Você está na página 1de 303

Copyright © 2019 - Mayara Carvalho, criado no Brasil.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Não é autorizada a cópia, distribuição comercial, republicações, total ou
parcial em qualquer meio sem autorização explicita da autora. A Violação dos direitos autorais é crime estabelecida na
lei n°. 9610/98 e punido pelo artigo 184 do código penal. O livro está protegido pela lei e registro. Não distribua,
respeite o trabalho alheio!
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera
coincidência.
Versão única, março de 2019

UM ATREVIDO PARA CHAMAR DE MEU


Design da capa & Diagramação: Mayara Carvalho
Revisão: Andriele & Fabiano Jucá (O Ponto e A Vírgula)
Imagem do miolo: Regards Coupables™
(@regards_coupables)
Modelo da capa: Juliano Oliveira
Fotografia: Marco Hass
atrevido
adjetivo substantivo masculino
1. 1.
que ou aquele que se atreve; ousado, audacioso.
2. 2.
que ou aquele que não demonstra medo ou submissão; corajoso, destemido.
ALEXIA
Hoje seria um belíssimo dia pra jogar tudo pro alto e mandar todo mundo tomar
naquele lugar. Mas não vou fazer isso. Sei que os dias de glória vão chegar. Pelo menos
assim espero. Já estou cansada de esperar pelo dia em que “os humilhados serão
exaltados”, mesmo sabendo que depois eles voltarão a ser humilhados, pro tombo ser duas
vezes maior. Ainda assim, quem já foi exaltado, que dê espaço!
O cansaço está tanto, mas tanto, que parece que tem alguém nas minhas costas
roubando minhas energias. Tudo porque estou desenvolvendo uma campanha publicitária
para uma marca de lingerie que quer alguma coisa impactante, diferenciada e motivadora
sobre autoestima. Eles desejam um conceito inusitado nesta campanha de
reposicionamento que está movimentado a internet. Mas estou sem um pingo de
inspiração para ela — sequer me reconheço. Nunca fiquei com tanta dificuldade em um
projeto como estou com esse.
É, essa é a minha realidade. Se acostumem!
Poderia começar contando a vocês que sou linda, rica, famosa e com os cabelos
mais hidratados que se possa imaginar. Mas eu estaria mentindo descaradamente se
dissesse que sou como a Marina Ruy Barbosa, ou então a própria Gisele Bündchen na
propaganda da Pantene. Eu sequer sou loira, muito menos ruiva, vejam só!
Na realidade, sou só mais uma pessoa na multidão vivendo uma vida rotineira e
sem emoções. Estou num namoro desgastado e problemático que se encaminha cada vez
mais para o fim, por conta de brigas intermináveis e discussões diárias.
Sabe aquele casal instável e turbulento, mas insiste na relação? Somos nós. E,
para ser sincera, nem eu sei como isso tem durado, pois não concordamos em
absolutamente nada.
Enquanto a cabine metálica sobe em direção ao meu setor de trabalho, numa
agência de publicidade, olho para o espelho e retoco mais uma vez meu batom, que é de
cor coral. Diego, meu namorado, vivia dizendo que o batom vermelho que eu usava era
“batom de vadia”. Então passei a evitar essa cor.
Passo a mão no meu vestido cinza. Não sei por que eu insisto em tentar usá-lo.
Sempre fica estranho em mim, porque evidencia minhas pernas não tão grossas, coisa que
odeio. Mas como acordei atrasada e foi o primeiro que vi, não tive tempo para escolher. O
maior ódio que eu passo diariamente é: planejar uma roupa mentalmente e ela está para
lavar ou não fica tão bem quanto pensei que ficaria.
O elevador abre e, mesmo de uma certa distância, vejo Téo e Nat conversando.
Eles sorriem assim que me veem saindo do elevador, e logo retribuo com sinceridade. Nós
trabalhamos juntos. Téo é o diretor geral de criação e Natasha é a redatora, que faz
parceria com a diretora de arte, ou seja, eu.
— Vadia! — Natasha me saúda assim que alcanço os dois. — Amei o vestido!
— Fofa, né? — falo ao Téo. — É minha amiga desde a faculdade.
Téo dá uma gargalhada, já a conhece muito bem. E eu dou um tapa na testa dela,
deixando meu amigo quase morrendo engasgado com o próprio riso.
— Bom dia, né? — digo enquanto jogo meus cabelos para o lado, checando as
pontas, esperando os dois responderem.
— Bom dia nada, eu acordei cedo. — Nat mostra sua típica impaciência.
— Você é uma galinha muito diferente, não gosta de acordar cedo. — Téo
implica.
Acabo rindo também por causa da reação dela. Nat mostra o dedo do meio e faz
cara de brava. Mas como levar a sério uma mulher de praticamente um metro e meio, que
tem a aparência de um anjo fofo? Basta ela abrir a boca para mostrar que não é bem assim.
Eles vivem entre tapas e abraços. Dois arianos “raízes”, e não ouso me meter. É
eu chegar aqui, que me divirto.

— Alexia, eu estou com fome! — Natasha berra no meu ouvido e tira minha
atenção do computador. — Lizandra mandou mensagem, está nos esperando para almoçar.
Vamos?
— Vamos. Estou morrendo de fome também — respondi.
Olho no relógio confirmando o horário. Conheci as duas há alguns anos e somos
amigas até hoje. Nat era da minha turma e fizemos amizade. Logo conheci sua irmã e
viramos um trio inseparável e, sempre que conseguimos uma brecha, almoçamos juntas, já
que Liz trabalha em uma revista aqui perto.
O restaurante não é longe, quase no final da avenida, uma caminhada não muito
cansativa, dependendo da disposição.
Seguimos.
O lugar está prestes a encher, já que é um point movimentado. Liz chega logo
depois, com um sorriso no rosto. Ela sempre está de bom humor. Chega a ser
surpreendente, principalmente numa hora dessas. As duas, apesar de parecidas
fisicamente, são dois polos diferentes no que diz respeito à personalidade.
Sentada mesmo, eu a cumprimento com um beijo e um abraço. Com os pedidos
feitos, começamos a conversar enquanto a comida não chega.
— Vamos ao pub novo, né? — pergunta Liz, que é a empolgação em pessoa.
— Não sei… — titubeio. — Diego não quer ir. — Reviro os olhos, pois queria
muito ir.
— Vocês são siameses por acaso? — Ácida, Natasha é ácida. —Vamos só nós
então, e é bem melhor que ele não vá mesmo.
— Nat! — Liz a repreende. — Tem certeza, sis?
— Nunca temos chance de sairmos juntas. Nem faço questão que ele vá. —
Natasha revira os olhos.
Ela sempre deixa claro que odeia Diego e não faz questão nenhuma que ele esteja
por perto.
— Qualquer coisa eu ligo pra vocês. — Ignoro a alfinetada, sabendo que eu vou
ficar de fora dessa noitada.

Chego em casa disposta a tomar um banho. Di me mandou mensagem mais cedo,


me convidando para ir em uma festinha de um amigo dele. Diego não é fã das meninas,
assim como elas não são suas fãs. Ele evita contato com as duas e pede pra que eu faça o
mesmo, mas não consigo. Amo as duas, por isso eu nunca consigo fazer um programa
com todos eles.
Apesar de estar morta de cansaço por conta da semana, eu vou, já que foi ele
quem me chamou e não quero fazer desfeita. Sem contar que uma festa hoje é uma boa
ideia, dá pra relaxar, já que não vou ao pub.
Meu dia não foi nem um pouco produtivo. O brainstorming que fizemos, mais
uma vez, para o trabalho novo foi inútil. Não achamos “a ideia” que eles querem e eu não
sei nem como começar. Minha criatividade está no lixo.
Ainda na sala, arranco a minha roupa, chutando os saltos para longe dos meus
pés, sentindo um alívio ao me libertar do sutiã, enquanto sigo para o banheiro tomar um
banho.
Uma das vantagens de morar sozinha!
Eu me arrumo com um dos vestidos que mais gosto. O decote é em V, com gola
alta no pescoço. Combina com qualquer ocasião. Espero não passar vergonha.
Tenho um péssimo complexo social e, nas festas, na maioria das vezes, sempre
acho que estou mal arrumada, parecendo uma mendiga, ou muito arrumada, parecendo
uma palhaça em relação às outras pessoas. Porém com esse vestido me sinto bem. Melhor
presente que Natasha me deu até hoje.
Diego aparece quando eu estava penteando os cabelos.
— Vai assim? — Seu tom é de censura.
— Vou… — respondo sem graça pelo tom dele.
Ele continua a me olhar da mesma forma e murcho. Estava me sentindo tão
bonita com esse vestido, é o meu favorito.
— Não tá bonita, não. Troca o vestido. Não quero passar vergonha.
As palavras dele me magoam profundamente e morro mais um pouco por dentro.
Custava ser mais doce? Sempre me sinto um lixo, pareço patética e nunca à sua altura. Ele
é muito crítico. Eu estava achando meu look muito bonito.
— O que tem de errado com a minha roupa, afinal? — pergunto tentando
entender onde eu errei. — A festa é muito formal?
Sabe quando criança faz birra com os braços cruzados? É ele agora, e eu não
entendo sua reação.
— Por que você nunca faz o que eu peço? Eu tô tentando te ajudar a ficar
apresentável, porque com esse salto você fica parecendo uma vadia! — Passa a mão no
rosto, exasperado.
— Tudo bem — murmuro dando fim ao assunto.
Troco, apesar de que meu salto não é alto. Ele odeia me ver de salto alto, acha
que fico vulgar demais, e também eu fico maior do que ele. Não gosta de decote, acha que
meus seios não são para decotes, mesmo que eles não sejam de um tamanho exagerado.
Seios padrões, digamos. Na verdade, tudo em mim ele acha vulgar. Por isso, só uso roupas
sóbrias e sem decote.

— Vem, tem uns amigos ali — disse Diego.


Ele me arrasta pelo braço e seguimos até uma rodinha de amigos. Ultimamente
saímos pouco juntos, quase sempre para alguma festa de amigos dele, então eu aproveito.
— Namorada? — Um dos amigos dele pergunta curioso e intrigado, depois dos
cumprimentos. — Há quantos meses vocês estão juntos?
— Dois anos já, né, Di? — Sorrio.
Todos fazem cara de surpresa, alguns claramente confusos. Diego nunca falou de
mim? Nesse tempo de namoro eu não conheço metade dos amigos dele do trabalho.
— Fazer o que se, mesmo sendo tímida e envergonhada, ela não resistiu aos meus
charmes? — Ele se gaba. — Aposto que está toda sem graça agora. — Ri em tom de
escárnio.
Sorrio realmente sem graça, constrangida por ele expor as minhas inseguranças
assim, e aperto a sua mão em um pedido silencioso para parar.
Ele não aprende a parar de fazer essa brincadeira só para me ver constrangida na
frente dos outros. Diego é o típico chato por querer. Faz questão de ser inconveniente.
Sabe que são constrangedoras as coisas que fala e faz e, ainda assim, continua a fazer para
irritar e se divertir com a situação embaraçosa alheia, e ainda se acha legalzão por isso.
Infelizmente, ele é esse tipo de pessoa.
No meio da conversa, me sinto mais relaxada por saber que eles são legais.
Diego se irritou quando percebeu que eu estou me dando superbem com os
amigos dele. Tivemos até uma pseudodiscussão quando ele nos afastou da rodinha para
dizer que eu estava muito amigável, como se estivesse dando em cima de todos e que eu
deveria ser menos “expansiva”. Logo eu, que me envergonho facilmente. Mas agora ele
está ali na pista de dança e me largou aqui sentada sozinha, vendo as pessoas se divertirem
enquanto bebo.
Já é a terceira música que toca e ele continua me ignorando. Finge que não está
me vendo, me punindo por não sei o quê. Tento ignorar pra não acabar brigando e
estragando o restinho da noite.
Ele está dançando com algumas pessoas, inclusive uma mulher. Se invertêssemos
os papéis ele não iria gostar da aproximação. Eu deveria sentir ciúmes dele, mas não sinto.
Simplesmente não ligo, antes ele lá do que aqui me enchendo. Chega uma hora que a
gente para de fazer questão, de cobrar, de querer…
Ele sempre diz que eu sou a ciumenta da relação, mas, na verdade, é ele. Ele é
ciumento e chega a me sufocar.
Já tô no final da minha bebida e tenho vontade de voltar pra casa. Puro tédio. Até
mexer no celular tá chato.
Não vou atrás. Não tô a fim de passar por esse papel, porque sei que ele vai ficar
reclamando no meu ouvido que eu tô marcando em cima dele e não o deixo respirar. O
engraçado é que ele faz isso comigo sempre. Então prefiro deixá-lo onde está.
Uma das meninas que estava conversando comigo quando chegamos, aparece do
meu lado sorrindo.
— Vamos pra pista! — Ela diz.
— Não sei dançar — nego meio envergonhada.
Ela ignora o que falei e me arrasta para o meio do pessoal. Acabo entrando na onda
dela, dançando. O álcool ajudou um pouco também.
Rimos uma para a outra e minha vergonha foi sumindo aos poucos, enquanto toca
uma música eletrônica conhecida. O local está à meia-luz, então fico mais confortável. Já
não me sinto entediada.
Diego de repente aparece, me chamando. Sorrio para ele e pego na sua mão,
deixando-o me levar para onde quer.
— Que foi? — Sorrio para ele disposta a beijá-lo. Mas a cara dele mostra que não
tá querendo isso e a vontade de sorrir morre um pouco em mim.
— O que pensa que estava fazendo? — resmunga.
— Tentando me divertir um pouco. Você me largou sozinha.
Tento beijá-lo novamente, mas ele se esquiva. Suspiro querendo saber qual o
problema da vez.
— Tinha homens te olhando, sabia? Se dê ao respeito! — O tom de voz é
grosseiro e ele aperta meu braço.
— Eu só estava dançando. Você também dançou com uma das suas colegas de
trabalho e eu não liguei — justifico.
— Lá vem você com seu ciúme descabido! — É, foi ele quem falou, não eu. —
Você tá perdendo a noção? Ouviu o que falei? Comporta-se! Ou vão pensar que eu namoro
uma puta que dança pra chamar a atenção! Vai ficar vergonhoso pra mim! — berra na
minha cara, me puxando pelo braço.
Como é? Ele tá louco? Me sinto injustiçada por ouvir aquelas palavras
descabidas.
— Você me pede respeito, mas não me respeita. Dançou agarrado com aquela
mulher lá, e agora, só porque eu estava dançando com as meninas, você acha que eu não
tô te respeitando? Me poupe!
— Como é? — Mostra sua incredulidade em tom bravo. — Tá bêbada já, só
pode.
— Você me ignorou a noite toda, não sei o porquê. — Me controlo pra não gritar.
— Eu estava só dançando. Com mulheres! E não estou bêbada!
— Você tinha que estar sentada e comportada como uma mulher comprometida!
Fecho os olhos e respiro fundo. Incrível como ele consegue estragar tudo!
— Eu tenho que ficar sentada enquanto você se diverte? Me trouxe pra que
então?… Quer saber? Eu vou embora. Fica aí, curte sua festa como bem quiser.
Dou um basta, entrego meu copo a ele e vou embora.

Faço o caminho de retorno à casa, revoltada com essas últimas atitudes dele.
Estou de saco cheio já. Tentei entender, mas ele sempre fica de cara amarrada ou fica me
dando gelo, como se a situação fosse criada por mim. Não aguento mais isso, eu me sinto
louca diante dele. Vivo questionando minha sanidade quando estou sozinha.
É nessas horas que penso em acabar tudo e mandá-lo pro inferno, mas ele sempre
ameaça fazer uma besteira consigo. Diz que vai mudar, chora e pede desculpas, e eu acabo
cedendo. É mais fácil dormir com a sensação de impotência do que com a consciência
pesada.
Ele até tenta mudar, fica amoroso, manda flores, volta a ser o Diego pelo qual eu
me apaixonei, mas, de repente, volta a ser esse daí, que só me magoa e me deixa irritada,
que se descontrola por pouca coisa. Nat e Liz disseram que ele faz mal pra mim, que é
tóxico e paranoico, que isso tá acabando comigo e eu nem percebo. Elas dizem que o
nosso relacionamento é abusivo por parte dele. As meninas me enxergam de uma forma,
ele me enxerga de outra, totalmente oposta. No entanto eu não sei o que fazer, é
angustiante.
Apesar de tudo, eu penso que o Diego é uma boa pessoa, acredito na sua mudança
e evolução. Eu costumo lutar pelas pessoas que estão perto de mim, mas, para ser sincera,
estou desgastada com tudo isso. Acredito que é fase e ele vai melhorar, mas até agora não
vejo avanço nenhum! No momento tudo o que eu quero é que ele se afaste de mim, que
esqueça que eu existo, pois vou fazer o mesmo. Eu tô muito magoada e quero que ele
simplesmente suma da minha vida.
ALEXIA
Às vezes questiono seriamente se vim pra esse mundo apenas pra passar raiva ou
pagar boleto, sério. Chega ao final de semana, eu só acumulo problemas e tô improdutiva
no trabalho. Saio mais tarde que o normal, tentando recompensar de alguma forma esse
meu estado inútil durante o expediente. Até fui dormir na casa das meninas essa semana
pra ver se Nat e eu conseguiríamos fazer um novo brainstorming, um dos milhões, mas
que fosse eficiente. Mas nenhum deu certo. Nenhum!
Tudo me estressa. Tô brigada com o Diego ainda, mandei mensagem dizendo que
precisamos conversar, mas ele nem sequer retornou. Apenas visualizou. E com isso fui
queimando de raiva de pouco em pouco. Tô prestes a erguer a bandeira da derrota na luta
pelo nosso relacionamento, largando sua mão. Eu não aguento mais! Às vezes a gente fica
exausto de tentar ser mais forte do que realmente é.
Não existe nada mais angustiante que uma pessoa tentando ficar quieta. As
meninas já me conhecem, viram que eu não estava nada bem.
— Sendo sincera, Alexia, eu ainda não sei por que vocês dois insistem em ficar
juntos, sabendo que vão acabar brigando no final. Você já pensou em simplesmente cair
fora? — Liz sugere, cautelosa. E não é a primeira vez que ela fala sobre isso.
Estamos almoçando juntas, já que não conseguimos fazer isso durante a semana, e
aproveitei pra comentar sobre tudo que estava remoendo sozinha.
— Também acho. Desculpa, Alie, mas ele não é homem pra você, não, e já te disse
isso. — Natasha fala na cara, sem mimimi, como sempre faz.
— Ao mesmo tempo que tá ótimo, tá péssimo. Ele sempre mostra arrependimento.
Não sei pra que lado ir, tenho receio de me equivocar. — Sou sincera no que estou
sentindo e escuto Nat gemer descontente.
— Arrependimento é o cacete! Ele é manipulador, sempre vai achar uma desculpa
pras merdas que faz e o pior, você engole. Acorda, caramba! — Natasha rebate
controlando a raiva. — Arrependimento não acontece quando uma pessoa se desculpa e
chora, mas sim quando ela muda para que não corra o risco de te perder. Se ele faz essas
coisas sabendo que te magoa, é porque ele não tá nem aí pra você.
— Calma, irmã. — Liz intervém pra acalmar os ânimos e Nat apenas beberica sua
bebida, inabalável.
— É delicado, gente. Vamos completar dois anos juntos, é difícil ser a pessoa que
vai dar um ponto final em tudo. — Passo a mão no rosto, frustrada. Todas as pessoas que
saíram da minha vida foram por vontade própria, nunca tive a coragem de expulsar
alguém.
— Alexia, esse apego emocional que ele te impõe não te deixa ver que você merece
muito mais. Apegue-se naquilo que é melhor pra você, que por um acaso não é ele. — Liz,
mais calma e compreensiva, me aconselha.
— Ele vive mentindo e te enganando, e você só se preocupa em não acabar
drasticamente… — Natasha ri com ironia. — Eu realmente não sei mais como te defender,
sis. Avalie. Se acha que vale a pena ficar com ele mesmo diante das suas ações, fica então.
Eu lavo as minhas mãos, mas depois não me venha com a cara quebrada porque eu vou te
dizer “eu te avisei” sem remorso algum.
— Também não é assim, Natasha. Tenha jeito de falar! — Lizandra intervém mais
uma vez.
— É a verdade, Lizandra. E você também sabe disso, na verdade nós três sabemos.
Alexia parece que tem medo de se rebelar, fazer o que quer de verdade. Ela só precisa ser
sincera consigo mesma, ver que ele não a merece e dar um basta na situação. Mas ela
prefere ficar se iludindo com uma coisa que não vai melhorar — bufa nervosa. — Não
tenho paciência pra gente que gosta de insistir no erro.
— Falou a mulher que nunca namorou ninguém. Me poupe, Natasha! Eu contei pra
ser ouvida, não julgada. — Me defendo contrariada.
— Antes só do que com um babaca. E eu estou falando a verdade, não é
julgamento, estou abrindo seus olhos. Às vezes o conselho tem que ser mais duro pra
acordar. Olha as atitudes dele com você! E você deixa! Mostre quem você é, sis, pare de
se cobrar e martirizar por uma coisa que os dois deveriam fazer, chega a ser crueldade com
você mesma passar por isso, e à toa, porque… ele… não… vai… mudar!
Brevemente caladas, olhamos para Lizandra, a mediadora da conversa, que solta
um longo suspiro.
— Concordo com Natasha. Não tem por que ficar com uma pessoa que não te
oferece o mínimo. Vai ficar insistindo e juntando migalhas até quando? Olha como você tá
andando, toda murcha, sem um pingo de autoestima e amor próprio. Nem sequer percebe
que não é mais a mesma e só sabe ficar se queixando de uma vida que não melhora. Você
é feliz dessa forma, recebendo amor falso? Pois somente quando brigam pesado ele te dá
flores, na tentativa de te tapear. Que vida é essa, Alexia? Você se sente-se bem assim?
Nego com a cabeça, prestes a chorar diante de toda essa verdade jogada na minha
cara. Mas é tão difícil simplesmente ir, elas não entendem! Eu me sinto impotente!
— Não tô falando isso porque quero te magoar, amiga. Eu quero justamente te
ajudar, abrir seus olhos. Quando falo que tô com você, independente de qualquer coisa, é
porque eu tô, dou conselhos e te apoio, mas a única pessoa que pode mudar essa situação é
você mesma. Abre o olho de uma vez e encara que ele não tá nem aí pra você, antes que
fique ainda pior. — Natasha dá uma garfada na comida, encerrando o assunto. — Vai ver
que esse é o motivo de estar improdutiva no trabalho, essas coisas mexem com você.
— Alie, não confunda os fardos necessários com os que você opta por carregar.
Você vai morrer falando e ele não vai mudar nadinha, escute a gente. Estamos aqui pra
catar todos os seus cacos, pro que der e vier, você não tá sozinha. Só estamos esperando
o grito da sua independência. — Liz, cautelosa, dá o golpe final.
Encaro o meu próprio reflexo com calma. Uma mendiga no meu espelho, nem ao
menos me reconheço. Minha vaidade foi pro lixo, tô parecendo uma morta-viva. Meus
cabelos sempre foram bem cuidados. Hoje, não estão cinquenta por cento do que
custumavam ser. Quando foi que parei de me importar comigo mesma? Quando foi que
comecei a me deixar em segundo ou terceiro plano?
É estranho chegar a um momento em que seu próprio corpo cobra uma
mudança de vida, uma novidade. Às vezes dá vontade de fazer tudo e nada ao mesmo
tempo. Como se quisesse viver intensamente, mas sem sair da cama. É estranho e
sufocante.
Desde sábado, dia da briga, eu ando refletindo sobre tudo que realmente é
importante pra mim. Sempre que paro pra pensar nisso, acabo ficando com uma sensação
horrível de desalinho, sabe? Desajustada na minha própria vida. As palavras de Nat
rondam minha mente desde o almoço e me dão uma péssima sensação. Não quero mais
viver esse tipo de vida, tô insatisfeita e assumo.
Tô de saco cheio de tudo, inclusive do Diego. Não sei mais se ele é tão
importante assim pra mim. Ele me deixa muito confusa, porque às vezes age como se não
se importasse comigo e depois age diferente.
Eu queria ser mais confiante e fazer as coisas sem medo. Me sentir poderosa e
inabalável. Uma adulta segura, que se assume e se sente confortável e satisfeita até mesmo
com seus defeitos, a ponto de torná-los uma qualidade, como todas as minhas amigas da
faculdade e do colégio. É, tenho um triste hábito de fiscalizar alegrias alheias e eu sempre
me sinto dez passos atrás das pessoas.
Tenho algumas vergonhas, inclusive do meu corpo, e isso vem desde o colégio.
Recebia apelidos que me incomodavam, mas não sabia lidar. Quanto mais me importava,
mais pesado ficava suportar e isso me assombra até hoje. Sem contar que não me sinto
mais tão realizada como antes. Tô vivendo no automático e isso é chato.
Decidida a sacudir a poeira e a melhorar minha vida de alguma forma, em vez
de só lamentar, me visto disposta a ir à casa do Diego pra ter uma conversa franca e
sincera. Tem uma hora que cansa de insistir no incerto.
Pensei em deixar ele vir atrás de mim dessa vez, não bancar a namorada
neurótica que fica tendo DR a todo momento e, quando ele aparecesse, jogar as cartas na
mesa, mas não vou esperar a boa vontade dele. Ele gosta de pirraças, eu não. Se eu
entrar no jogo dele não vamos evoluir, e eu quero evoluir, com ou sem ele. A conversa
das meninas me acalentou, apesar da verdade ter sido esfregada na minha cara sem
cerimônias.
Pego o carro e sigo pro apartamento dele sem saber como a noite vai acabar.
Chegando perto, avisto ele saindo sem camisa e acompanhado de uma colega de
trabalho, que por um acaso estava na festa e até me cumprimentou. Acho estranho e
reduzo ainda mais a velocidade, mas acabo pisando no freio com força, fazendo com que o
carro dê um solavanco. Isso porque vi os dois se beijarem.
Pulo do carro e, estática na calçada, vejo a cena dele todo amoroso com ela,
ambos sorridentes. Se ainda tinha qualquer consideração por tudo, acabou de evaporar.
Como ele foi capaz? E eu pensando por dois sobre o término. Nasci pra ser lar, pra achar
no outro um relacionamento duradouro, e não pra ser estepe, quebra-galho e muito
menos idiota.
Eu sou o tipo de pessoa que procura luz no escuro, que tenta voar sem asas e
também acredita que uma hora tudo vai ficar bem. Mas quando uma coisa vem
escancarada assim, não tem como fingir que não tá acontecendo nada. Eu luto bastante
pelas pessoas, mas quando eu desisto, não tem volta. Natasha estava certa o tempo todo,
já vi. Isso pra mim é a gota d’água do copo que já estava pra transbordar.
Ele me vê, e eu dou as costas disposta a ir embora.
Não vale a pena brigar, chorar, fazer qualquer coisa. Ele viu que eu vi e pronto.
Não existe explicação. Acabou, não tem o que discutir, não tem o que fazer. Contra fatos
não há argumentos, não é o que dizem?
Entro no carro e dou partida, cega de ódio, raiva, mágoa, tristeza. Atordoada e
vazia. Diego estrapolou todos os limites! Todos! Eu poderia ser tudo, mas me trair?
Chego no meu apartamento sem saber direito como assimilar isso, sem nem
conseguir chorar. E minutos depois, escuto um barulho alto da minha porta sendo
esmurrada. Já sabendo quem é, abro. Ele simplesmente avança, batendo-se em mim
quando entra. Eu fecho a porta e me viro pra ele com as sobrancelhas arqueadas e braços
cruzados.
— O que você quer aqui? — vocifero. — Cai fora da minha casa!
Ele não demonstra nenhuma reação pra quem foi pego no flagra há dez minutos.
— Não vou. Que cena foi aquela, Alexia? — pergunta como se fosse o dono da
razão. — Qual o seu problema?
Existem pessoas que são tão cínicas, mas tão cínicas que atiram em você e logo
em seguida perguntam com a cara mais lavada do mundo o porquê de você estar
sangrando.
— Eu quem te pergunto. Que cena foi aquela, Diego? Decidiu optar por
relacionamento aberto e esqueceu de me avisar? — Não escondo a ironia. — Qual o meu
problema? Você chega aqui todo alterado depois de passar dias sumido, vejo você
beijando outra e sou eu quem tenho problema?
— Sem motivos? Apareci aqui essa semana e você não estava. E olhe que já era
tarde da noite! Está me traindo? Eu te mato! — O tom dele é ameaçador e deixa nossos
rostos próximos. Olho no olho.
— Diego…— Recuo amedrontada.
— Eu mato, entendeu, Alexia? Mato! — Continua a me ameaçar com um tom de
voz baixo.
— Você quem me traiu! Eu vi! Tá achando que tem direito de quê?
— Eu achei que VOCÊ estivesse me traindo. Estava muito estranha na troca de
mensagens. Eu só te traí, pois, mais cedo ou mais tarde, eu sabia que você me trairia
também, por causa desse seu jeito.
Desconversa. Rio sem acreditar. Não, sério! Não dá pra acreditar.
— E, em vez de você vir conversar comigo pra esclarecer as coisas, você me
trai porque supôs que eu trairia primeiro? Vai querer subjugar minha inteligência até
nisso? — pergunto, didática e desacreditada, tentando acreditar que ele chegou mesmo a
esse nível. — Se você tivesse atendido as minhas ligações esse tempo, saberia que tô
atolada no trabalho. E foi você quem deu chilique na festa!
Tento me soltar, mas ele continua me acuando na parede, segurando forte meu
braço.
— Me solta, Diego! — peço desconfortável.
— Não. Eu aposto que teve tempo para as vadias que você chama de amiguinhas.
São elas que estão te envenenando, não é? É o único motivo pra você estar louca e rebelde
desse jeito! — grita inteiramente descontrolado.
— “Vadia” é você, que namora comigo e beija outra! Você mesmo definiu as
prioridades quando me traiu! — grito de volta, já no meu limite. — E sabe o que é pior?
Eu não estou nada surpresa. Você simplesmente provou ser exatamente da forma que
percebo agora. E isso não é um elogio!
— Vai começar? Você está louca e histérica! Viu tudo errado!
Tenta, como sempre, me deixar como a errada da história, querendo que eu
duvide até da minha sanidade.
— Vai embora agora. Desaparece da minha casa e não volta!
— Não. Foi um deslize, ela que se atirou em cima de mim! Eu sou homem! —
diz, como se “ser homem” fosse justificativa pra algo. E daí? Eu sou mulher e nunca traí
ninguém.
Ele vem na minha direção, mas antes que chegue eu coloco a mão na frente,
impedindo. Diego é o tipo de pessoa que gosta de falar sem se importar, manipula as
situações e quando vê que foi longe demais e que está quase derrotado, se faz de
coitadinho.
A máscara dele caiu no momento em que xingou minhas amigas, disse que elas o
odeiam e fazem de tudo pra nos separar. Ele tá certo, mas as meninas estão muito mais
certas e eu prefiro acreditar nelas! Diego é um fingido!
— Não. Você não está arrependido, você só está dizendo que está porque foi
flagrado. Seu fingido! Vai pro inferno e não volte. Chega! Não quero mais desculpas
vazias, mentiras sem sentido! Eu não aguento mais esse relacionamento bosta! Eu não
aguento mais você! O que eu quero, você não me dará!
Dou a ele aquilo que as meninas nomeiam de grito da independência.
Ele vem pra me abraçar à força, prendendo meu corpo contra o seu e eu tento me
soltar enquanto ele me segura forte, quase me machucando.
— Você vai se zangar por algo tão bobo? — debocha.
— Não é bobo. Respeito é o mínimo num relacionamento.
Mesmo enraivecida me sinto envergonhada com a forma que ele falou. Não é
bobo. Ou é?
— Você é muito sensível. Vamos fazer as pazes.
Ele me agarra à força pra me beijar e eu tento sair de qualquer forma. Nunca me
senti tão acuada como agora.
— Não sou! Me solta!
Tento sair enquanto fazemos uma espécie de luta corporal, até que ele desiste
vendo minha resistência e me empurra.
— Quer saber? Não sei por que ainda perco meu tempo com uma pessoa do seu
tipo. Só eu mesmo pra me interessar por você.
— Então vai. — Jogo tudo pro alto.
— Eu vou. Deveria agradecer por ter uma pessoa como eu ao seu lado. Não vai
achar ninguém assim, que suporta todos os seus mimimis. Você tem sorte e não aproveita!
— Rude, joga na minha cara.
— Tá esperando o que pra ir? — Aponto para a saída. — Você falou tudo que
bem quis hoje e lide com as consequências. Não volte dizendo que tá arrependido porque
não tem volta. Eu simplesmente te odeio! — esbravejo friamente com todo o ódio que
sinto por saber que ele sempre mentiu sobre o nosso namoro, e eu tendo empatia por esse
filho da puta!
Ele dá as costas batendo a porta, causando um barulho alto. Pego a primeira coisa
que vejo e com toda a raiva arremesso em direção ao local que ele passou. Acabo
quebrando o vaso, provocando um barulho, e grito grunhindo de raiva.
As lágrimas vêm logo em seguida. Quando estou muito nervosa ou irada, sempre
acabo chorando feito uma idiota. Diego sempre foi agressivo e nunca mede as palavras e
ações quando brigamos, mas dessa vez ele foi muito além.
Às vezes as coisas são exatamente o que parecem ser. E só.
ALEXIA
Assim que abro os olhos, o gosto amargo vem na boca. Tanto do vinho que tomei
sozinha, quanto dos acontecimentos da noite passada. Estou péssima e magoada. Não
lembro como cheguei aqui na cama.
Apanho meu celular, que marca três da tarde, e vejo umas ligações de Liz e Nat,
mas nenhuma do Diego. Eu me surpreenderia se tivesse. Não retorno nenhuma das
ligações das meninas.
A tela inicial aparece e vejo que nela tem uma foto nossa. Foi uma das primeiras
fotos que tiramos, e eu adorava, por isso mantinha ela aqui, pois mostrava quão felizes nós
estávamos naquela noite que ele me pediu em namoro.
O que mais me magoa é que tudo o que ele falou é verdade. Estou péssima em
todos os sentidos. Bebi a madrugada inteira de barriga vazia e estou com um enjoo
ridículo! Estou desanimada e sem vontade nenhuma de fazer nada. A cabeça pesa como se
estivesse equilibrando um elefante.
O vazio que eu sinto é no peito. A vontade de chorar volta, mesmo sabendo que
ele foi um babaca, mentiroso, grosseiro e sem noção. Fico frustrada pelo fim do namoro.
Afinal, não foram dois dias e nem dois meses. Foram quase dois anos ao lado de
uma pessoa que tinha sentimentos e planos, fossem eles intensos ou não. Dois anos,
mesmo que o namoro já estivesse frio e desgastado. E eu era quem mais lutava pra manter
de pé. Isso frustra qualquer um.
Duvido que algum dia alguém se interesse por mim, como ele mesmo falou. Eu
sou uma péssima pessoa. Odeio me sentir assim. Minha autoestima, que já não andava lá
essas coisas, despencou. Foi a primeira a cair no poço. Analiso mais de perto e choro as
lágrimas que tinha e não tinha. Percebo que antes eu me cuidava mais do que hoje. Ele,
aos poucos, foi me apagando e eu nem percebi.
Sou tirada dos meus devaneios por causa do nome da Liz piscando na tela,
anunciando mais uma chamada. Respiro fundo e atendo, ela não vai sossegar enquanto eu
não atender. Eu prefiro ficar sozinha um pouco, mas o problema é que, ao estar sozinha, a
mente é a única companhia e ela nem sempre é amiga. A minha, principalmente, não é.
— Oi, Liz. — Tento parecer casual, mas minha voz está péssima.
— Sis, que voz é essa? Tá bem? — Liz questiona em um tom preocupado. — A
gente te esperou pro almoço que combinamos e você não veio…
Me conhece como ninguém… Eu tinha esquecido desse bendito almoço.
— Não. — Antes de completar a palavra eu já estava chorando.
Droga!
— O que aconteceu? Onde você tá agora? —questiona Liz com certa urgência na
voz.
— Em casa, e… Terminamos, sis, de verdade dessa vez. Vocês estavam certas. —
Puxo um suspiro pra falar, mas não adianta muita coisa, pois antes de terminar eu já estava
com a voz embargada.
Escuto ela resmungar agitada que tá vindo pra cá. Ela desliga o telefone.
Eu, que já estava imersa em minha tristeza, continuo. Alguns minutos e muitas
lamentações depois, Liz entra no meu quarto. Ela, como fica com a chave reserva do meu
apartamento, entra sem bater na porta.
Do jeito que tô, continuo. Enrolada naquela tristeza absoluta no quarto, luzes
apagadas e cortinas fechadas, deixando tudo escuro. Ela se senta do meu lado, olha pra
mim e depois me puxa pra um abraço apertado, sem dizer nenhuma palavra. Aceito seu
abraço e acalento, pra receber um pouco de conforto enquanto coloco pra fora todas as
minhas frustações e mágoas em forma de lágrimas.
Ela espera pacientemente até que eu me acalme, e afrouxa o abraço, limpando
meu rosto, que tá molhado e provavelmente muito inchado.
— Diga a Natasha que ela estava certa e que ainda me avisou. — Minha voz
ainda sai embargada do choro recente.
— Para com isso. — Coloca minha cabeça no seu colo e recebo um carinho nos
cabelos.
— As duas sempre me alertando e eu, burra, não quis enxergar.
— Quer dividir? — questiona em voz baixa e cautelosa, passando a mão no meu
cabelo.
Respiro fundo e começo a contar a ela desde o começo da briga, que vi ele
beijando outra, incluindo a parte dos insultos e como eu me sinto em relação a isso tudo.
Ela fica calada só escutando até o final.
— Pera aí. Isso é uma marca roxa? — Segura meu queixo e examina meu
pescoço.
— Sim, aconteceu na hora que ele tentou me agarrar à força. — Assumo meio
envergonhada e mostro o pulso também.
— Que desgraçado! Eu vou matar esse imbecil! — esbraveja e eu continuo
olhando sem saber o que fazer ou falar. — Dá queixa pra ele se foder.
— Não, Liz, esquece, não quero render. Foi no calor do momento.
— Não vou te obrigar se não quiser, mesmo achando que deve. E chega de tentar
justificar as ações dele!
— Obrigada. — Assinto. — E desculpa.
— Você é melhor sem aquele babaca. Ele nunca te respeitou. Se sentia superior te
deixando inferior. Olha o seu pescoço, ele é um idiota! — A raiva de Lizandra é
perceptível. — Você é melhor do que pensa, vai superar rapidinho.
Limpo minhas lágrimas, olhando pra ela.
— Não tenho tanta certeza disso, não. No final, a babaca sou eu. Talvez se eu
agisse de outra forma, tudo poderia ser diferente.
— Como não? Alexia! Evite se perguntar como poderia ter sido porque isso vai
te consumir. — O tom dela é de repreensão, mas logo assume uma expressão amena e
preocupada. — Eu sou amiga pra te ajudar, mas também pra abrir seus olhos, não sou? —
Ela olha pra mim com aqueles olhos azul-cintilantes.
— É. — Assinto sem saber o que ela quis dizer com isso.
— Então vou dizer a real: você precisa parar com essa sua síndrome de patinho
feio. — O tom dela continua o mesmo.
— Como assim?
— Você precisa parar de se achar estranha, figurante e coadjuvante da sua própria
vida, enquanto deveria ser protagonista. Faça uma autoavaliação e me diga suas
qualidades, aquelas que você reconhece de verdade.
O olhar questionador me faz parar pra pensar, mas não encontro nenhuma
qualidade convincente. Todas que eu achei que fossem, não são lá essas coisas. Sinto-me
totalmente exposta e fora do lugar, tanto que fujo do seu contato visual.
Eu me calo, olhando meu reflexo interno e não acho nada útil, nenhuma
qualidade, e isso é deprimente. Eu sou insegura e paranoica com a minha aparência e
relacionamentos. Qualquer tratamento diferente que recebo, já acho que o problema sou
eu, sempre acho que sou a causadora dos problemas, o pivô, que tem algo de errado
comigo, sempre assumo as culpas quando nem é culpa minha e eu odeio essa carga nas
minhas costas.
Quem sou eu? Uma pessoa que não consegue amar o próprio corpo, mesmo que
as pessoas falem que é o corpo dos sonhos. Vivo magoada, insegura, com a sensação de
ser estepe e ter sido usada. Um fardo na vida das pessoas. Ela usa meu silêncio pra
continuar a falar.
— Viu? Você não sabe suas qualidades porque não se acha boa o suficiente pra
nada. — Ela arqueia as sobrancelhas.
— Eu não tenho muitas qualidades, sou uma pessoa comum, Liz. — Me justifico.
— Ah é? Então por que Nat e eu estamos aqui se você é tão comum, uma pessoa
sem qualidades? Pena? Você acha que poderíamos estar aqui por pena, Alexia?
Ela me olha séria, com a expressão fechada, querendo uma resposta, e titubeio.
Tô confusa demais! Elas sempre me protegeram, talvez por achar que sou uma patética
que não sabe se virar sozinha.
Ela bufa impaciente e passa a mão nos cabelos.
— Sabe Natasha? Ela não sente pena de ninguém, nem de mim que sou irmã,
você bem sabe. Acha que estaríamos aqui com uma pessoa que não tem qualidades, por
pena, em pleno final da tarde de um sábado? Quando você viu isso acontecer? — Mantém
contato visual enquanto fala de modo objetivo. — Pare de achar que você é menor que
todo mundo, caralho! Entenda que defeitos todo mundo tem. Seu problema não é seu
corpo, não é o Diego e não é nada ao seu redor, é sua autoestima, você mesma! Evolua,
cresça, mude!
Sinto lágrimas brotarem dos meus olhos por tudo que tô ouvindo e ela aperta
minha mão, prosseguindo.
— Você é uma pessoa incrível e não enxerga. Uma amiga maravilhosa! — Ela
suspira. — Promete que vai enxergar as suas qualidades também? — A voz é mais doce,
me reconfortando depois desse murro sem mão.
Logo me puxa pra um abraço e me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por tê-
la como amiga. No fundo, talvez, ela tenha razão.
— Não gosto de ver você chorando pelos cantos e nem duvidando de si mesma.
Você tem que olhar apenas pra dentro de si, pois é desse lugar que vem seu impulso pra
mudar o que você quer mudar. Orgulhe-se de você. Só você sabe das suas próprias lutas,
das suas dores, daquilo que enfrenta todos os dias. Orgulhe-se, pois eu sei que no fundo
você consegue enxergar a sua essência e sabe exatamente como quer ser. — Limpa meus
olhos e sorri com os olhos dela cheios de lágrimas também. — Se você soubesse de tudo
isso, minha amiga, você iria se tocar que ele não merecia sua atenção desde o começo.
Você é maravilhosa e não aceite menos que o merecido.
— Obrigada por enxergar o que eu não consigo. — Choro, me sentindo péssima,
mas com uma pequena esperança de recomeço. — Prometo que vou melhorar.
— No seu tempo, Alie… Você precisa passar pelos dias ruins, pelas pessoas que
não souberam te olhar como você merece, pra crescer. Use isso pra impulsionar seu
crescimento. Com o tempo, vamos aprendendo, cada decepção é uma experiência nova.
Você tá sofrendo agora, mas não significa que você é fraca. Isso significa que você foi
forte o suficiente pra chegar até aqui. Eu, mais do que ninguém, sei disso, tenho o
famoso dedo podre, qualquer cara não fica mais que dois meses comigo. Toma um banho
e vem pra sala, você passou tempo demais sem comer.
Ela é um pouco mais baixa do que eu, mas consegue ser intimidadora quando
quer. Aceno positivamente e levanto pra ir. Deixo a água escorrer pelo meu corpo, levando
metade do peso que tenho sobre ele. Saio mais calma e não tão quebrada, ao contrário do
que pensei que seria esse momento. Assim que chego na cozinha, Nat não faz nenhum
comentário ácido. Apenas me abraça forte, o que me dá vontade de chorar de novo.
— Me desculpa por brigar com você por causa dele — digo sentida, ainda
abraçada a ela.
— Isso não importa mais. Quero que tatue no cérebro o que vou te falar: você é
suficiente pra caralho! Nunca deixe que digam o contrário pra te fazer duvidar disso! Se
perdoar pelos fracassos enfrentados é tão importante quanto comemorar as vitórias. Jamais
se culpe por amar muito alguém que não merecia nada. Não é porque ele foi embora que
você se tornou menos. Você sempre foi a pessoa que é antes dele chegar, e vai continuar
sendo. Bola pra frente, porque o que mais tem no mundo é homem gostoso.
— Arrasou, irmã!
— Filosofei, gata. Nem parece que fui eu quem disse, também sei ser fofa! — As
duas batem as mãos espalmadas no ar, rindo descontraídas.
— Amo vocês. — Abraço as duas de uma vez só, me sentindo grata e com uma
vontade de chorar novamente.
Se fôssemos um desenho animado, seríamos as meninas superpoderosas.
Lizandra seria a lindinha, personalidade doce, emotiva, extremamente bondosa, que vê
romance em tudo. Nat seria a docinho, um temperamento briguento e esquentadinho, que
não tem muita paciência, mandona, sempre de mau humor. E, bom… eu, florzinha, sempre
otimista, mesmo não estando ultimamente, e nos mantendo juntas, em equilíbrio.
— Também amamos você. Nós por nós. — As duas falam juntas nosso lema, a
tatuagem que nós carregamos na costela. Minha única tatuagem, mas simbólica demais.
Foi um dos eventos mais marcantes da nossa amizade, o dia em que fomos tatuar isso.
— Nós por nós — repito.
Que ironia! As pessoas que ele tanto quis me afastar hoje são as que me ajudam a
ficar inteira, sempre me alertando. Elas são as melhores amigas que alguém poderia ter,
cuidamos umas das outras como de nós mesmas.

Não sei quanto tempo passamos bebendo depois do almoço. De uma garrafa
passamos pra duas e nem sequer sei qual a quantidade agora. Só sei que estamos rindo e
fazendo o que sabemos fazer quando terminamos algum relacionamento: falar sobre os
parentes chatos da família dele, que tínhamos que aguentar, e das frustrações que
passamos no sexo, mas não poderíamos contar pra não parecer coisa de malcomida. Como
eu era mesmo, então foda-se.
— Você merece coisa melhor. Antes só do que mal-amada, ou no seu caso,
malcomida. — Ácida, Natasha!
— Concordo. Ele é um idiota. — Liz, que tá deitada sozinha em um dos sofás,
comenta.
Apesar de ele ser tudo isso que falei, ainda me sinto impotente. De alguma forma
me sinto aliviada, porém não deixo de ficar um pouco triste e me sentindo culpada por
pensar que poderia ter feito algo diferente, pra que as coisas não chegassem onde
chegaram.
— Agora que você tá solteira, vamos poder sair horrores juntas. Daqui a pouco
você tá com um homão gostoso aí pra te pegar de jeito e rapidinho vai esquecer esse
babaca. — Liz sorri para mim.
— Pois é, coração partido se cola com porra! — Natasha solta uma das suas
pérolas e gargalhamos alto até minha barriga doer.
Não sei se é toda a bebida que ingeri fazendo efeito, mas quando lembro das
palavras de Liz, aqui jogada no sofá sozinha, depois de um sábado juntas, acabo chorando
um pouquinho. Talvez ela tenha razão, eu devo prestar mais atenção nas minhas
qualidades.
Pego meu celular pra dar uma fuçada nas redes sociais e, como se o destino
estivesse rindo de mim e aproveitando pra tripudiar mais um pouco, a primeira postagem
que vejo é dele, de alguns minutos atrás. Uma foto com a tal da Emily, agarradinhos, a
localização é de uma boate. A legenda da foto é algo como “você vale mais que qualquer
outra”, e embaixo dela tem alguns comentários de apoio, como se as pessoas já
soubessem.
Em me sinto afetada. A outra, no caso, seria eu? São coisas desse tipo que deixam
meu estômago embrulhado. Não vou fingir que isso não me magoou, pois magoou sim.
Até ontem era eu ali. Mesmo estando longe, ele ainda consegue fazer com que eu me sinta
mal. Pra quem disse que foi apenas um deslize e que a mulher se jogou pra ele… Foi
capturado muito fácil, assumiu até um relacionamento com a sujeita.
Dói ver isso. Sabendo dessas coisas, morre um pouco da mulher decidida que
prometi ser pra mim mesma e cresce o monstro da insegurança no meu peito. Quer dizer,
tudo o que passamos pra ele simplesmente não valeu de nada. Eu fui tão insignificante que
ela tá ali, valendo mais do que eu.
Emily era a amiga do trabalho dele, a mesma da festa, a mesma do beijo. Vai
saber durante quanto tempo eles estão se conhecendo pelas minhas costas ou na minha
cara, e eu, idiota como sempre, deixei passar batido.
Se ele me superou tão rápido, eu vou conseguir viver sem ele. Não o amava
loucamente, mas a falta de empatia foi muito grosseira, e é o que me machuca. Ele vivia
dizendo que me amava quando eu decidia terminar e, na primeira oportunidade, joga na
minha cara que não tá nem aí para mim. Não faz sentido eu ficar chorando enquanto ele tá
curtindo.
Talvez isso seja o empurrãozinho que eu preciso, o divisor de águas na minha
vida. Preciso aprender a ser mais confiante e aceitar mudanças. Quem sabe Liz tenha
razão? A única coisa que ele vai ter de mim é o meu desprezo.
Ele só fingia. Por mais duras que fossem as palavras e as ações, percebo que foi
necessário. Precisei ser honesta comigo mesma pra notar que, quanto mais me doava pra
ele, menor eu ficava. Não é egoísmo eu me pôr em primeiro lugar. Já me deixei muito em
segundo plano, deixei de fazer coisas que gosto por ele e nunca tive reconhecimento ou
algo em troca.
Não vou ficar me acabando por causa de uma pessoa que tá seguindo a vida tão
facilmente. O mundo não para quando tô triste. O tempo não espera eu melhorar pra voltar
a viver minha vida. Meu coração vai se reerguer, muito mais esperto do que antes. Sou
uma mulher adulta e vou saber superar isso da melhor forma possível. Ficar aqui sofrendo
não vai me ajudar em nada!
Vou mudar pra ele ver quem perdeu e principalmente, por mim mesma. Por mais
doloroso que seja, um pé na bunda sempre empurra pra frente e, ao contrário do que ele
pensa, ele não é homem pra mim! O que ele fez só me deu mais motivos pra fazer o que
eu não tinha coragem. Que Deus me dê coragem e o diabo me dê loucura!
ALEXIA
Pensa numa pessoa que dormiu mal a noite inteira, o pouco que dormiu, e agora
tem de levantar pra viver e fingir que está tudo bem. Ela sou eu. Mas duas coisas que
aprendi nesse final de semana com o término foram que: você cansa, mas não desiste
porque sabe que não tem ninguém que lute por você. Está sozinha, triste e, mesmo
assim, a única palavra que conhece é “lutar”. A outra é que a parte boa de levar um pé na
bunda é desenvolver a criatividade, ela fica ótima! Transformarei receio em arte! Medo
em coragem!
No domingo eu me dediquei ao trabalho pendente, colocando as coisas nos
trilhos, pensando formas de evoluir e me sentir confortável comigo mesma. Em primeiro
lugar, como montar uma campanha pedindo para as pessoas se aceitarem, se eu mesma
não me aceito? Preciso transmitir verdade nas palavras pra que as pessoas acreditem no
que eu tô falando. Tenho que passar credibilidade pela marca, esse é o meu trabalho!
Sempre fui insatisfeita com o meu maldito corpo magro. Eu amaria e desejo
muito ter um maravilhoso corpo curvilíneo e coxas grossas. Quando eu dou sinais de baixa
autoestima e insatisfação com a minha aparência, a reação é sempre a mesma. Todo
mundo me olha com cara de espanto e repete a mesma frase de sempre: logo você?
É, logo eu, sim. Logo eu!
Não é porque meia dúzia de pessoas me acha bonitinha, corpo de manequim, que
sempre foi assim. Eu cresci sendo chamada por apelidos constrangedores e isso reflete em
mim até hoje.
Não importa qual seja seu tipo de corpo, sempre alguém vai achar algum defeito e
apontar, sem pena.
Eu sempre me afastei por vergonha e receio da rejeição alheia. Por muito tempo,
no ensino fundamental principalmente, que foi um pesadelo, fui alvo de brincadeiras sem
graça da minha turma e algumas até pesadas, pelo menos pra mim. Uma dessas
brincadeiras chegou à diretoria. Era sobre o meu tamanho em comparação com as meninas
da minha idade. Enquanto todas estavam pondo peito e bunda, eu continuava tábua e alta
demais. Isso foi me deixando receosa de fazer amizades e esse trauma me perseguiu por
muitos anos, pois eu tinha medo de receber apelidos ou ser alvo de brincadeiras. Até hoje
minha timidez é reflexo disso. No ensino médio procurava ao máximo não chamar
atenção, pois a vergonha era duas vezes maior na época. E adolescentes são ainda mais
cruéis quando implicam com alguém.
Mas preciso desenvolver autoconfiança, minha insegurança já me atrapalhou
demais e não vou deixar que continue atrapalhando em uma das coisas que eu mais gosto
de fazer, que é exercer a minha profissão.
Precisei passar por essa turbulência pra me dar conta do que está a um palmo na
minha frente: eu não estava conseguindo montar uma campanha de orgulho próprio de
uma marca de lingerie porque simplesmente não sinto isso! Por eu não estar satisfeita com
o meu próprio corpo!
Às vezes precisamos ir na via contrária pra achar nosso caminho, e por que não
dar visibilidade àqueles que querem ser notados e aceitos do jeito que são? Eu sempre
gostei do diferente, então por que não mostrar para as outras pessoas que o diferente não
significa necessariamente feio?
Já tenho uma parte da campanha montada mentalmente só com esse estralo de
realidade. Praticamente cem por cento dos comerciais que vemos mostram somente
mulheres fitness usando roupas íntimas e ficando sexy, e ambos gostaram da minha ideia.
Mas não é bem assim, todo mundo é sexy, basta se sentir. Eu vou dar voz a todas aquelas
mulheres que têm receio de falar ou que são caladas. Essa campanha será mais pra mim
mesma do que pra qualquer outra pessoa.
Lidar com o que vem depois é tão importante quanto tudo o que aconteceu até
aqui.
Pensando nessa chance de recomeço, eu me empolgo. Essa semana o que mais
tenho são projetinhos pessoais. Pela primeira vez eu quero ficar sozinha, me reconstruir,
ficar quieta. Me respeitar, ter o meu próprio tempo. Entender e desacostumar da ideia que
não preciso de alguém do meu lado pra me completar. Eu preciso parar de temer a solidão,
se eu gostar da minha própria companhia não me sentirei só.

Prossigo a minha rotina normalmente e decido começar com as mudanças desde


já. Dedicar-me à minha insegurança. Estou empolgada para ser uma nova Alexia. E decido
mostrar isso voltando a usar meu batom vermelho. Aproveito meu cabelo de “bom humor”
e o deixo solto, apesar de precisar de uma hidratação digna e urgente. Preciso de uma
intervenção capilar chamada tesoura!

Eu estou no “total black”, de luto pela minha antiga eu. Inclusive de salto
maravilhoso fechado preto que amo e poucas vezes usei, até hoje. Adaptando a nova
música de Taylor Swift: “sinto muito, a antiga Alexia não pode atender agora, porque ela
está morta! (Ohh!)”. E para os desavisados, meu coração está de férias, e não sei quanto
voltará a trabalhar.

Chego na empresa e noto algumas pessoas me olhando. Outros que não conheço
sorriem, me deixando um pouco sem graça e sem saber como agir, mas sigo os conselhos
de Nat: abstraio e finjo demência. Subo direto, encontrando minha dupla trabalhando.
— Humm, voltou a ser vadia. — Nat debocha, ela sabe a história do batom. —
Por isso eu nunca deixei de usar. — Aponta para a sua boca e eu rio.
A semana tá indo de vento e popa, o trabalho pra Volúpia tá quase finalizado, hoje
eles virão pra uma reunião de aprovação com o pessoal do atendimento. Ainda tô no meu
projeto de #AlexiaDecidida, e sigo usando meu batom vermelho sem me achar vulgar.
Recebi alguns sorrisos na rua e as meninas ficaram no meu pé.
Diego não me ligou nenhuma vez, mostrando que foi definitivo, e nem procurei
notícias também. É melhor assim!
Com duas paletas de cores abertas, tentando decidir qual cor seria ideal para o
projeto. Sou comunicada que vou precisar cobrir o setor de atendimento e apresentar a
reunião. Sequer o gerente do setor apareceu ainda e o pessoal já tá praticamente no prédio.
E o pior é que justo hoje Téo faltou pra ir ao médico, senão ele é que iria. Tudo
desfavorável!
— Natasha, você vem comigo.
Apresentar não é trabalho meu nem do meu setor, mas sempre temos que estar
preparados, afinal, fomos nós que criamos e coisas imprevisíveis podem acontecer. Desço
pro térreo e sigo pra sala de reunião. A porta logo é aberta por um funcionário que os traz.
Levanto os olhos pra saber quantas pessoas são e meu coração pulsa mais rápido
no mesmo momento em que dou de cara com um moreno lindíssimo de olhos escuros,
terno todo preto e barba cheia feita, com o olhar cravado em mim enquanto entra. Eu tô
quase sendo nocauteada pela sua beleza latina.
Ele anda totalmente dono de si, como se a sala fosse dele, se aproximando de
mim e de Natasha; não consigo desviar minha atenção de seu magnetismo, que me faz
ficar até sem ar. Que homem é esse, Jesus?
Ele é um pedaço de mau caminho, e por um momento imaginei me perdendo
nele. Chamou a atenção no meio de todos enquanto me olhava. E que olhar sagaz!
Logo, individualmente, eles nos cumprimentam. Respiro fundo e solto aos
poucos, tentando controlar meu corpo, que reage de um jeito totalmente alucinado à
medida que chega a vez dele, o último.
Espero ele vencer a distância entre nós e, quando isso acontece, me surpreendo
com seu tamanho. Apesar do meu salto ser um pouco alto e eu também ser por natureza,
não chego na altura dele. De perto o efeito é duas vezes pior e percebo que seus lábios são
vermelhinhos, convidativos, quase alaranjados, e a barba é perfeitamente escura e aparada,
como seus cabelos.
Mas esqueço qualquer pensamento quando escuto sua voz grave enquanto me
cumprimenta.
— Olá. Senhorita…?
Olha a voz desse homem! Ele exala um poder que me deixa sem ar! Foco, foco e
foco!
— Oi, é Alexia. Sentem-se.
Tento soar o mais profissional possível, o cumprimentando. Ele passa pela
Natasha, depois de acenar com a cabeça.
Eles se cumprimentam e eu aponto a cadeira pra cada um se sentar, pra que eu
possa começar a apresentação. Dou bom dia novamente e começo a apresentação com
minha face profissional, ignorando o jeito que ele me olha, mesmo me deixando
desnorteada, pois não desvia o olhar.
Sim, ele, o moreno. O olhar é afiado e, apesar do semblante sério, eu consigo
entender perfeitamente o contexto do seu olhar pra mim. Muito indecente, se eu prestar
atenção nas entrelinhas.
A reunião termina, conversamos e pontuamos sobre tudo o que foi apresentado.
Apertamos as mãos de um a um em agradecimento e despedida. O moreno, que percebi
não saber o nome, pois esqueci de perguntar, foi o único que me beijou a bochecha
enquanto segurava minha mão. Eu me senti um pouco esquisita e envergonhada pelo
cavalheirismo dele, quase não soube como reagir. A nossa aproximação me fez sentir o
cheiro maravilhoso que tem. Uma colônia amadeirada, um cheiro de homem bonito, como
ele.
O gerente chega e monopoliza a conversa e agradeço internamente por ele fazer
as honras de os levarem até a porta depois que agradecemos e finalizamos. Nat segura no
meu braço, entrelaçando com o próprio cotovelo, enquanto eu olho pra trás em um gesto
involuntário.
Tá! Na verdade verdadeira queria dar uma última olhada nele, estava aguçada.
Eu o flagro me olhando com a mão no bolso e em seguida dá um sorriso cafajeste
e uma piscada pra mim, alisando a barba, causando uma agonia enorme no meu corpo e,
claro, na minha calcinha. Acabei reprimindo um sorriso por aquilo e disfarcei pra Natasha
não perceber.
Entretanto, sentada na minha cadeira, lembro do moreno cujo nome continuo sem
saber, e não consigo prender o sorriso nos meus lábios, pela forma que sorriu pra mim.
Qual o meu problema?

MURILO
— Eu vi, hein? — Christian ri em tom debochado enquanto andamos em direção
ao carro.
— Viu o quê? — Me faço de desentendido, mas meu sorriso entrega.
— Você secando a mulher. Achei que fosse comê-la ali mesmo, por conta dos
olhares que você estava lançando.
— Achei ela bonita pra cacete! — Coço minha barba. — Pego muito!
Bonita é eufemismo! Pense em uma morena alta, pinta de modelo da porra, com
um vestido todo arrumado no corpo destacando a cintura e os seios, usando um batom
vermelho, o cabelo solto medindo quase no meio das costas. Aposto que é bom pra
segurar. É de deixar qualquer pau duro a visão daquela mulher sempre atenta às falas das
pessoas. Sem contar que, ao se levantar, ela é melhor ainda. Saltos altos deixando a bunda
empinadinha, mas ficaria ainda mais linda sentada no meu colo.
Eu quase ia dar meu telefone a ela, mas não deu tempo, infelizmente, e não sei se
seria antiético, ela poderia ficar ofendida. Também não sei se é comprometida. Não
estávamos com tempo pra bater um papo. Pela beleza que tem, com certeza é
comprometida, mas quando fui dar um beijo na mão dela percebi que não havia nenhum
anel. Ou ela é solteira ou o cara é um idiota em não marcar território com uma morena
gostosa do seu lado.
Caso seja solteira, vou dar um jeito de passar um tempo com ela, se ela quiser, e a
marcarei onde quiser, pescoço, seios, barriga, cintura e na…
— Ainda tem convite da festa disponível? — questiono interessado.
Se ela for no desfile, tento saber mais sobre ela, pois amaria dar uns beijos
naquela boca e, quem sabe, em outras partes do corpo.
— Você tá muito putão depois que ficou solteiro. — Ele ri em tom de escárnio e
dou de ombros.
Fazer o quê? Tô solteiro, então aproveito minha solteirice. Faz mais ou menos
dois meses que fiquei sozinho na pista, por isso não quero me apegar a ninguém por
enquanto. Quero desintoxicar de Camila que decidiu terminar comigo porque estava
gostando de outro. Minha vibe é essa ultimamente. Tô bem do jeito tô, solteiro e sozinho.
Chego em casa na hora que eu quero, posso andar pelado ou de cueca, assistir
coisas inapropriadas na sala, largar minhas roupas espalhadas e voltar pra pegar quando
bem entender, levar quem eu quiser pra casa e não preciso dar satisfação a ninguém. Faço
as coisas como e com quem eu quiser! Porém, se acontecer alguma coisa não vou lutar
contra, não. Sou um cara que quando gosta de alguém, mostra interesse e foda-se, deixo
rolar pra ver onde vai dar. Eu me entrego às minhas aventuras.
— E não distribuímos todos ainda não. — Ele me tira dos devaneios, destravando
o carro.
— Ótimo! Vou mandar pro setor dela. — Coloco meus óculos escuros no rosto.
Seguimos em direção à Volúpia, para trabalharmos. Tem coleção nova chegando,
muitos trabalhos!
Sou do setor comercial, trabalho junto com esse filho da mãe aqui do meu lado,
no banco do motorista. Somos responsáveis por atrair clientes e fidelizar os antigos. Além
de chamarmos a atenção do pessoal, compradores, ainda traçamos estratégias para os
novos patrocinadores e sócios sentirem que devem investir. No português clássico:
trazemos dinheiro! E a sacada genial das peças publicitárias em abranger toda a mulherada
foi foda!
Eu sou gerente de marketing, mas ambiciono ser gerente comercial interno. Quem
sabe, futuro acionista e diretor comercial nessa empresa que está começando a bombar,
apesar de ser uma marca considerada nova no mercado, mas que atrai clientes como
“formigas no açúcar”, depois desse reposicionamento e mudança de diretoria. Já falei
sobre a vontade de abraçar esse projeto, tô gostando de como as coisas estão sendo
encaminhadas.
Vou fazer acontecer essa subida de cargo! Tô de olho na bolsa de valores desde
já.
Tô muito ansioso por esse desfile de lançamento, conseguimos trazer uma cantora
meio famosinha pra cantar e isso tá gerando uma atração gostosa. Mas não é por isso que
quero que o evento chegue logo. Ela que me espere. Se ela for, vou querer beijá-la e ver se
aquela boquinha é tão gostosa quanto parece ser.

ALEXIA
Em pleno sábado eu tô indo trabalhar. É judiar demais de uma pessoa! Mas é por
causa do projeto, sem contar que demorei a ter a ideia, consequentemente deu uma
atrasada. Pelo menos tive uma boa notícia, meu setor ganhou convites da Volúpia. Ganhar
mimos é tão bom! Muito atenciosos!
O bom de trabalhar com publicidade é que, quando os clientes são amáveis e
gostam muito do trabalho, costumam deixar uns agradinhos, e os abonos que ficam pra
nós são maravilhosos.
Mantenho a concentração no trabalho. Logo meu celular apita, me tirando a
concentração, e vejo que é a Liz perguntando se estamos liberadas. Subo meus olhos para
ver a Nat mordendo a tampa da caneta, com cara de entediada enquanto fita o monitor.
Respondo que sim e ela avisa que vem pra cá.
Pouco depois, terminamos e descemos, encontrando a Liz no hall de entrada.
Cumprimento-a e seguimos rapidamente em direção ao meu carro, já que dei carona a elas
hoje.
— Liz, te contei que a nossa amiguinha aqui, ontem, foi alvo de olhares gulosos
de um dos clientes?
Natasha comenta como quem não quer nada, checando as próprias unhas e me
olhando logo em seguida com um sorriso debochado.
— Como assim? — Lizandra questiona recostada no carro, colocando seus
cabelos loiros como os da irmã, porém curtos, pra atrás da orelha enquanto me olha com
interesse.
— Precisava ver, ele acompanhando-a com o olhar enquanto a sonsa aqui vinha
na minha direção no final da reunião, sem contar que na hora de ir embora ela fez questão
de dar uma última olhada.
Natasha sorri venenosa, como sempre, e reviro os olhos enquanto Liz me olha
com uma sobrancelha arqueada. Nat não deixa passar nada, é incrível isso.
— Natasha tá inventando. Tem homem nenhum — esclareço, pois não houve
nada demais.
— Olha pra isso. Se não fosse a Nat nunca que eu iria saber disso.
Liz olha pra mim indignada e em seguida dá um sorriso igual ao da irmã. Elas
não prestam.
— Não foi nada de mais, Liz. Nat vê coisas.
Tento amenizar o alarde da Natasha. Destranco o carro entrando no lado do
motorista, mas antes de sairmos Liz faz graça, desenterrando o assunto.
— E é homão?
Assim que fala, começa a rir em tom de escárnio junto com a Natasha. Reviro os
olhos prendendo o riso pra não dar mais assunto. Estou feita com essas amigas!
— Liz, o homem era um gato! Quase tirei uma foto, mas não consegui,
infelizmente.
— Vocês são podres! Parem! — digo enquanto giro a chave pra fazer o carro
começar a andar.
— Você tá precisando transar urgente. E uma foda daquelas…
Lizandra debocha olhando pra minha cara, e olho pra ela rapidamente enquanto
tiro o carro da vaga.
— E vai ter um longo trabalho pela frente, pelo jeito. Malcomida, tadinha. — Nat
debocha também e vira pra irmã pra rirem juntas da minha cara. Não resisto e acabo rindo
também.
— E o desfile, você vai como? — Liz pergunta interessada depois de Natasha ter
comentado sobre os convites. Ela é assim, trabalhada nas informações.
— Eu não vou, não — respondo distraída no trânsito.
— Vai sim!
— Só sei que vou e vou lindíssima. — Nat, sempre Nat. — Aposto que o homem
te quer lá. — Faz um olhar malicioso pra mim pelo retrovisor e reviro os olhos.
— Eu não tenho roupa pra essas festas chiques. — Uma desculpa que não deixa
de ser verdade.
— Não seja por isso, nós vamos ao shopping. — Lizandra dá dois tapinhas no
meu ombro, como se dissesse “essa desculpa não cola.” — O que vai perder, além de um
homem bonito, se você for?
— Vamos, sis. Só vou se você for e quero muito ir. — Natasha faz cara de
cachorrinho.
— Argh! Eu odeio vocês!
Eu me rendo, pois não vai adiantar discutir mesmo e Nat sempre joga baixo.
— Preparada pra ficar linda e para encantar o homão da Volúpia? — Elas não
sossegam.
— Vão se foder!
— Bem que eu queria transar. — Nat ri e eu acompanho.
Dou meia-volta na primeira rotatória que encontro e sigo com elas para o
shopping. Tô ferrada, mas pelo menos, com essa ida ao shopping, vou poder fazer uma
coisa que eu queria muito e Diego não aprovava: cortar meus cabelos!
Primeiro, passamos para comer, pois estávamos famintas. Mas o dia que era para
ser leve muda drasticamente, porque encontramos Diego e sua mais nova namorada
passeando.
Minha intenção foi passar direto, ignorando-o, mas ele fez questão de nos parar.
A garota é tão dissimulada quanto ele, pois sorriu falsamente pra mim. E olhe que me
cumprimentou na festa.
— Oi Alexia, essa é minha namorada, Emily. Lembra dela? — sorri cinicamente.
Encaro ele com um ódio mortal. Filho da mãe! Mas se ele acha que vou fazer
cena, tá enganado.
— Um dia você vai querer me valorizar, Diego. Nesse dia, outra pessoa fará isso
por você. Continue achando que você é o centro do universo — digo ressentida e um
pouco grossa, tentando não demonstrar que tô abalada por ele estar namorando. —
E Emily, se você acha que ele vai ser fiel a você, está enganada. Se Diego ficou com você
enquanto estava comigo, vai fazer a mesma coisa com você, mesmo jurando amor eterno.
Seja um pouco esperta, pelo menos mais do que eu fui. — Sorrio falsamente e passo direto
com as meninas.

Chego em casa cansada de bater perna. Essa ida ao shopping foi tão boa! As
meninas colocaram pilha e eu comprei roupas que eu sempre gostei de usar, pra ser a
Alexia de antes. O cartão chegou a grudar dentro da carteira, num sinal divino pra eu não
gastar à toa, mas a força de vontade foi tanta que fizemos inclusive uma minifesta.
O dia foi longo, andei demais hoje. Mas, involuntariamente, minha mente projeta
o moreno da reunião e não evito em dar um pequeno sorriso ao mesmo tempo que aquele
friozinho se instala na barriga e o coração bate mais rápido, uma ansiedade esquisita.
Qual será o nome dele, afinal? Por que está mexendo tanto comigo?
5
MURILO

Visto meu melhor terno e o perfume está exalando. Saio de casa mais cedo para o
desfile. Eu me arrumei na intenção de ficar com uma certa pessoa, aparei a barba e
exagerei no perfume. A gravata ficou torta, mas é o único nó que sei fazer, ainda não sou
expert porque era minha irmã que fazia, mas a pirralha foi morar em outro país há quase
um ano, junto dos meus pais. Eu até ia junto, mas decidi ficar. Não queria abandonar o
trabalho que está indo muito bem, sinto que o Brasil é minha casa e adoro o clima tropical.
Não conseguiria me adaptar, preferi continuar aqui.
Sinto falta deles, sou uma pessoa comunicativa e gosto de estar sempre
acompanhado. Cresci com meus pais e irmã por perto. Isa sempre me fazia companhia
quando chegava e eu ainda estou me adaptando com a vida solitária. Apesar de que eu não
fico sempre sozinho. Vou pegando uma ali, outra aqui, mas nada muito significativo.
Aproveito meu tempo sozinho pra fazer o que eu gosto: exercícios físicos e
praticar umas aventuras loucas, porque não vivo sem adrenalina correndo nas veias.
Sempre procuro algo pra fazer, nem que seja uma caminhada ou rapel. Até pensei em
adotar um cachorro, mas não teria tempo pra cuidar dele.
Dentro do carro, batuco no volante, ansioso pra chegar e vê-la. Eu espero que ela
vá!
Alexia… Alexia!
Na entrada, passo por fotógrafos esperando notícias, famosos e blá blá blá. Esse
está sendo um dos maiores eventos organizados pela empresa. Cléo assumiu a presidência
e assina algumas peças, por isso do reposicionamento. Ela se jogou de cabeça nessa
coleção. É a primeira coleção dela como dona e não como herdeira.
Cumprimento os seguranças, o recepcionista, pego minha pulseira e entro. Tem
pouca gente ainda, considerando o número de convidados. Peço uma garrafa de água e
vou bebendo até que alguns amigos, que trabalham comigo, chegam com suas esposas e
namoradas.
— E aí, como estão as coisas? — pergunto ao me aproximar do grupo.
— Está tudo bem. Alguns patrocinadores novos já chegaram. — Christian me
avisa.
— Deixe-me te ajudar, a gravata está torta.
— Obrigado, Lú. — agradeço e sorrio pra ela enquanto me ajuda com a gravata,
colocando-a no lugar certo. Luísa é esposa de Christian.
— Abre o olho, Cristian. — Anderson debocha.
— Que nada, Murilo é gay. — Os dois riem, sacanas.
— Ah é? Vai vendo, distraído. Não fui eu que tentei fazer filho durante três anos.
Pau mole! — Aponto pra barriga já grandinha de Mariana, esposa de Anderson.
— Vai se foder, otário. — Nós quatro rimos, menos ele, que segura a esposa, que
tá rindo também.
Ficamos papeando até eu olhar no relógio e perceber que tá quase na hora do
desfile e ela ainda não apareceu. Será que ela não vem?
Porra, que aflição!
— Ela chegou a mencionar seu interesse e comprometimento com a empresa. —
Um dos sócios da empresa conversa comigo depois de eu rodar o salão inteiro.
— É, eu estou interessado, disposto a abraçar o projeto.
Olho em volta do salão e perco o interesse na conversa quando a vejo entrando
com mais duas pessoas, uma mulher e um homem.
Não preciso nem comentar como ela tá naquele vestido. Aliás, vou comentar sim,
tá bem gostosa. Encaro-a de cima a baixo. O vestido marca a cintura e os seios, e meus
comentários acabam por aqui, pois não quero ficar excitado no meio de tanta gente.
Peço licença ao sócio e saio. Fico no primeiro andar e daqui de cima a vejo
sentada no local marcado. Mais cedo eu liguei pra organizadora do evento e pedi que
marcasse o lugar dela ali, pra que eu possa enxergá-la com clareza.
Sigo pro meu lugar, oposto ao dela, e as luzes se apagam para o começo do
desfile. Tô doido pra que ele acabe e eu possa iniciar meu plano de capturá-la.

ALEXIA
Sabe aquela sensação de ser observada? Olho para os lados tentando encontrar
algo, mas não vejo nada anormal. Tento ignorar a sensação desconfortável conversando
com Natasha. Eu, hein?
O espaço que escolheram para o evento é maravilhoso. A decoração tá linda,
muito bem arrumada e requintada. O palco é redondo e ao redor da passarela existem
várias cadeiras para que os convidados fiquem bem acomodados.
A anfitriã nos tira dos devaneios anunciando o começo do desfile com uma
introdução muito aplaudida. A tela, que estava com o logo da Volúpia, vai apagando.
Como um roteiro, vai subindo o seguinte texto, lido por uma voz suave:
Todas as mulheres são lindas. Beleza é algo relativo. Não tem que ter pele lisa,
uma bunda dura, coxas grossas ou um par de seios eternamente no lugar. O que te faz ser
uma mulher bonita é o modo como você se vê e se sente confiante, e assim será
considerada bonita por outras pessoas. Não precisa ser jovem, não tem que ser magra,
nem gorda, nem fitness, não tem que ser alta, tem que ser apenas você na tentativa de
redescobrir o seu corpo enquanto realiza seus desejos mais profundos. Você tem que tirar
todas as suas roupas e, com toda a sua coragem, dizer: eu estou bem aqui e tenho orgulho
do que vejo no espelho.
A tela pisca e nela aparece, de forma destacada e no tom de cor dourada, o nome
da coleção e, ao redor, frases depreciativas que as pessoas falam como se fosse normal
hoje em dia. A música começa a tocar avisando que o desfile começou. Fico atenta quando
alguns modelos masculinos entram, andam compassadamente mantendo a distância,
param e dão espaço para a cantora chegar. Ela veste somente com uma lingerie, também,
mas comportada; está toda de volúpia, claro.
Ela faz sua performance com a primeira música de sucesso e logo algumas
modelos entram. Eu estou apaixonada pelo show, sinto como se estivesse em um desfile
da Victoria’s Secret.
O desfile em si está perfeito. Tô muito encantada. Cada música e conjunto da
coleção apresentada é uma novidade gostosa de assistir. Ver o trabalho sendo executado,
muito bem executado, é muito recompensador.
A última modelo volta enquanto as outras formam uma fila para entrarem no
palco. Quando elas entram e a presidente da marca aparece no meio delas, segurando a
mão da cantora, todos aplaudem. Os organizadores acionam o efeito de fumaça no chão do
palco, de forma discreta. A plateia levanta e aplaude o fim do desfile.
Ela agradece o público fazendo reverência, enquanto a voz de um locutor finaliza:
nós, da Volúpia, acreditamos em vocês, por isso não deixem de viver intensamente e
experimentar novas sensações. Os aplausos continuam, ainda mais intensos.
O coquetel será aqui no salão ao lado, na área livre. Por todo canto tem gente
conversando e bebendo, alguns aproveitando pra iniciar negócios, outros se conhecendo
melhor ou apenas jogando papo fora.
Téo e Nat preferiram ir pra pista de dança quando tocou uma música agitada e
pegaram bebidas no meio do caminho, com um garçom. E eu preferi ficar e seguir pro
banheiro.
Olho pro espelho, arrumando meus cabelos agora mais curtos, com as pontas
levemente enroladas por um babyliss. Decidi mudar um pouco, radicalizei e cortei, um
long bob na altura do meu ombro. Tive o apoio das meninas, que concordam com
qualquer loucura que eu invente.
Como dizem, quando uma mulher corta os cabelos está pronta para mudar a sua
vida, renovando-se. Cortá-los foi um ato de renascimento simbólico, um ponto de partida
para as mudanças. E amei a drástica mudança, já que os cabelos estavam longos, quase na
cintura.
Pode parecer bobagem, mas desde que mudei o visual eu me sinto muito melhor e
mais feliz. O que tá refletindo no espelho é uma mulher que tem a liberdade de fazer
qualquer escolha, do esmalte ao batom, de usar o look preferido ou o que está em alta e,
ainda assim, se sentir confortável.
Minha maquiagem até que não tá extravagante, os olhos estão destacados e tô
usando meu amado batom vermelho. Eu me sinto maravilhosa com ele! Tô amando essa
nova fase, trouxe mais brilho pra mim.
Passo a mão no vestido lindo, que tem um pequeno decote na frente e, como em
poucas vezes, eu amo o que vejo no espelho. Realmente, eu tô bonita e digna pra festa.
Volto pro salão onde o falatório e a música estão altos. Decido ir ao bar, montado
ali perto, já que tô com a garganta seca. Por sorte não estava muito cheio. Acho que as
pessoas preferem esperar sentadas o garçom chegar com as bebidas.
Eu sento em um dos banquinhos e peço uma caipirinha de morango. Em poucos
minutos o barman põe a bebida na minha frente e dá um sorriso. Retribuo simpaticamente
e agradeço.
Bebo um gole e observo as pessoas ao redor. De onde estou, consigo ver Téo
dançando com a Nat. Mesmo de longe eu consigo reconhecê-los por causa dos gestos.
Sinto um arrepio no braço e uma quentura na nuca quando escuto alguém
chegando perto e pedindo whisky.
A voz é meio grave, um pouco calma e… sexy? Continuo a olhar o meu copo e
observo que o dono daquela voz simplesmente senta ao meu lado, mudando
completamente o clima do local, e o mesmo barman que me atendeu põe o copo no
balcão. Sem sorriso simpático, sai pra atender outras pessoas. Seu perfume invade minhas
narinas e fico respirando fundo pra sentir melhor. Nossa!
Discretamente, como quem não quer nada, olho pro lado pra ver quem é a pessoa
e fico surpresa. É o homem da reunião, o moreno.
O moreno lindo! Não esperava encontrá-lo tão… perto. E por um momento fico
um pouco desesperada pela proximidade.
Cacete, o homem visto de perto, pela segunda vez, é simplesmente muito melhor.
Eu o achei bonito na primeira vez que o vi, mas agora, vendo de novo, ele parece muito
mais. É mais bonito do que eu lembrava. Esses cabelos curtos e escuros penteados pra
frente com as pontas desordenadas, a barba sem falhas, desenhada, escura, aparada e
linda… combinando perfeitamente com o conjunto e o deixando sensual. Tudo isso! Um
homem bem-arrumado dentro de um terno todo preto, usando um perfume cheirosíssimo
que se espalha pelo ambiente. Daqui, mesmo de lado, vejo o volume dos seus braços
dentro do terno.
Sabe aqueles morenos bronzeados e fortes? Ele se encaixa perfeitamente na
descrição do “que moreno!”.
Estou surpreendida, algo nele chama a atenção. Não sei se é minha carência, mas
pensei várias coisas a seu respeito, inclusive que o beijaria facilmente e até o imaginei sem
terno e como ele seria com tesão.
Meu Deus! Eu… eu nunca fui tão devassa em pensamentos!
Ele, de repente, vira pro lado e percebe que tô analisando-o. Sorri suspendendo as
sobrancelhas. Meu rosto esquenta por ter sido pega no flagra como uma criança arteira,
bem no momento em que o imaginava sem a parte de cima do terno. De repente, beber o
líquido do meu copo parece ser muito interessante.
As sobrancelhas são grossas, mas dão suavidade aos olhos castanhos. Seu olhar
expressivo, sagaz, como se eu fosse sua presa, traz muita sensualidade.
Desvio os olhos dele por não conseguir medir o olhar por muito tempo, pois me
sinto em combustão e bebo um pouco do líquido pra voltar ao normal, ou próximo disso.
— Ei, morena.
Não evito olhar pra sua boca, que tem um pequeno sorriso, bonito e contagiante.
Lábios alaranjados. Nossa Senhora!
A voz dele é ainda mais grave e bonita do que lembro, e uns arrepios percorrem
meu corpo. Foi esse jeito charmoso que me chamou a atenção, bagunçou por dentro.
Aconteceu algo comigo a ponto de me deixar com as pernas bambas. Meu Deus! ele
transpira sex appeal e vigor!
E eu tô ridiculamente afetada!
— Oi — respondo simpática e um pouco atordoada por ele ter puxado papo.
— Acho que não me apresentei direito pra você…
— Não. — Sorrio tentando controlar o nervosismo. — Qual é o seu nome? —
pergunto interessada fazendo um raio x, feito flash, no seu peitoral.
— Murilo. — O olhar sagaz tá ali novamente no seu semblante, aparentemente
normal.
Belo nome para um belo moço. E que moço gostoso, por sinal!
Ele estende a mão para eu pôr a minha em cima, e assim eu faço. Quando ele abre
a boca eu fico com vontade de puxar sua mão por conta do nervosismo que me tomou.
Ele repetiu o mesmo gesto que fez quando me cumprimentou lá na agência,
beijando minha bochecha de forma cativante. Mas ele vai além, cheira meu pescoço
rapidamente e eu fico totalmente arrepiada, mas estranhamente não me sinto incomodada
com esse avanço sem mais nem menos. Que homem atrevido!
— Seu perfume é bom, está cheirosa. — Sorri alisando meus dedos. — Aliás,
quando eu acho que não tem como você ficar mais bonita, você aparece assim, com os
cabelos curtos!
Elogia sem cerimônias e fico encabulada. Encabulada e surpresa por ele ter
percebido minha mudança. Eu só recebo elogios das minhas amigas, e apenas quando
realmente tá bom. Mas receber de uma pessoa desconhecida e de livre e espontânea
vontade é novidade, ainda mais pra mim, que não sou acostumada com isso. Eu me senti
muito bem.
— Obrigada. — Rio totalmente acanhada. — Hum… você também tá bonito —
devolvo o elogio, não por educação, mas é porque ele realmente está.
— Estou mesmo? Gostou?
O olhar que ele lança, junto de um sorriso de lado, sacana e descarado, me deixa
eufórica e nervosa. Sorrio pra ele sem saber como reagir.
— Gostei — afirmo.
— Eu me arrumei torcendo pra que você viesse. — Ele fala casualmente, o que
me deixa desnorteada mais uma vez. — Um brinde? — Ele levanta a própria taça.
— Por…? — Suspendo minha taça, mas não levo ao encontro da sua.
— Por essa noite que acabou de ficar mais interessante. — Ele bate no meu copo
e sorri de maneira charmosa, depois de uma piscadela. A barriga revira de um jeito…
É impressão minha ou ele tá me cantando descaradamente? Claro que tá! Só não
sei como reagir a isso. Tomo outro gole da minha bebida sem saber mais o que falar.
Nenhuma parte do meu corpo tá tocando o dele, mas sinto a presença do Murilo
de forma muito intensa, como se ele estivesse me abraçando com seus grandes braços. É
eletrizante.
— Quer dançar?
— Não sei — respondo de maneira incerta.
— Vamos, vai… — pede com um tom de voz que não consigo negar, estendendo
a mão.
— Tudo bem. Só uma. — Acabo cedendo.
Assisto fascinada ele tirar o paletó, vendo aquele corpo maravilhoso, peito largo e
braços fortes dento da camisa social preta. O corpo dele é grande, forte, largo, parece uma
fortaleza! Tenho vontade de passar a mão, mas me contenho.
Protetora dos homens gostosos e das mulheres fracas! Eu aposto que tô com cara
de tonta. Ele entrega o paletó ao barman, que pega e concorda em guardá-la enquanto nós
saímos.
Fomos pra pista de dança e ele foi erguendo as mangas da camisa social. Não tá
tocando uma música lenta, mas sim uma agitada. Os primeiros acordes de “Animals” toca
e nunca me senti tão ansiosa pra dançar uma música.
No começo fico um pouco envergonhada, mas logo acabamos entrando na vibe.
Ele faz com que eu me solte mais no meio do pessoal, empolgado e agitadíssimo.
Já no começo percebi que a dança foi um pretexto pra me tocar. Ele segura na
minha cintura, me puxando pra perto e eu acabo me deixando levar pela música. As luzes
e os lasers holográficos estão piscando freneticamente, deixando tudo ainda mais vibrante.
E uma curiosidade: sou fraca pra bebidas.
Gira meu corpo e me deixa de costas pra ele. Aperta minha cintura e cola nossos
corpos. Eu sinto seu peitoral contra as minhas costas, uma das mãos pesadas, porém
carinhosas, ao redor do meu corpo e a outra espalmada bem no pé da minha barriga. De
repente ele praticamente sussurra: “baby, serei seu predador essa noite”. Eu arrepio
completamente. Se eu estivesse sentada com certeza estaria cruzando as pernas pra conter
a agitação entre as coxas.
Nos movemos no ritmo da música e eu me permito fechar os olhos, curtindo a
agitação. Sua mão esquenta o lugar no qual está repousando. Ele me aperta cada vez mais
contra o seu corpo quente e cheiroso, o que provoca em mim uma sensação diferente. A
presença dele é diferente de alguma forma, com a dança eu já percebi isso. Não sei
explicar, só sei que faz esquentar o meu corpo.
A boca dele roça várias vezes o meu pescoço, me deixando de uma forma jamais
sentida. Ninguém nunca me atiçou assim em uma dança.
Ele gira meu corpo de novo pra posição normal, de frente. A coisa esquenta um
pouco entre nós quando ele aperta minha nuca e a cintura. Nossos rostos estão próximos,
mas em vez de me beijar, ele simplesmente sussurra mais uma vez: “te caçarei, te comerei
viva”. Isso me arrepia absurdamente. Umedeci mais de uma vez. Em seguida, sorri
daquele jeito peculiar a ele, me provocando, raspando a boca no meu pescoço mais uma
vez e me trazendo pra ainda mais perto. Ele cansou de brincar, pelo visto.
Quando a música já tá quase no final, nossos corpos estão praticamente
abraçados, já que eu tô com as mãos no seu ombro e ele com as mãos grandes na minha
cintura, me esquentando. Eu olho no seu rosto.
Nos balançamos juntos, ainda no ritmo da música e eu só consigo sorrir pelo
momento que tivemos, mas morrendo de vontade de beijá-lo. A música é intensa por si só
e ele me cozinhou por metade dela, me apertando, me intimando, mas nunca me beijando.
Ele me provocou desde o início.
Vejo ele olhar pra mim e em seguida descer pra minha boca. Não consigo
reprimir a vontade de beijá-lo e mordo os lábios na tentativa de me conter. Minha Nossa
Senhora!
A pista de dança e as pessoas já nem existem mais, e se existem, estão bem longe,
pois não consigo me conectar a elas. Aqui, agora, pra mim, só existem ele e eu. Ele com
esse olhar intenso e escuro diretamente nos meus olhos. Nossos rostos estão próximos o
suficiente pra eu sentir a textura dos seus lábios, mesmo que não estejam realmente
tocando nos meus.
Preciso que ele consume o beijo!
Ficamos olhando um pro outro sem dizer absolutamente nada, ambos envolvidos
no meio da pista. Sou chamada pra realidade quando alguém esbarra nele e eu desvio os
olhos. Vejo o Téo, de longe, me chamar. Acho que já deu nossa hora. O clima acabou
totalmente. Merda!
— Já vou, tá na minha hora. — Eu me despeço virando a atenção de novo pra ele.
Eu pareço a Cinderela, mas na verdade, sou a Cinderela do Uber. Mal das
princesinhas do século vinte e um.
— Mas já? — Continua a segurar na minha cintura, subindo uma das mãos pelas
minhas costas. Ele não desistiu de consumar o beijo e me incendiar.
— É. Minha carona já tá indo — esclareço.
— Fica mais um pouco. Eu te levo pra casa mais tarde, se quiser — propõe.
Por mais gente boa que ele seja, por mais que eu queira beijá-lo, não o conheço
direito a ponto de aceitar a proposta, ainda mais à noite e eu morando sozinha. Não acho
uma boa ideia no momento.
— Deixa pra próxima. Obrigada pela companhia. — Sorrio ignorando sua mão
ainda subindo devagar, me arrepiando.
— Tudo bem, quero beijar você com tempo. — Ele sorri pra mim e acena. E eu
fico trêmula com as suas palavras.
Esse homem é uau em cima de uau.
Segura na minha nuca aproximando nossos rostos e meu coração acelera
ansiosamente. Fico parada esperando pra ver o que vai acontecer e ele beija, de um jeito
gostoso e calmo, bem próximo à minha boca, no cantinho. E percebo que foi bastante
intencional.
Nos separamos e minha boca começa a formigar, assim como a minha barriga,
que revira. Fazia um bom tempo que não sentia essas coisas.
O que esse homem tá fazendo comigo, caramba?
— Tchau, Murilo. — Aceno uma última vez e vou pra onde os dois estão me
esperando.
— Tchau, e vou cobrar meu beijo!
Dá o mesmo sorriso que deu no dia da reunião, um sorriso cafajeste com gostinho
de me aguarde. Não sei qual o meu problema, mas tô gostando estranhamente do que tô
sentindo.
Dou as costas e coloco a mão na boca, perto do lugar beijado por ele; meu corpo
permanece eufórico. A noite em si foi incrível. As meninas estavam certas, se eu não fosse
iria me arrepender. Mas não posso ficar no modo sonhadora. Já passou! A festa já acabou
e não vamos mais nos ver e é melhor assim!
6
MURILO
Azar!
Quando eu finalmente iria matar minha curiosidade e vontade de beijar a boca
vermelha e convidativa, que insistia em marcar a taça de bebida, o filho da puta quebrou o
clima esbarrando no meu braço.
Chamei pra dançar, pois queria um contato mais direto, já que não estava
aguentando mais reparar nela colocando a boquinha ao redor da taça de bebida. Sem
contar que em momento algum ela falou que tinha namorado e nem fugiu quando eu,
discretamente, vez ou outra, pegava na sua mão.
Olhei mais uma vez pros seus dedos, alisei cada um deles, não tinha nenhuma
marca, ou seja, não é comprometida. Sinal verde pra mim. Quando ela menos esperasse,
estaríamos nos beijando e logo evoluindo pra outra coisa, mas tinha que ter um babaca pra
atrapalhar, cortando o clima que eu fiz questão de preparar antes de dar o bote.
Até sugeri, esperançoso, levá-la pra casa mais tarde caso quisesse, cheio de
intenções. Mas, mesmo com ar de dúvida, ela negou.
Ela é um pouco tímida, percebi. Então vou com calma, pelas beiradas e quando
ela menos esperar, estarei no meio, literalmente. Sou uma pessoa paciente e focada quando
se trata de conseguir meus objetivos. Tudo que vem fácil costuma não ser tão bom quanto
aquilo que tem um desafio maior, isso é mais gostoso. Eu gosto de desafios e aventuras e
prevejo que vai valer a pena quando eu alcançar meu objetivo. Não vou desperdiçar sequer
um segundo.
Eu poderia tomá-la pra mim bem ali, mas eu não pararia cedo, o que eu quero
fazer com ela requer tempo, calma e dedicação. Preferi atiçá-la pra que ela ficasse
balançada e na vontade. Fingi que ia beijá-la, ela esperou vir um beijo de verdade e plantei
um bem próximo da sua boca. Sei que isso vai deixá-la fantasiar hoje e pensar em mim
mais do que se realmente a beijasse com pressa. E também pra tirar uma casquinha, já que
estávamos próximos mesmo. Adoro instigar!
Ela me cozinha dali que eu a cozinho daqui. Adoro joguinhos. Ela me quer
também e ficou mexida. Se ela tentou esconder, não conseguiu, eu percebi seus olhares
gulosos e disfarçados. Confesso que me senti o máximo vendo que ela também estava
interessada.
A dança foi boa, tive a oportunidade de segurá-la mais perto, saber como são
nossos corpos próximos, ainda aproveitei pra passar a mão discretamente pelo seu corpo,
sentindo a textura macia da sua pele e morri de vontade de saber como é tê-la no meu colo
ou próximos o suficiente pra minha pele sentir essa maciez. O corpo dela é gostoso de
apalpar, mesmo que minhas mãos estivessem, na maior parte do tempo, na sua cintura.
Mas tive que me controlar quando a bunda dela, às vezes, roçava no meu local delicado,
pra não a assustar e pra que não me achasse um taradão assim de cara.
Ah! Morena, você ainda vai pra minha cama. Ah se vai. Recebo a outra bebida do
barman pra acalmar os ânimos e vou atrás dos otários. Eu me despeço de algumas pessoas
que estão indo embora e continuo meu caminho.
Tenho vontade de rir quando lembro da expressão que ela fez quando tirei meu
blazer pra dançar. Maior cara de tarada que estava pensando coisas, mesmo sem perceber.
Pelo jeito ficou curiosa pra saber o que tem por baixo. E é só um aceno que eu mostraria
sem problemas.
Encontro Mariana e Anderson na pista, dançando uma música calma. Passo reto e
encontro Christian e Luísa no telefone.
— E aí? — Eu me aproximo assim que eles desligam.
— Quem era a mulher? — Luísa questiona interessadíssima.
Oh bicho curioso que é mulher!
— Não me diga que é a da reunião? — Christian ri como se estivéssemos numa
piada interna.
— Que mulher da reunião? — Luísa questiona confusa.
— Ela é da agência de publicidade, que foi na reunião aquele dia — esclarece à
esposa.
Esse filho da mãe tem uma boca grande do caralho.
— É ela mesma. Estava aí e ficamos conversando.
Dou de ombros não me importando em falar.
— É bonita? — Luísa continua a questionar.
Lembro dela sorrindo, naquela roupa no dia da reunião, e me controlo pra não
ficar excitado com a visão que me animou bastante.
— Maior gostosa, precisa ver — digo e ela ri negando com a cabeça.
Conversamos mais um pouco, dou uma circulada, volto pra poltrona e pego meu
celular. Percebo que esqueci de pedir o número do celular dela. Droga!
— Já marcaram alguma coisa? — Christian questiona curioso.
— Não deu tempo e esqueci de pegar a merda do número dela. — Dou um
muxoxo ao lembrar disso.
— Porra! Vai ser vacilão na casa do caralho!
— Vai se ferrar! Já sei exatamente o que fazer. — Sorrio ao perceber que tenho
uma outra saída. Inclusive, dessa vez vou pegar seu número de telefone, pois não sou
otário de deixá-la sair sem me dar. Pegue os dois sentidos da frase.
— Duvido que você consiga algo. Você é otário! — Cristian ri de mim.
Todos riem, me sacaneando.
— Vão se ferrar! Não fui eu quem foi colocado no cabresto com dois meses de
namoro — rebato pra Christian, e Anderson ri colocando lenha na fogueira.
— Quem manda ali sou eu! — garganteia.
Quem vê até pensa.
— Ô Luiza…
Eu a chamo, já que tá conversando com Mari, e Cristian chuta minha perna. Faço
sinal com a mão enquanto gargalhamos.

