo ver a chama de desejo neles e ela está com um pequeno
sorriso no canto dos lábios, que estão vermelhos e levemente
inchados. Não resisto e lhe dou um selinho antes de olhar na direção
que veio o som. Posiciono meu corpo na frente do dela, para que ela
tenha tempo de se ajeitar. Como sou mais alto que Hanna, eles não
conseguem vê-la direito.
— Parece que a sua noite será movimentada, rapaz. — Um
deles diz e, se me recordo bem, é o tal Marlon. Ele tem um sorriso
pervertido no rosto. — Talvez possa compartilhar essa beleza mais
tarde. Estou precisando me divertir. — Ele tenta olhar por cima do
meu ombro, mas aprumo a postura.
Uma raiva toma conta de mim. Olho para seu lado e o outro
homem, que deve ser o Salomão, está com um olhar assustado,
alternando sua atenção entre o homem ao seu lado e eu. Ele sabe
quem sou! Ótimo, não terei que dar explicações.
— Desculpe — escuto a voz de Hanna atrás de mim e olho
para ela por cima do ombro. Ela termina de ajeitar o vestido antes de
passar por mim e parar na minha frente. — Não estou disponível,
sou uma mulher comprometida.
Marlon olha para ela de cima a baixo e molha o lábio inferior.
Meus punhos estão fechados ao lado do corpo. Se ele continuar
olhando para ela desta forma, não terei problema nenhum em socar
a sua cara. Salomão, por sua vez, está ainda mais assustado ao ver
quem estava comigo. Parece que também reconheceu a garota à
minha frente.
— Senho… senhorita Collalto — a voz dele sai trêmula.
Esse homem é um frouxo! Segunda vez que altera sua voz
em poucos minutos. Primeiro quando o homem ao seu lado o
ameaçou, agora com a garota que é anos mais nova que ele. Vejo o
olhar confuso que recebe de Marlon.
— É um prazer conhecê-la. — Continua a falar.
— Senhorita Collalto? — Marlon olha na nossa direção.
Hanna dá um passo para trás, ficando ao meu lado, e passa o
braço pela minha cintura, apoiando a cabeça na lateral do meu
corpo.
— Futura senhora Lombardi — responde.
Meu coração errou uma batida ao escutar ela dizendo isso.
Olho para ela, que está me olhando com um sorriso no rosto. Volto
minha atenção para os dois homens e agora Marlon também está
com um olhar assustado.
— Perdão, senhores! — Ele fala olhando para o chão.
Percebo pelo tom da sua voz que está com medo. Que bom! — Não
quis ofendê-los.
— Não repita o que fez! — Minha voz sai firme e ambos olham
na minha direção. — Posso não ser tão paciente da próxima vez. —
Eles acenam com a cabeça e começam a se afastar.
Não esperam o elevador e vão para porta da escada de
emergência, logo os perdemos de vista. Hanna suspira aliviada e
começa a andar pelo corredor em direção a nossa suíte, e eu a sigo.
Tiro a chave do meu bolso quando chegamos no nosso número,
abrindo a porta.
— Essa foi por pouco. — Hanna passa por mim e coloca a
mão no peito. Parece estar mais relaxa. — Achei que seríamos
pegos no flagra.
— O importante é que deu tudo certo e conseguimos algumas
informações para começar. — Coloco a chave em cima da mesa e
pego meu celular para ver se tem alguma mensagem. Escuto sua
risada e me viro, encontrando-a com a mão na maçaneta da sua
porta.
— Quase tudo… — Levanto a sobrancelha e ela revira os
olhos antes de apontar na minha direção. — Agora você precisa lidar
com isso aí, noivinho!
Hanna piscou antes de abrir a porta do quarto. Olho para
baixo e vejo que minha calça está marcando a ereção, que mesmo
com toda confusão não foi totalmente embora. Solto um palavrão
baixo e escuto mais uma risada sua antes da porta fechar.
Ela tá brincando com fogo.
Meu celular vibra na minha mão e, olhando para a tela, vejo a
notificação de uma nova mensagem de Melanie.
Ótimo! Tudo que eu precisava agora.

Decidi tomar um banho gelado antes de falar com a minha


verdadeira noiva. Estou sentado na cama e fico olhando para a tela
do celular até tomar coragem de fazer a ligação. A chamada cai na
primeira vez, mas não desisto. Na segunda, toca três vezes até que
escuto sua voz.
— Oi, ursinho! — A voz de Melanie sempre me trouxe
conforto, mas algo está estranho desta vez e me sinto incomodado.
— Oi, Mel. Tudo bem? — Pergunto e escuto ela falar por
alguns minutos sobre como está sendo a viagem em família para a
Itália.
— Você tá bravo comigo, né? — Sua voz sai baixa e consigo
perceber que está preocupada. — Ele não fez por mal.
— Eu sei, já conversamos sobre isso. — Suspiro. Ela acha
que estou chateado por Nicolas ter falado com ela sobre o plano
antes de conversar comigo. — Não estou bravo com ninguém.
— Ok… — Ficamos em silêncio por alguns minutos. Conheço
Melanie há anos e sei que ela quer falar algo, mas está com medo
da minha reação. — Como está sendo a viagem? Já deu para
descobrir algo?
— Talvez, mas não tenho certeza. Vou ter que investigar mais.
Não falei com meu melhor amigo ainda, então não vou passar
informações antes da hora. Pode ser que não seja nada demais, mas
pode ser que seja algo grande.
— Nicolas confia em você. Se não confiasse, não teria
escolhido a irmã dele para acompanhá-lo nesta missão. — Passo a
mão pelo cabelo molhado, pois não me sinto confortável falando
sobre isso.
Nicolas não sabe sobre meus sentimentos por Hanna. Não
acho que ele a teria escolhido se soubesse o que sinto.
— Bom, talvez se ele soubesse que…
— Melanie — repreendo-a.
— Ok, ok — escuto sua risada e sorrio.
É fácil conversar com ela. Talvez, por ela ser minha melhor
amiga na infância e por saber segredos meus que nenhuma outra
pessoa sabe, nem mesmo Nicolas. Sua risada para aos poucos e
escuto ela pigarreando. Vejo que ela morde o lábio, em sinal de
ansiedade, antes de perguntar.
— Já conversou com ela sobre tudo?
— Não, Mel. — Suspiro. — Não conversamos sobre nada que
não seja relacionado à missão.
— Matteo Lombardi — é a vez dela me repreender. — Não
acredito que não falou com ela sobre o nosso noivado.
— Não tive tempo de conversar com ela direito. — Sei que estou
usando a desculpa que inventei para mim mesmo. — Estive ocupado
com o plano nos últimos dias e nós chegamos aqui hoje. Prometo
que quando tiver tempo vou falar com ela, o mais rápido possível.
— Acho bom mesmo — ela respira fundo. — Hanna merece
saber a verdade. Pelo menos a verdade sobre o nosso noivado. —
Ela faz uma pausa e passo a mão pela minha barba por fazer. Eu sei
que ela está certa. — Não tem necessidade de falar sobre o que
aconteceu no dia que saímos para comemorar o aniversário dela.
Mas ela precisa saber sobre o noivado.
— Eu sei, Mel.
— Sabe mas não faz. — Ergue uma sobrancelha e eu sorrio,
porque ela tem razão. — Eu quero que você seja feliz, Matt. Sempre
desejei isso para você e me culpo por você estar assim agora.
Me jogo de costas na cama e suspiro.
— Eu topei entrar nesse jogo, Mel. Você não tem culpa de nada.
— Essa é a verdade. Eu me meti nessa situação e tenho que arcar
com as consequências.
— Eu te amo, ursinho. — Um sorriso surge nos meus lábios ao
escutar o apelido.
— Não sei por que ainda me chama assim. — Sei que ela sorri
com a minha fala.
— Porque você era fofo quando éramos pequenos e eu queria te
agarrar igual um ursinho. Não tem volta, sempre será meu ursinho.
— Também te amo, Mel! — Reviro os olhos para sua explicação,
com um sorriso ainda nos lábios.
— Tenho que ir agora. A Sam tá esperando minha ligação e
depois marquei de ir pra balada com alguns dos primos.
— Como você está requisitada! Já não é de madrugada aí? —
Implico e escuto ela resmungar do outro lado da linha.
— Não começa a encher minha paciência, Matteo. — Ela reclama
e eu solto uma gargalhada. Amo implicar com ela. — Você não é
meu dono.
— Segundo as fofocas que rolam pelo nosso mundo, sou seu
noivo. — Escuto sua risada. — Qual a graça?
— Não sabia que era fofoqueiro, ursinho. — Ela continua rindo e
balanço a cabeça. — Mas você sabe que te amo muito, Matt.
— Você sempre terá espaço no meu coração, Mel. — Ficamos
em silêncio e escuto ela fungando. Está chorando. — Mel?
— Tô bem! — Responde.
Sua voz de choro não me engana, mas resolvo questionar em
outra hora.
— Vai lá para não se atrasar. Manda um beijo para Sam.
— Pode deixar que mando sim.
Nos despedimos rapidamente e prometo mais uma vez que
vou falar logo com Hanna. Levanto da cama e jogo meu celular sobre
o colchão. Saio do quarto e tudo está escuro. Abro a porta do
frigobar e pego uma garrafa de água, pois estou com a boca seca.
Penso se devo conferir como Hanna está depois da nossa pequena
aventura.
Lembro do nosso beijo, da sua boca macia colada na minha, o
desejo explícito em seu olhar quando nos afastamos. Será que é
coisa da minha cabeça ou ela gostou daquilo? Coloco a mão na
maçaneta, mas desisto. Ela deve estar bem, foi treinada para agir em
situações deste tipo. Amanhã vou conversar direito com ela. E contar
a verdade. A voz na minha cabeça me lembra.
Volto para o quarto e vou para o banheiro escovar os dentes
antes de ir dormir. Quando termino de secar a boca na toalha, encaro
o espelho. A conversa com Melanie fica passando na minha cabeça.
Ela falou que Hanna tem o direito de saber a verdade.
Eu sei que tem, porra!
Sei que minha amiga está certa. Mas como vou contar para a
garota que está aqui, fingindo ser minha noiva, que meu noivado não
é real? Como falar para a mulher por quem tenho sentimentos, que
não amo Melanie? Que vou me casar com minha amiga porque
prometi ajudá-la?
Capítulo 10
Não consegui dormir direito. Fiquei a noite toda revirando na
cama, pensando no beijo. Seus lábios contra os meus, a chama nos
seus olhos, o desejo... Tudo aquilo foi real. Pelo menos eu acho que
foi.
Se há algumas semanas alguém me dissesse que eu estaria
aqui, fingindo ser a noiva de Matteo e beijando ele, falaria que a
pessoa era uma maluca. Nem nos meus melhores sonhos imaginei
um beijo assim. Foi um beijo com carinho, mas também tinha fogo.
Não sei explicar direito.
Tenho um sorriso bobo no rosto e o sol começa a aparecer
pelas frestas da cortina. Pego meu celular na mesa de cabeceira e
vejo que são quase 6 horas da manhã. Talvez Sophia já esteja
acordada. Com o fuso, em Nova Iorque já são quase 9 horas e ela
pode estar se arrumando para o café ou na cama dormindo. Resolvo
arriscar, porque preciso falar com alguém sobre o que aconteceu
ontem.
Procuro seu nome na minha lista de contatos e logo encontro.
Aperto no botão para fazer uma chamada de vídeo e não demora
muito para uma Sophia com roupas de academia aparecer na minha
tela.
— Buongiorno, gatinha! Já está com saudade? — Ela está
sorrindo, mas conheço minha prima como ninguém e sei que está
fingindo. Não tenho tempo de responder às suas perguntas. —
Espera! Não são nem 6 da manhã aí. O que aconteceu? — Seu tom
muda e percebo que está preocupada.
— Bom dia, Soph! Tá tudo bem, só precisava desabafar. Nada
demais. — Tento não dar muita importância, porque sei que ela vai
surtar quando eu contar sobre o beijo.
— Nada demais? Você tá com uma cara péssima, sem
ofensas. Óbvio que alguma coisa aconteceu.
Já disse que conheço ela como ninguém, né? Bom, o inverso
também acontece. Se tem alguém que sabe o que estou sentindo só
de olhar nos meus olhos, esse alguém é a Sophia.
— Desembucha, Hanna.
— Não conseguir esconder nada de você às vezes é um saco,
sabia? — Ela dá de ombros e reviro os olhos.
Minha prima fica me encarando e eu sei que ela vai
permanecer me enchendo de perguntas até eu finalmente responder.
Sem ter para onde fugir, resolvo contar logo de uma vez. Afinal, foi
por isso que liguei.
— A gente se beijou.
O silêncio toma conta e acho que consigo escutar as batidas
do meu coração. Sophia parece estar em choque, paralisada com a
boca aberta, até que ela leva as duas mãos até a frente da sua boca
e seus olhos brilham. Já até sei o que vai acontecer, o mesmo que
aconteceu quando assumi para ela o que sentia por Matteo.
— Aleluia! Mio Dio[22]! — Ela grita e começa a pular pelo
quarto. Sorrio com sua empolgação, porque sei que ela está feliz por
mim. — Quero saber tudo agora mesmo. — Ela já parou de pular e
se senta na cama.
Respiro antes de começar, e resumir os acontecimentos da
noite passada.
— Estávamos voltando da festa e acabamos espionando uns
homens, mas tivemos que sair rápido do local para não sermos
pegos. Como não tinha como sair correndo sem eles nos verem, ele
me colocou contra a parede e eu o beijei.
Flashes da noite interior invadem minha mente novamente.
Fico relembrando a cena e as sensações que despertaram em meu
corpo durante o beijo. As lembranças não deixaram minha mente
durante as últimas horas e são o motivo das minhas olheiras.
— E? — Sua voz me traz de volta dos meus pensamentos e
balanço a cabeça. Olho para a tela do celular e ela está ansiosa,
aguardando mais informações.
— E nada mais aconteceu. A gente se beijou, os homens
chegaram, foram idiotas, coloquei eles no devido lugar e voltamos
para nossa suíte. — Lembro da sua ereção visível na calça e um
sorriso surge nos meus lábios.
Um beijo e esse foi o efeito que tive sobre ele.
— Entendi — novamente sou trazida para o presente. Sophia
está com um sorriso debochado no rosto e sei que fui pega no flagra.
— E esse seu sorrisinho é só por conta do beijo, certo?
— Você é uma chata, Sophia Collalto! — Reclamo e ela solta
uma gargalhada. Acabo me junto a ela e ficamos rindo por um
tempo, antes de dar o assunto por encerrado. — Não falarei mais
nada sobre isso.
— Ok, tudo bem! — Ela levanta a palma das mãos para cima
em sinal de rendição. — Mas não foi somente pra isso que me ligou
tão cedo. Eu te conheço e sei que deve estar criando teorias de
como vai ser de agora em diante. Estou certa? — Ela levanta uma
sobrancelha e suspiro.
— Depois que voltamos para a suíte, não falamos sobre o que
aconteceu. Eu sei que foi por conta do plano, de fingirmos ser um
casal, mas… — Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e não
completo a frase.
— Mas está com medo desse beijo ter afetado a relação de
vocês. — Ela fala aquilo que ainda não consegui assumir.
Tenho medo da nossa dinâmica, que sempre foi tão leve e
divertida, mudar.
Quando descobri que meus sentimentos por Matteo eram
mais intensos do que eu pensava, até tentei fazer com que ele me
visse com outros olhos. A gente sempre se deu bem e achava que
teria uma chance. Mas isso nunca aconteceu, e agora ele vai se
casar. E foi depois dele anunciar o noivado, que desisti do amor e
decidi focar nos negócios da família e nos meus estudos.
Nós continuamos com nossa dinâmica, com amizade e
parceria. Ele me ajuda com meu irmão quando preciso e está
sempre do meu lado nos momentos bons ou ruins. Isso estava sendo
o suficiente. Eu sabia que poderia me apaixonar novamente no
futuro, mas também tinha consciência de que nunca seria com a
mesma intensidade. Estava indo tudo bem, até esse plano aparecer
na minha vida, e agora esse beijo.
E que beijo!
Não sabia como iria fazer para continuar agindo da mesma
forma com ele, quando sabia qual era o gosto da sua boca na minha
e a reação que isso provocava no seu corpo. Porque não dava para
mentir, estava claro: ele se sentiu atraído por mim.
— Acho que vocês deveriam conversar sobre o que
aconteceu. — Olho para Sophia e ela não está mais sorrindo como
minutos atrás. Minha prima está mais séria, porque está preocupada
comigo. — Ou você pode ignorar o que aconteceu. Como você
mesma disse, faz parte do plano, então não tem o porquê criar um
problema em cima disso. — Assinto, já que essa realmente pode ser
a melhor opção, fingir que está tudo bem e não tocar no assunto. —
Mas lembre-se de proteger esse coração — ela aponta na direção do
meu peito e eu levo a mão ao local onde fica o órgão que me
mantém viva.
— Pode deixar! Vou protegê-lo e ele não vai sair quebrado
dessa história. — Tento fazer minha voz sair firme, mas não sei se
tenho sucesso.
Sophia dá um leve sorriso.
— Nós duas sabemos como é difícil. — Solto um suspiro e
escuto uma batida na porta do quarto da minha prima. Ela olha por
cima do celular.
— Abigail chegou e tá te esperando lá embaixo. — Consigo
escutar a voz de Giulio. Sophia assente e logo escuto a porta se
fechando novamente.
— Está me trocando tão rápido assim? — Pergunto fingindo
indignação, tentando trazer um clima divertido para a nossa conversa
novamente.
— Preciso de companhia nesta prisão, já que você me
abandonou. — Ela faz drama enquanto se levanta com o celular na
mão.
— Prisão? Não está sendo dramática demais não? — Rio da
careta que faz, mas percebo que ela realmente está chateada com
algo.
— Seu adorável irmão está me fazendo prisioneira por conta
das ameaças que Lucca está recebendo. Diz que não é seguro sair
para mim sozinha. — Revira os olhos. — Às vezes acho que ele
esquece do que sou capaz.
— Ele só não quer confusão com seu irmão. — Lucca pode
ser muito protetor quando se trata dos irmãos. — Além disso, ele
está sendo testado para ser Capo. Tenta dar um desconto, vai. —
Ela bufa e balança a cabeça, concordando.
— Tudo bem. Vou tentar ser mais compreensível com ele. —
Sorrio, porque sei que vai ser uma tarefa difícil.
Desde a sua festa de 16 anos, Sophia e Nicolas não estão
convivendo muito bem. Não que eles já tenham tido uma convivência
amigável, já que ele sempre ficava implicando com ela e virse versa.
Queria saber o que aconteceu naquele fim de semana na casa da
Toscana, mas ambos insistem em dizer que nada aconteceu e que
só acabaram se afastando com o tempo.
— Tenho que ir. Abby veio para tomar café e depois vamos
treinar. — Minha prima está saindo pela porta do seu quarto e
consigo ver uma Maya saltitante no final do corredor. — Me liga
quando tiver novidades ou precisar conversar. Não importa a hora.
— Frisa e assinto antes de desligar a ligação.
Olho as horas e vejo que ainda falta algum tempo para o café
da manhã ser servido. Decido tomar um banho rápido e me arrumar
para o longo dia que teremos pela frente. Temos muito o que
descobrir e não temos muito tempo.
Enrolo a toalha no corpo após sair do banheiro e começo a
mexer nas roupas dentro da mala. Decido colocar um vestido
amarelo solto com pequenas flores brancas. Não estou afim de usar
salto, então opto por um tênis branco com um solado mais alto.
Coloco brincos de argola e meu conjunto de anéis, meus acessórios
queridinhos. Solto o cabelo e, depois de pensar por alguns minutos
enquanto penteava os fios embaraçados, decido deixá-los secar
naturalmente.
Miro meu reflexo no espelho e sorrio com as escolhas feitas.
Um look mais casual e romântico. Sem muita maquiagem, só um
corretivo para esconder as provas da noite mal dormida, blush, rímel
e um protetor labial com cor, sabor amora. Estou pronta para mais
um dia de atuação. Lembre-se disso, você está fingindo ser a noiva
perfeita. A voz na minha cabeça fica lembrando toda hora. Mas você
esqueceu disso na hora do beijo, né? Esqueci. Uma merda me
perder naqueles lábios perfeitos e olhar acinzentado.
Abro a porta do quarto mas paro antes mesmo de passar para
o outro lado. A cena na minha frente faz com que o lembrete que
estava vindo com força na minha cabeça há segundos atrás
desapareça.
Matteo está sem camisa no meio da sala fazendo abdominal.
Minha boca saliva ao ver a quantidade de gominhos existentes na
sua barriga. São seis? Aproveito que ele ainda não percebeu minha
presença e fico admirando e guardando cada pedacinho do seu
corpo na minha mente.
Já tinha visto seu corpo diversas vezes ao longo dos anos,
quando íamos pra piscina ou quando dormia na minha casa. Porém,
depois do beijo a visão do seu peito nu ganhou um diferente
significado para a minha imaginação. Agora tenho mais um motivo
para não ficar dormindo durante a noite. Pensar nesse corpo dos
deuses contra o meu.
Uma grande merda!
Capítulo 11
— Bom dia! — Resolvo anunciar minha presença, antes de
ser pega no flagra babando por seu corpo, e termino de sair do
quarto. Matteo para seu exercício e olha na minha direção.
— Bom dia, pequena!
Um pequeno sorriso surge no canto dos lábios e ele se
levanta. Contemplo ele caminhando até uma das cadeiras da mesa,
pegando uma toalha que estava no encosto, secando o suor do rosto
e depositando a toalha no ombro. Ele consegue ficar lindo até suado.
Observo ele pegar o celular em cima da mesa e fazer uma careta.
— Ainda é cedo. Espero não ter feito barulho para ter te
acordado.
— Acho que ainda não me acostumei com o pequeno fuso
horário e não consegui ficar mais na cama. — Tento soar tranquila e
acho que ele acredita na minha mentira. — Tá acordado tem muito
tempo? — Questiono e caminho em direção ao frigobar, abaixando
para pegar uma garrafa de água.
Consigo sentir seu olhar sob mim, fazendo com que um
arrepio percorra meu corpo.
— Não consegui dormir direito por conta dos acontecimentos
de ontem — sua voz sai rouca e sinto minha garganta ficar seca.
Ele não conseguiu dormir por conta do beijo?
Levanto e o encaro para ver se consigo observar alguma
reação no seu rosto, mas encontro Matteo de olhos fechados
passando a mão na testa.
— Quer dizer, sobre o que escutamos ontem a noite. — Ele
abre os olhos e olha para mim, seus olhos mais escuros do que há
alguns segundos. — Preciso conversar com seu irmão e contar o
que aconteceu.
Meu corpo inteiro gela. Ele não estava falando do beijo,
estava? Se Nicolas descobrir que nos beijamos, qual será sua
reação? Provavelmente, vai surtar ou ficar se culpando por ter me
escolhido para a missão. Ou pior, pode brigar com Matteo e acusá-lo
de se aproveitar da sua irmã. Meu coração está disparado.
Começo a andar de um lado para o outro preocupada com a
reação do meu irmão quando descobrir sobre o beijo e não percebo
Matteo se aproximando de mim. Ele coloca as mãos nos meus
ombros, me fazendo parar e enxergo em seus olhos que está
preocupado. Desvio o olhar do seu e encaro o chão.
— O que foi, Hanna? — Ele retira uma mão do meu ombro e,
com os dedos, levanta o meu queixo, fazendo com que eu olhe nos
seus olhos novamente.
— Estou nervosa. — Fecho os olhos quando percebo que falei
em voz alta o que estou sentindo.
— Não precisa ficar nervosa. — Sua voz é grossa e calma ao
mesmo tempo e abro os olhos novamente. — Você foi muito bem
ontem e ainda conseguiu colocar medo naqueles homens. — Ele
parece se lembrar de algo e sorri. — O tal do Marlon quase beijou
seus pés quando percebeu com quem estava falando.
Matteo acha que estou nervosa por conta do que aconteceu
ontem com aqueles homens, e não porque nos beijamos. Mordo meu
lábio inferior, pois devo estar parecendo uma garotinha assustada
que não sabe lidar com situações para as quais fui treinada. Seus
olhos se desviam dos meus e vão parar nos meus lábios.
Está ficando quente aqui ou é impressão minha?
Nós estamos próximos, mas não tão próximos como
estivemos na noite passada. Observo que sua respiração começa a
ficar pesada. Sei que ele se sente atraído por mim, ontem tive a
prova de que consigo fazer seu corpo reagir ao meu. Uma coisa que
não imaginei ser possível para falar a verdade, porque nunca o vi me
olhar como mulher. Mas ontem ele me viu assim, seu corpo entregou
o quanto me desejava.
Quero beijá-lo novamente, sentir o gosto da sua boca na
minha. Deveria me afastar, porque estamos sozinhos e não
precisamos fingir nada, nem mesmo temos a obrigação de nos beijar.
No entanto, não consigo. Você não é a noiva dele! A voz na minha
cabeça grita e acabo dando um passo para trás. Matteo parece sair
do transe e também dá um passo para trás, balançando a cabeça.
Ficamos em silêncio, sem saber o que dizer. Não consigo olhar na
sua direção e sei que ele também está evitando olhar para mim.
O celular dele faz barulho e ele olha para o aparelho em sua
mão.
— Mensagem do seu irmão. — Ele fica olhando por alguns
segundos antes de digitar uma resposta. Desliga a tela e me encara
pela primeira vez depois do nosso momento, se é que podemos
chamar assim o que acabou de acontecer. — Ele está entrando
numa reunião agora, mas pode falar com a gente depois disso.
— Ok. Podemos tomar café com calma e depois conversamos
com ele.
— Vou tomar um banho antes — ele passa por mim e seu
ombro esbarra no meu. Sinto um choque, como se nossos corpos
correspondessem um ao outro. — Pedi para o café ser servido no
quarto. Deve chegar daqui a pouco. — Fala apressado, antes de
entrar no seu quarto, e escuto o barulho da porta sendo fechada.
Sento no sofá, ligo a televisão e começo a procurar algo para
assistir. O café da manhã chega logo em seguida. Um garoto, que
deve ter uns 16 anos, ficou corado quando abri a porta e me viu. Ele
pediu licença para arrumar as comidas em cima da mesa e, depois
de pronto, saiu. Dei uma gorjeta, o que o deixou ainda mais corado.
Confesso que achei fofo.
Vou até uma das cadeiras da mesa e me sento. Sirvo uma
xícara de café e bebo o líquido quente com um sorriso nos lábios,
pois a cafeína era muito bem vinda depois de uma noite mal
dormida. Decido esperar Matteo para tomarmos café juntos e decidir
o que fazer daqui pra frente.
Não demora muito para Matteo sair do quarto descalço, com
uma camiseta preta e uma calça jeans um pouco rasgada. Seu
cabelo está molhado e bagunçado, claramente ele não gastou tempo
penteando os fios pretos. Queria poder achar que ele está feio, mas
Matteo consegue ficar ainda mais bonito assim com um look mais
despojado. Ele caminha na minha direção e decido quebrar o clima
estranho que ficou após o nosso “momento”.
— Estava te esperando — digo quando ele se senta na
cadeira à minha frente. — Precisamos programar o que temos que
fazer pelo resto da semana. Já sabemos que realmente Spencer
pode estar envolvido com os russos depois de escutarmos aquela
conversa de Marlon e Salomão. Então, qual o próximo passo?
— Spencer me passou a programação que organizou.
Matteo pega o celular no bolso e me entrega. Olho para o
aparelho e fico surpresa com a quantidade de coisas diferentes que
estão programadas para acontecer ao longo da semana. Passeios,
jantares, almoços, festas. Somente duas noites livres “para
aproveitar o momento em casal”, como está descrito na mensagem.
Suspiro e olho para Matteo, que já serviu seu café e pegou um
croissant recheado de queijo, colocando no prato.
— No meio disso tudo, ainda temos que descobrir o que
Spencer está fazendo — ele assente, confirmando o que disse.
Pego a minha xícara, bebendo mais um pouco de café.
— Já sabemos que ele tem algo com os russos, então, vamos
começar por esse tal de Salomão. Ele deve estar com a esposa no
almoço de hoje. — Fala antes de morder um pedaço do croissant. —
Isso tá muito bom, você tem que provar. — Pega um e coloca no
meu prato.
Mordo um pedaço e realmente é delicioso. Passamos os
minutos seguintes planejando o que faremos nos próximos dias.
Matteo monta um plano e ajudo nos detalhes. Nicolas envia uma
mensagem falando que a reunião vai demorar mais um pouco e dou
ideia de assistirmos uma série enquanto esperamos a ligação do
meu irmão.
Vamos para o sofá e iniciamos a busca de uma série que
ambos ainda não assistimos, mas não estamos entrando em um
acordo. Estou rindo do comentário que ele fez sobre a série que eu
falei ser muito previsível, mas paro de olhar as opções que deslizam
pela tela da televisão ao olhar na sua direção.
Observo Matteo mexendo no controle a procura de uma série
e volto a pensar em como ele é bonito. Se você olhar Matteo assim,
relaxado e com roupas mais casuais, não imagina que é um mafioso
ou o futuro consigliere do Capo. Ele parece um jovem
despreocupado e, até mesmo, certinho demais.
— Às vezes me pergunto se você destoa dos outros homens
da máfia de propósito.
Matteo olha surpreso na minha direção e percebo que falei o
que pensava alto demais. Ele levanta uma sobrancelha questionando
minha fala e dou um leve sorriso em resposta. Como explicar isso
sem deixar na cara que eu fico o observando o tempo todo?
— Porque não tenho tatuagens pelo corpo e não estou com
várias mulheres à minha volta o tempo todo? — Questiona e faço
uma careta. Escuto sua risada baixa enquanto balança a cabeça.
— Olhando de fora, você parece todo certinho para viver no
nosso mundo — começo a justificar. Não é uma mentira, é o que
sempre achei ao ficar observando-o e vejo que ele muda um pouco a
postura. O sorriso ainda está presente em seus lábios, mas seu olhar
está mais sério.
— Só porque não me pareço com seu irmão e seus primos
por fora, não quer dizer que não sou parecido por dentro. — Sua voz
sai grossa e profunda e ele olha dentro dos meus olhos, fazendo
meu corpo arrepiar. — Tenho meus demônios, pequena. Muitos, para
falar a verdade. A diferença é que consigo passar como um bom
moço por fora e eles não. — Levanta os ombros, como se fosse algo
simples de entender, e volta sua atenção para a TV.
Engulo em seco.
Não imaginei que ele iria responder abertamente sobre,
porque nunca tivemos uma conversa tão profunda sobre nós
mesmos. Penso se devo aproveitar o momento para questionar
coisas que sempre quis, mas nunca tivemos a oportunidade de
conversar.
— Por que não tem a tatuagem da Famiglia? — Começo pela
pergunta que sempre quis fazer desde que tinha 11 anos e recebo
sua atenção novamente. — Não tem que ser feita quando a iniciação
termina?
Matteo sorri de lado, um sorriso que o deixa muito sexy.
— Sim, ela tem que ser feita quando a iniciação é concluída.
Eu tive a opção de fazer quando concluí com 16 anos, ou poderia
fazer quando assumisse meu cargo de consigliere. Optei pela
segunda opção. — Ele explica e não parece se incomodar por ser o
único da sua idade sem a marca. — Seu irmão também teve a
opção, assim como Michael e Tyler. Todos escolheram fazer logo.
— E por que você optou por esperar? — A curiosidade fala
mais alto.
— Porque quero fazer a tatuagem quando estiver
completamente dentro da Famiglia. — Olho para ele confusa e
Matteo entende meu questionamento sem que eu precise fazer outra
pergunta. — Sei que nasci dentro da máfia, faz parte da minha vida,
do meu destino. Só achei que seria certo fazer quando assumisse o
cargo do meu pai. Sempre serei leal a Famiglia, isso não é uma
dúvida na minha vida, nunca foi. — Penso no que ele acabou de
dizer.
— Hum… Entendi. Você quer estar totalmente dentro dos
negócios para marcar na sua pele, como se só assim tivesse sua
iniciação totalmente concluída. — Ele confirma com a cabeça.
Não voltamos a procurar algo para assistir, já que seu celular
toca e vejo que é meu irmão.
— Oi, como estão? Tem novidades para mim? — Ele
questiona, sem dar tempo de respondermos a primeira pergunta.
Percebo que Nicolas está no escritório que tem na nossa casa
e está vestindo terno, porém já está com a gravata frouxa e posso
ver em seu rosto o cansaço. Tem olheiras abaixo dos olhos.
— Oi, Nick. — Matteo fala e fico ao seu lado observando
enquanto escuto ele relatar ao meu irmão os eventos da noite
anterior.
Estou nervosa, porque não sei se ele vai contar sobre o beijo
ou não. Conversamos sobre várias coisas hoje, mas não falamos
sobre isso. Não estou mais prestando atenção no que eles
conversam, preciso focar.
— Precisava ver a cara do desgraçado quando percebeu que
estava falando com uma Collalto. — Escuto e fico aliviada quando
percebo que não citou nosso beijo.
— Queria era esmagar a cara do idiota por ter falado o que
falou sobre ela. — Meu irmão fala irritado e sorrio, porque sei que ele
ama me proteger.
— Sei me cuidar, rapazes. — Nicolas olha para mim e sorri. —
Não foi um dos motivos para me escolher para essa missão? Por ser
uma ótima lutadora?
— Você é a melhor, sis! Não duvido da sua capacidade de se
defender sozinha. — Ele pisca um olho e sorrio de volta.
Os dois voltam a conversar sobre outros assuntos do negócio
e fico ao lado escutando tudo com atenção. Meu irmão está muito
sobrecarregado, não sei se ele estava totalmente preparado para
assumir as coisas agora. Conheço Nicolas e sei que ele vai dar o seu
melhor, fazendo de tudo para deixar nosso pai orgulhoso.
— O que me preocupa agora são as ameaças que Lucca
anda recebendo. — Sua voz sai apreensiva e, ao olhá-lo
atentamente, sei que está escondendo algo.
— Se alguma está relacionada a Sophia, ela tem o direito de
saber. — Não consigo ficar calada e escuto meu irmão suspirar.
— Ela é teimosa e não tá aceitando que ficar em casa é o
mais seguro no momento. — Nicolas esfrega a mão no rosto e sei
que ele realmente está preocupado com a segurança da nossa
prima. — Não sei mais o que fazer para convencê-la.
— Talvez conversar abertamente sobre o problema seja a
melhor opção. — Matteo fala e concordo com a cabeça.
— Sem brigas, por favor! — Completo rapidamente, porque
conhecendo os dois como conheço, sei que isso é bem provável de
acontecer. Vejo um sorriso aparecer no canto dos lábios do meu
irmão.
— Não posso prometer isso, sis. Sabe que não. — Reviro os
olhos e escuto a risada de Matteo. O repreendo com um olhar de
canto, porque não está me ajudando.
— Só conversa com ela, de forma civilizada pelo menos. —
Tento e ele assente, mesmo que tenha um pequeno sorriso no rosto
indicando que não promete nada de fato.
— Temos que ir agora. — Matteo está olhando para o relógio
em seu pulso e levanta o olhar, encontrando meus olhos. — Ou
vamos nos atrasar.
— Boa sorte! Depois marcamos uma nova ligação para me
contarem o que conseguiram descobrir.
Meu irmão se despede e encerra a ligação. Fico encarando a
tela do celular, que está apoiado no arranjo em cima da mesinha de
centro, por um tempo. Será que devo me preocupar com Sophia?
Ameaças contra nossa família sempre existiram, é o preço de ser a
principal família da máfia italiana.
— Vamos nos arrumar para o almoço, pequena. — Matteo
levanta e coloca uma mão no meu ombro, chamando minha atenção.
— Não temos muito tempo.
Ele pega o celular e caminha em direção ao seu quarto.
Levanto e vou para o meu, porque também preciso me arrumar para
esse almoço. Se algo grave acontecer, sei que Nicolas não
esconderia de nós. Preciso focar na missão que viemos fazer. Temos
que nos aproximar de Salomão e descobrir quem vai lhe entregar o
dinheiro e o por que.
Capítulo 12
Ontem não conseguimos progredir muito na nossa investigação.
No final do dia já estávamos cansados e resolvemos deixar para
continuar hoje. Salomão não estava presente no almoço e não
compareceu à festa que teve a noite. Talvez ele tenha ficado
assustado ao descobrir que Hanna e eu estamos aqui e ficou medo
de alguém abrir a boca sobre o que ele anda fazendo de errado.
Uma pena que ele não sabe que escutamos sua conversa com
Marlon naquela noite.
Estou sentado no sofá, mexendo no celular e analisando alguns
novos documentos de compra e venda de armas que Nicolas me
enviou, enquanto espero Hanna ficar pronta para o compromisso que
temos daqui a pouco. Confesso que minha mente não está cem por
cento focada nos negócios e minha mente vira e mexe viaja até a
garota atrás da porta.
Spencer planejou tudo nos mínimos detalhes e hoje,
finalmente, será nossa primeira noite livre. Se tudo der certo, vamos
para o passeio e nos encontraremos com Salomão. Planejo tirar
algumas informações do homem e descobrir se realmente existe
alguma troca de informações entre nosso anfitrião e os russos.
Depois, temos que resolver o que faremos pelo resto do dia, só nós
dois.
Escuto o barulho da porta se abrindo. Levanto o olhar do
celular e encontro Hanna saindo do seu quarto de roupão e cabelo
preso em um coque. A parte de cima está um pouco aberta,
deixando visível a renda do seu sutiã.
Foco, Matteo!
— Vestido? — Ela levanta uma das mãos com uma peça de
roupa azul claro. — Ou macacão? — Levanta a outra mão com uma
peça verde escura.
Quero rir da sua pergunta, porque não sou um entendedor de
moda para ajudar na escolha, mas seguro o riso. Hanna
provavelmente me mataria com um olhar se fizesse isso.
— Me ajuda, Matteo! Não sei como será esse passeio, estou
em dúvida e as meninas não responderam minha mensagem.
— Macacão?! — Tento escolher e ela bufa com minha
resposta. Ela fica tão fofa quando está irritada.
— Homens! — Reclama, vira as costas e volta para dentro do
quarto.
Fico olhando para onde ela desapareceu e sorrio, sem saber
direito o porquê.
Hanna já era um pensamento recorrente meu, antes mesmo
daquele beijo. Ainda não consigo acreditar que ela tomou a iniciativa
de me beijar. Seus lábios delicados e macios colados aos meus são
uma recordação diária, um lembrete do que já tive por um segundo.
Do que eu ainda desejo ter.
Quando ela me perguntou porque não falei ontem sobre o
beijo para Nicolas, fiquei sem saber o que responder. Pensei muito
sobre isso e talvez eu queira guardar esse momento como um
segredo entre nós dois, uma recordação só nossa. A resposta que
dei para ela na hora foi que não havia necessidade de contar algo
irrelevante. Soube que foi a resposta errada no exato momento em
que vi a mágoa em seu olhar. No entanto, acho que ela acreditou no
que eu disse.
Por um minuto, passa pela minha cabeça se devo contar logo
para ela a verdade sobre meu noivado com Melanie. Sei que prometi
para minha amiga que iria conversar com Hanna o quanto antes,
mas ainda não encontrei o momento certo. Se é que isso existe. Mel
fica me mandando mensagem todo dia para saber como estou,
pergunta se já contei e, quando recebe uma resposta negativa, me
dá um sermão e enumera os motivos para contar logo.
Passo a mão no rosto e tento afastar os pensamentos
envolvendo a irmã do meu melhor amigo. Ela está aqui para me
ajudar, não para vivermos um possível caso com prazo de validade
já definido. Porque é só isso que posso dar a ela no momento,
infelizmente. Não tenho a opção de voltar atrás na decisão do meu
noivado com minha amiga. Prometi que iria ajudá-la e é isso que
pretendo fazer.
No mundo da máfia, uma das primeiras coisas que nos
ensinam é ser uma pessoa de palavra. Se uma pessoa não cumpre
com sua palavra, não é uma pessoa digna de confiança. Pretendo
cumprir com a minha, mesmo que isso signifique não poder ficar com
a garota por quem possuo sentimentos.
Não demora muito para Hanna voltar para a sala, pronta para
sair. Ela escolheu o macacão verde, está com um tênis branco de
plataforma e prendeu o cabelo num rabo alto. Ela está maravilhosa!
Desligo o celular e levanto do sofá, porque não podemos nos
atrasar. Caminho em direção a porta, escutando seus passos logo
atrás, então sei que ela está me seguindo. Abro a porta e deixo ela
passar primeiro, como de costume. Andamos lado a lado pelo
corredor em silêncio, e pelo canto do olho consigo enxergar um
sorriso quando ela lê uma mensagem que acabou de receber.
Provavelmente, uma mensagem das meninas.
— Somos um casal perfeito! — Percebo o leve deboche na sua
voz quando já estamos dentro do elevador. Levanto a sobrancelha,
questionando o que disse, e ela balança a cabeça sorrindo. —
Estamos combinando — aponta para nossas roupas e olho para o
que estou vestindo.
Ela está certa.
Seu macacão verde escuro combina com minha camisa social
verde clara, quase num tom pastel. Um sorriso também surge nos
meus lábios. Estamos saindo vestidos como um casal que planeja o
look na mesma paleta de cores. Não escondo o sorriso ao pensar
que parecemos um daqueles casais melosos, que até se veste
combinando.
— Sophia estaria orgulhosa das nossas escolhas? —
Questiono em tom de brincadeira, pois sei que sua prima está se
mudando para os Estados Unidos para cursar Moda, na mesma
faculdade que Hanna vai cursar Direito.
— Ela riu quando mandei a mensagem contando que escolhi
a roupa, sem esperar a sua resposta, e que constatei que ambos
estávamos vestindo roupas verdes. — Ela continua estampando um
sorriso no rosto.
— Tá tudo bem lá? — Quero saber, pois estou um pouco
preocupado com a sobrecarga em cima do meu melhor amigo. Logo
me arrependo da pergunta, quando recebo um olhar dela.
Ela sabe que você conversa com Nicolas diariamente, idiota!
— Se você quer saber se ela surtou depois da conversa que
teve com Nicolas — pausa por um instante fingindo pensar. — A
resposta é não. Parece que ela compreendeu o porquê do meu
irmão estar preocupado e aceitou ficar em casa, na condição de
poder receber as meninas a hora que quiser.
— Pelo menos seu irmão fica com uma coisa a menos na
cabeça, né? — Penso pelo lado positivo.
— Até parece que você não conhece seu melhor amigo,
Matteo. — Ela solta uma risada irônica.
A porta do elevador se abre e saímos no lobby do hotel.
Muitas pessoas transitam por ali, algumas vão em direção ao cassino
e outras na direção dos restaurantes. Não demora muito para
avistarmos o grupo organizado por Spencer.
— Matteo! — Nosso anfitrião atrai minha atenção ao gritar
meu nome.
Caminho na sua direção, mas não sorrio. Por que? Porque
percebo seu olhar desviar para mulher ao meu lado. Desde que
chegamos, não tem um momento no qual estamos juntos que
Spencer não olhou para Hanna com desejo. Uma raiva me corrói por
dentro. Infelizmente, eu não escapei e acabei ficando com a atenção
da sua filha, que não tem medo de se insinuar descaradamente,
mesmo com minha mulher ao lado.
Ela não é sua mulher! Minha mente alerta.
— Como está hoje, senhorita? — O descarado pergunta
quando nos aproximamos. Ele pega as mãos de Hanna e deposita
um beijo no dorso.
Sinto meu corpo ficar tenso. Coloco minha mão no bolso da
calça e fecho meus dedos em punho, com mais força do que
necessário.
Detesto a falta de respeito do homem.
Ele não vê que ela está acompanhada? Que possui um noivo?
— Estou bem, obrigada! — Hanna responde com uma voz
doce. Ela passa a mão no meu braço, segurando-o. Suas unhas
levemente se arrastando na minha pele, me causando arrepios. —
Tivemos uma noite tranquila, não é mesmo amor? — Solta uma
risada baixa.
Percebo o que ela está tentando fazer. Hanna está fazendo
uma insinuação sobre nossa noite ter sido movimentada. Não
demoro a concordar com a cabeça. Não vou perder a oportunidade
de esfregar isso na cara do homem à minha frente, mesmo que seja
uma mentira.
Toda a tensão que existia no meu corpo por conta do homem
à minha frente começa a ser substituída por tesão pela mulher ao
meu lado. Essa garota sabe mexer com meu corpo somente com as
palavras e não tem ideia do poder que possui sobre mim. Agora
minha mente trabalha em imagens do que poderia ter sido nossa
noite juntos. Fico imaginando seu corpo na minha cama, as posições
que faríamos e ela dizendo meu nome enquanto a faço ver estrelas
ao lhe dar prazer.
Instantaneamente, uma ereção ameaça surgir com a
imaginação da cena, mas me obrigo a afastar essas ideias da minha
mente. Não posso ficar duro agora. Preciso me controlar.
Spencer troca mais algumas palavras conosco e, felizmente,
tem que se retirar para organizar a saída de todos nós. Sua filha não
irá participar do passeio de hoje e agradeço aos céus por isso. Não
sei se suportaria mais um dia aquela menina se insinuando para
mim.
— Ele veio hoje. — Hanna sussurra no meu ouvido e faz um
movimento com a cabeça. Olho na direção que ela apontou e avisto
Salomão ao lado de sua mulher.
— Hoje ele não escapa! Vamos abordá-lo normalmente e, se for
necessário, vamos interrogá-lo. — Ela assente e não tiro meus olhos
do homem enquanto envio uma mensagem para Kyller, um dos
soldados que veio conosco para Vegas.
— Eles irão nos acompanhar hoje? — Olho para minha
acompanhante, que aponta para meu celular.
— Vamos para fora do hotel — ela cruza os braços, claramente
frustrada com minha resposta. Parece até uma criança fazendo birra.
— Você sabe que precisamos de segurança quando saímos. —
Coloco as mãos nos seus braços e aliso devagar sua pele. Uma
eletricidade percorre meu corpo, mas evito pensar nisso. — Princesa
da máfia e futuro consigliere, lembra?
— Às vezes odeio ser herdeira de tudo — sua fala sai baixa, para
ninguém em volta escutar.
Pego a sua mão quando escuto Spencer chamar seus
convidados para embarcar nos carros que nos levarão ao passeio de
hoje. Espero que seja, pelo menos, um lugar legal. Estamos aqui há
pouco tempo, mas minha paciência com o homem parece estar se
esgotando a cada minuto que passa.

Odeio exposições de arte.


