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Sinopse

Uma mulher descobre que o pai da criança que ela está


sendo babá pode ser seu maior (Only) fã neste romance
contemporâneo de Lana Ferguson.
Depois de perder o emprego e estar à beira de ser despejada do
apartamento, Cassie Evans se vê com duas opções: conseguir
um novo emprego (e rápido) ou abrir sua conta no OnlyFans
há muito intocada. Mas não há empregos a serem encontrados,
e quanto ao OnlyFans... bom, há razões pelas quais ela não
pode voltar. Bem quando toda a esperança parece perdida, um
anúncio para uma vaga de babá residente parece a solução para
todos os seus problemas. É quase perfeito demais – até que ela
conhece seu possível empregador.
Aiden Reid, chef de cozinha e extraordinário pai gostoso, está
longe de ser o pai solteiro enfadonho que Cassie estava
imaginando. Ela fica chocada quando ele diz que ela é a
candidata mais qualificada que ele conheceu em semanas,
praticamente implorando para que ela aceitasse o emprego.
Com mãos que fazem seu cérebro uivar e olhos que gritam
sexo, a ideia de morar sob o mesmo teto que Aiden parece
perigosa, mas sem outra opção, ela decide ficar com ele e sua
filha adoravelmente tenaz, Sophie.
Cassie logo descobre que Aiden não é um estranho, mas
alguém que está muito familiarizado com ela – ou pelo menos,
com seu corpo. Ela fica sem saber o que fazer, já que ele não se
lembra dela. À medida que o relacionamento deles atinge
temperaturas mais altas do que qualquer cozinha em que
Aiden já trabalhou, Cassie luta para contar a verdade a Aiden e
a possibilidade mais aterrorizante – perder a melhor chance de
felicidade que ela já teve.
À minha querida mãe, que certa vez me perguntou: “Você não
prefere escrever livros infantis em vez disso?"
Tabela de Conteúdos
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Aviso – bwc
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Aviso de gatilho
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Epílogo
Aviso – bwc
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objetivo de possibilitar a leitura para aqueles que não sabem ler
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feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Eu disse a mim mesma que não ficaria nervosa.
Eles não podem realmente me ver, então por que meu
coração está batendo tão forte?
Ajusto minha câmera pela quarta vez, verificando o
ângulo antes de avaliar o que estou vestindo novamente.
É um sutiã fofo com a calcinha combinando – o que vem
a seguir não é nada que eu já não tenha feito mil vezes
antes.
Mas é que agora, estarei fazendo para espectadores
invisíveis e receberei por isso.
Respiro fundo, lembrando a mim mesma de que preciso
do dinheiro. Que é meu corpo, e estou tomando posse dele.
Tudo o que eu fizer a partir deste ponto é minha escolha e
estou no controle total.
Esse pensamento faz com que eu me sinta corajosa.
Respiro fundo. Verifico minha peruca. Ajusto minha
máscara.
Eu posso fazer isso.
Eu ativo a câmera.
Capítulo 1
Cassie

— Eu serei uma sem-teto.


Eu escuto Wanda estalando a língua em sua cozinha (que,
aliás, não é tão longe em um apartamento de 65 metros
quadrados), e quando eu levanto meu rosto do veludo
envelhecido de seu sofá, posso vê-la sacudindo uma espátula
para mim.
— Sem chorar pelo leite derramado — ela me diz. — Você
não vai ser uma sem-teto. Você pode ficar no sofá, se necessário.
Eu faço uma careta para o mencionado sofá de veludo,
olhando dele para a pilha de jornais no canto do estofado para
a televisão que desafia o tempo ao se recusar a morrer dentro de
sua casca de madeira.
— Eu não quero... atrapalhar — digo timidamente, não
querendo ferir seus sentimentos. — Vou dar um jeito.
Em meu terceiro ano de pós-graduação em terapia
ocupacional, perder meu emprego como assistente de terapia
no hospital infantil não fazia parte do plano. Eu mal tenho
conseguido pagar o aluguel com o salário que eles estavam me
dando, e agora que eles tiveram que reduzir a equipe, meu
apartamento menor ainda do outro lado do corredor da casa de
Wanda parece cada vez mais que será uma coisa do passado,
muito em breve.
— Bobagem — Wanda argumenta. — Você sabe que é bem-
vinda aqui.
Eu tiro um cacho ruivo do meu rosto, empurrando-me das
almofadas do sofá para ficar em uma posição sentada. Conheço
Wanda Simmons há cerca de seis anos; eu a conheci quando ela
me convidou para um chá depois que me tranquei para fora do
apartamento na minha primeira semana aqui. Uma mulher de
setenta e dois anos como minha melhor amiga não estava
exatamente na minha lista de coisas para realizar neste lugar,
mas ela pode ser mais interessante do que eu, então acho que
pode ser isso.
— Wanda — eu suspiro. — Eu te amo. Você sabe disso,
mas... você só tem um banheiro e não tem Wi-Fi. Nunca daria
certo entre nós.
— É a diferença de idade, não é? — Ela faz beicinho.
— Absolutamente não. Você sempre será a única mulher
para mim.
— Estou apenas dizendo. A opção está aberta.
— E o que você vai fazer quando trouxer para casa seus
homens do bingo e eu estiver sentada aqui no seu sofá?
— Oh, não vamos incomodá-la. Iremos para o quarto.
Eu faço uma careta.
— Eu sou totalmente a favor de você ter a sua diversão, mas
eu absolutamente não quero estar do outro lado dessas paredes
muito finas para isso.
Wanda ri enquanto mexe o molho para suas almôndegas.
— Você sempre pode voltar a fazer aquelas chamadas de
peitinhos.
Eu gemo.
— Por favor, não as chame de chamadas de peitinhos.
— O quê? Tem uma câmera. Você mostra seus seios. Você
é paga.
Deixo meu rosto cair contra seu sofá. Eu meio que me
arrependo de ter contado a Wanda sobre a minha... história
com o OnlyFans, mas eu não tinha previsto que ela seria capaz
de lidar com a tequila melhor do que eu na noite em que
coloquei tudo para fora. Não que eu tenha vergonha disso, de
forma alguma. Era um bom dinheiro. Receber dinheiro de
pessoas que queriam se divertir foi uma decisão fácil quando
confrontada com uma conta de mensalidade iminente que eu
não poderia começar a pagar de outra forma. Quero dizer, belos
peitos realmente deveriam merecer seu sustento. Acho que
Margaret Thatcher disse isso uma vez.
— Você sabe que eu não posso — suspiro. — Eu deletei
minha conta completamente. Todos os meus inscritos
sumiram. Levaria mais dois anos para reconstruí-los.
Além disso, aprendi minha lição da primeira vez. Pelo
menos eu guardei essa parte para mim.
— Então o que você vai fazer? Você está procurando outro
emprego?
— Estou tentando — resmungo, percorrendo os mesmos
anúncios de emprego em meu telefone que, na maioria das
vezes, não dão certo. — Por que colocar anúncios procurando
ajuda se eles não vão retornar o contato?
— Tem muitas pessoas nesta cidade — Wanda diz. — Sabe,
quando me mudei para cá, você podia andar na rua e
reconhecer as pessoas. Agora é como uma colméia lá fora.
Sempre zumbindo. Você sabia que eles têm uma maldita
mercearia onde você nem usa seu cartão? Basta entrar e sair.
Pensei que estava roubando o tempo todo. Quase me deu
palpitações cardíacas.
— Sim, conversamos sobre a nova loja Fresh, lembra? Eu
ajudei você a configurar sua conta.
— Oh, sim. Daqui a pouco, eles levarão os mantimentos
voando direto para a sua porta.
— Wanda, eu odeio dizer isso a você, mas eles já fazem isso.
— Sem brincadeira? Hum. Você deveria configurar isso
também. Me poupar de uma maldita caminhada.
— Acho que você não se opõe tanto ao futuro, afinal.
— É, é. E o restaurante na Quinta?
— Eles não vão me deixar sair mais cedo para as minhas aulas
de laboratório no campus.
— Sabe, Sal estava dizendo que precisaria de ajuda com...
— Eu não vou trabalhar na delicatessen — digo a ela, com
firmeza. — Sal é cheio de mão boba.
— Eu sempre gostei disso nele — Wanda ri.
— Você não está muito velha para sentir tanto tesão?
— Estou velha, Cassie — ela bufa. — Não morta.
— Sério, eu não sei o que vou fazer — gemo.
— Verifique os anúncios novamente. Talvez você tenha
deixado algo passar.
— Eu verifiquei uma dúzia de vezes — bufo.
Wanda ainda está resmungando comigo da cozinha
enquanto eu me debruço de novo sobre a seção de procura de
ajuda de qualquer forma, pensando que se eu olhar várias vezes,
algum anúncio milagroso que eu não havia notado antes,
saltará para mim. Como pode ser tão difícil encontrar um
emprego que me deixe fazer meus trabalhos escolares à noite e
ficar de folga a cada dois fins de semana para meus cursos no
campus? Quer dizer, aqui é San Diego, não Santa Bárbara. Tem
que haver algo que eu possa...
— Oh, merda — eu digo de repente.
Wanda sai da cozinha com a espátula na mão.
— O quê?
— Procura-se: cargo de babá residente em tempo integral.
Experiência com crianças é imprescindível. Hospedagem e
alimentação grátis. Apenas solicitações sérias.
Wanda bufa.
— Você não quer ficar presa cuidando de outras…
— Salário inicial... Puta merda.
— É bom?
Eu olho para Wanda com a boca aberta, e quando eu digo a
ela o que eles estão oferecendo, Wanda diz uma palavra que ela
normalmente só reserva para quando os Lakers perdem. Ela
solta um suspiro depois, acariciando seus cachos brancos com
aquele seu jeito agitado.
— Eu acho que seria melhor você ligar para eles então.

■□■

Eu não esperava que Aiden Reid fosse me responder tão


rapidamente como respondeu depois que enviei-lhe um e-mail,
e certamente não esperava que ele parecesse tão ansioso em
marcar um encontro para uma entrevista. E por falar em
encontro, eu definitivamente não esperava que ele me pedisse
para encontrá-lo em um dos restaurantes mais chiques da
cidade – um em que não posso me dar o luxo de comer e no
qual tenho certeza de que estou mal vestida demais para entrar.
É assim que as pessoas ricas fazem entrevistas? Duvido que Sal
me levaria a um restaurante cinco estrelas para me fazer cortar
peru para ele enquanto acidentalmente passa a mão na minha
bunda.
Ainda assim, coloquei meu vestido preto justo favorito,
aquele que usei na minha formatura da faculdade, e espero que
isso me faça parecer muito mais arrumada do que me sinto
agora. Como agora estou com a suspeita de que a família da
qual estou tentando ser babá é mais próspera do que eu achava,
estou pensando que um pouco de falsa confiança me fará um
bem enorme.
Quero dizer, eu amo crianças. E aprendi trabalhando no
hospital infantil que elas são o público-alvo das minhas piadas
terríveis, então isso é uma vantagem. Além disso, todo o motivo
pelo qual estou seguindo a carreira de terapia ocupacional é
para tentar ser aquela pessoa que está ao lado das crianças
quando ninguém mais parece estar – então, com isso em mente,
este trabalho deve ser fácil, certo?
Isso é o que eu continuo dizendo a mim mesma.
Juro que a recepcionista pode sentir o cheiro do meu spray
corporal de baunilha da Target, e de alguma forma ela sabe que
isso significa que não posso pagar os aperitivos daqui, mas ela
coloca um sorriso no rosto, para seu crédito, e me leva a uma
mesa depois que eu dou a ela nome do meu possível
empregador. É assim que é ser importante? Sento-me na cadeira
forrada de seda, sentindo-me como um peixe fora d'água em
meio às velas acesas e à música elegante. Inferno, estou com
medo de colocar meus cotovelos na mesa.
Um garçom se aproxima para perguntar se eu quero
começar com algum aperitivo, e como a recepcionista com os
olhos judiciosos estava absolutamente certa, eu peço água
enquanto aguardo. Eu tomo um gole à medida que espero que
esse tal de Aiden apareça (parece meio rude chegar atrasado em
sua própria entrevista), tentando aparentar que eu totalmente
como em lugares como este o tempo todo.
O restaurante em si é o mais legal em que já estive. Nunca vi
tantos centros de mesa de cristal em toda a minha vida, e Wanda
perderia a cabeça se visse os preços no cardápio. Mal posso
esperar para contar a ela mais tarde e ver seus olhos saltarem das
órbitas.
— Com licença — diz alguém.
A voz profunda murmurada tão perto do meu ouvido quase
me faz engasgar com a água, um pouco dela escorrendo pelo
meu lábio inferior, descendo pelo meu queixo enquanto tusso.
Eu pressiono as costas da minha mão para tentar limpar,
notando mãos grandes em minha visão, agora turva, quando
um rosto aparece.
Puta. Merda.
Meu cérebro entra em curto-circuito por alguns segundos,
tentando entender a aparição repentina de um homem grande
com cabelos castanhos grossos afastados da testa, mandíbula
definida e maçãs do rosto marcadas, e sua boca parece mais
suave do que a minha? Ele é alto também. Não o tipo de altura
que faz você pensar que ele joga basquete ou algo assim
(embora ele com certeza pudesse, se quisesse), mas o tipo de
altura que faz você querer pedir a ele para pegar algo na
prateleira de cima para você, só para você pode observar a
maneira como seus ombros se movem sob a camisa. Percebo
que esse processo de pensamento faz pouco sentido, mas tudo
que sei é que tenho 1,70m com peitos que valem a pena pagar
para ver, uma bunda construída com agachamentos e uma
conexão emocional com pão, e esse homem me faz sentir
pequena.
E se essas coisas não são suficientes para me deixar pasma (o
que estou, quero dizer, estou literalmente babando água com
gás) – seus olhos fariam o truque. Já ouvi falar de heterocromia;
pelo menos, tenho certeza de que meu professor de biologia
mencionou de passagem quando eu era estudante de
graduação, mas nunca vi pessoalmente. Seus olhos são uma
mistura de um castanho e um verde, as cores não são brilhantes,
mas sutis, como chá quente e água do mar, difíceis de desviar o
olhar.
Percebo que é exatamente isso que estou fazendo.
Encarando o pobre rapaz.
— Desculpe — eu gaguejo. — Você meio que me pegou
desprevenida.
Pego o guardanapo para começar a limpar meu queixo,
percebendo agora que o homem está vestindo uma jaqueta
branca de chef com um avental combinando amarrado na
cintura.
— Oh — eu começo de novo. — Eu não ia pedir nada ainda,
estou esperando alguém.
— Certo. — Ele mostra uma fileira de dentes perfeitos que
deixariam meu dentista em êxtase, parecendo quase como se ele
se arrependesse de ter caminhado até a mesa. Ou talvez eu esteja
imaginando demais. — Eu acho que você está esperando por
mim. Você é a Cassie?
— Eu... — Oh não. Não, não, não. Eu não cuspi água em
mim mesma na frente do cara que estou tentando fazer com
que me contrate. — Você é o Sr. Reid?
Ele faz uma careta.
— Aiden, por favor. Sr. Reid faz eu me sentir velho.
O que ele não é. Eu acho que não. Quero dizer, ele é mais
velho que eu, mas não velho. Ele não pode ter mais de trinta
anos, aposto. Eu ainda estou meio que encarando ele.
— Certo — digo, tentando me recompor enquanto me
afasto da mesa e estendo minha mão desajeitadamente. — Eu
sou Cassie. Cassie Evans.
Sua boca se curva para minha mão estendida, fazendo-me
imediatamente me arrepender de tê-la estendido como se
estivesse fazendo uma versão off-Broadway do Homem de Lata
em O Mágico de Oz, mas não há como voltar atrás agora. Ele a
sacode no que só posso presumir ser uma tentativa de ser legal,
gesticulando de volta para o meu assento e esperando que eu
me sente antes de tomar o assento à minha frente.
Eu limpo minha garganta, tentando esquecer que um
minuto atrás eu quase cuspi água no homem mais gostoso do
mundo, que eu quero muito que me pague uma quantia
ridícula de dinheiro para cuidar da sua criança. Sua criança, eu
me lembro. Esta é uma entrevista de emprego. O que torna
totalmente inapropriado que eu ainda esteja pensando em suas
mãos enormes. Mãos que, meu cérebro realmente percebeu,
não estão usando nenhum tipo de aliança.
Pare com isso, cérebro.
Eu deveria parar de olhar para as mãos dele, de qualquer
maneira. Mesmo que sejam grandes o suficiente para fazer uma
garota calcular mentalmente quando foi seu último encontro.
— Então — eu tento desajeitadamente. — Você é um
cozinheiro. — Eu gemo, instantaneamente me arrependendo
da minha escolha de palavras. — Desculpe. Quero dizer, um
chef. Você é um chef. Certo?
Milagrosamente, ele não pede para me removerem do
restaurante, mas sorri.
— Sim. Eu cozinho aqui.
Oh, abençoado seja ele por seu humor.
— Isso é... incrível. Realmente incrível. — Eu aceno
apreciativamente enquanto olho ao nosso redor para os
candelabros brilhantes e o pianista em algum lugar atrás de nós.
— É um lugar elegante.
— É — ele concorda. — Sou o chef executivo daqui há
alguns anos.
— Mentira? Que chique.
— Chique — ele ecoa, parecendo divertido. — Certo.
Desculpe por pedir que me encontrasse no trabalho. Eu estive,
ah... bem. Tem sido uma loucura ultimamente.
— Não é grande coisa. Eu pensei que fosse estranho fazer
uma coisa assim durante o jantar, especialmente em um lugar
como este, mas eu imaginei... — Teria sido bom se eu tivesse
percebido antes de começar a gaguejar minhas bobagens, mas,
no entanto, a ficha cai. As implicações do que ele disse. Minha
boca se fecha enquanto o calor inunda meu rosto, e eu me
abaixo de vergonha enquanto cubro meus olhos. — Oh meu
Deus. Esta não é uma entrevista com jantar. Você queria falar
comigo no seu intervalo.
— Eu deveria ter... sido mais claro em meu e-mail.
Oh Deus. Ele está tentando me defender. Alguém me enterre.
— Eu sou inacreditável.
— Não, não — ele tenta. — Está tudo bem.
— Deus, eu sou uma idiota. Eu usei esse vestido idiota e...
— É um vestido muito bonito.
— Você provavelmente acha que eu sou louca...
— Realmente não.
— Eu posso ser tão estúpida às vezes, me desculpe.
Ele ainda parece divertido. Como se ele estivesse achando
meu colapso mental engraçado. Não sei se isso torna as coisas
melhores ou piores.
— Você pode pedir alguma coisa — ele oferece. — Se você
quiser. Eu não me importo.
— Hum, obrigada, mas talvez eu precise vomitar agora. Eu
deveria ir embora, certo? Isso já é um desastre.
— Espere, não. — Ele estende a mão quando me movi para
ficar de pé. — Não faça isso.
Eu paro de tentar fugir. Certamente ele não pode ainda estar
me considerando, pode? Talvez ele seja louco também.
— Você ainda quer me entrevistar?
— Para ser honesto — ele suspira — ninguém se inscreveu
com nada perto de suas credenciais. Treinamento em RCP,
bacharelado em terapia ocupacional com especialização em
psicologia? Quero dizer, seu último emprego foi em um
hospital infantil. E eles não tinham nada além de coisas boas a
dizer sobre você quando verifiquei suas referências. Quase
pareceu que eles odiaram deixar você ir.
— Sim, fiquei muito chateada quando eles fizeram isso —
admito. — Houve um problema de financiamento,
infelizmente. Eu amava o trabalho.
— Bem — ele ri — espero que a perda deles seja meu ganho.
Não acreditei quando você me enviou seu currículo.
— Mas agora que você me conheceu, você está começando
a pensar que eu o forjei, certo?
Ele meio que ri, mal abrindo a boca enquanto desvia os
olhos para a mesa, como se estivesse com medo de me fazer
pensar que está rindo de mim, o que estaria dentro do seu
direito, considerando esta primeira reunião terrível.
— Não — diz ele. — Eu não acho que você forjou. No
entanto, estou curioso para saber por que você está procurando
uma posição de babá com seu histórico?
Eu afundo na minha cadeira, soltando um suspiro
enquanto me inclino sobre a mesa.
— Posso ser totalmente honesta com você?
— Eu prefiro que sim — diz ele, inclinando-se e parecendo
intrigado.
— Estou no último ano do programa de pós-graduação em
terapia ocupacional e, como disse em meu e-mail, fui desligada
do meu trabalho devido a redução de pessoal. O aluguel nesta
cidade é ridículo, e, para ser honesta, preciso do dinheiro. E
sendo mais honesta ainda, o quarto e a alimentação de graça
também não são nada para torcer o nariz. Seria ótimo não ter
que me preocupar com isso, acima de tudo.
— Certo. Sobre isso. — Ele franze a testa então, e presumo
que esta seja a parte em que ele me dirá que na verdade não pode
permitir que uma lunática tagarela como eu chegue perto da
sua criança. — É uma posição permanente, mas para
esclarecer... somos só eu e minha filha. Você teria seu próprio
quarto, é claro, praticamente seu próprio andar, até mesmo –
total privacidade e tudo mais, mas... quero ser completamente
transparente com você, caso isso a deixe desconfortável.
Com vinte e cinco anos, e na primeira vez que moro com
um cara bonito, é em um cenário como de Grande Menina,
Pequena Mulher. Estou morrendo de vontade de perguntar
sobre a outra pessoa responsável nesta situação, apenas para
limpar minha baba mental, mas meu cérebro está gritando que
este é o movimento errado. Ainda assim, ele tem um bom
emprego, um belo sorriso e não me dá a impressão de ser um
assassino total.
Eu abro meu sorriso mais profissional.
— Eu não acho que isso será um problema. No entanto, no
clima de ser transparente... Estou em um programa híbrido na
St. Augustine's em San Marcos.
— O que isso significa?
— Significa que a maior parte do meu curso é on-line, o qual
faço à noite depois do trabalho, mas dois fins de semana por
mês tenho que assistir às aulas no campus. Demora mais do que
o programa normal, mas como estou pagando minhas próprias
despesas, torna-se mais fácil ter um emprego. A maioria dos
empregos para os quais me candidatei não conseguiu trabalhar
comigo de acordo com minha agenda, o que é um empecilho.
— Eu solto uma risada. — Parece que você é o único que acha
minhas credenciais impressionantes. Lanchonetes e lojas de
departamento? Não muito.
Aiden franze a testa, pensando.
— Não vou fingir que chego em casa em um horário
razoável todas as noites. Meu trabalho é estressante – na
verdade, isso é um eufemismo. Meu trabalho às vezes é um
pesadelo. Tenho folga na maioria das manhãs e, às vezes, só
preciso trabalhar à tarde... mas minhas noites podem ser longas.
Você acha que seria um problema? Sophie normalmente vai
para a cama às nove. Tenho certeza de que, desde que ela esteja
alimentada e pronta para dormir, você pode fazer seus
trabalhos escolares.
— Sophie? Sua filha?
Aiden dá um novo tipo de sorriso, que parece caloroso e
orgulhoso, mas que se choca com o lampejo de tristeza que
brilha em seus olhos.
— Sim. Ela é... muito boa. Ela tem nove anos, mas parece
muito mais velha do que isso. Ela é muito esperta para o seu
próprio bem.
— Meninas geralmente são — eu rio, pensando em mim
mesma. — E os fins de semana que tenho aula? Eu poderia estar
em casa no final da tarde. Então ainda posso cobrir o jantar,
com certeza.
Aiden considera isso.
— Eu posso fazer funcionar. Quero dizer, eu tenho feito até
agora, de qualquer maneira. Se o pior acontecer, talvez você
possa buscá-la aqui nesses dias? Ela poderia jogar em seu
joguinho no escritório enquanto espera. Ela está, ah,
acostumada com isso agora, infelizmente.
— E sua filha? Ela está bem com tudo isso? Em ter uma
babá?
Aiden acena com a cabeça, pensativo.
— Ela já teve antes. Nenhuma realmente... deu certo. Eu...
Posso ser honesto com você de novo?
— Eu prefiro que sim — digo a ele, ecoando seu sentimento
anterior.
Aiden ri novamente, e eu determino que vou ter que fazer
questão de não fazê-lo rir com muita frequência para o bem da
minha própria sanidade, se vou morar com ele. É uma risada
muito boa, ok?
— Eu só... Eu preciso de ajuda, Cassie, sendo direto. Estou
fazendo isso sozinho e é muito mais difícil do que pensei que
seria. Ou talvez seja exatamente tão difícil quanto pensei que
seria. Não sei. Sophie pode ser muito... obstinada, e isso torna
difícil encontrar alguém que esteja disposta a ficar. Estou
procurando uma substituta para a última babá há semanas,
porque queria encontrar a que melhor se adaptasse a Sophie, e
absolutamente ninguém se candidatou para o emprego com
metade das qualificações que você. Foram semanas de
malabarismo com agendas e, neste momento, estou
desesperado.
— Isso é... muito honesto.
— Você pode fugir gritando a qualquer momento.
Estranhamente, não tenho vontade de fazer isso. Algo sobre
esse homem de aparência cansada com seus lindos olhos e sua
risada que me dá borboletas no estômago faz com que seja
difícil dizer não para ele. Sem mencionar que ainda há a quantia
ridícula de dinheiro que ele está oferecendo.
— Então, como seria isso? Se eu disser sim.
— Bem, eu adoraria que você começasse o mais rápido
possível — ele me diz. — Talvez você pudesse ir neste sábado?
Eu poderia apresentá-la a Sophie e mostrar a casa. Onde você
ficaria e tudo isso... Se você aceitar o trabalho, claro.
Eu seria boba se não aceitasse, certo? Quero dizer, quando é
que algo tão bom vai aparecer? Claro, é assustadora a ideia de
ser diretamente responsável pela filha de alguém, para não falar
em morar na casa deles... especialmente a casa desse cara... Ainda
assim. Não acho que seja uma oferta que eu possa recusar na
minha situação.
— Ok.
Eu aceno para a mesa enquanto tomo uma decisão,
encontrando os olhos de Aiden e mais uma vez estendendo
minha mão de uma forma impensada da qual me arrependo
imediatamente.
Sério, por que continuo fazendo isso?
Felizmente, Aiden suspira de alívio, pegando minha mão
novamente e envolvendo-a na sua muito maior.
— Então você quer o emprego?
— Contanto que você me queira — digo, com o que espero
ser confiança.
Eu tento não pensar sobre a forma como seus olhos se
arregalam com o meu fraseado estranho; agora não adianta
lamentar meu vômito nervoso de palavras. Graças a Deus ele
está tão desesperado.
E definitivamente não estou pensando em como a mão dele
engole a minha.
Bate papo com @alacarte

@alacarte
te enviou uma gorjeta de $20

Eu amo o jeito que você goza.


Capítulo 2
Cassie

Quando o sábado chega, Aiden e eu já definimos minha agenda


e os detalhes do meu salário. Nesse meio tempo, consegui me
convencer de que esse seria um ótimo trabalho, mesmo que
fosse apenas para aliviar os nervos de ter que viver sob o mesmo
teto de um cara gostoso e torcendo para que sua filha não me
odeie. Tão certa quanto eu estou sobre minha nova carreira,
por outro lado, Wanda não está tão convencida. Durante o
tempo em que passei terminando de empacotar minhas roupas
na manhã em que eu deveria ir para a casa de Aiden (uma tarefa
fácil, já que há tão pouco do que obtive ao longo dos anos que
até considerei válido guardar além do essencial), Wanda
assumiu a responsabilidade de me entrevistar sobre minha
entrevista, interrogando-me sobre todos os detalhes a respeito
do homem misterioso com quem estou indo morar de mala e
cuia. (Palavras dela, não minhas.)
— E se ele nem tiver uma filha?
Reviro os olhos.
— Ele tem uma filha.
— Tudo isso pode ser um esquema elaborado para atrair
você para a casa dele para que ele possa trancá-la em seu porão.
— Ele mora em uma casa na cidade — digo a ela. — Eu não
acho que elas tenham porões.
Não tenho muita certeza disso, visto que nunca estive em
uma, mas Wanda não precisa saber disso.
— Precisamos pensar em algum tipo de palavra-chave.
Eu paro de enfiar as meias na minha bolsa para passar a
noite.
— Palavra-chave?
— Exato. — Wanda acena pensativamente no meu
sofá/cama (todos saúdam o futon). — No caso de ele não
deixar você falar livremente.
— Quantos filmes da Lifetime você assistiu?
— Você não vai achar tão engraçado quando ele estiver te
alimentando com papinha de bebê e fazendo você brincar de se
fantasiar.
Eu rio disso.
— Você sabe que isso é na verdade um fetiche, certo?
— Você está brincando.
Sua expressão chocada me faz rir ainda mais.
— As pessoas pagam um bom dinheiro para alimentar
garotas bonitas com comida de bebê e brincar de se fantasiar.
— Droga. — Wanda balança a cabeça. — Por que não
existia isso quando eu era mais jovem? Poderia ter me poupado
muitos turnos na biblioteca.
— Você adorava trabalhar na biblioteca — eu a lembro.
— Eu adoraria muito mais se alguém tivesse me pago para
ficar nua dentro dela.
— Em outra vida — eu rio — você teria dominado todo o
cenário de camgirls.
— E tenha sempre isso em mente — ela reclama.
Mesmo quando jogo as últimas roupas do meu armário em
uma bolsa, sinto seus olhos me observando do outro lado da
sala. Espero até que a bolsa esteja cheia e amarrada antes de dar
atenção a ela.
— O quê?
— Eu só quero que você tome cuidado — ela diz, um pouco
mais gentilmente. — Há muitos esquisitos por aí.
— Eu vou ficar bem — eu asseguro a ela, fingindo que sua
preocupação não me dá vontade de sorrir. Ela pode ser
rabugenta noventa por cento do tempo, mas Wanda se
preocupa comigo mais do que minha própria mãe jamais se
preocupou. — Eu prometo. É um bom dinheiro, e ele foi
incrivelmente legal. Também examinei o Facebook dele e ele
tem uma filha. — Uma filha bonita também. Sério, os genes
dessa família. — Além disso, se a vibe estiver ruim, posso ir
embora, ok?
— Vocês crianças e suas vibes — ela resmunga. — Quando
eu tinha sua idade, não tínhamos vibe, tínhamos instinto.
— Você percebe que é praticamente a mesma coisa, certo?
Além disso, você poderia parar de reclamar e me ajudar a
arrumar alguma coisa.
Wanda cruza os braços.
— Preciso descansar minhas costas. Tenho uma partida de
bingo hoje à noite.
Não peço elaborações, não querendo saber se ela precisa
descansar para o bingo ou para quem ela inevitavelmente trará
para casa depois. Ela e Fred Wythers brigaram na semana
passada, então imagino que ele foi descartado.
— Não é você que sempre diz que está velha, não morta? —
Ela mostra o dedo do meio para mim e eu rio. — Ei, você sabia
que a unha do dedo do meio é a que cresce mais rápido?
— Oh, vai à merda com seus malditos fatos que vem de
Snapples.
Eu mordo meu sorriso enquanto volto minha atenção para
fazer as malas. Quando o pequeno espaço está lotado com
várias caixas e sacolas, eu aceno apreciando um trabalho bem
feito, pensando que o lugar parece maior de alguma forma
quando está quase vazio assim. A mobília vai ficar, visto que já
estava aqui quando cheguei. Além disso, não vou precisar, já
que tenho meu próprio quarto mobiliado na casa de Aiden.
Há apenas um pequeno bater de asas de borboletas em meu
estômago quando me lembro de que estarei sob o mesmo teto
que Aiden Reid.
— Acho que é isso — digo a Wanda.
— Eu acho que sim. — Wanda olha as malas espalhadas pelo
chão. — Tenho certeza de que eles vão deixar um esquisito
morar aqui.
— Talvez seja sua alma gêmea.
Wanda bufa.
— Não preciso de uma dessas.
A independência dela é de se admirar, com certeza.
Wanda nunca se estabilizou com alguém em sua longa vida,
até onde eu sei, sempre pulando de um homem para o outro.
Ela faz com que pareça divertido, não me interpretem mal, mas
com certeza deve ser solitário às vezes. Gosto de pensar que nós
duas precisávamos uma da outra da mesma forma quando
tropeçamos na vida uma da outra. Ela se tornou uma
improvável mãe substituta e melhor amiga, tudo em uma, me
adotando em sua vida e me tratando como a filha que ela nunca
teve. Não tenho certeza se tinha noção de como era o
verdadeiro afeto antes de conhecê-la.
— E você tem certeza de que esta é uma boa ideia? Você
ainda pode fazer as chamadas de peitinho.
Eu considero isso, sabendo que Wanda gosta de viver
indiretamente por meio de meus empreendimentos no
OnlyFans (sério, essa mulher perdeu sua verdadeira vocação), e
seria um dinheiro fácil se eu pudesse construir seguidores
novamente, mas não consigo. Não depois do que aconteceu.
— Tenho certeza. — Eu aceno, principalmente para mim.
— Você poderia me dizer que vai sentir minha falta, sabe.
— Sentir sua falta? — Ela bufa enquanto me dá um tapinha
no ombro. — Se você não vier me visitar, eu vou caçar a sua
bunda.
Eu a puxo para um abraço, respirando o cheiro familiar de
seu perfume White Diamonds e um pouco de pó de talco ao
fundo que sempre achei estranhamente reconfortante.
— Vai ser ótimo. Você vai ver.
Wanda ainda não parece convencida quando ela se afasta, e
quando começo a empilhar minhas coisas, deixando
organizado para o serviço de mudança que levará tudo o que
sobrar amanhã, faço o possível para parecer tão confiante em
relação a tudo isso quanto estou fingindo ser.

■□■

A casa da cidade de Aiden está localizada em um condomínio


fechado, uma área residencial tranquila com casas de três
andares ao longo da rua. A de Aiden, em específico, tem um
pequeno quintal bonito, alinhado com uma parede de blocos e
fechado com um portão de ferro. Meu velho Toyota
estacionado na frente parece deslocado em meio às fileiras e
fileiras de casas geminadas, mas para ser justa, eu também
pareço. Verifico o número da casa mais uma vez em meus e-
mails enquanto o portão destranca, me sentindo um pouco
nervosa ao passo que me aproximo da porta da frente.
Eu puxo a alça da minha bolsa com mais força contra o meu
ombro quando finalmente crio coragem para tocar a
campainha, tendo empacotado apenas o essencial para passar a
noite até que todo o resto chegue aqui amanhã. De repente,
estou percebendo que estarei morando com desconhecidos, e
se Aiden for algum tipo de esquisito?
Deus.
Eu tento pescar meu telefone do meu bolso para avisar
Wanda que eu cheguei, consigo puxá-lo pela metade antes que
minha bolsa escorregue do meu ombro e caia no chão, fazendo
com que uma parte que estava meio fechada esparrama-se
minhas coisas na varanda. Eu caio de joelhos para começar a
recolher os itens espalhados de volta, pensando que esta é a
última coisa que eu preciso, que meu novo chefe me encontre
pegando minha calcinha do lado de fora de sua porta.
— Porra, porra, porra.
E porque o universo é uma cadela inconstante, é exatamente
assim que Aiden Reid me encontra. No meio de um fiasco
pessoal, xingando em sua varanda e segurando minha calcinha.
Mas, novamente, a julgar pelas manchas de farinha cobrindo
sua camiseta preta (justa, bastante justa), seu avental preto
combinando e até em suas bochechas, sem mencionar a coisa...
pegajosa que está pingando na frente de suas calças (menos
justa, mas não menos perturbadora), acho que talvez desta vez
estamos iguais.
— Você está — meus olhos percebem sua aparência
desgrenhada — bem?
Seus olhos passam da minha forma ainda agachada para a
calcinha verde neon com estampa de coração na minha mão
para o meu rosto.
— Você está bem?
— Oh. — A parte de trás do meu pescoço esquenta
enquanto enfio apressadamente minha calcinha de volta na
bolsa, puxando a alça por cima do ombro enquanto me
levanto. — Estou bem. Apenas um acidente. — Estou optando
ativamente por não pensar em como Aiden acabou de ver
minha calcinha, apontando para a gosma em suas calças. —
Parece que você também teve um.
Aiden faz uma cara de desamparo, e o suspiro silencioso que
escapa dele faz meu estômago revirar.
— Sim. — Ele olha para a bagunça em sua camisa antes de
me dar um sorriso tímido. — Você... — Ele morde o lábio. Eu
não devo remoer isso. — Por acaso você sabe alguma coisa
sobre panquecas?
— Panquecas?
Aiden sacode a cabeça em um aceno, apontando para a
escada atrás dele.
— Vamos subir.
Eu o sigo para fora da entrada e subo as escadas para o
segundo andar, o topo da escada se espalhando pelo que parece
ser a sala principal e a cozinha. Quando nos aproximamos,
reconheço uma garotinha na bancada da cozinha, com o cabelo
no mesmo tom do de Aiden e a boca formando um beicinho.
Ela parece mais concisa do que no Facebook de Aiden.
Também noto que a bagunça na camisa e na calça de Aiden se
estende até o chão da cozinha e metade da bancada.
— Nós, hum... queríamos fazer algo legal para você —
Aiden me diz. — Para o seu primeiro dia aqui.
— Papai queria — a garotinha reclama de seu lugar na
bancada, alto o suficiente para que eu entendesse.
Aiden lança um olhar severo para ela. Fica bem nele.
Também não devo ficar remoendo isso.
— Nós pensamos que você poderia gostar de panquecas,
mas, hum... Isso é vergonhoso.
— Você parece estar tendo alguns problemas — eu indico
com diversão. — Nunca vi tanta bagunça com panquecas.
Aiden olha para os próprios pés como uma criança que
quebrou o vaso de sua mãe e reluta em contar a ela.
— Deixei cair a tigela de massa. Está um desastre aqui.
— Eu posso — deixo meus olhos varrerem a frente dele
novamente, para propósitos puramente investigativos, é claro
— ver.
— Eu... não sou muito bom em fazer panquecas — ele
admite, quase como se isso o machucasse.
Eu inclino minha cabeça.
— Você não é um chef?
— Não há panquecas no meu cardápio. — Sua boca faz algo
que está perigosamente perto de um beicinho, e não deveria
funcionar para um homem do tamanho dele, mas
estranhamente funciona. — Sophie diz que não gosta, mas
tenho certeza que ela simplesmente não gosta das minhas,
então é uma questão pessoal agora. Eu estava tentando uma
nova receita, mas... — Ele gesticula para a bagunça. —
Obviamente, não saiu do jeito que eu esperava.
Abro um sorriso para ele, percebendo que ele realmente
precisa de ajuda.
— Caramba, garoto.
Eu largo minha bolsa na escada enquanto aprecio o espaço.
A cozinha é elegante e moderna, com armários pretos e bancada
de mármore cinza – tudo o que você pode esperar de uma casa
de luxo nesta parte da cidade. Os ladrilhos são de um tom
semelhante de cinza, talvez mais claro, indo até a borda da sala
de estar aberta logo adiante, onde se mistura com o carpete
cinza de aparência suave que fica sob os móveis de couro preto.
Estou concluindo que Aiden não gosta muito de cores aqui.
— Esta é uma bela casa — digo a ele. — Eu gosto do que
você fez com o, ah... esquema de cores.
Eu espio para trás para encontrar Aiden carrancudo.
— Eu... gosto de preto.
— Eu com certeza nunca teria adivinhado — provoco.
Percebo que ele ainda está coberto de gosma. — Certo.
Panquecas. — Examino a cozinha, procurando. — Você tem
outro avental?
Aiden corre para um armário alto e estreito ao lado da
geladeira preta de aço inoxidável para tirar um (surpresa)
avental preto. Eu passo por cima da minha cabeça, alcançando
atrás de mim para amarrar as cordas enquanto eu lanço um
sorriso para a garota, que ainda está me avaliando
silenciosamente na bancada.
— Você deve ser Sophie — eu tento. — Eu sou Cassie.
— Você é minha nova babá — diz ela com apenas um toque
de amargura.
— Eu sou. Ouvi dizer que você já teve outras.
— Apenas quatro — ela murmura.
— Quantos anos você tem, Sophie?
— Nove.
— Uau. Você está praticamente crescida. Duvido que você
precise de uma babá.
— Isso foi o que eu disse — ela bufa. — Eu posso cuidar de
mim mesma.
— Claro. — Eu aceno seriamente antes de me inclinar para
mais perto para baixar minha voz. — Aqui entre nós... Eu só
precisava de companhia. Eu não tenho muitos amigos.
Praticamente tive que implorar ao seu pai para me dar o
emprego, sabe?
Sophie parece desconfiada, seus lábios pressionados por um
bom número de momentos antes de finalmente lançar os olhos
para a bancada.
— Também não tenho muitos amigos.
— Bem... Nós podemos ser amigas. Talvez? O que você
acha?
Sophie me olha de cima a baixo, parecendo considerar.
— Você é bonita — diz ela finalmente.
— Não tão bonita quanto você — eu digo. — Olha essas
sardas!
Sophie estreita os olhos.
— Sardas não são bonitas.
— Você está certa — suspiro enquanto coloco minhas mão
na cintura. — Elas são lindas.
Sophie revira os olhos, mas há um leve sorriso em sua boca
ao fazê-lo. Percebo que ela não tem a mesma condição de seu
pai, mas seus olhos são do mesmo verde suave de seu olho
direito, complementando o lindo tom de seu cabelo. Ela é
adorável hoje em dia, mas já posso dizer que ela será um
verdadeiro arraso quando ficar mais velha. Sério, os genes.
— Certo — digo novamente. — Então, vamos limpar sua
primeira tentativa, pode ser?
Aiden ainda parece totalmente perplexo, como se ainda não
acreditasse que errou uma coisa tão universalmente conhecida
com seu nível de habilidade culinária, mas silenciosamente se
arrasta para o mesmo armário estreito para tirar uma vassoura e
um esfregão molhado.
— Desculpe — ele me diz. — Nós realmente queríamos
tentar fazer algo legal.
Eu dou de ombros, puxando o elástico do meu pulso e
estendendo a mão para amarrar meu cabelo.
— Está tudo bem. Sophie e eu cuidamos disso, não é?
— Por que eu tenho que ajudar?
— Preciso de uma assistente à altura se vou fazer panquecas
— digo seriamente. — Você parece a garota perfeita para o
trabalho.
Ela ainda não parece que confia muito em mim, mas seu
desejo por panquecas deve exceder sua cautela em relação a
mim, e ela pula timidamente da banqueta para cruzar
cautelosamente a cozinha para ficar ao meu lado.
— Eu acho que sim.
Ela realmente não dá um sorriso.
Eu já gosto dela.

■□■

A segunda tentativa de fazer panquecas é muito mais tranquila


do que a primeira, a bagunça foi limpa e o grande chef (mas não
o fabricante das panquecas) e a pequena eu estamos
cantarolando em torno de xarope e bolo.
— Elas estão muito boas — Sophie se empolga. — Papai
nunca acerta. Elas ficam sempre muito moles.
— Oh, então você gosta delas — Aiden bufa. Ele olha para
as panquecas como se elas o tivessem ofendido. — Eu deveria
comprar um mixer de verdade.
Eu sorrio ao redor do meu garfo.
— Como você não tem um mixer?
— Eu não asso muito.
— Claramente — eu digo com um sorriso. — Você sabe que
existe massa pronta, não é?
— Massa pronta vai contra cada fibra do meu ser — zomba
Aiden.
Eu mantenho minha expressão séria, apontando para a
louça empilhada em sua pia com meu garfo.
— Sim. Claramente isso é melhor.
— Cassie tem que fazer todas as panquecas de agora em
diante — diz Sophie com naturalidade.
Aiden compartilha um olhar agradecido comigo, e é preciso
muito esforço da minha parte para não deixar meu olhar se
demorar no brilho conflitante de seus olhos.
— Eu acho que para a segurança da cozinha do seu pai, isso
é o melhor — digo sem expressão.
Aiden abafa uma risada.
— Todo mundo sabe ser um crítico.
Quando os pratos estão vazios e os garfos caem sobre eles,
Sophie dá um tapinha na barriga com um som satisfeito, um
sorrisinho contente no rosto.
— Você é legal, eu acho — ela me diz, rapidamente
disfarçando seu sorriso em uma expressão mais severa. — Mas
você não pode entrar no meu quarto.
— Eu não sonharia com isso — asseguro a ela. — Mas você
pode entrar no meu, se quiser. Tenho jogos de tabuleiro que
estão vindo com minhas coisas amanhã. — Eu olho de volta
para Aiden. — A propósito, onde fica meu quarto?
— Oh. Sim. Claro. — Ele desliza da banqueta, puxando o
avental sobre a cabeça enquanto os músculos de seus bíceps se
contraem e flexionam-se contra o algodão justo de suas mangas.
Não é algo que eu já tenha notado em um homem, bíceps
contra as mangas. — É lá embaixo. Eu posso te mostrar...?
— Perfeito. — Desço do meu banquinho, pego a bolsa que
deixei na escada e a jogo no ombro. — Mostre o caminho.
— Portanto, todo o primeiro andar será seu — Aiden me
diz quando estamos perto do patamar inferior. — O quarto
tem um banheiro anexo e tem uma TV lá, então você deve ter
tudo o que precisa, mas basta pedir caso tenha algo mais que eu
precise conseguir para você.
Aiden aponta para a porta logo na entrada para que eu possa
abri-la, e bem ali há um quarto quase maior do que todo o meu
apartamento. A cama queen-size com dossel está coberta com
roupa de cama cinza (chocante); a cômoda e as mesas de
cabeceira são de um preto elegante que combina com o resto da
decoração da casa. Eu fico boquiaberta olhando ao redor do
quarto com admiração, tentando pensar em uma época em que
dormi em uma cama tão boa. Se alguma vez já dormi.
— Se você quiser mudar alguma coisa — diz Aiden baixinho
atrás de mim — nós podemos...
— É perfeito. Sério, é melhor do que todo o meu
apartamento.
Ouço Aiden suspirar de alívio.
— Bom. Eu quero que você fique confortável aqui.
— Realmente azarado no departamento de babá, hein?
— Você não tem ideia. — Aiden se encosta no batente da
porta. — Ela passou por muita coisa. Acho que é por isso que
ela se comporta mal às vezes. Estou sempre tentando o meu
melhor para fazê-la se abrir e falar sobre isso, mas ela é... — Ele
inspira pelo nariz apenas para expirar pela boca, balançando a
cabeça. — É como se falássemos uma língua diferente, às vezes.
— Alguma coisa... — Eu largo minha bolsa no tapete,
coçando meu pescoço desajeitadamente. — Espero não estar
passando dos limites, mas achei que deveria... No caso de
acabar falando algo insensível por acidente, sabe. A mãe de
Sophie... Ela...?
Ele não responde por um momento, mordendo o lábio
como se estivesse tentando decidir como abordar o assunto. Sei
que tem que haver uma história e odeio perguntar logo no
primeiro dia, mas odeio a ideia de acidentalmente falar algo
errado em algum momento porque não sei toda a história.
— Ela faleceu — diz Aiden finalmente, meio sussurrando.
— Há quase um ano. AVC.
— Oh Deus. — Eu esperava um divórcio ruim ou algo
assim. Não isso. — Isso é terrível. Eu realmente sinto muito por
sua perda.
— Foi... repentino. Nenhum de nós esperava. Ela era tão
jovem, afinal. — Aiden suspira, passando os dedos pelos
cabelos. — Ela era ótima — ele me diz. — Uma mãe incrível.
Ela era muito melhor do que eu. Ainda estou descobrindo
como fazer isso sem ela.
De repente, me sinto muito pior com todos os meus
pensamentos persistentes sobre as suas mãos como a de um
apanhador de beisebol, voluntários ou não.
— Eu realmente sinto muito — digo sem jeito. — Por
quanto tempo vocês foram casados?
As sobrancelhas de Aiden se juntam.
— O quê? Oh. Não. Nós não éramos. Nós nem estávamos
juntos. — Devo parecer confusa. Deve ser por isso que Aiden
decide esclarecer. — Sophie foi... hum, inesperada. Rebecca e
eu nos conhecemos em uma festa durante nosso último ano na
faculdade e nos encontramos casualmente por um tempo.
Quando Rebecca descobriu que estava grávida, tentamos um
relacionamento real, mas ficou bem claro desde o início que
nunca daria certo entre nós. No entanto, fizemos o possível
para dividirmos a guarda da maneira mais tranquila possível.
Pelo bem de Sophie.
— Oh. — Eu olho para os meus sapatos, ainda me sentindo
estranha. — Tenho certeza de que tem sido difícil para Sophie.
— Tem — Aiden concorda. — Desculpe por despejar isso
em você. Achei que poderia ajudá-la a entendê-la melhor. Se
você estivesse a par da situação.
— Não, estou feliz que você me disse — eu digo
honestamente. — Obrigada.
— Verdade seja dita, eu poderia ter estado mais presente
nesses últimos anos. Quando fui promovido a chef executivo,
tudo ficou tão agitado, e eu... Eu não dei a atenção que deveria
ter dado para ela. Estou pagando por isso agora.
Sinto uma pontada de simpatia por Sophie então, sabendo
exatamente como é ficar em segundo lugar na carreira de um
pai. E continuar estando. Aiden parece estar tentando agora,
pelo menos.
— Quero dizer... nunca é tarde demais, certo? — Eu tento
dar um sorriso encorajador. — Ela ainda é tão jovem. Você vai
resolver.
Aiden me dá um sorriso igualmente suave.
— Eu espero que você esteja certa.
O grande quarto parece menor agora que estou parada ali
como uma idiota, sorrindo para o homem bonito na minha
porta, e finalmente tenho que usar o velho olhar distraído
olhando ao redor do quarto, fingindo admirar a pintura de...
Oh. Isso é fumaça? Fumaça abstrata? Eu realmente tenho que
colocar um pouco de cor nesta casa.
— Ok. — Aiden deve sentir minha energia desconfortável,
já que ele escolhe agora se afastar do batente da porta. — Bem.
Eu... vou deixar você desfazer as malas então.
— Eu não tenho muita coisa — eu admito. — O resto chega
amanhã.
— Certo. Bem. Posso terminar de te mostrar quando você
acabar. A área de estar fica toda no segundo andar. O meu
quarto e o da Sophie ficam no terceiro.
— Legal — digo.
Por que isso é legal? Por que eu disse que era? As pessoas
ainda dizem legal?
— Eu vou deixar você com isso, então — diz Aiden.
Eu não respiro até que ele esteja fora de vista, xingando
baixinho pelo meu comportamento nada legal, agindo como
se nunca tivesse visto um cara gostoso antes. Mas, novamente,
eu nunca morei com um cara gostoso antes. Especialmente um
que tenta (e falha, mas é meio fofo) fazer panquecas e se
preocupa em como se conectar com sua filha.
É um trabalho, eu me lembro. É apenas um trabalho.
Aposto que a roupa de cama de Aiden também é preta.
Não que eu esteja pensando nisso.
É o primeiro presente que alguém me manda.
A embalagem é elegante, mas é o que está dentro que
realmente chama minha atenção.
O brinquedo é maior do que qualquer coisa que já usei
antes, e eu engulo em seco só de tirá-lo da caixa. Consigo
aguentar algo tão grande? Pego o bilhete que veio com ele;
uma estranha emoção percorre meu corpo enquanto
considero o fato de que um homem lá fora quer me ver
usar isto. Que ele está por aí imaginando agora.
Mal posso esperar para ver você usar isso. – A
Capítulo 3
Cassie

Eu termino de guardar minhas coisas e volto para o andar de


cima após o desastre da panqueca, encontrando Aiden sentado
na sala de estar lendo um jornal, com Sophie longe de ser
encontrada. Presumo que ela esteja no quarto em que não
posso entrar. Ele trocou a camisa por uma limpa (ainda preta,
mas de um tom diferente de preto, se é que é possível, então
acho que ele ganha pontos), mas não estou reclamando sobre o
tom monocromático de sua calça de moletom cinza pela
maneira em como ela se encaixa nele. Seu cabelo está menos
arrumado do que na noite em que o conheci, despenteado e
cacheado nas laterais como se ele simplesmente o tivesse secado
com a toalha depois de ter removido toda a massa de antes. Isso
o faz parecer ainda mais jovem do que normalmente.
Ele ergue os olhos do jornal quando percebe que estou
parada desajeitadamente no topo da escada, e folheia a página e
me dando um sorrisinho.
— Tudo certo?
— Sim. — Cruzo os braços, me sentindo estranha. A ideia
de que eu realmente moro aqui agora está meio que desabando
sobre mim de uma só vez. — O quarto é ótimo.
— Estou feliz. Pode sempre me dizer se precisar de alguma
coisa. Posso cuidar do que você precisar.
Oh garoto.
Em vez de responder, vou até a poltrona em frente ao sofá
em que ele está sentado, puxando minhas pernas para cima para
dobrá-las embaixo de mim. Na verdade, estou grata por seu
traje casual, fazendo com que eu me sinta melhor em minhas
leggings e camiseta longa. Quer dizer, eu sei que ele não
mencionou um uniforme nem nada, mas mesmo assim.
Mas caramba, se suas calças de moletom não são uma
distração.
Eu aceno para o jornal que ele ainda está folheando.
— Alguma coisa interessante aí?
— Na verdade não — diz ele com um encolher de ombros.
— Eu os pego mais pelas palavras cruzadas.
Por que isso é fofo?
— Você sabia que alguém que é bom em palavras cruzadas
é chamado de cruciverbalista?
Ele abaixa o jornal e ergue uma sobrancelha para mim.
— Como diabos você sabe disso?
— Eu li em uma tampa do chá Snapple — digo. — É de
onde eu tiro oitenta por cento do meu conhecimento.
— Você deve beber muito Snapple.
— Ah, um monte. Aposto que meu sangue virou chá de
pêssego neste momento.
Aiden sorri, balançando a cabeça.
— Algum outro fato interessante que eu deva saber?
— Os humanos são um pouco mais altos pela manhã do que
à noite.
Sua testa enruga.
— Isso não pode ser verdade.
— Totalmente é.
— Eu não tenho certeza sobre isso — ele ri.
— Aposto que você vai se medir agora para verificar.
— Hum. — Ele considera isso com uma expressão culpada.
— Eu invoco a Quinta Emenda.
Ele ainda está sorrindo enquanto vira para a outra página, e
eu bato meus dedos contra minha coxa.
— Então... não irá cozinhar esta noite?
— Entrarei mais tarde. Antes do serviço de jantar. — Ele
olha para mim. — Queria garantir que eu estivesse aqui quando
você chegasse.
— Eu agradeço.
Há um pouco de silêncio constrangedor. O resultado de
dois estranhos que agora vivem juntos, tenho certeza.
— Então... — Eu me mexo um pouco na poltrona para
poder olhar para outro lugar que não seja o rosto de Aiden, o
que também é uma grande distração. — Devemos suspeitar
que Sophie coloque sujeira na minha cama esta noite, ou ela vai
me deixar ter uma falsa sensação de segurança antes de fazer
comigo o mesmo que em Esqueceram de Mim?
Aiden ri de novo, e eu me lembro de quão bom é o som.
— Talvez você deva verificar o topo das portas antes de abri-
las, só por segurança.
— Pelo menos eu tenho meu próprio banheiro — eu indico.
— Talvez eu possa ficar de olho no meu shampoo para que ela
não coloque creme depilatório nele.
— O pior que ela pode fazer é deixar as toalhas no chão —
Aiden reclama, totalmente como um pai. — Você compra um
toalheiro para a garota e ela a joga bem ao lado dele. Não posso
nem falar sobre os sapatos dela no chão do quarto.
— Sem toalhas no chão do meu banheiro — digo
seriamente. — Entendido.
— Oh. — Ele parece um pouco envergonhado. — Não. É o
seu quarto. Não me escute, eu só sou...
— Obcecado por limpeza?
— Eu não diria isso — ele murmura. — Gosto das coisas no
lugar delas.
É estranhamente fofo que ele esteja tentando fingir que não
é um maníaco por controle total quando isso está escrito em
seu rosto.
— Entendi. — Eu mantenho minha expressão uniforme. —
Portanto, esta é provavelmente uma má hora para falar sobre
minha rede coletiva de fazendas de formigas então? — Aiden
parece horrorizado, e eu não posso deixar de cair na gargalhada.
— Brincadeira.
— Hilário.
Mais silêncio. Eu odeio o silêncio. Isso sempre me deixa
ansiosa. Resolvo mudar de assunto.
— Deve estar sendo um grande desafio para Sophie. Este
ano.
— Tem sido difícil, com certeza. — Ele coloca o jornal ao
seu lado no sofá. — Elas eram próximas. Quero dizer, tenho
certeza que você sabe como é, toda essa coisa de vínculo entre
mãe e filha.
Eu tento sorrir, mas é forçado.
— Na verdade, não.
— Oh. Merda. Desculpe. Ela...?
— Ela está viva, não se preocupe. — Eu rio amargamente.
— Meus pais nunca foram do tipo carinhosos. Eu não falo com
eles há... muito tempo.
— Sinto muito — diz ele novamente. — Isso é terrível.
— É o que é. Eu acho que você não pode culpá-los por serem
pais terríveis quando eles nunca quiseram ser pais em primeiro
lugar.
— Quero dizer, você pode — ele argumenta. — Como um
pai meio que abaixo da média, sou o especialista no assunto.
Eu sorrio.
— Eu não acho que você é um pai abaixo da média. Quero
dizer. Você está aqui. Você está cuidando dela. Isso já é metade
da batalha.
— Certo. — Os olhos de Aiden de repente ganham um
olhar distante. — Estou tentando.
— Isso é tudo que uma criança quer, para ser honesta. Elas
só querem que você dê o seu melhor.
A boca de Aiden faz essa coisa, não exatamente um sorriso,
mas quase isso, e seus olhos se movem para encontrar os meus,
o verde suave e o castanho faz com que seja difícil de desviar o
olhar.
— Obrigado.
— Então, devemos repassar no que você precisa de mim um
pouco mais — digo, mudando de assunto novamente.
As sobrancelhas de Aiden se erguem.
— No que eu preciso de você?
Ah, merda. Isso soou estranho? Não soou estranho na
minha cabeça.
— Eu já sei o básico, e você me deu sua agenda e falou das
alergias de Sophie, mas ela tem algum clube depois da escola?
Algum treino de futebol que eu precise saber? Que tal uma lista
com números de parentes no caso de alguma emergência ou
algo assim? Eu não quero deixar entrar um esquisito fingindo
ser o tio dela ou algo assim.
— Oh. — Aiden observa enquanto eu desdobro minhas
pernas, seguindo a maneira como deixo meus pés caírem no
chão, seu olhar pensativo. — Ela ainda não entrou em nenhum
clube. É um novo ano escolar, afinal, ela ainda está se
acomodando. Nenhum tio estranho que eu conheça. Meus
pais moram do outro lado do país, então só os vemos nos
feriados. Rebecca tem uma irmã, Iris, então ela pode aparecer
de vez em quando para ver Sophie. Posso deixar o número do
restaurante para você e, claro, devemos trocar nossos números.
— Números?
— Não é muito prático ficar trocando e-mails
indefinidamente — ressalta. — Já que estamos morando juntos
e tudo.
Ele tinha que me lembrar.
Estou morando com esse homem lindo. Não que tenha
motivo para ficar tão perturbada com o lembrete, já que é tudo
contratual. Não é como se isso importasse, de qualquer
maneira. É completamente irrelevante o quão bom é olhar para
Aiden, já que eu sou a babá, e ele está absolutamente,
positivamente fora dos limites. Eu quase posso rir de toda essa
linha de pensamento; Aiden é bem-sucedido, bonito e está fora
do meu alcance. Ele provavelmente trará encontros para casa
regularmente.
Oh Deus. Eu não tinha pensado nisso. Espero sinceramente
que não seja algo que eu tenha que descobrir tão cedo.
— Certo — eu consigo dizer. — Números. Me dê seu
telefone e enviarei uma mensagem de texto para mim mesma.
Aiden levanta os quadris do sofá para enfiar a mão no bolso
em busca do celular, e acho que não preciso explicar por que
esse movimento de um cara gostoso usando moletom cinza me
faz passear com os olhos. Ele me entrega seu telefone, e
imediatamente noto sua foto de papel de parede, dele e uma
sorridente Sophie no que parece ser um parque. O vento está
despenteando seus cabelos, e o sorriso de Sophie é largo e
brilhante e ligeiramente torto, um de seus incisivos ainda
crescendo.
— Esta é uma bela foto — observo enquanto abro suas
mensagens.
— Foi um bom dia. — Aiden sorri com carinho. — Não foi
muito tempo depois, hum... depois de Rebecca.
— Desculpe — eu digo, com medo de ter tocado em um
ponto dolorido. — Eu não queria...
— Não, não. Sério. Está tudo bem. Foi o primeiro momento
que eu lembrei de Sophie sorrindo assim. Depois que
aconteceu. Eu gosto de me lembrar disso.
— Eu entendo — respondo calmamente. — É uma ótima
foto.
— Obrigado.
Eu mando uma mensagem de texto para mim mesma,
sentindo meu telefone vibrar no meu bolso, então devolvo o de
Aiden para ele.
— Tudo feito. Vou mandar uma mensagem para você se eu
incendiar a casa.
— Eu gostaria disso — Aiden ri.
Eu dou de ombros.
— Acho que é um ato de cortesia simples.
— Claro.
Ele abre a boca para dizer mais alguma coisa no momento
que há o barulho de passos descendo as escadas, um flash de
cabelo castanho na minha visão periférica quando Sophie
pousa no final.
— Pai, as pilhas do meu controle estão fracas — ela bufa. —
Temos mais algumas?
Aiden fecha a boca, o que quer que ele estivesse prestes a
dizer morrendo em sua língua enquanto se levanta do sofá para
caminhar em direção à cozinha.
— Elas estão na gaveta perto da pia — ele diz a ela. — Deixe-
me pegá-las para você.
Eu viro minha cabeça para notar Sophie me olhando.
— Você vai fazer o almoço?
— Isso depende — digo suavemente. — Você vai me ajudar?
— Não é seu trabalho me alimentar?
Eu pressiono meus lábios juntos, balançando a cabeça como
se estivesse considerando.
— Isto pode ser verdade. Mas você sabe que tenho todo o
poder quando se trata de decidir se você vai comer borscht ou
pizza, certo?
— O que é borscht?
— É sopa de beterraba, basicamente — Aiden diz por cima
do ombro, ainda procurando por pilhas. — É muito bom. Mas
meio azedo. É bom com creme azedo.
— Eca. Ela não pode me alimentar com isso, pode?
Aiden se vira para se encostar no balcão, segurando as pilhas
que encontrou e encolhendo os ombros enquanto dá a Sophie
um olhar indiferente.
— Ela é a chefe quando não estou aqui.
Sophie se vira para estreitar os olhos, franzindo a testa para
mim enquanto dou a ela meu sorriso mais doce.
— Tudo bem — ela cede. — Eu a ajudo. Mas sem beterraba.
Ela pega as pilhas que seu pai está oferecendo enquanto sobe
as escadas, e Aiden sorri para mim da cozinha, parecendo
divertido.
— Você vai fazer ela se esforçar, não é?
— Esse é o plano — asseguro-lhe. — Até vocês se livrarem
de mim.
O sorriso de Aiden se abre mais.
— Você pode ser a única pessoa nesta cidade que tem uma
chance real de lidar com a minha filha — diz ele. — Eu não acho
que posso deixar você ir embora, desculpe.
Eu sei que ele está brincando, mas ainda causa algo
engraçado dentro de mim.
— Então — digo, me empurrando para fora da poltrona e
batendo palmas enquanto levanto minha voz para um efeito
dramático. — Onde você guarda as beterrabas neste lugar?
— Sem beterraba! — A voz de Sophie ressalta na parte de
cima das escadas.
Aiden cobre a boca com a mão para esconder a risada.

