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Sejam bem-vindos a essa nova aventura ao lado de Levi e Briana!

Espero que se divirtam com essa comédia romântica deliciosa. Esse


casal chegou para mostrar que um romance leve e cheio de situações
divertidas e sensuais também tem o seu valor!
Aqui vai apenas um pedido: cuidado com o spoiler na hora de deixar
aquela avaliação linda na Amazon! Vamos deixar que todos os leitores se
surpreendam com esse romance!
Um beijo e uma ótima leitura!
Com amor, Tamires.
Sabe quando chega um momento da sua vida em que o mundo parece
estagnar? Você acorda, toma o seu café, às vezes faz um exercício — se for
uma versão fajuta de pessoa fitness assim como eu —, vai trabalhar, cumpre
toda a sua rotina fora de casa, então volta para casa, come alguma coisa, dá
atenção ao seu pet — se tiver um —, fica um pouco com o seu noivo, toma
um banho, cai na cama, raramente faz sexo com o seu noivo, dorme e depois
repete tudo de novo.
Essa é a minha vida.
E por mais que eu diga a mim mesma que estou feliz, uma vozinha
incômoda no fundo do meu cérebro diz que sou uma mentirosa. Talvez seja
culpa do meu inferno astral, ainda que eu não entenda nada sobre isso. Ou,
talvez, o fato de eu finalmente ter conseguido abrir a minha confeitaria há
pouco mais de um ano, faz com que a minha vida pessoal desande. Você
sabe, parece que a gente não pode ser 100% feliz em todos os âmbitos da
vida. Ou pode ser o fato de eu estar noiva há seis anos e a cada vez que cito a
palavra casamento, meu noivo desconversa. Pode ser, também, a minha
vontade louca de ter um bebê.
Ser uma mulher independente financeiramente, com vinte e nove
anos, em um relacionamento aparentemente estável, parece fazer com que os
meus hormônios entrem em festa e digam a cada mês: ei, querida, nós
queremos um bebê! Bebê! Bebê! Bebê!
E só porque essa necessidade louca vem tomando força dentro de
mim, parece que todas as mulheres a minha volta estão grávidas! Minha
vizinha do segundo andar vai dar à luz a gêmeos a qualquer momento, uma
das minhas clientes assíduas, uma advogada que vive viajando — mas que
não dispensa meu bolo de brigadeiro e um cappuccino quando está no Rio de
Janeiro — está grávida, minha prima está grávida, uma antiga amiga do
Ensino Médio está grávida... Se minha mãe aparecer grávida, talvez eu nem
me espante. A cegonha vinha pegando todo mundo, exceto quem? Sim, eu
mesma.
Não que eu estivesse tentando engravidar... Mas também não estava
evitando de verdade. Às vezes, eu me esquecia da pílula, mas como
conseguiria engravidar se Davi e eu quase não transávamos? A conta não
batia.
— Ei, chefa, acabamos de receber uma encomenda de bolo de nozes e
cem docinhos de ninho com Nutella para sábado — Mariana disse ao parar ao
meu lado.
— Ótimo, deixa o bolo comigo. Acho que eu preciso disso, sabe?
Colocar a mão na massa, literalmente.
— Nossa, que bad vibes é essa? Credo! — Ela fez o sinal da cruz. —
Está tudo bem?
— Sim, está. — E estava mesmo, não era? Eu ficava um pouco mal
por me sentir tão desanimada ultimamente.
— Tem certeza?
— Sim, tenho. Não se preocupa com isso — falei, observando a
entrada de duas clientes. Era finalzinho da manhã e aquele horário,
normalmente, era mais vazio e quando as pessoas entravam, sempre faziam o
pedido para a viagem. — Atende para mim? Vou para a cozinha.
— Claro, deixa comigo!
Mariana era uma ótima funcionária. Estudante de jornalismo, ela
bateu na minha porta assim que coloquei um anúncio de que precisava de
uma atendente em um site de empregos na internet. Assim que a vi, gostei
dela e do seu estilo, as roupas coloridas que usava, o sorriso enorme e,
principalmente, sua simpatia. Lidar com o público não era nada fácil e eu não
queria contratar alguém que não tivesse paciência para atender os meus
clientes. Mariana se encaixou perfeitamente na vaga e me fez um enorme
favor, poupando o meu tempo de ter que entrevistar várias pessoas até
encontrar a ideal. Ela era a ideal.
Entrei na cozinha, sentindo o cheirinho delicioso de muffin de limão
siciliano saindo do forno e fui correndo pegar um, mas Miriam logo me deu
um tapa na mão.
— Nem pensar! Se você continuar a comer tudo o que sai do forno,
não vamos ter o que vender para os clientes.
— Mas é só um, Miriam!
— Não! — A senhora de sessenta anos me deu um olhar enviesado,
me fazendo rir. — Posso saber qual é a graça?
— Acho engraçado a forma como você age. Eu sou a dona disso tudo
aqui, esqueceu?
— Eu não me importo nem um pouco com isso, querida. Tudo o que
você sabe fazer hoje, fui eu que ensinei. E tem mais, metade dessa cozinha é
minha, quem manda sou eu — falou com cara de brava, mas logo começou a
sorrir quando a abracei.
— Sei disso, Miriam. O que seria de mim sem você?
— Acho que nada.
Miriam tinha razão quando dizia que tudo o que eu sabia, era por
causa dela. Minha mãe e meu pai sempre trabalharam juntos, eram sócios de
um escritório de advocacia, e Miriam era nossa vizinha de porta no prédio em
que morávamos. Quando fiquei grande o suficiente para poder ficar em casa
sozinha, Miriam me convidou um dia para tomar um café com ela. Eu era
adolescente, mas não me importava em passar um tempo com a minha
vizinha, principalmente porque ela sempre fazia bolos maravilhosos. O que
era para ser apenas uma visita para um café da tarde, se transformou em
rotina, e logo eu estava na cozinha de Miriam, aprendendo com ela a fazer
bolos e doces maravilhosos.
Eu dizia que era um desperdício que ela ficasse em casa, vivendo da
pensão do falecido marido, quando poderia usufruir do talento que tinha, mas
ela sempre desconversava, dizia que nenhum lugar a aceitaria, pois não tinha
experiência, sempre foi dona de casa, mas eu via dentro dos seus olhos a
paixão pela cozinha, coisa que acabou passando para mim. Eu tentei fugir,
me formei em Administração, cheguei a trabalhar em um escritório no Centro
do Rio, mas logo percebi que não era feliz, por isso, peguei um empréstimo
no banco, juntei com a economia que eu tinha — ou seja, o dinheiro do meu
casamento, já que parecia que Davi nunca iria colaborar comigo para mudar o
nosso estado civil — e fui atrás do meu verdadeiro sonho, que era ter a minha
confeitaria. E levei Miriam comigo.
Agora, trabalhávamos lado a lado, testando e criando novas receitas,
sempre rindo e implicando uma com a outra. Ainda abraçada a ela, aproveitei
que relaxou e consegui finalmente roubar um muffin, quase queimando língua
ao morder o bolinho, enquanto a ouvia chiar em meu ouvido:
— Você vai nos levar à falência!
— Isola, mulher. Bate na madeira, por favor — pedi e ela
prontamente bateu na ilha que ficava no meio da cozinha. — Você sabe que
isso é aço inoxidável, né?
— O que vale é a intenção. — Deu de ombros, lutando para não rir.
— Ficou bom?
— Uma delícia. Só não vou pegar mais um, porque tenho medo de
não sair viva dessa cozinha.
— É bom mesmo que você se contenha.
Ela foi colocar os muffins para esfriar e eu fui dar uma olhada na
nossa planilha na cozinha. Precisávamos preparar um bolo vulcão de cenoura,
um de brigadeiro e outro de coco, que eram os que mais saíam em fatia na
parte da tarde. Preparada para trabalhar e tentar me esquecer um pouco
daquela sensação de angústia e estagnação que me acompanhava há algumas
semanas, fui separar os ingredientes na despensa. Estava terminando de pegar
a farinha de trigo, quando senti o celular vibrar no bolso da minha calça. Era
uma mensagem de Davi.
“Mandando mensagem para te lembrar que hoje eu vou assistir
ao jogo na casa do Juninho.”
Eu não me importava de Davi ter um momento com os amigos, pelo
contrário, eu era defensora de que um casal precisava ter vidas separadas, sair
com os amigos de vez em quando, afinal, relacionamento não era uma prisão,
então, não foi com isso que fiquei chateada. Foi com a sua frieza. Há tempos
Davi não me chamava mais de amor ou por qualquer outro apelido romântico
e ainda que eu nunca tivesse sido melosa demais, sentia falta de um pouco de
carinho.
“Tudo bem.”
Olhei a resposta que enviei para ele e percebi que, se eu queria
receber afeto de sua parte, precisava demonstrar afeto também. Por isso,
acrescentei:
“Eu amo você.”
Era uma boa frase, algo que falávamos desde o início do nosso
namoro, mas eu não consegui sentir a intensidade que deveria ao escrevê-la.
Por muito tempo, vinha ignorando isso. Três palavrinhas tão simples que
acabavam se infiltrando em nossa vida e se tornando parte da rotina, até
quase perder o seu significado. Será que havia perdido o significado para nós
dois? A resposta de Davi fez o meu peito doer e quase me deu uma resposta:
“Idem.”
Idem. As três palavrinhas se resumiram em uma só. Com um nó
ameaçando se formar em minha garganta, enfiei o celular no bolso e fui
trabalhar para tentar esquecer o caos que vinha acontecendo em meu interior.

Cheguei em casa pouco depois das oito da noite e Kiki, minha


cachorrinha, veio correndo me cumprimentar e encher de beijos. Ela era uma
vira-lata muito bonitinha — uma mistura de maltês com alguma outra raça —
que encontramos em um abrigo anos atrás e a veterinária garantiu que não
cresceria muito, o que era ideal, pois morávamos em um apartamento. Sua
pelagem clara e aquele focinho bonitinho e redondo eram uma graça e até
enganava as pessoas, mas, a verdade, era que a cachorrinha amava uma
bagunça e demorou meses para aprender que sapato e ração não eram a
mesma coisa.
Depois de dar atenção a ela, fui direto tomar banho, pois estava
exausta. Kiki me acompanhou até o banheiro e se deitou no chão enquanto eu
me despia e conversava com ela. A cachorrinha parecia entender tudo o que
falávamos, ainda que não conseguisse responder de outra forma que não
fosse em sua língua de cachorro. Depois de um banho, fui preparar algo para
comer e me sentei no sofá, colocando uma série qualquer na Netflix apenas
para não ficar sozinha em meio ao silêncio.
Com Kiki deitada em meu colo depois de eu ter terminado de comer o
sanduíche, comecei a pensar na confeitaria. Para um negócio que eu havia
aberto há pouco mais de um ano, estava indo bem, mas eu queria atrair mais
público. A confeitaria ficava em um lugar privilegiado em Botafogo, perto da
praia e do shopping, então, chamava a atenção, mas a concorrência era
grande e eu queria me destacar. Estava pensando em melhorar a decoração e
as embalagens para entrega, talvez criar um cartão fidelidade. As ideias
pipocavam em minha mente e, mesmo sabendo que aquele era o meu
momento de relaxar ao lado de Kiki, acabei puxando o iPad de Davi para o
meu colo, pois meu celular estava carregando, e abri o navegador de
pesquisa, entrando no Google.
Eu adorava vasculhar o Pinterest e sempre tirava uma ideia legal dali.
Muitas das coisas não davam para executar de fato, mas algumas eram
possíveis, como os objetos de decoração. Os tons pastéis eram os que
predominavam na confeitaria e eu adorava mesclar o branco com o rosa bem
clarinho, trazendo um ponto de cor azul e lilás nas flores e jarros que ficavam
sobre as mesas, mas sentia que podia melhorar. Comecei a navegar e salvar
várias fotos na minha pasta na rede social, quando uma notificação de
mensagem surgiu na tela do iPad. O aparelho era integrado com o celular de
Davi, o que fazia com que seus e-mails chegassem tanto no celular, como no
iPad, mas aquela notificação foi diferente. Ele não havia recebido um e-mail,
havia recebido um direct no Instagram.
Eu nunca fui o tipo de namorada controladora, que vivia mexendo no
celular do parceiro, mas eu tinha a senha do aparelho dele, assim como ele
tinha a senha do meu. Quando meu celular estava longe, eu pegava o dele
para pesquisar alguma coisa, ligar para alguém ou até mesmo enviar alguma
mensagem para amigos em comum no WhatsApp, então, no fundo, eu sabia
que não deveria abrir aquela mensagem, pois confiávamos um no outro. Eu
confiava nele. Confiava no meu noivo, estávamos juntos há quase nove anos.
— Eu confio nele — falei, deixando o iPad de lado. — Nós
confiamos no papai, não é, Kiki?
Kiki me olhou de um jeito estranho e se aconchegou mais em mim.
Levei sua resposta como positiva, mas seu olhar parecia dizer: não custa nada
olhar. E não custava mesmo, não era? Eu ia abrir o Instagram e perceber que
ele havia recebido uma mensagem de um amigo, ainda que Davi mal
atualizasse a rede social. Era isso. Seria a mensagem de um amigo antigo da
escola ou até mesmo da faculdade. Decidida, voltei a pegar o aparelho e
cliquei no ícone do Instagram com o coração quase saindo do meu peito e as
palmas das mãos suando.
Fui rapidamente até o direct e meu coração pareceu desistir de
funcionar. Ele se afundou ao meu peito quando passei os olhos por todos os
perfis de mulheres que enviavam mensagem para o meu noivo. Nervosa,
coloquei Kiki no sofá e abri a primeira mensagem, percebendo que a mulher
havia respondido a um story que Davi tinha postado ainda naquele dia.
“Que delícia de sorriso. Sinto a sua falta, quando vamos nos ver
de novo?”
A mensagem me deixou horrorizada, mas não mais do que todas as
outras que eles vinham trocando há meses. Não há dias ou há semanas. Há
meses! Havia, inclusive, histórico na conversa de stories que ele postou junto
com ela, marcando a mulher. Como eu não vi aquilo? Como nunca soube
daquilo? Foi então que eu percebi, aquele não era o Instagram que Davi
compartilhava comigo e com sua família, muito menos com nossos amigos
em comum. Aquela era uma segunda conta, onde ele vivia como um homem
solteiro e boêmio, livre para sair com outras mulheres, para postar stories
com elas e trocar mensagens. Mensagens que me destruíram.
“Que saudade dessa sua boca na minha...”, ele enviou para uma das
mulheres.
“Sonhei com você hoje à noite. Não consegui esquecer aquela foto
que me enviou só de calcinha...”, enviou para outra.
“Vamos repetir o que fizemos ontem à tarde? Estou viciado no seu
gosto...”
Larguei o iPad no sofá e corri para o banheiro para poder vomitar. O
sanduíche que comi voltou com tudo, enquanto lágrimas de nojo e decepção
desciam por minha bochecha. Eu não conseguia pensar, mal conseguia
respirar. As mensagens trocadas com aquelas mulheres se repetiam em minha
mente, as fotos que ele postava no feed com um sorriso aberto, sem camisa,
de frente para a praia, enquanto para tirar uma única foto comigo era sempre
de má vontade. Ele nunca estava disposto para sair, para pegarmos um
cinema, ir a um restaurante, nada. Sempre estava cansado demais do trabalho,
o escritório exigia muito dele, o chefe sempre estava no seu pé, cobrando
meta. E eu ao seu lado, tentando entender que estava passando por uma fase
ruim no trabalho, com esperança de que iria melhorar, de que ele voltaria a
ser o Davi por quem me apaixonei quando tinha vinte e um anos e com quem
resolvi morar junto, mesmo sem estar casada oficialmente, aos vinte e quatro.
Eu havia dedicado à minha vida ao Davi e ao nosso relacionamento!
Eu queria me casar com ele, queria ter um bebê com ele, enquanto o filho da
puta me traía com várias mulheres sem um pingo de vergonha na cara! Por
quê? Era a única pergunta que eu conseguia me fazer. Por que havia feito
aquilo comigo? Eu era uma mulher tão ruim assim, para merecer ser traída de
uma forma tão suja? Me sentia uma burra, uma imbecil por não ter percebido
antes, por ter colocado a culpa da sua frieza e distanciamento na rotina, nos
meus hormônios, no nosso trabalho, em tudo, menos nele e na sua falta de
caráter.
Saí do banheiro aos tropeços depois de ter escovado os dentes, mal
conseguindo enxergar um palmo por conta das lágrimas, mas decidida a pôr
um fim em tudo aquilo. Entrei no nosso quarto e fui ao closet pequeno que
reformei com o meu dinheiro quando decidimos morar juntos, e comecei a
tirar suas coisas do cabide, das gavetas, jogando tudo em sacos de lixo preto,
derrubando alguns dos seus perfumes caros no processo, mas pouco me
importando. Meu nariz entupido pelas lágrimas não me deixava sentir o
cheiro. Enquanto enfiava suas roupas de qualquer jeito, via um filme passar
pela minha cabeça, o momento como nos conhecemos depois de trocar
mensagens por uma rede social, pois tínhamos amigos em comum na
faculdade, o frio na barriga do primeiro encontro, nossa primeira noite juntos,
seu primeiro encontro com os meus pais, meu primeiro encontro com a sua
mãe, que era uma mulher incrível e certamente não criou o filho para ser um
babaca.
Eu tinha certeza de que ficaríamos juntos para sempre. Poderíamos
estar um pouco distantes, era verdade, mas eu queria consertar as coisas,
voltar a falar sobre o nosso casamento, pois sempre foi o meu sonho colocar
um vestido de noiva, começar a planejar o nosso bebê, pois ele havia me
garantido que queria ser pai um dia, mas Davi jogou tudo no lixo. Pegou oito
anos da minha vida e pisou, destruiu, pois cada lembrança era como uma
facada no meu peito. Como eu poderia esquecer os últimos anos da minha
vida, se a cada conquista, a cada passo, a cada lágrima, ele esteve comigo?
Não tinha como passar uma borracha em tudo, não tinha como apagar. Não
tinha como fazer absolutamente nada, a não ser expulsá-lo da minha vida.
Terminei de empacotar suas coisas e arrastei tudo para a sala, decidida
a terminar tudo sem me rebaixar. Kiki observava sem saber o que fazer, mas
tinha entendido que eu não queria brincar, pois ficou quietinha no sofá, me
vendo colocar os sacos de lixo ao lado da mesinha de centro. Limpando as
lágrimas, me sentei no sofá e olhei o relógio, vendo que passava das dez da
noite. Ele chegaria em breve, pois, ainda que estivesse me traindo, nunca
chegou muito tarde em casa, exceto em dias de jogo — talvez o único dia em
que não metia um chifre na porra da minha cabeça! Com o iPad aberto ao
meu lado, iluminei a tela no momento em que ouvi sua chave se encaixar na
fechadura da porta.
O apartamento estava em repleto silêncio, mas por dentro, minha
alma gritava. Observei quando ele entrou em casa no alto dos seus 1,80m,
usando um jeans de lavagem escura, caminha social cinza de botões, a pasta
que usava para levar para o trabalho em uma mão e a chave do carro na outra.
Ele tirou o sapato ainda de costas para mim e só percebeu que eu estava na
sala quando se virou, após deixar a chave sobre o aparador ao lado da porta
de entrada. Seus olhos focaram em mim por apenas um segundo, antes de
encararem os sacos pretos.
— Por que tem lixo no meio da sala? — perguntou, aproximando-se.
— Realmente, tem muito lixo no meio da sala. — Ele me encarou
com o cenho franzido quando me calei. — Não apenas no meio da sala, mas
neste apartamento. Consegue sentir o cheiro podre do chorume? Eu consigo.
— O quê? Eu não estou sentindo nada. O que aconteceu, Briana?
— Aconteceu muita coisa nos últimos meses, talvez nos últimos anos
— falei, pegando o iPad em minha mão. — Semana passada foi com uma
mulher chamada Raissa, dias atrás foi com uma outra chamada Amanda, no
último mês foi um total de sete mulheres. Sete! Eu estou impressionada.
Quando voltei a encará-lo, Davi estava cinza. Sua pele negra e sempre
tão reluzente, parecia sem vida e seus olhos estavam tão arregalados, que
parecia que iam saltar das órbitas.
— Como que... Como você...
— Como eu descobri? Foi bem simples, uma das suas amantes enviou
um direct para o perfil que você escondia de mim e apareceu aqui no iPad.
Parece que você se esqueceu de deslogar a conta nesse aparelho.
Joguei o iPad em sua direção, pouco me importando se o aparelho era
caro e poderia se espatifar no chão. Foi o que aconteceu. Davi parecia tão
atordoado, que só se deu conta do que havia acontecido, quando o tablet
quicou aos seus pés, mas não fez qualquer movimento para pegá-lo.
— Eu... Amor...
— Amor? — Não consegui ficar sentada. Eu não tinha sangue de
barata e logo percebi que fazer a mulher fina e fria ao descobrir que havia
sido traída não combinava comigo. — Amor, Davi? Sabe há quanto você não
me chama de amor? Agora que foi descoberto, quer tentar consertar as coisas
com apelidinho fofo? Eu quero que você pegue esse seu amor e enfie no rab...
— Calma, Briana, me deixe explicar!
— Explicar o quê? Não tem explicação para o que você fez! E não,
nem pense em tocar em mim! — Gritei quando ele tentou se aproximar,
dando um passo para frente enquanto eu dava dois para trás. — Há quanto
tempo você vem me traindo? Há oito anos? Desde o dia em que nos
encontramos pela primeira vez?
— Não! Não, amor...
— Não me chama de amor! — Minha voz saiu rouca por conta dos
gritos e das lágrimas que já lutavam para cair, mas eu as segurava. — Como
eu pude ser tão burra? Como pude me deixar ser enganada assim por você?
Um homem que se tornava cada vez mais frio, que não tinha tempo para
mim, que mal me olhava nos olhos! Que quando me tocava, parecia estar
fazendo um favor!
Ele se aproximou a passos largos, desesperado. Eu podia notar suas
mãos tremendo.
— Não! Nunca foi assim! Eu amo você, eu...
— Ama? Que amor é esse, Davi? Que amor é esse? — perguntei, mal
conseguindo me segurar. Soquei seu peito duas vezes e ele deu um passo para
trás, assustado. — Isso não é amor! E se for, eu não quero! Se essa é a sua
forma de amar, eu não quero ser amada por você! Eu estou com nojo de você,
nojo de mim mesma por ter sido tocada por você, por ter feito planos, por ter
desejado me tornar sua esposa, ser mãe dos seus filhos!
— Briana, não fala assim, por favor...
— É você que não tem que falar nada.
— Mas eu quero.
— E eu não quero ouvir! Quero que você pegue esses sacos de lixo
onde estão as suas coisas e saia da minha vida!
Chocado, ele olhou para os sacos pretos e depois voltou a me encarar,
o rosto ainda pálido e a boca aberta.
— Minhas coisas estão ali?
— Agradeça por eu não ter jogado tudo lá embaixo para você ter que
catar!
— Você não pode fazer isso. Amor, tudo aquilo não teve a menor
importância para mim, foi só diversão, eu estava estressado no trabalho, você
sabe, e aquelas mensagens só distraíam a minha mente. Foi só isso, eu juro!
— Ainda que fossem só mensagens, eu já não te perdoaria, mas eu sei
que houve mais, Davi. Eu li praticamente todas as mensagens, você falando
que queria repetir o que fizeram no dia anterior, a mulher falando que sentia
falta dos seus beijos, do seu toque... — Não consegui terminar de falar. O nó
em minha garganta se intensificou junto com a dor no meu peito e o nojo que
eu estava sentindo daquele homem. — A primeira coisa que vou fazer
amanhã, é um exame para ter a certeza de que você não me infectou com
nenhuma doença.
— Pelo amor de Deus, Briana, eu jamais faria isso...
— Você não tem como saber! Andou com um monte mulheres
enquanto esteve comigo, não teve um pingo de respeito por mim, pela nossa
história, por tudo o que vivemos juntos! Se queria viver como um homem
solteiro, por que não me pediu a separação? Por que não conversou comigo,
Davi? Eu sempre fui sincera com você, sempre expus todos os meus
sentimentos... Porra, eu queria me casar com você! Eu queria mais do que
morar junto, eu queria ser a sua esposa!
Foi a primeira vez em meses que eu vi uma emoção de verdade cruzar
o seu olhar. Era como se o choque estivesse passando e ele estivesse
começando a se dar conta do que havia perdido. O arrependimento foi a
primeira coisa que notei, junto com o desespero que ainda estava lá. Nervoso,
Davi tentou se aproximar de mim, mas voltei a me afastar. Se ele me tocasse,
eu ia fazer muito mais do que dar dois soquinhos no seu peito.
— Meu amor, não faz isso, não termina comigo...
— Ah, meu Deus... — Eu ri, porque não tinha mais o que fazer. Não
conseguia acreditar no que estava ouvindo.
— Eu amo você, Briana, eu te amei desde a primeira palavra que
trocamos quando tínhamos vinte anos e continuo te amando até hoje. Eu não
sei o que aconteceu comigo, não sei por que destruí tudo, mas me deixa
consertar. Por favor, me deixa consertar, linda.
— Não há conserto, Davi.
Contra todas as possibilidades, o homem se ajoelhou. Eu consegui ver
por entre as lágrimas, mas aquilo não me comoveu. Davi juntou as mãos na
frente do rosto e seus olhos ficaram marejados, mas não senti nada, só uma
raiva tão grande, que era capaz de explodir aquele apartamento, aquele
prédio, em mil e um pedaços, da mesma forma como estava o meu coração.
— Me perdoa, meu amor, por favor, me perdoa...
— Não.
— Briana, eu não sei viver sem você!
— Mas vai aprender. Agora para com essa cena patética e vai embora.
— Não! Nós vamos nos casar, eu quero te esperar no altar, quero ver
você vestida de noiva, quero ver você grávida de um filho meu... Quero
formar a nossa família, meu amor. Eu não quero perder tudo, não quero
perder você!
— Você teve oito anos para realizar cada um desses sonhos que,
agora, eu percebo que eram só meus — murmurei, finalmente deixando as
lágrimas caírem. — Só eu sonhei nesse relacionamento, Davi, só eu vivi cada
fase, só eu planejei, enquanto você se divertia pelas minhas costas. Agora,
acabou. Nunca mais vou dar a você ou a qualquer outro homem o poder de
me machucar assim. Nunca mais.
Ele viu a decisão em meus olhos, pois seus ombros caíram em
derrota, antes de estremecerem com o seu choro compulsivo. Eu não entendi
como funcionava a sua cabeça, mas também não me importava em tentar
entender. Só queria que ele me deixasse em paz, para que eu pudesse pegar
os caquinhos que deixou para trás e tentar me reconstruir.
— Vá embora — ordenei.
Davi me olhou como se fosse implorar mais uma vez, mas notou que
não adiantaria. Era o fim. Ainda chorando, passou a mão na cabeça de Kiki,
que abanou o rabo para ele sem entusiasmo, levou cada saco de lixo para fora
do apartamento, saiu e fechou a porta. Completamente sozinha ao lado da
minha cachorrinha, eu finalmente terminei de desabar.
Diziam que o tempo curava tudo.
Isso era uma grande mentira.
No primeiro mês após o término com Davi, vi meu mundo ruir de mil
maneiras diferentes. Ainda que estivéssemos distantes, ele era uma presença
diária em minha casa, em minha vida. Dividíamos a cama, que pareceu se
tornar enorme sem a sua presença, o closet, que antes era apertado, também
se tornou muito grande e o buraco em meu peito parecia dobrar de tamanho a
cada vez que eu respirava. Nunca pensei que terminar um relacionamento
fosse tão difícil, porque nunca cheguei a imaginar que um dia Davi e Briana
não existiriam mais.
A notícia foi um choque para a minha família, que gostava muito de
Davi, para os nossos amigos em comum, com quem costumávamos sair de
vez em quando, até mesmo para os nossos vizinhos, que estavam
acostumados a nos ver juntos desde quando nos mudamos para o
apartamento, dois anos antes. Lilian, minha ex-sogra, me ligava quase todos
os dias sem saber se pedia desculpas pelo filho ou se implorava para que eu
reconsiderasse minha decisão. Como se não bastasse, ainda tinha Davi, que
mesmo bloqueado no meu WhatsApp, em todas as minhas redes sociais e até
mesmo para me fazer uma ligação, ainda aparecia na confeitaria para tentar
falar comigo e me enviava flores, que iam direto para o lixo.
Ele só parou de ser inconveniente quando ameacei chamar a polícia.
Ainda assim, algo me dizia que ele não ia desistir tão facilmente, o que era
um absurdo, pois se estávamos naquela situação, a culpa era dele. Eu ainda
conseguia me lembrar da nossa última conversa por WhatsApp, ele me
comunicando que ia ver o jogo com os amigos e me respondendo “idem”
depois de eu ter dito que o amava. Quando precisou demonstrar seu amor,
nem que fosse em simples palavras, ele foi incapaz. Por que agora fazia
questão de que eu visse que me amava?
— Porque os homens só dão valor quando perdem, querida — Rose,
minha vizinha, respondeu quando fiz a pergunta em voz alta.
Ela, Miriam, minha mãe e Margarida se reuniam todas às quintas-
feiras para jogar cartas. A cada semana, era na casa de uma, daquela vez,
havia sido na casa de Rose. Minha mãe suspirou.
— Vocês não sabem como me machuca tudo isso que aconteceu.
Davi era como um filho para mim! Como a gente pode se enganar tanto com
uma pessoa?
— Uma coisa que aprendi nesses meus sessenta anos de vida, é que o
ser humano sempre tem a capacidade de nos surpreender — Miriam disse
com desgosto. — Às vezes eu dou graças a Deus por ser viúva, porque se
meu falecido marido tivesse colocado um chifre na minha cabeça, eu teria
arrancado as bolas dele e parado na delegacia.
— Será que eu deveria ter arrancado as bolas de Davi? — perguntei,
considerando aquela opção com seriedade. A raiva fazia isso com as pessoas.
— Claro que não, Miriam só está brincando — Margarida disse de
olho nas cartas.
— Não estou nada. Vocês sabem que eu teria coragem de fazer isso.
— Ainda faria um doce com os testículos e levaria ao hospital para
ele comer — Rose riu.
— Vocês são um bando de velhas esclerosadas. Minha filha está
sofrendo e vocês estão falando sobre cozinhar testículos!
— Cozinhar não, fazer um docinho, o que é mais chique — Miriam
disse, colocando uma carta na mesa. Por fim, me olhou. — Sabe o que eu
acho, Briana? Você deveria parar de chorar e ir se divertir.
— Eu não estou chorando.
— Você chora todos os dias — disse ela.
— Não, eu não choro!
— Chora sim, eu escuto aqui de casa — disse Rose, me olhando sobre
os óculos de grau.
— Mentira, as paredes dos apartamentos não são tão finas assim. E
você mora no apartamento da frente, seria impossível ouvir.
— Você acabou de se entregar — Margarida salientou e eu bufei,
arrependida de ter comparecido ao jogo daquela noite.
— Não tem problema chorar, querida, só não pode deixar essa dor
dominar você — disse minha mãe. — Bati!
— Você está roubando! — Miriam acusou.
— Claro que não!
— Está sim, se aproveitou que estávamos distraídas com Briana e
roubou na cara dura.
— Para de me acusar, toda vez é isso...
Elas começaram a discutir e eu parei de prestar atenção, sentindo meu
celular vibrar com uma nova notificação de mensagem. Peguei o aparelho e
vi o nome de Malu na tela.
“Que tal uma noite de queijos e vinhos amanhã aqui em casa?
Traz a Kiki, você sabe que ela adora brincar com a Beyoncé.”
Beyoncé era a Yorkshire Terrier de Malu, minha melhor amiga. Além
de ser muito fã da cantora, ela colocou esse nome na cachorrinha porque dizia
que seus pelos claros mesclados aos escuros lembravam os cabelos que a
Beyoncé usava.
“Não sei, amiga. Não estou no clima.”
“Eu vou fazer você ficar no clima. O que não vou deixar, é que
você passe mais um final de semana trancada no seu apartamento,
chorando e se lembrando de Davi.”
“Como é que todo mundo sabe que eu fico chorando?”
“Porque está escrito na sua cara, amiga.”
“Eu não quero acreditar que sou tão óbvia assim.”
“Você é, mas não se preocupe com isso, só quem convive com você
é que sabe.”
Bem, aquilo não me tranquilizava em nada.
— Briana, fala para sua mãe que ela não precisa ir embora só porque
roubou o nosso jogo — Rose pediu, chamando a minha atenção. Minha mãe
estava com a cara amarrada e os braços cruzados, mas não parecia estar com
a menor vontade de ir embora.
— Quem foi que me convenceu a ser amiga da terceira idade? Isso
nunca daria certo!
— Querida, você já chegou na casa dos cinquenta há uns cinco anos,
não se esqueça disso — Margarida fez questão de lembrar.
— Vocês já estão na casa dos sessenta!
— E deve ser por isso que vocês se amam — falei, vendo quatro pares
de olhos caírem sobre mim.
— A gente não se ama, a gente apenas se tolera — Miriam
resmungou.
— Deus me livre amar essas velhas insuportáveis. — Margarida fez
careta.
— Velha é a sua mãe — Rose reclamou.
— Parem de resmungar...
Era sempre assim, uma alfinetando e reclamando da outra, mas, no
fundo, não saberiam viver separadas. Uma nova rodada começou e eu fui
para a cozinha preparar um lanchinho para elas, me sentindo em casa no
apartamento da Rose. Era bom estar ocupada com alguma coisa, isso distraía
a minha mente. Enquanto colocava a pizza congelada no forno, peguei meu
celular e resolvi responder Malu.
“Está bem, nossa noite de queijos e vinhos está marcada.”
“Oba! Vou preparar tacos também, você sabe que é a minha
especialidade.”
Sim, eu sabia. Malu gostava de cozinhar e fazia isso com frequência
quando recebia os amigos em sua casa. Nós nos conhecíamos desde o Ensino
Médio e uma sempre esteve ao lado da outra em cada momento, fosse ele
importante ou não. Quando ela terminou o seu namoro com Arthur, anos
atrás, eu fui o seu ombro para chorar e a ajudei a se reerguer, saindo com ela
e até mesmo apresentando um dos amigos de trabalho do Davi. Agora que eu
estava sofrendo com o coração partido, ela fazia a mesma coisa por mim.
Éramos inseparáveis e eu agradecia todos os dias por ter tido sorte na
amizade, já que no amor eu parecia ter o dedo podre.
Nem sempre sofri por ex-namorados, mas a cada término, eu
costumava me perguntar se um dia não teria um amor de verdade, daqueles
de tirar o fôlego e que durava para sempre, como o dos meus pais. Pensei que
teria isso com Davi, mas estava enganada. Agora, com vinte e nove anos e
um coração cheio de decepção, eu não tinha a menor disposição para tentar
ou sequer pensar em encontrar uma pessoa para namorar. Era melhor
prosseguir solteira, evitaria um novo coração partido.
Tirei a pizza do forno minutos depois e levei para as senhoras na sala.
Agora elas estavam concentradas em fofocar sobre a vida de alguém que eu
não conhecia, enquanto jogavam. Uma coisa era certa, se não estavam
brigando, estavam fazendo fofoca, mas não era o tipo de fofoca que fazia mal
aos outros, era apenas comentários dentro da rodinha de amizade delas. Eu
observei as quatro enquanto começavam a comer, me sentindo um pouco
melhor naquela noite. Era bom tê-las ao meu lado, assim como ter Malu e até
mesmo Mariana, que vinha sendo imprescindível na confeitaria durante essa
fase ruim da minha vida pessoal. Apesar de tudo, eu era cercada de boas
pessoas e nelas eu poderia confiar.
Entrei no closet, procurando vestir algo melhor do que o moletom
sem graça que me encarava. Aquela vinha sendo minha peça favorita, já que
estávamos no inverno e assim que a temperatura batia vinte e três graus, o
carioca já sentia frio. Meu cabelo estava gritando por uma hidratação e minha
pele por uma esfoliação — assim como minha vagina que, coitada, não via
uma depilação decente há semanas. Eu não era desleixada, mas a tristeza
fazia aquilo com a gente. E, se fosse sincera comigo mesma, o fato de ter sido
traída de forma tão baixa mexeu com a minha autoestima.
De frente para o espelho, encarei-me e tentei encontrar a Briana de
antes, a que se admirava, que cuidava da pele até deixá-la macia, que tinha
confiança em usar roupas apertadas e que desenhavam o corpo. Minha pele
negra combinava muito com tons como amarelo e vermelho e eu amava
explorar roupas com cores vibrantes. Meus seios eram medianos, mas meus
quadris eram largos, minha bunda era grande e eu me achava gostosa.
Quando adolescente, até coloquei um piercing no umbigo, mesmo quase
matando minha mãe e meu pai do coração.
Agora, eu me olhava e me perguntava se aquelas finas estrias em
minha bunda, que quase não apareciam, tinham sido o motivo para Davi
olhar para outra mulher. Ou será que eram aquelas celulites na parte posterior
da coxa que o fez parar de me desejar? Nós transávamos — raramente —
mas não era mais a mesma coisa. Racionalmente, eu dizia para mim mesma
que a culpa não era minha, que ele era um safado sem escrúpulos, mas, no
fundo, a insegurança batia. Com raiva, virei as costas para o espelho, tirei o
conjunto de moletom que me encarava desde que eu havia saído do banho e o
vesti. Uma noite de queijos e vinhos com Malu não precisava de uma
superprodução da minha parte.
Prendi meus cabelos cacheados em um coque no alto da cabeça,
peguei a casinha de transporte da Kiki e a coloquei lá dentro, em seguida,
passei a mão pela minha bolsa, a chave do carro e saí de casa. Encontrei com
meus vizinhos do apartamento ao lado colocando algumas caixas no corredor.
Marieta, que estava grávida de cinco meses, me deu um sorriso e olhar
solidários e apoiou as duas mãos na base da coluna. Todos os meus vizinhos
me davam aquele tipo de olhar desde que Davi havia ido embora.
— Oi, Briana! Que bom poder te encontrar, acho que esse é o
momento perfeito para poder me despedir.
— Se despedir? Está de mudança?
— Sim, eu comentei com você no início do mês, lembra? Com mais
um bebê vindo, precisaremos de mais espaço. Compramos uma casa.
Seu sorriso daquela vez foi alegre, o que me deixou feliz, apesar de eu
realmente não me lembrar de ela ter comentado comigo sobre a mudança. Há
um mês eu estava envolta da minha própria dor, acontecimentos ao meu redor
passaram como um borrão e minha mente não registrou quase nada.
— Marieta, estou muito feliz por vocês, espero que dê tudo certo na
casa nova e que o bebê venha com muita saúde.
— Ah, é mais uma menina! Mas essa aqui é danada, sente só. — Ela
pegou a minha mão e a colocou sobre a barriga. Meu coração deu um salto
quando senti a bebê chutando, como se quisesse atenção de quem estava do
lado de fora. — Viu? É assim o dia inteiro e a noite também. Não sei como
pode ter tanta energia!
— É incrível — murmurei, sentindo um aperto no peito, mas sem
querer que ela percebesse. — Já escolheram um nome?
— Sim, vai se chamar Ana Laura.
— Combina com Ana Beatriz — falei, lembrando do nome da sua
filha mais velha.
— Exatamente! E Bia está animada, louca para conhecer a irmãzinha.
Acredita que está me ajudando a escolher cada peça de roupa? E eu pensando
que ela sentiria ciúmes. Crianças sempre nos surpreendem.
— Pois é — concordei, sem saber mais o que dizer, intercalando
meus olhos entre ela e sua barriga. A neném ainda mexia e eu ainda estava a
acariciando como se tivesse muita intimidade para ficar mais do que cinco
segundos com a mão no ventre da sua mãe. Constrangida, me afastei, mas
Marieta não parecia se importar. Era aquele tipo de grávida que gostava de
carinho. O tipo de grávida que eu seria. — Preciso ir, Marieta. Desejo tudo de
melhor para você e sua família.
— Desejo o mesmo para você, Briana. Que você encontre um novo
amor, que seja muito feliz e que tenha sorte com o novo vizinho. Eu sei que
Bia às vezes fazia barulho de noite.
— Imagina, ela nunca me incomodou — falei, querendo cortar o
assunto sobre um novo amor. Não queria nem pensar sobre aquilo. — Dê um
beijo nela por mim e um abraço em Carlos.
— Pode deixar! Quando Ana Laura nascer, mando uma foto para
Rose e peço para ela te mostrar.
— Tenho certeza que será linda como Bia.
Marieta sorriu de orelha a orelha, feliz com o elogio que fiz a filha,
mas não menti. Ana Beatriz era mesmo uma fofura, sempre de maria-
chiquinha no cabelo e um sorriso no rosto. Acenei para Marieta quando o
elevador chegou e olhei para Kiki pela porta da casinha assim que as portas
se fecharam.
— Viu como ela estava linda com aquela barriga, Kiki? E eu
pensando que conseguiria ter um bebê em breve. Davi me iludiu até sobre
isso, aquele desgraçado!
Xinguei, mas, no fundo, queria chorar. No meio de todo aquele
turbilhão, tinha até me esquecido um pouco sobre a história da gravidez, mas
ver Marieta tão alegre com mais um bebê a caminho me despertou de novo
aquela vontade de ser mãe. Eu sempre amei crianças, ser mãe era um sonho
que sempre quis realizar, mas que nunca tive pressa para consumar, até agora.
Trinta anos era uma boa idade para ter filhos, vários sites na internet falavam
isso. Eu era independente, minha confeitaria ia muito bem, só não tinha o
principal, que era um companheiro ao meu lado para compartilhar tudo
aquilo.
Coloquei a casinha de Kiki no banco traseiro e entrei em meu carro,
ligando o som. Ana Carolina começou a cantar “É Mágoa”, uma música que
combinava muito com o meu estado de espírito e a raiva que sentia de Davi,
mas resolvi não iniciar aquela noite com sentimentos ruins, por isso, troquei a
estação de rádio e uma música Pop em inglês começou a tocar. Dirigi até o
Flamengo, onde Malu morava, e logo estava apertando a campainha do seu
apartamento. Lá de dentro, pude ouvir uma música do Sorriso Maroto, seu
grupo de pagode favorito. Ela veio cantando em alto e bom som e abriu um
sorriso enorme ao abrir a porta e me ver, enquanto Beyoncé latia e pulava em
minhas pernas.
— Amiga! Ai, que saudade!
— A gente se viu ontem à tarde — lembrei, a abraçando quando me
puxou pelo pescoço.
— Eu sei, mas estava mais preocupada em comer aquela torta de
limão do que olhar para você, ou seja, parece que eu nem te vi. Entra!
— Como é bom saber que eu posso ser trocada facilmente por uma
fatia de torta de limão.
— A culpa não é minha se você faz a melhor torta de limão do
mundo. Oi, Kiki, que saudade!
Ela puxou a casinha da minha mão e eu aproveitei para cumprimentar
Beyoncé, que estava muito bonitinha com um vestidinho rosa. Ela era tão
comportada! Kiki destruía toda roupinha que eu colocava nela. Assim que viu
Kiki em liberdade, Beyoncé saiu de perto de mim e foi correndo brincar com
a amiga. Elas pareciam se entender tão bem quanto eu e Malu.
— Agora eu posso te dar um abraço decente — Malu disse, me
puxando para um abraço muito apertado. Eu precisava tanto daquilo, que
senti meus olhos marejarem. — Eu ouvi você fungando?
— Só um pouquinho — sussurrei, sem saber se ria ou se chorava.
Malu não me soltou.
— Prefiro pensar que você está chorando porque se deu conta de que
saiu de casa de pijama.
— Isso não é um pijama, é um conjunto de moletom.
— É um pijama horroroso, cinza e sem graça, mas vou deixar passar,
porque você pelo menos tomou coragem para sair. Seria pior se ficasse
vestida nesse negócio horrível e trancada dentro de casa.
— Sua forma de cuidar de mim é tão peculiar.
— Eu sei que sim. Pode falar que esse é um dos motivos para você
me amar.
— Eu não te amo — falei, me afastando e apertando o cantinho dos
olhos. — Ok, talvez eu ame apenas um pouquinho.
— Ainda por cima, mal sabe mentir. Vamos deixar as lágrimas para
depois que estivermos na segunda garrafa de vinho, assim, podemos colocar a
culpa do nosso choro no álcool. Vem me ajudar a pegar as coisas.
Kiki e Beyoncé ficaram brincando na sala e Malu e eu fomos até a
cozinha, que cheirava tão bem que fez o meu estômago pedir por comida,
coisa rara nas últimas semanas. Ficar triste tirava o meu apetite. Ajudei Malu
a levar as taças, a garrafa de vinho, a tábua de frios e os tacos para a sala e
nos sentamos no sofá depois de arrumar tudo na mesinha de centro. Sorriso
Maroto cantava “Clichê”, mas Malu logo trocou seu grupo de pagode
favorito pela sua cantora favorita. Beyoncé — a cantora — começou a
esfregar sua beleza em nossa cara ao cantar “Ego”.
— Ah, essa música me faz lembrar do meu personagem literário
favorito — Malu suspirou, nos servindo vinho enquanto eu atacava os tacos.
— Aquele tal de advogato? — perguntei e ela arregalou os olhos.
— Nunca mais fale assim!
— Assim como? Advogato não é o apelido dele?
— Sim, mas não use “aquele tal”, isso é ofensivo e o Caio não merece
ser tratado assim.
— Malu, ele não existe.
— E daí? — Defendeu o homem, dando um gole generoso no vinho.
— Para mim, ele existe. Ele é o homem perfeito, sabe? Leal, gostoso, amigo,
companheiro, fode bem, é um ótimo profissional e ainda canta funk.
— Por isso que ele não existe.
— É, deve ser por isso mesmo — murmurou, obviamente chateada.
— Mas se existisse, não haveria Luna no mundo que o tirasse de mim. Eu ia
dar uma chave de coxa tão bem dada nesse homem, que ele não me largaria
jamais.
Uma gargalhada explodiu em meu peito e quase me engasguei ao
tentar engolir o último pedaço de taco, enquanto Malu fazia o mesmo. Ela era
arquiteta e leitora assídua de romances nas horas vagas. A cada vez que
conversávamos, me contava sobre um livro diferente que estava lendo, mas
parecia obcecada pelo tal Caio desde que finalizou a leitura de Todas as Suas
Cores — sim, ela havia feito o título do livro ficar gravado a ferro e fogo em
minha memória.
— Seu Caio ainda vai chegar, amiga — falei apenas para tranquilizá-
la, pois a minha confiança em qualquer ser humano do sexo masculino havia
sido esmagada.
— O seu também, amiga.
— Não, não quero pensar nisso. Não quero namorar nunca mais.
— Bri, é claro que você não quer, está tudo muito recente, você está
magoada, mas uma hora vai conseguir abrir o seu coração de novo.
— Que coração? Davi destruiu o meu.
— Não fale assim — ela pediu, mas eu ignorei e praticamente sequei
minha taça de vinho. — Aquele filho da puta não arruinou a sua vida,
entendeu? Ele te feriu e magoou, mas não tem o poder de minar suas
esperanças em ter um novo amor.
— Não quero um novo amor — murmurei, passando o dedo pela
borda da taça. — Pelo menos não esse tipo de amor.
— Como assim? Que tipo de amor você quer sentir?
— Aquele vem de dentro, do fundo nosso ser, Malu. — Ela seguiu
com o olhar a mão que eu coloquei por cima da minha barriga. — Mas não
sei se isso será possível.
— Ser mãe sempre foi um sonho para você, não é?
— Sempre. Ele viveu adormecido, mas acordou com tudo nos últimos
meses. Pensei que conseguiria realizá-lo com Davi, mas... — Dei de ombros,
piscando firme para espantar as lágrimas. Malu, que estava nos servindo mais
uma taça de vinho, bufou.
— Desde quando você precisa daquele babaca para ser mãe?
— Eu sei que não preciso, mas também não quero entrar em um novo
relacionamento e ter que esperar anos para poder realizar esse sonho. Quero
ser mãe dos meus filhos, não avó.
— Amiga, pelo amor de Deus, estamos no século vinte e um! Já ouviu
falar em inseminação artificial? Uma mulher não precisa mais de um homem
para ser mãe, só precisa do esperma dele — disse o óbvio, enquanto dava
mais um gole no vinho.
Foi como se uma luz poderosa tivesse se acendido no fim do túnel. De
repente, me senti uma completa idiota por não ter sequer cogitado pensar
naquilo, mas não perdi tempo me martirizando, porque Malu estava certa. Eu
podia e seria mãe. Nunca dependi de homem para nada, mesmo quando
estava com Davi, sempre tive minha independência financeira. Agora que a
confeitaria estava completando um ano e meio de existência e que minhas
contas estavam equilibradas, eu poderia focar naquilo. Poderia realizar o meu
sonho e dar à luz ao meu bebê.
— Ah, meu Deus, seus olhos estão brilhando! Parece que estou vendo
a Briana que me contou que abriria uma confeitaria. O que está acontecendo?
— Você está vendo uma Briana que está prestes a realizar mais um
sonho — falei, me levantando, pois estava entusiasmada demais para ficar
sentada. — Eu vou ser mãe!
— Vai? — ela perguntou em um gritinho histérico, ficando de pé
também.
— Sim! Eu vou ser mãe, Malu, vou realizar esse sonho!
— Meu Deus, eu vou ser madrinha! Kiki, você vai ser promovida a
irmã mais velha e, Beyoncé, você vai ser prima! Não acredito!
Malu veio correndo me abraçar e eu gargalhei com uma felicidade
que não sentia há muito, muito tempo. E o que me deixou ainda mais feliz,
foi ter o apoio da minha melhor amiga, que sempre embarcou ao meu lado
em cada uma das minhas loucuras.
— Vai dar certo, amiga, você vai ver! — disse ela, me apertando mais
uma vez antes de se afastar. Vi que estava emocionada assim como eu, mas,
de repente, abriu a boca e olhou para a TV. — Essa música! Bri, é nessa
música que você tem que focar, entendeu? Você vai cantar comigo e pensar
no livramento que foi se separar do Davi!
Ela aumentou o som e Beyoncé começou a cantar “Best Thing I
Never Had”. No vídeo, havia a letra em português e inglês e nós começamos
a cantar juntas. Foi como um hino de liberdade, senti cada parte presa dentro
de mim, desde a raiva até a mágoa, começarem a se dissipar.
Quando eu penso que houve uma época que eu quase te amei
Você se mostrou um idiota e eu vi quem você era de verdade

Graças a Deus que você estragou tudo


Graças a Deus eu me desviei da bala
Eu já superei você
Amor, é melhor cair fora

Eu te queria tanto
Mas não sinto mais isso
Porque sinceramente, você acabou sendo a melhor coisa que eu
nunca tive
Você acabou sendo a melhor coisa que eu nunca tive
E eu sempre serei a melhor coisa que você nunca teve
Aposto que deve ser uma droga ser você agora.[1]
Passei a próxima semana pesquisando e consumindo todo conteúdo
sobre inseminação artificial que havia na internet, até tomar coragem para
procurar minha ginecologista e conversar um pouco mais sobre aquele
assunto. Ela não era especialista em reprodução humana assistida, mas me
ajudou muito, tirando algumas dúvidas e até mesmo me indicando uma
clínica da sua confiança.
Eu me consultava com a Doutora Claudia Cardoso há anos e foi para
ela que corri no dia seguinte após a minha separação, para poder pedir os
exames específicos para saber se eu havia contraído alguma IST[2]. Do seu
jeito acolhedor e sem julgamentos, ela ouviu o motivo da minha preocupação
e concordou que eu estava certa em investigar se o canalha do meu ex —
essas palavras foram minhas — havia me passado algum tipo de doença. Os
resultados do exame saíram dias depois e a cada “não detectado” que eu lia,
mais aliviada ficava. Por fim, descobri que eu continuava plenamente
saudável. Dra. Claudia, que também era obstetra, deixou bem claro que
cuidaria de mim durante a gravidez e pareceu feliz pela minha decisão de
realizar o meu sonho de ser mãe.
Saí do seu consultório naquela manhã de terça-feira com a sensação
de que minha vida mudaria para melhor. Dentro do carro, não perdi tempo,
liguei logo para a clínica e marquei uma consulta com a Dra. Amélia Paiva,
indicação da Dra. Claudia. Consegui agendar a consulta para a próxima
semana e senti que contaria os minutos até o dia chegar. Do consultório, fui
direto para a confeitaria e consegui me dedicar cem por cento aos doces,
enquanto Mariana lidava com os clientes e Luíza, a garçonete que havia
contratado duas semanas antes, os servia.
— É tão bom te ver com esse sorriso no rosto! — Miriam disse de
repente, me chamando a atenção. Ao menos tinha me dado conta de que
estava sorrindo.
— Estou feliz, Miriam.
— Estou percebendo, meu bem. — Sua voz carinhosa aqueceu meu
coração. — Posso saber o motivo?
Eu queria falar, mas, antes, conversaria primeiro com os meus pais.
Jantaria com eles naquela noite e deixaria bem claro que, se tudo desse certo,
eles seriam promovidos a avós dali a alguns meses.
— Ainda não, mas eu juro que contarei em breve!
— Bom, o que realmente importa, é que você está sorrindo de novo,
ainda que não confie em mim para contar o porquê...
Seu drama me fez rir e precisei parar de misturar as gotas de
chocolate à massa do cookie para poder abraçá-la.
— Claro que eu confio em você, sua boba, eu só não posso contar
ainda.
— Promete que serei a primeira a saber quando você puder contar?
Não vale passar Rose e Margarida na minha frente, aquelas velhas nunca
mais me deixarão em paz!
— E você as deixará em paz se souber primeiro?
O sorriso maldoso que se abriu em seus lábios não combinava nem
um pouco com uma senhora. Não diziam que as velhinhas eram avós fofas?
— Claro que não! — Confirmou o que eu sabia, caindo na gargalhada
comigo.
O resto do dia foi tranquilo e eu sequer pensei em Davi ou na tristeza
que me atormentava há quase dois meses desde a separação. Até o clima na
confeitaria parecia diferente e eu pude apreciar a música ambiente que tocava
sem prestar atenção na letra, fofoquei um pouco com Miriam sobre a vida dos
outros — seu esporte favorito — e, por fim, quando terminei de contar o
caixa naquele dia e fechei a confeitaria com a ajuda de Mariana, que saiu
correndo para a faculdade logo depois de se despedir de mim, fui para casa
em paz.
Levei um bom tempo embaixo do chuveiro, aproveitando o corpo
lisinho depois de ter feito uma depilação completa no dia anterior e dediquei
alguns minutos ao meu cabelo, massageando e já prevendo como ficaria
bonito depois que eu o finalizasse com uma fitagem rápida e o difusor. Era
bom voltar a pensar em mim, ainda que eu soubesse que isso duraria pouco
tempo, pois logo estaria pensando no meu filho. O sorriso que se abriu em
meus lábios quase partiu meu rosto ao meio. Eu teria um bebê! Isso dissipava
qualquer tristeza que poderia existir dentro do meu peito.
Escolhi uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa rosa de meia
manga que ficava bem coladinha ao meu corpo e valorizava minha cintura
fina. Ter o prazer em escolher algo para vestir era um avanço depois de viver
usando moletom e roupas sem graça para ir ao trabalho. Eu gostava de estar
bem-vestida, ainda que passasse boa parte do meu tempo na cozinha usando
um avental, pois achava importante que os clientes tivessem uma boa
impressão da dona do lugar onde estavam fazendo uma pausa para comer.
Finalizei meu cabelo com o difusor, passei um gloss e uma máscara de cílios
e logo estava pronta para sair com Kiki ao meu lado, pois ela amava a casa
dos meus pais.
Assim como eu, meus pais moravam em Laranjeiras e a distância
entre nossos apartamentos era de pouco mais de quinze minutos de carro.
Entrei com a cópia da chave que eu ainda mantinha em meu chaveiro e pude
ouvir um jazz, ritmo favorito do senhor Brito Garcia, tocando ao fundo,
enquanto a risada da minha mãe ecoava na cozinha. Encontrei os dois
tomando uma taça de vinho e rindo de alguma besteira, provavelmente dita
pelo meu pai.
— Isso tudo é felicidade por eu ter chegado? — perguntei, soltando
Kiki da casinha e ouvindo seus latidos ao correr para as pernas da minha mãe.
Meu pai veio me abraçar bem apertado, em seguida, se abaixou para
pegar Kiki e deixar que ela enchesse o seu rosto de beijos. Foi a vez da minha
mãe me dar um abraço e eu adorei ser acolhida por eles. Me lembrava a
minha infância.
— Estou fazendo seu prato favorito.
— Fricassê de camarão?
— Exatamente! Vem aqui com a vovó, meu amorzinho... — Minha
mãe se derreteu para Kiki e eu senti meu coração pulsar de felicidade. Se
ficavam daquele jeito com a minha cachorrinha, como ficariam com um
bebê? Eu mal podia esperar para ver.
— Como está a confeitaria, filha?
Passei os próximos minutos tomando uma taça de vinho e
conversando com o meu pai, que também me atualizou sobre o seu trabalho.
Ao contrário da minha mãe, que havia se aposentado, ele continuava atuando
na área da advocacia e era alguém respeitado no meio, mesmo com os seus
sessenta anos. Quem olhasse para o meu pai, tão bem-disposto e alegre, não
imaginaria como teve que ralar muito mais do que os outros para poder ser
alguém na vida. Negro, pobre, com um pai viciado em álcool e agressivo e
uma mãe que passava mais tempo criando os filhos da patroa do que dando
atenção para o menino que tinha em casa, meu pai poderia muito bem ter sido
corrompido pela criminalidade da favela onde morava, mas provou que com
esforço, estudo e dedicação, um menino pobre e preto, poderia vencer.
Não foi fácil, o preconceito era algo que marcava e machucava, mas
meu pai nunca esmoreceu. O orgulho que eu sentia dele e da minha mãe era
tão grande, que mal cabia em mim. Se hoje eu era uma mulher independente,
que teve bons estudos e oportunidade de crescer na vida, era por causa
daqueles dois. Esperava que eles se orgulhassem da filha que haviam criado e
entregado para o mundo.
Com o fricassê pronto, colocamos a mesa e nos sentamos perto um do
outro, como quando eu ainda morava com eles. Deixei que me atualizassem
sobre a nossa família — meu pai tinha um irmão mais velho por parte de pai
que morava em São Paulo. Eles se conheceram quase adultos, quando meu
avô faleceu e meu tio Roberto veio ao Rio de Janeiro para poder ir ao enterro.
Não que meu avô fosse alguém querido para ambos, mas ainda era o pai dos
dois. Foi bom ele ter vindo, pois assim conheceu o irmão mais novo e desde
então, nunca mais perderam contato. Às vezes ele e a família vinham ao Rio
nos visitar, assim como já tínhamos ido a São Paulo passar as férias e festas
de final de ano com eles.
Já a família da minha mãe era toda do Rio de Janeiro, mas cada um
morava em um lugar. Eu não tinha avós, apenas tias e primos, e minha mãe
levou um tempo me contando como cada um estava. Deixei que falassem por
metade do jantar, até que meu pai fez a pergunta fatídica:
— Davi voltou a te procurar?
— Não. Acho que ele entendeu que não tem mais volta depois que
ameacei chamar a polícia.
— Bom. Se ele não tivesse parado, eu mesmo tomaria uma
providência.
— Ele ainda tentou falar comigo semanas atrás, acredita nisso, filha?
Mas não atendi e depois bloqueei o número dele. Não quero olhar na cara
daquele idiota nunca mais!
— Eu também não e não quero mais perder tempo falando sobre ele,
Davi agora faz parte do meu passado. Quero contar algo a vocês.
— Sabia! Esse brilho nos seus olhos não me engana — minha mãe
disse, me fazendo sorrir. — O que aconteceu?
— Não aconteceu ainda, mas vai acontecer.
— Como assim? — meu pai perguntou.
— Vocês sabem que eu sempre sonhei em ser mãe, certo? — Os dois
assentiram. — Por um momento, depois da separação com Davi, achei que
nunca mais iria realizar esse sonho, mas Malu me abriu os olhos e me
lembrou sobre a inseminação artificial. Eu passei a última semana
pesquisando sobre o assunto, então, conversei hoje com a minha
ginecologista e decidi que vou ter o meu filho de forma independente, através
da inseminação.
Meus pais se olharam e esperei pela reação deles com expectativa. Eu
sabia que aquele era um assunto delicado, que poucas filhas chegavam para
os pais e diziam que seriam mães solo por opção, mas aquela era minha
decisão. Esperava que eles me apoiassem.
— Você tem certeza de que é isso que você quer? — Meu pai
perguntou. — Ter um filho requer muita responsabilidade, Briana.
— Eu sei disso, pai, mas eu estou pronta. Completo trinta anos no ano
que vem, acabei de me separar e não quero ter um relacionamento tão cedo,
mas quero ter um filho, sempre foi o meu sonho ser mãe. Se eu tenho
condições de fazer isso, por que esperar?
— Quer saber? Você está certa! — Minha mãe disse, dando um
tapinha na mesa. — Uma mulher livre e independente não precisa esperar por
ninguém para tomar as suas próprias decisões. Se quer ter um filho, tenha um
filho, só saiba que você nunca estará sozinha. Eu e seu pai estaremos sempre
ao seu lado e eu vou amar tanto, mas tanto o meu netinho ou netinha, que ele
ou ela vai preferir morar comigo do que com você.
Eu comecei a rir e meu pai logo me acompanhou, balançando a
cabeça.
— Analídia, meu amor, o filho é da Briana, não nosso.
— Avó é mãe duas vezes, ora! — disse ela, me puxando para um
abraço. — Estou tão feliz por você, meu amor. Dá para ver que a vontade de
ter esse filho está trazendo de volta a Briana iluminada e confiante que eu
conheço.
— Realmente, está. Esse bebê está dando um novo sentido a minha
vida e ele ainda nem existe.
— Mas vai existir em breve — meu pai disse, tocando a minha mão
por cima da mesa. — Pode contar conosco, filha. Você pode ser mãe solo,
mas jamais estará sozinha.
Eu sabia daquilo e ter o apoio dos dois me encheu de felicidade.
Minha consulta com a especialista em reprodução humana assistida
foi esclarecedora. Dra. Amélia me acolheu e tirou todas as minhas dúvidas
sobre cada procedimento, me passou uma lista de exames e me explicou
melhor sobre como funcionava a escolha do sêmen. No Brasil, havia certa
carência em doação de sêmen e o banco brasileiro se tornava infinitamente
menor comparado ao banco de sêmen americano, onde os doadores recebiam
para poder doar.
Além disso, enquanto no Brasil só tínhamos acesso a cor da pele, do
cabelo, dos olhos, tipo sanguíneo, peso e altura, nos Estados Unidos,
tínhamos acesso a tudo isso, mais ao perfil psicológico do doador, histórico
de saúde, fotos da infância, nível de graduação e até mesmo seus hobbies e
animais de estimação favoritos, o que era muito mais interessante, pois eu
poderia escolher um doador que tivesse os mesmos interesses que eu, que
fosse forte e inteligente.
Ao final da consulta, eu estava certa de que importaria o sêmen dos
Estados Unidos e já estava ansiosa para poder escolher o doador. Faria aquilo
enquanto os resultados dos exames pedidos pela Dra. Amélia ficassem
prontos, assim, no nosso próximo encontro, eu já teria o meu escolhido e
poderíamos prosseguir com o protocolo de importação.
Malu me ajudou muito durante a escolha. Analisamos tantos perfis no
banco de sêmen, que me vi louca com todas aquelas opções. Durante a
consulta, Dra. Amélia me contou um fato que me abalou um pouco. Entre os
perfis escolhidos, 95% eram brancos, 52% tinham olhos azuis e 27% eram
loiros. Eu sabia que, infelizmente, por conta do abismo social que havia no
Brasil, pessoas brancas geralmente tinham mais poder aquisitivo do que
pessoas negras e isso poderia influenciar na busca de casais — heterossexuais
ou homossexuais — e mulheres solos pela inseminação artificial, que não era
um procedimento barato. Com isso, era lógico que a pessoa que escolhia
passar por esse procedimento, optaria por um doador fisicamente parecido
consigo mesmo, mas saber que a preferência por sêmen de pessoas brancas
era de 95% me causou um nó no estômago, por isso, mantive a certeza sobre
a minha escolha e busquei apenas por doadores negros.
Eu era uma mulher negra, meus pais eram negros, pelo menos 60%
das pessoas que compunham a minha família eram negras e eu sentia muito
orgulho disso, portanto, não faria o menor sentido procurar por um doador
branco. Eu gostaria de manter as minhas raízes. Quando voltei a encontrar a
Dra. Amélia, eu já tinha o meu escolhido.
Era um doador afro-americano na faixa dos trinta e sete anos, seu
nível de graduação era MBA, tinha 1,80m e pesava 84kg. No seu perfil, dizia
que tinha uma filha e que amava ser pai, era um bom ouvinte, compassivo,
gentil, gostava de ajudar os menos afortunados, era um homem de caráter e
com instinto de liderança e que sua positividade irradiava pelos olhos
castanhos. Tinha interesse em piano e literatura, seu hobby favorito era
praticar esportes e seus assuntos preferidos eram arte, história, linguagens e
matemática.
— Seus exames estão excelentes, Briana. Você é uma mulher jovem e
saudável, com a taxa de hormônios esperada para sua idade, o que significa
que as chances de o procedimento dar certo são bem altas.
Ouvir as suas palavras me fez ficar nas nuvens. Saí do seu consultório
sabendo que o sêmen do meu doador escolhido levaria até quarenta dias para
chegar ao Brasil e que a minha inseminação seria intracervical, que era
quando o esperma era colocado no colo do útero com uma seringa,
basicamente simulando a função do pênis no momento da ejaculação.
Os próximos quarenta dias seriam os mais aguardados por mim!

— É depois de amanhã! Não acredito! — Malu praticamente pulava


na minha frente, enquanto espalmava as duas mãos em minha barriga. — Já
está sentindo esse útero lindo se preparando para hospedar o meu futuro
afilhado ou afilhada? Porque eu estou sentindo!
— Estou. Isso não é louco?
— Não, isso é maravilhoso! Nem acredito que esse momento chegou,
amiga!
Eu também mal podia acreditar. O tempo de espera para a chegada do
sêmen do doador americano foi um exercício para estimular a minha
paciência e acalmar a ansiedade. Minha mãe dizia que ficar com muita
expectativa poderia ser desgastante e eu até concordava. Tinha noites em que
rolava na cama, imaginando como minha vida mudaria para sempre em
poucas semanas. Em outras noites, eu me obrigava a dormir, porque havia
lido na internet e nos livros sobre maternidade que comprei que a mamãe
deveria aproveitar as noites de sono enquanto o bebê ainda não havia nascido,
pois depois seria praticamente impossível dormir.
Com isso, os dias foram passando — de forma mais rápida do que eu
esperava, precisava confessar — e o sêmen chegou ao Brasil. Então, Dra.
Amélia, que já acompanhava meu período fértil e estágio de ovulação,
decretou que o procedimento seria realizado na segunda-feira, ou seja, dali a
dois dias, que era quando eu estaria no pico da fertilidade — como ela
gostava de chamar para descontrair —, prontíssima para engravidar!
— Agora, vamos aproveitar suas últimas noites como uma mulher
sem filhos, porque daqui a pouco você vai ter que esquecer as baladinhas e
vai passar a noite trocando fraldas.
— Você poderia vir morar comigo, sabe? Poderia me ajudar nos
primeiros cinco anos de vida do bebê.
— Você quer uma madrinha ou uma babá em tempo integral?
— Madrinha é segunda mãe.
— Eu sei, por isso que estarei aqui, mas não vou me mudar — disse
ela, parando de passar a máscara de cílios para poder me olhar através do
espelho. — Eu não quero atrapalhar a rotina do bebê, sabe? E é isso que vai
acontecer se eu tiver que chegar com algum gostosão no seu apartamento. É
melhor eu continuar na minha casa.
— Ok, me convenceu.
Nós duas rimos como as idiotas que éramos e continuamos a
conversar sobre bobagens enquanto nos arrumávamos para sair. Malu havia
me convencido de que eu precisava de uma despedida, só que não de solteira
e, sim, de uma mulher sem filhos, e eu concordei. Sequer me lembrava da
última vez que havia saído para curtir a noite e a minha felicidade naquele
final de semana era tanta, que sentia que precisava extravasá-la em uma pista
de dança.
Para aquela noite, resolvi mostrar para mim mesma que a fase da
autoestima abalada havia ficado para trás, junto com o canalha do meu ex-
noivo, e tirei do closet um vestido branco e de tecido levemente transparente,
que batia na altura das coxas. Ele acompanhava uma calcinha que simulava a
parte de baixo de um biquíni de cintura alta, também na cor branca, cavada na
bunda e comportada na frente. Eu sempre gostei daquele jogo de “mostra e
esconde”, onde a sensualidade falava mais alto, no entanto, não havia
vulgaridade. Nos seios, o vestido formava duas taças e me deixava com um
decote bonito. Resolvi deixar meus cabelos soltos e bem volumosos e optei
por uma maquiagem mais básica, com bastante máscara de cílios e um batom
cor de boca.
— Puta merda, você tá gostosa! Se eu fosse lésbica, te pegava! —
Malu disse, batendo palmas.
— Eu posso dizer o mesmo de você. Algo me diz que voltarei sozinha
para casa hoje à noite.
Malu estava lindíssima em um vestido vermelho que modelava sua
cintura. Ela sempre teve um corpão, muito seio, muito quadril e muita bunda,
mas nos últimos anos, havia adquirido uns vinte quilos a mais, o que fez com
que se sentisse insegura e iniciasse uma longa batalha contra a balança e o
espelho. Aquela fase da sua vida foi triste e muito difícil, mas quando iniciou
a terapia, começou a entender que seu corpo era o seu templo, que ela deveria
amá-lo e não o odiar e passou a se aceitar do jeito que era. Hoje, ela tinha
uma autoconfiança que era encantadora e se achava uma grandessíssima
gostosa, o que era verdade.
— Quem disse que vamos voltar para casa? Deixa de ser boba, tem
que aproveitar essa noite para tirar as teias de aranha do meio dessas pernas,
antes que meu afilhado ou afilhada chegue!
— Sim, acho que eu deveria mesmo transar. Meu vibrador dá conta
do recado, mas eu sinto falta de sexo, sabe? Sinto muita falta — confessei, só
não falei que sentia falta de sexo desde quando estava noiva, porque não
queria trazer o falecido para a nossa conversa e estragar a minha noite.
— Então, é isso que faremos hoje à noite. Vamos dançar, beber, curtir
e transar! Já está pronta?
— Sim.
— Eu também. Vou chamar o Uber!
Nós saímos do meu apartamento vinte minutos depois e fomos para
uma casa noturna em Ipanema, onde um dos amigos de Malu era o gerente.
Isso nos garantiu as famosas pulseirinhas VIPs e entramos sem precisar ficar
na fila do lado de fora. Eu havia ido ali uma única vez, quase um ano atrás,
quando Malu quis comemorar seu aniversário de vinte e sete anos em grande
estilo. Assim que entramos, pude perceber que a boate havia passado por
reformas e um grande telão de led estava atrás do DJ, que tocava um remix de
uma música em inglês muito famosa.
Apesar de estarmos com as pulseirinhas VIPs, só ficamos no segundo
andar para poder pegar algumas bebidas no bar, que estava menos lotado do
que o que ficava no andar de baixo, e logo descemos para poder dançar no
meio da pista de dança. Eu havia me esquecido como era pulsante e excitante
a energia em lugares como aquele. Corpos se esbarravam no meu, mas eu
pouco me importava. Quando a música POP deu lugar ao funk, senti que
realmente começaria a me divertir.
Malu e eu dançamos juntas e pude perceber olhares masculinos sobre
nós duas, mas nenhum deles me interessou realmente. Apesar de querer
transar, não sairia beijando qualquer boca apenas para cumprir com as
necessidades do meu corpo, eu gostava do momento da paquera, da ansiedade
pelas primeiras palavras, os primeiros toques, até o beijo em si e, depois, o
sexo. Ter química era o mínimo para ir para cama com alguém e depois de
tantos anos em um relacionamento, eu me sentia muito fora de forma.
— Vou pegar uma bebida — gritei sobre a música para Malu, que já
estava dando um sorriso ou outro para um cara que dançava perto da gente.
— Vai lá, eu estou ocupada agora, se é que me entende.
Era mesmo uma safada! Rindo, me afastei e fui em direção ao balcão
do bar, que estava relativamente vazio, já que o ritmo favorito do carioca
estava explodindo pelas caixas de som. Anitta e Rennan da Penha cantavam
“SexToU” e eu me vi cantando o refrão da música mesmo tendo certeza de
que nunca tinha parado para ouvir de fato — parecia ser uma daquelas
músicas chicletes — quando meus olhos bateram nos de um homem perto do
bar. Ele me olhava fixamente, muito relaxado encostado contra o balcão,
usando uma calça jeans preta com uma corrente pendurada em dois
passadores do cinto e uma camisa simples de algodão branca, que parecia
agarrar os músculos do seu braço com obsessão.
O frenesi que seu olhar me causou me deixou impactada, pois eu não
sentia aquilo há muito, muito tempo. Meu corpo estava acostumado ao toque
de Davi, ao seu olhar que foi perdendo o brilho de desejo com o passar dos
anos, então reviver aquilo — a sensação de estar sendo admirada por um
homem — e sentir meu corpo responder à altura me deixou um pouco
desestabilizada, mas tentei voltar a mim quando um ombro esbarrou no meu,
me dando ciência de que eu estava parada no mesmo lugar há alguns
minutos, olhando fixamente para o cara gostoso a minha frente. Um pouco
constrangida, caminhei em direção ao balcão e parei ao lado dele, mas não
muito perto. Tentei ser casual e manter meus olhos fixos no barman que
andava de um lado para o outro, chacoalhando duas coqueteleiras. Meu
coração acelerou quando vi o gostosão se aproximando.
— Posso te pagar uma bebida?
Diferente de mim, que havia gritado nos ouvidos de Malu minutos
antes, a voz dele soou baixa e levemente rouca ao pé do meu ouvido. Ele se
aproximou o suficiente apenas para falar comigo, mas não me tocou de forma
alguma, o que era de se admirar no meio de uma boate onde os homens já
chegavam colocando a mão e a gente tinha que pedir para parar. Mesmo
assim, eu parecia ter sido tocada. Só isso explicaria o arrepio que desceu pela
minha coluna, como se o dedo dele tivesse deslizado pelas minhas costas de
cima para baixo.
— Só se me disser seu nome primeiro — consegui responder como
uma pessoa normal, pois, por dentro, meu cérebro só dizia: se ajoelha e chupa
esse homem!
A falta de sexo estava me tornando uma tarada e sem escrúpulos. Ele
sorriu e deu mais um passo para perto de mim. Pude sentir o calor que
emanava do seu corpo e o perfume delicioso que usava. Ele me estendeu a
mão.
— Prazer, Levi Mancini.
Ok, até o nome dele era sexy. Aquilo só podia ser uma pegadinha, eu
não poderia ser tão sortuda na minha última noite como uma mulher sem
filhos, certo? Quer saber, poderia sim! Passei os últimos oito anos presa em
um relacionamento fracassado, carregando tanto chifre na cabeça, que nem
sabia como ainda conseguia me manter de pé, então, eu merecia ter um Levi
Gostoso Mancini naquela noite. Por isso, sorri e logo apertei a sua mão. Foi
com surpresa que o vi levá-la a boca e dar um beijo. Um beijo! Que homem
fazia aquilo nos dias de hoje?
— O prazer é todo meu, Levi. Eu sou Briana Garcia.
— Uau, nome lindo.
— Que nada, é só a junção do nome do meu pai e da minha mãe. Ele
se chama Brito e ela se chama Analídia, então, surgiu eu, Briana —
expliquei, mas logo me calei, porque não tinha nada a ver contar aquele tipo
de coisa para um homem no meio de uma casa noturna. Realmente, eu estava
fora de forma, não sabia mais flertar. Para a minha surpresa, Levi riu.
— Parece que você faz parte do meu clube. Meu pai se chama Leone
e minha mãe se chama Vitória. Por isso meu nome é Levi.
— Obrigada por isso, eu me sinto menos estranha agora — falei e ele
riu comigo.
Eu olhei para a sua boca e a barba rente ao maxilar como se estivesse
hipnotizada. O homem era lindo até sorrindo. Levi fez um sinal para o
barman, que se aproximou com um sorriso de quem sabia como aquela noite
terminaria. Eu esperava que ele estivesse certo.
— O que você está bebendo?
— Caipirinha.
— Manda duas caipirinhas, Diego.
— Tá achando que eu sou seu empregado, idiota? — O barman
perguntou, apoiando-se rapidamente no balcão. — Boa noite, princesa. Com
tanto homem na boate, quer dar ouvidos logo para esse bundão?
Eu logo percebi que os dois eram amigos, pois havia no tom de voz de
Diego aquela camaradagem que só os amigos tinham. Era como se um
sempre zoasse o outro.
— Eu ainda não vi a bunda dele, então, não posso confirmar se é
mesmo grande ou não. — Entrei na brincadeira e os dois gargalharam. Pelo
menos eu ainda sabia ser espirituosa.
— Ok, você venceu. Preciso ser sincero, você está em boas mãos,
gata. Agora, se me derem licença, vou preparar a melhor caipirinha do Rio de
Janeiro pra vocês.
Diego saiu e Levi me olhou com um sorriso sensual, que fez minha
barriga ficar gelada daquele jeito gostoso, que mal dava para explicar. Eu me
sentia ansiosa.
— Espero que a minha bunda não decepcione você essa noite.
— Por tudo o que estou vendo, acho que ela não vai me decepcionar
em nada.
Ele finalmente terminou de encurtar a nossa distância e passou a
ponta dos dedos pela linha do meu maxilar. Senti todos os pelinhos do meu
corpo se arrepiarem. Tão de perto e com a luz do bar sobre a nossa cabeça,
consegui notar que seus olhos estavam entre o verde e o azul. Eram lindos e
moldados por sobrancelhas grossas, mas naturalmente bem-feitas.
— Posso dizer o mesmo sobre você. Desde o momento em que te vi
dançando, não consegui desviar o olhar. Você é a mulher mais linda que já vi,
Briana.
— Não precisa mentir para me conquistar.
— Não estou mentindo — disse bem sério e eu ofeguei baixinho.
Seus dedos passaram lentamente pelo meu pescoço e desceram pelo braço até
sua mão parar em minha cintura. — Se não me parar, eu vou te beijar.
— Quero que me beije.
Levi não disse mais nada. No próximo segundo, sua boca estava na
minha e senti cada parte do meu ser sair de órbita. A música se silenciou, o
pulsar dos corpos dançantes parou de me alcançar e tudo o que consegui
sentir foi a sua língua acariciando a minha, seu corpo colado ao meu e aquela
sensação indescritível de que aquela noite seria inesquecível.
Diego tinha razão, a sua caipirinha era a melhor do Rio de Janeiro,
mas era no beijo de Levi que me vi viciada a noite inteira. Com nossos
drinques em mãos, fomos para a pista de dança e o homem provou que além
de gostoso, sabia dançar muito bem. Ele me conduzia com uma facilidade
invejável, ora sacando minha boca em um beijo de tirar fôlego, ora me
virando de costas e roçando aquele quadril incrível no meu. Eu conseguia
sentir que não era a única abalada entre nós dois, pelo volume que sentia um
pouco acima da minha bunda, tinha certeza de que Levi estava sentindo tanto
desejo quanto eu.
Em algum momento da noite eu consegui apresentá-lo a Malu, que já
tinha se engraçado com o cara bonitinho com quem a deixei trocando olhares
quando fui ao bar sozinha. O nome dele era Rodrigo e Malu conseguiu fazer
com que ele e Levi começassem a conversar, para que pudéssemos ir até o
banheiro. Eu sabia muito bem que ela não queria fazer xixi e, sim, conversar.
— Meu Deus, que homem é esse que você arrumou? Sua vaca
sortuda! — ela disse assim que conseguimos entrar no banheiro lotado.
— Eu também não acredito que estou ficando com ele, mas Rodrigo
não fica atrás, ele é um gato.
— É sim, mas o Levi... — Ela se abanou. — Você vai passar a noite
com ele, né? Se disser que não, vou dar dois tapas na sua cara.
— Desde quando você se tornou uma pessoa violenta?
— Eu não sou, mas posso me tornar se você se recusar a passar o
resto da noite com aquele homem.
— Não vou recusar — falei, olhando-me rapidamente no espelho. A
mulher que me encarava de volta estava com os olhos brilhando e os lábios
inchados de tanto beijar. Há quanto tempo eu não a via? — Acho que mereço
encerrar essa fase da minha vida em grande estilo.
— Merece mesmo, amiga — Malu disse, abraçando-me de lado. —
Espero que ele te dê muitos orgasmos.
— Você não imagina como eu anseio por isso!
Abracei-a de volta rapidamente e logo voltamos para a pista de dança,
encontrando Rodrigo e Levi no mesmo lugar em que os deixamos, quase
perto do bar. Assim que me aproximei, Levi se virou e me puxou pela
cintura, colando os lábios nos meus em um beijo sedutor, antes de descer o
nariz pelo meu pescoço. Nós dois estávamos suados de tanto dançar, mas eu
esperava que o perfume caro que usava apenas em ocasiões especiais,
estivesse fazendo bem o seu trabalho. O de Levi estava, com certeza. Um
gemido escapou do fundo da minha garganta quando ele subiu os lábios pela
lateral do meu pescoço até a minha orelha, onde mordiscou o lóbulo antes de
perguntar:
— Quer ir para um lugar mais calmo?
“Com certeza, me leva agora!”, minha mente gritou, mas eu não quis
soar tão desesperada.
— Sim. Só preciso me despedir de Malu antes.
Seus olhos claros voltaram a encontrar com os meus e ele concordou
com a cabeça, mas só me levou pela mão para onde minha amiga se agarrava
com Rodrigo, depois de dar mais um beijo em minha boca. Levi gostava de
beijar, mas melhor do que isso, ele sabia como beijar. Mal podia esperar para
descobrir o que mais a sua boca era capaz de fazer. Falei rapidamente para
Malu que estava indo embora com Levi e ela só faltou dar pulinhos no meio
da boate lotada e anunciar para todo mundo que sua melhor amiga estava
prestes a transar. Antes que me fizesse passar vergonha, puxei Levi pela mão
e o levei em direção à saída da boate.
— Sua amiga é engraçada — ele disse assim que conseguimos
respirar um pouco do ar da noite carioca. A mudança de temperatura me
pegou de surpresa e como se soubesse disso, Levi me abraçou por trás.
— Ela é doida, mas juro que é uma boa pessoa.
— Posso falar o mesmo sobre Diego.
— Vocês são amigos há muito tempo?
— A vida inteira é tempo suficiente? — perguntou e eu me inclinei
um pouco para o lado e ergui a cabeça para poder olhar em seus olhos.
Verdes, definitivamente, eram verdes. — O conheço desde que éramos bebês,
nossas mães são amigas.
— Malu e eu somos amigas desde o Ensino Médio, mas é como se
nos conhecêssemos desde pequenas também. Uma sabe tudo sobre a vida da
outra.
— Então ela também se mete na sua vida como se fosse sua mãe?
— Com certeza — ri e ele me acompanhou, abaixando um pouco o
rosto para roçar o nariz no meu.
— Não vim de carro porque sabia que iria beber. Vou chamar um
Uber.
— E para onde vai me levar?
— Você que precisa me dizer. Para onde quer ir? Barzinho ou motel?
Minha nossa, ele era direto e a forma como me olhou e fez a pergunta
com aquela voz sussurrada e levemente rouca me deixou com as pernas
bambas.
— Motel. — Minha resposta também saiu em um sussurro, porque
não me sentia capaz de falar mais alto do que aquilo com a sua boca tão perto
da minha.
Levi me deu um sorriso que acendeu cada parte de mim, antes de me
dar um beijo longo e delicioso, roçando o corpo discretamente no meu. Havia
seguranças em frente à boate e até mesmo pessoas pedindo carro por
aplicativo, mas não consegui pensar que estávamos dando um show quase
explícito para elas, porque sua boca, sua língua tão experiente e exigente, não
me permitiam pensar em nada. Deixando meu lábio inferior escapar por entre
seus dentes, ele se afastou o suficiente apenas para tirar o celular do bolso e
chamar um Uber.
Logo estávamos no carro e eu tentei me comportar, mas a mão de
Levi em minha perna e a outra em minha nuca, me puxando para um beijo,
me fez falhar na missão. Tentando manter um pouco de domínio sobre as
minhas emoções, deixei que comandasse o beijo por um momento, até tomar
as rédeas e diminuir a intensidade da sua língua frenética sobre a minha e me
afastar. Por sorte, o motorista parecia fingir que estava alheio ao que
acontecia na parte de trás do seu carro e Levi riu baixinho ao ver meu olhar
para o homem.
— Ele deve estar acostumado — sussurrou com o nariz próximo ao
meu.
— Eu sei, mas não quero dar material para ele bater uma punheta
mais tarde.
A gargalhada de Levi ecoou pelo carro e ultrapassou a música que
tocava na rádio. Eu o acompanhei, porque me sentia à vontade para falar
aquelas besteiras, não sabia se era por causa das três caipirinhas que tomei ou
da companhia ao meu lado. Certamente, era uma mistura das duas coisas. Seu
polegar desenhou meu lábio inferior enquanto ele ainda ria.
— Eu gosto das coisas que saem dessa boquinha, Briana.
— Ah, eu também gosto do que sai da sua boca, pode apostar.
— Me dê um exemplo.
— A sua língua. — Fui direta, assim com ele.
Seu olhar se tornou mais intenso e eu suspirei quando senti seus
lábios beijando o meu pescoço. Ele sussurrou:
— Vou te deixar ainda mais apaixonada pela minha língua, pode ter
certeza.
Eu já estava apaixonada e me sentia um pouco mais arrebatada a cada
vez que ele me beijava. Por sorte, o Uber logo chegou ao motel escolhido por
Levi e a nossa passagem pela recepção foi rápida. Logo estávamos entrando
na suíte, mas não tive tempo de observar a decoração — e nem queria —,
pois Levi me puxou para si com as duas mãos em minha bunda e meteu a
língua em minha boca, mostrando-me que a forma como me beijou até ali
havia sido apenas um aperitivo. Aquele beijo era o beijo. Roubou
completamente o meu fôlego enquanto mordia os meus lábios, sugava a
minha língua e fazia uma conexão direta entre as minhas pernas, deixando-
me excitada de uma forma que eu até havia esquecido como era.
Ele foi dando passos para frente e me levando para trás, até que senti
a cama bater contra as minhas pernas. Pensei que me faria deitar sobre o
colchão, mas ele tinha outro plano, que logo entendi que era me enlouquecer.
Sua mão esquerda subiu da minha bunda e fez o caminho pelas minhas costas
até chegar em minha nuca e puxar meu cabelo, arrancando um gemido da
minha boca quando ergueu o meu rosto e me fez ficar com o pescoço exposto
para que fizesse o que tinha vontade e ele fez. Seus dentes desceram
lentamente pela coluna da minha garganta, até parar perto da clavícula, onde
abriu a boca e sugou a minha pele. Senti minha vagina piscar em necessidade,
principalmente quando pressionou a ereção contra o meu ventre, mostrando-
me que estava tão excitado quanto eu, me querendo da mesma forma que eu o
queria.
— Estava com vontade de te pegar assim desde o momento em que te
vi — falou rouco contra a minha pele, me arrancando um gemido.
Seus lábios subiram pela lateral do meu pescoço, lambendo, sugando,
mordendo, até fazer minhas pernas bambearem e o desejo nublar qualquer
pensamento racional. Necessitada de mais do seu toque, da sua pele contra a
minha, precisei agir. Parei de cravar minhas unhas em seus ombros por cima
da blusa e fui logo o despindo do peito para cima. Levi se afastou o suficiente
para poder jogar a blusa no chão e eu senti minha garganta ficar seca ao
observar seu peitoral musculoso, o abdômen definido, com seis gominhos
bem delineados. Só tinha visto aquilo na internet.
— Caramba... — Péssima palavra para escapar da minha boca
naquele momento, mas eu não conseguia pensar em outra coisa. Mordendo o
lábio, desci minhas unhas pelo seu abdome e ele gemeu, apertando minha
bunda. — Não parece real.
— Não? — Ele riu baixinho e eu precisei tirar os olhos daquele
abdome perfeito para poder encará-lo. Encontrei-o com uma sobrancelha
arqueada e um sorriso de canto de lábio.
— Eu sei que é real, mas não acredito ainda.
— Você vai ter a noite inteira para testar a veracidade de tudo isso —
disse, pegando minha mão e a espalmando sobre o seu peito. Ele tinha pelos
escuros ali, mas eram bem aparados. Eu queria lamber. — Assim como eu
vou ter o prazer de conhecer cada cantinho desse seu corpo maravilhoso.
O homem era lindo, gostoso, beijava bem e ainda tinha lábia na cama.
Qual seria o defeito dele? Eu esperava não descobrir naquela noite. Decidida
a continuar, fui eu que tomei a iniciativa e voltei a beijá-lo, antes de provar o
gosto da sua pele. O suor havia ido embora há muito tempo, mas deixou um
gostinho salgado que só me excitou, principalmente quando Levi gemeu ao
sentir meus lábios sugando seu pescoço, demonstrando que eu ainda sabia
fazer um homem sentir prazer na cama. Cheia de tesão, deixei que ele
voltasse a dominar a situação quando me virou de costas de repente e colocou
meu cabelo de lado, mordendo meu ombro e encaixando o pau duro em
minha bunda ainda coberto pela calça.
Ele sarrou um pouquinho ali, me deixando louca enquanto descia as
alças do meu vestido e abaixava as taças para deixar meus seios livres. O
gemido que escapou da minha boca ecoou pelo quarto quando senti seus
dedos roçarem os mamilos duros e necessitados, suas mãos se enchendo com
os meus seios, que não sabiam o que eram ser tocados com desejo há tanto
tempo. Seu polegar e indicador puxaram os biquinhos e fizeram a
lubrificação escorrer por meus lábios vaginais até encharcar a calcinha.
— Linda — sussurrou, puxando os biquinhos uma última vez antes de
se afastar e descer o zíper do vestido em minhas costas.
Eu mesma ajudei a peça a descer pelo meu corpo, livrando-me das
sandálias no processo. De pé em meus 1,68m, me senti pequena em
comparação a Levi, que parecia ter muito mais do que 1,80m. Assim que o
vestido caiu no chão e fiquei apenas com a calcinha de cintura alta, percebi
que aquela era a primeira vez em meses que ficava nua na frente de um
homem. E a primeira vez em anos que me despia para alguém que não era
Davi. A realidade me bateu com força e eu paralisei por alguns segundos,
ainda de costas para Levi, que havia acabado de enganchar dois dedos na
lateral da calcinha. Ele pareceu sentir a minha mudança, pois perguntou
baixinho:
— Está tudo bem? Quer parar?
Sua preocupação pareceu acionar algum gatilho dentro do meu peito,
pois meus olhos se encheram de lágrimas. Não podia acreditar que estava
prestes a estragar uma noite que deveria ser incrível! Assustado, Levi tirou os
dedos da minha calcinha e me virou de frente para si, tomando meu rosto em
suas mãos.
— Briana, eu fiz alguma coisa errada? Por que está chorando?
— Não, não é sua culpa... — sussurrei, pousando minhas mãos em
seu peitoral. Acariciei sua pele porque eu podia estar prestes a chorar, mas
não estava morta e ele era lindo. — É que essa a primeira vez que... — Eu me
calei e ele arregalou os olhos.
— É a sua primeira vez? Você é virgem?
— Não! Não, não sou virgem. É que eu terminei um noivado há
pouco tempo, ficamos oito anos juntos e essa é a primeira vez que estou indo
para cama com outro homem... Acho que estou um pouco insegura.
Desculpa.
Levi balançou a cabeça e passou o polegar pela minha bochecha. Sim,
ele havia acabado de secar uma lágrima e, sim, eu queria morrer.
— Não precisa se desculpar, eu entendo. Deve ser difícil estar com
outra pessoa depois de tanto tempo.
— É e ele me traiu, então... — Dei de ombros, sem saber por que
estava contando aquilo para Levi. Eu deveria calar a minha boca e continuar
de onde tínhamos parado. Ele me encarou em choque.
— Ele te traiu? — Eu apenas assenti e observei seu choque passar
para resignação. — Que tipo de filho da puta trai uma mulher como você?
— Uma mulher como eu?
— Sim! Briana, você é linda. Eu não menti quando disse que acho
que você é a mulher mais linda que já vi na vida.
— Eu poderia enumerar um milhão de mulheres que são mais bonitas,
que não têm estrias ou celulites...
— E nenhuma delas seria você. — A forma como falou, a sua certeza,
a seriedade em seu olhar, me fizeram ficar sem palavras. Ele continuou: —
Seu noivo te traiu porque é um babaca e não porque você não é bonita ou
atraente. Sinta isso.
Levi pegou minha mão, que ainda estava pousada em seu peito, e a
colocou sobre a sua ereção. Eu gemi baixinho, porque seu pau estufava a
calça e estava tão duro, que chegava a ser impressionante.
— Estou morrendo de tesão desde o momento em que te vi. Como se
isso não fosse o suficiente, estou com medo de gozar como a porra de um
adolescente de quinze anos assim que enfiar meu pau em você. Sabe qual é o
nome disso, Bri? Desejo. É isso que você desperta em mim e que despertou
em vários caras naquela boate, mas eu fui o escolhido para estar aqui e não
vou deixar que o filho da puta do seu ex atrapalhe isso. Se quiser continuar de
onde paramos, eu vou ter o enorme prazer em te mostrar como você é gostosa
pra caralho e como estou louco para te fazer gozar.
O suspiro que escapou da minha garganta foi audível e deixou bem
claro como eu me sentia naquele momento: chocada e sem palavras. E
justamente por não saber o que falar, que resolvi agir. Mostrei para Levi qual
era a minha resposta puxando seu rosto em minhas mãos e ficando na ponta
dos pés para beijá-lo, arrancando dele um gemido de surpresa e um sorriso
enquanto me beijava de volta. Seus braços fortes e musculosos me pegaram
pela cintura e me fizeram deitar na cama com o seu corpo em cima do meu,
seu peitoral delicioso roçando contra a minha pele, contra os meus seios que
gritavam em necessidade. O beijo ficou mais intenso, desesperado, até Levi
se afastar e olhar em meus olhos. Sua respiração estava tão ofegante quanto a
minha.
— Prometo que as únicas lágrimas que vão escapar dos seus olhos
nessa noite, serão de prazer. Nada mais vai te afetar, Briana.
Mal nos conhecíamos, eu tinha plena consciência disso, mas confiei
cegamente em suas palavras e deixei de lado qualquer insegurança. Voltando
a me beijar, Levi tomou seu tempo adorando os meus lábios, enquanto eu
descia minhas mãos pelas suas costas até o quadril, onde consegui desabotoar
a sua calça. Ele ergueu a parte inferior do corpo apenas para que eu descesse
o zíper e me ajudou a descer o jeans por suas pernas grossas enquanto
escorregava os lábios pelo meu pescoço até os seios.
Eu queria muito o ver completamente nu, mas me perdi em sensações
quando sua língua circulou meu mamilo antes de o colocar na boca. Eu
sempre fui sensível naquela região, mas Levi parecia ser um mestre no que
fazia, pois não sugava apenas, ele degustava, passava a língua, os dentes,
gemia baixinho, enquanto acariciava o outro seio com a ponta dos dedos.
Como se quisesse me engolir, chupou também a aréola e me deixou em
êxtase, com o coração disparado, o clitóris pulsando e as paredes vaginais
doloridas e necessitadas.
— Que seios lindos — gemeu rouco, passando a língua, deixando o
mamilo inchado antes de ir para o outro. — Vou mamar neles a noite toda,
Bri, enquanto te fodo com meu pau bem enterrado na bocetinha.
Ele ainda nem havia me deixado completamente nua, mas eu já me
sentia perto de gozar só com as suas palavras. Levi repetiu a mesma atenção
ao outro seio e eu precisei sentir mais. Como se soubesse disso, ele
pressionou o pau duro contra minha boceta e simulou um vai e vem sobre a
minha calcinha, deixando um espaço para que eu pudesse rebolar contra a sua
ereção. Gememos juntos e ele estremeceu, revirando os olhos ao deixar o
bico do meu peito escapar da sua boca e descer pelo meu corpo. Perdi o
contato com o seu pau, mas logo me vi cheia de expectativa quando começou
a abaixar a minha calcinha até me despir completamente. Mordi o lábio com
força quando se ajoelhou no meio das minhas pernas, também nu e tão lindo
que parecia uma criação da minha mente.
— Porra, Briana, você é uma deusa — falou com aquela voz rouca
pelo tesão, passando as mãos abertas e enormes pelas minhas coxas.
— E você é delicioso. — Precisei externar meus pensamentos,
sentando-me na cama para poder ficar perto da sua altura. Meus olhos foram
diretos para o pau grande, grosso e bem desenhado a minha frente. Levi era
um homem grande, mas o que ele tinha no meio das pernas era algo
impressionante e lindo. Uma gota de pré-sêmen escapou pela cabeça inchada
e eu senti minha boca se encher d’água. — Nem vou repetir que não parece
ser de verdade, porque estou vendo que é bem real.
— Você que não parece ser real. Preciso provar para ter a certeza —
falou, puxando meu rosto para cima. — E eu vou provar cada pedacinho seu,
Briana, até ter seu gosto gravado em minha memória.
Ele não me colocou deitada de novo, só me beijou daquele jeito que
me fazia gemer e querer mais, antes de se afastar e ficar de pé na frente da
cama. Sem me dar tempo para perguntar o que iria fazer, Levi me puxou
pelos dois tornozelos e me fez deslizar pelo colchão, até me deixar na beirada
da cama, afastar minhas coxas e cair de boca no meio das minhas pernas. Não
poderia chamar de gemido o que saiu da minha boca, pois foi um grito
mesmo, de susto e de prazer. Levi sequer me deixou respirar, seus lábios se
fecharam sobre o meu clitóris em uma sucção forte, depois lenta, até sua
língua começar a dar pequenas batidinhas no nervo sensível, antes de lamber
toda a minha boceta.
Seus ombros largos mantinham minhas pernas afastadas, mas eu não
tinha força para fechá-las, ainda que o assalto de prazer fosse quase
insuportável. Ele chupou um dos pequenos lábios bem devagar, antes de
pressionar minha entrada com dedo indicador, sondando apenas, espalhando
a lubrificação que escorria para a fenda entre as minhas nádegas, deixando-
me ansiosa e quase implorando para que me penetrasse. Quando repetiu a
sucessão de batidinhas com a língua em meu clitóris, não consegui me
segurar:
— Enfia o dedo em mim... E não para!
Eu pude sentir o seu sorriso e consegui me apoiar sobre os cotovelos
para poder encará-lo. Encontrei seus olhos sobre os meus, uma mão aberta
sobre o meu ventre e a outra entre as minhas pernas.
— Por favor, Levi... — implorei, tocando sua cabeça com uma das
mãos, enfiando meus dedos entre os seus cabelos. Ele fechou os lábios sobre
o meu clitóris bem devagar e sugou uma, duas, três vezes, antes de meter dois
dedos bem fundo em minha boceta e me fazer dar um salto na cama. A onda
de prazer que me tomou foi esmagadora. — Isso, assim... Não para...
Levi não parou, pelo contrário, enfiou o rosto com mais força entre as
minhas pernas e roçou a barba em meus lábios vaginais enquanto me chupava
com intensidade e metia os dois dedos, saindo e entrando, provocando aquele
barulhinho delicioso de penetração, me fazendo perder a cabeça. Senti o
orgasmo se construindo no comecinho do meu ventre, se irradiando pelo
clitóris, espalhando aquela sensação elétrica por todo o meu corpo, me
fazendo prender seus dedos entre as paredes vaginais superexcitadas. Com
um gemido que não parecia ter saído de mim, me senti começar a gozar
enquanto ele rodeava o clitóris com a língua e conseguia me penetrar com
três dedos, construindo meu prazer e prolongando a sensação indescritível do
orgasmo mais intenso que já tive na vida.
Mal consegui respirar quando ele parou de me lamber e penetrar.
Sentia cada parte do meu corpo viva, mas anestesiada ao mesmo tempo,
como se minha mente estivesse demorando para processar o que havia
acontecido. Lentamente, Levi subiu espalhando mordidinhas em minha
barriga até chegar em meus seios, onde mamou em um, depois em outro, me
deixando alerta de novo, estimulando meus sentidos.
— Você é deliciosa — sussurrou ao encostar os lábios nos meus. —
Poderia chupar sua bocetinha pelo resto da noite e estaria feliz.
Eu sorri contra os seus lábios e passei a mão entre nossos corpos até
pegar a sua ereção. Seu pau pulsou levemente e Levi gemeu baixinho,
movimentando os quadris.
— Eu aceitaria, se não estivesse louca para te sentir dentro de mim.
— Não posso deixar você passar vontade, não é?
— Não mesmo. Quero você, Levi.
Seus lábios se fecharam sobre os meus em um beijo lento, gostoso,
até aquele desejo insano me invadir de novo e me deixar pronta para ele. O
masturbei com vontade, sentindo as veias que desenhavam um caminho sobre
o seu pau até a glande, o líquido do pré-gozo escapando da cabeça e
escorrendo para a base, até Levi gemer, parecendo estar prestes a gozar e se
afastar. Ele caminhou rapidamente até a calça e tirou um preservativo da
carteira, vestindo-se em tempo recorde e voltando para cima de mim. Beijou-
me com força, sugou os meus lábios, então, com aquela pegada incrível que
estava me deixando viciada, tomou a minha cintura nas mãos e me virou de
bruços.
— Fica de quatro, quero meter em você enquanto dou uns tapas nessa
bunda deliciosa que você tem — mandou e eu prontamente obedeci, não
ligando nem um pouco em ser dominada na cama por ele.
Apoiei meus joelhos na beirada do colchão e deitei meu tronco sobre
a cama, ficando empinada para Levi, que me encarou quando consegui virar
meu rosto e encontrar o seu olhar. Ele lambeu os lábios e se masturbou
lentamente, antes de fechar a nossa distância e roçar a cabeça bruta do pau
entre os meus lábios vaginais ensopados. Rebolei contra ele, louca para ser
preenchida pela sua grossura e pedi baixinho:
— Vem, Levi, mete em mim.
Um sorriso se abriu em seus lábios, antes de seu cenho se franzir em
prazer quando sua glande começou a me penetrar. Eu respirei fundo e gemi
baixinho, agarrando o lençol da cama enquanto o sentia me abrir lentamente,
reivindicando um espaço que não era usado corretamente há meses — pelo
menos não por um pau de verdade e do calibre do dele. Levi gemeu junto
comigo e me segurou firme pelos quadris, tirando um pouquinho e voltando a
entrar.
— Que gostosa, Briana, puta merda...
Mordi o lençol quando ele finalmente foi até o fim, me preenchendo
tanto que eu mal podia respirar. Quando saiu e voltou a meter, eu me senti
perder a cabeça e rebolei, pedi por mais e Levi me deu. Seus movimentos se
tornaram mais rápidos e intensos, o barulho do seu quadril batendo de
encontro com a minha bunda ecoou pelo quarto, sendo interrompido apenas
pelos nossos gemidos e pelo grito que saiu da minha garganta quando ele deu
um tapa gostoso em minha bunda, que me deixou molhada e fez com que
minha vagina apertasse o seu pau dentro de mim.
— Bate de novo — pedi e ele fez, batendo duas vezes no mesmo
lugar, antes de dar um tapa na outra nádega. — Ah, Levi...
— Isso, Bri, geme pra mim enquanto eu como essa bocetinha linda
que você tem — mandou, aumentando as investidas. — Apertadinha, porra...
Levi me puxou firme pelo quadril e mudou um pouco o ângulo da
penetração, roçando meu ponto G a cada vez que entrava e saía. O prazer
intenso fez com que lágrimas enchessem os meus olhos e arranhei a cama,
pedindo por mais, sentindo que poderia gozar a qualquer momento. Como se
soubesse disso, Levi enfiou uma mão entre as minhas pernas e começou a
manipular meu clitóris com o dedo indicador, me estimulando a gozar bem
forte, mas antes que eu chegasse lá, saiu de dentro de mim e se sentou na
beirada da cama, me puxando pelos braços.
— Senta no meu pau. Quero te ver gozar enquanto quica bem gostoso
em cima de mim.
Eu me apoiei em seus ombros e montei sobre suas coxas musculosas,
gemendo quando o senti roçar a cabeça do pau em meus lábios vaginais e o
posicionar para que eu pudesse sentar. Abaixei-me sobre ele lentamente,
vendo-o apertar o maxilar e me encarar como se estivesse prestes a gozar.
— Você é um safado — sussurrei contra os seus lábios, subindo e
descendo sem ir até o final.
Concentrei-me e consegui apertar minhas paredes vaginais quando
estava subindo por toda a sua extensão até deixar só a glande dentro de mim.
Eu gostava de praticar pompoarismo, mas há muito tempo não fazia os
exercícios. Os olhos de Levi se arregalaram.
— Puta merda, faz de novo — pediu com a voz rouca, apertando
minha bunda. Eu desci e voltei a trabalhar os músculos do assoalho pélvico
enquanto subia, ficando mais apertada e sentindo com mais intensidade o seu
pau roçar em meu canal vaginal. Foi tão gostoso, que nós dois gememos
juntos. — Porra, nunca mais vou deixar você. Que delícia, Bri, mais um
pouco e eu vou gozar pra caralho.
Nunca pensei que ia gostar tanto de ouvir palavrão no meio do sexo,
mas Levi estava me mostrando uma Briana que eu não conhecia. Sorrindo
por estar o deixando louco daquele jeito, me sentei de uma vez e rocei meu
clitóris no início da sua barriga, controlando os movimentos, indo rápido e
depois devagar enquanto o apertava o máximo que conseguia. Os
movimentos só me estimularam, me deixaram cada vez mais louca para gozar
e quando ele voltou a meter um mamilo em sua boca, não aguentei.
Rebolando sobre o seu pau e roçando meu clitóris inchado e sensível
no início da sua barriga, comecei a gozar pela segunda vez naquela noite,
tendo a certeza de que aquela não seria a última. Levi gemeu rouco, apertou
minha bunda, movimentou o quadril com força para me acompanhar e gozou
chamando o meu nome, estremecendo da mesma forma que eu, entregando-
se ao prazer que construímos juntos. Pareceu durar para sempre e eu
aproveitei cada segundo enquanto seu pau pulsava em meu interior, tão
dentro de mim quanto era humanamente possível.
Com a respiração ofegante, Levi se jogou na cama e me levou junto,
me fazendo deitar por cima daquele seu peitoral incrível. Eu aproveitei e
passei a língua pela sua pele, suguei o seu pescoço, até chegar em sua boca,
encontrando-o com um sorriso safado que ia de orelha a orelha.
— Vou ficar de pau duro em tempo recorde se você continuar —
avisou, acariciando minha bunda, minhas costas, minha nuca, todo lugar que
conseguia alcançar.
— Que bom, porque eu não pretendo te deixar dormir essa noite.
— Quem disse que iremos dormir? Nossa noite só está começando,
Bri. Só vamos parar quando essa sua boceta mágica não conseguir mais
aguentar o meu pau.
Eu gargalhei, chocada e excitada com a sua boca suja.
— Boceta mágica, é?
— Sim. Mágica, deliciosa e toda minha durante essa noite.
Eu assenti e o beijei, sabendo que ele tinha toda a razão. Por aquela
noite, eu era completamente dele.
Levi só me deixou fechar os olhos para descansar depois que o chupei
na banheira de hidromassagem que havia na suíte, perto das cinco e meia da
manhã. Nos deitamos lado a lado na cama bagunçada, completamente nus,
com os corpos colados um no outro e sua língua já dentro da minha boca.
Estava viciada em seus beijos, no seu toque, naquele seu pau enorme. Por
mim, aquela noite não terminaria nunca.
— Antes de te deixar dormir, preciso pedir uma coisa — ele disse
contra os meus lábios antes de se esticar e pegar alguma coisa em cima da
mesinha de cabeceira. — Salve o seu número aqui.
Encarei o seu telefone já desbloqueado, com aplicativo de ligações
aberto, e senti um baque. Se Levi queria o meu número, era porque gostaria
de manter contato comigo, talvez marcar um próximo encontro, mas a minha
vida a partir de segunda-feira mudaria completamente. Como poderia falar
para ele que não poderíamos trocar números de celular porque em algumas
semanas eu estaria grávida? O homem ficaria assustado, poderia até achar
que eu estava com ele para tentar engravidar, mas também não poderia
simplesmente me negar a lhe dar o meu número, seria constrangedor.
Sem pensar duas vezes, peguei seu celular e coloquei um número
qualquer, salvando-o com o meu nome em sua agenda. Levi era um homem
lindo, tinha a vida inteira pela frente, logo conheceria uma outra mulher e se
esqueceria de mim. Eu até desconfiava que ele poderia ser alguns anos mais
novo do que eu — não dava para ele mais do que vinte e sete anos —,
portanto, seria fácil guardar essa noite na memória e seguir em frente, assim
como eu faria.
— Prontinho — sussurrei, devolvendo o celular sem conseguir olhar
em seus olhos. Ele sorriu e voltou a colocar o aparelho na mesinha ao lado da
cama.
— Depois eu vou te enviar uma mensagem e você salva o meu
número.
— Farei isso.
Seus olhos ficaram presos nos meus por alguns segundos, mas logo
desceram lentamente pelo meu corpo. Eu me senti tocada e se não estivesse
tão sensível entre as pernas, aceitaria começar um novo round.
— Não vou deixar você escapar tão rápido, Briana — Levi avisou
baixinho, quase como se pudesse ler os meus pensamentos. — Quero te
conhecer melhor.
— Geralmente, são as mulheres que querem um próximo encontro,
enquanto os homens fogem — desconversei.
— Sei que sim, mas eu não sou um homem de fugir. — Seus dedos
percorreram minha barriga, acariciaram-me lentamente em volta do umbigo e
um sorriso nasceu no cantinho dos seus lábios quando viu meus pelos se
eriçarem. — Você vai fugir de mim?
Precisei prender a respiração, pois seus dedos subiram lentamente
pelo meu ventre até alcançarem meu mamilo direito, que estava sensível e
eriçado por conta do ar-condicionado que esfriava a suíte, mas seria mentira
minha se dissesse que demorei a responder apenas por causa das sensações
que causava em meu corpo. Eu queria ganhar tempo para achar uma resposta.
A única que veio a minha mente, foi uma nova mentira:
— Não vou fugir.
Satisfeito com o que ouviu, Levi se inclinou para me beijar
lentamente e eu senti uma pontada de culpa. Ele parecia ser um homem
incrível, foi gentil comigo quando me viu fragilizada, olhou-me com atenção
a cada momento que passamos juntos, me deu orgasmos incríveis, foi
carinhoso e, agora, deixava bem claro que queria me conhecer melhor. Se eu
estivesse em uma outra fase da minha vida, disposta a me abrir
emocionalmente para um homem, com certeza Levi seria o meu escolhido,
mas estávamos em capítulos diferentes naquela história. Meu coração ainda
estava machucado e eu estava prestes a me tornar mãe, enquanto ele era um
homem solteiro, lindo, que merecia encontrar alguém mais descomplicada
para se envolver.
Seu beijo foi carinhoso e gentil, assim como o seu toque pelo meu
corpo. Ele não parecia querer sexo naquele momento, estava apenas curtindo
cada segundo que ainda tínhamos e eu resolvi fazer o mesmo, cumprindo
com a promessa que fiz a mim mesma de ser completamente dele apenas por
aquela noite.
Acordei antes de Levi e fiquei alguns minutinhos sentindo o calor do
seu corpo grande e forte atrás do meu e o peso do seu braço ao redor da
minha cintura. Nem me lembrava quando havia sido a última vez que dormi
de conchinha, mas logo me obriguei a não deixar que a emoção me
dominasse e resolvi agir. Consegui tirar seu braço de cima do meu corpo e
me levantei devagar, observando-o completamente apagado na cama, deitado
de lado, com o lençol cobrindo parcialmente sua bunda fantástica e o pau
glorioso, que havia me deixado com uma dorzinha deliciosa no canal vaginal.
Realmente, eu nunca me esqueceria daquela noite. O melhor sexo que tive na
minha vida foi com o homem que estava dormindo como um anjinho à minha
frente.
Fui correndo ao banheiro para dar uma ajeitadinha no cabelo e lavar o
rosto, em seguida, me vesti bem rápido. Meu plano era sair de fininho antes
que ele acordasse, pois não queria ter que me despedir e inventar mais
alguma mentira. Uma vozinha em minha mente dizia que eu não precisava
ser uma idiota, que poderia me abrir com Levi, mas eu acreditava que era
melhor sair sem criar nenhuma conexão. Havia sido apenas uma noite de
sexo casual entre dois adultos, ele poderia ficar desapontado, mas logo se
recuperaria.
Voltei para o quarto e o encontrei na mesma posição, inconsciente e
inocente sobre a minha fuga covarde. Com uma pontada de culpa por deixá-
lo daquela forma, procurei pela suíte algum papel e uma caneta e encontrei
um pequeno bloco de notas dentro da gaveta da mesinha de cabeceira e um
lápis. Ali, escrevi um recado rápido, mas carinhoso:
“Levi, me desculpe por ter que sair sem me despedir, aconteceu um
imprevisto. Eu amei a nossa noite, obrigada por ser esse homem tão gentil,
amoroso e sedutor. Nunca vou me esquecer dos momentos incríveis que
passamos juntos.
Beijos, Briana.”
Com o peito apertado por ter que o deixar para trás, saí da suíte e
guardei aquela noite incrível em minha memória.
Minha mãe resolveu fazer um jantar naquele domingo, alegando que
eu precisava ficar perto das pessoas que me amavam para que meu corpo e
espírito se preenchessem com energia positiva. Ela não era uma pessoa
religiosa, mas acreditava em Deus e estava estudando sobre meditação e o
poder do pensamento. Eu não conseguia imaginar como um jantar composto
por ela, Rose, Miriam e Margarida poderia se resumir a meditação e energia
positiva, pois quando as quatro se reuniam o caos se instalava no ambiente,
mas aceitei a sua ideia de bom grado. Ao fundo, ela e Miriam já começavam
a discutir por conta da sobremesa, enquanto Rose e Margarida davam pitaco.
— Você sabia que eu ia trazer o pavê de coco que a Briana adora. Por
que fez outra sobremesa?
— Porque minha filha ama o meu pudim de leite.
— Ela gosta muito mais do meu pavê do que do seu pudim.
— Eu gosto mais de pudim — Rose disse.
— Ah, não, o pavê de coco da Miriam é de comer rezando — falou
Margarida.
— Eu amo as sobremesas das duas, por favor, não briguem — pedi,
abraçando-as pelos ombros. — Vou comer um pouco de cada.
— Sim, é melhor comer mesmo e aproveitar, porque depois que meu
netinho ou netinha nascer, vou mimar apenas ele ou ela — minha mãe avisou.
— Analídia está certa. O bebê vai se tornar a nossa prioridade —
Miriam afirmou.
— Vão se esquecer de mim?
— Sim. — As quatro responderam praticamente ao mesmo tempo, me
fazendo rir.
— Só não vou ficar chateada, porque sei que meu bebê vai ser muito
amado por vocês.
— Vai mesmo. Ele terá quatro avós — disse Rose.
— Isso significa que você quase não vai vê-lo, porque vamos roubá-lo
de você — Margarida falou.
— Já falei que vocês são quatro velhas loucas?
— Velha é a sua mãe! — Miriam ralhou e minha mãe se fingiu de
ofendida.
— Eu sou a mais nova de vocês.
— Não é o que o espelho diz...
Deixei que as quatro continuassem a se cutucar sozinhas quando meu
pai entrou com Malu na cozinha. Nós nos abraçamos e logo demos um jeito
de escapar para a sacada para poder conversar sobre a noite anterior. Na sala,
meu pai conversava e tomava cerveja com Osvaldo, marido de Margarida.
— Me conta tudo! — Malu mandou.
— Foi a melhor noite da minha vida! — Afirmei e minha amiga abriu
um sorriso que ia de orelha a orelha. — Nós transamos três vezes! Quando
tive o quarto orgasmo, parei de contar quantas vezes gozei. Foi incrível,
Malu. Inesquecível.
— Amiga, estou tão feliz por você! Seus olhos estão brilhando, parece
que você está nas nuvens.
— Estou mesmo, uma pena que não vou poder repetir. Levi parece ser
um cara incrível, ele foi tão carinhoso comigo, apesar de ser um devasso.
— Ele parecia mesmo ser um cara legal. Por que não trocaram
número de telefone? Talvez pudessem se encontrar mais uma vez.
— Esqueceu que minha inseminação está marcada para amanhã?
— Claro que não me esqueci, só acho que você não deve se anular
como mulher só porque vai se tornar mãe.
— Não vou me anular como mulher, só estou priorizando essa futura
gravidez no momento. E, vamos combinar, que homem gostaria de se
aventurar com uma mulher grávida? Nenhum.
Malu suspirou e acabou concordando com a cabeça.
— Tem razão, mas o que importa é que foi uma noite maravilhosa,
você merecia isso.
— Merecia mesmo. E a sua, como foi?
— Foi boa. Não ótima, mas boa. Um sexo morno, sabe? Só gozei com
a penetração, porque me masturbei, mas Rodrigo era um cara legal.
— Amiga, sinto muito.
— Não sinta, pelo menos eu me diverti. Ele pode não ter sido tão bom
na cama, mas era ótimo em contar piada, isso deve contar para alguma coisa,
certo?
— Pelo menos te fez rir.
— Exatamente. — Ela sorriu e parecia tranquila, o que me
tranquilizou também. Malu era uma mulher muito independente e agora tinha
uma confiança em si mesma que me enchia de orgulho. Pouca coisa a
abalava.
— Meninas, Analídia está nos convocando para jantar — meu pai
avisou na porta da sacada.
Nós fomos de braços dados até a pequena sala de jantar e ocupamos a
mesa ao lado das pessoas que eu mais amava na vida. Enquanto todo mundo
falava alto e passava as travessas, eu só conseguia pensar em como era
sortuda por ter cada um deles ao meu lado, me apoiando em cada decisão e
prestes a embarcar naquela nova fase da minha vida de mãos dadas comigo.
Sabia que não era todo mundo que tinha amigos e família ao seu lado, por
isso, era eternamente grata por ter todas aquelas pessoas maravilhosas na
minha vida.
O jantar foi divertido e, no final, minha mãe cumpriu com o seu
objetivo de me encher com energia positiva. Saí da sua casa com o corpo e a
alma tão leves, que até a ansiedade pelo dia seguinte havia amainado, e dirigi
para o meu apartamento com a certeza de que tudo daria certo. Depois de um
banho e uma xícara de chá, me deitei em minha cama e fechei os olhos,
pensando em como minha vida mudaria nas próximas semanas. Sem querer,
acabei me lembrando de Levi, do seu sorriso sedutor, seus beijos viciantes,
seu toque que me incendiava e aqueles olhos verdes intensos e observadores.
Será que ele havia tentado me ligar? O que pensou ao não conseguir
falar comigo? A culpa me encheu de novo, mas logo me obriguei a colocar
aquela sensação de lado e me virei na cama, procurando uma posição mais
confortável para dormir e pedindo a Deus para que Levi não ficasse tão
chateado comigo. Depois de fazer uma oração rápida em agradecimento e
mais um pedido para que o procedimento ocorresse sem qualquer problema,
peguei no sono e tive uma noite sem sonhos.
Acordei antes mesmo do despertador tocar, com o WhatsApp cheio de
mensagens de pessoas íntimas, que sabiam como aquela manhã seria
importante para mim. Respondi a cada uma delas e logo fui me arrumar, com
Kiki atrás de mim o tempo todo. Ela parecia sentir como eu estava mais
agitada do que o normal e sua presença ao meu lado me acalmava. No horário
marcado, minha mãe chegou ao meu apartamento, pois me acompanharia
durante o procedimento, e receber o seu abraço me encheu de paz.
— Já deu tudo certo, meu amor. Está pronta?
— Sim, prontíssima!
Saímos juntas e fiquei toda boba ao encontrar Miriam, Rose,
Margarida, meu pai e Malu na portaria do prédio. Recebi um abraço apertado
de cada um e segui para a clínica com o coração repleto de amor. Dra.
Amélia logo nos recebeu e explicou novamente o passo a passo do
procedimento, que seria bem simples e nem exigiria o uso de anestesia. Em
seguida, uma enfermeira me acompanhou até a sala de preparação, onde tirei
minhas roupas e coloquei a camisola apropriada, então, fui levada até a sala
onde ocorreria a inseminação.
Deitei-me na cadeira ginecológica e a Dra. Amélia logo entrou com
mais duas enfermeiras que faziam parte da sua equipe. Seu sorriso e olhar
tranquilos me deixaram mais calma. Era uma ótima profissional e eu confiava
inteiramente em seu trabalho, por isso, relaxei um pouco mais.
— Preparada, Briana?
— Sim. Ainda nem acredito que esse dia chegou.
— Pode acreditar. Esse é só o primeiro dia da sua felicidade.
Concordei com a cabeça, ansiosa e com um friozinho gostoso na
barriga. Com o auxílio de uma das enfermeiras, Dra. Amélia logo começou o
procedimento e enquanto injetava os espermatozoides no meu canal uterino,
fechei os olhos e pedi baixinho a Deus que desse tudo certo, que dali viesse o
meu bebê. Vinte e cinco minutos depois, o procedimento chegou ao fim e
Dra. Amélia acalmou meu coração falando que havia sido um sucesso.
Agora, eu teria que esperar quatorze dias para fazer o exame de
sangue Beta HCG e comprovar a gravidez. Em duas semanas, se tudo desse
certo, minha vida iria mudar completamente.
Foram os quatorze dias mais longos da minha vida. Mesmo sabendo
que meu corpo não mudaria de um dia para a noite, eu ficava procurando
sinais de que estava grávida, ficava esperando por algum enjoo, uma tontura
repentina, o sono insuportável que algumas mulheres sentiam, os seios
doloridos, mas mesmo não apresentando nenhum sintoma, não deixei que
pensamentos negativos me tomassem. Por um lado, ter uma mãe iniciante na
prática de meditação estava me influenciando de alguma forma.
Foi exatamente no dia em que eu deveria fazer o exame, que senti a
primeira onda de náusea, que eu não sabia se era por causa da ansiedade ou
de uma suposta gravidez. Mal consegui dormir à noite e acordei com a
sensação de ter comido algo que não deveria, mas não me senti mal ao ponto
de precisar vomitar e o enjoo passou assim que tomei um copo de suco de
laranja. Depois de tomar o café da manhã, fui direto ao laboratório fazer o
exame de sangue e segui para a confeitaria, onde Miriam me esperava com o
semblante ansioso.
— Fez o exame? Quando sai o resultado?
— Em duas horas.
— A gente nem precisa do resultado, está escrito na sua testa que
você está grávida!
— Tenho que concordar com a Miriam. Não que eu entenda algo
sobre gravidez, mas dizem que a mulher grávida tem uma áurea diferente. A
sua áurea está diferente — Mariana afirmou.
— Tá parecendo a mãe dela falando. Agora que faz meditação,
Analídia só fala de áurea e energia positiva.
— Minha áurea está diferente como? — perguntei, interessada.
Miriam respondeu mais rápido do que Mariana:
— Deve ser a sua chatice, que dobrou de tamanho nos últimos dias.
— Você ama implicar comigo, não é? Não sei como ainda te aturo.
— É porque você me ama, sua boba — disse ela, me soprando um
beijo. — Acho melhor você terminar logo a encomenda de hoje, porque sei
que essa cozinha vai ficar nas minhas costas depois que você começar a
enjoar.
— Eu enjoei hoje — contei, chamando a atenção das duas. — Mas
pode ser só por causa do nervosismo.
— Nervosismo, sei. Gravidez agora tem outro nome...
Mariana precisou sair da cozinha quando ouviu um novo cliente
chegando e eu resolvi seguir com o planejamento daquele dia, pois precisava
mesmo terminar o bolo que seria entregue às cinco horas da tarde. Conversar
com Miriam e trabalhar ao mesmo tempo acabou me ajudando a distrair a
cabeça e, por um momento, me esqueci que eu estava prestes a descobrir se
seria mãe em alguns meses ou não. Apenas quando recebi uma mensagem da
Malu perguntando se o resultado havia saído, foi que corri até o site do
laboratório e entrei com o login e senha gerados por eles para ter acesso ao
exame.
Eu jamais me esqueceria dos minutos que antecederam aquele
momento tão esperado. Enquanto o site carregava, milhões de coisas
passaram pela minha cabeça. Meu sonho de ser independente, minha decisão
de largar um emprego que não gostava e abrir a minha confeitaria, meu
desejo de um dia entrar em um vestido de noiva e me casar, meu sonho de ser
mãe. Algumas coisas eu consegui realizar, outras não, mas uma delas estava
prestes a se tornar real naquele momento, enquanto eu clicava sobre o exame
e lia o nível de BHCG no meu sangue, acompanhado pela informação da
idade gestacional.
Duas semanas de gestação. Eu estava grávida.
Mal consegui encarar o celular por tempo suficiente para processar a
informação, pois meus olhos se encheram de lágrimas e minha respiração
ficou travada na garganta. Ao meu lado, Miriam percebeu o meu silêncio e
logo se aproximou, parando na minha frente.
— É o resultado? — Eu só consegui concordar com a cabeça. — Está
grávida? — Concordei de novo. — Ah, meu Deus! Que felicidade! Minha
garotinha está grávida! Me deixe te dar um abraço, minha querida!
Miriam me acolheu naquele seu abraço protetor, que fazia um enorme
contraste com o seu lado sarcástico e ranzinza que eu tanto amava. Nós
choramos juntas — apesar de eu ter certeza de que ela negaria que tinha
chorado — e eu escutei cada uma das suas palavras ao pé do meu ouvido, me
desejando sorte com a gravidez e afirmando que ficaria ao meu lado sempre.
Por fim, ela se afastou e foi a primeira pessoa a dar um beijo em minha
barriga. Eu também tinha certeza de que ela se gabaria sobre aquilo para as
três melhores amigas.
— Ligue para a sua mãe! Ligue para todo mundo, sua boba!
Eu sequei minhas lágrimas e decidi tomar as rédeas das minhas
emoções, apesar de sentir o meu coração em festa e minha mente em um caos
de felicidade. Logo liguei para minha mãe e falei com ela e meu pai ao
mesmo tempo, depois liguei para Malu, Rose e Margarida. Por fim, com
todos sabendo da notícia, sentei-me em frente à ilha de inox da cozinha e
encarei o relógio preso na parede à minha frente.
Eu havia conseguido. Nada no mundo era capaz de deter uma mulher
de realizar seus sonhos e desejos. Eu estava realizando o meu. Em breve, me
tornaria mãe.