No meu apartamento, morto de cansaço, arranco a roupa quente e sufocante.


Decidi voltar desacompanhando hoje, não quis ficar com nenhuma modelo. Meu foco é
outro! Quero guardar minhas energias pra ela. Quero que tenha uma noite memorável! E
só paro quando estiver esgotado! Essa semana vou ter que escoltar uma certa mulher
gostosa e vou dar uns beijos naquela boca gostosa. Ah se vou!

ALEXIA
Chega à segunda-feira, chata como sempre. Acordo preguiçosamente e faço
minha rotina como sempre faço, mas a novidade é que tô me sentindo muito bem! O dia
está lindo! Na empresa, chego distribuindo sorrisos.
— Você tá com cara de quem deu a noite inteira. O que o cara do desfile fez com
você lá, hein? — Nat bate seu ombro em mim.
— Boba! Não fizemos nada, nem sequer rolou beijo.
— Trocaram número de telefone? — nego com a cabeça e sua expressão fica
surpresa na mesma hora. — Um homem daquele te dando papo e você não aproveita, sis?
— Eu não tô a fim de me relacionar com ninguém, você sabe bem o motivo. —
Reviro os olhos.
— Namoro? Dá pra transar sem preencher aqueles protocolos todos de
relacionamento, sabia? Por favor!
Dou um muxoxo revirando os olhos mais uma vez.
— Já passou, isso foi sábado. Chega!
Trabalhei naquele dia com uma boa sensação. Checo o celular e vejo que são
11h50. Tem uma mensagem da Liz avisando que já tá indo almoçar e que é pra gente ir
também.
Chegamos no restaurante de sempre e ela já tá lá.
— Oi, sis. Como foi o desfile? — Liz pergunta interessadíssima.
No domingo não nos vimos, fiquei em casa e liguei pros meus pais. Às vezes me
sinto uma péssima filha, porque nem sempre tenho tempo pra ligar e conversar com eles,
ou até mesmo pra visitá-los. Só que Diego sempre arranjava uma desculpa pra gente não ir
e nem gostava que eu fosse sozinha. Pensar nisso me deixa raivosa, tanto por eu ter cedido
aos seus caprichos, quanto por saber que meus pais não gostavam do nosso
relacionamento, embora tratassem Diego normalmente.
Conto pra Liz, animada, lembro do Murilo e me repreendo por isso. Percebo que
Nat está olhando pra mim e dando um sorrisinho. Vadia!
— Sabia! — fala se achando, e eu reviro os olhos.
Amiga chata adora essas coisas, né? O garçom chega e Liz faz os pedidos por nós
três. Ele logo sai e voltamos a papear.
— O boy estava lá? Vocês se viram? — Hoje ela tá fofoqueira.
Nat olha pra mim e levanta as sobrancelhas me sacaneando. Vadia duas vezes. Ela
faz questão de ficar quieta pra me assistir contando. Confirmo com uma euforia
desnecessária.
— Logo vi que tá toda derretida. Marcaram algo?
— Ah gente, eu não tô derretida por ninguém! — Perco a euforia na hora.
Já não bastou mais cedo Nat colocando pressão, só me faltava Lizandra também.
Só tô feliz hoje. Que coisa!
— Ihhh… — Se não fosse Natasha, não seria mais ninguém.
— Mas como é o boy que não te deixou derretida? — Liz fala em tom de
deboche. Cínica.
— Normal. — Dou de ombros.
— Mentira! Ele praticamente se jogou pra cima dela a noite toda. Não se
beijaram e acredita que nem o número de telefone eles trocaram? — Natasha me delata
inconformada.
— Alexia! — Liz me repreende. Mas que coisa! — Caramba! Eu vou tomar seu
celular. Ele não tá te servindo pra nada.
— Ah, de novo não. Foi só uma conversa. Ele é muito atencioso e divertido,
naturalmente. E só! — reprimo a palavra “gostoso” na garganta.
O garçom volta com nossa comida e nos interrompe. Mas quando dá as costas a
conversa continua.
— Eu não quero namorar, nem me relacionar com ninguém por agora, não tô
preparada. O fim do namoro com Diego tá recente…
— Recente, mas ele já seguiu em frente antes mesmo de terminar com você. —
Nat alfineta me interrompendo.
— Sim, o final do namoro com Diego tá recente. E não é só porque aconteceu
isso que eu tenho que me atirar no primeiro homem que aparecer. Eu preciso desse tempo
pra mim. Além do mais, Murilo e eu não nos veremos mais. Esqueçam ele, não tivemos
nada.
— Não teve porque você não quis. Aposto que ele até te homenageou assim que
chegou em casa no sábado.
— Que horror, Natasha.
Ela dá de ombros como se não fosse nada.

Saio do hall e meu coração bate irregularmente quando percebo a figura de uma
pessoa que não imaginaria encontrar tão cedo, recostado em um carro. E não, não é Diego.
O que Murilo tá fazendo aqui na porta do meu trabalho?
Sem saber como agir diante disso, finjo que não percebi sua presença e sigo
normalmente pro meu carro, que tá perto de onde ele estacionou. Ainda assim, finjo que
não o vi e tento chegar no carro, entrar o mais rápido possível e sair.
Por que eu tô assim, tão nervosa? Sinceramente não sei!
Murilo sem fazer muita coisa já me deixa eufórica e descontrolada, só aflora
meus sentimentos e não sei se quero que isso continue. Eu preciso desse tempo pra mim
antes de sair com outro homem, nem que seja só uma fodinha casual.
Minha missão obviamente falhou, pois enquanto estava destrancando o carro, ele
já estava do meu lado, perfume exalando e me deixando nervosa a ponto de quase
derrubar as chaves.
— Ei, morena. — Ele me cumprimenta da mesma forma do desfile.
— Olá. — Sorrio e retribuo o cumprimento tentando parecer casual.
— Sabe o que vim fazer aqui, né? — questiona e levanta suas sobrancelhas
expressivas, me fitando e eu engulo a seco.
— N… não.
— Vim buscar meu beijo, aquele que ficou me devendo no sábado. — Ele chega
mais perto e minhas pernas fraquejam.
Senhor Jesus! Ele é muito intenso e um tanto atrevido. Como ele fala isso, assim?
— Eu… eu tô atrasada pra ir pra casa. — Tento controlar meu corpo e, de lado,
na posição que eu estou, procuro destrancar o carro, mesmo com as mãos trêmulas.
Meu Deus, que patética eu sou!
— Creio que não vai demorar. Só se quiser, claro. Aí eu posso ir com você. —
Chega mais perto de mim e tento um afastamento pra não cair em tentação.
— Fica pra próxima. Eu realmente preciso ir.
Nossos rostos estão próximos de um jeito perigoso pra minha sanidade.
— Passe teu número, então, pra marcarmos algo.
— Eu realmente preciso ir. Tchau, Murilo! — Abro a porta e me jogo dentro do
carro, disposta a ir embora o mais rápido possível.
Ele finalmente entende e se distancia. Meu coração está a galopes aqui no meu
peito.
O que acabou de acontecer aqui? Aliás, o que tá acontecendo comigo, afinal?

Sexta-feira finalmente chega. Poderia relaxar um pouco, tô doida pra ter um


tempo pra mim. Não comentei sobre a aparição de Murilo aqui pra ninguém, pois sei que
iam colocar fogo.
Na verdade, não tô entendendo essa coisa toda. Essa minha desestabilizada cada
vez que penso nele, na sua tentativa de beijo lá na festa e nessa aparição surpresa aqui no
trabalho. Ele veio somente na segunda-feira. Não apareceu mais ou, se apareceu, não o vi,
pois fiquei a semana inteira atolada em trabalho e saindo em horários aleatórios. E é
melhor assim.
Desço como de costume, só que dessa vez tenho Natasha junto a mim,
tagarelando.
— Humm. Olha quem não te esqueceu… — Natasha sorri debochada e vejo que
o motivo é Murilo. — Se você colocar ele pra correr eu ensino onde é sua casa — sussurra
para mim.
— Você não seria louca! — Tento parecer normal.
— Quer pagar pra ver? — desafia e sei que ela seria capaz. — Tô falando sério.
Para de coisa!
— Você já tentou entender que não sou uma pessoa apta pra casos?
— Não é até dar a primeira quicada.
— Credo, Nat. — Acabo rindo com ela. Não existe pessoa mais devassa.
Ela me dá tchau e segue seu caminho. Sigo em direção ao meu carro sem dar trela
pro que Natasha falou. Ele logo tá do meu lado, como eu previ.
— Olha, Murilo, eu não quero envolvimento com ninguém no momento, você
chegou em uma má fase da minha vida, desculpa. — Desato a falar antes dele. — Você é
tudo o que uma mulher pode querer, acredite, e comigo não é diferente. Eu só… Não é o
momento pra mim — digo abertamente, mesmo que ele seja praticamente um
desconhecido.
— É essa a sua desculpa? — Ele me fita seriamente.
O desgraçado é lindo demais com essa barba lisa penteada. Sem contar esse
cheiro. Por que homem tem de ter os melhores perfumes?
— Não é desculpa… — Perco o tom da voz porque tô nervosa. Efeito da sua
presença. Efeito Murilo.
— Eu sei que você tá atraída por mim também, senão nem voltaria. Não tô
fazendo um pedido de casamento. Um jantar e pronto.
— Um jantar me parece um pouco demais — nego.
— Um jantar como amigos. — Ele sorri jogando comigo.
Ele mantém o sorrisinho sarcástico e confiante nos lábios convidativos, e ali vi
que ele, de um jeito ou de outro, conseguiria o que queria, mas o problema é que eu
percebo que ele tem um perfil de pessoa que bagunçaria minha vida em questão de
minutos, não por querer, mas por ser informação exagerada pra eu administrar. Entretanto
minha parte irracional nem sequer liga pra isso. Quer pagar pra ver.
— Não somos amigos. — Arqueio uma das sobrancelhas, reagindo finalmente ao
seu joguinho.
— Seremos o que você quiser que sejamos, se isso te deixa mais segura. — Olha
pra mim desafiador. — É só um jantar, prometo fazer valer a pena.
Murilo um, Alexia tapada, zero. Que calor!
— Ei, morena… não vai se arrepender — disse segurando meu queixo, e eu me
desfaço todinha por causa dessa fala. Eu já estava quase uma gelatina tentando me manter
firme, mas não tanto. Agora, com essa forma como ele me chama, eu me derreto
completamente, e não deveria. Olho pra ele, que não vai parar de vir até aqui enquanto eu
não aceitar sair com ele. Eu me rendo.
— De verdade?
— Sim. Só preciso do teu número para marcarmos.
— Certo. — Fico tentada a dar um número qualquer.
— Não tente me enganar, eu vou ligar agora pra saber se é esse mesmo. — Ele
praticamente lê meus pensamentos e sorrio disso, mesmo contrariada. Dou meu número a
ele.
— Agora eu preciso ir, beijo! — despeço-me.
— Cadê o beijo?
Olho pra ele, que ri e acabo rindo também. Ele é afiado! Saio de lá com a
promessa de ele marcar algo e com uma ansiedade do que está por vir.
7
ALEXIA
Mal chego em casa e, depois de uma ducha, disposta a descansar, eu me jogo na
cama e escuto meu celular bipar. É uma mensagem do Murilo. Meu coração pulsa
consideravelmente mais rápido. Qual é, qual é o meu problema ultimamente? Abro a
mensagem e leio curiosa.
“Tem programa para amanhã não, né?”
Direto! Leio, minha mão fica suada e eu não sei o que responder. Eu poderia
mentir e dizer que sim, mas ele foi tão legal comigo na festa que crio coragem pra
responder.
“Não!”’— digito e já envio antes que eu mude de ideia.
Assim que envio a mensagem, vejo que ele visualizou e tá digitando. Mordo a
boca na expectativa, querendo saber o que ele tem pra dizer.
“Janta comigo amanhã, então?”
Amanhã, já? Achei que seria aquele famoso “vamos marcar de nos ver” e de fato
nada iria acontecer. Será que devo ir? Penso na possibilidade de negar, mas Murilo não
tem culpa do babaca que meu ex foi, ele só tá sendo legal comigo, querendo me conhecer.
Um encontro não quer dizer que eu vá transar com ele. Apesar que, no fundinho,
eu quero.
“Certo, aceito o convite”. — Estou com vontade de revê-lo.
“Passa teu endereço porque eu vou te buscar”.
digitando…
“Ah! Você é vegetariana ou alérgica a alguma coisa?”
Com um sorriso no rosto por ele se preocupar com o que eu como, passo o
endereço e aviso que não sou vegetariana e nem alérgica. Um encontro não significa nada!
Um encontro não significa nada!
“Passo aí às 19h30”
A conversa se estendeu mais um pouco e foi muito boa. É ótimo conhecer pessoas
e perceber que, mesmo com poucas conversas, o assunto flui facilmente. É como se eu o
conhecesse há tempos, a ponto de esquecer minha timidez.
Confesso que odeio o processo de conhecer pessoas, essa coisa de puxar assunto,
criar intimidade. Isso me cansa e irrita. E conseguir achar uma pessoa que o papo flui sem
esforço numa conexão surreal é maravilhoso. Me despeço e desligo o celular.
Ai meu Deus! Um jantar com esse homem. O que será que vai acontecer? Como
vai ser? Eu estranhamente tô ansiosa pra amanhã à noite.

Escuto a buzina e olho da janela. Ele chegou! Tô numa ansiedade tremenda!


Chego na calçada e ele tá saindo do carro, uma grande Pick-up prata. Me
cumprimenta com um sorriso e um beijo no rosto, seguido por um “olá, morena!” e um
elogio pelo meu look.
Com o carro andando ele puxa papo sorrindo, nunca vi pessoa tão bem-
humorada.
— Gosta de fazer o quê? — Me olha de relance.
— Ah! Eu gosto de fotografar… — respondo um pouco constrangida,
percebendo que não tenho muitos hobbies. — E você?
— Gosto de muita coisa, mas minhas paixões são esportes radicais e exercícios.
No geral, gosto de adrenalina. — Mostra tranquilidade e energia ao falar enquanto dirige.
— Já pulou de paraquedas ou bungee jumping?
— Não! Deus me livre! — Dou um rápido sorriso nervoso só por imaginar uma
situação dessas.
— Não dá medo. É gostoso.
Fizemos o caminho com tranquilidade, nos conhecendo um pouco e ele fazendo
questão de me deixar confortável, mesmo que ele conseguisse fazer isso sem esforço
algum. Fomos até um restaurante que eu não conhecia, mas que tem um clima bom e
agradável. Sentamos em uma mesa pra dois. Ele fez questão de escolher um bom vinho,
mesmo eu falando que não iria beber muito. Beberico, é gostoso e bem suave. Não
conhecia a marca.
— Você tá sempre bonita assim ou é pra me torturar? — Solta essas palavras do
nada, me deixando um pouco surpresa pela declaração. — Você tá sempre bonita. Na
festa, então! Fiquei louco… Nossa senhora!
Faz um sinalzinho com os dedos indicador e polegar em uma demonstração
engraçada, o que me faz rir, mais desajustada do que qualquer outra coisa.
— Obrigada — agradeço, apesar de estranhar ser elogiada a cada dois minutos.
— Confesso que você também estava bonito, mais bonito do que da primeira vez que o vi.
— O elogio foi sincero. Ele realmente estava mais bonito.
Continua a me olhar como se não estivesse fazendo nada, enquanto meu coração
bate desenfreado. Não sei medir olhares com ele, sempre fico com vontade de apertar as
coxas.
— Sabe, eu te observei a noite toda lá e você me deu trabalho! — Continua sem
interromper o contato visual.
Arregalo um pouco os olhos, surpresa. Então eu estava, sim, sendo observada.
Como ele consegue falar essas coisas como quem pergunta as horas?
— Eu senti que estava sendo observada, só não consegui achar o stalker. — Rio
pra aliviar o nervoso e ele me acompanha.
— Eu tive muita vontade de te prender lá quando você quis ir embora. —
Continua falando como se fosse algo banal. Ele é muito direto! — Mas no que depender
de mim, hoje as coisas serão diferentes.
Direto e atrevido! Ele atira sem intervalos e eu fico sem saber como reagir a cada
coisa que sai da sua boca. O garçom chega com a comida que pedimos, nos interrompendo
e me salvando daquele momento.
— Sabia que fui eu quem mandou os convites, não é? — Sorri de lado e eu
arqueio as sobrancelhas.
— Ah é? — Fico incrédula.
Depois que jantamos, fomos pra uma praça perto do restaurante pra conversarmos
enquanto andávamos e observávamos algumas pessoas caminhando com crianças.
Descobri que ele tem uma irmã mais nova, de dezoito anos, que mora no exterior junto
dos pais. Contei que tenho um irmão mais velho, um sobrinho e uma sobrinha ainda
pequenos, que moram perto dos meus pais.
É muito legal conversar com pessoas que têm gostos em comum. Os assuntos
surgem e fluem com uma naturalidade impressionante. E é cada dia mais difícil achar uma
pessoa que quer ter um diálogo ao invés de um monólogo. Tô gostando muito da noite e
dessa companhia. Tá sendo ótimo. Faz muito tempo que não tenho uma noite agradável
como essa.
Até tomamos um sorvete que ele resolveu comprar pra nós dois. Não sei se ele
estava me provocando ou o que, mas eu fiquei encabulada e evitei fazer contato. Enquanto
isso ele fazia questão de me olhar nos momentos em que passava a língua no sorvete.
Nunca vi ninguém ficar sexy tomando sorvete, mas Murilo…
Minha vontade de beijá-lo tá ficando incontrolável. Tô guardando essa vontade
desde o desfile no momento em que beijou o canto da minha boca. Tentei me enganar, mas
simplesmente não tá dando pra segurar essa barra.
Eu disse que não quero envolvimento com ninguém, não tô pronta, mas beijá-lo
parece ser tão certo…
Chegando na frente do meu apartamento, ele para o carro e eu solto o cinto. Viro
pra me despedir e agradecer pelo passeio. Final de encontro é uma coisa embaraçosa.
— Espero que minha companhia tenha valido a pena. — Ele se vira em minha
direção, desabotoando o próprio cinto de segurança, enquanto fala olhando diretamente
nos meus olhos. O olhar que queima!
— Valeu, a noite valeu a pena. — Ele passa o polegar nos meus lábios.
— Pra mim a noite ainda não acabou. Tô doido pra te devorar inteira. — A voz
engrossa, carregada de vontade.
Ele tem uma intensidade extraordinária!
Põe a mão entre meus cabelos, segura firme na minha nuca e acabo indo pra perto
dele. Sinto meu coração mais acelerado do que nunca. Esfrega os lábios nos meus,
atiçando e me deixando totalmente entregue. Isso acendeu ainda mais minha ânsia de
beijá-lo. E sem mais delongas, ele mata minha vontade.
O beijo é simplesmente muito gostoso e intenso. Ao mesmo tempo em que é
calmo e sensual, é quente, intenso, envolvente e dominante. Lento, porém voraz. Gemo
baixo por conta da sensação provocada pelo beijo, e sinto que tô ardendo e amolecendo na
sua mão, lentamente.
Senhor! Ele é um pecado de ser humano.
Passeia a mão pelo meu corpo e eu aproveito pra passear a minha também, e
sentir seus músculos durinhos.
O beijo se torna mais urgente quando ele aperta minha nuca, puxa pra si e afunda
suas mãos nos meus cabelos, chupando meus lábios e causando um arrepio bom. Devora
minha boca de um modo que me deixa alvoroçada. Murilo é tão dominante.
Fui parar no seu colo, de frente pra ele e com as costas viradas pro volante
enquanto nos agarramos sem controle algum. Murilo aperta minhas coxas e acaricia com o
polegar, ao mesmo tempo em que beija, me deixando bêbada, entorpecida de tesão.
Desgrudamos nossas bocas, ofegantes, mesmo querendo mais.
— Uau! — Não filtro o que sai, mas que resume muito tudo isso.
Ele olha pra mim, sério e ofegante, enquanto coloca meu cabelo atrás da minha
orelha, e desce a mão devagar pela minha cintura, alisando com o polegar, de leve, perto
dos meus seios.
Distribui beijos no meu ombro até chegar ao pescoço. A sensação dos beijos
juntamente com a barba passeando é de deixar qualquer mulher louca, inclusive eu não
fico imune a isso. E fecho os olhos sentindo seus dedos quentes percorrerem por onde bem
entende.
Num gesto automático, rebolo no seu colo procurando por mais contato. Ele
geme rouco ainda me beijando e acabo de saber que ele fica com tesão, pois sinto uma
certa protuberância firme, que por sinal estou em cima, de vestido. Santo Cristo!
— Murilo… — Solto uma espécie de gemido com os olhos fechados, sentindo as
mãos dele passearem pelas minhas coxas em direção ao elástico da calcinha. Ele tá
alisando minha pele. Tô mais dominada nesse momento e o deixo fazer o que bem quer,
mesmo que não ache uma boa ideia transar no carro.
— Relaxe, vou até onde quiser. — Brinca com os dedos no elástico e segura
minha bunda, me puxando pra perto de si no mesmo momento em que sinto seu pau duro
roçar mais em mim. Gemo, agarro seus cabelos e dou-lhe um beijo com maior intensidade.
Tô quase como um rio por estar sentada no seu colo e por saber que existem pouquíssimos
panos nos separando. Isso me deixa desorientada de um jeito jamais visto.
Ficamos nos beijando ardentemente, sem pressa, nos apalpando até eu ver que
estava por um fio de perder o controle, com as alças do meu vestido caídas. Descolo a
minha boca da dele, tentando controlar minha adrenalina.
— Acho melhor pararmos por aqui — sussurro num fiapo de voz.
— Tem certeza? — Ele fala ofegante alisando minha cintura. — Tô com vontade
de continuar. Muito mesmo.
Eu ainda não sei lidar com todo esse atrevimento.
— Absoluta — afirmo, mesmo não tendo um pingo dessa certeza.
Saio do seu colo e sento no banco pra controlar minha respiração, que tá mais do
que descontrolada. Meu Deus! Espero que não tenha dado show para as pessoas que
estavam passando na rua. Eu estava quase dando pra ele no carro! Virei outra pessoa com
o Murilo. Ele é muito fogoso. Desço do carro ainda com as pernas bambas.
Enquanto eu faço a volta pra subir na calçada, ele sai do carro e se encosta.
Fico de frente pra ele e olho pros seus cabelos, que há pouco estavam nas minhas
mãos, um pouco bagunçados. Se ele tá com os cabelos desse jeito, não quero nem ver
como o meus estão.
— Acho que é boa noite. — Olho pra ele depois daquele agarramento todo no
carro.
Murilo simplesmente me segura firme pela mão e me puxa ao seu encontro.
Nossos corpos colidem e recebo um beijo, ao mesmo tempo em que uma das suas mãos tá
abraçada na minha cintura e a outra no cabelo. Que beijo! Que mãozona!
Sinto que ainda tá um pouco excitado e me dá um frio na barriga ao perceber isso.
A boca dele é quente, meus lábios estão sendo incendiados de uma forma
incontrolável. Conforme o beijo avança vou colando mais nele, ansiando, desejando e
quase implorando pra que ele entre e termine o serviço que eu de repente fiquei doida pra
provar.
Nos separamos aceitando o final do beijo. Ficamos nos encarando em silêncio por
alguns segundos, ambos presos na proximidade dos rostos, como se fôssemos recomeçar o
beijo a qualquer momento, mas Murilo abre a boca e me tira dos devaneios.
— Agora sim é boa noite, a menos que queira estender mais um pouco e ter uma
excelente noite. — A voz dele tá um pouco rouca pelo tesão, me fazendo segurar com um
pouco mais de força nos seus braços. Ele percebe que eu fiquei atônita e dá uma risada
gostosa, o que me causa arrepios e um amolecimento das pernas. Por sorte, tô presa em
seus braços.
O que tá acontecendo comigo? Que efeito é esse que ele causa em mim?
— Quero te ver de novo e te beijar.
Ele e seu jeito direto sempre me desestabilizam.
— Eu também. — Por incrível que pareça eu confessei isso abertamente. Tesão
deixa a gente inconsequente. — Agora é tchau!
Eu me despeço tentando me soltar.
— Tem certeza de que quer que eu vá embora? Não me castiga, vai. Prometo que
não se arrependerá, eu faço valer. — Segura minha mão e me puxa pra beijá-lo.
Meu Deus! Preciso de muito autocontrole pra não arrastar esse homem pra minha
cama hoje e agora. Nessas horas eu gostaria de ser a Natasha e ir sem olhar pra trás, mas
preciso ir com calma, conhecê-lo primeiro antes de colocá-lo dentro da minha casa. Aliás,
nem sei se isso vai evoluir pra alguma coisa, mesmo que seja só uma única foda. Por mais
que não queira me relacionar sério, por agora, não consigo dar pra um cara de primeira. Eu
travo, fico receosa.
— Tchau, Murilo. — Dou mais dois selinhos nele e me afasto.
A boca dele me chama a todo momento!
Murilo me puxa mais uma vez para seus braços e me beija arrebatadoramente. Eu
me desprendo do seu abraço colado e caminho em direção à porta da minha casa.
Instantaneamente sinto falta da quentura dos seus braços. Ele entra no carro e me olha
uma última vez depois de dar um tchau. Por pouco não me flagrou suspirando por sua
causa.
Entro em casa com um sorriso bobo e o corpo trêmulo, sentindo reações do efeito
Murilo.

— Você saiu com ele? — Liz questiona incrédula.


Estamos almoçando juntas, como de costume, e decidi contar sobre o fim de
semana, pois Natasha, como sempre, não deixa passar nada. Na mesma noite, antes de eu
dormir, conversamos um pouco, ele quis saber quando iríamos nos ver e marcamos para
um futuro bem próximo.
— Foi só um jantar. Não criem fanfic.
Passo meu celular pra ela finalmente ver uma foto dele. A única que tenho
disponível.
— Você é vegetariana ou alérgica a alguma coisa? Ai que fofo.
Liz lê a mensagem que trocamos no sábado. Pois é, ela, como toda amiga, lê na
cara de pau. Como eu já disse, às vezes a intimidade é uma droga. Reviro os olhos e
estendo a mão pra pegar o celular.
O garçom chega com a nossa comida, nos interrompendo, mas quando ele sai a
conversa volta, como sempre acontece.
— Conta, como foi esse jantar? — Liz volta a questionar toda curiosa.
— Foi bom. — Tento falar como se não fosse nada, mas eu acabo abrindo um
sorrisinho besta que me denuncia.
— Conta logo! A gente quer saber se vocês se beijaram ou transaram. Quero
detalhes, sis. — Adivinhem quem falou? Pois é, Natasha, sempre tão paciente.
— Nos beijamos. Foi quente! O beijo dele é muito gostoso e ele é intenso!
Confesso que senti muita vontade e quase dei pra ele no carro, mas mantive o
autocontrole. Não sei se é certo — digo baixo para as pessoas das mesas próximas não
ouvirem, mas não escondo a euforia.
— Não acredito! — As duas falam boquiabertas e empolgadas, como sempre
quando tem fofoca nova.
— Dá pra ele pra ver como é, pra ver se você gosta, sério. Tá rolando uma
química entre vocês, aproveita.
— Sem pressão, por favor! — repreendo-a.
— Não é pressão, cacete, tô incentivando a dar pra ele, pois sei que você quer.
Simples! Dê, mas dê com vontade, apenas isso.
— Não sei por que conto as coisas a vocês.
— Porque nos ama. — Nat, sempre Nat.

Amanheci com uma ansiedade boa no peito. Murilo me chamou pra almoçar de
novo e eu aceitei. Confesso, tô ansiosa, pensando nisso mais do que deveria, por isso
coloquei um vestido arrumadinho que eu comprei recentemente, e um salto médio. Eu
ainda tô amando meu cabelo e a fase boa dele.
— Vai aonde bonita assim? — Natasha fala quando estamos saindo da sala pra
bater o ponto.
— Murilo vem me buscar pra almoçarmos.
— Vai dar pra ele ou é só um almoço mesmo? — Ela debocha e eu reviro os
olhos, rindo.
— Almoço apenas, Nat.
— Tá com a lingerie combinando assim mesmo, né? — Certifica-se e eu aceno,
rindo, pega no flagra. Nem me dei conta que fiz isso. — Você tá se prendendo porque ele
mexe com você, né? — pergunta interessada, mas sei que é só preocupação de amiga.
— Mexer não é a palavra certa. Não do jeito que você tá pensando. Temos muita
química sim, gostei da companhia e de beijá-lo então, nem se fala, mas quero que tudo vá
com calma, sem expectativas, sem frustrações. Eu gosto de me guardar. Murilo tem cara
de que pode bagunçar tudo em mim se eu deixar, e quero ser dona das situações na minha
vida.
— Entendi, sis, mas se quiser dar, dê. Um compromisso sem ser sério, quem
sabe? Não precisa envolver sentimentos além do tesão. Não se reprima por ninguém,
jamais!
Aceno considerando o que ela falou. Essa vontade toda tá me matando, sem
contar que ele não ajuda, sempre dá um jeito de me atiçar mais.
Saímos e eu o vejo esperando na portas. Ele usando roupa social fica um pecado.
Ainda mais de óculos escuros. Segura-me, senhor!
— Agora vai lá com o seu namoradinho. Pela aparência, a nota é dez. — Nat
sussurra pra mim e eu rio. Eu a beijo no rosto e ela segue pela rua.
— Oi — cumprimento tímida, sem saber se devo beijá-lo ou não.
— Oi. Tá linda nessa roupa.
Ele me dá um beijo rápido, mas efetivo, sem se importar. Ai, ai…
— Obrigada. Você de roupa social fica um charme. — Sinto meus lábios
formigarem do beijo.
— Obrigado, senhorita. Foi para te ver.
Ele sempre tá bem-humorado e isso me cativa ainda mais. Entro no seu carro e
seguimos pra almoçar.
— Vamos pra onde? — Não consigo esconder meu interesse.
— Um restaurante aqui perto pra não te atrasar. Gosta de comida italiana?
— Massas são as minhas comidas preferidas. — Sorrio por ele ter acertado sem
querer.
— Que bom. Agora vem aqui, porque tô achando desnecessária essa distância
entre nossas bocas. — Ele me chama com o dedo e eu vou de boa vontade beijá-lo.
E que beijo! Que beijo!
— Vamos nos atrasar — sussurro sem fôlego.
— Verdade. — Ele volta a si.
Volto a sentar direito no banco, já que eu estava quase indo pra seu colo de novo,
e controlo a respiração. Esses beijos dele são maravilhosos e me derretem facilmente.
Deve ser falta de sexo, e um sexo decente e gostoso, mas não posso ir por esse caminho.
Parece que o carro dele me chama pro perigo e tô em pleno horário de almoço!
8
MURILO
Dois dias se passaram e eu não paro de pensar no amasso com Alexia naquele dia
do almoço. Hoje combinamos de jantar em um restaurante recomendado por um amigo.
— Christian, tô indo, cara. — Toco na mão dele em despedida. — Quero pegar
uma mesa boa.
— Acho que alguém tá tomando chá de boceta. — Ri pra mim. Ele sabe do meu
pequeno rolo com Alexia.
Se ao menos eu já tivesse provado….
— Vai lá, o restaurante é bom, ela vai gostar!
— Pode deixar. Fui!
Pego meu carro e sigo pra agência a fim de buscá-la. Espero que esse jantar seja
bem melhor do que o outro. Doido pra ir mais além, continuar o que não fizemos naquele
dia.
O amasso no carro foi muito louco. Nunca fiquei com tanta vontade de comer
uma pessoa como fiquei com Alexia. O beijo dela é gostoso, sabia que aquela boca não
decepcionaria. Percebi que sempre fica encabulada no começo, mas quando se solta vira
outra pessoa, mesmo não percebendo.
Alexia com tesão muda completamente, ela vira uma mulher selvagem e
libidinosa. Quando eu a arrastei pro meu colo e tive o prazer de tê-la sentada nele,
praticamente encaixada e úmida, sentia seu calor por meio da calcinha. O jeito manhoso
que ela geme e chama meu nome quando tá com desejo é de tirar o juízo. Pena que quando
percebe que tá no modo natural, recompõe-se e se fecha novamente, envergonhada.
Assim que estaciono lá em frente, envio a mensagem pra que ela desça. Logo
responde que daqui a pouco desce. Ligo o som e quando a segunda música acaba ela
aparece. Gata demais, cheirosa e com o batom vermelho. Que mulher! Doido pra ir além!
Já a imaginei em mil posições! Preciso transar com ela urgentemente, pois meu
desejo tá cada vez mais incontrolável. E sei que da parte dela também, senão já teria me
afastado.
Hoje, quero ir um pouco além, tê-la em meus braços e ouvir seus gemidos.
Alexia é… Não sei explicar, é uma incógnita que eu tenho vontade de decifrar.
Ela me parece bem sucinta no que diz respeito à sua vida, bem reservada, chega a ser
misteriosa. E eu gosto de solucionar mistérios.
ALEXIA
— Oi.
Dou um beijo nele, pois sou dessas e ele tá muito bonito hoje em especial, com
uma camisa social branca alva, sem blazer. Sempre o vejo com camisa social de tons
escuros.
— Oi. — Ele me puxa pra mais perto.
O beijo é sensacional! Confesso que tô morrendo de vontade de transar com ele.
Hoje, se a brecha aparecer, vou chamá-lo pra ir lá pra casa. Vou tacar o foda-se por um
momento. Tô doida pra sair dos beijos! Tô pegando fogo!
Confesso que Murilo tá cada vez mais presente no meu dia a dia. Já me acostumei
a conversar praticamente todos os dias. E reparei que ando pensando muito nele, mais do
que deveria. Espero que ele pense em mim de vez em quando, só pra eu não me sentir tão
patética por pensar nele o tempo todo. Eu sei, é um tiro no próprio pé.
Murilo interrompe o beijo com um último selinho e me olha.
— Que tal um jantar? — arqueia as sobrancelhas.
— Outro jantar? — Sorrio para ele.
— Sim, outro jantar, como amigos. — Ele confirma sorrindo.
Murilo tá sempre de bom humor e isso é cativante.
Concordo e seguimos o caminho até esse restaurante onde ele quer me levar. Já
disse que me sinto muito à vontade com ele? O tempo passa muito rápido.
Deixei meu carro em casa hoje por causa do encontro. O lugar que ele me trouxe
é outro restaurante que eu nunca tinha ido. O local é muito agradável, tem até música
acústica ao vivo. Comemos petiscos ouvindo as músicas.
— Aqui é muito bacana!
— Um amigo que me recomendou.
— Maravilhoso.
— Obrigado.
Rio e ele acompanha. O timbre da sua risada faz meu estômago assanhar como
nunca aconteceu. Eu tive que disfarçar. A comida é maravilhosa, como o resto da noite.

MURILO
Paro o carro na frente do apartamento de Alexia e ela me olha, mordendo os
lábios rapidamente.
— Quer entrar? — Escuto aquela proposta maravilhosa.
Já que ela insiste, né? Nem queria…
Saio mais que rapidamente com ela, indo em direção à porta. Assim que
entramos, eu a imprenso na parede, beijando-a com todo o desejo que guardei desde que a
conheci. Ela é muito gostosa e retribui na mesma fome. Ela gemendo é de foder o juízo,
fica ainda mais gostosa com tesão. Ataco seu pescoço beijando e mordendo, e passo a mão
em cada centímetro do seu corpo. E ela geme baixinho. Ah! Esses gemidos…

ALEXIA
Retribuo na mesma ânsia segurando sua nuca, nos aproximando ainda mais.
Agarro seus cabelos na mesma intensidade com que ele trilha, com sua boca, meu queixo
até descer pro pescoço. Ele afunda as mãos nos meus cabelos e me beija. Na verdade, ele
explora minha boca com a língua, alastrando algumas sensações, como o próprio fogo, em
mim.
E sei que da parte dele também há fogo, pois suas mãos me apertam e passeiam
avidamente pelo meu corpo. Ele cola sua boca direto na minha enquanto segura
firmemente nos meus braços e nuca.
Caminha pela casa sempre me beijando e subitamente me prensa na parede mais
próxima, agarrando mais forte, aumentando minha ansiedade. Uma das suas mãos sobe e
passeia pelo canto do meu seio esquerdo, que depois ele acaricia com o polegar. Ele anda
e eu o acompanho de costas, ainda nos beijando.
Mal posso esperar pra tê-lo sobre mim.
Ele me arrasta e me joga em cima do sofá, e em seguida já tá em cima de mim,
beijando e apalpando meu corpo.
— Gostosa pra caralho! — sussurra enquanto puxa meu vestido do corpo.
Gemo sem me controlar. Se eu, que já estava com tesão antes mesmo de
começarmos a nos beijar, com essa carícia o tesão duplicou.
Aperto os braços fortes dele com mais vontade e me remexo embaixo enquanto
ele alterna entre beijos, mordidas suaves no pescoço e carícias pelo meu corpo. Minha
calcinha molha muito mais quando alisa com a ponta do dedo minha barriga e o vão dos
seios. Contraio a barriga sem me controlar.
Ele me pega como se eu fosse uma pluma e segue pro quarto. Entramos e ele me
joga na cama juntamente com seu corpo quente sobre o meu. Puxo sua camisa com
urgência, desabotoo e ele tira o resto. Suspiro, não me contenho com a visão desse homem
se despindo pra mim. Como ele consegue ser sensual assim, naturalmente?
O corpo é largo e gostoso na medida certa. Muuuito gostoso!
Vou descendo os olhos e vejo a marca do V com a metade coberta com a
calça social, o volume já perceptível. Eita! Tenho vontade de passar a língua por esse
corpo todo bronzeado. Mordo os lábios com meus pensamentos indecentes, que estão
incontroláveis.
— Você gosta de testar meus limites. — Sua voz é rouca e faz meu coração bater
consideravelmente mais rápido.
Agarro suas costas, fazendo ele me apertar e começar um beijo mais quente e
intenso, cheio de maldade.
Desabotoa meu sutiã, que é pela frente. Ao mesmo tempo que meus seios ficam
expostos, não consigo deixar de ficar insegura. Coloco a mão em cima rapidamente.
Acho meus seios muito… Sei lá! Sempre escutei coisas sobre eles que me deixam
receosa. Talvez seja por estar com um cara pela primeira vez.
— Tapou por quê? — questiona visivelmente confuso.
— Não acha melhor apagar as luzes, não? — confesso, estou um pouco sem
graça.
— Não. Quero ver seu corpo. — Junta as sobrancelhas.
O olhar dele me fez queimar. Apesar da insegurança, a vontade de tê-lo é maior e
sentir a mão passeando pelo meu corpo não me ajuda a raciocinar direito.
— Ele é maravilhoso e macio. Quero olhá-lo e tocá-lo como se deve. Se você
ficar desconfortável apagamos, certo?
— Tudo bem. — Eu me rendo e ele tira minhas mãos de cima.
Sou uma quebra-clima do cacete. Agora ele vai me achar paranoica.
— Seus seios são gostosos. Tenho tara por eles, quero lambê-los todinhos. —
Apalpa os dois com vontade e aos poucos vou relaxando.
Tô quase transpirando de nervoso e ansiedade. Meus poros estão todos abertos.
— Murilo… — gemo sem me importar com mais nada.
— Isso, geme mais, gostosa — sussurra no meu ouvido.
Contorna ao redor dos meus seios e mamilos com a língua, de forma lenta, e aos
poucos vai aumentando a intensidade até chegar perto do mamilo. Coloca na boca e suga
com voracidade. Um, depois o outro, enquanto simultaneamente os acaricia.
Alisa minhas costas enquanto desce os lábios, provocando pequenos incômodos
nervosos entre minhas pernas e tento de alguma forma aliviar cruzando-as.
Beija a divisão dos meus seios até abaixo do umbigo e fico mais ansiosa, mais do
que qualquer outra coisa, pelo que eu presumo estar por vir. Sua barba em contato com
minha pele estimula o resto do meu corpo.
— Tenho maior tesão em você.
Passa as mãos na parte interna das coxas bem perto de onde eu quero que ele
realmente toque. Desliza o dedo levemente por cima do tecido e eu suspiro, querendo que
ele avance muito mais.
Puxa minha calcinha que, graças a Deus, não é das de estampas constrangedoras.
— Linda! — sussurra e passa o dedo novamente.
Não consigo focar em mais nada. Fecho os olhos e mergulho em todas as
sensações maravilhosas, tremendo e me contorcendo.
Ele começa a me estimular com o polegar e colocar o dedo na entrada, só a ponta
do dedo e depois tirando. Estou quase gozando. Desce a boca, deixando um beijo na
minha virilha. Meus gemidos ficam um pouco incontroláveis.
Fico mais excitada sentindo a língua quente e molhada trabalhar exatamente lá,
no local certo. Abro ainda mais as pernas. Sua boca e barba contra minha pele me deixam
cada vez mais desesperada.
Ele faz massagem com a língua e os dedos, ao mesmo tempo com uma calma e
vontade que eu não consigo acompanhar. Murilo alterna entre movimentos lentos,
moderados e rápidos. Lambidas, mordidinhas e sucções.
Ele não é do tipo que apenas lambe, ele chupa com vontade e suga. Às vezes
coloca a pontinha da língua. Pela forma que eu tô, parece que todo o líquido do meu corpo
vai sair por ali.
— Aí, Deus. — Dou um suspiro longo sentindo meu corpo tremer.
Continua seu trabalho maravilhosamente bem. Com a boca e os dedos ali com
empenho, a sensação vem. Tremo, contorcendo os dedos dos pés enquanto agarro seus
cabelos, tentando ter mais dele quando meu corpo é tomado por espasmos.
— Maravilhosa, como eu imaginava — confessa bem safado, olhando pra mim
enquanto eu tô recuperando os sentidos. A única coisa que tenho certeza é de que não
quero que a noite acabe tão cedo.
— Nossa! Minhas pernas estão bambas. — Consigo expressar algo.
Ele levanta da cama e desabotoa o cinto. Levanto a cabeça pra observar ele abrir
e descer a calça junto com a cueca.
Arqueio as sobrancelhas quando finalmente vejo ele nu. Olho, declaro que estou
muito bem e obrigada! Bastante proporcional para o corpo que ele tem. Tipo, bastante.
Ele sorri de modo sacana quando me vê secando-o.
— Mas é muito safada mesmo! — Ele ri mais uma vez e sei que isso tudo vai me
deixar louca.
Aponto pro criado-mudo e ele entende o que é pra pegar. Infelizmente parei de
usar o anticoncepcional e essa é a nossa primeira transa.
— Vou fazer você enlouquecer de prazer — promete enquanto põe o preservativo
sob minha observação e eu fico ofegante com a promessa.
Sobe e me dá um beijo ardente e morde um dos meus mamilos de leve. Que
homem é esse, meu Deus?
Logo sinto a sensação dele escorregar com firmeza e maciez pra dentro. Gemo e
agarro nos seus braços. Sinto o calor de ser preenchida totalmente pelo volume, suspiro
com a sensação que nunca mais tinha sentido, ainda mais nessa potência, e mordo a boca
evitando gemer alto.
— Olha pra mim. — Escuto sua voz grossa.
Eu fechei os olhos e nem percebi.
Esses cabelos bagunçados, sobrancelhas franzidas, forte, queixo bom de morder.
Como pode ser tão atraente?
— Quero ver você me olhando enquanto eu te fodo gostoso.
Ele é muito intenso, atrevido e fogoso. Minha nossa senhora! Vejo ele sobre mim.
E que visão! Sinto ele sair quase todo e voltar com tudo, contraio por dentro
instantaneamente e ele geme rouco. Faz isso mais de uma vez.
No começo, seus movimentos vieram lentos e torturantes, até começar a pegar
um ritmo bom, que pedia por mais. Sentir o barulho e o toque dos nossos corpos se
chocando é maravilhoso. O fogo me consome, nos queimando ainda mais naquele tesão
louco e eu o beijo desesperadamente, gemendo. Ele corresponde vorazmente.
Ofego com a sensação de ir e vir. Abraço seu quadril com minhas pernas pra que
ele vá mais fundo. Observá-lo suado enquanto me preenche gostoso é muito
enlouquecedor.
Não consigo desprender meu olhar do seu rosto, a boca desce e ele morde meu
lábio inferior. Gememos praticamente juntos com a sensação delirante dos movimentos.
Como pode ser tão gostoso a cada minuto que eu fico perto?
Arranho suas costas, agoniada, extasiada, beijo rapidamente seu pescoço, mordo
seu queixo, recebendo outro beijo.
— Isso é por você ter fugido de mim, safada.
Murilo impulsiona rápido de um jeito enlouquecedor, aumentando meu tesão
absurdamente. Aperta minha cintura pra dar apoio e meu corpo se chacoalha subindo e
descendo conforme ele continua a ir e vir.
Fecho os olhos e jogo a cabeça pra trás quando sinto a sensação delirante mais
uma vez, na mesma noite. Logo ele também vem. Até o gemido dele é gostoso e excitante.
Meu coração está a mil e minhas pernas estão trêmulas. Suor é a minha segunda
camada de pele. Uau, ele não decepcionou. Realmente, fez valer!
— Caralho! Você na cama é outra pessoa. — Tenta controlar a voz ofegante e eu
dou uma pequena risada quase sem fôlego.
— Não tenho culpa de você ser tudo isso. — Tento controlar a respiração
também.
— Dois minutos. — Levanta e segue pro banheiro. Daqui onde eu tô tenho a
visão deslumbrante daquela bunda boa que até agora a pouco eu estava apertando. E suas
costas deliciosas, vermelhas pelos arranhões das minhas unhas.
Aproveito pra me enrolar no lençol. Ainda não consigo ficar exposta sem me
sentir desconfortável. Ele não demora a voltar, e não se importa nem um pouco com a
exposição.
— Tive vontade de fazer isso com você desde a primeira vez que te vi. — Vem
como um imã pra perto de mim. — Ah não, tira esse lençol.
Puxa e me desenrola.
— Para de ser assim. — Rio tentando pegar de volta.
— Acostume-se a ficar dessa forma perto de mim. Vou querer você de novo, sabe
né? — pergunta como se não fosse nada e eu assinto, pois também vou querer transar com
ele de novo.
Coloco a mão nos seus cabelos macios e bagunçados, jogando para o outro lado.
Ele fica com a aparência ainda mais masculina.
— Eu acho seus seios bonitos pra caramba! — Ele solta encarando os dois
desnudos, e em seguida dá uma piscadela pra mim. Apenas coro. — Vou passar a noite
aqui, não me põe pra fora. — Ele se impõe e eu dou de ombros.
Por mim, fica. O que poderia acontecer já aconteceu, e o melhor de tudo, não me
importaria em repetir a dose. Só a menção do que pode acontecer aqui, novamente, já me
deixa afoita.
9
MURILO

Debaixo do chuveiro do apartamento de Alexia, percebendo que tem mais cremes


na prateleira do que eu já usei na minha vida inteira, penso na hora em que ela tampou o
corpo. Ela tem vergonha do próprio corpo? Como uma mulher dessa tem vergonha desse
corpo maravilhoso?
É normal uma pessoa ser tímida, mas ela é muito, pelo menos é o que tem
demonstrado até o momento. No sexo ela muda completamente, nos amassos também e eu
quero saber o porquê disso. Parece que ela se controla por nenhum motivo óbvio, pelo
menos pra mim. Na cama é muito diferente, quando o tesão a guia deixa tudo melhor, o
olhar muda, fica mais sensual e provocativa.
O corpo correspondia a cada toque. Sem contar que gemendo é uma coisa
indescritível. Ouvir uma mulher gemendo o seu nome por causa de algo que você tá
fazendo é o melhor som que se pode ouvir. Tão gostoso quanto perceber que ela estava
fazendo de tudo pra não gemer alto. As duas coisas são maravilhosas de se ver. Causa
fogo, mexe comigo.
Saio enrolado na toalha e ela me empresta um moletom que era do seu irmão. Dá
pra quebrar o galho e, a propósito, nem coloco cueca. Isso é bom porque é só descer a
calça e pronto.
Fomos pra cozinha e eu tratei logo de procurar alguma coisa pra comer. Não sou
do tipo de pessoa que fica esperando alguém me servir. Sou uma pessoa prática e ela não
teve objeção nenhuma com o meu estilo, mas fiz uma gracinha e pedi pra ela buscar um
copo pra mim, só pra vê-la na pontinha do pé com a polpa da bunda à mostra num vestido
curto que usava.
Apesar de estar de barriga cheia e cansado, não tô com muito sono e proponho
assistirmos algo enquanto o sono não chega. Ela aceita, apaga as luzes e senta ao meu
lado. Com uma almofada, me jogo com a cabeça no seu colo. Sou espaçoso.
É bom estar perto dela, é tipo um imã. É confortável e gostoso. É massa quando
encontramos uma pessoa que tem uma conexão boa, além da sexual.
Assistimos, até que eu não consegui mais segurar minha dúvida.
— Alie, posso perguntar uma coisa?
— Hum? Pode. — Vira a atenção pra mim.
— Por que essa timidez toda? O lance do seu corpo e todo o resto — pergunto
sem rodeios.
Continuo a olhar pra ela, que também olha pra mim. Vejo ela tentar fingir que não
ficou afetada com a pergunta. Pelo jeito eu peguei no ponto fraco dela.
— Somos amigos, não sabe? — questiono tentando fazer ela se sentir
confortável.
— Somos? — Ela pergunta um pouco sem graça.
— Somos, amigos com muitos benefícios, espero! Se tiver a fim de desabafar,
pode contar comigo!
— Aham. Mas é um assunto que não quero tocar, não hoje — agradece meio
encabulada, arrumando o cabelo. Concordo respeitando seu espaço.
— Eu gosto e quero saber o que você pensa. Nua e crua. Mostrar timidez não é
sinal de fraqueza de jeito nenhum.
— Nua e crua, é? — Ela sorri cinicamente. — Gosto muito de coisas nuas e
cruas.
Ela passa a mão pelo meu corpo e eu acompanho o percurso. Desce a mão pelo
short e alisa meu pau, que logo se atenta quando percebe que a mão não é minha. Viu o
que eu disse do lance quando o tesão guia?
— Alexia… — alerto. Por mais que eu queira receber esse boquete, não quero
que ela se sinta obrigada por causa da conversa.
— Eu quero… — Suspende as sobrancelhas, sorrindo safada.
Puxa meu pau que já tá mais desperto e eu a ajudo a tirar a calça pra ficar melhor.
Olha e em seguida faz movimentos pra masturbá-lo. Ver as mãos pintadas ao redor do meu
pau é excitante demais. Depois passa a mão alisando e eu acabo soltando um gemido.
Caralho. A filha da puta sabe onde e como mexer. A carícia tá gostosa demais.
Não vejo a hora dela descer a boca.
Como se ela escutasse meus pensamentos, faz o que eu quero. Desce a boca de
novo e sobe apertando com as bochechas. Me seguro pra não gozar ali mesmo com isso
que ela fez. Ver uma mulher usando e abusando do seu pau com vontade é maravilhoso
demais.
Puta que pariu de boquete! Gostoso demais. Ver a cabeça dela subir e descer com
meu pau na boca é excitante.
— Nossa! — gemo quando aumenta a pressão da sucção.
Parece que eu vou esporrar a qualquer momento. Seguro nos seus cabelos e
auxilio no movimento. Puta que pariu, atrevida, ela é maravilhosa.
Parece que esse tesão nela não vai adormecer tão cedo. Ainda quero fodê-la
muito. Passo a mão nas suas costas. A pele dela é muito macia e gostosa. Tenho vontade
de marcá-la todinha como um macho das cavernas demarcando território, pra que quem a
veja no dia seguinte perceba que ela foi bem fodida na noite anterior por um homem de
verdade.
— Para de se esfregar em mim! — Ela resmunga prendendo o riso.
Continuo a segurá-la e ela se ajeita contra meu corpo, colocando uma perna por
cima a prendendo. Quero ter o corpo dela perto. Ela tenta sair, mas eu continuo agarrando-
a pra ficar onde está. Ela me mostrou o quarto de hóspedes, mas vim pra cá mesmo. Tê-la
aqui nesse quarto ou dormir sozinho no outro? O quarto de cá me parece melhor!
— É você quem tá trazendo sua bunda pra perto.
Dou uma gargalhada e ela tenta parecer brava, mas só tenta mesmo. Busca sair
mais uma vez, na teimosia. Acha mesmo que vou dormir comportado ou em outro quarto
quando se tem ela numa cama que cabe nós dois? Sem contar que posso colar nossos
corpos. Nunca fui fã de dormir junto, meu braço sempre fica dormente, mas pra ter sua
bunda perto de mim é um sacrifício que vale a pena.
Achamos uma posição confortável e ficamos quietos pra dormir. Demoro a pegar
no sono pensando sobre sua timidez, mesmo não sabendo o motivo. A necessidade de
mostrar a ela o quanto ela é linda cresce em mim. Fazer ela enxergar e ver como realmente
é maravilhosa, pois acho um desperdício uma morena dessas ficar na timidez, sabendo que
libidinosa é ainda mais gostosa.
Olho pra baixo, vejo-a com o rosto enterrado no meu peito, com uma mão na
minha cintura, os cabelos desordenados, já cochilando, tranquila.

ALEXIA
Acordo antes dele, acabei me soltando durante a noite. A diferença é que o braço
dele ainda tá em cima de mim, mais precisamente por dentro da minha camisa segurando
minha barriga, e os seus dedos estão quase entrando no elástico da minha calcinha.
Atrevido até dormindo!
Nunca gostei de dormir agarrada, ainda mais com ele que não é nada meu. Eu
sempre fico incomodada, sufocada ou suada no meio da noite, mas essa noite até que não
foi tão ruim.
O cheiro característico dele fica em mim. Ele tem um cheiro que não consigo
explicar, mas é bom de sentir. Exala masculinidade misturada com o perfume amadeirado,
agora bem fraco, mas que mesmo assim fica impregnado por todos os cantos.
Olho pra ele, que ainda dorme, agora totalmente espaçoso. Uma bela visão logo
pela manhã. Um moreno totalmente à vontade na minha cama, cabelos bagunçados, nariz
fino, queixo quadrado tomado pela barba escura e o melhor de tudo, sem camisa, com os
músculos à mostra. Nesse ângulo, tudo parece maior e mais forte. Parece até um ensaio de
revista e não me importaria de ser a fotógrafa. Se fosse, o título seria “homem gostoso,
que prazer eu tive!”.
Paro de observá-lo e me preparo pra tomar um banho, mas antes vou até a
cozinha, coloco a cafeteira pra funcionar e leite pra ferver, pra fazer um cappuccino pra
mim.
Vestida e ainda no banheiro, escuto meu celular tocar. Corro pro quarto pra
atender e não o acordar. Ele continua dormindo, bonito, gloriosamente. Bem que eu
poderia ver isso todo dia… Não reclamaria.
A volúpia tá perdendo um modelo glorioso. Um dia, quem sabe, não mato minha
vontade de fazer um ensaio dele de cueca? Minha câmera adoraria, e eu também.
Com o celular na mão, vejo que é da casa dos meus pais. Atendo, fazendo um
cappuccino de chocolate, meu preferido.
“Alexia, sua ingrata! — É Isis, minha amiga desde o colégio, e cunhada.”
“Ah! Oi Isis. — Não evito um sorriso.”
Conversamos por alguns minutos e, como sempre, ela queixou-se que eu não ligo,
e é verdade. Até que gostaria de ligar mais vezes, mas nunca dá. O horário que tenho
disponível pra fazer isso é muito tarde, quando chego do trabalho. Mas contei a ela sobre
minha “amizade colorida” com Murilo, pois tô me sentindo muito moderninha, e ela
vibrou por eu ter terminado o namoro. Todas as minhas amigas têm a mesma opinião
sobre o Diego. Realmente, eu estava insistindo num erro.
Falei com a minha sobrinha, que me pediu um brinquedo quando eu falei que vou
visitá-la em breve. Fiquei rendida por aquela vozinha meiga, reclamando de saudade. Meu
coração fica apertado e desejo me teletransportar só pra beijá-la e abraçá-la.
Assim que finalizo a ligação, sinto um beijo diretamente na minha nuca, pois eu
tô com o cabelo preso, e meu corpo logo arrepia. Eita! Já chega assim! Acordou e eu nem
percebi. Olho pro lado e vejo Murilo só de calça moletom e sem camisa, com uma cara de
sono, mas continua bonito. Como pode?
— Bom dia! Senta aqui pra tomar café. — Aponto pra cadeira do meu lado.
— Bom dia! — responde e senta. — Tô cheio de fome!
Aceno e não evito pensar no sentido sexual da coisa. Cristo! Meus pensamentos
estão cada vez mais devassos.
Sirvo café preto pra ele, que coloca metade de um pão na boca. Beberico meu
cappuccino, que ficou um pouco forte, constrangida, sem saber sobre o que falar. Eu
nunca tive um sexo casual na vida!
— E agora? Cada um pro seu canto?
Desajustada, questiono. Vou deixá-lo guiar.
— Quer que eu vá embora? — Arqueia as sobrancelhas em tom de
questionamento.
— Não. Não é isso — corrijo depois de perceber a forma como saiu a frase. Ele
achou que eu estava colocando-o pra fora.
— Quer que eu fique então? — Volta a me fitar com seus olhos brilhantes, que
ardem quando me encara dessa forma.
— Não. Quer dizer, se você quiser. — Eu me enrolo um pouco e ele ri. O safado
fez de propósito. — Ah, Murilo!
Depois do café agradável, como se fizéssemos isso há muito tempo, ele me
convida pra correr com ele. Titubeio com um pouco de preguiça. Ele cruza os braços
negando. Olha que volume nesses bíceps.
— Eu tô cansada, sério — nego sem me imaginar fazendo qualquer exercício
físico.
— Você acordou agora.
— Tô toda travada. — Ele ri porque sabe o motivo de eu estar assim. Abusado!
— Uma corrida rápida, mas podemos fazer um aquecimento aqui mesmo.
Põe a minha mão em cima da calça moletom.
— Você é um safado.
Recebo um beijo com vontade e ele geme enquanto eu o massageio, sem nenhum
sacrifício.

Ele precisou passar pelo seu apartamento pra trocar de roupa e conheci o lugar
em que ele mora. Um sobrado moderno e espaçoso pra quem mora sozinho. A casa inteira
tem tons neutros e a decoração é bem básica. Revestimentos e paredes claras, estofados e
móveis escuros, é o que predomina. A casa dele é numa escala de cinza, contrastando com
o verde e o azul da vista privilegiada que tem pelas grandes janelas. É um ambiente
acolhedor e muito característico da personalidade dele. Tem até foto dele praticando
esportes radicais.
Fomos correr no seu quarteirão, mas foi uma coisa vergonhosa pra mim, pois meu
fôlego é de uma senhorinha de setenta anos com problemas respiratórios, comparado ao
dele. Paramos no lago. A área verde do seu condomínio parece um pequeno bosque com
árvores, bancos, flores, e aproveito pra descansar enquanto assisto ele sem camisa fazer
flexões. A visão é maravilhosa e imagino ele fazendo movimentos parecidos em cima de
mim. Sim, tô uma safada e por culpa dele.
— Toma, exibido. — Jogo a camisa pra ele enxugar o rosto.
— Não sou eu quem tá com as pernas de fora. Tô de short fino, lembre-se disso.
Como um imã, olho pro seu short, que mostra discretamente o volume e em
seguida ele ri presunçoso. Reviro os olhos por ter sido pega no flagra.
— Tá a fim de que, agora?
— De uma comida. — Murilo dá um sorriso devasso.
— Vamos lá pra casa que eu te dou uma comida. — O duplo sentido da coisa tá
mais que explícito.
— Tô falando de alimento, abusado. Você sabe cozinhar mesmo, Murilo? Cheio
de habilidade, né?
— Minha comida é ótima! Você não viu nem metade! — Dá aquele olhar sacana
com mil e um significados, e me deixa sem fala. Tento não me afetar, falhando
miseravelmente. Sinto cair uma lágrima e não é pelos olhos.

Que covardia um homem desses cozinhando pra mim! O universo tá dificultando


tudo pra minha humilde pessoa. Fica complicado porque, quando eu decidir encontrar
homens reais, futuramente, vou voltar a notar que mal cozinham ou lavam um prato, só
pra começar.
Como é que põe um combo completo de “homão da porra” assim na minha frente
e totalmente disposto? Se fosse loiro e fizesse crochê seria o próprio Hilbert. Esse homem
não deveria ser solteiro!
Murilo já fez mais coisas por mim do que Diego nos anos todos de namoro. Isso
me desespera e me aquece assustadoramente.
Assisto atenciosamente ele passar pra lá e pra cá na sua cozinha planejada com
uma ilha larga. Como o resto da casa, em escala de tons cinzas. A música toca baixinha na
playlist que escolhi no celular, “quando o boy te chama pra casa dele e não é pra reunião
hinode”, onde só toca música gostosa de ouvir. É playlist compartilhada, Natasha quem
fez, ele nunca saberá, mas só presto atenção na sua voz grave cantando.
Olha, eu não sou de safadezas, longe de mim, mas que morenão lindo, viu? Deus
tenha piedade de mim!
— Tá gostoso. — Vira pra mim usando um avental.
Homens de avental são tão sexys.
— Concordo… — Debruçada na ilha, presto atenção nele e divago.
Ele dá uma sonora e gostosa gargalhada, trazendo a colher pra que eu
experimente o tempero e eu acabo rindo junto por essa gafe ter passado despercebida. Eu
estava falando dele.
Almoçamos e tomamos um vinho, a comida pedia um. E cá entre nós, ele cozinha
melhor do que eu. Não que isso seja uma coisa surpreendente, já que qualquer pessoa
consegue essa façanha. Numa escala Masterchef eu sequer entraria no programa e Paola
me mandaria tomar vergonha na cara. E olhe que eu adoro os programas culinários que
passam na Discovery home & health, mas não aprendo nada.
Às vezes, do nada, temos uma grande sorte de conhecer pessoas que com poucas
atitudes mudam a direção dos nossos dias, né? Chegamos a ficar surpresos pela leveza das
situações.
Como a conversa flui em segundos, nos conhecemos ainda mais. Contei sobre
minha família, que é de origem americana por parte de mãe, por isso meu nome não é
brasileiro, mesmo que eu nunca tenha morado lá. Era o sonho de minha mãe ter uma filha
com esse nome, então ficou. E também falei sobre minha paixão pela ponte Golden Gate,
que ainda não tive oportunidade de conhecer. A última vez que eu fui a Sacramento,
capital da Califórnia, meus avós eram vivos, eu tinha dez anos e não lembro de
praticamente nada. E os pais deles estão em São Francisco.
Da família passamos para os planos futuros, e soube que ele tem planos de ser
acionista, pois o colocaria em outro patamar na empresa em que trabalha. Se pintasse a
oportunidade, ele se jogaria e até mudaria para a outra filial, que abrirão em outro estado,
pra acompanhar tudo de perto. Ele quer a promoção a qualquer custo.
Apesar de ter ficado feliz pelos planos dele, me sinto desanimada, mesmo não
devendo. Só a menção da viagem e da mudança me entristece, pois sei que vou ficar sem
sua companhia, mesmo sabendo que ele não fechou negócio algum ainda, que costuma
demorar e que na maioria das vezes para no meio do caminho.
10
ALEXIA
A semana começou e eu senti saudades de ficar de bobeira. Sábado à noite eu fui
pra casa sozinha e senti falta do Murilo esparramado ali, me presentando com a sua bela
visão. Nunca gostei de ficar sozinha. Gosto de ter contato com alguém. No domingo ele
até perguntou se eu queria sair com ele e uns amigos, mas neguei. Não quero impor
presença sempre.
Preferi sair pra jantar sozinha, num restaurante no final da rua, em vez de pedir
comida. Experimentei fazer isso pela primeira vez e me senti tão bem na minha própria
companhia que me surpreendi, e pretendo fazer isso mais vezes. O resto da noite fiquei
curtindo os programas superficiais do canal E! pois adoro barraco de rico, tomando um
vinho perdido na geladeira e comendo batatas fritas, me sentindo tão milionária quanto
eles.
Subo pro meu andar como de costume. Faço minha rotina, que não aguento mais.
Vida de rica em corpo de pobre é difícil. Keeping up with the Kardashians me acostuma
muito mal!
Desço pra almoçar depois de Nat querer saber antes da hora sobre minha
novidade, só porque comentei que tinha uma boa pra hora do almoço.
— Não, Natasha, espere chegar a sua irmã — digo pela milésima vez.
— Você é muito vadia!
— Ei, vadia é você — devolvo o insulto rindo.
— Verdade, nunca deixei de usar batom vermelho — debocha e rio junto.
Ridícula!
Descemos em direção ao restaurante, onde Liz provavelmente já deve estar nos
esperando.
Entramos e, como eu deduzi, ela já tá na mesa, sentada. Quando nos vê abre um
grande sorriso, como criança vendo presente. A gente se cumprimenta com um beijo na
bochecha e sentamos. Ela beija a Nat, que se senta logo depois.
— Agora conta. — Nat pede curiosíssima.
— Transei com o Murilo — sussurro em tom de confissão e as duas abrem um
sorrisão.
— Como foi? — Liz tá interessadíssima.
— Como foram! — corrijo, rindo em deleite da minha nova vida de bem comida.
— Não acredito que já tá assim! — Lizandra tá boquiaberta e Nat faz graça
fechando a boca da amiga.
— Foi na sexta-feira, nós tínhamos saído… — conto como foi que aconteceu, até
a parte em que transamos.
Eu nunca tive vergonha de contar minha vida sexual pra elas quando tenho
novidades, mas claro que poupo alguns detalhes pra mim. Conto por cima só pra termos o
que resenhar.
— Dormiram na mesma cama também? — Liz ainda tá chocada e causa um
grande divertimento.
— Sim. Ele é meio atrevido, mas gosto da companhia dele.
Liz junta as sobrancelhas, assim como Nat, que me dirige um olhar examinador.
— Que foi, gente? — Tento me situar.
— Está gostando dele, sis? — Natasha questiona com semblante sério.
— Não dessa forma, não quero pensar em sentimentos. Eu só não sei como
ficamos. Ele até me contou umas coisas e talvez mude de estado.
— Um sexo casual. Encontrem-se quando quiserem transar e só. Sem cobranças.
— Liz responde e Nat assente afirmando. — Se ele for, acabou, ué.
— Nada melhor que transar sem precisar prestar contas a alguém. Curta as
oportunidades.
Titubeio pensando nessa decisão. É, é até bom ter essa data de validade, digamos
assim. Acho que é melhor, né? Assim dá pra curtir sem muitas preocupações e impõe
limites. Tudo que eu preciso no momento, algo bom que não seja duradouro.
— Vou fazer isso. Não quero entrar em relacionamentos. Vamos ver no que vai
dar isso.
— É assim que se fala! — As duas aprovam minha decisão e sorrio.

MURILO
Depois de sobreviver de lanchinho durante uma semana, tô doido pra uma foda
de verdade sem pressa e, por isso, acabei de enviar uma mensagem pra Alexia
convidando-a pra ir à minha casa.
Hoje é dia de alforria, de foder até perder o juízo e dormir até a hora que eu bem
entender. Quero tê-la mais uma vez em meus braços, por cima ou por baixo, escutando
seus gemidos e súplicas pra me ter cada vez mais fundo. Suas unhas passeando por mim
enquanto chama meu nome… Só com essa imaginação, tenho vontade de ir aonde ela tá
urgentemente.
Nos vimos nessa semana, até fomos almoçar no restaurante perto do seu trabalho
e demos uma rapidinha num motel próximo. Não aguentei vê-la naquela calça jeans
mostrando as pernas e com a bundinha empinada por conta do salto.
Fecho a gaveta de documentos e, antes mesmo de colocar meu celular de volta no
bolso, ele vibra com uma mensagem dela. Logo clico pra abrir:
“Daqui a pouco apareço.”
Sorrio empolgado, já imaginando mil sacanagens. Cristian aparece do meu lado
colocando a mão no meu ombro.
— Tá tomando chá de boceta direitinho, né filhote?
Guardo o celular e pego as minhas coisas.
— Se lascar, caralho!
— Tá de quatro por ela, hein?
Tenho vontade de responder que “ela que fica de quatro pra mim”, mas seria
muito baixo até pra rebater o filho da puta do Cristian, que tá com um sorriso debochado
no rosto. Bastardo!
— Cuidado pra ela não fugir.
— Não vai — reforço. — Nós estamos nos curtindo e só.
Coço a barba. O elevador aparece no nosso andar e entramos, aproveitando que tá
vazio.
— Já comprou a pílula azul pra impressionar? — Ele ri tirando uma com a minha
cara.
— Compra pra você, Luísa estava reclamando aí. Aqui é puro vigor!
Soco o braço dele, rindo, e ele entra na onda. Bastardo demais!
— A única coisa azul que eu gosto são os olhos de Luísa!
O elevador apita no térreo e vou em direção ao meu carro, despedindo de algumas
pessoas.

ALEXIA
Murilo tá me transformando em uma tarada. É só ele me convidar que eu vou, pois sei o
que vai acontecer. Com ele me sinto livre e outra pessoa. Pela primeira vez tô bem
confortável sendo eu mesma, sem ficar me policiando no que eu vou dizer e como vou
dizer pra que ele não entenda errado. Acho que é por isso que a conversa flui tão
facilmente, mas ainda não decidi se isso é bom ou não, essa conexão toda. Posso sentir
falta quando ele for embora. Prefiro ficar num campo seguro. Tô no processo de cuidar de
mim em primeiro lugar, tô regenerando meu amor próprio, não posso ficar fantasiando
sentimentos, eu preciso sim de afeto pra que eu me sinta bem, mas o meu mesmo. Tô
evitando qualquer apego emocional.
Se fosse antes, eu não estaria cautelosa, apenas rezando pra que tudo saia da
melhor forma possível. Gosto de comparar como eu agia antes e como tô agindo em
situações parecidas e ver as diferenças, perceber minha evolução, e tô muito orgulhosa de
mim mesma. Subo pra sua residência, que é linda tanto por dentro quanto por fora. Toco a
campainha e espero ele atender. Logo vem o moreno gostoso só de calça social, descalço e
com o cinto desabotoado, mostrando um pedaço da cueca boxer, da Volúpia, que me
saúda. Ele fica tão sexy!
Ele dá passagem e jogo minha bolsa no primeiro local que encontro. Tiro meus
saltos, liberando meus pés doloridos. Tô esgotada.
Eu me jogo no sofá confortável querendo descanso. É, aprendi a ser cara de pau
com ele também.
— Semana difícil?
— Muito — suspiro.
Ele vem sobrepondo seu corpo no meu, me deixando entre suas pernas. Começa a
me beijar do jeito devasso e automaticamente minha calcinha molha.
— Que tal relaxar? — sussurra no meu ouvido com sua voz grave. Derreto
completamente.
O bom de Murilo é que ele corresponde às minhas expectativas no sentido do
sexo, pois ultimamente homem pra mim tem que ser igual meu café: quente, forte,
gostoso.
— Só porque você fica gostoso demais somente de calça social — sussurro entre
um beijo e outro, rodeando meus braços no seu pescoço. — Aliás, você daria um belo
modelo para a Volúpia.
Faço graça pra ele saber que reparei a cueca patrocinada.
— Trabalho lá, fazer o quê? — Ele sorri. — Falando nisso, sabe a parte que eu
mais gosto da roupa íntima?
Nego com a cabeça, sorrindo pra ele. Oh homem bonito!
— Tirar! — Ataca minha boca com mais vontade enquanto esquenta as minhas
coxas com a mão grande.
Passa a mão pelo meu corpo, lentamente. Beija minha clavícula e contorna minha
orelha com a ponta da língua, como se tivesse todo o tempo do mundo. Suspende minha
saia até a cintura, puxando minha calcinha.
Minha mão, que não é boba, passeia por aquele corpo maravilhoso indo direto por
dentro da sua cueca, tocando sua pele quente a ponto de me causar um arrepio na espinha.
— Adoro você no modo safada. — Mordisca meu queixo.
— Só você que tem esse poder — confesso, tomando fôlego e tentando me livrar
da sua calça.
— Bom saber.
Puxa minha camisa e alisa meus seios de forma audaz. Volto a beijá-lo enquanto
seguro sua bunda e o trago pra mais perto. Gememos juntos pelo contato direto, pois é só
o pano da sua cueca que nos separa. Deslizo até onde consigo e o trago pra mais perto
novamente, sentindo sua pele quente sobre a minha.
Protegidos, ele guia pra dentro. Ofego quando me sinto totalmente preenchida.
Cheia. Gemo absorvendo tudo e Murilo começa a movimentar com o quadril, devagar, me
instigando. Esse homem é engenhoso!
— Muito gostoso — sussurro, tanto pro sexo quanto pra ele.
Ele fala rouco, trocando de posição e me colocando sentada no seu colo enquanto
me segura pela cintura num abraço.
— Quero você rebolando no meu pau hoje — comanda.

MURILO
Desperto com Alexia enroscada em mim, dormindo serena, cabelos lisos
esparramados pela cama e vestida com a minha camisa branca. Tem cena melhor do que
essa? Sabendo que na noite anterior estava gemendo meu nome e revirando os olhinhos?
Não existe. Eu me sinto muito bem!
Alexia tem um charme e sensualidade que puta que pariu! À noite, como sempre,
foi intensa, com direito a ela por cima, pois eu quis ela com os peitos na minha cara. Já
disse que tenho tara naqueles peitos? Escutar ela gemer baixinho enquanto aperta as unhas
nas minhas costas, ao mesmo tempo em que eu empurrava cada vez mais fundo foi coisa
de outro mundo! Impossível não ter vontade de repetir a dose. Estava tão safada que
escolheu a maioria das posições. Às vezes ela é falante, às vezes só geme. Eu gosto das
duas formas.
Levanto e coloco meu travesseiro pra ela abraçar e ela se enrosca com os braços e
pernas. Pego meu celular e tiro uma foto dela dormindo. Preciso registrar o momento.
Enquanto desço as escadas com a carteira e celular, depois de ter tomado uma ducha
rápida, coloco sua foto como plano de fundo do aplicativo de mensagens.
Vou na padaria comprar pão fresco e canela, pra fazer o cappuccino que ela gosta.
Espero que eu acerte a receita. Entro em casa pendurado no telefone com minha irmã,
Isabela. Tô morrendo de saudade daquela pirralha.
Café e cappuccino quase prontos, tenho ela ainda tagarelando sobre uma tal
excursão de fim de semana. Acho que é com as amigas, assim espero, mas por desencargo
de consciência, pergunto.
Vejo Alexia, que acabou de aparecer aqui na cozinha, acenando pra mim ainda
com cara de sono. Isabela desliga na minha cara depois de eu dar tchau. Pirralha!
— Bom dia.
Coloco o celular no balcão e vou pra perto de Alexia dar um beijo gostoso de
bom dia. Ela aceita sem problema algum. O beijo tem gosto de pasta de dente.
— Bom dia — responde com a voz rouca de sono.
— Fiz seu cappuccino, não sei se tá bom. — Dou as costas, pego uma xícara e
entrego a ela.
Alexia faz uma cara de surpresa, graciosa, agradecendo sem esconder o sorriso
doce. Sentamos pra tomar café e a observo. Ontem eu tentei aprofundar uns assuntos com
ela sobre seus relacionamentos passados, para conhecê-la melhor nisso, mas ela logo
escapou. Foi notável seu desconforto.
Alexia é um mundo cheio de mistérios indecifráveis, chega a ser instigante, não
sei se por falta de atenção ou desinteresse de quem passou por sua vida.
— Tá a fim de sair pra beber mais tarde? — proponho.
— Não sei, eu combinei de sair com minhas amigas à tarde, pra variar. Vou ver se
elas ainda vão.
— Ah — concordo. — Tudo bem então.
Ela beberica seu cappuccino pensativa, em seguida vira pra mim e dá um sorriso.
— Quer vir conosco? — Ela faz o convite.
— Não, pode ir sozinha. — Mostro que tá tudo bem.
— Não, elas vão gostar de te conhecer. — Ela sorri mostrando que realmente me
quer junto.
Acabo aceitando o convite. Por que não? Não me importo em não ficarmos
sozinhos o fim de semana inteiro, já que ambos temos vida social fora desse lance.
Vamos ver o que elas têm a complementar, e quero conhecer mais a Alexia. Nada
melhor que as próprias amigas, né?
— Agora pela manhã, vamos ao cinema? Lançou um filme bom recentemente —
proponho.
— Aham. Nunca mais fui, até.
Mal posso esperar pra saber sobre Alexia por meio da visão das suas amigas.

ALEXIA
Depois do filme, sigo com Murilo ao bar, o point de encontro que eu e as meninas
temos. Sentamos em uma mesa do lado de fora e pedimos bebidas pra esperar elas
chegarem.
Espero de verdade que eu não me arrependa de ter feito esse convite. Tô tentando
manter o que temos, cada qual em um lado, e de repente ele tá prestes a conhecer Natasha
e Lizandra.
Tô com o pé atrás, as meninas mais vão aprontar do que qualquer outra coisa,
pois nós andamos conversando sobre ele e morro de medo das duas deixarem escapar
algo, não sei. A situação é nova e estranha pra mim.
Conversamos sobre coisas aleatórias até Liz, que é a primeira a aparecer, me
chamar. Ela acena com a mão assim que aparece, sorrindo.
— Oi, sis. — Ela me cumprimenta com um beijo e sorrio.
— Esse aqui é Murilo — apresento-o e ela lança um olhar examinador.
— Prazer. — Estende a mão, sorrindo.
— Oi. — Retribui o sorriso ao cumprimentá-lo. — Sou Liz.
— Senta aí. — Ele aponta a cadeira e ela senta.
— Natasha vai chegar daqui a dez horas, você vai ver. — Lizandra me diz.
— Onde ela tá? — pergunto curiosa.
— Com algum “amigo”. — Faz um sinal de aspas com as mãos, conhecendo a
irmã.
— Espero que não demore muito.
Ela dá de ombros e se vira pra Murilo.
— Então você é o famoso Murilo! — sorri pra ele e eu mando um olhar de
repreensão, mas ela finge que não viu.
Eu vou matar Lizandra!

MURILO
Famoso? Pelo jeito Alexia andou comentando sobre mim por aí. E sorrio por
dentro por saber disso. Já gostei dessa Liz.
— Famoso? — pergunto querendo saber mais.
— Ah, eu falei famoso? Não percebi.
Ela finge que não aconteceu nada e eu rio, pois percebi Alexia tensa.
— De qualquer forma sou eu.
Engatamos uma conversa interessante e percebo cumplicidade entre elas. Tratam-
se feito irmãs e achei bacana. Uma outra amiga chega e cumprimenta as meninas. Ela se
vira pra mim ainda sorrindo.
— Oi, você é o Murilo que eu sei. — Menos preocupada em ser discreta. Pelo
jeito Alexia andou falando e muito de mim. Se eu gostei de saber disso? Claro!
— Sou Natasha, irmã daquela ali. — Aponta pra Liz.
Sentamos e pedimos mais bebidas. Passamos a tarde juntos e fluiu perfeitamente
bem, em um clima amigável.

