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7 DIAS

Karina Altobelli
1ª Edição
2017
Criado no Brasil
Copyright© 2017 Karina Altobelli

Esta é uma obra de ficção e não é totalmente fiel à realidade.

Qualquer semelhança com nomes, lugares, personagens, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou distribuída sem o consentimento por escrito
da autora.
TÍTULO ORIGINAL

7 DIAS

AUTORA

Karina Altobelli

REVISÃO

R. Lima

CAPA

Joice S. Dias
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AGRADECIMENTOS

7 DIAS mudou totalmente minha vida. Foi a primeira obra que postei no
wattpad, e logo de início muitos leitores se apaixonaram por Caetano Ulric e o
livro explodiu com mais de 530.000 visualizações em tão poucas postagens.

Aprendi muito com tudo isso, coisas que não sabia, e em diversas etapas
da postagem do livro me surpreendi. Cada capítulo foi um aprendizado
diferente.

Conheci diversas pessoas que ficarão no meu coração eternamente. Mas


seria impossível citar todas aqui.

Mais quero que saibam que todas vocês que participaram de alguma
maneira durante o livro, com montagens, curtidas e comentário no wattpad, no
grupo do facebook, mensagens privadas, entre outros, esse carinho comigo e
com Caetano Ulric ficará para sempre guardado em meu coração.

Quero dar um agradecimento em especial à minha capista, Joice S. Dias.


Ela entrou em minha vida de um dia para outro e se tornou tão importante, que
não apenas faz meus sonhos se tornarem realidade através das capas
maravilhosas que faz para meus livros, mas também se tornou uma amiga
indispensável que sempre me socorre nos meus mais diversos devaneios. Te
adoro Jo.

Também quero agradecer à Catarina Braga, que tão longe de mim, nos
Estados Unidos, se tornou uma amiga inseparável, que não ficamos sem se falar,
que parece mesmo que mora aqui, bem pertinho, afinal mora mesmo, mora no
meu coração. Obrigada por todo o carinho. Te adoro Ca.
Também quero agradecer à Dani Xavier, que me ensinou muito, pois eu
nem sabia como criar e lidar com um grupo no facebook, entre outras coisas.
Ela me auxiliou em muitas coisas, e muitas dessas coisas que sei hoje, devo à ela.
Sua presença durante “7dias” foi indispensável e maravilhosa. Obrigada pela
amizade. Te adoro Dani.

Agradeço também à Sol Wayne, que me presenteou com o lindo book


trailer de 7Dias. Você fez eu me sentir maravilhosa neste dia. Confesso que assisti
inúmeras vezes. Agradeço de coração o carinho. Te adoro Sol.

Também não posso me esquecer da Gisele Melo. Ela tem uma quedinha
toda especial pelos meus seguranças, rsrs. Tanto que ganhou o coração de
Afonso. Obrigada por ter se tornado minha amiga e principalmente por ainda
ser minha amiga e uma presença constante em minha vida. Te adoro Gi.

Obrigada aos grupos do facebook e parceiros. A ajuda de vocês é divina


para novos escritores como nós.

Agradeço à minha cunhada Maria Amélia Lima Altobelli, minha prima


Juliana Franzin Favareto, minha mãe e minha sogra por toda a força que me
deram e agradeço a toda minha família que fez parte de meu sonho, e
principalmente ao meu marido pelas noites que só me teve em sua cama em alta
madrugada, e como primeiro leitor me deu conselhos, palpites e fez com que eu
mudasse algumas cenas. Obrigada por ser meu companheiro e compartilhar de
meu sonho!

São muitas pessoas, e quero dizer que de alguma forma agradeço à todas.
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DEDICATÓRIA

Dedico esse livro à minha irmã, Ana Lucia Mathias, que me levou e me
apresentou à uma biblioteca pela primeira vez.

Nada teria sido possível, se não tivesse me ensinado o amor à leitura.

Agradeço por tudo. Porque sempre esteve presente em cada pedacinho da


escrita de meus sonhos.
SUMÁRIO
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INÍCIO

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CAPÍTULO 1

1º dia

Quinta-feira

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CAPÍTULO 2

2º dia

Sexta-feira

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CAPÍTULO 3

3º dia

Sábado

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CAPÍTULO 4

4º dia

Domingo
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CAPÍTULO 5

5º dia

Segunda-feira

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CAPÍTULO 6

6º dia

Terça-feira

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CAPÍTULO 7

7º dia

Quarta-feira

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CAPÍTULO 8

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CAPÍTULO 9

FINAL

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EPÍLOGO

::: Conheça a Autora :::


7DIAS
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INÍCIO

Ágata
Eu nunca havia entrado antes em um cassino, muito menos nesse exato Cassino. Estou no
térreo do prédio de cinco andares, minhas pernas estão trêmulas e minha boca totalmente seca.

Me deslumbro com as luzes coloridas que dançam em frente aos meus olhos, fico com medo
de caminhar, pois a cor vermelha do chão parece que irá me sugar conformo ando. O barulho das
roletas que rapidamente giram faz os dados balançarem como loucos, ases e mais ases de baralhos
afetam a minha visão, a beleza das garçonetes sorridentes com microvestidos deixa suas curvas à
mostra, fichas rodeiam as mesas, bebidas espumantes e coloridas que fazem cócegas nos lábios são
servidas sem moderação, dinheiro, muito dinheiro. Estou boquiaberta e aturdida e por um momento
me sinto insegura e tonta, sinto um aroma afrodisíaco que nunca havia sentindo em nenhum outro
lugar, uma mistura de canela com perfume masculino. E a música, ah a música é um convite para a
devassidão. São irresistíveis a sedução e a excitação que esse lugar causa, é tudo realmente
hipnotizante.

Agora entendo porque esse lugar chama tanto a atenção, porque prende tanto as pessoas, tudo
é feito para que isso ocorra. Tudo é feito para quem fosse que lá entrasse se arrependesse no dia
seguinte, mas no mesmo dia, com certeza estaria lá novamente.

Algo me chama a atenção, olho para o alto e percorro todo o recinto com meus olhos e chego
a sufocar por um momento ao perceber que não existem janelas, noto que também não há nenhum tipo
de relógio e o ambiente fica numa penumbra convidativa e confortável, não há nada que possa
atrapalhar a privacidade de seus visitantes.

Uma garçonete loira de olhos claros, muito jovem e excessivamente sorridente me oferece a
bebida borbulhante, a segunda em cinco minutos desde que estou aqui, nego novamente. Os
funcionários são agradáveis e simpáticos, te dão bebidas de graça e te fazem pensar que você é a
pessoa mais importante do mundo. Muito bem treinados.

Balanço a cabeça para afastar todo esse glamour de meus pensamentos e fixo o olhar num
grande banner que indica a festa que se alastra no quarto andar, é para lá que eu vou.

Pego o elevador, junto comigo sobem duas mulheres que riem exageradamente em seus
vestidos de grife e brilhantes nos dedos, nem notam minha presença. Não preciso apertar o número
quatro, pois elas vão para o mesmo lugar. As portas se abrem e eu fico de frente com uma enorme
porta dupla de onde se ouve a alta música que anuncia a grande festa que ocorre lá dentro.

Eu as deixo saírem primeiro do elevador e elas mostram o convite para dois enormes
seguranças e entram. Eu paraliso, sem saber como agir. Pigarreio, ergo a cabeça e coloco uma
máscara de confiança, que realmente não tenho, e passo pelos seguranças, mas não funciona muito
bem, pois eles me interpelam.

— Senhora, por favor, seu convite. — Fala um deles que deve ter mais de dois metros de
altura.

— Hã... eu esqueci o convite em casa — dissimulo, tento entrar, mas novamente sou barrada.

— Por favor, seu documento, para que eu possa verificar.

— Meu nome é Ágata. Tenho certeza que está na lista de presença— jogo confiante.

— Senhora, por favor, seu documento— insisti.

Eu abro a bolsa, tentando disfarçar minhas mãos trêmulas e entrego o único documento que
tenho comigo, minha carteira de habilitação, tendo certeza absoluta, que agora ninguém me deixaria
entrar.

— Só um momento — informa o carrancudo segurança, entrando na enorme porta com meu


documento na mão, e o outro cruza os braços no peito enquanto aguarda o companheiro.

Eu começo a transpirar, além de minhas mãos, minhas pernas agora também tremem.

Isso não vai dar certo.

Depois de alguns poucos, mas longos minutos, o segurança voltou, e para minha surpresa
entrega meu documento e abre a longa porta para eu passar.

— Pode entrar senhora Ágata.

Engulo em seco, e entro no enorme salão.

Meu Deus. Realmente eu entrei, e agora?

Eu tento me manter calma, me comportar normalmente. Coloco um pé na frente do outro e


então começo a percorrer o enorme salão, como se isso fizesse parte do meu cotidiano. Algumas
mulheres mais velhas com excesso de maquiagem sorriem para mim, as mais novas me olham com
desdém, e alguns homens me acompanham com olhar, com certeza estavam lá atrás de companhia, por
causa da ação beneficente da festa que não era.

Eu teria que encontrá-lo, apesar de somente tê-lo visto na internet e jornais, não será difícil
visualizá-lo, pois provavelmente estará rodeado de pessoas. E rapidamente o vi, sem dúvidas é ele.

Eu só tenho que conseguir chamar sua atenção. Tenho que ser notada.

A festa está repleta de pessoas chiques, ricas e esnobes. Mas eu preciso ser notada por ele,
necessito falar com ele. Se fosse por causa da roupa, com certeza eu chamaria sua atenção. Uso um
vestido vermelho de alças finas, o busto todo é coberto por flores em lantejoulas, e a partir disso o
vestido derrama em camadas até um palmo acima dos joelhos. Uso uma sandália de tiras e saltos
finos na cor prata que combina com minha bolsa e brincos. Meus cabelos castanhos escuros que são
levemente encaracolados estão soltos e descem um pouco abaixo de meus ombros.

Agora que eu o vi preciso de um segundo, então vou até o banheiro, respiro fundo uma, duas,
três vezes. Me olho no espelho e aproveito para verificar minha maquiagem, gosto do que vejo, meus
olhos azuis se destacam com o lápis preto, e na boca retoco novamente o batom claro. Tento manter o
controle e volto para a festa.

Um garçom passa e me serve uma taça de vinho tinto que bebo mais da metade do líquido em
apenas um gole. Vinho fino desce gostoso pela minha garganta, muito bom. Me aproximo mais e finjo
estar bebericando enquanto olho para ele que conversa com dois homens de ternos caríssimos e uma
mulher de vestido rosa e um coque ridículo na cabeça.

Novamente começo a sentir aquela tremedeira tão conhecida, mas tento manter o máximo de
controle que me é possível para o momento.

Tenho que fazer isso.

Eu entrei no salão de festas daquele cassino com a cabeça erguida, e ia conseguir concretizar
o que vim fazer.

De repente, eu consigo o que queria: ele me notou. Toma um gole de seu drinque, levanta a
taça para mim e sorri. Pede licença para os outros, e se aproxima.

Nem acredito!

— Senhorita Magide, que surpresa! —Se dirigi a mim sorrindo, pega delicadamente, mas
firme, em meu braço e caminhamos para um corredor onde não há ninguém. Eu noto que logo atrás de
nós, um pouco afastado, um homem, que provavelmente é seu segurança, está parado.

Eu enrubesço de raiva, o desgraçado já sabe quem eu sou. Me solto do braço dele, ergo a
cabeça numa posição altiva e pergunto assustada, com os olhos azuis em fúria.

— Como sabe quem eu sou?

— Eu sei tudo, querida. Como acha que conseguiu entrar nesta festa sem convite?

Eu fico calada. Realmente havia achado estranho depois de alguns minutos liberarem minha
entrada sem convite, e sem maiores perguntas.

— Seu irmão não teve coragem de vir falar comigo e mandou a irmãzinha mais velha para me
dar algum recado? —Pergunta sarcasticamente.

— Meu irmão não é homem de recados, Sr. Ulric. —Coloco uma mecha de cabelo atrás da
orelha.

— Então, por qual motivo aquele imprestável te mandaria falar comigo?

— Ele não é um imprestável.

— Não é o que me parece — coloca as mãos nos bolsos da calça.

— Quero lhe propor algo — falo rispidamente.

— Eu não disse que o vagabundo de seu irmão a tinha mandado aqui para resolver os
problemas dele, e por coincidência o prazo dele acaba amanhã.

— Você vai ouvir minha proposta ou não? —Nessa altura tento disfarçar, pois meus olhos
começam a marejar de raiva.

— Posso ouvir não me custa nada— ele sorri esbanjando poder.

— Quero te propor uma noite comigo— despejo sem rodeios.

Ele me olha de cima em baixo, me analisa demoradamente, perdendo um tempo a mais com os
olhos em meus seios, me sinto insignificante perante a esse olhar tão criterioso.

— Andou pesquisando muito sobre mim na internet, não é? —Ergue as sobrancelhas.

— Não seja ridículo.

— O vestido vermelho... — aponta para meu vestido. — Algum idiota na internet disse que
era minha cor preferida.
— Foi mera coincidência — minto, mas não convenço. Nunca fui boa para inventar mentiras.

Na verdade, havia lido tudo o que podia sobre ele, o que bebia, o que gostava de comer,
sobre as mulheres que o acompanhavam, a forma de como era chamado de mulherengo, sua fama de
impiedoso, enfim todas suas predileções.

— E então? —Minha ansiedade está no limite e não consigo conter uma lágrima que cai.

— O que te faz pensar que uma noite de sexo comigo vai abater toda a dívida? Você se acha
tão boa assim? —Ele está sério.

Na verdade, não me achava.

— Isso você vai ter que descobrir. — Tento impressionar.

— Não sei se vai valer à pena. —Me provoca.

— Eu também tenho trinta mil em dinheiro.

— Bom, agora você está dizendo que não vale muito. Precisa me oferecer dinheiro para
passar a noite comigo?

—Você é um babaca, manipulador mesmo. Deveria ter imaginado que essa conversa seria
assim.

Ele continua com aquele sorriso sarcástico, cínico, eu estou com muito ódio, meu corpo
treme, tenho meus motivos, então sem pensar jogo todo o vinho da taça nele, onde, imediatamente, se
forma uma grande mancha vermelha na camisa branca, de onde ele rapidamente abre o botão do
paletó, e ao mesmo tempo o segurança vem correndo e me segura pelo braço com firmeza. Eu tento
me libertar dele, mas não consigo.

— Mas que porra, podia pelo menos, ter jogado um líquido claro, faria menos estrago — ele
tenta em vão fazer algo para salvar a camisa, até que desisti, suspirando fundo.

— O que eu faço com ela, Sr. Ulric? —O segurança pergunta.

— Leve-a para meu escritório, Afonso — ele ordena raivoso.

Nós pegamos um elevador que estava próximo, provavelmente privativo, e subimos para o
quinto andar. Ulric fica em total silêncio, enquanto o homem de nome Afonso ainda segura meu
braço. O elevador chega e a porta se abre, não consigo mais ouvir a música alta da festa. Tudo está
escuro neste andar, eu e Afonso vamos na frente, ele acende uma luz no corredor, e continuamos a
caminhar até ele abrir uma larga porta de madeira branca e me empurra para dentro. Ulric está logo
atrás.

Ele retira o paletó, joga na mesa, desfaz o nó da gravata e a joga também, abre dois botões da
camisa molhada, noto alguns pelos em seu peito, e a tira para fora da calça. Finalmente fixa o olhar
em mim. Tremi. Confesso que me arrepiei.

— Pode sair Afonso.

— Estou aqui fora, senhor — avisa antes de se retirar, como se eu fosse uma ameaça.

Ele se encosta a sua grande mesa alta, e coloca as mãos dentro dos bolsos da calça.

— Você é mesmo muito petulante — me olha seriamente cerrando os olhos.

Eu cruzo meus braços no peito, seus olhos negros me apavoram, me sinto uma idiota, mas não
deixo transparecer, e ele continua:

— Me chamou de ridículo, babaca e manipulador e ainda por cima me joga bebida... Você
sabia que por bem menos, muitas pessoas já se arrependeram? —Ele fala calmamente.

—Eu acredito, sua fama de babaca corre a cidade inteira — solto num impulso.

Ele se desencosta da mesa e vem rapidamente em minha direção. Empalideço, minhas pernas
tremem. Porque não fico com a boca fechada? Dou alguns passos para trás para tentar fugir, mas ele
me segura pelos ombros.

— Estou cansado dessas suas gracinhas — seu rosto está bem próximo ao meu, posso sentir
seu hálito de uísque e seu perfume muito masculino.

Mesmo apavorada não posso deixar de notar que seu rosto é lindo, lábios sensuais, barba
rala, cabelos negros sem um fio fora do lugar, mas são seus olhos escuros que mais me chamam a
atenção e ao mesmo tempo me aterrorizam.

— Espere, eu vim te propor uma noite comigo e trinta mil— tento ganhar tempo, pois
realmente estou com muito medo. — Esta noite... eu fico com você esta noite e entrego o dinheiro
amanhã.

Ele continua me segurando, olha em meus olhos, como se estivesse pensando, depois desvia o
olhar para minha boca, sinto meu estômago borbulhar, seu olhar volta para meus olhos novamente e
me solta.
— Pois bem — fala dando as costas para mim. — Eu aceito sua proposta.

Eu quase grito de alívio. Mas quando ele se vira, posso novamente ver através de seus olhos
negros aquele olhar sarcástico e manipulador com um sorriso no canto dos lábios, cruzo novamente
os braços, e espero para ver o que terá por trás disso.

— Sete dias — fala se encostando novamente à mesa.

— O quê? —Pergunto sem entender.

— Sete dias. Não te quero somente por esta noite, te quero por sete dias.

Eu engulo em seco, fico sem chão, não sinto minhas pernas e minha boca fica seca.

Só me faltava essa agora!

Seu sorriso continua expressivo em seu rosto, o cretino percebe que me abalou, e está
radiante com isso. Passo a língua nos lábios para molhá-los e tento falar apesar de que só gaguejo.

— Sete dias... — repito. — Eu... podemos negociar isso... — eu não posso perder a
oportunidade, já que ele havia aceitado a proposta, mas também ao mesmo tempo não estou
preparada para isso.

— Não tem negociação. É isso ou nada— cruza as mãos em frente do seu corpo, e se sente
totalmente confortável e vitorioso.

— Eu...

— Tenho que admitir que você é muito corajosa mesmo. Veio até aqui, me joga uma taça de
vinho, me oferece sexo, dinheiro— ri alegremente.

Estou me sentindo terrivelmente mal e envergonhada, sinto meu rosto queimar, me sento num
sofá branco que há logo atrás de mim.

Ele vai até um frigobar, prepara dois copos com gelo e uísque e entrega um a mim.

— Por favor, não jogue esse em mim— sarcástico novamente.

Eu bebo um gole da bebida, que não gosto por sinal, ela desce queimando minha garganta e
chega como uma bomba em meu estômago vazio, meus olhos chegam a lacrimejar.

Ele percebe que não sou familiarizada com o líquido e acha engraçado. Nunca gostei de
uísque, meu lance é vinho, mas isso não interessa para ele. Continua a me olhar fixamente por algum
tempo, me sinto terrivelmente incomodada. De repente sua fisionomia muda, ele fecha o cenho, não
sorri mais.

— Então, você vai aceitar ou não? —Dispara sem paciência.

Caramba, eu que vim lhe propor uma coisa, e agora eu tenho que aceitar a proposta do
desgraçado, mas eu sei que não tenho escolha. Muita coisa depende disso.

— É pegar, ou largar — ele insisti, completamente sem expressão, parece que estava
fechando um negócio qualquer sem importância.

Eu não tenho escolha. Não posso cogitar de não aceitar.

— Você é um canalha.

—Continua me insultando, vamos ter que resolver isso— balança a cabeça negativamente e
bebe um gole do uísque e depois me aponta um dedo da mão que ainda segura o copo. — Se
continuar com isso vai se arrepender.

Eu sei que iria me arrepender de qualquer jeito mesmo.

— Aceito — murmuro, recostando destruída no sofá.

Ele me lança um olhar de predador que faz meus olhos se arregalar, coloca o copo na mesa,
vai até a porta e o segurança entra.

— Afonso, leve ela para minha suíte, por favor.

— Sim, senhor.

Afonso me faz um sinal com a cabeça, deixo o copo sobre uma mesa, me levanto e o sigo.
Demos a volta, caminhando um pouco no corredor e paramos de frente para uma porta que ele
destranca com uma chave que retira do bolso.

— Entre.

Eu entro, o quarto tem o cheiro do perfume dele, é lindo e aconchegante. A cama é de madeira
branca, com colcha branca e almofadas na cor azul marinho. Há uma grande cortina também na cor
azul, um sofá que segue o mesmo estilo: branco com almofadas azuis.

— O banheiro fica logo ali — me aponta uma porta. — Precisa de alguma coisa?
Me sinto muito envergonhada, ele é acostumado a fazer isso, com certeza traz muitas mulheres
para cá, e sabe o que vai acontecer.

— Não. Obrigada — procuro não o encarar.

— Tudo bem— ele responde e sai do quarto.

Se eu parar para pensar por um segundo, talvez ao invés de aceitar, sairia correndo deste
lugar. Mas eu não posso me dar a esse luxo. Vim preparada para passar uma noite com ele, e vou
passar, pelo menos a primeira. Abro minha bolsa, coloco mais um pouco de perfume. Resolvo ir ao
banheiro, abro a porta e aqui dentro continua o luxo do quarto, uma linda banheira, com uma pia
muito grande e um grande balcão.

Me olho no espelho, limpo um borrão do meu olho esquerdo com a ponta do dedo. Passo a
mão pelo meu corpo, e verifico que está tudo bem. Não tenho o corpo mais bonito do mundo, mas
acho que sou atraente, apesar de estar um quilinho acima do peso, ou dois.

Abro a bolsa novamente, jogo seu conteúdo em cima do balcão e verifico que está tudo lá:
minha CNH, meu batom, meu celular, minhas chaves, meu mini perfume, uma escova de cabelos, e
uma embalagem de preservativo. Guardo tudo novamente, segurando esse último. Volto para o quarto
e coloco a embalagem em cima do criado mudo que há ao lado da cama. Me sento por um momento e
fecho os olhos bem apertados com um tremendo frio na barriga ao pensar que ele pode querer fazer
algo nojento comigo.

Devo colocar algumas condições. Mas será que estou em posição para fazer isso? Ou devo
aceitar tudo o que ele quiser? Isso não mesmo. Não vou me rebaixar a esse ponto. Afinal todo
cuidado é pouco, ele não presta.

Isso não ia ser fácil para mim. Não que sexo fosse um problema, mas não costumava a fazer
isso com um homem que acabei de conhecer, pior ainda me oferecer para ele do jeito que eu fiz.
Ainda mais tendo ódio por ele, como eu tenho. Se existe uma definição para mal: é esse homem. Um
homem cruel, sem escrúpulos, capaz de passar por cima de qualquer pessoa. Acho que é o
verdadeiro demônio. Não podia nem me lembrar de meu irmão, que a minha vontade era socar a cara
de Ulric. Respiro fundo. Tenho que me controlar, e fingir que está tudo bem, principalmente para não
enlouquecer.

Eu fico no quarto, e por quase uma hora eu ando, sento, verifico novamente se estou com as
pernas depiladas, ando de novo, vou à janela, vejo a cidade dali, vou ao banheiro pela segunda vez,
estou nervosa.

Nervosa não é a palavra correta, estou terrivelmente em pânico.

Então ele entra, mas não entrou pela mesma porta que eu havia entrado, ele veio de dentro do
closet, logo percebo que há alguma porta que sai de seu escritório para sua suíte. Bem prático.

Ele usa agora uma camisa azul claro. Está mais perfumado ainda, senti seu perfume assim que
entrou. Preocupou-se em ficar cheiroso, bom sinal.

— Está sorrindo? —Ele pergunta enquanto retira o paletó.

Foi então que percebi que o fato dele estar perfumado me tirou um sorriso, disfarço.

— Não. Não mesmo — me sento na cama e abro o primeiro fecho de minhas sandálias, o
segundo demora um pouco, pois minhas mãos tremem.

Olho disfarçadamente para ele, não pensa em conversar, parece apressado, já retirou a
gravata e desabotoou a camisa, agora está desabotoando os botões do punho, tudo muito
naturalmente. Reparo em suas mãos, elas são bonitas e grandes, já devem ter enlouquecido muitas
mulheres por aí.

Me levanto, coloco as sandálias em um canto, abro o zíper de meu vestido que fica do lado
esquerdo, e o retiro por cima da cabeça e o coloco numa cadeira ao lado. Não que isso seja fácil e
simples para mim, mas não tenho outra opção e sei que devo me despir, não sou boba e sei que ele
quer transar logo e se mandar, provavelmente quer que tudo seja muito prático e rápido.

Quando nossos olhares se cruzam novamente, ele está parado, a camisa totalmente aberta
deixa a vista o seu peito forte. Ele me olha sem piscar, me arrepio inteira, não consigo decifrar o que
significa esse olhar atônito. Seus olhos negros e inexpressivos me causam terror.

Ajeito meu sutiã e passo a mão na barriga.

Será que não gostou de meu corpo?

Continuo sem entender, e ele imóvel. Estamos há uns cinco metros de distância, e ele está
com a feição impenetrável. Ele continua a me olhar nos olhos, mas a sua expressão continua fria,
impassível, eu sou só mais uma mulher com quem ele vai transar, a única diferença é que essa mulher
é um pagamento, então provavelmente ele irá se aproveitar o máximo que puder. Esse pensamento me
arrepia.

Fico sem saber o que fazer por um momento, então resolvo deixar meu pudor de lado, e
acabar logo com isso, coloco as mãos para trás para desabotoar o sutiã.

Foi quando ele grita e caminha até mim.

— Não!
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CAPÍTULO 1

1º dia

Quinta-feira

Ulric
Desgraçada.

Ela errou totalmente ao tentar me impressionar com o vestido vermelho, mas está usando a
lingerie na minha cor preferida: branco.

O sutiã de renda cobrindo seus seios redondos já me deixou duro como pedra. E ela queria
tirá-lo? Não mesmo. Eu vou fazer isso.

Sua pele é clara, e parece muito macia, me aproximo um pouco dela, percebo que está muito
nervosa, mas está se saindo bem ao tentar parecer segura. Quase me enganou.

Não digo nada, apenas olho seu corpo com luxúria, me aproximo mais e deslizo minha mão
sobre sua barriga, ela dá um salto e me olha fixamente, soltando um suspiro. Me coloco atrás dela,
pego em seus cabelos, sinto a maciez e o cheiro de recém lavados, os coloco para um lado, para ter a
vista de seu pescoço bem feito. Encosto minha boca de mansinho em seu ombro, sinto seu perfume
adocicado, não resisto e arrasto meus lábios, roçando minha barba até seu pescoço e o chupo bem
devagar. Ela geme, talvez esteja preocupada com o que vou fazer. Aperto minhas mãos em sua
cintura, e subo devagar, constatando que estava certo, sua pele é muito macia. Chego a seus seios e
os pego com firmeza.

Maldição, meu pau vai estourar a calça, e ainda nem comecei a sentir seu corpo.

Percebo que ela está com os pelinhos dosbraços arrepiados. Delícia. Desabotoo seu sutiã,
ele não tem alça, e o jogo no chão, seus seios estão livres, eu os pego sentindo sua pele e aperto os
mamilos entre meus dedos. Por um momento ela segura minhas mãos, mas solta rapidamente. Não sei
se sentiu dor ou prazer, espero que tenho sido prazer.

A única coisa que penso no momento é em estar dentro dela, de sentir seu gosto, sentir o
cheiro de seu sexo, saber qual é a porra da sensação de gozar dentro dela.

Retiro minha camisa, e a jogo no chão. Pego-a pelo braço e a faço ficar de frente para mim.
Minha nossa, ela parece tão vulnerável agora, tão delicada. Sua respiração está acelerada, ela passa
a língua nos lábios, e ela nem imagina que isso me causa mais tesão ainda. Vejo que a grande
tatuagem que tenho no braço e desce para minhas costas chama sua atenção, mas ela volta a olhar
para mim quando pego em seu quadril e a puxo com firmeza, tenho certeza que ela sentiu minha
ereção em sua barriga, coloco as mãos em sua bunda, e aperto sentindo sua maciez, não evito uma
mordida em meu próprio lábio inferior.

Estou louco para sentir o gosto de sua boca, seguro sua cabeça com as duas mãos, e aproximo
meus lábios dos dela. Ela tenta se esquivar por um momento, e eu a seguro mais firme, passo a língua
neles, percebo que ela engole em seco tentando respirar, mordisco seu lábio inferior e começo a
beijá-la, ela está muito tensa, forço minha língua dentro de sua boca procurando a dela, que acaba se
entregando. A envolvo num abraço alisando toda a extensão de suas costas, e ela entrelaça os dedos
em meus cabelos. Ficamos assim por algum tempo, quando a solto, sua boca é puro tesão, está
molhada e um pouco vermelha por causa de minha barba, passo meus polegares por seus lábios
macios, ela que ainda estava com os olhos fechados, os abre rapidamente.

Estou louco para comer essa mulher, então a pego pela cintura e a coloco sentada sobre a
mesa onde continha um balde de gelo e um champanhe, os empurro com brutalidade. Entro entre suas
pernas, e apesar de ser quase o dobro de seu tamanho, a mesa é alta, então ficamos com os rostos
quase no mesmo nível, eu pouso as mãos em suas coxas dando um apertão que a faz gemer enquanto
mordisco seu lábio inferior.

Ela está com o rosto corado. Maldição, essa mulher não tem noção de como é gostosa e de
como eu estou louco para possuí-la.

Livro-me dos sapatos, meias, solto o cinto e desabotoo as calças, ela fingiu não me olhar
quando estou somente de cueca boxer.

Seguro em sua nuca e a beijo novamente, desço a língua por sua garganta até encontrar seus
seios, estou louco para chupá-los, ela geme ao sentir minha boca sugando seus seios redondos,
branquinhos, com os mamilos rosados que já estão durinhos. Os coloco na boca, um por vez, sinto
sua pele macia, seu sabor, mordo seus mamilos com a ponta dos dentes, ela tenta abafar o gemido e
suas pernas me pressionam, os solto, eles estão vermelhos, deliciosamente vermelhos, aperto seus
seios com os dedos, meu corpo treme de tesão, a seguro pela nuca, forçando seu pescoço para trás,
para eu beijar livremente sua garganta, faço um traço com minha língua até chegar a sua orelha, ela
segura meus ombros com força.

Enfio minha mão na tira de sua calcinha e vou puxando devagar, percebo que ela engole em
seco, um tanto envergonhada, um tanto excitada, sua boca treme e eu mordisco seus lábios.
Passo a calcinha por seus pés, faço o mesmo com minha cueca, e quando vou abrir a gaveta
para pegar o preservativo, noto que há uma embalagem sobre o criado-mudo.

— Você é prevenida.

Ela se limita a lamber os lábios ansiosamente.

Abro a embalagem dela, retiro um preservativo e coloco em meu pau extremamente duro. Ela
não olha.

— Você parece que não está muito à vontade.

— Nunca vou estar à vontade com você— ela retruca.

Eu entro no meio de suas pernas novamente, ela coloca as mãos em meus braços como para
me barrar.

— Pois eu acho que você está gostando muito de tudo isso — provoco.

— Não seja ridículo — força um falso sorriso.

Num movimento brusco, enfio minha mão entre suas pernas e sinto o quanto está excitada, e a
faço soltar um pequeno grito. Sem retirar minha mão de sua boceta, sussurro com minha boca grudada
em sua orelha:

— Então por que está tão molhada?

Ela não responde. Enfio um dedo dentro dela que cerra os lábios tentando inutilmente conter
um gemido. Sinto sua pele quente e encharcada sugar meu dedo, isso faz meu pau latejar. Retiro o
dedo e ela relaxa o corpo na mesa por um momento até eu enfiar não um, mas dois dedos nela. Ela
geme e tenta retirar minha mão do meio de suas pernas. Retiro quase totalmente os dedos de dentro
dela e os enfio de volta, sinto que ela fica mais molhada ainda.

Com a mão livre pego em seus cabelos da nuca, para que ela olhe para mim enquanto retiro
os dedos de dentro dela e os levo para minha boca e os lambo bem devagar.

— Você é deliciosa— falo ao sentir seu gosto.

— Eu odeio você — ela sussurra ofegante.

— Ainda é muito cedo para me odiar, acabou de me conhecer — adoro provocá-la.


— Já te odiava antes mesmo de saber que você existia.

— E você costuma ficar excitada desse jeito com homens que odeia?

Ela me dá um tapa no rosto, que revido no mesmo instante.

— Você me bateu desgraçado— ela grita espantada.

— Você que começou.

Ela fica doida de raiva, e vem para cima de mim tentando me bater com as duas mãos. Ela
nem faz ideia de como isso me excita ainda mais. Em um segundo eu a domino segurando seus braços
atrás de suas costas e controlando seu corpo sobre a mesa.

— Você só pode estar doida ou excitada demais, ou realmente não sabe com quem está
lidando.

Algo em minha voz a deixa apavorada, talvez tenha sido rígido demais sem perceber, mas não
me importo, a única coisa que me importa neste momento é fodê-la.

Solto seus braços, pego em seu quadril e a puxo para frente, seguro em seus cabelos com uma
mão e com a outra encaminho meu pau terrivelmente duro e dolorido para a entrada de sua boceta e
entro de uma só vez, ela grita e fecha os olhos, mas arqueia a coluna para me receber.

—Caralho, você é tão apertadinha— sussurro grudando minha boca em sua orelha.

Continuo dentro dela até ela abrir os olhos novamente, e retiro meu pau pela metade e enfio
de novo, com mais força, minha vontade é estocá-la com toda a força possível que existe dentro de
mim. Estou com uma vontade dilacerante de enfiar o meu pau o mais fundo possível, então continuo a
penetrar sem dó dentro dela. Conforme ela recebe meus movimentos, seus seios se movimentam e ela
geme deliciosamente, tenho certeza que vou explodir de tesão a qualquer momento.

Ela tenta se libertar de minhas mãos o tempo todo, mas não deixo de perceber que suas
pernas abraçam meu quadril. Seguro em sua cintura, e ela retribui agarrando minhas costas, não
posso mais esperar, por dois motivos, um que meu tempo com ela neste momento é curto, e o segundo
motivo é que estou louco para gozar nesta mulher.

Eu novamente a puxo para frente e meu pau a penetra mais fundo, fazendo-a soltar um grito.
Eu a deito na mesa, segurando sua nuca com uma das mãos, enquanto pego em sua bunda a puxando
mais para mim, para que ainda tivesse o privilégio de estocá-la profundamente.

— Mas que porra de boceta gostosa — ainda consigo dizer.


Sinto seus dedos apertarem ainda mais meus ombros, então, sinto meu gozo inundando o
preservativo, meu corpo sacode de prazer, e percebo que estou urrando.

Maldição!

Adoro gozar, acho que é uma das melhores coisas da vida, te dá um auge momentâneo fora de
série, por isso que existem pessoas viciadas em sexo. Eu bem que poderia ser um, mas não sou. Me
sinto muito bem gozando, mas depois de alguns minutos fico com um vazio enorme dentro de mim, e
sei que agora não será diferente. Talvez me sinta vulnerável, não sei. Então, saio de dentro dela, sem
dizer nada, abaixo suas pernas e vou ao banheiro, retiro o preservativo e o jogo no lixo, me limpo
rapidamente com uma toalha, lavo meu rosto suado, penteio o cabelo, infelizmente não tenho tempo
para um banho que gosto tanto e volto nu para o quarto.

A visão dela de lingerie é perfeita, sua bunda é redonda e branquinha. Neste momento ela está
tendo dificuldades com o vestido e isso me faz rir disfarçadamente. Não sei por que as mulheres não
são mais práticas quando o motivo é roupa.

— Você pode ficar à vontade, não tenha pressa— falo enquanto começo a colocar minha
própria roupa.

Ela olha para mim como se tivesse dito alguma coisa muito, mas muito surreal.

— É claro que eu tenho pressa — ela fala e consegue fechar o zíper do vestido. — Quero ir
embora daqui o mais depressa possível.

Como minha noite ainda ia ser longa, e não estava com pique algum para merda de discussão
nenhuma, fico quieto, e enquanto acabo de me vestir, ela briga com os fechos das sandálias.

Pego minha gravata e vou para a porta fazendo o nó.

— Quando estiver pronta, Afonso está aqui fora para te levar até seu carro.

Ela interrompe o que estava fazendo com as sandálias por um momento, mas não olha para
mim, e eu bato a porta.

Assim que saio do quarto, Afonso se levanta de um sofá que havia no meio do corredor e vem
em minha direção.

— Assim que ela sair, leve ela até a garagem para pegar o carro.

— Sim Ulric, pode deixar.


— Depois me encontre no salão— termino o nó da gravata.

— Estarei lá.

Entro no elevador, enquanto isso abaixo a gola da minha camisa e ajeito o paletó. Desço ao
quarto andar, assim que chego à festa escuto alguém me chamar.

— Caetano?

— Agora não Verônica — não paro para ela.

— Caetano Ulric! —Ainda escuto ela rosnar entre os dentes enquanto me afasto.

Ágata
— Maldito, mil vezes maldito! —Falo alto assim que Ulric bate a porta do quarto.

Deixo algumas lágrimas de ódio escorrer em meu rosto. O desgraçado me tratou como uma
vadia qualquer, me usou e foi embora, e o pior é que vou ter que suportar isso por mais seis noites,
seis infinitas noites.

Acabo de colocar essa merda de sandália cheia de tiras, que juro que nunca mais vou usar,
pego minha bolsa, vou para o banheiro, limpo minhas lágrimas, passo as mãos no cabelo os jogando
para trás e enquanto faço isso noto uma mancha no final de meu pescoço.

— Desgraçado! Mas essa ainda!

Coloco o cabelo em cima da mancha, pego minha bolsa e saio do quarto, e quando faço isso
dou de cara com o capanga dele, havia me esquecido de Afonso.

— Senhorita, precisa de alguma coisa?

Não respondo e começo a caminhar pelo corredor indo para o elevador e escuto seus passos
logo atrás de mim. Em segundos a porta se abre e entro, ele faz o mesmo. Assim que eu tento apertar
o botão do térreo, onde fica a parte do cassino onde eu havia deixado meu carro com o manobrista,
ele passa na minha frente e aperta o subsolo. Não consigo evitar um suspiro.
Dou uma olhada rápida em Afonso, ele é alto, corpo esbelto, calvo, olhos negros, usa um
cavanhaque e se veste com terno e gravata, aparenta ter uns quarenta anos, deve ser o cão de guarda
de Ulric.

Quando o elevador se abre, saio rapidamente, e me sinto muito aliviada ao ver meu carro
estacionado com os vidros abertos, bem próximo ao elevador. Vou direto para ele sem olhar para
trás, noto que a chave está na ignição, abro a porta, entro no carro e giro a chave rapidamente, até
respiro aliviada quando o carro dá a partida, olho para Afonso que sorri e fecho os vidros.

Saio da garagem com tanta pressa de estar longe deste lugar que quase bato o carro na saída,
escuto alguém me chamar de burra e pedir para eu usar um óculos, meu carro morre, dou partida
novamente, o próximo carro com medo do que eu posso fazer me deixa passar em sua frente. Dirijo
feito uma louca por uns três quarteirões, ligo o som para tentar me distrair, até que preciso parar por
um momento, estaciono na frente de uma lanchonete fechada, e choro segurando firme na direção.
Depois de alguns minutos assim, a única coisa que eu quero é estar em minha casa.

Eu choro o caminho todo, nunca havia me sentindo tão baixa e usada em minha vida.
Chegando lá, estaciono o carro na garagem, pego minha chave e destranco a porta. Na sala, meu
irmão, que estava sentado num sofá, vestindo uma calça de agasalho preta e uma camisa branca
cavada, se levanta rapidamente.

— Ágata, que bom que chegou. E então, como foi? Ele aceitou?

Eu me esquivo dele que tenta colocar a mão em meu ombro.

— Não toque em mim — digo com repulsa.

— Desculpe.

— Não se desculpe, isso não tem desculpa— subo a escada para o meu quarto, mas retorno
alguns degraus. — Ele não me quer por uma noite, mas por uma semana. Sabe o que isso significa?
—Eu desço todos os degraus da escada e me aproximo dele.

A expressão dele se torna aflita.

— Isso significa que eu vou ficar à mercê dele por sete dias. Você está entendendo? Por S E
T E dias. Sete dias para ele fazer comigo todas as atrocidades que sua imaginação doente mandar —
eu grito e choro. — E hoje foi só o começo.

Ele continua calado olhando para mim, sabia que a proposta havia dado certo, e eu tenho
certeza que está se corroendo de remorso.

— E você vem me pedir desculpas! Engula suas desculpas, cretino.


Subo as escadas, e vou para meu quarto trancando a porta e não mais o vejo naquela noite.

Ulric
—Estou cansado desta merda toda — sussurro para Afonso.

— Quer ir embora, Ulric?

— Agora mesmo.

— Vamos então senhor, ainda temos muita coisa para fazer.

Afonso disfarçadamente me leva para fora da festa, não me despeço de ninguém, e alguns
outros homens de minha confiança barram delicadamente aqueles que tentam me cercar.

Gosto de Afonso, ele é meu homem de confiança há dez anos. É meu guarda-costas, algumas
vezes até mesmo meu confidente. Talvez seja a pessoa que mais me conheça neste momento de minha
vida.

Pegamos o elevador e fomos para a garagem do subsolo, entramos no banco de trás de um


carro preto blindado que nos aguardava e logo atrás outro carro nos faz a segurança. Rodamos pela
cidade por trinta minutos até chegarmos ao nosso destino: um bairro afastado, impregnado por
drogados e prostitutas. Estacionamos até onde o carro podia seguir e andamos por um quarteirão
inteiro a pé.

Eu, Afonso e mais três homens percorremos aquela rua suja e fedorenta até entrarmos num
galpão com pouca iluminação e fomos recebidos por Jôse, um homem cheio de piercingse tatuagens
que usava somente uma calça preta e sapatos pretos e um gorro na cabeça.

Nunca entendi porque raios esse homem tem nome de mulher.

—Puxa, achei que não viriam mais— nos repreende com as mãos na cintura.

— A porra da minha vida não gira em torno de você — falo grosseiramente, estou cansado e
só quero estar na minha casa neste momento.

Ele bate a mão numa maleta que se encontra em cima de uma mesa enferrujada.
— Mostra — mando.

— Primeiro o dinheiro — ri mostrando seus dentes sujos.

— Mostra logo essa merda que estou sem paciência — já levanto a voz.

— Que isso, cara? — Cospe no chão. — A porra do dinheiro primeiro.

Minha paciência neste momento se esgota, eu pego o infeliz pelo queixo e o empurro até
escutar o barulho de suas costas batendo na parede. Odeio sujar as mãos, deixo isso para meus
homens, mas às vezes não me seguro.

— Cal... calma Ulric, vamos conversar... — a voz dele sai entrecortada por causa de minha
mão em sua garganta.

— Está tudo aqui Ulric — avisa Afonso que havia aberto a maleta e verificado seu conteúdo.

Solto o infeliz que cai ao chão e vou verificar. Três armas potentes estão na maleta e junto
com elas as munições, do jeitinho que combinamos. Faço um sinal e o outro homem joga a maleta
com o dinheiro no chão. Afonso pega a maleta com as armas e ao sair do galpão Jôse, ainda no chão,
grita para mim:

— Foi bom fazer rolo com você de novo Ulric... — ri alto.


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CAPÍTULO 2

2º dia

Sexta-feira

Ágata
Estou montada em Ulric enquanto ele segura forte meu quadril. Meu corpo está coberto de
suor e eu o cavalgo cada vez mais, sinto seu pau extremamente duro entrar cada vez mais fundo em
mim.

— Isso meu bem, delícia. Continue... continue... — a voz rouca e sensual dele me excita
loucamente. — Que tesão, quero te foder muito...

Seguro meus seios, apertando os mamilos enquanto subo e desço euforicamente em cima dele.
O desejo me domina, me enlouquece. Estou molhada como nunca estive, seu cheiro, seu toque e sua
boca me levam à loucura, até que a voz dele foi aos poucos desaparecendo, ficando longe, muito
longe, enquanto dava lugar para a voz da... Beyoncé.

Beyoncé canta Single Ladies a todo vapor, sua voz parece estar dentro de meu cérebro.
Balanço a cabeça para que o som desapareça e eu possa continuar a escutar somente a voz de Ulric
que diz palavras obscenas tão excitantes, mas é em vão, Beyoncé insisti em continuar cantando.

Abro os olhos, meu celular toca Single Ladies às sete da manhã ao lado do meu travesseiro.
Minha vontade é jogá-lo na parede, fazer mil pedacinhos dele, mas desligo o botão do alarme e fecho
os olhos novamente. Estou terrivelmente suada, cansada e... excitada.

—Maldito, além de ter que aturar isso 7 dias, ele vai querer fazer parte de meus sonhos
também? Desgraçado — suspiro. — Você não merece estar em meus sonhos.

Me sento na cama, com um ódio tremendo, só não sei se odeio mais Ulric ou ela. Ergo o
celular na minha frente.

— Beyoncé, depois dessa, esse foi seu último dia comigo — jogo o aparelho na cama e
esfrego os olhos.
Dormi menos de duas horas. Havia chegado tarde ontem à noite, e depois de um banho
demorado para tirar o cheiro de Ulric que estava impregnado em mim e depois de eu ter chutado a
porta do banheiro três vezes para tentar acalmar minha raiva, fui para a cama, mas não consegui
dormir, somente peguei num sono cheio de pesadelos depois das 5 da manhã. E que pesadelo!

Estava exausta, mas tinha o dia inteiro para aguentar meu chefe que fica muito elétrico de
sexta feira. Ninguém mandou ser secretaria executiva, devia ter escolhido outra profissão, mas não
posso reclamar, ganho o suficiente para pagar a prestação de nossa casa, plano de saúde,
mensalidade do carro, e as outras contas, já que Jan esquece que tem que trabalhar.

Levanto, me espreguiço, sinto meu corpo todo dolorido e abaixo os braços devagar fazendo
uma careta, claro, a tensão de ontem com o maldito.

Vou ao banheiro, abro o chuveiro e me olho no espelho. A marca continua visível em meu
pescoço, fecho os olhos e respiro fundo para conter minha raiva.

Tomo um rápido banho, coloco uma camisa branca de botão e gola para esconder o resultado
de ontem à noite. Funciona. Coloco uma saia lápis preta e saltos altos para finalizar.

Pego minha bolsa e desço as escadas, a casa está em silêncio, claro que está, Jandon não
acorda antes das 11, normalmente passa as madrugadas jogando e bebendo. Não gosta de trabalhar,
às vezes faz alguma coisa aqui e ali, para alimentar o seu vício no jogo. Não consigo livrá-lo deste
vício maldito, que Ulric alimenta e faz esse papel muito bem.

Faço um café forte na cafeteira elétrica me lembrando que já havia ido duas vezes na porta
daquele cassino e pedido para os seguranças trazerem Jandon para fora, uma vez precisei fazer um
grande escândalo na porta para que isso acontecesse e eu pudesse levá-lo para casa.

Mas quando me lembro de tudo o que aconteceu há um mês, ainda me arrepio. Jandon ainda
guarda as marcas da surra que levou dos homens do Ulric.

Fazia algumas semanas que eu estranhava seu comportamento, estava aflito, com medo,
entrava em casa e trancava tudo rapidamente. Sempre que perguntava se tinha alguma coisa a ver com
o jogo, ele desconversava, mas quando um carro preto o jogou na porta de casa, sangrando, quase
morto, ele teve que me contar a verdade.

Que ele já era um viciado em jogo, eu sabia, agora que ele havia contraído uma alta dívida no
Cassino Ulric, eu fiquei desesperada quando soube, pois, sabia da reputação deles. Deram um mês
de prazo para ele resolver seu problema. Então, não havendo solução, e o prazo que vencia ontem, eu
tive que tomar uma atitude, informei a ele que resolveria tudo me oferecendo para passar uma noite
com Ulric. Jan de início não quis, brigou, gritou, mas aceitou, pois sabia que se ele aceitasse a
proposta, seria a única solução. Não temos ideia do que ele poderia fazer com a gente se não
quitássemos a dívida, ou melhor, imaginamos o que ele poderia fazer sim e não gostamos do que
pensamos.

E como a fama de Ulric com as mulheres era grande, eu tentei a sorte e funcionou.

Eu errei muito com Jandon, confesso. Quando nosso pai nos abandonou na adolescência e
nossa mãe se entregou ao álcool e faleceu um ano depois, foram momentos difíceis, mas a gente
sempre cuidou um do outro, mas acho que assumi responsabilidade demais quanto a Jan. Por ser mais
velha que ele três anos, me senti na obrigação de ser a responsável pela casa, mas hoje ele já está
com vinte e cinco anos e eu com vinte e oito, está mais do que na hora dele aprender a ser
responsável. Balanço a cabeça negativamente, sinto o cheiro delicioso do café quentinho, o bebo
rapidamente e corro para o carro, estou atrasada.

Ulric
Sinto os dedos de alguém acariciando meu cabelo, e isso me desperta. Percebo que minha
cabeça dói muito. Culpa do uísque. Tem alguém na minha cama, me viro para olhar e fico
irritadíssimo.

— Bom dia, paixão. — Verônica sorri.

— Quando você vai aprender para que serve a merda de uma porta de quarto, Verônica? —
Esbravejo.

— Vim te acordar para tomar café da manhã comigo, seu chato.

Ela continua sorrindo e tenta tirar minha coberta fazendo uma brincadeira, que me irrita ainda
mais. Seguro o lençol com força.

— Pare com isso Verônica, estou pelado — grito com ela.

— E qual o problema? Já te vi pelado tantas vezes.

— Você não me vê pelado desde que eu tinha uns cinco anos. Mas que merda.

— Que mal humor, maninho — ela passa por cima de mim e se levanta da cama, noto que está
usando um micro biquíni com uma camisa de banho por cima. — Estou te esperando na mesa — me
manda um beijo e sai do quarto.
Adoro Verônica, mas sua futilidade me irrita demais. Todos dizem que somos a dupla perfeita
de irmãos. Apesar de nós dois sermos herdeiros do famoso CASSINO ULRIC, eu tomo conta dos
negócios, e Verônica gasta o dinheiro. Ela tem quatro anos a menos que eu e como caçula tem todos
seus desejos realizados por mim, esse deve ser o motivo de tanta futilidade: muito dinheiro fácil.

Ela diz que é jovem e tem que curtir a vida, e diz que devo fazer o mesmo. Às vezes me
esqueço que tenho somente trinta e quatro anos, mas o modo de agir, de lidar com todos, de dar
ordens muitas vezes extremas, me dá a sensação de ser bem mais velho.

Me sento na cama e olho meu relógio de pulso, já passam das dez da manhã, apesar de ser
tarde dormi pouco, como sempre. Tomo um banho gelado para despertar e depois saio do quarto e
começo a percorrer os corredores de minha grande mansão. Ela tem todo o luxo que o dinheiro pode
comprar. Acho um exagero, mas somente às vezes, porque no fundo, apesar de ser um homem muito
prático, gosto de conforto.

Chego à sala e a mesa do café está posta. Verônica sentada e Afonso de pé estão numa
animada conversa. Ela é linda, alta, olhos esverdeados, cabelos castanhos e ondulados que chegam
até a cintura, corpo esbelto e escultural, seios fartos, lábios carnudos. Por onde passa chama a
atenção por sua beleza e arrogância, e não é diferente com Afonso, mas ele disfarça que está quase
babando por sua beleza quando chego e me sento à mesa, imediatamente ele muda sua fisionomia de
alegre para apreensivo.

— Bom dia! — Falo com muito mal humor.

— Bom dia Ulric, preciso resolver uns assuntos pendentes, hoje ainda — ele descarrega
antes mesmo de eu poder tomar um café.

— Sente-se Afonso e tome café da manhã conosco.

Ele se senta e Verônica emburra por um momento.

— É sobre aquele assunto que estávamos falando ontem, Afonso? — Pergunto enquanto encho
uma xícara de café sem adoçar, que é como gosto, e tomo quase tudo de uma vez me queimando a
garganta.

Ele concorda com a cabeça.

— Senhor, o que eu devo fazer? É mais um homem que a quantia que deve para o cassino está
aumentando e rapidamente, inclusive ele esteve jogando ontem de novo. Estou apenas aguardando
uma ordem sua.

— Dê um corretivo a ele, para já saber com quem está lidando, para que pense bem antes de
dever para mim. Ainda que a quantia não seja muita, ele já ficará bem esperto.
— Sim, senhor— ele já sabia o que isso significava, corretivo era igual a uma surra. Ele e
seus homens faziam isso a tempo demais para não entender o significado de minhas palavras.

— A segurança para hoje à noite está completa? — Pergunto, enquanto mordo um pão com
queijo cremoso.

— Com certeza, Ulric. — Afonso responde.

— Não sei por que você convidou tão poucas pessoas para o jantar hoje à noite, Caetano —
resmunga Verônica.

— Por que a casa é minha e não a quero cheia de gente— retruco. — E pretendo fechar
negócio rapidamente hoje.

— Mas é muito mais interessante, quando a mansão está cheia de gente bebendo e dando
risada — ela pisca.

Algumas vezes fazia jantares, ou recepções na mansão para algum grupo de pessoas,
dependendo do negócio que tinha que tratar, e hoje não seria diferente, tinha que ter um bom
relacionamento com certa parte da sociedade, e às vezes isso não era possível no Cassino.

Ela percebe que fico calado e não vou mudar de opinião.

— Chato, você está cada vez mais chato. — Verônica se levanta. — Vou para a piscina.

Assim que ela sai da sala, peço para Afonso:

— Prepare outro segurança para me acompanhar ao Cassino, Afonso.

— Mas... eu não vou com você?

Sair sem a companhia de Afonso era bem raro, só fazia isso em circunstâncias especiais.

— Isso mesmo. Você me encontra lá depois, quero que me faça um favor — sorrio com o
canto dos lábios.

Ágata
Estou em minha sala mastigando um misto quente de almoço, me sujando toda de catchup e
tomando um refrigerante light extremamente gelado.

Foi só o que eu consegui para hoje, visto que minha manhã foi muito atribulada e tive muito
serviço para fazer, não podendo sair.

Estou olhando fixamente para a foto de Ulric ampliada ocupando quase toda a tela do
notebook. As fotos não fazem muito jus a ele, é muito mais bonito pessoalmente, é um nojento, mais é
bonito.

Alto, minha cabeça deve bater em seu ombro, dono de um corpo malhado, moreno, olhos
negros. Tudo nele parece ser perfeito, o cabelo curto parece ser intocável, nenhum fio fora do lugar,
uma barba rala, mas perfeita, num rosto oval, de traços másculos e marcantes. E sua boca... é de
arrepiar.

Sinto um frio na barriga, ao me lembrar da tatuagem, aquilo era sexy, muito sexy. Infelizmente
ele só é bonito fisicamente. Do contrário é um babaca manipulador.

Estou distraída pensando em Ulric, quando noto um homem em pé na minha frente bem na
hora que iria abocanhar mais um pedaço de meu lanche. Será que ele estava lá fazia tempo?

Fecho a tela do notebook.

Idiota, ele não pode enxergar a tela, dei na cara que estava fazendo algo errado.

— O que está fazendo aqui? É meu local de trabalho — fico irritada.

— Vim lhe trazer isso. — Afonso estica o braço e me entrega um envelope.

Coloco meu lanche no prato, perdendo totalmente o apetite.

Pego o envelope e o abro. Dentro tem um cartão parecido com um cartão de crédito, mas com
um código de barra, e um convite impresso num papel creme.

— O cartão é para liberarem sua entrada no jantar na casa do Sr. Ulric hoje à noite — cruza
as mãos na frente do corpo.

Droga.

— Um jantar? — Fico sem ação, não posso negar de ir, dei minha palavra de sete noites com
ele.
— Sim. Um jantar. Vou pedir para um carro buscá-la as 8:30 da noite em sua casa.

— Não precisa, vou com meu próprio carro.

— Sendo assim, até a noite. — Afonso sorri, coloca os óculos escuros e se vira para sair.

— Afonso?

Ele volta a olhar para mim.

— Pois não.

— Vai ter muitas pessoas neste jantar?

— Não muitas — ele retira os óculos. — Umas vinte, talvez — ele se aproxima novamente.

— Puxa. Eu tenho que ir mesmo, eu não posso me encontrar com ele depois?

— Não. Essas são as ordens dele.

— Você não pode falar com ele que irei mais tarde?

Não sei qual o problema, ele só quer transar mesmo.

— Quem dá as cartas é o dono do jogo minha cara — sorri.

—Mas o jogo pode virar em algum momento e a partida pode começar por mim — sorrio
sarcasticamente de volta.

— Vamos aguardar.

Fico em silêncio.

— Dê um tempo na rebeldia e o conheça melhor.

Fico boquiaberta. Quem ele pensa que é para me dar conselhos?

— Por favor, saia.

Ele coloca os óculos e sai e eu jogo o restante do lanche na lata de lixo.


Após o almoço, meu chefe retornou muito calmo, muito diferente da parte da manhã. Ao invés
de me deixar louca como faz toda sexta feira, estava tranquilo no período da tarde, quase não me
requisitou, e o dia pareceu uma tortura, não terminava nunca.

O resto do meu dia foi terrível, fiquei cansada, deprimida e ansiosa. Tive sono, dor de
estômago, ânsia de vômito. Liguei três vezes para Jandon e ele não me atendeu, com certeza estava
jogando e bebendo de novo.

Finalmente olho no relógio: 17:00. Suspiro aliviada e desligo tudo, saio da empresa, pego
meu carro e vou para casa.

Assim que chego, percebo que Jandon ainda não estava, vou até seu quarto e noto que ele
havia passado recentemente por aqui, vejo a toalha de banho na cama e roupas jogadas no chão.

Subo para meu quarto e depois de descansar um pouco, tomo um banho, seco o cabelo, faço
uma maquiagem leve, deixando meus olhos bem marcados e nos lábios um batom num tom bem claro.
Coloco um brinco dourado, discreto mais comprido, coloco pulseiras dourada para combinar.

Opto por uma saia curta de renda branca e uma camisa de cor azul clara que realça meus
olhos. Enfim tinha que esconder a chupada de Ulric de meu pescoço. Ficou ótimo, a blusa desce um
pouco abaixo do cós da saia, deu um perfeito caimento, coloco saltos pretos e uma bolsa preta.

Olho no relógio e já são 8:05, não estou preocupada, apesar de não saber onde fica a casa
dele, vou usar o GPS para ir ao endereço que tem impresso no convite.

Entro no carro, ligo o aparelho para me levar pelas ruas, e vou, só que o problema é que ando
em círculos por quase uma hora, me perco, pergunto pelo endereço, estou completamente perdida e
desesperada, enfim com muito sufoco viro numa rua e o maldito aparelho grita: Você chegou em seu
destino!

O desligo e o jogo dentro do porta luvas. Ele nem precisava me dizer, pois em frente a um
portão de grades enormes há uns quatro homens, do outro lado da rua mais alguns, enfim a casa
estava cercada.

Vou me aproximando com o carro, nem sei o que fazer, se estaciono na rua, ou se me
aproximo.

Caramba, tudo isso para um simples jantar de poucas pessoas?

Vou parando devagar próximo ao portão, estou muito atrasada, o horário combinado era às
8:30, olho para o relógio do carro: 9:27.

Droga.
Abaixo o vidro, e um homem alto e grande se abaixa bem próximo a mim.

— Boa noite senhora, posso ajudá-la?

— Sim, eu tenho convite para o jantar — mostro o cartão e ele retira um aparelho do bolso e
o aproxima ao código de barra e balança a cabeça afirmativamente.

— Entre aqui — ele aponta o grande portão. — E siga em frente, quando avistar a mansão
vire à esquerda que será recepcionada.

— Obrigada.

O portão se abre e passo lentamente, pois os homens ficam muito próximos ao carro.

Eu vou entrando e conforme faço isso noto um jardim estupendo, enorme e lindo, luzes acesas
coloridas, nunca havia visto algo tão bonito. Noto a mansão logo à frente e entendo porque chamam
de mansão, pois ela é enorme. Muitas janelas, uma construção muito branca, uma mistura do moderno
com o antigo. Nossa, quantos empregados devem ter aqui? Deve ser gasto uma fortuna por dia para
manter essa beleza toda.

Que desperdício de dinheiro.

Do jeito que eu viro à esquerda um homem já pede para eu estacionar. Eu paro, ele abre a
porta para eu descer, me cumprimenta muito educadamente, e entra em meu carro para guardá-lo,
nisso outro homem pede que eu o acompanhe, passamos por uma porta, caminhamos por um curto
corredor e ele toca a campainha e aguardamos.