Foi só descobrir que estava grávida, para o enjoo chegar com tudo e
fazer a sua estreia em minha vida. Os próximos dias foram uma mistura de
alegria com choro — porque sim, descobri que eu era uma grávida sensível
— e náuseas que se estendiam da manhã até o início da tarde. Para completar,
o novo morador do apartamento ao lado do meu resolveu fazer uma pequena
obra e eu sempre acordava com o barulho de martelo e furadeiras.
Mas tudo bem, eu estava feliz e não gostava de reclamar. Recebi os
parabéns de Dra. Amélia ao contar a confirmação da gravidez e marquei a
primeira ultrassonografia transvaginal com a Dra. Claudia para quando
completasse quatro semanas de gestação. Tomar todas aquelas decisões e ser
paparicada por minha família e amigos fez com que a ficha começasse a cair,
mas apenas quando fui à consulta com a minha ginecologista-obstetra para
realizar a ultra, foi que entendi que aquele momento era mesmo real.
O bebê não era nada mais do que uma manchinha na tela, mas foi o
seu batimento cardíaco que me provou que ele estava ali, dentro de mim,
sendo gerado com todo o meu amor. Não pude evitar as lágrimas e minha
mãe também não. Ela segurava a minha mão e encarava aquela manchinha
como se estivesse vendo o seu filho, o que não era mentira, pois eu sabia que
ela seria uma segunda mãe para o meu bebê. Dra. Claudia deixou que
curtíssemos aquele momento durante alguns minutos, até se virar para mim e
dizer o que eu tanto queria ouvir:
— Está tudo perfeitamente bem, Briana. Agora, é só começar a tomar
os complementos que te passei, inclusive o ácido fólico, e nos vemos em
algumas semanas.
— Graças a Deus! — Minha mãe comemorou ao meu lado, beijando a
minha mão. — Já podemos comprar as roupinhas! Eu quero dar o primeiro
conjuntinho!
— Imagino que é só por amor ao bebê e não porque não quer que
Miriam, Rose ou Margarida passem a sua frente.
— Claro, é só por amor ao neném da vovó.
— Mãe, a senhora acha que engana a quem?
— É claro que eu não posso deixar aquelas velhas passarem a minha
frente, ora! Eu sou a avó mais importante.
Até Dra. Claudia riu, mesmo não conhecendo o meu quarteto de
velhas esclerosadas. No fundo, toda aquela disputa era apenas amor.
Deixamos o consultório com uma lista de vitaminas para comprar, inclusive
um remédio que ajudava a conter o enjoo, e fomos direto ao shopping para
almoçar e comprar as primeiras roupinhas do bebê. Eu me perdi naquele
mundo infantil, no tanto de opção que me esperava. Por fim, saímos da loja
com dois macacões para recém-nascido na cor amarela e branca e um par de
sapatinhos, prometendo a vendedora que voltaríamos para comprar mais
coisas. Eu me segurei para não ver os vestidinhos ou roupinhas para meninos
e decidi que só compraria mais roupinhas quando soubesse o sexo do bebê.
Falavam que o instinto de mãe nunca falhava sobre o sexo, mas eu
ainda não conseguia sentir se era menino ou menina. Talvez o meu instinto
ainda precisasse ser apurado. Depois de jantar com Malu naquela sexta-feira
e receber dela o primeiro presentinho que comprou para o futuro afilhado ou
afilhada — um ursinho branco muito fofo que segurava um coração com uma
frase escrita “sou o bebê da dindinha” —, fui para casa sentindo que
precisava muito da minha cama. A história sobre o sono era real, eu sentia
que poderia tirar pequenos cochilos durante todo o dia e ainda conseguiria
dormir mais de oito horas durante a noite.
Kiki, que estava mais agarrada comigo do que nunca, logo me saudou
quando cheguei e passei algum tempo com ela antes de tomar um banho e me
jogar na cama. Dormi tão rápido, que, quando acordei com o barulho de algo
batendo contra a parede, pensei que estava em um sonho muito louco e tentei
pegar no sono de novo, mas logo o barulho recomeçou. Aos pés da minha
cama, Kiki latiu e eu me sentei, preocupada. Será que haviam invadido o
prédio e estavam tentando arrombar o meu apartamento? Era um assalto?
Meu Deus, tinha que chamar a polícia! Levantei-me aos tropeços, sem saber
se corria, se pegava Kiki no colo ou procurava por meu celular no meio da
penumbra, mas um barulho agudo me fez parar no meio do quarto. Foi então
que eu ouvi uma mulher dizer nitidamente:
— Ai, isso, me fode! Isso, mete essa tora em mim! Que gostoso,
aaaaaai...
A pancada contra a parede recomeçou e foi então que eu entendi, não
haviam invadido o prédio e nem era uma tentativa de assalto, era a minha
nova vizinha transando como se não houvesse amanhã e gemendo tão alto,
que sua voz aguda estava ultrapassando a parede. Eu nem sabia que a parede
do meu quarto fazia divisão com o quarto do apartamento vizinho e não
acreditava que não sabia disso porque meus outros vizinhos não transavam —
afinal, Marieta havia saído do prédio grávida — e, sim, porque eles não
gritavam como se estivessem prestes a serem degolados — ou empalados,
porque a mulher chamou o pênis do seu namorado de “tora”. Tora! Pelo amor
de Deus!
— Ai, ai, ai, eu vou gozar, porraaaaaaa!
Percebi que ela gostava de prolongar as palavras no final do gemido e
uma dor de cabeça insuportável pressionou a minha nuca. No meu colo, Kiki
latiu de novo quando a cabeceira da cama voltou a bater contra a parede e
entendi que não daria para dormir no meu quarto naquela noite. Com raiva,
deixei Kiki na sala e fui até a cozinha fazer um chá para tentar voltar a
dormir. Por sorte, da sala eu não conseguia ouvir nada, mas aquela situação
me preocupou. Será que noites como aquela se tornariam uma rotina?
Eu não tinha nada a ver com a vida da minha nova vizinha — ou
vizinho, não conhecia quem havia se mudado para o prédio no início daquela
semana —, mas se ela era adepta a ser tão escandalosa durante o sexo, eu
teria que arriscar a criar uma inimizade com ela e bater em sua porta para
pedir que fosse mais comedida. Eu teria um bebê em breve, como ele
conseguiria dormir com aquela barulheira toda? Era como se estivessem
transando dentro do meu apartamento!
Precisei voltar ao meu quarto para pegar meu travesseiro e o lençol, e
a vizinha ainda gritava, provando que tinha uma garganta abençoada pelo
Senhor. Olhei para a parede com cara feia, como se eles pudessem ver que
haviam me acordado no meio da madrugada com toda aquela bateção de
parede e gemidos ensurdecedores, mas como sabia que não teria efeito algum
sobre o ato dos dois, saí do meu quarto e bati a porta com força, torcendo
para que tivessem ouvido — o que achava muito pouco provável. Acomodei-
me no sofá e Kiki se deitou perto da minha barriga, entendendo que
passaríamos o resto da noite ali. Acariciei sua cabeça e encarei o teto,
torcendo para que a próxima noite fosse mais calma no apartamento ao lado.

Acordei assustada com o barulho do despertador e o sol batendo no


meu rosto. Encontrei Kiki sentada no chão à minha frente, me olhando como
se dissesse: “querida mamãe, estou com fome, quero minha ração” e lutei
para me levantar, sentindo uma dor chata no pescoço por ter dormido de mal
jeito. Meu sofá era confortável, mas não chegava nem perto da minha cama e
ter sido arrancada dela por conta da mulher escandalosa me deixou de mau
humor.
Enjoada, fui até o banheiro e fiz tudo de forma automática, querendo
tirar o dia de folga, mas sabendo que não podia, pois Miriam já tinha ficado
sozinha ontem para que eu pudesse ir à consulta na parte da tarde com a
minha mãe. Devidamente arrumada, coloquei a ração de Kiki e me forcei a
engolir uma salada de frutas depois de ter tomado o remédio para enjoo.
Estava terminando de lavar a louça quando ouvi minha campainha tocar.
— Você poderia atender para mim, Kiki — falei, secando a mão no
pano de prato antes de ir até a sala. Ela me acompanhou toda saltitante e
correu até os pés de Rose quando abri a porta.
— Oi, gravidinha! Olha o que eu trouxe para você!
Rose falou rapidamente com Kiki ao entrar em meu apartamento e
depois abriu uma travessa, mostrando-me o seu famoso pão doce lá dentro. O
cheiro me fez fazer uma careta e precisei dar dois passos para trás, ouvindo a
risada de Rose.
— Não acredito que meu pão te enjoou!
— Muitas coisas andam me enjoando, principalmente pela manhã. Me
desculpe, Rose.
— Deixa de besteira, vou deixar o pão na sua cozinha e você tenta
comer mais tarde — falou, já caminhando para o cômodo. — Espero que esse
bebezinho lindo goste do pão doce da vovó Rose. É o melhor pão doce do
mundo, você mesma disse isso.
— É sim, estou louca para poder voltar a sentir o cheiro dele sem
sentir vontade de vomitar.
— Espero que essa fase passe logo — disse ela, deixando a travessa
sobre a bancada. — Conheci o nosso novo vizinho ontem! Tão bonito e
simpático! Acredita que ele é sobrinho-neto da Margarida? Aquela velha
esquecida não nos contou que ele era da sua família. Foi tão gentil comigo,
carregou todas as minhas compras.
— Então é um homem que se mudou para o apartamento ao lado?
— Isso mesmo e quer saber o melhor de tudo? Ele está solteiro! Só
me esqueci o nome dele — falou, dando um tapinha na própria cabeça. —
Daqui a pouco vocês devem se esbarrar por aí.
— Espero que não — falei com raiva, cruzando os braços. Rose
franziu o cenho.
— Por que não?
— Acredita que fui acordada de madrugada com um barulho
ensurdecedor de cabeceira batendo contra a parede? Sem contar o escândalo
que a namorada dele estava fazendo enquanto transavam! Precisei dormir no
sofá!
— Namorada? Mas ele me disse que era solteiro.
— Então deve ser uma peguete, ficante, sei lá. Só sei que ela gritava
como uma maritaca e que ele parecia disposto a quebrar a minha parede e
transar dentro do meu quarto. Espero não cruzar com ele tão cedo, se não,
vou falar poucas e boas!
— Briana, não esqueça que não pode se estressar.
— Então peça para o sobrinho de Margarida parar de transar como se
estivesse gravando um filme pornô.
— Ele é sobrinho-neto.
— O que é um sobrinho-neto afinal?
— Margarida é irmã da avó dele, logo, é sua tia-avó — disse,
explicando-me termos de parentescos que nunca ouvi falar.
— Bom, vou pedir para que ela tenha uma conversinha com o
sobrinho-neto — falei, dando uma olhada no relógio. — Preciso ir, Rose.
Miriam abriu a confeitaria, mas se eu chegar tarde, você sabe que ela corta
meu pescoço.
— Fico me perguntando se a confeitaria é sua ou dela. Aquela velha é
muito abusada.
— Por isso que vocês são amigas — falei, dando-lhe um abraço. —
Obrigada pelo pão, espero conseguir comer quando chegar em casa.
— Vou ficar torcendo.
Nós nos despedimos e saímos juntas do meu apartamento. Agradeci
internamente por não dar de cara com o novo vizinho e fui trabalhar.
As próximas duas noites foram mais calmas na casa do vizinho, mas
senti medo de que ele voltasse a bater com a cabeceira da cama contra a
minha parede naquela noite de sábado. Sentada em meu sofá, com um clichê
romântico passando na Netflix e um pote de sorvete de pistache nas mãos, eu
me sentia em paz e não queria que aquela sensação fosse embora tão cedo.
Aquele dia havia sido incrível, consegui fazer todas as encomendas sem
enjoar e por um momento havia até mesmo me esquecido de que estava
grávida, pois nem mesmo o sono me perturbou. Em contrapartida, agora eu
sentia que poderia dormir a qualquer momento enquanto o casal se beijava
embaixo da chuva na TV.
Decidi dar aquela noite por encerrada e fui guardar o pote de sorvete
no congelador. Voltando para a sala, pude ouvir alguns passos no corredor do
lado de fora e a voz de Rose e a de um outro homem. Será que minha vizinha
estava tendo um encontro? Curiosa, tentei ver alguma coisa pelo olho
mágico, mas os dois estavam fora da minha visão, o que me frustrou. Era
pecado deixar uma mulher grávida curiosa, eu tinha ouvido aquilo em algum
lugar. Estava quase abrindo uma frestinha da porta para espiar os dois —
provando que eu era tão fofoqueira quanto ela, minha mãe, Miriam e
Margarida —, quando finalmente consegui entender o que diziam:
— Vamos deixar para depois, Dona Rose, eu realmente preciso ir
agora.
— Que deixar para depois o quê, menino! Vamos agora! Você e ela
precisam se conhecer logo, acredite em mim.
— São quase dez da noite, ela deve estar dormindo...
— Que nada, ela dorme tarde. Vem!
Só entendi para onde Rose estava levando o homem quando seu rosto
apareceu no olho mágico em frente à minha porta e a campainha soou por
todo o apartamento. Não quis pensar demais, mas logo juntei dois mais dois e
percebi o que Rose queria fazer: me apresentar ao novo vizinho. Frustrada,
nem olhei para o homem ao seu lado, e me afastei da porta, pensando
seriamente em não abrir e fingir que estava dormindo. A campainha soou de
novo e Kiki latiu, olhando-me como se dissesse “não vai abrir não, querida?
E a educação que a vovó te deu?”. Torcendo para que aquele encontro não
arruinasse a minha noite, passei a mão pela blusa do pijama comportado que
usava e abri a porta.
Foi como tomar um choque. Meu coração deu um solavanco no peito,
meus olhos se arregalaram, os pelos do meu corpo se eriçaram e cada
músculo estremeceu, enquanto eu encarava o homem muito alto ao lado da
senhora de 1,55m. Seus olhos, que também pareciam que iam saltar das
órbitas a qualquer momento, não saíram dos meus e seus lábios se separaram,
surpresa tomando conta de toda a sua expressão.
— Querida, vim te apresentar o nosso novo vizinho! Meu bem, esta é
a mulher que faz os melhores doces que já provei! O nome dela é...
— Briana.
Vi de relance o cenho de Rose se franzir.
— Você a conhece?
— Na verdade, nós dois já nos conhecemos. — Precisei encontrar a
minha voz, sentindo uma espécie de vergonha se espalhar por todo o meu
peito, junto com aquela pontada de culpa que eu havia pensado deixar para
trás. — Oi, Levi.
— Menino, por que não me disse que já haviam se conhecido? Eu não
teria atrapalhado a sua noite e te arrastado até aqui.
Atrapalhado a noite dele. Isso explicava por que ele estava tão
gostoso vestido em uma calça jeans preta, uma blusa meia manga verde-
escura, que parecia deixar seus olhos claros mais acesos, e uma jaqueta jeans
da mesma cor da calça. E ainda tinha o seu perfume, que parecia chegar ao
meu olfato em ondas invisíveis, lembrando-me de como seu cheiro ficou
marcado em minha pele naquela noite. Um mês e alguns dias atrás, eu estava
conhecendo Levi e prestes a ir para cama com ele. Agora, depois de ter
fugido como uma covarde, descobria que ele era o meu novo vizinho.
Só não permiti que a vergonha se tornasse maior, porque consegui
puxar do fundo da minha memória o fato de ele ter trepado com uma mulher
escandalosa noites atrás. Não entendi o bolo que se alojou em meu estômago,
mas logo coloquei a culpa na gravidez, pois não podia ser nada semelhante a
ciúmes. O sentimento era completamente descabido, pois, além de Levi ser
um homem solteiro, nós não tínhamos nenhum compromisso, sequer éramos
amigos. Sua voz me despertou dos pensamentos que cruzavam meu cérebro a
duzentos quilômetros por hora:
— Nos conhecemos antes de eu me mudar para cá, Dona Rose. — Ele
falava com ela, mas seus olhos especulativos e o semblante sério não saíam
de cima de mim.
— Entendi. E eu achando que estava fazendo um favor para os dois.
— Ela riu baixinho e balançou a cabeça. — Sendo assim, vou deixar que
coloquem a conversa em dia. Uma boa noite para vocês, meus queridos.
Rose apertou meu ombro e depois o de Levi, mas eu mal pude me
despedir dela, pois estava presa demais nos olhos verdes do homem a minha
frente. Assim que ela entrou em seu apartamento, o corredor ficou rodeado
pelo silêncio e a tensão que parecia emanar do meu corpo e me sufocar. Sem
tirar os olhos dos meus, Levi tomou todo o meu campo de visão e cruzou os
braços, olhando-me rapidamente de cima a baixo antes de falar:
— Pensei que nunca mais te veria.
— Jura? — Foi a única palavra que escapou da minha boca. Levi me
deu um olhar de quem dizia que eu não deveria ser tão condescendente.
— Você me deu um número errado.
— Dei?
— Briana, nós somos adultos, pelo menos eu sou adulto, não
precisamos ficar de joguinhos.
Suas palavras me acertaram como um murro e segurei a maçaneta
com mais força, tentando me agarrar a raiva que nutria por ele ter trepado
com a escandalosa, mas não conseguindo sentir outra coisa que não fosse
uma vergonha absurda misturada a culpa por ter fugido. Senti meu rosto ficar
quente de constrangimento.
— Por que me deu o número errado? Não seria mais justo dizer que
não queria me ver de novo?
— Sim, seria — admiti tão baixinho, que nem consegui saber se ele
tinha ouvido. Respirando fundo, tentei buscar a mulher corajosa que eu sabia
existir em mim e falei mais alto: — Só que eu estava, quer dizer, eu estou em
uma fase diferente da minha vida, Levi, relacionamentos não são o meu foco,
entende? Por isso que acabei te dando o número errado. Eu não tive coragem
de negar o seu pedido.
— Então, resolveu mentir para mim. — Concluiu, ainda de braços
cruzados e com as pernas grossas afastadas. Estar novamente frente a frente
com ele me fez lembrar tudo o que vivemos naquela noite. Cada detalhe
daquele corpo definido surgiu em minha mente, me fazendo engolir em seco
e ficar com os mamilos sensíveis. Fiquei com medo de olhar para baixo e dar
de cara com eles apontando sob a camiseta de algodão.
— Sinto muito, Levi.
— Pelo menos você tem a decência de fingir que está constrangida.
— Eu não estou fingindo!
— Ok, Briana, eu vou acreditar, assim como acreditei na sua palavra
naquela noite e acabei acordando sozinho, com um bilhete ridículo e o
número de um tal de Paulo na agenda do meu celular.
Eu tentei não me sentir ainda mais culpada e o olhei de cima a baixo,
ajeitando minha postura.
— Você está me cobrando como se eu fosse sua namorada, sendo que
só passamos uma noite juntos, Levi. Sexo casual, foi o que nós dois fizemos.
— Eu sei que sim, Briana, mas falei que queria te conhecer melhor e
você agiu como se quisesse o mesmo. Não entendi nada quando acordei e não
te vi em lugar algum da suíte, depois, quando tentei te ligar e um homem
atendeu, tomei um susto. Sabe o que pensei? Que havia mentido para mim e
que seu noivo havia atendido o seu celular.
— Eu nunca faria isso, nunca trairia meu noivo ou qualquer outro
homem com quem estivesse me relacionando! Você está me ofendendo!
— Minha intenção não é te ofender, Briana — falou e eu só me
acalmei porque havia muita honestidade em seus olhos e em sua voz. — Mas
foi o que eu pensei, porque você havia fugido. Só entendi que estava errado
quando o homem disse que não conhecia nenhuma Briana e foi então que
entendi que você tinha me dado o número errado e que não queria mais
contato. O problema era que eu precisava muito falar com você.
Ah, meu Deus. O peso em meu peito se tornou maior, a culpa quase
deu um nó em minha garganta. Como um homem lindo como aquele havia
entrado em minha vida em um momento que eu não poderia aproveitar?
Fazendo uma careta de pesar, falei:
— Levi, eu realmente sinto muito. Sei que fui uma estúpida com você
e não estou aqui para me eximir da culpa, se fosse o contrário, também ficaria
muito chateada. — Pensar naquilo me fez ver como fui uma idiota. Homens
faziam aquilo o tempo todo e as mulheres reclamavam e choravam, sempre
os achei uns covardes por mentirem tão descaradamente. Quando foi que me
tornei um deles? — Só que eu realmente não queria mais manter contato, não
poderia sair com você ou qualquer coisa do tipo. Estamos em momentos
diferentes da nossa vida.
— A primeira vez que liguei para o número que colocou em minha
agenda, foi realmente para tentar falar com você, saber se havia acontecido
alguma coisa grave, já que colocou no bilhete que havia acontecido um
imprevisto, e tentar marcar um novo encontro, mas, depois, foi por outro
motivo, Briana. E mesmo tendo a certeza de que o homem do outro lado da
linha não havia mentido para mim, tentei mais uma vez falar com você por
aquele número e não tive sucesso.
— Pensei que você desistiria na primeira tentativa.
— E eu ia, mas precisava muito te contar uma coisa e tentei mais uma
vez. — Ele parou e me deu um olhar sério que fez com que um arrepio
descesse pela minha coluna. Quando seus olhos pousaram em minha barriga,
senti vontade de dar um passo para trás e fechar a porta em sua cara.
— O que está olhando?
Será que Rose havia falado alguma coisa sobre a gravidez e Levi
achava que o bebê era dele? Se sim, precisava confortá-lo e contar sobre a
inseminação artificial. Ele só voltou a falar quando seus olhos voltaram a
encontrar os meus:
— Lembra que, quando terminamos de transar, eu joguei a camisinha
no chão? Você até riu da minha cara e disse que era nojento, mas falei que
estava com preguiça de jogar no lixo. — Eu só consegui concordar com a
cabeça, sem saber aonde ele queria chegar com tudo aquilo. Assim que ele
voltou a falar, percebi que eu preferia continuar sem saber de nada, que viver
na ignorância, às vezes, era uma benção. — Na manhã seguinte, quando fui
pegar o preservativo para jogar fora, percebi que o sêmen estava vazando. A
camisinha estourou, Briana.
Pensei que eu ia desmaiar, mas meus pés ficaram bem firmes no chão.
Parecia que nem meu coração tinha coragem suficiente para bater, enquanto
Levi me dava aquele olhar firme e analítico, que não ajudava em nada a
conter o fluxo rápido de informações que minha mente jogava de um lado
para o outro.
— Foi por isso que quis tanto entrar em contato com você, mesmo
sabendo que não queria mais nada comigo. Queria te contar o que aconteceu
para que pudesse procurar um médico e fazer exames, assim como eu fiz.
Testei negativo para todas as ISTs e queria que você tivesse essa
oportunidade também, além, é claro, de querer saber se você fazia uso de
anticoncepcional ou se precisaria tomar a pílula do dia seguinte, mas foi
impossível te encontrar. Eu até achei o seu Instagram, mas sua conta era
privada.
— Não... — Foi só o que consegui responder. Eu mal podia
raciocinar. — Essa brincadeira não tem graça, Levi.
— Acha que eu brincaria com algo tão sério assim, Briana? Não sou
um moleque e sempre tomei muito cuidado em todas as minhas relações,
fossem elas fixas ou casuais, como foi o nosso caso. — Ele pareceu fazer
questão de lembrar, mas logo balançou a cabeça. — Me desculpa, eu não
quero ser um babaca com você. Está tudo bem? Você sentiu alguma coisa
depois que transamos? O fato de o meu exame ter dado negativo me deixou
aliviado, mas essa não é a nossa única preocupação. Você toma
anticoncepcional?
Eu só olhei para ele mal conseguindo respirar. Não podia ser. Aquilo
não estava acontecendo, era só um sonho muito ruim. Preservativos eram
confiáveis, sua taxa de proteção era de 90 a 95%. Como, de todas as pessoas
no Planeta Terra, ele poderia falhar justamente comigo dois dias antes de eu
ser inseminada? Eu estava no período fértil, pelo amor de Deus!
— Briana, está tudo bem?
A vontade de fechar a porta na cara de Levi voltou com tudo e, sem
pensar, foi isso que fiz. Em choque, só ouvi o baque da porta quando a bati e
corri até o banheiro para vomitar, enjoada demais e tentando dizer a mim
mesma que tudo aquilo havia sido um delírio da minha mente. Quando eu
acordasse, minha vida estaria de volta nos trilhos e eu teria a certeza de que
estava grávida do doador americano e não do homem com quem havia
transado uma única vez e que, agora, era o meu mais novo vizinho.

Aquela mulher era completamente louca!


Encarei a porta branca de madeira, que segundos antes estava
escancarada e que me permitia ter uma visão da mulher mais linda que já vi
na minha vida. Mesmo usando um pijama de algodão na cor cinza e com o
cabelo preso em um coque que deixava alguns cachos escaparem, Briana
continuava sendo dona daquela beleza surreal que havia me cativado no
momento em que a vi na balada, um mês atrás. Depois de tudo o que havia
acontecido, pensei que jamais a veria de novo, mas agora estávamos frente a
frente.
Quer dizer, antes de ela bater com a porta na minha cara.
— Briana — chamei, batendo na porta umas três vezes. — Fala
comigo. Só me diz se você está bem.
Qual era a probabilidade de ela surtar dentro daquele apartamento? Eu
também havia entrado em curto-circuito quando peguei aquele preservativo e
vi o pequeno rasgo na ponta, mas depois de ter feito todos os exames, relaxei.
Será que não havia acreditado em mim e achava que eu estava mentindo
sobre as ISTs? Era uma possibilidade. Sem pensar duas vezes, corri até o meu
apartamento e peguei os exames de dentro da minha pasta de documentos,
que ficava na parte de cima do guarda-roupa. Em meu bolso, senti meu
celular vibrar mais uma vez e fiz uma careta, vendo o nome de Diego ao
pegar o aparelho.
— Cara, cadê você?
— Aconteceu um imprevisto, mas já estou a caminho — falei, já
caminhando para fora do quarto.
— Que imprevisto?
— Lembra daquela mulher que conheci na boate onde você trabalha?
— A que te abandonou no dia seguinte?
— Exatamente. Acabei de descobrir que ela é minha nova vizinha.
— Puta merda! — Ele praticamente gritou e pude ouvir a voz de
Carla mandando-o parar. — Desculpa, mãe! — O idiota tinha quase trinta
anos na cara, mas continuava a levar esporro a cada vez que xingava na frente
da minha madrinha. Se não estivesse tão tenso, eu riria da sua cara. — E aí?
Ela explicou por que fugiu?
— Ainda não me deu um motivo plausível, mas isso é o de menos
agora. Eu contei sobre a camisinha.
— Ah, por... Poxa! Merda! O que ela disse?
— Acho que ela entrou em choque. Bateu com a porta na minha cara.
— Ela é louca?
— Foi o que pensei. Vou levar meus exames para ela e provar que
deu tudo negativo.
— Faz bem. E sobre a gravidez?
— Ela não me parece grávida e, sinceramente, nem quero pensar
nessa possibilidade! Já vi que Briana é uma mulher complicada.
— É, amigo, acho melhor você garantir que está tudo bem, guardar a
noite de vocês na memória e se tornar o vizinho que só fala bom dia, boa
tarde e boa noite.
— É o que farei. Preciso desligar, daqui a pouco chego aí, pede pra
madrinha guardar lasanha para mim.
— Não, eu vou comer tudo.
Desligamos e parei em frente ao apartamento de Briana, sem saber ao
certo o que fazer. Se batesse na porta, ela provavelmente não atenderia, mas
resolvi arriscar mesmo assim. Bati e, depois, apertei a campainha. Esperei
exatos três minutos e não ouvi nada. Cansado de toda aquela loucura e
querendo logo meter o pé dali, testei a maçaneta e a porta abriu. Pude ouvir
um latido de cachorro e anunciei minha entrada:
— Briana, sou eu, Levi. Só quero te mostrar os exames.
Ela apareceu em meu campo de visão vindo de um corredor, com uma
escova de dentes na boca. Fez um gesto para que eu esperasse e voltou pelo
mesmo caminho, provavelmente para ir ao banheiro, enquanto uma bola de
pelos claros veio correndo em minha direção, começando a pular em minhas
pernas. Eu me abaixei e o cachorrinho me cheirou, antes de dar uma lambida
em meus dedos.
— Ei, qual é o seu nome? — perguntei, rindo baixinho ao ver a festa
que fazia comigo. Parecia que éramos grandes amigos. Consegui conter sua
euforia e li o nome em sua coleira. — Kiki. Então você é uma garota? Eu
sempre me dei muito bem com garotas, sabia?
— Isso explica por que quase arrebentou a parede do meu quarto
noites atrás — Briana disse, parando alguns passos na minha frente. — Kiki,
você tem que morder os estranhos e não dar carinho.
Eu me levantei e Kiki ficou olhando para nós dois com expectativa,
quase como se implorasse para que corrêssemos atrás dela ou algo do tipo.
Resolvi focar logo na sua dona, que estava pálida, mas tentava manter a pose
de dona de si. Eu não duvidava mesmo que ela fosse, Briana parecia ser
aquele tipo de mulher que tomava as rédeas de uma situação e resolvia
qualquer problema, mesmo tendo mentido para mim na nossa primeira e
única noite. Eu realmente gostaria de a conhecer melhor, mas depois de tudo
o que aconteceu, era mais sábio da minha parte me tornar o vizinho que só
cumprimentava e falava sobre o essencial.
— Trouxe os exames que falei, só para que você saiba que eu não
menti e fique mais tranquila — falei, dando a ela o envelope. Briana tirou os
exames lá de dentro e eu não pude conter o meu olhar guloso sobre aquele
corpo que me enchia de saudade. Uma noite só não havia sido suficiente.
Queria despi-la e provar para mim mesmo que tinha gravado cada detalhe,
cada curva em minha mente, no entanto, mesmo através da névoa do desejo,
pude perceber que ainda estava pálida e nervosa. — Está tudo bem, Briana?
— Sim — respondeu prontamente, devolvendo-me os exames. — Eu
também estou limpa, Levi, não precisa se preocupar com isso. Fiz os exames
quando me separei do meu noivo e você foi o único homem com quem fiquei
depois dele.
— É bom saber disso. Então, está realmente tudo bem, certo?
— Tudo ótimo, não há nada com que você precise se preocupar.
Continuei a olhar para ela sem conseguir piscar, mesmo tendo Kiki
pulando em minhas pernas e um alerta soando em minha mente que eu
deveria ir embora e cortar relações com a mulher a minha frente. Briana havia
enfatizado que estava em um momento diferente da sua vida e eu pensava
que era por causa do ex-noivo. Depois de ter sido traída pelo babaca, ela
deveria estar querendo aproveitar aquele momento sozinha, sem se envolver
com ninguém e, ainda que eu não tivesse prometido um relacionamento,
deixei claro que queria conhecê-la melhor naquela época, o que implicava em
encontros e conversas, algo que ia além do sexo. Se ela não queria aquilo,
cabia a mim apenas respeitar e seguir em frente.
— Então, eu vou indo — murmurei, enfiando uma mão no bolso. —
Espero que eu seja um bom vizinho para você.
— Eu também espero ser uma boa vizinha para você. Só posso pedir
uma coisa? Não que eu esteja no direito de pedir algo, é claro.
— Sim. O que é?
— Pode trazer acompanhantes mais... Hum... Silenciosas para sua
casa? E seria bom se checasse a sua cabeceira também. Aparentemente,
nossos quartos são divididos pela mesma parede.
Aquela informação me surpreendeu, mas o olhar contrariado em seu
rosto foi o que me fez prender um sorriso. Eu poderia estar vendo coisa onde
não existia, mas jurava ter visto uma pontinha de ciúmes ali, que Briana logo
tentou esconder.
— Me desculpe por isso, eu realmente não sabia. — Falei a verdade,
mas acabei coçando a nuca, ficando um pouco constrangido. Alana, a mulher
com quem eu havia transado pela última vez e a primeira a ter conhecido o
meu apartamento, era realmente escandalosa demais. Foi a nossa primeira vez
juntos e, com certeza, havia sido a última. — Isso não vai acontecer de novo.
— Eu juro que não quero ser a vizinha chata, Levi, nem perturbar
você...
— Não, Briana, você está no seu direito de reclamar se o barulho a
incomodou. Vou ser mais cuidadoso na próxima vez.
Ela apenas concordou com a cabeça, mas logo acrescentou:
— Eu também serei.
Certo. Aparentemente, Briana ainda queria sexo, só não era comigo.
Foi bom saber daquilo, assim, qualquer expectativa que eu ainda tinha,
mesmo que remota, havia acabado de ter sido atirada no lixo. Acenei uma vez
para ela e dei mais um afago na cabeça de Kiki antes de sair do seu
apartamento e fechar a porta atrás de mim. Minha mãe dizia que, quando
queríamos que uma visita voltasse à nossa casa, deveríamos acompanhá-la
até a porta. Briana não me acompanhou e isso só me provou que a nossa
conversa estava definitivamente encerrada.
Para um menino que nasceu e foi criado em Macaé, cidade no interior
do Rio de Janeiro, morar na capital do estado ainda parecia ser um sonho,
mesmo estando ali há mais de sete anos. Eu amava o Rio de Janeiro, amava a
energia pulsante dos cariocas, as praias, o mate gelado à beira mar, a boêmia
da população. Ainda que aquele fosse um lugar violento por conta do descaso
dos políticos, a cidade continuava maravilhosa.
Sempre que pegava meu carro e dirigia pelas ruas movimentadas,
tinha a sensação de pertencimento. Eu gostava de Macaé, mas precisava
confessar que a única coisa que me fazia voltar à cidade era minha mãe, que
negava veementemente a cada vez que eu pedia para que viesse morar mais
perto de mim. Agora que estava casada com Raul, eu tinha perdido
totalmente as esperanças de que ela se mudasse. Não que minha mãe não me
amasse ou se importasse comigo — era justamente o contrário —, mas ela
gostava do clima interiorano, dizia que a capital era muito agitada, violenta, e
que não conseguiria se adaptar. Por esse lado, ela tinha razão, e era só por
isso que eu não insistia mais para que vendesse sua casa em Macaé e viesse
para o Rio.
Nos víamos pelo menos uma vez no mês, ou eu e Diego íamos até lá,
ou ela e minha madrinha, Carla, vinham para a capital. Dessa vez, minha
madrinha veio sozinha, porque minha mãe estava em Angra com Raul, mas
em breve eu a visitaria para matar a saudade. Pelo menos nos falávamos
todos os dias pelo celular. Alguns amigos não entendiam por que eu era tão
próximo da minha mãe, mas, para mim, ela era parte fundamental da minha
vida. Se não fosse por Vitória, eu não seria o homem que era hoje.
Estacionei meu carro em frente ao prédio onde Diego morava com
nossos dois amigos, Henrique e Gustavo, em Humaitá. Antes de sair do carro,
observei o prédio de cinco andares onde morei com eles durante tanto tempo.
Não poderia mentir, sentiria falta da agitação do lugar, do entra e sai de
mulheres, dos nossos gritos quando assistíamos ao jogo de futebol, do pagode
rolando no sábado de manhã e dos murmúrios de ressaca aos domingos. Em
compensação, não sentiria a menor falta do apartamento cheio de roupas e
sapatos espalhados, a louça suja na pia e as latas de cerveja espalhadas pela
mesinha de centro. Eu não era o homem mais organizado do mundo, mas
viver no meio de um chiqueiro — apelido que dei ao apartamento — não era
algo que me agradava.
Não foi apenas por isso que decidi morar sozinho, no entanto. Havia
uma parte dentro de mim que almejava independência completa, foi por isso
que passei anos estudando e sendo um dos melhores alunos do curso de
Publicidade e Propaganda, que corri atrás de estágios e tentei compor um
currículo excelente, que chamasse a atenção de boas agências. Não foi fácil
arrumar um bom emprego, manter o cargo sendo apenas mais um dos
inúmeros designers, até conseguir chamar a atenção dos meus superiores e
mostrar que eu tinha competência para ir além e compor a melhor equipe da
agência. Hoje, eu fazia parte da criação das peças publicitárias e era um dos
profissionais mais procurados para cuidar da produção das campanhas.
Isso me permitiu ter a tão sonhada e esperada independência. Com
vinte e sete anos, tinha um bom carro na garagem, um dinheiro legal
guardado na poupança e havia acabado de alugar um apartamento
maravilhoso em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro. A vida era boa e se
tornava ainda melhor com foco e determinação. Decidi parar de pensar na
vida, pois sabia que os babacas no Chiqueiro não me esperariam e atacariam
a lasanha da madrinha assim que ela tirasse a travessa do forno, e saí do
carro. Enquanto cumprimentava Zé, o porteiro e amigo de longa data,
lembrei-me de João, o porteiro do meu novo prédio. Ele era comunicativo e
logo me contou um pouco sobre cada morador assim que me mudei, só
esqueceu de citar que a dona da confeitaria em Botafogo se chamava Briana.
Por ser um nome incomum, assim como o meu, eu logo daria um jeito
de descobrir se a Briana do meu prédio era a mesma Briana com quem passei
a noite um mês atrás, no entanto, parecia que todo mundo queria me manter
no escuro. Dar de cara com ela naquela noite foi uma grande surpresa, que eu
ainda não sabia se havia sido agradável ou não, apesar de eu ter gostado de
saber que estava bem mesmo depois da camisinha ter estourado. Imprevistos
como aquele poderiam acontecer, afinal, nenhum preservativo no mundo era
100% eficaz, mas, para mim, aquela foi uma primeira vez. Ainda conseguia
me lembrar do desespero que senti, principalmente por não ter nenhum meio
de contato com ela. Mesmo com o nosso reencontro esquisito, me vi
agradecendo ao destino por ter cruzado os nossos caminhos de novo, pois
pelo menos consegui tirar aquele peso das minhas costas ao contar a ela o que
havia acontecido.
Eu não era um homem romântico ou “emocionado” como Diego vivia
dizendo por aí, mas também não era do tipo que fugia do que me chamava a
atenção e Briana me despertou naquela noite. O sexo foi espetacular, a nossa
química foi sem igual e eu queria mais. Acordar sem ela ao meu lado foi uma
decepção, que só se agravou ao me dar conta de que havia me passado o
número errado, mas eu segui em frente e não pararia agora que a tinha
reencontrado. No final, seríamos apenas vizinhos e nada mais do que isso.
— Pensei que não chegaria nunca! — Diego falou assim que abri a
porta. Eu sabia que precisava devolver a minha chave, mas era difícil
desapegar.
— Se demorasse mais um pouco, a gente não deixaria nada pra você
comer. — Henrique se aproximou de mim com uma Heineken em cada mão,
me dando uma long neck geladíssima.
— Achou mesmo que eu deixaria a lasanha da madrinha só para
vocês?
— Se a tal da Briana estalasse os dedos, você deixaria — Gustavo
zoou.
— Você é um fofoqueiro do caralho mesmo, hein? — acusei Diego,
que deu de ombros.
— Quando eu atendi o celular, esses dois babacas estavam lá na
cozinha tirando uma casquinha da minha mãe. Acabaram ouvindo a conversa
e entendendo tudo.
— Até a tia Carla entendeu — Henrique comentou.
— Entendeu o quê?
— Que a tal Briana te deu uma chave de coxa bem dada — Gustavo
riu.
— Idiota, cala a boca. Ninguém me deu uma chave de coxa.
— Cara, você ficou durante duas semanas pensando na mulher.
— Porque a camisinha estourou! — Me defendi de Diego. Gustavo
fez uma careta.
— Se isso acontecesse comigo, também ficaria preocupado. Deus me
livre ser pai sem querer.
— Se eu fosse você, me certificava de que ela não está grávida
mesmo — Diego aconselhou.
— Vocês estão sendo babacas, sabem disso, não é? Por que não
param de tomar conta da minha vida e voltam a prestar atenção na de vocês?
— Porque não tem nada de emocionante acontecendo — Diego
concluiu.
— Então vão assistir Netflix, tem vários personagens para vocês
acompanharem.
— Mas a gente não pode zoar com a cara de nenhum deles —
Henrique riu.
Dei o dedo do meio para os três idiotas e fui direto para a cozinha,
surpreso por ver que o Chiqueiro estava apresentável — eu duvidava que o
lugar ficasse limpo de verdade agora que eu não morava mais lá. Encontrei a
madrinha tirando a lasanha do forno e cantarolando Maria Betânia. Foi como
voltar à minha infância.
— Madrinha, que saudade.
— Levi, meu filho! Como é bom ver você!
Ela me agarrou e ficou pelo menos cinco minutos me elogiando,
deixando claro que estava muito feliz por eu ter arrumado um cantinho só
para mim e que estava cheia de orgulho.
— Mas confesso que ficava mais tranquila com você morando aqui,
sabe? Sempre foi mais responsável que Diego, confiava em você para mantê-
lo na linha — disse ela, me arrancando uma risada.
— Eu vou continuar de olho nele, madrinha, prometo.
— Eu sei que sim, querido. Agora, me conte essa história da
camisinha. Você vai ser pai?
— Foi isso que o fofoqueiro do seu filho disse?
— Não, foi o que deduzi. — Ela me olhou de lado enquanto colocava
o arroz em uma travessa. — Você tem cara de quem vai ser pai logo, Levi.
— É mesmo, madrinha? Por quê? — perguntei segurando a vontade
de rir. Carla sempre foi dada a fazer premonições, mas nem todas se
concretizavam.
— Porque você é sério, responsável, carinhoso. Vai ser um ótimo pai.
— Ser pai agora não está nos meus planos, madrinha.
— Mas nem sempre a nossa vida segue um roteiro pré-definido, meu
filho. E eu sei que se por um acaso você descobrir que tem um filho por aí,
não vai fugir da sua responsabilidade.
— Claro que não, mas eu faço de tudo para isso não acontecer.
— Viu como é responsável? Você e Diego são o meu orgulho!
Eu sorri e dei um beijo em sua testa, logo a ajudando a levar as
travessas de comida para a mesa redonda que ficava na sala. Nunca
comíamos ali, exceto quando minha mãe, minha madrinha ou a mãe de
Henrique e Gustavo nos visitavam. Os três homens famintos logo se juntaram
a nós e a noite foi tranquila em meio a risada e histórias da nossa infância,
que a madrinha adorava contar. Ela era como uma segunda mãe para mim e
eu não havia mentido quando disse a Briana que Diego e eu nos conhecíamos
desde bebês. Éramos irmãos, ainda que não tivéssemos o mesmo sangue, por
isso viemos juntos para o Rio de Janeiro, estudamos na mesma universidade
— ele cursando Engenharia Civil — e dividimos o mesmo apartamento.
Meses depois, nos tornamos amigos de Henrique e Gustavo e resolvemos
alugar um apartamento maior e dividir as despesas. Havia dado muito certo.
Pensar em Briana de novo me deixou um pouco fora de ar no final do
jantar, mas logo a tirei da minha mente. Agora que minha breve história com
ela estava resolvida, não tinha motivos para ela ficar rondando meus
pensamentos de novo.

Não consegui dormir naquela noite. Rolando de um lado para o outro


na cama, eu só conseguia repetir as palavras de Levi em minha cabeça,
jogando a bomba em cima do meu colo como se aquela notícia não pudesse
mudar completamente o rumo da minha vida. Claro, ele não poderia imaginar
o que aquele acontecimento implicava, mas eu sabia, só que preferia não
saber. Eu não queria saber de nada daquilo, não queria conviver com o fato
de que o bebê em minha barriga poderia ter um pai e não um doador de
sêmen!
Sem conseguir ficar deitada, me levantei da cama às cinco e meia da
manhã e tirei meu celular do carregador. Abrindo o Google, tentei pesquisar
qualquer coisa na plataforma que pudesse me tranquilizar, mas não encontrei
absolutamente nada. A verdade, era que eu nem sabia como pesquisar sobre
aquilo. O que colocaria na caixinha de buscas? “Transei com um cara duas
noites antes de fazer uma inseminação artificial. A camisinha estourou. Eu
posso estar grávida dele?” Não fazia o menor sentido buscar por aquilo e,
frustrada, joguei meu celular em cima do sofá.
Um minuto depois, estava com o aparelho nas mãos de novo, só que,
dessa vez, ligando para Malu. Eu havia enviado uma mensagem para ela
antes de ir pra cama, mas a filha da mãe deveria estar na farra, pois sequer
visualizou. Não tive pena de ligar para ela às seis da manhã, aquele era um
caso de vida ou morte, pelo menos para mim. Sua voz grogue me saudou do
outro lado da linha:
— É alguma coisa com o meu afilhado? Só vou te perdoar por estar
me ligando a essa hora se for por causa dele.
— Sim, é sobre o bebê.
— Merda! O que houve? Está passando mal? Vou pra sua casa agora!
— Ela pareceu estar muito acordada de repente e eu consegui sorrir.
— Não estou passando mal, mas é um assunto muito sério. Malu... Eu
nem sei por onde começar.
— Estou ficando nervosa. Não me conta agora, vou só jogar uma
água no rosto e estou indo aí.
— Escove os dentes, pelo menos.
— Eu deveria aparecer com bafo na sua casa só por ter me acordado
às seis horas da manhã de um domingo, mas como o assunto é sobre o meu
bebezinho, vou chegar aí com hálito de hortelã para você não vomitar na
minha cara.
— Obrigada, você é a melhor amiga do mundo.
— Eu sei disso, querida.
Nós desligamos e eu resolvi seguir o meu próprio conselho e corri
para escovar os dentes, aproveitando que estava sem enjoo. Também, depois
de vomitar tudo o que havia no meu estômago após a notícia da camisinha
furada, não tinha nada mais para sair dali. Enquanto escovava os dentes, Kiki
estava atrás de mim, sentada e me encarando pelo espelho do banheiro.
Assim que enxaguei minha boca, falei:
— Acha que me esqueci da sua traição? Você foi para cima de Levi
como se o conhecesse há décadas! Eu sei que ele é um homem lindo, mas
você não pode ser safada assim, Kiki.
Ela continuou a me olhar como se dissesse que eu não tinha direito de
falar aquilo para ela, pois também fui para cima de Levi assim que o conheci
e caí na cama com ele. Pensar naquilo logo me fez lembrar de todo o drama
no qual estava enfiada até o pescoço e suspirei, apoiando-me na bancada da
pia.
— E se esse bebê for dele, Kiki? O que eu vou fazer?
Kiki finalmente me deu um olhar solidário e se aproximou de mim,
pedindo colo. Eu a peguei e respirei fundo, sentindo sua lambida em meu
rosto. Senti que queria dizer que estaria ao meu lado e sorri.
— Também te amo, Kiki.
Eu sabia que minha cachorrinha não teria uma resposta para me dar
nem se falasse a minha língua, por isso, desisti de manter aquele diálogo e
voltei para a sala, esperando por Malu. Ela chegou meia hora depois e entrou
usando óculos escuros, uma calça de moletom e blusa de meia manga. Seu
cabelo estava preso em um coque bagunçado e ela era a personificação da
pessoa que havia caído da cama cedo demais.
— Pronto, estou aqui — informou, tirando os óculos e me saudando
com as suas olheiras.
— Só seu corpo está aqui, sua alma ainda está na cama.
— Sim, tenho que concordar, mas ela estará aqui em um segundo
assim que você me contar o que está acontecendo.
Deixei Kiki em seu colo e pensei em me sentar, mas estava nervosa
demais e sentia que precisava liberar aquela energia acumulada. De pé, andei
pelo tapete e comecei:
— Sabe o meu novo vizinho?
— O que parece uma britadeira transando?
— Sim, esse mesmo — confirmei, sentindo que se eu não estivesse
tão nervosa, teria rido de Malu. — Eu o conheci ontem. Rose bateu aqui na
porta para apresentá-lo a mim.
— Não me diz que ele é o Henry Cavill? Porque eu só vou te perdoar
por me fazer sair da cama para me contar isso se ele for a porra do Super-
Homem!
— É mais chocante do que isso.
— O que é mais chocante do que descobrir que Henry Cavill é seu
vizinho?
— Descobrir que Levi é meu vizinho.
Malu me olhou como se não tivesse entendido nada, até seu cérebro
finalmente começar a trabalhar e a ficha cair por completo. Seus lábios se
separaram e seus olhos se arregalaram.
— O gostoso da boate?
— Sim.
— Que você abandonou depois de três trepadas incríveis em uma
única noite?
— Exatamente!
— Meu Deus do céu, sua sortuda! Sabe quando uma coisa dessas
acontece com as mulheres por aí? Nunca!
— Não, eu não sou sortuda, sou uma azarada completa! Tenho certeza
de que passei na fila do azar umas cem vezes antes de nascer!
— Por que está dizendo isso?
— Levi me contou algo que pode mudar a minha vida e a vida dele
para sempre, Malu.
— Ai, eu odeio suspense, você sabe disso! Fala logo!
Precisei respirar fundo, porque falar em voz alta parecia tornar toda
aquela história absurda em algo real demais para suportar. Eu precisava de
uma bebida, mas sequer poderia beber!
— Levi me disse que a camisinha estourou.
Pensei que os olhos de Malu saltariam das órbitas e rolariam pelo
chão. Até o ar pareceu estagnar enquanto ela processava a bomba que joguei
sobre o seu colo, assim como aconteceu comigo quando Levi me contou
sobre aquilo. Eu voltei a andar de um lado para o outro, nervosa demais para
esperar pela sua reação sem estar me movimentando.
— Puta. Merda. — Foi tudo o que ela disse.
— É. Pois é. — Foi tudo o que consegui dizer.
— Isso quer dizer que esse bebê pode ser filho dele?
— Eu não quero pensar nessa possibilidade, mas tudo indica que sim.
— Caralho. Isso é muito surreal. Quer dizer, você gastou uma grana
com inseminação para engravidar de graça?
— Malu! Pelo amor de Deus!
— Só estou falando a verdade. Já parou para pensar nisso?
— Não! Eu não parei para pensar em nada, só no fato de que o meu
filho, o meu bebê, pode não ser apenas meu!
Vi de relance quando Malu colocou Kiki sobre o sofá e se aproximou
de mim a passos rápidos. Só entendi o que ela queria quando pegou em meus
ombros e me forçou a ficar quieta.
— Amiga, primeiro você precisa se acalmar. Não adianta ficar
nervosa desse jeito, principalmente no seu estado.
— Eu não estou nervosa, eu estou surtando!
— Isso é pior ainda! Vamos para a cozinha, vou fazer um chá de
camomila, enquanto isso, você vai ficar sentada esperando, ok? Nada de ficar
andando de um lado para o outro!
Deixei que Malu resolvesse tudo. Ela me colocou sentada em frente à
ilha pequena da cozinha e colocou água na chaleira elétrica. Em seguida,
abriu o meu armário e pegou tudo o que precisava. Ela conhecia a minha casa
como a palma da sua mão, assim como eu conhecia a dela. Pensar nisso e ter
a sua presença ao meu lado naquele momento me acalmou um pouco. De
100% nervosa, desci para 98%.
— Obrigada por estar aqui. Eu estou perdida, Malu — confessei,
querendo fechar os olhos e só acordar quando tivesse certeza de que minha
vida estava nos trilhos de novo.
— Eu sei que sim, amiga, mas vai ficar tudo bem.
— Como vai ficar tudo bem? Levi perguntou se eu usava
anticoncepcional e eu sequer consegui responder!
— Isso quer dizer que ele acha que você está grávida? — perguntou
ela com os olhos arregalados.
— Não. Quer dizer, pelo menos eu acho que não. Ele ficou
perguntando diversas vezes se estava tudo bem e eu disse que sim, deve ter
concluído que não tive sintoma algum de gravidez ou que eu realmente tomo
pílula.
Malu despejou a água quente nas duas xícaras que já estavam com o
saquinho do chá e as trouxe para a bancada. Parou a minha frente e me olhou
bem séria.
— E quando você vai contar para ele que está grávida?
— Esse é o problema. Eu não quero contar.
— Mas precisa, Bri.
— Não, eu não preciso. Eu quis esse bebê, eu lutei por ele, eu fiz uma
inseminação artificial! Como esse homem reaparece de repente na minha vida
e se acha no direito de jogar na minha cara que a camisinha estourou? Eu não
queria saber nada sobre isso, só queria ter o meu bebê do jeito que eu
planejei!
Só percebi que estava gritando e chorando quando Malu deu a volta
na bancada e me abraçou com força, colocando minha cabeça sobre os seus
seios. Extravasei, mesmo sabendo que Levi não tinha culpa pelo o que havia
acontecido, que tinha sido uma fatalidade muito infeliz ou uma coincidência
da vida. Poderíamos ter transado em qualquer outro momento, aquela
camisinha poderia ter estourado do mesmo jeito, mas tudo aconteceu
justamente dois dias antes da minha inseminação. Agora, eu estava grávida
de um bebê que poderia ser dele e não do doador. Que droga!
— Amiga, eu queria ter as palavras certas para poder te tranquilizar,
mas não há nada que eu possa dizer para poder apaziguar essa situação. Você
está no direito de sentir raiva, frustração, pode chorar e gritar, mas uma hora
vai precisar encarar a verdade e ser justa com a outra parte dessa história.
— Esse é problema, não deveria ter uma outra parte, Malu — funguei
como uma criança de cinco anos e não uma mulher de vinte e nove.
— Eu sei, mas agora tem e essa parte tem o direito de saber que pode
ter a vida mudada para sempre — disse ela, pegando meu rosto em suas mãos
e secando minhas lágrimas. — Vamos tentar pensar positivo, não é assim que
a sua mãe fala? Talvez esse bebê nem seja de Levi e, se for, pode ser que ele
nem queira assumir. Não é assim que os homens filhos da puta fazem?
Engravidam a mulher e depois seguem como se nada tivesse acontecido? Ele
pode ser um deles.
— Mas pode não ser — murmurei, me sentindo uma pessoa horrível
por torcer que ele fosse um idiota, enquanto milhares de mulheres se
tornavam mães solos porque o babaca do pai não assumia sua
responsabilidade.
— Sim, ele pode não ser, mas você só vai saber quando conversar
com ele. Você não tem culpa do que aconteceu, assim como ele também não
tem. Os dois são adultos e acho que vão encontrar a melhor forma de lidar
com essa situação. De qualquer forma, eu sempre estarei ao seu lado, amiga.
Pode contar comigo para tudo, até mesmo para dar um soco no meio da cara
de Levi se ele for um babaca.
Eu ri baixinho, ainda chorando e fungando, mas muito grata por ter
aquela mulher incrível ao meu lado.
— Obrigada, amiga. Eu te amo.
— Eu também te amo, sua doida. Agora tome o seu chá, senão vai
esfriar.
Como se eu não tivesse qualquer outra preocupação, respirei fundo e
peguei a xícara fumegante, dando um gole e tentando ter o pensamento
positivo que minha mãe tanto falava.
Malu conseguiu colocar minha cabeça para pensar naquele domingo e
decidi marcar uma consulta com a minha ginecologista. Consegui conversar
com a sua secretária e falei que era uma consulta de emergência,
praticamente implorei por um horário na segunda-feira e ela conseguiu uma
brechinha na agenda da Dra. Claudia no final da tarde. Malu passou o resto
do dia comigo e só foi embora quando prometi que não surtaria durante a
madrugada e que ligaria para ela se precisasse de qualquer coisa. Ela também
garantiu que iria comigo na consulta.
Na segunda-feira de manhã, como se o destino quisesse esfregar na
minha cara que Levi estava inserido em minha vida, ele foi a primeira pessoa
que vi ao sair do meu apartamento. Foi impossível não olhar para aquele
espécime de homem da cabeça aos pés. Naquele dia, ele usava uma calça
social preta e uma blusa branca de botões com finas listras cinzas. A blusa era
de meia manga e deixava seus bíceps tonificados à mostra. Parecia que o
tecido estava agarrado àquele braço musculoso e não queria soltar por nada.
Não poderia julgá-lo.
— Bom dia — ele disse primeiro, trancando a porta do seu
apartamento. Pude sentir seus olhos passearem rapidamente pelo meu corpo,
sendo muito mais discreto do que eu fui, o que me encheu de vergonha.
— Bom dia.
Estava um clima ameno no Rio de Janeiro, por isso, eu usava uma
calça linho na cor creme e uma blusa de botão do mesmo tecido, que deixei
aberta, pois usava um top preto por baixo. Meus cabelos estavam soltos e
usava a mesma maquiagem de todos os dias, nada muito elaborado. Será que
ele me achou bonita? Por que eu estava preocupada com aquilo? Em silêncio,
caminhamos lado a lado até o elevador, que demorou poucos minutos para
chegar ao nosso andar. Sendo um cavalheiro, ele deixou que eu passasse
primeiro e eu perguntei:
— Garagem?
— Isso.
Apertei o botão e olhei as portas se fechando, me dando conta de
como aquela situação era esquisita. O clima entre nós dois era pesado,
fingíamos que éramos dois estranhos, mas não sabíamos como ignorar um ao
outro. Ao mesmo tempo, era como se sua boca nunca tivesse estado na minha
nem o seu corpo nu colado ao meu.
— Fiquei sabendo que você é dona de uma confeitaria. — Ele acabou
comentando e eu consegui respirar aliviada. Conversar sobre nossas
profissões era um campo neutro, certo? Um assunto que um novo vizinho
sempre puxava com o outro.
— Isso mesmo. E você trabalha com o quê?
— Sou publicitário, trabalho em uma agência no Leblon.
— Uau. Imagino que deve ser incrível elaborar todas as propagandas
que vemos por aí.
— É sim, mas fazer doces tão maravilhosos como soube que você faz,
parece ser melhor ainda.
Eu acabei sorrindo, porque Levi tinha aquela facilidade de puxar
assunto e deixar o clima mais leve. Nossos olhos se encontraram e quase
perdi o fôlego. Por que ele tinha que ser tão bonito? Isso complicava muito as
coisas. Olhar para ele e não o desejar parecia ser uma missão impossível.
Como se isso não fosse o suficiente, ainda havia aquela culpa apertando o
meu peito, dessa vez bem pior do que a sensação que tive ao mentir para ele e
fugir após a nossa noite juntos. Nunca pensei que omitir seria pior do que
mentir.
As portas do elevador se abriram na garagem e, seguindo a ordem de
disposição das vagas para cada apartamento, seu carro — um Mitsubishi
Pajero TR4 azul-escuro — estava ao lado do meu. Se saíssemos sempre no
mesmo horário, nos encontraríamos praticamente todos os dias.
— Está convidado para aparecer na minha confeitaria qualquer dia
desses — falei, porque parecia que era o mais educado e certo a se fazer, mas,
também, porque uma parte minha parecia ser suicida e queria ter Levi por
perto. Eram os hormônios da gravidez me deixando louca, eu tinha certeza.
Ele sorriu e meu coração deu uma aceleradinha no peito.
— Eu vou, pode deixar.
Ele destravou o carro e eu fiz o mesmo, acenando uma despedida
antes de me trancar em meu veículo e tentar acalmar as batidas do meu
coração. As palmas das minhas mãos suavam e eu não sabia dizer se era de
ansiedade pela consulta ou de nervosismo por ter estado tão perto de Levi de
novo, que tinha aquele olhar inocente de quem não fazia ideia do que estava
acontecendo comigo e do que poderia acontecer consigo mesmo. Deixei que
ele saísse na frente e usei aqueles poucos minutos para estabilizar a minha
respiração antes de deixar o meu prédio e seguir para a confeitaria.
Fiz um trato comigo mesma sobre não comentar nada sobre toda
aquela loucura para minha mãe, Miriam, Rose ou Margarida, mas minha
língua coçou assim que vi Miriam batendo um bolo na cozinha, de costas
para mim. Eu já poderia imaginar o caos que se instalaria no quarteto quando
a bomba estourasse, cada uma me daria um conselho diferente, elas
começariam a discutir sobre qual conselho era o melhor de todos e, no final,
não chegariam à conclusão alguma, me deixando mais nervosa do que já me
encontrava. Realmente, era melhor guardar segredo por enquanto.
O problema era que Miriam parecia ter um faro apurado e desconfiava
sempre que eu estava escondendo alguma coisa. Passamos boa parte da
manhã conversando sobre amenidades enquanto cada uma cuidava da sua
função, até que, na hora do almoço, ela se virou para mim e perguntou:
— O que você tem?
— Nada — respondi, enfiando um brócolis na boca. Descobri que
amava brócolis nas últimas semanas, seu sabor neutro era uma maravilha
para as minhas papilas gustativas.
— Você não me engana, conheço muito bem esse olhar vago, tem
alguma coisa te preocupando.
— Dizem que uma mulher prestes a se tornar mãe já começa a se
tornar uma pessoa preocupada.
— Essa besteira não cola comigo, Briana.
— Estou falando sério, não é nada.
Ela me olhou por alguns segundos, sondando-me, mas me mantive
firme e voltei a comer, fingindo que nada estava acontecendo. Parecendo
querer mudar de assunto, ela comentou:
— Rose disse que você e o sobrinho-neto da Margarida já se
conheciam.
Parecia que a mulher queria mesmo me cercar. Era como se
pressentisse que minha tensão tinha algo a ver com Levi.
— Sim, eu o conheci no mês passado em uma festa, mas foi algo bem
casual. Não sei muito sobre ele.
— Margarida me contou muita coisa e até me mostrou uma foto. O
homem parece um modelo! Ah, se eu fosse uns aninhos mais nova...
— Deixa de ser safada, Miriam! — gargalhei, jogando o guardanapo
em cima dela.
— Só estou falando a verdade. Pessoalmente ele é mais bonito?
— É sim, o homem é lindo.
— Que sorte a sua ele ser seu vizinho.
— Realmente, que sorte a minha — ironizei e ela franziu o cenho.
— O que foi? Ele não é um cara legal?
— Na verdade, ele é um cara muito legal.
— Então, qual é o problema?
— Não há problema nenhum.
— Você tá muito esquisita, Briana! Mulher grávida é uma coisa
insuportável.
— Eu vou lembrar disso quando você estiver disputando por um final
de semana com o meu bebê e vou dar preferência para as outras meninas.
— Aquelas velhas não vão passar na minha frente!
— Ah, vão sim.
— Isso é o que nós vamos ver!
Consegui tirar a atenção de Miriam de cima de mim ao perturbá-la e
tirar sarro com a sua cara, até ela fingir que estava com raiva e prometer que
não falaria mais comigo pelo resto do dia. Menos de vinte minutos depois, já
estávamos comentando sobre a vida de algum famoso e sua raiva estava
esquecida. Precisando dar uma atenção aos meus clientes, pedi para que
Mariana fosse tirar uma horinha de descanso e fiquei à frente da confeitaria
até dar a hora da minha consulta, dando a Miriam a responsabilidade de
fechar e cuidar de tudo, coisa que ela amava fazer, pois dizia se sentir útil
além da cozinha.
Malu me enviou uma mensagem assim que entrei no carro, falando
que já estava a caminho do consultório e eu respondi falando que a
encontraria em breve. Na rádio tocava uma música qualquer que não fez nada
para me acalmar e dirigi por todo o caminho torcendo para que Dra. Claudia
conseguisse me tranquilizar de alguma forma, pois eu era brasileira e não
desistia nunca! Minha esperança seria a última a morrer. Deixei o carro no
estacionamento do prédio comercial onde ficava o consultório da doutora e
Malu chegou logo atrás de mim.
— Está mais calma? — perguntou assim que nos abraçamos.
— Tentando. Levi e eu nos encontramos hoje de manhã.
— Jura? Conversaram?
— Trivialidades, apenas. É estranho estar ao lado dele e fingir que
nunca estivemos juntos.
— Por que precisam fingir que nunca estiveram juntos?
— Porque eu disse para ele que estamos em momentos diferentes da
nossa vida.
— E daí? Vocês são adultos e adultos fazem sexo. Por que complicam
tanto as coisas?
Da forma como Malu falava, a vida parecia ser muito simples, mas
não era bem assim que as coisas funcionavam. Eu não sabia lidar bem com
casos de uma noite só e achei que nunca mais veria Levi na minha vida.
Agora, ele era uma presença constante tanto fisicamente quanto na minha
cabeça, rondando meus pensamentos.
— Ele me contou que é publicitário. — Mudei de assunto enquanto
entrávamos no elevador.
— Legal, talvez ele possa te dar umas dicas de publicidade para a
confeitaria.
— Eu não vou pedir nenhum favor para o meu vizinho, Malu.
— Mas ele pode ser o pai do seu bebê.
— Nem me lembre disso!
— Deixa de ser dramática. Quanto antes lidar com essa situação,
melhor será.
— Melhor para quem?
— Para vocês dois, pode ter certeza. Chegamos.
As portas do elevador se abriram e ela enganchou o braço no meu,
caminhando ao meu lado até o consultório. A secretária da Dra. Claudia nos
recebeu com um sorriso simpático e eu agradeci mais uma vez por ter sido
tão solícita comigo. Cinco minutos depois, ela pediu para que entrássemos na
sala e a Dra. Claudia veio em minha direção com um semblante preocupado.
— Briana, quando Luciana me falou que você marcou uma consulta
às pressas, fiquei preocupada. Aconteceu alguma coisa?
— Sim, Dra. Claudia, mas não é nada grave.
— Mais ou menos, né — Malu disse ao meu lado, cumprimentando a
doutora com dois beijinhos no rosto. Ela também era sua paciente. — Briana
se meteu em uma confusão gigantesca.
— O que quer dizer? Sentem-se, por favor.
Nós nos sentamos de frente para a sua mesa e eu esperei que tomasse
o seu lugar para poder explicar tudo o que havia acontecido. Contei sobre a
noite que passei com Levi dois dias antes da inseminação e que havia corrido
tudo bem, mas que o reencontrei no sábado. Dra. Claudia me olhava como se
não estivesse entendendo qual era a urgência, por isso, fui direto ao ponto:
— Ele me disse que a camisinha estourou, doutora. Agora, estou com
medo de que esse bebê seja fruto da nossa relação e não da inseminação
artificial.
Os olhos da Dra. Claudia se arregalaram atrás dos óculos de armação
fina que ela usava. Sua reação me deixou mais apreensiva ainda, porque,
geralmente, ela nunca perdia a calma.
— Há alguma possibilidade do bebê ser dele? — Malu perguntou.
Dra. Claudia se virou para o computador e digitou alguma coisa. Leu
algo na tela por alguns segundos, até se virar para mim e falar o que eu não
queria ouvir:
— Sim, com certeza há uma possibilidade de ele ser o pai do seu
bebê.
— Ah, meu Deus... — O sussurro escapou da minha boca, enquanto
eu fechava as mãos na frente do meu rosto. — Não acredito nisso.
— Você estava no seu período fértil naquela noite, Briana. No início,
é verdade, mas já estava ovulando, e como a diferença entre a relação sexual
e a inseminação foi de apenas dois dias, é praticamente impossível saber
quando o óvulo foi fecundado. A única forma de descobrirmos, é com um
exame de DNA.
— Então eu vou ter que esperar o bebê nascer para ter a confirmação?
— Não, o exame pode ser feito ainda com o bebê na barriga da mãe,
se chama DNA Fetal. Há dois tipos, o tradicional, em que a coleta é feita
através de uma punção transabdominal, onde será coletado uma pequena
amostra do líquido amniótico ou da placenta. Se o método escolhido for o do
líquido amniótico, pode ser feito a partir da 16º semana de gestação, enquanto
a coleta do material placentário pode ser feita entre a 12º e a 15º semana. Já o
outro método é não invasivo, através de um exame de sangue da mãe, a partir
da 10º semana de gestação, é possível encontrar no plasma o material
genético do bebê em quantidades suficientes para a realização do exame, no
entanto, por usar uma tecnologia mais avançada, o custo do exame é muito
alto.
— Algum deles traz algum tipo de risco para o bebê?
— O método tradicional pode trazer um pequeno risco de indução do
parto, mas o percentual é muito pequeno. Já o método não invasivo, como o
próprio nome diz, não traz qualquer risco.
Malu me olhou e segurou minha mão com firmeza, demonstrando que
estava ao meu lado. Eu me sentia sendo bombardeada de todos os lados,
tendo que lidar com uma situação que nunca pensei que precisaria enfrentar.
— Briana, eu imagino como tudo isso te pegou de surpresa, então, o
meu conselho é que você vá para casa e pense com calma em tudo o que
conversamos. No momento, não há muito o que possamos fazer para
descobrir a paternidade do seu bebê, mas assim que chegarmos no estágio
ideal da gestação, estarei ao seu lado na decisão que for tomar.
— Dra. Claudia tem razão, amiga. Você precisa mesmo pensar com
calma em tudo isso antes de chegar à alguma conclusão.
— Está bem — concordei, preocupada e desanimada, com medo do
que o futuro me reservava. — Muito obrigada, Dra. Claudia, e me desculpe
por ter desorganizado a sua agenda.
— Não se preocupe com isso, Briana. Estou aqui para ajudar, sempre.
Nós nos abraçamos e eu saí do seu consultório me sentindo mais
perdida do que quando entrei. Eu sabia que as chances de a Dra. Claudia me
dar a resposta que eu queria ouvir eram mínimas, mas tinha uma pontinha de
esperança de que ela dissesse que eu não precisaria me preocupar, pois o
bebê havia sido concebido através da inseminação e não naquela noite
fatídica com Levi.
— Quer que eu vá para casa com você e faça uma comidinha bem
gostosa? — Malu perguntou assim que chegamos ao estacionamento.
— Não, acho que preciso ficar um pouco sozinha, tentar colocar
minha cabeça no lugar.
— Tem certeza?
— Sim. Obrigada por não ter me deixado sozinha, amiga.
— Você está se tornando muito repetitiva com esse tanto de
“obrigada”, sabe que não precisa agradecer por nada! — disse, me puxando
para um abraço. — Qualquer coisa é só me ligar, ok?
— Pode deixar.
— E você sabe qual é a minha opinião. Chame Levi para conversar,
explique a ele o que aconteceu. Dra. Claudia disse que o exame de sangue é
bem caro, mas, juntos, talvez vocês possam pagar. Eu posso ajudar também.
— Para com isso, não vou deixar você gastar dinheiro com um
problema que é meu.
— Somos amigas, todos os problemas são nossos. Você me disse isso
uma vez, lembra?
Sim, eu me lembrava. Quando ela enfrentou uma fase depressiva por
ter engordado, eu disse a ela que enfrentaríamos tudo juntas. Desde então,
cumpríamos aquela promessa. Nos abraçamos de novo e eu prometi mais
uma vez que ligaria se precisasse de alguma coisa. Dirigi para casa pensativa,
querendo encontrar uma solução rápida para aquele problema. E se eu
procurasse um novo apartamento? Se saísse da vida de Levi, ele não
precisaria saber sobre a gravidez.
Assim que a ideia estúpida passou pela minha mente, eu a expulsei.
Havia mentido para Levi antes e a vida se encarregou de colocá-lo em meu
caminho, se mentisse de novo e o bebê fosse dele, eu jamais me perdoaria por
ter escondido o seu filho. Sem contar que ele era sobrinho-neto de Margarida,
mesmo sem ter o visto antes na companhia dela, poderia acabar esbarrando
com ele em algum momento.
Decidi que eu não seria covarde de novo. Usaria alguns dias para
pensar em como abordaria aquele assunto com Levi, então, o convidaria para
o meu apartamento e contaria tudo para ele. E que Deus me ajudasse a lidar
com a sua reação.
Tia Margarida era aquela parente distante que nunca estava distante
de fato. Ela era irmã da minha avó materna, que havia falecido há cinco anos.
Durante a minha infância, me lembrava de ela e de seu marido, tio Osvaldo,
irem à Macaé passar o final de semana, sempre se hospedando na casa da
minha avó e me levando presentes. Quando me mudei para o Rio, ela ficou
toda boba e me mimou bastante, e eu fazia questão de visitá-la de vez em
quando. Assim que decidi me mudar, foi para ela que corri, pois tia
Margarida conhecia meio mundo de gente e ela prontamente me ajudou.
Quando soube que a vizinha do terceiro andar do prédio onde morava estava
de mudança, logo conversou com o proprietário e eu me tornei o primeiro da
fila para alugar o apartamento.
Agora que morávamos no mesmo prédio, eu a via quase todos os dias
e não pude negar o seu convite para almoçar em sua casa naquele domingo,
quase um mês depois de ter me mudado. Segundo ela, suas três melhores
amigas também iriam e ela queria me apresentar a cada uma delas. Como
sabia que tia Margarida não dispensava uma cervejinha durante o almoço de
domingo, comprei um pack no mercado depois de dar uma corrida pelo
quarteirão naquela manhã e bati em seu apartamento às 13h em ponto. Tio
Osvaldo que abriu a porta com o seu sorriso alegre de sempre. No sofá, vi um
homem negro que não conhecia, mas meu tio logo nos apresentou.
— Esse é Brito, um amigo de longa data. Brito, esse é Levi, meu
sobrinho.
Brito se levantou e faltou poucos centímetros para que ficássemos do
mesmo tamanho, mas acabei ganhando dele na altura. Apertamos as mãos e
ele me deu um sorriso muito simpático.
— Se trouxe cerveja, já se tornou meu amigo — brincou, me
arrancando uma risada.
— Não podia faltar, certo?
— Com certeza — tio Osvaldo disse, apontando para um corredor. —
Margarida está na cozinha com as amigas, vá até lá, só não se espante se uma
estiver implicando com a outra.
— A amizade delas é assim, brigam, mas se amam — Brito explicou.
Eu concordei com a cabeça, já ouvindo o falatório animado assim que
me aproximei da cozinha. Mexendo em uma panela no fogão, tia Margarida
parecia passar um recado para alguém que estava no celular com uma mulher
negra que, apesar de eu saber que nunca tinha visto, me lembrava muito uma
pessoa, só não sabia definir quem era. O celular estava no alto-falante, mas as
outras duas senhoras, Rose, minha vizinha, e uma outra que eu também não
conhecia, falavam alto demais e quase não deixavam que a pessoa do outro
lado da linha dissesse alguma coisa.
— Eu não quero desculpa, quero que você venha até a minha casa e
almoce conosco! — tia Margarida disse.
— Você está passando mal?
— Não. — A voz do outro lado da linha despertou completamente a
minha atenção.
— Então pode muito bem vir até aqui — disse a mulher negra, que
aparentava ser a mais nova do quarteto. — Estamos te esperando, Briana.
— Vocês são muito chatas, sabia? A idade avançada não está
fazendo bem!
— Acho melhor você vir mesmo, porque vou dar uns tapas que sua
mãe esqueceu de dar nessa sua bunda para ver se você se torna uma pessoa
mais educada — disse a mulher que eu não conhecia, me fazendo sorrir.
— Eu sei que minha bunda é linda, mas agora ela só recebe
palmadas de pessoas do sexo masculino.
— Que pessoas do sexo masculino? Você não deve transar há meses,
já está com teias de aranhas nessa perereca — Rose falou e eu me escorei no
batente da porta da cozinha, rindo baixinho. Elas ainda não tinham me visto e
eu não queria interromper, aquele embate estava divertido.
E, realmente, Briana tinha uma bunda que me deixava de pau duro a
cada vez que nos esbarrávamos pelo prédio. Eu me ressentia um pouco, pois
tinha a sensação de que não havia aproveitado direito aquela parte magnífica
do seu corpo. Será que ela gostava de sexo anal?
— Se eu não transo há meses, você não transa há quanto tempo,
Rose?
— Você não sabe de nada, ontem eu fui pra um pagode e me diverti
horrores.
— Mas não transou — disse a mulher que eu não conhecia.
— Não, mas vou transar em breve. Peguei o zap de um quarentão que
ficou louco por mim.
— Calma aí, você foi para um pagode e não me chamou? E ainda está
marcando para transar? Rose, nós duas somos as solteiras desse quarteto,
temos que nos unir! Se eu não transar, você também não vai transar!
— Eu não vou ficar esperando por você para transar, Miriam!
— Claro que vai! Cadê a sua solidariedade?
Ok, eu já tinha ouvido o suficiente, a conversa estava entrando em um
setor pessoal demais para que eu ficasse ouvindo sem ser anunciado.
Arrumando minha postura, pigarreei bem alto e chamei a atenção das quatro
senhoras muito bonitas. Tia Margarida abriu um sorrisão e veio correndo me
abraçar.
— Meu bem, que bom que você veio! Olha, ainda trouxe cerveja!
— Esse conhece a tia que tem — disse Rose com um sorriso.
Pela minha visão periférica, vi quando a mulher negra guardou o
celular no bolso e tia Margarida logo fez questão de nos apresentar. Comecei
a entender que o destino parecia gostar de colocar Briana em meu caminho,
quando soube que a mulher, que se chamava Analídia, era mãe dela e que
Brito era seu pai. Quando imaginei que conheceria seus pais assim, em um
almoço na casa da minha tia? A outra senhora, Miriam, também era uma
pessoa muito ativa na vida de Briana, pois trabalhava com ela na confeitaria.
Parecia que eu estava cercado pela mulher de todos os lados e, no fundo, não
me importava muito.
As semanas que se sucederam ao nosso reencontro foram tranquilas e
a cada vez que nos víamos, fosse no elevador, na entrada do prédio ou na
garagem, parávamos por alguns minutos para conversar sobre besteiras. Ela
perguntava como eu estava e eu prometia que passaria na sua confeitaria, mas
ainda não tinha ido até lá, só passado na frente de carro. A Doceria da Briana
tinha a fachada branca com rosa e azul em tons pastéis, um grande janelão
que dava uma visão do interior da confeitaria e eu quase podia sentir o
cheirinho do chocolate mesmo de dentro do carro. Não sabia ao certo porque
não tive coragem para entrar. Talvez estivesse seguindo meu próprio
conselho à risca de ser apenas o vizinho simpático e nada mais do que isso.
— Finalmente estou conhecendo o famoso Levi! — disse Miriam
após o nosso abraço.
— Famoso?
— Sua tia, Rose e até Briana, falam muito de você.
— Briana fala sobre mim?
— Você é lindo, querido. Mulheres gostam de falar sobre homens
bonitos — Rose piscou e eu ri.
— Isso é bobagem. Deve ser porque nos conhecemos antes de eu me
mudar para o prédio.
— Briana comentou que vocês se conheceram em uma casa noturna.
Como esse mundo é pequeno — disse Analídia, também muito simpática.
Agora que sabia que era mãe de Briana, conseguia associar as duas com
muita facilidade.
— Briana foi uma boba, viu? Se eu te vejo em uma balada, te agarro e
não solto mais!
— Miriam! Você é uma velha muito sem noção! — tia Margarida
ralhou, enquanto eu ria sem saber se era de surpresa ou de nervoso. Resolvi
entrar na brincadeira.
— Podemos resolver isso. Quando vamos sair juntos?
— Não, não faça isso, não dê esperanças para essa velha louca. Ela
leva as coisas bem a sério! — Analídia disse.
— Quer parar de meter o nariz onde não é chamada? Não está vendo
que Levi e eu estamos desenrolando um lance?
— Um lance? — Rose perguntou com uma careta.
— Não é assim que os jovens falam hoje em dia?
— Isso já mostra como você é velha — tia Margarida falou.
— Não ligue para elas, estão com inveja da nossa relação — Miriam
disse e eu não aguentei, acabei passando o braço pelos seus ombros enquanto
ria baixinho. Parecia que eu seria um grande amigo das amigas da minha tia.
— Nada vai atrapalhar o que temos, Miriam.
— É assim que se fala, meu bem. Só aceito perder você se for pra
Briana, mas não conta para ela, eu tenho que manter a minha pose de durona.
— Por que para Briana? — Será que Briana havia comentado que
passamos uma noite juntos? Sem querer, olhei para sua mãe e senti uma
espécie de vergonha, apesar de saber que era infundada. Éramos adultos, não
tinha por que ficar desconfortável.
— Porque Briana é uma mulher linda e merece achar um novo amor.
Você tem cara de safado, mas posso apostar que é um anjinho.
— Meu Deus do céu. Levi, não leva em consideração as coisas que
ela diz, certo? — Analídia pediu.
— Por quê? Levi tem cara de quem será um bom genro.
— Você está tentando casar o garoto com a minha filha. Ele vai sair
correndo daqui, Miriam! Para de assustar o menino!
— Estou te assustando? — Miriam perguntou, virando o rosto para
me olhar.
— Não me assusto quando o assunto é casamento.
— Viu só? O menino é um anjo!
— É mesmo, viu? Bom filho, sempre foi muito responsável,
estudioso, hoje tem um ótimo emprego e nunca ouvi falar sobre ele ter
quebrado corações por aí — tia Margarida puxou corda para o meu lado e eu
sorri.
— Eu poderia ser uns anos mais nova, já entraria na fila — disse Rose
e Miriam a olhou de cima a baixo.
— Para de furar o meu olho e o olho da Briana, sua velha safada!
— Eu sou safada? Você que está se atirando para cima dele!
E foi assim que o caos recomeçou e as quatro começaram a se
alfinetar. Eu olhava de um lado para o outro como se estivesse
acompanhando uma troca de mísseis no ar, sem saber se ria ou se ficava
assustado com a facilidade que elas tinham de sair de uma conversa e entrar
em uma discussão que, ao meu ver, não levaria a lugar algum. Aproveitei que
estavam entretidas e fugi da cozinha antes que o assunto voltasse a ser eu e
Briana juntos. Não que a ideia não me agradasse — de certo modo, eu ainda
pensava no que poderia ter acontecido se ela não tivesse fugido naquela noite
ou se tivesse demonstrado qualquer tipo de interesse a cada esbarrão que
dávamos pelo prédio —, mas eu já havia virado aquela página.
Fui para a sala e passei os próximos quarenta minutos conversando
com tio Osvaldo e Brito, que eram bem mais calmos do que as meninas na
cozinha. Com uma cerveja gelada em mãos e um jogo de basquete passando
na TV, nós falamos sobre tudo, desde futebol — descobri que Brito era
flamenguista assim como eu e tio Osvaldo — até uma franquia de filmes de
ação que nós três gostávamos. Já estava na segunda cerveja quando a
campainha tocou e tio Osvaldo abriu a porta. No fundo, eu sabia quem era,
mas meu coração deu aquele solavanco esquisito do mesmo jeito quando a vi.
Briana estava linda, mas isso era comum porque, para mim, ela
sempre estava maravilhosa. Usava uma blusa de alcinha bem fina que
terminava logo abaixo dos seios, uma calça jeans cintura alta que, mesmo
sem ser justa, desenhava aquela bunda incrível que ela tinha e um par de
sandálias rasteiras. Estava bem casual, mas linda, principalmente com aqueles
cabelos cacheados e volumosos e os lábios grossos e bem desenhados com
algum tipo de brilho labial. Quis tanto beijá-la, que precisei dar um gole na
cerveja para ver se o fogo em minhas veias abrandava. Não poderia ficar de
pau duro por ela na presença do seu pai. Seus olhos encontraram os meus e
um sorriso nervoso se abriu em seus lábios.
— Oi, Levi.
Eu me levantei e fui cumprimentá-la, porque dizer um “oi” de longe,
de repente, me pareceu insuficiente. Assim que me aproximei, senti seu
perfume suave e uma vontade imensa de esfregar meu nariz pelo seu pescoço
me invadiu, como fiz várias vezes na nossa primeira e última noite. Também
gostaria de lamber sua pele, descer aquela alça fina até seus seios ficarem
desnudos e brincar com aqueles mamilos que foram minha perdição,
principalmente por ter percebido que ela era muito sensível ali. Acabei
apenas segurando de leve a sua cintura e dando um beijo em seu rosto, sendo
respeitoso com ela, com seu pai, meu tio e, se fosse sincero, comigo mesmo.
Sentir todo aquele desejo e não poder fazer nada a respeito era uma tortura e
eu estava sem transar há quase duas semanas.
— É bom te ver, Bri. — Ela pareceu surpresa por eu ter usado o
diminutivo do seu nome, mas logo voltou a sorrir.
— É bom te ver também.
— Hum, pronto, Briana chegou, vou perder o meu boy! — Ouvi
Miriam dizer vindo da cozinha com uma travessa de bacalhau em mãos.
Apesar do tom ranzinza, pude ver que ela sorria. Briana olhou para nós dois
com curiosidade.
— Seu boy? Que história é essa?
— Levi e eu estamos ficando mais íntimos.
— É mesmo? — Briana riu, cruzando os braços. — Não acredito que
você deu em cima dele, Miriam.
— Eu dei sim, mas só porque percebi que ele já estava caidinho por
mim.
— Isso é verdade — concordei e Briana gargalhou, jogando o
pescoço para trás. Não sabia que senti falta da sua risada até aquele momento
e fiquei olhando para ela como que hipnotizado.
— Você está mesmo alimentando a loucura dela?
— Loucura? Você já teve mais respeito por mim, Briana!
— Eu te amo, sua doida — Briana disse, indo abraçá-la pelos ombros.
— Mas você é sem noção, precisa concordar comigo.
— Eu vou é te dar os tapas que prometi, sua abusada!
Elas foram juntas para a cozinha e eu voltei a me sentar, agradecendo
silenciosamente por tio Osvaldo e Brito estarem distraídos em uma conversa
e o pai de Briana não ter percebido o claro interesse que tinha por sua filha.
Precisava ser mais comedido, como vinha sendo desde o nosso reencontro.
Por que justamente hoje ela tinha que estar tão linda? Mal conseguia me
controlar. Vinte minutos depois, Briana veio junto com o quarteto trazendo
uma travessa de salada e eu me ofereci para ajudar, indo pegar as bebidas.
Logo estavam todos à mesa, que, por sorte, era bem grande e cabia todo
mundo. De forma inconsciente ou não, acabei me sentando de frente para
Briana e precisei de todo o meu autocontrole para não ficar encarando seus
olhos, seus lábios, aquele sorriso lindo que ela tinha ou o decote da blusa
fina. Apesar de não ser transparente, percebi que ela não usava sutiã.
— Como você está, querida? — o pai de Briana perguntou quando
começamos a comer.
— Estou bem, pai.
— É bom te ver bem-disposta — tio Osvaldo comentou. Briana olhou
para ele e depois para mim, mas logo sorriu. Percebi que parecia tensa, mas
talvez fosse apenas uma impressão.
— É, eu estou ótima! Nossa, esse bacalhau está dos deuses,
Margarida.
— Receita da minha mãe, sabia? Eu e minha irmã, Margarete, sempre
fazíamos. Lembra disso, Levi?
— Claro que sim. Ainda bem que minha mãe aprendeu a receita —
falei.
— Margarete era sua avó? — Briana respondeu e eu concordei com a
cabeça.
— Sim. Ela nos deixou há cinco anos.
— Sinto muito, Levi.
Todo mundo ofereceu condolências, mas não me permiti ficar triste.
— Está tudo bem, o que importa são as lembranças maravilhosas que
ficaram conosco, não é, tia? — perguntei e tia Margarida sorriu, emocionada.
— Exatamente. De sobremesa, fiz manjar de coco!
Sem querer, observei atentamente a reação de Briana, talvez por não
conseguir tirar os olhos de cima dela. A cor pareceu sumir do seu rosto, mas
ela tentou disfarçar, bebendo um gole generoso de água. Era a única que não
estava bebendo cerveja.
— Você está bem? — perguntei apenas para que ela ouvisse, já que
todo mundo estava entretido. Briana pareceu respirar fundo e assentiu.
— Sim, estou.
— Não gosta de manjar?
— Não sou muito fã — falou um pouco sem graça, desviando o olhar.
Fiquei com a sensação de que eu poderia estar sendo invasivo e resolvi deixar
a conversa de lado, tentar falar um pouco mais com os outros, mas a risada de
tio Osvaldo me chamou a atenção.
— Querida, você deveria ter perguntado para Briana o que ela
gostaria de comer. Acho que a ideia do manjar não agradou muito ao bebê.
Engraçado como alguns momentos em nossa vida passam na
velocidade da luz e, outros, parecem passar na frente dos nossos olhos em
câmera lenta. Foi exatamente o que senti depois que tio Osvaldo se calou e as
mulheres olharam fixamente para Briana, que me encarou com os olhos
arregalados. Em minha mente, a palavra “bebê” se repetia sem parar, como a
porra de um disco arranhado, enquanto eu tentava controlar o fluxo de
informações que se conectavam em meu cérebro. Não consegui ter controle
sobre nada. Mal consegui respirar, só pude olhar para Briana e perguntar
baixinho:
— Bebê?
A pergunta foi para ela, mas quem respondeu cheio de orgulho, foi
Brito:
— Sim! Serei avô em breve!
A resposta era óbvia, estava escrita na cara culpada de Briana, mas me
ouvi perguntar mesmo assim. Era como se eu quisesse que ela dissesse na
minha cara, olhando em meus olhos, que havia me feito de palhaço durante
todas aquelas semanas:
— Você está grávida?
Seus olhos se desviaram dos meus e aquilo me encheu de raiva e
indignação, um sentimento que mal pude controlar. Sem ter ciência do que
estava fazendo exatamente, levantei-me da cadeira e dei a volta na mesa.
— Olhe para mim, Briana! — Exigi e ela engoliu em seco,
encarando-me com os olhos arregalados. — Você está mesmo grávida?
— Sim.
Sim.
Uma única palavra com três letras que, de repente, virou o meu
mundo completamente de cabeça para baixo. Atordoado, olhei para a mulher
à minha frente e não consegui acreditar que mesmo depois de eu ter sido
inteiramente honesto com ela, teve a coragem de me esconder aquilo como se
não fosse nada de mais. Grávida. Briana estava grávida de um filho meu.
Com medo de surtar no meio do apartamento da minha tia, dei as
costas para todo mundo e fugi sem olhar para trás.
Havia uma vozinha em minha cabeça que tinha me avisado o tempo
inteiro que eu não deveria comparecer ao almoço de Margarida. Era óbvio
que ela convidaria Levi e o meu maior medo era que alguém comentasse
sobre o bebê na sua frente. O bebê que eu ainda não tinha tomado coragem de
contar para ele que existia. Três semanas haviam se passado desde a minha
consulta com a Dra. Claudia e eu havia completado nove semanas de
gestação. Uma leve curva em minha barriga já era perceptível quando eu
ficava nua, mas não era nada que fosse visível através das roupas que eu
usava, mesmo assim, a cada vez que cruzava com Levi, morria de medo de
que ele notasse algo diferente, que suspeitasse da gravidez, que lesse na
minha testa o que eu estava escondendo.
Agora, ele havia acabado de descobrir tudo da pior maneira possível e
mesmo sabendo que a culpa era minha, fiquei sem reação no meio da sala de
jantar de Margarida. Sentia os olhos de todo mundo em cima de mim, mas
não tive coragem de olhar para ninguém. O rompante de Levi ainda se repetia
em minha cabeça, como se eu estivesse presa em um looping.
— Isso tem alguma coisa a ver com o pedido que você nos fez na
cozinha? — minha mãe perguntou ao meu lado.
Senti vontade de me encolher porque, sim, tinha tudo a ver. Eu pedi
na cozinha para que elas não falassem nada sobre a gravidez à mesa. A
verdade, era que pouquíssimas pessoas sabiam que eu estava grávida, não
porque eu não queria que Levi soubesse ainda, mas porque eu lia bastante
sobre abortos espontâneos antes de completar a 12º semana de gestação e
havia preferido manter segredo até lá, então, foi essa desculpa que usei ao
fazer o pedido para que elas ficassem de bico fechado. Não havia contado
com a indiscrição do marido de Margarida, porque homens geralmente
fugiam quando o assunto era gravidez. Claro que, comigo, acontecia tudo ao
contrário!
Em minha defesa, eu havia decidido que conversaria com Levi logo
após o almoço. O convidaria para o meu apartamento e abriria o jogo, porque
não aguentava mais ter que esconder dele o que estava acontecendo, mas não
tive chance. A vida vinha me dando uma porrada atrás da outra.
— Por que teria alguma coisa a ver com Levi? — Rose perguntou.
— Eu não entendi nada. Levi é um homem tão calmo, nunca o vi ter
um rompante como esse.
— Talvez Briana possa nos explicar o que houve — Miriam falou, me
dando aquele olhar sério que fazia qualquer pessoa estremecer. Se eu não
estivesse tão abalada, até sentiria medo.
— Realmente, Briana. Acho que você nos deve uma explicação para
tudo isso — meu pai disse com aquela voz grave.
Eu já me sentia bombardeada o suficiente, não precisava passar por
aquele interrogatório, por isso, levantei-me como se não estivesse nervosa e
olhei para Margarida, que me encarava com o cenho franzido.
— Você poderia me dar o número do celular de Levi?
— Claro, eu vou pegar o meu celular.
Margarida saiu da mesa e minha mãe se levantou logo depois dela,
agarrando minha mão e me levando para perto da janela. Óbvio que todo
mundo nos acompanhou com o olhar, mas pelo menos não nos seguiram.
— O que está acontecendo, filha? Por que Levi reagiu daquele jeito à
notícia da gravidez?
— É uma história muito complicada, mãe.
— Complicada como?
— Eu vou te contar, mas não agora, preciso falar com Levi antes.
— Falar o quê? Estou ficando nervosa, Briana!
— Não fique. Vai ficar tudo bem. — “Se Deus me ajudar a lidar com
tudo isso”, pensei em silêncio, afastando-me quando Margarida voltou com o
celular. Ela me passou o número de Levi, que eu anotei rapidamente em meu
aparelho, antes voltar a enfiá-lo no bolso do meu jeans. — Eu preciso ir, sinto
muito por essa confusão.
— Você vai embora assim, sem nos contar o que aconteceu aqui? —
meu pai perguntou de braços cruzados.
— Eu vou explicar tudo depois. — Dei um beijo em seu rosto e outro
no rosto da minha mãe. — Um beijo para vocês.
Assim como Levi, eu fugi de todos aqueles olhares inquisidores e só
voltei a respirar com certa tranquilidade quando entrei no elevador. Só tive
coragem de pegar o celular e ligar para o número que Margarida me passou
quando cheguei ao meu andar, indecisa se entrava em meu apartamento ou se
apertava a campainha do apartamento de Levi. Acabei indo pela segunda
opção e, enquanto seu celular chamava, eu bati na porta da sua casa, torcendo
para que ele me atendesse — da forma que fosse.
Não obtive sucesso em nenhuma das duas tentativas. Seu celular
chamou até cair na caixa de mensagens e ninguém abriu a sua porta. Ou Levi
sabia que era eu e não queria falar comigo ou não tinha ido para casa. De
qualquer forma, fiquei pelo menos cinco minutos ali fora, esperando que ele
aparecesse em um passe de mágica ou que pelo menos atendesse o celular.
Ao perceber que não conseguiria falar com ele de forma alguma, fui para
minha casa e me encostei contra a porta, puxando o ar devagar e soltando
pela boca, enjoada e nervosa, apreensiva.
Como poderia justificar a reação de Levi? Ele estava com raiva, isso
era um fato, mas com raiva de que, exatamente? Da gravidez? Ou por eu estar
grávida e não ter contado? Se fosse a primeira opção, isso significaria que ele
não queria aquele bebê? Racionalmente, eu dizia para mim mesma que era
isso que eu queria, mas o peso em meu peito ia na contramão de tudo aquilo.
Por que a ideia de ele rejeitar o bebê me doía? Eu me sentia em uma
montanha-russa de emoções, como se o carrinho estivesse sem freio e
descendo de uma vez só pelos trilhos.
— Kiki, um furacão está passando pela minha vida — falei para
minha cachorrinha, que havia desistido de pular em minhas pernas e tinha se
sentado à minha frente. — Eu não tenho controle de mais nada. O que eu faço
agora?
Kiki, logicamente, não me respondeu, mas foi solidária quando me
sentei no sofá, pois logo se acomodou sobre as minhas coxas e manteve os
olhos em mim. Pelo menos uma de nós parecia estar calma o suficiente para
ter algum tipo de controle no meio daquele caos.