Hanna riu discretamente quando entramos no local. Ela sabe
como odeio lugares assim. Nada contra arte, eu amo quadros e tudo
mais, porém, detesto eventos para ficar admirando-os por horas e
falando sobre o que as obras nos transmitem.
— Você tem que disfarçar melhor. Sua cara está entregando que
não está contente. — Ela fala ao pegar uma taça de champanhe da
bandeja que o garçom serviu.
— Não estou com vontade de fingir muito hoje — retruco.
Ela ri baixo e balança levemente a cabeça.
— Uma pena, não é mesmo? — A olho confuso. — Estamos
fingindo o tempo todo, Matteo.
Ela não precisa explicar, entendo rapidamente o significado de
suas palavras. Hanna está falando sobre fingir que estamos em um
relacionamento, quando na verdade nunca tivemos nada além de
uma amizade. Confesso que sinto uma pequena dor no peito ao
escutar suas palavras.
Podemos estar vivendo uma mentira, mas meus sentimentos por
ela são verdadeiros.
Sempre foram.
Deixo meus sentimentos de lado. Pego sua mão, entrelaço
nossos dedos e juntos começamos a caminhar pelo salão.
Conversamos com algumas pessoas, falando das obras em
exposição e, claro, sobre negócios. Algumas pessoas que ainda não
havíamos tido a oportunidade de conversar nos parabenizam pelo
noivado. E é exatamente isso que a esposa de Salomão está
fazendo no momento .
— Vocês formam um casal tão bonito, não é mesmo querido? —
Pergunta ao marido, que tenta disfarçar o incômodo por estar ao
nosso lado.
— Sim, minha querida. Um casal perfeito.
Encaro o homem à minha frente, que parece estar a cada
segundo mais desesperado, e bebo um gole do meu champanhe.
— Obrigada! Vocês são muito gentis. — Hanna agradece e, para
continuar nossa encenação, passo a mão pela sua cintura.
Ficamos mais alguns minutos conversando com o casal e, a cada
segundo, vejo Salomão disperso, procurando uma saída. Mas ele
não sabe que tenho planos para ele. Você não me escapa hoje!
— Vou ao banheiro. — Hanna morde o lábio inferior e faz uma
cara fofa. — Gostaria de me acompanhar, senhora Delgado? — Ela
pergunta inocentemente a mulher, mas sei que isso é fachada. Faz
parte do nosso plano para me deixar sozinho com o homem.
A senhora aceita e, quando elas saem do meu campo de visão,
encosto na parede e viro o resto do conteúdo da minha taça. O
homem à minha frente parece estar no limite do desespero.
— Não precisa ter medo, senhor Delgado. — Mantenho uma voz
firme. — Não acha que irei te torturar na frente de tantas pessoas,
certo? — Ironizo, e olho para o homem, que engole em seco.
— Não estou com medo, senhor Lombardi! — Percebo o tremor
da sua voz e um sorriso sínico surge no canto dos meus lábios.
— Gostaria de fazer algumas perguntas — os olhos de Salomão
crescem, amedrontados. — Se não for um problema para você,
claro!
— Cla… claro que não, senhor. — Ele gagueja e sei que já tenho
a resposta para minha pergunta. Salomão esconde algo.
— Ouviu algo sobre os russos estarem fazendo negócios nesta
região recentemente? — Ele abre a boca, não responde. — É uma
pergunta com resposta simples: sim ou não. — Salomão olha para
os lados e estou começando a perder a minha paciência.
Não queria ter que obter as resposta através de tortura. Achei
que seria fácil tirar alguma informação do homem somente com
perguntas feitas em público. Ele já provou ser um medroso.
— Não — finalmente responde.
— Não está mentindo para mim, não é? — Me aproximo e fico a
centímetros do homem. — Sabe que logo serei consigliere do Capo,
certo? Além de cunhado, é claro. — Utilizo a mentira do meu
relacionamento com Hanna a meu favor.
— Desculpe — o homem suspira. — Ouvi que os russos estão
tentando fazer negócios nesta região da cidade, mas não sei nada
além disso.
Escuto as mulheres se aproximando e resolvo terminar o assunto
por enquanto. Elas foram rápidas!
— Espero que não esteja mentindo ou acabará mal para você e
sua família. — Ameaço em tom baixo, para somente ele escutar.
Salomão confirma com a cabeça, medo estampado nos seus
olhos, e me afasto.
Passamos o resto da tarde confraternizando e penso sobre minha
conversa com Salomão. Minha intuição fala que ele não mentiu. Ele
parece não saber sobre o envolvimento dos russos por aqui.
Então, por que tem medo da Famiglia descobrir seu segredo?
Capítulo 13
— Você acreditou nas palavras dele? — Hanna questiona ao
entrar na nossa suíte.
— Ele tem muito medo da Famiglia. Não acho que mentiria e
correria o risco de ser punido — dou de ombros e me jogo no sofá,
tirando os sapatos e pegando o controle da televisão. — Quer
assistir um filme e pedir o jantar no quarto hoje?
— Por favor! — Ela joga a mão para o alto. — Quero aproveitar
que não temos nada marcado hoje e descansar.
— Que filme você prefere? — Me ajeito no sofá e a observo soltar
o cabelo.
— Pode escolher, contanto que não seja de terror. — Fico
surpreso por ela não querer me fazer assistir uma comédia
romântica, como já fez tantas vezes. — Vou só trocar de roupa e já
volto.
Ligo a TV e começo a procurar um filme para assistirmos.
Escolho um novo filme de ação que estreou recentemente. Pego o
celular e começo a procurar no aplicativo de comidas as opções. Não
demora muito para Hanna voltar para a sala.
Ergo o olhar do aparelho e a encontro com os cabelos soltos,
descalça, com uma blusa larga e um short de moletom muito curto.
Quando digo muito curto, quero dizer que consigo ver a polpa da sua
bunda. Caralho! Meu corpo fica em estado de alerta rapidamente e
sei que será difícil passar a noite ao seu lado sem ficar imaginar
todas coisas que gostaria de fazer com esse corpo.
Tô fodido!
— Podemos pedir pizza? — Ela senta ao meu lado e me ajeito no
sofá, pegando uma almofada para esconder a calça marcada.
A única coisa que consigo fazer é confirmar com a cabeça,
não consigo dizer nem uma palavra. Ela pega o telefone da minha
mão e faz o pedido. Nem se dá ao trabalho de perguntar qual sabor
prefiro, pois já sabe qual é: lombo com abacaxi. Eu sei que é um
pouco estranho, mas eu gosto.
Fico um tempo tentando tirar as cenas que minha imaginação
fértil plantou quando a garota voltou para a sala. Não posso ficar com
o pau duro enquanto assisto o filme ao lado da irmã do meu melhor
amigo.
— Qual filme escolheu? — Questiona ao deixar o telefone de
lado, após finalizar o pedido.
— Um novo de ação que estreou recentemente — fico calmo
quando percebo que minha voz saiu normalmente. Hanna prende os
lábios com os dentes, se segurando para não fazer uma careta. O
movimento que faz não me ajuda, mas sorrio. — Relaxa, pequena!
Tem um pouco de romance também.
O sorriso que ela dá ao escutar minhas palavras faz com que
eu sinta uma paz inexplicável. Sempre me sinto em paz ao lado
dela.
Lembro da única vez que briguei feio com seu irmão. Eu devia
ter uns 17 anos e Hanna só tinha 12. Naquela época, eu nem
imaginava que me sentiria atraído sexualmente pela garota. Eu saí
da casa deles chutando tudo o que via pela frente. Nicolas estava
descontrolado naquela época e não escutava ninguém, nem mesmo
seu melhor amigo aqui.
Hanna apareceu do nada com um vestido fofo cor de rosa e
perguntou se eu estava bem. Ficamos conversando por um tempo e
acabei me acalmando. Ela confessou que também andava
preocupada com o irmão que, apesar das brigas, eu sabia que era
seu porto seguro. Ela amava o irmão incondicionalmente.
Minha lembrança é cortada pela voz suave dela seguida de
uma risada.
— Não escutou o que eu disse, né? — Empurra seu ombro
contra o meu.
— Desculpa, tava lembrando de uma coisa aqui.
— Espero que não seja algo que estrague nossa noite livre. —
Faz uma pequena careta e sorrio com isso. — Não lembrou que tem
nenhuma missão de última hora, nem nada do tipo, certo?
— Pode ficar tranquila que hoje não temos mais nenhum
dever para cumprir, pequena. — É a minha vez de empurrar meu
ombro contra o seu, fazendo ela sorrir.
Dou play no filme e me ajeito no sofá. Hanna coloca as pernas
para cima e cruza uma por cima da outra, colocando uma das
almofadas em cima das pernas
Confesso que não prestei atenção no filme em várias partes,
porque parava de olhar a televisão para ficar observando a mulher
ao meu lado. Suas expressões durante as cenas com mais
suspense, sua risada nas partes cômicas, seus olhos brilhando nas
poucas partes com o casal protagonista.
Hanna é perfeita.
O cara que tiver o seu coração, o seu amor, será o mais sortudo
do mundo. Você sabe que… Balanço minha cabeça para afastar os
pensamentos sobre o que aconteceu no dia da comemoração do seu
aniversário de 18 anos.
Não posso pensar nisso.
Não posso me torturar assim.
Forço minha atenção para o filme. A única hora que pausei, foi
quando a campainha tocou e uma jovem veio entregar nossa pizza.
Continuamos assistindo e enquanto comíamos, até os créditos
começarem a subir pela tela.
— Até que gostei do filme — ela morde o último pedaço da
sua fatia e acompanho cada movimento. — Achei que seria mais um
filme de ação chato, mas foi interessante. A mulher era foda nas
partes de ação, não uma garota indefesa — concordo com a cabeça.
Fico observando Hanna limpar os dedos sujos no guardanapo
e não consigo não rir ao observar que seu queixo está sujo de molho
vermelho.
— Posso saber do que está rindo? — Faz cara de que está
brava e arqueia a sobrancelha.
— Você tá suja de molho — aponto para seu rosto. — Sempre se
sujando para comer… — Ela coloca a língua para fora como uma
criança birrenta e não consigo segurar a gargalhada.
— Você é um chato, sabia? — Cruza os braços, fazendo seus
seios subirem e ficarem mais evidentes na gola da blusa. Tento
desviar minha atenção disso.
— Sempre fala isso também — dou de ombros e pego um
guardanapo para ajudá-la a se limpar. — Deixa que eu te ajudo,
pequena.
Quando meus dedos encostam na sua pele, sinto como se uma
corrente elétrica percorresse meu corpo por conta do contato. Seus
olhos estão presos aos meus. Passo o guardanapo no seu queixo e
limpo o local que estava sujo com cuidado, sem quebrar nosso
contato visual.
Sinto minha garganta seca e, quando estou me afastando, ela
empurra meu ombro com a mão. Semicerro os olhos pela audácia da
garota. Acabei de ajudá-la e ela está me empurrando. Sempre é
assim.
Ela sabe como isso termina, consigo ver a mudança no seu
olhar.
— Matteo — ela levanta as mãos e seus olhos imploram para que
eu não dê o próximo movimento. — Por favor, não!
Não dou tempo para ela se levantar e correr. Começo a fazer
uma cosquinha nela, que preenche a suíte com gritos pedindo para
parar misturados com sua gargalhada. Estou rindo dela, que tenta
escapar ou revidar, mas não tem forças por conta das risadas. Minha
mão percorre seu corpo com facilidade, sabendo exatamente que
pontos devo atacar.
Quando começo a parar com as cócegas e nossa risada vai
diminuindo, percebo a posição que estamos. Hanna está deitada no
sofá e meu corpo está sob o seu. Uma das minhas mãos está
segurando seus pulsos em cima da sua cabeça, enquanto a outra
está na sua cintura.
Engulo em seco.
Consigo escutar sua respiração pesada e sentir o ar quente
saindo pela sua boca contra minha pele, já que nossos lábios estão a
centímetros de distância. Seus seios estão colados no meu tronco e
uma ereção começa a ganhar vida no meio das minhas pernas.
Não sei se vou ter autocontrole suficiente para me afastar dela
nesse momento. Já estivemos próximos dessa forma por conta das
brincadeiras, mas nunca tínhamos ficado assim depois de saber qual
é o gosto do seu beijo.
— Matteo… — sua voz sai baixa e seus olhos estão
encarando meus lábios.
Dane-se!
Perco minhas forças e grudo meus lábios nos seus. Ela
resiste no primeiro instante, mas logo abre a boca para receber a
minha. Não é um beijo carinhoso, é um beijo selvagem, faminto.
Quero aproveitar cada segundo que tenho da sua boca na minha.
Nossas línguas duelam e solto seus pulsos para colocar a mão no
seu rosto, enquanto deslizo a outra pela lateral do meu corpo. Uma
das suas mãos vai para minhas costas e a outra agarra meu cabelo,
puxando os fios.
Sem separar nossos lábios, consigo me sentar e puxo seu corpo
para ficar em cima do meu. Ela senta e coloca uma perna de cada
lado do meu corpo. Não demora muito para meu pau estar
incomodando dentro da calça, ainda mais agora que somente nossas
roupas servem como barreira por conta da posição. Hanna sente
minha ereção e começa a rebolar no meu colo, soltando um gemido.
Coloco uma mão na sua bunda e aperto devagar. Estou me sentindo
um adolescente com os hormônios à flor da pele, sem saber onde
colocar as mãos e querendo colocar em todos os lugares ao mesmo
tempo.
Preciso me afastar dos seus lábios para respirar um pouco,
nossas respirações estão aceleradas. Mesmo não querendo me
separar dela, dou um selinho e me afasto devagar. Hanna apoia a
palma das mãos no meu peito, seus olhos estão fechados e ela tenta
controlar a respiração. Fico observando a garota na minha frente e
sorrio ao perceber o efeito que tenho sobre ela.
Mas nem tudo que é bom dura para sempre.
Hanna abre os olhos lentamente e vejo quando seu olhar
muda de desejo para medo. Não precisa ser detetive para saber o
que se passa pela sua cabeça. Ela está pensando na Melanie.
— Hanna… — não tenho tempo de segurá-la dessa vez. Ela pula
do meu colo e começa a andar em direção ao seu quarto, passando
a mão descontroladamente pelo rosto.
— O que foi que eu fiz? — Sua voz é baixa e assustada. Levanto
do sofá e tento alcançá-la.
— Espera, Hanna! Vamos conversar… — ela balança a cabeça
freneticamente e sua mão já está abrindo a maçaneta da porta do
seu quarto.
— Não posso, Matteo! — Ela não para de balançar a cabeça.
Vejo que seus olhos estão marejados quando ela se vira para fechar
a porta. — Não podia.
— Hanna, por favor! — Bato minha mão na porta fechada, mas
não obtenho resposta.
Consigo escutar seus soluços através da madeira e tudo que eu
queria fazer agora era abraçá-la e dizer que está tudo bem. Quero
me socar por estar fazendo ela chorar e por ela estar se sentindo
assim. Eu deveria ter contado.
Deslizo pela porta e fico um tempo sentado ali, na esperança
dela abrir e conversar comigo. Escuto o barulho de notificação e
pego meu celular no bolso da calça. É uma mensagem de Melanie
perguntando como foi hoje e se, finalmente, conversei com Hanna.
Passo a mão pelo cabelo e puxo alguns fios, por estar com raiva de
mim mesmo.
Melanie avisou que iria dar merda não conversar logo com Hanna
e contar a verdade sobre o nosso noivado. Não escutei minha amiga
e agora estou aqui, escutando a garota que tem meu coração
chorando, achando que está fazendo algo errado.
“Você estava certa. Fiz merda.”
É o que digito antes de desligar o aparelho e fechar os olhos
pensando em uma solução para consertar as coisas.
Capítulo 14
Passei a noite em claro chorando e só consegui dormir
quando o sol já estava surgindo, quando o cansaço tomou conta.
Acordo com meu celular vibrando e tenho dificuldade em abrir os
olhos por conta da claridade que entra pela fresta da janela. Pego o
aparelho e vejo uma notificação de Abby, pedindo para ligar o mais
rápido possível. Fico desperta rapidamente ao ler a mensagem com
medo de algo ter acontecido. Sento na cama e aperto para iniciar
uma chamada de vídeo com minha amiga. Não demora muito para
Abby aparecer na tela mordendo a ponta do dedão, costume que tem
quando está nervosa.
— O que aconteceu? — Questiono.
— Porque está com os olhos vermelhos e inchados? —
Pergunta ao mesmo tempo e só então me lembro que devo estar
horrível por conta da noite que tive.
— Primeiro, responda o que aconteceu para me mandar uma
mensagem pedindo pra ligar rapidamente — tento desviar da sua
pergunta.
Não quero ter que falar sobre o que aconteceu na noite
passada com Matteo. Não sei se estou preparada para pensar no
nosso beijo.
Abby respira fundo e morde o lábio inferior.
— Fala logo, Abigail! — Estou começando a ficar preocupada
e impaciente.
— Sophia quer sair escondida hoje a noite. Já tentei
convencê-la de que pode acontecer algo, mas sua prima insiste que
está cansada de ficar presa em casa e que não suporta o seu irmão
no pé dela 24 horas por dia. — Fala rápido e está quase sem fôlego
quando termina.
Relaxo um pouco.
Pensei que algo de muito errado poderia estar acontecendo
em casa, mas é só mais um drama de Sophia.
Eu entendo minha prima.
Ela veio mais cedo para os Estados Unidos para aproveitar as
férias antes do início da nossa faculdade. Sei que queria estar
aproveitando festas e conhecendo pessoas, mas ao invés disso, tem
que ficar presa em casa por conta de um idiota que está mandando
ameaças a seu irmão.
— Pode deixar que vou falar com ela. Sei lidar com os dramas de
Sophia. — Abby parece aliviada com minha resposta.
— Obrigada, amiga! Não queria surtar por algo tão simples, mas
tô preocupada. Seu irmão aumentou o número de seguranças e tá
sempre mandando mensagem perguntando onde ela está. Acho que
a situação tá mais crítica do que pensamos.
Penso no que ela acabou de falar.
Sabia que Nicolas estava preocupado, mas aumentar a
segurança e ficar monitorando os passos da nossa prima é algo que
nunca fizeram comigo, mesmo sob ameaças. Realmente, deve estar
acontecendo algo muito sério.
— Vou tentar descobrir o que tá rolando e te aviso. — Abby
acena com a cabeça e penso que é o momento perfeito para
desfazer a ligação e me arrumar. Sei que temos um evento hoje a
noite.
— Agora — escuto a voz da minha amiga e já sei que não vou
conseguir escapar do questionamento. — Vai me contar porque tá
com essa cara de quem chorou horrores?
Respiro fundo.
Não tem como fugir.
— Não foi nada demais — mordo o lábio pensando em uma
resposta. — Acho que toda a pressão dessa missão me deixou
ansiosa e chorei de nervoso — escolho dizer uma mentira.
Sei que é errado, mas também sei que se contasse para Abby
sobre minha noite, ela contaria para Sophia e elas ficariam
preocupadas comigo. Isso eu não quero.
— Não tem haver com o homem com quem divide essa
missão? — Questiona com um sorrisinho no canto dos lábios.
— Não — respondo rápido e percebo pela cara que faz que
não convenci minha amiga. Opto por desfazer a chamada e não ter
que falar sobre isso com ninguém. — Preciso ir. Temos um evento
hoje e preciso me arrumar.
— Ok. Não esquece de falar com a Sophia, por favor! — Ela
implora com as mãos e nos despedimos antes dela desligar.
Olho para a tela do meu celular e vejo que já são quase 17
horas. Dormi quase o dia inteiro. Tive sorte do único compromisso de
hoje ser uma festa à noite, então, não tive que encontrar com Matteo
o dia todo.
Minha barriga está roncando e penso em sair do quarto para
ver se tem alguma coisa para comer na sala, talvez tenha algo no
frigobar ou eu posso pedir em um dos restaurantes do hotel. No
entanto, ao sair do quarto corro o risco de encontrar Matteo. Decido
enfrentar o problema de uma vez, já que à noite teremos que fingir
ser um casal apaixonado.
Passei a noite toda pensando no nosso beijo. Me sinto
culpada, mas sei que não deveria. Se alguém está errado nessa
história é ele, que é comprometido e estava traindo a verdadeira
noiva. Era só pensar em Melanie, que tenho que confessar ser uma
mulher muito legal, que eu chorava mais.
Não deveria ter beijado um cara comprometido.
Não deveria ter beijado o homem que amo.
Não deveria ter beijado Matteo.
Abro a porta do quarto e não o vejo. A porta do seu quarto
está fechada e avisto uma bandeja coberta na mesa e um papel
dobrado em cima. Me aproximo e pego o papel para ler o conteúdo.

“A gente precisa conversar sobre ontem, mas vou respeitar


seu espaço.
Não se culpe, pequena. Você não fez nada de errado.
Ass. Matteo”
Um sentimento estranho toma conta do meu corpo e sorrio
com o bilhete. Não deveria me sentir feliz, mas é assim que me sinto.
Ele tá preocupado comigo. Leio o que ele escreveu mais uma vez
antes de ver o que tem na bandeja e meu sorriso aumenta quando
percebo que ele pediu meu prato preferido: lasagna quattro
formaggi[23].
Sento na cadeira e saboreio a comida, que estava uma
delícia. Quando termino, lembro que tenho que falar com Sophia e
decido enviar uma mensagem para ela. Ainda não passei uma
maquiagem no rosto e sei que ela vai entender o que aconteceu no
momento que ver meu rosto. Diferente de Abby, minha prima sabe
exatamente como estou me sentindo somente com o olhar.
Eu: “Por favor, não saia de casa sem avisar meu irmão.”
Não demora muito para obter uma resposta.
Soph: “Abigail é dedo duro.”
Eu: “Sophiaaa”
Soph: “Odeio seu irmão.”
Balanço a cabeça sorrindo, porque sei que ela não o odeia de
verdade.
Eu: “Sabemos que não é verdade, então, sem drama.”
Ela não responde, mas sei que atingi meu objetivo. Sophia
sabe que, mesmo com suas habilidades e treinamento, seria errado
sair sem avisar quem está no comando, no caso, Nicolas. Ela tenta
mostrar o lado rebelde, mas sei que ela entende o perigo que está
correndo.
Desligo a tela do celular e olho na direção da porta de Matteo.
Por um segundo, considero se devo bater lá, agradecer pela comida
e conversar sobre o que aconteceu. Sei que ele ficou sentado do
lado de fora da minha porta por um tempo durante a noite.
Resolvo deixar esse assunto para depois.
Não podemos atrasar para a festa de hoje.

Desde que saímos da nossa suíte, não trocamos uma palavra.


Tento evitar olhar nos seus olhos e percebo que Matteo está
desconfortável com a nossa atual situação. Antes de entrar no salão
em que a festa está acontecendo, ele pega a minha mão. Olho para
nossos dedos entrelaçados e depois subo o olhar para seu rosto.
Seus olhos estão me observando atentamente.
— Preparada? — Pergunta e balanço a cabeça confirmando.
Entramos no salão e começamos socializar com as pessoas
que estavam presentes. Tem políticos, pessoas com dinheiro, alguns
associados da Famiglia e pessoas de famílias importantes do nosso
meio. Sempre tem aquelas pessoas que tentam bajular e agradar por
saber quem somos. Detesto esse tipo de pessoa que tenta
conquistar algo com a outra por conta do seu status ou nível de
poder.
Paramos para conversar com um casal que é muito simpático
e percebo que o homem faz parte do grupo que Spencer comanda
por aqui. Confesso que às vezes fico perdida com os cargos e
posições dentro da máfia. Lembro sempre do básico: Capo de tutti
Capi, consigliere, underboss, chefe dos soldados, Capos, executor e
soldados.
A conversa começa a me entediar um pouco e resolvo pedir
licença para ir ao banheiro. Retoco minha maquiagem e arrumo a
trança lateral que fiz no cabelo. Os vestígios da noite mal dormida e
recheada de choro foram cobertos por camadas de base e corretivo.
Uma mulher entra pela porta quando estou me preparando
para sair e sorri. Faço o mesmo e dou uma última conferida no
espelho na parede, que vai do teto ao chão, antes de voltar para o
salão. Ajeito o vestido no corpo e pronto.
Avisto Matteo conversando com um homem perto do bar e
começo a caminhar na sua direção, quando alguém puxa meu braço.
Não é um puxão com força, mas viro já preparada para revidar. Paro
a mão no ar quando percebo que é Salomão. O homem levanta
ambas as mãos em sinal de rendição e olho para os lados para ver
se alguma pessoa está nos observando.
— O senhor ficou louco? — Meu tom é baixo, mas sei que soa
ameaçador, porque o homem engole em seco.
— Perdão, senhorita Collalto. Preciso falar urgentemente com
a senhorita e seu noivo. — Ele praticamente vomita as palavras com
nervosismo. No entanto, compreendo o que disse e ele recebe minha
total atenção. Arqueio a sobrancelha.
— E qual seria o assunto?
Observo discretamente as pessoas ao nosso redor. Parece
que ninguém está prestando atenção em duas pessoas que estão
conversando como tantas outras no salão. Ótimo, não precisamos de
plateia.
— Acho que descobri uma informação que pode ser do
interesse de vocês — fala baixo, como um segredo.
Meus olhos percorrem o salão e param no instante que
encontram os de Matteo. Ele logo percebe quem está ao meu lado e,
como se conseguíssemos conversar só pelo olhar, vejo ele pedir
licença para as pessoas com quem estava conversando e começa a
andar na minha direção.
Vamos ver o que Salomão tem para nos contar.
Capítulo 15
Procurava Hanna pelo salão quando a vi conversando com
Salomão. Ele parecia assustado com a garota, mas se aproximou
para dizer algo. Vi a postura de Hanna mudar e, quando seus olhos
encontraram com os meus, soube que deveria ir ao seu encontro.
Pedi licença às pessoas que estavam conversando no bar e segui
até minha acompanhante.
Quando cheguei perto, cumprimentei o homem com um aceno
de cabeça e passei a mão na cintura de Hanna. Aproximei minha
boca do seu ouvido para questionar o que estava acontecendo.
— Tudo bem?
Os pelos da sua nuca ficam arrepiados e tento não sorrir com
isso. É bom saber que tenho efeito sobre ela. Desde a noite passada
não ficamos tão próximos um do outro. Ela me evitou o dia todo e eu
só saí de frente da sua porta na hora que os primeiros raios de sol
adentraram a sala, foi quando percebi que ela não iria falar comigo
tão cedo.
— O senhor Salomão estava dizendo que precisa conversar
conosco — ela pausa e vira um pouco o rosto, nossos lábios ficam a
centímetros um do outro. — Parece ser do nosso interesse.
Tento não focar na sua boca tão próxima, mudando minha
atenção para Salomão. O homem confirma com a cabeça e faço
sinal para seguirmos pelo caminho que leva até as portas laterais do
salão. Sem tirar minha mão da cintura de Hanna, a guio pelo
caminho e não preciso me preocupar com Salomão, pois sei que nos
segue.
Quando atravessamos as portas, já estamos em um corredor
que dá para algumas salas privadas que têm disponíveis no hotel
para hóspedes alugarem para reuniões. Abro uma das portas e
espero Hanna passar, seguida do homem que diz precisar falar algo
importante, antes de entrar e trancar a porta com a chave. Não quero
que ninguém nos interrompa.
— O que deseja falar conosco, senhor Salomão? Seja breve,
por favor. Não temos a noite toda. — Fico de frente para o homem e
coloco as mãos no bolso da calça, esperando uma resposta.
Salomão fica por um breve momento observando a sala que
estamos e respiro fundo para não começar a perder a paciência cedo
demais. Hanna já está sentada em uma das cadeiras, com os
cotovelos na mesa e as mãos entrelaçadas. Quase perco o foco
quando vejo que cruzou as pernas, o que fez com que seu vestido
curto subisse um pouco. Suas pernas grossas estão à mostra e fico
imaginando minhas mãos…
Eu disse que quase perdi o foco.
Consigo mudar minha atenção rapidamente para o homem à
minha frente.
— Fiquei sabendo que os russos realmente estão tentando
entrar nesta área — fala e arqueio a sobrancelha. — Não me deram
todos os detalhes, mas eles estão tentando fazer negócios com
Spencer e roubar a mercadoria de vocês. Sabe, as drogas e o
armamento?
Soco a mão com força na mesa, o que acaba assustando o
homem. Salomão dá um leve pulo e seus olhos estão arregalados,
acho que suas pálpebras chegam a tremer de medo. No entanto,
Hanna não parece surpresa com a minha reação.
Merda!
Os russos querem roubar o nosso lugar, querem tirar um dos
nossos principais colaboradores. Nicolas vai surtar quando descobrir
que, o que era só teoria, está se tornando realidade.
— Spencer está em contato com eles? — Me aproximo e
questiono com uma voz ameaçadora. Vejo o olhar que Hanna me
direciona, mas ignoro e me aproximo do homem. — Está?
— Eu não sei — responde rápido e percebo o medo na sua
voz. — Eu… Eu acho…
— Acha o que, porra? — Esbravejo e o homem engole em
seco.
— Spen… Spencer não trairia a Famiglia — ele gagueja e sei
que é por conta do medo. — Ele é le… leal a vocês.
— Vamos ver se é leal mesmo ou está tentando foder com a
gente. — Salomão pisca algumas vezes. — Mais alguma coisa que
queira nos contar?
Estou dando a oportunidade para o homem contar seus
segredos e o por que tem medo da Famiglia descobrir o que anda
fazendo. Ele olha para Hanna e volta a me olhar.
— Não, se… senhor. Isso é tudo que sei.
— Se isso é tudo — aponto para a porta. — Pode sair.
Salomão excita um pouco antes de ir em direção a porta. Antes
de sair, ele se vira e cruzo os braços esperando o que ele terá para
dizer, mas ele não diz nada e vai embora.
Passo uma mão na testa e solto o ar com força. Penso no que
acabei de escutar. Os russos querem tomar nosso território em Las
Vegas e Spencer, provavelmente, está nos traindo.
Não temos outra alternativa.
— Vai ligar pro Nicolas? — A voz de Hanna chama minha
atenção e volto meu olhar para ela.
— Agora!? — Olho para o relógio no meu pulso. — Ele deve
estar ocupado.
— Ocupado? — Solta uma risada debochada — Ele sempre
vai ao clube na segunda e você sabe disso.
Não tenho como negar.
Hanna levanta da cadeira e vem na minha direção, mas não
se aproxima.
— Manda uma mensagem e marca uma reunião para amanhã
pela manhã. Se não me engano — pega o celular na bolsa de mão e
confere algo — não temos nenhum compromisso marcado. É o dia
inteiro livre para o casal — faz aspas com os dedos ao pronunciar a
última palavra.
Ela passa por mim e vai em direção a porta. Pego o meu
celular e, como um maldito cachorrinho que sou quando se trada
dessa garota, faço o que ela falou.
— Podemos ir para o quarto se quiser — falo e ela gira o
corpo na minha direção. Vejo o questionamento em seus olhos. — Já
socializamos bastante hoje. Posso mandar uma mensagem para
Spencer com uma desculpa qualquer e terminamos a farsa por hoje.
Percebo um pequeno vislumbre de mágoa nos seus olhos,
mas logo ela pisca e não o vejo mais. Hanna concorda com a cabeça
e faço o que falei. Digito uma mensagem dizendo que minha noiva
não está se sentindo muito bem e que vamos encerrar a noite por
hoje. Não espero uma resposta, porque sei que ele pode estar
ocupado com os outros convidados, e desligo o celular.
Saio da sala e encontro Hanna parada no final do corredor,
encostada na parede. Caminho até ela, que me olha quando paro ao
seu lado.
— Não seria adequado não te esperar e ser motivo de
falatório se nos vissem separados — explica sem que eu pergunte.
Vamos para nossa suíte em passos lentos. Não encontramos
nenhum conhecido pelo caminho, pois todos devem estar se
divertindo na festa. Andamos lado a lado, mas não nos encostamos.
Sinto falta do contato.
É uma tortura ter que ficar ao lado dessa mulher e não poder
tocá-la.
Na festa eu tinha a desculpa do nosso noivado falso, mas
agora não tem motivo. Sinto que estamos andando em câmera lenta
para evitar o momento em que teremos que nos afastar de vez ao
entrar na suíte, cada um indo para seu quarto. Não quero ter que
ficar afastado dela mais um dia.
Amanhã não temos motivos para ficarmos juntos.
Ela não quer minha companhia.
Preciso concertar a nossa situação.
Quando coloco o cartão para abrir a porta já estou decidido.
Hanna passa por mim e caminha em direção a porta do seu quarto.
Entro, fecho a porta e passo a mão no rosto. Tá na hora!
— Precisamos conversar — declaro em voz alta. Giro meu
corpo e encontro ela parada no meio da suíte, de costas para mim.
— Não temos nada o que conversar — sua voz sai receosa.
— Não aconteceu nada.
— Aconteceu sim e precisamos falar sobre isso — sou firme e
escuto sua respiração pesada.
— Matteo… — ela se vira e vejo nos seus olhos que está em
um conflito interno.
— Você leu o meu bilhete? — Dou um passo na sua direção e
ela joga a cabeça para trás, olhando para o teto.
— Não precisamos falar sobre isso. De verdade, tá tudo bem.
— Não tá tudo bem, Hanna! — Minha voz sai impaciente e ela
olha para mim. — Você me evitou o dia todo.
— Eu tava cansada, só isso — fala e solto uma risada irônica.
Acho que nem ela acredita na mentira que acabou de dizer.
— Cansada de chorar? — Quando as palavras terminam de
sair da minha boca, percebo que soei maldoso. Ela me olha
magoada. — Desculpe, não foi isso que quis dizer — tento concertar.
— Mas é a verdade, não é? — Sua pergunta me pega
desprevenido. Ela pode ter ficado magoada, mas sua expressão já
mudou e ela soa firme. — Chorei a noite toda porque te beijei e você
— aponta o dedo na minha direção — é um homem comprometido.
— Hanna…
— Não — ela levanta a mão me mandando ficar quieto. —
Você deveria ter respeito pela Melanie. Ela é uma mulher
sensacional e está sendo traída por você. Passei uma parte da noite
me culpando pelo que aconteceu, mas percebi que o maior culpado
é você. Eu sou livre, você não. Você deveria considerar os
sentimentos dela. E saiba que, se você não contar para ela o que
aconteceu, eu conto!
Quando ela termina, já está na minha frente e seu dedo está
encostado no meu peito. Ela está tão próxima que consigo sentir sua
respiração contra minha pele.
Hanna está com raiva.
Eu entendo seus motivos para estar assim, mas não dá mais.
Eu preciso contar a verdade. Ela não pode pensar que sou um
canalha que não tem palavra nem mesmo com a futura esposa.
— Estamos entendidos, Matteo? — Ela está tão perto que
quero beijá-la.
Foco, Matteo!
— Hanna… — tento falar.
— Entendido? — Ela não deixa eu dizer nada e bate o dedo no
meu peito.
— Me escuta primeiro — tento novamente.
— Não tem o que escutar. É sim ou não, entendido? — Continua
e quero pegá-la, colocá-la contra a parede e segurá-la até me
escutar.
Não vai ter como.
Só tem uma maneira dela escutar.
— Eu não sou noivo da Melanie de verdade! — Subo meu tom de
voz, quase gritando com toda força dos meus pulmões.
Hanna dá um passo pra trás e vejo a surpresa no seu olhar.
Capítulo 16
Meu corpo ficou paralisado ao escutar o que Matteo acabou de
dizer. Dei um passo para trás, precisava de espaço, mas não
consegui me movimentar mais. Não estava acreditando nas palavras
que saíram de sua boca.
Não é possível, Matteo deve estar louco! Ele tá dizendo que
tudo é uma grande mentira? Não! Não pode ser.
Olho para ele e enxergo o receio em seu olhar. Matteo está
em uma clara batalha interna, se deve ou não se aproximar. Não
digo uma palavra. Fico remoendo o que acabou de dizer, pensando
nas possíveis explicações para ter dito isso. Ele deve tá querendo se
sentir menos culpado. É isso!
Ele não falaria isso para sair de inocente! Matteo não é assim.
A voz na minha cabeça grita e eu prendo os lábios com o dente,
porque sei que está certa. Matteo não mentiria sobre algo desse tipo
para não sair de traidor. Tem alguma coisa errada nisso tudo.
Parece que foi ontem o dia que ele chegou com Nicolas para
jantar e anunciou seu noivado.

— Matteo vai se casar! — Meu irmão entrou na sala de jantar


anunciando para todos, ganhando o tapa na nuca do amigo.
Parei o garfo no ar e olhei na direção deles. Não, Matteo não
pode se casar. Por favor, que seja mentira. Meu coração parece
comprimir no peito e sinto uma dor que nunca senti antes. Acho que
é assim que as pessoas se sentem quando têm o coração quebrado.
— Parabéns, garoto! Seu pai deve estar contente com o
arranjo. — Meu pai felicita ele para e olha para meu irmão. —
Deveria seguir o exemplo do seu amigo, mio figlio. Vai ter mais
respeito dentro da Famiglia se já for um homem casado quando se
tornar Capo.
— Sem chance, papà. Não vou me casar só para ganhar o
respeito de um bando de velhos. — Nosso pai tomba um pouco a
cabeça para o lado e tremo só com esse movimento. — Perdão, o
senhor não é velho. É muito jovem e deve demorar anos para se
aposentar. — Nicolas tenta consertar e papai balança a cabeça.
Percebo que tenta esconder o sorriso para o que meu irmão mais
velho disse.
Olho para Matteo, mas ele continua calado. Parece que não quer
prestar atenção na minha reação. Mas o que eu queria? Ele nunca
prestou atenção em mim, pelo menos não da forma que eu desejava.
Matteo sempre me viu como a irmã mais nova do melhor amigo.
Abaixo a cabeça e fico em silêncio. Os dois puxam as cadeiras e
se sentam para comer e, para meu azar, ele se senta ao meu lado.
Olho para ele pelo canto do olho e percebo que tenta disfarçar que
estava me observando com curiosidade. Ou pode ser coisas da
minha imaginação.
— Com quem irá se casar? — Mamãe questiona suavemente
e atrai a atenção de todos após o pequeno minuto de silêncio.
— Com a Melanie Santi, senhora Collalto — responde
olhando para ela, que assente.
Seguro as lágrimas que estão a ponto de serem derramadas.
Melanie é sua amiga de infância, eles têm uma história juntos. Eu
deveria ter previsto que algo do tipo aconteceria. Quero pedir licença
e ir para meu quarto chorar. Meu coração está despedaçado.
Matteo não olha na minha direção durante todo o jantar e
peço licença para me retirar assim que acabo de comer. Vou para o
quarto e me permito chorar pelo amor que nunca terei.
Ele vai se casar.
E eu não serei a noiva que vai encontrá-lo no altar.
Só de lembrar daquele dia, meus olhos se enchem de lágrimas
novamente. A mesma dor no peito me atinge.
Nada mudou.
Ainda amo esse homem.
Matteo ainda me olha com receio de se aproximar. Decido acabar
logo com a angústia que começa a surgir no meu peito. Preciso
saber o que significa o que ele acabou de dizer.
— O que… — minha voz sai trêmula e respiro fundo. — O que
você quer dizer com seu noivado não ser de verdade?
Matteo fecha os olhos e passa a mão na testa. Quando volta a
me olhar, seus olhos estão num tom de cinza que me lembra um céu
nublado, antes da tempestade chegar. Eu sei que a tempestade está
chegando, eu sinto.
— Promete que vai escutar tudo que tenho para dizer? Depois
pode falar tudo o que quiser, só me escuta, por favor! — Ele pede
como uma súplica, e só consigo fazer um movimento com a cabeça
concordando. Matteo solta o ar, que nem percebi que estava
prendendo, e volta a falar. — Você lembra como eu surgi do nada
dizendo que estava noivo da noite pro dia?
Estava lembrando desse momento segundos atrás! Queria
poder deletar esse dia da memória ou, quem sabe, arrancar esse
sentimento do meu coração. Infelizmente, não é possível. Podem
confiar, tentei fazer isso nos últimos meses, mas não tive sucesso.
Matteo aguarda minha resposta e eu balanço a cabeça
confirmando que sim, lembro do maldito dia. Ele assente e desvia o
olhar do meu.
— Tudo aconteceu muito rápido — ele começa a contar
devagar. — Recebi uma mensagem da Mel em uma noite
perguntando se podíamos conversar. Fazia um tempo que não falava
com ela, nos afastamos depois que comecei a minha iniciação.
Marcamos de nos encontrar no dia seguinte.
Meu coração aperta mais no peito ao escutá-lo falando sobre
sua relação com Melanie. Eu só quero gritar para ele parar, que não
importa. Mas eu prometi escutá-lo.
— Onde você quer chegar com essa história? Não quero
escutar detalhes de como vocês se reaproximaram e o pedido de
casamento — sei que soei um pouco grossa, mas realmente não
quero ficar aqui escutando isso. Estou a ponto de chorar.
Matteo suspira, apoia seu corpo no encosto de uma das
cadeiras da mesa e cruza os braços na frente do peito.
— Você prometeu escutar, lembra? — Fecho os olhos e
concordo com a cabeça. — No dia que nos encontramos, Mel me
contou que o pai estava procurando um marido pra ela. Ela estava
apavorada com a ideia de se casar com uma pessoa que não ama e,
além de tudo, não conhece. Você sabe que mesmo com as
mudanças que seu bisavô fez, muitas famílias preferem seguir a
tradição e o pai dela é um dos que não pensa em mudar hábitos
arcaicos.
Engulo em seco.
Graças ao meu bisavô os integrantes da nossa família,
principalmente as mulheres, não são obrigados a se casar por conta
da nossa posição hierárquica. Não teremos que seguir com um
casamento arranjado, somente se for por nossa vontade. Sinto pena
da Melanie por ter um pai que ainda prefere seguir essa tradição
absurda. Estamos em pleno século 21!
— Ela perguntou se eu não topava me casar com ela. Nos
conhecemos desde pequenos e seu pai iria aprovar, porque sou o
futuro consigliere. Na hora, nada me impedia de aceitar e eu estaria
ajudando uma amiga. Além disso, ser um homem já casado quando
assumisse o cargo do meu pai ajudaria a ter o respeito dos mais
velhos dentro da Famiglia.
— Isso não explica porque você disse que seu noivado não é
verdade — ainda continuo querendo uma explicação quanto a isso.
— As tradições podem ter sido alteradas, mas casamento dentro da
máfia ainda é para sempre. Sem divórcio.
— Eu sei disso. Combinamos que seria um casamento de
fachada. Fingir que somos um casal, mas cada um terá a vida
privada — escuto sua explicação e quero rir.
— Você não tá pensando que serei um dos seus casos, né? —
Minha pergunta o pega de surpresa. Matteo prontamente nega com a
cabeça.
— Claro que não, Hanna! Só estou explicando o acordo que fiz
com ela. — Ele parece ofendido com a minha suposição.
— Então, se vocês não são um casal de verdade, por que agem
como um quando estão juntos?
Lembro dos momentos que estivemos no mesmo ambiente e
meu coração quebrou, cada maldita vez, com a interação dos dois.
Pareciam um verdadeiro casal feliz.
— Porque temos que fingir, assim como nós estamos fazendo
agora! — Ele se aproxima de mim, mas não fica tão perto. — E antes
que questione, nunca a beijei. O máximo foi um selinho naquela festa
mês passado.
— Você não precisa se explicar para mim.
Mentira! Na verdade, queria saber se a beijou, mas não iria
admitir isso em voz alta.
— Mas eu quero me explicar! Quero que saiba que nunca
aconteceu nada entre a gente. Mel até quer acabar com esse
acordo, porque não aguenta mais viver do jeito que vive — a voz
dele vai diminuindo no final e quase não consigo escutar.
— Como ela vive?
Matteo suspira.
— Mel tem alguém na vida dela, mas tem medo do pai descobrir.
Ele nunca vai aprovar — pausa e fecha os olhos. — Desculpe, não
posso falar mais do que isso, pequena. É a vida dela, não tenho
direito.
Melanie tem alguém? Nunca imaginei isso. Ela sempre foi muito
discreta sobre sua vida particular, mas namorar escondido é uma
novidade.
Agora entendo porque Matteo apareceu naquele dia, do nada,
anunciando o noivado. Ele está ajudando uma amiga que tem um pai
que vive no século passado. Fico com pena dela, não merece passar
por isso. Ninguém merece, na verdade.
— Por que tá me contando isso agora? Teve tantas chances para
me contar, até mesmo antes de chegarmos aqui — paro de falar ao
lembrar do meu irmão. — Nicolas sabe que não é real?
— Não, ninguém sabe. E sobre por que agora, bom, porque eu
não aguentei escutar você chorando na noite passada, achando que
fez algo de errado. Eu quis aquele beijo, assim como sei que você
quis. Melanie sabe que já nos beijamos. — Ele solta uma risada
baixa, mas sem humor. — Ela, inclusive, apoia a ideia de
aproveitarmos o momento — faz aspas com os dedos ao dizer a
palavra — e estava quase me implorando para contar pra você. Ou
pior, pegando um voo para cá.
Fico surpresa com a tranquilidade que fala. Ele quis me beijar. Ele
sabe que eu o quero. Meu Deus! Não consigo dizer nada. As
palavras estão presas na minha garganta. Aproveitar o momento.
Será que eu quero isso? Quem eu quero enganar? Claro que quero!
Mordo o lábio inferior e atraio o olhar de Matteo para os meus
lábios. Deveria pensar nas consequências. Se me entregar para
Matteo aqui, nesta viagem, sei que meu coração estará destroçado
quando voltarmos para casa. Ele disse que Mel quer acabar com o
acordo. Isso não quer dizer que seu relacionamento de fachada vai
acabar quando voltarmos.
— O jantar de noivado para pedir a benção do Capo vai
acontecer em 3 semanas — digo em voz alta e sua atenção retorna
aos meus olhos.
— Vai — é a única coisa que sai da sua boca.
— O casamento da máfia é para sempre — repito.
— Sim.
Meu Deus, esse homem ficou monossilábico?
— Você vai se casar com ela, está decidido? — Faço a
pergunta, mesmo com o coração apertado e com medo da resposta,
que já prevejo qual é.
— Dei minha palavra.
Ele vai se casar com ela.
— Entendo — minha voz sai baixa e tento controlar as
lágrimas que querem cair.
Quero ir para meu quarto, trancar a porta e chorar. Nada
mudou, só descobri a verdade por trás do noivado. Ele ainda vai se
casar.
— Bom… — tento manter minha voz normal, mas está difícil.
— Já contou o que queria. Agradeço por me contado a verdade.
Tento me virar para ir para o quarto, mas sua mão segura meu
pulso. Ele não faz força, mas sinto seu toque me queimar minha pele
e uma eletricidade envolvendo nós dois.
— Hanna — ele se aproxima mais, nossos corpos ficando
praticamente colados.
— Matteo — o órgão no meu peito começa a bater
freneticamente.
— Eu quero te beijar de novo — sua voz grossa sai rouca e
minhas pernas ficam bambas. Minha respiração está desregulada e
minha boca seca. — Se eu te beijar agora, promete não surtar e
chorar depois?
Penso no que estamos fazendo.
Penso no meu coração.
Penso em vários motivos para dizer não.
— Por que você não tenta a sorte?
Ele não demora para acabar com a distância e gruda seus
lábios macios aos meus. Pela terceira vez na semana, me sinto no
paraíso.
Capítulo 17
Eu só queria provar os lábios dela mais uma vez.
Aceitei seu desafio.
Iria correr o risco de talvez vê-la chorar novamente por minha
culpa, mas precisava sentir seu gosto mais uma vez.
Egoísta, eu sei. Mas é mais forte do que eu.
Quando colei meus lábios nos seus, Hanna não recuou. Pedi
passagem com a língua e, novamente, ela não recusou. Comecei
com um beijo calmo, avançando aos poucos. Tomando todo cuidado
para não assustá-la e fazer com que corresse no próximo instante.
Queria aproveitar cada segundo.
Seu gosto é o melhor que já provei. Não sei se um dia serei
capaz de apagá-lo da memória. Quem estou querendo enganar?
Não tirei essa garota da minha cabeça nos últimos anos sem ao
menos beijá-la, não vou conseguir parar de pensar agora que tenho
os nossos beijos como recordação.
Nossas bocas não se separam nem um segundo. Estou preso
no gosto da sua boca, dos seus lábios, e ela não está diferente.
Hanna morde meu lábio inferior, fazendo com que eu avance mais.
Nossas línguas em uma dança perfeita.
Já não é um beijo calmo, mas também não é selvagem, como
o último que trocamos. É um beijo cheio de necessidade, como se
precisássemos disso para sobreviver. Hanna passa a mão no meu
cabelo com uma mão, enquanto desliza os dedos da outra pelas
minhas costas.
Sinto que meu corpo está em chamas.
Posso estar avançando demais, já que não estou 100% lúcido
para decidir o que é certo ou não neste momento. Em um movimento
rápido, passo meu braço pela sua cintura e a ergo do chão. Hanna
dá um gritinho, mas não desgruda nossos lábios. Ela envolve minha
cintura com suas pernas, para se segurar.
Caminho com ela presa a mim aos beijos, em direção ao sofá.
Sento com ela ainda no meu colo. Sua mão entra por debaixo da
minha camisa e solto um gemido com o contato, seus dedos
deslizando pela minha pele. Minha ereção, que já está evidente,
aumenta ainda mais agora na posição em que estamos.
Eu sei que a mulher no meu colo sente o volume, porque começa
a rebolar e sinto seu sorriso enquanto me beija. Ela solta um gemido
e sei que está gostando. É bom saber que tem efeito sobre ela, né?
Tento não pensar nisso. Aperto sua bunda com as mãos e a
incentivo a continuar com os movimentos.
Saio dos seus lábios e começo a passar a língua pelo seu
pescoço, dando beijos e sugando sua pele. Hanna joga a cabeça
para trás, dando acesso ao vale dos seus seios. Deposito beijos nos
montes volumosos que me fazem salivar, mas não avanço mais.
Minha consciência grita que estamos indo rápido demais. Mesmo
com a vontade de seguir com o que estava fazendo, volto a subir
com beijos pelo seu pescoço e mordo o lóbulo da sua orelha. Ela
geme novamente e capturo seus lábios.
Estou me segurando para não parecer um garoto inexperiente
e gozar nas calças só com ela rebolando e gemendo.
Isso só pode ser o paraíso!
Meu sonho virando realidade.
Hanna pega a barra da minha camisa para tirar o tecido do
meu corpo, mas é justo nesse momento que um som, que conheço
muito bem, surge. Caralho, não tinha hora melhor não? Meu celular
está tocando e é só nesse momento que nossos lábios se separam
para podermos respirar um pouco. Hanna está com um sorriso no
rosto, ela passa a língua pelos lábios e enxergo as chamas de
desejo nos seus olhos.
— Melhor atender, pode ser importante — sua voz sai rouca e
quero negar, mas sei que preciso ver quem é.
Pego o celular no bolso da calça e fecho os olhos quando vejo
quem é. Porra!
— Minha mãe — Hanna arregala os olhos e prontamente se
levanta do meu colo, arrumando as roupas no corpo.
— Melhor atender mesmo ou ela pode ficar preocupada — tento
impedi-la de se afastar, mas é em vão. — Não se preocupe, ainda
vamos conversar sobre o que acabou de acontecer, mas estou com
a consciência limpa. Melanie mandou a gente aproveitar — faz aspas
com os dedos — certo?
Balanço a cabeça confirmando e ela sorri, antes de se afastar e ir
em direção ao seu quarto. A acompanho com os olhos e vejo quando
vira antes de fechar a porta.
— Boa noite, Matteo! — Sua voz suave e o sorriso no rosto me
deixam feliz. Ela não vai chorar hoje.
— Boa noite, pequena!
Meu telefone para de tocar, mas logo começa novamente.
Suspiro e tento me ajeitar, principalmente meu amigo que ainda se
encontra duro, para falar com minha mãe. Atendo no quinto toque.
— Até que enfim! Já estava ficando preocupada. — Senhora
Lombardi sabe fazer drama, com uma mão no peito e fingindo estar
aliviada.
Minha mãe sabe que eu posso demorar a atender ou retornar
a ligação por estar em uma missão ou algo do tipo. Afinal, a mulher é
casada com o consigliere da Famiglia há anos.
— Tudo bem, mãe?
— Eu é quem deveria perguntar isso. Você é quem está em uma
missão, correndo perigo, não eu — bufa e eu solto uma risada. Ela
sempre se preocupa demais.
— Tá tudo bem, mãe. Estamos bem. Não se preocupe, eu sei me
cuidar.
— Está cuidando bem dela? É a primeira missão que Hanna
participa e você sabe que ela é uma das princesas da máfia. Muitos
poderão ver como uma chance e tentar se aproximar — sua
preocupação é notável, mas não me surpreende. Minha mãe sempre
gostou de Hanna.
— Hanna tá bem e sabe se cuidar também. Esqueceu que é uma
das melhores lutadoras que temos? — Mamãe sorri e faço o mesmo.
— Ela sempre foi muito dedicada. Não me surpreendi quando
fiquei sabendo que escolheu fazer Direito. Será uma ótima
advogada.
— Ligou só para isso? — Tento mudar o foco da conversa,
porque não quero ficar falando da garota que estava beijando há
alguns minutos atrás com minha mãe.
Ninguém pode saber. A voz grita.
— Não posso mais saber como meu filho está? — Volta a fazer
drama.
— Tenho coisas importantes para fazer — como controlar a
ereção que ainda não foi embora totalmente.
— Ok, não vou atrapalhar mais. Quando eu morrer, você vai
sentir minha falta —- fecha os olhos e suspira.
— Sem drama, mãe.
— Tudo bem, tudo bem… — levanta a palma da mão para cima
— Já está tarde mesmo. Nós nos falamos depois.
— Ok. Boa noite, mãe!
— Boa noite, meu menino. — Ela manda um beijo e sorrio, antes
de encerrar a chamada.
Jogo o celular ao meu lado no sofá e olho para a porta do quarto
de Hanna. Flashs do que vivemos há alguns minutos atrás invadem
minha mente. O que ela deve tá fazendo agora? Pensando no que
fizemos?
Escuto sons baixos saindo do quarto dela, parecem ser…
Gemidos? O que você acha que ela vai fazer no quarto, trancada,
com o fogo que estava?
Engulo em seco com meu pensamento.
Meu membro voltando a ganhar vida e implorando para ser
libertado de dentro da calça. Acho melhor ir para o quarto, tomar
banho e resolver meu problema.