ALEXIA
Eu definitivamente vou ficar órfã de amigas! Vou matar as duas! Lizandra contou
mil coisas sobre mim, sem ninguém mandar, claro! E Natasha ajudou! Cretinas!
O lado bom é que se deram superbem, em nenhum momento surgiram conflitos e
se trataram bem, parecíamos todos amigos de longa data. Eu me sinto feliz por isso, pois
minhas amigas nunca implicam com ninguém à toa, parece que tem sexto sentido, sei lá.
Saber que eles se deram bem é bom, pois significa que Murilo não é como o outro. E não
sei dizer o que isso significa.
— Suas amigas são bastante divertidas. — Ele ri na saída.
— São loucas, isso sim. — Rio com ele.
Ele me deixa em casa depois de um amasso gostoso no sofá, mas interrompeu no
meio, me deixando numa situação difícil, porém com a promessa de que no próximo
encontro iríamos terminar o que começamos. Mal posso esperar.
11
MURILO

Estaciono o carro em frente ao apartamento de Alexia. Decidi buscá-la pra fazer


um programa legal. O dia tá fresco e ótimo pra um bom divertimento. Eu gosto de inserir
Alexia no meu mundo, fazê-la conhecer algumas coisas que curto.
Toco sua campainha e ela atende. Seguro na sua nuca e a beijo. Gosto muito
disso, de beijá-la, pois ela sempre se entrega, nunca demos beijos frios, bitocas, só no final
do beijo mesmo. Nós sempre nos beijamos de verdade e é isso que eu gosto!
— Temos um programa bem legal hoje — anuncio.
— Seria o quê? — questiona curiosa, me segurando na cintura.
— Surpresa. Mas vai ser divertido.
Resmunga curiosa e eu gargalho.
— Que tipo de diversão?
— Uma que você vai gostar.
— Isso não é uma dica válida. — Fica inconformada e eu gargalho novamente.
— Vamos.
— Deixa só eu pegar minha bolsa.
Logo saímos em direção ao lugar onde planejei levá-la.

— Isso é loucura! — Alexia comenta empolgada.


Rio olhando a pista de quinhentos metros do Kartódromo. Eu a trouxe no Kart
Club pra fazer um circuito, iremos apostar corrida.
— Uma loucura boa. — Ajudo a pôr o capacete.
— Você não é um caso comum!
É, não é nem um pouco normal um passeio desses, eu sei, mas aposto que dá mais
divertimento e ela se lembrará disso, mais do que se simplesmente fôssemos em um
restaurante qualquer ou ficar transando em casa, apesar de eu apreciar muito essa segunda
alternativa. Na maioria dos meus casos eu só transava, nos víamos uma ou duas vezes e
pronto, mas a conexão e amizade que fizemos faz com que ela seja uma companhia boa
fora da cama.
Alexia é tipo um pacote de informações boas que um homem solteiro precisa:
linda, gostosa, gosta de beber e vai nas aventuras que chamo, sem contar que tem o que os
homens não têm nas pernas, né?
— Aposto que se diverte mais com isso do que com qualquer outra coisa. Quer
fazer alguma aposta pra ficar mais emocionante?
— Se eu ganhar eu escolho onde vamos.
— Certo. Desafio aceito.
Prendo seu capacete e ajudo a colocar suas luvas. Ela escolheu o kart número
dois, pois segundo ela é o seu número da sorte. Coloco meu equipamento de segurança
também, indo para meu kart. Tem um auxiliar pra liberar a corrida e fazer a
cronometragem das voltas.
Ficamos lado a lado na pista do circuito. Assim que a bandeira é balançada pra
iniciar a primeira largada, acelero, mas Alexia consegue sair mais rápido que eu. Ela ainda
teve a audácia de suspender uma das mãos pro ar quando viu que levou vantagem.
Atrevida!
Acelero pra ficar perto e ultrapassar na primeira curva. Acho que encontrei
alguém competitiva. Alexia gosta de adrenalina, assim como eu, eu sei. Ela só não
praticava.
Ultrapasso na curva e olho pra trás, vejo que tá empenhada em voltar pra primeira
posição. Corro rindo, mesmo ela não vendo meu sorriso. Faço a primeira volta na frente,
mas ela recupera a posição logo em seguida.
Adoro essa sensação de bem-estar e energia. Adoro liberar endorfina, é gostosa a
sensação de liberdade enquanto pratico qualquer coisa que traga aventura.
Na última volta, Alexia passa por mim feito um foguete. Ela tá brigando comigo,
ainda não tô com muita vantagem. Tento recuperar minha posição, ficando do seu lado,
acelerando o máximo que eu posso na reta pra linha de chegada, mas ela acelera mais não
sei como e ultrapassa a linha praticamente colada a mim.
Desacelero o treco até parar e ela faz o mesmo. Corro pra onde ela está, já sem o
capacete que estava me sufocando. Ela levanta e faz o mesmo, com um sorriso enorme pra
mim.
Eu disse que ela gosta de adrenalina!
— Eu ganhei! — Ela saltita e eu a enlaço.
— Sim, atrevida. — Fico contagiado.
— Quem vai escolher o programa sou eu!
— É. — Faço cara de preguiça pra implicar e ela morde meu queixo. — Pra onde
vamos?
— Surpresa, e será hoje à noite. Não é assim que você fez? — Ela me provoca.
Acabo gargalhando e ela faz o mesmo, com suas bochechas coradas da corrida.
Saímos de lá com ela ainda contando vantagem em cima de mim, me provocando.
Paramos pra tirar uma foto no pódio, mas fiquei junto em primeiro lugar, e a
carreguei no colo, pois mesmo que eu tenha perdido a corrida, tenho uma recompensa
ótima nos meus braços sorrindo e segurando o pequeno troféu pra cima.

ALEXIA
— Que roupa é essa, mulher? — Aponta pro meu corpo.
Já estamos nos arrumando pra nossa saída da noite. Olho pra minha saia e
automaticamente acho que me arrumei mal.
— Tá muito feia? — pergunto encabulada.
— Feia? Tá maior gostosa, querendo me deixar doido. Vou me achar lá por estar
com você. — Ele ri e eu rio também.
— Exagerado. — Ajeito meu cabelo pela última vez e passo perfume.
Confesso que seu elogio me afagou de uma forma muito boa. Murilo tem um
carisma único!
Livrar-me do Diego foi um dos maiores favores que eu fiz pra mim. É difícil
soltar as mãos das pessoas com quem convivemos, mas às vezes é o melhor a ser feito,
principalmente quando você se preocupa com elas mais do que elas cuidam de você.
Descemos pro carro.
— Vamos pra um pub que abriu recentemente. Que tal? — aviso nosso destino.
É o pub que eu era doida pra ir com Diego. Cansei de pedir pra que fôssemos,
mas ele nunca quis e foi ótima essa recusa. Estou indo é com Murilo e sei que me vou me
divertir muito mais. Tem coisas que acontecem e que só entendemos depois.
A primeira coisa que reparei quando chegamos foi o estilo de decoração. Bem
americanizado e moderno. Tá tocando uma música ao vivo. Murilo segura nas minhas
costas em direção a uma mesa vazia. Apesar de ter bastante gente, não tá propriamente
lotado. O lugar é bastante espaçoso e movimentado. Tem bar em uma das paredes. Já
gostei!
— Amei o local, bem diferente, né?
— Bacana, amo esse rock que estão cantando. A vibe daqui é boa. — Ele sorri e
retribuo o sorriso por tê-lo agradado.
Olhamos o cardápio de bebidas e vi muitas cervejas alternativas. Tô me sentindo
em outro mundo. Pedimos dois hambúrgueres artesanais e cervejas ao garçom e
engatamos um papo bom, como sempre.
Assistimos os covers da banda que tocava de tudo um pouco, experimentamos a
cerveja um do outro e comemos os petiscos que pedimos.
— Bora jogar sinuca? — Eu o chamo e ele arqueia a sobrancelha.
Sorri meio incrédulo, meio confuso.
— Vamos, vem. — Levanto da mesa e vamos em direção ao lugar que já tem
algumas pessoas jogando e assistindo.
Tem um bom tempo que não jogo.
— Podemos participar? — peço com o Murilo do meu lado.
— O jogo já vai acabar. Deixa só ele errar pra irmos pro bar. — Uma mulher zoa
o homem que tá dando sua tacada.
Murilo e eu assistimos atentamente ele tacar e errar. Em seguida, vários gritos
para o pobre rapaz que saiu pro bar junto com os demais.
— Tome. — Entrego um taco pra ele e pego um pra mim.
— Tem certeza que quer jogar? Vou te encarar como uma adversária daqui pra
frente. — Sorri confiante.
— Dê o seu melhor, perdedor de kart! — provoco.
— Depois não peça arrego chorando. Você começa!
Ele acha mesmo que eu o chamaria pra jogar se não me garantisse? Justo eu que
sou competitiva? Ele não me conhece!
Inicio o jogo normalmente e acerto a bola três, fico com as bolas de um a sete e
ele com o resto. Erro, dando espaço pra ele começar sua tacada.
Vou explicar mais ou menos como funciona a sinuca, caso não saibam. São
quinze bolas, sete pra cada, fora a preta, que é a última que tem de ser encaçapada.
Eu, como acertei a três, fiquei com as bolas de um a sete pra acertar, enquanto
Murilo precisa encaçapar as bolas de ficou de nove a catorze. Quem conseguir acertar
primeiro as sete bolas nos buracos, na última tem que acertar a preta pra ganhar. Se
encaçapar a preta antes das sete, perde.
Murilo encaçapa a primeira bola e sorri convencido pra mim. Reviro os olhos,
lanço a bola cinco no buraco e dou uma piscadela, provocando.
Jogamos entre provocações. Cá entre nós, eu sei jogar bem. A bola da vez precisa
ser acertada e sobrou pra mim. Eu tenho a bola sete e ele a nove pra encaçapar. A minha tá
pertinho do buraco.
Tenho que acertá-la ou dou chance pra ele ganhar.
A disputa tá acirrada.
— Essa posição me dá muitas ideias… — Murilo se debruça do meu lado e
sussurra apenas pra eu ouvir.
— Eu sei o que você tá fazendo. — Tento continuar concentrada.
— Vou alugar uma mesa dessas só pra matar essa vontade de te ver empinada
assim, só que nua.
O placar final apontou Murilo como o ganhador, debochando de mim e eu com
vontade de tacar a bola nove na cabeça dele. Fez de propósito, fiquei desconcentrada e
errei.
Antes de irmos embora, até dançamos uma música. E ainda debochou que era a
dança pra comemorar sua vitória na sinuca. Ele é um atrevido e provoca!
— Onde você aprendeu a jogar assim, hein? — questiona curioso indo em
direção à casa dele. Meus pés estão cansados por causa do salto.
— Meu irmão me ensinou. Ele queria treinar pro campeonato que ele e os amigos
faziam. Acabou me ensinando pra jogar com ele.
— Ele te ensinou muito bem. Teve momentos que achei que ia perder.
— Só não perdeu porque me desconcentrou. Tô em greve.
Fico birrenta. Odeio perder, sou competitiva demais.
— Ah é? Quero ver até onde essa greve dura. — Repousa a mão quente nas
minhas coxas.
— Pare, filho da mãe! — esbravejo e ele gargalha.
Fizemos o resto da viagem nos provocando e eu o chamando de trapaceiro.
— Tô com os pés cansados — reclamo do salto com a bolsa nas mãos e com
preguiça de andar.
Murilo pede pra eu esperar e dá a volta no carro.
— Vem. — Ele me carrega entregando as chaves do carro, travo as portas e ele
segue andando comigo no colo.
— Só pra você saber, ainda tô em greve. Nem adianta ser cavalheiro nesse
momento. Não vou mudar de ideia — aviso segurando no seu pescoço.
— Ah que pena! Então você vai andando. — Finge que vai me colocar no chão.
— Não! Pare! — berro de imediato me prendendo mais no seu corpo e ele ri.
Entramos na casa dele e eu logo solto a bolsa e o salto em qualquer lugar. Ele
tranca a porta e me carrega de novo em surpresa, correndo em direção ao seu quarto. Joga-
me no colchão e coloca esse corpo maravilhoso em cima de mim. Esse beijo que ele me dá
é indecente, arrebatador, me acende e me deixa sem fôlego. Murilo puxa minha camisa e
joga em um canto qualquer.
— Ainda tá em greve? — Contorna meu pescoço com os dedos, descendo pro
vão dos meus seios.
— Você é muito maldoso e cínico. — Fito seus olhos e em seguida a boca.
Não espero mais nada e o beijo de novo. Como manter uma greve com ele
jogando sujo desse jeito? A greve não durou nem uma hora. Murilo me paga!
— Pra onde você tá indo? — questiono quando ele sai de cima de mim.
— Espera. Eu volto rápido.
Sai do quarto e tento controlar a respiração arfante. Logo aparece, sorrindo e
segurando um chantilly em spray. Arqueio uma das sobrancelhas pela cara de garoto
safado que ele tem.
— Você vai gostar, deite e aproveite. — Vem pra cima da cama flexionando os
braços fortes que me abraçam.
Claro que vou!
— Você tá muito gostoso assim… — Sorrio pra ele, que tá com os cabelos
despenteados.
Pede pra que eu levante e obedeço, ficando de joelhos assim como ele. Distribui
selinhos pelo meu pescoço. Tiro sua camisa e ele desabotoa meu sutiã. Segura os meus
seios e os aperta. Jogo a cabeça pra trás reagindo positivamente.
Caímos na cama com as bocas coladas e minhas pernas entrelaçadas no seu
quadril, pra que ele fique mais perto. Logo espalha chantilly entre meus seios.
— Parece que sujou. Terei de limpar.
Ele passa a língua nos meus seios, tirando a maior parte do chantilly e me
fazendo tremer por causa do contato da sua língua quente passando pelo meu mamilo, e
em seguida abocanha. Limpa um e depois o outro. Cada vez que ele suga meus mamilos
tenho uma reaçãozinha diferente. Às vezes gemo, outras me contorço ou os dois de uma
vez.
Ele espalha mais na minha barriga e desce minha saia junto com a calcinha. Suja
entre minhas coxas até o umbigo e continua seu trabalho. Abre minhas pernas me
deixando exposta e passa a língua de ponta a ponta. Estremeço toda. Sinto sua língua
quente me lambuzar mais e me chupar ao mesmo tempo, não evito rebolar na sua boca
querendo e sentindo necessidade de mais.
— Agora faremos uma coisa mais gostosa, na qual ambos seremos ganhadores.
Logo o vai e vem, certeiro, me faz sair de órbita. A velocidade é intensa, mas não
a ponto de me machucar. Vai no lugar certo pra que tudo fique ainda melhor.
Ofego e arranho suas costas já suadas, sentindo um arrepio maravilhoso. Estamos
descontrolados e a bebida que tomamos deixou tudo mais aflorado. Fecho os olhos
absorvendo aquilo tudo em mim, com as fagulhas espalhando pelo meu corpo, e Murilo
não demora a me acompanhar.
Aos poucos, tá me estragando pra qualquer outra pessoa. Com certeza eu não
serei mais a mesma quando tudo isso acabar e não tô preparada pra definir o que será
positivo ou negativo futuramente.
12
ALEXIA
Com Nat do meu lado, seguimos pra almoçar. Liz resolveu vir nos buscar. Murilo
tá meio ausente nessa semana. Ele disse que tá resolvendo umas coisas urgentes no
trabalho e eu entendi completamente. Conversamos por mensagens. No restaurante,
bombardeamos de fofoca sobre todos ao nosso redor. Soube coisas de pessoas que nem
conhecia, mas fiquei curiosa pra saber o babado, afinal, é fofoca, oras!
Nossos almoços sempre são assim, muitos risos e conversas sem sentido, ao
menos quando estamos sem problemas graves. Aí montamos o esquadrão de resgate. A
última que precisou fui eu, e cá estamos nós, sorridentes e felizes. Minhas amigas são
minha família mais próxima, já aguentamos muitas barras umas das outras. Somos nós três
desde a época da faculdade, mal tínhamos completado vinte anos. Liz já, mas eu e Nat
não.
— Alie. — Liz me chama e sei que vem novidade, pelo tom da voz. — Sabia que
uma pessoa tá com caso novo e não contou? — Coloca a mão na boca em tom de
confissão.
— Como assim? — questiono.
— É de você mesma que tô falando, Natasha! — Liz fala pra irmã, que estava
fazendo cara de paisagem e ri.
— Nat? — Olho querendo saber do babado.
— Natasha tá pegando um boy gatinho e, se eu não me engano, já o vi entrando
no prédio de vocês. —Dedura a irmã, que fica estática na hora.
Olho pra ela retribuindo o sorrisinho e levanto as sobrancelhas sacaneando
também.
— Natasha? Não me diga que finalmente deu chance ao Fábio! — debocho.
— Deus me defenda do Fábio! — Vira-se pra irmã. — Como você descobriu, sua
ridícula?
— Você acha que me engana? Você sempre foi mal-humorada e ultimamente só
anda de sorrisinhos. Óbvio que estava dando regularmente pra alguém. — Liz sustenta seu
sorriso malicioso.
— Quem é o homem, gente? — Não contenho a curiosidade.
É, quem não fica empolgada quando descobre que sua amiga tá de caso novo que
atire a primeira pedra.
— Gustavo — sussurra para as outras pessoas das mesas não ouvirem.
— Gustavo? Gustavo… Gustavo? — Tô perplexa com a novidade.
Ela repete com a voz totalmente debochada, me imitando.
— O diretor financeiro, Natasha? Aquele que chegou recentemente? — Tento
esclarecer mais uma vez.
— Sim, ele mesmo. Ele é gostoso demais, não deixaria passar. — Dá de ombros e
eu fico chocada.
Liz escuta tudo calada e interessadíssima. Fofoqueira!

MURILO
Em direção à casa de Alexia, me certifico de que tá tudo aqui. Acho que ela nem
me espera hoje. As duas semanas que passaram foram um pouco monótonas. Trabalhei
muito em cima de relatórios e orçamentos. Pesquisei e analisei a concorrência, criando
estratégias para as vendas, pra maximizar os lucros, e acho que vem notícia boa pra mim.
Hoje não quero pensar em trabalho algum, tô a fim de curtir uma calmaria, com
um toque de aventura, claro. É isso que me move!
Quero surpreender Alexia hoje com uma aventura diferente. Estava de bobeira
em casa, até que lembrei de um lugar bacana que já fui. Numa simples ligação descobri
que abriram temporada recentemente, reservei e pronto, podemos ir.
Vamos passar o final de semana fora, longe da cidade. Merecemos, pois sei que o
trabalho dela também a tira do sério. Alexia abre a porta com um sorriso doce e surpreso
ao se dar conta que sou eu. Adoro o sorriso dessa morena.
— Ei, morena… foge comigo hoje — proponho em um tom arrastado, debruçado
na soleira da porta. Ela não terá como recusar.
— O quê?
— Vamos fugir da cidade nesse final de semana? — Faço a proposta mais uma
vez.
— Tá maluco, Murilo? — Ri.
— Não. Arruma suas coisas e vamos. Temos um programa muito bom nesse final
de semana. Vai gostar.
— Não tem como sair sem mais nem menos, ainda mais agora, quase sete da
noite, nem planejamos.
— Confia em mim? — Puxo-a pela cintura pra colar seu corpo no meu. Gosto
dela perto.
— Confio.
Gostei bastante da sua resposta.
— Então? Foge comigo. Eu aposto que vai amar.
ALEXIA
Já falei que Murilo é louco? E pior, eu embarco nas loucuras dele sem ligar. Tô
receosa, apesar da curiosidade que se instalou em mim. Ainda vem com aquele tom
arrastado: “ei, morena”. Ele sabe o efeito que isso causa em mim e abusa. Atrevido e
abusado!
Perguntei pra onde iríamos, mas ele não respondeu. Só disse que eu gostaria e
seria uma pequena aventura. Ele adora isso, querer fazer surpresa e eu fico me
consumindo por dentro pra saber o que é!
Tô contando com isso e, mesmo não sabendo, confesso que tô eufórica. Eu gosto
das aventuras e emoções que ele traz na minha vida, até então sem graça, e vou me deixar
levar com ele e suas loucuras. Não tem como dizer não. Vamos hoje e voltamos no
domingo, foi a única coisa que me disse, além de pedir pra levar roupas confortáveis, que
eu ia amar, claro!
Por isso separei só uma mochila com um pequeno kit essencial pra qualquer
ocasião: do biquíni ao vestido arrumado. Nunca se sabe, não é?
— Vamos pra onde, afinal? — Tento tirar mais alguma informação dele.
— Fazer um programa bem legal. — Não me dá pistas.
— Isso tá parecendo um déjà vu — resmungo inconformada e ele gargalha alto,
ecoando no carro. O barulho faz minha barriga agitar. Vejo que estamos na BR. Pelo jeito
não é perto.
Com uma hora e meia de viagem eu já estava cochilando e sem nenhuma pista de
onde estamos indo, pois ao redor existem somente plantações e casas rurais.

Sonolenta, depois que Murilo me acordou, vejo o carro subir uma pequena
estrada inclinada em um caminho de árvores por todos os lados. Paramos em uma guarita,
tem um pedágio na entrada. Nem presto atenção na conversa que Murilo tem com o
homem antes da passagem ser liberada. Logo avisto um casarão, estilo hotel fazenda, com
grama ao redor, dois andares e luzes acesas, mas ele passa reto. O terreno depois da
fachada é enorme!
Pra onde ele me trouxe?
Escuto um barulho de queda d’água bem longe. Olho pra ele com um sorriso
animado de novo.
— É o que eu tô ouvindo? — Tô animadíssima com a possibilidade.
— Não sei o que você tá ouvindo. — Ri da minha cara.
Em uma hora dessas eu já tô desperta e curiosa. Paramos, logo descemos e meu
pé vai diretamente na grama. O Lugar é simplesmente lindo e já tô amando.
— Você me trouxe pra acampar em um lugar com cachoeira! Não acredito!
Fico atenta ao local.
— Quero te mostrar meus locais favoritos. Gostou?
Nem respondo, agradeço dando-lhe um beijo com muita vontade. Eu sempre fui
uma adolescente que assistia muita série e morria de vontade de fazer isso, mas nunca
surgiu a chance. Sempre achei romântico acampar com um namorado.
Não que Murilo seja meu namorado, mas é a pessoa mais íntima no momento e
acampar é uma coisa superparticular, já que se dorme e acorda com a pessoa em um lugar
sem muitos recursos. Não vou ficar na pose arrumadinha e de batom o tempo inteiro. E,
pra ser sincera, não me importo dele ver como sou sem maquiagem.
— Vou armar nossa barraca. Preferi pegar área livre em vez de quarto, mas se
quiser podemos ficar lá dentro.
— Prefiro aqui fora — nego, querendo a experiência real de acampar. Sigo com
ele pra traseira da Pick-up, abrindo a lona que a cobre pra pegar o que precisaremos.
Murilo trouxe mil coisas, aparentemente essenciais. Inclusive kit de primeiros socorros.
Observo-o encher o colchão inflável de casal. Analiso os movimentos dos braços
e percebo que a cada dia estão mais fortes. Santa academia. Apesar de odiar exercícios,
aprecio muito o fato dele gostar e ter esse corpão.
Murilo armou a barraca usando o fundo da Pick-up. Tudo muito aconchegante.
Apesar de ter escurecido, tem energia elétrica em lugares estratégicos nas árvores,
iluminando o caminho. Murilo foi esperto e trouxe uma corda de luzes, acesa por bateria,
e colocou no teto da barraca.
Eu o beijo e ele atende receptivamente.
— Amanhã temos um dia cheio, eles oferecem muita coisa.
— Ain, mal posso esperar!
— Tá com sono? Quer ir lá na pousada comer? E tem banheiro químico logo
quando passamos, não sei se viu.
— Não, eu tô com sono. — Bocejo e o levo junto. Apesar de empolgada, o
cansaço do trabalho tá aqui.

Acordar com a visão do céu claro e a extensa grama verde é maravilhoso! Ainda
não saí da barraca. O cheiro de mato é a coisa mais gostosa do mundo! Só perde pra
Murilo sem camisa ao meu lado.
— Sabe o primeiro programa? Cachoeira!
Abro um sorrisão de imediato.
Fora do carro, pego minha mochila, deixando dentro dela só o que realmente
preciso. Seguimos pra pousada, que não é tão longe. Murilo disse que a área é privada e
vigiada, poderia deixar nossas coisas onde estão.
Tem algumas pessoas tomando café. Escolhemos e pegamos o que vamos comer
e seguimos pra uma mesa. Comemos tranquilamente entre risos e conversa. Tô ansiosa pra
essa aventura. Aproveito pra tomar banho e visto meu biquíni.
Andamos uns dez minutos em uma trilha de terra com uma paisagem incrível.
Tô simplesmente encantada com esse lugar. O barulho da queda d’água vai
ficando cada vez mais alto, avisando que nós estamos chegando.
Caramba! A paisagem e a cachoeira são incríveis. Tô embasbacada. É alta e a
queda d’água vai descendo por uma parede de rocha, caindo em uma lagoa. Na parte mais
baixa tem uma espécie de tobogã natural, mas a visão de Murilo só de tênis, boné e short
que marca perfeitamente a bunda, sem contar as costas trabalhadas, é um bônus.
— Que incrível esse lugar! — Não evito um sorrisão, encantada, ainda olhando a
água cair.
— Sabia que ia adorar.
O local é enorme. Tem algumas pessoas em grupos em locais distintos, mas não
são muitas, acho que é por causa da época. Tirei minha roupa e, juntos, mergulhamos.
Tô muito feliz realizando esse sonho!
Nos beijamos, tiramos várias fotos juntos, jogamos água um no outro e descemos
o tobogã natural.
Murilo, que gosta de uma aventura, depois do almoço e descanso me levou pra
experimentar rafting. É muito louco! São descidas de água dentro de um bote inflável. A
cada decida e subida de nível de água meu coração acelerava. Como algumas pessoas
estavam gritando, eu gritei também. Murilo apenas ria, de mim talvez. Mas a experiência
valeu muito a pena, é muitíssimo incrível.

— Vamos pra onde afinal? — pergunto curiosa. Ele nega e não dá pistas.
Decidiu que iríamos embora logo pela manhã, depois de um banho de cachoeira.
Segundo ele, tinha outros planos pra esse domingo.
— Uma dica, pelo menos? — negocio.
— Tem adrenalina. Aliás, você só tem essas roupas que me deixam de pau duro?
— Você é um tarado! Por que você nunca me diz? — Me queixo.
— Porque eu gosto da cara que você faz quando chega.
Sua fala faz meu corpo agitar internamente, minhas bochechas coram, de
vergonha talvez, e meu coração bate forte. Disfarço a reação esquisita que de repente
tomou o meu corpo. Recosto minha cabeça, afundando o corpo no banco enquanto ele
dirige. A melhor opção sempre será me fingir de morta pra evitar conflitos, principalmente
os internos. A mão quente na minha perna foi um bônus.
Fomos pra outro lugar, mais afastado, mas perto da cidade. Murilo tá
praticamente fazendo um tour.
— Que lugar é esse? — questiono olhando ao redor, rezando pra ele negar o que
eu tô achando que é.
— Centro de paraquedismo. Vamos saltar.
— O quê? — Minha voz saiu esganiçada e desesperada.
— Vem. — Ele me puxa pelo braço, saindo de onde estacionamos o carro.
— Não vou pular nisso aí.
Finco meu pé no chão, olho pro céu e não imagino essa situação.
— Nem morta que vou saltar de paraquedas, Murilo!
— Não é tão ruim quanto você pensa. É gostoso.
— Não, Murilo. — Eu me imponho. Nem morta!
— Eu já paguei, Alie.
Tenta me convencer pela consciência ou o peso dela enquanto retoma a
caminhada, segurando meu pulso.
— Eu te reembolso. — Congelo no chão novamente e tento fazê-lo mudar de
ideia.
— Vai fazer desfeita? — Olha com rostinho de cachorro sentido, tentando me
convencer pelo peso emocional.
— Por que você me trouxe pra cá? — resmungo inconformada.
— Você vai gostar. Eu prometo.
Dou um muxoxo e me rendo, mesmo achando isso uma tremenda loucura.
Murilo abre um sorriso e me arrasta pro centro de paraquedismo. Ele
cumprimentou algumas pessoas com sorrisos e piadinhas. Pelo jeito é conhecido por aqui.
— Fiz curso de paraquedismo e pratico quando tenho tempo — responde minha
pergunta não verbal. Apenas aceno, com receio e apreensão. Onde fui me meter, ou
melhor, ele foi me meter?
— E se o paraquedas não abrir? — pergunto olhando pro céu.
— Vai abrir. E não tem só o seu. O salto vai ser duplo, não vai pular sozinha.
Aceno mesmo que isso não me pareça muito reconfortante. Ainda tô receosa.
Muito, aliás.
Fiz um rápido treinamento de como devo me comportar durante a queda e a
aterrissagem. Visto o macacão e o equipamento pra esperar a nossa vez.
A cada minuto meu coração parece apertar mais, desesperado e angustiado.
Fiquei a maior parte do tempo olhando pro céu e pensando que em breve estarei lá em
cima. Ficamos em uma sala aguardando, depois de avisarem que quando o avião retornar
será nossa vez.
Vi o avião voltar ao mesmo tempo que senti o gelo se instalar rapidamente na
minha barriga e a garganta secar. Minha ansiedade tá aumentando. Tô mais que trêmula.
Algumas pessoas voltam empolgadas com um sorriso enorme e eu só consigo pensar que
eu quero chegar no chão sã e salva.
— Agora são vocês. — Um dos instrutores nos chama e olho pra Murilo, que
ficou o tempo todo segurando minha mão, fascinado.
Entramos no pequeno jato com algumas pessoas empolgadas pra saltar, menos eu,
e acho que isso estava visível no meu rosto, pois Murilo beijou rapidamente minha boca.
— Eu vou saltar com quem? — questiono baixo olhando pra ele. — Não é
sozinha igual aquela mulher não, né?
— Vai ser comigo.
— Murilo…
— Fiz curso e pratico há mais de cinco anos. Confie.
— Eu tô com medo. — Olho pra ver se ele tem um pouco de compaixão e desiste
dessa ideia absurda.
— Você vai amar. — Tenta me tranquilizar e eu apenas aceno rendida.
Olho da Janela o avião subindo pra chegar a onze mil pés, e só consigo perceber
as casas, os carros e as plantações cada vez mais distantes. A vista em si é incrível, um
show à parte, mas tô muito nervosa pra ficar encantada.
O avião sobe cada vez mais. Olho a portinha pela qual eu vou saltar e apenas me
pergunto onde é que eu tô com a cabeça, afinal?
A torre autorizou o salto e a porta foi aberta, fazendo alguns paraquedistas
saltarem sozinhos. Uma mulher foi a primeira a ir, sozinha, e eu fiquei boquiaberta. Como
ela tem coragem?
— Venha que faltam mais dois e aí somos nós.
Murilo levanta plugando nós dois e checando se tá tudo firme. A essa altura do
campeonato o medo já tomou completamente conta de mim. Murilo me paga!
— Eu me jogo ou você me empurra? — questiono tentando controlar meu
coração acelerado.
— Nenhum dos dois. Ande agachada até a porta e, quando menos esperar, vai
estar caindo.
Aceno concordando com a instrução dele e seguimos pra porta. Preciso nem
mencionar o céu azul maravilhoso em sua imensidão. Muito vento e muitas nuvens.
Seguimos pra porta. Coloco os pés na beirada e, vencida por não ter mais volta,
nos atiramos na imensidão. Minha primeira e única reação é fechar os olhos sentindo o
vento forte no meu rosto. Sinto como se meu corpo estivesse estourando por uma bomba
de adrenalina.
— Abre os olhos e grita colocando tudo pra fora. Mentaliza as coisas ruins e
grita!
Murilo pede e obedeço. Tenho a sensação que acabei de entrar em um mundo
paralelo. A vista de cima é in-crí-vel. A sensação é apavorante e gostosa, como Murilo
falou.
Grito e coloco tudo pra fora. O medo foi embora e o que sobressai é a adrenalina.
Grito e rio cada vez mais, vendo aquela paisagem maravilhosa.
Por mais louco que pareça eu não sinto mais o frio na barriga. A impressão que
tenho é de flutuação.
Apenas escuto as gargalhadas de Murilo enquanto grito e enalteço o quão lindo é o céu.
Sou puxada pra cima quando o paraquedas abre e dá fim à queda livre. Eu me agarro no
equipamento e ali fico, sentindo uma sensação única e prazerosa vendo tudo de cima,
pequenininho.
Paro de gritar e permaneço quieta apenas absorvendo a sensação maravilhosa que
é estar aqui em cima.
— Não é lindo? — Murilo quebra o silêncio com um tom de voz satisfatório.
— Muito!
Tô mais que empolgada sentindo a gravidade fazer seu papel em descer o
paraquedas aos poucos. A sensação que tenho é de liberdade e intensidade, junto com
aquela coisa da adrenalina. É muito gostoso!
— Murilo! — grito e agarro ainda mais o equipamento quando ele mexe no
paraquedas fazendo uns loops.
— Adrenalina é sempre bom.
Faz graça e logo aterrissamos suavemente com ajuda de mais dois instrutores,
parando depois de apreciarmos a paisagem linda.
Depois de me soltar do equipamento com Murilo, caio na realidade, ainda com a
adrenalina correndo pelo meu corpo e as pernas tremendo. Assim como o coração
saltando. Achei que seria algo parecido como montanha-russa, mas não é. É incrível! Não
acredito que acabei de fazer isso. Saltei de paraquedas e gostei.
Me sinto leve, sem um grande peso nas costas, como se tivesse feito um spa
delicioso. Confesso que quando gritei, joguei muita coisa pra fora, pensamentos negativos,
Diego e tudo o que me fazia sentir que não era boa o suficiente. Eu pulei de paraquedas!
Meu corpo, antes tenso devido ao nervosismo, agora tá extremamente relaxado e
leve. Parece que vou sair levitando a qualquer momento. Uma gelatina! A sensação de
estar em plena queda livre é fascinante e dá uma liberdade indescritível. O tempo foi
curto, mas suficiente pra esquecer todos os problemas. A coisa toda é única! Exorcizei
muita coisa que nem sabia que ainda existia em mim.
— Por esse sorriso bobo, eu chuto que gostou. — Escuto a voz entusiasmada dele
e abro os olhos o vendo em pé, me fitando com um sorriso tão grande ou maior que o meu.
A visão dele dessa percepção é uma coisa extraordinária!
Estende a mão pra mim, levanto e sou amparada pelos seus braços.
— É incrível, Murilo! — externalizo minha euforia olhando pro seu rosto.
— Você é muito corajosa. Saltar de paraquedas exige coragem e mostra uma
capacidade que antes não pensava ter. Você sentiu isso? — questiona me fitando com um
grande sorriso e aceno recebendo um beijo gostoso. Parece que ele sabe que eu não me
sinto boa o suficiente em várias situações.
Dou dois selinhos nele e volto a fitar seus olhos castanhos escuros e intensos. Sua
pupila dá uma leve dilatada e eu fico compenetrada, analisando cada detalhe do seu rosto.
Admiro seu sorriso feliz e branquinho que eu adoro ver. Tudo nele, pra mim, é
encantador. Eu me sinto tão bem em tê-lo comigo, gostaria que isso que temos não
acabasse nunca. Murilo é o tipo de pessoa cativante que eu dormiria de conchinha mesmo
em um calor desgraçado.
Sinto um vento gelado se apossar do meu corpo com essa constatação e meu
sorriso de felicidade morre na hora. Qual é o exato momento que uma pessoa se apaixona
pela outra? Em que momento exatamente dá pra perceber isso? Isso existe? As pessoas
sabem quando estão se apaixonando?
As pessoas geralmente se apaixonam de formas diferentes. Às vezes com um
sorriso, um abraço, gestos, e os mais sortudos — ou azarados — com os primeiros olhares.
Eu me apaixono por gestos, pela forma como sou tratada, e o que mais recebo de Murilo é
atenção.
Esse sentimento é totalmente errado. Gostar dele mais do que o limite que eu
impus, sem apegos, é totalmente ridículo! Era pra ser só um caso. Tem que ser só um
caso!
— Que cara é essa?
— Não é nada. — Retraio um pouco perdendo metade do meu sorriso, mas acho
que ele não percebeu tanto.
É, eu sabia que me envolver com ele poderia ter dado nisso, pois sou boba demais
achando que nada sairia do meu controle, mas Murilo é apaixonante demais. Tinha cara
que destruiria meu coração em questão de minutos, não propositalmente, mas por eu ser a
idiota que estraga uma coisa que até então estava boa, que se apega a uma pessoa
passageira! Como vou lidar com isso?
— Vamos almoçar? Apesar de ser umas três e tanto da tarde.
Sorrio acenando e seguimos de volta pra onde saímos pra pegar o avião. A
adrenalina não abandona meu corpo. Não sei se é pela aventura recém-feita ou pelos meus
últimos pensamentos.
Almoçamos juntos, ele tá orgulhoso por eu ter gostado e aprovado, mas
permaneci a maior parte do tempo meio calada, apenas perdida em pensamentos e ele
percebeu isso, mas tratei de mudar o foco.
— Fiquei orgulhoso de você hoje. — Quebra o silêncio quando o carro para em
frente ao meu apartamento. Não evito em sorrir, um pouco boba com o elogio. Mesmo
sendo um caso, ele me trata tão diferente dos meus antigos namorados. Para de se iludir,
Alexia! Você é uma idiota!
— Vou te levar pra mais passeios desse tipo.
— Pelo menos me avise primeiro. Não tenho coração pra mais um susto desses.
Murilo ri em um tom gostoso e eu rio junto, mais pelo riso dele do que qualquer
outra coisa.
Faz sinal com a mão pra eu chegar perto da sua boca e vou como um imã pra
receber um delicioso e intenso beijo, que explora toda minha boca do jeito devasso
enquanto percorre, com as mãos ágeis, meu corpo. Ele beija maravilhosamente bem. É
viciante e me deixa trêmula. Como me manter fria diante da brasa que ele é?
Prende meu lábio inferior com seus dentes, passa a língua, e em seguida não
deixo de controlar um gemidinho baixo. Eu me separo ajeitando o cabelo pra descer do
seu carro. Recebo mais alguns beijos antes de entrar no meu apartamento, sozinha.
Tomo um banho demorado pra abaixar um pouco meu fogo e penso sobre esses
meus novos sentimentos, algo que me traz uma sensação de ansiedade misturada com
adrenalina. Não sei qual caminho seguir a partir de agora. Não é certo eu sentir isso,
apesar de estar óbvio desde o começo que isso iria acontecer.
13
ALEXIA
O despertador toca e eu desanimo. Só queria ficar em casa, reclusa mesmo,
isolada do mundo, preciso desse tempo pra mim. É tão ruim ficar nervosa, irritada,
incomodada, sensível, triste e precisar sair de casa pra encarar uma semana, agir com
normalidade quando claramente não me sinto bem. O resto do domingo fiquei perdida em
pensamentos e cheguei a resistir ao sono.
A única conclusão disso é que eu realmente sinto alguma coisa por Murilo. Algo
que não planejei e preferia que não estivesse sentindo, mas como controlar essas coisas?
Não dá! Não escolhemos por quem sentiremos atração e paixão.
A sensação que ele transparece é de frescor de café da tarde. Com aquele
cheirinho gostoso que é maravilhoso sentir até ficar inebriada, sem contar a vontade de
provar sempre. E, com certeza, a melhor dose do dia. Mas café em altas doses faz mal.
Essa convivência toda tá me fazendo ficar cada vez mais confusa e por isso resolvi dar um
tempo disso que temos. Já teria fim da mesma forma. A diferença é que eu vou
interromper mais cedo. É o melhor! Um tempo definitivo.
Não tô em condições de colocar minha cara a tapa num intervalo tão curto de
decepções. Ele não mostrou nada além da pequena amizade que temos. Apesar de termos
uma conexão ímpar no sexo e adorarmos os programas legais que fizemos, é apenas isso.
E só!
Não posso me iludir com seu jeito atencioso e divertido. É o natural dele. Não
posso deixar minha carência influenciar, tenho que ter pés no chão pelo menos uma vez,
em vez de ficar com os pensamentos otimistas achando que no final tudo vai dar certo.
Ainda tô calejada por Diego. Depois que o coração é partido inúmeras vezes, fica
cada vez mais difícil acreditar que aquilo vai dar em algo e nem sempre seremos
correspondidas na mesma intensidade.
Tenho que parar de vê-lo até eu reorganizar minha mente, mas não sei realmente
o que fazer com essa novidade. Reaprender a caminhar sozinha é tão difícil. Tudo que
passei me deixou cautelosa e medrosa. Mas eu preciso conquistar o controle de
alguma coisa na minha vida, principalmente o emocional. Sem contar que não me sinto
apta pra fingir que não tô gostando dele. Nem pra tentar “seduzi-lo”. Eu não presto pra
isso, sou patética demais pra querer fazer isso, capaz dele rir da minha cara.
Não quero namoro tão cedo, não sirvo pra ninguém. Algumas memórias
assombrosas de dor trazem uma sensação de desesperança.
Checo o celular mais uma vez e vejo que são 6h20. Não posso mais ficar na
cama, apesar de eu querer, porque vou me atrasar. Eu me arrumo e na agência dedico
concentração total ao meu trabalho, ao invés de pensar na avalanche de problemas que
tenho ultimamente. Problemas esses que gostaria de esquecer.
Meu celular apita me tirando dos devaneios. É mais uma mensagem de Murilo.
Ele me mandou mais duas, uma de bom dia e outra aleatória, mas não respondi nenhuma
das duas. A última mensagem é sobre o almoço. Se é pra vir aqui me buscar. Essa eu
acabo respondendo, digo que tô cheia de trabalho e não terei horário de almoço.
Menti, claro. E como se fosse pouco, quando desço pra almoçar com Liz,
encontro Diego na porta do meu carro. Mais essa agora!
— Diego, não, não vem procurar problemas, por favor. — Não grito nem nada. E
ele percebeu meu estado caótico.
— Mudou. — Ele me diz e me dá nojo.
Uma coisa é certa, eu não consigo olhar pra a pessoa do mesmo modo depois
que ela me magoa.
— O que você quer aqui no meu trabalho? — Sou objetiva.
— Conversar. — Reviro os olhos dando muxoxo. — É sério, só me escuta —
pede baixo, diria até que tá nervoso.
— Pode falar. — Eu me rendo.
— Aqui não.
— Agora ou então tchau. Tô atrasada pra almoçar com Liz. — Vejo ele fechar um
pouco a cara quando menciono uma das minhas amigas, mas ainda assim não sai.
— Eu pensei muito sobre todo esse tempo. Queria dizer que terminei com a
Emily e quero que me dê mais uma chance, eu não sei o que estava acontecendo comigo,
ela estava me envenenando e fui uma pessoa que não queria. Eu preciso de você, nos
damos tão bem, não foi à toa que ficamos dois anos juntos. Tô morrendo de saudades de
você, eu gosto de você, poxa… — diz manso, colocando a mão nas minhas bochechas. —
A gente se entende. Você me conhece e tem como fazer isso por mim, por nós.
Fico encarando séria. Não era pra ele ter vindo até aqui falar essas coisas, eu tô
superando tudo. Não é justo comigo ele chegar manso, pedindo mais uma chance, sabendo
a merda que ele fez. Não agora que tô nesse impasse com Murilo e descobri que tô
começando a gostar dele. Rio ironicamente pela sua cara de pau e me esquivo da sua mão.
— Já se colocou no meu lugar? Já parou pra pensar em tudo que fez comigo? Não
é um “sinto muito” ou “me desculpa” que conserta tudo.
— Eu sei, por isso não dá a resposta agora. Faz assim, pensa direitinho. Depois
conversamos.
Tenta me beijar, mas viro o rosto evitando contato. Ele suspira pela minha reação
e em seguida se despede, avisando que precisa voltar pro trabalho, e me deixa com mais
um problema pra administrar.
Diego me pareceu tão pacífico que é até estranho, não o reconheço. Decido seguir
pro meu almoço com Liz, mas permaneço quieta e pensativa.
— Que cara é essa, Alexia? — Lizandra questiona.
— Nada.
— É o Murilo?
Continuo quieta fitando meu almoço, dando a confirmação que ela precisava.
— Ele aprontou alguma coisa?
— Não. — Sou monossilábica.
— Percebeu que é apaixonada por ele? — fala meio preocupada.
— Talvez.
— É por isso que não respondeu as mensagens dele quando seu celular vibrou
duas vezes?
— Talvez.
Ocupo minha boca com comida pra não dar mais explicações. Almoçamos
caladas, ela séria, analisando o resto dos minutos. Ela insistiu em me dar carona.
— Qual é, Alexia? Desabafa! — Mostra uma impaciência que não é típica dela.
— Não tô a fim, Lizandra.
Fito seus olhos azuis questionadores sentindo os meus castanhos arderem.
— Ou você conta ou eu arranco à força! — ameaça e eu não estou mais
aguentando minhas lágrimas.
— Eu estou gostando de uma pessoa que me vê como uma amiga com benefícios,
não me sinto boa o suficiente para merecê-lo e minha vida está um completo caos, não sei
o que fazer. Diego voltou pedindo uma nova chance e eu me sinto refém dele o tempo
inteiro. E mesmo tendo você e Natasha ao meu redor me sinto perdida. Satisfeita?
Despejo tudo em cima dela de modo impaciente. Sei que ela não merece e que eu
vou me arrepender depois.
— Oh, amiga, que mudança drástica de humor. — Amolece o tom de voz.
— Estou um caco. — Deixo as lágrimas que eu estava prendendo saírem soltas,
inundando meus olhos.
— Você está voltando com sua insegurança, sis.
Limpo minhas lágrimas, olhando para ela.
— Eu sou uma farsa de mulher segura. No fundo, tudo me assombra ainda, eu
pareço uma criança idiota que morre de medo do escuro, mas finge não ter. E por mais que
eu tente esquecer tudo, por mais que eu tente ser outra pessoa, segura, mais sufocada me
sinto. Eu me odeio por ser assim! — lamento, angustiada. — Eu odeio a pessoa que eu
sou, mas não estou conseguindo agir diferente.
— Sobre suas inseguranças, lembre-se do que eu falei naquele dia: continue com
o seu objetivo, estava indo tão bem! E sobre seu luto pós-término, viva até o final, só
assim você se sentirá curada. Se for necessário, passe o final de semana inteiro chorando,
mas coloque na sua cabeça que, quando cessar, qualquer coisa que faça lembrar dele não
vai te atingir mais. Você precisa de novas memórias para colocar em cima dessas feridas
que ele deixou, amiga. Não vale a pena só chorar e se lamentar por uma pessoa que não te
merece, eu sei que consegue superar isso, Nat e eu estamos aqui pra te dar suporte, pra te
ouvir, pra ir no posto de gasolina às duas da manhã comprar sorvete e ficar até às cinco
acordadas, pra que não lide com o coração partido sozinha, como vocês já fizeram por
mim.
Aceno, limpando meus olhos novamente.
— Então, Alie? Sobre tudo, te dou duas decisões. Abrir o jogo para Murilo e ver
o que dá, ao invés de ficar sofrendo com o “não” que nem foi dado, ou voltar pra Diego,
se jogar de cabeça numa vida infeliz, perder minha amizade e provavelmente a de Nat
também. — Ela me fita e concordo, mais perdida que qualquer outra coisa.
— Eu não quero Diego, mas eu tô sem saber o que fazer. Ele me faz mal, ao
mesmo tempo me põe com a consciência pesada quando eu faço o que ele não quer. E
ainda tem Murilo na equação.
— Quanto a essa confusão com Murilo, eu entendo. E eu te conheço o suficiente
pra saber que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, mas você parecia estar no
controle, sendo uma nova mulher, e deixei seguir. — suspira, colocando os cabelos atrás
da orelha, me fitando logo em seguida.
— No fundo também sabia disso, mas quis ir mesmo assim, experimentar essa
novidade, quis tentar ser inconsequente apenas uma vez. Não sirvo pra isso. Eu sou uma
idiota e me apego a uma pessoa que é passageira. Sempre sou eu quem sofro, porque eu
sou burra demais, uma idiota carente, que acha que merece ser amada por alguém. — Fico
angustiada, jogando minhas frustrações pra fora.
— E você é, não duvide disso! Faz assim, isole-se, faça o que sentir vontade,
chore, xingue e beba, mas se erga. Não toma nenhuma decisão por agora. Pensa em você
em primeiro lugar e dá o veredito deixando claro pra ele.
— Obrigada por ser minha amiga até quando eu não mereço.
— Esteja ciente de que Murilo vai querer uma explicação por estar evitando vê-lo
durante a semana.
Aceno, sentindo-me um pouco mais leve depois dessa conversa.

Volto pra casa um caco, Murilo me mandou outra mensagem perguntando se vou
pra casa dele ou ele vem pra minha, mas respondi com uma curta mensagem que estava
cansada do trabalho e que depois ligaria pra ele. Jogo-me no sofá, enterrando a cabeça no
travesseiro, e tento de alguma forma receber um conforto.
Estou tão triste e frustrada. Parece que eu sempre vou ficar nessa posição de
gostar sozinha. Claramente eu não tenho maturidade o suficiente pra separar relações. Não
sou uma pessoa de caso, eu sabia disso, mesmo assim calei a razão e fui.
Penso nas coisas que Lizandra me falou hoje. Eu estava seguindo seus conselhos,
juro que estava, mas agora a única coisa que sinto é que sou um caco, um projeto de
mulher pela metade.
Antes de dormir, Liz liga pra saber como eu estava e pra variar estava arrasada,
sentindo-me uma fraca, com a sensação de ter dado dez passos pra trás por ter chorado.
Sinto que regredi essa semana, parece que nada mudou.
Ela, como sempre, fez-me sentir menos idiota, chorar não era fraqueza e eu
poderia fazer isso quantas vezes sentisse vontade, que era pra eu canalizar tudo que eu
sentia, principalmente minhas mágoas. Que não deveria deixar os sentimentos comigo,
isso faz mal. Então eu chorei, de raiva, decepção, de saber que Diego ainda tem algum
efeito sobre mim, mesmo que seja pra me deixar mal. Rasguei todas as fotos que tínhamos
aqui, por mais que isso não mude o meu passado, mas estava me fazendo mal vê-las.
Coloquei todo o veneno que ingeri pra fora. Nesses últimos anos vivi em prol de uma
pessoa que não valia a pena. Apaguei todas as fotos do meu celular em que estava com ele
— mas antes cortei ele das que eu gostava para manter essas comigo —, porque, apesar
de tudo, os momentos com ele, principalmente no início, também foram meus
momentos e não quero esquecer de quem fui no passado. Nem que seja pra olhar pro
futuro e saber que não faço mais papel de trouxa!

MURILO
Sabe aquela sensação de que, do nada, tudo desanda? Que a rotina muda
completamente e as semanas que se passaram parecem uma realidade distante? Ficou tudo
meio bosta, nem a notícia boa que recebi essa semana conseguiu melhorar essa sensação.
Não vejo Alexia faz uma semana, desde a rápida viagem e o pulo de paraquedas.
Nem sequer responde direito minhas mensagens. Parece que ela está nessa mesma vibe
bleh que eu.
Estou doido pra encontrá-la e confesso que sinto um pouco de saudade. Sinto
falta da companhia dela. E o pior é que ficarão ainda mais difíceis nossos encontros. Eu
queria curtir essa semana com ela, pois segunda-feira viajo pra resolver minhas ações, que
finalmente foram pra frente! Tem muita papelada pra dar conta, reuniões com sócios e
acionistas da empresa e não sei como vai ser a partir de agora, nem sei quantos dias vou
ficar lá. Eu disse que minha vida deu um giro essa semana e quero saber se fiz algo de
errado que a chateou. Odeio coisas mal resolvidas.
Ela disse que tá abafada lá e tento entender e não pensar bobagens. Christian
ficou dizendo que ela estava enrolada com outros e essa hipótese me incomodou.
Hoje vou finalmente matar minha vontade. Talvez ela tenha ficado chateada por
tê-la levado para o centro de paraquedismo sem aviso prévio e a feito pular de paraquedas,
essa é a única hipótese que vem na minha mente. Digito uma mensagem pra ver se dessa
vez responde. Guardo o celular e o elevador apita no térreo. Vou em direção ao meu carro,
disposto a ir na sua casa. Decidi ir lá e não esperar uma mensagem pedindo permissão. Tô
parecendo um louco atrás dela, mas fazer o quê?
Faço a viagem batucando e cantando as músicas que estavam tocando na rádio.
Não vejo a hora de ver Alexia. Preciso dar uma, duas ou três. Urgente! Paro o carro e vejo
as luzes acesas. Pelo menos ela já tá em casa. Toco a campainha e espero ela atender.
A porta abre mostrando uma Alexia abatida na soleira.
— Sentiu saudades de mim, morena?
Me debruço, deixando meu rosto perto do seu. Vejo que tá preparada pra dormir,
mas, se depender de mim, não vai tão cedo. Quero contar a novidade pra ela, quero
comemorar isso de um jeito bom!
Ela me dá passagem e me jogo no sofá. Ela faz o mesmo.
— Por que me ignorou esse tempo todo?
Faço cara de pena com a mão no peito em puro drama pra ver se ela se
compadece da minha situação.
— Estava enrolada — reclama, mostrando um visível cansaço. E penso em outros
tipos de enrolamentos, mas esse será bem melhor.
— E vai ficar de novo, só que comigo na cama.
Puxo-a pro meu colo e ela vem sem objeções. Gosto dela assim, aqui em cima.
— Não sei…
— Ficou chateada com alguma coisa que eu fiz? — pergunto para saber, afinal.
— Foi por causa do pulo de paraquedas?
— Não, não é isso — ela nega, sorrindo de lado. — Não tô chateada com você,
de verdade.
— Então, por que tá distante? — Arqueio uma das sobrancelhas.
Ela se retrai repuxando os lábios, parando com o contato visual.
— Impressão sua.
Suspendo seu rosto pra que volte a me olhar. Cadê a Alexia de antes?
— Quer que eu vá embora? Tô forçando a barra? — pergunto, rezando que ela
negue.
— Não. Não quero que vá.
Pede baixinho. Aceno, alisando seus braços, e ela suspira, apoiando a testa no
meu ombro.
— Tenho uma novidade! — Mal escondo minha satisfação.
— O quê?
— A minha proposta encaminhou-se na empresa, querem que eu vá lá segunda-
feira pra conversamos. Vou viajar!
Sorrio abertamente, mas Alexia não me acompanha, fazendo com que eu perca a
vontade de continuar sorrindo. Franzo o rosto.
— Que legal, Murilo! Fico feliz por isso! — Sua alegria é tão falsa quanto minha
vontade de fazer reunião aos sábados.
— Você não tá me parecendo feliz. Tá com algum problema, Alie? Eu posso te
escutar.
Encaro-a intrigado e ela mais uma vez foge dos meus olhos. Essa mulher não tá
bem, é fato. E seria bom que ela confiasse em mim.
— Não, eu tô feliz, só que… Nada! Esquece! — Ela nega com a cabeça,
repuxando os lábios num sorriso. — Sei que você vai se sair bem lá, viu?
Ela me fita com uma carinha triste e mal disfarçada, deixando meu coração
pesado. Parece ainda mais doce. Claramente está vulnerável com algo, mas não quer me
dizer.
Viro o rosto e cheiro seu pescoço rapidamente, trazendo-a pra mais perto,
encaixando direito. Ela ofega baixo, contorcendo-se, me segurando pelo ombro. Bom
sinal! Sinto meu pau endurecer na hora e impulsiono meu pé, devagar, pra sentir como
estou fazendo seu corpo subir e descer, lentamente, causando um atrito sob nós; ela arrepia
e sua respiração muda. Mais um bom sinal. Não me afastou.
— Tô doido pra ter você. Uma semaninha sem nem um beijo. Tem certeza de que
não quer? — pergunto, morrendo de tesão e a consertando no meu colo mais uma vez.
Sinto o sangue correr todo pra baixo.
— Você é muito engenhoso… — sussurra, morta de tesão.
— Mas você gosta que eu sei.

ALEXIA
Ataca minha boca com puro fogo. Claro que gosto. Mais do que deveria, até.
Eu tento parar de vê-lo até reorganizar minha mente, mas de que forma? Ele tá
aqui no meu apartamento, cheio de fogo, me incendiando. Eu sou uma reles humana, oras!
Distribuo beijos leves no seu pescoço e contorno a orelha com a ponta da língua,
assim como ele fez comigo. Ele geme, puxa-me para mais perto enquanto aperta minha
bunda fortemente, depois de ter se livrado da minha camisa e sutiã. Gemo e rebolo,
tentando ter mais dele. Perco-me naquele corpo, nem que seja momentaneamente, talvez
pela última vez.

Vendo Murilo dormir, visão maravilhosa pela manhã, penso em tudo. Ele vai
viajar! Apesar de tudo, acho que foi o destino me ajudando a mantê-lo longe.
Eu não posso dizer o que sinto, seria patético dizer que estou gostando de um cara
sabendo que ele está de viagem marcada, que pode ficar lá definitivamente, é a mesma
coisa que pedir para ser pisada. Preciso fazer com que esses sentimentos não floresçam.
Sozinha é mais seguro, sempre será. Eu tenho mania de ser otária.
Tomo um banho e sento no meu sofá, com uma xícara de café na mão. Não tenho
vontade de fazer cappuccino, vou ficar no preto mesmo. Sentir o cheiro do café sempre
melhora meu humor.
Murilo sempre foi claro, ele é bem resolvido. Eu nem sequer estou inteira para ser
despedaçada novamente. Acho que de longe eu consigo lidar com esse fato e até
adormecer a ponto de não ficar como estou. É o mais certo no momento, distância, mesmo
que esse afastamento me deixe mal. Eu sou trouxa, tento negar, mas o atestado de trouxa
sempre se renova.
— Bom dia. Tá cheirosa. — Senta do meu lado, presenteando-me com um sorriso
contagiante.
É impossível não comentar quão Murilo é… Murilo! Melhor definição para isso.
Murilo é Murilo e isso já expressa metade do que ele é.
— Bom dia. Tem café pronto. — Fito seu rosto, percebo seus cabelos molhados
cheirando ao meu sabonete. Olho mais um pouco e ele está sem camisa, vestindo apenas
um short que largou aqui numa das semanas anteriores.
— Prefiro um beijo seu primeiro. — Pisca na minha direção e vergonhosamente
coro com esse simples gesto. Vou disposta a dar um selinho, pois sou fraca e não consigo
dosar o afastamento, mas ele segura na minha nuca, aprofundando mais. Hálito de café e
Murilo são boas combinações. Aperto seus braços e ele me segura pelo pescoço, me
dominando. Eu estava louca ao achar que iria me envolver com ele e sair ilesa.
Sinto uma fisgada gostosa entre minhas pernas, mas ainda estou sensível. Murilo
estava cheio de vigor ontem e quando eu pensava que ele tinha acalmado, recomeçava.
Talvez ele pressentisse que não iríamos mais nos ver, ou já estava adiantando o ponto
final.
— Não vou poder passar o dia todo com você, hoje preciso ir à empresa buscar
uns documentos importantes e amanhã vou arrumar a mala e organizar esses documentos,
essas coisas…
— Tudo bem. — Sacudo os ombros sem me importar. Pelo menos uma escolha
sensata terei que tomar em relação a isso. Claramente, quanto mais demorar, mais difícil
vai ficar para mim, mais o nó aperta. E odeio despedidas.
— Por que você tá assim, hein? — Alisa minhas bochechas e sinto o nó na
garganta. — Tá bem cabisbaixa.
— Não é nada, more… Murilo. É coisa de mulher. Eu tô feliz demais pela sua
conquista, de verdade, mesmo que a gente não se veja mais.
Repuxo os lábios numa falsa felicidade, mesmo que eu esteja orgulhosa da sua
conquista.
— Verdade! — Ele faz beicinho, frustrado. — Mas eu não vou ficar em definitivo
agora, é só uma reunião. Prometo que quando eu voltar, você será a primeira pessoa que
verei.
— Não. Acho melhor não, quero que esteja completamente focado nas suas
conquistas — decido, covardemente, acabar com tudo ao invés de deixar morrer por
“morte natural” ou tê-lo dizendo que não tem mais tempo para o que temos.
— Alie… — Sua expressão é decepcionada e faz meu coração doer. — Tem
certeza disso? Você jamais vai me atrapalhar.
— Tenho. Precisamos desse afastamento, eu também tenho projetos que precisam
de foco total. Quero muito que você consiga o que quer. Se depender da minha torcida já
deu certo.
Ele acena, puxando-me para um abraço apertado e eu tenho vontade de chorar. Eu
odeio despedidas, ainda mais de pessoas que me fazem sentir tão bem! Murilo fez parte de
uma etapa importante na minha vida e ele nem sabe. Ele fez parte da transição da Alexia
de antes para a de agora. A Alexia que está tentando ser uma versão melhorada e mais
cautelosa dela mesma.
14
MURILO
Desembarcando no aeroporto com minha mala, percebo que minha mente não
está aqui. Só consigo pensar na Alexia. Fiquei apegado naquela atrevida. Como é que uma
pessoa, até de longe, tem tanto efeito sobre mim?
O carro que aluguei já me espera aqui na frente. Ótimo!
Converso com o representante da locadora que trouxe e, por fim, sigo para o hotel
guardar minha mala. Terei a primeira reunião ainda hoje na sede da empresa. Estou morto
de fome, vou ver se consigo comer antes de ir, pois sei que a reunião será longa.
Confesso, pensei que estaria mais empolgado e feliz quando a reunião fosse
marcada, mas não estou. Estou empolgado por realizar essa meta, claro, mas não tanto
quanto achei que estaria.
Separo os documentos na pasta e desço para a primeira cafeteria que encontro.
Peço café gelado, por causa do calor, sorrindo ao ver no cardápio o tal do cappuccino.
Tive que aprender a fazer essa bebida por conta de Alexia, que é viciada, mas não é o
original e sim o de chocolate. Peço também pães de queijo para acompanhar.
Enquanto espero, olho o celular, checando por curiosidade para ver se ela está
online, mas a última visualização foi ontem à noite. Vejo uma foto dela dormindo, no meu
wallpaper, e abro a galeria para ver essa foto melhor.
Estou com muita saudade dela. Do cheirinho do seu perfume, flor de cerejeira.
Uma mistura cítrica e suave. O delicioso aroma delicado, que inspira uma deliciosa
sensação de alegria, igual à sua personalidade, suave e feminina.

ALEXIA
— Você vai sim, Alexia! — Natasha ordena. Se não tivesse a mesa nos
separando acho que eu teria tomado um tapa no rosto.
— Pois é, nunca mais uma festa juntas. — Liz se queixa. — Estamos solteiras,
porra!
— Eu sei que estamos! Eu tô com preguiça de ir, quero terminar a série que estou
assistindo.
Nessa última semana o que eu mais faço é assistir séries. Quando estou imersa
nos mistérios de Pretty little liars minha vida fica mil vezes mais fácil, pois não tem
ninguém de casaco vermelho querendo me matar. Eu acho.
Minha vida voltou à rotina de antes, casa, trabalho, séries e dormir. Evitei entrar a
todo o momento na rede social para ver se Murilo estava online, porque me peguei, mais
de uma vez, ampliando sua foto de perfil. Continua a mesma de antes. Lindo, sorrindo sem
camisa e molhado na cachoeira. Fui eu quem tirei.
Tudo está um completo caos, estou numa apatia horrorosa, de saco cheia de mim
mesma. Meu aniversário está chegando e eu não tenho vontade de comemorar. Estou num
completo desânimo para socializar. Pra ser sincera eu nunca gostei de lugares cheios, eu
fico com vontade de voltar pra casa antes mesmo de ir. Apesar de que quando chego lá eu
me divirto e muito! Eu só preciso convencer o meu corpo disso.
— Série a gente assiste dia de semana antes de dormir, no final de semana é para
rebolar! — Natasha beberica seu suco.
— Mas você nem vai com a gente, Natasha.
— Mas você acha que eu não vou me divertir, não? Vou rebolar sim, sis, mas em
outra coisa! — Dá uma piscada e eu rio junto com Liz. — Vai com a Liz, aproveita que ela
não gosta de virar a noite.
— Concordo plenamente. O bar é ótimo! Vamos nos divertir muito!
— Tudo bem — me rendo.
Talvez essa saída seja boa, não posso parar de tentar ser uma nova Alexia só
porque parte do meu coração está na mão de uma pessoa.

— Tá muito linda, sis — Liz me elogia assim que entro no carro.


— Obrigada, você também tá! — retribuo sinceramente.
Cumprimento Suzana, que está no carro também. É uma amiga de Liz que mora
praticamente ao lado dela. São vizinhas. Nosso programa hoje é em uma cervejaria que
abriu recentemente. Lizandra é o tipo de pessoa que, se é pra ficar em casa, ela fica, na
maresia, mas quando resolve sair quer arrastar todo mundo com ela. Nem ligo muito, a
maioria dos programas são bons.
A cervejaria é bem rústica, predominando tons terrosos e madeira. Tem muita
mesa de canto com estofados em L. Tem o bar com balcão e um palco de música. Na
lateral, um bar enorme, com uma variedade grande de cervejas. De uma ponta a outra, do
chão ao teto, cheia de opções. Fiquei tentada a experimentar todas. Pelo jeito precisarei vir
aqui mais de uma vez.
Automaticamente lembro de Murilo e o dia do pub, que ficamos tomando a
cerveja do outro pra provar mais de um sabor. O mesmo dia que tivemos um sexo
excepcional. Murilo foi uma ótima companhia de bons momentos, sem dúvida. Tento não
pensar nisso e sigo com as meninas para a mesa de canto, sentando no sofá confortável.
Pedimos nossas cervejas, que não demoram a chegar. Enquanto bebemos, aguardamos os
petiscos e conversamos.
Maldito momento que começou a tocar ao vivo e a cores. Meu celular toca no
meu colo, assustando-me. Na tela, vejo o número conhecido, mas que apaguei
recentemente. Diego. Desligo, não quero saber o que ele tem para me dizer. Foda-se ele!
Pego-me ignorando os áudios de Murilo e escrevendo uma mensagem: eu
detestava seu jeito torto de diversão, mesmo aprendendo a gostar, e seu poder de me
divertir com pouca coisa. Do seu barulho nas noites que me obrigava a assistir futebol ou
luta, como se eu fosse um amigo seu. Da sua mania de puxar meu pé quando eu estava
distraída ou de pôr força no abraço só para eu resmungar. E odeio ainda mais sentir falta
de você!!
Não envio, saio do aplicativo. Não bebi o suficiente para me arrastar desse jeito
com essa declaração. Tenho que lembrar que nem todas as pessoas por quem nos
apaixonamos são para nós.
Estar apaixonada é uma verdadeira merda, pelo menos quando não está sendo
correspondida. As músicas românticas ficam fazendo sentido na nossa cabeça e dá
vontade de suspirar, lembrando dos momentos. Venho para me divertir e já lembrei dele
duas vezes, e isso é uma bosta!
Paixão é um tanto clichê, já parou para pensar? Uma pessoa do outro lado do
mundo canta uma música e você se identifica como se fosse escrita para você. Aí a pessoa
da mesa ao lado sente a mesma coisa. Não deveria causar tanta devastação um sentimento
tão comum.
Pego minha bebida e dou um gole maior do que estava tomando, a fim de prestar
atenção no gosto dela. Aproveito a noite conversando com as meninas, acho que estão
chegando mais colegas do trabalho de Lizandra. Se fui eu quem resolveu acabar nosso
caso colorido, não tem porquê estar nessa lamúria. Ele está feliz lá no outro Estado
resolvendo tudo e eu estou feliz por ele. Pronto. E é só!

MURILO
Não estou nem um pouco feliz por estar começando a realizar uma coisa que
queria muito. A sensação é a de que está faltando algo. Mas já sei o que é, não é
necessariamente o que, mas quem.
Gamei naquela morena de sorriso doce. Em cada detalhe encantador. Morro de
vontade de descobrir mais sobre ela, escutar o que ela tem para falar, decifrar seu jeito
retraído, mas que com uma dose de coragem se transforma completamente.
Essa semana foi a mais bosta que tive. E pior, não nos falamos mais, ela cortou
relações. No domingo à noite eu até perguntei se poderíamos nos ver para uma despedida
digna, mas ela negou, disse que estava de saída com as amigas e eu concordei, frustrado.
Segunda-feira mandei mensagem de rotina e ela não visualizou até hoje. Ou tirou a
visualização, ou me bloqueou.
Eu estava gamadão nela, mesmo antes de vir, mas precisei de uma semana longe
e meia garrafa de whisky para perceber isso, o que esteve na minha cara por um bom
tempo.
Alexia é a pessoa mais pura que conheço, merece o mundo e nem se dá conta.
Estou morto de saudade. A boa notícia é que a última reunião dessa etapa está marcada, é
sexta-feira que vem, eu estou caindo fora daqui.
Tudo tá dando certo, claro, mas tá chato uma semana inteira de reuniões,
negociações, conversa com um, conversa com outro, nem todo mundo tem disponibilidade
de horário. Vou atrás de documento, converso com o gerente do meu banco, trabalho
online… Tem sido uma semana cansativa!
Pego meu celular e vejo uma foto de Alexia na rede social. Está num bar com
várias amigas. Linda demais essa morena, e de batom vermelho! Puta que pariu!
Parece muito bem, divertindo-se com o grupo de mulheres, o sorriso é
contagiante.
Com todos esses sinais que ela me deu, de interromper contatos, a carinha
fechada que estava quando saí do seu apartamento no dia em que tudo acabou, a frieza, é
perceptível a rejeição de Alexia para certos contatos afetivos, apesar de ela ter se mostrado
um poço de mistério quando se trata de certos assuntos. Alguém a machucou, está claro
isso, mas a vida é curta demais para não tentar de novo.
Eu não vou ficar de braços cruzados, deixando-a se afastar sem ao menos tentar.
Por isso, vou cumprir minha promessa de ela ser a primeira pessoa que verei quando
retornar, e será pra falar sobre nós. Quero essa morena pra mim e vou convencê-la disso!

Enquanto espero o troco do táxi, olho o apartamento dela e vejo as luzes acesas.
De repente a porta abre e um homem sai. Alexia, aparentemente descontrolada, enumera
coisas com o dedo enquanto vocifera. Não consigo escutar o que eles falam, mas parecem
discutir sério. Ligo meus alertas e sinto minha raiva subir em segundos, vendo-o apertá-la
pelo braço, tentando imobilizá-la. Não percebo o motorista me dando as moedas antes de
tocar no meu braço. Pego sem conferir, jogando no bolso. Agradeço e saio com minha
mala nas costas, indo em passos rápidos em direção a eles.
Nenhum dos dois me vê, estão mais preocupados em brigar. Chego perto a ponto
de escutar ele a chamar por nomes pejorativos, a tendo imobilizada pelos braços. Daqui
vejo o aperto que ele dá nela. Quem é esse sujeito?
— Vai embora! — Escuto sua voz embargada para ele e meu peito aperta ainda
mais.

ALEXIA
— Vai mesmo jogar fora tudo que vivemos juntos? — ele põe pressão em mim.
— Você prometeu que voltaríamos!
— Eu não prometi nada! Nosso tempo acabou, supera! — dou meu veredito
pontuando mais uma vez para ver se ele entende e percebe que estou falando sério.
Estava chegando do trabalho e de repente o encontrei na porta do meu
apartamento. Tentei mandá-lo embora e simplesmente entrou comigo, quebrou minhas
coisas, gritou o que bem quis e ainda acha que temos que voltar. Eu fico sozinha o resto da
minha vida, mas não volto pra ele. Estou me redescobrindo, sentindo-me livre. Não vou
voltar pra quem me aprisiona.
— A gente se ama!
— Faça-me o favor! Você me tratava feito lixo e, se você não sabia, eu existia
quando você não estava com vontade de transar! Vai embora! Não queira reivindicar uma
coisa que você mesmo fez questão de perder! Eu te avisei!
Aumento um pouco meu tom de voz, indignada. Ele faz uma cara ridícula de
deboche, como se eu estivesse blefando. Tô com muita raiva e um pouco transtornada,
com vontade de voar na cara dele só por lembrar de tudo que já passei enquanto
namorávamos. E principalmente pelo flagra com a outra.
— Você não pode ter me esquecido assim, Alexia! — Mostra irritação na voz, me
puxando pelo cotovelo de modo grosseiro, como se tivesse mais algum direito sobre mim.
— Você se lembrará, nem que eu precise abrir sua cabeça!
O apertão dele dói e a ameaça raivosa me amedronta, mas não consigo sair. Ele é
claramente mais forte.
— Solta ela, babaca! — Escuto a voz de trovão de Murilo e percebo que está com
raiva, muita raiva. — Tá a fim que eu te arrebente aqui e agora? — arranca as mãos de
Diego de cima de mim, sem gentileza, empurrando-o pra que saia de perto.
O que ele tá fazendo aqui? Sinto meu coração falhar uma batida com sua
presença bem próxima e seu perfume invadindo meu olfato. Vejo Murilo me defender e
não consigo deixar de gostar disso; com ele aqui sinto uma sensação de proteção. É, eu
gosto de me iludir.
A confusão tá feita, Murilo dá vários socos em Diego a ponto de deixá-lo com o
nariz sangrando. Murilo, cada vez mais descontrolado, dá mais socos fortes, o segurando
pela camisa, xingando e mandando ficar longe de mim. Diego tenta devolver o soco, mas
Murilo continua batendo com uma raiva que parece que não vai passar tão cedo.
Diego tenta apenas se defender, pois não tá possibilitado de bater. Murilo
esbraveja palavrões e eu fico sem ação, sem saber o que fazer, só olhando assustada.
— Murilo, para! — mando, sabendo que essa briga pode prejudicá-lo.
Daqui a pouco começa a chamar a atenção dos vizinhos e eles chamam a polícia.

MURILO
Soco a cara do babaca com uma fúria imensa, por ele ter falado merda para
Alexia e por tê-la segurado com grosseria, como se fosse uma boneca de pano. E que
merda ele acha que é pra falar assim com ela?
Se ele gosta de medir força com ela, então aguenta medir força comigo, mano a
mano.
— Chega, Murilo! — escuto Alexia, que está nervosa demais, tentando
interceptar. E recuo, ofegante, largando-o.
Não sou um homem agressivo, não quero que Alexia tenha medo de mim. O
babaca tá com a roupa amassada e o nariz sangrando, tô achando pouco.
— Cai fora, vá! Ou vai baixar camburão! — ameaço, com a respiração
entrecortada.
O idiota levanta com a boca sangrando e com a expressão mortal, com certeza é
algum ex dela. Nem precisa ser inteligente pra sacar isso. Ele vem pra cima dela e eu o
empurro, ele se desequilibra novamente, cambaleando pra trás e tenta mais uma vez. É
sério que Alexia se relacionou com um sujeitinho baixo desse? Muito mau gosto!
Dou mais um soco, um só, um soco oco e ele põe a mão no nariz.
— Isso vai ter troco!
Saí de passos apressados, quase correndo, com a mão no nariz sangrando,
tropeçando na minha mala que está no chão.
Ofegante, me viro para uma Alexia desestabilizada demais para dizer qualquer
coisa, nem sustenta o olhar. Agora sei o porquê de ela ser do jeito que é, o babaca fez uma
lavagem cerebral nela.
— Será que podemos conversar agora? — questiono, passando as mãos nos
cabelos para me recompor.
Ela não responde, apenas abre a porta e me dá passagem com uma expressão
triste, uma cara de choro. É nítido que ele conseguia desestabilizá-la. Ele sabe disso e
jogou sujo. Ver ela assim me dá um nervoso desgraçado e tenho vontade de ir atrás do
sujeito e espancá-lo.
Alexia senta no sofá, ainda quieta, e sento do seu lado. Claramente ele não aceita
perder, ver essa mulher e pensar: “como deixei essa mulher incrível ir embora?”, e
perceber que não é com ele que ela tá é de bater desespero mesmo.
Olho sua sala com algumas coisas quebradas, como porta-retratos e outros itens
de decoração, inclusive a palmeira que ela tem na sala, que tá caída. O que esse
desgraçado fez aqui dentro?
Dou tempo para ela se acalmar. Tô nervoso, com vontade de mostrar a ela que
não é porra nenhuma que ele disse. Um verdadeiro livro de matemática. Por fora uma capa
feliz, que engana, onde tudo parece fácil, mas por dentro tem questões e problemas que
não conseguimos decifrar de imediato e precisam de tempo e atenção para que se tudo
torne mais fácil e solucionável!
15
MURILO
— Ele te machucou muito? — Seguro no seu pulso, examinando algumas partes
avermelhadas.
— Não — ela fala, em som quase inaudível, e solto um longo suspiro pela
situação.
A intenção era chegar aqui, encontrá-la em casa, só que sozinha, pedir para
conversar e no final da noite estaríamos enroscados e ofegantes na cama. Isso foi o que
planejei mentalmente, mas a situação já começou errada.
— É frequente isso? Quer ir na delegacia?
— Murilo, por favor. O que você veio fazer aqui? Eu preciso ficar sozinha. —
Suspende o olhar, limpando os olhos rapidamente com as costas das mãos, puxando a
respiração.
— Queria te ver — sou sincero. — Senti sua falta.
Vejo seu queixo tremer, não sei se controlando o choro ou se preparando para cair
nele, mas sua expressão continua quebrada, de partir o coração.
— Já me viu, pode ir já. — Sua voz de choro faz com que eu a olhe, mas ela não
me encara.
— O quê? Para de me tratar dessa forma, Alexia. Desde que eu fui viajar que tá
nessa frieza.
— Preciso que vá, Murilo. Eu preciso ficar sozinha, por favor — suplica.
— Não vou! — nego, levantado do sofá, totalmente impaciente com essa merda
toda. Sei lá o que aquele idiota falou pra ela antes de eu aparecer pra estar desse jeito.
— Eu não quero mais transar com você, nem nada disso. Vai embora! — diz em
um tom de voz grosseiro. Se ela acha que simplesmente vou acatar e sair, está muito
enganada. Passo a mão nos cabelos, dando um muxoxo impaciente vendo Alexia
vulnerável.
— Não é sobre sexo, Alexia, já deixou de ser só isso há muito tempo. Entendo
que tá machucada, mas deixe-me te ajudar.
— Não, Murilo. Não quero ajuda, não quero nada. Eu não quero estar perto de
você, porque o que eu preciso é além do que você me ofereceu, eu não posso te dar forças
pra que me jogue no precipício. Eu não quero mais ser pisada, eu me iludo fácil!
Fito os olhinhos quebrados e chorosos da minha morena. Com essas palavras
percebo toda sua mudança e frieza desde que eu falei que iria viajar. O que eu sinto por ela
é recíproco, mas por ser machucada de tantas formas, ela preferiu fugir, fingir que o
sentimento não existia, por medo que a rejeitasse. Ela precisa saber que a opinião do outro
lá não é válida pra ninguém.
— Não foi bom da última vez, mas isso não significa que os próximos serão
ruins.
Em um tom mais ameno, digo a verdade, tentando acalmá-la enquanto aliso seus
cabelos. Alexia não merece ter um ex-namorado babaca daquele jeito. Ninguém merece,
na verdade.
— O que você quer dizer com isso, Murilo? — A voz embargada dela me quebra
demais!
— Morena, eu tô tão, mas tão apaixonado por você inteira, que fiquei duas
semanas me corroendo de saudade. Precisei viajar pra ter um surto de realidade e saudade
ao mesmo tempo. Eu quero te descobrir, entender quem você é, sem pressa.
— Não quero sua piedade, eu não sou criança que tem que fazer as vontades. Eu
sei o que eu mereço e quando as pessoas são além do que eu posso ter.
— Piedade, Alexia? Olha a merda que você tá falando. Sinto muito te dizer isso,
mas ele não gosta de você, é só orgulho ferido. Só não tá aguentando ver você seguir em
frente. Deixando-o no passado. E enxergando que você é essa mulher toda e ele perdeu
por ser um babaca. Eu não tenho o mesmo pensamento que ele, eu te enxergo diferente,
enxergo a verdade! —Controlo-me pra não gritar. Estou muito nervoso.
— Isso é para o meu próprio bem, achei que estaria preparada para essa nova
aventura, mas não tô! Eu não sirvo pra isso, eu não sou bem resolvida pra não me envolver
sentimentalmente. Só vai, por favor… Futuramente agradecerá por não ter ninguém
carente no seu pé. Eu não sirvo pra sexo como você deve estar acostumado!
Não sei o que é pior: esse merda fazer isso com ela ou ela acreditar nele. Odeio
vê-la desamparada, eu quero ela sorrindo, principalmente pra mim. Puxo-a pro meu colo
quando me sento no sofá, e ela recosta a cabeça no meu ombro, como uma garotinha
frágil. Preciso tê-la e mostrar que ela é muito mais do que aquele babaca falou.
— Para de me afastar quando o que eu mais quero é ficar! Eu estou apaixonado
pelo que você é. Eu vejo suas inseguranças e também os seus pontos fortes, e nada disso
me impede de te achar uma mulher linda! Eu quero você, morena, namora comigo? De
todas as aventuras em que me joguei, você tá sendo a mais recompensadora e gratificante.
— Murilo, não faz isso… Você talvez se mude, eu vou te atrapalhar!
Ela acha mesmo que vou sair da vida dela assim, fácil? O que mais quero é ficar.
Puxo seu rosto pra perto do meu pra ela perceber a urgência da coisa.
— Quero você antes de tudo, entendeu? Qualquer coisa é segundo plano quando
tenho você na minha frente. Prioridades. Você é a minha no momento, o resto fica chato
sem você.
Fito seus olhos chorosos e ela acena. Sou tomado pela euforia imediatamente. Ela
sorri, limpa os olhos e ataco sua boca, numa saudade que estava sufocante. Ela sempre
corresponde meu fogo e eu adoro isso!
— Quando olho pra você, sinto meu coração bater forte. Quando escuto sua
risada, minha barriga agita e consigo conversar com você sem parecer estúpida. Quando
você sorri, e sou eu quem provocou o riso, sinto-me boba. Eu chorei diversas vezes
quando você estava viajando porque tê-lo era a coisa mais distante pra mim, e me sinto
mais boba ainda de estar falando isso para você.
Impossível não se sentir importante, com ela fazendo questão da minha presença.
Gosto disso, desse frescor de começo de relacionamento. Tomara que não fique monótono,
ou que eu esteja tomando chá de xota, como Cristian diz.
Namorar é foda demais porque na mesma hora que o casal tá brigando, quando
menos percebe já tá transando. É uma das coisas mais malucas e boas que inventaram.

ALEXIA
O ser humano é feito de água e de insegurança na mesma proporção. Quem de
nós precisa de inimigos reais quando a maioria tem mania de se autossabotar por medo? E
pior, nem percebe… Eu mesma, não canso de fazer isso, mas acaba que quando o coração
é partido inúmeras vezes ou ainda tá magoado, vai ficando cada vez mais difícil dar uma
nova chance, acreditar em algo. Tentamos com o errado tantas vezes, que, quando chega
um que parece o certo, nós corremos. No fundo, nós sabemos quem queremos e quem
realmente merece fazer parte dessa caminhada com a gente, mas o receio de sair
machucada muitas vezes amedronta.
Abraço o Murilo mais apertado e coloco meu rosto na curva do seu pescoço,
aspirando seu cheiro. Ele tem um cheiro tão bom, que me traz segurança. Ele retribui o
abraço num aperto forte e só para quando eu resmungo, mostrando que estamos normais.
São poucas, mas sei que ainda existem pessoas que valem a pena manter por
perto, e sinto que Murilo vale. Sabemos que encontramos a pessoa certa quando não temos
medo de ficarmos vulneráveis. Eu contei a Murilo sobre toda a novela que eu entrei há
dois anos e em momento algum ele ridicularizou minhas angústias; me deixou chorar no
seu peito enquanto falava sobre todas as minhas inseguranças, e isso é um dos perigos
mais recompensadores que existem.
— Amanhã faremos um programa legal — sussurra, quando eu estou quase
cochilando.
— Que programa?
— Amanhã saberá — faz mistério. — Será legal e em terra firme.
Sorrio e concordo. Ah, moreno! Por favor, não vira sapo. Continua príncipe. Seja
sempre meu. Ele percebe que eu o abracei mais forte e se arruma, me abraçando e fazendo
carinho nas minhas costas. Eu moraria nesse abraço sem problema algum!
O mundo é engraçado e me surpreendo pelas voltas que ele dá. Quem diria que,
indo para aquela festa, que eu nem queria, ia conhecer a pessoa que mais me faz feliz
ultimamente. Observo ele dormindo por uns bons minutos. Até ele me puxar ainda de
olhos fechados, me abraçar forte, ralar a barba na minha bochecha e me fazer um pouco de
cócegas. Apenas continuo de olhos fechados, curtindo o momento.
Suspendo o rosto e o encontro olhando pra mim. Os olhos dele parecem um
profundo universo escuro e infinito, essa barba que combina perfeitamente. Eu o
observaria sempre, sem me importar. Ele logo aperta minha bunda, pois já acorda na
safadeza.
— Teremos duas coisas pra fazer hoje. Iremos pro nosso programa, agora de
manhã, e à tarde tem o aniversário do moleque de Cristian, um amigo meu. Vamos? — ele
convida.
— Não sei… — titubeio, enterro minha cabeça na curva do seu ombro e aspiro
seu cheiro, provocando nele um arrepio.
Ficar assim é tão gostoso, nem parece que minha vida era um inferno há alguns
meses.
— Você é minha namorada, vai ser um ótimo momento pra eu te apresentar.
— Tudo bem — rendo-me, convencida e totalmente boba pelo “minha
namorada”. — Que horas começará?
— Duas da tarde, mas primeiro vou comer você antes de sairmos. — Ele me puxa
pela bunda, fico em cima dele e ele me beija. — Acordar de pau duro com você do lado e
não transar é desperdício.
— Oh, boca suja! — Sorrio e em seguida volto para sua boca. Sedenta!

— Academia, Murilo? — questiono e entro, passando pela recepção. Ele


cumprimenta um homem, pegando uma chave; assina um papel e pega uma sacola com o
logo do lugar. — Não tô entendendo nada.
— Você vai gostar. — Solta minha mão pra abrir a porta. — Ontem vi a forma
que aquele babaca estava te segurando e não quero você desprotegida por aí. — Abre a
posta e a primeira coisa que vejo é uma sala ampla e vazia, com tatame no chão e nada
mais.
— Quero que você aprenda a se defender. Vou te ensinar um pouco de judô.
Sorrio e agradeço pelo carinho e preocupação comigo.
— Você sabe judô?
— Fiz quando era mais novo, ainda lembro algumas coisas. — Dá de ombros.
— Hum, então será meu professor?
— Serei. E levará palmada se não me obedecer.
Arqueio as sobrancelhas e ele repete o gesto. Vestimos o quimono por cima da
roupa mesmo, mas Murilo é exibido e decide tirar a camisa que estava usando.
Nos cumprimentamos cheios de protocolo. Murilo é doido! — Praticaremos em
pé e depois no chão. — Arqueia uma sobrancelha e vejo que o tom que usou foi de
sacanagem.
— Esse se chama yama-arashi. É técnica de braço. Vou fazer devagar com você, e
depois tenta fazer comigo. Relaxe o corpo pra não se machucar — ele me explica, pondo
minha mão no seu ombro, ficando um pouco de costas pra mim, e com um impulso
usando o quadril e a perna, me puxa e leva ao tatame, de costas, em poucos segundos. Ele
fez como se eu não pesasse nada.
— Machucou? — pergunta, preocupado.
Nego, sorrindo. Ele estende a mão pra que eu levante e em seguida faço com ele,
enquanto ele me explica. Tentamos três vezes até que eu conseguisse fazer mais ou menos
com êxito, mas ele meio que se jogou, já que é muito mais pesado que eu. Eu me senti
bem aprendendo a técnica.
Fizemos outras técnicas também, tá até sendo legal, tô me divertindo mais que
qualquer outra coisa, apesar de atentar pra aprender a fazer direito.
— Esse é o Uki-otoshi. Você quem vai fazer em mim.
Ele me segura pela lapela do quimono com as duas mãos, e manda eu segurar no
seu pela parte dos braços.
— Anda pra trás, me segurando, e em seguida puxe um dos lados do quimono pra
que eu caia, minha mão dobre, eu te solte e você não caia comigo.
Assimilo e concordo. Faço o que ele explicou, mas não deu muito certo, quem
caiu fui eu.
— Você tem que agachar com uma perna só, me puxando de uma vez, tenha
medo não.
O olhar dele é tranquilo e confiante, me passando a mesma coisa. Eu realmente tô
com medo de machucá-lo se fizer errado.
Tentamos algumas vezes até que faço direito, ele cai e recebo um beijo. A cada
golpe que eu acerto, recebo um, uma bela recompensa.
Resolvemos fazer outros golpes de imobilização e chaves de braço; aprendi
alguns, que acredito serem válidos, com certeza sentirei um pouco mais de segurança ao
andar na rua.
— Agora passe a perna por cima da minha coxa e prenda no meu quadril — ele
explica.
Eu tô deitada e Murilo agachado, me ensinando um outro golpe. Olho pra ele, que
tá um pouco suado, mas ainda gostoso. Nossos quimonos já estão fora do lugar.
Murilo chega mais perto, colocando minha mão na sua lapela, me segurando pela
cintura. Estamos muito próximos, principalmente agora que forcei e prendi as pernas
como mandou.
—Pode me puxar — pede e eu obedeço, deixando nossos rostos próximos. Ele tá
sustentando seu peso ainda.
Vejo ele sorrir satisfeito com a aproximação toda. O clima não tá mais esportivo,
pelo menos não da minha parte, tendo ele perto, segurando agora pelas costas. Tá mais pra
Kama Sutra que judô isso aqui.
— Esse golpe não existe, né? — pergunto, percebendo o que ele aprontou.
— Não assim — nega, sorrindo.
Safado! Ele não espera resposta e me beija quente, me segurando pelo pescoço
pra aprofundar ainda mais. Murilo é terrível!