Não saberia dizer como consegui chegar ao Chiqueiro, muito menos


como estacionei o carro ou o que falei ao cumprimentar Zé quando passei
pela portaria. O relógio indicava que passava das três horas da tarde, mas,
mesmo assim, ao entrar no apartamento dos meus amigos, encontrei a sala
toda escura e dois corpos jogados no sofá.
Com a respiração ainda ofegante e o coração quase pulando pela
garganta, afastei as cortinas e bati palmas, acordando Henrique e Diego.
Gustavo veio correndo só de toalha e com uma escova de dentes pendurada
na boca. Não perguntei se estavam sóbrios o suficiente para me ouvir,
simplesmente joguei a bomba sobre eles e torci para que conseguissem lidar
com aquela notícia melhor do que eu.
— Vou ser pai!
Henrique caiu do sofá, Diego se sentou como se tivesse levado um
choque e Gustavo deixou a escova de dentes escapar da boca. Três pares de
olhos arregalados encararam o meu rosto.
— Como é que é? — Gustavo perguntou com a boca cheia de
espuma.
— Eu ainda tô muito bêbado mesmo, só isso explica o que eu acabei
de ouvir — Henrique reclamou, voltando a se sentar no sofá com uma careta.
— Porra, bati meu cóccix.
— De onde você tirou essa história maluca de que vai ser pai? Não é
justo chegar aqui fazendo pegadinha a essa hora da manhã!
— Vai dar quatro horas da tarde, Diego! — Informei, passando a mão
pelos cabelos.
— Hoje é domingo, qualquer horário antes das oito da noite é de
manhã para mim.
— Cara, eu ainda estou achando que isso é um sonho. Ou um
pesadelo — Gustavo murmurou.
— Não é.
— Quem foi que você engravidou? Esqueceu como encapar o pau ou
a camisinha estourou de novo? — Henrique perguntou. O fato de ter se
lembrado da camisinha furada pareceu acender uma luz na cabeça dos três.
— Puta merda, é a vizinha gostosa? Ela tá grávida?
Eu só consegui concordar com a cabeça, ainda sem acreditar que tudo
aquilo era real. Talvez fosse mesmo um sonho e eu iria acordar a qualquer
momento, mas, no fundo, eu sabia que não era. O olhar culpado de Briana
tinha sido prova suficiente e ela havia confirmado a verdade. Estava grávida!
Não fazia ideia de quando havia descoberto, poderia ter sido naquela manhã
ou semanas atrás, mas estava grávida e não tinha me contado!
— Porra, vou fazer um café — Henrique anunciou. — Ou seria
melhor um uísque?
— Os dois. Acho que precisamos dos dois — Diego disse, se
levantando e me puxando pelo braço. Meu melhor amigo me colocou sentado
no sofá como se eu fosse uma criança e deu um tapinha no meu rosto. —
Precisa reagir, cara. Fala comigo.
— Não sei o que falar. Eu ainda não sei nem o que pensar.
— Por que não nos conta como descobriu sobre a gravidez? A vizinha
gostosa te contou?
— Para de chamá-la assim, porra! O nome dela é Briana! — falei com
raiva, sem entender de onde havia saído aquele incômodo todo. Gustavo
ergueu as mãos.
— Aparentemente, carregar seu filho na barriga te deixa possessivo.
— Gustavo, cala a boca, porra. Não tá vendo que Levi não está bem?
— Estou vendo que ele tá com ciúme da vizinha gos... — Ele parou
assim que olhei bem sério para a sua cara e sorriu. — Desculpa, da Briana.
Vou colocar um short e já volto para saber de tudo.
Ele pegou a escova de dentes do chão e saiu da sala, me deixando
sozinho com Diego, que puxou uma cadeira da mesa redonda e se sentou na
minha frente.
— Que loucura, cara! Como você soube do bebê?
Esperei que Henrique e Gustavo voltassem para a sala, porque não
sabia se conseguiria repetir aquela maluquice depois que as palavras
escapassem da minha boca. Como prometido, Henrique me entregou uma
xícara de café e um copo de uísque cheio de gelo. Dei um gole no álcool e
deixei que sua queimação me desse coragem para falar. Os próximos minutos
foram inexplicáveis, porque colocar em voz alta que Briana estava grávida
parecia deixar tudo muito real.
— O filho pode não ser seu, já pensou nisso? — Gustavo perguntou.
— Na verdade, não pensei. Eu não pensei em nada, só... Surtei e vim
pra cá — falei, colocando a xícara e o copo sobre a mesinha de centro lotada
de garrafas de cerveja vazias. — Mas algo me diz que esse bebê é meu!
Desde o momento em que vi aquela camisinha furada, pensei na
possibilidade de ter feito um filho nela sem querer e agora descubro que
Briana está grávida! Isso não pode ser uma coincidência.
— Na verdade, pode sim ser uma coincidência. Não coloque na sua
cabeça que esse bebê é seu antes de ter certeza, Levi — Diego disse.
— Vai que ela teve uma recaída com o ex-noivo e engravidou?
— Ou conheceu um outro cara e passou a noite com ele? Há diversas
possibilidades, Levi. Você precisa ter calma e pensar com frieza — Gustavo
aconselhou.
Eu sabia que eles estavam certos, mas como poderia explicar aquela
sensação sufocante em meu peito? Eu não sabia se era medo ou ansiedade,
parecia ser uma mistura dos dois e de algo mais que eu não conseguia nomear
o que era. Um sentimento diferente, que me enchia de vontade de largar tudo
e ir até Briana, exigir saber se o filho era meu ou não. Sem saber ao certo o
que fazer, peguei o uísque e dei um gole generoso, sentindo que precisava de
um pouco de álcool para resolver tudo aquilo.
— Se o bebê for meu, eu vou assumir — falei, apesar de ninguém ter
perguntado. Senti Diego apertar o meu ombro.
— Eu não esperava outra atitude sua, irmão.
— Se estivesse no seu lugar, eu ia preferir pensar que o bebê não é
meu. Meu maior medo é ter um filho sem querer — Henrique disse, quase
fazendo o sinal da cruz.
— Mas se fosse seu, ia assumir? — perguntei. Ele fez uma careta,
mas assentiu.
— Sim, iria. Apesar de não querer ser pai, não conseguiria colocar a
cabeça no travesseiro sabendo que um filho meu está vivendo por aí sem que
eu acompanhe tudo de perto.
— Eu também — Gustavo admitiu. — Mas isso não quer dizer que eu
não exigiria um exame de DNA antes, ainda mais no seu caso, Levi. Foi uma
noite só, há mais de um mês! O bebê pode ser seu? Sim, mas pode não ser
também. Se agarre nessa parte, cara. Pode não ser seu filho.
— É, pode não ser — comentei baixinho antes de terminar o uísque.
— Preciso de pelo menos mais cinco doses dessa para poder voltar ao meu eu
normal.
— Vamos fazer o esforço de beber com você. Amigos existem para
isso, não é? — Diego disse, vendo Henrique e Gustavo concordarem.
Eles logo apareceram com copos, um balde de gelo e uma garrafa
novinha de Jack Daniel’s. Em meu bolso, senti meu celular vibrar pelo o que
parecia ser a quinta vez, mas estava entorpecido demais para me preocupar
em atender quem tanto insistia em me ligar. Enquanto os meninos enchiam
meu copo, peguei o aparelho e vi que todas as chamadas eram de um número
desconhecido, mas com o DDD do Rio de Janeiro. Logo abaixo das
notificações de chamada, havia uma mensagem no WhatsApp enviada pelo
mesmo número. Senti o uísque se revolver em meu estômago quando abri o
aplicativo e vi a foto de Briana.
“Levi, precisamos conversar. Quando chegar, por favor, venha até o
meu apartamento. Espero que você esteja bem.”
“Quando você soube da gravidez?”
Enviei a mensagem sem pensar duas vezes, pois precisava muito
saber daquilo. Briana apareceu on-line segundos depois.
“Vamos conversar pessoalmente, vai ser melhor.”
“Eu quero saber agora, Briana.”
Minutos se passaram. Eu tomei um novo gole do uísque, os meninos
ligaram a TV e colocaram uma música qualquer para tocar, mas não tirei os
olhos do celular até ver a sua resposta.
“Eu descobri há algumas semanas.”
Semanas. Não ontem ou hoje de manhã. Há semanas.
“Mas eu não te contei porque há muita coisa envolvida nessa
gravidez, Levi.”
“Realmente, há muita coisa envolvida, inclusive as suas mentiras.
Nos falamos depois, Briana.”
“Você não imagina como está sendo difícil para mim!”
“Difícil para você? Não precisava ser difícil para você! Eu estou
morando ao seu lado há três semanas, nos vemos praticamente todos os
dias! Por que não me contou? Por que não dividiu isso comigo?”
— Irmão, talvez seja melhor vocês deixarem para conversar
pessoalmente. Por mensagem, talvez você possa falar algo que vai se
arrepender depois, ainda mais com um copo de uísque na mão — Diego disse
ao se sentar ao meu lado e passar um olho pelo meu celular.
— Não sei se eu falaria algo de que pudesse me arrepender. A
mentirosa nessa história é ela, não eu.
— Sei disso, mesmo assim, escuta o seu melhor amigo. Quando foi
que te dei um conselho ruim?
— Você me aconselhou a ir naquele acampamento quando éramos
adolescentes, mesmo sabendo que eu odeio acampar.
— Mas foi só porque você queria ficar com aquela garota da nossa
escola. Pensei no seu bem.
— Como se eu fosse conseguir ficar com ela todo empolado depois de
ser devorado pelos mosquitos.
— Ninguém mandou nascer com a pele sensível — zoou, me dando
um cutucão no ombro e rindo da minha cara. Sua tática de mudar de assunto
foi boa, senti parte da minha raiva ir embora e consegui sorrir. Em minha
mão, a tela do celular se acendeu com outra mensagem de Briana, mas resolvi
ignorar. — Faz muito bem. Hoje, nós vamos beber e aproveitar o dia
internacional do descanso. Os problemas a gente enfrenta na segunda-feira.
Concordei com a cabeça, dando mais um gole no uísque e resolvendo
seguir o seu conselho, que não era nada ruim daquela vez. No dia seguinte eu
enfrentaria aquela tempestade, hoje, só queria esquecer que minha vida
poderia mudar para sempre, caso aquele bebê que estava na barriga da Briana
fosse mesmo meu filho.
O peso na consciência era algo que nunca te deixava em paz até você
conseguir se livrar da culpa ou receber perdão pelo erro que cometeu. No
meu caso, passei as últimas semanas praticamente cultivando a culpa, arando
o solo para que a sementinha fosse plantada, regando com erros consecutivos
para que crescesse e se transformasse em uma árvore gigantesca. Como cortar
o mal pela raiz? Eu sabia que era conversando com Levi, mas o homem
simplesmente parou de responder as minhas mensagens e parecia disposto a
me ignorar.
Resolvi parar de esperar por ele quando vi que passava das dez da
noite. Com uma dor de cabeça chata, proveniente da preocupação e
ansiedade, tomei um chá após o banho, observando Kiki brincar com uma
bolinha no canto da cozinha. Queria ter a vida fácil dela. Não seria mais
simples nascer como um cachorrinho que é amado e bem-cuidado pelo seu
dono? O barulho da campainha acabou despertando nós duas e, serelepe e
latindo como se o mundo fosse acabar, Kiki foi em direção à sala.
Estranhando receber uma visita àquela hora da noite de um domingo, deixei a
xícara sobre a pia e fui até a porta. Tomei um susto e meu coração disparou
quando vi Levi do outro lado pelo olho mágico. Ele apertou a campainha
mais duas vezes, deixando bem claro a sua pressa.
Era o que eu queria, não era? Que ele estivesse ali para que
pudéssemos conversar. Então, por que eu estava hesitante em abrir a porta?
Respirando fundo, reuni coragem para enfrentá-lo e girei a chave e a
maçaneta. Kiki foi correndo saudá-lo e Levi cambaleou, precisando se apoiar
no batente, como se os quase quatro quilos da cachorrinha pudessem derrubar
um homem como ele.
— Oi, Kiki... Vo-você está linda hoje — soluçou, abrindo um sorriso
para Kiki, que ficou toda boba e pulou em suas pernas. Levi fez menção de
que iria se abaixar para pegá-la, mas ao perceber que não conseguiria
estabilizar o próprio corpo, desistiu. — Oi.
— Oi — respondi de volta, encarando seus olhos vermelhos e pesados
pelo álcool. — Acho que você não está nada bem, Levi. Melhor ir para casa,
conversamos amanhã.
— Nada di-disso! — falou, erguendo um dedo e passando por mim.
Pelo menos ele conseguia andar sem demonstrar que iria cair a qualquer
momento. — Nós vamos conversar a-agora!
— Com você bêbado desse jeito?
— Não estou bêbado. — Ele fez uma careta e se jogou em meu sofá.
— Você está muito bêbado.
— Não! Eu só be-bebi um pou... Pouquinho assim — ele aproximou o
polegar do indicador. — Com os meus amigos.
— E veio dirigindo para casa?
Sua cabeça balançou de um lado para o outro.
— Eles me colocaram em um Uber. Sabia que o Uber também vai ser
pa-pai? Só que a esposa dele não escondeu a notícia.
— Eu não sou sua esposa — falei baixinho, cruzando os braços. Seus
olhos pesados desceram pelo meu corpo e eu me senti tocada, mesmo estando
a alguns metros longe dele, ainda de pé no meio da minha sala.
— Eu não me... Importaria se você fo-fosse minha esposa — disse de
repente, me fazendo arregalar os olhos. Com um muxoxo, Levi continuou: —
Na verdade, eu me importaria sim. Eu não gosto de menti-tiras e você mentiu
pra mim vaaaaaaárias vezes.
— Não foram várias vezes.
— Foram, sim.
— Não, não foram.
— Tá mentindo agora ao falar que na-não mentiu.
Por que mesmo eu estava conversando com um homem bêbado, que
provavelmente não se lembraria de nada do que estávamos falando naquele
momento? Levi continuou a me olhar daquele jeito especulativo, que parecia
querer enxergar a minha alma, até levantar o dedo indicador e me chamar.
— Vem aqui.
Eu não deveria ir, mas, antes que pudesse pensar de forma racional,
caminhei em sua direção. Levi afastou as pernas musculosas e indicou com o
olhar que eu deveria parar entre elas. Mesmo sem entender aonde ele queria
chegar com tudo aquilo, obedeci, tomando um golpe com o cheiro do seu
perfume e o calor do seu corpo, que pareceu envolver o meu. Pegando-me de
surpresa, ele pôs as duas mãos em minha cintura e me puxou ainda mais para
perto, enfiando o rosto em minha barriga. Mal consegui respirar.
— Ainda não acredito que fi-fizemos isso... Que eu te fiz um filho.
— Levi... — Eu queria que ele parasse com aquilo, mas, ao mesmo
tempo, não queria. Fiquei sem reação, sem saber o que falar ou pensar. Ele
fechou os olhos e passou a pontinha do nariz sobre o tecido da camisola que
eu usava e sorriu antes de se afastar e colocar a mão aberta sobre a minha
barriga.
— Eu gravei cada cantinho do seu corpo naquela noite, sabia? —
perguntou, erguendo a cabeça para me olhar. Minha pele ficou toda arrepiada
e os mamilos despontaram sob a camisola, me deixando sensível. — E é por
isso que eu sei que essa... Curva... Não estava aqui antes. Já é o bebê me
dizendo o-olá.
Mesmo bêbado como um gambá, Levi não cansava de ser um homem
surpreendente. Achei que entraria em meu apartamento me acusando, sendo
grosseiro e me apontando o dedo, mas aqui estava ele, praticamente
emocionado, acariciando minha barriga e reconhecendo um bebê que, talvez,
nem fosse dele. Pensar naquilo me trouxe lágrimas aos olhos e a sensação de
culpa me espezinhou. Não poderia deixar que Levi acreditasse que era o pai
daquele bebê. Precisava ser honesta com ele de uma vez por todas.
— Por que escondeu de mim, Bri? Achou que eu na-não merecia
saber? Pensou que eu seria um pai ruim?
— Não, Levi, claro que não — falei, passando minha mão pelos seus
cabelos. Ele continuou a me olhar como se fosse um cachorrinho abandonado
na mudança, o que apertou o meu coração. — Você parece ser um homem
incrível. Nunca pensei que seria um pai ruim.
— Você precisa me conhecer me-melhor — soluçou, fazendo uma
careta. — E sem estar embri... Embria...
— Sem estar bêbado. — Simplifiquei a palavra, rindo baixinho. Ele
me acompanhou.
— É isso.
— Nós precisamos ter uma conversa muito séria.
— Eu estou pronto.
— Não, você não está. Amanhã nós vamos conversar, você precisa
estar sóbrio e me ouvir.
— Tá bom — concordou com uma nova careta, claramente
contrariado.
— Por que não vai para casa tomar um banho e tentar dormir?
Amanhã é segunda-feira, você vai precisar ir trabalhar.
— Queria que amanhã fosse feriado — reclamou, encostando a testa
em minha barriga.
— Todo mundo queria que segunda-feira fosse feriado — ri, ainda
acariciando o seu cabelo. Poderia ficar viciada naquilo, o que era altamente
perigoso. Levi ficou alguns segundos em silêncio, aproveitando o meu
carinho ou só descansando um pouco da bebedeira, quando disse de repente,
cravando o meu coração:
— Meu pai foi um pai de merda, mas eu vou ser diferente. — Seus
olhos encontraram os meus e, apesar de ainda estarem vermelhos por conta
do álcool, vi muita verdade neles. — Eu juro que vou ser diferente, Bri.
Fiquei apenas olhando para ele, sentindo um nó apertar a minha
garganta e o coração bater forte no peito. O que Levi queria dizer? Seu pai
havia sido negligente? Indiferente ao filho? Ou violento? Havia tantas
possibilidades e nenhuma delas me deixava mais tranquila. Levi era um
homem bom, a forma como me tratou na nossa primeira noite, os sorrisos que
me dava a cada vez que me encontrava mesmo depois de tudo o que fiz, o
modo como estava agindo agora, me provavam isso. Ele não merecia ter um
pai ruim, de forma alguma. Nenhuma criança merecia.
— Você já é diferente só por estar aqui — falei, porque era verdade.
Mesmo sem saber sobre a inseminação, Levi poderia se manter distante e
exigir um teste de DNA, afinal, só passamos uma noite juntos, mas ele já
estava abraçando a ideia do bebê ser seu sem pensar em qualquer
consequência. — Tenho certeza que qualquer criança ficaria feliz tendo você
como pai, Levi.
— Se eu chorar, vou colocar a culpa no uísque.
— E eu vou acreditar, pode ter certeza. — Sorri, me abaixando para
dar um beijo em sua bochecha. — Eu sei que não mereço, mas você pode me
perdoar por não ter contado sobre a gravidez?
— Acha que vou te dar o meu perdão só por que bebi? É pecado
enrolar um be-bêbado, sabia?
— É mesmo? Não conhecia esse versículo da Bíblia.
— Sim, está em Levi 13, versículo 18: não en... Enrolarás um homem
embriagado que acabou de descobrir que vai ser pai.
Não pude conter a risada ao ouvir aquilo e Levi me acompanhou, se
jogando no encosto do sofá e me puxando pela cintura. Caí sobre o seu colo
soltando um gritinho de susto que fez com que Kiki latisse, mas ele não me
soltou, pelo contrário. Continuou com as duas mãos em minha cintura e
aqueles olhos verdes dentro dos meus, tirando o meu fôlego.
— Você deveria ir para casa — falei baixinho, tocando sua barba
bem-aparada na linha da mandíbula.
— Não sei. Tenho medo de ir e você fugir. — Ele falou com um
sorriso, mas eu podia jurar que havia uma pontinha de verdade ali. Meu
Deus, havia traumatizado o homem.
— Não vou fugir, prometo.
— Vou te dar esse voto de confiança. So-sobre o meu perdão... — Ele
ficou em silêncio e passou o polegar pela minha barriga, bem na parte onde
estava elevada. O frio em meu estômago me fez estremecer. Seu carinho
estava me pegando completamente desprevenida. — Eu ainda preciso pensar.
— É justo — sussurrei.
Nós dois sabíamos que ele tinha que ir embora, mas Levi não tirou as
mãos de cima de mim e eu não tive coragem de me afastar dele, muito menos
de sair do seu colo. Ele me prendia sem usar a força, com seu polegar
acariciando lentamente minha barriga e seus olhos descendo pelo meu corpo,
me despertando assim como fez há quase dois meses. A onda de desejo que
me golpeou me fez segurar um suspiro.
— Acho melhor eu ir — disse ele com a voz levemente rouca. —
Antes que eu fique de pau duro debaixo dessa sua bunda gostosa.
— Levi! — Minha exclamação saiu misturada a uma risada. Tentei
me levantar, mas ele riu e me segurou com mais força. — Você é muito
safado.
— Você repetiu isso umas cinquenta vezes naquela noite, acabei
acreditando sem que-querer.
— Como se não bastasse, ainda é cínico.
— Assim você me ofende — riu, dando um tapinha na minha bunda.
— Vou embora. Pode me ligar se precisar ou sentir alguma coisa.
— Tudo bem.
Ele me liberou e eu saí do seu colo, vendo-o se levantar e cambalear
levemente. Parecia um pouco menos embriagado do que quando chegou ao
meu apartamento. Acompanhei-o até a porta e senti um aperto estranho no
peito quando ele saiu e parou no corredor, olhando-me de cima a baixo.
Havia desejo em sua expressão, mas também havia algo mais, que não
consegui identificar.
— Nos vemos amanhã — ele afirmou e eu concordei com a cabeça.
— Sim, nos vemos amanhã.
Pensei que ele ia se virar e ir para o apartamento ao lado, mas Levi me
surpreendeu ao se aproximar de mim e deixar um beijo demorado em minha
bochecha, tão próximo aos meus lábios, que precisei prender a respiração. O
desejo que senti de ter os seus lábios nos meus não poderia ser normal. O que
estava acontecendo comigo? Era culpa dos hormônios da gravidez, com
certeza. Sem dizer nada, ele se afastou e entrou em sua casa, me deixando
que nem uma boba parada na porta do meu apartamento, sentindo meu
coração pular no peito e a sensação de que minha alma havia deixado o meu
corpo.

A ressaca que me saudou quando acordei me fez sentir um lixo. Eu


quase podia ver a filha da mãe rindo da minha cara e me oferecendo mais
uma dose de uísque para ver se eu melhorava — ou se colocava para fora
todo o conteúdo que havia em meu estômago, que foi o que aconteceu assim
que me levantei da cama. Mesmo sabendo que chegaria atrasado no trabalho,
passei pelo menos vinte minutos debaixo do chuveiro, tentando reorganizar
os meus pensamentos bem devagar, para fazer com que minha cabeça doesse
menos. Parecia que até para pensar meu corpo sugava o resto da energia que
eu tinha para me manter de pé. Só queria tomar um analgésico, dois litros de
água, fechar todas as cortinas, ligar o ar-condicionado e dormir por doze
horas seguidas, mas não podia, porque eu era a porra de um homem adulto
com responsabilidade.
Um homem que, provavelmente, se tornaria pai. O latejar em minha
cabeça aumentou ao me lembrar daquele pequeno detalhe, que foi o motivo
principal para eu ter enchido a cara ao lado dos meus amigos. Como se aquilo
não fosse humilhação suficiente, eu ainda tinha em minha memória o
momento em que achei que bater na porta de Briana seria uma ideia genial.
Não me lembrava de detalhes sobre o que conversamos, mas tinha em mente
a imagem da minha mão sobre a sua barriga, aquela leve curva que fez o meu
coração disparar e esfregou na minha cara que tudo aquilo não era um sonho.
Aquela gravidez era real pra caralho.
Encostei a testa no azulejo frio e respirei fundo, tentando controlar
minhas emoções. Será que havia falado alguma besteira ontem? Ou fui
apenas um bêbado dramático? Eu não era o tipo de cara que ficava chorando
quando bebia demais, no entanto, aquela situação era diferente de tudo o que
eu já havia enfrentado e não ter a lembrança exata do que havia acontecido
me deixava apreensivo. Uma parte de mim sabia que queria brigar com
Briana e exigir que me contasse tudo o que eu ainda não sabia, mas havia
uma outra parte que parecia silenciar a raiva quando eu estava em sua
presença e algo me dizia que foi essa bendita parte que guiou minhas ações
na noite anterior.
Não queria continuar a fazer o papel de idiota naquela história.
Depois de ter sido enganado por ela duas vezes, seria mais inteligente da
minha parte me resguardar e agir como um homem sério e adulto. Não seria
um babaca com ela, mas também não seria um bobo. Tomar as rédeas das
minhas emoções me deu um pouco mais de coragem para encarar aquele dia,
que eu sabia que seria uma merda por conta da ressaca que me acompanharia.
Enrolei uma toalha branca na cintura e peguei meu celular para poder
dar uma olhada na minha agenda daquele dia. Respirei mais aliviado ao ver
que não tinha nenhuma reunião agendada, pois não me sentia nem um pouco
disposto a passar horas e horas ouvindo ideia de clientes ou apresentando as
minhas ideias para eles. Também não estava nem um pouco a fim de ter que
pensar em ideias para peças publicitárias, mas isso eu resolveria depois,
quando estivesse na agência. Enquanto o café passava e o cheiro me enchia
de esperança de que eu conseguiria superar aquele porre com a mesma
vitalidade de um garoto de dezoito anos, entrei em meu WhatsApp e fiquei
surpreso ao ver que tinha uma mensagem de Briana, enviada às sete da
manhã.
“Bom dia, Levi. Espero que você esteja se sentindo melhor.”
Eu ainda não havia adicionado o seu número à minha agenda e foi
pensando nisso que acabei escrevendo uma resposta para a sua mensagem:
“Então eu só precisava te engravidar para ter acesso ao número do
seu celular? Quanta burocracia.”
Assim que enviei, me repreendi. E a promessa que fiz a mim mesmo
de não ser um babaca com ela? Pelo visto, não conseguiria ser tão fiel assim e
cumprir com aquela parte do acordo que fiz comigo mesmo, mas acho que
poucas pessoas poderiam me julgar. O que fariam no meu lugar? Com
certeza, não estenderiam um tapete vermelho para que Briana entrasse em
suas vidas como se não tivesse mentido e escondido algo de suma
importância, como um bebê. Um bebê, caramba! Sabia que a maioria dos
homens daria graças a Deus por não ter que lidar com aquela
responsabilidade, mas eu não era como eles. Eu me importava. Me importava
pra caralho.
Despejei o café na xícara e tomei um gole da bebida quente e sem
açúcar, sentindo o poder da cafeína injetar nas minhas veias e me despertar
completamente. Com expectativa, fiquei encarando a tela do celular e ajeitei
a postura quando Briana apareceu on-line. A palavra “digitando” apareceu e
sumiu do aplicativo umas três vezes, até sua resposta surgir:
“Acho que eu prefiro a sua versão bêbada.”
“Imagino que sim. É mais fácil lidar comigo quando não estou sendo
racional e pensando nas suas mentiras.”
“Ou esfregando-as na minha cara, no caso. Você não respondeu à
minha pergunta. Está melhor?”
“Não que seja da sua conta, mas, sim, estou ótimo. E cenas como a
de ontem não vão se repetir.”
Eu poderia ter apagado a última mensagem ou ter sido mais cordial,
mas o fato de não estar bêbado fazia com que a minha raiva voltasse e isso,
somado a ressaca que estava me matando, me fazia mesmo agir como um
babaca. Talvez eu devesse pedir desculpas, mas não sabia se Briana merecia
depois de tudo o que fez.
“Ok. Vamos conversar hoje à noite?”
“Sim, às 20h aqui no meu apartamento.”
Queria ter aquela conversa sem distrações e seu apartamento me
distraía muito. A sala era repleta com o seu cheiro, o seu toque pessoal e
ainda tinha Kiki, que fazia festa a cada vez que me via. Não queria estar em
um ambiente onde acabasse baixando a guarda.
“Estarei aí no horário marcado. Tenha um bom dia, Levi.”
“Você também.”
Desliguei a cafeteira, lavei a xícara que usei e fui direto para o meu
quarto me arrumar para trabalhar. Queria mesmo que Briana visse aquele
meu lado frio, ainda que por dentro ela mexesse com sentimentos que eu não
sabia — e nem gostaria de descobrir — o que significavam.
Eu provavelmente seria muito idiota se demonstrasse qualquer traço
de mágoa após a troca de mensagens com Levi, mas pelo menos para mim
mesma eu poderia admitir como estava desapontada e chateada enquanto
fechava o WhatsApp e encarava a torrada com geleia de morango, requeijão e
Nutella como se ela fosse a culpada por tudo. Pelo menos pelo meu enjoo ela
era. Como a gente podia sentir tanto desejo por uma coisa específica e querer
vomitar assim que terminava de se empanturrar até o estômago gritar que
estava em seu limite? Precisei largar o celular e correr até o vaso sanitário.
Pelo menos consegui ficar os próximos minutos sem pensar. Vomitar
exigia muito mais do que esforço físico e minha mente estava toda
concentrada em me livrar do que me fazia sentir aquele enjoo terrível. Assim
que terminei, consegui me levantar e escovar os dentes, me sentindo um lixo
de repente. Havia acordado com as esperanças renovadas. Depois da
conversa com Levi na noite anterior, achei que conseguiríamos lidar com
toda aquela situação da melhor maneira possível, mas deveria imaginar que,
sóbrio, ele não agiria de forma tão tranquila. No fundo, eu sabia que ele tinha
total direito de agir daquela maneira, de não querer me dar confiança. Eu era
a errada naquela história, mas isso não queria dizer que era fácil lidar com ele
jogando na minha cara os meus erros.
Consegui terminar de me arrumar depois que a pior parte do enjoo
passou e enrolei para sair do apartamento, pois estava me sentindo uma
covarde e não queria esbarrar com Levi sem querer. Só consegui ficar menos
apreensiva depois que cheguei na garagem e vi que o carro dele não estava
mais ali, no entanto, logo me lembrei que ele havia voltado de Uber para casa
na noite anterior e, provavelmente, teve que pedir um carro pelo aplicativo
para poder ir trabalhar.
Cheguei à confeitaria meia hora mais cedo do que o normal, pois
gostava de cuidar de tudo pessoalmente no início de mais uma semana, no
entanto, percebi que Miriam havia chegado antes de mim, pois ouvi barulhos
na cozinha assim que entrei. Ela gostava de colocar música enquanto fazia os
doces, mas não foi uma melodia qualquer que ouvi, foi um falatório baixo,
mas muito conhecido por mim. Antes mesmo de ir até a cozinha, entendi que
havia sido cercada e que as quatro fofoqueiras que eu mais amava no mundo
haviam caído da cama para poder me interrogar.
Respirei fundo, tentando avaliar minhas opções. Eu poderia fugir e
mandar uma mensagem falando que não ia à confeitaria naquele dia, mas
apenas estaria adiando o inevitável, porque, se fosse preciso, elas iriam bater
na porta da minha casa. Minha mãe, Miriam, Rose e Margarida não me
deixariam em paz até descobrirem o que realmente estava acontecendo. Era
melhor que eu acabasse logo com o mistério, antes que elas me
enlouquecessem.
— Surpresa! — Rose falou assim que entrei, me dando um sorriso
falso de boa moça. — Viemos te fazer uma visitinha.
— Às oito horas da manhã? Realmente, vocês me amam muito!
— Do meu amor você não pode duvidar, filha. Elas são apenas
fofoqueiras mesmo.
— Eu trabalho aqui, esqueceu? — Miriam reclamou.
— E nós somos clientes assíduas — Margarida reforçou. — Mas tudo
bem, eu confesso. Viemos aqui porque queremos saber o que está
acontecendo. Por que meu sobrinho enlouqueceu quando soube que você
estava grávida?
Que bom que Margarida foi direto ao ponto, assim, eu despejaria logo
toda a história sem precisar enrolar demais. Foi o que fiz. Apesar de saber de
trás para frente todos os detalhes do que havia acontecido, a cada vez que
contava em voz alta, tinha uma nova perspectiva de toda aquela loucura e
tinha plena certeza de que o destino estava rindo da minha cara. Deus sempre
foi um ser tão sério no meu ponto de vista, era bom saber que Ele usava a
vida de alguns dos seus filhos para poder se distrair de vez em quando. A
sortuda, daquela vez, havia sido eu.
— Espera, deixa eu ver se eu entendi — minha mãe pediu, erguendo
as mãos. — Você está querendo dizer que esse bebê pode ser filho do
sobrinho da Margarida?
— Foi exatamente o que ela quis dizer — Miriam confirmou,
boquiaberta.
— Meu Deus, a mãe do Levi vai surtar com essa notícia! O sonho
dela sempre foi ser avó! — Margarida comemorou.
— Mas pode não ser filho dele, não se esqueça desse detalhe,
Margarida — Rose lembrou, arregalando os olhos. — Briana, que confusão!
Levi já sabe sobre a inseminação?
— Não, eu vou contar para ele hoje à noite — falei, apoiando meus
cotovelos na bancada de inox antes de tampar o rosto com as minhas mãos.
— Eu só queria ter um bebê, juro! Nunca pensei que algo assim poderia
acontecer.
— Foi uma fatalidade, camisinhas furam. Raramente, mas furam —
Margarida disse.
— Bom, se a criança nascer branca, já sabemos quem é o pai.
— Miriam! Meu Deus, vai deixar minha filha ainda mais nervosa!
— Só estou falando a verdade. Você não escolheu um doador negro?
— Sim — murmurei, voltando a encarar as quatro. — Mas nós
podemos fazer o teste de DNA antes do bebê nascer. Provavelmente, vai ser o
que Levi vai querer fazer e eu também.
— E se o bebê for mesmo dele? Já pensou nisso? — Rose perguntou e
eu assenti.
— Eu penso nisso todos os dias desde que ele me contou sobre a
camisinha.
— Talvez seja o melhor, sabe? O bebê ter um pai. E não é porque é
meu sobrinho, mas Levi é um homem tão bom, ele vai ser um pai incrível.
— Ontem ele me disse que vai ser um bom pai. Disse também que
não vai ser como o pai dele.
O semblante de Margarida ficou triste e ver a sua reação trouxe de
volta aquele aperto em meu peito.
— É, ele não tem o melhor pai do mundo, mas essa é uma história que
apenas ele pode te contar.
— Claro, não ia pedir para que você me contasse nada, fique
tranquila.
— Quando ele te contar, você conta pra gente — Miriam pediu com
aquele sorriso de fofoqueira que sempre me fazia rir. Não foi diferente
daquela vez.
— Deixa de ser curiosa — Rose ralhou.
— Você também está doidinha para saber que eu sei, assim como a
Analídia.
— Eu? Eu não! Quer dizer, mais ou menos, afinal, Levi pode ser o pai
do meu neto.
— Isso me faz lembrar de como a Briana é sortuda e gosta de manter
segredo sobre as coisas. Foi pra cama com aquele homem lindo e nem
compartilhou com a gente!
— Miriam, tenha mais respeito pelo meu sobrinho, por favor.
— Eu respeito, mas ele é muito bonito e eu não sou cega.
— Não mesmo, você é uma velha safada — disse Rose.
— Olha quem fala. Não sou eu que estou marcando de transar com o
cara que conheci no pagode.
— Eu sou uma mulher livre, divorciada há mais de vinte anos, tenho o
direito de me divertir.
— Eu também tenho e, mesmo assim, você não me convidou para o
pagode.
— Ei, podem parar de brigar, por favor? Daqui a pouco eu vou abrir a
confeitaria e não quero que meus clientes fiquem ouvindo esse barraco.
— Faz muito bem, filha. Expulse essas duas.
— Se Briana me expulsar, não terá doces para vender. Agora que está
grávida, vive falando que está enjoada e com preguiça de trabalhar.
— Sua mentirosa! — Ri, dando um cutucão no ombro de Miriam. —
Mas é verdade, Miriam tem trabalhado demais.
— Já pode aumentar o meu salário.
— Não posso, gastei todo o meu dinheiro com a inseminação.
— Para no final, engravidar do meu sobrinho.
— Se estivéssemos conversando pelo zap, eu te enviaria aquela
figurinha do palhaço — Rose disse, fazendo as outras três – e uma delas era
minha mãe! – rirem da minha cara.
— Eu não sei o que seria da minha vida sem o apoio de vocês —
ironizei, mas elas sabiam que era verdade.
Deixei que as quatro continuassem dando pitaco na minha vida sem a
minha presença, pois precisei abrir a confeitaria e ficar à frente de tudo
enquanto Mariana e Luíza não chegavam. Os clientes do horário da manhã
tinham preferência por um expresso ou cappuccino e uma fatia de bolo
simples, como de laranja ou fubá. No resto do dia era que saíam os doces e
bolos mais refinados. Assim que as meninas chegaram, tive mais calma para
conversar com a clientela mais antiga e dar atenção à nova, até que o horário
do almoço se aproximou e o entra e sai na loja diminuiu.
Aproveitei aquela pausa para poder atualizar Malu sobre o que havia
acontecido entre mim e Levi na noite de ontem. Nós passamos boa parte da
tarde de domingo conversando por vídeo-chamada, pois ela queria saber em
detalhes como Levi soube da gravidez, mas não tive tempo de contar a ela
sobre o nosso encontro na noite passada.
“Nossa, ele foi um babaca com você essa manhã!”
Ela enviou a mensagem segundos depois de eu ter enviado um print
da minha conversa com Levi no WhatsApp.
“Você sabe que eu não estou no direito de reclamar.”
“Eu sei que sim, mas ele não precisava ser um estúpido. Se por
um acaso ele for um idiota com você hoje à noite, me liga e eu vou
correndo dar um chute no meio das pernas dele.”
Sua mensagem conseguiu me arrancar uma risada, porque eu sabia
que Malu teria coragem de fazer exatamente aquilo. Continuamos a conversar
por mais alguns minutos, antes que eu precisasse deixar meu celular de lado
para poder me despedir de minha mãe, Rose e Margarida. Minha mãe me fez
prometer que eu ligaria para ela assim que eu deixasse o apartamento de Levi
e as três me desejaram sorte antes de ir embora. Eu me agarrei ao desejo delas
com todas as minhas forças, porque algo me dizia que eu iria precisar.