A porta se abre e eu vejo uma mulher com os seus cinquenta anos, cabelos tingidos de preto e
curtos, que os mantinha penteados de lado. Era magra, alta. E usava uma calça social bege com um
casaquinho da mesma cor por cima da camisa rosa claro. Devia ser muito eficiente no que fazia, pois
me cumprimenta pelo meu nome.

— Boa noite, senhorita Ágata, por favor entre.

— Obrigada — agradeço e entro.

Assim que avisto a sala enorme com pessoas rindo e bebendo, com uma música muito calma
tocando no ambiente, meu coração acelera.

O que eu estou fazendo aqui? Mas uma voz feminina me tira de meus pensamentos.

— Olá.
Ela cumprimenta e vem em minha direção. Ela é muito linda mesmo, mais que nas fotos da
internet, perfeita.

— Oi – cumprimento e damos as mãos, mas não a sinto muito à vontade comigo, é recíproco,
pois seu toque me causa certa repulsa.

— Meu irmão disse que viria, mas ele precisou sair e ainda não retornou, apesar de você
estar bem atrasada — ela pega um copo de champanhe que o garçom oferece e me entrega. — Vamos,
te apresento para as outras pessoas. Caetano chegará em breve.

Caetano? Não tinha ideia que esse era seu nome, mas me limito a sorrir.

Realmente Afonso não mentiu, deveria ter vinte pessoas, talvez menos. Algumas me
cumprimentam, outras apenas abanam a mão ou levantam suas taças para me dar as boas-vindas.

Sento-me num sofá onde há um jovem casal e uma senhora um pouco mais velha. Em
segundos sou bombardeada com perguntas.

— Que linda menina. De onde conhece o Ulric, querida? — Iniciou a senhora.

— Hã... — sou pega de surpresa, não poderia simplesmente dizer que estou transando com
ele a troco de uma dívida. — Do cassino... isso do cassino.

— Nunca te vi frequentando o cassino, olha que eu não saio de lá — ela ri e algumas pessoas
fazem o mesmo.

— Estou há pouco tempo... hã... jogando— não sei que palavras usar.

Eles começaram a falar de jogo, eu não entendia nada. Só sei que falei que eu era secretaria
executiva, algumas pessoas conhecem meu chefe. Que maravilha!

Eu era a celebridade da festa no momento, ninguém me conhecia. Como diz Jan: carne nova
no pedaço.

Então sinto um olhar que me faz virar o pescoço e dou de cara com Verônica que não disfarça
seu ciúme, afinal estou roubando a atenção da festa para mim, ela não deve ser acostumada a isso.

Meu Deus, que mulher estranha.

Quero correr desse lugar. Me levanto, cansei de ser o centro das atenções.

Pego mais uma taça de champanhe, já me sinto um pouco alta, e me aproximo da janela, mas
rapidamente Verônica está ao meu lado.

— Não sei quem é você e nem o que faz aqui. Pois tenho certeza que não veio tratar de
negócio — fala baixinho e sorri para disfarçar. — Mas não deve ser uma vadia qualquer de Caetano,
senão não estaria aqui neste jantar.

— Não acho que devo dar satisfação de minha vida para você, sendo que nem Ulric fez isso
— rebato.

— Não mexa comigo que faço você engolir essa arrogância. Não me conhece, querida.

Neste momento escutamos um alvoroço, quando olho Ulric está entrando na sala, e Afonso
logo atrás.

Ele está vestido completamente despojado, não usa terno nem gravata, como seus convidados.
Usa uma calça jeans preta, uma camisa verde oliva de mangas compridas que estão dobradas até os
cotovelos, revelando um mínimo de sua tatuagem.

Mas mesmo assim ele é o dominante da festa, o superior, assim que entra deixa isso bem
claro a todos, sua imponência extravasa em seus poros.

Ele foi cumprimentando a todos, até se aproximar de nós, assim que o fez, Verônica abriu um
enorme sorriso e se enlaçou em seu pescoço. Ulric deu-lhe um carinhoso beijo no rosto e a fez se
soltar dele.

Ele pega levemente em meu cotovelo e me dá um beijo no rosto, sinto sua barba roçar minha
pele e me arrepio.

— Por que ela está aqui, Caetano? —Ela pergunta bebericando sua bebida.

— Isso não é da sua conta, Verônica.

Neste momento, a mulher que abriu a porta para mim, que deveria ser a governanta da casa
anuncia que o jantar estava servido.

Mas ao invés de Ulric se sentar à mesa, ele pede para dois homens o aguardarem no
escritório e me manda jantar.

Corro atrás dele, antes de ele entrar no escritório, o seguro pelo braço fortemente e falo
baixinho, mas muito furiosa.

— Eu vou embora. Não vou mais ficar aqui com esses abutres. Foi para isso que me mandou
vir para cá?

Ele balança o braço, solta minha mão, reverte pegando em meu braço e me leva para longe de
todos.

— Não me importo nem um pouco com a sua vontade. Você vai me esperar e chega dessa
frescura toda. Volte para a sala agora— ele me solta.

— Você não pode me tratar assim — estou com muita raiva.

— Então não me obrigue a fazer isso.

Faz um sinal com a cabeça para que eu volte, e resolvo obedecer. Ele parece muito nervoso
ou preocupado.

Volto para a sala, me sento à mesa enorme longe de Verônica, mas não consigo ingerir
alimento algum, meu estômago dói. Fico um tempo na mesa e peço licença e saio, volto para a sala
onde algumas pessoas também já estavam, pois preferiam beber ao invés de comer.

Ele volta depois de mais ou menos quarenta minutos, conversa com mais algumas pessoas,
sempre com um copo na mão. Não fala mais comigo, isso está se tornando insuportável.

Eu estou muito cansada, quero ir para casa.

Mas ainda bem que as pessoas começaram a se despedir de Ulric e Verônica, acho que eles
perceberam que estava na hora de ir embora, pois foram indo um a um.

Quando ele volta para sala onde havia ido se despedir de um último empresário, encontrou
nós três: eu, Verônica e Afonso olhando atentamente para ele.

Ulric
Eu balanço a cabeça para os lados tentando espantar meu extremo cansaço. Coloco as mãos
na cintura tentando manter meus pensamentos em ordem.

Esse último empresário que foi embora, um desgraçado de merda, me deu o maior trabalho
para fechar a venda das armas, isso não pode continuar assim...
— Caetano...

— Agora não Verônica — interrompo.

Por um momento até me esqueci desses três aqui na sala. Maldição!

Eu vou até o bar e encho mais um copo de uísque. Preciso beber, meu dia havia sido horrível
e amanhã será ainda pior.

— Precisa de alguma coisa Ulric? — Afonso pergunta.

— Cuide do resto para mim, Afonso, por favor — respondo depois de engolir toda a bebida
do copo, mesmo sendo completamente acostumado com o uísque, ele chega queimando em meu
estômago vazio. Nem me lembro quando foi a última vez que comi alguma coisa hoje.

— Sim senhor. — Afonso responde, mas não sai da sala.

Verônica me olha interrogativamente.

— Vá dormir, converso com você amanhã — deposito um beijo em sua testa.

Não deixei Verônica responder, pois sabia que mimada como ela é, iria me deixar mais
cansado e estressado ainda, então em aproximo de Ágata e pego sua mão, está muito gelada.

Será que está com medo de mim?

Faço com que Ágata me acompanhe, seguro sua mão até chegarmos na escada e então a solto
e ela continua a me seguir. Paro em frente à porta de meu quarto, abro e faço sinal para que ela entre.

Ao entrar, ela paralisa por um minuto, talvez notando como é um luxuoso quarto. A cama é
enorme e fica embaixo de uma janela coberta de cortinas brancas, e um dos lados da cama é
revestido totalmente por um enorme espelho.

Ela fixa seu olhar ali.

Eu fecho a porta, coloco as mãos no bolso, retiro o celular, a carteira e um molho de chaves e
coloco tudo em cima da mesa.

— Preciso de um banho.

Estou tão cansado, que tenho medo de não conseguir transar com ela. Mas ela desvia o olhar
do espelho e fixa em mim.
Seus olhos são de um azul magnífico, nunca gostei de olhos azuis, sempre achei que eles
podiam ver minha alma, eles parecem que tem algo a mais que os outros.

Mas os dela são diferentes, eles brilham, parecem duas joias, eles querem me dizer alguma
coisa, parece que querem me transmitir algo.

Ainda me lembro quando Afonso me chamou para informar que uma mulher estava criando
problema na porta do cassino, então eu a vi, a achei linda, muito linda e atrevida, brigava com o
segurança. Ela me atraiu de imediato.

Quando soube que era irmã de Jandon, deixei ele se afundar no jogo, para depois eu
conseguir sua irmã numa boa, sem me preocupar com pieguices. As coisas que odeio em mulher são
que elas exigem um grau de romantismo que não tenho, e o número de meu celular. Isso é terrível.

É tão difícil entender que só quero transar e ir embora? Então vi nela uma presa fácil para
somente trepar, e isso quantas vezes eu quisesse, já que tenho Jandon nas mãos.

E ela caiu como um patinho, veio direto a mim, nem precisei fazer esforço.

Só que a diferença dela com as outras mulheres que transo, é que Ágata está longe de ser
fútil, é uma mulher de conteúdo, e percebi isso na nossa primeira conversa.

— Está me ouvindo? —Sua voz estridente me chama para o presente.

— Desculpa. O que disse?

— Você disse que precisa de um banho, eu perguntei se posso esperar aqui.

— Não — respondo desabotoando a camisa. — Você vai tomar banho comigo —ela parece
não acreditar, então falo mais sério ainda. — Venha.

Vamos para o enorme banheiro que eu tenho, coloco a banheira para encher, e retiro a camisa,
pego um vidro de sais que tenho na borda da banheira, o abro e jogo um pouco na água,
imediatamente se forma uma leve espuma e um cheiro de menta refresca o ar.

— O que é isso? — Ela pergunta cruzando os braços.

—Isso é um banho que você nunca tomou.

— Já tomei banho de banheira — fala fazendo uma careta. — E não gosto nem um pouco —
ela tenta me provocar.
— Esse você nunca tomou e com certeza vai gostar e não vai esquecer— sorrio
sarcasticamente.

Ela fica séria e depois pergunta:

— O que significou esse jantar, afinal?

— Negócios — me jogo relaxadamente numa poltrona que fica perto da banheira.

— Que tipo de negócios?

— Isso não te interessa.

— Você é muito grosso, Ulric.

— Eu já trato de negócios o dia inteiro. O que te leva a pensar que vou tratar sobre esse
assunto com você?

Ela dá de ombros.

— Foi você que me mandou vir nesse jantar estúpido.

— Com você meu assunto é outro.

Ela cora imediatamente. Deixo as pernas abertas e cruzo as mãos na barriga e peço com voz
firme.

— Tire a roupa.

Percebo que ela fica envergonhada, e se retrai.

— Qual o problema Ágata?

— Nenhum.

— Então...

— Por que você quer que eu faça isso?

— Como por quê? —Dou risada e ergo as sobrancelhas. — Posso te dar vários motivos: nós
não vamos tomar banho de roupa e não vamos transar de roupa — faço silêncio e fico sério
novamente. — Mas o motivo mesmo é que quero ver você nua só para mim.

Ela passa a língua nos lábios. Adoro quando ela faz isso. Esse simples gesto inconsciente
deixava meu pau latejando.

Ela não retruca e retira os sapatos e os joga para um canto. Ameaça tirar a saia, mas desisti e
começa a desabotoar a camisa.

Ela abre os botões um por um, bem devagar, mas não olha para mim, está sem jeito, talvez
mais envergonhada que ontem, só não entendo o porquê disso.

Assim que ela retira a camisa, noto que ela usa uma lingerie num tom bem claro de azul, e
vejo que o sutiã pressiona seus seios os deixando maiores. Tive que me controlar para não pular
daqui e tirá-lo com os dentes, e meter a boca em seus mamilos.

Quero experimentar cada parte de seu corpo, minha vontade é tocar e chupar cada centímetro
dela. Será que ela tem noção disso?

Ela começa a retirar a saia devagar, está tímida, joga delicadamente a saia para um canto.
Levanta o corpo, olha para mim e entreabre os lábios.

Apesar do ambiente estar fresco por causa do ar condicionado, sinto que começo a transpirar.

Adoraria essa boca em volta de meu pau agora. Sinto minha calça quase estourar com esse
pensamento.

Ela enfia a mão para trás e desabotoa o sutiã liberando os seios perfeitos. Me movimento no
sofá, enquanto ela retira a calcinha tentando não parecer vulgar. Acho bonito.

Seu corpo não é totalmente magro, tem curvas, gosto disso também. Sua depilação é perfeita.
Suas pernas são lisas e macias. Mas que porra, porque ela tem que ser tão perfeita assim?

Percebo que estou a olhando há um tempo, e ela está incomodada, e meu pau também.

— Entre na banheira.

Maldição, minha voz sai rouca de desejo de comê-la.


Ágata
Estou completamente envergonhada, ele não esboçou reação nenhuma enquanto eu me despia.
Acho que não gostou do que via. Ontem não tive tanto problema para tirar minha roupa em sua frente,
mas hoje precisei reunir toda a minha força para isso. Não consegui encará-lo e ver seus olhos tão
inexpressivos.

Estou me sujeitando a fazer a pior coisa que já fiz em toda minha vida. Transar por dinheiro.
Saber que esse maldito só quer me usar para satisfazer suas necessidades e depois me mandar
embora me deixa muito mal. Mas não tenho outra opção, pois sabendo da fama de cruel que ele tem,
tenho que cumprir o combinado.

Viro de costas para ele, sei que está analisando minha bunda, e isso me deixa mais nervosa
ainda. Subo os dois degraus da banheira e coloco um pé de cada vez dentro da água que está numa
temperatura muito boa, me sento na banheira e faço um coque no alto da cabeça para que meu cabelo
não molhe.

Um frescor atinge meu corpo imediatamente. Uma deliciosa sensação me percorre e me


arrepia, parece que estou coberta de menta gelada dentro da água quente.

Escuto ele soltar o cinto, abrir o zíper e retirar as calças, bem atrás de mim. Dobro meu
joelho, pois a água não chega a cobrir meus seios.

— O que você colocou na água?

— Meu segredinho — percebo que ele sorri.

Em instantes ele entra nu na banheira, procuro disfarçar, mas não tenho como deixar de notar
o quanto está excitado pelo volume entre suas pernas. Ele se ajoelha na minha frente, coloca as mãos
quentes em meu joelho e abre minhas pernas. Sinto um calafrio me percorrer a espinha, ele passa as
mãos no lado interno de minhas pernas e depois me pega pela bunda me colocando apoiada em cima
de suas coxas.

Ele passa o dedo na marca que deixou em meu pescoço, coloca uma das mãos na minha nuca
e solta meu cabelo, que escorrega por meus ombros. Suas mãos descem e acariciam minha cintura, e
sobem para meus seios.

Droga, eu não consigo conter um gemido quando ele aperta meus mamilos com os dedos.

Sua boca chega em meu pescoço, sinto sua língua úmida encostar em minha pele, e ele
intercala com pequenas chupadas chegando até em minha orelha, enquanto acaricia toda a extensão
de minhas costas. Tudo parece mais excitante, acredito que seja algo afrodisíaco na água, cada toque
seu em meu corpo parece queimar minha pele.

— Adoro sua boca.

Ele sussurra antes de começar a me beijar vorazmente. Parece que algo queima dentro dele,
sua língua exigente me deixa aflita e com tesão.

Merda, tesão com esse homem, não é possível.

Ele me puxa para mais perto dele, pega em meus cabelos da nuca, e me segura forte. Meus
seios estão tocando seu peito musculoso, minhas pernas estão abraçando sua cintura, posso sentir sua
enorme ereção contra meu corpo, aproveito para segurar em seus cabelos macios.

Ele me beija muito antes de me soltar, parece que não quer mais largar minha boca. Está
ansioso e parece nervoso. Suas mãos são fortes e me seguram com uma firmeza exigente e excessiva.

Esse homem transpira virilidade, transpira dominação.

— Sente na borda da banheira— ele manda.

Não estou gostando muito disso, mas faço o que me manda. Sua voz é tão autoritária, que é
impossível não obedecer.

Ele continua ajoelhado, mas com o corpo ereto. Segura meu quadril e me ajuda a sentar na
borda da banheira, apoio minhas mãos no chão e fico um pouco inclinada, ele continua ajoelhado
dentro da banheira e enfia a mão entre minhas coxas e abre minhas pernas, o máximo que consigo.

Ele acaricia minhas coxas enquanto olha meu sexo, minha respiração acelera, ele lambe os
lábios e olha para mim, pega firme por baixo de minhas coxas e me puxa mais para a borda, e quase
caio para trás e me apoio nas mãos.

— Quero você toda arreganhada para mim, Ágata.

Meu coração acelera e me excito mais ainda ao ouvir sua voz grossa e rouca falar desse jeito,
a sensação de estar completamente aberta e vulnerável para ele é de medo e de êxtase.

Ele passa um polegar pelo meu clitóris, massageando bem devagar. Minha boca entreabre e
não consigo conter um gemido.

Minha nossa! Esse maldito deve saber muito bem como usar as mãos.

Ele lambe os lábios antes de enfiar um dedo em mim, retira e enfia de novo, bem devagar.
— Você está tão molhada.

— Claro. Estava na banheira— tento mentir.

— Não seja boba — fala com um sorriso sensual.

Ele desce a boca e mordisca minha coxa e em seguida faz um risco imaginário com a língua
até chegar em meu clitóris, ele lambe devagar, aos poucos, parece que está tentando decifrar meu
sabor. Com os polegares ele abre meus grandes lábios, e olha meu sexo atentamente. Sinto meu rosto
queimar. Volta a me lamber com ferocidade agora, ele chupa meu clitóris com os lábios, eu grito e
puxo meu corpo para trás, mas ele me segura e me chupa novamente.

Ele para o que está fazendo e olha para mim, percebo que estou com a boca aberta tentando
respirar. Então ele retoma o que estava fazendo e continua a me chupar, sinto que fico mais molhada
ainda e chego a jogar minha cabeça para trás no momento que sinto seus dentes mordiscando meu
clitóris.

Minha nossa, isso é muito bom.

Ele para de me lamber. Respiro aliviada por um momento, em seguida ele pega uma perna
minha e a coloca em cima de seu ombro e segura a outra no alto pela minha coxa. Eu escorrego e me
apoio nos cotovelos. Agora estou totalmente aberta para ele.

Maldito!

Ele me lambe toda, inteirinha, sinto sua língua quente em toda minha intimidade, cada pedaço
de meu sexo é penetrado por essa língua exigente, e em seguida volta a se concentrar em meu clitóris.

Agora estou encharcada, sinto que estou escorrendo e que vou enlouquecer de tanto tesão.

— Você é gostosa demais!

Quando penso que não vou aguentar, o desgraçado abaixa minhas pernas, eu as fecho
enquanto ele limpa a boca com as costas da mão.

— Seu gosto é ótimo— ele me segura pelos cabelos. — O gosto de sua boceta me deixa
louco de tesão. Quero te foder a noite inteira, Ágata.

Ele me beija, e conforme penetra minha boca, sinto meu próprio gosto em sua língua e sinto
meu corpo se arrepiar.

Ele me solta, ergue o corpo e pega algo um pouco atrás de mim, é um preservativo, enquanto
o coloca, olho seu pênis, noto as veias pulsando no membro duro e grosso.

— Venha — ele fala enquanto me pega pelo quadril e me posiciona na banheira.

Agora estamos de joelhos, estou de costas para ele, quase de quatro, me segurando nas
bordas, sentindo o piso frio.

Ele está atrás de mim e puxa minha bunda, me inclino para recebê-lo. Sinto seu membro
forçar a entrada. Ele abre mais ainda minhas pernas, segura em minha barriga e entra de uma só vez,
facilmente.

Ele solta um urro de excitação e apoia a cabeça em minhas costas pegando em meus seios.
Ele começa a me penetrar sem parar, mete forte e duro, eu escuto o barulho da água se movimentando
a cada estocada dele.

Sinto seu perfume masculino misturado com uísque, isso me inebria.

O desgraçado não é delicado, ele está bruto, e isso me deixa mais louca ainda. Enquanto ele
mete quase com violência, ele agarra minha pele me apertando tão firmemente, como se estivesse
com medo que eu fugisse.

— Mas que porra, você é tão deliciosa.

Ele sussurra e segura meu queixo, me fazendo inclinar a cabeça para trás, enquanto ele lambe
meu pescoço, minha orelha, metendo seu pau sem parar em mim, e me fala baixinho:

— Se solta Ágata... quero sentir sua boceta apertar meu pau enquanto goza.

O maldito sabe que eu estou a ponto de ter um orgasmo, e falando dessa maneira não está
ajudando a me controlar, nem um pouquinho.

Então ele para de meter, mas não sai de dentro de mim. Acaricia meus seios, minha barriga,
sinto seu corpo suado grudar em mim, e num movimento brusco agarra meus cabelos me segurando
fortemente e começa a meter muito forte de novo, forte de um modo que não posso aguentar e começo
a gemer quase enlouquecida.

— Isso, goza para mim, goza bem gostoso no meu pau...

Ele ordena em voz alta, ele está quase se perdendo também, e eu grito, grito quando o
orgasmo me atinge de uma maneira alucinante e empurro mais meu corpo para ele, quero mais ainda
ele dentro de mim, quero que ele me preencha ainda mais e mais fundo.
Ele não espera eu me refazer, sinto seu pau se tornar mais grosso, ele geme e dá mais algumas
estocadas fortes e goza também, goza muito apertando fortemente meu seio e meu quadril, soltando
um grito abafado.

Nunca havia sentido tanto tesão com um homem assim, nunca havia ficado tão encharcada
desse modo. Preciso me controlar para conseguir respirar e percebo que ele está fazendo o mesmo.

Após um momento, sinto seus dedos afrouxarem de meu seio, e ele segura a borda da
banheira com as duas mãos, ele fez isso tão fortemente que percebo seus dedos embranquecerem.

— Ai que merda — ele resmunga com a boca colada em minha orelha.

Ulric
Meu corpo está tremendo com a intensidade do orgasmo. Me seguro na banheira até
conseguir manter um controle sobre meu corpo.

Seu cabelo molhado está grudado em meu rosto, seu cheiro é afrodisíaco. Nunca quis tanto
possuir uma mulher dessa maneira, a sensação era que meu desejo nunca passaria, a vontade de meter
meu pau o mais fundo possível nela foi enlouquecedor.

Saio de dentro de Ágata, pois sinto meu pau pulsar.

Ela se senta sobre as pernas, está destruída embaixo de mim. Me recupero, e ergo sua cabeça,
retiro seu cabelo do rosto, ela está tão quieta e tudo foi tão intenso que tive medo de tê-la
machucado.

— Está tudo bem?

Ela apenas balança a cabeça positivamente e ergue o corpo.

Eu me solto dela, retiro o preservativo e saio da água.

— Vou tomar um banho.

Ela balança a cabeça se sentando na banheira. Eu vou para o box e ligo o chuveiro, enfio a
cabeça debaixo da água fria até ficar sem ar.
Não estou sentindo a sensação de vazio de sempre após o gozo, estou sentindo o inverso
disso, e isso me deixa nervoso, muito nervoso.

Acho que fiquei tempo demais embaixo do chuveiro, quando saio ela está enrolada numa
toalha sentada no chão com as pernas dentro da banheira.

— Posso tomar um banho também?

Ela pergunta sem olhar para mim.

— Claro — respondo somente e a vejo se levantar e se dirigir para o chuveiro.

Vou para o closet, me visto com uma cueca e uma calça de pijama cinza e separo a camiseta
para ela, deixando sobre a poltrona do banheiro.

Saio do quarto e vou para a cozinha buscar algo para comermos, e me deparo com Madalena
que, tinha certeza, que ainda estaria acordada, ela me prepara uma bandeja e eu mesmo levo para o
quarto.

Quando ela volta do banheiro vestindo minha camiseta do pijama que chega a seus joelhos, se
espanta com a comida sobre a mesa.

— E vi a camiseta ali, como não vi minhas roupas, deduzi que poderia colocá-la.

— Isso mesmo — respondo. — Venha, vamos comer.

Ela se senta, um pouco insegura, na cadeira que mostro a ela.

— Eu estou morrendo de fome — falo também me sentando. – E você deve estar também, não
deve ter comido mais nada hoje além daquela porcaria de lanche no almoço.

— Afonso não perde tempo.

Eu sorrio antes de dar uma grande garfada no risoto de queijo, minha fome é tanta que chego
até a fechar os olhos quando sinto a cremosidade do arroz em minha boca.

Percebo que ela começa a comer, timidamente no começo, depois devora o prato e bebe o
refrigerante, pois mesmo sabendo que um belo vinho combinaria muito melhor com o risoto, meu
estômago já está com overdose de álcool hoje.

Ela limpa a boca com o guardanapo, enquanto pergunta:


— Por que você não usa seu primeiro nome?

Me espanto, ninguém nunca havia me perguntado isso.

— Não sou eu que não uso, são as pessoas que fazem questão de usar meu sobrenome — dou
uma última garfada na comida.

Agora ela está prestando atenção em mim, olha para meu tórax, para minhas mãos. Tenta
disfarçar, mas está me analisando.

Que será que ela está pensando?

— Posso ir embora? —Ela dispara de repente com um olhar triste.

— Não— eu falo simplesmente.

— Vou dormir aqui? —Pergunta aflita, levantando as mãos.

— Não. Ninguém dorme comigo.

Meu quarto é meu santuário.

Raramente trago mulheres para cá e quando faço as dispenso imediatamente após o sexo. Não
quero nenhuma passando a noite comigo, gosto de privacidade e dormir com uma mulher grudenta a
noite inteira, está fora de meus desejos.

— Então por que não posso ir embora?

Eu não sei te responder isso.

—Porque posso querer transar daqui a pouco de novo — falo a primeira coisa que me vem à
mente.

Ela ri gostosamente. Seu sorriso é lindo. Primeira vez que a vejo sorrindo assim.

— Você não vai querer transar de novo, está exausto.

— Quem disse? — Pergunto sorrindo. — Você não me conhece.

— Suas olheiras, você está muito cansado.


— Isso você tem razão.

Neste momento batem em minha porta. Olho para a porta por um momento antes de me
levantar. Vou até lá e a abro, dou de cara com Afonso que fala rapidamente.

— Desculpe Ulric, mas estamos com problemas.

Me viro para Ágata e ordeno.

— Não saia daqui, por nada, entendeu?

Ela balança a cabeça.

— Não saia antes de eu voltar — insisto e ela concorda novamente com a cabeça.

Saio do quarto e fecho a porta. Para Afonso vir me buscar em meu quarto, é porque alguma
coisa grave aconteceu.

— O que houve, Afonso?

Pergunto enquanto caminhamos rapidamente pelo corredor.

— Tem uma pessoa aí fora, estava tentando invadir a mansão.

Sorrio, ninguém consegue invadir a mansão, sonho impossível.

— É Jandon, não é?

— Sim, Ulric.

Descemos até o jardim. O ar está fresco, e o cheiro das flores é reconfortante. Embaixo de
uma varanda refrescante com bancos e mesas na cor branca estava Jandon sendo segurado por dois
seguranças.

— Ora, ora, ora. Que visita interessante e fora de hora, Jandon — sorrio sarcasticamente.

— Quero falar com você. — Jandon se debate sendo segurado pelos seguranças.

— Estou ouvindo.

— Será que não daria para pedir para eles me soltarem?


Fiz somente um sinal com a cabeça, e rapidamente os homens o soltaram.

—Diga logo o que você quer — não posso negar que estou curioso.

— Eu... — pigarreou. — Trouxe isso... — mostrou uma mochila que estava nas mãos de um
de meus seguranças.

Olho para a bolsa e faço sinal para que um de meus homens a abra. Assim que ele abre o
zíper, vejo que há muito dinheiro lá dentro.

— Eu trouxe a quantia que lhe devo, não precisa usar Ágata.

Ele me olha de cima até embaixo e com certeza deve ter notado assim como os outros que eu
estava transando há poucos minutos. Estou somente com a calça do pijama, cabelos molhados, acho
que ainda estou cheirando a sexo.

— Eu fiz um trato com ela, Jandon. E exijo que seja cumprido.

— Por favor, ela é... uma mulher. É minha irmã.

— Esqueça. Devia ter pensado nisso antes.

— Mas estou trazendo o dinheiro. Está tudo aí, tudo que te devo, cada centavo.

Noto uma perturbação em Afonso. Percebo que ele está surpreso que não aceito o dinheiro.

— Você quer mais dinheiro, Ulric? Posso arrumar, somente preciso de mais um tempo e...

— Já disse: esqueça — repito cruzando os braços no peito. — Não quero seu dinheiro. Você
não acha que demorou demais para tomar uma atitude de homem?

— Deixe ela em paz, Ulric, ela é inocente em tudo isso — fala em desespero.

— Foi ela que me procurou, esqueceu?

— Foi um ato precipitado, vamos reconsiderar.

— Jandon devolva esse dinheiro para o agiota de quem você emprestou, você já está
encrencado demais para arrumar mais problemas. E vai chegar um momento que Ágata não
conseguirá mais resolver tudo por você.

— Mas Ulric... — ele tenta dizer alguma coisa.


— Além do que, estou me divertindo com sua irmã.

Jandon fica furioso, pula em cima de mim, mas antes mesmo dele conseguir se aproximar,
Afonso já o rendeu e o imobilizou no chão.

— O que você está pensando Jandon? —Minha paciência esgota e começo a gritar enquanto
chuto o estômago de Jandon que está no chão ainda imobilizado por Afonso. — Você sabia com quem
estava se metendo no dia em colocou os pés no meu cassino — chuto novamente, estou com muita
raiva.

Jandon apenas grita de dor e não responde nada.

— Você não foi homem suficiente para arcar com seus problemas e teve a coragem de mandar
sua irmã... sua irmã para resolver seus problemas, seu covarde. Eu nunca faria isso com minha
própria irmã. Nunca daria ela de bandeja à um homem.

Eu andava de um lado para outro e ajeitava os cabelos, que tinham se desalinhado.

— Você me dá nojo, cara— continuo. — Você é um moleque mimado de merda.

Eu agacho no chão, e ergo a cabeça de Jandon, segurando-o pelos cabelos, forçando-o a olhar
para mim.

— Agora, vá para casa garoto e não apareça mais aqui, entendeu? — Grito novamente. —
Entendeu?

Afonso o levanta, e Jandon ainda tenta apelar, falando com dificuldade.

— Deixa ela ir embora comigo. Sei que ela está aí com você.

— Ela só vai embora quando eu quiser.

— Ulric...

— Acho que fui bem claro, Jandon. Eu mando aqui, e ela só vai embora quando eu quiser —
repito.

Me viro para os seguranças:

— Levem nosso amigo aqui para casa.

Eles o pegam para levá-lo embora.


— Jandon? Devolva isso— jogo a bolsa para um dos seguranças que o está levando.

Espero eles o levarem e me sento na cadeira com Afonso em pé ao meu lado coçando o
queixo.

Respiro fundo para deixar o ar refrescante da noite entrar em meus pulmões.

— Estou tão cansado de tudo isso, Afonso— seguro a cabeça nas mãos. — Cansado do
cassino, cansado de lidar com pessoas sem escrúpulos... com gente baixa e suja.

— Precisa se decidir até quando vai querer levar isso, Ulric — ele se senta na cadeira ao
meu lado.

Fico calado e pensativo.

— Você preferiu ficar com a garota ao invés do dinheiro...

Finalmente ele expôs o que o estava incomodando.

— Sexo fácil ao meu dispor, e realmente não preciso do dinheiro— me encosto na cadeira.

— Realmente, dinheiro não é problema— ele fixa o olhar em mim. — Mas sexo também não.

O encaro quando ele diz isso, sei onde quer chegar.

— Desculpe Ulric — ele se levanta. — Precisa que eu faça mais alguma coisa?

— Não Afonso. Vá dormir... boa noite.

— Boa noite.

Ele vai embora e eu fico ainda mais alguns minutos sentado na varanda, pensando em dez
anos atrás, quando meu pai morreu e eu assumi o comando desse maldito cassino.

Me pergunto se deveria ter seguido esse caminho mesmo. Mas sempre gostei do poder, e isso
o cassino me trouxe, com certeza. Poder, dinheiro, mulheres. Isso sempre foi conquistado muito fácil.

Preciso dormir, estou esgotado. Entro na casa, vou até o bar e pego uma dose de uísque.
Sempre bebo quando estou nervoso ou ansioso... hum... pensando bem eu bebo 24 horas por dia
então.

Bebo tudo de uma vez e deixo o copo para subir as escadas e mandar Ágata para casa.
O quarto está em silêncio. Entro sem fazer barulho e noto que ela está deitada em minha
cama, bem no canto, está encolhida abraçada aos joelhos que tentou cobrir puxando a camiseta para
baixo.

A visão dela assim, tão indefesa, me deixa com tesão. Seu cabelo castanho se derrama sobre
meu travesseiro muito branco.

Essa maldita está gostosa demais, e deve estar com muito frio, o quarto realmente está
gelado. Pego o controle remoto do ar condicionado e o desligo, vou até ao closet, pego um cobertor e
jogo em minhas costas, deito na cama ao seu lado, ajeitando o cobertor também sobre ela.

Ela acorda quando a puxo para mais perto de mim, pois ela está quase caindo da cama. Ela
tenta se levantar, mas eu a seguro pressionando meu corpo contra o seu.

— Shiu... Durma — percebo como está tensa. — Relaxa Ágata, relaxa...

Abraço sua cintura e sinto que ela se entrega e relaxa e eu faço o mesmo, estou exausto.
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CAPÍTULO 3

3º dia

Sábado

Ágata
Acordo.

E quando abro os olhos, a primeira coisa que vejo é o rosto de Ulric ao meu lado, está
deitado de barriga para baixo e ainda dorme.

Não acredito que dormi com ele.

Por que afinal, ele me fez passar a noite aqui?

Me apoio nos cotovelos e o observo. Seu rosto é muito lindo, dormindo é uma mistura de
virilidade com uma beleza angelical. O lençol cobre apenas suas coxas para baixo. Ele tem um lindo
corpo, é musculoso sem exagero.

Me lembro de como nós transamos na banheira e fecho os olhos por um momento sentindo um
frio na barriga, aquilo foi demais, ainda estou dolorida e sinto ódio quando penso no orgasmo que
atingi.

Presto atenção em sua tatuagem; ela vai do cotovelo até o ombro, e segue pegando um pedaço
das costas até quase a cintura, enfim a tatuagem cobre metade de suas costas.

Um pouco antes de o desenho chegar à cintura, eu noto quase imperceptível, algo debaixo da
tatuagem preta, e num impulso, passo delicadamente a ponta do dedo.

— É uma cicatriz, Ágata.

Eu dou um pulo me assustando com a voz rouca de sono de Ulric, e retiro a mão rapidamente.
Ele está tentando manter os olhos abertos, percebo que ainda está com sono.
— É uma cicatriz do quê? — Pergunto curiosa.

— Não interessa.

— Grosso — falo sem pensar e me levanto da cama.

Ele se vira de barriga para cima e esfrega os olhos. Eu vou para o banheiro e procuro minhas
roupas, não as acho desde ontem, quando vesti essa camiseta de seu pijama.

Volto furiosa para o quarto e minha voz sai mais alta do que deveria.

— Onde estão minhas roupas?

Ele vem em minha direção e não me responde, me pega pelo braço e me coloca para fora e
fecha a porta do banheiro.

— Grosso, estúpido — sussurro.

Voltou a ser o maldito que sempre foi! Ainda bem que já é o terceiro dia. Isso vai acabar
logo. Vai mesmo!

Vou até minha bolsa e pego meu celular, há várias ligações perdidas de Jandon.

Merda deixei o celular no vibra e me esqueci.

Aperto um botão retorno a ligação, que para minha surpresa após o primeiro toque ele me
atende.

— Ágata, você está bem? — Pergunta aflito.

— Estou... claro... o que houve Jan?

— Por que você está aí ainda?

— É que... acabei dormindo aqui... depois conversamos sobre isso.

— Estive aí ontem à noite — sua voz some um pouco.

— Esteve aqui? Como assim? Eu não vi...

— Eu estive na mansão, pois consegui o dinheiro que devo para este desgraçado.
— Como conseguiu o dinheiro Jan? — Eu grito e em seguida tento me controlar e volto a
falar baixo. — Você não tem nem um centavo no bolso. Onde conseguiu o dinheiro?

— Eu consegui Ágata, isso não interessa... o que interessa é que ele não aceitou o dinheiro,
ele quer continuar com o acordo, quer continuar com você.

— Como é? Ele te disse isso? — Pergunto aliviada.

E nem acredito que fiquei aliviada. Como posso ficar aliviada? Ele não aceitou o dinheiro,
deveria estar com ódio, não aliviada.

— Sim, disse isso e tem mais, ainda levei uma surra desse desgraçado.

— Ele te bateu! Não acredito que ele teve coragem de fazer uma coisa dessas...

Me sento na cama por um instante.

— E como você está, Jan? — Pergunto preocupada.

— Estou bem. Nada que não possa superar.

— Está bem Jan, daqui a pouco estou em casa e conversamos.

— Ok.

Desligo o telefone, meu sangue está fervendo de ódio de Ulric.

Aguardo ansiosos minutos e Ulric abre a porta do banheiro, havia tomado banho, estava com
uma toalha na cintura, e eu avanço para cima dele, quero lhe devolver o que fez ao meu irmão.

— Você é um desgraçado Ulric – grito.

Minhas mãos não chegam a atingi-lo, visto que ele é quase o dobro do meu tamanho e muito
mais forte, ele me deteve rapidamente segurando meus braços com força.

— O que foi agora, Ágata? — Grita impaciente.

— Você bateu em Jandon? De novo? — Grito também.

— Ah, então é isso — fala com desdém. — Se você não ficasse passando a mão na cabeça
dele e acobertando seus erros, isso tudo não teria acontecido.
— Você não pode fazer isso sempre que tiver vontade.

— Pare de encobrir os erros dele. Deixe o garoto crescer, Ágata.

— Você é um hipócrita desgraçado.

Ele me chacoalha e eu arregalo os olhos assustada.

— Escuta aqui, eu estou cansado de você me insultar a todo momento, da próxima vez vou te
ensinar algumas coisas que faltou você aprender, entendeu?

Ele me solta bruscamente e eu fico quieta, realmente ele me dá medo, e não quero pagar para
ver.

Ulric se dirige para o closet e eu o sigo.

— Onde você escondeu minhas roupas?

Ele responde sem olhar para mim.

— Não escondi suas roupas, elas estão no banheiro, é só você procurar.

Volto resmungando para o banheiro e as procuro novamente, realmente elas estão lá numa
cadeira debaixo da uma toalha de banho molhada.

Me troco rapidamente, e quando saio do banheiro, ele está no quarto acabando de colocar o
paletó, ele está vestido totalmente de preto, camisa, calça e paletó. Ele parece mais cruel ainda.

Ele me olha e seus olhos negros estão obscuros.

— Tenho um compromisso e estou atrasado, você vai para sua casa, e mais tarde te ligo.

Devia ser um grande compromisso, pois ele estava apreensivo e resolvo não discutir mais,
coloco meu sapato, pego minha bolsa e saímos juntos do quarto.

Descemos as escadas e na sala damos de cara com sua irmã que assim que me vê, seu sorriso
desaparece.

— Essa vadia dormiu aqui, Caetano? — Ela grita.

— Isso não é da sua conta, Verônica. — Ulric se mantém calmo.


— Caetano, nós temos um acordo de nunca passarmos a noite com ninguém aqui em nossa
casa.

— Acordo desfeito — ele sorri e tenta passar, mas ela nos barra.

— Você não pode fazer isso, Caetano. Você é meu irmão!

— Por isso mesmo, Verônica, sou seu irmão. Agora chega, preciso ir, dê licença — fala
impaciente.

Mas Verônica continua em nossa frente nos impedindo de prosseguir.

— Eu achei estranho você trazer uma vagabunda ontem para o jantar. Você está pagando ela,
não é? É uma vadia qualquer sem importância, não é?

— Vadia? —Passo na frente de Ulric. — Estou cansada de ouvir você me insultar, vou te
mostrar quem é vadia.

Agora toda minha calma desaparece e dou um pulo em cima de Verônica, mas Ulric me segura
pela cintura que chega a me levantar do chão. Ele me coloca bruscamente atrás dele ainda segurando
meu braço e entra no meio de nós duas.

— Pelo amor de Deus, não tenho tempo para isso — ele grita com muita raiva.

— Caetano, você vai deixar ela me tratar dessa maneira? Chame os seguranças, coloque essa
vaca para fora de nossa casa — ela grita como uma louca.

—Verônica eu mando aqui. Chega — Ulric está furioso.

— Escutou bonitinha? —Me intrometo vitoriosa.

— Cala a boca Ágata. — Ulric grita para mim.

Afonso chega nesse momento e também entra entre a gente.

— Acabou a brincadeira. — Ulric me empurra para Afonso. — Leve ela até o carro.

Nós deixamos a sala e Ulric fica conversando com Verônica. Saímos da casa e caminhamos
até num canto do jardim onde estava meu carro.

— Não acredito que você e Verônica estavam brigando — ele ri.


— Qual é a sua Afonso? —Coloco as mãos na cintura e o encaro, estava muito brava para
alguém tirar sarro da minha cara.

— Calma, calma. — Ele abre a porta do carro para eu entrar.

Eu entro no carro jogando minha bolsa no banco do passageiro.

— O que vocês desta casa pensam? – Giro a chave e o carro dá um pulo, esqueci até como se
liga um carro de tanto ódio. — Ulric bate em meu irmão e eu tenho que aturar a crise muito estranha
de ciúmes dessa menina babaca? Que raios de irmã é essa?

— Cada um tem o irmão ou irmã que merece — ironiza.

— Não sei qual é a sua Afonso...

— Deixa eu te falar uma coisa — ele se agacha colocando os braços na janela aberta do
carro. — Se você quer manter a paz com Ulric, fique longe de Verônica, ela é possessiva e vingativa.

Dou a partida no carro, sorrio para ele.

— Eu não quero manter a paz com Ulric — finjo um sorriso. — Aliás, não quero manter nada
com Ulric.

Ele se levanta e eu saio cantando pneu, não quero ficar nem mais um minuto nessa casa. O
portão se abre e eu saio sem olhar para trás, só quero chegar em casa para verificar o estado de
Jandon.

Como é sábado, o trânsito está movimentado, pois todos resolvem sair neste dia para
resolver seus problemas. Quem dera eu poder resolver os meus. Mas depois de um tempo, chego em
casa, estaciono rapidamente na calçada, finjo não ouvir minha vizinha fofoqueira me dar bom dia e
fazer algum comentário desnecessário que não ouço mesmo. Entro em casa e vou logo chamando por
Jandon.

— Estou aqui — ele sai de seu quarto que fica no andar de baixo e vem ao meu encontro.

Eu o abraço e começo a olhá-lo para todos os lados para saber se está tudo bem.

— Calma Ágata, está tudo bem, ok.

— O que ele te fez, Jandon?

Ele me contou sobre os chutes, e fiquei com mais ódio ainda de Ulric.
— Maldito, ele é um maldito mesmo — eu ando de um lado para outro da sala enquanto Jan
está sentado no sofá.

— Ele rejeitou o meu dinheiro — fala balançando a cabeça.

— O que ele falou sobre isso, afinal? —Pergunto interessada.

— Ele disse que havia feito o acordo com você e que não voltaria atrás, cheguei até a
oferecer mais dinheiro e ele não quis.

— Mais dinheiro, Jandon? Que mais dinheiro, Jandon? Onde você arrumou esse dinheiro
todo? —Grito enfurecida.

— Isso não vem ao caso— se ajeita no sofá.

— Claro que vem ao caso, é muito dinheiro Jan. Onde você arrumaria esse dinheiro de um
dia para outro?

Ele se cala.

— Você pegou com um agiota, não é? — Continuou calado. — Vamos devolver esse dinheiro,
agora — pego minha bolsa e a coloco no ombro.

— Calma, vou tentar negociar com ele novamente.

— Não vai não— me dirijo para a porta.

— Ágata?

Olho para ele que está com uma careta estranha.

— Você não quer negociar a dívida com ele?

— Como assim?

— Você não quer tentar entregar o dinheiro, para ficar livre dele?

— Não é assim que funciona — falo sem graça. — Ele já disse que não aceita isso.

— E você está preferindo que seja assim?


— Não diga besteiras, Jandon. Vá buscar o dinheiro, vamos devolver — falo com firmeza.

Ele vai até o quarto, e eu acho que meu coração vai sair pela boca de tão nervosa. Realmente
estou em dúvida se Jandon está certo ou não. Será que quero que Ulric acabe com a dívida? Será que
prefiro não cumprir mais esse acordo?

Ele volta com a bolsa do dinheiro no braço, eu balanço a cabeça para afastar esses
pensamentos.

— Vamos devolver isso, não podemos mais entrar em confusão.

Ulric
Estou puto da vida.

Ágata e Verônica fizeram eu me atrasar ainda mais.

O motorista do carro está correndo enquanto eu, Afonso e mais um segurança estamos no
banco de trás verificando nossas armas. Nem sempre ando armado, mas quando acho necessidade
disso, não abro mão. E sempre que vou fazer negócio com Jôse eu levo uma arma, não confio nesse
drogado de merda, mas ele é muito útil, então tenho que aturá-lo.

Combinamos de nos encontrar para eu pegar mais um carregamento de armas. As armas que
ele me vende não são rastreadas e são de boa matéria prima, então consigo bons lucros com elas.

Faz um ano que jurei para mim mesmo que iria parar com isso, e até agora não parei. Só
espero que quando realmente concretizar meu juramento, não seja tarde demais.

Chegamos nesse lugar fétido novamente, odeio esse bairro, odeio as pessoas que moram aqui,
odeio Jôse.

Eu e meus homens entramos no galpão rapidamente, pois meu objetivo é sair daqui o mais
breve possível. E qual não é minha surpresa ao ver do outro lado do imóvel, Arbal.

Nossos olhos se cruzaram e imediatamente escuto o barulho de armas sendo levantadas e


gatilhos acionados. Nossos homens levantam as armas ao mesmo tempo, um apontando para o outro.
Isso poderia se tornar uma carnificina.
Jôse se joga atrás de uma mesa e começa a gritar:

— Parem com isso. Não quero morrer — ele olha por cima da mesa e se esconde novamente.
— Se vocês dispararem essas merdas, a polícia vai chegar em minutos, porra.

Ninguém iria abaixar as armas, isso é fato. Coloco as mãos no bolso da calça e caminho
tranquilamente em direção à Arbal. O mesmo abre um falso sorriso e cruza os braços no peito e
adianta alguns passos.

Fico há uns cinco metros de distância dele, e ele ironiza.

— Chegou tarde, Ulric. Já fiz a transação com Jôse. Não é Jôse? —Ele pergunta para ele que
está se levantando detrás da mesa.

— Ele chegou primeiro Ulric. — Jôse fala amedrontado.

— Qual o problema Jôse? Arbal nunca te pagou o que eu te pago.

— Se for pensar por esse lado... realmente...

— Cale a boca animal— interrompe Arbal. — Eu cheguei primeiro Ulric, trate de aceitar
isso— virou para seus homens. — Peguem tudo.

Mas assim que os homens dele ameaçam avançar para pegar a encomenda, os meus homens
dão um passo à frente.

— Nós vamos ficar nisso o dia todo Arbal— falo.

Arbal fica incomodado, a cicatriz em sua testa aparenta ficar mais visível quando ele está
nervoso.

— Você não quer começar uma guerra agora, Ulric — levanta as sobrancelhas. — Ou quer?

— Se for preciso. Sempre faço o que é preciso, você sabe disso — sorrio.

Ele retribui meu sorriso.

— O seu problema Ulric, é que é viciado em poder, isso mata sabia?

— É meu grande vício mesmo, e para sua infelicidade, ainda não estou com abstinência disto.

Ele foi responder, mas foi interrompido, pois de uma porta lateral entram duas pessoas que
discutem e toda nossa atenção é voltada imediatamente para eles.

— Você vai fazer isso e pronto, Jandon, não me obrigue... — Ágata para de falar ao olhar a
cena de tantos homens com armas levantadas.

Ai meu Deus! O que esses dois idiotas estão fazendo aqui?

Ágata me nota. Sua boca se abre e fecha novamente. Ela olha para os outros homens e volta o
olhar para mim.

Não fale comigo Ágata, não fale!

Eu imploro mentalmente para que ela não fale comigo.

— Ulric... o que está havendo? —Ela pergunta.

Por que não ficou com essa maldita boca fechada?

Respiro fundo, retiro as mãos do bolso, olho para Afonso que me retribui o olhar atento. Mas
Arbal também é esperto e um dos seus homens faz com que os dois se aproximem mais, não deixando
brecha para que eles pudessem ir embora.

— Jandon, o que está fazendo aqui, seu idiota? —Pergunta Jôse incrédulo. — E por que
diabos você trouxe uma mulher?

— Eu... eu... — Jandon não achava as palavras, estava aterrorizado.

— Nós viemos devolver o dinheiro. Não queremos e não precisamos. — Ágata empurra a
bolsa no peito de Jôse.

— As coisas não funcionam assim, gracinha — ele fala.

— Mas vai funcionar, já entregou o dinheiro, agora caiam fora, os dois— ordeno
rapidamente, dando sinal para os dois saírem.

— Não tão rápido. — Arbal segura no braço de Ágata que começava a caminhar. — Por que
a pressa? Esse lugar está tão cheio de macho, que uma fêmea agora ilumina o ambiente — ele passa
um dedo no rosto de Ágata.

Meu sangue começa a ferver, estou prestes a cometer uma loucura. Hoje eu mato Arbal e
depois faço Jandon de pano de chão.
— Eu realmente preciso ir embora — balbucia Ágata.

— Ainda é tão cedo. — Arbal me olha sorrindo. — Por que a menina não participa de nossa
festinha, Ulric?

Prefiro ficar calado, pois o desgraçado está me testando.

— Tenho uma ideia. — Arbal continua. — Por que você não fica com as armas e eu com a
garota?

Assim que fala, ele pega na cintura de Ágata, mas antes que ele pudesse puxá-la para ele, o
cano de minha arma já está encostada em sua cabeça, e a minha cabeça na mira de outras tantas
armas.

Maldição, estou totalmente vulnerável.

Um deslize e alguém estoura minha cabeça sem dó. Odeio ficar nessa posição.

Ele ri.

— Então eu estava certo — ri novamente e eu não tiro a arma de sua cabeça. — O que ela é
para você Ulric? Estou curioso.

— Cala essa maldita boca, Arbal.

— Isso está ficando muito esquisito. — Jôse se intromete. — Muito esquisito mesmo. Acho
melhor todo mundo ir embora— ele tenta resolver a situação. — Não quero sangue e nem polícia em
meu galpão.

— Agora que está ficando animado, Jôse. — Arbal continua me provocando.

— Se vocês querem estourar a cabeça um do outro, eu não dou a mínima para isso— a voz de
Jôse está trêmula e ele anda de um lado para outro. — Mas façam isso longe da merda desse galpão.

Continuamos do mesmo jeito. Arbal com a mão na cintura de Ágata que respira com
dificuldade. Eu com o cano da arma na cabeça dele, e mais todos os outros homens que apontavam as
armas uns para os outros e principalmente para mim.

— Tudo bem, nós vamos embora. — Arbal dá alguns passos para trás soltando Ágata. — Nos
encontraremos em breve Ulric— ele ri e aponta o dedo para mim. — Em breve, garoto.

Arbal se afasta devagar e leva seus homens, e quando temos certeza que não corremos mais
perigo, abaixamos nossas armas.

— Quer merda Jandon, que merda. O que deu em você de vir aqui? — Grito furioso.

— Segui o que você me disse. Lembra: devolva o dinheiro — ironiza.

— Seu desgraçado, filho da mãe – avanço para cima dele, o pego pela gola da camisa, e
agora coloco a arma em sua cabeça, mas sinto uma mão tentando segurar meu braço.

— Você não vai fazer nada para meu irmão. — Ágata levanta a voz.

— E posso saber o que você vai fazer para me impedir?

Ela fica muda, olha em sua volta e depois responde:

— Vou chamar a polícia.

Eu rio alto, e alguns me acompanham.

— Ah é. E vai falar o quê? Que veio devolver dinheiro roubado e encontrou vários homens
armados? Qual é a sua Ágata? Você e seu irmão são dois idiotas. São dois idiotas — repito. — Mais
que merda!

Solto Jandon e começo a andar de um lado para outro, passo a mão livre no cabelo. Cada
poro do meu corpo está transpirando, cada célula do meu corpo está a ponto de ter um colapso.

— Maldição, maldição — eu grito e chuto alguma coisa que não me dou o trabalho de saber o
que é.

O galpão está em silêncio, só se ouve o objeto que eu chutei bater fortemente na parede.

— Vocês não tinham que estar aqui— me viro para Jandon. — Você tem merda na cabeça,
trazer Ágata para cá... — nem consigo terminar de formular a frase de tanta raiva que estou.

— Eu quis vir, está entendendo? —Grita, Ágata — Eu quis... você não pode mandar em tudo.
Você não é um rei, nem nada. Não tenho culpa se é um homem sujo e sem escrúpulos.

Coloco minha arma na cintura, e a pego pelo rosto e a encosto na parede, e a seguro com
força, minha vontade é de socá-la. Dois homens estão segurando Jandon que tentou me impedir de
pegá-la.

— Eu te avisei, lembra? Não era para você falar comigo assim de novo.
Ela começa a chorar.

— Por causa dessa imprudência estúpida de vocês, poderíamos estar todos mortos agora,
sabia? —Continuo. — Isso não é uma brincadeira.

— Você está me machucando— ela se queixa em voz baixa.

Eu afrouxo minha mão, mas continuo a segurando firme.

— Vamos manter a calma. — Afonso se aproxima. — O dia já está suficientemente tenso


hoje, Ulric. Porque não pede para alguém levá-los para casa?

Afonso tenta controlar a situação, para não ficar pior do que já está. E sei que ele tem razão.

Minha respiração está ofegante, sinto que vou sufocar. Encosto minha cabeça na parede ao
lado da dela, e tento respirar fundo. Fico assim, ainda a segurando, fortemente, e sinto o ar entrar em
meus pulmões devagar. Sinto as mãos dela segurando meus pulsos e escuto sua respiração pesada,
posso sentir o medo que vem dela misturado com seu perfumado adocicado.

Depois de um tempo, eu a encaro, ela está assustada, terrivelmente assustada, me viro para
Afonso e dou um sinal com a cabeça a soltando.

Dois de meus homens os levam embora.

— Mais essa agora, Afonso. Não precisava disso. Realmente não precisava — coloco as
mãos na cintura e encaro o chão mordendo os lábios.

Afonso apenas concorda e eu continuo olhando para o chão, depois remeto minha fúria para
Jôse.

— Você é um traidor desgraçado. Ia fechar a porra do negócio com Arbal— grito com ele e
vou em sua direção.

— Calma Ulric — ele se afasta. — O homem tinha uma arma apontada pra minha cabeça.

— Não queira bancar o trouxa comigo Jôse, que estouro sua cabeça de merda, desgraçado.

—Vamos resolver isso, irmão —ele aponta as armas. —Pegue, está tudo aí, vamos fechar o
negócio. Nunca iria te passar para trás cara.

Se eu não precisasse deste inútil, arrancaria a cabeça dele agora mesmo, até imagino a cena
de seu sorriso nojento indo embora de seu rosto.
Dou um sinal para Afonso concretizar a transação. Me apoio numa parede, e penso em Ágata
por alguns segundos. Porque ela tinha que vir parar aqui?

Que droga, deveria ter dado um tiro na cabeça dela, ou ter deixado Arbal levá-la.

Quem eu quero enganar, nunca deixaria isso acontecer.

Só de pensar em outro homem colocando a mão sobre ela, meu coração dispara e meu sangue
ferve.

Respiro fundo e Afonso vem em minha direção.

—Tudo certo, Ulric. Podemos ir agora.

— Ok.

O que eu mais quero é ir embora desse lugar horrível. Então sou o primeiro a sair.

Ágata
Assim que os homens de Ulric nos deixam em casa, subo para meu quarto, tranco a porta,
sento na cama abraçando as pernas e choro. Nunca tive tanto medo assim.

Penso em tudo que vi, e não acredito que estou indo para a cama com um bandido desses. Ele
estava armado, eu nunca havia visto uma arma de perto, e havia armas apontadas para minha cabeça,
Ulric apontou uma arma para a cabeça daquele homem. Achei que ele fosse matar o infeliz da cicatriz
que ouvi dizer que se chama Arbal, e depois achei que ele poderia me bater.

Jandon me explicou que eles estavam fazendo contrabando de armas, mas uma função para o
currículo do Ulric.

Estou aterrorizada, não posso continuar com isso, não vou continuar com isso. Não quero
mais ir para cama com ele.

— Ágata, está tudo bem?

Jandon bate na porta e eu não quero vê-lo, não quero ver ninguém.
— Está tudo bem. Só preciso ficar sozinha e descansar.

— Qualquer coisa é só me chamar.

Ainda bem que ele desistiu e desceu as escadas. Estou com muita raiva de Jandon, por ter me
colocado nessa ele não poderia ter feito isso comigo.

Pego meu notebook, entro no site de pesquisa e digito: “Ulric”. Deve haver alguma coisa que
eu ainda não saiba.

A pesquisa me dá todas as informações que já havia lido antes sobre ele, passo para a
segunda página e vejo a mesma coisa, passo para a terceira página, e uma foto me chama a atenção,
não havia me chamado a atenção antes, pois eu não conhecia esse homem, mas agora eu o conheço e
se chama Arbal.

Observo uma montagem de foto com os dois homens lado a lado. Ulric parece ser mais novo
nessa foto, sorria, e Arbal estava sério. Noto que ele ainda não tinha a cicatriz na testa do lado
esquerdo. O texto diz que Ulric estava avançando no ramo dos cassinos e estava derrubando Arbal
que já havia fechado dois outros cassinos.

— Uau! Então a rincha deles é antiga e grave.

Continuo lendo o texto que se referia a Arbal como o Rei dos Cassinos, e Ulric estava se
tornando o príncipe.

Entro novamente no site de pesquisa e desta vez digito: “REI DOS CASSINOS”.

Não fico surpresa quando leio que atualmente Ulric ganhou o título de Rei desbancando
totalmente Arbal, que dizia numa entrevista que Ulric ainda tinha que sair das fraldas para pensar em
enfrentá-lo.

— Ele saiu das fraldas, rapidinho.

Fecho o notebook fortemente, como se isso pudesse me fazer esquecer o que houve há pouco
tempo atrás. Neste momento meu celular toca e abro a bolsa e o pego, o visor indica um número
restrito. Minhas mãos tremem, engulo em seco e não atendo. Coloco o telefone na cama e fico
olhando fixamente para ele. E dou um pulo na cama quando ele toca novamente, isso está ficando
esquisito e sinistro. Novamente um número restrito. Desta vez resolvo atender.

— Alô — falo cautelosamente.

— Pensei que não fosse me atender— escuto a voz grossa e grave de Ulric.
O maldito me assusta até por telefone.

— Seu eu soubesse que era você não atenderia mesmo— retruco e agradeço mentalmente por
ele não poder ver como estou horrorizada.

— Você adora me provocar, não é?

—Você...

— Parece que se esquece que você está em minhas mãos — me interrompe e sua voz se
torna sombria. —É tão difícil para você entender que eu estou no comando aqui?

— O problema é que você está acostumado demais que todos te obedeçam.

— Então, vou falar mais claramente para que você entenda. Se você quiser bancar a boba
comigo, seu irmão morre. Fui claro agora?

Eu pigarreio e sinto lágrimas em meu rosto. Sei que ele tem razão. Se ele estalar os dedos nós
dois morremos.

— E o que você quer que eu faça agora?

Escuto ele suspirar do outro lado da linha.

— Continue cumprindo nosso acordo, e tudo ficará bem.

— Grosso. Você é um animal Ulric. Não pensa em nada e nem em ninguém. Como pode falar
comigo como se nada tivesse acontecido? — Começo a gritar. — Eu podia ter levado um tiro na
cabeça...

— Não me importa o que você pensa, depois conversaremos sobre isso. Agora só quero
você na minha cama hoje à noite. Esteja pronta as 8.

Desliga o telefone.

Desgraçado. Mil vezes desgraçado. Este homem é insensível, não tem coração.

Ele me pareceu tão diferente na noite anterior, até jantamos juntos. Como pode mudar tanto?
Como posso lidar com isso?