Quando abro a porta do quarto na manhã seguinte, Hanna já


está sentada à mesa, com uma perna pra cima da cadeira, tomando
uma xícara de café.
— Bom dia, dorminhoco — sorri irônica.
— Bom dia — me aproximo e puxo uma cadeira para me
sentar. — Demorei a dormir na noite passada, depois de tudo que
aconteceu.
Eu falei de propósito, no duplo sentido, e fico observando sua
reação. Vejo quando engole em seco. Ela morde o lábio inferior,
atraindo minha atenção para a região da sua boca e percebo sua
respiração vacilar.
— Precisamos conversar sobre ontem — sua voz sai baixa e
rouca.
— Sobre o que quer falar? — A minha voz também sai rouca.
Quero saber o que a aflige, então aguardo.
— Vai contar para meu irmão? — Ela brinca com a colher,
misturando a salada de frutas na sua frente.
— Você quer que eu conte?
— Nicolas pode surtar quando descobrir. — Acho que ela fala
mais pra ela do que pra mim. — Talvez seja melhor não contar por
agora — sugere e concordo com a cabeça.
— O que mais?
— Melanie…
— Já falamos sobre isso. Aceitei me casar com ela porque ela
precisava de ajuda, mas ela tem alguém na vida dela. Não a amo.
Hanna desvia o olhar do meu e concorda com a cabeça.
— Nós… — começa, mas parece receosa.
— Podemos viver o momento, se quiser. Infelizmente, não
posso te garantir nada — suspiro antes de continuar. Não queria que
fosse assim. — Mel pode acabar com nosso noivado a qualquer
momento ou posso me casar com ela. Depende somente dela, não
vou voltar atrás com minha palavra. Preciso ajudá-la e espero que
compreenda.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até os olhos cor de
mel encontrarem os meus. Hanna respira fundo, parecendo pronta
para dar seu veredito.
— Prefiro ter um momento com você do que fingir que isso aqui
— aponta o dedo para nós dois — nunca aconteceu.
— Então… — quero ouvir as palavras saírem da sua boca.
— Vamos aproveitar esse tempo longe de todos e viver o
momento. Sem cobrança, sem explicação. Nós dois queremos, não
podemos negar, isso está claro. — Pega a xícara e a leva aos lábios,
mas antes de tomar o conteúdo continua. — Afinal, o que acontece
em Vegas fica em Vegas, né? — Pisca um olho.
Não consigo segurar a gargalhada. Percebo que está sorrindo
quando coloca a borda da xícara aos lábios e engole a cafeína.
— Não acredito que acabou de usar uma frase clichê — tento
me recuperar da crise de risos.
— O que posso fazer se faz total sentido no nosso caso? —
Dá de ombros e mantém o sorriso nos lábios. Ela parece estar tão
leve, tão linda.
— Sem contar pro seu irmão? — Questiono e ela me olha
desafiadoramente.
— Consegue guardar esse segredo dele? — Arqueia uma
sobrancelha.
— Acho que consigo — dou de ombros e ela me dá um
sorriso sexy em resposta. — Por você, consigo. Sempre!
E é verdade.
Consigo fazer tudo por Hanna.
Basta ela me pedir.
Capítulo 18
Sophia me mataria se descobrisse o acordo que fiz com Matteo.
Clichê? Sim, sem dúvidas. Mas eu prefiro viver alguns dias ao seu
lado, de verdade, do que ficar criando fanfics na minha cabeça.
Agora, por que minha prima me mataria? Porque ela sabe as
consequências desse acordo. Eu também sei. O resultado será que
meu coração será despedaçado no final dessa história.
Melhor não pensar nisso agora.
Tomamos nosso café e conversamos sobre várias coisas
aleatórias. Descobri que gostamos de uma mesma série,
Supernatural[24]. Sim, eu sei que tem infinitas temporadas, mas pelo
menos não é igual Grey’s Anatomy[25] que está no ar até hoje.
Estou rindo de uma piada horrível que ele contou quando o
celular dele anuncia uma nova notificação. Matteo pega o aparelho
em cima da mesa para ver do que se trata.
— Seu irmão quer saber se podemos falar agora — ele encara a
tela do celular e começa a digitar.
— Nicolas vai surtar com as novas informações… — fico em
silêncio por um curto tempo e recebo a atenção de Matteo. Ele me
observa atentamente.
— No que está pensando, senhorita? — Tem um sorriso no canto
dos lábios, fazendo sua covinha aparecer.
— Talvez, se contássemos a ele sobre nossos beijos, o surto
seria dividido — quando termino de falar, quero sorrir da cara de
assustado do homem à minha frente.
Matteo está com os olhos arregalados e se ajeita na cadeira,
desconfortável.
— Você realmente acha que seu irmão vai surtar porque nos
beijamos?
Penso por um tempo até encontrar a melhor resposta para
sua pergunta.
— Alguma vez ele me proibiu de ficar com um amigo dele? — Eu
não me lembro de algum dia ele ter proibido. Até porque, ele não
faria isso.
— Nunca — responde prontamente. Matteo coça a barba por
fazer, que por sinal o deixa ainda mais sexy, antes de continuar. —
Mas meio que tá dentro do código da amizade, né?
Reviro os olhos. Dane-se o código da amizade.
— Vamos ficar com o que combinamos, ok? Falar o que Salomão
nos contou e rezar para meu irmão não agir por impulso e aparecer
aqui nas próximas horas.
Matteo assente.
Enquanto aguardamos a ligação do meu irmão, vamos nos
sentar no sofá. Matteo coloca uma mão na minha coxa desnuda e
fica alisando minha pele com o dedão. Sinto meu corpo arrepiar e
vejo o sorrisinho no canto dos seus lábios. Ele está gostando de me
provocar.
Como esperado, assim que contamos para Nicolas sobre os
russos estarem tentando entrar no nosso território, meu irmão xinga
de todas as maneiras possíveis. Passamos os próximos minutos
organizando um plano para conseguir pegar Spencer no flagra.
Prendo meu cabelo, que estava solto, em um coque
despojado. Alguns fios caem na lateral do rosto. O dia hoje está
muito quente, mesmo com o ar ligado. Ou será a proximidade do
homem ao meu lado que está fazendo meu corpo queimar? Como só
estamos aparecendo na câmera da cintura para cima, Matteo não
retirou a mão da minha coxa e continua fazendo carinho.
— Tomem cuidado! — Meu irmão pede ao terminamos de
ajustar os detalhes do plano.
— Pode deixar, Nick. Vamos tomar. — Matteo me olha
rapidamente e assinto.
— Não precisamos de mais problemas no momento. —
Nicolas parece estar falando para ninguém em específico, mas eu
compreendo o que quer dizer.
As ameaças.
— Quão grave é a situação, Nicky? — Mordo a parte interna
da bochecha quando escuto ele suspirar. Muito grave pelo visto!
— Não se preocupe, sis. Tá tudo sob controle.
Acredito nele. Sei que, se fosse caso de vida ou morte,
Nicolas me contaria. Ele sabe que me preocupo com nossa família,
especialmente com minha melhor amiga e prima. Pegaria o primeiro
voo no segundo que me dissesse que precisam de mim lá.
— Qualquer coisa, pegamos o primeiro voo de volta. — É
Matteo que profere o que já passou pela minha cabeça.
— Se algo acontecer, vocês saberão. Por agora, preciso que
foquem no que foram fazer aí — pede. Meu irmão parece cansado e
ambos concordamos com seu pedido.
— Ti amo[26]Nicky!
— Ti amo sis! — Ele dá um leve sorriso. — Cuide bem da
minha irmã, Matt.
— Pode deixar! Estou cuidado. — Matteo olha para mim e
trocamos um olhar de cumplicidade.
Nicolas encerra a chamada, pois tem que correr, ele ainda tem
algumas reuniões durante o dia. Matteo levanta para pegar o
telefone na mesa de centro. Ele fica um tempo mexendo no celular e
eu fico sentada o observando.
Como pode ser tão gostoso? Sua camiseta preta marca
perfeitamente seus músculos bem definidos. A calça de moletom
cinza está baixa e consigo ver que está sem cueca. Minha boca
saliva ao imaginar como deve ser esse homem inteiramente nu.
Imagina o tam…
Meus pensamentos são interrompidos por um aúdio.
“Até que enfim você abriu essa boca! Já tava quase
ligando para ela e contando tudo. Enfim, espero que ela não me
odeie e vocês tenham maior liberdade para aproveitar agora. Ah,
quase me esqueço. Volto daqui uma semana para casa. Aí,
vamos poder conversar direito pessoalmente. Acho que é isso.
Beijos, ursinho! E se cuidem.”
— Ursinho? — Não contenho a risada e Matteo está com as
bochechas num tom de vermelho.
— De tudo que ela disse na mensagem, você só pegou o
apelido? — Ele balança a cabeça de um lado para o outro e parece
não acreditar.
— Foi mais forte que eu — minha barriga está doendo de
tanto que eu ri.
— Vai usar isso contra mim agora, não vai? — Questions, mas
ele já sabe a minha resposta.
— Pode apostar — tento segurar o riso — ursinho.
Matteo coloca a mão nos rosto e volta a balançar a cabeça de
um lado para o outro.
— Minha reputação como mafioso e futuro consigliere já era. —
Ele me olha e consigo ver o sorriso que tenta esconder.
— Relaxa — levanto e fico na sua frente — que eu sei guardar
segredo. — Pisco um olho e sou surpreendida com seus braços
envolvendo minha cintura, me trazendo para perto do seu corpo.
— Ainda não te dei um beijo hoje — ele alterna o olhar entre
meus olhos e meus lábios.
— Acho que precisamos resolver isso, né? — Coloco meus
braços sobre seus ombros e entrelaço as mãos na sua nuca.
Matteo termina com as distância entre nós e gruda meus lábios
aos seus.
Acho que nunca vou me acostumar com isso.

Estou arrumando minhas coisas no quarto. Matteo foi para a


academia do hotel para começar a pôr em prática o plano. Como
hoje é um dia livre, provavelmente ele pode encontrar algumas
pessoas lá e pode tentar descobrir novas informações sobre a
questão dos russos. Eu preferi ficar no quarto mesmo. Não estava
muito afim de malhar ou bater num saco de areia.
O problema de ficar em uma suíte tão grande sozinha é o poder
que nossa mente tem. Ela é capaz de criar mil teorias e
possibilidades. Neste momento, por exemplo, ela está me lembrando
dos beijos quentes que tive com Matteo. Em especial, o da noite
passada que foi interrompido por uma ligação da sua mãe.
Fico pensando no que aconteceria se não fossemos
interrompidos. Iríamos até o final? Eu sei que não tenho muita noção
de limite quando estou com Matteo. Só que existe um detalhe
importante nessa história.
Eu sou virgem.
Eu sei que existe toda uma história de que meninas da máfia
tem que se casar virgem. Novamente, graças a Deus, meu bisavô foi
muito evoluído para sua época e mudou isso. Infelizmente, a maioria
das famílias não aderiu essa mudança. Foi uma das poucas coisas
que não aceitaram muito bem, mas meu biso não se importou com
as críticas. Te amo, biso!
Acho que tenho que ter essa conversa com Matteo. Eu posso
assustá-lo com o tema, mas acho que ele já imagina que está
lidando com uma mulher inexperiênte quando o assunto é sexo. Eu
já me toquei algumas vezes, mas nunca estive com um homem.
Inclusive na noite passada, tive que me dar prazer para apagar o
fogo…
Meus pensamentos são interrompidos com meu celular
tocando. Pego o aparelho e é uma ligação de Nicolle, minha prima e
irmã mais nova de Michael.
Estranho sua ligação. Nicolle não tem o costume de fazer
chamadas de vídeo comigo.
— Oi, Ni. Tá tudo bem? — Atendo e vejo uma Nicolle
sorridente em um ambiente que não me é estranho.
— Eu não quero falar com ele agora, mas que droga! —
Escuto a voz de Sophia e percebo que minha prima mais nova está
na minha casa, no quarto de Soph.
— Oi, Na — ela me chama pelo apelido que me chamava
quando era um bebê, por não conseguir dizer meu nome, e acabou
ficando. — Tudo bem por aqui — olha por cima do ombro para uma
Sophia irritada andando de um lado para o outro. — E com você?
— Tudo bem também…
Sophia grita alguma coisa, mas não consigo escutar
— O que deu nela?
— Ah, é que o… — Nicolle é interrompida quando nossa
prima chega batendo no seu ombro e senta do seu lado na cama.
— Meu ex me mandando mensagem pedindo para conversar —
faz uma leve careta.
— Jesse te procurou? Achei que tivessem terminado bem.
Estou confusa.
— Não estou com cabeça para saber o que ele quer no momento.
Estou mais preocupada em arrumar essa situação das ameaças e
ser livre para viver sem pessoas no meu pé 24 horas por dia — ela
cruza os braços e bufa.
— Pessoas que no caso é uma e se chama Nicolas, certo? —
Tento esconder o sorriso.
— Eles estão pior do que normalmente são — Nicolle ganha um
olhar repreendedor de Sophia por sua confissão. — Juro! Eles só
faltam se matar com um único olhar.
— Não escute a pirralha — Sophia dá um tapa de leve no braço
da nossa prima.
— Ei, sou só dois anos mais nova que vocês — defende-se
Nicolle.
Estando longe delas, fico com saudade. Amo passar tempo com
meus primos. Das nossas brincadeiras até nossas implicâncias.
Confesso que estou com ciúmes de vê-las ali unidas e eu aqui,
sozinha. Mas você tá gostando do que tá fazendo sozinha com
Matteo, né? Balanço a cabeça para afastar o pensamento.
— Qual o motivo da ligação? — Pergunto, porque ainda não
entendi.
— Só queria saber como você estava — Nicolle dá de ombros.
— Para isso existe uma coisa chamada mensagem de texto,
conhece? — Brinco e ela faz uma careta.
— Também sinto sua falta, chata! — Nicolle dá a língua e dou
risada.
Ficamos conversando por um tempo coisas aleatórias, até eu
escutar o barulho da porta da suíte sendo aberta. Despeço das
minhas primas e me levanto da cama em um pulo.
Abro a porta do quarto e me deparo com a visão do paraíso.
Matteo está com a camiseta embolada jogada no ombro. Seu
tanquinho cheio de gominhos, com gotas de suor escorrendo por ele,
totalmente à mostra. A bermuda, que envolve suas coxas definidas,
está baixa, deixando visível o caminho para minha imaginação.
Quando subo o olhar para seu rosto, encontro um sorriso sexy
no canto dos lábios, suas covinhas fofas, e seus olhos num cinza
escuro, quase pretos.
O desgraçado sabe o efeito que tem sobre mim.
Capítulo 19
Sinto o olhar de Hanna queimando minha pele. Nos seus olhos
dá para ver as chamas de desejo.
Ela me quer, assim como a quero.
— Está gostando do que vê? — Pergunto.
Sei que estou brincando com fogo. E eu gosto disso.
Hanna passa a língua pelos lábios rosados e sinto meu pau
ganhando vida. Não que ele já não estivesse animado com a visão
de Hanna com seu short jeans curto e cropped mais soltinho, com
um decote que deixa o vale dos seus seios à mostra.
Chego a conclusão de que ela fica linda e sexy com qualquer
roupa. Deve ficar ainda mais sem nenhuma peça no corpo. A voz na
minha cabeça faz com que minha imaginação crie imagens de
Hanna nua, deitada na minha cama, com os cabelos espalhados,
gemendo meu nome.
— Como foi o treino? — Sua voz sai baixa e rouca.
— Não consegui nada. — Respondo. Por um momento esqueço
da tensão sexual existente na nossa suíte, focando na missão, e
suspiro pesadamente. — Infelizmente.
Estou frustrado por não ter conseguido descobrir nem uma nova
informação sobre a infiltração dos russos no nosso território. Sinto
que estou falhando com meu melhor amigo e com a Famiglia.
— Não se preocupe, vamos conseguir algo. — Hanna se
aproxima e pega a minha mão. — Você vai conseguir, eu sei que vai.
Com a garota tão próxima a mim, começo a esquecer novamente
o motivo da minha frustração.
O propósito dessa viagem, dessa missão, é descobrir se Spencer
está trabalhando com os russos. Estamos trabalhando nisso, eu sei.
Mas, no momento, meu corpo está clamando pela mulher à minha
frente. Não imaginei, quando Nicolas escolheu a irmã para me
acompanhar, que estaríamos nesta situação.
Hanna nunca demonstrou qualquer interesse em mim. Pelo
menos, não que eu tenha percebido. Ela sempre estava com algum
cara quando saímos juntos e, nas últimas vezes, sempre ficava
distante.
Olho para ela, que está comendo meu corpo com os olhos.
Acho que não fui o único a ser afetado pela nossa proximidade.
Hanna também parece ter esquecido o que estávamos conversando.
Seus olhos encontram os meus e ela morde o lábio inferior. Estou a
um passo de perder a cabeça e me enterrar de vez nessa loucura.
— Acho que podemos esquecer a missão pelo resto do dia —
sugere e não preciso pensar muito para ter a resposta.
— Acho uma ótima ideia. Sem trabalho por hoje.
Seus olhos estão brilhando com chamas de desejo.
Ela se aproxima mais do meu corpo e, como ela é alguns
centímetros mais baixa, fica na ponta dos pés. Seus lábios esbarram
nos meus e ela coloca as palmas das mãos apoiadas no meu peito.
A eletricidade corre nas minhas veias quando ela toca a minha pele.
—Só diversão — sinto o ar saindo da sua boca ao proferir as
palavras.
Não espero que ela fale mais nada. Também não digo nem
mais uma palavra. Junto meus lábios aos seus em um beijo urgente,
cheio de paixão e necessidade. Nossas línguas entram num duelo e
sinto seu gosto de menta.
Em um movimento rápido, Hanna pula no meu colo e enlaça
suas pernas na minha cintura. Minhas mãos vão direto para sua
bunda, enquanto ela brinca com os fios do meu cabelo. Caminho
com ela nessa posição pela sala da nossa suíte e sento com ela no
meu colo no sofá. Acho que está virando um hábito nosso.
Hanna rebola no meu colo e solta gemidos ao meio dos
nossos beijos. Meu pau já está duro, querendo sair de dentro da
bermuda. Solto sua boca, para conseguir respirar, mas continuo
espalhando beijos e chupões pelo seu pescoço.
Mordo seu lóbulo da orelha e ela solta um gemido que faz
meu pau pulsar. Se continuarmos assim, acho que vou acabar
gozando na calça. Ela continua rebolando no meu colo, puxando
levemente os fios do meu cabelo. Volto a distribuir beijos por seu
pescoço. Nossos olhares se encontram e Hanna morde o lábio
inferior.
— Eu quero mais, Matteo — sua voz está manhosa. — Por
favor!
Porra! Como quero dizer sim neste momento. Mas eu sei que
Hanna é virgem. Não vou negar que quero ser seu primeiro homem,
mostrar para ela como é sentir prazer de todas as maneiras
possíveis.
Caralho, como eu quero isso!
Mas também sei que estarei sendo egoísta. Vou tirar a
virgindade dela, para depois ter que deixá-la ir. Não é justo com ela.
— Acho melhor pararmos por aqui — tenho que encontrar
forças do fundo do meu ser para dizer estas palavras.
Coloco uma mecha do seu cabelo, que estava caindo na
frente do seu rosto, para trás da sua orelha. Observo Hanna por
alguns instantes e vejo a mágoa em seus olhos. Ela abaixa a
cabeça, para não me encarar, e passa os dedos pelo meu peito,
brincando com os poucos fios que tem ali.
— Eu quero que você seja o meu primeiro — sua voz sai
baixa e quase não escuto.
Meu pau quer saltar da bermuda depois de escutar essas
palavras. Eu quero gritar de felicidade. Porém, seguro minhas
emoções e continuo firme com a minha decisão. Não irei passar do
limite com ela. Por mais que eu queira, não seria correto.
— Tenta me entender, pequena — passo a mão pelos seus fios
castanhos com algumas mechas mais claras. — Eu não quero que
você saia daqui com um coração machucado.
— E se ele ficar do mesmo jeito? — Ela levanta o olhar e me
encara. — Você não tem como controlar isso.
Ela está certa.
— Eu só consigo te oferecer isso aqui — abro os braços — beijos
e amassos. Nada além disso. Me desculpa, mas é minha decisão.
— Assim como é minha decisão querer perder minha virgindade
com você — sua voz sai mais alterada e vejo a surpresa em seus
olhos quando se dá conta do que acabou de falar.
— Eu sei que é uma decisão sua, pequena. — Acaricio seu rosto.
— Mas não serei seu primeiro.
— É sua palavra final? — Ela me desafia.
Eu sei que deveria negar. As coisas podem mudar de uma hora
para outra. Mas, por um motivo estranho, quero afirmar que sim, é a
minha palavra final. Talvez seja só porque ela está me desafiando e
quero ver até onde iremos com isso.
— Minha palavra final — tento soar firme com minha resposta.
Hanna concorda com a cabeça, levanta do meu colo e começa a
caminhar em direção ao seu quarto.
— Veremos.
Ela rebola a bunda conforme anda e sei que está fazendo isso
para me provocar. Quando chega no batente, olha na minha direção
e encosta seu corpo no portal.
— Que os jogos comecem, querido! — Hanna tem um sorriso
sexy dos infernos nos lábios e pisca um olho antes de fechar a porta.
— Tô fudido! — solto baixinho.

Como esperado, Hanna passa a tarde toda me provocando. Ela


trocou de roupa e agora está usando uma saia preta plissada, com
um cropped azul claro de alcinha. Seu cabelo está trançado e ela
usa um salto fino preto. O look foi escolhido para o nosso almoço. E
ela está sexy pra caramba!
Optamos por sair e aproveitar a viagem para comermos em
um restaurante de massa cinco estrelas que abriu recentemente. O
chefe é um dos mais renomados do país e a comida estava divina. A
sobremesa então, perfeita. Um sorvete da casa com brownie e calda
de chocolate tão gostoso, que quase repeti.
Hanna ficou durante toda a refeição me provocando, seja na
hora de levar o talher à boca ou quando tomava um gole de seu
drink. Sem contar que cada vez que ficou passando seu salto pela
minha perna, num movimento de sobe e desce.
Caralho!
Não preciso de muito para já estar no meu limite.
Principalmente se tratando da mulher que domina meus
pensamentos.
Dentro do carro, no caminho de volta para o hotel, estou
dirigindo quando Hanna pousa sua mão na minha coxa e fica
fazendo círculos com o dedo. Ela movimenta a mão devagar, cada
vez mais próxima da minha virilha. Eu estou a ponto de surtar com
suas provocações.
Detalhe: não tem nem 12 horas que ela me desafiou.
Essa mulher sabe o poder que tem sobre mim, não é possível.
Estamos quase chegando no hotel quando paro o carro no
sinal vermelho. Olho na direção da mulher ao meu lado, que ostenta
um sorriso malicioso nos lábios pintados de rosa. Mulher sexy dos
infernos!
— Pare com isso — volto a olhar para frente e fico
aguardando o sinal abrir.
— Não estou fazendo nada — faz uma voz inocente e olho de
canto de olho para ela, que dá de ombros. — Não posso fazer nada
quanto a isso.
— Você sabe o que está fazendo, não banque a inocente —
fixo os olhos no sinal, torcendo para a luz ficar verde logo e eu poder
acelerar e chegar no hotel. Acho que vou precisar de um banho.
Bem gelado de preferência!
A luz muda para verde e piso no acelerador. Hanna não tira
sua mão da minha perna e engulo em seco quando toca levemente
meu membro por cima da calça. Consigo ver o sorrisinho malicioso
que ostenta pelo canto dos olhos. Não demora muito para parar o
carro em frente ao hotel, descer e entregar as chaves para o
manobrista.
Eu preciso de um banho, urgentemente!
Hanna caminha ao meu lado e, pelo canto do olho, consigo
ver que atrai o olhar dos homens pelo lounge. Se não bastasse ter
que esconder uma ereção, o ciúme começa a me corroer por dentro.
Ótimo, era só o que me faltava.
Caminhamos em silêncio até a nossa suíte em silêncio e
durante o caminho, repenso todos os prós e contras em acatar o
desejo dela.
Hanna quer que eu seja o primeiro homem dela.
Eu quero ser o primeiro a lhe dar prazer.
Podemos acabar nos machucando no processo, mas o que
temos a perder no momento?
Eu quero provar essa mulher e ter lembranças dela na minha
cama. Melhor do que criar imagens fantasiosas na minha cabeça,
será poder lembrar de momentos que vivi ao lado dela. Nicolas pode
até surtar quando descobrir que transei com a irmã dele, mas se eu
continuar negando, ela vai continuar provocando. Não sei se vou
conseguir me segurar por muito tempo, já que ainda temos alguns
dias por aqui. Por que não acabar com a tortura de uma vez e
aproveitar o tempo que nos resta? Melanie pediu… Não, ela implorou
para que nós aproveitassemos o momento.
Pela segunda vez em menos de 24 horas, estou decidido ao
fechar a porta da suíte. Viro o corpo e vejo Hanna caminhando em
direção ao seu quarto. Ela estava pegando o celular na bolsa quando
atraio sua atenção.
— Você venceu! — As palavras saem da minha boca e ela se
vira com uma sobrancelha arqueada.
— Fácil assim? — Cruza os braços, fazendo com que seus
seios subam no decote e atraiam minha atenção. Salivo ao imaginá-
los em minha boca.
— Fácil assim.
Caminho até ela e quando chego perto passo a mão pela sua
cintura. Colo seu corpo ao meu e percebo o sorriso vitorioso no canto
dos seus lábios.
— Até que não foi tão difícil como imaginei — ela passa os
braços pelo meu pescoço e coloca as mãos na minha nuca,
acariciando a região.
— Prometo que serei cuidadoso.
Seus olhos brilham ao escutar as minha palavras.
— Não vou te machucar.
— Confio em você! — Ela sela seus lábios aos meus e eu
tenho a certeza de que tomei a decisão certa.
As três palavrinhas que saíram da sua boca, aquecem meu
coração de uma forma que nunca aconteceu antes.
Ela confia em mim.
E, para mim, é só isso que importa no momento.
Capítulo 20
Pensei que seria mais difícil.
Matteo deve estar tão envolvido quanto eu para se render em
menos de 24 horas.
Sua língua entra em uma dança frenética com a minha e não
me oponho. Quero sentir tudo que ele tem a me oferecer. Sua mão
passeia por minhas curvas e tenho certeza de que estou tomando a
decisão certa.
— Você pode me pedir para parar — ele fala em meio aos beijos.
— Quando quiser.
Um sorriso surge nos meus lábios quando ele torna a me
beijar com todo o desejo do mundo.
Acho fofa sua preocupação comigo.
Seus lábios não desgrudam dos meus quando pulo no seu
colo e enrosco minhas pernas na sua cintura. Matteo coloca as mãos
na minha bunda, me sustentando, e começa a caminhar comigo pela
suíte. Minhas costas batem contra a parede quando ele desgruda
nossos lábios e começa a morder meu lóbulo antes de descer com a
boca pelo meu pescoço, distribuindo beijos e chupões.
Sinto seu volume contra minha entrada, já que só existem
minha calcinha e sua calça como barreiras. Mordo meu lábio inferior
para não soltar um gemido com o atrito. Não quero parecer
desesperada. Mas você está! A voz na minha cabeça grita.
Não quero assustar Matteo, quero que este seja um momento
especial.
Meu sonho virando realidade.
O homem que amo vai ser meu primeiro homem na cama.
Matteo para de me beijar e solto um pequeno resmungo em
protesto. Olho para seu rosto e encontro um sorriso malicioso no
canto dos seus lábios.
— No meu quarto? — Pergunta, já me levando em direção a
sua porta. Balanço a cabeça concordando.
Não voltamos a nos beijar.
Fico observando o homem me carregar como se eu não
pesasse nada. Molho os lábios com a língua ao ver as veias saltando
dos seus braços. Que homem gostoso!
Matteo me carrega até sua cama e me coloca sentada na
beirada do colchão. Ele agacha na minha frente, segura minhas
mãos entre as suas, fazendo carinho com o polegar, e me olha no
fundo dos olhos, como se conseguisse enxergar minha alma.
— Tem certeza que é isso que você quer, Hanna? — Seus
olhos brilham de desejo, mas sua voz parece receosa, preocupada.
— É uma decisão importante.
— Não vou mudar de ideia, Matteo. — Tiro uma mão da sua e
acaricio seu rosto. — Eu quero você!
O sorriso que se abre em seus lábios, fazendo suas covinhas
aparecerem, me faz sentir a garota mais especial do mundo, porque
sei que é verdadeiro. Matteo me quer, mesmo sabendo dos riscos.
Ele sente desejo por mim, assim como sinto por ele.
Sinto que acabei de ganhar na loteria.
Ele volta a grudar seus lábios aos meus em um beijo
selvagem. Passo a mão pelo seu pescoço e puxo os fios do seu
cabelo, fazendo com que ele se aproxime. Não quero me separar
dele, nem perder um segundo desse momento.
Levanto da cama, sem me separar dele, deslizo uma das
mãos pelo seu tórax e passo os dedos pela borda da sua camisa.
Ajudo-o a tirar a peça, que não vejo onde cai, porque minha atenção
recai nos gominhos da sua barriga. Passo a ponta dos dedos em
cada um deles e sinto o olhar de Matteo me acompanhando em cada
movimento que faço.
— Parece que não é real — deixo escapar pelos meus lábios,
baixinho.
— Tudo que acontecer aqui vai ser real, pequena. — Ele passa
os dedos lentamente pelo meu rosto e encontro seus olhos cinza,
quase preto de tanto desejo.
Em um movimento rápido, mudo nossas posições e agora é
Matteo que está de costas para a cama. Empurro de leve seu tórax e
ele cai na cama, ficando apoiado pelos braços me observando,
aguardando meu próximo passo.
Eu estou no comando.
Estou com medo? Muito!
Nervosa? Demais!
Mas é só olhar para o homem que está me olhando como se eu
fosse a mulher mais linda do mundo, que sei que não preciso ter
medo ou ficar nervosa.
Lentamente, tiro meu cropped. Observo Matteo engolir em seco e
passar a língua pelos lábios quando vê que estou sem sutiã. Sem
quebrar nosso contato visual, abro o zíper da minha saia, tiro e jogo
em qualquer canto do quarto. Agora, a única peça em meu corpo é
minha calcinha de renda azul clara, que ganha a atenção do homem
à minha frente.
Não sei porque, mas começo a ficar sem jeito. Matteo não para
de admirar meu corpo e acho que o nervosismo está começando a
vir com força total. Quando seus olhos encontram os meus, ele tem
um sorrisinho sexy nos lábios. Solto o ar dos meus pulmões, que
nem percebi que estava segurando.
— Você é linda, pequena. — Ele começa a levantar da cama e
fica de pé, bem na minha frente. Desliza a mão pela minha pele e
sinto a eletricidade percorrer cada veia do meu corpo, efeito do
contato de seus dedos contra a minha pele. — Perfeita!
Meu coração bate descompassado com suas palavras.
Matteo beija minha boca, meu pescoço e vai descendo os
beijos até chegar em um dos meus seios. Ele despeja beijos na
região e morde o bico, que estão rígidos, olhando nos meus olhos,
querendo ver minha reação. Solto um gemido e sinto que o que ele
fez, atingiu o nervo no meio das minhas pernas, que clama por
atenção.
Ele me deita novamente na cama e começa a dar atenção ao
outro seio. Junto às minhas pernas, tentando aliviar o tesão. Sem
tirar os lábios do meu seio ou quebrar nosso contato visual, Matteo
impede meu movimento.
— Hoje sou eu que vou te dar prazer, pequena. — Sua voz sai
rouca e sexy.
Ele vai descendo pela minha barriga, deixando beijos
molhados por onde passa. Agarro o lençol com os dedos, porque sei
qual é a sua intenção. Matteo chega no meu monte de vênus e
assopra por cima da minha calcinha. Solto um gemido e recebo uma
risada leve em resposta.
— Já está pronta pra mim — ele desliza os dedos pela minha
entrada, me torturando. — O que você quer que eu faça, pequena?
— Você sabe o que, Matteo — minha respiração está
acelerada. — Vai logo! — Quase grito e ele solta uma gargalhada.
— Tão apressada…
Matteo rasga minha calcinha e passa os dedos pela minha
abertura, encontrando meu nervo necessitado. Mordo os lábios em
meio aos gemidos. Não demora muito para Matteo trocar os dedos
por seus lábios e trabalhar fervorosamente na região. Solto gemidos,
arfo, grito de prazer e sei que estou quase chegando no clímax,
quando ele me penetra com um dedo. Aumentando o ritmo aos
poucos, não demora muito para que eu veja estrelas.
Tento normalizar minha respiração aos poucos.
Nunca cheguei ao clímax tão rápido. O homem sabe o que tá
fazendo!
Matteo vai subindo aos poucos, até seu rosto estar alinhado
ao meu.
— Tudo bem? — Apesar do sorriso no rosto, vejo
preocupação em seus olhos.
— Não precisa ficar perguntando isso toda hora — passo os
braços pelo seu pescoço e o puxo para um beijo rápido. — Estou
perfeitamente bem! Só que… — ele levanta uma sobrancelha
questionando. — Você ainda está com muita roupa e eu estou sem
nenhuma peça. Injusto, não acha?
Matteo gargalha e rio junto com ele.
— Muito injusto, realmente! — Ele me dá um beijo rápido.
Levanta um pouco o quadril e o ajudo a se livrar do resto das
suas roupas. Quando o vejo nu, quase vou para o céu. Seu membro
é grosso e cheio de veias, fazendo com que minha boca se encha de
saliva.
Vejo quando levanta da cama e vai até a sua mala, voltando
com um pacote de camisinha.
— Veio preparado, né? — Questiono.
Não consigo deixar de ficar um pouco magoada com a ideia
de que ele trouxe preservativos na intenção de usar com alguém.
Tento tirar isso da minha cabeça para não estragar nosso momento.
— Na verdade — ele abre o pacote e retira o material,
colocando no seu membro — comprei hoje quando desci e fui pra
academia.
Estou surpresa.
Ele comprou hoje?
Ele já me queria tanto assim?
Não, não se iluda tão facilmente, Hanna!
— Não que eu estivesse planejando isso — ele tenta justificar
quando fico calada o encarando. — Acho que só queria estar
preparado caso…
— Tá tudo bem, Matteo! — Dou um selinho nos seus lábios.
— Eu entendi — ou espero ter entendido certo.
Seu corpo relaxa depois que falo isso e o puxo para um beijo.
Nossos corpos, como vieram ao mundo, entram em contato e solto
um gemido na sua boca.
— Pode doer um pouco no início ou incomodar — seus lábios
ficam um pouco distantes dos meus. Balanço a cabeça em
concordância. — Qualquer coisa me fala ou pede pra parar.
Matteo se posiciona na minha entrada e sinto uma ardência
quando ele me penetra pela primeira vez. Ele para e espera um
pouco, até eu me acostumar com seu tamanho. Puxo seu corpo junto
ao meu quando me sinto preparada para continuar e Matteo vai me
penetrando aos poucos, até estar totalmente dentro de mim.
Não vou dizer que não senti nada, porque tive um certo
incômodo no início. Conforme ele foi se movimentando e meu corpo
foi se acostumando, o prazer ganhou do incômodo e comecei a me
movimentar também. Enlacei minha perna na sua cintura e o senti ir
mais fundo. Arranhei suas costas cada vez que me penetrava mais
forte.
Com movimentos de vai e vem, junto com seus lábios
despejando beijos por meus seios e seus dedos no meu ponto
sensível, estou quase alcançando o clímax outra vez.
— Você é muito apertada, pequena! — Sua respiração está
acelerada.
— Matteo, eu tô quase lá… — sinto a onda de calor invadir
meu corpo novamente, dos pés à cabeça.
Ele aumenta a velocidade dos movimentos.
— Matteo… eu vou…
Matteo solta um gemido e me incentiva a chegar ao clímax,
dando atenção aos meus seios. Não demora muito para meus
músculos internos se contraírem e eu sentir choques pelo corpo.
Vejo estrelas pela segunda vez no dia.
Matteo vem logo depois, desabando em cima do meu corpo,
mas tentando não me esmagar com seu peso.
— Isso foi… — ele tenta controlar a respiração
— Perfeito — complemento sua frase, soltando o ar com força.
Matteo me olha e seus olhos estão brilhando.
— Fico feliz, pequena! — Um sorriso está nos seus lábios e suas
covinhas estão aparentes, e sei que não estou diferente. Acho que
minhas bochechas vão estar doendo amanhã de tanto sorrir.
Matteo se levanta e vai até o banheiro descartar a camisinha.
Volta com uma toalha úmida e me entrega para limpar os vestígios
de minutos atrás. Quando termino de me limpar, ele deita ao meu
lado e descanso minha cabeça em seu peito.
Ficamos em silêncio por algum tempo, processando tudo que
acabou de acontecer. Escuto sua respiração e sinto seu peito
subindo e descendo. Seus dedos percorrem minha coluna de cima a
baixo e eu brinco com os pouco fios existentes no seu abdômen.
Era meu sonho ter minha primeira vez com o homem que
amo, mas pensava que nunca seria possível. Não estava nos meus
planos, quando aceitei vir para Vegas, ficar com Matteo. Na minha
cabeça ele estava noivo e era algo impossível.
Agora, estamos aqui, deitados na cama de hotel, consumidos
pelo prazer.
Me sinto realizada.
Mesmo que esse sonho tenha um prazo de validade, sei que
fiz a escolha certa.
— Tô com fome — penso em voz alta.
— Que tal pedirmos hambúrguer e assistirmos algo na TV?
— Uma noite perfeita — suspiro com um sorriso no rosto. —
Obrigada, Matteo!
— Pelo que? — Ele ergue um pouco o tronco e me lança um
olhar questionador.
— Por não ter sido tão resistente — tenho um sorriso travesso
nos lábios e recebo sua gargalhada em resposta.
— Acho que não sou tão forte quando o assunto é você,
pequena! — Confessa em meio aos risos.
Capítulo 21
O sol entra pela janela do meu quarto.
Abro meus olhos com dificuldade por conta da claridade.
Sinto algo prendendo meu braço e, ao olhar, encontro Hanna
dormindo ao meu lado, agarrada ao meu corpo. Uma perna está
enlaçada a minha e sua cabeça está pousada no meu peito. Ela
dorme serena, parecendo um anjo.
Flashs da noite que tivemos surgem na minha mente e sorrio
involuntariamente.
Não foi um sonho, foi real. Hanna foi minha por uma noite.
Nos entregamos ao momento, sem pensar muito nas consequências
e, porra, eu quero mais. Transamos na sala depois de comer o
hambúrguer e assistir um filme, depois transamos tomando banho e,
por fim, voltamos para a cama.
Passo o dedo na sua face, apreciando cada traço em seu
rosto. Hanna sempre foi bonita, mas de uns tempos pra cá, ela ficou
ainda mais linda. Ela é ainda mais bela quando conhecemos a
pessoa que é, a amiga leal e que faz tudo por sua família.
— Queria ficar assim com você pra sempre, pequena —
sussurro, acariciando seus cabelos.
Tentando não acordá-la, tiro sua perna de cima da minha e
deito sua cabeça no travesseiro. Com muito cuidado, consigo sair da
cama. Escuto um pequeno protesto sair dos seus lábios quando
levanto do colchão, mas ela se ajeita em meio ao lençol branco e
volta a dormir. Vou ao banheiro, tomo uma ducha e, quando retorno
ao quarto com a toalha amarrada na cintura, encontro ela em um
sono profundo.
Decido não acordá-la.
Pego uma calça de moletom na mala, visto e saio do quarto.
Ligo no ramal do restaurante e peço para servirem o café da manhã
no quarto, como já havíamos feito anteriormente.
Não sei ao certo quanto tempo fico mexendo no celular,
olhando e-mails e resolvendo pendências. Escuto a porta do quarto
abrindo e levanto o olhar da tela, encontrando uma Hanna sonolenta
e vestindo uma camiseta preta minha, que nela quase parece um
vestido.
— Bom dia, dorminhoca!
Ela sorri e caminha na minha direção, senta no meu colo e me
beija. Um beijo suave, diferente dos que demos na noite anterior.
— Bom dia! — Ela afasta um pouco a cabeça para me
observar. — Faz muito tempo que está acordado? Poderia ter me
chamado.
Olho nos seus olhos cor de mel e quase me perco novamente,
esquecendo de tudo que acontece à nossa volta como fiz há
algumas horas.
— Acordei tem pouco tempo, não se preocupe — ela acena
com a cabeça. — Achei melhor deixar você dormir um pouco para
repor as energias que gastamos durante a noite e madrugada.
Hanna bate no meu ombro e solta uma risada baixa. Ela fica
fofa envergonhada. Sorrio com sua reação a minha fala. Pego sua
mão e brinco com seus dedos, entrelaçando-os juntos aos meus.
Ficamos um tempo assim, em silêncio apreciando a companhia um
do outro, até o serviço de quarto chegar e servir nossa mesa de café
da manhã.
O clima entre nós não fica estranho nenhum minuto, o que é
bom. Esse era um dos meus receios. Logo quando cheguei a sala,
fiquei pensando como seria ficar no mesmo ambiente que ela depois
da nossa noite juntos. Fiquei me questionando se ela estaria
arrependida. Olhando para ela agora, comendo uma tigela de salada
de frutas, vejo que me preocupei atoa.
— Vai ficar me olhando comer o dia todo? — Sua pergunta é
em tom de deboche.
— Tava pensando em umas coisas aqui — volto minha
atenção para o pão doce que está no meu prato e para a xícara
cheia de café.
— Quero saber o que se passa nessa sua cabeça? — Leva a
colher cheia de frutas na boca e seus olhos estão atentos aos meus
movimentos.
— Nada demais — o que não deixa de ser uma mentira. Pisco
um olho e mordo um pedaço do pão.
O resto da manhã passa rápido e já é quase hora do almoço.
Vamos almoçar com os convidados de Spencer em um
restaurante nobre da cidade, então Hanna foi se arrumar em seu
quarto e eu fui para o meu.
Ao entrar no cômodo, sinto cheiro de camomila e respiro
fundo. O cheiro da mulher está impregnado no ambiente e confesso
que fico um tempo sentado na cama de casal repassando os
momentos que vivemos aqui. Vou ao banheiro, e até este local está
com seu cheiro.
Não demoro muito para me arrumar. Como já tomei banho,
coloco uma calça jeans, blusa social branca e dobro um pouco as
mangas, relógio no pulso e meu tênis social preto. Passo meu
perfume e ajeito os fios do meu cabelo que teimam em cair na testa.
Saio do quarto e encontro Hanna mexendo no celular. Hoje
ela foi mais rápida que eu. Está vestindo um vestido nude com saia
rodada e uma sandália azul. Tem uma bolsa, combinando com o
sapato, pendurada na diagonal do seu corpo e vejo que passou
pouca maquiagem no rosto.
— Você se atrasou hoje, acho que é algo inédito! — Ela
desliga o celular e guarda na bolsa antes de me encarrar.
— Tive que resolver umas coisas e acabei me atrasando —
mentinto. Estava sentindo seu cheiro na minha cama e lembrando da
gente, mas você não precisa saber disso. — Vamos?
Diferente dos dias anteriores, dessa vez vamos conversando
durante todo o trajeto. Conversar com Hanna é fácil e eu amo
escutar sua risada. Quando as portas do elevador se abrem no hall,
pego sua mão e entrelaço nossos dedos. Caminhamos em direção
ao grupo de convidados e aguardamos pelas instruções.
No horário previsto no cronograma, adentramos o restaurante.
Realmente, é um local muito bonito. As mesas estão alinhadas e
com uma toalha branca caindo até quase encostar no chão. Tem um
arranjo de flores com velas no centro das mesas e uma música
ambiente toca baixinho pelos alto falantes.
O hostess nos leva até nossa mesa e não me surpreendo
quando vejo que estamos na mesma que Spencer e sua família.
— Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais
perto ainda — Hanna se inclina e sussurra no meu ouvido.
— Tomara que Kimberly não apareça para almoçar —
resmungo baixo.
— Achei que gostasse de toda atenção — fala ironicamente e
sorri.
— Que surpresa agradável! — Spencer aparece ao lado da
mulher e filha, todos ostentando um sorriso no rosto.
Ótimo, a filha veio.
— Teremos um ótimo almoço, eu espero! — Continua a falar.
Concordo com nosso anfitrião e pelo canto do olho vejo o
sorriso falso que minha mulher retribui. Ela não é sua mulher! A voz
na minha cabeça grita, me lembrando novamente qual é meu lugar.
Durante o almoço, a conversa na mesa é amigável. A mulher
de Spencer pergunta sobre nosso noivado, o que acaba não
agradando a filha, e observo Hanna contar uma história que inventou
sobre nós dois. Escutar ela falando sobre algo que nunca aconteceu,
mas que eu rezava todos os dias para que fosse realidade, machuca.
Mesmo lutando contra o sentimento, dói vê-la falar de algo que é
como um sonho inalcançável.
Tentei focar na comida, que estava uma delícia, mas foi difícil.
Cada vez que uma palavra saia de seus lábios, olhava para seu
rosto e tentava não olhar nos seus olhos. Não queria ter que ver a
dor, ou a falta dela, neles. Será que ela sente o mesmo que eu?
Estamos caminhando em direção a saída, para seguirmos de
volta para o hotel. Hanna caminha na frente com a mulher e a filha
de Spencer, enquanto o homem está ao meu lado.
— Você teve sorte, meu jovem — o homem profere e arqueio
uma sobrancelha. — Não é qualquer um que é digno de uma
princesa da máfia.
— Tenho sorte de ter o amor de Hanna — tento soar firme na
minha fala. Será que consegui? Não sei se tenho o amor dela, quer
dizer, nem sei se quero saber isso.
— Tem a confiança da Famiglia, isso é certo!
— Confiança a gente conquista — me viro e faço com que ele
pare de andar. Fico a um passo de distância, parado na sua frente.
— A Famiglia é muito rigorosa quanto a isso. Qualquer um que
quebre nossa confiança, se torna um inimigo. Não é uma opção.
Percebo que o homem engole em seco e uma gota de suor
escorre na lateral do seu rosto. Acho que te peguei e você sabe
disso!
— Ninguém seria idiota de trair a Famiglia — a voz dele sai
baixa.
— Você se surpreenderia com a quantidade de idiotas que
encontramos por aí — tento parecer indiferente, com minha voz
ainda firme, e dou de ombros. — Não se iluda, Spencer. Uma hora
ou outra, nós ficamos sabendo de tudo e os culpados são julgados.
Será que ele percebeu o tom de ameaça escondido na minha
voz? Pela sua cara, acho que sim.
— Enfim, acho que você não precisa se preocupar com isso,
certo? — Questiono e observo que o homem está branco, morrendo
de medo.
Muitos acham que nós não estamos preparados para assumir
o cargo. Que eu, Nicolas, Michael e Tyler somos muito novos e não
sabemos como as coisas funcionam. Será um enorme prazer ver a
cara deles quando descobrirem o quanto estão errados. A prova
disso é o homem na minha frente.
— Vamos, querido? O carro está nos esperando — a esposa
de Spencer atrai nossa atenção.
— Claro… — ele olha nos meus olhos. — Vamos!
Spencer passa por mim e estalo meus dedos das mãos. Você
será um homem morto! Giro meu corpo e encontro os olhos cor de
mel de Hanna me questionando se consegui o que precisava.
Balanço a cabeça e ela coloca um sorriso nos lábios, um maldito
sorriso que a deixa sexy pra caralho.
Nosso carro se aproxima e seguro a porta para ela entrar
primeiro. Quando estamos sentados no interior, Hanna coloca a mão
na minha coxa e desliza o dedo ali.
— Qual o próximo passo?
— Vamos interrogá-lo e descobrir tudo o que os russos
procuram fazer na região, qual o plano deles. Precisamos estar um
passo à frente dessa vez — faço massagem nas minhas têmporas,
porque só de pensar no trabalho que vou ter, sinto uma fisgada de
dor na cabeça. — Vou enviar uma mensagem para Kyller, o
encarregado dos soldados que estão nos acompanhando, para
planejarmos os próximos passos. Vamos pegar Spencer o quanto
antes, de preferência, essa noite.
Pego meu celular e faço o que falei. Hanna fica calada
durante toda minha movimentação. Não diz uma palavra sobre o que
está para acontecer.
— Vamos conseguir todas as informações — sua voz atrai
minha atenção e gosto da maneira como pensa positivo. — E
voltaremos para casa.
Voltaremos para casa.
Casa.
Não tinha pensado nisso.
Quando nossa missão estiver concluída, mesmo que seja
antes do tempo previsto, voltaremos para Nova Iorque.
Não quero voltar pra casa.
Não agora.
Capítulo 22
Às vezes as palavras saem da minha boca sem eu conseguir
controlá-las. Foi o que aconteceu no carro, quando voltávamos do
restaurante. Por que fui falar sobre voltar para casa? Eu sei que uma
hora isso vai acontecer, mas Matteo já estava claramente atolado
com os pensamentos sobre Spencer e eu, com minha boca, fui falar
sobre nós.
Nós.
Já estou criando histórias na minha cabeça. Não existe nós.
Existe um acordo, bem clichê, de viver o momento. O que acontece
em Vegas fica em Vegas. A voz na minha cabeça lembra da minha
ideia. Na hora pareceu uma boa, aproveitar momentos ao lado de
Matteo, sem me preocupar com as consequências. Um sonho
virando realidade, algo que nunca pensei que aconteceria de fato.
Mas não é como você sonhou, né? Verdade, mas estou criando
memórias que vou guardar para sempre comigo.
Será o nosso segredo.
Entramos na nossa suíte e Matteo não larga o celular,
provavelmente dando ordens para o soldado responsável pela nossa
segurança aqui. Ele passa por mim e sinto o seu cheiro amadeirado.
Por que ele tem que ser tão cheiroso?
Penso se devo fazer o que pensei enquanto me arrumava
mais cedo e chego a conclusão de que não tenho nada a perder.
— O próximo compromisso é só à noite, certo? — Atraio a
atenção de Matteo, que ergue o olhar da tela do celular e me olha
com seus olhos acinzentados.
— Sim, de acordo com o cronograma de Spencer — le mexe
no aparelho e volta a me olhar. — Vamos ao clube dele.
— Ok…
Caminho na direção do homem parado perto da mesa, que
arqueia a sobrancelha. Quando chego perto do seu corpo, a um
passo de estar nos seus braços, mordo canto do lábio inferior e seus
olhos ficam presos ali, naquele movimento. Já tinha percebido que
quando faço isso, sempre atraio sua atenção.
— O que acha de aproveitarmos o tempo livre? — Tento jogar
meu charme e passo o dedo pelo seu peito definido. Sinto a
eletricidade percorrer pelo meu corpo com o toque. — Temos o quê?
Umas quatro horas antes de sair?
— Cinco — sua voz sai rouca. — Mas quem está contando,
não é?
— Então… — passo os braços pelo seus ombros e me
aproximo mais. Uma respiração nos separando.
Meu coração está acelerado. Mas em que momento ele não
fica quando estou perto desse homem, não é mesmo?
— Você está brincando com fogo, pequena! — Uma das suas
mãos já está na minha cintura e vejo que guarda o celular no bolso
da calça, deixando de lado os negócios.
— Às vezes é bom se queimar, não acha?
Matteo está com um sorriso sexy no canto dos lábios,
deixando suas covinhas evidentes, e não consigo resistir. Acabo com
a distância entre nós e colo nossos lábios. Um beijo cheio de paixão
se inicia, com nossas línguas em uma dança perfeita. Minhas mãos
passeando por seus fios de cabelo, o que percebi ser uma coisa que
amo fazer quando estamos nos beijando e sinto que ele gosta
também.
Eu perco o ar quando estou com ele. Não sei como vou viver
quando não puder ter os lábios dele junto aos meus. A química é
perfeita, nunca tive igual. Quando não tiver mais seus beijos, serei
capaz de respirar?
Sinto minhas costas batendo contra a parede e Matteo junta
minhas mão, levantando elas e prendendo-as em cima da minha
cabeça. A outra, passeia pelas curvas do meu corpo e sinto minhas
pernas fraquejarem. Um calor percorre meu corpo e chega no meu
ponto de desejo. Não dá pra disfarçar que ele também me deseja, o
volume da sua calça entrega.
Matteo abandona meus lábios e distribui beijos pelo meu
pescoço. Morde o lóbulo da minha orelha e solto um gemido.
Eu quero mais, muito mais que isso.
É aquela coisa, né? Se a gente não conhece, não sabe se é
bom ou não. Agora que conheço, quero todo dia, toda hora, o corpo
dele colado ao meu. Porque o homem é bonito, gostoso, cheiroso,
atencioso e muito bom de cama.
Desnorteada pela neblina de desejo, escuto bem longe um
barulho. Matteo pragueja em meio aos beijos que deposita pelo meu
corpo, mas não me abandona. Demoro um tempo para perceber que
o som estava muito próximo.
É um celular tocando?
O barulho para, mas não demora muito para voltar e Matteo
encosta a testa na minha, praguejando baixo.
— Tenho que ver quem é, pequena — sua respiração está
acelerada e ele tem dificuldade para falar. — Só um minuto.
Aceno com a cabeça e vejo o homem pegar o celular, que não
para de tocar, no bolso de trás da calça. Matteo faz uma careta
quando vê quem está atrapalhando nosso momento.
— Nicolas — ele levanta o olhar para ver minha reação.
— Nunca pensei que fosse dizer isso — suspiro e apoio minha
cabeça na parede. — Mas meu irmão é um empata foda!
Matteo solta uma gargalhada e não consigo me conter, me
juntando a ele. Durante esse tempo, os toques param e voltam. Ele
suspira e faz uma cara pedindo desculpa, mas eu entendo. Além de
melhor amigo, Nicolas é seu chefe, o Capo da máfia.
— Tá tudo bem, ainda teremos tempo para isso — aponto
para nós dois. — Atende, que eu vou tomar um banho gelado e ver
se consigo falar com as meninas.
— Você não está ajudando, Hanna.
— Só tô falando a verdade — dou de ombros antes de lhe dar
um selinho e sair da sua frente, caminhando em direção ao meu
quarto. — Você também vai precisar de um banho gelado, bonitão!
— Aponto para o volume na sua calça e Matteo faz uma careta.
Abro a porta do quarto e, quando estou fechando, escuto sua
voz.
— O que aconteceu de importante para me ligar no meio da
tarde?