Precisei passar no Chiqueiro quando deixei a agência para poder


pegar o meu carro e só consegui sair de lá depois de prometer que contaria
para os três sobre a conversa com Briana. Apenas Diego sabia do nosso
encontro da noite anterior, porque ele era meu irmão e eu não escondia nada
dele, mas preferi deixar aquela parte fora do conhecimento de Henrique e
Gustavo, não porque não confiava nos dois, mas porque aquele tipo de
situação constrangedora — onde você se tornava um palhaço ao praticamente
esquecer que havia sido feito de idiota na frente da pessoa que te fez de idiota
— a gente só contava para pessoas muito íntimas, tipo o seu melhor amigo de
infância.
Diego, claro, não poupou palavras ao dizer que eu havia sido um
bobo, pois, segundo ele, eu não poderia baixar a guarda tão facilmente perto
de Briana, e eu concordava 100% com a sua linha de raciocínio. O único
problema era tentar me manter indiferente perto dela. Briana me abalava de
diversas maneiras e eu estava percebendo que era difícil permanecer tão frio
em sua presença quanto eu era por mensagem, mas, naquela noite, eu não iria
falhar. Conversaríamos como dois adultos e eu não iria me distrair com a sua
beleza, seu perfume marcante ou a vontade de beijar a sua boca e cada
cantinho do seu corpo, inclusive aquela curva em sua barriga, que não saía da
minha mente por nada.
Cheguei ao meu apartamento quarenta minutos antes do horário que
marquei para nos encontrarmos e tive tempo de sobra para tomar um banho e
comer alguma coisa. Às oito em ponto, o barulho da minha campainha soou
pelo apartamento e eu respirei fundo antes de abrir a porta, encarando Briana
no corredor. Já naquele momento eu percebi como era fraco, pois foi
impossível impedir os meus olhos de descerem pelo seu corpo. Briana usava
uma regata simples na cor branca e um short jeans que deixava aquelas
pernas magníficas de fora. Se eu não tivesse sentido aquela curva em minha
mão, jamais diria que ela estava grávida. Pelo visto, sua barriga ainda não era
perceptível quando ela estava vestida e senti uma vontade enorme de vê-la
nua, ao ponto do meu pau acordar na calça e gritar “olá”, quase batendo
continência. Pigarreando para não demonstrar o quanto ela me afetava, dei
um passo para o lado e apontei para dentro do apartamento.
— Pode entrar.
Ela me deu um sorrisinho sem graça e entrou, dando uma olhada
discreta ao redor. Eu havia terminado de montar o apartamento, então, todos
os cômodos estavam mobiliados, mas era claramente a moradia de um
homem solteiro, por isso, não tinha muitos objetos de decoração ou coisa do
tipo. A reforma que fiz no lugar foi mínima, apenas pintura e reparo de
algumas portas e dois pisos na lavanderia pequena, que estavam soltos. Na
sala, optei por uma TV grande afixada à um painel de madeira na parede, um
sofá de três lugares reclinável na cor cinza e uma mesinha de centro de
madeira e vidro. Era para ela que Briana estava olhando antes de parecer
tomar coragem para me encarar.
— Quer beber alguma coisa?
— Não, eu estou bem.
— Eu preciso de uma cerveja. Já volto.
Mesmo tendo sofrido com a ressaca durante o dia, sentia que eu
precisava de pelo menos uma dose de álcool para encarar aquela conversa.
Com uma long neck em mãos, voltei para a sala e apontei para o sofá. Briana
se sentou em uma extremidade e eu na outra. Distância. Era bom mesmo
mantermos distância, principalmente depois de eu ter a colocado sobre o meu
colo na noite anterior. Dessa parte eu também conseguia me lembrar muito
bem.
— Acho que você pode começar me explicando quando descobriu
que estava grávida e por que resolveu esconder. — Comecei, vendo-a engolir
em seco. Briana estava claramente desconfortável e, apesar de uma parte
minha querer soltar uma piadinha para descontrair o ambiente, me mantive
firme.
— Essa história não começa no momento em que descobri que estava
grávida, Levi. Vai muito além disso.
— Então me conte. Estamos aqui para isso, não é mesmo? — Fui
irônico de propósito, mas logo me arrependi ao ver Briana desviar o olhar,
um pouco constrangida. Não pedi desculpas, no entanto.
— Você deve se lembrar que eu contei na nossa primeira noite que eu
havia acabado de terminar um noivado bem longo, porque meu ex me traiu.
— Sim, eu me lembro.
— Eu sempre tive o sonho de me casar e ser mãe, e achava que
conseguiria realizar esses sonhos com Davi, meu ex-noivo. Descobrir sua
traição me deixou arrasada durante semanas, não apenas por estar muito
magoada, mas por achar que eu não conseguiria concretizar nenhum desses
sonhos pessoais.
— E aí, quando descobriu que estava grávida, achou que seria melhor
ser mãe sozinha, pois esse era um sonho só seu — concluí, finalmente
conseguindo enxergar o que de fato estava acontecendo. Para a minha
surpresa, Briana negou.
— Não. Eu sei que toda essa história parece ter a ver única e
exclusivamente com você, mas isso não é verdade, Levi — disse bem séria e
eu perdi um pouco da minha postura arrogante ao perceber certa fragilidade
em seu olhar. — Como eu estava dizendo, achei que todos os meus sonhos
estavam arruinados, até que Malu, minha melhor amiga, citou a inseminação
artificial e eu me dei conta de que não precisaria ter um homem ao meu lado
para me tornar mãe. O casamento poderia nunca sair dos meus sonhos, mas o
meu desejo de ter um bebê poderia se realizar.
Ela ficou alguns segundos em silêncio, me dando a oportunidade de
digerir toda aquela enxurrada de informações. Inseminação artificial? O que
aquilo tinha a ver com a nossa conversa, afinal? Ao ver a dúvida em meu
rosto, Briana continuou:
— Foi assim que eu decidi que seria mãe. Peguei toda a economia que
eu tinha, fui atrás de uma clínica de reprodução humana assistida e comecei
todo o processo para poder engravidar.
— Clínica de reprodução? Como assim, Briana? Está querendo dizer
que você fez a inseminação?
Só vi sua cabeça subir e descer, confirmando em silêncio e me
deixando mais assustado do que quando descobri que ela estava grávida.
— Eu fiz a inseminação dois dias após a nossa noite juntos — ela
disse e eu fechei os olhos, sem saber o que pensar. Passei as mãos pelos
cabelos e os puxei perto da nuca, querendo que a minha cabeça voltasse a
funcionar, mas parecia que meu cérebro estava congelado. — Foi por isso
que não te passei meu número verdadeiro e que fugi na manhã seguinte. A
minha vida ia mudar completamente, Levi, e acabei sendo covarde com você,
mentindo ao invés de explicar que em breve eu me tornaria mãe.
— Então, o bebê não é meu? — perguntei, sem conseguir distinguir o
que estava sentindo. Pensei que seria puro alívio, mas havia pesar em meu
peito. Eu estava confuso pra caralho.
— Era o que eu pensava, até você me contar que a camisinha
estourou. Eu já estava ovulando naquela noite, Levi.
— Então, o bebê é meu?
— Eu não sei — sussurrou, desviando os olhos dos meus.
Notei que, enquanto eu estava confuso, Briana parecia desolada e
finalmente entendi o porquê. Ela havia saído de um relacionamento que a
deixou profundamente magoada, viu uma possibilidade de realizar o sonho de
ser mãe e a agarrou com unhas e dentes, gastou uma puta grana — porque, eu
poderia não saber o valor exato, mas tinha certeza de que aquele
procedimento não era barato —, passou por todo o processo de inseminação
para, no final, descobrir que pode ter engravidado ao transar comigo. Que
maravilha!
— Foi por isso que demorei tanto para te contar. Eu entrei em uma
espécie de negação, Levi. Não queria acreditar que tudo isso estava mesmo
acontecendo, fui atrás da minha ginecologista para que ela me desse uma
resposta definitiva, mas não tem como saber se o bebê é seu ou não, a não ser
através de um exame de DNA, que só pode ser feito a partir da décima
semana de gestação. Eu estou entrando na oitava semana agora.
Eu concordei com a cabeça porque, com uma diferença de dois dias
entre a nossa noite e a inseminação até eu, que era leigo, sabia que seria
praticamente impossível saber de quem era o bebê.
— Você usou o sêmen de um doador conhecido?
— Não, comprei o sêmen de um doador americano, porque o perfil de
cada doador de lá é mais detalhado do que os do Brasil. E também escolhi um
doador negro, para que o bebê tivesse as minhas características.
— Entendi. Isso quer dizer que quando nos reencontramos e eu contei
sobre a camisinha furada, você já sabia que estava grávida?
— Sim.
— É, faz sentido você não ter me contado naquele momento — falei,
segurando seus olhos nos meus. — Mas eu poderia ter descoberto de outra
forma, Briana.
— Eu sei que sim e peço desculpas por você ter descoberto daquele
jeito, mas eu juro que ia conversar com você ontem. Eu ia te chamar para ir
até o meu apartamento e contaria tudo, como estou fazendo agora. Eu só
precisei de um tempo para reorganizar a minha cabeça e tomar coragem.
— Três semanas? Daqui a pouco eu ia descobrir ao olhar a sua
barriga.
— Você precisa entender o meu lado, Levi. Eu me preparei para ser
mãe solo, eu queria esse bebê, sequer imaginava a forma como você iria
reagir quando soubesse que eu estava grávida.
— Você só saberia se me contasse, Briana.
— Exatamente, o problema era que não deveria ter nada para contar,
porque esse bebê era para ser apenas meu.
— Então você prefere que o bebê seja do doador americano —
concluí baixinho, sem entender por que sentia como se tivesse sido
apunhalado pelas costas.
— Eu só não quero que você tenha que lidar com uma
responsabilidade que não é sua. Eu quero ser mãe e você provavelmente não
quer ser pai.
— Você não sabe o que eu quero — falei com mais arrogância do que
gostaria, mas Briana não se abalou.
— Você quer ser pai, Levi? Seja sincero comigo e consigo mesmo.
— Não é algo que estava nos meus planos, pelo menos não para
agora...
— Está vendo? É óbvio que você não quer. Que homem ou mulher
quer se tornar pai sem querer? Eu não conheço nenhum!
— Pode deixar eu terminar de falar? — pedi e ela fez um biquinho,
claramente contrariada, mas concordou com a cabeça. Merda, eu não deveria
achar aquele biquinho adorável! — Como eu estava dizendo, me tornar pai
não estava nos meus planos, mas se esse bebê for meu, eu vou ser o pai dele,
Briana. Não vou fugir.
Ela viu a certeza em meus olhos e desfez o biquinho — que havia me
deixado cheio de vontade de beijá-la, mas eu jamais admitiria —, se
desarmando um pouco. Apesar da distância entre nós dois, era como se eu
pudesse sentir cada emoção que a rondava.
— Vai ser um direito seu fazer parte da vida desse bebê.
— Sim, mas eu não quero só fazer parte, eu quero conviver com ele
em cada fase, a começar pela de agora.
— Como assim?
— Eu quero acompanhar a gestação.
— Mas você nem sabe se o bebê é realmente seu. E, sobre o DNA, a
minha ginecologista explicou que o exame feito a partir da décima semana é
muito caro. Os outros dois tipos de exames só podem ser feitos a partir da
décima segunda ou décima sexta semana.
— E você acha que eu vou me manter distante por causa disso?
— Sim. Já pensou se você se apega a esse bebê e no final descobre
que ele não é seu?
— Já pensou se eu perco tudo isso e no final descubro que ele é meu?
— rebati, vendo-a ficar sem palavras. Era bom calar aquela boquinha afiada e
eu quase sorri, mas o assunto era sério demais para distrações. — Quando é a
sua próxima consulta?
— Amanhã.
— Ótimo, eu vou com você.
— Levi...
Não consegui manter a distância entre nós dois. Antes que ela pudesse
concluir o que ia falar, me aproximei e sentei-me ao seu lado, tomando a sua
mão na minha. Eu sabia ser um filho da puta arrogante quando queria, mas
também sabia quando era a hora de dar um basta. Ainda estava chocado com
tudo aquilo, chateado por ela ter me escondido a gravidez, mas ouvir a sua
versão dos fatos diminuiu a sensação de ter sido mantido no escuro e
praticamente dissipou a minha raiva. Se eu queria estar ao seu lado e
acompanhar cada passo daquela gestação até fazermos o exame de DNA,
deveria me esforçar para melhorar o clima entre nós dois.
— Eu sei que você se programou para viver tudo isso sozinha, mas
nem sempre a vida acontece conforme os nossos planos. Nós nos
conhecemos naquela boate, passamos a noite juntos e agora você tem um
bebê nessa barriga que pode ser meu, sendo assim, você não está mais
sozinha, Briana. É bom que se acostume com isso, porque eu não vou
embora.
Eu poderia jurar que vi seus olhos brilhando com lágrimas, mas a
mulher era dura na queda e piscou bem rápido umas duas vezes para poder
dissipá-las, mostrando-me que se eu não tivesse reaparecido em sua vida e se
por um acaso aquele bebê nascesse parecido comigo, ela não iria se abalar,
seguiria sozinha, porque Briana era forte e autossuficiente. Para a sua sorte —
ou azar — o destino logo deu um jeito de cruzar os nossos caminhos de novo
e eu realmente não iria embora, pelo menos não até ter a certeza de que era
ou não o pai daquele bebê.
— Se o bebê for seu, eu não vou me importar por não estar mais
sozinha. Você vai ser um ótimo pai, Levi — ela confidenciou bem baixinho,
quase como se não quisesse admitir que estava abrindo brechas para uma
nova possibilidade.
Eu finalmente sorri e apertei sua mão antes de dar um beijo nos nós
dos seus dedos. Não precisávamos e nem seríamos inimigos, pelo contrário.
Queria estar o mais próximo possível dela, o que seria um desafio e uma
tortura. Estar perto de Briana sabendo como o nosso sexo era incrível e não
poder tocá-la de forma íntima seria uma prova de resistência — que eu não
sabia se iria querer vencer ou não.
Briana finalmente aceitou beber alguma coisa e eu peguei um copo de
suco de laranja — de caixinha, infelizmente, mas o rótulo dizia que era 100%
suco da fruta — para ela e uma nova cerveja para mim. Enquanto servia a
bebida em um copo de vidro na cozinha, repassei rapidamente a nossa
conversa em minha mente, me dando conta de que nem tudo era preto no
branco como eu havia pensado. A situação sempre poderia ser mais
complicada do que a gente imaginava, aquela era uma lição que eu deveria
levar para vida. Voltei para a sala e dei a ela o suco, voltando a me sentar ao
seu lado.
— Me conta sobre como você está. Não entendo nada sobre gravidez
além do básico, ou seja, enjoos. — Dei de ombros, ouvindo a sua risada.
— Essa parte é a pior de todas, definitivamente.
— Está enjoando muito?
— Todo dia pela manhã está bom para você? — Ela fez uma careta,
mas logo sorriu. — No entanto, sei que tem mulheres que sofrem mais do que
eu, então, não reclamo muito.
— E aquele lance de sentir desejo? É verdade mesmo?
— Bom, hoje eu acordei com vontade de comer torrada com geleia de
morango, requeijão e Nutella, então, acho que sim. — Ela gargalhou ao ver a
minha cara de nojo. — Não ficou ruim.
— Imagino, deve ter ficado uma delícia.
— Ficou ótimo, mas eu coloquei tudo para fora depois...
Ela se calou quando ouvimos vozes exaltadas no corredor. Eu nunca
tinha ouvido nenhum vizinho brigar, então, também fiquei assustado e tentei
entender o que estava acontecendo sem querer parecer enxerido demais. Foi
com surpresa que ouvi uma mulher praticamente gritando:
— Está dizendo que foi de propósito? Como você é idiota!
— Não disse que foi de propósito, só disse que toda essa história é
muito esquisita! — Aquela era a voz do Diego?
— Esquisita como? Pelo o que eu saiba, é seu amigo que anda com
camisinha furada na carteira!
— Que homem em sã consciência andaria com uma camisinha
furada? Você é maluca! — Com certeza aquela voz era do Diego.
— Maluco é você, idiota!
— Eu conheço essa voz — Briana disse, se levantando. Eu me
levantei também. — É a Malu!
— E o Diego, aquele meu amigo barman.
— O que eles estão fazendo?
— Não sei, mas acho melhor a gente checar antes que os vizinhos
chamem a polícia.
Briana concordou e fomos juntos até a porta. Assim que abri, vi sua
amiga com o rosto todo vermelho e já com a boca aberta para continuar a
discutir com Diego e ele com o cenho franzido em raiva, parecendo prestes a
falar alguma merda para cima dela. Nenhum dos dois pareceu perceber a
nossa presença.
— Já vi que esse tal de Levi não é boa coisa, para ter um amigo como
você!
— Um amigo como eu? Eu sou o melhor amigo do mundo, gatinha,
diferente de você, que parece ser bem surtada.
— Não me chama de gatinha! — Malu praticamente gritou, quase
batendo o pé como uma criança de três anos. — E eu não sou surtada!
— Não? Essas bochechas vermelhas dizem o contrário.
— Eu estou com raiva de você, é diferente!
— Raiva de mim? Por quê?
— Você disse que a minha amiga engravidou de propósito!
— Não, eu disse que essa história de bebê é esquisita e que o filho
talvez não seja dele!
— Tomara que não seja mesmo, Deus me livre meu afilhado conviver
com alguém como você!
— Gatinha, se o filho for mesmo do Levi, eu vou ser o padrinho.
— Nunca! Briana jamais aceitará isso! E para de me chamar de
gatinha!
— Podem parar de gritar? — perguntei, chamando a atenção dos dois,
que encararam a mim e a Briana com os olhos arregalados. — Obrigado pelo
silêncio.
— O que está acontecendo aqui? — Briana questionou, cruzando os
braços.
— Eu vim aqui saber como você estava, pois fiquei preocupada com a
conversa que teria com Levi e acabei encontrando esse... Idiota!
— Você é tão original nos insultos — Diego debochou com um
sorrisinho de lado, me fazendo prender uma risada ao ver Malu ficar rígida. O
idiota – ela não estava errada em chamá-lo assim – parecia estar gostando de
provocá-la.
— E você? Também ficou preocupado comigo? — perguntei a ele.
— Não. Eu só vim porque estava curioso mesmo, coisa que ela
também está, mas fica fingindo que é preocupação — disse ele, apontando
para a amiga de Briana.
— É óbvio que eu estou preocupada! Eu sou uma ótima amiga, não é,
Briana?
— Sim, claro que é — Briana disse, indo para o lado dela. — Acho
melhor irmos para o meu apartamento, estou com medo de rolar um
assassinato aqui no corredor.
— Melhor mesmo, não quero olhar na cara desse babaca nunca mais!
— Eu estou ouvindo... — Diego voltou a debochar, caminhando e
parando ao meu lado.
— É para ouvir mesmo, a diferença é que não estou falando com
você!
— Está falando agora.
— Você sabe que está agindo como uma criança, não é? — perguntei
para Diego, que enfiou as mãos nos bolsos e deu de ombros, muito relaxado.
— Esse é o tipo de coisa que a gente precisa fazer para poder agir de
igual para igual com certas pessoas.
— Está falando de mim? — Malu perguntou, quase dando meia volta
para dar na cara dele.
— Não estou vendo outra criança por aqui, a não ser a que está na
barriga da sua amiga.
— Está vendo como ele é um idiota? — Malu acusou, apontando para
Diego.
— Ok, já chega. Levi, a gente conversa depois — Briana disse,
praticamente arrastando Malu até a porta do seu apartamento.
— Tudo bem. Que horas é a sua consulta?
— Quer mesmo ir?
— Claro que sim, eu disse que quero acompanhar tudo.
— Quatro e meia. Eu mando o endereço do consultório por
mensagem.
— Não precisa, eu passo na sua confeitaria e te sigo de carro.
— Está bem. Até amanhã. — Ela me deu um sorriso sincero, que
tocou em alguma parte dentro de mim que rapidamente ignorei.
— Até amanhã, Bri.
As duas seguiram para o seu apartamento, mas antes que ela fechasse
a porta atrás de si, pude ouvir Malu dizer:
— Ele parece ser um príncipe, o único defeito é esse amigo idiota...
Briana fechou a porta e eu encarei Diego, que me olhava com uma
expressão inocente.
— O que foi? — Ele passou por mim e perguntou enquanto eu
fechava a minha porta: — Tem o que pra comer nessa casa? Tô morrendo de
fome.
— Sério mesmo? Você arrumou confusão justo com a melhor amiga
da Briana?
— Em minha defesa, eu não sabia quem ela era, ok? Nós nos
esbarramos na entrada do prédio e começamos a conversar quando eu apertei
o botão do seu andar. Ela disse que estava indo visitar uma amiga que estava
grávida e eu disse que estava indo visitar um amigo que estava prestes a
descobrir se seria pai ou não. Então eu acabei deixando escapar que seria
melhor se você não fosse o pai...
— Como assim seria melhor se eu não fosse o pai? Eu nunca disse
isso!
— Eu sei, mas eu disse. Qual é, Levi, você só tem vinte e sete anos,
está no auge da carreira. Que homem em plena capacidade das suas funções
mentais ia querer ser pai em um momento como esse?
— Justamente por eu ter vinte e sete anos e estar no auge da minha
carreira, é que sei que sou homem suficiente para assumir minhas
responsabilidades e isso inclui ser um bom pai para esse bebê.
— Que pode não ser seu — Diego lembrou.
— Eu sei, pode mesmo não ser meu.
— Jura? Então, ela se envolveu com mais alguém depois de você? —
perguntou ele, pegando minha cerveja em cima da mesinha de centro.
— Já que você fez o favor de roubar a minha bebida, vou pegar outra
e já te conto tudo.
— Traz algo pra comer também, estou com fome.
— Pede Ifood, babaca.
— Eu sou visita!
— Uma visita não esperada, então, se vira — falei, indo para a
cozinha. Quando voltei, ele já estava com o aplicativo de comida aberto.
— Pizza?
— Sim, por favor.
Eu me sentei em um canto do sofá e Diego passou os próximos
minutos fazendo o pedido. Assim que finalizou, voltou a me olhar.
— Desembucha.
Ao contrário da imensa lista de elogios que Malu fez a Diego, ele não
era um idiota de fato e provou isso mais uma vez ao me ouvir atentamente e
ficar tão surpreso quanto eu com toda aquela história. Eu tinha a sensação de
que estava vivendo sob o roteiro de um autor muito louco, pois nunca
imaginei que minha vida, antes tão simples e normal, tomaria esse rumo
depois de uma única noite de sexo com a mulher mais linda que meus olhos
já viram. Só esperava que no final desse tudo certo, ainda que eu não
soubesse o que esse “certo” significava de fato.
— É ainda pior do que eu imaginava. — Foi tudo o que ele disse no
final, quase boquiaberto. — Com tanta mulher no mundo, você tinha que
trepar justo com aquela que passaria por uma inseminação artificial dois dias
depois da foda de vocês? Sério, Levi, eu nem sei o que dizer!
— Bem-vindo ao clube — saudei, erguendo a garrafa antes de dar
mais um gole na cerveja.
— Bom, há cinquenta por cento de chance desse bebê não ser seu.
— E cinquenta por cento de chance de ser meu.
— Já percebeu que você está focando muito na probabilidade de ele
ser seu filho? Sério, até agora eu não vi você negar uma única vez! Você quer
que esse bebê seja seu?
E ali estava a pergunta de um milhão de dólares. Eu queria que o bebê
fosse meu?
— Não sei. — Fui honesto e Diego arregalou os olhos.
— Você quer que ele seja seu.
— Não foi isso que eu disse.
— Nas entrelinhas, foi o que você disse!
— Eu só não quero me sentir culpado por ter rejeitado esse bebê caso
ele realmente seja meu, Diego — confidenciei, vendo-o se calar. — Eu não
tive o melhor pai do mundo, você sabe disso. Não quero ser para essa criança
o que Leone foi para mim.
— Você jamais seria como ele, irmão — Diego me confortou,
apertando meu ombro rapidamente. — Eu só não quero que você se
decepcione, entendeu? Pode acabar se apegando a um bebê que nem é seu.
Não é melhor deixar para se aproximar de Briana depois que fizerem o teste
de paternidade?
— Não, eu quero ir à consulta com ela amanhã, quero acompanhar
tudo de perto. Já perdi oito semanas, Diego. Dois meses, porra! Não vou
perder mais nada.
Ele soltou um assobio ao ver que eu seria irredutível quanto àquilo.
Diego poderia não entender a minha decisão, mas aquele era o meu jeito,
quando colocava uma coisa na cabeça, ninguém no mundo conseguia tirar,
nem mesmo meu melhor amigo. O interfone tocou e Diego foi atender para
mim, sabendo que era a pizza que havia chegado. Pouco menos de dez
minutos depois, já estávamos comendo e conversando sobre outra coisa, até
que ele voltou ao assunto quando estávamos devorando o terceiro pedaço:
— Se você vai embarcar nessa história de ser pai, eu vou ao seu lado,
irmão. Pode contar com esse super padrinho aqui.
— E vai conseguir lidar com a super madrinha? — perguntei com um
sorriso, vendo-o soltar um resmungo.
— Essa vai ser a maior prova de amizade que já dei a você, ter que
conviver com a gatinha arisca.
— Ela amou o apelido — ironizei, finalmente arrancando uma risada
dele.
— Foi bom perturbá-la com isso, vou chamá-la desse jeito para
sempre agora.
— Até ela dar um chute no meio das suas pernas.
— Ela tem meio metro de altura, vai precisar adquirir alguns
centímetros para poder alcançar o meu saco.
— Eu acho que ela seria capaz de fazer isso acontecer só para ter o
prazer de te chutar.
Diego balançou a cabeça com um sorriso de babaca no rosto. Podia
jurar que já estava se divertindo por antecipação ao pensar em tudo o que
faria com Malu.
— Eu também acho — concordou no final.
Pelo menos aqueles dois seriam uma fonte de entretenimento em meio
a tudo o que estava por vir.
Consegui sair mais cedo da agência após a reunião com a equipe de
criação para a campanha de uma rede de academia paulista que abriria quinze
unidades no Rio de Janeiro até o final do ano. Eu era muito amigo de todos
da agência, inclusive Edmundo, meu chefe, e já imaginava o choque que seria
quando contasse que seria pai. Ter pensamentos assim só me fazia lembrar de
Diego falando que eu não olhava para aquele bebê sob outra perspectiva que
não fosse ele ser meu filho, mas resolvi ignorar aquilo e deixar para refletir
com mais calma depois — mesmo não sabendo se esse “depois” realmente
chegaria em algum momento.
Cheguei à confeitaria de Briana um pouco antes do horário marcado e
percebi que finalmente havia chegado o momento de entrar e conhecer sua
loja por dentro. Tranquei o carro e atravessei a rua, comprovando a minha
teoria de que o lugar realmente tinha um cheiro doce, que não era apenas
proveniente do chocolate, mas sim de uma mistura de vários ingredientes que
não consegui identificar. Assim que entrei, uma moça de cabelos castanhos se
aproximou com um sorriso muito simpático e me indicou uma mesa, mas
logo avisei que estava procurando por Briana e ela se afastou, dizendo que
iria chamá-la.
Aproveitei aqueles minutos sozinhos para dar uma olhada em volta,
percebendo como a decoração era de bom gosto, predominantemente branca,
mas com objetos que seguiam a mesma cartela de cores em tons pastéis da
fachada. Era um lugar aconchegante, com mesas em madeira branca e
cadeiras estofadas, alguns bancos em frente ao balcão, para quem só queria
tomar um cafezinho ou aguardar por algum pedido e levar para a viagem e
quadros com frases e imagens de doces nas paredes. Tudo remetia a Briana,
mesmo eu a conhecendo tão pouco. Sentei-me em um dos bancos e observei
discretamente os clientes comendo e fazendo aquela expressão de quem
estava se deliciando, o que me fez ter vontade de provar cada um dos doces
expostos na vitrine.
— Ei, que bom que já chegou! Quer comer alguma coisa antes de ir?
— Briana perguntou, parando do outro lado do balcão.
Estava linda em um vestido rosa-claro que terminava alguns
centímetros acima dos joelhos e os cabelos soltos com todos aqueles cachos
incríveis, que me impeliam a passar a mão só para sentir sua maciez mais
uma vez. Como sempre, acabei me distraindo em sua presença e precisei abrir
um sorriso para disfarçar.
— O que você me sugere?
— Acabou de sair uma fornada de brownie de nozes.
— Eu ainda não fui para a academia essa semana, Briana, e não tenho
muito controle com doces.
— Você está em uma confeitaria, só tenho doces para te oferecer. E,
convenhamos, você não precisa se preocupar com bobagens como essa, Levi.
— Mesmo? Por quê?
— Porque você é lindo e todo sarado, alguns brownies não vão te
fazer perder os seis gominhos que emolduram sua barriga.
— Não sabia que você tinha contado — comentei com um sorriso
sacana, vendo-a desviar os olhos rapidamente. Acho que não tinha se dado
conta do que havia acabado de falar, o que me divertiu e excitou. Briana
ainda pensava em nós dois juntos? Era bom saber que eu não era o único.
— Algumas coisas são difíceis de esquecer — comentou baixinho,
mordendo a pontinha do lábio inferior ao tentar prender o sorriso. Porra, ela
não podia ficar fazendo aquele tipo de coisa e esperar que eu me mantivesse
mentalmente são.
— Tenho que concordar. — Precisei confidenciar, sentindo o clima
esquentar entre nós dois, da mesma forma que naquela noite, enquanto
conversávamos no bar da boate.
— Acho melhor você comer logo, antes que a gente se atrase. Quer
conhecer a cozinha? Tem uma pessoinha lá dentro que vai amar te ver, ela só
vive falando no seu nome.
— Miriam. Acertei?
— Ela deve ser a única velha tarada que você conhece — disse, me
fazendo rir enquanto eu saía do banco.
— Não fale assim dela, nós temos um lance.
— Ela me contou sobre isso e ainda brigou comigo por eu ter passado
a sua frente e ficado com você antes.
Dei a volta pelo balcão e sorri ao ouvir aquilo, feliz por ver que nossa
interação era muito natural, diferente da forma como agimos um com o outro
assim que me mudei para o apartamento. Agora estávamos agindo como dois
adultos deveriam agir.
— Meu coração é grande, cabe vocês duas.
— E mais um monte de mulheres, imagino — comentou e eu arqueei
uma sobrancelha.
— Não sou tão pegador assim.
— Não sei se posso concordar com isso. Ainda durmo com medo de
acordar com uma cabeceira batendo contra a minha parede ou uma mulher
gritando como se fosse morrer — disse ela e eu ri.
— Sinto muito por ter te deixado traumatizada, essa não foi a minha
intenção — falei, abaixando o tom de voz ao entrarmos na cozinha. — E eu
preguei a minha cabeceira à parede, só não testei ainda se ela ficou resistente
ou não.
Eu não saberia explicar em que momento aquela conversa mudou de
tom de novo e acabou se transformando em um diálogo de duplo sentido, mas
foi divertido ver Briana voltar a prender a pontinha do lábio inferior entre os
dentes, abalada com a informação que lhe dei. Antes que eu acabasse falando
mais alguma besteira para deixá-la sem reação, Miriam nos notou na cozinha
e veio logo me abraçar e me oferecer um monte de doces que estava
preparando. Ela parecia a dona da cozinha usando aquele avental com o logo
da confeitaria e a pontinha do nariz suja de farinha. Estava uma gracinha, mas
acabei fazendo um elogio maior ao dizer que estava linda, porque gostava
quando ela alimentava o nosso “lance” e dizia que estava se apaixonando.
Depois de comer três brownies de nozes — que, porra, estavam
sensacionais! —, Briana e eu partimos para a sua consulta, cada um em seu
carro, pois ela não voltaria mais para a confeitaria naquele dia. Assim que
entramos no consultório da sua ginecologista, tomei um baque ao ver duas
mulheres com enormes barrigas de grávida, um quadro com uma mulher
também grávida e todo aquele ambiente propício para mulheres que, em
breve, seriam mães. Nunca pensei que um dia eu pisaria em um lugar como
aquele. Achei que tinha conseguido disfarçar o meu espanto, mas Briana
acabou notando e perguntou baixinho, parecendo segurar uma risada:
— Assustado?
— Não queria que tivesse ficado tão óbvio.
Ela riu, mas logo voltou a ficar séria e segurou a minha mão por cima
do braço da cadeira.
— É um mundo completamente novo, Levi, está tudo bem se sentir
inseguro ou com vontade de sair correndo.
— Você sentiu vontade de sair correndo?
— Não, senti vontade de pular de alegria ao ouvir o coração do bebê
pela primeira vez.
— Já dá para ouvir? — perguntei, sem conseguir esconder meu
espanto. Não fazia ideia, oito semanas parecia ser tão pouco tempo e ele já
tinha um coração. E o coração batia!
— Sim, eu ouvi assim que completei quatro semanas. Provavelmente,
vamos ouvir hoje também.
— Isso é tão... Surreal — confidenciei e ela concordou com a cabeça.
— Eu também acho. Às vezes eu ainda não acredito que tenho um
serzinho se formando aqui dentro. — Colocou a mão livre sobre a barriga. Eu
queria fazer o mesmo, mas, estando sóbrio, não sabia como ela iria reagir e
me contive.
— Pode acreditar. Você quis muito esse bebê, Bri, merece comemorar
essa conquista.
Vi que ela ficou emocionada e, dessa vez, não conseguiu disfarçar.
Apesar disso, acabou sorrindo enquanto uma lágrima escorria pelo cantinho
do olho esquerdo.
— Desculpa. Isso é culpa dos hormônios.
— Eu não caio nessa, toda grávida diz isso — brinquei, secando sua
lágrima com o polegar. Ela ficou surpresa com a minha atitude, mas não teve
tempo de falar nada, pois a secretária da sua médica nos disse que a doutora
já nos aguardava.
Entramos juntos no consultório e logo fui apresentado a Dra. Claudia,
que me recebeu muito bem. Briana explicou rapidamente que eu poderia ser o
pai do bebê e que queria acompanhar a gestação. Se ficou surpresa, a médica
não demonstrou, só continuou a agir de forma profissional e simpática. Logo
fez algumas perguntas para Briana, principalmente sobre como ela estava se
sentindo e se o enjoo ainda persistia durante todo o dia. Eu prestei atenção em
cada uma das suas respostas, ficando surpreso ao descobrir que tomava
remédio para conter o enjoo, pois não imaginava que era algo tão grave. Ao
ver a minha expressão, a doutora logo explicou:
— Não se preocupe sobre o enjoo, o uso do remédio para auxiliar
nessa questão é algo muito comum. Não há nada para se preocupar.
— Que bom — murmurei, ainda um pouco atordoado com tanta
informação.
A doutora pediu para que Briana a acompanhasse até a balança para
poder pesá-la e eu esperei, sem saber distinguir como estava me sentindo. O
nervosismo era um fato, mas a ansiedade para poder ver o bebê e ouvir o seu
coração estava me pegando completamente de surpresa. Nunca na vida me
imaginei sendo pai e agora estava em um consultório de uma ginecologista-
obstetra acompanhando uma mulher com quem havia transado em uma única
noite e que, talvez, estivesse esperando um bebê que não fosse meu. A
loucura de tudo aquilo era inexplicável.
Acompanhei Briana e a doutora para a parte reservada da sala onde
havia todo o equipamento de ultrassonografia e Briana se deitou, me dando
um sorriso nervoso, que eu retribuí com o mesmo sentimento. Dra. Claudia
pediu licença para afastar o vestido e cobrir suas pernas com um lençol.
Finalmente pude ver a sua barriga nua e não consegui conter as batidas
frenéticas do meu coração ao ver aquela curva lá, quase imperceptível, mas
muito real. A doutora aplicou um gel sobre a sua pele e logo começou o
exame, atraindo a minha atenção para o monitor. Em um primeiro momento,
não consegui ver absolutamente nada, até ouvir a médica dizer:
— Aqui está o bebê.
Era um grão. Isso mesmo, um grãozinho muito esperto que se mexia
e, porra, eu poderia estar maluco, mas logo me vi perguntando:
— São as mãozinhas dele?
— Isso mesmo. — A doutora sorriu, tracejando o grãozinho com uma
linha pontilhada amarela. — Ele está no tamanho ideal, 1.6cm.
— Ou seja, é um feijão — concluí, ouvindo a risada de Briana e da
Dra. Claudia.
— Podemos dizer que sim.
— Só que tem um coração — Briana completou.
— E está começando a desenvolver as pálpebras, o lábio superior e as
orelhas — disse a médica. — Agora, vamos ouvir o batimento cardíaco.
Sem que eu esperasse, Briana segurou a minha mão e eu entrelacei os
nossos dedos, sem fazer a menor ideia de como aquele momento se tornaria
especial para mim. Eu só queria estar presente e ter ciência de tudo o que
estava acontecendo, mas jamais imaginei que ficaria abalado com a
possibilidade de ouvir o coração do bebê, muito menos que Briana seguraria
minha mão naquele momento, demonstrando que, apesar de tudo, estava
abrindo espaço para mim na sua vida e na vida do bebê que estava gerando.
Foi de repente, mas assim que o som se propagou pela sala, meu
coração pareceu bater no mesmo ritmo frenético, me deixando com a
respiração levemente ofegante e a garganta presa em um nó brando, que eu
lutei para que não se tornasse apertado.
— É normal ser tão rápido assim? — perguntei, apertando a mão de
Briana na minha.
— Completamente. A frequência cardíaca pode chegar a até 172
batimentos por minuto.
— Uau — murmurei, surpreso e fascinado.
— Não é lindo? É o som mais incrível que já ouvi — Briana disse,
chamando a minha atenção.
— Sim, é lindo.
Foi um momento que eu jamais esqueceria, onde não pensei em como
tudo aquilo era uma loucura ou na probabilidade de 50% daquele bebê não
ser meu filho. Eu apenas aproveitei cada segundo, emocionado e grato por
estar ali, vivendo tudo aquilo ao lado de Briana. Parecia que eu precisaria
reservar alguns minutos da minha noite para agradecer a Deus por ter me
colocado no caminho daquela linda mulher de novo.
Ser uma mulher independente sempre esteve nos meus planos. Eu me
espelhava muito em minha mãe quando era mais jovem, pois Analídia Garcia
havia sido uma advogada excepcional enquanto exerceu a profissão,
conseguindo conciliar muito bem o seu papel fora e dentro de casa, sendo
uma esposa incrível e uma mãe melhor ainda. Foi ela que me incentivou a
correr atrás de todos os meus sonhos e, provavelmente, nem imagina que o
fato de ser uma mãe tão maravilhosa para mim, manteve acesa a chama em
meu peito que me enchia de vontade de ser uma mãe tão incrível quanto ela.
Foi a partir do seu casamento com o meu pai, cheio de amor e
companheirismo, que também me vi idealizando um relacionamento quando
era adolescente. Entendi, ainda naquela fase entre a transição de menina para
mulher, que eu também era romântica e queria me casar, ter filhos, construir
uma família um dia, mas, com as decepções, a gente acaba tendo que abrir
mãos de alguns sonhos e tendo que adaptar outros. Foi isso que fiz e estaria
mentindo se dissesse que não estava feliz, pois eu estava. Seria mãe em breve
e não queria nem pensar em ter um relacionamento, pois ainda me sentia
machucada por Davi — coisa que não me permitia pensar, pois dizia para
mim mesma que não deixaria aquela mágoa ditar a minha vida.
Já havia me acostumado à ideia de ser mãe solo e estava amando essa
fase de descoberta. Tudo em minha vida parecia ter entrado em ordem, até
Levi chegar. Até eu perceber que ele parecia estar muito longe de ser como a
maioria dos homens e que estava interessado de verdade naquela gravidez.
Quais eram as chances de um homem que passou uma única noite com uma
mulher, querer participar de uma gestação onde estava bem claro que o bebê
poderia não ser dele? Eu mesma respondia, as chances eram praticamente
nulas, mas Levi parecia ter sido escolhido a dedo para estar naquela situação.
Depois da ultrassonografia, onde nós dois nos emocionamos ao ver o
bebê e ouvir as batidas do seu coração, senti o clima ficar diferente entre nós
dois, estranho. Ele ficou muito quieto, como se estivesse sentindo a ficha cair
enquanto saíamos do consultório, e eu respeitei o seu momento, ficando em
silêncio enquanto entrávamos no elevador. Sentia-me um pouco perdida, pois
aquela situação era tão nova para ele quanto para mim, e não fazia ideia de
como agir. Acabei desistindo de manter aquele clima estranho e perguntei
quando chegamos ao estacionamento:
— Está tudo bem, Levi?
— Acho que ainda estou em choque depois de tudo isso —
murmurou, me dando um sorrisinho. O homem era lindo até quando ficava
sem graça.
— Eu entendo, aconteceu tudo muito rápido. Tire um tempo para
pensar, Levi. Sei que se sente na obrigação de acompanhar tudo de perto,
mas...
— Não estou aqui apenas por obrigação, estou porque quero — falou
com muita certeza, me calando. — E, sim, aconteceu tudo muito rápido, mas
eu me adapto bem a mudanças.
— Se é o que diz, vou confiar em você.
Peguei sua mão na minha e a apertei, sentindo vontade de falar mais,
mas me segurando. Não queria pensar sobre o que revolvia o meu peito,
porque só de imaginar que estava começando a nutrir qualquer tipo de
sentimento por Levi, eu sentia vontade de dar um tapa na minha cara, mas
precisava admitir, pelo menos para mim mesma, que o homem a minha frente
era alguém admirável e diferente de tudo o que eu já havia conhecido. Levi
provavelmente não era perfeito, assim como qualquer ser humano na face da
Terra, mas ele com certeza estava acima da maioria apenas por estar ao meu
lado naquele momento. No entanto, fiquei quieta sobre aquilo e guardei tudo
para mim enquanto entrava em meu carro e o via seguir para o dele.
Nós nos despedimos em frente ao meu apartamento, quarenta minutos
depois, e entrei em casa com o coração acelerado, ainda que eu não tivesse
feito qualquer esforço físico. Disposta a não pensar sobre aquela reação
ilógica do meu corpo, falei rapidamente com Kiki e fui direto tomar um
banho, fazendo uma pausa em frente ao espelho para admirar aquela elevação
tão singela em minha barriga, que poderia passar despercebida para qualquer
um, menos para mim. Acariciei o bebê, esquecendo-me de todo e qualquer
problema ao pensar nele. Minha vida havia virado de cabeça para baixo por
causa daquele feijãozinho — como Levi nomeou — em meu ventre? Sim,
mas apenas oito semanas haviam se passado desde a sua concepção e eu já
tinha certeza de que, por ele, tudo valia a pena.
Os próximos dias foram mais tranquilos e Levi e eu entramos numa
rotina. Eu sempre acordava com uma mensagem dele perguntando como
estava me sentindo ou se precisava de alguma coisa e, à noite, ele batia na
porta do meu apartamento apenas para se certificar de que eu estava bem.
Nunca entrava, apesar de eu ser educada e praticamente escancarar a porta
para ele, e ficava por tempo suficiente para trocarmos algumas palavras. Eu
mentiria se dissesse que não estava me acostumando a ver e falar com ele
todos os dias, mas me obrigava a enxergar aquela situação como ela
realmente era: Levi estava ali por conta do bebê, nada mais.
Se ele realmente fosse o pai, era bom que fôssemos amigos. Eu jamais
negaria a sua presença na vida do meu filho e ter uma relação saudável com
ele seria algo imprescindível. Como havia me dado conta no dia da consulta,
mais uma vez, estava tendo que me readaptar e lidar com mudanças
inesperadas. Ter Levi ou qualquer outro homem como um possível pai para o
meu bebê era, de longe, a situação mais inusitada que eu esperava enfrentar.
— Eu poderia perguntar se você está pensando na morte da bezerra,
mas ela não tem incríveis olhos verdes, braços musculosos ou te engravidou
— Miriam resmungou, tirando-me dos meus pensamentos.
— Talvez ele não tenha me engravidado.
— Que bom que você não negou que estava pensando em Levi.
Consegui, no último segundo, esconder a minha cara de quem havia
sido pega no flagra e dei de ombros, disfarçando.
— Sim, ele vive nos meus pensamentos agora, mas é por causa do
bebê.
— Com certeza é só por causa do bebê. — A velha safada sorriu
enquanto incorporava o creme de leite no chocolate derretido para poder
fazer uma ganache. — Você deveria parar de ser boba e cair logo nos braços
daquele homem, Briana.
— Você está completamente maluca! Não vou fazer isso nunca.
— Posso saber o porquê?
— Não é óbvio?
— Não para mim.
— Miriam, eu acabei de sair de um relacionamento fracassado que
durou oito anos. Eu nem sei como consigo manter minha cabeça de pé, de
tanto chifre que levei. Não quero passar por algo assim nunca mais.
— Conheço Levi há pouco tempo, mas só o fato de ele estar disposto
a abraçar esse bebê, mesmo sem saber ainda se é o pai ou não, já mostra
como ele é diferente daquele desgraçado.
— Sim, nesse ponto, eu concordo com você, mas não estou disposta a
colocar o meu coração em jogo em um momento tão importante da minha
vida. Talvez eu nunca mais esteja disposta, Miriam.
Miriam soltou um suspirou e deixou o bowl de inox em cima da
bancada antes de se aproximar de mim. Sem que eu esperasse, minha amiga
mais ranzinza me puxou para um abraço meio bruto, mas bem forte, me
dando um conforto que eu nem sabia que precisava naquele momento.
— Eu sei o quanto aquele filho de uma puta te machucou, Bri —
murmurou, em um contraste gigantesco com aquele insulto que saiu dos seus
lábios. — Mas não deixe que essa decepção te impeça de conhecer outras
pessoas, de se envolver ou se apaixonar. Você é uma mulher jovem, linda,
com um coração enorme, merece ter alguém incrível apaixonado por você e
sendo seu cachorrinho.
— Meu Deus, Miriam! — Eu ri, porque não tinha como me manter
séria ao ouvir aquilo. Ela se afastou e vi que estava rindo também. — Sendo
meu cachorrinho? De onde você tira essas coisas?
— Meu bem, todo homem tem que virar cachorrinho da esposa, é
assim que o relacionamento dá certo. Meu marido era esse tipo de homem,
que Deus o tenha.
— Você sente muito a falta dele?
— Todos os dias — falou e vi seus olhos brilharem de saudade e
amor. — Augusto foi o grande amor da minha vida. Eu acredito que nós
sempre seremos capazes de amar de novo, mas tem um amor em especial que
é insuperável, daquele tipo que aperta o peito e deixa muita saudade de tudo,
até do que não conseguimos viver. Esse era o amor que Augusto e eu
sentíamos um pelo outro.
Foi a minha vez de puxá-la para um abraço e Miriam retribuiu,
mostrando uma fragilidade que sempre escondia. Augusto, seu marido, havia
morrido há quase vinte anos e, ainda que Miriam defendesse com veemência
o seu ponto de vista sobre amar de novo, nunca mais engatou em nenhum
relacionamento. Teve alguns casos, mas foram passageiros. Isso não queria
dizer que ela não era feliz, pois era sim, e aproveitava a vida como ninguém.
Saía para dançar, adorava um pagode e tinha Rose como companhia.
— Não sei a extensão do seu sentimento por Davi, mas posso falar o
que acho? — perguntou ao se afastar.
— Se eu disser que não, você vai falar do mesmo jeito.
— Ainda bem que você sabe. — Riu, mas logo voltou a ficar séria. —
Sei como ele te machucou e como deve doer ser traída da forma como ele te
traiu, mas, no fundo, o sentimento entre vocês dois havia esfriado, Bri. Eu via
que você não estava mais feliz ao lado dele, parecia ter se acostumado a ter a
presença dele ao seu lado, mas não era mais a mesma coisa que no passado.
O brilho nos seus olhos havia sumido. Para mim, isso significa que o seu
amor por Davi não era o amor que acabei de descrever, por isso que eu acho
que você deve tomar o seu tempo, curar esse coração partido e se abrir para
que outra pessoa possa entrar.
Eu ouvi tudo em silêncio, concordando, em partes, com a sua teoria.
Sim, meu relacionamento com Davi havia mesmo esfriado, eu não sentia o
meu coração ficar acelerado ao seu lado nem sentia o mesmo prazer de antes
ao ter a sua companhia, mas isso não significava que sua traição não havia
quebrado o meu coração e deixado marcas profundas em minha alma. A
quebra de confiança, às vezes, doía mais do que a perda de um amor, e Davi
havia não apenas quebrado a minha confiança nele, como em tudo o que se
dizia respeito a relacionamentos. Como poderia me entregar a outra pessoa,
depois de ter me doado completamente a ele e ter sido tão cruelmente traída?
— Talvez essa outra pessoa possa estar mais perto do que você
imagina, sendo seu vizinho, por exemplo — Miriam disse de repente, dando
de ombros ao fingir que havia feito aquela analogia sem querer.
— Ainda que eu quisesse me envolver, essa pessoa em específico
deveria querer também, o que não parece ser o caso.
— Como não? Eu vi a forma como Levi ficou te olhando quando veio
a confeitaria.
— Você vê coisas demais, Miriam, ou de menos. Talvez precise
começar a usar óculos — desconversei, voltando a checar a planilha em meu
iPad.
— Eu enxergo muito bem e posso apostar que se você estalasse o
dedo, Levi ia querer repetir o que fizeram naquela noite.
— Pode ser que sim, mas sexo não é a mesma coisa que
relacionamento e, no momento, eu não quero nenhum dos dois.
— Porque é boba. Eu estaria rolando na cama daquele gostosão.
— Claro que sim, porque você é uma safada — brinquei e ela fez cara
de deboche.
— Safada não, livre e independente, coisa que você também é. Se não
quer colocar o coração no meio, aproveita apenas os orgasmos.
Eu balancei a cabeça ao ouvir aquilo, decidindo não estender o
assunto. Era bom que Miriam tivesse aquela mente aberta, mas isso não
significava que eu queria ficar discutindo com ela a minha vida sexual — ou
a falta dela. Por sorte, Mariana entrou na cozinha naquele momento e me
estendeu o cartão que entregávamos aos clientes, onde pedíamos que eles
dessem alguma sugestão de doces que queriam na loja, críticas e até mesmo
conselhos do que poderíamos melhorar. Eu achava importante aquela
interação, pois me sentia mais próxima de cada um deles e do que queriam na
confeitaria.
— Uma cliente acabou de passar aqui junto com a irmã e perguntou
se tínhamos algum doce específico para pessoas diabéticas. Eu disse que não
e entreguei o cartão para ela, pedindo para que anotasse a sua sugestão do que
poderíamos incluir no cardápio. O nome dela era Raquel e foi muito
simpática.
Eu peguei o cartão e li a sugestão da cliente, que acabou escrevendo
no final como era difícil encontrar doces para pessoas diabéticas em lojas de
doces no geral. Aquilo acendeu um alerta na minha cabeça e abriu os meus
olhos para algo que não tinha pensado antes. Realmente, aquele era um
público que, apesar de não poder comer qualquer tipo de doce, não
significava que não gostava de um bolo, uma torta ou até mesmo de um
brownie.
— Eu adorei a sugestão. Vou começar a pesquisar quais tipos de
doces podemos fazer e se vai dar para incluir os gastos no orçamento.
— Eu posso ajudar. Na internet tem muita receita boa e eu acho que
tenho um livro de receitas para pessoas diabéticas lá em casa — Miriam
disse, tão animada quanto eu.
— Isso vai atrair um novo público para a confeitaria. Algo me diz que
vai dar muito certo!
Mais do que nunca, eu entendi que manter aquele tipo de
relacionamento com cada cliente era muito importante. Como saber o que
queriam ou o que precisavam, se não déssemos abertura para que expusessem
a sua opinião? Fiquei muito feliz comigo mesma e com a forma como
trabalhava e fiz uma nota mental para pesquisar mais sobre doces para
diabéticos quando chegasse em casa.
Assim que terminei de ver as planilhas, deixei Miriam na cozinha e
fui dar atenção aos clientes no salão. Era fim de sábado e a loja estava
começando a ficar cheia, como sempre acontecia no final de semana. Quando
dei o expediente por encerrado, fiquei feliz por aquela ter sido mais uma
semana de sucesso, com bastante encomendas sendo entregues com
pontualidade, clientes satisfeitos e a confeitaria faturando muito bem. Fui
para casa com a sensação de estar cumprindo com cada um dos meus
objetivos profissionais e, do lado pessoal, apesar de tudo o que vinha
enfrentando, eu não poderia reclamar. Sentia-me grata por tudo.
Vi o carro de Levi em sua vaga assim que estacionei e me perguntei
se ele passaria aquela noite de sábado em casa. Não que fosse da minha
conta, é claro, mas o bichinho da curiosidade me mordia de forma
incontrolável. E se ele batesse na minha porta naquela noite, como vinha
fazendo todos os dias, prontíssimo para ir para uma boate e voltasse para o
seu apartamento com uma mulher a tiracolo? Não sabia de onde aquela teoria
havia surgido, muito menos porque me sentia tão incomodada. Ele era um
homem solteiro, merecia curtir a vida e eu não tinha que sentir nada com a
ideia de ele estar com outra pessoa.
— Seja racional, Briana — sussurrei para mim mesma ao encarar o
espelho do elevador. — O que está acontecendo com você? Troca algumas
palavras com o homem, o vê por poucos minutos todos os dias e já está se
apegando? Seja adulta!
Deixei o elevador com a certeza de que havia expulsado aquele
sentimento esquisito do meu peito e entrei em meu apartamento disposta a
tomar um banho, me sentar em meu sofá com o notebook no colo e pesquisar
sobre a sugestão da cliente com diabetes. Se eu estivesse mais atenta, teria
percebido uma pessoa em meu sofá assim que passei pela porta, mas tentar
expulsar Levi da minha cabeça pareceu desligar o meu cérebro e só percebi
que havia um homem bem ali quando deixei a chave sobre o aparador e me
virei. O grito que saiu da minha boca não conseguiu ser abafado pelos latidos
de Kiki ao me cumprimentar e senti que poderia desmaiar antes de conseguir
acender a luz e ver Davi se levantar, erguendo as mãos.
— Desculpa, meu amor, não quis te assustar.
Minhas pernas tremiam. A mão sobre o meu peito não fazia nada para
diminuir as batidas do meu coração e, em uma olhada geral, só consegui
notar Davi alguns metros a minha frente e um buquê de rosas vermelhas
sobre o sofá, que ele logo pegou quando viu a direção do meu olhar.
— Como... Como conseguiu entrar aqui? — perguntei, já pegando a
minha chave de volta sobre o aparador.
— Eu ainda tenho a cópia das chaves.
— Então, me devolva e saia! — Mandei, conseguindo reorganizar
meus pensamentos. Nunca imaginei que Davi invadiria o meu apartamento,
havia me esquecido completamente que ele ainda mantinha a cópia da chave.
Falta de atenção da minha parte, lógico. Deveria ter tomado aquela cópia dele
na noite em que o expulsei.
— Espera, Briana, eu só quero conversar...
— Não temos nada para conversar.
— Briana, já se passaram meses desde o nosso rompimento. Eu quis
te dar esse tempo para pensar e também aproveitei para colocar a minha
cabeça e os meus sentimentos no lugar.
— Eu não preciso de tempo algum para pensar, Davi. Agora saia
daqui! — Gritei, enfiando a chave na fechadura e abrindo a porta.
— Só me escuta, por favor.
— Não! Na última vez em que nos falamos, eu deixei bem claro que
chamaria a polícia se você voltasse a me perturbar, agora te encontro dentro
da minha casa! Isso se configura como invasão de domicílio e, talvez,
perseguição!
— Perseguição? Do jeito que fala, parece que sou louco. Você me
conhece, Briana, sabe que eu jamais faria mal a você!
— Não, Davi, eu achei que te conhecesse, mas não conheço. Você me
traiu diversas vezes, levava uma vida dupla sem qualquer peso na
consciência! O que isso te torna? Eu não sei, mas também não estou disposta
a descobrir. Agora, deixe a cópia da chave sobre a mesinha de centro e saia
da minha casa!
Davi abaixou as mãos e me olhou de uma forma derrotada que só me
fez sentir raiva e ressuscitou aquele sentimento de decepção. Como o homem
que eu tanto amei, que achei que seria meu marido, pai dos meus filhos, havia
transformado tudo de bom que eu sentia por ele em algo tão ruim? Meu
estômago chegava a embrulhar só de estar no mesmo recinto que ele e aquilo
não tinha nada a ver com a gravidez.
— Eu não queria perder você, meu amor.
— Pare de me chamar assim! Eu não sou o seu amor!
— Eu posso não ter te dado valor, mas percebi que sempre vou amar
você, Briana. Por isso que vim aqui. Sei que agi errado ao entrar no seu
apartamento sem você estar presente, mas era porque sabia que não ia me
receber se eu simplesmente batesse na porta.
— Eu não ia te receber, porque não quero te ver nunca mais, Davi. Se
você não sair daqui nos próximos trinta segundos, eu vou ligar para a polícia
— avisei, pegando meu celular e desbloqueando. Ele viu que eu não estava
blefando e deixou o buquê sobre o sofá, puxando o chaveiro do bolso em
seguida.
— Estou indo. Vou deixar a cópia da chave aqui. — Depois de
colocar a chave sobre a mesinha, Davi enfiou as duas mãos no bolso da calça
e se aproximou da porta. Eu saí do seu caminho e virei o rosto, disposta a não
olhar mais na sua cara. — Ainda que você nunca mais queira falar comigo,
espero que um dia possa me perdoar, Briana. Eu me arrependo muito de tudo
o que fiz e sei que não há qualquer justificativa. Fui um canalha, mas eu te
amo.
— Não, você não me ama, Davi, e duvido que tenha me amado algum
dia. Sai!
Davi me olhou uma última vez e saiu do meu apartamento com a
mesma pose de derrotado de quando o expulsei pela primeira vez. Com raiva,
bati a porta com força e tranquei, quase sentindo as paredes estremecerem.
Como ele tinha coragem de aparecer na minha casa daquele jeito depois de
tudo o que fez? O que ele tinha na cabeça? Kiki latiu para mim, assustada,
mas eu estava tão fora de mim, que sequer consegui acalmá-la. Sentia uma
pressão no peito, uma angústia misturada a raiva, o que me trouxe lágrimas
nos olhos.
O choro quis romper, mas consegui segurá-lo assim que ouvi batidas
na minha porta. Já estava prestes a xingar Davi e chamar a polícia de uma vez
por todas, mas foi a voz de Levi que soou em meus ouvidos:
— Briana, está tudo bem? Eu ouvi gritos, foi aqui? Abra a porta.
Não pensei, apenas caminhei em direção à porta e a abri, encarando
um Levi todo molhado, com uma toalha branca enrolada na cintura e gostas
de água escorrendo do seu cabelo até o peito musculoso, com pelos aparados.
Ele estava de olhos arregalados e pareceu ficar nervoso ao entrar em meu
apartamento, segurando-me pelos ombros.
— O que aconteceu? Por que está chorando? Tem alguém aqui?
Pisquei com força para espantar as lágrimas, mas aquilo pareceu
piorar tudo. O choro que estava contendo abriu espaço em meu peito e me fez
soluçar, enquanto as lágrimas desciam em abundância, como não acontecia
desde que descobri a traição. Não era o mesmo sentimento da época que me
envolvia, era algo misturado a raiva e a impotência. Assustado, Levi me
puxou para o seu peito e eu o abracei com força, pouco me importando se
estava ficando molhada ao me agarrar nele.
— Bri, o que houve? Fala comigo.
— Ele estava aqui...
— Ele quem?
— Davi. Eu entrei e e-le... Ele estava aqui — solucei e senti Levi ficar
tenso.
— Davi? Seu ex-noivo? — Eu apenas assenti e Levi me afastou,
olhando-me com o cenho franzido. — Como o filho da puta conseguiu entrar
aqui?
— Ele ainda tinha a cópia da chave...
— Por que não chamou a polícia? Isso é muito sério, Briana.
— Eu ia chamar, mas consegui fazer com que ele saísse.
— Mesmo assim! Ele pode entrar aqui de novo.
— Não, ele deixou a cópia da chave.
— Mas pode ter feito uma outra cópia — disse ele, mantendo-me
firme pelos ombros. Não tinha pensado em nada daquilo e a possibilidade me
fez chorar mais, como uma histérica. Levi me puxou de novo para os seus
braços e beijou meus cabelos. — Vamos para minha casa, tudo bem? Você
vai passar essa noite lá e amanhã vamos na delegacia dar parte desse idiota.
Também vamos trocar a fechadura dessa porta.
— Não... Não precisa se preocu-cupar.
— Claro que eu me preocupo! Vamos.
— Não, Levi...
— Briana, olha para mim — ele pediu, tomando meu rosto banhado
em lágrimas em suas mãos. — Eu me importo e me preocupo com você. Não
vou te deixar aqui, sabendo que esse filho da puta pode entrar de madrugada
e tentar alguma coisa. Sei que está acostumada a fazer tudo sozinha, mas,
nesta noite, vai ter que lidar com a minha presença ao seu lado.
Senti minha respiração falhar e nem soube o porquê, talvez por conta
da sua voz tão máscula e decidida, aquelas mãos enormes em meu rosto ou a
seriedade em seus olhos verdes, que sempre eram tão tranquilos e sorridentes.
Sem conseguir falar nada, apenas concordei com a cabeça e Levi concordou
de volta, entendendo minha resposta. Sem que eu esperasse, ele se abaixou e
pegou Kiki com uma mão, passou um braço pelo meu ombro e me levou para
o apartamento ao lado, para que passasse a noite com ele de uma forma
completamente diferente da nossa primeira vez.
Ainda não acreditava que estava prestes a enviar uma mensagem no
grupo dos meus amigos para avisar que não precisavam esperar por mim,
pois não sairia com eles naquela noite. Não que eu fosse um boêmio de
primeira, mas gostava de sair com eles. Nem sempre isso significava que eu
sairia acompanhado por uma mulher, mas se acontecesse, eu aceitaria
sorrindo. Mal conseguia me lembrar da última vez que havia transado.
Encarei minha gaveta de cuecas aberta e me lembrei do que deveria
fazer. Ainda estava um pouco aéreo com tudo o que havia acontecido,
preocupado e puto da vida com o ex de Briana e sem saber ao certo como
lidar com o fato de que ela passaria aquela noite em meu apartamento. Logo
coloquei em minha cabeça que o meu papel ali era ser seu amigo e apoiá-la
da melhor maneira possível, pois era claro que estava nervosa e até mesmo
em choque com o que havia acontecido. Coloquei uma cueca boxer branca,
um short simples de academia e uma regata cinza. Devidamente vestido,
peguei meu celular em cima da cama e enviei uma mensagem no grupo do
WhatsApp.
“Não vou poder encontrar com vocês, bebês. Divirtam-se.”
Foi Henrique que enviou uma resposta no mesmo segundo:
“Como assim? Aconteceu alguma coisa?”
“Precisa ter acontecido, para ele querer furar justo na minha
noite de folga!”
Diego enviou a última mensagem e eu me senti um pouco mal por
furar com eles, mas não voltaria atrás em minha decisão.
“Aconteceu um negócio com a Briana e estou com ela em meu
apartamento.”
Gustavo logo enviou uma figurinha com um casal se beijando e eu
revirei os olhos.
“Foi isso que aconteceu ou está prestes a acontecer, não é, seu
safado?”
“Não, mas foi uma boa tentativa. Tem algo a ver com o ex dela, não
vou entrar em detalhes, é um assunto pessoal.”
“Com o ex? Porra, isso tá com cara de ser cilada, Levi.”
“Deixa de ser idiota, Henrique. Tudo bem, irmão, depois a gente
se fala melhor.”
Diego era ótimo em amenizar os ânimos e sabia que, ainda que eu não
contasse detalhes no grupo, para ele eu com certeza iria me abrir em algum
momento. Desejei novamente que se divertissem e enfiei o celular no bolso
antes de voltar para a sala, encontrando Briana no mesmo lugar, sentada no
sofá, com Kiki no colo. Antes que ela me visse, parei no corredor que levava
aos dois quartos do apartamento, e analisei sua postura. Não chorava mais,
mas estava claramente chateada e muito pensativa.
Eu não imaginava que seu ex fosse um perseguidor de merda e não
saberia dizer se Briana ainda gostava dele ou não. Foram anos juntos, precisei
me lembrar. Talvez ela ainda fosse apaixonada por ele, mas estivesse
machucada demais para pensar em perdoá-lo. Pensar naquilo trouxe um gosto
amargo a minha boca, que logo ignorei. Nunca tinha visto a cara do filho da
puta, mas já o odiava e tinha certeza de que não merecia nem um pingo do
amor daquela mulher.
— Está mais calma? — perguntei, anunciando minha presença e indo
me sentar ao seu lado. Kiki veio correndo para o meu colo e deu uma lambida
em minha mão, me arrancando um sorriso. — Estava consolando sua mãe?
Boa garota, Kiki.
— Ela é ótima nisso — Briana murmurou, forçando um sorriso ao me
olhar. — Estou mais calma sim e acho que posso voltar para casa.
— Quer ir para sua casa? Tudo bem — falei, vendo-a franzir o cenho.
— Tudo bem?
— Sim, tudo bem, só saiba que eu vou com você.
— Levi, você não precisa fazer isso...
— Talvez eu não precise, mas me preocupo com você e vou fazer.
— Eu não quero atrapalhar a sua noite.
— Eu não ia fazer nada hoje à noite, então, não está me atrapalhando.
Resolvi contar uma mentirinha boba, porque sabia que se Briana
imaginasse que eu havia cancelado um compromisso para ficar com ela, seria
capaz de correr de volta para o seu apartamento e me deixar trancado do lado
de fora. Seus olhos se desviaram dos meus até que, por fim, ouvi seu suspiro
e ela pareceu se dar por vencida.
— Está bem, vou ficar.
— Ótimo! Está com fome? Não sou um MasterChef, mas posso fazer
alguma coisa pra gente comer.
— Não, eu não quero te dar trabalho.
— Não será trabalho algum e você precisa se alimentar bem, a médica
disse. Aliás, como passou o dia?
— Meu dia foi ótimo, Davi foi quem estragou a minha noite.
— Vamos deixar esse merdinha de lado e focar no agora — pedi,
colocando Kiki no sofá e me levantando. — Quer tomar um banho? Pode
ficar à vontade, tem toalha limpa no banheiro.
— Pode ser, mas eu não tenho nenhuma roupa para trocar.
— Vamos até o seu apartamento e você pega tudo o que precisar.
Pude ver a indecisão brilhar de novo nos seus olhos, mas Briana logo
expulsou o sentimento e se levantou do sofá. Fomos juntos até o seu
apartamento e eu esperei na sala enquanto ela foi no quarto pegar suas coisas.
Com desgosto, encarei o buquê de rosas vermelhas em cima da sua mesinha
de centro e me lembrei do momento em que ouvi uma gritaria, enquanto
ainda estava debaixo do chuveiro. Por um momento, achei que poderia ter
sido algum filme que tinha começado a passar na TV da sala, que estava
ligada, mas quando girei o registro e a água cessou, ouvi uma porta sendo
batida com muita força e logo me lembrei de Briana. Não pensei em vestir
uma roupa nem nada do tipo, só me enrolei na primeira toalha que vi e saí
correndo para verificar se estava tudo bem.
Todos os dias, ao ligar a TV e colocar no telejornal, a gente se
deparava com notícias de mulheres sendo agredidas e até mesmo morrendo
nas mãos de um companheiro ou do ex. E, por mais que pensássemos que
algo assim jamais aconteceria com nossas amigas ou familiares, era preciso
ficar de olhos abertos e em constante vigilância. Sentia calafrio só de
imaginar Briana em uma situação do tipo, à mercê de um ex-noivo louco, que
poderia achar que ela era sua propriedade. Antes que o filho da puta pensasse
em tocar em um fio de seu cabelo, eu me meteria naquela história. Poderia
estar sendo radical, talvez ele fosse apenas um ex arrependido, mas não daria
a ele o benefício da dúvida. Convenceria Briana a procurar a polícia.
— Pronto, peguei tudo o que precisava — disse ela, carregando uma
muda de roupa e um nécessaire pequeno. — Já que levou Kiki, acho melhor
levarmos o potinho dela de água e comida.
— Só me mostrar onde fica.
Briana apontou para a cozinha e eu peguei os acessórios de Kiki,
voltando com ela para o meu apartamento. Indiquei o banheiro e deixei que
ficasse à vontade, enquanto ia para a cozinha e dava uma olhada na despensa.
Queria uma comida rápida, por isso, tirei os cubos de frangos já cortados da
geladeira, pimentões verdes e vermelhos e um pacote de legumes pré-cozidos
do congelador. Eu não tinha muita paciência para ficar na cozinha, mas
priorizava uma refeição balanceada, por isso, aqueles legumes que já vinham
pré-cozidos nunca faltavam na minha geladeira e salvavam a minha vida.
Comecei o preparo do frango xadrez enquanto, ao mesmo tempo,
colocava o arroz branco no fogo e decidi conectar meu celular ao sistema de
som do apartamento. Ana Carolina começou a cantar Um Edifício no Meio do
Mundo e acabei cantando baixinho enquanto cozinhava, acostumado àquela
rotina, mas consciente demais de que Briana estava bem ali, em outro
cômodo. Ana Carolina perguntava no início da música qual era o fio que nos
unia e nos separava e eu me peguei perguntando a mesma coisa. Qual era o
fio que me unia a Briana? Seria o bebê? Como o destino poderia fazer com
que nos reencontrássemos daquela forma? Eu jamais saberia o motivo e
entendia que havia coisas que simplesmente não tinham uma explicação.
Nosso caso era daquele tipo.
— Essa música é linda — Briana disse de repente e eu me virei para
encontrá-la em frente ao balcão da minha cozinha. Ao contrário do seu
apartamento, o meu era em conceito aberto e o balcão separava a cozinha e a
sala. — Ana Carolina sempre parece saber o que dizer nas suas músicas.
Precisa de ajuda?
— Não se preocupe e, sim, tenho que concordar. Minha mãe é
apaixonada por ela, acabei me tornando um grande fã também.
— Ou seja, vocês dois têm um ótimo gosto musical, mas sou suspeita
para falar, porque também adoro as músicas dela — disse no momento em
que Quem de Nós Dois começou a tocar. — Sua mãe mora por aqui?
— Não, ela mora em Macaé. Na verdade, eu nasci e cresci na cidade,
vim para o Rio quando comecei a cursar a faculdade. Minha mãe continua
morando lá e diz que não se vê morando por aqui.
— Imagino que deve ser difícil para ela querer deixar a tranquilidade
do interior para vir para a agitação da capital. Foi ela que te ensinou a
cozinhar bem assim? Porque essa comida está cheirando muito.
— Foi sim, ela e minha avó, na verdade. As duas sempre gostaram
muito de cozinhar e, quando tia Margarida ia nos visitar, eu vivia no paraíso.
Diego e eu nunca comemos tão bem na vida. — Acabei rindo ao me lembrar.
Tivemos uma boa infância e adolescência, apesar da minha relação com meu
pai.
— Agora que me lembrei, você disse que conhecia Diego desde a
infância.
— Sim, desde que éramos bebês, na verdade.
— Se você encontrar com Malu algum dia, ela vai dizer que é louco
por conviver durante tanto tempo com ele.
— E Diego vai dizer a mesma coisa sobre ela para você — falei,
dando uma checada no arroz, que já estava quase pronto.
— Foi ódio à primeira vista.
— Da parte da sua amiga, acho que sim. Diego só entrou na onda para
perturbá-la, mas não sei se a odeia de fato.
— Se ele não odeia, Malu vai fazer de tudo para isso acontecer —
disse ela com um sorriso que quase tirou o meu foco da comida que estava no
fogo.
Queria dizer que fiquei de olho naquela boca bonita apenas por estar
feliz por vê-la sorrir depois de tudo o que aconteceu, mas esse não era o
único motivo. Não quis perder muito tempo analisando os outros, mas Ana
Carolina parecia disposta a falar comigo naquela noite, pois logo me chamou
a atenção ao chegar no refrão da música.
E cada vez que eu fujo eu me aproximo mais
E te perder de vista assim, é ruim demais
E é por isso que atravesso o seu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro

Não é que eu queira reviver nenhum passado


Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na sua vida
Era isso que eu vinha fazendo, encontrando uma saída para não ficar
preso demais em Briana. Achei um meio termo naquela semana, em que me
mantinha presente, mas distante ao mesmo tempo, enviando mensagens e a
visitando rapidamente todas as noites. Sequer entrava em seu apartamento,
pois dizia a mim mesmo que não deveria me envolver demais, que o melhor a
ser feito, era me preocupar apenas com o bebê e com o seu bem-estar físico,
mas olha onde estávamos agora. De que adiantou fugir, se eu acabava
entrando sem querer em sua vida mais uma vez?
O que era aquele imã que parecia nos atrair? Desde que a vi naquela
boate, senti algo profundo se retorcer em meu peito, algo que logo pensei ser
uma atração física muito forte. Eu até queria investir no sentimento naquela
época, conhecê-la melhor, mas já conhecia de trás para frente a nossa história
e não reviveria tudo enquanto cozinhava, então, cheguei à conclusão óbvia de
que, mesmo podendo ser o pai daquele bebê, manter uma distância segura
entre nós dois era algo necessário, até porque, Briana não parecia disposta a
me conhecer melhor ou reviver o que aconteceu entre nós dois naquela noite.
Mesmo sabendo de tudo isso, por que me sentia tão ligado nela? Por
que ela invadia meus pensamentos? Ela e não apenas o bebê, que deveria ser
a única coisa entre nós dois, a minha prioridade. Que merda estava
acontecendo comigo e por que eu não conseguia parar aquilo?
— Hum, Levi, acho que tem alguma coisa queimando.
— Ah, merda!
Corri para apagar o fogo do arroz, me sentindo um idiota por estar de
frente para a panela e, mesmo assim, quase queimar a comida. Por sorte, só
havia pegado um pouquinho no fundo, o que não faria com que o sabor de
queimado se espalhasse.
— Sinto muito, me distraí.
— Percebi. Está tudo bem?
— Tudo ótimo e a comida está pronta — falei, desligando o fogo do
frango. — Está com fome?
— Com esse cheiro, não tem como não ficar faminta.
— Então, venha se servir e pode comer à vontade, não quero meu
filho passando fome.
Meu filho. As duas palavras escaparam da minha boca com tanta
facilidade, que só me dei conta do que havia dito, quando me calei. Briana,
que estava descendo do banco, parou e me encarou, tão paralisada quanto eu,
seus olhos ficando arregalados. Puta merda, era a primeira vez que eu dizia
aquilo de verdade, não como uma hipótese, mas afirmando que o bebê era
meu. Tinha como aquela noite ficar mais confusa?
— Droga. Desculpa, Briana — pedi, mesmo sem saber se pedir
desculpas era o adequado naquele momento.
— Tudo bem — ela murmurou e logo forçou um sorriso. — Acho que
você falou sem pensar.
Era isso que me preocupava, o fato de falar sem pensar. Preferi
apenas concordar e deixar todo aquele sentimento estranho preso dentro do
meu peito, enquanto pegava os pratos e talheres. Deixei que Briana se
servisse primeiro e fiz um esforço enorme para não ficar olhando para a
bunda perfeita que ela tinha, que estava coberta pelo short de um baby-doll
de algodão na cor azul-claro, fazendo conjunto com a blusa de alcinha que
usava. Era uma roupa comportada, mas isso não significava nada para a
minha mente pervertida, que ainda se lembrava em detalhes do seu corpo nu.
Aproveitei para me servir quando se afastou das panelas e me
obriguei a deixar a porra do tesão de lado, que fazia meu pau despertar dentro
da cueca. Estava ali para ser amigo de Briana, não seu amante, precisava
manter isso em mente. Com os pratos em mãos, fomos para a sala e eu voltei
para a cozinha só para pegar um copo de suco para nós dois. Preferi não
beber nada alcoólico naquela noite.
— Prove e me diga se está bom — pedi, sentando-me ao seu lado no
sofá.
Briana deu uma garfada generosa e o gemido que soltou não me
ajudou em nada a manter o discernimento e a decisão de não deixar o meu
pau endurecer. Precisei tomar um gole generoso do suco para ver se aplacava
um pouco aquele fogo que parecia aquecer minhas veias.
— Está uma delícia! Tem certeza de que você não é um MasterChef?
Acho que já pode se inscrever para o programa.
— Você ia torcer por mim?
— Com certeza, principalmente se você reproduzisse para mim cada
prato que faria para os chefs.
— Não sei se seria um acordo justo. Você só me daria em troca a sua
torcida? Mais nada?
— Também te daria um beijo na bochecha e um abraço de boa sorte.
Eu gargalhei, observando-a sorrir enquanto mastigava.
— Você já foi mais generosa comigo, Briana.
— Agora eu sou uma mulher grávida, preciso manter o respeito.
— Como possível pai do seu bebê, acho que você não precisa manter
o respeito comigo — falei, me dando conta de que eu era a porra de um
hipócrita. Queria manter o tesão longe, mas acabava dando um segundo
sentido a conversa.
— Por isso que você bateu na minha porta usando apenas uma toalha,
né. Eu deveria saber que foi tudo de caso pensado — falou e eu bufei e
revirei os olhos, fingindo frustração.
— Droga, pensei que não seria pego! Mas você gostou, pode falar.
Até chorou de emoção e depois me agarrou.
— Sim. Acho que chorar por esse motivo é menos vergonhoso do que
chorar por conta do que o meu ex fez.
O clima mudou de repente e eu me senti um pouco idiota por ter
citado o choro, apesar de ter sido completamente intencional. No entanto,
voltar a falar sobre o que havia acontecido me deu brechas para poder
perguntar o que estava entalado em minha garganta:
— Você vai à delegacia dar parte dele, não vai?
Pensei que Briana me falaria que não sabia ou que demonstraria
qualquer traço de dúvida, mas ela me surpreendeu ao dizer com certeza:
— Sim, eu vou. Meu pai é advogado e tem um amigo que é delegado,
ele vai saber me orientar e, com certeza, vai querer cuidar do meu caso
pessoalmente.
— Isso é muito bom, Briana. Infelizmente, vivemos em um país em
que ter conhecimento acaba sendo de grande ajuda.
— Eu sei. Meu pai queria que eu tivesse procurado esse seu amigo
antes, mas eu recusei, porque Davi parou de me ligar e ir atrás de mim na
confeitaria, mas depois de hoje, acho que não posso seguir em frente sem
procurar a ajuda da polícia. O que você me falou acabou acionando um alerta
em minha cabeça, ele realmente pode ter outra cópia da chave do meu
apartamento e eu odiaria viver insegura.
— Por isso que vamos trocar a fechadura amanhã, nem que
precisemos pagar mais caro por ser domingo — falei e não entendi por que
ela acabou sorrindo. — O que foi?
— O seu jeito de se incluir me deixa muito surpresa.
Eu arregalei os olhos, me dando conta de que realmente estava
fazendo aquilo, me incluindo, entrando na sua vida mais uma vez.
— Não é intencional. Me desculpe se estou sendo invasivo, Briana.
— Não, é o contrário. Você está sendo incrível, Levi. Eu sei que a
nossa situação é muito estranha, mas eu adoraria ser sua amiga. Amiga de
verdade, entende? Acima de toda essa história com o bebê.
Eu entendi o que ela quis dizer e percebi que também queria ser seu
amigo, participar mais da sua vida, cuidar dela. Éramos vizinhos e eu poderia
ser o pai da criança que estava sendo gerada em seu ventre. Talvez, estivesse
na hora de parar de manter toda aquela distância e me aproximar um pouco
mais.
— Seremos amigos, Bri — falei, pegando meu copo de suco. — Um
brinde à nossa amizade. — Ofereci e Briana riu ao pegar o seu copo,
encostando-o no meu.
— Que decadência brindar com suco — brincou antes de tomar um
gole.
— É o que a sua atual situação nos permite, mas não fique triste,
vamos brindar com champanhe assim que a médica te liberar.
— Eu vou cobrar essa promessa.
— Pode cobrar, eu sempre cumpro minhas promessas — falei, lhe
dando uma piscadinha com o olho esquerdo e vendo aquele sorriso lindo em
seus lábios de novo.
Depois do brinde, começamos a conversar sobre banalidades e acabei
entrando no assunto da sua confeitaria. Havia procurado alguma página sobre
a loja nas redes sociais e acabei achando um perfil no Instagram com
pouquíssimas postagens, o que me fez pensar se Briana levava a sério a
questão do marketing e qual era a estratégia que usava para fazer com que sua
marca ficasse cada vez mais conhecida. Ela pareceu ficar em dúvida com o
que perguntei e eu resolvi simplificar:
— O que você faz para atrair novos clientes? Deixa que seus clientes
antigos te indiquem ou trabalha de alguma forma para divulgar a sua marca
sem ser a partir do “boca-boca”?
— Hum... Realmente, acho que é o boca-boca que me traz novos
clientes, além de a minha confeitaria ser em um ponto excelente, perto do
shopping.
— Talvez esteja na hora de você expandir isso, não? Investir no seu
perfil do Instagram, cadastrar sua loja em app de delivery.
— Eu cheguei a pensar nisso, mas tenho que dar conta de tanta coisa,
que acabo deixando de lado essa parte, mesmo sabendo que é muito
importante. Por exemplo, estou estudando a possibilidade de expandir o meu
cardápio e acrescentar doces que pessoas diabéticas possam comer. Tudo isso
demanda muito do meu tempo e eu não posso me dar ao luxo de contratar um
profissional para cuidar da parte do marketing agora.
— Bom, da última vez que chequei, eu era um profissional de
Publicidade e Propaganda e seu amigo. Isso significa, que eu posso te ajudar.
Os olhos dela se arregalaram e eu sorri ao ver a sua surpresa.
— Não, Levi, eu não posso aceitar. Você é uma pessoa muito
ocupada, não quero que gaste seu tempo com isso.
— Não vou gastar o meu tempo ao ajudar uma amiga. Quero que seu
negócio cresça ainda mais, Briana.
— Eu também quero, mas não abusando de você.
— Não estará abusando de mim.
— Não estarei abusando se eu puder te pagar, então, é isso que farei.
Vou te pagar.
— Sim, pode me pagar. Com doces — falei e ela revirou os olhos.
— Estou falando sério, Levi.
— Eu também estou — afirmei, colocando meu prato sobre a mesinha
de centro e fazendo o mesmo com o dela, que já estava vazio. Tomando suas
mãos nas minhas, continuei: — Briana, eu realmente quero te ajudar. Fui até
a sua confeitaria, vi o potencial que você tem nas mãos, me deixe te ajudar a
expandir isso.
Ela mordeu o lábio inferior, parecendo muito indecisa. Seu lado
business woman[3] com certeza queria tomar a frente e bancar cada detalhe,
mas nem tudo era sobre dinheiro. Eu amava o que fazia e ajudá-la seria um
prazer.
— Está bem, mas vou arrumar um jeito de te retribuir.
— Pode começar com aquele beijo na bochecha que você citou mais
cedo.
Briana riu e se aproximou de mim, realmente me dando um beijo
demorado na bochecha, o que despertou o meu desejo. Porra, eu queria mais.
Queria pegar o seu cabelo perto da nuca e dar um beijo em sua boca, matar a
saudade que me consumia e que eu enterrava no mais fundo do meu ser, mas
me contive, porque agora eu era seu amigo.
— Obrigada, Levi. Por tudo.
— Não precisa agradecer.
Levi e eu passamos o resto da noite traçando uma estratégia de
marketing para a minha confeitaria. Sentados de frente para a sua mesinha de
centro, depois de eu ter lavado a louça — precisei insistir para fazer pelo
menos aquilo, porque o homem queria me tratar como se eu fosse a rainha da
Inglaterra e não queria me permitir fazer nada — ele pegou o seu notebook e
pediu para que eu entrasse na conta do Instagram da minha loja.
Confesso que demorei um pouco para me lembrar da senha, mas logo
consegui entrar, ficando envergonhada ao ver que tinha apenas vinte posts no
perfil e com datas espaçadas entre um e outro. A confeitaria tinha pouco mais
de quinhentos seguidores e Levi disse que tinha muito potencial para crescer,
eu só precisava investir em boas fotografias dos produtos e manter uma
constância nas postagens.
— Não sei se sou boa em tirar fotos. Será que com o celular fica
profissional? — questionei.
— Com certeza, hoje em dia as câmeras de celular têm ótimos
recursos, mas não se preocupe com isso, eu posso ser o seu diretor de
fotografia.
— Publicitário, ótimo chef e ainda sabe tirar fotos? Quais são os seus
outros atributos, Levi Mancini?
— Também sou bom de cama, mas isso você já sabe. — Piscou para
mim, me deixando sem reação. Sua risada ecoou pela sala. — Foi só uma
brincadeira para descontrair, Bri. Nosso papo estava muito sério.
Meu choque passou assim que vi o sorriso sensual que ele tinha e
relaxei um pouco mais, resolvendo entrar um pouco na “brincadeira”.
— O pior é que você não mentiu.
— Não? — Arqueou uma sobrancelha, me fazendo constatar que ele
não ficava feio nunca.
— Não, você é mesmo bom de cama, mas não vou ficar amaciando o
seu ego.
— Há quem diga que o sexo só é bom, quando as duas ou mais partes
sabem o que estão fazendo. Por isso que deu tão certo entre nós dois naquela
noite.
— Por que não coloca logo em palavras que eu sou incrível na cama?
— perguntei, batendo cílios para ele.
— Você é perfeita na cama, Briana — disse com aquela voz rouca
que eu conheci na nossa primeira noite. Senti meus mamilos ficarem
arrepiados e fiquei com medo de que despontassem sob a blusa do meu
pijama. — Cada detalhe daquela noite está gravado na minha memória.
O clima entre nós dois era instável, sempre brando e, de repente,
quente demais, o que me assustava um pouco. Sexo casual nunca fez parte da
minha vida, afinal, passei os últimos oito anos com o mesmo cara, então, eu
não sabia direito como lidar com aquela tensão entre mim e Levi. Parecíamos
um fio desencapado, quase dando choque enquanto encarávamos um ao
outro. Eu mordi o lábio, sem saber ao certo o que dizer, com medo de acabar
partindo para cima de Levi e estragar a amizade que estávamos construindo,
por isso, me obriguei a sorrir e voltei a encarar a tela do seu computador.
— Podemos continuar amanhã? Estou morrendo de sono.
— Continuar o quê? A conversa profissional ou a conversa sobre o
sexo? — Ele abriu um sorriso de menino que deixou bem claro que, daquela
vez, estava realmente apenas brincando, o que me fez rir.
— Estou começando a achar que você não vale nada, Levi.
— Que absurdo! Estou aqui, querendo te ajudar, e você está me
insultando? Isso me magoa, Briana.
— Acho que você é um ótimo ator, também.
— Ou seja, mais uma das minhas inúmeras qualidades — disse ao se
levantar depois de fechar o notebook. Ele me estendeu a mão. — Vem
comigo, vou te levar para o meu quarto.
— Não, nada disso! Eu durmo aqui no sofá.
— Com certeza eu vou te deixar dormir no sofá — ironizou.
— Se for por causa da gravidez, preciso usar a famosa frase de que
gravidez não é doença.
— Não é por causa da gravidez, é porque minha mãe me criou para
ser um cavalheiro. Vamos.
Vi que não o venceria mais uma vez e decidi aceitar sua gentileza.
Coloquei minha mão sobre a dele fomos juntos até o seu quarto, que era bem
amplo, assim como o meu, com uma cama enorme e arrumada com um
edredom azul-escuro, mesinhas de cabeceira marrom e paredes pintadas de
branco. Ele começou a desforrar a cama e eu o ajudei, resolvendo perguntar:
— Onde você vai dormir? Se disser que será no sofá, eu pego as
minhas coisas agora e volto para minha casa.
— Eu realmente pensei em dormir no sofá. Prefere que eu durma aqui
no chão?
— No chão? Levi, pelo amor de Deus, olha o tamanho dessa cama!
Você vai dormir ao meu lado!
Vi que ficou surpreso, mas não mudei a minha decisão. Eu estava na
casa dele dando o maior trabalho, jamais o tiraria da sua própria cama.
— Tem certeza de que não se importa?
— Somos pessoas adultas, Levi. E não é como se já não tivéssemos
dormido na mesma cama.
— Verdade, mas foi em uma ocasião diferente.
— Realmente, mas eu não me importo de dividir a cama com você de
novo. A não ser que você não queira.
Talvez Levi fosse aquele tipo de homem que só dormia com quem
transava, que não gostava de compartilhar momentos íntimos sem que o sexo
estivesse envolvido. Se ele fosse, eu ficaria um pouco decepcionada, pois já
estava pintando-o com uma personalidade diferente em minha cabeça. Eu
deveria saber que não estava errada.
— Claro que não me importo de dividir a cama com você. Deite-se,
vou pegar mais travesseiros.
— Só preciso escovar os dentes antes.
Dei uma corridinha até o banheiro e comecei a fazer a minha higiene
bucal pensando em como aquela noite havia sido recheada de surpresas.
Quando imaginei que a encerraria no apartamento de Levi, dormindo com ele
em sua cama? Malu iria surtar quando eu contasse e Miriam com certeza me
daria um tapa por eu não ter transado com ele — talvez Malu se juntasse a ela
nesse momento. Guardei minha escova de dentes dentro do nécessaire e
voltei para o quarto, encontrando a porta do banheiro de Levi aberta. Sentei-
me na ponta da cama, que já estava arrumada para nós dois, e esperei por ele,
que saiu minutos depois usando a mesma regata, mas com um short de
pijama azul.
Levi ligou o ar-condicionado e nos deitamos juntos, com uma
distância considerável entre os nossos corpos. Eu me virei de lado e o
encontrei com os olhos em cima de mim e um leve sorriso, que o deixava
ainda mais bonito do que já era.
— Sei que já agradeci, mas quero agradecer de novo, Levi. Obrigada
por ter sido tão gentil comigo.
— Já falei que não precisa agradecer. Eu gosto de você, Briana.
— Eu também gosto muito de você e me arrependo por ter fugido na
nossa primeira noite. Ainda bem que nossos caminhos se cruzaram de novo.
— Ainda bem, ou você perderia a grande oportunidade de conhecer
esse cara incrível — brincou, apontando para si mesmo enquanto ria.
— Acho que já te elogiei demais, Levi, chega de contribuir para o
aumento do seu ego.
— Tudo bem, eu aceito — disse ele, me surpreendendo ao encurtar a
nossa distância. Por um momento, achei que iria me beijar na boca e meu
coração acelerou no peito como se eu estivesse correndo uma maratona, mas
Levi se inclinou e deixou um beijo em minha bochecha. — Vai descansar.
Boa noite, Bri.
— Boa noite, Levi — sussurrei, olhando em seus incríveis olhos
verdes, antes de ele se distanciar e apagar a luz do abajur.
O quarto foi invadido pela penumbra e eu fechei os olhos, respirando
fundo e tentando acalmar as batidas frenéticas do meu coração. Pensei que
ele iria me beijar! E se beijasse, o que eu faria? Retribuiria? Deixaria que ele
fosse além do beijo? Não sabia, mas, no fundo, essas não eram as perguntas
que me assustavam. Havia uma mais impactante, para a qual eu não queria
nem pensar na resposta.
Eu queria que Levi tivesse me beijado?
Confusa com tudo o que havia acontecido naquela noite, decidi parar
de pensar e tentar dormir.

Acordei de repente, com o barulho de vozes invadindo meus ouvidos.


Ainda sonolenta, demorei um pouco para me situar e me sentei sobre a cama,
percebendo que estava em um quarto que não era meu, coberta com um
edredom que não conhecia. Por um milésimo de segundo, fiquei com medo
de ter sido drogada ou sequestrada, mas, então, memórias da noite anterior
me invadiram com tudo e consegui respirar com alívio, lembrando-me de que
estava no apartamento de Levi e que havíamos dormido juntos.
Uma olhada ao meu lado me fez perceber que ele já havia levantado e
que eu estava sozinha. O relógio digital ao lado da sua cabeceira marcava dez
e vinte e oito da manhã. Não imaginei que conseguiria dormir tanto em um
lugar estranho, mas a presença de Levi me passava uma confiança que eu
preferia não analisar naquele momento. Com preguiça, sentei-me na beirada
da cama, apertada para fazer xixi, e me perguntei se Levi se importaria se eu
usasse o banheiro do seu quarto. Onde ele estava, afinal? Curiosa, me
levantei quando ouvi vozes de novo, notando que a conversa vinha da sala.
— Como assim você não está sozinho? Não disse que tinha
acontecido alguma coisa com Briana? — Aquela voz não era estranha aos
meus ouvidos e logo me lembrei de quem era o seu dono. Diego, o melhor
amigo de Levi. Ele pareceu ter um estalo e acrescentou: — É ela que está
aqui?
— Sim.
— Seu filho da mãe! Por isso que não quis sair com a gente!
Transaram de novo?
— Não! E fala baixo, ela está dormindo, idiota!
Então Levi ia sair ontem à noite e cancelou tudo por minha causa?
Saber daquilo me deixou momentaneamente sem reação, mas logo fui
invadida por uma espécie de culpa e, se fosse sincera comigo mesma, ciúme,
o que era algo totalmente inapropriado. Não queria ter atrapalhado sua noite
com os meus problemas.
— Se não transaram, por que ela dormiu aqui?
— Porque não é necessário transar para se dormir com alguém.
— Para mim, é necessário sim.
— Porque você é um babaca — Levi disse, mas pude ouvir o tom de
riso em sua voz.
— É que eu acho tudo isso um pouco esquisito, sabe? Vocês já
passaram a noite juntos, ela pode estar grávida de um filho seu, transar de
novo seria algo natural.
— Para você, talvez, que não tem problemas de adulto para resolver.
— Acha que me engana, Levi? Sei que deve estar louco para trepar
com ela de novo.
Sim, eu sabia que era errado ouvir a conversa dos outros, mas não
consegui sair de perto da porta naquele momento, desesperada pela resposta
de Levi. Contei os segundos para ouvir a sua voz, mas soltei um suspiro
frustrado quando ouvi o barulho de um celular tocando e Levi atendendo-o
em seguida. Aproveitei aquele momento para correr até o seu banheiro e me
aliviar, escovar os dentes, lavar o rosto e checar se eu estava apresentável
para aparecer na frente do seu amigo. Meu pijama era comportado, por isso,
não me importei em vestir a roupa do dia anterior. Ainda ouvindo Levi em
ligação, saí do quarto e dei de cara com Diego sentado em seu sofá, mexendo
no celular. Ele ergueu os olhos assim que me viu.
— Olá, Briana! Bom dia.
— Bom dia. Que bom rever você.
— Ufa! É bom saber que a gatinha arisca não conseguiu fazer a minha
caveira para você, mas posso apostar que ela tentou.
— Gatinha arisca? Essa, por um acaso, seria a Malu? — perguntei
enquanto ria, vendo Levi observar a nossa interação, ainda com o celular
encostado à orelha.
— Não me diga que você tem outra amiga como ela? Se tiver, eu vou
romper agora a minha amizade com Levi. Minha lealdade vai até certo ponto.
— Não sei se ela vai gostar desse apelido.
— Bri... Posso te chamar assim, não é?
— Não, só eu posso chamá-la assim — Levi respondeu por mim,
aproximando-se e me dando um beijo na bochecha. — Bom dia, meu bem.
Meu estômago se retorceu, mas não foi de enjoo matinal e, sim, por
causa daquele friozinho que só Levi conseguia despertar em meu interior.
Sorri para ele, querendo, de repente, retribuir o beijo, mas me sentindo um
pouco sem graça na frente de Diego, principalmente por ter ouvido a
conversa dos dois. Seu melhor amigo bufou.
— Cara, não seja possessivo. Agora você é dono de apelidos, por
acaso?
— Desse, sim. Bri, não dá papo para esse babaca.
— Eu saí da minha casa em um domingo de manhã para poder te
visitar, trouxe pão para o café, e é assim que você me trata? Obrigado, Levi!
Eu ri e me intrometi, tendo que puxar sardinha para o lado de Diego.
— Ele foi gentil, Levi — murmurei e seu olhar chocado – e fingido –
se encontrou com o meu.
— Vai ficar do lado dele?
— Claro que sim, ela sabe que eu sou mais bonito, sensual e
inteligente. Sem contar que a minha caipirinha é a melhor do mundo.
— Isso é verdade. — Precisei concordar.
— É porque você não provou a minha, que dá de mil a zero na dele —
Levi disse, cruzando os braços.
— Ele só está falando isso, porque sabe que você não pode provar o
drinque nesse momento.
— Mas quando eu puder, vou fazer questão de provar. Pode ser na
noite em que brindaremos com o champanhe — falei e Levi me estendeu a
mão.
— Fechado. Se você ficar bêbada, eu cuido da sua ressaca.
— E quem vai cuidar da sua?
— Eu vou beber menos do que você, assim, posso cuidar do bebê de
madrugada — disse e eu mal tive tempo de sentir o choque pelas suas
palavras, pois Diego logo perguntou:
— O que é a noite do champanhe?
Deixei que Levi explicasse, pois me senti um pouco atordoada de
repente, principalmente por ele não ter parecido perceber o que havia acabado
de falar. Ontem à noite, ele caiu em si assim que chamou o bebê de “meu
filho”, mas, agora, não parecia ter se dado conta de ter incluído o neném na
conversa de novo. Não queria ser paranoica nem me sentir insegura, mas o
fato de Levi parecer pensar com frequência no bebê como sendo seu, me
deixava com medo de como seria a sua reação caso o teste de paternidade
desse negativo.
— Vou passar um café — Levi anunciou, tirando-me dos meus
pensamentos. — O que você costuma comer de manhã, Bri?
— Depende se estou enjoada ou não. Hoje, eu estou bem, então, não
tenho predileção.
— Ou seja, ela vai comer o pão que eu trouxe. Pode falar que eu
salvei o café da manhã — Diego disse, levantando-se do sofá.
— Você me surpreendeu, na verdade, por ter aparecido aqui em uma
manhã de domingo.
— A noite não foi muito boa e eu voltei mais cedo para casa. Acho
que não estava no clima para beber e os meninos logo se arranjaram, preferi
não estender a noite, por isso, vim fazer uma visita matinal ao meu melhor
amigo.
— Foi bom você ter vindo. Preciso do contato daquele seu colega que
é chaveiro, Briana precisa trocar a fechadura do apartamento dela — Levi
disse, caminhando até a cozinha.
Diego e eu fomos logo atrás dele e pude sentir seus olhos sobre mim.
— Quebrou a chave na fechadura?
— Não, preciso trocar por questão de segurança mesmo. — Como
Diego era melhor amigo de Levi, não vi problema em falar a verdade. —
Meu ex-noivo mantinha a cópia da chave e ontem apareceu em meu
apartamento enquanto eu não estava. Por mais que eu tenha pegado a cópia
de volta, Levi me alertou sobre as chances de ele poder ter outra, então,
resolvi trocar a fechadura completamente.
Foi a primeira vez que vi o Diego assumir uma expressão séria e
preocupada, o que me lembrou um pouco de Levi e me mostrou como os dois
tinham personalidades parecidas, apesar de ele ser mais brincalhão. Quando o
assunto exigia, ele mudava de postura.
— Agora eu entendi o motivo para você ter dormido aqui. Faz muito
bem em trocar a fechadura, Briana. Vou ligar para Pedro e pedir para que ele
venha aqui, tenho certeza de que não vai recusar.
Diego se afastou para fazer a ligação depois que eu agradeci e resolvi
dar a volta no balcão para poder ajudar Levi, que tinha acabado de ligar a
cafeteira.
— Eu gosto de Diego — falei e ele me olhou de lado.
— Gosta, é?
— Sim. Vou fazer com que Malu goste dele também. Será horrível
ver os dois brigando a cada vez que se encontrarem.
— Eu acho que vai ser divertido. — Levi riu e eu dei um tapinha em
seu ombro, ouvindo-o começar a gargalhar.
— Você é terrível!
— Claro que não, eu gosto de ser entretido, ver os dois trocando
farpas vai ser maravilhoso, você precisa admitir.
— Talvez — falei, sem querer dar o braço a torcer, apesar de perceber
que ele tinha mesmo razão. — Eu ouvi sem querer uma parte da conversa de
vocês dois. Não acredito que deixou de sair com seus amigos para poder ficar
comigo, Levi.
Ele parou de rir e apoiou as duas mãos na bancada de granito da pia,
bem ao meu lado. Não resisti e acabei descendo meus olhos pelos seus braços
fortes, com os músculos ainda mais em evidência por estarem tensionados.
Quis passar meus dedos ali, minhas unhas, meus lábios... Senti-me uma
tarada ao perceber como o desejava.
— Sim, eu deixei.
— Por que não me contou?
— Porque eu sabia que, se contasse, você daria um jeito de fugir de
mim. — Ele aproximou um pouco o rosto do meu e pude sentir o hálito
mentolado da pasta de dente bater em meu nariz. — De novo — acrescentou.
— Eu não fugiria — sussurrei e ele arqueou uma sobrancelha.
— Não?
— Não, apenas pediria para que você seguisse com os seus planos e
voltaria para minha casa.
— Soa como fugir para mim — murmurou, sexy demais com aquela
expressão condescendente. — Posso ser sincero, Bri?
— Claro.
— Eu gostei muito mais de ter passado essa noite com você.
Não queria que meu corpo reagisse àquela conversa, mas meu coração
inútil se acelerou e minha pele ficou toda arrepiada. Tentando ser racional, eu
forcei uma risada e balancei a cabeça.
— Não precisa mentir para mim. Você ia se divertir muito mais se
tivesse saído para beber com os seus amigos ou se tivesse passado a noite
com alguma garota, do que servir de segurança particular para uma mulher
grávida que pode estar sendo perseguida pelo ex.
— Quem disse que eu não passei a noite com uma garota? —
perguntou e eu me senti tocada pelo seu olhar, que desceu lentamente pelo
meu corpo.
— Você sabe o que eu quis dizer — murmurei, querendo me afastar e,
ao mesmo tempo, me grudar em seu corpo.
— Sim, eu sei, mas isso não muda o fato de que passamos a noite
juntos e de que eu não me arrependo de não ter saído com os meus amigos
para servir de segurança particular para você. Sou um homem adulto, Bri,
posso arcar com as decisões que tomo e lidar com elas.
— Eu sei — confirmei, erguendo o rosto para poder encontrar os seus
olhos. — Eu gostei que você tenha passado a noite comigo.
Confidenciar aquilo me fez sentir nua, completamente exposta, algo
que me deixou desconfortável. Confiar em alguém, me abrir, parecia ser tão
difícil depois de tudo o que havia acontecido em meu último relacionamento,
mas Levi era aquele tipo de pessoa que simplesmente invadia a sua vida sem
pedir licença, não com brutalidade, mas com gentileza, o que tornava a minha
situação ainda mais difícil. Como me manter distante de um homem como
ele? Parecia impossível.
— Essa é mais uma prova de que eu tomei a decisão certa — disse ele
com um sorriso antes de deixar um novo beijo em minha bochecha. — Vou
terminar de preparar o café.
Levi se afastou e Diego voltou para a cozinha confirmando que o
chaveiro chegaria dali a uma hora. Eu agradeci e resolvi ser útil, ajudando a
arrumar a bancada para o café da manhã e tentando ignorar a sensação de
estar sendo tocada de dentro para fora pelo possível pai do meu bebê.
Diego e eu acompanhamos todo o processo da troca de fechadura ao
lado de Briana no final daquela manhã. Pedro, o chaveiro, tinha quarenta
anos e gostava muito de conversar, o que não foi um problema para nós três.
Rapidamente, aquela questão foi resolvida e eu senti um peso sair dos meus
ombros, finalmente podendo respirar aliviado ao ter a certeza de que Briana
estava segura. Na hora do pagamento, eu fiz questão de ajudar com metade
do valor, mas claro que a supermulher que morava ao meu lado, toda linda e
independente, quase me deu um tapa ao negar e fez questão de pagar tudo
sozinha, recusando a minha ajuda e alegando que eu já tinha feito demais por
ela.
Eu achava que tinha feito o mínimo que um homem decente deveria
fazer. Ainda que não houvesse o bebê entre nós dois e eu fosse apenas um
vizinho qualquer, faria questão de manter Briana segura de um possível ex-
noivo maluco. Com o serviço finalizado, Pedro se despediu de nós três e foi
embora, entrando no elevador ao mesmo tempo em que Rose saía com
algumas bolsas de mercado. Ela nos encontrou no corredor e franziu o cenho,
sem entender toda aquela comoção.
— Bom dia, queridos. Aconteceu alguma coisa?
— Sim. Eu já te explico tudo, só vou me despedir de Levi.
— Meu Deus, não gostei do tom da sua voz. Vou deixar essas bolsas
em casa e já volto.
Rose saiu em disparada para o seu apartamento e Briana se virou para
mim. Vi quando Diego se afastou discretamente, tendo o bom senso de nos
dar um pouco de privacidade, e me surpreendi quando Briana me abraçou
bem firme pela cintura, encostando o rosto em meu peito. Fiquei por um
milésimo de segundo sem reação, antes de abraçá-la de volta. Ter seu corpo
contra o meu me enchia de vontade de ter, também, a sua boca contra a
minha. Queria muito beijá-la naquele exato momento.
— Sei que estou ficando repetitiva, mas, obrigada, Levi.
— De nada. — Dei um beijo em sua cabeça sobre os cabelos presos e
consegui ouvir seu suspiro baixinho. — Assim que conversar com o seu pai
me avise, ok? Quero estar a par de tudo.
— Vou ligar e pedir para que ele e minha mãe venham aqui mais
tarde. Se quiser me fazer companhia, será muito bem-vindo.
— Me mande uma mensagem quando eles chegarem e eu estarei aqui.
Briana afrouxou o aperto em minha cintura e se afastou, dando um
pequeno passo para trás. Senti a sua falta imediatamente e logo me recriminei
por isso, notando que eu estava parecendo um menininho que se apegava
rápido demais. Como se quisesse jogar a última pá de cal sobre o meu
desespero, ela se inclinou e me deu um beijo no rosto, inocente, mas eu senti
como se quisesse me fazer pagar por toda a provocação que eu causei a cada
beijo que dei em sua bochecha desde que pisou em meu apartamento.
— Nos vemos mais tarde. Tchau, Diego, obrigada pela ajuda.
— Não foi nada, Briana. Espero que fique tudo bem.
Briana concordou com a cabeça e aproveitou o retorno de Rose para
dar um último aceno e entrar em seu apartamento, trancando a porta com a
nova chave que Pedro lhe entregou antes de ir embora. Eu ainda fiquei alguns
segundos ali, encarando a sua porta e querendo mais da sua companhia, até
me dar conta de que eu tinha um amigo muito esperto parado na entrada do
meu apartamento e observando cada respiração minha. Disfarçando, me virei
e passei por ele como se tudo o que havia acabado de acontecer fizesse parte
da minha rotina. Diego fechou a porta e eu me joguei no sofá, vendo seu
olhar especulativo sobre mim.
— Você tá de quatro por ela.
Vi o momento em que cruzou os braços e arqueou as duas
sobrancelhas, como se me desafiasse a negar. Bom, eu não fugia de nenhum
desafio.
— Só por que a ajudei ontem à noite?
— Não, eu também faria o que você fez por uma amiga, até mesmo
por uma vizinha, mas não a olharia como se fosse a porra da deusa do
Olimpo ou algo assim.
— Briana é uma mulher bonita, você não é cego.
— Não sou mesmo, cara. — Diego se aproximou, sentando-se na
extremidade do meu sofá. — Bri é uma mulher linda pra caralho e, não sei se
é verdade aquele lance sobre a gravidez deixar a mulher com um brilho
diferente, mas, para mim, ela parece mais gostosa do que da última vez que a
vi.
— Tá de sacanagem com a minha cara, Diego? — perguntei,
levantando-me do sofá, sem acreditar que tinha acabado de ouvir aquela
merda saindo da sua boca. — Desde quando você se tornou um amigo fura-
olho, porra?
— Fura-olho? Eu seria fura-olho se vocês estivessem juntos.
— Mas nós já ficamos juntos! Para de olhar para Briana desse jeito,
entendeu? Ou vai arranjar um problema muito sério comigo!
Só percebi que estava apontando um dedo em sua direção quando
seus olhos deixaram os meus e encararam meu indicador erguido. Não
entendia muito bem de onde estava vindo toda aquela indignação que sentia,
mas não recuei ou retirei qualquer palavra do que disse. Para o meu espanto,
o babaca começou a abrir um sorriso.
— Qual é a graça?
— Você. — Apontou para mim, rindo. — E o seu ciúme.
Eu abri e fechei a boca duas vezes, querendo me defender, mas não
encontrando qualquer argumento para usar ao meu favor. Só então eu entendi
o que o filho da mãe havia acabado de fazer. Elogiou Briana daquele jeito
apenas para me provocar.
— Você é um idiota, sabia? Um idiota completo! — falei, jogando-
me no sofá e soltando a respiração que estava prendendo. Ainda sentia raiva
de tudo o que ele havia falado sobre Briana, mesmo, racionalmente, sabendo
que estava apenas querendo mexer comigo.
— Você é muito emocionado mesmo, Levi. Não acredito que está se
envolvendo desse jeito.
— Não estou me envolvendo. Somos apenas amigos. Podemos mudar
de assunto?
— Não, não podemos — disse o babaca que eu considerava como um
irmão, sentando-se mais perto de mim. — Acha mesmo que é uma boa ideia
se apaixonar por Briana? Sei que existe a possibilidade do filho ser seu e
blábláblá, mas ela acabou de sair de um relacionamento de anos, o ex filho
da puta está rondando como se fosse um cachorro esfomeado e ela está
prestes a se tornar mãe. Ao meu ver, se envolver com ela é uma cilada.
— Eu não estou me apaixonando.
— Mas gosta dela — afirmou e eu não consegui negar. Diego soltou
um suspiro. — Irmão, tenta ser mais racional, por favor.
— Eu sou racional, Diego, só que Briana me atrai de um jeito que não
sei explicar. Nunca senti isso por mulher alguma.
— Mais um motivo para você se afastar.
— Por quê?
— Porque eu não acho que Briana queira um relacionamento agora.
Uma pessoa que foi traída como ela foi só quer distância de qualquer coisa
que possa machucá-la de novo.
— Mas eu não sou como o filho da puta do ex dela. Se um dia nós nos
envolvermos assim, ela vai saber disso.
— Claro que você não é, Levi, e sei que já deve ter dado inúmeras
provas de como é um cara legal...
— Legal? Você pode me fazer um elogio melhor.
— Hum... Bacana?
— Se esforce mais, Diego.
O babaca riu e eu acabei gargalhando junto, sentindo a tensão no
ambiente se dissipar aos poucos.
— Você é foda, irmão. Essa é a verdade, por isso que estou falando
tudo isso, de nós dois, você sempre foi o mais sentimental, não quero ter que
ficar ouvindo a sua dor de cotovelo depois que Briana te der um fora.
— Você tem muita certeza de que ela vai me dar um fora. Talvez ela
também esteja gostando de mim. — Dei de ombros, como se não me
importasse.
— Ela pode estar gostando, eu não duvido disso, Levi, mas talvez ela
possa se fechar e acabar machucando o meu irmãozinho. — O idiota
bagunçou meu cabelo, me fazendo rir e xingar.
— Quer saber de uma coisa? Não quero pensar nisso agora. Vamos
deixar o tempo rolar e ver o que vai acontecer, talvez o meu interesse por ela
diminua com a nossa convivência.
— Sim, e, talvez, o Papai Noel te dê uma Ferrari de presente de Natal,
afinal, tudo é possível, não é mesmo? — debochou e acabou reclamando
quando dei um tapa na parte de trás da sua cabeça. — Filho da puta, isso dói!
— Foi só para fazer você calar a boca. E não xingue a minha mãe.
— Por falar na sua mãe... Ela já sabe sobre o bebê? — Eu apenas
balancei a cabeça em negativa e Diego soltou um assobio. — Ela vai te matar
por você ter demorado tanto a contar.
— Estou enrolando, porque sei que minha mãe vai fazer Raul trazê-la
para cá no dia seguinte à ligação, trazendo um monte de presentes para o
bebê e já o chamando de neto. Ela vai ignorar completamente a possibilidade
de a criança não ser minha.
— Tal mãe tal filho, não é o que dizem?
— Eu não ignoro a probabilidade de a criança não ser minha, Diego.
— Mas gosta de pensar nela como se fosse sua — constatou e nem
consegui negar.
Precisava ser sincero, eu gostava da ideia de ser o pai daquele bebê.
Gostava tanto que, mesmo sabendo que na próxima semana Briana estaria no
tempo apto para fazer o exame de DNA, eu não havia tocado naquele assunto
ou pesquisado valores para realizar o teste.
— Podemos mudar de assunto? Não aguento mais ser bombardeado
por você.
— Está sem munição para revidar. Tudo bem, não sou covarde ao
ponto de atacar alguém que não consegue se defender.
— Vou me defender te expulsando já, já se não me deixar em paz.
Diego gargalhou e balançou a cabeça.
— Você nunca faria isso, porque não saberia viver sem mim.
Mais uma vez, precisei ficar em silêncio, porque não pude negar o
que disse. Diego era meu irmão e, mesmo quando esfregava verdades
dolorosas na minha cara, eu agradecia por ter ele ao meu lado.

Diego foi embora após o almoço, depois de termos comido o que


restou da refeição que preparei na noite anterior, e eu fiquei jogado no sofá,
assistindo um programa qualquer na TV, até meu celular notificar uma
mensagem de Briana no final da tarde, avisando que seus pais haviam
acabado de chegar em seu apartamento. Eu me levantei e corri até o banheiro
para escovar os dentes e conferir se estava vestido adequadamente para ver
seus pais. Achei que a bermuda jeans e a camisa de meia manga branca
estavam ok e passei os dedos em meus cabelos antes de sair.
Briana atendeu a porta segundos depois de eu ter apertado a
campainha, me recebendo com aquele sorriso que me fazia perder o fôlego.
Seus cabelos estavam úmidos do banho recente e seu perfume me atacou
como um tiro certeiro. Discretamente, passei meus olhos sobre o seu corpo,
apreciando em tempo recorde a forma como o short jeans abraçava o início
das suas coxas e como a blusa colada ao corpo desenhava cada uma de suas
curvas, incluindo aquele montículo de nada em sua barriga, que minha mão
estava coçando para tocar.
— Entra, Levi, fique à vontade.
Dei um beijo rápido em sua bochecha para cumprimentá-la e fui em
direção aos seus pais, que me receberam com simpatia. Sua mãe me olhava
de uma forma diferente, com um sorriso que ia de orelha a orelha, enquanto
seu pai parecia me avaliar um pouco, mas sem estar sério demais. Foi ele
quem falou o que eu não esperava ouvir tão cedo:
— Então, você pode ser o pai do meu neto.
— Pai, por favor! — Briana chiou ao meu lado, tocando rapidamente
nas minhas costas. Fui pego completamente de surpresa, mas logo arranjei
um jeito de me situar. Então Briana havia contado a eles sobre o que estava
acontecendo. Era bom saber disso.
— Só estou falando a verdade. Acho que está na hora de nos
conhecermos melhor, Levi.
— Pai, não foi para isso que os chamei aqui.
— Não tem problema, Briana, seu pai tem razão — falei, porque vi
que ela parecia sem graça. — Se eu estivesse em seu lugar, Brito, também ia
querer conhecer melhor o suposto pai do meu neto.
Brito apertou o meu ombro, parecendo gostar da minha resposta, mas
eu só disse a verdade. Ele era pai de Briana, se preocupar em querer conhecer
o homem que a havia engravidado era o mínimo que eu poderia esperar.
— Isso já mostra que você vai ser um bom pai.
— Eu acho o mesmo — Analídia, mãe de Briana, confirmou com um
sorriso.
— Confesso que achei toda essa história bem confusa, ainda acho, na
verdade, mas estou tentando ignorar o fato de que vocês passaram uma noite
juntos e focando apenas no bebê.
— Pai! Por favor!
Ok, talvez eu estivesse com a corda no pescoço o tempo todo e sequer
imaginava. Sabe quando você é adolescente e vai conhecer os pais da
namorada pela primeira vez? Foi tipo isso, com o agravante de que o pai dela
sabia que a gente já tinha transado. Para minha sorte, éramos todos adultos e
eu esperava que Brito não me expulsasse dali a pontapés.
— Brito só está brincando, ele sabe que Briana é uma mulher livre e
que pode se envolver com quem quiser — Analídia disse praticamente
entredentes enquanto forçava um sorriso para mim e agarrava o braço do
marido. — Sente-se, homem, vamos ouvir o que Briana tem para nos contar.
Brito finalmente se sentou ao lado da esposa e eu fiz o mesmo,
sentindo Briana se sentar ao meu lado e sem saber ao certo por onde começar.
Acho que aquela conversa inicial a havia pegado tão de surpresa quanto a
mim. Senti vontade de segurar sua mão e passar algum tipo de conforto, mas
fiquei com receio de que seu pai interpretasse meu gesto de forma errada e
me contive, esperando que Briana começasse a falar. Ela pareceu reunir
coragem e repetiu para os pais todos os acontecimentos da noite passada.
Ouvir em detalhes o susto que ela tomou ao ver Davi em sua casa me encheu
de raiva de novo. Se eu visse o babaca na minha frente, ele não ficaria livre
de sentir o meu punho se chocando com a sua cara de covarde.
Vi Analídia ficar pálida e Brito ficar rígido e muito sério, assim como
eu. Havia em nós, homens, um instinto natural de proteção, que parecia se
aflorar quando nos importávamos demais com uma mulher. Brito, lógico,
faria de tudo para proteger Briana, pois ela era sua filha, já eu, faria o mesmo
porque gostava dela, talvez até mais do que deveria.
— Isso é um absurdo! Como ele teve coragem de entrar aqui assim e
surpreendê-la? Ele quis te encurralar — Analídia concluiu, nervosa. —
Precisamos fazer alguma coisa, Brito!
— Eu vou fazer. Vou ligar para Oscar, meu amigo que é delegado e,
dessa vez, você não vai me impedir, Briana.
— Foi por isso que chamei vocês dois aqui, pai, porque queria que
entrasse em contato com Oscar. Sei que posso estar sendo paranoica, mas não
vou mudar minha decisão.
— Você não está sendo paranoica, está apenas cuidando da sua
segurança — falei, pegando sua mão na minha e resolvendo parar de ser
comedido só porque estava na frente dos seus pais. Segurar sua mão não era o
mesmo que transar com ela. Briana me olhou e acabou entrelaçando nossos
dedos.
— Se você não tivesse conversado comigo ontem à noite, eu com
certeza não levaria essa ideia adiante, Levi.
— Você é um bom homem. — Analídia me surpreendeu ao pegar
minha mão livre entre as suas. Vi que parecia estar emocionada. — Obrigada
por ter cuidado da minha filha.
— Eu fiz o mínimo, Analídia. Gosto muito da Briana, me importo
com ela de verdade.
Analídia deu um sorriso emocionado para a filha e Brito me olhou de
forma diferente também, mas não consegui definir o que significava. Ele se
levantou para fazer a ligação e demorou em torno de dez minutos até desligar.
— Oscar vai nos receber amanhã de manhã na delegacia. Vamos fazer
um boletim de ocorrência sobre a invasão domiciliar e a perseguição. Você
ainda tem arquivado as mensagens que ele te enviava antes de bloqueá-lo?
— Sim, tenho todos os prints, inclusive o histórico de ligações.
— Ótimo, vamos usar como prova. — Brito se aproximou e sentou-se
ao lado da filha. — Vai ficar tudo bem, querida. Davi vai entender de uma
vez por todas que a história de vocês acabou e que qualquer tentativa de
reaproximação vai custar muito caro.
— Espero que sim. Depois de tudo o que ele fez, como tem coragem
de tentar reatar comigo? Deve achar que eu sou uma idiota.
— Ele que é um idiota e que não entende que não é não. Se você não
quer ter qualquer tipo de contato com ele, a única coisa que o resta a fazer, é
respeitar e se manter afastado de uma vez por todas — falei e Brito assentiu.
— Exatamente. Gosto de você, rapaz, gosto ainda mais do que fez
pela minha filha. Muito obrigado por ter estado ao lado dela.
— Nossos caminhos se cruzaram mais uma vez, agora eu só vou
embora se Briana me expulsar — brinquei, pois senti necessidade de aliviar o
clima.
Por sorte, consegui arrancar uma risada de todo mundo e Briana
abraçou o pai, parecendo estar mais tranquila agora que tinha a certeza de que
Davi não sairia impune de tudo o que havia feito na noite anterior.
Acordei bem cedo na segunda-feira para poder ir com o meu pai na
delegacia. A tensão fez com que um enjoo muito chato me acompanhasse o
tempo inteiro e eu me sentia um pouco mal também, pois havia dormido
muito pouco naquela madrugada. Eu me fazia de forte e realmente era, mas
era muito difícil lidar com o fato de que estava prestes a acusar formalmente
o homem com quem eu compartilhei os últimos oito anos da minha vida.
Nenhum término de relacionamento era fácil, ainda mais quando se envolvia
uma traição, no entanto, nada poderia ser pior do que envolver a polícia no
meio daquela história.
Eu não estava arrependida da minha decisão. Deixei bem claro
inúmeras vezes para Davi que não queria o ver mais, que a nossa história
tinha chegado ao fim. Talvez ele tenha achado que, com o tempo, eu
amoleceria e o aceitaria de volta, mas já que não respeitava a minha palavra e
não se mantinha distante por bem, aprenderia da pior forma possível a
respeitar um não de uma mulher.
Oscar era um homem alto, sério, mas foi muito simpático e acolhedor
comigo. Ouviu atentamente tudo o que eu tinha para dizer e fez o boletim de
ocorrência, me explicando que o Ministério Público entraria com uma ação
contra Davi. Eu deixei que meu pai continuasse a conversar com o delegado e
lidasse com toda aquela questão e pedi licença para ir ao banheiro, pois
precisava respirar um pouco. Acabei colocando para fora todo o meu café da
manhã, mais enjoada do que nunca. Enquanto passava um pouco de água
gelada em minha nuca e encarava meu rosto pálido no espelho, senti meu
celular vibrar no bolso da minha calça de alfaiataria, anunciando uma nova
mensagem. Era Levi.
“Bom dia, meu bem. Já foi até a delegacia?”
Era a segunda vez que Levi me chamava de “meu bem” e quase me
fazia derreter como uma pedra de gelo embaixo do sol. Tentando manter pelo
menos um pouco da minha compostura, respirei fundo e respondi:
“Estou aqui, acabei de fazer o boletim de ocorrência.”
“Ocorreu tudo bem?”
“Sim, tirando o fato de que estou bem enjoada. Acho que é por causa
do nervosismo, o bebê não deve gostar do clima da delegacia.”
“Acho que, na verdade, o bebê e você estão com saudades de mim.
Vou solucionar esse problema.”
“É mesmo? O que vai fazer?”
“Vou levar vocês dois para almoçar. Topa?”
Mordi a pontinha do lábio inferior, lendo sua mensagem duas vezes e
sentindo o meu coração acelerar. Eu queria aceitar, mas, será que deveria?
Sentia que Levi estava tão dentro da minha vida, que não sabia se, algum dia,
conseguiria me ver sem ele e isso era muito perigoso. Se não existisse dentro
de mim o desejo por ele, o fascínio não só por sua beleza, mas pela sua
personalidade, seu sorriso fácil e o seu lado protetor, eu não me preocuparia,
mas cada sentimento parecia marcado a ferro quente em meu peito. Por que
eu não podia olhar para ele e ver apenas um amigo, como meu lado racional
insistia em me alertar que era o que eu deveria fazer?
“Topo. É só me passar o endereço do restaurante por mensagem e eu
te encontro lá.”
“Não, eu te busco na confeitaria. Passo lá às 13h, ok?”
“Tem certeza? Não quero te dar trabalho, Levi.”
“Não será trabalho algum. Preciso ir agora, tenho uma reunião.
Beijos, Bri.”
“Beijos e obrigada pelo convite.”
Ele saiu do WhatsApp antes de ler minha resposta, provavelmente por
causa da reunião que teria na agência. Sentindo-me melhor, escovei meus
dentes rapidamente com a escova e a pasta pequena que sempre levava em
um nécessaire em minha bolsa e saí do banheiro, encontrando meu pai se
despedindo de Oscar. Despedi-me dele também, agradecendo mais uma vez
por ter nos recebido tão bem.
— Agora estou mais tranquilo, filha. Davi será notificado em breve e
vai entender que é melhor ficar bem longe de você.
— O senhor acredita que ele seja um louco obsessivo?
Meu pai ficou alguns segundos em silêncio enquanto deixávamos a
delegacia e só voltou a falar quando paramos em frente aos nossos carros, do
outro lado da rua.
— Sinceramente? Não. Se fosse, não teria ficado meses sem te
procurar, mas acho que ele precisa de um choque de realidade e entender de
uma vez por todas que não pode ficar indo atrás de você depois de tudo o que
fez, principalmente porque você deixou bem claro que não quer o ver mais.
— Eu também acho. Ter ido ao meu apartamento foi uma atitude
desesperada, mas ele vai ter que arcar com as consequências.
— Que serão brandas. Ele provavelmente vai ter que pagar uma multa
e prestar serviços comunitários.
— Sou uma boba por ficar aliviada por conta disso? No fundo, não
queria que ele fosse preso, pois em momento algum foi violento comigo,
apesar de ter sido invasivo.
— Não, você não é boba, só tem um bom coração — meu pai disse,
me puxando para dar um beijo em minha testa. — Mas eu gostaria que o filho
da mãe fosse preso, nem que fosse apenas por uma noite.
— Isso não me surpreende — ri, abraçando-o pela cintura. —
Obrigada, pai.
— Não por isso, querida. Você está se sentindo bem? Estou te
achando um pouco pálida.
— Estou enjoada, mas já está passando.
— Talvez seja melhor ir para casa e tirar o dia de folga.
— Não posso, Miriam fica muito sobrecarregada quando não vou à
confeitaria e segunda-feira é dia de pôr a mão na massa para repor nossas
vitrines.
— Você é igual a sua mãe, só vai querer parar de trabalhar quando o
bebê nascer.
— Espero que sim, pois isso vai significar que tive uma gravidez
saudável — falei, afastando-me. — Preciso ir, pai. Dê um beijo na mamãe.
— Darei. Dê um abraço em Levi por mim. — Seu pedido me
surpreendeu e meu pai viu o choque em meu rosto, pois acabou
acrescentando: — Eu realmente gostei do garoto. Aprovo vocês dois.
— Aprova nós dois? Pai, não há nada entre nós dois, Levi é apenas
meu amigo.
— Ele não parecia querer ser apenas seu amigo ontem à tarde.
— O senhor está igualzinho a Miriam, vendo coisas demais. —
Balancei a cabeça, incrédula. Estavam formando um complô? Era só o que
me faltava.
— Miriam também percebeu? Isso mostra que não estou louco.
Espero que ele seja o pai do bebê.
— Pai!
— Vai ser bom para o meu neto ter um pai, filha, ainda mais se o pai
for um bom homem.
— Chega dessa conversa. O senhor não tem que ir para o escritório?
— Sim, tenho, mas nada no mundo vai me impedir de abrir os olhos
da minha filha e dar um conselho. — Ele pousou o dedo indicador sob o meu
queixo e olhou bem fundo dentro dos meus olhos. — Nem todo homem é
mau-caráter como Davi. Não enxergue todos nós com os olhos da mágoa e do
medo, porque esses sentimentos podem fazer com que você não veja
verdadeiramente quem está ao seu lado. Você é uma mulher incrível, querida,
e ainda que eu sinta um pouco de ciúmes por Levi já te conhecer...
Intimamente, acho que você poderia dar uma chance a ele e a si mesma e
encontrar um novo amor.
Um nó ridículo se formou em minha garganta, pois nunca pensei que
escutaria aquelas palavras vindas do meu pai. Não que ele não fosse um
homem carinhoso, pois era, mas porque aquele tipo de conselho era algo que
ouvíamos de mulheres e não de homens. Sem saber o que dizer, apenas
concordei com a cabeça e deixei que ele me abraçasse mais uma vez antes de
partir, sentindo que ele tinha razão, mas endurecendo um pouco o meu
coração mole, porque o medo de me machucar ainda era muito real e parecia
fincar suas garras em meu interior. Respirando fundo, entrei em meu carro e
segui para a confeitaria, fazendo de tudo para silenciar a voz do meu pai em
minha cabeça.