Estou apavorada, não quero vê-lo, não quero ficar sozinha com ele. Tenho medo, muito medo.
Acho que na verdade estou em pânico.
Ulric
Assim que saímos do galpão, nos direcionamos para o cassino, que não estava tão cheio, pois
o movimento maior sempre era a noite.

No caminho falei ao telefone com Ágata, essa mulher me enlouquece.

Entro por uma porta lateral, não quero encontrar os clientes e ter que ficar sorrindo e
esbanjando simpatia que estou longe de ter hoje.

Subo para meu escritório com Afonso ao meu lado. Entro e vou direto ao bar encher meu
copo de uísque.

— Se quiser que tomemos alguma providência quanto a Arbal, é só me dar sinal verde, Ulric.

Ele sabe que estou impaciente e com um ódio mortal de Arbal.

— Ainda não Afonso — bebo o restante da bebida. — Não vou me precipitar.

— Você que manda, Ulric. — Afonso fica arrasado.

— Mande Natan vir aqui — peço.

— Sim, senhor.

Afonso faz uma ligação, e em menos de cinco minutos Natan está em minha sala.

Ele entra com dois livros pretos na mão.

— Quero ver a merda dessa contabilidade, Natan.

— Eu imaginei senhor, por isso te trouxe tudo.

Ele coloca os livros na mesa, enquanto esbarra e derruba algumas canetas no chão.

Natan é desastrado, já me acostumei com isso, mas por ser o contador do cassino, sempre
confiei nele, até notar que nos últimos dois meses o rendimento do lugar diminuiu consideravelmente.
Ele é loiro, cabelos até o ombro, olhos claros, é alto e muito magro. Um rapaz de aparência
um tanto estranha, mas muito capaz no que faz, por isso o aturo.

— Desculpe, Ulric — fala e se abaixa no chão para pegar as canetas.

Assim que se levanta, eu o pego pela gola da camisa, e ele derruba tudo no chão novamente, o
empurro até a parede e digo olhando em seus olhos.

— Natan, espero não encontrar nada de errado nesses livros.

— Não vai encontrar... eu juro que não vai — seus lábios tremem.

Continuo o segurando, e isso vai o deixando mais assustado.

— Eu mostro tudo senhor, tudo... nunca roubei nada, posso provar.

— Que bom Natan — o solto, passo a mão na camisa dele para desamassar o tecido, onde eu
estava segurando. — Fico feliz com isso, e vou ficar mais feliz ainda, se eu manter essa sua cara feia
no lugar após a gente estudar toda essa papelada e eu considerar que você ainda é confiável.

Afonso ri e mostra uma cadeira para que ele se sente.

Natan pigarreia e se senta na cadeira e eu me sento em sua frente, sorrio para ele e peço:

— Pode começar com sua explicação.

Nós já estávamos nisso por umas duas horas. A garrafa de uísque estava sobre a mesa, eu já
estava sem o paletó e já havia dobrado a manga da camisa, até agora Natan teve uma desculpa
considerável para todos os buracos que eu encontrei na contabilidade.

A porta de minha sala se abre de repente, Afonso se levanta rapidamente da cadeira onde
estava sentado, para impedir quem quer que fosse, de entrar dessa maneira, sem bater.

Mas ele relaxa ao ver que Verônica entra na sala e seu forte perfume impregna todo o
ambiente.

— Olá, Caetano.

— Precisa bater na porta Verônica— a recrimino.

— Sou sua irmã, o que pode estar acontecendo aqui que eu não possa saber? —Ela fala
sorrindo e coloca sensualmente as mãos na cintura.
Passo as mãos no cabelo, tentando conter minha insatisfação.

— Está legal, eu vou embora, só vim te fazer um convite.

— Diga logo Verônica — falo sem paciência.

— Fiz uma reserva naquele restaurante que a gente gosta para hoje à noite— ela pisca
sorrindo.

— Então desfaça a reserva, Verônica. Já tenho outro compromisso.

— Mas Caetano, faz tempo que não saímos juntos e podíamos conversar e ter uma noite
agradável.

— Verônica, você não pode agendar compromissos para mim, sem antes me comunicar.

Me levanto da cadeira, para ela perceber que a conversa está encerrada.

— Qual é o seu outro compromisso Caetano? —Pergunta séria.

Eu a pego pelo braço, e a levo até a porta e saio com ela no corredor. Não quero discutir
problemas de família perto de Natan e Afonso.

— Você vai se encontrar com aquela vaca de novo, Caetano? —Ela está raivosa.

— Vou, Verônica.

— Mas... mas... por que? —Gagueja.

— Verônica, não se meta em minha vida íntima desta maneira. Não te dou esse direito.

— Querido... — ela se aproxima e coloca as mãos em meu peito. — O que ela tem que não
tenho, meu bem?

Eu respiro fundo e olho para o outro lado e ela segura meu rosto e me força a encará-la.

— Caetano, esqueça a Ágata, vamos investir em nós. Temos tudo para dar certo.

Abaixo as mãos dela e me afasto.

— Pelo amor de Deus Verônica, já falamos sobre isso antes, você é minha irmã, merda —
estou enfurecido, odeio quando ela leva a conversa para este lado.

— Não somos irmãos, Caetano— ela grita. — Não sou sua irmã, e você sabe disso.

— Verônica, pare de gritar.

Ela agora estava histérica, o que fez Afonso sair no corredor para verificar o que estava
acontecendo.

— Você tem que me ver como uma mulher, Caetano, uma mulher, não sou sua irmã.

Ela sai caminhando pelo corredor e ainda histérica grita mais uma vez:

— Não sou sua irmã, Caetano, encare isso de uma vez.

Ela se afasta e Afonso pergunta:

— Quer que eu vá atrás dela?

— Não precisa — passo as mãos no cabelo. — Que dia terrível esse.

— Pois é, esse dia parece não ter fim. — Afonso concorda.

— Vamos entrar, quero acabar logo com Natan.

— Sim, senhor.

Verônica
— Desgraçada de mulher — ela sai com tanta raiva que chega a tropeçar em seus próprios
pés e cai no corredor da sala de Ulric. — Eu odeio você, Ágata.

Se encosta na parede e chora. Sua bolsa cai de seu braço, e ela em total desalinho está jogada
no chão.

— Você não tinha o direito de fazer isso, Caetano. Não tinha.


Ela segura em seus próprios cabelos com tanta força que sente uma dor forte. Abafa um grito
que está em seu peito o máximo que pode.

— Ainda vou acabar com você. Ninguém entra no meu caminho e rouba o que é meu. E
Caetano é meu — ela ri feliz. — Sim. É meu.

Nisso um dos funcionários do cassino chega no elevador, e quando a vê vem correndo em sua
direção.

— Senhorita Verônica. Está passando mal — ele pega em seus braços e tenta a levantar.

— Me larga idiota.

Ele se afasta imediatamente. Ela tenta se levantar, mas torce os pés com os saltos altos, o
jovem não sabe se deve ajuda-la ou não, então fica paralisado.

— Vai ficar aí parado feito uma estátua, ou vai me ajudar a levantar?

Ele, sem entender, rapidamente oferece a mão a ela.

Ela se levanta de um modo nada gracioso, passa as mãos no cabelo, na roupa. Dá seu melhor
sorriso.

— Pega minha bolsa.

Ele obedece e entrega a ela que não diz nada e entra no elevador.

E antes da porta fechar, ele pode ainda vê-la sorrindo, mas sua imagem não era de uma
mulher bonita, mas sim se mostrava assustadora com a maquiagem dos olhos totalmente manchada de
um preto que escorria em sua face.

Ágata
As horas vão passando e meu terror só aumenta. Não devia ter falado com ele daquele modo,
deveria ter sido mais delicada. Afinal o homem é um animal armado.

Tomo um banho quente, deixo a água escorrer pelo meu corpo. Não faço ideia de que roupa
colocar. Que roupa uma mulher desesperada usa?
Resolvo colocar um vestido verde, a cintura é acentuada e solto até o joelho. Deixo o cabelo
solto e não faço maquiagem. Não vejo o porquê de me produzir tanto, esse babaca não merece.

Oito horas em ponto, escuto um carro buzinar em frente de casa. Ele aguarda segundos e
buzina novamente, está impaciente, e esse barulho está fazendo minha vizinhança sair na rua.

— Onde vai Ágata? — Jandon se torna aflito ao me ver descer as escadas.

— Vou sair, Jan, não se preocupe.

— É ele que está aí? Eu vou lá fora falar com esse cara— ele se aproxima da porta tentando
mostrar uma coragem que não possui e, eu o seguro.

— Você vai ficar quieto aqui, Jan. Estou bem, sei me defender.

— Ninguém sabe se defender deste homem— ele fala tristemente.

— Não sou boba — a buzina começa a tocar exageradamente. — Não se preocupe, deve ser
um de seus homens lá fora.

Beijo seu rosto e saio, e para minha surpresa eu vejo um carro esporte preto de vidros
escuros e a porta do passageiro se abre para eu entrar. Depois de fingir que os olhares de meus
vizinhos não estão terrivelmente sobre mim, entro no carro e vejo que é Ulric que está na direção.

— Você não tem relógio? Eu disse oito horas.

Olhei para o relógio do carro, eram 8:03.

— Acho que três minutos não é considerado atraso por ninguém.

Ele olhou para o relógio, deu partida e saiu cantando pneu.

Percebo que ele ainda está vestido com as mesmas roupas de antes. As roupas pretas, só que
agora estão amarrotadas, camisa para fora da calça, mangas dobradas relaxadamente, e nem sinal do
paletó.

— Cadê seu cão de guarda? — Me refiro à Afonso.

— Não te devo satisfações — responde apenas.

Ele continuou em silêncio boa parte do caminho, acho que eu nem respirava, até que paramos
num sinal vermelho, ele me olhou melhor desta vez e me repreendeu.
— Odiei seu vestido.

Ele me pega de surpresa, olho para o vestido como se só o estivesse vendo agora e não vejo
nada de errado nele.

— Eu o acho lindo, e para mim está tudo bem— sorrio nervosamente.

— Mas para mim não, que bom que você em breve ficará sem ele.

Sinto meu rosto queimar, de vergonha e ódio, mas como ele está sério, procuro não o
provocar, pois estou com medo, muito medo.

Ulric corre muito, um exagero, chegamos rapidamente em sua mansão. Eu suspiro, não
acredito que estou aqui novamente. Sinto minhas mãos geladas.

Ele para o carro, um homem já o espera para estacionar, mas antes de descermos ele me
encara.

—Parece que está com medo de mim — seus olhos obscuros me assustam.

— Como não estar? — Pergunto irritada. — Eu podia ter morrido hoje.

Ele continua sério e desce do carro e eu faço o mesmo.

Entramos juntos na varanda e somos recepcionados por Afonso.

— Estava ficando preocupado, senhor.

— Está tudo bem, Afonso. — Ulric responde.

Ele coloca a mão em minhas costas para que eu caminhe. Quero que isso acabe logo, quero
voltar para minha casa o mais depressa possível. Me sinto muito mal com essa situação.

Entramos na mansão, eu vou à frente enquanto Ulric e Afonso conversam em voz baixa sobre
alguma coisa atrás de mim.

Ao passar pela sala, eu me assusto ao ver Verônica sair detrás de uma parede. Ela está
vestindo um pijama de mangas compridas, sem maquiagem, cabelos despenteados, está muito
diferente daquela mulher bonita e elegante. Está terrivelmente assustadora.

Ulric veio logo atrás, estranhou ao vê-la.


— Verônica, está tudo bem? —Pergunta cuidadosamente.

—Estava esperando ela chegar— ela me aponta com a cabeça e eu congelo.

— Como assim? —Ele pergunta sem entender.

Foi quando percebi que ela mantinha as mãos atrás das costas, e quando as trouxe para frente,
segurava um pequeno revólver.

— O que é isso Verônica? — Ele pergunta mantendo a calma.

— Ela não pode vir aqui, ficar aqui, Caetano. Ela está nos atrapalhando.

Verônica está com a arma apontada para mim, sinto meu coração parar, olho para os lados
com os olhos arregalados, tentando encontrar algum lugar para onde eu possa correr.

—Verônica, abaixe essa arma, por favor. — Ulric se aproxima dela.

— Como pode trazê-la para cá, deixá-la passar a noite em seu quarto? Você me prometeu que
nunca deixaria uma mulher dormir aqui em nossa casa. Sempre foi só nós dois, sempre fomos unidos,
Caetano.

— Ainda estamos unidos Verônica, e sempre seremos — ele fala com uma calma assustadora.

Afonso tenta se aproximar e ela grita:

— Não chegue perto Afonso. Senão atiro em você também. Só quero acertar essa vadia,
depois tudo ficará bem.

Verônica dá alguns passos em minha direção e eu empalideço.

Ulric entra devagar em minha frente e eu o agarro pelas costas com força, ficando totalmente
escondida atrás dele. Se existe um parâmetro para desespero, eu estou no 100%.

— Não faça isso Caetano. — Verônica derruba algumas lágrimas. — Não vou atirar em você.

—Sei disso, querida. Você não vai atirar em ninguém.

— Vou sim... nela.

— Verônica, você não quer fazer isso, ok? Só está nervosa e um pouco confusa.
Foi então que Verônica aperta o gatilho, a bala passa muito próxima do rosto de Ulric,
zunindo em nosso ouvido e entra na parede.

— Que merda! — Ele grita.

— Caetano, saia da frente, por favor.

Eu me agarro ainda mais em Ulric, e devia estar gritando histericamente pois Ulric grita
comigo:

— Cale a boca Ágata.

— Essa mulher é louca— grito novamente. — Totalmente louca — meu coração parece que
vai sair pela boca de tão forte que bate.

—Cale a boca, desgraçada. — Verônica grita de volta.

—Verônica, me escute, se for atirar nela, você terá que atirar em mim. — Ulric fala
severamente.

—Eu não posso atirar em você, Caetano.

—Então me dê a arma e conversaremos sozinhos.

—Não posso fazer isso... E ela?

—Ela não vai fazer nada. Me entregue a arma.

—Não posso Caetano, ela tem que sair de nossas vidas.

—Ela saíra, só que não desse jeito.

Olho por cima do ombro de Ulric e vejo que ela balança a arma com as mãos trêmulas,
decidindo o que irá fazer, me agarro mais ainda em suas costas.

—Se você continuar com isso, irá me machucar, e você não quer que isso aconteça, não é? —
Ulric insiste.

Ela balança a cabeça freneticamente. — Não, não quero, claro que não quero.

Noto que ela está com os olhos vidrados, provavelmente está muito drogada.
— Então chega, Verônica, me dê a arma agora —ele pede energicamente.

Ele avança uns passos até ela sem medo algum, muito confiante do que está fazendo, eu
congelo, pois estou completamente sem proteção. Ulric estica o braço e empurra a arma para baixo e
a retira dela, colocando-a na cintura.

—Pronto, está tudo bem — ele a abraça enquanto ela chora.

Nunca vi uma cena tão macabra como essa. Parecia mais que estava numa pegadinha de
televisão, isso não podia ser real, não mesmo.

—Afonso, leve Ágata para meu quarto — ordena, enquanto segura Verônica.

Fiquei sem fala por um momento, a minha vontade era de pegar Verônica e dar a surra que ela
tanto precisa, mas de repente ela se lembra de mim novamente, tenta se soltar de Ulric que a impede
e fala diabolicamente.

—Vou te matar, ainda hoje, vou te matar, você não sai viva dessa casa, sua maldita.

Afonso veio e praticamente me pegou no colo, visto que minhas pernas não saíam do lugar.
Enquanto subíamos as escadas, ainda ouvia os gritos histéricos dela.

Nós entramos no quarto de Ulric, e Afonso me fala:

—Fique aqui, fique calma, Verônica às vezes extrapola, mas nada que não possa ser
resolvido.

— Claro, não era a sua cabeça que ela queria estourar — cruzo os braços em pânico.

— Vou te trancar aqui por enquanto, e dar a chave a Ulric.

Ele deu um falso sorriso e saiu. Escuto a chave sendo girada. Não sei se isso me causa mais
conforto ou mais pânico.

Estou sozinha no quarto de Ulric novamente, quando me dou conta, que não sei onde deixei
minha bolsa, meu celular, nada. Droga, droga!

O telefone sem fio de Ulric me atrai a atenção e corro para ele. Aperto um botão para dar
linha, e paro. Penso por um segundo: para quem vou ligar? Para Jandon? Se ele vier aqui, morre.
Para a polícia? Eles não acreditariam em mim, entrei no carro dele porque quis, além do que, se a
polícia vier aqui, Jandon morre também. Eu morro também. Coloco o telefone de volta na base.
Tenho que achar algum modo de me proteger.
Ulric é traficante de armas, então esse maldito deve ter alguma arma escondida em algum
lugar desse quarto.

Abro as gavetas do criado-mudo, corro para seu closet, abro tudo que eu posso, procuro até
no alto.

Maldição, ele tem que ter uma arma em seu quarto. Com certeza ele tem.

Continuo procurando, uma gaveta cai em meu pé.

— Droga, droga!

A coloco de volta, morrendo de medo de ele chegar agora. Coloco as roupas correndo de
volta, e depois de uns 15 minutos ainda não achei absolutamente nada.

Já que não tem um revólver, deve haver alguma outra coisa que poderia usar como arma.
Olho em volta, deve ter alguma coisa aqui. Pego um abajur na mão. Será que consigo acertar alguém
com isso?

— Merda!

Devolvo o abajur e continuo procurando, meus pés estão doendo com essas sandálias. Nunca
acerto um sapato confortável. Retiro-os e os jogo num canto. Continuo procurando. Abro mais umas
gavetas pequenas do quarto, encontro algumas fotos de infância que suponho ser de Ulric e Verônica.
Estão abraçados e sentados numa grama com alguns brinquedos espalhados. Deixo a foto de lado, e
meu coração acelera quando vejo algo parecido com um canivete. O pego na mão, olho para essa
coisa sem saber como se usa, e sem querer aperto um botão ao lado, a lâmina sai do dispositivo
quase cortando minha mão, o deixo cair ao chão.

Sorrio, o pego de volta, fecho, e o abro novamente mais umas duas vezes. Pronto já estou
familiarizada com ele. O seguro na mão me sentindo mais segura agora. Sento na cama e tento me
controlar.

— Pode vir, Caetano Ulric.

Ulric
— Que merda foi essa, Verônica? — Eu a jogo na cama. — Que loucura está passando por
sua cabeça?

— Caetano, você tem que abrir os olhos... por favor.... essa mulher está te enfeitiçando...

— Verônica, me escute — seguro em seus ombros e a faço se sentar e me sento com ela na
cama. — Ela não faz parte de nossas vidas, ela vai sumir, só que no momento certo. Você entende
isso? — Minto, talvez para mim mesmo. Não sei se quero que ela suma.

— Por que você fez isso, Caetano? — Ela passa a mão em meu rosto e me sinto muito
incomodado, então seguro suas mãos.

— Verônica, você é minha irmã. E sempre será. Mas não tem o direito de atirar em minha
cabeça — falo com autoridade.

— Não atirei em você, atirei nela.

— Não pode fazer isso, Verônica. Não pode sair atirando em todo mundo.

— Não me deixe por ninguém... — voltou a chorar.

— Nunca, claro que não.

Seus olhos estão vidrados, ela voltou a se drogar, sei que não adianta tentar explicar o que
quer que seja para ela agora, então eu a abraço e ela fica assim com a cabeça em meu ombro, por um
tempo longo demais. É impressionante como pequenos atos dela são capazes de me incomodar tanto.
E esse abraço está me causando um desconforto imenso.

— Você precisar descansar agora.

Precisei forçar para que ela me soltasse.

— Amanhã é outro dia — consegui fazê-la deitar. — Agora procure dormir.

— Toma café da manhã comigo amanhã?

— Claro.

Minto novamente e me levantando da cama. Saio do quarto, e fecho a porta devagar, suspiro e
passo as mãos no cabelo.

— Que merda tudo isso!


Foi quando vejo Afonso que me espera e balança uma chave na mão.

— Como ela está? — Me pergunta.

— Terrivelmente drogada — balanço a cabeça negativamente, pego a chave de sua mão. — E


Ágata?

— Nervosa, extremamente nervosa e com medo.

— Já imaginava.

Dou uns passos em direção ao quarto e me viro para Afonso.

— Por que é tão difícil entender uma mulher?

Ele deu de ombros, sem saber o que responder.

Ágata
Após uns quinze minutos, ouço o barulho da chave que vira na fechadura, meu coração
acelera e Ulric entra. Sinceramente não sei se me sinto segura ou totalmente insegura.

Me levanto. Noto que ele trouxe minha bolsa e a joga no sofá. Me olha dos pés à cabeça
como se fosse a primeira vez que me vê. Mesmo que eu não estivesse vendo minha imagem, percebo
que estou com o vestido amassado, sem sapatos, descabelada e provavelmente com os olhos
vermelhos e inchados de chorar. Conclusão: estou uma lástima.

— Esse vestido é ruim demais —ele fala indo para o frigobar.

— É isso que você tem para me dizer, depois de tudo que passei hoje? — Estou indignada. —
Um monte de homem armado quase atira na minha cabeça, a louca da sua irmã quase me matou e
você está preocupado com o meu vestido? —Aponto para meu vestido.

Ele toma um gole de uísque que acabou de colocar no copo e sorri para mim, como se não
houvesse problemas no mundo, neste mundo.

— Coisas ruins podem acontecer — ele comenta. — E isso tudo não torna seu vestido mais
bonito.
— Coisas ruins podem acontecer? Ela quase me matou — berro inconformada. — E não faz
meu vestido mais bonito? —Ando pelo quarto. — Vá para o inferno Ulric, vá para o inferno — grito
novamente.

— Nós quase morremos hoje de manhã. Poderia ser pior — deu de ombros.

— Você é um monstro Ulric. Você não sente culpa por nada, nunca?

— Não — responde somente.

— Você não é humano, não pode ser desse jeito.

— Hum... — ele resmunga acabando de beber o uísque e colocando o copo na mesa. –


Lembra que eu disse que estava cansado de ser insultado?

Eu engulo em seco.

— Está na hora de resolvermos isso.

Até agora estava com as mãos nas costas, escondendo o canivete, mas o deixo à vista de
Ulric e aperto o botão fazendo com que a lâmina aparecesse com um ruído característico.

— Você acha que vai fazer o que com isso? —Ele caçoa colocando as mãos no bolso da
calça.

— Não vou deixar você me fazer mal— ele deve ter notado minhas mãos trêmulas.

— Eu não vou te fazer mal, nunca faria isso — ergue as sobrancelhas. — A não ser que você
queira.

Faço uma cara de espanto e ele ri.

— Você nunca vai conseguir me segurar com isso — aponta ridicularizando o canivete em
minha mão.

— Você não me conhece. Não sabe do que eu sou capaz — tento demonstrar confiança.

— Puxa, estou com muito medo agora — zomba.

— Você não sabe do que uma mulher com medo é capaz.

— Você não precisa ter medo. Meu quarto é o lugar mais seguro do mundo para você estar
agora.

— O quarto pode ser seguro— forço um sorriso com o canto dos lábios. — Mas estar com
você não é seguro.

— Nós já transamos duas vezes, e por acaso te machuquei? — Ele começa a avançar os
passos e eu começo a me afastar. — Você até gostou, que eu sei— enfatiza.

— Não seja ridículo.

Ele balança a cabeça negativamente.

— Me insultou de novo.

— Vocês são todos loucos por aqui. Sua irmã é uma doente, ela é apaixonada por você— falo
com nojo. —Como você pode consentir isso? —Continuo me afastando com o canivete no alto e ele
se aproximando tranquilamente.

— Ela realmente é apaixonada por mim — sua fisionomia se entristece por um momento. —
Mas ela não é realmente minha irmã.

— Co... como assim? —Pergunto totalmente confusa.

— Meu pai se casou com a mãe de Verônica, éramos crianças pequenas ainda.

Ele se aproxima ainda mais, e quando percebo estou na porta do banheiro.

Eu não me aguento e pergunto com uma careta de asco:

— Vocês já... já... transaram?

— Não. Claro que não— ele se surpreende com a pergunta. — Meu Deus! Para mim ela é
minha irmã e acabou — parece horrorizado. — O resto é loucura da cabecinha dela.

— Só que ela não pensa assim, e se acha dona de você.

— Não tenho dona, Ágata.

— Hum — resmungo. — Realmente se nota que ninguém nunca te colocou rédeas.

Ele ri alto.
— Eu não acredito que você ainda ri — balanço a cabeça negativamente.

— É que você nem imagina como está sexy segurando esse canivete.

Seu rosto se torna sensual, depravado. Me olha com cobiça e eu me arrepio.

Onde fui me meter?

Ele se aproxima e eu ergo mais ainda o canivete. Ele não sente nem um pouco de medo,
diferente de mim que estou a ponto de ter um colapso nervoso. Balanço a lâmina no ar, tentando
afastá-lo, mas em um segundo que nem vi como, já estou sentindo o azulejo frio do banheiro em
minhas costas, e ele está segurando meu pulso com uma mão e retirou o canivete com a outra.

Ulric me domina facilmente, torcendo meu braço para trás e me fazendo girar o corpo. Agora
estou com o rosto no azulejo e ele está grudado com seu corpo forte em minhas costas.

Ele encosta a ponta do canivete em meu pescoço, minha pele se arrepia e eu peço:

— Ulric, por favor...

— Shiu. Fica quietinha.

Sinto a lâmina gelada acariciar lentamente meu pescoço e descer para meu ombro, e depois
desce para minhas costas, neste momento não consigo conter um gemido e deixo uma lágrima cair.

— Ulric... — tento falar, mas minha voz não coopera.

— Já mandei ficar quieta.

De repente ouço o tecido de meu vestido sendo lentamente rasgado pelo fio do canivete, um
corte que termina na altura de minhas nádegas.

Eu mal respiro, não consigo mover um músculo, sinto um tremor por dentro, algo que nunca
havia sentido antes, um misto de medo e excitação.

Percebo que estou molhada entre as pernas, e isso me deixa com mais medo ainda. Meu
vestido cai ao chão, continuo sem saber como agir. O medo me domina.

Muito rapidamente, com um rápido golpe ele corta um dos lados de minha calcinha e ela cai
ao chão sem que eu pudesse fazer nada.

Ele faz o mesmo procedimento com meu sutiã, enfim ele detona toda minha roupa.
Ele mordisca minha orelha enquanto sinto a lâmina descendo por minhas nádegas, eu crio
coragem e tento me desvencilhar dele, mais meu esforço é inútil, mal consigo me movimentar.

— Você é muito teimosa — murmura em meu ouvido.

— Me solta — peço e insisto. — Por favor.

— Acho que não. Você está muito rebelde, não gosto disso.

Meu coração está tão acelerado que sinto que vou desmaiar de pavor.

— Sabia que se você souber usá-lo... — sinto a lâmina subindo por minhas costas — Dá para
fazer muitas coisas legais.

—Ulric pare, está me assustando — tenho a impressão que minhas palavras saíram num grito,
mas não tenho tanta certeza.

Ele ri e segura meus cabelos e beija meu pescoço.

Maldição, isso é tão bom.

Escuto a lâmina do canivete entrar de volta no compartilhamento. Respiro aliviada, pois sei
que ele desistiu de usá-lo. Ele ainda segura meu cabelo, mas sua outra mão desliza por minhas
costas, sua mão é deliciosa, quente e macia, ele aperta minha cintura e eu tento me segurar em vão
nos azulejos. Ele desce a mão para minha bunda, a acaricia, ele aperta minha nádega com força, e eu
solto um gemido.

— Sua bunda é uma delícia— sussurra e posso sentir o desejo em sua voz.

Ele coloca a mão no meio de minhas nádegas e toca meu ânus com o dedo e eu grito com um
frio terrível no estômago.

— Ei, pare com isso.

Ele começa a rir, retira a mão, segura meus braços contra o azulejo e joga seu peso contra o
meu corpo que encosta totalmente no azulejo frio, seu peso poderia me esmagar.

— Não acredito que você nunca fez sexo anal? —Ele ri, como se isso fosse uma piada.

— Isso não te interessa — respondo bruscamente.

Ele chega próximo a minha orelha, sinto seu hálito quente e depois passa a barba em meu
rosto e pescoço.

Nossa, sinto que estou encharcada. O que eu menos queria nesse mundo era sentir desejo por
esse homem e meu corpo traiçoeiro não corresponde.

— Não acredito que ninguém ainda comeu essa linda bunda.

— Me deixa em paz, isso não é da sua conta— rebato.

— Claro que é. Tudo referente a sexo com você é da minha conta.

Fico quieta e suspiro com raiva... e com tesão.

— É uma delícia saber que vou ser o primeiro.

— Você não vai ser o primeiro— sorrio. — Não vai mesmo, isso não estava no acordo.

— E por acaso nós temos algum acordo por escrito do que podemos ou não fazer? Somente
disse que ficaria comigo por 7 dias— morde novamente minha orelha e eu fecho os olhos. — Faço
com você o que eu quiser.

Eu engulo em seco e sinto a ereção dele atrás de mim. O desgraçado está excitado com a
situação.

De repente, sem dizer nada, e me vira de frente para ele. Olho em seus olhos, não estão tão
obscuros como estavam de manhã. Estão com alguma expressão que não consigo decifrar.

Ficamos assim nos encarando, até que ele passa o dedão em meus lábios, fazendo todo o
contorno deles delicadamente. Sinto uma vontade imensa de chupar seu dedo de tê-lo dentro de
minha boca. Com a outra mão ele retira uns fios de cabelo de meu rosto e os coloca para trás, sua
boca está entreaberta, algo nele mudou. Está quase... humano agora.

— Desabotoa minha camisa.

Ele ordena, mas sua voz está mais rouca e baixa do que de costume, ele está totalmente
excitado.

Ulric
Ágata está me encarando como se eu tivesse pedido algo muito difícil para ela fazer.

O dia foi terrível hoje, primeiro o problema no galpão, Ágata ficou em perigo, isso realmente
me desestabilizou, depois Natan e, ainda depois, o fechamento da venda das armas, pois meu lema é
não ficar com a mercadoria comigo e passá-la para frente o mais rápido possível. Depois para
encerrar a noite, Verônica que voltou a usar drogas e teve um surto nervoso, psicótico, seja lá o nome
que se usa.

Sinto os dedos dela no primeiro botão da minha camisa, muito vagarosamente ela o abre e
olha para mim, propositalmente ela desce os dedos pelo tecido roçando minha pele até chegar ao
próximo botão.

Agora estou com essa mulher deliciosa na minha frente. Estou duro como ferro. Mas sei que
ela está com medo de mim. Isso chega a ser muito excitante.

Seguro seu queixo e ergo seu rosto, seus lábios estão entreabertos, seus olhos azuis estão
cintilantes, ela está superexcitada e só de pensar que nada me separa de seu corpo estonteante, de sua
pele macia e perfumada, fico com tanto tesão que sinto calafrios.

A beijo devagar enquanto seguro sua nuca. Seus lábios são macios e sua língua é tentadora.
Quero muito essa língua em meu pau. Estou louco para sentir essa língua molhada me lambendo, sua
boca me chupando.

Maldição! Preciso gozar nessa mulher.

Solto sua boca e a ordeno novamente:

— Continue— me refiro aos botões.

Ela abre todos, bem mais rapidamente agora, e me surpreende quando sinto seus dedos
alisando meu peito nu.

Ela olha para mim, passa a língua nos lábios. Maldição tomara que ela não faça isso
novamente, senão vou morder essa língua gostosa. Desvio meu olhar para baixo e retorno para seus
olhos. Ela entende minha ordem e imediatamente sinto seus dedos desabotoando meu cinto.

Ela solta o cinto e acaricia minha barriga antes de desabotoar o botão da calça, e enquanto
abre meu zíper ela beija meu peito.

Vou explodir de tanto tesão, meu pau nem cabe mais na cueca, e quando sinto sua mão
acariciando meu pau por cima do tecido, solto um grunhido.
Ela o puxa para fora e começa a me masturbar, enquanto segura minha cintura.

Porra, isso é muito bom.

Eu coloco uma perna entre as suas e coloco meus dedos nessa boceta gostosa, encharcada de
tesão, só para mim. Ela geme se encolhendo e cessa os movimentos de sua mão por um instante, mas
retorna com força total quando a penetro com um dedo, e com o dedão acaricio seu clitóris. E quando
ela está perto de atingir o clímax, ela aperta ainda mais meu pau.

Eu retiro minha mão de sua boceta, e retiro sua mão de meu pau e a seguro na parede. Não
quero que isso acabe rápido assim, e se continuarmos desse modo, nada vai durar mais que um
minuto.

A respiração dela está acelerada e meu pau está pulsando.

Eu a beijo, enquanto faço isso, me livro dos sapatos, meias e calça.

Eu a ergo no ar, ela abraça minha cintura com as pernas e geme baixinho. A levo para dentro
do box e abro a ducha deixando cair uma gostosa água morna. A coloco no chão, mas junto de meu
corpo, debaixo da água.

A visão dela molhada com os seios arrepiados me causa muito tesão.

— Você fica linda toda molhada.

Ela sorriu ironicamente.

— Imagino que sim.

— Não precisa ser irônica, uma das minhas virtudes é a sinceridade.

Ela parou de sorrir.

— Você está muito bonita e tão deliciosa.

Ela estava olhando meu peito que subia e descia numa respiração rápida. Meu sangue está
fervendo, sempre que estou com ela, fico assim, tenho que a possuir logo, com urgência. Mas tenho
que me conter, se ela soubesse a metade do que tenho vontade de fazer com ela, correria daqui agora.

Eu a beijo, nossas bocas estão debaixo da água, minha mão acaricia suas costas, passa para
os seios e aperto seus mamilos, ela geme, adoro quando ela geme excitada assim. Eu a retiro debaixo
do chuveiro quente e a empurro até suas costas encontrarem o vidro do box que está embaçado por
causa da água quente, ou talvez por causa de nossos corpos quentes.

Passo a barba em seu rosto, e desço pelo pescoço, onde dou alguns beijos e mordisco sua
orelha. A mão dela está em meus cabelos, percebo que ela quer transar comigo tanto quanto eu.
Brinco novamente com seus mamilos, e desço minha boca até eles e começo a chupá-los primeiro
devagar, chupo um e acaricio outro, depois começo a chupá-los com mais firmeza e a mordiscá-los,
ela solta um gritinho abafado enquanto contorce seu corpo.

— Você é muito gostosa — murmuro.

Quando solto seus seios, eles estão vermelhos, e um calafrio de tesão me percorre a espinha.

—Minha nossa! Quero te comer inteira, Ágata.

A seguro pelos cabelos fazendo-a encostar a cabeça no vidro, passo os dedos pelos lábios
dela, mordisco levemente seus lábios e depois chupo o lábio inferior. Ágata abre a boca, neste
momento percebo que deseja loucamente me beijar.

— Sua boca é uma tentação— eu sussurro umedecendo os lábios com a língua.

Meu corpo a pressiona ainda mais contra o vidro úmido, e minha mão faz pressão na nuca de
Ágata. Eu encosto a boca na dela devagar, eu sinto seus lábios macios e enfio a língua exigente
forçando sua boca, ela tem um leve tremor no corpo. Ela coloca as mãos em minha nuca, enquanto eu
aliso suas costas nuas e molhadas. Eu a beijo ferozmente como se fosse nosso primeiro beijo e
percorro toda sua boca com minha língua quente.

Eu a solto, e a viro bruscamente de frente para o vidro, sua bunda branquinha é uma
verdadeira tentação. Meu pau lateja de vontade de meter bem ali.

— Seu rabo deve ser muito apertadinho— falo com a voz entrecortada de desejo enquanto
acaricio toda sua bunda.

— Não se atreva Ulric — ela fala com dificuldade.

— Você tem medo do quê?

— Não tenho medo e minha intimidade não é da sua conta.

Ela está tão excitada que tenho certeza absoluta que me deixaria fazer o que quisesse com ela.

Não resisto e minha mão estrala em sua bunda deixando uma marca vermelha na pele branca.
Ela grita e depois me xinga:
— Desgraçado.

— Shiu...

Eu a abraço alcançando seus seios que aperto nas mãos.

— Ulric... — sua voz não sai mais.

Ela grita novamente quando minha mão bate forte em sua nádega mais uma vez, mas ao invés
dela tentar me segurar, ela empurra o corpo mais para mim apertando meu pau contra sua bunda.

Chupo seu ombro e sua orelha, enquanto acaricio sua nádega vermelha, se eu lhe der mais um
tapa sou capaz de gozar agora mesmo. Eu a viro de volta para mim, noto seu rosto vermelho, ela está
tremendo, não de raiva, mas de desejo.

— Você é uma safada mesmo.

Ela não tem palavras e só balança a cabeça negativamente.

— Não gosta de ouvir a verdade? Está louca para se arreganhar para mim.

— Maldito — ela sussurra excitada.

Eu a solto e coloco ambas as mãos em suas coxas a levantando do chão, e ela me segura
pelos ombros. Eu a penetro de uma só vez. Ela grita mordendo minha pele. Ela está tão molhada que
meu pau desliza para dentro dela muito facilmente. Eu fico assim dentro dela imóvel por um instante
enquanto minha boca está encostada em seu pescoço. Nem sinto o peso de seu corpo que mantenho no
alto, não sei se é porque sou muito maior que ela, ou simplesmente porque estou excitado demais.

Então começo a estocá-la rapidamente fazendo as costas dela esfregar no vidro, mas tenho
certeza que ela não sente nada além da mesma coisa que eu, somente a pele queimando, e um tesão
incontrolável que percorre todo o corpo. Então ela enlaça mais as pernas em minha cintura enquanto
eu acelero ainda mais os movimentos.

— Caramba, você está muito meladinha. Quente, apertada e melada — falo olhando para seu
rosto.

Ela morde o lábio inferior até deixá-lo branco. Isso a excita.

— Quer gozar no meu pau, Ágata? —Falo metendo mais fundo ainda.

Sinto que suas unhas cravam em meus ombros, ela está endoidecendo de tesão.
— Nunca imaginei uma boceta tão gostosa como a sua.

Não paro de estocá-la enquanto falo e noto que ela está quase gozando. Então a ergo um
pouco mais e meu pau entra mais fundo ainda, meto mais forte quando percebo que ela joga a cabeça
para trás gritando e me aperta mais ainda contra seu corpo. Seu corpo sacode com a intensidade do
orgasmo. Eu aperto suas nádegas fortemente e não consigo abafar um grito enquanto gozo dentro dela.

— Maldição. —Resmungo metendo mais algumas vezes enquanto meu gozo escorre.

Quando levanto meu rosto de seu pescoço, ela tem a cabeça encostada no vidro. Minha
respiração está tão acelerada quanto a dela, nossos corpos agora não estão mais molhados com a
água do chuveiro e sim de suor.

— Que merda você está fazendo comigo? —Pergunto.

Ela olha para mim e não responde, não sabe o que responder, acho que nem entende minha
pergunta.

Coloco suas pernas cuidadosamente no chão. Ela assim de pé, sua cabeça não passa de meu
peito, parece tão indefesa.

Acaricio seu rosto com as mãos e beijo seus lábios, mas agora é um beijo calmo e delicado.
Ela fecha os olhos enquanto me beija, e continua assim ainda alguns segundos depois que minha boca
a deixa.

— Vamos voltar para o chuveiro — a puxo pela mão.

Começamos a tomar banho nesse clima gostoso, até que ela percebe algo e olha para mim,
como se eu tivesse cometido um crime e explode:

— Ulric você é um desgraçado — fala com voz baixa. — Você não usou preservativo.

— Demorou bastante para perceber. Estava excitada demais para isso, não é?

Saio do chuveiro me enrolo na toalha e vou para o quarto e coloco uma dose de uísque no
copo. Ela chega logo atrás em segundos, também enrolada em uma toalha.

— Você é louco ou o quê? —Ela está enfurecida. — Sabia que transar sem proteção dá
doenças sexuais?

— Você toma pílula, não é?


— Você é... palhaço ou o quê?

— Quer levar mais tapa na bunda? —Brinco e ela fica mais brava ainda.

— Ulric, eu te odeio — ela anda de um lado para outro.

— Nunca transo sem proteção, Ágata.

— Não é o que me pareceu agora — ela está muito furiosa.

— Nunca transo sem preservativo, fiz isso hoje com você — aponto o dedo para ela. —
Porque nem eu e nem você, temos doença. Não sou imbecil para me arriscar dessa maneira.

— Eu sei que não tenho doença — ela continua gritando. — Mas você transa com todas as
mulheres dessa cidade... que merda. Como vou saber o tipo de vadia que você faz sexo?

Esse assunto já estava me cansando, então me encaminhei para o closet e ela me seguiu.

— Já te expliquei que não vai acontecer nada, estou cansado disso.

— Você é estúpido mesmo, um imbecil.

Agora minha paciência se esgota, a seguro pelos braços, chego a levantá-la do chão por uns
segundos e a encosto no armário.

— Eu já te falei para parar de me insultar, Ágata Magide — eu estava a um centímetro de seu


rosto. — Deu para entender agora?

Ela apenas balança a cabeça concordando.

Ela fica terrivelmente amedrontada e por um momento fico preocupado com ela. Não deveria
ser tão rude assim, ela passou por muita coisa hoje e deve estar aterrorizada com tudo isso. Homens
armados, tentativa de assassinato.

E a nossa transa foi tão boa, com uma cumplicidade que nunca dividi com ninguém.

Eu solto seus braços, acaricio seu rosto. Como ela vai confiar em mim, se sempre sou tão
grosso com ela?

— Está tudo bem, certo? Eu não passei doença nenhuma para você. Apesar de ser errado,
mas no momento da excitação transamos sem proteção.
Ela tentou falar algo, mas eu não deixei.

— Não adianta vim me dizer que não estava excitada, porque estava e muito. E não vejo nada
de errado nisso.

Ela me lança um olhar de raiva e medo misturados e entreabre os lábios.

Eu a solto e vou para o armário, pego uma calça de pijama e a visto, jogo uma camiseta
branca para ela.

Na saída do closet ela me pergunta, sem olhar diretamente para mim:

— Posso ir embora?

— Não— respondo simplesmente e vou para o quarto.

Ela vem logo atrás, já vestida com a camiseta.

— Por que não? Já transei com você.

— Eu te disse que te queria por 7 dias — encho meu copo com uísque. — Em nenhum
momento disse que iria transar com você uma vez ao dia e te dispensar. Fico com você 24 horas se
quiser.

Ela engole em seco. Não é minha intenção, mas a deixo cada vez com mais medo.

Ulric você é um idiota, pare de amedrontar a garota.

— Quer uma bebida?

— Não bebo isso — apontou para o copo. — E você bebe demais.

— Bebo mesmo — ela tem razão. — Posso ir buscar algo para você.

— Não— ela grita.

Percebo que se apavorou ao pensar em ficar sozinha novamente.

— Prefiro que fique aqui agora, tenho medo da louca de sua irmã voltar para me matar.

— Isso não vai acontecer— me encosto na mesa. — Ela estava drogada, já está dormindo.
— Todos são loucos nesse lugar — ela esfregou os braços. — Chego a me arrepiar.

Ficamos quietos por um momento, até ela perguntar:

— Eu vou passar a noite aqui de novo?

— E se for, qual o problema?

— Você não é esse tipo de homem, Ulric, que queira passar a noite abraçadinho com uma
mulher após uma transa.

— Parabéns, você conhece muito bem o Caetano Ulric — caçoo.

— Na verdade eu conheço o Ulric. Um homem cruel, manipulador, consegue tudo que quer
sem piedade, que hoje descobri que é um traficante e sei lá mais o quê. Agora o Caetano eu ainda não
conheço.

Olho fixamente para ela e penso que tem razão, o Caetano faz aparições muito raras.

— Desculpe — ela pediu, e percebo que está sem graça.

Acabo de beber a bebida e coloco o copo de lado.

— Não acredito que a Ágata adoradora de insultos, me pediu desculpas.

— Não seja sarcástico.

— É, sua submissão dura muito pouco.

Me levanto e vou em sua direção quando para meu espanto ela começa a se afastar
praticamente correndo de mim, e quando percebo estou correndo atrás dela pelo quarto, parece mais
uma cena de filme, não estou entendendo nada, mas rapidamente a pego pela cintura a jogo na cama e
me deito sobre ela e seguro suas mãos acima da cabeça.

— Você ficou maluca?

— Não fiquei— responde furiosa.

— Por que raios você estava correndo de mim? —Não consigo conter o riso, porque no
fundo foi engraçado.

— Eu sei lá. Fiquei com medo do que ia fazer comigo— e começa a rir também.
Era a primeira vez que via seu sorriso espontâneo. E é muito lindo.

— Você não tem que ter medo de mim, Ágata— solto seus braços e acaricio seu rosto. —
Nunca te faria mal.

Ela fica séria e percebo que também estou sério, então encosto minha boca na sua, a beijo
com calma, suas mãos que vão direto para minhas costas e nuca. Eu a paro de beijar por um momento
somente para falar.

— Sua boca é muito gostosa. É incrivelmente tentadora.

E volto a beijá-la, e percebo que me abraça forte.

— Eu quero que fique essa noite aqui — falo enquanto mordisco seus lábios. - Não vou
deixá-la ir embora.

E para meu espanto ela não retrucou.


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CAPÍTULO 4

4º dia

Domingo

Ágata
Passo mais uma noite com Ulric. Estou deitada em seu peito, sinto sua respiração calma
enquanto dorme, e por incrível que pareça me sinto muito protegida.

Meu Deus, eu não poderia estar aqui tão confortavelmente abraçada a ele, enquanto sei que
ontem quase morri por duas vezes. Meu estômago chega a doer quando penso nisso. Galpão, homens
armados, Arbal, armas, Verônica. Foi muita coisa para um dia só. Minha nossa, será que estou com a
síndrome de Estocolmo, quando a vítima começa a gostar de seu algoz? Sorrio ao pensar nisso. Claro
que não. Só quero que esses dias acabem logo e isso tudo acabe logo também. Nossa, e o que falar
do sexo que fizemos ontem, não tenho como negar que foi ótimo, e que estava superexcitada. Não,
não, só fiquei excitada por causa da adrenalina do dia todo, essa função toda, esse agito, o perigo que
emana desse homem, tudo isso acaba sendo excitante para uma mulher como eu, que o máximo de
coisa errada que já fiz foi passar num sinal vermelho.

— Você mexe muito com os dedos enquanto pensa.

Me assusto com a voz de Ulric, sua voz grossa quando acorda é mais rouca, isso é excitante.
Não acredito que até nisso estou reparando agora. E entendo o que ele acabou de dizer, pois enquanto
penso, mexo com os dedos, e novamente eles estão dançando sobre sua barriga.

— Desculpe, não quis te acordar.

— Nossa, segundo pedido de desculpas em menos de 24 horas. Estou emocionado.

Sempre sarcástico, até quando acorda.

Sinto que está acariciando meu braço, bem devagar, e de repente ele fala algo que não
entendo o significado.
— Você me mantém equilibrado, Ágata. Há muito tempo eu não meu sentia assim.

Resolvo ficar quieta, não sei o que dizer. Não sei o que ele quer dizer com isso.

— Vou pedir para alguém te deixar na sua casa, tenho que ir para o cassino, tenho muitos
problemas para resolver— sinto que sua voz soa triste.

— Tudo bem.

Concordo mais não levanto a cabeça de seu peito, e ele não faz nada para que isso ocorra, ao
contrário continua passando delicadamente a mão sobre meu braço.

— Me desculpe por tudo que passou ontem.

Eu arregalo os olhos, não estou acreditando que o todo poderoso está pedindo desculpas.

— Eu aceito suas desculpas — sorrio ironicamente.

Mesmo sem olhar para ele sei que está sorrindo.

— Você tem que ir embora, agora— ele está muito calmo.

Bom, uma segunda vez não tenho como não obedecer.

Me apoio nos cotovelos e o olho e entendo que voltamos a ser o que éramos: nada um para o
outro.

Olho para o enorme espelho onde estava de costas até agora, e reparo a imagem de nossos
corpos juntos na cama, não posso deixar de pensar como seria transar vendo a imagem de nossos
corpos nus.

Ele pega em meus cabelos, e eu volto meu olhar rapidamente para ele.

— Posso tomar um banho antes de ir? — Pergunto antes que ele me diga algo mais.

— Claro.

Me levanto rapidamente, vou até o sofá e pego minha bolsa. Chegando ao banheiro retiro a
escova de dente que sempre carrego comigo e faço minha higiene bucal. Retiro a camiseta, pego uma
das toalhas de banho que usamos ontem, que estava jogada de qualquer jeito no chão do banheiro. A
levo até meu rosto e sinto a maciez da toalha e o cheiro de Ulric. Novamente sinto que estou úmida
entre as pernas.
— Que merda! —Esbravejo e jogo a toalha de volta no vidro.

Abro a ducha e não tenho como deixar de reviver o que aconteceu ontem nesse exato lugar.
Aliso meus seios debaixo da água quente e relembro o que suas mãos fizeram comigo ontem.

Tomo banho e penso em tudo que aconteceu desde o dia que conheci Ulric.

— Meu Deus, o que vai acontecer depois desses sete dias?

— Falando sozinha?

Dou um salto ao ver que ele entra nu junto comigo no chuveiro.

— Privacidade é zero nessa casa — reclamo me virando de costas para ele.

— A casa é minha, o banheiro é meu e você é minha.

Meu corpo se arrepia e meu coração se acelera ao ouvir isso.

— Sou sua somente por 7 dias — faço questão de lembrá-lo.

— Que seja.

Ele joga meu cabelo para o lado e beija meu ombro, sobe para meu pescoço. Segura meu
queixo e sinto seus lábios em meu rosto, percebo seu hálito de hortelã, também escovou os dentes.

Esse desgraçado vai querer sexo matinal agora?

Ele desce as mãos dos meus seios, até atingir minha cintura e alisa minha barriga.

—Você tem alguma tara por água? —Pergunto séria.

— Como? —Ele parece não entender.

— Nós já transamos duas vezes na água; na banheira e no chuveiro. E essa vai ser a terceira
vez.

— Quem disse que vamos transar? —Sua mão desce para meu sexo.

— Suas mãos — não contenho um gemido.


— Não vamos transar — ele aperta meu clitóris. — Só vou te fazer gozar.

Nesse momento meu sangue ferve. Quem ele pensa que é? Tento retirar sua mão, onde um de
seus dedos já está me penetrando bem devagar.

Ele segura meus braços, onde consegue me conter com apenas uma das mãos deixando a outra
livre, para descer novamente para meu sexo.

Na posição que ele está, atrás de mim, sua mão pressiona meu clitóris enquanto seus dedos
me penetram com força bruta.

Ele segura meu corpo contra o seu fortemente e sinto sua dura ereção pressionando minha
bunda, parece que vai explodir.

Eu tento me soltar dele, mas esqueço de tudo quando sinto sua língua em minha orelha e sua
voz baixa e sensual em entorpecendo.

— Você é gostosa demais, Ágata — e continua a meter seus dedos fortemente e muito rápido
dentro de mim. — Poderia te acordar todo dia te dando um orgasmo, você não imagina como fica
linda gozando.

Não consigo dizer nada, de minha boca sai somente um gemido abafado.

Em pouco tempo sinto aquele frio na barriga, aquela deliciosa sensação que antecipa o gozo e
quando percebo estou me contorcendo e tenho a impressão de estar encharcando sua mão.

Ele espera meu corpo parar de tremer, e ainda penetra seus dedos mais algumas vezes muito
delicadamente, e os retira devagar fazendo questão de esfregar meu clitóris, que está supersensível
agora. Ele solta meu braço e eu ainda me apoio nele, até minhas pernas tomarem juízo de novo e se
manterem em pé.

Ele me vira para olhá-lo, está com um terrível olhar cínico.

— É tão bom saber que você sente prazer fácil comigo.

— Você está enganado.

Ele me olha com um sorriso no canto dos lábios.

— Não estou não — ele coloca os dedos em meus lábios para barrar minha tentativa de
argumentar. — Você já acabou o banho?
Eu entendo que ele quer que eu saia, então balanço a cabeça positivamente e saio me
enrolando na toalha.

Assim que vejo minhas roupas rasgadas no chão, suspiro. Havia me esquecido que não tenho
roupa. Maravilha!

Me enxugo e visto a camiseta do pijama de volta.

Vou para o quarto penteando os cabelos molhados e dou de cara com Madalena e paro na
hora o que estou fazendo. Ela está colocando uma bandeja sobre a mesa.

— Bom dia! —Me cumprimenta formalmente.

— Bom dia—respondo estranhando sua presença aqui dentro do quarto.

— O Sr. Ulric me pediu para que trouxesse o café da manhã de vocês no quarto — ela aponta
para a bandeja. — Se faltar algo é só ligar na cozinha.

—Obrigada — agradeço, mas acho que ela nem ouve, pois já estava fechando a porta do
quarto.

Em pouco tempo Ulric volta para o quarto vestido um tanto informal para seu costume, uma
calça jeans escura e uma camiseta preta de mangas curtas. Está com o cabelo devidamente penteado,
como sempre, e cheiroso, seu perfume é um convite para o sexo.

Se senta na mesa e enche uma xícara de café, e toma um gole, noto que ele não o adoça.

— Você vai ficar aí parada? Não vem sentar comigo e tomar café?

— Você não disse que eu deveria ir embora? Parecia que estava com tanta pressa.

— Acho que temos tempo para um café — sorri maliciosamente.

Minha barriga ronca nesse instante. Sento e começo a me servir.

Reparo nele enquanto come, até que para seu tamanho ele não come tanto.

— Tenho uma festa hoje — finalmente ele quebra o silêncio.

— Hum — apenas resmungo, não tenho nada a ver com isso.

— Você vai comigo.


O garfo que contém um pedaço de bolo fica suspenso no ar próximo a minha boca aberta.

— Como é? —Devolvo o garfo no prato.

Ele dá de ombros antes de responder.

— Você vai comigo.

— Simples assim?

— Simples assim— responde após engolir o que estava mastigando.

Apesar de não entender o porquê de ele querer que eu o acompanhe numa festa onde terá
muitas pessoas que podem nos ver juntos, sei que não adianta discutir, pois sei o ele vai dizer, que
tenho que ficar com ele 7 dias, não interessa como e nem aonde, e por 24 horas se ele assim quiser e
blá, blá, blá. Então me abstenho de sua arrogância e desta vez não o deixo dar as graças de seu ar
superior.

— Posso saber que horas vai ser essa festa? Aonde? O que devo usar?

Perco o apetite e não como mais.

— Te pego em sua casa à 21:30. O local não te interessa. E deve usar um vestido social.

Ele me encara e eu retribuo seu olhar.

— Respondi todas as suas perguntas?

— Ainda não. Tenho mais duas.

Ele sorri e faz um gesto com a mão para que eu continue.

— Por que você é tão arrogante? E por que você tem que ser tão dominador o tempo todo?

— Quem sabe até terminar esses 7 dias você não descobre— ele está sério e seus olhos
negros adquirem aquela expressão que me amedronta.

Resolvo mudar de assunto, para tentar amenizar o clima que ficou pesado.

— E Verônica?
— O que tem ela?

Ele bebe mais um pouco de café.

— Como vou embora, sem que Verônica me mate?

Ele riu.

— Esse lugar é o mais protegido da cidade, repleto de seguranças. Como pode achar que ela
irá te fazer mal?

— Seus homens não me ajudaram ontem à noite — retruco.

— Mas por acaso eu deixei de te proteger? Eu deixei alguém te fazer mal?

— Não.

Ele fechou o cenho novamente, e se tornou o antigo Ulric. Por que não mantenho minha boca
fechada.

— Vou mandar alguém te levar para casa.

— Ulric? —O chamo e ele me olha. — Ontem no galpão...

— O que tem?

— Você enfrentou aquele homem para me defender — cruzo os braços e engulo em seco. —
Por que fez aquilo? Você poderia ter morrido.

— Eu sei— se encosta na cadeira.

— E por que o fez?

Ele me encara por instantes antes de responder.

— Porque cuido do que é meu.

Acho que paro de respirar por um momento, ele realmente está dizendo pela segunda vez que
eu sou dele?

— E você é minha por 7 dias— se levanta rapidamente da cadeira.


Eu abaixo a cabeça, realmente ele não muda, nunca vai mudar. Ele sempre vai conseguir me
arrasar e me humilhar com simples palavras.

— Preciso de algo para vestir para ir embora. Você acabou com tudo o que eu vestia ontem
— sinto que meu rosto queima de vergonha.

—Hã... vamos achar alguma coisa para você vestir.

Me lembro de algo e peço me levantando da cadeira.

— Me dê uma camisa de manga comprida que me viro.

— Tem certeza? —Ele pergunta confuso.

— Tenho sim — respondo confiante.

Vamos para o closet e ele me dá uma camisa azul e fica me olhando com expressão duvidosa.
Retiro a camiseta, fico nua em sua frente, ele cruza os braços e se encosta no armário para me olhar
melhor.

Pego sua camisa e coloco em meus seios abotoando o primeiro botão, ficando um tomara que
caia, sigo o mesmo procedimento até chegar ao último botão. Pego as mangas e amarro forte fazendo
um lindo laço na cintura. Me olho no espelho, está um lindo vestido azul. Quando me viro para ele,
noto que Ulric sorri encantado, não acreditando no que vê.

— Ficou ótimo. Isso que é praticidade.

— É, sou prática mesmo — saio do closet e volto para o quarto, calço meus sapatos, e pego
minha bolsa.

Ele pega o celular e disca um número que rapidamente alguém atende.

— Quero dois carros, Afonso. Um para levar Ágata para casa e no outro vamos para o
cassino.

Afonso deve ter respondido algo, pois ele concorda e desliga. Ele pega chaves, carteira e
junto com o celular coloca tudo no bolso.

— Está pronta?

— Estou — respondo decepcionada e abaixo a cabeça para que ele não veja minhas
lágrimas, mas ele não deixa de notá-las.
— Confie em mim Ágata— ele segura minha cabeça para que eu olhe para ele.

Confiar nele? Como se isso fosse simples. Ele seria a última pessoa em quem confiaria nesse
mundo. Além do quê, por que raios estou chorando?

Ele limpa minhas lágrimas com os dedos e esse simples e meigo gesto só me faz virar uma
cachoeira em sua frente.

Ele me puxa para seu peito e eu o abraço. Toda a carga que recebi nesses dias veio à tona.
Ficamos assim por um momento até eu me controlar.

— Preferia ter te conhecido de outra maneira — ele fala baixinho.

Me solto dele e o encaro.

— Será Ulric? Será que gostaria mesmo, se tivesse me conhecido de outra maneira me usaria
como faz com toda mulher que se aproxima de você — limpo as lágrimas. — Seria só mais uma em
sua lista.

— Nossa, é surpreendente a dificuldade que é manter um diálogo com você. Não consegue
esconder o ódio mortal que sente por mim, nem por um instante.

— Como poderia? Você bate em meu irmão e nos ameaça. Quase estouram minha cabeça, e
depois sua irmã vadia tenta me matar— levanto a mão com um gesto inconformado. — Como poderia
não o odiar?

Enfurecido, ele morde os lábios, e sua voz sai muito firme.

— Como quiser Ágata. Hoje é o quarto dia, falta pouco.

E abre a porta com força.

Descemos as escadas, ele está na minha frente, quando chegamos à varanda, ele se vira para
mim e eu paro bruscamente.

— Esteja pronta no horário combinado — fala friamente.

— Claro que sim — ironizo. — Afinal é você quem manda, não é?

— Exatamente, sou eu mesmo — ele ergue meu queixo com os dedos. — E você obedece.

Afonso chega nesse momento e Ulric ordena:


— Leve-a até o carro que a levará em casa, Afonso.

Afonso coloca as mãos em minhas costas para que eu o seguisse.

— Grosso, é isso que você é. Um grosso, insensível, um canalha.

— Afonso, por favor leve-a logo daqui— ele pede colocando os óculos escuros.

— Sim, senhor.

Afonso me puxa pelo braço e me encaminha em direção ao carro preto que me aguarda. Eu
entro sem olhar para trás e o motorista me leva em silêncio para minha casa.

Assim que chego, Jandon me recepciona com um abraço e depois me olha de maneira
estranha.

— Você não estava vestida assim ontem. O que aconteceu com sua roupa?

— Ahh... — fico envergonhada, não posso dizer para meu irmão que o pior inimigo dele
cortou meu vestido enquanto eu me excitava com isso.

Vou para a cozinha, abro a geladeira e encho um copo com água, e começo a bebericar.

— Você não respondeu Ágata— ele insiste.

— Um acidente, Jandon. Não foi nada grave.

— Um acidente? E você quer que eu acredite nisso? —Coloca as mãos na cintura — Ele te
fez alguma coisa?

— Não, não fez.

— Qual é Ágata? Não quer me contar? Está defendendo esse canalha?

— Jan, não se meta na minha vida — ele arregala os olhos. — Você não acha que já me
causou danos suficientes? Você não tem moral nenhuma para me questionar sobre nada.