MURILO
— Pensei que não viria, seu mala.
Christian é o primeiro a me ver quando chego com Alexia no aniversário do seu
filho. Alie estava receosa por vir, mas tá com um sorriso no rosto. Cumprimentamos todos
e apresentei cada pessoa a ela. Faço cara de convencido pros caras que estavam no desfile
e ficam de deboche pro meu lado. Me sinto fodão sim!
— Estão juntos, né? Finalmente! — Luísa diz.
Olho pra ela com as sobrancelhas arqueadas. Já tá tão petulante quanto o marido.
O único que salva é Igor, pelo menos assim espero.
— Eu ainda acho que ele é gay. — Anderson graceja e todo mundo ri.
— Vai achando! Cadê o moleque?
Alexia dá um risinho, provavelmente pensou alguma besteira que fizemos. É, eu
tirei uma sorte grande da porra!
— Pera aí que vou chamar. — Christian sai atrás do filho.

ALEXIA
Confesso que tô um pouco nervosa pra conhecer os amigos dele. Vai que eles
eram muito amigos da ex, tomam partido e não me tratam direito? Sei lá.
Pelo que me contou, ficou com a tal da Camila por uns cinco meses. Isso com
certeza foi tempo o suficiente pra eles se apegarem e terem uma boa amizade.
Sento na mesa, sorrindo, junto com Murilo. Os outros dois homens que vi na
reunião estão aqui.
— Está de quanto tempo? — pergunto à Mariana, que tá grávida.
— Vinte e nove semanas — ela responde, com um sorriso singelo.
— Ah! — Sorrio pra socializar, porém ainda não sei com quantos meses ela está.
Nunca entendi essa coisa de semanas, mas nada me surpreende, porque uma vez
perguntei a uma colega sobre a idade do seu filho e ela respondeu: trezentas semanas. Até
hoje não sei a idade do garoto.
— Aqui ele. — Christian volta com um menino.
— E aí, parceiro? — Murilo cumprimenta com um toque na mão.
— Oi, tio. — Ele sorri.
Murilo pega o garoto no colo e entrega o presente que comprou. O menino
agradece e Murilo me apresenta a ele. Dou-lhe um abraço, parabenizo-o e entrego meu
presente.
— Ela é linda, tio. Vou roubar pra mim. — Olha pra mim com um sorriso
galanteador.
Gargalhamos juntos por causa da espontaneidade dele.
— Roube que eu tomo seu presente — Murilo ameaça e ele nega, segurando a
embalagem.
Ele volta a correr pra brincar enquanto começamos a conversar e a nos conhecer.
— Aí, Murilo, Igor é mais homem que você! — Daniel debocha e todos riem.
— Fale isso quando ele estiver beijando sua filha! — Murilo debocha de volta.
— Deixe Bibi fora, idiota! — Fecha a cara e todos gargalham.
— Mas foi ela mesma que disse que ia ser namorada dele quando crescer… —
Christian coloca mais lenha na fogueira.
— Fique na sua, Cristian, se ele chegar perto eu capo esse amendoim que ele tem
entre as pernas. Você ainda vai ter uma menina. E você também, Murilo — Daniel
resmunga, ainda contrariado.
— Ainda bem que meu bebê é menino. — Anderson tira o dele da reta.
Cristian gargalha com Anderson e Murilo, deixando Daniel com cara mais
fechada.
— Pensa em ter filhos? Sente vontade? — Luísa me pergunta, curiosa.
— Por agora não. Acho que daqui a uns três anos, quem sabe?
Nunca parei pra pensar em ter filhos. Murilo e eu começamos a namorar ontem,
literalmente. Está tudo recente. Passamos a tarde conversando e comendo. Eles são muito
alto-astral. Toda hora um fazia uma piadinha com outro e foi muito legal. Todos eles são
bem divertidos.
Depois de jantarmos em casa e ficarmos em um amasso gostoso no sofá, Murilo
decide ir embora, pra minha infelicidade. Tento persuadi-lo, mas ele foi firme em dizer
que amanhã nós trabalhamos e eu tenho que estar descansada. Pra ser sincera, eu preferia
dormir cansada!
Ele ainda esqueceu uma peça de roupa aqui. Se fosse com qualquer outro
namorado eu guardaria pra devolver, como já aconteceu; eu não gostava que Diego
deixasse roupa aqui, pois, se eu deixasse, quando eu menos esperasse estaria tudo dele
aqui dentro e ele trazendo mais pra eu lavar. Deus me livre! Mas a roupa do Murilo eu não
sinto vontade nenhuma de devolver, ao contrário, pego pra mim.
Tiro a roupa de dormir que eu tô usando e visto a camisa dele, que ainda tá com
seu cheiro maravilhoso. Suspiro feliz e com a sensação de aconchego.
16
ALEXIA
Checo o celular e vejo que são 6h20. Bem que hoje deveria ser feriado
prolongado até as minhas férias! Vejo uma mensagem do Murilo, enviada há quinze
minutos. Abro curiosa e ao mesmo tempo bloqueio o celular rapidamente, mesmo estando
sozinha em casa. Ele é muito atrevido e safado!
Desbloqueio e olho de novo, analisando calmamente. Ele não me mandou nada
mais e nada menos que uma foto muito indecente marcando o pau na cueca, a única coisa
que ele tá usando, e vejo o contorno dos seus gominhos da barriga. Além dessa
mensagem, tem outra:
“Acordei pensando em você. Senti sua falta.”
Céus! Nem levantei da cama ainda e já recebi um tiro desses. Como ele consegue
ser imoral e fofo ao mesmo tempo? Analiso aquela foto e começo a pensar coisas
inapropriadas para o horário, e a ficar quente.
Até de longe ele me deixa desnorteada. Se ele quer brincar, vamos brincar.
“Se você quis me deixar desconcertada logo pela manhã, conseguiu. Também
senti sua falta. Do seu corpo quente me abraçando por trás, pra ser mais exata!” —
Envio, sentindo-me uma pervertida, e logo escrevo outra mensagem quando percebo o
horário. “vou tomar banho pra não me atrasar, daqui a pouco volto.” — Bloqueio o
celular e levanto da cama.
Eu coloco um vestido arrumadinho depois do banho. Meu celular apita em cima
da cama. Vejo que é mensagem dele. Clico já com um sorriso no rosto.
“Estou curioso para saber qual a cor da sua calcinha hoje. Aliás, pegarei uma
vermelha rendada da coleção nova. Quando vi, só pensei em você vestida e eu tirando”
Que tarado! Eu nem saí de casa ainda e ele vem mexer com meu psicológico
desse jeito.
“Se você tivesse dormido aqui, me veria vestindo uma.” — Sim, os dois podem
jogar o mesmo jogo. Eu não sou dessas, mas ele tira o pior de mim.
“Se eu estivesse aí você ainda nem teria vestido. Ou estaria no chão.”
Vou para a cozinha tomar pelo menos uma xícara de café antes de sair.
“Chega! Desse jeito não vou conseguir trabalhar. “— Estou pegando fogo. Ele
sabe como me deixar sem rumo.
“Mas já? Nem comecei.”
“Você vai me pagar por isso” — digito, sentindo um arrepio na espinha.
“Com gosto. Estou doidinho para pagar.”
Coloco minha xícara na pia, pego minha bolsa e as chaves.
“Já estou saindo. Beijos.” — Envio antes de trancar a porta.
“Bom trabalho, morena.”
Sorrio pelo apelido bobo que me deu. Apelido que ele usa desde que me
conheceu.
“Para você também, moreno.” — Envio com um sorriso estampado na minha
boca e desligo o celular, coloco na bolsa e saio.
Esse homem vai me fazer pagar por todos os meus pecados e eu vou amar pecar
cada vez mais.

Chego em casa e corro pra tomar banho. Dez minutos depois Murilo aparece, de
roupa social toda preta, muito, muito lindo. Não almocei com ele hoje, pois preferi me
encontrar com as meninas. Motivo: fofoca e saudade.
Contei do contratempo com Diego, da nossa conversa, minha e do Murilo, no
caso, do pedido e de como estou feliz, e elas se contagiam comigo. Natasha, fofinha como
sempre, disse que isso iria acontecer, era questão de tempo, só bastava “parar de
viadagem”.
Dou passagem e ele entra, mas antes, me imprensa na porta e me beija. Ele sorri
do jeito bonito pra mim e o cumprimento de volta. Deixo-o na sala se livrando do sapato
enquanto vou colocar a comida no micro-ondas.
Volto e encontro ele sem camisa e descalço, só de calça social, mostrando o
peitoral, o V maravilhoso e o relógio no braço com belas veias e com alguns pelos. Adoro
os braços dele!
Arqueio as sobrancelhas com a visão divina. Tenho vontade de esquecer a comida
e me jogar em cima dele, e assim faço, sentando nas suas pernas, sorrindo cheia de
intenção.
— Trouxe minha calcinha? — pergunto, desafiadora.
— A calcinha ainda não chegou. Assim que chegar, trago um conjunto com cinta-
liga. — Sua cara de safado não esconde nada que ele pensou.
— Já disse que você fica gostoso demais só de calça social? — pergunto,
agarrando seus cabelos.
— Já. E eu ainda quero saber a cor da sua calcinha — devolve, me deixando em
chamas.
Nesses joguinhos ele é o melhor, sabe como desestabilizar. E eu achando que
podia jogar com a mesma maestria.

MURILO
— Eu tô com preguiça de fazer qualquer coisa hoje. — Alexia, dengosa, quebra o
silêncio.
— Podemos ficar em casa hoje, pra variar.
A semana foi pauleira. Quase não vi Alexia, só um almoço que tivemos no meio
da semana, mas hoje eu quero relaxar com minha garota, do jeito que ela quiser.
— Pode ser, mas agora tô com uma ideia. — Seu tom muda completamente e a
vejo brincar com as mechas do seu cabelo, sentada na ponta da cama, de pernas cruzadas.
Cara de quem quer aprontar!
— O que você tá pensando, safada? — demonstro interesse.
— Já te falaram que você fica muito, mas muito gostoso de cueca, Murilo?
— Você gosta de me ver de cueca ou do que tem dentro da cueca? — Estico o cós
e coloco a mão na cintura.
— Safado! Digamos que gosto das duas coisas. — Manda beijo para mim.
Rio chegando perto dela e enfio a mão pelos seus cabelos, trazendo-a pra mim pra
dar um selinho.
— O que você tá pensando em fazer agora?
— Eu, você, um dia de folga…
— Tô gostando — eu interrompo e ela ri.
— Deixa-me fazer um ensaio seu de cueca? — Sorri lasciva pra mim, dedilhando
nas minhas costas.
— Eu, modelo de cueca, não sei…
— Sempre tive essa vontade. Digamos que é um ensaio íntimo, pra que eu possa
olhar quando estivermos longe. Por favor, vai! — Com olhos brilhantes, ela me pede. —
Pode ser meu presente de aniversário.
— Seu aniversário é somente na semana que vem! — Ela faz biquinho. — Tudo
bem, mas se cair na internet todo mundo vai me ver de cueca — titubeio e me rendo.
— Quem disse que eu quero que saibam o que eu tenho em casa? Mas aí, meu
caro, se cair, todos vão ver quão gostoso você é, e como sou uma mulher sortuda! —
Beija-me rapidamente e escorrega com maestria pra fora da cama. — Vou pegar minha
câmera!

ALEXIA
— Preparado? — Sorrio com mil e uma ideias para meu moreno, que está
naturalmente sexy observando o que eu vou fazer.
Ter uma câmera e nada pra fazer nunca foi tão atrativo num sábado entediante,
que acabou de ficar bom. Prendo meus cabelos, um coque no alto da cabeça, e dou um nó
na camisa de Murilo que eu coloquei depois do banho.
Camisa larga, calcinha e pés no chão. Isso é vida!
— Vai me ensinar a tirar umas fotos também? — nego com o dedo, sorrindo.
— A estrela hoje é você!
Rio mais uma vez, testando as configurações. O quarto está com uma luz ótima.
Adoro a luz do dia, nem precisou das girafas. Eu tenho muita tranqueira de fotografia e
quase não uso, mas agora achei um modelo excelente. Murilo continua a me olhar, e tiro
uma foto dele jogado na cama de qualquer jeito, esperando-me terminar o que estava
fazendo. Ficou uma delícia.
Ele vê o que eu fiz e ri, aproveito e tiro outra foto da espontaneidade dele. Ele
acaba entrando no meu joguinho, colaborando, fazendo mil e uma caras e poses, que
deixam meus joelhos fracos. A cara de tarado, o sorriso sedutor, a cueca volumosa, os
cabelos desordenados começando a encaracolar nas pontas, já que ele recém saiu do
banho. Ele está com o cabelo mais comprido do que quando o conheci. As fotos que eu
mais gostei são as que está mostrando os bíceps, apontando com a mão, piscando e
mostrando um sorriso safado. Exibido!
Subo na cama, fico de joelhos por cima dele, que, claro, faz baixarias, batendo o
quadril contra mim. Mas eu sigo meu objetivo de fazer um ensaio dele para o meu deleite.
Um ensaio particular, para que eu possa ver quando estivermos longe.
Tiro várias fotos, até ele trocar a posição, colocando-me por baixo, e tiro outra
dele gargalhando pelo meu grito. Cabelos ainda mais bagunçados e o pomo de adão
evidente, assim como seu peitoral. Saiu tremida, muito torta e sem foco, mas é uma foto
bonita, por ser espontânea.
— Faz uma cara de safado, moreno — peço.
Ele faz pose para outra foto, fitando meu rosto com cara de perverso, e eu por
pouco não ovulo ali mesmo. Ele desce o rosto e me beija sem língua, mas um beijo
gostoso.
Não me controlo e tiro outra dele mordendo os lábios, ainda me fitando. Olhar
com tesão, que ele faz quando estamos no rala e rola; estou surpresa por ter conseguido
captar isso, essa essência, essa eletricidade. Acho que eu encontrei a minha terceira foto
preferida.
— Chega de tirar fotos minhas, agora sou eu.
Ele puxa de qualquer jeito a câmera da minha mão.
— Não! — Eu levanto o tronco, rindo pra pegar de volta.
Ele olha o visor que acaba de mostrar como ficou e em seguida ri, mostrando-me.
Saiu embaçada e tremida, mas deu pra ver meu sorriso na metade da foto, sem
enquadramento, tentando fugir. Nunca gostei de fotos espontâneas, sempre acho que fico
esquisita, mas essa foto sem dúvida eu amei!
— Deixa-me tirar, vai. Eu também mereço fotos suas, além das que eu tenho. —
Ele continua a tentar tirar fotos minhas.
— Que fotos? — Franzo as sobrancelhas, curiosa.
— Digamos que não é só você quem gosta de tirar fotos pra ver depois. Tenho
uma coleção sua, a maioria dormindo comigo, outras comendo, outras distraída se
arrumando… — confidencia. — Também gosto de tirar fotos, fazer o quê?
— Eu não acredito, Murilo! — rio, incrédula.
— Eu gosto de tirar fotos suas porque você fica bonita distraída.
— Para de ser lindo e fofo, porra! — Trago sua boca pra perto da minha; ele
deixa a câmera de lado no criado-mudo pra me segurar e aprofundar o beijo.
— Eu não sou fofo, fofo é amaciante, homem que fode morno. Eu sou gostoso!
Mostra-se indignado tirando o rosto dos meus seios, onde tinha acabado de pôr,
olhando sério pra mim e eu rio pela resposta. Não existe ser humano mais convencido!
— É fofo sim!
Passeio minha mão pelo seu ombro como quem não quer nada e em seguida olho,
provocando.
— Ah, é? Desde quando fofo te come como eu te como? Fofo não deixa ninguém
bamba, nem te faz gritar e pedir mais, entendeu? Fofo é um feio arrumadinho, que não
sabe dar prazer!
Gargalho ainda mais pela sua indignação, mas ele segura no meu queixo pra que
eu olhe novamente.
— Entendeu? Sou gostoso, bom comedor, até carinhoso, mas não sou fofo.
Gemo em deleite morrendo de tesão por ouvir ele falar dessa forma, todo macho
alfa. Fito de volta seu rosto, ele suspende as sobrancelhas, me provocando, passando a
mão no meu corpo. Não existe pessoa mais engenhosa.
— Você é um atrevido, Murilo!
Ele abre um sorriso maior e zombeteiro. Realmente, é um atrevido abusado!

MURILO
— Tá a fim de dar uma saidinha, não? — proponho a Alexia, vendo-a vestir
minha camisa, cobrindo os seios.
Fizemos um sexo gostoso agora há pouco. Nunca achei que tirar fotos fosse tão
prazeroso. Minha morena tira muitas fotos boas, é talentosa. Ainda tiramos um cochilo.
Sentir os seios de Alexia desnudos no meu braço foi bom demais!
— O que você tá pensando? — Alexia fala de modo preguiçoso, se jogando na
cama novamente.
— Um jantar, não sei. Pra você não ficar resmungando que eu só levo você pra
programas não românticos — dou de ombros, propondo e vestindo a cueca. — Agora que
estamos namorando, pode.
— Hum! O que sugere?
— Não sei. Massas? Ou você pode escolher.
— Estou sempre disposta a comer massas.
— Fechou então?
— Fechou, parceiro! — Ela pula da cama e olho no meu relógio, rindo.
Agora são seis da tarde, provavelmente sairemos lá pelas 19h30, se eu a apressar.
Nunca vou entender essa mania dela se arrumar mexendo no celular. Demora horas pra
ficar pronta. E pior, metade do tempo é enrolada na toalha, fazendo não sei o que, e aí se
arruma correndo e resmungando que estou apressando.
Enquanto isso, vou assistir um pouco de tevê e rezar pra que dessa vez ela seja
rápida.
17
ALEXIA
Até ontem eu era a menina de dezessete anos que veio pra cidade tentar a sorte de
fazer a faculdade dos sonhos e que chorava nos primeiros meses com saudades de casa. E
hoje, estou completando vinte e cinco anos.
Namoro um homem que, para mim, é o mais perfeito e percebo que, às vezes,
somos errados para alguém na hora certa. Murilo me incentiva cada dia mais nos meus
objetivos, faz com que eu melhore como pessoa e me sinto tão grata em tê-lo na minha
vida… Ele é do tipo de pessoa que vale a pena manter por perto.
Saio do banheiro só de calcinha e sutiã, cantarolando a música que ouvi no rádio
ontem. Murilo ainda não deu sinal de vida, mas daqui a pouco ligo pra ele.
Grito assustada e dou um passo pra trás quando o vejo sentado na minha cama,
com as pernas pra fora e pose de macho gostoso, sorrindo pra mim. Oh, merda!
— Que susto, droga! Como entrou aqui?
— Tenho meus contatos. — Liz! Com certeza! — Vim te buscar. Aliás, tá gata
assim.
— Bobo.
— De bobas só tenho as mãos.
Eu o empurro na cama e jogo meu corpo em cima do seu; sorrio pra ele, que
retribui. Junto nossos lábios dando nosso primeiro beijo do dia.
— Feliz aniversário, morena, espero que eu consiga te fazer feliz tanto quanto
tenho sido por estar ao seu lado. Que tenhamos o privilégio de comemorarmos outros
aniversários juntos — ele murmura entre um beijo e outro, derretendo-me enquanto brinca
com o elástico da minha calcinha.
Realmente, de bobo só tem as mãos.
— Obrigada, lindo. — Murilo adora me deixar parecendo uma gelatina. — Você
consegue, como ninguém.
O beijo dele tá com gosto de café e isso me faz gemer de satisfação. Se café já é
gostoso, imagina na boca desse homem. Duas coisas que eu amo, juntas assim? É demais
para o meu coração.
Entrelaço meus dedos no seu cabelo e intensifico quando ele me puxa com as
mãos pra perto de si, mãos essas que estavam espalmadas nas minhas costas. Desce pra
minha bunda, por dentro da calcinha, e apalpa.
Mordo sua boca quando sinto minha calcinha recém-colocada umedecer. E ele
aperta com mais vontade, dando um gemidinho rouco que fode com tudo em mim.
Parece que tenho um botão do “safada on / off” e basta ver Murilo que o modo on
ativo.
Aperta minha cintura enquanto eu mordo sua orelha, colocando a mão por dentro
da sua camisa. Puxo pra cima de mim, trocando as posições, e mesmo ele sendo maior e
mais forte, vem sem problema nenhum.
— É melhor pararmos. — Murilo espalma as mãos no colchão dando ofegadas
que me arrepiam.
— Por quê? — Seguro na barra da sua camisa pra tirar.
— Tenho outros planos pra nós. — Alisa meu queixo com o polegar.
— Eu prefiro o que íamos fazer — falo com graça e dou um selinho nele.
— Safada, mas é sério.
— Quer me levar pra onde? — Coloco meu nariz no seu pescoço.
— Pensei em te levar naquele café bistrô. O que acha?
— Uma ótima ideia. Comida sempre me anima, já que não vou poder ter seu
corpinho.
Ele ri e fico contagiada. Fico empolgada pra irmos comer, pois amo o café bistrô
no qual vai me levar, e tento sair do abraço, mas ele continua me segurando. Arqueio as
sobrancelhas e ele aponta para o criado-mudo que tem uma pequena sacolinha de presente.
Nem percebi, só enxerguei ele.
— Seu presente.
Sorrio pra ele como uma criança e ele me solta. Arrasto-me e seguro a sacola. Eu
devo estar com cara de tonta, aposto. Sento na cama, do seu lado, e vejo que tem uma
caixa de veludo dentro da sacolinha.
Encontro uma correntinha quase transparente com um pingente e uma pedrinha
brilhante. O colar em si, é delicado, romântico, discreto e fofo, e dá a impressão de que a
pedra está presa a nada.
— Gostou?
Viro-me pra ele e sorrio verdadeiramente.
— Eu amei! É lindo. Coloca em mim — peço enquanto me viro, empolgada.
— O nome do pingente é ponto de luz, é um símbolo de sorte pra quem usa e
busca harmonia interior. Dizem que ele consegue trazer proteção — explica enquanto põe
o colar em mim. Termina e me dá um beijo na nuca. — Pelo menos foi isso que a mulher
me disse quando fui comprar.
— Que lindo. Nunca ganhei um presente meigo desse jeito — confesso e ainda
estou encantada por ele ter sido tão lindo. Dou-lhe um beijo como forma de
agradecimento.
— Tenho outro, mas só vou entregar mais tarde.

Apesar de o meu dia estar agradável, tô me sentindo um pouco pra baixo. Meus
pais e as meninas ainda não me ligaram. Na verdade, Murilo foi a única pessoa importante
a me parabenizar até agora, ele e Ísis, pois é nossa tradição sempre sermos as primeiras,
ela me ligou de madrugada. As meninas sempre me ligam pela manhã, assim como meus
pais, mas até agora nada.
Murilo, não contente com o colar, comprou um vestido pra mim. Ele quem
escolheu, mesmo estando do lado. Aliás, me fez ir para o provador milhões de vezes até
ele gostar de um. Até as vendedoras pararam pra observar o que ele pretendia fazer,
entretanto ele não se abalou. Pois é, a cara de pau dele não tem limites mesmo.
— Por que essa carinha? — questiona.
— Não é nada de mais. Acho que esqueceram do meu aniversário — faço um
biquinho triste.
— Não fica assim, até o final do dia eles ligam. — Beija minha mão.
— É, tomara — sorrio, olhando meu relógio, tentando despistar o incomodozinho
de terem me esquecido. Ou estão ocupados demais para ligar.
Rodamos o shopping até escurecer e ele me levar de volta pra minha casa.
Segundo ele, vamos sair pra jantar. As meninas realmente não me ligaram. Murilo disse
que talvez estejam ocupadas com alguma coisa, mas tô chateada porque, por mais ocupada
que elas estivessem, não teriam tempo de mandar uma mensagem? Assim como meu
irmão e meus pais.

— Põe o que eu te dei hoje. — Murilo propõe, já arrumado. — Aliás, é seu


também.
Entrega-me uma segunda sacolinha, abro empolgada e vejo que é um conjunto de
calcinha e sutiã rendados. Suspendo os olhos e o flagro sorrindo indecentemente, com o
mesmo nível de indecência que o conjunto possui.
— Use hoje, por favor. — O tom que ele usa é totalmente sacana.
— Não sei pra que, pois ficará me cozinhando a noite toda e não vai consumar —
arqueio as sobrancelhas, desafiadora.
— Será mesmo?
Murilo chega mais perto, me deixando afoita, mas apenas beija meu pescoço e se
afasta, rindo. Abusado!
— Você me paga!
Eu me arrumo enquanto ele vai em direção à sala, mexendo no próprio celular.
Ele, como tem roupa aqui em casa, arrumou-se e tomou banho por aqui mesmo, pra não
precisar ir em casa. Confesso que tá gatíssimo como sempre. Aff! Termino de me
produzir, passo um perfume e ele aparece no quarto.
— Pronta? — questiona, chegando perto.
— Sim.
— Tenho mais uma coisa pra você — ele fala, colocando as mãos nos bolsos.
Pronto! Ele ganhou cem por cento da minha atenção e curiosidade.
— Aqui. — Tira uma caixinha do bolso e abre. — Terceiro presente do dia.
— Quarto — corrijo.
Vejo que são dois anéis. Um simples e outro com várias pedrinhas em cima.
Arqueio as sobrancelhas, surpresa, com o coração acelerado. Dou minha mão pra ele pôr.
— Comprei ontem, quer?
— Sim! — Ele abre um sorriso e coloca no meu dedo. — Eu amo seu lado
romântico — confesso, encantada, olhando para o anel no meu dedo.
— Se você acha que colocar um anel pra todo mundo ver e saber que você tem
alguém, é romântico… — devolve com a maior cara de pau.
Adoro esse jeito dele, ele sabe ser atrevido e atencioso ao mesmo tempo. Encanta
demais!
— Cretino! Eu achando que era fofura da sua parte e você marcando território —
sorrio com a confissão descabida dele.
Pego meu celular e as chaves, e saímos em direção ao carro.
— Vamos jantar onde? — questiono no caminho.
— Naquele que te levei — diz, atento no trânsito.
O restaurante a que ele se refere é o que jantamos quando ele me buscou do
trabalho, antes de transarmos pela primeira vez.
— Vou passar em casa primeiro — comenta.
— Pra quê? — Franzo as sobrancelhas.
— Esqueci o outro cartão lá.
— Usa o meu então.
— Não precisa — simplesmente responde, sem tirar os olhos da pista.
Dou um muxoxo descontente, mas ele não se abala. Continua focado no trânsito.
Ele para o carro em frente à sua casa. Eu quis ficar, mas acabei indo com ele.
— Por que não ficamos aqui e pedimos comida? — digo, com segundas
intenções. — Ficarei satisfeita com isso e iria amar ter seu corpinho como presente, já que
me negou pela manhã. Tá regulando demais.
— Fica quieta, mulher — ri, apertando-me com um braço.
Rio com ele, destranca a porta e dá passagem pra eu ir na frente. E quando
acendo as luzes…
— SURPRESAAA! — gritam em coro.
Minha única reação é me assustar, dando um passo pra trás, batendo-me no
Murilo que tá atrás de mim gargalhando, e me segurando pelos dois braços pra eu não cair.
Estão todos aqui, meus pais, James, Ísis e meus sobrinhos, Liz, Nat, Téo e os amigos de
Murilo, que já conheço.
Continuo congelada no lugar sem saber como reagir a isso. Nunca tive uma festa
surpresa!
— Eu não acredito! — exclamo eufórica, vendo minha família.
Olho pra trás e vejo Murilo sorrindo e apontando com o queixo pra eu entrar;
sorrio e entro com ele. Meu irmão é o primeiro a me abraçar e desejar parabéns. O abraço
dele é quente e acolhedor, como o do meu pai. Ele me solta e minha mãe me agarra
fortemente, quase me fazendo chorar de saudade. Retribuo com o mesmo sentimento.
Tem momentos que eu tenho vontade de chorar de saudade aqui sem eles.
Entramos e meu pai logo me abraça apertado, assim como minha mãe e Ísis, que me
apertam forte e desejam parabéns novamente.
Liz vem na minha direção e me abraça forte, me fazendo apertá-la ainda mais e
agradecer. Em seguida Nat aparece e me dá os parabéns também, do jeito escroto que só
ela sabe.
Apresento formalmente Murilo para a minha família. O pessoal rapidamente se
espalhou e começou a conversar. O falatório na sala tá alto e Liz me chama pra rodinha,
gargalhando.
Fui ver o que as meninas queriam e era pra eu ver o vídeo da minha reação de
surpresa. Eles me pagam! Tinha que ser Natasha a gravar essa merda.
Bebemos enquanto conversamos. Saio com Ísis pra cozinha, pra pegar mais
bebidas, e vejo vários salgadinhos e um bolo redondo, não muito grande, com as velas
simbolizando os vinte e cinco anos, no topo.
— Vão pra casa hoje não, né? — Pego um salgadinho pra mim.
— Não. Fica tarde.
— Vão lá pra casa com meus pais, fico aqui com Murilo — dou de ombros.
— Estender a noite, né, safada?
Arqueio as sobrancelhas sugestivamente. Rimos e Murilo aparece. Olho pra ele e
sorrio, ele retribui automaticamente. Deixa um selinho rápido na minha boca, abocanha o
salgado que estava na minha mão e sai inabalável, nos deixando sozinhas de novo com
uma latinha na mão.
Voltamos pra sala e bebemos enquanto conversamos e comemos. Eu me divirto
com as meninas e Murilo vem pro meu lado, me enlaçando pela cintura. Olho para meu
moreno dos olhos escuros, que tem barba de homem feito, mas mantém um sorriso de
menino e descarado ao mesmo tempo, que encharca calcinhas, principalmente a minha.
Como pode ser tão gostoso?
O jeito que ele me olha me faz sorrir de um jeito bobo. Sinto-me especial como
nunca.
— Quero um beijo — peço baixinho só pra ele ouvir.
Ele segura na minha nuca, ainda me apertando pela cintura, e me beija
carinhosamente, mas quente e gostoso do jeito que ele sabe, sem se importar com plateia.
O beijo tem um leve gosto de cerveja. Eu me controlo pra não gemer enquanto
ataco sua boca, sentindo sua língua me deixar um pouco molhada lá embaixo, de um jeito
que eu julgo discreto. Tô de uma forma que qualquer coisa já me esquenta. Ele tá me
regulando há três dias, por isso ontem ele dormiu em casa. E olhe que não foi por falta de
tentativas da minha parte.
— Mais tarde, prometo — sussurra e percebo que tá arrepiado.
Me separo do Murilo, sem ar, antes de ficarmos empolgados, e olho ao redor
enquanto passa a barba no meu pescoço, de leve, me arranhando e arrepiando. As pessoas
estão conversando e bebendo normalmente, menos James, que me observa enquanto
abraça Ísis. Ambos com caras de deboche. A diferença é que Ísis não controla o sorrisinho.
A convivência é tanta que eles têm as mesmas manias e expressões.
Rio pelo flagra, e coloco minha cabeça no ombro de Murilo, que depois de dar
um beijo no meu pescoço, vira pra trás pra saber do que eu ri. Ele suspende o copo pra
James, que faz o mesmo. Vira-se novamente pra mim e me presenteia com um sorriso.
Minhas pernas não funcionam como antes.
No final dos parabéns eu já estava chorando e sorrindo ao mesmo tempo, vendo
aquele carinho todo que tiveram comigo. Agora entendi o que as meninas quiseram dizer
com relacionamento abusivo. Um relacionamento saudável nunca vai exigir que se
sacrifique seus amigos, seus sonhos ou a sua dignidade.

— Obrigada por trazer meus pais pra cá. Eu amei cada minuto. — Coloco minha
cabeça no seu ombro enquanto me abraça de modo protetor. Não espero mais nada. Dou-
lhe um beijo ardente em puro e sincero agradecimento.
Murilo aperta minha bunda por baixo do vestido; vou um pouco pra frente e
gemo contra sua boca, continuando a beijá-lo.
Puxo sua camisa pra fora e seguro no seu tronco. Ele me segura pelas pernas, me
carregando pro quarto enquanto nos beijamos.
Fecha a porta e me imprensa na parede. O corpo treme quando sinto ele animado,
pronto pra mim. Suspiro, soltando sua boca pra pegar fôlego.
Preciso nem dizer como eu e minha calcinha estamos, né? Ele tira meu vestido,
assim como meu sutiã, e chega mais perto, nos deixando ainda mais colados e voltando a
me beijar. Geme puxando meus lábios. Joga-me na cama, ficando por cima, me deixando
entre suas pernas. Ele é tão sexy!
— Sabia que essa calcinha combinaria com você. — Sorri, satisfeito.
Ele desce deixando um beijo no meu pescoço e queixo, percorrendo os meus
seios, arranhando e arrepiando meu corpo por causa da barba.
Pega um dos meus mamilos com a boca, suga e lambe um com voracidade
enquanto massageia o outro. Gemo arqueando um pouco as costas e agarrando os seus
cabelos.
Murilo vai beijando minha barriga enquanto alisa minhas pernas. Contraio a
barriga e pressiono o calcanhar na cama, segurando os cabelos dele como se fossem minha
salvação, mas ele simplesmente me gira de costas pra cama e distribui beijos no meu
pescoço; fico mole, anestesiada e mais arrepiada. Ajeito o corpo um pouco ansiosa pelo
que está por vir. Estou arrepiada.
— Relaxe e aproveite o momento — ele sussurra no meu ouvido.
— Humm — gemo com todos os meus sentidos em estado de alerta.
Começa a acariciar atrás das minhas orelhas suavemente e distribui beijos no meu
pescoço. Continua a deslizar os dedos pelo meu braço enquanto, com o polegar, faz uma
pressão na minha pele. Ele me beija sem pressa, apenas me arrepiando.
— Seus cabelos têm um cheiro maravilhoso. Amo quando você dorme aqui e
deixa esse cheiro no travesseiro — sussurra, divagando, e continua a distribuir beijos no
meu pescoço e a passar a mão calmamente perto daquela área, descendo.
Fico sem ar com a confissão e a sensação dos beijos na minha área sensível.
Minhas costas são muito sensíveis, e pelo jeito ele já percebeu, pois vai e volta
ali. Segue para minhas coxas colocando a mão no meio e eu contorço, gemendo. Faz uma
pequena massagem ali e me vira de frente.
Olho para ele, que me devolve o olhar. Na verdade, ele me devora com o olhar,
em uma promessa silenciosa do que vem pela frente. Abaixa a boca perto da minha e me
beija intensamente, de um modo instigante, mas carinhoso.
Passeia os dedos suavemente pelo meu queixo e passa a mão nos meus seios, sem
chegar nos mamilos, enquanto me beija no pescoço. Gemo me sentindo cada vez mais
molhada. Ele continua a passear a mão carinhosamente pelo meu corpo, me deixando
entregue.
Finalmente parece que vai dar atenção onde eu quero, mas passa direto e sobe de
novo para minha barriga. Faz o caminho de beijos suaves do umbigo até meus seios.
Contraio o corpo e seguro os seus braços. Estou transbordando. Puxa minha calcinha,
pondo um dos meus pés no próprio ombro.
— Preparada?
Antes de eu assimilar as palavras ele começa a passar a língua suavemente.
Estremeço com a respiração pesada. Sinto passar a língua molhada no local que já está
encharcado. Ele beija toda a área como se fosse minha boca, totalmente safado, tirando
meu fôlego e juízo.
Suspiro gemendo e apertando os olhos, sentindo a sensação que está me
proporcionando. Arqueio as costas e puxo o cabelo dele sem dó, enquanto faço uma
pressão no ombro com meu pé.
Ofego me contorcendo na cama, me sentindo mais molhada que qualquer outro
dia. Ele está caprichando nas lambidas e beijos. Sinto o orgasmo se formar cada vez mais
rápido dando pressão embaixo, junto com a língua de Murilo, mas cada vez que ele
percebe isso, desacelera, retardando o momento.
— Não estou aguentando mais — falo, muito excitada, mas sai como um
sussurro.
Estou com os sentidos elevados a mil, parece que vou desmanchar a qualquer
momento. Murilo para, tira o short e em seguida a cueca, mostrando tudo aquilo. Volta na
minha direção engatinhando e me beija.
— Aguenta ou não?
Sorri sacana para mim. Não o respondo, apenas o beijo com a mesma fome. E
assim, ele penetra de vez, profundamente.
O sexo está intenso, forte e quente. Gostoso além do limite, ele está caprichando.
Aumenta a intensidade ainda mais e depois diminui, rebolando gostoso. Abraço ele com as
pernas para ir mais fundo, agora ele se movimenta carinhosamente, porém de forma
bastante intensa. Ele entrelaça nossas mãos enquanto vai e volta e eu só consigo gemer.
Intercala beijos entre a minha boca e o meu pescoço. Sinto-me no céu com cada
beijo que recebo. O beijo é quente e gostoso, assim como a forma como ele se movimenta
em cima de mim enquanto me aperta e ofega rouco, bem próximo ao meu ouvido.
A forma como me toca deixa tudo mais aflorado em mim, urgente e desesperador.
— Maravilhosa! — Ele me olha nos olhos de uma forma tão quente quanto meu
corpo. — Feliz aniversário!
Sinto sua respiração cada vez mais ofegante sobre minha pele, me deixando
arrepiada. Gemo baixo no seu ouvido, agarrando seus cabelos. Ele ofega enquanto soca
devagar, mais gostoso e intenso. Sinto-me dissolver embaixo de Murilo e ele continua até
chegar ao ápice.
Esse foi o melhor aniversário da minha vida! Não reclamaria se fizesse
aniversário todos os dias.
18
ALEXIA
Reuniões e mais reuniões de brainstormig. A agitação começou e não tem
previsão de tranquilizar. Tem época que, por mais que trabalhe, sempre estarei atolada e
com pendências. A agência na qual trabalho está crescendo no mercado em uma
velocidade impressionante e isso significa muito mais trabalho. Só para o final da próxima
semana tenho três campanhas de reposicionamento de marca, com direito a nova
identidade visual. E são três marcas famosas, pilares da empresa. Fora os trabalhos
menores de época. Muita pressão!
Murilo está tão atolado quanto eu, resolvendo as papeladas da última reunião, que
voltaram para ele rever. A nossa frequência de visitas baixou um pouco, apesar de nos
falarmos por mensagem. Esse último final de semana não deu para fazermos nada, pois
trabalhei no sábado e domingo. Fiquei me sentindo mal por estar um pouco ausente,
mesmo ele estando tranquilo e me fazendo companhia numa parte do domingo.
Tudo o que eu mais quero nesse momento é esquecer tudo isso e ficar com
Murilo. Estou morrendo de vontade de ter um jantarzinho calmo com ele e depois um
resto de noite gostosa e sem complicações.
Volto para minha mesa, guardando a paleta de cores da pantone, pois Téo e eu
estávamos decidindo a tonalidade que colocaremos na paleta de identidade visual do
cliente.
Estou pronta para ir embora, finalmente. Só quero atravessar a porta de saída e
esquecer que proporção áurea e grid existem.
Quero me redimir com meu moreno indo ao seu trabalho para que voltemos
juntos, fiquemos juntinhos e recompensemos essas duas semanas péssimas.
Como meu carro está na revisão, peço um Uber. Ele ainda está lá, pelo horário.
Faço meu caminho quieta para descansar a cabeça. Murilo faz uma falta enorme
na minha rotina. Tem três dias que não dormimos juntos e sinto falta dos braços dele em
torno da minha cintura, como um abraço de urso, e dos seus beijos fogosos. Sem contar
que também sinto falta do cuidado dele de fazer e tomar café comigo de manhã, de me
abraçar para dormir.
O carro chega no meu destino e desço, depois de pagar e agradecer. Chego no hall
e o encontro debruçado de lado, no balcão da recepção, junto de três pessoas,
conversando.
Antes analisemos Murilo: camisa social grafite dobrada, anel que faz par com o
meu, reluzindo, e calça preta com seu porte de homem gostoso, mas no meio de tudo isso
tem uma oferecida perto dele me deixando muito incomodada. Você deve estar se
perguntando por que ela é oferecida, se eu estou meio de longe? E eu te respondo: nós
mulheres sempre sabemos quando a mulher quer seu homem ou quer só amizade. E sim,
ele é meu homem.
Pela forma como ela está se insinuando e tocando seu braço, a cada dois
segundos, eu percebo que não é amizade, confraternização ou sem querer. Ela está se
jogando pra ele, descaradamente.
Pelo jeito eu fico ausente três dias e já tem candidata. E sabe o que mais me deixa
aborrecida? Murilo não faz nada! Não a afasta! Não manda ela parar! Só fica ali, como se
nada estivesse acontecendo, deixando-a tocar no seu braço e sorrindo para o que ele fala.
E pior, ela é bonita, loira, bem vestida e maquiada. Parece modelo da Vogue e me
sinto minúscula, e não é de altura.
Eles são próximos a ponto de deixá-la tocar nele assim e não se importar? Que
grau de intimidade é esse?
Faz alguma coisa, Murilo! Caramba!
Eu estou muito, mas muito perturbada com essa cena. Traz à tona muitos
sentimentos até então adormecidos, muitos pensamentos ruins e questionamentos que eu
não quero dar corda, mas é impossível não pensar.
Decido virar para ir embora, mas ele me vê e acena com a mão, sorrindo. Só
queria ir embora e trazer a Alexia segura de si debaixo de tapas novamente.
Ele aperta a mão de todos, dá dois beijinhos na mulher e fico mais zangada. Estou
com uma sensação muito ruim no peito, angustiada com essa intimidade toda.
Murilo chega perto, beijando minha testa e me abraçando forte. Em beija meu
pescoço e não retribuo.
— Veio me buscar, foi? — sorri, me segurando pelo ombro.
Saímos em direção ao seu carro, no estacionamento, e entramos. Continuo calada
a metade do caminho, martelando tudo isso. Eu não gostei do que vi. Estou muito
atormentada e insegura com essa pequena cena. E tenho vontade de voar em cima do
Murilo por ele não ter feito nada e ter agido como se estivesse tudo bem.
— Vamos lá pra casa, né? — quebra o silêncio.
— Eu vou pra minha casa, não tô muito bem hoje — respondo de olhos fechados.
— O que você tem? — o tom é de incompreensão.
— Coisa minha.
O carro volta a ficar silencioso, mas o clima não está muito bom. Fecho os olhos
quando ele avisa que chegou, mas estacionou na casa dele e não na minha, como pedi.
— Por que me trouxe pra cá? — Desço do carro junto com ele. — Eu disse que
queria ir pra casa.
Ele me puxa pela cintura, e me imprensa na porta do motorista.
— Porque eu estou morrendo de vontade de você — a voz rouca carregada de
tesão me arrepia, mas eu estou muito chateada.
Viro o rosto, não querendo aproximação, e ele me olha com as sobrancelhas
franzidas.
— Por que tá assim, afinal? — pergunta, intrigado.
— Porque eu tô chateada, Murilo. Ela praticamente estava se jogando em cima e
você ainda a beijou no rosto, na minha frente! Então, não me toque! — bufo irritada e o
afasto.
— Ela quem? Eu fiz o quê?
Reviro os olhos. Vai se fazer de desentendido agora, a madame?
— Se pra você tá tudo normal não tem o porquê eu dizer! — elevo um pouco a
voz.
Tudo isso é uma merda, sempre essa sensação de que serei substituída a qualquer
momento, que nunca será suficiente o que eu sou e faço. Eu realmente tô muito mal. De
repente não me sinto boa o suficiente pra Murilo. E eu odeio isso! Eu me odeio por ficar
sempre dessa forma!
Continuo com o meu semblante carregado. Na verdade, eu tô mais magoada e
insegura do que qualquer outra coisa.
— Quer me contar direito? — põe as mãos na cintura, me fitando sério.
Eu odeio bancar a namorada ciumenta, não quero ser uma namorada paranoica
porque eu sei quão tóxico isso é, entretanto, o medo de a história se repetir em tão pouco
tempo cutuca algo em mim que eu não consigo simplesmente olhar pra situação com
tranquilidade. É muito ruim me sentir assim. Tento evitar, mas, porra!
— Eu cheguei lá super feliz pra te ver e vejo uma mulher te tocando, cheia de
intimidade, e sabe o que me deixou mais irritada? Você deixou! — respondo, indignada.
— Se você não a afastou, então estava gostando!
— Não estava! Estava conversando, fazendo média com eles, pois são da
empresa, ela estava lá na reunião do outro estado, fui simpático.
— Não foi o que pareceu. — Sinto meus olhos arderem.
Ele estica a mão pra me pegar pelo braço e, num reflexo idiota, encolho-me e me
protejo, percebendo o que eu fiz assim que ele para a mão no ar, intacto. Droga!
Meu corpo acostumado a tomar apertões antigos, a cada briga que eu tinha, achou
que eu iria ser machucada de alguma forma novamente, então reagiu antes mesmo de eu
perceber o que estava fazendo. Está vendo que situação bosta?
— Eu não iria te machucar — ele diz, com uma voz desconcertada e calma.
Odeio esse olhar que ele faz, pois fico me sentindo uma coitadinha e detesto isso.
Eu me sinto ainda mais idiota.
— Eu sei… — Sinto algumas lágrimas escaparem dos meus olhos e limpo
rapidamente. — Não precisa ficar com esse olhar.
Por mais forte que eu tente ser, sempre vou parecer uma fraca. Odeio tudo isso!
— Desculpa. Vem aqui, se for sua vontade — pede baixo.
Ele abre os braços e eu vou, meio relutante por ainda estar brava, mas quero o
abraço. Murilo delicadamente me leva pra sentar no sofá, no seu colo, e fico com ele me
prendendo. Suspira e me olha com o semblante mais suave.
— Eu nunca machucarei você. No dia em que eu pensar na possibilidade, quero
que minha mão caia antes mesmo de isso acontecer. — Suavemente, ele alisa minha
bochecha e eu aceno. — Lorena é filha de um dos acionistas, foi lá acompanhar o pai,
apenas. Ela é espontânea desse jeito…
— Tá mais pra oferecida — corto o assunto e ele demonstra um pequeno sorriso,
mas recompõe-se rapidamente. — Ela estava se jogando pra cima de você. Não estava
sendo espontânea.
— Não se sinta ameaçada, porque não tem necessidade. Juro que nunca dei
brecha alguma pra ela, nem percebi que estava se jogando pra cima de mim, eu só queria
terminar o papo pra poder ir pra casa, estava até pensando em ir te buscar.
Murilo me aperta no seu colo e me sinto ainda mais tola. Esses sentimentos são
uma droga. Esse medo de ser substituída a qualquer momento me sufoca.
— Eu me sinto uma idiota. Tenho medo de te perder pra alguém mais
interessante, de você encontrar alguém melhor que eu! Eu sou insegura, já fui iludida,
traída, usada, enganada, tapa buraco, jogada pra escanteio, a maioria dessas coisas feitas
pela mesma pessoa, que confiei e me entreguei abertamente. Não estranhe meu ciúme por
coisa bobas, é que tudo isso me convenceu de que nasci pra ser insuficiente.
Suspiro, limpando meus olhos e a lágrima teimosa. Eu estou com uma sensação
horrível novamente, a insegurança é uma velha amiga e quando vem, se instala, não tenho
como expulsá-la ou simplesmente não a deixar entrar.
— Impossível, Alie. Olha o que você tá falando? Eu curto você pra caramba!
Para mim você é a melhor, e eu só vou embora se você me mandar, tá entendendo? Não
arredo o pé por espontânea vontade, porque não tenho vontade de ir.
Segura na minha nuca, levando minha boca pra perto da sua, tocando nossos
lábios apenas, sem beijos; fico com vontade. Suspiro, sentindo um certo reconforto,
mesmo que ainda insegura.
— Não é pra se sentir ameaçada, pra mim você é a mulher mais bonita e
interessante que existe. Sou doidão por você, doido, entendeu? Você é suficiente pra
caralho!
Aceno, concordando. Sentindo o carinho na minha bochecha e a sensação de
afago. Esse gesto aqueceu totalmente meu corpo. Gosto muito dessa sensação de ele
insistir em mim, de doar atenção.
— Desculpa a grosseria, é que estava criando paranoia e fiquei com raiva de
você, sou uma idiota que não sabe acabar com essa sensação ruim de vez, é que… —
Murilo me corta.
— Eu sei desses pequenos traumas e farei de tudo pra apagar essas marcas.
Aceno mais uma vez. Finalmente me beija e eu retribuo, matando minha vontade
da semana.
— Ei, morena… — Ele usa o maldito tom de voz que me amolece.
— Não faça isso! Eu ainda tô brava!
— Meu pau só quer você — sussurra entre os beijos.
Sua língua ávida toma posse da minha boca cada vez mais e aos poucos me sinto
mais envolvida naquilo, aproveitando e matando a saudade, coisa que eu queria desde o
início, pois merecemos.

Sábado chegou tranquilo. Depois que tivemos a pequena discussão, fizemos as


pazes e voltamos a ser o casal de sempre. Sem complicações. A diferença é que eu não
escutei ofensas pessoais, nem fiquei com roxos nos braços ou qualquer parte do corpo. O
nosso relacionamento está indo tão bem! Quero que esse fim de semana seja sem
preocupações.
— Ei, morena.
— Hum. — Abro os olhos depois de piscar algumas vezes e vejo que está
olhando pra mim.
Dou um sorriso fraco por ainda estar com sono.
— Sabe que hoje sou eu quem vai escolher o programa, né? — pergunta e me
deixa na posição de conchinha.
— Não sei disso, não — sacaneio um pouco. — Você perdeu essa chance ontem à
noite.
Ontem, quando chegamos do trabalho, resolvemos fazer uma noite de fondue e
vinho. Decidimos jogar canastra, mas claro que com Murilo nada é inocente, ele propôs
que quem perdesse tirasse uma peça de roupa.
— Sua mentirosa! — Ele vem pra cima de mim, me imobilizando. — Foi você!
— Você interrompeu o jogo quando tirei o sutiã, então tecnicamente eu ganhei.
— Olho desafiadoramente.
— Que atrevida! Assuma a derrota ou te amarro você na cama até dizer! — Ele
me aperta ainda mais.
— Então não digo mesmo! — Sorrio e beijo sua mão, que está entrelaçada na
minha.
— Sua safada! — Encosta ainda mais nossos corpos e me dá um selinho no meio
de um sorriso. — Ainda assim, preparei uma manhã legal pra nós.
— Hum. O que seria esse legal? Saltar de onde? Ou vai querer perder na corrida
de novo?
Murilo me olha novamente com as sobrancelhas arqueadas e faço o mesmo. Ele
me diverte tanto!
— Nenhuma dessas opções. Que tal uma exposição fotográfica? Soube que tem
uma essa semana.
— Não brinca!?
— É sério. Já comprei nossas entradas pela internet.
— Eu não acredito, Murilo! — Sorrio extasiada, beijando seu queixo.
— A exposição fica aberta das 9h às 18h. Devem ser 10h agora, vamos?
— Claro que vamos! — Fico mais empolgada.
Levanto da cama e corro para o banheiro, saltitando. Adoro eventos culturais,
pena que fui em pouquíssimos. Sempre perco as exposições que colocam no museu daqui.
O dia está bom, fresco e com um clima gostoso. Atravesso o corredor da cozinha
de Murilo, onde ele faz nosso café.
— Café ou suco?
— Cappuccino.

— Obrigada por me trazer — digo, quando estamos saindo da exposição. Amei.


A exposição foi muito legal e interessante.
— Não foi nada. Eu também gostei.
— Por que escolheu uma exposição se você nunca se interessou muito por
fotografia? — pergunto, já dentro do carro e virando minha cabeça no recosto.
— Porque você gosta. — Olho pra ele e sorrio pelo gesto de carinho. — Vamos
almoçar. Já são quase duas da tarde — ele me avisa.
— Por favor! Tô azul de fome! — Sinto minha barriga vazia.
— Bora pro shopping? Almoçamos por lá mesmo.
— Claro.
Passamos o resto do caminho em direção ao shopping conversando sobre a
exposição e as melhores fotos que vimos. Andamos no shopping tranquilamente e
seguimos em direção à praça de alimentação. Ele acabou indo pedir nossa comida, pois
aqui está cheio por ser fim de semana e eu tô guardando os lugares.
Eu me pego sorrindo boba com a mão nos lábios, vendo-o de costas apontando
para alguma coisa e falando com a atendente. Está se sobressaindo no meio de algumas
mulheres que estão na fila. Ele é do tipo de homem que você vê na rua e olha direito pra
ter certeza que é aquilo tudo mesmo. E confesso, sinto um ciúme absurdo dele, o que é
estranho, pois sempre fui “tanto faz” com meus ex-namorados. Nunca senti ciúmes de
nenhum deles, não como eu sinto com Murilo.
Murilo é muito bonito; atrevido e cretino, mas encantador. Adoro o jeito como ele
se porta, seu corpo e principalmente seu sorriso.

— Tem certeza de que não vai se chatear? — pergunto, receosa.


Lizandra ontem me chamou pra um programa, com as mesmas meninas que
conheci na cervejaria. E fiquei curiosa pra conhecer o lugar que elas marcaram, uma
boate. O sócio é namorado de uma amiga dela, da revista, que eu conheci no dia da
cervejaria. A festa será limitada e conta com uma DJ brasileira, que por nome eu não
conhecia, mas quando me disse quais eram as músicas dela eu soube e consegui ingressos
para as amigas dela e Liz me colocou no meio. Lizandra é bem relacionada, trabalhando
numa revista popular e com um cargo bom, o que mais ela faz é conhecer pessoas e
consequentemente ser convidada pra muita coisa; às vezes, programas caros.
— Por que eu iria? — Murilo tranquilamente pergunta, juntando as sobrancelhas.
— Vai com as suas amigas, né? Então!
Fico sem resposta. Realmente, por que ele iria se chatear? Murilo talvez não
ligue, mas antes não poderia sair sozinha pra boate com Liz num domingo à noite nem eu
sonho. Murilo não é ele, meu relacionamento é saudável. Eu tenho que lembrar disso a
todo momento. Algumas coisas continuam aqui, eu sigo acostumada com muitas coisas
que não me fazem bem, por mania.
— Eu não ligo, morena, pode ir. — Ele percebe que eu não reagi à sua pergunta.
— Mas tenho uma condição.
Vejo cruzar os braços, mostrando os belos bíceps desnudos. Vive sem camisa pra
me deixar babando.
— Qual? — pergunto já mandando mensagem pra Liz, dizendo que eu vou. E
suspendo meu olhar pra ele.
— Prometa que vai tomar cuidado, que não vai aceitar bebidas de estranhos e
nem beba demais, pra não acontecer nada com nenhuma de vocês. E qualquer coisa me
liga.
Sorrio sendo tomada por uma sensação gostosa de cuidado e carinho pelo homão
que eu chamo por meu namorado. Aceno, concordando, com um sorriso bobo na cara,
indo pra perto dele para beijá-lo. Cada dia que passa eu me sinto uma sortuda, Murilo não
existe!
— Você é muito amaciante, Murilo — rio.
— Hã?
— Já que não posso te chamar exatamente de fofo… — suspendo os ombros,
lembrando do dia que o chamei de fofo e ele ficou todo cheio de bico.
Ele ameaça levantar do sofá e eu corro, rindo, direto pro banho. Tenho uma hora
pra estar pronta, preciso correr e nem sei a roupa que vou usar ainda.
Enrolada na toalha e de cabelos secos, entro no meu quarto, encontrando Murilo
com meu armário aberto, com a mão no queixo, encarando algo lá de dentro.
— Tá fazendo o que aí, Murilo? — questiono, curiosa.
— Escolhendo uma roupa pra você. Não sabia que tinha tantos saltos — suspende
uma botinha cano curto preta e de salto que eu raramente uso. — Usa essa, morena.
Rio, indo me maquiar. Enquanto ele brinca de “monte meu look”, eu adianto
aqui. Meus cabelos estão secos, fiz isso no banheiro mesmo, agora é só usar o babyliss.
Esporadicamente, olhava pra ver Murilo se achando um verdadeiro fashionista,
me mostrando as peças de roupa que ele achava legais e perguntando se eu queria usar.
Fiquei completamente surpresa, pois a roupa que ele escolheu ficou bonita, eu me senti
sexy com o vestido de barra oval que ele escolheu. Achei que iria escolher uma roupa
mais comportada, abaixo do joelho, mas estava totalmente errada.
Queria dizer que: namorem com alguém que aumente sua autoestima, que elogie
a forma como você ficou na roupa que ele escolheu, e o melhor de tudo, que não implique
pelo fato de sair se divertir com as amigas, já que ele fará o mesmo. Vai jogar futebol com
um grupo de amigos do trabalho ao invés de ficar bravo por sair sem ele, ou simplesmente
brigar pra que não vá. Não percam tempo com pessoas que não movem um dedo pra tentar
se encaixar na sua vida, pois o sentimento de cuidado é bom demais!
19
MURILO
Trabalho do cão! Mas o bom é que estou com algumas novidades e doido pra
contar para a morena, por isso estou com planos de um jantar fora de casa. Está cheia de
trabalho, tadinha, sufocada. Toda pilhada e só escuto ela resmungar: “poxa, moreno, tô
cheia de trabalho”, “vê qual das opções você prefere”, “acredita que ele mandou eu
refazer?”, “eu queria pedir demissão!”, “Murilo, eu tô trabalhando, não desce o short!”.
Toda dengosa aquela morena gostosa. Cada dia que passa Alexia fica mais bonita
e a boca ainda mais convidativa. Cada dia que passa ela se torna uma Alexia ainda mais
atrevida e lasciva. Aos poucos ela está retomando a segurança que lhe foi covardemente
roubada.
Meu celular apita e apanho do bolso, vendo seu nome aparecer na tela. Parece
que tem sensor, basta eu pensar nela que se faz presente de alguma forma.
Você me busca, moreno? Estou sem o carro.
Sorrio. Não consegui ficar um dia longe. Dormi sozinho em casa e foi ruim
demais.
“Busco, mas quero algo em troca.” — Envio e destranco o carro.
Logo o celular apita novamente.
Qual sua proposta? Analisarei os prós.
Leio a mensagem e já imagino ela com seu sorriso lascivo ao enviar. Ela gosta de
provocar.
“Eu, você e orgasmos. Descobri uma posição nova, quero testar. ps: te deixo
escolher o lugar que iremos começar.”
Dou minha proposta e espero sua resposta, que não demora nem dois segundos.
Proposta aprovada, estou esperando.
Gargalho pela resposta. Alexia é provocativa demais. Ela escreveu antes mesmo
de saber o que eu falaria, certeza!
“Estou saindo, daqui a pouco te pego.”
Bloqueio o celular, ligo o carro e vou em direção ao seu trabalho. Esse final de
semana promete!

ALEXIA
Trabalho, trabalho e mais trabalho. Cheia de projetos novos, não vejo a hora de
chegarem minhas férias. Almocei com Murilo hoje e tive que refazer um projeto, o cliente
mudou de ideia. Às vezes eu tenho vontade de xingar todos eles, mas pelo menos estou
com sorte no amor.
Murilo e eu continuamos firmes e fortes, apesar de discussões normais, como um
casal comum. E descobri que sexo com raiva é bom em certos momentos!
— Que gostosa! O namorado dessa daí deve ter é sorte! — escuto uma voz
masculina enquanto estou descendo as escadas do hall.
— Tem mesmo. Ele é bem sortudo!
Enlaço o pescoço de Murilo enquanto rimos juntos. Só ele mesmo pra me saudar
dessa forma.
— Como foi o seu dia? — Sinto suas mãos quentes alisarem minhas costas.
— Um porre! E o seu?
Murilo segura na minha nuca e me beija, do jeito que ele sabe que me deixa mole
e elétrica ao mesmo tempo.
— Acabou de ficar bom. — Sorri e eu o acompanho. — Tô a fim de algo hoje.
Murilo não consegue ficar na monotonia.
— De que, por exemplo?
— Não sei. Vamos sair pra jantar?
— Onde? — Arqueio as sobrancelhas e dou mais um beijo rápido nele.
Sorrio segurando sua mão e saímos da frente do prédio, indo em direção ao seu
carro.
— Não sei, mas queria te levar pra comer fora, quero contar uma coisa.
— Seria uma boa irmos comer comida japonesa — proponho. — Você gosta de
sushi?
Paramos em frente ao seu carro estacionado.
— Como, mas sempre peço uma pizza ou hambúrguer depois, porque aquilo ali
não me satisfaz. — Dá de ombro. — Eu gosto de morder carne.
Murilo morde meu ombro e beija logo em seguida, mas a mão forte continua na
minha bunda.
— Então você escolhe. Tô morrendo de fome e quero saber o que você tem para
me dizer.
Estou morta de curiosidade!
— Vamos no japonês, lá eu conto. Tá cedo ainda, mais tarde podemos pedir
pizza.
Aceno, ele destranca o carro, abre a porta para que eu entre, e logo faz a volta.
Fizemos o caminho no clima gostoso, como sempre. Ele me contando sobre seu dia, sobre
quão bom está sendo a propaganda que fiz e como ele faz questão de contar para quem
aparecia que fui eu. É tão bom ter incentivadores dentro da própria casa!
Chegamos no restaurante, que não está tão cheio. Eu adoro o clima e o ambiente
dos restaurantes orientas, especialmente esse que ele me trouxe. Pensei exatamente nesse.
Ele até quis pegar uma das salas reservadas, mas preferi ficar numa mesa comum.
Amo a decoração que traz elementos da cultura oriental, lanternas japonesas,
ambiente meia-luz, velas na mesa, e sou apaixonada pelas louças típicas, principalmente
pelo copo quadradinho.
Murilo e eu bebemos um pouco de saquê depois de termos feito o pedido: uma
barca para nós dois.
— Tô muito cansada — comento.
— É? Eu estava planejando te dar uma canseira.
Reviro os olhos prendendo o riso. Murilo é terrível! Muito sacana!
— Talvez eu queira esse tipo de cansaço. — Arqueio as sobrancelhas. — Quer
me contar o quê? — Não aguento mais a curiosidade.
— Recebi e-mail, meus documentos foram aceitos. Querem conversar comigo de
novo, por isso preciso viajar. — Mostra-se eufórico e cauteloso.
— Que notícia maravilhosa, Murilo!
Não vou mentir, estou orgulhosa. Fico muito feliz por vê-lo conquistar suas
metas.
— E você vai quando? Deu previsão? Vai ficar quanto tempo lá? — bombardeio
com perguntas.
— Marcou pra final do mês. O tempo que ficarei lá não me disseram, no máximo
uma semana, uma semana e meia. Quero ir pra ver como tudo vai funcionar, como vai ser
a forma de retorno. A promoção tá garantida, vou mudar de cargo, conversei hoje com o
RH sobre o contrato.
Abro um sorriso de doer a mandíbula. E o sorriso dele é tão grande quanto o meu.
Que orgulho sinto do meu moreno! Muito obstinado, o que ele quer, ele pega. Atrevido e
decidido!
— Tô muito orgulhosa de você, nunca duvidei da sua capacidade.
A comida chega e eu devoro um dos sashimis. Faz tempo que eu não como
comida japonesa, e pior, eu gosto. Murilo cata um e come, fazendo uma careta por pura
implicância, mas come normalmente.
Adoro o molho e tempero agridoce e cream cheese. A primeira vez que comi eu
estranhei, foram as meninas que me levaram, mas depois fiquei com o gosto na boca, com
vontade de experimentar mais uma vez e comi sozinha. Agora tô sempre comendo quando
tenho oportunidade, mesmo não sendo muito fã do arroz, que acho muito grudento.
Apanho um makizushi, um dos meus favoritos, no hashi, e dou na boca de
Murilo, que mastiga e ri pra mim. Passa o polegar no canto da minha boca e lambe o
molho, bem sacana.
— Comer peixe cru com você é bom!
Já disse que amo o sorriso dele? É um sorriso descarado demais!

Em casa, em meio a projetos com prazos curtos, inclusive um deles para entregar
amanhã, decido ligar para os meus pais. Murilo está na correria com a papelada para
anexar em alguns documentos. Ficou de vir mais tarde para dormir comigo.
Estou com saudade dos meus pais, apesar de tê-los visto no meu aniversário. Faço
uma chamada de vídeo para minha mãe e espero ela atender. Conversamos por uns dez
minutos sobre coisas aleatórias, até cair no assunto: meu novo namorado.
— O que a senhora está achando de Murilo? — Aproveito que nós duas estamos
conversando. Eu sempre a usei de confidente, mesmo tendo Ísis comigo desde que
comecei essa coisa de namoro.
— No geral ele parece ser bom rapaz. A forma carinhosa que te tratou lá no seu
aniversário e se preocupou em ligar para nós, que moramos longe, achei atencioso da parte
dele.
— Murilo é diferente, mãe. A sensação é de que gosto dele mais do que consigo
mensurar, sabe? O sentimento vai crescendo cada vez mais e eu não sei explicar nem
controlar — sou sincera nos meus sentimentos.
— Isso é amor, querida — simplesmente responde e me olha.
— Não é, mãe, nada a ver.— É um absurdo! — Nos conhecemos há pouco
tempo.
— Só te digo pra ter cuidado, tá bem? Sei que você tem mania de se entregar nos
seus relacionamentos, mas só toma cuidado. Não quero te ver magoada depois.
— Não tem como ser amor, mãe. Diego dizia que me amava e olha o que
aconteceu — tento justificar.
— Ele não te amava, só tentava te convencer disso. E desde quando amor tem
validade pra começar? — questiona, me olhando como se falasse: “toma essa!”.
— Sei lá. — Dou de ombros.
— Sinceramente, Alie, não sei como você ficou tanto tempo com aquele lá. Se eu
morasse perto ele NEM chegaria perto. E por favor, não deixe homem algum te tratar
como se você fosse alguém que não merece ser amada. Você pode, aliás, você é. —
Aceno, me sentindo uma garotinha com os olhos ardendo.
— Obrigada, mãe, eu amo a senhora — agradeço verdadeiramente, meu coração
aperta e quero voltar pra perto deles.
— Não chora, filha. Você pode ter a idade que tiver, mas ainda será meu bebê e
vou cuidar sim de você. Criei filha minha pra isso. Não deixe ninguém dizer o contrário.
Saudade é um troço chato. Às vezes eu tenho vontade de largar tudo e voltar lá,
tudo o que eu queria era um abraço dela.
— Eu quero ter o que a senhora e meu pai têm — suspiro, sonhadora, sorrindo
novamente para espantar as lágrimas teimosas.
— O quê? Netos abusados e filhos desajuizados? — faz graça e gargalhamos.
Terminamos a chamada com um gostinho de saudade, de nos vermos em breve. Despedir-
me da minha família sempre foi doloroso para mim e para eles.
Mexo no celular e passo as fotos na minha galeria. Sorrio por causa de uma em
que estamos Murilo e eu, no dia da sinuca. O sorriso dele é o mais lindo que já vi,
contagia de uma forma ímpar. Eu amo essa foto!
Confesso que ainda tenho medo de que ele vire sapo. Já achei também que está
comigo porque “não tem nada melhor para fazer” ou porque “sou uma presa fácil”, mas
tento espantar isso da minha cabeça e curtir o máximo do que estamos vivendo.
Parece que a vida que temos não passa de um sonho louco, e que vou encarar que
minha vida é sem graça. Tenho medo de perceber que isso que eu vivo com Murilo é
apenas minha imaginação, como se fosse uma válvula de escape. Murilo é “Hilbert”
demais pra ser real. Como assim, esse homem me beija e sorri pra mim? Ele é muito
gostoso! Gostoso até dizer chega. Será que eu o amo mesmo?

Pegando o celular na minha bolsa para saber onde está Murilo, mentalmente
planejo o que fazer quando chegar em casa. Não vejo a hora de chegar amanhã, sexta-
feira. Mas corto o raciocínio quando avisto quem eu menos queria. Diego. Ele não cansa?!
Depois da briga na frente do meu apartamento ele sumiu, provavelmente para
consertar o nariz, que Murilo deve ter quebrado, mas, pelo jeito, não sumiu de vez,
infelizmente.
— Não quero brigar, não voltaremos — pontuo, sem paciência.
— Olha aí, a senhora segura de si — cínico!
Ele chega mais perto de mim e eu dou um passo para trás, cautelosa para manter
distância, mas ele me puxa pelo braço.
— Acho que precisamos conversar — diz, com um ar prepotente.
— Não precisamos e não vamos voltar. Esqueça isso. — Tento me soltar.
— Quando ele te trair, você virá chorar pra mim.
— Não vou, nem ele fazendo isso eu te quero. — Estou de saco cheio dessa
merda toda.
— Você ainda vai ser minha. Escreva o que te digo — chega mais perto, falando
ameaçadoramente.
Eu me assusto com as palavras dele. Ele está se saindo um psicopata de primeira.
— Diego, por favor, para com isso. Me esquece!
Confesso que estou com medo. Ele chega mais perto. Segura meu pescoço,
apertando, quase me sufocando. Estou com os olhos arregalados, tremendo de medo e
ficando sem ar.
Quanto mais a gente se distancia, mais eu me assusto com a personalidade dele.
Não foi esse o Diego pelo qual me apaixonei um dia, que dormia na minha cama. Nunca
foi! Esse homem na minha frente é uma pessoa irreconhecível!
— Me solta! — grito fraco.
— Cala a boca! — ele ameaça. — Aquele sujeito ainda vai me pagar pela briga!
— Não! Me solta!
Ele tenta me agarrar pela mão e eu bato nele gritando por ajuda, desesperada.
Lembro o que Murilo me ensinou no judô, mas estou desesperada demais para lembrar de
algum golpe.
— Lembrarei a você como éramos bons juntos!
Estou tremendo mais que qualquer coisa, mas ainda assim tento me defender de
alguma forma. Meus sinais de alerta afloram de imediato e o desconforto também,
quando sinto sua boca colar na minha, forçadamente, num selinho nojento, puxando minha
boca para que eu continue no lugar que ele quer.
Escutamos passos chegarem e Diego se afasta rapidamente e some na escuridão
da lateral do prédio. Essa situação está cansativa! É impressionante a capacidade humana
de estragar a vida dos outros. Tem gente que não suporta ver a felicidade alheia. Eu me
sinto enjoada pelo beijo forçado, por ele ter tocado em mim. Argh!
Quem chega é Fred, o segurança, e se espanta ao me ver assustada. Ele me ajuda
a voltar para a entrada, perguntando se foi tentativa de assalto. Murilo está chegando com
o celular na mão. Dou-lhe um abraço apertado, que ele retribui sem entender. Agradeço a
Fred, que acena com a cabeça, e saio calada; Murilo pergunta o que aconteceu.
— Me abraça, por favor — peço, angustiada, segurando na sua cintura.
— Que foi que aconteceu?
— Só me abraça.
O cheiro de Murilo é reconfortante. Eu tenho vontade de cair num choro forte,
enquanto limpo minha boca com a mão o mais forte que consigo.
— Diego aconteceu. — Ainda me sinto apavorada, lembrando das palavras dele.
Conto a ele o que aconteceu e como fiquei apavorada. Ele me aperta mais e
segura na minha nuca para eu olhar para ele.
— Fica calma, estou aqui.
— Eu tô com medo. Se não fosse o Fred eu não sei o que ia acontecer.
— Não pensa nisso. Vamos na delegacia.
— Não. Delegacia não. Ele pode querer se vingar.
Coloco minha cabeça no seu pescoço e ele me abraça apertado.
— Alexia… — ele me repreende. — Temos que fazer isso.
— Por favor — suplico. — Sabemos como são as coisas aqui.
— Não concordo com isso, ele tem que ser parado de alguma forma. — Alisa
minhas costas quando volto a abraçá-lo. — Onde esse cara mora?
— Murilo, tô pedindo, não. Isso vai me deixar ainda mais amedrontada, ele é
covarde, não confio, pode fazer algo com você.
— No mano a mano eu me garanto.
Faço a viagem pensando nessa loucura de Diego. Quando é que ele vai me
esquecer? Nunca fez questão de mim e quando eu sigo minha vida ele vem atrás, se
dizendo arrependido? Qual é o problema dele? Eu estou ficando cada vez com mais medo.
Passo e repasso a cena dele tentando me agarrar e fico um pouco agoniada e agitada. Com
vontade de vomitar. A impressão que eu tenho é a de que ele vai me agarrar a qualquer
momento e tentar me beijar novamente.
Tudo que eu quero é o carinho reconfortante de Murilo na segurança de um
quarto e dos seus braços.
— Vai tomar banho pra relaxar e tira essa roupa suada e apertada — diz assim
que chegamos no seu apartamento.
Concordo com a cabeça e sigo para o banheiro. Minha primeira reação é vomitar,
colocando meu almoço e besteiras para fora. Diego me dá nojo!
Depois de me sentir melhor, tomo banho, escovo os dentes e lavo a boca umas
cinco vezes para tirar o rastro de Diego, e janto com Murilo do meu lado. Recebo o
carinho de que tanto preciso para que essa angústia passe.

MURILO
Estou muito puto! Muito mesmo! O cara não se emenda de forma alguma. O que
ele quer com Alexia agora? Ele é louco de beijá-la e ainda a ameaçar?
Estou com muita vontade de ir atrás dele e dar uma lição de verdade no filho da
puta, já que Alexia não quer dar queixa, mesmo que eu ache ser o correto a fazer.
Espero que eu não o encontre abordando-a novamente. Ele vai ver com quantos
socos se faz um hematoma, porque não desisti de dar uma lição nesse covarde. Vou dar um
jeito de encontrá-lo, para que aquele filho da puta não a toque mais.

20
MURILO
Segurando a mão de Alexia, entrelaçada à minha para atravessarmos a rua, vejo a
fachada do lugar que Chris e eu combinamos. Hoje é sexta-feira. Christian e eu decidimos
aproveitar um happy hour de boa, beber umas cervejas, e bom, ele foi buscar a “patroa” no
trabalho e fui fazer o mesmo. Depois do acontecimento de ontem, quero que ela se divirta
um pouco para esquecer isso. Então, cá estamos nós com roupas do trabalho, mas
morrendo de vontade de beber umas.
Alexia está toda empolgada para reencontrar Luiza. As duas se adoram.
— Eu tô morrendo de fome. — Alie suspende o olhar para mim.
— Nem fale. Tô varadão de fome.
Chegamos mais perto e encontramos ambos numa mesa já conversando e
bebendo chope. Alexia graciosamente cumprimenta os dois e troca beijos com Luiza, se
sentando logo em seguida. Faço o mesmo.
Adoro esses barzinhos com música ao vivo, melhor do que muito restaurante
gourmetizado.
Engatamos num papo animado em questão de minutos. Pedi bebidas para mim e
Alie. Vou beber pouco por causa do carro.
— Mas você tá trabalhando com o que, Luiza? — Alexia indaga, curiosa, no
meio do papo.
— Engenheira química — orgulhosamente, ela responde.
— Jura? Que área? Eu nunca entendi química, sendo sincerona.
— Vocês acharam que ela é doida assim sem influências?
Chris cutuca a leoa, que o olha atravessado e revira os olhos.
— Cala a boca, Christian!
Gargalhamos e ele levanta as mãos em rendição.
— Eu sou da área de Biotecnologia. Trabalho com antibióticos.
Alexia faz cara de chocada e as duas engatam uma conversa sobre o assunto.
Minha garota sabe falar de absolutamente tudo, incrível, não tem essa de não saber o
assunto, ela simplesmente engata, mesmo não entendendo muito bem do que se trata.
As batatas fritas com cheddar e bacon do jeito que nós gostamos chegaram e nós
quatro atacamos. Sexta-feira à noite é tão bom, dá uma sensação de alforria.
Olho Alexia colocando os cabelos para trás com as belas pernas cruzadas numa
calça jeans justíssima, pegando sua caneca de bebida, evidenciando as unhas pintadas e
compridas. E assisto ela levar até a boca, num biquinho, também pintada de vermelho.
Depois reclama o porquê de eu tirar fotos dela distraída. Como não tirar para admirá-la?
Alexia decidiu parar de beber pra tomar sorvete e comer hambúrguer pra não
ficar bêbada e todos nós resolvemos acompanhá-la, já que eu e Christian estamos
dirigindo. E porra, a comida daqui é boa pra caralho!
Chris e Luiza são aquele casal que é movido por comida. Tão sempre saindo pra
jantar em restaurantes diferenciados, porque eles são gastronômicos, todo final de semana
é um roteiro diferente para conhecer comidas variadas.
Luiza arrastou Cristian para dançar, quando um cover de Roberta Campos
começa, pois é a música deles, segundo ela. Mas Alie preferiu ficar aqui comigo na mesa e
aproveito para dar uns beijos gulosos nessa morena gostosa.
Sinto suas mãos alisarem minha barba e relaxo naquele carinho. Namorar é
gostoso pra caramba! Namorar ela então? É do caralho!
— Daqui a pouco vamos embora? Tô cansada, moreno. — Boceja, me fazendo
repetir o gesto enquanto alisa meu anel, que faz par com o dela.
— Vamos. Deixa só eles voltarem.
Geralmente namorar tira a liberdade de algumas coisas, mas sequer sinto isso
com ela, tanto que estamos num happy hour numa sexta à noite, super relaxados. E
quando quero agitação a arrasto comigo. Ela apoia sua cabeça no meu ombro e sinto o
cheiro do seu cabelo próximo.
O bom de Alie é que ela é toda manhosinha. Adoro mulher dengosa, manhosa,
que me dá uma sensação de grandeza, de querer cuidar, pois mais que ela não precise, pois
sabe ser fatal e decidida quando quer e eu assisto esse momento aparecer com gosto. E
minha morena é exatamente assim, manhosa, mas fatal quando quer. E ambas me deixam
de pau duro e com uma sensação de orgulho de tê-la para mim.
Luiza e Chris voltaram animadinhos para a mesa. Alexia anuncia que estava para
ir embora por cansaço.
— Ah, gente, antes de irem. Amanhã iremos na praia. Estão a fim? — Luísa,
empolgada, gesticula enquanto fala.
Eu e Alexia trocamos um rápido olhar. Por que não? Alexia dá de ombros,
aparentemente concordando com a ideia. Concordo também.
— Pode ser! — Alexia concorda.
Nos despedimos depois de pagar a nossa conta. Em casa, Alexia dorme
enroscada a mim, cheirosa. Adoro ela com minha camisa!

ALEXIA
Dia de sol, nada melhor que aproveitar o clima quente que está fazendo, indo para
a praia com Christian e Luísa. Adoro os programas com eles. São bastante divertidos.
Eles acertaram em cheio em nos chamar, pois hoje em especial está um calorão!
Murilo como sempre trazendo novidades, acabou de me contar que os pais dele
ligaram cobrando uma visita, querendo me conhecer. Ele está animado para me levar. Não
confirmamos ainda, mas, mesmo assim, eu já estou nervosa em conhecer meus sogros. E
se eles julgarem que eu não sou boa para o filho deles? E se a irmã for ciumenta ou
daquelas adolescentes birrentas?
— Moreno, fico melhor nesse ou no vermelho? — Ando em direção de Murilo,
que está já pronto jogado na cama, vendo-me vestir. Estou em dúvida entre qual usar.
— Nua — responde, cínico.
— Boa ideia, os homens que estiverem lá vão adorar — rebato, debochada, de
frente para ele.
Murilo puxa minha mão, me fazendo cair em cima dele, em seguida põe seu
corpo sobre o meu, trocando as posições, me mantendo presa ali.
— O que foi isso? — questiono, surpresa pelo susto.
Ele pega minha outra mão, me imobilizando para cima junto com a outra que ele
está segurando com apenas uma mão, fazendo meus seios suspenderem. Segura minhas
bochechas com a outra mão, me fazendo ficar de biquinho e olhando diretamente para ele.
Ele quando quer ser assim é só Jesus na causa!
— Você está me saindo uma provocadora de primeira. — Olha nos meus olhos e
eu me arrepio pelo olhar mordaz. — E quando fica assim, eu tenho vontade de te marcar
toda com minha boca. — Ah, essa voz rouca!
Ele rasteja sua boca no meu queixo e me dá um beijo quente, soltando meus
braços, mas não deixa que eu aprofunde. Abro um sorriso ao perceber que ele tem ciúmes
de mim. Confesso que meu ego e autoestima melhoraram.
— Está rindo de quê?
— Você aí com seu ciúme.
— Tô errado em não ter, com uma mulher dessas? — Abro um sorriso maior. —
Tô errado em cuidar?
— Bobo. — Rio, me sentindo nas nuvens.
— Cuido mesmo, pronto e acabou!
Nada mais gostoso que o ciúme saudável, é uma sensação gostosa de amor e
desejo. Sentir-se importante para o outro, que é importante para você. Mais uma vez me
pego questionando: será que eu o amo mesmo?
Murilo é meu porto de abrigo, sei que com ele eu posso confiar para praticamente
tudo. E será que minha mãe tem razão? Que amor não tem validade para sentir?
— Queria ver se fosse ao contrário, se você estaria aí de sorrisinho. — Arqueia as
sobrancelhas em desafio. Meu sorriso desmancha na hora, e meu sangue ferve só de
pensar em alguma ex sequer olhando ele. Ou até mesmo aquela biscate do trabalho dele.
— Sem graça! — Seguro na sua bochecha, fazendo ele olhar para mim. — Não
brinque mais assim. — Mordisco o bico que formou e o solto.
Olho atravessado para ele por me fazer sentir isso e o descarado está sorrindo na
minha cara, sorriso convencido.
— Já disse que só tenho olhos pra você.
Ele sai de cima de mim, me puxando pra levantar.
— Põe o vermelho, que você fica mais gostosa — responde minha pergunta
anterior como se nada tivesse acontecido.

Encontramos o casal lá se divertindo. A praia até que não está tão lotada, pelo
menos por agora.
— Que bom que vieram! — Luísa me abraça, empolgada.
Estão apenas ela, o marido e o pequeno Igor. Cumprimento a todos e vejo Murilo
arrancar a camisa, ficando de bermuda. Essas malditas bermudas que marcam sua bunda
perfeitamente. E que bunda!
Os braços dele também estão um pouco mais duros e volumosos. Deve ser por
causa das flexões e esforço físico em cima de mim.
O clima está fresco e puxo meu vestido para sentar em uma das espreguiçadeiras.
Olho para Murilo, que tem um olhar intrigante me vendo apenas de biquíni.
Abro um sorriso. A verdade é que somos um casal que cuida um do outro.
Ele corre para o mar junto com Christian e Igor. Converso com Luísa, adoro ela.
É muito divertida e me contou que quer engravidar de novo.
Logo Murilo volta, molhado, bagunçando os cabelos e muito sexy. A cena
merecia slow motion e replay.
Me dá beijo e atenção. Percebi que ele atraiu olhares ficando sem camisa e,
segundo ele, eu também estou chamando atenção com meu biquíni. Vi ele jogar vôlei todo
desenvolto. Eu não me atrevi, pois na aula de educação física eu era aquela que, ou
tomava bolada na cara, ou jogava a bola na rede.
— Realmente, a namorada dele é uma sortuda! — Escuto e vejo duas mulheres
cochicharem na mesa ao lado. E percebo que se trata de Murilo, pois uma delas perguntou
quem era a namorada e a outra respondeu: “a de biquíni vermelho”, que no caso sou eu.
Olho em direção ao Murilo, que está distraído, conversando. Para o meu deleite e
desespero ele, além de estar sem camisa e descalço, está de boné para trás e a bermuda
molhada, mostrando os músculos e o caminho da perdição em formato de V. Que contorno
maravilhoso! E o melhor, eu sei o que vem depois…
Ele se movimenta ficando de costas para mim e eu vejo as costas dele com uns
arranhões leves. Minhas bochechas esquentam de vergonha por talvez alguém reparar e ao
mesmo tempo, no fundinho, algo dentro de mim também se sente poderosa por saber que
sou eu quem o beija e abraça. E que é do meu lado que ele está.
Pois é, sou sortuda mesmo.
— Festa na praia, tipo um luau, será uma festa boa, uma amiga minha que tá
organizando! Eu tô doida pra ir e quero vocês lá também.
Volto minha atenção para Luísa, que me fala de uma festa mais tarde. Até que
será bom, eu nunca fui em um. Confirmo nossa presença. Conversei com Luísa mais um
pouco e caímos na água. Logo depois o Moreno também entrou enquanto estava distraída.
Mergulhamos juntos e ficamos um pouco na água, namorando. Sorrio separando nossas
bocas. Esse momento daria uma fotografia excepcional.
Murilo seria um maravilhoso modelo, na verdade ele é, mas o bom é que é só
para mim. A imensidão azul de segundo plano e ele no primeiro com seu lindo sorriso
direcionado a mim. Usarei Murilo de modelo mais vezes. De preferência sem camisa, pois
aquele ensaio ficou maravilhoso, inclusive uma das fotos é minha proteção de tela do
celular. Não troco de jeito nenhum!
Permanecemos por lá mesmo, bebendo e comendo petiscos até umas três da
tarde, e Luísa resolve ir embora, para que o pequeno Igor não fique gripado, pois ele
estava querendo voltar para a água. Murilo gostou da ideia do lual.

Eu e Murilo chegamos na praia um pouco antes do horário marcado para o luau.