■□■

O resto das minhas coisas chega domingo à tarde, depois que


Aiden já saiu para o trabalho, e passo algum tempo guardando
tudo, dando à enigmática garotinha que está determinada a não
chegar muito perto de mim um momento para respirar antes
de eu subir e começar a tentar fazê-la gostar de mim. Minhas
tentativas até agora foram correspondidas com uma recepção
morna, na melhor das hipóteses.
— Acho que ela deve me odiar — digo a Wanda, usando
meu ombro para segurar o telefone no meu ouvido enquanto
penduro meu jeans. — Mas tenho certeza de que é mais uma
questão de princípios do que de eu mesma como pessoa, então
não estou levando para o lado pessoal.
— São todos aqueles hormônios de pré-adolescentes —
Wanda reflete.
Eu torço meu nariz.
— Ela tem apenas nove anos.
— Bem, talvez seja uma escolha pessoal dela ser difícil então,
eu não sei.
— Eu ainda sou uma estranha — eu rio. — Acho que
podemos dar uma folga para ela. Além disso, eu totalmente irei
conquistá-la. Apenas espere.
— Eu aposto que sim — Wanda ri. — Como é a casa? Existe
um porão? Ele já pediu para você usar fralda?
— A casa é incrível. Meu quarto talvez seja maior do que
todo o meu antigo apartamento. No entanto, nenhuma
evidência de um porão. Além disso, é mais como uma calcinha
com enchimento, e ele pediu com jeitinho, então...
— Um dia desses você vai me dar um ataque cardíaco com
suas bobagens, e quem vai rir então?
— Bem, não você, presumivelmente.
— Oh, haha. Então, o que você achou da família?
— Sophie é muito fofa. Teimosa como o inferno, no
entanto. Eu posso dizer que ela vai ser um osso duro de roer.
— E o pai?
— Aiden é... — Eu paro com a mão no cabide, pensando na
melhor forma de descrevê-lo. — Ele é muito legal. Você pode
dizer que ele ama Sophie e está bem determinado a garantir que
eu fique confortável aqui. Parece que eles tiveram um pouco de
azar no departamento de babás ultimamente.
— Elas provavelmente estão todas presas no porão.
— Bem, pelo menos terei companhia quando ele me jogar
lá embaixo.
— Você ri agora, mas não venha chorar quando ele aparecer
com coisas para te amarrar.
Uau, isso não deveria soar meio atraente. Digo a mim
mesma que é uma reação natural a alguém que tem uma
aparência como ele, e que vai melhorar quanto mais
convivermos juntos. Com certeza.
Eu definitivamente não posso dizer a Wanda que Aiden é
gostoso. Ela vai ficar completamente insuportável com isso,
tenho certeza.
— Eles são pessoas perfeitamente legais, e esta é uma casa
perfeitamente legal, e eu estou perfeitamente segura. Eu
prometo.
— Sim, bem. Certifique-se de manter esse rastreador
funcionando no seu telefone.
— Estamos compartilhando localizações. Não preciso ligá-
lo.
— Bem, contanto que eu possa te encontrar quando ele te
jogar no porão.
— Sim, eu também te amo.
— Sim, sim.
— Como foi o bingo?
— Ganhei uma suculenta.
— Mas você não sabe ser mãe de planta.
Ela zomba.
— É um cacto! Você nem precisa fazer nada com ele.
— Não, você definitivamente tem que regar.
— Não, não precisa. Eles produzem sua própria água.
Balanço a cabeça, pensando naquela pobre planta que com
certeza irá morrer.
— Apenas jogue um pouco de água nele de vez em quando
— insisto. — Por mim.
— Ah, tanto faz.
— É melhor encerrarmos — digo a ela. — Já terminei de
desfazer as malas, então é hora de eu ir e tentar domar a
criaturinha fofa.
— O truque é não demonstrar medo.
Eu sorrio para o receptor do celular.
— Anotado.
— Ligue-me amanhã.
— Eu vou, eu vou.
Nós nos despedimos antes de eu guardar meu telefone no
bolso, dando uma última olhada ao redor do quarto e
balançando a cabeça em satisfação. Eu ainda não consigo
superar o quão grande é. Eu poderia praticamente abrir um
estúdio de dança em cada lado da cama. Eu acho que dei a
Sophie um espaço bastante considerável de tempo, e tenho
uma conversa motivadora comigo mesma antes de sair do meu
quarto em uma tentativa de convencê-la a sair do seu.
É a primeira vez que subo as escadas, já que ontem à noite
ela alegou que tinha dever de casa e se isolou em seu quarto. Eu
bato na porta, tomando cuidado para não entrar mesmo depois
que ela responde, espreitando minha cabeça pela porta em vez
disso.
— Ei. Mais dever de casa?
Ela pausa seu Nintendo Switch para franzir a testa para
mim.
— Já terminei.
— Oh, isso é bom.
— Você precisa de algo?
Eu sei que ela está tentando ser uma pirralha, mas ela é tão
fofa que ainda me dá vontade de sorrir.
— Ah, nada demais. Tenho uma enorme tigela de pipoca no
andar de baixo e todos os três filmes do Shrek em Blu-ray.
Seu nariz se enruga.
— O que é Shrek?
— Você nunca viu Shrek?
— Não.
— Sophie. É um fenômeno cultural. Uma história de amor
épica. Uma obra-prima cômica. Não posso, em sã consciência,
permitir que você continue na vida sem ter visto.
— Parece estranho.
Eu empurro a porta um pouco mais aberta, inclinando-me
contra o batente.
— Há princesas nele.
— Estou muito velha para as princesas — ela diz
estoicamente.
— Bem, quando terminarmos, podemos visitar a casa de
repouso.
Seus lábios se contraem.
— Você não vai me deixar em paz, vai?
— Sem chance, boneca. — Eu sorrio.
Ela parece irritada durante toda a descida da escada, e depois
relutante, quando se acomoda no sofá da sala, mas noto que ela
não hesita em pegar um punhado de pipoca, mesmo que
mastigue com um pouco mais de agressividade do que o
necessário.
— Por que se chama Shrek?
Aperto o play enquanto o logotipo da DreamWorks desliza
pela tela.
— Porque esse é o nome dele.
— É um nome estranho.
— Bem, ele é um ogro. Então.
— Eca. Eu pensei que você disse que isso era sobre
princesas?
— Não, eu disse que tinha princesas.
Ela faz uma careta quando a cena de abertura começa.
— Que música estranha é essa?
— Oh meu Deus, Sophie. Eu não vou deixar você sentar aí
e falar mal de Smash Mouth.
— Isso é música de gente velha?
Eu puxo minha tigela de pipoca para longe de sua mão
estendida.
— Senhorita, você quer perder seus privilégios de pipoca?
— Tudo bem — ela bufa. — Acho que é ok.
Sua enxurrada de perguntas continua até as proclamações
de Burro sobre ficar acordado até tarde e trocar histórias,
finalmente rindo quando Shrek o expulsa de casa e o faz fazer
beicinho. Eu dou uma olhada para ela, e ela imediatamente
tenta mascarar sua alegria.
— Eu acho que é meio engraçado.
— Apenas espere até conhecer Lorde Farquaad — eu digo.
Parece que ela prefere arrancar os cabelos do que admitir
que está gostando do filme, e percebo que ela está olhando para
nossa pipoca que está acabando.
Eu pego a tigela.
— Quer que eu faça mais? Temos a noite toda. Podemos
totalmente fazer uma maratona.
Eu posso ver as rodas girando em sua cabeça enquanto seus
olhos disparam da tigela de pipoca para a tela da TV, seu desejo
óbvio de continuar assistindo guerreando com sua
determinação de permanecer desinteressada na "inimiga" que é
sua nova babá.
— Eu acho que isso seria legal — ela finalmente admite.
Eu faço uma dança silenciosa de vitória em suas costas
enquanto vou para a cozinha pegar mais pipoca.

■□■
Eu não sei em que momento adormeci; Sophie dormiu algum
tempo depois do jantar perto do final do segundo filme, e eu
me lembro claramente de começar o terceiro, mas quando
acordo com a sensação de uma mão quente no meu ombro e
um corpo ainda mais quente ao meu lado, meus olhos se abrem
principalmente para a escuridão. Sophie rastejou contra mim
enquanto suspira baixinho de sono, e quando meus olhos se
ajustaram à escuridão da sala iluminada apenas pelo brilho
suave da tela do menu do terceiro filme de Shrek, vejo um rosto
familiar pairando sobre mim enquanto a mão de Aiden
gentilmente me sacode.
— Desculpe — diz ele em voz baixa. — Não pensei que você
iria querer passar a noite toda aqui.
Sento-me mais reta, com cuidado para não incomodar
Sophie.
— Que horas são?
— Pouco depois das nove — ele me diz. — Acho que vocês
não terminaram o filme?
Eu sufoco um bocejo.
— Tenho dado à sua filha uma importante lição sobre os
clássicos do cinema.
— Claramente — Aiden ri enquanto olha para a tela do
menu ainda passando na TV.
— Como foi o trabalho?
— Uma noite surpreendentemente lenta — diz ele, indo
para o outro lado da forma adormecida de Sophie para se sentar
ao lado dela. — Não é sempre que chego em casa tão cedo. —
Ele estende a mão para afastar o cabelo de Sophie de sua testa,
sorrindo. — Parece que ela está começando a gostar um pouco
de você.
— Não se engane — digo a ele calmamente. — É como
domar um gato selvagem. Quando ela acordar de novo, ela vai
ser uma criaturinha fofa novamente.
— Eu aprecio seu valente esforço. — Os olhos de Aiden me
analisam com curiosidade. — Você já está pensando em
desaparecer no meio da noite?
— Ah, minha mochila está escondida embaixo da escada —
eu digo séria. — Estou esperando uma abertura.
Mesmo quando ele parece exausto, seu sorriso faz meu
coração palpitar.
— Acho que eu deveria conseguir fechaduras melhores.
— Eu já te contei sobre a teoria do porão da minha amiga?
Ele faz uma careta.
— Eu quero saber?
— Depende. Qual é a sua opinião sobre piadas de sequestro?
— Acho que este é um bom momento para deixar claro que
na verdade não tenho um porão.
— Minha amiga diria que é isso que você quer que eu pense
— respondo severamente.
Sua risada de resposta rapidamente se transforma em um
bocejo, e ele esfrega os olhos.
— Vou desmaiar no meio da conversa se não tomar cuidado.
— Oh, certo. Deixe-me...
Eu tiro o cobertor que peguei do encosto da poltrona dos
meus ombros com a intenção de me desvencilhar de Sophie,
para que Aiden possa colocá-la na cama, só percebendo assim
que eu tirei, que a gola da minha camiseta escorregou por cima
do meu ombro, deixando à mostra um bom pedaço de pele e a
alça do sutiã e, a julgar pelo ar frio, até mesmo um pouco de
decote. Ótimo. Aiden tosse enquanto desvia os olhos à medida
que eu me arrumo, e fico grata pela escuridão da sala no
momento que coloco tudo de volta no lugar.
— Desculpe — murmuro.
Aiden dá uma espiada para ver se é seguro, balançando a
cabeça.
— Tudo bem. Eu deveria levá-la para a cama. Escola
amanhã cedo e tudo mais.
— Certo. Desculpe. Eu não queria adormecer. Ela estava
gostando dos filmes.
— Está tudo bem — ele me assegura. — Estou feliz que você
a tirou do quarto.
— Obrigada por me acordar — digo a ele, esfregando meu
pescoço. — Eu teria ficado dolorida de manhã se tivesse
dormido aqui a noite toda.
— Sim — ele dispara de volta, gentilmente pegando sua filha
adormecida. — Achei que seria melhor colocar você na cama.
Ele para quando está de pé novamente com Sophie em seus
braços, parecendo surpreso consigo mesmo.
— Quero dizer... Eu quis dizer mandar você para a cama.
— Certo — respondo secamente, meu rosto corando
ligeiramente. — Sim. Eu sei o que você quis dizer.
— Desculpe, estou cansado.
— Claro. — Eu esfrego meu braço desajeitadamente. —
Tenho certeza.
Ele permanece lá por um momento, Sophie ainda aninhada
em seus braços, olhando para mim como se não tivesse certeza
do que dizer agora. Decido salvar nós dois.
— Enfim... — Abro um sorriso. — Vejo você pela manhã?
— Claro. Boa noite, Cassie.
Agora, Aiden disse meu nome antes, durante a entrevista,
no mínimo, mas algo sobre ouvi-lo em uma sala escura, com
apenas a luz suave da televisão clareando suas calças pretas e sua
camiseta preta que ele deve usar sob seu casaco de chef, parece
diferente de alguma forma. Isso me dá uma estranha sensação
de déjà vu que não consigo explicar. Como se eu já tivesse
escutado antes. Devo estar muito cansada.
— Boa noite, Aiden — digo de volta suavemente, não tenho
certeza de onde minha voz saiu.
Felizmente, por mais escuro que esteja, sei que ele não
consegue ver o rubor subindo pelo meu pescoço enquanto me
movo rapidamente da sala em direção às escadas, ouvindo seus
passos silenciosos se arrastando na outra direção enquanto ele
carrega Sophie para o próximo andar. Eu espio a cena atrás de
mim antes de ir para o meu quarto, assistindo as costas de
Aiden enquanto ele se afasta, vendo ele se inclinando para
pressionar um beijo na testa adormecida de Sophie e sentindo
algo puxando em meu coração por razões que não posso
explicar.
Ele realmente está tentando, eu penso.
Eu sorrio por todo o caminho descendo as escadas.
Bate papo com @lovecici

Eu queria saber se você faz shows


privados.

Às vezes. Eu ainda sou meio nova


nisso.

Qual o valor?

São US$100 por um show de vinte


minutos.

Você mandou para @lovecici


uma gorjeta de $100

Eu quero um, por favor.


Capítulo 4
Aiden

— Sophie! — Eu chamo escada acima pela segunda vez. —


Vamos nos atrasar! — Eu levo meu celular de volta ao meu
ouvido e continuo andando no primeiro andar. — Desculpe.
Diga-me o que aconteceu.
Ouço Marco, meu subchef, suspirar do outro lado da linha.
— Alex esqueceu de colocar as vieiras na geladeira ontem à
noite depois da preparação.
— O quê?
— Sim. Estão arruinadas.
— Você só pode estar brincando comigo.
— Não. — Posso ouvi-lo se remexendo na cozinha do
restaurante. — E, pelo que sei, esse era todo o nosso estoque da
entrega desta semana.
— Que porra.
— Eu sei. Estamos sem nada até que eles entreguem
novamente na sexta-feira.
— Então, devemos dizer a cem pessoas que fizemos merda e
que estamos sem nosso aperitivo mais popular.
— Se isso faz você se sentir melhor — diz Marco — eu fiz
Alex ligar para Joe e contar ele mesmo.
Reviro os olhos. Joseph Cohen é muitas coisas, mas durão
não é uma delas. Ele estará confortando Alex antes que a
conversa termine. Toda a parte de repreender Cohen será
deixada para mim.
Afasto o telefone do ouvido, ainda procurando por minha
filha.
— Sophie!
— Você quer que eu leve Sophie para a escola?
Eu me assusto quando percebo Cassie parada perto da porta
de seu quarto.
— Eu te acordei?
— Oh, não — ela me garante. — Eu já estava acordada. —
Ela olha para o meu telefone na minha mão, onde Marco ainda
está falando sobre algo. — Mas eu posso totalmente levá-la, se
algo aconteceu.
— Oh. Não, eu... — Levo o telefone ao ouvido e murmuro
para Marco me dar um segundo. — Eu quero levá-la. Tivemos
um leve desastre com vieiras no trabalho com o qual tenho que
lidar.
— Oh, tudo bem. Se você tem certeza. — Ela sorri para
mim. — Você sabia que uma vieira pode produzir até dois
milhões de ovos?
Eu faço uma careta.
— Snapple?
— Snapple — ela responde com um aceno de cabeça.
Eu me pego sorrindo apesar do que está acontecendo do
outro lado do meu telefone.
— Bom saber.
— Vou ver se consigo apressar sua filha — diz Cassie,
franzindo a testa para as escadas. — Aposto que ela não
conseguiu encontrar os sapatos de novo.
Posso ouvir Marco chamando meu nome de longe, mas
estou ignorando.
— Obrigado — digo a Cassie. — Isso seria ótimo.
— Sem problemas — diz ela, acenando para mim.
Ela começa a subir as escadas em busca de Sophie, e me pego
observando-a ir por um segundo a mais do que pretendia.
Afasto os olhos quando percebo o que estou fazendo, virando
as costas para a escada e dando toda a atenção a Marco
novamente.
— Olha. Ligue para os garçons e faça com que eles cheguem
cedo para uma reunião de equipe. Podemos alertá-los, e eles
terão que avisar as pessoas à mesa quando os sentarem. Posso ir
amanhã de manhã ao mercado de frutos do mar do outro lado
da cidade e conseguir o suficiente para durar até o caminhão
fazer a entrega.
— Ok. Claro. — Marco zomba. — Eu vou deixar Alex ligar
para eles. Deixe ele ouvir as reclamações dos garçons.
Isso me faz rir, apesar da minha crescente dor de cabeça.
— Bom plano. Chego mais tarde.
— Estaremos aqui.
— Certo. Tchau.
Desligo o telefone, guardando-o no bolso enquanto ouço
passos descendo as escadas. Eu me viro para ver Sophie
descendo os degraus de dois em dois, Cassie logo atrás. Eu jogo
minhas mãos para cima em pergunta.
— Por que a demora?
Sophie franze a testa.
— Não consegui encontrar meu sapato!
Eu olho para Cassie, que me dá um olhar de "eu avisei".
— Bem, vamos lá — apresso minha filha. — Aquela
professora com o apito vai gritar comigo de novo se chegarmos
atrasados.
Sophie ajusta sua mochila.
— Está bem, está bem.
— Obrigado por ir atrás dela — digo a Cassie.
— Sem problemas — diz ela. Ela acena com as mãos para
nós dois em um movimento de enxotar — Vão indo, vocês
dois. Posso confirmar que a moça do apito é assustadora.
Pego a mão de Sophie para puxá-la pela porta da frente em
direção ao carro e, apesar do que está me esperando no trabalho
esta noite, me pego sorrindo.

■□■

— Por que Cassie não está me levando para a escola?


— Eu tive tempo esta manhã. — Eu encontro o olhar de
Sophie no espelho retrovisor. — Eu pensei que nós não
gostávamos da Cassie?
Sophie franze os lábios, o rosto voltado para a janela
enquanto dá de ombros.
— Ela é ok.
— Apenas ok?
— Ela é meio estranha.
— É mesmo? Como assim?
— Ela está sempre tentando passar um tempo comigo —
Sophie bufa. — Ela não tem amigos adultos?
— Talvez ela goste de você — eu sugiro.
Sophie tenta parecer casual, mas não perco a maneira como
seus olhos se desviam para o lado para encontrar os meus
novamente no espelho.
— Você acha que ela gosta?
— Duvido que ela continuaria tentando passar tempo com
você se não gostasse — asseguro a ela. — Talvez você devesse
ser mais legal com ela.
— Eu sou legal com ela — Sophie murmura.
— Uh-hum.
— Ela não é tão chata quanto a última babá — Sophie diz
depois que passamos por outro quarteirão.
— Estou feliz que você pense assim — digo a ela.
Estou falando sério também. Depois de passar por quatro
babás no ano passado, eu estava quase desesperado quando o
currículo de Cassie chegou à minha caixa de entrada.
Levar Sophie ao restaurante era uma boa solução nesse meio
tempo, mas fazer com muita regularidade começou a desgastar
nós dois. Então pareceu um verdadeiro milagre quando Cassie
se inscreveu. Eu estava preparado para oferecer o que fosse
necessário para que ela aceitasse o emprego, convencido apenas
por seu currículo de que ela era a resposta que procurávamos.
Mas então eu a conheci.
Eu nem sei o que esperava; eu só pensei em suas credenciais
no curto período entre responder seu e-mail e vê-la pela
primeira vez, mas posso dizer com certeza que Cassie me pegou
de surpresa. Mesmo com o pequeno desastre do nosso primeiro
encontro, foi difícil fingir que não fiquei distraído por ela.
Não é nem um pouco apropriado para mim ter notado
como seu cabelo ruivo parece sedoso, ou como sua boca parece
carnuda. Definitivamente não é aceitável que meus olhos
tenham bebido na maneira como seu vestido preto abraçava
curvas perigosas antes de eu forçadamente guardar esses
pensamentos – e é isso que tenho feito desde então.
Eu tenho que me lembrar, uma vez por dia, de todas as
coisas que eu não deveria estar percebendo sobre Cassie. Como
o sorriso dela é bonito, ou como seus olhos azuis parecem
brilhantes quando ela ri, por exemplo. Em última análise,
tenho cem por cento de certeza agora que ela é a melhor pessoa
para o trabalho, e achá-la atraente em qualquer capacidade só
serve para potencialmente foder com a coisa boa que acabamos
de encontrar. Sophie é mais importante do que alguns
pensamentos rebeldes aos quais nunca poderei dar voz.
Mesmo que às vezes eles sejam mais altos do que eu gostaria
que fossem.
— O que aconteceu no trabalho?
A voz de Sophie me puxa para fora da minha própria cabeça,
lembrando-me do fiasco das vieiras.
— Alguém que não estava tão atento — resmungo. — Nós
vamos ficar sem um prato popular esta noite. As pessoas irão
reclamar.
— O que vocês estão sem?
— Vieiras.
Seu nariz enruga.
— Ai, credo. O que é isso?
— Mais ou menos como pequenos moluscos.
— Nojento.
— Bem, estou feliz que você não esteja chateada com isso —
eu rio.
— Cassie disse que vai me mostrar como fazer mini pizzas
com tortilhas para o jantar — diz Sophie. Ela faz parecer que
não está animada, mas posso dizer que é uma fachada. —
Aposto que elas são nojentas também.
— Parece bem legal para mim. Fico triste por perder.
Sophie faz beicinho.
— Queria que você pudesse ficar em casa esta noite.
— Desculpe. — Franzo a testa, me sentindo um idiota. —
Eu tenho que lidar com as vieiras nojentas. — Eu a olho no
espelho. — Vai ficar ainda mais cheio nas próximas semanas.
Estamos adicionando algumas coisas ao menu.
— Tudo bem — ela responde baixinho, tentando não
deixar sua decepção transparecer enquanto uma pontada de
culpa acerta meu peito.
Nosso último ano não foi fácil. Às vezes é um verdadeiro
pesadelo, e pensei mais de uma vez que se eu soubesse que
Sophie e eu iríamos acabar desse jeito, eu poderia ter escolhido
uma profissão diferente. Amo o que faço, mas odeio não poder
passar mais tempo com ela. Ela finge que isso não a incomoda,
as frequentes noites que eu fico fora até tarde, mas eu sei
melhor. Não há nada que eu possa fazer sobre isso agora.
— Você vai ter que me contar tudo sobre as mini pizzas
amanhã — ofereço.
Sophie assente.
— Ok.
Percebo sua escola aparecendo, sinalizando com minha seta
enquanto me preparo para entrar na linha de desembarque. Sei
que nas próximas semanas terei muito menos oportunidades de
levar ela para a escola, e isso só aumenta minha culpa. Acho que
é por isso que estou tão desesperado para Cassie e Sophie se
darem bem. Se eu pudesse imaginar Sophie se divertindo e não
se escondendo em seu quarto, eu poderia não me odiar
completamente por estar ausente.
— Diga a Cassie que é minha vez de escolher um filme esta
noite — Sophie me diz antes de sair do carro. — Ela escolheu
ontem.
Ela ainda está tentando parecer que não está muito
interessada. Quase me faz rir. Minha filha é muitas coisas, mas
ser difícil de ler não é uma delas.
Eu sorrio para ela.
— Eu farei isso.

■□■
Eu não vou para casa imediatamente; aproveito o tempo extra
desta manhã para passar na academia no caminho de volta, nem
que seja para diminuir o tempo que ficarei sozinho em casa com
Cassie, sem Sophie como proteção. Eu descobri durante esta
última semana que uma longa corrida na esteira geralmente
ajuda a garantir que eu esteja cansado demais para pensar no
que quer que Cassie esteja vestindo ou em como ela arrumou o
cabelo. Ela tem o hábito de prendê-lo em um coque bagunçado
no alto da cabeça, e embora não haja nada de especial no modo
como ela faz isso, faz com que seu pescoço pareça mais
comprido, mais fácil de notar. É mais uma coisa que eu não
deveria estar pensando.
Quando volto para a casa da cidade, estou exausto, suado e
precisando muito de um banho. Felizmente, é quase hora do
almoço, o que significa que, quando terminar tudo o que
preciso fazer antes do trabalho, posso fugir para o restaurante e
evitar momentos perigosos a sós com a babá de Sophie.
A casa está silenciosa quando passo pela porta da frente. Eu
penduro minhas chaves no gancho ao lado dela quando noto a
porta fechada do quarto de Cassie perto da escada. Eu
considero parar para checá-la, mas no fundo eu sei que não há
nenhuma razão real para isso, então eu passo direto ao invés de
subir as escadas. Repasso mentalmente minha lista de coisas
para fazer antes de ir trabalhar daqui a pouco. Ainda estou
trabalhando na lista em minha cabeça quando saio da base da
escada para ir em direção à cozinha. Talvez seja por isso que eu
não notei ela a princípio.
Atravesso a cozinha, abrindo a porta da geladeira para olhar
lá dentro e percebendo o tanto de coisas que estamos em falta.
Acho que preciso adicionar uma ida ao supermercado à minha
lista. Se eu conseguir encontrar tempo hoje, é claro.
— Posso ir mais tarde, se você quiser — ouço Cassie falar da
sala de estar, me assustando. — Só tenho mais algumas tarefas
para fazer.
Eu fico lá com a porta da geladeira aberta, distraído
momentaneamente por cachos ruivos bagunçados empilhados
no alto de sua cabeça. É um verdadeiro fardo manter meus
olhos lá e não deixá-los mergulhar para mais baixo, focando em
seu rosto em vez disso. Onde é seguro.
— Eu não vi você — eu digo a ela. — Desculpa.
Ela balança a cabeça, movendo-se na poltrona para levantar
o notebook que está entre suas pernas cruzadas.
— Tudo bem. Eu tinha algumas aulas que pensei em
avançar desde que você levou Sophie. A propósito, eu
totalmente a teria levado.
— Não, não, está tudo bem — asseguro a ela. — Eu queria.
— Alguma notícia sobre a situação das vieiras?
Eu resmungo enquanto balanço minha cabeça.
— Esta noite será praticamente um fracasso. Espero poder
encontrar mais algumas para amanhã, pelo menos. Se tivermos
que chegar ao fim da semana sem nada, as pessoas vão perder a
cabeça.
— Oh, não — diz ela com uma pitada de diversão em sua
voz. — Um vieiralipse.
Eu gemo com sua piada terrível, mas não posso deixar de
sorrir enquanto cubro meus olhos.
— Isso foi horrível.
— É mais ou menos onde eu fico, em termos de humor. Em
algum lugar entre horrível e péssimo. — Os lábios de Cassie se
curvam em um sorriso, e isso também é uma distração. Neste
ponto do nosso arranjo de moradia, só espero não estar
inconscientemente fazendo uma cara estranha quando olho
para ela. — Mas não tenho muito o que fazer aqui — ela me
diz. — Eu posso ir para o supermercado, se você quiser.
Economizar uma viagem sua.
Eu olho para trás na geladeira, lembrando da minha linha de
pensamento anterior antes de pegar uma garrafa de água de
dentro.
— Isso seria ótimo, na verdade. Posso deixar meu cartão de
crédito com você. Pegue o que vocês precisam.
— Faz sentido de qualquer maneira, já que eu cozinho a
maior parte do tempo — ela ressalta.
Eu faço uma careta.
— Me desculpe por isso.
— O quê? — Ela parece genuinamente confusa. — Não
peça. É o meu trabalho, certo?
— Sim — respondo, abrindo a tampa da água enquanto dou
a volta na bancada, encostando-me nela enquanto mantenho
uma distância segura da sala de estar. — Certo. Desculpe.
Cassie ri baixinho.
— Você tem o hábito de se desculpar quando não precisa.
— Desc... — Eu franzo a testa. — Eu nem percebo o que
estou dizendo na metade do tempo. — Percebo que ela olha
para a minha camiseta que ainda está bastante encharcada de
suor, e dou a ela um olhar de desculpas. — Eu preciso de um
banho.
— Talvez — ela ri. — Não sei onde você encontra energia
para treinar com tantas madrugadas em que você fica acordado.
Eu dou de ombros.
— Você se acostuma. Só tento arrumar tempo onde
consigo.
— Eu não conseguiria.
Eu aceno em direção ao seu notebook.
— Em que você está trabalhando?
— Nada divertido — ela suspira. — Mas tenho que
terminar antes das minhas aulas no campus neste fim de
semana, e prometi a Sophie que faríamos mini pizzas esta noite
e assistiríamos a um filme.
— Ela me disse. — Eu sorrio. — Ela também me disse para
dizer a você que é a vez dela de escolher.
Cassie bufa.
— Claro que ela diria isso. Ela totalmente me enganou para
escolher o que ela queria da última vez. Esta será nossa terceira
vez assistindo Encanto.
— Encanto?
Ela olha para mim como se a pergunta fosse ofensiva.
— Sério? "Não falamos do Bruno"?
— Por que não falamos do Bruno?
— Como você não ouviu? Eu sinto que Sophie cantou essa
música pelo menos oito dúzias de vezes na última semana.
— Espere. É sobre um casamento?
— É cativante como o inferno. Não consigo tomar banho
sem aquela maldita trilha sonora aparecer.
Não pense nela no chuveiro. Apenas não.
— Acho que preciso assistir ao filme.
— Ah, não se preocupe. Ela vai encurralá-lo eventualmente
e forçá-lo a assistir.
Eu rio de sua expressão, descontente e ainda de alguma
forma afetuosa.
— Eu acho que ela gosta de você.
Cassie se anima.
— Você acha?
— Sim. Ela gosta de agir meio durona, mas posso dizer que
você já ganhou ela.
— Ela poderia ser boazinha comigo e demonstrar.
Eu não posso deixar de rir.
— Isso seria muito fácil. Ela tem que fazer você pensar que
você fez por merecer.
— Ela é tão teimosa — diz Cassie, sorrindo. — Eu meio que
a amo.
— Eu... fico muito feliz em ouvir você dizer isso.
— Ela é uma criança incrível — Cassie diz seriamente. — É
meio difícil não amá-la.
Ainda há um leve sorriso em minha boca enquanto olho
para os meus pés.
— Ela é.
Acho que tenho medo de conversar sozinho com Cassie
porque são conversas muito fáceis. Claro, às vezes há calmarias
ou silêncios constrangedores em que tento não notá-la de todas
as maneiras que não deveria – mas toda vez que falo com ela, é
quase como se estivéssemos conversando desde sempre.
— Eu queria falar com você — eu começo, mudando de
assunto. — Fora do... vieiralipse — Cassie me dá um aha que
me faz revirar os olhos — o trabalho ficará mais movimentado
por um tempo.
Sua testa franze.
— Oh?
— Sim. Estamos testando alguns novos pratos quanto ao
seu potencial como adições ao menu permanente, e isso sempre
significa mais tempo para avaliar qualquer feedback e refinar
todos os detalhes. Terei que me encontrar com os novos
fornecedores e repassar as receitas com meus subchefs...
Geralmente é um pesadelo.
— Oh. — Ela acena com a cabeça de braços cruzados. —
Entendo. Tem que trabalhar, certo?
— Fique na faculdade o máximo que puder — bufo. — É
uma merda aqui fora.
Cassie ri.
— Aposto que o contracheque fixo faz valer a pena.
— Alguém pode argumentar que sim.
Seu sorriso é realmente... muito bonito. Geralmente um
lado levanta primeiro, como se ela estivesse considerando, mas
depois o outro se levanta para se juntar quando ela sorri de
verdade. Fica difícil não olhar quando ela sorri assim. Eu
deveria deixá-la voltar às suas tarefas, eu sei disso; eu deveria me
virar e ir para o meu quarto para tomar banho e deixá-la em paz.
Em vez disso, ando até o sofá, acomodando-me enquanto
tomo outro gole da minha garrafa de água. Eu raciocinei que
estou apenas descansando por um segundo.
Não torne as coisas estranhas.
— Você sempre quis fazer terapia ocupacional?
— Em grande parte — diz ela. — Desde meu segundo ano
de graduação. Talvez até antes. O dinheiro é bom e o trabalho
parece algo que eu gostaria de fazer.
— Quero dizer, você é incrível com crianças…, é com elas
que você quer trabalhar?
— Eu acho que sim. Eu disse a você que meus pais eram bem
terríveis, certo?
Isso me atinge mais forte do que deveria, ser lembrado disso;
talvez seja por causa da minha própria situação.
— Você disse.
— Sim, bem. Eu meio que gosto da ideia de estar presente
para crianças assim. Sabe? Crianças que acham que não têm
mais ninguém.
Cada coisa nova que aprendo sobre Cassie torna a conversa
com ela muito mais perigosa.
— Eu entendo — digo, torcendo o plástico da garrafa de
água enquanto aceno em direção aos meus joelhos. — É uma
boa motivação. Além disso, parece que você tem muita prática,
com o hospital infantil. Você trabalhou lá por quase um ano,
certo? O que você fazia antes disso?
Ela parece surpresa com a pergunta, um rubor estranho em
suas bochechas enquanto ela desvia os olhos, parecendo de
repente muito interessada na tela do notebook dela.
— Ah — ela diz. — Trabalhos estranhos aleatórios. Nada
tão legal quanto o hospital. Eu tentei a coisa toda de ser
estudante em tempo integral por um tempo, eu acho.
— Ah. — Há algo meio nervoso em seu comportamento, e
posso dizer que o que quer que ela tenha feito, ela não deve
querer falar sobre isso. O que é estranho, mas também não é da
minha conta, eu acho. Eu tomo sua reação duvidosa como
minha deixa para não me intrometer. — Bem. Tenho certeza
que foi muito gratificante. Será uma boa experiência também,
imagino. É tudo muito admirável. O que você está fazendo.
— Compensação por ter uma vida pessoal ridícula — ela ri.
— Minha melhor amiga está na casa dos setenta anos.
Minha testa franze.
— Sério?
— Oh, você iria adorar Wanda, se você conseguir contornar
o fato de que ela ainda não está totalmente convencida de que
você não tem um porão secreto, claro.
— Ah, aquela amiga.
Ela sorri de volta para mim.
— Ela é meio preocupada.
— Espero que você tenha atualizado-a sobre a situação do
porão.
— Eu falei, mas ela não descartou totalmente a possibilidade
de que haja uma porta escondida por aqui.
— Quanto mais ouço sobre Wanda, mais apavorado fico
para conhecê-la — bufo.
— Oh, sim. Você deve ter muito medo. Ela tem cinquenta
e oito quilos de puro terror. — Ela parece pensativa então. —
Na verdade, eu adoraria levar Sophie para conhecê-la
eventualmente, se estiver tudo bem? Acho que elas realmente
se dariam bem.
— Não vejo por que não — digo depois de pensar por um
momento. — Sophie gostaria disso, tenho certeza.
— Eu definitivamente acho que Wanda iria se divertir. Isto
é, se você tiver certeza de que está tudo bem. Quero dizer, você
pode ir, se estiver livre...?
— Ah, não, tudo bem. Tenho certeza que ainda estarei
ocupado. Me passe o endereço e quando você estiver lá. Talvez
me mande uma mensagem quando voltar para casa, para que
eu saiba onde vocês estão. Na verdade, talvez devêssemos ativar
o compartilhamento de localização, assim, se algo acontecer...
Percebo que ela está sorrindo de novo e calo a boca
rapidamente.
— Eu pareço bobo, não é?
— Você parece um pai maníaco por controle. Não é uma
coisa ruim. Posso fazer o que fizer você se sentir melhor.
Não há razão para eu pensar duas vezes sobre esta afirmação;
eu sei que é perfeitamente inocente, mas isso não impede que a
sensação estranha se enrole em meu peito.
— Certo. Desculpe.
— Se desculpando de novo — ela ri.
— Tenho certeza de que Sophie adoraria sair um pouco de
casa — raciocinei. — Tenho certeza de que ela está presa aqui
comigo todos os dias que ela não estava no restaurante.
— Sophie adora sair com você — afirma Cassie. — Ela fala
sobre você o tempo todo.
Minha boca se abre em surpresa.
— Sério?
— Literalmente. O tempo todo. Dê mais crédito a si mesmo.
Concordo com a cabeça lentamente, considerando.
— Eu... Obrigado.
— Apenas dizendo como eu vejo.
— Merda. — Eu franzo a testa. — Isso me lembra… Iris deve
vir mais tarde.
— Iris?
— A tia de Sophie. Eu mencionei ela, certo?
— Oh. — Ela acena em reconhecimento. — Certo. Eu me
lembro.
— Ela pediu para ver Sophie.
Cassie ri.
— Por que você parece tão incerto sobre isso?
— Iris é... — suspiro. — Suponho que eu deveria apenas
dizer a você. Às vezes, as coisas podem ficar tensas entre nós.
— Uh-oh.
— Sim. Ela tem boas intenções, ela realmente tem, mas ela
sempre esteve tão envolvida na vida de Sophie... Eu acho que
de repente não ser capaz de vê-la sempre que ela quer realmente
a incomoda. Ela tentou me convencer de uma situação de
guarda compartilhada várias vezes.
— Mas você é o pai dela — Cassie responde.
Eu concordo.
— Certo. E fico feliz em deixá-la ver Sophie quando posso,
mas quero que Sophie tenha um ambiente estável.
— Isso faz todo o sentido — Cassie diz, e ouvir isso é bom,
como se eu não tivesse percebido o quanto eu precisava ouvir
outra pessoa validar isso.
— Ela tem o hábito de ser... rude. Com as babás. No
passado.
— Será que ela vai vir para cima de mim como uma lutadora
de MMA?
Isso me faz rir.
— Não, não. Nada como isso. Acho que só a incomoda que
eu sinta a necessidade de contratar alguém em primeiro lugar.
Iris acha que eu deveria deixar Sophie com ela. Mas
novamente... isso parece algo fadado ao fracasso. Eu quero que
ela saiba que esta é a casa dela. Acho que ela precisa disso em
sua vida agora.
— Eu posso ser tendenciosa — Cassie começa — porque,
sabe, você está me pagando — nós dois rimos — mas eu
realmente acho que você está fazendo a coisa certa. As crianças
precisam sentir que têm um lugar que é delas, sabe? Mesmo que
você não esteja aqui todos os dias, imagino que seja um
conforto para Sophie saber que você sempre voltará para casa
para ela. Se isso faz sentido.
Eu estou balançando a cabeça atordoado, imaginando como
alguém que mal nos conhece pode encapsular tudo o que eu
tenho me esforçado para fazer depois de tão pouco tempo
conosco.
— Faz — digo. — Perfeito sentido.
Cassie enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não se preocupe — diz ela com um sorriso. — Eu posso
lidar com Iris.
— Bom — eu rio.
Há um silêncio constrangedor que se instala mais uma vez
porque não sei o que dizer, o som suave de plástico estalando
no ar enquanto aperto ansiosamente a garrafa de água. Mais
uma vez eu digo a mim mesmo para sair, para deixá-la aqui e
continuar com meus negócios, mas ainda estou achando difícil
fazer isso, não estou totalmente pronto para terminar de falar
com ela.
— Então, você disse que tinha exames neste fim de semana,
certo?
— Sim. Algum problema? Voltarei a tempo de fazer o jantar
para Sophie.
— Ah, claro. Claro. Eu estava apenas colocando isso na
minha cabeça para não esquecer. — Eu aceno sem rumo. —
Como você conheceu Wanda, afinal?
Neste ponto, estou me agarrando ao que posso para falar
com ela um pouco mais.
— Ela era minha vizinha na minha antiga casa. Fiquei
trancada para fora do meu apartamento quando me mudei
para o prédio, e ela me fez chá enquanto eu esperava pelo
chaveiro. Ela é teimosa como o inferno, mas eu a amo. — Cassie
sorri enquanto balança a cabeça. — Mesmo que ela estivesse
bastante convencida de que você poderia ser algum tipo de
criminoso me atraindo aqui com uma criança falsa.
Eu bufo.
— Por que isso soa como algo que eu poderia me preocupar
se Sophie estivesse no seu lugar?
— Não se preocupe, eu prometo que você não pode ser tão
paranóico quanto Wanda.
— Que alívio — digo inexpressivo.
— Sério, é meio engraçado que ela se preocupe comigo desse
jeito. Ela é quem escolhe encontros aleatórios no bingo todas as
noites da semana e os leva para casa.
— Você está brincando.
— Eu queria estar. A mulher consegue mais ação do que eu
jamais conseguirei.
Não pense nessa afirmação. Apenas não.
— Ela soa... como um personagem.
— Ela é meio selvagem. Honestamente, a vida amorosa dela
é impressionante. Ela está sempre tentando me dar dicas, e eu
juro para você, elas são tão ridículas quanto você pode
imaginar. Graças a Deus não estou preocupada com isso agora.
Não pergunte. Não se atreva a perguntar, Aiden.
— Então, você não namora?
Seu idiota. Seu idiota totalmente estúpido.
Ela parece surpresa com a pergunta, e por que não? É uma
pergunta inadequada. Eu rapidamente tento corrigir.
— Eu só quis dizer... — Certamente, ela pode dizer que
estou me debatendo com as palavras. Espero que não esteja
aparecendo no meu rosto. — Percebi que nunca discutimos,
ah, como lidaremos com isso. Quero dizer, é claro que sua vida
amorosa é um assunto particular, mas pode confundir Sophie
se você trouxer alguém aqui. — Eu quero rastejar para um
buraco e nunca mais sair. — Quero dizer, talvez se ela estivesse
dormindo e você ficasse aqui embaixo...
— Oh. — Ela leva um momento antes de seus olhos se
arregalarem com a compreensão. — Ah. — Ela ri, o que me faz
sentir um pouco menos ridículo, mas só um pouco. — Não,
não. Não se preocupe. Isso não vai ser um problema. Também
não tenho muito tempo para isso. A faculdade me mantém
ocupada. Não sobra muito tempo para conhecer o homem
certo, sabe?
Não há razão para esta notícia me agradar. Absolutamente
nenhuma. Eu não deveria me sentir melhor ouvindo que ela
não vai trazer um homem aleatório para minha casa, porque
isso não deveria importar para mim em primeiro lugar.
— Claro — eu digo finalmente, incapaz de olhá-la nos
olhos. — Isso é... compreensível.
Ela ri novamente.
— O único namorado para quem eu teria tempo neste
momento teria que morar comigo e estar disposto a transar nas
horas mais estranhas. — Acho que paro de respirar, mas só por
um segundo. Observo seus olhos se arregalarem e suas
bochechas corarem levemente quando ela parece perceber o
que disse. — Nossa, eu não pensei antes de falar. Desculpe. Eu
meio que perco o filtro quando fico nervosa.
Eu sei que quanto mais tempo eu ficar sem responder, mais
estranho será, mas minha língua parece grudada na minha boca
no momento. Não consigo parar de me perguntar por que ela
estaria nervosa. É por minha causa?
Não importa. Termine essa porra de conversa.
— Não se preocupe — digo firmemente. — Está tudo bem.
E vou embora agora, porque está claro que não posso ter
uma conversa com Cassie hoje sem fazer papel de idiota, e estou
prestes a dar uma desculpa e ir embora quando ela diz:
— E você?
Isso me pega de surpresa, me fazendo esquecer o que eu
estava prestes a fazer.
— Eu?
— Quero dizer, certamente alguém como você não está
sofrendo para ter encontros.
Eu posso me sentir piscando atordoado para ela.
— Alguém como... eu.
— Bem, sim, você sabe.
Eu absolutamente não sei, então digo isso a ela.
— Eu não sei.
Ela revira os olhos, fazendo um som ligeiramente frustrado.
— Oh meu Deus. Obviamente, você é bonito. E você é um
grande chef chique. — Eu sinto minhas sobrancelhas se
levantarem, ainda preso em obviamente, você é bonito. — Quero
dizer... Preciso de um lugar para levar Sophie quando você
trouxer alguém para casa ou existe algum tipo de política de
meia na porta?
Algo sobre ter noção que neste exato segundo Cassie está
pensando em eu ter intimidade com alguém, mesmo nesta
estranha capacidade... não é bom. O que faz comigo. Não há
absolutamente nada sobre isso que deva ser expandido ou
considerado.
— Meia na porta — eu ecoo estupidamente antes de uma
risada seca escapar de mim. — Não — digo a ela. — Você não
precisa se preocupar com isso. Entre o trabalho e a Sophie, isso
não tem sido um problema há... um tempo.
Especialmente porque minha última tentativa foi um
desastre.
Mas essa é uma história totalmente diferente.
Digo a mim mesmo que estou imaginando, a expressão em
seu rosto que quase parece de alívio, mas desaparece tão
rapidamente quanto surgiu, sabendo que meu cérebro que não
funciona direito está apenas fornecendo o que deseja ver. Ela
provavelmente está feliz por não ter que ser submetida a algo
estranho, e estou aqui pensando em coisas que não deveria. De
novo.
Eu verifico meu relógio, sem realmente olhar para as horas.
— É melhor eu ir tomar banho. Ainda tenho algumas coisas
para fazer antes de ir para o trabalho.
— Ok. — Eu a pego balançando a cabeça com o canto do
olho, mas ainda não consigo olhar para ela completamente. —
Eu não queria roubar seu tempo — ela continua.
Eu olho para ela então, porque não posso evitar.
— Não, não. Você não fez. Apenas... há muito a se fazer.
— Claro.
Eu me empurro para fora do sofá, dando a ela um aceno de
cabeça antes de subir as escadas para deixá-la com suas tarefas.
Eu não olho para ela enquanto eu vou, principalmente porque
eu tenho medo que ela veja o quanto eu quero chutar minha
própria bunda, mas percebo que ela só volta a digitar
novamente até que eu esteja quase fora de vista.
Não torne as coisas estranhas.
Lá se foi essa ideia.
“Você pode provocar seus mamilos para mim, Cici?”
Deus, sua voz. É baixa e rouca, mas me faz sentir um
formigamento por toda parte do meu corpo.
Especialmente porque ele parece saber exatamente o que
quer que eu faça.
Meus dedos beliscam meus mamilos e posso ouvir sua
respiração ofegante contra o alto-falante.
"Bem desse jeito. Eles são tão bonitos. Aposto que têm um
gosto fantástico."
Por um momento, me pergunto se deveria ser tão íntimo.
Não consigo vê-lo e ele não sabe meu nome verdadeiro.
Nada disso me impede de gozar exatamente como ele
manda.
Capítulo 5
Cassie

— Só estou dizendo que pode ser um longo golpe — Wanda


fala do outro lado da linha do telefone que está pressionado
contra a minha orelha.
Eu rio, balançando a cabeça enquanto viro o queijo-quente
de Sophie.
— Estou aqui há mais de uma semana. Acho que é seguro
dizer que eles não estão planejando me sequestrar.
— Nunca se sabe. — Ouço o barulho de panelas do outro
lado da linha. — Não consigo encontrar minha maldita panela.
— Deve estar no armário à direita do forno.
— Eu já procurei lá… oh.
— Eu disse.
— Como diabos você sabe onde minhas coisas estão melhor
do que eu?
— Porque você tem as habilidades de organização de um
rato com amnésia.
Wanda zomba indignada.
— Que valentona.
— Sim, sim.
— E a garota? Ela é um terror?
Eu olho além da cozinha para a sala de estar, onde Sophie
está descansando no sofá jogando seus videogames, sua
pequena sobrancelha franzida em concentração e sua língua
aparecendo entre os dentes. Isso me faz sorrir.
— Ela é ótima — digo baixinho a Wanda. — Quero dizer,
ela é uma espécie de terror, mas eu meio que gosto disso.
— Parece com outra pessoa que eu conheço — Wanda bufa.
— Estou feliz que ela seja real. Sabe, eu meio que me preocupei
que esse tal de Aiden pudesse ser um dos seus perseguidores das
chamadas de peitinhos.
— Sim — eu rio. — Certo. Não acho que alguém como ele
precise visitar sites como aquele.
— Oh? Alguém como ele?
— Quero dizer... Tenho certeza de que ele pode ver a coisa
real de graça quando quiser. — Eu baixo o tom da minha voz.
— Ele não parece ser o tipo que teria qualquer problema em
trazer mulheres para casa.
— Cassie Evans. Você está me dizendo que seu novo chefe
é bonito?
Faço uma pausa, me xingando. Ela não deveria saber dessa
parte. Tento manter minha voz casual, como se não tivesse
pensado muito nisso.
— Eu não diria que ele não é atraente.
— Oh, Senhor. Ele é, não é? De quão gostoso estamos
falando?
— Não sei. Não prestei muita atenção.
— Você sabe que eu sei quando você está mentindo, certo?
— Tudo bem — eu bufo com a derrota. Eu olho para
Sophie enquanto meio que sussurro: — Ele é incrivelmente
gostoso, ok?
— Nossa, menina. Você deveria me enviar uma foto.
— Eu com certeza não vou fazer isso. Além disso, você seria
capaz de descobrir como abri-la se eu não estou aí?
— Que valentona — ela murmura novamente. — Tenha
cuidado, ouviu? Caras bonitos são problemas.
— Vou garantir que a minha virtude seja guardada com
cuidado — digo seriamente. — Mas confie em mim, não há
chance de isso ser um problema. Ele é muita areia para o meu
caminhãozinho no meu melhor dia.
— Ah, cale a boca. Você sabe que é atraente.
— Sim, claro. E você? Já conheceu alguém novo?
Eu posso ouvir o som de água corrente enquanto Wanda
prepara seu próprio jantar.
— Ninguém digno de menção — ela bufa. — Mas o maldito
Fred está me ligando. Não parece entender a dica, esse homem.
— Talvez ele apenas ache você irresistível.
— Bem, ninguém está discutindo isso — diz ela com
naturalidade. — Mas não estou tão solitária ainda. Mesmo com
você me deixando às traças aqui.
— Ah, esse é o seu jeito de dizer que sente minha falta?
Ela estala a língua.
— Talvez. Talvez não.
— Eu realmente quero te visitar em breve, se estiver tudo
bem. Eu adoraria que você conhecesse Sophie. Aiden já
liberou, se você quiser.
— Bem, é claro que eu quero conhecer a diabinha. Tenho
que ter certeza de que ela está fazendo você ganhar aquele
grande salário com o qual eles a atraíram para longe de mim.
Viro o queijo-quente, rindo de novo.
— Claro.
— Traga-a para jantar e eu farei minhas almôndegas.
— Você conhece o caminho para o meu coração.
— Eu tentei te convencer a não me deixar, mas você teve que
ir...
— Eu sei, eu sei. Vou escolher um dia em breve e te aviso. O
jantar de Sophie está quase pronto. É melhor eu alimentá-la
antes que ela comece a morder meus tornozelos.
— Eu ouvi isso — a voz de Sophie chama do outro lado da
sala.
— Bem, tudo bem — diz Wanda. — Eu vou deixar você ir.
Apenas certifique-se de passar por aqui. Eu meio que sinto falta
do seu rosto.
— Eu também te amo — eu rio.
— Vejo você em breve.
— Certo.
Sophie entra na cozinha quando desligo o telefone,
espiando o queijo-quente que estou colocando em um prato.
— Você pode cortar o meu em triângulos?
— Bem, obviamente — eu bufo uma risada. — Os
triângulos tornam o sabor melhor.
Sou recompensada com um sorriso cheio de dentes.
— Sim.
— Você quer leite ou suco?
— Hum. — Sophie considera, pesando suas opções. —
Leite. Não, suco. Sim. Eu quero suco.
— Acho que ainda temos um pouco de suco de maçã —
digo a ela. — Vá olhar.
— Ok.
Termino o segundo queijo-quente que fiz para mim
enquanto ela caminha até a geladeira, abrindo as portas para
espiar dentro enquanto desligo o fogão. Não é a refeição mais
chique que alguém já fez, mas, felizmente, não é preciso muito
para impressionar uma criança de nove anos. Eu posso ouvi-la
subindo na bancada para pegar seu próprio copo, o que é
bastante normal para minha pequena garota independente, e
estou me preparando para repreendê-la quando sou distraída
pelo som da campainha. Olho para Sophie com uma expressão
curiosa; não sei quem poderia estar aqui tão tarde, já que Aiden
já saiu para o trabalho.
Então me lembro.
— Oh. Provavelmente é sua tia. Seu pai disse que ela estava
vindo.
Os olhos de Sophie brilham.
— Tia Iris!
Ela sai correndo enquanto eu a chamo, limpando minhas
mãos em um pano de prato antes de começar a descer as escadas
para segui-la. Sophie já está com a porta aberta, abraçada a uma
mulher alta e magra com cabelos loiros e macios caindo sobre
os ombros. Seu rosto está iluminado por um sorriso brilhante
enquanto ela se agarra a Sophie, e é só quando ela olha para
mim que sua expressão muda, sua testa delicada tem o mesmo
tom de seu cabelo solto e seu sorriso vacilante.
Eu decido não deixar isso me incomodar.
— Oi — cumprimento alegremente. — Você deve ser Iris.
Aiden disse que você estava vindo.
— Certo — ela responde categoricamente, e eu não perco a
maneira como seus olhos mergulham para baixo e para cima
novamente, como se ela estivesse me avaliando. — Você deve
ser a nova babá.
Oh, lá vamos nós.
— Eu mesma — digo, mantendo meu tom alegre. —
Estávamos fazendo o jantar... Você quer subir e se juntar a nós?
Iris olha em volta.
— Aiden não está aqui?
— Ele está no trabalho — respondo, percebendo a natureza
tensa de seu tom.
— Hum.
É tudo o que ela diz, mas ela fecha a porta atrás dela para
entrar, então acho que ela está aceitando a oferta de refeição.
— Eu estava apenas fazendo alguns sanduíches de queijo-
quente para nós — digo a ela, virando-me para começar a subir
as escadas. — Mas posso fazer outra coisa se você preferir...
— Eu já comi, obrigada — Iris diz rigidamente.
Ela vai ser um osso duro de roer, eu penso.
Deixo o silêncio se prolongar enquanto saio do primeiro
andar e volto para a cozinha para pegar um pouco de suco para
Sophie.
— Então, há quanto tempo você trabalha aqui?
Eu olho por cima da bancada para encontrar Iris sentada no
sofá, observando Sophie subir em um dos banquinhos
enquanto se prepara para o jantar.
— Não muito tempo — digo. — Pouco mais de uma
semana agora.
— Você parece tão em casa — observa Iris.
— Ah bem... Aiden e Sophie têm sido ótimos.
— Desculpe se pareço rude — diz Iris. — Sempre odiei a
ideia de deixar Sophie com estranhos.
— Claro — eu respondo com um sorriso que não atinge
meus olhos. Ela me observa por um minuto enquanto eu sirvo
o suco de Sophie, não falando de novo até eu deslizar o copo
sobre a bancada para a mão de Sophie esperando.
— Quantos anos você tem, afinal? Você parece meio jovem
para ser babá.
— Vinte e cinco — eu digo a ela com firmeza.
Seja legal, eu canto mentalmente.
— Uau. — Iris ri. — Você realmente é jovem. Você deve ter
acabado de sair da faculdade.
— Ainda estou dentro, na verdade — corrijo. — Eu tenho
trabalhado ao mesmo tempo em que estudo.
— Oh? E o que você está fazendo?
— Terapia ocupacional.
— Oh, uau. — Ela acena com a cabeça, parecendo quase
impressionada, embora relutante. — Isso é admirável.
— Espero que sim — respondo antes de dar uma mordida
no meu sanduíche. — E você? O que você faz?
— Tenho uma floricultura — ela me diz.
Eu rio animadamente.
— Oh meu Deus! Isso é tão fofo!
Iris olha para mim de forma estranha.
— Por causa do seu nome — eu esclareço.
— Certo... — Ela está olhando para mim como se eu tivesse
perdido o controle. — Bem. Costumava administrar com
Rebecca. Tem sido mais difícil fazer isso sozinha.
Meu sorriso se dissipa.
— Oh. Claro. Lamento muito por ouvir sobre isso.
— É mesmo — diz ela categoricamente.
Dou outra mordida, depois outra, querendo escapar dessa
tensão terrível. Eu mastigo grosseiramente enquanto Sophie
me dá um sinal de positivo com o dedo sobre seu próprio
sanduíche.
— Mamãe costumava me dar flores no meu aniversário
todos os anos.
Eu sorrio.
— Oh, sim?
— Elas eram muito bonitas — ela me diz.
— Isso parece muito doce.
Percebo que Iris está observando essa interação, como se
estivesse me estudando, tentando encontrar algum defeito.
Eu coloco a última mordida do meu sanduíche na boca,
decidindo que obviamente estou atrapalhando.
— Soph, que tal eu ir trabalhar na lavanderia enquanto você
e sua tia ficam juntas?
— Tudo bem — diz Sophie de forma descontraída.
— Ótimo. — Eu sorrio enquanto coloco meu prato na pia;
eu vou lavar a louça mais tarde. — Eu estarei por perto se vocês
precisarem de mim. Apenas me avisem. — Tento lançar um
sorriso na direção de Iris, mas ela não retribui. — Foi um prazer
conhecê-la, Iris.
Iris acena com a cabeça rigidamente.
— Você também.
Eu faço minha fuga rapidamente, subindo as escadas para o
terceiro andar para recolher a roupa suja de Sophie que
provavelmente está espalhada em seu quarto e no chão do
banheiro. Sophie parecia não ter sido afetada pelo estranho
primeiro encontro entre sua tia e eu, mas não posso fingir que
não estou um pouco desconfortável. Está muito claro que Iris
acha que não sou necessária aqui, e só posso imaginar como isso
pode tornar as coisas estranhas daqui para frente. Ainda... Com
base em tudo que Aiden me disse, não posso deixar de ser um
pouco solidária. Deve ser difícil ter perdido uma irmã e uma
sobrinha de uma só vez. Eu provavelmente ficaria amarga
também. Digo a mim mesma que haverá muito tempo para
conquistar o lado bom de Iris, e quem sabe? Talvez possamos
até ser amigas. Eventualmente.
Eu penso na expressão fria de Iris, meu otimismo vacilando.
Pensando melhor.

■□■

O encontro com Iris ficou em minha mente pelo resto da noite


– durante uma rodada de jogos de tabuleiro e até mesmo
enquanto preparava Sophie para dormir antes de colocá-la na
cama – e talvez seja por isso que pareça impossível conseguir
dormir. Eu viro e rolo por talvez uma hora tentando adormecer
e, eventualmente, cochilo em algum momento, mas é inquieto.
Como um daqueles casos em que você está acordado o
suficiente para saber que está dormindo, mas dormindo o
suficiente para não estar acordado. Se isso faz sentido.
Em algum momento, desisto completamente da ideia,
jogando as pernas para o lado da cama em um acesso de raiva e
decido ir até a cozinha para tomar algo. Se eu não consigo
dormir, pelo menos posso me hidratar, eu acho. Esfrego os
olhos quando saio do quarto, fecho a porta atrás de mim e subo
as escadas.
Não o percebo a princípio, meus olhos ainda pesados e meu
bocejo significando que não estou realmente olhando para
onde estou indo enquanto ando arrastando os pés pela sala, mas
pouco antes de contornar a bancada, ouço-o se assustar,
fazendo com que eu faça a mesma coisa.
— Aiden?
Ele parece surpreso em me ver ali, quase como se talvez
tivesse esquecido que eu estivesse aqui – seus olhos exaustos
com olheiras debaixo deles e sua camisa de botão meio
desabotoada revelando uma camiseta branca por baixo.
— Cassie? O que você ainda está fazendo acordada?
— Desculpe — eu ofereço, abafando outro bocejo. — Não
consegui dormir.
— Oh. — Ele acena com a cabeça, parado na luz da geladeira
aberta com uma garrafa âmbar na mão. — Espero não ter feito
muito barulho.
Eu aceno para ele.
— Não, não. Não foi você. Apenas um longo dia.
— Eu que o diga — ele bufa, finalmente fechando a porta
da geladeira, fazendo com que a única coisa que emita alguma
luz seja o brilho suave da lâmpada do exaustor sobre o fogão.
— Brutal?
Ele abre a tampa de sua cerveja.
— Muito.
— Sinto muito por isso.
Ele toma um gole, fazendo um som satisfeito quando abaixa
a garrafa. Mesmo com a aparência abatida, é difícil não notar o
quão bom ele parece, o que é um forte lembrete de que estamos
sozinhos aqui no quase escuro apenas olhando um para o
outro. Provavelmente não é a melhor ideia.
Eu coço minha cabeça, sonolenta. Deus, estou exausta.
— Eu conheci Iris hoje. Ela é... algo.
A boca de Aiden pressiona em uma linha apertada.
— Ela não foi horrível com você, foi?
— Bem, eu estaria mentindo se dissesse que ela vai me
convidar para sua festa de aniversário em breve — digo a ele. —
Mas poderia ter sido pior, eu acho.
Aiden se inclina contra a bancada perto da geladeira.
— Estou feliz que ela não foi rude, pelo menos.
— Eu não sabia que a mãe de Sophie tinha uma floricultura
— aponto, puxando conversa por razões que me escapam, já
que é tão tarde.
— Oh, sim. — Aiden acena com a cabeça antes de tomar
outro gole. — É uma loja bastante popular. Iris administra
sozinha agora.
— Ela realmente parece amar Sophie — observo.
— Sim. Ela é ótima com ela. Quase a criou, na verdade. Ela
não ficou totalmente feliz que Sophie veio direto para mim
depois que Rebecca morreu. Ela parece pensar que ela era a
melhor escolha, já que, em suas palavras, eu nunca estive ao
lado de Sophie como ela. No começo gerou muitas discussões.
— Mas você é o pai dela — eu argumento. — Claro que ela
deveria ficar com você.
— Os tribunais concordaram, mas Iris... — Ele balança a
cabeça. — Parte de mim acha que ela está apenas esperando que
eu foda tudo de alguma forma.
Oh. Eu sei que estou com sono, mas algo sobre a voz
profunda de Aiden proferindo uma palavra tão suja faz meu
estômago revirar. Definitivamente não é a hora, eu penso.
— Não ajuda que eu esteja no momento mais ocupado da
minha vida, em termos de carreira — ele continua, suspirando.
— Isso me mantém longe de casa mais do que eu gostaria.
Não vou fingir que isso não me faz mergulhar em meus
pensamentos sobre minha própria infância, pensamentos
voltando rapidamente para meus pais e seus empregos e o fardo
financeiro que eu estava sendo constantemente lembrada que
eu era. Tenho quase cem por cento de certeza de que Aiden não
é nada parecido com meus pais, já que na verdade ele parece
gostar de passar o tempo com Sophie e tenta fazer isso sempre
que pode; eu guardo minha opinião para tentar ver o lado dele.
— Eu entendo. Você tem que trabalhar. Além disso, não é
como se você estivesse deixando ela aqui sozinha. E você passa
todo o seu tempo extra com ela quando não está trabalhando,
certo?
— Tanto quanto eu posso — diz ele com um aceno de
cabeça. — Eu apenas... — Ele faz um som frustrado. — Estou
fazendo o meu melhor, mas às vezes parece que não é o
suficiente.
— Sinto muito — eu digo novamente. — Tenho certeza de
que não era falar disso que você queria ao voltar para casa. Eu
não queria atingir um nervo.
— Não, não. Me desculpe por despejar isso em você. Isso só
pesa em mim.
— Não se desculpe — eu asseguro a ele, finalmente indo até
a geladeira para pegar uma garrafa de água. Eu a abro. — Vamos
apenas dizer que um pouco de terapia faz parte das minhas
obrigações. Vou enviar minha conta pelo correio.
Sua boca se contrai.
— Obviamente.
— De qualquer forma... Tenho certeza que você está
cansado. É melhor eu voltar a não dormir.
— Sim, eu não gostaria de impedir você — ele ri.
— É um trabalho ingrato, mas alguém tem que fazê-lo.
Fecho a porta da geladeira com a intenção de deixá-lo
sozinho, mas ele me surpreende quando estende a mão para
agarrar meu pulso frouxamente. Eu encaro seus dedos grossos
que estão quentes contra a minha pele, olhando para cima para
encontrar sua expressão preocupada.
— Desculpe — diz ele em voz baixa. — É... Você está bem,
certo?
Eu pisco com confusão.
— O quê?
— Quero dizer... ela não disse nada para aborrecê-la, disse?
— Eu?
Aiden acena com a cabeça.
— É que... Espero que ela não tenha assustado você.
— Oh.
O pensamento nem passou pela minha cabeça. Quero dizer,
sim, ela foi fria comigo, mas eu sou uma garota crescida, e vai
ser preciso mais do que Iris para me abalar.
— Estou bem — asseguro a ele. — Não se preocupe. Eu não
estou indo a lugar nenhum.
Ele relaxa visivelmente.
— Bom. — Eu acho que ele percebe então, que ele ainda
está segurando meu pulso, seu rosto virando para baixo para vê-
lo antes de soltá-lo rapidamente. — Desculpe. Estou cansado.
Eu não estava pensando.
— Está tudo bem — respondo baixinho, aquela vibração no
meu estômago agora é um bater de asas desenfreado. —
Devíamos ir para a cama.
Seus olhos se arregalam um pouco, e então me dou conta do
que eu disse.
— Quero dizer... — Sinto meu rosto esquentar. — Eu quis
dizer de maneira individual. Tipo, você vai para a cama e eu vou
para a cama e...
— Certo — diz ele, me salvando. Sou só eu ou a voz dele está
mais baixa do que há um segundo? — Eu sei o que você quis
dizer.
— Ok.
O ar-condicionado parece mais frio do que antes, arrepios
estourando em minha pele e meus mamilos endurecendo sob
minha blusa fina, lembrando-me pela primeira vez desde que
saí do meu quarto (e tarde demais, devo acrescentar) que não
estou usando sutiã. Só me atinge totalmente quando percebo
que o olhar de Aiden mergulha de uma forma que parece quase
um reflexo, como se ele não pudesse evitar. Eu ouço sua
inspiração afiada enquanto o calor corre pelo meu pescoço, e
eu rapidamente cruzo meus braços sobre o peito, enquanto o
constrangimento me inunda.
Decido que não reconhecer é a opção menos mortificante,
olhando para os meus dedos dos pés em vez de para o rosto dele.
— Ok. Bem. Eu estou indo para a cama. Vejo você de
manhã.
— Claro — ele responde lentamente. — Vejo você pela
manhã.
Eu me afasto o mais rápido que posso sem realmente correr,
apenas parando um pouco no topo da escada para virar para
trás.
— Boa noite, Aiden.
— Boa noite — ele responde de volta, e percebo que ele não
se moveu de onde estava.
Eu não acho que respiro fundo até que eu esteja de volta em
segurança no meu quarto com a porta fechada atrás de mim,
inclinando-me contra ela para cobrir meus olhos com minhas
mãos. Só posso esperar que a entrada estivesse escura o
suficiente para que eu não tenha dado uma visão completa para
Aiden; o constrangimento de saber que meu chefe muito
gostoso, mas fora dos limites, pode ter visto a maioria dos meus
mamilos foi o suficiente para me fazer querer enfiar a cabeça no
vaso sanitário.
Eu solto um suspiro enquanto balanço minha cabeça com
meu próprio descuido, olhando para a escuridão do meu
quarto e dizendo a mim mesma que não é grande coisa. Que
podemos nos deparar com algumas gafes em uma situação
como a nossa. Que certamente Aiden terá esquecido tudo
sobre isso pela manhã.
Certo, penso enquanto me enfio de volta na cama. Não é
grande coisa.
Mesmo que eu ainda esteja pensando na maneira como ele
olhou para mim.
Bate papo com @alacarte

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te enviou uma gorjeta de $50