— Ágata— ele passa as mãos no cabelo. — Nunca falou comigo assim. Você está ficando
igualzinha a ele.

— Pelo amor de Deus, Jandon — elevo a voz. — Não me compare com ele.
Coloco o copo com fúria dentro da pia.

— Você nunca foi assim, está cruel e irônica, igualzinha à Ulric.

Ele me segura pelo braço no momento que tento sair da cozinha.

Eu olho para sua mão que me aperta e o encaro.

—Você está indo para o lado dele, Ágata?

— Me solte agora.

— Você está apaixonada por ele, é isso? Se apaixonou pelo homem que quase matou seu
irmão? —Ele começa a gritar e a me sacudir. — Você já esqueceu de tudo o que ele fez para mim?
Esqueceu que ele é cruel, é um maldito animal?

— Já mandei me soltar...

Ele me solta e dou alguns passos para longe dele e pego minha bolsa para ir para meu quarto,
mas ele me segue e não deixa que eu suba as escadas.

— Qual o problema? Foi só transar com ele que você ficou caidinha de amores? Por acaso
está gostando de transar com ele?

— Cala a boca, Jandon.

— Você acha que ele vai ficar com você? Que ele gosta de você? Não seja ridícula, Ágata.
Ele está apenas te usando.

Eu jogo minha bolsa de volta no sofá.

— Ridículo aqui Jandon é você, um homem deste tamanho que não consegue assumir suas
responsabilidades, que precisa mandar sua única irmã para a cama de um homem cruel, que é capaz
de tudo— ele tenta falar, mas não o deixo e aponto o dedo para ele e continuo. — Me mandou para a
cama de um maldito animal! —Repito as próprias palavras dele. — Mas não se preocupou que ele
era tudo isso quando viu em mim a solução para seus erros. Você sabia que ele não prestava. Sabia
que ele poderia me matar enquanto estivesse sozinha com ele. E mesmo sabendo tudo isso, ainda
assim me deixou que eu fosse me oferecer para ele para quitar as suas, somente suas, dívidas— já
estava gritando, e me aproximando dele, e ele se afastando. — Se está tão preocupado comigo assim,
se está preocupado com o que está acontecendo entre nós, se gosta tanto de mim assim, nunca... nunca
deveria ter me deixado ir lá.
— Mas eu não tinha o dinheiro e...

— Mas quando resolveu encontrar dinheiro, você o achou não foi? Se realmente se
importasse comigo, teria feito qualquer outra coisa para arrumar a droga do dinheiro e arcado com
seus problemas ao invés de ter me colocado na merda da cama dele— meus gritos ecoam pela casa.

— Você não tem o direito de falar assim comigo? —Ele levanta a cabeça.

— Ah, não tenho não?

Minha mão acerta sua face com tanta força que ele se desequilibra. Ele olha para mim
assustado não acreditando que realmente eu tenha feito isso.

—Você...

Não o deixo falar e acerto outro tapa em seu rosto.

E antes que ele pudesse se recuperar do segundo tapa, o acerto mais algumas vezes com as
duas mãos. Ele chega a cair sentado no sofá. Estou tão revoltada que o único som que escuto é o
barulho de minha mão em sua pele, e quanto mais eu faço mais eu quero fazer.

Quando paro de acertá-lo, ele está com os olhos arregalados e com uma marca vermelha no
rosto e eu estou com os cabelos bagunçados e transpirando.

— Me desculpe, Jandon...

— Eu sei que você não queria fazer isso — ele coloca a mão no rosto, acho até que vai
chorar. — Está sobre a influência do Ulric.

— Você não entendeu — balanço as mãos inquieta. — Me desculpe por não ter te dado esses
tapas antes, pois se tivesse feito isso, quem sabe você teria se tornado um homem de verdade.

Pego minha bolsa novamente e antes de subir as escadas eu me lembro de algo e falo:

— E sim, você está certo, estou adorando transar com Ulric.

Sorrio para ele e subo para meu quarto.


Ágata
Após algumas horas, onde eu havia dormido um pouco, desço para comer alguma coisa, e
passo em frente ao quarto de Jandon, não sei se ele está em casa ou não, a porta de seu quarto está
fechada e não vou lá bater para verificar. E para meu espanto não sinto um pingo de remorso por ter
feito o que fiz com ele. Por mais cruel que eu tenha sido, estou satisfeita. Ele tem que deixar de ser
um bebê e se tornar finalmente um homem, quem sabe meu empurrãozinho ajude.

Vou para a cozinha, e vejo uma linda maçã vermelha. Estou dando minha segunda mordida na
fruta quando tocam a campainha. Vou para a porta atender e reconheço o homem do lado de fora, é o
mesmo homem que me trouxe em casa hoje pela manhã.

— Olá — cumprimento.

— Boa tarde. O Sr. Ulric mandou que eu lhe trouxesse isso.

Ele está com uma grande caixa branca nas mãos e a empurra para mim. Não diz mais nada,
somente faz um aceno com a cabeça e volta para o carro.

Entro com a caixa e a coloco no sofá. Solto o nó do lindo laço vermelho, e vejo que tem um
bilhete com o meu nome. A letra é um pouco inclinada e bonita.

“Estou te mandando um vestido para usar hoje à noite.

Se mais tarde eu tiver que rasgá-lo, não sentirei culpa.

Caetano Ulric. ”

— Culpa! Até parece.

Me divirto com seu bilhete, e entendo o lado malicioso que têm nele. Desembrulho o papel de
seda, e ergo o vestido no alto.

— Minha nossa!
É um lindo vestido longo na cor nude, nunca havia visto um vestido tão lindo. É um tomara
que caia coberto de paetês dourados bem espaçados e com a cintura levemente marcada, é sexy, mas
sem perder a elegância. Estou encantada.

Coloco o vestido no sofá e pego bilhete de Ulric novamente, não posso deixar de notar que
ele assinou seu nome completo: Caetano Ulric.

Esse homem será sempre um mistério para mim. Um mistério que não terei tempo suficiente
para solucioná-lo, pois meu prazo tem os dias contados.

Pego tudo e levo para meu quarto. Estico o vestido na cama, ele é perfeito, e o desgraçado
sabe meu número perfeitamente.

Sorrio e abro o armário, verifico quais sapatos, bolsa e acessórios combinam com ele.

Depois de tudo escolhido, vou tomar uma ducha para que eu tenha tempo suficiente para me
produzir, e apesar de tudo, não posso negar que estou ansiosa para revê-lo.

Ulric
— Afonso, gostaria que você dissesse o que quer, ao invés de ficar me olhando tão
interrogativamente assim, porque isso me incomoda.

Eu e Afonso estamos na limusine a caminho da casa de Ágata. E desde que saímos da mansão,
Afonso está com esse olhar que conheço bem o significado, nesses dez anos de convivência conheço
cada olhar de Afonso.

—Desculpe Ulric — ele se ajeita no banco. — É que o senhor nunca chega à festa com
mulher alguma. Estou tentando entender o significado disso tudo.

— Sempre estou acompanhado, Afonso.

— Acompanhado sim, pois as mulheres sempre o rodeiam em festas desse tipo. Mas nunca
chega no mesmo carro com nenhuma delas.

— Não queira entender Afonso.

— Por que quis trazê-la?


— Em breve nosso acordo acaba e ela vai embora da minha vida, vou aproveitar o tempo
restante — falo com desdém.

— Tem certeza do que está fazendo?

Eu o encaro. Afonso sabe que não gosto de ser contrariado, então ele se desculpa
rapidamente, bem no momento que viramos na esquina da casa de Ágata e o motorista estaciona bem
em frente. Ele buzina, Afonso desce do carro e mantém a porta aberta, em menos de dois minutos
Ágata aparece.

Assim que a vejo, entreabro os lábios, meu coração acelera, sinto gotas de suor em meu
rosto, então desço da limusine.

Escuto a voz de Afonso que me adverte sobre alguma coisa, mas não faço questão de entender
o que ele fala. Meus olhos, ouvidos... eu inteiro estou indo em direção a ela.

Ágata mais parece um anjo, com o cabelo preso no alto, seu pescoço nu exposto sem adereço
algum, brincos compridos e dourados. Seus deliciosos lábios na cor rosa ensaiam um sorriso, seus
olhos azuis brilham, o decote do vestido faz o perfeito contorno de seus seios que conheço tão bem, e
que nesse momento sinto uma vontade louca de tocá-los, e além disso tudo, está muito elegante.

Não acredito que pude visualizar todos esses detalhes em Ágata em menos de um minuto,
detalhes esses que sempre passaram despercebidos por mim. Nunca em toda minha vida, prestei
atenção em detalhes tão específicos em mulher alguma.

Chego a sua frente. Maldição, meu coração para uma escola de samba e não consigo controlar
meu pau dentro das calças.

— Oi.

Caetano Ulric é só isso que vai falar para ela, somente um “oi”. Nunca me senti tão
ridículo.

Ela me devolve um oi com um sorriso.

— Você está muito bonita– continuo.

— Obrigada— ela olha para a roupa. — O vestido é muito lindo, e caiu perfeitamente bem
em mim.

Ela não parece mais furiosa comigo. Eu toco seu rosto, sua pele parece mais delicada ainda,
aproximo meus lábios do dela, e deposito um delicado beijo em sua boca.
Não posso acreditar que minhas mãos estão trêmulas.

— Podemos ir? — Pergunto.

É a primeira vez que não sei o que dizer para uma mulher e ao mesmo tempo tenho vontade de
dizer tantas coisas e não faço ideia de como fazer isso, sinto que as palavras estão presas em meu
peito.

Ela concorda com a cabeça e me segue até a limusine.

Faço sinal para que ela entre primeiro, e Afonso que continua na porta, me dá um olhar
divertido que retribuo com um meio sorriso.

Entro e sento ao seu lado, e Afonso se acomoda na nossa frente.

Algo nela mudou, não sei o que foi, mas mudou. Ou talvez algo em mim tenha mudado.

—Essa festa é exatamente o quê?

Até a voz dela parece mais bonita e doce.

— É uma festa beneficente.

Ela continua me olhando, esperando que eu diga algo mais, então continuo.

— Hã, é uma festa que sempre participo para arrecadação de fundos, esse tipo de coisa,
pessoas da sociedade, essas coisas de sempre. Não precisa se preocupar — respondo à contragosto.

Não estou a fim de falar ou pensar sobre essa festa idiota, estou a fim somente de prestar
atenção nela.

Enfim, como sempre, ela deve ter me achado grosso ou indelicado, e não me pergunta mais
nada, e ficamos calados até chegarmos à tal festa, apenas troco algumas palavras com Afonso,
enquanto tenho minha mente voltada para o momento que abrirei o zíper desse maldito vestido.

Como era perto, em pouco tempo chegamos. A limusine estaciona, e o motorista se posiciona
na nossa porta, esperando uma ordem para que pudesse abri-la.

Me viro para Ágata, e explico:

— É o seguinte, essa festa está repleta de predadores: jornalistas, empresários e mais


algumas outras pessoas.
— Certo.

— Então em momento algum se separe de Afonso.

— Como é? — Afonso se assusta e quase se levanta do banco. — Não vou ficar com ela, vou
ficar com você, Ulric.

—Você vai seguir minhas ordens Afonso, tenho outros homens para...

— Ulric sempre fiz sua segurança, não pode simplesmente achar que outra pessoa fará o
mesmo serviço que eu e...

—Afonso — o interrompo. — Já dei minha ordem.

Afonso faz um sinal negativo com a cabeça e coça o queixo.

— Você entendeu Ágata? Ficará o tempo todo ao lado de Afonso.

— Entendi— responde em voz baixa.

— Ótimo.

Faço um sinal com a cabeça para que Afonso ordene que a porta seja aberta, e mesmo
contrariado ele o faz e o motorista a abre para que ele saia primeiro.

Eu saio logo atrás e dou a mão para que Ágata faça o mesmo.

Ágata
Assim que chegamos, pelo vidro escuro da limusine, pude notar o movimento do lado de fora.
Várias pessoas aguardavam os convidados chegarem. E com Ulric não foi diferente, era a própria
celebridade. Por um momento sorri ao imaginar se ele daria também autógrafo.

Mas seus pensamentos de paródia rapidamente vão embora no momento que vejo Ulric me
esticar a mão para que eu descesse e fico imaginando como desceria dessa limusine sem ser notada.
Isso seria impossível. Havia fotógrafos, câmeras, realmente estou perdida. Já vi muitas fotos de Ulric
na internet e revistas onde estava em festas iguais as essas e sei que essas fotos vão para o mesmo
lugar das outras.
Respiro fundo e coloco minha mão sobre a dele, mas continuo sentada, então sinto um leve
puxão que faz meu corpo se levantar do banco.

Meus olhos ficam escuros por um momento por conta da luz forte dos flashes disparados.
Tento soltar da mão de Ulric, pois estou sendo fotografada com ele, mas ele me segura forte, meus
dedos chegam a doer.

Não tenho como negar que amanhã vou ser o alvo de especulações em redes sociais.

Ulric continua sorrindo e cumprimentando várias pessoas, mas também isso faz parte de sua
rotina, acredito que seus movimentos e sorrisos são puros instintos mecânicos.

Finalmente entramos no salão e somos recebidos por uma senhora de meia idade que abraça
Ulric com muita intimidade.

— Querido Ulric, que felicidade em revê-lo.

— Olá Marília, é um prazer estar aqui novamente.

— Não vai me apresentar a linda moça — olhou para mim com curiosidade.

— Essa é Ágata.

Me apresenta simplesmente assim: Ágata.

— Olá, Ágata. Seja bem-vinda — ela muito discreta, não faz mais perguntas.

A mulher rapidamente pede para uma bela moça nos mostrar nossa mesa, mas Ulric é
solicitado por várias pessoas e pede para Afonso me levar que depois nos encontraria.

Assim que a moça nos mostra a mesa, eu empalideço e paraliso. Sentada elegantemente e
linda como sempre está Verônica, num longo vestido preto. Tenta disfarçar sua repulsa por mim, mas
não consegue, me lança um olhar de desprezo e pega uma taça de champanhe que um garçom servia.

—Não vou me sentar aqui — dou uns dois passos para trás.

—Vai sim — meu corpo esbarra em Afonso.

Me viro para ele e tenho um ataque de fúria.

— Você acha que vou me sentar na mesa da mulher que tentou me matar ontem? Você é louco?
Minha voz se altera, Afonso olha para os lados, e delicadamente pega em meu braço.

— Você vai fazer exatamente o que Ulric mandou. Vai se sentar nessa mesa e por favor não dê
escândalo.

— Não dê escândalo, o que você pensa...

Afonso me interrompe.

— Fale baixo, por favor. Essa festa tem muita gente importante que trata de negócios com
Ulric, e tenho certeza que ele não ficará feliz em ver seu nome envolvido num pequeno escândalo,
não acha?

Olho para Verônica que sorri enquanto bebe quase toda a bebida da taça.

Afonso me leva até a mesa, me faz sentar numa cadeira e senta em outra, praticamente entre
nós duas.

Verônica me encara antes de dizer:

— Vou dar uma volta, o ar ficou muito pesado por aqui.

Ela se levanta e alguns olhares masculinos acompanham seu caminhar. Não posso deixar de
notar que um dos homens de Ulric a segue discretamente, também fazendo sua segurança.

— Se eu soubesse que seria assim, não teria vindo — também pego uma taça de champanhe
que me é oferecida.

Afonso nega a bebida ao garçom antes de responder.

— E teria desobedecido a ordem de Ulric?

Ele está certo, eu estaria aqui de qualquer modo.

—Essa festa será dessa maneira, não é?

— Depende da maneira que você está se referindo. – Afonso aceita um refrigerante e toma um
gole.

— Ulric vai ficar o tempo todo por aí, dando atenção a todo mundo e eu vou ficar sentada
aqui sendo insultada por Verônica.
— Não vai ser exatamente isso — ele ergue as sobrancelhas. — Ulric vai sim dar atenção
aos jornalistas e empresários, mas logo estará aqui. E Verônica não vai te insultar, pois Ulric deu
ordens expressas para ela manter distância de você. E ela não vai ousar provocá-lo.

— Como você pode ter certeza disso?

— Pois eu conheço Ulric muito bem, e sei que quando ele quer algo, ele consegue.

— Você trabalha com ele há muito tempo? — Bebo o restante da bebida, e pego outra com o
garçom.

— Há dez anos.

— Então você o conhece muito bem.

— Bem demais. — Afonso não para de prestar atenção ao movimento do salão, fica o tempo
todo olhando para as pessoas, parece que procura algo, e percebo que não perde Ulric de vista.

— O que você procura tanto? — Pergunto irritada.

— Espero que nada — ele volta o olhar para mim.

— Você fica o tempo todo olhando... tudo e todos, sei lá.

— É minha função. Sou o guarda costas de Ulric, e hoje não posso exercer minha função e
isso me deixa inquieto — deixa claro seu descontentamento de ser minha babá.

— Você gruda como chiclete em Ulric, isso é irritante — ironizo.

— É meu trabalho — ele sorri.

— Você fica o dia todo com ele? Como funciona isso? Você não tem família? Casa?

— É obvio que não fico 24 horas com ele. Mas fico um tempo razoável.

— E sua família?

— Não interessa.

—Todo mundo tem família —retruco.


—Você tem o imprestável do seu irmão como família, não é?

— Não quero falar dele — me irrito novamente.

— Tudo bem — ele se apoia na mesa. — O que você quer saber? Afinal tempo não vai nos
faltar hoje, então podemos conversar.

— Como conheceu Ulric?

— Conheci o Ulric há dez anos. Seu pai havia falecido, ele começou a tocar o negócio dos
cassinos sozinho, e sabia que estava numa grande enrascada, que poderia ser engolido pelos peixes
maiores a qualquer momento, então mandou metade dos homens de seu pai embora, por não confiar
neles, e pediu numa agência que eu trabalhava um homem de confiança, e eu fui indicado. Seis meses
depois não trabalhava mais para a agência e sim somente para ele, e estou até hoje.

— Me conte mais alguma coisa — estou muito curiosa. — Afinal são dez anos juntos, deve
haver muita história.

— Isso teve mesmo — ele riu lembrando-se de algo e eu fiz o mesmo. – Mas não é de sua
conta.

Meu sorriso desaparece rapidamente.

— O que eu posso te contar é que ele é um homem que tem seus defeitos, mas também tem
muitas qualidades, por isso aquele dia que fui ao escritório que você trabalha, te falei para conhecê-
lo melhor, lembra?

— Claro que lembro. Mas o que o torna bom? Não vi exatamente nada até agora.

Ele ficou sério, e percebi que me contaria algo importante.

—Eu tenho uma filha, hoje ela tem 13 anos.

— Não sabia que era casado.

— Eu era — seu rosto se torna triste. — Me separei de minha esposa, mas enfim, quando
Mirian, esse é seu nome, tinha 5 anos sofreu um grave acidente, ela ficou no hospital, quase morreu,
havia cirurgia, medicamentos, internação. Meu plano de saúde cobria alguma coisa, mas a cirurgia
entre outras coisas, eu estava tentando entrar num acordo com eles, enquanto isso minha pequena
ficava adormecida numa cama à espera de uma solução.

Ele fez uma pausa e olhou para o copo em suas mãos e continuou.
— Eu não saía do telefone tentando alguma coisa com o administrativo do plano, quando uma
enfermeira entrou no quarto com uma maca, e informou que a levaria para a cirurgia. Eu perguntei
como, visto que eu ainda não havia fechado o acordo com o plano — ele pigarreia. — Ela me
informou que tudo estava pago, que mudaríamos de quarto, para um muito melhor e com conforto e
que não era para eu me preocupar com nada.

— Ulric pagou tudo? — Pergunto, já sabendo que a resposta era afirmativa.

— Sim. Ele acertou tudo. Cirurgia, médicos, quarto, tudo de bom e do melhor para minha
filhinha.

— Totalmente clichê — olho para cima. — E em troca você deu sua alma a ele, se tornou
praticamente seu escravo?

— Você não entendeu menina — ele ficou extremamente sério. — Não pedi nada a ele, ele
seria minha última opção, pois nunca poderia pagá-lo, e sabia de sua fama de quem deve a ele
sempre paga — ele franziu a testa. — Eu não teria como pagar.

Ele faz uma pausa antes de continuar.

— Mas ele nunca me cobrou nada, nenhum centavo, e além de ter me suprido materialmente,
também me deu todo o apoio necessário, como um verdadeiro amigo. Ficou lá esperando a cirurgia
ao meu lado, esperou ela acordar, nos visitava no hospital todos os dias. Está entendendo o que
quero dizer?

Eu balanço a cabeça indecisa.

— Eu quero dizer que você pode confiar nele, do mesmo jeito que eu confiei. Naquela época
já estava separado de minha esposa, e morava sozinho num apartamento, então me mudei para a
mansão para ficar mais fácil, e a partir daí nos tornamos amigos e sempre cuidei de sua segurança...
até hoje.

Fui falar, mas ele me interrompeu.

— Então eu digo novamente que você pode confiar nele, porque quando ele gosta de alguém
ele não mede esforço nenhum para que a pessoa fique bem.

Bebo o restante da bebida da taça e aceito mais uma que me é oferecido pelo garçom.

— Então está dizendo agora que ele gosta de mim, é isso? — Ironizo.

—Você teve duas provas hoje, ele te trouxe aqui, ele está se deixando fotografar com você,
ele está te mostrando para quem quiser ver, e ele abdicou da própria segurança particular, para dar a
você.

Eu engulo em seco e fico sem palavras.

Realmente, Afonso por ser o homem de total confiança dele, seu braço direito, ele se abalou
quando Ulric informou que deveria ficar cuidando de mim, acredito que isso nunca tenha acontecido
antes.

Neste momento Ulric se aproxima e como sempre já está com um copo de uísque nas mãos.
Afonso se levanta e fica ao lado da mesa com mais dois outros homens e Ulric se senta do meu outro
lado.

— Está aproveitando a festa? — Ele me pergunta, se ajeitando na cadeira.

— O que você acha? — Pelo menos aprendi a ser irônica com ele.

— Espero que sim.

— Por que afinal você me trouxe a essa festa, Ulric? Não havia necessidade disso.

— Eu decido isso.

Ulric sorri para mim, e mais uma vez alguns flashes de fotos se acendem.

— Eles tiram foto com qualquer pessoa que você conversar? — Pergunto me sentindo
constrangida.

— Talvez eles estejam notando minha ereção por baixo da calça.

Eu o encaro, ele está muito elegante. Está vestido como a primeira vez que eu o vi: terno
preto e camisa branca, com uma gravata também preta. Ele cheira bem demais e eu me inebrio em seu
cheiro. Seu rosto é sensual, tem alguma coisa que lembra sexo, isso faz meu coração saltar.

— Você só pensa em sexo, Ulric?

— Não, mas quando estou perto de você, e lembro o que já fizemos... — ele se aproxima de
minha orelha e a mordisca. – Não tenho como evitar, o tesão corre pelo meu corpo.

Eu olho para o outro lado, tentando manter meu corpo e minha mente no lugar.

— Adoro como você fica excitada quando falo sobre sexo. Esse é seu ponto fraco sabia? —
Ele acaricia minha coxa por baixo da mesa. — Adora ouvir palavras sujas.

— Não gosto. Você não me conhece.

— Aposto que está toda molhadinha para mim.

Ele morde o lábio inferior ao mesmo tempo em que sorri e fica terrivelmente lindo. Me sinto
extremamente excitada. Ele realmente me conhece muito bem e sabe disso.

Mas nossa conversa dura somente esse tempo, pois novamente ele se levanta para atender
mais algumas pessoas que vieram chamá-lo e se afasta. Afonso conversa com o outro segurança,
parece que está dando algum tipo de ordem ou explicando algo.

E eu preciso urgentemente encontrar um banheiro.

Me levanto da mesa, enquanto Afonso está distraído, e dou alguns passos pensando
terrivelmente se o banheiro teria fila, quando sinto uma mão me segurar pelo cotovelo.

— Aonde você pensa que vai? — Afonso pergunta.

— Preciso ir ao banheiro. Será que tenho que pedir permissão para isso também?

— Está certo — só que continua me segurando. — Vou pedir para alguém te acompanhar.

— Como é?

Ele chama um dos seguranças e dá ordem expressas para me aguardar na porta do banheiro.
Acho isso terrível, é o fim de minha privacidade. Gostaria de saber do que eles têm tanto medo
assim.

Enfim, uso o banheiro, retoco a maquiagem. Me sinto sufocada ao saber que tem alguém me
esperando do lado de fora.

Me sinto um tanto zonza. Merda, bebi muito. Preciso de um pouco de ar fresco.

Saio da toalete e percebo que o segurança está numa animada conversa ao telefone, e nem
nota minha presença. Resolvo ir para a varanda que vejo que há logo atrás do banheiro, para sentir
um pouco da brisa da noite, e esperar o álcool evaporar um pouco de meu corpo, o segurança nem
sentirá minha falta.

Assim que chego, me apoio na mureta e sinto o refrescante ar e o inspiro com vontade, as
estrelas estão brilhantes e a lua está grande e cheia. Fico alguns minutos assim, até o silêncio ser
quebrado.

— Você não está seguindo as ordens dele, era para você não ficar longe de Afonso.

Não preciso me virar para ver quem fala, ao invés disso, olho para baixo para saber se posso
morrer se cair daqui de cima.

— Você agora vai tentar me jogar daqui de cima ou está carregando uma arma em sua bolsa?

Verônica ri e ergue a bolsa na mão, mostrando que seria impossível carregar uma arma numa
bolsa tão pequena. Ela olha para baixo antes de responder.

— Você não morreria se caísse daqui, somente quebraria alguma coisa.

Me viro totalmente para ela e cruzo os braços, tentando não demonstrar meu medo.

—O que você quer comigo afinal, Verônica?

Ela deu de ombros.

— O que eu quero, você não vai fazer.

— E o que seria?

— Deixar Caetano em paz.

Eu começo a rir.

— Eu sei sobre os 7 dias... — ela continua.

— Então, não precisa se preocupar tanto. Meu tempo com Ulric tem prazo de validade e
depois pode ficar com ele todinho para você.

Ela resmunga e direciona o olhar para os pés antes de voltá-los para mim.

— Você tem ideia de quantas vezes me insinuei para Caetano? De quantas vezes me ofereci
descaradamente para ele? Ou de quantas vezes que praticamente implorei para que ele me desse uma
chance?

Eu fico calada.
— Eu imagino que não saiba — ela aperta a bolsa nas mãos. — E sabe quantas vezes ele me
rejeitou dizendo a mesma história de sempre, que sou sua irmã, que me considera como família? —
Ela não me deixa responder. — Você nem imagina quantas vezes ele me magoou. Não faz ideia de
como é ser rejeitada pelo homem que você ama de todo o coração.

Ah, eu sei sim.

Ela deixa escorrer uma lágrima, e a limpa rapidamente com a mão, antes de prosseguir.

— Desde minha adolescência eu tento beijá-lo na boca, e nunca consegui isso — ela limpa
mais uma lágrima. – Acredita que já cheguei a ficar nua em sua frente para que ele sentisse desejo
por mim.

— Tenho certeza que fez isso — sinto uma pontada de ciúmes ao imaginar quantas vezes ela
deve ter feito essa cena para Ulric.

— Eu vi minhas esperanças acabarem no dia que te vi com ele — ela sorri nervosamente. —
Ele estava com um brilho no olhar que eu nunca havia visto, um brilho que ele nunca havia tido
comigo.

— Sinto muito, nós temos apenas um acordo, nada mais que isso.

— É o que você pensa, ou melhor, é nisso que você está tentando acreditar, mas seu olhar não
nega que está apaixonada por ele.

Ela ajeita o cabelo, limpa novamente as lágrimas e sorri para mim como se nunca tivéssemos
tido essa conversa.

— Vou voltar para a festa — e simplesmente se afasta.

Verônica me faz mal, sua energia é pesada. Ainda fico um tempo imóvel tentando digerir tudo
o que ela me disse. Realmente isso tudo está se tornando complicado demais.

— Mas que linda vista — ouço uma voz masculina atrás de mim e rapidamente me viro para
ele. — Realmente você é uma mulher muito bonita.

— O que você quer? — Pergunto com o coração aos saltos para o homem da cicatriz, Arbal.

Imediatamente me lembro dele naquele galpão, quando Ulric apontou a arma para sua cabeça.

— Então, você é a garotinha do Ulric.


Arbal se aproxima mais de mim, estamos há poucos passos de distância. Ele é alto, talvez do
tamanho de Ulric, a cicatriz em sua testa desce até a sobrancelha, tem cabelos pretos e é
terrivelmente assustador.

— Não sou a garotinha do Ulric – tento fazer minha voz soar firme.

— Ah, é sim. Eu vi Ulric empalidecer no momento em que você entrou naquele galpão —
coloca a mãos no bolso. — E também vi quando vocês dois chegaram aqui de mãos dadas.

— Isso não quer dizer nada — insisto. — Não sou a garota de ninguém — pego minha bolsa
que estava sobre a mureta. — E você está me perturbando — ameaço ir embora, mas ele me segura
pelo braço.

— Bem se vê porque ele gostou de você, arrogante e corajosa.

— Me solta — minha voz já não está tão firme agora.

Ele me solta, mas algo em seu olhar me faz ficar paralisada e continuo no mesmo lugar.

— Acertei na mosca. Você deve ser muito especial para ele.

— Você não sabe de nada, não me conhece.

— Mas conheço Ulric muito bem.

— Se o conhecesse bem assim, não estaria aqui me ameaçando — meu estômago revira.

— Não estou te ameaçando — ele levanta as mãos para o alto.

— Então vou voltar para a festa.

Eu me viro, mas outro homem barra minha passagem. Eu engulo em seco e volto a encarar
Arbal.

— Isso não tem graça — minha voz está trêmula, assim como minhas pernas.

— Claro que tem — ele está sorrindo. — Estou numa varanda, onde ninguém pode nos ver,
como a garota do Ulric. Quer graça maior que essa?

Estou completamente arrependida de ter me afastado de Afonso.

— O que você quer? – Pergunto com o resto de coragem que me resta.


— Dar uma volta com você.

Eu arregalo os olhos e meu coração congela.

— Eu não quero ir a lugar nenhum com você.

— Mas não precisa querer, meu bem. Esse homem aí atrás está aqui para que você concorde
em sair comigo sem sobressalto algum.

Eu volto a olhar para o homem atrás de mim, e ele ergue a ponta do paletó para que eu veja a
arma em sua cintura.

— Não há possibilidade de saímos juntos daqui sem que ninguém nos veja — tento ganhar
tempo.

— Há sim — ele aponta o outro lado do corredor. — Há uma saída por aquele lado, nós três
vamos sair por ali e ninguém nos verá.

Em entro em desespero e tento em vão me afastar dele. Arbal me segura pelo braço e meu
puxa para que eu o acompanhe. Tento me libertar de suas mãos, mas ele se irrita e perde seu sorriso.

— Vamos parar de gracinha, porque um sinal meu para esse homem e você se arrependerá
para sempre — eu arregalo os olhos. — Agora ande direito e venha comigo. E nem pense em gritar.

Faço o que posso com minhas pernas trêmulas, e o acompanho, viramos o corredor pouco
iluminado, pois acredito que normalmente ninguém vem para esse lado do salão, e caminhamos
apressadamente agora.

Considero que estou perdida. O que esse homem fará comigo para se vingar de Ulric? Não
quero nem imaginar, mas meus pensamentos são traiçoeiros e imagino coisas que só me deixam mais
em pânico ainda.

— Continue andando, garotinha. Logo estaremos sozinhos.

Quando estamos quase alcançando uma porta que imagino que nos levará para fora, meu
corpo se arrepia inteiro, e começo a chorar ao escutar uma voz tão conhecida atrás de mim.

— Está com pressa, Arbal?

Nos viramos, Ulric está parado apontando uma arma e Afonso está segurando o tal homem
pelo pescoço e mirando uma arma em sua cabeça.
— É melhor deixar sua arma na cintura mesmo, Arbal.

Arbal sorri, mas sei que é um tremendo sorriso nervoso e aperta ainda mais meu braço no
momento em que tira a mão do cabo de sua arma.

—Não está tomando conta direito de sua garotinha, Ulric. — Arbal o provoca.

— Essa sua incapacidade está me irritando, Arbal. Primeiro perde seus negócios para mim, e
agora quer roubar a minha mulher. Está na hora de começar a andar com suas próprias pernas.

Arbal fecha o cenho e aperta os olhos, esse gesto faz sua cicatriz ficar mais visível ainda.

— Venha Ágata — Ulric ordena.

Eu dou um passo lentamente, achando que ele não me soltará, mas o faz e eu corro para o lado
de Ulric, que me coloca atrás dele. Nesse momento chegam mais dois homens de Ulric correndo e
com as armas em punho.

— Afonso, leve Ágata para a limusine.

— Ulric, eu...

— Agora! — Ele grita com Afonso, mostrando todo a sua irritação com essa cena.

Afonso me pega pelo braço e quase me arrasta pelo corredor. Passamos pela varanda e pelo
banheiro, e ele ainda me segura firme, saímos por outro caminho, sem cruzarmos o salão todo da
festa que me pareceu tão insignificante agora. Descemos as escadas da saída e chegamos na limusine
que o motorista abriu rapidamente e ele praticamente me empurra para dentro, entrando logo atrás.

— Você está maluca? É só você estar por perto que cria um caos entre Ulric e Arbal. —Ele
grita irritado.

— Eu...

— E agora temos que ficar aqui esperando para ver o que vai acontecer com eles — ele
passa a mão pelos cabelos muito inquieto. — Você tem noção que numa dessas Ulric pode morrer, e
eu nem posso estar lá para ajudá-lo?

— Sinto muito, eu...

— É, vai sentir mesmo, se por acaso acontecer algo a ele.


Eu limpo minhas lágrimas e permaneço quieta.

Após infelizes vinte minutos, vejo Ulric se dirigindo para a limusine e sinto o maior alívio de
minha vida, meus braços chegam a cair em meu colo, enquanto meu choro e meu sorriso se misturam.

Ulric entra e se senta ao meu lado, e Afonso pergunta:

— Então?

— Está tudo bem — ele responde soltando o nó da gravata e abrindo uns dois ou três botões
da camisa. — Da próxima vez Afonso siga minhas ordens ao pé da letra e não a deixe sozinha.

— Sim, senhor.

Sua voz mesmo calma se mostra autoritária e aterrorizante.

— E você, Ágata Magide... — ele me olha com seu olhar obscuro novamente e a impressão
que eu tenho é que meu coração vai sair pela boca. — Conversaremos assim que chegarmos à
mansão.

Ulric
Chegamos à mansão, o clima está terrível. Eu estou com muita raiva, Afonso está inquieto e
Ágata assustada.

Verônica preferiu não vir para casa, iria se divertir em algum lugar qualquer. Em sua cabeça
atormentada, as coisas não passam de brincadeira, mas com isso não me preocupo, ela sabe se virar,
e confio nos homens para sua segurança.

Retiro o paletó e o jogo no sofá.

— Ágata suba para o quarto, preciso falar com Afonso.

Ela não responde e simplesmente obedece.

— Ulric, sei que não deveria ter me afastado dela, me desculpe, mas eu estava passando
algumas ordens aos homens e pedi para outro acompanhá-la e não imaginei que um simples ato de ir
à toalete poderia acarretar...
— Afonso, não me interessa— o interrompo, ele tenta se explicar, mas não estou a fim de
ouvir desculpas.

Ele pigarreia sem graça e eu vou para o bar e me sirvo de uísque.

— Isso não poderia ter acontecido. Confio em você de olhos fechados, não podia ter
terceirizado a segurança dela. — Afonso aceita o copo de bebida que eu ofereço.

— Eu sei, sinto muito. A culpa foi minha— eu sei que Afonso está se sentindo mal por ter me
decepcionado.

— Não adianta se desculpar agora. Só espero que isso não aconteça mais.

— Não vai acontecer Ulric, eu...

— Se eu não puder confiar em você Afonso, não tenho mais em quem confiar.

— Pode continuar confiando em mim, nunca quis desapontá-lo e não o farei mais.

Me sento no sofá e faço sinal para que ele faça o mesmo.

— Isso não poderia ter acontecido — reclamo. — Preste mais atenção da próxima vez.

— Eu prestarei. Sinto muito.

— Temos que pensar no que faremos agora.

—A conversa com Arbal com certeza não foi boa.

— Nem um pouco.

— O que aconteceu lá dentro, Ulric?

— Acho que ele não gostou muito que eu o chamei de verme rastejante antes de jogá-lo na
calçada— sorrio com o canto dos lábios.

— Minha nossa! —Exclamou bebendo o uísque e pegou nossos copos vazios e os encheu
novamente.

— Quero que você aumente a segurança na mansão, e a partir de agora não posso mais deixar
Ágata sozinha.
— Ela não vai gostar nada de saber disso — ele senta novamente. — É muito teimosa.

— Não interessa— balanço o copo e o gelo tintila ao bater no vidro. — Arbal voltará atrás
dela, com certeza.

— Ele virá sim, agora ele sabe que Ágata é seu ponto fraco.

Olho para ele assustado, mas não discuto, ele está correto e eu sei disso.

— As coisas mudaram, não é Ulric? De um dia para outro.

— Mudaram mesmo. Quatro malditos dias que parecem um ano.

Fico pensativo uns momentos, realmente esses 4 dias parecem uma vida toda.

— Essa maldita está virando minha vida de cabeça para baixo.

Afonso se limita a concordar.

— Quando vi Arbal a arrastando à força pelo corredor... minha nossa, minha vontade foi
mandar a merda de uma bala na da cabeça do desgraçado. Cada vez que relembro essa cena meu
coração dispara com um ódio absurdo contra Arbal.

— Eu sei.

— Uma coisa que me intriga Afonso, é que Arbal não frequenta mais essas festas — olho
para ele. — O que ele estava fazendo lá?

— Quem sabe? — Afonso fica pensativo.

— Isso está me perturbando. Um homem que, não frequenta mais as festas da sociedade dos
cassinos resolve aparecer e ir direto ao encontro de Ágata.

— Isso realmente é muito estranho.

— Se ele foi somente para isso... Como sabia que ela estaria lá, Afonso? Como ele
imaginaria que eu levaria uma mulher comigo?

— Um informante, talvez— falou indeciso.

— Não sei. Preciso pensar melhor nisso — concluo. — Preciso que resolva toda essa droga
para mim. Segurança na casa, proteção para Ágata, e tudo o mais.
— Pode deixar comigo, Ulric.

— Não sei qual será o próximo passo de Arbal, mas realmente não será bom. Ele vai atacar
de alguma forma — concretizo.

— Sem dúvida — concorda.

Tomamos o restante das bebidas, Afonso foi executar minhas ordens e eu fui para o quarto,
onde Ágata me espera.

O quarto está em silêncio. Ela me aguarda de cabeça baixa. Retiro a arma de minha cintura e
a coloco sobre a mesa, jogo a gravata e o paletó sobre uma cadeira.

— É tão difícil assim me obedecer?

Pergunto, abrindo todos os botões de minha camisa, e ela não me responde.

— Você tem ideia do que ele faria a você, se conseguisse levá-la?

Ela continua sem responder, se encosta na parede e cruza os braços como uma criança
mimada.

— Você pode imaginar as consequências desse seu gesto ridículo e infantil? Você nem
imagina o que ele estaria fazendo com você agora, Ágata.

Meu sangue ferve e meu coração acelera ao imaginar as mãos de Arbal em cima dela.

— Que porra! —Grito e ela se assusta. — Dá para me responder, Ágata.

— O que você quer que eu diga? —Ela começa a percorrer o quarto muito assustada. — Quer
que eu diga que você está correto, mas você não está— ela grita também. — Não podia ter me
levado numa festa onde eu corria perigo. Por que fez isso?

— Porque eu fiz não te interessa. E você não correria perigo se tivesse feito o que eu mandei.

— Claro, você está sempre certo. Sempre certo, não é Ulric? Nunca erra.

— Exatamente, nunca erro — franzo a testa. — E você já sabe disso, nem sei por que
questiona.

— Você quer manipular todo mundo, mas nem sempre isso é possível. As pessoas têm vida
própria. Você consegue entender isso?
— Você só pode estar achando que tudo isso é brincadeira— coloco as mãos na cintura. —
Não percebeu que se você estivesse com ele agora, a menor coisa que ele faria a você seria matá-la?

Ágata empalidece no mesmo instante.

— O que você fez com ele? —Sua voz tem dificuldade para sair. — Você o matou? —Esfrega
os braços.

— Não— sorrio. — Mas deveria ter feito.

— Então é verdade que você mata pessoas? —Ela engole em seco.

— O que você acha? —Aponto o dedo para ela.

— Eu não sei mais nada — sua voz sai muito baixa. — Quase matou meu irmão. Acho que
você pode ser bem capaz disso mesmo.

Encho outro copo de uísque.

— Você é capaz disso, Ulric? —Ela insiste.

— Pode ser. Tudo comigo pode ser — balanço o copo no ar antes de beber. — Só depende
das circunstâncias.

Ela se senta na cama parecendo amedrontada.

— Quero ir embora.

— Mas não vai— me encosto à mesa. — Vai continuar aqui.

— Você só sabe dar ordens...

— Quando digo para me obedecer, não é somente um capricho meu, é para o seu bem. E você
comprovou isso hoje.

—Não quero mais ficar com você — ela se levanta. — Todas as vezes que estamos juntos, eu
corro risco de vida.

— Pelo menos seus dias não são monótonos quando está comigo— a provoco.

— Tudo para você é engraçado, não é? —Esbraveja. — Decidir a vida das pessoas,
manipular a todo mundo — ela olha furiosa para mim e despeja as palavras. — Você é um cretino,
Ulric.

Me limito a beber mais um gole da bebida.

—Vou embora — ela pega a bolsa e fixa o olhar em mim. — Espero que morra de tanto
beber.

Ela dá dois passos e eu a seguro fortemente pelo braço fazendo-a retornar. Não a deixaria ir
embora, nem se um meteoro caísse agora dentro desse quarto.

— Você não vai a merda de lugar algum, Ágata.

Jogo a bolsa dela sobre o sofá, coloco meu copo na mesa e a seguro com as duas mãos
fazendo–a prestar atenção em mim.

— Não seja criança, você vai ficar aqui.

Ela sacode o corpo tentando se soltar, e eu a largo.

— É claro... como pude me esquecer... — ela coloca as mãos na cintura. — Ainda tenho que
transar com você — ela ergue um dos pés, retira o sapato e o joga com força do outro lado do quarto,
e faz a mesma coisa com o outro. — Como eu sou boba, ainda temos um acordo que devo cumprir...

Ela coloca as mãos para trás para abrir o zíper do vestido.

— Depois que eu cumprir meu dever de fazer sexo com você... — ela ainda tenta abrir o
zíper. — Irei embora.

— Você não vai embora — cruzo os braços no peito. — E se fazer sexo comigo for apenas
um dever, não faremos mais. Só faremos quando você me pedir por isso.

Ela fica muda. Para de tentar abrir o zíper e passa a mão no vestido completamente sem jeito,
mas um segundo depois tenta se mostrar dona da situação.

— Já que não vamos transar nunca mais... — ela frisa as últimas palavras. — Então posso ir,
não é?

— Não. Você não pode ir pelo simples fato de que se colocar o pé fora dessa mansão será o
alvo mais fácil do mundo para Arbal.

Ela fica mais nervosa ainda.


— Então, agora sou sua prisioneira e ainda corro risco.

— Não é minha prisioneira e sim você agora corre risco.

— Claro que corro — ela começa a caminhar pelo quarto novamente. — Afinal, apesar de
ser uma grande mentira, você deixou claro que eu sou sua mulher. Você disse isso a ele com todas as
letras.

— Disse. Afinal querendo ou não, durante esse tempo você é minha mulher.

Ela fica decepcionada com a resposta seca e inicia a onda de insultos novamente.

— Você é um desgraçado. Um canalha, um...

— Parece que você ainda não me conhece. Simplesmente esquece do que eu posso fazer.

— Por que você faz... essas coisas... tão perigosas? —Ela tenta achar as palavras corretas.

— Porque eu tenho que fazer.

— Será que tem mesmo? Será que não pode largar tudo isso?

Acabo de tomar o uísque do copo, e ela não me deixa responder e continua a falar.

— Eu acho que você bebe muito— me critica cruzando os braços no peito. — Deveria parar
com isso.

— E eu não me lembro de pedir sua opinião, e nem de dizer que você pode dar palpite na
minha vida — disse irritado.

Ficamos um tempo nos encarando e eu estou preocupado com ela, pois percebo que suas
mãos estão trêmulas, afinal Arbal deve tê-la aterrorizado.

— Você está bem? Precisa de alguma coisa?

— Agora está preocupado comigo?

— Acredito que não é todo dia que você tem essa adrenalina toda em sua vida. Então estou
preocupado sim — me mostro o mais verdadeiro possível.

— Adrenalina, confusão, medo, e outras coisas detestáveis estão fazendo parte de minha vida
desde o dia que te conheci.
Ela tenta se mostrar confiante e segura o tempo todo, e essa vontade que ela tem de me
dominar me deixa louco e faz meu pau querer trabalhar.

— Você sabe como sempre sei que está excitada sem precisar te tocar?

— Já começou a filosofar sobre sexo de novo — ela revira os olhos. — Não consegue focar
em outra coisa? Estamos falando que eu quase morri, hoje, de novo!

— Você fica completamente arredia, porque não quer aceitar que está louca para trepar
comigo— devagar vou avançando em sua direção. — Sua respiração acelera, você passa a língua
nos lábios repetidas vezes— neste momento ela repete o gesto. — E a outra coisa, é que o azul de
seus olhos muda, ganham mais cor e vida. Eles brilham de desejo.

— Você acha que me conhece apenas estando comigo esses 4 dias — ela nega com a cabeça e
passa novamente a deliciosa língua nos lábios deixando claro que eu estou certo. — Está
terrivelmente enganado.

Ágata
Ele cada vez se aproxima mais. E sim, ele não está enganado, ele me conhece apenas há
quatro dias, e me conhece melhor que qualquer pessoa. Eu realmente estou excitada, infelizmente
esse maldito tem esse poder sobre mim. Até mesmo numa hora terrível como essa, não consigo conter
esse maldito desejo.

— Sabe Ágata, às vezes me arrependo de ter te conhecido no cassino.

Ele se aproxima e eu encosto na cômoda, ele me prende com os braços.

— Faz exatamente 4 dias que me arrependo disso a todo minuto.

Se ele quer me humilhar não deixarei barato.

Ele aproxima seu rosto do meu, sinto seu perfume inebriante misturado com o cheiro de
uísque, então ele esfrega a barba em meu rosto, adoro quando ele faz isso, esse gesto me arrepia.

— Eu disse às vezes — ele desliza seus lábios nos meus e eu os entreabro para receber um
beijo que não veio. — Só me arrependo quando corre perigo.
Ele me vira bruscamente de costas para ele, eu solto um gemido e apoio as mãos na cômoda.

— Porque o resto do tempo... — ele abre o zíper do vestido. — Eu agradeço o momento que
em te vi pela primeira vez... — ele deixa o vestido cair ao chão e mordisca a pele de minhas costas.
— Porque a partir daquele dia eu pude conhecer e me deliciar em seu corpo.

Enquanto beija meu pescoço e morde minha orelha, ele solta meu cabelo que estava preso,
deixando-o cair em meus ombros.

— Prefiro assim, solto— ele segura forte minha cintura. — E vou aproveitar todo meu tempo
com você fazendo sexo até te deixar exausta de tanto tesão.

Ele desce as mãos para meu quadril as enfiando por dentro da calcinha e a empurra para
baixo até os joelhos. Ele esfrega sua ereção em minha bunda e a única coisa que consigo pensar é
nele enfiando o pau dentro de mim.

— Presta atenção numa coisa, Ágata — ele sussurra em meus ouvidos, antes de agarrar meus
cabelos e me puxar para trás, eu solto um pequeno grito por conta do gesto bruto. — Você é minha!
— Minhas pernas tremem. — Somente minha! —Fala pausadamente.

Ele abre o fecho do meu sutiã que cai ao chão. Ele me solta, então me viro para olhá-lo, está
retirando a camisa e eu retiro a calcinha que está em meus joelhos.

Ulric me pega pelos cotovelos e me leva até a cama e me joga brutalmente sobre ela. Ele se
livra dos sapatos, meias, calça e por último retira a cueca deixando o membro duro exposto. Sinto
minha boca umedecer de desejo.

Ele se ajoelha na cama, pega em minhas coxas e me puxa mais para ele, e entra no meio de
minhas pernas deitando sobre mim, e o toque de seu pau em minha parte íntima, faz meu corpo entrar
em combustão.

Ele segura meus braços fortemente acima da cabeça com uma das mãos enquanto a outra
aperta e acaricia meus seios.

— Me solta... — olho em seus olhos negros. — Não gosto de ser dominada assim.

— Gosta sim — ele sorri maliciosamente e aperta mais ainda seu corpo contra o meu.

Neste momento caio na besteira de olhar para o maldito espelho. Vejo seu corpo enorme,
forte e tatuado sobre o meu insinuando lentamente os movimentos de uma penetração, enquanto sinto
seu pau se esfregar em mim. É a verdadeira imagem de uma louca dominação.
Ele desce a boca para meu seio e vejo a imagem de sua língua fazer gestos extremamente
sensuais em volta de meu mamilo intercalando com mordidas e chupadas o deixando vermelho e
inchado.

O contorno perfeito de sua bunda musculosa que não posso acariciar, pois ainda estou com os
braços imóveis, se movimenta lentamente e só me faz arquear o corpo para ele numa súplica
silenciosa para que ele me possua.

Meus olhos se voltam para uma pequena dorzinha que sinto no mamilo e vejo seus dentes me
dando uma leve mordida enquanto ele sorri para o espelho.

— Está gostando do que vê? —Sua voz é sedutora.

Ele me pegou e não tenho nem como disfarçar, mas também não faço questão disso.

Ele solta minhas mãos que vão direto para sua nuca e tento puxar sua boca na minha, mas ele
não deixa. Nossos lábios estão praticamente grudados, mas ele não me beija.

— Fazer sexo com você é tão bom Ágata, são sensações diferentes! É puro tesão.

Ele morde meu lábio inferior, minha boca implora pela dele, mas ele não cede à vontade do
beijo que me consome.

— Sabe quando o sexo é bom?

Ele pergunta enquanto acaricia minha coxa e eu nego em resposta.

— O sexo é bom, quando não se tem vergonha nenhuma em fazê-lo, em mostrar o corpo, em
se deixar ser vista — ele acaricia meu corpo enquanto nossos olhos se cruzam no espelho. — É
entrega, uma entrega total sem frescuras ou pudor.

— Sexo bom é sentir o outro corpo contra o seu até tremer os músculos de tesão. É sentir o
toque— ele me acaricia lentamente desde o meu quadril até sua mão alcançar meus seios e subir para
meu rosto, e eu entendo o que ele quer dizer com tremer os músculos.

— É querer sentir o cheiro— ele coloca o rosto em meu pescoço e inala o cheiro de minha
pele e de meus cabelos sensualmente enquanto mordisca meu pescoço.

— É sentir o gosto, Ágata — eu sinto seu dedo penetrar minha boceta encharcada, e logo em
seguida ele o retira de dentro de mim olhando fixamente em meus olhos e o enfia em sua boca o
chupando lentamente. — É se deliciar com o seu sabor de sexo.
Acho que nem respiro mais.

— E no final se acabar em exaustão de tanto gozar até não conseguir mais controlar seu
próprio corpo.

Ele gruda a tentação de seus lábios nos meus, e enfia sua língua exigente e quente dentro de
minha boca, me deixando enlouquecida enquanto me beija eroticamente.

Ele desce a boca beijando meu queixo, minha garganta, meu pescoço enquanto me contorço
de prazer embaixo dele.

— Quer fazer sexo comigo, Ágata?

— Sim— minha voz sai num sussurro.

— Então peça.

Ele me encara, enquanto segura meu rosto, não deixando eu me desviar do seu olhar.

— O quê? —Estou sem entender.

— Eu disse que só faríamos sexo novamente quando você me pedisse.

— Seu desgraçado...

— Diga que quer transar comigo, diga que quer meu pau bem duro dentro de você.

— Eu quero você, Ulric —minha nossa, é tudo o que eu mais quero agora.

— Então fale Ágata, o que você quer.

Ele segura mais forte ainda meu rosto entre suas mãos, não tenho como desviar meus olhos
dos dele.

— Eu quero você dentro de mim, Ulric.

Ele dá uma pequena sacudida em meu rosto como desaprovação, e eu sinto eu vou explodir
de tesão.

— Fale o que você realmente quer que eu faça Ágata — sua voz autoritária só me faz ficar
mais molhada ainda.
— Eu quero que coloque seu pau dentro de mim, Ulric, me penetre forte e me faça
enlouquecer de tanto gozar — despejo as palavras sem pausa.

Ulric
Eu sorrio para ela em concordância. Era exatamente o que eu queria ouvir.

Solto seu rosto que está corado de desejo, desço minha mão para sua boceta que está
encharcada.

— Você está escorrendo, Ágata — olho para ela. — Totalmente molhada e deliciosa para
mim.

Coloco minha mão embaixo de sua bunda, erguendo seu corpo para me receber.

A penetro facilmente e de uma só vez. Não consigo conter um gemido ao sentir sua boceta
quente e úmida sugar meu pau, querendo que eu a penetre mais e mais.

Ela arranha minhas costas, fazendo meu corpo tremer de desejo. Eu saio quase totalmente de
dentro dela e volto a penetrá-la devagar, faço isso algumas vezes e sei que estou deixando-a louca.
Ela quer mais, quer fundo, me agarra, me puxando para ela, enquanto seu corpo praticamente se
levanta da cama, para que meu pau a penetre mais fundo.

Então eu faço o que ela quer, a penetro forte e o mais fundo que consigo, faço isso algumas
vezes e paro.

— Desgraçado — ela grita enquanto soca meu braço.

Sei que ela quer gozar, mas não a deixo.

— Eu quero te saborear, Ágata, sem pressa — passo os dedos em seus lábios. — Devagar.

Ela passa a língua nos lábios e seu rosto está banhado em suor, igualmente ao meu.

Seguro seu rosto e a faço olhar para o espelho ao nosso lado. Meu corpo se movimenta
lentamente sobre o dela, enquanto a penetro bem devagar. Seus olhos estão focados na imagem de
minha bunda no espelho. Ela geme baixinho a cada estocada minha dentro dela.
— Enquanto eu te como, quero sentir meu pau se molhar com cada líquido que sair de sua
boceta, Ágata.

Ela não consegue mais manter contato visual com o espelho, e agarra minha nuca com força, e
eu a beijo com urgência, com desejo e ela me retribui enlouquecida, apertando suas pernas em meu
quadril.

Fico imóvel dentro dela por uns segundos, pois sei que eu mesmo não vou aguentar muito
mais tempo essa tortura deliciosamente maldita que é sentir Ágata totalmente dominada e gemendo de
prazer embaixo de meu corpo.

Eu saio de dentro dela e entro forte de uma só vez e seu corpo estremece mostrando que ela
está praticamente no auge da excitação.

— Você é minha, Ágata.

Ela deixa cair uma lágrima, que sei que é totalmente de prazer.

— Você quer gozar? —Ela apenas concorda com a cabeça e percebo seu corpo arrepiado de
tesão. — Então diga que é minha.

Começo a me movimentar bem devagar dentro dela.

— Sou sua, Caetano Ulric, totalmente sua — sua voz sai num sussurro, que sei que é o
máximo que ela consegue agora.

Enfio minhas mãos embaixo de sua bunda, e começo a estocá-la com força, tão rápido e tão
forte como posso, ela agarra minhas costas e se contorce empurrando mais ainda sua boceta para
mim, gozando enlouquecida.

Nossos gritos e gemidos se misturam quando sinto meu pau inchar e não tento mais me
segurar, jorrando totalmente numa explosão de prazer dentro dela. Uma explosão que parece não ter
fim. Um orgasmo que parece durar muito mais do que o habitual. Eu solto um urro abafado ao último
sinal de satisfação de meu corpo.

Me apoio nos cotovelos para amparar meu peso, pois sei que sou pesado para ela, e agora
estou completamente entregue, sem forças.

Me deito ao seu lado e a puxo para meu peito. Nossas respirações estão pesadas, e sinto que
seu coração está no mesmo ritmo acelerado que o meu.

Ficamos quietos e em silêncio, até nossos corpos se acalmarem. Ninguém ousa falar e
quebrar o encanto, não precisamos de palavras.

Mas depois de alguns minutos, onde eu fazia um esforço absoluto para me manter acordado,
ela me chama com voz baixa.

— Ei, já dormiu?

— Não— respondo muito sonolento.

— Já posso te chamar somente de Caetano?

Eu a abraço mais forte puxando-a mais ainda para mim.

— Me chame do que você quiser, Ágata. Eu sou seu.


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CAPÍTULO 5

5º dia

Segunda-feira

Ulric
Acordo abraçado às costas de Ágata. O cheiro de seus cabelos e a maciez de sua pele me
enlouquece, sinto um frio no estômago que nunca havia sentido antes.

Estamos nus, e é lógico que estou com a porra de uma ereção matutina. Como não estar?

Estou acariciando seus quadris embaixo do lençol, sua cabeça repousa em meu braço e meu
pau está grudado em sua bunda.

É pedi demais para que eu me controle.

Mas eu o faço. Preciso resolver alguns problemas que me fizeram perder o sono no meio da
noite. Tudo bem, que ficar olhando para o corpo da Ágata enquanto ela dormia também me tirou o
sono. Ficar pensando em acordá-la para comê-la novamente também me tirou o sono. E quem
consegue dormir com um pau duro como pedra? Definitivamente não dá.

Retiro o braço debaixo de sua cabeça com muito cuidado. Ela se mexe na cama, mas não
acorda. Me levanto e ainda perco alguns minutos a observá-la.

Ela é absolutamente magnífica... e dorme como pedra.

Tomo uma ducha, e me arrumo e, antes de sair do quarto ainda a olho na cama mais uma vez.
O lençol deixa seus perfeitos seios à mostra. Me lembro da suavidade de sua pele e o gosto dela em
minha boca. E preciso sair rápido, pois minha intenção é essa, só que minha vontade é voltar para
essa cama e repetir tudo igualzinho à ontem e depois ficar abraçado a ela. Era tudo o que queria
agora. Balanço a cabeça e peço para que meu pau se acalme e deixo o quarto sem fazer barulho para
não a acordar.

Assim que chego ao corredor encontro a primeira pessoa que gostaria de falar hoje que
começa a descer as escadas.

— Verônica? — Ela me olha sorrindo e volta os degraus.

Está vestindo uma camisola por baixo de um robe praticamente aberto, onde faz questão de
abri-lo ainda mais quando me vê.

— Bom dia, querido! Não vou perguntar se dormiu bem, pois sei que aquela mulher dormiu
com você, então...

Abruptamente a seguro pelo braço e praticamente a arrasto para dentro de seu quarto. Bato a
porta com força e a encurralo na parede.

— O que é isso Caetano? —Se assusta.

— Se eu souber que você teve alguma coisa a ver com Arbal ontem, eu...

— Qual seu problema Caetano? —Se desvencilha de mim. – Acho que anda transando demais
e está queimando seus neurônios.

— Não brinque comigo Verônica — me aproximo novamente e ela tenta manter distância.

— Caetano me diga, quem foi que te avisou que Arbal estava com a sua... sei lá o que essa
vaca é sua— ela fecha totalmente o robe dando um forte nó na cintura.

— Você me disse.

— Então, como eu posso estar envolvida com Arbal se eu que ajudei a desgraçada da Ágata?

Ela se senta na cama.

— Você nos avisou que Arbal estava com ela e não entendi sua má intenção até agora.

— Não houve má intenção. Eu estava conversando com Ágata, e depois a deixei sozinha na
varanda, mas retornei, pois queria dizer algumas coisas ainda para ela, então eu vi Arbal e sabia que
alguma coisa aconteceria, e saí sem que me vissem. Foi só isso.

— Se foi só isso porque não olha em meus olhos para falar?

Ela me encara e se levanta da cama.

— Caetano, você está duvidando de mim? Você não me conhece?


— Exatamente por te conhecer é que estou duvidando.

Ela faz uma careta aborrecida.

— Se fosse em outra ocasião você já teria ido atrás de Arbal e feito alguma coisa. Essa vaca
está te deixando frouxo e burro.

Eu a seguro pela garganta e a encosto na porta fazendo suas costas bater na madeira.

— Está me machucando Caetano— fala com dificuldade.

— E posso te machucar ainda mais se eu souber que está envolvida nessa porra toda.

— Mais que merda, você é meu irmão.