Inclusive ainda tem umas tendas sendo montadas. Tudo porque decidimos assistir ao pôr
do sol.
O lugar é bacana, é um lado de uma praia que eu ainda não conhecia. O lugar é
ótimo e está rodeado por uma montanha enorme e verdinha, onde inclusive Murilo deu a
volta com o carro numa pequena ladeira, para ver um lugar ótimo para assistirmos ao sol
se pôr e curtirmos a paisagem maravilhosa. A natureza é perfeita! Ela nos acalma e nos
encanta ao mesmo tempo.
Voltamos lá para baixo quando já está escurecendo, onde a festa já começou.
Chegamos lá e vemos todos vestidos a caráter. Roupas coloridas, chinelos, colares
havaianos e coroas de flores, inclusive Cris e Luísa, que encontramos na entrada.
Há algumas tochas de bambu em lugares específicos e montaram um quiosque
improvisado com as bebidas e frutas em uma tenda. Tem algumas flores completando a
decoração. E não podemos esquecer a fogueira, que está acesíssima com algumas pessoas
ao redor. O local está bem aconchegante e lindo. Estou me sentindo no Havaí.
Pegamos os adereços para ficar a caráter e seguimos conversando para um lugar
bom. A música está tocando, animando quem está conversando e bebendo. Vejo um local
para duas pessoas com pufes, violão e ukulele e presumo que vai ter alguma apresentação.
Mas enquanto isso tem uma rodinha de violão com algumas pessoas conversando e
tocando.
Ainda segurando na minha mão, fomos em direção ao quiosque. Chegamos e vejo
várias opções de bebidas. Sucos naturais, refrigerante, água, cerveja e outros tipos de
bebidas. Peço suco de abacaxi e Moreno, um coquetel com álcool.
Ele entrega o meu suco no próprio abacaxi com canudos coloridos, me deixando
surpresa. O do Moreno vem em um copo com a fruta que ele escolheu na borda, que ele
trata de comer em segundos.
— Tá gostando?
— Tô amando, nunca que tinha ido em um luau.
Eu e Murilo circulamos e conhecemos uns amigos do casal. Ficamos na rodinha
perto da fogueira vendo, conversando e acompanhando o pessoal tocar e cantar.
Um casal começa a se apresentar cantando músicas conhecidas, trazendo um
clima agradável. Nos aproximamos para assistir e Murilo me abraça por trás, me
enlaçando pela cintura enquanto me balança devagar para um lado e para o outro.
O casal termina uma música e aplaudimos. Logo eles começam a tocar o acorde
de outra. A maioria do pessoal grita e assovia com a boca enquanto eles tocam e cantam.
Acabo sorrindo com o clima.
Ele me gira sem se importar mais com o pessoal ao redor e o show que está
acontecendo. Me abraça me colando mais e eu coloco minha cabeça na curva do seu
pescoço, aproveitando o momento.
— Estranho seria se eu não me apaixonasse por você — sussurro no seu ouvido
a primeira estrofe.
Música, comida, bebida, amigos, clima agradável e meu moreno. O que eu
poderia querer mais?
Continuarmos a nos balançar devagar até a música acabar e nos separamos
sorrindo um para o outro. Murilo segura na minha nuca e traz minha boca para a sua, me
beijando.
Sabe quando você sente cada vez mais paixão pela pessoa, que só a presença dela
já é motivo para sorrir à toa e querer ficar juntinhos? É assim que estou me sentindo com
Murilo hoje, mais do que qualquer outro dia.
Ele me fita com o olhar brilhante. Hoje eu só tenho vontade de ficar agarrada a
ele, nos momentos só nossos. Sou completamente apaixonada nesse moreno que está me
ensinando muita coisa.
— Vamos ali? — propõe.
— Onde?
— Vem. — Ele me segura pela mão, me levando em direção ao seu carro, e sento
no banco do passageiro.
— Vamos embora, Murilo? — questiono, intrigada.
— Não vamos.
— O que você tá fazendo? — indago, tentando entender.
— Não se preocupe.
Esquenta minha coxa com sua mão pesada. Murilo para o carro numa área menos
movimentada e escura, não tão distante da praia. Ele desliga os faróis, deixando tudo mais
escuro.
— Esse lugar tá deserto, Murilo, vamos voltar!
— Mas para o que vamos fazer é ótimo!
Murilo sorri para mim, fazendo minha barriga assanhar totalmente em
expectativas. Inclina a cabeça para me beijar, mas o beijo é tão voluptuoso que fico sem ar
e sinto tremer pela urgência da coisa.
— O que eu quero fazer com você não terá plateia. Quero matar minha vontade
de transar com você dentro do carro desde sempre. Agora vou te dar um beijo bem
gostoso.
Sussurra, abrindo espaço na sua cadeira, a reclinando. Fico pasma com a ideia
dele. Essa voz grossa, o contato visual e a menção do beijo me deixam totalmente afoita.
Em seguida ele simplesmente cumpre o que falou. E que beijo!
Começa rastejando a barba na minha bochecha, dá um beijo no meu queixo e
outro no canto da boca. Fico entregue e querendo mais.
— Você deliciosamente me enlouquece — sussurra no meu ouvido e fico mais
arrepiada, umedecendo lá embaixo.
Rodeia os lábios, brincando ao redor dos meus, arfo e ele enfia a língua na minha
boca, me dando o maravilhoso beijo urgente. Me puxa pela mão para que eu sente no seu
colo e assim faço. Eu disse que o carro dele me chama pra safadeza aqui dentro. Desde a
primeira vez que senti isso.
Murilo tateia meu corpo, me deixando mais afoita. Massageio seu pau por cima
da bermuda. Murilo geme, segurando na minha cintura. Sem olhar o que estou fazendo,
recebendo um beijo intenso, desabotoo sua bermuda para pôr a mão por dentro.
Ele desce o dedo pela minha barriga, me tocando por cima da calcinha sem
desgrudar nossas bocas, me deixando bêbada de tesão. Atrevido como sempre foi, dá um
jeito de descer minha calcinha, puxando para cima do seu colo, e um ajeita aqui e ali me
preenche sem pensar duas vezes.
Arfamos juntos quando entra, mas ele põe a sua mão em cima da minha boca,
para que eu não gema, coisa impossível de se fazer. Olho para ele e vejo o rosto um pouco
contorcido. O beijo em seguida, sentindo o carro uma verdadeira sauna. A expressão que
Murilo faz, prendendo os lábios com os dentes enquanto segura na minha cintura, é de
tirar o juízo. Ainda mais em meia-luz.
21
ALEXIA
Voltamos para a festa como se nada tivesse acontecido e curtimos o resto do show
maravilhoso. A noite maravilhosa, na verdade. E eu ainda estou pasma que transei num
beco escuro dentro de um carro, mesmo sendo uma rapidinha. Qualquer um poderia
flagrar. Esse homem não me deixa raciocinar direito! Isso foi uma loucura e tanto!
Como acho ver estrelas romântico, arrasto Murilo para fazer isso. Ele me olhou
sem entender quando propus isso. Preciso aproveitar que tenho um namorado para realizar
as coisas que acho românticas. Adoro andar na areia, ainda mais assim.
Ele senta na areia e eu fico entre suas pernas, de costas, abraçada pela cintura. Me
sinto tão miudinha quando ele faz isso. Ficamos quietinhos, calados e confortáveis
sentindo a brisa e a maresia do mar, escutando a música próxima, já que estamos na festa
ainda. e recebo um beijo carinhoso na nuca.
Como ver estrela não é tão legal como pensei, preferi beijar Murilo.
— Quer uma bebida?
— Sim, por favor. Caipirinha.
Murilo acena, levanta e eu continuo no mesmo lugar. Pego meu celular e olho as
horas para saber se está muito tarde e fico entretida por poucos segundos, até escutar
alguém me chamar, mas não é a voz do meu moreno.
— Alexia?
Subo meu rosto e encontro Diego sorrindo cinicamente. Era só o que me faltava!
Parece que ex é da mesma classe que zumbi. Quando acha que morreu, ele volta
pra querer te comer. E pior, tem sensor de felicidade. Ele pode estar nem aí pra você, e
nem te querer mais, mas vem, como se pensasse: “hum, minha ex está feliz com outro e
me superou, o que eu posso fazer para estragar o momento? Já sei, vou infernizá-la e dizer
que a quero de volta”.
— Eu disse que voltaria. — O seu sorriso sádico me deixa em alerta.
Levanto, disposta a sair dali e ir até Murilo.
— Alexia, você só tá confusa. Vamos voltar, sou o melhor pra você.
— Não, Diego, eu tô feliz no meu relacionamento atual. Me esquece.
— Não, Alexia! Não vai acabar tudo assim. — Muda completamente a postura e
em seguida puxa meu braço.
— Para e me solta. — Tento me esquivar, em vão.
— Não, vamos voltar sim. Qual o seu problema?
— Sua existência.
Diego claramente está bêbado, e se eu não confio nele sóbrio, que dirá bebendo e
fedendo a álcool.
— Quem você acha que é, hein? Põe o pé no chão. Acha que ele gosta de você? A
primeira mulher gostosa que der mole pra ele, vai te dar um pé na bunda. Você é só
diversão. Abre o olho, Alexia — tenta me diminuir, mas não cairei.
— Ele gosta. E você não é companhia pra ninguém, merece ficar sozinho
enquanto não mudar de verdade. Eu. Não. Gosto. De. Você — falo pausadamente para ver
se ele entende.
— Você sente saudades que eu sei. Isso é charme. — Ri com cinismo e aperta
meu braço.
Não respondo, pois nem dá tempo; Diego se afasta em um solavanco.
— Você não cansa?!
Murilo o puxou. E sequer fala mais nada, já chega o acertando com um soco.
— Calma, cara, a gente estava apenas relembrando os velhos tempos — Diego
provoca Murilo.
Caos!
— Murilo… — Eu o chamo, receosa. Como conheço o Moreno e o Diego, sei
que se começarem a briga de verdade, vai ser feia. Diego é mais ou menos do meu
tamanho. Mas Murilo é um pouco maior que eu e mais forte.
— Agora não, Alexia! — esbraveja, impaciente.
Arregalo os olhos quando começam a trocar socos. Assustada, tento parar aquilo,
mas não tenho como.
— Para, Murilo! — suplico, mas ele não me ouve.
Murilo soca a boca dele duas vezes o fazendo cambalear, e o segura pela camisa e
soca mais uma vez.
— Quer saber? Fica com ela pra você! Não serve pra nada mesmo. Vai enjoar
rapidinho, é uma frígida insuportável. Cheia de não me toques, essa puta — Diego
debocha, com a boca sangrando.
— Moreno, vem, não liga. — Até tento segurar ele, mas não me ouve.
— Repete! — Murilo, ofegante, ameaça ele.
— Isso mesmo. Você vai enjoar dela rapidinho e vai estar procurando outra.
Aposto que vai pra casa das outras e ri dela, como eu fazia. Pelo menos divide comigo, ou
podemos fazer uma coisa nós três. Ela tem que servir pra algo — meio grogue, ele
provoca.
A confusão estava feita, Murilo deu vários socos em Diego, que está com o nariz
sangrando. Moreno, descontrolado, dá mais socos fortes o segurando pela camisa, o
xingando e mandando ficar longe de mim. Diego tenta devolver o soco, mas Murilo
continua batendo.
Nunca o vi tão agressivo e boca suja como agora. Diego tenta se defender, só se
defender mesmo, pois não está possibilitado de bater. Murilo esbraveja palavrões e eu fico
sem ação, só olhando assustada e constrangida.
Os rapazes viram a confusão e tentaram contê-lo. Se deixassem, o Moreno ia
descarregar a raiva nele e, se duvidar, até deixá-lo desacordado.
— Sabe, você é um babaca. E eu te agradeço muito por ser um. Pois se não fosse,
ela não estaria comigo agora. Valeu amigão, valeu mesmo — Murilo debocha mais uma
vez de Diego, que está caído na areia, com a voz ofegante.
Vou até Murilo, segurado por duas pessoas, e outras estão ajudando o babaca a
levantar.
— Vamos. — Eu o chamo e soltam ele.
— Se eu te ver perto dela, eu juro que nunca mais vai ver a luz do dia — Murilo
ameaça Diego, que está sendo segurado também.
Até a polícia apareceu querendo saber o que aconteceu. Murilo, raivoso,
entretanto mais lúcido que Diego, conta o que aconteceu, querendo prestar queixa.
Inclusive o que ele anda fazendo comigo, e depois dele me olhar de cima a baixo e apenas
acenar, mas não toma uma atitude cabível. Disse que estão ambos alcoolizados e o mais
certo seria irem embora. Murilo, inconformado, discutiu com ele, mas tive que rebocá-lo
porque o policial ameaçou prendê-lo por desacato. Ninguém entendeu a atitude do
policial, mas ainda assim, para evitar que ele fosse detido, preferi ir embora em vez de ir
para a delegacia, como Murilo queria.
Faço o caminho calada, assimilando tudo. Diego me traía, isso era óbvio, eu
mesma vi, mas mesmo não estando mais juntos dói saber disso tudo, ele jogando isso na
minha cara, a forma como ele me tratou e falou de mim… É como se eu fosse ninguém.
Ele me rebaixou da pior forma possível hoje. A única pessoa que eu odeio agora sou eu
mesma, por deixar que ele me afete, que me deixe mal depois de meses separados. Por ter
insistido na gente quando sequer era para ter dado alguma chance. Minha vida é repleta de
arrependimentos e equívocos.

— Ei, vem aqui — me chama assim que saio do banho. — Não absorva nada que
ele falou.
Me traz para mais perto e seu corpo ainda está com gotas de água do banho.
Murilo me abraça, me reconfortando. Olho seus belos olhos castanhos.
— Eu tô magoada, sabe? Não deveria, mas tô. Dói saber que dei praticamente
minha liberdade pra um relacionamento e no final não ficou nem o respeito. Ele me traía,
eu o flagrei, você sabe, mas passar na minha cara assim dessa forma, sabendo que eu
ficava esperando-o pra ter um pouco de afeto, pra demonstrar confiança… Isso dói! É
triste! — digo, ressentida e magoada, e em seguida apoio minha cabeça no seu peito.
— Não liga, você é maravilhosa, ele é um babaca que não soube valorizar a
mulher que teve. Homens pequenos não merecem grandes mulheres. — Alisa meu rosto.
— Murilo, por que eu?
Patético! Fui tão machucada, pisada, ridicularizada, que quando chega uma
pessoa que gosta de verdade não sei como agir ou pensar, sempre acho que estou sendo
feita de idiota novamente e que a qualquer momento quebrarei a cara. Qualquer coisa é
motivo para me deixar insegura, mesmo que eu não queira me sentir assim. Vivo tendo
essas recaídas e odeio isso!
— Você o quê? — Ele me olha novamente.
— Por que está comigo, sabendo que existem milhões de mulheres melhores do
que eu por aí, que qualquer uma iria querer você? Por que eu? — Tento controlar as
lágrimas teimosas.
— Eu não quero milhões nem qualquer mulher, quero você. Porque você é linda,
sexy e inteligente, e faz me sentir muito bem. E porque é a mulher que eu amo — declara-
se da forma mais linda e inesperada possível.
— Ama? — questiono, um pouco boba e incrédula.
— Claro que amo, Alie. E morro de medo de te perder. — Alisa minha bochecha,
expulsando a lágrima teimosa. — Enquanto for necessário, eu vou te mostrar como você é
pra não ficar se diminuindo.
Sorrio devagar me sentindo um pouco melhor, amada, cuidada e especial pelo
homem que eu amo. Ele me fita com um biquinho fofo e involuntário e eu sorrio mais um
pouco. Saber que é amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença gritante.
— Também amo você, Moreno. Você melhora minha vida. Você despertou as
coisas mais bonitas que existem em mim, que eu nem sabia que tinha, colocou paz no meu
coração. Com você eu me sinto forte, feliz. É uma das poucas pessoas que preferiram me
decifrar em vez de desistir. Você me deixa ser eu mesma sem parecer patética e eu gosto
de ser eu mesma com você, porque eu sei que você me aceita assim, cheia de defeitos. —
Beijo rapidamente seus lábios. — Às vezes eu tenho medo de achar que isso é um sonho e
ainda tô naquela vida sem graça.
— Isso parece ser de mentira?
Leva minha mão para seu pau e aperta; eu ofego pela ousadia. Ele muda
drasticamente qualquer situação com esse atrevimento.
— Sorte a minha que aquele pau pequeno deixou escapar uma mulher gostosa —
sussurra no meu ouvido. — Mas a notícia boa é que é comigo que ela está.
Gemo com ele beijando meu pescoço e orelha.
— Hoje não vai ser amorzinho não, se prepare. Não esqueci do que você falou de
manhã e a rapidinha no carro não me saciou. — Sinto sua respiração perto e arfo, com o
corpo reagindo.
— Sabe, recriando a cena agora, fiquei com um puta tesão em ver você todo
bravo e boca suja exaltando aqueles músculos todos, me defendendo. E falando agora
desse jeito também — provoco.
Olho sugestiva para Murilo. Lindo! A praia fez um bem maravilhoso para ele,
queimado do sol e as bochechas meio avermelhadas, sua beleza latina ressaltada, ficou um
pecado de homem. E gosto muito desse pecado.

MURILO
Foda! Alexia é um mulherão e aquele babaca fala qualquer coisinha e ela
simplesmente quer retroceder, mas não deixo. Brinco dentro da sua calcinha, sentindo
meus dedos melarem. Adoro saber que ela se desmancha comigo. Alexia com tesão fica
fodidamente sexy.
— Quase pronta…
Continuo estimulando-a e sua respiração fica cada vez mais entrecortada,
apertando o lençol, e arfo sentindo meu pau pulsar loucão. Acaricio cada vez mais,
aproveitando seu melado.
Paro apenas para rasgar sua calcinha de renda. Não estou para protocolo. Eu
ainda estou irritado com tudo, pelo policial irresponsável e pela situação, e ela precisa
saber que é maravilhosa!
— Murilo! — se queixa e sai mais como uma súplica.
Beijo seu pescoço e mordisco sua orelha, a vendo arrepiar. Desço a minha
bermuda de qualquer jeito e volto a distribuir beijos molhados nas suas costas e ela
empina a bunda para mim e ao mesmo tempo estremece, vendo que já estou sem nada. Ela
tenta me apalpar de costas mesmo, como eu a coloquei na cama, e agarra minha bunda
com a unha. Atrevida!
— Moreno — choraminga mais uma vez.
Giro-a novamente para mim e a tomo para um beijo, fazendo-a se apoiar ali na
beirada mesmo. Aperto sua bunda e a cintura e entro o mais fundo que consigo, sentindo a
quentura gostosa, a maravilhosa recepção de sempre. Alexia geme suplicante pela invasão.
Hoje estou a fim de um sexo um pouco mais bruto. Estou com tesão e adrenalina para
descarregar.
— Você fica ainda mais gostosa quando geme — assumo.
Começo o bate e volta, sentindo necessidade de ir mais fundo a cada vez que ela
geme toda delicada. Safada! Viro-a de frente, fazendo-a deitar, e vê-la toda receptiva para
mim, gemendo e com os olhos em chamas, me deixa ainda com mais tesão.
É muito foda todo esse sentimento que envolve a gente. Alexia é um combo
maravilhoso de meiguice e safadeza e eu amo muito como ela me faz bem. E a quero pro
resto da minha vida!

ALEXIA
Suspiro de puro cansaço, aspirando o cheiro de Murilo deitado comigo. Desde
que Diego voltou a dar as caras me sinto um pouco mal. Por conta do nervoso, uma
agonia, uma inquietação, uma angústia. Acredito que só quis me dar um susto mesmo,
mas estou com medo que volte a me assombrar.
E a ansiedade se instala ainda mais forte quando lembro que é no começo da
próxima semana que Murilo viaja. Talvez passe o fim de semana na casa dos meus pais
para não me sentir tão sozinha. Minha mente começa a ter flashes de Diego me
ameaçando e cumprindo a promessa de voltar e tentar me beijar como ele sempre tenta,
com Murilo longe. Me sinto agoniada quando começo a pensar no que poderia ter
acontecido comigo se Fred não tivesse me ajudado, e a angústia me toma cada vez mais.
— Morena?
Escuto a voz de Murilo longe até ficar mais perto e eu abrir os olhos.
— Hum — resmungo.
— Teve um pesadelo? Você estava com um sono agitado, indo pra lá e pra cá na
cama. — Sua voz é suave.
— Acho que estava sonhando com esse monte de briga que acontece ultimamente
quando Diego aparece — confesso, meio grogue.
— Vem. Vou fazer um chá pra você dormir melhor.
Ele levanta da cama e me puxa pela mão em direção à cozinha. Sigo com ele
ainda quieta e assisto ele colocar água no fogo enquanto eu sento em uma das cadeiras do
balcão.
Enquanto eu acordo toda inchada e com os cabelos desgrenhados, ele continua
lindo com cara de sono e com o cabelo desordenado de forma linda também. Isso é
covardia!

Chego na agência um pouco atrasada, mas foi por uma causa boa. Murilo me
provocou como sempre e me deixei levar numa rapidinha matinal. Entro sorrindo ao me
lembrar de como meu dia foi iniciado. Eu estou uma safada!
Passo direto para a copa pegar café antes de ir para a sala. Comprei alguns donuts
na padaria de trás para ir comendo no caminho, já que não deu tempo de tomar café em
casa. Queria mesmo era meu cappuccino. Lá encontro Téo, que me deseja bom dia.
— Por que está atrasada? — pergunta com interesse e sinto o rosto formigar de
vergonha; eu ia dizer que foi o trânsito, mas ele logo me corta. — Pela sua cara estava
dando, né, sua safada? — acusa-me com sorriso debochado e malicioso.
— Para, Téo! Que coisa! — Estou mais envergonhada ainda por ver que a menina
do atendimento ouviu, e agora ri discretamente.
— Com um homem daquele eu também me atrasaria sempre. Tá com a pele tão
boa…
— Teodoro… — o repreendo, sem conseguir deixar de rir.
Vou para a sala com ele me seguindo, temos uma reunião de brainstorming e Nat
deve estar por aqui já.

Murilo desde terça-feira está aéreo e cabisbaixo. E hoje é quinta. Ele está
demorando a dormir, pois fica pensativo. Peguei ele acordado na cama esses dias todos
que estamos dormindo juntos. Tenta mostrar que está tudo bem, mas ele não sabe mentir.
Eu aprendi a lê-lo como ele me lê.
Como agora no jantar, quando mal falou, só respondia o que eu perguntava e no
automático. Uma conversa broxante. E olhe que Murilo sempre foi bem-humorado e hoje
está cansado, com palavras breves, sequer o reconheço.
— Como passou o dia?
— Normal, e o seu?
— Estressante — suspira, e eu concordo.
Tem alguma coisa no meio além da viagem, em que a preocupação e ansiedade
são normais. Ainda não descobri o que é, mas saberei; por ora respeito seu espaço. Pego
sua mão e o arrasto para a cama, hoje vou dormir cedo, estou um caco da semana e de
todo o peso mental que me acompanha ultimamente.
Acordo sem motivo aparente, mas logo encontro um. A porta da sacada está
aberta, trazendo o vento forte. Levanto, pois vejo que Murilo não está na cama, e o
encontro debruçado na sacada.
— Ei, Moreno — chamo baixo e o abraço por trás. — Está aqui sozinho por quê?
— Pensei que estivesse dormindo. — Se assusta um pouco pela minha
aproximação repentina.
— Eu estava. Converse comigo, por que está aéreo? — peço baixo. — Não me
venha dizer que tá tudo bem, que nós dois sabemos que não tá.
Beijo suas costas e ele gira o corpo, me abraçando, dando um beijo na minha testa
e em seguida me puxa, sentando na poltrona para sentar no seu colo. Me encolho por
causa do vento forte e ele me abraça.
— Só tô preocupado com umas coisas, principalmente com você.
— Comigo? — Franzo as sobrancelhas.
— Não sei se é uma boa ideia viajar, tô vendo seu medo, eu precisarei ficar
longe… Não iria pra outro Estado em paz sabendo que ele tá te deixando dessa forma. Tô
indeciso.
— Você vai sim. Não podemos parar nossa vida por causa dele. As meninas estão
sempre comigo — tento tranquilizá-lo.
— É melhor ficar por aqui. É mais cauteloso. Depois, quando isso abaixar eu
posso entrar em contato de novo.
Eu poderia dizer pra ele que tem que ficar porque eu preciso dele do meu lado e
ele, com certeza, ficaria. Mas não seria justo e nem quero que ele desista por mim. A
verdade é que eu queria muito que essa proposta demorasse só mais um tempinho pra ele
precisar viajar. Queria que ele ficasse comigo até isso passar e se resolver, mas seria
egoísmo pensar só no meu lado, enquanto ele desde antes de me conhecer já queria isso.
Jamais cortaria o sonho de alguém, sabendo que essa pessoa faria o mesmo por mim.
— Murilo, para essa oportunidade é única — sou sincera. — Nunca te deixaria
fazer isso, seria egoísmo.
Murilo fita o nada, pensativo, talvez analisando tudo antes de decidir de vez.
— Tem certeza que fica bem aqui?
— Duas semanas sem meu Moreno, será que aguento? — Eu o abraço apertado,
rindo, tentando sair do caos que é Diego.
— Não sei. Ficar sem você lá vai ser difícil. — Aperta minha coluna, me
abraçado mais forte.
— Já tô sentindo falta. — Beijo seu pescoço e ele se arrepia. — Mas esse fim de
semana você será meu.
— Mas eu já sou.
Minha barriga agoniza de um jeito bom com essas palavras dele.
— Eu sei. Mas “meu” para usar e abusar. — Faço uma cara sugestiva.
— Gostei! Obrigado por me apoiar.
— Sempre vou estar do seu lado. — Aliso seu rosto. — Vamos dormir. — Bocejo
e ele acena, concordando.
Levantamos e seguimos para o quentinho do quarto. Faço carinho no cabelo dele
enquanto ele faz nas minhas costas. Tento assimilar essa novidade e planejar a partir daqui
de agora.
— Me desculpa pela ausência esses dias, odeio não te dar atenção — diz
baixinho.
— Tudo bem, só não guarda pra você porque me aflige.
— Amo você, ouviu? — Me aperta.
Desço a mão para seu peito e faço carinho ali enquanto me aconchego mais no
seu aperto. Suspiro, acalmando meu coração, voltando com o pensamento otimista: nada
de ruim vai acontecer!
22
ALEXIA
Volto para o quarto depois do banho e vejo Murilo jogado na cama. Dá até pena
de acordá-lo. Esses cabelos sempre desordenados caindo na testa, fora os músculos
descobertos para meu deleite. Tenho vontade de atacá-lo, mas nosso tempo está
cronometrado hoje.
Esse final de semana passou com um gostinho de saudades minha e do Moreno.
Hoje, segunda-feira, ele está indo viajar. Murilo vai agora antes do expediente,
infelizmente.
— Estou no céu? — A voz para mim já é um som familiar.
Esse jeito dele, palhaço e de bem com a vida, sempre me cativa.
— Bobo. — E me dá um sorriso que tanto amo. — Levanta pra não se atrasar.
— Já vou. Que horas são?
— Vai dar seis da manhã. Demora aí não, vou terminar de me arrumar.
Vou pra frente do espelho me vestir. Viro pra trás para chamar Murilo, porém ele
está escorado na cabeceira me observando.
— Preferia sem a calcinha — comenta, safado.
— Vai logo. — Rio da cara de pau dele. Ele geme descontente e me aproximo,
parando na beirada da cama. — Que horas sai seu voo mesmo?
Desliza a mão pela minha barriga, me segurando na bunda, e me dá um beijo
abaixo do umbigo.
— Marcado para as oito. Dá tempo.
Só com essa carícia já fiquei toda arrepiada e uma sensação deliciosa sobe pelas
minhas pernas.
— De quê?
Ele ri safado, me puxando para a cama em um solavanco e eu caio de lado. Ele
rasteja e põe as pernas em cima de mim. Ele já acorda na safadeza, pois sinto algo
pressionando minha bunda.
— Transar. Vamos nos despedir como se deve — sussurra.
— De novo?
Rio com ele, pois passamos esse fim de semana todo fazendo besteirinhas para se
despedir, como se fôssemos ficar um ano separados. Murilo me beija enquanto me apalpa
com vontade por cima da calcinha. Gemo, me contorcendo.
Aperto seu braço enquanto me beija e me apalpa, me deixando molhada. Puxo ele
para cima de mim e voltamos a nos beijar.
— Gostosa. — Morde meu ombro e em seguida o lambe.
Gemo quando ele vai passando a mão pelas minhas pernas. Sem descolar nossas
bocas, me viro indo para cima dele. Puxo sua camisa e passo a mão nas suas costas. Ele
chupa meus lábios, mordisca e volta a me beijar.
Puxa meu vestido e ataca meu pescoço, segurando minha bunda enquanto aperta.
Deito por cima dele e sento no seu volume duríssimo. Estamos separados só pelo
tecido da calcinha e cueca. Faço movimentos de sobe e desce contra ele e ofego. Adoro
isso!
— Você é muito gostoso. — Gemo, sentindo minha calcinha encharcada em
cima. Ele segura na minha cintura e suga um dos meus mamilos enquanto eu rebolo no seu
colo.
— Vou socar tanto em você que quando eu voltar ainda vai estar me sentindo no
meio das pernas.
— Por favor, gostoso — falo baixo, com a respiração irregular.
Nos agarramos na cama como loucos até entrar duro como rocha em mim. Ele se
movimenta de forma alternada enquanto sinto o peso do seu corpo. Abraço suas costas
com os pés e ele, com uma das mãos, segura a minha nuca como apoio.
— Vou ficar com saudades disso — sussurra enquanto se movimenta.
— Eu também. Estarei aqui te esperando.
— Saber disso me deixa com mais tesão. — Entra de novo até o fundo.
— Amo a sensação de sentir você. — Ofego, puxando seus cabelos e o beijando.
— Segure-se, vou te foder gostoso. — Pega mais firme no meu cabelo.
Ele cumpriu o que prometeu sem se importar com mais nada, só matando a
saudade que ainda virá. Amo quando ele está assim, no modo cem por cento safado.

— Quando chegar lá, me liga? — pergunto.


— Ligo. Vou direto pra reunião, mas te ligo.
— Tudo bem, qualquer coisa me ligue ou deixe mensagens.
— Pode deixar. Precisamos de férias. Mal posso esperar. Um mês só na cama
com você. Te comer de tudo que for posição. — Ele sorri com vigésimas intenções.
— Para de atiçar, safado — digo, cruzando as pernas.
— Mas eu não falei nada de mais. — Ele ri e coloca a mão na minha perna.
— Vamos ficar algumas semanas longe. Não atiça — peço.
— Tudo bem. — Sorri e vai com o dedo em direção à minha calcinha.
— Murilo… — alerto e gemo ao mesmo tempo.
— Deixa-me fazer um agrado — pede, colocando o dedo por dentro da calcinha.
Gemo, me contorcendo.
— Suspende um pouco o vestido.
Obedeço sem fazer objeções. Ele, sem tirar uma mão do volante, passeia os dedos
de leve, me eriçando.
— Isso não vai dar certo — resmungo, sentindo seus dedos.
— Deixa de ser resmungona. E abre mais as pernas — manda e eu obedeço.
Ele desliza os dedos pela minha entrada e eu gemo, me arrepiando. Continua a
me masturbar por dentro e por fora com o polegar. Mordo a boca para não gemer e dar
bandeira do que estamos fazendo dentro do carro.
Contorço os pés me livrando dos saltos quando ele aumenta a velocidade dos
movimentos. Paramos em um sinal vermelho e ele se empenha em ir com mais apoio.
Gemo baixo tentando me controlar e fecho os olhos, sentindo as milhões de sensações que
ele me proporciona.
A forma que ele está tirando e colocando o dedo é instigante. Agarro no banco
quando sinto vir.
— Murilo. — Gemo de olhos fechados, mordendo as bochechas por dentro.
— Isso, safada, geme. — Ele me atiça ainda mais enquanto dirige.
Não sei como ele tem capacidade para me enlouquecer e dirigir ao mesmo tempo.
Maldito carro automático!
Me contorço mais um pouco no meu banco e minha pele eriça mais. Logo sinto o
orgasmo vir, me fazendo tremer e apertar o banco.
Abro os olhos e viro o rosto para ver Murilo sorrir e lamber os dedos.
— Vou chegar no trabalho com cheiro de foda agora. — Tento parecer séria.
— E isso é ruim? — Ele ri, cínico.
— É sério! — Rio com ele. Não existe pessoa mais safada.
Chegamos no aeroporto e ele estaciona o carro. Ele segue para fazer o check-in
enquanto eu vou ao banheiro me limpar.
Encontro ele saindo do balcão com o cartão de embarque. Por mais que seja por
pouco tempo, confesso que dá um aperto no coração em não ter ele sempre por perto. Já
me acostumei com a presença e as implicâncias dele.
Ele chega perto de mim e sorri, me derretendo ainda mais.
— Vem, amor — me chama, estendendo a mão para pegar na minha.
— Vamos. Não quer comer primeiro, antes de despachar sua mala? — questiono,
pois ele não comeu nada ainda hoje, só uma xícara de café enquanto eu me arrumava.
— Vamos comer então. Meu voo sai daqui a meia hora só. — Me segura pela
mão e andamos juntos para alguma cafeteria.
Entramos, estava cheia, porém tinha lugar para sentarmos. Pegamos uma mesa de
dois lugares.
Comemos juntos enquanto conversávamos. Pagamos a conta e saímos para ele
despachar a mala dele e ir para a sala de embarque.
— Não faz essa carinha, morena. — Me abraça.
— Desculpa. — O abraço mais forte. — Sou uma boba.
Faltam só dez minutos para o voo dele sair e ele precisa ir para não perder as
chamadas.
— Prometo que vou ficar lá o mínimo de tempo que eu puder.
— Mas não faz as coisas com pressa não. Não vou fugir — o alerto de novo.
— Pode deixar. Vem aqui. — Traz meu queixo para me beijar. Eu o abraço mais
apertado, matando a minha saudade com os beijos.
— Boa sorte lá. Amo você. — Tento me separar, mas ele continua a me apertar.
— Olha pra mim. — Me pede e eu obedeço. — É pouco tempo, no máximo duas
semanas. Nada de tristeza. Vamos nos falar todos os dias. — Alisa minha bochecha e eu
assinto, absorvendo a carícia.
— Tudo bem, amor — concordo, com melancolia.
— Se acontecer qualquer coisa com você, por favor, me liga.
— Tudo bem. Agora vai lá pra não perder o voo.
— Se livrando de mim? — Faz cara de ofendido e eu rio.
— De forma alguma — brinco e ele me beija de novo.
Aspiro seu cheiro no pescoço e fico ali por uns segundinhos, sentindo a quentura
da sua pele na minha.
— Te amo.
— Amo mais.
Eu dou outro abraço ainda mais apertado, enquanto ele me beija na bochecha e
alisa minha cabeça. Saímos do abraço e ele dá um beijo na minha testa e depois um
selinho antes de se distanciar de mim.
Vejo ele entregar o cartão de embarque e olhar para trás, me presenteando com
um sorriso e um tchau com a mão. Retribuo e o acompanho com os olhos até ele passar
pelo detector de metais e seguir o caminho para a sala de embarque.
Odeio despedidas, mesmo que sejam breves. A dor fininha insiste em ficar no
peito. Eu deveria ficar radiante por ele estar indo para conseguir um trabalho maior, mas
sei lá. Estou com uma sensação estranha e espero que seja só impressão mesmo. Vai
entender o coração.
Volto para o carro e faço meu caminho de volta ouvindo música. Era para ser sete
e meia, mas cheguei oito e pouco. Porém, deixei meu cartão com Natasha na sexta-feira
para ela bater o ponto hoje. Só espero não me bater com nenhum superior no meio do
caminho.
Passo na lanchonete e compro suco para Nat e acabo pegando um para Téo, pois
sei que vai chiar se eu não levar.

Subo do almoço e encontro Natasha com cara de morta jogada na cadeira, sem
coragem pra nada.
— Tá assim por quê?
— Mal-estar, depois que almocei fiquei assim. — Revira os olhos.
— Será que vou ser titia? — Rio pra ela.
— Não viaja. — Revira os olhos de novo e eu dou de ombros.
A tarde passou rastejando como sempre. E logo que dá o horário de saída, pego
meu carro e vou para casa descansar. Antes de ir, como medida de segurança, Murilo
trocou minhas fechaduras, para o caso de Diego ter alguma cópia que eu não saiba e até
recomendou que eu ficasse na casa dele em vez da minha.
Chego em casa e está tudo escuro. Odeio essa sensação de não ter para quem
voltar. É estranho sentir falta de uma pessoa que vi algumas horas atrás.
O filho da mãe tem feitiço, não é possível. Ligo o celular e vejo algumas
mensagens e ligações dele que acumularam durante a tarde e não pude atender.
“Estou indo para o hotel.”
A última mensagem dele foi de vinte minutos atrás. Entro no quarto, jogo a bolsa
no chão e os saltos em qualquer lugar. Não aguento essa roupa apertada o dia todo.
Prendo o cabelo e corro para o banheiro pra tomar um banho quente e relaxar o
corpo do dia exaustivo. E olhe que ainda é só segunda.
Pego uma camisa de Murilo, que fica enorme em mim, porém confortável, e
visto. Tem o cheiro do perfume dele. Usou ontem e era para ter colocado no cesto, mas
como sempre, larga embolada na gaveta. Ô mania chata, mas hoje não me importo com
isso.
Meu celular toca em algum lugar e eu pego. Tem mensagem dele.
“Morena, cheguei. Por favor diga que também está morrendo de saudades.”
Sorrio com aquilo e meu coração se aquece. Como pode essa pessoa ser tão…
minha?
Resolvo ligar para ele, que antes do segundo toque, atende.
Falo com ele, que já disse que está morrendo de saudades, e sorrio boba. Segundo
ele, já deu uma boa impressão. Ainda falou safadezas, me deixando com as pernas bambas
que tive que cruzar para conter.
Desligo o celular e vou para a cozinha esquentar a comida que ele falou para
comer. Esquento e vou para a sala comer enquanto assisto.
É estranho saber que uma outra pessoa que nem era para ser tudo isso na minha
vida causa isso, essa sensação de vazio.
“Amo você.”
Checo o celular e vejo que a mensagem dele foi há vinte minutos. Sorrio boba
para a tela do celular e respondo.
“Amo mais. Vou dormir, beijo.” — Envio e logo em seguida bloqueio o celular.
Sigo para o quarto e me jogo na cama, me aninhando no seu travesseiro que ainda
tem seu cheiro fresco, e caio no sono de puro cansaço. Murilo era para ser só um
passatempo, mas se tornou muito mais e eu o amo muito. São engraçadas e surpreendentes
as reviravoltas da vida. Um cara que eu não me imaginava sem, hoje prefiro longe, e o
cara que eu achei que fosse passatempo hoje é a pessoa que eu não me imagino longe de
nenhuma forma.

A semana passou como sempre, um pouco lenta, entretanto normal. Diego não
veio mais atrás de mim e eu agradeço por isso.
Confesso que estou meio amedrontada ainda, mas não falei a ninguém sobre isso,
muito menos a Murilo, pois não quero alarmar ninguém, e se disser ao Moreno, ele vai
ficar preocupado e vai querer vir embora no próximo avião. Todos os dias, quando chego,
só me sinto segura quando tranco a porta e rezo para ele não vir atrás de mim. Minhas
preces estão sendo atendidas e eu agradeço muito por isso.
E esse medo está me fazendo mal, pois além de andar assustada, quando alguém
me chama por trás ou chega de surpresa eu acho que é ele me observando.
Falo com Murilo todos os dias sobre tudo, menos o assunto Diego. E falando no
Moreno, o desgraçado parece que colocou uma coisa automática escondida no quarto, que
durante a semana todinha eu sinto o perfume mais forte. O ambiente fica parecendo que
ele acabou de passar.
Dá o horário de saída e passo no mercado para comprar sorvete e algumas outras
coisas, tudo que eu costumo comer nos fins de semana. Em um fim de semana de tédio!
Aproveito e passo pra comprar comida para o jantar. Volto para casa e me jogo no
sofá. Checo o celular e vejo que tem uma ligação de Murilo, de dois minutos atrás. Disco
o número dele e dois toques depois ele atende, com a voz gostosa.
Conversamos brevemente, e escutar ele dizendo que não consegue mais dormir
desacompanhado e sente saudades de mim foi o ápice do meu dia. E eu disse que meus
dias são monótonos sem ele. e de fato são. Pediu para que eu tomasse cuidado e que em
breve estaria de volta. Sentir-se amada é uma coisa tão gostosa!
Bloqueio o celular com o coração pequenininho de saudades. Uma semana e já
sinto como não o visse há anos.

Acordo para o trabalho normalmente, depois de uma semana do cão. Não vejo a
hora de Murilo voltar, estou morrendo de saudades e meus dias estão bem monótonos sem
ele para me encher o saco. Sem contar que estou com outros tipos de saudades também.
Nunca ficamos longe assim!
Na verdade, se pudesse nem saía de casa hoje. Estou me sentindo mal e nem sei
ao certo o motivo. Um aperto no peito desde que acordei. Odeio essas coisas.
No celular tem uma mensagem de Murilo de dez minutos atrás, dizendo que
talvez venha para casa esse final de semana, e eu rezo para que seja verdade. Sinto um
afago no meu coração, mesmo com a angústia que insiste em se instalar aqui no meu
peito. No caminho do trabalho até liguei para meus pais pra saber se eles estão bem.

Desço para casa. Hoje vou dormir na casa de Murilo. Estou com saudades dele,
então vou para o seu apartamento. Meu dia foi interessante. Almocei com Lizandra e tive
um dia produtivo.
— Ficou até mais tarde por quê? — Letícia, uma amiga do setor próximo, fala
comigo no elevador.
Nos conhecemos desde que cheguei na cidade. Ela era minha vizinha de porta
antes de mudar de casa com o marido, quando engravidou da primeira filha. Foi ela quem
me avisou do processo seletivo aqui na empresa, na época.
— Tinha que terminar o projeto. E você? Cadê William?
— Tive mais trabalho também. E ele saiu no horário pra pegar Lua na escola.
— Tá de carro? — procuro saber.
— Não. Vou esperar ele aqui.
— Te dou carona. — É bom uma companhia pra ir pra casa.
Esperamos o elevador parar em um andar, onde mais algumas pessoas entraram.
Seguimos para o hall e ela para do nada.
— Que foi? — questiono, curiosa.
— Esqueci meu celular na gaveta. — Coloca a mão na testa.
— Vai buscar. Te espero no carro.
Ela acena, entrando no mesmo elevador para subir, avisando que iria rápido.
Desejo boa noite para os seguranças e sigo para o estacionamento. Estou doida para
chegar em casa, vou comer algo e assistir um pouco de série. Voltar a ser a Alexia de
antes, com a Netflix como companhia em vez de um moreno maravilhoso. Estou doida
para saber quem é a Uber-A em Pretty Little Liars. Já fiz mil teorias, mas sempre
quebradas por algum fato novo. Tudo parece ser, tudo parece não ser. Essa série está me
consumindo ultimamente!
Sinto alguém puxar meu braço e dou um grito que logo é abafado com uma mão.
Meu coração está batendo descontrolado e minhas pernas enfraquecem. Sou empurrada
com grosseria para a parede lateral do prédio.
— Sentiu saudades? — Sorri perverso para mim.
— Diego… — Sinto minha garganta fechar e secar na mesma hora.
— Não vim pra conversar, não mais.
Diego me ataca tentando puxar minha camisa e eu tento estapeá-lo e me soltar,
desesperada.
— Me solta, Diego! — peço, chorosa, sabendo que Murilo não poderá detê-lo.
Cristo! Me ajuda!
— Cala a boca. Cadê seu namoradinho agora, hum? Vi que ele não te busca
mais, te deu um pé na bunda, foi?
Continua a tentar puxar minha camisa e eu estapeio, mais desesperada. Minha
bolsa uma hora dessas já foi para o chão.
— Para! — suplico.
— Você assim tá me dando mais tesão — sussurra e isso me enoja.
— Diego, por favor. — Meus olhos já estão embaçados de lágrimas.
— Cala a boca! — Tampa minha boca e com a outra mão tenta rasgar minha
blusa.
Sinto nojo de tudo. De ter colocado ele dentro da minha casa, fazer questão de
apresentá-lo aos meus pais, de fazer de tudo para agradá-lo e inclusive me anular para
isso.
Como eu consegui ficar quase dois anos com um ser humano desses e nunca
percebi o tipo de pessoa que ele era? Quão cega eu fiquei nesse relacionamento?
— Alexia?
Sinto passos próximos.
— Seu anjo da guarda é forte, hein? Me espere na sua casa com uma lingerie
combinando e vinho! — Diego me solta e eu acabo me batendo no chão, chorando e me
sentindo um lixo.
A dor que estou sentindo internamente é maior que a do meu corpo. Letícia
aparece com o segurança noturno, que corre por onde Diego foi. Letícia se agacha perto de
mim, me abraçando.
— Esse estacionamento não é de confiança — tenta me acalmar.
— Foi Diego. — Choro, abraçando-a mais forte.
Ela se mostra chocada e eu continuo a abraçá-la. O segurança volta ofegante,
dizendo que não conseguiu achá-lo no estacionamento escuro, e segue com a gente até
meu carro, depois de pegar minha bolsa jogada no chão.
— Vamos pra delegacia.
— Eu quero ir embora, quero sair daqui! — digo, chorosa. — Eu preciso…
Preciso de Murilo. Principalmente dele.
— Não! A gente vai sim. O que ele tentou fazer é muito grave!
Assinto sem forças para ser contrária. Letícia acaba dirigindo enquanto vou
calada, me sentindo horrível, um caco, e morrendo de medo dele tentar de novo. Ele não
seria capaz. Ou seria?
Diego mudou tanto, nunca pensei que seria capaz de tentar fazer uma coisa dessas
e isso me assusta!
Paramos na delegacia feminina mais próxima e entramos juntas, com ela
apertando minha mão. Ela me cedeu seu casaco por causa da camisa rasgada, e agradeci.
Tivemos sorte de estar aberta, já que só fica em horário comercial, o que eu acho
erradíssimo, aliás.
A delegacia não está tão cheia, mas tem gente sendo atendida. Letícia traz água
para mim enquanto liga para o marido, e nossa vez não chega até me acalmar um pouco.
Quando a última pessoa que estava na nossa frente foi liberada, seguimos para fazer o
boletim de ocorrência.
Nós somos encaminhadas para uma sala reservada, para conversar com o
escrivão. E eu me sinto horrível por estar nessa situação e por só ter homens aqui. Todos
eles me amedrontam. Eu me sentiria mais à vontade, ou menos constrangida, com uma
mulher.
Conto tudo que aconteceu, mesmo me sentindo exposta por falar, ainda mais para
um homem, com o máximo de detalhes possível, como me pediu, enquanto Letícia me
conforta apertando minha mão e me ajudando a contar o ocorrido. Inclusive contei da
ameaça de agora e que antes disso ele tentou me abordar no trabalho.
Depois que terminamos, fomos preencher o B. O. com outro policial.
— Qual roupa a senhorita estava? — O policial questiona.
— O que tem a ver? — Letícia pergunta, indignada.
— Temos que saber.
— A roupa não importa, e sim o que ele fez — se altera.
O policial nos olha com cara de tédio e prossegue em pura má vontade.
— Você não fez alguma coisa pra chamar a atenção dele? Tem certeza? —
questiona sério diretamente para mim e Letícia bate o pé no chão, impaciente.
— Tenho. A gente não se via há alguns meses desde que nos separamos —
respondo.
— Você deixou claro que estão separados? — Arqueia uma das sobrancelhas.
Olho para ele tão indignada quanto Letícia do meu lado.
— Sim. Não temos nada há muitos meses. Ele inclusive entrou em outro
relacionamento antes mesmo de terminar comigo.
— Tem certeza que foi seu ex?
— Tenho, e ela estava comigo e viu. Fora o segurança de onde trabalho. Eu posso
pedir algumas imagens da câmera.
— Certo.
William chega logo depois de termos feito todos os procedimentos exigidos; dei o
nome completo de Diego e seu endereço, fiz corpo de delito, coisa que foi horrível, pois
me senti ainda mais humilhada com os olhares duvidosos para mim.
Meu braço está com um roxo enorme e Letícia deu seu depoimento,
complementando como minha testemunha. Saímos de lá tarde da noite com eles avisando
que vão encaminhar para investigação e em breve Diego será indiciado. Mas estou
desanimada, duvido que isso vá para frente.
Letícia decide me levar para casa e peço para que me leve para a de Murilo,
enquanto William a segue com o carro. Faço o caminho calada, me sentindo um caco.
Arrasada é pouco para definir como estou me sentindo.
— Tem certeza que não quer ir lá pra casa? — Letícia me questiona pela
milésima vez.
— Tenho. Você fez demais por mim hoje, obrigada.
Os dois me abraçam e seguem seu caminho. Entro em casa, tranco-a e confiro
mais de uma vez se está mesmo trancada. Me jogo no sofá, dando uma falsa sensação de
segurança, já que ele não sabe onde Murilo mora, ao menos eu acho. Me permito chorar o
que não consegui na rua, por estar em choque, com a cara enterrada na almofada, tentando
ter algum conforto.
Eu só queria Murilo aqui do meu lado agora, me acalentando. Estou morrendo de
saudades e desesperada pelo que aconteceu hoje. Diego com certeza vai voltar e eu estarei
desprotegida. E isso me assombra!
Meu celular toca e pego pensando que é Letícia, mas vejo o visor: é Murilo.
Respiro fundo para não denunciar o recente choro e atendo.
— Morena…
— Oi, amor — respondo com vontade de chorar de novo.
— Vou ter que ficar mais uns dias aqui, pois um filho da puta aqui atrasou
algumas coisas.
— Tudo bem — digo, chorosa e desanimada.
— Aconteceu alguma coisa aí?
— Não. Só saudades.
— Por que eu tenho a impressão que você não tá falando a verdade?
Porque eu não estou. Vem para casa, por favor, eu preciso de você.
— Eu tô. Juro — minto descaradamente, em pura angústia. — Eu tô querendo
gripar por causa do ar-condicionado o dia inteiro, por isso que minha voz tá dessa forma.
— Prometo que tá acabando. Toma remédio.
— Tá certo. Eu tô te esperando.
— Eu sei que tá. Eu te amo, não esquece.
Tenho vontade de mandá-lo largar tudo lá e vir ficar comigo, pois preciso muito
dele. Mas não posso. É a oportunidade da vida dele, não posso ser egoísta. Amanhã é um
novo dia, mas creio que no decorrer dele tudo melhore. Pelo menos espero.
23
ALEXIA
Acordo um caco. Dormi nadinha, praticamente. Fiquei passeando pra lá e pra cá e
tive alguns pesadelos, pensando que Diego viria atrás de mim. Um sono conturbado,
lembrando tudo que ele já aprontou ao longo do nosso namoro, até o último
acontecimento. É revoltante e doentio. Se ele nunca gostou de mim, por que tá me
perseguindo?
Letícia tinha deixado uma mensagem pra mim às seis da manhã para perguntar se
eu estava bem e se precisava de carona. Apenas agradeci, pois preciso do meu carro para
ir à casa de meus pais. A tranquilidade e área verde de Atibaia irão me ajudar.
— Bom dia — sussurro quando chego. Estou desanimada até para falar.
Hoje eu estou mais antissocial do que qualquer outro dia.
— Bom dia, sis. Que foi? — Nat questiona, preocupada. — Isso é saudade de
Murilo, é? — Faz gracinha, mas nem clima para isso eu tenho.
Nego com a cabeça, prendendo o choro. Nat vem na minha direção segurando
minha mão, sua expressão preocupada faz com que eu a deixe me arrastar pela mão.
Entramos em uma sala interditada que será reformada. Como ela sabia que fica
destrancada eu não sei.
— Desabafe pra mim, sis — me pede.
— Nem sei como começar. — Sinto meus olhos arderem novamente.
— Amiga, você tá me assustando e preocupando.
— O Diego… ontem na saída… ele me agarrou e tentou… — Não consigo
verbalizar totalmente.
Não consigo mais prender o choro e assinto, confirmando o que provavelmente
deduziu por si. Ela vem na minha direção e me abraça apertado, de forma calorosa.
Coloco minha cabeça no seu ombro, embora ela seja menor, enquanto choro inconsolável
como uma criança, um choro sentido mesmo, de medo e angústia, com lágrimas grossas, e
chego a soluçar.
— A única coisa que pensei era que ia acontecer — murmuro em meio aos
soluços.
— Por que eu deixei você sair sozinha? — lamenta em um murmúrio, chorosa.
Ela entende o meu medo. Ela também é mulher.
— Não foi sua culpa.
— Por que não me ligou? Não era pra você dormir sozinha nesse estado. Murilo
já sabe?
— Não quis contar pra ele não querer vir correndo, capaz de perder o emprego.
Não aconteceu nada, graças à Letícia e ao segurança noturno.
Ela separa nosso abraço e limpa meus olhos. E vejo que ela também tem os olhos
marejados.
— Prestou queixa, pelo menos?
— Sim. Abri o inquérito e vão atrás dele.
Ela assente e me abraça de novo.
— Vamos lá pra casa. Tem a Liz pra fazer companhia. Pelo menos não fica
sozinha.
— Vou pra casa de meus pais.
— Quer que eu leve você lá? — se mostra solícita. — Se depender de mim ele
não vai mais triscar um dedo em você. Eu arranco as bolas dele se isso acontecer!
— Não precisa. Será contramão.
— Mas qualquer coisa me liga. Qualquer coisinha que seja. Não vem com esse
papo que vai me incomodar não. Sou sua amiga também — diz, com a pose de irmã mais
velha, embora tenhamos a mesma idade.
— Obrigada por ser minha amiga. — Abraço-a de novo.
— Eu sou amável demais, né? — Faz graça para quebrar o clima e eu rio sem
muita vontade. — Venha, vamos pra sala. Faça o que você vê que não pode esperar, o
resto eu faço.

Quase oito da noite. Entro no bairro de meus pais e logo avisto a rua onde morei
por tantos anos. Lembranças boas surgem na minha cabeça. Eu fui a típica criança que
brincava na rua de tudo que é coisa. Que saudades eu estava desse lugar, parece que eu
não venho aqui há mil anos. Eu amava morar aqui, mas também sempre tive o sonho de ir
para a cidade grande.
Eu não avisei ninguém que estava vindo pra cá. Nem meus pais e nem Ísis e
James. Só espero que não estrague o fim de semana deles, caso eles tenham combinando
alguma coisa.
Decido ir direto para a casa de meu irmão. Preciso da minha amiga de infância
antes de falar qualquer coisa para meus pais. E também não sei se meus pais estão em
casa. Eles costumam sair à noite.
Buzino umas quatro vezes, abro a janela do carro e grito pela Isis, que aparece
com um rosto confuso na porta e percebe que o barulho é na porta dela. Ela arregala os
olhos ao ver que é meu carro e corre para abrir o portão.
— Milagre! — Vem de bom humor.
Pulo do carro para abraçá-la e a vontade de chorar vem na hora. Não consigo
evitar as lágrimas e ela me abraça com força.
— Vamos entrar pra podermos conversar, você não tá bem.
Me solto do seu abraço e limpo minhas lágrimas. Ela mesma pega minhas chaves
e aciona o alarme do carro. Entro no seu apartamento e encontro James saindo da cozinha.
Ele fez a mesma cara confusa e surpresa que Ísis.
— O que foi? — Vem na minha direção para me abraçar.
Ele, sempre preocupado, me dá um abraço reconfortante, e eu amo isso. James
sempre me protegeu como a irmãzinha dele, cada namorado que eu tinha ele fazia o garoto
comer o pão que o diabo amassou para saber se eles valiam a pena. Sempre foi protetor
comigo e com Isis, com quem ele acabou casando e tendo dois filhos.
— Cadê meus sobrinhos? — questiono, mudando de assunto.
— Tá lá na casa de meu pai. Estão trazendo-os já — James responde.
— Então vou esperar eles chegarem — respondo.
Fomos em direção à cozinha e vejo que ainda não jantaram. Incluíram mais um
prato, embora eu não esteja com fome. Meus pais e os meninos não demoram a vir, vieram
jantar aqui a pedido da minha sobrinha.
Helena faz festa quando me vê. Carrego ela no colo e a abraço bem apertado de
saudade. Apesar de ela ter seis anos, não é muito alta. Mas com a mãe que tem não
poderia ser diferente.
E a reação de meus pais foi a mesma. Igualmente surpresos, pois eu nunca vim
assim, depois do trabalho. Ainda mais sem avisar.
Enrolei até quando consegui, mas depois do jantar não tive para onde correr. Por
mais que eu seja adulta, passando por poucas e boas e morando sozinha, quando chego
aqui eu me sinto a mesma adolescente de sempre. E isso é a graça de visitar os pais. James
mandou Helena subir para pôr pijama e ela vai sem reclamar.
— Sua cara não tá boa. Conta logo. Foi o Murilo? — Minha mãe questiona.
Conto tudo que aconteceu na noite de ontem, fazendo minha mãe e Ísis chorarem,
meu irmão soltar uns palavrões e meu pai ficar irritado e choroso, abraçando minha mãe
enquanto escutava meu relato.
— Eu vou atrás daquele desgraçado, vou matá-lo! — James ruge.
— Calma — Isis tenta parar meu irmão.
— Calma? Ele poderia… Olha como ele deixou minha irmã! — responde, bravo
como um touro vendo vermelho.
Escuto o desenrolar de tudo com Ísis me abraçando. Estou abalada demais até
para interferir, apenas segurando no colar que Murilo me deu, um Ponto de Luz, querendo
mais do que nunca a proteção extra que ele traz.
Antes de dormir, conversei abertamente e a sós com Ísis, que cismou em me
analisar como terapeuta e me acalmou um pouco quanto ao meu medo. Mas me
recomendou consultar um psicólogo caso me sinta emocionalmente esgotada e se meus
pesadelos continuarem, para que isso não me deixe pior, e aceitei a sugestão.
Mesmo amparada, ainda me sinto desprotegida e com medo. Esgotada, decido ir
dormir e Isis preferiu que eu ficasse aqui, com a companhia de Helena. E agradeci por ter
alguém dormindo comigo para que eu não me sinta desprotegida, mesmo que seja minha
sobrinha, uma criança. Não vejo a hora disso tudo acabar e Murilo voltar!

MURILO
Finalmente! Não via a hora de voltar pra casa para ver minha morena. Pelo
horário ela ainda está acordada, espero. Estou até com o peito apertado, achei que fosse
alguma coisa com ela, mas ela garantiu que estava tudo bem. Saudades é uma droga!
Odeio essa melancolia.
Eu estava lá, mas a cabeça não saía daqui de forma alguma. Preocupado! Desde
ontem que não nos falamos, porque eu fiquei em mil reuniões chatas e teve o voo que
quase perdi. E quero fazer surpresa. O táxi estaciona e eu subo para o meu apartamento.
Acho que ela está ficando aqui, pelo menos pedi que ficasse, como forma de segurança. E
se não estiver eu vou para lá.
Está tudo escuro, mas vejo sua bolsa maior no sofá. Deixo a minha sacola lá
mesmo e sigo para a cozinha com uma sacola de comida que comprei no caminho, e
flores. Dei sorte de achar uma floricultura aberta. Na verdade, estava fechando, mas
percebi que floriculturistas não têm coração tão duro quando descobrem que é para fazer
uma surpresa para a namorada, por causa da saudade da viagem. Arrumo tudo, coloco o
vinho na geladeira para não esquentar e subo para encontrá-la.
Chego no quarto e a encontro dormindo, enroscada no travesseiro, e o melhor:
vestindo minha camisa, mostrando as pernas desnudas.
Que visão! Que saudade!
Arranco meus sapatos e vou para a ponta da cama acordá-la. Esse cheiro familiar
é gostoso, me aquece. Isso faz com que eu me sinta de volta em casa.

ALEXIA
Penso novamente se Letícia não tivesse aparecido, o que aconteceria, se ele
realmente terminaria o serviço. Meu coração acelera automaticamente e sinto meu corpo
tremer por lembrar dele falando exatamente isso, que “terminaria o serviço”. Depois tremo
de novo pensando em Diego invadindo aqui para que isso aconteça. Tudo que eu queria
era Murilo aqui me acalentando, me abraçando, me protegendo nos seus braços e me
consolando com seu corpo quente.
— Ei, Morena…
Escuto a voz baixa de Murilo. E escuto mais uma vez. O meu sonho é tão real que
até escuto a voz dele como se tivesse realmente me chamando.
— Acorda, dorminhoca.
Escuto novamente e abro os olhos para ver Murilo me olhando, mesmo com a
visão ainda embaçada.
— Murilo? — Semicerro os olhos, que ardem um pouco. — Murilo! —
questiono, me dando conta da realidade.
— Em carne e osso pra você.
Vejo ele sorrir para mim de cima e abro um grande sorriso, agarrando-o pelo
pescoço e o derrubando na cama, ficando por cima do corpo dele enquanto ele me agarra
também, me abraçando.
Sem esperar, sinto uma vontade enorme de chorar e acabo deixando as lágrimas
saírem dos meus olhos enquanto enterro minha cabeça no seu ombro. Murilo dá uma
sensação tão gostosa de acolhimento.
— Imaginei que estaria com saudades, mas não a ponto de chorar assim. — Alisa
minhas costas falando no modo bem-humorado dele, como sempre.
Continuo chorosa, agarrada ainda mais no seu pescoço, rezando para que não seja
um sonho. Que ele realmente está aqui comigo, que é real. Estava morrendo de saudades
dele.
— Ei, o que foi? — comenta baixo, com um tom preocupado na voz.
— Saudade.
Levanto meu rosto para fitá-lo, ao mesmo momento que ele segura minha nuca
para me beijar.
Brinca com seus lábios nos meus, me deixando em pura ansiedade. O pego em
um beijo esmagador. Sufocante. Como se eu quisesse mais dele, e eu quero. Não me
importo se vai machucar sua boca ou a minha.
Ele segura me apertando mais, virando-me, me deitando na cama novamente, me
colocando por baixo, e me fita, separando nossos lábios.
— Foi o que mais senti também.
Sorrio para ele e avanço mais uma vez para sua boca. Saudades desse beijo e
desse homem!
Fiquei ansiando por esses beijos desde que ele embarcou. O beijo é intenso, e
sorrimos entre um e outro.
Nos separamos de novo com gostinho de quero mais.
— Pensei que ia ficar lá até o meado da semana.
— Também achei. Mas resolvemos as pendências na última reunião e não liguei
mais porque quis fazer uma surpresa.
Beijo ele de novo, só que dessa vez foi um selinho. Ele me agarra e junta nossas
bocas mais uma vez e eu mato um pouquinho mais da minha saudade. Saudades dessa
boca gostosa.
— Vamos levantar… — Beija meu pescoço rapidamente e eu me arrepio da
mesma forma.
— Não — nego, dengosa, colocando minhas mãos por dentro da sua camisa,
alisando suas costas.
— Sim!
Junta os lábios delicadamente no meio, em um selinho gostoso. Sai de cima de
mim e me puxa para sentar logo em seguida.
— Tenho outra surpresa — comenta.
— O quê? — questiono, curiosa.
— Levanta que mostro.
Em menos de dois segundos, levanto da cama arrumando a camisa dele no meu
corpo e dando um nó no cabelo. Murilo gargalha me abraçando e me leva para a cozinha.
Chegamos lá e vejo uma coisa que me surpreende.
A mesa que nós quase não usamos, pois nunca temos tempo de sentar lá, está
arrumada para um jantar a dois. E um arranjo de flores bonito e novo, acompanhando e
dando um toque romântico e fofo.
— Como arrumou tudo isso? — Não escondo minha confusão.
— Não foi uma coisa demorada.
Rio e tremo um pouco. Não sei como ele vai reagir quando eu contar de Diego.
Mas não contarei agora. Amanhã, quem sabe, não quero pensar nisso agora, só quero
curtir e matar a saudade de Murilo, sem mais dramas.
— Venha, sente se. — Arrasta a cadeira para mim e depois vai em direção à
geladeira.
Observo de perto toda a decoração arrumadinha na mesa. Ele trouxe rosas
vermelhas por saber que é uma das minhas flores favoritas e que ele já me deu uma vez e
eu super amei. Como não o amar?
— Vinho é afrodisíaco, sabia? — Sorri torto e eu reprimo um sorriso.
Murilo é muito safado mesmo.
— Ah, é?
Faço graça e ele traz duas pequenas tigelas com escondidinho dentro. Estou
morrendo de fome, mas quando cheguei fiquei sem coragem alguma de comer.
— Vai me dizer que fez também enquanto eu dormia? — questiono, com uma
sobrancelha arqueada.
— Não. Isso eu comprei no caminho. — Sorri da expressão que faço.
É tão gostoso ter a companhia dele. Tudo parece mais fácil e inofensivo, como se
eu fosse mais inalcançável e mais forte, não sei. Murilo serve vinho para nós e senta de
frente para mim. Jantamos juntos dando sorrisinhos um para o outro, morrendo de vontade
de fazer outras coisas.
Acabamos de jantar e estamos ambos olhando um para o outro em pé depois de
termos colocado os pratos na pia. Murilo me abraça por trás, me beijando na nuca, e eu
fico mole feito uma gelatina nos braços dele.
Me vira de frente e arruma meus cabelos, colocando-os atrás da orelha, e avança
para me beijar, segurando firme nos fios. O beijo que ele me dá é muito “uau”, do tipo que
minhas pernas amolecem e me fazem bater palmas, mas não com as mãos.
— Não sei como consegui ficar esse tempo todo sem te beijar — sussurra a
centímetros da minha boca.
Aceno sem querer prolongar o papo, pois também não sei como fiquei esse tempo
todo sem ele. Me suspende e eu enlaço a sua cintura com minhas pernas, enquanto ele vai
em direção ao quarto comigo no colo, me apertando contra seu corpo.
Desço para o chão ao mesmo tempo que ele puxa minha camisa, que na verdade é
dele, e afunda ainda mais suas mãos nos meus cabelos, me imprensando na porta.
— Essa boca…
Ele passa o polegar entre meus lábios. Não fico para trás, puxo a sua camisa com
ânsia e distribuo beijos quentes no seu peitoral gostoso, enquanto aperto minhas mãos nas
suas costas.
Murilo geme baixo e toma minha boca na sua novamente. Sinto meus lábios
serem chupados no modo que me deixa bamba e pegando fogo.
Moreno me arrasta, me fazendo andar de costas enquanto me segura firme em
seus braços, pela minha nuca, enquanto nos beijamos. Me deposita sentada na ponta da
cama e fica em pé, de frente para mim.
Desabotoo seu cinto e a calça, descendo até o meio das pernas. E ele tira o resto
com o pé.
Distribuo beijos pela sua barriga e no V, perto do cós da cueca. Dou algumas
mordidas de leve em cada lado com os dedos dentro, na pontinha da cueca, e em seguida
toco com a língua. Ele geme e dá um grunhido. Ah! Moreno. Estou pegando fogo tanto
quanto ele. Me empurra na cama e fica em cima de mim.
— Vou socar meu pau em você.
Sussurra perto do meu ouvido e gemo apertando suas costas, fincando minha
unha na sua pele.
Beija e morde meu queixo e depois desce a boca para meu pescoço, distribuindo
beijos. Me remexo embaixo dele e recebo uma pequena lambida na nuca. Estou toda
arrepiada por isso, é golpe baixíssimo.
Distribui selinhos pela minha boca e bochechas e depois beija e mordisca meu
queixo e pescoço. Apalpa meus seios enquanto brinca com os mamilos eriçados com o
polegar. Estou um rio.
A mão dele passa pelo meu tronco e eu seguro seu rosto, trazendo sua boca para a
minha.
Ele suspira com a respiração pesada. Me dá um selinho e se ajoelha na cama,
entre as minhas pernas, e puxa a calcinha. Nos enroscamos na cama até ele estar
totalmente despido em cima de mim.
— Isso! Agora mostre toda sua gostosura e potência — sussurro no seu ouvido,
passando a mão pelos seus cabelos macios.
Não vejo a hora de tirar os rastros de Diego do meu corpo, para me sentir limpa e
voltar a ser a velha Alexia. Passeia a mão pelo meu corpo e eu distribuo beijos pelo seu
pescoço e queixo.
O sexo está intenso e quente. Gostoso além do limite, pois tem um “Q” a mais,
que é a saudade.
Murilo me olha enquanto me sinto invadida da melhor forma possível. Cola
nossos lábios e finco minha unha de novo nas suas costas, fechando os olhos e o sentindo
ir cada vez mais fundo.
Nos enroscamos na cama e acabo ficando por cima. Impossível não ter vontade
de morder cada pedacinho desse homem!
— Safada gostosa.
Murilo está ofegante e me puxa para cima para eu deslizar logo em seguida sobre
ele. Matar o que nos mata. Como não ter tesão nesse homem?
A cada toque e beijos de Murilo no meu corpo, apago mais e mais os rastros de
Diego. E lembrarei que a última pessoa que me tocou de forma íntima foi ele, Murilo, e
com meu total consentimento e vontade.

— Me diga, como foi lá?


Questiono levantando o rosto, fitando Murilo com os cabelos despenteados
curtindo a maresia pós foda, sem coragem alguma de levantar e tomar um banho.
— Uma chatice do cacete. Mas as ações são minhas!
Viro-me para olhar ele direito e sorrio besta, pois sou uma.
— Agora serei o Diretor do meu setor e consegui comprar uma pequena
porcentagem das ações, de início.
Ele sorri abertamente para mim e eu retribuo com a mesma sinceridade. Pelo
menos a viagem trouxe coisas boas. Nunca duvidei da capacidade dele de conseguir o que
quer.
— Sabia que ia conseguir. Parabéns, Moreno!
Dou um selinho demorado e depois me separo, colocando minha cabeça no seu
peito.
— Em breve teremos uma festa aqui para celebrar trinta anos da empresa e quero
a senhorita gostosa como minha acompanhante.
— Pode deixar.
Ataco a boca dele em um beijo, dedilhando meus dedos pela sua barriga para
descer para seu pau, que pulsa na minha mão assim que o toco. Ele geme baixo, me dando
mais tesão.
— Como foi aqui?
24
ALEXIA

Subo minha mão para seu peito novamente e exaspero. Estou receosa de contar a
ele, pelo menos agora, e estragar tudo. Falta coragem de tocar nesse assunto novamente.
— Senti saudades de você.
Mudo o foco tentando não entrar no assunto que ainda me angustia, e volto a
acariciá-lo para ele esquecer isso.
Sinto-o pulsar na minha mão rapidamente, voltando à ativa. Não vou mentir que
foi tudo bem, mas também não quero contar isso agora que ele mal chegou. Quero matar
as saudades do meu moreno, pois fez muita falta. Murilo parece esquecer o que perguntou
e solta pequenos gemidos conforme eu aumento a pressão da subida e da descida em torno
do seu pau, e não paro até senti-lo firme o suficiente para o que eu quero.
— Sentiu muita saudade de mim lá? Tipo, muita, muita?
— Muita. Saudade de você e da sua boceta.
Sussurra no meu ouvido, me dando uma descarga de energia pelo corpo. Me puxa
totalmente para cima de si e eu vou sem problema algum, quase encaixada novamente.
— Como pode ser tão fofo e escroto ao mesmo tempo?
Rio e lhe beijo.
— Se mexe, eu ainda estou mortinha de saudades — peço, exasperada, ao senti-lo
pulsar cada vez mais em meu interior.
— Com muito prazer, Morena.
Arrasta a palavra muuuuito e logo ele nos troca de posição, me colocando por
baixo, fazendo tudo que sabe de modo intenso e safado. Filho da mãe!
— Passei uma semana inteirinha pensando em estar assim.
Resmunga no meu ouvido, batendo e voltando rápido. Fecho os olhos, pois não
consigo mantê-los abertos. Mordo os lábios com força pela forma que ele está indo.
Seguro o seu rosto de novo e o beijo rapidamente. Está todo suado. Mordisca minha orelha
e eu me deixo levar mais uma vez.
Ele não sabe o tesão que eu tenho quando vejo ele com esse cabelo bagunçado e
revoltado enquanto transamos. Por isso que eu puxo e repuxo com vontade.
Pelo menos por agora consegui mudar o foco, pois ainda preciso pensar em como
contarei isso.

Domingo à noite, juntos e assistindo a um filme que ele escolheu, penso em como
irei contar a Murilo. Quero contar, mas estou com medo e me sinto despreparada, sei lá.
Tenho medo!
Não queria estragar nosso momento. O dia passou tão bem, apenas nós dois
juntos, trancados dentro de casa. Saímos para absolutamente nada. Me sinto tão suja e
angustiada a cada vez que penso em tudo. Nem sei se aguentaria se ele fosse… até o fim.
Só em pensar nessa possibilidade meu corpo arrepia de um jeito péssimo e meu
coração acelera de nervoso. Tenho vontade de gritar a cada vez que isso passa na minha
cabeça. Diego se mostrou um monstro e tenho medo do que pode acontecer ainda.
— Tô ouvindo suas engrenagens daqui, Alexia.
Escuto a voz de Moreno do meu lado.
— Hum?
Saio do meu transe e olho para ele.
— O que você tanto pensa? Não é de agora isso…
Questiona, franzindo a sobrancelha, colocando o copo no chão e voltando a me
olhar. Merda! Paro de olhá-lo e fito um ponto qualquer, menos ele.
— Alexia… o que você tá escondendo?
Fico calada mais uma vez e eu gemo por dentro, me sentindo encurralada.
Eu quero cortar esse assunto até ter coragem de contar o que aconteceu. Estou
morrendo de medo dele brigar comigo, ou de alguma forma achar que eu deixei brechas
para isso acontecer. Nem sei como começar.
— O que foi que aconteceu pra você estar assim, Morena? Tá desde ontem aérea,
com sono leve, toda hora acordava ontem de madrugada, eu vi. Conta, vai. Esqueceu da
nossa cumplicidade?
Pergunta com a voz mais amena, me olhando. Merda, Murilo!
Sem aguentar mais guardar tudo para mim, começo a chorar, me sentindo
péssima e suja, apática e sem forças. Eu só quero chorar e receber carinho. Não quero que
ele ache que foi culpa minha, eu não quero carregar a culpa disso, como o policial deixou
subentendido. Eu não aguentaria, eu estou envergonhada também por fazer parte dessa
situação e não ter conseguido fazer nada além de chorar. Eu só queria sumir até tudo isso
se tornar passado distante o suficiente para não me assombrar, se é que isso vai acontecer
um dia.
Ele chega mais perto, me colocando no colo enquanto choro compulsivamente no
seu ombro. Eu quero que essa angústia passe, não aguento mais ser assombrada pelo que
poderia ter acontecido.
— Eu tô aqui, calma.
Pede calmo, alisando minhas costas. Tiro meu rosto do seu ombro e começo a
contar, chorando nas partes que não conseguia verbalizar, mas ele entendia perfeitamente
aonde eu queria chegar. Murilo passou da calma à fúria em pouco tempo, me deixando no
sofá para andar para lá e para cá passando a mão na barba, impaciente. Se eu pensei que
James ficou enraivecido, Murilo está bem pior.
— Eu vou atrás dele agora! Ele tá pedindo para morrer e não é de agora.
Murilo anda em direção ao quarto, provavelmente para pôr a camisa ou pegar a
chave do carro. Corro atrás dele em puro desespero. Percebi que Diego é capaz de muita
coisa e não quero que Murilo vá uma hora dessas atrás dele. Não me perdoaria se ele se
machucasse por minha causa.
— Não vai, Murilo, por favor.
Peço no meio do choro, parando-o no corredor entre as portas dos quartos.
— Sabia que não era boa ideia ir pra essa porra de trabalho!
Grita exasperado, passando a mão no cabelo logo em seguida, dando um murro
na parede. Mas na situação que eu estou, sequer me assusto.
— Fica aqui comigo, não vai. A polícia já tá fazendo o trabalho dela.
Estou morrendo de medo dele ir e Diego aprontar algo, pois não duvido de mais
nada daquele ser. Não quero ficar sozinha e nem quero Murilo sozinho por aí, dando uma
de justiceiro, sabemos o fim disso. Nunca é o culpado que sai em desvantagem.
— Eu vou dar àquele filho da puta o que ele tá pedindo há muito tempo. Fui até
pacífico demais com ele.
Tenta se esquivar enquanto seguro sua camisa mais forte, o parando mais uma
vez.
— Não vai, por favor. Só preciso que fique comigo.
Murilo me olha e dá um muxoxo chateado, voltando a si e vendo minha situação
deplorável, me abraçando em seguida. Ele me aperta forte e eu enterro minha cabeça no
seu peito. Nos braços dele me sinto tão pequenininha e protegida.
— Foi aquele dia, não foi? Que perguntei se estava bem?
Questiona baixo, ainda me abraçando.
— Foi.
Murilo suspira pesado, inconformado, enquanto eu me aperto mais contra ele.
— Por que não me disse logo?
Não respondo, apenas aperto ele mais forte. Como eu iria contar isso por
telefone? Capaz de dar alguma coisa nele do outro lado da linha.
Eu bem conheço Murilo, sei que ele iria largar tudo e vir, e pior, poderia
acontecer um acidente por querer chegar o mais rápido possível. Apesar de tudo, tive que
pensar nele, pois sei que ele não faria isso. Moreno fica cego quando está furioso.
— Venha beber água pra acalmar um pouco. Você tá tremendo.
Moreno me arrasta ainda me abraçando. Acabou fazendo chá pra mim e eu tomei
sem protestar, tudo que eu quero é me sentir protegida e nada mais.
— Me desculpa por não ter ficado aqui.
Alisa minha cabeça quando estamos deitados na cama, no silêncio do quarto. Nos
recolhemos para a cama mais cedo.
— Não tínhamos como prever isso. Só quero que fique comigo pra que eu me
sinta protegida.
Sussurro, querendo não pensar mais nisso. Murilo continua a fazer carinho nos
meus cabelos. Estar assim com ele é tão gostoso. Enrolados bem juntinhos, como se
fôssemos um só.
— Quer dormir? Descansou quase nada essa noite que eu reparei.
— Tá cedo, queria assistir algo e ficar com você — peço, querendo me distrair
um pouco.
— Você vai acabar dormindo antes de começar.
— Não vou.
Murilo pega o controle da pequena televisão do quarto. Ele mesmo escolhe o
filme sem eu protestar dessa vez. Me aconchego nele, sentindo uma paz enorme. Ele é
meu anestésico. Tem um poder enorme de me trazer paz.
Sinto o carinho nos cabelos e ronrono baixo, sentindo seu cheiro familiar e
calmante. Abraço seu tronco, chegando mais perto. Como ele falou, acabei ficando
sonolenta antes mesmo do filme começar.
Mas não ligo. Esses dias não dormi nada, nem consegui descansar direito, mas
com Murilo aqui acho que consigo dormir de verdade, sei que com ele tô protegida.
Espero que não tenha mais surpresas como essa. Não tenho mais emocional pra essas
coisas.

MURILO
Sigo para o trabalho de Alexia para buscá-la; mandei-a ficar dentro do hall e só
sair quando eu ligasse. Estou numa culpa imensa por tê-la deixado aqui sozinha para
acontecer isso. Algo estava mandando eu ficar, quase cancelei, mas depois da nossa
conversa acabei indo pelo apoio dela. Se acontecesse o que ele tentou fazer, eu iria no
inferno atrás dele. Por essa situação, eu usaria meu réu primário sem problemas, valeria a
pena. É a única coisa que ele merece, aliás.
Como ele pôde fazer isso com ela, caramba? Que merda ele tem na cabeça?!
Se ele soubesse a raiva que estou dele… ele quebraria a própria cabeça para
esquecer o nome dela.
Apesar de Alexia ter me pedido para eu não me meter, por medo, eu não desisti
de acertar as contas com ele. A polícia já deveria estar procurando-o para prendê-lo, mas,
pela lentidão, parece que eles aguardam acontecer o pior para agirem. É revoltante!
Tento tranquilizar Alexia dizendo que está tudo bem, que nada vai acontecer com
ela. E até tenho uma ideia do que posso fazer, para deixá-la mais leve com essa pressão
psicológica toda em cima dela, e para sair um pouco dessa situação que deve ser muito
angustiante pra ela. Se para mim causa impotência, imagine nela.
Eu me atento à rua e vejo o fulano andando tranquilo demais pelo que aprontou
recentemente. Sigo com o carro até a rua onde ele entrou.
Acho que adiantarei o trabalho da polícia!
Ele para, acende um cigarro e volta a andar logo em seguida, despreocupado e
tragando, jogando a fumaça no ar. Aperto minhas mãos no volante, de raiva, com vontade
de dar um só murro nele para desmontar seu maxilar. Continuo seguindo-o com o carro,
até decidir sair e ir até ele para esse acerto de contas que já deveria ter acontecido há
muito tempo.
Decidi estar dois passos à frente dele pois, se eu estiver de carro, é muito fácil ele
simplesmente ir na minha direção contrária, e até eu manobrar para voltar ele vai estar
bem longe. Isso é o básico da fuga, quando alguém está te seguindo de carro.
Antes de eu andar na sua direção, o maldito olha para trás e se dá conta que está
sendo seguido. Corre para o outro lado da rua em disparada e eu entro no carro
novamente, disposto a acelerar e até atropelá-lo se possível, não ligo. Como já falei, usaria
meu réu primário sem problemas.
Começo a caça ao babaca, acelerando o carro, acessando a rua que ele entra,
disposto a barrar sua saída e encurralá-lo.
A rua é estreita o suficiente para não me deixar passar pelos carros estacionados
nas extremidades e deixo o carro lá. Corro atrás dele, que olha para trás para saber se eu
estou perto, mas o agarro pelo pescoço o empurrando. Ele se desequilibra, tropeça, mas
não chega a cair.
— Caçado! — Rio, sentindo a adrenalina correr pelo meu corpo.
Ele tenta correr novamente, mas o agarro pela camisa, o imobilizando junto com
o braço no seu pescoço.
— Vai fugir, babaca? — Aperto mais minha imobilização.
— Me solta, seu playboy! — Ele tenta sair, debatendo-se feito uma cobra.
— Vamos pontuar umas coisas que acho que você tá resistindo a entender… —
Suas mãos tentam folgar o aperto no pescoço.
— Qual é, tá com medo de Alexia vir rastejando pra mim implorando pra ser
fodida?
Ele ainda tem coragem de debochar. Solto o aperto apenas o suficiente para ele
achar que está solto e tentar sair. Mas eu ponho o pé na frente para ele tropeçar e cair na
rasteira que toma quando puxa minha perna. Sem sangue de barata, soco seu rosto com a
mão direita, onde tem o anel de compromisso bem grande. Eu tenho raiva de pertencer à
mesma categoria que ele, a de homem.
Ele tenta se defender, logo em seguida reagindo aos socos. Hoje ele está esperto!
Bater em morto não tem graça!
— Ela estava toda gostosinha de blusinha transparente. Ela queria me dar, cara,
ela quem se fez de vítima. — Ele ri, fechando os punhos em posição de soco.
Com o ódio estourando, descarrego minha raiva sem dó nem piedade. Sem
chance de defesa. Soco sentindo minha mão doer, sequer miro mais onde quero dar,
apenas vou socando onde meus punhos acertam.
— Esquece a porra do caminho dela! — mando e o pego pelo pescoço, a fim
mesmo de deixá-lo inconsciente.
— Se ela não for minha, não será de ninguém! — Ofegante, ele sente o aperto no
pescoço, apertando meus punhos para que eu o solte, e ainda tem a cara de pau de falar
isso.
Continuo a segurá-lo até ver que seu aperto no meu pulso afrouxa, sem forças, e o
solto. Queria ter o sangue frio de matá-lo. Mas eu quero ele pagando o que fez com ela
bem vivo e consciente. Morte seria pouco nesse momento! Antes disso acontecer, eu
quero que ele pague com consciência.
Eu o solto praticamente desacordado no chão e, disposto a ligar para a polícia,
pego meu celular para discar. Mas antes mesmo de dar a segunda chamada, sinto algo
bater nas minhas costas me fazendo balançar para frente. Me situo e vejo o filho da puta
correr cambaleando.
Desgraçado! Ele me acertou por trás com um balde de lixo, enquanto eu ligava
para a polícia. Corro atrás dele, mas o acabo perdendo de vista por causa das ruas e becos
que ele entra. Desgraçado escorregadio! Miséria!
Morto de raiva, volto para o meu carro para buscar Alexia no trabalho. Deve estar
preocupadíssima pela minha demora. No caminho olho ao redor para ver se o encontro em
alguma esquina, mas o desgraçado se camuflou em algum lugar, ele não teria fôlego para
ir tão longe.
No caminho, ligo para minha morena, que me atende preocupada por causa da
minha demora, mas aviso que estou chegando. Se esse filho da puta acha que vou dar
brecha para ele fazer qualquer coisa com Alie, está muito enganado. E o nosso acerto de
contas ainda não acabou, ele irá pagar por cada merda que falou e fez para ela.
25
ALEXIA
Sinto o carinho de Murilo no meu ombro e relaxo um pouco. Depois de todo o
susto que passei, as coisas continuam na mesma. Justiça lenta, como sempre. O fato dele
ter evaporado, sumido do mapa, me deixa com a sensação de que serei pega a qualquer
momento. Estou até me recusando a sair de casa a não ser para trabalhar, e só me sinto
segura quando Moreno me deixa na porta da empresa e me espera no mesmo lugar.
Mês passado recebi um aviso de férias que estavam acumuladas e, com isso,
Murilo planejou um recesso nosso, para espairecer um pouco, sair da bolha Diego, pois eu
estava quase ficando doente de medo. E ele conseguiu quinze dias de recesso de onde
trabalha para me acompanhar. Ele achou melhor para que eu relaxasse.
Vamos usar esses quinzes dias para visitar os pais dele. A tal visita para conhecer
meus sogros, e por isso estamos no táxi em direção ao aeroporto. Só pensar que em
algumas horas eu vou conhecê-los já me deixa ansiosa de novo. O frio na barriga é
constante. Finalmente meu cursinho de inglês será posto à prova.
Viajamos hoje para São Francisco. Nem acredito que vou para a Califórnia, isso é
espetacular, nunca que minhas férias seriam tão bem aproveitadas. Murilo me alertou que
venta um pouco e é gelado, então vou aproveitar para usar meus casacos mais grossos.
— Tô com medo. E se eles não gostarem de mim? — Suspendo meu olhar para
fitar Murilo.
— Eles vão. Fique tranquila. Meus pais são gente boa.
— Tomara. Tô com receio de não ser o que eles esperam. — Sorrio fraco.
— Não se preocupa. Eles vão te amar como eu te amo. — Ele sorri do seu jeito
bonito e eu o beijo castamente.

Em direção a Alamo Square, o bairro onde os pais moram junto com a irmã dele,
seguimos de táxi novamente. Enfim! Não aguentava mais aquele avião. Eu estou nervosa
sim, admito. Porém, também estou eufórica.
Fizemos o resto da viagem tranquilos, confesso que fiquei com medo do avião
subindo, mas Murilo tentou me distrair e me relaxar com beijinhos e carinhos no cabelo.
Mas não deu muito certo, só quando ele ficava me dando selinhos me sentia mais
tranquila. Acabamos dormindo na metade do caminho e acordamos quando estávamos
chegando. A vista de cima é maravilhosa.
Dormi umas cinquenta vezes até chegar. Pelo menos teve algumas paradas para
eu respirar um pouco. Faz um frio gostoso e venta um pouco, como ele falou, mas nem me
importo. Amo o frio, assim o Moreno fica com os braços cobertos. Não estou a fim de
chamar ninguém de “bitch” na frente dos meus sogros. Ciumenta? Não, cuidadosa.
O taxista explica alguma coisa ao Moreno, mas eu não presto atenção, pois estou
olhando pela janela, apaixonada pelas casas vitorianas coloridas. Mesmo à noite posso ver
que são lindas, parece uma foto de cartão-postal que vimos na internet, de tão incrível que
é.
Ele achou melhor os pais esperarem em casa, em vez de buscarem a gente no
aeroporto. E eu agradeci por isso. Tenho mais tempo para me preparar para o encontro.
Estou quase parecendo um cachorrinho na janela do carro. Para mim tudo que vejo é
mágico.
Apenas observo a paisagem enquanto o táxi anda. Estou encantada e me sentindo
em um seriado. Ansiosíssima para ir no Píer 39 e principalmente na ponte Golden Gate.
Parece que o que eu estou vivendo ultimamente é um sonho, apesar de alguns pesadelos
no meio do trajeto, mas nada tira a beleza desses momentos.
Qual era a chance de eu estar na Califórnia e namorando um homem desses? Nem
nos meus pensamentos mais otimistas! E ainda bem que a realidade superou as
expectativas, pela primeira vez a realidade é muito melhor! Saio dos meus devaneios com
o Moreno avisando que chegamos. E mesmo com o encanto, o frio na barriga volta.
Malas no chão e, ao lado do Murilo, eu olhei para a casa, que parecia de filme.
Me virei para ele com o coração a mil, e ele logo percebe meu nervosismo. Me
conhece como ninguém. Murilo sabe me ler sem nem precisar abrir a boca. E eu amo isso,
a paciência que ele tem em reconhecer meus sinais de medo ou outros sentimentos.
— Relaxa, eles são pessoas comuns.
— Não dá, e se eles não gostarem de mim ou não me acharem boa o suficiente
pra você? — confesso todo os meus medos a ele, tremendo de nervoso.
— Não se preocupe, eu que tenho que achar isso. Meus sentimentos por você não
mudarão por nada. — Segura na minha nuca e me beija, me derretendo mesmo naquele
frio.
— Tudo bem, amo você. — Respiro fundo.
Subimos a escadinha e ele toca a campainha. Não demora para a porta abrir,
mostrando uma mulher de cabelos de californiana, e meu coração ameaça dar uma
pequena parada. É a mesma da foto que vi na casa de Murilo e eu deduzi ser a irmã dele.
Ela grita assim que vê ele.
— Bela! — saúda, abraçando a irmã apertado. — Saudades de você, pirralha.
— Eu sei — rebate e eu sorrio de lado pela interação. — Não sou pirralha, tenho
dezoito.
Ela olha para mim, e eu olho para ele de relance e com medo da reação dela.
— Oi, sou Alexia. — Sorrio, tentando controlar a tensão; ela abre um sorriso para
mim e me puxa para um abraço. Um alívio me consome. Pelo menos uma acho que já foi.
— Eu sou Isabela, mas pode me chamar de Bela. Vem, entrem.
Ela dá passagem e entramos na casa, que parece bem mais espaçosa do que vista
do lado de fora.
— Cadê meus pais? — Murilo pergunta à irmã.
— Na cozinha.
Seguimos ela, e pelo meio do caminho eu achei uma foto do Moreno mais novo e
de janelinha. Apontei mostrando e ele me puxa sorrindo. Murilo abraça os pais apertado,
enquanto Bela sorri, me contagiando. Em seguida a atenção se volta para mim.
— Mãe, pai. Essa é a Alexia — me apresenta e eu dou um sorriso envergonhado.
Fico olhando os dois, petrificada no lugar, esperando a reação para ver se passei
no teste, até dona Isadora vir na minha direção e me abraçar apertado.
— Finalmente te conheci! — Sorri de forma calorosa, mostrando que o Brasil
ainda não saiu deles. — Você é linda! — Segura nas minhas bochechas, que ficam quentes
na hora.
Voltei a ter quinze anos, parece!
— É, e é um prazer imenso, e obrigada.
— Meu filho tem bom gosto. — Me abraça, sorrindo, mais uma vez.
— Não aguentava mais ouvir Mimo ligar e falar de você — Bela dedura e os pais
dele riem.
— Cala a boca! — Murilo agarra a irmã, que é bem menor que ele, bagunçando
seus cabelos.
Rio pelo apelido e o pai de Murilo vem logo em seguida me abraçar, enquanto
Moreno aperta a bochecha de Bela. Ela dá um tapa no braço dele, tirando a mão enquanto
ele ri, pegando nos cabelos dela de novo.
— Seja bem-vinda à família, minha filha. — Seu Daniel beija minhas duas mãos
depois do abraço.
Pelo jeito essas coisas são de família.
— Obrigada. Fico lisonjeada!
Meus sogros são bem descontraídos e percebi que Murilo tem um jeitão do pai
em algumas ações. Pelo menos dentro de casa todos falam português e estão sendo
bastante simpáticos comigo. Me senti acolhida. Percebi que o medo era paranoia minha.
Malditas paranoias.
— Vamos sair pra comer? Já liguei pro Justin.
— Quem é Justin? — Murilo pergunta sério, com as mãos na cintura.
Não deveria pensar assim na frente dos meus sogros e cunhada, mas ele fica tão
gostoso no modo protetor. Como seria um Murilo pai de menina? Ciumento e babão?
Saio dos meus devaneios doidos pela resposta debochada da irmã dele.
— O Timberlake que não é. Meu namorado, bebê.
— Como é?
— Não vou te dar nenhum sobrinho por agora. Tenho juízo! — Dá dois tapinhas
no braço dele em puro deboche.
Gostei dela!
— Como é? Pai, está sabendo disso? — pergunta, inconformado.
— Sabe — Bela dá de ombros, respondendo à pergunta.
Murilo olha para os pais, que dão de ombros, sorrindo. Ele nega olhando para ela,
e Bela ri.
— Gosta de fastfood ou vive de dieta? — Bela me pergunta arqueando apenas
uma sobrancelha, como Murilo costuma fazer comigo. Credo!
— Como de tudo!
Saímos com Bela de motorista. Ela conhece aqui mais do que nós dois. Meus
sogros não quiseram ir, preferiram deixar a responsabilidade para ela.
Justin apareceu, deixando Murilo ainda mais enciumado, e comemos enquanto
conversávamos. Eles formam um casal bonitinho e meigo. Combinam. Justin parece bem
na dele, assim como Bela, que é muito fácil de lidar. Mais fácil que achei que seria pelo
que Moreno já tinha me contado sobre sua família.
Voltamos para a casa dos meus sogros e ficamos conversando por horas, nos
conhecendo melhor enquanto Murilo encarava o pobre menino que fazia de tudo pra não
olhar para ele. Ela iniciou a faculdade esse ano, e o namorado dela, que é daqui, faz o
mesmo curso. Perdi a noção do tempo conversando, tanto que o Moreno ficou fingindo
ciúmes. Dramático!
— Vamos subir? Tô cansado! — Moreno se queixa com cara de cachorro
perdido, bocejando.
— Vão, viagem é cansativo! — Minha sogra diz. Eu concordo me despedindo de
todos e subo com ele.
Entro no quarto de hóspedes, que tem tons neutros e, ao contrário de mim, ele não
tem quarto na casa dos pais. Quando eles mudaram para cá, Murilo preferiu ficar no
Brasil, para minha sorte. Tomamos banho e deitamos na cama naquele friozinho gostoso,
com o aquecedor ligado.
— Não sei como meus pais aprovam a Bela namorar. Ela é a minha irmãzinha de
dezoito anos. — Ainda está inconformado, como se fosse um absurdo.
— Você tá pegando a irmã de alguém. Sabia? — lembro a ele.
— É diferente — rebate, contrariado. Oh, homem besta!
— Não é mesmo.
— É sim. Isabela é uma criança!
— Ei. — Bato no braço dele. — Deixa-a.
— Vou ficar de olho. — Me beija rápido.
— Não seja babaca, por favor. — Me olha atravessado e eu dou um selinho para
desmanchar o bico. — Bela tem juízo.
— Já estão se defendendo, é? — debocha. — Não sabia que a amizade estava
assim… — implica de novo.
— Ela é supersimpática e risonha. E você tinha me dito que ela era discreta e
fechada, e não achei isso. Nem um pouco difícil de lidar.
— Mas eu não menti. Não tenho culpa se com você ela conversou por horas e
ainda riu várias vezes.
— Sério? Então sou irresistível. Conquistei a Montenegro mais difícil! — me
acho um pouquinho.
— Pois é. Feiticeira mais gostosa que eu conheço.
Rio com ele e logo a sua boca está na minha em uma sessão de beijos gostosos,
com direito a apalpadas e mão bobas. Esse homem não existe!