Não parei de pensar nos seus lindos


mamilos rosados a semana toda.
Capítulo 6
Cassie

Me preocupar com meu encontro noturno com Aiden provou


ser em vão, já que depois daquela noite, eu quase não o vi por
uma semana. Ele levou Sophie para a escola todas as manhãs
nos dias seguintes, passando todo o seu tempo livre restante na
academia quando Sophie não estava em casa e entrando e
saindo do chuveiro antes de desaparecer para trabalhar. Se eu
não o conhecesse melhor, diria que ele está me evitando, o que
me deixa ainda mais ansiosa com a coisa toda. Eu me preocupo
com a possibilidade de ter tornado as coisas estranhas entre nós,
temendo que eu possa ter arruinado o ritmo fácil em que
começamos a nos estabelecer. No sábado seguinte, posso
contar nos dedos de uma mão os vislumbres que tive de Aiden
Reid, mesmo morando na mesma casa.
Entro na cozinha naquela manhã mais cedo do que de
costume, esperando passar algum tempo sozinha com a
cafeteira antes de Sophie acordar. Talvez eu tenha algum tempo
livre antes que Aiden acorde e se ocupe com alguma coisa que
o permita evitar falar comigo. Decido neste momento que não
vou deixar isso me incomodar, que se as coisas estiverem
estranhas entre Aiden e eu, será culpa dele, não minha.
Quero dizer, pelo amor de Deus. O cara já viu mamilos
antes. E não é como se eu não costumasse mostrar os meus para
metade da internet regularmente. Eu nem sei por que estou tão
perturbada com isso. Não é o fim do mundo.
Eu espreguiço enquanto o café está sendo preparado, meu
roupão escorregando um pouco dos meus ombros caindo
frouxamente ao meu redor quando eu me acomodo contra a
bancada. Eu inclino os ombros para trás quando um conhecido
aperto formiga nas minhas costas, estendendo o braço para
esfregar a pele em alto relevo ali e suspirando como sempre faço
quando me lembro da minha cicatriz.
Quando o café está pronto, coloco mais açúcar na minha
caneca do que é socialmente aceitável – mas, tanto faz. Eu fecho
meus olhos quando o primeiro gole quente atinge minha
língua, cantarolando contente enquanto deixo a bebida
terminar o trabalho de me acordar. Ainda estou parada ali com
a sensação equivocada de segurança que vem de pensar que
tenho um tempo decente para ficar sozinha pela frente, ainda
encostada casualmente na bancada com meu roupão torto e
minhas mãos ocupadas com a minha caneca quando
finalmente percebo um corpo grande descendo as escadas que
levam ao terceiro andar.
Aiden boceja, seu cabelo em desordem devido ao sono e seus
braços estendidos, se espreguiçando, fazendo sua camiseta
cinza subir o suficiente para mostrar as linhas tonificadas de seu
abdômen acima da cintura baixa da sua calça de pijama de
flanela. Meus olhos são atraídos para o músculo tonificado que
deve ser sua recompensa de todos os treinos que ele faz para se
esconder, um tanto perplexa contra a bancada. Eu não deveria
estar secando ele, eu sei disso, mas com uma aparência dessas...
eu não posso exatamente evitar.
E é então que ele me nota.
— Cassie?
Eu percebo que estou apenas parada ali, boquiaberta.
— Ah, oi. Você acordou cedo.
— É. — Ele passa os dedos pelos cabelos distraidamente,
ainda piscando sonolento. — Tenho uma reunião de equipe
esta manhã.
Ele ainda não se afastou do pé da escada, quase como se
estivesse com medo de se aproximar de mim. Isso só alimenta
minhas suspeitas de que as coisas estão estranhas entre nós.
— Eu fiz café — eu ofereço. — Se você quiser um pouco.
— Isso seria ótimo — diz ele.
Seus olhos passam do meu rosto para minha blusa rosa do
baby doll, lembrando-me que é a mesma que eu estava usando
durante nosso último encontro desastroso. É minha culpa que
eu seja tão parcial com isso? Pelo menos estou usando sutiã
desta vez; eu definitivamente aprendi minha lição sobre não
usar sutiã para sair da segurança do meu quarto.
Mas ainda posso dizer que ele a reconhece.
Rapidamente, ajusto de volta meu roupão depois de colocar
minha caneca de café sobre a bancada, endireitando-o e
amarrando-o na frente para esconder minha blusa. A última
coisa que preciso é que Aiden esteja pensando em meus
mamilos enquanto tenta falar comigo.
Eu limpo minha garganta, tentando não pensar em como
estou sendo óbvia.
— Então, café? Como você toma?
— Puro está bom.
Eu franzo meus lábios.
— Sério?
— Eu não gosto de todas essas coisas extras — ele admite.
Eu não posso evitar. Isso me faz sorrir.
— Sabe, eu sempre disse que as pessoas que bebem café puro
não amam a si mesmas.
— Não tenho certeza se essa lógica é verdadeira — rebate
Aiden, sua boca se contorcendo.
Eu não respondo, virando-me para preparar uma caneca
para ele. Eu posso ouvi-lo finalmente atravessando o cômodo
para se juntar a mim na cozinha, o barulho de uma banqueta
atrás de mim me alertando de sua proximidade. É o mais
próximo que ele esteve ao meu redor desde o fim de semana
passado, e tenho que admitir que isso me deixa nervosa. Quase
posso sentir seus olhos em mim enquanto trabalho, e não posso
deixar de me perguntar se ele está se lembrando da última vez
que estivemos tão perto. Ele ainda está pensando sobre o que
viu, ou eu sou a única preocupada com isso?
Viro-me para entregar a ele a caneca quando termino de
servir o café, e quando ele se estende para pegá-la de mim, seus
dedos roçam nos meus. Sinto pequenas faíscas onde eles se
tocam e ele não retira a mão imediatamente. Um segundo se
passa, talvez mais, antes que ele pegue a caneca da minha mão,
e eu levanto a minha em um brinde fingido, mantendo meu
lugar contra a bancada do outro lado e tentando não hiperfixar
em como seus ombros parecem largos em sua camiseta ou quão
quente foi seu toque.
— Então — ele começa, tomando um gole cuidadoso de sua
caneca. — Caramba, isso está quente. — Ele franze a testa
enquanto continua. — Perdi alguma coisa interessante esta
semana?
— Bem, eu tenho apresentado a Sophie a minha rede de
apostas clandestina, mas ela ainda não me impressionou.
Sua boca se contrai.
— É mesmo?
— Sim. — Eu suspiro dramaticamente. — A garota não tem
cara de pôquer. Acho que ela não foi feita para isso.
— Não tenho certeza se devo ficar grato ou desapontado.
— Definitivamente decepcionado. Se ela não consegue lidar
com Vinte e Um, como vamos chegar ao Texas Hold'em?
Ele acena sério.
— Bem, isso soa muito mais educativo do que tabuada de
multiplicação.
— Oh, ela definitivamente não está pronta para isso. Ela
passa dos vinte e um em quase todas as mãos.
Aiden está rindo agora, e estou grata por ver algo além de
olhares furtivos e sua figura recuando enquanto ele sai de um
cômodo para me evitar. Eu poderia facilmente continuar com
esse jogo de "vamos fingir que não aconteceu" esperando que
isso nos levasse de volta ao normal, mas, infelizmente, sou uma
masoquista de coração.
Eu desvio meus olhos enquanto levo minha caneca à minha
boca.
— Então, você não estava brincando quando disse que as
coisas iriam ficar ocupadas, hein?
Aiden suspira, soprando suavemente em seu café.
— Tem sido um pesadelo. Um de nossos fornecedores teve
problemas para entregar esta semana. É por isso que tenho uma
reunião hoje; tenho que me encontrar com outro fornecedor
para tentar colocar as coisas de volta nos trilhos.
Posso dizer pelo som de sua voz que suas ausências
frequentes têm maior probabilidade de piorarem antes de
melhorarem. Isso me faz pensar em todas as vezes nesta semana
que Sophie mencionou seu pai, sabendo que Aiden não pode
evitar que seu trabalho seja agitado, mas ainda sentindo
simpatia pela garotinha que esperava que pelo menos pudesse
vê-lo nos finais de semana.
Eu sei que deveria cuidar da minha vida, mas é difícil.
— Sophie vai sentir falta de sair com você neste fim de
semana.
— Ela vai se divertir mais com você do que comigo — diz
ele, com uma espécie de risada nasalada.
Eu gostaria de saber por que Aiden insiste em se rebaixar o
tempo todo quando se trata de suas ações como pai. Eu me
pergunto se ele realmente acha que sua filha não preferiria
passar o tempo com o pai em vez de uma mulher qualquer que
ele contratou.
— Ela sente sua falta quando você não está aqui — contesto,
tentando manter meu tom casual. — Eu consigo perceber.
A testa de Aiden franze enquanto ele olha para baixo em sua
caneca, pensando.
— Também sinto falta dela. Espero que as coisas
desacelerem em breve.
Brigo com a ideia de dizer a ele que Sophie não foi a única
que notou sua ausência, me perguntando se isso só vai tornar
as coisas mais estranhas. Quero dizer, não tenho dúvidas de que
ele tem me evitado de propósito ultimamente, e não consigo
decidir se abordar isso seria pior do que fingir que não está
acontecendo.
— Eu sei o quanto você tem estado ocupado — eu indico
cuidadosamente antes de tomar um gole de minha própria
caneca. — Parece que não te vi esta semana.
Pronto. Eu falei. Provavelmente vou me arrepender, mas eu
disse.
— Oh. — Percebo a maneira como sua mandíbula fica
tensa, tanto quanto percebo que ele não olha para mim. — Sim.
Tivemos muito trabalho de preparação inicial para fazer.
— Oh. — Talvez seja a verdade. Talvez eu esteja vendo
coisas onde não tem. Ainda assim. — Eu pensei... Bem. — Eu
mudo nervosamente de um pé para o outro. — Acho que eu
estava preocupada que você pudesse estar...
Ele olha para mim então, aqueles lindos olhos dele
encontrando os meus e desviando minha linha de pensamento.
— Preocupada que eu possa estar, o quê?
— Eu... — Engulo em seco, sem saber como trazer à tona o
que tenho me referido na minha cabeça como o incidente do
mamilo de uma forma que não seja incrivelmente embaraçosa
para nós dois. — Acho que pensei que talvez você estivesse me
evitando. Depois de... Você sabe...
Eu não consigo ler sua expressão, seu semblante de pedra só
piorado pela linha apertada de sua boca volumosa e seus olhos
intensos. Eu daria qualquer coisa para saber o que ele está
pensando agora, para ter alguma maneira de me preparar para
uma repreensão ou uma conversa incrivelmente estranha; e
assim que ele abre a boca para falar, eu posso estar realmente
suando.
— Cassie, na verdade, eu...
— Bom dia — uma voz sonolenta murmura por trás dele,
nos assustando.
Sophie se arrasta até a cozinha para se juntar a nós com os
olhos mal abertos e cabelos desgrenhados, tendo passado
despercebida por nós dois até este exato segundo. Aiden olha
para mim apenas por um momento, como se tudo o que ele
estava prestes a dizer ainda estivesse pendurado em sua língua,
mas ele rapidamente coloca um sorriso no rosto e bagunça o
cabelo de sua filha quando ela se aproxima dele.
— Bom dia. Alguém dormiu como selvagem na noite
passada.
Sophie franze a testa.
— O que você quer dizer?
— Olha esse cabelo — ele ri.
Sophie estende a mão para dar tapinhas em tufos rebeldes
que se projetam para um lado e para o outro.
— O seu parece estranho também.
— É mesmo? — Aiden tenta fazer algo semelhante,
franzindo a testa quando percebe que não está em melhor
forma. — Acho que você puxou isso de mim.
Sophie coloca a mão sobre o estômago.
— O que tem para o café da manhã?
— Eu tenho mistura pronta de panqueca — interrompo. —
Poderíamos tentar de novo, que não terminará em um desastre
desta vez, espero.
Sophie sorri.
— Desde que o papai não ajude.
— Vocês duas são hilárias — Aiden comenta secamente. Ele
verifica a hora no visor do forno. — Infelizmente, não posso
ficar para o café da manhã, mas pelo menos vocês sabem que
não poderei estragar as panquecas.
Sophie parece desapontada.
— Você vai voltar ao trabalho?
— Sinto muito — Aiden diz a ela, soando como se
realmente estivesse. — Eu preciso.
— Oh. — Sophie olha para os pés, encolhendo os ombros.
— Pensei que você iria à praia com a gente hoje.
Seu comportamento e tom tocam algo dentro de mim,
despertando memórias minhas comendo sozinha e desejando a
companhia de alguém que não fosse eu mesma. Eu sei que
Aiden está muito longe de ser como meus pais, mas ver Sophie
fazer a cara que ela está neste momento, desencadeia emoções
que eu pensei que estavam guardadas há muito tempo.
— Eu gostaria de poder — diz ele, parecendo sincero. —
Vocês duas vão ter um dia muito mais divertido do que eu.
De repente, fico impressionada com a imagem de Aiden em
nada além de sunga, e essa imaginação pode realmente ser ruim
para minha saúde.
Ele olha para mim.
— Para qual praia vocês vão?
— Coronado. Pensei que poderíamos almoçar no Del.
— O ENO's tem ótimas pizzas — diz ele. — Vou deixar
algum dinheiro para você.
Eu tento acenar para ele.
— Ah, não, tudo bem, eu posso...
— Você vai lidar com uma criança de nove anos na praia o
dia inteiro — ele diz sem rodeios. — Pagarei o almoço de vocês.
— Tudo bem — admito, revirando os olhos.
É estranho aceitar dinheiro dele para algo que
provavelmente acabará sendo divertido para mim também,
mas raciocino comigo mesma que ainda é tecnicamente uma
atividade de trabalho e isso me faz sentir melhor sobre isso.
Estou distraída com essa linha de pensamento quando os
olhos de Aiden encontram os meus novamente, algo neles me
fazendo sentir como se ele tivesse mais a dizer antes de Sophie
interromper, como se ainda quisesse dizer. Isso me deixa ainda
mais curiosa sobre o que poderia ser.
— Eu deveria tomar um banho — ele nos diz, dando um
sorriso que não atinge seus olhos. — Não quero me atrasar.
— Tudo bem — Sophie murmura, ainda parecendo
abatida.
— Obrigado pelo café — Aiden me diz, sua expressão ainda
insinuando o que não foi dito.
— É café puro — respondo, fazendo uma careta. — Não sei
se você deveria me agradecer.
— Certo. — Seu sorriso é caloroso e me faz sentir o mesmo.
— Vocês, meninas, divirtam-se hoje — diz ele, inclinando-se
para beijar o topo da cabeça de Sophie. — Fique longe de
problemas.
Eu não digo mais nada enquanto o vejo sair da cozinha, e eu
poderia estar envergonhada pelo jeito que o estou observando,
se não fosse pelo fato de que eu o peguei me olhando uma
última vez antes de começar a subir as escadas.
Eu bebo o resto do meu café de uma só vez, deixando-o
permanecer na minha boca à medida em que os pensamentos
saltam em meu crânio. Uma pergunta se destaca mais do que
qualquer outra, porém, uma que eu suspeito que estarei
pensando pelo resto do dia, se não mais.
O que Aiden estava prestes a dizer?

■□■
Foi uma ótima ideia trazer Sophie para cá. Ela parece mais feliz
do que nunca, e acho que talvez Aiden estivesse certo quando
disse que ela gostaria de sair de casa. Ela está um pouco mais
animada desde que saímos, mas não totalmente, atualmente
ocupada com um elaborado castelo de areia que ela está
fazendo com o pacote variado de brinquedos de praia que ela
tinha guardado em casa.
Estou distraída enquanto a observo, a memória da expressão
de Aiden e a maneira suave como ele disse meu nome girando
em minha mente. Eu posso estar fazendo o que aconteceu antes
parecer mais do que é, mas o jeito que Aiden tem mantido
distância de mim me deixou em um estado constante de
desconforto, e eu nem tenho certeza do porquê. Eu gostaria de
dizer que é porque estou preocupada com meu trabalho... mas
não tenho certeza se essa é toda a verdade. No fundo, acho que
só sinto falta de falar com ele. Provavelmente é bobagem da
minha parte estar tão preocupada com isso; é mais provável que
ele fosse apenas me dizer que deveríamos fingir que nunca
aconteceu, o que provavelmente seria o melhor a se fazer.
Mesmo que seja mais fácil dizer do que fazer.
O entusiasmo anterior de Sophie diminuiu um pouco desde
que almoçamos, mas não o suficiente para que ela dê qualquer
indicação de que está pronta para voltar ainda. Ela
provavelmente ficaria aqui o dia todo se eu deixasse.
— Ei, menina — eu chamo finalmente, afastando os
pensamentos sobre Aiden. — Preciso colocar mais protetor
solar em você.
Ela faz uma careta.
— Eu não estou queimando.
— Você acha que não, até chegar em casa mais tarde e
perceber que parece uma lagosta.
— Tudo bem — ela bufa, levantando-se da areia e limpando
as mãos antes de se sentar comigo no cobertor.
Ela fica de costas para mim, envolvendo os joelhos com os
braços e apoiando o queixo neles. Eu pego o frasco de protetor
solar da minha bolsa próxima, esguichando um pouco em
minhas mãos antes de começar a espalhar por seus ombros que
já começaram a ficar um tom mais rosado do que deveriam.
Ela estremece, e eu estalo minha língua.
— Viu? Na hora certa.
— Sim, sim — ela resmunga.
— Você está se divertindo?
Ela dá de ombros.
— Sim.
— Uau, que alegria — provoco. — Você soa como se eu
tivesse feito você arrancar ervas daninhas.
— Não sei... — Ela suspira. — Queria que o papai tivesse
vindo.
Faço uma pausa no que estou fazendo, a simpatia latejando
em meu peito. Há uma parte de mim que ainda pensa que não
é meu papel me intrometer no relacionamento deles. Que eu
deveria fazer meu trabalho, ganhar meu salário e não me
preocupar com mais nada – mas é difícil. Especialmente com a
maneira como comecei a me importar com essa menina
corajosa que pode ser mais esperta do que eu.
Sem mencionar a maneira como ainda estou pensando em
como os sentimentos dela podem se alinhar aos meus de outra
época; uma época em que eu também não queria nada além de
passar mais tempo com as pessoas cuja atenção deveria ser dada.
Eu termino de aplicar o protetor solar completamente antes de
limpar o restante na minha toalha, alertando-a de que ela está
pronta para ir. Ela não se move imediatamente, ainda olhando
para o rolar lento das ondas contra a costa como se estivesse
perdida em pensamentos.
— Você pode falar comigo, sabe — eu ofereço timidamente.
Ela encolhe os ombros novamente.
— Não é nada.
— Segredos não fazem amigos — digo seriamente. — E nós
somos amigas agora, certo?
Ela acena com a cabeça, e eu resisto à vontade de dar uma
dancinha de vitória.
— Eu acho que sim.
— Então, me diga o que você está pensando com tanta
seriedade.
— Só pensei que papai não estaria tão ocupado hoje.
Algo se contrai em meu peito.
— Tenho certeza que ele preferia estar aqui com você.
— Eu acho que sim — ela murmura. — Eu odeio quando
ele está ocupado.
— Isso acontece muito?
Ela encolhe os ombros novamente lamentavelmente.
— Às vezes. O trabalho dele é estúpido.
— Ah, vamos lá, não é estúpido. Ele tem que trabalhar para
poder comprar mais videogames para você, certo?
— Acho que sim.
Eu me movo para sentar ao lado dela, e ela olha para mim de
lado.
— É só... — Ela começa. Eu posso dizer que ela está lutando
com suas palavras, sua voz mais suave agora, como se ela
estivesse envergonhada. — Quando ele fica muito tempo longe
faz com que eu sinta saudades da minha mãe.
— Oh, querida. — Estendo meu braço para pressionar
minha mão em suas costas, esfregando um círculo lento. —
Claro que faz.
Sua fungada suave parte meu coração, o primeiro sinal de
vulnerabilidade que ela mostrou desde que a conheci.
— Ela era incrível.
— Eu aposto que sim. Quero dizer, ela teria que ser, já que
ela fez uma criança divertida como você.
— Ela era tão engraçada — Sophie me diz. — Ela contava as
melhores piadas. E ela costumava ler histórias para mim todas
as noites. — Uma única lágrima cai sobre seus cílios inferiores,
escorrendo por sua bochecha. — Papai trabalha muito até
tarde, então.
— Sabe, eu sou uma boa leitora.
Sophie estende a mão para limpar o nariz, ainda tentando ao
máximo parecer estóica.
— Estou velha demais para histórias de ninar.
— Quem disse?
— Não sei.
— Bem, eu sou super velha e ainda gosto de histórias para
dormir.
Ela se anima minuciosamente.
— Você gosta?
— Sim. Eu estava pensando outro dia o quanto eu gostaria
de poder ler uma boa história. Talvez você possa me ajudar com
isso?
Sophie morde o lábio inferior para não sorrir, evitando
meus olhos enquanto ela dobra o queixo contra os joelhos
novamente.
— Acho que sim. Desde que você queira.
— Você definitivamente estaria me fazendo um favor.
Eu só conheço essa garotinha há duas semanas, mas estou
começando a pensar que não há muito que eu não faria para
fazê-la sorrir. Especialmente porque tenho a sensação de que ela
precisa de tantos sorrisos quanto puder com tudo o que passou.
— Ok. — Ela acena com a cabeça sobre os joelhos. — Claro.
— Ei, você sabia que não pode cantarolar enquanto tapa o
nariz?
Sophie pressiona os lábios.
— O quê?
Eu belisco meu nariz, fazendo uma cara ridícula enquanto
tento. Sinto meus olhos esbugalhados e minhas bochechas
inchadas, e Sophie ri.
— Viu? Impossível.
— Nuh-uh — ela argumenta. — Eu posso fazer isso.
Seu rosto se contorce de concentração enquanto ela me
copia, beliscando o nariz e enrijecendo todo o corpo enquanto
tenta forçar a garganta a produzir um som. Ela faz isso até que
seu rosto começa a ficar vermelho, e eu finalmente tenho que
puxar suas mãos para que ela não rompa um vaso sanguíneo.
Não posso deixar de rir de sua expressão irritada, parecendo que
ela está com raiva por ter sido superada pelo meu fato de
Snapple.
Mas noto que ela não parece mais triste, então vale a pena.
— Eu disse que era impossível.
— Eu poderia resolver isso — ela resmunga.
— Tenho certeza que você poderia — eu rio. Eu a cutuco
com o cotovelo novamente. — Ei. Por que não saímos amanhã
de novo? Tem um parque perto. Essa coisa de dia das meninas
foi legal, certo?
Seus olhos se arregalaram, seu interesse despertado.
— Um parque?
— E talvez possamos encontrar uma livraria que venda boas
histórias para dormir. Sabe. Para me ajudar. — Seu sorriso
cheio de dentes é minha recompensa, e estendo minha outra
mão para enxugar uma lágrima perdida ainda agarrada a sua
bochecha. — Sem mais lágrimas, ok?
— Ok.
— Agora, vamos terminar este castelo de areia antes que nós
duas acabemos parecendo lagos...
Eu faço um som de surpresa quando seus bracinhos me
envolvem de repente; seu pequeno corpo pressionando o meu
enquanto ela se agarra a mim em um abraço caloroso. Eu só fico
surpresa por um segundo ou dois antes de sorrir no topo de sua
cabeça, circulando meus braços em volta de seus ombros e
pressionando minha bochecha em seu cabelo.
— Você não é tão chata — ela murmura em minha camisa.
— Para uma babá.
Fecho os olhos enquanto respiro o aroma suave de seu
shampoo de melancia misturado com água do mar.
— Vou considerar isso como o maior elogio.
Eu rastejo pela areia para ajudá-la com seu castelo, pegando
um balde enquanto ela começa a me dar ordens sobre o que
deve ir para onde. Sua melancolia anterior parece se dissipar
após nossa conversa e, embora meus próprios pensamentos
ansiosos ainda corram pela minha cabeça, saber que ela está
relativamente bem me faz sentir melhor, na maior parte do
tempo.
Digo a mim mesma que é por causa de Sophie que estou tão
preocupada com o que Aiden tentou dizer antes, que é
simplesmente porque tenho medo de que ele decida que eu não
seja a pessoa certa para eles, e vou perder de ter mais tempo com
essa garotinha a quem estou me apegando tanto. Qualquer
outra coisa seria ridícula. Especialmente qualquer interesse
latente no pai da menininha, que está tão fora dos limites que
pode muito bem ser minha Área 51 pessoal. Mesmo que ele
continue a me evitar, tudo bem, contanto que eu possa
continuar trabalhando aqui.
Tento me concentrar mais no castelo de areia e menos em
Aiden e tudo o que vem com ele, decidindo que seria melhor
parar de pensar em suas palavras não ditas e em seus olhares
indecifráveis. Isso não é algo que eu deveria estar tentando
descobrir. Eu deveria estar gastando essa energia com Sophie.
Cassie, na verdade, eu...
Sim. Não pense nisso.

■□■

Chegamos em casa naquela noite um pouco mais tarde do que


o esperado; Sophie me convenceu a tomar sorvete e depois a
uma visita ao fliperama que resultou no jantar. No momento
em que estou carregando todos os 34 quilos dela pela porta da
frente porque ela está esgotada, são quase nove horas da noite.
Ela está apagada como uma luz enquanto eu luto para fazê-la
passar pela porta da frente, segurando-a com força com um
braço enquanto me atrapalho com minhas chaves. Estou
prestes a me resignar a acordá-la para que possamos entrar, mas
então a porta se abre sozinha, me pegando de surpresa.
— Aiden? O que você está fazendo em casa?
— Acabei de chegar — diz ele. — Noite de pouco
movimento. — Ele percebe que estou com dificuldade,
estendendo a mão para pegar Sophie. — Parece que ela teve um
grande dia.
— Oh, sim. — Eu o deixei fazer malabarismos com Sophie
para passá-la dos meus braços para os dele. — Ela me
convenceu a fazer várias viagens secundárias depois da praia.
— Sim — ele ri. — Ela é boa nisso.
Eu ainda estou de pé na varanda. Aiden leva um segundo
para perceber isso.
— Merda. Deixe-me... — Ele sai do caminho para que eu
possa entrar. — Tenho certeza que você está... com frio.
E é só então que eu percebo que não estou usando nada além
de uma saída de praia transparente por cima do biquíni e shorts
que parecem curtos demais de repente. Aiden pigarreia
enquanto desvia os olhos, e eu passo por ele, consciente do fato
de que o material preto transparente deixa pouco para a
imaginação. Não pareceu grande coisa quando saímos hoje,
afinal, estamos na Califórnia – mas a um metro e meio de
Aiden Reid com metade dos meus seios à mostra logo após o
incidente do mamilo parece demais.
Ainda esta manhã eu estava tentando me desculpar por isso,
para tentar suavizar o ar entre nós, e agora estou parada no hall
de entrada de biquíni enquanto ele faz o possível para não
olhar. O que eu tenho que dar crédito a ele. Atualmente, ele
está muito interessado na cor da tinta na parede de entrada.
— Estou feliz que vocês tiveram um bom dia — diz ele com
firmeza.
Cruzo os braços sobre o peito.
— Nós realmente tivemos. Mas ela sentiu sua falta.
— Ela sentiu? — Ele olha na minha direção, um movimento
inconsciente que eu não acho que ele percebe até que ele já
esteja olhando diretamente para mim. Ele parece se lembrar
logo depois porque não estava olhando em primeiro lugar,
desviando os olhos para o chão. — Eu gostaria de ter estado lá.
— Talvez na próxima vez.
Ele concorda.
— Talvez.
Deus, as coisas realmente precisam ser tão estranhas? Temos
que descobrir uma maneira de lidar com essas coisas se vamos
morar juntos. Eu tenho peitos. Seu rosto é feito sob medida
para induzir borboletas na barriga. Nós vamos lidar com isso.
— Bem, de qualquer maneira — diz ele. — Eu acho que é
melhor eu levar Sophie até...
— Posso te perguntar uma coisa?
Eu não deveria, provavelmente. Eu sei disso. Mas isso está
na minha cabeça o dia todo, e vê-lo se esforçar tanto para não
olhar para mim não faz com que me sinta melhor.
Ele não hesita.
— Sim.
— O que... — Eu tenho que respirar fundo para criar
coragem. — O que você ia dizer esta manhã? Antes de Sophie
aparecer.
Sua boca abre apenas para se fechar, os lábios se
pressionando por um breve momento antes de responder
baixinho:
— Eu ia dizer que estava. Evitando você. Desculpe.
— Oh. — Definitivamente não é o que eu esperava, eu acho.
— Quero dizer, eu entendo. Foi meio estranho.
— Não, quero dizer... — Ele faz um som frustrado. —
Fiquei com medo de que você tivesse se sentido desconfortável.
Eu não queria piorar as coisas.
— Eu... oh. Quero dizer... Eu não me senti. Coisas
acontecem, certo? Não foi nada demais.
— Certo — diz ele. — Ok. Bom. Estou feliz que você não...
se sentiu desconfortável.
— Eu não me senti — asseguro. — Eu só não quero que as
coisas fiquem estranhas entre nós. Estamos fadados a ter alguns
contratempos aqui e ali, em uma situação como a nossa.
Seus olhos encontram os meus, menos hesitantes do que
antes.
— Você tem razão. Me desculpe se eu piorei as coisas.
— Não. — Eu aceno para ele. — Eu vou, ah, tentar ser mais
cuidadosa também. Não haverá mais incidentes relacionados à
mamilos nesta casa.
Merda.
Eu realmente quis dizer isso como uma piada, mas no
minuto em que sai da minha boca, estou amaldiçoando minha
completa falta de filtro quando fico nervosa. Os olhos de Aiden
se arregalam um pouco, e sua garganta se move sutilmente
engolindo, e o aceno que ele me dá é rígido, como se fosse
forçado.
— Certo — ele responde, sua voz mais baixa do que um
momento atrás. — Isso seria... Sim.
Cassie, você realmente é uma merda nota 10 às vezes.
— De qualquer forma... Acho melhor eu ir para a cama.
— Claro. — Aiden acena com a cabeça novamente, tão
rígido quanto antes. — Vou levar Sophie para cima também.
— Ela é mais pesada do que parece — provoco.
— Mm-hmm.
Apesar do que ele diz, ele não se move quando eu passo por
ele, e eu dou a ele um aceno desajeitado antes de entrar no meu
quarto e fechar a porta atrás de mim. Não sei por que o
universo pretende tornar as coisas estranhas entre Aiden e eu,
mas está fazendo um ótimo trabalho. Então de novo... é apenas
um traje de banho. Aqui é a Califórnia. É algo que Aiden
certamente já viu mil vezes. Certo. Não é grande coisa.
Aparentemente, evitar incidentes embaraçosos com meu
chefe gostoso é apenas minha rotina noturna agora.
Ótimo.
É um acidente completo. Até esse momento, fiz bem em
mantê-la fora de vista, e agora que um dos meus
principais assinantes viu – me sinto muito exposta,
envergonhada até.
"Eu sei que parece horrível."
Minha mão passa por cima do meu ombro, meus dedos
roçando a pele áspera da cicatriz que está marcada ali.
Percebo que estou sentada aqui, pós-orgasmo, esperando
que ele saia e pare de voltar para esses shows privados.
"Eu não acho nada horrível" ele diz finalmente, e seu
tom não deixa espaço para uma mentira. Sinto minha
ansiedade diminuir, ainda mais quando ele fala
novamente. "Eu também tenho uma cicatriz, sabe."
Capítulo 7
Cassie

— Tome cuidado! Não vou subir aí se você ficar presa.


Sophie ri do alto do trepa-trepa.
— Medrosa.
— Você vai mudar de tom quando quiser que eu suba para
te ajudar a descer — eu digo do banco ao lado do parquinho.
Ela está brincando há quase uma hora enquanto eu trabalho
em uma tarefa no meu notebook, me certificando de verificá-la
a cada poucos segundos para garantir que ela ainda está bem.
Ela vai odiar ouvir que precisaremos almoçar em instantes;
já posso ouvi-la resmungando por não querer ir embora. Faço
uma anotação mental para trazê-la novamente aqui em breve.
Acho ótimo que ela tenha sido capaz de brincar com algumas
crianças da idade dela também, sabendo do fato, por ela ter
admitido, que ainda está com dificuldade para encontrar
amigos em sua escola.
Assim que finalizo minha tarefa, levo um segundo para
verificar meus e-mails, fazendo uma careta quando percebo
que tenho um novo do OnlyFans me informando sobre algo
especial que eles estão fazendo. Ainda os recebo regularmente e
sei que deveria cancelar a inscrição na sua lista de e-mails, mas
ainda não o fiz. Não é como se eu tivesse planos de voltar, e nem
mesmo tenho necessidade com o tanto que Aiden está me
pagando agora, mas mesmo um ano depois de desativar tudo,
não consigo deixar isso totalmente para trás. É bobagem, eu sei,
não é como se houvesse mais a possibilidade de alguém entrar
em contato comigo através do site, mas mesmo sabendo disso,
aqui estou eu ainda deletando melancolicamente e-mails que
não servem para nada.
Guardo meu notebook na mochila depois de deletar a
mensagem – pois sempre faço isso, como já é de costume –
ignorando meu breve mergulho em memórias ruins e
caminhando até o balanço para onde Sophie se deslocou. Ela é
algo melhor para se focar, de qualquer maneira. Coloco minha
mochila perto do chão onde posso vê-la, sentando no balanço
vazio ao lado de Sophie e me acomodando nele.
— Aposto que você não pode ir tão alto quanto eu — ela
desafia.
— Ah, não tenho dúvidas — digo a ela. — Você parece
muito mais experiente em balanços do que eu.
Ela sorri.
— Sim.
— Você está se divertindo?
— Sim! Podemos voltar depois da escola amanhã?
— Eu estaria disposta a apostar que podemos — digo a ela
com um sorriso. — Talvez possamos convidar seu pai?
Sua expressão imediatamente vacila.
— Ele vai estar muito ocupado.
— Talvez não — eu tento. — Ele não pode ficar tão
ocupado para sempre.
— Eu penso que sim — ela resmunga.
Eu endireito o balanço, começando a balançar para frente e
para trás levemente.
— Você já tentou falar com seu pai sobre isso? Tenho
certeza de que ele gostaria de saber como você se sente.
— Eu não quero deixá-lo bravo — ela admite calmamente.
— Eu não acho que ele ficaria bravo. Seu pai não parece ser
do tipo que fica bravo com algo assim. Ele te ama, sabia?
Ela me dá outro aceno lento.
— Eu sei. Ele só está ocupado.
Mais uma vez, sinto aquela pontada no peito quando sou
empurrada de volta para as memórias enterradas que me fazem
querer me enfiar na cama, e preciso de muito esforço para não
deixar meus sentimentos influenciarem minha conversa com
Sophie, sabendo que minha experiência não é justa com ela ou
Aiden. Sei que Aiden é diferente dos meus pais, que sua
ausência é um descuido, não uma escolha consciente.
— Que tal irmos almoçar? — digo, querendo tirá-la de seu
humor sombrio. — Você deve estar com fome depois de toda
essa escalada.
— Estou com um pouco de fome — ela admite.
— Tudo bem, então. — Eu me empurro do balanço para
pegar a mochila. — Ainda precisamos passar na livraria
também, mas logo após isso, é melhor pegarmos um pouco de
comida para você. Tenho que proteger meus tornozelos e tudo.
— Eu não mordo — ela ri.
Eu estalo minha língua.
— Não sei se acredito.
— Podemos comer pizza?
— Nós comemos pizza ontem.
— Mas eu quero — ela faz beicinho.
— Oh, bem, quando você coloca dessa forma — eu rio.

■□■

— Posso carregar a pizza?


— Está muito quente — eu digo a ela. — Você está
encarregada dos livros.
Ela escolheu três livros sobre abóboras falantes, monstros
amigáveis e um unicórnio perdido, respectivamente,
protegendo-os como se sua vida dependesse disso.
— Posso fazer as duas coisas.
— Pode deixar. Estamos quase em casa, de qualquer
maneira.
— Eu posso fazer isso — ela argumenta.
— Sim, mas aí você pode queimar as mãos e usar isso como
desculpa para não ajudar com a louça.
— Eu não vou!
Eu finjo suspeita.
— Não sei... soa como uma armadilha para mim.
— Você é tão estranha — ela bufa.
— Diga-me algo que eu não sei, menina.
— Tudo bem, mas quando chegarmos em casa eu quero...
— Sophie?
Nós duas paramos na calçada, notando uma figura familiar
ao lado de fora do portão em frente à casa da cidade segurando
um saco de papel. Aiden não tinha dito nada sobre uma visita
de Iris hoje, então me surpreende vê-la aqui, e
momentaneamente vacilo antes de dar um sorriso.
— Ei! O que a traz por aqui?
— Eu não preciso de um motivo para ver minha sobrinha
— Iris diz sem rodeios.
Caramba.
— Bem, não — eu ofereço com uma risada desconfortável.
— Imagino que não. Eu só pensei que se você me avisar com
antecedência da próxima vez, vou me certificar trazê-la de volta
para casa mais cedo.
— Mm-hmm. — Iris dá um sorriso para Sophie então. —
Você não vai dar um abraço na sua tia?
Sophie sorri de volta, andando o espaço entre nós para
abraçar Iris.
— Como foi a escola esta semana, ursinha?
Sophie dá de ombros.
— Foi ok.
— Já fez algum amigo?
— Na verdade não — Sophie suspira.
— Você irá — Iris incentiva docemente. Ela realmente é
uma pessoa diferente com Sophie. — Não se preocupe. Trouxe
alguns livros para você — ela olha para a pilha nos braços de
Sophie. — Eu vejo que alguém chegou antes de mim.
Sério, não vou ganhar nenhum ponto positivo com essa
mulher.
— Tudo bem — diz Sophie. — Cassie pode ler os seus
também.
— Aposto que ela pode — responde Iris.
Sophie pega o saco que Iris está segurando e sorri para mim,
e faço o possível para retribuir. Não tenho ideia de como lidar
com essa situação estranha em que me meti, mas tento parecer
despreocupada pelo bem de Sophie enquanto me movo em
direção a ela.
— Ei, Soph, você se importa de levar a pizza para dentro?
Estarei logo atrás de você. — Hesito antes de lhe entregar a
caixa. — Mas tenha cuidado — aviso. — Ainda está quente.
— Tudo bem — Sophie diz alegremente, pegando a caixa de
mim e equilibrando seus livros em cima antes de olhar para sua
tia. — Tchau, tia Iris.
— Tchau, querida. Vejo você em breve.
Nenhuma de nós diz uma palavra enquanto Sophie passa
pelo portão, Iris espera até que ela esteja segura dentro de casa
antes de falar novamente, seu tom doce anterior totalmente
esquecido.
— Percebi que o pai dela não está por perto de novo.
— Ele está trabalhando.
Iris ri, mas soa estranho.
— Ele está sempre trabalhando.
— Sinto muito, mas não acho que seja uma coisa ruim que
ele esteja provendo para a filha dele.
As sobrancelhas de Iris se erguem.
— Por quê você se importa? Você é apenas a babá. —
Observo sua expressão ficar curiosa. — A menos que você
esteja mais... investida de alguma forma. Qual é exatamente o
seu papel aqui?
— Estou aqui para cuidar de Sophie — digo a ela. — Olha,
parece que começamos com o pé esquerdo. Eu nunca pensaria
em atrapalhar seu relacionamento com Sophie. Ela precisa de
todo o amor que conseguir, imagino. Não quero que ela fique
confusa.
— Tenho certeza que ela já está confusa, já que o pai dela
não se incomoda em passar um tempo real com ela.
Eu cruzo meus braços.
— Isso não é justo.
— Há muitas coisas nesta situação que não são justas — Iris
responde amargamente.
— Ouça, acho que entendo seu ponto de vista, mas você não
pode...
— Você não tem ideia do meu ponto de vista — ela diz, me
cortando. — Você não me conhece. Você mal conhece Sophie.
Não sei o que Aiden lhe disse, mas ele não é...
— Calma aí.
Ela pisca surpresa, parecendo tão chocada com minha
explosão quanto eu.
— Desculpe — eu digo, um pouco mais calma. — Mas eu
não posso ficar aqui e ouvir você falar mal do pai dela para mim.
Você tem razão. Ainda não conheço Sophie e Aiden muito
bem, mas posso dizer que ele está tentando. Quer dizer, ele é o
pai dela. Você não acha que estar com ele é o melhor para ela?
Iris olha para mim por um longo momento, quase como se
estivesse tentando me compreender.
— Eu não preciso de um sermão vindo de você — diz ela
finalmente. — Você não sabe de nada. Sobre nada disso.
Francamente, não é da sua conta.
— Quer você goste ou não, Sophie é da minha conta —
retruco. — É meu trabalho cuidar dela, e você aparecendo
aleatoriamente torna isso da minha conta.
— É engraçado — comenta Iris, depois de um curto período
de tempo. — Você é muito mais jovem do que qualquer uma
das outras babás que Sophie teve. Mais bonita também. Eu me
pergunto por que isso?
O que ela está dizendo deixa meus ouvidos quentes, mas
decido que não preciso validar suas insinuações rebatendo.
— Acho que você deveria ir embora — digo o mais
educadamente que consigo. — Claramente, você está
incomodada.
— Incomodada — Iris ri secamente, ainda olhando para
mim de uma forma que me faz sentir nojenta. — Claro. Diga a
Aiden que entrarei em contato.
Eu a observo caminhar em direção ao que parece ser seu
carro na rua, esperando até que ela esteja no banco do motorista
e se afastando antes de eu entrar, xingando baixinho o caminho
todo. Não consigo imaginar o que eu possa ter feito nas duas
ocasiões em que encontrei Iris para fazê-la me odiar, mas está
claro que conversas e sorrisos educados não vão mudar a
atitude desagradável dela. Deus, mesmo quando consigo
entrar, ainda estou abalada, reconhecendo que Iris estava certa
em pelo menos uma coisa. Eu estou mais investida nisso do que
deveria.
E pensei que seria estranho falar com Aiden sobre os
sentimentos de Sophie.

■□■

Certifiquei de que eu estivesse totalmente vestida desta vez,


com sutiã e tudo. Eu tinha todo esse discurso planejado,
quando decidi esperar por Aiden no segundo andar depois que
Sophie foi para a cama, pensando que eu teria uma conversa
rápida sobre tudo o que Sophie e eu conversamos e, em seguida,
faria uma rápida menção sobre meu mais recente encontro com
Iris. Fácil, fácil.
Eu não pretendia, no entanto, dormir no sofá muito antes
de ele aparecer.
Não sei que horas são no momento em que desperto,
acordada pelo som de xingamentos sibilados e algo batendo na
bancada da cozinha. Eu pisco para a escuridão enquanto
levanto minha cabeça sonolenta, notando um brilho do
exaustor do fogão oferecendo apenas um pouco de luz. A visão
imediatamente me desperta do meu estado de semi-sono,
ficando completamente imóvel quando percebo que, por
algum motivo, Aiden está parado sem camisa na cozinha.
Levo um momento para entender o que estou vendo: Aiden
segurando o que suponho ser sua camisa enquanto a usa para
limpar algo sobre a bancada. Há uma lata de cerveja por perto
que eu posso apenas ver o vulto, e imagino que ele deve ter
derramado um pouco e decidiu que sua camisa era a melhor
opção para limpar. Não é o curso de ação mais sensato, eu acho,
mas quem sou eu para julgar? Eu sei que devo dizer alguma
coisa, que devo fazer algo para alertá-lo do fato de que estou
congelada em seu sofá na sala escura, mas estou achando isso
muito mais difícil do que deveria ser.
Especialmente porque eu não consigo tirar meus olhos da
sua figura sem camisa.
Só consigo vê-lo do peito para cima deste lado da bancada,
mas o que posso ver sugere que todas aquelas idas à academia...
realmente valeram a pena. Aiden parece definido em todos os
lugares certos, provocando um desejo de tocar as linhas duras e
sulcos cortados de uma forma que absolutamente não é
apropriada para alguém que está olhando para seu empregador.
Não que alguém fosse me culpar, eu acho, se estivessem vendo
o que eu estou vendo. Aiden diz outra palavra suja naquela
mesma voz baixa que me acordou, e tudo sobre isso me faz
sentir coisas que também são totalmente inapropriadas.
Não é justo que ele seja tão bonito. Emparelhado com o fato
de que ele é doce e engraçado e está fazendo o seu melhor como
pai solteiro... Meus ovários estão formando seu próprio fã-
clube neste momento.
Eu sei que quanto mais eu ficar sentada aqui, mais estranho
será quando ele finalmente me notar, e apesar do desejo de
observá-lo em silêncio até que ele escape escada acima, eu sei
que esperei ele por um motivo.
— Aiden?
Ele se assusta, o rosto se levantando para espiar a sala de
estar, a camisa ainda apertada com força contra a mão.
— Cassie?
— Desculpa — ofereço, empurrando-me do sofá para uma
posição sentada. — Adormeci no sofá.
— Oh. Isso é... — Ele olha para si mesmo como se lembrasse
que está seminu, endireitando-se e trazendo o que suponho ser
uma camisa molhada até o peito para oferecer alguma
cobertura. Não que isso ajude. — Eu derramei minha bebida.
— Sim. Eu posso ver isso.
— Eu deveria... pegar outra camisa. Sinto muito se acordei
você.
— Aiden, espere.
Ele para no meio do caminho, ainda atrás da bancada
enquanto me observa deslizar para fora do sofá. Eu aperto meu
roupão à medida que me aproximo da cozinha, pensando que
pelo menos um de nós não vai se expor para o outro esta noite.
— Eu realmente queria falar com você — eu começo. — É
por isso que eu estava esperando no sofá.
Não tenho ideia de como poderei ter essa conversa quando
posso ver os mamilos de Aiden.
Como o mundo gira, penso.
— Sobre o que você queria conversar?
— É sobre Sophie.
Ele imediatamente desperta preocupação.
— Ela está bem? Aconteceu alguma coisa?
— Ela está bem, não se preocupe — asseguro-lhe. — É
apenas... Ela está falando. Sobre o quanto ela sente sua falta
quando você não está aqui.
Vejo sua expressão cair imediatamente, quase me fazendo
lamentar minha decisão de falar com ele.
— Oh.
— Eu nem sei se cabe a mim dizer isso, mas dói meu coração
ouvir o quanto ela sente sua falta.
— Não, eu agradeço por você ter me contado, mas não sei
como posso mudar isso agora. Eu disse a você que tínhamos
muitas coisas acontecendo no restaurante.
— Eu sei — pressiono. — Mas realmente parece estar
cobrando um preço dela.
— Bem. Eu disse a você que meu trabalho às vezes era um
pesadelo.
— E eu entendo isso totalmente — eu digo
cuidadosamente. — Mas... ultimamente, mesmo no fim de
semana, quando ela fica aqui o dia todo, você tem ido para o
restaurante praticamente logo após o café da manhã. Senão
antes.
— Não é algo que eu possa exatamente controlar — diz ele,
cansado. — É o meu trabalho. Eu não posso simplesmente
dizer "cai fora" para isso.
— Eu não estou tentando dar um sermão em você —
asseguro-lhe. — Só estou preocupada com ela. Eu posso dizer
que ela não gosta de falar sobre a mãe, mas... quando você não
está aqui, Sophie sente mais a falta dela.
A boca de Aiden se abre, sua expressão suavizando.
— Ela te disse isso?
— Ela disse — digo a ele suavemente.
Aiden esfrega a mão no rosto.
— Ela nunca fala sobre Rebecca. Nunca. Estou sempre
tentando fazer com que ela se abra, mas ela... — Ele fecha os
olhos, respirando fundo. — Ela sempre age como se estivesse
bem.
— Eu acho que ela se preocupa com você — arrisco. —
Acho que ela tem medo de como os sentimentos dela podem
fazer você se sentir.
Ele ri amargamente.
— Até minha própria filha acha que não sou adequado para
cuidar dela.
— Ei. Não. — Eu dou um passo, tendo que me impedir de
ir até ele. Eu sei que não é o meu lugar. — Não acho que seja
esse o caso, Aiden. Eu só acho que ela está pensando em seus
sentimentos tanto quanto você está pensando nos dela.
— Eu realmente estou tentando — diz ele. — Eu sei que Iris
provavelmente pensa que eu sou o pior pai do mundo, e talvez
eu tenha sido por um tempo, mas... estou tentando.
— Eu acredito em você — eu digo, porque eu acredito. —
Tenho certeza que é mais difícil saber o que fazer com alguém
como Sophie. Ela parece tão forte.
— Ela é — ele concorda. — Mais forte do que eu. — Ele
balança a cabeça. — Provavelmente não foi para isso que você
se inscreveu — diz ele com uma risada seca. — Tenho certeza
que você não aceitou o emprego esperando ser uma terapeuta
familiar.
— Não, está tudo bem. De verdade. Posso apenas te enviar
uma outra conta — digo, tentando deixar o ar mais leve.
Sou recompensada com uma risada abafada.
— Certo.
— Escute, eu me sinto péssima por despejar tudo isso em
cima de você, com tudo o que você está lidando, mas eu só... —
Posso ver a exaustão no rosto de Aiden, e não apenas por causa
de um dia difícil. Vejo um esgotamento que parece pesar sobre
ele de dentro para fora. — Eu realmente me importo com
vocês. — Seus olhos se arregalam um pouco, e eu desvio meu
olhar. — Só sei um pouco sobre como Sophie se sente e não
quero que ela cresça com arrependimentos como eu. Você
também, aliás.
— Também não quero isso — ele enfatiza. — E eu sinto
muito por trazer à tona sentimentos ruins para você.
— Oh, não, é... — Minha boca se fecha quando as memórias
surgem espontaneamente, e eu sinto algo pesado no meu peito.
— Você não é nada como meus pais, Aiden. Eu prometo.
— Era tão ruim assim?
— Pior. — Eu solto uma risada amarga. — Meus pais eram
uma merda. Durante todo o tempo em que cresci, tive que
ouvir sobre como a única razão pela qual eles tinham que
trabalhar tanto era por causa de mim. Como se eu fosse algum
tipo de fardo. Quero dizer, eles não me quiseram desde o início.
A sobrancelha de Aiden franze em simpatia.
— Eles não queriam?
— Acho que devo me considerar sortuda por eles serem tão
religiosos — eu bufo. — Poderia não estar aqui se fosse de outra
forma.
— Cassie... — Eu posso dizer que ele está lutando com o que
dizer, e eu não posso acreditar que estou realmente deixando
escapar tudo isso. Normalmente, faço o possível para evitar
falar sobre. — Eu sinto muito.
— Está tudo bem — respondo levianamente, ignorando a
leve dor no meu peito. — Só estou contando isso porque meus
pais... eles nunca foram presentes. Eu me colocava na cama,
fazia meu próprio jantar, passava os fins de semana
conversando com um número ridículo de amigos imaginários
só para simular algum tipo de contato humano. Esse tipo de
solidão pode realmente foder com uma criança. — Eu dou a ele
um olhar aguçado então. — Mas você não é eles. E sei disso
porque sei como são os pais de merda que não se importam. Eu
sei que você se importa, Aiden.
Aiden está olhando para mim de forma estranha, como se
estivesse vendo mais do que eu gostaria. Eu me sinto um pouco
envergonhada por compartilhar demais agora, desejando que
ele dissesse algo para acabar com o silêncio.
— Sinto muito — diz Aiden novamente depois de um
momento. — Eu não... Eu realmente aprecio por você ter me
dito isso.
Eu respiro fundo.
— Me desculpe se passei dos limites.
— Não, eu... Você está certa — Aiden continua. — Claro
que você está certa. Estou fazendo um trabalho de merda nisso.
— Não, você não está — argumento. — Você é humano,
Aiden. Tudo bem não ser perfeito. Eu apenas... pensei que você
gostaria de saber. O quanto Sophie sente sua falta quando você
não está aqui.
Aiden abaixa a cabeça, estendendo a mão para correr os
dedos pelos cabelos em exasperação enquanto solta um suspiro.
— Eu sei. Eu preciso fazer melhor.
— Eu não estou tentando fazer você se sentir mal —
asseguro-lhe. Eu mordo o interior do meu lábio, com medo de
passar dos limites novamente. — Eu só quero ver vocês felizes,
só isso.
A maneira como Aiden está olhando para mim deixa minha
pele quente, sua expressão suavizando em algo que é muito
pesado para o que somos. Isso me deixa tonta.
— Sinto muito que você teve que mexer em feridas antigas
— diz ele suavemente, quebrando o feitiço ligeiramente. —
Mas eu agradeço por você ter compartilhado comigo.
— Está tudo bem — eu respondo suavemente. — Está tudo
no passado agora.
— Ainda assim — diz ele. Eu encontro seus olhos, e esse
mesmo calor ameaça me destruir. — Obrigado.
Lembro então que tinha outro motivo para esperar por ele,
e parece quase cruel entregar outro fardo pesado, um após o
outro. Melhor arrancar como um curativo, eu acho.
— Certo. Além disso, devo te dizer... — Eu faço uma careta.
— Iris apareceu hoje.
— Claro que ela apareceu. — Ele inspira profundamente.
— Tentei convencê-la a falar comigo primeiro antes de visitar,
mas às vezes ela gosta de ser difícil. Acho que ela adoraria provar
que pai de merda eu sou.
— Você não é um pai de merda — eu enfatizo. — Eu te
disse, lembra? Tudo o que as crianças querem é que você tente.
Ele acena com a cabeça solenemente.
— Eu posso fazer melhor. Eu sei. Vou me certificar de estar
mais aqui. Quando eu estiver de folga. Eu prometo.
— Sophie adoraria isso.
Eu também, eu não digo.
Eu fico inquieta, sabendo que deveria dizer mais, mas sem
saber como abordar isso. Eu esfrego meu braço
preguiçosamente enquanto franzo a testa para meus pés,
limpando minha garganta.
— De qualquer forma, achei que deveria dizer a você que
Iris fez algumas… insinuações — continuo. — Sobre mim.
— O quê? — A expressão de Aiden endurece. — O que ela
disse para você?
— Bem, ela estava falando mal de você, e eu só queria
defendê-lo, e ela pode ter... implicado de que eu estou... mais
envolvida do que deveria.
Aiden não me entende imediatamente.
— O que você quer dizer?
— Ela... — Deus, ele vai me fazer dizer isso. — Eu acho que
ela pode ter insinuado que havia algo... inapropriado
acontecendo entre nós.
— O quê?
— Eu sei, ridículo, mas... Eu não quero ser algo que ela use
contra você, então achei que você deveria saber.
— Certo. — Eu noto sua garganta balançar, engolindo. —
Ridículo.
Ai. Quero dizer, eu sei que acabei de dizer isso, mas ouvi-lo
repetir dói.
— Eu apenas pensei que você deveria saber. Não sei... Talvez
possamos fazer algum tipo de cronograma para que Iris venha
mais vezes. Tenho certeza de que Sophie adoraria fazer mais
coisas com a tia.
— Talvez seja uma boa ideia — Aiden reflete. — Eu deveria
falar com ela.
— Acho que não faz mal — eu ofereço.
Ele ainda parece um pouco fora de si.
— Você me defendeu?
Eu paro no meio da minha tentativa de recuar rapidamente.
— Eu... sim?
— Você não precisava fazer isso.
— Eu não disse nada que não achasse que fosse verdade.
— Oh. Eu... aprecio isso.
— Eu disse a você — insisto. — Você é um bom pai, Aiden.
Eu prometo.
Ele balança a cabeça lentamente, olhando para mim com
uma expressão que não consigo ler. Decido que devo recuar
como planejei, não querendo tornar esse encontro mais
estranho do que já é.
— Estou começando a achar que não devemos ter
discussões depois das onze horas da noite — eu digo com uma
risada.
Seus lábios se contraem.
— Elas parecem sempre ir para o lado errado, de alguma
forma.
— Sim. Bem. É melhor eu ir para a cama.
— Claro. — Ele começa a se mover de seu lado da bancada,
e eu tenho que tentar não deixar meus olhos desviarem para o
sul quando me lembro que ele ainda não está vestindo uma
camisa. — Vou fazer algumas ligações de manhã para poder
estar aqui para o café da manhã. E falarei com Iris. Eu prometo.
— Eu definitivamente acho que Sophie ficará...
Esqueço tudo o que estava prestes a dizer quando Aiden
contorna a bancada, e não tem absolutamente nada a ver com
o fato de que ele não está vestindo uma camisa. Eu mal consigo
ver sob esta luz, mas mesmo nunca tendo visto antes, isso faz
meu coração começar a bater forte no meu peito e meu sangue
começar a correr em meus ouvidos. Não sei quanto tempo leva
para Aiden perceber que estou olhando para o lugar à esquerda
de seu umbigo, sua pele mais escura ali, mais saliente.
— Ah — ele ri. — Eu sei que parece estranho. Eu tenho isso
desde sempre.
— É... um coração.
— Sim, parece um, não é? Consegui na escola de culinária.
— Ele toca a cicatriz distraidamente. — Eu deixei cair óleo
quente em mim. A maldita panela escorregou da minha mão.
Não foi meu melhor momento como chef.
Acho que não estou realmente respirando; tudo o que ele
está dizendo só faz meu pânico piorar. Parece impossível o que
estou vendo, o que estou ouvindo – a coincidência de tudo isso
é demais para compreender. Meus olhos permanecem
grudados na queimadura em forma de coração em seu
abdômen por mais tempo do que o apropriado, e eu finalmente
os afasto para encontrar o rosto cada vez mais confuso de
Aiden.
— Estou cansada — eu deixo escapar, meus joelhos
sentindo-se estranhamente fracos. — É melhor eu ir para a
cama.
— Oh... ok — ele diz lentamente, provavelmente se
perguntando por que estou agindo de forma estranha de
repente.
Eu não posso evitar. Eu preciso ir embora.
— Boa noite, Aiden — digo rapidamente enquanto me
afasto dele, sua cicatriz ainda fresca em minha mente junto com
todas as memórias ligadas a ela.
Não, não, não, isso não pode estar acontecendo.
Se ele acha que eu meio que correndo escada abaixo é
estranho, ele não vem atrás de mim para perguntar sobre isso.
Eu não desacelero até que eu esteja segura no meu quarto, meu
coração batendo forte em meu peito enquanto eu atravesso
para sentar na beira da minha cama em transe.
"Eu também tenho uma cicatriz, sabe."
"Sério? Aposto que não é tão ruim quanto a minha."
"É bem grande. E parece um coração, o que significa que nem
parece legal."
"Como você conseguiu?"
"Eu deixei cair óleo quente em mim alguns anos atrás,
enquanto cozinhava. Não foi o meu melhor momento."
É uma história que já ouvi antes. Uma história que ouvi
murmurada através de um microfone de computador de um
homem cujo rosto eu nunca vi. Um homem que – em algum
momento simplesmente desapareceu das nossas trocas de
mensagens e, posteriormente, de toda a minha vida – quase me
fez acreditar que ele poderia se importar comigo.
Eu o conhecia como A. Não é ridículo que eu tenha
esquecido sua voz em apenas um ano? Que eu não fiz a conexão
até agora? Eu pensei que quando ele desapareceu foi apenas
uma experiência ruim que eu teria que atribuir à ingenuidade,
as consequências de me permitir ficar muito próxima de
alguém que estava pagando para me ver gozar. E aqui estou eu,
um ano depois, ainda incapaz de cancelar a assinatura dos e-
mails do OnlyFans por causa de uma fantasia boba de que ele
de alguma forma tentará me encontrar depois de todo esse
tempo, mesmo que fosse quase impossível mesmo se ele
quisesse, já que eu excluí minha conta em um lamentável
episódio depressivo pós-término. O que não faz sentido, já que
nunca estivemos juntos. Ele era apenas um cara que eu me iludi
pensando que conhecia melhor do que eu realmente conhecia.
Apenas alguém que eu nunca tinha visto e pensei que nunca
veria. O que estou percebendo agora que não é o caso.
A verdade é óbvia, eu penso, por mais assustadora que seja.
Que meu tempo online, que eu pensava estar bem no passado,
se destacou na forma do próprio motivo que me fez deixá-lo em
primeiro lugar. O homem que me fez sentir algo e depois me
fez sentir totalmente estúpida por sentir quando ele
desconectou e nunca mais voltou.
Porque Aiden Reid, meu chefe muito gostoso, mas muito
fora dos limites, costumava assistir meu canal.
Ele costumava assistir muito.
Bate papo com @lovecici

Gostou do vídeo?

Era tudo que eu queria.

Que bom que gostou.

Posso estar ficando viciado em ver


você gozar.
Capítulo 8
Aiden

Vinte minutos depois que Cassie foi para a cama, ainda estou
tentando descobrir o que fiz de errado, refletindo sobre isso no
chuveiro. Eu sei que ela está certa sobre tudo, que eu tenho me
atrapalhado quando se trata de Sophie e até mesmo da situação
com Iris, e eu falei sério quando disse que tomaria medidas para
corrigir isso. Achei que minha conversa com Cassie estivesse
indo relativamente bem, o que significa que não consigo
entender como as coisas ficaram tão estranhas no final.
Mesmo depois de nossa conversa tensa, no fim ficou claro
que de alguma maneira conseguimos resolver as coisas, ou
assim pensei. Então, por que ela fugiu daquele jeito? Não
consigo parar de pensar no olhar em seu rosto, algo como
surpresa e pânico, e não importa quantas vezes eu repasse isso
em minha cabeça, ainda não consigo entender. É muito
diferente do jeito que ela olhou para mim antes disso, pelo que
pareceu.
Isso é algo que também não consigo tirar da cabeça.
Houve um jeito demorado sobre como ela olhou para mim,
e com certeza, eu não esperava ser surpreendido por ela tão
tarde da noite enquanto eu estava sem camisa na minha cozinha
depois de ter tomado uma decisão rápida, porém estúpida, mas
eu sei que não estou imaginando o jeito que Cassie olhou para
mim. Estou bem ciente de que não deveria reconhecer, que
deveria ignorar ativamente, mas estaria mentindo se fingisse
estar fazendo qualquer uma das coisas que deveria.
Talvez isso me faça um esquisito, por todas as coisas que não
consigo deixar de pensar sobre ela. Provavelmente sim, eu sei
disso, mas com certeza deve conta de algo o quão incrivelmente
eu tenho me esforçado para esquecer isso. Especialmente
devido ao nosso... incidente. Naquela noite, quando ela me
contou sobre seu primeiro encontro com Iris.
Eu pressiono minha cabeça contra a parede interna do
chuveiro, fechando os olhos enquanto a água escorre pelo meu
cabelo. Não é algo que eu faça de propósito, lembrar da sua
blusa rosa muito apertada, moldando-se contra partes dela que
eu não deveria ter visto. Na verdade, fiz tudo o que pude na
última semana para evitar me lembrar, inclusive manter
distância de Cassie o máximo possível. Porque eu não deveria
pensar em sua boca macia me dizendo que ela não vai a lugar
nenhum, ou em seu rubor quando ela falou de forma errada
que deveríamos ir para a cama, e eu definitivamente não
deveria estar lembrando a forma de seus pequenos mamilos
rígidos pressionando contra sua blusa toda vez que eu fecho
meus malditos olhos.
É completamente uma tortura, tentar ativamente não ser
um esquisito.
Eu jogo a água fria em mim para tentar combater meus
pensamentos traidores, tremendo um pouco contra a pressão
da água antes de ignorá-lo completamente. Ajuda, mas só por
um período de tempo. Ainda estou me perguntando o que fez
o humor de Cassie mudar tão rapidamente, e o que a fez
praticamente correr para longe de mim segundos depois de
estarmos rindo juntos. Eu olho para a pele escura da minha
cicatriz no meu abdômen, franzindo a testa. Foi quase como se
ela tivesse se assustado com isso, mas, de alguma forma, isso não
faz sentido.
É incrivelmente tarde quando me enxugo e me visto, meus
olhos queimando com a necessidade de dormir enquanto sigo
pelo corredor, saindo do meu quarto em direção ao de Sophie
para que eu possa espiar lá dentro. Ela está esparramada na
cama como uma estrela do mar, uma perna aparecendo por
baixo do edredom enquanto ela ronca baixinho. Eu sorrio
enquanto atravesso o tapete silenciosamente para me inclinar e
beijar sua testa, lembrando de todas as coisas que Cassie disse e
sentindo aquela familiar pontada de culpa em meu peito.
Esse tipo de solidão pode realmente foder com uma criança.
Faço outra afirmação silenciosa para estar mais presente. Eu
sei que Sophie merece isso.
Eu saio do quarto de Sophie sem fazer barulho, suspirando
baixinho para mim mesmo enquanto fecho a porta atrás de
mim. Estou no terceiro andar, mas meus pensamentos estão
dois andares abaixo, onde sei que não deveriam estar. É ridículo
sequer pensar em descer para checar Cassie, mesmo para mim
isso soa como uma péssima ideia, e guardo o pensamento
enquanto caminho para meu próprio quarto. É bem depois da
meia-noite, e eu sei que deveria dormir por um momento
depois do dia que tive, especialmente considerando que
amanhã à noite vai ser um show de horrores desde que prometi
que não iria chegar cedo, mas, mesmo quando estou deitado
em minha cama, não consigo desligar meu cérebro.
Você é um bom pai, Aiden. Eu prometo.
Por que parece tão importante para mim que ela pense
assim?
Eu fecho meus olhos, deixando minha cabeça bater contra a
cabeceira da cama. Eu posso estar em apuros. Eu disse a Cassie
que estava evitando-a por causa do bem-estar dela, e claro, isso
é parcialmente verdade, mas o verdadeiro motivo é que tenho
evitado Cassie porque depois daquela noite, não tenho
pensado nela da maneira que um chefe deveria. Especialmente
dada a nossa situação. A forma como eu tenho pensado sobre
Cassie faria com que ela se demitisse em um instante, e dado
que ela parece ser a primeira babá que Sophie realmente gostou
de ter por perto, isso não é algo que eu possa arriscar. Eu rio
amargamente para mim mesmo, pensando que tenho uma
maneira real de escolher as piores mulheres para me interessar.
São sempre aquelas com as quais eu não deveria me envolver
que parecem chamar minha atenção.
As pontas dos meus dedos sobem pela borda da minha
camisa antes de começarem a traçar as partes enrugadas ao
redor da minha cicatriz enquanto penso sobre uma outra
época, quando contei sobre ela para uma mulher que eu estava
começando a me importar. Não é de admirar que a reação de
Cassie traga lembranças da mulher que eu tento ao máximo não
pensar; ela ficou tão surpresa ao saber sobre a cicatriz quanto
Cassie ao notar. Pensando bem, acho que a mulher em questão
pode ser a última pessoa com quem falei sobre isso. Uma
tentativa desesperada de se conectar com uma pessoa que foi
vulnerável sobre suas próprias cicatrizes. Agora, essa foi a coisa
mais idiota que já fiz.
Eu não era alheio ao fenômeno que foi OnlyFans quando
explodiu. Parecia que todo mundo já tinha ouvido falar, pelo
menos, e eu não era exceção. É que antes de procurar, pensei
que fosse algo que não me interessava.
Acho que talvez tenha me afetado, a solidão que vem do
meu horário de trabalho lotado que tornava tão difícil
conhecer pessoas. Talvez tenha sido assim que acabei
navegando no OnlyFans tarde da noite por sugestão de um
colega de trabalho. Eu encontrei o perfil dela por completo
acidente, ela me atraiu logo de cara, embora ela mantivesse o
rosto meio coberto por uma máscara.
Tudo começou com uma rolagem inocente, verificando o
feed de não assinantes dela, que foi projetado para fazer você
querer se tornar um assinante de verdade. O que eu fiz,
obviamente. Não precisou de esforço algum para me fazer
decidir isso. No começo, eu só comprava os vídeos dela quando
eles saíam. Eram sempre sessões solo, sempre ela, na frente e no
centro e com uma música suave, mas algo sobre essa mulher
cujo rosto eu não conseguia ver e cujo cabelo sempre ficava
coberto por uma peruca brilhante... Algo sobre ela me fisgou.
Então comecei a pagar por shows particulares. Na verdade,
isso é risível. Comecei a pagar por muitos shows privados. Foi
tão fácil entrar no Skype com minha câmera desligada. Tão fácil
entrar na fantasia de um show feito só para mim. Como se eu
fosse a única pessoa no mundo, até onde ela sabia. Acho que foi
a ideia de compartilhá-la com outros espectadores como eu que
me fez sentir... ciúmes. De alguma forma. E isso não é louco?
Não é ridículo eu começar a romantizar meus encontros com
uma mulher que eu estava pagando para ver se tocar?
Exceto que... ela também parecia solitária. Ela até me disse
isso. Mais de uma vez. Talvez seja isso que fez tudo parecer ser
mais do que era na minha cabeça. Era fácil acreditar que eu era
especial para ela, mas nunca foi real. Ela nunca teve planos de
me encontrar pessoalmente. Mesmo se ela pretendia. Seu
desaparecimento completo era evidência suficiente disso.
Ainda me lembro das curvas suaves de seu corpo até hoje,
quadris que imploravam por minhas mãos e seios que
imploravam por minha boca, e quando ela se tocava, quando
seus dedos finos deslizavam entre as dobras molhadas para me
provocar noite após noite... bem. Não é de admirar que eu
tenha ficado um pouco obcecado. Especialmente quando havia
tantas noites em que parecia que era tudo para mim.
A memória por si só é suficiente para me fazer enrijecer
contra a calça do pijama, uma dor crescendo lá quando o
pensamento de uma mulher cujo nome eu nunca soube é o
suficiente para me deixar duro, como sempre. Mesmo depois
de todo esse tempo, ela ainda me afeta. Ela usava o nome como
Cici, mas não sou estúpido o suficiente para pensar que ela me
deu seu nome verdadeiro. É outro lembrete de que tudo não
passou de uma fantasia.
Eu sibilo entre os dentes enquanto pressiono a palma da
mão contra o algodão esticado, me sentindo patético por
recorrer a isso, mas sabendo que não há muitas outras opções
de alívio para mim nesta fase da minha vida. Entre as demandas
do meu trabalho e Sophie... não houve exatamente tempo para
namorar. Meus olhos tremem e meus dentes pressionam contra
meu lábio inferior quando eu enfio a mão dentro da minha
calça para envolver meus dedos ao redor do calor do meu pau,
uma respiração instável escapando de mim quando eu começo
a bombear meu punho para cima e para baixo para aliviar um
pouco da pressão. Eu posso sentir o líquido escorregadio na
ponta que reveste o interior do meu punho para deslizar pelo
comprimento de novo. Na minha cabeça estou preso na
memória daquela mulher mascarada com um nome falso, seus
dedos provocando entre suas pernas e beliscando seus mamilos
completamente para mim, só para mim.
Até mesmo antes, eu pensava qual seria a sensação dela se eu
pudesse tocá-la. Se fossem minhas mãos a provocando, em vez
das dela. Era algo que eu quase pensei que no fim seria uma
possibilidade. Ela me fez sentir que me queria tanto quanto eu
a queria. Então, para onde ela foi? Eu não fui embora por
muito tempo, fui? Enquanto eu estava lidando com a morte de
Rebecca? Por que ela desapareceu completamente quando
voltei para me desculpar?
Porque nunca foi real.
Eu cerro os dentes enquanto movimento mais forte, um
aperto no peito enquanto meu pulso acelera e meu sangue
corre mais rápido com o prazer crescente que se acumula a cada
golpe do meu punho. Eu posso sentir, como uma pressão
quente que aumenta e aumenta e aumenta, minha cabeça
caindo para trás enquanto meus lábios se abrem com pequenas
rajadas de ar escapando de mim.
Estou tentando me concentrar na memória, aquela que está
presa na minha cabeça – agarrada àquela mulher sem rosto com
suas curvas suaves, seu corpo perfeito e seios bonitos com os
quais ainda sonho às vezes, mas meus pensamentos estão
vagando para outro lugar fora do meu controle. Indo em
direção aos pensamentos de algodão macio esticado sobre a
forma de mamilos rígidos. Eu não quero pensar nela, eu
realmente não quero, mas sem o meu consentimento meu
cérebro começa a imaginar uma mulher que não é sem rosto
com um sorriso doce, olhos brilhantes e um corpo que é tão
tentador quanto, senão mais, mesmo completamente vestido.
Sem meu consentimento, meus pensamentos traiçoeiros
estão se voltando para Cassie.
Minha respiração está presa em meus pulmões, minhas
costas curvando à medida que eu acaricio meu pau mais rápido
enquanto a mesma pressão aumenta a ponto de estourar e meus
pensamentos voam entre memórias antigas e novas até que eu
não consigo diferenciar onde a mulher sem rosto termina e
Cassie começa. E por que é tão mais difícil respirar agora que o
rosto de Cassie está surgindo em meus pensamentos? Por que
me sinto tão mais próximo agora que estou pensando nela?
E quando a liberação quente derrama para cobrir minha
mão no momento que eu pulso em meu próprio punho, a
memória se foi completamente, deixando apenas o rosto de
Cassie para trás enquanto eu gozo contra a palma da minha
mão. Estou tentando recuperar o fôlego depois, meus olhos
abertos e fixos no teto, mas sem realmente vê-lo, tentando
descer da euforia enquanto a culpa do que fiz lentamente se
insinua.
Você pensaria que eu poderia ter aprendido minha lição da
primeira vez.
A minha última experiência em me importar com uma
mulher fora do meu alcance não me ensinou alguma coisa?
Quantas decepções já tive ao deixar minha solidão me levar a
fazer julgamentos terríveis, apenas para receber um terrível
despertar quando descobria que nada daquilo era real?
Aqui estou eu, um ano inteiro depois, me encantando por
outra mulher que está completamente fora do meu alcance e
provavelmente não é para o meu bico. O que Cassie iria querer
com um pai solteiro viciado em trabalho que mal consegue
funcionar direito em um dia normal?
É ridículo até mesmo considerar, por todos os tipos de
razões.
Eu realmente me importo com vocês.
Eu tenho que me lembrar que ela não pode ter dito isso do
jeito que eu gostaria de acreditar. É assim que Cassie é. Tenho
certeza de que ela só se preocupa comigo como um pai solteiro
lutando para ter uma conexão melhor com sua filha, como um
projeto de estimação. Nada mais.
Eu ando até meu banheiro em um estado de vergonha para
lavar minhas mãos, franzindo a testa para a pia enquanto a água
fria me traz de volta à realidade. Quando termino, e estou
secando as mãos na toalha pendurada ao lado da pia, vejo meu
rosto ainda corado no espelho e balanço a cabeça para meu
próprio reflexo.
— Seu idiota — murmuro.
Eu caio de cara na cama, ainda me xingando por ser um
idiota delirante, mas me sentindo menos tenso, pelo menos.
Mesmo agora, depois de cair ainda mais na tentação sem querer
– ainda estou pensando nela. Tanto quanto eu tenho desde o
momento em que ela se mudou, para ser honesto. É
imprudente e definitivamente inapropriado, mas aí está.
Suspiro, empurrando meus braços sob o travesseiro e me
enterrando nele enquanto tento tirar o rosto de Cassie da
minha mente. Digo a mim mesmo que amanhã vou me esforçar
para enterrar essa paixão estúpida bem fundo, onde ela
pertence. Que amanhã, quando eu acordar, tomarei café da
manhã com Cassie e Sophie e agirei como se não tivesse me
violado ao pensar na babá, porque só de pensar nisso me sinto
um esquisito.
Inferno. Talvez eu seja.
Eu absolutamente não consegui dormir naquela noite, mas
isso é basicamente o que eu esperava.
Estou prestes a dizer adeus a ele, porque, para todos os
casos, terminamos aqui; ele me viu gozar, ele já pagou –
então por que estou hesitando?
Ainda posso ouvi-lo respirando do outro lado da linha da
chamada do Skype, e não é a primeira vez que fico
curiosa sobre sua aparência. Sua voz faz coisas
indescritíveis comigo, sem dúvidas, e com certeza alguém
com uma voz como essa deve ter um rosto para combinar?
Vou encerrar a sessão. É ridículo que eu esteja hesitando.
Eu limpo minha garganta, prestes a agradecer a ele por
comprar outro show privado, mas ele me surpreende ao
falar primeiro.
“Estou curioso... Quanto custaria continuar falando com
você?”
Eu sei que meu coração não deveria saltitar.
Capítulo 9
Cassie

Eu gostaria de poder ver como ele é.