— Você me pede para esquecer que sou seu irmão o tempo todo Verônica, estou fazendo isso
agora — grito com ela.

Ela tenta soltar a minha mão que a segura muito firme.

— Escute bem o que eu estou te dizendo, Verônica. Se eu souber de algo sobre você e Arbal,
nem preciso dizer que você está perdida.

— Não tem nada, Caetano. Acredite em mim — seus olhos se enchem de lágrimas.

— Assim espero.

Eu a solto, e a puxo bruscamente para o outro lado para que eu possa abrir a porta. E antes de
sair do quarto me volto para ela.

— Espero que esteja realmente dizendo a verdade — bato a porta com força.

Desço as escadas, raivoso. Hoje será um longo dia. Não prevejo boas coisas para o dia de
hoje.

— Bom dia, Ulric.

Afonso me recebe como sempre: impecavelmente pronto.

— Bom dia, Afonso. Vamos para o meu escritório, quero conversar com você.
Nos dirigimos para o escritório que mantenho na mansão e nos sentamos.

— Resolveu todo o problema da segurança?

— Claro Ulric. Já aumentei a segurança na mansão e já disponibilizei um homem para


acompanhar Ágata.

— Sobre aquilo que aconteceu ontem, Afonso, sei que alguém ajudou Arbal e quero saber
quem foi.

— Pensei muito nisso durante a noite, Ulric. E cheguei à conclusão que se alguém fez isso
mesmo, é óbvio que quer se livrar de você, então tem uma pessoa que poderia ter te traído.

— Quem? —Pergunto curioso.

— Natan.

Eu rio.

— De jeito nenhum, Natan pode estar me roubando, mas sabe que se eu conseguir provar
isso, eu faço ele comer os próprios testículos. Ele não teria coragem de entrar em contato com Arbal.

Afonso ergue as sobrancelhas antes de dizer:

— Ás vezes aqueles que mais duvidamos que nos quisessem mal, são nossos piores inimigos.

Ele tem absoluta razão e eu realmente fico pensando nisso.

Ágata
Acordo com sol já bem alto.

Abro os olhos devagar. A primeira visão que eu tenho é a minha própria imagem no espelho.
Estou com o lençol cobrindo somente minha cintura para baixo e Ulric não está na cama.

Me sento. Meu corpo está dolorido, deliciosamente dolorido. Sorrio e mordo meu lábio
inferior ao me lembrar de nossa transa fora do normal.
Nunca tive um relacionamento tão perturbador e ao mesmo tempo tão prazeroso.

Relacionamento?

Não posso chamar o que temos de relacionamento. Me entristeço por um momento ao pensar
nisso.

Me levanto e visto a camisa que ele usava ontem que está jogada no chão, eu abraço meu
próprio corpo ao sentir seu cheiro tão masculino.

Procuro minha bolsa e a acho no sofá. Pego meu celular e noto que há cinco ligações
perdidas.

— Jandon, com certeza!

Mas quando verifico as ligações eu tenho um frio na barriga ao perceber que as ligações não
são de Jandon, e sim do escritório onde trabalho.

São ligações do celular de meu chefe, de minha colega da sala ao lado, e do telefone fixo da
empresa.

Olho para o relógio do celular: 10:53.

— Minha nossa! Esqueci que tenho um emprego.

Esqueci que tenho uma vida fora daqui. O homem possessivo me faz esquecer completamente
de tudo.

Preciso ir para a empresa, ou ligar e dar alguma desculpa esfarrapada, não sei.

Já sei: e-mail. Isso mesmo vou mandar um e-mail para meu chefe me desculpando e
inventando algo que me impossibilitou de ir ao trabalho.

Abro a caixa de entrada do meu celular. Merda! Meu chefe já me mandou um e-mail.

“Ágata,

Poderia me explicar isso. ”

O texto era somente isso. Simples e seco.

Abro o anexo, várias fotos minhas e de Ulric na festa. Umas estavam num site da internet,
outras no jornal.

Alguns textos se referiam a mim como uma usurpadora, em outros eles faziam um mistério
sobre quem eu era. E mais outro mencionava onde eu trabalhava.

Merda! Por isso meu chefe está tão bravo. Estou perdida.

— Vendo as últimas notícias?

Ulric me abraça por trás. Estou tão distraída que não notei sua presença no quarto.

— Nós estamos em todos os veículos de comunicação.

Falo apreensiva, não sei sua reação sobre isso.

— Eu sei — ele parece não se importar e enfia a mão por baixo da camisa, acaricia minha
barriga e sobe até atingir meus seios com sua mão grande e quente.

Eu não consigo conter um gemido no momento que ele aperta meu mamilo entre os dedos.

— Nós precisamos conversar — sua boca está grudada em minha orelha.

Nunca gostei dessa frase. Ela não inspira coisas boas.

Me desvencilho dele e o observo. Está usando uma camisa de mangas compridas e dobradas
até o cotovelo num tom rosa. É para acabar comigo mesmo. Amo quando homens usam rosa.

— Eu vou tomar um banho, e depois conversamos. Pode ser? — Quero ganhar tempo.

— Claro — sorri.

Quase pedi para ele não sorrir assim para mim. Esse sorriso é um convite para todas as
coisas erradas do mundo. Ou melhor, para todas as deliciosas coisas erradas do mundo.

Vou para o banheiro. Tomo uma boa ducha quente e visto um roupão enorme para meu
tamanho que, como num toque de mágica, apareceu no banheiro.

Volto para o quarto, sinto um delicioso cheiro de café, me sinto eufórica, a mesa está com
várias guloseimas para matar minha fome.

Ulric está ao telefone, ele me faz um sinal para que eu me sente.


— Não, não tenho — responde para alguém do outro lado da linha, demonstra ansiedade. —
Preciso de um tempo... sim... eu posso arrumar para você.

Ele está tratando de negócios... ou de... deixa pra lá.

— Ok. Combinado.

Ele desliga o telefone e se senta comigo à mesa.

— Dormiu bem?

— Sim – respondo envergonhada, afinal como não dormiria bem depois de ontem?

Ele me serve café e depois de mastigar um pedaço de bolo, me encara de maneira engraçada.

— Ágata, pelo menos por um tempo não posso mais deixá-la sozinha. Colocarei uma pessoa
24 horas ao seu lado.

Eu encaro-o assustada.

—Tudo bem que não quero passar por aquilo com Arbal de novo, mas é realmente
necessário?

—Você não passará aquilo com Arbal nunca mais, Ágata — ele me olha muito sério. — Ele
nunca mais vai se aproximar de você.

—Eu... tenho que trabalhar, como vou levar um homem comigo para o escritório?

—Ágata, você vai se ausentar do escritório por um tempinho.

Me levanto imediatamente, estou incrédula, ele está me dando ordens sobre minha vida
pessoal, agora.

—Ulric você não pode me dar esse tipo de ordem, é meu trabalho, não pode simplesmente
dizer que não posso mais ir ao escritório.

Ele ri, odeio quando ele faz isso em situações que exigem conversas sérias.

—Você não ia me chamar de Caetano?

Desgraçado, faz todas as minhas forças esgotarem de meu corpo somente com uma frase e
com um olhar sedutor.
Ele bate a mão duas vezes em sua perna para que eu sente em seu colo. E meu corpo reage
mais rápido que a minha mente e em segundos estou sentada em suas coxas másculas e com os braços
em volta de seu pescoço. Maldito corpo louco por mais sexo.

Ele segura minha nuca enquanto beija minha boca delicadamente.

— Eu temo por sua segurança, entenda isso. Arbal é muito mais perigoso do que parece —
fala ao soltar meus lábios.

— Tenho certeza que você não deixará que ele me faça mal.

— Pode ter certeza disso.

Ele me beija novamente, sinto suas mãos acariciarem minhas costas e descerem para minhas
coxas e num segundo ele se levanta comigo no colo e me leva até a cama.

Ele deita sobre mim, entrelaçando suas pernas na minha, enquanto me beija possessivamente.

— Ágata...

Ele passa delicadamente o dedo sobre meu nariz, minha boca, e meu queixo. Seu gesto
delicado num homem tão bruto se torna apaixonante.

— Quero que não esqueça de que te falei ontem — sua voz é mansa.

Eu não respondo, minha mente não funciona, só estou concentrada em seu rosto e em sua
ereção que posso senti-la mesmo sob a calça jeans.

— Você é minha — ele repete as mesmas palavras que me deram um belo de um orgasmo
ontem.

Sinto que suas mãos fazem uma pressão maior em meu rosto, como se isso fosse um aviso
para que eu não me esquecesse disso e sinto meu corpo todo se arrepiar.

Ele esfrega os lábios e me diz:

— Precisamos conversar sobre mais uma coisa.

Noto a mudança repentina nele e saio debaixo de seu corpo e me levanto da cama.

— Ah, temos?
— Eu acho que alguém informou Arbal que você estaria comigo nessa festa, por isso ele
apareceu— se senta na cama.

–- Como pode ter certeza disso? Afinal muitas pessoas devem ter recebido convites para essa
festa. Ele não poderia ter recebido também?

— Sim. Com certeza ele recebeu — ele se levanta. — Mas ele não frequenta mais esses
eventos sociais de merda há muito tempo. Então não vejo outro motivo para ele ter ido nessa festa,
senão fosse para fazer algo para você, ele sabia que isso me afetaria.

— E quem você acha que foi?

— Ainda não sei.

— Sei que você tem alguém em mente — sua fisionomia não esconde.

— Hum. Tenho sim.

— Pois eu acho que foi Verônica — resolvo falar. — Só pode ter sido ela, estava
conversando comigo minutos antes de Arbal chegar.

— Foi Verônica que me avisou sobre Arbal estar com você naquele momento. Se ela não
tivesse me avisado, ele poderia ter te levado.

Agora fiquei completamente surpresa, Verônica me ajudou? Não, isso com certeza não.

— Ela pode estar jogando dos dois lados.

Ele cruza os braços. Será que também desconfia irmã?

— Jandon também seria bem capaz disso.

— Não seja ridículo, Ulric. Jandon nem sabia que eu iria numa festa. Eu não o vi depois
que...

— Depois que?

— Depois que eu bati nele.

— Você bateu nele? —Ele começa a rir alegremente. — Não acredito que fez isso.

Eu continuo séria.
— Você adorou, não é?

— Adorei. Claro que adorei — mas em seguida fica sério novamente. — Mas por esse
motivo ele pode muito bem ter procurado Arbal para se vingar.

— Jan não faria isso— não coloco tanta segurança em minhas palavras. — Ele não sabia que
eu iria numa festa. Já falei que não o vi mais, nem sei se ele estava em casa ou havia saído.

— Tudo bem, ele não sabia da festa. Mas em algum momento ele poderia ter visto o vestido
que mandei?

Penso sobre isso, e arregalo meus olhos quando acho que a reposta é positiva.

— Somente quando fui tomar banho. Se ele estava em casa, poderia ter entrado em meu
quarto e visto o vestido sobre a cama.

— Então...

— Isso não quer dizer nada. Ele nunca colocaria minha vida em risco. Jandon é meu irmão,
me ama.

— Apesar de não ter tanta certeza disso, o alvo a ser atingido seria eu e você seria apenas a
isca.

Me enfureço, meu irmão nunca faria isso.

— Como ele saberia para que festa eu iria?

— Ele falou para Arbal que deduziu rapidamente, ele conhece minha rotina social.

Fico enfurecida por ele pensar que Jandon poderia ter feito algo contra mim então rebato seus
questionamentos com outro.

— E Afonso?

— O que tem Afonso? —Ele não entende.

— Afonso poderia também ter te traído.

Ele se senta novamente.

— Afonso nunca faria isso. É meu braço direito há dez anos.


— Mas me deixou ir ao banheiro com outro segurança, um bobo que ficou no telefone e nem
notou minha presença.

Ele me encara pensativo.

— O que Afonso diz sobre isso? —Pergunto. — Já falou com ele?

— Ele acha que pode ter sido Natan.

— Quem é Natan? — Ergo os braços sem entender.

— É meu contador que acho que está me roubando.

Ele se levanta e encara a janela enquanto coça o queixo.

— Verônica, Jandon, Afonso, Natan — ele se vira para mim. — Isso já está se tornando
ridículo.

— Está mesmo. Pode ser que não seja ninguém. Pode bem ter sido o acaso, coincidência.

Ele mordisca o lábio inferior.

— Não acredito em coincidências.

— O que faremos agora?

Na verdade, quero perguntar: O que vai acontecer comigo e com minha vida?

— Vou te levar para casa para que troque de roupa, pegue alguma coisa para você. Pelo
menos por hoje quero que fique o dia todo aqui na mansão.

Respondo que tudo bem. Mas queria mesmo dizer que não será nenhum esforço dividir a
cama com ele de novo.

Pego meu vestido que ainda está no chão, no mesmo lugar, pego minha calcinha e sutiã e
enquanto me visto noto seu olhar de cobiça e sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem,
inclusive sinto uma leve pulsação entre as pernas.

Ele vem em minha direção, se posiciona atrás de mim e puxa o zíper de meu vestido, não
deixa de chupar meu ombro e sobe devagar para meu pescoço.

— Caetano?
— Hum.

— Sobre ontem...

— Não sou homem de inventar palavras só para obter uma boa trepada, Ágata — me
interrompe e me vira de frente para ele. — O que eu disse está dito.

— Eu...

— Você tem medo do que, Ágata?

— Bom... hã... vou procurar meus sapatos.

Corro dele como uma menina boba. Covarde.

Por incrível que possa parecer, lidar com o lado Caetano é mais difícil que lidar com o lado
Ulric, ele me entende e não fala mais sobre isso, pelo menos por enquanto.

— Vamos?

Ele pergunta logo após eu ter calçado os sapatos, e eu tenho vontade de responder que não,
prefiro que me jogue novamente nessa cama e fique abraçado comigo o restante do dia, mas não
posso, então apenas concordo com a cabeça.

Descemos as escadas, atravessamos a sala e Afonso nos espera. Saímos pela porta da frente,
estamos na enorme varanda, e Ulric reclama:

— Ai que droga. Por que ainda não trouxeram o carro, Afonso?

— Já era para estar aqui, Ulric.

Continuamos caminhando, quando chegamos ao final da varanda, onde faríamos a curva na


casa para ir a garagem, Ulric coloca o braço na minha frente, me fazendo parar.

— O que foi? — Pergunto.

— Isso está silencioso demais — ele responde baixinho.

— Claro, você queria...

Ele me interrompe. — Shiu — sua expressão é preocupante.


Ele olha para Afonso que retira a arma da cintura imediatamente, ficando em alerta. Sinto um
frio percorrer meu corpo.

Ficamos assim uns segundos, eu noto apenas um clima pesado, mas acredito que seja
paranoia deles.

Então, inesperadamente Ulric grita:

— Merda!

Ele me lança ao chão tão fortemente e se joga totalmente sobre mim, que por um momento
acho que quebrei alguma costela. Sinto o impacto do corpo de Afonso sendo arremessado ao meu
lado juntamente com um grito dele. O que acontece ao mesmo tempo me deixa apavorada; escuto
barulhos ensurdecedores como se fossem fogos de artifícios intensos, e vidros se quebram sobre nós
dois, todo o vidro da sala de estar que fica de frente com a varanda foi estilhaçado. Sinto os cacos
cortando minha pele, mesmo tendo Ulric me protegendo com seu corpo. Os barulhos diminuem, mas
não cessam e voltam a aumentar freneticamente, estamos num campo de batalha. Meu peito queima
por conta do peso de Ulric sobre mim, não tenho coragem de abrir os olhos, algo quente escorre por
meu rosto, tenho certeza que é sangue, só não sei se é meu ou dele. Sinto as mãos de Ulric me
levantarem do chão e ele me joga para dentro da sala, nos arrastamos para detrás de uma parede por
cima dos cacos. Olho para ele tem a testa sangrando e sua camisa rosa está toda manchada de sangue
principalmente nas costas, onde com certeza recebeu todos aqueles estilhaços.

— Merda! —Ele grita, e a chuva de tiros continua lá fora.

Afonso está um pouco atrás de mim, vejo uma grande mancha de sangue em seu braço.

— Fique aqui — ele ordena retirando a arma cintura, e eu abraço as pernas que estão
cortadas e continuo protegida onde estou.

— Mais que porra, Afonso! — Ulric vai ao seu encontro, e o puxa para perto da gente em
segurança.

— Está tudo bem, chefe. Está tudo bem. Foi de raspão.

Fala com uma careta de dor, rasga a manga da camisa e amarra rudemente o pedaço no local
machucado que sangra em abundância.

— Tenho que te tirar daqui. — Ulric fala para mim em pânico.

Mas a porta para entrarmos para o restante da mansão está repleta de perfurações de bala,
não podemos passar por lá, estamos encurralados.
— Mais que merda toda é essa?

Ele grita, está enfurecido, e Afonso tenta contato com alguém através do celular.

De repente os tiros cessam. Afonso e Ulric fazem um sinal que não sei interpretar, mas eles se
levantam no momento que as rajadas de tiros recomeçam e eles voltam a se agachar, e seguram as
armas levantadas.

—Como isso foi acontecer Afonso? Temos o melhor tipo de segurança por aqui. Como essa
porra foi acontecer, Afonso?

Ulric grita enfurecido.

Eu passo a mão no cabelo, acho que cortei a cabeça, meu cabelo está empapado em sangue.
Enquanto analiso meu próprio sangue na mão, só ouço o barulho ensurdecedor de uma arma sendo
disparada muito perto de minha cabeça. Quando olho para frente, vejo que Afonso está atirando em
um homem que estava entrando pela porta quebrada de vidro e agora ele está caído ao chão rodeado
de sangue e cacos estilhaçados.

Meu estômago começa a revirar, me sinto muito enjoada e zonza. Tenho vontade de vomitar.

Novamente os tiros cessam e segundos depois recomeçam, só que agora a uma boa distância
de nós.

— Nossos homens estão contra-atacando, temos que sair daqui agora. — Afonso se levanta e
fazemos o mesmo.

Sinto que fico um pouco zonza, acho que estou perdendo muito sangue. Ulric segura em minha
cintura e corre comigo para a porta que nos levaria para dentro da mansão e Afonso vem logo atrás.

Conseguimos sair sem sermos atingidos, e começamos a percorrer os corredores, não tenho
ideia para onde estamos indo, minha mente não está racionando totalmente bem.

De repente Ulric e Afonso levantam as armas, e vejo que o que os assustou são dois homens,
mas pela conversa são seus companheiros. Ulric lhes dá alguma ordem que não consigo assimilar,
percebo que estou ficando mais zonza ainda, e estou atrás deles, não estou conseguindo acompanhá-
los. Me encosto na parede e tento chamar por Ulric, mas não consigo, levanto o braço com um
esforço tremendo, mas meu corpo vai escorregando para o chão, e só tenho a visão embaçada de
Ulric correr em minha direção, antes de entrar numa total escuridão.
Ulric
— Merda, merda!

Eu grito com todas as forças do meu corpo ao mesmo tempo em que meu copo espatifa na
parede do escritório.

— Caetano, se acalme. — Verônica pede andando atrás de mim.

— Me acalmar? Você quer que eu me acalme, Verônica? — Grito mais alto ainda. — Não
vou me acalmar enquanto eu não souber a porra que aconteceu na merda dessa segurança. Como que
uma segurança dessas, onde eu gasto um dinheiro absurdo poder ter falhado dessa maneira? Nós
poderíamos estar todos mortos agora, inclusive você — aponto para ela.

— Eu vou verificar tudo Ulric, eu... — tenta dizer Afonso que segura um pano em seu
ferimento.

— Você vai verificar o quê, Afonso? Que merda você vai verificar? Você está ferido, inferno.
Não tem condição de verificar merda nenhuma.

Encho outro copo de uísque tomando tudo e o encho novamente.

— Caetano, nós...

— Nós porra nenhuma. Não vamos fazer nada juntos, Verônica — eu me aproximo dela e
vocifero. — Eu nem sei o que você está fazendo na droga desse escritório. Não te chamei aqui.

Ela não diz nada e sai batendo os pés e a porta.

— Ulric...

— Afonso, se não tiver algo que realmente me informe o que aconteceu aqui, mantenha a
maldita boca fechada — bebo o uísque. — Não me conformo que ele tenha atacado tão rápido assim.

Escuto uma batida na porta e a abro, verifico que é o médico que estava atendendo Ágata.

— Então? — Pergunto ansiosamente.

— Ela está bem — ele segura a maleta com as duas mãos. — Não há necessidade de levá-la
ao hospital.
— Acho bom, pois já havia deixado claro que ninguém sairia daqui para ir a um hospital —
interrompo.

— Sim, eu sei de suas ordens, mas às vezes se faz necessário e...

Ele percebe que não deveria discutir esse assunto comigo, pois apenas havia mandado meus
homens que estavam extremamente feridos para o hospital, e as pessoas próximas a mim não sairiam
debaixo de meus olhos, pois se aqui estava perigoso para todos imagina então num lugar
desprotegido, então o doutor continuou sua observação.

— Ela precisa descansar, perdeu sangue, mas nada grave, foi somente um corte na cabeça e
alguns cortes menores pelo corpo, deve ter desmaiado por causa da pressão do momento. Ela
acordará em breve e estará bem.

— Ótimo — respondo aliviado.

— Posso cuidar de seus ferimentos agora? — Pergunta colocando a maleta sobre a mesa e
ajeitando seus óculos de grau que parecia que cairiam a qualquer momento.

— Não. Cuide de Afonso primeiro.

— Sim, senhor.

Eu nem havia me lembrado de meus ferimentos, passo a mão na testa, o sangue já está seco.
Isso só me faz ficar com mais raiva ainda.

Não sinto dor, não sinto nada além de um ódio mortal, não consigo relaxar, minha cabeça
fervilha, meu corpo treme, estou a segundos de ter um colapso nervoso, então encho meu copo
novamente.

Fico olhando o tratamento que ele dá em Afonso, e penso como isso pode acontecer.
Realmente eu não consigo entender como pela primeira vez algo fugiu de meu controle dessa
maneira.

— Foi de raspão, a bala não chegou a penetrar a pele. Seria mais eficiente se fossemos para
o hospital e...

— Ninguém vai para o hospital, doutor — retruco pausadamente para o caso de ele ainda não
ter entendido.

Não acredito que ele começou com essa história de hospital de novo.
— Por acaso ele corre risco de morte, se ficar aqui? — Pergunto.

— Não — responde o médico.

E eu apenas sorrio em amarelo como resposta.

Depois de um tempo ele volta a perguntar se pode cuidar de meus machucados. Não estou
com paciência para isso.

— São cortes, simplesmente cortes daquela maldita porta de vidro — falo impaciente. —
Não preciso de cuidados.

— Mas Sr. Ulric, deveria deixar eu olhar e ....

— Já disse que não quero. Se já acabou pode ir embora.

Ele suspira antes de falar.

— Sim, Sr. Ulric. Está tudo pronto, já deixei o receituário de Afonso e da moça aqui —
aponta para uns papeis na mesa.

— Ótimo.

Ele se despede. Se não fosse o médico de praticamente quase todos dessa mansão e há tanto
tempo, com certeza ele não voltaria mais, mas ele ainda pede para que eu ligue para ele se acaso eu
necessitar.

— Afonso?

— Sim, Ulric — ele responde.

Mas antes de fazer a pergunta que está me consumindo, vou até o bar e encho um copo de
bebida e entrego a ele, que bebe tudo de uma vez.

Encho meu copo também e me aproximo dele, olho bem em seus olhos e pergunto sem
rodeios:

— Você não me traiu, não é Afonso?

Ele fica impassível e mudo e por uns instantes e então me responde calmamente do mesmo
modo como sempre agiu.
— Não, Ulric, eu não o traí.

Eu balanço a cabeça e me afasto dele por um momento.

— Tem que acreditar em mim Ulric, não teria motivo para te trair.

— Sei que não tem motivo — fico de costas para ele.

— Então, porque está suspeitando de mim?

— Estou suspeitando de todos no momento.

— O senhor está certo.

Ele se levanta da cadeira onde estava sentado.

— Aonde vai? — Pergunto me virando para ele.

— Vou conversar com o homem que fazia a segurança lá fora e tentar descobrir o que
aconteceu.

— Afonso?

Ele se volta.

— Após verificar isso, peça para um dos homens providenciar todos os remédios necessários
que o médico receitou, e depois vá descansar, temos um grande problema para resolver — entrego os
receituários para ele.

— Sim, obrigado.

Eu suspiro sem saber direito o que fazer. Não quero pensar que Afonso poderia fazer algo
desse tipo. E também não quero pensar que Verônica poderia ter feito algo assim.

A dúvida e a desconfiança são as piores coisas que podem pairar na cabeça de um homem
a ponto de enlouquecê-lo.

Acabo de beber o uísque e deixo o copo na mesa e me dirijo para o lavabo para lavar meu
rosto ensanguentado. Quando olho no espelho me irrito mais ainda ao ver meu estado. Meu cabelo
parece que passou por um tsunami, há sangue espirrado por metade de meu rosto. Minha camisa está
rasgada em vários lugares e muito suja. Estou um desastre.
Abro torneira da pia e lavo meu rosto e passo água nos cabelos.

Enquanto analiso minha própria imagem, fico a pensar em quem poderia ter me traído, e como
vou fazer essa pessoa sofrer quando eu a descobrir.

Saio do lavabo, indo em direção a saída do escritório e quando faço isso sinto as dobras de
meus dedos doerem no momento que soco a madeira dura da porta ao me lembrar que ainda tenho
outra merda para resolver.

Minha casa está cheia de policiais.

Ágata
Acordo, e percebo que estou deitada de barriga para baixo na cama, abro os olhos com
dificuldade, reconheço que voltei para o quarto de Ulric. Coloco a mão na cabeça, ela dói muito.

Agora acho que realmente estou acordada, pois me lembro de algumas coisas, relances de
imagens e vozes que não sei distinguir se foram reais. A única coisa que sei que foi real foi a
inesquecível tempestade de tiros.

Tento me levantar, mas volto com a cabeça no travesseiro após sentir uma pontada na cabeça
e um embrulho no estomago.

— Fique deitada — escuto uma voz feminina.

Ela se aproxima e vejo que é Madalena, a governanta da casa.

— Continue deitada mais um pouco, são ordens médicas. Logo estará sem dor.

Eu deito a cabeça novamente e isso realmente me conforta.

— Cadê Ulric?

— Está lá embaixo dando depoimento para a polícia. A mansão está cheia deles.

Apesar dos conselhos de Madalena, me viro na cama e tento me sentar, mas em vão, então ela
me ajuda a apoiar minha cabeça nos travesseiros.
— O que aconteceu afinal? — Coloco a mão na cabeça e percebo que não sangra mais.

— Um vidro cortou sua cabeça, levou alguns pontos — ela pega uma cadeira e se senta
próxima a mim. — Deve ter perdido muito sangue por isso desmaiou.

— Eu quero saber o que aconteceu lá embaixo. O que foi aquilo de tiros para todo lado?

— O senhor Ulric tem alguns inimigos — ela enche um copo de água e me entrega. — Por
mais improvável que seja, alguém conseguiu render a segurança lá fora e entrar.

— Será que foi Arbal?

Ela me olha desconfiada.

— Eu o conheci outro dia, e ontem teve um incidente com ele e sei que Ulric e ele não se dão
nada bem.

— Sei disso — ela fala receosa. — Eles já brigaram muito no passado e isso pelo jeito
continua.

—Mas já aconteceu isso antes, troca de tiros e tudo mais?

Ela dá de ombros antes de responder.

— Arbal é um homem perigoso, e o senhor Ulric também. E quando dois homens perigosos
que não se dão bem se encontram, pode acontecer muita coisa.

— Ele é dono de alguns cassinos também, não é? — Tento continuar a puxar conversa, algo
me diz que Madalena é uma mulher que sabe muita coisa.

— Arbal era dono da metade dos cassinos da cidade, e os pais de Ulric da outra metade. E
quando eles morreram e Ulric assumiu tudo, Arbal perdeu quase tudo para ele — ela me comprova o
que já sabia pela internet.

— Nossa — devolvo o copo para ela.

— Você deve ter notado a cicatriz que Arbal tem no rosto, foi feita pelo senhor Ulric — ela
olha para os lados como se alguém pudesse nos escutar e fala baixinho. — Um bom tempo atrás, eles
tiveram uma briga feia, só os dois, e Ulric levou a melhor.

— Meu Deus, que horror, então ele quer se vingar — aproveito que Madalena gosta de falar e
a incentivo a isso.
— Ele já se vingou, logo após Ulric levou um tiro, uma bala perdida, vamos assim dizer.

— A cicatriz em suas costas. Por baixo da tatuagem.

— É sim. Mas isso faz muito tempo, Ulric tinha uns vinte e poucos anos.

— E ele ficou muito mal?

— Não, o tiro pegou de raspão. O difícil foi segurá-lo para não ir atrás de Arbal.

— E ele foi?

— Não tão rápido, deixaram a poeira abaixar, e depois Ulric deu seu recado.

—Mandou matar alguém? — Pergunto com os olhos arregalados e com medo da resposta.

— Menina. Isso não nos interessa — se levanta da cadeira.

— Por favor fique — faço um movimento brusco e gemo de dor, realmente minha cabeça
doeu, mas exagero para que ela fique no quarto.

Madalena se preocupa e se senta novamente.

— Fale mais comigo, por favor. Está me fazendo bem.

— O que eu posso te dizer? — Ela pergunta forçando um incômodo que não sentia.

—Você trabalha aqui há muito tempo?

— Ah sim, desde que seus pais eram vivos — responde orgulhosa.

— Então me conte alguma coisa da infância de Ulric, de seus pais.

— A infância... — ela sorri e seu rosto magro se enruga. — O Sr. Ulric sempre teve um
grande amor pelo pai, mas ele nunca soube retribuir isso. Muitas vezes a educação dele ficou por
conta dos empregados, já que sua mãe faleceu muito jovem. Ele aprendeu lutas corporais com os
seguranças, usar armas, entre outras coisas. Quando o pai quis manter uma relação mais calorosa
com o filho, ele já era um homem com seus vinte e poucos anos. Lembro dele dando ordens inversas
às do pai, isso gerava um caos nessa casa, eles brigavam muito, demais mesmo.

— E a mãe de Verônica?
— A mãe — ela riu. — Ela não fazia nada além de gastar dinheiro e brigar com o marido.
Nem cuidava de Verônica. O casal brigava demais, o pai de Ulric chegou a bater diversas vezes nela.
Ele era muito mal quando queria.

— Por isso a aversão de Ulric sobre relacionamentos e compromissos.

— Apesar de ele ter sido criado num ambiente de brigas e ressentimentos, ele se tornou uma
pessoa boa.

Eu sorrio ao pensar que no fundo todos gostam dele, não importa o quanto cruel ela seja.

— E Verônica?

— A menina Verônica... se não fosse o Sr. Ulric cuidar dela. Sempre ficou jogada para cima e
para baixo. A mãe nunca deu atenção a pobrezinha.

— É por isso que ela é tão apaixonada por ele assim.

Mas antes que ela pudesse me dizer mais alguma coisa a porta se abre e Ulric entra, ainda
está com a camisa rosa coberta de sangue e um corte na testa.

Madalena se levanta rapidamente e coloca a cadeira no lugar.

— Pelo jeito tiveram muito tempo para conversar — seu tom era de reprovação.

— Precisa de alguma coisa, senhor? — Madalena pergunta.

— Não. Pode sair.

Ela sai sem olhar para mim novamente.

— Está se sentindo melhor? – Ele se mostra muito amável.

Eu balanço a cabeça afirmativamente. Não tenho forças para brigar com ele agora, dizer que
colocou minha vida em risco de novo. Não tenho energia para isso. Estou esgotada.

— Precisa de alguma coisa?

— Não, obrigada.

— Me desculpe por hoje.


Seu tom verdadeiro realmente me abala, então ele se senta na cama, mas não me encara.

— Tenho certeza que foi Arbal — ele esfrega a cabeça e fica a segurando enquanto apoia os
cotovelos nos joelhos. — Só não sei como ele entrou aqui e não sei quem o está ajudando.

Ulric está destruído.

Ulric
Eu estou me sentindo totalmente destruído. Alguns de meus homens morreram e eu não gosto
disso. Eles têm família, tem esposa, filhos. Além do que tenho que repor esses homens, não posso
ficar desfalcado ainda mais agora que Arbal perdeu a esportiva. Afonso levou um tiro, por sorte de
raspão. Essa porra toda só me causou prejuízo.

—E você vai fazer o que agora?

A voz doce de Ágata me tira dos meus pensamentos sombrios. Mordo os lábios e respondo.

— Tomar um banho e tirar esse sangue.

Infelizmente só posso tirá-lo do corpo e não da alma.

Eu entendo a pergunta e ela também entende que eu não quero responder.

Me levanto e vou para o banheiro, ligo o chuveiro, tiro a roupa, e entro debaixo da ducha. A
única coisa agora que eu quero é me lavar de toda essa sujeira dentro de meu peito, mas sei que é
impossível. Sinto a água quente cair em meu corpo e isso parece que me fortalece, pelo menos
instantaneamente.

Escuto a porta se abrir e não olho para trás. Sei que é Ágata.

— Deveria ficar deitada — meu tom é de reprovação.

— Já me sinto bem.

Ela se aproxima de mansinho, faz algum barulho atrás de mim, e sinto a esponja sendo
passada delicadamente nos cortes de minhas costas.
Eu solto um grunhido e me encolho ao sentir a ardência do sabonete nos ferimentos.

— Desculpe. Só quero deixar bem limpo para não infeccionar.

Tento não demonstrar mais dor, afinal essa dor não é nada perto de outras que já senti.

— Tudo bem — relaxo o corpo novamente. — Você deveria ficar deitada. Está fraca.

— Já disse que estou bem — ela continua a limpar meus ferimentos. — O médico não cuidou
de você, por quê?

— Porque eu não quis.

— Caetano, parece que está se punindo.

— Que besteira, Ágata.

— Você não teve culpa de nada.

Eu aperto os olhos com força. Realmente estou sentindo toda a culpa do mundo em meus
ombros.

Ela lava todos os meus cortes, das costas e dos braços, tão delicadamente, seus gestos são tão
meigos que me emociona. Alguém está cuidando de verdade de mim. Pela primeira vez.

Me viro para ela, ela está nua, noto que além do ferimento na cabeça ela tem vários cortes
pela perna, e isso faz minha culpa se transformar em ácido e corroer mais ainda meu corpo.

Então a coloco debaixo do chuveiro, ela passa as mãos no cabelo para tirar a água enquanto
encho minha mão de xampu.

— Você tem que tirar esse sangue dos cabelos.

Ela concorda e se vira, sua bunda encosta em mim. Lavo os cabelos dela tão delicadamente
quanto posso. Ensaboo e depois enxáguo tentando ao máximo não prejudicar os pontos em sua
cabeça.

A água cai colorida no chão: espuma branca e sangue.

Ela se vira para mim e não diz nada e me abraça, forte, muito forte. Descansa sua cabeça em
meu peito. Sei que está cansada de tudo isso. Eu retribuo o abraço a apertando forte contra meu
coração, meu desejo é protegê-la para sempre.
Ficamos assim um momento até que ela se solta de meus braços e eu vejo que ela deixou cair
algumas lágrimas, então desligo o chuveiro, pego duas toalhas e nos enrolamos nelas. Vamos direto
para o closet, e brinco:

— Acho que você terá que usar uma dessas de novo — jogo uma camisa xadrez em vermelho
para ela.

Ela veste a camisa que chega quase até seus joelhos, dobra a manga e fecha todos os botões,
mas não está mais sorrindo.

Vejo que está decepcionada, totalmente decepcionada. Me troco rapidamente, pego minha
arma, coloco no coldre da cintura e visto um paletó por cima. Quando olho para Ágata ela está
fixamente olhando para mim.

— O que você vai fazer Caetano?

— Preciso sair.

—Você vai atrás dele, não é?

— Você não precisa disso Ágata. Fique tranquila e descanse.

— Você não pode fazer isso — ela grita. — Não pode simplesmente ir atrás dele. Vai fazer o
que? Chegar atirando em todo mundo como um maluco?

— Ainda não vou atrás de Arbal, vou falar com outras pessoas por enquanto.

— Com quem?

— Ágata, apenas descanse.

Contrariando seus conselhos, saio do quarto, e peço para os dois homens que já estão na
porta de meu quarto para que não a deixasse sair em hipótese alguma e que também não deixasse
ninguém entrar.

Desço as escadas rapidamente, alguns homens estão consertando o vidro que dá para a
varanda e enquanto os cacos estão sendo varridos, paraliso ao lembrar da cena macabra de tiros,
meu coração acelera ao pensar que Ágata poderia estar morta agora.

Balanço a cabeça e me direciono para a garagem e já vejo o carro, que havia pedido para
ficar pronto, à minha espera.
— Sr. Ulric — o motorista me abre a porta de trás do carro blindado.

Eu entro e dou de cara com Afonso.

— O que está fazendo aqui? — Me irrito imediatamente.

— Ainda sou seu segurança pessoal.

— Você está machucado, deveria estar descansando.

— Prefiro ir com você, Ulric.

Eu o olho e depois concordo:

— Você quem sabe. — Me viro para o motorista. — Podemos ir.

Assim que o carro arranca, ele fala para mim.

— Conversei com dois homens que faziam a segurança do lado de fora da mansão.

— E o que descobriu? — Pergunto impaciente.

— Eles foram encurralados pelos homens de Arbal que chegaram de surpresa vindo da curva
na esquina. Pelo que entendi, havia uma brecha na segurança naquele lugar que ninguém havia
reparado antes. Então eles se aproveitaram disso para renderem nossos homens.

Eu sorrio nervosamente sem acreditar no que acabei de escutar.

— Como uma brecha? Essa segurança ganha o suficiente para que não tenha brecha nenhuma,
Afonso. Mas que merda!

— Pois havia, Ulric. Já trabalhei para consertar isso.

— Mas que porra de maldição é essa que está acontecendo em minha vida?

Fico sem resposta para isso e depois de conversarmos mais um pouco sobre como resolver
esse problema, nos mantivemos em silêncio o resto do caminho até chegarmos novamente naquele
bairro nojento e fétido onde Jôse mantém o galpão.

Paramos o carro a certa distância e fomos para lá. Assim que entramos Jôse empalidece e
pergunta meio confuso:
— Ulric, o que faz por aqui? Não fez nenhuma encomenda.

Eu não respondo e o jogo na mesa e coloco a arma em sua cabeça.

— Comece a desembuchar tudo o que sabe Jôse — grito para ele.

—Cara, que isso, mano. Eu não sei de nada.

— Você é um maldito que sempre sabe de tudo.

— Não sei que merda é essa que está falando, Ulric?

— Ah tá, então eu acho que vou deixá-lo sem um olho para reativar sua memória.

Coloco o cano da arma em seu olho.

— Não Ulric, calma, eu falo cara, eu falo.

— Então comece.

— Cara, tire isso de meu olho, maldição — ele está apavorado.

— Comece primeiro e dependendo do que você falar vou ver se sua informação vai valer a
pena.

— Eu sei que Arbal invadiu a mansão — gagueja.

— Isso não é novidade para mim — aperto mais ainda a arma em seu olho.

— Ele... ele vai atacar o cassino.

— Como posso acreditar em você?

— Os capangas de Arbal vieram aqui buscar um carregamento e sem querer eles disseram
sobre a invasão da mansão e do cassino — ele respira fundo. — Cara eu achei que você estaria
morto.

— Claro, porque você teve a oportunidade de me avisar e não o fez não é mesmo?

— Eu tô me redimindo agora, cara. Estou te contando o que eu sei.


Eu retiro a arma e o deixo levantar.

— Quando vai ser o ataque no cassino?

— Hoje à noite.

— Espero que esteja dizendo toda a verdade Jôse, senão eu vou voltar aqui.

— Nunca mentiria para você cara — o infeliz ainda tem coragem de me dizer isso.

— Vamos — eu falo para Afonso e os outros homens.

Me viro para ir embora, mas retorno.

— Ah, já estava me esquecendo.

Acerto um forte soco no nariz de Jôse que cai ao chão sangrando.

— Cara, qual é?

Ele fala tentando estancar o sangue do nariz quebrado.

— Isso é só um aviso para que você se lembre de me contar tudo que for de meu interesse
quando souber de alguma coisa.

Saímos do galpão e entramos no carro novamente.

— Para onde vamos agora, chefe? — Pergunta o motorista.

— Para a casa da Ágata.

— Casa da Ágata? — Afonso pergunta sem entender. — Se Jôse está dizendo a verdade
precisamos nos preocupar com o cassino, Ulric.

— Eu sei, estou me preocupando — pego o celular e antes de discar um número, explico para
ele. — Por isso vou ligar para lá e dar as ordens necessárias.

— Não entendo.

— Jôse é um pilantra, Afonso. Joga do lado que lhe dá mais lucro. Se Arbal não for para o
cassino foi porque Jôse o informou sobre o que me contou, e se ele for, ele e seus homens vão ser
muito bem recebidos.

— Certo. Iremos enfrentar Arbal e testar Jôse.

— Sim. Agora preciso ir para a cada de Ágata pegar algumas roupas para ela e também
preciso ter uma conversinha com Jandon.

Afonso não faz mais perguntas e enquanto nos dirigimos para lá falo com meu pessoal do
cassino, pelo celular, dando as ordens necessárias para proteção de tudo e de todos.

Ao chegar, um de meus homens bate na porta e assim que Jandon a abre ele o empurra para
dentro sem dar tempo de ele perceber ou tentar fazer qualquer coisa que fosse.

Ele empurra Jandon que cai sentado no sofá e arregala os olhos ao me ver.

— Tudo bem Jandon? — Coloco as mãos no bolso e um sorriso no rosto. — Vim fazer uma
rápida visita.

Jandon engole em seco.

— Fiquei sabendo que... — eu aponto para ele e depois para meu próprio rosto — Você teve
uma pequena discussão com Ágata – insinuo sobre os tapas.

— Parece que Ágata está te contando tudo agora.

— Ela está sim.

— E pelo jeito ela te acertou também — se refere ao meu machucado na testa.

— Cuidado com a língua. — Afonso mesmo com um dos braços na tipoia avança para cima
dele.

— Afonso, por favor — peço cinicamente.

Ele recua contra a vontade.

— Vamos fazer o seguinte Jandon... vamos lá para cima para o quarto de Ágata que preciso
pegar algumas coisas para ela.

Afonso o obriga a ficar em pé.

— Por que disso? Por acaso ela vai morar com você agora?
— Não seja bobo Jan — coloco as mãos em seu ombro e o empurro para que suba a escada.
— Já posso te chamar de Jan, não posso?

— O que você quer, Ulric? — Pergunta amedrontado.

Paramos em frente à única porta existente no andar de cima e a abro, inegavelmente é um


quarto feminino. Apesar de não ter o tão famoso rosa, era um típico quarto de mulher.

Eu entro primeiro e Afonso que está logo atrás de Jandon empurra-o para dentro.

— Você pode me ajudar, Jan?

Ele continua calado e imóvel. Somente transpira em excesso e eu posso jurar que ouço as
batidas de seu coração acelerado.

— Pode me pegar uma mala, por favor — peço.

Ele continua imóvel até Afonso novamente lhe dá um empurrão.

Ele vai até um armário e pega uma mala que estava na parte debaixo do mesmo e coloca
sobre a cama.

Faço sinal para que ele abra a mala, e ele faz com as mãos trêmulas.

— Então Jandon, estive pensando em uma coisa — eu o observo enquanto abro a primeira
gaveta da cômoda de Ágata, e devagar retiro algumas peças de roupas. — Será que você seria capaz
de fazer mal a Ágata somente para se vingar de mim?

— Do que você está falando? — Pergunta em voz baixa.

Levo as roupas para a mala, passando muito próximo a ele. Fecho essa gaveta e abro a
debaixo e me deparo com uma coleção enorme de lingerie, e devagar vou separando as que eu acho
mais bonita e atraente.

— Você já deve saber que a mansão foi atacada essa manhã, não é mesmo?

— A mansão foi atacada? E Ágata? — O sangue some de sua face por um momento.

Pego toda a lingerie que separei e levo para a mala.

Volto para a cômoda e sigo o mesmo ritual com a próxima gaveta. O meu silêncio o castiga.
— Me diz, e a Ágata, ela está bem? – Insiste.

— Por acaso você a entregaria para Arbal somente para se vingar, Jan? – Friso a última
palavra.

— Não sei do que está falando, nunca faria mal a Ágata.

— Não sei se acredito nisso.

— É minha irmã, eu a amo.

Pego alguns sapatos e também coloco na mala e a fecho. Quando passo pelo criado-mudo
vejo uma foto jogada e a pego, é Ágata e Jandon em algum momento alegre.

Fico de frente para ele, coço o queixo por um momento e meu sorriso cínico desaparece de
uma vez.

— Você teve contato com Arbal, Jandon?

— Claro que não, Ulric – gagueja novamente. – A única vez que o vi foi naquele maldito
galpão.

Ele tenta se afastar, mas bate no corpo de ferro de Afonso que está posicionado logo atrás.

Eu olho para ele e depois volto minha atenção para a foto, devagar eu a corto ao meio,
separando a imagem dele da de Ágata. Coloco a parte que tem ela de volta no criado-mudo e corto a
dele em vários pedacinhos e jogo tudo em cima dele.

Ele mantém uma expressão desesperada.

Eu o seguro pela nuca, seu medo transborda pelos poros. Eu dou um tapa em seu rosto e
pergunto novamente:

— Tem certeza, Jandon?

— Cla... claro.

Dou-lhe outro tapa e pergunto de novo.

— Jandon, não minta para mim.

— Não estou mentindo, Ulric, eu juro.


Como já estou cansado dessa porra toda, acerto um soco bem dado em seu rosto o fazendo
cair ao chão. Aproveito que ele está deitado, e apoio meu pé em seu peito não o deixando se
levantar, enquanto retiro minha arma e aponto para ele.

— Só vou perguntar mais uma vez, Jandon. Tem certeza que não está mentindo para mim?

Ele está com os olhos arregalados e de sua boca sai um filete de sangue. Ele balança a cabeça
negativamente e fala um “não” baixo e rouco.

Fico ainda com a arma apontada para ele por um momento e depois a guardo na cintura e
retiro o pé de cima dele que continua deitado.

— Só não estouro a merda de sua cabeça Jandon, pois sei que Ágata nunca me perdoaria.

Afonso pega a mala e saímos do quarto o deixando no mesmo lugar.

Quando saímos da casa dou ordem para que ele seja vigiado dia e noite.

Vamos direto para a mansão e ao chegar entro no meu quarto colocando a mala na cadeira e
sou recebido por Ágata que aparenta estar muito agitada.

— O que aconteceu Ágata? — Pergunto.

— O que aconteceu? — Ela aperta as mãos inquietamente.

Eu apenas me aproximo.

Sinto sua mão acertar em cheio meu rosto me pegando de surpresa.

— Isso é por você me trancar aqui como uma prisioneira, dando ordens para aqueles homens
não me deixarem sair nem no corredor.

Eu passo a língua nos lábios tentando manter minha inexistente calma.

Só que novamente sinto uma ardência ao mesmo tempo em que meu corpo treme
freneticamente ao sentir sua mão acertar novamente meu rosto.

— E isso é para que fique claro que nunca mais quero que ameace meu irmão.

Uma raiva fora do normal se apossa de mim. Retiro minha arma e a coloco sobre a mesa, não
quero perder a cabeça, se é que já não a perdi.
Será que essa mulher não vai entender nunca toda a merda que estou fazendo por ela?

Meu semblante deve ter se tornado aterrorizante, pois conforme avanço ela se afasta de mim
demonstrando um pavor exagerado e deixando algumas lágrimas caírem em seu rosto enquanto seus
lábios tentam pronunciar algo que não entendo.

— Você não aprende nunca, não é Ágata?

Ela não responde e continua a se afastar apavorada.

— Está muito nervosa com tudo o que aconteceu ou perdeu o juízo de vez?

Ágata
— Ágata, perdeu o juízo de vez? — Ele pergunta novamente. — Você só pode estar louca.
Que merda você pensa que está fazendo?

— Ele é meu irmão, você não pode...

— Cala a boca Ágata. Estou cansado desse blá blá blá sobre seu irmão — ele coloca as mãos
na cintura. — Você ainda não percebeu o marginalzinho que ele é?

— Já percebi sim, tanto que bati nele.

— Então qual o problema, porra? — Grita. — Ele já acostumou a correr para você cada vez
que faz alguma besteira. Ele com certeza mal esperou eu sair de lá para te ligar. Ele te faz de boba o
tempo todo.

— Mesmo assim ele não deixa de ser o meu irmão.

— Ágata...

— O quê?

— Vá pro inferno.

Ele se afasta de mim e se aproxima da janela.


— Caetano Ulric, você não pode falar comigo assim— vou atrás dele.

— Posso sim. Você não quer enxergar um palmo na frente do seu nariz. Tudo que disse para
você ontem à noite não entrou na sua cabeça — ele gesticula raivosamente.

Fico muda.

— Eu me declarei para você, para quê? À toa? Você realmente não está a fim de que isso dê
certo, não é? —Continua gritando impacientemente.

Um medo incontrolável se apossa de mim fazendo meu corpo tremer.

— Pare de gritar — peço.

— Por quê? Eu mal entro aqui e você me acerta dois tapas na cara e eu não posso nem gritar?

— Isso não pode dar certo — falo em voz baixa. — Nunca dará certo.

Ele esfrega o rosto e depois cerra as mãos, por um momento fico com medo que ele possa me
bater.

— Na verdade, é você não quer que dê certo — aponta para mim.

— Algo que começou do jeito que a gente começou, não pode dar certo, Caetano — nem
acredito no que estou dizendo.

Ele fita o chão por um momento, acho que está tentando se controlar, e depois avança em
minha direção e me puxa fortemente pela mão. Ele me leva até a porta e a abre e em seguida me
solta.

— O que é isso Caetano? — Pergunto sem entender e com um desespero que me paralisa.

— É o que você quer, não é? Ir embora?

Ele mostra a porta aberta com a mão.

— Está me mandando embora? — Sinto um suor frio me percorrer.

— Não, Ágata. É você que quer ir embora. Eu fiz de tudo, mas você não aceitou. Não quis
entender. Só estou dizendo que você pode ir embora do jeito como sempre quis. Não estou te
prendendo aqui.
— Caetano, eu... — ele me interrompe.

— Preciso ter uma mulher ao meu lado Ágata, não tenho vocação e nem tempo para
infantilidade.

Arregalo os olhos diante das palavras dele. Ele nunca deixará de ser cruel.

— Vai me jogar na jaula dos leões agora? Vai me dar de bandeja para seu pior inimigo? —
Acho que grito, não tenho certeza, mal posso ouvir minhas próprias palavras por conta do meu
coração acelerado.

— Não deixaria que ele te fizesse mal, não sou escroto desse jeito. Espere na sala que eu vou
pedir para alguém te levar e tomar conta de você até que eu resolva esse problema com Arbal.

Ele não me encara e continua mantendo a porta aberta. Não consigo conter algumas lágrimas
que novamente começam a rolar. Nunca pensei que ele seria capaz disso, de me mandar embora.
Acho que fui longe demais. Acabo deixando um soluço escapar de minha garganta, e tapo a boca com
a mão.

Desde o primeiro dia o que eu mais quis foi que ele me mandasse embora, e agora que ele
está fazendo exatamente isso, sinto que me dói profundamente, sinto um aperto no coração
indescritível.

Continuamos assim na mesma posição, ele com a mão na maçaneta da porta aberta olhando
para o chão, eu com os braços cruzados de frente para a porta. Não sei quanto tempo ficamos assim,
até pareceu horas, mas não deve ter passado de minutos. Até que ele empurra a porta deixando-a
bater e gira a chave na fechadura.

— Eu não sei o que você realmente quer, Ágata— sua voz soa tão melancólica. — Decida e
depois me avise para eu saber como agir.

Ele se direciona para o closet, depois que me restabeleço do susto eu o sigo, o encontro com
uma das mãos apoiada na parede, de costas para mim.

— Já decidi o que eu quero — falo com voz firme.

Ele se vira para mim, e me encara esperando ansiosamente minha decisão.

Eu limpo minhas lágrimas com raiva, me aproximo dele.

Maldição, por que esse homem tem que ser tão grande e másculo desse jeito?
— Eu quero ficar.

Falo tão seguramente como posso, para que ele entenda que eu realmente sinto algo por ele.
Dou um sorriso tímido, esperando ele me pegar em seus braços e me beijar rudemente como só ele
faz, mas ao invés disso acontecer, ele me joga uma pergunta me pegando totalmente desprevenida que
me decepciona totalmente.

— Você quer ficar até quando?

— Como assim?

—Até quando quer ficar? — Ele se aproxima. — Até não concordar comigo de novo? Até
achar que meus atos não são os melhores do mundo e querer descarregar toda sua ira novamente em
mim?

Eu balanço a cabeça.

— Eu não faço isso, Ulric — não sei o que dizer.

— Faz sim, Ágata.

Ele está bem próximo a mim. Tenho que erguer a cabeça para fitá-lo.

— É só você achar que eu faço alguma coisa errada, você se torna outra pessoa, e isso vai
acontecer de novo e vai querer ir embora de novo, ou vai querer me bater de novo. Seu atrevimento
tem limite. Eu cansei e não vou ficar aturando isso.

— E você por acaso não faz tudo errado? Ameaça as pessoas, é traficante...

— Mas em nenhum momento escondi o que sou de você. Você sabia quem eu era desde o
primeiro momento que me procurou.

— Eu não tive outra opção.

— Não quero saber de suas opções, quero saber de nós dois.

Eu engulo em seco.

— Eu vou ficar o que prometi para você: 7 dias.

Ele morde os lábios e estica a mão em minha direção, fecho os olhos com medo e sinto um
tremendo frio na barriga, mas ele apenas retira uma mecha de cabelo do meu rosto, colocando-a
delicadamente atrás de minha orelha.

— Ágata, nesses 5 dias juntos passamos tanta coisa e você ainda não entendeu nada, então
vou explicar melhor e pela última vez, apesar de achar que isso que já estivesse suficientemente
claro entre nós dois — ele segura meu rosto.

Eu ergo as sobrancelhas em desagrado.

— Eu não te quero por 7 dias — ele continua bem devagar. — Eu não te quero por 7
semanas, nem por 7 meses, 7 anos, sei lá. Eu te quero pelo tempo que durar.

Eu fico atônita, sem me mover.

— Era isso que eu esperava que você me respondesse — continua.

Ele solta meu rosto e passa por mim indo em direção a saída do closet.

— Caetano?

Eu o chamo. Ele paralisa com as mãos na cintura, mas continua de costas para mim.

— Eu... eu...

Ele se vira decepcionado, está esperando eu dizer algo que não consigo.

Então como não digo nada, ele se afasta novamente e volta a caminhar.

— Mas que merda, Caetano Ulric. Eu te amo! — Grito.

Ele interrompe os passos e se volta para me olhar, e com passos tão lentos que parece uma
eternidade se aproxima de mim com um sorriso fatalmente sedutor e sarcástico.

Me pega pelos ombros, olhando bem dentro dos meus olhos.

— Viu, não foi tão difícil.

Maldito desgraçado!

— Nunca vi ninguém tão manipulador como você, Ulric. Consegue fazer qualquer um dizer e
fazer tudo o que você deseja.
Ele somente ri.

— Eu... eu... retiro o que disse — falo com raiva.

— Ah, retira? — Ele ergue as sobrancelhas.

— Sim. Na verdade, eu também te odeio — falo pausadamente as últimas palavras.

— Não tem problema, pois esse pequeno pedacinho seu que me odeia, me dá um tesão
desgraçado.

Ele cola sua boca na minha, abrindo espaço com sua língua quente enquanto segura minha
nuca. Me encosta na parede, e sem soltar minha boca, enfia a mão por baixo da camisa até atingir
meus seios.

— Eu já disse que você é minha. Não sei por que é tão teimosa.

Ele desce sua boca quente para meu pescoço, e eu o empurro.

— Espere — eu digo.

— O que foi? — Ele se lembra de algo. — Desculpe, esqueci que está machucada...

— Não é isso.

Falo enquanto começo a desabotoar sua camisa.

— Eu quero cuidar de você hoje, Caetano.

— Vai cuidar de mim? — Ele morde os lábios sensualmente. — Como?

Já desabotoei toda sua camisa e a retiro e começo a acariciar seu peito, e ele solta um
suspiro.

— Você vai ver como.

— Não brinque comigo Ágata — ele sorri.

— Quem está brincando aqui? Vou te mostrar que você tem uma mulher ao seu lado.

Nem eu me reconheço falando desse jeito. Mas o tesão está percorrendo e queimando meu
corpo todo, estou doida para sentir mais deste homem.

Eu mordo e beijo seus mamilos e desço para a barriga. Me ajoelho no chão, sinto dor nos
cortes em meus joelhos, mas tento não prestar atenção a isso. Abro seu cinto, o botão de sua calça e o
zíper. A puxo para baixo liberando seu pau que já está muito duro e o pego com as duas mãos.

Passo a língua devagar na ponta de seu membro. Sinto os músculos de seu corpo ficarem
imediatamente tensos.

Observo seu pau, está duro como pedra e suas veias são protuberantes. Começo com
chupadas e lambidas na pele em torno dele. Ulric coloca as duas mãos na parede para se apoiar.

Eu o coloco na boca, timidamente, quero sentir seu gosto, sua masculinidade. E bem devagar
eu deixo seu membro escorregar para dentro de minha boca me preenchendo e eu o sugo até onde sou
capaz de aguentar.

Ele fecha os olhos e contrai os músculos. Olho para ele e vejo que morde o lábio inferior,
provavelmente para tentar abafar algum gemido.

— Maldição, assim você me deixa louco— sussurra.

Eu o retiro da boca, e passo a língua em toda sua extensão o lubrificando com minha saliva.
Volto a colocá-lo na boca e a chupá-lo enquanto minha mão o masturba. Sinto gotas de seu sabor
escorrer em minha boca, e isso faz meu desejo ascender mais ainda, sinto um calor entre as pernas e
sei que estou completamente molhada. Começo a chupá-lo mais rápido, o tesão dentro de mim parece
que vai explodir, quero sentir todo seu sabor, quero engoli-lo, quero ele inteiro dentro de minha
boca, dentro de mim. Totalmente dentro de mim.

Ele contrai ainda mais os músculos da coxa e abdômen. Estou gostando de vê-lo assim, um
tanto vulnerável, parecendo sem defesas, eu no comando.

Seguro em seu quadril para trazê-lo ainda mais para perto, e ele segura firme em meus
cabelos fazendo com que eu solte seu pau de minha boca. Ele me segura desse modo, me olhando nos
olhos. Sua pele brilha de suor, sua respiração está acelerada. Ele me mantém a uma distância de seu
membro, mas não o suficiente para que minha língua não o alcance, e começo a lamber a ponta de seu
pau sem desviar meus olhos dos dele. Ele morde os próprios lábios fortemente, e me empurra para
que eu possa colocá-lo na boca novamente. Ele continua apoiado na parede com uma das mãos
enquanto a outra ele controla meus movimentos segurando forte em meus cabelos.

Ele me empurra tanto que seu membro chega até em minha garganta em alguns momentos.
Sinto seu pau crescer e ficar ainda mais grosso em minha boca, então ele o retira rapidamente, sei
que está prestes a gozar.
— Merda— ele murmura.

Ulric
Mas que merda, desde que a vi eu quero sentir sua boca carnuda em volta do meu pau, e ela
me pega de surpresa. Eu a ergo do chão, porque um segundo a mais dessa boca gulosa me chupando,
eu juro que gozava dentro dela.

Puxo a camisa que ela está vestindo sem desabotoar, não quero perder tempo com isso, e
começo a acariciar sua deliciosa pele nua.

— Por que não me deixou continuar? — A maldita ainda me provoca. — Quero te saborear
por inteiro, Caetano.

— E eu quero gozar em sua boceta quente, Ágata.

Ela agarra minha nuca e nos beijamos como dois selvagens, ela parece que está prestes a me
engolir e sentir toda essa excitação que vem do seu corpo é uma delícia.

Acaricio suas costas, sua bunda, suas coxas, quero cada detalhe de seu corpo. Desço minha
boca para seus seios e ela geme quando os sugo sem dó. Quero meter nela aqui mesmo e rápido.
Ameaço erguer suas pernas, mais ela me impede.

— Não.

— Como não? — Apoio meus braços na parede e mordo sua orelha, fazendo minha barba
acariciar seu rosto, como sei que ela gosta.

— Desta vez eu quero te tocar — ela segura meu rosto e sorri safadamente.

— É mesmo? — Eu seguro seu rosto e a beijo. — Estou gostando dessa nova Ágata.

Ela coloca as mãos em minha cintura e me empurra para trás para que eu me afaste.

— Deita.