— Está pronta? — Murilo entra no quarto.


— Depende. — Hoje vamos conhecer a ponte Golden Gate. Finalmente!
Estou empolgadíssima. Sempre via nas fotos e achava perfeita.
Todos os dias Murilo ou Isabela inventavam um programa, e eu sempre pedia
para irmos conhecer a ponte, que era o meu sonho, e nunca dava. Mas sempre íamos
explorar os lugares novos com a mesma vontade. San Francisco é toda incrível. Tirei mil e
uma fotos.
Apaixonada é pouco por esse lugar. Moreno sorria a cada sorriso encantado que
eu dava quando conhecia um local novo. Fomos ao Píer 39, que tem a vista para a baía. Eu
ainda não conhecia e acabamos comendo uma comida divina por lá. Sem contar que
fomos em vários outros restaurantes incríveis.
Descemos e saímos com Justin e Bela no mesmo carro, com meus sogros no
deles. O ciúme de Murilo ainda está presente, engoliu mais, porém só criou caso quando
ela disse que depois do passeio estava indo para uma festa e ia dormir na casa dele, mas
ela vai assim mesmo. Fiquei com a responsabilidade de acalmar Murilo e fazer ele
esquecê-la pelo resto da noite. Definitivamente Murilo seria um pai protetor!
Murilo que, como sempre, não deixa passar nada em branco, me convenceu a
pular de paraquedas aqui. Ele acha um desperdício não fazer isso tendo uma vista tão bela
e, segundo ele, seria o melhor jeito de conhecermos a ponte. Eu não queria, neguei até
onde consegui, mas ele me convenceu e vocês já devem imaginar como isso foi
possível…, Mas sã, sem tesão explodindo no meu corpo, percebo que foi uma péssima
ideia, e estou arrependida amargamente de ceder ao seu joguinho.
— Deixe de medo, pulou uma vez e gostou. — Sorri de lado. — Você sempre
gosta dos programas que eu proponho.
— A alegria que você viu era felicidade por não ter morrido, Moreno. Quebra
essa pra mim, vai! — Manhosa, abraço sua cintura fazendo beicinho para ele ter pena.
— Não. Nananinanão. Eu te dei o poder de negar, lembra?
— Eu lembro de você ter me chantageado. Onde já se viu fazer acordo com você
nu em cima de mim?
— Eu estava embaixo, deixei você me dominar. E ainda te dei o poder de levantar
dali se não quisesse pular comigo. — É, foi esse o “acordo”. Murilo é um abusado de
marca maior! Engenhoso!
— Eu sairia perdendo da mesma forma. Seu jeito de fazer negócios é muito torto
— resmungo, inconformada, e ele gargalha.
— Prometo que será inesquecível. — Me beija rapidamente e eu, ainda
contrariada, me rendo.

— Preparada? — Sinto o corpo dele atrás de mim me abraçando. Estamos


prontos para pular.
Mais uma vez estou nessa loucura que prometi que nunca mais faria. É até
engraçado, a última vez que pulei me descobri apaixonada por ele, hoje estamos pulando
de novo, agora com ele como namorado.
Sem esperar muito, pulamos e sinto toda aquela sensação novamente, igualzinho
à primeira vez. Grito para espantar a adrenalina do primeiro momento e me permito abrir
os olhos, para contemplar a vista sensacional que está ao meu dispor.
A ponte está relativamente longe por causa da água e pulamos num lugar seguro.
Mas daqui dá para vê-la perfeitamente enquanto a queda livre cede. Eu me sinto relaxada
com essa vista espetacular, tendo Murilo como companhia.
Marcamos de aterrissar no icônico parque Crissy Field, de onde dá para ver
perfeitamente a ponte em terra firme, em uma visão completa. O dia está lindo e
ensolarado.
Estar próxima e olhando para a ponte que aparece em milhões de séries e filmes
que já assisti é muito emocionante. O local é lindo demais. Dá vontade de ficar horas
apreciando. Estou muito eufórica por realizar meu sonho. É uma das vistas mais
espetaculares que já vi. Sem contar a sensação gostosa do paraquedas descendo
lentamente.
— A vista é inacreditável. Inacreditável, Murilo! — Eufórica, repito. Estou
extasiada.
— Maravilhosa mesmo — próximo ao meu pescoço, Murilo me responde. —
Igualzinha a você.
Assistimos o barco ao longe passar atravessando devagar. Daqui onde estamos,
perto da ponte, dá para ver toda a baía e já enxergo o verdinho da grama. Estou muito
apaixonada.
Não sei como, mas Murilo consegue tirar várias fotos.
— Morena! — Murilo me chama numa voz extasiada.
— Que foi, amor?
— Seja minha pelo resto da vida! Casa comigo?
Surpresa com o pedido, tento assimilar. Eu estou voando nos dois sentidos da
palavra. Meu coração palpita, batendo violentamente contra meu peito. Estou trêmula,
eufórica e anestesiada, como se fosse acordar a qualquer momento. Ou imaginando
alguém vindo com as câmeras e dizendo que ele é um ator disfarçado e eu fui à vítima da
vez.
Eu estou realmente emocionada.
Não deu tempo de eu responder nada, pois precisamos aterrissar e caio com ele
no chão, sem sentir minhas pernas o suficiente para estar em pé diante daquele pedido e
declaração e todo o estado de euforia.
Murilo se joga do meu lado, mas rasteja para cima de mim, sustentando seu peso
com o cotovelo.
26
MURILO
Alexia sem dúvidas é a Mulher da minha vida. Quando cogitei fazer o pedido,
sequer tive dúvidas se era isso mesmo que eu queria.
Assim que encontrei Alexia naquela sala, senti algo. Me senti completamente
envolvido por aquela morena de pose profissional.
Olho para ela e só sinto vontade de beijá-la muito, abraçá-la apertado e mostrar
quão intenso é o que eu sinto por ela. Sou muito orgulhoso em tê-la do meu lado. Criou
raízes de uma forma ímpar. Desde que precisei viajar a trabalho que cogito casar com ela.
Me peguei várias vezes olhando nossas fotos, morrendo de saudades. E com o coração
apertado do que poderia ter acontecido com ela por estar longe. Sem dúvidas eu a quero
perto de mim. De todas as mulheres com as quais me envolvi, nenhuma me deixou como
Alexia me deixa e isso é muito louco. O sorriso dela é lindo e sincero. E esse sorriso só me
dá mais certeza que essa foi a melhor decisão da minha vida.

ALEXIA
Na grama, olhando para cima, para ele, o vejo me presentear com um sorriso
lindo.
— Sabe, quando te conheci, não achei que ia se tornar isso tudo. Mas quando
menos percebi, você já fazia parte de mim. Foi fazendo me apaixonar por você a cada dia,
amando sua sensualidade natural, o seu jeito menina e mulher ao mesmo tempo. A
primeira coisa que pensei quando te vi foi: eu quero aquela mulher pra mim. Você
transforma tudo, deixa tudo muito melhor. Tenho a plena certeza disso. Casa comigo?
Gemo em euforia por aquela declaração. Falou fitando meus olhos, me deixando
bamba. A forma como ele me olha sempre me deixa dessa forma, mas hoje é diferente.
— Sim, sim, é obvio que aceito! — Seguro dos dois lados do rosto dele, e sorrio
em meio às lágrimas.
Eu o abraço apertado enquanto coloco minha cabeça no seu peito.
Estou noiva!
E fui pedida em casamento na vista da ponte Golden Gate. Golden Gate!
Um sonho da vida sendo realizado junto com outro que eu não sabia que tinha!
Sentamos na grama. Ele pega uma caixinha branca que estava no seu bolso e a
abre, mostrando um anel que reluz um pouco por conta da claridade. Não sei como ele
confiou em levar o anel lá para cima. Ele coloca no meu dedo e eu o abraço apertado e lhe
dou um beijo.
Apesar da insegurança que me assombra de vez em quando, nada me faria mais
feliz que casar com Murilo. Depois que tiramos todo o equipamento, ficamos na grama
para curtir o dia depois dessa aventura alucinante. Extasiada, olho meu anel a cada dois
segundos.
Murilo decidiu fazer um passeio de barco, para passarmos por baixo da ponte e
vê-la mais de perto. Seus pais chegaram com sua irmã para nos fazer companhia.
Recebemos felicitações da família antes de subirmos no barco e continuamos o passeio,
mais apaixonados do que nunca. O sol está quase se pondo, mas a vista continua linda.
— Murilo, promete uma coisa pra mim? — chamo sua atenção, abraçada por trás
e sentindo a brisa bem no meu rosto.
— Diga.
— Promete que se acontecer qualquer coisa, que se em algum momento você
tiver dúvidas sobre os seus sentimentos por mim, não importa o momento ou situação, que
você será sincero comigo e vai falar antes de tomar qualquer atitude? Sem mentiras,
joguinhos ou qualquer outra coisa?
— Eu prometo. Isso não vai acontecer, não duvidarei em momento algum, mas eu
prometo. Você vai casar com um homem, não um moleque. — Beija o topo da minha
cabeça.
Me viro e o abraço novamente, sentindo a segurança que ele me passa. Ele
incrivelmente tem esse poder maravilhoso de me dar conforto em qualquer situação.
— Por favor, não me machuque, seja sincero que serei sincera com você.
Ele assente, beijando rapidamente meus lábios, e eu sorrio no meio dele. Eu vou
casar!
A essa altura do campeonato o sol já está se pondo e as luzes da cidade
acendendo. Esse dia está cada vez melhor!
À noite minha cunhada arrastou a gente com o namorado dela para uma noitada
na Upper Market, para comemorarmos. Segundo ela, seria mais divertido do que em casa.
Jantamos em um restaurante legal e apreciamos vários artistas e shows alternativos. Saí de
lá com várias bandinhas preferidas e mais apaixonada que nunca pelo lugar e por Murilo,
claro.

Mal entramos no quarto e começamos um amasso louco. Tiro a camisa dele e ele
puxa meu vestido, me imprensando contra a parede. Abraço a sua cintura com as pernas e
gemo por sentir o contato de seu pau na minha calcinha já encharcada. Ainda me
carregando, ele sai de perto da parede, me jogando na cama como se eu fosse sua presa. E
na verdade eu sou e amo isso.
Vem para cima de mim e deita entre minhas pernas para me beijar. Sinto nossos
corpos colados e fico mais desejosa e eufórica.
— Agora somos só você e eu — sussurra no meu ouvido e eu me arrepio.
Mesmo com toda a nossa pressa, ele me beija carinhosamente, tornando o beijo
ainda mais gostoso, enquanto me apalpa. E eu não fico trás, querendo cada vez mais
contato.
— Vamos testar uma coisinha. — Interrompo o beijo.
— O quê?
— Deita aí na cama. — Me obedece e pego o cordão do meu vestido.
— Olha lá o que você vai aprontar — me alerta.
— Vou amarrar sua mão. Você vai me ver te chupando, mas não vai poder me
tocar. — Monto nele e o amarro na cabeceira da cama.
— Não maltrata muito. — Ofega, tentando elevar o quadril embaixo de mim.
— Xiu, seus pais podem chegar a qualquer momento! — o alerto. Seus pais estão
na casa de algum casal de amigos. É uma reunião que eles fazem com frequência, pelo que
entendi.
Saio de cima dele e um frio de ansiedade percorre meu corpo ao ver ele com o
corpo livre para meu bel-prazer. Nem sei por onde começar. Analiso o corpo que tem
gominhos, o tronco largo e o volume alto na cueca se destacando e contornando, bastante
apetitoso. Minha boca saliva, mas resolvo deixar por último.
— Sem muita invenção, viu?
— Agora pare de reclamar que você vai gostar. — Sorrio safada, pensando no
que vou fazer.
— Saiba que o que você fizer comigo, vai ter troco. Qualquer coisa me desamarro
em dois segundos e você não vai conseguir sentar. — Ele me ameaça erguendo o quadril e
se ajeitando. Meus olhos vão automaticamente para sua cueca de novo.
— Foi inevitável. — Sorrio para ele, que também sorri, se achando. — Agora
vamos deixar de conversa.
Monto nele de novo e começo passando a língua e dando beijinhos no pescoço,
queixo, canto da boca e em seguida a boca, em um beijo indecente.
Desço dando pequenos beijos no seu corpo. Dou um beijo em cada mamilo e ele
geme baixinho. Acaricio seus braços e passo a língua na sua barriga, subindo e depois
descendo.
— Morena — me alerta em um sussurro fraco.
Dou pequenas mordidas de leve na sua barriga e pescoço e arranho seu peitoral.
Passo para suas pernas e faço o mesmo, percorrendo os dedos explicitamente, primeiro nas
coxas, e depois com a língua. Ele levanta o quadril de novo se remexendo agoniado,
ostentando a cueca volumosa.
— Estou toda molhada e quente, pena que você não pode me tocar pra conferir —
sussurro em provocação no seu ouvido e ele grunhe, meio raivoso.
— Você até o final da noite estará fodida. Literalmente. — Faz força para se
soltar.
Depois de explorar seu corpo com beijos, mordidas, lambidas e carícias, desço a
cueca para a nossa alegria. O pau logo pula.
Grosso, imponente e apetitoso. A vontade que eu tenho é de devorá-lo.
Murilo consegue tirar o pior de mim, a minha versão mais safada e fogosa que eu
nem sabia que existia, mesmo não fazendo força nenhuma para isso.
Umedeço os lábios olhando para ele, que me olha atentamente, e abocanho com
toda a fome e ânsia que guardei. Faço contato visual e o mantenho, vendo-o apertar o
maxilar gemendo rouco e se contorcendo, tentando se soltar. Desço a boca e dou atenção
em tudo. Ele geme mais alto.
— Ei, estamos na casa de seus pais, esqueceu? — o alerto.
— Se sua missão foi me enlouquecer, hoje tá conseguindo. — Sorrio e volto a
abocanhá-lo e massageá-lo.
— A meta é essa — repito o que ele já me falou uma vez.
Subo a boca, passo a língua no topo, faço uma pequena sucção e rodeio com a
língua enquanto o aperto de leve e desço de novo, indo até onde dá e às vezes forçando um
pouco mais.
— Ver você com esse batom na boca ao redor do meu pau me deixa louco.
Ele resolve se movimentar com o quadril junto comigo e eu não reclamo. Apenas
me concentro no que estou fazendo enquanto observo suas reações.
Ele logo chega no seu máximo, apertando os olhos e gemendo baixo, um gemido
gostoso de ouvir, que não chega nem a ser um gemido de verdade, só um som rouco, uma
espécie de arfada, com o rosto suado e bochechas avermelhadas. Cara de quem gozou
gostoso.
— Seu pau é enlouquecedor. — O desamarro.
— Você é enlouquecedora, isso sim! Se prepare que no segundo round é a minha
vez.
Vira-se, trocando as posições e me colocando por baixo. Me dá um beijo que faz
arrepiar da espinha até o último fio de cabelo.
— Amo a sensação de tocar seu corpo e ver sua pele arrepiando. — Desce para
beijar meu pescoço. Fico muita mais arrepiada e mole nos seus braços.
— Eu fico louca quando você me toca desse jeito — sussurro em meio aos
gemidos e suspiros quase inaudíveis.
Desce e sobe a boca, ralando a barba na minha barriga, e eu me contorço e fico
ainda mais excitada. Para nos meus seios, dá um beijo e lambe e chupa cada um, sem
pressa. Gemo descontrolada. Desce e puxa minha calcinha.
— Toda melada. — Sorri, safado.
Com a boca, faz a mesma coisa na parte interna da coxa, só sai de lá quando
deixa marcado. Fico ainda mais maluca e gemo mais alto, me sentindo cada vez mais
molhada.
Aos poucos, Moreno vai se aproximando da minha boceta e passeia a língua por
toda a região, molhando ainda mais e massageando lentamente. Aperto ele com as coxas.
Me sinto mais úmida que o normal com ele fazendo isso.
Sobe, beija, massageia e lambe, alternando às vezes com movimentos rápidos e
vigorosos em toda a minha área, que se contrai. Sobe de novo e me beija com o meu gosto
na boca. O quarto exala indecência.
Pincela de uma ponta a outra e entra devagar e depois retira. Faz de novo
colocando a pontinha e eu tento sugá-lo para dentro. Ele nega com a cabeça. Pincela de
novo de leve na minha entrada encharcada e escorregadia e põe novamente, fazendo
movimentos giratórios com o quadril. Arfo e suspiro pesado. Ele brinca demais comigo.
Eu o xingo, já que está achando legal ficar brincando assim.
— Lembre-se de meus pais — ele me alerta como fiz com ele.
Ele volta a pôr a ponta na entrada e para. Tremo lá, sentindo meu coração
bombear. Dou um grunhido quando ele põe todo dentro e em seguida puxa de novo para
fora.
— Murilo… — gemo, protestando.
Murilo finalmente deita em cima de mim, sustentando seu peso, e eu abraço a
cintura com as pernas e agarro suas costas firme como apoio, para ele não inventar de
fazer gracinhas. Põe tudo dentro enquanto mordo a boca dele, quase dissolvendo embaixo.
Começa a se movimentar devagar, gemendo, saindo quase todo e voltando.
Passeio as mãos nas suas costas e bunda.
E aos poucos vai aumentando a velocidade das batidas, enquanto eu passo as
unhas nas suas costas, gemendo a cada movimento mais rápido que ele faz.
Murilo segura na minha perna, apertando e indo mais rápido. Gememos juntos
com mais frequência e aperto sua cintura e bunda, tentando uma aproximação maior.
Mordo seu pescoço para abafar os gritos quando ele pega uma velocidade boa.
— Vou te foder todinha hoje — ele geme junto, batendo e voltando com força.
Ele sai de dentro e vai para a ponta da cama.
— Vem cá, sobe aqui — fala, batendo na própria perna.
Subo no seu colo e sento de frente para ele. Deslizo suavemente até ficar
encaixada de novo. Suspiramos com a sensação com a cabeça no ombro dele e nos
beijamos, enquanto rebolo de leve e ele aperta minha cintura, me ajudando com os
movimentos.
Enrolo minhas pernas nele e Murilo segura na minha bunda, me puxando para
mais perto.
— Isso, agora mexe e rebola esse bumbum lindo — ele comanda. Seguro na sua
nuca e rebolo, subo e desço com vontade enquanto cheiro e beijo seu pescoço, o deixando
arrepiado.
— Assim? — o provoco.
A gente se movimenta juntos, em sincronia, quase uma dança. Posso transar com
ele milhões de vezes, mas sinto sempre como se fosse inédito, mesmo com as sensações e
os toques já familiares. Feliz e realizada, é como eu me descrevo ultimamente. Hoje, sem
dúvidas, foi um dos melhores dias da minha vida!
A viagem em si foi perfeita e tranquila. Se eu pudesse continuaria aqui. Nem
voltava mais para o Brasil. Depois de tantos parques, pontos turísticos, museus,
restaurantes, compras e passeios, voltamos para casa com as energias recarregadas e com a
sensação de inabalável que espero que não suma tão cedo, além da ansiedade no peito do
que nos espera no Brasil.
27
ALEXIA
De volta em casa, ligo para as meninas, chamando-as para o dia das garotas
amanhã. Moreno sairá para beber com alguns amigos. Liguei também para Ísis e contei do
pedido. Ela vibrou comigo do outro lado da linha. Contei também aos meus pais, que
ficaram muito felizes depois do susto inicial, quando falei do pedido de casamento.
Viajar é muito bom, mas estar em casa, deitada na cama e abraçada a Murilo é
muito melhor.
Dedilho seus braços, pensando quão bom é isso. Dois anos de namoro com Diego
e sequer mencionei sobre casamento. Com Murilo são cerca de oito meses juntos para
valer, e já estamos noivos. Como dizem, amor é mais sentimento do que tempo. É ser
infinito enquanto estivermos juntos.
— Morena, o que você acha de morarmos juntos? — Murilo quebra o silêncio.
— A gente já está praticamente junto. — Rio com ele. — Eu vivo aqui, você vive
lá. Fazemos mercado juntos, cozinhamos um pro outro. Enfim! Já temos uma rotina de
casal há um bom tempo.
Planejamos a noite toda e eu penso numa vida maravilhosa ao lado dele. Se
depender de mim, será.
Ele sempre vem para a minha casa, mas futuramente iremos para a dele, que é
maior. Ele está planejando uma reforma no banheiro do quarto principal. E decidiu deixar
espaço para mim em um dos quartos, onde fica seu escritório, para que eu possa trabalhar.

As meninas entram sem bater, fazendo festa como sempre.


— Olha essa pele corada, passou o que nela?
Liz chega fazendo piada de duplo sentido, e Nat com um vinho na mão.
— Você tá muito engraçadinha hoje, transou com quem? — rebato para sacanear,
levantando uma sobrancelha um tanto sugestiva.
Natasha gargalha alto, Liz me mostra o dedo do meio e eu acompanho sua irmã.
Vou à cozinha para buscar o abridor, deixando as duas lá, mas escuto Nat perguntar, já
recuperando o fôlego do riso, quem iria pedir pizza.
— Você, já que lembrou. Eu vou ver o que tem pra assistirmos — Liz responde.
Volto encontrando as duas sentadas no tapete felpudo da sala.
— Qual a novidade mesmo que você tem pra contar pra gente? — Nat parece
criança, não aguenta esperar por novidade alguma.
— Murilo me pediu em casamento e eu aceitei. — Me ajoelho perto delas para
sentar nas minhas pernas e estendo minha mão direita, mostrando meu dedo com o anel de
noivado. As duas me olham, incrédulas. — Gente, falem alguma coisa! — peço, porque
elas continuam mudas, me olhando.
— Eu não acredito! — Liz gargalha e se joga em cima de mim, me abraçando em
puro entusiasmo e me derrubando. E em seguida Nat se joga em cima de nós duas.
— Saiam de cima, porra! — grito abafada com as duas em meio aos risos.
— Não! — Nat diz, colocando mais peso em cima de nós.
Faço cócegas em Liz, que se move derrubando Natasha no tapete, e levantamos
depois de muito esforço.
— Eu não acredito que ele te pediu em casamento! Vamos brindar! — Liz,
totalmente entusiasmada, vai em direção ao vinho que elas trouxeram, colocando na taça
que Nat pegou.
— Um brinde ao noivado do meu casal favorito: Aliro — Natasha fala.
— Eu quero vocês como madrinhas!
— Não esperaria outra coisa. — Natasha convencida.
Brindamos e, enquanto eu conto como foi o pedido maravilhoso, as duas brigam
para saber que filme iremos assistir. Zapeamos todas as categorias e não entramos em
consenso. Hoje queria um com um pouco de ação. E Liz quer romance, como sempre.
Natasha gosta de qualquer um que tenha homens sem camisa.
— Divergente? — Assinto em concordância e Liz dá um sorriso satisfeito.
— Claro! Tem o gostoso do Theo James nele — Natasha concorda, como se fosse
óbvio.
Depois de muitos minutos e risadas, a campainha toca avisando que a pizza
acabou de chegar. Assistimos ao filme sem nenhum problema enquanto comemos.
Quando o filme acabou fomos limpar o que sujamos, enquanto batemos um papo
animado sobre qualquer coisa que surgisse na roda, e fiquei atualizada das novidades.
Algumas até me deixaram embasbacadas. Murilo chegou, bebeu um pouco com a gente e
papeamos mais. E as meninas decidiram ir depois de mais uma hora.
— Não foi você quem disse que vinho era afrodisíaco? — comento, agarrada a
ele. — E eu tomei umas duas taças e meia…
— Ah, é? — Ele sorri do jeito bonito para mim.
— Aham. — Aceno, rindo.
Segura na minha nuca e me leva para sua boca.

Apareço em casa antes que Murilo. Decidi vir sozinha de Uber, a fim de fazer
uma surpresa, mas avisei antes dele ficar preocupado. Decidi cozinhar para nós porque ele
está sempre me mimando. Quero fazer um jantarzinho só nosso, em plena segunda-feira. E
o melhor de tudo é que eu me sinto valorizada fazendo esse tipo de coisa. Sair da rotina é
bom de vez em quando. Quero que a gente more junto em grande estilo.
O meu dia hoje foi um tanto esquisito. Apesar de sempre comer no mesmo
restaurante com Murilo, depois do almoço eu me senti muito mal. Senti até vertigens do
nada e uma colega que estava no elevador comigo me perguntou se eu estava bem, mas eu
apenas sorri, concordando. Talvez seja queda de pressão por não ter me alimentado direito
hoje, já que sequer tive apetite para tomar café. Estava com sensação de saciedade,
embora tenha tomado café na noite anterior, antes de dormir.
Odeio essa sensação de cansaço extremo, fico desanimada até para comer. Desde
a volta da viagem que estou me sentindo esquisita. Ninguém merece! Além de sentir dor
no estômago, vertigem e enxaqueca, eu passei a ficar com o estômago sensível. Espero
que eu não tenha pego doença alguma no outro país. Meus exames estavam em dia, fui
saudável pra lá.
Deixo isso pra lá, pois devem ser apenas mudanças climáticas e procuro na
internet o passo a passo de um macarrão de forno. Ligo o som para acompanhar. Começo
a preparar antes que ele chegue, ao som de Can’t Remember To Forget You, de Rihanna
com Shakira.
Canto e danço me sentindo o máximo enquanto cozinho. Estou me sentindo no
masterchef. O cheiro está gostoso. Coloco no forno para o queijo derreter e corro para
tomar banho enquanto ele não chega.
Volto para a cozinha e coloco a mesa com nossos pratos. Agora a música que está
tocando é Believer, de Imagine Dragons, e eu corro para mudar, pois no momento é a
música do meu despertador, que inclusive tenho que mudar porque estou enjoada de ouvi-
la. Passo adiante, e Off the Races, de Lana del Rey, toca. Uma coisa que nunca contei a
vocês, eu simplesmente venero Lana, como venero Amy Winehouse, e essa música que
está tocando agora é a minha favorita.
A campainha toca e sei que é Murilo. Corro para atender e dou de cara com ele
gostoso de roupa social, a mesma com que saiu de manhã, porém ainda cheiroso e com um
sorriso aberto. Oh, droga!
— Cheiro gostoso. — Repara depois de me beijar e entrar. Eu o abraço sentindo
seu corpo quente e cheiroso.
— Cozinhei pra gente.
— Não sabia. Trouxe comida, até. — Suspende uma sacola.
— Coloca na geladeira.
Ele segue para a cozinha e sigo atrás.
— Vou tomar banho pra gente jantar. — avisa, tirando a camisa social e
colocando a sacola da comida no balcão.
Tiro a assadeira do forno e coloco em cima da pia. A aparência e o cheiro estão
bons. Acho que dessa vez eu finalmente acertei!
Qualquer dia desses vou jogar na cara de Natasha esse feito quando ela disser que
eu não cozinho direito. Murilo aparece sem camisa, ainda com o corpo meio molhado e
com o short fino que sempre usa.
— Você me esperando chegar do trabalho com jantar pronto me deu a sensação
de que estamos casados já. — Recebo um outro beijo.
— Verdade. E eu gostei dessa sensação.
— Vamos jantar? Também quero fazer uma coisa. — Beija meu pescoço.
— O que seria essa coisa? — Mio como um gato, arrepiada.
— Você vai gostar. — Murilo aperta minha bunda.
Dou um selinho nele, me afastando. Ele senta enquanto vou buscar o macarrão,
que está com um cheiro maravilhoso. O tutorial da internet pelo jeito deu certinho.
Coloco para mim e para ele e sento para comer.
— E aí? Tá gostoso? — pergunto em expectativa, vendo-o pegar uma garfada.
— Uhum. — Ele acena, mastigando.
Sorrio por ter agradado e ele bebe metade do refrigerante que está no seu copo.
— Mentiroso! — desminto quando dou uma garfada e faço careta. — A comida
tá puro sal, Murilo!
— Mas dá pra comer.
— Impossível comer isso aqui!
Olho para ele, sério com o garfo na mão, e em seguida começa a gargalhar, me
levando junto. Levanto para jogar a comida do meu prato e do dele fora.
— Mas ficou boa, só colocou sal demais — tenta me consolar.
— Então não ficou boa, né? Segui certinho o tutorial — resmungo, sabendo que a
comida vai ser desperdiçada.
— Não tem problema. — Me para na pia.
— Só queria cozinhar pra você! — demonstro minha frustração.
Nunca vou conseguir fazer algo que preste!
— Não se preocupe, a gente janta o que eu trouxe. — Assinto, concordando. —
Qualquer dia desses cozinhamos juntos.
Ele traz a sacola e coloca outro prato na mesa para a gente. Apesar de não ter
conseguido fazer uma boa comida, o jantar foi agradável.
— Me deixe terminar primeiro. — Tento me concentrar no que estou fazendo.
Ele lavou e eu enxuguei e agora estou guardando para concluir o serviço. Murilo
nesse exato momento está me agarrando por trás, passando a mão na minha cintura e
subindo para os meus seios. Tudo por cima do meu vestido, ainda. Oh, homem fogoso.
— Larga isso aí — resmunga, beijando meu pescoço. — Depois eu guardo.
— Beijo no meu pescoço é golpe baixo — murmuro quando sinto a mão dele
subindo e descendo firme.
Ele desce a mão, me apalpando, e me pressiono nele, sentindo seu pau duro na
minha bunda. Murilo me carrega e arrasta de costas mesmo, em direção ao quarto. Que se
danem os pratos!
Ele me põe no chão e volta a beijar meu pescoço enquanto alisa por dentro das
minhas pernas. Arfo com a respiração acelerada. Estou com o corpo mole e a calcinha
encharcada.
— Isso é golpe baixíssimo — murmuro ao sentir os beijos.
Ele suspira no meu ouvido e eu me arrepio. Me pressiono ainda mais nele e
gememos juntos, sinto de novo o pau duro na minha bunda. Estamos separados apenas
pelo tecido da minha calcinha e sua cueca, já que meu vestido subiu.
Moreno me vira de frente, puxa meu vestido e me beija gostoso, segurando firme
no meu cabelo. Murilo nunca foi agressivo, apenas fogoso e ele sabe que não gosto que
puxem meu cabelo, mas a forma como ele segura me deixa mole, pois estou sentindo o
peitoral dele diretamente nos meus seios sensíveis.
De costas mesmo, me carrega para a cama. Sento e ele em seguida vem por cima
de mim, me deitando.
— Ahh, Morena — sussurra, alisando meus seios descobertos e pesados.
Ele põe um na boca, sugando.
— Devagar.
Peço, arqueando as costas de repente, sentindo uma dorzinha chata.
— Que foi? — Ele para o que estava fazendo e me olha.
— Não aperta muito. Eles estão bem sensíveis esses dias — respondo, manhosa.
— Desculpa. — Beija o vão dos meus seios e eu volto a relaxar.
Passa a língua no bico e em seguida coloca na boca, repetindo o processo. Ele vai
para o outro e faz a mesma coisa, tudo isso passando a mão no meu corpo enquanto eu
seguro no seu cabelo.
— Você está gostando, hum? — sussurra no meu ouvido e eu só aceno com a
cabeça, os olhos meio pesados e o coração acelerado, aproveitando a sensação.
Murilo beija entre os seios e desce na direção do umbigo em beijos lentos e muito
excitantes. Contorço a barriga, sentindo a boca descer cada vez mais.
Ele levanta o tronco, me deita direito na cama e em seguida abre minhas pernas,
me deixando exposta, para então me abrir lá com os dedos e pôr a boca com toda fome
que possui.
Puxo seus cabelos com agonia enquanto me contorço e gemo. Ele introduz os
dedos e geme ao constatar quão lubrificada estou. Céus! Eu estou quase uma cachoeira.
— Hummm, já tá pronta. — Não foi uma pergunta, mas eu assinto assim mesmo.
Ele sobe e me beija com meu gosto. Gemo e o apalpo o quanto consigo e tento
me livrar da sua bermuda.
Desço com os dedos dos pés enquanto nos beijamos com vontade, beijo que só
rola quando estamos pegando fogo e que tudo arrepia.
Livra-se do short e logo o pau imponente e gostoso acha minha entrada
encharcada, apenas esperando por ele.
Ele começa a movimentar com o quadril, de leve. Tira quase todo e depois entra
com tudo. Faz isso umas duas vezes e eu só consigo gemer e apertá-lo onde consigo.
— Você continua gostoso. — Ofego, sentindo ele ir ao fundo e voltar.
— Cada vez mais gostosa.
Murilo continua a ir e vir cada vez mais rápido e forte. Reviro os olhos gemendo
e vejo ele morder a boca, mantendo o ritmo rápido.
— Vira pra mim — Murilo pede, deitado do meu lado.
Me viro de lado, meio de costas pra ele, e Moreno beija meu pescoço enquanto
alisa meu quadril e suspende uma das minhas pernas e em seguida me penetra de vez.
Quase tenho uma parada cardíaca com a profundidade.
Ele solta o ar e eu agarro os lençóis e gemo um pouco alto, sem me importar com
mais nada.
— Gostoso pra caralho!
Murilo grunhe indo forte e bem rápido, fazendo nossos corpos se chocarem. Sinto
ele ir até o fundo e bem rápido. Gostoso demais. Os gemidos saem da minha boca sem
nem me dar conta. Eu adoro Murilo querendo um sexo mais forte, ele fica muito homão
nessa posição, me reivindicando.
Gememos cada vez mais alto sem nos importarmos com mais nada, só sentindo e
curtindo. A sensação vem surgindo dando pequenos choques no meu corpo e se
espalhando rapidamente.
Murilo aumenta a velocidade, pois está quase chegando lá e geme rouco, trazendo
sensações loucas ao meu corpo. Contraio os dedos dos pés, perco o controle e grito,
tremendo e rolando os olhos, até que sinto Murilo chegar no seu ápice.
Estamos calados só ouvindo nossas respirações pesadas e tentando regular os
batimentos cardíacos.
— Isso tá ficando melhor a cada vez — penso alto em meio aos suspiros.
— Muito. — Ele suspira, colocando a mão na minha barriga, me trazendo para
mais perto.
Eu não me importaria nem um pouco se todos os nossos jantares terminassem
dessa forma.
28
ALEXIA
Depois que voltamos à rotina, as semanas foram boas na medida do possível.
Essa semana eu e Murilo vamos para a festinha da empresa dele e estou empolgada para ir.
Essa será a primeira festa que vamos como casal. Na última a gente se conheceu, nessa
vamos juntos. É tão legal isso!
O caso “Diego” ainda está em aberto. O pedido de prisão foi dado, ele está
foragido, inclusive pediu dispensa do trabalho. Ninguém sabe dele, nem os pais, pelo
menos foi o que nos disseram. Sei que a mãe dele o acoberta, porque ela nunca gostou de
mim e para ela o filho está sempre certo. Mas não posso obrigá-la a dizer, né?
E com isso Murilo está mais alerta. Nós vamos juntos para o trabalho e ele me
busca. Não saio mais sozinha por medo e Murilo está bem cauteloso comigo. Pois é,
minha vida está horrível e limitada por conta disso, não posso mais viver como uma
pessoa normal.
Parece até que sou eu a errada. Enquanto ele está não sei em que inferno,
aparentemente livre, eu, a vítima, tenho que ficar trancafiada. Mas fora esse detalhe que eu
tento fazer com que não me atrapalhe tanto, está tudo bem.
Puxo a camisa de Murilo, que estou usando, para fora do meu corpo quando
percebo que estou melhor. Acho que essa situação com Diego está me deixando agoniada
e com isso vivo pondo tudo para fora, inclusive agora. Se não for gastrite ou desidratação,
amém. E péssima hora para ela aparecer, pois estou com uma campanha grande e não
posso me dar ao luxo de ficar em casa, mal desse jeito. Tomo um banho revigorante e saio
enrolada na toalha depois de escovar os dentes. Eu tive vertigem quando acordei e a azia
não me abandona. Murilo ficou preocupado ontem, quando me viu com cara de morta e
enjoada no sofá, mas o acalmei.
Volto pro quarto, vendo Murilo de cueca marcando a linda bunda, vestindo a
blusa social. Confesso que ultimamente estou com um fogo desgraçado, e vendo ele
assim, só acende mais. Ele de roupa social só perde para ele sem nada.
Murilo gira para frente e vejo que está com a camisa social aberta, abotoando-a e
ainda com os cabelos molhados do banho. Como pode ser tão gostoso fazendo coisas
normais? Ele dá um sorriso convencido e continua a abotoar a camisa.
— Moreno, quais dos dois vestidos?
Me viro e pergunto a ele, que se arruma ao meu lado.
— O preto. Que sutiã é esse? — me questiona com as sobrancelhas unidas.
— É novo, comprei lá em São Francisco. Por quê? — questiono de volta,
colocando o outro cabide no lugar.
— Comprou número menor por quê?
— Não é número menor, é o mesmo que sempre comprei. Bela me ensinou a ler
as etiquetas de lá.
Respondo colocando o vestido e ele veste a própria calça, para o meu
desapontamento.
— Seus peitos estão maiores, então.
— Deve ser fôrma pequena por causa do país, não sei.
Me viro de costas para ele puxar o zíper do vestido, já que não consigo fechar
sozinha.
— Deve ser então, não podemos confiar nas medidas que não sejam daqui. —
Fecha o zíper e beija meu pescoço.
— Só porque você trabalha em uma marca de lingerie não significa que eu só
posso usar se for de lá — brinco e ele ri, pois eu praticamente tenho a maioria das
coleções de lá.
Ai que sorte eu tenho de ter um noivo que me presenteia sempre com conjuntos
de lingeries. A maioria indecente, mas ainda assim presentes.
Termino de me arrumar ao mesmo momento que ele e prefiro pular o café. O
cheiro não me pareceu convidativo e fiquei no suco, acho que desaprendi a tomar ou
enjoei do café que Murilo faz.
Fizemos tranquilamente a viagem para o meu trabalho. Aproveitei para checar
algumas coisinhas no meu celular. Os preparativos do casamento estão andando aos
pouquinhos. Ísis está me ajudando horrores, mesmo de longe.
— Vamos almoçar juntos?
Questiona ainda olhando a rua, já que ele está dirigindo.
— Vem me buscar?
— Venho.
— Então vamos. — Sorri para ele.
Desço do carro com muito custo, depois de ele querer me prender lá mesmo. Não
que eu esteja reclamando de beijá-lo. Só que o horário não permite muito essas safadezas
pela manhã.
Cheguei na agência pronta para a batalha. Começo logo respondendo e-mails de
clientes desesperados e concluindo projetos que estavam no final. Tive duas reuniões hoje,
uma com o pessoal do departamento de produção, e a outra com o departamento de
planejamento e atendimento. Essa semana lotou de trabalho, fora o grande que temos.
Sinto de novo o enjoo chato e sigo para o banheiro aqui da sala, acho que comi
demais no café da manhã. Aproveitei que o apetite voltou pela manhã e comi como antes,
só esqueci de preparar meu estômago. Vomito mais uma vez até sentir que não tem mais
nada para sair. Deus, o que está acontecendo comigo? Por que meu estômago está tão
sensível?
Me apoio na pia com a sensação de vertigem, enquanto respiro fundo tentando
pegar minha cor normal de volta. Lavo o rosto e o enxugo. Arrumo o cabelo e saio do
banheiro como se nada tivesse acontecido.
Antes das doze ligo para Murilo, que diz que vem me encontrar. Passo no
banheiro e retoco a maquiagem. Em seguida ele me manda uma mensagem pedindo para
eu descer.
Apareço na portaria e ele já está em pé, me esperando. Sou recebida por um
sorriso e meu coração desregula por um momento e se aquece ao vê-lo segurando um
buquê de rosas vermelhas Ele sorri e o cumprimento com um beijo. Me entrega as flores e
eu fico ainda mais encantada. Sou muito boba sim, mas uma boba apaixonada.
— Aprontou o que já? — pergunto com humor e ele gargalha.
Acabo rindo da minha própria desgraça. Pois Diego só aparecia com flores
quando aprontava e queria pedir desculpas, mesmo fazendo a mesma coisa logo em
seguida.
— Nada, estava tendo uma feira de flores lá perto e comprei. Quis fazer um
agrado, está abatida. — Suspende os ombros. Fico ainda mais derretida e dou um beijo
nele.
Uma mulher passa, olha e sorri para ele. Eu a olho séria, de cara fechada. Que
oferecida!
— Bonita ela, né? — me provoca.
Um homem tem que ter muita coragem para falar isso, sabendo que já brigamos
por coisas desse tipo.
— É? — soo debochada, arqueando as sobrancelhas com a cara de pau dele.
Percebe minha cara de desgosto e gargalha. Dou um tapa no braço dele e seguro
na sua bochecha com a unha, porém sem apertar muito para não machucar, o olhando
séria.
— Você sabe que só tenho olhos para você.
— Isso é golpe baixo, não sabe? — Semicerro os olhos para ele, que abre o
sorriso.
Ele me beija de novo e eu entro no carro.
— Tá com vontade de comer o quê?
— Qualquer coisa. Com a fome que eu tô, colocaria qualquer coisa na boca,
inclusive pedra.
— Qualquer coisa na boca? — repete o que eu falei com outra conotação.
— Oh, mente suja! Você entendeu.
Gargalha de novo, colocando a mão na minha perna e esquentando o local.

Hoje é a reinauguração da empresa em que Murilo trabalha. Estou meio nervosa,


pois vou de acompanhante dele. Agora ele dirige um setor.
Além do dono, terá outras pessoas também importantes. Murilo está nervoso com
esse novo emprego e a inauguração. Está com medo de não dar conta.
Eu tive que acalmá-lo com uma dose de sexo mais cedo e um cochilo para ele não
enlouquecer e me enlouquecer junto. Claro que aproveitei os dois, né? O sexo, porque não
tem como recusar com esse homem, e pelo cochilo, pois ultimamente tiro uns no meio da
tarde quando tenho oportunidade, nos fins de semana.
— Tá pronta? — Murilo vem andando para o quarto.
Termino de pôr os brincos e me viro para ele. Um minuto aqui. Vamos analisar
Murilo. Ele está lindíssimo de terno preto. Inclusive a camisa social. Não tem quem faça
ele usar de outro jeito. E gravata vermelha, pois, segundo ele, é para combinar comigo. O
cabelo está penteadinho do jeito meio bagunçado próprio dele.
O desgraçado é bonito. Ele cortou o cabelo, assim como a barba, que está cheia,
porém aparadinha. Amo quando está assim.
— Eita! Lá vem você me atentar. Tô duro só de te ver assim! — Ah, esse olhar
sacana!
— Pare, escroto.
Sorrio para ele, arrumando os cabelos que estão soltos, fazendo cachos leves.
Estou com um vestido vermelho e longo. Sim, escolhi logo a cor marcante. Eu tenho que
estar à altura. Não é muito decotado, mas também não é fechado. O vestido, além de
bonito, é leve.
A minha maquiagem está suave, coloquei uma sombra mais leve, em tons creme,
deixando o destaque para minha boca, que está em um tom vermelho quase da cor do
vestido para provocar Murilo, claro.
— Tá muito gostosa, sério. Já achava que não ia relaxar lá e você me aparece
assim.
Chega mais perto de mim e sinto seu perfume gostoso.
— Vem não que eu já te acalmei mais cedo. Eu vou ter muita dor de cabeça com
você gostoso e cheiroso desse jeito.
— Posso beijar ou vai sair?
— Pode beijar. É aquele.
— Ótimo.
Chega mais perto e com cuidado para não me bagunçar, e me beija indecente
como ele sabe.
Gemo e o agarro para chegar ainda mais perto. Perdi as contas de quanto tempo
ficamos ali. Eu me controlei ao máximo para não agarrar seus cabelos e bagunçá-los.
— Vamos, Morena — me chama a milímetros da minha boca.
— Uhum — nego e o agarro de novo em um beijo.
Ninguém mandou ter uma boca gostosa. E um beijo mais gostoso ainda.
— Prometo que na volta vai ter pacote completo.
— Gostei disso. — Dou mais um selinho demorado nele e separo nossos corpos.
— Safada! Só pensa em abusar de mim. — Ri do meu lado, se ajeitando no
espelho.
— Ei! — protesto.
— Não te julgo. Amo você assim. — Sorri do espelho para mim e eu nego com a
cabeça.
Ajeito uma última vez meu cabelo e vestido. Passo perfume, arrumo a gravata
dele, que está torta, pego minha bolsa e descemos.

A festa está linda, maravilhosa, para ser mais exata. Estou embasbacada, pois
realmente está chiquérrima. Fui apresentada para algumas pessoas, e as meninas, Luísa e
companhia, estão aqui também. Todas lindas!
A festa acontece em um clube privado. Nessa noite bonita, tudo está um
espetáculo.
Conversamos com mais algumas pessoas e rodamos o salão. Fiquei louca vendo
aquele homem de terno. E bateu a nostalgia de quando a gente se conheceu. E fiquei ainda
mais louca quando vi várias mulheres tentando puxar papo com ele. Tinha vontade de
mandá-las saírem de perto, ou mostrar a marca que eu deixei no pescoço dele mais cedo,
para elas verem que é meu.
— Não tô te deixando de lado não, né? — questiona, me abraçando. Toda hora
uma pessoa o chama, inclusive o seu chefe, a quem fui devidamente apresentada. É um
senhorzinho gente fina.
— Não. As meninas estão me fazendo companhia também.
Sorrio e o tranquilizo, porque entendo que é uma festa do trabalho dele.
— Vamos pra pista.
Me arrasta pela mão indo em direção à pista que já tem algumas pessoas,
inclusive Cristian com Luísa.
Alguns casais estão dançando também, por isso estou aqui com ele. Ele estende a
mão para mim de forma cavalheiresca e eu assinto, sorrindo, colocando a minha em cima
da dele, fazendo graça. Me cola no corpo dele de forma suave, mas intensa.
— Isso me faz lembrar de quando a gente se conheceu realmente — comento
nostálgica sobre o dia do bar da festa, com a cabeça recostada no seu peito, enquanto nos
embalamos na música.
— Eu tentei fazer de tudo pra te impressionar. Achei você muito gostosa com
aquele vestido.
Dou um rápido sorriso.
— Sabe, quando eu te vi, quase tive um treco. Calado já tinha me impressionado.
Nem precisava abrir a boca.
— Mas ainda assim fugiu de mim. — Gargalha, assanhando minha barriga. —
Quando te vi saindo da festa tive vontade de te puxar de volta e te beijar. Ainda me deixou
de molho alguns dias.
Dançamos agarradinhos até a música acabar, sem nos importar com mais
ninguém ao redor.
Fomos para um canto um pouco menos movimentado. Amo cantos afastados de
festas.
— Quando sairmos daqui, vamos pedir pizza?
— Sim. Por favor. — Assinto, salivando só em pensar na pizza nordestina.
Ficamos na festa até a meia-noite, mais ou menos. Nos despedimos de todos e
seguimos pra casa. Foi bastante divertido. Entretanto, estou esgotada. Ficar de salto muito
tempo cansa.
Pedimos pizza no caminho mesmo. Só Deus sabe que horas vai chegar.
— Cansada demais. — Me jogo no sofá.
— E pra outras coisas, está?
Faz cara sugestiva, sentando do meu lado.
— Você não cansa? — Dou um beijo e o puxo pela gravata para chegar mais
perto.
— De você? Nem um pouco!

A semana está passando normalzinha. Eu ainda me sinto mal e estou quase indo
ao médico saber o que é, pois não passa de jeito nenhum. Nesse momento estou colocando
tudo para fora, no banheiro, depois do banho, vomitando tudo que comi durante todo o
dia, num enjoo ridículo que não me deixa mentir. Tá na cara que é pela preocupação com
Diego, que não encontraram ainda, isso está me abalando.
Me jogo na cama sem forças para colocar uma roupa e fico apenas de calcinha,
enquanto Murilo não aparece com a comida que ele foi buscar na rua de trás, já que nosso
restaurante favorito que pedimos via aplicativo está fechado. Essa vida de casal que não
tem tempo para cozinhar ferra demais!
Faço o que toda mulher faz quando se sente diferente: corre pro espelho para ver
se tem alguma coisa diferente externamente, evitando ir no google e descobrir que estou
com câncer na dor local.
Me olhando calmamente, suponho tudo que poderia ser, e uma delas me deixa
com o coração acelerado. Gravidez. Será?
Qualquer mulher que tem vida sexualmente ativa supõe isso em um momento da
vida, mesmo se protegendo regularmente, fazendo uso de anticoncepcional. Nunca se
sabe, né? Ainda mais tendo Murilo fogoso do jeito que é, querendo fazer safadezas a cada
oportunidade que ele mesmo cria.
Teve uma vez que eu estava paranoica, com tanto medo de engravidar nova, logo
quando iniciei minha vida sexual, que eu achei que estava, mesmo que estivesse num
período bom de “celibato”. Até pensei que era a nova escolhida, engravidando do “espírito
santo”. Mas era a merda do meu ciclo que estava irregular mesmo.
Checo meu corpo calmamente, que aparenta normalidade, apesar de estar me
achando mais cheinha. Inclusive internamente, pois me sinto pesada. E meus seios
pesados, mesmo não estando na TPM.
Escuto passos pela casa e logo Murilo aparece na porta, arqueando as
sobrancelhas quando me vê despida. Para não criar paranoia, envolvo Moreno para saber
se estou fantasiando coisas com essa suposição.
— Murilo, eu tô gorda? — questiono, ainda me olhando.
Murilo me olha cauteloso em uma cara explícita de “em que merda me meti” e eu
questiono novamente.
— Não, mas tá gostosa. — Chega puxando a camisa.
— Gostosa como?
— Alexia…
Fica em alerta achando que estou em algum tipo de joguinho para deixá-lo em
saia justa.
— É sério. De verdade.
— Está com algumas curvas novas, só isso.
Ele sai em disparada para o banheiro, não me deixando questionar novamente.
Deixo para lá e me visto.
Abro minha bolsa para pegar meu pen drive para passar uns arquivos pro meu
notebook e acabo derrubando tudo em cima da cama por não encontrar ele no lugar que
sempre coloco.
Meu coração acelera ao mesmo tempo que minhas mãos gelam, quando vejo
minha cartela de anticoncepcional faltando alguns comprimidos. Uma grande e enorme
hipótese em letras neon pisca na minha cabeça.
Bingo! Será uma enorme coincidência ou as paranoias se juntando? Não surta,
Alexia!
Tento me acalmar enquanto meu coração bate violentamente no peito. Se eu
estivesse grávida eu saberia, certo? As mães geralmente sabem quando estão, né? Pode ser
só coisa da minha mente, tenho histórico de achar e não estar.
Mas de qualquer forma, colocarei isso a limpo para não restar dúvidas. Deus me
ajude!
29
ALEXIA
Comprei o teste de gravidez no horário de almoço e estou sem coragem de fazer.
Mas a curiosidade e a ansiedade me consomem. Estou pensando em mil e uma
possibilidades para o caso de realmente estiver.
Primeiro, o que eu faria? E segundo, como contar a Murilo? Estou trabalhando no
automático só pensando se estou ou não. Ao mesmo tempo que quero fazer para tirar a
prova, tenho medo.
Estou com medo sim, mas Murilo me traz segurança. Apesar de não saber se é
realmente um bom momento para isso, estou muito inquieta. Moreno nunca me pressionou
para isso, na verdade, nunca paramos de fato para conversar sobre esse assunto. Mas sei
que ele não é contra ser pai, ele adora crianças.
Porém, nesse caos todo penso e não deixo de sorrir. Um mini Murilo por aí
correndo, imagina? Ele seria um bom pai, mas será que quer ser agora?
Logo agora que ele está crescendo na empresa, adicionando novas
responsabilidades. Ele quer isso? Terá tempo para ser pai em tempo integral? Eu tenho
para ser mãe?
Continuo fitando a tela, sem coragem e pensando em como lidar com isso.
O horário de almoço foi uma merda também. Murilo ficou questionando o porquê
de eu estar com cara de nojo olhando para a comida. Mas foi porque estava com puro
gosto de metal. Parecia que estava comendo uma barra de ferro.
Termino meu trabalho e vou direto para casa. Fui de táxi, pois preciso ir à frente
para fazer, preciso estar sozinha em casa e Murilo está demorando muito para sair do
trabalho, ultimamente. Cargo maior, responsabilidades maiores.
Porém, como da outra vez, aviso. Não quero que ele saiba antes de eu fazer, para
não gerar ansiedade. Vou à cozinha tomar um grande copo de água e sigo para o quarto,
jogando minha bolsa lá depois de tirar os testes, e corro para o banheiro antes que Murilo
chegue. Estou tremendo!
Abro os testes e leio as instruções. Faço xixi no potinho e jogo um palitinho lá
dentro. Sento no vaso tampado esperando os três minutos que cronometrei no celular.
Muita coisa vai mudar se der positivo. Uma criança! É muita responsabilidade e
gastos. Estou morrendo de medo desse teste.
Puxo o palitinho ao mesmo tempo que minha garganta fecha.
Cristo
Do
Céu!
Duas marcações não tão fortes, mas suficientes para eu saber que deu positivo.
Porém, não posso confiar plenamente nesses testes. Pego o digital, que é mais confiável e
ainda mostra as semanas de gravidez, caso eu esteja mesmo.
Mergulho no xixi e deixo o aparelho deitado na pia. Mais três minutos de
inquietação, para mostrar o seguinte resultado no pequeno painel digital: “positivo: +3
semanas”.
Cacete, então estou grávida de no mínimo um mês, ou seja, foi na época ou antes
de Murilo ter viajado, se estiver certo.
Continuo a encarar o painel sem saber direito o que se passa comigo. Começo a
organizar meus pensamentos, pois meu corpo foi tomado por milhões de sensações loucas.
Estou com medo, angústia, os nervos à flor da pele, ansiosa. Essa novidade me pegou
desprevenida. São muitas informações para assimilar.
Como cuidarei de outro pequeno ser humano que vai sair e precisar vinte e quatro
horas por dia de mim? Como vou dar conta?
Rio nervosa em meio ao choro, ainda olhando o papel sem acreditar. Eu vou ser
mãe. Estou tomada por uma ebulição de sentimentos. Vou da alegria ao medo e desespero.
Limpo meus olhos e corro, parando em frente ao espelho. Tiro meu vestido e
reparo no meu corpo. Realmente estou mais inchada, meus peitos estão bem maiores.
Como não percebi toda essa mudança? Nem quando me olhei da última vez percebi que
estava tão diferente.
Consigo notar poucas mudanças, sem contar que vivia tendo a maioria dos
sintomas, que até pensei que era cansaço misturado com gastrite nervosa atacada. Acho
que a loucura do casamento mais a treta com Diego me fizeram esquecer de tomar o
remédio algumas vezes, ou o que eu tomei não fez efeito, já que não é cem por cento
garantido.
Deus! Tomei vinho com Murilo por esses dias. Será que está tudo bem?
Mal posso esperar para contar ao Moreno, só espero que ele fique feliz. Entro no
box para tomar banho logo, antes que Murilo apareça aqui me procurando. Eu não tenho
ideia de como vou contar a novidade, estou ansiosa e com medo.
Aliso minha barriga e sorrio boba enquanto a água escorre sobre meu corpo.
Estou anestesiada e começo a ter uma crise de riso, sozinha, debaixo do chuveiro, ainda
desacreditada. Estou muito feliz.
Acho que minha ficha ainda não caiu de verdade. Aliso minha barriga ainda sem
nenhum sinal alarmante de gravidez, apenas está inchada, só reparando muito para
perceber. Ter um pequeno moreninho ou moreninha me chamando de mamãe é
inacreditável. Mal posso esperar para ver Murilo no papel de pai. Será lindo!
Coloco um vestido e vou para a cozinha providenciar nosso jantar para quando
ele chegar. Eu ainda não acredito que vou ser mãe!
Escuto o barulho das chaves avisando que ele chegou, enquanto coloco os nossos
pratos no balcão e sinto um calafrio de nervoso. É agora!
— Morena — me chama, querendo saber do meu paradeiro.
Apareço na sala, sorrindo com felicidade e nervosismo.
— Finalmente cheguei, tô exausto.
Desabotoa os primeiros botões da camisa social e vem na minha direção me
beijar, como sempre faz.
— A gente já estava com saudades.
Sorrio, colocando a mão na barriga. Murilo congela no lugar, entendendo no ar o
que eu quis dizer. Ele está com os olhos arregalados, em estado de choque, assim como eu
fiquei.
Abre e fecha a boca várias vezes e desiste de falar algo, apenas passa a mão no
cabelo até a barba e anda em passos largos na minha direção.
— Al… Alexia.
Fala meu nome, meio incrédulo, parando de frente para mim. Estamos bem
próximos.
— Fiz o teste agorinha.
Murilo não responde nada, apenas me tira do chão, me abraçando apertado.
— Não acredito!
Confessa ainda com voz abafada, quase em um sussurro no meu pescoço, e
não evito gargalhar, apertando meus dedos na sua cintura.
— Acredite!
Rio e ele afrouxa o abraço.
— Eu tô com medo de não dar conta! Mas tô tão feliz! — confesso, chorosa.
Murilo limpa meus olhos molhados.
— Mas vamos dar conta sim. Cacete! Vou ser pai!
Sorri e me dá um selinho demorado, segurando na minha nuca. Desço as mãos
para sua cintura, entrando por dentro da sua camisa aberta e apertando meus dedos,
sentindo sua pele quente.
Abro minha boca para dar passagem à sua língua, que logo entrelaça com a
minha. Aperto ainda mais contra mim e ele sobe a mão, entrelaçando nos meus cabelos.
Sorrimos um para o outro como dois bobos no meio do beijo. Não acredito!
Seremos pais! Tem uma pequena extensão da gente crescendo aqui comigo. E eu já amo
como se o conhecesse. Não existem palavras suficientes para descrever o que estou
sentindo agora, por mais assustada que esteja.
Apesar de eu estar amando sentir esses beijos gostosos dele, estou morrendo de
fome e meu estômago está vazio, como se eu não me alimentasse há anos.
Murilo mordisca meus lábios, chupa logo em seguida e deixa um beijo no meu
pescoço, me arrepiando totalmente, encerrando um início de preliminar.

MURILO
Pai! Eu serei pai! Puta que pariu! Melhor notícia do mundo!
Imagine um bebê com os nossos traços misturados? Será um menino parecido
comigo ou uma menina parecida com ela? Ou ao contrário? Deus! Imagino uma miniatura
nossa correndo por aí. Vai ser foda!
Se parecer com a mãe vou me considerar ainda mais sortudo! Doido para ver
minha Morena no papel de mãe, será linda! Já quero esse bebê e mal posso esperar para
ver Alexia com barriga grande. Nossa vida não poderia estar melhor, apesar de tudo.
A imagem de um filho meu nunca me assustou, apesar de eu nunca ter forçado
isso com relacionamento algum que tive. E não poderia ser com pessoa melhor, no melhor
momento.
Futuro marido e pai de uma criança, da mulher que amo pra caralho!

ALEXIA
Fui na minha primeira consulta para saber sobre o bebê e conversei com minha
ginecologista, que me encaminhou à obstetra e amiga dela aqui da clínica. Murilo está
cada vez mais cuidadoso comigo depois de descobrirmos a gravidez.
Está tudo bem comigo e estou com cerca de seis semanas, indo para a sétima. E
tive a confirmação de que foi antes de Murilo viajar mesmo, em alguma das nossas
rodadas de sexo louco.
Cristo! Pode ter sido no carro no dia do lual! Meu Deus!
Marquei minha segunda consulta. Parece que depois que descobri a gravidez,
tudo parece mais claro. Estou me sentindo até mais inchada e tenho um sono absurdo.
Durmo sempre que possível, e até quando não posso.
Corro levantando da cama, assustando Murilo que estava jogado meio dormindo
ao meu lado, quando sinto náuseas. Ultimamente minhas náuseas matinais têm sido
bastante intensas, às vezes acho que não vou sobreviver.
Coloco as últimas coisas que comi para fora, me sentindo horrível. Murilo
aparece no banheiro para me ajudar enquanto vou para mais uma rodada de vômitos.
Ainda sinto essas ânsias fortes mesmo tomando as vitaminas.
Meu estômago está em um nervoso absurdo que só consigo vomitar cada vez
mais, até começar a sair absolutamente nada, só sinto a ânsia. Nunca imaginei que certos
sintomas seriam tão fortes. Qualquer coisinha me cansa ao extremo. Só quero dormir o
tempo todo.
Imagino quando avançar ainda mais.
— Já acabou.
Murilo me puxa para cima, me abraçando enquanto eu choramingo de puro
nervoso. Parece que esse terror matinal não vai acabar nunca!
— Não aguento mais colocar pra fora desse jeito.
Me queixo ainda com o estômago revirando, num enjoo muito ruim.
— É porque tá no comecinho, fica calma.
Moreno passa a mão nos meus cabelos, me confortando. Quando sinto que o
nervoso da barriga passou, me separo dele para tomar banho.
— Vou fazer seu café da manhã.
Murilo sai do banheiro, me deixando sozinha. Entro na água quente, molhando
meu rosto e cabelos. Ultimamente meus dias começam dessa forma. Eu colocando tudo
pra fora feito louca, achando que vou morrer desidratada e Murilo me acolhendo dizendo
que vai passar.
Falarei sobre isso com a doutora, porque está ficando cada vez pior. Ah! Contei a
meus pais, que ficaram loucos. Minha mãe quase surtou na linha, assim como meu pai,
que quase enfartou, e depois chorou. Murilo também ligou para os pais dele, que também
choraram, porque serão avós, finalmente. Nosso bebê será o primeiro neto, ou neta, deles.
Minha cunhada deu a louca gritando que vai ser tia. Meus sogros até decidiram
voltar para o Brasil. Isa suplicou, não estava aguentando o clima e vem terminar a
faculdade aqui. Ísis surtou e ficou radiante, James ficou besta depois de quase ter um
troço. As meninas, da mesma forma, gritaram como loucas.
Saio enrolada e me visto com a primeira roupa soltinha que acho. Minhas outras
roupas estão me incomodando muito, embora seja apenas o início da gestação.
Vou para a cozinha encontrar Murilo.
— Suco?
Questiona, colocando um copo na minha frente.
— Já me deu, né? Queria mesmo é café.
— Não pode ficar tomando café toda hora que faz mal, né? E sei que a senhorita
vai tomar por lá, então já tiro o daqui.
— Virou fiscal agora, foi? — questiono com humor.
— Virei.
— Vai tomar banho, fiscal de café.
Faço graça e ele segue pra dentro para a gente não se atrasar. Levanto da cadeira e
cato tudo de gostoso que vejo pela frente para comer.
Tomo meu café tranquilamente. Aproveito e checo as coisas do casamento. Hoje
eu e Murilo vamos acertar outras coisas importantes. Casamento dá trabalho demais.
Como quieta e sozinha até Murilo aparecer arrumado e cheiroso.
— Ainda tomando café? — questiona, incrédulo.
— Tô com fome. Ninguém mandou você me engravidar. E Murilo, sabe o que eu
andei percebendo? Eu posso ter engravidado aquele dia no carro, não usamos nada. Se
nosso filho descobrir que foi feito numa rapidinha dentro do carro em um beco escuro, eu
não sei como vai ser.
— Então eu caprichei pra fazer esse bebê, porque estava morrendo de tesão em
você aquele dia.
Ele gargalha, me dando um nervosinho na barriga de um jeito bom, sentando do
meu lado e me abraçando pelo ombro. Descarado!

MURILO
— Tá com fome também, Murilo? — Alexia questiona enquanto dou passagem
para ela entrar primeiro.
— De você? Sempre! — Dou um tapa na sua bunda e ela ri, se protegendo.
— Pervertido! Tô falando de comida.
— Eu também. Tô doido pra te dar uma comida.
Alexia joga a bolsa no sofá e vira o rosto, com um fingido semblante de
indignação, mas ela mal consegue disfarçar. Apenas semicerra os olhos para mim. Eu só
dou de ombros.
— Sou um noivo bacana, vou cozinhar — me rendo, desabotoando a camisa
social. — Estive pensando, quer yakissoba?
— Você é meu sonho de princesa, meu caro. Quero. — Ela faz cara de dor,
tirando os saltos. — Vou tomar um banho, tô cansada.
— Vai, pode relaxar um pouco no chuveiro — incentivo.
— Isso pareceu tendencioso, mas vou mesmo — suspira, catando nossas coisas
para subir as escadas, mas antes me dá um selinho rápido.
Arranco a camisa social, largando-a no sofá, tiro o cinto e os sapatos também e
sigo apenas de calça social para a cozinha. Resolvo preparar o jantar para nós dois. É
rápido!
Arrumo a cozinha e subo para o quarto. O chuveiro está desligado e logo a porta é
aberta, surgindo Alexia com minha camisa e todo o vapor do mundo, parece até que ela
estava assando lá dentro.
Ela está cada dia mais bonita com essa gravidez. Conforme as semanas passam, a
barriga começa a apontar mais claramente. Ela conta nos dedinhos de quantas semanas
está, mas sempre arredonda para meses, e se queixa que não consegue memorizar por
semanas. Tá com nove e alguns dias, quase dez.
— Fez do banheiro uma sauna, não foi?
Ela ri, terminando de secar os cabelos e dando de ombros.
— A água estava quentinha.
— Nem precisava, eu te esquentava. — Dou uma piscadela. — Vou tomar banho.
Aviso já descendo a calça para arrancá-la. Tomo um banho legal e logo desço,
encontrando Alexia na cozinha colocando a mesa para nós. Mas um detalhe chama minha
atenção: duas taças postas e um tímido arranjo no meio.
— Hum, o que é isso?
— Comemorar nossa vida, não acha que tá muito boa?
Sorrio abertamente. Minha garota é especial demais! A puxo pela mão, subindo
seu corpo e segurando na sua cintura.
— Eu sou muito sortudo, não sabe? Tenho uma mulher gostosa que eu amo pra
caramba e sou correspondido. Futuro marido e pai do nosso filho. — Beijo seu queixo.
— A mais sortuda disso aí sou eu.
Sinto seus dedos entrelaçarem na minha nuca e, com a outra mão, fincar suas
unhas vermelhas nas minhas costas. Puxo-a para mais perto, colocando meus dedos entre
seus cabelos e a tomando para mim. Nosso beijo é interrompido pelo toque da campainha.
30
ALEXIA
Nos separamos enquanto ele vai atender e me atento a terminar de pôr a mesa,
colocando os pratos e fazendo suco para nós. A comida pede um vinho, mas não posso
beber.
— Isso não é problema meu! — Escuto Murilo alterar a voz em um tom tão sério
que eu até estranho, porque não é típico dele.
— Murilo? — o chamo, saindo da cozinha.
— Já tô indo, pode continuar o que tá fazendo — ele fala de lá com um tom
nervoso, mas ainda assim vou lá querendo saber com quem ele tá aparentemente
discutindo na porta.
Ando e percebo que ele fecha mais um pouco a porta, mas ainda mais curiosa,
vou e o encontro sério, conversando com uma mulher de cabelos claros, quase loiros de
luzes, com o mesmo rosto confuso que eu quando nos vemos. Ela me olha rapidamente de
cima a baixo, parando um pouco mais de dois segundos na minha barriga que já aparenta a
gravidez, dependendo da roupa que uso.
— Oi?
Arqueio as sobrancelhas para saber quem é ela e olho para Murilo, que está
petrificado, mas hiperativo.
— Vamos entrar — Murilo age, tentando me fazer sair dali, praticamente com
intenção de bater à porta na cara da mulher, aparentemente abalada demais para interferir.
— Calma, não precisa fechar a porta assim — peço e ele é quem me olha de cara
fechada. — Quem é você? — questiono, curiosa.
— Camila. Desculpa, não queria atrapalhar. Me desculpa, eu sei, é só que…
Deixa para lá. — Faz pouco caso com a mão.
Assim que ela diz seu nome, me sinto deslocada entre os dois. Murilo olha para
mim e eu continuo a olhar para ele sem saber como agir diante daquilo. E amaldiçoo ele
por estar sem camisa.
Sabe aquele momento que o balde de água gelada entra em contato com seu
corpo sem esperar? É assim que eu me sinto agora. Camila, pelo que me lembro, é a ex
dele. O que ela está fazendo aqui?
Olho mais uma vez para a mulher e só consigo pensar que ela já beijou Murilo e
fez outras coisas que não gostaria de ter pensado. Será que ele gostou dela na mesma
voracidade ou pensou em ter filhos?
Mas não importa mais, Murilo me ama e iremos casar.

MURILO
Droga! Nenhum homem quer atual e ex no mesmo ambiente. E eu de repente
estou com Alexia e Camila se encarando. É desconfortável!
— Vou sair pra vocês terminarem de conversar — Alexia resmunga. E seu tom
não está muito bom.
— Não. — Seguro na sua mão para que fique ali. — Não temos mais nada pra
conversar, não é, Camila?
Seguro Alexia pelo ombro para que ela não saia e pra que Camila entenda que eu
estou acompanhado agora. Não tenho tempo para ela, para sequer saber o que veio fazer
aqui, depois de tantos meses querendo conversar.
— Ahn, eu… Sim! Só achei que você poderia me ajudar, não sei. Ele tá
agressivo. Não tenho muito a quem recorrer, minha família não fala mais comigo direito
por causa dele. Tô desesperada — diz esbaforida, atropelando as palavras, tentando
explicar o veio fazer aqui, pois ela chegou e eu não quis ouvi-la. E ela insistiu.
— Ele quem? — Alexia pergunta, com a testa franzida.

ALEXIA
— Meu marido, ele tá agindo estranho comigo desde que descobriu minha
gravidez no mês passado. Não sei o que fazer.
Confessa, chorosa, e meu coração automaticamente dói, pois sei o que é viver
nesse tipo de relacionamento. De repente para mim aquela mulher não é mais ex do meu
noivo, é uma mulher desesperada.
— Entra — sem pensar muito, mando, surpreendendo os dois.
— Não quero atrapalhar, desculpa.
— Entra logo antes que me arrependa — repito, séria.
Sei que foi ela que terminou com ele, e não tem direito nenhum de vir atrás. Mas,
independente de qualquer erro cometido no passado ou presente, nenhuma mulher merece
apanhar, ainda mais grávida.
Ela entrou meio receosa e desabafou, dizendo que no começo ele era
maravilhoso, só que fez ela sair do trabalho quando casaram, proibiu-a de sair com as
amigas e agora não tem mais contato com quase nenhuma delas. Quando descobriu a
gravidez ele ficou estranho, pedindo para ela tirar, pois não quer filho agora e a criança vai
tirar o tempo que os dois têm juntos e não quer dividir atenção. Porém, ela saiu de casa
depois que apanhou da última vez e está morando de favor com uma das únicas amigas
que restaram. Só que agora ele está perseguindo e ameaçando a amiga também.
Murilo ficou o tempo todo sério e calado, ouvindo. Eu escutei tudo atentamente,
sem saber o que fazer. Sugeri que procure um advogado, vá na polícia logo e more com
algum parente distante até a poeira abaixar. Ela saiu daqui depois de chorar muito e
agradecer.
Acabamos jantando o yakissoba, que ficou uma delícia. Enquanto eu tento fazer
uma comida brasileira comestível, do outro lado Murilo inventa de fazer comida de outro
país, e ainda sai gostosa. Eu tenho um Hilbert moreno e não sabia.
Ambos calados, trocamos apenas poucas palavras. O que era para ser um jantar
alegre se transformou em algo desconcertante. Mas penso mesmo é na reação de Murilo
quando eu cheguei. Ele tentou me esconder? E ficou bravo por eu escutá-la? Estou bem
confusa. Mas não vou guardar essas questões para mim.
Viro para Murilo, que para o que está fazendo, vendo minha insatisfação com
isso.

MURILO
— Por que você tentou me esconder quando eu apareci? — Alexia me olha, com
semblante questionador.
— Ahn? — rebato automaticamente, processando o que ela falou.
— Por que me escondeu, fechou a porta quando apareci? Não queria que eu
escutasse a conversa? — Semicerra os olhos.
— Não! — agilizo a resposta. — Não tentei, só que… Só que eu não queria
estender o papo com ela, estava tentando fazê-la ir embora.
— Hum. — Ela termina de secar os pratos que eu lavei e em seguida sai em
direção às escadas.
Ela não aceitou muito bem a resposta, apesar de ser a verdade. Eu não quis
escondê-la, só queria que Camila fosse embora, não queria estragar a noite. Odeio brigar
com Alexia! Ainda mais por conta de Camila, droga!
Estou com uma mulher por quem faço tudo para vê-la feliz e despreocupada. Aí,
do nada, uma ex aparece!
Como já falei, ninguém quer ser pego pela atual no flagra conversando com a ex,
mesmo que tenha sido uma breve discussão e sem estar fazendo nada de errado. Mas esses
momentos deixam a gente sem saber como agir. Largo lá e seco as mãos, subindo atrás
dela. Tudo que eu não quero é brigar com Alie. Reencontro-a de costas para mim, deitada
na ponta da cama fitando o chão e paro na frente dela, me agachando para olhá-la.
— Eu juro que não te escondi — com tom de voz baixo, acentuo o que falei. —
Eu só queria que ela fosse embora, não queria criar um clima chato entre vocês e nem te
preocupar com bobagens.
Aliso sua mão e ela aceita o carinho.
— Ninguém jamais vai me afastar de você. — Percebo ela ficar aliviada. — Você
é maravilhosa. Mesmo sendo minha ex, quis escutá-la. Se fosse outra, teria mandado se
foder sem se importar.
Abro um pequeno sorriso orgulhoso pela atitude empática dela. Minha mulher é
uma peça rara e eu não a deixo de forma alguma!
Levanto e beijo sua testa, sentando do seu lado e a puxando para meu colo.
— Então não ficou chateado por eu ter escutado ela? — indaga em tom baixo,
alisando meus dedos.
— Não, só surpreso. Eu achei que quando a visse de novo ia sentir alguma coisa,
mas não senti nada. Só que não soube como agir vendo vocês duas no mesmo ambiente.
Mesmo que ela tenha dado um fim no nosso relacionamento pra ficar com esse fulano, eu
não senti nada quando a vi hoje daquele jeito. Não me senti feliz nem vingado.
Sou sincero com o acontecimento e ela assente.
— Infelizmente ela fez a escolha errada achando que era a certa. Me compadeci
por ela, apenas. Mas eu não quero vocês dois próximos!
Ela me fita com cara de brava e eu abro um sorriso.
— Apesar de tudo, eu não me senti tão desesperada ao vê-la. Claro que fiquei
meio deslocada em um primeiro momento, sabendo que é sua ex, não sei se foi pela
situação. Mas não surtei como eu provavelmente faria. Eu consegui me controlar.
— Uhum. — Beijo seu pescoço e a vejo se arrepiando. — Vocês não estão
competindo em nada, eu sou seu, moça.
— Acho bom! Então se não estamos competindo por nada, não havia porque ser
grossa — sou sincera e me assusto com o que falei e como me senti em relação a ela.
Achei que ficaria morrendo de medo de Murilo me largar, mas simplesmente não
surtei.
— Gosto de você assim. — Beija minha cabeça e eu sorrio.
— Você criou um monstrinho, não se esqueça. — Rio com ele.
— É. Agora vem aqui me dar um beijo.
Esse encontro de hoje foi só para fortificar que a Alexia que estou lutando para
ser estar vencendo. A vantagem de passar por momentos muito ruins é que quando
acontece algo apenas ruim, você olha para a situação e pensa: “HAHA. Tente
novamente!”.