Sua voz é baixa, como um murmúrio constante, sempre
oferecendo instruções silenciosas enquanto eu me dedico para
cumprir todas as suas fantasias. Algo sobre a maneira como ele
pede o que quer de mim com total confiança, sem a menor
vergonha ou incerteza – isso faz minha pele formigar, quase
como se ele estivesse realmente me tocando.
— Abra as pernas, Cici — ele insiste pelo microfone. — Deixe-
me ver você.
Não hesito, abrindo mais minhas coxas em frente à câmera
para que ele possa ver exatamente como estou molhada. A forma
exata de como ele me deixou excitada.
— Toque-se — ele ordena. — Toque seu clitóris.
Eu circulo meus dedos em torno do pequeno feixe de nervos,
sentindo faíscas em minha barriga a cada golpe.
— Assim?
— Bem assim — ele grunhe. — Você é tão bonita. Molhada
pra caralho.
— Queria ter seus dedos em vez disso — murmuro, uma frase
atuada que dificilmente é uma atuação com ele. Na verdade, eu
realmente queria ter.
— Eu te daria mais do que dedos — ele promete com voz
rouca. — Eu teria você preenchida com meu pau pelo resto do fim
de semana.
— Sim?
— Você gostaria disso, Cici? Você gostaria de gozar no meu
pau?
— Mm-hmm. — Eu movo meus dedos um pouco mais
rápido. — Eu queria poder ver.
— Talvez você possa — ele murmura. — Se você quiser.
Eu aceno, meus cílios tremulando.
— Eu quero. Eu quero você.
— Você não tem ideia do quanto eu gostaria de foder você,
Cassie.
Cassie?
Isso não está certo.
Ele só me conhece como Cici.
Meus olhos se abrem, surpresos ao descobrir que minha
câmera desapareceu, Aiden sentado em seu lugar e me
observando atentamente. Seus olhos ardem enquanto bebem do
jeito que estou me tocando, e mesmo que eu esteja chocada por ele
estar aqui, meu único pensamento é implorar para ele vir fazer
isso por mim. Para me tocar com suas mãos e sua boca e seu pau
até que eu não consiga nem lembrar meu próprio nome.
— Cassie.
Sua voz está mais clara agora. Mais forte. Tocando minha
pele como se fosse um toque de pontas dos dedos. Ele diz isso de
novo e de novo enquanto eu trabalho cada vez mais rápido,
sentindo meu orgasmo tão próximo que faz minhas pernas
estremecerem. Eu sei que se eu fizer o que ele me pediu, ele vai
diminuir a distância e fazer todas as coisas que eu quero que ele
faça.
Estou tão perto. Tão impossivelmente perto. E ele ainda está
me observando, e eu só preciso de um pouco mais, e eu irei...
Eu me atiro para fora da cama, ainda suando, corada e sem
fôlego... tudo por causa de um maldito sonho. Eu ainda posso
ver os olhos de Aiden em mim, mesmo agora, e a memória é
suficiente para garantir que haja um formigamento muito real
entre minhas pernas.
Se recomponha, Cassie.
Obviamente, eu ainda não processei completamente minha
descoberta esta manhã, minha conversa com Aiden na noite
passada ainda está fresca em minha mente. Ainda estou no
limite com o conhecimento de que o homem em cuja casa estou
morando, e que para todos os efeitos é meu chefe, me viu nua.
Já me viu nua muitas vezes. Isso me deixa igualmente confusa e
com vontade de rastejar para um buraco e morrer; e pensar em
todas as coisas que Aiden pagou para me ver fazer me deixam
tonta.
Deus, as coisas que ele pagou para me ver fazer.
Sem mencionar todas as outras perguntas que surgem
sempre que penso nisso, o que reconhecidamente foi a maior
parte da noite, já que mal dormi. Perguntas como: “Para onde
diabos ele foi? Por que ele desapareceu de repente depois de
mencionar que queria me encontrar? Me encontrar de
verdade?”. Não só tenho que reviver a vergonha do que acabou
sendo nada mais do que uma conversa fiada, mas tenho que
reviver pessoalmente, cara a cara com a pessoa que, mesmo
agora, mesmo um ano depois, ainda domina uma boa parte dos
meus pensamentos sempre que sou descuidada o suficiente
para deixá-los se perder.
Eu alcanço cegamente o meu telefone e verifico a hora.
Ainda é cedo, mas sei que a qualquer momento Sophie estará
fazendo sua caminhada matinal de zumbi e descerá as escadas
esperando o café da manhã. Café da manhã que agora
compartilharemos com Aiden, que agora sei que é A. Que
momento horrível para pressioná-lo a passar mais tempo em
casa. Acho que essa pode ser minha punição por cobiçar meu
chefe sem camisa.
Deus, como diabos eu consegui ter uma queda pelo mesmo
homem duas vezes? Alguém que está tão fora do meu alcance
agora como da última vez? Não é como se Aiden estivesse
interessado em mim fora do trabalho que ele me contratou para
fazer. Especialmente se ele descobrir que eu sou a mesma
mulher que ele deixou para trás como uma caixa de pedras
velhas.
É tão ridículo que nem parece possível.
Ainda assim... sempre me perguntei como o A seria. Dada a
natureza do nosso relacionamento, nem me pareceu estranho
que ele interagisse comigo apenas por chat de voz. Era uma
prática comum com a qual eu estava mais do que acostumada,
mas não vou fingir que não passei (e não passei desde então)
incontáveis horas me perguntando que tipo de rosto poderia
ter a voz baixa e abafada que silenciosamente me orientaria a
me tocar de várias maneiras. A realidade disso é...
decididamente mais do que eu jamais poderia esperar, visto que
às vezes parece que Aiden foi projetado especificamente com o
único propósito de me levar à distração.
Este vai ser o café da manhã mais estranho da história dos
cafés da manhã.
Consigo me levantar da cama, sabendo que, se não o fizer,
Sophie virá me procurar, ou pior, Aiden virá – e Aiden no meu
quarto não é algo com o qual estou preparada para lidar ainda.
Então eu me forço a vestir meu roupão como se aquele
desgraçado e inconstante universo não tivesse deixado cair a
maior de todas as surpresas sobre mim apenas algumas horas
antes, amarrando-o bem enquanto eu me arrasto até o banheiro
para domar meu cabelo em algo ligeiramente apresentável. Há
olheiras sob meus olhos, o que acho que faz sentido, dado o
quão pouco dormi ontem à noite, e jogo um pouco de água fria
no rosto na tentativa de me deixar mais desperta.
Não é a melhor aparência que já tive, mas acho que terá que
servir.
Eu posso ouvir as vozes de Aiden e Sophie lá em cima na
cozinha quando eu saio do meu quarto, fechando a porta atrás
de mim e respirando fundo para me firmar antes de me juntar
a eles. Porque é claro que os dois já estão acordados. Digo a mim
mesma que posso fazer isso, que posso fingir que nada está
errado e continuar fazendo meu trabalho – porque preciso deste
trabalho – raciocinando que Aiden há muito se esqueceu de
nosso passado neste momento e que posso fazer a mesma coisa.
Ambos estão sentados na bancada quando chego ao topo da
escada, ambos rindo de algo que não ouvi enquanto Aiden
estende a mão para bagunçar o cabelo despenteado de Sophie.
Percebo que Aiden parece tão cansado quanto eu, exibindo as
mesmas olheiras e uma leve barba por fazer para acompanhar.
É completamente injusto o quanto o cansaço parece melhor em
Aiden do que em mim. Embora, eu duvido muito que
estejamos cansados pelos mesmos motivos. Encontro um
pouco de conforto nisso, pelo menos. Aiden não ficou
acordado metade da noite pensando na pessoa no andar oposto
da casa.
Ele me nota então, o verde brilhante e o castanho suave de
seus olhos se voltando para mim antes de seus lábios se
curvarem em um sorriso cuidadoso, quase como se ele estivesse
preocupado em me assustar. Acho que é justo, já que
praticamente fugi dele ontem à noite.
— Bom dia — ofereço, tentando o meu melhor para parecer
que a visão dele não faz meu coração disparar.
Sophie se vira para me notar.
— Cassie! Diga ao meu pai que gotas de chocolate são
melhores do que mirtilos.
— Bem, isso depende — digo a ela, aproximando-me da
cozinha. — Em que contexto?
— Para panquecas! — Ela lança a seu pai um olhar
descontente. — Papai disse que os mirtilos são melhores
porque são mais saudáveis.
— Bem, ele tem razão — eu digo, pegando a banqueta livre
no lado oposto dela. Ouço Aiden fazer um som triunfante
antes de me inclinar para mais perto de Sophie para baixar a
voz. — Mas gotas de chocolate são muito melhores.
Sophie sorri, atirando a seu pai um sorriso presunçoso.
— Viu? Eu falei.
— Tudo bem, tudo bem — Aiden ri. — Acho que estou em
desvantagem.
Ele chama minha atenção então, olhando para mim de uma
forma que parece uma pergunta, e aquele mesmo tipo de
pânico faísca em meu peito, meu coração batendo um pouco
mais forte enquanto uma enxurrada de memórias se derrama
sobre mim. Eu as enterro profundamente enquanto dou a ele
um sorriso que esperançosamente diz qualquer coisa, menos
"você costumava ver eu me masturbar". Tudo o que posso
esperar agora é que ele não pergunte sobre meu
comportamento estranho na noite passada, porque não estou
confiante de que terei qualquer explicação para dar a ele que
faça algum sentido. Eu sei que contar a verdade não é uma
opção, porque o resultado mais provável disso será ele me
expulsando de sua casa e de sua vida, pela segunda vez, devo
acrescentar, e há mais em jogo agora. Não apenas o dinheiro, do
qual preciso desesperadamente, mas também a conexão que
estabeleci com Sophie. Não posso abandoná-la agora, não
quando acabei de fazê-la confiar em mim. Ela não merece mais
decepções.
E se há uma pequena parte de mim que não está pronta para
ver Aiden desaparecer da minha vida novamente... bem, digo a
mim mesma que é normal, e não completamente patético, me
sentir assim.
— Então... você pode fazer panquecas?
A pergunta expectante de Sophie me tira dos meus
pensamentos fervorosos, arrancando meu olhar de Aiden e
encontrando o de Sophie enquanto finjo considerar.
— Hum. Não sei. Seu pai me disse que vai ficar para o café
da manhã hoje, e como ele parece ser contra chocolate, pode ser
um problema.
— O quê? — Sophie se vira para Aiden com entusiasmo. —
Você vai ficar para o café da manhã?
Seus olhos enrugam com um sorriso.
— Sim. — Ele estende a mão para tocar o nariz dela. — Vou
tentar garantir que estarei aqui para o café da manhã com mais
frequência.
O rosto inteiro de Sophie se ilumina, mas me pego
observando Aiden. Eu posso ver, a maneira como ele percebe
que uma coisa tão simples faz toda a diferença em sua
garotinha, posso ver como isso o agrada e desencadeia uma
sensação totalmente nova em meu peito – uma que é quente,
confusa e estranha. Fico feliz, percebo, em ver os dois felizes, e
também percebo que não tem nada a ver com a estranha
história entre mim e Aiden, e tudo a ver com esta pequena
família que está lentamente abrindo espaços em meu coração.
É algo que pode ser perigoso e que, infelizmente, tem tudo
a ver com Aiden e nossa estranha história.
Eu os observo continuar a conversar alegremente enquanto
eu deslizo da banqueta para começar a me ocupar com as
panquecas, um estranho influxo de emoções me mantendo
quieta com meus próprios pensamentos enquanto considero
tudo o que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas. Estou
bem ciente de que há uma parte de mim que sempre se
perguntará o que aconteceu com A, ou melhor, Aiden, eu acho,
mas sei que minha melhor opção é enterrar todas as emoções
que tenho que estão conectadas a qualquer coisa que
compartilhamos há um ano, enterrá-las bem fundo para que
não estraguem o que encontrei com esta pequena família que
desejo desesperadamente que encontrem a felicidade. Porque a
única coisa de que tenho certeza, mais do que qualquer outra
coisa... é que Aiden nunca pode saber o que eu sei.
Não importa o quanto eu queira perguntar.

■□■

Isso ainda está me incomodando mais tarde, quando estou


entrando no prédio do campus da St. Augustine's, me
arrastando até a sala do laboratório para encontrar meu lugar
antes do início da aula. Eu estava animada com o dia de hoje, já
que trabalharemos com a mesa de anatomia, mas agora estou
preocupada com pensamentos do passado e do presente
colidindo para criar um arranjo muito confuso em minha vida.
Eu perco a introdução da instrutora completamente,
debruçada sobre minha mesa enquanto mastigo a ponta do
meu polegar.
Não é até o intervalo para o estudo em grupo que minha
parceira de laboratório, Camila, finalmente comenta sobre
meu comportamento estranho.
— O que está acontecendo com você? Você mal prestou
atenção quando ela estava explicando sobre como usar as
configurações da mesa.
— Eu sei — suspiro, folheando o guia de instruções. —
Apenas uma estranheza em casa.
— Oh. Você ainda é babá?
— Mm-hmm.
— É a criança? Você disse que ela tinha nove anos, certo? Eu
tenho uma sobrinha dessa idade. Elas podem ser más como o
inferno.
— Não, não, ela é ótima — asseguro-lhe. — Apenas alguns
ajustes estranhos da minha parte.
— Uh-huh.
Camila olha para mim com uma sobrancelha erguida antes
de se inclinar sobre a grande mesa iluminada para tirar as veias
do cadáver digital para que ela possa ver mais de perto os ossos
do pulso.
— Você disse que era só a criança e o pai dela, certo? Isso
deve ser estranho. Morar com um cara desconhecido.
— Ele não é um desconhecido — prossigo. — Os dois são
ótimos.
É que o pai já me disse exatamente como gozar em várias
ocasiões.
Mas não posso dizer isso.
— Minha abuela diz que uma jovem morando com um
homem solteiro é uma receita para o desastre.
— Obrigada — murmuro. — Isso faz eu me sentir melhor.
Camila ri.
— Ela também tem, tipo, oitenta anos. Então eu costumo
ignorá-la às vezes.
Não posso deixar de pensar em Wanda, a solteira atemporal,
imaginando o que ela teria a dizer sobre o assunto. Reviro os
olhos. Ela provavelmente apenas me diria para transar com ele
e acabar logo com isso.
— Camila — eu começo com cuidado, pensando que uma
terceira parte imparcial pode ser exatamente o que eu preciso.
— O que você faria se encontrasse alguém que costumava
conhecer... muito bem, mas ele não se lembra de você?
Ela franze o nariz.
— Isso realmente acontece? Você quer dizer conhecido da
infância?
— Não, não da infância... É complicado.
Camila para de brincar com as configurações da mesa,
olhando para a instrutora, que está conversando com outro
grupo com dificuldades.
— Quão bem você o conhecia?
Quero dizer... ele me viu brincar com meus mamilos.
— Muito bem — eu digo em vez disso. — Mas foi mais
uma... amizade online.
— Hum. — Camila bate no queixo. — Se foi em maior
parte online... faz mais sentido que ele não a reconheça. Talvez
você devesse apenas contar a ele? Ele provavelmente ficaria feliz
em perceber que era você. A menos que tenha terminado em
condições ruins ou algo assim.
Eu franzo a testa para os meus pés. Não há uma boa maneira
de explicar como Aiden, ou melhor, A, e eu terminamos. O que
quer dizer que nós não terminamos. Ele apenas... desapareceu.
— As coisas terminaram meio estranhas.
— Bem — Camila diz — talvez seja bom que ele não se
lembre então, certo? Poderia ser muito estranho de outra
forma.
Ela volta para a mesa para começar a separar os metacarpos;
suas palavras saltando na minha cabeça para me deixar aliviada
e estranhamente... mais deprimida.
Talvez seja bom que ele não se lembre.
Então por que isso me faz sentir tão horrível?

■□■

Aiden cumpre sua promessa naquela semana de estar mais


presente nas manhãs e no início das tardes, certificando-se de
passar o máximo de tempo possível em casa antes de sair para o
trabalho. Uma semana atrás, isso teria me deixado eufórica, mas
agora que tenho consciência do que sei, significa que estou
constantemente no limite. Digo a mim mesma que, se ele ainda
não me reconheceu, não há chance de que o faça. Quero dizer,
a máscara e a peruca que usei durante meu tempo no OnlyFans
parecem ter feito exatamente o trabalho que eu pretendia que
elas fizessem, e eu sei que deveria estar aliviada que Aiden
parece não ter ideia do fato de que ele está vivendo com uma
mulher que ele pagou para vê-la se tocar várias vezes.
Então, por que isso meio que me incomoda? Eu não quero
que Aiden me reconheça. Ele não pode.
Depois de alguns dias tomando cafés da manhã
desconfortáveis e andando sobre ovos perto dele, fico grata por
estar fora de casa, aceitando o convite de Wanda para jantar e
usando isso como uma chance de esfriar a cabeça. Ela e Sophie
instantaneamente se deram bem, o que eu esperava, a coragem
da garotinha combinando com a de Wanda de uma forma que
qualquer outro resultado não seria aceitável. Afinal,
semelhante chama a semelhante.
— Agora, tome cuidado com isso — Wanda repreende
enquanto Sophie escolhe entre uma variedade de copos de dose
de lembrancinha. — Alguns deles são mais velhos do que você.
Sophie mostra a ela um em particular.
— Você realmente conseguiu este no Alasca?
— Você pode ter certeza que sim — diz Wanda. — Eu
costumava viajar muito quando era mais jovem. Queria pegar
um de cada estado. — Wanda aponta para o corredor. —
Tenho alguns álbuns de fotos no meu quarto — ela diz a
Sophie. — Vá pegar aquele da capa de couro vermelha em
minha estante, e eu vou te mostrar algumas fotos.
O rosto de Sophie se ilumina com um aceno de cabeça e ela
sai correndo pelo corredor em busca de seu prêmio, deixando
Wanda e eu sozinhas.
— Você quer me dizer o que está acontecendo com você?
Do sofá, franzo a testa para minha amiga, observando-a me
estudar de onde está sentada em sua cadeira de balanço
acolchoada do outro lado da sala.
— O que você quer dizer?
— Não me venha com isso — ela bufa. — Você está
distraída desde o jantar. Eu sei quando algo está errado com
você, garota.
— Não há nada de errado comigo — eu argumento. — Tem
sido um longo dia.
Tem sido mais uma longa semana.
— Agora, você sabe que não sou ignorante, então por que
agir assim? Eu consigo perceber quando você está preocupada
com alguma coisa. Então, por que você não desembucha logo
antes que aquela garota encontre meu álbum?
Eu rio secamente, inclinando-me para deixar meu rosto cair
em minhas mãos.
— É tão óbvio?
— Para mim, sim.
— Eu nem sei como começar a te contar o que está
acontecendo comigo.
— Apenas abra a boca e me diga o que está incomodando
você — ela reclama. — Não é tão difícil.
Eu olho em direção ao corredor para ter certeza de que
Sophie ainda está fora do alcance da voz, tomando uma
respiração profunda apenas para deixar escapar lentamente.
— É sobre meu OnlyFans.
— Você voltou com ele? Porque eu disse que você poderia...
— Não, não — digo, balançando a cabeça vigorosamente.
— Eu não vou fazer isso de novo, mas... Eu nunca disse a você
por que excluí minha conta.
— Você me falou uma besteira sobre ficar cansada disso —
diz Wanda. — Como alguém se cansa de dinheiro fácil está
além do meu conhecimento.
— Bem, quero dizer, isso era verdade, mas não...
inteiramente verdade.
— Oh, caramba.
— É embaraçoso, ok?
— Querida, eu uso um protetor para incontinência urinária
todos os dias. Por que diabos você acha que tem que sentir
vergonha comigo?
Eu sorrio apesar de tudo, balançando a cabeça enquanto
caio contra as almofadas do sofá.
— Havia um cara.
— Sempre há — Wanda suspira.
— Ele era... Quero dizer, eu sei que ele era um assinante, não
estou delirando completamente, mas ele... — Solto um suspiro
frustrado. — Deus, parece tão estúpido.
Sua expressão se torna simpática, e isso só me faz sentir
muito mais tola.
— Vocês ficaram muito próximos, hein.
— Ele parecia diferente. Nós... Quero dizer, ele me assistia
como todo mundo, mas nós... conversávamos também.
— Bem? O que aconteceu?
— Ele desapareceu um dia. Nós até marcamos uma data
para nos encontrarmos, mas então ele simplesmente... não
apareceu. Ele sumiu depois disso. Eu achei... Achei que ele
gostava de mim. Isso não é estúpido?
A velha pontada se instala em meu peito quando me lembro
de ficar sentada em uma cafeteria por mais de uma hora antes
de perceber que ele não iria aparecer.
— Primeiro de tudo, você deve jogar toda culpa no homem.
Você tem peitos bonitos e um cérebro ainda melhor, e isso
significa que você está automaticamente acima do resto.
Eu não posso evitar, eu rio.
— Devemos colocar isso em uma camiseta?
— Apenas não se chame de estúpida por causa de algum
homem. Não quero ouvir isso de novo. Entendido?
Eu sorrio melancolicamente.
— Perfeitamente.
— Então, imagino que esse bobalhão misterioso não tenha
sumido tanto quanto você pensava, certo?
— Como você sabe?
— Sou velha, Cassie. Eu sei tudo.
— Eu... sim. Ele não sumiu.
— Ele entrou em contato com você?
Eu faço um som engasgado que eu acho que é uma risada,
cobrindo meu rosto com as mãos.
— É o Aiden.
— Perdão?
Eu afasto minhas mãos.
— É o Aiden.
— Seu chefe? — Pode ser a primeira vez que vejo Wanda
sem palavras, e dura apenas uns bons dez segundos antes de se
transformar em raiva. — Ele te contratou por causa disso? —
Wanda levanta da sua cadeira, apontando um dedo para mim.
— Eu juro por tudo que é sagrado, vou fazer um bom uso desse
implante de quadril e colocar meu pé bem no...
— Shh. Ele não sabia — digo a ela, olhando para o corredor
para ter certeza de que Sophie ainda está no quarto. — Ele
ainda não sabe.
— Então como diabos você descobriu isso?
— Ele tem uma cicatriz — eu respondo baixinho. Eu
aponto para minha barriga. — Bem aqui. Ele me contou sobre
isso uma vez. Não é... É uma coincidência muito grande não ser
ele.
— Ele sabe sobre a sua?
Estendo a mão inconscientemente para esfregar meu
ombro.
— Ele viu.
— Recentemente?
— Não, claro que não. Não teria como ele não somar dois e
dois se visse de novo. Foi quando eu ainda tinha minha conta.
Ele foi... — Meus olhos se voltam para o chão e sinto uma
sensação de aperto no peito. — Ele foi o único que eu deixei
ver.
— Então ele definitivamente não sabe quem você é.
Eu balanço minha cabeça.
— Ele não pode saber.
— Mas você não está curiosa para saber por que ele...?
— Claro que estou, mas... ele desapareceu por um motivo.
Ele obviamente não estava investido tanto quanto eu, e você
não acha que ele se sentiria estranho ao saber quem eu era?
Estranho o suficiente para me demitir, aposto.
— Merda. — Wanda cruza os braços, franzindo a testa para
o tapete. — Você acha?
— Quero dizer, você gostaria de ter uma mulher que você viu
nua e depois descartou virtualmente morando em sua casa?
Não consigo pensar exatamente em uma situação mais
embaraçosa do que essa.
Wanda bate o pé sem rumo, pensando.
— Bem, que inferno.
— Certo. Como eu disse, é estranho.
— Então o que você vai fazer?
Eu jogo minhas mãos para cima.
— O que posso fazer? Só preciso garantir que ele não
descubra. Se ele ainda não descobriu, acho que é seguro dizer
que não o fará. Contanto que ele não veja — eu franzo a testa
enquanto a pele marcada nas minhas costas formigam em
lembrete — eu acho que vai ficar tudo bem.
— Mas você vai ficar bem?
— Eu... — Aperto os lábios, um aperto no peito que não
desapareceu na última semana. — Eu vou ficar bem. É passado.
Quero dizer... eu superei isso e preciso desse emprego.
Wanda não parece convencida.
— Mm-hmm.
— Estou bem — enfatizo. — Sério.
— Cassie, apenas os mentirosos dizem que estão bem. Você
sabe disso, certo?
— Eu não acho que isso seja verdade.
— Claro que é. Eu sei mais do que você.
— Você nem sempre pode jogar a carta de ser velha toda vez
que lhe convém.
— Tem funcionado bem até agora — diz ela com um
encolher de ombros. Ela olha para mim com preocupação,
olhando por cima dos óculos. — Eu não quero ver você se
machucar, garota. Apenas... tome cuidado.
— Eu encontrei! — Pequenos passos ecoam pelo corredor,
chamando nossa atenção. Sophie volta para a sala com seu
prêmio encadernado em couro, parecendo muito animada para
um monte de fotos antigas. Ela joga o livro na mesinha de
centro antes de cair de joelhos ao lado dele. — Você tem alguma
foto de ursos polares?
Wanda ri, acomodando-se em sua cadeira de balanço.
— Nunca vi um urso polar, querida. Acho que você
encontrará uma ótima foto de um alce em algum lugar.
Suas sobrancelhas se erguem.
— Um alce?
— Com chifres e tudo — diz Wanda com um sorriso.
— Cassie, você já viu um alce?
Eu balanço minha cabeça.
— Nunca.
Sophie dá um tapinha no local ao lado dela no tapete.
— Venha olhar comigo.
— Tudo bem, tudo bem — eu rio, levantando-me do sofá
para me juntar a ela no chão.
Sophie aponta todas as fotos com neve do álbum que
chamam sua atenção, na verdade, gritando de emoção quando
encontra a foto do alce acima mencionada. Wanda conta tudo
sobre como se depararam com a enorme criatura e, enquanto
conversam, penso no que Wanda disse.
Só os mentirosos dizem que estão bem.
É ridículo, dado o quão preciso é, porque a verdade é que
não estou bem, não mesmo. Na verdade, estou vivendo um
pesadelo criado por mim. Um purgatório construído sobre
minhas próprias escolhas. Porque posso fingir que não me
importo por qual motivo Aiden desapareceu da minha vida há
um ano, posso fingir que isso não importa mais para mim, ou
pelo menos, eu poderia, talvez... antes de conhecê-lo.
Eu tenho mentido para mim mesma de várias maneiras
ultimamente. Tenho mentido para mim mesma e dito que só
quero fazer isso funcionar pelo bem de Sophie. Tenho mentido
e dito a mim que não importa que Aiden seja A, porque no final
das contas, isso é apenas um trabalho, ele é apenas um cara, eu
sou apenas a babá e não há razão para que nada disso me
incomode.
Mas ele tem um rosto agora. Ele conta piadas. Ele pergunta
sobre o meu dia. Ele beija o cabelo da filha. Ele estraga
panquecas. Ele me ouve quando conto minhas preocupações.
Ele se preocupa com o que estou sentindo. E claro, ele é tão
bonito que às vezes dói olhar para ele – mas isso não é tão
importante.
Porque, por mais que eu queira fingir o contrário…, eu gosto
de Aiden. Tanto quanto eu achava que gostava de A. E por mais
que eu diga a mim mesma repetidamente que não quero que
ele descubra quem eu sou e corte os laços comigo novamente
porque isso machucaria Sophie, eu sei que no fundo também
me machucaria. Doeria se ele desaparecesse de novo, e saber
disso é a coisa mais perigosa de todas.
Especialmente porque, se ele descobrir... é exatamente isso
que ele fará.
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te enviou uma gorjeta de $50

Obrigado pela conversa.


Capítulo 10
Cassie

— Você se divertiu na casa da amiga de Cassie ontem à noite?


Sophie acena com a cabeça em torno de uma colherada de
seu cereal.
— Ela é tão estranha.
— Estranha? — Aiden olha para mim com curiosidade. —
Estranha é algo bom?
Eu concordo.
— Na linguagem de Sophie... eu acredito que seja.
— Ah — Aiden ri. — Claro.
É uma manhã normal de domingo. Acordamos como de
costume, tomamos café da manhã como sempre e tudo parece
fácil, adorável e sem preocupações. E é, em grande parte. Exceto
para mim.
Fico me perguntando se ele vai notar que tenho dificuldade
em olhar para ele, se em algum momento ele vai perceber a
forma como o calor invade minhas bochechas e minhas orelhas
quando eu o olho por muito tempo. Toda vez que isso
acontece, toda vez que meu olhar se fixa nele e permanece lá por
mais de um punhado de segundos, eu me lembro de tudo que
Aiden viu, o quanto ele nem percebe que viu... tudo de mim.
Lembro-me de conversas sussurradas e palavras doces e sujas,
todas murmuradas em um quarto escuro do qual ele
provavelmente não se lembra.
Todo aquele tempo eu me perguntava como ele era, e agora
que tenho uma boca para combinar com as palavras, mãos para
combinar com todas as coisas que ele disse que queria fazer com
elas... É difícil pensar em outra coisa quando olho para ele.
— O que você acha, Cassie?
Eu pisco de volta para Aiden, com a colher a meio caminho
da minha boca, não tendo ouvido nenhum dos últimos
segundos de sua conversa.
— Desculpe, o quê?
— Perguntei a Sophie o que ela queria fazer no aniversário
dela — ele me conta. — É na quinta-feira.
Sophie se levanta de sua banqueta.
— Eu quero ir para a Disneylândia!
— Oh, uau — eu digo com surpresa. — Disneylândia?
— Objetivos bem distantes com a minha agenda — Aiden
diz, confuso.
Eu rio.
— Sim, como você organizaria isso?
— Vamos — Sophie choraminga. — Por favor?
— Pode ser difícil, com o quão ocupado o restaurante tem
estado — diz Aiden com pesar. — Talvez em um mês ou mais?
O rosto de Sophie cai, seu rosto voltando-se para a tigela de
cereal enquanto ela empurra a colher no leite, desanimada.
— Oh.
— Sophie — Aiden suspira. — Você sabe que eu adoraria...
— Mamãe iria me levar — ela interrompe baixinho. — No
meu aniversário no ano passado.
Eu encontro os olhos de Aiden, vendo a culpa lá enquanto
ele me dá um olhar desamparado. Dou de ombros, sem saber o
que dizer, acenando para Sophie no que espero ser um gesto
encorajador. Aiden solta um suspiro antes de passar os dedos
pelos cabelos, alcançando a cabeça de Sophie.
— Acho que podemos... fazer funcionar.
Sophie se ilumina imediatamente.
— Sério?
— Acho que consigo tirar um dia de folga — ele diz a ela. —
Anaheim fica a uma hora de carro…, poderíamos passar um dia
no parque e voltar no dia seguinte antes do meu horário de
trabalho... Eu irei resolver isso. — Ele lança a ela um olhar
severo. — Mas você terá que perguntar ao seu professor se ele
pode enviar para casa suas atividades escolares para os dias que
você faltar.
— Posso entrar e falar com ele quando levá-la para a escola
amanhã — ofereço.
Aiden me dá um sorriso agradecido que faz meu estômago
revirar. Maldição.
— Isso seria bom.
— E Cassie pode ir também, certo? — Sophie pergunta com
expectativa.
Aiden e eu olhamos um para o outro, Aiden parecendo
inseguro.
— Eu não sei se Cassie quer participar...?
— Ela quer ir — afirma Sophie, olhando para mim. — Não
quer?
— Eu... eu odiaria me intrometer em seu tempo em família.
Sophie faz beicinho.
— Não vai ser tão divertido sem você.
— Eu... — Eu olho para Aiden, procurando ajuda. — Não
sei se...
— Você é bem-vinda para ir — Aiden me assegura. — Se
você quiser. — Ele me dá um sorriso meio tímido. — Não seria
tão divertido sem você.
— Oh. — Eu posso dizer pelo olhar no rosto de Sophie que
não há como recusar isso. — Bem... Se vocês tem certeza de que
querem que eu vá.
— Talvez possamos ir na quarta de manhã? — Aiden pega
seu telefone para verificar algo. — É um dia antes, mas o meio
da semana costuma ser nosso horário mais lento.
Provavelmente será melhor. Isso funcionaria? Você tem algum
plano?
— Parece perfeito — digo com firmeza, calculando o custo
em minha cabeça. — Se você me disser quanto custam os
ingressos...
— Oh, não — diz Aiden com um aceno de cabeça. — Não
se preocupe com nada. Eu cuidarei disso. Posso fazer reservas
hoje à noite no meu intervalo.
— Eu não poderia deixar você...
— Eu quero — diz ele com firmeza. — Não se preocupe
com isso.
— Ok.
Sophie sacode o braço do pai.
— Tia Iris pode ir também?
— Oh, eu... — Aiden parece inseguro. — Não sei se ela
gostaria. — Ele compartilha um olhar comigo e, novamente, eu
aceno encorajadoramente. Aiden dá a Sophie um sorriso fino.
— Vou ligar para ela e perguntar.
Sophie já está cantando de emoção, seu cereal esquecido
quando ela me pergunta se ela pode ligar para Wanda e contar
a ela sobre a viagem. Aiden parece confuso depois que dou a ela
meu celular e ela sai correndo com ele.
— Não consigo descrever o quanto ela e Wanda se deram
bem.
Aiden sorri.
— Claramente.
— Elas são praticamente melhores amigas agora — brinco.
— Estou sendo deixada de lado enquanto conversamos.
— Estou feliz que você a levou — diz ele. — Ela só falou
sobre isso esta manhã. Parece que ela se divertiu muito.
— Espere até conhecer Wanda — eu rio. — Você vai
entender.
— Algo pelo qual esperar — observa ele. Ele parece
preocupado então. — Convidar Iris é uma péssima ideia?
Eu dou de ombros.
— Desconfortável, talvez, mas não péssima. Pode ser uma
boa oportunidade para vocês se entenderem.
— Certo — diz ele distraidamente, balançando a cabeça. —
Você tem razão.
Eu dou outra colherada no meu cereal apenas para não ter
que olhar mais para ele, cada segundo olhando para seu rosto
significa mais algumas batidas que meu batimento cardíaco
acelera. Era estranho assim antes? Pergunta estúpida. Claro que
era. É definitivamente mais agora que eu sei que ele me viu nua.
— Eu não te agradeci direito — ele continua.
Eu olho para ele.
— Pelo quê?
— Apenas... por ficar com a gente. Quero dizer, com
Sophie, é isso. Ela ama você.
Esta parte é fácil, sem ansiedade ligada aos meus sentimentos
pela garotinha.
— Eu também a amo. Ela é uma ótima criança.
Aiden acena com a cabeça, parecendo aliviado.
— Estou feliz que foi você que respondeu ao anúncio.
— Ah, bem... — Engulo em seco, sentindo aquele calor
familiar nas pontas das orelhas. — Eu também. Tem sido
ótimo.
— Nós dois temos sorte de ter você, Cassie — ele continua,
me fazendo corar ainda mais. — Eu espero que você saiba disso.
Ele está feliz por você ser tão boa com a filha dele. Não fique
fora de si.
— Eu... Obrigada — digo, esperando que meu cabelo esteja
pelo menos cobrindo meu pescoço, que está ficando mais
quente a cada segundo que passa. — De verdade.
— Eu espero que você ainda esteja... feliz aqui? Você parece
meio quieta ultimamente.
Bem, merda.
— Eu pareço?
— Talvez eu esteja vendo coisas a mais — diz ele,
encolhendo os ombros. — Parece que você esteve... Não sei.
Pensei que talvez você estivesse chateada comigo.
— O quê? — Isso me pega de surpresa. — Eu não estou
chateada com você.
— Oh. É que... parece que você está me evitando desde que
conversamos.
— Eu não estou chateada — asseguro-lhe. — Tenho muitas
coisas na cabeça ultimamente.
Aiden franze a testa, algo em sua expressão parecendo que
ele quer perguntar mais, porém não consegue descobrir como.
Há uma ruga em sua testa e uma expressão em sua boca que não
me dá a menor ideia do que ele está pensando, e eu me
preocupo neste momento que ele de alguma forma saiba o que
eu estou pensando, que ele possa ver através da minha frágil
mentira sobre o real motivo.
Não tem como ele saber. Você está bem.
— Eu realmente sinto muito — diz ele. — Por despejar tudo
isso em você.
— Sério, está tudo bem. — Tento sorrir, mas, por mais
nervosa que esteja agora, só consigo imaginar como parece
forçado. — Eu acho que é um efeito colateral de se preocupar
com Sophie.
— Certo. — Ele concorda. — Espero que você saiba o
quanto eu... aprecio você.
Prendo a respiração.
É apenas por causa do trabalho que você está fazendo. Pare de
ver coisas onde não tem.
— Estou feliz — eu consigo dizer. — Estou feliz aqui. Com
vocês.
Há um momento em que nenhum de nós diz nada, e eu sei
que deveria desviar os olhos, que é estranho sentar aqui e
continuar olhando para ele, mas o problema é... ele também
não desvia o olhar. Mais uma vez me pego desejando poder
saber o que ele está pensando.
— Bom — diz ele finalmente, sua expressão ainda difícil de
ler. — Fico feliz.
Estou abrindo a boca para dizer algo, exatamente o quê, não
sei, mas Sophie escolhe aquele momento para se juntar a nós, e
isso acaba não sendo um problema.
— Wanda disse para tirar fotos — Sophie me diz. — E para
trazer de volta um copo de dose para ela.
A sobrancelha de Aiden se ergue.
— Um copo de dose?
— Sim. — Sophie assente. — É esse tipo de copo minúsculo.
Eu não sei o que você bebe com eles. Elas não queriam me dizer.
Ela tem um do Alasca!
— Ela tem um de quase todos os lugares — eu rio.
— E ela viu um alce — Sophie diz.
— Eu sei — diz Aiden, divertido. — Você me contou sobre
o alce. Várias vezes.
Sophie me devolve o telefone, olhando para mim com
expectativa.
— Então, o que vamos fazer hoje?
— Bem — começo. — Eu pensei que talvez pudéssemos
voltar para aquele parque que você gostou. Foi divertido,
certo? A previsão é que será um bom dia hoje.
— Sim! Isso parece incrível. — Ela olha para o pai com
entusiasmo. — Você pode vir? Por favor? Só por um
tempinho? Eu posso balançar super alto. Você tem que ver.
— Ah, eu... — Aiden olha para mim impotente, e eu só
posso encolher os ombros. — Sim — ele suspira, e posso dizer
por sua expressão que isso vai deixá-lo atrasado, mas
estranhamente isso torna tudo muito mais doce. — Eu adoraria
ver o parque. Por que você não sobe as escadas e se veste
enquanto eu tomo banho?
Sophie grita de alegria antes de ir direto para as escadas,
Aiden abaixa a cabeça cansadamente antes de inclinar o rosto
para trás para encontrar o meu.
— Tenho que dizer... aquele sorriso faz as noites de merda
que terei valerem a pena.
— Super pai — eu elogio.
O canto de sua boca se levanta, e acho que são momentos
como esse que me deixam mais insegura. Vê-lo tão
despreocupado, com seu sorriso fácil, seus olhos bonitos e seu
cabelo ainda espetado em várias direções da mesma forma que
o de Sophie faz quando ela acorda... torna muito mais difícil
fingir que não estou mais interessada do que deveria. Que eu
não estou imaginando como seria o cabelo dele sob meus dedos
ou como seria o sorriso dele contra a minha pele.
— Acho que é melhor eu dar um pulo no chuveiro — ele
diz, deslizando para fora de sua banqueta.
Eu dou a ele um aceno conciso enquanto ele se dirige para
as escadas, não relaxando até que ele esteja fora de vista e eu
esteja sozinha. Eu solto um suspiro, deixando meu rosto cair
contra a bancada de granito e deixando esfriar o rubor em
minhas bochechas.
Não estou pensando em Aiden no chuveiro.
Absolutamente não.

■□■

Eu não sei quem está se divertindo mais no parquinho – Aiden


ou Sophie. A última hora foi preenchida com os gritos dela e as
risadas dele, Aiden satisfazendo todas as vontades de Sophie,
seja empurrando-a no balanço ou seguindo-a pela escada do
trepa-trepa que é consideravelmente pequena demais para ele,
seu corpo acima da média tentando manobrar através de cada
seção é muito divertido de assistir.
Eu mantenho uma distância, sentada no banco, contente
em vê-los passar um tempo juntos. De vez em quando, Aiden
sorri para mim como se estivéssemos compartilhando um
segredo, algo que parece irônico, considerando que estamos
compartilhando um segredo, ele simplesmente só não sabe.
Não sei quanto tempo se passa antes que ele se jogue no banco
ao meu lado enquanto Sophie se ocupa no carrossel com
algumas outras crianças que chegaram esta manhã, com as
bochechas coradas e a respiração ofegante.
— Acho que estou ficando velho — ele ri.
— Me poupe. — Reviro os olhos. — Você mal passou dos
trinta anos.
— Vou fazer trinta e dois em quatro meses — ressalta. — Já
passei da data de validade.
— Vou começar a escolher seu quarto na casa de repouso.
Aiden me dá uma expressão de falso alívio.
— Bem, isso é uma coisa a menos para me preocupar, eu
acho.
— É o meu grande plano — eu digo séria. — Levar você para
fora da casa e criar Sophie como minha ajudante supervilã.
— Boa sorte com isso — Aiden bufa. — Sophie briga
comigo para escovar os dentes algumas manhãs. Algo me diz
que ela não terá paciência para o crime organizado.
— Bem, merda. — Eu balanço minha cabeça. — Lá se vai
meu plano de cinco anos.
O sol está subindo no céu, e Aiden levanta o rosto, cobrindo
os olhos enquanto franze a testa.
— Talvez eu devesse ter trazido protetor solar para Sophie.
— Ela vai ficar com fome em breve, de qualquer maneira.
Ela vai ficar bem.
— Você tem razão. Vou deixá-la brincar mais um pouco e
depois podemos ir. Não quero que ela tenha insolação.
— Você sabia que os porcos podem sofrer queimaduras
solares?
Aiden de alguma forma parece incrédulo e divertido ao
mesmo tempo.
— Onde você guarda isso, exatamente?
— Você me pegou. — Eu levanto meu punho para bater no
meu próprio crânio. — Esses fatos provavelmente estão
ocupando todo o espaço extra que eu deveria economizar para
algo mais importante. Como lei tributária, talvez.
Percebo que sua boca se contrai com o canto do meu olho,
e tenho que conter meu próprio sorriso para não parecer muito
boba. Nós dois sentamos em silêncio por um tempo,
observando Sophie se divertir, e eu nem percebo que ainda
estou sorrindo para mim mesma até que pego Aiden me
observando com o canto do olho.
— Desculpe — digo timidamente. — Ela parece tão feliz.
Ele ainda está me observando, aquela mesma coisa ilegível
em sua expressão que me faz desejar poder ler seus
pensamentos.
— Não, é... Não há nada para se desculpar.
— Eu sei que passei dos limites quando conversamos pela
última vez, mas... realmente fez a diferença, eu acho. Ela poder
passar mais tempo com você.
— Você não… — Ele contesta, finalmente desviando o olhar
para observar Sophie. — Passou dos limites. Você não disse
nada que não fosse verdade.
— Ainda assim. Tenho certeza de que é irritante para
alguém que está por perto há menos de um mês agindo como
se soubesse de tudo.
Aiden ri baixinho.
— Isso é tão estranho. Parece que já faz mais tempo do que
isso.
— Sério?
— Talvez seja porque você e Sophie se deram tão bem.
— Ela nunca colocou lixo na minha cama, pelo menos.
Ele sorri suavemente, ainda observando Sophie.
— Estou feliz que você não está com raiva de mim.
— Eu juro, nunca fiquei.
Estou tentando fingir que não estou lançando olhares
furtivos para ele, sem perceber a maneira como o vento
bagunça seu cabelo ou a maneira como seu jeans se ajusta ou
como sua camisa cinza-escuro abraça seu peito – mas é difícil
fazer isso quando Aiden continua percebendo que estou
fazendo isso, quando ele mesmo está roubando olhares.
— Bom — diz ele finalmente. — Foi estranho. Como se
você estivesse me evitando.
— Sim, bem... você me evitou primeiro.
O rosto de Aiden se abre em um sorriso.
— Não somos muito bons em lidar com nossas emoções,
não é?
— Eu não sei do que você está falando. Evitar situações
vergonhosas é a melhor maneira de lidar com elas, na minha
experiência.
— Então você admite que foi uma experiência vergonhosa
— ele brinca.
Mais do que você pode imaginar, penso amargamente.
— Quero dizer, eu nunca tive uma conversa significativa
com meu chefe enquanto ele estava seminu, então acho que
lidei bem com isso, considerando todas as coisas.
— Sim... não tenho certeza do que me levou a acreditar que
minha camisa era a melhor opção para limpar minha cerveja.
— Havia toalhas de mão perfeitamente boas na gaveta.
— Eu estava muito cansado, ok?
É um momento que parece muito fácil, que quase me faz
esquecer todas as outras merdas que estão acontecendo em
minha cabeça e que me deixam ansiosa se eu ficar pensando
nisso por muito tempo. Ele tem que ser tão legal? Isso torna
muito mais difícil fazer a coisa certa e guardar todos os meus
sentimentos.
Decido que é melhor mudar de assunto.
— Então... Disneylândia?
— É — Aiden suspira. — Já consigo ouvir meu chefe
reclamando.
— Mas pense em como ela ficará feliz — eu indico.
— Você está certa — diz ele. — Ela vai perder a cabeça.
— Você já foi?
Ele faz uma careta.
— Absolutamente não.
— Oh, garoto. Isso vai ser ainda mais divertido.
— O quanto eu vou me arrepender disso?
— Não se preocupe, estarei lá para lidar com todas as coisas
difíceis.
— As coisas difíceis?
— Ah, você sabe... Tirar fotos com as princesas, Castelo da
Bela Adormecida – você percebe que ela vai querer se fantasiar,
certo? O que você acha das montanhas-russas?
Aiden parece estar se sentindo enjoado.
— Quais são as chances de ela querer passar boa parte do dia
na atração de Star Wars?
— Eu não apostaria nisso — eu rio. — Eu acho que você vai
encontrar muita diversão com as princesas. Talvez possamos
assistir a um desfile! — O olhar no rosto de Aiden só me faz rir
ainda mais. — Isso vai ser muito divertido.
— Estou feliz que você está ansiosa por isso — ele murmura.
Estendo a mão para dar um tapinha na sua.
— Vou garantir que você não se perca, não se preocupe.
Foi um gesto inocente colocar minha mão sobre a dele, mas
quando minha risada diminui, percebo que ela ainda está lá, e
Aiden está olhando para onde minha mão está tocando a dele
de uma forma que me faz perder minha linha de pensamento.
Não sei quanto tempo ficamos assim antes de me lembrar da
minha posição, limpando a garganta antes de me afastar o mais
rápido que posso sem parecer estranha.
— Desculpe.
— Está tudo bem — diz ele muito rapidamente. — Estou
feliz que você também vai.
— Sim?
Ele balança a cabeça, sem olhar para mim.
— Por Sophie, quero dizer. Tenho certeza que ela vai se
divertir muito mais com você lá.
— Oh. Bem... — Por Sophie. Por que isso dói? É a única
razão pela qual estou aqui, afinal. — Acho que vai ser muito
divertido.
Aiden limpa a garganta.
— Eu liguei para Iris.
— Você ligou?
— Ela não conseguiu ninguém para cobrir a loja por dois
dias — ele me diz. — Já que vamos ficar em um Airbnb depois.
Por favor, não me lembre, penso lamentavelmente. Embora,
por que dividir uma casa alugada com Aiden me faz contorcer
quando moramos juntos está além de mim.
— Isso é muito ruim — digo, falando sério, estranhamente.
— Eu sei que Sophie vai ficar chateada.
Aiden acena com a cabeça.
— Ela vai passar por lá antes do trabalho na sexta-feira.
— Bem, pelo menos isso é bom. Foi estranho? O
telefonema?
— Eu... — Ele franze os lábios por um momento antes de
balançar a cabeça. — Ela soou... grata. Por eu ter perguntado.
Pode ter sido uma das conversas mais fáceis que tivemos nesse
ano.
— Talvez ela veja que você está tentando encontrá-la no
meio do caminho.
— Talvez. — Ele olha para mim. — Obrigado por sugerir.
— Ah, bem... — Eu tento parecer indiferente. — Estou
apenas cuidando de Sophie.
E de você, eu não digo.
Acho que talvez nós dois fiquemos sem coisas para dizer; um
silêncio se estabelece sobre nós dois enquanto observamos
Sophie, que se mudou para as barras de trepa-trepa. Ficamos
assim até que uma mulher empurrando um carrinho passa por
nós para sentar no banco ao nosso lado, bufando ao deixar cair
uma sacola de fraldas no chão ao lado dela.
— Vocês se importam se eu sentar aqui?
— Não, claro que não — Aiden diz a ela. — Por favor.
A mulher parece estar a alguns dias longe de uma boa noite
de sono, o cabelo jogado em um coque bagunçado e os olhos
marcados com olheiras.
— Graças a Deus pelo parque, certo? — Ela ri enquanto se
preocupa com o laço da menina no carrinho. — Eu
enlouqueceria se não pudesse trazer o irmão dela aqui para
gastar um pouco de sua energia.
Eu me inclino para ter uma visão melhor da sua bebê.
— Ela é adorável. Quanto tempo?
— Seis meses — ela nos diz. — Ela dá trabalho, mas pelo
menos ela é quieta. — Ela acena com a cabeça em direção a um
garotinho de cabelos escuros que atualmente sobe a escada para
o trepa-trepa. — Aquele parece nunca se cansar. — Ela nos dá
um sorriso gentil então. — Qual é o seu?
— Minha filha — Aiden oferece, apontando para as barras
do trepa-trepa. — Ela está ali.
— Ela é uma gracinha.
Aiden sorri com gratidão.
— Obrigado.
— Vocês formam uma família tão bonitinha — ela diz,
minhas bochechas instantaneamente ficando mais quentes.
— Ah, nós não somos...
— Daniel! O que foi que eu disse? — Ela nos dá um olhar
de desculpas. — Desculpe. Preciso garantir que ele não quebre
alguma coisa.
Ela nos deixa lá, empurrando seu carrinho com pressa para
verificar seu filho, que agora está pendurado de cabeça para
baixo na escada, e quando finalmente encontro coragem para
olhar para Aiden, ele parece tão envergonhado quanto eu.
— Acho que isso iria acontecer em algum momento — diz
ele com uma espécie de risada tímida. — Não é nada demais.
— Certo. — Estendo a mão para colocar uma mecha de
cabelo atrás da orelha, olhando para o concreto. — Mas é
ridículo.
Aiden inclina a cabeça para mim de lado.
— O que você quer dizer?
— Quero dizer... — Acho que, na minha tentativa de tornar
as coisas menos estranhas, estou cavando um buraco mais
fundo. — Bem, obviamente você está fora do meu alcance. Em
um outro planeta, na verdade. Portanto, duvido que muitas
pessoas cometam o mesmo erro.
— Você acha que eu estou fora do seu alcance?
Jesus Cristo, o que eu fiz? Ainda é tarde para fugir?
— Quero dizer... falando objetivamente, é óbvio que você
é...
— Eu não acho que seja tão óbvio — ele diz
categoricamente. — Falando objetivamente.
A respiração que eu estava prestes a tomar fica presa em
meus pulmões, e quando encontro coragem para olhar para
Aiden, sua expressão parece totalmente séria.
— O quê?
— Se qualquer coisa — diz Aiden — você estaria fora do
meu.
Minha boca se abre em surpresa.
— O quê? Não tem como...
— Cassie, você tem que saber... — Ele pisca então,
parecendo perceber o conteúdo da conversa que estamos
tendo. — Ok. Acho que talvez seja eu quem esteja passando dos
limites agora.
— Não, tudo bem, eu não queria...
— Só acho que você nunca deveria insinuar que não é boa o
suficiente para alguém — diz ele com naturalidade. — Muito
menos para mim.
Não tenho ideia do que dizer sobre isso, deixada sentada no
banco com a boca aberta e lutando para dar algum tipo de
resposta. Ele está dizendo que está ao meu alcance? Como se ele
tivesse considerado isso? Ou ele está apenas sendo legal? Estou
com muito medo de perguntar; tudo sobre esta conversa está
gritando perigo.
Nós dois olhamos um para o outro pelo que parece muito
mais do que os dez segundos que provavelmente são. Percebo a
forma como os olhos de Aiden mergulham para a minha boca,
a forma como sua garganta balança com um gole e seu peito
sobe e desce mais pesado do que um momento atrás.
— Ei, pai! Venha me empurrar!
Aiden vira a cabeça, ainda respirando mais forte do que
deveria quando encontra Sophie acenando para ele do outro
lado do parquinho. Ele olha dela para mim e para ela
novamente, finalmente balançando a cabeça antes de se
levantar do banco.
— Desculpe. Isso foi... Eu não deveria... — Ele respira fundo
pelas narinas, apenas para expelir pela boca. — Apenas esqueça
que eu disse alguma coisa.
Eu não digo nada, porque não tenho ideia do que começar
a dizer, observando suas costas enquanto ele se afasta de mim.
Mais e mais, minha mente está separando e juntando cada coisa
que ele acabou de dizer, para tentar descobrir o significado,
chegando a todos os tipos de conclusões, cada uma fazendo
menos sentido que a anterior. Aiden realmente acabou de me
dizer de uma maneira estranha e indireta que estou bem ao seu
alcance? Que ele está no meu?
E o que diabos significa se ele estiver?
Levo muito tempo para me mover do banco enquanto meus
pensamentos correm, sabendo que estarei fazendo o oposto
absoluto do que ele me pediu para fazer.
Apenas esqueça que eu disse alguma coisa.
Certo. Com certeza isso vai acontecer.
Bate papo com @alacarte

Puta merda, Cici. Aquilo foi


incrível.

Você me pediu para falar mais alto.

Não vou conseguir dormir esta


noite pensando em você
implorando por mim.

Você não tem ideia do quanto


eu quero te foder.

Acho que estou começando a ter


uma ideia.
Capítulo 11
Cassie

Aiden na Disneylândia acaba por ser uma das coisas mais


engraçadas que eu já vivenciei. Ele parece deslocado em sua
camisa preta, óculos escuros e jeans escuros – uma cabeça bem
mais alta do que a maioria das outras pessoas e uma expressão
única que é igualmente nervosa e estoicamente decidida.
Mesmo assim, ele aceita tudo que Sophie joga em cima dele. Ele
usa as orelhas que combinam com as minhas e com as dela, das
quais ela implorou. Ele espera pacientemente na loja de
fantasias (no fim das contas, ela não era muito velha para as
princesas) enquanto ela veste o combo inteiro: vestido, tiara,
varinha e sapatos. Ele até vai em todos os brinquedos que ela
pede, embora eu tenha certeza de que ele talvez tenha medo de
altura. Os nós dos dedos dele ficaram da cor de giz quando
Sophie o fez ir no Incredicoaster.
Seria o dia perfeito... se não fosse pelo ar estranho entre nós.
Depois que Aiden nos deixou no parque para ir trabalhar
no domingo, as conversas entre nós até agora não passaram de
olás e despedidas estranhas, e uma mensagem sobre passagens e
reservas para algum Airbnb próximo. Ele não disse mais nada
sobre a estranha troca que tivemos no parque – na verdade,
Aiden não disse nada além do que o necessário desde então.
Mesmo na viagem de uma hora até Anaheim esta manhã,
parece que ele só falou comigo quando absolutamente
necessário, iniciando nosso ciclo de idas e vindas para evitar
todas as coisas estranhas novamente.
Nossas habilidades de comunicação parecem voltar para
níveis elementares quando qualquer um de nós pensa que
ultrapassou os limites. Seria irritante se eu não estivesse sendo
tão idiota quanto sobre isso; também não consigo me obrigar a
trazer isso à tona, então não acho que possa realmente ficar
chateada com ele.
Ao meio-dia, posso dizer que Aiden já está exausto,
escondido sob a sombra de uma árvore em um banco enquanto
Sophie e eu saímos do Matterhorn. Supostamente ele precisava
de uma pausa para ir ao banheiro que simplesmente não podia
esperar, mas não estou totalmente convencida de que ele não
tenha medo do Abominável Homem das Neves. A
aniversariante está conversando sobre o passeio, ajustando a
tiara que ganhou da Bibbidi Bobbidi Boutique (uma tiara azul,
porque rosa era muito feminino para seu vestido de princesa,
aparentemente) e pulando ao meu lado assim que ela vê seu pai.
— Pai, pai — Sophie grita animadamente enquanto ela
corre em direção a ele. — Foi incrível!
— Aposto que sim. — Ele alcança ao seu lado para pegar
duas bebidas, entregando uma para cada uma de nós. — Achei
que vocês poderiam estar com sede.
Eu não deveria ficar tão feliz com uma garrafa de Snapple,
mas não posso evitar. Eu só mencionei meu sabor favorito uma
vez e, aparentemente, Aiden considerou importante o
suficiente para se lembrar. Eu balanço para frente e para trás,
dando a ele um sorriso agradecido.
— Chá de pêssego.
— Me disseram que seu sangue é assim neste ponto.
Eu dou minha atenção para a garrafa só para que ele não veja
meu sorriso bobo, estendendo a mão para desenroscar a tampa.
Eu a viro para ler o fato, rindo.
Aiden inclina a cabeça com curiosidade.
— O quê?
— Eu juro que não estou inventando isso — eu bufo,
segurando a tampa para que eu possa ler para eles. — "As cem
dobras no chapéu de um chef representam as cem maneiras de
preparar um ovo."
Aiden ri, estendendo a mão.
— Sem chance.
Deixo cair a tampa em sua mão.
— Você pode preparar um ovo de cem maneiras?
— Eu... — Ele franze a testa. — Eu realmente não sei. Eu
deveria saber?
— Todos os cozinheiros profissionais que conheço são
aficionados por ovos — eu faço um som de tsc com a língua.
Os lábios de Aiden se inclinam para cima, e esse pode ser o
primeiro momento normal que tivemos desde domingo.
Sophie aparentemente não está interessada nessa troca,
tomando um gole de seu Gatorade e fazendo barulho alto de
aah logo após.
— Eu quero ir no Matterhorn de novo — ela lamenta. —
Podemos ir de novo? — Ela dá a Aiden um olhar suplicante. —
Pai. Você iria adorar. Nós podemos?
— Ah, eu... — Ele sorri para ela, mas parece nervoso. —
Você sabe, há um monte de coisas que ainda precisamos ir. Que
tal se for na próxima?
— Ok — Sophie faz beicinho.
Dou uma cotovelada em Sophie gentilmente.
— Acho que seu pai está com medo do Abominável
Homem das Neves.
— O quê? — Sophie olha para o pai com preocupação. —
Você está com medo?
Aiden levanta uma sobrancelha.
— Eu não estou com medo do Abominável Homem das
Neves.
— Isso soa exatamente como algo que alguém com medo do
Abominável Homem das Neves diria — eu provoco.
— Claro que não.
— Estou apenas dizendo. — Eu dou de ombros. — No
minuto em que você ouviu Abominável Homem das Neves, de
repente você precisava de uma pausa para ir ao banheiro.
— Hilário — ele fala inexpressivo. — Vocês já estão com
fome?
Sophie cobre a barriga com a mão.
— Estou morrendo de fome.
— Eu vi alguns carrinhos de comida naquela direção. — Ele
aponta para a Fantasialândia. — Poderíamos ir e ver o que eles
têm.
— Ainda temos que ir ao Peter Pan!
— Nós vamos chegar lá — Aiden garante a ela. — Ainda
temos o resto do dia.
— Ok — ela bufa. — Desde que nós...
Levamos um segundo para Aiden e eu percebemos que
Sophie parou de nos seguir e, quando nos viramos, fica claro
que algo mais capturou completamente sua atenção. Eu sigo
sua linha de visão em direção à Fantasialândia, apertando meus
olhos para tentar enxergar o que ela está vendo.
— Aquela é...?
Sophie grita.
— É a Mirabel!
Ela agarra minha mão e começa a me puxar, deixando um
Aiden muito confuso para trás enquanto ela me puxa em
direção à princesa da Disney em questão. Uma atriz muito
bonita com cachos castanhos e pele escura está pulando por
perto em uma saia bordada azul-petróleo e uma blusa branca
esvoaçante. São os óculos que denunciam, redondos e verdes
brilhantes. Ela acena para as crianças por quem ela passa, e
Sophie está quase hiperventilando conforme nos
aproximamos.
— Cassie! Cassie! É a Mirabel!
— Eu estou vendo — eu rio. — Você quer conhecê-la?
— Eu posso?
— Vá em frente — eu insisto, empurrando-a em direção a
atriz, que está a apenas uns bons três metros de distância agora.
— Estaremos bem aqui.
Sophie praticamente corre na direção de Mirabel,
diminuindo a velocidade apenas quando ela está a uns trinta
centímetros de distância enquanto ela espera pacientemente
que a atriz vestida de Mirabel termine de falar com um garoto
que parece ser um pouco mais novo que Sophie.
— Eu deveria saber o que acabou de acontecer?
Olho para Aiden, que finalmente me alcançou.
— Você precisa entrar na moda de Encanto — eu rio.
— Pelo jeito sim. — Ele está ao meu lado, enfiando as mãos
nos bolsos. — Não tenho certeza se já a vi tão animada.
— Ela é obcecada pela Mirabel — eu o informo. — É um
filme fofo. Você deveria assistir.
— Vou tentar fazer questão de perguntar a ela na próxima
semana — ele promete.
Nós dois assistimos quando Sophie finalmente consegue
sua vez de se aproximar de Mirabel, seu rosto se iluminando
quando a atriz se agacha ao seu nível, dando-lhe um sorriso
brilhante. Não consigo ouvir sobre o que elas estão falando,
mas como Sophie parece ter conhecido o equivalente infantil
do presidente, deve ser bom.
— Você está sobrevivendo muito bem à Disney — eu
indico, desenroscando a tampa da minha bebida para tomar
outro gole. — Eu pensei que as orelhas iam acabar com você.
Ele estende a mão para tocar as orelhas do Mickey Mouse
que Sophie insistiu em pegar apenas para trocar as dela por uma
tiara no segundo em que a viu na boutique.
— Acho que é assim que o fundo do poço de um pai se
parece.
— Elas são fofas, não se preocupe — eu rio.
Ele pigarreia sutilmente.
— São?
— Sim, elas são... — É um erro olhar para ele, porque como
alguém vestindo preto na Disney e com orelhas de Mickey
Mouse consegue parecer tão tentador? Não consigo ver seus
olhos por trás dos óculos escuros, mas não importa, acho,
porque é óbvio que ele está olhando diretamente para mim. —
Você fica bem com elas — eu digo um pouco mais baixo.
Eu observo sua mandíbula trabalhar sutilmente por apenas
um momento antes de ele olhar para Sophie, que está fazendo
Mirabel assinar seu livro de autógrafos.
— Você também.
Você poderia simplesmente perguntar a ele, algo sussurra em
minha cabeça. Você poderia apenas perguntar o que ele quis
dizer no parque. O que de pior poderia acontecer?
Ele poderia me dizer que estava apenas sendo legal. É isso.
— Ei, Aiden, sobre...
— Pai! Cassie!
Eu viro minha cabeça para ver Sophie apontando
freneticamente para um arbusto logo atrás dela, sou capaz de
distinguir apenas uma cabeça com cabelo encaracolado e um
poncho verde-esmeralda. O ator parece tão nervoso quanto seu
homônimo, espiando por trás de um galho e acenando
timidamente para Sophie enquanto ela corre até ele.
— Então, vamos falar sobre Bruno — eu meio que canto.
Aiden franze a testa.
— O quê?
— Nada — eu rio. — É melhor irmos até ela antes que ela
hiperventile.
Provavelmente é o melhor, eu penso. A curiosidade matou o
gato.
Esqueça o gato, é com meus malditos sentimentos que estou
mais preocupada.
Eu não tento mencionar o assunto pelo resto do dia.