Eu olho para onde ela está apontando. O tapete branco macio e felpudo do meu closet. Eu
deito, e apesar do tapete ser muito macio, sinto os cortes em minhas costas arderem.
Ela retira o restante de minhas roupas e em seguida sobe em mim se encaixando perfeitamente
em meu corpo, mas não me deixa penetrá-la.

— Shiu— ela faz.

Seguro suas coxas enquanto sinto sua língua quente em meu pescoço, passa por meu queixo e
chega a minha boca. Ela morde meus lábios e eu pego seu rosto para trazer sua boca para mim, mas
ela retira minha mão fazendo que eu as coloque novamente em suas coxas.

— Já disse que eu vou cuidar de você. E você fica quietinho.

— Sempre disse que você era uma safada.

Eu a provoco, mas ao invés dela se irritar ela fica mais excitada ainda.

Sua língua desce para meu peito, junto com suas mãos que não param de me acariciar, ela
morde meu mamilo e o lambe, isso me incendeia, e depois desce para minha barriga beijando e
mordendo minha pele até atingir minha virilha. Parece que ela conhece cada ponto sensível de meu
corpo, e fico cada vez mais louco.

Ela coloca meu pau novamente na boca, mas desta vez sem rodeios, o chupa gulosamente me
enlouquecendo de tesão, não consigo conter um gemido que sai de minha garganta.

Me apoio nos cotovelos para ver essa imagem maravilhosa de seus lábios carnudos me
sugando gostosamente. Ela olha para mim, solta meu membro que lateja de tesão, molha os lábios
com a língua e retorna fazendo sua boca me chupar com muita agilidade.

Cada músculo do meu corpo está tenso de tanto que me controlo para retardar um orgasmo
que está a ponto de acontecer. A seguro pelos cabelos fazendo-a soltar sua boca gostosa de meu pau.
Ela ri mordendo os lábios e eu a puxo para cima, para minha boca, a beijo enquanto ela se encaixa
novamente sobre mim, ela solta minha boca e levanta o corpo ficando ereta e senta em meu pau que
entra inteiro em sua boceta quente e úmida.

— Ah, que inferno!

Digo quando ela sobe e desce em meu pau numa velocidade fantástica. Ela controla o ritmo, a
intensidade a velocidade, ela está no comando.

Ela segura e aperta os próprios seios enquanto rebola sensualmente.

— Maldição, Ágata — resmungo numa onda de prazer que me atinge por inteiro.
Ela deita sobre meu corpo se jogando sobre mim, segura meus pulsos colocando meu braço
sobre o tapete acima de minha cabeça.

Eu dou risada por ela achar que consegue me dominar, mas entro no seu jogo. Ela continua
subindo e descendo enlouquecidamente em meu pau.

Eu mordo seus lábios e nossos gemidos se cruzam.

— Eu não suporto ser controlado, Ágata.

— Eu sei — ela geme, pois eu assumo os movimentos a penetrando forte.

Solto minhas mãos, que ela pensa que segura, e coloco em sua bunda a apertando, fazendo
com que ela se abra mais para mim.

— Pare, Caetano — ela pede quando percebe que perdeu todo o controle sobre mim.

— Não, Ágata — minha boca está grudada na sua. — Deixa eu te foder até você gozar.

Ela desvia seu rosto do meu, agarrando meus ombros. Sinto sua boceta se contrair e apertar
ainda mais meu pau. Num movimento brusco eu inverto de posição e estou em cima dela. Seu rosto
está corado, seus olhos vidrados. Ela passa língua em seus lábios entreabertos me enlouquecendo
mais ainda, então começo novamente a meter forte nela, do jeito que eu sei que ela gosta.

Ela está no seu limite, mas um pouco e sei que vai gozar, então seguro em seus cabelos,
fazendo ela manter seu olhar em mim.

— Quero que goze olhando para mim.

Ela tenta retrucar, mas eu não a deixo.

— Quero sentir sua boceta se encharcar de prazer, enquanto olho em seus olhos, Ágata.

Começo a meter mais forte nela, sinto seu corpo estremecer, ela entreabre os lábios gemendo
gostosamente e começa a gritar de prazer, fazendo o que mandei, sem desviar de meus olhos.

— Mas que porra, Ágata.

Mais algumas estocadas e estou urrando enquanto inundo sua boceta com meu gozo.

Ainda estamos nos olhando, nossos lábios só emitem gemidos. Solto seu cabelo, e tento fazer
minha respiração voltar ao normal.
— Por que você tem que ser tão deliciosamente safada desse jeito?

Beijo sua boca apaixonadamente, parece que ainda estamos em chamas. Seguro seu rosto nas
mãos pensando se conseguiria viver sem ela. Sinto meu coração acelerar e um medo me domina ao
perceber que a resposta é não, não consigo ficar mais sem seu cheiro, seu gosto.

— Caetano? O que foi? Está pensativo.

— Não foi nada — sorrio e volto a beijá-la.

Em seguida saio de dentro dela e me jogo ao seu lado. Não consigo conter um grito de dor e
arqueio a coluna ao sentir novamente minhas costas machucadas raspar no tecido do tapete.

— Que foi?

Ela se assusta e se apoia nos cotovelos para me olhar.

— Minhas costas machucadas.

— Não tinha sentido nada até agora? — Me provoca sensualmente.

— Como poderia sentir dor se meu pau estava dentro de você te fodendo deliciosamente?

— Você não vale nada, Caetano.

Acaricio seu rosto delicadamente e ela beija minha mão.

A puxo para meu peito, e ela me abraça. Aperto os olhos em desespero. Nunca pensei que
lidar com o amor fosse pior que lidar com todos meus inimigos juntos.

Ficamos assim abraçados, nossos corpos estão suados e exaustos. Estou aliviado porque ela
está aqui, comigo, protegida. Mas mesmo assim sinto um frio no estômago quando percebo que não
me canso dela, de seu corpo, de sua rebeldia, de seus beijos atrevidos, quanto mais fazemos sexo,
mas tesão eu sinto, mas quero conhecer e explorar seu corpo, quero tocar cada pedacinho dela,
poderia transar com ela o dia todo que ainda não me acalmaria, parece uma chama que não se apaga,
pelo contrário, só aumenta.

Que porra é essa que está acontecendo comigo? Como pode uma atrevida dessa me causar
tanto estrago?

— Caetano?
— Hum — por um momento fico assustado ao imaginar como ela reagiria se pudesse ler
meus pensamentos neste momento.

— Nunca mais me mande embora.

— Eu não te mandei embora. Apenas te mostrei que você não quer ficar longe de mim.

Ela sorri e beija meu peito.

— Você é um metido mesmo, se acha o máximo.

— E não sou? — Pergunto achando graça.

Ela levanta a cabeça e me encara sorrindo também.

— Se você não achasse isso, não teria dito que me ama.

Nós dois ficamos sérios, paramos de sorrir, no fundo amar é uma palavra muito forte,
acredito que nenhum de nós estávamos prontos para isso.

Mas este momento único é quebrado por um som e percebo que é meu celular que toca.
Coloco Ágata para ao lado e me levanto.

— Cadê a porra desse celular?

Pego minha calça e o encontro no bolso, me sento no tapete e o atendo no mesmo momento em
que Ágata abraça minhas costas e coloca sua cabeça em meu ombro.

— Ulric, tudo certo — escuto a voz de Afonso do outro lado. – Nossos homens fizeram o
que você ordenou e interceptaram os homens de Arbal antes que eles pudessem chegar ao cassino.

— Arbal estava junto?

Ao perguntar isso sinto que Ágata me solta imediatamente.

— Não, Ulric.

— Ótimo, Afonso. Obrigado.

Desligo o celular o jogando para o lado, deito novamente e a puxo para mim.
— Você estava falando sobre Arbal?

— Fique tranquila. Não há nada para se preocupar.

— Mas está tudo bem? — Ela insiste.

— Tudo maravilhosamente bem.

Jôse não mentiu. Arbal realmente atacaria o cassino. Ele é um desgraçado sem escrúpulos.
Sinto meu sangue correr fervendo em minhas veias ao pensar que sua próxima tacada com certeza
virá sem piedade.

— Caetano? — Ela me chama um tanto nervosa.

— O que foi?

— No que está pensando? Você se tornou tão nervoso de repente que está apertando meu
braço sem perceber.

— Desculpe — solto seu braço que realmente estava segurando com força em demasia e
beijo o topo de sua cabeça. — Estava pensando que você precisa de um analgésico. Esqueceu que
está com pontos na cabeça?

Ela ri e me diz:

— Acho que quando estamos juntos esquecemos muita coisa.

— Também acho meu bem.

Espero que ela entenda que por ela sou capaz de esquecer de tudo mesmo, até de mim.
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CAPÍTULO 6

6º dia

Terça-feira

Ulric
Acordo com gritos de Ágata, ela transpira muito e está extremamente agitada, provavelmente
está no meio de algum pesadelo.

— Ágata, acorde!

A chamo, mas ela não reage então pego em seus ombros e a sacudo primeiro delicadamente,
como não obtenho resposta a sacudo mais forte.

— Ágata?

Ela finalmente desperta, seus olhos estão arregalados, parece muito assustada.

— O que houve, porque está me apertando? — Ela demonstra aflição com os olhos
arregalados.

— Você estava tendo algum tipo de pesadelo, se debatia muito. Está tudo bem? — Solto seus
ombros.

— Sim — ela começa a chorar e me abraça forte. — Eu não sei na verdade.

— O que houve Ágata? Que pesadelo você teve para ficar assim?

— Não sei ao certo... — fala sem soltar sua cabeça de meu peito. — Não lembro direito,
havia o Arbal, Verônica, Jandon, a gente... não sei o que era, mas acontecia muita coisa ao mesmo
tempo. Eu soltava sua mão, você gritava que não, pedia muito para que eu não fizesse isso, mas eu
soltava e... comecei a cair e... — Ela volta a chorar.

— Calma, nunca deixaria você se soltar de mim, Ágata. Nunca.


Eu seguro seu rosto.

— Nunca entendeu?

Ela concorda, mas continua muito assustada, então eu a surpreendo enchendo-a de beijos,
primeiro beijo sua testa, depois seu nariz, queixo, bochechas, beijo todo seu rosto, por todo lado, e a
faço rir. Então a puxo para meus braços e deitamos novamente na cama.

— Nunca vou deixar te fazerem mal, Ágata. Confie em mim.

— Eu sei — ela murmura parecendo relaxar.

Neste momento alguém bate à porta. Eu suspiro fundo, me sento primeiro, sei que coisa boa
não deve ser, pois ainda é muito cedo. Então me levanto, visto a calça, pois ainda estávamos nus,
peço para que Ágata permaneça na cama e muito mal-humorado vou verificar quem bate.

Passo a mão no cabelo bagunçado e abro a porta, Afonso, que já não se encontrava mais com
o braço na tipoia, está com uma fisionomia que odeio.

— Diga logo qual a merda que aconteceu, Afonso.

— Jandon sumiu — fala sem rodeios como é de sua personalidade.

— Merda! — Resmungo e saio do quarto fechando a porta, ficando no corredor com ele.

— Como assim Jandon sumiu? — Pergunto incrédulo tentando controlar minha ira e minha
voz para que Ágata não escute. — Por acaso não havia pedido que alguém ficasse tomando conta
dele o tempo todo?

— Sim Ulric. Eu deixei o Jonas, um homem de confiança, mas quando outro foi substituí-lo
agora... nosso homem e Jandon desapareceram...

— Esse homem não me parece ser tão de confiança assim — esbravejo.

— Não sei se fugiu porque perdeu Jandon de vista, ou se alguém o levou, só sei que não
consigo contato com ele e...

Levanto a mão para que ele pare de falar, passo a mão no rosto. Odeio quando a incapacidade
dos outros transforma minha vida num caos.

— Mas quer merda! O que está acontecendo com essa segurança, Afonso? Contrate novos
homens e dispense os incompetentes, porra — não consigo mais me conter e fico com mais raiva
ainda quando noto que estou berrando.

— Farei isso, Ulric.

— Faça o mais depressa possível e mande alguns homens procurar por Jandon, ele é um
imbecil, mas não confio nele.

— Já fiz isso. Alguns homens já o estão procurando, mas até agora nada.

— Merda! — Respiro fundo. — Como está o cassino?

— Está tudo certo. Estou mantendo contato com eles o tempo todo. Estão seguindo suas
ordens sem problema algum.

— Pelo menos alguma boa notícia. Daqui a pouco vamos para lá — abro a porta para voltar
ao quarto, mas o chamo novamente. — Afonso?

— Sim, Ulric.

— Cuide de seu braço. Preciso de você inteiro.

— Não se preocupe — ele sorri e bate de leve no braço machucado. — Precisa muito mais
do que isso para me derrubar, Ulric.

Sorrio concordando e entro. Ágata está sentada na cama, enrolada no lençol.

— Aconteceu alguma coisa? Você estava gritando.

— Não — me sento atrás dela e beijo seu pescoço. — Nada que eu não resolva.

— Você resolve tudo, não é?

— Claro. Esqueceu que eu sou o máximo? — Pergunto enquanto mordo sua orelha e a deito
na cama.

Ela acha graça e deita de lado e eu abraço suas costas sentindo seu delicioso perfume.

— Como está sua cabeça? — Pergunto dando um beijo em seus cabelos.

— Não estou com dor — responde. — E suas costas?


— Estou ótimo.

Ágata
Ele coloca a mão embaixo do lençol que me cobre, e acaricia minhas coxas.

— Caetano, você não está pensando...

Eu me calo ao constatar que não só está pensando como está fazendo, no momento em que
seus dedos encontram meu clitóris.

Eu tento me virar, mas ele me segura.

— Fique bem assim.

Percebo que ele abre a calça e sinto sua ereção dura como pedra encostar em mim e no
mesmo instante me penetra um dedo e em segundos sinto que fico deliciosamente excitada.

— Está tão molhada para mim — murmura.

Como não estar? Esse homem exala poder e luxúria por todos os poros.

Ele faz com que eu dobre meus joelhos, e me penetra devagar enquanto morde meu ombro.

— Quanto mais eu tenho você, mais eu te quero Ágata.

Eu coloco um dos braços para trás e seguro em seus cabelos macios, ele imediatamente ergue
uma de minhas pernas, liberando total espaço para me penetrar.

Ele entrelaça minha perna na dele, mantendo-a levantada para ter livre acesso ao meu clitóris
enquanto me penetra gostosamente.

O toque de seus dedos faz um conjunto perfeito com seu pau dentro de mim, enquanto um me
acaricia o outro me preenche totalmente com leves estocadas.

E não demora nada para que eu sinta surgir a deliciosa sensação do orgasmo que está a ponto
de explodir e empurro mais meu corpo contra o dele.
— Não pare, Caetano, não pare — peço em murmúrios.

Ele obedece prontamente e continua a me penetrar e assim que eu chego ao êxtase não
consigo manter minha perna no alto, mas ele a segura a erguendo novamente e se entrega totalmente
ao gozo, deixando seu pau me estocar forte até no seu limite final.

Ele me abraça forte, e eu agarro seus braços de encontro ao meu peito. Sinto as batidas de seu
coração, e isso me acalma, como se não houvesse problema algum no mundo lá fora.

— Nunca me canso de ter você Ágata — ele fala baixinho em meu ouvido.

Ulric
Dormimos novamente.

Quando acordo percebo que nunca dormi tanto em minha vida como durmo agora depois que
a conheci. Ágata consegue fazer que eu me entregue totalmente ao descanso após o êxtase, coisa que
não fazia antes.

O dia mudou totalmente, está chuvoso, escuto alguns trovões ao longe, e escuto o adorável
barulho da chuva molhando o jardim com aquele cheiro característico de terra molhada. Sempre
gostei da chuva, ela sempre me acalmou. Mas agora não sinto essa calma, algo inexplicável deixa
meu peito apertado e apreensivo... Talvez seja o sonho de Ágata que esteja me incomodando, ou
talvez seja porque não consigo deixar de pensar no que Arbal poderá fazer a partir de agora. Não
sinto confiança em ninguém e isso é muito deprimente.

Ágata se mexe em meus braços, está um pouco gelada, o clima mudou e uma frente fria se
inicia.

Eu a acordo mexendo em seu nariz, ela se incomoda, e logo abra os olhos e sorri.

— O que foi?

— Vamos tomar um banho, está frio e estamos nus...

Ela se espreguiça e fala sonolenta.

— Não podemos ficar mais um pouco? — Ela pergunta, mas ao invés de se levantar se
aconchega mais a mim para tentar se aquecer.

— Podemos, só que aí não iríamos dormir — acaricio seus seios.

— Depravado — ela segura minha mão.

— Vamos tomar um banho quente, vamos levante.

— Hum, hum.

Concorda mais ainda fica na cama. Então me levanto, a puxo pelas pernas, a pego pela cintura
e a ergo da cama jogando-a em meus ombros e a levo para o banheiro e ela ri deliciosamente
enquanto pede para descer.

Só a coloco no chão quando entramos debaixo do chuveiro, ela ainda ri e fica mais linda
ainda. Sinto a água quente cair em nossos corpos gelados, essa sensação deliciosa me revigora e
tomamos nosso banho em volta de beijos e carícias.

Depois que saímos do banheiro mostro a mala para ela.

— Espero que tenha alguma coisa que você goste de vestir.

— Hum... desde quando homens sabem escolher roupas para uma mulher?

— Eu sou bom nisso, esqueceu?

Ela me faz uma careta e abre a mala analisando as roupas enquanto eu coloco uma calça jeans
e uma blusa preta de manga compridas.

Ela se veste rapidamente também com uma calça jeans e uma blusa azul que faz a cor de seus
olhos ressaltarem mais ainda.

— Bom, não está mal — ela fala com a mão na cintura imitando uma pose de modelo. — Até
que você acertou nas roupas.

Eu me aproximo, acaricio seu rosto.

— Está linda como sempre!

Beijo delicadamente seus lábios ao mesmo tempo em que sinto uma tristeza invadir meu
peito.
— Preciso ir para o cassino — a abraço pela cintura. — Ontem Arbal tentou atacar lá
também, preciso ir e colocar umas coisas no lugar.

— Sério? Arbal esteve lá também? — Ela fica séria, a sinto tremer por um instante.

— Seus homens estiveram lá, mas não se preocupe tudo está sobre controle.

— Nossa, isso não acaba nunca, Caetano?

— Isso não sei te dizer.

Eu a beijo novamente, mas agora sinto a tensão em seu corpo.

— Posso ir com você ao cassino? — Ela solta minha boca e pergunta.

Eu penso um pouco e chego à conclusão que ao meu lado ela estará mais segura.

— Pode.

Ela sorri me abraçando, e eu a abraço forte enquanto meu rosto descansa em seu pescoço.

Ágata
Antes de sairmos do quarto, Ulric coloca novamente a arma na cintura. No fundo mesmo
cercado de homens ele não se sente seguro.

Descemos as escadas e enquanto ele fala com Afonso e mais dois homens, me sento no sofá
da sala para aguardá-lo. Analiso o novíssimo vidro da porta que dá para a varanda, já colocado em
seu devido lugar, me lembro do horrível tiroteio que havia acontecido... na verdade parecia que
havia sido há dias, e não ontem pela manhã.

Sinto o sofá ceder ao peso de alguém, e sinto o adocicado perfume de Verônica, quando fixo
minha atenção para o lado, a vejo sentada no outro canto do sofá de três lugares.

— Eu ainda vou arrasar com você, vadia.

Ela fala friamente, mas tão friamente que seria capaz de congelar um balde de água, mas sem
saber explicar o porquê, ela não consegue mais me intimidar e quando a olho nos olhos tão
secamente como um deserto, seu sorriso se dissipa rapidamente, mas ela tenta manter o controle.

— Eu vou acabar com você, antes que tudo isso termine...

Eu começo a gargalhar tanto, mas tanto que chego a segurar minha barriga e Verônica fica
completamente sem ação.

— Não estou vendo a graça.

— Quando isso vai terminar? — Pergunto tentando conter meu acesso de riso.

— Como assim? — Ela pergunta sem jeito.

— Você acha que isso vai acabar em 7 dias, Verônica?

— Claro que vai — ela responde furiosa.

— Eu acho que você está enganada — fico séria novamente.

— Eu posso fazer isso acabar, eu ainda tenho várias cartas na manga— sorri me provocando.

— Você pode ter as cartas, mas o dono do baralho continua sendo Caetano.

Ela não responde, se levanta, derruba propositalmente um vaso que está em seu caminho e
sobe rapidamente as escadas batendo os pés.

Ulric se aproxima e pergunta:

— O que houve?

— Nada, só o de sempre, Verônica tentando me intimidar.

Ele tranca os lábios demonstrando estar muito raivoso e estica a mão para mim e me puxa
fazendo-me levantar num pulo só. Me segura pela cintura e nos dirigimos para fora e nos
encontramos com Afonso que já estava na porta do carro.

— Como está o braço Afonso?

Pergunto enquanto ele segura a porta para que eu entre no carro.


— Está bem melhor, Ágata. Já abandonei a tipoia e em breve abandono esse curativo
irritante.

— Que bom.

Respondo contente por ele e entro, Caetano se senta ao meu lado e em seguida Afonso
também entra.

Nos dirigimos para o cassino, e ao chegar entramos na garagem, na mesma pela qual saí
daqui com meu carro no primeiro dia que o conheci.

Não passamos pelo salão principal de jogos, Ulric me explica que apesar do horário ainda há
jogadores que viraram a noite apostando e prefere não ser visto pelos clientes agora.

Subimos para o quinto andar, não tem como não sentir um frio na barriga ao me lembrar do
nosso primeiro e turbulento dia juntos.

Afonso abre a porta do escritório e quanto entramos noto que dois homens já esperavam por
Caetano e o clima está terrivelmente pesado aqui dentro.

— Sr. Ulric, bom dia!

— Natan... espero que a merda toda esteja sobre controle, garoto.

— Certamente, senhor.

Bom, esse era o tal do Natan, e Caetano não parece nem um pouco feliz em vê-lo. Tenho a
impressão que ele se aproxima de Natan para fazer algo, mas lança um olhar para mim e retorna
alguns passos e vai de encontro ao bar, enche seu copo de bebida e após o primeiro gole, ele aponta
o dedo ameaçador para ele.

— Espero não colocar sua cabeça num saco hoje, Natan.

— Não colocará, Ulric — ele engole em seco.

Eu balanço a cabeça tentando assimilar sua ameaça e cruzo os braços.

Enquanto ele coloca Ulric a par de alguns acontecimentos envolvendo dinheiro que não
consigo entender, Afonso inicia uma conversa com o outro homem que está na sala. Pelo teor da
conversa percebo que ele deve ser o chefe da segurança do cassino, Afonso o parabeniza por alguma
coisa ao mesmo tempo que pede total comprometimento com a segurança.
Neste momento Caetano se lembra de mim e me olha, percebo que estão tratando de negócios
e que não devo ficar aqui e participar disso tudo.

— Hã... vou dar uma saída e conhecer melhor o cassino...

Caetano se aproxima de mim, me pega pelo braço e me leva até o corredor e segura meu
rosto.

— Tudo bem. Só não se afaste muito e muito menos saia de dentro do cassino, ok?

— Pode deixar, ficarei por perto.

Ele beija meus lábios e antes que ele entrasse novamente eu o seguro e peço:

— Prometa que não vai colocar a cabeça de ninguém num saco, Caetano.

Sua resposta é um sorriso misterioso enquanto pisca sensualmente para mim e entra na sala.

Percorro o corredor e vejo a porta branca de sua suíte, e não consigo conter uma euforia no
momento em que penso no que fizemos ali dentro no primeiro dia que transamos.

Pego o elevador e desço para o quarto andar onde fica o salão de festas do cassino, abro a
porta e entro no grande ambiente, são tantas memórias para tão poucos dias.

Fico pensando como seria se nunca tivesse pisado aqui. Minha vida teria continuado na
mesma rotina de sempre. Sento-me numa bela cadeira branca de madeira e fico pensativa, até que
ouço o rangido da porta se abrindo.

Assim que me viro me deparo com um homem alto e magro que não conheço, mas se veste
como os demais homens da segurança de Ulric.

— Senhorita Ágata?

— Sim — me levanto cautelosamente.

— O Sr. Ulric pediu que eu a levasse para o carro.

— Nossa, tão rápido.

— Sim, senhorita.

Coloco minha bolsa no ombro e ele me indica a porta para que eu saia.
Começamos a percorrer os corredores em silêncio, pegamos o elevador para descermos até o
térreo.

— Ulric já terminou a conversa com o Natan?

— Como? — Pergunta distraído. — Ah sim, claro.

Ele sorri e olha apreensivo para os números que passam no visor do elevador.

Me sinto extremamente desconfiada sobre esse homem e tento uma jogada, lançando uma
mentira.

— Afonso não vem hoje mesmo?

— Não... ele não vem — o homem me responde.

Eu engulo em seco e me encosto na parede gelada do elevador, mas com certeza empalideço,
pois no mesmo momento ele percebe minha jogada e ergue o paletó me mostrando a arma.

— Não tente nenhuma gracinha, entendeu. Senão você morre aqui mesmo.

— Quem é você? — Pergunto.

O elevador abre as portas e eu tento sair um pouco antes dele, mas ele me segura pelo braço.

— Vamos com calma.

— Quem é você? — Pergunto novamente.

— Um segurança do Ulric — sorri para mim enquanto ainda segura meu braço — Não faça
nenhuma gracinha meu bem, que estouro sua cabeça aqui mesmo.

— Se você fizer isso morre no mesmo instante.

— Prefiro morrer a não cumprir o que me foi ordenado.

Um dos seguranças do cassino passa por nós e o cumprimenta amigavelmente. Constato que
realmente ele faz parte da segurança de Ulric.

Aperto os olhos com força tentando em vão controlar meu medo, passamos entre os jogadores
que dão risadas exageradas, bebem e se exaltam no momento que provavelmente ganhavam no jogo.
Havia me esquecido da pouca iluminação que existe por aqui, do cheiro afrodisíaco, das
garçonetes sensuais. Mas nada disso prende minha atenção. Minhas mãos estão geladas e trêmulas, e
só penso o que esse homem vai fazer comigo.

Passo despercebida pelo salão de jogos, pois os homens que fazem a segurança aqui embaixo
não me conhecem e não haviam me visto com Ulric, além do que, estou com um homem que por sinal
deve ser de confiança, pois ninguém o interpela.

Vamos em direção a saída principal do cassino e antes que conseguíssemos sair somos
abordados pelo segurança grande e forte que cuida da porta.

— Senhora?

— Sim — respondo sentindo meu corpo fraquejar.

— Precisa de um taxi?

— Ela está comigo, a levarei em casa — meu raptor pisca maliciosamente para o segurança
da porta. — Não se preocupe.

— Oh, claro Jonas — sorri também maliciosamente.

Eu não acredito que ele pensa que estou indo transar com esse desgraçado.

Neste momento um carro prata de vidros totalmente escuros estaciona bem à nossa frente.

Olho novamente para o segurança da porta, numa suplica muda para que ele entenda o que
está acontecendo.

— Está sentindo alguma coisa, senhora?

Pelo menos consigo fazer com que ele pareça preocupado e desconfiado.

— Ela só bebeu um pouco a mais. Só isso.

Jonas, que agora pelo menos sei seu nome, responde ao mesmo tempo que me empurra para a
calçada, mas novamente o segurança me chama.

— Senhora?

— Sim — respondo quase num sussurro soltando a respiração que não percebi que segurava.
— Um momento, por favor — ele pede enquanto ouve alguém falar com ele pela escuta em
seu ouvido.

Sinto os dedos de Jonas pressionarem muito mais forte minha pele que preciso me conter para
não gritar de dor.

— Senhora, não posso deixá-la ir.

Não consigo responder de tanto alívio, mas percebo que Jonas está com a mão dentro do
paletó, pronto para atirar se necessário.

O segurança, que neste momento considero um salvador, estica a mão para o lado e meu
corpo gela, sinto que transpiro mesmo com o tempo frio que faz agora, então ele puxa o braço de
volta e meu coração quase sai pela boca ao ver que ele segura um guarda-chuva e já se posiciona
para abri-lo.

— Não posso deixar que se molhe com essa garoa — ele me acompanha até a calçada me
protegendo da chuva e me abre a porta do carro prata sorrindo simpaticamente. — Espero que tenha
gostado e volte sempre.

— Ela gostou. Obrigado — responde Jonas me empurrando disfarçadamente para dentro do


carro e entrando logo em seguida.

Assim que ele se senta ao meu lado, o carro dá partida e sai tranquilamente entrando entre os
outros, tentando passar despercebido.

Estamos nós três: eu, Jonas e o motorista.

— Para onde está me levando?

Ele se limita a permanecer calado.

— Eu exijo que me diga para onde está me levando.

— Você não deveria se importar para onde está indo e sim se preocupar com as pessoas que
irá encontrar.

— Você trabalha para Arbal, não é?

Já não controlo mais minhas lágrimas que caem em desespero.

— Não — ele me olha. — Eu trabalho para Ulric.


— Você acha que Ulric te perdoará se algo acontecer comigo? — Grito.

— Ele não vai precisar me perdoar... — ele ri. — Pois quando ele apenas imaginar onde
você está eu já estarei rico e bem longe daqui.

O carro para no sinal vermelho, eu olho para os lados, olho para Jonas que não está olhando
para mim, e bem devagar, sem chamar a atenção eu ergo minha mão até alcançar a maçaneta interna
do carro, e a puxo, uma, duas, três vezes, e não acontece nada, me desespero e começo a puxá-la sem
parar e sinto que o carro está em movimento novamente.

— Não perca seu tempo — fala Jonas. — Achou mesmo que deixaria a porta destravada para
você pular do carro?

— Desgraçado.

Começo a dar socos nos braços dele o mais forte que posso, e rapidamente sinto o cano
gelado de sua arma em meu rosto.

— Bem quem me avisaram que você era desse jeito.

Estou quase deitada no banco, meu medo me paralisa, não tenho como escapar e nem para
onde ir.

— Mas é melhor você sossegar, garota — aperta mais a arma em meu rosto. — Pois tenho
que te entregar viva, mas não me disseram nada sobre te entregar inteira.

Minha respiração está acelerada, ele mantém seus olhos fixos em mim e então relaxa, volta a
se sentar e guarda a arma debaixo do paletó.

Também me sento e olho para fora, o caminho que estamos fazendo não me é estranho.

Tento me acalmar e me concentrar. Após vários minutos o carro entra num bairro conhecido,
passamos por alguns drogados, e o carro estaciona numa rua deserta e sem saída.

Merda! É o galpão do Jôse.

— O que estamos fazendo aqui? Você me trouxe para o Jôse?

O homem ri alto acompanhado do motorista que se manteve calado até agora.

— Pobre, Jôse— fala o motorista. — Agora vamos parar de palhaçada, Jonas. Entregue a
vadia, pegue o dinheiro para dividirmos a grana e vamos embora daqui.
— Só que infelizmente houve uma mudança de planos — avisa, Jonas.

— Que raios de mudança de planos é essa? — O motorista se irrita e se vira para nós.

— Não estou mais a fim de dividir a grana.

Um segundo depois que Jonas diz isso, um barulho ensurdecedor ecoa no carro e o sangue da
cabeça do motorista espirra no vidro.

Começo a gritar sem parar. Entro em pânico, o filho da mãe atirou na cabeça do cara sem um
pingo de piedade.

— Cale a boca! — Ele segura em meu rosto. — Pare de gritar!

Eu paro imediatamente e ele me arrasta para fora do carro. Caminhamos em direção ao


galpão, sei que não adianta gritar por socorro, ninguém viria até aqui.

Em alguns momentos tenho que correr para conseguir acompanhá-lo tamanha sua ansiedade
para que cheguemos logo.

Finalmente entramos na grande porta do galpão que neste momento estava aberta o suficiente
para passar apenas uma pessoa de cada vez. Ele me empurra para dentro do galpão me fazendo cair
ao chão.

— Pronto, ela está aqui. Agora quero minha grana.

E antes que eu pudesse me levantar, escuto passos que se aproximam e me deparo com um par
de botas que param bem em frente a mim.

Ágata
A pessoa à minha frente estica a mão para me ajudar a levantar do chão. Vejo essa mão
masculina de dedos finos e compridos estendidos para mim, ergo meus olhos e meu estômago
embrulha quando vejo a presença asquerosa de Arbal.

Bato com força na sua mão, rejeitando sua ajuda e me levanto sozinha.

— Não preciso de sua ajuda.


— Assim você me entristece, boneca— ele diz cinicamente.

Olho para os lados e vejo alguns homens de Arbal e também Jôse que está encostado num
pequeno balcão coçando o queixo, e seu semblante demonstra estar muito preocupado.

— O que você quer de mim? — Pergunto para Arbal.

— Logo você vai saber.

— Você não tem esse direito — falo já de pé. — Quero ir embora, agora.

Escuto um suspiro atrás de mim e ouço a voz impaciente de Jonas.

— Não quero atrapalhar não, mas quero minha grana pra ir embora daqui.

— Claro, Jonas. Como pude me esquecer de você? — Arbal fala sorrindo e se dirige para
dois homens. — Por favor, leve ele até o dinheiro.

Os dois homens saem para fora com Jonas, e antes deles ultrapassarem a grande porta, Arbal
o chama de volta.

— Jonas?

— Sim.

— Muito obrigado — ele sorri novamente.

Jonas não expressa reação nenhuma e sai com os homens para fora, nesse momento Jôse
balança a cabeça negativamente, e eu não entendo o porquê.

— O que você quer...

Sou interrompida pelo som de uma arma sendo disparada três vezes, dou um salto por conta
do susto e olho para onde imagino que o som possa ter vindo e percebo que foi de fora, do mesmo
lugar para onde Jonas saiu, volto meu olhar para Arbal que está com um semblante satisfeito.

— Você o matou? — Meu coração está aos saltos.

— Não, claro que não — ele se aproxima tanto que posso sentir seu adocicado e enjoativo e
nojento perfume. — Eu mandei matar, é diferente.

— Você... você é repugnante.


— Não sou muito diferente dele. Eu sei que ele matou o companheiro que dirigia o carro que
te trouxe aqui e na sua frente ainda.

— E isso te dá o direito de matá-lo?

— Antes ele do que eu. Não é esse o ditado?

Escuto um trovão lá fora e a chuva volta a cair, devagar, mas o som no telhado do galpão de
Jôse aumenta o barulho da chuva, acredito que em 10 vezes.

— É só a chuva, meu bem.

— Eu sei, já aprendi a diferenciar trovões de tiros, graças a você.

Olho para todos os lados para verificar para onde posso correr, atrás de mim a porta ainda
continua aberta, então após um outro trovão muito alto, que faz com que realmente eu me assuste, dou
três passos para trás e corro. Meu coração de tão acelerado que se encontra dá a impressão que
posso enfartar a qualquer momento. Corro para a porta, quando estou a chegar, meu sentido de
sobrevivência aguça e a adrenalina se amplia e quando vou tocar a imunda porta de ferro, sinto duas
mãos agarrarem minha cintura, me puxando para trás e alguém fecha a porta, fechando também
minhas esperanças.

Sinto essas mãos me segurarem e sinto que conheço esse toque, esse cheiro, quando consigo
me desvencilhar olho para trás, e o vejo sorrindo confortavelmente para mim.

— Jandon? —Sinto lágrimas decepcionadas rolarem por meu rosto. — Como pôde?

Ulric
— Ulric? — Afonso chega esbaforido de volta à minha sala.

Imediatamente soa um alarme em minha cabeça de que ele não me traz boas notícias.

— O que foi, Afonso?

— Não acho a Ágata.

— Como assim, não acha?


Me levanto da cadeira tão rápido que a deixo cair, meu corpo treme por causa do modo como
Afonso se encontra, com um nervosismo excessivo.

— Ela não está no cassino.

Imediatamente pego o celular e disco seu número que toca várias vezes e ela não atende.

— Maldição! — Eu grito e meu coração acelera raivoso no momento que percebo que algo
muito ruim pode ter acontecido.

— Procure em todo lugar Afonso — grito com ele. — As câmeras de segurança. Procure nas
câmeras, Afonso — passo as mãos na cabeça. — Procure em todo lugar. Rápido — começo a andar
de um lado para outro.

— Calma Ulric, iremos achá-la.

— Oh meu Deus!

— Ela não deve estar longe — ele tenta me acalmar.

— Encontre Ágata, Afonso — agora já estou gritando novamente. — Encontre-a.

— Sim senhor. Vou buscar todas as informações possíveis — ele sai correndo da sala.

Depois de alguns minutos que para mim é uma eternidade, ele retorna e praticamente me joga
uma bomba.

— Ela saiu com o Jonas, o segurança da porta informou que ela saiu de espontânea vontade.

— Quem é Jonas? — Pergunto com ênfase.

— O segurança que estava de olho em Jandon.

— Maldição! Maldição Afonso! Ela nunca iria embora senão fosse contra a vontade.

— Calma Ulric. Nós vamos resolver.

— Minha nossa! Como vamos resolver essa merda?

Sinto que estou transpirando, minhas mãos ficam geladas, seguro a cabeça entre as mãos,
náuseas se apoderam do meu estômago tão rapidamente que acho que vou vomitar, minha visão se
escurece por um momento, e tento focar em algum ponto para não cair. E assim que minha visão volta
ao normal eu extravaso todo meu ódio antes que eu enlouqueça.

— Maldito Arbal, maldito Arbal! — Grito ao mesmo tempo em que jogo tudo que estava em
cima de minha mesa no chão. — Maldição! Inferno! Não vai sobrar nada de Arbal, nada! Eu mato
todos que tocarem nela, todos!

Agora meu alvo seguinte, foi o bar, a garrafa de uísque juntamente com os copos foi para o
chão assim que meu braço passou por eles, sem cerimônia alguma.

— Traga o maldito do segurança que deixou ela ir embora!

— Sim, Ulric.

Em minutos o homem forte entra na sala, não me importo com seu tamanho e força e o pego
pela gola da camisa e o coloco na parede.

— O que deu na porra de sua cabeça para deixar minha mulher ir embora com outro homem,
desgraçado?

— Senhor eu não tinha ideia de que ela era sua mulher, imaginei que eles estavam juntos e...

Antes que ele terminasse a frase soquei a cara dele, o homem é tão forte que somente sua
cabeça balança enquanto o sangue escorre de sua boca.

— Para onde ele a levou?

—Eu não sei senhor.

Leva outro soco em cheio no nariz que provavelmente deve ter quebrado, pois começa a
sangrar imediatamente.

— Acho bom você me dizer alguma coisa de útil, infeliz.

— Eles foram embora num carro prata, senhor. É só o que eu sei.

Ameaço espancá-lo novamente, mas sinto a mão de Afonso em meu braço.

— Ulric ele não deve realmente saber de mais nada.

Eu o solto, me afasto e coloco a mão na cintura.

— Maldição! — Olho para o chão, passo a língua nos lábios, preciso manter certa serenidade
para colocar minha mente no lugar. —Afonso, reúna os melhores homens.

—Ulric, já fiz isso.

— Nós vamos invadir a porra do cassino do Arbal, da casa dele, da merda toda, até
acharmos Ágata, entendeu?

— Sim senhor. — Afonso se mostra muito nervoso. — Já vou preparar um plano de ação
agora mesmo e transmitir para nossos homens.

— Se Arbal fizer alguma coisa a ela... eu juro que corto o desgraçado em pedaços, Afonso,
bem devagar — eu respiro fundo, dando conta que me falta o ar. — E mato todos que o estão
ajudando.

Afonso concorda com a cabeça e sai rapidamente para que possa dar início aos planos.

Ágata
— Jandon...

— Ágata, relaxa — ele sorri divertidamente e olha para Arbal que se encontra logo atrás de
mim.

Cruzo meu olhar com o de Arbal e volto a olhar para Jandon.

Estou completamente decepcionada, ergo a mão para esbofeteá-lo, mas a abaixo novamente.

— Você não merece nada, Jandon, nem meu desprezo.

Ele se aproxima e pega em meu ombro.

— Não toque em mim — grito muito alto e Arbal se aproxima ficando ao nosso lado.

— Você é um idiota mesmo, Jandon. Você nunca faz nada direito, deve ter um buraco na
cabeça no lugar do cérebro.

— Ágata, eu...
— O que você acha que Arbal vai fazer com a gente seu moleque? — Continuo gritando. —
Ele vai nos matar, imbecil.

— Claro que não, Ágata — ele continua sorrindo como se eu estivesse contando uma piada e
Arbal o imita. — Ele vai nos ajudar a ficarmos livres de uma vez por todas de Ulric, e ainda teremos
dinheiro para ir embora, um dinheiro que nunca tivemos e que vai mudar nossa vida.

— Claro que sim. Depois que ele matar Caetano ele nos deixa ir embora numa boa, não é?

— Isso mesmo. Esse foi nosso acordo — ele responde se sentindo vitorioso.

— Do mesmo modo que ele deixou o Jonas ir embora? — Estou berrando. — Esse também
havia sido o acordo dele.

Meu riso se mistura com meu choro e ergo as mãos sem conseguir mais me expressar com as
palavras.

— Ágata, isso não vai acontecer. — Jandon se aproxima de mim. — Ele é nosso amigo — eu
me afasto balanço a cabeça e ele se volta para Arbal. — Arbal, diga para ela que somos amigos. —
Arbal sorri e cruza os braços no peito. — Arbal, somos amigos, não é? — Jandon insiste.

— Você é muito tolo, garoto.

Escuto a voz de Jôse logo atrás de mim, e percebo que Arbal fica sério e o encara com um
olhar de reprovação.

Jôse se mostra arrependido, joga o cigarro que fumava no chão, pisa em cima para apagá-lo e
se afasta de nós.

— Claro que somos amigos, Jandon. — Arbal joga o braço sobre seu ombro.

— Por um momento eu pensei...

Ele interrompe Jandon olhando fixamente para mim.

— Jandon, não pense em nada. Te devo muita coisa. Imagina se não fosse você a me falar que
Ágata iria estar naquela festa. Naquele dia quase consegui que Ágata me acompanhasse, mas
infelizmente não deu. Depois aquele infeliz tiroteio...

— Jandon eu quase morri aquele dia, como você teve coragem...

—Calma garota, seu irmão não teve nada a ver com isso, foi um erro de meus homens que os
atacaram aquele dia.

— Não tive nada a ver com aquilo Ágata. Só falei com ele sobre a festa... e sobre a visita de
Ulric em casa e como eu estava sendo mantido vigiado por ele e...

— Jandon, acho que não precisamos explicar exatamente tudo a ela, não é verdade.

— Você é um crápula, Arbal.

— Que isso boneca?

— Eu só não entendo porque você precisa do idiota do meu irmão. Deixe ele ir embora, sou
eu que você quer.

— Eu não sou idiota, Ágata. Vamos sair dessa juntos e ter uma boa vida. — Jandon ainda
tenta acreditar em suas próprias palavras.

— Ele me ajudou Ágata. Não fale assim de seu irmão. — Arbal pigarreia. — E vai continuar
me ajudando. Ele me informou muita coisa sobre você e Ulric.

— Ele é um verdadeiro imbecil — olho para Jandon.

— Boneca...

— Não me chame assim — grito.

— Tudo bem... Ágata. Está melhor assim?

— Bem melhor, apesar que meu nome em sua boca me causa enjoos.

— Mulheres, sempre tão dramáticas — ele faz uma careta e antes que eu pudesse retrucar ele
continua. — Estou te dando a oportunidade de ficar livre de vez do Ulric, de sua dívida, de qualquer
coisa que te prenda a ele.

— Quem disse que eu quero ficar livre dele?

— E não quer não? O homem te trata como um pagamento de uma dívida, e você quer
continuar a vê-lo?

— Você está enganado em muitas coisas sobre o Ulric. Ele é muito diferente de você — cruzo
os braços. — E já que está enganado, não tenho mais nada para fazer aqui — me viro de costas e de
modo muito ingênuo começo a caminhar em direção à porta, mas imediatamente sinto os dedos fortes
de Arbal segurarem meu braço.

— Você pensa que ele é muito diferente de mim...

— Não se compare a ele. Você é um ser asqueroso...

— Na verdade sua opinião sobre mim pouco me importa. Mas eu tenho outros planos para
você.

Ele puxa meu braço e nos colocamos a caminhar para o outro lado do galpão.

— Jôse é um grande anfitrião e me emprestou sua casa que fica aqui no fundo para podermos
conversar mais... a vontade.

— Não tenho nada para conversar com você — engulo em seco.

— Eu acho que tem sim.

Caminhamos até a casa, ele abre uma porta velha e desgastada e faz um gesto com a mão para
que eu entre. Me sinto muito incomodada e um certo asco se apodera de mim ao pensar que tenho
que entrar nesse lugar.

Então ele me empurra para dentro e entra em seguida, e quando Jandon vai entrar, ele coloca
a mão no peito dele o empurrando para fora.

— Sinto muito, preciso ter uma conversinha à sós com sua irmãzinha.

Vejo o rosto de meu irmão, que agora se mostra aflito, desaparecer assim que a porta se
fecha.

— Agora somos somente nós dois.

Seu olhar me assusta terrivelmente, olho para os lados, não sei para onde correr, na sala de
paredes encardidas há somente um sofá rasgado, uma mesa no centro repleta de latas de cervejas
vazias e amassadas, o ambiente fede a cigarro, a bebidas, a sujeira acumulada.

Sinto náuseas, coloco a mão no estômago para tentar me controlar e não vomitar aqui mesmo.

—Vamos conversar um pouquinho.

Ele se aproxima e passa o dedo asqueroso em meu rosto eu me afasto, não tenho para onde
fugir, vejo uma janela, onde a cortina imunda que em algum momento de sua existência deve ter sido
branca, está rasgada e somente está presa por um dos lados, deixando a visão de grades largas que
bloqueiam a janela. E a passagem que provavelmente leva para os outros cômodos, está logo atrás de
Arbal, me impossibilitando totalmente de correr para lá.

O chão é tão sujo que sinto meus pés grudarem no piso conforme troco os passos, mas
continuo me afastando dele até não ter mais para onde ir e sinto minhas costas bater nas nojentas
paredes da sala de Jôse no momento em que Arbal sorri maliciosamente para mim.

— Não precisa ter medo de mim, eu só quero conversar, meu bem.

Ele se aproxima tanto que posso sentir seu hálito.

— Não precisa ficar tão perto se quer somente conversar — viro o rosto para me afastar
dele, mas ele segura meu queixo forçando-me a encará-lo.

— Você deve ter alguma coisa especial para que Ulric se amarre em você dessa maneira.

Ele me analisa totalmente, seus olhos de cobiça percorrem todo meu corpo. Seu dedo acaricia
meu queixo e sobe para meu rosto e eu tento me esquivar, mas ele me segura novamente, fazendo com
que eu o encare, enquanto isso ele desliza o dedo por meu rosto, passa pelo meu pescoço, faz um
rastro mais demorado entre meus seios e vagarosamente chega até meu umbigo e meu estômago
embrulha novamente.

— Deve ser muito boa de cama, pois ele nunca ficou encantado com uma mulher desse jeito.

— Quem disse que ele está encantado comigo?

— Ora... seu irmão, claro.

— Meu irmão não sabe de minha vida íntima.

— Sabe mais do que você imagina.

Ele coloca os dois braços na parede me prendendo entre eles.

— Talvez eu descubra também.

Ele cheira meus cabelos, e sinto seu nariz em meu pescoço.

— Só vai encostar a mão em mim se eu estiver morta.

Olho fixamente em seus olhos o enfrentando, realmente estou decidida a sair morta daqui, ao
invés de deixá-lo me tocar.

Ele se torna arredio e sua voz altera.

— Você acha que Ulric é um santo?

— Ninguém aqui é santo, nem ele.

— Você o acha muito melhor que eu, não é?

— Sim, eu acho — respondo rapidamente.

— Você não teve tanto princípios assim com Ulric. Aposto que ele te fodeu do jeito que quis
e você não reclamou.

— Nunca senti repugnância por ele, pelo contrário, gostei de cada toque dele em meu corpo...
muito diferente do que estou sentindo por você.

Ele se aborrece, seu semblante muda, ele levanta a mão para me bater, e eu continuo a
enfrentá-lo mantendo a cabeça erguida e os olhos grudados nos dele.

Ele desiste, pelo menos por enquanto, e abaixa a mão, se afasta de mim, caminha até o sofá
sujo e rasgado e joga seu corpo sobre ele.

— Sabe por que ele se tornou um traficante de arma?

Balanço a cabeça negativamente enquanto limpo minhas lágrimas de alívio.

— Porque quando os pais morreram, ele se deparou com uma ruína eminente — ele cruza as
pernas. — Então começou a vender armas para não perder o cassino.

— E você? Como perdeu o cassino para ele?

— Você não tem travas na língua mesmo, não é?

— É a verdade. Você perdeu o cassino para ele mesmo não foi?

— Sim — ele cruza as mãos na barriga. — Ele tinha um cassino bem menor, mas depois que
roubou esse de mim, ficou somente com esse e eu... — ele apontou dedo para seu peito. — Fiquei
somente com o resto.

— Mas você ainda não me disse o porquê de ter perdido para o Ulric.
— Fiquei sem dinheiro, e com a venda de armas o desgraçado foi enriquecendo, ganhando
terreno e pegando meus clientes, e você já pode imaginar o que aconteceu.

Enquanto ele conta para mim seus infortúnios, eu procuro algo que possa me servir de
proteção, olho para os lados, queria encontrar uma faca, ou algo assim, mas não consigo chegar até a
cozinha, até que tenho uma ideia.

— Preciso ir ao banheiro.

Eu engulo em seco e passo a língua nos lábios, ele olha para mim e sorri.

— Eu conheço pessoas como você gatinha — ele se levanta. — Você quer ir ao banheiro, nós
vamos ao banheiro.

Ele aponta com a mão a entrada do corredor e eu passo a caminhar à sua frente. A primeira
porta a esquerda já noto que é um quarto. Vou andando o mais devagar que posso e no final do
corredor vejo a cozinha e vou em direção a ela, mas ele me segura pelo braço, me fazendo parar.

— Ei, o banheiro é aqui.

Ele me mostra a porta ao lado do quarto. Eu entro, e ele entra atrás de mim.

— Dá licença — peço.

— Se quer usar o banheiro, vai ter que fazer isso comigo aqui.

— Está de brincadeira, não é? — Ele não responde. — Eu não vou usar o banheiro com você
olhando para mim. Sem chance.

— Então vamos voltar para a sala — ele pega em meu braço já me puxando.

— Não. Não dá. Preciso mesmo usar o banheiro — olho para o chão e peço meigamente. —
Por favor.

Ele pensa um pouco e responde:

— Tudo bem, mas espero aqui na porta e você tem dois minutos para sair daí de dentro.

— Está certo — eu entro e tento fechar a porta, mas ele a segura novamente.

— Não banque a esperta comigo.


— Por favor, eu preciso usar mesmo.

Assim que fecho a porta eu resmungo: — Merda! — Não há nenhuma fechadura pelo lado de
dentro.

Quando olho para todo o banheiro, novamente tenho vontade de vomitar, é uma nojeira sem
tamanho. Coloco a mão no nariz e na boca e engulo em seco tentando me controlar, e sem fazer
barulho abro o armarinho do banheiro, só tem alguns frascos velhos de remédios vencidos, nada que
possa me servir de arma, então fecho a porta suja e enferrujada do armarinho novamente, foi quando
percebo que minha imagem no espelho está distorcida, passo os dedos no espelho quebrado, e
imediatamente, quase em desespero tento soltar algum pedaço que esteja deslocado.

— Ande garota, senão eu vou entrar aí. — Arbal grita.

— Já vai. Estou quase terminando.

Continuo tentando soltar os pedaços quebrados, meus dedos tremem e isso dificulta muito
minha tarefa e quando consigo soltar um pedaço faço um pequeno furo no dedo que sai um pouco de
sangue e o coloco na boca para estancá-lo, abro a torneira e grito novamente:

— Só mais um segundo.

Coloco o pedaço de espelho em meu bolso da frente e puxo a descarga no exato momento em
que ele abre a porta.

— Você é muito sem educação mesmo — o recrimino, enquanto meus olhos estão arregalados
e meu coração está na boca.

— Não estou aqui para ser educado. Anda, saia daqui.

Minha adrenalina está tão alta, que penso que vou explodir. Tenho que ser cautelosa, pois
quando ameacei Caetano com o canivete, ele me deteve rapidamente. E Arbal também é forte, tenho
que pegá-lo de surpresa ou não terei chance nenhuma.

Assim que chegamos na sala me viro e puxo conversa para tentar distraí-lo.

— Você deve ter oferecido um bom dinheiro para meu irmão.

— Jandon? — Ele riu alto. — Se vende por qualquer centavo. Não conhece seu irmão ainda?

— Como conseguiu que ele ficasse do seu lado? Não foi só por causa do dinheiro.
— Depois daquele dia no galpão quando nos encontramos pela primeira vez, logo saquei o
viciado do seu irmão, e a raiva que ele tinha do Ulric. Foi fácil, conversei com ele, disse que traria
você sã e salva e me livraria do maldito. Ele aceitou sem pestanejar. Foi muito fácil... Depois ele
informou da festa...

— E do tiroteio, ele te passou alguma informação para aquilo acontecer... porque se ele fez
isso eu...

— Já disse que ele não fez, não disse.

Fico pensativa por uns momentos, até que crio coragem para perguntar.

— Você vai nos matar, não vai?

— Não devemos nos precipitar — ele ergue as sobrancelhas. — Nós poderíamos tentar
mudar essa situação.

— Como? — Pergunto já sabendo que não vou gostar da resposta.

— Você poderia mudar de lado, ficar comigo — ele sorri com o canto dos lábios.

— Eu posso fazer isso — tento fazer o jogo dele.

Ele se senta novamente e eu me encosto à parede.

— As coisas não acontecem desse modo, meu bem.

— Como assim? — Aperto as mãos para me conter.

— Você acha que eu sou tolo de achar que você muda de lado tão rápido assim? — Ele retira
um maço de cigarros do bolso e acende um deles. — Eu sei que só faria isso para manter o babaca
do seu irmão vivo — ele dá a primeira tragada. — Você teria que provar que irá colaborar.

— Solta meu irmão, que eu faço o que você quiser como prova.

Ele ri muito alto agora.

— Você está me subestimando muito garota.

— Tem que ser uma troca — insisto. — Você também tem que me provar algo.

— Primeiro você faz o que eu pedir, e depois eu solto seu irmão e então fazemos uma troca.
— O que quer que eu faça?

— Tem que provar sua lealdade.

— Como?

— Primeiramente: me beije.

Acredito que empalideci, pois não sinto mais o sangue correr nas minhas veias.

Ulric
— Ulric, no cassino de Arbal ela não está. — Afonso me informa. — Ele está vazio, sem
funcionários ou jogadores... parece que o maldito fechou o lugar.

— Vamos invadir a porra da casa do desgraçado — eu grito impacientemente já colocando a


arma que estava sobre a mesa na cintura.

— Certo, o senhor quer...

Nesse momento meu celular toca, eu olho o visor, vejo o nome do contato e peço para que ele
espere um momento.

— Jôse está me ligando, filho da mãe.

Falo e rapidamente atendo o telefone.

— Fale toda a merda que você sabe, Jôse — grito com ele.

— Mas antes preciso de um favor, cara.

— Jôse não brinque comigo maldito! Se não estouro a porra da sua cabeça assim que te ver.

— Eu preciso de proteção. Eu digo onde sua garota está e você promete me proteger...

— Que inferno! Que porra é essa, Jôse?


— Ulric, preciso mesmo que prometa cara... se não for assim, não sei se saio dessa merda
cara....

— Está bem! — Passo a mão no cabelo. — Diga onde ela está.

Eu me assusto, Jôse é medroso, mas desta vez está se mostrando desesperado, além de estar
sussurrando no telefone.

— O que está acontecendo? Me diga logo, merda — grito novamente.

— Arbal, sua garota, e o idiota do irmão dela estão aqui no galpão.

— Maldito, desgraçado. Eu mato Arbal — soco a parede com tanta força e imediatamente
sinto as dobras de meus dedos sangrarem. — Como ela está? O que ele está fazendo com ela?

— Até agora há pouco ela estava bem.

— Como até agora há pouco, infeliz?

— Eles entraram só os dois na minha casa, não sei a merda que eles estão fazendo lá, mano...
ele não deixou ninguém se aproximar, nem o babaca do irmão...

Tento respirar e sinto que o ar não entra nos meus pulmões, faço tanta força que sinto meu
peito chiar. De repente vejo um copo na minha frente, Afonso me entrega e eu bebo a bebida que
desce queimando minha garganta e isso me alivia momentaneamente.

— O que o desgraçado do Jandon está fazendo aí?

— Arbal prometeu dinheiro para ele passar as informações de vocês dois... é só o que eu sei
cara... não sei como vai fazer isso... mas tudo aqui está rodeado de homens dele....

— Não será problema para mim...

— Tenho que ir nessa... — Jôse desliga rapidamente a ligação.

Me apoio na mesa tentando não pirar diante disso. Se Arbal tocar num fio de cabelo de
Ágata... consigo imaginar mil maneiras de como vou fazê-lo pagar por isso.

— Precisamos montar um contra-ataque, Afonso. Acredito que logo ele entrará em contato
para fazer algum tipo de chantagem.

— É só você dizer como quer e quando quer, Ulric.


Sinto que transpiro como se estivesse numa sauna, tamanho meu ódio. Penso por um momento,
preciso de algo bem planejado, então sem querer fixo meus olhos num quadro que tenho no
escritório, onde uma grande revista havia me feito uma homenagem: CASSINO ULRIC É O
VERDADEIRO ESTOURO ATUAL DA CIDADE!

Sorrio, pois já sei como fazer.

— Nós vamos entrar no galpão, se der certo o que planejo fazer, entraremos só nós dois,
Afonso. Espero poder contar com você.

— Claro Ulric, sempre. Mas como faremos isso, o lugar deve estar extremamente protegido.

— Nós usaremos um artifício, Afonso — aponto para o quadro.

Afonso olha o objeto pendurado na parede e sorri concordando com a cabeça.

Ágata
Arbal deve ter notado meu desespero, pois começa a gargalhar como um louco.

Eu continuo o encarando sem saber como agir, até que ele dá uma última tragada no cigarro e
o apaga no braço de madeira do sofá, sem receio algum.

— Qual o problema? — Ele solta a fumaça. — Você também fez essa cara quando Ulric
pediu para te beijar pela primeira vez?

— Você tem tanta inveja dele, vai além de querer tudo que ele tem, você ainda quer fazer tudo
como ele faz...

Ele se levanta do sofá e vem até onde estou tão rápido que não percebo como ele chegou. Ele
me agarra pela garganta e chega muito próximo a mim, e quando me dou conta o desgraçado está
lambendo meu pescoço.

Eu tento chutá-lo, mas ele se posicionou de uma maneira que não consigo, penso no espelho
quebrado em meu bolso, mas ele grudou seu corpo no meu de uma maneira que me impossibilita de
alcançá-lo.

Ele chupa minha bochecha e depois sinto seus lábios mordendo os meus. Tento retirar sua
mão que aperta muito mais forte minha garganta agora, começo a socar sua mão para que me solte,
pois começo a ficar sem ar pois ele está aumentando a pressão, então ele finalmente me solta e eu
chego a me apoiar nele para não cair enquanto faço ao ar entrar em meus pulmões.

— Eu sou diferente de Ulric, meu bem. Percebeu isso?

Não consigo responder, apenas respiro fundo várias vezes.

Ele segura meu rosto fazendo ficar novamente ereta e novamente me encosta na parede.

— Aposto que ele nunca fez isso com você antes. Mas comigo é assim que funciona.

— Ele vai te matar... bem devagar... — murmuro, pois, minha voz parece não sair, enquanto
continuo puxando o ar para dentro de mim.

— Ele não terá tempo nem de pensar nessa merda, garota.

Ele espreme meu corpo na parede enquanto toca meu seio por cima da blusa e isso me causa
repulsa e nojo.

— Ele vai me dar tanto dinheiro em troca da minha mina de ouro aqui... — ele aperta mais
ainda meu seio. — Que ele nunca mais me verá... bom, se bem que Ulric não vai conseguir ver
ninguém mesmo, pois vai estar ocupado demais com os vermes comendo seus olhos.

Tento afastá-lo de mim, mas não consigo. Seu perfume enjoativo e doce me causa náuseas, sua
língua em meu pescoço me causa tanto desconforto que sinto que estou passando mal.

Tento novamente pegar o espelho, mas não consigo. Ele continua passando suas nojentas mãos
sobre mim, e num movimento de seu corpo, consigo colocar minha mão no bolso, quando sinto o
objeto cortante nos meus dedos eu o puxo, mas antes de retirá-lo do bolso, alguém esmurra a porta.

— Que merda é essa?