— Que cara é essa, Hanna Collalto? — Sophia quase grita


quando atende minha chamada.
— A minha?
— Engraçadinha — solta uma risada forçada. — Tá com cara de
quem… — Vejo seu semblante mudar e ela estreita os olhos na
minha direção. — Você transou!?
Quase engasgo com a água que estou tomando.
— Tá maluca, Sophia? — Tusso. — Esqueceu que sou virgem?
Nem eu acreditei nas minhas palavras.
— Sabe que eu também? — O deboche escorre pela sua voz e
eu demoro a entender o que quer dizer com isso.
— Espera — balanço a cabeça, tentando controlar a quantidade
de perguntas que surgem na minha mente. Quando volto minha
atenção à tela, vejo que sua expressão mudou novamente e ela
parece ter se dado conta do que falou. — Desde quando?
— A pauta dessa conversa não sou eu, senhorita! — Ela tenta se
esquivar, eu sei.
— Sophia, por favor! Eu juro que conto tudo que quiser depois,
mas primeiro vamos falar sobre isso — não sei porque, mas sinto um
aperto no coração.
Minha prima desvia o olhar da câmera, procurando se tem
alguma pessoa por perto. Ela está sentada em uma das
espreguiçadeiras na área externa perto da piscina. Sophia suspira
antes de voltar a olhar para mim.
— Foi com o Jesse, tá legal? A gente já tava junto há um tempo e
apenas aconteceu — sua voz falha no final. — Ele era meu
namorado e não me obrigou a nada, Hanna. Você sabe que ele me
ama. Não é como se a gente precisasse guardar a virgindade até o
casamento como antigamente, você sabe disso.
Não consigo ter uma reação à fala da minha prima. Ela sempre
dizia que…
— Eu pensei… — as palavras saem pelos meus lábios e nem sei
se ela conseguiu escutar.
— Por um tempo eu também, mas as coisas mudam o tempo
todo — fala e percebo que ela parece não estar triste com isso. —
Afinal, você também se entregou a alguém. Até imagino quem seja.
— Não conte pra ninguém, por favor.
— Segredo de prima! — Ela levanta o dedinho no ar e eu faço o
mesmo.
— Não posso explicar tudo, mas aconteceu e não me arrependo.
Foi melhor do que esperei e foi com o homem que sempre sonhei —
suspiro e vejo que minha prima sorri. Ela está feliz por mim. — Não
quero pensar nas consequências agora, só quero viver o momento
aqui, com ele.
— Eu entendo — ela está sendo sincera, mas sei que está
preocupada. — Não vou te julgar, porque não sei se faria diferente
no seu lugar e você disse que não pode falar sobre tudo que está
acontecendo — aceno concordando. — Mas saiba que, como já
disse, estarei aqui se precisar de alguém para colar os caquinhos do
seu coração.
— Te amo, Soph!
— Até a lua! — Ela pisca.
— E como estão as coisas por aí? Tudo bem?
Mudo de assunto, porque sei que nenhuma das duas precisa
ficar pensando sobre coisas do coração no momento. Ficar
pensando em quem o órgão instalado em nosso peito escolheu amar
e as consequências disso, pode ser doloroso.
— Giulio quase não vejo, está sempre dentro do quarto ou na
sala de jogos — sorrio com isso. Típico do meu irmão. — Maya me
ajuda em algumas ideias que estou tendo para decorar o quarto e
brinco com ela às vezes. Ontem a gente fez bolo de chocolate, com
supervisão da Signora Fiori, claro!
— Ela deve ter ficado uma fera com a bagunça que vocês
devem ter feito na cozinha — estou rindo imaginando a cena.
Signora Fiori não é tão velha, mas é uma mulher séria na
maior parte do tempo. Às vezes, ela é carinhosa com a gente quando
precisamos de amor. Está trabalhando com a nossa família desde
que minha mãe engravidou do Nicolas.
— Até que foi tranquilo. O pior foi a chefe da cozinha, que
quase surtou quando chegou para começar a preparar o jantar. —
Sophia tem um sorriso travesso no rosto e fico feliz dela estar
conseguindo se divertir mesmo com tudo que está acontecendo.
— Nicolas? — Ela faz uma pequena careta com minha
pergunta.
— Continua chato, insuportável, mas eu entendo sua
preocupação. Estou no território que ele está comandando e acabo
sendo sua responsabilidade — suspira pesadamente. — Andei
conversando com Lucca e a situação é séria. Eles estão tentando
encontrar o autor das ameaças o quanto antes.
— Devo me preocupar e voltar para te fazer companhia? —
Sinto um aperto no peito por estar longe dela neste momento.
— Não, você tem uma missão importante aí — balança a
cabeça. — Além disso, Abby, Nicolle e Bianca vem aqui quase todos
os dias para me fazer companhia. E seu irmão tem ficado em casa
algumas noites também.
— Oi? Nicolas ficando em casa? Desde quando ele prefere
ficar em casa em vez de ir para um dos clubes da Famiglia? —
Questiono, porque estou curiosa e um pouco confusa.
— Ele parece estar cansado, por conta da responsabilidade
de ser Capo e tudo mais. No final de semana ele saiu com os
meninos, mas ontem, por exemplo, ficou aqui. Michael e Nicolle
apareceram e pedimos pizza. Depois, eles foram embora e ficamos
assistindo uma série.
— Sem brigas? — Ela revira os olhos para minha pergunta. —
Um milagre!
— Não brigamos sempre, Hanna. A gente só se afastou e sei
lá — dá de ombros. — As coisas mudaram…
— Ainda vou descobrir o que aconteceu naquele dia… —
penso em voz alta.
— Coisas acontecem o tempo todo, prima! Elas podem alterar
o futuro e a gente não consegue controlar o que vai acontecer
amanhã ou daqui a dez anos. É a vida. Você deveria saber disso, já
que há alguns meses chorava por pensar que nunca teria o homem
que amava e olha onde está agora. O sorriso no seu rosto diz tudo!
Sophia está certa.
A gente não consegue prever o que pode acontecer amanhã.
Capítulo 23
O clube está cheio de gente. Como somos convidados de
Spencer e ele é o dono, fomos direto para a área vip. Durante o
trajeto, passamos por pessoas dançando, bebendo e curtindo a
festa. Todos parecem estar se divertindo muito e é assim que espero
passar a noite.
— Não tiram os olhos de você — escuto a voz de Matteo atrás de
mim.
Nossas mãos estão entrelaçadas e subimos as escadas para
chegar à área reservada.
— Alguns devem saber quem eu sou — dou de ombros, sem me
importar muito. Já estou acostumada com a atenção que recebo por
ter nascido na família que nasci.
— Ok, reformulando… — chegamos ao topo e ele me puxa para
o canto, perto da grade que dá visão para a pista de dança, ficando
na minha frente. — Estão te comendo com os olhos — ele está sério
e não consigo conter o sorriso.
— Não sabia que você era do tipo ciumento — passo o dedo pelo
seu peito coberto com uma camisa social preta e brinco com os
botões dela.
— Ciúmes, claro! — Fala debochado. — Eles estão faltando com
respeito, já que, claramente, você está acompanhada — ele está
irritado e eu confesso que acho engraçado.
Nunca imaginei que veria Matteo com ciúmes de mim.
— Não se preocupe — me aproximo da sua orelha para
sussurrar. — Só quero um homem no momento — me afasto
piscando para ele, e vou em direção ao bar.
Preciso de uma bebida.
O barman me observa atentamente enquanto sento em uma
banqueta no canto, até vir na minha direção.
— O que a senhorita deseja? — Ele apoia a mão na bancada,
deixando os músculos do braço em evidência, e se aproxima da
minha orelha para falar, por conta do barulho.
— Sex on the Beach, por favor!
Ele se afasta e começa a preparar a minha bebida. Giro o corpo
na banqueta para analisar o ambiente. Percebo que Matteo se juntou
a um grupo de homens que estão conectados aos negócios da
Famiglia. Nossos olhares se cruzam quando ele me busca em meio
às pessoas e sorrio para ele, como se dissesse “estou bem”.
— Aqui está — volto à posição inicial para pegar minha bebida
quando escuto a voz do barman me chamando.
— Você teve sorte de conseguir um casamento tão bom logo
cedo.
Essa voz.
Viro para trás e encontro Kimberly, a filha insuportável de
Spencer, me encarando. Sinto o veneno escorrendo por seus lábios.
A garota é bonita, não vou negar, mas é muito nova e nunca teria
chances com o homem que amo. Eu mesma achei que nunca teria.
O pai dela não esconde que me quer, o que acho uma falta de
noção gigantesca. O homem é muito mais velho, casado e sabe ser
sem noção quando quer. Ele acha que nunca percebi seus olhares
com segundas intenções, mas eu vejo como me come com os olhos.
Já a filha não esconde que queria estar com Matteo, se insinuando
para ele em qualquer oportunidade que tem. E ela ainda nem tem
idade pra casar dentro da máfia.
— Nosso casamento não será na base da conveniência, se é o
que está pensando. — Coloco um sorriso vitorioso nos lábios,
mesmo tendo ciência de que o que vou dizer é mentira. — Vamos
nos casar porque nos amamos. Simples assim.
— Talvez ele esteja cometendo um erro e se arrependa no futuro,
procurando outra para lhe dar a atenção necessária — ela sorri
cinicamente.
— Não acho que ele pense assim — aproximo mais dela. — Até
porque ele prova isso quando estamos na cama.
Os olhos da garota emanam ódio. Kimberly não se dá ao trabalho
de dizer mais nada, se vira e desaparece do meu campo de visão.
Suspiro aliviada por ter me livrado da garota e um sorriso vitorioso
surge em meus lábios.
Que garota insuportável!
Acho que já falei isso, né? Mas não importa, vou dizer quantas
vezes quiser, porque é a verdade.
— Quer ir pra pista de dança? — Sinto um arrepio percorrer meu
corpo ao escutar sua voz no pé do meu ouvido.
Olho para o lado e encontro Matteo com a mão estendida.
— Esqueceu que sempre fujo? — Arqueio a sobrancelha e um
sorrisinho surge no canto da sua boca.
— Detesta os filhinhos de papai na sua cola, eu sei. — Ele se
aproxima mais e minha respiração falha. — Sua sorte é que não sou
um, pequena. Além disso, você nunca me negou uma dança.
Olho nos seus olhos e sua mão continua estendida. Tomo um
bom gole da minha bebida, coloco minha mão sobre a sua e levanto
da banqueta. Matteo me guia pelo caminho até chegarmos à pista de
dança no andar inferior.
É uma mistura de gente, cheiros e sensações. Pessoas se
divertindo com amigos, sozinhas ou com alguém especial. Vejo
algumas pessoas se pegando na pista de dança, outras na parede
do corredor que leva aos banheiros. O ambiente exala drogas e
sexo.
Começamos a dançar, nossos corpos colados e a música
tocando alto. Meu corpo está em estado de alerta a todo momento.
Suas mãos estão na minha cintura e nos movimentamos conforme
as batidas. Uma dança sensual nos envolve e sinto que estamos
atraindo olhares. Afinal, não é comum pessoas da “realeza” da máfia
mostrarem afeto ou qualquer coisa do tipo em público.
Um risco.
Risco de atrair atenção de inimigos.
Matteo não parece se importar e eu também pouco me importo.
Não vou deixar de aproveitar esse momento com ele por conta do
que as pessoas podem pensar, ou quem sabe, fazer no futuro.
Não sou sua noiva de verdade.
Ele gira meu corpo e me posiciona na sua frente. Continuo
rebolando minha bunda e sinto o volume crescer na sua calça.
Matteo está com o rosto colado ao meu pescoço e escuto um
palavrão saindo da sua boca.
— Você ainda será minha morte, pequena! — Morde o lóbulo
da minha orelha e eu prendo meu lábio inferior entre os dentes.
Passo a mão por sua nuca e continuamos a dançar. Só nos
afastamos quando a música para e o DJ começa a falar algumas
coisas avulsas o que as pessoas podem esperar da noite.
— Vamos voltar lá pra cima — estou de frente para ele,
olhando em seus olhos. — Preciso ir ao banheiro.
— Ok, vou no bar pegar algumas bebidas pra nós.
Matteo entrelaça seus dedos aos meus e fazemos o caminho
de volta para o segundo andar do clube. Ele vai em direção ao bar e
eu vou direto ao banheiro. Para variar, tem fila para entrar, mas não
demora muito para ser minha vez. Estou terminando de ajeitar o
vestido, que é bem justo, quando escuto algumas mulheres
conversando.
— Você viu aquele homem no bar? Um pedaço de mal
caminho.
— Não negaria se me pedisse para sentar nele, quer dizer,
com ele — as duas riem e respiro fundo antes de abrir a porta.
Elas estão retocando a maquiagem e vou até a pia que está
vazia, ao lado delas. Continuo escutando em silêncio as duas
falando sobre os atributos do homem. Não precisa ser vidente para
saber que falam de Matteo, já que as características batem. Meu
sangue ferve nas veias e tenho que morder a ponta da língua para
conter minha raiva.
Ciúmes.
Foi assim que ele se sentiu quando chegamos…
Não quero mais gastar tempo escutando conversas inúteis,
então tento ignorar as duas. Elas poderiam ser só duas mulheres
que viram um cara bonito e queriam se aproximar dele, certo? Isso é
comum, não sabem que ele é comprometido, já que não usamos
aliança. Matteo nem é meu noivo de verdade para comprar briga
com essas mulheres.
Balanço a cabeça, tentando afastar as teorias que surgem.
Saudades do tempo que jurou não pensar mais em amor, né? A voz
na minha cabeça lembra da promessa que fiz logo depois de Matteo
anunciar seu noivado e suspiro.
Por que amar tem que ser tão complicado? Ainda mais quando
você ama alguém que não pode ter. Uma viagem, uma missão, e os
planos que fiz há alguns meses foram por água abaixo. Sem
conseguir cumprir com a promessa de me fechar para o amor.
Estou voltando para encontrar Matteo, quando avisto uma pessoa
que não sabia que estaria aqui.
Marlon, o braço direito de Spencer.
Ele caminha até chegar a um corredor que tem escondido,
sua entrada é perto do bar, e ele desaparece pela escuridão. Parece
ser uma área restrita para os funcionários do local.
Não consigo avistar Matteo, já que o bar está cheio de
pessoas. Penso por alguns segundos e decido ir investigar sozinha.
O homem parecia estar agitado e preocupado com algo, não posso
arriscar e perder a oportunidade de descobrir novas informações.
Sigo em direção ao corredor que Marlon desapareceu, prestando
atenção para não atrair a atenção de ninguém.
O corredor tem várias portas em ambos os lados,
provavelmente são salas reservadas ou escritório. Vejo que uma
porta está meio aberta, com um filete de luz saindo pela fresta.
Tentando não fazer muito barulho, me aproximo. Não demoro muito
para escutar a voz alterada de Marlon, que parece estar falando no
celular.
— O combinado era que a entrega seria feita hoje!
Não consigo ver seu rosto, mas ele anda de um lado para o
outro e passa a mão nos cabelos. Ele escuta o que a pessoa do
outro lado da linha fala e grita um palavrão.
— Amanhã sem falta! A entrega da mercadoria deve ser feita
amanhã ou não fechamos o acordo! — Ele está puto, dá para
perceber pela voz.
A entrega da mercadoria será feita amanhã.
Os russos, só podem ser eles.
Preciso sair daqui e ir avisar Matteo, não podemos pegar Spencer
hoje. Amanhã poderemos pegá-lo em flagrante e ele não conseguirá
negar seu envolvimento com nosso inimigo. Me afasto lentamente da
porta, para não chamar a sua atenção, e começo a voltar para a área
da festa para encontrar o Matteo, quando escuto passos.
— O que está fazendo aqui?
Merda!
Giro meu corpo e encontro o olhar avaliativo de Marlon.
— Estava procurando o banheiro — faço a melhor cara de
inocente que consigo. — A fila estava grande e vi esse corredor,
achei que poderia ter um banheiro por aqui.
— Não deveria ficar andando por aí, garotinha. — Ele se
aproxima de mim com um ar ameaçador, mas continuo firme no
mesmo lugar. Você não vai me intimidar!
— Por que? — Lanço um olhar desafiador para ele, que abre
um sorriso cínico.
— Coisas podem acontecer com pessoas que andam por
locais que não devem.
— Isso é uma ameaça? — Ergo a sobrancelha. Ele não teria a
coragem, teria?
— Um aviso de um amigo — ele continua com o sorriso no rosto.
Solto uma falsa risada e dou um passo a frente, ficando bem
perto do homem.
— Não esqueça com quem está falando. Pode não gostar das
consequências — o sorriso some do rosto de Marlon e abro um
sorriso vitorioso em resposta. Giro meu corpo para voltar para a festa
e encontrar Matteo, mas antes de partir volto a olhar para o homem.
— E nós não somos amigos. Não preciso dos seus conselhos.
Ele não sabe com quem está lidando.
Nenhum deles sabe do que sou capaz quando o assunto é a
Famiglia.
Demoro um pouco para encontrar Matteo. Ele saiu do bar e está
em uma das mesas mais altas no meio do salão. Vou ao seu
encontro e ele passa a mão pela minha cintura quando me aproximo.
Chego perto do seu ouvido e vejo os pelos de sua nuca arrepiarem.
— Mudanças de planos! — Falo ao pé do seu ouvido.
Matteo gira o rosto e seus olhos buscam os meus. Me lança um
olhar questionador e o olho firme. Ele logo muda a sua postura.
Ele entendeu que quem está falando é a herdeira da máfia.
Ele sabe que possuo mais poder que ele aqui.
Capítulo 24
Hanna quase nunca fala assim, pelo menos não comigo. É a
primeira vez que vejo ela usando o tom autoritário de princesa da
máfia para dar uma ordem direta. Aproximo mais nossos corpos pra
ela me escutar melhor, preciso entender melhor o porquê disso tudo.
— O que aconteceu? — Vejo um casal passar do nosso lado e
aceno com a cabeça. — Por que isso agora? — Sussurro no seu
ouvido e recebo um olhar dela, como uma resposta silenciosa de que
não devo fazer perguntas agora.
— Está questionando uma ordem minha? — Ela arqueia a
sobrancelha e eu suspiro.
Ela não está me entendendo, eu só quero saber o motivo
disso tudo.
— Não, não iria contra uma ordem direta sua — ela parece
relaxar um pouco com minha resposta. — Mas preciso entender o
que está acontecendo.
— Escutei uma conversa de Marlon — olha para os lados —
falando que a mercadoria deveria ser entregue amanhã sem falta.
— Tem certeza?
Ela balança a cabeça confirmando e não consigo evitar soltar um
palavrão baixinho. Observo em volta e não estamos atraindo o olhar
de ninguém, o que é bom. Todos estão preocupados em se divertir e
não iriam prestar atenção em um casal conversando em uma das
mesas.
— Tem mais uma coisa… — ela fala com receio e me preparo
para suas próximas palavras. — Marlon me viu e me ameaçou. Claro
que não foi diretamente, mas foi uma ameaça. Tenho certeza.
Meu corpo está paralisado, minhas pernas não se mexem. Sinto
meu corpo ficar em chamas, minha respiração fica acelerada, cerro
minhas mãos em punho.
Ele não ousaria ameaçar uma das herdeiras da máfia.
Não é possível que um homem possa ser tão burro a esse ponto.
— Ei, não precisa se preocupar — ela pega minhas mãos. — Eu
consigo lidar com ele, inclusive, já o coloquei no seu devido lugar.
— Não me preocupo, sei do que é capaz — encontro seus olhos
cor de mel e ela sorri para mim. — Só acho que ele não deveria
ameaçar uma pessoa como você. Uma herdeira, irmã do futuro
Capo.
— Está tudo sob controle — ela faz carinho nas minhas mãos
com o polegar. — Agora vamos, temos um assunto mais urgente
para resolver.
— Certo! — Fecho os olhos, solto uma mão da sua e passo na
testa. — Vou entrar em contato com os nossos soldados e abortar a
missão por enquanto.
— Ok! Vou ligar para meu irmão e avisar da mudança de
planos.
— Precisamos sair daqui sem ficar parecendo suspeito —
olho para os lados, tentando bolar um plano.
— Fácil! — Hanna parece já ter o plano perfeito. — Você vai
atrás de Spencer e fala que vamos embora mais cedo porque estou
cansada e quero ir embora.
— Hanna…
— Ele não vai achar ruim, aliás, vai entender — ela tem um
sorriso travesso no rosto.
— Vou me arrepender disso, mas… — suspiro antes de
questionar. — Como achou uma desculpa tão fácil?
— Não é uma mentira, simples assim — ela dá de ombros,
mas não acredito e ela suspira, rendida. — Ok, já estava pensando
em uma desculpa para sairmos daqui desde que saímos da pista de
dança — ela pisca um olho e não consigo conter o sorriso.
— Precisamos resolver os negócios primeiro — quero lembrá-
la de que temos obrigações aqui.
— Eu sei. Depois da obrigação, podemos pensar na diversão.
Agora vai logo falar com ele, temos que avisar nossos soldados a
tempo. — Ela dá leves tapinhas no meu peito e balanço a cabeça. Às
vezes, não consigo acreditar nessa garota.
Vou em busca do nosso anfitrião e, seguindo o plano de
Hanna, dou a desculpa que ela inventou. Não acredito que ela já
tinha pensado em uma desculpa para ir embora antes mesmo de
escutar a conversa de Marlon. Spencer fica com um sorriso malicioso
no rosto e diz que entende nós jovens, que devemos aproveitar a
noite.
Confesso que não presto muita atenção no que ele continua
falando depois, porque meu foco vai diretamente para o homem
encostado em uma das paredes do clube, de braços cruzados,
observando o local.
O filho da mãe ameaçou ela.
Ele vai pagar só por ter pensado em fazer algo com ela.
Eu sei que Hanna tem a total capacidade de se defender
sozinha, mas não consigo me controlar diante disso. É mais forte que
eu.
Espero que o homem termine de falar e peço licença para me
retirar. Vejo o olhar que Marlon me direciona, do outro lado do salão.
Caminho em direção a saída e encontro Hanna me aguardando na
porta. Um dos nossos soldados está ao seu lado e ela fala algo com
ele, mas para assim que me aproximo.
— Tudo certo? — Questiona e confirmo com um aceno. — O
nosso carro já está vindo.
Aguardamos o carro chegar e, quando estaciona, abro a porta
para ela entrar no veículo. Quando o carro começa a se movimentar
pelas ruas movimentadas de Las Vegas, começo a dar ordens para o
soldado que está no comando aqui. Ele está nos acompanhando e
senta no banco da frente ao lado do motorista.
— Cancele a operação de hoje, Kyller — ele me olha através
do retrovisor quando começo a dar as ordens. — Vamos ter uma
pequena mudança de planos. Descobrimos que amanhã terá uma
entrega de mercadoria e será nessa hora que iremos agir.
Passo todo o plano para o homem que escuta atentamente
cada ordem. Vamos dividir o grupo: uma parte vai até o local da
entrega e alguns homens ficam comigo para pegarmos Spencer e
interrogá-lo. Vou fazer o homem soltar todas informações possíveis
sobre nossos inimigos e ele vai pagar por ter nos traído.
Hanna está ao meu lado mexendo no celular, provavelmente
avisando o irmão sobre o novo esquema. Ela digita freneticamente
no aparelho e, por um segundo, nossos olhares se encontram antes
dela voltar a digitar algo.
O trajeto é feito dessa forma: Hanna no celular e eu dando
ordens a Kyller. Só percebo que já estamos na porta do hotel quando
o homem sai do carro e abre a porta ao meu lado. Saio do veículo e
estendo a mão para ajudar Hanna a sair.
— Já avisei meu irmão — ela começa a falar enquanto
caminhamos em direção ao elevador — e ele está de acordo com o
plano.
— Disse que foi uma ordem direta sua? — Questiono ao
apertar o botão para chamar o elevador.
— Não — busco seu olhar e ela dá de ombros. — Nicolas não
precisa saber de tudo. Além do mais, teria que contar sobre a
ameaça de Marlon e ele ficaria mais preocupado. Ele sabe o mais
importante, que mudamos os planos e isso está ótimo!
O elevador chega e entramos na caixa de metal. Aperto o
número do nosso andar e Hanna cruza os braços na frente do corpo.
Esse maldito movimento faz com que seus seios levantem e acabem
ficando mais visíveis através do decote.
Só de olhar para eles assim, linda e plena, memórias da
nossa noite juntos invadem a minha mente. Tento não prestar
atenção nisso e mudo meu foco para o visor em uma das paredes,
que vai crescendo os números lentamente conforme subimos de
andar.
— Você não disse — escuto sua voz, mas me recuso a olhar
para ela.
Hanna é uma tentação. Eu sei que o que aconteceu entre nós
nunca sairá da minha mente, mas não quero ficar repetindo. Não
quero fazer ela se apegar e depois ter que me afastar. Ela é muito
especial pra mim. Mesmo que não possa tê-la na minha vida da
forma que desejo, não quero que ela se afaste.
Eu sei que concordei com todo o clichê de que o que acontece
em Vegas fica em Vegas, mas não sei se serei tão forte para deixar
tudo que acontecer aqui para trás quando retornarmos para casa.
Não sei se vou conseguir ser forte e não me aproximar dela se a tiver
mais uma vez em meus braços. Se a tiver por mais uma noite.
O problema é que sei que ela quer isso. Hanna não esconde o
que quer, e ela quer tudo o que eu possa oferecer enquanto
estivermos aqui.
Talvez eu tenha sido um canalha por ter aceitado sua
proposta.
— Não disse o que?
O elevador parece subir lentamente e começo a ficar inquieto.
— Se deu tudo certo com o plano para amanhã. Não estava
prestando atenção dentro do carro, estava focada na conversa com
meu irmão.
— Tudo certo.
— Então… — sinto seu corpo se aproximando do meu. —
Temos o resto da noite de folga?
— Sim — tenho dificuldade de raciocinar com seu cheiro
entrando pelo meu sistema respiratório. — Podemos pedir algo para
comer no quarto. Vi que não comeu nada hoje a noite.
— O que você sugere? Eu tenho uma coisa em mente… — a
última parte saiu com malícia dos seus lábios e não consigo evitar de
olhar para ela.
— Massa? — Minha voz quase não sai e tusso, tentando me
recompor. — É uma boa opção e sei que é a sua comida preferida.
— Pode ser… — ela molha o lábio inferior com a língua e
escuto o barulho das portas do elevador se abrindo. Hanna se
aproxima do meu ouvido. — Mas saiba que vou querer sobremesa…
Ela não espera que eu responda. Sai e começa a caminhar
em direção a nossa suíte. Ajeito minha calça, porque sinto um
incômodo surgir no meio das minhas pernas, e vou atrás da mulher
culpada por isso.
É definitivo.
Não sei o que será da minha vida quando voltarmos para
casa, porque será impossível tirar essa garota do meu sistema.
Capítulo 25
Ele parece estar hesitante, como se alguma coisa o impedisse de
seguir em frente. Matteo abre a porta da suíte e entro logo atrás dele.
Consigo perceber seu nervosismo, quando pega o celular e começa
a digitar freneticamente, provavelmente dando mais algumas ordens
aos soldados.
Será que devo deixar para lá? Não, não vou fugir do que eu
quero ou, até mesmo, do que sinto. Pelo menos, não farei isso aqui,
quando estamos somente nós dois.
Respiro fundo antes de me aproximar do seu corpo, o
abraçando por trás. Passo minha mão por seu tórax, sinto seu peito
definido através da camisa, e apoio minha cabeça nas suas costas.
— Será que podemos esquecer nossas obrigações pelo resto
da noite? — Meus dedos passeiam por seu corpo, escuto sua
respiração acelerada. — Você me prometeu um jantar, lembra?
— Acabei de mandar uma mensagem para buscarem nosso
jantar na melhor casa de massa da cidade, pequena. Logo estará
aqui.
Percebo que engole em seco quando meus dedos se
aproximam ao final do seu tórax, demorando a sair daquela região,
próxima a sua virilha.
— O que faremos enquanto esperamos? — Faço uma
pequena pausa, mas não quero esperar e receber uma resposta
negativa dele. — Tenho algumas ideias…
Matteo suspira pesadamente. Eu sei que ele está por um fio.
Sei que ele me deseja, assim como o desejo. Então, por que infernos
ele está tão relutante. Procuro respostas no seu olhar quando se vira
e fica parado na minha frente. Ele está dando o seu máximo para se
controlar. Eu não quero que se controle, não comigo.
Nossa noite foi tão perfeita, tudo o que sempre sonhei. Acho
que me sinto assim, porque foi com a pessoa que sempre sonhei,
sem me importar com a situação ou momento que aconteceu. Foi
com ele e eu fiquei feliz com isso.
Agora ele fica desse jeito? Querendo manter certa distância entre
nós?
Olhando em seus olhos, creio que compreendo o que está
acontecendo.
— Consigo ver a fumacinha saindo da sua cabeça.
Matteo arqueia a sobrancelha, questionando minha fala.
— Você está pensando demais — dou de ombros, como se fosse
algo nítido. Até que não foi tão difícil perceber isso.
Ele solta uma risada fraca.
— Já você parece não estar pensando muito sobre isso — aponta
para nós dois.
— Por que gastar o pouco tempo que temos juntos pensando nas
consequências de nossos atos? — Ele me olha como se não
acreditasse no meu questionamento. — Vamos ser realistas, Matteo!
Ambos sabemos que isso — aponto entre nós — vai ter
consequência, para ambas as partes.
— Não quero te machucar — ele confessa baixo.
Matteo pode ser um homem da máfia, mas tem um coração bom.
Ele se preocupa com as pessoas que fazem parte da sua vida. Eu
sei que sou uma dessas pessoas. Ele só é capaz de machucar
aqueles que machucam quem ele ama.
Fecho os olhos.
Eu entendo que ele quer me proteger, mas entramos em um
caminho sem volta. Matteo não sabe que meu coração o escolheu,
que não importa o que faça, isso não vai mudar. Acredite, já tentei.
Ele já me machucou no passado, mesmo sem saber, e sei que vai
me machucar quando nossa missão acabar e tivermos que voltar
para casa.
— Você não tem como saber se vai me machucar ou não — falo
a verdade.
— Eu acho que nesse caso eu sei, pequena! — Ele coloca uma
mão no meu rosto e acaricia minha bochecha com o dedo.
— Prefiro aproveitar o pouco tempo que tenho com você, do que
ficar imaginando o que poderia ter sido — confesso.
Não imaginei que fosse confessar isso a ele um dia, mas é
verdade. Prefiro correr o risco do que ficar no futuro me perguntando
“e se?”.
Acabo me lembrando de um texto do meu filme preferido, Cartas
para Julieta[27]. No final, a senhora que buscava o seu antigo amor lê
uma carta feita pela protagonista falando justamente sobre isso: e
se?.
— Não pensa, só vamos viver o momento — seu olhar me pede
para parar, mas não vou fazer isso. — Por favor?!
Matteo suspira e fica me encarando por um tempo.
— Tudo bem, Hanna — ele coloca a outra mão no meu rosto,
segurando dos dois lados e fazendo com que eu o olhe nos olhos. —
Só promete que, não importa o motivo, você vai me falar se quiser
parar com isso. Só temos poucos dias aqui, mas se é o que quer,
vamos fazer valer a pena.
— Eu prometo! — Dou um selinho nele, que abre um sorriso,
mostrando suas covinhas.
O que começou com um selinho se intensifica. Suas mãos
seguraram meu rosto firmemente, enquanto sua língua pede
passagem. Nosso beijo é cheio de desejo e tesão. Ele não está se
controlando mais, se libertou de tudo o que se passava na sua
mente.
Minha mão vai de encontro ao seu cabelo e puxo os fios
curtos da parte de trás. Mordo seu lábio inferior e ele solta um
gemido em meio ao beijo. Matteo esfrega o volume da sua calça no
meu corpo e é a minha vez de gemer. Passo uma mão pela borda da
sua camisa e passo os dedos pelos gominhos da sua barriga.
O desejo fala cada vez mais alto e não sei se vou conseguir
controlá-lo por muito tempo. Seu cheiro, seu gosto, seu corpo, tudo
em Matteo me enlouquece.
Nosso momento é interrompido por uma batida na porta.
— Puta que pariu — ele fala quando nossas bocas se afastam e
não consigo evitar o sorriso. Acho que sempre tem alguma coisa ao
nosso redor para nos atrapalhar.
Matteo tenta arrumar a sua ereção, mas é uma tentativa inútil.
Coloco a mão em seu peito, dando leve batidinhas.
— Deixa que eu atendo.
Vou em direção a porta. Ajeito os fios de cabelo que estão fora do
lugar e tento controlar minha respiração antes de abrir. Encontro um
de nossos soldados parado, esperando com uma embalagem de
comida nas mãos. Ele evita fazer contato visual comigo.
— O pedido que o senhor Lombardi fez, senhorita Collalto! — Ele
entrega o pacote.
— Obrigada! — Agradeço. — Está liberado, soldado.
Ele assente com a cabeça e segue pelo caminho que veio.
Fecho a porta e encontro Matteo me observando.
— Qual comida prefere primeiro? — Ele entende o que quis dizer
e balança a cabeça sorrindo.
— Vamos comer a massa antes que esfrie — se aproxima,
pegando o pacote das minhas mãos. — Precisa de energia para o
que vou fazer contigo depois — me dá um selinho e se afasta,
colocando a comida na mesa.
É, acho que ele tem um bom argumento.
Sentamos a mesa e começamos a comer. A massa estava divina!
Um spaghetti alla carbonara de respeito. Comi até não aguentar mais
e Matteo também parece ter gostado do prato, pois estava se
deliciando a cada garfada.
Tive que rir quando ele me lançou um olhar repreendedor no
momento que coloquei a primeira garfada na boca e soltei um
gemido. Não tinha culpa se a comida estava deliciosa. Que
grandma[28] não escute!
Quando acabamos de comer, ficamos conversando coisas
aleatórias por um tempinho antes de juntarmos todo o lixo e jogamos
na lixeira. Coloquei a mão na cintura, analisando a sala e vendo se
não esquecemos nada, quando senti os braços de Matteo me rodear.
Ele encostou a boca no meu ouvido e sua respiração tão
próxima fez um arrepio percorrer meu corpo.
— Agora podemos ir para a sobremesa — sua voz sai rouca.
Uma lembrança passa pela minha mente e lembro que tinha
comentado algo do tipo antes de sair do elevador mais cedo.
— Ainda bem que não se esqueceu.
Matteo me guia até seu quarto e me senta na beirada da
cama. Ele me beija e retribuo. Meu corpo começa a ficar em chamas.
Sinto sua mão abrindo o zíper do meu vestido e me levanto para que
a peça caia do meu corpo.
Seus olhos passeiam pelo meu corpo, suas mãos acariciando
cada curva. Fico feliz por ter escolhido um conjunto de lingerie de
renda preta para esta noite. Seus olhos brilharam quando viu a peça.
Voltamos a nos beijar e ele me coloca sentada novamente na
cama. Nossas línguas estão numa batalha frenética. Ele desgruda
nossos lábios e começa a percorrer meu corpo com beijos, parando
no vale dos meus seios. Ele desprende o sutiã e dá a devida atenção
a cada um deles. Solto um gemido de prazer a cada instante.
Não demora muito para meu ponto sensível pulsar de desejo
e Matteo começa a dar atenção ao local, esfregando o dedo por cima
da renda.
— Matteo…
Ele compreende meu pedido e desce sua boca, depositando
beijos até chegar ao final da minha barriga. Matteo engancha os
dedos na lateral e retira o tecido pelas minhas pernas, depois joga
em algum lugar do quarto.
Deposita beijos na parte interna da minha coxa, me fazendo
revirar os olhos de prazer. Sinto quando ele assopra minha parte
íntima antes de começar a dar atenção ao meu ponto de prazer. Me
contorço na cama e prendo o lençol entre os dedos.
Matteo é muito bom no que faz, porque não demora muito
para me desmanchar. Ele levanta com um sorrisinho vitorioso no
rosto e eu o puxo pela camisa, beijando sua boca. Sem separar
nossos lábios, seus dedos começam a trabalhar freneticamente nos
botões da camisa e eu ajudo-o a tirar a calça.
Minha mão encosta na sua ereção e ele solta um gemido.
— Não me provoca, pequena — sua voz sai entrecortada e
rouca.
Coloco um sorrisinho provocativo no rosto e começo a fazer
carinho por cima da cueca, fazendo com que ele segure meu pulso
com os olhos presos aos meus, tão escuros como uma noite de
tempestade.
— Na próxima vez eu deixo você brincar, mas agora eu preciso
de você.
Não nego seu pedido, porque sinto o mesmo.
Preciso de Matteo.
Vejo ele pegar uma camisinha na gaveta da mesa de cabeceira.
Matteo me olha antes de avançar, como das outras vezes, pedindo
permissão. Guio seu membro até minha entrada e ele começa a se
movimentar. Sigo seus movimentos e solto um gemido alto.
Matteo se movimenta mais rápido e sinto a onda de calor
percorrendo meu corpo.
— Hanna, não sei se consigo… — ele faz um esforço para se
controlar.
— Tô quase lá.
Seus movimentos se intensificam e minha visão começa a ficar
turva. Meus músculos se contraem e sinto choques pelo meu corpo.
Matteo solta um palavrão, se libertando logo depois.
— Você — ele está ofegante — ainda será minha morte,
pequena!
Não consigo conter o sorriso que surge em meus lábios.
— Acho que já escutei você dizendo isso.
— Saiba que é a mais pura verdade.
Matteo gira o corpo, deitando ao meu lado na cama. Retira a
camisinha, amarrando e jogando na lixeira ao lado de uma
escrivaninha. Ele puxa meu corpo para perto do seu e me abraça de
lado.
Coloco minha cabeça apoiada em seu peito e escuto sua
respiração normalizar. Faço desenhos imaginários em seu peito nu e
ele faz o mesmo nas minhas costas. Sinto quando deposita um beijo
na minha cabeça.
— O que estamos fazendo, pequena? — Ele quase sussurra
ao perguntar.
— Também queria saber… — respondo.
Sinto seus braços me apertando mais forte contra seu corpo,
como se tivesse medo de me perder.
Mas é aquela coisa, né?
Você não pode perder aquilo que não é seu.
Capítulo 26
Hanna acabou de me mandar uma mensagem confirmando que
está tudo certo. Encontro seus olhos do outro lado do salão, um
sorriso surgindo no canto dos seus lábios, mas ela logo volta sua
atenção ao grupo de mulheres que conversam sem parar.
Ela está linda, como sempre. Usa um vestido prata curto, colado
ao corpo, com alças finas e um salto alto da mesma cor. Seu cabelo
está preso em um rabo alto, deixando visível o conjunto de joias de
rubi que utiliza. A maquiagem é a mesma de sempre e um batom
vermelho colore seus lábios.
Juro que cogitei deixar a merda desse baile de lado e ficar
trancado com essa mulher na suíte quando ela saiu do quarto toda
produzida. Minha mente ficou tentada a imaginar a cor da sua
lingerie, mas afasto a ideia para não ficar duro. Você não precisa
disso no momento.
— Os negócios estão indo muito bem — minha atenção volta ao
grupo de homens que eu estava. — Não tenho nada a reclamar —
um de nossos associados termina de falar e assinto com a cabeça.
— Vamos ver como vai ficar após a transição — consigo perceber
a ironia na fala de um outro associado, Dalton. Ele é um dos mais
velhos e mais problemáticos.
— Posso garantir que nosso Capo deixará o cargo em boas
mãos. — Encaro o homem, que me desafia com o olhar e depois
solta uma risada debochada.
— Você diz isso porque é seu amigo, mas não estou tão
confiante. Nicolas é só um jovem querendo se divertir e que não
pensa nas suas obrigações.
Minha mão aperta o copo com o líquido âmbar tão forte, que
quase quebro o vidro. Tento controlar minha raiva antes de
responder o idota. Quem ele pensa que é para falar assim sobre o
herdeiro da máfia? Dane-se que ele é meu melhor amigo, não
consigo pensar em ninguém mais preparado para assumir o cargo.
— Você está questionando a decisão do seu Capo? — Minha voz
sai ameaçadora e vejo nos olhos do homem uma sombra de medo.
— Acho que ele poderia esperar mais antes de passar o cargo
para as mãos de um garoto — ele faz um barulho com a garganta no
final, desconfortável com a atenção que está ganhando.
Todos que estavam à nossa volta pararam para prestar atenção
no nosso embate. Consigo contar cada pessoa que nos observa,
tanto perto quanto do outro lado do salão. Preciso acabar logo com
isso, não posso chamar atenção hoje.
Chegou o dia.
Vamos capturar Spencer e interrogá-lo para conseguir
informações. Um grupo de soldados já foi para o local da entrega,
enquanto Kyller está de olho em Spencer e vai me avisar quando já
estiver com ele no galpão.
— Nicolas está preparado, não se preocupe. — Dou um passo na
sua direção e Dalton arruma sua postura, tentando mostrar que não
está se sentindo ameaçado. — Treinamos anos para este momento.
Não será você que irá nos impedir, senhor Hall. Tenha consciência
disso.
Não espero uma resposta. Saio de perto do grupo e vou para a
varanda, precisando de um pouco de ar. Coloco meu copo no
parapeito e passo as mãos pelo cabelo.
Eles precisam entender que as coisas estão mudando.
Não será uma transição fácil, sei disso. Muitos dos nossos
parceiros e associados vão ficar na defensiva quando Nicolas
assumir como Capo.
Olho para as luzes iluminando a cidade do pecado e fico
tentando acalmar meus ânimos.
Meu celular apita uma notificação e tiro do bolso do paletó.
Kyller: “Estamos com ele.”
Não sei como Kyller conseguiu capturar Spencer no meio da
festa, mas não me importo. Não suportava mais ficar nesse
ambiente.
Matteo: “Estou a caminho.”
Começo a caminhar em direção a saída, mas recordo que
tenho que avisar Hanna.
Matteo: “Chegou a hora. Não espere por mim esta noite.”
Hanna: “Ok. Consiga as informações.”
Matteo: “Não se preocupe, vou conseguir.”
Desligo o celular e entro no carro, que já estava me esperando na
porta do hotel.