■□■

Passamos cada segundo do dia inteiro explorando a


Disneylândia – Sophie nos arrastando de uma atração para
outra até bem depois do pôr do sol. Aiden fisicamente tem que
carregá-la quando finalizamos tudo, a garotinha ficando mais
do que feliz em permanecer até o fechamento do parque. É
difícil explicar a uma criança de dez anos que não é uma boa
ideia mantê-la fora de casa depois da meia-noite.
Ela adormece no carro a caminho do Airbnb, mas mesmo
com nada além do som de carros passando do lado de fora,
Aiden e eu ainda não conseguimos encontrar uma maneira de
quebrar o silêncio tenso. Ele não olhou para mim uma vez
desde que deixamos o parque, e mesmo que o sol tenha se
posto, eu posso distinguir suas feições sob a luz da rua se eu der
uma olhada em sua direção. Vai ser estranho ficarmos presos no
pequeno espaço do Airbnb se isso continuar, não tendo a rede
de segurança de um andar inteiro entre nós como temos em
casa.
Eu não sei quanto tempo ficamos assim antes de eu me
cansar disso, mas quando ouço o bater de seus dedos contra o
volante pela quarta vez, não aguento mais.
— Eu acho que é seguro dizer que hoje foi um sucesso — eu
indico. — Ela provavelmente vai tentar usar aquele vestido de
princesa para ir à escola quando voltarmos.
Aiden ri baixinho.
— Isso fez valer a pena o show de merda que eu vou
encontrar quando voltar para o trabalho.
— Super pai — digo, repetindo minha declaração do outro
dia.
Eu mal consigo ver seu sorriso fraco.
— É.
— Aposto que ela nem vai se mexer quando você a carregar
para a cama.
— Você provavelmente está certa — ele concorda, e quando
eu olho de novo, eu o vejo olhar pelo espelho retrovisor. — Ela
teve um dia cheio.
— Você se divertiu?
— Definitivamente foi algo.
— Talvez você possa usar as orelhas para trabalhar quando
voltar.
— Ah, com certeza. Eu farei isso — ele bufa.
Eu sorrio na meia escuridão, virando meu rosto para janela.
É engraçado como as coisas podem parecer tão fáceis entre nós
apenas para se tornarem desconfortáveis momentos depois.
Aiden pigarreia então, chamando minha atenção,
aparentemente não terminando de falar.
— Você disse que elas ficaram bem em mim — ele
menciona, sua voz mais baixa do que era um momento atrás.
— Então.
Eu viro minha cabeça ligeiramente, sentindo meu coração
bater mais rápido.
— Sim. Eu disse.
— Você ia me perguntar uma coisa mais cedo — ele
continua. — O que era?
— Oh. — Eu engulo, minha boca seca de repente. — Eu só
estava... — Não é uma boa ideia, e eu sei disso. Eu deveria largar,
mas não faço isso. — Eu ia perguntar o que você quis dizer no
outro dia.
— No outro dia — ele ecoa baixinho.
— Sim, você... — Eu me mexo no banco do carro,
endireitando minhas costas enquanto minhas mãos agarram
meus joelhos. — No parquinho. Quando aquela mulher
disse... Quando eu disse que você era... — Deus. — Você disse
que não era óbvio.
Eu só posso esperar que ele esteja entendendo essa bagunça
de palavras que eu estou soltando, porque eu mal consigo me
ouvir pensar sobre a forma como minha pulsação está
martelando dentro dos meus ouvidos. Meu peito está aceso
com palpitações e faíscas que dificultam a respiração.
— Oh.
Eu espero que ele estenda seu oh, mas ele não diz mais nada
por pelo menos um minuto. Pelo menos sessenta segundos de
mim ficando cada vez mais em pânico por ter tocado nesse
assunto novamente.
— Você disse que era óbvio que eu estava fora do seu alcance
— ele diz em um meio sussurro.
Posso não estar respirando. É difícil dizer.
— Você disse que não era.
— Porque não é.
Meus lábios se separam e não estou mais roubando olhares,
na verdade, estou quase totalmente virada no assento para
conseguir olhá-lo.
— Não sei o que isso significa.
— Eu também não tenho certeza.
— Você tem que saber — eu consigo dizer. — Foi o que
você disse. Você tem que saber. O que eu preciso saber, Aiden?
Percebo que seus dedos estão agarrando o volante agora, e
ele ainda não está olhando para mim.
— Não sei se deveríamos estar falando sobre isso.
— Oh. — Cada partícula em meu peito se apaga de uma vez.
— Certo. Claro.
— É só que não acho uma boa ideia...
— Eu entendo — digo, interrompendo-o. — Desculpe.
Você tem razão. Totalmente inapropriado.
— Cassie, é só...
— Eu entendo, Aiden. — Viro o rosto para a janela. —
Sério. Eu só estava curiosa. Nada demais.
Ele fica quieto de novo, e eu me arrependo de trazer isso à
tona, como eu sabia que me sentiria. As luzes da rua ainda
iluminam do lado de fora, e meu coração ainda está batendo
muito rápido, mas não contém nada da estranha expectativa de
um momento atrás, apenas constrangimento e leve decepção.
Você deveria ter ficado de boca fechada.

■□■

Eu continuo esperando que Aiden diga mais alguma coisa


enquanto dirigimos para o Airbnb, mas ele nunca diz. Estou
começando a achar que estraguei tudo – que criei uma situação
que teremos dificuldade em superar. Está claro que eu deveria
ter deixado as coisas de lado, que está se tornando cada vez mais
provável que Aiden estava apenas sendo legal e agora ele tem
que se preocupar com sua babá vendo coisas onde não existe.
Acho que se eu fosse ele, também me sentiria estranha.
Eu me tranco no banheiro enquanto Aiden coloca Sophie
em seu quarto, escovando meus dentes agressivamente à
medida que repasso os eventos do dia em minha cabeça. Tento
descobrir onde posso ter errado ao pensar que Aiden poderia
querer dizer algo com tudo o que disse e até mesmo com tudo
o que não disse.
Cassie, você tem que saber...
Deus. Isso vai me manter acordada.
Eu cuspo minha pasta de dente na pia antes de desligar a
água, deixando cair minha escova de dentes no balcão e
segurando a borda para olhar de volta para o espelho. É
provavelmente ridículo em primeiro lugar, o fato de que eu
realmente esperava que ele quisesse dizer algo mais; não há nada
sobre isso que grite ser uma boa ideia e, a longo prazo – não há
como terminar bem. Mesmo se Aiden estivesse interessado. O
que ele não está. Ou talvez esteja, ele apenas sabe que é uma má
ideia. Talvez eu esteja apenas jogando essa ideia como uma
possibilidade para me sentir melhor. Não sei.
Eu corro meus dedos pelo meu cabelo e solto um suspiro,
afastando esses pensamentos ruins que, no final das contas, não
vão me levar a lugar nenhum. Eu tenho que me lembrar de
novo e de novo que não importa se Aiden é a pessoa que
costumava me assistir. Não importa se ele é a pessoa que eu
pensei que sentia algo por mim, porque no fim, ele
desapareceu. E se eu continuar imaginando coisas que não
existem, é exatamente isso que ele vai fazer novamente.
Eu silenciosamente fecho a porta do banheiro atrás de mim
assim que termino, saindo para o corredor. Está escuro aqui,
apenas uma fina faixa de luz vem da lâmpada ainda acesa na sala
de estar no final do corredor – e talvez seja por isso que eu não
o vejo a princípio. Eu esbarro direto em uma massa grande e
sólida quando me movo para ir em direção ao meu quarto, o
próprio objeto da minha preocupação colidindo comigo no
corredor escuro e me pegando desprevenida.
As mãos de Aiden agarram meus ombros como se por
instinto, me firmando.
— Cassie?
Leva um segundo para o meu cérebro entender o fato de que
a pessoa com a qual tenho me consumido obsessivamente está
agora a trinta centímetros de mim e também me tocando.
— Desculpe — gaguejo. — Eu não vi você.
— Não, está tudo bem. Eu só estava... — Ele parece perceber
então que ainda está segurando meus ombros, afastando as
mãos rapidamente. — Eu estava indo pegar uma bebida.
Eu olho para o outro lado do corredor, onde o quarto que
Aiden e Sophie estão compartilhando fica a uns bons três
metros do meu.
— Sophie está dormindo?
— Como um bebê.
— Bem, foi um grande dia.
Ele concorda.
— Foi.
Nós dois apenas ficamos parados desconfortavelmente,
Aiden esfregando a nuca enquanto eu olho para os meus pés.
— Você se divertiu hoje — ele tenta. — Certo?
— Claro — asseguro-lhe. — Foi um grande dia.
— Bom, bom.
Cassie, você tem que saber...
Eu deveria apenas ir dormir. Eu deveria ir dormir e esquecer
que este dia aconteceu, esquecer tudo o que sei sobre quem é
Aiden e o que ele viu, que eu deveria acordar amanhã e me
comprometer a fazer meu trabalho sem distrações. Eu posso
fazer isso, certo? Posso fingir que Aiden não significa nada mais
para mim do que ser o pai de Sophie. Eu posso.
Mas aparentemente não consigo parar de abrir a boca.
— Ouça, sobre mais cedo...
— Sim?
Seu tom ansioso me pega de surpresa, e quando eu olho para
cima, noto que sua expressão combina com sua voz. Meu
cérebro está agarrando-se a isso com tudo o que tem. Eu tenho
que dizer à força para ele calar a boca e sentar-se.
— Eu apenas... Desculpa. Se eu te deixei desconfortável.
Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós.
— Oh. — Ele balança a cabeça lentamente, aquele olhar
ansioso desaparecendo. — Certo. Não. Você não fez isso.
— Acho que apenas fiz um monte de suposições que foram
bobas — eu digo, tentando transformar isso em uma piada.
— Bobas — ele repete, não soando nem um pouco
divertido.
Ele não facilita nada.
— Claro que você estava apenas sendo legal, e eu entendi
errado. Só não quero que você pense que não posso fazer meu
trabalho ou algo assim porque pensei que você poderia estar
falando sério.
Ele não diz nada e, quando olho para ele, percebo que sua
expressão agora parece quase aflita. Eu devo estar tornando isso
pior. Parece que ele quer morrer agora.
Eu limpo minha garganta, fazendo um movimento para me
afastar para que eu possa escapar para o meu quarto e pensar
em maneiras diferentes de morrer.
— De qualquer forma, acho melhor eu...
De repente, Aiden está com a mão em volta do meu braço,
não apertando exatamente, mas aplicando pressão suficiente
para me deixar saber que ele gostaria que eu ficasse parada. Eu
olho para a mão dele em confusão, então de volta para ele para
encontrá-lo ainda olhando para o local de onde eu acabei de me
afastar, parecendo tão confuso que ele estendeu a mão para
mim quanto eu.
— Aiden?
— Não é — diz ele com firmeza, ainda sem olhar para mim.
Minha sobrancelha franze.
— O quê?
— Bobo — diz ele. — Não é bobo.
Meu coração começa a acelerar. Digo a mim mesma para
não ter esperança, para não ver demais sobre isso, cada vez que
fiz isso até agora me deixou desapontada.
— Eu não sei o que isso significa.
Aiden balança a cabeça.
— Eu também não tenho certeza.
— Você tem que me dar mais do que isso — digo, frustrada.
— Você está me confundindo.
Aiden ri, mas é estranho.
— Eu me sinto confuso perto de você.
— O quê? O que isso sig...
— Porque eu não deveria pensar tanto sobre você quanto
penso.
Todo o ar deixa meus pulmões com pressa.
— O quê?
Aiden olha diretamente para mim, e mesmo no escuro posso
ver a fome em seus olhos. É o suficiente para me tirar o fôlego.
— E eu não deveria estar pensando em você do jeito que
penso.
Eu sei que neste pequeno espaço não há como ele não ver o
jeito que eu engulo.
— Aiden, eu...
— Você não precisa dizer nada — ele suspira. — Você
provavelmente não deveria. Eu sei que estou passando dos
limites. É apenas que... Eu sinto que estou ficando louco. Estou
começando a achar que todo esse arranjo foi uma má ideia, mas
Sophie simplesmente ama muito você, e não posso ser o motivo
de foder com tudo isso com o jeito que não consigo parar...
Não tenho certeza se é a escuridão ou a maneira como ele
está deslizando para esse discurso de palavras disparadas que é
um contraste gritante com seu costumeiro jeito composto, mas
ele não percebe quando me afasto de seu aperto, quando chego
perto o suficiente para cobrir a curta distância entre nós. Suas
palavras morrem em sua língua quando ele olha para mim, e eu
posso apenas distinguir seus olhos, um brilhante e outro
escuro, ambos fixos em mim. Ainda posso sentir meu coração
batendo contra minhas costelas, ainda posso ouvir o sangue
pulsando em meus ouvidos enquanto me questiono, mesmo
agora, mas algo na maneira como Aiden está olhando para mim
me dá coragem.
— E se — eu engulo em seco, meu olhar mergulhando para
sua boca e de volta para seus olhos — eu não quiser que você
pare?
Eu ouço seu suspiro silencioso.
— O quê?
— Quem disse que você é o único? E se eu tenho pensado
em você também?
Não acho que seja uma coisa consciente, a maneira como
suas mãos se levantam e as pontas dos seus dedos roçam o
pedaço de pele entre a bainha da minha blusa e meu short de
algodão que só agora me lembro de ter pequenos corações por
toda parte.
Sua voz é incrivelmente suave agora, soando quase rouca.
— Você tem?
— Durante semanas — admito, me sentindo ousada.
Ele agarra meus quadris.
— Isso é loucura, não é?
Você não sabe nem a metade.
— Eu não me importo com um pouco de loucura — eu
respiro, minha boca a centímetros da dele.
Sinto o calor quente de sua palma deslizar sob minha blusa,
moldando-se contra a minha cintura enquanto ele olha para o
meu peito.
— Você está vestindo a blusa de novo.
— É a minha favorita.
Ele faz um som que eu nunca o ouvi fazer antes, algo como
um grunhido e um gemido que eu sinto até os dedos dos pés.
— É a minha também.
Ele fica impossivelmente imóvel quando pressiono minhas
mãos em seu peito, quando as deixo subir mais alto para agarrar
seus ombros – finalmente permitindo-me sentir a forma de seu
corpo contra o meu, como eu tenho sonhado. Se a coisa dura
pressionando contra minha barriga é alguma indicação, acho
que é seguro dizer que Aiden está falando a verdade quando diz
que tem pensado em mim.
— Isso é loucura — ele sussurra novamente.
Deixo minhas mãos deslizarem de volta para a firmeza de seu
peito.
— Seria uma loucura maior se você me beijasse.
— Posso?
— Aiden.
Ele não precisa de mais dicas.
Sua boca é tão macia quanto parece, explorando, porém
gentil enquanto seus lábios se curvam contra os meus. Posso
sentir a pressão penetrante de sua língua enquanto lambe meu
lábio inferior como uma pergunta, e não preciso de mais
nenhum estímulo para abrir e deixá-lo entrar. Quando sua
língua toca a minha, é como se um interruptor tivesse sido
acionado, e de repente suas mãos estão no meu queixo, no meu
cabelo e em todos os lugares, puxando e tocando tudo o que ele
pode alcançar. Eu engulo seus sons carentes enquanto ele me
pressiona contra a parede, guardando cada um deles em minha
memória para que eu possa visitá-los mais tarde como
pequenos tesouros.
Ele ainda está duro contra o meu estômago, e seus quadris
se elevam de uma forma quase impensada, como se ele não
percebesse que está fazendo isso. Eu sinto seus dentes
mordiscando meu lábio e então sua respiração quente contra
minha mandíbula, todas as sensações se misturando quando
seu toque me deixa em chamas.
— Não podemos. — Sua voz soa dolorosa contra a minha
pele. — Nós não deveríamos...
Sinto uma onda de pânico.
— O quê? Não podemos?
— Não aqui — ele geme baixinho. — Sophie. Ela poderia...
O caralho que vou deixar ele parar depois de me excitar
tanto. Eu o empurro para trás em direção à porta do banheiro,
alcançando atrás dele para girar a maçaneta enquanto corremos
para dentro. Ele acende a luz, e agora que posso vê-lo todo
iluminado – cabelo bagunçado, boca vermelha de tanto beijar
– tudo parece extremamente real.
Estamos realmente fazendo isso?
Aparentemente sim, se o jeito que Aiden está beijando meu
pescoço é alguma indicação.
— Esta blusa é uma grande distração. — Eu inclino minha
cabeça para trás quando sua boca vagueia, beijando a parte
exposta da minha clavícula ao passo que sua mão desliza pela
frente da minha blusa para cobrir logo abaixo do meu peito. —
Não parei de pensar nela. Sobre o que está por baixo.
— Eu não queria...
Eu faço um som quando sua boca de repente cobre meu
mamilo através do material fino, um grito suave que soa mais
alto ecoando contra os azulejos do banheiro. Aiden se afasta
imediatamente, olhando para mim com olhos semicerrados.
— Você tem que ficar quieta — ele murmura. — Você pode
fazer isso?
— Eu posso... — Meu suspiro é mais suave quando seus
lábios me cobrem novamente para chupar, mas não menos
intenso. — Eu posso ficar quieta.
Ele cantarola contra meu mamilo enquanto o algodão cada
vez mais úmido começa a me esfregar de uma forma que
formiga, e meus dedos encontram seu cabelo para passar por
ele, segurando-o perto. É tudo o que imaginei que seria, ele me
tocando, tanto agora quanto um ano atrás – e parte de mim está
lutando para entender tudo isso.
Não que Aiden me dê muito tempo para pensar demais.
Eu sinto sua mão deslizando da minha cintura para
pressionar contra o meu estômago agora, seu polegar
acariciando o material entre as minhas pernas de uma forma
leve como uma pluma.
— Diga-me para parar — diz Aiden asperamente. — Diga-
me para parar, se é isso que você quer.
— Não é — eu o tranquilizo, puxando seu cabelo para
forçá-lo a olhar para mim. Ambos os olhos parecem escuros
agora, suas pupilas dilatadas e sua respiração irregular enquanto
eu agarro seu rosto para trazer seus lábios até os meus. Minha
voz mal aparece quando eu sussurro contra eles: — Eu quero
você.
Seu beijo é mais feroz agora, suas mãos mais insistentes e,
quando meus dedos se curvam no cós de sua calça,
enganchando em sua cueca para puxá-la para longe, seu gemido
de resposta provoca uma pulsação em outro lugar que não é
meu peito.
— Porra — ele diz contra a minha boca.
Ainda faz coisas comigo, sua boca proferindo palavras sujas,
mas envolver meus dedos ao redor do comprimento duro e
grosso de seu pênis faz mais. Ele se contorce contra a minha
mão, lateja em meu aperto quando deslizo meu punho para
baixo para bombeá-lo e, quando volto para a ponta, posso
sentir uma umidade escorregadia que cobre minha palma.
Aiden se inclina para trás para me ver tocá-lo, suas mãos
encontrando meus quadris enquanto seus olhos permanecem
fixos em mim, acariciando-o. Sua boca se abre quando ele solta
um suspiro trêmulo, e a maneira como ele parece estar se
segurando por um fio faz eu me sentir estranhamente poderosa.
— Você vai me fazer gozar — ele geme.
Eu sorrio.
— Acho que esse é o objetivo.
— Eu não quero gozar na sua mão.
Minha mão para. Eu pressiono meu polegar contra a fenda
molhada na cabeça, cobrindo-a propositadamente antes de
levá-la à boca para lamber e voltando acariciá-lo novamente,
nunca tirando meus olhos dos dele.
— Onde você quer gozar, Aiden?
Ele se inclina para mim, seus lábios roçando minha
mandíbula e sua língua quente contra minha pele.
— Dentro de você.
— Nós podemos... — Estamos tão próximos um do outro
que posso sentir o calor dele contra minha barriga, mesmo
através do algodão da minha camisa. Pego meu short
apressadamente com a mão livre para tentar afastá-lo. — Eu
posso tirar isso, se você apenas...
— Não podemos — ele bufa, como se isso o machucasse.
Algo dentro de mim murcha.
— Oh. Me desculpe, eu não...
— Eu quero — ele esclarece — mas não tenho nada. Aqui
não.
— Oh. Oh. — Eu engulo nervosamente. Estou
hiperconsciente de que ainda estou tocando seu pau. — Eu
tenho um DIU — digo a ele. — E eu não estou – eu faço exames
regulares, então, se você quiser...
Ele olha para mim com olhos selvagens, e eu os vejo viajar do
meu rosto até a minha mão que ainda o está tocando.
— Eu quero — diz ele. — Você não tem ideia do quanto eu
quero.
— E você... você sabe. Você está...
— Estou limpo — ele me diz.
— Oh. Bem. Se você quiser...
Colocar as mãos nos meus quadris, me levantar em um
movimento enquanto ele se vira para me colocar no balcão do
banheiro, parece ser sua resposta. Ele leva apenas alguns
segundos para arrastar tudo pelas minhas coxas para me deixar
nua da cintura para baixo. Seus dedos brincam através de
minhas dobras molhadas enquanto minha respiração prende, e
então eu sinto sua outra mão segurando minha bunda para me
puxar para mais perto até que o calor de seu pênis se encaixe
contra mim para realmente tirar meu fôlego. Seus lábios estão
no meu pescoço novamente, beijando aquele ponto que eu
nem sabia que poderia me afetar assim, e sua voz contra a minha
pele me faz tremer.
— Você sabe o quanto eu pensei sobre isso?
Balanço a cabeça, ou pelo menos acho que faço. Meu
cérebro parece confuso.
— Porra, Cassie, você é — ele deixa um dedo deslizar dentro
de mim enquanto minha cabeça cai para trás — perfeita. — A
maneira como ele bombeia o dedo para dentro e fora de mim
parece uma provocação, cada empurrão e retirada me deixando
querendo mais. — As coisas que eu quero fazer com essa sua
boceta linda.
Jesus.
Não o ouço usar essa palavra desde antes de saber seu nome.
Não ouço desde que ele sussurrou para mim pelo alto-falante
do computador, em um tempo que parece tão distante agora.
Eu gemo quando ele afasta a mão, mas é por pouco tempo,
quando o sinto se acomodando entre minhas pernas, guiando
seu pau para cutucar minha entrada. Sua boca cobre a minha
para engolir meu gemido quando ele se encaixa lá, lentamente
entrando para me preencher, e ele me cala suavemente
enquanto eu tomo tudo dele.
— Quieta — ele me lembra. — Você disse que podia ficar
quieta, Cassie. Lembra?
Sinto-me apertar em torno dele, e se eu já não estivesse
sentada, meus joelhos poderiam ceder. Parece muito uma
memória de outra época, uma em que ele sussurrava coisas sujas
para mim, mesmo sem saber que era eu, e isso me deixa ainda
mais excitada. Todas as vezes que eu imaginei isso, como ele se
sentiria – nada disso pode se comparar com a coisa real.
Eu aceno sem fôlego, sentindo sua respiração estremecer
contra meus lábios.
— Você é tão boa — ele murmura. — Boa pra caralho.
Seus quadris estão nivelados com os meus agora, cada
centímetro duro dele enraizado profundamente. Ele me enche
até não sobrar espaço, e eu tremo contra ele, lutando para ficar
parada no balcão.
— Você pode... ah. Você pode apenas...
— Você quer que eu me mova? — Ele me beija lentamente,
rolando os quadris apenas o suficiente para me excitar. — Você
quer que eu foda essa boceta perfeita? — Eu posso senti-lo
deslizar contra minhas paredes internas, e eu tenho que segurar
seu ombro com minha mão livre apenas para me firmar. —
Diga-me que você quer isso.
Eu aceno com a cabeça trêmula.
— Sim.
— Obrigado, porra — ele geme.
Ele agarra meus quadris com mais força, puxando para fora
apenas para empurrar de volta para dentro. Ele grunhe quando
me enche, o som áspero e enviando um arrepio pela minha
espinha, mas não tenho tempo para pensar nisso com a maneira
como ele faz de novo.
Aiden empurra com mais força e eu grito.
— Ah.
— Shh — ele acalma, sua mão alcançando meu queixo
enquanto seu polegar pressiona contra meus lábios. — Seja
boa, Cassie. Você tem que ser boa para que eu possa te foder.
Acho que aceno com a cabeça, talvez, mas não sei dizer. Não
com o jeito que ele começou um ritmo constante, cada impulso
chegando ao fundo quando o som suave de nossos corpos se
unindo ressoa contra os ladrilhos. Eu realmente estou tentando
ficar quieta, mas está ficando cada vez mais difícil ter certeza.
— Aiden... Aiden, você pode...
— Diga-me o que você precisa — ele diz entre dentes. —
Diga-me como fazer você gozar.
— Toque-me — eu choramingo. Pego sua mão, colocando-
a entre minhas pernas. — Você pode me tocar?
Ele pressiona contra meu clitóris imediatamente, rolando o
ponto inchado sob a ponta dos dedos enquanto minha cabeça
pende e meu estômago contrai. Já estou tão perto, a deliciosa
fricção de seu pau dentro de mim me fazendo perder a cabeça
– e a pressão adicional de seus dedos contra a parte mais sensível
de mim só torna a pressão quente crescendo entre minhas
pernas muito mais iminente, como se pudesse estourar a
qualquer momento.
Sua respiração bufa contra a minha mandíbula.
— Assim é bom?
— Desse jeito — eu respiro.
— Porra, eu vou gozar — ele geme baixinho contra a minha
boca. — Você está perto?
Estou tentando me mexer com ele agora. Seus dedos
deslizam contra meu clitóris enquanto eu apoio minhas mãos
contra o balcão para tentar encontrar suas estocadas, cada uma
batendo bem ali.
— Apenas continue, bem aí, oh. Oh.
— Cassie — ele geme.
Talvez seja a maneira como ele diz meu nome que faz isso.
Talvez seja o calor escaldante de sua boca contra a minha no
momento em que sua língua desliza para dentro. Talvez sejam
suas mãos, seu pau ou o calor de seu corpo,
independentemente disso, sinto-me começar a tremer quando
cada músculo em minhas coxas fica tenso e meu interior treme
ao redor dele com meu orgasmo. Eu posso sentir quando ele se
solta momentos depois, como se ele estivesse esperando por
mim. Eu posso sentir seu pau se contorcendo lá no fundo e
ouvir seu grunhido baixo no meu ouvido que desencadeia um
frio na barriga – e então seu rosto está enterrado contra o meu
pescoço e seu peito está arfando contra o meu.
Ficamos assim por um momento, nenhum de nós falando e
ambos tentando recuperar o fôlego, e espero que o
arrependimento se instale, que a preocupação com o que isso
significará, mas não vem. Não há nada além da saciedade dos
meus membros e o calor reconfortante de seu corpo enquanto
suas mãos continuam a acariciar minha pele.
Quando ele finalmente se afasta para olhar para mim, a
expressão em seu rosto é igualmente confusa e maravilhada,
como se ele não pudesse acreditar que o que acabou de
acontecer é real. Minhas mãos seguram seu rosto para puxá-lo
para outro beijo lento, pegando seu gemido em minha boca
quando ele sai cuidadosamente de mim.
Eu o beijo novamente, mais suavemente agora, e sinto seus
lábios se curvarem contra os meus em um sorriso enquanto
uma risada ofegante escapa dele.
— Isso parece um sonho — ele murmura.
Eu ainda estou beijando ele. Eu não consigo parar.
— Não é um sonho.
Ele enterra o rosto no meu peito, acariciando meus seios
para frente e para trás, me fazendo rir baixinho.
— Esta maldita blusa — ele resmunga. — Está me deixando
louco.
— Talvez eu devesse pedir um pijama para o meu chefe —
provoco.
— Acho que ele diria que não está no orçamento. — Ele me
olha sério então. — Foi... esquisito?
Eu recuo.
— Esquisito?
— É que... — Ele parece inseguro agora. — Já faz muito
tempo, e você é tão... — Seus olhos viajam pelo meu corpo, me
fazendo tremer. — Eu me empolguei.
Oh.
Você quer que eu foda essa boceta perfeita?
— Tudo bem. — Eu o beijo suavemente. — Eu gostei.
Não sei como dizer a ele que sei tudo sobre sua boca suja –
intimamente.
— Bom — ele resmunga. — Porque eu não me vejo
magicamente ganhando em um futuro previsível qualquer
controle quando se trata de você.
Eu não posso evitar meu sorriso, a ansiedade que veio
crescendo nesta última semana se dissipando e se
transformando nesta estranha calma. Mas ainda assim, não
posso deixar de me perguntar.
— O que... — Eu limpo minha garganta. — O que isso
significa para o meu trabalho?
— O quê? — Ele parece genuinamente confuso. — Você
não quer ir embora, não é?
— Não, não, claro que não! Mas... isso... isso vai tornar as
coisas estranhas?
— Não, se não permitirmos — ele me garante. — Só temos
que ter certeza de manter as coisas separadas.
— Separadas?
— De Sophie — diz ele. — Até... até sabermos o que isso
significa.
Isso não deveria fazer eu me sentir do jeito que me faz,
ouvindo-o – é uma coisa perfeitamente razoável que ele está
dizendo, afinal. Não seria justo com Sophie expô-la a isso sem
saber o que é.
Então, por que me sinto tão ansiosa de repente?
Minha mente viaja de volta às noites sem dormir e aos olhos
vermelhos depois que Aiden desapareceu de mim uma vez, e
acho que agora seria muito pior, agora que o conheço.
Talvez seja por isso que não falo nada, mesmo quando sei
que deveria.
Eu poderia dizer a ele agora. Eu poderia contar a ele tudo o
que sei sobre nós, sobre o que compartilhamos, mas há uma
pequena voz na minha cabeça que me adverte contra isso. Ele
saiu da minha vida uma vez, e eu sobrevivi, mas eu poderia fazer
isso de novo? Agora? Essas perguntas me fazem engolir todas as
coisas que sei que provavelmente deveria dizer, mas, em vez
disso, me inclino para outro beijo demorado.
— Estou bem com manter as coisas separadas — digo a ele.
— Por Sophie.
Ele me puxa para perto, forçando-me a encontrar seu olhar.
— Mas isso não significa que isto termina esta noite — ele
me diz incisivamente. — Certo?
Meus lábios se curvam em um sorriso tímido.
— Eu não quero.
— Bom — ele suspira. Ele me beija novamente. — Porque
eu não terminei com você, Cassie. Nem um pouco.
Eu não tinha percebido o quanto eu precisava ouvi-lo dizer
isso até que ele disse. Isso me deixa tonta.
Ele cuidadosamente me ajuda a vestir antes de se guardar de
volta em suas calças, puxando-me para fora do balcão antes de
inclinar meu queixo para beijar minha bochecha. Eu sinto seu
sorriso ali, sentindo sua outra mão deslizando contra meu
quadril como se para memorizar sua forma.
Ele apaga as luzes do banheiro enquanto me puxa para o
corredor, segurando-se contra mim por mais tempo do que o
necessário, como se não estivesse pronto para me deixar ir.
Posso dizer com certeza que conheço o sentimento.
— Boa noite, Cassie.
— Boa noite — eu sussurro de volta, sua voz baixa deixando
meus joelhos fracos.
Sua mão desliza pelo meu braço quando me afasto dele, seus
dedos roçando minha pele até encontrar a ponta dos meus
dedos, agarrando-se a eles por alguns segundos antes de ele
finalmente me soltar. Eu me viro para voltar para o meu quarto,
e preciso de toda a força em mim para não implorar
egoisticamente para que ele volte comigo, assim como é preciso
um esforço incrível para não virar a cabeça e dar uma última
olhada nele.
Especialmente porque sinto seus olhos em mim em todo o
momento.
Estou esperando Cici ficar online há meia hora.
Acho que é oficialmente seguro dizer que estou um pouco
obcecado.
Isso não me impede de continuar esperando.
Capítulo 12
Aiden

Eu passei a noite inteira pensando nela.


Dormir tem sido impossível, e fico olhando para o teto
branco liso do Airbnb com uma Sophie roncando esparramada
ao meu lado, desejando ter reservado um lugar para nós com
um quarto com cama de casal, ou talvez até mesmo um outro
quarto apenas para ela. Examino todos os motivos pelos quais
seria uma má ideia fugir para ver Cassie novamente. Toda vez
que fecho meus olhos, me deparo com a memória de seus sons
suaves e de seu corpo mais suave ainda – a sensação de como foi
estar dentro dela praticamente substituindo cada canto do meu
cérebro e fazendo dali um lar.
Acabo desistindo de dormir totalmente em algum
momento no início da manhã, saindo do meu quarto enquanto
Sophie ainda está dormindo e fechando a porta silenciosamente
atrás de mim com a intenção de fazer café. Eu perco minha
linha de raciocínio quando vejo Cassie na cozinha, que
aparentemente teve a mesma ideia. Eu realmente não tinha
considerado a manhã do próximo dia ainda, como poderíamos
agir juntos depois da noite passada; talvez eu tenha pensado que
seria estranho com as coisas que dissemos e fizemos, mas vê-la
agora – de olhos arregalados com seu cabelo ruivo levemente
despenteado e seus lábios ainda vermelhos e um pouco
inchados dos meus beijos – tudo em que consigo pensar é o
quanto eu quero tocá-la novamente.
Ela não está mais usando aquela porra de blusa que me deixa
louco, mas mesmo em sua camiseta de algodão e shorts jeans, é
difícil não pensar em como é a sensação de sua pele contra
minhas mãos por baixo de suas roupas.
— Bom dia — ela diz timidamente, escondendo o sorriso
atrás de uma caneca. — Eu fiz café.
Retribuo seu sorriso, tentando não pensar em como sei
como são seus mamilos contra minha língua ou o quanto me
lamento do fato de ela estar usando sutiã esta manhã.
— Bom dia.
— Você quer que eu faça uma caneca para você?
— Depois.
— Depois?
Atravesso o espaço entre nós rapidamente, pegando-a de
surpresa quando minhas mãos descansam em seu queixo,
inclinando seu rosto para pressionar minha boca na dela. Ela
suspira baixinho, abrindo os lábios para perseguir minha
língua, e posso sentir a doçura do açúcar e do creme de seu café
ali. Antes de me afastar, pego apenas o suficiente para passar o
dia, sem saber quando poderei tocá-la adequadamente de novo.
— Depois — eu esclareço.
— Bem, eu diria que isso desperta melhor do que o café —
ela brinca.
— Você conseguiu dormir esta noite?
— Na verdade, não.
— Nem eu.
Estendo a mão para colocar uma mecha de cabelo atrás de
sua orelha, deixando meu polegar permanecer em sua bochecha
deslizando para frente e para trás. Esta pode ser a primeira vez
que realmente me permito absorvê-la, antes tinha muito medo
de deixar meu olhar demorar por muito tempo. Tudo nela –
desde o formato delicado do nariz até o volume da boca e o
brilho dos olhos – parece destinado a me atrair. Está me dando
muita vontade de beijá-la de novo.
Eu balanço minha cabeça.
— Como vou evitar tocar em você o tempo todo?
— Você vai ter que aprender um pouco de autocontrole, Sr.
Reid.
Meu pau não parece ter recebido o memorando de que
temos que manter as coisas discretas.
— Eu provavelmente não deveria gostar disso.
— Eu pensei que fazia você se sentir velho?
— Não quando você diz assim, não faz com que eu me sinta.
— Hum. — Ela transfere sua caneca para uma mão,
estendendo a outra para provocar o dedo para frente e para trás
contra o pedaço de pele logo abaixo da bainha da minha
camiseta. — Vou manter isso em mente. — Ela fica na ponta
dos pés para pressionar outro beijo rápido na minha boca antes
de dar um leve empurrão no meu estômago para colocar
distância entre nós. — Agora vá se sentar para que eu possa
fazer uma caneca para você.
— Sim, senhora — murmuro.
Eu me sento em uma banqueta ao balcão, deixando meu
queixo descansar contra o meu punho. É fácil vê-la trabalhar;
tudo que eu queria fazer há semanas era observá-la sem
nenhuma preocupação, e agora que posso, acho que terei
dificuldade em fazer qualquer outra coisa. Ela coloca meu café
na minha frente do outro lado do balcão, inclinando-se para
tomar um gole lento de sua própria caneca enquanto segura
meu olhar. Há uma tensão ali que fala de tudo o que fizemos e
de tudo que ainda espero fazer – já calculando como posso levá-
la para minha cama ou me enfiar na dela.
Ela inclina a cabeça para mim.
— Então, como isso vai funcionar?
— Como você quer que funcione? Você tem todo o poder
aqui, Cassie.
Sua boca se contrai.
— Ah, eu tenho?
— Absolutamente.
— Bem... espero que você pare de sumir enquanto Sophie
estiver na escola.
— Acho que você pode adivinhar por que eu estava fazendo
isso em primeiro lugar.
Seu sorriso se torna tímido.
— Eu não sei o que você quer dizer.
— Não sabe?
— Talvez você devesse me explicar com mais detalhes.
— Você está me provocando, Cassie?
— Eu nunca faria isso — ela me garante, parecendo inocente
por dois segundos antes de piscar para mim. — A menos que
você me peça.
Eu tenho que abafar um grunhido quando ouço a porta do
quarto abrir no fim do corredor, ficando tenso quando escuto
os pequenos passos de Sophie e um "bom dia" silencioso à
medida que ela se arrasta para a cozinha.
— Estou com fome — ela reclama.
Cassie não tem a apreensão que eu tenho.
— Aí está a princesa Sophie — ela fala. — Você se sente com
dez hoje?
Sophie faz uma careta.
— Na verdade, não.
— Você parece ter dez anos — Cassie diz seriamente. —
Você ficou mais alta desde ontem?
— O quê? — Sophie leva a mão ao topo da cabeça. — Não,
eu não fiquei.
— Não sei... — Cassie me lança um olhar malicioso. —
Talvez tenhamos que deixar você nos levar de volta para casa.
— Eu não sei dirigir!
Eu rio das duas.
— Eu estarei dirigindo, obrigado.
— Oh, espere — diz Cassie.
Ela se vira e vai até seu quarto, desaparecendo por um
momento antes de retornar com algo nas costas. Ela se abaixa
ao nível de Sophie, exibindo um sorriso brilhante enquanto
estende um pequeno buquê que consiste em brilhantes
girassóis, margaridas e alguma flor azul claro que não
reconheço. Sophie olha para ele por um momento com a boca
aberta, levando vários segundos para encontrar os olhos de
Cassie e pegar as flores com cuidado.
— Feliz aniversário, Sophie — Cassie diz suavemente.
O pequeno lábio de Sophie treme levemente, colocando o
buquê gentilmente no balcão antes de colidir com a cintura de
Cassie, envolvendo os braços ali para um abraço.
— Obrigada — ela murmura contra a camisa de Cassie.
Cassie a aperta com força antes de beijar seu cabelo.
— De nada.
Ainda não tenho certeza do que está acontecendo, mas ver
a troca entre Cassie e Sophie está fazendo meu peito apertar.
Ao observá-las, quase parece que elas estão na vida uma da
outra desde sempre. Como Cassie faz tudo parecer tão fácil?
— Não chore — Cassie reclama, sua voz grossa enquanto
ela enxuga os olhos de Sophie. — Você vai me fazer chorar. E
eu sou uma chorona super feia.
Isso provoca uma risada chorosa de minha filha, e Cassie faz
com que ela se vire antes de empurrá-la para o quarto de onde
ela saiu.
— Vá enxugar o rosto. Falaremos sobre o café da manhã
quando você voltar.
Sophie acena pesadamente antes de voltar pelo corredor. Eu
espero até que ela esteja fora de vista antes de abrir minha boca,
ainda um pouco confuso.
— O que foi isso?
— Oh. — Cassie parece envergonhada agora. — Ela me
disse outro dia que sua mãe costumava dar flores para ela em
seu aniversário. Eu apenas pensei... — Ela esfrega o braço. —
Tive tempo esta manhã porque não consegui dormir, então
pesquisei no Google e encontrei uma loja por perto.
Por um momento, estou muito atordoado para dizer
qualquer coisa. Não apenas porque estou cambaleando com o
fato de não saber disso sobre o relacionamento de Sophie e
Rebecca – Sophie certamente nunca mencionou isso – mas
também porque Cassie sabe desse fato entre o relacionamento
de Sophie e Rebecca. E não apenas isso, mas aparentemente seu
primeiro instinto ao saber foi sair de seu caminho para replicar
por nenhum outro motivo senão para fazer Sophie feliz. Estou
tendo dificuldade até mesmo para definir qual é a emoção que
estou experimentando com isso.
— Obrigado — eu digo densamente. — Isso foi... — Meu
coração está batendo tão alto. Ela pode ouvi-lo? — Isso foi
incrível da sua parte.
— Não é grande coisa — ela murmura, olhando para seus
sapatos.
Eu quero tanto beijá-la que chega a doer.
— Realmente é — asseguro-lhe. — Confie em mim.
Os lábios de Cassie se abrem em um sorriso tímido, e posso
fazer pouco mais do que sentar no balcão, lutando contra as
emoções turbulentas que invadem meu peito.
— Ainda estou com fome — Sophie anuncia, escolhendo
aquele momento para irromper na cozinha. Aparentemente,
ela superou a emoção de antes. — Podemos comer?
— Ok, ok — Cassie ri. — Estamos com fome de quê?
— Eu quero panquecas.
— Você sempre quer panquecas.
— Engraçado como ela costumava não gostar delas —
murmuro.
— Bom, eu não tenho nada aqui para fazer — Cassie diz a
Sophie — mas aposto que podemos encontrar um lugar para
comprar algumas panquecas para você.
Sophie parece cética.
— Com gotas de chocolate?
— Claro que com gotas de chocolate — Cassie diz a ela. Ela
abre os braços para chamar Sophie para mais perto, puxando-a
para alisar seu cabelo enquanto ela dá um sorriso brincalhão
para Sophie. — Seu cabelo fica tão bagunçado quanto o do seu
pai quando você acorda.
Observo Cassie mexer no cabelo de Sophie enquanto as
duas riem, aquela mesma sensação de aperto em meu peito
quando Cassie a puxa para um abraço e dá outro beijo em seu
cabelo, como sempre faço. Vê-las juntas me faz sentir estranho,
algo sobre a maneira natural como elas se importam uma com
a outra me pegando desprevenido. Isso me faz sentir – por falta
de uma frase melhor – quente e confuso por dentro.
— Temos que pegar a estrada logo de qualquer maneira —
digo a ambas. — Eu tenho que entrar mais cedo hoje desde que
faltei ontem à noite. Podemos encontrar algumas panquecas
não feitas por pais no caminho.
Sophie me dá aquele sorriso cheio de dentes que faz meu
coração doer, e Cassie a puxa com a promessa de arrumar seu
cabelo. Ela olha para mim por cima do ombro enquanto leva
Sophie em direção ao banheiro, enviando uma piscadela para
mim que me faz sentir quente de uma maneira diferente.
Eu termino meu café sozinho, minha mente longe e nas
duas meninas no outro cômodo
Eu posso estar em apuros.

■□■

A viagem para casa levou mais tempo do que o esperado, já que


o lugar de panqueca que Sophie escolheu estava a trinta
minutos no caminho contrário, mas a maneira como ela não
parou de falar sobre a monstruosidade de bolo de aniversário
de panqueca com gotas de chocolate que comeu lá faz valer a
pena. E ela não parou. De falar sobre isso. Nem mesmo quando
entramos em casa.
— Mas como eles colocaram as pequenas cores lá dentro?
Elas tinham um gosto tão bom. Como granulado! Mas por
dentro!
Cassie ri enquanto coloca sua bolsa ao pé da escada.
— É como um bolo confete.
— O que é isso?
— Você não sabe o que é um bolo confete?
Sophie balança a cabeça e Cassie engasga teatralmente.
— Ok. Iremos à loja e compraremos um pacote de mistura
de bolo confete assim que seu pai for trabalhar.
Sophie levanta o punho no ar.
— Sim.
— Pacote de mistura? — Eu levanto minha sobrancelha na
direção de Cassie. — Sério?
Ela dá de ombros.
— Não se preocupe, vou me livrar de todas as evidências
antes de você voltar para casa, para não ofender sua delicada
sensibilidade de chef.
— Posso ligar para Wanda? — Sophie puxa a mão de Cassie
com expectativa. — Eu disse a ela que ligaria para ela e contaria
sobre a viagem!
— Sim, tudo bem — diz Cassie, tirando o telefone do bolso.
— Diga a ela que vamos levar um pedaço de bolo para ela daqui
a pouco.
Os olhos de Sophie brilham quando ela pega o telefone, já
subindo as escadas em direção ao seu quarto. Espero até que ela
desapareça além do patamar, ouvindo seus passos na escada por
alguns instantes.
— Sabe — Cassie brinca enquanto observo as escadas
distraidamente. — Se você pedir educadamente, eu posso
talvez guardar um pouco de bolo para você. Mas você vai ter
que dizer algo legal sobre o pacote de mis... Oh.
Ela faz um som surpreso quando de repente eu a levo para o
outro lado da escada, empurrando-a para a pequena alcova
além do sofá e segurando seu rosto para inclinar sua boca para
a minha. Ela leva apenas um segundo para se derreter, seus
braços envolvendo meu pescoço e seus dedos provocando meu
cabelo enquanto ela me beija de volta. Eu não sei o que há em
Cassie que faz com que eu me transforme em um adolescente
tarado, mas foi preciso toda a minha paciência para esperar
tanto tempo quanto eu esperei para tocá-la novamente.
Ela está sorrindo quando finalmente se afasta, seus lábios
um pouco mais vermelhos do que estavam um momento atrás.
— Oi.
— Desculpa — murmuro. — Estou querendo fazer isso há
horas.
— Nossa, você deve ter sofrido. Eu nem percebi.
— Apenas assuma daqui para frente que eu sempre quero
fazer isso.
Ela morde o lábio para não sorrir ainda mais.
— Bom saber.
— Eu vou ter que descobrir um método melhor de me
conter — suspiro.
— Ou não — ela diz inocentemente. — Eu meio que gosto
de você sem restrições.
— Você torna muito, muito difícil ser bom.
Ela fica na ponta dos pés para beijar minha bochecha.
— Talvez você devesse ser mau então.
Eu tenho que fechar meus olhos e pensar em outra coisa só
para não ficar duro. Este absolutamente não é o momento.
— Você vai me matar.
— Nunca. — Ela se desvencilha de mim, dando tapinhas no
meu ombro de brincadeira. É incrível para mim que uma noite
pôde de alguma forma erradicar toda a tensão entre nós. Se eu
soubesse que essa era a solução, poderia ter proposto antes. —
Tenho certeza que você deveria estar se arrumando para o
trabalho.
— Sim — suspiro. — Vai ser uma ótima noite.
— Talvez eu devesse dar a você algo pelo qual esperar?
Provavelmente é patético, o jeito que eu visivelmente me
animo.
— Oh?
Ela se aproxima, estendendo a mão para deixar seus dedos
traçarem o formato do meu lábio inferior.
— Algo para quando você voltar para casa.
— Vai ser tarde...
Ela sorri docemente, estendendo a mão novamente, e posso
sentir meus olhos se fechando em antecipação ao seu beijo.
— Tudo bem. — Ela pressiona seus lábios suavemente
contra os meus, afastando-se depois e levantando a mão para
tocar meu nariz. — Vou deixar seu pedaço de bolo na bancada.
Ela está rindo enquanto se afasta, e fico pasmo por alguns
segundos antes de entender o que ela disse. Balanço a cabeça,
beliscando a ponte do meu nariz ao ouvi-la começar a subir as
escadas atrás de Sophie.
— Ela realmente vai me matar — murmuro para ninguém
além de mim.
■□■

O trabalho é um inferno, exatamente como esperado.


Dois dos meus cozinheiros de linha estavam fora por causa
de um vírus que aparentemente está circulando, e eu tive que
enviar meu subchefe para o maldito hospital após um incidente
com uma faca que precisou de pontos. É como se o universo
decidisse me punir por tirar uma noite de folga.
Eu estava tão louco para ir embora no final da noite que nem
me dei ao trabalho de tirar meu casaco de chef, apenas
desabotoando o botão de cima ao passar pela porta da frente e
suspirando de alívio por estar em casa. Penduro minhas chaves
no gancho como sempre, me alongando enquanto finalmente
consigo me livrar do estresse do serviço de jantar desta noite.
Meus olhos encontram a porta fechada do quarto de Cassie,
um lampejo de tentação faiscando por dentro enquanto eu
verifico meu relógio, mas é quase meia-noite.
— Droga — murmuro.
Não que fosse aceitável acordá-la apenas para tocá-la uma
hora atrás, mas ainda não posso fingir que não estou pensando
nisso. Abro outro botão do meu casaco enquanto passo os
dedos pelo meu cabelo, afastando o desejo e começando a subir
as escadas à medida que me resigno a um banho e cama. Digo a
mim mesmo que posso me conter por uma noite. Eu venho
fazendo isso há semanas, afinal.
Minha decisão significa que é uma surpresa completa
quando sinto um puxão na parte de trás do meu casaco que me
leva para trás para uma porta agora aberta. Ele se fecha atrás de
mim quando um corpo menor e mais suave me pressiona
contra a porta, e então me deparo com um sorriso tentador
iluminado pelo abajur próximo.
— Cassie?
— Eu disse a você que queria lhe dar algo pelo qual esperar.
Tudo o que venho tentando guardar começa a tentar voltar
à superfície.
— O que aconteceu com o bolo?
— Ah, foi um grande sucesso — ela me garante. — Se é isso
que você prefere, ainda há alguns pedaços lá em cima...
— Nem um pouco.
— Mm. — Seu dedo brinca com o terceiro botão do meu
casaco que ainda está fechado. — Noite longa?
— Horrível pra caralho.
Ela abre o botão com facilidade, sem olhar para mim.
— Triste. O que posso fazer para compensar?
— Tem certeza que não está cansada? É praticamente
meia...
Ela abre outro botão, me mandando ficar quieto.
— Você está realmente preocupado com o meu sono agora?
— Eu... — Outro botão, deixando o tecido aberto o
suficiente para que ela possa deslizar a mão para dentro e
pressionar a palma da mão contra meu peito. — Não. Na
verdade, não.
Sou recompensado com seu sorriso enquanto ela estende a
outra mão para desfazer o penúltimo botão.
— Essa coisa de casaco de chef é realmente muito excitante.
Essa é uma coisa que nunca ouvi antes.
Percebo o que ela está vestindo agora, franzindo a testa.
— Vejo que não sou o único usando roupa com botões.
— Alguém reclamou do meu pijama ontem à noite.
Eu pressiono minha mão em seu quadril, deixando meu
polegar apertar um dos grandes botões brancos em sua camiseta
roxa de pijama. Há gatos por toda parte.
— Você gosta de gatos?
— Quem não gosta de gatos?
— Eles são meio pretensiosos.
— Oh, uau. — Cassie ri. — Você sabia que os gatos têm
mais de cem cordas vocais?
— Você está realmente me dando fatos de Snapple agora?
— Desculpe. — Ela puxa as abas do meu casaco antes de
enfiar os dedos sob a bainha da camiseta que estou usando por
baixo. — Você não fica excitado com trivialidades inúteis?
Eu fecho meus olhos enquanto seus dedos deslizam sobre
meu abdômen.
— Isso parece unilateral.
— Você não gosta do meu pijama?
— Gostaria mais dele no chão.
Ela morde o lábio.
— Você nunca me disse como eu poderia ajudá-lo a se sentir
melhor.
— Eu poderia pensar em algumas maneiras — murmuro,
brincando com seus botões agora. — Se você tirasse isso.
Há um lampejo de algo em sua expressão, então apenas um
pequeno lampejo de hesitação antes de ela começar a me puxar
de volta para sua cama. Ela puxa meu casaco até que sou
forçado a rastejar sobre ela, suas costas caindo contra o
edredom enquanto ela puxa minha boca para baixo na sua.
Eu ainda estou mexendo em sua blusa, mesmo quando ela
me ajuda a tirar meu casaco, e no segundo em que ela está
puxando minha camisa para cima para passá-la sobre minha
cabeça, eu consegui desabotoar todos os seus botões enquanto
sua camisa se abre para que eu possa ver mais.
— Cacete, Cassie — eu respiro, a boca seca de repente.
Senti-la é uma coisa, ver é outra. Ela é toda macia e com
lindos mamilos rosados – seus seios saindo da minha mão
quando eu os seguro ao passo que os picos endurecidos
imploram pela minha boca.
— Ah.
Seu choro suave quando envolvo meus lábios em torno de
seu mamilo para deixar minha língua provocá-lo só piora a
situação crescente em minhas calças, mas digo ao meu pau para
dar o fora e me deixar aproveitar. Venho fantasiando sobre
fazer isso desde que estou mentalmente chutando minha
própria bunda por fantasiar sobre fazer isso. Seus dedos se
enredam em meu cabelo enquanto eu puxo o broto tenso com
meus lábios, girando minha língua lá apenas para obter mais de
seus sons.
Porque eles são viciantes.
Cassie não os esconde, não tenta se acalmar, e fico muito
grato pelo andar entre nós e o quarto de Sophie enquanto seus
choramingos silenciosos se misturam com suspiros agudos que
a fazem arquear as costas.
— Eu achei que deveria fazer você se sentir melhor — diz ela
ofegante acima de mim.
Eu passo minha língua em um mamilo enquanto estendo a
mão para rolar o outro entre meus dedos, falando diretamente
contra sua pele.
— Isso está me fazendo sentir melhor.
— Ah. — Ela se contorce quando meus dentes roçam logo
abaixo de seu seio, beijando um caminho sobre suas costelas. —
Você não quer...
Estendo a mão para prender seu quadril contra a cama.
— Fique parada. É isso que eu quero.
— O-ok — ela consegue dizer alegremente, e posso senti-la
relaxando. — Eu odiaria atrapalhar.
Eu rio contra sua barriga.
— Eu agradeço.
Estou prendendo a respiração quando começo a rolar seu
short macio por suas coxas, deixando-a com uma calcinha
amarela coberta de picolés.
— Tudo o que você possui tem algum tipo de impacto?
— Todas as minhas roupas íntimas, pelo menos.
— Algo pelo qual esperar — murmuro. Eu olho para ela
quando coloco meus dedos no elástico em seus quadris. —
Posso?
— Bom. — Seus lábios se inclinam sonhadoramente em um
sorriso tímido. — Se isso faz você se sentir melhor.
É todo o convite de que preciso. Não tenho certeza de onde
sua calcinha vai parar, já que praticamente a jogo por cima do
ombro, e neste momento não me importo. Suas coxas são
macias e convidativas, pressionando juntas lindamente como se
ela estivesse envergonhada pelo jeito que eu estou olhando para
ela. Eu as afasto com minhas mãos enquanto passo minha
palma por dentro de uma, engolindo em seco quando posso vê-
la inteira.
Seus pelos são do mesmo vermelho profundo de seu cabelo,
um contraste perfeito com o rosa escorregadio entre suas
pernas que me faz sentir selvagem. Eu deslizo uma junta dos
dedos através da dobra molhada dela, seus quadris se movendo
impacientemente e sua respiração presa.
— Aiden...
— Você é tão bonita aqui — eu consigo dizer, minha voz
apertada. — Posso usar minha boca?
— O quê? — Ela parece preocupada. — Oh. Eu não...
Não consigo parar de tocá-la, ainda a provocando com meus
dedos.
— Você não gosta?
— Não é isso, eu só... — Ela morde o lábio. — Eu nunca fui
capaz de gozar desse jeito.
— O quê?
— Não sei. Eu provavelmente tenho uma vagina quebrada.
Eu bufo, e acho que ela poderia estar prestes a rir, até que se
torna um som abafado quando provoco sua entrada.
— Não. Você não tem.
— Eu simplesmente odiaria que você perdesse seu tempo.
Podíamos apenas fazer sexo.
Eu franzo a testa, observando-a olhar para mim com olhos
preocupados enquanto penso em todos os idiotas que
aparentemente não levaram o tempo que deveriam com ela. O
que só me deixa estranhamente furioso, sabendo que algum
outro idiota a tocou. Eu nem sabia que era do tipo ciumento
até esse exato momento.
— Posso prometer a você — já estou incitando suas coxas a
abrirem mais enquanto me acomodo entre elas — que isso não
é uma perda de tempo para mim.
— O-oh, bem, se você tem certeza que você… Oh.
Eu fecho meus olhos quando minha língua desliza pela
primeira vez por suas dobras molhadas para prová-la, seu sabor
na minha língua é erótico, inebriante e quase demais. Suas
coxas tremem sob minhas mãos quando eu faço de novo, e eu
me mexo contra o colchão para buscar algum alívio para o quão
duro ela me deixou, só com isso.
Eu provoco minha língua em seu centro até encontrar
aquele pequeno ponto quente que está apenas um pouco mais
firme, circulando-o lentamente enquanto ela prende a
respiração. Estou tomando meu tempo para prepará-la,
querendo compensar todas as vezes que ela nunca gozou dessa
forma. Porra, acho que poderia passar horas entre as pernas dela
se ela me deixasse.
Porque Cassie é inebriante pra caralho.
É a maneira como a respiração dela falha quando eu toco o
lugar certo, a maneira como ela pressiona meu rosto quando
precisa de mais, a maneira como suas coxas apertam minhas
orelhas quando ela pensa que não aguenta mais. No momento
em que envolvo meus lábios em torno de seu clitóris agora
inchado, sugando-o para extrair cada gota de seu prazer que
posso, estou tendo que segurá-la para impedi-la de se contorcer
para longe de mim.
— Fique parada — murmuro contra ela. — Você vai gozar
na minha língua, Cassie.
— Eu... eu acho...
Eu não quero dar a ela tempo para pensar, passo
rapidamente minha língua em seu clitóris antes de retomar
minha missão de tentar sugá-lo em minha boca. Seus dedos
encontram apoio em meu cabelo e, mesmo com a leve ardência,
meu pau lateja, seus quadris rolando contra meu rosto
evidenciam que ela está perdida nisso. Que ela quer que eu a
faça gozar tanto quanto eu quero dar prazer a ela.
Eu posso dizer quando ela está perto, seus quadris levantam
da cama e seus dedos emaranham no meu cabelo, cada pequeno
movimento e som me deixando muito mais duro, muito mais
desesperado para fodê-la. Mas estou determinado a aguentar
até reduzi-la a uma bagunça trêmula contra a minha língua. Sua
respiração fraca se transformou em súplicas choramingadas de
mais e bem aí, e eu a seguro firme enquanto trabalho seu
clitóris com meus lábios e língua para empurrá-la para o limite.
— Aiden. Aiden. Continue... bem aí... oh. Não pare.
Ela não se solta totalmente até que eu deslizo dois dedos para
mergulhar dentro dela, mantendo-a cheia enquanto dedico
toda a minha atenção ao botão tenso entre meus lábios. Ainda
estou pensando em enchê-la com outra coisa quando
terminarmos aqui, e isso é o suficiente para me deixar tonto
quando seus dedos agarram meu cabelo. Ela faz um som bonito
quando goza, um suspiro silencioso que parece vir de dentro
dela, e todo o seu corpo treme e sacode enquanto ela
desmorona.
É lindo pra caralho.
Eu não paro até que ela está me empurrando para longe,
choramingando meu nome sem parar enquanto ela diz que não
aguenta mais. Eu levanto minha cabeça para ver seu rosto
corado, me sentindo sem fôlego e muito quente enquanto ela
sorri para mim com olhos vidrados.
— Isso foi... algo.
Eu viro meu rosto para deslizar contra sua coxa, limpando
minha boca em sua pele.
— Eu me sinto muito melhor.
— Estou feliz em ser útil — ela murmura. — Volte sempre.
Estou rindo quando rastejo sobre ela, passando um dedo
por um lado de seu pijama aberto antes de arrastá-lo sobre seu
peito, que ainda arfa um pouco.
— Tenho outra coisa em mente agora.
— Bem. — Seus braços envolvem meu pescoço enquanto
ela me puxa para mais perto. — O que quer que faça você se
sentir melhor, Sr. Reid.
Bate papo com @alacarte

@alacarte
te enviou uma gorjeta de $75

Eu gostaria de poder fazer você suar


assim.
Capítulo 13
Cassie

Mesmo depois de uma feliz noite de orgasmos, é difícil não ficar


um pouco tensa na manhã seguinte. Continuo verificando o
relógio no fogão da cozinha enquanto faço a contagem
regressiva até a hora em que Iris deveria chegar esta manhã,
deixada por conta própria desde que Aiden saiu correndo para
a academia. (Suspeito que sua ausência conveniente durante a
visita de Iris pode até ser de propósito, embora ele negue
avidamente.) Estou me acalmando ao lembrar como Sophie
está animada para ver sua tia.
No momento em que a campainha toca, estou totalmente
nervosa e me levanto do sofá, mesmo quando escuto Sophie
descendo as escadas e passando correndo por mim até o
primeiro andar ao passo que eu cambaleio atrás dela. Iris
sempre parece diferente com Sophie – seu comportamento
conciso desaparecendo com o abraço daquela garotinha
adorável, e não posso deixar de desejar poder encontrar algum
caminho para aquela Iris. Eu sei que faria muito bem a todos
nesta casa se eu pudesse de alguma forma despertar mais esse
lado dela. Como esperado, sua expressão muda quando ela
percebe que estou parada no final da escada, dando-me um
breve aceno de cabeça enquanto ela se desvencilha de Sophie.
— Ei — ofereço, dando um aceno desajeitado.
Nosso último encontro ainda está fresco em minha mente,
e imagino que o mesmo possa ser dito sobre Iris. É uma
saudação tensa, com certeza. Especialmente porque todas as
coisas que ela insinuou sobre mim acabaram sendo
decididamente verdadeiras.
Outra coisa sendo um problema.
— Bom dia — Iris responde.
Sophie percebe a sacola de presente na mão de Iris então,
gritando animadamente.
— Esse é o meu presente?
— Sim — Iris diz com um sorriso. — Quer abrir?
— Sim!
Sophie agarra a sacola com avidez, afastando-se de nós duas
enquanto ela sobe as escadas de volta para a sala de estar,
deixando Iris e eu na entrada. Eu limpo minha garganta
enquanto esfrego meu braço, tentando dar um sorriso
educado.
— Você comeu? Eu estava prestes a fazer o café da manhã.
Iris balança a cabeça.
— Estou bem — ela me diz. — Eu comi um bagel no
caminho.
— Oh, tudo bem.
Há outro longo período de segundos em que nós duas
apenas ficamos lá, até que eu decido que não aguento mais.
— Ei, sobre o outro dia...
— Eu deveria me desculpar — Iris interrompe.
Eu pisco em surpresa.
— O quê?
— Fiz algumas insinuações bastante grosseiras. — Ela olha
para os pés. — Tenho dificuldade em aceitar que Sophie passa
a maior parte do tempo com alguém que não sou eu.
Eu quase posso ver além de seu exterior duro então, emoção
genuína espreitando enquanto sua testa franze e sua boca se
abaixa.
— Ah, bem... — Eu mudo meu peso de um pé para o outro.
— Eu imagino que deve ser difícil. — Eu fico pensando se devo
ou não me envolver mais nessa situação tensa, finalmente
decidindo que não serei capaz de viver comigo mesma se não o
fizer. — Sabe, eu nunca iria querer atrapalhar seu tempo com
ela — enfatizo. — Talvez possamos trabalhar juntas aqui.
Sophie precisa de você — eu digo. — Como eu disse no outro
dia... ela precisa de todos que conseguir.
Iris parece genuinamente surpresa, sua boca ligeiramente
aberta enquanto ela processa o que eu disse. Ela acena com a
cabeça finalmente, uma concessão lenta, respirando fundo
apenas para expirar.
— Você tem razão. Ela precisa disso. — Ela olha para os pés
novamente. Tenho a sensação de que desculpas não são fáceis
para ela. — Aiden deu a entender que você pode ter sido a
responsável pelo meu convite para a viagem dela outro dia.
— Oh, não — argumento. — Sophie queria você lá! Eu só
disse a Aiden que poderia tornar as coisas mais fáceis se ele... —
Iris está olhando para mim de forma estranha, e eu pressiono
meus lábios. — De qualquer forma. Eu só quero que Sophie
seja feliz.
— Estou começando a entender isso — Iris responde com
sinceridade.
Pequenas vitórias. Eu celebro internamente.
— Gente! — Sophie chama do andar de cima. — Vocês
estão vindo?
Iris compartilha um pequeno sorriso comigo, e isso também
parece uma vitória.
— Acho que estamos sendo convocadas.
— Aprendi que paciência não é a virtude dela — eu rio.
Iris me segue escada acima, onde Sophie está sentada no
meio da sala ao lado de uma sacola agora vazia e uma pilha de
lenços de papel, segurando três novos jogos para seu Nintendo
Switch.
— Cassie! — Sophie estende um jogo em particular. — Tia
Iris me deu Animal Crossing!
— Oh, cara — eu comemoro, caindo de joelhos ao lado dela.
— Esse é exatamente o que você queria.
— Você pode construir sua própria ilha nesse!
— Bem, isso parece um sonho — digo a ela.
Sophie já está lendo a contracapa de cada um de seus novos
jogos, e eu me viro para Iris, que está por perto com os braços
cruzados para dar a ela um sinal de positivo. Sou recompensada
com outro pequeno sorriso; o dia de hoje está cheio de todos os
tipos de vitórias, eu acho.
Sophie segura outra caixa.
— Ela me deu Sonic também!
— Oh, esse é o filme que você está me incomodando para ir
ver, certo?
Sofia revira os olhos.
— Esse é Sonic Dois — ela me corrige. — Parece tão
engraçado!
— Eu sei, eu sei, mas tenho que ir à faculdade neste fim de
semana. Talvez possamos ir um dia depois da escola na próxima
semana, ou talvez...
Eu tenho uma ideia então, me surpreendendo do nada.
Posso sentir minha boca pendurada quando me viro para Iris,
pensando que talvez eu possa ganhar mais pontos aqui com a
tia concisa que está apenas começando a se animar com a ideia
de gostar de mim.
— Ei — eu chamo, apontando para Iris enquanto minha
ideia ainda martela na minha cabeça. — Você tem que
trabalhar hoje?
Iris franze a testa.
— Mais tarde? Tenho que substituir a minha atendente às
duas horas. Ela tem um compromisso.
— Por que você e Sophie não vão ao cinema? Vocês podem
tomar café da manhã ou almoçar depois – o que quiser. Quer
dizer, se você quiser?
É a segunda vez que surpreendo Iris esta manhã, se sua
expressão é uma indicação.
— Você acha que Aiden ficaria bem com isso?
— Vou mandar uma mensagem para ele — asseguro-lhe. —
Vou dizer a ele que foi tudo ideia minha, prometo. Mas acho
que ele vai ficar bem. Podemos apenas trocar os números caso
surja algo e eu precise ir buscá-la. O que você acha?
— Isso parece... — Os braços de Iris lentamente se
descruzam enquanto ela olha entre Sophie e eu, ainda um
pouco atordoada. — Isso parece ótimo, na verdade. Se você
tem certeza de que está tudo bem.
Tecnicamente, não estou cem por cento certa, mas estou
bastante confiante, pelo menos.
— Sophie. — Eu me viro para me dirigir a ela. — Você quer
ir com a tia Iris?
Sophie acena com entusiasmo.
— Sim!
— Por que você não sobe e se troca enquanto eu mando
uma mensagem para o seu pai? Tenho certeza que ele vai ficar
bem com isso. Vocês duas podem ter um dia das meninas
adequado para o seu aniversário.
Sophie pula, pegando seus jogos, mas deixando sua
bagunça, praticamente correndo por nós em direção às escadas
enquanto ela sobe para seu quarto. Eu puxo meu telefone do
bolso para enviar uma mensagem de texto para Aiden, bastante
certa de que ele vai ficar bem com essa ideia, mas querendo ter
certeza absoluta antes de jogá-las totalmente. Estou preparada
para convencê-lo de que sim, se necessário.
— Obrigada — Iris diz atrás de mim. Eu me viro para
descobrir que suas feições suavizaram consideravelmente,
gratidão brilhando em seus olhos. — Sério.
— Não se preocupe com isso — digo a ela. — A felicidade
de Sophie é a coisa mais importante aqui, certo?
Iris assente.
— Certo.
— Bem, você faz parte disso.
— Eu realmente aprecio isso — Iris diz, quase como se
estivesse aliviada em ouvir.
Talvez ela tivesse começado a duvidar.
— Vocês duas vão e divirtam-se — eu insisto. — Eu tenho
algumas tarefas que posso colocar em dia. Você está
praticamente me fazendo um favor aqui.
A boca de Iris se contorce.
— Certo.
Eu sorrio de volta para ela, fazendo uma comemoração
mental. Afinal, parece que posso estar encontrando as
rachaduras na armadura dessa mulher. Mesmo que só um
pouco.
Ainda bem que sou incrivelmente paciente.