Miriam me agarrou assim que cheguei à confeitaria, preocupada com


o que havia acontecido no sábado à noite. Eu a tranquilizei e afirmei que
estava tudo bem, e ela logo me encheu de perguntas sobre eu ter dormido no
apartamento de Levi. Lógico que a velha safada pensou em sexo e só faltou
me dar uma surra com a colher de pau quando deixei bem claro que não rolou
nada entre nós dois. Para Miriam, eu era uma louca por não ter ido para a
cama — literalmente — com Levi, mas uma hora ela precisaria entender que
nem tudo era sobre sexo e que eu não fazia ideia se, um dia, Levi e eu
voltaríamos a ter esse tipo de relação.
Eu já me sentia apegada a ele, mesmo dizendo a mim mesma todos os
dias que éramos apenas amigos, se rolasse sexo, eu enlouqueceria. Não se
brincava desse jeito com uma mulher grávida e cheia de hormônios em
ebulição! Consegui fazer com que Miriam parasse de falar sobre Levi e
começamos a trabalhar enquanto conversávamos sobre a ideia que tive de
expandir o cardápio para doces sem açúcar. Ela me ouviu atentamente e eu
acabei comentando sobre a ajuda que Levi ofereceu para melhorar o
marketing da loja.
— Ele me chamou para almoçar hoje, talvez tenha tido alguma ideia e
queira compartilhar comigo — falei enquanto tirava uma torta de cookie
recheada com Nutella de dentro do forno.
— Ou talvez queira apenas passar mais um tempinho com você, mas
não vou ficar insistindo nesse assunto.
— Obrigada.
Ela me deu a língua como se fosse uma criança de três anos de idade e
voltou a mexer a geleia de frutas vermelhas que ia em cima da cheesecake.
Eu apenas ri, porque Miriam sempre me surpreendia com suas reações. Uma
coisa eu poderia dizer: ao lado dela, o tempo nunca se tornava maçante.
— Chefinha, você precisa vir comigo! Tem uma cliente que está
apaixonada pelos nossos doces e perguntou se a dona estava na loja, disse
que quer parabenizá-la pessoalmente! — Mariana disse ao entrar na cozinha,
praticamente pulando de tão excitada.
Eu larguei tudo o que estava fazendo enquanto via Miriam me encarar
com um sorrisão no rosto. A maioria dos clientes saía da confeitaria
elogiando nossos doces, o ambiente, o atendimento, mas poucos realmente
pediam para falar comigo, talvez por vergonha ou por pensar que iriam me
incomodar. Quando algo assim acontecia, lógico que eu parava tudo e ia até o
salão para falar com eles. Deixei o avental pendurado no gancho da parede,
alisei minha roupa e segui Mariana até a mesa onde duas senhoras e uma
criança de aparentemente cinco anos estavam sentadas. Assim que me viu, a
senhora loira e muito bem-vestida me olhou de cima a baixo.
— Chefa, essa é a Senhora Campanari. Ela amou os nossos doces.
Antes mesmo que eu pudesse abrir a boca para falar, a senhora se
virou para Mariana e ajeitou um fio do cabelo loiro que caiu sobre o rosto.
— Querida, acho que você não entendeu. Eu gostaria de falar com a
dona da confeitaria não com uma subordinada. — Seus olhos voltaram a me
fitar de cima a baixo e foi então que eu entendi o que realmente significavam.
Aquela velha sensação de estar sendo uma intrusa, quando aquele era
o meu lugar, me dominou, bem como o aperto no peito. Apesar de não
acontecer com frequência — talvez pelo meu modo de vestir, o carro que eu
dirigia, as bolsas de marca que carregava —, o racismo era presente em
minha vida e situações como essa não eram algo fora do comum, mas
machucavam do mesmo jeito. Ainda assim, não abaixei a minha cabeça.
— Prazer, meu nome é Briana e eu sou a dona da confeitaria — falei,
sem esticar minha mão para cumprimentá-la. A mulher encarou a outra
senhora que estava sentada à sua frente e as duas ficaram lívidas.
— Desculpe-me, eu não... Sabe, eu não quis ofender, só achei
estranho uma pessoa assim ser dona de um lugar tão aconchegante,
localizado em um ponto tão nobre do Rio...
— Uma pessoa assim? Me desculpe, mas, assim como? — questionei.
Mariana me encarou com os olhos arregalados, rígida como uma
porta, e a mulher loira deu um sorrisinho sem graça.
— Acho que não estou sabendo me expressar. De qualquer modo, só
queria dizer que seus doces são fantásticos. Já podemos ir, Mercedes. — Ela
tentou se levantar, mas parou quando estiquei minha mão.
— Acho que a senhora se expressou muito bem. O que me espanta, é
ver uma mulher aparentemente tão culta, ainda carregar consigo pensamentos
tão preconceituosos.
Ela teve a coragem de colocar a mão sobre o peito e arregalar os
olhos.
— Assim você me ofende!
— Não, a senhora que me ofendeu quando disse que uma pessoa
como eu não poderia ser dona de uma confeitaria na Zona Sul do Rio de
Janeiro. Eu entendi muito bem o que quis dizer. Para a senhora, uma mulher
preta deveria estar em um cargo inferior, certo? Talvez como empregada
doméstica, acertei? E, ainda que essa seja uma profissão muito digna e
honesta, esse não é e nunca será o único cargo que uma mulher negra deve
ocupar. Pessoas como eu devem estar onde quiserem, sendo donas de
confeitarias, diretoras executivas de multinacionais, atrizes de TV, modelos,
astronautas, e qualquer outra profissão que possa existir. Não há limites para
pessoas como eu, o limite deve existir para pessoas racistas como a senhora.
É por isso que, hoje, injúria racial é crime. Creio que a senhora deve saber
disso, certo?
Seus lábios se separaram em choque e a mulher que a acompanhava
tocou a sua mão por cima da mesa, me dando um sorriso que estava entre o
sem graça e o pedido de desculpas.
— Nádia apenas se expressou muito mal, querida, por favor, releve o
que ela disse. Eu peço desculpas em nome dela e em meu nome também, em
momento algum quisemos ofendê-la.
— Nós estamos cansados de relevar esse tipo de coisa, senhora, no
entanto, dessa vez, deixarei passar. Só peço para que, enquanto tiverem esse
tipo de pensamento, não voltem mais à minha confeitaria, pois aqui dentro
não é tolerado esse tipo de comportamento. Passar bem.
Dei as costas para as duas e meu pensamento foi para a menininha
que estava sentada à mesa com elas. Que tipo de criação ela deveria receber?
Que tipo de adulta se tornaria? O racismo jamais chegaria ao fim enquanto
pais e avós continuassem a incutir pensamentos racistas na cabeça das
crianças. Muitos achavam que o preconceito racial havia acabado, mas só
quem vivia na pele a dor de passar por situações como a que passei agora,
tinha plena consciência de que ele ainda era tão presente na sociedade quanto
séculos atrás.
Assim que entrei na cozinha, Miriam veio em minha direção com um
sorrisão aberto, doida para perguntar quais elogios recebemos pelos doces,
mas parou assim que viu a expressão em meu rosto. Enjoada, abri a geladeira
e peguei uma garrafa de água com gás, torcendo para que ela conseguisse
diminuir o bolo em meu estômago e o nó em minha garganta. Agora que a
adrenalina estava diminuindo, eu sentia os meus músculos tremerem.
— Briana, o que houve? Falaram mal dos doces?
— Que racista filha da puta! — Mariana xingou ao entrar na cozinha,
seu rosto enfezado, as mãos pousadas na cintura. — Chefa, que vontade
puxar aquele cabelo platinado e esfregar a cara dela no asfalto quente!
— Racista? Do que vocês estão falando?
Deixei que Mariana contasse para Miriam o que havia acontecido,
pois ainda me sentia muito mexida com tudo aquilo. Sem querer, lembranças
do passado me atingiram em cheio. Quando criança, eu era a única aluna
preta da minha sala de aula e os primeiros dias sempre eram muito difíceis,
pois todos os olhos ficavam em cima de mim. Eu conseguia me enturmar,
mas sentia como eu era diferente de todos ali, ainda que tivesse a mesma
classe social. Quando saía com os meus pais para algum lugar, fosse
shoppings ou restaurantes caros, acontecia a mesma coisa, todos os olhos
estavam sobre a gente, ainda que nos vestíssemos ou nos comportássemos
como eles.
Para as pessoas, não importava o valor que tínhamos em nossas
contas bancárias, as roupas que vestíamos ou a nossa formação acadêmica.
Aos olhos de alguns, sempre seríamos inferiores apenas pela cor da nossa
pele. Era como se dissessem, silenciosamente, que aquele não era o nosso
lugar.
— Que desgraçada! — Miriam ralhou e se aproximou de mim,
pegando em minha mão. — Minha filha, eu sinto muito. Eu odeio tanto esse
tipinho de gente! Sabe quem elas são perto de você? Nada! Não se deixe
abalar, Briana, você sabe que tem todo o direito do mundo de ser dona desse
lugar, que você é forte e merece estar onde está hoje. Fodam-se aquelas
mocreias!
— Mocreias? Miriam, só você mesmo para me fazer rir — falei,
puxando-a para um abraço. — Sei que você tem razão, mas ouvir coisas
assim machuca demais.
— Eu sei, mas você não deve deixar que elas vençam. Não podemos
mudar a cabeça de algumas pessoas, mas podemos fazer com que elas
engulam cada palavra maldita e vejam como pessoas como você — repetiu as
palavras da velha racista. — podem ir cada vez mais longe.
— É isso aí! — Mariana disse, dando um soquinho no ar. — Agora
vou voltar para o salão, porque chegou mais um cliente. Não importa o que a
vaca disse, chefinha, a Doceria da Briana é um sucesso!
— Obrigada, Mari.
Mariana fez um sinal de “joia” com o polegar e saiu da cozinha. Ao
meu lado, Miriam tocou o meu rosto com delicadeza e disse:
— Você é maior do que tudo isso, Bri. Não se abale!
Eu assenti e a abracei mais uma vez, agradecendo silenciosamente por
ter pessoas boas ao meu lado. Decidida a tentar esquecer aquele episódio
horrível, voltei a colocar a mão na massa ao lado de Miriam e conseguimos
adiantar bastante coisa até a hora do almoço. Estava tão distraída, fazendo de
tudo para não pensar no que havia acontecido mais cedo, que me surpreendi
quando Mariana surgiu na cozinha ao lado de Levi. A menina olhava para ele
como se estivesse vendo um monumento, os olhos chegavam a brilhar e eu
fiquei sem entender o aperto chato que surgiu em meu peito ao ver a reação
dela. Levi era um homem lindo, musculoso e simpático, lógico que
despertaria o interesse das mulheres e isso não deveria me incomodar.
Éramos amigos. Até quando ia precisar me lembrar disso?
Senti-me um pouco frustrada, principalmente ao entender que só não
fiquei mais incomodada, porque Levi não demonstrou qualquer tipo de
interesse por ela, pois seus olhos logo se focaram em mim. Ele abriu aquele
sorriso que me deixava de pernas bambas e eu me senti uma boba por sorrir
de volta, sem sequer me dar conta do que estava fazendo. Foi uma reação
instantânea do meu corpo.
— Chegou o meu crush! — Miriam anunciou, sorrindo de orelha a
orelha quando Levi a abraçou. — E ainda é cheiroso, tirei a sorte grande!
— Me perfumei só para você, Miriam.
— Ouviu, Briana? Não precisa sentir inveja, eu compartilho Levi com
você.
— Não sabia que vocês tinham um relacionamento aberto. — Ri para
os dois e tirei meu avental, pendurando-o em um dos ganchos na parede.
— Eu prezo muito pela minha liberdade, Levi sabe disso.
— Eu sei e respeito sua decisão, Miriam. Enquanto isso, estou
tentando curar o meu coração partido por não ser o único em sua vida.
— Bobinho, você é o primeiro da lista, isso não é o suficiente?
Levi gargalhou e deu um beijo na têmpora de Miriam antes de se
afastar.
— Estou me sentindo privilegiado com essa informação.
— Por que você fica alimentando as alucinações dela? — perguntei
sem conseguir deixar de sorrir. Eu implicava, mas adorava a interação deles e
o fato de Levi amar aquela brincadeira.
— Não fale assim, você não entende o que há entre nós dois — Levi
disse.
— Ela queria estar no meu lugar, Levi. Vou dar uma ida rápida ao
banheiro, divirtam-se no almoço, meus queridos.
Miriam saiu e eu senti minhas bochechas ficarem quentes com o que
falou sobre eu querer estar em seu lugar. Aquela velha assanhada não tinha
jeito, sempre arrumava uma forma de deixar uma indireta por onde passava.
Levi se aproximou de mim e senti aquele friozinho no estômago quando
afastou um cacho do meu rosto.
— Está se sentindo melhor?
— Sim e estou faminta!
— Ótimo. Vou te levar a um restaurante que está dando o que falar
nas redes sociais, estou louco para experimentar as comidas de lá.
— Só vou pegar a minha bolsa.
Fui até o pequeno cômodo que ficava ao lado da despensa, que eu
usava como um micro escritório, para poder pegar minha bolsa e aproveitei o
espelho que havia colocado atrás da porta para poder dar uma olhada em meu
visual. Por sorte, eu odiava andar desarrumada e escolhi para aquele dia uma
calça de alfaiataria branca, um body que ficava justo no corpo da mesma cor
da calça e sandálias baixas.
Retoquei o batom e saí da sala, encontrando Levi no mesmo lugar.
Ele tomou a minha mão e saímos juntos, cumprimentando rapidamente
Mariana, que ergueu o polegar para mim e piscou o olho esquerdo como se
dissesse “se deu bem, chefa!”, o que me levou a pensar que seus olhos
brilhando para cima de Levi não tinham segundas intenções. Mariana apenas
ficou encantada pela beleza dele, o que era fácil de entender. Talvez ela
achasse que estávamos juntos, por tudo o que já tinha visto e ouvido ali na
loja.
Fomos no carro de Levi e eu contei como foi a minha manhã na
delegacia, explicando para ele o que meu pai disse para mim sobre Davi ter
que pagar apenas uma multa e prestar serviços comunitários. Pude ver em sua
expressão que, assim como meu pai, ele queria uma punição mais dura para o
meu ex-noivo, mas não retruquei, porque entendia os dois. Por sorte, Levi
logo mudou de assunto enquanto pegava o caminho para ir para a Urca e me
contou para qual restaurante estava me levando. O Terra Brasilis era um
lugar muito charmoso, localizado em frente à Praia Vermelha, com uma vista
espetacular para o Bondinho e o Pão de Açúcar, e um mirante muito
bonitinho, onde os clientes adoravam tirar fotos para postar nas redes sociais.
Por ser dia de semana, não pegamos uma fila muito extensa e logo
fomos levados para uma mesa do lado de fora, onde tínhamos uma vista
incrível da paisagem. O dia estava muito bonito, mas não quente demais, o
que tornava o ambiente ainda mais agradável. Eu era completamente
apaixonada pelo Rio de Janeiro e ter a oportunidade de estar tão perto de um
dos cartões-postais mais famosos do mundo aquecia o meu peito. Mesmo
com a violência e o descaso dos políticos, aquela cidade continuava
maravilhosa e eu não me via morando em qualquer outro lugar.
Com o cardápio em mãos, escolhemos dadinhos de tapioca de entrada
e moqueca de peixe e camarão como prato principal, pois o cheiro da maresia
e a vista espetacular da praia pediam frutos do mar. O garçom se afastou após
deixar as nossas bebidas — uma água com gás e limão para mim e uma
cerveja para Levi — e eu comentei:
— Eu estava louca para conhecer esse restaurante! Você leu os meus
pensamentos.
— Eu também estava muito curioso para vir aqui, não apenas pela
paisagem, mas pela comida. Um amigo meu disse que era excelente.
— Estou ansiosa para provar. Obrigada por ter me convidado.
Levi deu um pequeno gole na cerveja sem tirar os olhos de mim e eu
engoli em seco ao perceber que mal conseguia desviar os meus olhos da boca
dele, mesmo sabendo que ele estava vendo. Aquela atração louca que eu
sentia estava me fazendo perder a vergonha na cara.
— Aconteceu alguma coisa, Bri? Posso estar sendo paranoico, mas
tem alguma coisa no seu olhar que me diz que você está um pouco para
baixo. Ainda é por causa do seu ex?
Levi era muito observador, eu deveria imaginar que ele notaria que
havia alguma coisa errada comigo. Não queria estragar o clima leve do nosso
almoço falando sobre o que aconteceu na confeitaria, mas, como se eu
precisasse me abrir com ele para poder tirar aquele aperto do peito, comecei a
falar. Em algum momento, minha voz ficou embargada e meus olhos se
encheram de lágrimas, coisa que não permiti que acontecesse na frente das
duas racistas ou de Miriam e Mariana. Pude ouvir quando Levi arrastou sua
cadeira para perto de mim e logo seus dedos tocaram meu rosto com carinho.
— Briana, eu nem sei o que dizer! Por que não chamou a polícia?
— Não queria estender aquela situação.
— Eu sei, mas aquela mulher tinha que pagar pelo o que disse!
Racismo é crime! Essas pessoas não podem continuar fazendo esse tipo de
comentário e sair impunes! — Sua raiva era nítida e eu sabia que ele tinha
razão. Meu queixo tremeu, mas tentei segurar a nova onda de lágrimas. —
Meu bem, vem aqui. Eu sinto muito, Briana, sinto muito mesmo.
Levi me abraçou e deixei que acariciasse minhas costas por alguns
minutos, até conseguir me acalmar. Eu me orgulhava de ser uma mulher
forte, mas, naquele momento, não me importei de desabar em seus braços e
deixar que ele me acolhesse. Levi me fazia sentir segura.
— É muito triste pensar que uma nova geração está se formando, mas
que atitudes como essas vão continuar acontecendo. O que esse bebê vai ter
que enfrentar quando se tornar adulto, Levi? Será que é egoísmo da minha
parte dar vida a uma criança que vai precisar enfrentar um mundo como esse?
— Nós não podemos mudar o mundo inteiro, Bri, mas podemos lutar
para que situações como essa não aconteçam. E não, não acho que é egoísmo
da sua parte colocar uma criança no mundo, porque eu sei que qualquer
criança seria uma sortuda por ter uma mãe tão dedicada e amorosa. No final,
essa é a parte mais importante, entende? É de casa que tiramos o apoio para
seguir em frente, para nos tornarmos boas pessoas.
Eu concordei com a cabeça, sabendo que ele estava repleto de razão.
Meus pais sempre me deram educação, me ensinaram o que era certo e
errado, mas foi ao observá-los que eu me tornei a pessoa que era hoje. Uma
mulher forte, decidida, cercada de amor e cuidados. Queria que todas as
crianças tivessem um lar assim, principalmente Levi. Ainda não sabia o que
ele teve que enfrentar com o seu pai, mas tinha certeza de que teve uma mãe
incrível. Que bom que ele se espelhava nela e não nele.
— Obrigada — murmurei, tirando a cabeça do seu peito. — Passar
por isso hoje me lembrou de situações que tive que enfrentar quando mais
nova, mas também me mostrou que eu tenho que lutar. Por mim, por essa
criança que vai nascer e por todas as pessoas que sofrem com esse tipo de
preconceito tão cruel. A cor da pele de alguém não deveria ser motivo de
humilhação.
— Com certeza. E eu sei que você é forte, meu bem, mas também não
precisa lutar sozinha. Conte comigo para tudo. — Seu sorriso me aqueceu por
dentro e senti vontade de me inclinar para o seu toque quando ajeitou o cacho
em meu cabelo.
— É bom ter você comigo — murmurei.
Levi soltou um suspiro baixo, mas ainda audível, sendo pego de
surpresa pelo o que eu disse. Por sorte, o garçom se aproximou com a nossa
comida e quebrou aquele clima intenso entre nós dois. Esperamos que ele
saísse e começamos a comer, enquanto Levi mudava de assunto. Ele deve ter
percebido que eu não queria mais falar sobre o que havia acontecido.
— Estava conversando com o fotógrafo da minha agência e ele me
passou umas referências muito legais para a sua confeitaria. Olha só.
Levi tirou o celular do bolso e colocou na galeria de fotos antes de
passar o aparelho para mim. Eu fiquei admirada com a estética de cada
fotografia, com um plano de fundo bonito e um cupcake no centro, como os
que fazíamos na confeitaria, valorizando cada detalhe do doce. As próximas
fotos seguiam o mesmo estilo e, além da beleza, faziam com que a boca se
enchesse d’água. Eu era completamente apaixonada por doces — o que não
era de se surpreender —, então, sabia como o visual chamava a atenção.
— Eu adorei! Confesso que, no começo, eu tentei tirar umas fotos
legais e postar no Instagram, mas acho que não tenho um olho bom para isso.
— Por isso que estou aqui para te ajudar. Podemos marcar um dia,
logo depois que você fechar a loja, para podermos tirar algumas fotos como
teste. A sua decoração é muito bonita e vai ajudar bastante, pois ter um fundo
bem-organizado é importante.
— Vamos fazer isso, prometo guardar os doces mais bonitos para as
fotos. Você sempre quis ser publicitário?
— Não, confesso que nunca pensei nisso antes de ter que decidir o
que cursaria na faculdade. Quando adolescente, eu queria ser jogador de
futebol, como a maioria dos meninos da minha idade, mas logo percebi que,
apesar de gostar do esporte, não amava ao ponto de lutar por uma carreira, e
fui procurar por outras opções. Cheguei a pensar na possibilidade de estudar
fotografia, pois sempre gostei muito de fotografar tudo o que via com uma
câmera que ganhei da minha mãe, mas quando comecei a pesquisar e me
deparei com Publicidade e Propaganda, vi que essa era a área que eu queria
atuar.
— Por quê?
— Porque eu sempre gostei de desafios e acho que não há nada mais
desafiador do que pensar em uma estratégia para fazer uma marca crescer.
Quando me dei conta do que a publicidade representava, comecei a prestar
mais atenção nos comerciais de TV, nos outdoors nas ruas e fiquei me
perguntando como os profissionais chegaram à decisão de que aquela ideia
era a melhor de todas, depois comecei a pensar em como era possível chegar
àquela ideia, criar algo que tocasse as pessoas. Eu sabia que a fotografia
também prestava um serviço incrível, mas queria ir além.
— E você conseguiu. Eu acho incrível a sua paixão, dá para ver nos
seus olhos que você ama o que faz, Levi.
— Vejo esse mesmo sentimento em você.
— Eu imagino que sim. Sempre sonhei em ser uma mulher
independente, então, ter a minha confeitaria é a realização de um sonho.
— Sempre foi seu objetivo ser dona do seu próprio negócio?
— Acho que sim, mesmo quando eu achava que esse era um sonho
muito distante de se realizar, até que me dei conta de que estava em um
trabalho que não me deixava feliz e que tinha um dinheiro parado no banco,
que eu estava juntando para poder me casar. — Acabei rindo disso, porque
era surreal pensar que um dia eu achei que estava prestes a colocar um
vestido de noiva e dizer “sim” em um altar. Aquela Briana parecia estar tão
distante de mim.
— O que foi?
— Nada, só estou pensando em como fui boba em acreditar que me
casaria um dia... Talvez, inconscientemente, eu sabia que Davi e eu não
teríamos um futuro, porque decidi romper com a minha vida profissional, que
estava estagnada, peguei a minha poupança e um empréstimo no banco e
resolvi realizar o meu sonho. Ainda bem que deu certo.
— Você é uma mulher muito corajosa, Briana, e determinada, pelo o
que estou vendo. Era óbvio que daria certo. E, veja pelo lado bom, tomar essa
atitude fez com que você chegasse aonde tanto sonhava e ainda a livrou de
um casamento fadado ao fracasso.
— Sim. Foi a melhor decisão que já tomei na minha vida, a segunda
melhor foi ter esse bebê — falei, colocando a mão sobre a minha barriga. —
Levi, isso me fez lembrar do exame de DNA. Completo dez semanas de
gestação daqui a alguns dias.
— Você quer fazer esse exame agora? — ele perguntou, colocando
uma expressão mais séria no rosto.
— Se você quiser, com certeza.
Levi ficou alguns segundos em silêncio e eu deixei que pensasse um
pouco mais sobre aquele assunto, que parecia ter deixado de se tornar um
elefante branco entre nós dois e acabou se transformando em uma sombra.
Ele estava bem aqui, mas preferíamos fingir que não víamos.
— Eu acho que a gente pode... Esperar um pouco mais — ele disse de
repente e eu me surpreendi. Achei que ia querer tirar logo aquela dúvida.
— Tem certeza?
— Sim. Ainda temos longos meses pela frente, não precisamos pensar
nisso agora.
Uma parte minha queria muito pensar em tudo aquilo naquele exato
momento, ter respostas, para saber se o bebê era mesmo de Levi ou não, mas
a outra parte — aquela que estava se acostumando à sua companhia, que
ficava toda derretida quando ele falava que o bebê era dele, que temia perdê-
lo — também queria adiar o exame e continuar no escuro.
Um alerta muito alto soou em minha cabeça, deixando bem claro que
eu estava percorrendo um caminho muito perigoso, que estava escancarando
as portas para que Levi não só entrasse em minha vida, mas permanecesse. E
se ele se apegasse ao bebê e, no final, descobrisse que não era o pai? E se eu
me apegasse a ideia de que ele era o pai? Havia decidido ter aquele filho
sozinha e agora estava prestes a aceitar um pai para o meu bebê?
— Tudo bem para você? — Levi perguntou, tocando a minha mão por
cima da mesa. Seu polegar acariciou a minha pele e eu soltei um suspiro,
entregando meu destino nas mãos de Deus.
— Sim, por mim, tudo bem.
Nós continuamos o almoço em um clima leve e descontraído e eu dei
um jeito de silenciar cada dúvida em minha mente, aproveitando o momento
ao lado daquele homem incrível.
Parei com o carro dentro de uma vaga do estacionamento do shopping
Rio Sul e enviei uma mensagem rápida para Briana.
“Tudo certo para hoje à noite?”
Ela me respondeu antes de eu conseguir trancar o carro.
“Sim, juro para você que estou fazendo os doces mais bonitos do
mundo e sabe qual é a melhor parte?”
“Qual?”
“Vamos poder comer tudo depois!”
“Agora você falou a minha língua! Vou só comprar um presente aqui
no shopping, pois amanhã é aniversário de um amigo, e chego aí daqui a
pouco.”
“Tudo bem, a loja já vai estar fechada, então, me manda uma
mensagem quando chegar.”
“Pode deixar. Beijos, meu bem.”
“Beijos <3.”
Enfiei o celular no bolso e segui para o shopping, ansioso para passar
aquele momento ao lado de Briana. Duas semanas haviam se passado desde o
nosso almoço e eu não conseguia esquecer cada detalhe daquele dia, a forma
como se apoiou em mim após contar o episódio de racismo que sofreu na
confeitaria, a luz do sol reluzindo em seus olhos, o jeito como ficava à
vontade em minha presença. Senti tanta raiva daquela mulher! Briana era
uma mulher muito forte, ver as lágrimas transbordar dos seus olhos não foi
nada fácil. Tive vontade de pegar o nome da racista e fazer uma denúncia na
delegacia, mas logo entendi que Briana queria esquecer o que havia
acontecido — mesmo nós dois sabendo que seria impossível esquecer.
Nunca consegui entender como alguém poderia diminuir o outro pela
cor da pele. Minha mãe sempre me ensinou a respeitar cada um,
independente de gênero, cor ou orientação sexual, mas eu entendia que aquilo
— o racismo, o preconceito — também estava incutido no caráter e não
apenas na cultura à nossa volta. O ser humano que era cruel com o outro não
tinha dentro de si um pingo de empatia e respeito pelo seu semelhante. Pensar
naquilo realmente me fez refletir sobre o futuro, sobre o bebê que estava por
vir. Tinha vontade de colocar aquela criança em uma bolha e protegê-la de
todo mal. Aquele era o desejo de todos os pais, certo? Cabia a todos nós
deixar um mundo melhor para as crianças que estavam por vir.
Sabia que Briana e eu tínhamos um longo caminho a percorrer juntos,
mas a forma como nossa relação estava se construindo me deixava surpreso e
animado. Também não podia ser desonesto comigo, talvez estivesse na hora
de finalmente admitir o óbvio: eu estava gostando dela. Gostando muito mais
do que um amigo ou um homem que assumiria a paternidade do seu filho.
As duas últimas semanas só serviram para me provar isso. Mesmo
sem querer, eu dava um jeito de estar por perto, fosse por mensagem ou
fisicamente, batendo na sua porta e passando um tempo ao seu lado. Como se
isso não fosse o bastante, mal conseguia tirar os olhos de cima dela quando
estávamos no mesmo recinto e acompanhar tão de perto a evolução do seu
corpo para abrigar o bebê me deixava emocionado de uma forma que nunca
pensei que ficaria. Agora, com quase treze semanas de gestação, sua barriga
havia se tornado bem visível aos olhos e qualquer roupa que usava deixava
bem claro que o neném estava ali, forte e saudável. Eu a acompanhei na
última consulta e o feijãozinho na tela havia se transformado em um limão,
que se balançava para cima e para baixo, dando impulso com os pezinhos na
parede do útero.
Naquele mesmo dia, resolvi que não fazia sentido continuar mantendo
a gravidez em segredo para minha mãe e liguei para ela assim que cheguei
em casa. Seu grito de susto misturado a alegria ainda ecoava em meu cérebro
a cada vez que me lembrava daquela conversa:
— Não acredito que vou ser avó e você não me disse nada, Levi!
Desde quando se transformou em um filho desnaturado?
Precisei explicar para ela a minha história com Briana desde o
começo e minha mãe acabou entendendo por que resolvi esperar um pouco
para compartilhar aquela notícia com ela. Isso não diminuiu a sua animação,
no entanto, apesar de ela ter sido mais racional do que eu pensei que seria,
questionando a minha decisão de não fazer o exame de DNA agora. Eu
queria dizer que tinha uma lógica em minha cabeça, mas, a verdade, era que
eu não queria lidar com um possível negativo e ter que me afastar de Briana e
do bebê. Estava apegado aos dois, mesmo que entre mim e ela não estivesse
acontecendo nada além de uma amizade muito especial.
— Você está se apaixonando, querido. — A voz da minha mãe ecoou
em minha mente, enquanto eu entrava em uma loja de artigos esportivos no
shopping. — O fato de você estar ao lado dessa moça, mesmo com a
possibilidade de o bebê não ser seu, me deixa com muito orgulho do homem
que se tornou. Sempre soube que seria um pai incrível, Levi. Só não quero
que você se machuque. Cuide do seu coração, ele também é muito
importante.
O conselho de minha mãe ficou ecoando em minha cabeça e me fez
questionar se eu vinha cuidando do meu coração. Mesmo estando tão atraído
por Briana, não dei nenhum passo além naquela história, estava ao seu lado
como amigo e possível pai do neném, apenas isso, mas estaria mentindo se
dissesse que não queria mais, que não estava louco de vontade de beijar
aquela boca que me enlouquecia e tocar em cada parte do seu corpo de novo.
Desejava Briana, estava me apaixonando por ela e, provavelmente, ela não
queria nada comigo. Ter consciência disso e não conseguir fazer nada para
evitar que o sentimento progredisse significava que eu estava colocando meu
coração em risco?
Eu já havia me apaixonado e namorado antes, nunca fui o tipo de cara
que fugia de relacionamentos, como meus amigos. Mesmo não tendo um bom
exemplo em casa, pois meu pai foi um péssimo marido, sempre coloquei em
minha cabeça que eu faria diferente, que nunca brincaria com os sentimentos
de ninguém e sempre seria muito honesto quanto ao que eu sentia. Talvez
fosse por isso que não conseguia me afastar de Briana ou fazer com que
aquele sentimento parasse de crescer em meu peito, pois não gostava de fugir
de nada que a vida colocasse em meu caminho.
Minha mãe resolveu que me faria uma visita na próxima semana para
conhecer Briana e eu nem tentei pedir para que não viesse, pois sabia que
seria inútil. Quando Vitória colocava algo na cabeça, ninguém tirava e, no
fundo, acho que queria que elas se conhecessem. Minha mãe era uma mulher
incrível e Briana também era, tinha certeza de que se dariam muito bem.
Uma mensagem de Diego me convidando para uma cerveja mais
tarde me tirou dos meus pensamentos e respondi rapidamente, enquanto dava
uma olhada em uma das blusas oficiais do Flamengo, time de Henrique.
“Não dá, marquei de tirar as fotos dos doces da Briana, lembra?
Para poder dar uma movimentada nas redes sociais da confeitaria.”
“Tinha me esquecido disso, mas tudo bem, estou me acostumando
a ser trocado pela Briana.”
“Que drama é esse? A gente se viu ontem, babaca. Tente me amar
menos.”
Diego era formado em Engenharia Civil e passou o último ano
enviando currículo para algumas empresas, por isso que estava trabalhando
como barman da boate na Lapa enquanto não conseguia nada na sua área.
Uma semana atrás, ele havia sido efetivado em uma empresa de arquitetura e
ontem nós saímos para comemorar junto com Gustavo e Henrique.
“Idiota, só estou percebendo que a Bri está tomando bastante
espaço na sua vida. A Bri, entendeu? Não o bebê.”
Pensei em como poderia negar aquilo, mas sabia que não poderia,
pois seria uma mentira deslavada. Por fim, respondi:
“Tem razão, ela está.”
“Você admitiu! Não acredito, até que enfim!”
“O que eu posso fazer? Gosto dela, Diego.”
“Eu sei, irmão. Espero que ela retribua o sentimento. A gente se
vê amanhã, então, vê se não fura o aniversário do Henrique.”
“Sabe que eu jamais faria isso, estou até comprando o presente
dele.”
“Show! Divirta-se na sessão de fotos com a sua garota.”
Minha garota. As duas palavras fizeram meu coração dar um
solavanco no peito, mas logo dei um jeito de sufocar o sentimento, pois, uma
coisa era estar me apaixonando, outra era me iludir achando que Briana era
minha. Resolvi deixar tudo aquilo de lado e focar na minha missão naquela
loja. Vinte minutos mais tarde, estava saindo com uma blusa oficial do
Flamengo já embalada para presente e pronto para ir para a confeitaria.
Estava distraído, passeando pelos corredores do shopping para poder ir até o
estacionamento, quando passei em frente a uma livraria e um livro na vitrine
me chamou a atenção.
“O Grande Livro do Bebê” era o título e, antes que eu pudesse pensar
no que estava fazendo, entrei na livraria e peguei um exemplar, passando a
ler a descrição na parte de trás. Era um livro que explicava desde a concepção
até a fase dos dois anos da criança. Eu me sentia completamente perdido
naquele mundo de gravidez e bebês, a internet ajudava bastante, mas eu
sequer sabia como começar a pesquisar sobre tudo aquilo. Ao meu lado, uma
mulher muito grávida pegou um exemplar e me encarou com um sorrisinho.
— Pai de primeira viagem?
— Sim. Dá para notar?
— Com certeza. — Sua risada me fez rir também. — Esse é meu
segundo bebê e também fiquei perdida na primeira gestação.
— Verdade? As mulheres sempre parecem saber o que fazer.
— Sua esposa é tranquila então, suponho.
— Ela não é minha esposa, mas, sim, ela é muito tranquila. Eu que
me sinto perdido.
— Então leve o livro, com certeza vai te ajudar — disse ela,
devolvendo o exemplar à pilha bem-organizada em cima de uma mesa. — Só
o fato de você estar com ele nas mãos já mostra que é um homem dedicado à
função de pai. Meu marido agiu exatamente como você.
— O livro ajudou?
— Com certeza! Vai te ajudar também. Boa sorte.
A moça acenou e se afastou, deixando-me com o livro de capa dura
nas mãos. Meu lado racional me alertava sobre toda a questão do DNA, mas
antes que eu pudesse deixar que aquela vozinha falasse mais alto, caminhei
até o caixa. E se o bebê fosse meu? Era bom que eu soubesse o que estava
acontecendo com ele dentro do corpo da Briana e, o mais importante, o que
fazer com ele quando não estivesse mais dentro dela. Ao sair da livraria, senti
que havia tomado a decisão certa.

Briana me recebeu com um sorriso alegre, mas franziu o cenho


quando viu todo o aparato em minhas mãos.
— O que é tudo isso?
— Resolvi pegar emprestado uma das câmeras da agência e acabei
trazendo um tripé e esse mini estúdio.
— O que seria um mini estúdio?
— É uma caixa com abertura na frente, a gente monta na hora de
fazer a foto. Ela tem luz de led e é perfeita para tirar fotos de produtos de uma
forma profissional, pois ajuda a evitar que a imagem fique com sombras e
reflexos. Pensei que poderíamos tirar umas fotos nela e outras usando o fundo
da confeitaria, por isso que trouxe essa ring light também.
— Meu Deus, e eu pensando que você tiraria fotos com o meu
celular! Deveria saber que estou lidando com um profissional.
— Um profissional muito competente, que está aqui apenas pela
recompensa em forma de açúcar.
Briana soltou uma risada que ecoou pelas paredes silenciosas da loja e
eu aproveitei o momento para colocar toda a parafernália que trouxe em cima
de uma das mesas no salão, antes que ficasse hipnotizado pelo seu sorriso.
Tirei a alça da câmera do meu pescoço e posicionei o aparelho caro ali, pois
meu chefe me fez prometer que eu cuidaria da câmera fotográfica como se
fosse um filhotinho recém-nascido.
— Vem me ajudar a trazer os doces para cá, depois eu prometo que
você vai poder comer tudo.
— Ainda bem que peguei pesado na academia nessa semana.
Briana, que já estava a caminho da cozinha, parou e me olhou
rapidamente de cima a baixo, mordendo a pontinha do lábio inferior. Eu sabia
que não deveria provocar, mas não resisti e passei a mão pelo meu abdome
por cima da camisa social cinza que usava.
— Quer conferir? Se quiser, posso tirar a camisa.
— Se Miriam estivesse aqui, com certeza ia pedir para você se despir.
— A danada desconversou, mas eu não deixaria que escapasse tão fácil.
Aproveitei que ainda estava parada no mesmo lugar e dei dois passos em sua
direção, encurtando a nossa distância.
— E você? Quer que eu me dispa?
Briana pareceu engolir em seco e voltou a olhar para a minha barriga.
Eu ainda me lembrava do seu comentário na nossa primeira noite, quando
disse que eu não parecia real por ter os músculos tonificados e estava louco
para ouvir aquilo de novo saindo da sua boca, não para amaciar o meu ego,
mas porque queria ficar nu com ela mais uma vez. Queria tocá-la, beijá-la,
colocá-la em cima daquela ilha de inox que havia na cozinha, abrir as suas
pernas e...
— Quero... Quero que você pare de ser um safado e me ajude com os
doces, Levi Mancini! — Sua voz me tirou do mundo dos sonhos eróticos e
senti um choque quando sua mão espalmou meu peito.
— E eu achando que você queria conferir se aqueles oito gominhos
ainda estavam em meu abdômen... — Fingi que estava decepcionado e ela
riu.
— Eram seis, não oito.
— E se forem oito agora? Olha o que você está perdendo, Briana. —
Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido. — Deixo você lavar suas roupas nesse
tanquinho.
Senti que arfou, mas tentou disfarçar ao me dar um sorriso
debochado.
— É com essa cantada que você anda conquistando corações por aí?
Ainda bem que você não usou essa comigo.
— Não estou conquistando corações de ninguém.
— Hum, acredito muito — falou, dando-me as costas e indo para a
cozinha. Fui atrás dela com os olhos grudados na bunda deliciosa coberta
pelo vestido que usava.
— Estou falando a verdade, Bri.
— Está bem.
Seu tom condescendente deixava bem claro que não acreditava em
mim e um sorriso quis nascer em meus lábios quando um pensamento surgiu
em minha cabeça. Briana estava com ciúmes?
— Acha que estou conhecendo alguém? — perguntei, observando
enquanto ela organizava uma série de cupcakes e tortinhas em uma bandeja.
— Não sei, me diz você. Ontem à noite você não estava em casa... —
Acho que ela deixou aquilo escapar sem querer, pois logo arregalou os olhos
e fechou a boca. Tentando disfarçar, pigarreou e deu de ombros. — Não que
isso seja da minha conta, é claro.
— Como sabe que eu não estava em casa?
Seus olhos encontraram os meus e percebi certo desconforto nos dela.
Era como se não quisesse admitir que ligava para aquilo, que se importava, o
que me chamou ainda mais a atenção. Se Briana estava agindo daquele jeito,
significava que eu não era o único a ter sentimentos entre nós dois?
— Eu bati na sua porta ontem para... — Ela parou e pareceu escolher
as palavras certas antes de reformular tudo e continuar: — Acabei pedindo
comida demais e queria saber se não gostaria de comer comigo, foi só isso.
Aquela, com certeza, seria uma primeira vez. Briana nunca me
chamou para jantar com ela, ainda que estivéssemos mais próximos e mais à
vontade para frequentar o apartamento um do outro. Quase me arrependi de
ter ido me encontrar com Diego e os meninos, mas expulsei o sentimento,
porque foi uma noite especial para o meu amigo, estávamos comemorando
uma grande conquista em sua vida profissional. Pelo visto, Briana parecia
achar que eu havia saído para um encontro em uma noite de quinta-feira.
— Diego foi contratado por uma grande empresa de arquitetura. Não
sei se você sabe, mas ele é engenheiro civil e ontem nós saímos para
comemorar. Foi só isso.
Senti vontade de explicar e nem sabia o porquê. Acho que queria
mostrar para Briana que meu caminho estava livre, que eu sequer conseguia
olhar ou pensar em outra mulher que não fosse ela, ainda que eu não deixasse
aquilo explícito em palavras. Vi a surpresa em seus olhos e um sorriso se
abriu em seus lábios.
— Que coisa boa, Levi! Fico muito feliz por ele!
— Eu também, meu amigo precisava disso. Ele é um ótimo
profissional.
— Tenho certeza que sim.
Briana se calou quando me aproximei, parando do outro lado da ilha
de inox, de frente para ela. A ilha nos separava, mas isso não impedia que eu
sentisse o cheiro leve do seu perfume no meio daquele mundo de açúcar,
chocolate e toque de limão.
— Ou seja, eu não saí por aí para espalhar cantadas sobre os oito
gominhos do meu abdômen.
— Não são oito, são seis — corrigiu com um sorriso de canto de
lábios.
— Eu sempre erro essa conta!
— Sempre erra para mais, impressionante.
— É uma falha minha, vou tentar me policiar. — Sorri ouvindo a sua
gargalhada baixinha. Porra, a mulher era encantadora e eu estava de quatro.
Como aquilo aconteceu tão rápido? Por fim, Briana cessou a risada e disse:
— Levi, você não tem que me dar satisfação alguma, é um homem
solteiro, merece mesmo sair e se divertir. Me desculpe se pareceu que eu
estava cobrando alguma coisa.
— Sei que não estava, não se preocupe com isso. E, sim, eu quero sair
e me divertir, mas quero que venha comigo. Amanhã é aniversário de
Henrique, um dos meus melhores amigos, e acho que está na hora de vocês se
conhecerem pessoalmente. Topa me fazer companhia?
Não sabia de onde tinha vindo a ideia de convidá-la. A comemoração
seria num barzinho em Ipanema e talvez esse tipo de lugar nem interessasse
Briana nessa fase da sua vida, mas queria que ela estivesse ao meu lado.
Queria que meus amigos a conhecessem, que vissem que ela não era uma
alucinação da minha cabeça. Vi a surpresa em seus olhos e emendei:
— Prometo que podemos vir embora assim que você quiser.
— Não, Levi, não quero atrapalhar a sua noite vindo embora mais
cedo. Se eu for, vou ficar até a hora que você quiser.
— Pense no meu convite e me dê uma resposta até amanhã à tarde.
— Está bem — concordou, olhando rapidamente para os doces. —
Vamos começar?
— Vamos!
Levamos para o salão todos os doces que ela havia feito e arrumamos
um cenário muito bonito para as fotos, enquanto uma música gostosa rolava
em som ambiente pela loja. Briana havia encomendado um letreiro em néon
com o nome da confeitaria e o posicionado em uma das paredes, o que
acabou criando um fundo perfeito para as fotos. Naquela noite, ela estava
usando uma pulseira de ouro bem fina e muito bonita e eu aproveitei para
usar a sua mão como uma das peças principais, erguendo os pratos com as
fatias de bolo e os doces que havia feito.
Depois de tirar umas fotos assim, ajustando o ângulo e a iluminação,
parti para o mini estúdio, já pensando em como poderia criar montagens bem
modernas com aquelas fotos mais profissionais. A sessão de fotos durou
pouco mais de duas horas e vi os olhos de Briana brilharem enquanto eu
descarregava as imagens em seu notebook.
— Ficaram perfeitas! Nem acredito, Levi. Muito obrigada! — Ela me
abraçou de repente e estalou um beijo em minha bochecha, me fazendo rir.
— A obra de arte é sua.
— Mas quem deu vida a ela foi você — falou, encostando o rosto em
meu peito quando passei um braço pelos seus ombros. — Desde que imaginei
a minha confeitaria, coloquei em minha cabeça que faria tudo sozinha e, em
partes, eu fiz. Fui eu que tomei a iniciativa, porque sabia que se eu não
fizesse isso, ninguém faria por mim, mas logo entendi que não chegaria a
lugar algum se não tivesse as pessoas certas ao meu lado. Miriam foi a
primeira pessoa que veio a minha cabeça, porque foi ela que me ensinou
grande parte de tudo o que sei sobre confeitaria. Com ela ao meu lado,
entendi que precisava de mais alguém para cuidar da loja enquanto eu
estivesse na cozinha ou tomando conta da contabilidade, então, contratei
Mariana, só que a loja começou a vender muito bem nos últimos meses e
precisei contratar Luíza... Enfim, entendi que ser independente não significa
ser ou precisar estar sozinha, por isso, aprecio muito a sua ajuda. Muito
mesmo, Levi. Droga, vou chorar!
A voz dela embargou de repente e eu a amparei contra o meu peito
quando escondeu o rosto de mim, abraçando-a com delicadeza. Deixei que
colocasse a emoção para fora e dei um beijo em seus cabelos, querendo fazer
muito mais.
— Você não precisa mesmo estar sozinha, Bri, e não falo apenas
sobre a sua vida profissional — falei baixinho, tomando seu rosto em minhas
mãos. Sequei suas lágrimas e morri de vontade de beijar a sua boca. —
Admiro muito a sua garra, a sua independência, vejo em você uma mulher
forte, que sabe o que quer e luta pelos seus objetivos, mas isso não significa
que você precisa fazer tudo sozinha. Ter pessoas ao seu lado é essencial.
— Eu sei. Sou muito grata por ter cada um em minha vida, meus pais,
aquelas três velhas assanhadas. — Ela riu ainda chorando. — Malu, Kiki e
você. Sou muito grata por ter você ao meu lado, Levi. E me desculpe pelas
lágrimas, você sabe que a culpa é dos...
— Hormônios — falei junto com ela enquanto ria e sentia o meu
coração disparar. Merda, eu não sabia ser indiferente a nada que relacionasse
Briana. — Quando o bebê nascer, você vai colocar a culpa em quem?
— No leite materno.
Sem querer, olhei para os seus seios, mas logo me obriguei a desviar
os olhos e ri junto com ela, voltando a abraçá-la. Sua barriga, mesmo que
pequena, ficou entre nós dois e senti que o bebê fazia parte daquilo. Parte da
gente.
— Eu vou com você amanhã — Briana disse de repente, levantando o
rosto para olhar em meus olhos. — Quero conhecer seus amigos.
Eu sorri, contente por ter aceitado o meu convite, e acariciei as suas
costas.
— Eles são babacas, mas são gente boa, eu juro.
— Não acho que você seria amigo de alguém que não fosse legal.
— Jura? Que bom que tem tanta fé em mim.
— Confio em você. — Ela deixou escapar aquelas três palavrinhas
simples, mas senti o peso delas em meu peito.
Confiança era algo que se conquistava, eu sabia disso, pois conhecia
de perto como era perder esse sentimento. Eu faria de tudo para que Briana
nunca perdesse a confiança em mim.
Tirei o sexto vestido do armário, irritada por nenhum dos últimos
cinco que experimentei terem me agradado ou servido. Malu, que
acompanhava minha saga através da chamada de vídeo feita pelo WhatsApp,
falou:
— Esse deve servir! Um pretinho básico nunca sai de moda, amiga!
Ajeitei o sutiã na frente dos meus seios, que estavam
insuportavelmente sensíveis naquele dia, e coloquei o vestido preto, simples,
mas que tinha um decote bonito em V no colo e terminava no meio das
coxas. Seu tecido moldava o corpo e desenhou perfeitamente a minha cintura
fina e a barriga arredondada. De frente, nem parecia que eu estava grávida,
mas quando ficava de lado, aquela curva pronunciada em meu abdome ficava
bem perceptível.
— O que acha? — perguntei para Malu, dando uma voltinha. Ela
bateu palmas.
— Linda! Você está tão gata, Bri!
— Vamos ver se você vai falar isso quando a barriga estiver me
carregando por aí e não o contrário — falei, mas ela sabia que eu estava
brincando. Eu me sentia bem ansiosa pelo momento em que minha barriga
fosse se estender ainda mais.
— Você é uma mãe muito gostosa, por isso que Levi te convidou para
sair. Ele sabe o mulherão que mora na porta ao lado.
— Ele só quis ser gentil e também quer me apresentar aos amigos.
— Espero que eles sejam melhores do que o insuportável do Diego.
— Ela colocou a língua para fora, como se fosse vomitar.
— Não fala assim dele, eu gosto do Diego.
— Não, Briana, você é minha amiga, tem que ficar do meu lado nessa
guerra!
— Uma guerra que nem deveria existir — falei, olhando para a tela
do meu celular apoiado em minha cômoda. — Já viu como ele é um gato? Eu
acho que vocês deveriam se conhecer melhor.
— Deus me livre! E ele também não gosta de mim.
— Porque vocês tiveram uma impressão ruim um do outro. —
Concentrei-me em passar o rímel. — Dê uma chance a ele, Malu.
— Não.
— Se Levi for o pai do bebê, vai ser inevitável que vocês não se
encontrem.
— Como se Levi precisasse ser o pai do bebê para ficar em sua vida.
Vocês estão indo para um encontro, praticamente.
— Não é um encontro! — Quis logo me defender, olhando
rapidamente para a tela do celular. — Estou apenas o acompanhando até a
festa do seu amigo.
— Se ele está querendo te apresentar aos amigos, é porque quer levar
a história de vocês a um outro nível. Não seja ingênua, Bri.
— Você não sabe do que está falando.
— Ah, eu sei muito bem.
Decidi passar logo o batom vermelho para não ter que continuar
aquela conversa maluca e demorei de propósito, mudando de assunto quando
voltei a falar:
— Como estou?
O vestido finalmente me agradou e combinou com o penteado que fiz,
um coque bem alto com alguns cachinhos na frente do rosto, e as sandálias
nude em meus pés. Levi disse que a comemoração seria em um barzinho em
Ipanema, então, optei por um look mais casual.
— Está uma gata! Casa comigo?
— Claro, meu amor. É só comprar meu anel de diamante.
— Nossa, que mulher cara!
— Só o melhor para essa gostosa aqui — brinquei, dando um tapinha
na lateral da minha bunda. — Preciso ir, obrigada pela ajuda, amiga.
— De nada, amiga. Divirta-se!
Senti um friozinho na barriga ao encerrar a chamada de vídeo. Era a
primeira vez que saía desde aquela noite que passei com Levi e não pude
deixar de notar a ironia por estar prestes a sair justamente com ele. O homem
havia retornado para a minha vida e parecia disposto a ficar. Depois da sessão
de fotos na noite anterior, pedimos comida por delivery e comemos em meu
apartamento em meio a muita risada e boa conversa. Era tão gostoso ficar ao
lado de Levi, que eu sequer via o tempo passar, só me dava conta de como
estava imersa em sua presença quando ele ia embora.
Ao colocar a cabeça em meu travesseiro, foi impossível não me
lembrar do que falamos antes de ele começar a fotografar meus doces. Me
senti uma idiota por ter praticamente escancarado o ciúme que senti ao notar
que ele não estava em casa na noite de quinta-feira. Quando bati em sua porta
e ele não me atendeu, tive vontade de dar um tapa na minha cara, até fiquei
com um pouquinho de raiva dele — mesmo sabendo que o sentimento era
infundado — e prometi a mim mesma que não comentaria sobre aquele
assunto quando estivéssemos juntos. Eu deveria saber que não conseguiria
controlar a minha língua. Na primeira oportunidade, cuspi o que estava
entalado e senti vontade de me enfiar em um buraco ao me dar conta do que
fiz.
Não queria que Levi achasse que eu estava querendo mais do que
tínhamos, porque eu não queria. Eu realmente não queria, pelo menos, era o
que falava para mim mesma e para o meu corpo, que parecia pegar fogo a
cada vez que o via. Ontem, com toda aquela conversa sobre o seu tanquinho
sarado, precisei me tocar durante o banho, porque meu desejo estava nas
alturas. A última vez que havia transado foi justamente com Levi, o que não
contribuía muito na hora em que precisava usar o meu vibrador antes de
dormir, porque minha mente acabava voltando para ele, para o seu corpo,
aquela boca que me enlouqueceu e aquele pau enorme que parecia ter me
marcado a ferro. Eu não imaginava que uma mulher grávida pudesse ter tanto
tesão acumulado e conviver ao lado de um homem gostoso como Levi não
ajudava em nada — até porque, ultimamente, ele era o único que me deixava
com a calcinha molhada.
Por sorte, eu acreditava ser uma mulher muito discreta. Certo, às
vezes dava uns escorregões como ontem à noite, mas, de modo geral, não
acho que deixava transparecer o quanto queria Levi e como ele mexia comigo
— não apenas com o meu corpo, mas com tudo. Enquanto nos abraçávamos
ontem à noite e eu chorava como um louca que não conseguia controlar as
próprias emoções, acabei deixando escapar como ele era especial. Dizer que
confiava nele foi tão natural, que nem consegui me arrepender por ter exposto
tanto os meus sentimentos. A verdade, era que Levi me tocava de uma forma
diferente e isso me assustava um pouco. Depois de tudo o que vivi ao lado de
Davi e a experiência traumática que foi o nosso término, achei que nunca
mais deixaria um homem entrar em minha vida, mas agora Levi estava ao
meu lado todos os dias e eu já não conseguia mais me ver sem ele.
— Estou muito ferrada — concluí, passando a mão rapidamente pela
minha barriga. — Acho que eu deveria dar um jeito de me afastar dele, não
acha, bebê? Estou sentindo que nossa relação está evoluindo rápido demais.
O bebê não me deu resposta alguma e, por um milésimo de segundo,
senti vontade de mandar uma mensagem para Levi dizendo que não iria mais
à comemoração do seu amigo, mas logo desisti, porque não era covarde. Eu
era uma mulher adulta, com quase trinta anos na cara, saberia controlar
minhas emoções! Convicta disso, peguei minha bolsa, conferi se minha
carteira estava lá dentro e fui para a sala no momento em que minha
campainha soou pelo apartamento. Kiki veio latindo e pulou nas pernas de
Levi assim que abri a porta.
— Uau, não acredito que estou na presença de duas mulheres tão
lindas!
Kiki havia ido para o pet shop naquela manhã e estava toda bonitinha
com lacinho na cabeça e usando uma roupinha lilás. Ficou toda boba quando
Levi se abaixou rapidamente para falar com ela e logo dispersou quando ele
se levantou e me encarou. Eu perdi o fôlego ao ver como ele também estava
lindo usando uma calça cargo cinza, tênis branco e uma blusa da mesma cor,
sem mangas, que deixava seus braços torneados à mostra. Uma correntinha
de ouro terminava de dar um charme, deixando bem claro que além de lindo e
gostoso, o homem era estiloso — e cheiroso, porque seu perfume me deixou
cheia de vontade de enfiar o rosto em seu pescoço e passar o nariz pela sua
pele.
— Você está um gato! — Precisei falar e ele não perdeu a
oportunidade de dar uma voltinha e parar diante de mim com uma
sobrancelha arqueada.
— Jura? Peguei a primeira roupa que vi no armário.
— Acha que me engana? Deve ter demorado mais tempo para se
arrumar do que eu.
Seus olhos me varreram de cima a baixo e um sorriso nasceu no
cantinho dos seus lábios.
— Te vendo assim, posso apostar que qualquer roupa dentro desse
apartamento te deixaria perfeita, Bri. — Ele se aproximou e espalmou a mão
grande em minha barriga. Senti meu corpo inteiro ficar arrepiado. Aquela era
a primeira vez que ele me tocava no ventre desde a noite em que apareceu
bêbado em meu apartamento. — Mas eu amei esse vestido e a forma como
deixa bem claro que tem um bebê aqui. Sabe o que isso significa?
— Que nenhum homem vai se aproximar de mim ao ver que estou
grávida? — Minha voz saiu em arquejo e ele balançou a cabeça.
— Que eu vou ter um puta trabalho com você ao meu lado. Você está
gostosa pra caralho, Bri.
Seu polegar subiu e desceu pela minha barriga e eu senti minhas
paredes vaginais começarem a se contrair, deixando bem claro que, se Levi
continuasse, minha calcinha ficaria em um estado deplorável em questão de
minutos. Seus olhos não deixaram os meus e precisei colocar minha cabeça
para funcionar. Levi queria uma resposta? Eu mal conseguia respirar naquele
momento. Ele deve ter percebido, pois me deu um sorrisinho e se abaixou
para plantar um beijo em minha bochecha.
— Melhor a gente ir. Vou chamar um Uber, tudo bem? Assim, posso
beber um pouco e não preciso me preocupar em dirigir.
— Eu posso dirigir, até porque, não posso beber.
— Nada disso, talvez a gente volte tarde e pode ser arriscado dirigir
de madrugada. Eu amo o Rio, mas a gente não pode se esquecer da violência
com a qual precisamos conviver.
Eu concordei com a cabeça, sabendo que ele estava coberto de razão.
Chequei se Kiki estava quietinha em sua cama perto do sofá e tranquei o
apartamento, sentindo meu coração disparar quando Levi tomou a minha mão
e me levou para o elevador. Ele não a soltou até estarmos dentro do Uber,
quando enroscou os dedos nos meus. As palavras de Malu ecoaram em minha
cabeça: “vocês estão indo para um encontro, praticamente”. Ai, Jesus, será
que ela tinha razão?
— Está tudo bem? — Levi perguntou, certamente ao sentir a tensão
em meu corpo. Soltei a respiração devagar e tentei relaxar.
— Sim, tudo ótimo. Qual é mesmo o nome do seu amigo que está
fazendo aniversário?
— Henrique. Eu dividia o apartamento com ele, Diego e Gustavo
antes de me tornar seu vizinho. Nos conhecemos na faculdade.
— Então são amigos há bastante tempo — concluí.
— Exatamente.
— E por que quis se mudar?
— Senti necessidade de ter um canto só meu. Gosto muito dos
meninos, mas eles são desorganizados, tanto que eu apelidei o apartamento
de Chiqueiro.
— Mentira! Era tão nojento assim? — Eu ri, mas fiquei com medo.
— Não do jeito que está pensando, nós pagávamos uma moça para
dar uma faxina uma vez por semana, então, o apartamento ficava limpo, só
que eles bagunçavam tudo. Deixavam embalagem de comida e bebida na
sala, roupa espalhada pelos cantos, sapatos e meias em todos os lugares... Eu
tentava colocar um pouco de ordem, mas nem sempre conseguia.
— Deus me livre viver assim! Agora entendo o motivo de ter se
mudado. Você é bem-organizado.
— Minha mãe me criou assim. Ainda me lembro dos seus berros a
cada vez que eu deixava a toalha molhada em cima da cama ou chegava em
casa e largava minhas meias sujas do futebol em cima do sofá. — Ele riu e vi
que eram lembranças que guardava com carinho. Então, do nada, soltou uma
bomba sobre o meu colo: — Minha mãe vem me visitar na próxima semana e
está louca para te conhecer.
Se eu estivesse bebendo alguma coisa, com certeza teria me
engasgado. Nem saberia explicar como não me engasguei com a minha
própria saliva. Senti o momento em que a respiração travou em minha
garganta e que o sangue deixou o meu rosto. Sua mãe queria me conhecer?
Merda! Por que aquilo soava como algo mais sério do que era?
— Eu contei para ela sobre o bebê — Levi continuou e eu lutei para
não desviar os olhos dos dele. Por sorte, as luzes que vinham dos postes da
rua mal iluminavam o interior do carro.
— Contou... Tudo?
— Sim, contei tudo. Não tinha como contar a ela sobre a gravidez e
não explicar sobre a possibilidade de o bebê não ser meu.
— E o que ela disse?
Com certeza, a mulher deveria me odiar. Levi era filho único e, pelo
pouco que sabia, tinha uma relação muito boa com a mãe, ela deveria
enxergá-lo como o seu bebê e, agora, tinha uma nova mulher em sua vida,
que poderia estar grávida dele. Eu sabia que existiam mães obsessivas. A de
Levi seria assim?
— Ela ficou feliz com a notícia, muito feliz, na verdade...
— Com a notícia de que o bebê pode não ser seu? — perguntei, mas,
por dentro, afirmei para mim mesma que era aquilo. Ou seja, a mulher me
odiava de verdade! Para o meu espanto, Levi negou com a cabeça.
— Não, ela ficou feliz ao saber que vai ser avó. Minha mãe sempre
deixou bem claro que queria um neto. Na verdade, o sonho dela é me ver
casado, formando uma família... Enfim, ela é como qualquer outra mãe que
quer ver a família dobrando de tamanho. Quando contei sobre a inseminação,
ela ficou um pouco preocupada, mas disse que isso não vai impedi-la de te
conhecer. Prepare-se, porque algo me diz que dona Vitória vai paparicar
muito esse bebê quando chegar aqui.
Não saberia dizer se aquilo me aliviava ou preocupava. Ter Levi tão
apegado ao bebê com aquela sombra pairando sobre nossas cabeças já era
sufocante o suficiente, agora, teríamos sua mãe. Isso me fez pensar se não
seria melhor adiantarmos logo aquele exame de DNA, mas não tive coragem
de puxar o assunto naquele momento. Não queria estragar o clima daquela
noite com algo tão sério.
— Vai ser um prazer conhecê-la. Você fala da sua mãe com muito
carinho, ela deve ser uma mulher incrível.
— É mesmo, a melhor mãe do mundo. — Ele se calou quando viu
que o motorista estava dando a seta para parar em frente ao barzinho. —
Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem.
Eu realmente esperava que sim, afinal de contas, ela poderia ser a avó
do meu bebê. E eu, inocente, achando que meu filho teria apenas quatro avós.
Uma quinta estava chegando para completar aquela turma. Que Deus me
ajudasse! Levi pagou a corrida e descemos juntos em frente ao barzinho, que
estava animado naquela noite de sexta-feira, já com as mesas lotadas. Uma
banda ao vivo tocava uma música animada e o falatório dos clientes me
trouxe uma sensação de nostalgia. Não me lembrava de quando havia sido a
última vez que saí para um programa como aquele.
Entramos de mãos dadas e Levi logo localizou o grupo de amigos em
um canto do bar, onde ficava o deck de madeira com vista para o mar de
Ipanema. Eu contei rapidamente que em frente às duas mesas altas, bem
típicas dos barzinhos cariocas, havia seis homens e três mulheres. Reconheci
Diego entre eles e ele veio logo nos cumprimentar, dando um abraço rápido
em Levi, com direito a tapinhas nas costas, e um beijinho em minha
bochecha.
— É bom te ver, Bri! E olha só, essa barriga está maior do que da
última vez em que nos encontramos.
— Pois é. Agora não tem mais como disfarçar.
— E está tudo bem com você e o bebê? — perguntou, o que me fez
gostar ainda mais dele. Não sabia ao certo o que Diego achava daquela
história de Levi ainda não ter pedido o exame de DNA, mas se aquilo o
incomodava, ele não demonstrava. Sua preocupação parecia genuína.
— Estamos ótimos e ansiosos para aproveitar essa noite.
— Que bom saber disso!
Ele me deu um sorriso animado e Levi, que estava trocando algumas
palavras com um homem que eu não conhecia, pousou a mão em minhas
costas e me puxou para mais perto do seu corpo, virando-se um pouco para
me olhar.
— Bri, esse é Gustavo, um dos meus amigos que mora no Chiqueiro.
— Ah, não, Levi, você contou esse nome para ela, cara? O que a
garota vai pensar de mim?
— De nós — Diego completou.
— Ela precisava saber com quem estaria prestes a lidar — Levi se
defendeu com um sorriso maldoso nos lábios. Gustavo revirou os olhos.
— Não acredite em nada do que ele disse, ok? Eu juro que somos
limpinhos.
— Só vou acreditar se vocês me disserem que ainda mantém a
limpeza regular no apartamento uma vez por semana — falei, vendo os dois
sorrirem.
— Com certeza, gata!
— Gata? — Levi perguntou, encarando Gustavo com uma
sobrancelha arqueada. Eu senti vontade de me fundir ao seu corpo quando
sua mão tomou minha cintura. — Ela está acompanhada, ainda não percebeu?
Seu tom era leve, mas eu podia jurar que Levi não estava apenas
brincando. Diego riu e deu um apertão no ombro de Gustavo.
— Levi é possessivo com a Bri, acredita nisso? Até me proibiu de
chamá-la pelo apelido.
— O que não adiantou de nada, pelo visto — Levi resmungou.
— Claro que não, babaca.
— Agora está explicado por que ele não tem saído com a gente direito
— Gustavo concluiu, rindo baixinho.
— Deixem de ser idiotas. Cadê Henrique?
Levi conseguiu dispersar os meninos e logo encontramos o
aniversariante, que estava recebendo solicitações de uma mulher loira. Pude
perceber que eram íntimos, talvez estivessem ficando. Levi o abraçou durante
longos segundos e entregou a ele o seu presente, em seguida, nos apresentou.
— Enfim, estou conhecendo a famosa Briana — Henrique disse
enquanto nos abraçávamos.
— Não sou tão famosa assim. Feliz aniversário.
— Obrigado e, sim, por aqui, você é bem famosa. Levi fala em você o
tempo todo. Estou feliz por finalmente conhecê-la.
— Queria fazer com que Briana gostasse de mim antes de conhecer
vocês, porque sabia que ela poderia se assustar e sair correndo.
— Rá! Como você é engraçado, babaca. — Ele deu um tapinha na
cabeça de Levi e logo começou a abrir o presente. Assim que viu a camisa do
Flamengo, arregalou os olhos e riu. — Retiro o que disse, você é o melhor
amigo do mundo!
— Eu sei disso.
— Briana, não perde esse cara, entendeu? Ele é incrível!
— Não sei se posso acreditar na sua opinião. Acho que você está um
pouco influenciado por esse presente.
— Presente? Que presente? Não sei do que está falando.
Foi impossível não rir enquanto via sua encenação. Acabei me dando
conta de que todos os amigos de Levi eram gente boa, assim como ele, o que
não me surpreendeu. Realmente não esperava que ele fosse andar com
alguém que tivesse um caráter duvidoso. Henrique precisou se afastar para
receber um casal de amigos e Levi terminou de me apresentar às outras
pessoas à mesa, que eram mais amigos de Henrique do que dele de fato, mas
todo mundo foi muito simpático comigo. Assim que um garçom se
aproximou, Levi pediu uma cerveja para ele e um drinque sem álcool para
mim e começamos a dar uma olhada no cardápio de petiscos. Minha boca se
encheu d’água ao ver a foto dos bolinhos de bacalhau.
— Já percebi o que você quer — Levi disse em um tom divertido,
muito atento a mim.
— É bom saber que não consigo disfarçar meus desejos de grávida.
— Não mesmo, por isso não consegue ficar longe de mim. Sei que
seu maior desejo sou eu — sussurrou em meu ouvido em tom de brincadeira,
mas o arrepio que desceu pela minha nuca foi muito real.
— Dizem que o pai também sente desejo sabia? Então, acho que é o
contrário, você que não consegue ficar longe de mim.
Levi soltou um suspiro e balançou a cabeça.
— Nunca pensei que eu fosse tão óbvio!
Eu não sabia se ele estava brincando ou falando sério, pois aquele
sorriso não saía dos seus lábios e ele sempre vivia soltando piadinhas de
duplo sentido para cima de mim. Era quase como um jogo entre nós dois, só
que meu corpo parecia não entender que deveria levar aquilo na brincadeira.
Levi chamou o garçom e pediu duas porções de bolinho de bacalhau, uma de
camarão e outra de aipim, ambos fritos. Assim que nossas bebidas chegaram,
nós brindamos e eu senti seus olhos intensos dentro dos meus. Nos víamos
todos os dias, mas a cada vez que encarava o verde do seu olhar, me sentia
arrebatada.
— A essa noite, Bri.
— A essa noite, Levi.
Brindamos e bebemos juntos, sem conseguir desviar o olhar, até
Henrique nos chamar a atenção para posarmos para a foto que pediu para que
um dos garçons tirasse da nossa mesa. Levi colocou a mão em minha cintura
mais uma vez e posamos lado a lado, só que ele não se afastou depois da foto,
continuou bem ali, me marcando com o peso da sua mão tão masculina e
cheia de veias sobressalentes em minha cintura. Começamos a conversar com
um casal que estava ao nosso lado e eu mal vi o tempo passar, aproveitando
aquela noite como não fazia há muito tempo.
A comida chegou e eu comi os bolinhos até me sentir satisfeita, feliz
comigo mesma por não ter enjoado, enquanto prestava atenção no que
Marcos contava sobre a última viagem que fez à Barcelona. Vivian, sua
esposa, logo olhou para a minha barriga e sorriu.
— Está grávida de quanto tempo, Briana?
— Completo treze semanas na segunda-feira.
— Que incrível! É seu primeiro bebê?
— Sim. E você? Já é mãe?
— Sim, tenho um menininho de quatro anos...
E, simples assim, o nosso assunto se dividiu entre maternidade e
gravidez, enquanto Levi e Marcos conversavam sobre outros assuntos. Era
incrível como duas mulheres que eram mães acabavam se reconhecendo e
falando sobre gestação, compartilhando experiências. Ela contou que sempre
morreu de medo do parto e eu falei que queria que o meu fosse humanizado,
inclusive, já estava conversando sobre aquilo com a minha obstetra. Nosso
assunto rendeu, até que Levi me perguntou se eu queria mais um drinque,
quase quinze minutos depois, e percebi que não queria que aquela noite fosse
focada apenas no bebê. Queria ser mãe? Com toda a certeza, mas não
deixaria que cada parte da minha vida fosse resumida a isso.
Com esse pensamento em mente, me virei para Levi e decidi dar mais
atenção a ele, que havia me convidado para estar ao seu lado naquela noite.
Poderíamos não estar em um encontro — como eu gostava de reforçar a mim
mesma —, mas ele era a minha companhia e eu amava passar cada segundo
ao seu lado. A banda começou a cantar Eu Te Devoro, de Djavan, e Levi
sorriu, apertando minha cintura.
— Adoro essa música. Dança comigo?
Olhei a nossa volta e não vi ninguém dançando.
— Aqui?
— Aqui, lá fora, na praia... Só quero que dance comigo.
Como eu poderia dizer não se, por dentro, estava louca para dizer
sim? Um friozinho tomou conta da minha barriga quando confirmei com a
cabeça e Levi me puxou pela mão, me levando para o cantinho do deck de
madeira onde não havia nenhuma mesa ou cadeira. Decidi não me preocupar
se todo mundo no bar ia ficar nos encarando, apenas deixei que ele colasse os
nossos corpos, senti o peso da sua mão a centímetros de tocar a minha bunda
e deixei que segurasse a outra na altura do seu ombro. Como se tudo aquilo
não fosse suficiente para fazer com que cada cantinho do meu cérebro focasse
apenas nele, Levi começou a cantar bem baixinho quando a banda chegou à
metade da música.
Teus sinais me confundem da cabeça aos pés
Mas por dentro eu te devoro
Teu olhar não me diz exato quem tu és
Mesmo assim eu te devoro
— Não sabia que cantava tão bem. — Precisei comentar. Sua voz
levemente rouca estava esmagando os meus sentidos. Será que ele conseguia
sentir os meus mamilos duros pressionados contra o seu peito?
— Eu arrisco de vez em quando.
Seu nariz tocou o meu e eu respirei fundo, sentindo em meu íntimo
que não queria que Levi se afastasse. Não mesmo, queria que ele continuasse
colado a mim, dentro de mim, e não ousei pensar nas consequências. Ele
voltou a cantar sem se afastar de mim.
Tudo que Deus criou pensando em você
Fez a Via Láctea, fez os dinossauros
Sem pensar em nada, fez a minha vida
E te deu
Arfei. Será que ele estava cantando aquilo para mim? Ai, meu Deus.
Senti minhas pernas ficarem levemente bambas.
Sem contar os dias que me faz morrer
Sem saber de ti, jogado à solidão
Mas se quer saber se eu quero outra vida
Não, não!

Eu quero mesmo é viver para esperar, esperar


Devorar você
Foi de repente, mas, quando me dei conta, Levi já estava me
devorando, tomando cada parte de mim com muita sutileza. Seus lábios
roçaram os meus bem devagar, meus olhos se fecharam e decidi que, pelo
menos naquela noite, eu queria me entregar. Queria ser devorada por ele,
completamente. Entreabri meus lábios e deixei que ele finalmente me
beijasse.
O mundo ao meu redor pareceu diminuir. A música se tornou um
sussurro, a voz de cada cliente do bar desapareceu, nem mesmo o cheiro da
maresia pareceu ter coragem de se intrometer no que estava acontecendo
entre mim e Briana naquele exato momento, na sincronia daquele beijo que
eu tanto desejei dar em sua boca desde o dia em que a reencontrei.
Logo me dei conta de que a minha memória não fazia jus à perfeição
que Briana era. Achei que havia gravado em detalhes a sensação de ter cada
curva do seu corpo colado ao meu, a textura macia da sua pele, o sabor dos
seus lábios, mas minhas lembranças não chegavam aos pés do que eu estava
sentindo agora. Aquela música de Djavan nunca fez tanto sentido antes, eu
queria realmente devorar Briana, tomá-la em meus braços e levá-la para o
primeiro lugar reservado que encontrasse, despi-la e mapear cada cantinho do
seu corpo com a minha boca, minha língua, meus lábios, transar com ela até o
dia raiar, mas me segurei e foquei naquele beijo, pousando a mão em sua
nuca, apertando sua cintura, enroscando sua língua na minha até ouvir seu
gemidinho entre os meus lábios.
Uma pequena parte de mim notou que a música havia acabado e que,
provavelmente, poderíamos estar dando um show para os clientes do bar, o
que me fez recuar lentamente. Aquele deveria ser um momento meu e de
Briana, os fofoqueiros poderiam procurar outra coisa para encarar. Diminuí o
ritmo do beijo, mas só deixei que ela se afastasse completamente depois que
mordisquei seus lábios, primeiro o de cima e depois o de baixo, enquanto o
início da minha ereção tocava a sua barriga. Ofegante, Briana me encarou
com os olhos pesados e eu sorri.
— Tudo bem? — Quis confirmar. Aquele beijo, por mais que
estivesse em meus sonhos todas as noites, não havia sido planejado. Não
queria pressioná-la. Briana assentiu.
— Tudo. Eu só preciso... Acalmar as batidas do meu coração.
— Se serve de consolo, o meu também está acelerado.
— Hum, duvido. — Ela fez aquele biquinho adorável que eu precisei
lutar comigo mesmo para não beijar. Para provar o que estava falando, peguei
sua mão e a pousei sobre o meu peito.
— Dá para sentir?
Seus olhos se arregalaram um pouco e eu ri, pois realmente não tinha
acreditado em mim. Acho que Briana não percebia como mexia comigo,
como eu era completamente fascinado por cada detalhe dela, como aquela
noite estava sendo mil vezes mais especial do que pensei que seria. Tê-la ao
meu lado já havia sido o ápice do meu dia, dançar com ela, beijá-la... Foi
como tocar o céu.
— Acho que está batendo mais rápido do que o coração do bebê.
— Por favor, me diga que o seu também está, não quero ficar sozinho
nessa situação — pedi enquanto ria. Briana parecia um pouco assustada, mas
senti quando relaxou contra o meu corpo e riu baixinho.
— Está. Quer sentir?
— Depende. Por cima ou por baixo da roupa?
— Levi!
Briana riu e olhou a nossa volta, como se estivesse com medo de que
alguém tivesse me ouvido por cima da música alta e de todo aquele falatório.
— Estou brincando — falei, tomando seu rosto em minhas mãos.
Gostei do brilho que vi em seus olhos, apesar da pontinha de apreensão que
consegui detectar. — Vamos devagar, ok? Não quero forçar nada.
— Você não forçou. Eu quis esse beijo, Levi.
— Eu senti. — Pisquei só para quebrar o clima e Briana riu.
— Você é muito convencido.
— Talvez eu seja, mas também sou sincero. — Aproveitei que
estávamos bem longe de todo mundo e levei Briana para perto do guarda-
corpo do deck, deixando-a de costas para o mar e de frente para mim. Apoiei
minhas duas mãos em cada lado do seu corpo e aproximei meu rosto do dela.
— Queria te beijar há muito tempo, Bri.
— Desde quando?
— Desde o nosso reencontro. — Ela arregalou os olhos.
— Mas você não parecia querer me beijar naquela noite, pelo
contrário, estava com raiva de mim.
— Não estava com raiva, estava chateado, mas isso não me impediu
de querer beijar essa sua boca. Só não fiz isso por que você não merecia,
sabe? Você tinha que me reconquistar.
Briana gargalhou baixinho jogando a cabeça para trás e eu me segurei
para não beijar a linha da sua garganta. Porra, meu pau estava ficando mais
duro do que uma barra de ferro, gostaria de saber como faria para disfarçar
aquela ereção.
— Acho que reconquistei, pelo visto.
— Não, eu não sou tão fácil assim. Vai ter que rebolar para ter esse
corpinho de novo.
— Quem disse que eu quero esse corpinho?
— Sei que está com saudade de passar as unhas, a mão, a língua, pelo
meu tanquinho — sussurrei e ela mordeu o lábio inferior, me deixando
excitado pra caralho.
— Não estou nada. Você que parece estar morrendo de saudade de
mim — respondeu no mesmo tom, olhando para baixo, onde minha ereção
roçava sua barriga.
— Eu estou.
Acho que Briana não esperava que eu fosse tão direto, mas não menti
quando disse que era sincero. Agora que tinha finalmente beijado a sua boca
de novo e que o clima entre nós dois estava leve e sexual, senti vontade de
prosseguir:
— Não quero mentir nem fazer joguinhos, você me atraiu desde
aquela primeira noite e eu nunca mais te esqueci. Te reencontrar foi uma
surpresa, saber que pode estar grávida de um filho meu foi algo que nunca
imaginei que seria possível, mas aqui estamos nós, juntos mais uma vez.
Como falei antes, não vou forçar nada nem apressar as coisas, só quero estar
com você, Briana, da forma que for, com sexo ou não. Quero apenas estar
aqui.
Ela respirou fundo e eu engoli em seco, me segurando para calar a
boca, pois não estava pronto para expor mais nada do que sentia. Tinha plena
consciência de como Briana se tornou importante em minha vida, como
minha mente nunca se desligava dela e como meu coração idiota disparava a
cada vez que a via, mas não queria falar sobre aquilo porque, primeiro, não
tinha certeza ainda sobre a profundidade dos meus sentimentos e, segundo,
não queria assustar Briana e fazer com que fugisse de novo.
— Quero você aqui, Levi. — Sua confissão baixinha fez com que eu
soltasse a respiração que nem sabia que estava prendendo. — Eu só não
posso te prometer nada. Eu sei que você é completamente diferente do Davi,
não pense que estou comparando os dois, mas depois de tudo o que
aconteceu, eu me sinto fragilizada. — Seus olhos desviaram dos meus e senti
que Briana estava sendo completamente sincera comigo, parecia até mesmo
estar se sentindo constrangida por se abrir daquele jeito. — Eu sei que você
não está me pedindo em casamento nem nada assim, mas não sei se estou
pronta para um relacionamento, entende? É tudo muito recente ainda.
— Eu sei e te entendo. Também fico feliz por você perceber que não
tenho nada a ver com aquele filho da puta. Eu nunca machucaria você assim,
Briana, nem qualquer outra mulher.
— É muito bom ouvir isso.
Ela havia ouvido, mas será que acreditava em mim? Talvez, com o
tempo, Briana conseguisse tirar a desconfiança da frente dos olhos e me
enxergasse de verdade. Até onde eu sabia, nunca fui traído em meus outros
relacionamentos, mas se tivesse sido, com certeza também ficaria
desconfiado ao conhecer uma outra pessoa. Decidido a encerrar aquele
assunto difícil, que não combinava com o clima festivo da noite, toquei em
seu rosto e falei:
— Vamos deixar o tempo passar e curtir juntos, ok? Sem pressa, Bri.
— Sem pressa — ela repetiu e me deu um daqueles sorrisos
irresistíveis. — Preciso ir ao banheiro, estou apertada. O bebê vive
pressionando a minha bexiga agora.
— Danadinho, já quer tirar sua mãe de mim? — perguntei, tocando
em sua barriga enquanto ela ria. — Vamos lá, eu te acompanho.
Tomei sua mão na minha e fui com ela até o corredor dos banheiros,
aproveitando para me aliviar também, porque depois de três cervejas era
impossível não sentir vontade de mijar. Assim que ela entrou, eu fui para a
porta do outro lado do corredor e acabei encontrando Diego terminando de
usar o mictório. Ele me encarou com uma sobrancelha arqueada e eu esperei
pelo o que iria dizer.
— Só amigos, né. Sei.
— Cala a boca.
— Não, só estou comentando, entende? Relembrando o que você me
disse no seu apartamento naquele dia... — Ele se calou quando comecei a me
aliviar, mas como não sabia se conter, logo voltou a falar: — Amigos agora
ficam dançando como casalzinho e se beijando como se estivessem prestes a
arrancar a roupa e começar a transar? Eu não sabia disso.
— Sua vida está mesmo tão sem graça ao ponto de você precisar ficar
tomando conta da minha?
— Claro que não, só que a sua está mais interessante. Saímos da
temporada do “sou só o possível pai do bebê”, passamos pela temporada
“somos apenas amigos” e agora estamos na temporada “beijos na boca e
sexo”. Acho que preciso de uma pipoca.
— Não tem sexo, idiota — falei, fechando a minha calça.
— Ainda. Vai me contar o que tá rolando?
Fomos juntos até a pia e, enquanto lavava a mão, olhei para a cara
dele pelo reflexo do espelho.
— Por que eu contaria? Você está se tornando um mestre em tirar
suas próprias conclusões.
— Isso é verdade, mas eu sou seu melhor amigo, isso me dá certo
privilégio, como, por exemplo, saber o que está acontecendo de verdade entre
vocês dois. Desde quando você está dando uns pegas na futura mamãe
gostosa?
— Você é um imbecil. Se não tiver mais respeito com a Briana, vou
ter que dar um soco na sua cara.
O idiota riu, mostrando mais uma vez que eu vivia caindo nas suas
armadilhas. Parecia que Diego tinha um prazer mórbido em me ver com
ciúmes de Briana. Um dia, ele estaria no meu lugar e então seria a minha vez
de rir da sua cara.
— Eu gosto de te provocar. Você sabe que, se eu tivesse o menor
interesse na Bri, ela já estaria comigo, porque eu sou muito mais bonito do
que você.
— Aproveita que o espelho está na sua frente e dá uma olhada nessa
sua cara feia. Uma hora a sua ficha tem que cair, Diego. Eu sou o amigo mais
gostoso.
— Nos seus sonhos. Agora, para de enrolar, tem uma gata lá fora que
eu tô doido para conhecer.
— Mas a fofoca sobre a minha vida é mais importante, pelo visto.
— Prioridades. Fala logo.
— Não sei se posso nomear o que tá acontecendo entre nós dois, foi a
primeira vez que ficamos juntos e conversamos um pouco, chegamos à
conclusão de que vamos deixar rolar, entende? Sem pressão. Briana não está
pronta para um relacionamento ainda.
— Eu te disse.
— Não era algo difícil de se adivinhar.
— Sei disso. E você acha que vai saber lidar com essa situação? Está
de quatro por ela, Levi. Se não tivesse sentimento, tudo bem, mas eu sei que
tem.
— Eu quero o que ela quiser me dar — falei e Diego arregalou os
olhos. — Estou disposto a arriscar, Diego. Briana não me permitiria entrar na
sua vida se não gostasse de mim.
— Foi o que ela disse ou é o que você está dizendo para si mesmo?
— É o que eu acho, o que eu sei ao conviver com ela nesses últimos
meses. Sei que se fechou depois do que o babaca do ex-noivo fez, mas está se
abrindo para mim, eu sinto isso.
— Irmão, espero que você esteja certo. Eu odiaria te ver de coração
partido, porque não sei se eu sei cuidar de amigo com dor de cotovelo, sabe?
— É óbvio que você não sabe, nunca me viu sofrer por ninguém.
Meus últimos relacionamentos terminaram de forma tranquila. Claro
que fiquei triste com cada término, mas não foi nada que me fez ficar
desesperado ou com o coração “partido” como Diego havia dito. Acho que
sempre tive sorte de me relacionar com garotas tranquilas, Briana que havia
chegado para quebrar aquele paradigma. Diego soltou uma risada curta e
apertou o meu ombro.
— Só posso falar para você aproveitar o momento e curtir com a
futura mamãe, irmão. Vou ficar torcendo por você.
— Eu sei que vai, no fundo, você me ama pra caralho,
— De onde você tirou isso? Você inventa cada coisa, Levi.
Diego revirou os olhos, mas depois riu comigo enquanto saíamos do
banheiro masculino. Como se tivesse cronometrado, Briana abriu a porta do
outro lado do corredor segundos depois, encontrando nós dois. Diego
apontou para si mesmo dos pés à cabeça.
— Estou bonito, Bri? Tem uma gata lá fora que eu quero
impressionar.
Briana o olhou rapidamente e logo concordou com a cabeça.
— Está lindo, Diego. Tenho certeza que ela vai adorar te conhecer.
— Era tudo o que eu precisava ouvir! Viu só, Levi? Eu disse que eu
era o amigo mais bonito.
— Não foi isso que Briana disse — falei, parando ao lado dela e
voltando a segurá-la pela cintura.
— Nas entrelinhas, foi, e você sabe disso. Obrigado, Bri.
O babaca saiu antes que Briana pudesse desmentir e eu ouvi a risada
dela ao meu lado.
— Vocês sempre foram assim? Implicantes um com o outro?
— Sempre. É o que os irmãos fazem, não é? Se amam e depois
implicam. Não conta para a ele a parte do amor, tenho que manter a minha
pose de durão.
— Alguém acredita nessa sua pose de durão? — perguntou e eu me
fingi de ofendido, olhando para ela.
— Você não acredita?
Briana balançou a cabeça, segurando um sorriso.
— Nem um pouco.
— E eu achando que era isso que fazia os seus olhos brilharem para
mim. — Sorri, inclinando meu rosto e depositando um beijo na ponta do seu
nariz. — Vamos voltar para a mesa. Quer outro drinque?
— Sim e mais comida!
Nós voltamos para a mesa e o resto da noite passou voando enquanto
comíamos, bebíamos e conversávamos com os outros convidados. Mesmo
sem nos beijarmos, senti que Briana e eu estávamos muito conectados,
sempre trocando olhares, sorrisos, aquelas piadinhas de duplo sentido que
aprendemos a adorar e, claro, os corpos pertos um do outro, minha mão
sempre procurando alguma parte dela. Por fim, o garçom trouxe o bolo e nós
cantamos parabéns bem depois da meia-noite, com um Henrique levemente
embriagado sorrindo de orelha a orelha. Ele até fez um discurso no final e
agradeceu a presença de todo mundo.
Fomos embora uma hora mais tarde e, dentro do Uber, Briana
descansou a cabeça em meu ombro e logo começou a cochilar. Acho que ela
não estava mais acostumada a sair daquela forma e havia me dito que o sono
havia se tornado um companheiro constante. Sequer sabia que aquilo era um
sintoma comum da gravidez, o que me fez pensar no livro que havia deixado
sobre a minha mesinha de cabeceira. Fiz bem em comprá-lo e começaria a ler
em breve. Acordei Briana assim que chegamos e ela me deu um sorriso
sonolento quando entramos no elevador.
— Por que decidi sair de salto? Meus pés estão me matando.
— Dizem que eu faço uma massagem excelente.
— Dizem, é? Quem?
Vi pelo espelho do elevador ela arquear uma sobrancelha, esperando
minha resposta.
— Quem já experimentou.
— Hum... A escandalosa experimentou?
— Escandalosa?
— Sim, aquela escandalosa que fez você quase quebrar a parede do
meu quarto. Acho que ela deve ter precisado de uma massagem pelo corpo
todo no final.
Eu gargalhei, finalmente entendendo o que ela queria dizer.
— Você nunca vai se esquecer disso, não é?
— Para falar a verdade, eu tenho que me lembrar disso mais vezes.
Você não é esse homem fofinho que gosta de demonstrar.
— Você disse que eu não sou durão, agora fala que não sou fofinho...
O que eu sou, afinal?
As portas do elevador se abriram e nós saímos juntos. Briana só
voltou a responder quando paramos em frente à porta do seu apartamento.
— Acho que você é um pouco dos dois, só que a parte do durão, você
só mostra em certas ocasiões.
— É mesmo? Quais ocasiões?
— Você sabe.
— Não, eu não sei. — Aproximei-me dela e só parei quando suas
costas se encontraram com a madeira da porta. Briana suspirou quando
apertei sua cintura. — Você vai precisar me dizer.
Vi quando mordeu o lábio inferior, me enchendo de vontade de
substituir os dentes dela pelos meus. Eu me lembrava que Briana demorou
um pouco para se soltar na cama naquela noite, mas, quando se sentiu à
vontade comigo, nada mais a parou. Ela havia se tornado um furacão, me
deixando viciado naquela bocetinha mágica que, desde então, eu não havia
provado outra igual. Ainda conseguia sentir o momento em que apertou meu
pau dentro da boceta, como se tivesse me sugando ainda mais para o seu
interior. Queria sentir aquilo de novo. Queria tudo e muito mais.
— Na cama você não é nem um pouco fofinho — sussurrou, me
deixando de pau duro.
— Eu posso ser fofinho, meu bem. — Passei meu nariz pela linha
graciosa da sua mandíbula e Briana arfou, apertando meus ombros. — Posso
ser tudo o que você quiser.
Não aguentei mais esperar e a beijei, gemendo junto com ela, sem me
importar se estávamos no corredor no meio da madrugada e se algum vizinho
poderia abrir a porta e dar de cara com nós dois. Briana me puxou, como se
quisesse fundir o corpo ao meu e passou a unha pela minha nuca, me
deixando cheio de vontade de sentir seus arranhões em minhas costas, suas
coxas firmes ao redor da minha cintura, suas panturrilhas em minha bunda,
enquanto eu empurrava meu pau dentro dela. Outro gemido escapou do fundo
da sua garganta quando enfiei minha mão embaixo do seu vestido, erguendo
o tecido justo até ter acesso à nádega direita, que apertei bem firme com a
minha mão. Ofegamos juntos, querendo muito mais um do outro, até que ela
afastou os lábios dos meus e me encarou com as pupilas dilatadas.
— Rápido demais? — perguntei com a voz rouca pelo tesão, tentando
me controlar.
— Acho que sim.
Eu sabia que sim e, por mais que o desejo fosse enorme, nada no
mundo me faria ir além do que Briana permitisse. Encostei minha testa na
dela e respirei fundo, fechando os olhos rapidamente e tentando fazer minhas
bolas pararem de pulsar.
— Só vou fazer o que você quiser que eu faça, Bri.
— Eu sei disso — sussurrou, tocando meu rosto com um carinho que
me pegou desprevenido. Precisei afastar minha testa da dela e olhar em seus
olhos. — Acho que vou deixar a sua massagem para outra noite.
Entendi o que quis dizer e aquilo não me frustrou, pois ela não havia
me dispensado, só tinha adiado tudo o que podíamos fazer juntos. Eu sorri e
concordei com a cabeça.
— Minhas mãos estarão prontas para quando precisar de mim — falei
e acabei abaixando o tom para completar. — E outras partes do meu corpo
também.
Briana riu e me puxou para mais um beijo, depois mais outro, até que
se afastou e me encarou:
— Você não me respondeu se a escandalosa recebeu sua massagem.
— Você quer mesmo falar sobre ela? — Briana deu de ombros,
tentando parecer indiferente, e eu ri. — Não, não recebeu. E eu nunca mais a
vi, se quer saber.
— Eu não queria saber.
— Não? — Ela só balançou a cabeça, mas acabou sorrindo. — Vou
fingir que acredito em você.
Beijei seus lábios novamente, bem mais calmo dessa vez, até me
obrigar a impor distância entre nós dois, pois a cada vez que sentia seus
lábios nos meus, uma parte da minha resistência ia embora. Abaixei a lateral
do seu vestido e dei um passo para trás.
— Boa noite, Bri. Se sentir alguma coisa, sabe que é só me ligar.
— Eu sei. Obrigada por tudo, essa noite foi incrível, Levi.
— Sim, foi incrível de verdade.
Ela sorriu e me deu um selinho rápido antes de abrir a porta do seu
apartamento e me deixar do lado de fora. Mesmo assim, senti sua companhia
comigo, dentro de mim e algo me dizia que Briana não iria embora.
Ai. Meu. Deus.
O que havia sido aquela noite? Estava há mais de quarenta minutos
acordada naquela manhã de domingo, encarando o teto, com uma mão na
barriga e a outra sobre o peito, pois meu coração dava umas disparadas
loucas a cada vez que eu repassava a noite anterior em minha cabeça. Ainda
não conseguia acreditar que tínhamos nos beijado. Mesmo com os meus
lábios levemente inchados como prova, cada lembrança parecia fazer parte de
um sonho. Um sonho muito, muito real.
Eu me sentia completamente dividida, metade de mim queria sair
correndo, atravessar o meu apartamento, bater na porta de Levi e me jogar em
seus braços, a outra metade praticamente implorava para que eu fosse
devagar, pois, daquela vez, Levi e eu não faríamos sexo casual. Na manhã
seguinte eu não poderia fugir ou passar o número errado do meu celular,
porque ele estava mais dentro da minha vida do que nunca e dar aquele passo
com ele poderia ser perigoso para o meu coração.
Eu não queria pensar em relacionamentos, tinha certeza de que o meu
único foco seria o meu filho e a minha confeitaria, mas a vida, mais uma vez,
estava rindo da minha cara. Não bastava ter colocado Levi em meu caminho
naquela noite, ela precisou trazê-lo de volta com a notícia de que poderia ser
o pai do meu bebê e, como se não fosse suficiente, ele tinha que ser gentil,
gostoso, leal, companheiro, gostoso, bom-caráter, extrovertido, gostoso... Já
falei gostoso? Como eu poderia resistir a ele? Como poderia preservar o meu
coração no meio de toda aquela história?
Cheguei a sentir um embrulho no estômago, dessa vez causado pelo
nervosismo, mas logo respirei fundo e tentei me acalmar. Havíamos
prometido que iríamos devagar. Talvez, com a convivência mais... Íntima,
poderíamos perceber que não dávamos certo juntos, que toda aquela química
era passageira. Nem precisaríamos transar para descobrir isso, certo? Eu não
sabia a quem queria enganar com toda aquela baboseira, mas tentei usar cada
desculpa para acalmar o meu lado racional, que estava gritando para que eu
fugisse de qualquer coisa que pudesse me machucar. Decidida a parar de
enlouquecer naquela cama, sentei-me na beirada do colchão, apertada para
fazer xixi, mas não consegui ir muito longe, pois logo ouvi meu celular vibrar
com uma nova mensagem. Meu coração disparou ao ver o nome de Levi.
“Já está acordada?”
“Sim, estou.”
“Está se sentindo bem?”
“Sim, zero ressaca por aqui. Acho que meu drinque estava muito
fraco.”
Era melhor brincar, assim, ele não perceberia meu nervosismo. Ele
enviou uma figurinha rindo.
“Minha cerveja também estava fraca, porque eu estou ótimo.
Você sabia que é bom fazer exercícios físicos na gravidez?”
“Minha médica falou comigo e até recomendou que eu fizesse, mas
confesso que não estou fazendo exercício algum. Como você soube disso?”
“Andei pesquisando. Já que você está se sentindo bem, vai colocar
uma roupa confortável e calçar um par de tênis. Ah, se puder colocar um
biquíni por baixo, melhor ainda.”
“Como assim? O que está aprontando, Levi?”
“Vou te levar para caminhar no calçadão. O dia está lindo, o sol
não está muito quente e caminhar é um ótimo exercício físico para quem
é sedentário.”
“Eu não sou sedentária! Até pago academia, sabia?”
“Qual foi a última vez que você foi à academia, Bri?”
Eu realmente precisei parar para me lembrar. Droga, não conseguia
recordar com exatidão.
“Antes de engravidar.”
Enviei para ele, mas logo senti necessidade de emendar:
“Bem antes de engravidar. A minha vida é muito corrida, ok? Mas
isso não quer dizer que sou sedentária!”
“Ok, meu bem, acredito em você. Passo aí em meia hora.”
Não vou derreter só porque ele me chamou de meu bem. Não vou
derreter, não vou derreter...
Ok, eu me derreti, mas não demonstrei a ele, pois me obriguei a sair
do WhatsApp antes que enviasse uma figurinha que delatasse o que eu estava
sentindo. Corri para o banheiro e aliviei a bexiga antes de lavar o rosto e
escovar os dentes. Repeti o mesmo penteado da noite anterior, pois não faria
o menor sentido caminhar de cabelo solto, e fui até o meu closet pegar a
bendita roupa que Levi indicou. Como meu biquíni era de amarrar, a calcinha
continuou a me servir. A parte de cima ficou levemente apertada, mas nada
exagerado e dava para usar também.
Lógico que demorei uns cinco minutos me apreciando em frente ao
espelho e namorando minha barriguinha, mas logo acordei para a vida e
peguei um short leve de academia e uma blusa larguinha. Então, demorei
mais alguns minutos para achar o meu tênis, que estava escondido atrás das
minhas sandálias. Aquela era a prova de que eu era uma péssima
frequentadora de academia. Minha versão fitness havia ficado esquecida por
um longo tempo.
Como ainda sentia meu estômago um pouco enjoado, fiz apenas uma
vitamina de abacate com banana e bebi enquanto Kiki comia sua ração. Ela
gostava de fazer aquela primeira refeição do dia comigo na cozinha, eu
achava fofo. Estava terminando de lavar a louça quando ouvi o barulho da
campainha. Kiki saiu correndo em disparada para a porta, como se sentisse
que era Levi, abanando o rabo e parando para olhar para mim, como se
dissesse “não podemos deixá-lo esperando”. Impressionante como até a
minha cachorrinha parecia rendida por ele.
— Bom dia! — Levi me deu um selinho assim que abri a porta e se
abaixou para falar com Kiki. — Está pronta?
— Sim, só vou escovar os dentes rapidinho.
Corri para o banheiro. Ele tinha me dado um selinho. Levi tinha me
dado um selinho como se aquilo fosse supernormal. Mas talvez fosse, não é?
Depois de ontem à noite, por que eu estava quase surtando com um selinho?
A resposta estava na minha cara, mas eu não queria dar ouvidos a ela, porque
tornaria tudo muito real, mas precisei admitir pelo menos para mim mesma:
ser cumprimentada daquela forma por Levi deixava bem claro que estávamos
nos envolvendo de verdade, mesmo que não tivéssemos nomeado o que
tínhamos. Eu queria parecer indiferente, mas o medo de estar dando um passo
maior do que a perna depois de tudo o que vivi ainda me paralisava um
pouco, mas não ao ponto de eu impor uma distância, porque gostava muito de
Levi. Gostava de verdade.
Eu era uma confusão! E nem podia colocar a culpa nos hormônios da
gravidez. Terminei de escovar os dentes e peguei a bolsa pequena que
arrumei com uma garrafinha d’água, minha carteira, celular e protetor solar e
voltei para a sala, vendo Levi jogar uma bolinha para Kiki e ela levar de
volta, toda boba.
— Para mim você não traz a bolinha de volta, Kiki. Que absurdo!
— Ela traz de volta quando brinca comigo, porque está apaixonada
por mim.
— Ela deve estar mesmo, mas não vou ficar amaciando o seu ego.
Vamos? Senão, vou desistir.
— Nada de desistir, mocinha! Vamos.
Levi se levantou do sofá depois de se despedir de Kiki e tomou a
minha mão. Fomos daquele jeito até o seu carro e percebi que com aquilo eu
já estava me acostumando, ter a sua mão na minha enquanto andávamos
juntos. O pior era não estar apenas me acostumando, eu estava gostando.
Gostando muito. Fomos conversando até ele estacionar o carro perto da praia
do Arpoador, um dos cartões-postais mais lindos do Rio de Janeiro, famoso
pelo seu pôr do sol espetacular. Novamente de mãos dadas, fomos
caminhando até o calçadão, que não estava tão cheio, pois a praia de
Copacabana era a que concentrava a maior parte dos transeuntes e turistas.
— Vamos caminhar no seu ritmo, ok? Nada de corridinhas — Levi
disse ao meu lado, enquanto tirava a camisa. Minha boca ficou muito seca de
repente.
— Desde quando você é personal trainer?
Eu tive ciência do que perguntei, mas meus olhos estavam cravados
naquela barriga sarada, contando os seis gominhos deliciosos de novo. Seu
peitoral parecia mais tonificado do que me lembrava, com os pelos escuros
aparados sobre a pele levemente dourada. Levi era um homem branco com
aquela pele beijada pelo sol, claramente um menino do Rio que amava
exercícios físicos ao ar livre. Isso quase respondia à pergunta que fiz para ele.
Com certeza, Levi tinha alguma noção do que eu poderia ou não fazer.
— Desde hoje. — Sorriu, quase me fazendo perder o fôlego. Se eu
começasse a ofegar de repente, era capaz de o homem chamar uma
ambulância. — Você não praticava nenhum exercício físico antes da
gravidez, sendo assim, não pode abusar.
— Não praticava com regularidade, você quer dizer.
— O que dá no mesmo.
— Vou te afogar no mar se continuar a me chamar de sedentária,
Levi!
Levi gargalhou enquanto voltava a segurar a minha mão e vi quando
duas garotas, com biquínis que só tampavam o bico do peito, passaram ao
nosso lado e quase quebraram o pescoço para secar o corpo dele. Será que
elas não tinham visto que ele estava acompanhado de uma mulher grávida?
Isso não era o bastante para dizer que o homem está fora do radar? Que
absurdo!
— O que foi? — Levi perguntou quando virei o rosto para dar um
olhar feio para as duas garotas. Elas nem ligaram e só passaram direto.
— Nada. Só algumas pessoas que não têm noção.
Levi pareceu não entender o que eu disse e eu agradeci por isso, pois
seria constrangedor ter que explicar que fiquei incomodada com o olhar que
recebeu das garotas — garotas sim, porque elas eram bem mais novas do que
eu. E mais saradas, também. Com certeza, passavam horas na academia,
enquanto eu era sedentária. E ainda estava grávida! Será que Levi olharia de
volta para elas ou para alguma outra mulher que passasse ao nosso lado
naquela manhã? Tive vontade de voltar para casa naquele exato momento.
— Está tudo bem, Bri? Você ficou séria de repente.
— Sim, está.
— Tem certeza? Escuta, eu só estava brincando sobre o sedentarismo,
você não está fora de forma, se é o que está pensando.
— Não, você tem razão, eu sou sedentária mesmo. Fazer o que se a
preguiça acaba falando mais alto de vez em quando? — Tentei brincar, mas
acho que não adiantou muito, pois Levi continuou a me olhar atentamente e
acabou parando na minha frente, interrompendo a nossa caminhada. Quando
suas mãos tocaram o meu rosto, senti vontade de fugir.
— Você é gostosa pra caralho, meu bem. O fato de não frequentar
uma academia não muda isso, entendeu? Fazer exercício físico diz muito
mais sobre o nosso bem-estar e a nossa saúde, a estética é apenas uma
consequência, então, não pense que te trouxe aqui porque estou insatisfeito
com o que vejo, pois é o contrário. — Seu tom de voz diminuiu para um
sussurro quando seu nariz se encostou com o meu. — Ontem eu fui dormir de
pau duro por sua causa, porque você me enche de tesão, Bri. E já estou vendo
como vou sofrer para esconder a minha ereção quando você ficar apenas de
biquíni na minha frente.
— Minha nossa, Levi... — Dessa vez eu arfei, pois não tinha como
ser diferente, não com aquela voz rouca sussurrando putaria e o efeito que
causava entre as minhas pernas. Precisei segurar seus dois pulsos para tentar
me estabilizar. — Não fala isso, estamos no meio do calçadão, tem crianças
passando do nosso lado.
— Prefere que eu fale enquanto estivermos sozinhos? Ok, vou anotar
isso. — O filho da mãe sorriu e tirou as mãos do meu rosto para poder me
abraçar pela cintura. Sentir seu corpo quente contra o meu me deixou toda
arrepiada. — Você é a mulher mais linda que eu já vi, Briana.
— Deixa de ser mentiroso.
— Não sou mentiroso, você sabe. Talvez seja por isso que o destino
fez os nossos caminhos se cruzarem de novo. Ele viu que eu não poderia
perder uma mulher linda como você.
Levi não podia ficar me falando aquelas coisas, me tocando daquele
jeito, pois eu acabava me sentindo ainda mais fraca em sua presença. Sabia
que eu podia pedir para que ele parasse, mas quem disse que eu queria? Eu
não queria e esse era um grande problema, que eu teria que arrumar um jeito
de resolver sozinha. Sem que eu esperasse, aquele homem alto e forte
flexionou um pouco os joelhos, escorregando aquela barriga sarada sobre a
minha até ficar em uma boa altura para me beijar. Levi não foi ousado
demais, primeiro tocou os meus lábios com delicadeza, então, pediu
passagem com a língua, que eu dei de bom grado.
Beijá-lo novamente foi como sentir o sol dentro do meu peito, com
sua luz se expandindo e iluminando cada parte sombria e fechada para um
novo relacionamento, seu calor me envolvendo até que eu não sentisse
qualquer outra coisa que não fosse todos os sentimentos que Levi me
causava. Perdi a noção do tempo e percebi que eu poderia fazer aquilo todos
os dias, toda hora. Poderia beijá-lo para sempre. Com um gemidinho, ele se
afastou e depositou um beijo em minha testa.
— Chega de me enrolar, mocinha. Vamos colocar esse corpinho para
se mexer, meu filho quer que a mãe dele tenha uma gestação saudável.
Eu só consegui sorrir, porque era esse o efeito que Levi causava em
mim — tirando o desejo, o coração acelerado, as palmas das mãos suando e
aquela sensação de que eu havia voltado a adolescência e que estava
conhecendo um novo amor.