Quando cheguei ao galpão, Spencer estava desacordado. Kyller


havia drogado o homem, para não correr risco dele tentar fugir e
chamar a atenção de outras pessoas.
Estou sentado em uma cadeira no canto da sala escura,
esperando ele acordar, brincando com um canivete entre meus
dedos. Vejo quando ele começa a despertar e olhar para os lados
assustado.
— Finalmente você despertou, meu amigo — minha voz sai fria.
Spencer desesperadamente busca com os olhos quem está falando.
— Estamos precisando conversar um pouco.
— Quem está aí? — Ele está com medo e sua voz quase falha.
— Eu falo tudo que você quiser, mas não machuque minha família.
— Tão fácil assim? — Questiono saindo do canto escuro.
Seus olhos ficam arregalados ao se dá conta de quem está falando
com ele. — Deveria saber que certas informações não devem ser
compartilhadas com o inimigo, Spencer.
— Eu nunca trairia a Famiglia — ele tenta soar firme, mas
sinto seu medo.
— Por que não acredito na sua palavra? Até segundos atrás,
estava disposto a entregar qualquer informação que eu pedisse.
Me aproximo do homem amarrado, que tenta arrumar a
postura na cadeira. Passo a ponta do canivete pela sua bochecha,
fazendo um pequeno corte. Sangue começa a escorrer pelo seu
rosto lentamente.
— Sabe o que acontece com as pessoas que traem a nossa
confiança, certo? — Paro na sua frente.
— Eu não traí a confiança de vocês — sua voz sai mais firme
agora. — Alessandro é um amigo antigo, nunca trairia sua confiança.
— Mas em breve ele não estará mais no comando, não é
mesmo?
— Nunca trairia o menino Nicolas! — Ele grita, desesperado.
Respiro fundo e caminho em direção a mesa com os
instrumentos de tortura.
— Não é o que parece — passo o dedo nas armas,
analisando as opções. — O que os russos querem? — Pego
algumas agulhas e o aparelho de choque, e volto minha atenção ao
homem.
— Os russo? — Ele questiona. — De que porra está falando?
— Você sabe muito bem sobre o que estou falando. O que
eles querem aqui, na nossa região?
— Eu não sei… Aaai — o homem grita quando enfio uma
agulha grossa na sua coxa.
— Será pior se você continuar negando — enfio outra agulha
na outra coxa.
O homem grita de dor e começa a suar frio. Estou tentando
manter o controle, mas não sei se minha paciência vai aguentar por
muito tempo.
— Eu não sei nada de russos no nosso território — ele puxa o
ar com força. — Juro por tudo que é mais sagrado. Juro pelo sangue
da máfia. Juro pela Famiglia.
Ele parece desesperado. Ok, havia ganhado minha atenção.
— Se não sabe de nada — pego seu rosto e aperto os dedos
na sua mandíbula, fazendo com que ele olhe nos meus olhos. —
Como explica seu braço direito estar participando de uma entrega de
mercadorias esta noite?
Vejo nos seus olhos a confusão se instaurar. Ele não faz ideia
do que está acontecendo? Impossível!
— Por que me convidou para esta merda? — Faço a pergunta
que está na minha mente desde o início. — Por que queria a
presença da minha noiva?
— Eu só… — ele respira fundo antes de continuar. — Queria
me aproximar de vocês logo no início. Queria mostrar que tinham um
aliado para caso haja uma revolta quando Nicolas tomar o poder.
Escutei em alguma festa que Matteo Lombardi estava noivo, então
resolvi convidá-lo para o evento de casais que estava organizando
no meu hotel. — Ele faz uma pausa e em seguida uma careta de dor
quando enfio mais fundo uma das agulhas. — Você será o
consigliere do nosso futuro Capo, pensei ser uma boa ideia. Não
imaginei que sua noiva seria a senhorita Collalto. Tentei descobrir
quem ela era antes do convite, mas ninguém sabia quem era, pois
vocês ainda não oficializaram o noivado.
Encaro seus olhos e, porra, eu acredito em suas palavras.
Sempre fui bom em perceber quando alguém fala a verdade. Solto
seu rosto dos meus dedos e me viro, passando a mão na testa. Se
essa for a verdade, então…
— Onde está Marlon? — Questiono e vejo seu olhar confuso.
— Ele deveria estar cuidando da segurança da festa — ele
tenta movimentar a perna, mas a dor o faz parar. — Você disse que
ele estaria recebendo uma entrega — confirmo com um aceno de
cabeça, impaciente com toda essa questão. — Não tenho nenhuma
mercadoria para receber hoje.
Vou pra cima do homem, pegando-o pelo colarinho da camisa
social. Percebo o temor percorrendo seu corpo.
— Não faz ideia do que seja? Tem certeza? — Tento
pressioná-lo.
— Te… tenho sim.
Eu acredito nele.
Posso ser várias coisas, mas não sou injusto quando sei que
uma pessoa está falando a verdade.
— O dinheiro que está esperando de Salomão? — Aproveito
para tirar todas as minhas dúvidas. Spencer desvia o olhar por um
segundo.
— O filho dele andou roubando nossas drogas e usando-as.
Fiz um acordo com Salomão de ele ir atrás de um comprador novo
para mim, já que tivemos problemas com um dos antigos — ele
pausa antes de continuar. — Salomão não queria que a Famiglia
ficasse sabendo o que o filho fez, pois sabe que vocês não toleram
esse tipo de coisa.
Respiro fundo antes de soltá-lo.
Não é possível que não vou conseguir a porra da informação
que preciso!
Ok, sabemos que Spencer está do nosso lado. Mas quem
está negociando com os russos então? Sabemos que eles têm
andado pelo nosso território fazendo negócios. Alguns soldados
haviam vindo conosco para essa missão, havia visto alguns deles
enquanto faziam uma ronda durante a noite. Além disso, Salomão
confirmou sobre a presença deles aqui.
— Onde está Marlon?
— Eu juro que não sei — ele responde prontamente.
Minha atenção é atraída pela porta da sala sendo aberta com
força.
— Temos um problema, senhor! — Kyller entra na sala, seus
olhos estão receosos.
— Que merda aconteceu agora? — Esbravejo e vejo meu
soldado engolir em seco.
— Conseguimos pegar alguns dos homens que participavam
da entrega para interrogatório, mas Marlon não estava presente —
ele para de falar, mas sei que essa não é a informação que o deixou
assim.
— Fala logo, caralho!
— A senhorita Collalto sumiu — ele termina de falar e olha
para o chão.
Não, isso não pode estar acontecendo.
Hanna não pode ter sumido assim do nada.
Não deve se preocupar, ela sabe se cuidar. A minha mente
tenta me tranquilizar.
Deveriam ter soldados cuidando dela, porra!
— Acho que não escutei direito — digo com uma voz tão fria
que não reconheço, caminhando na direção de Kyller.
— Levaram a herdeira, senhor!
Capítulo 27
Minha cabeça está doendo. Abro meus olhos lentamente e tento
pensar no que aconteceu. Lembro de ter lido a mensagem que
Matteo me enviou e de que decidi voltar para a suíte. Não estava
com paciência para ficar socializando na festa e, como já tinha feito
meu papel ali, decidi ir embora.
Estava voltando para o quarto quando alguma coisa… Passo
a mão na cabeça no local que senti a pancada. Meus dedos
percorrem o calombo no local. Que merda aconteceu?
Meus olhos começam a percorrer o quarto que estou
trancada. Meus pulsos estão presos por uma corda. Ótimo, era
exatamente isso que precisávamos. Minha mente ironiza sobre a
situação que me encontro.
Tenho que ter calma. Fui treinada para lidar com situações
desse tipo, eu sei me virar. Respiro fundo e começo a movimentar
meus pulsos, tentando me soltar. O nó está forte e sinto a corda
machucando minha pele.
Eu vou acabar com o desgraçado responsável por essa
merda!
Uma dor latente sobe pelo meu braço e mordo o lábio para
evitar o grito, mas não desisto. Eu sei que tenho que sair daqui o
mais rápido possível. Cada segundo conta e logo alguém pode
chegar.
Como se estivesse lendo meus pensamentos, a porta se abre
e vejo um homem parado no batente. Não consigo ver seu rosto por
conta da escuridão. Ele se aproxima em passos arrastados,
aproveitando cada segundo que tem. Diminui meus movimentos,
mas não interrompo minha tentativa de me livrar da corda.
— A donzela finalmente despertou — não gosto do seu tom
de voz, consigo sentir o divertimento presente nele.
— Você sabe que é um homem morto, certo? — Tento não
demonstrar medo e acho que tenho sucesso. Não posso mostrar
minhas fraquezas, sei que se demonstrar algo posso não sair viva
daqui.
— Seus soldados estão focados em outra tarefa no momento,
bonequinha — debocha. — E seu noivo deve estar agora mesmo
buscando informações na fonte errada, aquele merdinha idiota.
Quando ele está bem próximo a mim, consigo ver seu rosto.
Marlon.
Não demorou muito para eu compreender o que ele quis dizer
com “fonte errada”. O filho da puta é o responsável pelas
informações que os russos estão recebendo. Spencer não deve
imaginar o que seu braço direito vem fazendo pelas suas costas.
— Você fez acordo com os russos.
— Até que para uma herdeira, você foi rápida em juntar as
peças. — Ele dá a volta na cadeira e fica atrás de mim. Paro de
movimentar meus pulsos e fico parada. — Spencer é um imbecil que
não pensa muito nos negócios. Deveria estar faturando uma grana
com essa aliança. Acho que deveria agradecer a ele, afinal, fiquei
com o negócio.
— Spencer é leal, diferente de você — não consigo segurar
meus pensamentos na minha mente.
— Lealdades podem mudar, bonequinha — ele passa o dedo
pela minha mandíbula, contornando meu rosto. Sinto meu estômago
revirando toda comida que comi no baile. — Você não sabe o quanto
sonhei em ter esse corpinho à minha disposição desde aquele dia
que te vi perto do elevador com seu noivinho de merda.
Tento afastar meu rosto das suas mãos, mas fica meio
impossível de me mover com meus pulsos ainda presos e eu
estando sentada em uma cadeira tão próxima a ele.
— Não me toque.
— Ah, mas eu vou te tocar sim. Garanto que você vai gostar
— ele aproxima a boca do meu rosto e fecho os olhos. — Vou te
foder bem melhor que ele.
Nojo.
Esse é o sentimento que tenho por esse homem imundo.
— Quando eles te pegarem, vai desejar nunca ter me
conhecido — ameaço, mas ele sorri cínico para minhas palavras.
— Já estarei longe quando chegarem até mim — ele volta a
ficar na minha frente. — Até lá, já terei conseguido aquilo que quero.
— Minha família vai te encontrar, nem que seja no inferno,
pode ter certeza. E te garanto que estarei presente assistindo de
camarote sua queda.
— Se estiver viva — ele cantarola e vai em direção a uma
mesa no canto do quarto.
Aproveito o momento para voltar a minha tentativa de fuga. A
dor percorre por cada parte do meu corpo, um filete de sangue
escorre pelas minhas mãos.
— Sabe? — Ele pega uma garrafa que contém alguma bebida
e serve em um copo. — Isso tudo é culpa sua.
— Minha culpa? — Questiono, entrando no seu jogo.
— Sua culpa, bonequinha. Se você não tivesse escutado a
minha conversa naquele dia, não estaria aqui agora — ele se vira e
busca meu rosto, tentando enxergar alguma reação.
— Não sei do que está falando — tento fazer de
desentendida.
— Então como explica seus soldados terem conseguido
encontrar meu local de entrega?
Não consigo evitar o sorriso.
Eles conseguiram!
Pelo menos não foi tudo em vão. Spencer pode não estar
envolvido, mas fodemos com os planos dos russos. Pelo menos por
enquanto.
— Não tenho culpa se você não tem homens competentes ao seu
lado — não tiro o sorriso do rosto, e isso parece irritá-lo.
— Você vai me pagar por isso — ele dá passos largos em minha
direção. Abaixa o corpo, para que seu rosto fique bem próximo do
meu. — Vou te fazer minha e depois vou enviar o seu corpo de
presente para seu noivinho e sua família de merda.
— Uma pena… — debocho e faço um beicinho.
— O quê? — Ele passa um dos braços pelo meu ombro,
apoiando a mão na cadeira que estou sentada.
— Que seu plano não dará certo!
Não dou tempo para ele pensar nas minhas palavras. Pego sua
cabeça com as minhas mãos e levanto perna, dando uma joelhada
na sua cara. Marlon levanta desnorteado e aproveito para deferir uns
socos na sua cara. O homem cambaleia, sem conseguir se manter
em pé, e parece ser o momento perfeito para sair correndo
Não olho para trás, depois nossos homens podem vir atrás dele e
prendê-lo. Vou estar presente na hora do seu interrogatório, mas
agora preciso fugir. Matteo precisa saber que Spencer não é o
informante, Marlon que é. Corro o mais rápido que consigo, mesmo
com minha cabeça latejando por conta da pancada que levei mais
cedo. O corredor parece ser infinito, mas logo vejo uma luz e sigo
ela.
— Eu vou te pegar, sua desgraçada! — Marlon grita e eu olho
rapidamente para trás.
Ele está perto, mas ainda tenho uma pequena vantagem.
Aumento a velocidade da minha corrida e estou quase chegando no
final, quando escuto barulho de tiro.
Vários, na verdade.
Viro no final do corredor e meu corpo bate em algo, ou melhor,
alguém. Sinto braços me rodeando e me apertando forte contra o
corpo. Não preciso escutar sua voz, porque reconheceria seu cheiro
mesmo a metros de distância.
— Ainda bem que te encontrei! — Matteo solta o ar e seus
braços me apertam mais forte, como se ele não quisesse me soltar.
Finalmente consigo relaxar. Nos braços dele eu me sinto
segura, como nunca me senti em lugar algum. Matteo passa os
dedos pelo meu cabelo, fazendo carinho e percebo sua mandíbula
travar quando encontra o calombo.
— Peguem o filho da puta e o levem para o galpão. Não
encostem um dedo nele, ele é meu — dá ordens para um soldado,
que responde e vai fazer seu trabalho.
Matteo me guia para a saída, sem me soltar nem um minuto
sequer. Saímos do local e percebi que era uma casa abandonada no
meio do nada. Entramos no carro e o motorista começa a dirigir.
O silêncio impera dentro do automóvel. Matteo me abraça,
seus dedos fazendo uma leve carícia no meu ombro desnudo, e
minha cabeça está apoiada no seu ombro. Sei que mil coisas devem
estar passando pela sua cabeça neste momento, sei que na minha
está.
— Como me encontrou? — Afasto a cabeça do seu ombro e
encontro seus olhos.
— Kyller havia colocado um rastreador no carro de Marlon por
conta da entrega de hoje. Queríamos estar atentos aos seus passos
— dá uma pausa antes de continuar. — Desde o momento que
soube que Marlon não estava presente na ação e você tinha
desaparecido, foi fácil ligar os pontos e chegar até aquele local.
— Acho que bateram com algo pesado na minha cabeça para
me desacordar. Lembro de estar indo para a suíte e depois acordei
amarrada em uma cadeira. — Olho para meus pulsos e percebo que
em alguns lugares está em carne viva e sangue quase seco.
Matteo pega minhas mãos e passa os dedos suavemente
pelos locais feridos. Solto um gemido de dor e faço uma careta.
— Aquele… — Matteo fecha os olhos, claramente com ódio
de Marlon.
— Isso não foi nada, estou bem — tento tranquilizá-lo.
— Eu vou matá-lo!
— Não duvido disso — consigo arrancar um pequeno sorriso
do homem ao meu lado. — Mas antes precisamos de informações.
— Eu sei disso, não se preocupe.
— Spencer? — Questiono e Matteo me olha sem entender. —
Ele provavelmente não participava ou sabia o que estava
acontecendo, certo?
— Não, ele não imaginava o que estava acontecendo. Me
pediu para estar presente no interrogatório e eu autorizei, claro. É o
mínimo, depois de ter feito ele passar por um sem ter culpa de nada
— Matteo começa a brincar com meus dedos, entrelaçando-os com
os seus. — Nunca vi o homem com tanto ódio.
— Spencer confiava em Marlon e foi traído.
Matteo assente e continua a brincar com meus dedos. Penso
por um momento se devo pedir permissão para o que vou fazer, mas
lembro que eu sou a herdeira da máfia. Não tenho que pedir
permissão pra isso.
— Vou participar do interrogatório — afirmo e recebo um olhar
de espanto dele.
— Você o que? — Ele parece não acreditar no que ouviu.
— Não finja que não escutou — Matteo abre a boca, mas não
deixo ele contestar. — E nem pense em negar, pois isso não está
aberto para discussão.
Vejo ele passar a mão na testa impaciente, mas não fala
nada.
— Você acabou de ser sequestrada e está machucada, sabe
disso né? — Ele busca meus olhos e assinto com a cabeça.
— Mas nada aconteceu, estou bem! — Passo minha mão por
seu braço e volto a apoiar minha cabeça no seu ombro.
— Eu fiquei muito preocupado. Acho que nunca fiquei assim
na vida — ele confessa tão baixo, que quase não escuto.
— Eu já disse que não precisa se preocupar — ele apoia sua
cabeça na minha. — Eu sou treinada.
Escuto sua risada baixa e sorrio com isso.
— Você não existe, pequena! — Deposita um beijo na minha
cabeça.
Uma paz preenche meu peito, um alívio por estar bem e
segura. Mesmo sabendo me defender, sendo treinada desde meus
14 anos, era bom ter alguém disposto a te salvar se preciso. E foi
naquele momento que eu percebi.
Matteo é e sempre será meu lar, meu porto seguro.
Capítulo 28
Chegamos no galpão e logo fomos informados de que já haviam
levado Marlon para uma das salas. Encontramos Spencer esperando
na porta, de braços cruzados e olhando para o nada. O homem está
com certa dificuldade para andar e confesso que não me sinto mal
por o ter torturado, são ossos do ofício.
— Achei que ele estaria pior — Hanna sussurra. Sua boca tão
próxima do meu ouvido me dá arrepios, mas tenho que manter o
foco.
— Descobrimos a verdade a tempo, antes das coisas
piorarem para ele — sussurro de volta.
Spencer só percebe a nossa presença no local quando já
estamos quase chegando na porta, ele levanta a cabeça e apruma o
corpo. Seus olhos fitam minhas mãos entrelaçadas com as de
Hanna, mas ele logo desvia o olhar e não comenta sobre.
— Você está autorizado a participar do interrogatório, mas
saiba que eu estarei no comando. Entendido? — Questiono e ele
assente.
— A herdeira vai participar? — Ele alterna o olhar entre Hanna
e eu.
— Sim — ela toma a frente para responder o homem. — Vou
participar, assim como prometi a Marlon quando me tinha como
prisioneira.
Não vou me estender no assunto. Aperto a mão da garota ao
meu lado, abro a porta e caminho para dentro da sala. Kyller está
terminando de prender o homem, que se encontra de pé, amarrado
pelas mãos, sem camisa e com um pouco de sangue no rosto.
Levanto a mão de Hanna, para depositar um beijo nela, mas paro
no meio do processo. Não podemos demonstrar carinho em público,
visto que pode servir como munição para nossos inimigos. Lembro
de um dos mandamentos que aprendemos durante a iniciação. Olho
para ela, que assente com a cabeça e move os lábios dizendo “tudo
bem” sem emitir um único som.
Me afasto dela para me aproximar do homem responsável por
passar nossas informações para nossos inimigos. Spencer não sai
do meu lado e vejo pelo canto do olho que Hanna está posicionada
encostada na parede com um sorriso atrevido nos lábios, encarando
o homem que será torturado. Kyller vai para seu lado e fica em
posição aguardando minhas ordens.
— Você vai nos dizer tudo o que queremos saber — ele levanta a
cabeça ao escutar minhas palavras. — Não adianta negar, vamos
tirar todas as informações de você, mesmo que tenhamos que fazer
pelo processo mais lento e dolorido de todos.
Me viro para a mesa com todos os utensílios de tortura e pego o
meu primeiro instrumento, um canivete bem afiado. Coloco algumas
agulhas no bolso e volto minha atenção para Marlon, que não
esboça nenhuma reação.
— Como os russos entraram em nosso território? — O pego pelo
cabelo e coloco o canivete na sua garganta.
— Vocês são feitos de trouxas o tempo todo — ele para de falar
quando pressiono mais a arma e um filete de sangue começa a
escorrer pela sua pele. — Acham mesmo que os russos não
possuem informantes por toda a parte? Eles sabem de tudo e todos.
— Como eles entraram aqui? — Pego uma agulha e enfio na sua
costela. O homem faz uma careta, mas não emite som algum.
— Eu ajudei. Eles me pagaram uma grana alta só para fazer esse
pequeno favor.
Não consigo prever o que acontece em seguida, só vejo quando
a cabeça de Marlon é lançada para o lado por conta de um soco que
Spencer deferiu.
— Você era meu ajudante, caralho! — O homem grita. — Não era
para ficar passando informações dos nossos. Eu confiava em você!
— Você está mais preocupado em entrar por baixo das saias das
mulheres do que com a porra do seu negócio — Marlon responde
sem alterar o tom de voz.
Vejo o homem ao meu lado adquirir uma cor de vermelho intensa,
a fúria tomando conta do seu corpo. Rapidamente, sua mão pega um
canivete do bolso da calça e ele avança em direção ao homem que
era seu braço direito. Sem mover meus pés, coloco o braço na frente
do seu corpo para impedi-lo.
— Se seguir, vou mandá-lo sair da sala nem que seja a força —
dou um olhar de advertência. Spencer respira fundo e recua um
pouco.
— Você é um panaca, Spencer — Marlon atrai nossa atenção.
— Vai seguir ordens de um garoto? Ele ainda não é ninguém
importante dentro da organização — solta uma risada debochada e
olha na direção de Hanna, que o encara. — E ainda deixam uma
garotinha participar? Uma grande palhaçada!
Observo Hanna desencostar da parede e caminhar
lentamente na nossa direção. Ela passa pela mesa com os
instrumentos de tortura e, sem desviar o olhar do homem, pega o
soco inglês. Quando chega ao meu lado, Marlon ainda a encara com
um sorriso presunçoso nos lábios.
Não demora muito para escutar o barulho da sua mandíbula
deslocando. Hanna deferiu um soco no rosto do homem, que agora
cospe sangue, e depois defere outros na sua barriga. Ela só se
afasta quando coloco a mão no seu ombro.
Spencer está com os olhos arregalados e Marlon solta
algumas reclamações baixas, incompreensíveis. Hanna me olha e
faço sinal com a cabeça para ela voltar para onde estava. Sem
reclamar, ela volta à parede que estava e se posiciona ao lado de
Kyller, que tenta esconder um sorriso.
Eu sei que Hanna é uma das melhores lutadoras da nossa
geração. Sei que ela poderia ajudar e muito nesse interrogatório, ela
foi treinada para isso. Mas não quero que ela carregue o peso da
culpa disso nos seus ombros. Eu conheço minha pequena e sei que
ela se sentiria mal depois.
— Acho que a garotinha — sou irônico — sabe se defender
muito bem. Mas você já sabia disso, certo?
Marlon estremece e pego outra agulha para enfiar na sua
virilha.
— Responda — enfio a agulha e ele solta um gemido de dor.
— Sim — é a única palavra que sai da sua boca.
— Então vamos parar de enrolação, porque não tenho muito
tempo. O que os russos querem aqui?
Marlon é duro na queda e demora um pouco para abrir o jogo
e entregar todas as informações que possui. Quando termino com
ele, o homem está por um fio. Penso se devo sujar minhas mãos
com o infeliz, mas já estou contente com o que fiz.
— Kyller — chamo o soldado chefe desta missão enquanto
limpo minhas mãos em uma toalha.
— Sim, senhor Lombardi? — Ele se aproxima.
— Acabe com tudo por aqui — dou as ordens e ele assente,
se afastando para iniciar a tarefa.
— O que posso fazer para reparar o que aconteceu? —
Spencer questiona ao meu lado.
— Não deixe a porra dos seus homens fazerem o que bem
querem — Hanna é quem profere as palavras, atraindo nossa
atenção. — Precisamos de homens de confiança e esperamos poder
contar com você e os seus homens quando for necessário.
— Isso não vai acontecer novamente, senhorita!
— Assim espero — ela encara o homem, que assente antes de
se virar para mim.
— Espero que possamos conversar antes da sua partida.
— Amanhã — digo e olho rapidamente para Hanna, antes de
voltar minha atenção para Spencer. — Agora vou levar minha noiva
para descansar um pouco.
— Claro! Boa noite, senhores! — Ele se despede e sai da sala.
— Já podemos ir embora? — Sigo seu olhar e percebo que ela
está observando os soldados carregarem Marlon.
— Eles vão terminar o serviço. Vamos para o hotel! — Pego a sua
mão e a guio para sairmos daquele local.
Terminei de tomar meu banho e coloquei uma calça de moletom,
optando por não colocar uma camiseta. Decido conferir como Hanna
está. Durante todo o caminho de volta ao hotel ela não disse nada,
seu semblante era tomado pelo cansaço. Fico preocupado com
minha pequena, acho que ela nunca vivenciou tudo isso de perto.
Bato na sua porta e logo recebo sua resposta:
— Pode entrar — consigo escutar sua voz, mesmo estando
baixa.
Entro no quarto e a encontro sentada na cama, coberta com o
edredom. Ela cobre os lábios com a mão ao abrir a boca de sono.
Hanna está de banho tomado e usa uma camiseta minha que deve
ter pego da última vez que estivemos juntos. Ela parece não reparar
no meu olhar avaliando a peça em seu corpo, e caralho, fica melhor
nela do que em mim.
— Só queria saber se você estava bem — me aproximo e fico
parado no pé da cama.
— Não sou de cristal, Matteo. Sei o mundo em que vivemos e, só
para te acalmar, estou bem — ela puxa o canto do lábio em uma
tentativa de sorriso, para me mostrar que suas palavras são
verdadeiras.
— Você foi sequestrada, Hanna.
— E consegui fugir sozinha daquele maldito quarto — faço uma
careta. — Não me olha assim, sabe que ficaria bem mesmo se você
não aparecesse como um herói para resgatar a donzela indefesa —
percebo a ironia na sua fala.
— Herói? — Solto uma risada fraca. — Estou mais pra vilão,
pequena.
— Cada um tem seu ponto de vista — ela dá de ombros. — E
estamos fugindo do assunto aqui. Eu sei me virar e estou bem!
— Como estão seus pulsos? — Me aproximo mais, sentando na
cama de frente pra ela, e pego seus pulsos para analisar.
Eles estavam bem feios, mas ela já havia limpado e enfaixado os
ferimentos.
— Tudo sob controle. Sabe quantas vezes já cuidei dos
ferimentos do meu amado irmão? — Minha atenção muda dos seus
pulsos para seus olhos cor de mel. — E não estou falando só dos
que ele recebeu por conta das missões que participou. Nós dois
sabemos que Nicolas já se meteu em muita confusão por aí.
Tenho que concordar com ela. Nicolas se metia em muitas
confusões na época de escola e durante a faculdade também. Ele
sempre foi de arrumar briga até mesmo por pequenas coisas.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Acaricio seus pulsos por
cima dos curativos e fico escutando nossas respirações
sincronizadas.
— Você pode ficar comigo essa noite? — Sua pergunta me
quebra.
Ela não sabe que faria qualquer coisa por ela?
— Claro — respondi me levantando e contornando a cama
para me deitar ao seu lado.
Hanna se ajeita, colocando a cabeça apoiada em meu peito.
Sua cabeça sobe e desce conforme eu respiro. Seu cheiro invade
meus pulmões e fecho os olhos querendo registrar esse momento na
minha memória.
— Vou conversar com a Mel assim que chegarmos em casa
— solto o que estava pensando em voz alta e recebo a atenção de
duas bolas cor de mel me encarando.
— Você não vai mais se casar? — Percebo o receio em sua
voz.
— Eu amo a Mel, mas não de um jeito romântico — faço
carinho nas suas costas, subindo e descendo o dedo com cuidado.
— Ela é minha amiga e faria de tudo para protegê-la.
— Ela precisa de proteção? — Hanna está genuinamente
preocupada e fico feliz por saber que ela se preocupa com minha
amiga.
Quem eu quero enganar? Hanna se preocupa com todos a
sua volta, sempre. Não seria diferente com Melanie, ainda mais
quando descobrir toda a verdade. Mas não posso contar aquilo que
não me diz respeito.
— Você não pode falar, né? — Ela morde o lábio inferior e não
resisto, dando um selinho rápido.
Não podemos hoje. Ela precisa de carinho e atenção neste
momento.
— Ela que tem que contar, se estiver bem com isso…
— Tudo bem, eu entendo! — Volta a se aconchegar no meu
peito.
Voltamos a ficar em silêncio por um tempo, até que escuto sua
voz saindo bem baixinha:
— Obrigada por estar sempre ao meu lado.
— Sempre que precisar, pequena!
Capítulo 29
Acordamos e pedimos para o café ser servido no quarto. Hoje era
dia de um café da manhã em conjunto, mas não estávamos com
ânimo para participar de um outro evento de Spencer. O homem
compreendeu nossa ausência e mandou flores com um pedido de
desculpas por tudo que seu funcionário fez.
Estávamos terminando de tomar café quando recebemos a
notificação de chamada vídeo de Nicolas.
— Conseguiram o que precisávamos, parabéns! — É a primeira
coisa que meu irmão fala. — Spencer não era o homem por trás da
traição, o que é bom. Já sabemos que os russos estão com planos
para tomar outros territórios nossos e já mandei o Michael avisar os
outros associados. Como concluíram a missão, já podem voltar para
casa.
Engulo em seco.
Voltar para casa.
— Já estou organizando nossa volta — Matteo fala e olho na sua
direção tentando não parecer surpresa com a revelação. — Pedi
para prepararem o jatinho. Devemos sair ainda hoje.
Eu sabia que quando concluíssemos o que tínhamos para fazer
aqui voltaríamos para casa, mas ele não comentou nada comigo na
noite passada ou hoje durante o café.
— Ótimo — meu irmão suspira. — Nossos pais devem voltar
ainda essa semana também.
Isso atrai minha atenção.
— Acha que papà vai renunciar o cargo e te passar o cargo de
Capo? — Mordo o lábio enquanto aguardo sua resposta.
— Sim, eu acho que ele vai. Mas você não precisa se preocupar
com isso, sis! — Meu irmão me dá um meio sorriso.
— Quando chegar vou levar Hanna em casa e conversamos
melhor sobre o que vamos fazer de agora em diante em relação aos
russos — Matteo atrai a atenção do meu irmão.
— Me avise quando saírem daí, que combino uma reunião com
Michael e Tyler — o homem ao meu lado assente em resposta. —
Tenham uma boa viagem de volta. Aguardo vocês. — Meu irmão
desliga a chamada de vídeo.
Fico olhando para a parede branca atrás do aparelho por um
tempo.
— Hanna — escuto Matteo me chamando.
— Fala — continuo olhando para o nada, sentindo uma dor tomar
conta do órgão dentro do meu peito que me mantém viva.
Eu sabia que isso iria acontecer. Mas ele falou ontem que vai
conversar com a Melanie, certo? Não quero criar expectativas. Meu
coração já está começando a despedaçar. Você que sugeriu o
acordo de “o que acontece em Vegas fica em Vegas”. Minha mente
faz questão de lembrar.
— Você está bem? — Ele está preocupado. Coloca a mão nas
minhas costas e faz carinho.
— Uhum…
— O que aconteceu? Pode falar comigo — ele segura meus
braços e gira meu corpo, fazendo com que eu encare seus olhos
cinzas como um dia nublado.
É assim que estou me sentindo, em um dia nublado, sem cor.
— Nada — tento dar um sorriso. Matteo não tem culpa dos meus
sentimentos. — Não precisa se preocupar. Acho que toda essa
questão do Nicolas assumir o cargo do meu pai me deixa nervosa —
minto.
— Vai dar tudo certo, pequena. Fomos treinados para isso — ele
deposita um beijo na minha testa. — Vamos resolver tudo quando
voltarmos.
— O que você quer dizer com isso? — Eu preciso escutar ele
dizendo em voz alta.
— Provavelmente vamos assumir os cargos dos nossos pais e eu
vou conversar com a Melanie sobre… — ele é interrompido por uma
nova chamada de vídeo.
Observo a tela do seu celular iluminada e vejo o nome dela
piscando na tela. Matteo não hesita em atender.
— Oi — a voz dela sai fraca e ela funga.
— Mel? — Matteo se aproxima mais da tela, apoiando os
cotovelos no joelho. — O que aconteceu? Por que estava chorando?
— Não aconteceu nada, ursinho — ela dá um sorriso fraco. Nem
eu acredito nas suas palavras e olha que nem conheço ela direito.
Ela desvia o olhar dele e foca em mim. — Oi, Hanna! Tudo bem?
— Oi — falo um pouco tímida. Fico em dúvida se devo sair e
deixá-los a sós ou ficar e participar da conversa, mas opto pela
primeira opção. Melanie é só uma conhecida minha e talvez queria
desabafar com o amigo, quer dizer, noivo. — Tudo bem sim. Vou
deixar vocês conversando a sós.
— Não! — Ela responde rapidamente. — Não precisa sair, sério.
Só queria espairecer um pouco e saber como vocês estão.
Matteo continua encarando a tela e consigo ver o vinco na sua
testa. Ele está preocupado com ela e tenta decifrar o que está
acontecendo.
— Melanie — ele chama a sua atenção e ela solta um suspiro.
— Matteo — ela sustenta seu olhar de advertência.
— Sem joguinhos — ele está com a mandíbula travada. —
Tira o casaco — ele ordena e aponta para a tela, sinalizando para ela
retirar a peça do seu corpo.
Não compreendo o que está acontecendo, mas fico
apreensiva. Os nós dos dedos de Matteo estão brancos pela força
que faz ao fechar os punhos, ele está por um fio de explodir. Observo
Melanie engolir em seco e fechar os olhos com força enquanto retira
a peça do corpo.
Eu não estava preparada para o que aconteceria em seguida.
Matteo soca a mesa com força, me assustando e fazendo com que
eu dê um pulo. Melanie rapidamente volta a vestir a peça, para cobrir
todos os vestígios de uma agressão. A mulher estava com manchas
vermelhas e roxas espalhadas pelos braços.
— Foi ele? — Matteo questiona, mas ela não responde de
imediato. — Responde,
porra! Foi ele?
— Você sabe a resposta, então, não preciso dizer — percebo
a irritação e a mágoa na sua voz.
Matteo fecha as mãos em punho e respira fundo antes de
voltar sua atenção para ela. Eu? Bom, eu fico em silêncio. Não sei ao
certo o que está acontecendo, mas está na cara que Melanie passa
por uma situação muito grave e talvez esse seja o motivo para ela ter
pedido para Matteo ser o seu noivo.
Talvez as agressões foram feitas por algum membro da família
dela? Isso explicaria tudo o que ele me contou, sua proteção com ela
e a raiva que ele está sentindo.
— Mel… — sua voz sai mais calma desta vez. — Eu me
preocupo com você!
— Eu sei, ursinho — ela dá um pequeno e genuíno sorriso. —
Só liguei para saber como estavam, mas vejo que estão bem. Então,
depois nos falamos, ok? — Ela faz uma pausa. — Hanna!? — Me
chama e dou total atenção a ela. — Não deixe ele se preocupar
comigo, por favor.
Sei que será uma tarefa impossível, mas assinto com a
cabeça.
— Farei meu melhor!
— Sempre soube que seria você — sua voz sai como um
sussurro e seu sorriso aumenta. Eu escuto o que ela falou, mas não
compreendo o que quis dizer com isso. — Nos vemos em alguns
dias! — Ela desliga e não dá oportunidade de Matteo dizer mais
nada.
— Eu não acredito que ele fez isso de novo — sua voz sai baixa
do meu lado e busco seus olhos.
— Foi o pai dela, não foi? — Coloco a mão sob a sua e ele me
encara, mas não responde. — Não precisa responder, sei que é um
assunto particular e que diz respeito a ela. É só que deduzi…
— Um dia vou te contar tudo — ele coloca sua outra mão por
cima da minha. — Se ela permitir, claro!
Ficamos em silêncio por um tempo. Matteo parece pensar em
maneiras de ajudar a amiga. Eu faço o mesmo, mas só vem uma
solução na minha mente.
Depois de tudo o que ele me contou desde quando descobri
sobre o noivado ser um acordo entre eles, somente uma opção faz
sentido. Confesso que não é uma opção que eu goste, mas preciso
pensar no que será melhor para Melanie. Se ela está sofrendo nas
mãos do pai, o melhor é ela sair de lá o quanto antes. Para isso…
— Você precisa se casar com ela — digo em voz alta.
Matteo se movimenta, senta de lado e me encara. Seu olhar me
diz que ele não está acreditando no que acabei de dizer.
— Nós fizemos o acordo de noivado, pequena, mas…
— Não tem mas — o interrompo. — Se ela não quer falar com
ninguém sobre o que está acontecendo, se ela só confia em você, a
única alternativa para ela sair desta situação é vocês se casando.
— Hanna, eu entendo sua lógica. Mas eu… — ele tenta
novamente.
— Não, Matteo! — Me levanto e fico de frente para ele. — Você
tem que se casar com ela. Continue com o plano que fizeram, nada
mudou.
Ele levanta da cadeira e balança a cabeça de um lado para o
outro. Cruzo os braços quando me encara e ele solta uma risada
debochada.
— Você não pode estar falando sério — ele tenta se aproximar,
mas me esquivo. — Nada mudou? Sério isso, Hanna?!
— Nós precisamos parar — ele me olha incrédulo. — Você me
pediu para avisar quando não quisesse mais, bom, não quero.
— Pequena… — ele tenta se aproximar mais uma vez, mas para
quando vê que não vou mudar de ideia. Seu rosto mostra como está
magoado com tudo que estou dizendo.
Meu coração está despedaçado.
Ver Matteo daquela forma me machuca mais do que ter que me
afastar dele, no entanto, sei que é o melhor. No momento, Melanie
precisa dele. Mesmo amando Matteo com todo o meu ser, preciso
abrir mão do meu amor.
O homem na minha frente não precisa dizer com palavras que
sente algo por mim, porque eu sei que sim. Não sei se é amor, mas
ele sente algo. Estava disposto a conversar com Melanie e terminar
com o acordo, uma coisa que até alguns dias ele dizia não ser uma
opção. Sei que ele estava fazendo isso por mim, por nós.
— Você vai se casar com Melanie — declaro.
— Isso é uma ordem da princesa da máfia? — Ele questiona,
derrotado.
Me agarro às últimas forças que tenho no corpo para proferir
as próximas palavras que vão mudar para sempre meu
relacionamento com ele.
— Sim.
Capítulo 30
Nós não trocamos uma palavra desde nossa última conversa.
Você vai se casar com Melanie.
A voz dela dizendo essas palavras fica ecoando na minha
mente. Achei que depois dos dias que vivemos em Las Vegas ela
conseguiria ver o que sinto por ela de verdade. Eu estava disposto a
conversar com a minha amiga e acabar com nosso acordo para ficar
com ela.
Fui um idiota por pensar assim.
Eu entendo sua preocupação com minha amiga, caralho,
como entendo. Eu também me preocupo muito com a segurança
dela. Não adiantou a ameaça que fiz ao pai dela no dia que
anunciamos o noivado para sua família, senhor Santi levantou a mão
novamente para ela.
Minha vontade é chegar em Nova Iorque e contar tudo para
Nicolas e seu pai, quem sabe assim o velho aprende. Entretanto, não
faço isso por conta de Melanie. Ela me fez jurar não contar isso para
meu melhor amigo e sou um homem de palavra, não quebrarei um
juramento.
Kyller está sentado no banco no início da aeronave, quieto na
dele, lendo alguns papéis. Os outros soldados voltaram nos carros
que estávamos usando em Vegas para deslocamento. Faço um
lembrete mental de que tenho que falar com Nicolas sobre a
segurança de Hanna, Kyller é a melhor opção. Ele é um dos
melhores soldados atualmente.
Fico algum tempo observando Hanna dormindo na poltrona à
minha frente, tão serena durante o sono. Queria poder tocá-la e dizer
tudo que sinto. Desvio o olhar dela e observo a paisagem pela
janela. Nuvens e mais nuvens brancas no céu azul. O infinito que
não conhecemos e nunca iremos conhecer por completo.
Um barulho baixo chama minha atenção e volto a olhar para a
garota que é a dona do meu coração. Hanna está murmurando
palavras desconexas e começa a se remexer no banco.
— Hanna?! — Tento chamá-la, mas não obtenho resposta. —
Hanna?! — Tento novamente e nada.
Decido me aproximar e toco no seu ombro. Somente assim
ela acorda, ficando em um primeiro momento assustada. Percebo
que ela demora um tempinho para reconhecer onde está.
— Está tudo bem, pequena? — Aliso seu ombro e ela
assente.
— Foi só mais um pesadelo, já estou acostumada — ela coça
os olhos.
— Você tem pesadelos com frequência? — estou curioso.
— O último já tem umas duas semanas. Ele foi com… — ela
me olha e eu compreendo. Ela não precisa dizer com palavras,
porque eu entendi que seu pesadelo foi comigo.
— Tão ruim assim? — Tento descontrair um pouco.
— Um homem tinha uma arma apontada para a sua cabeça e
eu acho que eu estava… — acompanho seu movimento e me
assusto quando coloca a mão na barriga.
— Grávida?! — Arregalo os olhos.
Nunca imaginei Hanna grávida de um filho meu. Mas isso não
seria um pesadelo, seria um puta sonho!
— Não! — Ela responde rapidamente e ri do meu espanto,
mas logo volta a ficar séria. — Apavorada. Eu estava apavorada com
medo de te perder.
Ela desvia o olhar para a janela e sinto um aperto no peito.
Não era para ser assim.
— Ei — pego seu queixo com meus dedos e faço com que
seus olhos cor de mel me encarem. — Você não precisa se
preocupar, eu ainda estou aqui.
Ela dá um pequeno sorriso, mas enxergo o brilho nos seus
olhos. Hanna está se segurando para não derramar as lágrimas que
querem descer pelo seu lindo rosto. Tenho vontade de pegá-la no
colo e abraçá-la para nunca mais soltar. Com o polegar faço carinho
na sua bochecha e ela inclina de leve a cabeça.
— Vou estar sempre do seu lado, isso nunca vai mudar — eu
estava sendo sincero.
Durante o resto do voo não falamos mais nada. Hanna não
voltou a dormir e ficou assistindo uma série no celular. Já eu fiquei
mexendo no meu e de vez em quando olhava por cima do aparelho
para conferir se ela estava bem.
Quando pisamos em solo firme, um carro já estava nos
aguardando. Hanna não olha na minha cara ou fala comigo. Preciso
achar uma forma de fazer com que ela pelo menos converse comigo
por um minuto que seja. Não podemos acabar com as coisas dessa
forma.
— Kyller — chamo o soldado que se aproxima do carro. —
Peça outro carro, eu mesmo vou dirigindo para a mansão.
Ele assente e se afasta pegando o celular. Vou em direção ao
carro e abro a porta do passageiro para que Hanna entre. Ela revira
os olhos e suspira antes de entrar. Dou a volta no veículo e sento no
banco do motorista, não demorando para dar partida e seguir o
caminho até a casa dela.
Observo com o canto do olho Hanna se movimentando no
banco ao meu lado e mexendo no som do carro, colocando uma de
suas playlist para tocar. Não demora para a voz da Taylor Swift[29]
invadir o carro. Não me pergunte como sei, convivo com a garota e
sua prima há anos, então, consigo reconhecer a voz da cantora.
Ficamos em silêncio e só a voz dela preenche o ambiente. Tenho a
impressão que já escutei essa canção em algum momento, o que
não seria surpreendente.
— Say you’ll remember me — ela canta baixinho, olhando
para as ruas movimentadas de Nova Iorque do lado de fora. —
Standing in a nice dress…[30]
E continua a cantar a música. Sua voz é recheada de tristeza,
como se ela estivesse cansada de tudo. Como se estivesse
quebrada.
Hanna está magoada.
Meus dedos seguram o volante com mais força do que é
necessário e os nós dos meus dedos ficam brancos.
Eu não deveria ter cedido.
Vários pensamentos preenchem minha mente e não sei o que
fazer. A verdade é que não quero me casar com Melanie, mas sei
que Hanna não vai mudar sua opinião. Ela quer proteger a minha
amiga e percebo que está sofrendo com isso.
Hanna tenta se manter forte, tenta dar uma de durona, mas eu
sei que por trás de tudo isso tem uma garota machucada. Flashes da
noite do seu aniversário de dezoito anos invadem minha mente e
tento afastá-los, não preciso ficar lembrando disso agora.
— Avisou meu irmão? — Sua voz me traz de volta a realidade
e assinto. — Você está me levando para casa, mas nem sabe se a
reunião será lá ou no escritório.
— Descubro quando chegar lá — dou de ombros. — Primeiro
vou te deixar em casa, como combinado.
— Você não precisa cuidar de mim — ela fala um pouco rude,
no entanto, decido ignorar.
— Sempre te tratei assim, não será agora que isso vai mudar
— desvio rapidamente o olhar do trânsito para vê-la fechando os
olhos. — Além disso, já fui seu cúmplice várias vezes quando queria
se livrar do seu irmão.
— Vai usar isso contra mim agora? — Ela se vira para mim e
pelo canto do olho consigo ver que está me olhando irritada.
— Não, Hanna — me sinto derrotado, concluindo que não vou
conseguir conversar direito com ela.
— Você não precisa ficar todo atencioso só porque…
— Achei que o acordo fosse o que acontece em Vegas fica
em Vegas — decido usar suas palavras contra ela.
Não quer falar sobre nós? Ok! Então não vamos citar o que
aconteceu.
— Touché! — Ela volta a olhar pela janela a movimentação
das pessoas nas ruas nova-iorquinas.
Já está tocando outra música da sua playlist e essa eu ainda
não tinha escutado. Confesso que não presto atenção na letra, a
única coisa que se passa pela minha cabeça é largar tudo, virar o
carro e levar essa mulher para a cabana da minha família. Lá
poderíamos conversar com mais calma, conseguiria fazer com que
ela me escutasse e decidiríamos o que vamos fazer a partir de
agora.
— Matteo — ela me chama e olho rapidamente na sua direção
antes de voltar minha atenção para o trânsito.
— O que? — Questiono quando vejo que ela ficou quieta.
— Desculpa, ok? Eu não tô no meu melhor momento e prefiro
ficar sozinha na minha. — Suas palavras fazem meu coração apertar
dentro do peito e sinto uma pontada de dor. — Só preciso de um
tempo afastada para colocar os pensamentos no lugar.
— Tudo bem… Mas o que você quer dizer exatamente com
isso? — Aproveito o sinal fechado para olhar na sua direção e a vejo
respirar fundo.
— Que nada vai mudar, você ainda vai fazer parte da minha
vida. — Dá um sorriso de lado que enche meu peito de esperança.
— Você ainda será meu cúmplice! — Pisca um olho e não consigo
conter o sorriso.
— Fico feliz em escutar isso, pequena.
Tenho que voltar minha atenção para frente quando escuto
uma buzina e percebo que o sinal já está aberto. Continuamos o
caminho em silêncio, às vezes escuto sua voz cantando baixinho
uma das canções que toca no som do carro.
Eu quero não pensar nisso, entretanto, minha mente fica
repetindo suas palavras na minha cabeça.
Você ainda vai fazer parte da minha vida.
E isso é tudo que eu preciso saber, pelo menos por enquanto.
Capítulo 31
Eu não menti quando disse que quero que ele faça parte da
minha vida. Matteo sempre esteve ao meu lado e não sei se consigo
imaginar um dia não tê-lo ali. Porém, não podemos ficar tão próximos
agora, preciso de um tempo para organizar meus sentimentos e
entender tudo que aconteceu, as decisões que tomamos nessa
última semana.
Entramos pela porta da mansão e logo vejo meu irmão descendo
as escadas. Nicolas está com um sorriso no rosto e se aproxima,
dando um abraço em nós dois.
— Finalmente chegaram — ele deposita um beijo na minha testa.
— Conseguimos o que você precisava e voltamos logo depois,
Nicky — falo como se não fosse nada demais.
— Nunca duvidei de vocês — meu irmão afirma e arqueio a
sobrancelha.
Duvido que ele não tenha duvidado, nem que tenha sido por
um milésimo de segundo. Pela pequena careta que ele tenta
disfarçar, deduzo que estava certa.
— Onde será a reunião? — Matteo questiona o amigo.
— No escritório. Michael e Tyler me mandaram mensagem e já
estão indo para lá — meu irmão faz uma pequena pausa. — Nossos
pais vão direto do aeroporto.
— Nosso pai já está de volta? — Nicolas assente. — Não sabia
que já tinham resolvido a situação das ameaças.
— Não resolveram — ele solta o ar pesadamente. — Por isso,
não deixe Sophia sair de casa, por favor.
— Tudo bem. Onde ela tá? — Olho ao redor da sala e tento
prestar atenção se escuto algum barulho.
— No quarto dela — ele olha em direção a escada, mas logo
voltou sua atenção para mim. — Nós temos que ir, mas depois
conversamos melhor, ok? Quero saber de tudo!
Estremeço com o que diz. Definitivamente ele não quer saber
tudo que aconteceu. Minha mente traz à tona lembranças das noites
quentes que tive com Matteo, mas trato de afastá-las.
Ambos saem pela porta e vejo quando Matteo olha para mim
antes de desaparecer do meu campo de visão. Respiro fundo e
decido que preciso desabafar com alguém sobre tudo que aconteceu
para não surtar.
Subo as escadas e logo estou abrindo a porta do quarto de
Sophia. Minha prima está olhando o celular, mas o deixou de lado
quando me viu parada na sua porta.
— Você chegou — seus lábios se abrem em um sorriso. —
Não escutei barulho de vocês, estava em uma chamada de vídeo
conversando com o…
Ela para de falar quando vê que não saí do lugar e suas
expressões mudam de felicidade para preocupação. Sinto que a
primeira lágrima transborda do meu olho e vejo minha prima pular da
cama, vindo na minha direção.
— O que aconteceu? — Sua voz demonstra toda a
preocupação que está sentindo.
— Está pronta para cumprir sua promessa? — Não controlo
mais minhas lágrimas e meus olhos molhados encontram os seus
confusos. — De colar cada pedacinho do meu coração?!
Sophia suspira e assente com a cabeça. Ela me guia até sua
cama e me faz deitar com a cabeça na sua perna, fazendo carinho
nos meus cabelos.
— Quer conversar sobre o que aconteceu? — Ela pergunta e
começo a narrar tudo.
Não escondo nada dela, porque sei que Sophia não vai me julgar.
As únicas coisas que não conto são as que envolvem Melanie, não
posso contar sobre algo que não me diz respeito. Sophia escuta tudo
em silêncio, sem me interromper para fazer perguntas ou
comentários sobre o que aconteceu.
Sinto um alívio ao colocar tudo o que estou sentindo para fora e
as lágrimas já estão secas no meu rosto. Estava precisando fazer
isso, e nada melhor do que fazer com a minha melhor amiga. Sei que
ainda vou ter um longo processo pela frente para colar cada
caquinho do meu coração, mas também sei de uma coisa....
— Não me arrependo de nada — sento na cama, ficando de
frente para minha prima, e cruzo as pernas. — Eu sei que se tivesse
a oportunidade, faria tudo novamente…
— Porque você o ama — Sophia completa e assinto.
Eu amo Matteo e estou cansada de esconder isso do mundo. Sei
que não vamos ficar juntos, mas dói ter que esconder essa parte de
mim. Ele deve ter percebido nesses últimos dias que eu tenho
sentimentos por ele, então, por que continuar escondendo dos
outros?
Meu coração aperta no peito só de imaginar ele se casando com
Melanie, mesmo eu sabendo a verdade por trás do evento. Sinto
minha vista embaçar novamente por conta das lágrimas que querem
escapar.
— Um dia essa dor vai passar? — Questiono minha prima, que
dá um sorriso fraco.
— Você aprende a lidar com ela conforme o tempo vai passando
— ela solta um longo suspiro antes de continuar. — Ela vai
diminuindo com o tempo, mas não passa. Pelo menos comigo ela
ainda não passou.
— Soph… — pego sua mão e vejo ela levando a outra para secar
uma lágrima que teimou em cair dos seus olhos verdes.
— Não vamos falar sobre isso, ok? Meu dever hoje é curar esse
seu coraçãozinho teimoso — aponta para meu peito.
— Você também precisa se abrir comigo — tento fazer com
que ela liberte tudo aquilo que guarda somente em seus
pensamentos.
Somos grudadas desde o nascimento, já que ela é só um mês
mais velha do que eu e nossos pais são basicamente primos-irmãos.
Apesar de sermos muito amigas, Sophia é mais fechada. Enquanto
eu consigo falar sobre tudo da minha vida com ela, Sophia não gosta
muito de ficar falando sobre seus sentimentos.
Uma hora ela vai te contar, ela sempre conta no final.
Sophia levanta da cama e balança a cabeça, como se para
afastar seus pensamentos.
— O que acha de treinarmos? — Ela começa a procurar roupa
na gaveta da cômoda. — Podemos extravasar tudo que sentimos em
um saco de areia.
— Pode ser… — considero sua ideia e não encontro um motivo
para recusar sua proposta. — Vou só me trocar e te encontro no
jardim.
Vou para meu quarto para deixar minha bolsa e me trocar para ir
treinar. Coloco uma legging preta e um top lilás, amarrando o cabelo
em um rabo despojado. Resolvo deixar o celular no quarto e caminho
em direção ao jardim, onde encontro minha prima já colocando as
luvas.
Não conversamos durante o todo o treino e nem precisávamos na
verdade. Quando terminamos, estou exausta e me sentindo ainda
mais leve. Ela estava certa, socar um saco de areia ajudou a
extravasar tudo aquilo que estava sentindo.
— Você voltou!
Olho para a porta que dá acesso a casa e encontro Abby e
Bianca. As duas estão vestidas com roupas casuais e estão
carregando uma mochila. Não compreendo o que estão fazendo aqui
e porque carregam uma bolsa que deve estar cheia de coisa, já que
parece estar pesada.
— Voltei hoje… O que vocês estão fazendo aqui com tudo isso —
aponto para elas e suas mochilas — a essa hora? Já está tarde!
Nós chegamos no fim da tarde e depois de conversar com Sophia
e vir treinar no jardim, o tempo acabou passando muito rápido. O céu
já está escuro e as estrelas brilham, iluminando a noite.
— Ah, esqueci da noite das garotas — Sophia fecha os olhos e
coloca a mão na testa.
— Noite das garotas? — Questiono confusa.
— Já que a senhorita — Bianca aponta para minha prima — não
pode ficar saindo de casa, nós combinamos de fazer uma noite das
garotas hoje.
— Não queríamos que ela se sentisse sozinha e como você
estava viajando… — Abby se justifica.
— Entendi — sorrio.
Fico feliz por minha amiga e uma das amigas do meu irmão se
preocuparem com a minha prima. Sophia deve estar a ponto de
enlouquecer, já que só sai de casa em raras ocasiões até que a
ameaça seja neutralizada. Vi a forma que socou o saco de areia, ela
quer matar alguém.
— Bom, mais uma para participar da nossa noite! — Bianca tem
um sorriso endiabrado no rosto. — Que tal iniciarmos com a
diversão?
— O que tem em mente? — Sophia se aproxima dela e vejo
quando Bianca pega uma garrafa de tequila da sua bolsa.
— Quem não tem problemas para esquecer, não é mesmo? —
Bianca dá de ombros, Sophia prende seu braço no dela e ambas
entram em casa.
— Você tá bem? — Abby se aproxima de mim com um olhar
preocupado.
Eu gosto muito da amizade dela, mas não quero ficar
novamente falando sobre o que estou sentindo. Uma vez no dia já
está bom, preciso esquecer.
— Ótima! — Engancho seu braço no meu e a guio para a
casa. — Vamos nos divertir essa noite e amanhã conversamos
melhor, ok?
Abby assente e vamos ao encontro das outras meninas.
Ambas já estão sentadas na sala de cinema e conversam sobre uma
série nova de fantasia que estão assistindo. Ficamos conversando e
rindo sobre assuntos aleatórios. Um tempo se passa e minha mãe
aparece na fresta da porta para nos dar boa noite.
— Seus irmãos já foram dormir, então não façam muito
barulho — ela pede e todas nós assentimos.
— Buona notte, zia! — Sophia fala e minha mãe sorri antes de
fechar a porta.
Continuamos nossa diversão de garotas: assistimos uma
comédia romântica, comemos, bebemos, dançamos e escutamos
Bianca, que já está um pouco alterada, choramingando sobre o seu
último romance.
Durante aquelas horas, eu consigo esquecer a dor existente
no meu coração e não fico pensando no homem que amo.
Capítulo 32
A reunião ontem não foi fácil. Tivemos que montar um esquema
para descobrir todos os nossos homens que estão envolvidos com
os russos e no final minha cabeça estava fervendo. Eu só queria ir
para casa. Já estava cansado da viagem, de toda situação com
Hanna, e ainda tive que ficar em uma reunião que durou horas.
Quando cheguei no meu apartamento, só joguei a mala no
closet, tomei uma ducha e caí na cama. O cansaço estava tanto que
só acordei agora com os raios batendo no meu rosto, porque esqueci
de fechar a cortina ontem antes de me deitar.
Ainda não levantei, estico meu braço para pegar meu celular
na mesa de cabeceira e vejo que já tem mensagens do meu pai e de
Nicolas. Ambos estão pedindo para que eu vá ao prédio onde fica o
escritório ainda pela manhã para resolver algumas coisas que
ficaram pendentes. Achei que tudo estivesse resolvido ontem, mas
parece que estava enganado.
Respiro fundo, jogo minhas pernas para fora da cama e me
sento, apoiando os cotovelos no joelho e minhas mãos segurando a
cabeça, passando os dedos pelo cabelo bagunçado. Será que posso
arranjar uma desculpa e ficar em casa só hoje?
Meus pensamentos são interrompidos por uma nova
notificação de mensagem. Penso em ignorar, pode ser só um dos
meninos me enchendo a paciência logo cedo. Pensando melhor,
pode ser uma mensagem de Hanna ou até mesmo da Mel, então,
resolvo conferir e estava certo.
“Oi. Não precisa se preocupar comigo, ok? Tô bem! Só
queria te avisar que teve uma pequena mudança nos planos e
vou voltar para casa somente no dia do jantar da benção do
Capo. Desculpa!”
Ótimo, tudo que eu precisava no momento.
Não vou ter tempo de conversar pessoalmente com Melanie
sobre nossa situação. Meus dedos apertam o celular com força e
estou com vontade de socar algo. Olho que horas são e vejo que
ainda tenho um tempo antes de comparecer no escritório, portanto,
resolvo ir treinar um pouco.
Quando me mudei da casa dos meus pais há quase um ano,
resolvi comprar com minhas economias uma cobertura no centro de
Nova Iorque. Um apartamento com 5 quartos era enorme para uma
única pessoa, então, resolvi transformar um dos quartos em uma
mini academia e é para lá que estou indo neste exato momento.
Entro no cômodo e já coloco minha luva de boxe, me
preparando para extravasar tudo o que estou sentindo em um saco
de pancadas.