Arbal grita me soltando e um homem entra, e rapidamente enfio o espelho de volta no bolso.

— O senhor tem que vir aqui um pouco — fala o homem receoso.

— Espero que realmente seja importante — ele ajeita a gola da camisa e se volta novamente
para mim. — Só um momento que já continuamos.

Ele vai até a porta e cochicha alguma coisa com o homem que não consigo escutar, percebo
que se enfurece, diz mais alguma coisa e retorna.
Enfio a mão no bolso novamente, estou pronta para enfiar isso na garganta desse desgraçado.

— Temos que fazer uma outra coisa agora meu bem, sei que está excitada, mas vai ter que
esperar um pouco.

— Você é um nojento — limpo as lágrimas que teimam em cair.

A porta abre novamente e dois homens entram trazendo Jandon que está muito machucado,
escorre sangue de sua boca e nariz e seu rosto está muito ferido. Eles o jogam no chão sujo da sala e
eu corro para seu encontro.

— Jandon? O que fizeram com você? — Me ajoelho no chão.

— Isso é só o começo. Vai depender de você agora. — Arbal fala.

— Ágata... — ele fala com dificuldade. — Não faça nada Ágata... ele vai me matar de
qualquer jeito...

— Você é um desgraçado Jandon, mas é meu irmão... — eu o abraço tentando reconfortá-lo.

Mas sinto uma mão me puxar brutalmente para que eu fique de pé. Arbal segura novamente
minha garganta enquanto segura um telefone na outra mão.

— Está vendo isso aqui? — Ele balança o telefone no ar. — Vou ligar para o celular de Ulric
agora e quando for sua vez de falar com ele e você disser ou simplesmente mencionar qualquer coisa
que informe onde estamos... — ele vira meu rosto para que eu olhe para Jandon no momento que o
outro homem chuta seu estômago e ele já não tem forças nem para gritar de dor.

Ele não precisa dizer mais nada, sei o que acontecerá, ele solta minha garganta e disca o
número de Ulric, e sem demora ele atende e a conversa começa.

— Como vai, Ulric?

Ele escuta a resposta de Caetano e começa a gargalhar divertidamente.

— Sua garota é muito gostosa... em breve seu corpinho nu vai estar esfregando no meu...

Posso imaginar a fúria de Caetano do outro lado do telefone.

— É melhor calar essa maldita boca Ulric, e começar a me escutar... quero dinheiro, muito
dinheiro, todo dinheiro que você tem...
Ele escuta novamente e depois continua.

— Claro que não vou me encontrar com você para que me entregue o dinheiro... não sou tolo
como você pensa, vai depositar na minha conta... você tem até amanhã à tarde para que o dinheiro
esteja todo lá... calma Ulric, deixa eu acabar de explicar... — ele se diverte terrivelmente com a
situação. — Depois disso, eu solto a garota... você saberá onde encontrá-la, não se preocupe... você
quer uma prova? A única prova que te dou é a voz dela...

Ele empurra o telefone para mim

— Fale com ele — e antes que eu pegue o telefone ele indica Jandon novamente para que eu
me lembre do que não devo falar, eu o olho caído no chão entregue à dor e pego o telefone.

— Caetano... — não consigo falar pois começo a chorar.

— Ágata, não se preocupe, eu...

Arbal retira o telefone de mim tão rápido, mas só de poder ouvir sua voz por um segundo, já
me sinto mais confiante, suas simples palavras me deixaram totalmente emotiva, havia tanto amor...

— Anote a conta Ulric...

Enquanto ele dita o número da conta do banco, eu agacho e coloco a cabeça de Jandon em
meu colo.

Ele desliga o telefone e dá um leve chute em minha perna para que eu o olhe. Eu levanto
minha cabeça e encaro seus olhos satisfeitos.

— Viu, não tão difícil assim.

Ele entrega o telefone para o outro homem e se agacha ficando próximo a mim.

Novamente sinto esse perfume doce e enjoativo e por um momento ele aguça minhas
lembranças... já havia sentindo esse cheiro antes.

— Foi Jôse que te deu o número do celular de Ulric?

Ele balança a cabeça negativamente.

— Esse drogado não está me ajudando em nada, além claro de ceder essa merda de galpão
para mim.
— Você não vai fugir sozinho com o dinheiro de Ulric, não é?

— Você faz perguntas demais.

— Esse cheiro que está impregnado em você... esse perfume.... não é seu...

Eu arregalo os olhos de desespero ao me dar conta que já senti esse maldito cheiro de
perfume em outra pessoa.

E o sorriso despojado de Arbal confirma minha intuição.


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CAPÍTULO 7

7º dia

Quarta-feira

Ulric
— São meia e noite e dez, Ulric.

Afonso me informa as horas. Esse foi o combinado, sairíamos às 24:10, eu e Afonso num
carro, os outros homens em outros carros, demoraríamos uns 20 minutos para chegar lá, apesar do
trajeto ser longo o trânsito agora a noite era tranquilo. Olho para a janela, a noite parece fria, mas
meu corpo ferve de calor, mas mesmo assim eu continuo vestido com a mesma camiseta preta de
manga longa.

Afonso veste uma jaqueta no lugar do paletó, e quando faz isso noto sua arma na cintura. Pego
a minha própria arma, verifico a munição e a coloco também na cintura, no mesmo momento que o
chefe da segurança do cassino entra no escritório.

— Nossos homens estão prontos — ele informa.

— Podem ir — ordeno.

Ele concorda e sai da sala, eu e Afonso trocamos um olhar e saímos em seguida em direção à
garagem. Ainda avistamos o último carro se afastando. Entramos no destinado a nós e Afonso senta
no banco do motorista.

— Eu dirijo.

— Tudo bem — respondo, tentando simular calma. — Não aguentaria mesmo dirigir, acho
que passaria por cima de todos os outros carros.

— Ulric não se preocupe, vamos trazê-la de volta.

— Afonso, eu vou matar o desgraçado, vou cortar ele em pedaços de preferência enquanto
ainda estiver vivo — olho para ele. — Então se eu não sair dessa, pelo menos não deixe que
aconteça nada com você.

— Qual é Ulric? — Ele dá partida no carro. — Vai ficar sentimental agora? Estou há 10 anos
com você e nunca vi você fazer drama, não comece agora.

Dou risada, realmente isso soa engraçado.

— Tem razão. Que tudo vá para o inferno, inclusive você se precisar.

— Agora sim, é o velho Ulric.

Saímos da garagem e já fazemos parte do fluxo do trânsito. Olho para a fora, enquanto Afonso
dirige, no fundo estou sentimental mesmo. Estou me sentindo culpado por Ágata estar nessa, e não
quero que nada aconteça para Afonso. Apesar de termos o elemento surpresa que é chegarmos sem
que ele esteja nos esperando, ainda assim é muitíssimo perigoso — cerro os punhos. — Mas o que
me move mesmo é o ódio por Arbal, esse maldito vai ter a porra cabeça estourada por mim hoje,
isso eu juro.

Percorremos a cidade sempre em contato com meus homens através do celular. Estacionamos
alguns quarteirões antes, sabíamos que tudo estaria cercado. Esperamos dentro do carro por
aproximadamente uns quinze minutos, o único barulho que havia era o som de meus dedos
tamborilando na maçaneta da porta, até que ouvimos o sinal combinado...

Ágata
O chão duro já está deixando meu corpo dolorido, e tendo Jandon com a cabeça em meu colo
não está ajudando muito. Ele agora dorme, está totalmente machucado. Bom, pelo menos os
machucados são físicos e não sentimentais como os meus.

Já tentei puxar conversa com o homem que está sob as ordens de Arbal e não desgruda o olho
de nós, mas até agora ele não disse uma palavra que desse alguma ideia do que irá acontecer.

Depois que senti aquele perfume enjoativo novamente, Arbal saiu da casa e ainda não
retornou e eu poderia jurar que ouvi uma maldita voz de mulher.

Estou cansada, cada músculo do meu corpo está pedindo por um analgésico, minha garganta
está tão seca que chega a arder, e já não sei o que fazer para que meu estômago pare de roncar, como
se ele fosse capaz de digerir qualquer tipo de alimento agora.

De repente, dois homens entram na casa e sem dizer nada, pegam Jandon de qualquer maneira
e o arrastam para fora e nem se importam com os meus manifestos.

— O que vão fazer com ele? Soltem ele!

Mas de nada adianta gritar, um deles chega a me empurrar e eu caio ao chão.

Em seguida Arbal entra com seu sorriso idiota no rosto.

— Tem uma pessoa que quer muito falar com você.

Ele olha para a porta em direção à pessoa, e não é surpresa nenhuma para mim quando sinto a
merda do cheiro do perfume que traz a pior escória da terra: Verônica.

— Você não presta mesmo, Verônica — me levanto do chão num salto. — Como conseguiu
trair Caetano desse modo?

Arbal a abraça pela cintura por trás e a beija seu pescoço.

— Tenho nojo de vocês — realmente o asco me domina.

— Esperei tanto por esse momento, Ágata. O momento onde enfio uma faca nessa sua cara de
santa — ela faz um movimento que simula uma faca cortando o ar e os dois começam a rir e Arbal
puxa o rosto de Verônica e a beija na boca.

Faço uma careta, assistir a isso é realmente repulsivo.

— Você é uma vaca mesmo, Verônica. Como pode trair o homem que diz amar?

— Quem disse que não o amo?

Ela se solta do abraço de Arbal e dá dois passos em minha direção.

— Você nunca o amou de verdade, só se sentiu rejeitada, eu fui apenas o estopim para você
colocar toda sua maldade para fora, ninguém que ama um homem como você diz amar, pode fazer
todo esse estrago em tão poucos dias. Em menos de 7 dias para ser mais exata — falo muito rápido e
sem pausas. — Você tentou matá-lo naquele tiroteio na mansão. Como ainda tem coragem de dizer
que o ama? — Coloco a mão no estômago, realmente me sinto enojada com tanta podridão à minha
volta.
— Eu me aliei com Arbal naquela maldita festa — ela olha para ele e ele lhe dá um tapa na
bunda. — Seu irmão fez muito bem em dar as coordenadas para o Arbal pois, foi naquela festa que
tudo começou. Se não fosse o idiota do Jandon, talvez eu e Arbal nunca teríamos nos unido— ele
pisca para ela. — Assim que vi que Arbal estava lá, me juntei a ele, mas logo em seguida me
arrependi e avisei Ulric que ele estava te levando. Mas depois pensei melhor e vi que Caetano só
enxergava você, e eu seria dispensada de sua vida em breve, então naquela noite mesmo, eu o
procurei e me aliei a ele de verdade.

— Você é nojenta, repugnante e me causa náuseas. Espero que Caetano te mate bem devagar.

Ela ri bem alto.

—Você é boba ou o quê? Você acha que ele teria coragem de algo contra mim, sua irmãzinha
caçula? Nunca. Ele nunca levantaria um dedo para mim.

— Verônica realmente eu nunca irei entender...

— Ágata, já te expliquei que fui desprezada a vida inteira pelo homem que gostaria de ter ao
meu lado. Ele nunca iria me querer, além do que, eu dependia dele para tudo, ele cuida da parte
financeira da família, ele diz que sou dona também, mas tudo está no nome dele, sempre que precisei
gastar um dinheiro mais alto para um carro, ou algum item de maior valor, tinha que pedir permissão
para ele, pedir dinheiro, sempre foi uma humilhação, a vida inteira ele só me humilhou...

— Ele sempre te amou como irmã, se importava com você, sempre quis fazer tudo para que
você vivesse bem...

— Você não sabe de nada — ela estica a mão para que Arbal a segure. — Agora com Arbal é
diferente, ele me dá valor, sabe a importância que tenho, me trata realmente como mulher, não
preciso mendigar carinhos ou beijos, seremos ricos, donos do nosso próprio nariz...

— Ele sabe o valor que você tem, mas queria me estuprar, somente para poder se sentir na
pele de Ulric por um momento.

Percebo que sobre isso ela não estava ciente.

— Ele quer você porque assim ele finalmente terá alguma coisa que é de Ulric, ele poderá se
sentir como Ulric. Ele o menospreza, o odeia, mas sempre quer estar em seu lugar, ter as coisas e
pessoas que ele tem. Ele está te usando para sentir o gosto de estar no lugar dele, e...

Verônica me acerta na cara, sua mão bate tão forte em meu rosto que me desequilibro, mas
bem nessa hora escutamos um barulho muito alto, parecido uma explosão.
Ulric
Sinal alto demais, uma explosão, um verdadeiro estouro, como dizia o quadro em meu
escritório. Meus homens explodem dinamites perto do galpão para atraírem os homens de Arbal, e a
cada explosão provocada, mas meus homens se aproximam e ganham terreno e isso atrai mais ainda
os seguranças, e tenho certeza que o galpão ficará vazio. Conheço Arbal, ele mandará todos seus
homens para nos enfrentar primeiro, é covarde.

Contamos quatros estouros, então esse era nosso sinal. Afonso me olha esperando minha
ordem.

— Vamos — digo sem demora.

Saímos correndo do carro, com a arma em punho e nos dirigimos para a entrada do fundo.
Para a mesma porta que Ágata e Jandon entraram pela primeira vez naquele maldito e desprezível
galpão.

Ágata
Arbal olha para Verônica e sai correndo da casa aos gritos.

— Vão, rápido, todos para lá... estamos sendo atacados, porra!

Ele nos deixa sozinhas na casa e quando Verônica volta sua atenção para mim, a única coisa
que ela vê é minha mão fechada que acerta seu rosto fazendo-a cair do lado de lá do sofá.

— Maldita — ela grita, mas não posso vê-la pois ela está caída atrás do sofá, mas como sei
que ela não presta, e que provavelmente estará armada, pego uma cadeira que havia na sala, uma
cadeira quebrada e velha e me posiciono, no momento que ela se levanta do chão, acerto a cadeira
em sua mão a pegando desprevenida e fazendo que a arma que ela empunha caísse no chão bem ao
longe de nosso alcance.

— Maldita! Mil vezes maldita!


Ela grita furiosa e se joga para pegar a arma, mas eu pulo em cima dela, e dou quantos socos
consigo, antes que ela consiga inverter a posição.

— Desgraçada, você quebrou meu dente.

Ela tem a boca sangrando, não posso deixar de dar um sorriso ao imaginá-la banguela.

Verônica me acerta um soco e me derruba ao chão. Maldita hora que nunca entrei numa aula
de defesa pessoal, sempre fui péssima em brigas.

Só que meu senso de sobrevivência fala mais alto do que minha falta de dom de luta, e eu
pulo sobre ela de novo antes que ela possa alcançar a arma e continuamos a rolar no chão.

Ela me joga longe me fazendo bater as costas numa das paredes da sala, enquanto estou no
chão ela se levanta e grita:

— Eu disse que tenho cartas na manga, vadia, esqueceu?

Ela se vira para ir pegar a arma e eu a agarro pelas pernas e assim que ela cai, eu a pego
pelos cabelos tão forte que a faço soltar um grito.

Ulric
Sabia que lá dentro restariam poucos homens, seria fácil para nós dois lidarmos com isso.

Atravessamos o gramado e demos a volta para não sermos vistos e logo nos deparamos com
um muro de tamanho médio que pulamos com facilidade com o menor ruído possível. Damos mais
alguns passos e ficamos de frente com dois homens de Arbal, que os pegamos antes que eles
pudessem alertar os outros.

Entramos no galpão e ficamos abaixados atrás de um grande balcão de ferramentas, estudando


o território para sabermos a hora exata de atacar, até que eu avisto Jôse que está andando de um lado
para outro demonstrando total desespero. Quando ele nos vê, seu desespero aumenta ainda mais,
passa mão no rosto, alisa a calça, olha para os lados, e quando está vindo em nossa direção, ele para
bruscamente e faz um sinal aflito com a mão, para que não saíssemos do lugar. Logo em seguida, vejo
dois homens trazendo Jandon completamente machucado e eles o jogam no chão bem próximo a nós.
Os homens se afastam e ficam de costas conversando com Jôse.
Conseguimos avançar um pouco mais para frente, e vejo Jandon, está com o rosto
ensanguentado, ele me olha, seus olhos estão sem brilho, Afonso sussurra para mim:

— Ulric, posso acabar com ele?

Afonso tem uma faca na mão, eu sei que num movimento ele rasga a garganta deste idiota.

Eu abaixo a mão de Afonso em silêncio e Jandon fecha os olhos em agradecimento. Juro que
tive que me conter agora, para não deixar Afonso dar fim nisso.

Outra bomba explode lá fora, sei que essa é a última, Jôse e os dois homens se jogam no
chão, quando se dão conta que é lá fora, um deles solta palavrões e corre para lá, enquanto o outro
retira a arma dizendo alguma coisa enquanto a coloca na cabeça de Jôse.

Eu e Afonso nos levantamos e avançamos cautelosamente até eles, escuto o homem que
aponta a arma falar:

— Ordens do chefe, ele mandou eu dar cabo de você.

Um tiro ecoa no galpão, o rosto de Jôse está coberto de sangue, enquanto o corpo do homem
cai aos seus pés. Eu abaixo minha arma e o cheiro de pólvora entra em meu nariz.

— Fiz o que te prometi, te protegi, agora onde está Ágata?

Ele aponta a casa com a cabeça.

Quando ameaço ir para onde indicou, ele segura meu braço não me deixando sair do lugar.

— Cara, ela não está sozinha...

Eu sacudo o braço para ele me soltar e ordeno que Afonso fique aqui.

Assim que me aproximo escuto gritos de mulheres, entro correndo e vejo Verônica em cima
de Ágata enquanto ela tenta se desvencilhar.

Pego Verônica pelos cabelos e a jogo do outro lado.

— Caetano, Caetano, graças a Deus!

Ágata grita em desespero e se joga nos meus braços, ela me agarra para tentar se manter em
segurança, enquanto chora em meu peito.
— Como você está Ágata? Está machucada? — Seguro seu rosto tentando ver se ela está
ferida.

— Está... — ela tenta falar, mas está emocionada e deita a cabeça novamente em meu peito.

Agora minha atenção se volta para minha irmã.

— Verônica? — Eu balanço a cabeça negativamente.

Ela se levanta fazendo gestos indecifráveis com as mãos.

— Caetano que bom que você chegou. Posso explicar tudo — ela força um choro onde as
lágrimas não caem. — Eu te amo tanto, meu amor, mas tanto... Arbal me obrigou, fiz tudo porque ele
me obrigou... eu, eu daria minha vida para você meu amor, você é tudo que me resta, minha única
família, meu único e grande amor.

— Verônica, eu...

Ela me interrompe aos gritos.

— Largue ela Caetano, venha comigo, Ágata não presta, ela te colocou nessa para você
morrer, não percebe? Ela e o irmão inventaram isso para que Arbal te matasse, ainda bem que estou
aqui... largue essa mulher, Caetano, ela só quer seu dinheiro, não merece nada de você.

Imediatamente empurro Ágata para o lado, fazendo-a se soltar de mim.

— Ca... Caetano...

Ágata gagueja com olhar suplicante, mas eu a empurro mais ainda para o lado, e me aproximo
de Verônica que me tenta em vão me dar seu sorriso mais lindo.

Eu retribuo seu sorriso no momento que meu punho acerta o lado esquerdo de seu rosto em
cheio, seu corpo bate na parede e ela cai desacordada ao chão.

— Maldita, Verônica.

Falo e sinto os braços de Ágata me abraçar pela cintura.

— Vai ficar tudo bem — me viro para ela. — Confie em mim.

— Eu confio — seu choro começa a cessar, como se minhas palavras tivessem lhe dado toda
a força necessária para continuar.
Beijo sua testa e a mantenho atrás de mim enquanto saímos da casa. Cautelosamente vejo que
Afonso está a postos e atento a tudo, então eu avanço até ele e Jôse se dirige a mim falando o mais
baixo que pode.

— Ulric, me dá uma merda de uma arma, cara. Arbal não me deixou com nenhuma.

— Nem pensar, não confio em você, Jôse. Você é uma porra de um traidor.

— Foi o que eu disse a ele, Ulric, ele é...

Afonso foi interrompido no momento que escuto um barulho vindo da porta do galpão, tudo
foi muito rápido; com a força do impacto da bala, Afonso foi jogado para longe próximo ao corpo de
Jandon, seu abdômen jorra sangue em abundância, o homem que atirou está com um sorriso no rosto.
Sem pestanejar meu braço ergue e meu dedo aperta o gatilho e a bala vai direto à cabeça do
desgraçado, matando-o antes que seu corpo caísse ao chão.

Corro para perto de Afonso, e me abaixo ao chão.

—Fique tranquilo, você vai ficar bem. —Digo, mas acho que deixo de ser convincente no
momento que vejo o estrago em sua barriga.

— Ulric...

—Cale a boca, e segura com força aqui para tentar estancar o sangue — pego sua mão e a
coloco com força sobre o ferimento. — Não solte a mão, Afonso. Nós já iremos embora.

— Caetano?

Ágata me chama e percebo o medo em sua voz. Me viro devagar, com a arma em punho, e
vejo Jôse que provavelmente pegou a arma do homem morto, está com o braço em volta do pescoço
de Ágata e o cano da arma apontado em sua cabeça.

— Vai soltando a arma, e a chutando para cá Ulric.

— Jôse, seu desgraçado de merda — falo entre os dentes.

— Anda — ele grita e aperta mais o pescoço de Ágata.

— Eu não acredito que está fazendo isso, seu verme. Eu acabei de te salvar — estou berrando
com ele.

— Abaixa a merda da arma, Ulric — ele berra desesperado.


Eu abaixo a arma e a coloco no chão devagar e ele aponta a cabeça para que eu a chute para
bem longe de nós. E eu o faço.

— Me desculpe cara, mas acho que você não sai vivo daqui, mano. Preciso me garantir.

Se refere à Ágata como garantia.

— Não seja idiota, ele vai matar a todos nós, seu imbecil.

— Que Arbal mate você, cara, eu vou sair daqui vivo.

Ele começa a se afastar e eu o acompanho.

— Fique aí onde está Ulric, senão meto a bala na cabeça dela, e você sabe que eu faço isso.

— Eu deveria ter deixado você morrer, seu inútil — continuo me aproximando — Vou fazer
você se arrepender disso, Jôse.

— Já disse para cair fora Ulric... sai de perto, cara.

Eu ergo as mãos para o alto para que ele se mantenha calmo, e percebo que Ágata coloca a
mão no bolso da calça e retira algo que brilha, em segundos ela pega aquilo e corta o pulso de Jôse
que grita e a solta, ela corre para mim.

Pego o objeto que Ágata ainda tem nas mãos, e percebo que é um pedaço de espelho.

Jôse se recupera do susto e no mesmo momento que ele grita e aponta a arma para atirar nela
eu lanço o espelho que acerta em cheio sua garganta e ele solta a arma não conseguindo mais falar,
nem respirar e cai ao chão com a mão no pescoço esvaindo em sangue.

— Morra desgraçado de merda — mas sei que ele já não pode mais escutar minhas palavras.

— Ora, ora, ora.

Arbal entra no galpão apontando a arma para mim.

— Não é que Jôse mostrou que é um traidorzinho de merda esse desgraçado.

Eu olho para a arma de Jôse que está próxima a mim, mas Arbal logo percebe minha intenção.

— Nem pense nisso, Ulric.


Ele se aproxima e chuta a arma me deixando bem distante dela.

— Eu não tenho muito tempo para papo agora, Ulric — ele sorri. — Seus homens estão
acabando com os meus e em breve eles estarão aqui. Mas eu não perderia a chance de estourar sua
cabeça. Não sabe quantas vezes sonhei com isso — ele fecha um olho e faz um movimento com a
mão livre. — Uma bala saindo da minha arma e indo direto para a droga da sua cabeça — sua mão
aponta para mim. — E finalmente meu sonho vai se tornar realidade.

Ele dá uma olhada rápida para os lados como se estivesse procurando por alguém.

— Mas pelo jeito você já deu um jeito na Verônica, não é?

Não respondo, estou tentando pensar em uma maneira de nos manter a salvo.

— Não tem problema, ela realmente me irritava, prefiro mais ela — ele aponta Ágata e eu a
protejo mais ainda com meu corpo.

— Vem Ágata, vem comigo — ele a chama.

— Ela não vai com você, seu demente— eu falo.

— Ela vai sim, porque se ela não vier vou estourar sua cabeça nesse exato momento.

— Você vai estourar minha cabeça de qualquer jeito, com ou sem Ágata.

— Que isso, Ulric, Ágata pode te salvar agora. Vem meu bem, que eu penso em deixar seu
homem a salvo.

— Ela não vai— repito furioso.

Mas nesse momento sinto que Ágata sai detrás de mim e começa a se afastar.

— Ágata não faça isso, ele vai atirar com ou sem você— eu suplico.

— Caetano eu tenho que tentar.

Ela diz se afastando de mim e se aproximando de Arbal e o desespero me domina. Assim que
ela se aproxima, ele rapidamente a mantém imóvel em seu braço.

— Ah Ulric, quem disse que eu não vou ficar com algo seu?

Ele beija o topo da cabeça de Ágata, enquanto ela tenta se soltar e eu juro para mim mesmo
nesse momento que de alguma maneira eu mato ele ainda hoje.

Ele mira a arma, bem do jeito que ele quer me matar, bem na minha cabeça, e vejo seu dedo ir
apertando o gatilho bem devagar.

Mantenho os olhos bem abertos, se vou morrer prefiro fazer isso olhando bem nos olhos
desse maldito, até que o dedo de Arbal aperta totalmente o gatilho.

E nada acontece.

Ele entra em pânico e aperta novamente o gatilho, e ainda nada acontece, ele solta Ágata e
aperta tantas vezes ele consegue para realmente se certificar que as balas acabaram, ele só para de
fazer isso no momento que leva um soco, e se desequilibra caindo ao chão. Empurro Ágata e a mando
se esconder atrás do balcão.

Arbal se levanta rapidamente, passa a mão na boca sangrando, ele ainda tenta manter um
sorriso, que não sei se é de pânico, mas ele se dissipa tão rápido como o outro golpe que ele leva o
deixando atordoado.

— Eu vou te encher de porrada Arbal até ver seus miolos espalhados no chão.

Arbal cospe o sangue da boca.

— Vou te mostrar que não se deve mexer com a mulher dos outros. Isso é sagrado.

Dou uma rápida olhada para ver se Ágata fez o que eu mandei e Arbal avança sobre mim, e
acerta o primeiro golpe, sinto meu rosto ser jogado para trás, e sinto um líquido quente escorrer de
minha boca, ele pensa ser forte o suficiente para me deter, mas está errado e percebe isso no
momento que, por umas três vezes, acerta somente o vento.

Cada golpe meu desferido sobre esse infeliz, o deixa marcado, seus olhos já estão roxos, sua
boca sangra em abundância, e seu corpo está atordoado.

Continuo numa sequência de vários golpes onde acerto seu rosto em vários locais e ele cai
entregue ao chão.

Passo a mão na minha boca para limpar o sangue que escorre, e olho para minhas mãos que
estão sangrando por conta dos socos desferidos.

— A primeira vez que brigamos mano a mano te deixei essa cicatriz em seu rosto,
desgraçado, mas desta vez não vai sobrar pedaço seu inteiro.
Chuto seu estômago com toda minha força, ele grita e mais sangue sai de sua boca.

— Me mate antes que eu possa colocar as mãos em você de novo, Ulric.

Arbal me ameaça com dificuldade na voz.

— Isso não vai acontecer — acerto novamente seu estômago com um sorriso no canto dos
lábios.

Ágata
Ulric com certeza está levando a melhor na luta com Arbal. Desejo com todas as minhas
forças que ele se arrependa de tudo que me fez e tentou fazer, que a cada soco que Caetano der nele,
ele se lembre de mim. Mil vezes maldito.

Estou com Afonso, seguro seu ferimento tentando conter o sangue, pois ele está totalmente
sem forças.

Jandon me olha quase numa súplica de perdão, ele tenta se levantar, mas não consegue, pois
está muito machucado.

Quando vejo que Arbal está no chão, grito para Caetano.

— Afonso está muito mal, precisamos levá-lo daqui.

Mas parece que Caetano não me ouve, está quase hipnotizado com as agressões a Arbal, seu
ódio por ele realmente sempre foi mortal, isso não tinha como acabar bem mesmo.

Deixo Afonso que já se encontra desacordado e me dirijo até onde eles estão, Caetano ainda
chuta Arbal que está ao chão. Coloco a mão em seu ombro, ele se vira brutalmente, quase ao ponto
de me bater.

— Ágata, você me assustou. Deveria ficar onde eu mandei.

— Afonso está morrendo.

Percebo que ele olha para o chão a procura de alguma coisa.


— O que está procurando?

— Uma arma. Preciso de uma arma.

— Uma como essa?

Verônica se aproxima meio cambaleante, boca sangrando, descabelada, mas com uma arma na
mão, a mesma arma que tirei dela na casa, a mesma arma que ela tentou atirar em mim, uns dias atrás.

Arbal começa a gargalhar loucamente ainda caído, só que agora ele se sente tão seguro que
deixa seu corpo destruído descansar se deitando totalmente ao chão.

— Você é uma maldita.

Caetano se aproxima, mas eu o seguro pelo braço. Não acredito que ela está nos ameaçando
novamente.

— Caetano, meu irmãozinho, cansei de ser seu bibelô, quero agora andar com minhas
próprias pernas, quero dinheiro, poder.

— Meu pai dizia, que você e sua mãe eram duas loucas, ele tinha razão, deveria ter dado
ouvidos a ele.

— Que isso? Se tivesse feito como eu queria, nada disso teria acontecido.

— Como pode ficar tranquila depois de tudo que fez? Você quase nos matou naquele tiroteio
na mansão e depois fingiu estar preocupada comigo. Você mandou Jonas sequestrar Ágata de dentro
do cassino. Você é uma ordinária, não vale nada.

— Caetano, pode me insultar o quanto quiser, mas uma coisa eu garanto, vocês dois não
sairão vivos daqui.

— Tudo isso por causa de dinheiro? Somente por isso? — Caetano continua. — Cadê seu
grande amor por mim?

— Dinheiro sim. E também por sua causa, que não fez outra coisa na vida além de me
menosprezar. Meu amor se transformou em ódio...

—Eu sempre cuidei de você...

— Mas não era desse jeito que eu queria que você cuidasse — ela grita.
— Mas você é minha irmã, porra — Caetano praticamente explode em fúria.

— Caetano, ela é louca, totalmente louca — grito tentando segurar Caetano.

— Ágata, eu avisei que eu tinha cartas na manga, e quem tem as melhores cartas ganha o jogo
— ela sorri e eu vejo a falta do dente que faz sua boca sangrar.

— Mate esse desgraçado logo, meu bem — Arbal fala do chão. — Mate o dois logo.

— É, tem razão — ela aponta a arma para Caetano e depois para mim. — Só não sei qual
dois eu mato primeiro.

Seguro novamente Caetano que tenta se aproximar dela.

— Uni duni tê, salame míngüe... lembra quando brincávamos disso Caetano? — Ela ri
demonstrando toda sua loucura e aponta a arma ora para um ora para outro — Sorvete colorê... o
escolhido foi você.

Ela mira a arma e seu dedo desliza sobre o gatilho e o barulho da bala disparada ecoa em
todo o galpão.

Ágata
Fecho os olhos por um momento e quando os abro me deparo com o sangue escorrendo de sua
boca e da lateral de seu corpo. O cheiro de pólvora e essa visão horrível quase me fazem perder os
sentidos.

Caetano dá alguns passos e cai ajoelhado ao chão.

Olho para o lado, de onde veio o tiro e vejo Jandon que faz um esforço enorme para manter a
respiração equilibrada, mudou de posição, está deitado de barriga para baixo e mantém o braço
esticado, e vejo que há uma arma solta em sua mão, como se o peso ultrapasse uns vinte quilos,
provavelmente deve ser a arma de Afonso, é o único que está perto dele.

Me aproximo de Caetano, mas continuo de pé deixando minhas lágrimas rolarem pela face.

Caetano sustenta a cabeça de Verônica em seu colo e não diz nada, se mantém calado,
impassível.
Ela tenta dizer algo, mas sua voz é tão frágil como um delicado fio, um fio que provavelmente
se quebrará em breve.

Caetano coloca os dedos em seus lábios para que fique calada. Mas ela ainda tenta falar,
provavelmente quer pedir desculpas, perdão em seu último momento de vida.

— Caetano...

Ela tenta dizer algo, mas está fraca então apenas sorri, o sangue escorre de sua boca, nem a
falha de seus dentes é engraçado agora.

Eu me agacho ao lado de Caetano, coloco a mão em seu ombro para tentar consolá-lo, pois a
irmã está morrendo em seus braços, mas quando olho para ele, seu semblante é daquele homem
impassível e sem sentimentos, igual ao primeiro dia que o conheci, há 7 dias atrás. Nem mesmo o
possível pedido de perdão da irmã amolece seu coração.

Ele a coloca deitada no chão, delicadamente.

Verônica segura o braço dele desajeitadamente, como se estivesse suplicando que ele a
deixasse se redimir. Então ela me olha. Sorri novamente, a tosse se apodera dela por uns instantes e
mais sangue escorre de sua boca. Ela aponta o dedo para mim e depois para ele e deixa a mão cair
ao lado de seu corpo, não tem forças para sustentá-la.

— Caetano... eu quero... que vocês dois... — ela sorri do modo mais meigo possível pelo
estado que ela está. — Queimem no inferno.

Eu arregalo os olhos. Quando penso que a vadia vai se redimir, ela me vem com essa. Por
isso que Caetano não se abala, sabe o tipo de cobra que tem em casa.

— Você vai queimar primeiro, Verônica.

Caetano diz calmamente, e a deixa no chão, sozinha, pega a arma que ela havia tentado nos
matar, se afasta rapidamente e vai de encontro a Arbal, que neste momento reuniu toda sua força e se
levanta do chão tentado correr para fora do galpão.

— Arbal?

Caetano o chama, ele se vira e o olha nos olhos, não diz nada, sabe que seu destino está
selado, mas o mais importante, é que aquele sorriso irritante e sínico desapareceu totalmente de seu
rosto.
Ulric
Eu não quero dizer o quanto eu o repudio, o quanto Arbal me dá nojo, ou informar o tamanho
de meu ódio por ele, estou cansado, não quero dizer nada, só quero acabar com isso, tenho coisas
mais importantes para fazer, como cuidar de Ágata e Afonso.

Então miro em seu peito, e atiro, não uma, ou duas vezes, mas descarrego o maldito revólver
nele. Ele cai quase em câmera lenta de costas no chão, jogo a arma sobre seu corpo, não me dou o
trabalho de verificar se está vivo. Sei que não está.

Não gosto de atirar, e muito menos matar, mas quando tenho que fazer isso, gosto de fazer
direito, como tudo em minha vida.

Volto até onde está Verônica. Ágata está de pé ao lado do corpo dela já sem vida. Fico alguns
minutos olhando e não me admiro ao ver o estado em que ela terminou os últimos dias; suja,
sangrando, rasgada, descabelada, nada lembra a linda mulher que fora um dia.

— Sinto muito, Caetano.

Ágata fala, e eu volto meus olhos para seu rosto encantador, ela sim eu não conseguiria
perder.

— Não sinta. Porque eu não sinto nem um pouco — ela arregala os olhos para mim. — Não é
porque ela morreu que vou dizer que ela era boa pessoa, não... Ela era egoísta, medíocre, mentirosa e
má, muito má. Sempre tratou todos à sua volta da pior maneira possível. Nunca gostou de ninguém de
verdade, nem de mim, o sentimento que ela tinha comigo era de posse, e por eu sempre negá-la, ela
colocou coisas em sua cabeça transtornada, me colocou como seu último desafio. Não a perdoei
porque ela morreu, não vou perdoar tão fácil, eu sou assim, sou desse jeito e você já me conhece —
olho para cima por um momento deixo algumas lembranças invadirem minha mente. — Por muito
tempo meu pai me aconselhou sobre ela, ele disse que pediria divórcio, ficaria livre da mãe e da
filha, que elas eram pessoas do mal, que só traziam desgraçadas por onde passavam, meu pai não
conseguiu se livrar da esposa, pois perdeu o controle do carro na curva e morreram os dois naquele
maldito acidente, provavelmente por conta de mais alguma das inúmeras discussões que eles tinham,
e eu não fiz o que ele me pediu tanto, que era mandar Verônica embora da mansão, achei que era
exagero dele, mas com o tempo fui vendo cada vez mais onde a mente perturbada dela podia chegar
— olho bem em seus olhos. — O único sentimento que sinto em relação à Verônica, é culpa, por não
ter tirado ela de minha vida antes.

Ágata fixa seus olhos em mim um tempo necessário para assimilar minhas palavras, e depois
volta seu olhar para Verônica.

— Eu lhe avisei Verônica, que o dono do baralho é Caetano.

Ela não diz mais nada, dá a volta no corpo de Verônica e sai em socorro de Afonso e Jandon.
Nesse momento meus homens finalmente entram correndo e o chefe da segurança do cassino paralisa
ao ver Afonso caído ao chão.

—Che... chefe, está... tudo sobre controle lá... fora.

Está na hora de eu tomar novamente as rédeas da situação antes que mais alguém se desespere
por aqui.

— Ande, chame uma ambulância, antes que Afonso morra — grito para ele, mesmo tendo
certeza que algum vizinho já deve ter acionado ambulâncias e os policiais, mas imediatamente ele
retira o celular do bolso e começa a discar. — A polícia deve estar chegando, leve todos embora
daqui, quero o menos de pessoas possíveis envolvidas.

Vejo os homens correndo de um lado para o outro, alguns lamentando verem Afonso caído ao
chão enquanto os outros não querem saber de nada e correm para fora do galpão antes que a polícia
chegue e eles se encrenquem.

Eu me aproximo de Afonso desacordado no chão. Todo o sentimento que nunca tive por
Verônica, tenho por ele. Afonso sim foi sempre meu irmão verdadeiro. Sempre foi capaz de se
machucar em meu lugar para me proteger. Se ele morrer como vou dizer isso para sua única filha?
Como vou explicar para uma menina de 13 anos que o pai morreu numa merda de rolo desgraçado
desses?

Sinto uma mão em meu ombro e uma voz pedindo para que eu dê licença. Olho para trás e
vejo que a ambulância chegou. Rapidamente saio da frente e vejo os paramédicos prestarem os
primeiros socorros e o colocar na maca. Fazem o mesmo com Jandon, mas esse não me dou o
trabalho de acompanhar.

Vejo que Ágata está perdida, não sabe como agir, nem para onde ir, ela esfrega os braços
provavelmente numa tempestade de sentimentos incontroláveis dentro dela. Me aproximo e a abraço,
ela repousa a cabeça em meu peito e eu a conforto.

— Vai ficar tudo bem. Eu cuido de tudo.

Falo e vejo policiais vindo em minha direção.

— Como pode saber que tudo vai ficar bem? Afonso está quase morto, perdeu muito sangue,
e Jandon está fraco demais— ela abaixa a voz. — E como vai lidar com esses policiais?
— Eu não sou o dono do baralho como você mesmo diz? Então sempre tenho uma carta a
mais.

— Senhor Ulric? — O policial pergunta.

— Sim, sou eu.

Me afasto de Ágata pois sei que tenho que ser muito convincente em minha declaração.

E sou.

Enquanto a ambulância vai embora levando os dois, e Ágata negou veemente ir para o
hospital e ficou me esperando, narro para os policiais o máximo de detalhes possíveis sobre o
acontecido.

— Sinto pela perda de sua irmã, senhor Ulric — o policial diz com voz amável. — Ela foi a
principal vítima disso então, não é?

— Sim, policial. Como já expliquei, ela foi sequestrada pelo Arbal, que é um inimigo meu
por conta dos cassinos, e me armaram uma emboscada, vim até aqui, e fui recebido por balas, não
tinha ideia que o irmão de minha namorada e ela também viriam e... não fizeram o que mandei, que
era para eles ficarem em casa e vieram também e... viu no que acabou acontecendo e...

Continuo meus relatos dramatizando o máximo que podia, sei que depois de muitas
investigações teria que inventar muitas desculpas para isso ainda, mas enfim no momento estava
sobre controle, principalmente porque Arbal já havia feito um atentado contra mim no dia que
invadiu a mansão. Um ponto a favor, uma linda carta na manga.

Não quero que os jornais sensacionalistas façam um drama em cima de Verônica, é meu nome
que está em jogo, o sobrenome de minha família. Prefiro fingir que sinto sua falta a explicar como ela
era uma desgraçada de uma puta.

Meu relato leva em torno de quarenta minutos, mas eles me informam que precisarei depor na
delegacia novamente nos próximos dias e concordo dizendo que estou à disposição.

Depois de tudo previamente esclarecido, pego Ágata pela mão e nos direcionamos para fora
desse maldito e repugnante galpão, onde não quero colocar meus pés nunca mais.

Saio abraçado com ela, e pela primeira vez agradeço a Deus por alguma coisa, agradeço
mentalmente por Ele ter me deixado Ágata.

Andamos alguns quarteirões em silêncio, até que ela me pergunta:


— Vamos embora a pé?

— Não — dou risada de sua ingenuidade. — Vamos de carro.

Pego as chaves que retirei do bolso de Afonso antes dele ir para o hospital e mostro a ela no
momento em que chegamos ao carro estacionado.

— Vamos.

Falo enquanto giro a chave na maçaneta do lado do passageiro, pois não colocamos o alarme
para não chamarmos atenção desnecessária.

Ela entra, eu fecho a porta e entro no banco do motorista.

Dirijo em velocidade alta e rapidamente entramos na avenida. Mantemos um silêncio


angustiante, aconteceu tanta coisa, mas esses acontecimentos não merecem mais discussões e
arrependimentos. E isso pelo jeito nós dois concordamos.

Mas passado alguns minutos eu a informo:

— Ágata, vou te deixar na mansão, apesar de não correr mais perigo, ainda tenho homens de
confiança por lá — faço uma curva brusca. — Preciso ir para o hospital e me certificar que Afonso
ficará bem.

Sinto a mão gelada dela na minha, e eu a olho, ela novamente tem lágrimas nos olhos.

— Vou com você, também me preocupo com Afonso. Gosto muito dele, e sei do que ele é
capaz de fazer por você e ele tem o meu respeito por isso. E preciso saber...

Ela não quis dizer que precisava saber de Jandon, e eu também não a incentivei, não me
preocupo com ele, e ela sabe disso, já fiz muito em deixá-lo vivo.

Chegamos em alguns minutos ao hospital, mas para mim durou uma verdadeira eternidade. A
angústia me domina totalmente.

Estaciono o carro de qualquer jeito, não quero me preocupar com esses detalhes agora.
Entramos, me informo e pegamos o elevador para o 14º andar. Assim que chegamos me dirijo
imediatamente para a recepção e pergunto para a enfermeira sobre Afonso.

— Ele está passando por uma cirurgia de risco nesse exato momento.

Ela informa após verificar no computador.


— Isso durará algumas horas, se quiser há uma sala de espera logo ali — ela aponta um
corredor. — Ou pode deixar seu telefone e ir para casa, ligaremos assim que terminar a cirurgia e
tivermos alguma notícia.

Não me dou o trabalho de responder nem um obrigado e me dirijo para a sala indicada. Ágata
informa que vai para o banheiro para tentar se tornar um pouco mais apresentável e ela consegue;
lavou o sangue do rosto, e prendeu o cabelo no alto. Para mim sempre estará linda.

Ágata fica comigo nessas horas intermináveis, em nenhum momento ela fez menção de ir ver
Jandon. Pergunto se ela precisa de atendimento, afinal estamos num hospital, e ela passou por muita
coisa, está machucada, inclusive no rosto, mas ela diz não haver necessidade.

Depois de algum tempo, quando o médico entra na sala de espera, meu coração acelera, sinto
minhas veias pulsarem. Porque os médicos sempre fazem um semblante que não identificamos? Eles
mantêm o rosto impassível, não sorriem para demonstrar que darão uma boa notícia, e nem se
entristecem para demonstrar que vão dizer o que não queremos ouvir. Foi justamente um rosto desses
que me deu a má notícia da morte de meu pai. E tenho um medo imenso de passar por tudo isso de
novo nesse momento.

Ágata como se tivesse notado o meu assombro, segura minha mão, e isso realmente me
conforta.

— Sr. Ulric? — Pergunta o médico.

— Sim.

— O senhor Afonso...

O celular do médico toca nesse instante e ele o retira do para atender.

— Me desculpe, só um minuto...

Ele pede atendendo o celular, e eu tiro bruscamente o aparelho de sua mão.

— Você não vai atender merda de celular nenhum, enquanto não me disser como Afonso está.

— Caetano, calma...

Escuto a voz de Ágata, e percebo que gritei com o médico, e algumas pessoas pararam no
corredor para nos observar.

O médico pigarreia sem graça e diz:


— O senhor Afonso passou por uma cirurgia... grande... e a princípio tudo correu bem,
retiramos a bala alojada e... vamos agora esperar ele voltar da anestesia para que possamos analisar
o quadro dele... talvez tenha que passar por novos procedimentos e...

— Só quero saber se ele vai continuar vivo. Não me venha com merda de palavras
ininteligíveis.

— Não tenho como garantir que ele continuará vivo. Espero que sim.

Coloco as mãos na cintura, realmente ele está certo. Ele estica a mão e eu lembro que ainda
seguro o celular dele.

— Desculpe — devolvo o aparelho. — Posso vê-lo?

— Infelizmente não — responde receoso. — Quero que ele acorde primeiro. O senhor
deveria ir para casa e se acalmar. Provavelmente poderá vê-lo somente amanhã mesmo.

Concordo com a cabeça e ele se retira.

— Tudo bem, Caetano?

Ágata pergunta demonstrando sua preocupação comigo.

— Sim, meu bem — mordo os lábios. — Acho que talvez seja melhor mesmo irmos para a
casa. Tomar um banho... logo terei que resolver essa merda toda referente a Verônica... preciso dar
ordens para que Madalena faça isso para mim.

Ela concorda balançando a cabeça.

— Se você quiser ir ver Jandon, eu te espero aqui. Eu sei que ele salvou nossa vida, mas
mesmo assim ainda não gosto dele. E não vou me dar ao trabalho de procurá-lo para agradecer por
isso, e fingir que está tudo bem.

Ela me olha espantada e responde sorrindo.

— Não, eu não quero vê-lo.

Saímos do hospital entramos no carro, e eu noto que está diferente.

— Está tão pensativa — digo.

— Sim. Chega numa certa hora da vida, que temos que tomar decisões por mais que isso doa.
Espero mesmo que ela esteja se referindo a Jandon.

Ágata
Caetano agora dirige mais devagar.

Estamos tão cansados que pouco nos falamos durante o caminho. Apenas fiquei boa parte do
tempo deitada em seu ombro.

Finalmente chegamos à mansão.

Apesar de ter ficado somente um dia longe, é tão bom retornar e saber que estou livre de
perseguições, tiroteios e mortes.

Mas aqui fora está sendo um verdadeiro transtorno, há jornalistas que só não impedem nossa
entrada porque os homens de Ulric nos protegem e os impedem de se aproximarem de nós. Eles
querem qualquer declaração do pobre irmão amoroso que perdeu a irmã num terrível sequestro. Sei
que Caetano vai conseguir barrar muita coisa na mídia, ele tem muitos contatos, mas com certeza a
morte de Verônica vai sair nos principais meios de comunicação. E ele vai ficar furioso em ter que
representar o papel do irmão que sofre.

Conseguimos entrar. Respiro aliviada. Realmente achei que seríamos esmagados por eles lá
fora.

Começo a subir as escadas para o quarto antes de Caetano que fica dando ordens aos
funcionários, principalmente à Madalena. Subo devagar degrau por degrau, minhas pernas estão tão
pesadas que chegam a doer.

Não posso negar que é muito estranho passar pelo corredor que dá acesso aos quartos e ter
certeza absoluta que não vou dar de cara com Verônica, não vou ter que aturar sua infinita ironia me
perturbando.

Balanço a cabeça para desviar esses pensamentos de mim.

Abro a porta do quarto, fecho os olhos ao sentir o cheiro de perfume masculino tão familiar.
Mas, sem pensar duas vezes corro para o banheiro, retiro as roupas que vão direto para o lixo e abro
a ducha, deixo a água quente lavar meu corpo cansado e sujo de várias maneiras. Minha nossa, como
um banho é bom nessas horas.
Não entendo como Caetano pode conviver com isso, não me conformo que esse mundo de
crime e tráfego faça parte de sua realidade. Realmente ele precisa mudar isso imediatamente.

Fico muito tempo debaixo da água, me sinto revigorada. Quando saio do banheiro enrolada
em uma toalha, vejo Caetano sentado numa poltrona, sem camisa, com os pés descalços em cima da
cama. Sei que ele já devia estar aqui há algum tempo, mas foi gentil suficiente para não ultrapassar a
privacidade que eu precisava nesse momento. Me sinto muito bem por isso.

Ele sorri para mim. Parece que esse dia infernal havia me feito esquecer desse sorriso que
cativa, inebria e principalmente me reconforta, apesar de seu lábio estar inchado devido à briga com
Arbal.

— Está tudo bem com você? — Ele abre os braços para mim e eu sento em seu colo. — Sei
que essa pergunta é um tanto imprópria por tudo que você passou hoje, mas quero que você esteja
bem, quero que se sinta bem.

Penso que na medida do possível estou bem, apesar de pessoas terem sido mortas, feridas,
ainda poderia ter sido bem pior.

Eu beijo seus lábios delicadamente e deito minha cabeça em seu ombro como resposta. Ele
me abraça forte me protegendo em seus braços.

— Você está tão cheirosa — ele sente o perfume em meus cabelos. — Preciso urgente de um
banho.

Nós dois rimos. Realmente ele precisa.

— Vou cuidar de você... sempre.

Ele sussurra para mim e eu acredito.

Ele me coloca de pé, se levanta e vai para o banheiro carregando um peso enorme nas costas,
está cansado de tudo isso. Espero que isso sirva para ele mudar drasticamente sua vida.

Abro minha mala a procura de algo e não há nada parecido com uma camisola, eu pego uma
camiseta branca de seu armário e a visto. Ela vai até quase meus joelhos e eu sorrio com a imagem
no espelho do quarto. Espelho esse que já me deu muitos motivos para sorrir.

Após um tempo, ele sai do banheiro com a toalha na cintura. Como é bom viver esses
momentos de novo.

— Adoro quando você veste minhas roupas — pega em minha cintura. — Estou me
acostumando a isso.

Eu acaricio seu rosto, a barba cresceu, mas ele não se deu ao trabalho de se barbear.

— Você precisa descansar, Caetano. Precisa dormir, relaxar um pouco.

— Eu sei. Mas quero você dormindo ao meu lado — ele me penetra com seu olhar e fala
devagar. — Sempre ao meu lado.

Escuto o barulho da chuva que começa a cair lá fora. Depois de tantas trovoadas espero que a
chuva leve todo o mal embora para sempre.

— Você está com fome? — Ele pergunta e eu mesmo sem saber se consigo comer, concordo
com a cabeça. — Vou pedir para Madalena nos trazer algo e ficamos aqui no quarto mesmo.

— Por mim está ótimo — a última coisa que eu quero é sair daqui.

Caetano liga e pede para Madalena nos preparar um lanche e também refrigerantes.

Quando Madalena chega ao quarto, fica impossível não perceber que ela havia chorado, seus
olhos estão vermelhos e inchados. Por mais bruxa que Verônica era, a governanta devia nutrir algum
sentimento por ela. Pena que Verônica em vida não deu valor a isso.

Assim que ela se retira eu olho para o lanche sobre a mesa e minha boca saliva. Não havia
percebido como estava faminta. O lanche me parece um manjar dos deuses. Comemos rapidamente,
pois só agora percebemos que não havíamos ingerido alimento algum durante o dia todo.

Depois de saciados, deitamos na cama e ficamos quietos e abraçados ouvindo o som da


chuva fina que caia sobre as plantas do jardim.

Estou tão exausta que luto para meus olhos continuarem abertos.

— Não posso acreditar que o pesadelo todo acabou — o abraço mais forte ainda.

— Acabou sim, querida.

— Que horas são Caetano?

Ele estica o braço e pega o celular que está ao lado da cama.

— Meia noite e vinte e três.


— 7 Dias — falo com um sorriso.

— O quê? — Ele pergunta.

— 7 Dias juntos, que se comportaram como anos de tão intensos que foram.

— Tem razão— sua mão acaricia minhas costas.

— Acabou de acabar nosso acordo, Caetano Ulric.

— Nosso acordo já havia acabado Ágata Magide — ele entrelaça seus dedos nos meus. —
Era somente isso que eu deveria agradecer a Jandon, por ele ter me dado a oportunidade de ter você
por perto.

Por fim pergunto em tom de brincadeira.

— Como você pode aceitar um acordo desses, Caetano?

— Como você pode me propor isso? Você tem ideia do que fez e do perigo que passou? Se
oferecer desse jeito para um homem que você nem conhecia.

— Eu estava desesperada. E além do que te ofereci uma noite apenas, você que foi guloso.

— Eu sei que estava desesperada — sinto seus lábios tocando de leve minha cabeça. — Eu te
aceitaria qualquer coisa que me propusesse Ágata. Estava de olho em você, e apenas uma noite não
seria suficiente para eu me saciar.

— Você nem me conhecia.

— Já havia te visto no cassino quando foi buscar Jandon. E também vi algumas fotos suas
quando estava pesquisando a vida dele. Me encantei por seus olhos azuis desde o início.

— Você é uma caixinha de surpresas — levanto a cabeça.

— Com acordo ou não, eu te levaria para minha cama.

— Como pode ter certeza que eu aceitaria?

— Você não resistiria — ele bate a ponta do dedo em meu nariz.

— Convencido.
— Sabe que sou insistente e sempre consigo o que quero.

— Além de convencido é arrogante — volto a deitar a cabeça em seu peito.

Eu engulo em seco. Não sei se o que sinto por ele é passageiro, foi carência suprida, ou foi a
intensidade dos dias mesmo, mas no momento exato posso dizer que amo esse homem enigmático,
poderoso, sensual. É uma mistura de tudo o que uma mulher quer; dominador, mas ao mesmo tempo
carinhoso, sabe ouvir uma mulher, é controlador, mas sabe a hora de ficar quieto e dar privacidade,
não são todos os homens que possuem essa qualidade.

Mas o mais importante ele sabe cuidar de sua mulher, ela sabe cuidar de mim e se propôs a
isso durante todo o tempo. Toda mulher deseja se sentir assim protegida, saber que tem um refúgio
em um braço masculino sempre que precisar.

Só que me lembro novamente de algo que me deixa muito agoniada, preciso que ele converse
comigo sobre isso.

— Caetano? — Ergo a cabeça novamente e me apoio em seu peito para encará-lo. — Você
não vai mais participar dessas coisas de vendas de armas, não é? — Ele me encara sério. — Você já
teve exemplo real do que isso pode acontecer... — ele vira o rosto, mas eu seguro seu queixo
fazendo-o voltar a olhar para mim. — E sabe onde isso acaba, não sabe? Sabe onde acabou.

Ele não responde e só me encara. Suas olheiras parecem que se intensificam mais ainda. Esse
assunto com certeza o deixa mais cansado.

— Caetano, diga que não vai mais fazer isso — meus olhos começam a marejar. — Você não
precisa disso, não precisa desse maldito dinheiro.

Ele me abre um sorriso de derreter o coração de qualquer mulher, acaricia meu rosto
delicadamente.

— Você vai continuar comigo?

— Sim, eu vou, se você não fizer mais isso. Do contrário não. Não quero conviver somente
com o lado Ulric seu.

— Faço tudo por você. Se é isso que você quer, eu faço.

— Caetano, vivi coisas horríveis por causa disso. Porque se não fosse seu envolvimento com
vendas de armas, Arbal nunca teria me conhecido.

— Eu sei.
— Isso é muito importante para mim, por favor.

— Eu prometo. Não me envolverei mais com isso — ele pega em minha nuca. — Está certo?

Eu concordo e ele me puxa para sua boca, sua língua me penetra, causando calafrios. Seus
lábios chupam os meus de maneira apaixonada e possessiva.

Espero do fundo do coração que ele faça o que prometeu.

Ele me solta, e eu volto a deitar minha cabeça em seu peito.

Estranho, por mais que ele diga e prometa, às vezes acho que ele mente para mim.

Mas não consigo remoer isso por muito tempo, pois meu corpo está cansado demais e meus
olhos estão muito pesados.
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CAPÍTULO 8

Ulric
Acordo e olho no visor do celular para saber as horas: 7:34 da manhã.

Tive um sono agitado. Sonhei com Afonso sangrando, Verônica e Arbal rindo. Malditos.
Tomara que estejam rindo enquanto queimam no inferno.

Ágata ainda dorme. É estranho saber que hoje é nosso primeiro dia sem um acordo que nos
comprometa. É tão bom saber que ela está aqui por quer estar, e não por uma merda de acordo.

Espero que ela não saiba que eu menti ontem. Ainda tenho umas armas da última negociação
com Jôse, e preciso me livrar delas, vendê-las o mais depressa possível. E é isso que vou fazer
ainda esta manhã. E depois disso me dedicarei somente ao cassino. Não quero mais usar o famoso
caixa 2, ou vender armas. Realmente ela tem razão, chega disso tudo. Não preciso mais desse
maldito dinheiro. Já ganhei o suficiente para viver minha vida... ao lado dela. Nunca pensei que um
dia iria querer tanto viver ao lado de uma pessoa. Nunca mesmo. Meu peito dói de pensar em me
afastar de Ágata.

Saio da cama devagar. Adoro ficar assim, somente a observando dormir. Ela é tão linda e
frágil.

Mal sabe ela as vezes que me controlei essa noite para não a atacar, porque realmente eu
queria atacá-la, minha vontade era me jogar sobre ela e possuí-la todinha, sem frescuras. Saborear
cada pedacinho de seu corpo.

E a noite toda sentindo a firmeza de seus seios grudados em mim, o calor que ela irradiava,
realmente não ajudou muito a controlar meu pau.

Mas não poderia fazer isso, exigir que ela transasse comigo depois de tudo que passou. Não
mesmo. Ela tem que ter o tempo dela.

Vou para o closet com o celular na mão. Preciso ligar para o hospital e saber de Afonso, mas
não quero acordar Ágata.

Disco o número que me deram ontem, e rapidamente uma voz muito simpática e alegre me
atende cumprimentando com um bom dia.

Espero mesmo que seja.

Quando pergunto sobre Afonso, ela pede que eu aguarde um momento para que pudesse
verificar. Uma musiquinha irritante sobre a eficiência do hospital começa a tocar, isso me irrita
terrivelmente, a pessoa quer saber notícias de um doente e tem que ficar ouvindo o quanto o hospital
é bom, os médicos são bons, e blá, blá, blá. Seguro a cabeça com a mão livre, pensando que horas
esse martírio vai acabar.

Finalmente a música é interrompida pela simpatia da enfermeira novamente.

— Senhor Ulric, o paciente Afonso já acordou, e passa bem. Encontra-se fora de perigo, mas
para maiores informações seria aconselhável falar com o médico dele e...

— Tudo bem, tudo bem — a interrompo alegre. — Muito obrigado.

Desligo o telefone e respiro fundo muito aliviado. Nem acredito que ele esteja fora de perigo.
O filho da mãe é duro na queda mesmo.

Volto alegre para o quarto e Ágata ainda dorme tranquilamente. Ela devia estar muito exausta.

Faço minha higiene matinal, me troco e desço para verificar como amanheceu a mansão
depois disso tudo.

Ágata
Acordo e me espreguiço gostosamente ainda deitada na cama. Meus ossos chegam a estralar
sobre os lençóis macios.

Olhos para os lados, provavelmente Caetano acordou cedo e foi cuidar da mansão que com
certeza deve estar em alvoroço.

Me sento na cama, me olho no espelho, não posso conter um sorriso. Mas ao mesmo tempo
me sinto culpada por estar feliz.

Nunca imaginei que pensaria dessa forma. Mas será muito cruel estar tão feliz quando
pessoas morreram e outras estão no hospital? Se é cruel eu não sei, mas ainda assim estou feliz.
Acho que a convivência com Ulric me fez aprender a não misturar as coisas.

Me levanto e olho pela janela, o dia amanheceu com um sol fraco, mas não há mais sinal de
chuva. Ela lavou tudo, foi embora e deu lugar a luz.

Dou risada. Hoje acordei um tanto... Romântica? Nunca fui de ter pensamentos desse tipo.

Vou para o banheiro e tomo uma rápida ducha e escovo os dentes. Quando saio do banheiro
ainda de toalha, Caetano está entrando no quarto, vestido todo de preto, ele fica lindo e irresistível.

— Tenho uma ótima notícia. Afonso está bem — me fala alegre.

— Que ótimo. Você vai ao hospital? — Me sinto aliviada.