Tinha que confessar, a caminhada foi deliciosa! Precisei me livrar da


blusa em algum momento, pois o suor começou a me incomodar, e nem tive
tempo de sentir alguma neura com o meu corpo, pois todo mundo que olhava
para a minha barriguinha, acabava me dando um sorriso. Era engraçado como
as pessoas admiravam uma mulher grávida. Precisava me acostumar a estar
nesse lugar agora, principalmente com a barriga se tornando mais notável a
cada dia.
Levi realmente acompanhou o meu ritmo e conversamos sobre muitas
coisas, inclusive músicas e filmes. Tínhamos gostos musicais bem parecidos,
com a diferença de que ele gostava de ouvir alguns artistas menos
conhecidos, disse que vivia procurando por cantores novos no YouTube,
tanto nacionais quanto internacionais. Eu era mais do tipo que esperava a
música chegar até mim, fosse pela rádio, por canais de músicas na TV ou
pelas redes sociais. Combinamos de que ele me mostraria algumas músicas
pouco conhecidas em breve.
Lógico que o homem arrancou olhares gulosos de várias mulheres
enquanto andávamos juntos, mas tentei não me incomodar com aquilo, pois
Levi não parecia notar nenhuma delas. Eu nunca tive problema com
autoestima — tirando a época sombria depois da minha separação —, mas
estava em uma nova fase da minha vida, com uma barriga que não era mais
reta como antes, com os peitos prestes a dobrarem de tamanho e com três
quilos a mais, então, acho que era normal me sentir insegura, mas Levi, de
forma consciente ou não, acabava calando aquela vozinha chata em minha
cabeça a cada vez que me olhava como se eu realmente fosse a mulher mais
linda que já tinha visto, a cada vez que se inclinava para me beijar ou quando
me puxava para os seus braços sem se importar com quem estava passando
ao nosso lado.
Eu me permiti viver aquele momento sem pensar demais, pois não
queria que nada estragasse aquele dia perfeito. Depois da caminhada,
paramos em um quiosque para tomar água de coco e decidimos ficar mais um
pouco e tomar um banho de mar. Deixamos nossos pertences no quiosque,
que era de um conhecido de Levi, e caminhamos pela areia até chegarmos
perto da água salgada. Antes que pudéssemos entrar, Levi, que quase havia
me feito engasgar com a água de coco quando se desfez do short que usava e
ficou apenas com uma sunga azul-escura, me abraçou por trás, espalmando as
duas mãos sobre a minha barriga.
— Precisei olhar feio para uns cinco babacas que ficaram te secando
até a gente chegar aqui.
— Mentira. Eu não vi nada.
— Mas eu vi. E você preocupada sobre estar gostosa ou não. —
Fiquei toda arrepiada quando passou a barba pelo meu pescoço. — Mas eu
não ligo para eles, sabe por quê?
— Por quê?
— Porque eu sou o sortudo por estar aqui com você.
Se ele era sortudo, eu era o quê? Nem conseguia imaginar. Como não
soube o que falar, virei-me de frente para ele e fiquei na ponta dos pés,
puxando-o pela nuca para beijar a sua boca. Foi a primeira vez naquele dia
que tomei a iniciativa e Levi deixou que eu ditasse o ritmo, enquanto
caminhava lentamente para trás e entrava comigo no mar, que estava
calminho naquele dia. Quando senti a água chegar na altura da minha barriga,
deixei seus lábios escaparem dos meus e sorri.
— Você não existe, Levi.
— Claro que existo, você acabou de me beijar!
— Bobo! — Ele riu baixinho quando o abracei pelo pescoço e
precisei segurar um suspiro ao sentir suas mãos passeando pelas minhas
costas até a minha bunda. — Eu amei a nossa manhã. Acho que posso repetir,
sabe?
— Todos os dias?
— Todos os dias? E quando estiver chovendo? — Fiz uma careta,
pois caminhar na chuva não me agradava em nada.
— Quando estiver chovendo, a gente pode fazer um outro tipo de
exercício. — O sorriso em seus lábios deixou bem claro que tipo de exercício
estava passando pela sua cabeça e eu fiquei toda arrepiada. — A gente pode
até começar aqui mesmo, na água.
— Nunca pensei que você gostasse de fazer esse tipo de coisa em
público!
— Que tipo de coisa? Eu estava pensando em hidroginástica. Como
você é pervertida, Briana!
Eu gargalhei, porque o filho da mãe era muito cínico. Levi me
acompanhou, mas logo escondeu o rosto em meu pescoço, deixando um
beijinho ao pé da minha orelha.
— Que tal a gente dar um mergulho e depois parar para almoçar?
— Acho uma ótima ideia. Estou faminta!
— Ah, eu também estou faminto, meu bem — sussurrou, mordendo o
lóbulo da minha orelha. Senti vontade de passar minhas pernas pela sua
cintura e ficar mais perto dele, mas me segurei. — Melhor mesmo a gente dar
esse mergulho, preciso da água gelada para acalmar uma certa parte do meu
corpo.
— Tadinho. Estou com pena de você.
Seus olhos voltaram a encontrar os meus e sorri ao ver como estavam
cerrados.
— Você é malvada, Briana.
— Eu? Que absurdo, Levi!
Para encerramos aquela conversa cheia de duplo sentido, dei um beijo
em seus lábios antes de me virar e mergulhar de uma vez na água geladinha.
Levi não era o único que precisava acalmar certas partes do corpo. Sentia que
eu podia entrar em combustão a qualquer momento com ele ao meu lado.
Briana e eu entramos em uma rotina naquela semana e passamos a
caminhar juntos todos os dias de manhã antes de irmos para o trabalho. Para
que o exercício não ficasse tão monótono, eu colocava nossas bicicletas no
suporte traseiro do meu carro — sim, Briana tinha uma bicicleta cheia de
poeira guardada na sua área de serviço — e dirigia até o Aterro do Flamengo,
lugar perfeito para praticar exercícios físicos ao ar livre. Nos primeiros dois
dias ela ficou cheia de preguiça, mas eu a incentivei a não deixar a preguiça
falar mais alto e fiz com que trocasse de roupa para aproveitar a manhã
ensolarada comigo.
Passar aqueles momentos ao seu lado observando o seu sorriso,
ouvindo a sua voz, beijando a sua boca, só me deixava ainda mais encantado
por ela. Eu morria de tesão por Briana, mas tinha plena consciência de que
não estava ali pensando em sexo, estava ao seu lado porque adorava a sua
companhia, porque me preocupava com o seu bem-estar e o bem-estar do
bebê e porque queria aproveitar cada oportunidade para estar ao seu lado.
Pelo resto do dia, trocávamos mensagens pelo celular e à noite
acabávamos comendo juntos. Seus enjoos haviam diminuído
consideravelmente depois da décima segunda semana, então, Briana se sentia
mais à vontade para comer de tudo. Ela era uma grávida muito tranquila —
segundo minhas próprias conclusões ao ler o livro que comprei — e ver que
estava bem me deixava menos ansioso.
Cumprindo minha promessa de dar uma alavancada nas redes sociais
da sua confeitaria, comecei naquela semana a postar as fotos que fizemos e
criar uma nova comunicação com o público, além de impulsionar algumas
publicações no Instagram, para que sua página chegasse a novas pessoas e,
assim, aumentar seu número de seguidores. Não era algo que aconteceria da
noite para o dia, mas, com postagens constantes, sempre no horário em que
seus seguidores estivessem mais ativos, com certeza veríamos resultados em
breve. Estava terminando de almoçar com um colega da agência em um
restaurante perto do meu trabalho, quando ouvi meu celular tocar. Pedindo
licença, peguei o aparelho e vi o nome da minha mãe brilhando na tela.
— Oi, mãe! Já chegou?
— Sim, querido, te liguei para avisar. Seu apartamento é lindo!
Acabei de pegar as chaves com tia Margarida!
— Que bom que fez boa viagem, mãe. Nós nos vemos mais tarde, ok?
— Claro, filho. Ah, tia Margarida disse que vai fazer um jantar mais
tarde. Como você me disse que ela conhece a Briana, acho que podemos nos
conhecer lá, o que acha? Tia Margarida disse que chamaria os pais dela e
mais duas amigas.
Fiquei pensando em como seria aquele encontro. Quando pensei em
apresentar minha mãe à Briana, tinha imaginado alguma coisa mais íntima,
mas logo vi que aquela também era uma boa ideia. Com todo mundo reunido,
Briana poderia se sentir mais à vontade. Tinha percebido que ela ficou um
pouco assustada com a ideia de conhecer minha mãe.
— Vai ser ótimo, vou falar com a Briana.
— Perfeito, querido. Venha logo para casa, estou morrendo de
vontade de te apertar!
— Também estou com saudades, mãe.
E estava mesmo, não via minha mãe há alguns meses e, mesmo
morando longe, sempre dava um jeito de visitá-la com frequência. Nos
falamos por mais alguns minutos, até eu precisar desligar. Felipe, meu colega
da agência, perguntou:
— Vai apresentar sua namorada à sogra? Essa parte sempre é meio
tensa.
— Sim, mas minha mãe é tranquila e Briana também é. — Só depois
que me calei, foi que percebi que não o corrigi sobre Briana ser minha
namorada. Na agência, ninguém sabia ainda que eu estava prestes a ser pai,
por isso, resolvi logo abrir o jogo. — Ela está grávida.
Felipe parou com o garfo a caminho da boca e me encarou com os
olhos arregalados.
— Sua namorada?
— Sim.
— Puta merda! Quer dizer... Parabéns? — Felipe ficou perdido e eu
comecei a rir. — Desculpa, cara, nem sei o que falar nesse momento.
Geralmente, quando a namorada aparece grávida, a gente só quer fingir que
nada está acontecendo.
— Não é esse o meu caso, mas entendo que esse assunto assusta nove
a cada dez homens.
— Você é a exceção, pelo visto. Sendo assim, parabéns! — Ele
ergueu o copo de refrigerante e eu ergui meu copo com suco, brindando. —
Descobriu há pouco tempo? Eu nem sabia que você tinha uma namorada,
para começo de conversa.
— É uma história complicada, mas, sim, descobri há pouco mais de
um mês. Ela está com três meses agora.
— Legal, espero que o bebê venha com muita saúde, Levi.
Eu senti um peso sair das minhas costas ao contar aquela notícia para
Felipe, pois todo mundo na agência era bem unido e, quando algo assim
acontecia, logo todo mundo ficava sabendo. Quando uma das nossas colegas
ficou grávida, organizamos até um chá de bebê. Todo mundo ajudava todo
mundo. Assim que voltamos, Felipe fez questão de anunciar que eu era o
mais novo “papai” do pedaço e recebi um monte de abraços e felicitações,
acho que dava para perceber que eu estava feliz com aquele bebê, o que me
fez pensar no assunto que eu vinha ignorando, o exame de DNA.
Quanto mais perto de Briana e do bebê eu ficava, menos vontade eu
tinha de fazer o bendito teste. Não sabia se era medo do resultado ou se era
porque eu já amava aquela criança. Porque aquela era a verdade, eu não
amava apenas a ideia de ter o bebê, eu amava o bebê. Amava acompanhar
cada fase do seu desenvolvimento, amava ir às consultas e ouvir as batidas do
seu coração e, agora, amava passar a mão na barriga de Briana e sentir que
ele estava lá, protegido e forte. E se o resultado desse negativo e Briana me
expulsasse de suas vidas? Será que eu conseguiria voltar a ser apenas o seu
vizinho? No fundo, eu sabia que não. Estava louco por ela e pela criança,
ficar longe seria uma tortura.
Passei o resto do dia tentando espantar aquela sensação ruim que a
ideia de me afastar dos dois havia me causado e, na hora de ir embora,
precisei prometer a todo mundo que eu levaria Briana à agência algum dia
para que eles pudessem conhecê-la. Senti que peguei todo mundo de surpresa
com aquela notícia, mas foi bom saber que ficaram felizes por mim. Antes de
sair do estacionamento com o carro, me lembrei que não havia avisado a
Briana sobre o jantar e enviei uma mensagem.
“Minha mãe já chegou e tia Margarida vai fazer um jantar pra gente.
Pelo o que soube, vai convidar todo mundo, até os seus pais. Tem algum
problema em conhecer minha mãe lá?”
Esperei por alguns segundos e Briana logo apareceu on-line,
digitando uma resposta.
“Não, acho que vai ser ótimo. Miriam estava comentando sobre o
jantar comigo e minha mãe me mandou uma mensagem confirmando
que vai comparecer.”
“Desculpa não ter avisado antes, o dia no trabalho foi bem louco
hoje. Contei para todo mundo que vou ser pai, meus colegas querem te
conhecer.”
Talvez fosse mais inteligente da minha parte ter contado aquilo
pessoalmente, mas quando percebi, já havia enviado a mensagem. Briana
ainda estava on-line, mas demorou alguns minutos para me responder.
“Pensei que você só contaria depois que fizesse o exame de DNA.”
E lá estava, o bendito exame, que mesmo eu me esforçando ao
máximo para ignorar, acabava se metendo no meu caminho.
“Bri, ainda que dê negativo, eu não vou perder o carinho que já
nutro por esse bebê.”
“Mas você não vai ter nenhuma obrigação com ele se der
negativo.”
“Acha que estou ao lado de vocês porque me sinto obrigado? Pensei
que tivesse deixado claro que não.”
Merda, não queria que aquela conversa se transformasse em uma
discussão, principalmente por mensagem. Briana logo me respondeu:
“Eu sei que não. Não foi isso que eu quis dizer.”
No fundo, eu sabia exatamente o que Briana queria dizer. Acho que,
assim como eu, ela tinha medo de que desse negativo, mas porque poderia
achar que eu me afastaria dela e da criança, o que definitivamente não iria
acontecer.
“Vou continuar aqui, entendeu? Se der positivo ou não, eu não vou
embora.”
“Talvez seja melhor a gente fazer logo o exame. Só para tirar a
dúvida de uma vez por todas.”
“Vamos deixar para conversar sobre isso depois, ok? Esse não é um
assunto para ser tratado por mensagem.”
“Tudo bem. Nos vemos mais tarde, então?”
“Sim. Beijos, Bri.”
“Beijos <3.”
Ela me mandou um coração, mas aquilo não me acalmou, pois logo
me dei conta de que Briana havia voltado a citar o DNA quando falei que não
iria embora. Será que não tinha acreditado em mim? Ou eu tinha entendido
tudo errado e, na verdade, ela não se importava sobre eu me afastar ou não?
Estávamos mais próximos e mais íntimos a cada dia, mas Briana havia
deixado claro que não queria um relacionamento. Será que eu estava me
envolvendo mais do que ela naquela história? A voz de Diego me alertando
para tomar cuidado voltou com tudo e eu fiz uma nota mental para tentar ser
mais racional. Só não sabia se iria conseguir.

Briana me mandou uma mensagem perto das oito da noite, falando


que seus pais tinham passado no seu apartamento e que ela estava indo com
eles para o apartamento da minha tia. Sendo assim, ela e minha mãe
realmente só iriam se conhecer lá. Eu demorei um pouco mais para sair,
porque minha mãe, Raul e eu quase perdemos a noção da hora enquanto
conversávamos e eles me contavam como foi a viagem que fizeram no mês
passado. Era muito bom ver minha mãe feliz em um relacionamento depois
de seu casamento com meu pai ter sido um fracasso.
Assim que os dois ficaram prontos, fomos até o apartamento da minha
tia e foi Rose que abriu a porta para nós três. Aproveitei para apresentá-la à
minha mãe, mas logo vi que uma já havia ouvido falar bastante sobre a outra
por intermédio da minha tia, portanto, nem precisei me esforçar muito. Brito
e tio Osvaldo já estavam ali na sala e apresentei minha mãe e Raul ao pai de
Briana, que me cumprimentou com um abraço com direito a tapinha nas
costas e foi bem simpático com os dois. Eu gostava de Brito e o fato de ele
também gostar de mim me aliviava muito. Seria péssimo se nossa relação não
fosse boa. Ele foi se sentar junto com tio Osvaldo e Raul e logo ouvi a voz de
Rose anunciando:
— Briana está lá na cozinha. Acho que chegou na fase da gravidez em
que o bebê a obriga a comer tudo o que vê pela frente.
— Senti isso na gestação do Levi. Chegou uma hora que eu só
pensava em comer.
— Será que isso significa que o bebê é seu? — Rose perguntou
enquanto íamos para a cozinha, mas foi minha mãe que respondeu:
— Eu espero que sim.
Pelo sorriso de Rose, percebi que ela torcia pelo mesmo. Bom, pelo
menos eu tinha um fã-clube formado por elas duas e Miriam, só restava saber
de que lado tia Margarida e a mãe de Briana estavam. Por falar nela, Analídia
foi a primeira pessoa que vi ao entrar na cozinha de tia Margarida. Pelo jeito
como ela sorriu para mim e veio me abraçar, quis acreditar que ela estava do
meu lado também.
— Levi, como é bom rever você! Estava falando agora com Briana
que vou fazer um jantar lá em casa e você tem que ir. Não sei se você sabe,
mas a gente se reúne uma vez por semana para jogar baralho e a próxima vez
será lá em casa, então, vou aproveitar para fazer esse jantar.
— Levi vai ficar assustado com vocês jogando baralho. — Briana se
aproximou e eu fiquei aliviado ao ver o seu sorriso. Não parecia chateada
com a nossa última conversa.
— Claro que não, nós vamos nos comportar, não é, meninas? —
Analídia perguntou.
— Eu sei me comportar, já vocês... — Miriam resmungou e tia
Margarida riu.
— Você é a pior de todas nós, Miriam!
— Que absurdo! Isso é mentira!
— Eu vou adorar comparecer ao jantar — falei antes que elas
começassem a famosa discussão. — E não vou me assustar, podem ficar
tranquilas. Deixa eu aproveitar e apresentar minha mãe a vocês. Mãe, essa é
Briana, essa é Analídia, mãe dela, e aquela é Miriam, a outra amiga da minha
tia.
Minha mãe abraçou Analídia primeiro, pois ela estava mais perto, em
seguida, abraçou Briana por longos minutos. Quando se afastou, suas mãos
foram correndo para a barriga dela, que estava bem pronunciada sob o
vestido amarelo que usava.
— Meu Deus, como você é linda! E olha essa barriguinha...
— Não é a coisa mais maravilhosa do mundo? Eu estou babando! —
Analídia disse, emocionada. Percebi que minha mãe também estava com
lágrimas nos olhos.
— Sim, é o milagre da vida! Como você está, querida? Levi já me
falou muito sobre você.
— Eu estou bem e ele também já me falou muito sobre a senhora...
— Não, nada de senhora, por favor! Me chame apenas de Vitória.
Briana me olhou com um sorriso um pouco nervoso e eu me
aproximei, tomando a sua cintura.
— Minha mãe é como tia Margarida, se sente insultada ao ser
chamada de senhora.
— Querido, qualquer mulher na flor da idade, como a gente, se sente
insultada ao ser chamada de senhora — Miriam se aproximou. — É um
prazer, Vitória. Não se espante, todos aqui são loucos, menos eu.
— É um prazer e não se preocupe com isso, eu acredito em você —
minha mãe disse ao abraçá-la.
— Não acredite, ela é pior do que todas as outras três juntas — Briana
entregou e Miriam se fez de ofendida.
— Nem vou te responder! Acha que não estou percebendo que você
roubou o Levi de mim? Esse, é irmão desse, Briana — disse ela, apontando
para os dois olhos.
— Essa daí ficou apaixonada pelo Levi, Vitória. — Tia Margarida
apontou para Miriam, que balançou a cabeça.
— Foi o contrário, Levi que se apaixonou por mim primeiro, não é
verdade, Levi?
— É verdade — confirmei.
— Seu filho é um garoto muito bom, sabe? Porque só um homem de
bom coração alimentaria as alucinações de uma velha assanhada como a
Miriam — Analídia disse e minha mãe riu.
— Eu o criei para ser um cavalheiro.
— E ele é mesmo — Briana concordou, me dando um olhar cheio de
sentimentos. Quis entender cada um deles, mas no meio do caos que estava
naquela cozinha, foi praticamente impossível.
— Isso é verdade. Levi sempre me ajuda quando me vê carregando
bolsas de compras do mercado — Rose comentou. — E já vi ele fazendo o
mesmo com a vizinha do andar de cima.
— Meu sobrinho é um amor, por isso que não quis que vocês o
conhecessem, sabia que ficariam em cima dele.
— Acho que elas vão passar a noite inteira te elogiando — Briana
sussurrou em meu ouvido enquanto minha mãe enumerava todas as
qualidades que eu nem imaginava que tinha.
— Eu não sabia que ter educação era algo tão incomum hoje em dia
— sussurrei de volta.
— Você é muito educado mesmo. Elas ficariam chocadas com o tipo
de coisa educada que você fica falando para mim quando estamos sozinhos.
— Quem disse que eu só falo coisas educadas quando estamos
sozinhos? Se quiser, posso começar agora mesmo. Por exemplo, tem uma
parte do meu corpo que adora ser educada com você.
— É mesmo? Que parte seria essa?
— Meu pau. Ele está sempre disposto a ficar de pé para você poder se
sentar.
Briana arregalou os olhos e soltou uma gargalhada tão alta, que todas
as mulheres na cozinha pararam de falar. Eu fui mais comedido, percebendo a
curiosidade nos olhos de cada uma enquanto Briana tentava se controlar.
— A piada deve ter sido boa — Miriam comentou.
— Eu não falei nada de mais, juro — me defendi e Briana me olhou
enquanto apertava o cantinho dos olhos.
— Você é muito cara de pau.
— Eu? Jamais. Mãe, por favor, me defenda.
— Não, tenho certeza de que Briana tem razão.
— Como assim? Você mal a conheceu e já está do lado dela?
— As mulheres precisam se unir, querido — Rose que respondeu.
— Exatamente! Falando nisso, eu trouxe um presentinho para o meu
neto — minha mãe disse de repente e eu fiquei um pouco tenso. Depois da
conversa que tive com Briana por mensagem, não sabia como ela reagiria
àquilo. Por sorte, minha mãe emendou. — Eu sei sobre a história da
inseminação e tudo mais, mas isso não me impediu de comprar o macaquinho
lindo que vi em uma loja dias atrás. Vem comigo, Briana!
Minha mãe tomou a mão de Briana antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa e acabei indo atrás das duas até a sala, onde minha mãe havia
deixado sua bolsa. Vi quando tirou um embrulho e entregou para Bri.
— Espero que você goste.
— Tenho certeza de que vou adorar — Briana afirmou enquanto
abria. Eu esperei com certa expectativa, me dando conta de que ainda não
havia comprado nada para o bebê, apesar de já ter parado para observar
algumas vitrines nas vezes em que fui ao shopping. Eu não sabia ao certo o
que comprar, mas talvez alguma vendedora pudesse me ajudar. — Meu Deus,
é lindo!
O macaquinho era amarelo bem clarinho e minúsculo, com um
bordado muito bonitinho de ursinho. Eu me aproximei para ver melhor e
Briana me fitou com os olhos cheios de lágrimas.
— Não é a coisa mais linda?
— É sim. Vai ficar perfeito no bebê.
— Eu não resisti, precisei comprar assim que vi! E me segurei para
não comprar um rosa, sabe? Porque sinto que é uma menina.
— Eu também! — Analídia anunciou, vindo da cozinha. — Tenho
certeza que é uma menina. Essa barriga redondinha não me engana.
— Agora que a vi pessoalmente, eu também tenho certeza. Barriga de
menino é pontuda...
Eu me senti sendo bombardeado de informações. Sequer sabia que
existia uma barriga diferente para menino ou menina, apesar de ter quase
certeza de que tudo aquilo era apenas uma superstição, coisa passada de
geração para geração entre as mulheres. Emocionada, Briana se aproximou da
minha mãe e a abraçou.
— Eu amei, Vitória, pode ter certeza de que vou usar com muito
carinho.
— Fico feliz que tenha gostado, querida. Quero que saiba que estou
muito feliz por esse bebê e que se ele for mesmo de Levi, eu serei a melhor
avó do mundo!
— Tenho certeza de que ele será muito amado, vai ter um monte de
vovós — Briana confirmou e eu percebi que era verdade. Miriam, Rose e
minha tia também se sentiriam avós daquele bebê. Que sorte ele tinha. Ou
ela. Porra, ainda não havia pensado em um sexo para a criança.
Minha mãe e Briana trocaram mais algumas palavras, até Raul se
levantar e eu apresentá-lo a ela. Eu gostava de Raul, ele era completamente
apaixonado pela minha mãe e a fazia muito feliz, além de ser um bom amigo
para mim. Era um ótimo padrasto. Tia Margarida logo anunciou que o jantar
estava servido e o resto da noite foi bem divertido, minha mãe logo se
enturmou com todas as mulheres e entendeu como funcionava aquela
amizade, onde todas se alfinetavam, mas se amavam. Aquilo me fez pensar
que seria muito bom ter minha mãe morando mais perto de mim. Companhia
feminina não faltaria, tinha certeza de que aquele quarteto não se importaria
em se transformar em um quinteto.
Logo após o jantar, as mulheres voltaram para a cozinha para poder
guardar as comidas. Eu me ofereci para lavar a louça, mas minha mãe tomou
aquela função para ela e eu acabei aproveitando aquele momento para levar
Briana até a varanda. Estava louco para beijar a sua boca, mas como
estávamos na frente dos seus pais, resolvi que seria melhor esperar até mais
tarde. Sozinhos e com o seu corpo bem perto do meu, finalmente consegui
perguntar:
— Está tudo bem entre a gente, Bri?
— Sim. Por que não estaria?
— Não sei. Nossa conversa por mensagem foi um pouco estranha.
Briana desviou os olhos dos meus rapidamente, mas logo voltou a me
encarar.
— Essa história do DNA mexe um pouco comigo. Às vezes, eu até
consigo esquecer que temos que resolver isso, sabe? É estranho.
— Eu também consigo esquecer e, na verdade, não gosto muito de
lembrar. — Encurtei a nossa distância e coloquei minha mão sobre a sua
barriga. Meus dedos longos quase cobriam o seu ventre e eu estava ansioso
pelo momento em que sentiria o bebê chutando. — Você acha que é uma
menina?
— Acredita que eu ainda não pensei sobre o sexo?
— Jura?
— Sim.
— Isso me tranquiliza, porque eu também não pensei. Isso faz de mim
um pai ruim?
— Se fizer de você um pai ruim, então, o que faz de mim como mãe?
— Ela riu e percebi que estava brincando, assim como eu. — Acho que o
sexo não importa muito.
— Não mesmo. — Voltei a olhar em seus olhos e reafirmei: — Eu
não vou embora, Bri. Se der negativo e se você permitir, eu vou ficar aqui.
Para a minha surpresa, os olhos de Briana se encheram de lágrimas e
o queixo dela tremeu. Porra, será que eu havia falado alguma coisa errada?
— Por quê? — Ela perguntou baixinho.
— Porque você e esse bebê já são importantes demais para mim. —
As lágrimas caíram sobre sua bochecha depois que me calei e tomei seu rosto
em minhas mãos, secando-as com o polegar. — Eu sei como aquele filho da
puta te machucou, Briana, mas eu não sou como ele. Não vou brincar com os
seus sentimentos, eu juro. Não vou te machucar.
Eu sabia que Briana não me daria uma resposta naquele momento, por
isso, não perguntei se ela acreditava em mim ou não, apenas a puxei para os
meus braços e coloquei sua cabeça sobre o meu peito. Eu sabia que as
palavras não substituíam as ações — durante anos, fui massacrado com
promessas do meu pai e ele nunca as cumpriu —, por isso, mostraria para
Briana que eu estava falando sério. Ela veria com os próprios olhos que eu
não era como Davi, muito menos como o meu pai. Eu era diferente e, com o
tempo e a convivência, provaria aquilo para ela.
Duas semanas se passaram em um piscar de olhos desde o jantar na
casa de tia Margarida e Briana e eu nos tornamos ainda mais próximos. Eu
podia sentir os olhos de todo mundo sobre nós dois, como se quisessem
adivinhar se éramos apenas amigos ou se havia algo a mais acontecendo, mas
acho que Briana e eu entramos em um acordo silencioso sobre viver um dia
de cada vez e deixar a nossa relação o mais pessoal possível, o que era ótimo,
pois sentia que assim tínhamos mais liberdade um com o outro.
Eu estava completamente rendido por ela, mas isso já não era
nenhuma novidade para mim. Briana vivia em minha mente, assim como o
bebê, e a vontade que sentia a cada vez que a via, que a tocava e a beijava,
era que não queria que aquilo parasse nunca, só evoluísse. Queria que Briana
conseguisse enxergar em mim tudo o que eu tinha para mostrar, um homem
completamente diferente do seu ex, alguém que estava apaixonado por ela e
por aquela criança. O fato de se abrir cada vez mais para mim, de se sentir à
vontade ao meu lado, de procurar a minha companhia, me fazia pensar que
estávamos indo pelo caminho certo.
Eu não queria apressar as coisas, pois sabia que Briana ainda estava
machucada e traumatizada, então, apesar do tesão que consumia o meu corpo
a cada vez que a beijava e tocava, não ia além do que ela me permitia, e
estava indo no seu tempo. Sabia que nossa história havia começado do
avesso, então, era como se só agora estivéssemos criando um vínculo que ia
além do bebê que ela carregava e eu estava gostando daquela fase, do flerte,
dos beijos, da ansiedade para revê-la, da expectativa do que poderia
acontecer.
Nunca fui do tipo de cara que pegava várias meninas ao mesmo
tempo. Claro, eu aproveitava a minha fase de homem solteiro, tinha casos de
uma noite só, mas nunca fugi de relacionamento. Com Briana, eu sentia que
esse meu lado se aflorava ainda mais, queria fazer tudo com ela, estava
completamente de quatro pela mulher e sequer conseguia pensar nas
consequências que essa paixão me traria, caso ela quisesse terminar tudo um
dia. Se o nosso lema silencioso era viver um dia de cada vez, eu ia aproveitar
ao máximo, com toda a intensidade, e lutar para que abrisse um espacinho no
seu peito para me abrigar.
No dia anterior, fomos juntos para a sua consulta mensal. Briana
estava completando a décima sexta semana — ou quatro meses, como eu
gostava de simplificar — e estávamos na expectativa de descobrir o sexo do
bebê. Malu foi conosco, porque a ideia de Briana era fazer uma espécie de
chá revelação, que estava na moda nas redes sociais, mas apenas com as
pessoas mais íntimas na casa da sua mãe no sábado. O jantar que Analídia
falou que faria para a noite de jogos com as amigas precisou ser adiado,
então, se tudo desse certo, o sexo do bebê seria revelado na sua casa.
Eu estava ansioso, pois desde a conversa na casa de tia Margarida,
vinha pensando sobre aquilo. Será que era um menino? Ou uma menina? Não
queria ser influenciado pelas mulheres, mas comecei a achar que poderia ser
uma menina, o que era um pouco preocupante, na verdade. Não era fácil
colocar uma mulher no mundo, pois os homens existiam, e homens eram uns
filhos da puta que com certeza iam querer tocar na minha garotinha.
Apreensivo, ainda conseguia me lembrar do momento em que a doutora
sorriu e nos encarou.
— Não querem mesmo saber o sexo?
— Já dá para ver? — Briana perguntou com um sorriso entusiasmado
e a doutora confirmou.
— Sim, perfeitamente.
— Que incrível! Não conte para eles, doutora, conte só para mim! —
Malu pediu. Senti Briana agarrar a minha mão e tirei os olhos da tela para
poder olhar em seus olhos.
— Está tudo bem, Levi? Você está pálido.
— Sim, está. Quer dizer, estou um pouco preocupado.
— Não precisa ficar, está tudo ótimo com o bebê e com a Briana.
Ambos estão saudáveis. — A doutora tentou me tranquilizar, mas não era
aquilo que estava martelando em minha cabeça.
— Não, eu só estou pensando... Se for uma menina, eu não vou ter
mais um dia de paz nessa Terra.
— Como assim? — Briana questionou e eu olhei para ela sem saber
como ela não entendia o óbvio.
— Você não vê? Meninas atraem meninos e meninos são uns idiotas.
Vão querer tocar na minha filha, entendeu?
As três mulheres se encararam e, para o meu total espanto,
começaram a rir. Eu me senti a porra de um palhaço, apesar de não ter
contado piada alguma.
— Qual é a graça? Eu estou falando sério!
— Levi, pelo amor de Deus, se for uma menina, ela será apenas um
bebê.
— Mas bebês crescem!
— É a ordem natural da vida, bobinho. Ou achou que só você poderia
tocar na filha dos outros e ninguém faria isso com a sua? — Malu perguntou
em tom de deboche, rindo da minha cara.
Aquilo não estava certo. Senti minha mente retroceder e jogar na
minha cara todas as mulheres com quem estive, ainda que eu não me
lembrasse muito bem do rosto daquelas com quem passei uma única noite.
Estar do lado de cá era ótimo quando não se tinha uma filha, mas agora... Eu
queria matar todos os babacas que pensassem em se aproximar da minha
garotinha. E eu nem sabia se era mesmo uma menina!
— Não sofra por antecedência, pode ser um menino. — Briana tentou
me tranquilizar enquanto se sentava na maca. Ajudei-a, segurando sua mão, e
perguntei:
— Seu instinto de mãe diz o quê?
— Eu achei que meu instinto de mãe veio com defeito de fábrica até
dias atrás, mas, então, acordei com uma sensação diferente essa semana.
— Sensação diferente? Você não me disse nada sobre isso.
— Porque eu não sabia direito como identificar, era como se fosse um
sentimento. Eu sinto que pode ser uma menina.
Eu olhei para ela por um momento, observando o momento em que a
doutora saiu daquela parte reservada do consultório junto com Malu,
provavelmente para poder contar o resultado a ela. Podia jurar que senti uma
gota fria de suor escorrer pela minha nuca.
— Eu também acho que pode ser uma menina — confidenciei. Seria
estranho dizer que eu poderia estar tendo um ataque do coração naquele
momento? — Puta merda, estou muito fodido.
— Levi! — Briana riu de mim e pegou meu rosto com as duas mãos,
ainda sentada sobre a maca. — Vai demorar muitos anos para nossa filha
pensar em meninos. Vamos nos preocupar com uma coisa de cada vez, ok?
Senti um impacto bem dentro do meu peito. Nossa filha. Foi a
primeira vez que Briana disse aquilo, que reconheceu aquele bebê como
nosso. Não sabia se ela tinha tomado ciência do que tinha dito, mas o fato de
falar sem pensar só mostrava como ela me incluía, como me via como quem
eu realmente queria ser. O pai do seu bebê. Pousei minha mão sobre sua
barriga, que ainda estava nua após a ultrassonografia, e acariciei sua pele com
o meu polegar.
— Você vai ter que lidar com os meus cabelos brancos quando esse
momento chegar.
— Talvez eu já deva me preparar para procurar um cardiologista.
Acho que você precisa cuidar do seu coração com antecedência — ela
brincou, pousando a mão sobre a minha.
— É uma boa ideia, porque se ela puxar um por cento da sua beleza...
Caralho, Briana, não gosto nem de pensar!
— Então não pense — pediu, dando um beijo no canto dos meus
lábios antes de se levantar. — Agora, se ela tiver os seus olhos, aí sim você
vai ter com o que se preocupar.
— Meus olhos?
— Sim. Esses olhos verdes deixam as mulheres apaixonadas. — Ela
fez uma careta e eu ri, puxando-a para mim pela cintura.
— Você se inclui nesse pacote? Se apaixonou pelos meus incríveis
olhos verdes?
— Sim, foi por causa deles que fui para cama com você naquela noite.
— E eu achando que tinha sido por causa do meu sorriso ou dos meus
músculos...
— Foi o pacote completo, sabe? — Ela tirou um cacho da frente do
rosto e sorriu, fazendo charme e me deixando com o pau semiereto bem no
meio do consultório. — Você é muito gostoso de se olhar.
— Só de se olhar? — questionei em um sussurro e ela mordeu o lábio
inferior.
— Você sabe que não.
— Eu não sei. — Passei meu nariz de leve pelo seu pescoço e sorri ao
ver sua pele ficar arrepiada. — Vou esperar com ansiedade pelo momento em
que você quiser me mostrar.
Um sorriso ofegante se abriu em seus lábios antes que eu deixasse que
ela se afastasse. Briana me deixava louco e, como sempre, com a porra do
pau duro em qualquer lugar que estivéssemos. Por sorte, consegui me
controlar antes que a ereção ficasse evidente demais sob a calça jeans e fui
com ela para o consultório depois que terminou de ajeitar a roupa. Saímos de
lá com uma Malu sorridente, pois apenas ela sabia sobre o sexo do bebê e não
nos contaria nem sob tortura. Antes que pudéssemos ir para o elevador,
Briana pediu para que esperássemos no corredor e foi ao banheiro na
recepção do consultório da médica. Ainda sorrindo, Malu me encarou:
— Sério mesmo que você está preocupado sobre ser uma menina?
— Claro que sim. Qualquer pai ficaria preocupado, não?
— Acho que é nesse momento que vocês se arrependem de tudo o que
já fizeram na vida das mulheres.
Eu nunca fui um babaca com as mulheres, mas aquilo não me impediu
de engolir em seco.
— Sim. — Concordei a contragosto. — Mas eu nunca fui esse tipo de
homem.
— Olhando para você, posso apostar que não foi mesmo. — Acho
que ela viu a dúvida em meu olhar, pois logo acrescentou: — Sei que nos
conhecemos muito pouco, mas eu gosto de você, Levi, gosto ainda mais do
que vejo nos olhos da minha amiga a cada vez que ela fala sobre você. Briana
sofreu muito com o término do noivado, mas sinto que está se abrindo para
um novo relacionamento por sua causa. E a forma como você lidou com a
gravidez, como se importa com o bebê... Nunca pensei que um homem
poderia agir assim. Sabe, parece coisa dos livros de romance que eu leio.
Suas palavras me pegaram de surpresa e só consegui focar em uma
coisa.
— Briana te disse isso? Que está se abrindo para um novo
relacionamento?
— Ela não disse, mas eu sinto que está. Se não estivesse, não estaria
se envolvendo com você.
— Eu estou louco por ela. — Confidenciei e Malu apenas assentiu.
Acho que todo mundo já sabia daquilo, ainda que eu não dissesse em voz
alta. — Mas tenho medo de falar isso e acabar estragando tudo.
— Eu entendo, mas acho que você pode demonstrar isso sem precisar
falar, pelo menos por enquanto.
— Como posso demonstrar?
— A convidando para um encontro? Um encontro oficial, entende? —
Eu apenas assenti, me sentindo um idiota por não ter pensado naquilo antes.
Um encontro, porra!
— Será que ela não vai se afastar? Achar que estou indo rápido
demais?
— Vocês já estão ficando há algumas semanas, então, acho que está
na hora de evoluir um pouco as coisas. — Malu disse com um sorrisinho e se
aproximou de mim, como se fosse me contar um segredo. — Toda mulher
gosta de ser surpreendida, Levi. Acho que é disso que Briana precisa, sabe?
De um choque de realidade para entender que você não está aqui apenas para
ficar segurando a mão dela e beijando a sua boca... Ela precisa entender que
você quer mais.
Malu estava coberta de razão. Eu havia dito para mim mesmo que não
encheria Briana de palavras, que mostraria com as minhas atitudes que a
queria, então, o que estava esperando? Ir devagar não queria dizer que
precisávamos ficar estacionados no mesmo lugar. Um sorriso se abriu em
meus lábios e Malu retribuiu, como se soubesse que eu tinha entendido
exatamente o que queria dizer.
Briana voltou antes que eu pudesse dar continuidade àquela conversa
e Malu e eu disfarçamos, em um acordo tácito de que ela não precisava ficar
sabendo dos nossos planos. Malu entrou em seu carro quando chegamos no
estacionamento e nos despedimos ali, com Briana ocupando o lugar do
passageiro no meu carro. Deixei-a na confeitaria, pois ela estava no processo
da criação dos doces sem açúcar que queria incluir no cardápio, e eu
precisava voltar para a agência, pois teria uma reunião em trinta minutos.
Agora, um dia depois da consulta e da conversa esclarecedora com
Malu, eu estava dividido entre a ansiedade para a revelação do sexo do bebê
naquela noite e os planos para o encontro com Briana. Pesquisei por um
restaurante legal, pois não queria levá-la para um lugar qualquer, e resolvi
que faria o convite dali alguns dias, torcendo para que aceitasse. Eu sabia
que, na nossa atual situação, se Briana dissesse que sim, muitas portas
poderiam se abrir para nós dois, pois seria a prova de que ela estava disposta
a ir mais fundo naquela relação, mas, se dissesse que não, poderia, talvez, ser
o nosso fim. E eu não queria que chegássemos ao fim.
Combinamos de ir juntos para a casa dos seus pais e eu bati na porta
do seu apartamento no horário combinado, depois de passar o endereço de
Analídia para Diego. Perguntei antes se poderia convidá-lo, pois aquele era
um momento importante e queria que Diego fosse o padrinho do bebê —
ainda que não tivesse conversado sobre aquilo com Briana. Sua mãe e seu pai
foram bem claros ao dizer que eu poderia convidar quem quisesse, então,
Diego levaria Gustavo e Henrique com ele. Era a primeira vez que os três
participariam efetivamente da vida do bebê e eu esperava que se
comportassem. Diego já estava acostumado, mas eu sentia que Gustavo e
Henrique ainda me olhavam como se eu fosse louco por não ter dado
andamento ao exame de DNA.
Briana abriu a porta e eu senti como se tivesse tomado um soco no
estômago ao me dar conta da sua beleza. Com os cabelos soltos em cachos
sedosos e volumosos, uma maquiagem muito bonita, que realçava seus lábios
carnudos e bem-desenhados, e um vestido azul justo ao corpo, contornando a
barriga bem mais arredondada do que nas semanas anteriores, Briana estava
linda pra caralho.
— Porra, Bri! — Peguei a sua mão e fiz com que desse uma voltinha.
— Você está maravilhosa.
— Tem certeza? Nenhum vestido cabe em mim. Acho que preciso
comprar roupas novas. — Fez uma careta e eu olhei novamente para o seu
corpo escondido sob o vestido azul e justo. Até o decote era lindo, realçando
seus seios que pareciam ter aumentado um número ou dois. O que eu não
daria para vê-la nua... Porra!
— Você está linda e vai ser difícil pra caralho não ficar com os olhos
em cima de você essa noite — falei, encostando meu corpo ao dela. Seu
perfume delicioso me deixou cheio de tesão. — Acho melhor a gente ir, antes
que eu comece a te beijar e borre toda a sua maquiagem.
Briana riu e me surpreendeu ao ficar na ponta dos pés para beijar a
minha boca com delicadeza. Eu deixei que ditasse o ritmo, pois se tomasse as
rédeas da situação, com certeza perderia um pouco o controle. Às vezes era
muito difícil ir devagar, quando tudo o que eu queria era devorar cada
cantinho daquele corpo, desbravar cada mudança, sentir sua pele contra a
minha... Briana estava se tornando uma grávida muito sexy e eu me segurava
para não ir além do que me permitia.
Tomando a minha mão, saímos juntos e eu dirigi até o apartamento
dos seus pais, que ficava no mesmo bairro em que o nosso. Fomos
conversando sobre banalidades, até começarmos a falar sobre o crescimento
das redes sociais da sua confeitaria. Naquelas poucas semanas, seu número de
seguidores dobrou de tamanho, o que fez com que mais clientes aparecessem.
Era nítida a alegria de Briana enquanto me contava sobre o feedback positivo
que vinha recebendo, e eu ficava muito feliz por participar daquela parte da
sua vida. Ela sempre me agradecia, mas a verdade era que nem precisava
agradecer, eu apenas ajudava com uma parte do seu negócio, todo o mérito
era inteiramente dela, por ser muito competente e profissional.
Assim que pisamos no corredor do apartamento dos seus pais, já era
possível ouvir o falatório e a música alta. Briana entrou sem pedir licença,
usando a cópia da chave, e todo mundo veio logo nos cumprimentar. Foi com
alegria que vi a decoração propícia para o chá de revelação, com bolas
penduradas, uma faixa escrita “menino ou menina?” estendida nas portas que
levavam à sacada e uma mesa pequena com um bolo. Briana soltou um
gritinho quando viu e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Não acredito que vocês fizeram isso! Vou matar vocês! — Disse
ela, virando-se para mim. Seus lábios se separaram ao ver minha expressão.
— Você sabia!
— Culpado. — Ergui as mãos, rindo.
Sim, eu sabia. Malu me colocou em um grupo do WhatsApp naquela
manhã, onde Analídia, Miriam, Rose e Margarida participavam, e ficou me
mandando várias ideias de decoração. Eu queria ajudar mais, no entanto, só
pude opinar, pois tive uma reunião naquele sábado e cheguei em casa já no
final da tarde, então, só as ajudei a escolher tudo. Como fizeram aquela
decoração em poucas horas, eu não fazia ideia. Só sabia que Miriam tinha
feito o bolo de manhã antes de ir para a confeitaria.
— Por que não me contou? — Briana perguntou, apertando o canto
dos olhos.
— Porque era surpresa — falei o óbvio e ela riu e cerrou os olhos.
— Pois saiba que você não é o único a fazer surpresas, espertinho.
Eu não entendi o que ela quis dizer até ver minha mãe vindo de um
corredor junto com Raul. Encarei-a boquiaberto, porque ela disse que não
poderia vir, pois Raul tinha um compromisso de trabalho que era inadiável.
Tinha me enganado direitinho! Rindo, me aproximei e a abracei, feliz por ela
estar ali. Não quis admitir, mas havia ficado chateado quando me disse que
não poderia vir.
— Não foi você que me ensinou que mentir era feio? — perguntei,
ouvindo sua gargalhada.
— Uma mentirinha de nada não faz mal a ninguém, querido. — Suas
mãos tocaram meu rosto e eu vi que estava emocionada. — Achou mesmo
que eu perderia esse momento? Nunca, Levi!
— E por que Briana sabia que você viria e eu não? — perguntei,
abraçando Raul rapidamente. Foi ele quem me respondeu:
— Porque agora as duas vivem trocando mensagens pelo celular. Sua
mãe pergunta todos os dias se ela está bem.
— Claro! Eu posso estar distante fisicamente, mas sempre estarei
presente.
Olhei para as duas, que sorriram e se abraçaram, e senti um nó idiota
se formar em minha garganta. Estava feliz por serem amigas e se darem tão
bem. Era como se todas as peças do enorme quebra-cabeças que era a minha
vida, começassem a se encaixar. Minutos depois, Diego, Henrique e Gustavo
chegaram e o apartamento de Analídia ficou cheio, com pessoas falando alto
e a música rolando.
Consegui cumprimentar todo mundo e me dei conta de que, de
repente, eu, que havia sido criado praticamente sozinho pela minha mãe e
minha avó, estava em uma casa repleta de pessoas que haviam se tornado
muito especiais para mim, em um momento que nunca imaginei que viveria
de fato. O chá de revelação de sexo do meu filho ou filha. Quão louco era
aquilo? A vida mudava de minuto a minuto, eu sabia, mas, mesmo assim,
conseguia ser surpreendente.
Com Briana ao meu lado, vi o momento em que Diego e Malu se
toparam perto da mesa do bolo e fiquei atento aos dois, com medo de que
começassem a bater boca ali mesmo, na frente de todo mundo. Meu amigo,
que era um sacana de marca maior, abriu um sorriso cheio de dentes para
Malu, que fechou a cara e ficou com as bochechas vermelhas. Ela era bem
mais baixa do que ele, portanto, tinha que levantar o rosto para encará-lo e
senti que não gostava nada daquilo. Ri baixinho quando tocou o peito dele
com o dedo indicador e disse alguma coisa que o fez gargalhar com deboche.
— Eles não vão começar a brigar, vão? — Briana perguntou em meu
ouvido, parecendo preocupada.
— Espero que não, afinal, essa festa é para o futuro afilhado dos dois.
— Virei-me um pouco para olhar em seus olhos. — Eu gostaria que Diego
fosse o padrinho do bebê.
— E eu gostaria que Malu também fosse. — Ela me deu um sorriso
que logo interpretei com malícia. — Isso vai ser divertido.
— Eu disse para você que seria! Talvez o bebê possa fazer com que
eles se entendam de uma vez por todas.
— Ou que se odeiem para sempre — concluiu e eu assenti com uma
risada, voltando a olhar para os dois no momento em que Malu passou por
Diego, furiosa. Bom, só o tempo nos diria o que ia acontecer.
Analídia chamou todo mundo para comer e eu me sentei perto dos
meninos, enquanto Briana dava atenção a Malu. Fiquei com um olho nela
enquanto comia o empadão preparado por Rose e senti Henrique me olhar.
— Pleno sábado e eu estou em um chá revelação de sexo de bebê. O
que a gente não faz por um amigo.
— Essa é a maior prova de amizade que você vai receber da gente —
Diego concordou, mas eu vi que estava brincando.
— Não reclamem, pois ainda tem o batizado, a festa de um ano...
— Minha prima fazia uma festa a cada mês de vida da criança. Vocês
não serão desse tipo, né? — Gustavo perguntou, dando um gole na cerveja,
até que, por fim, olhou para a garrafa e disse: — A não ser que tenha cerveja
na festinha, aí vai ser divertido.
— Pelo ritmo que estou vendo aqui, é capaz de ter uma festa para
cada semana de vida do bebê — Diego zoou.
— Vocês são idiotas. Poderiam contribuir, sabe? Dando a cerveja, a
carne para o churrasco, o dinheiro pra fralda.
— Porra, você faz o filho e a gente que tem que bancar? — Gustavo
perguntou, nos fazendo rir. — Quer dizer, isso se a criança for mesmo sua,
né, pois ainda tem esse fator de suma importância que você parece ignorar.
Senti o bom humor me deixando na hora em que ele calou a boca e
Diego nos deu um olhar apreensivo. Dos três, meu melhor amigo era o único
que me entendia de verdade, mas isso não dava o direito de Gustavo ficar
falando merda na minha cara.
— Isso não importa para mim — afirmei antes de dar um gole na
cerveja. Gustavo arqueou uma sobrancelha.
— Não importa? Fala sério, Levi, vai mesmo querer criar o filho de
um outro cara? Você merece mais do que isso.
— Gustavo, chega — Diego pediu e Henrique acrescentou:
— É mesmo, cara, nada a ver ficar falando isso agora.
— Só estou dizendo a verdade. Parece que todo mundo se esqueceu
de que esse bebê pode não ser dele, mas eu não me esqueci.
— Foda-se! — falei, me erguendo. Por sorte, o falatório e a música
alta não deixaram que ninguém prestasse atenção em mim, mas, mesmo
assim, abaixei um pouco o tom para falar com ele: — Esse é um momento
especial para mim, Gustavo, será que pode respeitar isso?
— Eu estou respeitando, tanto que estou aqui, mas você é meu amigo,
Levi. — Ele também diminuiu o tom de voz e me encarou com seriedade. —
Só não quero que você se envolva ainda mais nisso tudo e depois quebre a
cara.
— Não se preocupe comigo, eu sei me cuidar.
Não fiquei ali para ouvir mais nada do que tinha para dizer, ou
poderia acabar perdendo a cabeça e mandando que fosse embora. Gustavo
não entendia, talvez nem mesmo Henrique ou Diego entendessem, mas eu já
amava aquela criança. Se não fosse minha filha de sangue, não importava
mais, já era minha e foda-se o que eles ou qualquer outra pessoa pensava! Fui
até o banheiro rapidamente e joguei uma água no rosto, querendo dissipar um
pouco da minha raiva e do mal-estar que se instalou em meu estômago. No
fundo, eu sabia que Gustavo não havia falado aquilo por maldade, mas era
ruim do mesmo jeito.
Fiquei alguns minutos ali até sentir que estava mais calmo e, quando
saí, encontrei Briana parada no corredor. Ela abriu um sorrisão, alheia ao que
havia acontecido, e apertou as coxas.
— Estou apertada!
Consegui abrir um sorriso e dei passagem para ela, mas não saí de
perto da porta.
— Quer ajuda para descer a calcinha?
— Sei muito bem por que você quer descer a minha calcinha.
— Só quero ajudar, eu juro.
— Claro que sim, safado! — Ela riu e me deu um beijo rápido nos
lábios antes de me empurrar pelos ombros. — Deixa eu fazer xixi logo, pois
Malu já quer revelar o sexo do bebê e estou ansiosa!
Eu me afastei e deixei que fechasse a porta do banheiro, resolvendo
focar no que realmente era importante, o grande momento daquela noite. A
opinião de Gustavo não importava, nada tiraria o brilho do que estava prestes
a acontecer. Briana voltou para a sala minutos depois e Malu, toda
entusiasmada, começou uma brincadeira divertida com nós dois. Fez um
discurso rápido falando que estava muito feliz por ter sido a escolhida para
cuidar daquele momento tão especial, em seguida, respirou fundo e nos deu
um envelope, pedindo para que abríssemos e lêssemos em voz alta. Como
Briana estava nervosa, eu li:
— Olá, mamãe e papai. — Porra, senti que minha voz poderia
embargar a qualquer momento. — Estou muito feliz por finalmente poder dar
a vocês a chance de saber se sou uma menina ou um menino. Sei que vocês e
todo mundo que está presente nesta noite estão ansiosos, por isso, quero logo
me revelar! Abra a caixa que está ao lado da mesa do bolo e descubra quem
eu sou.
Briana só esperou que eu desse o papel de volta para Malu e foi
correndo até a mesa, pegando uma caixa grande de papelão que estava ali,
forrada com papel rosa e azul. Nós abrimos a tampa juntos, ansiosos, mas o
que saiu lá de dentro foram uns dez balões brancos, nada que revelasse o sexo
do bebê.
— Ah, não! Malu, não acredito que vai fazer isso com a gente! —
Briana chiou, ansiosa, pegando a outra cartinha que havia dentro da caixa.
Dessa vez, foi ela quem leu: — Acharam que seria fácil, não é? Nada disso,
minha dinda, quero aproveitar esse momento para falar que quero a Malu
como minha madrinha, disse que vocês não poderiam descobrir muito rápido,
mas eu sou um bebê muito bonzinho, por isso, quero me mostrar logo.
Estourem o balão que está perto da sacada!
E lá fomos nós para perto da sacada, onde havia um balão flutuando,
preso a maçaneta das portas de correr. À essa altura, eu sentia todo mundo
perto da gente, ansioso, rindo e comentando. Pegamos um alfinete que Malu
colocou em cima da mesa do bolo e estouramos juntos. Uma chuva de papel
prateado, junto com mais uma cartinha, caiu sobre as nossas cabeças.
— Vou matar você! — Briana xingou, mas riu quando Malu
gargalhou.
— Leia logo! Quero saber se vou ter uma neta ou um neto — Brito
pediu e eu abri o cartão, lendo em voz alta:
— Tá bom, eu sei que vocês são ansiosos, mas a minha dinda é muito
brincalhona e queria fazer uma gracinha. Quero deixar claro que, apesar de eu
ser a atração principal da noite, só colaborei com tudo isso, ok? Mas acho que
chegou a hora de realmente deixar vocês saberem se vou ser um meninão
lindo ou uma menina que vai fazer o meu pai querer arrancar os cabelos
quando eu crescer. Ele já está sofrendo por antecipação que eu sei. Vão até a
sacada e estourem o confete que está em cima da mesa.
Passamos pelas portas e vi o lança confetes metalizado sobre a mesa.
Esperei que todo mundo se aproximasse e senti meu coração ficar acelerado,
pois algo me dizia que o momento havia chegado. Briana me encarou com os
olhos marejados e um sorriso gigantesco, afirmando uma vez com a cabeça
que eu deveria estourar. Foi isso que fiz. Em um segundo, eu estava em
dúvida sobre o sexo, no outro, tinha certeza de que precisaria mesmo
procurar aquele cardiologista que Briana aconselhou na consulta, pois o papel
rosa picado caiu sobre as nossas cabeças e todo mundo começou a gritar e
bater palmas de felicidade.
Rindo, Briana se jogou em meus braços e eu a rodopiei, deixando de
lado toda e qualquer preocupação e só sentindo a emoção que esmagava o
meu peito. Teríamos uma menina. Eu seria pai de uma menina, porra!
Emocionado, coloquei Briana no chão e tomei seu rosto em minhas mãos. Ela
chorava, mas também sorria.
— Uma menina!
— Levi...
— Vamos ter uma princesa, meu bem — reafirmei, vendo-a assentir.
— Nós dois, porque eu não me importo com mais nada, Briana. Essa bebê é
minha, entendeu? Independente de qualquer coisa, ela é minha.
Briana assentiu, seu queixo tremendo, lágrimas de emoção brilhando
em seus olhos.
— Uma menininha, Levi! Promete que não vai morrer antes da hora?
— Vou me esforçar bastante, eu juro.
Ela gargalhou, tão linda, tão reluzente, que não resisti. Pouco me
importei se estávamos na frente de todo mundo e que estava prestes a quebrar
aquela regra silenciosa em nosso relacionamento, onde só nos beijávamos
escondido de tudo e todos, e tomei sua boca na minha. Foi o beijo mais
emocionante que já dei em minha vida. Apesar de todo o barulho externo, o
mundo ficou em silêncio nos poucos minutos em que nossos lábios ficaram
juntos, em que sua mão apertou minha nuca e o seu corpo ficou pressionado
contra o meu. Sabia que ainda tínhamos muito o que conversar, e o que
enfrentar, talvez, mas soube que aquela batalha valeria a pena.
Por Briana e por nossa filha, tudo valeria a pena.
Miriam: Eu sabia que estava rolando alguma coisa entre esses
dois! EU SABIA!
Margarida: Não sei quem Briana acha que engana...
Mãe: Filha, estou magoada, pensei que você me via como sua
amiga e que me contaria quando começasse a se envolver com Levi.
Porque era óbvio que isso ia acontecer.
Malu: Eu já sabia!
Rose: Claro que você sabia, Malu. Briana só esconde segredos da
gente. Mas tudo bem, é assim que a gente descobre a nossa real
importância na vida dela...
Acordei com o grupo do WhatsApp composto por mim, minha mãe,
Miriam, Rose, Margarida e Malu, repleto de mensagem, onde fui massacrada
por não ter contado que Levi e eu estávamos nos envolvendo. Depois do
beijo que ele me deu na frente de todo mundo na noite anterior, sabia que elas
não me deixariam escapar. Naquele momento, tive que lidar apenas com os
olhares delas e de todos os presentes, mas tinha certeza de que o
interrogatório — e a cobrança — viria logo. A prova estava bem ali. Eu ri
baixinho ao ler o drama e respondi:
“Não levem para o lado pessoal, por favor. Eu só queria ter um
tempo a sós com Levi antes de contar o que estava acontecendo para vocês.”
Miriam: Um tempo a sós, sei. Um tempo a sós na cama dele,
safadinha.
“Não fui pra cama com ele.”
Malu: Ainda.
Miriam: Como assim vocês não transaram? Não acredito nisso.
Margarida: Eu acredito. Meu sobrinho é um príncipe.
Rose: Seu sobrinho é homem. Briana está mentindo com certeza.
Mãe: Minha filha não mente. Eu acho. Tem certeza de que não
foram para cama ainda, querida?
“Sim, tenho certeza. Vocês são mesmo um bando de velha
assanhada.”
Miriam: Não somos assanhadas, só sabemos aproveitar a vida, ao
contrário de você, pelo visto. Agarra esse homem, Briana!
“Não é tão fácil assim. Estamos indo devagar, por minha causa,
confesso.”
Margarida: Levi não é o Davi, Bri, posso te garantir isso. Meu
sobrinho é um dos homens mais leais que conheço. Pode confiar.
Parte de mim sabia que Margarida tinha razão, mas eu ainda me sentia
insegura e nem era por causa de Levi em si, mas de mim. Será que eu
conseguiria embarcar em um novo relacionamento e me entregar totalmente
como fiz no passado? A dor da traição era como uma apunhalada quase fatal,
o que significava que a ferida demorava muito para cicatrizar.
Mãe: Vai no seu tempo, filha. Se permita conhecer melhor o
homem que está ao seu lado sem se cobrar. Curta cada momento, mas
não se esqueça de que o coração sempre é capaz de amar de novo. Não se
feche.
Malu: Concordo com a tia Analídia. Deixe Levi entrar, Bri.
Rose: Isso mesmo. E eu tenho certeza de que ele está louco por
você.
Miriam: O menino está com os quatro pneus arriados e não é de
agora. Tem que ver a forma como ele olha para ela lá na confeitaria. Só
falta babar.
“Eu também gosto muito dele. Muito mesmo.”
Foi bom confessar aquilo para alguém além de mim mesma, porque
era verdade. Se Levi estava louco por mim, eu também estava louca por ele, o
problema era que eu não me sentia confiante o bastante para dizer isso para
ele ainda. Talvez eu deixasse claro com as minhas atitudes, deixando-o entrar
cada vez mais em minha vida e na vida do bebê, mas ainda não me sentia
pronta para falar. Elas continuaram a mandar mensagens no grupo, deixando
bem claro que eu deveria me entregar completamente a Levi, e eu deixei que
falassem até o assunto voltar para o chá de ontem.
Passei a mão em minha barriga, ainda deitada na cama. Uma filha. Eu
estava carregando uma menininha ali dentro. A emoção ainda me deixava
com um nó na garganta. Saber o sexo do bebê o deixava tão real! Agora, eu
poderia chamá-la de minha filha, pensar em um nome, na decoração do seu
quarto, começar o enxoval... Era como se ficasse bem claro que a gravidez
estava, de fato, acontecendo! E que, em breve, eu a teria em meus braços.
Também conseguia me lembrar muito bem da emoção de Levi, a forma como
disse que teríamos uma princesinha, seus olhos rasos d’água. Ele só me
provava, cada vez mais, que era um homem incrível e raro.
O que eu pensei que era um puta azar no começo, quando Levi voltou
para minha vida e me mostrou que os planos que fiz para me tornar mãe solo
haviam ido por água abaixo, estava se mostrando um golpe de sorte. Porque
eu precisava admitir, que sorte a minha ter passado aquela noite com Levi,
que sorte a minha ele ter reaparecido, que sorte a minha tê-lo ao meu lado
naquele momento. Ao mesmo tempo que me dava conta disso, eu sentia
muito medo, pois a incerteza me espezinhava. E se ele fosse embora algum
dia? E se, por um acaso, se cansasse de mim e da criança? Levi havia
prometido que não iria embora, mesmo se o teste de DNA desse negativo,
mas, será que eu poderia realmente confiar? Naquele momento, não era
apenas a minha vida que estava em jogo, mas a da minha filha também.
Um pouco angustiada, sentei-me na beirada do colchão, sentindo meu
estômago se retorcer em um nó. Não, eu não poderia me encher de dúvidas
daquele jeito, não quando Levi se mostrava tão leal e envolvido comigo e
com a bebê. Seria uma injustiça pensar mal dele, pois nunca me mostrou nada
que pudesse me fazer duvidar das suas atitudes, pelo contrário. Levi sempre
foi muito sincero comigo. Ele merecia meu voto de confiança.