■□■

Depois de uma hora no meu quarto olhando para o meu


notebook, finalmente relaxo o suficiente para parar de checar
meu telefone. Eu tive que me lembrar inúmeras vezes que
Aiden aprovou o passeio de Iris e Sophie, e que alguém
definitivamente vai me avisar se eu for necessária.
É engraçado, estou preocupada com Sophie como se ela
fosse minha filha ou algo assim.
Estou descansando na minha cama com a porta do meu
quarto entreaberta, e ouço quando as chaves de Aiden tilintam
na porta, quando ela abre e fecha para sinalizar sua chegada.
— Cassie?
— Aqui — eu chamo, fechando meu notebook.
Ele aparece no batente da minha porta para se encostar nela,
e é... uma vista e tanto. Um Aiden Reid encharcado de suor.
Em todos os outros dias em que ele voltou da academia, tive
que desviar os olhos para não ficar olhando por muito tempo.
O que, agora que posso olhar o quanto quero, estou
percebendo que foi uma verdadeira tragédia.
Ele cruza os braços, os bíceps pressionando as mangas da
camiseta.
— Elas ainda estão fora?
— Sim, imagino que ficarão por um tempo. Elas iam tomar
café da manhã, eu acho. — Eu verifico a hora no meu telefone.
— O filme não começa antes das onze, então... Duvido que as
veremos até pelo menos uma da tarde.
— Foi legal da sua parte oferecer — diz Aiden.
Eu dou de ombros.
— Estou determinada a ser a primeira babá que Iris não
odeia. — Eu levanto meu telefone e balanço para frente e para
trás. — Até consegui o número dela. Aposto que nenhuma das
outras babás podem dizer isso.
Aiden sorri.
— Não, elas não podem.
— Parece que você pelo menos fez um bom treino enquanto
estava escondido na academia — provoco, olhando para a
mancha escura no algodão em seu peito, onde o suor ainda está
secando.
— Eu não estava me escondendo — ele bufa.
Reviro os olhos.
— Claro que não. Acho que alguém pode ter um pouco de
medo da grande e assustadora Iris.
— É mesmo — ele murmura, olhando para mim.
Eu sinto uma centelha de desejo lamber minha barriga com
a maneira como seus olhos se movem sobre meu corpo,
observando-os viajarem pelas minhas coxas vestidas com
leggings e pelo meu peito. Uma garota pode ter todo tipo de
ideias com um homem como Aiden olhando para ela como ele
está.
— Você disse que vai demorar mais algumas horas — ele
repete, ainda me olhando — até elas voltarem.
Eu aceno lentamente.
— Eu disse.
— Eu preciso de um banho — diz ele deliberadamente. —
Você estaria interessada em se juntar a mim?
Minha boca está se curvando assim que todas as razões pelas
quais essa é uma má ideia me atingem – percebendo que um
banho significa estar completamente exposta e fora de
controle. Até agora, consegui esconder a cicatriz nas minhas
costas que certamente revelará tudo, mas estar nua e molhada
garantirá cem por cento que Aiden a veja, descobrindo
subsequentemente o quão bem ele me conhece, mesmo fora de
nossa intimidade recém-descoberta.
Eu tento mascarar a ansiedade crescente em meu peito,
mantendo minha expressão neutra enquanto empurro meu
notebook para o lado.
— E se eu gostar de você assim?
— Assim? — Ele olha para suas roupas úmidas. — Estou
uma bagunça suada.
— Posso pensar em razões muito melhores para você ser
uma bagunça suada — digo a ele timidamente.
Sua expressão muda.
— Pode, é?
— Mm-hmm.
Dou um tapinha na cama ao meu lado e ele imediatamente
se afasta do batente da porta para pressionar um joelho na
beirada da cama antes de rastejar em minha direção. Suas mãos
se apoiam em ambos os lados dos meus quadris para me
prender, e tenho que admitir que o cheiro de seu suor
misturado com seu desodorante e algo que é inerentemente
Aiden não é nada desagradável.
— E como você propõe que preenchamos o tempo, Cassie?
Estendo a mão para colocar meus dedos sob sua camisa,
roçando seu abdômen e sentindo-o tenso sob meu toque.
— Posso pensar em algumas coisas.
— Hum. — Ele abaixa a cabeça para pressionar os lábios no
meu pescoço, e eu fecho meus olhos, curvando meus dedos em
cada lado de seus quadris. — Você está me pedindo para te
foder, Cassie?
Meu estômago aperta. Ainda é um pouco difícil conciliar o
Aiden de sorrisos tímidos e o A que fala coisas sujas, mesmo que
agora eu saiba que eles são a mesma pessoa, e não posso deixar
de me perguntar o quanto Aiden está escondendo de mim.
— Talvez eu esteja — suspiro, sentindo seu joelho se
encaixar entre minhas pernas, aplicando pressão entre elas. —
Se você não estiver muito cansado. Sei que na sua idade toda
essa atividade pode...
Eu grito quando seus dentes beliscam na base do meu
pescoço, sua mão cobrindo meu peito através da minha camisa
para apertar enquanto seu polegar provoca meu mamilo através
do meu sutiã esportivo fino. Suas mãos já estão puxando
minhas leggings – o ar frio do ar-condicionado batendo na
minha pele enquanto ele as puxa para baixo, com minha
calcinha logo atrás.
— Você já está encharcada — ele murmura. — Acho que
você quer muito que eu te foda.
Eu viro meu rosto para beijar sua mandíbula, enfiando meus
dedos no cós de seu short esportivo. Leva apenas um
movimento para deixá-lo livre, e ele faz um som de dor quando
minha mão envolve seu pau já duro para lhe dar um golpe
provocador.
— Você não está melhor do que eu, Sr. Reid.
— Estou aprendendo que sempre quero foder você, Cassie.
Está se tornando um problema.
— Eu dificilmente chamaria isso de um problema — eu
respiro, pressionando meu polegar contra sua fenda para
espalhar um pouco de pré-gozo ali. — Especialmente porque
eu me sinto da mesma forma.
Ele está começando a levantar minha camiseta, e o mesmo
pânico atravessa minha forte excitação quando sinais de alerta
disparam em minha cabeça. Eu empurro seus quadris para
incentivá-lo a virar, guiando seu corpo até que ele caia de lado
e depois role de costas. Ele se posiciona de modo que está
descansando contra a cabeceira da cama e meus travesseiros, e
eu subo em seu colo imediatamente, deslizando meu centro
molhado contra seu pau duro em um vaivém lento enquanto
suas mãos se acomodam em meus quadris para agarrá-lo.
— Deixe-me — eu digo. — Não quero que você se canse.
Ele tenta sorrir, mas é de curta duração no momento em que
eu me esfrego contra ele novamente. Eu apoio minha mão em
seus ombros enquanto coloco a mão entre nós para agarrar seu
pau, segurando-o firme enquanto eu lentamente me abaixo
sobre ele. Eu posso ver o tecido levantado de sua cicatriz perto
dos meus dedos, onde eles subiram por baixo da sua camisa, e
há um lampejo de culpa que surge através de mim, mas
desaparece rapidamente quando ele começa a me preencher.
Eu gosto da maneira como sua boca se abre e seus olhos
ficam pesados enquanto ele se vê desaparecer dentro de mim,
seus dentes se fixando contra seu lábio inferior enquanto meus
quadris encontram os seus, completamente cheia dele.
— Faça o que for bom — ele murmura, sua voz como um
mel espesso que quase posso sentir escorrendo pela minha pele.
— Eu quero ver você me usar. — Sua mão desliza sobre meus
quadris para espalmar minha bunda, olhando para mim com
olhos que parecem estar queimando. — Porque depois disso...
Eu vou te foder, Cassie.
Eu posso sentir a forma como o calor líquido corre através
de mim, a maneira como eu praticamente pingo com suas
palavras – contraindo enquanto o ar em meus pulmões parece
pegar fogo. Seus olhos estão fixos no lugar onde estamos juntos
agora, esperando que eu me mova no meu próprio ritmo. Ele
parece muito maior assim, indo muito mais fundo – e eu
choramingo enquanto me aperto involuntariamente em torno
dele – um esforço infrutífero porque não há mais espaço, não
dá. Nada além de Aiden.
Eu tento levantar lentamente, sentindo cada centímetro
dele deslizando contra mim por dentro enquanto eu me afasto.
A sensação de abaixar de volta parece como se eu pudesse
explodir com a espessura dele, mas a leve queimadura é
deliciosa, a fricção celestial.
— Bom — ele diz entre dentes, o som áspero em meus
ouvidos. — Boa garota.
Eu estremeço, fazendo um som lamentável enquanto meu
interior dá outro aperto em vão. Aiden esfrega círculos suaves
na minha coxa.
— Você gosta disso? — Sinto sua mão deslizando entre nós,
seu polegar pressionando contra meu clitóris para me provocar.
— Gosta de ouvir o quão bem você me toma?
Acho que aceno com a cabeça, é um movimento quase
imperceptível que parece demais – e Aiden cantarola em
aprovação enquanto rola o polegar contra a parte mais sensível
de mim.
— Parece a porra de um sonho estar dentro de você — ele
murmura. — Continue se movendo assim, Cassie. Quero ver
você fodendo com o meu pau.
Tento levantar meu corpo, mas é preciso esforço; estou tão
cheia que é demais só me levantar dele. Eu posso ouvir a
maneira como ele sibila entre os dentes quando levanto meus
quadris para deslizar ao longo dele, ouço sua expiração pesada
quando eu lentamente afundo de volta.
— Bom — ele diz rouco. — Faça de novo.
Eu faço de novo, um levantamento lento e um deslizamento
apertado, minhas unhas cravando em sua camisa enquanto eu
rolo meus quadris no final do movimento desta vez. Isso o traz
mais fundo e eu não posso evitar o longo e alto gemido que
escapa dos meus lábios enquanto minha cabeça pende para
descansar em seu ombro.
— Aiden — eu suspiro enquanto fico de joelhos para
levantar do seu pau, caindo de volta quando a circunferência
dele quase rouba minha respiração. Estou tão cheia. — Aiden,
eu preciso...
— Você quer que eu te foda agora, Cassie? — Sua mão
encontra minha bochecha para afastar meu rosto de seu
ombro, segurando meu queixo e empurrando seus dedos em
meu cabelo enquanto eu olho para ele com os olhos
semicerrados. — Você precisa de um pouco mais?
Eu mordo meu lábio, balançando meus quadris para frente
enquanto eu aceno. Eu sinto suas mãos agarrarem meus
quadris então, me segurando firme.
— Segura em mim.
Eu envolvo meus braços ao redor de seu pescoço enquanto
seus lábios provocam minha mandíbula, a suavidade de sua
boca contrasta fortemente com a dureza de seu pau, que ainda
está dentro de mim.
— Cassie. — Eu me afasto para encontrá-lo me olhando
com olhos que parecem mais escuros do que o normal. Ele se
inclina lentamente até que sua boca paira a apenas alguns
centímetros da minha, curvando-a contra meus lábios para
demorar um pouco antes de respirar. — Você é melhor do que
qualquer coisa que eu já pensei.
Há uma onda de sensação no meu peito que desce até meu
estômago, a suavidade de sua voz me enchendo com algo que
beira a vertigem, mas eu quase não tenho tempo para pensar
nisso. Não com a maneira como ele começa a se mover.
— Oh.
Ele me levanta como se não fosse nada, suas mãos apertando
meus quadris enquanto ele me puxa para cima de seu pau
apenas para me bater de volta para baixo novamente,
empurrando para cima para me encontrar com um grunhido.
Eu o sinto mais fundo assim, fundo o suficiente para que seja
quase desconfortável, mas há aquele deslizamento dele contra
minhas paredes internas, aquela fricção úmida quando cada
cume me esfrega da maneira certa. Agarro-me com força para
me firmar enquanto ele empurra para dentro de mim com o
que parece quase como desespero, como se ele precisasse de
cada uma apenas um pouco mais do que a anterior.
— Você é — cada palavra soa como uma inspiração e depois
uma expiração — tão boa.
Ele puxa meus quadris para frente e para trás apenas para
ressaltar o quanto estou cheia, preenchendo-me. Há um fluxo
interrompido de murmúrios onde eu consigo entender coisas
como: “não posso acreditar” e “apertada pra caralho” e “uma
boceta tão perfeita” – cada uma fazendo meu coração bater um
pouco mais rápido, me fazendo apertar em torno dele de novo
e de novo.
Ele encontra um ritmo, uma elevação pesada e uma queda
acentuada que me faz quicar em seu pau. Sua cabeça cai para
trás contra a cabeceira da cama enquanto sua boca se abre em
um gemido gutural, alternando entre olhos rolando para trás e
focando onde ele desaparece dentro de mim de novo e de novo.
— Vou gozar — ele avisa com os dentes cerrados. — Mas
não sem você. — Ele começa a balançar meus quadris para
frente e para trás de novo, não realmente empurrando, mas me
dando pequenas quantidades de fricção de qualquer maneira,
apenas o suficiente para me manter no precipício. — Você
pode se tocar? Quero que você goze no meu pau.
Ele se inclina para beijar meu pescoço enquanto eu
encontro meu clitóris com dedos trêmulos, esfregando o
pequeno ponto inchado que já está tão sensível, tão perto. Eu
inclino minha cabeça para trás para dar a sua boca um melhor
acesso enquanto eu me trabalho rapidamente, sua súbita
quietude tornando óbvia a pulsação de seu pau por dentro,
tornando a sensação de estar cheia – o calor – muito mais
inebriante.
Ele está me levantando de novo, me balançando em seu pau
no mesmo ritmo que torna difícil respirar, mas é tão bom que
nem posso me incomodar. Meus choramingos se transformam
em gemidos que mal consigo conter – e sua respiração sibila
entre os dentes enquanto ele continua tentando me foder,
mesmo quando suas estocadas ficam erráticas, resultando em
um ritmo confuso que ainda parece fantástico.
Meus dedos escorregam contra meu clitóris com o quão
molhada estou, mas eu apenas continuo, movendo-me tão
rápido quanto ele, perseguindo o fim com um pouco do
mesmo desespero.
— Aiden. Porra, Aiden.
— Goza — ele sibila. — Caralho, goza, Cassie.
Eu nem tenho certeza de onde vem agora – seja dos meus
dedos no meu clitóris ou seu pau que bate fundo, me tocando
de todas as maneiras certas – mas não importa. É uma pressão
lenta e tumultuada que aumenta e aumenta até estourar –
como fogos de artifício explodindo em meu sangue e minha
visão, e bem, bem no fundo, onde seu pau ainda se move – as
faíscas flutuando para formigar minha pele enquanto eu
estremeço através dele.
Há mais murmúrios com palavras sujas e respirações pesadas
que dificilmente são audíveis com a forma como meu sangue
lateja em meus ouvidos, mas eu sinto – quando ele cai da borda.
Seus quadris ficam apertados para segurar contra o meu, seu
pau pulsando contra minhas paredes com uma pulsação
constante. Ele me puxa para perto com os braços grossos em
volta de mim, os lábios se movendo avidamente sobre meu
pescoço e minha mandíbula e, eventualmente, minha boca
enquanto ele esvazia profundamente.
— Tão bom — ele respira. — Perfeita pra caralho.
Eu estremeço tanto com o elogio quanto com as faíscas do
meu orgasmo que ainda estão zunindo por dentro, caindo
contra ele em uma pilha desossada enquanto suas mãos se
movem em minhas costas em pressões pesadas, como se ele não
pudesse deixar de me tocar. Mesmo depois, ele continua me
beijando preguiçosamente, seus lábios uma pressão agradável
contra a minha pele.
— Eu não consigo tocar em você sem perder o controle —
ele murmura eventualmente.
— Mm. — Eu me aconchego mais perto. — Eu não me
importo.
— Está se tornando um problema — diz ele com um bufo.
— Estou descobrindo que sempre quero tocar em você.
Eu me afasto para dar a ele um sorriso preguiçoso,
encolhendo os ombros.
— Eu também não me importo com isso.
— Como você é tão... — Suas palavras desaparecem
enquanto ele balança a cabeça, decidindo contra o pensamento
que ele teve e me puxando para esmagar sua boca contra a
minha.
Eu me derreto em seu beijo, deixando o peso e o calor de seu
corpo penetrar em meus músculos como um bálsamo
relaxante, mal percebendo que ele ainda está enraizado dentro
de mim.
— Agora você está uma bagunça suada — eu provoco
enquanto me afasto.
Sinto seus lábios se curvarem contra os meus.
— Parece que vale muito mais a pena agora.
— Fico feliz — respondo, beijando-o novamente.
— Embora eu ainda precise daquele banho.
Aquele flash familiar de culpa, e eu rapidamente o empurro
de volta enquanto permaneço calma.
— Por mais tentador que seja... você interrompeu meu dever
de casa.
Ele solta uma risada.
— Ah, foi?
— Também valeu a pena.
— Acho que não gostaria de atrapalhar seus estudos.
— Mais do que você já atrapalhou, você quer dizer —
provoco.
Ele sorri enquanto me dá outro beijo rápido, estremecendo
quando sai de mim e me rolando de costas para pairar sobre
mim novamente.
— Acho que vou ter que te encontrar mais tarde então.
— Duas vezes em um dia? Escandaloso.
Seu sorriso é lento, avançando lentamente em seu rosto
enquanto ele se abaixa para deixar sua boca pairar contra a
minha.
— Ainda não seria suficiente.
Meu pulso acelera quando ele me beija novamente, e eu
fecho meus olhos e aprecio a maciez de sua boca à medida que
desejo que o músculo traidor se acalme. É quase decepcionante
quando ele finalmente se afasta, guardando-se em seu short, e
parte de mim fica tentada a mandar tudo para o inferno e segui-
lo direto para o chuveiro.
Mas então eu me lembro de todos os motivos pelos quais
não posso, e novamente sinto aquele peso da culpa por ainda
não ter contado a ele sobre nosso passado. Ainda com muito
medo de arriscar perder isso ao trazer o assunto à tona. Eu
quero acreditar que isso não iria importar, que Aiden gosta de
mim o suficiente para ignorar isso, mas a incerteza me faz ficar
quieta, me sentindo uma merda por fazer isso.
— Bem, se você mudar de ideia — diz Aiden enquanto
desliza para fora da minha cama. — Você sabe onde me
encontrar.
Ele pisca para mim da porta antes de desaparecer por ela, e
eu caio contra as cobertas em um acesso de raiva, fechando
meus olhos enquanto meu corpo desossado e exausto se
acomoda no colchão. Em um segundo vou me vestir de novo e
voltar ao que estava fazendo; eu não vou seguir Aiden, por mais
tentador que seja, porque sei que no fundo eu ainda não estou
pronta. Não estou pronta para encarar a verdade e todos os
riscos que ela traz.
Mesmo que, no fundo... eu sei que só estou tornando as
coisas mais difíceis por esperar mais tempo.
Bate papo com @alacarte

Eu vou ser honesto com você.

Eu assisti aquele vídeo no


trabalho.

Mds, você não fez isso.

No momento estou duro pra


caralho no banheiro.

Pobre bebê. Eu te ajudaria se


estivesse aí.

Eu gostaria que você estivesse.


Capítulo 14
Cassie

Eu não cedi à vontade de pular no chuveiro com Aiden, mas


isso não significa que eu não estava incrivelmente tentada.
Passei o resto da manhã de sexta-feira sendo uma boa menina e
terminando minhas tarefas, sabendo que a Cassie de sábado
ficaria ainda mais grata por isso quando não tivesse que correr
olhando os slides antes de ir para a faculdade. Isso provou ser
verdade, já que Aiden me deixou dormir um pouco mais esta
manhã enquanto ele e Sophie escapavam para ir ao New
Children's Museum a pedido de Sophie. Eu tenho que dar esse
crédito para a criança, ela sabe aproveitar a sua semana de
aniversário. Isso me faz rir só de pensar na forma enorme de
Aiden tentando rastejar em algumas das exibições mais
interativas com ela. Também me deixa um pouco melancólica
por não poder ir com eles.
Atualmente, estou tomando meu café da manhã na bancada
da cozinha, vivendo em um estado meio atordoado com
pensamentos cheios de flashes vibrantes do dia anterior,
inferno, dos últimos dias (e noites, na verdade) que passam pela
minha cabeça. Meu cérebro está saturado com pensamentos de
uma voz profunda e um corpo definido que parece não se
cansar de mim, de todas as pessoas. Se eu fechar meus olhos,
ainda posso sentir o calor das palmas de Aiden em minhas
coxas, ouvir seu murmúrio baixo de palavrões que podem estar
se tornando meu vício pessoal. E claro, a culpa ainda está lá, e
eu sei, sem dúvidas, que eu deveria estar fazendo planos para
encontrar uma maneira de dizer a verdade a Aiden, mas é difícil
me concentrar em qualquer uma dessas coisas quando estou
recebendo pau todas as noites.
Eu realmente deveria terminar aqui e começar a me preparar
para partir para St. Augustine's. Preciso sair em uma hora, e
ainda não sequei meu cabelo do banho, e tenho toda a intenção
de fazer isso, sério.
Se eu conseguir parar de me distrair com as mensagens de
Aiden.
Meu telefone vibra na bancada como se tivesse sido
convocado, e estou segurando um sorriso no momento em que
passo o dedo para ler o que ele enviou.
Há uma foto anexada de Aiden parecendo insatisfeito
enquanto tenta sair de um gigantesco tubo inflável de arco-íris
– seu corpo grande obviamente demais para a atração das
crianças. Não posso deixar de me perguntar como ele consegue
parecer tão bem mesmo quando está carrancudo.
CASSIE
Estou assumindo que Sophie tirou a foto? Você
parece estar realmente sofrendo.

AIDEN
Eu disse a ela que eu sou grande demais para isso.

CASSIE
No entanto, não queremos sufocar sua mente
curiosa.
AIDEN
Hilário. Você está indo para a faculdade? Você
não está mandando mensagens e dirigindo, está?

Não posso deixar de revirar os olhos para essa pergunta. É


uma coisa de pai perguntar isso. Ainda assim, não vou fingir
que não sinto um frio na barriga por ele estar preocupado
comigo.
CASSIE
Não, pai. Eu ainda estou em casa. Eu v ou sair daqui
a pouco.

AIDEN
Não sei como me sinto por v ocê me chamar de
pai.

CASSIE
Você prefere Papai?

AIDEN
Você percebe que eles v ão me lev ar para a prisão
se eu ficar duro em um museu cheio de crianças,
certo?

CASSIE
Kkkkkkk, bom para v ocê, eu não tenho um fetiche
com Papai, ou eu me div ertiria totalmente com
isso.

AIDEN
Você é malv ada.

CASSIE
Você só v ai ter que me recompensar mais tarde. ;)

AIDEN
Completamente malv ada.
CASSIE
Sophie está se div ertindo?

AIDEN
Demais. Ela está meio tímida. Posso dizer que ela
quer se juntar a algumas das outras crianças, mas
não consigo fazê-la dar o primeiro passo.

CASSIE
Ela está em uma idade estranha. Pode ser difícil
fazer amigos.

AIDEN
Eu sei. Eu simplesmente odeio v ê-la sofrendo com
isso.

CASSIE
Você não pode forçar. Vai acontecer. Ela é incrív el
demais.

AIDEN
Você tem razão.
Agora se apresse e saia de casa para não ter que
correr.

CASSIE
Está bem, está bem. Vou fazer, Papis.

AIDEN
Malv ada.

Eu rio enquanto guardo meu telefone no bolso da calça do


pijama, termino o resto do meu café e enxáguo a caneca antes
de colocá-la na máquina de lavar louça.
É engraçado, realmente. A faculdade costumava ser uma
grande fonte de ansiedade; em como pagaria o próximo
semestre, se meus empréstimos seriam processados, se teria que
adiar por mais um ano – mas com o salário que recebo aqui,
quase não precisei pensar sobre isso, neste mês que passou. Se
continuar, este será o primeiro ano que poderei pagar do meu
próprio bolso sem sequer pensar em empréstimos estudantis.
Acho que nunca vou superar totalmente o que esse trabalho
paga.
E essa é outra parte de tudo isso que me faz sentir culpada;
isso está em cima do conhecimento de que ainda não descobri
como dizer a ele que esta não é a primeira vez que temos
relações íntimas, mesmo que seja a primeira vez que ele está me
tocando. Houve momentos nesta semana em que me perguntei
se isso deveria me incomodar, o fato de estar recebendo salário
do homem com quem estou dormindo – mas digo a mim
mesma que as duas coisas são totalmente opostas. O fato de
estarmos nos certificando de manter nossas... atividades longe
dos olhos de Sophie significa que não é completamente sórdido.
É apenas uma ligeira diferenciação, que provavelmente não
oferece tanta justificação como eu me deixo acreditar – mas é
alguma coisa, pelo menos.
Ainda assim, é um pouco doido pensar em ter apenas mais
um ano de faculdade – o que deveria ter sido dois anos de pós-
graduação se transformando em quatro, graças à maravilhosa
experiência de ter que trabalhar enquanto se estuda. É um
alívio completo ver isso chegando ao fim, finalmente estar
perto da oportunidade de chegar lá fora e fazer algo realmente
bom, mas não vou fingir que não é um pouco enervante, pensar
no que farei com minha vida depois disso. Há uma certa
pressão que vem com a formatura, em sair para o mundo e fazer
algo que me faz refletir sobre todos os outros aspectos da minha
vida, imaginando onde estarei daqui a cinco anos.
Pensamentos que só se tornam mais confusos pelo homem
com um sorriso estonteante jogado na mistura. Eu sei que é
muito cedo para sonhar com qualquer coisa com Aiden Reid,
mas posso realmente evitar se uma parte de mim está
constantemente pensando na possibilidade de perder tudo
isso? E não apenas Aiden, mas Sophie também. E esse é o fator
determinante que me impede de contar tudo a ele. Pela
primeira vez em muito tempo, quase sinto que pertenço a este
lugar, que estou bem aqui, e visto que é a primeira família de
verdade a me receber... É mesmo minha culpa se eu fizesse
qualquer coisa que pudesse para me segurar a ela um pouco
mais?
Toda essa linha de pensamento deixa minha cabeça uma
bagunça completa.
Não sou ingênua ao fato de não ter muito a oferecer a Aiden
e Sophie além de mim mesma, que há anos e grandes diferenças
entre nós que não posso mudar – mas não posso deixar de
pensar em sua calma fala: "Eu não deveria estar pensando em
você tanto quanto penso" e seguido de: "Eu sinto que estou
ficando louco", e isso significa alguma coisa, certo?
É bobagem minha atribuir tais noções a algo tão novo, algo
que nenhum de nós realmente sabe o que é – mas não posso
evitar, realmente. É que Aiden Reid também me deixa um
pouco louca. É o suficiente para fazer qualquer um se
perguntar.
É o suficiente para deixar qualquer um preocupado com o
que nos espera no final disso.

■□■

Desta vez, nossa aula se concentra em equipamentos de


assentos pediátricos assistivos, e focar nas funções e partes dos
diferentes tipos de cadeiras que eles trouxeram para estudarmos
é uma ótima distração. Venho testando as diferentes funções de
inclinação da Rifton que me foram atribuídas nos últimos
vinte minutos, mais ou menos, e acho que estou quase pronta
para passar para o próximo modelo.
— Me ajuda a instalar este arnês? — Camila segura o arnês
borboleta opcional que pode ser adicionado a este modelo. —
Não consigo descobrir onde ele se encaixa.
— Aqui — eu digo, estendendo minha mão. — Acho que
encaixa aqui.
Camila observa enquanto encontro os pontos de fixação
para o arnês, prendendo todos os quatro na posição até que
esteja instalado corretamente.
— Eu perdi totalmente isso — Camila bufa. — Algumas
dessas cadeiras são doidas.
— Elas são incríveis, no entanto — digo. — Há tanta coisa
que elas podem fazer agora.
— Realmente. — Camila examina o encosto da cadeira,
encontrando a função de inclinação e trazendo a cadeira de
volta à sua posição inicial. — Acho que agora conseguimos, não
acha? Devemos passar para a Leckey?
— Nenhuma função de inclinação com aquela, pelo menos
— observo.
— Certo. Parece que aquele grupo está quase terminando.
Podemos ir pegá-la em seguida.
Nós nos sentamos perto do outro grupo que ainda está
estudando as diferentes funções da Leckey, Camila se
esparramando ao meu lado na cadeira de plástico e soltando um
suspiro.
— Apenas esse último ano, e terminamos.
— É uma loucura.
— Você acha que a banca de avaliação vai ser brutal?
— Provavelmente — eu rio. — Mas vamos ficar bem.
— Olha quem fala — ela bufa. — Você é a melhor da turma.
— Você está indo muito bem.
— Como está indo o trabalho de babá? Você estava agindo
tão estranha na última vez que te vi.
— Oh... — Eu coro, esperando que ela não perceba. Não
posso exatamente dizer a ela que compliquei ainda mais as
coisas dormindo com a pessoa do meu passado que ainda não
se lembra de mim. — As coisas estão ótimas. Eu realmente amo
Sophie, a garotinha de quem cuido. Ela é... uma figura.
— Eu te disse — Camila ri. — Elas podem ser algo nessa
idade.
— Você disse que tinha uma sobrinha dessa idade, certo?
— Lucia — Camila me diz. — Ela é uma pestinha. Coisinha
fofa, no entanto.
Concordo com a cabeça distraidamente, observando o
outro grupo testar os diferentes modos da cadeira enquanto
meus pensamentos divagam. Não sei dizer por que a ideia surge
na minha cabeça; talvez seja só porque estou me lembrando das
mensagens de Aiden mais cedo sobre como ele gostaria que
Sophie tivesse mais facilidade em se expor – mas uma ideia
surgiu mesmo assim.
— Ei, Camila...
Ela se vira para me olhar.
— Sim?
— Você acha que sua sobrinha gostaria de ir ao zoológico?
— Sinto que estou caindo em uma armadilha.
— É que... Sophie, ela... ela é nova na escola este ano, e está
com dificuldade em fazer amigos. Eu apenas pensei... se ela
pudesse brincar com alguém de sua idade sem toda a pressão de
estar no meio de um enxame de crianças na escola... Esta é uma
ideia terrível?
— Para mim, talvez — Camila bufa. — Eu não disse a você
que Lucia é uma pestinha?
— Oh, vamos lá. Ela é sua sobrinha. Ela deve ser um pouco
legal.
Camila estreita os olhos.
— Você está tentando me bajular?
— Está funcionando?
Ela revira os olhos.
— Infelizmente. Tudo bem. A propósito, você vai pagar o
almoço no dia.
— Claro. Qualquer coisa. Vai ser ótimo.
Camila ainda está resmungando mesmo enquanto eu estou
celebrando silenciosamente minha própria genialidade.

■□■

— O zoológico?
Eu me recuso a ser distraída por Aiden em seu habitat, seus
braços cruzados sobre seu casaco de chef e seu avental
manchado com pedaços de alguma coisa ou outra enquanto o
resto de sua equipe trabalha diligentemente atrás dele.
— Ela vai adorar — eu insisto. — E minha parceira de
laboratório vai levar sua sobrinha, então será uma ótima chance
para Sophie conhecer alguém de sua idade.
— Não deixe que ela ouça você tramando assim — ele
adverte, inclinando-se para espiar em seu escritório, onde
Sophie ainda está jogando em seu Switch em sua mesa. —
Quero dizer, eu estou bem com isso, mas você tem certeza que
quer? Vai ser um dia longo.
— Claro! Vai ser tão divertido. Especialmente para Sophie.
Ela já foi?
— Talvez uma vez quando ela era menor... — Ele esfrega a
nuca. — Não tivemos uma chance desde... bem.
— Eu entendo. — Estendo a mão para ele
inconscientemente, meus dedos raspando na borda de seu
avental em sua cintura antes de me lembrar de onde estamos.
Eu puxo minha mão para trás, limpando minha garganta. —
Você sempre pode vir conosco. Brincar de faltar?
Aiden ri, olhando para a agitação atrás dele.
— Acho que eles podem me enfiar no forno se eu tentar.
— Apenas uma ideia.
Há uma sugestão de um sorriso em sua boca quando ele se
volta para mim, e seus olhos estão mais calorosos, fazendo meu
estômago revirar.
— Confie em mim, é onde eu preferia estar.
— Bem, vou enviar muitas fotos, pelo menos.
— Perfeito. Me mande um lembrete daqui a pouco e,
quando eu tiver um intervalo, reservarei os ingressos.
— Ah, não, eu posso...
— Eu vou comprá-los — diz ele sem rodeios, sem deixar
espaço para discussão.
Meus lábios se contraem.
— Bem, sim, senhor.
— Temos que adicionar isso à lista de frases que você não
pode dizer para mim em público.
Eu levanto uma sobrancelha, baixando minha voz.
— Você está se tornando um pervertido regular, não é?
— Acho que você desperta isso em mim — ele ri.
A agitação no meu estômago é pior agora, porque não estou
apenas pensando nesta última semana juntos – estou pensando
em todas as vezes que ele foi ainda mais safado do que isso no
escuro do meu quarto, onde eu não podia ver o rosto dele.
Tenho que reprimir um arrepio, tentando afastar esses
pensamentos e me concentrar em Sophie.
— Eu vou contar para ela as novidades — digo.
Aiden ri novamente.
— Apenas certifique-se de não deixá-la saber que é um
encontro para brincar. Ela pode te chutar nas canelas.
— Ela nunca faria isso — protesto. — Ela me ama.
— Não diga que não avisei.
Reviro os olhos enquanto passo pela cozinha em direção ao
escritório do outro lado, batendo no batente da porta
enquanto espio minha cabeça.
— Ei, Soph. Tem planos para amanhã?
— É domingo — diz ela com uma careta. — E eu tenho dez
anos.
— O que você acha de nós termos uma pequena aventura?
Ela faz o possível para não parecer muito animada, seu
Switch abaixando para o colo enquanto ela dá sua melhor
impressão de ser indiferente.
— Que tipo de aventura?
“Ainda não acredito que você assistiu aquele último
vídeo no trabalho” eu rio.
Está se tornando um hábito estranho nosso – conversar
um pouco depois da chamada de Skype. Ele ainda me
assiste gozar e, honestamente, eu gosto um pouco mais
quando é ele, e isso não é bobo?
“Valeu a pena” ele murmura. “Embora meus colegas de
trabalho possam discordar. Eles provavelmente acham
que eu tenho problemas de estômago.”
Eu não posso deixar de rir de novo. Eu ajusto a máscara
no meu rosto, meus dedos demorando lá enquanto meus
dentes mordem meu lábio inferior.
“Estou tentando imaginar” respondo baixinho. “É tão
estranho que eu não saiba como você é.”
“É.” Eu o ouço limpar a garganta. “Mas também não sei
exatamente como você é.”
“É meio estranho” eu rio nervosamente, meu ritmo
cardíaco acelerando.
“Sim” ele ri baixinho. “Estranho.”
Ele não me pede para tirar a máscara, o que é bom.
Porque agora não tenho certeza que não faria isso por ele.
Capítulo 15
Cassie

— Essa é uma aventura bem chata — Sophie comenta do banco


do passageiro do meu carro.
Eu solto um suspiro.
— Só me dê um minuto.
Eu tento ligar a ignição novamente, ouvindo aquele
zumbido fatal enquanto o motor do meu carro velho tenta o
seu melhor para ligar por alguns segundos antes de engasgar e
falhar novamente.
— Vamos — eu gemo. — Não faça isso comigo.
— Precisa de gasolina?
— Tem bastante gasolina.
— E o óleo?
— O que você é, uma mecânica?
Sophie dá de ombros.
— Apenas tentando ajudar.
— Eu sei, eu sei. Eu não sei o que há de errado. Ele
provavelmente só me odeia.
— Como vamos chegar ao zoológico?
Eu deixo cair minha cabeça contra o volante, suspirando
enquanto penso.
— Podemos chamar um Uber.
— É um horário de pico — diz ela casualmente. — Vão
demorar uma eternidade.
Levanto uma sobrancelha em sua direção enquanto ergo
minha cabeça.
— Como você sabe sobre os horários de pico?
— Mamãe não tinha carro — diz ela. — Sempre usávamos
Uber se o lugar fosse longe.
— Ok. E o ônibus?
Sophie faz uma careta.
— O ônibus?
— Você nunca pegou ônibus?
— Está calor.
— Bem, não estou vendo muitas outras opções. Minha
amiga Camila mora do outro lado do zoológico. Quando ela
chegasse aqui, teríamos desperdiçado metade do nosso tempo
no zoológico.
— Poderíamos ligar para o papai.
E deixar Aiden saber sobre como meu carro é uma merda?
Não, obrigada. Conhecendo-o, ele provavelmente tentaria
deixar o próprio carro aqui e pegar o ônibus ele mesmo. Seria
típico dele fazer algo assim.
— Não queremos incomodá-lo.
— Mas eu quero ir — Sophie lamenta.
— Eu sei disso, mas se não podemos usar o Uber e você não
quer pegar o ônibus, não vejo como poderemos...
Faço uma pausa, uma ideia me atinge. Pode ser ruim, já que
estou começando a ganhar pontos com a pessoa que tenho em
mente, mas penso comigo mesma que esta pode ser uma chance
de ganhar muito mais, se eu jogar minhas cartas direito.
— Ei, Soph — eu digo, virando-me para dar um sorriso a ela.
— Que horas a loja da sua tia abre?

■□■

— Obrigada por vir nos buscar — digo novamente enquanto


entramos no carro de Iris. — Você está realmente nos salvando
aqui.
— Tudo bem — Iris diz. — Não quero Sophie no ônibus.
O que essas pessoas têm contra o ônibus?
Decido que não é hora de tentar obter a resposta para essa
pergunta.
— E você tem certeza de que não quer vir conosco?
— Eu queria — diz Iris, e acho que ela realmente está
falando sério, com base em seu tom. — Mas eu não tenho
ninguém para me substituir até esta tarde. Eu só tenho dois
outros funcionários agora.
— Uau, isso parece difícil. Está muito movimentado?
Iris assente.
— Estamos entrando na temporada de casamentos no
outono, então recebemos muitos pedidos. Estou fazendo o
possível para entregar com o pessoal que tenho. Eu realmente
não posso me dar ao luxo de contratar mais ninguém no
momento.
— Sinto muito — eu digo sem jeito, sem saber o que mais
dizer.
— Tudo bem. — Iris dá de ombros. — Faz parte. — Ela me
olha de lado enquanto entra na rodovia principal. — Isso foi
ideia sua?
— Oh... sim. Tenho uma amiga da faculdade que tem uma
sobrinha da idade da Sophie. Eu pensei... — Eu me paro,
olhando para Sophie, que está ouvindo com curiosidade. —
Quero dizer, minha amiga me perguntou se eu conhecia
alguém da mesma idade que a sobrinha dela que gostaria de
passar um dia no zoológico com ela.
Iris me dá um olhar compreensivo e então me surpreende
sorrindo de verdade, como se ela soubesse exatamente o que eu
não estou dizendo.
— Isso parece divertido.
— Você já foi?
— Ah, sim — diz Iris. — Rebecca e eu levamos Sophie
quando ela tinha, o que... seis anos?
Sophie dá de ombros.
— Talvez. Eu era pequena. Lembro de fazer carinho em
uma girafa!
— Fizemos o safári de vida selvagem — esclarece Iris. —
Rebecca era obcecada por girafas.
Há uma melancolia em seu tom, sua expressão distante, e
vejo o minuto em que ela percebe isso, rapidamente
mascarando suas feições com seu olhar habitual de indiferença.
— Parece que foi um ótimo dia — observo.
Iris assente.
— Foi. Acho que tenho uma foto de nós três em algum lugar
com uma girafa.
— Eu adoraria ver algum dia.
Iris me olha novamente.
— Vou tentar encontrá-la na próxima vez.
Próxima vez.
Iris e Sophie começam a conversar sobre algum livro que Iris
levou, e eu viro meu rosto para a janela para esconder meu
sorriso. Eu não tinha planejado ver Iris hoje; eu nem tinha
pensado em convidá-la para o zoológico, o que me deixa mal
agora, mas estou meio que feliz por meu carro ter dado
problema esta manhã. Parece que toda vez que vejo Iris, eu a
entendo um pouco mais. Pouco a pouco, sei que estou
lentamente destruindo sua armadura.
Tornou-se minha missão pessoal neste momento.

■□■

O restante da viagem acontece sem problemas, e Iris até


promete me enviar uma mensagem com aquela foto quando a
encontrar antes de nos deixar. Eu tomo isso como mais uma
vitória. A entrada do zoológico está movimentada mesmo em
um domingo, e levamos uns bons dez minutos para encontrar
Camila e Lucia ao lado de fora, mesmo trocando mensagens de
texto constantemente.
— Finalmente — Camila diz quando nos encontra. —
Pensei que tínhamos perdido vocês.
Eu olho ao redor.
— Está cheio hoje.
— Sim, Lucia estava agindo como se fosse morrer se
tivéssemos que esperar mais.
A garotinha que tem o mesmo cabelo preto e olhos
castanhos escuros da tia faz uma careta para Camila.
— Eu não disse isso.
— Uh-huh — Camila zomba. — Oh. Sim. Você é Sophie,
certo? — Camila se abaixa para oferecer a mão a Sophie, que a
pega para apertar delicadamente. — Esta é minha sobrinha,
Lucia. Eu prometo que ela não é tão má quanto parece.
Lucia revira os olhos.
— Eu não sou má.
— Oi — diz Sophie, parecendo tímida.
Felizmente, Lucia não parece ter uma grama de timidez em
seu corpo, apontando para a mochila de cordão que Sophie
pendurou nas costas.
— Essa é uma mochila de Encanto?
— Sim. — Sophie assente. — Comprei na Disneylândia.
— Sortuda! Eu e minha mãe vamos ano que vem. Você viu
a Mirabel?
Os olhos de Sophie brilham.
— Uh-huh! E o Bruno!
— Oh meu Deus. Eles...
As duas se aproximam enquanto continuam a falar, e nós as
seguimos em direção à bilheteria enquanto Camila me lança
um sorriso irônico.
— Eu não acho que vamos ter que nos preocupar com essas
duas.
— Louvada seja a família Madrigal — eu rio.
— Dificilmente. Se eu tiver que ouvir aquela maldita música
mais uma vez, eu vou...
— Então, você não fala sobre Bruno?
Camila estreita os olhos enquanto entramos na fila para
mostrar nossos ingressos, balançando a cabeça.
— Agora você vai pagar o almoço e uma raspadinha.

■□■

Lucia e Sophie viraram praticamente melhores amigas quando


chegamos à Floresta Perdida, nosso plano de ataque é tentar
fazer uma grande volta para que possamos passar em tudo antes
de voltarmos para a saída.
Sophie pressiona o nariz contra o vidro para ver melhor os
hipopótamos, fazendo um ooh apreciativo. Lucia está ocupada
lendo o painel de informações.
— Aqui diz que os hipopótamos matam até quinhentas
pessoas por ano — Lucia lê, não como se estivesse chocada, mas
como se achasse isso fascinante.
Sophie olha para ela com descrença.
— Hipopótamos?
— O quê?! — Lucia bufa. — Eles sentam nas pessoas?
— Não — Camila suspira. — Olha aquelas presas! Elas
fariam um kebab de você.
— Eca — diz Sophie. Ela olha para baixo. — Estamos perto
dos cangurus? Quero ver os cangurus.
Camila verifica o mapa.
— Eles estão lá no fundo. Temos um pequeno caminho a
percorrer antes de chegarmos lá.
— Vocês sabiam — interrompi — que os cangurus machos
são chamados de boomers?
— O quê? — O nariz de Sophie enruga. — Sem chance.
— Não, não — Camila suspira, balançando a cabeça. —
Tenho certeza que é verdade. Ela provavelmente leu em uma
tampa de chá de pêssego.
— Ah, e coalas. — Estalo os dedos. — Eles dormem tipo
vinte e duas horas por dia.
Camila revira os olhos.
— Você pode, por favor, começar a beber Dasani como uma
pessoa normal?
— Não — eu rio. — Estou viciada. — Percebo que Lucia e
Sophie estão encolhidas perto do vidro agora e pego meu
telefone. — Ei, crianças. Virem para cá. Deixe-me tirar uma
foto.
Lucia joga o braço em volta de Sophie, que parece levemente
surpresa por um momento antes de retribuir o gesto e sorrir
grandemente, e meu peito aperta com uma sensação de
felicidade enquanto tiro algumas fotos. Eu imediatamente me
ocupo em enviar uma para Aiden, sabendo que ele vai se
animar com Sophie e Lucia se dando tão bem.
Com a imagem acrescento:
CASSIE
Elas são praticamente melhores amigas e ainda
não estamos nem na metade do passeio.

— Você está enviando isso para o papai?


Percebo que Sophie está me olhando e aceno com a cabeça.
— Ele queria muitas fotos.
— Diga a ele que ele tem que vir da próxima vez — diz
Sophie. — Quero contar a ele como os hipopótamos matam
pessoas.
Eu faço uma careta.
— Talvez seja melhor deixar essa parte do passeio de lado.
Sinto meu telefone zumbir, olhando para baixo para ver
qual é a resposta de Aiden.
AIDEN
Isso é incrív el. Parece que todas estão se div ertindo
muito.

E então apenas um segundo depois:


AIDEN
Eu realmente queria estar aí com v ocês.

Meu estômago aperta quando meu rosto se abre em um


sorriso involuntário. Não faço ideia de como uma mensagem
pode me deixar tão feliz. Então eu me lembro de quem é. Eu
digito uma resposta sem pensar.
CASSIE
Foi uma chatice chegar aqui, mas v aleu a pena.
Sophie está se div ertindo.

Sua resposta é instantânea.


AIDEN
O que v ocê quer dizer? Aconteceu alguma coisa?

Oh. Merda. Ainda não contei a Aiden sobre meu carro.


CASSIE
Oh. Bem... meu carro estava apresentando
problemas esta manhã.

Eu decido que dizer a ele que Iris nos trouxe aqui é


provavelmente uma conversa melhor para se ter pessoalmente.
CASSIE
Podemos v oltar de Uber... ou pegar o ônibus.

AIDEN
Não. Eu v ou buscar v ocês. Apenas me diga a hora.

CASSIE
Você não precisa. Eu sei o quanto v ocês estão
ocupados.

AIDEN
Eu disse que v ou. Apenas me diga que horas.

CASSIE
Está bem, está bem. Mandão.

AIDEN
Vejo v ocê depois.

É bobo ainda estar sorrindo sobre isso, mas não posso evitar.
Eu me pergunto se devo dizer a ele que eu meio que gosto dele
sendo mandão.
Camila está me olhando estranhamente quando eu olho
para cima, e rapidamente disfarço meu sorriso em uma
expressão mais casual.
— Vocês estão prontas para seguir em frente? Acho que
estamos perto de algumas cafeterias. Podemos pegar um pouco
de comida.
— Estou morrendo de fome — lamenta Lucia.
— Sim, sim — eu rio. — Vamos alimentar vocês, pestinhas.
Eu intencionalmente ignoro o jeito que Camila ainda está
me olhando.

■□■

Camila felizmente espera até depois do almoço para comentar,


quando as crianças estão distraídas com os pandas.
— Então... como é o pai da Sophie?
— Hum? — Eu tento usar um rosto neutro. — Ah, Aiden?
Ele é... ótimo. Muito legal.
Ele também tem uma boca suja e um pau que desafia a
ciência, mas provavelmente não é bom mencionar isso agora.
— Uh-huh.
— O quê?
— Você disse que ele é solteiro, certo?
Reviro os olhos.
— O que isso importa?
— Ah, não sei... — Seu sorriso é malicioso. — A maioria das
pessoas não dá risadinhas das mensagens de texto do seu chefe.
Me deixou curiosa.
— Eu não dei risadinhas — eu protesto.
— Claro que não.
Ela caminha na minha frente para seguir as garotas no Panda
Trek, e eu me inquieto nervosamente enquanto a sigo. É
realmente tão óbvio? Eu tenho que fazer um trabalho melhor
para manter as coisas sob controle. Eu me aproximo de Camila,
sem olhar para ela.
— Não é o que você pensa — eu digo.
Quero dizer, é, mas duvido que seja algo que eu deva
compartilhar abertamente com as pessoas.
Camila me dá um olhar inocente.
— Eu não estava pensando em nada.
— Ah, sim, você estava — eu bufo.
— Ele é gostoso?
— Shh. — Eu olho para para onde Lucia e Sophie ainda
estão conversando animadamente, alguns metros a frente. — O
que isso importa?
— Então, ele é — Camila ri. — Uau. E você está morando
com ele? Por favor, me diga que você está dando para ele.
— Oh meu Deus — eu assobio. — Você pode falar mais alto?
— Eu não tenho um encontro há meses — diz ela. — Você
sabe como é a nossa agenda. Honestamente, bom para você por
encontrar pau com nossa carga de trabalho.
— Não é assim — digo novamente, mas soa mais fraco desta
vez.
— Ei, sem julgamentos aqui — Camila me garante. —
Sophie é uma criança legal. O pai dela também deve ser muito
legal.
Eu mordo o interior do meu lábio, virando minha cabeça
para ver o sorriso de Sophie, sorrindo quando ela me pega
olhando e me dá um pequeno aceno, que eu retribuo.
— Ela é uma criança muito legal — eu concordo.
— Muito menos pestinha do que Lucia.
Dou uma cotovelada em Camila.
— Lucia é ótima.
— Sim, sim, ela é boa.
Hesito por um momento, lutando contra o desejo de contar
algo a alguém e sabendo que devo manter minha boca fechada.
Deixo vários outros passos passarem em silêncio enquanto isso
pesa sobre mim, e então solto uma respiração lenta.
— O pai dela é realmente ótimo — eu digo baixinho.
O sorriso de Camila é lento, mas ela se inclina para mim de
forma conspiratória, roubando meu movimento enquanto me
dá uma cotovelada no lado.
— Sim, eu aposto que ele é.

■□■

No final do dia, todo o grupo está exausto. Vimos mais leões,


tigres e ursos (oh meu Deus) do que seria normal para um ser
humano, e às sete horas, estamos todas prontas para ir para casa.
— Tem certeza que não quer que eu leve vocês para casa?
Eu balanço minha cabeça para Camila.
— É tão fora do seu caminho. Aiden disse que viria nos
buscar.
— Ele está atrasado — Sophie resmunga ao meu lado.
— Sério — Camila tenta novamente. — Não é grande coisa.
Só mandar uma mensagem para ele e dizer que...
— Oh, lá está ele — eu digo, avistando seu carro se
aproximando do ponto de desembarque.
— Finalmente — Sophie bufa.
O carro de Aiden para no meio-fio e ele o estaciona antes de
sair do lado do motorista para se apoiar no capô.
— Desculpe o atraso — ele oferece. — Trânsito.
Ele ainda está com seu casaco de chef, então eu sei que ele
veio direto do trabalho e que provavelmente terá que voltar – e
por que me aquece completamente, que ele colocaria tudo em
espera por nós?
Lucia e Sophie estão se despedindo com um abraço, e posso
ouvi-las falando sobre trocar códigos de amizade no Switch,
mas fica de lado quando Camila se inclina para murmurar em
meu ouvido:
— Jesus Cristo, Cassie. Se você não está dando para ele,
então você deveria ser presa.
Eu solto uma risada.
— Isso nem faz sentido.
— É um crime contra a humanidade. Pense no resto de nós.
Largada às traças. Cheias de trabalho. Sem pau.
— Ok, estamos indo agora.
— Estou apenas dizendo...
Eu jogo meus braços em volta do pescoço dela para um
abraço.
— Obrigada por hoje. Foi ótimo.
— Aparentemente, as crianças estão grudadas agora, então
teremos que fazer isso de novo.
— Certo.
Camila abaixa a voz novamente.
— E eu sinceramente espero que você tenha conseguido
aquele pa...
— Ok, meninas! — Eu me afasto de Camila. — É hora de
Sophie e eu irmos. Mas vamos sair de novo em breve, ok?
As duas acenam com a cabeça e se despedem novamente,
Sophie acenando de volta para Lucia enquanto eu a ajudo a
entrar no carro.
— Eu realmente sinto muito por ter atrasado — Aiden diz
novamente enquanto todos nós colocamos o cinto. — Eu
deveria ter saído um pouco mais cedo.
— Está tudo bem — asseguro-lhe. — Não ficamos
esperando muito.
— Vou ter que voltar para o trabalho depois de deixar vocês.
— Eu imaginei — eu digo.
Aiden olha pelo espelho retrovisor enquanto se afasta do
meio-fio.
— Você teve um dia divertido?
— Tão divertido — Sophie fala. — Você sabia que os
hipopótamos matam pessoas?
Eu gemo, e Aiden me dá um olhar estranho de lado.
— Não pergunte — eu digo. — Não pergunte.

■□■
Eu ajudo Sophie a sair do carro quando paramos do lado de
fora da casa, certificando-me de que ela está com a sua sacola de
lembrancinhas antes de começar a andar. Ela se vira para olhar
para mim no meio do caminho.
— Você vem?
— Só um segundo — eu falo depois dela. — Preciso contar
uma coisa para o seu pai.
— Tudo bem, mas você prometeu fazer o quebra-cabeça do
canguru comigo.
— Sim, sim, vamos fazer o quebra-cabeça.
Espero até que ela desapareça pela porta da frente antes de
rastejar de volta para o lado do passageiro na frente, passando
pelo console no meio e colocando minhas mãos em concha no
rosto de Aiden para puxá-lo para um beijo. Há um momento
de surpresa da parte dele que se dissolve rapidamente, e então
sinto seus dedos em meu cabelo e sua língua em meu lábio
inferior antes de mergulhar para dentro para tocar a minha.
Eu o beijo com força, com muito mais do que parece
apropriado para dentro de um carro no meio da rua, mas
decido que não me importo. Tive um dia fenomenal com uma
criança fenomenal, e agora estou sendo levada para casa por um
homem fenomenal que me deixa atacá-lo com beijos do nada.
As coisas poderiam ser muito piores.
Ele parece um pouco atordoado quando eu me afasto.
— Para o que foi isso?
— Porque você é ótimo.
Ele pisca.
— Eu sou?
— Muito.
— Você está tentando me seduzir para desistir do trabalho?
Porque está funcionando.
Meus lábios se curvam contra os dele e pressiono outro beijo
suave ali.
— Mais tarde — eu prometo. Eu me arrasto para fora do
carro e percebo que ele está franzindo a testa quando meus pés
tocam a calçada, minha mão na porta. — O quê?
— Você pode ser realmente má — ele resmunga.
Eu dou a ele um sorriso malicioso.
— Ainda bem que você sabe onde eu moro, Sr. Reid.
Acho que ainda consigo ouvi-lo resmungando mesmo
depois de fechar a porta.
Bate papo com @lovecici

Você mandou para @lovecici uma


gorjeta de $50

Te mandei um novo brinquedo. Eu


quero ver você usar sua boca e
imaginar que é o meu pau.
Capítulo 16
Aiden

Voltar ao trabalho é muito mais difícil com a sensação dos


lábios de Cassie ainda contra os meus, mas consigo de alguma
forma. O restaurante ainda está tão cheio quanto eu o deixei
quando entro pela entrada de serviço, e Marco parece estar por
um triz, correndo para me encontrar com um olhar exausto.
— Estamos sem chalotas.
Eu recuo.
— Como diabos estamos sem chalotas?
— Erro de estoque? Eu não sei, porra. Mas acabamos de usar
a última delas em um poulet au vinagre, e tenho mais dois
pedidos esperando.
— Por que parece que vou gritar com Alex esta noite? — Eu
suspiro.
— Ele está doente — diz Marco. — Então, a menos que você
queira gritar com ele pelo telefone...
Porra.
Talvez eu realmente devesse ter sumido pelo resto da noite.
Eu poderia estar montando um quebra-cabeça em casa com as
meninas agora.
As meninas.
Isso me pega de surpresa, a maneira como meu cérebro
instantaneamente juntou-as dessa maneira. Não sei quando
comecei a pensar nelas como um conjunto, esperando por mim
em casa, mas percebo que sim. E está ficando cada vez pior que
eu tenha que passar tanto tempo aqui, longe delas.
— Hum, olá — diz Marco, acenando com a mão na frente
do meu rosto. — Por que você está sorrindo assim? Você está
me assustando.
— Nada — digo, me recompondo. — Temos cebolas
amarelas?
— Provavelmente. — Ele se vira para gritar com um dos
cozinheiros da linha para verificar antes de se virar para mim.
— Acha que podemos usá-las como substitutos?
— É provável que os clientes nem percebam. Só colocar um
pouco mais de alho. Isso é o melhor que podemos fazer.
— Merda. Eu nem pensei nisso — Marco responde. — Isso
é ótimo. Deus. Estou feliz que você está de volta. Eu estava
prestes a ter um colapso.
Dou um tapinha no ombro dele, rindo:
— Vai ficar tudo bem.
— Tudo bem — Marco ecoa estupefato. — Quem é você e
o que fez com Aiden Reid?
Ainda há um fantasma de sorriso na minha boca enquanto
eu pego um avental limpo, amarrando-o na minha cintura
enquanto me preparo para o resto de uma noite movimentada.
Estranhamente, parece menos assustador do que quando
entrei.
E eu sei que é cem por cento por causa das meninas que
estão me esperando em casa.
■□■

As portas do restaurante só fecham depois das dez horas, e


Marco me garante que ele e os outros podem lidar com a
limpeza, já que tive que entrar mais cedo hoje. Normalmente
eu discutiria com ele sobre isso, mas com a possibilidade de
pegar Cassie ainda acordada em casa... não é preciso muito
convencimento para me fazer ir embora.
Acho que é porque ela e Sophie estiveram tanto em minha
mente esta noite – o dia que passaram juntas, o fato de eu não
poder estar lá – talvez seja por isso que decido ligar para o
proprietário, Joseph, a caminho de casa. Não demora muito
para ele atender, sua voz soando pelos alto-falantes do carro
depois de apenas vinte segundos ou mais. Normalmente eu me
preocuparia em ligar para alguém a esta hora, mas Joseph é
como uma coruja.
— Aiden? Tudo certo?
— Oh, sim. Está tudo bem.
— Noite fácil, espero?
— Desastre leve com chalotas, mas nada que não
pudéssemos lidar.
— Cebolas amarelas?
Eu rio.
— Sim, cebolas amarelas.
— Sempre dá certo.
— Para falar a verdade... eu estava ligando sobre outra coisa.
— Oh? — Eu posso ouvi-lo farfalhando ao redor, sem
dúvida se acomodando melhor em sua cadeira de couro
favorita onde ele gosta de fumar.
— Sim, tudo está indo muito bem, é só...
— Bem, fale logo, garoto — ele ri. — Eu nunca soube que
você tinha a língua presa.
— Eu estava considerando a possibilidade de passar algumas
de minhas funções para Marco. Diminuir um pouco minha
carga de trabalho.
— Você não está pensando em se demitir, está?
— Não — enfatizo. — Claro que não. Eu amo estar ali, e eu
amo trabalhar para você. É só... desde que Sophie veio morar
comigo em tempo integral, realmente comecei a perceber o
quanto perdi da vida dela. É mais óbvio quando a vejo todos os
dias, quando sou lembrado todos os dias do quanto não a estou
vendo. Isso faz sentido?
— Claro que sim — diz Joseph, e eu suspiro de alívio. —
Você sabe que trabalharei com você da maneira que puder.
— É claro que eu entenderia se você quisesse que eu deixasse
o cargo de chef executivo ou se precisasse cortar meu salário
para compensar as responsabilidades menores...
— Oh, besteira — Joseph zomba. — Ninguém quer isso.
Podemos encontrar uma maneira de garantir que você tenha
mais tempo em casa sem tirá-lo do posto. — Ele ri então. — De
qualquer forma, Marco cagaria nas calças se nós sugeríssemos
isso. Todo mundo lá sabe que a cozinha não funciona sem
você.
— Eu só quero ser justo com você.
— Filho, você tem sido justo comigo há anos. Você
trabalhou até falar chega. Eu sempre esperei que você
encontrasse um motivo para começar a tirar um tempo para
você. Não há motivo melhor do que a família.
Eu aceno fortemente, minha voz parecendo grossa.
— Eu realmente aprecio isso.
— Agora você só precisa arranjar uma garota, e eu realmente
posso parar de me preocupar com você.
Estou muito grato por Joseph não poder ver meu rosto
agora.
— Sobre isso...
— Oh?
— Eu estava pensando se poderia levar uma acompanhante
para sua festa de aniversário em algumas semanas.
— Bem, vejam só, eu já vi de tudo. Você virá para a festa? E
você trará uma acompanhante?
— Bem... eu ainda não disse nada... mas espero que ela
queira ir comigo.
— Acredite em mim quando digo, mal posso esperar para
conhecer a mulher que tenha feito você dar um passo para trás
e começar a aproveitar sua própria vida fora do trabalho. Ela
deve ser grande coisa.
Minha boca se contrai involuntariamente.
— Ela é.
— Bem, vá para casa, e eu vou continuar com o resto deste
bom conhaque que acabei de me servir.
Eu solto uma risada.
— Parece uma boa noite.
— Falaremos mais amanhã sobre a sua acompanhante.
Apresse-se e pergunte a ela.
— Sim, sim, eu vou.
— Boa noite, Aiden.
— Boa noite, chefe.
Sinto-me mais leve depois que desligo; eu não tinha ideia de
como seria essa conversa, mas acho que é seguro dizer que não
poderia ter imaginado que seria melhor do que isso. E
realmente é o momento certo, eu acho. Para começar a recuar
e estar mais presente em casa. Quando Sophie chegou... tudo
na minha vida era uma bagunça. Eu não sabia como ser o pai
dela e cuidar da cozinha ao mesmo tempo. E talvez isso ainda
seja um pouco verdade, mas... eu sei que se Cassie não tivesse
aparecido, eu ainda estaria com a cabeça na areia, ignorante
demais para ver o quanto eu estava fazendo Sophie sofrer. Sem
ela... eu poderia nunca ter aprendido como falar corretamente
com minha filha.
Perceber isso só me faz querer chegar em casa até ela mais
rápido.
Há muito pouco que poderia arruinar o bom humor em
que estou agora, mas quando outra chamada é sinalizada no
meu Bluetooth e o nome de Iris aparece na tela do meu console,
descubro que é a única coisa que chega perigosamente perto
disso. Eu nunca sei como vai ser a conversa com ela, e é por isso
que sempre fico tão nervoso.
— Olá?
Iris parece cansada.
— Ei. Desculpe ligar tão tarde. Achei que você estaria
arrumando as coisas.
— Na verdade, saí mais cedo. Decidi voltar para casa.
— Isso não é comum de você — ela aponta.
— Sim, bem, foi apenas um longo dia.
— Cassie disse a você que eu as levei ao zoológico hoje?
Isso me surpreende.
— Você levou?
— O carro dela estava dando problema e ela me ligou. Até
me convidou para ir com elas.
— Por que você não foi?
— Não consegui ninguém para me substituir na loja. — Ela
fica quieta por um momento. — Ela é tenaz, para uma babá.
Eu não posso deixar de rir baixinho.
— Isso é verdade.
— Escute, não é algo que eu queria discutir perto de Sophie,
mas senti a necessidade de dizer... que eu sei que Cassie é muito
bonita e simpática. Inferno, eu estou começando a gostar dela.
Eu me sinto formigando, sem saber onde ela quer chegar
com isso.
— E?
— Estou apenas dizendo…, não sei como um homem
solteiro poderia morar com ela sem que algo acontecesse.
— Iris, não sei o que você está insinuando, mas não acho
que isso seja da sua...
— Eu não estou atacando você, Aiden — ela suspira. —
Honestamente.
— Então o que você está tentando dizer?
— Eu só quero ter certeza de que, independentemente de
qualquer relacionamento que possa se formar entre você e
Cassie – e eu não quero saber o que é – eu não quero que
Sophie seja deixada de lado. Apenas se certifique de que ela seja
sua prioridade número um, ok?
Eu não posso deixar de ficar um pouco irritado.
— Eu sei disso sem você precisar me dizer.
— Não fique irritado. Só me preocupo com a minha
sobrinha, está bem? Só quero ter certeza de que ela está sendo
cuidada da melhor maneira humana possível.
— Mais uma vez, eu não preciso que você me diga isso.
Iris suspira novamente.
— Ok. Me desculpe por ter ligado. Só estava pesando em
mim. Eu sei por observá-las que Sophie ama Cassie, é claro para
qualquer um que esteja perto delas por mais de um minuto, e
eu só espero que você considere as consequências de Sophie
perder repentinamente a presença de Cassie em sua vida se
vocês dois começarem algo e der errado.
Isso me faz parar. Reconheço que é algo que não tive tempo
de considerar. Principalmente porque não quero imaginar a
possibilidade de um futuro em que as coisas entre Cassie e eu
deem errado.
— Eu aprecio sua preocupação — digo com firmeza,
tentando permanecer civilizado — mas posso prometer a você
que Sophie foi e sempre será minha prioridade número um.
— Tudo bem — diz Iris. — Isso é tudo que eu queria dizer.
— Ok, bem, então, se você acabou...
— Pelo que vale — ela interrompe, e eu me sinto tenso em
esperar. — Eu realmente acho que ela ama muito a Sophie.
Acho que ela é boa para ela.
Fico quieto por alguns segundos, considerando isso.
— Eu também — respondo finalmente.
Iris desliga para me deixar no silêncio do carro, com todas as
coisas que ela disse e as novas possibilidades que eu não havia
considerado. Eu absolutamente não pensei sobre o que poderia
significar para Sophie se Cassie e eu desmoronássemos de
repente, sabendo no fundo que isso devastaria Sophie se
acontecesse, tanto quanto estou percebendo que aconteceria
comigo.
Aperto o volante com mais força.
Mais uma razão para garantir que isso não aconteça.