— Bem vindos, meninos! — É a primeira coisa que senhor


Collalto fala quando entramos no seu escritório.
Estamos os quatro enfileirados: Nicolas, eu, Michael e Tyler,
nessa ordem. Meu pai e Giuseppe, pai de Michael, estão de pé ao
lado da mesa do nosso Capo. Consigo perceber que meu melhor
amigo está nervoso, mas não me atrevo a olhar para o lado.
Sinto como se fôssemos adolescentes novamente e
tivéssemos feito alguma merda. Estamos todos tensos, esperando a
bronca que o pai de Nick vai nos dar. Qual será o castigo da vez? Eu
nem sei o que fiz de errado para início de conversa. Quer dizer… Eu
até tenho um motivo, mas ele não sabe.
Ninguém sabe, idiota! A voz na minha cabeça grita e tenho
que concordar. As únicas pessoas que sabem o que realmente
aconteceu em Vegas sou eu e Hanna e é impossível que ela tenha
contado algo para o pai.
— Vocês sabem por que pedi que viessem hoje? — Nosso
Capo questiona.
— Porque ainda temos algumas coisas para resolver —
Nicolas é quem responde. — Pelo menos foi isso o que o senhor
falou.
— Sim, você está certo mio figlio. — O pai do meu melhor
amigo se encosta na cadeira e fica nos observando. — Algum palpite
do motivo?
O silêncio toma conta da sala e nós quatro nos entreolhamos.
Não, definitivamente não sabemos o motivo. Todos nós estamos
confusos.
— Vocês passaram no teste! — Nosso Capo solta a frase
como se não fosse nada demais.
— Nós… — Nicolas tosse para se recompor — nós passamos
no teste? — Meu amigo está incrédulo, na verdade, acho que todos
nós estamos.
Alessandro Collalto levanta da sua cadeira, dando volta pela
mesa, e fica de frente para o filho. Consigo enxergar a emoção em
seus olhos e já imagino o que ele dirá a seguir.
— Neste momento — ele dá uma pequena pausa — eu
renuncio o cargo de Capo da máfia italiana nos Estados Unidos. A
partir de agora, o Capo será você mio figlio, Nicolas Collalto.
Meu olhar viaja entre pai e filho. Nicolas também está
emocionado, foi treinado desde pequeno para assumir o cargo do
pai. Olho para o meu e ele acena com a cabeça, dando sua benção
a mim.
— Farei meu melhor, papà! — Meu amigo aperta a mão do pai e
abraça-o.
— Ainda teremos o evento para oficializar a troca do comando
para todos associados e parceiros — avisa o pai de Michael se
aproximando de nós. Ele coloca a mão no ombro do sobrinho. —
Provavelmente sua mãe vai querer organizar tudo, bambino.
— Enquanto não for formalmente oficializada a troca, nós vamos
dar suporte a vocês. — O pai de Nicolas completa. — Não vamos
entregar tudo de uma vez sem ajudá-los. Sabemos que estamos
passando por uma situação delicada.
— Além disso — é a vez do meu pai se aproximar e ele coloca
a mão no meu ombro, apertando de leve o local — muitos vão ser
contra a entrada de vocês no poder. São muito jovens e eles podem
desrespeitá-los.
— Não importa o que aconteça, estaremos aqui para apoiá-los
sempre! — Senhor Giuseppe sorri em direção a Michael.
Tyler é o único que não está recebendo o cargo do pai. Sua
família faz parte da Famiglia, mas seu pai é um dos soldados. Como
qualquer chefe, Nicolas poderia escolher quem gostaria de ter ao seu
lado e ele nos escolheu. Calhou que Michael e eu ficamos com os
cargos que eram dos nossos pais.
— Giuro che darò il mio sangue per la Famiglia[31] — Nicolas
profere o juramento que fizemos quando completamos a iniciação.
— Lo so, mio figlio[32] — seu pai faz o sinal da cruz na sua
testa. — Era isso que tínhamos a dizer, agora já estão dispensados
por hoje.
— Achei que tinha renunciado ao cargo, zio. — Michael deixa
transparecer seu lado brincalhão.
— Vamos deixá-los ter um último dia como jovens e amanhã
vocês iniciam oficialmente o trabalho — seu pai é quem responde,
dando tapinhas no seu ombro.
— Vocês sabem que a gente — Tyler fala pela primeira vez
desde que entrou na sala e aponta para nós quatro — não é um
bando de jovens comuns desde os catorze anos, né?
Triste, mas é a nossa realidade. Não fomos criados como
crianças ou adolescentes comuns. O Capo, quer dizer, o pai do meu
melhor amigo esboça um pequeno sorriso e assente.
— Então, aproveitem o dia como preferirem. Será a última
chance de vocês conseguirem viver algo normal — faz aspas com os
dedos ao pronunciar a última palavra — antes que as
responsabilidades tomem conta de vocês.
Ele não precisa dizer novamente. Nós começamos a sair da
sala para ter o nosso último dia sem o peso das nossas
responsabilidades nas nossas costas. Estamos caminhando até o
elevador, quando escuto meu pai me chamar.
— Matteo — ele se aproxima e coloca a mão no meu ombro.
— Podemos conversar? Será rápido!
Afirmo com a cabeça e aviso os meninos que eles podem ir na
frente, que logo os alcanço. Meu pai me guia até a sua sala e nos
sentamos no sofá que tem ali.
Apesar de sermos homens da máfia e a maioria do nosso
trabalho envolver coisas ilegais, existem algumas empresas legais,
como um restaurante cinco estrelas e os clubes, que servem de
fachada para os negócios. Por isso, existe o escritório em um prédio
comercial no centro da cidade.
— Filho, queria conversar com você sobre seus próximos
passos — ele dá uma pausa e me olha com pesar. — Você sabe o
que te aguarda, mas quero saber se você se sente preparado para
isso.
— É o meu destino praticamente desde que nasci. Não era
segredo para ninguém que eu iria ser o sucessor do seu cargo, pai.
Estou pronto para isso! — Tentei soar o mais firme possível.
— Ótimo! — Meu pai assente e percebo um pequeno sorriso
no seu rosto. Ele está orgulhoso. — A sua sorte é que já estará noivo
quando o anúncio oficial for feito, então a pressão em cima de você
será menor. Muitos irão te respeitar por já ter um relacionamento
estável.
Sinto um aperto no peito ao escutar as palavras de meu pai.
Estarei noivo de Melanie quando a festa da troca de comando
acontecer. Minha mente cria cenários de como vai ser: eu ao lado da
minha futura esposa tendo que ver idiotas tentando conquistar a
atenção da mulher que eu realmente… Merda! Não quero nem
imaginar como vai ser.
— Pode ir, filho — meu pai coloca a mão na minha perna, me
trazendo de volta a realidade. — Vá aproveitar o dia com seus
amigos. Tenho algumas coisas pendentes para resolver antes de
passar tudo para você.
Aceno com a cabeça e saio da sua sala. Faço todo o trajeto
até a garagem do prédio em estado automático, já que vim muitas
vezes aqui e sei o caminho de cor. Minha imaginação criando vários
cenários do meu futuro e eu tentando afastar esses pensamentos.
Quando chego perto do carro que meus amigos estão, eles
me olham preocupados. Conhecendo os três, sei que querem saber
o que meu pai queria falar comigo em particular.
— Nada demais, não se preocupem — falo com indiferença.
— Ok! — Michael dá de ombro e cruza os braços, se
encostando na lataria do carro. — O que vamos fazer?
— Podemos ir ao Trix nos divertir, o que acham? — Ty sugere.
— Ainda tá muito cedo pra isso. — Nicolas pensa um pouco
antes de sugerir. — Podemos ir lá pra casa jogar um pouco e mais
tarde vamos para o clube, o que acham?
Michael e Tyler concordam na hora, enquanto penso um
pouco antes de responder. Ir para a casa do meu melhor amigo é
algo que sempre fiz, mas Hanna pediu um tempo. Será que devo
recusar e ficar um pouco afastado? Todos os três estão me
encarando esperando uma resposta e resolvo correr o risco de
receber um olhar raivoso da minha pequena.
— Por que não? Vamos lá! — Digo já indo em direção a porta
do carona.
Todos entramos no carro e partimos em direção a casa de
Nicolas.
Capítulo 33
Quando entramos na sala percebemos que a casa estava um
silêncio total, o que é bem estranho neste horário. O dia estava lindo,
com céu azul e sol quente, o que indicaria que Hanna e Sophia
estariam tomando sol e escutando música alta enquanto Maya
estaria nadando.
Giulio sai do corredor que dá na cozinha com seu fone de
ouvido e está concentrado mexendo no celular. Ele nem repara que
estamos aqui. Nicolas se aproxima do irmão mais novo, que reclama
quando seu fone é tirado de um lado do ouvido.
— Você não tem mais o que fazer não? — Questiona o
adolescente ao irmão mais velho.
— Cadê todo mundo? — Nicolas utiliza seu tom autoritário.
— Mamãe saiu com as meninas para fazer compras. — O
garoto não tem medo de encarar o irmão. — Algo mais?
— Pode voltar pro seu mundo tecnológico. Vou com os
meninos — aponta para nós e finalmente Giulio percebe nossa
presença — para a sala de jogos.
— Ok — ele dá de ombros e sai em direção às escadas que
levam ao segundo andar da casa.
Pelo menos não vai ter que encarar Hanna. Minha mente
relaxa com a constatação de que meus olhos não vão encontrar com
os dela.
Passamos a tarde jogando videogame e conversando sobre
assuntos aleatórios. Senhora Fiori veio nos chamar para o almoço e
a tarde trouxe sanduíches com refrigerante para nós. Agora já está
ficando tarde e finalmente estamos indo para o clube.
Estamos na sala, decidindo se vamos com motorista ou se um
de nós vai dirigindo, quando a porta da frente se abre e a senhora
Collalto entra com as meninas logo atrás. Ela coloca um sorriso no
rosto quando nos vê e se aproxima.
— Estão bonitos — avalia todos nós de cima a baixo. — Vão
sair?
— Comemorar o último dia de folga, zia! — Michael se
aproxima dela e deposita um beijo na sua bochecha. — Primas! —
faz o mesmo com as meninas.
— Folga? — Maya pergunta confusa e Nicolas a pega no colo.
— Você ainda é muito nova para entender, lindinha — beija a
bochecha gorducha da irmã.
— Então seu pai falou com vocês… — a mãe do meu amigo
fala apreensiva.
Sinto um olhar queimando a minha pele e logo encontro os
olhos cor de mel de Hanna na minha direção. No entanto, ela acaba
desviando sua atenção quando escuta a voz do irmão.
— Chegou a hora — ele é sucinto.
— Muito bem — ela suspira — aproveitem a noite!
Senhora Collalto pega a filha mais nova do colo do meu amigo
e caminha em direção a escada, falando com a criança que está na
hora do banho. Hanna e Sophia tentam seguir os passos da mulher,
mas são interrompidas por Nicolas.
— Não vai falar nada, sis?
Sua irmã é a única que vira em direção a ele, enquanto
Sophia nem se dá ao trabalho de olhar.
— Você sabe que estarei aqui se precisar de mim! — Hanna
diz com um pequeno sorriso nos lábios rosados e pisca um olho para
ele. Nicolas assente e sorri de volta.
— E você, priminha? — Michael chama a atenção da outra.
— Boa sorte! — As palavras saem secas da boca de Sophia.
Ela olha para todos nós com um sorriso fraco nos lábios. — Eu sei
que vão precisar.
As duas voltam a caminhar em direção a escada e logo
desaparecem do nosso campo de visão.
Não culpo Sophia pelo tom que usou ao nos desejar sorte. Ela
vê há anos o que seus irmãos passam no comando da máfia na
Itália. Sabe que vamos passar por muitos momentos complicados,
como o que seu irmão está passando agora, por exemplo, com as
ameaças a sua família.
Se as coisas já não eram comuns para nós, vai mudar mais
ainda a partir de amanhã.

— Desembucha logo! — Tyler senta ao meu lado no banco.


Estamos no clube já tem um tempo e cada um dos meus
amigos desapareceu pelo local. O único que realmente vi para onde
estava indo foi Nicolas, que estava a caminho de uma das salas
reservadas com uma morena ao seu lado. Ele ainda vai se
arrepender um dia. Mas isso não é da minha conta, eu já o alertei
sobre isso e ele não gosta de falar sobre. Minha parte como amigo
eu já fiz.
Por isso me assusto quando Tyler aparece ao meu lado. Não
o vi se aproximando, concentrado na minha bebida e nos meus
pensamentos.
— Não tenho nada a dizer — declaro girando o copo de
uísque e vendo os gelos rodando.
— Não mesmo? — Ele questiona e olho na sua direção. Meu
amigo está com uma sobrancelha erguida e espera uma resposta.
Tyler é uma boa opção para desabafar. Ele não está diretamente
ligado a Hanna.
— Ok! — Me viro de frente para ele. — Mas tem que jurar que
não vai contar para ninguém, vai ficar quieto, e que esse assunto
morre aqui.
— Então o assunto é sério mesmo… — um sorriso sacana
estende por seus lábios. — Sou todo ouvidos.
— Transei com a Hanna — solto de uma vez, antes que mude
de ideia. Eu preciso falar com alguém sobre isso.
— PUTA QUE PARIU — Ty grita e recebemos olhares das
pessoas que estão próximas, curiosas para saber o que aconteceu.
— Cala a boca, idota! — Bato na sua cabeça e ele reclama,
levando a mão no local. — Eu disse que era para ficar quieto.
— Você transou com… — ele para de falar e arregala os
olhos, parecendo que se lembrou de algo. — Você tem uma noiva!
— É complicado, Ty. Não posso falar sobre isso com você. —
Não dou brecha para ele falar sobre essa questão e ele compreende
meu pedido.
— Ok, não falaremos sobre isso. — Ele pega a sua garrafa de
cerveja e leva a boca, tomando um gole da bebida.
Ficamos pouco tempo em silêncio, ambos observando as
pessoas passarem por nossa mesa. Estamos na área vip, então
acaba sendo uma área menos movimentada. Tyler não olha pra mim
quando inicia a próxima pergunta.
— Por favor, não me diga que você foi… — ele não completa
a frase, no entanto, eu sei o que ele iria perguntar.
— O primeiro cara dela? — Vejo meu amigo assentir com os
olhos fechados. Como demoro para responder, ele abre os olhos e
me encara. — Fui.
— Caralho, Matteo! Você fez a cagada completa. — Tyler
passa a mão no cabelo.
— Não foi assim. As coisas só acabaram acontecendo e eu…
— paro de falar e solto um suspiro.
Sinto os olhos de Tyler me analisando e levo o copo com a
bebida destilada na boca, ingerindo todo o líquido que estava ali.
Aceno para o garçom e peço outra rodada.
— Você gosta dela — ele afirma.
Não vou negar o que ele acabou de dizer. Se eu quero,
preciso desabafar com alguém sobre isso, tenho que admitir tudo
que sinto por aquela garota.
— Acho que está um nível acima de gostar, Ty.
— Puta que pariu, viu? — Tyler balança a cabeça, como se
não acreditasse no que está escutando. — Vai falar com o Nick?
— Não posso — respondo prontamente e ele assente.
— Michael? — Ele questiona e nego novamente.
— Eles são parte da família dela, esqueceu?
— Espera — Ty me lança um olhar incrédulo. — Você só me
contou porque fui sua última opção?
— Para de drama, Tyler! — Bato no seu ombro e ele leva a
mão ao peito.
— Você me machuca com suas palavras — meu amigo faz
uma leve encenação.
Não consigo evitar um sorriso na sua direção e ele ri. Sei o
que Tyler está tentando fazer, ele quer suavizar o clima pesado que
ficou após a minha revelação. Mesmo sendo o mais sério de nós
quatro, existem raros momentos em que ele brinca assim. Sorte dele
que, apesar de tudo o que está acontecendo na minha vida, estou de
bom humor hoje.
— Mas me conta, como foi? — Ele questiona e olho para ele
sem entender de onde surgiu a ideia de entrar nesse assunto. Tyler
nem espera uma resposta e balança a cabeça. — Esquece, não
quero saber. Hanna é como uma irmã pra mim.
— Nem ia responder, Ty — tomo outro gole da bebida que o
garçom trouxe.
Tyler pergunta como foi a missão em si e acabo contando
como Hanna não teve medo de bater em Marlon. A pequena é fofa
na maior parte do tempo, mas tem seu lado sombrio quando mexem
com os seus. Acho que todos nós temos esse lado, uns mais que os
outros.
Um tempo passa e avisto Michael e Nicolas caminhando na
nossa direção. Ambos estão um pouco bagunçados, o que comprova
o que estavam fazendo. Michael senta na frente de Tyler e Nicolas
na minha, e ambos pedem suas bebidas.
— Eu peguei uma loirinha sensacional hoje — Michael
começa a descrever a garota e meu foco vai para Nicolas. Espero
ele terminar de falar para perguntar.
— E você Nick? — Meu amigo me dá um olhar de poucos
amigos.
— Eu o que? — Leva o copo com vodka a boca e vira o
conteúdo de uma única vez.
— Se divertiu hoje? — Nossos olhos travam uma batalha
silenciosa e os outros dois nos encaravam sem entender.
Não adianta negar, eu sei.
— Peguei uma novinha gostosa. Era isso que queria saber?
— Questiona em tom irritado e solto uma risada debochada. — Não
enche a porra do saco hoje, Matteo!
Levanto minhas mãos em rendição. Eu desisto de tentar fazer
ele ver o que está fazendo com a própria vida. Nicolas uma hora vai
cair na real e quando isso acontecer pode apostar que estarei ao seu
lado dizendo “eu avisei”.
— Vamos parar com isso e aproveitar nossa noite? — Ty tenta
acabar com o clima ruim que se instaurou.
— A noite ainda nem começou, meus amigos! — Michael fala,
mas seus olhos estão comendo uma ruiva que está no bar.
— Amanhã teremos um longo dia — Nicolas pega o copo e
leva ao centro da mesa. Nós fazemos o mesmo que ele em um
brinde que consagra nossa nova fase da vida.
Capítulo 34
Já estamos no comando da máfia há três semanas. Muito
trabalho tem nos consumido e muita dor de cabeça também.
Tivemos que lidar com a perda de uma de nossas cargas, porque os
russos nos pegaram desprevenidos e roubaram tudo que havia no
local. Obviamente encontramos os culpados por darem as
informações daquela entrega e eles foram castigados.
Hoje foi mais um dia exaustivo de trabalho, neste caso, tive que
lidar com uma pilha de papéis e analisar se todas as entregas do
próximo mês estavam programadas corretamente. Nicolas ocupou-
se com as empresas de fachada, Michael ficou responsável por
passar em todos os nossos estabelecimentos para ver se tudo
estava de acordo e Tyler passou o dia em treinamento com os
soldados.
Quando Nicolas me convidou para ir a sua casa no final da tarde
para treinarmos juntos, não hesitei em aceitar o convite. Confesso
que nos últimos tempos tenho evitado vir à casa do meu melhor
amigo, pois não quero encontrar Hanna. Decidi dar o tempo que ela
queria para organizar os meus pensamentos também.
Preciso aceitar que daqui a pouco minha vida será outra: vou me
casar com Melanie.
— Você não está focado — meu amigo reclama, deferindo um
soco forte na minha mão e quase acertando meu rosto. — Está
vendo?
— Desculpa, muita coisa na cabeça — balanço as mãos com as
luvas e sinalizo para ele voltar a socar.
— Sobre o trabalho ou a sua noiva? — Ele volta a deferir socos
na minha mão.
Nicolas sabe que ando preocupado com Melanie, mas não me
pressiona para contar o motivo. O que ele não sabe é que, além de
pensar na minha futura noiva, estou me culpando por ter magoado
Hanna.
— Os dois — dou de ombros. — Não está sendo fácil manter a
cabeça longe das duas coisas nas últimas semanas — ou das três:
Trabalho, Melanie e Hanna.
— O grande dia está chegando — ele tem um sorriso sacana no
rosto. — Sabe que vou adorar, né?
— Qual parte? — Questiono tentando esconder o sorriso. — Ser
a pessoa que vai dar a bênção ou ser o responsável pelo fim da
minha vida de solteiro?
— Ambas! Eu nunca imaginei que seria eu o responsável pela
bênção do seu casamento — ele balança a cabeça de um lado para
o outro e solta uma risada.
— Mas você já é o Capo — falo o óbvio. — Só falta a festa,
que é um pequeno detalhe irrelevante.
— Não, seu idiota! — Ele soca meu braço. — Eu não
imaginava isso, porque achei que demoraria para você arranjar
alguém.
— Tinha tanta pouca fé em mim assim? — Debocho e ele
revira os olhos. — Para sua informação, sempre fui o mais quietinho
de nós quatro — paro e penso um pouco. — Melhor, acho que sou o
mais calmo de nós cinco. Até Bianca consegue ter uma vida mais
agitada que a minha.
— Não vou negar — gargalhamos juntos.
— Mas tem uma coisa que você nega até a morte se for
preciso — nem preciso dizer muito, porque ele entende.
— De novo não, Matteo! — Ele já começa a ficar irritado.
— Sempre consigo mexer em um botãozinho seu quando toco
no assunto… — estalo a língua e ele me lança um olhar desafiador.
— O que quer dizer com isso? — Ele ergue a sobrancelha.
— Você sabe, não precisa que eu desenhe — sorrio cínico
para ele.
Às vezes é tão fácil implicar com Nicolas. Ele nem tenta
disfarçar quando está de mal humor ou irritado com algo.
Não percebo quando ele vem me atacar e só me dou conta do
que está acontecendo quando já estou no chão. Nós dois entramos
em uma briga idiota, ambos rindo em meio a socos, suados e
rolando no chão da academia da mansão.
— Que fofos, parecem duas crianças.
Não escutamos ninguém se aproximando, estávamos muito
concentrados no nosso pequeno duelo. Olho para a porta e encontro
Sophia com uma cara de deboche, de braços cruzados, encostada
no batente da porta. Saio de cima de Nicolas e ajudo meu amigo a
se levantar.
— O que você quer, Sophia? — Nicolas pergunta irritado com
a prima e ela solta uma risada fraca.
— Sua irmã está te procurando — ela descruza os braços e
desencosta da porta. — Ela disse que você prometeu que iria montar
um quebra cabeça com ela hoje. Tá rodando a casa toda atrás de
você.
— Maya... — meu amigo parece ter se lembrado da promessa
que fez a irmã mais nova.
— Uhum… — o sorriso no seu rosto é de vitória.
Nicolas ficou bravo com a intromissão da prima no nosso
momento, mas acaba de mudar a fisionomia ao perceber que ela só
veio avisá-lo. Ponto pra Sophia dessa vez!
— Ok — ele suspira e se vira para mim. — Vou lá, mas
encontro vocês mais tarde.
Aceno com a cabeça confirmando. Combinamos de ir ao Trix
hoje com uma turma de amigos. Nicolas pega sua camisa em cima
de um dos aparelhos e passa por Sophia, que faz uma pequena
careta quando ele encosta o ombro suado nela. Logo depois dele
sair em busca da irmã mais nova, ela gira para seguir o mesmo
caminho e voltar para a casa, mas para e gira de volta quando a
chamo.
— Como ela tá?
Engulo em seco.
Será que eu quero mesmo saber? Claro que quer, seu burro!
Você só pensa nela quando não está trabalhando.
— Por que você mesmo não pergunta? — Ela é seca ao
perguntar. Não está brava, nem nada do tipo. Provavelmente só está
querendo proteger a prima. — Vocês tem noção que eu e Nicolas
não somos seus informantes, né? — Solta uma risada sem humor.
— Informantes? — Pergunto confuso.
— Não se faça de idiota. Vocês perguntam para nós como o
outro está — ela solta o ar com força e me lança um olhar que me
causa calafrios. — Mio Dio, já tem quase três semanas que vocês
não se falam.
— Só tô tentando dar o espaço que ela pediu — tento me
defender do seu olhar acusador.
— Amanhã é sua festa de noivado — ela joga na minha cara o
que eu já sei. — Não acha que deveria conversar com ela antes
disso?
Sophia não espera uma resposta e sai do local, me deixando
com essa pergunta martelando na minha mente.
Será que eu deveria ir atrás dela?
Ela pode te odiar se fizer isso. Ou pode te odiar se não fizer.
Se eu agisse por impulso, já estaria agora mesmo a caminho
do quarto dela. Não me importando que Nicolas ou qualquer outra
pessoa nos visse juntos. Eu só queria olhar naqueles olhos mais
uma vez e perguntar se ela tem certeza do que me mandou fazer.
Questioná-la se ela será feliz ao me ver com outra.
Eu só queria entrar naquele quarto e dizer que só basta ela
pedir e eu anulo meu acordo com minha amiga. Ela me tem nas
mãos. Foi ela quem tomou a decisão para que eu continuasse com
esse acordo, então é ela quem detém o poder de me mandar acabar
com tudo.
Entretanto, eu não sou uma pessoa que tem o costume de
agir por impulso, essa pessoa é ela. Hanna que tem o péssimo, mas
que confesso achar fofo, costume de falar tudo que vem a mente,
sem pensar primeiro. Acho que por isso somos perfeitos juntos, ela é
mais impulsiva e eu tenho mais controle.
Perfeitos juntos… Pena que não será assim. Foi uma decisão
dela e não posso ir contra a palavra da herdeira. Não foi um pedido,
foi uma ordem.
Decido afastar esses pensamentos e pego minhas chaves e a
carteira em cima de uma mesinha ao lado da porta. Tinha deixado
minha camisa social no carro e só fiquei com a camiseta que estava
por baixo. Havia trocado a calça por uma bermuda que Nicolas me
emprestou, mas não faço questão de pegá-la agora.
Saio da academia e encontro água voando por toda parte.
Como está muito quente, o jardim está sendo molhado pelos
sprinklers neste horário. Ótimo, terei que passar por dentro da casa.
Vou pelos cantos, tentando não chegar tão molhado do lado de
dentro.
Quando piso na sala, encontro meu amigo sentado no chão
com sua irmãzinha. Ambos estão concentrados na montagem do
quebra cabeça e não se dão ao trabalho de me dar atenção. Tenho
que confessar que também não é nenhuma novidade para Maya eu
estar presente na sua casa, já que eu praticamente vivo aqui desde
antes dela nascer.
— Ah, Matteo — escuto alguém me chamando e me viro,
encontrando a mãe de Nicolas. — Que bom te encontrar aqui!
— Como vai, senhora Collalto? — Sorrio para ela.
A mãe de Nicolas sempre me tratou como se eu fosse da
família. Quando ela me escuta chamando-a desta forma, faz uma
careta que já até acostumei.
— Já te disse que pode me chamar de tia, menino — sua voz
é doce e ela sorri.
— Ele sabe e só te chama assim para implicar com a senhora,
mãe! — Escuto Nicolas gritar atrás de mim.
— Eu sei, meu filho. — Ela olha por cima do meu ombro e viro
um pouco um rosto, encontrando Nicolas ainda concentrado na
brincadeira da irmã. — Preparado para amanhã?
Volto minha atenção para mulher e me seguro para não dizer
a verdade. Não, não estou preparado. Mas preciso manter a farsa e
sigo com o que me propus.
— Ansioso — o que não é uma mentira.
— Dará tudo certo — ela coloca a mão no meu ombro. —
Estamos preparando tudo perfeitamente para que vocês aproveitem
o momento.
— Obrigado — falo meio sem graça.
— Não tem de que, querido! — Ela é gentil e se prepara para
afastar. — Você é praticamente da família.
Com essas palavras ela se retira e a acompanho com o olhar
enquanto sobe a escada.
Você não sabe o quanto gostaria de ser oficialmente parte
desta família, tia!
Capítulo 35
Eu sabia que Matteo esteve aqui hoje. Sophia me contou quando
voltou para o quarto depois de ter ido na cozinha buscar pipoca. Ela
teve que ir atrás de Nicolas para avisar que minha irmã o estava
procurando e acabou se encontrando com ele.
Tentei não ficar pensando muito nisso e focar no filme que
passava na televisão. Não sei porque, mas não estava no clima de
ver a comédia romântica sobre amigos que se apaixonam, mas
demoram a assumir o que sentem. Sim, estávamos assistindo
Simplesmente Acontece[33]. Não era a primeira vez que assistimos o
filme, talvez esse fosse o motivo de não estar tão interessada.
Eu juro que tentava, mas minha mente ficava toda hora
lembrando de Matteo e dos momentos que vivemos em Las Vegas.
Quase não o vi desde que voltamos da missão, percebi que ele tem
respeitado meu espaço, que foi o que pedi.
Minha prima foi para seu quarto quando o filme terminou, dizendo
estar cansada. Já eu tentei dormir, mas foi em vão. Ficava virando de
um lado para o outro na cama, sem sono algum. Depois de várias
tentativas frustradas, constatei que só quando o cansaço me
tomasse eu conseguiria dormir.
Não preciso procurar o motivo para estar desse jeito. Eu sei que o
que está me deixando ansiosa é o jantar de amanhã, o pedido da
bênção do Capo para a realização do casamento de Matteo e
Melanie.
Maya já reparou que ando mais cabisbaixa nessas últimas
semanas e sempre tenta me consolar. Teve um dia que ela veio no
meu quarto, já na hora de dormir, e me entregou seu ursinho de
pelúcia favorito, dizendo que ele me faria companhia e eu ficaria
melhor com ele ao meu lado. Muito fofa, eu sei.
Cometi o grave erro de pegar meu celular para me distrair. Uma
das primeiras postagens que aparece na rede social é um vídeo que
Bianca postou com os meninos se divertindo no Trix. Todos eles
parecem contentes e consigo ver meu irmão no fundo com uma
garota sentada no seu colo.
Reviro meus olhos.
Continuo observando o vídeo e encontro Matteo sentado,
sorrindo para algo que Michael está dizendo. Merda, ele tem um
sorriso perfeito, capaz de fazer qualquer mulher se apaixonar por ele.
As covinhas então? Nem gosto de pensar.
Desligo o aparelho, pois não quero ficar me torturando. Já
basta que amanhã terei que assistir de camarote a oficialização do
seu noivado. Mas foi o que você ordenou, né? Bufo com a
constatação, porque não tenho como negar. Eu fui a responsável por
jogar Matteo nos braços da sua amiga, mesmo que seja somente
para ajudá-la. Deito na cama e levo as mãos à cabeça. Estou
frustrada com essa situação e não sei como devo agir daqui pra
frente.
Estou tão ocupada no meu momento de reflexão, que demorei
a escutar as batidas na porta.
Estranho, todos devem estar dormindo a essa hora da noite.
Vou em direção a porta e giro a maçaneta, abrindo-a. Acho
que não esperava encontrá-lo ali, porque automaticamente dou um
passo para trás e pego seu pulso, puxando-o para dentro do quarto.
Olho o corredor e vejo que não tem ninguém à vista, então, fecho a
porta rapidamente.
— O que você tá fazendo aqui? — Questiono sem entender.
Meus olhos buscando por respostas naquelas bolas acinzentadas.
— Eu precisava te ver! — Matteo tem um pequeno sorriso no
canto dos lábios.
— Você tá bêbado? — Me aproximo para analisar melhor
seus olhos e conferir se sinto cheiro de álcool.
— Não, bebi pouco hoje — ele soa calmo, mas suspira ao ver
meu olhar questionador. — Dois copos, eu juro.
— Não precisa me jurar nada.
— Você duvidou de mim — ele dá de ombros.
Finalmente presto atenção no homem à minha frente. Matteo
parece estar quebrado, o cansaço estampado no rosto. Como
sempre, está com uma calça jeans escura e uma camisa social
preta. As mangas estão dobradas até o cotovelo e os primeiros
botões estão abertos, deixando visível uma parte do seu peito.
Minha mente começa a imaginar como seria abrir cada botão
da camisa, ou quem sabe, estourar todos eles e percorrer os
gominhos da sua barriga com a língua.
Engulo em seco.
Tenho que afastar esses pensamentos.
— O que está fazendo aqui? — Cruzo os braços ao
questionar novamente.
Seus olhos descem do meu rosto para meu corpo e lembro
que estou usando a maldita camiseta dele que peguei emprestada
no hotel. Mil vezes merda!
— Bonito pijama — um sorriso sarcástico estampa seu rosto.
— Bem que eu estava sentindo falta de algo na minha mala.
— Responda a pergunta — tento fugir do assunto e ele
percebe, pois seu sorriso amplia.
— Já respondi. Eu queria te ver!
— Matteo, está tarde e você não deveria estar aqui. Imagina
se alguém te vê? — Penso no que disse e uma luz parece acender
na minha mente. — Como fez para entrar sem ser visto?
— Eu sempre tô aqui, pequena. Falei que seu irmão havia
liberado para dormir aqui hoje e os seguranças nem fizeram
perguntas sobre. — Ele dá de ombros.
— E Nicolas? Onde está?
— Com alguma garota por aí — consigo enxergar um pouco
de preocupação em seu olhar. — Você sabe como ele é.
Suspiro. Sim, eu sei como meu irmão é. Nicolas tem as
questões dele e aprendi a não perguntar sobre. Já brigamos algumas
vezes por conta disso, então deixei pra lá.
Volto minha atenção para o homem responsável pela minha
falta de sono e o dono dos meus pensamentos, dos tristes até os
mais pervertidos. Matteo disse que precisava me ver e veio aqui a
essa hora da noite para fazer isso.
— Bom, você disse que queria me ver e está vendo — aponto
para mim. — Agora já pode ir!
Tento girar seu corpo em direção a porta, mas o simples
contato das minhas mãos nos seus braços gera uma eletricidade no
meu corpo inteiro. Matteo não se move, parece estar fixo no chão e
suas feições mostram que não está disposto a sair daqui tão cedo.
— Preciso falar com você — sua voz sai baixa e rouca. Seus
olhos estão fixos nos meus.
— Não temos nada para falar no momento — dou um passo
para trás e sinto o ar começar a faltar dos meus pulmões.
— Você tem certeza da sua decisão, Hanna? — Ele me
chama pelo nome e não pelo apelido.
Sinto um calafrio percorrer meu corpo. Parece que nossa
conexão de anos, toda aquela cumplicidade está se quebrando aos
poucos. Olho nos seus olhos e não consigo identificar a sombra
existente neles. Seria mágoa?
— Não vou voltar atrás — tento soar firme, mas não sei se
consegui convencê-lo.
Matteo se aproxima e leva a mão ao meu rosto, acariciando
minhas bochechas com o dedo. Fecho meus olhos, eles começaram
a ficar nublados pelas lágrimas que querem cair.
— Tudo poderia ser tão diferente, pequena. — Sinto a dor
presente na sua voz e abro meus olhos novamente, encontrando a
tempestade dos seus.
— Melanie precisa de você — é a única coisa que consigo
dizer.
— E você não? — Ele está sorrindo agora, mas sem humor
algum.
— Por favor, Matteo — minha voz está quebrada e ele
suspira.
— Só me escuta, eu preciso te contar uma coisa pelo menos
— ele suplica e assinto.
Matteo pega minha mão e me guia até a minha cama. Nos
sentamos na beirada do colchão, ele não solta minha mão e nossos
dedos continuam entrelaçados.
— Você se lembra do seu aniversário? — Ele questiona.
Flashes daquela noite voltam num passe de mágica, mas não
sei ao certo o que aconteceu ou a ordem dos fatos. Lembro que foi a
primeira vez que saímos depois do anúncio do seu noivado.
Eu estava desanimada, não queria comemorar. Nicolas fez um
complô com Sophia e, mesmo ela não estando presente no dia,
ambos me convenceram que eu precisava sair. Acabei chamando
alguns amigos do colégio e Abby, é claro, e Nicolas convidou o
grupinho dele. Me produzi toda, encontrei meu irmão, seus amigos e
Abby na sala e fomos ao Trix. O resto da noite não lembro direito,
tudo parece um borrão.
No dia seguinte eu acordei no meu quarto com uma ressaca
infernal. Minha mãe brigou com Nicolas por ter deixado eu beber
tanto, mas meu irmão nem ligou. Sorrio ao lembrar que ele disse “só
se vive uma vez, mamma!” e levou um tapa na cabeça por isso.
Por que Matteo quer saber se eu lembro do meu aniversário?
— Você sabe que bebi horrores naquela noite. Tudo não
passa de borrões e flashes. — Faço uma careta e vejo um sorriso
surgir no canto dos seus lábios.
— Eu te trouxe para casa naquela noite.
Fico surpresa com sua revelação. Nunca perguntei quem me
trouxe de volta para casa, mas havia presumido que tivesse sido um
dos seguranças.
— Eu estava com o carro e só bebi uma cerveja. Tinha
prometido ao senhor Santi que levaria Melanie em casa. Quando
Nicolas falou que iria sair com uma garota, perguntou se eu poderia
te deixar aqui. Não vi problema nisso e concordei.
— Ele não me disse nada…
— Isso não importa — ele balança a cabeça e me olha
profundamente. — Naquela noite, você me disse uma coisa no carro
que bagunçou minha mente.
— O que eu disse? — Mordo o lábio com receio da sua
resposta.
— Deixei Melanie primeiro, por conta do horário, e depois vim
te deixar. — Ele pausa e sorri, parecendo se lembrar de algo. —
Você não estava falando muita coisa coerente, então não estava te
dando muita atenção. Teve uma hora que até achei que tivesse
dormido e olhei pelo espelho retrovisor, mas você só estava
concentrada no que passava pela janela.
— Meu Deus, eu devia tá muito chata — solto uma risada
fraca. — Sophia sempre fala que não paro de falar quando bebo
demais.
— Ela não mentiu — ele sorri e depois solta um suspiro. — Te
ajudei a sair do carro e te trouxe até aqui — olha pelo meu quarto. —
Te coloquei na cama e tirei seus sapatos. Quando eu estava saindo,
escutei você me chamando e me virei — seus olhos encontraram os
meus e prendo a respiração.
Não sei se quero saber o que eu disse naquela noite.
— Você disse que eu tinha te machucado e eu fiquei confuso,
porque mal havia te tocado. Quando eu te perguntei do que estava
falando você… — ele puxa o ar e solta uma risada sem humor. —
Você me disse que me amava e que te machucava me ver com
outra.
Puta que pariu! Não acredito que disse isso.
Capítulo 36
— Matteo, eu… — tento falar, mas ele me interrompe.
— Calma, pequena — seus dedos fazem carinho na minha
mão. — Deixa eu terminar.
Assinto e desvio meu olhar do seu. Não quero encará-lo neste
momento. Como eu pude dizer isso a ele?
— Confesso que demorei um tempo para processar o que
disse e quando me aproximei de você, já estava dormindo.
Ele fica quieto e não consigo controlar meu impulso de olhar
na sua direção. Matteo está olhando para a porta, seu olhar está
distante. Talvez ele esteja recordando tudo que aconteceu. Uma
pena você ter bebido e não se lembrar de nada, né? Se eu não
tivesse bebido, garanto que nem falar isso eu falaria.
— Naquele momento eu vi tudo o que acreditava desmoronar
— agora é sua voz que está quebrada e eu fico confusa.
— Do que você tá falando?
— Sabe quantas vezes eu quis socar a cara de cada homem
ou moleque que dava em cima de você no decorrer do último ano
quando saíamos? — Ele levanta da cama, balançando a cabeça e
solta uma risada sem humor. — Você não sabe como eu já tive que
me controlar cada vez que você se aproximava de mim. Cada
maldita vez que me pedia ajuda e eu não conseguia negar.
— Eu não entendo… — estou confusa.
O que ele quer dizer com tudo isso?
— Eu já te disse que não sou forte quando o assunto é você.
— Ele me olha com uma intensidade que nunca me olhou antes.
Levanto cama e caminho na sua direção.
— Não sei o que está querendo dizer com isso…
— Que eu te amo, pequena! — Ele se aproxima de mim e
levanta meu queixo com os dedos, fazendo com que eu o encare.
Não sei como reagir, estou paralisada.
Ele me ama? Mas como? Quando? Por que nunca disse nada
antes, se sabia o que eu sentia por ele? São tantas perguntas
passando pela minha cabeça agora.
— Eu te amo com todas as minhas forças e não sei se vou
suportar não ter você na minha vida um dia — sua voz grave sai
baixa e ele acaricia meu rosto com os dedos. — Você é a pessoa
mais importante na minha vida.
— Matteo… — estou confusa e dou um passo para trás.
Preciso organizar minha mente. Matteo não pode entrar no
meu quarto no meio da noite, horas antes do seu jantar de noivado, e
me dizer tudo o que está dizendo.
Não é justo comigo.
Não é justo conosco.
— Por que agora? — Ele me olha questionador sem entender
ao certo o que estou perguntando. — Por que hoje? Por que não me
disse tudo isso no dia seguinte do meu aniversário? Você teve vários
momentos para tocar no assunto, para se abrir e… — passo as
mãos pelo rosto e pelo cabelo. — A gente transou, Matteo!
— Eu sei — ele tenta se aproximar, mas nego e ele abaixa a
cabeça. — Eu não sabia como te dizer isso. Juro que passei uma
semana me torturando, mas depois eu acabei colocando na minha
cabeça que você estava bêbada e não sabia o que estava dizendo.
— Mas você deveria ter me contado! — Acuso.
— Talvez… Mas que diferença faria? Eu ainda teria que me
casar com Melanie. Eu precisava, eu jurei protegê-la. — Ele está
derrotado.
— Eu tinha o direito de saber — não consigo segurar as
lágrimas. — Você passou os últimos dois meses mentindo pra mim.
Foi por isso que cedeu na missão? Por isso se rendeu e me levou
para a cama? Porque sabia que eu te amava?
— Não! Claro que não. — Ele responde prontamente, se
aproximando rápido de mim e pegando minha mão. — Eu não queria
te machucar mais, mas também não conseguia ficar afastado de
você.
Não consigo acreditar no que está acontecendo. Tudo isso
parece um pesadelo e eu só quero acordar. Matteo seca minhas
lágrimas que teimam em cair com o dedo. Mesmo com raiva,
olhando para ele aqui neste momento, eu só consigo amá-lo.
No decorrer do último ano… Minha mente recorda suas
palavras. Meu Deus, ele me ama esse tempo todo? Nós poderíamos
ter evitado toda essa confusão e estar juntos há muito tempo. Por
que ele nunca demonstrou interesse? Eu teria percebido se tivesse
acontecido. Será que ele nunca percebeu minhas tentativas para
chamar sua atenção? Que caos minha vida se tornou?
— Desde quando você sabe que me ama? — Minha voz sai
por um fio e busco seus olhos.
— Há um ano, quando comecei a perceber que você não era
mais a garotinha que sempre brigava com o irmão — ele dá um
sorriso fraco. — Morri de ciúmes quando vi você ficando com o Cam.
Depois disso, tive que aprender a controlar meu ciúmes quando
estávamos juntos e sempre que te via com algum garoto.
Eu lembro daquele dia. Matteo ficou distante depois que voltei
para a mesa e depois sumiu.
— Eu não sei quando ao certo, mas já tem um tempo que eu
tentava chamar sua atenção. Fazer com que você percebesse que
eu não era mais uma menininha — confesso e ele me olha surpreso.
— Nunca percebeu que eu te amava?
— Nunca — ele suspira. — Achava que você só me via como
o melhor amigo do seu irmão e decidi enterrar o que sentia por você.
— Eu jurei fechar meu coração depois que anunciou seu
noivado — minha voz falha e percebo que ele prende a respiração.
— Até aquele momento eu pensava que teríamos uma chance,
mas… Tudo mudou.
Matteo desvia o olhar do meu e passa a mão pelo cabelo,
bagunçando os fios. Ele anda de um lado para o outro no quarto.
Fecho os olhos por um breve momento e me aproximo dele, tocando
nos seus braços, e fazendo-o parar. Faço com que ele volte a se
sentar na cama e me agacho na sua frente. Vejo um homem
desnorteado na minha frente, que fecha os olhos com força, como se
quisesse desaparecer.
— Virou uma bola de neve — ele lamenta e eu compreendo.
— Todas as coisas que fiz, viraram essa bola de neve gigante que
não consigo controlar. — Matteo abre os olhos e vejo que estão mais
claros do que o normal. — Eu quero proteger Melanie, mas eu não
quero te perder.
Suspiro.
— Eu ainda estou aqui — sorrio e pego suas mãos.
Entrelaço nossos dedos e ele leva a minha mão a boca,
depositando vários beijos nela.
— Eu não posso me casar com ela — nossos olhares se
encontram. — É só você dizer uma palavra, que eu acabo com esse
acordo! Eu concordei porque eu achava que nunca teria a mulher
que amo, mas descobri estar enganado.
Minha barriga se enche de borboletas ao escutar seu pedido.
No entanto, ao mesmo tempo meu coração aperta ao lembrar de
Melanie e seus braços machucados. Fico dividida entre me render ao
amor ou proteger uma mulher que está sofrendo.
Sei que se Matteo se casar, além de sofrer, não vou tê-lo
mais. Pelo menos, não da forma que desejo. Por ser a princesa da
máfia e já ter dezoito anos, sei que terei que encontrar um marido
daqui poucos anos. Vamos ter que conviver para sempre um com o
outro já que ele é o…
— Você é o consigliere — falo em voz alta e ele me olha
confuso. — Já assumiu o cargo, deve mostrar que é um homem de
palavra.
— O que isso… — não o deixo completar.
— Se você terminar o acordo hoje, horas antes do jantar, as
pessoas podem falar e podem não te levar a sério — vejo
compreensão no seu olhar. — Você não pode mudar de ideia agora
— tento soar firme, mas percebo que minha voz quase falha no final.
— E como a gente fica? — Ele acaricia meu rosto com os
dedos e sinto a eletricidade percorrendo cada parte do meu corpo.
— Vou continuar te amando — tento esboçar um sorriso para
acalmá-lo e mostrar que tudo ficará bem, pelo menos espero que
fique bem. — Isso nunca vai mudar! Só o nosso timing que não deu
certo.
Matteo me puxa e faz com que eu sente em seu colo.
Continua acariciando meu rosto, olhando cada parte com cuidado
como se estivesse decorando cada detalhe.
— Eu te amo, pequena! — Sua voz rouca faz com que eu me
arrepie inteira.
— Eu também te amo!
Seguro sua nuca com as mãos.
— O que vamos fazer? — Pergunta baixo, e acho que ele não
percebeu que a fez em voz alta. Talvez fosse um pensamento seu.
Entretanto, depois de me declarar oficialmente para ele e
saber que ele também me ama, só consigo pensar em uma coisa.
Não importa o que vai acontecer amanhã, quero guardar esse
momento comigo pra sempre. Chego perto do seu ouvido e vejo os
pelos da sua nuca arrepiarem.
— Me faça sua mais uma vez — sussurro e ele se afasta um
pouco, buscando meus olhos. — Faça amor comigo, Matteo.
— Nunca foi só uma transa ou um clichê de Vegas, pequena.
Matteo cola seus lábios nos meus e eu me sinto no paraíso ao
sentir seu gosto novamente. Suas mãos seguraram minha cintura
com força e eu passo as mãos em seus cabelos, puxando os fios
levemente. Ele morde meu lábio e desce pelo pescoço, beijando,
chupando e mordendo de leve. Abro os botões da sua camisa e
passo as unhas por seu peito definido.
— Temos que fazer silêncio, para não acordar todo mundo —
minha respiração está acelerada.
Sinto meu íntimo pulsando e começo a rebolar no seu colo.
Como só estou com sua camiseta, somente minha calcinha e sua
calça servem de barreira e logo sinto sua rigidez surgir embaixo de
mim. Matteo tenta conter o gemido por conta do atrito e lembro do
que ele me prometeu.
Saio do seu colo e volto a me agachar na sua frente. Seus
olhos brilham de luxúria enquanto tiro seu cinto e abro sua calça.
Matteo me ajuda a se livrar da peça e aproveita para tirar sua
camisa. Meus dedos logo envolvem seu membro e vejo sua
respiração falhar. Coloco um sorriso malicioso nos lábios, quando
assopro a ponta e ele solta um palavrão.
— Não me tortura assim, pequena — pede entredentes.
Não demoro a colocá-lo na boca, e só escuto ele gemendo e
soltando xingamentos. Vou intensificando o movimento e ele prende
meu cabelo entre os dedos, ajudando a ritmar.
Estou amando estar no controle. Levo meu dedo ao meu
ponto de desejo e faço movimentos circulares. Sinto que estamos
chegando ao ápice juntos.
— Puta que pariu — sua respiração está acelerada.
Matteo me afasta de seu membro e fico sem entender.
— Quero que gozemos juntos, mas quero estar dentro de
você.
Ele não precisa pedir duas vezes.
Matteo pega a camisinha na carteira e eu aproveito para me
desfazer das peças que estou vestindo. Quando encaixamos nossos
corpos, apoio minhas mãos em seus ombros, sentando lentamente.
Nós dois gemendo baixo ao chegar no limite, começando a
movimentar mais rápido a cada instante.
Parece que nossa conexão nunca vai acabar, fomos feitos um
para o outro. Sei que se um dia tiver outro na minha cama, nunca
será como é com ele. Matteo me arruinou para sempre. Não quero
mais ninguém!
Ele busca meus lábios novamente e nossas línguas duelam
enquanto chegamos ao ápice juntos, desabando na cama em
seguida.
Estou deitada por cima dele e ele acaricia meus cabelos. Não
falamos mais nada. Acho que queremos deixar esse momento
registrado na nossa memória.
Como se fosse possível esquecer…
Capítulo 37
Quando os primeiros raios de sol entraram pela porta de vidro da
varanda do quarto de Hanna, decidi que era a hora de deixá-la.
Passei a noite em claro, observando-a dormir tranquilamente em
meus braços. Não queria ter que fazer isso, mas ela não quis que eu
desistisse do acordo. Deixei um post it colado no espelho da sua
penteadeira e sai com todo cuidado para não acordá-la.
Cheguei em casa me joguei na cama. Queria ficar dormindo pelo
resto do dia e só acordar amanhã. Não queria ter que encarar a
mulher que amo nos olhos enquanto fico noivo de outra.
Depois desta noite, tudo mudaria.
Acordei já eram quase três da tarde e eu estava faminto. Fui
para a cozinha procurar algo para comer e resolvi fazer um
sanduíche com os ingredientes que encontrei na geladeira.
Enquanto comia, recebi uma mensagem da minha mãe pedindo
para ir encontrá-los antes de seguir para a mansão Collalto esta
noite. Respondi com um “ok” e ela me mandou um testamento
reclamando da forma seca que respondi. Nem liguei, pois hoje não
estou me importando com o drama de minha mãe. A única coisa que
estou sentindo é meu coração sendo esmagado, uma dor
inexplicável no meu peito.
Estou deitado no sofá, trocando os canais sem prestar muita
atenção no que está passando, quando meu celular começa a tocar.
Pego o aparelho e vejo que é Melanie. Atendo no quarto toque.
— Oi, Mel — juro que não reconheço minha própria voz.
— Matteo? — Percebo a preocupação na sua voz. — Você tá
bem? Aconteceu algo?
Não quero tocar no assunto.
— Tudo bem — nada está bem. — Como você tá?
— Tô bem — ela fica em silêncio por alguns segundos. — A
gente realmente vai fazer isso?
— Você precisa se afastar do seu pai ou ele vai continuar te
agredindo e eu não poderei fazer nada quanto a isso. A não ser que
queira abrir o jogo para o nosso Capo — sou realista e Melanie
suspira.
— Hanna? — Questiona e não sei o que dizer. — Como ela está
com tudo isso?
Não posso contar para Melanie a verdade. Eu sou uma das
poucas pessoas que sabe do poder que Hanna tem dentro da
hierarquia, já que muitos não aceitariam essa situação por apego às
tradições. Minha amiga não pode saber que Hanna ordenou que eu
continuasse com o acordo.
— Ela disse que vai ficar bem, só precisa organizar a cabeça
dela — opto por uma meia verdade.
— Você conversou com ela? Contou tudo direitinho?
— Contei, Mel — suspiro. — Tudo o que tinha para ser dito.
— Eu me sinto mal por estar no caminho de vocês — sinto a
culpa na sua voz.
— Não sinta. Eu fiz a escolha de te proteger e vou cumprir
com minha palavra — mesmo que para isso eu tenha que perder a
mulher que amo.
— Ok — ela pausa e escuto vozes ao fundo. — Preciso ir me
arrumar. Te encontro mais tarde, ursinho.
Mel desliga antes que eu possa me despedir. Passo a mão
pelo cabelo e olho para o teto da sala.
Não tem volta!