Depois de passar boa parte da manhã conversando com as meninas no


grupo do WhatsApp, fui surpreendida com um convite de Levi para almoçar
em seu apartamento junto com ele, sua mãe e Raul. Vitória havia feito carne
assada, prato favorito de Levi, segundo ela, e a comida estava deliciosa. Foi
muito bom passar aquele tempo com eles e senti que conheci mais uma parte
de Levi ali, com sua mãe contando histórias da sua infância, como o fato de
que ele era o melhor jogador de futebol da escolinha que frequentava na
adolescência e sua amizade com Diego.
Não passou despercebido por mim que em momento algum ela citou o
pai de Levi e eu me sentia muito curiosa para saber um pouco mais sobre ele,
pois me lembrava da forma como Levi falou sobre o pai na noite em que
apareceu bêbado em meu apartamento. Será que ainda era vivo? Não parecia
que mantinham contato, então, eu não fazia ideia se o homem havia
simplesmente desaparecido ou se tinha morrido em algum momento. De
qualquer forma, eu mantive para mim a vontade de perguntar, pois não queria
ser enxerida demais. O dia que Levi se sentisse preparado, ele me contaria.
Pelo menos eu esperava que sim.
Vitória foi embora com Raul no final da tarde, prometendo que
voltaria em breve para uma visita e pedindo para que Levi me levasse até
Macaé para que pudéssemos passar um final de semana em sua casa. Ela
olhava para nós dois com os mesmos olhos sonhadores que eu vi em minha
mãe ontem à noite, depois do beijo na sacada, como se torcesse para que
déssemos certo juntos. Aquilo aquecia o meu peito. Eu gostava muito de
Vitória, ela me mandava mensagens todos os dias de manhã perguntando se
eu e a bebê estávamos bem, o que deixava claro que, assim como o filho, ela
abraçava a ideia de que a criança era sua neta. O medo de desapontá-la com
um resultado negativo me fez sentir um gosto amargo na boca, mas logo fiz
questão de espantar aquilo. Vitória sabia dos riscos, não estava sendo
enganada, então, eu não deveria ficar carregando qualquer tipo de culpa.
Assim que ela saiu, Levi tomou a minha mão e me levou para o sofá,
sentando-se ao meu lado. Na TV passava um filme qualquer e a única luz que
iluminava o ambiente vinha da cozinha, já que seu apartamento era em
conceito aberto.
— Quero te fazer um convite, mas não precisa me responder agora,
ok?
— Hum... Ok — concordei, ficando curiosa. Levi entrelaçou nossos
dedos e olhou em meus olhos.
— Quero te levar para jantar no sábado — disse de uma vez só e meu
coração acelerou no peito. — Um encontro oficial, Bri. Acho que merecemos
isso.
Ah, meu Deus. Um encontro. Um encontro de verdade. Jesus Cristo,
eu tinha vinte e nove anos e, naquele exato momento, parecia uma menina de
quinze que não sabia como reagir ao convite do menino mais popular do
colégio. Levi acrescentou:
— Como eu disse, não precisa me responder agora.
— Está bem. — Consegui murmurar, sentindo meu coração disparar
de vez. Levi sorriu e aproximou o rosto do meu, beijando meus lábios com
delicadeza.
— Sem pressão, meu bem. Relaxa.
Eu concordei com a cabeça e respirei fundo ao beijá-lo, tentando
diminuir a tensão em meus ombros. Fui para casa naquela noite com o seu
convite martelando em minha cabeça, parte de mim louca para aceitar e, a
outra parte, aquela racional e que tinha medo de estar mergulhando de cabeça
em algo que poderia me machucar, deixando bem claro que, ao dizer sim, eu
poderia estar prestes a fazer algo que prometi para mim mesma que não faria
tão cedo: entrar em um relacionamento.
Fui para a confeitaria na manhã seguinte sentindo o peito pesado.
Levi não saía da minha cabeça e minha mente louca já havia criado mil e um
cenários diferentes, onde eu poderia dizer não e acabar afastando Levi, coisa
que não queria, ou poderia dizer sim, me entregar e acabar quebrando a cara.
Acho que passei tanto tempo introspectiva, que Miriam soltou um suspiro
audível e parou na minha frente, enquanto eu batia um chantilly.
— O que você tem?
— Nada.
— Pensei que Analídia havia te ensinado que mentir é feio.
— Não estou mentindo — murmurei e Miriam cruzou os braços.
Acabei suspirando, assim como ela, e desliguei a batedeira. — Tudo bem,
estou mentindo.
— Sim, agora me diga algo que eu não sei, bobinha. — Miriam riu e
descruzou os braços. — O que aconteceu, Bri? É sobre Levi?
— Ele me chamou para um encontro.
Os olhos de Miriam se iluminaram e um sorriso enorme se abriu em
seu rosto.
— Até que enfim! Vocês precisam mesmo oficializar as coisas!
— Não precisamos, não.
— Briana, por favor...
— Eu só não quero ir rápido demais e acabar frustrada de novo,
Miriam. E sim, eu sei que Levi é diferente de Davi, mas eu tinha outros
planos para agora, sabe? Um deles era não me relacionar com ninguém.
— A parte boa de se fazer planos, é que podemos visualizar um futuro
em que tudo é perfeito. A parte surpreendente, é que a vida pode nos dar uma
rasteira e fazer algo ainda melhor do que imaginávamos que seria possível
acontecer, Briana. Olha tudo o que aconteceu desde que você planejou essa
gravidez. Boa parte do seu plano foi alterado, mas isso não foi ruim, foi?
— Não — respondi quase sem voz. Era muito ruim quando alguém
parecia estar tão certo sobre a nossa vida.
— Então, por que não dá uma chance para ser surpreendida de novo?
Sei que tem medo, é normal que se sinta assim depois de tudo o que passou,
mas se você deixar esse sentimento te impedir de viver, vai acabar fazendo
com que Davi vença, pois vai dar a ele o prêmio de ter arruinado a sua vida
para sempre. Você não quer que ele saia vitorioso, quer?
Mas que droga! Desde quando Miriam era mestre em psicologia
reversa? Ela havia acabado de me mostrar tudo de ruim que poderia
acontecer, caso eu não desse uma chance para mim mesma e para Levi, e
estava certa. Eu queria estar com Levi, eu amava a sua companhia, meu corpo
implorava por muito mais do que os seus beijos, ele estava mais dentro da
minha vida do que nunca. Se eu negasse o seu convite, estaria dando de
bandeja nas mãos de Davi o prêmio por ter arruinado o que poderia se tornar
algo muito bonito.
— Você deveria ser estudada, sabia? — falei e Miriam franziu o
cenho.
— Eu? Por quê?
— Porque você vai além de uma velha assanhada! — Pegando-a de
surpresa, a abracei pelo ombro e dei um beijo em sua bochecha. — Você
também é ótima em dar conselhos e é uma das minhas melhores amigas. Eu
te amo, Miriam.
— Para com isso, você sabe que eu não gosto dessa melação toda —
reclamou, limpando a bochecha onde beijei e me fazendo rir. — Mas eu
também te amo. De vez em quando, mas amo.
— De vez em quando, sei...
— Isso tudo quer dizer que eu te convenci a aceitar o convite de Levi?
— Sim, senhora.
— Senhora está no céu, sua abusada! — Ela deu um tapa em minha
bunda, mas abriu um sorriso enorme. — Bom saber que te convenci, vou
falar isso para Levi e ver se ele me apresenta a um daqueles amigos que
foram ao chá de revelação. Viu como eles são lindos?
— Você realmente não vale nada, Miriam!
— Eu só aproveito a vida, sua boba!
Rindo, ela voltou a preparar os doces e eu peguei o chantilly para
poder enfeitar a tortinha diet de limão, que logo acrescentaria ao cardápio.
Senti-me muito mais leve e feliz depois daquela conversa e, antes de terminar
a tarefa, peguei meu celular e enviei uma mensagem para Levi:
“Eu aceito ir ao encontro.”
Precisei arrastar Malu ao shopping na sexta-feira à noite, pois logo me
dei conta de que não tinha nada legal para vestir. Minhas calças jeans quase
não fechavam, minhas blusas estavam apertadas e o único vestido que ainda
me servia, era o que usei no chá no último sábado e eu não queria ter que
repetir. Eu me sentia nervosa, com um frio na barriga que precedia ao
primeiro encontro, como se não visse Levi todos os dias. Em minha defesa,
aquela era uma situação diferente e eu sentia que aquela noite seria
memorável.
Foi bom que ele tivesse marcado nosso encontro para o final de
semana, assim, pude me preparar psicologicamente para a possível mudança
que aconteceria em nossa relação depois da noite que nos aguardava. Malu
tirou um vestido vermelho, estilo midi, da arara da loja em que estávamos e o
mostrou para mim, virando-o para que eu pudesse ver as costas praticamente
nuas em um decote generoso.
— Olha que lindo! Meu Deus, esse vestido vai ficar perfeito em você!
— Você acha? Ele é muito colado.
— Exatamente!
— Vai ficar na cara que estou grávida. Tipo, bem grávida.
— E o que é que tem? Quer esconder que está grávida?
— Não é isso, só que... É um encontro, sabe? É diferente.
— Bri, já se olhou no espelho? Você é a grávida mais gata que eu já
vi!
Bem, Malu era minha amiga, não sabia se poderia levar sua palavra
em consideração. E não, eu não tinha vergonha alguma da minha barriga de
grávida, mas meu corpo estava passando por mudanças bem visíveis e ir a um
encontro com um homem gato como Levi estava me deixando com um
pouquinho de medo. Uma vendedora se aproximou de nós duas com um
sorriso simpático.
— Posso ajudá-las? — Ela olhou para o vestido na mão de Malu. —
Temos todos os tamanhos desse modelo e ele veste muito bem. Quer
experimentar?
— Sim, ela quer — Malu disse, apontando para mim. A vendedora
olhou rapidamente para o meu corpo sem deixar de sorrir.
— Acho que ele vai ficar perfeito em você! Vou pegar o seu número.
Se quiserem, podem ir até o provador. — Ela apontou para os fundos da loja
muito bonita e se afastou depois de pedir licença.
— Você vai ficar linda e sexy pra caramba! Se Levi mal pode te olhar
agora, imagina quando você estiver dentro desse vestido! Falando nisso, sua
depilação tá em dia?
— Você fala como se eu fosse dar pra ele assim que chegarmos ao
restaurante.
— Eu espero que vocês apreciem a comida antes que ele te coma —
ela sussurrou e eu gargalhei, sentindo meu pescoço ficar quente.
— Como você é idiota, Malu!
— Só estou falando a verdade! E a depilação?
— Claro que está em dia. Eu não me depilo para homem algum, me
depilo para mim.
— Você me enche de orgulho, Bri!
A vendedora se aproximou com o vestido vermelho e mais dois
modelos diferentes, um preto muito bonito e um rosa. Nós fomos até o
provador e eu acabei experimentando o preto primeiro, por ser mais discreto.
Ele modelava o corpo, mas não era nada tão justo quanto o vermelho parecia
ser e tinha um decote discreto na altura dos seios. Assim que saí, Malu fez
uma careta.
— Ele é muito bonito, mas eu ainda quero te ver no vestido vermelho.
— Você é chata, sabia?
— Eu só quero o melhor para a minha amiga.
Voltei ao provador e peguei o vestido vermelho. Ele tinha alças muito
finas e, apesar de ser no comprimento midi, terminando perto da minha
panturrilha, se moldava ao corpo no estilo tubinho, bem justo. O decote nas
costas terminava na altura da cintura e, na frente, o decote era mais discreto,
sem mostrar os seios, apenas valorizando o colo. Assim que saí do provador,
Malu se levantou da poltrona onde estava sentada me esperando e bateu
palmas.
— Puta que pariu, é esse! Nossa, você está uma grande gostosa!
Voltei a me olhar no espelho e sorri, porque Malu tinha razão. Eu
estava mesmo muito bonita e a forma como o vestido desenhou a minha
barriga me deixou emocionada.
— Será que Levi vai gostar?
— Seria impossível ele não gostar! Se eu fosse lésbica, te pedia em
casamento agora.
— Eu sei que o seu maior sonho é se casar comigo.
— Droga, não imaginei que estivesse tão na cara assim!
Nós rimos juntas e eu fui tirar o vestido para poder efetuar o
pagamento no caixa. A vendedora ficou muito feliz por eu ter gostado e nos
acompanhou até a porta, desejando que voltássemos em breve. Aproveitei
para passar em uma loja de lingeries e resolvi comprar algo especial para a
noite seguinte, percebendo que minha expectativa estava nas alturas, em
seguida, parei para comer alguma coisa com Malu em um restaurante.
No dia seguinte, contei para as meninas no grupo do WhatsApp sobre
o encontro, pois achei que seria injusto Malu saber e Miriam também —
assim como minha mãe, pois acabei conversando com ela por telefone no
meio da semana — e Margarida e Rose não. Elas me encheram de mensagens
e desejaram um bom encontro. Conforme as horas foram passando, o frio em
minha barriga foi aumentando e, na hora de me arrumar, eu me sentia mais
nervosa do que nunca.
Resolvi deixar meu cabelo solto e combinar o batom com a cor do
vestido, assim, não fiz um olho muito carregado. Nos pés, coloquei uma
sandália de salto fino preta, pois como Levi me disse que iríamos a um
restaurante, presumi que fosse passar a maior parte do tempo sentada. Escolhi
um par de brincos de ouro branco e uma correntinha bem fina que fazia parte
do conjunto e passei um pouco de perfume. Fiquei pronta dez minutos antes
de sairmos e me encarei no espelho, gostando do resultado final e torcendo
para que Levi gostasse também.
Assim que o barulho da campainha soou pelo apartamento, Kiki saiu
em disparada latindo e eu respirei fundo antes de abrir a porta, dando de cara
com um Levi lindíssimo que vestia um jeans de lavagem escura, camisa
social branca com as mangas enroladas acima dos cotovelos e os três
primeiros botões abertos. Seu perfume me alcançou e eu senti vontade de me
jogar em seus braços e passar o nariz pelo seu pescoço, mas me segurei ao
perceber que aquela era a primeira vez que Levi não deu atenção a Kiki, pois
seus olhos estavam completamente vidrados em mim.
— Puta merda, Bri... — Ele deu dois passos em minha direção e me
olhou da cabeça aos pés com os lábios entreabertos, chocados. — Eu nem sei
o que dizer. Você está linda pra caralho!
Um sorriso se abriu em meus lábios quando ele me pegou pela mão e
me fez dar uma voltinha, assim como na noite do chá de revelação. Senti meu
estômago ficar gelado quando voltei a olhar em seus olhos.
— Vai ser difícil olhar para qualquer outra coisa que não seja você
esta noite — murmurou, pousando a mão aberta em minhas costas nuas.
Estremeci e ele sentiu, pois um sorriso sacana se abriu em seus lábios.
— Digo o mesmo. Você está lindo, Levi.
— Precisei me esforçar para ficar à sua altura.
— Não seja bobo — ri, apertando seus ombros. Kiki deu uma
choradinha e me afastei, olhando para ela. — Pronto, ele é todo seu.
Levi riu e se abaixou, finalmente dando a ela a atenção que tanto
queria. Kiki se jogou toda aberta no chão, pedindo carinho na barriga.
— Desculpa, Kiki, mas já viu como sua mãe está gostosa? Não
consegui fazer outra coisa que não fosse babar por ela, mas eu te amo, ok?
— Ela claramente te ama também — respondi, sem conseguir tirar
suas palavras da minha cabeça. Levi disse que eu estava gostosa. Que Deus
me ajudasse a não pular em seu colo antes da hora naquela noite.
Ainda sorrindo, Levi terminou de fazer carinho em Kiki e se levantou,
me estendendo a mão.
— Vamos?
Saímos de mãos dadas, como sempre e, daquela vez, Levi disse que
iria dirigindo. O caminho até o restaurante, que ficava localizado em frente à
Lagoa Rodrigo de Freitas, foi bem tranquilo e logo estávamos caminhando
para a mesa reservada. Um garçom nos deixou com o cardápio depois de
Levi pedir uma taça de vinho para ele e um drinque sem álcool para mim, e
um cantor, acompanhado por um violão, entretinha os clientes. Sua voz suave
combinava muito com o gênero que cantava, o MPB. Assim que o garçom
voltou com as nossas bebidas, nós brindamos.
— A nós — Levi disse com um sorriso, que eu logo retribuí.
— A nós.
Eu não consegui tirar os olhos de Levi enquanto o via dando um gole
no vinho, seus lábios se tingindo levemente com a cor escura da bebida, e
fiquei excitada ao perceber que ele também não conseguia desviar os olhos
verdes e sedutores de cima de mim. Precisei cruzar as pernas embaixo da
mesa, muito consciente do que estava acontecendo sob a minha calcinha
apenas com o olhar daquele homem. Era como se a atmosfera entre nós dois
tivesse mudado completamente e o encontro havia apenas começado.
— Você não vai acreditar no que Diego me contou hoje à tarde —
Levi disse assim que o garçom se afastou depois de anotar nossos pedidos.
— O que ele contou?
— Lembra que eu disse que ele está em um novo emprego?
— Sim, ele é engenheiro, certo?
— Isso. Ele foi escalado para trabalhar em novo projeto. Advinha
quem é a arquiteta? — Levi perguntou e eu franzi o cenho, sem entender
aonde ele queria chegar, até que uma luz se acendeu em minha cabeça e
minha boca caiu aberta.
— Não me diga que é quem estou pensando.
— Se você está pensando naquela mulher que odeia o meu melhor
amigo...
— Meu Deus! — Precisei colocar a mão na frente da boca para que
minha gargalhada não soasse tão alta. — Como Malu não me contou isso?
— Ela não sabe, eles ainda não se encontraram. Por favor, não conte
para ela, Diego disse que quer fazer surpresa.
— Eu vou ser uma péssima amiga se não contar!
— Ela não precisa saber que você sabe. — Levi piscou para mim e eu
ri.
— Vou ficar com a consciência pesada agora, Levi! Por que me
contou?
— Tinha que compartilhar isso com você.
— Eu não quero nem imaginar quando ela descobrir... Mas como ele
sabe que é ela?
— Diego disse que viu o nome dela no projeto. Malu é um apelido
comum, mas não um nome comum e o filho da mãe já tinha stalkeado o
Instagram dela. Mostrou uma foto dela para um dos cabeças do projeto e o
cara confirmou que era ela.
— Não acredito nisso, que coincidência bizarra!
— Falei para ele que é o destino, talvez eles sejam almas gêmeas.
— Malu com certeza não acredita nessa possibilidade.
— Nem ele. — Levi riu, bebendo mais um pouco do vinho. —
Confesso que estou ansioso para ver os dois tendo que trabalhar juntos.
— Eles vão se matar, Levi.
— Ou vão pra cama. Você sabe o que dizem, os opostos se atraem e
tudo mais... — Ele deu de ombros.
Eu ri ao imaginar aquilo, sem saber se Levi tinha razão ou não. Será
que o ódio poderia se transformar em amor? Malu com certeza iria surtar.
— Bom, espero que eles pelo menos parem com essa birra, assim,
vamos poder sair juntos de vez em quando.
— Encontro de casais? Gostei disso.
— Já está vendo os dois como um casal? Você é muito sonhador
mesmo.
— Não estou vendo apenas os dois como um casal — disse, pegando
minha mão sobre a mesa e me dando aquele sorriso que fazia meu coração
dar cambalhotas no peito. Só então eu recapitulei o que ele disse. — Mas sim,
seria interessante ver alguém dobrar o Diego. O filho da mãe foge muito de
relacionamentos.
— Malu também. Ela diz que pega, mas não se apega.
— Bom, pelo menos nisso eles combinam. Alguma coisa eles
precisariam ter em comum sem ser o ódio mútuo.
Nós rimos juntos e logo o garçom se aproximou com nossos pratos. O
cheiro do filé de cordeiro me deixou com água na boca.
— Ainda bem que você nunca me odiou. Ficou com raiva de mim,
mas consegui te dobrar — falei enquanto cortava a carne, dando uma
piscadela para ele. Levi sorriu.
— Meu coração é muito mole e você é irresistível. Eu deveria ser
mais durão.
— Não, eu gosto de você assim.
— Gosta, é? — Ele arqueou uma sobrancelha e eu concordei com a
cabeça enquanto mastigava. — Do que mais você gosta, Briana?
Não passou despercebido por mim o tom rouco da sua voz, a
intensidade que tomou o seu olhar, muito menos a mudança do clima entre
nós. Sempre flertávamos um com o outro, mas ali a coisa parecia ser mais
séria. Nós dois sabíamos que, muito provavelmente, iríamos além do flerte e
dos beijos naquela noite.
— Não sei se eu posso falar em público, não sou tão ousada quanto
você.
— Eu aproveito cada oportunidade que tenho.
— Isso é verdade, ainda me lembro do que me disse na cozinha da sua
tia, na frente de todo mundo.
— Sobre o meu pau? Eu só disse a verdade. — O filho da mãe me deu
um sorriso cheio de malícia. — Talvez eu possa provar a você mais tarde.
Eu ofeguei baixinho e precisei tomar um gole do drinque, sentindo
muito a falta do álcool naquele momento, apesar de o meu corpo estar prestes
a pegar fogo sozinho. Resolvi entrar um pouco mais naquela brincadeira, que
estava me deixando com a calcinha molhada, e abaixei a taça, vendo que Levi
me olhava com expectativa. Abri a boca para jogar mais uma piadinha de
duplo sentido sobre a mesa, quando o movimento de um homem se
levantando da cadeira, algumas mesas a nossa frente, me chamou a atenção.
Levi estava de costas e não viu o mesmo que eu e senti um arrepio gelado
descer pela minha espinha quando, meio milésimo de segundo depois, eu o
reconheci.
Davi estava bem ali, no mesmo restaurante que nós dois, e vinha em
nossa direção. O sorriso morreu em meus lábios ao ver seu cenho franzido, a
mandíbula cerrada e os olhos escuros e endurecidos em cima de mim.
— Briana, o que houve? — Levi tocou minha mão, mas logo
entendeu a minha mudança quando Davi parou ao lado da nossa mesa. Os
olhos dele se detiveram em nossas mãos juntas antes de voltarem para mim.
— Pensei que nunca teria a oportunidade de esbarrar com você,
Briana, mas o destino resolveu me ajudar, afinal de contas. — Davi apoiou as
duas mãos sobre a mesa e se inclinou para perto de mim, furioso. —
Precisava mesmo fazer aquilo comigo?
— Sai agora da nossa mesa — Levi ordenou, levantando-se. Davi não
se moveu, apenas olhou para ele. — Não me ouviu?
— Quem é você?
— Eu que pergunto, quem é você e por que acha que tem o direito de
falar desse jeito com a minha mulher?
Davi riu e se ergueu, ajeitando o punho do paletó azul-escuro que
usava.
— Sua mulher? Por oito anos, Briana foi minha! Quer mesmo entrar
nessa briga?
— Parem com isso! Davi, sai daqui — pedi, me levantando também.
— Não vou sair até você me explicar por que me denunciou como se
eu fosse a porra de um criminoso! Eu estou respondendo a um processo,
sabia disso, Briana? O que você tem na cabeça? Achou mesmo que eu fosse
um louco obsessivo? Eu nunca faria mal a você!
— Não quero falar sobre isso, quero que você saia daqui! — Precisei
me apoiar na mesa, pois senti minhas pernas bambearem quando Levi o
olhou de cima a baixo.
— Então você é o filho da puta que traiu a Briana?
— Como é que é? — Davi deu um passo na direção de Levi, que não
se moveu. — Do que você me chamou?
— Você ouviu muito bem. — Levi saiu de perto da mesa e parou na
frente de Davi, perigosamente perto demais. — Dá o fora daqui. Se você
chegar perto da Briana mais uma vez, não vai ter que lidar apenas com a
polícia, mas comigo também.
Davi era alto, mas Levi conseguia ser ainda mais alto do que ele e
mais forte. Vi quando o encarou de cima a baixo e acho que percebeu que,
em uma luta, ele não o venceria. Dando um pequeno passo para trás, Davi se
virou e voltou a me olhar, encarando minha barriga com surpresa.
— Parece que você não sofreu tanto assim pelo nosso término, já está
até grávida de outro. Ou talvez já estivesse com ele antes, não é? Mas não
quis contar para ninguém, porque tinha que sair como a santinha da relação.
Acho que não perdi nada, no final das contas, apenas me livrei de uma puta.
O punho de Levi se chocou contra o rosto de Davi tão rápido e com
tanta violência, que sequer consegui piscar ou ter alguma reação. Davi caiu
no chão com o golpe, segurando o canto da sua boca que jorrava sangue e
Levi foi para cima dele, conseguindo aplicar mais dois socos antes que eu
começasse a gritar e dois seguranças se aproximassem.
— Seu covarde filho da puta! Nunca mais ouse falar com ela desse
jeito, ou juro que vai receber muito mais do que um soco meu!
— Meu Deus, Levi, calma! — pedi, parando na sua frente, enquanto
outro segurança erguia Davi do chão. — Vamos embora.
— Eu vou chamar a polícia! — Davi disse com dificuldade e Levi se
agitou, sendo contido pelos seguranças.
— Sim, chama mesmo, eles vão gostar de saber que você está
perseguindo Briana por aí.
— Eu não estou perseguindo a Briana!
— Mas é nisso que eles vão acreditar, afinal, está respondendo a um
processo por conta dela. Me solta! — Levi exigiu ao segurança.
— Solte ele, por favor, ele não vai fazer mais nada — pedi e me virei
para Davi. Seu olho esquerdo estava ficando inchado, mas não senti pena
alguma. — Vá embora, Davi. Nós não temos nada para conversar. Me deixe
em paz.
— Realmente, nós não temos nada para conversar. Espero nunca mais
ter que esbarrar com você.
Ele saiu como se fosse uma vítima e eu senti os braços de Levi ao
meu redor, sem conseguir piscar. Como aquilo tinha acontecido? Aquela
noite era para ter sido especial. Por que Davi sempre estragava tudo?
— Está tudo bem agora, meu amor. Quer uma água? Você está
tremendo.
— Só quero ir embora — pedi baixinho, vendo todo o restaurante
olhar para nossa mesa, o gerente chegando correndo e os seguranças ainda
ali.
— Acho que entendi mais ou menos o que aconteceu. Aquele homem
estava perseguindo vocês? Querem que chamemos a polícia? — Um dos
seguranças perguntou, mas eu balancei a cabeça em negativa e Levi
respondeu:
— Não é necessário. Estamos indo embora.
Acompanhei um tanto aérea enquanto Levi me mantinha por perto
com um braço e pagava a conta com o outro, digitando a senha na máquina
de cartão. Com tudo acertado, nós saímos juntos e seus lábios se encontraram
com a minha testa.
— Não vou deixar que esse filho da puta estrague a nossa noite,
ouviu? Vai ficar tudo bem, Bri.
Eu concordei, mas não sabia como Levi reverteria aquela situação.
Briana ficou calada durante todo o caminho de volta para o nosso
prédio e eu fiquei dividido entre sentir mais raiva daquele filho da puta e a
preocupação que sentia com ela. O babaca tinha arruinado completamente
uma relação de oito anos ao traí-la, a perseguiu dando uma de arrependido e
agora tinha a coragem de insultá-la por ela ter seguido em frente com a
própria vida. Como podia ser tão imbecil? Precisei apertar o volante com
mais força para conter a minha fúria. A vontade que eu tinha, era de dar meia
volta e continuar a socar a sua cara.
Nunca fui um homem violento, mas até mesmo o mais pacífico dos
seres humanos explodia alguma vez na vida. Eu já odiava aquele tal de Davi
por tudo o que havia feito a Briana, estar cara a cara com ele e ouvir tanta
merda saindo da sua boca só fez com que a minha raiva sobrepusesse a minha
razão. Não estava arrependido por ter partido para cima dele, mas, olhando
agora para Briana, temia ter a assustado. Resolvi dar um tempo para que ela
se acalmasse e só voltei a falar quando entramos em meu apartamento. Nos
sentamos lado a lado no sofá e Briana olhou em meus olhos quando pousei
minha mão em sua coxa, chamando a sua atenção.
— Está mais calma?
Seus olhos se desviaram dos meus por um segundo, mas ela logo
voltou a me encarar.
— Sim, estou. — Sua voz saiu em um sussurro e eu engoli em seco.
— Eu não queria assustar você, sinto muito, Bri, mas aquele filho da
puta... Não consegui me controlar quando ele te xingou.
— Não, Levi, você não me assustou. — Ela entrelaçou nossos dedos e
fiquei mais aliviado ao perceber que estava sendo sincera. — Davi mereceu
cada soco que levou. Eu gostei muito, na verdade. — Um pequeno sorriso se
abriu em seus lábios, mas sumiu muito rápido. — Eu só estou chateada e com
a sensação de que entreguei de bandeja os últimos anos da minha vida nas
mãos de um cara que eu achei que conhecia. Se aquele é o verdadeiro Davi,
então, eu amei uma farsa.
Precisei manter a expressão em meu rosto ao ouvir suas palavras,
enquanto meu coração se apertava no peito. Briana tinha aquele olhar
entristecido que vi em sua expressão na nossa primeira noite, no motel. Era
como se um filme estivesse passando pela sua cabeça e senti ainda mais raiva
de Davi por ter magoado tanto aquela mulher. Ele teve a oportunidade de tê-
la como sua esposa, de ser pai da filha que ela estava carregando no ventre
agora e conseguiu não só jogar tudo fora, como deixar um rastro de
destruição para trás. Será que eu conseguiria reconstruir o coração de Briana?
Fazer com que enxergasse que poderia ter um novo relacionamento sem a
sombra do seu passado pairando sobre sua cabeça?
— A culpa não é sua por ter confiado nele ou se entregado, Briana.
Algumas pessoas simplesmente não sabem dar valor ao que tem. O meu pai...
— Parei de falar por um segundo, sem saber ao certo se deveria continuar, se
deveria contar aquilo. Ao ver a expectativa silenciosa nos olhos de Briana,
decidi prosseguir. — O meu pai tinha a mulher mais incrível do mundo ao
seu lado e, mesmo assim, a enganou, mentiu, traiu, e, como se não fosse
suficiente, a abandonou com um filho de oito anos para criar sozinha. Isso
não diz nada sobre a minha mãe, apenas sobre ele, assim como o fato de Davi
ser um babaca não tem nada a ver com você. Ele é o único culpado.
Os olhos de Briana brilharam com aquela tristeza contida e seu corpo
chegou para mais perto do meu no sofá. Queria muito mudar de assunto,
levantar o nosso astral, mudar aquele clima de velório, mas, ao mesmo
tempo, percebi que estávamos mais conectados do que nunca, cada um
abrindo uma parte dolorosa do seu coração.
— Eu sinto muito pelo o que seu pai fez — ela murmurou, tocando
em meu rosto. — Eu não sei se você se lembra, mas, naquela noite em que
apareceu bêbado em meu apartamento, você falou um pouco sobre ele.
— Falei?
— Sim. Não foi nada muito relevador, mas você disse que não seria
como o seu pai para esse bebê. Acho que foi ali que eu comecei a entender
que você não era um homem qualquer, Levi, e que havia muito mais por trás
desses olhos verdes e esse corpão sarado — brincou, conseguindo me
arrancar uma risada baixa.
— Mas foi por causa desses olhos verdes e desse corpão sarado que
você ficou comigo, pode falar.
— Foi, sim, mas foi também por causa da delicadeza com que você
me tratou naquela noite. — Seus olhos ficaram rasos de lágrimas, mas ela
sorriu. — Eu estava tão... Insegura. Eu sei que as atitudes de Davi falam
muito mais sobre ele do que sobre mim, mas, mesmo assim, ser traída nos
deixa com inúmeras perguntas cruéis sussurrando em nossa cabeça.
Começamos a nos questionar se não somos suficientes, se não somos boas o
bastante, bonitas o bastante... Eu deixei que essas perguntas idiotas me
paralisassem naquela noite, mas você as silenciou e foi por isso que eu me
entreguei. Eu nunca me esqueci disso e nunca mais vou me esquecer.
Senti vontade de dizer muita coisa para ela, mas, ao invés de deixar as
palavras simplesmente saírem, acabei confidenciando:
— Eu também passei muito tempo me questionando se eu não era
bom o suficiente, se eu havia falhado, se eu era um filho ruim, porque meu
pai foi embora sem pensar duas vezes, como se eu não valesse nada. Depois
de meses sumido, ele voltou dizendo que não me deixaria mais, que seria
presente em minha vida, mas foi tudo mentira. Eu acreditei nas suas
promessas e ele não cumpriu nenhuma delas. Foi a minha mãe que me
mostrou que a culpa não era minha, que o fato de o meu pai se afastar cada
vez mais era porque ele não sabia ser homem suficiente para amar e ter
responsabilidades. Não foi fácil aprender isso, mas eu aprendi, Bri, e decidi
que as atitudes dele não moldariam quem eu seria. E é por isso que eu não
deixei que a amargura por ser abandonado me dominasse, porque eu não sou
e nunca serei como ele.
— Não, você não é. — Sua voz saiu embargada e, só naquele
momento, percebi que chorava em silêncio. Merda, eu realmente não queria
deixar aquele momento ainda mais triste do que era, mas foi inevitável. —
Você é um homem maravilhoso, Levi, tão diferente de tudo que já conheci...
Obrigada por não ter deixado o seu pai mudar quem você deveria ser, porque
o Levi que conheço agora é único e verdadeiro. E muito abusado, porque
virou a minha vida de cabeça para baixo quando pensei que eu tinha todo o
domínio sobre ela.
Eu ri ao ouvir aquilo e soltei sua mão para poder secar as suas
lágrimas, vendo o sorriso em seus lábios também. Aqueles lábios fantásticos
que eu amava beijar, lamber, morder, que me deixaram viciado.
— A gente não tem domínio sobre nada, meu bem. Se você acredita
nisso, é porque quer se enganar. — Ela abriu a boca como se fosse me
responder, mas resolvi colocar um ponto final naquele assunto triste e pousei
um beijo em seus lábios, levantando-me em seguida. — Eu disse que não
deixaria aquele idiota estragar a nossa noite, então, é isso que vou fazer.
Ainda está com fome? Posso pedir alguma coisa pra gente comer ou podemos
sair para algum outro lugar. Você está linda demais para ficar em casa.
— A única pessoa que eu queria que me visse nesse vestido está bem
na minha frente, então, eu acho que não precisamos ir para lugar algum —
falou e vi aquela tristeza ir embora conforme mordia o lábio inferior, um
pouco nervosa, mas aparentemente decidida. — Eu só quero ficar com você.
Como se alguém tivesse acionado um botão, senti o clima entre nós
dois mudar, a tensão ir embora junto com cada palavra difícil que
confidenciamos um para o outro. Pude sentir a vibração do corpo de Briana
tocar o meu em ondas invisíveis e a vontade de beijar a sua boca veio com
tudo, mas me segurei e tirei meu celular do bolso, querendo prolongar aquela
preliminar entre nós dois. Deixei que uma música começasse a tocar pelo
sistema de som no apartamento e me levantei, estendendo a mão.
— Eu também só quero ficar com você. Vem dançar comigo, Bri.
Ela sorriu e pousou a mão na minha ao se levantar. Levei-a para o
meio da sala, distante o suficiente da mesinha de centro e a tomei pela cintura
no momento em que Gloria Groove começou a cantar Apaga a Luz. A letra
era muito propícia e Briana riu baixinho em meu pescoço, me enchendo de
tesão.
— Você tem uma maneira diferente de me seduzir, sabia? —
perguntou ela e eu precisei afastar um pouco o meu rosto para poder olhar em
seus olhos.
— É mesmo? Explique-me.
— Bem, primeiro você é todo cavalheiro e gentil, depois você começa
a falar putaria, então, volta a ser gentil e agora coloca essa música... Estou
começando a entender seu joguinho, Levi Mancini.
Eu ri e a rodopiei, fazendo com que suas costas ficassem contra o meu
peito. Pude ouvir sua respiração ficar levemente ofegante quando o início da
minha ereção a tocou por trás.
— Eu não faço joguinhos, mas confesso que tenho um objetivo em
mente — sussurrei em seu ouvido, colocando seu cabelo para o lado e tendo
acesso ao seu pescoço. Briana perguntou baixinho:
— Que objetivo?
— Reencontrar cada cantinho do seu corpo com a minha mão... —
Deixei que meus dedos da mão direita descessem pelo seu pescoço, os seios e
barriga, ouvindo seu gemido. — Com a minha boca. — Beijei atrás da sua
orelha. — Com a minha língua. — Lambi a pele arrepiada do seu pescoço
antes de dar uma mordidinha. — E te comer até você cair exausta de tanto
gozar.
Briana ofegou quando me calei e estremeceu quando trilhei sua pele
com os meus lábios, beijando cada centímetro entre o caminho do seu ombro
até a pontinha da orelha, onde a mordi. Sua mão tocou a minha nuca, me
puxando para mais perto, e a outra pairou sobre a minha em sua barriga,
levando-a até o seu seio. Foi a minha vez de estremecer e precisei respirar
fundo com os sinais que ela estava me dando, sua entrega, a forma como
parecia estar tão excitada quanto eu. Gememos juntos quando acariciei o
mamilo pontudo sob o vestido com o meu polegar.
— Sou louco por você, Bri... — confidenciei baixinho em seu ouvido,
pressionando meu pau duro em sua bunda.
— E eu por você — respondeu no mesmo tom, pegando-me de
surpresa ao virar de frente e me encarar com a respiração ofegante e os olhos
nublados pelo tesão. — Quero você, Levi. Chega de esperar.
Era tudo o que eu precisava ouvir para atacar a sua boca com a língua.
Puxei Briana para mim pela nuca e grudei nossos corpos ao beijá-la, sem
conseguir ser delicado, porque o desejo que eu sentia por ela extravasava
dentro de mim e implorava para sair. Depois de meses ao seu lado e semanas
beijando apenas a sua boca, eu estava realizando um sonho ao finalmente
poder ir além e fazer tudo o que desejava com o seu corpo, com a sua boca,
com aquela boceta que havia ficado marcada em minha memória.
Briana me agarrou e se esfregou em mim, gemendo entre os meus
lábios enquanto desabotoava minha camisa. Deixei que me despisse, pois,
quando eu tomasse as rédeas da situação, nada mais iria me impedir de fazê-
la minha. Minha camisa caiu em algum lugar pelo chão e seus dedos se
encontraram com o botão da minha calça, abaixando o zíper, mas antes que
eu permitisse que abaixasse o jeans pelas minhas pernas, suguei seus lábios e
me afastei, encontrando seu olhar pesado sobre o meu. Passei meu polegar
pelo seu lábio inferior e o sorriso nasceu em minha boca quando ela
mordiscou a ponta do dedo, fazendo a cabeça do meu pau estremecer.
— Quero você nua — falei, descendo minhas mãos pelas alças do seu
vestido.
Bem devagar, desci as duas pelo seu ombro e precisei segurar a
respiração quando seus seios tomaram a minha visão. Porra, eu me lembrava
de cada detalhe de Briana, mas seus seios naquele momento estavam
fantásticos, inchados, as aréolas mais escuras e os mamilos duros como duas
pedrinhas de ônix, implorando pela minha boca. Senti o momento em que
Briana se remexeu quando o vestido chegou a sua cintura e precisei olhar em
seus olhos, encontrando aquela pontinha de insegurança neles.
— O que foi?
— É que... Eu estou diferente. — Ela passou a língua pelos lábios e
morri de vontade de substituí-la pela minha. — Bem diferente do que na
nossa primeira vez.
— Sim — concordei, terminando de empurrar o vestido para baixo. A
peça caiu aos seus pés e eu senti vontade de fazer o mesmo, sentindo o
sangue correr mais rápido em minhas veias ao ver a calcinha de renda
vermelha que ela usava. — Você está mais gostosa do que antes. Tão linda,
que nem parece real.
— Levi... — Sua voz saiu naquele tom condescendente e percebi que
não acreditava muito em mim. Para provar, peguei a sua mão e a coloquei
bem em cima da minha ereção, que chegava a doer de tão dura.
— É assim que eu fico todas as vezes em que penso em você, que
observo o seu corpo, que sinto o seu cheiro. — Deixei sua mão e desci minha
calça junto com a cueca, apenas o suficiente para fazer o meu pau saltar em
riste. Briana mordeu o lábio ao vê-lo e deixei que o tocasse, seus dedos mal
se encontrando em volta da minha grossura. — Eu morro de tesão por você,
Briana, e agora não é diferente. Vai ser difícil te deixar em paz depois que te
comer essa noite. Vou te querer a cada minuto, o tempo todo. Você vai dar
pra mim?
Briana me masturbou e deu um sorrisinho quando gemi. Enfiei minha
mão em seu cabelo perto da nuca e a encarei, esperando uma resposta,
enquanto sentia minhas bolas pulsarem em necessidade.
— Vou. — A palavra escapou da sua boca e meu coração ficou
acelerado. — Vou dar pra você o tempo todo, Levi. Não aguento mais
esperar.
Porra, uma mulher não deveria falar aquilo pra um homem no auge do
tesão. Mal consegui respirar, apenas a beijei e deixei que me tocasse,
estremecendo a cada descida e subida da sua mão em torno do meu pau, o
líquido do pré-gozo formando uma gota espessa em minha glande. A vontade
de gozar me tomou por inteiro, mas me segurei, porque a nossa noite estava
apenas começando e eu queria aproveitar cada segundo. Deixei a boca de
Briana e desci meus lábios pelo seu queixo, seu pescoço, enquanto
caminhava com ela até o meu sofá. Não deixei que se sentasse, a segurei
firme pela nuca e pela cintura quando afundei meu rosto nos seus seios,
tomando o biquinho duro em minha boca.
Briana gritou o meu nome, parecendo estar muito sensível ali, por
isso, freei um pouco a intensidade e dei lambidinhas rápidas para cima e para
baixo em seu mamilo, olhando para cima e a pegando com os olhos vidrados
em mim, seus lábios separados para respirar. Suguei-o com menos força do
que antes e senti suas pernas tremerem, sua mão apertar o meu pau entre os
dedos.
— Ai, Levi... — Meu nome saiu em haustos do fundo da sua garganta
e seus dentes mastigaram o lábio inferior quando passei para o outro seio,
dando a mesma atenção. — Meu Deus...
Mordisquei o mamilo antes de fechar minha boca sobre a aréola,
mamando muito mais do que o biquinho, mas seu seio inchado, inebriado
pelo gosto da sua pele, seus pelinhos arrepiados, seu cheiro que me deixava
duro em segundos. Briana estremeceu e arranhou minhas costas com a mão
que segurava meu ombro e senti suas pernas fraquejarem mais uma vez. Foi a
minha deixa para descer com os lábios pela sua barriga, minhas mãos
contornando sua cintura, até chegar em seu quadril. Observei seu ventre tão
lindo e dei um beijo demorado sobre o seu umbigo, percebendo que aquele
momento ia muito além do tesão que tomava conta de nós dois. Briana
suspirou e tocou o meu cabelo, me dando um olhar levemente emocionado,
que com certeza refletia o meu.
Bem devagar, segurei as laterais da calcinha de renda e desci a
lingerie pelas suas pernas, finalmente deixando-a completamente nua. O
cheiro da sua excitação me atingiu como um soco, fazendo meu pau pulsar e
minha boca se encher d’água. Ajoelhado aos seus pés, venerei seu corpo, subi
minhas mãos pelas suas panturrilhas, suas coxas, sua bunda, até trazê-la para
mais perto de mim e enfiar minha língua entre os lábios melados da sua
boceta. Briana gemeu bem alto e puxou meu cabelo ao sentir minha carícia
no grelinho duro. Lambi lentamente, mas com intensidade, e suas pernas
vacilaram.
— Mais gostosa do que eu me lembrava — falei com a voz
enrouquecida pelo desejo e Briana gemeu baixinho, afastando as coxas. —
Sentiu minha falta aqui?
— Sim.
— Muita ou pouca?
Ela suspirou quando meu polegar invadiu seus pequenos lábios à
procura do clitóris. Quando o acariciei, seus dedos ficaram mais firmes em
meus cabelos.
— Muita. Eu nunca te esqueci, Levi.
Sorri e dei um beijo em sua virilha, deixando o polegar sobre o
clitóris e enfiando o dedo médio em sua entrada apertada. Porra, ela estava
encharcada.
— E do meu pau? Está com saudade dele?
— Com certeza — murmurou com um sorrisinho e puxou mais o meu
cabelo. — Quero-o dentro de mim.
— Eu vou te comer, Bri, bem gostoso... — Substituí o polegar pela
minha língua mais uma vez, encontrando o grelinho pulsante. — Mas, antes,
vou fazer você gozar na minha boca. Vire-se de costas, apoie as mãos no
braço do sofá e abra essas pernas lindas pra mim. Vou te chupar por trás.
Briana sequer esperou. Usando apenas as sandálias de salto, caminhou
até o braço do sofá e ficou na posição que pedi, inclinada para mim, com
aquela bunda deliciosa me implorando a atenção. Aproveitei aquele momento
para me livrar do resto das minhas roupas, dos sapatos e das meias e me
toquei enquanto ia até ela, espalhando o líquido incolor que revestia a glande
pelo meu pau. Gemi ao me dar conta de que Briana estava mesmo ali, que
aquele não era mais um sonho da minha cabeça, um desejo. Era real e, porra,
eu aproveitaria, faria tudo o que queria com aquela mulher.
Ainda me acariciando, desci o dedo indicador da mão esquerda pela
linha da sua coluna, ouvindo seu gemido e vendo-a tremer de desejo, até
espalmar uma mão aberta na sua bunda. Briana gritou e pulou, assustada, mas
a segurei pela cintura e não resisti, precisei pincelar meu pau pela sua entrada
toda melada. Senti quando piscou de leve e ouvi quando suas unhas rasparam
o tecido do meu sofá.
— Linda pra caralho — murmurei, dando mais um tapa em sua
bunda. Dessa vez ela apenas gemeu e virou o rosto em minha direção,
inclinando o quadril contra o meu, implorando com o olhar para que eu a
comesse. — Linda e toda minha — ressaltei e Briana assentiu.
— Sim. Me come, por favor, amor.
Meu coração quase subiu pela garganta ao ouvir o seu pedido, mas
não apenas por conta do seu apelo e sim porque aquela era a primeira vez que
Briana me chamava de amor. Porra, se eu já estava louco por ela, vi o
sentimento dobrar de tamanho em meu peito. Excitado pra caralho, sequer
pensei, ajoelhei-me atrás dela, abri suas nádegas com as duas mãos e desci
minha língua pelo seu cuzinho até a boceta, onde comecei a sugar o clitóris
depois de recolher a lubrificação deliciosa que escapava pela sua entrada
apertadinha. Briana se escorou no sofá, gemendo e rebolando contra a minha
boca, perdida nas sensações que eu lhe causava enquanto chupava aquela
bocetinha linda.
Apertei sua bunda e me deliciei, esfregando minha barba em seus
lábios vaginais até ficarem sensíveis, pressionando meu nariz em sua entrada,
me inebriando com o seu cheiro. Encarei o clitóris inchado antes de voltar a
lambê-lo, sentindo-o pulsar, sabendo que Briana estava tão louca de tesão,
que não demoraria a gozar. Eu não queria ter pressa, mas, ao mesmo tempo,
estava tão cego pelo desejo, que me vi indo com mais intensidade, chupando,
mordiscando, gemendo, lambendo, até que seu corpo se retesou e meu nome
escapou do fundo da sua garganta quando o orgasmo a atingiu. Briana levou
uma mão a minha cabeça e me pressionou contra sua boceta enquanto
gozava, enlouquecida e estremecendo, enquanto eu recolhia o líquido de cor
clara que descia da sua entrada direto para minha língua, aproveitando o
momento e me embriagando do melhor sabor do mundo: o dela.
Sem forças, ela deixou minha cabeça e seu corpo tombou para frente,
mas a segurei pela cintura e fiz com que se sentasse no sofá. Seu olhar pesado
encontrou o meu e eu me inclinei, parando entre suas pernas afastadas e
apoiando uma mão no encosto, acima da sua cabeça, até nossos lábios se
encontrarem. Nunca agradeci tanto a mim mesmo por ser um frequentador
assíduo da academia, pois manter o peso do meu corpo em um único braço
para beijá-la não era fácil, mas não recuei. Briana segurou meu rosto com as
duas mãos e aprofundou a carícia da sua língua na minha, gemendo no fundo
da garganta, enquanto afastava ainda mais as coxas para que eu me
acomodasse. Tomando seu seio em uma mão, apertei e brinquei com o
biquinho até que senti seus dedos deixarem minhas bochechas e se fecharem
em torno do meu pau.
— Vem, Levi — Briana pediu baixinho entre os meus lábios. — Me
come assim. Quero você.
Como eu poderia negar? Deixando seu seio depois de brincar mais um
pouco com o mamilo duro, tomei meu pau na mão e pincelei em sua boceta,
enquanto Briana chutava as sandálias e apoiava os calcanhares no sofá,
abrindo bem as coxas para mim. Seus lábios vaginais se separaram e o
contraste da sua pele escura com os lábios vermelhos em um tom quase
vinho, me deixou a ponto de gozar. Passei a cabeça pelo seu clitóris, acariciei
bem de leve, até encaixar meu pau em sua entrada e, finalmente, penetrá-la.
— Caralho, Bri... — Xinguei baixinho, porque era difícil pra caralho
me conter. Ela parecia mais apertada do que me lembrava e gememos juntos
enquanto meu pau ia até o fundo. — Como você é gostosa, porra... Sou louco
por você, meu bem... Completamente louco por você...
Eu nem sabia direito o que estava falando, mas com certeza, não
mentia em nada. O desejo me cegou e me golpeou quando fui até o final e
saí, sentindo suas unhas em meus quadris. Briana procurou por minha boca e
me beijou enquanto ofegávamos, sua bocetinha deliciosa me apertando
enquanto eu a comia bem devagar. Acelerei um pouco e ela mordeu meu
lábio inferior, jogando a cabeça para trás.
— Eu também sou louca por você, Levi... — gemeu e eu beijei seu
pescoço, sua garganta, enquanto ia mais forte e firme. — Não para, meu
amor...
— Não vou parar.
Saí quase todo e entrei, indo até o fundo, quase sem acreditar que
aquilo realmente estava acontecendo. Briana olhou em meus olhos e
choramingou, antes de descer os olhos para o encontro dos nossos corpos.
Precisei fazer o mesmo e, caralho, não havia nada mais lindo do que aquilo,
meu pau grosso entrando naquela bocetinha linda e apertada, seus lábios bem
separados para me receber. Quase gozei e precisei ir mais rápido, sabendo
que não duraria muito, mas compensaria ao longo da noite. Ia comer Briana
até o amanhecer e, quando o dia chegasse, começaria tudo de novo. Ela me
apertou daquele jeito único, quase me prendendo lá dentro e eu grunhi,
massacrando o encostou do sofá com as duas mãos.
— Amo essa bocetinha mágica, porra! — Falei contra os seus lábios,
vendo o seu sorriso.
— Quer mais? — provocou e me apertou de novo quando estava
quase saindo. O choque fez a minha coluna se retesar. Parecia uma boca me
sugando, me mantendo preso entre suas paredes vaginais. Ela gemeu junto
comigo e me liberou, deixando-me ir até o fundo.
— Caralho, Briana. Vou viver aqui dentro, entendeu? — perguntei,
tirando uma mão do encosto do sofá para segurar sua garganta. Não apertei,
apenas a mantive cativa, e ela gemeu. — Nada mais vai me afastar dessa
boceta deliciosa, dessa boca, desses seios... Nada vai me afastar de você e da
nossa filha.
Briana ofegou e arrastou as unhas pela minha nuca, grudando os
lábios nos meus.
— Não quero que você vá embora, Levi. Nunca.
— Eu não vou, meu bem. Prometo a você.
As minhas promessas, eu cumpria, sempre. Gememos juntos quando a
beijei e voltei a meter entre suas pernas, entrando e saindo, empurrando a
cabeça do meu pau naquele ponto que a fazia choramingar e me arranhar.
Briana me prendeu de novo e senti o orgasmo se construindo, as veias da
minha virilha se dilatando, e fui até o fundo, roçando meu osso púbico em
seu clitóris. Briana jogou a cabeça para trás e se esfregou contra mim, sua
barriga entre nós dois, o grelinho melado sarrando em meus pelos aparados,
até que estalou e começou a gozar. Consegui me segurar enquanto ela
vibrava, se contorcia e me apertava, até que encostei minha testa na dela e
sussurrei:
— Vou gozar dentro de você. Vai ficar toda melada com a minha
porra, Bri.
— Ah, Levi... Vem, quero sentir.
E eu fui. O mundo pareceu parar enquanto meu pau pulsava e os jatos
de porra a inundavam por dentro, o orgasmo me deixando duro, me fazendo
meter mais rápido, sem cuidado algum. Fiquei cego pelo prazer, beijei a sua
boca com fúria e só consegui parar quando meu pau implorou por alívio,
sensível demais. Agasalhado dentro daquela boceta deliciosa, agarrei a nuca
de Briana e acariciei sua língua na minha, até não restar nada, apenas a nossa
respiração ofegante e a paixão intensa que eu sentia por ela.
Cada parte do meu corpo parecia viva, meus músculos estavam
levemente doloridos e minha pele estava arrepiada, mas não tinha nada a ver
com o ambiente climatizado pelo ar-condicionado do quarto de Levi. Deitada
em sua cama, depois de transar com ele duas vezes na sala, eu encarava o
teto, completamente nua, repassando em minha mente tudo o fizemos nas
últimas horas.
Por um momento, achei que Davi conseguiria estragar a nossa noite,
mas eu deveria saber que, ao lado de Levi, não havia espaço para sentimentos
ou clima ruins. Ele sempre dava um jeito de me arrancar um sorriso, de me
deixar excitada, de me fazer enxergar apenas ele. Um sorriso satisfeito se
abriu em meus lábios quando ouvi seus passos se aproximando do quarto e
me recostei contra a cabeceira da cama no momento em que ele passou pela
porta aberta, usando apenas uma cueca boxer preta e carregando uma
bandeja. Pude identificar morangos, uvas, queijos, torradinhas e castanhas e o
meu estômago roncou sem cerimônia, me fazendo afundar na cama enquanto
Levi ria.
— Que vergonha!
— Vergonha de quê? Depois de tudo o que fizemos, seria impossível
você não estar morrendo de fome. — Levi colocou a bandeja no centro da
cama e se sentou ao meu lado, pousando a mão em minha barriga. — Temos
que alimentar a nossa filha. Uma recompensa por ela ter ficado bem quietinha
enquanto os papais se divertiam.
Eu gargalhei, porque em momento algum havia pensado sobre aquilo.
Qualquer insegurança que senti com o meu novo corpo ao ficar nua foi
embora no momento em que Levi deixou bem claro como me desejava,
então, foi muito fácil esquecer que eu estava grávida e me entregar a ele sem
pensar em mais nada. Foi bom me sentir mulher de novo, independente do
bebê em minha barriga, que havia se tornado o centro da minha vida.
— Vamos ver se ela vai continuar quietinha assim depois que nascer
— comentei, sentindo seus dedos subirem de leve pela minha barriga até o
meu seio esquerdo. Levi acariciou o mamilo e eu precisei morder o lábio para
não gemer. Ele me olhava como se quisesse começar tudo de novo, mesmo
tendo gozado há pouco mais de vinte minutos.
— Vou fazer um trato com ela.
— Que tipo de trato?
— Se ela ficar quietinha à noite, vou brincar bastante com ela durante
o dia. — Piscou para mim, me fazendo sorrir.
— Sim, eu acho que um bebê recém-nascido com certeza vai entender
isso.
— Bem, o resguardo dura trinta dias, certo? Vou ter um mês para
fazer com que ela compreenda o que eu quero. Difícil vai ser ficar sem você
durante esse tempo. Agora que comecei, Bri... — Seu rosto se aproximou do
meu e senti seu hálito em meus lábios. — Vai ser difícil parar.
Levi me beijou delicadamente, mas, mesmo assim, eu me senti
perdendo o fôlego, entregando-me sem reservas para ele. Mesmo levemente
sensível entre as pernas, meu clitóris pulsou, deixando bem claro que eu
ainda tinha muito para dar. E eu queria mesmo dar tudo para Levi. Por sorte,
ele parecia estar mais consciente do que eu e se afastou, puxando a bandeja
para mais perto. A fome apertou e eu mordi o morango que Levi esfregou
contra os meus lábios.
— Bom?
— Hum... Muito. — Peguei um cacho de uvas enquanto ele terminava
de comer o morango e voltei a me recostar contra a cabeceira da cama.
Estava distraída enquanto mastigava, quando vi um livro sobre a mesinha de
cabeceira ao meu lado. Meus lábios se separaram quando vi o título. — O
Grande Livro do Bebê? Não acredito! — Sentei-me melhor e deixei o
restante das uvas sobre a bandeja para poder pegar o livro. — Levi, você está
lendo um livro sobre bebês?
Ele me encarou com as duas sobrancelhas arqueadas e me deu um
sorriso tímido. Como ele conseguia ser tão lindo e adorável? E
surpreendente? Porque era isso, ele nunca cansava de me surpreender.
— Achei que eu deveria aprender alguma coisa.
— Você poderia pesquisar na internet.
— Sim, mas na internet tem um monte de informações
desencontradas, então, acabei vendo esse livro em uma vitrine na livraria e
uma mulher grávida me disse que ele era muito bom... Resolvi comprar.
Não aguentei ouvir aquilo e continuar longe dele. Surpreendendo-o,
deixei o livro sobre a cama e fui para o seu colo, sentando-me entre as suas
coxas. Ele riu baixinho e me deu um beijo no pescoço, passando os braços
pela minha cintura.
— Você não existe, sabia?
— Só por que comprei um livro de bebê?
— Esse é um dos motivos.
— É mesmo? Diga-me os outros, então. Quero ouvir.
— Acha que vou ficar amaciando o seu ego?
— Por que não? Acho que eu mereço depois de te dar... Quantos
orgasmos eu te dei mesmo? Cinco? Seis?
— Quatro.
— Só quatro? Não é possível, tenho que me esforçar mais. — Sua
mão direita desceu da minha cintura até a minha virilha e eu ri baixinho,
excitada, quando senti seu dedo do meio invadir meus lábios vaginais. —
Ainda está meladinha — sussurrou, me fazendo estremecer.
— Isso me lembra que eu preciso de um banho — respondi de volta,
mas ao invés de afastá-lo, apenas abri minhas pernas, sentindo o seu sorriso
em meu pescoço.
— Para que vai tomar banho se eu vou te comer de novo? Vamos
deixar o banho para o final, quando eu sentir pena de você e te deixar dormir.
Uma mão começou a acariciar o meu seio e um gemido escapou da
minha garganta quando seu dedo me penetrou, apenas a primeira falange,
quase fazendo cócegas em meu canal vaginal subitamente necessitado. Nem
parecia que havíamos transado há poucos minutos, eu já estava louca por
mais. Levi riu baixinho e tirou o dedo, voltando a acariciar o meu clitóris.
— Continue a comer, Bri. Só depois eu vou comer você.
Queria retrucar, mas perdi a fala quando ele levou o dedo médio, que
estava entre as minhas pernas, até a boca e o chupou, gemendo enquanto
olhava em meus olhos. Ver aquilo me encheu de vontade de fazer o mesmo,
só que com o seu pau, e decidi que ainda naquela noite eu o teria em minha
boca e o faria gozar. Com o plano em mente, voltei a comer e me encostei
contra o seu peito, sentindo sua ereção escondida pela cueca na base das
minhas costas.
— Já está lendo o livro? — Resolvi mudar de assunto, antes que o
atacasse. Levi voltou a comer também e sua voz alcançou os meus ouvidos.
— Sim. Acho que eu já sei dar banho no bebê só por causa desse
livro.
— Então, posso confiar em você para a bebê não morrer afogada na
banheira?
— Ah, com certeza. Eu dou banho e você troca as fraldas.
— Como você é espertinho. Eu estou carregando por nove meses, vou
alimentar o bebê exclusivamente até o sexto mês e ainda vou ter que trocar
fralda? Nada disso.
— Mas a culpa não é minha se as mulheres foram as escolhidas para
gerar e alimentar. Deus é testemunha disso. — Ele apontou para o teto do
apartamento e eu ri. — Eu até trocaria de lugar com vocês, eu acho.
— Duvido. Quando chegasse na hora do parto, ia pedir arrego.
— Provavelmente — confidenciou, pousando uma mão em minha
barriga. — O parto te assusta?
— Acho que me assustava mais quando eu não pensava em ser mãe,
agora, eu me sinto mais preparada para isso. Quero ter um parto humanizado,
lembra? Então, preciso me preparar para a dor.
— Tem certeza? Você sabe que eu vou te apoiar em qualquer decisão,
mas a cesárea parece ser um caminho tão fácil.
— Não acho que exista um caminho mais fácil ou mais difícil para se
trazer um bebê ao mundo, acho que a mulher tem que optar pela incisão que a
deixe mais confortável. Eu prefiro deixar que a minha filha me diga quando
estiver pronta para nascer e que venha do jeito que preferir — falei, pousando
minha mão sobre a dele. — Você vai querer acompanhar o parto?
— Óbvio que sim, vou ficar ao lado de vocês o tempo todo. — A
convicção em sua voz deixou meu coração acelerado. — Vou deixar você
esfolar a minha mão quando a contração vier.
— É muita gentileza da sua parte, amor — debochei e ele riu.
— Conte comigo sempre, querida — ironizou de volta, plantando um
beijo em minha bochecha. — Menos para trocar fraldas.
— Rá! Até parece. Você vai se levantar de madrugada e vai trocar a
fralda dela, já estou avisando.
— Isso é o que nós vamos ver.
Eu podia ver o brilho divertido em seus olhos e aquilo me fez rir, pois
sabia que, no fundo, Levi estava brincando. Ele já demonstrava desde muito
cedo que seria um pai incrível, a prova estava bem ali, naquele livro que ele
havia comprado e sequer tinha me contado. Quantos homens se interessavam
daquele jeito pela vida do bebê? Novamente, senti que eu tinha tirado a sorte
grande por ser ele a estar comigo, quando pensei que viveria cada experiência
sozinha. Foi olhando para o livro enquanto comia, que acabei me lembrando
da nossa conversa quando chegamos ao seu apartamento, o modo como se
abriu comigo ao contar um pouco sobre o seu pai.
Eu já imaginava que sua relação com o homem era complicada, mas
ouvir a forma como ele o magoou me deixou com o coração partido. Levi era
uma pessoa tão incrível, não merecia menos do que um pai maravilhoso ao
seu lado, mas a vida nem sempre era justa com as pessoas boas. Era
realmente um milagre que ele não tivesse se deixado levar pela amargura de
ter sido abandonado e se transformado em alguém que não era. A essência de
Levi era diferente. Dava para ver em seus olhos como ele era verdadeiro, leal
e honesto, quando criança, deveria ser ainda mais especial. Como um pai
poderia abandonar um filho assim?
— O que foi? Ficou calada de repente — disse ele, puxando meu
queixo para cima com a ponta dos dedos. Tentei piscar bem rápido para
espantar as lágrimas, mas ele acabou vendo mesmo assim. — Briana, o que
foi? Por que está chorando?
Como eu poderia falar que estava prestes a chorar por ele? Sua
história havia mexido comigo e estar grávida me fazia sentir vontade de
chorar por tudo. Respirando fundo, decidi não mentir.
— Só estava me lembrando do que você me contou.
— Do que eu contei? Sobre o quê?
— Seu pai. — Senti que ele ficou tenso às minhas costas e entrelacei
nossos dedos sobre a minha barriga. — Não quero te deixar triste, sinto
muito, é que... Não consigo esquecer o que ele fez. Se estivesse na minha
frente, daria um soco nele.
Surpreendentemente, Levi riu e acabou relaxando um pouco mais.
— Gosto de saber que você defenderia a minha honra.
— É porque eu gosto um pouquinho de você.
— Só um pouquinho?
— Sim. De zero a dez, eu diria nove e meio.
— Uau, bem pouquinho mesmo! — Ele arregalou os olhos ainda
rindo, mas logo voltou ficar sério. — Não falo com o meu pai há mais de um
ano.
— Então vocês ainda mantêm algum tipo de contato?
— Sim, mas é bem raro ele me ligar e eu mal consigo me lembrar da
última vez que disquei o número dele. Acho que eu era um pirralho quando
percebi que não valia a pena tentar falar com alguém que parecia não ter o
menor interesse por mim.
— Quem perde é ele, Levi. Quantos pais não iam querer um filho
como você? Eu vejo a forma como a sua mãe te olha, você é o mundo dela, a
enche de orgulho. Uma pena o seu pai não dar valor a isso.
O pai de Levi poderia ter se separado da esposa, mas nunca do seu
filho. Ir embora e mal manter contato com Levi só provava o tipo de ser
humano que ele era. Esperava que nunca se aproximasse da nossa filha.
— Só faça como eu, esqueça ele — Levi pediu, mas, no fundo, nós
dois sabíamos que ele nunca se esqueceria do pai.
Às vezes, a ausência era o que fazia alguém se tornar tão presente em
nossas vidas. Foi por conta da ausência do pai que Levi resolveu que seria um
homem diferente, que daria valor à mãe e a cada conquista que tinha na vida.
Era por conta dessa ausência que ele abraçou tão rapidamente a ideia de ser o
pai dessa bebê, de fazer a diferença na vida dela, sendo presente e carinhoso,
mesmo sem ter a certeza de que ela era sua. E isso, por si só, já demonstrava
como ele era infinitamente melhor do que o homem que ajudou a colocá-lo
no mundo.
— Ele quem? Não sei de quem está falando. — Dei de ombros,
decidindo fazer como ele pediu, porque falar sobre aquele homem não
agregaria em nada a nossa vida. Levi sorriu e afastou a bandeja quase vazia,
em seguida, enfiou o rosto em meu pescoço.
— Eu nem sei por que estamos conversando, quando eu poderia estar
usando minha boca para outra coisa...
— Só sua boca?
— Não, meu bem, com certeza, não só a minha boca... — Gargalhou
baixinho e me fez ofegar ao segurar meus seios com as duas mãos. — Já falei
como seus peitos estão incríveis?
— Hum, não me lembro. Acho que não.
— Eles estão. — Seus dedos beliscaram meus mamilos e fiquei tensa
como uma mola com o arrepio que desceu pelo meu corpo e se concentrou
entre minhas pernas. — Dói?
— Não. Eles estão sensíveis, mas não ao ponto de doer.
— Que bom, porque vou mamar bem gostoso neles ainda.
As coisas que saíam da boca de Levi... Eu não sabia se ficava mais
excitada com ele, com suas mãos, com sua língua, seu pau enorme ou com as
suas palavras. Precisei fechar os olhos e me entregar aos beijos que deixou
em meu pescoço, derretendo quando chupou a minha pele, enquanto
manipulava meus seios, esfregando as palmas das mãos pelos mamilos
eriçados e sensíveis, enviando pequenos raios de prazer pelo meu corpo.
Cada pelinho estava arrepiado e minhas paredes vaginais pulsavam, me
deixando molhada. A necessidade de sentir aquelas carícias em meu clitóris
só aumentava.
— Quero sua mão aqui — pedi, pegando sua mão e a levando para o
meio das minhas coxas abertas. Ele mordiscou o lóbulo da minha orelha e
perguntou baixinho:
— Minha mão ou o meu pau?
— Os dois.
— Sua safadinha — ronronou, tirando a mão do meio das minhas
pernas e a levando para as minhas costas. Só entendi que havia abaixado a
cueca quando me puxou pela cintura e mandou: — Vem cá, senta no meu
pau.
Eu tinha que aproveitar enquanto a barriga não estava grande o
suficiente para me impedir de transar por cima, por isso, virei-me de frente
para ele e montei em suas coxas, sendo guiada para o seu quadril com as suas
mãos, enquanto Levi começava a me beijar. Gememos juntos quando
posicionei a cabeça bruta em minha entrada e comecei a me agachar,
segurando a respiração ao ser inundada por aquela sensação de estar sendo
invadida. O pênis de Levi era lindo de se ver, de sentir, de tocar, grande e
grosso de uma forma que parecia me levar ao limite. Mesmo dilatada, era
como se ele fosse se esfregando bem apertado até chegar ao fundo.
— Que delícia, Bri... Amo te comer assim.
— Acho que sou eu que estou te comendo agora — constatei com um
sorriso, sentindo-o morder o meu queixo.
— É verdade. E você come bem gostoso, porra... — Suas mãos
agarraram minha bunda com força, me ajudando a subir e descer de leve. —
Isso mesmo, meu bem. Quica no meu pau.
Sua boca desceu para mamar em meus seios e eu me agarrei em seus
ombros, tentando aumentar um pouco a velocidade dos meus movimentos,
pois era uma delícia sentir aquele pau delicioso indo até o fundo e voltando
em minha boceta. Minhas coxas queimavam e eu me sentia mais pesada do
que o normal, mas nada me impediu de continuar, até eu encontrar um jeito
que dava ainda mais prazer a nós dois. Deixei-o me tocar até o fundo e me
sentei em seu quadril, indo para frente e para trás, esfregando meu clitóris no
início da sua barriga e o prendendo dentro de mim. Levi gemeu mais alto e
deixou um chupão no início dos meus seios, movendo os quadris para me
acompanhar.
— Amo sentir você — sussurrei em seu ouvido enquanto arranhava
suas costas. — Nunca foi tão bom, Levi...
— Nunca? — perguntou, levando uma mão a minha nuca. Ele me
segurou pelo cabelo e me fez olhar em seus olhos.
— Nunca. Com você, é perfeito — confidenciei, porque ele precisava
saber.
Levi precisava saber que, mesmo eu lutando contra, mesmo
colocando em minha cabeça que jamais me entregaria novamente, com ele,
era especial. Cada momento ao seu lado era diferente e constatar aquilo me
fez enxergar o que estava o tempo todo em minha frente e eu me recusava a
ver.
Eu estava completamente apaixonada por Levi. Meu coração já era
dele mesmo sem eu querer entregá-lo. Aquele homem simplesmente havia
tomado tudo.
— Com você, é perfeito — ele repetiu minhas palavras e vi a verdade
brilhando em seu olhar. — Só com você, meu amor.
Eu não queria que ele visse meus olhos se enchendo de lágrimas, por
isso, puxei seu rosto em minhas mãos e o beijei enquanto me movimentava
mais forte, em busca de um orgasmo que prometia me deixar de pernas
bambas. Meu coração batia furiosamente no peito e Levi parecia
corresponder cada sentimento à altura, ainda que eu soubesse que,
provavelmente, em sua cabeça, não havia a mesma luta que existia na minha.
Minha alma tinha se entregado, meu coração também, mas minha mente
ainda precisava ceder.
Naquele momento, resolvi silenciar a voz racional e enxerguei o
nosso relacionamento — precisava admitir que estávamos prestes a entrar em
um relacionamento de verdade — com os olhos do coração. Levi não era
Davi. Ele nunca me machucaria do jeito que meu ex fez. Ele era o homem
mais especial que eu já havia conhecido na vida e não iria correr o risco de
perdê-lo por conta de traumas do passado. Como Miriam mesmo havia dito,
Davi não venceria.
— Goza comigo — pedi entre os seus lábios e Levi gemeu, enfiando
os dedos em minha bunda, indo bem fundo dentro de mim e me fazendo
gritar quando comecei a gozar.
Senti quando ele me acompanhou, beijando-me furiosamente,
declarando o que sentia com os seus atos, porque aquele era Levi. O homem
que havia aprendido que palavras eram só formas vazias e que as atitudes
eram que provavam quem realmente éramos e o que poderíamos ser.
Estava vivendo o paraíso na Terra, aconchegada nos braços de Levi,
quando ouvi meu celular tocar estridentemente em algum lugar. Deixei tocar
até cair, no entanto, a pessoa estava mesmo desesperada para falar comigo,
pois ligou de novo e mais uma vez, me fazendo abrir os olhos e olhar ao
redor do quarto iluminado pela luz do sol, que entrava pelas frestas da
cortina. Senti Levi despertar também e me sentei na cama, tentando localizar
o bendito celular. Encontrei-o na mesinha de cabeceira ao lado de Levi e ele
se esticou, pegando o aparelho e me entregando.
— Bom dia. — Sorriu, me dando uma piscadinha. Mesmo com cara
de sono e o cabelo bagunçado, o homem era lindo demais.
— Bom dia — respondi de volta, ouvindo meu celular tocar mais uma
vez. — É a Malu. O mundo deve estar desabando para ela estar me ligando,
ela odeia falar no telefone.
— Atende enquanto vou preparar alguma coisa pra gente comer —
disse ele, levantando-se completamente nu. Salivei ao ver sua ereção, que eu
não sabia se era matinal ou não, mas que queria dentro de mim, mesmo
estando insuportavelmente sensível entre as pernas. Antes de me deixar
sozinha, ele se inclinou e deixou um beijo em meus lábios. — Gosta do que
está vendo, por acaso?
— Você não imagina o quanto, mas estou assada.
Levi riu alto e tocou os meus lábios com o polegar.
— Ainda bem que você não tem só essa boceta mágica pra eu comer.
Já falei como amo a sua boca?
— Vou deixar você mostrar o quanto a ama mais tarde.
— Não me provoca, Briana, ou Malu vai ficar mais meia hora
tentando falar com você, mas não será atendida.
— É mesmo? Por quê?
— Porque essa boquinha abusada vai estar sufocada com o meu pau.
— Meu Deus, Levi!
Ele gargalhou e fugiu de mim quando dei um tapinha em sua bunda
dura. Nossa, dura mesmo. O homem era puro músculo, pele sedosa e pelos
aparados, um verdadeiro oásis para os meus olhos e o meu corpo. E um
perigo para o meu coração. Assim que ele me deixou sozinha, peguei meu
celular e atendi a minha melhor amiga desesperada.
— Nossa, Briana, até que enfim! Achei que precisaria bater na porta
do seu apartamento!
— Desculpa, estava dormindo. Não sei se você sabe, mas hoje é
domingo.
— Hoje é um dia péssimo, isso sim!
— Por quê? O que houve?
— Acabei de descobrir que vou ter que trabalhar com aquele idiota!
Eu não acredito nisso! Eu quero morrer! Não, quero matar ele!
Eu reprimi uma risada, lembrando-me do que Levi me contou no
restaurante. Estava ansiosa pelo momento em que Malu descobriria.
— Quanto drama, Malu. Eu acho que não vai ser tão ruim assim.
— Pois é, não vai ser ruim, vai ser péssimo! — grunhiu ela, irritada.
— Espera aí, você não demonstrou surpresa. Você já sabia, Briana?
— Hum, talvez Levi tenha me contado ontem...
— Não acredito! Como você pôde esconder isso de mim? Pensei que
éramos amigas! — Gritou e precisei afastar o celular da orelha.
— Não tive tempo de te contar, amiga. Como eu disse, Levi só me
contou ontem.
— Mas a sua obrigação era me ligar na mesma hora e avisar! Sabe
como eu descobri? Pelo grupo da equipe no WhatsApp. O babaca me enviou
uma mensagem no privado falando “gatinha, salva o meu número”. Ele é
irritante e abusado e eu não quero trabalhar com ele!
— E bonitão — acrescentei, aproveitando que estava sozinha no
quarto. — Deixa de ser boba, Malu. Sabe o que estou achando?
— O quê?
— Que todo esse ódio é tesão reprimido. — Sorri e ela ficou em
silêncio do outro lado da linha, antes de negar rápido demais:
— Claro que não é. Você está louca. Não dá para sentir tesão por
quem não gostamos.
— Não é você que vive lendo romances enimies to lovers[4]? Os
livros provam que isso é bem possível.
— Você disse bem. Livros, ficção. Isso aqui é a vida real!
— A vida imita a arte — falei, rindo. Malu bufou.
— Não dá para conversar com você, sério!
— Amiga, é só você não pirar, ok? Vai dar tudo certo, eu tenho
certeza. Daqui a pouco vocês estarão transando como coelhos.
— Briana, cala a boca! Que droga! E por que está falando tanto sobre
sexo? Deu para o Levi? — Eu fiquei em silêncio e demorou meio segundo
para ela entender tudo. — Meu Deus, você deu para o Levi! Eu não acredito!
Como foi? Me conta tudo!
Graças a Deus, parte do mau humor dela foi embora. Segurando um
sorriso bobo, como se fosse uma adolescente, olhei para a porta do quarto e
falei um pouco mais baixo:
— Foi incrível. Nunca gozei tanto na vida, sinto que preciso de
pomadas para assaduras.
— Minha Nossa Senhora, quer dizer, talvez não seja legal chamar a
Nossa Senhora nesse momento, mas... Caramba, sua safada sortuda! Estou
muito feliz por você, amiga. Você precisava mesmo transar.
— Como assim? Está querendo dizer o que com isso?
— Você estava muito tensa, agora é nítido como está livre, leve e
solta... Quer dizer, não tão livre assim, né. Já posso chamar o Levi de
cunhado?
Eu ri, mas acabei pensando um pouco mais sério sobre aquilo. Será
que ela poderia considerá-lo como cunhado? Depois de tudo o que senti
ontem à noite, era muito provável que sim, caso Levi quisesse levar nosso
envolvimento adiante.
— Acho que sim — respondi e pude ouvir seu gritinho do outro lado
da linha.
— Isso aí, garota! Esqueça o seu passado e agarre esse homem.
— Por falar em passado, encontramos Davi ontem no restaurante.
— O quê? Não acredito! O que essa assombração estava fazendo lá?
— Foi bem por acaso, ele estava em uma mesa, parecia estar
esperando alguém... Bom, ele veio na nossa mesa, quis saber por que o
denunciei. Ele estava indignado, disse que não era um perseguidor, que
jamais me faria mal ou seria violento. Eu até acredito, sabe? Mas não me
arrependo do que fiz. Ele precisava entender de uma vez por todas que tem
que ficar longe do meu caminho.
— Sim, você não tem que se arrepender mesmo, ele mereceu, invadiu
seu apartamento, te intimidou. Tem que responder um processo mesmo!
Depois ele foi embora?
— Foi sim, depois que Levi deu três socos na cara dele.
— Como é que é? Me conta isso direito!
Passei os próximos minutos revivendo o que aconteceu na noite
anterior e me dei conta de que sequer agradeci Levi por ter me defendido.
Agora que o choque havia passado, tinha que admitir para mim mesma como
ele ficou sexy todo nervoso daquele jeito. A forma como disse que eu era sua
mulher... O arrepio tardio tomou conta do meu corpo e eu senti um pulsar
entre as minhas pernas.
— Como eu queria ter visto essa cena! Levi fez o que eu queria fazer
durante todo esse tempo. Davi mereceu cada soco!
— Sim, mereceu. Adorei a atitude dele.
— Nossa, você está quase derretendo do outro lado da linha. — Malu
riu e eu acabei rindo também, porque era verdade. — Amiga, faz o que eu te
disse, agarra mesmo esse homem, porque Levi é um cara muito legal e está
na cara que é apaixonado por você.
— Você acha? — Minha pergunta saiu em um sussurro. Meu coração
estava acelerado.
— Tenho certeza que sim! O homem não consegue ficar longe de
você, te defendeu ontem à noite, disse que você era a mulher dele. Precisa de
mais provas?
Não, eu não precisava, mas também não estava tão ansiosa para que
Levi se declarasse, porque eu também não queria me declarar agora. Eu
queria conviver com ele, ter a experiência de ser sua aos poucos, mesmo já
frequentando a sua cama. Malu e eu ficamos conversando por mais alguns
minutos, até ela ficar menos inconformada com o fato de ter que trabalhar
com Diego e precisar desligar. Fiquei por um tempinho sentada na cama de
Levi, recuperando o fôlego depois daquela conversa com a minha melhor
amiga, até sentir o cheiro de ovos mexidos chegar no quarto e me levantar.
Minhas roupas estavam na sala e como não queria colocar o vestido
colado de novo, abri a cômoda de Levi e peguei uma de suas blusas, me
vestindo. A barra da peça parou no meio das minhas coxas e ri baixinho ao
pensar em como era natural simplesmente vestir as suas roupas, ficar rodeada
pelo seu cheiro. Fui rapidinho até o banheiro, antes de encontrar Levi usando
apenas uma cueca e mexendo em algo sobre o fogão. Ele se virou assim que
me sentei sobre o banquinho em frente à bancada da cozinha.
— Se você adivinhar o motivo da ligação de Malu, eu te...
— Pago um boquete? — Me interrompeu e eu ri, assentindo.
— Ok, te pago um boquete.
— Puta merda, calma aí, fiquei nervoso. — Levi colocou a frigideira
com os ovos mexidos sobre a bancada e eu pesquei um, sem tirar os olhos
dele. Sua expressão se iluminou de repente: — Claro, como não pensei nisso
antes? Ela ligou para falar que vai trabalhar com Diego.
— Para falar não, para reclamar no meu ouvido. Ela tá um pouco
surtada.
Levi riu e deu a volta na bancada, girando o banquinho e parando
entre as minhas pernas.
— Nunca consegui um boquete tão rápido na vida! Obrigado, Malu.
— O safado se inclinou e me beijou. — Quer pagar agora ou depois?
— Você pode nos alimentar antes? Estamos com fome.
— Claro, meu bem, me desculpe. — Ele me beijou de novo antes de
me dar um sorriso sacana. — Mas o leite você vai beber direto da fonte, ok?
— Levi!
— O que foi? Ele vai sair quentinho e gostosinho...
— Gostosinho não. Não tem nada de gostoso nisso.
— Não? Estou desapontado. — Fez beicinho e eu ri.
— Mas você compensa sendo gostoso no resto.
— Ok, posso conviver com isso.
Levi me deu mais um beijo e se afastou, terminando de preparar o
nosso café da manhã, que eu devorei sem conseguir tirar os olhos de cima
dele. Eu me sentia uma tarada, essa era a verdade, e estava realmente
ansiando pelo momento em que teria que pagar o boquete. Queria chupá-lo
desde ontem. Assim que terminamos, ele me levou pela mão até o sofá e o
clima esquentou assim que começou a me beijar, acomodando-me sobre o
seu colo. Suas mãos acariciaram minhas costas e desceram até a minha
bunda, um sorriso se abrindo em seus lábios, que estavam entre os meus.
— Amei te ver usando a minha blusa — sussurrou, mordiscando meu
queixo e descendo até o pescoço. — Adorei ainda mais saber que está nua
por baixo.
— Você deixou a minha calcinha em um estado lamentável ontem.
— Estou orgulhoso disso, meu bem. — Sua voz rouca me deixou toda
arrepiada e ergui os braços quando puxou sua camisa para cima. Fiquei
completamente nua, aconchegada em cima do seu pau duro escondido pela
cueca. — Vem cá, me dá esses peitos lindos.
Eu me inclinei quando ele desceu a boca até os meus seios e gemi,
jogando a cabeça para trás ao sentir seus dentes mordiscando meus mamilos.
Minha boceta ficou encharcada e, mesmo sensível entre as pernas e sabendo
que não aguentaria penetração no momento, senti vontade de dar para ele.
Como não podia, desci sua cueca o suficiente para que seu pau escapasse e o
tomei em minhas mãos, ouvindo o seu gemido quando massageei meu clitóris
com a sua glande inchada. A sensação foi incrível e a necessidade de gozar
me deixou zonza.
— Que delícia, Bri... Rebola no meu pau.
Rebolei, puxando seus cabelos perto da nuca para poder beijar a sua
boca, enquanto mantinha seu pau pressionado entre os meus lábios vaginais.
Meu clitóris subiu e desceu, se esfregando de encontro ao contorno da cabeça
bruta do seu pênis, indo até a base, melando-o com a minha lubrificação.
Levi gemeu rouco em meus lábios e apertou minha bunda com as duas mãos,
me ajudando nos movimentos. Quando senti dois tapas em minhas nádegas,
eu choraminguei.
— Como você é gostoso — sussurrei em sua boca e ele mordiscou
meu lábio inferior, dando mais um tapa em minha bunda.
— Sou, é?
— Sim. Você é muito gostoso, Levi.
— Gosta do meu pau?
— Eu amo o seu pau.
— Eu também amo essa bocetinha deliciosa, essa bunda fantástica,
esses peitos, essa pele... — gemeu, inclinando o quadril em direção ao meu.
— Queria morar dentro de você. Vou viver pra te fazer gozar, Bri.
— Ai, Levi...
Ele tomou o pau da minha mão e o colocou completamente encostado
na barriga trincada, tomando minha cintura com a outra mão.
— Vem, se esfrega nele e goza bem gostoso.
Como eu poderia recusar? Necessitada do jeito que estava, mal
conseguia pensar. Apoiando-me em seus ombros, me aproximei um pouco
mais e desci de encontro ao seu membro, subindo e descendo lentamente,
deixando meu clitóris acariciar toda a sua extensão, melando-o com o líquido
transparente que descia pelo meu canal vaginal. Meu corpo ficou tenso, cada
nervo à flor da pele, enquanto o prazer se construía em meu baixo ventre e se
espalhava pelas minhas veias, me deixando ofegante.
Levi gemeu e mordeu o lábio, empurrando contra mim e me
mantendo firme pelo quadril. O tesão nublou a minha mente, meu clitóris
pulsou com força, sensível e inchado, e o orgasmo me pegou de surpresa, me
fazendo chamar pelo seu nome bem alto, enquanto jogava a cabeça para trás.
Foi delicioso. Sentia cada parte minha palpitar, meu abdome estremecer, os
pelos do meu corpo arrepiados. Sem deixar a minha cintura, Levi largou o
pau e me puxou pela nuca para beijar a minha boca com fome, me
consumindo, esfregando a língua na minha e me fazendo choramingar.
Precisei tomar as rédeas do beijo e me afastei, descendo meus lábios pelo seu
pescoço, sugando a pele levemente suada, passando a língua pelo seu peito.
Mordisquei um mamilo e depois o outro, encarando-o e encontrando sua boca
aberta, o cenho franzido em prazer, os cabelos bagunçados, completamente
entregue.
Sem tirar os olhos dos seus, desci pela sua barriga, passando as unhas
e os dentes por cada gominho delicioso escondido sob a pele dourada, até me
ajoelhar entre as suas pernas e tomar seu pau grosso e melado em minhas
mãos. Levi gemeu quando o masturbei e passei a língua de leve pela cabeça,
sentindo seu gosto misturado ao meu. O tesão me varreu e senti meus
mamilos ficarem tesos. Ele xingou quando finalmente fechei meus lábios
sobre a glande, chupando gentilmente.
— Porra, Briana... Chupa tudo, querida — pediu, desesperado,
segurando meus cabelos em um rabo de cavalo. Seu corpo ficou tenso quando
desci meus lábios por sua extensão. Precisei relaxar meu maxilar para conter
seu pau grosso em minha boca. — Caralho, que delícia...
Levi mal piscava enquanto eu brincava com o seu pênis. Chupei bem
de leve, apenas para ver o seu maxilar trincar, até que acelerei, passando a
língua pela pele sensível logo abaixo da glande, enquanto pegava suas bolas
com as mãos livres. Ele se retesou e eu suguei mais forte, ouvindo seu
gemido rouco ecoar pelo apartamento e o líquido do pré-gozo escorrer pela
minha língua. Abriguei-o no céu da minha boca e relaxei a garganta para
levá-lo mais fundo. O movimento o deixou louco e Levi se sentou mais perto
da ponta do sofá, abrindo bem as coxas e metendo de leve em minha boca.
— Isso, meu bem, engole tudo — mandou, segurando meu cabelo
com as duas mãos, olhando-me com o cenho franzido em prazer. Sufoquei
com sua cabeça em minha garganta e me afastei um pouco, masturbando-o,
só para poder chupar sua glande um segundo depois. — Caralho, Briana,
queria fazer durar, mas não vai dar. Tô quase gozando, puta que pariu!
Que bom, pois era aquilo mesmo que eu queria. Sabendo que ele
estava no limite, desci pelo seu pau chupando intensamente, batendo a língua
de leve naquela pele fina e sensível logo abaixo da glande. As coxas de Levi
tremeram e meu clitóris pulsou ao sentir o seu prazer irradiando pelos poros e
me alcançando em ondas. Seus dentes morderam o lábio inferior com força,
até que ele deixou escapar:
— Vou gozar, amor. Vai engolir? — Eu assenti e ele sorriu, erguendo
de leve os quadris. — Então mama bem gostoso, assim... Ah, porra!
O primeiro jato atingiu o céu da minha boca e eu engoli sem pensar,
pois, se esperasse muito, iria desistir. Realmente, o sabor não tinha nada de
gostosinho, mas Levi merecia que eu engolisse cada gota, porque ele era
simplesmente incrível na cama e me deu tantos orgasmos que eu mal podia
começar a contar. Suguei bem gostoso, como ele pediu, e deixei que perdesse
a cabeça, enfiando o pau em minha boca sem muita delicadeza, até parar de
gozar e se jogar no sofá. Sorrindo, fiquei mais um tempinho passando a
língua pela glande sensível, que pulsava de leve, até deixar o seu pau
descansar sobre o início da sua barriga e subir pelo seu corpo. Ele me agarrou
antes que eu pudesse chegar à sua boca e soltei um gritinho quando me
colocou deitada no sofá, acomodando-se ao meu lado.
— Você é perfeita pra caralho — sussurrou, lambendo meus lábios
inchados. — Vou sonhar com esse boquete todos os dias a partir de hoje.
— Foi tão bom assim? — Sorri, convencida.
— Foi o melhor boquete que já recebi na vida, meu bem. Mas o que
eu poderia esperar vindo da dona da minha bocetinha mágica?
— Sua?
— Sim, só minha. — Ele beijou meu pescoço e acariciou a curva da
minha cintura, me deixando toda arrepiada. — Toda minha, Bri. Vou fazer
por merecer, prometo.
Eu sabia que faria.
Aquela era a primeira vez na vida que eu convivia ativamente com
uma mulher grávida e pude constatar que o tempo realmente passava voando.
Pisquei e Briana já estava com sete meses de gravidez.
Olhando para trás, poderia dizer que estávamos mais unidos do que
nunca, em um relacionamento que até poderia ser não dito — sem rótulos,
por enquanto —, mas, definitivamente, estávamos juntos. E passar cada
momento daqueles meses ao seu lado vinha sendo incrível. As pessoas ao
nosso redor já estavam mais do que acostumadas a nos ver de mãos dadas e
trocando alguns beijos, eu podia ver nos olhos de Miriam a sua alegria
quando eu passava na confeitaria para buscar Briana e minha mãe me enchia
de mensagens todos os dias falando que amava a nora.
Eu ria enquanto lia o que me enviava, geralmente sempre pela manhã,
quando acordava, o que me fazia passar alguns minutos observando Briana
dormir. Sua barriga estava bem maior agora e era difícil achar uma posição
tranquila, mas, juntos, estávamos dando um jeito. Eu sempre fazia massagem
em suas costas antes de dormir, o que aliviava um pouco a tensão e os
músculos doloridos, e ela relaxava, principalmente depois do sexo, que
sempre era incrível.
Estava cada vez mais viciado nela, em seu sabor, seus gemidos. Por
conta da barriga, não dava para inovar muito nas posições, mas sempre era
muito gostoso e eu fazia questão de que Briana enlouquecesse, fosse com os
meus lábios, com a minha língua ou com o meu pau. Morria de tesão por ela,
ainda mais nessa nova fase, em que seu corpo estava mudando para abrigar a
nossa filha. Seus quadris estavam mais largos, o que deixava a sua cintura
mais fina, apesar da barriga estendida, seus seios estavam fantásticos e a sua
bunda me fazia ficar de pau duro diversas vezes durante o dia. Briana amava
receber uns tapas ali, o que me deixava com mais tesão ainda.
No entanto, eu sabia que nossa relação ia muito além do sexo, éramos
companheiros, torcíamos um pelo outro e estávamos compartilhando a
melhor fase da nossa vida. A bebê nos unia cada vez mais, principalmente
agora, que estava bem ativa e conseguíamos sentir os seus movimentos
dentro da barriga. Ainda conseguia me lembrar da primeira vez que Briana
realmente sentiu ela se mexer e soltou um gritinho na cozinha, quase me
fazendo morrer do coração. Fui correndo achando que estava passando mal,
principalmente quando vi lágrimas em seus olhos, mas ela apenas puxou a
minha mão e a colocou contra o seu ventre, sem dizer nada.
— O que houve? — Ela continuou sem me responder e um milhão de
coisas passou pela minha cabeça. — Briana, fala logo! Está sentindo alguma
dor? O que esta aconte...
Logo entendi que ela não precisava me contar o que estava
acontecendo, pois consegui sentir. Parecia uma ondulação, foi bem leve, mas
estava ali. A prova de que a bebê era real.
— Isso é...
— Sim! — Briana mexeu com a cabeça para cima e para baixo,
lágrimas escapando dos seus olhos. Meu coração disparou no peito. — Ela
está mexendo, Levi.
Senti meus lábios se abrindo e fechando e duas palavras acabaram
escapando:
— Puta merda! — Porra, talvez eu tivesse que melhorar meu
linguajar. Que exemplo daria para aquela criança? — Quer dizer, meu Deus,
isso é incrível! É incrível, Bri!
A emoção me deixou com um nó idiota na garganta e puxei Briana
para um beijo, sem tirar minhas mãos da barriga dela, agradecendo baixinho
a Deus por ter aquele privilégio. Jamais me perdoaria se perdesse aquilo.
Depois daquele dia, fiquei viciado em sentir a bebê e comecei a conversar
com mais frequência com ela. Não sabia se era por isso ou não — eu preferia
acreditar que sim — mas ela sempre se mexia ao ouvir a minha voz. Era
como se já soubesse que eu era seu pai e também estivesse ansiosa para me
conhecer.
Eu via nos olhos de Briana a felicidade e mal conseguia registrar
qualquer traço de insegurança. Era a isso que me agarrava ao pensar em nós
dois. Talvez, estivesse na hora de oficializarmos tudo, de colocar em palavras
o que éramos, mas eu ainda era cauteloso. Falei para Briana que conquistaria
a sua confiança e vinha fazendo isso a cada dia, sem pressa.
Terminei de passar a última camada de tinta na parede do quarto de
hóspedes de Briana que, antes, era um escritório, e me afastei para ver o
resultado. Escolhemos juntos a decoração do quarto e resolvemos pintar as
paredes em um tom de rosa bem claro, pois Briana havia encomendado
alguns quadros e também colocaríamos uma prateleira branca. Ela me
acompanhava a cada passo, mas estava cansada naquela noite e tinha ido se
deitar há alguns minutos. Olhando no relógio, vi que já passava das onze
horas e decidi que iria dormir também, pois tinha uma reunião bem cedo na
manhã seguinte.
Deixei a janela aberta para que a tinta secasse mais rápido e fechei a
porta, encontrando com Kiki no corredor. Passei alguns minutos brincando
com ela, que estava mais agarrada com Briana do que nunca, antes de ir para
o quarto e seguir para o banheiro. Briana cochilava agarrada a uma almofada
para gestante, que parecia uma terceira pessoa em nossa cama, mas pelo
menos a deixava confortável, pois apoiava o peso da barriga. Passei por ela e
tomei uma chuveirada para me livrar do suor e escovei os dentes antes de
voltar para o quarto. Enquanto secava o cabelo com uma toalha, vi o primeiro
sapatinho que comprei para a bebê em cima da cômoda de Briana e sorri.
Conseguia me lembrar nitidamente de quando parei em frente a uma
loja de bebês, semanas depois de descobrirmos o sexo da neném. Eu me senti
perdido assim que entrei, parecia ter mergulhado em um mundo de roupinhas
minúsculas, chupetas, mamadeiras e objetos de decoração. Acho que uma das
funcionárias percebeu que eu estava completamente deslocado e veio em
minha direção, oferecendo ajuda. Precisei explicar que estava esperando
minha primeira filha e ela pareceu entender o motivo de eu estar parecendo
um peixe fora d’água. Com um sorriso simpático, ela me guiou pela loja e me
mostrou a variedade de vestidinhos, macacões e blusinhas.
Eu ri ao ver um macacãozinho escrito “Meu papai é bravo. Meninos,
mantenham distância!” e pedi para que ela embrulhasse, e acabei me
apaixonando pelos sapatinhos rosa de crochê. Saí da loja com as duas peças e
Briana gargalhou com a frase no macacão e acabou chorando com o
sapatinho. Ela o deixou em cima da cômoda e disse que seria o primeiro
sapatinho que nossa filha iria calçar. Aquilo me deixou com um nó na
garganta e a sensação de que eu estava indo pelo caminho certo naquela
missão de ser pai.
Coloquei a toalha no banheiro e fui para a cama. Ao sentir o meu
corpo perto do seu, Briana deixou a almofada e se aproximou, deitando a
cabeça em meu peito.
— Estava sonhando — sussurrou, acariciando meu mamilo com o
polegar. Senti a conexão com o meu pau, mas o obriguei a ficar quieto
naquela noite, pois Briana precisava descansar.
— Comigo?
Ouvi a risadinha dela e puxei seu queixo para cima, encontrando seus
olhos sonolentos. Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça.
— Não. Sonhei que estava comendo jaca mole com calda chocolate e
chantilly. — Acho que ela viu o meu cenho franzido, pois riu de novo e
pareceu mais desperta.
— Tanta coisa boa para sonhar. Que nojo, Briana.
— Ei, não fala assim. Agora estou com vontade.
— Hum, eu mato a sua vontade, vem cá — falei com um sorriso
sacana, puxando seus lábios para os meus. Briana retribuiu o beijo, mas logo
se afastou, me olhando ansiosa.
— É verdade. Estou com muita vontade, Levi. Acho que é desejo.
— Desejo? — Eu me apoiei com os cotovelos na cama, me dando
conta de que, talvez, ela realmente estivesse falando sério. Briana assentiu,
ávida. Parecia que nem estava dormindo dois minutos atrás.
— Eu preciso comer isso, sabe? Eu preciso comer jaca mole com
calda de chocolate e chantilly. Meu Deus, estou salivando!
— Isso é sério?
— Muito sério! Nossa, muito sério mesmo! — Ela se sentou com um
pouco de dificuldade e saiu da cama, pousando as mãos na cintura
rapidamente, antes de passá-las pela barriga. — Compra pra gente, por favor?
A calda de chocolate eu tenho aqui, só falta o chantilly e a jaca. E tem que ser
mole!
Jaca mole. O que diabos era uma jaca mole? E onde eu encontraria
aquilo? Já era meia-noite! Encarei Briana com os olhos arregalados,
realmente esperando que ela falasse que era brincadeira, mas não era. Pensei
que aquele lance de desejo de grávida era mito, afinal, Briana estava com sete
meses e nunca teve desejo algum. Ela não podia continuar assim ou, sei lá, ter
um desejo mais fácil de ser realizado?
— Levi, por favor!
— Está bem — resmunguei, resignado. Eu era o pai da bebê e o
homem dela, daria um jeito naquilo. — Vou comprar tudo e já volto, ok?
— Tá bom! — Ela sorriu, ansiosa, vindo em minha direção e me
abraçando pelo pescoço. — Obrigada! Você é o melhor homem do mundo,
Levi! — Eu a beijei de volta e ri quando se afastou, falando para a barriga: —
O papai é o melhor, filha! O papai é o melhor!
Que Deus me ajudasse a realmente ser o melhor, porque não fazia
ideia de como encontraria a porra de uma jaca mole. Peguei um jeans e uma
camisa qualquer de meia manga que encontrei no seu closet — sim, já tinha
roupas minhas por ali — e lhe dei mais um beijo antes de pegar as chaves do
carro e deixar o apartamento. Contudo, parei no corredor e tirei alguns
minutos para pensar. Vendia jaca em mercado? Eu nunca parei para procurar,
pois nem gostava de jaca. Deveria vender, certo? Afinal, era uma fruta!
Decidido, peguei o elevador e desci até a garagem. Dentro do carro,
dirigi até um mercado grande que ficava alguns quarteirões perto do prédio
onde morávamos, mas, claro, estava fechado. Os mercados não deveriam
funcionar durante vinte e quatro horas, igual as farmácias? Aquela era uma
emergência, porra! Manobrei e estacionei ali perto, pegando meu celular e
pesquisando no Google por mercados vinte e quatro horas, pois deveria
existir algum na Zona Sul do Rio de Janeiro. Achei três e nenhum deles
ficava realmente perto de onde eu estava, mas teria que servir. Esperava
apenas que tivessem a jaca. E não qualquer jaca, mas jaca mole. Puta que
pariu!
Cheguei ao primeiro mercado vinte minutos depois, agradecendo que
as ruas estavam vazias por ser início de madrugada. Fui direto na seção de
frutas e encontrei uma variedade delas, inclusive das mesmas espécies —
merda, estava confundindo frutas com animais! —, como bananas, laranjas e
maçãs. Como poderia existir um monte de maçãs diferentes e não ter a porra
de uma jaca para vender? Eu não podia acreditar. Acabei parando um
funcionário que estava passando por ali e perguntei pela jaca, mas ele disse
que não tinha.
De volta ao carro, rodei a cidade até o outro mercado e aconteceu o
mesmo. Já era quase duas da manhã e nada de encontrar a porra da jaca. Algo
me dizia que ir até o terceiro mercado seria inútil, pois não encontraria a
fruta. Sem saber o que fazer, quase desistindo e voltando para casa, puxei
meu celular do bolso e entrei no grupo do WhatsApp que Malu criou para o
chá de revelação da bebê. Provavelmente, todo mundo estaria dormindo, mas
não custava nada tentar:
“Garotas, preciso de ajuda.”
“AJUDA!”
“É um caso de vida ou morte!”
Esperei alguns minutos com o coração acelerado, suando frio ao
imaginar a cara de decepção da Briana quando eu chegasse em casa de mãos
vazias. E se a nossa bebê nascesse com cara de jaca? Isso realmente era
possível? Nossa, claro que não, Levi! Isso era mito, não tinha como uma
criança nascer com cara de fruta! Mas eu pensei que o desejo de grávida
também era mito e olha onde eu estava agora. Frustrado, bati com a parte de
trás da cabeça no banco do carro, sem saber o que fazer, quando senti meu
celular vibrar com uma notificação de mensagem. Era Malu.
Malu: O que aconteceu? Briana está passando mal? Meu Deus,
está cedo para a bebê nascer!
Estava digitando quando uma mensagem de Rose apareceu na tela:
Rose: Do que vocês precisam, Levi? Estou indo agora para o
apartamento da Bri.
“Não precisa. E não, Briana não está passando mal.”
Tia Margarida: Então, o que houve, querido?
Miriam: Meu Deus, vocês não dormem? Duas da manhã já!
Analídia: O que aconteceu? Briana está bem?
Ótimo! Todo mundo estava acordado, isso queria dizer que poderiam
me ajudar de alguma forma.
“Briana está bem, só que está com desejo, gente. Desejo de comer
jaca mole. Já rodei todos os mercados e não acho a porra da jaca, muito
menos uma jaca mole! O que vou fazer? A bebê pode mesmo nascer com
cara de jaca?”
Eu estava preocupado. Para a minha surpresa, elas começaram a
enviar um monte de risada, o que me deixou mais frustrado ainda. Acho que
não tinham percebido que a situação era séria.
Miriam: Briana não podia ter um desejo mais fácil?
“Foi exatamente o que eu pensei.”
Malu: Acho que ela esqueceu que moramos em apartamento.
Analídia: Tem uma casa aqui do lado do nosso prédio, Miriam.
Lembra que eles tinham um pé de jaca?
Miriam: Nossa, é mesmo! Será que ainda existe?
“Digam que existe, por favor!”
Analídia: Vou ver se consigo ligar para Carla, a dona da casa.
Nossa, já é mais de duas da manhã, mas é pela minha filha, vale a pena o
esforço. Vem para cá, Levi.
Miriam: Eu te encontro lá embaixo, Ana.
“Estou indo. Obrigado, meninas!”
Malu, tia Margarida e Rose nos mandaram boa sorte e eu dei partida
no carro, torcendo para que os vizinhos também dormissem tarde para que eu
pudesse pegar a jaca. Na verdade, eu tinha que torcer para que o pé de jaca
ainda existisse! Dirigi de volta para Laranjeiras e parei em frente ao prédio de
Analídia, encontrando Brito, Miriam e ela em frente ao portão da casa vizinha
ao prédio. Respirei um pouco mais aliviado ao ver um casal conversando com
eles. Assim que saí do carro, eles se viraram para mim e sorriram.
— Querido, que bom que chegou! Carla me disse que ainda tem a
jaqueira na parte de trás do quintal — Analídia disse ao me dar um abraço.
— Que trabalho que minha filha resolveu te dar hoje, rapaz. — Brito
riu.
— Nem me fale! Obrigado pela ajuda e desculpa incomodar tão tarde
— falei para o casal, que pareciam ter a mesma idade de Analídia e Brito. A
mulher balançou a mão.
— Não precisa agradecer, vimos Briana crescer, é um prazer ajudar.
— Sorte da Briana ser uma mulher que cai no gosto de todo mundo,
se não, a bebê nasceria com cara de jaca — Miriam disse ao meu lado. —
Vamos lá, querido. Estou com pena de você.
Depois de toda aquela saga, eu também estava com um pouco de pena
de mim. O casal nos guiou até a parte de trás do quintal grande e lá estava o
pé de jaca, que brilhou perante os meus olhos como se fosse ouro. Luís,
marido de Carla, apontou.
— Vou pegar aquela escada e apoiar no tronco da árvore para que
você possa subir, rapaz. Carla, pega o meu facão.
Claro que não seria tão fácil assim ter a porra da jaca. Eu também
precisaria colher a fruta gigantesca do pé, mas não ousei reclamar. Luís e
Brito apoiaram a escada no tronco e eu subi depois de pegar o facão com a
Carla, agradecendo por não ter medo de altura e por ter sido o tipo de
moleque que escalava árvores para comer manga direto do pé. Ao chegar
perto das frutas, perguntei em voz alta:
— Como eu vou saber qual jaca é a mole?
— Jaca mole é aquela bem madura, o cheiro dela é bem forte. Pegue a
que estiver exalando mais cheiro — Luís aconselhou.
Todas pareciam cheirar do mesmo jeito e fiquei com medo de acabar
me confundindo e cortar uma jaca que não estivesse madura o suficiente.
Resolvi seguir meus instintos de pai — eles existiam, certo? — e pedi para
que tomassem cuidado lá embaixo quando avistei uma jaca quase
despencando do cabo que a segurava à árvore e passei o facão. Ela caiu no
chão com um baque esquisito e desci, vendo Miriam se aproximar da fruta,
que pareceu rachar um pouco.
— Está perfeita, Levi! Bom garoto!
Finalmente consegui sorrir e Analídia me abraçou, rindo ao ver o meu
semblante mais relaxado.
— Obrigada por cuidar tão bem da minha filha e da minha netinha,
querido. Você é muito especial.
Eu só balancei a cabeça, ficando sem jeito com o elogio. Depois de
alguns minutos e com metade da fruta dentro de uma sacola — não tinha a
menor condição de Briana comer uma jaca inteira, por isso, pedi para que
dividissem a outra metade —, agradeci pela ajuda, me desculpei mais uma
vez pelo horário e deixamos a casa do casal. Antes de entrar no carro, no
entanto, me lembrei da porra do chantilly e me virei para Miriam. Ela viu em
meus olhos que faltava mais alguma coisa.
— O que mais Briana quer? Pelo amor de Deus, que desejo é esse?
— Chantilly. — Ela revirou os olhos e riu ao lado de Brito e Analídia.
— Vamos lá em cima e te dou a lata que tenho na geladeira.
Foi o que fizemos. Dez minutos depois, eu estava de volta ao meu
carro, finalmente dirigindo para casa. O relógio no console digital marcava
três e cinquenta da manhã e eu esperava, do fundo do meu coração, que
Briana estivesse acordada me esperando. Suado e com cheiro de jaca pelo
corpo — que também empesteou o meu carro —, peguei o elevador e logo
parei em frente à porta do seu apartamento. Girei a chave e abri, encontrando
Briana cochilando no sofá. Assim que Kiki latiu e eu fechei a porta, ela deu
um pulo e se sentou, me olhando ávida.
— Conseguiu?
— Depois de rodar o Rio de Janeiro inteiro e dar uma de Tarzan ao
escalar um pé de jaca na casa de pessoas que nunca vi na vida, sim, eu
consegui.
— Ai, meu Deus, não acredito! Cadê? Preciso comer!
Vi que a calda de chocolate já estava sobre a mesinha de centro, assim
como um prato e uma faca. Era bom saber que Briana confiava em mim para
não falhar naquela missão. Rindo, me sentei ao lado dela e depositei a metade
da fruta — que ainda era grande demais — sobre o prato e Briana o colocou
sobre as coxas, puxando a calda de chocolate e a jogando por cima daqueles
gomos amarelos. Dei o chantilly e ela fez o mesmo, melecando os dedos ao
pegar um dos gomos e colocar na boca. Seu gemido satisfeito me fez sentir
um homem incrível.
— Que delícia! Meu Deus, que delícia, amor... Nossa...
Ela saiu comendo um atrás do outro, quase sem respirar. Eu ri
baixinho e puxei o meu celular para tirar uma foto e enviei ao grupo,
escrevendo “missão cumprida” logo abaixo. Todo mundo comemorou.
Curiosa e de boca cheia, Briana perguntou:
— Quem está mandando mensagem para você uma hora dessas? —
Eu arqueei uma sobrancelha e a encarei.
— Está com ciúmes?
— Eu? — Ela arregalou os olhos e enfiou mais uma jaca na boca. —
Não.
— Deveria, porque, neste momento, cinco mulheres estão falando
comigo.
— Como é que é? — Ela praticamente gritou e tomou o celular da
minha mão. Eu gargalhei ao ver a expressão de raiva em seu rosto começar a
ir embora. — Desde quando você tem um grupo com essas assanhadas?
— Desde o chá de revelação da bebê, sua ciumenta. — Briana riu
baixinho quando me estiquei para beijar o seu pescoço. — Sua mãe e Miriam
me ajudaram a achar a jaca. Nunca mais quero ver uma jaca na minha vida,
Briana.
— Desculpa — pediu, mas vi que não estava arrependida. Eu também
não estava, aquela expressão em seu rosto fazia qualquer coisa valer a pena.
— Me conte como conseguiu a jaca.
Ela continuou a comer, emplastando a fruta com a calda de chocolate
e o chantilly, enquanto comecei a contar a saga da jaca. Sua risada tomou
conta do apartamento quando falei que tive que tirar a fruta do pé, mas logo
percebi sua expressão mudando ao engolir a fruta, seu rosto perdendo a cor
aos poucos. Bem no fundo do meu ser, eu senti o que estava acontecendo,
mesmo assim, precisei perguntar:
— Você não vai vomitar, vai?
— Amor...
— Você vai vomitar, Briana?
Briana sequer respondeu, simplesmente deixou o prato sobre a
mesinha e saiu correndo — o mais rápido que podia —, até o banheiro no
corredor. Incrédulo, me deixei cair sobre o encosto do sofá, sem acreditar
naquilo. Depois de tudo o que passei, ela colocaria tudo para fora? Tudo bem
que havia comido muito — muito mesmo —, mas eu trepei em uma árvore,
porra! Meio segundo depois, comecei a rir. Era tão óbvio que algo assim
aconteceria, que sequer senti raiva. Fazia parte de ser pai, certo? E eu não
trocaria isso por nada no mundo. Levantando-me, fui até ela no banheiro e a
encontrei dando descarga. Seu olhar envergonhando encontrou o meu.
— Desculpa. — Seus olhos se encheram de lágrimas. Dessa vez ela
estava arrependida mesmo. — Sinto muito, amor...
— Para com isso, vem cá. — Puxei-a para os meus braços e ela
encostou a cabeça em meu peito, fungando baixinho. — Não chora, querida,
está tudo bem.
— Não está, não. Você fez tudo isso por mim e, no final, eu vomitei.
Não dei valor ao seu esforço.
— Só de ter comido com tanto gosto, você já deu valor, Bri. Isso é
normal, certo?
— Deve ser, mas mesmo-mo assim... — Ela soluçou e eu peguei seu
rosto em minhas mãos, limpando suas lágrimas. Briana era uma grávida
muito tranquila, quase não enjoava mais, pouco reclamava de dores e aquele
foi o seu primeiro desejo. Eu sequer tinha do que reclamar.
— Eu rodaria o Brasil inteiro só para realizar um desejo seu ou da
nossa filha. Isso que fiz hoje não foi nada. Não se sinta culpada, ok? Eu estou
muito feliz por ter conseguido, é isso que importa. — O queixo dela tremeu,
mas vi quando engoliu em seco e tentou conter as lágrimas.
— Você é o melhor homem do mundo — falou, tocando meu rosto.
— Por isso que estou completamente apaixonada por você, Levi.
Sua declaração me pegou totalmente desprevenido. Senti minha boca
se abrir, mas não tive palavras para dizer nada. Ela realmente... Briana havia
mesmo dito aquilo? Disse que estava apaixonada por mim?
— Agora eu vou escovar os dentes, para poder dar um beijo decente
na sua boca.
Sem que eu pudesse contê-la, Briana escapou dos meus braços e
correu para o quarto, provavelmente para escovar os dentes no banheiro da
suíte. Eu continuei parado como um dois de paus, quase sem poder respirar.
Vinha segurando aquela declaração há meses, esperando pelo momento certo,
e a danada tinha passado na minha frente! Ri baixinho, me sentindo um
pouco idiota. Briana estava apaixonada por mim, porra! Sem pensar duas
vezes, fui em direção ao quarto, encontrando-a saindo do banheiro, secando a
boca com uma toalha de rosto. Sem esperar mais, tirei a toalha da sua mão e a
puxei para mim, beijando a sua boca até fazer com que perdesse o fôlego.
Briana gemeu em meus lábios e suspirou quando a peguei em meus
braços, levando-a para a cama. Deitei-a e me coloquei sobre o seu corpo,
tomando cuidado com a barriga grande entre nós dois, ainda acariciando sua
língua com a minha. Sabia que precisava de um banho para me livrar do
cheiro da jaca, mas nada no mundo me afastaria dela naquele momento.
— Acho que me apaixonei por você no momento em que te vi pela
primeira vez — sussurrei entre os seus lábios, passando as mãos pela sua
cintura, seus braços, até chegar em seu rosto. — Eu só não disse nada antes,
porque não queria te sufocar, Bri.
— Eu sei — respondeu, tocando meus cabelos. — E esse é só mais
um dos motivos pelo qual eu sou apaixonada por você. Obrigada por ser
quem é, Levi. Pensei que eu nunca mais conseguiria me entregar para outro
homem, mas você mudou tudo.
— Que bom que consegui mudar, porque você é a mulher mais
especial que já conheci, Bri. Sorte a minha ter você.
— Não, sorte a minha e da minha filha ter você.
Seus olhos marejados se fecharam quando voltei a beijá-la e comecei
a despi-la. Naquela noite, fizemos amor de verdade, com os sentimentos
expostos, envolvendo-nos. Nada no mundo foi mais especial do que aquele
momento.
— Acabei de anotar mais um pedido! Chefinha, esses bolos diets que
você e a Miriam criaram estão fazendo muito sucesso! — Mariana informou,
entrando de repente na cozinha.
Eu estava distraída, pensando em como as últimas semanas da minha
vida estavam sendo incríveis. Depois que Levi e eu nos declaramos, dois
meses atrás, alcançamos um nível de intimidade que pensei que nem existia
mais. Não queria comparar, mas o nosso relacionamento era completamente
diferente do que tive durante anos com Davi. Enquanto com meu ex a rotina
se tornou maçante, com Levi, todo dia eu sentia algo diferente. O homem era
incrível e não cansava de me surpreender.
Na noite passada, fomos jantar juntos em um restaurante no shopping,
pois precisávamos escolher um carrinho para a bebê. Eu havia acabado de
completar trinta e oito semanas de gestação — ou nove meses, como Levi
gostava de contar — e estava quase tudo pronto para recebermos nossa filha.
Eu não me sentia nervosa, só um pouco cansada por conta do peso da barriga
e a dor nas pernas, e ansiosa, claro, para tê-la em meus braços.
Só de pensar em tudo o que havia vivido até ali, sentia meu coração
bater acelerado no peito. Depois daquele primeiro jantar com Levi, minha
vida mudou completamente. Estar com ele me fez enxergar o que eu estaria
perdendo se não tivesse tomado a decisão de deixar que ele entrasse de
verdade na minha vida. Nunca fui tão feliz e, às vezes, sentia até medo de dar
alguma coisa errada. Aquela Briana insegura, que eu prometi a mim mesma
que não deixaria se sobressair, às vezes sussurrava no fundo da minha mente,
querendo plantar uma sementinha de dúvida em meu ser, mas eu logo a
expulsava.
Levi não era Davi. Era isso que eu repetia para mim mesma sempre
que algo me deixava balançada. Também ajudava muito ter a consciência de
que o meu lado inseguro aparecia por minha culpa e não por culpa de Levi,
porque ele não deixava qualquer brecha para que eu sentisse medo de sofrer
alguma decepção. Era só aquela velha Briana que tinha sido machucada e
que, apesar de ter curado suas feridas, ainda tinha cicatrizes que ainda
estavam sensíveis.
— Deixa essas encomendas comigo, Mari — Miriam disse de
repente, me tirando dos meus pensamentos e tomando o papel das mãos de
Mariana. — Briana não vai fazer mais nada aqui dentro.
— Ei, essa confeitaria ainda é minha.
— Mas quem manda agora sou eu. Você já deveria estar em casa de
licença-maternidade.
— Minha médica disse que, desde que eu não faça esforço, posso
continuar trabalhando. Eu estou me sentindo muito bem.
— Você está ótima mesmo, chefa, e muito linda. Vai sentir falta desse
barrigão?
— Com certeza. — Sorri, passando a mão pela minha barriga. A bebê
mexeu, como sempre.
— Daqui a pouco o Levi a engravida de novo — Miriam disse, me
fazendo arregalar os olhos.
— Não, nada disso!
— Vocês têm cara de casal que vai procriar que nem coelhos, Briana
— disse ela, retirando um bolo do forno.
— Você tá louca!
Mariana riu quando me viu fazendo o sinal da cruz e saiu da cozinha
quando viu um cliente entrar. Sim, eu queria ter mais um filho, mas não
assim que parisse essa bebê, pelo amor de Deus! Aproveitei que Miriam
estava entretida, colocando um outro bolo no forno, e tirei o avental para ir
para o salão da loja, vendo quase todas as mesas ocupadas e Luiza anotando
um pedido de um casal. Depois que Levi investiu nas redes sociais da
confeitaria, meus negócios deram um boom. Os pedidos cresceram tanto, que
precisamos cadastrar a loja em um aplicativo de delivery, porque muitas
pessoas queriam comer os doces que viam no Instagram, mas moravam longe
e não podiam ir até a confeitaria.
Com isso, precisei abrir mais duas vagas de emprego, dessa vez para a
cozinha e, semana passada, passei todos os dias da semana entrevistando os
candidatos para as vagas. Miriam continuaria sendo a chef, mas precisaria de
mais duas pessoas, ainda mais agora que eu estava prestes a entrar de licença.
No sábado, passei o dia analisando cada perfil e lendo as minhas anotações,
até ter a certeza das duas pessoas que contrataria. Elas começariam a
trabalhar ainda naquela semana e Miriam aprovou as minhas escolhas.
Incluir doces diets no cardápio também foi uma ótima decisão.
Abrangemos o nosso leque de clientes e logo incluímos bolo de festas para
encomenda, mais uma sugestão da Raquel, a cliente que se tornou assídua
depois que divulgamos que tínhamos doces próprios para pessoas com
diabetes ou que preferiam opções sem açúcar. Todas essas mudanças vieram
na melhor fase da minha vida e eu me sentia completa tanto no âmbito
profissional, quanto no pessoal.
Como se isso não fosse o bastante, Davi respondeu ao processo e foi
condenado a pagar por cestas básicas e prestar serviços comunitários. Eu
fiquei aliviada por ele não ter sido preso, pois, no fundo, não desejava aquilo
para ele, mas fiquei mais feliz ainda por, de certa forma, a justiça ter sido
feita e ele ter entendido que quando uma mulher dizia não, era não. Esperava
que ele fosse mais responsável nos próximos relacionamentos e que, se viesse
a ser um babaca traidor de novo e a mulher descobrisse e rompesse tudo, ele
não ficasse a perseguindo como fez comigo.
Dei atenção para os clientes, passei de mesa em mesa perguntando se
estavam gostando de tudo ou se precisavam de alguma coisa, em seguida,
voltei para a cozinha quando Miriam me chamou. Ela apontou para o bolo e
sorriu.
— Acha que Levi vai gostar?
Era aniversário de Levi e estávamos preparando uma surpresinha para
ele. Sua mãe já havia chegado e estava fazendo as comidas com Margarida e
eu chegaria em casa mais cedo para poder arrumar a mesa e encher alguns
balões de festa junto com Rose e Malu. Ele queria que nós saíssemos para
jantar, mas achei que seria melhor fazer uma festinha. Tinha, inclusive,
falado com Diego e ele marcou presença junto com Henrique e Gustavo.
— Ficou lindo, Miriam! — O bolo era em estilo naked cake – ou bolo
pelado em português – e estava todo enfeitado com bombons de chocolate e
morango. — Ele vai amar.
— Que bom, porque o menino merece.
— Você é louca por ele.
— Sou mesmo, principalmente porque ele está te fazendo muito feliz.
Eu adoro ver esses seus olhinhos brilhando. Você merece ter um
relacionamento bom e saudável, Bri, e a minha garotinha merece ter um pai
incrível — disse ela, tocando em minha barriga. Eu amava aqueles rompantes
amorosos de Miriam e precisei me segurar para não chorar, porque tudo me
fazia ficar emocionada. Ao ver meus olhos marejados, ela suspirou. — Não
posso falar nada, tudo você chora. Quando a bebê nascer, quero ver qual será
a sua desculpa.
— Ainda colocarei o motivo nos hormônios — falei, apertando o
cantinho dos olhos antes de abraçá-la. — Te amo, sua velha ranzinza.
— Eu sei, eu sei. Mas só vou acreditar mesmo, se o nome da bebê for
Miriam.
— Você é tão engraçadinha.
— Ora, estou falando sério. Aliás, quando vocês vão dar um nome
para essa criança? Daqui a pouco ela completa dez anos e não tem um nome.
— Acho que Levi e eu estamos esperando ela nascer para decidir.
Não estávamos com pressa para achar um nome. Agora que o
quartinho dela estava pronto, que seu enxoval estava completo, que os
armários estavam repletos de fralda e que a mala da maternidade estava
arrumada, finalmente poderíamos ficar em paz. O nome dela viria em algum
momento, eu tinha certeza.
— Vocês são muito esquisitos.
— Olha quem fala — debochei, ouvindo sua risada.
Fiquei mais um tempo na confeitaria resolvendo algumas partes
burocráticas, como contato com fornecedores e uma reunião por vídeo-
chamada com a minha contadora, até dar a hora de ir embora. Coloquei a
caixa com o bolo no banco do passageiro e duas caixas de docinhos no banco
de trás do meu carro e dirigi devagar até o prédio, recebendo a ajuda do
porteiro quando cheguei ao saguão. Quinze minutos depois, recebi Malu e
Rose e começamos a enfeitar o apartamento. Aproveitei o momento para
provocar Malu:
— É impressão minha, ou você e Diego estão finalmente se dando
bem?
A danada demorou mais tempo do que o normal para encher o balão
de festa, só para enrolar a responder.
— A gente se odeia um pouco menos, agora.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que é mais tolerável ficar na presença dele agora. —
Ela amarrou a ponta do balão e o jogou no chão. — A gente até tomou um
chope ontem à noite.
— O quê? Por que você não me disse nada?
— Eu ia contar. E, talvez, a gente tenha se beijado.
— Malu!
— Já vi esse filme — Rose disse de repente, vindo da minha cozinha
com a caixa de docinhos em mãos. — Tenho uma amiga que também odiava
o marido quando se conheceram. Meses depois, estavam se casando.
— Deus me livre! — Malu repreendeu, nos fazendo rir. — Foi só um
beijo, ok? E, talvez, Diego nem goste de mim. Eu posso ser um desafio para
ele.
— Por que ele não gostaria de você? — perguntei.
— Porque eu não acho que eu seja o tipo de padrão de mulher com
quem ele fica. Diego é rato de academia, já eu... — Ela olhou para si mesma
e odiei ver aquela pontinha de insegurança brilhando em seus olhos.
— Malu, você é linda e uma grande gostosa! Tenho certeza de que
Diego morre de tesão em você.
— Eu também acho — Rose concordou. — Se ele não gostasse de
você, não teria te beijado.
— Não sei... — Ela deu de ombros, mas logo colocou uma expressão
indiferente no rosto. — Quer saber? Eu não ligo. Nem gosto dele.
— Eu acho que você gosta sim, garota. Só falta admitir — Rose falou
e eu concordei com a cabeça.
— Pensa no programa de casal que podemos fazer se vocês ficarem
juntos.
— Ah, não! Nem pensar. Chega desse assunto.
— Ok, gatinha. — Usei o apelido que Diego usava para provocá-la e
Malu me deu um tapinha na bunda.
— Cala a boca, sua chata.
Passamos o restinho da tarde organizando tudo e eu fiquei de olho em
Malu. Ela e Diego estavam trabalhando juntos nos últimos meses e eu podia
jurar que o ódio tinha ido embora de vez, ao invés do que ela vivia me
dizendo. Talvez Malu estivesse gostando mesmo de Diego e eu esperava que
ele estivesse gostando dela também. Eu gostava muito dele. Rose foi tomar
um banho rápido quando terminamos e eu e Malu — que havia trazido uma
muda de roupa para se arrumar em minha casa — fomos fazer o mesmo.
Arrumei-me rapidamente, usando um macaquinho de gestante bem bonitinho
que havia ganhado da minha mãe e aplicando um pouco de maquiagem, para
poder receber os convidados. Todo mundo chegou vinte minutos depois, na
hora marcada, pois queríamos estar reunidos quando Levi chegasse.
Assim que ouvi sua chave girando na fechadura, pedi para que todo
mundo ficasse em silêncio e aguardamos. Quando ele abriu a porta, todos nós
gritamos:
— Surpresa!
Pensei que Levi iria desmaiar. Ele deu um pulo para trás e ergueu as
mãos, como se tivéssemos acabado de anunciar um assalto, e xingou quando
Diego estourou um monte de papel picado prateado sobre a sua cabeça. Mal
liguei para o trabalho que teria para limpar tudo aquilo no dia seguinte e corri
até ele, abraçando-o.
— Feliz aniversário, meu amor!
Levi finalmente sorriu e me abraçou de volta, beijando meus lábios
antes de se abaixar e beijar a minha barriga.
— Sua safada, armou tudo pelas minhas costas! — sussurrou,
voltando a me beijar.
— Valeu a pena, não valeu?
— Com certeza, mas você vai me pagar por isso mais tarde.
Eu mal podia esperar. Apesar do desconforto com a barriga, Levi e eu
sempre dávamos um jeito de fazer amor com frequência. O homem tinha um
apetite voraz e não tinha como ficar atrás ao ver o seu corpo nu ou quando
sua boca descia pela minha pele até o meio das minhas coxas. Todo mundo se
aproximou para cumprimentá-lo e logo a festinha começou.
Foi muito divertido, mas, em algum momento, senti Levi um pouco
distante. Aquilo me preocupou e, quando ele foi para a cozinha pegar uma
garrafa de cerveja, fui logo atrás.
— Está tudo bem?
Ele se virou, surpreso pela minha presença, e deixou a garrafa sobre a
mesa. Puxando-me pelas mãos, me beijou delicadamente.
— Claro que sim. Por que não estaria?
— Estou te sentindo um pouco calado.
Levi suspirou e acariciou minha barriga com a mão aberta, o polegar
indo para cima e para baixo. Por fim, finalmente confidenciou:
— Meu pai não me ligou.
Meu coração ficou apertado na mesma hora. Era muito fácil esquecer
a presença do seu pai, porque nunca o conheci de fato, mas podia imaginar a
tristeza de Levi. Não, na verdade, eu não poderia imaginar. Sempre tive o
meu pai presente e ele sempre foi o melhor do mundo. A decepção de Levi
deveria ser enorme.
— Meu amor, sinto muito.
— Não sinta, eu já deveria estar acostumado...
— Claro que não. É o seu pai, a obrigação dele era se lembrar do seu
aniversário.
Como um pai esquecia uma data como aquela? Aquilo não entrava na
minha cabeça.
— Ele deve ligar amanhã. Ele sempre lembra, mesmo que seja no dia
seguinte.
— Seu dia é hoje, por isso mesmo, você não deve deixar que seu pai
estrague o seu aniversário.
— Eu sei. — Ele me olhou nos olhos e sorriu de leve. — Você está
aqui, minha mãe está aqui, meus amigos... É isso que importa para mim.
— Isso aí. E se você se comportar direitinho, posso te dar um presente
mais tarde.
— Outro? Você já me deu um presente. — Ele ergueu o pulso com o
relógio que dei para ele em algum momento naquela noite, mas o sorriso em
seus lábios deixou bem claro que ele tinha entendido o que eu quis dizer.
— Estava pensando em algo mais especial e quente.
— É mesmo? Podemos dar uma fugidinha para o quarto e você pode
me dar esse presente agora... — sussurrou, descendo a mão até a minha
bunda. Quase aceitei sua sugestão, mas, então, a risada do pessoal invadiu a
cozinha e soube que, mesmo se quisesse dar uma “fugidinha”, logo iriam
perceber.
— Mais tarde.
— Eu vou cobrar, Briana. Você não vai escapar de mim.
— Não quero escapar.
Levi riu e tomou a minha boca em um beijo delicioso, que me deixou
de pernas bambas e a calcinha levemente umedecida. Antes que perdêssemos
o controle, voltamos para a sala e vi Levi se soltar um pouco mais, parecendo
mais leve após a nossa conversa na cozinha. Gostei daquilo. Aquele homem
era especial demais, não deveria ter qualquer decepção, principalmente vinda
do próprio pai.
Decidida a fazer como ele, fiquei ao seu lado e curti a noite do seu
aniversário.
Eu não conseguia me esquecer do rosto de Levi na noite do seu
aniversário, principalmente quando todo mundo foi embora e ele pegou o
celular, encarando a tela sem nenhuma ligação perdida. Ele poderia dizer que
estava tudo bem, mas eu sentia, assim como sua mãe, que ele havia ficado na
expectativa de que seu pai ligaria para desejar feliz aniversário. Eu sequer
conhecia o homem, mas o odiava com todo o meu ser!
Levi tentou disfarçar quando me sentei ao seu lado, abrindo um
sorriso e se inclinando para me beijar, mas eu senti sua mágoa e aquilo me
cortou o coração. Ele poderia fingir que não se importava, mas, como
qualquer filho, era lógico que ele queria receber o mínimo de atenção do pai.
Fomos dormir juntos naquela noite e, mesmo depois de termos feito amor,
senti que ele demorou a pegar no sono, indo dormir já perto da madrugada.
Queria fazer alguma coisa para levantar o seu astral, por isso, pedi para que
Miriam fechasse a confeitaria para mim naquele sábado e dei uma passadinha
rápida no mercado, mesmo sentindo minhas pernas e minhas costas
reclamando enquanto eu andava pelos corredores e empurrava o carrinho.
Levi merecia receber carinho e eu daria tudo o que tinha para ver um sorriso
de verdade em seu rosto naquela noite.
Comprei tudo o que precisava para fazer um jantar bem gostoso e um
dos funcionários me ajudou a levar as bolsas para o carro ao ver o tamanho
da minha barriga. Estar com trinta e oito semanas de gestação era o mesmo
que carregar uma placa onde se lia que eu poderia parir a qualquer momento,
apesar de estar me sentindo muito bem, apenas um pouco cansada. Sabia que
deveria diminuir ainda mais o ritmo, mas nunca fui o tipo de pessoa que
gostava de ficar dentro de casa sem fazer nada, portanto, trabalhar me
ajudava a ficar ativa e me distraía da ansiedade pelo parto. Dirigi com
atenção até o meu prédio e agradeci a mim mesma por não ter comprado
muita coisa, daria para carregar as quatro bolsas sozinha até o apartamento de
Levi. Provavelmente ele já havia chegado da reunião que teria no início da
tarde, mas queria mesmo que me visse cozinhando para ele.
Assim que desci do elevador e me aproximei da porta do seu
apartamento, pude ouvir o barulho de música e pessoas falando alto. Será que
ele estava com visitas? Usando a cópia da chave que me deu, abri a porta e
entrei, identificando a voz de Diego vindo da cozinha, junto com as vozes de
outros rapazes. Perto da porta, pude ver Henrique, Levi e Diego encostados
no balcão da cozinha, de costas para mim, e Gustavo encostado à pia, de
frente para eles. Garrafas de cerveja estavam espalhadas pelo balcão e cada
um deles segurava uma long neck. Pareciam estar bebendo há algum tempo e
fiquei feliz por ver que estavam fazendo companhia a Levi. Pareciam tão
concentrados na conversa que nem perceberam que entrei. Quando pensei em
anunciar a minha presença, a voz de Henrique me deteve:
— Tá chegando a hora, né? E aí, está nervoso, Levi?
Chegando a hora? Será que estavam falando da bebê? Percebi que sim
quando Levi soltou um suspiro e ajeitou a postura, ficando tenso.
— Um pouco. Cada vez que Briana respira mais forte, acho que está
prestes a gritar falando que está entrando em trabalho de parto.
Ri baixinho, a música me camuflando. Eu gostava de ouvir Levi
falando sobre mim ou sobre a bebê, principalmente para outras pessoas.
— Ela não deveria estar de repouso ou alguma merda assim? —
perguntou Diego.
— A médica disse que ela não precisa de repouso, só não pode se
esforçar demais. Isso me lembra que ela já deveria estar em casa, mas é muito
teimosa.
— Parece alguém que eu conheço — Gustavo disse, olhando para
Levi. Me esgueirei um pouco mais contra a parede para que ele não me visse,
pois era o único que estava de frente para mim. — Você parece uma mula de
tão teimoso, Levi.
— Deve ser por isso que Briana e eu estamos juntos. — Levi riu.
— Vocês estão juntos porque você é um bobo que está prestes a
assumir um bebê que pode nem ser seu.
As palavras de Gustavo fizeram o sorriso morrer em meus lábios e o
meu coração apertar no peito. De todos os amigos de Levi, ele era o único
que parecia ser o mais distante de mim, mas não pensei que era contra o que
nós dois tínhamos. Segurei a respiração, esperando pela resposta de Levi,
mas foi Diego quem respondeu:
— Para com isso, Gustavo!
— Cara, desculpa, mas eu não consigo superar isso! Não consigo
aceitar a burrada que Levi está prestes a fazer. Como amigo, eu tenho que
alertar.
— Como amigo, você tem que calar a boca — Levi disse e percebi
que parecia nervoso. — Pensei que depois do chá de revelação, você
finalmente entenderia que esse tipo de opinião não me importa!
Chá de revelação? Isso aconteceu meses atrás. O que Levi queria
dizer com isso?
— Então eu só sirvo para ver calado as merdas que você faz e ficar
quieto? Talvez eu seja o seu único amigo verdadeiro, porque tenho certeza
que Henrique e Diego pensam como eu!
— Não fala por mim, cara — Henrique se defendeu.
— Nem por mim.
— Sim, eu falo! Eu lembro como vocês dois ficaram quando Levi
chegou desesperado no nosso apartamento, falando que seria pai! Nós três
falamos sobre o DNA e o alertamos de que o bebê poderia não ser dele!
— Eu sempre estive consciente disso, Gustavo — Levi falou, irritado.
— Então por que você deixou isso passar? É porque está apaixonado
por Briana? Cara, mulher nenhuma vale isso, entendeu? Mulher nenhuma
merece que um cara se amarre a ela e a um bebê por causa de uma paixão,
porra! Essa merda é para sempre, é o seu nome que vai estar na certidão de
nascimento, é do seu bolso que vai sair o dinheiro da pensão, caso se separem
um dia, e é do seu bolso que vai sair metade do sustento dessa criança, caso
fiquem juntos de verdade. E o bebê pode nem ser seu, porra! Vai mesmo
perder a melhor parte da sua vida se amarrando a isso? E se você se
arrepender no futuro?
Ah, meu Deus. Eu não conseguia respirar. Meu coração acelerou e só
percebi que estava tremendo, quando as bolsas caíram das minhas mãos e se
estatelaram no chão, os potes de vidro se quebrando e denunciando a minha
presença. Nervosa, dei um passo para o lado e saí de perto da parede,
enxergando tudo embaçado porque as lágrimas inundavam os meus olhos.
Sentia minha cabeça rodar e Levi veio correndo em minha direção,
acompanhado por Henrique e Diego. Gustavo veio logo atrás, pálido e
boquiaberto.
— Briana, amor! — Levi pousou uma mão em meu rosto e outra em
minha barriga. As lágrimas molharam minhas bochechas sem que eu tivesse
qualquer controle sobre elas.
— Eu estou bem — sussurrei, tentando dar um passo para trás, mal
conseguindo respirar. — Estou bem.
— Não, você não está. Sente-se aqui.
— Não, eu vou para casa. Eu não queria... Não queria atrapalhar
vocês.
— Você não atrapalhou nada e esse filho da puta já está saindo da
minha casa! — Levi ralhou, virando-se para Gustavo, que arregalou os olhos.
— Dá o fora daqui e faça o favor de nunca mais voltar!
— Como é que é?
— Levi, não precisa disso, cara — Henrique murmurou e eu engoli
em seco, me sentindo mal.
Era como se o mundo estivesse desabando de repente, tudo dando
errado. Não queria ter descoberto que Gustavo pensava daquele jeito, muito
menos que sua amizade com Levi ficasse balançada por minha causa. Não
queria ter ouvido nada daquilo, não quando eu sentia que minha vida estava
finalmente nos trilhos e que estar com Levi era o certo, independente de
qualquer coisa.
“Nós três falamos sobre o DNA e o alertamos de que o bebê poderia
não ser dele!”
“Eu sempre estive consciente disso, Gustavo.”
Será que Levi ainda pensava sobre o DNA? Será que ainda queria
fazer o exame? E tudo o que disse para mim sobre não se importar com mais
nada, sobre a bebê ser filha dele em seu coração? Talvez, eu estivesse errada.
Eu deveria ter insistido no DNA, não deveria ter deixado aquela história cair
no esquecimento.
— É isso que vocês ouviram!
— Eu sou seu amigo há anos, porra! Vai virar as costas para mim, é
isso? — Gustavo perguntou com raiva, seus olhos focados em Levi.
— Acho que esse não é o momento para vocês conversarem, ok?
Vamos embora, Gustavo — Diego pediu.
— Não haverá mais conversa — Levi disse bem sério, pousando uma
mão em minhas costas. — Foi você quem virou as costas para mim ao dizer
toda aquela merda na minha cara. Não sei o que passa na sua cabeça,
Gustavo, mas para mim amizade significa apoiar o outro e não fazer o que
você fez. Sai daqui.
— Isso é uma palhaçada — Gustavo murmurou, deixando a garrafa
de cerveja sobre a mesinha de centro. — Se você se arrepender dessa merda,
saiba que eu não vou te receber de braços abertos, Levi.
— Sim, eu estou arrependido, Gustavo. Estou arrependido por não ter
parado de falar com você quando me disse toda essa merda pela primeira vez.
Gustavo olhou para Levi e depois para mim, antes de sair a passos
largos e bater a porta do apartamento. Diego apertou o meu ombro e desejou
que eu ficasse bem antes de ir atrás dele, seguido por Henrique, que desejou o
mesmo e logo foi embora. O apartamento ficou silencioso de repente, apenas
o barulho da música parecendo preencher cada vazio. Senti quando Levi me
levou até o sofá e me sentou, mas eu me sentia um pouco fora do ar, as
palavras de Gustavo girando em minha mente.
“Vai mesmo perder a melhor parte da sua vida se amarrando a isso?
E se você se arrepender no futuro?”
Eu queria me encolher e tampar meus ouvidos até não ouvir mais o
som da sua voz. Queria impedir que minha mente criasse cenários tão ruins
em minha cabeça, mas, e se Gustavo tivesse razão? E se Levi estivesse aqui
pelo motivo errado? E se acabasse se arrependendo um dia? O que seria da
minha filha? O que seria de mim? Todo medo que senti meses atrás e que
acabei deixando escapar das minhas mãos ao me entregar a Levi, voltou com
força total, massacrando meu coração e me cobrindo de insegurança.
— Bri, você está tremendo. Está sentindo alguma coisa? Vou pegar
um pouco de água para você.
Levi se afastou e mal percebi quando voltou, segundos depois,
pegando minhas mãos e me fazendo segurar um copo de água gelada. Dei um
gole e senti parte do torpor ir embora quando ele se agachou na minha frente
e tocou em meus joelhos. Seus olhos aflitos encontraram os meus.
— Esquece o que aquele babaca disse, ok? Gustavo é um idiota. Eu
deveria ter cortado relações com ele há muito tempo.
— Ele sempre pensou assim? — perguntei baixinho, mesmo já
sabendo a resposta. Levi hesitou, mas afirmou com a cabeça.
— Sim, mas eu não me importo com nada do que ele falou, Bri.
Gustavo não entende nada do que há entre nós dois.
— Entre nós dois e não entre você e a bebê? — Levi franziu o cenho
quando me calei e resolvi continuar: — Ele pode ter razão, Levi.
— Como?
— Você mesmo disse para ele que sempre teve consciência de que a
bebê pode não ser sua... Talvez, você só esteja aqui porque está apaixonado.
— O quê? — Seu olhar incrédulo encontrou o meu e eu senti vontade
de me encolher. Balançando a cabeça, coloquei o copo sobre a mesinha de
centro e falei sem olhar em seus olhos:
— Acho melhor eu ir embora. Estou um pouco confusa.
— Confusa com o quê? Porra, Briana, você não está deixando que as
merdas que ele disse se infiltrem na sua cabeça, está? Porque, se estiver, isso
fala muito mais sobre você do que sobre ele.
— Como assim?
— É isso mesmo. — Levi se levantou, mas não deixou de me encarar.
— Se acredita nele, é porque não acredita em mim.
— Não é uma questão de acreditar ou não, Levi, porque você sabe
que, no fundo, ele tem razão.
— Eu não sei de porra nenhuma. Ele não tem razão!
— Não tem? Você está prestes a assumir uma filha que pode não ser
sua e ele não tem razão? — Levantei-me também, pouco me importando com
o tremor em minhas pernas ou a dor nas costas. — E se você só estiver
fazendo isso por minha causa? E se acabar se arrependendo depois, caso um
dia deixe de gostar de mim? Estamos falando sobre uma criança e não sobre
um boneco sem sentimentos.
Levi arregalou os olhos e soltou uma risadinha sem humor. Um nó se
formou em minha garganta e um bolo se afundou em meu estômago.
— É nisso que você acredita? Acha que sou tão volúvel assim?
— Não, mas é uma possibilidade, não é? Talvez você não tenha
parado para pensar nisso.
— Porra, Briana... — Ele balançou a cabeça e me olhou com raiva. —
Depois de todos esses meses, eu pensei que você me conhecesse!
— Eu conheço, mas...
— Não, você não conhece! Se acredita nessa merda, é porque não me
conhece! — Gritou e eu dei um passo para trás, surpreendida pelo seu
rompante. — Antes de me apaixonar por você, eu amei essa bebê! —
Apontou para minha barriga. — Foi por ela, acima de qualquer coisa, que eu
me aproximei, que eu me preocupei, que eu decidi que seria presente na sua
vida. Como tem coragem de olhar na minha cara e perguntar se estou aqui
apenas por sua causa? Como pode achar que um dia eu vá me arrepender de
ser o pai dessa criança? Eu não sou como o meu pai, porra!
A mágoa brilhou com tanta intensidade nos olhos de Levi, que senti
algo dentro de mim se partir, me dando conta de que eu havia acabado de
quebrar algo dentro dele também. Senti as lágrimas invadindo os meus olhos
junto com um gosto amargo em minha boca, o arrependimento dando um nó
em meu peito. Meu Deus, eu era uma idiota! Só uma idiota duvidaria de um
homem como Levi, dos seus sentimentos, da sua verdadeira intenção, quando
cada atitude que tomava era verdadeira. Levi estava bem longe de ser um
homem volúvel e eu sabia disso. Em que momento me tornei tão
influenciável?
Acho que eu sabia. Talvez, no fundo, eu ainda mantinha aquela
Briana insegura e machucada bem escondida, mas que ainda tinha voz e que
me alertava para qualquer possível decepção. Aqueles meses ao lado de Levi
foram maravilhosos, nunca fui tão feliz em toda a minha vida, praticamente
esqueci da dor que Davi me causou, mas uma parte minha — ainda que fosse
muito pequena — morria de medo de ser machucada de novo e ainda queria
me proteger, queria me resguardar de uma nova desilusão. Como ela
conseguiu se tornar tão forte só com algumas palavras de uma pessoa que
parecia não fazer ideia de quem Levi realmente era? Porque, se Gustavo
pensava daquele jeito, era porque não conhecia o amigo que tinha.
No final, não era Levi quem era volúvel, era eu. E ter ciência daquilo
me fez estremecer.
— Acho melhor você ir embora — Levi disse quando se deparou com
o meu silêncio. Senti, de repente, que havia um muro entre nós dois, uma
montanha, um mundo de distância. Não podia deixar que aquilo acontecesse.
Desesperada, me aproximei dele, mas Levi deu um passo para trás.
— Não. Não, Levi, só me escuta...
— Eu já escutei o suficiente hoje, Briana. Um dos meus melhores
amigos é um babaca que não consegue me entender e a mulher que eu amo
acha que eu sou um homem como o meu pai. Chega.
— Não! — Encurtei completamente a nossa distância e tomei seu
rosto em minhas mãos, querendo que me ouvisse. — Você não é como ele,
pelo amor de Deus! Só me deixa falar...
— Eu não quero ouvir. — Levi tirou minhas mãos do seu rosto e deu
um passo para trás. — A gente conversa depois, Briana. Se sentir alguma
coisa, é só me ligar.
Ele saiu de perto de mim e senti que estava realmente se afastando e
não apenas fisicamente. As lágrimas que estava segurando finalmente
molharam as minhas bochechas e um soluço escapou da minha garganta. Eu
me sentia uma burra, uma completa idiota por ter acabado de magoar o
melhor homem que eu já havia conhecido.
— Levi, me desculpe, eu nunca quis... Nunca quis comparar você ao
seu pai, eu só...
— Briana, eu não quero ouvir! — Exclamou e eu ofeguei baixinho,
fechando as mãos em punhos, tentando me controlar. — Vá embora, por
favor.
Eu fui, porque não tinha mesmo o direito de estar ali. Sem falar nada,
saí do seu apartamento e fui direto para o meu, jogando-me no sofá e
chorando com a cara enterrada na almofada, sentindo minha cabeça pesada e
o coração doendo. A sorte costumava bater uma vez só em nossa porta e ela
bateu na minha quando Levi reapareceu em minha vida. A única obrigação
que eu tinha era cuidar dele, preservar o que sentia por mim, o que sentia pela
minha filha, mas acabei destruindo tudo e não sabia se conseguiria recuperar
o que havia acabado de perder.
Não consegui ficar em casa por muito tempo depois que Briana saiu e
acabei mandando uma mensagem para Diego, pedindo para que me
encontrasse em um bar qualquer para que pudéssemos beber. Eu não queria
conversar, mas também não queria ficar sozinho e Diego era uma ótima
companhia em momentos assim. Ele era meu irmão e me conhecia como
ninguém, sabia a hora exata em que deveria falar e a hora em que deveria
estar apenas ao meu lado. Peguei uma mesa no canto do bar e pedi uma dose
de uísque. Eu não bebia destilado com frequência, mas sentia que merecia o
torpor que a bebida me traria, ainda que fosse queimar a minha garganta no
processo.
As palavras de Briana giravam em minha cabeça como se fossem a
porra de um carrossel. Parte de mim achava toda aquela situação um tanto
absurda — a forma como tudo desandou tão de repente — e eu ainda não
conseguia processar o que havia acontecido realmente. Estávamos tão bem e
agora... Porra, eu mal conseguia ouvir os meus próprios pensamentos. Um
turbilhão passava pela minha cabeça e eu me sentia perdido entre a raiva e a
mágoa. Diego chegou quando eu estava na segunda dose e soltou um assobio
espantado ao olhar o copo em minhas mãos.
— Alguma coisa me dizia que eu teria que servir de motorista para
você. Ainda bem que vim de Uber. — Ele fez um sinal para o garçom e pediu
uma cerveja, o que, perto do uísque, parecia água. Um suspiro escapou dos
seus lábios. — Quer falar o que aconteceu?
Eu não queria, mas acabei falando mesmo assim. Diego ouviu tudo
quieto enquanto bebia aos poucos, e eu joguei tudo para fora, mal
conseguindo conter a minha indignação. Quando acabei, ele soltou um novo
assobio:
— Porra! Me lembre de dar um soco na cara de Gustavo, por favor.
— Nem fale no nome dele.
— Acho que ele se arrependeu. Pelo menos era o que parecia quando
saí de casa. Perguntou se alguma coisa havia acontecido quando você me
ligou.
— Não quero saber, Diego. Por mim, ele pode ir se foder.
— Eu sei, também estou com raiva dele. Acho que Gustavo realmente
não entende o porquê de você ter mergulhado de cabeça nessa situação. Ele é
como qualquer homem, um babaca, que provavelmente não saberia lidar com
uma gravidez inesperada e negaria a paternidade até ter o exame de DNA em
mãos.
— Isso não dá a ele o direito de se meter desse jeito na minha vida.
— Não, não dá. E não estou aqui querendo justificar as atitudes dele.
Como amigo, ele deveria te apoiar.
Eu assenti e terminei o uísque, fazendo um sinal para que o garçom
me servisse mais uma dose. Diego observou em silêncio enquanto o garçom
enchia meu copo pela terceira vez e perguntou quando ele se afastou:
— Você sabe que vai morrer de ressaca amanhã, não sabe?
— Sim. Não ligo. — Dei de ombros, tendo noção de que estava
começando a enxergar tudo turvo. — Sabe de uma coisa? Acho que não foi
tão ruim assim tudo o que Gustavo disse, só assim eu descobri o que Briana
realmente pensa de mim.
— Não, Levi, não vai por esse caminho, cara.
— Como não? Não ouviu tudo o que eu te contei? Tudo o que ela me
disse? Briana não me conhece. Se ela acredita que eu vou me arrepender um
dia, é porque não me conhece!
— Acho que ela estava nervosa, assim como você — ele disse, mas
eu balancei a cabeça em negativa. — Levi...
— Não. Eu vi a dúvida nos olhos dela, Diego.
— Dúvida, não certeza. Há uma grande diferença entre essas duas
coisas.
— Ela não deveria duvidar de mim! Estamos juntos há meses, eu
sempre fui sincero. Porra, sou louco por ela, Diego, e pela bebê também! O
que mais tenho que fazer para provar isso?
— Nada, Levi. Você já fez de tudo e ela sabe disso, tanto que se
arrependeu. Ou se esqueceu disso também?
Não, eu não havia me esquecido. Ainda conseguia me lembrar
nitidamente do seu rosto desmoronando, seus olhos brilhando com lágrimas
de arrependimento, o momento em que disse que não me via como o meu pai,
mas isso não significava nada, se em algum momento ela levou em
consideração tudo o que Gustavo disse.
— Acho que o problema não é com você — Diego disse de repente,
chamando a minha atenção. — O problema é com o passado dela, Levi.
Talvez Briana esteja armada para se proteger de outra decepção, entende?
— Armada contra mim? Sério? Eu seria incapaz de machucar aquela
mulher.
— Eu sei, irmão, mas talvez ela ainda não soubesse disso. Acho que
agora ela sabe.
— Sabe nada — murmurei, contrariado.
— Vamos fazer assim, beba tudo o que tiver que beber, afogue as
mágoas, mas, amanhã, converse com ela.
— Eu não vou atrás dela, Diego. Desde o começo, sempre fui eu a ir
atrás dela.
— Ok, então, deixe que ela venha atrás de você e, quando ela vier,
escute o que tem para dizer. — Ele coçou um pouco o queixo e suspirou. —
Vocês se amam, Levi, isso é nítido. A neném está prestes a nascer, você vai
querer mesmo estar afastado nesse momento?
— Não vou me afastar. É minha filha, acima de qualquer coisa,
Diego. Eu estarei lá.
— Eu sei disso e não estou falando da minha afilhada, estou falando
da Briana. Vai querer estar afastado dela quando a neném nascer? Vai deixar
que essa briga idiota arruíne tudo o que vocês construíram até aqui?
Porra, só de pensar naquilo, sentia um nó se formar em minha
garganta. Eu não era mais um garotinho que chorava por qualquer coisa, mas,
desde que Briana saiu do meu apartamento, eu sentia vontade de deixar as
lágrimas caírem. Consegui segurá-las e voltei a beber. Era melhor esperar até
estar completamente bêbado para chorar, pelo menos poderia colocar a culpa
no uísque. Estava distraído, secando aquela terceira dose enquanto minha
cabeça rodava por conta do álcool, quando ouvi meu celular tocar. Tirei o
aparelho do bolso e senti meu coração dar um solavanco no peito ao ver o
nome no visor.
— É ela? — Diego perguntou.
— É o meu pai.
Os olhos de Diego se arregalaram.
— Vai atender?
Eu não deveria. Ele havia se esquecido do meu aniversário e,
provavelmente, estava ligando para dar parabéns atrasado, mas isso não
importava mais. Toda vez eu dizia para mim mesmo que não permitiria que
meu pai me magoasse, mas sempre falhava. Se não o atendesse daquela vez,
não daria a ele a chance de me encher com suas falsas promessas.
Novamente, eu não era mais um garoto, não caía mais nas suas mentiras. No
entanto, antes que pudesse ignorar, acabei aceitando a ligação.
— O que você quer? — perguntei com raiva, deixando o uísque falar
por mim.
— Oi, filhão! Feliz aniversário atrasado! Você sabe como é a
memória do seu pai...
— Eu não sei de nada. Obrigado pela felicitação e até mais.
— Calma, Levi! Por favor! — Ele pediu e eu apertei o aparelho em
minha mão, encarando o copo vazio em cima da mesa. — Eu soube pela sua
mãe que você vai ser pai. Eu... Estou feliz por você.
— Obrigado.
— Sei que você vai ser um pai infinitamente melhor do que eu fui
para você.
— Ah, pode apostar que sim — ironizei. Aonde ele queria chegar
com aquilo?
— Eu sei que não mereço nada. — Sua voz diminuiu e, mesmo com o
torpor da bebida, percebi que, para o meu pai, parecia ser difícil colocar para
fora o que estava prestes a dizer. Não senti a menor pena. — Mas quero dizer
que a melhor coisa que fiz na minha vida, foi você, mesmo não sabendo
valorizar isso. Eu tenho muito orgulho do homem que você se tornou.
— Não sinta orgulho, você não teve nenhum mérito nisso.
— Sim, eu sei. Vitória fez tudo sozinha, não estou aqui para me
eximir da culpa.
— Uau, vindo de você, isso é surpreendente. Sempre foi tão egoísta.
— Sim, eu fui mesmo e me arrependo. Sei que não posso voltar no
tempo e que pedir perdão é muito pouco para o tanto que te magoei, então, só
posso desejar que você seja feliz, filho. Que construa uma linda família, que
valorize a mulher que está ao seu lado e o bebê que está por vir. E prometo
que...
— Não. Não prometa nada, pai — pedi, minha raiva vacilando e
quase dando lugar a mágoa que sentia por ele. — Você sabe que não vai
cumprir. Só continue onde está agora, bem distante.
No fundo, era só isso que eu queria. Apesar da expectativa inútil de
receber um telefonema seu no meu aniversário, eu só queria que meu pai
ficasse longe, porque sua presença machucava mais do que a sua ausência.
Acho que havia chegado a hora de fechar um ciclo. Eu nunca o esqueceria,
lógico, mas também não ansiaria por nada vindo dele.
— Fique bem, Levi. Só quero que saiba que amo você, apesar de não
saber demonstrar.
— Fique bem também.
Encerrei a ligação com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.
Inúmeros sentimentos me massacravam, frustração, mágoa, o amor que,
querendo ou não, também nutria por ele, e a vontade de correr até Briana e
contar para ela o que havia acabado de acontecer. Queria me abrir com ela,
mas não estávamos mais juntos, certo? Certo? Merda, pensar naquilo me fez
sentir vontade de chorar como uma criancinha de três anos de idade.
— Preciso beber — concluí e fiz um novo sinal para o garçom.
Não iria pensar, não naquela noite. Só iria afogar minhas mágoas,
como Diego aconselhou. Amanhã, eu voltaria a sentir tudo.