Leio a mensagem no mesmo momento que derrubo o celular no chão, com o


coração dando galopes.
— Alexia, o que foi?
Murilo aparece no quarto, confuso, me olhando alarmado.
— Veja você mesmo — sussurro quase inaudível, incapaz de controlar minhas
lágrimas de pavor, apontando para o celular no chão. Moreno abaixa para pegar e lê.
— Eu voltarei para terminar o que começamos, e não terá cadeia e nem ninguém
para te salvar. Aquilo foi só o começo!
Murilo lê ao mesmo tempo que meu coração bate mais rápido de medo, sentindo-
o querer sair pela boca. Moreno esbraveja e vem me abraçar. Estou inconsolável e
morrendo de medo. A polícia ainda não conseguiu encontrá-lo, está foragido e os pais
insistem em dizer que não sabem. Parece que essa procura por ele o deixou com mais ódio
de mim, claro, pois fui eu que o denunciei. Essa não é primeira mensagem que recebo
dele, e estão ficando cada vez mais agressivas. Eu o bloqueei, mas ele sempre dá um jeito
de me enviar de um número novo.
Ele está fazendo da minha vida um inferno. Começou isso essa semana, apenas
prometendo que voltaria, e eu que já andava assustada, fico mais ainda. Tento não ficar
por conta da gravidez, mas é inevitável!
— Olha pra mim.
Murilo pede e eu obedeço, fitando os seus, que claramente mostram preocupação.
— Ele não vai fazer nada com você, tá me ouvindo? Mostraremos todas essas
mensagens à polícia. E ele vai parar com isso, nem que eu tenha que fazer isso com
minhas próprias mãos.
Mesmo que ele não seja um Bryan Mills da vida, e que não estejamos em um
filme estilo “Busca Implacável”, me transmite um pouco de tranquilidade apenas por saber
que não estou sozinha e desprotegida.
Assinto concordando e ele limpa meus olhos, me dando um beijo na testa.
— Termina de se arrumar pra irmos.
Murilo faz um carinho rápido no meu cabelo e eu anuo de novo, saindo de perto
dele.
Termino de me arrumar e sigo para a cozinha comer algo, mesmo sem fome. Isso
tirou completamente meu apetite.
Logo saímos para o trabalho, com ele me levando. Nossa rotina é praticamente
essa desde o último acontecimento antes da viagem. Os preparativos do casamento estão
caminhando. Murilo está me ajudando e cheio de ideias, ficou responsável pela nossa lua
de mel, já que o casamento em si sou eu quem estou organizando.
Queremos casar antes do bebê nascer e da minha barriga ficar imensa. Será uma
corrida contra o tempo. Faço a viagem inteirinha calada e angustiada.
Achei que Diego me esqueceria depois que eu chamei a polícia, e que havia
decidido seguir em frente, mas pelo jeito a diversão dele agora é me amedrontar. Eu não
aguento mais!
Aproveitei para checar algumas coisinhas no meu celular.
Ainda não decidi qual será meu vestido de noiva, pois, segundo minhas contas,
casarei grávida ainda. E até lá meu corpo vai mudar muito e tenho que escolher um que
fique bonito, mas que não me aperte. Então estou com alguns modelos para experimentar
e andei conversando com as meninas de uma butique, e elas ficaram de conseguir para
mim um vestido de gestante que me valorize.
— Ainda vai querer sair?
— Vou sim. Acho que minha mãe vem esse final de semana.
— Então vamos.
Sorrio para ele, dando um beijo na sua boca. Desço do carro com muito custo,
depois de ele querer me prender lá dentro. Não que eu esteja reclamando disso, mas é que
o horário não permite muito essas safadezas pela manhã.
Trabalho pela manhã no automático. Dá meio-dia e desço correndo para encontrar
meu Moreno. Ele, como sempre, está encostado no próprio carro com aqueles óculos
escuros o deixando gostoso.
— Oi. — Chego sorrindo e o beijando rápido.
— Oi. — Me imita e reviro os olhos. — Gostosa. — Aperta minha cintura.
— Vamos antes que a gente dê um show na rua. — Me separo dele.
Entro no carro e ele vai para o banco do motorista.
— Prefere o que, primeiro?
— Comer, né?
Me viro de lado no banco do carona para ver ele gargalhar. Ligamos o som, pois
não consigo viver sem música e também para acalmar minha mente barulhenta.
Almoçamos tranquilamente. Conversamos um pouco sobre os preparativos do casamento.
— Quando sair do trabalho, vamos jantar? Depois vamos pra casa —
sugere, estacionando na frente da agência.
— Pode ser.
— Quer escolher um específico?
— Não. Você escolhe hoje.
— Tudo bem. Então vamos depois do trabalho.
Sorrio para ele em concordância.
— Te vejo na volta — me despeço dele.
— Te vejo na volta — repete e me dá um beijo rápido.
Escuto ele falar que no horário de costume vem me buscar e arrasta o carro. Vejo
o carro se distanciar e já sinto saudades. Se pudesse, hoje não sairia de casa. Estou
desanimada e com um sentimento estranho por conta da mensagem. Mesmo com um
pouco de euforia pelo nosso jantar. Só queria ficar quietinha abraçada com Murilo. Acho
que é o cansaço da gravidez mesmo.
Passei o resto do dia normalmente, como deve ser. Passou como um borrão. Fiz
tudo no automático para acabar logo e eu ir embora. Desço o elevador cantarolando baixo.
Não vejo a hora de chegar em casa. Estou mais que esgotada do dia. Ainda tenho que
pegar o planejamento do casamento para saber o que falta ver. É muita coisa para resolver,
mesmo com Murilo me ajudando, e isso está acabando comigo!
Saio da agência e percebo que Murilo ainda não chegou, pois não o vejo com o
carro parado aqui, como de costume. Olho o movimento da rua, as pessoas saindo daqui
da agência e do trabalho, e decido voltar para esperar Murilo lá dentro.
Um carro para perto de mim e tento correr com o coração a mil quando vejo a
porta abrir, mostrando Diego saindo de dentro com um boné.
Droga! Cadê você, Moreno?
Antes de dar mais que dois passos, sinto a mão dele agarrar meu pulso.
— Fugindo de mim, Alexia?
Escuto ele falar de forma debochada, enquanto meu coração bate
descontroladamente. Sinto até minhas pernas fraquejarem.
— Me solta! — grito apavorada, tentando me soltar, e ele me puxa pelo braço.
— Você vai entrar no carro sem berrar.
Me ameaça baixo e eu rezo mentalmente para que, onde quer que Murilo esteja,
se teletransporte para cá. Congelo no lugar e procuro alguém que possa me ajudar. As
pessoas do outro lado da rua passam normalmente, como se não estivessem vendo a cena.
Como se eu fosse invisível!
— Não vou! — grito novamente e ele me olha sério, me dando um frio absurdo
na espinha. A cada dia que passa, Diego fica mais irreconhecível, ou eu não o conhecia,
pelo jeito.
— Entra no carro.
Se altera, apertando meu pulso cada vez mais. Um cara aparece do nosso lado e
eu suspiro aliviada. Estou salva!
— Tá tendo algum problema aí?
O homem questiona e Diego, com toda a calma do mundo, se vira para o homem
ainda me segurando.
— Tem! Ele é louco! — grito e Diego me aperta mais, causando uma dor absurda
no pulso. Parece que meu braço vai partir a qualquer momento.
— Sou namorado dela, sabe como é.
Ele olha para o cara, que assente e ainda pede desculpas por ter se metido, sem
me questionar se é verdade. Como assim, gente? Eu mostrei resistência! Como ele pode
levar em conta só o que ele falou?
— Para, Diego!
— Entra! Se eu for partir pra agressão, você não vai gostar — me ameaça
sussurrando só para eu ouvir, entretanto, apesar da voz baixa, me amedronta ainda mais.
Ele me puxa de novo pelo braço em direção ao carro e sigo contrariada com ele, sem
opção, pois não vou conseguir me soltar nem correr. Estou acuada e sinto vontade de
chorar, rezando para Murilo aparecer logo e me tirar desse pesadelo.
— Diego, por favor, para com essa loucura. Já tem muito tempo que nós
terminamos. Esquece isso — suplico, morrendo de medo, sentindo minha garganta fechar
de tão seca que está.
Ele abre a porta do carro e tenta me empurrar para dentro, mas me prendo
tentando me soltar mais uma vez e correr.
— Sem gracinhas, Alexia — sussurra descontrolado, segurando meu queixo com
força. Ele me empurra novamente com grosseria para dentro, mas tento resistir de alguma
forma para ganhar tempo. Acabo caindo no banco junto com minha bolsa e ele bate à
porta, sem dar tempo de eu tentar sair, pois ele já está sentando no banco do motorista.
— Diego! Para com essa loucura! — grito já tremendo, com as lágrimas vindo à
tona em meus olhos, que ardem como se tivessem espremido limão em cima.
— Cala a porra dessa boca! Eu já mandei! — grita de volta.
Diego arrasta o carro e escuto Murilo gritar e, pelo retrovisor do meu lado, vejo
ele correr na direção do carro de Diego, chegando bem perto, porém Diego esbraveja e
acelera mais, cantando pneu. Nossa troca de olhares foi rápida, porém ele me viu.
Só não sei se essa será a última vez que ele vai me ver. Estou com um aperto
horrível no coração com essa hipótese.
— Você agora será minha e de mais ninguém.
Volto para meu inferno com a voz de Diego e me sinto mais apavorada. Deus!
O carro corre desbandeirado pela avenida. Estou assustada. Nunca pensei que
Diego seria capaz de fazer uma coisa dessas. Ele corta vários carros, deixando para trás
barulhos de buzinas e xingamentos de motoristas revoltados.
Admito! Estou com medo de morrer e de acontecer um acidente. E, pra piorar, a
pessoa com quem eu dividi a cama e minha casa tantas vezes é que está fazendo isso.
— Isso vai dar merda, não tá vendo, porra? — esbravejo com medo do que vai
acontecer comigo e com meu bebê. Eu temo pelas nossas vidas!
— Não vai. Não é assim, Alexia. Você simplesmente me esqueceu na primeira
oportunidade. Vou até te perdoar por ter dado a queixa — comenta, alisando minha perna,
e só sinto nojo. O que tem na mente desse ser humano, meu Deus?
— Ainda quer recorrer? Olha há quanto tempo terminamos! E não fui eu quem
estava no dia seguinte namorando de novo.
Fecho os olhos quando passa no sinal vermelho voando, onde tem uma rua de
saída de carros.
— Para onde você tá indo? — pergunto quando vejo ele indo em direção à BR
que sai da cidade.
Para onde esse louco está me levando?
— Vamos ficar longe deles. Só nós dois. Você vai ver, meu amor. Nós ainda
vamos ser felizes juntos, vamos recuperar o tempo perdido.
Diego é um lunático!
O pior de tudo é isso. Ele falando como se fosse uma coisa óbvia, que eu não
estou com ele por causa de Murilo ou das minhas amigas. Estou assustadíssima.
— Qual o sentido disso tudo? De saber que a pessoa não quer estar do seu lado?
Tento argumentar para tirar isso da mente dele e tiro a mão dele da minha perna.
— Gosta sim! Aquele playboy que não te deixa pensar direito — tenta me convencer,
colocando a mão na minha perna de novo.
— Não! Eu penso pela minha própria cabeça. Eu amo Murilo! — grito já quase
chorando.
— Não ama! — esbraveja, tirando a mão da minha perna, me empurrando para a
porta, e bato a cabeça no vidro do carro. Logo a dor vem e absorvo o que ele acabou de
fazer, horrorizada. Choro de dor, raiva e pavor. Acuada, me sinto uma garotinha
apanhando sem poder fazer nada.
O carro fica em silêncio de repente e só escuto o barulho dos carros freando lá
fora conforme ele vai passando sem respeitar as leis de trânsito. Até ele quebrar o silêncio.
— Eu sou o melhor pra você. Acredite em mim. Eu sempre tenho razão. Eu aturei
suas chatices, grudes e manhas pra você me trocar pelo primeiro playboy que aparece?
Não tem nem cabimento!
Não me atrevo a falar mais nada. O carro está indo muito rápido e estou com mais
medo ainda, pois dele eu espero tudo. E só consigo ficar preocupada com meu bebê. Não
pode acontecer nada com meu bebê!
— Sabe quantas mulheres dariam tudo pra estar no seu lugar e você fica nessa?
Ele ultrapassa o sinal vermelho quase causando um acidente com um pedestre
cadeirante. Fecho os olhos, com medo. Minha barriga está em um nervoso absurdo e estou
fazendo de tudo para não passar mal, apesar de querer pôr para fora tudo que comi. Estou
tentando ficar calma o máximo possível, por causa do bebê, mas me sinto abafada. Esses
primeiros meses estão sendo muitos preocupantes.
— Diego, para! Você sempre fez eu me sentir minúscula. Tudo que eu fazia pra
você era pouco. Pra que tudo isso? — choro, deixando minha vista embaçada. Estou
angustiada e impotente.
— Em todas as brigas você sempre voltou. Essa não seria diferente. Mas por
causa daquele playboy de merda, você não voltou.
— Qual a parte de “você me traiu” que ainda não entrou na sua cabeça?
Independente de Murilo ter aparecido ou não, já tínhamos rompido! Você não mudava e
nem eu te suportava mais! Mesmo lutando, conversando, sempre ficávamos em círculos!
— Aquilo ali foi um deslize! Você não deveria se importar, afinal de contas.
Tinha esquecido quão chata você é com essa coisa de discutir relação. O que uma mulher
diz pra mim, entra por um ouvido e sai pelo outro. O que você diz, pra ser mais exato.
Vocês mulheres nunca sabem o que querem, um banco de indecisas e histéricas. Por isso
que nunca dei importância pro que você falava. Principalmente sobre relacionamentos. Fui
até bonzinho te dando tempo pra repensar suas ações e atitudes. E o que você fez? Saiu
com o primeiro que apareceu. Eu até tentei ignorar, pensei que não ia durar esse
romancezinho e ia voltar como era. Mas já tá durando demais. Você não pode me esquecer
tão fácil assim.
— Olha lá pra fora. Eu não sou tudo isso. Tem milhões de mulheres aí no mundo.
Você não tá namorando de novo? Me esquece!
Diego solta uma risada debochada, me dando mais raiva e fico até envergonhada.
— Emily é passado, te falei isso. Muito esquentadinha e desobediente, não era
como você. Aliás, ela não é você. Ela era só diversão, só servia pra ser usada mesmo.
Bobinha, achando que iríamos casar. — Ele ri, tripudiando dos sentimentos da tal Emily.
— Não serve pra mim, não serve pra casar. Você sim é pra casar. Vai voltar a ser minha
como sempre foi.
Olha de relance pra mim e sorri, me apavorando mais ainda. Diego acelera mais o
carro e coloco o cinto, que ainda não havia colocado, assim como ele, que não está
preocupado em pôr, temendo pela minha vida e a do meu filho.
De repente ouvimos a sirene da polícia atrás da gente. Ele grita esbravejando
xingamentos e acelera ainda mais, pegando uma distância considerável. Diego vira o carro
com tudo, entrando na primeira avenida e me jogando com tudo para o lado. Estou
tremendo muito. Acho que se me colocarem em pé agora, eu caio.
— Se fizer alguma gracinha, você morre, entendeu?
Ele levanta a camisa rápido e vejo o cabo de uma faca. Pelo tamanho do cabo, a
faca é grande. Essa perseguição de carros em uma BR não vai dar certo. Isso é mais que
óbvio!
— Se gosta de mim como diz, me deixa em paz. Eu retiro a queixa e você segue
sua vida. Ainda te acoberto agora. Você nunca fez questão, nem ligava pra mim, Diego.
Sejamos racionais! — tento negociar.
— Meu erro foi não te dar uma lição logo no começo. Hoje nada disso estaria
acontecendo. Você estaria quietinha e me respeitando. Sabendo o seu lugar de mulher,
respeitando e obedecendo seu homem. Bem que minha mãe falou que você não prestava,
estava cego com você!
Bom, a mãe dele sempre foi uma incentivadora de discórdias, sempre dizia que
não era mulher para o filho dela, que eu deveria largar o emprego para me dedicar mais a
ele e, quem sabe, ter filhos. Pois, segundo ela, estou ficando velha e se eu não tiver filhos
é porque não estou fazendo meu papel direito. Mal ela sabe que Diego vivia marcando em
cima para eu não esquecer a pílula, ele nunca gostou de camisinhas. Ela falava isso e mais
outros absurdos, como parar de trabalhar e competir no lugar que só homem deveria estar.
Mas mesmo se fizesse tudo do jeito que ela dizia ser o correto, ainda falaria mal.
Ele vivia falando que era para eu me esforçar para conquistar ela. Mais esforço
que eu fazia era impossível. Se eu ficava muito com Diego, achava que era grudenta. Se
fosse ao contrário, dizia que eu estava o deixando de lado. Levantava hipóteses,
infernizando e colocando coisas na cabeça dele, de que eu o traía.
Eu e Diego até brigamos feio por isso na casa dela, porque sabemos que ele é um
louco ciumento, e com isso, pirou. No dia, ela simplesmente não fez nada quando viu ele a
ponto de me bater, pois claramente não me suporta. No final ainda saiu comentando que
mereci. “Boa coisa eu não sou”.
— Então, Diego! Eu não presto pra você, me deixa em paz, por favor. Dá tempo de tudo
isso ser diferente — falo com um fio de voz. Não tenho mais reação nenhuma além de
chorar e tremer de medo. O carro da polícia chega mais perto, encurralando o dele numa
tentativa de ultrapassagem para nos barrar e escuto mandarem parar o carro. Fico
desnorteada com o som das sirenes.
Olho para trás, esperançosa e amedrontada. Não sei qual dos dois sentimentos
sobressai mais. Diego larga o volante e tenta me machucar de alguma forma, me pegando
pelo pescoço. Apenas grito apavorada vendo o carro sem ninguém no comando do
volante, levando a gente mais próximo do acostamento.
— Olha a pista!
Diego tenta acelerar mais, ao mesmo tempo pegando no volante, quando outro
carro desvia dele, que estava quase na contramão.
Sinto o carro deslizar sem controle para fora da pista de novo, mas a diferença é
que estamos indo direto para o acostamento novamente, do outro lado. Grito apavorada
vendo o carro ir de encontro às barreiras de concreto da pista, ao mesmo tempo que sinto
um baque enorme na cabeça, assim como no meu braço e minhas costas, que estão
ardendo e doendo. A dor é dilacerante!
E sem conseguir ficar com os olhos abertos ou me situar, apago, completamente
zonza, mas antes escuto gritos.
31
MURILO
Droga! Que pesadelo!
Estou com o peito apertado com toda essa merda. Quase fui preso querendo
espancar o idiota que precisou de resgate, pois estava preso nas ferragens. É por causa
dessa merda de situação que Alexia está desacordada, tomando soro.
Se alguma coisa grave tivesse acontecido com ela ou com nosso filho, eu não me
perdoaria nunca e nem deixaria barato. Seria um na cadeia e outro no cemitério. Eu iria
para a cadeia sem muitos problemas, para ver esse filho da puta a sete palmos.
Maldito congestionamento!
Quando eu vi o carro saindo com ela dentro, perdi o chão, mas não poderia entrar
em desespero, isso daria vantagem para o safado.
Tive que pensar rápido. Eu ia atrás dela para não perder de vista. Anotei a placa
no bloco de notas do celular, disposto a ligar para a polícia no caminho. Mas antes de virar
na avenida, avistei uma viatura e expliquei o ocorrido, junto com a placa e modelo do
veículo, e se prontificaram a começar a perseguição.
Fui apenas acompanhando com o meu carro, com o coração na garganta, e perdi
mais uma vez o chão, com uma batida falha no peito, quando vi o carro invadir o
acostamento, batendo na barreira de concreto, fazendo o carro derrapar de lado com ela
dentro.
Ver aquilo foi como ir ao inferno com a sensação de fraqueza e impotência. E a
dor de perdê-la. Dor essa que não quero sentir nunca mais.
Fito minha mulher abatida e machucada, com arranhões e roxos tanto do acidente
quanto do que o filho da puta fez, deitada na maca, ressonando. Acordou no meio do
caminho pro hospital e desmaiou novamente. A médica que fez os primeiros
procedimentos disse que foi o estresse elevado e o corpo fez com que ela apagasse,
reprogramando os sentidos para quando acordasse novamente. Foi a primeira a sair do
carro, porque o lado que derrapou no asfalto foi o do motorista. Ela ficou suspensa no ar e
foi mais fácil retirá-la, mesmo que desacordada, com um braço roxo e o pescoço
machucado, além da testa sangrando.
Vejo ela se mover devagar, dando os primeiros indícios de que vai despertar, e
avanço para ampará-la.

ALEXIA
Abro os olhos ainda zonza, sem saber direito o que aconteceu, e fito um teto
branco com uma luz forte. Semicerro os olhos para ter conforto visual. Abro aos poucos
para conseguir enxergar com foco.
A cabeça dói demais, tenho sensação de vertigem, eu estou mesmo deitada. Sinto
o cheiro inconfundível e asséptico de álcool em gel e detergente, dando a confirmação que
estou em um hospital.
— Murilo… — sussurro o primeiro nome na minha cabeça e ele aparece do meu
lado, apreensivo, mas tentando me tranquilizar com um olhar, embora esteja abatido. Sinto
sua mão alisar meus dedos de forma delicada, em um carinho preguiçoso.
— Alie… está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame o médico? Vou chamar
o médico — me bombardeia de perguntas.
— Eu tô bem, e o bebê? — o acalmo, mas quero saber se está tudo bem com
minha sementinha.
— Tudo bem também, foi só um susto, graças ao cinto — suspira, alisando meu
rosto com cuidado. — Você quer alguma coisa? Pode falar.
Nego com a cabeça, começando a chorar, caindo no abismo dos acontecimentos.
Todo o medo e desespero de o carro estar em velocidade alta, derrapando, a dor na minha
cabeça, as ameaças… Poderia ter acontecido uma tragédia pior agora. Tudo porque Diego
não sabe o que é um “não”.
Murilo senta do meu lado na ponta da cama sem ter como me abraçar direito, pois
estou tomando soro e ele tem receio de me machucar. Mas faz, com cuidado, acolhedor.
Suspira me olhando com a carinha abatida, talvez lutando contra a angústia que está
sentindo.
— Eu tô bem agora, isso é que importa. — Passo a mão nos seus braços, que
envolvem meu corpo. — Há quanto tempo tô aqui? — não consigo segurar minha
curiosidade.
— Quase uma hora. Você acordou no caminho e depois apagou de novo. A
médica que te atendeu falou que o seu estresse estava elevado, e também desidratada. Eu
falei sobre sua gravidez, ela disse que tá fora de perigo. Só ficou com os curativos na testa
e no pulso.
Automaticamente coloco a mão na cabeça, sentindo um curativo na testa. E
examino meu braço, que tem uma pequena faixa de atadura no pulso. E alguns roxos no
braço, junto com uns poucos arranhões.
— Seus pais estão vindo amanhã te ver, porque pegar a BR essa hora é perigoso.
Suas amigas ficaram doidas quando souberam. Queriam vir pra cá te ver, mas eu as
tranquilizei.
Uma enfermeira entra e faz as perguntas de praxe, que eu respondo segurando no
meu colar Ponto de Luz. É, eu acredito muito em amuletos.
Ficarei em observação aqui pelo menos até amanhã, por causa da gravidez, e
porque já marcaram alguns exames com minha obstetra, que também trabalha aqui no
hospital logo pela manhã. Ótimo!
Me queixei de uma dor fraca no abdômen, mas ela disse que é normal. Se eu
começar a perder sangue ou sentir muita dor, devo avisá-la. Soube que Lizandra apareceu
aqui para me ver e trazer roupas, mas não pôde subir e Murilo foi buscar lá embaixo. Mas
me desejou melhoras e ficou de me visitar em casa. Eu amo minhas amigas, nosso lema
sempre prevalece em qualquer situação: “nós por nós”.

Sou acordada por uma ânsia nojenta e acabo vomitando no chão. Não consegui
segurar antes de saber onde tem banheiro aqui. Murilo corre para me dar suporte sem
pensar duas vezes. Apesar dos vômitos terem diminuído, às vezes ele aparece para dar o
olá matinal.
Tomo banho com ajuda de Murilo.
O meu café da manhã chega. Murilo me deixa com uma enfermeira, que me serve
comida, avisando que iria atender um telefonema. Sem muita vontade de comer comida
hospitalar, mas dou o braço a torcer.
Pelos exames marcados, a etapa do pré-natal que vamos fazer é a ecografia. Estou
bem ansiosa!
Estou me sentindo muito inchada, enorme, para falar a verdade. Quase onze
semanas já, e sinto que estou quase explodindo. Agora sei contar em semanas, por incrível
que pareça consegui finalmente entender isso. Na verdade, estou aprendendo mesmo me
enrolando, e virei a amiga chata que fala por semanas com Lizandra, que revira os olhos
pela minha implicância.
Estamos em expectativa para saber o sexo, mas não quero assumir um lado.
Sinceramente? Para mim tanto faz. Mesmo assim não resisto em abrir um sorriso
imaginando uma cópia de Murilo.

MURILO
Enquanto Alexia toma café para a gente ir para a sua consulta, ando pelo corredor
pensando no paradeiro daquele safado. Quero saber qual foi o fim do filho da puta. Espero
que esteja no necrotério. O desgraçado ainda veio pro mesmo hospital que ela, tem plano
de saúde também. Mas é bom que facilita para batermos um papinho.
Encontro uma enfermeira no meio do caminho com uma prancheta na mão e peço
informações. Ela indica a direção que devo seguir. Aproveito a brecha de já estar aqui
dentro para não precisar dar o meu nome de visitante. Acho o quarto dele, com policiais
na porta por causa do seu caso, pois está com prisão decretada, só esperando ter alta.
Converso brevemente com um dos policiais, o que estava ontem no local e que
agora está conversando com os outros que fazem a guarda, e ele me explica a situação.
Esteve em cirurgia logo que chegou. Os policiais liberam minha passagem avisando que
eu poderia ficar apenas cinco minutos. Agradeço. Eles sabem que não sou parente.
Entro encontrando-o deitado na maca, todo enfaixado, completamente fodido,
mas para mim é pouco. Está são, acordado, tomando seu café. Ele vê a minha chegada e
coloca sua bebida na bandeja, sério, cheio de hematomas e com o braço engessado.
Amputou uma das mãos, ficou preso nas ferragens pelo que me disseram. Chego mais
perto e vejo que sua perna também está enfaixada, mas inteira.
Ele não diz nada, só me olha.
Agarro sua perna engessada, apertando sem dó. Ele se contorce de dor, urrando.
— Espero que esteja satisfeito com o rumo das suas escolhas. — Sem esboçar
muita reação, aperto mais sua perna e ele geme.
Cadê o homem agora? Só é para mulher?
— Eu espero que com o acidente você tenha esquecido Alexia, de verdade,
porque na próxima vez não terá a sorte que teve ontem.
— Você querendo ou não, eu serei uma parte importante pra Alexia —
contorcendo-se de dor, ele abre a boca.
— Eu sei que é uma parte importante, ela usará você como parâmetro pra guinada
que a vida dela teve depois que acabou com você, e pra saber que você é o tipo de homem
que ela não quer por perto, nem pra ela, nem pra ninguém. Inclusive para o nosso bebê
que tá na barriga dela, pra quem você será um exemplo a não ser seguido. Você nunca vai
viver com uma mulher como ela, nem hoje e nem futuramente. Nunca!
Faço ainda mais pressão na sua perna torcida. Ele grita, berrando de dor. Acho
pouco!
— Suma da vida dela. Isso já não é um aviso, é uma ameaça.
Saio da sala após essa visita breve, para ver se Alie comeu e sabermos como
nosso bebê está.

ALEXIA
— Minha bolsa! — Lembro no corredor do hospital. — Deixei lá no carro.
— Não se preocupe. Um dos policiais pegou, seus documentos estavam lá — me
tranquiliza e meu coração aos poucos desacelera. Murilo segura nas minhas costas, me
encaminhando para a sala indicada. Estamos no horário marcado e fui chamada assim que
cheguei. Tem poucas pessoas, uma delas com a barriga grande já. E automaticamente
penso que em breve estarei aqui assim também.
— Oi, senhora Alexia — Rita, minha obstetra, me saúda sorrindo.
— Olá, doutora. — Retribuo o sorriso.
Ela cumprimenta Murilo e logo indica para sentarmos. Conversamos um pouco.
Mostrei a ela os exames que fiz ontem, que ela mesma solicitou, e Liz trouxe os últimos
que fiz a pedido de Murilo.
— Tomou café direito? Foi bem servida? — Ela ri, já sabendo como é a comida
de hospital.
— Uma delícia! — entro na sua brincadeira, rindo.
— Que susto, né? Mas sentiu alguma dor nessa madrugada? — questiona,
olhando para mim por cima dos óculos de grau.
— Não. Senti umas dores leves, mas passou rápido.
Ela assente e verifica minha pressão, que está normal. Verificou tudo como da
outra vez e me pesou novamente.
— Seu peso aumentou um pouco mais do que achei.
— Isso é ruim?
— Não tanto. Os nutrientes estão indo direto para o bebê. Mas se continuar assim
vai ser difícil para fazer parto normal, pode acarretar algum problema. Tem como a gente
dosar isso até os nove meses.
Anuo e ela me leva para fazer a ultrassom. Rita passa a maquininha em cima do
gel gelado na minha barriga, que vai refletindo aos poucos na tela. Sinto ela passar para lá
e para cá fitando a tela e percebo ela mudar um pouco a fisionomia, ao mesmo tempo que
meu coração acelera. Será que é algum efeito do acidente no bebê?
— Rita? — questiono, querendo saber o que está acontecendo. Murilo está do
meu lado, sério, com a mesma feição preocupada que eu.
— Me deem um minuto que preciso falar com a outra doutora que está aqui do
lado. Não se preocupem, está tudo normal.
Ela levanta e o que ela falou para mim soou como “se preocupem, pois é grave”.
Moreno segura minha mão, beijando-a logo em seguida. Cinco segundos depois as duas
voltam. A outra médica sorri para mim e se coloca ao lado de Rita para ver algo na tela
que ela aponta.
— É mesmo — comenta ainda olhando para a tela, e eu e Murilo observando as
duas com grandes interrogações na testa e muito preocupados.
— O que tá acontecendo, afinal? — temerosa, questiono.
— Você está esperando gêmeos, e não um, como mostrava na última consulta.
Rita me avisa com um sorriso enorme enquanto a outra médica pede licença. O
quê? Arregalo os olhos com o susto e levanto com tudo da maca.
— E serão bi vitelinos. Não estão na mesma placenta.
Permaneço em choque, sentindo meu corpo formigar. Gêmeos? Mas que….
Continuo a olhar para ela sem saber como reagir.
Escuto um Murilo incrédulo sussurrar algo do meu lado e olho para ele,
apertando sua mão, ainda em choque. Dois filhos ao mesmo tempo? Como vou cuidar de
dois de uma vez?
— Você tem certeza, Rita? — questiono e quem sabe eu não escute um “me
enganei, é apenas um mesmo”, mas ela apenas confirma com a cabeça.
— Quer ouvir os batimentos? — Gesticulo, concordando. Minha ficha ainda não
caiu. Não estou sabendo lidar com isso. Ela mexe no aparelho e logo os batimentos não
tão ritmados ecoam. Fito o nada para tentar ver se consigo ouvir outro batimento e, me
concentrando bem, escuto um em outro ritmo, quase sincronizados.
— Na outra consulta eu não percebi, pois estava mais atrás, não do lado como
agora — me explica, limpando minha barriga, tirando o gel. Ainda em choque, sento de
volta em frente à sua mesa, com Murilo apreensivo do meu lado.
— A partir de agora terão que ter cuidados redobrados. Vai ter que seguir à risca a
dieta balanceada. Certo?
— Aham! — estou no automático.
— Os seus gêmeos são bi vitelinos, pois estão se desenvolvendo a partir de dois
óvulos, que foram liberados e fecundados ao mesmo tempo.
Não basta Murilo me engravidar, ainda tem que me engravidar duas vezes no
mesmo momento. E nada tira da minha cabeça que foi no carro! Cristo!
— Entendi.
— Nós vamos nos ver mais vezes. É só seguir direitinho que não terá problemas.
— Aham.
— Normalmente os partos de gêmeos são feitos por cesariana, porém também
não deixa de ser possível o parto normal. Caso haja possibilidade e você preferir, é claro!
Assinto, concordando. Ainda estou chocada demais para ter qualquer outra
reação. Eu me limito a aceitar automaticamente o que ela está falando.
— Sei que assusta, mas em breve você se acostuma.
Sorri para mim, nos despedindo de mais uma consulta. Marco a próxima. Mesmo
sendo gêmeos, podemos fazer sexo normalmente, porém ela nos alertou de alguns
contratempos que podem ocorrer.
— Nem estou acreditando. E você? — comento com Murilo, andando pelo
corredor novamente. E ele nega com a cabeça também, tão extasiado quanto eu.
— Nem um pouco.
Levanto um pouco os pés para beijá-lo e ele segura na minha cintura com
cuidado.

Saio do médico junto com Murilo do meu lado, com umas dicas sobre dores e
remédios que posso tomar em casos extremos. E avisada de que, caso sinta algo, devo
voltar no médico ou na obstetra o mais rápido possível. Do lado de fora Moreno para e
cumprimenta alguns policiais e avisa que amanhã iremos à delegacia dar um ponto final
nesse pesadelo. Finalmente!
Fizemos a viagem com um silêncio confortável, ouvindo música, e tento assimilar
tudo o que aconteceu em relação ao acidente e à descoberta dos bebês. Meu telefone toca e
eu atendo, mostrando no visor que é minha mãe, avisando que está na frente do nosso
apartamento. Aviso que estou chegando e explico onde está a chave.
Abrimos a porta, sentindo uma paz por estar ali de novo, e a primeira a me
abraçar é minha mãe, que me examina como fazia quando eu era criança e chegava da
casa de alguém. Checa cada milímetro do meu rosto e depois me beija repetidas vezes na
bochecha, me abraçando com cuidado, caindo num choro aliviado. Retribuo o abraço
gostoso que ela me dá.
— Mãe, eu tô bem agora — tento acalmá-la.
Ela me solta e em seguida meu pai vem me abraçar da mesma forma. Nem Isis
nem James vieram por causa do trabalho, mas me desejaram melhoras.
— Calma, gente, eu tô bem. Foi só um susto. Já passou.
Entro para tomar banho, examinando meu pulso enfaixado. Não dói tanto, só
lateja um pouco e tenho manchas roxas claras em alguns lugares do corpo. Saio do
banheiro e encontro Moreno na cozinha, mexendo nos armários junto com meus pais.
Sento no balcão e assisto ele passear para lá e para cá.
— Aconteceu o que com Diego? — questiono baixo.
Moreno para de mexer na panela, virando para mim. Meus pais também param o
que estavam fazendo para prestar atenção.
— Está no hospital. Ficou preso nas ferragens, já que a batida foi do lado dele e
estava sem cinto. Por pouco não morreu.
— Nossa! — exclamo horrorizada, pois eu coloquei o cinto aos quarenta e cinco
do segundo tempo, senão estaria tão mal quanto ele.
— É. Amputou uma das mãos e quebrou uma das pernas.
Arqueio as sobrancelhas em choque. Murilo dá as costas para cozinhar
novamente, depois de mostrar as mãos em um gesto, como se falasse: “fazer o quê?”.
Contei a eles sobre tudo o que passei, falei do empurrão e mostrei o roxo do meu
braço, de quando ele me empurrou na porta do carro, e o curativo na testa. Todos ficaram
indignados e com raiva, claro. E minha mãe confessou que tinha medo que eu
engravidasse dele. Acho que no fundinho também tinha esse medo.
Meus pais decidiram ir na feira comprar frutas para mim enquanto eu dormia
direito. Não que eu precisasse dormir, mas eles insistiram. E olhe que sequer contei que
são dois bebês, esqueci, mas quero contar para minha família quando estiverem todos
juntos. Acabei obedecendo, morta de cansaço. Só quero ficar deitada e dormir para
finalmente descansar. Murilo me chama, me aconchegando no seu abraço. Ele faz carinho
nas minhas costas com leveza.
— Amo você. — Beija minha testa.
— Também te amo. Parece que tá tudo contra pra gente não casar, sei lá.
Não deixo de me sentir frustrada.
— Não se preocupe com isso. Vamos casar sim e seremos muito felizes — me
tranquiliza.
Dormimos agarradinhos e pela primeira vez sinto que finalmente vai dar certo.
Pelo menos é o que realmente espero.
32
ALEXIA
Me arrumo para ir para o trabalho, voltando à minha vida de antes. Estou tão
aliviada! Diego já foi preso. Fiz o corpo de delito e mostrei as mensagens que ele me
mandava. Puxaram a ficha dos antecedentes criminais de Diego e ele tem duas passagens
por agressão. Lei Maria da Penha. Apenas uma é recente. E logo lembrei da tal Emily. Ele
com certeza a agrediu. Sem contar que também tem uma por dirigir bêbado e outra por
brigas de ruas. Ele é um delinquente.
Uma das agressões dele, a mais antiga, foi em sua antiga namorada. Ela deu
entrada no hospital toda machucada, inclusive com costelas quebradas por conta de
chutes. Se eu me recordo bem, foi uma ex que ele me falou que era louca e desequilibrada,
mas obviamente o louco da relação era ele. E ele ter tratado suas ex-namoradas de forma
desrespeitosa e as criticado para mim não eram sinais de que ele me amava, que eu era
diferente ou coisa do tipo. Só significava que eu seria a próxima a ser taxada como louca e
histérica.
Por mais que ele fosse uma pessoa meio instável, nunca imaginaria que ele
tivesse ficha na polícia. Ele nunca me falou sobre isso. Ele nunca ter me dado uma surra
no tempo em que ficamos juntos foi um grande milagre. Mas percebi que estava se
encaminhando para isso. Os apertões e empurrões eram cada vez mais fortes e frequentes.
Juntando tudo, ele vai ter uns anos a mais na cadeia e ficará um tempo bom preso.
Foi preso em flagrante e eu ainda tinha dado queixa dele antes. A ficha vai ficar ainda
mais suja. Não sei qual o milagre, que estou viva hoje. O que ele mais teve foi chances
para me matar ou me machucar gravemente. Às vezes me pergunto seriamente o porquê
de eu ter ficado com ele, aguentando esse inferno por dois anos. Mas agora não mais.
Aliso minha barriga, boba, sabendo que são duas crianças. Murilo depois me
contou que tem gêmeos na sua família. Sua mãe tem irmã gêmea. Falando em família,
contamos sobre os gêmeos. Todos, unânime, surtaram quando souberam. Murilo ficou se
gabando, claro, e tive que ouvir piadinhas sobre nossa vida sexual ser bastante ativa,
principalmente de Isis. Mas foi um bom final de semana na casa dos meus pais.
Encontro Murilo na cozinha, servindo meu café. O homem é um espetáculo de
roupa social, não me canso de repetir. E o melhor de tudo, meu futuro marido.
No caminho para o trabalho, faço uma checklist básica do casamento. Muita coisa
para resolver ainda. Inclusive meu vestido, verei essa semana com minha mãe.
— As meninas estavam querendo fazer um chá de lingerie pra mim — comento
com Murilo no caminho.
— Chá de quê?
Vira para mim como se eu tivesse falado uma coisa de outro mundo.
— Chá de lingerie. Isso foi ideia de Natasha, não sabe? Melhor que chá de
panela, né? Prefiro ganhar calcinhas, sutiãs e camisolas bonitas, do que escorredor de
arroz. Sem contar que já temos a casa montada.
— Serão só vocês, né?
Me olha de soslaio e reviro os olhos. Imagine se fosse uma festa imensa com
homens e mulheres? Murilo é louco, às vezes.
— Claro! Lizandra que tá organizando. Eu só vou com minha presença. Segundo
elas, são presentes de madrinhas.
— Gostei desse chá aí.
Sorri safado, provavelmente imaginando coisas indecentes. Reviro os olhos mais
uma vez, sorrindo, também pensando em safadezas.

À noite, após o trabalho, Murilo e eu fomos para a casa de um amigo dele, o


Christian, que está fazendo aniversário e nos chamou. Luísa resolveu comemorar com
algo rápido em cima da hora. Fomos do trabalho mesmo, nem passamos em casa. Lá
estava toda a turma do dia do aniversário de Igor.
— Nunca pensei que Murilo fosse capaz de engravidar alguém. Ainda mais
gêmeos.
Zoam meu Moreno enquanto os outros gargalham depois de termos contado sobre
os bebês. Também não achei que engravidaria de gêmeos, ainda mais numa rapidinha
dentro do carro. Eu ainda não me conformo que foi ali que engravidei.
— Sou foda, mané! — ele rebate cheio de ego e reviro os olhos por dentro.
Homens não crescem mesmo.
— Vem, Alexia, daqui a pouco eles vão começar a abaixar o nível pra quinta série
e começar a apostar quem tem pau maior.
Luísa revira os olhos também, sorrindo, levantando e me chamando.
— Aqui tem pastel? Quando estávamos no caminho senti um cheiro maravilhoso
vindo da barraca — comento com água na boca só em lembrar.
— Para sua sorte, tem. Eu bem sei o que é desejo. Na gravidez de Igor, eu já
desejei comer sabão e terra.
Olho pra ela com estranheza. Deus me livre de ter uns desejos desses. Prefiro
ficar no meu pastel.
— Você comeu? — questiono, curiosa.
— Quase. Achei que estava ficando louca e Cris me encontrou chorando.
Ela gargalha junto comigo. Histórias de gravidez são as melhores, espero que não
protagonize muitas loucuras.
Ela coloca para mim alguns pasteizinhos de carne e me dá suco, já que estou
evitando refrigerante. Para a minha satisfação, logo matei o que estava me matando.

MURILO
Olhando Alexia gargalhar conversando com Luísa, sinto a paz da vida de volta
aos eixos. Custou para conseguirmos isso, mas finalmente chegou. E ainda serei pai de
gêmeos! Quem diria que iria estrear logo com dois?
Minha Morena passou por muita coisa ultimamente. E por isso, merece a melhor
festa de casamento de todas. E estou cheio de ideias para o dia. Uma surpresa especial
para ela. Só preciso planejar com cuidado para executar sem erros.
Chamo Christian para contar o que quero fazer.
— Vê isso pra mim, me passa o contato, pô.
— Oh, porra, eu sou Christian, mas não sou o Grey. Vou tentar ver isso pra você.
Gargalho pela resposta dele.
— Tu tá lendo o livro, cara? — Cruzo os braços, colocando pressão.
— Não te conto a missa metade, Murilo. — Ele nega com a cabeça. — Luísa
estava lendo aí, com um entusiasmo… Quis saber, né? Aí ela leu em voz alta. O cara é
gênio! — Gargalho alto.
— Ficou excitado pelo homem lá, cabaço? — Tiro sarro só pra dar uma zoada.
— Lá ele, mas o cara tem olho cinza, pô. Nenhum gato que eu já vi na vida tem
olhos cinzas, e o filho da puta, além de bilionário, é empresário e o caralho e decide querer
comer a mulher lá, virgem, universitária, sem perspectiva alguma de vida. E ela fica no cu
doce. Mas ele presenteia ela com coisas caras, age como se ela fosse a única boceta no
mundo, só pra conseguir foder com ela amarrada, dando chicotada nas costas, suspensa
numa corda. Que escroto! Alexia nunca leu essa porra? — A indignação dele é motivo de
ainda mais risos. — Luísa ainda me fez assistir ao filme com ela e eu aproveitei!
— Não. Não que eu saiba — divago, lembrando do dia que ela amarrou meus
braços.
Ela leu ou assistiu, certeza! Uma pena eu não ter recebido essa informação antes.
— Mas vou ver esse lance pra você. Tenho um amigo que trabalha nessa área,
deve conhecer alguém.
— Fechou, então.
Bato nossos copos num brinde rápido. Alexia terá o casamento que merece!
ALEXIA
Acordo de madrugada, encontrando Murilo acordado. Eu o admiro deitado, sem
camisa, com a mão embaixo da cabeça e a outra na testa, olhando o teto, e observo aquela
cena, completamente apaixonada.
Parece uma pintura linda e erótica. Os cabelos bagunçados e a cara de sono.
Como pode ser tão lindo?
Eu tive alguns tipos de namorados, mas Murilo foi o mais lindo e gostoso, com
toda a certeza. Suspiro e ele me olha arqueando as sobrancelhas, sorrindo do seu jeito
maravilhoso, e alisa minhas bochechas. Retribuo o sorriso e coço os olhos.
— Vamos levantar? — ele sussurra, ainda mexendo no meu cabelo.
— Não — resmungo, enterrando minha cabeça de volta no seu peito, e ele ri. —
Tá cedo ainda, não?
— Um pouco, mas eu preciso chegar mais cedo hoje.
— De novo? — reclamo.
Murilo nessa última semana se enfiou numa escala nova de trabalho muito doida.
Ele me disse que é acúmulo de funções por causa da nova função, e tá deixando tudo no
lugar para o seu substituto. Está treinando o substituto e trabalhando no novo setor para o
qual foi promovido.
— É. Vou tomar meu banho logo, pra não me atrasar. — Levanta para começar o
dia.
— Fica aqui comigo.
Eu tento segurá-lo para ficarmos mais um pouco, mas ele se esquiva, rindo. Dou
uma pequena cochilada, ainda morrendo de sono, com a mão na minha barriga. Vou
levantar para fazer café, pra ele não tomar café sozinho uma hora dessas.
Saio dos meus devaneios com ele só de toalha puxando meu pé. É a melhor visão
do mundo. Gente! Gostoso até dizer chega.
— Para de me olhar com essa cara de tarada. — O sorriso sacana já está no rosto.
— Você já tá grávida. — Gargalho.
Sacana! Ele saiu de toalha só para me atiçar e ficar rindo de mim. Mas não vai
ficar por isso mesmo.
— Tem certeza? — Arqueio a sobrancelha e passo o meu pé por cima da toalha,
desprendendo-a. Ele agarra meu pé num reflexo e deixa a toalha cair. Olho no rosto dele,
mordendo os lábios. — Não se pode negar nada pra mim, senão vai ficar de terçol.
É a vez de ele gargalhar mais uma vez e o puxo pelo pé para cima de mim. Adoro
esse cheiro que o sabonete deixa nele. Dou uma pequena mordida no seu ombro, beijando
e logo em seguida vendo-o se arrepiar. Se for para sentir o gosto do sabão assim, faço
sempre sem me importar. Aliso suas bochechas. Despretensiosamente desço as mãos pela
sua bunda malhada, dedilhando com os dedos.
Sorri sacana e me imobiliza com as duas mãos para cima, colando nossas bocas.
Estou sedenta.
— Estou adorando você assim.

MURILO
Subo para meu andar com um grande copo de café da cafeteria no meio do
caminho. São seis e meia da manhã agora e vim para o trabalho mais cedo, deixando Alie
dormindo. Ela quis tomar café comigo, mas sei que ela precisa dessas horas de sono para
trabalhar direito. Não tem ninguém no prédio, praticamente. Só o segurança que sequer
deve ter trocado o turno ainda.
Quando eu acho que tudo vai fluir, aparece um problema no meio, ultimamente as
coisas não estão como deveriam estar. Só acumulo preocupações numa época em que eu
deveria estar curtindo tudo. Principalmente nossos bebês. Mal posso esperar para ver
como será essa junção de nós dois. Se vierem com os traços dela, serão as coisas mais
lindas do mundo.
Ligo o computador e sento na cadeira, fitando a nossa foto. A do dia do kart é a
minha preferida, além daquela na Ponte Golden Gate, logo depois do pedido. Não sei o
que reluz mais, o sorriso dela ou a pedrinha do anel.
Pego o segundo porta-retrato para observá-la. Alexia é a mulher da minha vida,
sem dúvida. Esse último problema está tirando o meu sono de uma forma insuportável e
sequer posso transparecer isso para Alie, já que está gravida e precisa de paz.
Nada está saindo como eu planejei para nós. Tudo parece estar fora do lugar.
Tudo desandou. Estou muito frustrado!
Eu fico praticamente vinte e quatro horas por dia em cima de planilhas, reuniões e
conferências.
Nossa semana está toda desorganizada, nossos horários não estão batendo, nem
todos os dias eu consigo chegar para jantar com ela. E sei que ela está frustrada com tudo
isso, mesmo relevando.
Minha vida está um verdadeiro embaralho. É tanta coisa na minha mente para
resolver, de trabalho e casamento, que eu simplesmente estou uma pilha de nervos. Mas
espero que acabe logo de uma vez, antes que tudo piore.

ALEXIA
Sento na cadeira para jantar. O que era para ser uma semana de escala nova, está
durando quase um mês, ele está numa rotina pesada de trabalhos. E sem previsão de
normalizar. Jantamos quietos, porém minha mente não quer descanso, tentando decifrar o
porquê de ele estar tão aéreo.
— Estava pensando em escolher a cor branca pro enxoval. O que acha? —
comento, colocando meu prato na pia. Murilo fita o prato, ainda calado. E olhe que Murilo
sempre foi bem-humorado e hoje está com palavras breves, sequer o reconheço.
Pior que a escala doida é Murilo se afastando a cada dia e sequer faz questão de
estar comigo, pois quando chega em casa, janta e vai trabalhar mais um pouco. Mesmo
saindo mais cedo e voltando tarde. Moreno ultimamente vive aéreo. E também tem algo
que questionei a mim mesma que, se for ver, eu não sei nem o que sentir.
— Murilo! — chamo sua atenção. — Não está me ouvindo, né?
— Desculpa. Acho que ficaria legal.
Tento relevar, mas tá cada dia mais difícil.
— Você nem ouviu o que falei — resmungo, chateada, me sentindo ignorada.
Não faço a mínima ideia do que está se passando com ele, pois não me conta
nada. Sei que tem algo além do trabalho o preocupando, mas ele finge que não é nada.
Quero dar espaço, não ficar marcando em cima, mas eu não consigo fingir que está
normal.
— Estava apenas pensando em outras coisas, desculpa.
— Conta pra mim o que tá acontecendo.
— Não tá acontecendo nada, Morena — se esquiva mais uma vez.
Vou para o quarto para não acabarmos brigando. Me jogo na cama e fito o teto,
ainda pensando em que porra está acontecendo com esse homem, afinal de contas.
O sono aparece e acabo me virando para dormir, sem esperar por ele. Sei que ele
não vem dormir agora mesmo. Mas, então, sinto seu corpo me abraçar por trás, beijando e
deixando um beijo no meu ombro e suspirando baixo.
— Murilo, responde uma coisa pra mim?
— Diga. — Sua voz rouca no meu ouvido é tão gostosa, apesar de tudo.
— Por que eu tenho a impressão que você não tá feliz por serem gêmeos? —
questiono o que vem me incomodando desde que saímos da consulta aquele dia. — Você
mudou completamente depois que descobrimos que vem dois bebês.
Murilo me vira de frente, alisando o meu rosto, mas é o seu que demonstra
abatimento e cansaço, com olheiras enormes da sua rotina louca. Me sinto impotente por
não conseguir ajudá-lo mais, porque ele simplesmente não me conta as coisas, nem como
está o trabalho e nem nada. Ele praticamente fez voto de silêncio.
— Jamais, Alexia. Eu tô muito feliz; melhor que ter um, só dois filhos com você.
Só tô preocupado com umas coisas, mesmo, é normal.
— Eu tô morrendo de medo. Tem algo te preocupando? Pode falar comigo,
Moreno. — Aliso sua bochecha.
— Nada. Deixe que eu resolvo tudo. Amanhã te levo pra jantar, prometo.
Ele tenta me tranquilizar, mas só confirma que tem sim algo tirando seu sono. Só
preciso descobrir o que é.
33
ALEXIA
Sentada no sofá, alisando minha barriga, vejo Murilo chegar do trabalho. Minha
barriga está grande para quatro meses e meio. Na próxima consulta, semana que vem,
descubro os sexos. Mal posso esperar para escolher os nomes, comprar as coisinhas.
Tenho algumas sugestões, mas não cheguei a falar com Murilo sobre isso, pois ele nunca
tem tempo, como sempre.
São exatamente onze da noite e ele está chegando agora. Detalhe, mais uma vez
marcou comigo para jantar, como na semana passada, que não pudemos fazer isso, já que
ele ficou para uma conferência quase no final do seu expediente. Até disse que não
precisaríamos sair, mas ainda assim quis fazer com que vivêssemos em paz, resgatar os
momentos em casa, mesmo com ele empilhado de trabalhos.
Me animei, dei mais um voto de confiança, cheguei do trabalho, cozinhei e saiu
bom, fiquei super orgulhosa de mim mesma, e ele sequer chegou para jantar a tempo.
Estou desde às sete esperando, com mesa arrumada, até não aguentar mais e jantar sozinha
e frustrada depois que ele mandou mensagem dizendo que não chegaria a tempo.
Fiquei parecendo uma idiota, cheia de esperança, conferindo as horas no celular
para ver se ele daria sinal de vida. Quem fica em reunião até essa hora? Quem? Nem os
donos da empresa que são os maiores interessados!
Para ser sincera, estou de saco cheio. Não só dele desmarcar comigo duas vezes e
me deixar esperando, mas pela situação toda. Não tenho mais Murilo do meu lado
justamente agora, na gravidez, onde eu mais queria que ele ficasse comigo. Tentei ser
parceira esse tempo todo, relevar, perguntar, oferecer ajuda, mas ele sempre me dá uma
resposta automática: “não precisa se preocupar”. Toda vez que pergunto se é algum
problema na empresa ou se precisa de ajuda ele me responde isso. Sempre! E isso está me
irritando profundamente.
Ele respira reuniões e não importa a hora, sempre alguém do trabalho está
ligando. Ele tenta mostrar que está tudo bem, mas sei que não está. Tem alguma coisa no
meio. Nada mais perceptivel que uma pessoa com uma mente turbulenta tentando ficar
quieta. E Murilo sempre foi transparente.
Achei que subindo de cargo e sendo acionista agora, mesmo que com
pouquíssima porcentagem, as coisas melhorariam e teríamos uma qualidade de vida
melhor, mas pelo jeito me enganei. É só estresse!
— Desculpa, Morena. Precisei revisar uns documentos urgentes pra amanhã de
manhã.
— Uhum — não vai adiantar discutir, afinal de contas.
Todo dia, quando eu acordo, ele já saiu ou está saindo. E quando chega, tenta
amenizar pedindo desculpas, mas no dia seguinte faz igual. Não quero saber de desculpas
mais!
Ele se aproxima para me beijar e eu sequer saio do lugar, não recuso, mas
também não recebo de bom humor. Ele beija uma mulher fria. Alisa minha barriga, como
sempre faz, e suspira, jogando o paletó no sofá.
Ele me fita com olheiras enormes. Ele percebeu meu afastamento agora. E sabe
que é com razão.
— Tô ausente, eu sei, e tô tentando administrar isso, eu vou te recompensar, tudo
bem?
— Não precisa recompensar, Murilo, é só me dizer o porquê de tudo isso que eu
posso entender melhor, pois no momento tô te achando um egoísta em pensar só no seu
trabalho. Já não é acúmulo de funções há muito tempo, não subestime minha inteligência.
Ele suspira, passando a mão nos cabelos, mostrando inquietação. Claramente tem
algo o incomodando, mas o que me irrita é que ele não divide. Murilo é lindo, romântico e
o que for, mas um dos defeitos mais graves dele é essa dificuldade de dizer abertamente
sobre seus problemas para mim, como se eu fosse feita de açúcar. E eu odeio essa barreira.
— Não é nada. Nada que você tenha que se preocupar. Tem consulta essa
semana? Eu vou com você.
Tá vendo aí a resposta automática? “Nada que você tenha que se preocupar”. Ah,
vai se ferrar, Murilo!
— Só final do mês, se achar tempo você vai comigo. Tem comida na mesa, eu
que cozinhei. Esquenta.
Resignada, levanto disposta a dormir. Estou esgotada dessa situação. Deito
sozinha na minha maldita solidão, mas não consigo pegar no sono e começo a pensar
teorias loucas para tentar entender o giro que minha vida tem dado nesses últimos tempos.
Uma hora eu estou insatisfeita e infeliz com meu relacionamento, outra hora estou amando
uma pessoa com quem estou prestes a me casar.
Talvez nosso maior erro tenha sido ir rápido demais. Pensar que a fase ruim
nunca ia chegar e que íamos ficar naquele amor para todo o sempre. Talvez essa ideia de
casamento seja precipitada demais. Tantos talvez…
Murilo seria capaz de me trair? Ou ele está começando a pensar que se
arrependeu de me pedir em casamento? Que foi tomado pelo calor do momento dos
nossos pontos altos? Pensou direito e viu que não eram os planos para ele no momento…
Ou até mesmo não está satisfeito em ser pai, embora sempre me pergunte se estou me
sentindo bem e se quero algo. Não sei!
Esse afastamento tem que tem um motivo plausível!
Está com uma mania horrível de workaholic. Sai mais cedo para trabalhar na
maior da semana, chega mais tarde e quando chega no horário, trabalha até de madrugada.
Dorme muito pouco. Todas as minhas inseguranças vieram à tona. Estou com medo do
casamento e da gravidez e com ele fazendo isso eu fico ainda com mais medo de casar e
essa ser minha vida em definitivo. Eu não quero casar nem viver com este Murilo, eu
quero que meu futuro marido seja o Moreno risonho que eu conheci e por quem me
apaixonei, não esse com quem fico cada dia mais desapontada.

MURILO
Frustrado com essa merda de situação, sigo para a cozinha encontrando uma mesa
posta pela metade, com um dos pratos sujo.
Ela cozinhou para nós e eu sequer consegui chegar a tempo para prestigiá-la.
Apesar da nossa rotina doida, ainda assim ela tenta trazer a normalidade que tínhamos.
Sinto um aperto no coração. Não vejo a hora disso acabar!
Nossa vida agora é nos desentendermos. Discutimos por praticamente tudo!
Essa merda desandou de vez! Achei que isso acabaria na segunda semana, mas
está se estendendo mais que eu previa e me causando uma dor de cabeça imensurável. E o
foda é que ou é isso, ou é pior. Mas isso vai acabar no final desse mês, precisa acabar.
Ainda preciso resolver a surpresa do casamento, que empacou.
Eu estou cansado, tudo que eu queria era abraçá-la e beijá-la. Isso ajudaria e
muito, sem brigas ou coisa do tipo. Eu já falei para ela não se preocupar, mas Alexia não
sossega.
Janto sozinho, com um turbilhão na cabeça, pensando em como resolver a
situação. Achei que conseguiria dar conta, mas estou vendo que deixo Alexia em falta.
Mas é para um bem maior, apesar de tudo. Isso está acabando comigo.

ALEXIA
Colocando o orgulho à parte, sem conseguir pegar no sono e parar de pensar em
teorias loucas, decido levantar da cama e vou para a sala disposta a chamá-lo. Quero tentar
resgatar algo dessa semana conturbada. Quem sabe conversando de forma amena algo se
esclarece?
E eu também estou morrendo de saudades, carência, na verdade. Gravidez e
carência misturados são um veneno horrível. Tudo é motivo para chorar.
— Murilo! — o chamo baixo e o encontro com a cara no notebook. — Murilo! —
chamo de novo e ele me olha.
— Pensei que já tivesse pego no sono.
— Tentei, mas não consegui. Vem pra cama, tá aí desde o jantar e vai acordar
cedo amanhã.
— Já vou, só preciso terminar de carregar o documento.
— Custa largar isso um pouco? — Cruzo os braços. — Chegou tarde, mal nos
falamos e uma hora dessas ainda tá trabalhando. Dá um tempo desse notebook, caramba!
— Eu já vou, Alie, justamente tô mandando esse arquivo hoje pra tomar café com
você amanhã.
Ele se vira de novo para o notebook e eu continuo o observando focado na tela.
Amargurada com essa recusa dele, sabendo que ele não vai sair dali tão cedo, eu volto em
direção ao quarto. Eu estou simplesmente cansada dessa frieza. Saco cheio, para falar a
verdade!
Que merda de vida! Cansada! Essa crise antes do casamento é uma merda!

Acordo pela manhã com Murilo deitado na cama, alisando meu braço, com
semblante sério, pensativo. O ignoro, levantando, confusa e surpresa por ele ainda estar na
cama.
No final dessa semana eu viajo para a casa de meus pais. Será aniversário de
casamento deles, vamos e passaremos o final de semana com eles. Eu, ao menos, vou.
Murilo eu já não sei.
Ele segura meu braço com delicadeza, fazendo com que eu pare, e viro para trás,
encontrando-o sério, com aquela carinha de cachorro carente. Maldito!
— Eu preciso tomar banho.
Tento fazer com que ele me solte, contorcendo o pulso e ele levanta, soltando
meu pulso, mas me segurando pelas costas. Evito contato visual. Ainda estou magoada.
— Alie, não me ignora, por favor — me pede e eu finjo que não ouvi.
Mas a cara de pau dele faz com que eu abra a boca.
— A moeda tem dois lados, Murilo. Se você me abrir o jogo, a gente se resolve.
Séria, tento me esquivar novamente, mas ele não me deixa sair, me segurando
com delicadeza. Eu simplesmente amo o cheiro dele. Saudades de ficar cheirando o seu
pescoço para sentir esse aroma maravilhoso. Porque nem intimidade o suficiente para isso
nós estamos tendo.
Tento disfarçar como se fosse corriqueiro — apesar de ser mesmo —, mas
continuo me sentindo afetada.
— Alexia…
— Não vamos brigar de novo agora de manhã. Estou esgotada!
— Para de me tratar com frieza, poxa!
Ele ainda acha que tem o direito de exigir algo?
— Se você não me ignorasse… Sequer faz questão de ficar comigo. Vive com a
cara nesse notebook e cheio de problemas.
— Não esquenta com isso, Alie, já falei mil vezes pra não te fazer mal. Cuide dos
nossos bebês e deixe que o resto eu resolvo sozinho.
Reviro os olhos, impaciente. Só sabe pôr panos quentes em cima. Quanto mais
ele diz isso, mais preocupada eu fico.
— Você só sabe falar isso. Eu quero saber, Murilo, o motivo de tanto afastamento
e trabalhos dobrados!
— Isso já vai acabar, prometo. Falta muito pouco. — Cola sua testa na minha e
eu suspiro, trêmula, por estar carente demais de qualquer contato físico que não seja um
abraço de cumprimento.
— Você me falou isso quando tudo começou, Murilo! E eu tô cansada de bancar a
compreensiva. Final do mês é aniversário de casamento dos meus pais, nem sei se você
vai comigo. Olha que merda tá tudo isso! E eu sequer sei por que essa mudança drástica!
Explodo para ver se ele acorda de uma vez por todas e para de fazer mistério. O
que ele tanto faz no trabalho que chega a hora que chega e ainda sobra para fazer em casa?
Nem eu nas temporadas de final de ano, onde todos querem propaganda e card de natal e
ano novo, trabalhava tanto. E olhe que eu trabalho com cinco empresas na parte de
criação, onde, se eu atrasar meu serviço, os outros setores atrasam também. E nem por isso
eu fico nessa maratona louca a ponto de esquecer todos à minha volta.
Estou trabalhando feito condenada, já que mês que vem é mês natalino. Mas
quando chego em casa, eu só quero descansar, por mais trabalho que eu tenha no dia
seguinte. O dia é desgastante, não vejo por que continuar na maratona em casa.
Ele alisa minha barriga. Assinto indicando que desejo voltar à normalidade. Sinto
saudade do Murilo bem-humorado e alegre que ele deixou de ser. Murilo está apático, vive
no mundo da lua e não sei mais o que fazer.
Sua mão vai para meu pescoço, trazendo meu rosto para mais perto do seu, e me
beija. Seguro nos seus cabelos com meu maldito coração bobo, aceitando sua língua
dentro da minha boca. E ele me abraça com cuidado, aprofundando.
Ele levanta a mão e alisa minha bochecha. Absorvo o carinho, fechando os olhos
e suspirando. Não poderia ser sempre assim? Pode ser coisa da minha cabeça, mas estou
estranhando o beijo, ele não está beijando como costuma. Parece louco isso, mas é o que
eu estou achando. Esse não é o beijo dele nem aqui nem na China! Ele parece que está em
qualquer lugar, menos aqui. Murilo beija com cabeça e corpo, aqui está metade apenas.
Separo minha boca da sua no mesmo momento e o olho, séria. Murilo expira o ar
dos pulmões, frustrado, passando a mão nos cabelos, me olhando e me soltando
completamente.
Não digo nada, apenas dou as costas, disposta a tomar banho e ir trabalhar. Não
vou transar com ele, sabendo que não está com o pensamento aqui, se doando pela
metade.
Estou tão instável que sinto vontade de chorar. Murilo, quando quer ser babaca,
ninguém supera.
Saio para a cozinha já pronta, com a bolsa na mão para colocar lá na sala. Quanto
menos andar, melhor. Apareço no cômodo e não o vejo. Deduzo que já foi. Entretanto,
quando pego um copo de suco para beber, vejo ele com o terno costumeiro, e seu perfume
logo exala. Oh, droga!
— Posso te buscar pra almoçar?
— Não prometa o que não vai cumprir — desanimada, sem querer me iludir, faço
pouco caso.
— Eu tô tentando, Alie — exaspera-se, passando as mãos na barba.
— Aham. Vou nem dizer nada pra não brigarmos. Quando estiver em frente à
agência, tendo a certeza que não vai precisar voltar correndo pra reuniões, você me liga
pra descer.
Pego as chaves do meu carro, que estou usando com frequência. Quando chegar
lá, tomo café direito. Na padaria lá perto tem salada de frutas e sucos frescos.
— Espera que te levo. — Segura na minha mão.
— Não quero.
— Deixa-me fazer do meu jeito, por favor.
— Eu só queria entender, Murilo… — exasperada, fito seus olhos castanhos.
— Prometo que tudo isso vai acabar, e logo.
Alisa minhas bochechas. Não retruco, apenas dou mais uma golada no meu suco,
dando o assunto por encerrado.

— Vai pro inferno, Murilo! — grito com ele, que em seguida bate a porta de casa,
saindo resmungando. Idiota! Murilo é um idiota!
Ele está cada dia mais insuportável. E eu estou cada dia mais instável, não sei se
são meus hormônios ou ele que não colabora. Na verdade, são as duas coisas.
E o resultado disso é que nós estamos mais distantes e frios. E tudo começou
justamente com esse afastamento dele!
E no começo da semana até estava melhorando. Em dois dias me buscou para
almoçar, estava cheio de chamego, voltando a ser o Murilo de antes, mas durou pouco. Ele
ainda está no ritmo de trabalho e parece que não vai parar nunca. E não é do trabalho mais
não, é dele mesmo a coisa de não querer parar. Murilo, que não gostava de rotina, virou
um viciado em trabalho.
Decidiu que iríamos jantar hoje para compensar o dia que cozinhei e ele não
apareceu a tempo. Fiquei receosa, mas como sempre, decidi dar uma chance. Me arrumei
às sete horas para esperá-lo. Deu oito, eu liguei e não atendeu, deu nove e caiu na caixa
postal. Às dez da noite eu me desarrumei ainda mais frustrada e chateada, e ele chega com
a mesma desculpa, tentando pôr panos quentes: “fiquei em reunião e não puder avisar
porque fiquei sem bateria”. Disse que mandou uma mensagem para mim, mas não recebi
nada.
Não saí de um relacionamento bosta para entrar em outro.
Já relevei demais tentando entender. Ele desmarcava e se desculpava, eu aceitava,
oferecia ajuda, sempre disposta a ouvi-lo, acordava um pouco mais cedo para ele não
tomar café sozinho quando ele avisava que precisava chegar antes do horário normal, e
deixava sua roupa social separada, mesmo que ele não quisesse que eu passasse. Mas
ultimamente eu estou sem saco. Cansei dessa situação! Cansei!
E por isso não relevei essa última bola fora dele. Me fazer esperar quase três
horas para no final vir com a mesma desculpa? Não! Dessa vez não e não me acho egoísta
em não relevar.
Que ele ficasse até tarde trabalhando, não ligaria, como não estava ligando no
começo disso. Mas que me incluísse no problema, me explicasse e não me deixasse de
lado, me desse um motivo, eu seria capaz de entender!
Para ele já não basta mais trabalhar até tarde; quando voltamos para casa ele se
enfia no notebook e não deita para dormir comigo. Praticamente esquece do mundo!
Sempre acabo dormindo antes que ele, o esperando sair do maldito notebook. Que vida é
essa?
Estamos quase dois estranhos morando na mesma casa. Nossa rotina mudou
totalmente. Sequer temos uma rotina compartilhada. Estamos vivendo individualmente.
Estou me sentindo muito insegura e impotente diante dessa situação de bosta.
A briga de agora foi por causa de ciúmes da minha parte, somada à sua bola fora
do jantar. Não questionei se ele estava me traindo, não com essas palavras, apenas queria
saber se por algum acaso ele estava conhecendo alguém ou não estava mais gostando de
mim.
Queria saber onde mora o problema, afinal, para mudar tudo tão drasticamente, já
que prefere trabalhar a estar comigo. Toda vez que pergunto ele nega ou fica calado
querendo me enrolar. Mas preciso saber, não é?
Como dizem, gato escaldado tem medo de água fria.
Apesar do medo de ele desistir do casamento e da relação não dar mais certo, e de
amá-lo muito, eu preciso saber, não posso ficar na ingenuidade, tapando meus olhos. Eu
preciso de estabilidade, dentro de mim agora habitam duas crianças. Estou me sentindo a
pior das pessoas com esse nosso relacionamento briguento, sem sincronia. Estou numa
ebulição ridícula e sequer posso contar com Murilo mais.
Isso tudo é uma merda. E quando penso que terei apoio, Murilo simplesmente
vira workaholic. Logo ele que sempre disse odiar rotina e monotonia. Ah, vai se ferrar!
Vontade de jogar tudo pra cima. Ainda mais sem ninguém para desabafar minhas
frustrações. Por mais que eu precise desabafar, não quero envolver as meninas nos meus
problemas. Elas têm os próprios problemas para se preocuparem.
Olho no relógio e já são onze e quarenta da noite. Não vou esperar por ele,
Murilo tem a chave e não vou mais ficar me preocupando. Vou fazer de conta que ele não
chegou do trabalho.
Deito na cama sozinha mais uma vez. Ele desconversa quando cobro uma
explicação, mas como não me preocupar, vendo tudo isso desabar sobre nós?
Já dei espaço e esse espaço só serviu para nos afastar ainda mais.
Acabei pegando no sono me sentindo péssima, alisando meus bebês. Mas não
durou muito. Acordei logo em seguida, morrendo de sede. Checo no relógio e vejo que
são quase meia-noite e dez e o outro lado da cama ainda está intacto. Ou ele não voltou
ainda, ou não quis dormir aqui.
Me recuso a ficar preocupada com a primeira hipótese. Saio do quarto em direção
à cozinha, trôpega de sono. Olho de relance na sala e vejo ele sentado no sofá com a
cabeça no recosto, os braços apoiados atrás, pensativo, no escuro.
Eu estou tão chateada quanto ele com essa briga. Mas se ele não me fala, não
tenho como adivinhar.
Encho meu copo de água e, enquanto bebo, vejo pela visão periférica que ele me
observa. Sigo para o quarto com o copo na mão e o coloco perto da cama, para o caso de
sentir sede novamente. Não quero voltar lá. Passo no banheiro, pois a bexiga está
estourando. Ter duas crianças aqui dentro triplicou minha vontade de fazer xixi.
Deito na cama e me enrolo, querendo que o sono venha e eu pare de pensar.
Preciso descansar. Sinto seu corpo atrás do meu, como ele sempre faz. O abraço, como
sempre, é bom, mas estou tão chateada que me esquivo, não quero contato algum.
— Isso vai acabar logo, prometo. Te amo, nunca esqueça disso.
Ele fala baixinho. Não respondo, pois estou ocupada demais fingindo que estou
dormindo.

Acordo sozinha de novo. Levanto e faço minha rotina calmamente. Amanhã é


aniversário de casamento dos meus pais, eu iria com Murilo amanhã, mas vou hoje, decidi
adiantar a ida. Não estou a fim de mais uma noite estressante. Se ele quiser ir, que vá, o
que eu acho difícil. Não vou esperá-lo. Se eu ficar aqui a gente vai discutir mais uma vez.
Estou com os pés doendo e as costas também. Parece que estou no nono mês já. Nossa
senhora!
O encontro tomando café na xícara, em pé, recostado na bancada. E tem uma
xícara posta na bancada, com cappuccino. Faço média ao olhar para ele e ele tira a xícara
da boca.
— Fiz pra você, não coloquei canela.
— Obrigada. — Puxo a xícara, parando bem perto dele. Eu simplesmente amo o
cheiro de Murilo.
Saudades de ficar cheirando o seu pescoço para sentir esse aroma maravilhoso.
Provavelmente iremos passar esse final de semana separados, mas fazer o quê? Já
estamos mesmo, de qualquer forma. Precisamos desse espaço para colocar a cabeça no
lugar, dar um ponto final nisso tudo, seja lá que tipo de ponto final, mas a partir de
segunda-feira eu não quero mais viver dessa forma.
Quando voltar, colocaremos tudo em pratos limpos ou arrumo as malas, quem
sabe. Nem estou a fim mais de comemorar nada. Só vou porque prometi e eles se
empolgaram com minha possível presença, já que só vou nessa época.
— Desculpa, Morena, não estar sendo o homem que espera, por estar agindo de
forma babaca.
Seguro a vontade de revirar os olhos, bebericando meu cappuccino, pescando
uma torrada do pires.
— Não se desculpe, apenas pare de ser — respondo rude, de boca cheia.
— Alexia, por favor.
— Não quero brigar, por favor. Isso é desgastante. — Engulo a torrada e chego na
metade da xícara.
— Já falei, não tem necessidade de se preocupar à toa — com a voz mais amena,
ele quebra o silêncio.
— Murilo, eu sei que você mudou completamente. É um fato. Mas não vou mais
perder meu sono por isso.
Mordo mais um pedaço de torrada, sem querer brigar.
— Eu sou assim!
Murilo passa as mãos no cabelo e na barba logo em seguida, em gesto de
impaciência. Eu sei que ele está fugindo do assunto. Eu o conheço o suficiente para não
me enganar.
— Não é, ou você mentiu quando a gente se conheceu. Não sei se quero casar
assim, Murilo. Você tá me escondendo algo, você mudou drasticamente, não vê? Eu tô de
saco cheio de tudo isso e de você me deixar de fora. Não sei se quero casar pra ficar
sempre brigando.
Exaspero, tomando o resto da minha xícara. Estou cansada e o dia mal começou.
O olhar dele não tem raiva. Tem nervosismo, inquietação, frustração e algo a mais. Por
que ele não me conta logo? Que merda é tão grave que tanto atormenta ele?
— Não foi esse Murilo que eu conheci, não foi esse por quem eu me apaixonei
nem aceitei casamento. E não é com esse que eu quero casar, essa versão de um Murilo
apático e que me esconde coisas. Eu te pedi parceria no mesmo dia que aceitei o pedido e
não tô vendo isso. Quando você resolver qual Murilo você é, nós decidimos nosso futuro.
E não é esse que eu quero como marido. Caso você decida não resgatar o homem que eu
fiquei feliz em ser o pai dos meus bebês, acabamos aqui — dou um basta.
— O que quer dizer com isso?
— Que tô com vontade de dar na sua cara, Murilo! Apenas isso! E vou deixar
você decidir sobre nosso futuro daqui em diante. Conduza como achar melhor, tô te dando
sinal verde pra qualquer coisa, não é isso que você queria, que eu deixasse você resolver
sozinho? Tô seguindo seu conselho, eu lavo as minhas mãos! Parei aqui
Sigo para a sala pronta para o trabalho e ele vem atrás, me chamando, mas não
dou ouvidos. Pego minha bolsa e a sacola com minhas roupas para passar o final de
semana na casa de meus pais.
Antes de girar a chave na ignição, a barreira do choro é quebrada, caindo as
primeiras lágrimas. Tento me controlar para dirigir, mas não consigo. Limpo os olhos
umas duas vezes e as lágrimas insistem em cair. Estou muito sensível ultimamente e eu
odeio isso.
Me debruço no volante e deixo as lágrimas rolarem como elas querem.
Parece que meu “felizes para sempre” não vai chegar nunca, toda hora uma
barreira ainda maior impede isso. Não avisei que estava indo, mas ele sabia que eu iria. E
se não sabia, provavelmente deduziu ao ver a bolsa. Que se dane! Ele sabe o endereço!
34
ALEXIA
Uma música animada toca na rádio, como companhia, me fazendo cantar
baixinho.
Doida para ver todo mundo, mortinha de saudades. Doida para abraçar meus pais.
Trinta anos juntos. É boda de que mesmo? Não sei! Só sei que darei de presente uma
miniviagem para uma praia próxima. James me deu a dica.
Quase oito da noite, consigo entrar no bairro. A BR estava pela misericórdia.
Parei em frente à casa em que vivi tantos anos. Continua como eu me lembro da última
vez. Branca, de um andar e varanda, cercada por muros no pátio espaçoso.
Desço a janela do carro e grito pela minha mãe, que logo aparece com meu irmão
atrás. Abro um sorriso verdadeiro de felicidade ao vê-los. Aponto para o portão para
abrirem e passo com o carro. James abre, e com o carro dentro, pulo do carro para abraçá-
los.
— Vem, vamos entrar logo — minha mãe me chama, empolgada pela minha
visita, e me põe para dentro com James, que pega minhas coisas.
Conversando, entro em casa, seguindo para a cozinha, encontrando Isis
amassando algo no prato para meu sobrinho, que está no chão brincando com Helena, que
corre para me abraçar. Adoro esse toquinho de gente.
— Pensei que viria amanhã de manhã. — Isis vem me abraçar.
— Adiantei a vinda.
— Ah! Cadê Murilo? Ficou preso no trabalho?
— Digamos que ele preferiu.
Ela me analisa, assimilando minha reação. Dou de ombros sem querer entrar nas
minhas lamúrias. Até isso cansa. Meu pai chega e fica feliz em me ver, e também
estranhou a ausência de Murilo. Dei a resposta automática e não me prolonguei no
assunto.
Jantamos juntos num clima legal de família. Comi feito condenada, porque
comida de mãe é muito boa.
— Mãe, diz que a senhora fez pudim! — exclamo, esperançosa. Ela assente com
um sorriso e eu abro outro maior ainda.
— Eu te conheço o suficiente pra saber que você ia me cobrar isso.
— Por isso que amo a senhora.
— Sei. Você é interesseira, isso sim. — Ri da minha cara e eu me contagio.
— Seus netos que querem.
Aponto para minha barriga e ela sorri.
— São dois mesmo, Alie? Estão bem?
James, carregando Levi para sair da mesa, faz graça passando a mão na minha
barriga.
— Claro, né, James? Olha o tamanho dessa barriga. E estão bem.
Tomando pudim, sigo para a varanda com Isis.
— Por Murilo não vir e pelo seu estado, presumo que as coisas não estejam bem.
Faço uma careta, mais pelo meu pé doendo. Ela me conhece como ninguém.
— Nós não estamos muito bem. Na verdade, estamos péssimos. Isso se ainda
estivermos. — Faço o levantamento da minha situação, passando a mão na minha barriga.
— Conta do início.
Arqueio uma das sobrancelhas e ela faz o mesmo. Contei tudo. Desde quando nós
começamos a nos afastar, até ontem à noite.
— Homem é um bicho que só Jesus, ingênuo ou burro mesmo, em achar que
consegue fazer qualquer coisa escondido. A gente tem vontade de matar, mas não vivemos
sem, praticamente um fardo que de vez em quando é recompensador. Eu não acredito que
tenha outra pessoa no meio, seria muito cretino da parte dele. Acredito que é fase, vocês
vão superar, mesmo estando essa bagunça. Eu e James passamos por cada crise…
— Tomara. Se ele falasse abertamente seria tudo mais fácil. Tudo! — suspiro,
cansada.
— Não se consuma, às vezes o medo de você ser enganada pode fazer você
sufocar o outro sem nem perceber, Alie. Deixa-o resolver o que seja, você já não deixou
pra ele resolver? Espera!
Aceno, aceitando aquele conselho. Conversamos sobre coisas aleatórias para não
ficar só no meu problema, inclusive sobre o natal que está se aproximando. Falando nisso,
os pais de Murilo até lá já estarão aqui, de mudança definitiva.
E falando em Murilo, não deixo de vagar meus pensamentos para lá, onde ele está
sozinho, assim espero, sabendo que tudo depende dele. Que nosso futuro está nas suas
mãos. Eu só queria que tudo voltasse aos eixos, mas só vou saber qual será nosso destino
depois desse final de semana.
O dia amanheceu e foi bem monótono. Eu estava numa apatia chata que demorei
até para descer, só fiz isso para comer, por causa dos bebês que precisam ser alimentados.
Ignorei algumas ligações e áudios de Murilo. Se quando eu quis que falasse comigo ele
não quis, não tem por que eu atender o telefone. Apenas enviei uma mensagem dizendo
que os bebês estavam bem.
À tarde, aproveitei o cansaço natural para subir e descansar um pouco. Chequei o
celular e não achei mais ligações nem mensagens novas de Murilo. Talvez ele tenha
desistido de consertar a bagunça que sequer sei por que começou.
Choramingo um pouco ao pensar nisso, mas decido me manter firme. Se essa for
a escolha dele, não vou pedir pra ficar, de verdade. Chega de tentar fazer as pessoas
ficarem do meu lado, no final a única machucada sou eu. A partir do momento que isso
acontece, é porque já se foi há muito tempo.
Se ele não me ama, eu me amo o suficiente para mandá-lo embora. Ele continuará
a ser pai dos meus bebês, continuará a fazer parte dos momentos mais marcantes da minha
vida, mas simplesmente não posso implorar para que fique.
— Tia!
Me dou conta que adormeci quando Helena chega pulando do meu lado na cama,
me assustando.
— Diga — ainda de olhos fechados, respondo.
— O tio Murilo chegou!
— Ahn?
Zonza, abro os olhos num rompante, sentindo uma fraqueza no corpo ao escutar
isso.
— Tio Murilo, tia, tá aqui embaixo — repete, ainda me olhando.
Ainda meio desorientada, levanto da cama. Escutamos Ísis gritar lá de baixo e
Helena sai correndo como entrou, provavelmente. Passo a mão nos cabelos, levantando da
cama e tentando acordar de verdade e assimilar direito o que ela falou, para descer. Mas
nem deu tempo, pois Murilo em carne e osso aparece aqui na porta, com as mãos no bolso
e semblante cansado e sério.
— Não quero brigar mais uma vez. — Bocejo, coçando os olhos.
Coloco meus cabelos atrás da orelha vendo-o chegar mais perto.
— Não vim brigar. Sabe que não consigo ficar longe.
Fala de forma suave. Diria até receosa, e meu coração, bobo, acelera.
— Como estão nossos bebês?
— Bem, bem calmos, até. Veio aqui para que, então? Pra terminar tudo logo? —
decido ser direta.
— Senta aqui. Vamos conversar.
Passeia a mão no cabelo e suspira. Sento de novo na cama e ele senta do meu
lado, evitando me pôr no colo como sempre faz. Eu também não quero briga, só quero
que esse pesadelo acabe.
— Hum.
Cruzo os braços ainda mais e me viro para ele, que está pensativo.
— Eu sei, você sabe, que tô distante ultimamente. Mas minha intenção desde o
início não foi gerar esses momentos de tensão, tudo saiu do meu controle. O que era pra
ser uma semana, como prometi, virou um mês.
Tudo que eu quero é chorar, meus hormônios estão comendo minha alma todo
santo dia. Mas que droga ele está falando?
— Se você estiver com outra me fale, não me engane, não tente me fazer de
idiota. Eu tô grávida, mas não virei uma tapada. — Ele nega com a cabeça, mas não dou
abertura para ele falar, preciso desabafar primeiro. — A primeira coisa que eu pedi pra
você depois que aceitei esse pedido de casamento foi que, por favor, não me machucasse,
que fosse sincero que eu seria sincera com você. Aí, do nada, você muda completamente,
fica frio e distante. Mal dorme, vive se enfiando em reuniões e mais reuniões. Vive me
deixando na mão, prometendo que no dia tal iria chegar mais cedo e é o dia que chega
mais tarde. Nem dorme comigo e quando eu acordo tá pra sair. E quando tá ali de corpo
presente, tá mentalmente em outro universo. Vivia feito uma idiota tentando ser
compreensiva, mas sem saber o que estava acontecendo porque você se esquivava. Quer
que eu pense o que, Murilo?
— Não, Alie, esse afastamento não tem a ver com mulher, nunca terá a ver. Só
quis resolver sozinho as coisas pra não te preocupar, você precisa ter uma gestação
tranquila. Eu achei que daria conta antes mesmo de você perceber, mas obviamente não
aconteceu. Eu gosto bastante de estar com você, tipo, é o ponto alto do meu dia. Eu
também tô de saco cheio dessa rotina infeliz. E isso tudo por dois motivos. O primeiro é
que agora eu sou acionista da empresa, que por um acaso estava uma confusão por causa
do processo de troca de banco. Havia erros nos meus documentos de compra, muita
papelada e com isso a minha retenção ficou presa, atrasou na previsão. Teve o fornecedor
que atrasou a produção porque declarou falência, e eu, como gerente da minha área, tive
que resolver. E isso estava me tirando o sono, era muita reunião, muita conferência, muita
chatice dentro e fora do trabalho.
— Por que não me disse? — questiono confusa e um pouco brava por ele não ter
me contado logo. — Uma simples conversa evitaria tudo isso, Murilo. Tem noção de
quanta merda eu pensei, tudo porque você não sabe abrir a boca e contar os problemas?
— Eu não contei logo porque eu estava receoso de precisar viajar novamente,
coisa que eu não quero, pois, a última vez que isso aconteceu, eu não encontrei notícias
boas. Eu não quis transparecer pra você a possibilidade que estava me tirando o sono há
quase um mês — ele suspira, bagunçando o cabelo freneticamente, frustrado e grunhindo.
— Eu trabalhei dobrado pra dar conta de tudo ao mesmo tempo, de várias áreas pra não
falhar com você, Alexia, com a sua segurança, entendeu? Eu preferi trabalhar durante
quase um mês em turno dobrado pra não precisar ficar uma semana direto lá pra resolver
essas pendências e não te deixar sozinha aqui. Queria resolver sozinho sem precisar te
preocupar, pôr as coisas nos eixos enquanto a retenção não normaliza, que será em breve.
Quero uma lua de mel à sua altura!
— Mas deu o efeito contrário, percebe, né? Fiquei morta de preocupação esse
tempo inteiro. Você acha mesmo que dizer pra eu não me preocupar me deixaria tranquila
e serena? Você pelo jeito não me conhece! — suspiro, sentindo minhas narinas arderem
num estado emotivo que parece que não vai passar nunca! — A gente não tá casando
porque é bonitinho, Murilo. A gente poderia casar hoje, no civil, que não me importaria.
Não entendeu que quero casar com você porque te amo e não por festa?
Me exalto, mas tento não surtar por causa dos bebês. Respira, Alie! Apesar de
tudo, eu queria que ele contasse comigo, não estou de enfeite. Estou grávida, mas não sou
de papel.
— Nós somos muito imaturos pra esse casamento, Murilo. A verdade é essa. A
gente se ama, mas não temos maturidade suficiente pra uma coisa dessas. Não é só de
amor que relacionamento sobrevive. No final, vamos acabar morrendo na praia. É triste,
mas é a verdade.
Tento não chorar, mas foi impossível evitar com essa possibilidade.
Murilo levanta me puxando pela mão, logo em seguida me abraçando enquanto
enterro minha cabeça no seu pescoço, deixando que as lágrimas desçam. Parece que
quando eu o abraço assim as coisas voltam para o lugar certo. Se encaixam, como se
nunca estivéssemos separados. Aspiro o cheiro dele que tanta falta senti esses dias.
— Não! Nós vamos conseguir, juntos, sem pessimismo. Sem medos, enfrentando
as barreiras e dificuldades. Só preciso que fique do meu lado, pra nada me desmotivar.
Você e nossos dois bebês. Eu sei que você quer casar comigo e não é por festa, e eu quero
te dar o melhor, o que você merece. Quando voltarmos eu quero te levar pra jantar, no
lugar que você escolher e fazer tudo que você tá sentindo falta. Eu quero voltar a ser o seu
Moreno, pois é isso que me faz feliz, te deixar feliz. Me deixa fazer isso?
Me conforta e me sinto mais leve por ter falado todas as minhas frustrações e ele
as dele. Zeramos as mágoas, agora é só o medo de fracassar e a vontade de fazer dar certo.
Choro nos seus braços, não aguentando a pressão de tudo isso no corpo nesse tempo todo.
— Não chora que isso me acaba por dentro. Sei que depois de hoje vai acontecer
mais merda, porque não somos perfeitos. Entretanto, vamos ter mais dias felizes. Hoje só
é mais um dia. Eu só quero mais uma chance, dessa vez pra acertar.
Alisa minhas costas, me apertando nos braços. Eu poderia citar mais de dez
coisas que eu odeio nele, mas ainda assim o amor sobressairá.
— Quando eu tô amedrontada eu digo a você. Aprenda a fazer o mesmo, senão
nosso relacionamento vai definhar.
A verdade é que nenhum dos dois sabe se virar sem o outro. Sempre precisamos
de uma pessoa que precisa da gente. Somos dois perdidos tentando encontrar um lugar.
Ficamos chorando juntos e agarrados um ao outro como se fôssemos a salvação um do
outro.
E talvez sejamos. Ver ele vulnerável desse jeito me desestabiliza. Saber que
sempre esteve aqui por mim quando precisei, e quando foi a vez dele, não quis demonstrar
fraqueza pra não me ver mal. Isso me machuca demais.
Amar dá um trabalho e tanto. Nunca é cem por cento alegria, e se fosse não teria
graça. É difícil lidar com manias, costumes, pensamentos, modos de pessoas
que viveram com outros exemplos que não são iguais aos nossos. Um dia somos nós que
erramos, e no outro é outra pessoa. Ninguém é perfeito ou vem com manual. Cabe a nós
tentarmos compreender e tolerar o máximo que conseguimos. Estamos aqui para tentar
acertar e tocar a vida da forma que achamos certo. Mesmo que para o outro seja
totalmente errado ou louco.
Quando meu choro cessa, me solta, limpando minhas lágrimas e sorrindo de um
jeito bonito e charmoso. Sorriso do Murilo que eu conheço.
— Prometo te contar tudo agora desde o primeiro momento e não me enfiar no
trabalho como estava fazendo, pois eu tenho uma mulher, uma companheira, e não uma
acompanhante.
Assinto e ele segura na minha bochecha para me beijar. Sinto que agora estamos
na mesma sintonia de novo. Finalmente a sensação familiar de que está tudo bem volta.
Como se agora a Terra girasse no sentido certo. Como se um copo quebrado de repente
ficasse inteiro.
— Eu amo você, mas tem dias que puta que pariu, hein, dá vontade de te dar um
tiro!
Com ele do meu lado eu percebo que é assim que deve ser. Pois ele é meu lar,
como eu sou o dele. E isso só me fez perceber que eu o amo muito, assim como ele me
ama.
Agora podemos ser quem sempre fomos, não somos perfeitos e nem exemplos,
mas o que importa é que nos encaixamos e tentaremos fazer acontecer juntos.
— Agora sim, esse é o beijo sabor Murilo — falo contra sua boca, segurando sua
nuca para beijá-lo melhor logo em seguida. Mas o intercepto. Se ele acha que vai ser fácil
assim…
— Não, nada de sexo — nego, levantando e dando alguns passos.
— Alie? — Ele levanta também.
— Já que você gosta de fazer tudo sozinho, vai saber se virar. Se arruma que
precisamos descer.
Corro pro banheiro disposta a tomar um banho para descer, largando-o sozinho.
Por mais que eu queira, vamos ver como ele reage diante de uma mini tortura.

Murilo aparece quando estou me maquiando.


— Mas está gostoso, hein? — elogio.
Ele está muito lindo. De bermuda preta, com tênis da mesma cor. E uma camisa
jeans clara de manga dobrada, com alguns botões abertos.
— Tenho que estar à altura, né? Tá gostosa pra caralho! — Me analisa
descaradamente e eu me arrepio.
Estou com um vestido preto folgado e cabelos soltos. Um look básico, mas
arrumado por conta dos acessórios que uso. Maquiada e de batom vermelho, pois não
abandono mais.
— Pare de me olhar assim, senão a gente não desce — o alerto e passo meu
perfume.
— Seria uma boa. — Me puxa e me agarra, fazendo nossos corpos se
colidirem. — Tem certeza que quer descer? — Faz a maior cara de safado, roçando o
quadril.
— Moreno, não atiça — o alerto de novo, fazendo biquinho.
— Mas não tô fazendo nada de mais.
— Não faz isso — falo manhosa entre um beijo e outro.
— Você não sabe a porra que faz em mim com esses batons vermelhos que você
usa.
— É? Bom saber. — O beijo de novo. — Agora é sério. Vamos!
Dou um último beijo nele e me solto. Bendito batom que não sai. Só um desse
para aguentar o Moreno me beijado a cada dois segundos.
Desço com ele, mesmo querendo ficar lá em cima. Chego no térreo e o som já
está rolando. Meus pais estão lindos, e James também, assim como meus sobrinhos e Ísis.
Vejo alguns dos meus primos chegando com meus tios e seus respectivos maridos e filhos.
Meus pais adoram casa cheia, por isso chamaram o povo para festejar com eles,
em vez de comemorarem sozinhos. Tenho apenas um irmão, mas aqui os aniversários e
festas sempre foram cheios de primos e tios.
Fui paparicada por algumas pessoas da família e ouvi umas perguntas chatas,
como: “nossa, você vai ter gêmeos? Coitada!”. Ou: “você sabe que não terá mais vida,
né?” Ou ainda: “você vai encerrar a fábrica, né?”. E “nossa, eu admiro mães de
gêmeos… Com um só já fico louca!” Mas sempre tem isso, em qualquer família. Apenas
sorrio e balanço a cabeça.
Tomo alguns drinques sem álcool que Murilo mesmo fez questão de fazer para
mim, enquanto socializamos. Passei a maior parte do tempo com Ísis e James. Jantamos e
brindamos com vinho, menos eu, que fiquei no suco.
Aproveitei para sentar na cadeira, observando todo mundo bebendo ou
conversando, para ficar um tempinho com meus bebês. Mal posso esperar para ver cada
um deles. Estou ansiosíssima para essa consulta. Quero saber se serei mãe de dois
meninos, duas meninas, ou um de cada.
Meus pais ainda estão alegrinhos e dançando junto com mais alguns casais.
Sorrio pela felicidade deles. Adoram sair para dançar. Ao contrário do que vocês pensam
— ou não —, minha mãe não é baixinha, é quase do mesmo tamanho que meu pai. Ela
tem o mesmo tipo de corpo que o meu. Algumas pessoas dizem que eu sou ela mais nova.
Aliso a barriga com carinho, sorrindo boba, fitando-a e sinto uma ondulação por
dentro. E congelo no lugar. Rita disse que por esses meses já começam a chutar e que seria
mais perceptível. Mas nada me preparou para sentir sem esperar.
Procuro Murilo com os olhos e assim que ele me olha, chamo com a mão e
rapidamente ele fica do meu lado.
— Os bebês mexeram.
Murilo põe a mão espalmada na minha barriga para tentar sentir. Surpreso, me
olha ao sentir, sorrindo abertamente logo em seguida. Ele não está aguentando de
felicidade, assim como eu, que estou boba por essa sensação.
— O que será que vai vir? — questiona, sentando do meu lado, ainda com a mão
na minha barriga para ver se mexem de novo.
— Não faço ideia.
— Mas você já tem algum nome em vista?
— Alguns. Gosto de Catarina e Nicole. Para menino não consegui pensar muito.
Olho para ele, pensativa.
— Gostei dos nomes. Então se forem duas meninas você escolhe, já que tem
algumas opções.
— E menino você escolhe? Quais os nomes que pensou?
— Se forem dois, quero que se chamem David Luiz e Cristiano Ronaldo.
Olho séria para ele pela palhaçada e ele gargalha da minha cara. Nem morta vou
deixá-lo nomear meus filhos com nomes de jogadores de futebol. Murilo parece que é
maluco.
— Nem morta! — nego de imediato.
— Prefere Neymar e Lionel?
— Eu tô falando sério, Murilo!
Reviro os olhos, rindo com ele da sua bestagem.
— Tô brincando.
Murilo beija minha bochecha.
— Diga então quais nomes acha bonito.
— Gosto de Bernardo e Caio. Gosto de Tiago também.
— Gostei de todos.
— Então se for menino eu escolho e menina você escolhe?
— Pode ser, mas se forem dois meninos, você só registra se eu aceitar. Nada de
Cristiano não sei o quê.
Murilo gargalha de novo e dou um tapa no braço dele. Ficar assim é tão gostoso,
espero que continue e que, se aparecerem novos problemas, enfrentemos juntos.