A governanta dos Collalto nos guia até uma sala de reuniões,


que hoje está decorada para a festividade. Não me sinto em uma
festa e sim no meu velório. Os pais de Nicolas cumprimentam meus
pais e logo depois meu amigo entra na sala, fazendo o mesmo.
Todos estão bem arrumados, vestidos formalmente para a ocasião.
— Onde estão as crianças? — Mamãe questiona a senhora
Collalto.
— Já devem estar descendo — ela responde com um sorriso
no rosto e minha mãe assente.
Não demora para Giulio e Maya entrarem na sala
acompanhados de Sophia. Maya parece uma boneca com seu
vestido rodado cheio de flores bordadas e Giulio veste uma roupa
social que claramente o deixa desconfortável. Sophia segura a mão
da prima mais nova e usa um vestido verde pastel que destaca a cor
dos seus olhos.
Meu pai e o senhor Collalto estão em uma conversa animada
sobre os negócios e falam de como estão orgulhosos dos filhos. Eu e
meu amigo trocamos um olhar de cumplicidade, pois isso quer dizer
que estamos no caminho certo, o que é um alívio. No entanto, meu
olhar desviou-se dele ao escutar a porta da sala se abrindo
novamente.
Hanna entra no ambiente com um sorriso forçado no rosto.
Sei identificar que esse não é um sorriso verdadeiro seu. Ela está
usando um vestido lilás de corpete com alças e uma saia parece um
tule, que vai até a altura do tornozelo. Seu cabelo está solto e
ondulado, com uma pequena presilha dourada em um dos lados.
Não usa colar, somente um conjunto de anéis e um brinco de
pérolas.
Ela está perfeita!
Tenho que me controlar para não ficar encarando tanto sua
beleza ou até mesmo me aproximar dela. Minhas mãos coçam para
tocá-la, mas não me atrevo. Ela se aproxima e cumprimenta a todos.
— Você está realmente parecendo uma princesa, querida! —
Minha mãe fala após depositar um beijo em seu rosto.
— Obrigada, senhora Lombardi — suas bochechas ficam um
pouco vermelhas, deixando-a ainda mais linda.
Ela se aproxima de nós e me cumprimenta por último.
— Você tá perfeita, pequena! — Ela sorri com meu comentário
e me aproximo um pouco mais. — Queria ser a pessoa que
arrancaria esse vestido do seu corpo — não resisto e sussurro para
somente ela escutar.
Percebo que ela prende a respiração e se afasta, indo de
encontro a prima. Nossos olhos ficam conectados por um tempo, até
Nicolas me chamar para me juntar à conversa dos nossos pais
novamente.
Algum tempo depois a campainha toca e logo Melanie e sua
família adentram a sala. Seus irmãos mais novos ficam babando em
cima de Sophia e Hanna, mas ambas não dão muita atenção. O
senhor Santi está com um sorriso triunfante no rosto e sua esposa
cumprimenta a todos ao seu lado. Melanie tem um sorriso triste, mas
que disfarça bem. Seus braços estão cobertos pelas mangas do
vestido azul marinho, provavelmente para esconder os hematomas
da agressão que sofreu do pai novamente. Fecho minhas mãos em
punho para não cometer uma loucura aqui mesmo.
Vejo as horas passando no relógio em meu pulso. As
mulheres conversam em um canto da sala, os homens em outro e as
crianças também estão entretidas, sentadas em um sofá no outro
canto. Os ponteiros andam rápido demais e sinto o nó da gravata
apertando meu pescoço.
Eu preciso de ar!
Penso em pedir licença com a desculpa de que preciso ir ao
banheiro, mas sou interrompido pelo meu amigo. Nicolas fica de pé
no meio da sala, com uma postura autoritária que ele aprendeu a
demonstrar nessas últimas semanas, e pede a atenção de todos.
— Estamos reunidos esta noite para que eu, Nicolas Collalto,
Capo da Máfia Italiana na América, dê a benção a um casal da nossa
Famiglia. — Ele começa a dizer as palavras de acordo com a
tradição.
Merda! Não tem como fugir agora.
— Peço que os noivos se aproximem — ele faz sinal com a
mão, nos chamando para ficar ao seu lado.
Engulo em seco e busco o olhar de minha amiga. Ela está um
pouco receosa, mas faz o que nosso Capo pede. Cometo o erro de
desviar o olhar dela e encontro um par de olhos cor de mel
recheados de tristeza observando tudo. Meu coração se aperta ainda
mais ao ver a dor nos olhos da mulher que eu amo.
Chegamos perto de Nicolas e ficamos um de frente para o
outro, com o nosso Capo entre nós. Preparo para pegar a aliança,
que Melanie me entregou antes de viajar, no bolso do paletó.
— Melanie Santi e Matteo Collalto — ele profere nossos
nomes e prendo a respiração.
Não tô preparado!
— Vocês estão aqui para assumir na frente do seu Capo e de
suas famílias o compromisso do matrimônio. Quero que estejam
cientes que o casamento dentro da máfia é importante e a única
maneira de se separarem é a morte.
Um calafrio percorreu minha espinha e assinto. Observo
Melanie e ela está estática. Nicolas pigarreou para chamar sua
atenção e ela parece sair de um transe. Olha para todos presentes
no ambiente e assente.
— Então, a partir deste momento eu…
— Espera! — Mel o interrompe em um sussurro que somente
nós dois a escutamos.
Todos na sala nos olham sem entender porque a cerimônia da
bênção foi interrompida do nada.
— O que você tá fazendo? — Sussurro para ela.
— Será que é possível falar com o senhor em particular,
Capo? — Mel me ignora e olha para Nicolas, agindo de forma formal.
— Tem que ser agora? — Meu amigo parece irritado com a
interrupção.
— Sim, não podemos deixar para depois — ela é firme.
Nicolas suspira e assente.
— Tudo bem. Vamos até o escritório.
— Vou junto — anuncio e Mel tenta me impedir, mas não dou
chance. — Estamos juntos nessa, Mel.
— Ok — ela concorda.
— Desculpe a interrupção — Nicolas atrai a atenção de todos.
— Preciso resolver um assunto antes de realizar essa bênção. Peço
que nos deem licença por um instante.
Todos nos olham confusos. O Senhor Collalto tenta abordar o
filho, mas ele passa pelo pai dizendo que explica depois. Meus pais
me questionam com o olhar, assim como Hanna. O Senhor Santi
tenta impedir Melanie de sair, mas eu a puxo para fora da sala antes
que ele consiga.
Entramos no escritório e Nicolas fecha as portas. Melanie leva
a mão à boca, tentando controlar o nervosismo, e eu me apoio na
mesa, cruzando os braços.
— O que foi isso? — Nicolas está puto e caminha furioso até
sua cadeira.
— Desculpa, Capo — Melanie morde o lábio.
— Não tem ninguém aqui além de nós, Mel. Pode me chamar
pelo nome, sem formalidade. — Ele passa a mão pelos fios do
cabelo e apoia os braços no topo da mesa. — O que você tem para
me dizer de tão importante que não podia esperar o fim da maldita
cerimônia?
Melanie troca seu olhar de Nicolas para mim. Consigo
enxergar a culpa consumindo-a por dentro.
— Eu não posso fazer isso — ela solta de uma única vez e a
olho surpreso.
Mas que porra tá acontecendo?
Capítulo 38
— Melanie… — tento falar.
— Do que você está falando? — Nicolas olha atentamente para
ela.
— Não posso me casar com Matteo! — Ela fecha os olhos
quando termina de falar.
Prendo minha respiração quando meu melhor amigo me olha
confuso. Melanie vai contar para ele? Mas ela tinha medo do que o
pai poderia fazer com ela se abrisse a boca, por quê mudou de
ideia?
— Como? — Nicolas claramente está perdido.
Melanie abre os olhos e vejo que estão nublados pelas lágrimas
que desejam cair pelo seu rosto, mas também consigo perceber a
raiva neles. Não é de hoje que ela está a ponto de explodir.
— Não posso continuar com essa farsa — ela encara Nicolas.
— Mel, pensa direito… — tento intervir e me aproximo.
— Não! — Ela levanta a mão, sinalizando para que eu pare. —
Não vou arruinar sua vida por medo. Não é justo.
— Alguém pode me explicar que porra tá acontecendo? —
Nicolas fica trocando o olhar entre nós dois e eu tento focar na minha
amiga.
— Eu… — Mel puxa o ar, como se estivesse buscando forças
para derramar todas as informações sob nosso Capo. — Eu pedi
para Matteo se casar comigo, porque precisava de ajuda e eu sabia
que ele era um homem certo para isso.
Nicolas estreita os olhos na direção da garota e engulo em seco.
— A maioria dos nossos casamentos não são mais por
obrigação, Melanie. Vai ter que explicar melhor se deseja que eu
compreenda o que está dizendo. — Ele se encosta na cadeira e
espera que ela continue.
— Meu pai ainda é muito ligado à tradições — Nicolas assente.
— Ele não estava satisfeito por eu ter vinte e três anos e ainda não
ter me casado. Na cabeça dele eu deveria ter noivado aos dezesseis
e casado aos dezoito.
Fecho meus dedos em punho, não sei se quero escutar
novamente tudo que ela e sua família passam nas mãos de seu pai.
— Enfim — ela balança a cabeça. — Ele estava procurando um
noivo para mim, uma pessoa que nunca vi na vida. Praticamente
estava disposto a me vender para um homem qualquer, novo ou
velho. — Ela me olha e sorri fraco. — Resolvi pedir ajuda a Matteo,
já que sabia que ele estava solteiro. Nós já fomos muito amigos e me
sentiria segura ao seu lado.
— E eu aceitei seu acordo de casamento — interrompo, atraindo
a atenção de Nicolas. — Não tinha nenhuma perspectiva de me
casar tão cedo, mas achei que me favoreceria quando assumisse o
cargo de consigliere. Éramos amigos, não vi problema em seguir
com o acordo.
— Entendo — Nicolas passa a mão pelo queixo. — O que
mudou?
— Eu não quero ser infeliz — Mel admite e sinto pena dela. —
Eu… — ela respira. — Eu amo outra pessoa.
Consigo ver quando Nicolas levanta uma sobrancelha, surpreso
com a declaração.
— Por que não se casa com ela então? Por que pedir ajuda a
Matteo?
Olho para Melanie e lhe dou um sorriso, tentando mostrar que
estou aqui para ela. Sei que não estava totalmente preparada para
isso.
— Porque meu pai nunca aprovaria — sua voz sai quebrada e ela
dá um sorriso sem humor. — É capaz dele me matar quando
descobrir.
Nicolas não entende em um primeiro momento o que ela quis
dizer com isso, mas percebo quando seu olhar muda para
compreensão. Ele suaviza sua expressão e respira fundo.
— Conhecendo o pouco que conheço, seu pai poderia realmente
cometer uma loucura — ele olha com carinho para Mel, que solta o
ar que estava prendendo.
— Ele nos mataria, tenho certeza — ela não consegue mais
segurar as lágrimas, que caem livremente por suas bochechas. —
Eu tenho medo do que ele pode fazer se descobrir sobre nós.
Nicolas levanta da cadeira e vai em direção a minha amiga. Ele
coloca a mão no ombro dela e Melanie o encara com os olhos
vermelhos.
— Eu sou o Capo di tutti Capi[34], Mel. — Sua voz sai imponente.
— A partir de agora você está sob minha proteção. Seu pai não
poderá mais te tocar.
Melanie desaba ao escutar as palavras de Nicolas. É como se um
peso fosse tirado de suas costas. Ela abraça meu melhor amigo
como se ele fosse sua única salvação e Nicolas me olha assustado.
Sinto como se o mesmo peso fosse tirado das minhas costas, porque
eu não aguentava mais esconder a verdade do meu melhor amigo.
O escritório está silencioso e só escutamos os soluços da garota
que parece ter se libertado de uma prisão. O que não deixa de ser
uma verdade, né? Ela estava aprisionada às vontades do pai.
— Obrigada — ela se afasta dele e tenta secar as lágrimas com o
dorso da mão. Nicolas retira o lenço do paletó e entrega a ela.
— Vai ficar tudo bem — ele afirma.
Ainda tem uma parte que Melanie não contou e acho que ela
precisa dizer. Então, eu tomo a frente para que ela diga tudo de uma
vez e eu consiga fazer o que mais desejo desde que descobri toda
maldita verdade.
— Isso não é tudo.
Melanie arregala seus olhos ao escutar o que eu acabei de dizer
e Nicolas fica trocando o olhar entre nós dois.
— Não?! — Ele questiona.
— Conte tudo para ele, Mel — olho para ela. — Se não contar, eu
conto. Não importa se te jurei ou não.
Melanie suspira antes de assentir.
— Tudo bem.
— Então? — Nicolas está aguardando.
— Meu pai, ele… — ela pausa e morde o lábio. — Ele faz coisas
que… — sua voz vai sumindo.
— O que ele faz, Melanie? — Nicolas muda o tom para autoritário
e percebo quando fecha a mão em punho. Ele já imagina o que seja.
— Ele bate na gente, coloca de castigo em uma sala fechada
e ficamos sem comida, faz tortura psicológica, ele… — ela puxa o ar
com força antes de continuar — ele vendeu minha irmã para se
casar com aquele político.
Nicolas se afasta e soca a parede. Melanie dá um pulo,
assustada com a reação do meu amigo.
— Como ninguém sabe sobre isso? — Ele grita. — Como meu
pai nunca soube?
Melanie se encolhe e não encara mais meu amigo, focando no
chão. Vou até ela e abraço seu corpo trêmulo, tentando passar
conforto. Nicolas parece sair dos seus próprios pensamentos quando
vê o estado que minha amiga ficou. Ele se aproxima devagar e toca
o braço dela.
— Não precisa ter medo, Mel — ele tenta manter uma voz
calma, mas seus olhos espumam raiva. — Vou dar um jeito nisso.
— O que você vai fazer? — Ela sussurra contra meu peito.
— Deixe comigo! — Nicolas dá um leve sorriso para a garota,
que assente em resposta.
— Você vai fazer o que estou pensando? — Questiono meu
amigo.
— Vou — ele olha em direção a porta. — Pode ter certeza que
sim!
Meu amigo pode ser novo no cargo, mas o sangue não nega a
família que tem. Nicolas está com sangue nos olhos. Ele sabe que
Melanie é uma pessoa importante para mim e, por isso, acaba se
tornando uma pessoa importante para ele.
Ele deve evitar a ira do senhor Santi hoje e deixar que ele pense
que Melanie não disse nada. Assim, ele não vai estar preparado
quando pegarmos ele. O pai da minha amiga vai saber o que
acontece quando se violenta mulheres e crianças. Se tem uma coisa
que somos contra dentro da Famiglia é isso.
— Melanie — Nicolas chama a atenção dela. — Precisamos
voltar para a sala e anunciar que não continuarei com minha bênção.
Se você quiser, ninguém precisa saber o motivo.
— O que vai acontecer com meu pai? — Ela questiona. — Ele
será exilado?
— Seu irmão mais velho já vai completar 18 anos, correto? —
Nicolas responde com uma pergunta e Melanie assente.
— Meus irmãos e minha mãe sabem de tudo. — Sua resposta
implica mais muita coisa, as agressões do pai e sobre seu
relacionamento. — Hector só tem medo de enfrentá-lo ainda.
— Ótimo! Então não se preocupe com nada, ok? — Ele está
com um sorriso perverso no rosto. — Cuidarei de tudo!
Minha amiga afasta um pouco do meu corpo e assente. Troco
um olhar com Nicolas, ele compreende que quero fazer parte do seu
plano e sei que não irá negar meu pedido.
— Vamos acabar logo com isso — ele começa a caminhar em
direção a porta. — Todos devem estar se perguntando porque a
demora.
Seguro a mão de Melanie e a aperto com força, sinalizando
que estarei ao seu lado caso precise. Começo a virar para
acompanhar Nicolas, que está com a mão na maçaneta para abrir a
porta, quando Melanie puxa minha mão.
— Espera! — Ela pede e ambos nos viramos. — Tem mais
uma coisa.
Ela me olha com carinho e volta seu olhar para Nicolas, que
está parado na porta com a sobrancelha arqueada.
— Matteo quer te pedir algo.
Meu corpo inteiro gelou.
Eu quero pedir o que? Da onde ela tirou que quero pedir algo?
Olho para Nicolas, que está com os olhos semicerrados, e engulo
em seco.
— Bom, não temos a noite toda — ele me encara. — Fale logo,
Matteo.
Olho para Melanie e ela tem um sorriso no rosto. Sinto quando
aperta minha mão, incentivando que eu cometa uma loucura agora
mesmo.
Se der merda a culpa vai ser sua, Mel!
Merda! Quem eu quero enganar? Mel só está tentando adiantar
uma coisa que provavelmente já iria acontecer uma hora ou outra.
Vou correr o risco!
— Eu…
Capítulo 39
Já tem quase meia hora que eles saíram da sala e nos deixaram
sem entender direito o que está acontecendo. Todos estamos
confusos, mas alguns expressam mais que outros. A senhora Santi
parece preocupada, enquanto seu marido está claramente tentando
esconder a raiva que está sentindo. O filho mais velho deles, Hector,
está andando de um lado para o outro no canto da sala. Meus pais
conversam com os pais de Matteo e os adolescentes e as crianças
foram liberados para ir a sala de jogos. Eu fiquei em um outro canto
da sala, de pé, conversando com minha prima.
— O que será que aconteceu? — Sophia sussurrou ao meu lado
e a vejo levar o copo com água à boca.
— Não sei… — volto meu olhar para as portas de madeira,
esperando que elas se abram a qualquer segundo.
— Nicolas não sairia com os dois se não fosse algo importante —
minha prima pondera e assinto.
Ela está certa.
Deve ter acontecido algo de extrema importância para eles
saírem no meio do ritual da bênção. Eu percebi, assim como outros
devem ter percebido, que eles sussurravam entre si antes de
pedirem licença e se dirigirem ao escritório.
Meus pensamentos são interrompidos quando meu irmão abre a
porta e os três entram na sala, com Kyller os seguindo.
O que Kyller está fazendo aqui?
Observo meu irmão e ele não esboça nenhuma reação.
Matteo está da mesma forma e percebo que tem os dedos
entrelaçados aos de Melanie, que está com os olhos vermelhos. Ela
estava chorando? Meu Deus, o que será que aconteceu no escritório
para os três voltarem desta forma e acompanhados de um dos
nossos soldados?
— Kyller — meu irmão chama o soldado.
— Senhor — ele se posiciona ao lado de seu Capo,
aguardando as próximas ordens.
— Por favor, leve o senhor Santi ao nosso novo escritório.
Sinto um calafrio percorrer minha espinha ao escutar a voz
sem emoção com que ele dá a ordem. Os olhos do meu irmão estão
fixos no canto da sala onde se encontram os pais de Melanie.
Percorro o ambiente com meus olhos e vejo Hector com um
olhar temeroso, enquanto Melanie segura o braço de Matteo com
força e sua mãe começa a ficar pálida, perdendo toda sua cor. Os
outros que estão presentes possuem um olhar cheio de
questionamentos, tentando compreender o que está acontecendo.
Kyller não hesita ao caminhar em direção ao pai de Melanie,
que prontamente protesta.
— Qual o motivo? — Questiona alterado. — Por que devo ser
levado? De onde saiu essa ordem?
Péssima opção.
Nicolas caminha lentamente até o homem com um olhar
brilhando pelas chamas de sua raiva, a cor de seus olhos estão em
um tom mais escuro do que o normal. Ele para quando está de frente
para o homem mais velho.
— Você está questionando uma ordem do seu Capo? — Sua
voz sai ameaçadora.
O homem encara meu irmão, mas nada diz.
— Leve-o, soldado! — Ordena enquanto mantém os olhos
focados no homem.
Kyller pega o senhor Santi pelo braço e o guia pelo ambiente,
logo desaparecendo pelas portas de madeira.
— O que foi isso, mio figlio? — Papai se aproxima de Nicolas
e questiona.
Meu irmão apenas lhe dá um olhar de que explicará tudo
depois e volta sua atenção ao irmão de Melanie, que se encontra
estático no canto da sala.
— Hector Santi — ele chama e o garoto parece sair do transe.
— Sim, Capo? — Consigo perceber o receio em sua voz e ele
apruma a postura.
— A partir de agora eu te nomeio o chefe da família Santi — o
garoto arregala os olhos. — Você será o responsável pelas decisões
da sua família e vai responder diretamente a mim.
— E… eu? — Ele gagueja e meu irmão assente.
— Você já cumpriu sua iniciação e está preparado para a
posição.
Oi? Mas o que tá acontecendo? E o pai de Melanie? Minha
cabeça está fervilhando de perguntas. Aposto que as demais
pessoas presentes também estão se questionando.
— Isso quer dizer que… — meu irmão não o deixa terminar a
frase.
— Cuidarei de tudo — Nicolas o assegura e o garoto relaxa os
ombros. — Seu pai não fará mais parte da Famiglia.
A surpresa está estampada na maioria dos rostos na sala,
menos nos de Melanie e sua família. A senhora Santi está com os
olhos cheios de lágrimas, e solta um suspiro de alívio.
— Obrigada, Capo! — Ela se aproxima e beija o dorso da mão
de Nicolas.
— Agradeça sua filha — Nicolas responde a mulher, que olha
com carinho para a filha.
Melanie sai de perto de Matteo e vai ao encontro da mãe,
abraçando-a com força. Hector se aproxima de ambas e se junta ao
abraço.
— Não estou entendendo nada — Sophia sussurra em meu
ouvido.
— Nem eu, Soph — sussurro de volta.
Meu olhos buscam Matteo e o enxergo com um pequeno
sorriso no canto dos lábios observando a família Santi. Ele desvia o
olhar da cena e seus olhos cinzas encontram os meus, o sorriso
aumentando discretamente ao me ver.
— E a bênção? — Questiona a senhora Lombardi, atraindo a
atenção de todos.
— Não haverá bênção ao noivado dos dois — Nicolas profere
como se não fosse nada demais.
Todos na sala soltam sons de surpresa. Melanie está entretida
com sua família, que parece não estar tão surpresa com o anúncio.
— Como assim não terá bênção? — É a vez do pai de Matteo
se pronunciar. — Sem a bênção do Capo, não pode haver
casamento.
— Figlio… — mamãe tenta se aproximar de Nicolas, que faz
um sinal para que ela não prossiga.
— Nós não iremos nos casar — Mel atrai a atenção de todos
com sua declaração.
Meu coração para de bater ao escutar o que ela acabou de
dizer.
Olho para Matteo, mas não consigo obter uma resposta no
seu olhar, pois ele está dando atenção aos pais. Olho para Nicolas,
que assente quando nossos pais questionam se é verdade o que a
garota disse.
Espera, não haverá casamento?
Matteo não vai mais se casar com ela?
Volto a sentir uma pontada de esperança no peito. Quem sabe
ainda posso ter meu sonhado final feliz como nos filmes e séries que
assisto. Não, não posso me iludir! Olho para Sophia e ela sorri para
mim.
— Matteo aceitou minha proposta de casamento somente
para me ajudar — Melanie começa a explicar. — Meu pai queria me
ver casada o quanto antes e eu pensei que essa seria minha melhor
opção, já que nos conhecemos há anos.
Compreensão é perceptível em todos os rostos presentes na
sala.
— Decidi que não deveria deixar que meu medo
ultrapassasse o que sinto no meu coração e decidi cancelar esse
noivado — ela dá um sorriso tímido e olha em direção a minha mãe.
— Desculpe causar tanto incômodo, senhora Collalto.
Mamãe balança a cabeça negando. Melanie deve estar se
referindo ao jantar que foi preparado em homenagem ao casal.
— Incômodo algum! — Ela se aproxima e coloca a mão no
ombro da mulher. — Você deve ter seus motivos para ter tomado tais
decisões.
Lágrimas escorrem do rosto da garota e ela agradece com o
olhar. Não sei o que ela passa ou passou até chegar aqui e qual foi a
gota d’água para ela ter tomado a decisão de desistir no último
instante, mas se tem uma coisa que sei é que ela é corajosa.
— Bom, parece que a questão já foi resolvida e não teremos
mais noivado — papai atrai a atenção de todos. — Vamos pelo
menos aproveitar o jantar maravilhoso que nosso cozinheiro
preparou?
A maioria assente e ele faz sinal para que a senhora Fiori
inicie os preparativos.
— Esperem — meu irmão é firme e todos nós direcionamos o
olhar a ele. — Eu disse que não daria bênção ao noivado dos dois —
aponta para Melanie e Matteo. — Entretanto, dei minha bênção para
a realização de um casamento.
Não é novidade dizer que todos nós ficamos confusos
novamente.
Como assim ele deu bênção para um casamento?
Casamento de quem?
— Do que você está falando, mio figlio? — Papai pergunta e
todos esperamos sua resposta.
Observo Matteo, que está com um pequeno sorriso no rosto,
mas claramente está nervoso. Ele estala os dedos das mãos e tenta
não desviar o olhar de Nicolas, nem mesmo quando sua mãe se
aproxima e o questiona sobre o que está acontecendo. Ao observar
meu irmão, percebo que tenta conter um sorriso divertido.
Provavelmente ele deve estar amando nossas caras confusas.
— Dei minha bênção para a realização de um casamento
entre membros da Famiglia, ué! — Ele dá de ombros, sem conseguir
esconder mais o sorriso..
— Bênção a quem? — Mamãe questiona.
— Siga em frente! — Nicolas ignora a pergunta feita pela
nossa mãe e ordena a ninguém em específico.
No entanto, bastou sua ordem para que Matteo começasse a
se movimentar lentamente pela sala. Vejo quando engole em seco e
meu corpo gela ao ver o que ele está fazendo.
Ele está caminhando na minha direção?
Minhas mãos soam e minha respiração falha. Sinto a mão de
Sophia junto a minha, apertando forte, antes dela se afastar um
pouco e se encostar na parede mais próxima. Todos na sala estão
atentos em cada movimentação que o melhor amigo do meu irmão
faz. Todos os olhares estão atentos a nós.
Matteo para quando está na minha frente e nossos olhares se
cruzam. Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele
diz algo. É a primeira coisa que ele fala comigo desde ontem a noite,
desde que encontrei seu bilhete no espelho pela manhã escrito:
“Nunca esqueça que te amo, minha pequena!”
— Oi, pequena — sua voz grave faz meu corpo inteiro
arrepiar.
— O que você tá fazendo? — Sussurro e observo todos
olhando atentamente para nós.
— Você confia em mim? — Ele responde com uma pergunta e
fico sem entender. — Só precisa responder se confia ou não.
— Confio — olho nos seus olhos cinzas, que olhando de
perto, estão bem claros hoje. — É claro que confio!
Seu sorriso aumenta.
— Era só isso que precisava ouvir!
Matteo pega a minha mão e o seu próximo movimento faz
com que meu coração erre uma batida.
Capítulo 40
Respira, Hanna! Respira!
Matteo se ajoelha na minha frente e todos arregalam os olhos,
surpresos com a sua atitude. Nicolas tem um sorriso no canto dos
lábios e Mel está com os olhos brilhando em expectativa. O homem
que amo tira uma caixinha de veludo do bolso do paletó e meu
coração erra a batida novamente.
Ele não vai fazer o que estou pensando, vai?
— Hanna Collalto — ele olha nos meus olhos. — Você é uma
garota meiga e cheia de garra, que está disposta a tudo para
proteger aqueles que ama. Acho que esse foi um dos motivos que
me fez ficar apaixonado por você!
Escuto suspiros. De relance, consigo ver minha mãe levando
a mão até os lábios e papai com os olhos estreitos em nossa
direção, com sua mão pousada nas costas dela. Senhora Lombardi
tem os olhos marejados e seu marido está com um sorriso no canto
dos lábios
— Na frente da nossa família e do nosso Capo, eu quero pedir
para que você nunca me deixe — ele tem um pequeno sorriso nos
lábios e sinto meus olhos ficarem marejados, minha visão fica
embaçada pelas lágrimas que desejam cair. — Nós demoramos a
assumir um para o outro o que sentíamos e isso quase custou a
nossa felicidade. Errei em não te contar o que aconteceu no dia do
seu aniversário, fui idiota!
— Você não foi idiota — minha voz sai fraca, pois tento conter
as lágrimas.
Estico minha mão e faço carinho no seu rosto, sem me
importar com nossa plateia.
— Agora isso não importa mais — ele balança a cabeça. — A
gente pode escrever nossa própria história daqui para frente.
Solto um soluço e ele passa o polegar no dorso da minha
mão, fazendo carinho.
— Não precisamos correr contra o tempo, mas quero firmar
um compromisso com você. Você é a pessoa mais importante da
minha vida!
Escuto uma tosse e percebo que foi Nicolas, observo
rapidamente que está com a sobrancelha erguida e um sorriso no
rosto.
Ele está de acordo com tudo isso?
Não surtou nem um segundo?
Deixo os questionamentos para depois e volto a focar no
homem que amo, que me olha com intensidade e devoção.
— Eu já te disse que não consigo ser forte quando o assunto
é você, pequena.
Mordo o lábio inferior e tento manter o equilíbrio nas pernas,
que parecem tremer cada vez mais.
— Então eu queria te fazer uma pergunta — ele abre a
caixinha e um anel de brilhante corte princesa aparece. Demorou um
pouco, mas acabei reconhecendo. Meu Deus, é o anel que foi de sua
mãe! — Você aceita viver todas aventuras ao meu lado? Aceita se
casar comigo, pequena?
Escuto um gritinho de euforia e não preciso virar para saber
que veio de Sophia. Meus olhos estão presos aos de Matteo, que
brilham em expectativa. Um misto de emoções preenche meu peito.
— Matteo… — não consigo falar por conta da quantidade de
água que cai pelo meu rosto. Respiro fundo antes de continuar. —
Mesmo sem você saber, meu coração sempre foi seu. É claro que
aceito, meu amor!
Matteo levanta do chão e me pega pela cintura, me
levantando e rodando no ar. Escuto aplausos e gritos de alegria. Ele
me coloca de volta ao chão e deposita um beijo em minha testa,
pega minha mão e coloca o anel em meu dedo anelar.
Não consigo parar de chorar, mas é um choro de felicidade.
Olho para Matteo e ele está no mesmo estado, com o rosto banhado
por lágrimas. Ambos com sorriso no rosto que vai deixar minhas
bochechas doendo amanhã, mas não me importo. Estou muito feliz
para me importar com isso agora.
Nossos pais se aproximam e nos dão felicitações pelo
noivado. Claro que eles dizem que querem saber os detalhes depois,
pois nunca imaginaram que isso poderia acontecer. Acho que nós
escondemos muito bem nossos sentimentos um pelo outro e de todo
o resto das pessoas também.
A mãe e o irmão de Melanie vem logo depois, também nos
parabenizando pela nossa união. A amiga de Matteo abraça-o e não
consegue evitar o choro.
— Desculpa ter causado tanto problema — Melanie diz
enquanto me abraça apertado.
— Você não causou problema algum! — Nos afastamos e eu
seguro suas mãos, olhando nos seus olhos. — Não se sinta culpada
por algo que não fez. Se existem culpados por aqui, sou eu e esse
daqui — encosto a cabeça no ombro de Matteo, que passa o braço
pela minha cintura. — Saiba que se precisar de qualquer coisa, pode
contar comigo.
— Obrigada, Hanna — ela sorri. — Sempre soube que você
era a garota certa para meu amigo.
Sorrio para ela, que sai e vai encontrar sua família. Olho para
Matteo e ele está me observando. Poderia ficar o resto da noite
apenas encarando o cinza de seus olhos. Minha barriga está cheia
de borboletas e uma felicidade absurda preenche meu peito.
— Só queria deixar claro que serei madrinha do casal —
Sophia aparece na nossa frente.
Puxo minha prima para um abraço e quando nos afastamos
ela faz carinho no meu rosto.
— Estou feliz por você estar ao lado do seu amor — percebo
que ela tenta conter a emoção.
Sophia deve ser a única pessoa que sabe o que realmente
passei durante os últimos tempos, amando e sofrendo por Matteo.
Ela estava do meu lado a cada instante que caí e nunca me julgou
por amar demais.
— Obrigada por sempre estar ao meu lado, Soph!
— Disponha — ela faz uma pequena reverência e rimos.
Seus olhos se desviam dos meus e ela encara meu noivo.
Meu deus, meu noivo!
Acho que vou demorar um pouco a me acostumar com isso.
— Se machucar minha prima e melhor amiga, vai conhecer
um lado meu que não irá gostar — ela o ameaça.
Tento segurar o riso, pois sinto Matteo ficar um pouco tenso.
Ele sabe o que as garotas Collalto são capazes de fazer. O homem
assente e ela abre um sorriso em resposta.
— Medo das ameaças de Sophia, Matteo?
Meu irmão finalmente apareceu na nossa frente e não sei
como reagir. Será que Matteo contou tudo a ele ou simplesmente
pediu minha mão em casamento? Nicolas parece tão calmo com
tudo isso, que me atrevo a questionar.
— Você tá bem com isso? — Aponto para nós.
— Se não estivesse, não teria dado a bênção, Hanna!
— É só que eu pensei… — começo a dizer, mas não termino
a frase.
— Que você fosse surtar com isso — Matteo completa.
— Por que eu surtaria? — Ele parece despreocupado. — Meu
melhor amigo pediu a mão da minha irmã em casamento. Te
conheço desde pequeno e sei que, apesar do mundo que vivemos, é
um homem leal e justo. Alguma coisa deve ter acontecido nessa
viagem que fez com que vocês enxergassem melhor o que sentiam
um pelo outro. Não consigo imaginar homem melhor para ela.
Matteo puxa Nicolas para um abraço e ambos dão tapas nas
costas um do outro. Quando se separam, meu irmão tem um sorriso
no rosto e Matteo volta a posicionar sua mão na curva da minha
cintura. O simples toque no local, mesmo coberto pelo tecido do
vestido, faz cada parte do meu corpo arrepiar.
— Mas saiba que o que minha adorável prima disse, vale para
mim — Nicolas tira o sorriso do rosto e encara o melhor amigo. —
Não machuque mia sorellina[35].
Matteo assente.
— Não pretendo machucá-la — ele vira o rosto na minha
direção e nossos olhares se prendem um no outro. — Eu pretendo
somente amá-la cada vez mais.
Nicolas faz um barulho de nojo, que atrai nossa atenção.
— Me poupe dos detalhes, cara. — Meu irmão empurra o
ombro do amigo. — Não quero saber o que faz ou deixa de fazer
com minha irmã.
Sophia solta uma risada baixa e Nicolas olha na sua direção.
Eles travam uma batalha silenciosa por alguns segundos até ela
olhar para mim com um sorriso cínico nos lábios.
— Pode me contar todos os detalhes sórdidos, não me
importo — ela pisca um olho e não consigo evitar de rir.
Nicolas solta um palavrão e faz uma careta. Matteo não
aguenta o drama do amigo e se junta a nós na risada. Sei que
Sophia só disse isso para provocar meu irmão, não tenho dúvidas.
— O jantar será servido! — Senhora Fiori adentra a sala de
reunião e comunica a todos.
— Chame as crianças, por favor! Estão na sala de jogos. —
Mamãe pede e a governanta assente, saindo para cumprir a tarefa.
— Então, vamos? — Papai pergunta e começa a caminhar
para sair da sala, guiando a mamãe com as mãos apoiadas em suas
costas.
Os pais de Matteo e Melanie com sua família caminham logo
atrás. Sophia não demora a fazer o mesmo, mas antes cochicha no
meu ouvido.
— Vamos ter uma longa conversa esta noite.
Concordo com um aceno e observo ela desaparecer pela
porta. Assim, ficam sobrando somente eu, Matteo e Nicolas na sala.
— Estou realmente feliz por vocês! — Meu irmão olha para
nós e percebo que está emocionado.
— Obrigada, Nicky! — Respondo.
Ele acena com a cabeça sorrindo e se vira para sair da sala,
nos deixando sozinhos.
É a primeira vez que ficamos sozinhos em um mesmo
ambiente desde a noite passada. Entretanto, muita coisa mudou nas
últimas horas. Matteo estava noivo de Melanie e eles iriam se casar.
Agora, nós é que estamos noivos e vamos nos casar.
Meu mundo parece ter dado uma volta de 360 graus e só
consigo ficar feliz com o rumo que as coisas tomaram. Nem nos
meus melhores sonhos eu imaginaria que isso fosse acontecer. Se
for um sonho, não desejo acordar nunca mais!
Matteo pega minhas mãos e entrelaça meus dedos com os
seus. Olho nos seus olhos e consigo enxergar tudo o que ele sente.
Será que ele também consegue enxergar o que estou sentindo?
— Confesso que fiquei com medo de você negar — ele
confessa.
— Por que negaria se te amo tanto? — Questiono e ele dá de
ombros.
— Por ser rápido demais? Por não termos conversado sobre
isso? — Ele suspira. — Só sei que preferi correr o risco de receber
um não do que não mostrar para todos o quanto te amo.
— De onde surgiu a aliança?
Olho para o diamante que brilha em meu dedo.
— Melanie havia me dado a aliança da família dela para fazer
o pedido, mas de última hora eu peguei a aliança que foi da minha
mãe e coloquei no bolso — ele sorri. — Não sei explicar, mas tive um
pressentimento de que eu iria precisar dela.
Sorrio para ele e lhe dou um selinho..
— Quero viver muitas aventuras ao seu lado, pequena!
— O que eu mais desejava era poder várias aventuras com
você — passo os braços pelo seu pescoço e nossos rostos ficaram a
centímetros de distância. — E a gente não precisa resolver tudo do
casamento de uma vez. Podemos curtir o momento…
— O que tem em mente? — Matteo possui um sorriso
malicioso nos lábios.
Esse homem me entende muito bem!
— Podemos começar com o básico — aproximo minha boca
da sua orelha e vejo seus pelos arrepiarem. Seus dedos apertam
minha cintura com mais força. — Mais tarde podemos brincar melhor.
— Você ainda será minha morte, pequena. — Sua voz sai
rouca.
Não respondo com palavras. Somente colo minha boca na
sua e o beijo com paixão, provando seu gosto mais uma vez. Quero
guardar na memória cada sensação que ele me provoca.
No entanto, agora sei que o terei para sempre!
Capítulo 41
Infelizmente, tive que adiar meus planos com Hanna. Depois
do jantar, que só para deixar registrado estava uma delícia, Nicolas
me chamou para irmos resolver a situação com o pai de Melanie.
Lembro do olhar apreensivo da minha amiga de infância e
meu melhor amigo garantiu novamente que daria toda proteção e
segurança para ela e sua família. Deixamos a mansão Collalto e
seguimos de carro até o novo escritório, como Nicolas gosta de
chamar. A nova sala de interrogatório foi reformada e fica no subsolo
do prédio da empresa de fachada.
Estamos caminhando pelo longo corredor que leva até a sala.
Retiro meu paletó e arregaço as mangas da camisa social. Uma
pena que sujarei minha camisa branca nova, mas estou ansioso para
fazer o senhor Santi pagar por todas as coisas que fez com minha
amiga.
Kyller está esperando na porta, com sua costumeira postura
de guarda. Ele nos olha quando paramos na sua frente.
— Ele resistiu? — Nicolas questiona.
— Um pouco, senhor. Tivemos que apagá-lo e o velho só
acordou agora a pouco. — Kyller responde e meu amigo assente.
— Qual o motivo da urgência? — Escuto a voz de Tyler e me
viro.
Observo Michael e Tyler entrando no corredor. Ambos com
uma roupa informal e o primeiro está com o cabelo bagunçado,
provavelmente foi interrompido durante seu momento de diversão.
— Espero que seja um assunto sério — Michael está com
uma cara emburrada. — Atrapalharam meu esquema.
Tyler dá um tapa na nuca do amigo, que reclama
prontamente. Nicolas balança a cabeça de um lado para o outro,
sem acreditar no que está escutando.
— Se o Capo chamou é porque o assunto é sério — minha
voz sai seca e Michael levanta as mãos, como se pedisse desculpas
pelo que disse.
— Temos uma questão para resolver — Nicolas profere e
recebe a atenção de nossos amigos.
Meu melhor amigo suspira e começa a relatar tudo o que
Melanie contou. Percebo que a cada detalhe, Michael e Tyler ficam
mais putos com a situação. O primo do meu amigo está quase
espumando de raiva e Tyler tem os punhos cerrados.
Apesar de ainda vivermos em um mundo muito machista, uma
das regras da Famiglia é nunca ferir ou abusar de mulheres e
crianças. O senhor Santi quebrou ambas quando agrediu a filha, o
que ele não pode negar já que vi com meus próprios olhos, e ao
agredir também sua mulher e os demais filhos. Melanie tem três
irmãos, que variam de idade de 17 a 10 anos, e uma irmã de 21
anos.
Quando Nicolas termina de contar tudo, o silêncio paira no ar.
Vejo que Kyller é o único presente que não esboça uma reação,
talvez por estar querendo demonstrar respeito e não se envolver em
assuntos que não lhe dizem respeito.
— Eu quero por minhas mãos nesse desgraçado — Michael
está muito puto.
De todos nós, acho que ele é o que mais sente quando
crianças são o alvo. Sua postura muda e ele fica irreconhecível.
— Entre na fila — cruzo os braços. — Tenho algumas coisas
para acertar com o canalha.
— Vocês podem fazer o que quiserem após meu sinal —
Nicolas fala e concordamos. — Mas eu quero o homem vivo, estão
entendendo?
— Vivo? — Tyler solta uma risada irônica.
— Vivo, Tyler! — Meu amigo reforça. — A morte seria muito
mais fácil para ele. Ele será exilado, expulso da Famiglia, proibirei a
sua entrada em todos os nossos territórios.
— E quem ficará no seu cargo? — Michael questiona.
— Já passei para Hector. Ele estará à frente da família Santi
agora. — Nicolas olha para a porta e faz sinal para Kyller se afastar.
— Vamos?
Todos nós assentimos e entramos na sala.
Hora de fazer o homem pagar por tudo que fez!