Malu chegou em minha casa vinte minutos depois de eu ligar para ela
chorando. Com dois potes de sorvete de pistache — o meu favorito — ela
entrou em meu apartamento e me amparou, me deixando chorar em seu
ombro e ouvindo cada insulto que eu proferia a mim mesma. Quando
consegui me acalmar, ela segurou o meu rosto, limpou as minhas lágrimas,
colocou o pote de sorvete na minha mão junto com uma colher e disse:
— Agora você vai comer um pouco e me ouvir, ok? — Eu apenas
assenti, fungando e colocando um pouco de sorvete na minha boca. Não
deveria ter um gosto tão bom e eu com certeza não merecia estar sentindo
prazer ao comer, porque, naquele momento, eu não merecia nada. — Você
está errada.
— Eu sei — murmurei.
— E foi cruel com Levi.
— Eu sei. — Talvez eu tenha voltado a chorar.
— Eu deveria te dar umas palmadas, Briana!
— Eu sei! — gritei em meio ao choro.
— Mas não vou fazer isso, sabe por quê? — Balancei a cabeça em
meio às lágrimas, vendo Malu me dar um sorriso triste. — Porque eu sei que
quem falou aquelas coisas para Levi não foi essa Briana que está na minha
frente, foi a Briana que tem medo de se machucar de novo. Só que, amiga,
aquele homem... Ele não vai te machucar. Ele não vai te magoar, Briana.
— Eu sei disso — sussurrei, mal conseguindo enxergar suas feições.
— E estou me sentindo horrível por ter sido aquela quem machuca. É tão
ruim estar do outro lado da situação. Como pode existir pessoas que
machucam outras por que querem? Eu não consigo lidar com isso, a culpa
está me corroendo... Eu só queria pedir perdão a ele, mas Levi nem quer me
escutar.
— Talvez ele só precise de um tempo.
— Eu não quero perdê-lo — confidenciei, mesmo tendo certeza de
que Malu já sabia daquilo. — Eu nunca pensei que conseguiria me apaixonar
de novo depois de tudo o que sofri com a traição de Davi, mas, a verdade, é
que eu não só me apaixonei, como voltei a amar. Eu amo Levi, Malu. Eu amo
cada parte dele.
— Acha que não sei disso? Seus sentimentos estão estampados na sua
testa há meses e arrisco a dizer que o que você sente por Levi é algo que
nunca sentiu por homem algum.
— Não mesmo. Eu amei Davi, sabe? Não vou dizer que não, mas o
que sinto por Levi é diferente, é mais forte, intenso. É um amor que eu sei
que nunca vou conseguir esquecer.
— Então é isso que você precisa dizer a ele, Bri. Assim que ele quiser
te escutar, diga tudo o que sente, explica que em momento algum você
enxergou nele o homem que o abandonou quando era criança.
— Será que eu não posso dizer isso agora?
— Eu acho que ele não quer te ouvir agora — disse ela, puxando-me
para os seus braços. — Mas ele não é cabeça dura, sei que vai te ouvir em
breve, talvez amanhã mesmo. Só precisa se acalmar, assim como você. Não
esqueça que você está prestes a parir, Briana, pelo amor de Deus!
— Não tem como esquecer. A bebê está pesando uma tonelada na
minha barriga. E ela ama sorvete, sente só. — Coloquei a mão de Malu em
minha barriga e ela riu ao sentir a bebê chutar. — Eu também estou sentindo
uma dorzinha chata no final das costas.
— Ai, meu Deus, isso não é o parto, né?
— Não. Acho que não. — Acabei rindo do seu desespero. — Só estou
cansada e triste. Ela deve sentir isso.
— Claro que sente, ela já ama você e o Levi, afinal, o homem ficou
grudado em vocês duas nos últimos meses. — Malu acariciou minha barriga
e meus cabelos. — Ele vai ser um pai incrível, Bri. Não deixe esse homem
escapar, porque eu já sinto carinho por ele, ok?
— E pelo amigo dele — sorri.
— Não sei do que está falando.
— Vocês se beijaram. Preciso te lembrar desse fato?
— Não.
— E você nem tem xingado o Diego com tanta frequência, já
percebeu isso também?
— Claro, agora eu o xingo pessoalmente no trabalho! — Riu e seus
olhos brilhando. Era bom que uma de nós duas estivesse feliz no momento.
— Não vou deixar Levi escapar, Malu — sussurrei. — Eu juro.
— É assim que se fala, garota!
Toquei minha mão na dela em um acordo tácito e me afastei para
comer um pouco mais do sorvete, aproveitando que as lágrimas haviam dado
uma trégua. Sem querer, acabei me lembrando das palavras do meu pai
quando saímos da delegacia, meses atrás. Ele me aconselhou a não olhar para
todos os homens com os olhos da mágoa e consegui fazer isso com Levi.
Agora, eu teria que lembrar a mim mesma a nunca mais olhar para ele com os
olhos do medo, pois o sentimento se tornava irracional quando era dirigido a
ele. Eu não precisava ter medo de Levi, pois sabia que ele nunca me
machucaria, sabia que ele seria um pai incrível para a minha filha e um
homem ainda melhor para mim. Não abriria mão dele, nunca! Faria de tudo
para ele me perdoar.
— Tá ouvindo isso? — Malu questionou minutos depois, quando
ouvimos vozes altas no corredor. Apurando minha audição, pude entender o
que um homem disse:
— Não, você não vai fazer isso!
— Sim... Sim, e-eu vou...
— Fique quieto, cara!
— É o Diego? — Malu perguntou, se levantando. Eu fiz o mesmo,
mas com dificuldade por conta da barriga. Duas batidas soaram em minha
porta.
— Brianaaaaaaaa!
— Caralho, Levi, você está bêbado, porra! Deixa a Briana em paz!
— Na-não... Brianaaaaa!
Malu me encarou e fui até a porta, abrindo-a no momento em que
Diego passou o braço de Levi por seu pescoço e tentou afastá-lo.
Boquiaberta, encarei um Levi completamente bêbado, com os olhos inchados
e mal se aguentando de pé.
— Oi, Bri... — Ele tentou ficar de pé sozinho e colocar uma
expressão séria no rosto. — Na-não, é Briana, por-porque estamos brigados.
— Pelo amor de Deus! — Diego revirou os olhos e puxou Levi, me
dando um sorriso amarelo. — Desculpa, Bri, vou levar essa bunda bêbada
para casa.
— Não! Deixe-o aqui. Quer dizer — virei-me para Levi e pedi,
olhando em seus olhos: —, fique aqui, Levi. Por favor.
Ele me olhou de cima a baixo lentamente, daquele jeito torto e bêbado
e bufou.
— Não. — Meu coração doeu com a sua negativa e acompanhei seus
olhos indo para Malu. — Sabia que a gente brigou, Malu?
— É, eu estou sabendo. — Malu riu, me encarando rapidinho antes de
voltar para Levi e falar mais baixo, como se estivesse contando um segredo:
— Briana estava aqui chorando no meu ombro, sabia? Ela está muito
arrependida.
— Hum... Não acredito-to — ele soluçou no final.
— É verdade, Levi — falei, dando um passo para frente. — Por favor,
acredite em mim.
— Ela está arrependida de verdade — Malu acrescentou.
Seus olhos bêbados encontraram os meus novamente e ele ergueu o
queixo, me perguntando baixinho:
— Está?
— Estou. Claro que estou, amor — falei, finalmente tocando o seu
rosto. O cheiro de uísque me fez estremecer com uma onda de náusea, mas
me segurei. — Mas não vou falar nada agora, porque sei que não vai se
lembrar amanhã.
— Vou sim.
— Não, não vai. — Eu consegui rir, mas logo voltei a ficar séria. —
Fique aqui, me deixe cuidar de você, Levi.
— Ele precisa de um banho gelado, Bri. Estou com medo de que caia
no box.
— Tá achando que sou criança, po-porra? — Levi perguntou para
Diego em um tom resignado e seu melhor amigo riu.
— Não sei se percebeu, mas você mal se aguenta em pé.
— Aguento si-sim!
— Eu que estou te segurando, Levi. Acho melhor te levar para casa e
te dar um banho, Briana pode nos acompanhar, se quiser.
— Dê um banho nele aqui, tem roupas dele no meu closet — ofereci e
voltei a encarar Levi. — Fique, por favor.
Algo brilhou em seus olhos nublados pela bebida, vi a indecisão ali.
Mesmo bêbado, Levi ainda não parecia confiar totalmente em mim e pude
ver como estava magoado. Eu queria me desculpar, implorar pelo seu perdão,
mas sabia que hoje seria inútil pelo jeito como ele estava. A única coisa que
poderia fazer, era cuidar dele.
— Briana não pode ficar so-sozinha — ele disse para Diego e o aperto
em meu peito ficou mais firme. Mesmo brigado comigo, ele se preocupava.
Eu não merecia aquele homem.
— Vai ficar? — Diego perguntou e Levi apenas assentiu com certa
dificuldade.
— Ótimo! Briana te ajuda enquanto eu faço um café — Malu
concluiu.
Acenando com a cabeça, Diego entrou e os guiei até o banheiro do
meu quarto, pois ficaria mais fácil para depois Diego colocar Levi na cama.
Enquanto eles iam juntos até o banheiro — com Levi reclamando alto sobre
não ser criança —, fui pegar suas roupas e parei por um momento com a
gaveta aberta, sentindo minha mente girar com tudo o que estava
acontecendo naquela noite e com o estado de Levi. Acho que nunca o vi tão
bêbado, nem quando descobriu sobre a gravidez. Senti meu coração se
apertar. Ele devia estar sofrendo muito. Será que iria se arrepender de ficar
em minha casa quando acordasse no dia seguinte? Eu esperava que não.
Encontrei um short de pijama e uma regata branca e peguei uma
toalha limpa antes de ir ao banheiro. Encontrei-o nu, escorado contra a parede
e xingando Diego por conta da água gelada. Seus olhos estavam fechados e a
careta em seu rosto me fez querer rir.
— Estou tendo que te ver pelado, Levi! Quem deveria estar xingando
era eu.
— Briana gosta de me ver pelado — ele murmurou e senti meu rosto
ficar quente.
— Não sei por quê. Ela deve se contentar com pouco.
— Tá falando que tenho pa-pau pequeno? Meu pau é grande pra
caralho!
— Não é isso que estou vendo aqui — Diego zoou com a cara dele e
Levi bufou, abrindo os olhos e dando de cara comigo.
— Fala pra ele que meu pau é grande, Bri.
Meu Deus, ele devia estar muito bêbado mesmo. No meio de toda
aquela crise, era com aquilo que Levi estava preocupado.
— Se eu disser, você vai me perdoar?
— Porra! Essa mulher sabe negociar. Eu te venero, Briana! — Diego
riu e Levi arqueou uma sobrancelha, saindo de perto da parede e
cambaleando.
— Posso pensar no seu caso. Vem aqui comigo.
— Olha o tamanho da barriga dela, cara. Não dá pra transar no
chuveiro — Diego disse. — E me respeite, porra!
Minha nossa, era melhor eu me afastar, antes que perdesse a cabeça e
acabasse entrando naquele box com um Levi completamente nu e bêbado.
Resolvi deixar os dois sozinhos quando Diego fechou o chuveiro e fui para o
quarto, encontrando Malu na porta, prestes a entrar. Ela carregava uma xícara
fumegante de café preto.
— Ele está melhor?
— Não sei dizer. — Fui sincera, porque Levi bêbado era uma
incógnita. Pouco mais de cinco minutos depois, Diego saiu com ele já
vestido, e o levou até a cama. Tomando a xícara da mão de Malu, me
aproximei. — Beba um pouco, Levi.
Ele tomou a xícara da minha mão e fez uma careta depois de dar o
primeiro gole, mas acabou tomando mais um pouco, bem devagar. Seus olhos
pareciam mais vivos do que antes, mas ainda estavam pesados e inchados.
Era como se ele tivesse chorado e aquilo me fez sentir um aperto no peito.
— Vocês podem ir, se quiserem. Eu sigo daqui — falei, virando-me
para Diego e Malu parados lado a lado. Soltando um suspiro, Diego assentiu.
— Ok, qualquer coisa, é só me ligar. Você está se sentindo bem?
— Sim. Obrigada por ficar com ele, Diego, de verdade.
— Eu amo esse idiota e ele precisava de companhia para encher a
cara e ser trazido para casa em segurança.
Fiquei muito feliz por Levi ter Diego em sua vida. Eles eram irmãos
de alma, assim como Malu e eu. Por falar nela, logo senti seus braços ao meu
redor e sua voz sussurrando em meu ouvido:
— Não se aproveite do corpinho bêbado dele, ok?
— Ah, pode deixar! — Eu ri daquela doida. Como se eu tivesse
condições físicas de me aproveitar de alguém. Levi e eu só transávamos de
conchinha agora, porque minha barriga me impedia até mesmo de ver a
minha vagina.
Fui com eles até a sala e abri a porta, me despedindo dos dois, que,
como vinha acontecendo ultimamente, nem começaram a brigar. Enquanto se
afastavam no corredor, ouvi Diego perguntar a Malu:
— Pode me dar uma carona, gatinha?
Eu ri baixinho, curiosa pela resposta dela. Malu pareceu suspirar,
resignada.
— Você não tem o aplicativo do Uber no seu celular?
— Sim, eu tenho, mas nenhum motorista vai ser você...
Acho que eles entraram no elevador, pois não consegui ouvir mais
nada. No fundo, eu sabia que Malu daria uma carona para ele. Nervosa,
fechei a porta e passei a mão pelo pijama que havia colocado antes de ligar
para Malu, sem saber ao certo como encarar Levi. Ainda que ele estivesse
bêbado e soltando piadinhas, tinha certeza de que ainda estava muito
magoado comigo. Respirando fundo, voltei para o quarto e o encontrei
recostado à cabeceira de olhos fechados, segurando a xícara vazia. Achei que
estivesse cochilando e fui tirar a xícara de suas mãos, mas ele acabou abrindo
os olhos e me encarou um pouco mais sóbrio do que antes de eu sair do
quarto.
— Deite-se um pouco, Levi. Quer água?
— Não.
Sua voz saiu em um sussurro e eu engoli em seco, me dando conta de
que ele parecia um menino vulnerável daquele jeito, com os olhos pesados e
brilhando, a voz baixa e contida. Deixei a xícara em cima da mesinha de
cabeceira e me sentei ao seu lado, tomando sua mão na minha. Meu coração
despencou no peito quando ele a afastou.
— Levi...
— Você quer que eu vá embora? — Sua pergunta me pegou
completamente de surpresa e um nó intenso se formou em minha garganta. —
Quer que eu vá embora da sua vida?
— Não, Levi, nunca! — Respondi tão rápido, que quase perdi o
fôlego. Mesmo com medo de que ele largasse a minha mão, peguei a sua de
novo e entrelacei nossos dedos. — Por favor, não pense isso nem por um
segundo.
— Mas você não confia em mim...
— Claro que eu confio.
Seus olhos encontraram os meus e senti meus lábios tremerem, uma
vontade imensa de chorar tomando conta de mim. Aquela dor chata em
minhas costas se intensificou e chegou no pé da minha barriga, mas eu engoli
em seco a sensação, sem desviar os olhos dos dele.
— Meu pai me ligou — ele revelou de repente, me pegando de
surpresa.
— Ligou? Quando?
— Hoje, quando estava no bar. Ele sabe que vou ser pai, minha mãe
contou. E ele me pediu perdão por tudo que fez, mas não esperou que eu o
perdoasse. Talvez um dia eu o perdoe, Bri.
Eu assenti, entendendo. Era óbvio que sua mágoa pelo pai não iria
desaparecer só porque o homem lhe pediu perdão, mas, e sua mágoa por
mim? Será que ela iria sumir algum dia?
— Espero que um dia você possa me perdoar também —
confidenciei, sentindo as lágrimas caírem pelo meu rosto.
Surpreendendo-me, Levi encostou a testa na minha e respirou fundo,
tocando o nariz com o meu.
— Me pergunte isso amanhã e eu acho que vou ter uma resposta para
te dar.
Meu coração acelerou com esperança e ansiedade e um suspiro
escapou dos meus lábios quando ele me deu um selinho demorado, com gosto
de dor e amor, de mágoa e tristeza, mas também de expectativa. Eu me
agarrei àquele beijo como se fosse a minha tábua de salvação.
No fundo, eu sabia que realmente era.
Puta. Merda.
Um pedreiro muito filho da puta parecia martelar a minha cabeça com
uma marreta e um enjoo quase me fez ofegar, levando a bílis à minha
garganta. Tentei engolir um pouco de saliva, mas a boca seca me impedia de
fazer qualquer coisa e o meu corpo doía como se um caminhão tivesse me
atropelado. Respirando fundo, tomei coragem para abrir os olhos e agradeci
internamente por encontrar o quarto na penumbra, com a luz do céu mal
conseguindo passar pelas frestas da cortina rosa.
Cortina rosa?
Demorei meio segundo para entender que eu estava no quarto de
Briana e não no meu. Porra, como vim parar aqui? Fechei os olhos quando
minha cabeça latejou assim que os flashes de memória me assaltaram.
Lembrei-me de entrar no bar, começar a encher a cara, conversar com Diego.
Então, veio a ligação do meu pai. Infelizmente, também conseguia me
lembrar de cada uma das suas palavras. Depois disso, era tudo um borrão. Eu
bebendo e chorando, Diego pagando a conta, a gente entrando no elevador e,
depois, Briana abrindo a porta. Em seguida, nós dois em sua cama. Falei
alguma coisa séria, pois ela chorou, mas não conseguia me lembrar do que
era.
— Que merda — gemi, virando-me de lado e encontrando seu lugar
vazio.
Ignorando a dor chata no meu corpo, proveniente da ressaca, sentei-
me na beirada do colchão e peguei meu celular na mesinha de cabeceira,
vendo que passava um pouco das nove da manhã. Pelo menos era domingo e
eu não precisaria me preocupar em ir trabalhar. Pensei em chamar por Briana,
mas achei que seria melhor apenas me levantar, vestir minhas roupas e
encontrá-la na sala ou na cozinha, onde provavelmente deveria estar. Não
sabia ao certo o que dizer a ela nem se estava pronto para conversar, mas
deixaria para decidir isso quando tivesse que encará-la.
Sentindo vontade de mijar, fui em direção ao banheiro, mas só quando
me aproximei da porta entreaberta, que consegui ouvir o barulho do chuveiro,
indicando que Briana não estava na sala ou na cozinha. Será que eu deveria
aproveitar a oportunidade e sair de fininho, sem falar com ela? Talvez fosse
melhor. Não queria falar nada naquele momento, estava morrendo de ressaca
e sabia que iria apagar de novo assim que tomasse um banho e duas aspirinas.
No entanto, nunca fui covarde e, se bati em sua porta ontem à noite, o
mínimo que poderia fazer era me despedir antes de ir embora. Respirando
fundo, abri a porta e a encontrei dentro do box, que estava com a porta de
vidro entreaberta. Suas mãos estavam abertas de encontro aos azulejos e a
testa encostada na parede. O banheiro estava coberto pela fumaça, por conta
da água quente que caía direto em suas costas.
— Bom dia — saudei, sem saber ao certo o que falar. Senti Briana se
sobressaltar, mas não se virou para me olhar.
— Bom dia — respondeu baixinho e eu olhei novamente para ela. O
torpor da ressaca finalmente me deixando perceber que aquela sua posição
era muito esquisita. Um alerta soou em minha mente:
— Briana, está tudo bem?
Ela suspirou e esperei que me respondesse, mas tudo o que saiu da
sua boca foi um soluço e, então, ela se curvou.
— Ai, meu Deus... — O som de sofrimento que escapou pelos seus
lábios me fez invadir o box com tudo, mal notando a água molhar as minhas
pernas.
— Briana! O que foi? O que você está sentindo? — perguntei,
tocando em suas costas e em sua barriga. A forma como estava rígida me fez
arregalar os olhos. — Meu Deus. Briana, fala comigo!
— Calma... Respira...
— Respira? O quê? O que está acontecendo? A bebê está nascendo, é
isso? — Esperei, mas ela apenas respirou fundo. — Briana, fala alguma
coisa!
Estava quase puxando seu rosto e virando-a para mim, quando seus
olhos cheios de lágrimas finalmente encontraram os meus. Ela não precisou
dizer nada, ali mesmo eu entendi tudo.
— As contrações estão vindo de meia em meia hora — ela respondeu
com uma tranquilidade que quase me matou. Parecia que sequer estava
sentindo dor há menos de um minuto. — Acho que a gente já pode ir para o
hospital.
Eu hiperventilei.
— O quê? Como assim? Como que... Desde quando você está
sentindo dor?
— Desde ontem à noite.
Ontem à noite. Ontem à noite, enquanto eu estava em um bar
enchendo a cara. Puta que pariu!
— Por que não me disse?
— Porque estava bem fraca, era só uma pressão nas costas que se
estendia para a barriga... Depois que você dormiu, é que ela começou a ficar
mais forte e, de madrugada, entendi que eram contrações. Estou conversando
com a médica por mensagem e...
— Espera, você está sentindo dor durante todo esse tempo e não me
acordou? — perguntei, chocado e, porra, ficando bravo pra caralho. Briana se
encolheu um pouco e fiquei com medo de ser outra contração, mas logo
percebi que não era.
— Eu tentei, mas você não acordou.
Minha boca caiu aberta e depois a fechei, sem palavras, com um
monte de sentimento me corroendo. Briana estava sentindo dores e eu não
acordei. Não acordei porque estava bêbado como a porra de um gambá! Que
tipo de pai — de homem — merda eu era?
— Levi... — Briana tomou a minha mão e, só naquele momento,
percebi que eu havia dado um passo para trás. — Está tudo bem. A dor não
estava muito forte e vinha de uma em uma hora. Não fica assim.
— Não importa. Eu te deixei sozinha.
— Não deixou, você estava do meu lado o tempo todo.
— Não! Eu estava apagado, Briana! E se você precisasse de mim? E
se a bebê nascesse de repente?
Porra, eu a havia mandado embora ontem, depois da nossa discussão,
e nem passou pela minha cabeça que ela já estava com nove meses e que a
bebê poderia nascer a qualquer momento! E se isso tivesse acontecido
enquanto eu estava no bar, bebendo? E se eu tivesse ido para casa, ao invés
de passar a noite aqui? Eu prometi que não a deixaria sozinha!
— Olha para mim — Briana pediu, segurando meu rosto com as duas
mãos. — Eu só fiquei tranquila, porque você estava comigo. Se eu realmente
estivesse sentindo muita dor ou prestes a parir, eu sabia que você iria acordar.
Você não me deixou sozinha, Levi.
— Eu deixei — sussurrei, puxando-a para mim. Toquei minha testa
na dela, ficando encharcado, sentindo sua barriga dura contra o meu abdome.
— Te deixei sozinha ontem, quando te mandei sair.
— Eu mereci aquilo.
— Não. Ainda que eu estivesse chateado, não poderia ter deixado
você sozinha, nunca. Eu prometi que estaria com você e qual foi a primeira
coisa que fiz logo após a nossa primeira briga? Virei as costas, Bri. Não
cumpri com a minha palavra, fui um idiota.
— Você não me virou as costas. Você teria feito isso se não tivesse
voltado, mas você voltou, Levi — ela sussurrou e senti sua voz embargada.
— Mesmo magoado comigo, bêbado, você voltou. E eu deveria saber que
você jamais me deixaria, que jamais deixaria a minha filha, porque você é
diferente de qualquer outro homem que já conheci. Você cumpre cada uma
das suas promessas e esse é só um dos motivos pelo qual eu te amo.
Briana soluçou e eu me afastei um pouco, com medo de que fosse a
dor, mas vi que não era. Ela estava chorando sim, mas era por minha causa.
Por nossa causa. Seus dedos desenharam o meu maxilar e eu senti meus
olhos ficarem rasos d’água.
— Eu te amo muito, Levi. Eu amo seu coração enorme, sua gentileza,
sua lealdade, sua cumplicidade. Amo o seu sorriso, esse seu corpo
maravilhoso — ela riu em meio às lágrimas —, seus braços fortes que sempre
estão prontos para me amparar, seus olhos verdes que me encantaram desde a
primeira vez. E amo, acima de qualquer coisa, o homem incrível que sempre
foi para mim e o melhor pai do mundo que eu sei que você vai ser para a
nossa filha, porque você tem razão, ela é nossa. Ela sempre foi nossa.
Meu coração parecia que ia saltar da caixa torácica e sair quicando
pelo chão, enquanto eu ouvia cada uma das suas palavras e sentia, pouco a
pouco, a mágoa indo embora. Eu sempre acreditei que palavras eram muito
pouco perto de atitudes, mas, naquele momento, as palavras de Briana me
fizeram acreditar em cada um dos seus sentimentos, porque eu os via
refletidos em seus olhos cheios de lágrimas, em sua expressão emocionada.
Fungando, ela continuou:
— Eu não quero te perder. Eu não posso... — Ela parou para
recuperar o fôlego e eu a sustentei, esperando que dissesse tudo o que tinha
para dizer. — Eu não posso perder você, Levi. Eu sinto muito por tudo o que
falei ontem, por ter, ao menos por um segundo, duvidado de você e dos seus
sentimentos. Talvez você mereça uma mulher melhor e mais confiante de si
mesma, porque, no fundo, eu sempre acreditei em você e cada uma das
minhas inseguranças tinha muito mais a ver comigo. Nunca foi com você,
Levi. Nunca. — Seus olhos marejados encontraram os meus e eu contive a
respiração, completamente apaixonado por aquela mulher. — Você pode me
perdoar?
Tomei seu rosto em minhas mãos, olhando bem fundo em seus olhos
castanho-escuros, quase pretos, que emolduravam aquele rosto tão lindo. Por
fim, respondi:
— A única mulher que importa para mim, a única que merece o meu
coração e todo o meu amor, é você. Sempre foi você, desde a primeira vez em
que te vi. — Ela ofegou, desbando em lágrimas, mas eu a amparei e reforcei:
— E eu prometo, Briana, do fundo da minha alma, que nunca mais haverá
motivos para você desconfiar disso ou de si mesma. É aqui que eu quero
ficar, ao seu lado, ao lado da nossa filha, para sempre. Eu te amo, Bri. Eu te
amo profundamente e sempre vou amar.
— Eu sempre vou te amar — ela sussurrou de volta, conseguindo
ficar nas pontas dos pés para me abraçar pelo pescoço. — Sempre, Levi. Eu
prometo.
Naquela promessa eu acreditaria, porque sabia que Briana iria
cumprir. Com seu rosto em minhas mãos, eu a beijei delicadamente, sentindo
minha alma renovada, o peso da mágoa finalmente deixando os meus
ombros. Era aqui que eu pertencia e eu não iria embora. Nunca mais iria
embora. Quase senti meu pau ficar duro, doido para selar aquela conversa
fazendo amor com a minha mulher, mas, então, ela se retesou e um gemido
doloroso saiu da sua boca. Ah, porra, a bebê estava nascendo! Quase me
esqueci daquilo.
— Contração. Ai, ai...
Eu a amparei, um pouco desesperado, porque não tinha muito o que
fazer. A parte de ruim de ser pai era que a gente não podia sentir a dor pela
nossa mulher. Briana ficou daquele jeito por longos segundos,
choramingando e fazendo careta, até que a contração foi embora e ela
conseguiu voltar a ficar ereta, respirando devagar.
— Vamos para o hospital — decidi, fechando o chuveiro. — Vai ficar
tudo bem, ok? Vou ficar com vocês o tempo todo.
— Eu sei. Nós amamos você.
— Não mais do que eu amo vocês.
Fomos para o hospital enquanto Briana anunciava para todo mundo
por mensagem que a bebê estava prestes a nascer. Eu não conseguia entender
muito bem como ela poderia estar tão tranquila enquanto eu tremia de
nervoso, mas, segundo ela, enquanto a contração não vinha, tudo se
acalmava. Resolvi acreditar, já que era ela quem estava sentindo tudo e não
eu.
Ok, talvez eu devesse ser sincero comigo mesmo. Eu também sentia
muita coisa. Inclusive, estava começando a achar que a dor que sentia pelo
corpo era culpa da tensão pelo parto e não da ressaca, que agora estava
esquecida. Dei entrada na internação de Briana e sua médica e a doula[5]
chegaram minutos depois de entrarmos no quarto, que era todo equipado para
o parto natural. Havia uma sala pequena assim que entrávamos, em seguida,
vinha o quarto em si, com uma piscina inflável cheia de água quente. A
primeira coisa que a médica fez foi medir a dilatação de Briana e eu fiquei
chocado quando ela disse que Briana estava dilatada em sete centímetros. Era
preciso que chegasse em dez para nascer.
Antes que ela tivesse mais uma contração — essa parte me matava e
precisei dirigir bem devagar, pois ela teve duas a caminho do hospital —, a
acompanhei até a piscina e me agachei do lado de fora, tocando sua barriga
por baixo d’água. Estávamos sozinhos no quarto, mas eu já conseguia ouvir
vozes do lado de fora.
— Tudo bem? — perguntei pela décima quinta vez e ela riu.
— Tudo ótimo. Não poderia ser diferente, já que você está aqui
comigo.
— Eu não estaria em outro lugar.
— Não duvidei disso nem por um segundo, mas estou querendo dizer
sobre você estar comigo, amor — murmurou e eu finalmente entendi.
Contudo, acabei reforçando:
— Eu não estaria em outro lugar. Nunca.
Ela sorriu, emocionada, e senti que a nossa briga havia acontecido a
milhões de anos atrás, pois, neste momento, não havia espaço para qualquer
sentimento ruim. Briana me beijou, mas se afastou quando veio outra
contração e deixei que apertasse a minha mão enquanto se contorcia, a
barriga ficando cada vez mais dura. Beijei sua testa e esperei com ela,
acariciando sua barriga com a mão livre e sussurrando em seu ouvido que
faltava muito pouco. Logo teríamos a nossa princesa nos braços.
Todo mundo chegou e falou com Briana. Percebi que Malu e Diego
logo entenderam que estávamos bem e não tocaram no assunto da briga. Em
algum momento, Briana sentiu fome e conseguiu comer, mas, no início da
tarde, ela começou a mudar, ficando mais calada, concentrada, e a doula
alertou que estava chegando a hora. Após mais um toque, a doutora concluiu
que Briana havia chegado à dilatação máxima e eu senti o meu mundo
começar a mudar.
Foi aos poucos, mas, assim como Briana, eu senti a nossa filha
chegar. As vozes diminuíram e, com Briana em meus braços, nós dois dentro
da piscina, entramos numa bolha que só nós dois entendíamos. Mal percebi
quando apenas sua mãe ficou no quarto, sentada ao nosso lado em uma
cadeira, junto com a doula, que observava o que acontecia no meio das
pernas de Briana, e a médica, que monitorava tudo. Bri chorou de encontro
ao meu peito, se retesou em várias contrações e eu a segurei com cuidado,
sentindo dentro de mim a mudança nítida.
Eu não era mais o Levi de meia hora atrás. Estava me tornando pai e
desejava que cada homem no mundo aproveitasse aquela experiência, que
abraçasse aquele sentimento, que se permitisse amar sem limites a criança
que ajudou a formar. Com dor, Briana ficou de joelhos e, com a ajuda da
doula, me coloquei à sua frente, com as mãos no meio das suas pernas. Foi
então que eu senti a cabecinha bem ali, saindo aos poucos, enquanto Briana
grunhia e chorava, dando tudo de si para dar à luz a nossa filha.
E assim, tendo uma mãe que era uma leoa, ela veio direto para as
minhas mãos.
Segurei minha filha e foi como estar segurando o meu coração. Nada
no mundo foi mais importante do que aquele momento. Chorei junto com
Briana e, com o peito recheado de emoção, tirei nossa bebê de dentro da
água, amparando-a em meus braços antes de colocá-la sobre o peito da mãe.
O choro da princesinha tomou conta do quarto e Briana se recostou contra o
meu peito, emocionada, agradecendo a Deus por aquele momento. Eu
também agradeci, sem saber ao certo o que eu havia feito de tão bom para
merecer vivenciar aquela alegria.
— Ela é sua — Briana disse em meio às lágrimas e eu assenti,
beijando sua testa.
— Claro que ela é minha. Sempre foi, Bri, independente de qualquer
coisa.
— Eu sei, mas ela é sua, Levi — disse com mais ênfase, me
encarando antes de voltar a olhar para a bebê. — Veja os olhos dela.
Foi então que eu finalmente enxerguei. A bebê, que ainda resmungava
baixinho, sem entender o que acontecia ao seu redor, tinha os olhos
levemente abertos. Olhos claros e, ainda que não tivessem um verde definido,
estava muito claro que eram como os meus. A sensação de pertencimento
sempre existiu em meu peito e eu sabia que, mesmo se ela não fosse minha
biologicamente, ainda assim, seria minha filha. E, agora, eu só tinha certeza
disso. Ela era minha. Sempre foi minha, assim como Briana também era.
Minhas. Minhas mulheres, os amores da minha vida.
— Eu amo vocês — sussurrei, mal conseguindo conter a minha
felicidade enquanto tocava os cabelos escuros dela, como os de Briana.
— Eu amo muito vocês. Para sempre, Levi.
— Para sempre, Briana.
Um mês depois...
Despertei de repente, sentindo a luz do sol tocar as minhas pernas fora
da coberta e precisando piscar pelo menos duas vezes até me acostumar com
a sua claridade inundando o quarto. Meus seios estavam doloridos,
provavelmente porque estava na hora de dar de mamar e, ao meu lado, a
cama estava vazia. Acabei sorrindo, pois tinha certeza de onde Levi estava.
Exatamente por isso, não fiz nada correndo, fui até o banheiro e levei o meu
tempo para fazer xixi e escovar os dentes, aproveitando aquele início
tranquilo de manhã, antes de ir até o quarto ao lado e encontrar a mesma cena
que sempre aquecia o meu coração.
Lá estava Levi, usando apenas uma calça do pijama, de frente para a
janela, com nossa filha no colo. Ele havia depilado todo o peito apenas para
ter com ela aquele contato corporal — pois leu em algum lugar que era
importante que o pai criasse aquele vínculo especial com a criança, assim
como a mãe o fazia ao amamentar — e era impressionante como nossa filha
se acalmava assim que sentia que estava em seu colo. Ela não era uma
criança agitada, mas toda vez que chorava, Levi era o único que conseguia
acalmá-la. A ligação que os dois tinham me emocionava, como agora. Eu
sempre ficava com um nozinho na garganta e os olhos marejados ao vê-los
juntos. Encostei-me no batente da porta, sem querer atrapalhar os dois, e pude
ouvir Levi cantar:
Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo o abandono que eu sentia vai passar
Ele sempre cantava para ela e nem sempre era uma música infantil.
Eu podia jurar que, a cada canção escolhida, ele estava se declarando, como
agora. Só quem conhecia sua história entenderia a profundidade daquela letra,
o que realmente significava.
Eu voltei por entre as flores da estrada
Pra dizer que sem você não há mais nada
Quero ter você bem mais que perto
Com você eu sinto o céu aberto[6]
Precisei fechar os olhos por um segundo. Realmente precisei fazer
isso para agradecer, pelo que poderia ser a milionésima vez, os dois presentes
mais incríveis que Deus poderia me dar. Um dia, achei que ter Levi ao meu
lado era um golpe de sorte, mas agora eu sabia que não era sorte, foi Deus
que me abençoou. Ele viu alguma coisa em mim que merecia ter aquele
homem, que merecia ser a mãe da sua filha, e me deu os dois. E eu jamais os
perderia. Abri os olhos ainda marejados e encontrei Levi olhando para mim,
um sorriso brincando em seus lábios enquanto mantinha uma mão sob o
bumbum da nossa filha e a outra em suas costas. Meu Deus, suas mãos eram
tão grandes que quase tampavam a criança.
— Vem cá — me chamou baixinho e é claro que eu fui correndo, me
acomodando embaixo do seu braço e encostando meu rosto do lado direito do
seu peito. Nossa bebê sempre dormia rapidinho quando ficava deitada do
lado esquerdo, ouvindo as batidas do seu coração. — Estava dormindo de pé?
— Ele riu baixinho.
— Não. Estava conversando com Deus.
— É mesmo? E estava pedindo o quê? Mais um filho meu? —
cochichou como se estivesse falando alguma putaria e não quisesse que a
bebê ouvisse. Precisei rir daquilo.
— Não, por favor. Posso aproveitar a minha primeira filha antes de
você me engravidar de novo?
— Não sei, vamos ver hoje à noite. — Sua mão desceu pelas minhas
costas até parar sobre a minha bunda, dando um apertão que me fez ofegar.
— Um mês. Ainda não acredito que sobrevivi a isso.
— Nem eu — confidenciei, cheia de saudade dele.
Claro, a gente tinha brincado uma vez ou outra debaixo do chuveiro,
mas não era a mesma coisa. Até pensei que passaria tranquila pelo mês do
resguardo, pois muitas mulheres reclamavam de dor e cansaço, mas eu tive
um pós-parto muito tranquilo e tinha um homem como Levi ao meu lado. Era
impossível não sentir tesão por ele. Tinha vontade de devorá-lo.
— Eu estava agradecendo a Deus por ter vocês dois em minha vida —
falei, erguendo meu rosto para encontrar os olhos de Levi.
— Eu também agradeço todos os dias. Você e Ana Vitória são tudo o
que sempre quis, mesmo quando não sabia que as queria.
Era muito fácil sentir vontade de me debulhar em lágrimas de emoção
com aquele homem, mas, ao invés disso, fiquei nas pontas dos pés e dei um
beijo em sua boca, ouvindo nossa filha começar a choramingar,
provavelmente de fome, pois nada no mundo além disso fazia com que ela
quisesse sair do colo do pai. Afastando-me, me sentei na poltrona de
amamentação e Levi a colocou em meus braços. Em poucos segundos, ela já
estava abocanhando o meu mamilo e pousando a mão pequenininha sobre o
meu seio. Ela sempre fazia isso e meu coração disparava mesmo assim a cada
vez que acontecia.
A nossa conexão era tão intensa quanto a dela e a de Levi. Eu a
entendia apenas com um olhar. Passei a mão em seu cabelo preto e sedoso,
contornei sua testa com a pele delicada e alguns tons mais clara do que a
minha, até que ela abriu um pouquinho os lindos olhos verdes e me encarou
por um longo tempo, piscando os cílios grossos e imensos como os de Levi.
A boquinha dela também era idêntica a dele. Eu gerei a criança por nove
meses para ela vir mais parecida com o pai do que comigo, mas aquilo só me
deixava cheia de alegria.
Levi nos deu um beijo e disse que iria preparar o nosso café da
manhã, enquanto nossa bebê tomava o dela em meu seio. Ana Vitória agarrou
meu dedo quando o coloquei embaixo da sua mãozinha e foi impossível não
rir baixinho ao me lembrar da loucura que foi para decidir o seu nome. Levi e
eu queríamos juntar os nossos nomes, só para continuar a tradição que nossos
pais inventaram — ainda que o seu pai não merecesse ser mencionado —,
mas não tinha como. Qualquer mistura com Levi e Briana ficava muito ruim,
até que o nome Ana Vitória surgiu e percebemos que ele ia muito além de
nós dois, pois homenagearia, também, as nossas mães — Analídia e Vitória.
Logo percebemos que não tinha nome melhor no mundo e, quando contamos
para elas, as duas choraram como um bebê.
Ana Vitória era rodeada de amor. Paparicada pelas cinco avós, pelo
avô babão, pelos tios, pelos padrinhos, pelos vizinhos, até mesmo pelo
porteiro. E era uma criança muito simpática, apesar de ainda passar muito
tempo dormindo. Eu mal podia esperar pelo futuro, quando ela começasse a
crescer. Sabia que minha filha seria uma criança excepcional e eu sempre
seria a sua melhor amiga.
Terminei de colocar o último presente que Aninha — tinha que
confessar, apesar do nome lindo, logo demos a ela um apelido — ganhou
dentro do baú perto da mesa pequena e toda enfeitada de arco-íris e
unicórnio, feliz por estarmos comemorando o seu primeiro mês de vida. A
sala do meu apartamento estava cheia com os nossos convidados e pude ver
Aninha no colo de Miriam, que só faltava babar em cima da criança. Podia
até jurar que ela estava menos ranzinza desde que a bebê nasceu. Aninha era
o xodó da família. Estava prestes a me aproximar das duas, quando ouvi o
som da música diminuir na sala e a voz de Levi se sobressair a dos
convidados. Sem entender nada, procurei-o com o olhar e o encontrei
caminhando em minha direção, com aquele sorriso charmoso que me deixava
de pernas bambas. Fiquei tentada a olhar rapidinho para o relógio, só para
saber se faltava muito tempo para cortar o bolo, expulsar todo mundo e dar
para ele em nosso quarto.
Meu Deus, eu era uma tarada!
— Gostaria de um minuto da atenção de vocês — ele pediu, mas não
tirou os olhos de mim. — Quer dizer, talvez demore um pouco mais do que
um minuto, mas vai valer a pena.
— O que você está fazendo? — perguntei baixinho, querendo rir de
nervoso. Não estava entendendo nada. Pensei que Levi responderia a minha
pergunta, mas ele apenas sorriu e pegou em minha mão.
— É engraçado como a vida arruma um jeito estranho de cruzar os
caminhos das pessoas. Eu consigo me lembrar nitidamente de que, na noite
em que nos conhecemos, eu não estava muito a fim de ir para uma boate, mas
fui porque queria dar uma força para aquele idiota ali. — Ele apontou para
Diego, que estava parado ao lado de Malu.
— Não precisa agradecer, irmão. Sempre soube que a minha missão
na vida era arranjar uma gata pra você.
Todo mundo riu, mas Levi logo voltou a me encarar, falando assim
que as risadas cessaram:
— Nunca imaginei que encontraria a mulher da minha vida naquela
noite, mas, assim que te vi, assim que falei com você, soube que era
diferente. Depois de passarmos a noite juntos... — Meu pai pigarreou forte
demais e eu revirei os olhos, sentindo meu coração disparar, enquanto ouvi a
risada de todos mais uma vez. Levi deu a ele um sorriso sem graça, mas logo
voltou a falar: — Você sumiu e eu pensei que tinha perdido a minha grande
chance, mas, então, a reencontrei. E algo dentro de mim me alertou que eu
não deveria te deixar escapar, apesar de você ter batido com a porta na minha
cara depois da nossa primeira conversa.
— Me desculpe por isso — pedi baixinho, rindo.
— Você poderia bater quantas portas quisesse na minha cara, meu
bem. Eu jamais iria embora. Eu nunca vou embora — reforçou o que sempre
me dizia e eu acreditava em sua palavra cegamente. — Eu sei que
começamos tudo ao contrário. Primeiro ficamos juntos por uma única noite,
semanas depois nos reencontramos, eu te engravidei, indo contra todas as
possibilidades e, então, ficamos juntos, mas eu quero mais. Eu quero muito
mais do que ser apenas o seu namorado ou o pai do seu bebê. Eu quero ser
seu, Bri, e quero muito que você seja minha.
Levi soltou a minha mão e, sem que eu esperasse, se ajoelhou aos
meus pés. Pude ouvir os gritinhos ensandecidos das mulheres, mas nada me
fez tirar os olhos dele. Minha boca caiu aberta quando Levi tirou uma
caixinha de veludo do bolso e levantou a tampa, mostrando-me um anel
maravilhoso.
— Quero que seja minha esposa. Aceita se casar comigo, meu amor?
— Sim! — gritei, sem ao menos precisar de um tempo para pensar. —
Sim, sim, ai, meu Deus, com certeza é sim!
Rindo, Levi colocou o anel em meu dedo e se levantou, pegando-me
em seus braços e me girando no meio da sala, enquanto eu gargalhava de
emoção e chorava ao mesmo tempo. Ouvi todo mundo bater palmas e
assobiar, mas não foi o suficiente para me fazer largar aquele homem, muito
menos me impediu de dar um beijo em sua boca. Levi retribuiu e me fez
perder o fôlego. Eu podia sentir seu coração batendo tão forte quanto o meu.
— Eu te amo, seu doido!
— Não mais do que eu te amo, meu bem.
Ele se afastou no momento em que todo mundo veio nos abraçar e
desejar felicidade. Eu me sentia nas nuvens, tão feliz que mal podia acreditar
que aquela realmente era a minha vida.
Um ano depois...
Ajeitei a flor branca enfiada no bolso do meu paletó, sentindo meus
dedos tremerem de leve. Minha mãe havia acabado de sair do quarto, então,
eu estava completamente sozinho, junto com o meu nervosismo. Eu iria me
casar. Porra, iria me casar! Mal podia esperar para ver Briana no vestido de
noiva. Só em pensar nisso, meu coração disparava e meu pau começava a
ficar duro. Talvez eu também estivesse ansioso pelo momento de tirá-la de
dentro do vestido e fazer amor com ela. A danada havia saído bem cedo de
casa para fazer um SPA junto com todas as mulheres e Aninha, me deixando
sozinho e com uma ereção gigantesca pela manhã.
Olhei rapidamente em volta, aproveitando um pouco do silêncio e
sentindo seu cheiro por todo o lugar. Meses atrás, fizemos uma grande
reforma e juntamos os nossos apartamentos — logo depois de ter me tornado
proprietário do lugar onde morava — transformando-o em um só. Malu fez o
projeto junto com Diego — precisava ressaltar que o ódio dos dois havia se
transformado em amor, pois agora eram um casal — e agora nossa casa tinha
três quartos, uma sala enorme, uma cozinha grande e uma varanda
aconchegante. Era um lugar maravilhoso e do qual eu me orgulhava. Uma
conquista minha e de Briana.
Distraído, só percebi que meu celular estava vibrando com uma nova
mensagem quando coloquei as mãos no bolso para poder dar uma olhada no
meu corpo inteiro na frente do espelho. Curioso, peguei o aparelho, já
pensando que poderia ser Briana querendo me provocar, mas senti um baque
ao ler o nome de duas pessoas com quem eu não falava há mais de um ano.
Gustavo e Leone, meu pai. Por um momento, pensei em não ler.
Aquele era para ser um dos dias mais felizes da minha vida, não queria me
estressar, no entanto, eu sentia que para dar aquele passo tão importante, eu
precisava fechar esses dois ciclos. Aquela era uma oportunidade. Sem pensar
duas vezes, cliquei na mensagem do meu antigo amigo e comecei a ler o que
me escreveu.
“Levi, soube que vai se casar hoje e fiquei me perguntando se eu
deveria ou não te enviar essa mensagem. Não quero atrapalhar o seu
momento de felicidade e vou entender se deixar para ler o que estou
escrevendo depois (ou se nunca quiser ler), mas eu precisava falar com
você.
Sei que nada no mundo justifica todas as besteiras que te falei no
passado. Preciso confessar que me arrependi assim que saí do seu
apartamento naquele dia, pois sabia que havia acabado de atrapalhar o
seu relacionamento com Briana. Quis me desculpar antes, mas, então,
soube que a bebê nasceu e, bem... Não tive coragem de ir falar com você.
Fiquei com vergonha do que fiz, mas, acima de qualquer coisa, fiquei
com vergonha de mim mesmo.
A verdade, era que antes mesmo de você contar que iria ser pai,
eu já sabia que eu era pai. Sim, você não leu errado. Meses antes de você
conhecer a Briana, uma garota com quem eu estava ficando me contou
que estava grávida de um filho meu e eu não acreditei. Não quis aceitar a
possibilidade de que aquela criança poderia ser minha. Como o bom
covarde que sou, fugi e fiz de tudo para esquecer esse assunto. Como se
isso não bastasse, ainda tive a coragem de falar para você, naquela
conversa no chiqueiro, que se eu estivesse em seu lugar, assumiria o filho
se fosse meu, mas não foi isso que fiz.
Durante meses, eu neguei a existência daquele bebê, Levi, e ficava
puto em ver que você estava lidando muito bem com o que estava
acontecendo em sua vida. A bebê que Briana carregava poderia não ser
sua filha e você queria assumi-la, enquanto eu sequer queria pensar na
possibilidade de aquela criança ser minha. Ou seja, eu sentia raiva
porque você não se comportava como eu. Eu queria que você agisse como
eu estava agindo e isso era loucura, cara, porque você é um homem
infinitamente melhor do que eu era.
Eu sempre tive pais amorosos, o seu pai era um merda. Ainda
assim, de nós dois, você era o que estava abraçando a ideia de ser pai,
enquanto eu estava fugindo. Depois de tudo o que falei em seu
apartamento, me obriguei a colocar a cabeça no lugar e entendi que eu
não poderia mais agir daquela forma. Não poderia mais ser um covarde.
Mal conseguia dormir pensando naquela criança. Peguei meu celular e,
pela primeira vez, liguei para Marcela para saber se estava tudo bem e,
claro, ela desligou na minha cara.
Entrei nas redes sociais dela e descobri que estava bloqueado de
tudo. Àquela altura, eu sabia que o bebê já tinha nascido e eu sequer
fazia ideia se era menino ou menina, se estava bem ou não, se precisava
de alguma coisa. Nunca me senti tão culpado na vida e resolvi correr
atrás, Levi. Sei que não nos falamos há mais de um ano, que saí do
chiqueiro, porque os meninos também estavam decepcionados comigo,
mas preciso que saiba que conviver com você me ajudou a ter clareza e
mudar as minhas atitudes.
Com muito esforço, consegui me aproximar de Marcela e, agora,
sou pai de um menino de quase três anos. Ele é lindo, se chama João
Marcelo, e é tudo o que eu nem sabia que precisava. Sou grato a Marcela
por ter sido uma ótima mãe e, agora, me esforço para ser o melhor pai.
Sou presente na vida dele e o amo com todo o meu coração.
Por isso que resolvi mandar essa mensagem para você. Eu espero
que exista mais homens no mundo como você e não como eu. Quem dera
Marcela tivesse recebido o meu apoio desde o começo, tenho certeza de
que tudo seria diferente. Pelo menos eu aprendi a lição e, hoje, meu
objetivo é ser o melhor pai do mundo para o meu moleque.
Espero que você e Briana sejam muito felizes e que, um dia, vocês
dois possam perdoar a burrada que cometi. E, claro, que um dia você
conheça o meu filho, assim como espero conhecer a sua menininha.
Estou feliz por você, meu amigo. E tenho muito orgulho do
homem que você é.
Até algum dia.”
Precisei me sentar, pois o choque me fez perder um pouco a
estabilidade das pernas. Sem conseguir acreditar em tudo aquilo, li a
mensagem de Gustavo mais uma vez, sem imaginar que algo assim poderia
ter acontecido em sua vida. Realmente, depois da nossa briga, nunca mais o
vi e os meninos disseram que ele se mudou. Acho que até eles perderam o
contato com Gustavo, então, receber notícias suas à essa altura do
campeonato me pegou totalmente de surpresa. Saber que ele era pai... Porra,
aquele babaca! Por que não se abriu com a gente? Por que não nos contou o
que estava acontecendo? Com certeza, o ajudaríamos a enxergar que estava
errado e que precisava descobrir se o filho era dele ou não.
Consegui escrever uma resposta para ele, sendo muito sincero,
dizendo que me decepcionei, mas que o tempo havia curado a mágoa e que,
com certeza, queria conhecer o seu filho. Tinha certeza de que Briana
também gostaria que ele se reaproximasse. Também expressei que estava
feliz por ele ter tomado a decisão certa e ido atrás da criança, que era uma
vítima em meio a tudo aquilo. Que bom que agora ele podia exercer o seu
papel de pai. Esperava que ele se mantivesse firme naquela missão.
Depois de enviar a minha resposta, lembrei-me da mensagem do meu
pai e respirei fundo antes de abrir. Diferente da de Gustavo, não encontrei um
texto, mas um áudio de pouco mais de um minuto. Fiquei surpreso ao ouvir
sua voz levemente emocionada.
— Filho, bom dia. Soube que hoje é o seu casamento... Não estou
enviando esse áudio para cobrar um convite, pois sei que não mereço, mas
decidi falar com você, porque quero que saiba que estou muito feliz por saber
que está se casando e por saber que é um pai incrível para a sua menininha.
Não estou surpreso, porque sempre soube que você seria incrível, só estou
orgulhoso. Estou realmente orgulhoso por você ser um homem tão diferente
do que eu sou, Levi. Espero que você seja muito feliz nessa nova fase da sua
vida e que sinta, de onde estiver, o amor que sinto por você. Mesmo não
sabendo me expressar direito, eu te amo, filho. Viva bem.
Há muito tempo eu não pensava no meu pai. Briana e Aninha eram a
minha vida e, agora, não existia espaço para mágoa e rancor, apesar de eu
saber que uma parte de mim sempre se ressentiria dele — o que era natural,
pois meu pai nunca foi um pai de verdade. No entanto, ele não visitava minha
mente com a mesma frequência que antes e, finalmente, a sua ausência
deixou de representar a sua presença em minha vida. Agora, ele apenas não
fazia mais parte de mim ou de quem eu era. Ainda assim, foi bom ouvir a sua
voz, saber que sentia orgulho e que me amava. No final, isso era tudo o que
um filho queria — além do primordial, que era a presença dos pais, o apoio e
o carinho.
Limpando a garganta, enviei para ele:
— Oi, pai. Foi bom receber a sua mensagem no dia de hoje. Sim, eu
estou muito feliz e me esforço para ser o melhor pai do mundo para a minha
filha e o melhor homem para a minha futura esposa. Acho que, no final, você
sempre me deu o exemplo do que eu não deveria ser e devo te agradecer por
isso. Uma parte minha também te ama e eu espero que você fique bem.
Adeus.
Eu dei adeus, mesmo sabendo que nos reencontraríamos em alguma
parte do caminho, mas não queria pensar naquilo agora. Naquele momento,
eu só queria pensar no meu casamento e na minha felicidade.

Nada no mundo me preparou para ver Briana entrando ao lado de


Brito e de Aninha. A pequerrucha — ela sempre ria quando a chamava assim,
mesmo não entendendo o que significava — andava de mãos dadas com a
mãe, usando um vestidinho branco de dama de honra, seus cachos negros
emoldurando o rosto, uma coroa sobre a sua cabeça. Parecia uma princesa.
Brito me entregou sua filha com lágrimas nos olhos e sussurrou em meu
ouvido que me amava como um filho. Talvez eu tenha chorado baixinho de
emoção, assim como ele, mas aquele seria o nosso segredo.
A cerimônia foi linda e eu aproveitei cada minuto da festa para
agarrar a minha esposa. Seu vestido era em estilo sereia, grudado ao seu
corpo, que era quase o mesmo de antes da gravidez, com a diferença dos
quadris mais largos, aquela bunda deliciosa que eu amava e os seios mais
cheios, pois ainda amamentava. Com dor no coração, deixaríamos Aninha
aos cuidados dos pais dela para passarmos quatro dias em uma pousada
charmosa em Ilha Grande, mas, antes disso, passaríamos a noite de núpcias
em um hotel.
Fomos para lá no início da madrugada e Briana gargalhou quando a
peguei em meu colo, entrando na suíte. Eu já estava de pau duro quando a
coloquei no chão e ela sentiu quando a abracei por trás, beijando seu pescoço
e descendo o zíper do vestido.
— Você é a mulher mais linda do mundo — sussurrei em seu ouvido,
sentindo-a estremecer. — E é minha esposa, como posso ser tão sortudo?
— Não sei. Acho que Deus foi muito bonzinho com você.
— Foi sim. Agora, cabe a mim aproveitar esse presente.
Ela riu baixinho e se virou em minha direção quando o vestido caiu
pelo seu corpo. Em poucos minutos, eu já estava completamente nu, levando-
a para cama e me acomodando entre as suas pernas firmes e sedosas. Briana
gemeu baixinho e arranhou de leve minhas costas quando a penetrei,
tomando meu rosto em suas mãos em seguida. Vi seus olhos marejados e
beijei a pontinha do seu nariz, enfiando meu pau até o fundo na bocetinha
apertada e deliciosa.
— Estou grávida — anunciou de repente e eu parei, incrédulo, mal
registrando o pulsar necessitado das minhas bolas.
— O quê?
Ela sorriu e as lágrimas desceram pela lateral do seu rosto.
— Estou grávida — repetiu. — Estou grávida, meu amor.
— Meu Deus! Eu... Meu Deus, Bri! — Saí de dentro dela de supetão,
ajoelhando-me entre as suas pernas e tocando em sua barriga. — Quando
você descobriu? Por que não me contou? Você bebeu hoje!
— Foi só um golinho de champanhe na hora do brinde. E eu descobri
hoje de manhã. Fiz três testes de farmácia. — Ela se sentou e tocou meu
pescoço com as mãos, beijando de leve o meu peito. — Eu queria deixar para
te contar agora. Ninguém sabe, Levi, só nós dois. Merecíamos isso, você
merecia isso, depois da forma como descobriu sobre a Aninha.
Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mal conseguindo acreditar
que viveríamos tudo mais uma vez, só que sem pressão alguma, livres para
aproveitar cada momento. Emocionado, tomei seu rosto em minhas mãos e
beijei cada cantinho que minha boca conseguia alcançar, até tomar seus
lábios nos meus.
— Está feliz? Eu sei que está muito cedo, mas...
— Meu coração parece que vai sair do peito — falei, pegando sua
mão e pousando-a sobre a minha pele. — Nunca estive tão feliz em toda a
minha vida e a culpa é sua. Só você é capaz de me fazer sentir assim, meu
bem. Obrigado por tudo.
— Você me ajudou a realizar todos os meus sonhos, Levi. Eu achei
que era feliz sendo uma mulher independente, fiquei exultante quando
descobri que estava grávida pela primeira vez, mas só agora eu percebi que
estou completa, porque tenho você ao meu lado. Você faz de mim a mulher
mais feliz do mundo. Eu te amo, Levi.
— Eu te amo muito mais — falei, fazendo com que voltasse a se
deitar, para que eu pudesse dar um beijo em sua barriga. — Amo vocês com
todo o meu coração.
Voltei logo para cima dela e a penetrei mais uma vez, mal
conseguindo acreditar que aquela era a minha vida e que toda aquela
felicidade havia sido reservada exclusivamente para mim. Briana era a minha
luz e nossos filhos eram a minha alma. Não precisava de mais nada do que
aquilo.
Que felicidade poder finalizar mais uma história cheia de amor!
Quando Levi e Briana chegaram, precisei parar tudo e corri para contar o que
eles queriam dizer. Esses personagens vieram para mostrar que é possível
amar e confiar de novo, eles renovaram as minhas esperanças! Espero que
você tenha se sentido tocado por eles também.
Como sempre, quero deixar meu primeiro agradecimento a Deus,
porque sei que sem Ele eu jamais chegaria até aqui. Quero agradecer a minha
família, especialmente a minha mãe, por sempre me apoiar e estar ao meu
lado.
A Luana, minha melhor amiga. Obrigada por dar tanto a Briana. Seu
Levi chegará em breve, eu creio!
Raquel, obrigada por cada sugestão, cada conselho e puxão de orelha.
Você foi incrível!
Minhas leitoras incríveis, obrigada por todo apoio e carinho! Espero
que Levi, Briana e a Aninha tenham encantado vocês.
Minhas meninas do WhatsApp, obrigada por surtarem a cada spoiler,
por pedirem muito por esse livro e por tararem o Levi ao meu lado. Vocês
nunca me deixam sozinha!
E a você que chegou até aqui, obrigada por seu apoio e carinho.
Até a próxima!
Não esqueça de avaliar.
Sua opinião é muito importante para mim e para aquele leitor que está
pensando em baixar o livro. Já estou ansiosa para saber a sua opinião, só
cuidado com os spoilers.

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A Chama Entre Nós

Criado desde os cinco anos de idade por Bruce Harlow, o Vice-


Presidente dos Flame Wolves MC, Damon Christ cresceu aprendendo a amar,
proteger e lutar pelo moto-clube que o acolheu quando ainda era uma criança.
Sua lealdade para com o patch que carregava era inabalável, só não era maior
do que uma única coisa: o seu amor por Madison, filha de Bruce.
Dez anos mais nova do que ele, Damon viu Maddy nascer e se tornou
o seu protetor e melhor amigo. O sentimento genuíno que nutriam um pelo
outro servia de porto seguro para a vida violenta que Damon levava dentro do
moto-clube e era na companhia de Madison que ele conseguia encontrar o
seu equilíbrio, até começar a perceber que o amor que sentia pela princesinha
dos Flame Wolves estava se transformando em um sentimento proibido.
Dividido entre a culpa por estar apaixonado pela filha do homem que
considerava como seu pai de coração e o desejo de assumir o que
verdadeiramente sentia por Madison, Damon se vê acorrentado pelo medo de
perder as duas coisas que mais importavam em sua vida: o clube e sua garota.
Quando uma onda de ataques ao MC se inicia e uma guerra se
instaura entre os Flame Wolves e seus inimigos, Damon tem sua lealdade
posta em prova e se vê prestes a lutar a maior batalha da sua vida, da qual
tinha certeza de apenas uma coisa: ele sairia como um vencedor pelo clube e
pela sua garota. Ou morreria tentando.
- "A Chama Entre Nós" é o primeiro livro da série Flame Wolves
MC. Cada livro contará a história de um casal, no entanto, é
aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e
palavras de baixo calão. Não recomendada para menores de 18 anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book.

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À Sua Espera
Dono de uma das maiores fazendas de criação de cavalos do Brasil,
Ramon Baldez estava acostumado a comandar o seu império com punhos de
ferro. Reconhecido como um profissional sério e respeitado, pensava que
tinha todos os âmbitos da sua vida sob controle, até descobrir que o seu sócio,
Abraão Rodrigues, havia sofrido um grave acidente de carro.
Com o sócio em coma, Ramon se vê diante de um enorme dilema:
tomar para si a responsabilidade de lidar com Gabriela, a filha de Abraão, que
se vê sem o pai, seu único parente vivo. Sabendo que não poderia dar às
costas para a jovem de dezenove anos, ele a acolhe em sua fazenda, enquanto
Abraão está em estado grave no hospital.
Ramon acreditava que cumpriria o papel de amigo da família ao estar
ao lado de Gabriela naquele momento tão difícil para a menina. O que ele não
poderia imaginar era que, ao assumir a responsabilidade de cuidar dela, iria
descobrir que esteve durante toda a sua vida à espera de conhecê-la, para
encontrar o seu verdadeiro amor.
Mas como ele poderia aceitar que estava perdidamente apaixonado
por uma menina? Seria ele capaz de se entregar a esse sentimento, sendo
quase dezenove anos mais velho do que ela.
E o mais importante: conseguiria lidar com o fato de Gabriela
reascender um passado que, para ele, já estava enterrado?
Ramon irá descobrir que, às vezes, a vida toma caminhos
inexplicáveis para juntar dois corações que se amam.
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Todas as Suas Cores


Advogado renomado e muito conhecido no território nacional, Caio
Alcântara leva uma vida sem complicações. Acostumado a enxergar o lado
bom e simples de tudo, tem como lema aproveitar cada oportunidade que a
vida estiver disposta a lhe dar e isso reflete, também, no modo como enxerga
as pessoas ao seu redor.
Ao perceber que o seu melhor amigo está apaixonado, mas que não
quer dar o braço a torcer por conta de segredos do passado, Caio coloca na
cabeça que fará de tudo para que ele não perca a oportunidade de se entregar
a esse sentimento. É então que, por um acaso do destino, seu caminho se
cruza com o de Luna, uma jovem cheia de vida, que começa a despertar a sua
curiosidade.
O que era para ser apenas uma conversa para armarem um presente
surpresa para a mulher por quem o seu melhor amigo está apaixonado, se
transforma em algo mais, depois que Caio presencia uma conversa em que
Luna deixa bem claro que o vê como algo além do advogado e amigo do
patrão da sua mãe.
Conhecido por nunca deixar de lado algo que desperte a sua atenção e
o seu sorriso, Caio se aproxima de Luna e uma grande amizade nasce entre
eles, mas ele logo perceberá que o seu coração clama por algo mais e fará de
tudo para conquistar a menina de cabelos coloridos, olhar intenso e
personalidade forte, que esconde parte da sua alma por trás de todas as suas
cores.
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Rage

Amber Bloom só tem um objetivo na vida: destruir o seu pai.


Filha de um dos empresários mais prestigiados e ricos do mundo,
Amber foi criada sob regras rígidas, consciente de que seu futuro estava nas
mãos de seu pai, um homem frio e arrogante, que nunca fez questão de lhe
demonstrar carinho ou afeto.
No entanto, quando começa a desconfiar de que a fortuna e o poder de
seu pai não são provenientes apenas da empresa que havia fundado décadas
atrás, Amber decide começar a investigá-lo e o que o descobre a faz conhecer
um homem que desperta e rouba completamente o seu coração.
Rage só tem uma coisa em mente: matar o homem que é obrigado a
chamar de Mestre.
Sequestrado ainda na infância e jogado em um quarto escuro, Rage vê
sua vida passar em meio a torturas, enquanto é obrigado a se submeter a um
homem que o humilha de todas as formas. Completamente destruído, sem
saber há quantos anos está preso, ele só pensa em uma coisa, matar o Mestre.
As consequências que encararia depois não lhe faria a mínima diferença; ele
não se importava, pois sabia que já estava morto por dentro.
Pelo menos era o que pensava, até uma mulher com olhos de anjo
aparecer em seu caminho.
A vida une uma alma corrompida pela maldade humana a uma alma
com sede de justiça e o amor nasce entre eles.
Mas seria o amor forte o suficiente para derrotar um inimigo impiedoso,
que fará de tudo para destruí-los?
- "Rage" é um romance dark;
- Contém cenas sensíveis como violência e estupro sem romantização;
- Proibido para menores de 18 anos.
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A Morte de um Solteirão

Gosto de pensar que sou um homem livre, um verdadeiro solteirão e


nada nunca abalou essa minha convicção. Veja bem, aos trinta anos, bem-
sucedido, com tempo livre para sair, curtir e transar, a palavra
“relacionamento” pode ser tão fria quanto um iceberg ou tão ruim quanto a
própria morte.
Sem contar que, sabemos, romance, amor e paixão, são verdadeiras
baboseiras. Um casamento é muito lindo na hora do sim, mas, depois do sim?
A palavra “divórcio” brilha tão forte quanto o sol no verão do Rio de Janeiro.
Sem contar as traições, que, convenhamos, não existiriam se as pessoas não
se escondessem atrás de um amor falso.
É por isso que sou totalmente contra a qualquer tipo de
relacionamento sério. Sexo é muito bom, mas fica melhor ainda quando se
pode ir embora na manhã seguinte sem ressentimentos ou cobranças. Foi para
isso que nasci — sim, nasci, pois se falar que fui criado para
isso, mamma me corta a cabeça — e estava muito bem com a minha vidinha
do jeito que era, até Alice Carvalho aparecer em meu caminho e me
desestabilizar completamente. Nem se eu pudesse, conseguiria explicar o que
senti quando a vi pela primeira vez e quando, inesperadamente, ela
reapareceu em minha vida.
Por isso, soube que precisava tê-la em minha cama, mas ela disse
“não”. E persistiu no “não”. Mas eu estava louco para ouvir um “sim” e, em
meio ao desespero, fiz algo impensável: prometi a ela que, se aceitasse ficar
comigo, poderíamos passar um tempo tendo sexo casual, sem nos
envolvermos com outra pessoa. “Ficantes fixos”, nomeei.
Não, não era um relacionamento. Não tinha nada de romantismo. Era
apenas dois adultos se encontrando algumas vezes por semana para fazerem
sexo.
Mesmo assim, nunca pensei que essa inocente proposta poderia promover
uma morte...
A minha morte.
A morte de um solteirão.
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A Voz do Silêncio

A vida simples que Marina Alencar levava sendo professora, muda


drasticamente em uma tarde que deveria ter sido normal como todas as
outras. Ao ser atropelada, Marina é socorrida por um homem que havia
testemunhado o acidente. Mas ele não era um homem comum.
Alto, bonito e com lindos olhos azuis, ele era encantador. Bem-
humorado e com um coração enorme, o homem que a ajudou no momento
em que ela mais precisou, acabou se tornando o centro do seu mundo.
Apaixonar-se por ele foi inevitável, assim como entregar o seu
coração em suas mãos e confiar em cada uma de suas palavras.
Marina nunca acreditou em contos de fadas, mas quando se viu
vivendo um, achou que príncipes encantados realmente existiam.
Mas quando o amor começa a ser sufocado pela dor e pelo medo, tudo
muda de figura e resta apenas o silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que precisa ser ouvido.
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O Astro Pornô

Emma Glislow é uma mulher de vinte e dois anos. Cursa faculdade de


odontologia, ama ler e é apaixonada por seu noivo, Frederick. Tudo em sua
vida sempre foi perfeito e em ordem, até que seu noivo a trai de forma
descarada.
Seu mundo magnífico é destruído em um segundo, enquanto ela passa
uma semana inteira trancada no quarto, sem falar ou ver ninguém.
Quando finalmente resolve sair da fossa, uma noite de bebedeira e
balada com sua melhor amiga parecia ser o lance perfeito para tirar da
cabeça, a cena de seu noivo trepando com uma vadia.
Mas o que ela não sabia, era que em meio a essa noite super divertida,
uma proposta lhe seria feita e em meio a todas as tequilas e margaritas
ingeridas por ela e sua amiga, ela aceitaria e assinaria um contrato.
O contrato que a colocaria de cara com o maior astro pornográfico do
momento.
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A Paixão do Rei
O misterioso Dominick Andrigheto Domaschesky, Príncipe de
Orleandy, país que se estende por boa parte da Europa, se vê diante do trono
de Rei muito mais cedo do que gostaria.
Com o falecimento de seu pai, o Rei Patrick, Dominick com seus
trinta anos de idade, assume o reinado como principal sucessor ao trono. Se
sentia preparado e firme para assumir o poder, seu pai o havia preparado para
aquilo e ser Rei já estava em seu sangue.
Se sentia confiante para tudo, menos para o que seus conselheiros lhe
propuseram: achar a Rainha ideal.
Totalmente adverso a relacionamentos, Dominick tinha colocado em
sua cabeça que jamais se casaria. Tinha gostos diferentes, não tinha paciência
para cortejar uma mulher fora da cama e ao menos pensava em colocar uma
aliança no dedo, mas, segundo a filosofia de seu pai, "um Rei não é nada
perante a sociedade, sem uma Rainha ao seu lado".
Com tudo conspirando contra seu favor, Dominick chega à conclusão
de que sim, iria se casar, mas seria do seu jeito. Com a ajuda de seu melhor
amigo e conselheiro, Dimir, ele entra em um mundo diferente, desaparece por
algumas semanas e volta com a Rainha perfeita ao seu lado.
Kiara Neumann era uma mulher sem opções na vida. Em um dia não
tinha nada, não tinha uma história para contar e nem um futuro para imaginar.
No outro, havia se tornado noiva do Rei de Orleandy e era amada e
ovacionada por todo um povo que amava seu país.
Mas como ela era noiva se ao menos se lembrava de sua vida?
Poderia confiar na palavra de Dominick, que não fazia a mínima questão de
ser cortês com ela? Como poderia se casar se ao menos o amava? Ou
melhor... Seria ela capaz de amar um homem tão frio quanto aquele Rei? Em
meio a segredos, sedução e todo um reino a ser comandando, Dominick seria
capaz de se apaixonar por sua doce esposa? Talvez sim, mas se segredos do
passado começassem a rondar o casal, o mundo frágil de contos de fadas
seria abalado para sempre.

[1] Best Thing I Never Had, Beyoncé


[2] Infecção Sexualmente Transmissível
[3] Mulher de negócios
[4] “De inimigos a amantes ou casal”, livros em que os protagonistas se
odeiam, mas no final, acabam se apaixonando.
[5] Assistente de parto. Sua atuação facilita a existência de um parto mais
humanizado.
[6] Ruas de Outono, Ana Carolina

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