■□■

A casa está silenciosa quando passo pela porta; o quarto de


Cassie está escuro e já passou da hora de Sophie dormir, então
minha primeira suposição é que sou o único acordado. Ainda
estou um pouco abalado com a ligação de Iris, e pode ser por
isso que contorno o quarto de Cassie e subo as escadas exausto
em busca da geladeira. Talvez uma cerveja ajude a acalmar meus
pensamentos.
Então, é uma surpresa quando eu piso no patamar e me
deparo com a luz suave brilhando sobre o forno – Cassie
inclinada sobre a pia com uma colher na mão enquanto ela
come diretamente de um pote de sorvete. Eu a peguei no meio
da mordida, a colher empoleirada na ponta da língua enquanto
ela lambia o resto do doce, e é como uma resposta pavloviana,
a forma como meu pau se contrai ao assistir.
Ela sorri ao redor de sua colher.
— Temos que parar de nos encontrar assim.
— Está se tornando um hábito — murmuro de volta,
distraído por sua boca.
— Como foi o resto da sua noite?
— Longa. — Eu me movo em direção a bancada, fechando
a distância entre nós. — Exaustiva.
— Pobre bebê — ela brinca.
Se vocês dois começarem algo e der errado.
Odeio ainda estar pensando nisso. Essa coisa entre Cassie e
eu mal teve espaço suficiente para respirar, e já estou
preocupado sobre como pode acabar. Quem faz isso?
— Tudo certo? — Cassie coloca a colher na pia, guardando
o pote de volta no freezer enquanto eu circulo a bancada para
ir até ela. — Você parece tenso.
Eu a puxo contra mim, respirando o cheiro de seu shampoo
e deixando-o acalmar meus pensamentos errantes.
— Apenas uma noite muito longa.
— Oh? — Ela se afasta, sorrindo timidamente para mim
enquanto seus dedos traçam um caminho pelo meu esterno. —
Algo que eu possa fazer para ajudar com isso?
Estendo o braço para segurar seu rosto em minhas mãos,
meus polegares roçando suas bochechas. Como eu a conheço
por tão pouco tempo? Por que parece que seria algo impossível
de sobreviver se ela fosse embora de repente?
Eu tento afastar essa linha de pensamento ridícula.
— O que você tinha em mente?
— Bem, eu sei que você tem um método preferido de ser
consolado.
Eu sorrio contra sua boca quando ela fica na ponta dos pés
para me encontrar, e o pensamento de fazê-la gritar na minha
língua alivia imediatamente um pouco da tensão em meus
ombros.
— Eu ficaria feliz em satisfazer se você quiser subir no balcão
— murmuro contra sua boca.
— Oh não — diz ela docemente, beijando-me de novo
suavemente. — Eu estava pensando em retribuir o favor.
— O que você...
Prendo a respiração quando ela cai lentamente de joelhos,
puxando meus quadris até que estou pressionado contra a
bancada, e me seguro com as mãos atrás das costas.
— Cassie, você não...
Ela já está desafivelando meu cinto.
— Você não acha que isso vai fazer você se sentir melhor, Sr.
Reid?
— Porra — eu assobio, ficando tenso quando a mão dela
desliza entre o tecido para me apalpar através da minha cueca
boxer. — Jesus, Cassie. — Minha cabeça se volta para a sala de
estar vazia atrás da ilha da cozinha na qual estou atualmente
encostado, olhando para o patamar escuro da escada. —
Sophie...
— Dormindo como um bebê — Cassie me garante. —
Ficaremos quietos. — Ela olha para mim com um brilho de
hesitação em seus olhos. — A menos que você não queira...?
Meu bom senso entra em conflito com a sensação
dominante das mãos de Cassie em mim, percebendo que, do pé
da escada, a única coisa que alguém poderia ver se aparecesse
seria minhas costas, visto que Cassie está ajoelhada no lado
oposto da ilha que esconde minhas pernas. É uma má ideia,
provavelmente, mas, novamente, ainda estou achando
incrivelmente difícil pensar com meu cérebro agora.
— Silencioso — murmuro de volta, focando no sorriso
triunfante de Cassie. — Rápido. — Eu engulo. — Você tem
certeza?
— Muita — Cassie praticamente ronrona, fazendo meu pau
se contorcer sob sua palma. — Apenas fique parado.
Ela continua a me tocar gentilmente, traçando minha forma
com o dedo indicador e o polegar antes de segurar no cós. Ela
agarra o elástico, avançando para baixo até que meu pau se
solte, já duro apenas com seu leve toque. Seu punho
imediatamente me envolve para me dar um golpe pesado da
base à ponta que faz minha respiração sibilar entre meus dentes,
seus dedos finos segurando meu pau fazem meu sangue
esquentar. A maneira como ela me acaricia lentamente é o
suficiente para me deixar desequilibrado.
— Você tem que ficar quieto, Aiden — ela diz com aquele
mesmo sorriso tímido. Ela provoca a ponta com a língua,
apenas o suficiente para me fazer ofegar. — Você pode ficar
quieto para mim?
— Cuidado — sussurro em aviso.
Ela desliza o punho para descansar logo abaixo da cabeça do
meu pau, girando a língua em torno enquanto eu tremo, sua
voz tão suave quanto a minha.
— Com o que eu devo ter cuidado?
— Você deve ter cuidado para que eu não foda essa boca
bonita.
— Você pode — ela brinca, envolvendo os lábios em volta
de mim para chupar antes de me soltar com um som molhado.
— Se você quiser.
Deus. O que há em Cassie que me faz perder o controle? Eu
quero ser gentil com ela, eu quero ser tão doce com ela como
ela merece, mas toda vez que ela me toca, eu pareço evoluir para
um estado bruto que não pode se concentrar em nada além de
fodê-la tão forte e fundo quanto eu sou capaz.
— Então abra mais — eu insisto com os dentes cerrados. —
Me dê sua língua.
Ela mantém os olhos treinados para cima para continuar
olhando para mim quando estende a língua e a achata logo
abaixo da cabeça larga, fechando os lábios ao redor da ponta
para girar em torno dela. Minha boca se abre quando meus
cílios tremulam com o calor de sua boca, e eu levanto minha
mão quase instintivamente para deslizar meus dedos por seu
cabelo, afastando-o de seu rosto no momento em que ela deixa
a cabeça do meu pau encostar contra sua bochecha.
Eu poderia gozar apenas com essa imagem, se eu realmente
quisesse.
Ela se levanta um pouco enquanto agarra meu quadril com
uma mão, deixando o outro punho na base do meu pau
enquanto ela lentamente, lentamente começa a empurrar seus
lábios para baixo no comprimento duro. Seus olhos se fecham
enquanto ela me leva tão fundo quanto ela é capaz – seus lábios
encontrando seu punho enquanto ela engole em torno da
cabeça gorda que se aninha no calor suave de sua garganta.
— Porra, Cassie — eu resmungo baixinho. — Bem desse
jeito. Jesus, porra.
Minha cabeça cai para trás enquanto meus quadris se
movem, tentando ficar parado à medida que ela se afasta para
acariciar a parte de baixo do meu eixo. Meu estômago aperta
quando sua língua provoca o lábio alargado logo abaixo da
cabeça antes de rodar a língua levemente na ponta, e eu quase
engasgo quando ela começa a passar a língua contra a pequena
fenda lá.
Ela deixa a cabeça inteira deslizar por seus lábios depois,
segurando-a em sua boca, dando-me um golpe pesado para
cima e para baixo antes de me liberar completamente. Ela
oferece um pouco de sua saliva para deixar escorrer na minha
cabeça, imediatamente deslizando o punho para baixo em
movimentos firmes antes de me puxar de volta para dentro de
sua boca, começando a balançar a cabeça no ritmo de seu
punho ainda acariciando.
— Você vai me fazer gozar na porra da sua garganta — eu
digo sem fôlego, tentando e falhando em manter qualquer
aparência de controle. — É isso que você quer?
Ela cantarola em volta do meu pau enquanto sua cabeça dá
um pequeno aceno que só me empurra mais para dentro, suas
narinas dilatando enquanto ela respira fundo pelo nariz.
Ranjo os dentes com tanta força que temo que possam
quebrar.
— Você quer que eu goze nessa sua boquinha gostosa?
Ela geme baixinho enquanto empurra para baixo para
encontrar seu punho que trabalha na base, e posso ver como
sua outra mão desaparece entre as pernas, a maneira como seu
pulso se move de uma forma que não pode significar nada além
de que ela está se tocando.
— Você vai gozar com meu pau na sua boca, Cassie? —
Minhas palavras saem ásperas e roucas enquanto tento manter
minha voz baixa, tentando o meu melhor para ficar tão quieto
quanto eu pedi a ela para ser da primeira vez. — Sua boca é a
porra de um paraíso — eu ofego, meus dedos enrolando em seu
cabelo até que eu estou meio agarrando. — Sabia que seria.
Porra.
Eu seguro seu cabelo logo acima de sua cabeça, não apertado
o suficiente para machucá-la, mas apertado o suficiente para
mantê-la parada – e sua mão desliza do meu pau para alcançar
meu quadril, apertando-me em encorajamento enquanto ela
olha para mim através das pálpebras pesadas.
Eu aceno para ela, e então dou um lento e curioso impulso
em sua boca – e Cassie apenas fecha os olhos com outro
zumbido suave ao meu redor. Eu deslizo sobre sua língua
devagar, mas propositalmente, empurrando fundo em sua
boca, o mais fundo que posso até ouvir os pequenos sons que
ela faz em resistência, recuando imediatamente enquanto
avalio o quanto ela pode aguentar. Repito todo o processo para
senti-la, meus dentes rangendo e meu pau dolorosamente duro
com a necessidade de gozar, mas me seguro enquanto faço tudo
de novo e de novo – cada impulso vindo um pouco mais rápido
do que o último.
— Não há nenhuma maldita parte de você — eu fecho meus
olhos à medida que dou um puxão suave em seu cabelo e
inclino sua cabeça para trás enquanto começo a balançar
dentro e fora de sua boca mais rápido — que eu não queira
foder.
Ela choraminga quando eu dirijo um pouco mais fundo –
seus olhos turvos e molhados – mas ela não se esquiva. Ela se
endireita de joelhos, o pulso ainda trabalhando furiosamente
enquanto ela provoca seu clitóris, abrindo a boca um pouco
mais quando meu pau cutuca a parte de trás de sua garganta.
— Cacete — resmungo. — Vou gozar. Você está perto?
Ela apenas fecha os lábios em volta de mim em resposta,
forçando-me a sentir cada centímetro molhado de sua boca
enquanto mergulho dentro de novo e de novo e de novo. Há um
gemido suave em sua garganta que é agudo e staccato à medida
que aumenta e aumenta, transformando-se em um gemido
silencioso quando seu corpo começa a tremer, um que
reverbera em cada centímetro do meu pau e me puxa direto
para a borda.
Minha respiração me deixa acelerado enquanto eu grunho
através dela, segurando meu pau em sua boca com uma pressão
pesada contra a parte de trás de sua cabeça enquanto eu
derramo em sua garganta. Eu posso senti-la engolindo ao meu
redor, tomando tudo que eu dou a ela – estrelas florescendo em
minha visão pelo puro prazer de tudo isso.
Minha respiração irregular é o único som que resta na
cozinha silenciosa depois – meus dedos desenrolando de seu
cabelo um por um enquanto me afasto para deixar meu pau
amolecido cair de sua boca. Eu a ajudo com as pernas trêmulas
enquanto a puxo contra o meu peito, sem me importar nem
um pouco que meu gozo provavelmente ainda está em sua
língua enquanto minha mão envolve com força a parte de trás
do seu pescoço para puxá-la para um beijo.
Suas mãos se espalmam contra meu peito enquanto eu a
enjaulo, beijando-a profundamente enquanto meu coração
lentamente começa a parar de bater errático.
Ela arranha as unhas de brincadeira na minha camisa.
— Se sente melhor?
— Eu não acho que tenha uma palavra para como eu me
sinto — eu digo com uma risada bufante. Deixo meus lábios se
inclinarem contra os dela novamente brevemente antes de
murmurar: — Como você é tão perfeita?
Ela não responde, mas aquele sorriso tímido em sua boca diz
muito, pelo menos para mim. Como devo lidar com todas as
coisas que ela me faz sentir quando me olha desse jeito?
— Sabe... se você colocar um alarme cedo o suficiente, talvez
você possa dormir na minha cama.
— É mesmo? — Meus olhos mergulham para sua boca. —
Não posso prometer que vou deixar você dormir.
Seu sorriso aumenta um pouco quando ela dá um puxão na
minha mão, levando-me para fora da cozinha em direção às
escadas. Eu vou facilmente, porque como posso não ir –
pensando sobre o problema em que estou. Porque ainda não
tenho ideia de como entender as coisas que estou sentindo, as
coisas que quero – nem tenho como combater a estranha
preocupação que elas trazem, as ansiedades que surgem ao me
aprofundar cada vez mais nessa coisa que começamos até
chegarmos a um ponto em que talvez eu não sobreviva ao fim.
Mas neste ponto... não tenho certeza se há algo que eu possa
fazer sobre isso, não há como desligar nada disso.
Eu sei lá no fundo... é tarde demais para isso agora.
Bate papo com @alacarte

Também é meio estranho chamá-lo


de "A".

Eu sei. Não sou muito criativo.

Eu me pergunto sobre isso também.


Qual seria seu nome verdadeiro.

Às vezes eu gostaria que você


soubesse.

Quero ouvir você gritá-lo quando


gozar.
Capítulo 17
Cassie

— Por que você não trouxe a minha garota com você?


Eu levanto uma sobrancelha para Wanda.
— Oh, então Sophie é sua garota agora? Fui substituída por
uma mulher mais jovem?
— O coração quer o que o coração quer — Wanda diz com
um encolher de ombros.
— Certo — eu rio. — Ainda tem algumas horas até que
Sophie saia da escola.
— Bem, que pena. — Wanda sai arrastando os pés da
cozinha para se sentar em sua cadeira. — Parece que ela se
divertiu muito no aniversário dela. Foi só sobre isso que ela
falou naquele dia em que você trouxe o bolo.
— Ela amou. Ela teria usado aquele vestido de princesa na
escola se deixássemos.
— Esqueci de dar a ela o presente que comprei outro dia —
diz Wanda. — Leve para ela, ok?
— Não precisa — eu digo a ela. — Vou trazê-la de novo
depois da escola amanhã. Aiden precisará fazer o controle de
estoque de qualquer maneira, então provavelmente irá chegar
tarde.
— Como estão as coisas nesse quesito?
Eu mantenho meu rosto neutro, parecendo interessada em
um pedaço de linha na minha camisa.
— Ah, você sabe. Estão boas.
— Só boas, hein?
— Sim. — Eu consigo pegar o pedaço de fiapo, rolando-o
entre meus dedos para parecer ocupada. — Acho que vai ficar
tudo bem. Aiden ainda não sabe quem eu sou, então, enquanto
eu continuar sendo cuidadosa, acho que tudo vai...
— O que eu disse sobre mentir para mim?
Eu olho para ela com surpresa.
— O quê?
— Eu disse a você, apenas mentirosos usam "tudo bem".
— Oh, isso é um monte de besteira, e você sabe disso.
— Agora, não pense que você é tão ágil que eu não possa dar
uns tapas no seu traseiro.
Reviro os olhos.
— Sério, está tudo bem.
— Cassie.
Eu mordo meu lábio inferior, desviando meus olhos para o
velho tapete felpudo sob meus pés. Acho que tenho medo de
dizer em voz alta e, de alguma forma, azarar tudo. Faz apenas
uma semana desde que voltamos de nossa viagem, e toda vez
que Aiden me toca (o que parece ser qualquer momento
roubado que ele encontra a chance de fazê-lo), penso que este
será o momento em que ele descobrirá. Tive o cuidado de
manter minha cicatriz escondida dele, e se ele acha estranho que
eu continue evitando tirar a camisa ou que sempre o puxe para
uma posição que esconda minhas costas – ele ainda não disse
nada.
— Ele ainda não descobriu — digo novamente. — Quem eu
sou.
— Mas algo está diferente — acusa Wanda. — Você parece
mais nervosa do que um peru premiado em novembro.
— Você sabia que só os perus machos conseguem
gorgolejar?
— Garotinha, se você não me contar o que aconteceu neste
segundo...
— Eu... — Eu faço um som frustrado, caindo contra as
almofadas do sofá e agarrando uma para pressionar contra meu
rosto para choramingar o nome dela. — Wanda.
— Oh, minha nossa. O que você fez?
Eu mantenho a almofada contra o meu rosto, resmungando
no tecido.
— Eu dormi com ele.
— O quê? Não consigo ouvir você.
— Eu dormi com ele — digo mais alto, espiando por cima
da almofada.
Wanda pisca de volta para mim com uma expressão ilegível,
estupefata por alguns segundos antes de soltar um suspiro pelos
lábios com um aceno de cabeça.
— Bem, merda.
— Eu sei.
— Foi bom?
— Essa é a sua resposta?
Ela levanta as mãos inocentemente.
— O quê? Se você vai para o inferno de qualquer maneira, é
melhor aproveitar.
— Você não deveria me dizer que essa é uma má ideia?
— Oh, é uma ideia terrível, mas também faz, o quê? Quase
dezoito meses desde que você teve alguma ação?
— Eu te disse isso em segredo — resmungo.
— Se alguém merece um bom rala e rola, é você.
— Por favor, nunca mais diga rala e rola para mim.
— Você ainda não respondeu à pergunta. Estou velha,
Cassie. Preciso de um pouco de emoção na minha vida.
— Você tem mais encontros do que qualquer pessoa que eu
conheço.
— Eu estava tentando poupar seus sentimentos.
Eu jogo um braço sobre o meu rosto.
— Foi ótimo, ok? É ótimo. Não paramos desde que
voltamos de Anaheim.
— Oh, garota.
— Eu sei. Eu sou uma pessoa horrível?
— Por qual parte: dormir com seu chefe, ou não dizer a ele
que ele costumava assistir você bancar a DJ em frente a câmera?
— Oh meu Deus.
— O quê? Não é assim que os jovens falam?
— Eu quero morrer.
— Não, você não quer — Wanda ri. — Você sabe que eu só
estou brincando com você.
— Mas você está certa. Eu sou terrível, certo? Eu deveria
contar a verdade a ele.
— Quero dizer, sim. Você provavelmente deveria. Quanto
mais você esperar, pior vai ser, sabe?
— Eu sei. Eu realmente sei, mas...
— Mas o quê?
— Estou com medo, ok? Eu gosto dele. Ele não é mais apenas
uma voz no meu notebook, ele é Aiden. E ele é perfeito, e tenho
medo de estragar tudo e ele desaparecer de novo.
Isso é um eufemismo. Estou apavorada. Tudo sobre a
última semana parece algo saído de um sonho e, no fundo, algo
me diz que se Aiden descobrisse o que estou escondendo dele,
tudo estaria acabado. Já aconteceu uma vez, então é lógico que
acontecerá novamente.
— Primeiro de tudo — Wanda começa. — Ninguém é
perfeito. Então, pare com isso. Em segundo lugar, eu não me
importo se Aiden tem dois paus e uma língua de dezessete
centímetros, ele seria um idiota se jogasse você de lado.
— De novo — eu indico. — Já aconteceu uma vez.
— Ele não sabia quem você era — Wanda insiste. — E você
não o conhecia. Não de verdade. Você não pode planejar todo
o seu futuro apenas por causa de um dia ruim no passado.
— Eu acho que sim.
— Mas isso não significa que você precisa guardar segredos.
Eu franzo a testa.
— Eu sabia que você ia dizer isso.
— Porque você sabe que estou certa, Cassandra.
— Ai. Nome completo. Usando as armas grandes, hein.
— Você sempre pensa o pior das pessoas — Wanda suspira.
— Você não pode simplesmente assumir que algo vai dar
errado antes de dar uma chance.
— Bem, na minha experiência, é exatamente assim que tem
sido.
— Oh, grande merda. Só quando se trata daqueles seus pais
lixo. E você nem fala mais com eles. Você não pode deixar que
o gosto ruim que eles deixaram em sua boca estrague todo o seu
jantar.
— Bem, essa é uma analogia divertida.
— Estou apenas assumindo que Aiden é gostoso.
— Oh, nojento.
Wanda ri, encolhendo os ombros para mim.
— Mas estou errada?
— Você está muito velha para ter tanto tesão.
— Não seja etarista.
— Claro, claro.
— Então, você vai contar a ele? Você sabe que eu estou certa.
Quanto mais você esperar, mais feio pode ficar.
— Eu sei. Eu sei. Eu vou contar a ele. Eu vou. Eu só... Eu
ainda não estou pronta.
— Você pode nunca estar — ela me diz. — Não significa
que você não deva fazer isso.
Eu gemo.
— Por que você sempre tem que estar tão certa?
— É porque eu sou...
— Velha — eu termino. — Sim, eu sei.
— Apenas dê uma chance a ele. As pessoas podem
surpreendê-la, se você permitir.
— Talvez — suspiro. — Não sei.
— Bem, eu sei — diz ela intensamente, resmungando
enquanto se levanta da cadeira de balanço. — Você sabe por
quê?
— Claro, claro — bufo, acenando para ela.
— Você quer uma bebida?
— São duas horas da tarde.
— Você acha que a hora importa quando você passa dos
setenta anos?
— Eu tenho que pegar Sophie daqui a pouco.
— Sobra mais para mim então — diz ela.
Observo-a se arrastando até a cozinha, puxando o roupão
felpudo e apertando-o na cintura. Fico olhando para o teto de
pipoca de seu apartamento enquanto ela começa a vasculhar a
geladeira. Eu sei que ela está absolutamente certa, que
continuar escondendo as coisas de Aiden só tornará muito mais
difícil quando ele inevitavelmente descobrir a verdade; não é
como se eu pudesse manter a cicatriz nas minhas costas em
segredo para sempre, afinal. E dado ao seu tamanho, seu
significado e que ele é uma das quatro pessoas que sabem que
ela existe – eu não acho que posso explicar isso facilmente.
Eu odeio que ela esteja sempre certa.
Você não pode planejar todo o seu futuro apenas por causa de
um dia ruim no passado.
■□■

Eu não conto para ele naquela noite, ou várias noites seguidas,


e uma semana depois, ainda estou oscilando entre se devo ou
não contar para ele. Eu poderia argumentar que dificilmente há
tempo para uma discussão como essa, já que todo o nosso
tempo a sós é preenchido com beijos secretos e toques que me
fazem perder a cabeça, mas estou bem ciente de que é uma
desculpa esfarrapada, na melhor das hipóteses. Como diabos eu
começo uma conversa assim?
Ah, a propósito, você costumava assistir eu me tocar. Achei que
você gostava de mim, mas então você sumiu. Não é engraçado
como nos encontramos de novo?
Mesmo na minha cabeça soa ridículo.
Estou franzindo a testa para a cafeteira nesta manhã em
particular, vendo o café pingar na caneca enquanto meus
pensamentos estão longe, e é provavelmente por esse motivo
que não o ouço descendo as escadas. Não percebo que ele está
lá até sentir os braços de Aiden deslizando em volta da minha
cintura para me puxar contra um corpo sólido, e não posso
evitar o sorriso bobo que se forma quando sinto seus lábios em
meu pescoço.
— Bom dia.
— Sophie...?
— Ainda desmaiada — ele me diz. — Eu acabei de verificar.
— Alguém está ficando ousado — provoco.
— Mm. Viciado, talvez.
— Eu chamo isso de segurança no trabalho.
Ele se afasta de mim rindo.
— Hilário.
— O que você quer para o café da manhã?
— Seja o que for, é melhor começarmos agora antes que
Sophie acorde, ou vamos comer panquecas de novo.
— Acho que você só está chateado porque ela não gosta das
suas panquecas.
— Eu cozinhei para senadores e não consigo satisfazer uma
criança de dez anos. Como você se sentiria?
— Talvez tentar outra coisa. Até mesmo você não pode
estragar ovos e bacon.
Eu pego Aiden revirando os olhos ao meu lado e pisco para
ele antes de voltar minha atenção para a máquina de café que
agora apita.
— Vá em frente. Eu vou fazer o café. Você pode ser o herói
do café da manhã.
— Ela provavelmente vai odiar isso também — ele
resmunga.
— Não se preocupe. Eu vou te mostrar como fazê-los direito
— digo seriamente. Faço minha melhor imitação de Norman
Osborn. — Sabe, eu sou uma chef também. 1
— Uma referência ao Homem-Aranha deveria me excitar?
— Provavelmente não — eu digo inexpressiva. — Algo
provavelmente está seriamente errado com você.

A frase faz referência a uma fala do personagem Duende Verde no filme


1

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa.


Eu grito quando ele de repente dá um tapa na minha bunda,
sorrindo de volta para ele enquanto ele começa a vasculhar os
armários em busca de uma panela. São momentos como este
que tornam tão difícil entreter o pensamento de contar para ele
a verdade, essa rotina fácil entre nós torna ainda mais difícil
tentar encontrar algum tipo de abertura para revelar nossa
história. As coisas têm sido tão perfeitas, e eu não mereço um
pouco de perfeição na minha vida? Faz séculos desde que eu
tive alguma. Tem que haver uma proporção universalmente
aceita para todos que vai de perfeição a merda.
Eu ouço Sophie quando ela desce as escadas, virando-se para
pegá-la esticando os braços sobre a cabeça quando ela chega ao
último degrau, parecendo seu pai quando ele acorda. Eu sinto
que não deveria me sentir tão feliz por ter notado isso.
Você está mal, Cassie Evans.
Sophie cambaleia sonolenta para a cozinha para se juntar a
nós como uma zumbi recém-transformada, resmungando:
— O que tem para o café da manhã?
— Seu pai está cozinhando — digo a ela.
Ela faz uma careta.
— Não são panquecas, certo?
— Ei — Aiden resmunga, soando ofendido. — E se eu
estivesse praticando?
— Tem que ter muita prática — Sophie bufa.
Aiden olha para mim incrédulo com uma espátula em uma
mão e uma frigideira na outra.
— Você vê com o que eu lido?
— Oh, pobre bebê — eu murmuro, servindo uma xícara de
café para ele. — Tão maltratado.
Ele balança a cabeça, voltando sua atenção para o fogão.
— Todo mundo está contra mim.
Sophie sorri para mim da bancada, onde ela encontrou um
assento, e eu retribuo de forma conspiratória enquanto pego
minha própria caneca. Eu observo em silêncio à medida que
Sophie e Aiden continuam conversando enquanto ele se ocupa
com o café da manhã, e novamente há aquele sentimento de
culpa que se instala em meu peito como um peso pegajoso. É
algo que nunca experimentei, essa sensação calorosa de estar em
família. Quando eu era criança, geralmente preparava meu
próprio café da manhã e na maioria das vezes, eu fazia isso em
uma casa vazia. É por isso que estou tão hesitante em estragar
as coisas aqui?
Pensar nisso me dá dor de cabeça.
— Cassie?
Eu me viro rápido demais, percebendo que Aiden está
falando comigo.
— Hum?
— Eu disse, como você gosta dos seus ovos?
— Oh. Como vocês comem está bom para mim. Eu não sou
exigente.
— O básico então — ele decide.
Sophie come uma framboesa.
— Eu gosto de mexidos!
— Mexidos então — corrige Aiden.
Sophie se apoia nos cotovelos sobre a bancada.
— Podemos ir para o parque depois do café da manhã?
— Você tem escola hoje — Aiden a lembra.
— Ela está com o dia livre hoje — digo a ele. — Reunião de
Professores e pais.
Aiden franze a testa.
— Eu não sabia disso. Devo ir?
— Não — diz Sophie presunçosamente. — Eu superei as
expectativas.
Seu sorriso me faz rir.
— Ela recebeu um bilhete em sua mochila que dizia que ela
não precisava participar. Ela está tirando nota máxima. —
Lanço um olhar de desculpas na direção de Aiden. —
Desculpe, eu queria dizer a você.
— Não, não, tudo bem. Obrigado por ficar por dentro
disso.
— Então podemos ir? — Sophie parece esperançosa. —
Para o parque? Por favor?
— Eu não sei — diz Aiden estalando a língua. — Não sei se
consigo caminhar enquanto ainda estou tão arrasado com
minhas terríveis panquecas.
— Você é bom em outras coisas — Sophie tenta. — Tipo...
você sempre sabe onde estão as pilhas!
— Uau — diz Aiden secamente. — De repente, minha vida
voltou a ter sentido.
Estou tentando esconder meu sorriso atrás da minha xícara
de café quando ele olha para mim, sentindo meu estômago
revirar quando ele me dá um sorriso preguiçoso que mostra
apenas alguns dentes. Mesmo depois de tudo o que fizemos,
ainda me surpreende o quão lindo ele é sem esforço; apenas
olhar para sua boca é o suficiente para me deixar nervosa. Não
por qualquer motivo específico, é claro. Não estou pensando
em como a boca dele estava entre as minhas pernas ontem à
noite, com certeza.
— Sabe — digo a Sophie, tentando afastar esses
pensamentos antes de começar a corar. — Outro dia encontrei
um Frisbee em uma das minhas caixas que adiei para
desempacotar. Aposto que poderíamos chutar a bunda do seu
pai.
— Sim, vamos chutar a bunda dele.
Aiden franze a testa.
— Sophie.
— Ops. — Eu atiro a ele um olhar de desculpas. —
Desculpe.
Ele não parece zangado, na verdade, acho que está tentando
não sorrir.
— Além disso, vocês duas provavelmente deveriam saber
que eu estava em um time de Ultimate Frisbee na faculdade.
— Oh, uau — eu digo divertidamente. — Não sei dizer se
isso é impressionante ou triste.
Aiden levanta uma sobrancelha, mas não diz nada.
— Suba e vá tomar banho — ele diz a Sophie. — Vou ter
terminado com o café da manhã quando você descer. — Ele se
vira para apontar sua espátula para nós duas. — E então eu vou
chutar a bunda de vocês duas no Frisbee.
Sophie ri enquanto pula da banqueta, subindo as escadas
para nos deixar a sós. Aiden vira o bacon na frigideira
novamente antes de deixar a espátula descansar na borda da
frigideira, olhando furtivamente para as escadas antes de me
colocar contra a bancada.
— O que foi aquilo sobre chutar minha bunda?
Eu olho para ele através dos meus cílios, sorrindo
maliciosamente.
— Você está preocupado, Sr. Reid?
— De jeito nenhum — diz ele com confiança. — Com total
respeito a você e minha doce garotinha que eu amo muito, eu
vou destruir vocês duas.
Isso provavelmente não deveria me deixar tão animada.
— Talvez eu seja uma campeã secreta do Frisbee? Talvez eu
tenha jogado no campeonato nacional no ensino médio.
— Eu não acho que isso exista.
— Veja, o fato de você não saber sobre as nacionais não
inspira confiança em sua habilidade.
Aiden sorri, inclinando-se para deixar seu nariz correr ao
longo da minha mandíbula, me distraindo.
— Você estaria disposta a fazer uma aposta?
— Mm. — Fecho meus olhos quando sinto seus lábios em
minha garganta. — Uma aposta?
— Só para deixar interessante.
— E o que acontece quando eu ganhar?
— Se você ganhar — ele corrige.
— Continue dizendo isso a si mesmo.
— Se você ganhar — ele diz, seus lábios se inclinando contra
a minha pele — eu vou te foder em cima dessa bancada amanhã
depois de levar Sophie para a escola.
— Oh? — Minha risada é trêmula agora, sua mão curvando-
se em meu quadril e tornando difícil para mim manter minha
caneca firme. — Isso é um prêmio para mim ou para você? O
que acontece se você ganhar?
Ele se afasta, sorrindo preguiçosamente enquanto olha para
mim antes de diminuir a distância entre sua boca e a minha.
— Se eu ganhar — ele murmura contra meus lábios — eu
vou te foder em cima dessa bancada amanhã depois de levar
Sophie para a escola.
— Uau. Esses são prêmios sérios. Parece que eu ganho de
qualquer maneira.
— Eu prometo, eu sou o vencedor aqui.
Seus lábios roçam os meus, e meus cílios se fecham
enquanto ele aplica mais pressão, minha cabeça fazendo aquela
coisa de ficar totalmente embaralhada, como sempre acontece
quando ele me beija. Eu sinto o calor de sua língua enquanto
provoca a abertura da minha boca, abrindo para deixá-la entrar
enquanto ele me beija de uma forma lenta e vertiginosa.
— Seu bacon está queimando — murmuro distraidamente.
Aiden funga enquanto se afasta de mim.
— Porra.
— Tem certeza que você é um chef?
Aiden zomba enquanto tenta salvar o bacon.
— Todo mundo é um crítico.
Eu ainda estou sorrindo enquanto tomo outro gole da
minha caneca, meus pensamentos menos focados na minha
culpa após o toque dele, mas não completamente. É isso que eu
não quero estragar, eu acho. Esta manhã fácil que poderia se
tornar regular se eu deixasse. Eu não quero perder o toque de
Aiden ou o sorriso de Sophie ou suas brigas fofas sobre
panquecas. Não quero perder nada disso.
Talvez não importe, meu cérebro deseja. Que nos
conhecíamos. As coisas são diferentes agora, certo?
Tomo outro gole lento, tentando afastar essa linha de
pensamento.
Vou contar a ele, garanto a mim mesma.
Embora, neste ponto, eu esteja tentando me convencer mais
do que ninguém.
Eu deveria ter pedido a ela para fazer isso há muito
tempo. Vê-la curvada sobre a cama enquanto ela se fode
com o vibrador que comprei para ela – eu posso ver tudo
assim.
Estou imaginando o quão macia ela seria se eu deslizasse
meus dedos dentro dela, como ela ficaria molhada se eu
desse a ela meu pau. É tudo o que eu penso agora, e vê-la
assim... sua bunda no ar e sua linda boceta totalmente
em exibição para mim?
Eu posso estar realmente ficando louco.
Capítulo 18
Cassie

Vou contar para ele hoje, decidi.


Eu sei que não é bom que eu tenha esperado mais um dia,
mas é que nos divertimos tanto no parque ontem (perdi no
Frisbee, mas com a aposta que fizemos, será que eu perdi
mesmo?), e então Aiden trabalhou até tarde, e não é algo sobre
o qual eu poderia me forçar a falar por mensagem de texto.
Mesmo cara a cara, há uma boa chance de ele ficar
irreversivelmente zangado e me mandar sair da casa, algo para o
qual venho tentando me preparar, mas no fundo sei que não é
algo para o qual eu poderia estar preparada.
Eu tenho andado de um lado para o outro pela sala desde
que Aiden levou Sophie para a escola, pensando em todos os
resultados possíveis. Em algumas versões, Aiden está confuso,
mas compreensivo. Em outras, ele está com tanta raiva que nem
consegue olhar para mim. E nas possibilidades mais delirantes,
ele está até feliz por ter me encontrado novamente.
Mas isso parece improvável.
Eu tenho que dizer a ele, no entanto. Hoje. Antes que ele
possa voltar aqui e me distrair com seu beijo e seu toque e tudo
o que vem com ele. Eu sei que se eu deixar ele me tocar, vou
perder minha determinação, mesmo que algo no fundo do meu
cérebro implore para que eu fique quieta só um pouco mais,
porque e se hoje for a última vez que ele fizer isso? É algo que
nem quero considerar, mas sei que preciso.
E posso viver com isso, se acontecer. Ou, pelo menos, é o
que estou dizendo a mim mesma. Eu fiz isso uma vez, certo?
Claro, foi uma merda, mas eu superei. Em grande parte.
Você sabe que é diferente agora, meu cérebro sussurra.
E esse é o ponto crucial de tudo. Aiden não é mais aquela
pessoa sem rosto que me excitava e sussurrava para mim no
escuro. Agora, ele é essa pessoa que parece ser muito mais do
que eu mereço, com seu belo sorriso, seus lindos olhos e sua
risada viciante. Agora, Aiden é formado por piadas de pai,
beijos na testa (Sophie), beijos secretos (eu), palavras doces e
sujas sussurradas no escuro que são murmuradas diretamente
em meu ouvido, e não pelos alto-falantes do meu computador.
Ele é real agora, e isso significa que será mil vezes mais difícil
esquecê-lo.
Tenho repassado mentalmente meu discurso, tentando
elaborar exatamente o que vou dizer para ter uma chance de
convencer Aiden de que não fazia ideia da nossa história antes
de vir para cá e que eu só escondi dele desde que soube por
medo de como ele poderia reagir. Certamente ele não pode me
culpar por isso, certo? É razoável para mim reagir da maneira
que fiz. Parece que é na minha cabeça, pelo menos.
Porra.
Isso vai ser um desastre.
Meu telefone vibra na bancada a trinta centímetros de
distância de onde estou andando, e estou tão nervosa que
realmente me faz pular antes de eu pegá-lo. Há uma mensagem
de Aiden esperando por mim na minha tela de bloqueio, e eu
deslizo para verificá-la enquanto meu estômago se contorce em
mais nós.
AIDEN
Estou v oltando.

Mesmo tão nervosa quanto estou, ainda há um pouco de


agitação por trás de toda a ansiedade, porque, apesar da minha
determinação de sabotar seus planos, ainda estou pensando em
uma maneira diferente em que apenas mantenho minha boca
fechada e deixo Aiden cumprir sua promessa de me foder na
bancada.
Você tem que contar a ele.
Eu realmente, realmente, odeio fazer a coisa certa.
Depois de criar um buraco do meu tamanho no tapete da
sala, vou até a pia da cozinha para pegar um pouco de água fria
para que eu possa pressioná-la na pele corada em minhas
bochechas e pescoço, tentando acalmar meus nervos mesmo
quando meu coração começa a bater forte no peito com a
ansiedade crescente. Eu tinha pensado em ligar para Wanda
para pedir coragem, mas tenho medo de que, se eu falar com
mais alguém antes de prosseguir com isso, eu possa desmoronar
com o estresse de tudo. Pego a toalha pendurada na porta do
forno para secar o rosto, fecho os olhos e respiro fundo para
tentar acalmar meu coração acelerado.
Não tenho ideia de qual parte desse leve ataque de pânico
que estou tendo me faz não ouvir a porta se abrindo no andar
de baixo algum tempo depois – mas isso significa que eu
realmente pulo quando sinto os braços de Aiden deslizando ao
meu redor, me puxando para trás até minha bunda ficar
nivelada com seus quadris e beijando meu pescoço.
— Jesus — eu suspiro. — Você me assustou pra caralho.
Ele ri contra a minha garganta.
— Não estava tentando te assustar.
Suas mãos já estão deslizando para cima e sobre minha
cintura, meus cílios vibrando quando ele inclina seus quadris,
revelando que ele já está duro.
— Uau, alguém está impaciente.
— Eu estive pensando em foder você nesta bancada desde a
outra noite — ele murmura, ainda beijando meu pescoço.
Eu fecho meus olhos.
— Acho que foi isso que inspirou as apostas que você
estabeleceu para o jogo de frisbee em que trapaceou.
— Pegar o frisbee não é trapacear.
— É, quando você é gigante.
— Desculpe. — Sinto sua mão deslizando por baixo da
minha camisa para tocar meu estômago, provocando o cós da
minha bermuda. — Posso compensar você?
Minha boca se inclina para cima lentamente, me perdendo
em seu toque.
— Mmm. Talvez.
Espere. Não. Isso é o que queríamos evitar.
Eu me viro de repente, tentando colocar algum espaço entre
nós para que eu possa me concentrar, mas me encontro
enjaulada por seus braços agora enquanto ele os apoia contra a
bancada atrás de mim.
— Aiden, na verdade, eu...
— Alguém está tentando desistir da nossa aposta?
Cristo, ele ainda acha que estou brincando. O Aiden
brincalhão pode ser a minha kryptonita.
— Não. — Eu pressiono minhas mãos em seus quadris,
tentando dar um empurrão suave, mas sou distraída pelo roçar
de seu pau contra meu polegar através de sua calça de moletom.
Seja forte. — Não é isso...
Sua cabeça abaixa, seus lábios mal encostando contra os
meus.
— Porque eu ganhei de forma justa, Cassie — ele profere
sensualmente.
— Eu sei — consigo dizer.
Ele só tem que se inclinar um pouco para que sua forma, dura
e desejosa, se encaixe entre minhas coxas, e um arrepio passa por
mim.
— E eu vou te foder nessa bancada.
Eu não sou forte. Eu não sou forte de jeito nenhum.
Posso sentir isso acontecendo, posso sentir como estou
esquecendo tudo o que resolvi fazer – perdendo meu senso de
foco quando sua boca se inclina contra a minha. Meus olhos se
fecham enquanto sua língua desliza para dentro, provocando-
me com sua suavidade que é um contraste gritante com a
dureza entre minhas pernas. Me perco para dentro do
momento com tanta facilidade que mal noto suas mãos
encontrando minha bunda, me levantando contra ele de uma
só vez antes de girar para me colocar na ilha da cozinha atrás de
nós.
E ele não para de me beijar, nem por um segundo.
Foda-se, penso distante. Eu vou dizer a ele depois.
Eu tento não pensar sobre o fato de que essa decisão pode
fazer com que esta seja a última vez que ele me toca assim.
Ele me pega de surpresa novamente quando me gira,
manobrando meu corpo até que eu esteja deitada sobre a
bancada de bruços, meus dedos dos pés pressionando contra o
azulejo. Suas mãos agarram minha cintura para me manter
firme, inclinando seu corpo sobre o meu, sua respiração
batendo na minha nuca.
— Se segura — diz ele asperamente, um grunhido satisfeito
saindo dele quando eu alcanço as bordas da bancada.
Suas mãos deslizam sobre meus quadris, arrastando meu
short pelas minhas coxas lentamente – cantarolando baixinho
quando ele me deixa apenas com minha calcinha de algodão
rosa claro que está coberta de desenhos animados de gatos.
— Mais impressão — ele ri baixinho.
Ele me agarra através do tecido, apertando minha bunda
com força enquanto me contorço em seu aperto. Seus dedos
deslizam entre minhas pernas, e eu sei que ele deve ser
imediatamente capaz de sentir como já estou molhada. O
algodão está praticamente encharcado, embora ele mal tenha
me tocado, e ele esfrega os dedos lá lentamente enquanto um
gemido suave escapa de mim.
Minhas pernas estão tremendo quando ele finalmente
arrasta minha calcinha pelas minhas coxas também, me
deixando nua e esperando e tão aberta para ele. Ele empurra um
dedo para dentro, e depois outro, me segurando pelo o quadril
para me manter firme, dando-me apenas o suficiente para me
excitar, mas não o suficiente para me satisfazer completamente.
— Aiden — eu me ouço choramingar. — Você pode...
— Em um minuto — ele murmura com voz rouca. — Eu
quero olhar para você.
Estou completamente exposta assim, talvez mais do que
nunca com Aiden, já que é meio-dia, estamos no meio da
cozinha, na porra da bancada onde tomamos o café da manhã.
Mas ainda não consigo criar nenhuma vergonha por minha
posição comprometedora. Não com o deslizar lento de seus
dedos para dentro e fora de mim, cuidadoso, como se ele
estivesse memorizando a minha sensação naquele momento.
— Você é tão bonita aqui — ele sussurra com reverência,
empurrando os dedos profundamente para me fazer ofegar. —
Tão macia.
Eu viro meu rosto contra o granito para espiar de volta para
ele, e sua expressão é inebriante, os olhos paralisados entre
minhas pernas enquanto ele continua a me provocar. Percebo
quando ele finalmente afasta a mão, deslizando os dedos em sua
boca, seus olhos encontrando os meus para segurar meu olhar
enquanto ele lambe qualquer resquício de mim.
Acho que ninguém julgaria o jeito que começo a me
contorcer carentemente, não com o jeito que Aiden está
olhando para mim.
Ainda estou observando no momento em que ele se coloca
para fora, agarrando meus quadris para me segurar e deslizando
a cabeça do seu pau entre minhas dobras. Fico impressionada
novamente com a ideia do quão exposta eu estou quando ele
começa a empurrar para dentro, o calor inundando meu
estômago porque sei que ele pode ver tudo assim. E ele está
assistindo... atentamente.
Eu posso sentir cada centímetro dele pressionando
lentamente para dentro, e através das pálpebras encapuzadas
continuo a observar enquanto os cílios de Aiden vibram, seus
dentes pressionando contra o lábio inferior enquanto ele enche
e enche até que minha bunda esteja se contorcendo contra sua
pélvis, meus dedos dos pés flutuando sobre o chão enquanto
ele me mantém suspensa.
Estou tão cheia dele. Isso torna difícil pensar.
Ele puxa para fora com cuidado, se arrastando, certificando-
se de que eu sinta cada centímetro enquanto ele sai. É um
pouco mais rápido quando ele empurra de volta para dentro,
Aiden sibilando entre os dentes quando ele chega ao fundo
apenas para repetir o processo novamente, cada impulso vindo
mais forte que o anterior. A maneira como ele me curvou na
cintura significa que eu sinto mais do que o normal cada uma
das estocadas, cada uma bate um pouco mais fundo. É tão
frustrante quanto delicioso.
— Eu não... — Sinto-me sem fôlego agora, meus olhos
fechados e minha boca frouxa enquanto me concentro na
sensação. — Eu não posso me tocar assim.
— Você está me pedindo?
— Aiden — eu ofego.
Ele mergulha em mim um pouco mais forte.
— Eu quero que você me peça — ele grunhe. — Peça-me
para fazer você gozar, Cassie.
— Aiden, eu juro que se você não — grito quando ele me
fode mais rudemente, meu corpo se sacode contra a bancada —
me tocar, porra.
— Eu vou. — Ele sufoca uma risada, empurrando minha
camisa um pouco para cima e deslizando as mãos sobre a
extensão suave da parte inferior das minhas costas antes de se
inclinar para beijar minha coluna. — Eu só quero ouvir você
me pedir.
Seus dedos brincam sobre a parte superior da minha coxa,
traçando uma linha por dentro e demorando enquanto ele a
puxa de volta a centímetros de onde eu preciso dele. Mas meu
foco de repente se concentra na mão que acaricia minhas
costas. Meu coração começa a bater forte por motivos que não
têm nada a ver com seu pau dentro de mim, sabendo que se ele
levantar minha camisa só um pouco mais, ele vai ver tudo.
As pontas de seus dedos passam logo abaixo da alça do meu
sutiã, sua outra mão ainda provocando entre minhas coxas,
mesmo enquanto ele continua a me invadir em um ritmo
constante.
— Me peça, Cassie.
— Porra, me toque — eu digo entre dentes, meu pulso
batendo em meus ouvidos tanto de prazer quanto de medo. —
Por favor.
Ele cantarola contra a minha pele, obedecendo
instantaneamente e mergulhando os dedos entre as minhas
pernas para encontrar o pequeno monte do meu clitóris. Eu
gemo quando ele esfrega, meu corpo praticamente suspira de
alívio quando a palma da mão nas minhas costas desliza de volta
para a zona mais segura perto da base da minha coluna.
Obrigada, porra.
Ele finalmente a afasta completamente para envolvê-la em
um dos meus quadris, segurando-me lá enquanto ele me
trabalha de forma constante, enquanto ele me fode de forma
instável. Ele está empurrando profundamente agora, seu corpo
se curvando até que sua respiração ofega contra minha espinha
e sua pele está batendo contra a minha. Posso dizer pela
maneira como seus quadris começam a falhar que ele está perto,
posso ouvir nos gemidos suaves que escapam dele.
— É tão bom quando você goza — ele bufa. — Tão bom. —
Ele desliza profundamente, rolando os dedos contra o meu
clitóris inchado. — É melhor do que qualquer coisa que eu já
senti.
Suas palavras me lavam, me fazendo queimar ainda mais, e
posso sentir aquela doce pressão crescendo entre minhas
pernas, antecipando o momento em que explodirá em um
prazer total.
— Bem aí — eu respiro. — Não pare.
Seus dedos estão deslizando contra meu clitóris com o jeito
que estou encharcada, mas ele continua me esfregando naquele
mesmo lugar que me faz choramingar por mais.
— Nunca.
Meus dedos se fecham e se abrem nas bordas da bancada, e
minhas costas tentam se arquear, embora eu não tenha espaço
contra a superfície dura, e os sons que saem da minha boca são
ofegantes, profundos, carentes – e então eu sinto.
Começa com um tremor por dentro, um espasmo de
minhas paredes internas que só fica mais intenso por seu pau,
que ainda continua a balançar dentro de mim. Ele emite um
som alto e gutural enquanto empurra profundamente uma
última vez, e ele não se retira, não se move, apenas se envolve e
permite que meu corpo trêmulo o puxe para a borda.
Seu pau se contrai fortemente, me enchendo – me
enchendo com seu gozo, seu calor, ele – e ele é muito pesado
para me cobrir como ele está, mas não me importo. A sensação
dele pressionado contra mim é tão boa, seu grande corpo
moldado contra o meu enquanto sua boca vagueia. Pela minha
nuca, minha garganta, minha mandíbula – qualquer pedaço de
pele nua que ele possa alcançar.
— Ainda bem que você é tão ruim no Frisbee — ele bufa
contra o meu cabelo.
Eu solto um suspiro.
— Com apostas como a sua, não importava de qualquer
maneira.
— Verdade. — Eu pego sua risada suave, e ele estremece
contra mim enquanto sua testa descansa contra a minha
espinha. — Eu não quero sair de você.
— Senhor, é assim que as pessoas desenvolvem infecção
urinária.
Ele dá uma risada.
— Sexy.
— Saúde vaginal adequada é muito sexy — enfatizo. —
Além disso, se você não sair, vou pingar por tod...
Nós dois congelamos quando a campainha soa, paralisados
por um momento como se talvez tenhamos imaginado. Mas
então toca de novo e é como se um interruptor tivesse sido
acionado, Aiden saindo de mim com um silvo e estremecendo
enquanto nós dois arrumamos iguais loucos para fazer parecer
que não acabamos de transar na bancada da cozinha.
Aiden me dá um olhar exausto enquanto puxa sua calça de
moletom.
— Você está esperando alguém?
— Não — eu zombo, ajeitando minha calcinha. — Você
está?
— Não faço ideia de quem possa ser.
— Talvez seja o carteiro.
— Bem, deixe-me... — Ele puxa a camisa do cós de seu
moletom onde está dobrada para dentro. — Então eu vou...
— Porra. — Eu faço uma careta. — Estou vazando.
Aiden faz uma pausa no que está fazendo.
— Eu não deveria ficar excitado com isso, certo?
— Não agora, você não deveria. — Eu bufo, acenando para
ele. — Vá abrir a porta enquanto eu uso o banheiro.
— Dê-me um segundo, e eu irei ajudá-la a se limpar — diz
ele com um sorriso malicioso.
— Vai — eu rio.
Ele se vira para descer as escadas correndo quando a
campainha toca novamente, e eu sigo na direção oposta para
me enfiar no lavabo ao lado da cozinha. Eu fecho a porta atrás
de mim e solto um suspiro pesado, uma risada perseguindo-o
enquanto a adrenalina corre através de mim. Eu sei que há um
andar inteiro e uma porta da frente entre onde estávamos e
quem está esperando na varanda da frente, mas a maneira como
meu coração pulou na garganta quando a campainha tocou
parecia que eu realmente tinha sido pega, e todo o meu corpo
ainda está vibrando com energia da surpresa disso.
Eu me limpo rapidamente antes que Aiden possa vir atrás
de mim e cumprir sua promessa de "ajudar" – já fui exposta o
suficiente por um dia, obrigada – ainda rindo baixinho
enquanto lavo e seco minhas mãos antes de voltar para o
corredor. Eu percorro cerca de um metro e meio antes de ouvir
a voz dela, meu riso morrendo na minha língua enquanto a
mesma adrenalina rasteja de volta para dentro, só que mais
sombria, tentando afastá-la enquanto me lembro de que não
tem como ela ter alguma ideia do que estávamos fazendo.
Eu vejo o rosto que combina com a voz quando volto para
a cozinha, Iris está sentada em um lado do sofá na sala de estar
enquanto Aiden se senta tenso na cadeira em frente a ela. Ela
olha para cima quando me vê, dando um sorriso pequeno, mas
perceptível, e isso é um bom sinal, certo?
— Ei — cumprimento-a, mantendo meu tom casual. —
Quando você chegou aqui?
— Só agora — ela responde.
— Oh, desculpe. — Eu tento dar um sorriso. — Eu estava
na lavanderia. Nem ouvi a campainha tocar.
Não perco a maneira como os olhos de Iris se movem entre
Aiden e eu, mas faço o possível para ignorar.
Não tem como ela saber.
Seus olhos cortaram para Aiden.
— Fiquei surpresa por vocês dois estarem aqui. Você não vai
para a academia de manhã?
— Oh. — Aiden dá de ombros com indiferença. — Não
todos os dias.
Deus. Nós não somos bons em ser sutis.
Eu caminho sobre os ladrilhos da cozinha até a geladeira,
abrindo-a para pegar uma garrafa de água.
— Você queria alguma coisa, Iris?
— Não, obrigada — ela diz. — Na verdade... apenas vim ver
você.
Eu paro na geladeira.
— Eu?
— Sim. — Ela quase parece envergonhada. — Apenas me
lembrei de nós duas conversando outro dia no carro... sobre
aquelas fotos?
— Oh! — Fecho a porta da geladeira apressadamente. —
Certo! As de você, Sophie e a mãe dela?
— Isso... — Ela enfia a mão na bolsa, vasculhando por um
momento antes de tirar um envelope grosso com fotos. — Pedi
algumas impressões de um monte de fotos aleatórias no meu
telefone. — Ela o segura desajeitadamente por um momento
enquanto faço meu caminho para a sala antes de finalmente
virar um pouco para oferecê-lo a Aiden. — E para você
também, eu acho. Não sei. Você pode não querer tantas.
— Não, isso foi muito doce — eu digo, estendendo a mão
para pegar o envelope de Aiden, que ainda parece um pouco
atordoado. Abro a aba e me deparo com uma Sophie muito
menor e com mais dentes, suas bochechas redondas enquanto
uma linda mulher a abraça por trás. — Oh meu Deus. Olhe
para a bebê Sophie. Ela era uma bonequinha. — Faço uma
pausa, percebendo que Iris me observa. — Rebecca era linda.
— Ela era — Iris concorda.
— Oh, merda, desculpe. — Entrego o envelope de volta
para Aiden, lembrando de mim mesma.
Ele o pega cautelosamente, ainda parecendo um pouco
desnorteado.
— Isso foi... muito legal da sua parte, Iris.
— Eu posso ser legal — diz ela secamente. Seus lábios se
apertam antes de ela acrescentar: — Às vezes.
Aiden realmente ri, balançando a cabeça.
— Sim, eu acho que sim.
— Sério, obrigada por trazê-las — digo.
Iris dá de ombros.
— Eu tinha tempo e estava na vizinhança. Não é grande
coisa.
— Certo — eu digo com um sorriso. — Bem, tenho certeza
que Sophie vai adorar vê-las.
Os olhos de Iris suavizam, seus lábios se curvam levemente.
— Espero que sim.
— Sabe, você poderia...
Sou interrompida pelo toque de um celular, e Aiden leva
alguns segundos para reconhecer que é dele.
— Oh. Desculpe. — Ele se levanta da cadeira, indo até a
cozinha para pegá-lo na bancada, onde deve tê-lo jogado antes.
Ele franze a testa para a tela antes de nos lançar um olhar de
desculpas. — É do trabalho. Vou atender em outro cômodo.
Eu aceno de volta para ele antes que ele desapareça no
corredor, presumivelmente em direção à lavanderia, quase
esquecendo minha linha de pensamento antes de meus olhos
caírem no envelope de fotos que Aiden deixou em sua cadeira.
Atravesso a sala para me acomodar, pego o envelope e olho para
dentro para folhear as fotos.
— Então — tento novamente. — Eu ia dizer que você
poderia voltar depois da escola. Quando Sophie estiver em casa.
— Eu espreito para avaliar sua expressão. — Se você quiser.
Eu me pergunto se algum dia Iris não será pega de surpresa
por eu tentar incluí-la.
— Sério?
— Aiden estará no trabalho, então geralmente comemos
algo simples no jantar, mas você é bem-vinda a se juntar a nós.
Podíamos ver as fotos? Tenho certeza de que Sophie adoraria
ter você junto para contar a ela sobre as que ela era muito jovem
para se lembrar.
— Isso seria... — Ela para, seus olhos procurando meu rosto
em transe antes de engolir. — Isso seria ótimo, na verdade.
— Bom. — Abro um sorriso para ela. — Sophie e eu
geralmente voltamos por volta das quatro horas... e o jantar
costuma ser entre as cinco e as seis... então, quando você quiser
passar por aqui.
— Parece ótimo — ela diz novamente, ainda parecendo que
está processando o que está acontecendo.
Eu aceno.
— Maravilha.
Há um momento em que nós duas apenas ficamos sentadas
em silêncio – eu segurando o envelope e Iris olhando para mim
como se estivesse tentando descobrir alguma coisa, mas depois
de um minuto, talvez, ela balança a cabeça como se estivesse
clareando a mente, fazendo um movimento para se levantar.
— É melhor eu ir para o trabalho — diz ela apressadamente.
Sua voz é mais grossa do que era um momento atrás. — Eu
provavelmente posso estar aqui por volta das seis, no entanto,
se estiver tudo bem.
— Perfeito — eu digo a ela. — Sophie vai ficar tão feliz.
Iris olha para mim depois de pegar sua bolsa, um pequeno e
cauteloso sorriso em sua boca.
— Eu também.
— Perfeito. — Percebo que estou apenas sorrindo como
uma idiota e me levanto da cadeira. — Oh, deixe-me levá-la até
a porta.
— Não, está tudo bem. — Iris acena para mim. — Eu sei
onde fica. — Ela arrasta o peso de um pé para o outro. — Mas
eu... vejo vocês mais tarde.
Minhas pequenas vitórias parecem estar empilhadas uma
em cima da outra para se tornarem grandes, mas digo a mim
mesma que é muito cedo para ficar animada. Iris é como uma
corça. Você tem que ter cuidado com ela.
Ela me dá um adeus apressado antes de descer correndo as
escadas, e eu não me acomodo na poltrona para começar a
folhear as fotos até que ouço a porta fechar atrás dela. Eu nem
percebo que ainda estou sorrindo.
— Iris foi embora?
Eu me viro para ver Aiden voltando para a sala, e eu aceno.
— Agora mesmo. — Eu ergo meu queixo presunçosamente.
— Mas ela voltará para o jantar.
— Sério? — Aiden zomba enquanto balança a cabeça. —
Como diabos você se tornou a melhor amiga de Iris em um
mês, quando estamos batendo de frente há um ano?
— Me disseram que sou muito charmosa.
Seus lábios se contraem.
— É mesmo?
— De que outra forma eu poderia seduzir um cozinheiro
profissional?
Ele abre um sorriso largo, revirando os olhos.
— Espero que isso não seja algum tipo de golpe a longo
prazo. Posso acordar sem um rim e descobrir que Cassie nem é
seu nome verdadeiro.
É uma piada, e eu sei disso, mas aparentemente é o suficiente
para tudo voltar. Com toda a excitação, me deixei empurrar de
lado completamente todas as minhas preocupações desta
manhã, deixei-me envolver no toque de Aiden mais uma vez
sem contar contar a verdade.
E agora estamos sozinhos de novo, e estou sem desculpas.
Se ele percebe a mudança no meu humor, ele não diz
imediatamente, puxando o telefone do bolso e verificando a
hora enquanto meu sorriso vacila.
— A propósito, Aiden, eu queria...
— Merda — ele murmura. — É melhor eu me apressar.
Eu pisco.
— O quê?
— Foi uma ligação do trabalho — ele suspira. — Algum
tipo de desastre relacionado ao forno aconteceu durante a
preparação. Eu tenho que ir ver qual é o dano.
— Oh... que pena.
Tente soar mais desapontada. Não deixe tão óbvio que você
está aliviada.
— Eu sei. — Ele se arrasta para se inclinar, afastando meu
cabelo do meu rosto antes de pressionar seus lábios na minha
testa. — Estou começando a me arrepender da minha carreira.
— Mas você adora ser um cozinheiro — eu digo seriamente.
Isso só o faz sorrir mais.
— Um dia desses, vou fazer você se arrepender de todas as
provocações.
— Eu sei bem — eu rio.
Ainda está lá, aquela preocupação no estômago que vem
com o conhecimento de que eu deveria estar abrindo minha
boca agora, mas eu acalmo minha culpa com o raciocínio de
que seria uma má ideia abordar esta conversa quando ele está
com um pé fora da porta. Algo assim levará mais tempo para
ser resolvido, digo a mim mesma. É melhor esperar.
Embora se isso é para o benefício dele ou meu, não posso ter
certeza.
— Oh. O que você ia dizer?
— Nada — eu digo depois de um momento, tentando não
soar como se eu não estivesse afundando de volta em uma
piscina infinita de ansiedade. — Eu só estava me perguntando
quando você estaria em casa hoje à noite.
— Espero que não muito tarde. — Ele se abaixa, seus lábios
pairando perto dos meus pouco antes de me beijar. — Saber
que você está esperando por mim acordada vai tornar a noite
mais suportável.
Não seria, eu acho. Não se você soubesse a bomba que vou
jogar em você.
— Eu estarei aqui — murmuro de volta.
Ele dá outro beijo rápido na minha boca, como se ele não
pudesse se conter.
— Eu vou me trocar.
— Ok.
Eu não expiro até que ouço seus passos subindo as escadas,
deixando um caldeirão de emoções que são partes iguais de
nosso presente e nosso passado e tudo mais. Estou percebendo
agora que quanto mais tempo espero para contar tudo a Aiden,
significa apenas mais tempo lutando contra a ansiedade que
vem com isso, sabendo que tenho horas pela frente me
sentindo assim antes de descobrir se Aiden vai me ouvir ou me
expulsar de casa assim que souber o que tenho a dizer. E agora
acrescentei uma visita da tia, que está apenas começando a gostar
de mim, percebo que terei de guardar tudo isso até que ela vá
embora.
Eu afundo na cadeira com um suspiro.
Não são nem dez da manhã e já estou precisando de uma
bebida.
Bate papo com @alacarte

Bem, se você quiser ouvir algo


REALMENTE louco... às vezes fico
com ciúmes de todos que te
assistem.

Você acha que isso é mais estranho


do que eu ficar animada sempre
que é apenas nós?

Posso ser tendencioso, mas não


acho nada estranho.

Você sabia que você é a única


pessoa a quem mostrei minha
cicatriz? Isso faz você se sentir
melhor?