Não foi bonito, mas tenho que dizer que me sinto bem melhor
agora. Melanie não terá que se preocupar mais com as ameaças do
pai ou suas agressões. Vai poder viver sua vida como bem entender.
O senhor Santi ficou ensanguentado e quando saímos da
sala, ele estava desacordado e com uns dois dedos da mão
amputados. O homem não aguentou e teve uma hora que acabou
chorando e implorando por misericórdia. Deveria ter escutado
quando o ameacei pela primeira vez, logo após o anúncio do meu
noivado com a filha.
Estou saindo do banheiro da sala de Nicolas. Subimos para o
escritório depois que terminamos com o homem, pois estávamos
muito sujos e precisávamos de um banho. Passo a toalha na cabeça
e pingos de água acabam caindo no chão. Meus olhos passeiam
pela sala e encontro meu amigo sentado em sua mesa, conferindo
alguns papéis.
— Cadê os meninos? — Pergunto, já que não avistei Michael
e Tyler.
— Foram pegar algo para comer na copa — responde sem
tirar os olhos dos papéis.
— Não é tarde para ficar resolvendo essas coisas, Nick? —
Questiono ao me sentar no sofá no canto da sala.
Nicolas suspira e finalmente ergue o olhar.
— Tenho muitas coisas para resolver, Matt — responde.
A porta do escritório é aberta e nossos amigos entram com
xícaras de café e um pacote de biscoito. Agradeço quando Tyler me
entrega uma xícara e saboreio a cafeína. Nicolas faz o mesmo
quando Michael entrega a dele.
— O sol já está quase nascendo — Michael está de pé
observando a paisagem de Nova Iorque pela janela de vidro do
escritório.
— Temos algum compromisso hoje? — Questiona Tyler.
— Não, podem tirar o final de semana para descansar —
Nicolas avisa.
— Ótimo! — Michael se vira e percebo que já está com seu
semblante brincalhão de volta ao rosto. Ele é o melhor em mascarar
os sentimentos. — Preciso me divertir e não desejo receber uma
ligação de vocês me atrapalhando.
— Às vezes esqueço que você é o nosso caçulinha e ainda
tem o tesão de um adolescente — Tyler caçoa, levando a xícara aos
lábios para ingerir o conteúdo.
— Vá a merda, Ty! — Michael levanta o dedo do meio para
meu amigo, mas está com um sorriso no rosto.
Ficamos um tempo conversando sobre coisas irrelevantes,
tentando descontrair após um momento tenso. Só quando o sol já
nasceu totalmente e a luz adentra a sala, decidimos que é a hora de
ir para casa. Descemos até a garagem e começamos a caminhar até
os carros.
— Vai para sua casa ou vai para a casa da sua noiva? —
Nicolas questiona com um sorriso nos lábios.
— Achei que não existisse mais noivado — Michael parece
confuso.
— Você não ia se casar com Melanie para que ela se livrasse
do traste do pai dela? — Tyler questiona.
— Ah, esquecemos de contar — Nicolas leva a mão à testa,
fazendo uma encenação.
Reviro os olhos para meu melhor amigo, que agora está com
um sorriso debochado no rosto esperando uma reação minha.
— Então… — Tyler olha para nós dois em expectativa.
— Acho que vou para a casa da minha noiva — dou de
ombros. — Assim, você não precisa dar voltas pela cidade ou sentir
minha falta — implico.
Observo Michael e Tyler, que estão olhando um para o outro,
confusos. É a vez do meu amigo revirar os olhos e ele bufa.
— Você já vivia lá em casa, agora vai praticamente morar lá
— reclama, mas sei que no fundo ele está adorando isso.
— Você concordou — empurro meu ombro contra o seu e
ambos sorrimos.
— Não estou entendendo nada — Tyler balança a cabeça.
— Espera! Você — Michael aponta para mim — vai viver na
casa dele — aponta para Nicolas. — Isso quer dizer que… — ele
parece compreender e seus olhos quase saltam para fora. — Você tá
noivo da minha prima?
— Quê? — Tyler grita espantado.
Nicolas e eu nos entreolhamos e não conseguimos conter a
gargalhada. Esperava uma reação, mas não essa. Tyler está em
choque e Michael está com um sorriso sacana no rosto.
— Sim, vou me casar com Hanna! — Afirmo.
Michael me puxa para um abraço e dá tapinhas nas minhas
costas.
— Bem vindo a nossa famiglia, cara! — Ele fala ao se afastar.
— Obrigado! — Passo a mão na nuca.
— Isso não é justo — Tyler abaixa a cabeça, balançando de
um lado para o outro.
— Do que você tá falando? — Nicolas questiona, pois
estamos confusos com sua reação.
— Do nosso grupo, sou o único que não faz parte da família
de vocês — ele continua com a cabeça baixa.
— Ok… — Michael fala com receio. — Eu, Nicolas e Isabella
somos primos, apesar da Isa não andar mais com a gente. Matteo
vai se casar com Hanna e entrar na família. Mas ainda tem a Bianca,
ué!
— Mas você vai se casar com ela — Tyler levanta a cabeça e
esboça um pequeno sorriso debochado.
— Caralho, Tyler! — Michael grita e nós rimos da sua reação.
— Não sei porque ainda caio nessa. Vou embora! Ciao, ragazzi[36].
Michael se vira e segue para seu carro. Tyler se despede e faz
o mesmo, indo até sua moto. Entro no banco do carona enquanto
Nicolas entra no do motorista e seguimos até a mansão Collalto.
Quando chegamos em casa, já são quase dez da manhã.
Entramos na sala, Hanna está descendo a escada. Ela usa um
cropped preto de alcinha e um short jeans de cintura alta. Está linda,
como sempre! Quando nos vê, esboça um sorriso e sei que tudo vale
a pena se eu conseguir ver esse sorriso todos os dias. Se aproxima
de nós, abraçando o irmão primeiro, e quando chega na minha
frente, me dá um selinho.
— Meus olhos! — Nicolas tampa o rosto e a irmã revira os
olhos. — Ainda vou ter que me acostumar com isso.
— Bom dia, meninos — ela ignora o drama do irmão.
— Bom dia, sis — Nicolas sorri para ela e observa o ambiente.
— Cadê todo mundo?
— Papà e mamma saíram com Maya. Prometeram um dia
especial somente para ela.
— Giulio?
— Na sala de jogos — aponta para a direção da sala.
— Sophia? — Ele ergue a sobrancelha.
— No quarto dela.
Nicolas assente.
— Bom, vou descansar um pouco — se vira na minha direção.
— Pode ficar em um dos quartos de hóspedes ou… — olha para
irmã. — Não sei de nada! — Pisca um olho e vai em direção a
escada.
— Enfim, sós — ela se joga contra mim, passando os braços
pelo meu pescoço e seguro sua cintura.
Nossos lábios já sabem o caminho um até o outro. Sentindo o
gosto da sua boca, sei que estou em casa. Nosso beijo é calmo, mas
com muita paixão. Quando nos separamos, tiro uma mecha do seu
cabelo do rosto e a coloco atrás da sua orelha.
— Cansado?
— Um pouco — dou um sorriso fraco.
— Vamos — pega minha mão e entrelaça nossos dedos. —
Vou te fazer companhia.
Seguimos para seu quarto e ao me deitar ao seu lado, sei que
quero isso para o resto da vida.
Capítulo 42
Acabei cochilando ao lado de Matteo e só acordei com Sophia
batendo na porta para avisar que o almoço estava pronto. Passamos
a tarde na piscina, já que o calor do verão está insuportável hoje.
Meu irmão e minha prima se juntaram a nós e acabamos fazendo um
duelo na água: Sophia no ombro de Nicolas e eu no ombro de
Matteo. Infelizmente, eles venceram e ficaram se gabando pelo resto
da tarde.
Quando já estava quase anoitecendo, meu irmão teve a ideia de
irmos ao Trix com nossos amigos. Sophia foi a primeira a aceitar e
quase pulou de alegria por poder sair de casa para ir à balada, mas
se conteve. Eu sabia que Nicolas estava fazendo isso para que ela
aproveitasse mais e não ficasse enfurnada dentro de casa o tempo
todo, já que ainda buscavam o autor das ameaças.
Agora nós estamos aqui, em um ambiente cheio de pessoas e
com música alta. Matteo está sentado ao meu lado com a mão na
minha coxa. Acho que desde o momento que assumimos nosso
amor para o mundo, não conseguimos ficar no mesmo ambiente por
muito tempo sem nos tocar.
Sophia está sentada na minha frente e toma um gole do seu
drink, enquanto Nicolas conversa com Tyler e Michael implica com
Bianca. Abby é a única que parece se sentir deslocada, mas não
quero que ela se sinta assim.
— Fiquei sabendo que vai viajar na próxima semana — puxo
assunto e ela me olha surpresa. — A fofoqueira ali me contou.
Abby sorri e olha para minha prima, que levanta o copo no ar,
como se dissesse “culpada”.
— Decidi espairecer um pouco. Meus pais tem me deixado louca
— faz uma careta.
— E o destino?
— Ainda não decidi — dá de ombros.
Continuamos nossa conversa e falamos sobre nossas
expectativas para a nossa nova fase, a universidade. Em pouco
tempo, serei uma estudante de Direito e estou animada para isso.
Apesar de Sophia ter decidido fazer um curso diferente do nosso, ela
entra na conversa e demonstra sua empolgação com o curso de
Moda.
Matteo observa nossa conversa e sinto seu olhar sobre mim o
tempo todo. Seus dedos fazem círculos na minha coxa desnuda e
sinto meu corpo correspondendo a cada toque. Ele só para quando
se levanta para cumprimentar Melanie no momento que ela chega.
Ela quase não veio, mas conseguimos convencê-la e ela
trouxe a namorada. Samantha, ou Sam como prefere ser chamada, é
linda e tem o cabelo preto com mechas verdes. Fico feliz por Melanie
se sentir mais segura e poder sair nas ruas, fazendo programas de
casal com a namorada e os amigos, sem ter que se preocupar com o
que seu pai pode fazer. Cumprimento as duas e iniciamos uma nova
conversa.
Não sei quanto tempo passou, mas percebo que Michael já
está bem alterado. Meu primo levantou e se apoiou no parapeito,
observando as pessoas dançando na pista de dança.
— Acho que tá na hora de buscar uma companhia para mim
— ele se vira para nós e percebo Bianca revirando os olhos. —
Quem vem comigo?
— Bora — Tyler vira o conteúdo do seu copo e se levanta.
— Ficarei aqui com minha pequena — Matteo olha para mim
com carinho e sorrio.
— Fofos — Michael ironiza e lhe mostro a língua. — Muito
maduro, Hanna!
— Nunca neguei meu lado infantil — pisco para ele.
— Nicolas? — Meu primo questiona e todos nós encaramos
meu irmão.
Não é segredo para ninguém aqui que Nicolas tem fama de
pegador. Sempre que sai com os amigos, acaba deixando um
coração partido para trás. Menos Vanessa, essa é um caso à parte.
Meu irmão toma um gole da sua cerveja e parece respirar fundo
antes de responder.
— Tô bem hoje! — Sei que finge indiferença.
— Meu Deus, vai chover! — Bianca é quem brinca e todos
nós rimos.
— Não enche, Bianca. — Ele fica irritado, mas logo tenta se
conter. — Só não tô afim, muita coisa na cabeça.
— Tudo bem — ela levanta as mãos no ar e trata de mudar de
assunto. — Quem quer dançar? Tô cansada de ficar sentada.
— Nós! — Sophia pega seu copo em uma mão e puxa a mão
de Abby com a outra.
Minha amiga quase não consegue pegar sua taça de drink
antes de ser arrastada pela minha prima. Bianca sorri e, antes de
seguir as duas pela multidão, se vira para os amigos.
— Tomem cuidado para não engravidarem uma garota por aí
— ela pisca para eles e sai sem esperar uma resposta.
Tyler e Michael fazem caretas e não demoram a desaparecer
no meio das pessoas. Melanie e Sam pedem licença e saem para
pegar uma bebida. Olho para meu irmão e o vejo concentrado na
garrafa a sua frente. Parece que ele está com a cabeça em outro
lugar.
— Nicky — chamo e ele ergue os olhos. — Aconteceu alguma
coisa?
— Não — ele tenta sorrir, mas percebe que eu não caio na
sua. — Nada que você tenha que se preocupar.
— Certeza?
— Sim, sis! Fica tranquila — ele ingere o resto do líquido da
garrafa, se levanta e comunica. — Vou ao banheiro.
Fico olhando meu irmão caminhando pela multidão, até
desaparecer pelo corredor que leva aos banheiros da área vip. Solto
um suspiro e escuto a risada abafada de Matteo. Viro o rosto e
encontro seus olhos cinzas me observando.
— Ele vai ficar bem — tenta me tranquilizar.
— Assim espero — sou sincera e sorrio. — Se algo acontecer,
sei que ele tem você e os meninos para ajudá-lo.
Matteo assente e abaixa a cabeça, depositando beijos no meu
pescoço. Meu corpo desperta com o contato dos seus lábios em
minha pele e mordo o lábio inferior. Inclino minha cabeça para que
ele tenha melhor acesso à região. Sua mão vai subindo por minha
coxa e encontra a barra do vestido.
— O que acha de darmos a noite por encerrada e você dormir
no meu apartamento hoje? — Sussurra no meu ouvido.
Tento conter o gemido, mordendo mais forte meu lábio, e
balanço a cabeça em concordância.
— Com palavras, pequena — morde o lóbulo da minha orelha.
— Sim — minha voz sai baixa e ele se afasta, pegando minha
mão.
— Vamos!
Caminhamos até a saída de mãos dadas e seguro seu braço
com a outra mão. Matteo pede o carro e logo seu segurança
aparece. Ele abre a porta para que eu entre primeiro e entra logo
depois, sentando-se ao meu lado. Enquanto dá ordens para o
motorista, faz carinho com os dedos no dorso da minha mão. Mando
uma mensagem para Sophia e outra para Nicolas avisando que
estou indo embora com meu noivo. Encosto minha cabeça no seu
ombro e fico vendo a paisagem pela janela, até chegar no prédio de
Matteo.
As portas do elevador que levam até a cobertura se fecham e
Matteo já me prensa contra a parede de metal, beijando minha boca
com ferocidade. Me entrego da mesma maneira, nossas línguas
duelando. Sua mão aperta minha bunda e eu mordo seu lábio
inferior. Quando as portas se abrem, já estamos em frente a sua
porta e ele busca rapidamente as chaves no bolso da calça.
É a primeira vez que entro no apartamento dele e é
exatamente como imaginei. A mistura de cores, branco, preto e cinza
já eram esperadas. No entanto, as cores não fazem com que o
ambiente fique impessoal. Consigo visualizar um lar de uma família
aqui. A família que vamos construir juntos!
Matteo me abraça por trás e aproxima a boca do meu ouvido,
causando arrepios.
— Gostou? — Consigo perceber um pouco de insegurança na
sua voz.
— É lindo! — Viro o corpo e ele continua com os braços ao
meu redor. Coloco um sorriso malicioso no rosto. — Mas quero
conhecer seu quarto…
— Nosso quarto — ele coloca uma mecha do meu cabelo
para trás da minha orelha. — Tudo que é meu já é seu, pequena.
Meu sorriso se abre ainda mais e colo meus lábios aos seus.
Nosso beijo é um pouco mais calmo agora, mas logo começa a se
tornar selvagem. Sinto sua ereção contra minha perna e meu ponto
de desejo começa a chamar atenção.
— Eu tô a noite inteira querendo tirar esse vestido do seu
corpo — ele sussurra com a voz rouca que o deixa sexy pra caralho.
— Então tira — mordo seu lóbulo da orelha.
Não preciso dizer duas vezes, porque ele já me vira,
colocando meu cabelo para o lado e abrindo o zíper que fica na parte
de trás. Quando termina o trabalho, sinto seus dedos deslizando as
alças pelos meus ombros. Inclino a cabeça para trás e apoio no seu
peito. Matteo desliza os dedos por todo meu corpo e brinca com a
lateral da calcinha.
Inferno, acho que quero pular algumas etapas hoje.
— Onde fica o quarto? — Questiono com minha respiração
começando a falhar.
— Segundo andar. Terceira porta à esquerda.
Tomo coragem para me afastar do seu corpo e quando nossos
olhos se cruzam, encontro-os brilhando de desejo.
— Te encontro lá em cima — saio o mais rápido que consigo,
tirando o sutiã e o deixando pelo caminho. Escuto os passos dele
logo atrás de mim.
Quando abro a porta, encontro um quarto nos mesmos tons e
uma cama king size no centro.
— Sabe quantas vezes sonhei com você deitada nessa cama,
dizendo meu nome e pedindo por mais? — Sussurra em meu ouvido
e prendo a respiração.
Suas mãos sobem por minha barriga e envolvem meus seios,
prendendo os bicos entre os dedos. Solto um gemido com o contato.
— Hora do sonho virar realidade! — Viro meu corpo e prendo
nossos lábios novamente.
Quando nos separamos, percebo que Matteo já está sem a
camisa. Passo os olhos por seu copo e percebo duas tatuagens que
não estavam ali antes. Ok, talvez já estivesse na última vez, mas não
reparei. Uma eu reconheço no seu braço, a que é feita por todos os
membros da Famiglia após concluir a iniciação, e que Matteo tinha
me contado que faria somente depois de tomar o cargo como
consigliere.
A segunda não consigo ver direito, porque é na lateral do seu
tórax, mas percebo que é alguma palavra ou frase. Passo os dedos
no local e sinto que ele está me observando.
— O que é isso aqui? — Questiono e ergo o olhar para ele.
— Remember me[37] — ele sorri. — Fiz para me lembrar de
você.
Fico surpresa com sua resposta e volto a observar a
tatuagem, confirmando o que ele falou. “Lembre-se de mim”.
— Quando você fez?
— No mesmo dia que fiz a da Famiglia — pega meu queixo e
faz com que o olhe nos olhos. — Lembrei da música que estava
cantando no carro quando voltávamos para casa e quis marcar na
minha pele o quão importante você é para mim. E que eu nunca iria
te esquecer.
Meus olhos se enchem de lágrimas e Matteo me beija com
carinho. Logo vamos intensificando e ele segura minha bunda com
as mãos, me levantando. Enlaço minhas pernas na sua cintura e ele
me carrega até a cama. Sinto minhas costas contra o colchão macio
e Matteo vai descendo os beijos pelo meu corpo, mordendo,
chupando e soprando cada parte, até chegar nos meus seios. Solto
um gemido quando ele começa a dar atenção ao local e meus dedos
puxam seu cabelo.
— Matteo…
— O que foi, meu amor? — Ergue o olhar com um sorriso
safado no rosto.
— Preciso de você — tento concentrar, mas ele leva um dos
dedos até meu ponto de prazer.
— O que quer que eu faça? — Questiona e solto um gemido.
— Preciso que me diga, pequena. Com palavras.
— Você… dentro de mim — mordo o lábio inferior e fecho os
olhos.
Matteo se afasta e escuto sua movimentação. Não demora
para senti-lo na minha entrada e ele começa a se movimentar. Acho
que nunca vou me cansar de tê-lo. Começo a movimentar meu
quadril no mesmo ritmo e nossas respirações vão ficando aceleradas
a cada instante.
Os únicos sons que escuto são de nossos corpos, nossas
respirações e nossos gemidos. Seguro a colcha entre os dedos e
arranho as costas dele com a outra mão. A movimentação vai se
intensificando e sei que estou quase lá.
Matteo sai de dentro de mim, me gira na cama, fazendo com
que eu fique de quatro e volta a me preencher. Quando chegamos ao
ápice juntos, sei que estou no paraíso. Matteo é o meu lar e sei que
posso superar tudo ao seu lado. Ele fica sob mim, tentando não
colocar seu peso em cima do meu corpo, e nossas respirações vão
normalizando. Ele se levanta e vai até o banheiro descartar a
camisinha. Viro de barriga para cima e puxo a colcha para o lado,
entrando debaixo do lençol.
Olho para o teto com um sorriso no rosto. Mesmo cansada,
não consigo deixar de sorrir e agradecer por tudo que vem
acontecendo na minha vida. Estou com o homem que amo e tenho
minha família e meus amigos comigo.
Sinto o colchão afundar ao meu lado e viro o rosto,
encontrando os olhos cinza de Matteo. Ele sorri e me puxa para seu
peito. Deito minha cabeça e pouso minha mão, enquanto ele faz
desenhos indecifráveis nas minhas costas.
— Eu te amo tanto, pequena — ele sussurra e deposita um
beijo na minha cabeça.
— Eu te amo, Matteo. Acho que sempre te amei — levanto um
pouco o rosto e beijo seus lábios.
Enfim, acho que vou ter meu final feliz!
Epílogo
Quase um ano se passou desde toda a confusão da missão
em Las Vegas e meu noivado com Matteo. Antes que vocês me
perguntem: não, ainda não nos casamos! Decidimos que vamos
aproveitar esse momento para namorar e a previsão é que o
casamento saia depois que eu me formar. Sim, previsão. Vai que eu
surto e queria me casar nos próximos meses, nunca se sabe.
Ando muito cansada. As aulas estão me matando, mas
confesso que estou amando aprender mais sobre a área. As férias
de verão já estão chegando e vou poder aproveitar com minha
família, amigos e meu noivo. Noivo, ainda não me acostumei com
isso. Está programada uma viagem para a nossa casa de férias na
Toscana, com toda família e alguns amigos. Estou ansiosa para
andar a cavalo com Matteo, e ganhar dele, obviamente.
Ah, lembram das ameaças que a parte italiana da família
estava recebendo? Então, acharam o culpado! Era um dos soldados
que estava apaixonado por Sophia. Ele descobriu sobre o término de
seu namoro e pediu sua mão de casamento para Lucca, que negou
prontamente. O homem surtou e começou com as ameaças. Quando
foi descoberto, ele tentou negar, mas Lucca tinha bastante prova
contra ele e o resultado acho que vocês conseguem imaginar.
Sophia está bem tranquila com tudo isso. Na verdade, ela
nem sabia que alguém tinha pedido sua mão em casamento. Agora
divide seu tempo estudando moda e ajudando o departamento de
teatro da faculdade com os figurinos das peças. No tempo livre,
fazemos algo juntas e ela dedica um tempo para brincar com Maya.
Vive recebendo mensagens do ex-namorado, Jesse, mas na maioria
das vezes acaba ignorando o coitado.
Já meu irmão anda atolado de trabalho. Entretanto, isso não
impede que ele saia com os amigos para a balada e não volte para
casa. Ele acabou tomando toda a responsabilidade de administrar os
negócios e nossa família. Como ele é bem protetor, colocou Kyller
para ser meu segurança particular. Além de gastar seu tempo com
os negócios, Nicolas reserva uma parte da sua semana para dar
atenção a Maya e ajudar Giulio com o treinamento. Sim, meu irmão
adolescente já está na fase da iniciação.
Meus pais decidiram se mudar para a Itália. Era um sonho de
papai e mamãe prontamente concordou. Meus irmãos mais novos
bateram o pé e disseram queriam continuar morando aqui, então
fizemos um acordo: eu e Nicolas tomamos conta dos nossos irmãos
e eles vem de dois em dois meses nos visitar.
Sei o que você deve estar pensando, que Maya é muito nova
para escolher onde viver. Meus pais acharam melhor não alterar sua
rotina e, como Nicolas é maior de idade, não viram tanto problema
em aceitar o pedido da pequena. Já para Giulio foi mais fácil
convencer eles, porque ele tinha a desculpa de que precisava
participar do treinamento da iniciação.
Nossos amigos continuam praticamente a mesma coisa. A
única alteração é que Bianca agora está de rolo com um homem um
pouco mais velho que ela, mas quem se importa com idade se
tratando de amor? Tyler e Michael continuam os mesmos, com meu
primo sempre sendo o brincalhão da turma e o outro sendo o mais
fechado. Abby parece estar apaixonada, mas ainda não consegui
descobrir quem é o cara. Mudarei meu nome se não descobrir até o
final do ano letivo. Melanie segue firme e forte com seu
relacionamento com Sam. A convite de Nicolas, ela começou a
trabalhar na empresa da família, ajudando com a parte administrativa
e está se dando super bem no cargo.
Olho para a roupa na minha mão e percebo que passei tempo
demais no mundinho dos meus pensamentos. Estou colocando as
roupas dobradas na gaveta errada. Balanço a cabeça e tento focar
no que estava fazendo.
Decidi dar uma geral no meu quarto hoje. Sempre faço isso
perto da data do meu aniversário, que no caso é daqui a uma
semana. Olho para a cama e vejo que tem bastante roupa para
colocar no lugar ainda. Respiro fundo e caminho até lá.
A música tocando me ajuda a concentrar e cantarolo uma das
canções do novo álbum da minha cantora preferida, Taylor Swift.
Pego uma blusa e a observo com atenção. Faz um tempo que não a
utilizo, talvez outra pessoa esteja precisando. Jogo a blusa na pilha
de roupas para doação, e continuo minha organização.
Só percebo que alguém entrou no quarto, quando os braços
de Matteo contornam minha cintura e ele encaixa a cabeça no meu
ombro.
— O que tá fazendo aí, pequena?
— Organização anual do closet.
Giro o corpo dentro de seus braços, passo os meus
contornando seu pescoço, e lhe dou um selinho.
— O que você tá fazendo aqui a essa hora? — Questiono ao
olhar para o computador e ver que a tela está marcando quase meio-
dia.
— Nicolas veio almoçar em casa e perguntou se a gente
queria acompanhá-lo — responde como se não fosse nada demais e
questiono o “a gente” como olhar. Ele entende e não demora a
responder. — Michael e Tyler estão lá embaixo.
Estranho. O problema de Matteo é que o conheço bem, e
olhando bem nos seus olhos, sei que ele está omitindo algo. Ergo
minha sobrancelha e ele bufa.
— É uma merda você me conhecer tão bem — resmunga.
— Pode começar a contar, amor!
Matteo se afasta de mim, fazendo movimentos de negação
com a mão.
— Sem essa pra cima de mim — ele fala e tento conter o
sorriso. — Não vai usar a hierarquia para me persuadir.
— Mas eu não ia fazer isso — tento fingir inocência e ele
estreita os olhos na minha direção.
— Sabe como você sabe que eu tô omitindo algo por me
conhecer tão bem? — Questiona e eu assinto. — Vale o contrário,
minha adorável noiva!
Reviro os olhos.
— Abre a boca logo, Matteo!
Ele suspira e se joga na minha cama, bom, no espaço
disponível nela.
— Viemos almoçar em casa, porque teremos uma reunião de
emergência.
Ok, ele tem minha atenção. Puxo a cadeira para perto da
cama e me sento nela.
— É assunto sério? — Questiono.
— Não sabemos ainda.
— Calma — estou confusa. — Como vão ter uma reunião e
não sabem sobre o que é?
Matteo levanta e se senta na beirada do colchão, pegando
minhas mãos e olhando nos meus olhos.
— Seu pai, o senhor Dante e o senhor Giulio estão neste
momento em um avião, vindo para cá.
Demoro um pouco para processar a informação.
— Você tá dizendo que meu pai, meu avô e meu tio-avô estão
vindo para cá? — Tento não parecer nervosa. — Eles só viriam daqui
uma semana para minha festa.
— Eles que convocaram a reunião.
— E você ainda não sabe se é algo sério? — Me levanto alterada
e caminho de um lado para o outro dentro do meu quarto. — Eles
não antecipariam a viagem se não fosse algo de extrema urgência,
Matteo.
— Talvez…
— Meu Deus — passo a mão no rosto. — Me fala que vocês não
aprontaram nenhuma merda nos últimos dias.
Matteo se levanta também e chega até mim, colocando as mãos
em meus ombros e me fazendo parar de andar. Seu olhar carinhoso
me acalma um pouco e tento me controlar.
— Tudo está correndo bem, não fizemos nada. — Ele me
garante.
— Então, por que…
— Para de criar teorias nessa cabecinha — ele me interrompe e
beija minha testa. — Tudo vai ficar bem!
Matteo abraça meu corpo e acabo relaxando. Encosto minha
cabeça em seu peito e ele apoia a cabeça na minha. Nos braços
dele eu me sinto tranquila, pois ele é meu lar. No entanto, nosso
momento é atrapalhado por batidas na porta e vejo a cabeça de
Sophia passar pela fresta. Seus dedos tampam seus olhos e não
consigo evitar o sorriso no rosto.
— Mandaram avisar que o almoço já vai ser servido — ela fala
rápido e fecha a porta em seguida.
Olho para Matteo e ele também está sorrindo da forma que minha
prima veio avisar.
— Vamos? — Pergunto e ele assente.
Me separo dele e vou até a minha escrivaninha pegar meu
celular. Sinto seu olhar sobre meu corpo me acompanhando. Quando
volto a andar, ele me para antes de cruzarmos a porta.
— Não comenta com ninguém o que te falei — ele pede. — Pode
ser só uma coisa à toa que eles querem resolver conosco. Não
precisa preocupar todo mundo.
Penso um pouco e ele deve estar certo. Problemas sempre
aparecem no nosso meio. Às vezes são tranquilos de resolver, outras
vezes demora um tempo. No final, o resultado é sempre o mesmo, e
conseguimos resolver tudo.
— Tudo bem — concordo e lhe dou um selinho.
Seus olhos acabam se fixando nos meus lábios e não consigo
evitar a vontade de beijá-lo. Nossas bocas encontram o caminho
uma da outra com facilidade e nosso beijo é cheio de paixão, tesão e
amor. Suas mãos apertam minha cintura e sinto um calor subindo
pelo meu corpo. Infelizmente, logo fomos interrompidos com o grito
de Nicolas.
— Andem logo!
Separamos nossos lábios e estamos ofegantes. Ambos com um
sorriso no rosto.
— Vamos, antes que meu irmão suba e nos arraste até a sala de
jantar.
Dou um selinho em seus lábios e quando começo a me
afastar, ele me puxa de volta.
— Te amo, pequena!
Acho que nunca irei me cansar de ouvir isso.
— Também te amo!
Capítulo Extra
Finalmente chegamos em casa.
Kyller nos acompanhou no caminho de volta, como todos os
outros dias. Ser uma herdeira da máfia tem disso: não podemos sair
sem segurança. Kyller é o soldado responsável pela segurança da
minha prima Hanna e ele que nos acompanha quando vamos à
faculdade.
Entramos pela porta principal, jogo minha bolsa no chão e me
sento no sofá. Estou muito cansada nos últimos dias com os
trabalhos da faculdade e os preparativos para a festa de aniversário
de dezenove anos de Hanna.
— Você também sente como se não existissem mais nenhuma
energia no seu corpo? — Minha prima perguntou se sentando ao
meu lado.
— Estou exausta e ainda tenho coisas para fazer hoje —
resmungo.
Uma discussão em tom elevado atrai nossa atenção e nossos
olhos percorrem a sala até encontrarem a porta do escritório. Hanna
solta um leve gemido ao meu lado e lanço um olhar questionador na
sua direção.
— Reunião de última hora. Só sei que meu pai veio da Itália para
isso — ela dá de ombros. — Ah, pops e nonno também estão aqui.
Arregalo os olhos para a informação. Meu avô está aqui? Mas ele
só viria daqui uma semana para o aniversário de Hanna.
— Então a situação é séria. Nossos avôs não sairiam da Itália
para uma simples reunião em Nova Iorque.
— Você pode ter razão…
Minha cabeça não tem tempo de pensar em uma teoria,
porque logo Matteo sai do escritório com um semblante cansado e se
aproxima de nós. Ele deposita um beijo na testa da noiva e passa o
braço pela sua cintura.
— Como foi a aula? — Ele pergunta, trocando o olhar entre
nós duas.
— O mesmo de sempre — Hanna responde primeiro e recebe
um pequeno sorriso do noivo.
Os dois são tão fofos que nem parecem fazer parte do nosso
mundo, isso na maior parte do tempo. Quando estão em uma
missão, eles mantêm o foco para executarem aquilo que foram
treinados para fazer. Quer dizer, menos em Vegas…
— O que tá acontecendo lá dentro? — Hanna questiona e
Matteo faz uma leve careta.
— Estamos tentando resolver uma pequena confusão — seus
olhos gritam que a confusão não tem nada de pequena.
— Pequena? — Minha prima revira os olhos e bate a ponta do
dedo no nariz dele. — Você não me engana, noivinho.
— Desta vez eu juro que não sei como… — Matteo não
termina a frase e olha para a porta do escritório quando alguém grita
lá dentro.
— Bom — atraio a atenção deles. — Estou cansada e ainda
tenho que terminar um trabalho para amanhã. Vou deixar os
pombinhos a sós e seguir para meu quarto.
Pego minha bolsa e estou começando a subir a escada
quando escuto Hanna me chamar. Viro segurando no corrimão e
encontro as duas bolas cor de mel me encarando.
— Meu vestido? — Ela quer saber do vestido que estou
fazendo para ela usar no seu aniversário.
— Estará pronto para a festa, não se preocupe — pisco um
olho e continuo meu caminho.
Abro a porta do meu quarto, coloco minha mochilinha
pendurada na cadeira, faço um coque no cabelo e respirei fundo
antes de iniciar a última tarefa do dia. Tenho que terminar de fazer
alguns croquis para a aula de amanhã. Puxo a cadeira da minha
escrivaninha e tento me concentrar para iniciar meu trabalho, mas
um barulho chama minha atenção.
Notificação de mensagem. Decido ignorar.
Outra.
E mais uma.
Inferno!
Pego o celular, que estava apoiado com a tela virada para
baixo em cima da mesa. Não me surpreendo quando vejo que são
mensagens de Jesse. Meu ex namorado vem me mandando
mensagem desde ontem pedindo para conversar. Respiro fundo e
decido ignorar, como fiz com as anteriores.
Não me entenda mal, Jesse é um cara muito legal. Nós nos
conhecemos há anos, já que seu pai trabalhava para nossa família, e
agora ele é o chefe dos soldados da parte italiana, também
conhecida como o território que meu irmão Lucca comanda.
Nós começamos a nos relacionar quando eu tinha dezesseis
anos e nosso namoro durou quase dois anos. Terminamos um pouco
antes de me mudar para os Estados Unidos. Eu me mudei para cá
para fazer faculdade e ele foi fazer um treinamento especializado na
Bélgica. Não brigamos feio nem nada do tipo, mas era o momento
certo de terminar. Ambos tínhamos ciência disso.
Balanço a cabeça para afastar esse assunto da minha mente.
Preciso focar no meu trabalho, porque preciso passar nessa matéria
esse semestre. Aperto o botão para escurecer a tela do meu celular
e volto minha atenção para a folha em branco em cima da
escrivaninha.
— Vamos, Sophia. Você consegue! — Falo sozinha antes de
pegar o lápis e começar a rabiscar.
Eu não sei quanto tempo passou, mas desperto com meu celular
fazendo barulho. Tateio o lençol da cama buscando o aparelho.
Lembro de ter terminado de fazer os croquis e ter decidido assistir
um episódio da minha série turca preferida, mas devo ter dormido
antes de terminar o episódio. Cada episódio tem duas horas, o que
você queria?
Consigo encontrar o aparelho e abro os olhos com dificuldade por
conta da claridade. Demoro um pouco para enxergar com clareza,
mas levanto rapidamente quando vejo a quantidade de mensagem.
“Tá acordada?”
“Preciso falar com você”
“É urgente!”
“Por favor, não me ignore!"
“Tô aqui, te espero no jardim”
Leio umas três vezes para ver se não entendi errado. O que
ele tá fazendo no jardim nessa hora da noite? Olho no relógio e
constato que são duas da manhã. Fecho a mão e coloco na boca
para evitar o grito que está quase saindo pela garganta.
Não demora para uma nova mensagem chegar.
“Eu sei que você tá acordada, vi que visualizou as
mensagens.”
Respiro fundo.
“Vem aqui, por favor!”
Ok, ele deve estar querendo muito falar comigo. Pediu por favor
duas vezes!
Levanto da cama, calçando meu chinelo e pego um cardigan
preto pendurado no cabide. Estou usando um vestido solto de
alcinha e sei que vou sentir frio ao sair de casa. Estamos quase no
verão, mas de madrugada costuma ter um ventinho frio.
Saio do quarto e tento tomar todo o cuidado possível para não
acordar os outros moradores. Ninguém precisa saber que estou
saindo de fininho no meio da noite para encontrar alguém no jardim.
Além disso, não quero acordar Maya. Sei que minha priminha tem
sono leve e se me encontrar acordada essa hora da noite vai me
encher de perguntas.
Consigo chegar no andar de baixo e solto o ar que nem
percebi que estava segurando. Caminho até as portas que levam ao
jardim e encontro seu corpo virado para a vista da cidade.
— O que você tá fazendo aqui? — Sussurro ao me aproximar
dele e recebo sua atenção.
Ele se vira e consigo ver seu rosto mesmo tendo só a luz da
lua como iluminação. Está usando camisa social com as mangas
dobradas até o cotovelo e uma calça jeans. Seus olhos estão
cansados.
— Algum soldado pode nos ver aqui — olho para os lados
para ver se nenhum deles está nos observando.
— Não se preocupe com isso.
Ele me encara com seus grandes olhos azuis, mas não diz mais
nada. Sinto um arrepio me percorrer e abraço meu corpo.
— Então… — ele continua me olhando. — Vai me dizer o que
está fazendo aqui a essa hora?
— Preciso de ajuda — ele respira fundo e volta a olhar para a
cidade.
— Você viu que horas são? Duas da manhã! Não podia esperar
até amanhecer? — Sei que minha voz saiu irritada, mas pelo amor
de Deus.
— Achei que fosse me ignorar… Não seria a primeira vez, né? —
Ele me olha de canto e resolvo desviar o olhar para a cidade
também. Melhor apreciar a vista do que responder essa pergunta
totalmente retórica.
— O que aconteceu? — Resolvo perguntar. Não vou ficar a noite
toda passando frio e esperando ele anunciar o que está
acontecendo.
Ficamos em silêncio por alguns segundos e escuto ele soltar o ar
com força antes de dizer as palavras:
— Preciso que se case comigo!
Giro o corpo em uma velocidade impressionante. Estou com os
olhos arregalados, ninguém precisa me dizer, eu sei. Minha mente
demora a processar o que ele acabou de dizer.
Ele só pode estar louco, certo?
Não é possível que isso esteja acontecendo.
Agradecimentos
Primeiro eu quero agradecer você, leitor, que leu minha
história do início ao fim. Espero que tenha gostado desse universo
que criei.
Agradeço à minha família, pelo apoio e incentivo. À minha
mãe, que ficava insistindo em querer ler, mas até o momento da
publicação não leu uma frase do que escrevi aqui, porque eu não
deixei rsrsrs.
Agradeço os meus melhores amigos, que me incentivaram
nessa loucura e me ajudaram a não desistir da escrita. Minha leitora
beta Alice, que tenta tirar informações sobre o #vemaí, muito
obrigada por topar entrar nessa loucura comigo.
Às minhas parceiras, muito obrigada por aceitarem participar e
ajudar na divulgação desse livro.
Obrigada!

Ps: Me contem nas redes sociais se vocês querem as histórias


dos outros primos Collalto e não esqueçam de avaliar na Amazon,
por favor!
Redes sociais
Instagram: @autoragioliveira
TikTok: @autoragioliveira
Sobre a autora
Giovanna Oliveira é mineira, tem 24 anos, formada em
Jornalismo e apaixonada por cultura. Sempre gostou de ler e
escrever, mas só decidiu compartilhar suas histórias com o mundo
em 2022.
Sempre escreveu uma coisa aqui, outra ali... No entanto,
nunca tinha concluído uma história de fato, até Amor Secreto entrar
na sua vida!
Apaixonada por livros, filmes e séries, isso é algo que faz
parte dela e ela não sabe viver sem (os amigos até estranhariam se
mudasse um dia rsrsrs).
Tem o desejo de emocionar seus leitores, fazer com que eles
gritem e se divirtam com as suas histórias!

[1] “meu filho” em italiano.


[2] “minha criança” em italiano.
[3] “Obrigada, papai” em italiano.
[4] Apelido carinhoso que vem da palavra “sister”, que significa irmã em inglês.
[5] Chefe da máfia, também conhecido como Don.
[6] “avô” em italiano.
[7] Forma carinhosa de chamar “grandfather”, avô em inglês.
[8] "conselheiro" em italiano. É um dos homens de confiança do Capo na hierarquia da
máfia.
[9] “Família” em italiano. Neste caso, no sentido no grupo de pessoas que fazem parte
da máfia italiana.
[10] “minha filha” em italiano.
[11] “Friends” é uma série de televisão norte-americana, lançada em 1994 e durou até a
décima temporada, terminando em 2004.
[12] “rapazes” em italiano.
[13] “meu filho” em italiano.
[14] “pai” em italiano.
[15] “tio” em italiano.
[16] “filha” em italiano.
[17] “Senhora” em italiano.
[18] “Bom dia, família” em italiano.
[19] “criança” em italiano.
[20] É o segundo em comando dentro da hierarquia da máfia.
[21] “Mãe” em italiano.
[22] “Meu Deus” em italiano.
[23]“lasanha quatro queijos” em italiano.
[24] “Supernatural” é uma série de televisão norte-americana, lançada em 2005 e
durou até a décima quinta temporada, terminando em 2020.

[25] “Grey’s Anatomy” é uma série de televisão norte-americana, lançada em 2005 e


atualmente está na décima nona temporada (2022).

[26] “Te amo” em italiano.


[27] “Cartas para Julieta” é um filme norte americano de romance lançado em 2010,
protagonizado pela atriz Amanda Seyfried.
[28] Maneira de chamar a “avó” em inglês.
[29] Taylor Swift é uma cantora, compositora, produtora, diretora e roteirista norte-
americana.
[30] “Diga que você se lembrará de mim / Usando um belo vestido”. Trecho da canção
“Wildest Dreams” da cantora Taylor Swift, do álbum “1989”.
[31] “Juro que darei meu sangue pela Família” em italiano.
[32] “Eu sei, meu filho” em italiano.
[33] “Simplesmente Acontece” é um filme britânico-germano de comédia romântica
lançado em 2014, protagonizado por Lily Collins e Sam Claflin.
[34] “Capo de todos os capos” em italiano, mais conhecido como o chefão ou Don.
[35] “minha irmãzinha” em italiano.
[36] “Tchau, rapazes” em italiano.
[37] “Lembre-se de mim”. Referindo-se a música “Wildest Dreams'' do álbum 1989, da
cantora estadunidense Taylor Swift.

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