— Ei, Morena… — Sua voz arrastada no meu ouvido me quebra quando estou
batendo a porta do quarto para dormir e ele gira a chave por cima da minha mão. Devasso!
Moreno segura na minha cintura com as duas mãos e em seguida andamos
devagar até a cama, e percebo que está sem camisa. Ele subiu cheio de maldade.
— Deixa seu Moreno cuidar de você. — Ele desabotoa minha roupa, fazendo-a
cair nos meus pés. — Matar as saudades, recuperar o tempo perdido.
Murilo explora meu corpo e sinto as chamas acenderem com força total. Tiro sua
camisa e distribuo beijos quentes no seu peitoral enquanto aperto suas costas trabalhadas.
— Deixa-me te mostrar o tamanho da minha saudade — com uma voz arrastada
desgraçada, sussurra beijando minha testa logo em seguida, e aceno, ofegante. Meu corpo
está todo ardente. Meus hormônios em ebulição num desespero imenso.
Desço a mão para suas costas, apertando e aprofundando o beijo. Murilo desce a
boca distribuindo beijos pelo meu corpo e abre meu sutiã, sugando com voracidade um
dos meios seios, a ponto de me arrepiar toda.
— Amo você, ouviu?
Murilo rosna logo em seguida de soltar meu seio, fazendo um barulhinho gostoso
e excitante. Mas logo volta para sugar o outro com ferocidade.
Mordo a boca, me sentindo mais excitada que o normal. Meus seios são os locais
mais sensíveis ultimamente. Tiro sua bermuda e aperto sua bunda, o trazendo mais para
mim. Ele ri mordiscando minha boca e chupando logo em seguida. Preciso nem dizer
como estou, né?
Fecho os olhos e aproveito cada sensação maravilhosa que me proporciona,
principalmente a dele aos poucos me invadindo enquanto geme. E eu aperto sua bunda a
cada estocada do ritmo gostoso e alucinante que ele dita. Tinha esquecido quão bom é tê-
lo dessa forma.
A gente briga, discute, discorda, tenho vontade de dar na cara dele, mas não troco
esse moreno por ninguém.
35
ALEXIA
Com frio na barriga, faço o percurso com Murilo até a consulta dos bebês.
Saberemos hoje os gêneros. Minha ansiedade está quase sobressaindo no corpo. Ligo o
som para afastar toda essa ebulição e logo chegamos na clínica.
Eu e Murilo estamos com nossa vida normal novamente e eu me sinto muito
satisfeita. Voltamos à nossa programação normal e saímos para jantar. Moreno estava todo
romântico, tentando se desculpar. E me colocou dentro do problema, me mostrando tudo
que ele andou fazendo sozinho.
Chegando na clínica, Rita abre a porta e sai lá de dentro uma menina
acompanhada, que entrou depois que cheguei. Logo acena para mim, me chamando.
Levanto junto com Murilo, que vem no meu encalço para dentro da sala.
— Tudo certo? — questiona, sentando-se na sua cadeira.
— Sim. Mexeram nesse final de semana.
— Eu imagino o susto que tomaram!
— Pois é. Fiquei toda boba.
Sorrio junto com ela. Talvez seja uma coisa corriqueira para ela atender mães,
principalmente de primeira viagem, bobas com essas descobertas. Fizemos a consulta
normalmente, e depois seguimos para a salinha, para que possamos saber se serei mãe de
meninas, meninos ou ambos.
Sinto o gel gelado na minha barriga e a mão de Murilo segurando a minha. Ela
senta e puxa o monitor para ver enquanto passa a máquina em cima do gel, na minha
barriga.
— Estão vendo isso aqui? Estão reconhecendo?
Aponta a unha na tela e tento decifrar quem é a pessoinha. Pois para mim não está
tão nítido. Meu coração está acelerado de pura ansiedade. Esperei muito por esse
momento.
— Menina? — respondo quase no chute.
— É. — Ela ri num aceno. — É uma menina.
Sorrio abertamente e olho para Murilo, que alisa a barba, a cara fixa na tela.
— O outro bebê está de pernas fechadas, deixa eu tentar fazer abrir.
Sinto meus olhos arderem para chorar. Menina! Isso tudo é tão irreal, assustador e
gostoso de passar.
— É menino, né?
Murilo exclama, passando a mão várias vezes no cabelo e na barba. Ele está
ansioso.
— Sim. É menino. Vocês terão um casal. — Nos comunica e nessa altura do
campeonato minhas lágrimas já rolam livremente pelos meus olhos, num êxtase
maravilhoso.
Teremos um moreninho e uma moreninha, não poderia ser mais perfeito que isso.
Mal posso esperar para ver o rostinho deles e sentir seu cheirinho gostoso. Saímos de lá
como dois bobos, fazendo mil e um planos. Liguei para Natasha me encontrar no
shopping.

Na praça de alimentação do shopping, coloco o papo em dia com Natasha, já que


Liz não veio. Está cada vez mais difícil a gente se ver assim, cada uma com seus próprios
problemas, mas ambas estão organizando o tal do chá de lingerie.
— Ah, e outra, o dia de noiva é com a gente, tá bem? E seu chá de lingerie vai ser
no mesmo dia da sua despedida de solteira. Tá decidido!
— Nem invente — nego de imediato.
Já vai fazer a despedida e agora quer pagar o dia de noiva? Já é demais!
— Cala a boca! Será o presente meu e de Liz pra você.
— Não, Nat. Sério!
Nego e bebo um pouco do meu suco.
— Já tá decidido, vadia. Vou até pagar logo pra você não fazer isso antes, pois te
conheço.
— Natasha! — eu a recrimino, pois a odeio por me conhecer bem desse jeito.
— Estava pensando em fazer a despedida um dia antes mesmo.
Dou um muxoxo enquanto ela conta com mil e um planos. Natasha se empolga
rápido demais.
— Ainda acho isso desnecessário.
— Para de reclamar! Não sei como Murilo te aguenta! — grunhe, revirando os
olhos. E faço o mesmo quando ela sorri com deboche logo em seguida.
— Você que é teimosa.
— Sou mesmo!
— Novidade.
Terminamos de comer e fomos ver as lembrancinhas. Acabei passando em uma
loja infantil e comprei algumas coisas, pois não resisti.
Meu vestido de noiva já está escolhido, só faltam os ajustes por conta da minha
barriga. Fui com minha mãe e ela chorou me vendo de noiva. Casaremos no começo do
ano, foi a melhor data que encontramos, pois no final do ano agora seria impossível.
Estarei com sete meses, mais ou menos, e é um mês ok. Dá para casar e curtir o final da
gravidez.

Acaricio minha barriga que pesa como nunca, vendo o quarto de meus bebês ser
construído aos poucos. Confesso que estou muito apaixonada por cada pedacinho do
processo.
Murilo acabou de montar o segundo berço no quarto dos dois. Colocarei os dois
no mesmo quarto por enquanto. Será mais fácil para mim. Andei pesquisando umas
decorações de gêmeos e a que escolhemos ficou linda. Nos mudamos, inclusive.
Os meses, como previ, estão passando bem rápido, depois que o ano novo passou.
Faltam apenas dois meses para o grande dia e estou ficando louca!
Nicole e Tiago estão cada vez mais saudáveis e maiores. Ganhando peso como
deveriam, e minha barriga pesa mais que uma bigorna.
O quarto é pintado de bege claro, com umas pequenas girafas-bebê de adesivo de
parede. É, resolvi fazer essa brincadeirinha com eles na decoração do quarto. Os móveis
são em cor branca. Colocamos os dois berços lado a lado, mas com uma pequena cômoda
dividindo. O enxoval é em um amarelo claro com marrom.
— Ficou lindo, né? — comenta.
— Sim, tô apaixonada.
Seguro sua bochecha e o beijo de forma carinhosa. Murilo está me saindo melhor
que a encomenda. E outra coisa, os bebês ficam agitados quando ele põe a mão. Muito
mais do que quando sou eu quem converso com eles.
Aliás, eu amo esse momento de ficar a sós com meus bebês, reforçando nosso
laço. É um tempo gostoso que tiro para ficar com eles.
— Meus pais ligaram querendo saber da gente.
— Daqui a pouco vamos.
É, meus sogros já estão em solo brasileiro. Adoro comer fora, porque não preciso
me preocupar com comida. E as da minha sogra são maravilhosas, sem contar que lá eu
sou bem mimada, confesso que amo isso.
Dona Dora e Dona Olga se conheceram, foi uma rasgação de seda que me deixou
enjoada. Bela terminou o namoro e disse que nunca mais vai namorar. Murilo apoiou
totalmente a decisão da irmã, claro. Quero ver até onde isso vai.
Aliás, ela surtou quando soube que vem uma menina também e disse que ensinará
milhões de coisas para ela, incluindo “como desafiar Murilo”, para deixá-lo maluco. Claro
que ele não gostou dessa ideia e disse que ela está proibida de ficar perto de Nina.
Murilo e James bebendo foi uma coisa ridícula, comemorando que vem um
menino também.
Pior que homens juntos, são homens juntos bebendo. Além de ficarem mais
barulhentos que o normal, é um inferno, pois fica um se declarando para o outro: “Você
sabe que te considero como meu irmão, né?” Argh! Que porre! Depois dizem que
mulheres é que são melosas, mas é porque não viram eles próprios bebendo.
Mas o importante é que minha família e a de Murilo se deram muito bem e estou
adorando isso. Ponho a mão de Murilo em cima, sentindo a guerrinha dentro da minha
barriga.
— Acho que estão se chutando pra discutir quem vem primeiro.
Acabo rindo, passando a mão na barriga, deslizando junto com a de Murilo.
— Acho bom decidirem depois, ainda falta um pouco para virem. Eu tô com
medo, sabia?
— Do parto? Eu te entendo. Mas vou estar lá pra ver ambos nascerem.
Sorrio abertamente para ele. Não poderia ter pai melhor.
— Eu sei que vai.
Decidimos ir à casa de meus sogros para passar o dia lá e não ficarmos aqui
sozinhos em pleno sábado. Ideia deles, que nos chamaram ontem e não aceitaram um
“não” como resposta.
— Devagar, Morena — Murilo me alerta enquanto desço do carro.
Assinto, saindo do banco com a ajuda dele. Eu estou me sentindo uma baleia.
Meus sogros não moram muito longe, são dez minutos de carro e vinte minutos andando.
Murilo bateu à porta e quem me atendeu foi Isabela, que correu direto para minha
barriga, me deixando no vácuo. Ela age como se pudesse ver os dois, porque brinca com a
barriga de forma cômica.
— Achei que falaria comigo primeiro — finjo chateação enquanto Moreno
gargalha.
— Cunhadinha, eu amo você, mas primeiro tenho que falar com meus pequenos.
— Sorri para mim ainda agachada, alisando minha barriga.
— Só hoje, então te perdoo. — Devolvo o sorriso.
Ela dá um beijo na minha barriga, fazendo um dos dois chutar, e fica com os
olhinhos iluminados. Em seguida levanta, me dando um beijo na bochecha.
— Venha, a gente tá aqui no fundo.
Isa avisa enquanto Murilo me ajuda a andar com cuidado. Minha barriga chegou
primeiro, claro. Mas assim que cheguei, congelei no lugar quando em uníssono gritaram
“surpresa” não muito alto para não me assustar, mas a ponto de ficar em choque e bastante
surpresa.
— Achou mesmo que não íamos fazer o chá?
Dona Dora vem na minha direção, sorridente. Continuo surpresa e não consigo
evitar minhas lágrimas de descerem. Eu estou uma manteiga derretida. Mas com uma
surpresa dessas é impossível me conter.
— Eu não acredito que vocês armaram nas minhas costas.
Minha voz sai chorosa.
Eu e Murilo decidimos não fazer chá de bebê. Por nenhum motivo especial.
Apenas deixamos passar isso. Também porque a cada dia eu estava me sentindo mais
cansada, e o calor dessas semanas todas deixa qualquer pessoa mais lesada, imagine eu
com quase sete meses e grávida de gêmeos…
A decoração está uma misturinha. Um pouco de azul, outro de rosa. E como foi
tudo debaixo dos panos, pelas minhas costas, tem poucas pessoas, mas não deixa de ser
fofo e especial.
As pessoas são as de sempre.
— Não chora. É pra sorrir.
Limpa meus olhos e não evito sorrir ainda com lágrimas teimosas caindo. Eu me
sinto imensamente feliz. Todos passaram a mão na minha barriga e até Murilo ficou
surpreso, pois não sabia também. Foi uma surpresa para nós dois. Até meus pais com meu
irmão vieram, só não chegaram a tempo de pegar a surpresa.
Me sinto sortuda até demais com as pessoas que me cercam. Vivo sendo
surpreendida de um jeito bom. Estão sempre me mostrando como sou especial.
Impossível não chorar com tudo isso.
— Liz! Nat! — chamo as duas, que se aproximam de imediato.
— E aí, dona redonda?
Natasha chega fazendo graça e olho séria para ela, mas em seguida acabo rindo.
Eu odeio esse apelido, mas ela insiste em me chamar assim, e acabei me acostumando.
— Não muda, né?
— Nunca! — Ela ri. — Chamou a gente pra quê?
— Um pedido — inicio.
— Que pedido? — Lizandra pergunta, provavelmente se roendo de curiosidade.
— Mais uma vez quero que sejam madrinhas, mas dessa vez dos meus bebês. O
que acham? — pergunto, sorrindo.
— Mas é claro!
Nat fala sorrindo abertamente e não seguro uma choradinha. Eu disse que estou
uma manteiga derretida.
— Vocês são as amigas que quero levar pra vida toda e não poderiam existir
pessoas melhores pra esse “cargo”. Obrigada por tudo que vocês já fizeram por mim e por
estarem ao meu lado em todos os momentos difíceis — agradeço a elas ainda chorando,
fazendo-as chorarem também no meio de um sorriso.
Liz é a primeira a me abraçar e Nat vem logo em seguida em um abraço triplo —
ou quíntuplo.
— Nossa amizade ainda tem muito chão pela frente. Vai se fortalecer ainda mais.
Vai me aturar muito ainda! — Nat afirma.
— Vai sim. Não importa o que aconteça na sua vida, quando você estiver feliz,
triste, frustrada ou até com raiva, pode ser até raiva de mim ou de Nat, não importa que
aconteça. Estaremos juntas — Liz reafirma o que a irmã acabou de falar.
Uma hora dessas eu já estou rindo e chorando feito boba.
— Nós por nós, sis — digo, sentindo gratidão eterna.
— Nós por nós — repetem.
Limpamos nossas lágrimas e em seguida caímos na gargalhada.
Volto para Murilo, que está soltando sorrisos para o vento, e me segura pela
cintura, colocando a mão na minha barriga.
— Tudo bem? — questiona.
— Tudo ótimo. — Sorrio para ele, que assente.
Coloco minha mão em cima da sua, que repousa na minha barriga. A ansiedade
misturada com a curiosidade em ver os rostinhos dos dois me consome. Não tem um dia
que não penso nisso, se serão parecidos, embora não sejam gêmeos idênticos, ou quem vai
puxar mais os nossos traços.
Mal posso esperar para segurar os dois no colo e mimar muito.

Estou com um frio enorme na barriga, e não é por causa da minha gravidez, e sim
por causa do casamento. Casaremos amanhã e estou que não me aguento de ansiedade.
Natasha vem me buscar aqui em casa, para irmos ao dia de noiva. Mais tarde,
teremos minha despedida de solteira.
Murilo hoje vai dormir na casa dos pais. Minha sogra e minha mãe se juntaram e
acharam que separar a gente é uma ideia legal. Pelo jeito, só eles, pois eu e Murilo não
queríamos muito, mas acabamos aceitando para agradá-las.
Já peguei também meu vestido e fiz a última prova. Enfim! Está tudo
encaminhado.
Hoje terei um dia relaxante só meu. Nat vai me deixar lá e vai me buscar mais
tarde para a despedida de solteira. Que, aliás, Murilo também terá com os amigos. Fui
recebida muito bem pela dona que, por sua vez, não resistiu a passar a mão na minha
barriga quando descobriu que são gêmeos.
Parei para lanchar e fui muito bem servida. Fui para a esfoliação de pele e, por
último, relaxo no banho de hidromassagem.
O banho de hidro é maravilhoso e relaxante, com sais perfumados, hidratante e
pétalas dentro da banheira. Só ficaria mais perfeito se o Moreno estivesse aqui comigo.
Parece que faz dez anos que não nos vemos. Estamos vetados até de nos falarmos por
telefone. Natasha achou que faríamos coisinhas por telefone e não deixou. Ela é terrível!
Confesso que cochilei um pouco dentro, naquela maresia. Já falei que ser noiva gestante
cansa?
Minha barriga está pesada com essas duas girafinhas aqui dentro. Estou no sétimo
mês e percebe-se que eu só ando dormindo por aí, o que eu mais tenho é sono. Sono e dor
nas costas.
Confesso que estou amando esses paparicos. Preciso abraçar e agradecer muito
minhas amigas por esse presente dos deuses. Já são sete horas da noite e Natasha tinha
ligado avisando que estava saindo de lá em meia hora.
Tomo uma ducha e me visto, pois fiquei o tempo todo de roupão. Encontro
Natasha na recepção, sorridente, me esperando.
Saio com ela depois de confirmarmos os pacotes que ainda temos, pois
voltaremos aqui amanhã com as outras madrinhas, e seguimos para casa, onde será minha
despedida.
— Gostou de hoje? — questiona no meio do caminho.
— Eu adorei! Nem sei como agradecer.
— Sabe que com a gente não tem essa. Fico feliz que agradamos. — Sorri para
mim.
Fizemos a viagem conversando. Só minha sogra e minha mãe que não vão
participar, pois decidiram sair os quatro, meus sogros e meus pais, juntos. Eu disse que
elas viraram amiguinhas. Tenho até medo. E nem Isa vai, mandou milhões de mensagens
se desculpando agora há pouco, pois como chegou há pouco tempo, reencontrou as amigas
e decidiram fazer a própria festinha. E no fundinho até agradeci, pois minhas amigas são
terríveis e nada mais embaraçoso que contar coisas que aprontei com Murilo com a irmã
dele ao lado.
Cheguei no meu apartamento e o mulheril todo estava lá. Liz, Ísis, Letícia, Luísa
e as outras amigas próximas, esposas dos amigos de Murilo. Enfim! Todo mundo que
tenho amizade mais próxima.
Não são muitas, mas o suficiente para fazer algazarra. Recebi cumprimentos de
todas. Minha sala está cheia de balões com coraçõezinhos. Fui encaminhada para vestir a
minha lingerie, que estava no meu quarto junto com meu roupão, onde que está escrito
“noiva” atrás. Essas meninas são cem por cento loucas. Minha lingerie é preta rendada,
achei linda!
Desço para encontrar o bate-papo formado que não consigo nem decifrar quem
está falando o que, todas elas de lingerie e robe por cima. O caos está instalado na sala e
na cozinha, com música animada tocando.
Mulher quando se junta parece formigueiro. Está bem Clube da Luluzinha e estou
amando.
Não deixo de sorrir pela festa que organizaram especialmente para mim. Nat me
entrega uma taça com algo líquido que percebo ser sem álcool. E coloca uma mini coroa
com véu na minha cabeça.
O canudo nada mais é que em formato de pênis. Isso é ideia de Natasha, com
certeza!
Acabei indo para o meio delas, até dancei algumas músicas às gargalhadas.
A festa está linda e animada. Eu estou me divertindo horrores com elas. A
decoração está fofa e bem sexy. Misturamos despedida de solteira, chá de lingerie e dia
das meninas. Os docinhos da mesa são em formato de calcinha e sutiã e tem alguns
pequenos sanduíches com aparência apetitosa. A vibe está bem descontraída.
— Vamos brincar!
Ísis, sorridente, chama a atenção. As meninas gritam empolgadas e eu acho tudo
muito hilário. Eu sou a única que não estou bebendo.
Sentamos espalhadas pela sala.
— Aqui. A gente falou com Murilo e ele respondeu algumas perguntas sobre ele.
Você tem que acertar mais que a metade, eu mesma montei um presente personalizado —
Nat comenta.
— E se eu errar?
— Eu levo pra minha casa e faço um ótimo proveito.
Eu rio e Ísis vem com alguns envelopes na mão.
— Preparada?
— Sempre! — confirmo, querendo saber o que essas loucas estão aprontando.
Escolho um dos envelopes. Ísis abre para ler e espero a bomba.
— Onde aconteceu o primeiro beijo? — Isis lê, me dando um sorriso debochado.
Nossa! Se essa foi a primeira pergunta, nem sei o que esperar do resto. Pensei que
seria algo como “qual a comida favorita dele?”.
— No carro dele — respondo aos risos. As meninas todas gritam um “uuuuuii” e
gargalham. Loucas!
Checam a resposta, que confirma o óbvio. Se Murilo tivesse errado não teria
casamento.
Letícia grita um “próxima pergunta” e logo as meninas se empolgam para saber.
— Onde foi a primeira vez do casal?
Elas só perguntam coisa íntimas.
— Na minha casa — respondo de imediato, corando e acertando. E assim
transcorreu a brincadeira. Errei poucas perguntas e ganhei a caixa, claro. Tinha vários
produtos eróticos que, segundo elas, eram para apimentar a relação. E Natasha acabou
dando o nome de “caixa da reconciliação”.
Bebi e dancei mais um pouco. Estou morrendo de saudades de Murilo. Parece que
não nos vemos há dez anos. Mas estou me divertindo horrores.
Comi e bebi junto com elas e tirei milhões de fotos. Fizemos outras brincadeiras e
não canso de repetir: estou me divertindo muito! Luísa chamou a gente para brincar de “eu
nunca”. Mesmo ficando só no suco, mas o que vale é a brincadeira.
Para quem não conhece muito a brincadeira, eu explico. Alguém fala em voz alta
algo que nunca fez, e quem já fez bebe um shot de vinho, que é o que elas estão tomando.
Se ninguém beber uma dose, significando que ninguém fez a tal coisa, então a pessoa que
fez a declaração é que bebe.
Voltamos para a sala em uma grande roda, cada uma com seu shot cheio, e o meu com
suco de uva.
— Alexia começa!
As meninas todas estão exaltadas já. Quero nem saber a situação desse povo
amanhã. Aceno, pensando rapidamente em dizer uma coisa que eu não fiz.
— Eu nunca enviei nudes.
Jogo na rodinha, apesar de ter recebido um “quase nude” de Murilo uma vez. Mas
elas não precisam saber.
Assim que declaro, Letícia, Ísis e Luísa bebem fazendo o resto das meninas
gritarem, assim como eu, que gargalho.
Passei a vez para Letícia, que está do meu lado, enquanto Liz enche o copo das
três.
— Eu nunca dei um número de telefone falso pra alguém.
Então Lizandra bebe o dela, assim como Nat. E saem mais milhões de
gargalhadas com comentários tipo “vocês são más”, e passaram a vez pra mais nova da
turma, para fazer a roda girar.
— Eu nunca tomei pílula do dia seguinte.
Todas tomam, inclusive eu, provocando uma gargalhada geral. Quem nunca?
Depois das gargalhadas, chegou em Luísa.
— Eu nunca fiquei ou transei com um estranho na mesma noite.
Só Nat e Liz que bebem, porém Natasha, além de tomar o dela, bebeu os das
meninas próximas, provocando outra gargalhada geral. Não existe pessoa mais devassa.
— Agora eu sou universal, tá? — Nat provoca outra gargalhada.
Chega a minha vez novamente e fito as meninas, que estão sorridentes querendo
saber mais um poder meu.
— Eu nunca transei no trabalho.
Todas tomam, me deixando incrédulas.
— Pelo jeito eu sou a única, né? — pergunto, ainda boquiaberta.
— Coloca na sua listinha, sis — Nat debocha piscando o olho e jogo a almofada
que estava nas minhas costas na cara dela, que me devolve logo em seguida. E assim foi
passando a brincadeira, até chegar em Ísis.
— Eu nunca tive sexo com alguém com o dobro da minha idade.
Comenta, e só Liz bebe, fazendo careta não sei se pela pessoa ou pela bebida. Eu
e Nat fizemos um rápido contato visual, um olhar cúmplice e voltamos para a brincadeira.
Como só Liz tomou, acabou sendo a vez dela.
— Eu nunca usei comida durante o sexo. — Dá de ombros.
— Chantilly conta? — questiono e todas assentem. Eu tomo minha dose de suco
de uva e Ísis toma a dela, de vinho. As meninas fazem um coro arrastado de “ui”, caindo
na gargalhada.
— Alexia… Alexia… — Ísis faz graça pra cima de mim enquanto rio, dando de
ombros. Ela é tão safada quanto.
Rodou para Letícia novamente. E eu tomo, só que sozinha. Olho para as meninas,
que estão incrédulas. Sorrio abertamente.
— Alexia é mais fogosa do que eu pensei. Não é à toa que tá gravida de gêmeos
— Liz comenta, fazendo as meninas gargalharem. Qualquer coisinha faz elas gargalharem.
Esse clima é tão gostoso que penso em fazer mais vezes.
A brincadeira acabou depois delas enjoarem e fomos dançar. Minhas pernas estão
pegando fogo, mas estou amando e não quero parar tão cedo. Daqui a pouco subirei para
dormir, assim como elas, que já estão ficando esgotadas.
Amanhã teremos que acordar belíssimas e dispostas. E só em pensar nisso o frio
na barriga me consome.
Nem acredito que amanhã vou ser oficialmente a Senhora Montenegro e ter meu
Moreno como marido. Tivemos outras brincadeiras também, como conselhos. Cada uma
escreveu um e eu tive que adivinhar de quem era. O de Natasha não poderia ter sido
diferente: “sempre tenha pomada de assadura em casa”.
Subimos quase onze da noite. Ísis vai dormir aqui em casa comigo, pois amanhã
vamos cedo para o segundo dia de noiva, e como é minha madrinha com James do lado de
Murilo, nada mais justo!
Depois das meninas irem para casa de táxi, e meus pais voltarem logo em
seguida, pois vão dormir aqui também, caio na cama esgotada, mas não sem antes receber
uma mensagem de Murilo, que abri de modo ilegal, pois nem isso poderíamos fazer,
enquanto Ísis dorme do meu lado.
“Já se despediu do seu sobrenome e da vida de noiva? Amanhã será oficialmente
uma mulher casada. Nem te vi ainda e sei que vai ser a mais linda. Não vejo a hora de
finalmente te ver de noiva. Beijos do seu futuro Marido. Amo você!”
Leio aquilo com as lágrimas rolando no meu rosto antes mesmo de terminar. Até
de longe ele me desestabiliza. Passo a mão na barriga com tamanha felicidade.
“Mal posso esperar por esse acontecimento. Também amo você.”
Envio logo em seguida e me despeço para descansar. Minha barriga está em um
nervoso absurdo, mas de um jeito bom. Não canso de repetir: mal posso esperar por
amanhã, para ser a senhora Montenegro!
36
ALEXIA
Nosso casamento vai acontecer no mesmo local em que nos conhecemos, onde
aconteceu o desfile. Escolhemos esse lugar, pois, além de lindo, é bastante espaçoso e
arejado, e possui uma carga emocional para nós.
Chegamos depois de dar mais uma volta e minha barriga revira várias vezes.
Continuo sentada no carro, pensando o quanto minha vida mudou.
Nervosa, passo a mão nas pontas cacheadas do meu cabelo, verificando se a coroa
de flores está no lugar. Me recuso a chorar para não ficar com os olhos vermelhos. Eu
confesso que estou tremendo de ansiedade. O frio na barriga não me abandona há uma
semana.
Ainda não me caiu a ficha que vou casar. Que é real!
Meu pai me tira dos devaneios na porta do carro e eu saio com o coração a mil.
Quando me vê de noiva, quase chora. A cerimonialista me ajuda, segurando meu buquê de
rosas vermelhas
Andamos e paramos no corredor, perto da porta de um dos salões, onde vai
ocorrer a cerimônia.
Me posiciono no lado direito do meu pai, pego o buquê e respiro fundo três vezes,
pois está chegando a hora. É agora!
Quando os violinos da música ecoam, as portas se abrem e meu coração acelera
ainda mais, as minhas mãos suam e a boca seca. Estou muito nervosa, quase tremendo de
expectativa.
Assim que ele me vê entrando, põe a mão na boca com uma feição surpresa,
quase chorando. Fico com vontade de chorar ou correr para beijá-lo, mas me seguro, pois
se eu começar não paro mais.
Vejo meus sogros do lado direito, assim como os padrinhos do Moreno. E do lado
esquerdo, minha mãe e minhas madrinhas já emocionadas, olhando na minha direção.
A decoração está linda, com cores e flores em tom pastéis. Faço o caminho com o
coração parecendo uma escola de samba e rezando para não tropeçar e pagar mico. Minha
família está toda aqui.
Estou ansiosa para finalmente ficar do lado do meu futuro marido.
Chegamos em frente ao altar e meu pai me entrega ao Moreno. Vai para o lado de
minha mãe e, assim como eu, Murilo está com os olhos úmidos.
Moreno dá um beijo na minha testa e nas minhas mãos, e entrelaça nossas mãos
para nos viramos para o padre. Aos poucos a música abaixa até silenciar.
Olho para minhas madrinhas e Téo, que ficou do lado de Lizandra, e sorrio. Vejo
Téo falando “maravilhosa, arrasadora” sem som enquanto eu olho para ele, que está com
um terno arrasador com alguns detalhes dourados em destaque.
O padre dá início à cerimónia e tudo que eu consigo pensar é: eu estou casando
com meu Moreno. Meia hora depois ele pede para que falemos nossos votos.
Unimos nossas mãos direitas e Murilo é o primeiro a falar:
— Morena, eu não planejei nada pra falar, pois ficaria forçado. E mesmo se eu
planejasse, com certeza eu esqueceria tudo assim que eu te visse entrando. — Ele sorri de
leve e eu também, encantada. Escuto várias pessoas falarem “que fofo”, “que lindo”. E ele
logo prossegue. — Independente das dificuldades que encontramos pelo caminho, eu não
tenho dúvida de que é você que quero ao meu lado. A única coisa que prometo é te amar
fielmente durante toda a minha vida — finaliza.
Sorrio para ele com lágrimas nos olhos, e recebo de volta outro olhar molhado e
um sorriso ainda nervoso. Respiro fundo duas vezes, pois é a minha vez de falar e eu
também não preparei nada.
— Eu também não preparei nada. Pois eu também esqueceria e agora estaria
desesperada tentando lembrar. — Sorrio e algumas pessoas gargalham. — Aprendi que
somos errados para alguém na hora certa. Que mesmo com as dificuldades e barreiras, o
final compensa. Amar você foi uma das melhores coisas da minha vida. Eu prometo ser
fiel, te amar e respeitar sempre. E tentar fazer de todos os nossos dias como se fosse o
primeiro.
Termino meu pequeno voto deixando a mão dele na minha barriga, pois Nicole e
Tiago estão chutando e não consigo fazer o resto da declaração sem cair em lágrimas.
Trocamos as alianças e finalmente ele me beija. Primeiro beija minha testa, na
ponta do nariz, e em seguida me dá um beijo apaixonado e comportado. O beijo transmite
saudade e alegria. Sensação de plenitude e encaixe com euforia. Escuto o padre nos
declarar oficialmente marido e mulher. Nem esperamos a deixa.
A partir de agora eu sou oficialmente a Sra. Montenegro.
Assim que colocamos os pés para fora, somos recepcionados com bolhas de
sabão, deixando tudo ainda mais perfeito. Aposto que isso foi ideia de Ísis.

Enquanto todos estavam sendo encaminhados para o espaço da festa, corri com
Ísis para trocar o vestido. Vou pôr um curto para o pós-cerimônia. Nunca que conseguiria
ficar pra cima e pra baixo com o outro. Incomoda demais!
Abro a porta e Murilo está recostado me esperando. Quando me vê, me mede de
cima a baixo. Ele está sem o terno já. Só a camisa social, colete e gravata.
— Me dê cinco minutos — ele fala já me arrastando para dentro de novo.
Bate à porta, atacando minha boca e pescoço. Gemo, segurando no seu braço.
Nos beijamos, matando a saudade um pouquinho. Me controlo ao máximo para não abrir a
camisa social dele e amassá-la.
No meio do agarramento, ele sobe a mão pelas minhas pernas em direção à minha
calcinha e eu me arrepio, ficando molhada.
— Murilo, não! — Detenho com muito sacrifício.
— Quero saber só a calcinha que tá usando. Você sabe que sou curioso.
— Falta um minuto! — Isis grita do outro lado da porta e eu rio.
— Agora não. Eu poderia te mostrar agora, mas não íamos conseguir nos
controlar. E não quero ninguém nos pegando no flagra. Mais tarde, Marido! — Sorrio para
ele, que devolve o sorriso em negação e me dá mais um beijo.
Nos separamos com muito custo depois de milhões de selinhos.
— Vamos. — Saímos de mãos dadas e seguimos com as meninas para o salão.
Entramos juntos no local. Sorrimos para todos. Parece um sonho. Seguimos até o
centro e olho para o Moreno, que sorri com aquele jeito maravilhoso que só ele sabe.
Cumprimentamos as pessoas. Tem gente para todo lado conversando, tirando
selfies e bebendo. Descemos para o centro da pista, para nossa primeira dança de casados.
Starving, a música que eu escolhi, começa a tocar.
Se fosse para escolher uma trilha sonora, acho que seria essa. A música de Murilo
e Alexia.
— Além disso, além disso você faz coisas ao meu corpo. E eu não sabia que
estava faminta até que provei você… Não preciso de borboletas na barriga quando você
me dá o zoológico inteiro.
Cantarolo para ele baixinho enquanto dançamos.
— Quanto mais te conheço, mais te quero. Algo dentro de mim mudou…
Nem acredito que estou casada, e com esse homem. Estou tremendo, mas de um
jeito bom. Minha barriga assanha com borboletas e pássaros. Me mantenho quietinha no
seu braço enquanto dançamos. E eu tenho ainda mais certeza que escolhi a pessoa certa.
Minha sogra e minha mãe estão que não se aguentam, vendo o primogênito e a caçula
casados.
Antes de chegar na metade da música, escuto um barulho alto de hélices, tão alto
que chamou a atenção de praticamente todo mundo. Olho para cima e vejo um helicóptero
pequeno, com uma faixa pendurada.
— Sua surpresa chegou. — Murilo sorri para mim, ansioso e feliz. Sorrio
também, mas me atento a olhar para cima novamente.
Surpresa? O que Murilo aprontou?
E leio a faixa: “Morena, que o nosso amor alcance o céu e que seja tão infinito
quanto. Te amo!”
Meu Deus! Meu Moreno é muito lindo!
— Que lindo, Moreno! — Encantada, sorrio.
— Qualquer coisa que eu fizer ainda será pouco pelo que você merece.
Me enlaça novamente pela cintura para voltarmos a dançar, e ponho minha
cabeça no seu peito, apaixonada demais pelo dia de hoje. Escutamos assovios, aplausos e
gritos de todo mundo, e quando me dou conta, percebo coisas caírem em nós. São pétalas!
Não! Chuva de pétalas vermelhas?
Eu não acredito! Murilo se superou completamente nessa surpresa. Nunca
imaginaria!
— Murilo! — mal consigo disfarçar a plenitude desse momento. E sequer quero
disfarçar, nem ele, com seu sorriso contagiante. — Te amo, muito! Eu estou apaixonada
nessa surpresa linda! — sussurro no ouvido dele, não segurando mais minha emoção
enquanto dançamos sob a chuva.
— Te amo mais, Senhora Montenegro — devolve enquanto a música se
encaminha para o final.
Meu Deus, eu estou completamente apaixonada. Chuva de pétalas! Que incrível!
Só vi isso umas duas vezes em filme. E hoje, é comigo que acontece. Eu estou vivendo um
sonho! Por favor, não me acordem!
As pessoas aplaudem ao fim da música e sorrio ainda mais.
Depois do brinde “aos novos Sr. e Sra. Montenegro”, comemos, bebemos e
dançamos. A decoração e a festa estão lindas, do jeitinho que planejei.
O Moreno me puxa pela cintura e me arrasta para um canto, aproveitando a
euforia do povo no buquê. Me imprensa na parede e me beija, o beijo que não
conseguimos dar desde a cerimônia. Me separo dele, ofegante.
— Vamos? — sugiro, um tanto desejosa.
— Vamos, acho que não consigo ficar mais tempo sem saber qual a calcinha que
você tá usando, e quero matar a minha ânsia de você.
— Não fala isso. Tô com vontade de você desde que deram essa ideia louca de
nos separarmos. Nem deu tempo de a gente matar um pouquinho a saudade — provoco e,
contra a boca dele, passo as mãos nos seus braços, cobertos somente pela camisa social.
Nos despedimos e saímos da festa o mais rápido que conseguimos. Todos nos
acompanharam até o carro com a seguinte inscrição atrás: “Just married”, e alguns
balões. Me despeço e entro no carro, mas não antes de Liz e Nat sorrirem maliciosamente
para mim. Natasha falar em mímica: “me orgulhe”.
Que venha a noite de núpcias!
LUA DE MEL - BÔNUS
Aliso minha barriga, que já está bastante perceptível, com meus pequenos dentro,
enquanto olho para fora da janela a paisagem e os carros passando rapidamente.
Só em pensar que faltam pouquíssimos meses para eles nascerem, fico eufórica e
amedrontada com o que me espera. Minha vida deu um giro fenomenal.
Mal posso esperar para conhecê-los e ver se parecem comigo ou com Murilo.
Como serão os olhinhos, o formato da boca, se vão ter os dois tracinhos nas bochechas
como eu, ou o formato do nariz e a cor dos cabelos. Estou ansiosa por isso, e
principalmente por pegar e dizer “são meus”.
E, dadas as emoções, nem acredito que finalmente estou casada. E o melhor de
tudo, com o meu Moreno que tanto amo. Parece irreal, pois pela lógica ainda deveríamos
ser namorados, nos curtindo, e não já marido e mulher com duas crianças prestes a nascer.
Mas a nossa certeza e a necessidade de estar juntos acima de qualquer coisa deixa tudo
pequeno, até a racionalidade. E não me arrependo, pois entre razão e a emoção eu sempre
fui emoção, e mesmo passando por poucas e boas, estamos aqui felizes.
Murilo estava achando melhor deixar para viajarmos amanhã pela manhã para eu
não cansar, porque são algumas horas de viagem até a ilha. Mas não me importo, não vejo
a hora de chegar lá e eu não penso em cansaço quando tenho esse homem oficialmente
meu do meu lado e disposto a tudo por mim.
— Acho bom estar suspirando por mim — Murilo chama minha atenção.
Olho para ele, que ainda está com a camisa social branca. A diferença é que está
sem o colete, com dois botões abertos e com as mangas dobradas. Muito gostoso, e o
melhor de tudo, meu de papel passado.
— Eu sempre estou suspirando por você. — Tateio, procurando sua mão, e em
seguida a pego, alisando a aliança.
— Tá sentindo algo? Tá quietinha. Se não estiver bem eu peço pra parar o carro
— diz, preocupado.
— Não, eu tô bem — o tranquilizo, sorrindo.
— Tudo bem.
— Tô tão feliz, parece que é um sonho — confesso, recostando o rosto no banco.
— Sim. Eu também sinto isso. — Sorri, me derretendo.
Murilo se desprende do cinto e senta no meio, mais perto de mim. E em seguida
coloca o outro cinto e me puxa para eu colocar minha cabeça no seu peito, e assim fico.
— Não vejo a hora de tirar essa sua roupa — sussurra no meu ouvido e eu me
arrepio.
— Não se atiça uma mulher grávida — brinco.
Ele sorri e me dá um beijo. Aliso sua bochecha e ele fica que nem um gatinho
manhoso, recebendo as carícias enquanto passa os dedos de leve na minha barriga.
No meio do caminho eu estava entediada e cansada, como ele previu. Mas como
sempre, ele me distraiu com beijos e carinhos até eu dormir e fizemos o resto do percurso
tranquilamente.
Ele acabou descansando também e acordamos quando estávamos perto.
— Vem, amor — ele me chama, estendendo a mão para pegar na minha.
Mesmo à noite vejo que o local é lindo. Tem um clima agradável e gostoso.
Eu e Moreno descemos do carro e logo um menino nos recepcionou, pegando
nossas malas. Assim que entramos no resort, uma moça nos cumprimenta com sorriso
aberto, me fazendo sorrir em resposta.
A recepção é clean e meio praiana, mas sem tirar a sofisticação do lugar, que é
perfeito. Nem entrei direito e já estou encantada. Amei! Melhor que viajarmos pra fora.
Deixo Murilo conversando com a funcionária enquanto olho todo o lugar
silencioso, eufórica. O cenário natural deixa qualquer um inspirado. Um funcionário nos
encaminha para onde ficaremos. Mal posso esperar para chegar.
— Agora somos só eu e você — Murilo sussurra assim que a porta fecha e me
imprensa nela com as suas duas mãos apoiadas na madeira.
— Sim. Só nós dois — digo de volta.
Seguro no seu ombro e ele me segura pela cintura e me beija como se não nos
beijássemos há anos. Coloco a mão pelos seus cabelos quando ele intensifica mais, me
apertando com cuidado, pois agora ostento uma barriga saliente.
Gemo, sentindo ele fazer coisas com meu corpo só com um beijo.
— Quer conhecer o quarto?
— Quero — sussurro, dando selinhos nele.
Murilo reservou nada mais, nada menos que um bangalô só nosso na área verde,
perto da praia. E eu digo que é luxuosíssimo. Com cama king size forrada num lençol
branco impecável e algumas pétalas em cima, frigobar e uma janela enorme com uma
vista panorâmica de tirar o fôlego, através de uma porta de vidro para uma sacada que me
deixa ainda mais apaixonada.
Seguimos juntos para a sacada e dou de cara com uma vista incrível para o mar e
um acesso direto para a piscina particular.
O bangalô todo tem um charme confortável. Bem acolhedor. Meu Moreno,
sempre me surpreendendo, impossível não se apaixonar.
— Gostou? — Murilo pergunta por trás de mim, me abraçando. Estamos na
sacada espaçosa do quarto vendo o céu já escuro e as ondas quebrando sob a luz do luar.
— Eu amei. — Me viro para ele, enlaçando seu pescoço. — Obrigada. —
Repouso minha cabeça no seu ombro.
Ele segura no meu pescoço e eu olho para ele para ser presenteada com um
sorriso maravilhoso.
— Linda — me elogia e em seguida me beija.
Ainda nos beijando, sigo com ele para dentro do quarto, pois Deus me livre ser
expulsa da pousada com menos de uma hora de chegada por atentado ao pudor.
Nos descolamos e ele me senta na cama, indo pegar duas taças em uma pequena
mesa posta com vinho e algumas outras coisas, como morangos. Murilo serve as duas
taças, a minha com suco de uva, e traz para perto da cama, junto com os morangos, me
entregando a taça.
Senta na cama, me colocando no seu colo de lado, beijando meu ombro.
Brindamos juntos em meio aos sorrisos. O meu é o maior, claro!
— Nem acredito que estou casada, sabia? — digo, olhando para ele com minha
taça na mão.
— Você agora é minha, sem restrições.
Sorrio para ele enquanto Moreno retribui. Parece sonho, estou realizada demais.
Bebemos um pouco e Murilo coloca um morango na minha boca, dando um sorriso safado
logo em seguida. Tira a taça da minha mão, colocando na bancadinha do lado da dele.
Ficamos em pé e ele me ajuda a tirar o vestido. Abre o zíper, plantando rápidos
beijos onde seus dedos passaram. Arranca do meu corpo, deixando cair no chão ao redor
das minhas pernas enquanto desce a mão para me apalpar. Solto um pequeno gemido
baixo, imprensando minha bunda nele.
Me vira de frente, segurando na minha nuca para me beijar. Nossas línguas se
envolvem uma na outra enquanto sinto nossos corpos se arrepiarem juntos. Agarro ele na
mesma ânsia com que me beija, o trazendo para mim com mais urgência. Desabotoo sua
camisa, colocando minha mão por dentro para tocar sua pele. O beijo está arrebatador,
intenso, me deixando em êxtase.
Desço a mão, desabotoando seu cinto e abrindo sua calça enquanto ele distribui
beijos e pequenas mordidas no meu pescoço e orelha, me arrepiando completamente.
— Deita, vai — pede ofegante e eu obedeço. Assisto ele arrancar a camisa e a
calça, ficando de cueca, mostrando todo o volume. Gostoso!
Podem passar mil anos, que sempre vou achar que ele está ficando mais bonito a
cada dia.
Vem para a cama, beijando minha barriga, e sobe para os meus seios, arrancando
meu sutiã, apalpando-os logo em seguida, me deixando ofegante e mais derretida.
Continua a me instigar com beijos maravilhosos pelo meu corpo, descendo pelas
minhas pernas.
Arqueio as costas, sentindo sua barba fazer o caminho, me dando uns choques e
arranhando.
Para na minha calcinha, arqueando as sobrancelhas, e continua a me olhar com os olhos
que me queimam totalmente.
Ele a arranca logo em seguida, abrindo minhas pernas.
— Murilo! — ofego, contraindo os dedos dos pés quando sinto sua língua
gostosa. Me contorço ainda mais enquanto ele distribui beijos e lambidas.
Puxo e repuxo o lençol, sentindo sua barba me arranhar de um jeito gostoso,
assim como sua língua, que faz um maravilhoso trabalho.
Sem me importar com mais nada, gemo quando o orgasmo devastador me atinge.
Ofegante, levo minha mão em direção à sua bunda, onde só tem a cueca
impedindo de tê-lo dentro de mim, e aperto forte.
— Vou te comer bem gostoso — sussurra no meu ouvido o que tem em mente e só
consigo ofegar, levando minhas mãos para suas costas, e desço de novo para o cós da sua
cueca, tentando tirá-la.
— Por favor.
Murilo dá um último beijo e puxa a cueca, mostrando tudo aquilo. Me chama e
vou para a ponta da cama, sendo virada logo em seguida, ficando de quatro.
— Hummm — geme, me saboreando novamente, e sinto um arrepio maravilhoso.
Mas logo a língua é substituída pelo seu pau, que passa pra lá e pra cá em toda a extensão
antes de entrar aos poucos em mim e eu me sentir cada vez mais aberta para dar passagem
a ele.
Gemo, agarrando a primeira almofada que vejo. Murilo sai quase todo e volta
novamente, me dando mais tesão.
— Deus! — exclamo quando ele começa a pegar um ritmo bom.
— É Murilo mesmo — comenta, ofegante, sem parar de se mover. A sensação dele no
meio das pernas entrando e saindo é maravilhosa.
Moreno vai cada vez mais rápido e gostoso, me fazendo revirar os olhos de puro
prazer.
— Senta aqui.
Sai de dentro indo para a cama e dá dois tapinhas na sua perna, só me esperando.
Rastejo até onde ele está e sento no seu colo, sentindo me invadir cada vez mais.
Ofego, soltando ar pela boca quando o sinto completamente dentro.
— Rebola.
Murilo pede, mordendo a boca e levando a mão imediatamente para minha
bunda.
Obedeço, indo pra frente e pra trás. Ultimamente essa pra mim é a melhor
posição para transar. Além de senti-lo mais, é melhor por causa da barriga e aqui eu fico
no controle.
Murilo agarra com a boca um dos meus seios, massageando e acariciando o outro,
e depois distribui beijos no meu pescoço. Puxa e torce de leve, arranha com a barba ao
redor e em seguida lambe meus mamilos. Rebolo no seu colo enquanto ele geme no fundo
da garganta, aumentando a vontade de beijá-lo cada vez mais.
Nada mais gostoso que homem com respiração entrecortada.
Nossa noite foi embalada por uma sinfonia de gemidos, suspiros e promessas.
Sussurros ao pé do ouvido e olhares de desejo. A cada toque, a cada olhar, era como se
estivéssemos nos tocando pela primeira vez. Às vezes com pressa, às vezes calmos,
apenas curtindo, mas nunca deixando de nos olhar.
Murilo deita na cama e começa a estocar. Cada vez mais rápido, com bastante
vontade e intensidade, e eu fecho os olhos absorvendo tudo entrando e saindo de dentro de
mim com urgência.
Ele estoca forte, do jeito que só vai quando está perto. Aumenta a velocidade das
chupadas nos meus seios enquanto reveza de um para outro. Ofego e arrepio cada vez
mais. Ele vai e volta rapidamente mais algumas vezes enquanto eu tenho uma pequena
convulsão, agarrando os lençóis.
Ele geme de um jeito gostoso enquanto goza e eu desabo na cama com ele.

Dentro da banheira de hidromassagem com espuma e à luz de velas, Murilo e eu


trocamos carícias apaixonadas.
— Amo você assim. Atencioso, cuidadoso e apaixonante. Não muda, por favor
— peço, olhando para ele.
— Você é o motivo de eu ser assim. E não vou mudar.
Sorrio abertamente para ele e, por sua resposta, com o coração aos pulos, viro
para frente e ele coloca a mão na minha barriga desnuda sob a água. Coloco a minha por
cima da dele e as nossas alianças reluzem.
— Você é tudo que eu procurava.
Sorrio ainda mais por isso. É gostoso e estranho, de um jeito bom, saber que
estamos casados.
A água esfria e Murilo me ajuda com o roupão, para voltarmos ao quarto.
— Nem acredito que estamos casados, sabia?
Olho bem nos seus olhos escuros que tanto me fazem admirá-lo e ele pega minha
mão, levando-a na boca, onde sustenta um sorriso contagiante.
Fomos deitar para dormir, esgotados depois de mais uma sessão gostosa de sexo
carinhoso.
Hoje eu me senti amada, desejada e especial como nunca. Alisa minha bochecha
com o quarto escuro, só com a claridade da lua que entra sorrateiramente pelo quarto.
— Amo você.
Beijo sua boca, alisando seu queixo em seguida.
Relacione-se com alguém que te ame da forma mais bonita, que te ame sem
receios, que te ame. Alguém que desperte teu sorriso fácil, que te guarde num abraço, que
lute com você e por você. Namore com alguém que te faça morrer de amor e tesão, que te
faça morrer de rir. Noive com essa pessoa, que te deixe com a autoestima lá em cima e que
mostre pra todo mundo que tem orgulho e sorte de ter você ao seu lado. Por fim, case com
ela e tenha filhos!
Aposto que você quer, no final da sua vida, olhar para trás com o coração cheio
de felicidade, sem falsa modéstia, com plena convicção e serenidade, e saber que foi bem-
amada. Eu tive a sorte de ter bebês gêmeos com o cara que eu amo e por quem me sinto
completamente amada. Muitos momentos da minha vida me fizeram acreditar que eu não
conseguiria um terço do que eu tenho hoje. E nada mais gostoso que mostrar e se dar
conta que você foi mais, muito mais do que todos imaginavam.
EPÍLOGO
ALEXIA
MESES DEPOIS…

— Murilo! — grito assustada do banheiro, vendo o aguaceiro no chão. Ainda é


madrugada, quatro da manhã, por aí. Levantei para fazer xixi mais uma vez, como sempre
faço, e antes de chegar achei que tivesse feito nas calças, mas foi incontrolável, até eu
perceber que foi a bolsa.
Eu estou com trinta e três semanas e tinha marcado a cesariana para daqui a uma
semana, quando completo trinta e quatro, pois, como são gêmeos, a médica achou mais
seguro por ter grande risco de nascerem prematuros. E fez de tudo para que eles ficassem
aqui o máximo de tempo possível.
Desde o final da tarde sinto dores nas costas, mais que o normal, aquela dor que
ia e voltava sempre, sem contar que estava sentindo cólica nesses últimos dois dias.
Achei que fosse coisa do final da gestação. Minha barriga já estava baixa e dura,
pois um dos dois já estava encaixado. Era Tiago, foi encaixar nos quarenta e cinco do
segundo tempo, pois estava sentado.
— O que foi?
Ele aparece com a cara amarrotada de sono e assustado.
— Não conseguiu chegar a tempo?
Pergunta ainda zonzo, olhando o líquido no chão.
— Não! Foi a bolsa! — grito quando sinto uma pequena pontada. As dolorosas e
temidas contrações pelo jeito começaram.
— Murilo! — berro quando ele continua parado, sem ação, me olhando, apenas
com um sorriso idiota.
— Ahn… Hospital? — questiona, começando a se mover sem saber ao certo o
que fazer primeiro.
— Primeiro liga pra Rita. Era pra nascerem semana que vem — oriento.
— Vou ligar. Venha.
Ele finalmente toma o choque de realidade, me levando para o quarto pela mão,
ainda com o sorriso besta no rosto.
Sentada na cama enquanto Murilo liga, coloco a mão na barriga, mentalizando
que tudo vai correr bem, que falta pouco tempo para finalmente tê-los comigo e com
Moreno.
— Ela falou pra gente contar o tempo das contrações e que é pra irmos pro
hospital, que ela já tá indo também.
— Então vamos. — Assinto.
Vou para o banheiro tomar um banho rápido com Murilo questionando: “vai
mesmo parar e tomar banho?”, a cada dois segundos enquanto me segura. As contrações
começaram, porém não as estou sentindo em intervalos muito curtos ainda.
Murilo rapidamente veste uma roupa, pois estava de cueca apenas e me ajuda,
colocando um casaco e um vestido em mim.
Descemos a escada depois dele correr ao quarto dos gêmeos para pegar as coisas
antes, e seguimos para o carro dele. Recosto minha cabeça no banco, alisando minha
barriga em nervosismo puro.
Estou com uma dor insuportável nas costas. Murilo toda hora passa a mão no
cabelo, está quase tremendo.
Chegamos no hospital e logo pegam uma cadeira de rodas para mim. Seguimos
para a emergência, pois tive mais duas contrações nesse meio tempo de casa até aqui.
As contrações não estão tão rápidas, mas doem muito. Rita chegou logo em
seguida para fazer o exame de toque, que mostra que estou com cinco centímetros de
dilatação ainda. Faltam mais cinco.
Fiz a ultrassom e estão encaixados, com batimentos cardíacos normais. Minha
pressão está boa, pois estou tentando me manter calma o suficiente para não ter nenhum
problema.
As contrações foram ficando mais intensas, doloridas e cada vez mais rápidas,
conforme o tempo foi passando depois de eu caminhar pra lá e pra cá, como se alguém
apertasse a minha barriga com força pelo lado de dentro. As dores mais fortes da minha
vida.
E começaram a piorar, assim como o nervosismo de Murilo, que vi tremer na
base quando me viu contorcendo o rosto, gritando por causa do incômodo insuportável.
Semelhante aos outros, porém muito pior. E Rita avisa que já está na hora.
Ele até então estava do meu lado fingindo que estava bem, tentando me manter
calma.
— Em dois minutos tô lá — escuto um Murilo apreensivo falar perto de mim e
aceno.
Sou levada para o centro cirúrgico e só consigo pensar que em pouquíssimo
tempo estarei segurando meus dois bebês e finalmente olharei no rostinho de cada um.
Murilo aparece logo em seguida com a roupa e a touca, ficando do meu lado e
segurando minha mão esquerda. A sala tem mais enfermeiros que o normal.
— Pronta? Faça força quando a dor vier. E tente se manter calma e focada — Rita
me recomenda e, de olhos fechados mesmo, assinto.
Calma e focada, calma e focada, calma e focada…
Repito sempre que a dor dilacerante que começa na região lombar se espalha
rapidamente para a frente, na parte inferior da virilha.
Grito várias vezes, apertando a mão de Murilo, que está claramente apreensivo do
meu lado.
— De novo, Morena! — Murilo me incentiva a cada grito que dou.
— Já estou vendo a cabeça! — Rita me avisa e faço mais força, sentindo a dor
enorme pelo meu corpo. Parece que não vai acabar nunca!
— Não consigo! — choramingo, com muita dor.
— Falta pouco, amor.
Murilo passa a mão na minha testa suada, colocando alguns cabelos que saíram
para dentro da touca.
Olho para ele e meneio a cabeça, me preparando para fazer força de novo. Grito
mais duas, três vezes, até finalmente ouvir o choro potente de um pequeno bebê ao mesmo
tempo que fito Murilo, observando concentrado. Eu poderia dizer que esse é um olhar de
admiração, com um sorriso enorme vendo o bebê chegando.
Sorrio cansada, vendo tudo. Não poderia ser mais maravilhoso.
— Veio a menina! — Rita nos avisa a chegada de Nicole e não consigo controlar
as rápidas batidas do meu coração acelerado.
Com o coração transbordando, vejo a pequena que ainda chora, mostrando que
acabou de chegar ao mundo, suja e um pouco roxinha, e ainda assim eu a acho a coisa
mais linda que já vi.
— Ela é linda demais.
Murilo chora ao vê-la, da mesma forma que eu. Apaixonados!
Entretanto, ela logo é tirada do meu peito pela pediatra para fazer todos os
exames necessários.
— Falta o bebê número dois — Rita me avisa, sorrindo, e eu aceno em
concordância, ainda extasiada com minha menininha. Só falta meu menino.
Ela apalpa minha barriga, fazendo o exame de toque logo em seguida para saber
se Tiago está encaixado. Ela explica tudo o que faz para ficarmos cientes.
— A cabeça dele está baixa, próxima ao colo do útero. Vou romper a bolsa dele
pra começar a sentir contrações de novo — ela explica enquanto arrumo a máscara e eu
aceno, sentindo o líquido incontrolável descendo novamente pelas minhas pernas.
— Você vai começar a sentir contrações em pouco tempo. O lado bom é que ele
vai sair mais rápido. — Assinto ainda olhando para Murilo, que não consegue tirar o
sorriso besta da cara. Mas logo o sorriso e o alívio são substituídos pelas contrações
ritmadas e dolorosas novamente, depois de Murilo cortar o cordão dela para esperar as
benditas contrações reiniciarem com força total.
Não passam nem dez minutos para a dor vir rápido, como se estivesse me
partindo em duas.
— Lembre-se: tente se manter calma e focada. Ele virá mais rápido — Rita me
incentiva ao começar tudo de novo; mais contrações e mais força com choro de dor.
— Tá doendo muito! — grito na sala, assustando Murilo, que está mais
apreensivo do que nunca.
Todos da sala me incentivam a fazer força.
Falta pouco. Falta pouco. Falta pouco — repito mentalmente como um mantra,
apertando a mão de Murilo a cada grito. Ele continua ao meu lado, repetindo: “está tudo
bem”.
Tiago logo chora, tão potente quanto Nicole, mostrando que nasceu, e mais
rápido que a irmã, como previsto.
Murilo já está chorando comigo e com o bebê, ouvindo o melhor som que existe
no mundo: o choro do nosso filho recém-nascido.
Ele logo apareceu para ficar no meu peito, como a irmã. Tão pequeno e frágil,
assim como ela. Ambos de cabelos moreninhos escuros, como o pai.
Eles são as coisas mais lindas que eu já vi na vida! E pelo olhar cheio de lágrimas
de Murilo, vejo que ele sente o mesmo.
Se me perguntarem hoje qual foi o melhor momento da minha vida, direi que foi
exatamente esse!
Ter Murilo comigo nesse momento foi tão importante… Estar grávida é uma
experiência cansativa, emocionante e, acima de tudo, recompensadora.
Minha ansiedade aumentou ainda mais quando desci pro quarto. Mal posso
esperar para vê-los de novo e amamentá-los.
Menos de dois minutos depois, Murilo apareceu do meu lado com um sorriso que
não cabe nele.
— Acabei de chegar do berçário. E já avisei a todos.
Moreno se aproxima, dando um beijo na minha cabeça, me recepcionando com
um dos seus sorrisos lindos.
— Tô ansiosa — comento. Estou morrendo de cansaço pelo esforço e sono
atrasado. Mas não descanso até pegar os dois no colo e mimá-los muito.
— Eu também. Eles estão chegando já.
Beija minha bochecha e eu sorrio abertamente. A enfermeira chega, me
encontrando abraçada a Murilo, trazendo um carrinho com os dois. Meu coração dá um
salto, mal esperando a hora de tê-los nas minhas mãos. Finalmente vou carregar meus
filhotes no colo.
Tiago, com uma roupinha branca, como a irmã, foi o primeiro a chegar nos meus
braços e me senti a pessoa mais feliz do mundo pegando aquele pequeno serzinho.
Nicole veio logo em seguida, com o auxílio da enfermeira, para eu conseguir
segurar os dois de uma vez, já que não tenho prática com isso.
— Acha que consegue amamentá-los? — uma delas me questiona e eu assinto. —
Vou colocar um depois do outro.
Então Tiago ficou comigo e Nicole foi novamente para o colo da enfermeira, sob
o olhar de Murilo, como um macho alfa protegendo as crias.
Tentei colocá-lo para mamar, para dar espaço a Nicole, porém, no momento que
ele sugou, senti uma dor insuportável, arqueando as costas.
A enfermeira percebeu e chega mais perto.
— Tenta colocar todo na boca dele.
Obedeço e a dor aliviou um pouco, mas ainda dói. Amamentar é assim?
Nicole veio logo em seguida para meu colo e, mesmo com um pouco de
dificuldade, consegui amamentar e segurar os dois ao mesmo tempo. Elas saíram para nos
dar privacidade e Murilo veio para meu lado babar as crias. Ele até comprou uma
almofada para amamentação de gêmeos, mas esquecemos de trazer.
Olho meus dois bebês com uma sensação maravilhosa a se espalhar pelo meu
corpo.
Sinto que valeu a pena cada contração, cada lágrima e todo o sofrimento, vendo-
os mamando, lindos e cheirosos no meu colo.
— Eles são lindos demais!
Murilo está que não se aguenta do meu lado. Apenas assinto, tirando rapidamente
meus olhos deles para olhar Moreno observando os dois e sorrindo bobo.
Os dois adormecidos e mamando. Provavelmente cansadinhos. São os pequeninos
mais lindos do mundo.
Têm os cabelos escuros, como imaginávamos que viriam. Entretanto, em um tom
mais escuro, igual ao de Murilo, pois o meu é um pouco mais claro. Os dois nasceram
com bastante cabelo e se parecem bem pouco. Pelo menos é o que dá para perceber no
momento.
Tiago abriu os olhos preguiçosos rapidamente e vejo duas grandes bolas escuras.
Automaticamente abro um grande sorriso, assim como Murilo, tão encantado quanto eu.
— Quer segurar, Moreno? — questiono quando vejo que Tiago largou o peito de
vez.
— Quero!
Acena como um menino que está prestes a embarcar em uma coisa muito louca.
Com cuidado, ele o pega do meu colo, colocando no seu.
— Ei, papai — Murilo sussurra, pegando a mãozinha dele e a levando ao nariz
para sentir seu cheirinho, enquanto abre um sorriso ainda maior ao escutar o bebê
choramingar, dengoso.
— Ele é lindo, né? — Murilo comenta sem tirar os olhos do bebê.
— Muito. Nicole também é a coisa mais linda.
Sorrio mais abertamente, fitando minha bebê mais linda com essas bochechinhas
rosadas, ainda mamando.
— Os dois são lindos. Eu tô apaixonado por eles.
Fito meus dois moreninhos juntos e meu coração se enche de tal forma que não
consigo explicar. Parece que vai transbordar de amor.
Analiso Nicole alisando sua mãozinha, sentindo a textura gostosa, fina e macia de
pele de bebê.
Olho-a e cheiro sua mãozinha. Estou muito apaixonada por eles.
— Melhor presente da vida.
Murilo senta do meu lado ainda com Tiago adormecido no colo e me dá um
selinho.
— Concordo plenamente. — Sorrio extasiada com nossa família finalmente
completa.

Apesar de minha gravidez ser de gêmeos e marcada para ser uma cesárea, foi
tranquila, sem complicações como pressão alta ou outros agravantes. Não houve
necessidade de UTI, incubadora ou banho de luz para meus pequenos.
Meus filhotes nasceram em uma quarta-feira e hoje, sexta, estou voltando para
minha casa com meus dois amores da vida. Aliás, três, contando com meu Moreno lindo
que não saiu do meu lado para nada.
Apesar da primeira noite no hospital ter sido cansativa e tensa, por conta da
amamentação cronometrada, pois nem sempre eu conseguia segurar os dois do modo certo
e de primeira, foi maravilhoso.
Voltamos para casa à tarde e, no trajeto, ao notar o carro balançar mais com mais
dois integrantes dentro e adormecidos, penso que minha vida não poderia estar melhor.
Um marido maravilhoso, dois filhos lindos e, acima de tudo, feliz!
Sento ela do meu lado, vendo a pequena bebê que é a coisa mais gostosa desse
mundo. Não canso de olhá-la.
Entro para o nosso quarto com os dois no colo para dar de mamar, enquanto
Murilo toma banho para dormirmos um pouco, já que para a gente não existe mais essa de
ter hora pra dormir ou comer.
Fito meus dois bebês agora com roupas de manga. O cabelo de Tiago é liso como
o meu, enquanto o de Nicole tem umas ondinhas discretas nas pontas, igual ao de Murilo.
Sem contar que os olhos dos dois são bem pretos como os dele. Pelo jeito eu tive dois
“Murilos”, um deles em versão feminina.
Nesses poucos dias percebi que os dois são muito semelhantes. Sofri tantas dores
e incômodos, sem conseguir dormir e nem andar direito com dor nas costas e pés, sem
contar o parto, para nascerem iguais a ele. Tem graça!
Eu não paro de sorrir à toa. Parece que não vou me acostumar nunca, que ainda é
um sonho louco.
Ver minha barriga crescer cada vez mais e saber que tinha duas pessoinhas dentro
e agora vê-los aqui comigo, mamando, é muito irreal e gostoso. Olho para cima e vejo
Murilo olhando bobo nós três na porta com os cabelos molhados e de short fino, sem
camisa. E meu peito explode de um jeito bom. Como não o amar? Parece que foi ontem
que nos conhecemos e hoje temos dois bebês lindos.
— Dormiram? — questiona e eu aceno enquanto ele vem na nossa direção.
— Sim.
Guardo os seios com os dois dormindo em meu colo. Murilo pega Tiago, que
estava mais perto dele, para arrotar, enquanto eu levanto com Nicole para ela arrotar
também. Seguimos para o quarto deles e logo deitamos os dois, cada um no seu berço,
pela primeira vez.
Cada primeira vez que vivencio é maravilhosa. Assim como Murilo que, para o
senhor sabe tudo, se embolou todo trocando fralda.
— Não consigo parar de olhar. — Murilo me abraça por trás, olhando os dois,
cada um em um berço, dormindo quietinhos.
— Nem eu — sussurro para não fazer barulho.
— Tome banho pra descansar. Daqui a pouco é hora deles mamarem de novo —
Murilo comenta no meu ouvido no mesmo tem de voz que usei com ele e assinto, parando
de fitar Nicole.
Sigo de volta para o nosso quarto a fim de tomar um banho relaxante. Estou
cansada, mas parece que não vou conseguir me desligar para dormir. Só quero ficar lá
olhando eles dormindo.
Saio do banho vestida e sigo pela casa para encontrar Murilo ainda lá dentro do
quarto dos dois. Encontro meu Moreno com a pequena no colo. A cena é linda e eu fico
ainda mais derretida.
— Tem que dormir, papai. Mamãe precisa descansar e papai também.
O Moreno está conversando com a Nicole, que está quietinha o olhando
hipnotizada. Pelo jeito não sou só eu que fico em transe com a voz desse homem.
— Acordou, foi? — questiono baixo. Murilo me vê e sorri do jeitinho que me
cativa, e põe a pequena no berço de volta.
— Estava resmungando. Mas já tá quase adormecida de novo.
Aceno para checar Tiago, que dorme quieto. Não existem palavras suficientes
para descrever o sentimento de ser mãe e, quando eu o olho, meus sentimentos triplicam.
Sinto o abraço dele de novo por trás, deixando um beijo na minha bochecha.
Toda vez que ele me abraça eu tenho a sensação de encaixe, como se nossos
corpos fossem feitos para ficarem entrelaçados.
— Vamos descansar um pouco — me chama.
— Me deixa checar mais uma vez.
Vejo se os dois estão respirando direitinho e se não tem algum jeito deles se
sufocarem. O meu amor por eles é inexplicável e incondicional. Eles sem dúvida foram as
melhores pequenas grandes coisas que aconteceram na minha vida, assim como o pai.
Saímos juntos de lá, deixando a porta aberta, e logo deitamos juntos abraçados,
com as pernas entrelaçadas, sentindo o carinho gostoso nos meus cabelos.
Agora vejo que tudo que passei foi necessário para estarmos aqui desse jeitinho.
Agradeço a cada ex que passou na minha vida, cada um deles me ensinou uma coisa. Com
Diego eu aprendi que ninguém conhece alguém totalmente. Eu ainda descubro coisas
sobre Murilo, algumas me deixam até surpresa, positivamente. Mas não perco minha
sanidade por isso, já que não posso controlar tudo.

Eu nunca quis que ninguém morresse de amor por mim, sempre quis um amor
recíproco. Alguém que demonstre o que sente, que se importe comigo, que se preocupe e
que me dê atenção, mesmo quando eu digo que não é nada. Que manda mensagem para
saber como estou e como está sendo meu dia, ou se preciso de alguma coisa. Alguém que
me faça rir, que me faça feliz, que goste de mim e principalmente me aceite e se orgulhe
de quem eu sou.
Alguém que não tenha medo de demonstrar os sentimentos. Que me acrescente e
nunca me diminua. E vejo que consegui tudo isso, quando vejo meu Moreno me dando
atenção sempre, mesmo cansado como eu. Principalmente agora, com ele me olhando
bobo, com um sorriso mais bobo ainda.
Mesmo percebendo que a vida materna é difícil, ainda mais de dois. É mais do
que imaginava, mas não me arrependo. Vieram no momento certo. Se não fosse assim, não
seria tão perfeito.
— Amo você.
Segura no meu queixo para me dar um selinho gostoso na boca.
— Amo mais. Obrigada por ser especialmente desse jeitinho.
— Você sabe que é meu motivo de ser assim. — Sorrio para ele, fitando seus
olhos castanho-escuros quase pretos, dando outro selinho logo em seguida.
Em uma determinada parte da vida, temos que fazer escolhas. Eu escolhi ser
desse jeitinho: apaixonada, passional, um pouco teimosa, decidida, muitas vezes medrosa
e insegura, mas certa de meus desejos e vontades. Se esse é o modo correto? Sinceramente
não sei, mas não consigo ser diferente. Essa sou eu e me orgulho disso. Aprendi muito,
tanto pelo amor quanto pela dor, mas tudo é resultado das minhas escolhas e hoje me
orgulho da pessoa que me tornei.
Às vezes eu olho para trás, para o resultado de tudo que vivemos e não consigo
acreditar que é minha família, com meu marido e meus dois bebês. Tiago e Nicole, que
saíram de mim e são as coisas mais especiais da minha vida.
Não sei se existe o “felizes para sempre”, e não sei em que momento isso chega.
Mas eu arrisco dizer que o meu é exatamente o agora.
Sabe por quê? Porque eu conheci a minha felicidade, e todos eles têm
olhos castanhos e sorrisos capazes de me derreter completamente. Nosso
relacionamento não é do tipo de receber flores todos os dias, nem restaurantes caros,
joias ou qualquer coisa do tipo, apesar dele me agradar de vez em quando com essas
coisas. Mas nossa chama continua acesa, e não é por nada disso que pegamos fogo.

Murilo mostra que me ama nas coisas mais simples. No abraço de bom dia,
no elogio e no jantar pronto. O cuidado em fazer massagens nos meus pés quando
reclamo de dor e sempre me ouvir contar sobre meu dia, mesmo que eu sequer tenha
posto os pés fora de casa.

Eu tenho muitas partes boas dentro de mim, isso é inegável. Tenho


lembranças para recordar e histórias para contar, além de muito aprendizado. Mas
faltava a melhor parte para ser preenchida, a parte em que Murilo se encaixou, como
se aquele espaço sempre tivesse sido dele. Foi chegando devagarzinho e quando eu
menos esperava, estava completamente apaixonada pelo atrevido que me mostrou
um lado maravilhoso da vida. Um atrevido completamente meu.
Bônus
MURILO
Desde que eu conheci Alexia ela foi prioridade na minha vida, e eu não me sinto
arrependido de tê-la colocado nesse patamar, pois ela merece e eu a amo.
Ainda me sinto extasiado com tudo. Com a família que criamos. Meus dois
filhotes. Nicole com seu sorriso doce e Tiago, o mais quieto dos dois, com sua
carinha séria.
Quando eles nasceram foi a melhor sensação. Olhei para o rostinho dos dois, que
pareciam me dizer: “vou roubar sua mulher, esvaziar sua carteira, tirar seu sono e ainda
assim vai sorrir de tudo que eu faço”, e eles estavam certíssimos. Ambos estão com dois
anos agora e deixam Alexia louca, pois juntos são terríveis.
Não poderia estar em um momento melhor da minha vida.
— Papai.
Escuto a voz doce de Nicole me chamando. Abro os olhos para ver ela e Tiago
tentando escalar a cama com sorriso traquina. Os dois de pijama ainda.
Eles são as coisas mais lindas da minha vida. Sou um pai coruja, ou babão, como
Alexia fala, mas assumo, se pudesse os colocava no bolso. Principalmente minha
princesinha.
— Hum! — resmungo, puxando um e depois outro para cima da cama. — Cadê
sua mãe?
— Lá.
Tiago aponta para a porta do quarto e eu assinto. Cada um me dá um beijo
molhado no rosto e eu só consigo sorrir, apertando os dois cada um de um lado no braço.
Eles são bem carinhosos, apesar de Nicole não gostar muito que abracem ela toda
hora, mas sempre vem quando chamo. Eles estão querendo pular na cama, bem acordados.
Vou para a ponta da cama disposto a levantar e os dois pulam nas minhas costas. Sossego
pra quê?
— Faz aquilo, papai — Nicole me pede, Tiago concorda animado logo em
seguida e rio para os dois.
Adoram uma algazarra. Ela principalmente.
— Venham. Vamos fazer exercícios — entro na onda deles, que estão superfelizes
por isso.
Seguro os dois pela camisa, um de cada a lado e começo a fazer eles de halteres,
suspendendo-os, fazendo eles gargalharem alto.
Alexia fica louca quando me vê fazendo isso, acha que as camisas vão lacear ou
eles vão cair de cara no chão. Mas nem ligamos, eu consigo segurar os dois, pois não
pesam quase nada.
Nicole parece mais comigo do que com a Alie, adora ir comigo pra academia,
para me ver exercitando. E estou esperando-a ficar maior pra pular de paraquedas comigo.
O lance de Tiago é água, adora as aulas de natação.
Alexia pulou novamente de paraquedas comigo, só que dessa vez curtiu muito
mais. Está menos medrosa, cada vez que fazemos isso ela ama mais.
E falando na mãe deles, acaba de chegar aqui na porta. Ainda de camisola, com o
cabelo preso no alto da cabeça.
Preciso nem dizer que a maternidade a fez bem, né? Está muito mais gostosa,
com o corpo mais curvilíneo, como sempre desejou. E belas pernas que, só de olhar
desnudas, me dá vontade de jogá-la nessa cama de novo.
Solto os dois em cima da cama, que caem gargalhando, e sento junto.
— Vocês são terríveis — Alie comenta com sua voz sempre calma, chegando
mais perto da cama com uma bandeja de café. Sou ou não um sortudo por ter ela assim,
vindo com toda a sua sensualidade?
Ela senta na ponta da cama, entregando um copo de tampa para cada um e chega
mais perto para me dar um selinho.
— Feliz aniversário, meu amor.
Alisa minha bochecha e me dá mais um beijo rápido na boca.
— Obrigado.
Dou mais um antes de soltá-la.
— Apaga as velinhas — pede para apagar uma vela minúscula em um pequeno
bolo decorado. Assopro com Tiago e Nicole batendo palminhas.
E eu e Alie sorrimos. Tudo que fazem nos deixa derretidos. Levanto para ir ao
banheiro, que foi minha ideia inicial ao levantar, e volto a ponto de ver Nicole em pé na
cama, querendo pular de novo.
— Não, mamãe. Senta pra tomar.
— Não quero — responde toda dengosa e Alexia, com toda paciência do mundo,
a segura dando um beijo nas suas bochechas, fazendo-a sentar direito logo em seguida.
Acaba indo para sentar no seu colo, recebendo carinho. Dengosa!
Recebe um beijo na bochecha sob o olhar de Tiago, que está quieto bebendo seu
líquido. Chego mais perto, sentando de novo na cama e recebendo uma xícara de café.
— O que quer fazer hoje? — Alexia me questiona com sua xícara na mão e eu
dou uma bela olhada nela, com mil e uma intenções. Saber o que eu quero fazer é bem
fácil.
— Que inclua as crianças — completa e rio enquanto ajudo Tiago a vir para o
meu colo, pois está em pé me abraçando pelo pescoço, tentando vir de qualquer jeito.
— Não sei.
— Estava pensando… Liga pra seus amigos. E passamos no mercado pra
comprar carne.
Sorri para mim e eu assinto. Nunca me importei com meu aniversário, mas uma
pequena comemoração de vez em quando é legal.
— É bom! — Aceno concordando e ela faz o mesmo, mastigando uma torrada e
dando na boca de Nicole, que logo em seguida a puxa pelo braço para comer também.
Terminamos o café e em seguida saímos para o mercado, depois da maratona que é
arrumar duas crianças enérgicas.
Liguei para o pessoal no caminho e disseram que estariam aqui em breve. Saímos
do mercado com sacolas e duas crianças pedintes com chocolates nas mãos. Alexia ficou
na rua para comprar algumas coisas, mas voltou logo.
O pessoal chegou junto, fazendo barulho. Meus pais chegaram logo em seguida,
com Isa e toda sua petulância e, para minha infelicidade, seu namorado. Não foi ela quem
disse que não ia namorar mais?
— Nina! Tito!
Ela vem gritando por Nicole e Tiago, que são loucos por ela, para meu desespero.
Os dois correm na direção dela, que agacha para pegá-los. Louca! Não cresce de jeito
nenhum.
Cumprimento todos e a festa passa normalmente, muito agitada e divertida.
Mas não conseguia parar de olhar Alexia passar pra lá e pra cá com as pernas de
fora. Faz de propósito.
A festa durou até umas oito da noite, depois de muita bebida, comida e música
alta. Alexia ainda lembrou de comprar bolo, quem mais aproveitou foi Tiago, que agora
está com as bochechas meladas de chocolate e um sorriso com dentes sujos.
— Dá beijo no papai.
Alexia, com uma mochila infantil na mão, fala com Nina e Tito e eu fico confuso.
— Eles vão por quê? — questiono.
— Você não é inocente, Murilo! — Isabela grita, pegando a pequena mochila dos
dois. Olho sério para ela, que ri dando de ombros. Olho para Alexia que está rindo
também, porém com as bochechas avermelhadas. Acabo sorrindo também, pegando os
dois no meu colo para receber um beijo babado de cada um.
Sigo com os dois no colo para fora, onde meus pais estão esperando no carro.
— Pedi pra ela olhar os dois essa noite. Amanhã de manhã a gente busca.
Alexia me explica enquanto andamos com Isabela a tiracolo com o namorado.
— Olha lá, viu, dona Isabela?
Olho séria para ela e para o moleque que ela chama de namorado.
— Mas você é chato, hein? Vou treinar pra quando seus sobrinhos vierem —
rebate, pegando Tiago do meu colo para colocar na cadeirinha, e olho bem sério para ela.
O carro logo arrasta com todos dentro depois dos dois acenarem, pois sabem que com ela
a algazarra é garantida. Puxo Alexia pela mão para dentro.
— O que você tá aprontando, hein?
Beijo seu pescoço enquanto entramos em casa.
— Tô aprontando nada. Só achei que gostaria de terminar isso de um jeito,
digamos… mais íntimo.
Vira pra mim com um sorriso lascivo. Pego-a para um beijo gostoso, que aceita
sem problema algum. Lógico que eu gostaria de terminar essa noite com ela suada e nua
em cima da nossa cama.
Mulher gostosa, com esses lábios deliciosos. Ela geme quando desço a mão,
apalpando com gosto sua bunda enquanto seguro firme seus cabelos.
— Bruto hoje, é? — sussurra, sorrindo de modo provocativo e perverso para
mim. Não respondo, apenas a beijo novamente, derretendo-a, fazendo com que me aperte
com a unha no braço.
Desço a mão para a perna dela, subindo logo em seguida por baixo do pedaço de
pano que ela chama de saia.
Puxo-a para cima, ela enrosca as pernas na minha cintura e seguimos para o
quarto, jogando-a na cama na sequência.
Estou com fome dessa mulher hoje. E só paro quando a ver totalmente esgotada.
Puxo sua camisa com urgência, abrindo seu sutiã logo em seguida…
— O que é isso? — comento ofegante ao ver uma frase tatuada na sua costela.
— Fiz uma tatuagem. Foi de manhã, quando fui comprar o bolo — comenta,
dedilhando minhas costas. Olho novamente a tatuagem que ainda está meio avermelhada.
Estou surpreso e minha cara mostra isso, pois ela ri.
— A vida é uma escalada.
Leio a delicada frase e em seguida a observo. Ela ainda sorri.
— Gostou? Doeu pra caramba!
— Achei linda. E tô surpreso.
— A frase inteira é: “a vida é uma escalada, mas a vista é ótima”. É pra me
lembrar sempre que, mesmo com as dificuldades que a gente teve ou ainda teremos,
precisamos seguir em frente, continuar fortes, pois mesmo não sabendo o que mais terá
pela frente, o final será compensador. Como agora — explica e eu automaticamente abro
um grande sorriso. Como não a amar?
Beijo-a novamente em meio a um sorriso. Ela com certeza foi a melhor coisa que
aconteceu pra mim. Assim como Nicole e Tiago, que me matam de orgulho.
— Amo você, Morena!
— Amo você, Moreno.
Alisa meu queixo, trazendo para um beijo. Fito seus belos olhos castanhos e
percebo que tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos
para iniciar algo novo nas nossas vidas é que as coisas acontecem. Se algo acabou em
nossas vidas, é para a nossa evolução. Por isso, é melhor ir em frente.
Se me perguntassem qual foi o melhor momento da minha vida, eu faria uma
retrospectiva de tudo. De quando a vi pela primeira vez, naquela sala, de modo totalmente
profissional e gostosa. De quando eu fiz de tudo para impressioná-la da primeira vez que
nos encontramos.
De como eu me senti foda, sem acreditar quando ela aceitou o pedido do
casamento. Do nascimento dos meus filhos, como me senti vendo cada um deles, uma
felicidade sem tamanho. Da emoção em pegá-los no colo pela primeira vez. Do casamento
com a Alie, vendo-a lindíssima naquela roupa de noiva com a barriga já grandinha,
sabendo que eram meus filhos morando ali dentro. Da notícia da gravidez quando descobri
que seria pai dos filhos dela. Da notícia que seriam dois, mesmo quase fazendo tudo
desandar de preocupação por isso. Da primeira vez que me chamaram de papai, pois a
primeira palavra de Tiago foi mamãe, e de Nicole foi “não”. De quando vi cada um
andando, dos primeiros sorrisos, dos dengos para cima de mim. De quando percebi que ela
era cada vez mais minha, enfim, de todos os momentos que compartilhamos em família. E
no final, eu diria: esse exato momento, pois me fez relembrar todos eles e me sentir a
pessoa mais feliz desse mundo.
PRECISAMOS FALAR SOBRE
RELACIONAMENTO ABUSIVO:
Falar sobre o assunto é o primeiro passo. 3 em cada 5 mulheres são vítimas de relacionamento abusivo. De
acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, cada minuto, 20 pessoas são vítimas de abuso físico por um
parceiro íntimo. Metade das vítimas, entraram em um relacionamento abusivo quando tinha entre 17 e 24 anos,
marcando esse período como extremamente vulnerável.
Muitas pessoas acreditam que o abuso de parceiro deve ser físico, mas o abuso psicológico também é um
problema muito grave. Relacionamento abusivo não é só bater, é qualquer relacionamento que lhe cause dor, vergonha e
medo.
O abuso pode assumir várias formas, principalmente que envolvam qualquer conduta que cause danos emocional,
diminuição da autoestima ou controle de ações por meio de ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância, insulto, perseguição e limitação do direito de ir e vir.
56% dos homens admitem já terem cometido uma dessas agressões contra a parceira e, a maioria, mais de uma
vez. Algumas das ações citadas são: xingar, empurrar, ameaçar com palavras, impedir de sair de casa, humilhar e obrigar
a fazer sexo.
Maioria das vítimas ficam em relacionamento abusivos por preocupações com seus filhos, segurança e finanças
limitadas. E para aqueles que foram capazes de sair, acham que é difícil confiar em outras pessoas e abrir-se a novos
relacionamentos.
Não é amor quando te prendem, não é amor quando te controla e principalmente: não é amor quando te machuca
(seja mental ou física)

Se você ou alguém que você conhece está em um relacionamento abusivo, há ajuda


disponível e você não precisa ir sozinho.
LIGUE 180
Entre em contato com a Linha Nacional de Violência Doméstica ao 1-800-799-7233 ou ligue 180. Qualquer
pessoa que precisar de informações ou queira fazer denúncia de um relacionamento abusivo pode ligar de forma gratuita
e anônima para o Ligue 180.
A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 é um serviço que ouve e orienta mulheres sobre seus direitos,
além de receber denúncias de violência, sugestões, reclamações, elogios e outros serviços. As atendentes têm
treinamento humanizado e são capacitadas em questões de gênero, legislação, políticas do governo federal para as
mulheres, informações sobre a violência contra a mulher e, principalmente, na forma de acolher e orientar nos
procedimentos a serem adotados na busca do serviço adequado.
O Ligue 180 também recebe e encaminha ligações sobre outros tipos de violência contra a mulher, como, por
exemplo, Cárcere Privado, Exploração Sexual e Violência Obstétrica.
O serviço funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive aos feriados. O 180 também pode ser
acionado de 16 países com os quais o Brasil mantém convênio, para atender brasileiras que vivem no exterior.
“Violência doméstica é qualquer ação ou missão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico
ou psicológico e dano moral ou patrimonial. E a culpa é sempre do agressor.”
Você é melhor e mais forte que imagina. Acredite nisso! Você pode, você consegue!
Passe para a próxima página!
Continua em…
UM DEVASSO PARA CHAMAR DE MEU #2
Natasha sabe bem o que quer da vida. Uma completa antirromântica que pensa apenas em
curtir sem importar muito com julgamentos alheios e consequências.
Em um encontro de elevador, conhece Gustavo, tudo que ela passou a desejar com afinco,
mesmo ele sendo seu superior, tornando tudo ainda mais atrativo: Intenso de belos olhos
azuis e acima de tudo, insaciável. Mas Gustavo também tem desejos, no qual ela foge de
qualquer jeito. Apesar dos objetivos distintos, como negar o desejo incontrolável pelo
devasso mais charmoso que já pisou no seu ramal?

Próxima Publicação
EROS, deus do desejo. Segundo volume da série Deuses Gregos
(primeiro já disponível)
Eros Tavares é Stripper e dono de uma beleza notável, com jeito e corpo naturalmente
sensual e abrasador, faz convite explícito para o pecado. Sabendo seu poder e efeito que
causa, mexe com a cabeça e libido das mulheres dentro e fora do palco. Tornando isso seu
passatempo favorito.
Ele que sempre foi acostumado com olhos desejosos de mulheres aleatórias, acaba se
deparando com algo incomum em uma das noites: uma mulher que o olhasse com
desprezo e repúdio mexendo com seu ego. O deixando intrigado curioso.
Morgana Valença não é uma adulta típica e ao ser arrastada contra sua vontade para
despedida de solteiro da melhor amiga, não imaginava conhece-lo. Sexy, erótico, quente
como o próprio inferno e atrevido como o próprio satanás. A deixando boquiaberta de
incredulidade e extremamente perturbada, mesmo que não admita nem para si mesma,
pelo que viu.
Mas o que ela não esperava, é que a pantera negra, seria uma pessoa constante na sua vida.
Duas vidas totalmente diferentes que se colidem.
Pecado Versus Santidade,
Devassidão versus pureza,
Razão Versus Emoção.
Difícil é saber qual sobressairá!
Apesar de ter um signo conhecido como pouco sonhadores e de poucas palavras, May, encontrou na escrita a melhor
maneira de se divertir enquanto se expressa, transpassando seus sentimentos e anseios para páginas em brancos, e
suspira a cada história que surge com a possibilidade de causar emoções e entretenimento a quem ler e embarca de
cabeça em cada uma delas.
Grande fã de comédia românticas de narrativas leves, nos seus romances não faltam personagens desbocados e
apaixonantes com humor mordaz. Misturando humor, cenas quentes e personagens engraçados e contagiantes.
Redes sociais:
WATTPAD • INSTAGRAM • FACEBOOK • PINTEREST • PLAYLIST DO LIVRO

Conheça outros livros: AMAZON

Compartilhe, recomende esse ebook e deixe sua avaliação, é importante e faz com que mais pessoas alcance essa história
e me incentiva a produzir cada vez mais!
Se gostou do livro e avaliou, me envie o print para o meu e-mail: mayaracarvalhoautora@gmail.com com seu endereço,
com assunto avaliação Atrevido, que enviarei marcadores e postal do livro. E está rolando promoção limitada, se for
uma das 20 primeiras, além dos marcadores, ganhará um botton exclusivo do livro e terá sorteio das avaliações para
ganhar um bloco de notas personalizado. Não percam!

Você também pode gostar