— Sim, mais tarde. Preciso resolver uns problemas pendentes hoje de manhã.

— Certo — ele não se aproxima, parece estar me evitando. — Preciso sair também. Posso
pedir para um de seus homens me acompanharem? Devo resolver uns problemas, para me sentir livre
completamente.

Ele me olha assustado e em dúvidas, mas responde um tanto ressabiado.

— Sim, claro — ele passa as mãos no cabelo um tanto sem jeito. — Não prefere que eu te
acompanhe, então?

— Não. Prefiro fazer isso sem você — eu pisco para ele. — Pode confiar em mim.

— Eu confio, totalmente.

Ele coloca as mãos na cintura, e ao falar, noto sua voz um tanto descompassada.

— Você quer seu café da manhã aqui? — Ele ameaça sair do quarto. — Posso descer e pedir
para trazerem.

— Caetano? — Cruzo os braços.

— Sim.

— É impressão minha, ou está me evitando?

— Não é impressão. Estou te evitando — sempre direto e sem rodeios. — Não quero me
aproximar de você, Ágata. Quero te dar o tempo que precisar, você passou por muita coisa. Já me
contive a noite toda com vontade de transar com você, e agora te vendo assim, molhada, de toalha,
sinceramente é melhor eu não me aproximar mesmo, pois não vou conseguir me controlar.

Imediatamente eu descruzo os braços e solto a toalha que cai ao chão revelando meu corpo nu
e úmido.

— Quero mesmo que não se controle — falo sensualmente.

Ele lambe os lábios, e rapidamente abre os botões da camisa e se livra dela. Aguardava
somente meu consentimento para se aproximar de mim sexualmente.

Mas ele não vem correndo ao meu encontro, pelo contrário, ele se aproxima devagar, passo a
passo, analisado meu corpo, seus olhos saboreiam cada pedacinho meu. Quando ele me alcança, toca
meu quadril, sinto suas mãos quentes em minha pele que se irradia por todo meu corpo. Estou
completamente molhada e pronta para ele. Preciso muito desse homem dentro de mim. Preciso sentir
que ainda pertenço a ele.

Ele toca meu pescoço com a língua molhada, lentamente. Parece que todas as sensações estão
mais explícitas como se meu corpo estivesse mais sensível. Sinto o toque de suas mãos que
acariciam meu quadril e se arrastam para minha bunda. Sinto o cheiro de seu perfume percorrer meu
cérebro afastando qualquer tipo de sanidade que ainda me resta.

Sua mão sobe para minha cintura e levo um discreto apertão de quem se tenta controlar ao
máximo. Acho que suas mãos chegam a tremer, por conta do tesão reprimido.

Ele toca um de meus seios, segurando o mamilo entre seus dedos, enquanto chupa o outro
intercalando com a língua e dentes.

Agarro seus cabelos e meu corpo sacode de prazer. Não posso e não quero conter vários
gemidos que saem com facilidade de minha garganta.

Ele desce a mão para o meio de minhas pernas, acredito que quer constatar meu desejo por
ele, e fica feliz no momento que seu dedo me penetra e ele sente como estou molhada, então ele
segura meu rosto com a mão livre e beija meus lábios.

Alguns segundos depois estou em seu colo, e estou sendo levada para a cama. Caetano se
livra da roupa, e deita sobre mim me enchendo de beijos e carícias. Sinto sua ereção suplicante
encostada em minha pele, e essa sua necessidade só me faz ficar mais excitada ainda.

Ele se ajoelha entre minhas pernas e me puxa pelas coxas, para que meu corpo possa ficar na
posição de recebê-lo. Rapidamente sinto seu pau entrar em mim, devagar, aos poucos, ele fecha os
olhos se deliciando com o prazer, e quando ele está todo dentro de mim, ele se deita e segura meu
rosto entre suas mãos.
— Eu não suportaria te perder — fala entre um gemido e outro enquanto me penetra
vagarosamente. —Você é... tão minha — sua voz rouca só me causa mais tesão.

Ele me beija e eu abraço sua cintura com as pernas, quero mais dele, quero senti-lo mais
ainda me penetrando, profundo, totalmente, quero que ele me preencha e fique ali, todo dentro de
mim.

Parece que ele sabe o que eu quero, pois ele fica imóvel, sinto seu pau engrossar, me
preenchendo totalmente, deliciosamente, então ele volta a se movimentar, devagar, entrando todo, se
entregando assim como eu. Seus movimentos são ritmados, seus sussurros são inebriantes. É como se
estivesse cuidando, me protegendo enquanto me satisfaz.

Sinto que estou encharcada com meu próprio prazer.

Ulric
Acho que vou explodir a cada estocada que dou nela. Minha vontade é comê-la como um
louco, meter nela rápido e forte, mas não posso, pois não aguentaria nem um minuto. Sua boceta
quente e molhada me suga com uma necessidade excessiva, de um jeito que meu controle está se
acabando. Paraliso meu pau dentro dela novamente. Tenho que me conter. Sinto que ele pulsa com um
tesão incontrolável, minhas mãos chegam a tremer quando seguro seus seios e os chupo sem dó,
fazendo ela gemer e segurar em meus cabelos. Mas quando solto minha boca deles, a pele vermelha
e o mamilo intumescido só me deixam mais maluco.

— Ai que merda!

A puxo novamente para mim, para que ela se abra mais e eu possa penetrá-la mais fundo. Ela
geme e eu sinto suas unhas cravarem em meu ombro.

— Sua boceta está escorrendo Ágata. Toda molhada para mim.

Ela joga a cabeça para trás, e aperta os olhos, então a penetro rapidamente agora, sinto suas
pernas tencionarem e me apertarem.

Estamos transpirando, ofegantes. Seguro seu rosto e mordo sua orelha, ela geme mais alto
ainda, e eu a penetro mais forte. Sinto sua boceta me apertar e ela grita enquanto agarra minhas costas
que havia esquecido que ainda estão machucadas.
— Delícia Ágata... delícia.

Seu orgasmo dura mais tempo que o normal, seu corpo agora treme embaixo do meu. Seu
rosto molhado de suor me enlouquece, sinto que ela começa a relaxar em meus braços, agora ela está
saciada, posso soltar meu lado grotesco sobre ela, e eu o faço, a penetro forte, com estocadas curtas
e duras, e em segundos estou grunhindo e jorrando todo meu gozo como um louco, como se só isso
me fizesse sobreviver.

Ela tem o dom de me enlouquecer.

Quando estou completamente satisfeito, eu olho em seu rosto. Ela está corada, sorrindo.

— Você fica linda demais quando goza.

Beijo seus lábios, e busco sua língua. Beijo seu pescoço e deito ao seu lado.

Meu celular toca nesse exato momento. Me levanto e o procuro, e ainda de pé eu o atendo.

— Ok, ótima notícia. Estarei aí em breve. Obrigado.

Me viro para Ágata que me olha mordendo os lábios.

— Era o médico de Afonso. Ele está bem como a enfermeira havia dito, já se alimentou e...

Ela continua a me encarar com essa cara... estranha.

— O que foi, Ágata?

— Sua bunda é muito linda, devia andar mais vezes pelado na minha frente.

— Safadinha — fui deitando sobre ela e puxando o lençol que ela estava tentando se cobrir.
— Sempre disse que era uma safada — mordo seus lábios. — Minha safadinha.

Ela me faz deitar e joga seu corpo sobre mim e me dá vários beijinhos leves.

— Não vai me beijar direito não?

— Eu estou beijando.

— Não, você está me provocando — seguro seus pulsos com uma das mãos e ela solta seu
peso sobre mim. — Beijo de verdade é assim — seguro seu cabelo e direciono sua boca na minha.
Minha língua a invade, enquanto meus lábios a beijam com paixão.

Quando a solto sua boca está vermelha, por conta de minha barba.

— Seu maldito. Estou excitada de novo— e eu acredito, noto em seu olhar.

— Posso dar um jeito nisso, posso te fazer gozar de novo agora mesmo.

Eu sei que preciso de um tempo para estar pronto novamente, mas posso ajudá-la de outra
forma. No mesmo instante solto seu braço e direciono minha mão entre suas pernas, mas ela me
detém e sai correndo da cama.

— Nem pensar nisso. Temos que sair. Vou tomar banho.

Eu vou atrás dela rapidamente.

Depois do banho tomado, estamos prontos para sair, combinamos que ela vai fazer o que
precisa com um dos meus homens, o que me deixa muito curioso. Enquanto isso eu vou vender o
restante da carga de minhas armas, só que ela nunca poderia saber disso. E depois de tudo nos
encontraríamos no hospital para visitar Afonso.

Então cada um seguiu seu destino.

Ágata
Fiz tudo que queria na rua.

O segurança de Ulric deve ter achado estranho quando demorei em minha casa. Quando saí
estava carregando duas malas pesadas que ele correu para me ajudar. Mais estranho mesmo ele deve
ter achado quando pedi para me levar naquela pensão barata, mas enfim não perguntou nada, mas
bem que o notei disfarçando ao falar no celular algumas vezes, com certeza estava deixando Caetano
a par de tudo.

Dou risada, isso acaba sendo engraçado.

Chego ao hospital com quinze minutos de antecedência do horário combinado com Caetano.
Quero ir ver Jandon. Preciso falar com ele e também saber como ele está. E quero fazer isso sozinha.
Caetano comigo só pioraria as coisas.
Me informo sobre qual quarto ele se encontra e me direciono para lá.

Bato na porta e entro sem esperar resposta.

Ele abra a boca num sorriso enorme ao me ver e meu coração bate acelerado.

— Ágata, sabia que não me abandonaria.

Eu me aproximo dele e o abraço.

— Como você está Jan? — Acaricio seu rosto machucado, e isso me retorna lembranças de
nossa infância de quando era menino e como vivia machucado de tanto que aprontava.

— Estou indo. Bem que você podia passar um tempo comigo aqui — joga todo seu charme
para mim.

— Isso não será possível.

— Você voltou para a mansão?

— Voltei.

— Vai ficar morando com ele agora? — Pergunta raivoso.

— Não interessa o que vou fazer.

— Claro que interessa você é minha irmã — tenta fazer drama.

— Pena que você se esqueceu disso muitas vezes, não é?

Ele tenta se levantar e geme de dor. Acredito que seja exagero, então não me abalo em ajudá-
lo e ele se senta melhor na cama, se encostando na cabeceira.

— Está sendo bem tratado aqui? — Pergunto preocupada.

— Claro que estou— ele pisca. — Como não seria com Ulric pagando tudo?

— Ele está... pagando? — Pergunto incrédula.

— Foi o que me disseram. Espera um pouco... — ele começa a rir. — Você não sabia?
Não acredito que Caetano fez isso. Não quis me dizer para não ter que ferir seu orgulho. Mas
achou um meio de me agradar.

— Não pense que ele está fazendo isso por você, Jandon. É somente por mim —respiro
fundo. — Se não fosse por mim acredito que você nem estaria vivo.

Ele cruza os braços aborrecido.

—Eu salvei a vida de vocês.

— Eu sei. Provavelmente é por isso que ele está pagando isso para você — mostro o quarto
com as mãos.

— Ele deveria vir até aqui, se ajoelhar em meus pés e me agradecer, e ainda me dar uma
grana — fala de modo prepotente. — Ou ele acha que a sua vida e a dele não vale isso?

Dou um sorriso triste. Ele não aprende nunca.

— Você não muda mesmo — retiro um envelope da bolsa. — Já vou embora — entrego para
ele. — Isso é para você.

Ele faz uma cara feliz e satisfeita.

— Sabia que ele iria me mandar dinheiro. É que ele é orgulhoso, então mandou você fazer
isso. Agora sim estamos falando a mesma língua.

— Não Jan — eu falo enquanto ele abre o envelope. — Ele nem sabe que estou aqui.

Ele retira algumas notas de dinheiro, e um endereço.

— O que significa isso? — Ele sorri nervosamente. — É alguma brincadeira? Esse dinheiro
não dá pra nada.

Eu sento na cama, para poder explicar direitinho tudo para que ele entenda perfeitamente e de
uma vez por todas.

— Eu não vou voltar aqui para te visitar de novo — dou início a conversa que vim ter com
ele.

— Como assim? Vai me deixar sozinho aqui nesse hospital?

— Sim. Eu vou.
— Vou não pode fazer isso. Tem que cuidar de mim. É sua obrigação de irmã mais velha.

Eu sorrio e balanço a cabeça negativamente.

— Ágata... eu...

— Me deixa terminar— levanto a mão com um sinal para que se calasse. — Esse endereço
vai ser sua nova casa, pelo menos pelos três meses de aluguel que já deixei pago.

— Não estou entendendo Ágata...

— É um endereço de uma pensão. Tem três meses de pagamento adiantado, e esse dinheiro
aí... — aponto para o pouco dinheiro em suas mãos. — É para você sobreviver. E depois que esse
dinheiro acabar você tem que se virar sozinho.

Ele tenta falar, mas eu o impeço novamente.

— Suas malas já estão lá — ele abre a boca espantado. — Já retirei tudo que é seu da minha
casa. Não quero você de volta lá.

— Ágata — ele derruba umas lágrimas, que sei que são verdadeiras. — Não faça isso
comigo, minha irmã.

Me levanto.

— Já fiz, Jan. Assim que você sair daqui você tem esse dinheiro para comer.

Eu beijo sua testa.

— Me desculpe por tudo, Ágata...

— Trate de arrumar um emprego para conseguir sobreviver e não me procure mais, pois não
quer mais vê-lo.

— Ágata? Ágata?

Saio do quarto e bato a porta ainda o escutando chamar meu nome. Coloco a mão na boca
para conter meu choro. Meu estômago dói. Sinto uma dor profunda em fazer isso com meu único
irmão, minha única família. Mas ele precisava disso. Urgente. Só assim, andando com as próprias
pernas se tornará alguém nessa vida.

Me controlo e me dirijo para o andar onde Afonso se encontra. Caetano já me espera.


— Está tudo bem? — Ele pergunta preocupado, muito provavelmente após ter notado o
quanto estou abalada.

— Sim. Está tudo ótimo— forço um sorriso.

Entramos no quarto de Afonso, ele ainda está com soro, deitado, com a cama um pouco
levantada para que pudesse ficar confortável.

— Afonso que bom te ver. — Ulric se aproxima e o cumprimenta e eu faço o mesmo dando-
lhe um beijo no rosto.

— Que bom que está fora de perigo. Fico muito feliz com isso — eu falo.

Apesar de Caetano não demonstrar toda a sua alegria, sei o quanto ele está aliviado e o
quanto ele está feliz por ver o amigo bem.

Depois de um tempo conversando, falo para Afonso.

— Isso aqui deve ser terrível. Ficar no hospital é muito chato, não é Afonso? Espero que saia
logo e retorne para a mansão — pisco para ele. — Você sabe que não é muito bom deixar Caetano
sozinho por muito tempo. Ele entra em confusões.

Caetano me abraça pela cintura e beija meu pescoço.

— Concordo Ágata. Ele se mete em confusões e se eu não estiver por perto fica pior ainda —
nós demos risada e Afonso continuou. — Na verdade, Ágata, até que não está tão chato assim por
aqui.

— Afonso não vai me dizer que numa manhã você já está dando em cima das enfermeiras? —
Caetano pergunta.

— Na verdade, eu conheci uma mulher bem legal. Ela me ajuda muito e acho que gosta de
mim.

— Sério? — Pergunto. — Mas tão rápido, não faz nem 24 horas que você está aqui. Como já
pode achá-la tão legal assim?

— Acho que estou aprendendo com vocês — ele ergueu os braços. — Viver todos os dias
intensamente— e logo em seguida desceu os braços gemendo de dor.

Damos risada. Afinal ele tem razão, com a gente tudo acontece rápido demais mesmo.
— Mas me diga, qual o nome dela? — Caetano pergunta.

— Gisele Melo — ele sorri. — Minha encantadora Gi. Assim que sair daqui a levarei para
jantar.

— Vocês já combinaram até o jantar? — Pergunto eufórica.

— Claro— ele responde sorrindo.

Nós ríamos, mas nos controlamos quando uma enfermeira entrou no quarto. Pediu licença
dizendo que precisava aplicar uma medicação. Nossos olhos foram diretos para o crachá dela que
dizia: GISELE MELO.

— Acho que nós vamos indo — falo e dou uma cotovelada de leve em Caetano.

— Claro. Nós já vamos — ele concorda.

Caetano ainda olha e pisca para Afonso antes de fechar a porta e eu o puxo para fora.

— Eles precisam de privacidade, Caetano.

Falo brincando e saímos do hospital abraçados e Afonso foi nosso assunto principal durante
todo o trajeto para a mansão.

Mas quando entramos na sala, Madalena vem nos avisar que o velório de Verônica será no
final do dia.

O dia estava animado demais para ser verdade.

— Caetano, obrigada por pagar o quarto de Jandon. — Resolvo agradecer assim que
Madalena se afasta.

— As notícias correm rápido mesmo. Mas prefiro que fique entre nós.

— Claro.

— Então você foi vê-lo. Como foi sua visita a ele?


— Você já deve saber das malas dele, da pensão e tudo mais— ele sorri em concordância.

Eu conto os detalhes de minha ida ao quarto de Jan, e como esperava ele ficou muito
satisfeito e me elogiou dizendo que fiz exatamente o que deveria fazer.

Quando estamos subindo a escada, um de seus homens o chama.

— Ágata vá subindo. Eu já vou.

Concordo com a cabeça, mas algo me faz subir os degraus bem devagar, até ouvir algo que
desequilibra meu emocional.

— Senhor Ulric — o segurança fala. — O homem para quem o senhor vendeu as armas hoje
de manhã ligou para falar que precisa...

Não ouço mais e subo para o quarto.

Ulric
Fico conversando por uns quinze minutos no telefone com o homem para quem vendi as armas
na parte da manhã. Deixei claro que não faço mais parte desse ramo. Isso não me interessa mais. Ele
me ofereceu o dobro para continuar e eu mantive a minha opinião.

Entro no quarto, pensando que a partir de agora ninguém mais iria nos atrapalhar, e eu
poderia ter Ágata em meus braços todas as noites. Mas a imagem com que me deparo faz meu
coração acelerar.

— Aonde você vai com essa mala, Ágata?

— Embora — ela coloca a mala no chão.

— Como assim embora? — Ergo as mãos sem entender.

— Eu lhe disse Caetano que tínhamos tudo para dar certo agora. Que a única coisa que eu não
queria era que você vendesse armas novamente — tento explicar, mas ela continua. — Só pedi isso.
Somente isso — ela grita. — E você não o fez.

— Ágata, eu posso explicar...


— Não quero explicações, Caetano — ela pega novamente a mala. — Te pedi só isso,
Caetano, só isso — ela dá uns passos em direção à porta e eu a seguro pelos ombros.

— Você vai me ouvir sim.

— Me solta, por favor.

— Não, sem antes você me escutar.

Ela consente com a cabeça, eu a solto, passo a mão nos lábios e tento fazer ela me
compreender.

— Eu ainda tinha umas armas do último carregamento, não podia ficar com elas, eu tinha que
me livrar totalmente delas senão isso poderia me causar problemas.

— Poderia ter se livrado delas de outra maneira.

— Ágata, pelo amor de Deus. Isso vale dinheiro e muito — ela ameaça ir embora de novo. —
Estou te dizendo a verdade, foi minha última venda — faço um gesto negativo com as mãos. —
Nunca mais Ágata. Nunca mais.

— Deveria ter confiado em mim e me explicado isso antes então. Agora é tarde, você acha
que eu não iria...

Por um momento eu apenas vejo os lábios de Ágata se moverem, mas não posso escutá-la
pois apenas ouço um outro ensurdecedor som que sobressaia a ela, e percebo que é o som
descompassado de meu coração.

Ela não pode jogar fora tudo o que vivemos até agora.

— Você entende isso Caetano? Entende o que quero dizer?

Sua voz se fez ouvir novamente, eu engulo em seco aliviado.

— Você que não me entende, Ágata.

Ela avança mais uns passos para a porta, e eu fico desesperado só em imaginar a cena dela
saindo e não voltando mais.

— Ágata, espere.

Ela se vira para mim. Está chorando.


— Não vá, por favor.

Sinto algo comprimir meu peito, meu coração bate tão rápido que parece querer saltar para
fora. Ela caminha mais um pouco até a porta e eu em desespero a seguro pelo braço tentando impedi-
la.

— E agora? — Ela diz friamente olhando para o próprio braço que seguro com firmeza
exagerada. — Vai chamar seus seguranças para me manter aqui à força, Ulric?

Eu imediatamente a solto.

—Não, claro que não! Jamais faria isso, Ágata!

— Mais é isso que você faz Caetano, você não percebe? Consegue tudo à força, usando seu
poder, suas armas... Não quero isso para mim — ela limpa as lágrimas que escorrem. — Não sou sua
propriedade. Quero poder confiar em você sem me decepcionar. Passei por tanta coisa esses dias por
sua causa, e você ainda não confia em mim. Acha mesmo que eu não o entenderia? — As lágrimas
agora são abundantes. — Como posso viver com um homem com essa intensidade toda e que não
posso confiar, pois nunca sei qual será seu próximo passo.

Ela caminha novamente e segura a maçaneta com a mão livre.

— Ágata, eu te amo.

Ela se vira para mim de novo. Está sorrindo por entre as lágrimas.

— Você teve oportunidade para dizer que me amava antes, Caetano.

— Ágata, fique. Por favor.

As lágrimas de Ágata agora brotam profusamente de seus olhos, ela abre a porta e coloca um
pé para fora.

Eu me desespero, quero abraçá-la, contê-la, impedi-la de sair, mais tudo que consigo é gritar,
impotente:

— Ágata.

Ela para, mas não olha para mim.

— Se você sair por esta porta, juro que não irei te procurar Ágata, será a última vez que nos
veremos.
Ela abaixa a cabeça, não diz nada, dá mais uns passos para trás e vai embora deixando a
porta aberta.

— Ágata? — Eu a chamo baixinho.

Quando percebo estou me afastando, andando para trás, minha boca está seca, minha garganta
arde. Coloco a mão no estômago que dói horrivelmente. Uma dor emocional, não física. Não posso
mais me mover, minhas pernas estão subitamente fracas. Me sento no chão, encosto minhas costas na
cama e seguro minha cabeça tentando me fazer acreditar que isso não está acontecendo.

Sinto uma dor que nunca havia experimentado antes. A dor da perda.

Percebo que nada importa agora; dinheiro, cassino, armas. Isso ficou tão ridículo perto do
que sinto agora.

Eu a subestimei, achei que bastava demonstrar o quanto gostava dela, que isso já seria
suficiente. Achei que bastaria o que eu fiz, salvá-la de algo que eu mesmo a coloquei, salvá-la dos
meus próprios erros. Esqueci que a confiança é a base de qualquer relação. E eu me sentia superior a
isso. Superior a tudo. Achei que podia controlar até mesmo o amor.

Meu peito aperta, sinto lágrimas quentes descerem de meus olhos e caírem em meu rosto. Se
ainda restava alguma dúvida se eu a amo, agora eu entendo que a amo com toda a força de minha
alma.

Ela está certa, até agora ela se sentiu como seu fosse minha posse, nunca havia dito que a
amava. Só havia dito que ela era minha. Mas essa é a minha forma de amar... eu acho.

— Ai, ai— gemo, pois, a dor se torna física.

Meu corpo dói.

Meu corpo arde de tristeza.

Sinto um vazio, um buraco indescritível dentro de mim.

Sinto frio. Sinto minha pele se arrepiar... calafrios.

Deito no chão e abraço minhas pernas em posição fetal.

Nunca mais a veria, nunca mais a tocaria. Não, isso não estava acontecendo. O quarto gira ao
meu redor e minha cabeça lateja, nesse momento me desfaço em lágrimas, lágrimas que descem sem
trégua, sem piedade. Não me lembro de chorar tanto assim em nenhum dia da minha maldita vida.
—Ágata, eu te amo, porra.

Murmuro entre lágrimas ao sentir o vazio, o buraco escuro e triste que agora há em meu
coração, que só pode ser preenchido por ela.

Seu sorriso me vem à mente, seu corpo, sua pele macia, seus cabelos cheirosos. Enfio meu
rosto no tapete, e soluços de um choro guardado há muito tempo vem à tona.

Gostaria que ela estivesse aqui para me consolar, me colocar em seu colo. Mas se ela
estivesse aqui, eu não estaria sofrendo...
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CAPÍTULO 9

FINAL

Ágata
Pela segunda vez Caetano Ulric não cumpriu sua palavra.

A primeira foi quando mentiu para mim dizendo que não venderia mais armas. A segunda foi
quando prometeu que não me procuraria.

Por um mês ele me procurou. Por um mês eu recusei vê-lo. Precisava de um tempo para ter
certeza que amo esse homem.

Precisava perdoá-lo por tudo que me fez passar esses 7 dias. Podia ter morrido várias vezes,
ainda sonho com armas, tiroteio.

Precisava saber se o que eu sentia por ele não era somente físico. Quando estamos carentes
qualquer sorriso é amor. Qualquer contato físico apaixonado é amor. Ainda mais um contato tão
intenso como o dele. Mas não é assim que funciona. Não mesmo.

Amor é sentir falta da pessoa, é sentir frio na barriga só de se lembrar de seu rosto, de seu
sorriso. É pensar na pessoa todo momento do seu dia. É querer compartilhar todos os momentos
juntos. No seu trabalho, num passeio, em coisas pequenas como uma flor, um café, qualquer coisa que
lembre algo que tenhamos vivido juntos, ou algo que queríamos ter vivido.

E dar sua vida por essa pessoa. É querer viver ao seu lado mesmo conhecendo seus defeitos.
Porque as qualidades são fáceis de encontrar principalmente quando a outra pessoa quer te
impressionar.

Sexo? Sexo faz parte. É bom. E quando é bem feito e com a pessoa amada, o pacote está
completo.

Passaram-se três meses. Eu me dei esse tempo, precisava desse tempo para que eu pudesse
esquecer de vez Caetano ou que eu pudesse entender de vez sua personalidade forte, seus dois lados:
Caetano e Ulric.
E o resultado?

O resultado foi o seguinte:

Eu sinto o frio na barriga, penso nele todo dia e o tempo todo. Conheço todos os seus
defeitos. As qualidades? Conheço somente algumas, porque ele nunca quis me impressionar, ele
somente agiu como ele é, nunca usou máscaras. E o sexo? Nem preciso responder. Nunca vai haver
homem mais quente e possessivo na cama como Caetano.

Então, tenho certeza que o amo.

E essa certeza me trouxe para cá.

Estou na porta do inigualável CASSINO ULRIC.

O segurança, que não me conhece me olha desconfiado, provavelmente pelo tempo que estou
aqui parada e pensando. Então passo pela porta e finalmente entro no térreo desse prédio de 5
andares.

Olho em volta como se fosse a primeira vez: luzes, garçonetes, chão vermelho, roletas,
baralhos, bebidas coloridas, a beleza das luzes, e a tão única e envolvente música. A sedução total
deste lugar que abala nosso corpo e nos torna presa fácil. Um sorriso toma conta de meus lábios.
Memórias que nunca sairão de minha mente. Relembro que há 3 meses estive aqui pela primeira vez.
A música, o perfume afrodisíaco...

Uma garçonete loira de olhos claros, muito jovem e excessivamente sorridente me oferece
uma bebida, havia esquecido como os funcionários são agradáveis. Recuso com um sorriso.

Limpo uma lágrima que não consigo conter.

Fecho os olhos, respiro fundo, como da primeira vez, preciso ter coragem e fazer o que tem
que ser feito. Só que desta vez não errei a cor do vestido e ao invés do vermelho estou usando o
branco, sua cor preferida.

Percorro mais um pouco esse estabelecimento enigmático, vejo pessoas felizes que ganham
em abundância e os tristes que pelo jeito só perderam dinheiro essa noite, mas eles voltarão para
tentar novamente.

Sinto tantas saudades que quase arrebenta meu peito. Neste tempo que estive longe de
Caetano, tentei acompanhar através da mídia o que acontecia com ele, mas ele quase não frequentou
mais as festas que eram habituais. Saiu poucas vezes nos jornais e internet, e quando apareceu em
algumas fotos, não tinha mais aquele olhar misterioso e o sorriso sarcástico e sedutor. Pelo contrário,
as fotos demonstravam um homem cansado e triste.
—Ágata?

Escuto uma voz atrás de mim. Quando me viro, sinto uma vontade imensa de abraçar esse
homem.

— Afonso.

Eu não fico na vontade, para seu espanto eu o abraço e quando o solto ele está sorrindo.

— Está tudo bem? O que está fazendo aqui, garota? — Pergunta sem entender.

— Preciso falar com Caetano.

— Claro. Hã... — ele fica indeciso por um momento, parece em dúvida.

— Eu sei que deveria ter vindo antes.

— Deveria mesmo — ele concorda. — Não é fácil lidar com ele, mas você fez isso direito
naqueles dias.

— Ele está ocupado agora? Ou... com alguém?

— Vamos fazer assim, venha até ali no balcão, vou ligar na sua sala e dizer que você está
aqui.

— Afonso?

Eu o chamo e ele se volta.

— Se o problema for que ele está com outra mulher, ou algo assim. Não se preocupe, não vou
atrapalhar, só preciso falar com ele apenas por uns minutos.

Afinal se passaram três meses, e ativo como ele é, com certeza não ficou me esperando
enquanto chorava em algum canto. E isso me causa um ciúme danado.

— Certo— ele concorda e passa as mãos no cabelo. — Vem comigo.

Nos dirigimos até o balcão mencionado por ele. Afonso pega o telefone, aperta dois números
e espera alguém atender.

— Ulric? Tem uma pessoa aqui embaixo querendo falar com você.
Ele escuta a resposta.

— Sei que não quer ver ninguém hoje, mas essa pessoa você vai querer ver... Ágata está aqui.

A resposta dele foi rápida o bastante e Afonso desligou imediatamente. Isso fez minhas
pernas tremerem e meu arrependimento de ter vindo até torna-se imenso.

— O que ele respondeu Afonso? — Estou apreensiva. — Ele não quer me ver, não é? —
Limpo uma lágrima que cai. — Não tem problema, já vou embora...

— Ele mandou você subir — ele fala encabulado.

— Tem certeza que ele falou isso? Não está mentindo para mim?

— Você quer exatamente as palavras que ele usou?

— Sim, quero.

— “O que está esperando para mandá-la subir? Porra!”.

Nós dois rimos juntos. Esse é o Ulric.

— Vai lá Ágata. Tenho certeza que vocês precisam dessa conversa — ele me segura pelo
braço. — Mas lembre-se que se passaram três meses, ele pode estar um tanto... arredio — ele me
solta e aponta o elevador com a mão. — Você sabe o caminho.

Eu sorrio em agradecimento e vou para o elevador, aperto o 5º andar, mas meu sorriso se
dissipa no momento que a porta se fecha. Estou me sentindo em pânico.

Minhas pernas tremem tanto quando saio do elevador e acho que não consigo caminhar até
seu escritório, me encosto na parede por um momento, respiro fundo e vou, tento manter minha
cabeça erguida como da primeira vez que estive aqui. Pego toda a minha coragem guardada e a uso.

Ulric
Três meses.
Esse é o tempo que Ágata foi embora de minha vida e não mais voltou.

Por um mês procurei por ela, liguei, ela desligava o telefone na minha cara, a procurei, ela
não me recebia, sinceramente foi tão angustiante que quase implorei para que ela me deixasse vê-la
novamente, tocar seu rosto, sentir seu cheiro. Mas meu orgulho não deixou que eu implorasse. Apesar
que hoje estou arrependido, quem sabe se tivesse feito isso, ela não entenderia que realmente a amo e
a quero para mim.

Nesses três meses me tornei metade do Ulric que eu era. Estou desleixado, barbar por fazer,
bebendo além da conta, emagreci. Não durmo e não tenho paciência com ninguém. Só Afonso mesmo
para me aguentar, não sei como ele consegue, está arcando com muita coisa enquanto eu me faço de
vítima e choro escondido. Sim, choro escondido. Mas isso ninguém nunca vai saber.

Normalmente passo as noites no cassino, mas dentro de meu escritório, não quero ver
ninguém, falar com ninguém, não consigo mais ter a falsa simpatia de antes com os clientes. Quando o
encontro com um deles é inevitável, eles se apiedam de mim, dizendo que tenho que reagir, pensar no
futuro e tudo mais, eles pensam que meu sofrimento é por causa da morte de Verônica, eles não
sabem que meu peito chora por outra mulher. Então eu apenas concordo, digo alguma besteira,
dizendo que irei me esforçar e faço um discreto sinal para que Afonso interrompa a conversa e me
leve de lá.

Nesse tempo já tive minhas crises, Afonso já precisou me carregar para casa de tão bêbado
que estava. Isso nunca havia me acontecido desde que era adolescente. Sempre bebi, sempre soube
beber, ou sabia. Não tenho paciência para falar com fornecedores, ou com Natan, que ainda trabalha
comigo, visto que nunca descobri nada de errado com sua contabilidade, enfim não tenho paciência
com ninguém.

Quando acho que vou enlouquecer, me dirijo ao quarto ao lado do escritório e revivo o que
passamos lá, seu cheiro ainda se encontra no ar. Posso sentir seu toque, sua respiração... seu gemidos
de prazer, seu amor por mim.

Evito passar muito tempo em meu quarto na mansão, pois ele está impregnado por ela, está
completo por Ágata, seu cheiro, seu toque, seu gosto. Tudo lá me lembra ela, cada canto, a cama, o
banheiro, o closet, tudo tem alguma coisa dela, isso porque convivemos apenas por 7 dias. Fico
imaginando como seria dividir uma vida com ela, se em apenas poucos dias, eu me tornei tão
dependente de seu corpo e de sua alma, imagina como seria anos ao seu lado. Teria uma overdose de
luxuria e amor.

Agora estou em meu escritório, olhando o movimento dos carros lá embaixo pela janela, já
retirei o paletó, afrouxei o nó da gravata e soltei dois botões da camisa, me sinto sufocado, aqui
dentro o ar é angustiante, é uma mistura de tristeza e ódio. Ficar aqui só alimenta minha
autoflagelação.
Foi quando o ramal interno de minha sala toca. Demoro um pouco para atender, não sinto
vontade nem de verificar quem é do outro lado, respiro fundo, sento-me na cadeira, e atendo o
maldito telefone que não para.

— Oi — falo simplesmente.

— Ulric? Tem uma pessoa aqui embaixo querendo falar com você.

— Já disse que não quero ver ninguém, Afonso, que droga, despache quem quer que seja —
esbravejo.

— Sei que não quer ver ninguém hoje, mas essa pessoa você vai querer ver... Ágata está aqui.

— O que está esperando para mandá-la subir? Porra!

Grito e jogo o telefone de volta na mesa como se ele estivesse pegando fogo. Passo a mão no
estômago que voltou a doer.

Me sinto um bobo, não sei o que fazer, olho para os lados, tento arrumar a gravata e a camisa,
desisto da gravata, e a jogo na gaveta. Passo a mão nos cabelos, corro para o banheiro e me olho no
espelho.

— Maldição, estou horrível.

Molho as mãos e passo nos cabelos para que eles se ajeitem um pouco e eu me torne um
pouco mais apresentável.

Volto para o escritório e deixo a porta aberta. Me apoio na janela tentando fazer meu coração
diminuir um pouco a velocidade. Esfrego as mãos para que o gelo que sinto nelas, se derreta um
pouco.

Mesmo de costas sei que ela entrou na sala, fecho os olhos por um momento ao sentir seu
cheiro feminino, sinto um frio na barriga ao ter certeza absoluta que ela está aqui, junto comigo
novamente.

Então me viro para ela. Por que ela tinha que estar tão linda assim? Está vestida com minha
cor preferida. Parece até uma deusa demoníaca. Minha vontade é de correr até ela, levantá-la em meu
colo, dizer que a amo, e parar de beijá-la só quando amanhecer.

Ela me analisa por um momento. Bom estou deplorável mesmo. Mas nesse momento tento
controlar a situação, e ergo a cabeça com autoridade e a cumprimento secamente.
— Oi.

— Oi — ela parece não saber o que dizer. — Hã... Como você está? — Pergunta.

Eu queria dizer para ela que eu estava enlouquecendo com sua falta, estava sufocado e sem
rumo, que queria agora mesmo jogá-la no chão, possuí-la de todas as maneiras possíveis, e nunca
mais deixa-la ir embora.

Ágata
Quando me aproximo vejo que ele deixou a porta aberta para que eu entrasse. Eu a empurro
um pouco mais para poder passar e entro devagar e, imediatamente sinto seu delicioso e tão
conhecido perfume masculino que me invade por inteiro.

Ele estava de costas e se vira para mim assim que estou dentro da sala.

Está vestido de calça preta e camisa branca. Ele está mais magro, parece cansado, mais
continua lindo, fascinante e maravilhoso. Havia me esquecido como ele transmite autoridade e
dominação em cada poro de seu corpo. Respiro fundo tentando não me jogar correndo em seus
braços, pois tenho certeza que não serei bem recebida depois de tudo.

— Oi.

Ele me cumprimenta secamente.

— Oi — treinei tanto para vir aqui e agora minhas palavras escapam. — Hã... Como você
está? — Pergunto.

— Levando tudo da melhor maneira possível — ele ergue as sobrancelhas. — E você?

Meu Deus que vontade de tocar esse rosto, de sentir essa barba roçar meu corpo, de sentir
essas mãos fortes e dominantes me levando a loucura...

— Estou bem também— coloco minha bolsa sobre a mesa e esfrego os braços. — Obrigada
por me ajudar a recuperar o emprego, sei que foi você.

— Era o mínimo que eu poderia fazer.


Quando fui pedir meu emprego de volta, meu chefe foi categórico ao dizer que não me queria
mais lá. Mas no dia seguinte me liga pedindo para que eu retornasse. Por mais que meu chefe tenha
negado, eu já sabia que ele é cliente assíduo do cassino, então sabia que havia sido Ulric que fez com
que ele me readmitisse.

— Você sumiu da mídia esse tempo. O que você fez?

Ele demora um pouco para responder.

— Eu parei com muita coisa. Principalmente com as coisas que você não gostava — ele coça
o queixo. — Só me dedico ao cassino.

— Que bom — respondo mais alegre do que deveria e fico envergonhada.

— Passou muito tempo, Ágata — ele coloca as mãos no bolso. — Pode parecer que três
meses não são nada para algumas coisas, mas quando estamos esperando por alguém, três meses é um
tempo muito grande, quase infinito.

Eu engulo em seco. Tenho certeza que vou entender o que Afonso quis dizer com “um tanto
arredio”.

— Eu... me desculpe... eu precisava desse tempo, Caetano. Isso foi importante para mim.
Precisava provar algumas coisas para mim mesma, e ter certeza de meus sentimentos.

— Eu sei. A espera para mim foi bem pior, pois não precisava ter certeza nada, pois meus
sentimentos em relação a você estavam muito visíveis, só necessitava provar isso para você.

— Caetano... você demorou muito para descobrir o que sentia por mim. Esperou eu ir
embora...

— Você não quis nem atender meus telefonemas — me interrompe. — Eu tentei por um mês
contato com você — ele sorri nervosamente. — Eu esperei tanto você entrar por essa porta... — Ele
passa a língua nos lábios. — Não é engraçado pensar que ficamos mais tempo separados do que
juntos?

— Eu realmente precisava disso...

— Eu sei. Apesar de achar que foi um tanto egoísta — ele coloca as mãos na cintura. —
Gostei do vestido.

Ele sorri mostrando seus lindos e perfeitos dentes ao mesmo tempo que quebra um pouco do
clima pesado que está entre nós.
— Dessa vez eu acertei — sorrio também.

— Você sempre acerta. Sempre está linda, não importa como se vista — ele passa a mão no
cabelo. — Afinal, porque você veio? Não acho que tenha vindo para dizer que quer voltar para mim.

Sei que não vim dizer isso para ele, mas suas palavras são como um soco em meu estômago.

— E se fosse isso, você aceitaria?

Eu o encaro, não sabendo da onde tive coragem para perguntar isso, mas ele não me
responde, se limita a morder os lábios, ficando totalmente pensativo enquanto me encara. Realmente
ele não é homem de correr atrás de uma mulher e ser esnobado. Não sabe lidar com isso.

Eu fico encabulada e resolvo que devo ir direto ao assunto, quanto mais cedo falar o que me
trouxe aqui, mais cedo resolvemos tudo e eu vou embora. Me lembro que tinha a mesma sensação na
primeira vez que o vi, queria resolver tudo depressa e depois ir embora. E daquela vez acabei
ficando.

— Eu aprendi a ser direta como você, Caetano. Então vou logo dizer o porquê estou aqui.
Acho que te devo isso — aperto minhas mãos demonstrando todo meu nervosismo.

— Diga.

— Estou grávida.

Ele entreabre a boca no primeiro momento, depois franze a testa, passa as mãos pelo cabelo e
morde os lábios antes de me perguntar demonstrando estar totalmente confuso.

— Você... Grávida? Não estava tomando pílulas?

Sua voz sai baixa e estranha, e isso me assusta.

— Esqueci algumas vezes por conta de tudo que aconteceu, e mesmo tomando dobrado no dia
seguinte, estou certa que não funcionou como deveria — um frio na barriga me domina.

— Há quanto tempo você sabe disso? Eu te procurei várias vezes e você não me contou —
ele parece estar furioso.

Mas é claro que está. Isso deve ser a última coisa que ele gostaria de ter na vida: um filho.

— Eu descobri há dois meses... Relutei bastante em vir te contar, mas acho que você tinha o
direito de saber — agora eu estou irritada pra valer.
— Eu...

— Olha Caetano, não estou aqui para exigir direitos ou algo assim. Não quero que volte
comigo, não quero seu dinheiro, pensão, nada disso — altero a voz e balanço as mãos sem parar. —
E muito menos quero que me peça para fazer DNA para saber se o filho é seu. E nem pense em me
pedir para interromper a gravidez. Não vou fazer isso, está entendendo?

— Ágata, que merda, eu...

Eu não o deixo falar, não estou a fim de escutar que ele duvida que o filho é dele, que vai
querer que eu assine documentos, e toda essa burocracia de quem tem muito dinheiro e não quer
dividir com um filho de uma ex-mulher, ainda mais se essa mulher, antes de ser sua ex, foi sua por
apenas 7 dias.

— Não vim te exigir nada, Caetano. Não vim te pedir ajuda para criá-lo — pego minha bolsa
para ir embora.

— Ainda bem, pois eu não vou te ajudar a criar esse filho, Ágata.

Ulric
Percebo que ela leva um choque muito grande com minhas palavras.

Ela não diz nada, apenas não consegue controlar seu choro e vai em direção à porta, mas
antes que ela pudesse sair eu continuo.

— Não vou te ajudar a criar essa criança Ágata, porque um pai não ajuda a criar um filho,
ele divide a criação junto com a mãe. Um pai tem o dever de estar presente na vida de seu filho, um
pai de verdade não fica longe, nem por um momento — minha voz está embargada.

Ela se vira assustada de volta para mim e me encara indecisa.

— Nem enquanto ele ainda está na barriga — aponto para a barriga. — E é isso que farei,
você querendo ou não ficarei de seu lado — eu ergo as mãos. — Não acredito que você me privou
dessa gravidez por tanto tempo.

— Estou somente com três meses... eu não...


— Mas que merda Ágata, não estamos brincando aqui, é um filho! Uma criança, um bebê....
Minha nossa! — Seguro a cabeça com as mãos tentando não demonstrar meu pânico. — Quero curtir
essa barriga crescer. Quero participar de cada minuto, de cada etapa dessa gravidez, quero... quero
comprar chupeta, fraldas, todas essas coisinhas engraçadinhas que vocês mulheres compram e fazem,
tudo junto com você...

— Você está chorando, Caetano.

— Você é a única pessoa no mundo que me fez chorar por duas vezes nessa maldita vida, a
primeira vez de tristeza e agora de alegria.

Ela corre para mim e me abraça apertado. Eu a envolvo em meus braços tão forte, mas tão
forte para que ninguém no mundo me privasse dela de novo.

— Não me deixe nunca mais Ágata. Nunca mais — sussurro. — Você é minha, a minha
adorável safada.

Ela se solta de meus braços somente o suficiente para que sua boca encontrasse a minha.
Sinto novamente seus lábios macios nos meus, seu corpo quente grudado em mim. E todas aquelas
sensações maravilhosas guardadas por três meses vem à tona com toda força. Tudo que imaginei que
pudesse acontecer, de tê-la comigo, protegida de novo em meus braços, está agora acontecendo. E a
sensação é indescritível.

Eu a beijo loucamente, chupo e mordo seus lábios, beijo seu pescoço, e a aperto contra meu
peito o máximo que posso.

— Nem acredito que vamos ter um bebê.

Eu falo ainda não acreditando. Nunca passou pela minha cabeça que ela ficaria grávida, eu
quase perdi a voz quando ela me disse isso. Minhas pernas ficaram tão trêmulas que achei que não
continuaria de pé. Um filho. Minha nossa, nunca pensei que um dia poderia ser pai. Só de pensar em
um ser tão pequeno em meus braços, e que ele dependerá de mim, eu terei que proteger, educar,
cuidar... me sinto em total desespero. Não tenho a mínima ideia de como fazer isso. Talvez essa será
a experiência mais difícil em toda minha vida. Será mais difícil e requererá mais responsabilidade
do que lidar com cassino, armas, tiroteios.

— E eu não imaginava que você reagiria assim —sua voz é meiga e deliciosa.

— E como achou que eu reagiria? É meu filho, porra. — No mesmo instante que digo isso me
corrijo. — Nossa, tenho que me conter, não posso mais dizer palavras sujas perto do bebê — passo a
mão em sua barriga praticamente inexistente ainda.

Ágata começa a rir, e se torna mais linda ainda.


—Quando sua barriga começará a crescer? Não era para aparecer? Você está tão magra —
me sinto preocupado. — Já procurou um médico?

— Caetano é cedo ainda — ela acaricia meu rosto. — Está tudo bem, eu juro, já estou
fazendo o pré-natal, não se preocupe.

— Ágata...

— Sim, querido.

— Você não sabe como sofri esse tempo que estivemos separados. Não sabe como meu
mundo se tornou pequeno e sufocante. Havia dias que achei que não respirava. Nunca mais faça isso
comigo, entendeu?

— Com certeza, não — ela beija meus lábios.

— Você é minha, Ágata — seguro seu rosto. — E eu te amo. E a partir de agora vou dizer
isso a todo o momento para que você entenda o quanto mexeu comigo, o quanto me modificou. Eu te
amo, eu te amo, eu te amo.

— Não está esquecendo de nada? — Ela me pergunta com aquele ar de safada que eu estava
com saudades.

— E eu sou seu. Eternamente seu.

Voltamos a nos beijar e eu a levo para meu quarto ao lado do escritório, para o mesmo quarto
onde transamos pela primeira vez.

Eu a levo no colo e a coloco com cuidado na cama, enquanto começo a retirar sua roupa
devagar.

— Será um menino ou menina?

— Ainda não sei.

— Eu escolho os nomes — falo seriamente.

— Minha nossa, já vai começar a ser possessivo com o bebê também? — Ela ri.

Retiro seu vestido e beijo seu pescoço.

— Eu cuido do que amo, e eu já o amo... —acaricio sua barriga delicadamente — Assim


como amo você.

Ela me beija e sinto todo seu amor, sua saudade.

— Minha nossa, como senti falta de sua pele, do seu cheiro, de seu gosto — falo para ela
enquanto acaricio seu corpo.

Meu peito parece que vai explodir com a sensação de tê-la de novo, é algo tão feliz, tão
grande e maravilhoso. Eu a desejo, meu corpo a deseja. Minha alma a deseja.

Estou louco para estar dentro dela de novo, sentir seu sabor feminino. Sentir ela se
desmanchar novamente em meus braços após o gozo enlouquecedor que só nós atingimos, o êxtase
que só nossos corpos conseguem. Só que dessa vez não fizemos nosso sexo selvagem e possessivo de
sempre. Dessa vez fizemos um amor delicado e com calma.

E eu entendi que ter uma família ao lado de quem amamos é só o que importa no mundo.
================

EPÍLOGO

Ulric
Com toda certeza, não sabemos o que é ter um filho até realmente tê-lo.

Não adianta as pessoas, sua família ou amigos falarem para você que filho é a maior riqueza
do mundo, é minha vida, e coisa e tal. Você respeita, mas no fundo não entende toda sua
complexidade.

Esse papinho até me cansava.

Só que agora eu mudei de turma, estou na turma que fala o tempo todo de sua própria cria.
Estou no grupinho que diz que ter um filho é a melhor coisa do mundo. É simplesmente meu orgulho,
meu tudo.

Por que não tive antes? É a minha pergunta atual.

Mas Ágata responde: — Porque ainda não me conhecia. — E ela está certa, essa é realmente
a principal razão. Tudo tem que ser como manda a natureza; se apaixone, ame e tenha seus bebês.

Quando soube da gravidez de Ágata ela estava com 3 meses. Curti cada etapa dos outros
meses que se seguiram. Cada centímetro que sua barriga crescia.

Falei com essa barriga redonda todos os dias. Dava bom dia, boa noite, cheguei até a contar
meu dia. Ágata ria, e quando fazia isso notava lágrimas em seus olhos.

Participei de cada consulta ao ginecologista, acompanhei todo ultrassom. Eu vi os pezinhos,


as mãozinhas, e quando finalmente descobri o sexo do bebê, sabia que não teria mais sossego para o
resto dos meus dias.

— Uma menininha — informou o ginecologista.

Minha nossa, nunca senti tanto pânico na vida. Tanto medo. Vulnerabilidade. Por um momento
não enxerguei nada na minha frente, nem Ágata na cama de exames, nem o médico, nem a enfermeira.
Só enxerguei a minha bonequinha rodeada de marmanjos querendo namorá-la. Cerrei os pulsos com
força imensa. Eu juro que se eu estivesse armado naquele momento sacaria minha arma, para já
mostrar quem é que manda no pedaço.

Teria que ter uma grande conversa com Ágata, minha linda bebê só namoraria com uns 30
anos... ou mais.

Naquele dia indo para casa, coloquei Ágata a par de meus medos, ela riu muito e quando
percebeu que eu não estava brincando, ela disse que eu deveria pensar em fazer uma terapia. Então
nunca mais disse nada parecido a ela. Mas não mudei minha opinião, nenhum porra de barbado
colocará a mão em minha princesa.

Montamos um quarto ao lado do nosso na mansão para nossa bebê. Apesar de Ágata achar
tudo muito exagerado, eu não economizei em enfeites, brinquedos, ursinhos. Toda a decoração foi
rosa. Fiz questão de eu mesmo montar o berço digno de uma princesinha. Tudo bem, confesso que
Afonso me auxiliou, nunca fui bom mesmo nessas merdas de coisas artesanais.

Depois das cortinas colocadas, roupinhas nos armários, tapetinho rosa, Ágata finalizou a
decoração com uma almofada que colocou dentro do bercinho com o nome de nossa filha: Jade.

Jade é uma pedra de inestimável valor, assim como minha filha. Nada no mundo é mais
valioso e mais importante que ela.

Terminamos o quarto, ficamos conversando e não fui para o cassino esta noite. Foi realmente
um dia mais que especial, pois naquela madrugada Ágata entrou em trabalho de parto. Não sei como
mantive minha calma, mas a levei para o hospital, fiz tudo o que um pai deveria fazer nessas horas.
Dei força, fiquei ao seu lado enquanto ela gritava de dor.

Ágata me disse depois de uns dias que eu estava branco como leite nessa hora. Deveria estar
mesmo.

Mas quando, após um longo trabalho de parto normal, vi aquele rostinho pela primeira vez e
entendi que tudo havia mudado, nunca mais seria o mesmo. Um ser tão indefeso precisaria de mim, eu
teria que cuidar, proteger, amar. E eu jurei que faria tudo isso.

Ela nasceu linda, 3,205 quilos e 47 centímetros, de olhos azuis igual ao da mãe. Sim, até hoje
eu ainda não esqueci suas medidas, não sei se isso é comum para o um pai ou não, mas seu
nascimento me marcou tanto que nunca esquecerei nenhum detalhe.

Quando a segurei no colo pela primeira vez, novamente não contive minhas lágrimas, aquele
ser tão pequeno, aquele corpinho delicado, frágil, eu tinha a impressão que poderia quebrá-la em
meus braços fortes e tatuados, ela praticamente sumia de encontro ao meu corpo. Ágata brincava
dizendo que ela parecia uma formiguinha quando eu a pegava.

Não tenho como narrar minha felicidade da primeira noite dela em casa. Aquele chorinho tão
baixo, aquelas bochechas rosadas. Poderia passar horas só a observando.

Ela nasceu muito cabeluda, e Ágata fazia questão de sempre colocar lacinhos rosa em seus
lindos cabelos pretos igual ao meu. Alias... tirando a cor dos olhos, ela é uma mini Caetano Ulric.

E com isso tudo eu descobri que é muito mais fácil manejar uma arma, acertar um alvo,
comandar um cassino do que trocar uma fralda.

Nunca pensei na possibilidade de casar, nem mesmo quando Ágata engravidou. Não sou esse
tipo de homem romântico. Para mim estar ao lado dela já era suficiente. Dar todo o amor que estava
guardado dentro de mim para uma mulher como ela, já me deixava completamente feliz. Mas percebi
que Ágata queria, e muito. Sei que é o sonho de quase todas as mulheres. Vestido, véu, buquê, todas
essas coisinhas que as noivas adoram providenciar antes de casar e que acredito que a maioria dos
homens detesta fazer.

Tudo bem que não fiz questão de participar desses detalhes como participei de cada detalhe
do nascimento, batizado, primeira festa de um ano de minha filha. Mas não tinha como não participar
diante da felicidade de minha futura esposa.

Pelo menos numa coisa eu e minha safadinha concordamos, não queríamos um casamento e
nem uma festa cheia de pompas, preferimos fazer tudo simples e bonito.

Nos casamos no jardim da mansão no dia do aniversário de dois anos de Jade. Jandon foi
convidado para o casamento, apesar de eu ser totalmente contra e ter ficado muito aborrecido, ela
quis fazer isso. Veio com esse papo de família e tudo mais. Enfim fingi que Jandon não existia e a
deixei satisfeita. Se Ágata percebeu isso se manteve calada sobre o assunto.

Jandon se manteve na linha, graças à força de vontade de Ágata de fazer agir seus princípios.
Muitas vezes ele veio procurá-la, mas ela continuou firme, ele fez drama, chorou, disse que estava
passando fome, e ela aguentou, não lhe deu um centavo. Só dizia que ele tinha que caminhar com as
próprias pernas. E isso o fez se tornar homem, na minha opinião um pouco homem, falta muito ainda,
mas está no caminho certo. Quando ele viu que não havia outra alternativa, resolveu procurar um
emprego, e por um bom tempo ele lavou pratos num bar de quinta categoria, próximo a pensão que
Ágata havia reservado para ele, mas isso era suficiente somente para ele pagar o aluguel e comer.
Até que ele entendeu que o trabalho o estava transformando, arrumou outro emprego num restaurante
de mais classe, mudou-se para uma casa de dois cômodos, e está vivendo a vida da melhor maneira
que consegue.

Se eu agora gosto dele? Não. Se eu o perdoei por tudo? Não. Se o quero bem longe? Sim.
Mas para a alegria de Jandon e minha infelicidade, minha menina adora o tio, ela não vê maldade em
ninguém.

Mas mesmo assim o dia foi especial, Ágata estava divina, vestia um vestido branco, longo,
simples e com flores na cabeça. Ela estava tão pura e bela, eu podia sentir sua felicidade irradiar de
todo seu corpo. A pedido dela minha roupa também foi branca. Lembro que ela disse: — É sua cor
preferida, Caetano.

Ágata entrou sozinha. Eu disse que, o homem que leva a noiva ao altar é para entregá-la ao
seu noivo. Porra, ela já era minha, não precisava que ninguém entregasse ela a mim.

Nossa filha entrou trazendo as alianças... mas quando estava quase chegando perto de nós,
acredito que ela pensou que era uma brincadeira, pois nós dois brincávamos muito de pega-pega,
esconde-esconde. Então ela sorriu para nós e saiu correndo, Madalena saiu correndo atrás, e eu
também. Larguei Ágata sozinha com o padre, enquanto ela gritava para que Jade voltasse. Garanto
que nosso álbum de casamento foi o mais engraçado e hilário de todos os tempos.

Enfim consegui recuperar as alianças e pegar a minha pequena. Nosso casamento terminou
com Jade em meu colo o resto da cerimônia com seu lindo vestido branquinho e rodado já sujo, e
seus pezinhos descalços.

E hoje, um ano depois de nosso casamento, essa cena está se repetindo, só que dessa vez
Miriam, filha de Afonso, agora com 16 anos, está entrando de mãos dadas com Jade no corredor do
jardim da mansão que leva ao altar para entregar as alianças à Afonso e Gisele.

Se meu casamento foi difícil de acontecer, tinha certeza que alguém fazer Afonso se casar
novamente seria impossível. Mas Gisele conseguiu isso. Levar o durão segurança para o altar.

Em breve Jade terá um novo amiguinho para brincar, Gi está grávida de um menino, que de
acordo com Afonso, será a cara do pai, e eu espero que o menino tenha sorte e puxe à mãe.

Igualmente ao nosso casamento, o mais novo casal recepcionou os convidados num breve
almoço, onde se despediram o mais breve possível para aproveitarem a lua de mel. Eles ficarão uma
semana viajando. Afonso, mesmo depois de todo esse tempo, ainda acha que não é bom se afastar de
mim por muito tempo, pois me meto em confusão. Ele está certo.

Esperamos o restante dos convidados irem embora para retornamos à nossa rotina diária.

Anoiteceu rápido, Ágata está de camisola e passa um creme em suas lindas pernas enquanto
me encara com seus olhos de desejo. Adoro saber que ela se produz, se perfuma, faz tudo porque
quer se tornar mais bonita ainda para mim, só para mim. Isso me causa um desejo insano por essa
mulher. E a cada dia que passa ela é mais linda, mais meiga e eu a amo mais do que no dia anterior.

É incrível como o tesão um pelo outro só aumentou com esses anos juntos.

Nós conversamos somente através de nossos olhares, e eu sei o que ela quer, ela deseja que
eu a possua apaixonadamente, deseja sentir minhas mãos quentes em todo seu corpo, enquanto se
enlouquece com meus beijos. Mas teremos que esperar e controlar nossos impulsos sexuais, pois
Jade está totalmente sem sono, sentada entre minhas pernas na cama enquanto desenha num caderno
com sua caneta vermelha.

— Afonso e Gisele estavam lindos. Era puro amor — fala Ágata.

— Papai, como se escleve amor? — Jade pergunta na sua voz fina e infantil.

— Empresta a caneta para o papai.

Eu pego seu caderno, faço um desenho e devolvo a ela.

— Mas você desenhou um colaçãozinho.

— Sim. Coração é o símbolo mais bonito do amor.

Ela me olha ainda com dúvidas franzindo sua pequena testa.

— Isso é amor, quando você dá seu coração para alguém. Igual o que fiz com a mamãe, eu a
amo tanto que dei meu coração a ela.

— Então você não tem mais colação? — Ela fala colocando sua cabecinha em meu peito para
tentar ouvir as batidas do meu coração.

Eu e Ágata rimos diante de sua pureza.

— Tenho sim — respondo. — Sua mãe está com o meu coração e eu estou com o dela.

Ela concorda demonstrando, pelo menos ao seu modo, ter entendido o que eu quis dizer. E
volta a sentar e a rabiscar seus desenhos infantis.

Ágata se senta à nossa frente na cama admirando a beleza de nossa filha.

Mas logo em seguida, Jade vem com outra pergunta:

— Papai, quanto tempo dura o amor.

Eu olho para os lindos olhos azuis de Ágata e respondo:

— Isso eu não sei, querida. Mas sei como começa. E pode ser em 7 dias...
Fim!

Querido leitor (a)

Se você chegou até aqui com sua leitura, agradeço imensamente e espero que tenha gostado.

Se realmente sentiu algo com a leitura, como: amor, ódio, paixão, raiva, solidariedade,
carinho, ou qualquer outro sentimento, quer dizer que fiz um bom trabalho e fico muito feliz com isso,
pois se um autor (a) consegue fazer que seus leitores sintam algo com sua escrita, está no caminho
certo.

Grande abraço, e espero ver você novamente em meus outros trabalhos !

Karina Altobelli
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Karina Altobelli tem 38 anos, casada e vive feliz com seu marido e com seus gatos.

Escritora e leitora eclética, gosta de ler de tudo um pouco e ama escrever muitos tipos de
gêneros, entre eles: Romance hot, Romance histórico, Suspense e Mistério, entre outros.

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Sem Glamour

Dendron – Em quem você confia?

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