É um começo. Ser o único a ver


você nua seria um avanço.
Capítulo 19
Cassie

Fingir que eu estava bem com Sophie e Iris esta noite foi uma
verdadeira luta. Sophie felizmente se aproximou de uma garota
que estava interessada sobre sua viagem de aniversário para a
Disney, então repassar cada faceta dessa conversa foi o foco
principal de Sophie durante a maior parte da noite. Fiquei
genuinamente feliz em saber que ela pôde fazer uma amiga e, se
eu não estivesse tão nervosa com o que teria de fazer quando o
pai dela chegasse em casa, poderia até ter sugerido levá-la para
comemorar. Depois, tiveram as fotos e, como Iris foi quem
contou todas as memórias anexadas a cada foto, pude apenas
sentar perto e ouvir Iris se lembrar de tudo.
Foi uma boa noite, fora do meu tumulto interior. É uma
coisa que eu poderia me ver fazendo mais vezes, ter Iris nos
visitando.
Bem, se eu conseguir me sair bem dessa. Pode ser minha
última noite aqui, pelo que sei.
Não pense assim. Ainda há uma chance de dar certo.
Tenho feito tarefas para me manter ocupada desde que
Sophie foi para a cama, percebendo depois que entrei no portal
da faculdade que deixei ficar muito mais atividades para trás do
que pretendia na última semana. E como se eu não tivesse
experimentado estresse suficiente hoje, até perdi
completamente um prazo, o que significa que agora tenho
minha primeira nota de reprovação. Eu sei que uma tarefa
perdida não vai me expulsar do programa nem nada, mas com
certeza não ajuda em meu humor atual.
Eu peguei aquela bebida; tive que esperar que Sophie
desmaiasse completamente para pegá-la, mas a taça muito
grande de vinho da garrafa que não consigo pronunciar o
nome, que parece valer mais do que recebo em uma semana,
ajuda a aliviar. Eu roubei da geladeira de vinho de Aiden, então
se esta noite der errado, isso pode ser outro prego no meu
caixão. Mas não me impede de beber.
Durante a última hora, estive observando a porta da frente
do sofá perto da escada, onde estou descansando com meu
notebook, cada carro que passa do lado de fora me faz remexer
enquanto me pergunto quando Aiden chegará em casa.
Estou vestindo a mesma blusa rosa que nos causou
problemas algumas vezes; provavelmente é trapaça tentar
despertar memórias de, bem, excitação em um momento como
este – mas acho que usar todas as armas que puder a meu favor
não fará mal. Como se Aiden, de alguma forma, fosse ficar tão
distraído com meus peitos que esqueceria que eu menti para ele
por semanas.
Não mentindo, meu cérebro corrige. É apenas uma omissão.
Porque tem uma grande diferença.
Tomo outro gole lento de vinho, deixando-o borbulhar em
minha boca por um segundo antes de engolir. É seco e um
pouco amargo, mas o gosto ajuda a me manter acordada. A tela
do meu notebook está começando a ficar borrada enquanto
meus olhos queimam de cansaço, e eu os esfrego com os dedos
à medida que reprimo um bocejo. Você pensaria que com essa
ansiedade toda eu estaria bem acordada, mas parece estar tendo
o efeito oposto. Eu estive tão preocupada hoje que meu corpo
parece estar se revoltando. Eu acho que todas as noites que
passei com Aiden recentemente não ajudaram exatamente a
situação, também, mas não consigo encontrar forças para
reclamar sobre isso.
Fecho meu notebook e o coloco ao meu lado antes de
colocar minha taça na mesinha lateral próxima. Eu estico meus
braços acima da minha cabeça depois, meu pescoço estala
quando eu o viro para um lado e para o outro. Meu telefone
marca pouco depois das onze da noite, e sei que Aiden pode
entrar pela porta a qualquer momento.
Deus, talvez eu devesse ter ligado para Wanda.
Ela provavelmente saberia a coisa perfeita a dizer. Isso, ou
ela teria apenas me dito para tirar minha camisa como mais uma
distração. Poderia ter acontecido de uma das duas maneiras. Ela
provavelmente ficaria orgulhosa de mim por usar o sutiã mais
fino que possuo esta noite. Eu por outro lado... Sim. Ainda
parece trapaça.
Suspiro enquanto pego minha taça de vinho novamente,
segurando-a perto da boca enquanto olho para o corrimão que
contorna a escada, me perdendo em meus próprios
pensamentos e contemplando o pior resultado possível.
Sempre pensei que, se você espera decepção, nunca ficará
desapontado, então talvez seja por isso que estou imaginando
como seria o pior final.
Na pior das hipóteses, Aiden me diz que não se sente
confortável em me manter como babá, muito menos como
sua... o que quer que eu seja para ele. (O patético é que só agora
estou percebendo que nem mesmo definimos o que diabos
somos.) Na pior das hipóteses, Aiden vai me dizer que
precisarei arrumar minhas coisas amanhã, ele vai me escrever
um bom cheque de indenização (ele parece ser o tipo), e então
ele vai me escoltar para fora de sua casa e de sua vida. Pela
segunda vez.
Não seja dramática. Ele nem sabia seu nome antes.
Balanço a cabeça enquanto levo a taça aos lábios novamente,
fechando os olhos enquanto a inclino para trás para tentar
engolir o último gole do líquido vermelho. No momento, eu
não estou realmente bêbada; quase não estou nem um pouco
alterada, então não sei dizer por que escolheria esse momento
para ser desajeitada. Talvez seja o nervosismo, ou talvez seja
apenas o estresse esmagador que tenho sofrido nos últimos
dias... Não sei. Independentemente disso, minha taça escolhe
este momento para errar minha boca, o resto do vinho
pingando sobre meu lábio inferior e derramando na frente da
minha camisa.
— Merda.
O dano está feito; aparentemente havia muito mais vinho na
taça do que eu imaginava. (Por que eu tive que escolher a maior
do armário?) Minha camisa está encharcada dos seios ao
umbigo e, quando me levanto rapidamente para evitar que caia
no sofá, percebo que estou pingando no azulejo.
— Ótimo — murmuro, virando-me para colocar minha
taça de volta na mesa lateral. — Perfeito.
Eu passo minha blusa sobre minha cabeça antes que eu
possa pensar duas vezes, e não é até que eu estou de joelhos
limpando o pouco de vinho que pingou no chão que toda a
hilaridade desta situação me atinge. Não foi exatamente assim
que encontrei Aiden naquela noite em que esperei por ele? Ele
chamou de ideia estúpida antes. Que maldito par nós
formamos.
Estou girando o pano encharcado no azulejo, mesmo
enquanto meus seios e barriga ainda estão úmidos com gotas
persistentes de vinho, amaldiçoando minha sorte à medida que
limpo minha bagunça para que eu possa me trocar antes que
Aiden chegue em casa.
Mas minha sorte em encontrar Aiden se provou ser uma
merda no passado, e agora não é exceção. Ouvir as chaves na
porta naquele momento me deixa muito atordoada para me
mover, congelada em minhas mãos e joelhos com a boca aberta
e uma camisa manchada de vinho em minhas mãos. Ele entra
como sempre faz, pendurando as chaves no gancho e tirando
os sapatos na porta, e leva um segundo para me notar ali,
olhando boquiaberta para ele.
— Cassie?
De repente, esqueço como falar, ainda olhando para ele. O
ar frio nas minhas costas parece uma coisa assustadora agora.
Ele dá um passo mais perto.
— O que aconteceu?
— Eu derramei meu vinho — consigo dizer, empurrando
para cima para que eu esteja de joelhos para manter minhas
costas escondidas dele. — Caiu na minha blusa.
— Uau — ele ri. — E seu primeiro instinto foi tirá-la? Acho
que você tem passado muito tempo comigo.
Quanto mais perto ele chega, mais pânico eu sinto, e luto
para ficar de pé o mais rápido que posso enquanto ele diminui
a distância entre nós. Ele ainda está sorrindo para mim
enquanto passa um dedo sobre a pele úmida dos meus seios, e
minha voz fica presa na garganta enquanto não penso em nada
além de escapar.
Não era assim que eu queria contar a ele.
— Eu deveria ir buscar outra camisa — eu tento, me
afastando dele.
Os braços de Aiden me envolvem, me puxando contra ele.
— Só para que eu possa tirá-la de você de novo?
— Ah, eu...
Meu coração está martelando em minhas costelas, tão alto
que me pergunto se ele pode ouvi-lo. É a primeira vez que fico
sem camisa com ele sem estar deitada de costas ou em cima dele,
com total controle. Algo que eu não sinto que tenho agora.
Controle. Seus dedos estão deslizando pela minha espinha para
subir mais alto, e a cada centímetro eu acho mais difícil respirar.
— Aiden, preciso falar com você.
Ele cantarola baixinho, curvando-se para deixar seus lábios
contornarem minha mandíbula.
— Sobre?
— É que — ele torna difícil pensar quando beija meu
pescoço assim — tem algo que eu queria dizer a você.
Suas mãos estão tão perto agora, e sei que a qualquer
segundo ele vai sentir, e então não terei chance de falar aos
poucos como planejei. Eu trago minhas mãos entre nós para
pressionar contra seu peito suavemente, lutando entre querer
trazê-lo para mais perto e saber que eu deveria afastá-lo.
— Aiden, eu...
Porra.
Eu posso sentir, quando ele fica parado. É curioso no
começo, seu toque – as pontas dos dedos traçando a borda da
minha cicatriz como se ele não tivesse descoberto o que é. Sinto
sua mão achatar toda a forma dela, sem dúvida sentindo a
diferença de textura entre minha cicatriz e o resto da minha
pele.
— Cassie, o que...?
Eu me afasto dele então, olhando para os meus pés, já que
estou tendo dificuldade em olhar para ele. Eu sei que pode ser
agora, que depois disso ele pode nunca mais sorrir para mim, e
por que isso parece tão devastador de repente? Nós nos
conhecemos há pouco tempo, cedemos a esses impulsos por
apenas algumas semanas – então por que parece que isso pode
ser o fim de algo importante?
— Eu deveria ter contado a você assim que percebi —
murmuro baixinho para o chão. — Eu não... No começo eu
não sabia como, e estava com medo de perder meu emprego, e
sei que deveria ter dito algo depois que fizemos sexo, mas eu
simplesmente... É horrível, eu sei, mas eu estava com tanto
medo de você desaparecer de novo, e me senti tão mal da
primeira vez, e eu percebo que tudo isso soa patético, mas...
— Ei.
Eu finalmente olho para ele então, sentindo suas mãos em
meus ombros enquanto ele aproxima seu rosto do meu.
— Cassie, do que você está falando?
Há uma confusão genuína em seus olhos que se mistura
com preocupação real, como se ele não tivesse ideia do que
estou falando. E por que ele faria? Eu mal estou fazendo
sentido. Posso sentir meus olhos ficando úmidos enquanto
sinto um medo genuíno pelo que quer que esteja para
acontecer, mas respiro fundo, sabendo que ainda é a coisa certa
a fazer.
Eu me viro lentamente, tentando manter minhas costas
retas para não parecer tão lamentável como me sinto, olhando
para a parede da alcova ao lado da escada enquanto espero que
ele diga alguma coisa. Demora segundos, ou talvez horas, não
tenho certeza, mas então sinto suas mãos na minha pele,
traçando novamente. Talvez ele esteja tentando encontrar a
memória. Talvez ele nem se lembre disso, e agora parece que
pode ser pior. Sendo um pontinho insignificante em seu radar
que ele nem se lembra.
Sua voz é incrivelmente suave quando ele finalmente diz
alguma coisa.
— Você estava fazendo o jantar.
Ele lembra. Eu não deveria estar animada que ele se lembra.
— Porque eu estava sozinha em casa — eu sussurro de volta.
— E você acidentalmente puxou a panela de água fervente
para cima de você.
Mal consigo me ouvir quando respondo:
— Não consegui sair do caminho a tempo. Caiu nas minhas
costas.
— Eu...
Estou tremendo, mas não acho que seja o ar-condicionado.
— Cassie, você...?
Eu só posso acenar com a cabeça.
Ele fica quieto novamente depois disso, impossivelmente
quieto. Eu quero olhar para ele, mas estou com muito medo.
Estou com muito medo de descobrir que olhar ele estará
usando quando eu fizer isso. Decepção? Raiva? Não sei o que
seria pior.
— Há quanto tempo você sabe?
Eu engulo.
— Desde que vi sua cicatriz.
— Então, o tempo todo que estivemos...
Eu aceno novamente.
— Jesus, Cassie. Como você pôde não me contar?
Fecho os olhos com força. Ele definitivamente parece
zangado.
— Eu estava com medo.
— Com medo de quê?
— É que... você desapareceu tão repentinamente naquela
época, e eu pensei… Deus. Acho que fui ingênua. Achei que
você realmente gostasse de mim e que realmente quisesse me
encontrar. Então, quando você apenas... desapareceu, eu só...
— Solto um suspiro trêmulo. — Eu não queria ter que passar
por isso de novo. Especialmente agora que eu... conheço você.
Seria muito pior agora.
— Você ia me contar em algum momento?
Meus olhos se abrem e não posso evitar, virando-me para
encará-lo para que ele possa ver a sinceridade em meu rosto.
— Sim! Eu ia te contar esta noite. Eu ia te contar hoje, na
verdade, mas aí você... hum, me distraiu, e teve toda aquela
merda com Iris, e você tinha que ir trabalhar, e eu apenas pensei
que precisávamos ter uma conversa real sobre isso, e...
Fico quieta, finalmente percebendo sua expressão. É
nervosa, com certeza, e confusa, com certeza, mas noto que não
há nada da emoção que eu mais temia ver.
Decepção.
Aiden não parece enojado ou chateado; claro, ele parece
estar bravo porque eu o deixei deitar na minha cama tantas
vezes sem dizer a verdade, mas de alguma forma não parece tão
terrível quanto eu pensei que seria.
— Sinto muito — eu digo baixinho. — Eu deveria ter te
contado antes.
Seus olhos ainda estão duros.
— Sim. Você deveria. Ainda não consigo acreditar que você
não contou.
— Eu sei. — Eu olho para os meus pés novamente. Eu ainda
estou seminua e coberta com a porra do vinho. Isso não poderia
ficar pior. — Eu sei. Desculpa.
Ainda estou olhando para os dedos dos pés enquanto espero
que ele diga alguma coisa, sentindo minha pulsação martelando
em meus ouvidos enquanto espero e vejo se Aiden vai escolher
tentar falar sobre isso comigo, ou se ele vai me pedir para ir
embora. Não tenho vergonha do meu passado e não vou deixar
ninguém me fazer sentir como se eu devesse ter, nem mesmo
Aiden – mas caramba, se não vai doer se ele não for quem eu
pensei que ele era, e tentar me fazer sentir assim. Então,
novamente, eu escondi coisas dele, então talvez ele tivesse
razão? Não sei. Está fazendo minha cabeça doer, e neste
momento, eu gostaria que ele acabasse com isso.
O que quer que "isso" seja.
Bate papo com @lovecici

Você não tem ideia do que eu faria


com você se pudesse realmente
tocá-la.

Eu tenho uma ideia.

Tem? Você tem alguma ideia de


como eu usaria essa sua linda
boceta?

Porra, A.

O que mais?
Capítulo 20
Aiden

Eu estou muito atordoado para dizer qualquer coisa. De tudo


que eu poderia ter imaginado encontrar ao voltar para casa, isso
não estava nem nas malditas possibilidades.
Sei que ela está esperando que eu abra a boca e diga alguma
coisa, olhando para o chão com uma derrota resignada, como
se já tivesse decidido que vou afastá-la por causa disso. Não
posso fingir que não estou com raiva por ela ter escondido de
mim, mas provavelmente não pelas razões que ela deve achar.
Eu simplesmente odeio a ideia de ela ter se colocado no inferno
de preocupação quando ela poderia ter sido honesta comigo.
Eu até entendo, eu acho, todas as razões pelas quais ela não o
fez. Depois de tanto tempo me perguntando para onde ela foi,
mesmo agora, eu também hesitaria em arriscar que ela
desaparecesse novamente?
Achei que você realmente gostasse de mim e que realmente
quisesse me encontrar.
Essa é a parte que está se destacando para mim. Todo esse
tempo presumi que fui eu quem havia entendido mal as coisas.
Ela passou todo esse tempo pensando a mesma coisa?
Eu não queria ter que passar por isso de novo. Especialmente
agora que eu... conheço você.
Ela se sentiu tão desapontada quando me afastei quanto
quando pensei que ela tinha feito o mesmo?
— Cassie, eu... — Eu me sinto um pouco mais calmo agora,
mas não menos atordoado. — Eu gostava de você. Eu queria te
encontrar.
Ela finalmente olha para mim, e eu odeio que seus olhos
estejam úmidos por minha causa.
— O quê?
— Eu não queria desaparecer — eu explico. — Quando
aconteceu... eu tinha acabado de descobrir que Rebecca
morreu. Aquele mês foi intenso. Eu estava preocupado com
Sophie, fazendo arranjos e tentando descobrir como
reestruturar toda a minha vida. Quando consegui colocar a
cabeça no lugar e respirar novamente, semanas se passaram sem
que eu percebesse. E quando voltei para me desculpar...
— Eu excluí minha conta — ela sussurra.
Eu aceno solenemente.
— Achei que eu tinha entendido errado.
Observo sua boca se abrindo de surpresa, todas as peças se
encaixando, e percebo que nada disso havia ocorrido a ela antes
deste momento. Que ela realmente passou a maior parte do ano
pensando que, depois de tudo o que dissemos, tudo tinha sido
momentâneo, afinal. Que eu nunca me importei com ela como
a fiz acreditar. Ela estava com tanto medo, que mesmo agora,
mesmo depois de eu não conseguir passar um dia sem tocá-la
ou sem estar perto dela, acha que eu a jogaria de lado.
Não posso evitar; é a pergunta que está em minha mente
desde que entrei no site novamente para descobrir que a conta
dela foi apagada.
— Para onde você foi?
— Eu...
Eu observo seus dentes morderem seu lábio enquanto suas
bochechas ficam vermelhas. Seus olhos se desviam como se ela
estivesse envergonhada.
— Eu não conseguia mais. Depois que você sumiu. Eu sei
que provavelmente é bobagem, mas... senti sua falta e pensei
que você tivesse sumido da face da terra, e eu simplesmente...
— Ela suga uma respiração, seus olhos ainda molhados. — Eu
não podia mais fazer aquilo.
Tudo parece surreal. A qualquer momento vou acordar na
minha cama e nada disso terá acontecido. Como é possível que
de todas as pessoas nesta cidade que poderiam ter respondido
ao meu anúncio, fosse ela? Que a pessoa de quem Sophie mais
precisava, também poderia ser a pessoa de quem eu mais
precisava, mesmo sem perceber?
— Eu entendo se você precisar que eu vá embora — diz
Cassie estoicamente, com os lábios tremendo. — Mas eu não
queria esconder isso de você assim. Eu só... não sabia como te
contar.
Talvez pedir a ela para ir embora seja a maneira mais sensata.
Talvez um homem mais racional me repreendesse por nem
mesmo considerar o pensamento. Mas, independentemente do
nosso estranho passado, nosso estranho presente e tudo mais, o
pensamento que mais me incomoda é Cassie saindo pela minha
porta e nunca mais voltando. Provavelmente não faz sentido
para mim me sentir assim; não sabemos nada um sobre o outro
que justifique que eu me sinta tão possessivo com ela, como se
não pudesse deixá-la ir, mas...
Isso não me impede de me sentir assim.
— Eu não… — digo a ela finalmente, minha voz grossa. —
Quero que você vá embora.
Seus olhos estão arregalados quando encontram os meus
novamente.
— Você não está bravo?
— Sim, eu estou — eu afirmo, e quando ela começa a
parecer desanimada novamente, acrescento — mas não porque
você manteve isso em segredo.
— O quê?
— Estou com raiva por você ter lidado com isso sozinha.
Estou com raiva que você passou todo esse tempo se
preocupando se eu iria afastá-la sem me dar a chance de te dizer
que de jeito nenhum eu vou deixar você sumir de novo.
Sua respiração prende, e ela parece tão doce neste momento;
seu cabelo está caindo de seu coque bagunçado em mechas ao
redor de seu rosto, sua boca está entreaberta de um jeito suave
e quieto que implora para eu beijá-la, e seus olhos – seus olhos
carregam tanto alívio que faz algo em meu peito doer.
Sou cuidadoso quando estendo a mão para ela,
aproximando-me como se ela fosse um animal assustado que
pode correr, e para todos os efeitos, ela ainda pode fazer isso.
Percebo que ela ainda está tremendo um pouco quando
minhas mãos seguram seu queixo, seus cílios tremulam e
fecham enquanto seus dedos envolvem meu punho. Talvez seja
imprudente da minha parte ficar tão feliz quanto estou por
saber que é ela – que a pessoa pela qual me encontro perdendo
todos os meus sentidos hoje é a mesma pessoa que me deixou
louco naquela época. Seus olhos estão fechados quando me
inclino, e posso sentir aquela leve umidade em seus cílios contra
minha bochecha quando meus lábios tocam os dela.
Ela tem um gosto doce. Como vinho e algo que é
inerentemente Cassie, e me pego puxando-a para mais perto
para tentar provar mais, algo que está se tornando um hábito
sempre que a toco. Como se não importasse o quanto eu tenha
dela, de alguma forma nunca é o suficiente.
Sinto seus dedos se esgueirando por baixo da minha camisa,
encontrando a pele em alto relevo perto do meu umbigo
enquanto ela brinca com a minha cicatriz. Isso me faz
estremecer, seu toque emparelhado com o conhecimento de
tudo ligado a essas marcas em nossos corpos – a compreensão
de tudo que eu disse a ela e tudo que eu vi dela caindo sobre
mim como uma onda. Quantas vezes eu desejei poder tocá-la
assim? Quantas vezes eu desejei poder descobrir se seus lábios
eram tão macios quanto pareciam?
Como é possível que depois de todo esse tempo eu
encontraria a resposta para todas essas perguntas de forma tão
inesperada?
Eu deveria levá-la para o quarto dela, eu sei disso, mas não
consigo parar de tocá-la por tempo suficiente para fazer isso.
Quase como se eu a soltasse por um segundo, ela poderia
escapar por entre meus dedos. Eu a empurro mais fundo na
alcova atrás da escada, minhas mãos em sua cintura, quadris e
em todos os outros lugares que posso alcançar enquanto sua
língua toca a minha me deixando um pouco frenético.
Eu inclino minha cabeça para descansar meus lábios em seu
ombro enquanto a incito a se virar, e há apenas uma pitada de
hesitação quando ela obedece, me dando as costas à medida que
suas mãos se apoiam contra a parede. Eu deixo minha boca
vagar, provocando a pele em alto relevo entre suas omoplatas
de uma forma que eu não tive a chance de fazer ainda. Eu a
sinto tremer enquanto minha língua traça a forma de sua
cicatriz, sua coluna curvando-se para dobrar na pressão
insistente da minha boca, mesmo quando meus dedos
encontram o fecho de seu sutiã para abri-lo. Suas costas nuas só
facilitam a exploração, e se eu não me sentisse tão inquieto
agora, talvez até seria algo que eu poderia passar a noite toda
fazendo. Digo a mim mesmo que terei tempo mais tarde.
Ela parece sem fôlego quando eu a viro para mim
novamente, me ajudando quando eu puxo seu sutiã e o deixo
cair no chão. Sua respiração é pesada e, por um segundo, fico
hipnotizado pela subida e descida de seus seios, como se me
implorassem para tocá-los. Eu seguro seu olhar quando me
inclino para deslizar meus lábios contra o inchaço, fechando os
olhos e me concentrando na batida de sua pulsação contra a
minha boca.
— Seu coração está batendo tão rápido.
Ela morde o lábio, passando os dedos pelo meu cabelo para
afastá-lo da minha testa.
— Você sabia que, em média, o coração das mulheres bate
mais rápido que o dos homens?
— Oh? — Meus lábios se curvam contra seu seio enquanto
deixo outro beijo ali, mais lambuzado desta vez para que eu
possa saboreá-la. — Snapple simplesmente nunca escutou o
meu quando estou tocando você.
Ela engasga quando envolvo minha boca em torno de seu
mamilo, e fico encantado com a forma como seus lábios rolam
juntos, a maneira como ela olha para mim com os olhos
semicerrados. Estou me perguntando se houve sinais que eu
deveria ter percebido; quantas vezes eu a observei gozando da
segurança do meu monitor? Parece que eu a vi de todas as
maneiras possíveis, todas aquelas noites, mas algo sobre o
tempo que passamos juntos parece diferente do que era
naquela época, e não posso deixar de me perguntar se é porque
sou eu a tocando, ao invés de ela mesma. Eu gostaria de me
iludir pensando assim.
Sua pele tem um gosto doce também, o sabor persistente do
vinho que ela derramou cobrindo minha língua enquanto eu a
deixo girar em torno de um bico tenso. Eu belisco o outro entre
meus dedos enquanto deixo uma mão deslizar por sua barriga,
passando por seu short para enfiar dentro de sua calcinha para
que eu possa ver como ela está molhada.
Porra, ela já está encharcada.
— É estranho?
Eu a libero fazendo um som molhado, inclinando minha
cabeça para cima para vê-la mais claramente.
— O quê?
— Não sei... com tudo o que aconteceu... — Ela solta uma
risada nervosa. — Quero dizer, teve... um monte de coisas que
você me pediu para fazer.
Meus lábios se inclinam quando pressiono meus dedos mais
profundamente entre suas pernas, curvando-os para deixá-los
deslizar para dentro dela enquanto sua boca forma um O
silencioso.
— Eu me lembro de tudo que eu pedi para você fazer,
Cassie.
— Mm. — Seus quadris se inclinam em direção à minha
mão enquanto seus olhos se fecham. — Eu gostava.
— Você gostou quando eu disse a você o que fazer?
Ela acena com a cabeça preguiçosamente.
— Mm-hmm.
— Eu posso fazer isso — eu digo meio rouco. — Por que
você não começa tirando isso?
Deixo meus dedos deslizarem para fora dela para agarrar a
frente de seus shorts, dando um puxão. Quando retiro minha
mão completamente, erguendo-me em toda a minha altura
para ver se ela vai obedecer, sinto uma emoção familiar
correndo por mim. Uma coisa era assistir do outro lado da tela
enquanto ela fazia tudo o que eu pedia, mas isso é diferente.
Esta não é uma mulher sem rosto por quem estou nutrindo
uma paixão imprudente, esta é Cassie – quente, suave, real.
Uma mulher que invade meus pensamentos cada vez mais a
cada dia que passa.
Observo enquanto ela estende a mão para rolar o short pelas
coxas, a calcinha indo junto com ele até que ela os chuta para
deixá-los cair no chão. Está mais escuro aqui neste canto, a luz
sobre a porta da frente não é suficiente para iluminá-la
completamente, mas posso distinguir cada suave ondulação e
curva, desde a plenitude de seus seios até a leve inclinação de
sua barriga e a redondeza de seus quadris que fazem minhas
palmas se contraírem com a necessidade de tocá-los. A cor
rosada de seus lábios combina com os pontos firmes de seus
mamilos, e eu sei por experiência que ambos complementam o
lindo rosa entre suas pernas.
Tudo sobre Cassie parece ser projetado para me deixar
louco.
— Não acredito que passei todo esse tempo me
perguntando — meus dedos roçam o topo de suas coxas
enquanto ela estremece, e deslizo meus dedos entre elas,
curvando minha mão e arrastando-a para cima — como seria
tocar em você. — Seus lábios se abrem em um suspiro
silencioso quando meus dedos deslizam para frente e para trás
entre suas dobras molhadas, e posso sentir meu pau
pressionando insistentemente contra o meu zíper. — Eu não
fazia ideia de como a realidade seria muito melhor.
— Aiden — ela suspira, seus dedos finos provocando a
frente do meu jeans. — Tire isso.
— Aqui? — Empurro mais fundo, sentindo-a apertar meus
dedos. — Você quer que eu te foda aqui?
Seu dedo enfiou na minha cintura, puxando
insistentemente.
— Aiden.
Parece que estamos em um momento diferente no tempo,
em que ela está esperando que eu dê uma deixa, como se a única
coisa que importasse fosse o que eu estou prestes a pedir a ela.
Isso me faz sentir inebriante e um pouco fora de mim.
Ela me aperta através do jeans, e eu assobio por entre os
dentes.
— Porra.
— Eu gosto quando você xinga — ela diz com uma risada
ofegante.
— Gosta?
Ela acena com a cabeça.
— Sério. — Eu continuo bombeando meus dedos para
dentro e fora dela, apoiando minha outra mão em sua cabeça
enquanto a vejo me tocar. — Você quer meu pau, Cassie?
Há um arrepio perceptível que passa por ela, e ela mal
consegue dar um aceno trêmulo.
Eu inclino meus quadris ainda mais em sua mão.
— Bem.
Ela morde o lábio enquanto abre meu zíper, estendendo as
duas mãos para abaixar minha calça antes de provocar a minha
extensão através da minha cueca boxer. Eu tenho que fechar
meus olhos quando ela me puxa para fora, suas mãos quentes e
macias enquanto ela arrasta o punho da base à ponta. Ela fica
na ponta dos pés para deixar seus lábios roçarem os meus,
acariciando-me em um vai e vem lento que está me deixando
louco.
— Me diga o que você quer que eu faça — ela murmura em
minha boca. — Você sabe que eu farei o que você quiser.
Ela está deslizando para o passado comigo agora,
sussurrando coisas que eu não ouvia desde que ela as disse em
um quarto escuro com o rosto escondido. Apenas ouvir é quase
o suficiente para me fazer gozar em sua mão, mas não é isso que
eu quero.
— Coloque seus braços em volta do meu pescoço —
lamento a perda de sua mão no meu pau quando ela obedece
imediatamente, mas sei que dentro dela vai ser muito melhor.
— Segure-se em mim.
Ela faz o que eu peço, e eu deslizo minha mão entre suas
coxas para agarrá-la pelos quadris, levantando-a contra mim e
pressionando-a contra a parede enquanto ela envolve as pernas
em volta da minha cintura. Estamos perto o suficiente para que
meu pau se encaixe entre suas pernas, cobrindo-me com seu
calor escorregadio enquanto inclino meus quadris apenas o
suficiente para senti-la. Eu a prendo contra a parede e sussurro
para ela segurar firme, alcançando minhas costas para puxar
minha camiseta antes que eu a jogue no chão. Seus braços estão
imediatamente de volta para segurar meu pescoço, e quase
preciso de nada para me inclinar o suficiente para deslizar para
dentro dela.
Ela faz um som, algo entre um choramingo e um gemido, e
eu me inclino para mais perto para deixar meus lábios
sussurrarem em seu ouvido:
— Shh. — Eu a ajusto para que eu possa empurrar mais
fundo. — Você tem que ficar quieta, lembra? Seja boa.
— Sim… Oh. — Seus calcanhares cavam em minha bunda,
seus dedos enfiados em meu cabelo. — Eu prometo. — Ela está
sussurrando agora como se para provar seu ponto. —
Continua.
Leva apenas um leve movimento para entrar
completamente dentro dela, seus quadris alinhados com os
meus enquanto ela treme. Eu tenho que tomar um momento
para me recompor para que eu não goze imediatamente dentro
dela – é sempre um perigo, por melhor que ela seja – deixando
minha testa cair em seu ombro enquanto eu a seguro com
minhas mãos em seus quadris.
— Você não acreditaria o quanto eu pensei sobre isso — eu
bufo. — Eu queria tanto tocar em você, Cassie. Antes... agora...
sempre, porra.
Ela beija meu pescoço, sua língua lambendo depois.
— Você pode me tocar quando quiser.
— Sim? — Inclino minha cabeça para trás para olhar para
ela. Minhas mãos deslizam para segurar sua bunda, deslizando
para fora dela apenas para empurrar de volta. — Quando eu
quiser?
— Sim — ela sussurra.
Eu a levanto para puxá-la para longe de mim, o suficiente
para que eu esteja apenas um pouco dentro dela antes de deixá-
la cair de volta.
— Bem assim?
— Ah. — Sua cabeça cai para trás contra a parede. — O que
você quiser.
— Eu só — grunho enquanto a puxo para cima e para baixo
em meu pau com mais força — quero você.
— Assim — Cassie ofega. — Mmm.
— Você consegue gozar assim? Me diga o que você precisa.
— Eu acho... Se você...
Ela arqueia para se inclinar contra a parede, tanto que tenho
que segurar seus quadris com mais força para mantê-la ereta.
Isso significa que toda vez que eu a penetro, eu bato naquele
lugar que a faz ofegar, seu corpo se sacudindo a cada batida de
meus quadris e suas pernas apertando ainda mais minha
cintura.
— Bem aí — ela geme, lutando para manter a voz baixa
agora. — Ah, não pare.
Como se isso fosse realmente uma opção agora.
Eu posso sentir suas unhas cavando em meus ombros,
fundo o suficiente para deixar uma marca, mas a dor mal é
registrada pelo jeito que ela começou a ficar tensa. Eu posso
ouvir os estalos nos dedos dos pés e sentir o tremor de seu
corpo, evidência de que ela está chegando ao limite. É difícil
abaixar minha cabeça para que eu possa chupar a curva suave
de seus seios, mas preciso de minha boca nela, onde quer que
eu consiga alcançar. Sinto aquela pressão crescendo
profundamente enquanto eu empurro para dentro dela de
novo e de novo e de novo, minhas pernas fracas e meu pulso
latejando sob cada centímetro da minha pele.
— Cassie, eu... Porra.
Eu a seguro perto enquanto estremecemos, sua respiração
quente contra minha orelha enquanto eu enterro meu rosto em
seu pescoço. Meus dentes afundam na pele flexível na curva de
seu pescoço para abafar meu gemido, e ela pressiona beijos
febris contra minha mandíbula enquanto tento descer da
euforia. Eu a seguro perto durante tudo isso, incapaz de soltá-
la. Só me ocorre que ainda a estou segurando com força,
enterrado dentro dela, quando sinto seus dedos passando pelo
meu cabelo enquanto ela acaricia meu ombro com círculos
suaves.
Quando eu finalmente me afasto para olhar para ela, a
sensação que me dá ao vê-la devassa, desarrumada e satisfeita,
sorrindo para mim como se eu tivesse dado a ela um maldito
presente, é indescritível.
— Por favor, considere deixar uma gorjeta — ela sussurra.
Eu solto uma risada, atordoado com a ideia de que isso está
acontecendo, que ela está aqui e que tantas coisas se juntaram
para nos colocar de novo na vida um do outro. Ainda parece
que pode ser um sonho, e talvez eu realmente me preocupasse
que fosse, se ela não estivesse tão quente e tão real em meus
braços. Fico imaginando quantos dias precisaremos passar
juntos para que seja socialmente aceitável alimentar a ideia de
que eu possa estar perdido por causa dessa mulher. Certamente
mais do que passamos, eu acho.
E o que é ainda mais inacreditável é que mesmo agora,
mesmo tendo acabado de ter ela... eu já a quero de novo.
— Quantas horas de sono você precisa?
Ela levanta uma sobrancelha para mim.
— Sério? De novo?
— Você pediu uma gorjeta — eu digo seriamente.
Sua boca se abre quando ela bate no meu ombro, mas seus
olhos dizem que ela está mais do que feliz em sacrificar suas oito
horas de sono. Sei razoavelmente que em algum momento terei
que deixá-la dormir; eu estou ciente disso.
Mas isso não vai acontecer tão cedo.
Bate papo com @alacarte

@alacarte
te enviou uma gorjeta de $100

Eu queria estar gastando isso para


levar você para sair. O quão cafona
isso é?
Aviso de gatilho
Spoiler: o BWC alerta que no próximo capítulo há uma cena
com sexo oral em que um dos personagens está desacordado em
que não há acordo prévio de consentimento. Caso você não se
sinta confortável, sugerimos que pule a cena.
Capítulo 21
Cassie

Quando percebo a luz do sol em meu rosto no início da manhã,


minha primeira reação é de pânico. Eu sento na minha cama,
sentindo Aiden se mexer ao meu lado enquanto eu caço pelo
meu celular na mesa de cabeceira.
São logo depois das sete horas. Ufa.
Sophie normalmente não sai da cama antes das oito e meia,
pelo menos. Especialmente nos fins de semana. Ainda assim,
tenho que ir para a faculdade hoje, e já que as atividades
noturnas minhas e de Aiden me impediram de lembrar de
ajustar meu alarme, estou uns bons vinte minutos atrasada. Eu
bocejo enquanto coloco de volta meu telefone onde o
encontrei, rolando meus ombros e me alongando enquanto
tento despertar totalmente. Aposto que só dormimos quatro
ou cinco horas na noite passada e estou com músculos
doloridos que nem sabia que existiam até hoje, mas ainda assim.
Ver Aiden esparramado na minha cama, o cabelo caindo sobre
os olhos e a boca entreaberta suavemente durante o sono – eu
diria que valeu a pena.
A noite passada foi de imensa surpresa e alívio; eu estava tão
convencida de que Aiden me pediria para ir embora que sua
compreensão me deixou desnorteada. E o que é ainda mais
notável é a sua aparente felicidade em saber quem eu sou, quem
nós somos. É como se um peso enorme tivesse sido tirado dos
meus ombros, sabendo que não há mais segredos entre nós.
Parece agora que talvez possamos realmente dar uma chance
real a essa coisa. Se é isso que Aiden quer, será. Estou bem ciente
de que em nosso desejo frenético logo após a sua descoberta
ontem à noite, Aiden e eu não tivemos a chance de conversar.
Isso é algo que acho que precisaremos fazer em algum
momento. Eu me sentiria muito melhor ouvindo que não sou
a única que está investindo nessa coisa entre nós além do
aspecto físico.
Eu sei que ainda estou atrasada e que deveria estar pulando
no chuveiro, mas me sinto gananciosa com ele ao meu lado
como ele está. Seu corpo parece muito grande para o meu
colchão queen size, um de seus braços grossos pendurados
acima de sua cabeça e o outro descansando em seu estômago
sobre os lençóis, que estão emaranhados em torno de seus
quadris. Há coisas mais fáceis de notar à luz forte da manhã que
não fui capaz de apreciar durante nossos habituais encontros
tardios – coisas como o leve punhado de cabelo em seu peito
que é mais claro do que em sua cabeça. Eu deixo meus dedos os
acariciarem cuidadosamente enquanto ele se mexe, não o
suficiente para acordar, mas o suficiente para mover seu corpo
para que o lençol deslize ainda mais de sua cintura, deixando-o
quase nu.
E definitivamente não estou reclamando disso.
Eu verifico a hora no meu telefone novamente, analisando
minhas opções antes de dizer a mim mesma que shampoo a seco
existe por uma razão. Claro, provavelmente não o inventaram
com o único propósito de fazer sexo, no início da manhã, com
seu cavaleiro de armadura brilhante perdido há muito tempo,
mas tanto faz. Eu sou cuidadosa enquanto me arrasto ao lado
dele, traçando levemente a metade inferior de sua cicatriz, que
aparece por baixo de seu braço. Eu me inclino para pressionar
meus lábios lá depois, sentindo sua pele contrair sob minha
boca, mas seus roncos suaves não param.
Eu sorrio enquanto pressiono outro beijo mais baixo, bem
ao longo do V relaxado perto de seu quadril, sacudindo minha
língua lá enquanto Aiden faz um som suave em seu sono.
Seu pau está pesado contra sua coxa, e eu dou uma olhada
em seu rosto enquanto passo um dedo por seu comprimento,
sentindo-o pular levemente com o meu toque. Suas coxas já
estão separadas, um de seus joelhos dobrado para o lado, então
não é tão difícil me enfiar entre elas, trazendo-me para perto
com a parte mais íntima dele. Ele é pesado na minha mão
quando deslizo minha palma por baixo, e mesmo com isso
posso senti-lo se contorcer.
Isso me faz pensar com o quanto posso me safar antes que
ele acorde.
Sou cuidadosa com minha língua, passando-a ao longo de
todo o comprimento dele com um toque quase imperceptível,
e sob minha outra mão que está apoiada na parte superior de
sua coxa, posso senti-lo tenso. Eu giro minha língua ao redor da
cabeça do seu pau antes de tentar levar mais para dentro, e
posso sentir como ele está começando a ficar duro na minha
boca. Eu fecho meus olhos enquanto empurro mais fundo, não
sendo capaz de colocá-lo todo, mas compensando os
centímetros restantes com meu punho enquanto agarro a base.
Eu não percebo que ele está acordado até que eu estou sendo
puxada para trás, meus olhos se arregalando quando eu sinto o
peso de sua palma na parte de trás da minha cabeça. Neste
momento, é difícil sorrir com um pau na boca, então tenho
certeza que pareço ridícula, mas tento compensar isso
achatando a minha língua sob a cabeça para cobrir mais dele.
— Essa é... — Sua voz está rouca de sono, seus olhos
vidrados e semicerrados enquanto ele me observa. — Essa é
uma ótima forma de acordar. — Ele está totalmente duro
agora, tornando mais fácil beijar ao longo de seu eixo enquanto
ele grunhe baixo em seu peito. — Que horas são?
— Cedo — eu digo a ele. — Ela vai continuar a dormir por
mais um tempo.
Seus cílios tremulam quando deslizo minha língua de volta
por todo o seu comprimento.
— Ok.
— Mas eu tenho que ir para a faculdade hoje — digo a ele,
bombeando-o preguiçosamente com meu punho. — Então eu
tenho que ser rápida.
Um lado de sua boca se inclina para cima.
— Se você continuar me tocando assim, não acho que o
tempo será um problema.
Eu gosto do jeito que ele me observa quando eu o coloco
dentro da minha boca, olhando para mim como se eu fosse
algum tipo de criatura mítica que ele não acredita que está
vendo. É o suficiente para fazer qualquer garota se sentir
confiante. Eu balanço minha cabeça para pegar o máximo que
posso, ainda usando meu punho para trabalhar o que minha
boca não consegue alcançar.
Ele é mais gentil desta vez, nada da aspereza frenética como
da última vez que o tive em minha boca, mas estou gostando
desse lado dele tanto quanto do outro. Eu me pergunto se há
algum lado de Aiden que eu não goste. A pressão de sua mão
no meu cabelo é leve, quase não existe, mas isso também está
me deixando inebriada. Eu meio que gosto de estar no controle.
Sua cabeça cai para trás contra o travesseiro, sua boca se
abrindo enquanto sua respiração fica mais forte para me
estimular. Eu posso sentir cada contração contra a minha
língua, cada pequena pressão de seus dedos contra o meu
cabelo, tudo isso só me fazendo querer empurrá-lo para a borda
ainda mais. Posso perceber que ele não estava brincando
quando disse que não demoraria muito; eu mal o tive em minha
boca por mais de um minuto ou mais, e sua respiração foi
reduzida a uma série de ofegos irregulares, e seus quadris se
inclinam quase por reflexo toda vez que eu o tomo o mais
fundo que consigo.
— Cassie — ele murmura. — Você deveria... Eu vou...
Eu sei exatamente o que ele está dizendo, e talvez seja
arrogância da minha parte, mas eu gosto disso. Eu gosto porque
parece que ele não pode evitar. Eu gosto porque ele gosta. Eu
poderia fazer isso quantas vezes forem necessárias para explodir
a porra da sua mente para que ele nem consiga olhar para o seu
pau sem imaginar minha boca nele.
Embora com o jeito que ele está ofegante, eu não acho que
vai demorar tanto.
Seu corpo está incrivelmente tenso agora, e seus dedos
realmente se emaranharam um pouco no meu cabelo, mas
estou tão preocupada com a forma como ele se incha contra a
minha língua que mal sinto nada disso. Eu trabalho meu
punho em conjunto com minha boca, ouvindo seu gemido
gaguejado antes de sentir o respingo quente contra a parte de
trás da minha garganta. Tento me concentrar nos sons que ele
está fazendo, na forma como seu corpo treme embaixo de mim,
fechando os olhos enquanto engulo tudo o que ele me dá. A
maneira como ele fica fraco depois é intensamente satisfatória,
e faz meus olhos lacrimejantes e minha falta de ar quando me
afasto dele valer a pena. Ele parece atordoado enquanto olha
para o teto, quase nem se movendo quando eu rastejo por seu
corpo para me envolver em seu peito.
— Bom dia — eu provoco.
Aiden solta um suspiro.
— Os despertadores vão parecer incrivelmente sem brilho
agora.
— Mas isso me manterá no trabalho — eu rio, gostando da
minha piadinha. Eu me inclino para beijá-lo, e Aiden não
parece incomodado por eu ter acabado de tê-lo na boca, me
puxando para aprofundar o beijo. Eu dou um selinho suave
depois. — Mas eu tenho que ir. Você me custou meu banho.
— Eu gostaria de dizer que me sinto mal, mas...
Eu sorrio.
— Sim, eu odiaria fazer de você um mentiroso.
— Vou retribuir o favor mais tarde.
— Ah, com certeza. Eu tenho uma contagem mental de
orgasmos. Não se preocupe.
— Uau, sem pressão nem nada.
Meu sorriso aumenta mais um pouco e dou um último beijo
nele.
— Devo pegar meu carro na oficina depois da aula, então
vou pegar Sophie no restaurante mais tarde, ok?
— Eles consertaram?
— Aparentemente, a luz de verificação do motor não é algo
que você pode simplesmente ignorar e esperar que desapareça.
— Eu realmente poderia levar você para a aula, sabe — ele
insiste.
É uma conversa que tivemos algumas vezes desde que a
minha carroça desistiu de mim, e reviro os olhos agora, como
sempre fiz.
— Talvez eu seja a única pessoa nesta casa que não guarda
rancor contra o transporte público.
Ele belisca minha bunda e eu grito.
— Fico feliz que seu carro tenha sido consertado, pelo
menos.
— Meu pedaço de lixo um pouco menos quebrado e eu
estaremos perfeitamente bem para buscar Sophie depois da
aula.
— Ela estará esperando ansiosamente por você para salvá-la,
tenho certeza — ele bufa.
Eu rolo para longe dele, sentindo seus olhos em mim, mas
não odiando a atenção, e lanço outro olhar para ele antes de ir
para o banheiro para me arrumar.
— Talvez hoje ela dê outra chance às suas panquecas?
Eu rio enquanto fecho a porta do banheiro atrás de mim,
ouvindo-o resmungar o tempo todo.

■□■

O resto do meu dia não vai tão bem quanto a minha manhã.
O jeito que acordei Aiden não tinha totalmente me atrasado
para sair de casa, mas já que saí mais tarde do que o habitual, o
engarrafamento no qual meu ônibus ficou preso após um
acidente definitivamente me atrasou. Entre a tarefa perdida
esta semana e o atraso de quase trinta minutos para minha
primeira aula, minha instrutora teve algumas palavras bem
certeiras a dizer sobre colocar minha cabeça no lugar. Isso me
consumiu durante todo o meu dia, me atrapalhando de uma
maneira que me fez deixar cair coisas que não deveria e mapear
as coisas incorretamente – cometendo todos os tipos de erros
que normalmente não cometeria se não estivesse tão abalada.
Estou exausta quando saio do campus, minha viagem de
volta para San Diego parecendo muito mais longa do que o
normal. Pegar o carro de volta ajuda – mas a conta alta,
certamente não. Inferno, antes de me tornar a babá de Sophie,
essa mesma conta significaria comer lámen de microondas por
uma ou duas semanas.
Estou tentando me livrar do meu humor sombrio tocando
toda a discografia de Taylor Swift no caminho para o
restaurante, mas até mesmo meu Spotify parece estar contra
mim hoje, tocando muitas músicas de Evermore e não o
suficiente de Red. É como se o universo quisesse que eu chorasse
hoje.
Cadela inconstante, estou lhe dizendo.
Eu fui ao restaurante de Aiden para pegar Sophie algumas
vezes desde nossa primeira entrevista, e ao passo que a
recepcionista não me olha tão feio por causa da minha colônia,
ela parece ter uma opinião sobre meus sapatos, se a maneira
como ela olha para meus tênis gastos toda vez que passo pelas
portas é uma indicação. Eu nem sequer a comprimento esta
noite, dando-lhe um aceno de desdém enquanto vou direto
para a cozinha. Eu tenho que passar pela área do bar para chegar
lá, mas desenvolvi uma boa rotina de me mover ao redor dos
bartenders ficando fora do caminho enquanto tento chegar às
portas duplas que levam à área da cozinha.
Agora, estou plenamente ciente de que não estou de bom
humor, mas não posso fingir que ver Aiden no modo chef
executivo – latindo ordens para os outros chefs e espiando por
cima dos seus ombros com um olhar perspicaz o tempo todo
vestindo aquele casaco pela qual eu provavelmente não deveria
me sentir tão atraída – ajuda um pouco. Ele não me nota a
princípio, muito ocupado criticando o refogado de alguma
carne em uma panela que está fora da minha vista.
Sophie está empoleirada em seu banquinho de sempre em
um canto seguro perto das pias, acenando quando me vê e
colocando seu Switch no balcão antes de pular de seu assento.
— Podemos ir para casa? — Ela lança um olhar cauteloso
para o pai. — Papai está de mau humor.
É como se estivéssemos ligados ou algo assim.
— O que aconteceu?
Sophie dá de ombros.
— Não sei. Algum cliente estava bravo com alguma coisa.
— Caramba.
Eu olho para Aiden, ainda repreendendo quem eu presumo
ser um de seus subchefes, me perguntando se seria melhor
escapar e enviar uma mensagem para ele. Eu odiaria tornar a
noite dele pior. Antes que eu possa chegar a uma decisão, Aiden
finalmente percebe que estou do outro lado da cozinha, e sua
expressão muda imediatamente quando ele dá uma última
palavra ao subchefe antes de se aproximar.
— Ei — diz ele, sorrindo com os olhos cansados. — Como
foi o seu dia?
Reviro os olhos.
— Tão bom quanto o seu, parece. O que aconteceu?
— Bobagem — resmunga Aiden. — Não percebi um bife
que cozinhou demais e ele foi enviado de volta com um bilhete
legal sobre se merecemos ou não nossas estrelas.
— Ai. — Eu faço uma careta. — Eles devem ser muito
divertidos em festas.
— O que aconteceu com o seu dia?
Eu sei que se eu disser a ele que me atrasei, ele vai se culpar,
e já que foi inteiramente minha escolha ficar para trás e
aproveitá-lo esta manhã, eu não quero piorar a noite dele com
reclamações desnecessárias.
Eu dou de ombros.
— Apenas um dia ruim. Nada em particular.
— Sinto muito — ele oferece.
Eu aceno para ele.
— Eh. Está tudo bem.
— Sophie — Aiden se dirige à filha. — Por que você não vai
pegar suas coisas no escritório?
— Ok!
Quando estamos sozinhos, Aiden me espia de lado.
— Eu realmente quero te beijar agora.
— Quão fofoqueiros são seus chefs?
— Oh, o mundo inteiro saberia antes de você chegar ao seu
carro.
Isso me faz rir.
— É melhor você não arriscar então.
Aiden acena com a cabeça como se concordasse, mas há algo
em sua boca que diz diferente. Sua mandíbula aperta enquanto
ele hesita em continuar, parecendo estar lutando com alguma
coisa.
— Sabe — ele começa. — Meu chefe vai dar uma festa no
próximo fim de semana.
Eu me animo.
— Uma festa?
— Para o aniversário dele. Ele faz uma todos os anos.
Acho que ele está me dizendo que eu e Sophie teremos uma
noite a sós em breve.
— Oh. — Eu balanço minha cabeça sem rumo. — Parece
divertido.
— Eu pensei que talvez pudéssemos ir juntos.
Isso me pega desprevenida.
— O quê?
Timidez é um visual estranho para um homem tão grande,
mas não desagradável.
— Como um encontro?
Minha boca se abre em surpresa.
— Mas... o que diríamos a Sophie?
— Bem. — Aiden estende sua mão apenas o suficiente para
que seu dedo mindinho roce o meu, e dificilmente pode ser
chamado de toque, mas me faz tremer do mesmo jeito. — Acho
que deveríamos contar a verdade a ela.
Eu posso sentir meu coração começar a bater mais rápido,
uma sensação de vibração pesada surgindo em minha barriga
com a seriedade da expressão de Aiden.
— E você... está bem com isso?
— Ela vai descobrir eventualmente — ele me diz. — Não é
como se você fosse ir a algum lugar tão cedo. — Há um lampejo
de incerteza em suas feições, como se ele não tivesse certeza
absoluta, mas procurasse algum conforto a esse respeito. —
Certo?
Minha boca abre e fecha como se eu estivesse imitando um
peixinho dourado; pensei que teríamos que conversar logo
sobre o que somos e para onde nós nos víamos indo, mas nunca
esperei que Aiden mergulhasse de cabeça nisso sem hesitar. Mal
tive tempo de pensar na ideia, e Aiden está pronto para colocar
todas as cartas na mesa. Parece um pouco imprudente e muito
cativante, mas, no final das contas, é uma resposta fácil.
— Não — eu digo a ele. — Eu não vou.
Seu sorriso é brilhante, tanto que quase me tira o fôlego, e
estou experimentando uma necessidade intensa de beijar ele
agora.
— Então? Você quer ir?
— É chique? Duvido que eu tenha um vestido que sirva.
— Deixe-me preocupar com isso — ele insiste. — Diga que
você irá.
Eu mordo meu lábio enquanto penso, ainda preocupada
sobre como Sophie vai receber essa notícia, mas muito feliz com
a ideia de Aiden querer dizer a ela para eu até mesmo considerar
a ideia de dizer não. Porque quem eu estou enganando? Não
tem nenhuma chance de eu fazer isso. Imprudente ou não, sei
que estou tão pronta para mergulhar de cabeça quanto ele.
Como eu poderia não estar?
— Sim — eu digo a ele. — Eu quero ir.
Outro sorriso para o meu problema.
— É um encontro então.
É um encontro.
Já tive muitos primeiros encontros antes, mas acho que
nunca tive um com um cara com quem já estou dormindo. E
ainda me sinto mil vezes mais animada por este do que por
qualquer outro que já fui. Eu praticamente sinto que acabei de
ser convidada para o baile de formatura.
Sophie volta antes que eu tenha tempo de dizer qualquer
outra coisa, mas acho que o sorriso bobo no meu rosto que não
consigo apagar provavelmente diz mais do que suficiente. Pelo
menos o de Aiden está um pouco parecido, então não me sinto
completamente ridícula.
— Podemos assistir Encanto depois do jantar?
Normalmente, eu poderia reclamar – é um bom filme, mas
já o vimos uma dúzia de vezes – mas, estranhamente, nem me
sinto incomodada. Eu acaricio sua cabeça com o mesmo sorriso
estampado em meu rosto.
— Claro. Podemos assistir.
— Eba! — Ela se vira para envolver seus braços em torno de
Aiden. — Tchau, pai. Te amo.
— Tchau — ele responde de volta, apertando-a em um
abraço. — Também te amo.
Sophie passa por mim, e dou uma última olhada em Aiden
antes de segui-la.
— Te vejo mais tarde?
— Sim. — O olhar que ele me dá é pesado, o verde e o
castanho de seus olhos parecem mais calorosos do que o
normal. — Você vai.
Levo pelo menos uma hora para parar de sorrir.
Meu coração está batendo tão rápido. Isso pode ser um
erro terrível. Ele poderia ser alguém totalmente diferente
do que demonstra.
Mas isso não parece me impedir nem um pouco.
E ele ainda está esperando minha resposta.
“Eu quero ver você também” eu respiro. “Realmente te
ver.”
Eu posso ouvir sua expiração apressada, como se ele
estivesse prendendo a respiração.
Estendo a mão para a máscara, mas ele me impede,
fazendo um som de protesto.
“Mas você disse...”
“Quero poder tocar em você, quando te ver pela primeira
vez” diz ele. Calor inunda a minha barriga. “Porque
quando eu ver você... tenho a sensação de que não vou
conseguir parar.”
Capítulo 22
Cassie

Nós não contamos para Sophie até o dia da festa.


Provavelmente não é a coisa mais inteligente que qualquer um
de nós já fez, prolongando a situação desse jeito, mas acho que
Aiden está tão nervoso com a reação dela quanto eu. Ela está
sentada na poltrona em frente ao sofá, os dedos dobrados sob o
queixo como um chefe da máfia enquanto nos olha pensativa.
— Então... vocês são tipo, namorado e namorada?
Aiden e eu trocamos um olhar e balanço a cabeça. Isso cai
tudo sobre ele.
— Sim — ele responde, limpando a garganta. — Estamos
namorando.
Sophie olha de mim para seu pai e para mim novamente.
— Por que vocês mantiveram isso em segredo?
— Nós não estávamos tentando manter isso em segredo —
insisto. — Nós apenas...
— Não queríamos confundir você — Aiden termina.
Seu rostinho ainda está sem expressão como uma tela vazia.
A maneira como ela está olhando para nós é quase suficiente
para fazer eu me contorcer; parece que estou contando ao meu
pai sobre meu primeiro namorado, o que é hilário, já que sei
que ele não daria a mínima. Claramente, contar a Sophie é uma
experiência muito mais agonizante.
— Eu sei o que é namorar — diz Sophie. — É tipo beijar e
outras coisas.
Percebo que Aiden parece preferir estar em qualquer outro
lugar.
— E sair juntos — diz ele, ignorando o comentário. —
Como esta noite. Quero levar Cassie para uma festa.
— Em um encontro — Sophie esclarece.
— Sim — diz ele. — Em um encontro.
Seus olhos se estreitam, como se ela estivesse pensando. Ela
parece o maldito Poderoso Chefão. Como um senhor do crime
de um metro e trinta. Ou talvez eu esteja projetando.
— Mas Cassie ainda é minha babá. Certo?
— Claro que sou — asseguro-lhe. — Nada disso vai mudar.
Seu nariz se enruga.
— Vocês vão ficar se beijando?
— Podemos tentar manter os beijos no mínimo — Aiden
contra-oferece, embora eu tenha certeza que ele pretende
continuar fazendo isso o máximo possível fora da linha de visão
de Sophie. — Se isso te deixar mais confortável.
— É nojento — ela diz, fazendo um som de blech.
Isso me faz rir.
— Você não vai achar isso um dia.
— Sim, eu vou — ela argumenta.
Aiden bufa.
— Para sempre, espero. — Ele considera sua filha com
cuidado então. — Você está... bem? Com isso? É muito
importante para mim que você esteja bem com tudo isso, Soph.
— Oh. Tudo bem. — Ela dá de ombros. — Mas se vocês
terminarem, eu fico com a Cassie como minha babá.
— Fico feliz em saber onde me encontro na pirâmide de suas
prioridades — murmura Aiden.
Dou um tapinha em seu ombro, sorrindo.
— Não se esqueça disso.
— Posso jogar no meu Switch agora? Quase derrotei o
chefão da última vez.
— Sim, você pode ir — Aiden diz a ela. — Se você tem
certeza de que está tudo bem.
Ela se move para sair, mas se vira com uma expressão
confusa.
— Espera. Onde eu ficarei esta noite?
— Oh — eu falo. — Então. Se você estiver bem com isso,
Wanda perguntou se você não queria ficar com ela.
Seus olhos se iluminam.
— Eu posso dormir lá?
— Sophie — interrompe Aiden. — Tenho certeza que
Wanda não quis dizer que você...
— Vou perguntar a ela — interrompo, sabendo que Wanda
não se importaria. Eu me viro para Aiden. — Ela
provavelmente adoraria, honestamente. Contanto que você
esteja bem com isso.
Ele franze a testa.
— Se você tem certeza de que isso não a incomodaria.
— Wanda será a primeira a me avisar se incomodar — eu rio.
Eu enxoto Sophie escada acima, esperando até que ela tenha
saído para apoiar minha cabeça no ombro de Aiden, sorrindo
para ele.
— Isso foi relativamente sem danos.
— Fui o único que sentiu como se estivesse em uma
entrevista?
— Oh, não, ela definitivamente tinha uma vibração de Don
Corleone.
Ele ainda está franzindo a testa para as escadas onde ela
desapareceu.
— Ainda bem que a gente contou pra ela, né? Eu odeio
mentir para ela, de qualquer maneira.
— Eu acho que vai ficar tudo bem — asseguro-lhe. —
Sophie é uma criança esperta. Ela teria entendido
eventualmente.
— Você provavelmente está certa.
Estendo a mão para traçar um dedo em sua mandíbula.
— Especialmente porque não vejo essa coisa toda de "beijos
no mínimo" funcionando muito bem.
Ele zomba.
— Você está insinuando que eu não posso manter minhas
mãos para mim mesmo?
Eu não respondo, em vez disso olho para baixo e bato nas
costas de sua mão que descansa no meu joelho, onde seus dedos
estão inconscientemente traçando um círculo nos últimos dez
minutos.
Aiden revira os olhos.
— Certo, tudo bem.
— Então, espero que você tenha garantido que meu corsage
combina com meu vestido. Espero arrasar esta noite.
— Arrasar — ele ecoa, balançando a cabeça enquanto ri. —
Bem, eu não comprei um corsage para você, mas comprei um
vestido.
Eu me afasto para levantar uma sobrancelha para ele.
— Como você sabia meu tamanho?
— Eu... posso ter olhado em seu armário — ele diz
timidamente.
Eu coloco minha mão sobre minha boca em um falso
suspiro dramático.
— Oh meu Deus, daqui a pouco você estará vasculhando
minha gaveta de calcinhas.
— Prefiro mais sua calcinha no chão do que na sua gaveta.
Eu reprimo um sorriso, virando meu rosto para baixo para
que ele não possa ver meu rubor. Traço meu próprio círculo
nas costas da mão dele, que ainda está sobre meu joelho.
— Então... estou curiosa sobre este vestido. Que tipo de
vestido Aiden Reid compraria para mim?
— Algo com um decote questionável.
Eu balanço minha cabeça em advertência.
— Pervertido.
— Talvez — ele ri.
Ele se inclina como se fosse me beijar, mas eu coloco a mão
entre nós para cobrir sua boca com a mão.
— Ei, espera aí. Beijos no mínimo.
Eu grito quando ele lambe minha palma, puxando-a para
longe ao passo que sua mão se lança para agarrar meu punho
para que ele possa me puxar para mais perto. Ele me segura
enquanto cobre minha boca com a dele, meus protestos
provocantes não são páreo para a suavidade de seus lábios. Ele
cantarola contente enquanto demora por um momento,
apenas se afastando quando eu derreti completamente nele.
— Isso vai ter que ser suficiente até mais tarde — ele
murmura.
Só me ocorre neste exato momento que mais tarde significa
uma casa inteira para nós mesmos após nosso primeiro
encontro oficial, pela primeira vez desde que estou aqui, e
vendo o jeito que Aiden está olhando para mim – eu tenho que
assumir que ele está pensando nesse fato também. É preciso
tudo o que tenho para manter minha voz neutra quando falo
de novo.
— Então — eu digo de uma forma totalmente normal que
não entrega o fato de que estou pensando em um futuro sexo
desinibido. — Vamos ver esse vestido.

■□■

— Pare de ficar se remexendo — eu rio enquanto estamos do


lado de fora da porta de Wanda.
Aiden ajusta a gravata (eu provavelmente poderia escrever
uma dissertação inteira sobre por que Aiden deveria usar
gravata todos os dias, porque puta merda), fazendo aquela
mesma cara nervosa que me faz querer rir toda vez que olho
para ele.
— Por que parece que estou conhecendo seus pais?
— Bem, Wanda está mais próxima disso do que meus pais
reais, então. Não é uma ideia muito distante.
— Certo. Merda. Desculpa.
— Palavra ruim, pai — Sophie repreende ao nosso lado.
— Eu sei — ele se desculpa. — Perdão.
Sophie se inclina para olhar para o pai ao meu lado.
— Papai está com medo da Wanda?
— Não estou com medo da Wanda — argumenta.
Eu cutuco Sophie com o cotovelo.
— Ele está totalmente com medo de Wanda.
— Eu não estou com medo da...
Aiden fica em silêncio quando a porta finalmente se abre,
Wanda abrindo a porta em seus calçados de ficar em casa,
roupão e seu pijama de flanela rosa. Basicamente, o oposto de
intimidadora. Isso não impede Aiden de ficar rígido como uma
estátua ao meu lado. Ela sorri brilhantemente para Sophie, que
imediatamente a abraça, e Wanda se inclina enquanto acaricia
a cabeça da garotinha. Ver como Wanda se ilumina com Sophie
me faz sentir ternura por dentro.
Wanda lança um olhar sério para Sophie.
— Você está pronta para levar um banho jogando buraco
esta noite?
— Não! Eu vou ganhar desta vez. Eu tenho treinado.
Wanda não parece convencida, lançando a ela um olhar.
— Ela tem um longo caminho a percorrer antes que eu
comece a arrastá-la para o cassino comigo.
Aiden ainda está completamente mudo ao meu lado
durante tudo isso, e Wanda não o reconhece a princípio. Não
até que ela direcione Sophie para dentro da casa para encontrar
seu baralho de cartas. Sophie nos dá um adeus apressado, mas
posso dizer que ela tem prioridades maiores do que nós agora.
O rosto de Wanda perde seu calor amável quando ela
finalmente se vira para Aiden, suas mãos se movendo para os
quadris enquanto ela o olha de cima a baixo.
— Você é o Aiden?
Ele acena rigidamente.
— Sim, senhora.
— Nada dessas coisas de senhora. Wanda é o suficiente.
— Certo. Wanda. Desculpe.
Wanda franze os lábios enquanto bate o pé.
— Você tem uma criança incrível ali — ela diz a ele.
— Obrigado — responde Aiden. — Ela fala muito bem de
você. Nós apreciamos você cuidar dela esta noite.
— Bem, já que você roubou essa aqui — ela aponta o
polegar em minha direção — eu preciso de companhia.
Aiden parece querer derreter no chão, e eu tenho que me
forçar a não rir.
— Desculpe por isso — ele oferece. — Eu, ah, não foi minha
intenção roubá-la.
Wanda olha para mim então, assobiando.
— Olhe para você — ela elogia. — Esse vestido faz sua
bunda parecer uma melancia.
Eu inclino minha cabeça, batendo meus cílios para ela
enquanto me viro de lado.
— Não é? Aiden escolheu.
— Oh? — Ela olha para Aiden, parecendo divertida. — Ele
escolheu?
Eu aliso minhas mãos sobre o material preto sedoso que me
abraça como uma luva, acariciando a redondeza dos meus
quadris enquanto aceno.
— Ele escolheu bem.
— Tenho certeza que ele não estava pensando na sua bunda
quando o comprou — ela brinca.
Eu me viro novamente para espiar a bunda em questão.
— Tenho certeza de que isso não aconteceu por acaso.
Quando dou uma espiada na direção de Aiden, noto que as
pontas de suas orelhas estão vermelhas e decido interromper a
provocação. Ele pode nunca mais me levar para sair se achar
que é isso o espera. Eu tento dizer a Wanda com meus olhos
para parar com isso, mas não funciona nem um pouco.
— Então, Aiden. — Ela se inclina para abaixar a voz. —
Você não está assistindo mais aquelas chamadas de peitinho,
está?
— Wanda — eu repreendo. — Oh meu Deus.
Aiden parece estar prestes a entrar em curto-circuito, e
posso sentir meu pescoço esquentando de vergonha. Ele
absolutamente nunca mais vai me convidar para sair. Wanda
finalmente sorri quando eu começo a implorar silenciosamente
pela morte, soltando uma gargalhada enquanto ela dá um
tapinha no peito de Aiden.
— Estou brincando com você, garoto — ela gargalha. —
Seja bom para a minha garota, certo?
Aiden acena mecanicamente.
— Sim. Claro.
— Ela disse que eu tenho um quadril falso? Se você partir o
coração dela, eu...
— Ok — interrompo. — É melhor irmos. Você tem nossos
números, então, se precisar de alguma coisa...
Wanda ainda está rindo, e eu lanço a ela um olhar que diz
que vou conversar com ela mais tarde.
— Vocês, crianças, vão se divertir — ela diz, nos enxotando.
— Eu tenho a monstrinha sob controle.
— Sério — insiste Aiden. — Ligue para nós se precisar de
alguma coisa.
— Não se preocupe — Wanda diz com um sorriso. — Eu
cuido disso, pai.
Ela acena para nós enquanto fecha a porta, gritando algo
sobre embaralhar as cartas antes que a porta se feche atrás dela.
Aiden não se move imediatamente para sair, ainda parecendo
atordoado quando seus olhos encontram os meus.
— Não sei dizer se ela me odeia ou não.
— Ah — eu rio. — Ela ama você.
Ele balança a cabeça.
— Bem, tudo bem então.
— Vamos — digo a ele, alcançando a seda vermelha de sua
gravata e deixando-a deslizar por entre meus dedos. — Vamos
fazer valer o dinheiro que você gastou neste vestido.

■□■

O local de trabalho de Aiden parece diferente quando não está


cheio de clientes tagarelando e mesas lotadas. O proprietário
fechou a maior parte do restaurante, exceto a área de jantar
principal, onde montou grupos de mesas para os funcionários.
Percebo a recepcionista que está sempre me olhando feio
(Aiden me informou que o nome dela é Laura e que é apenas o
rosto dela) em uma mesa próxima com um dos bartenders, e ela
me dá um aceno de cabeça quando nossos olhos se encontram.
Talvez até um sorriso. Eu não posso dizer.
Talvez seja realmente apenas o rosto dela.
A iluminação é um brilho suave de sempre que parece
romântico, e quando Aiden me guia pelo espaço e me ajuda a
sentar em uma das cadeiras elegantes da qual não me sento
desde nossa primeira reunião estranha – percebo que isso é um
encontro. Isso faz meu coração bater mais rápido enquanto me
acomodo em minha cadeira, Aiden ocupando a cadeira à
minha frente e me dando um sorriso caloroso quando me pega
olhando.
— O quê?
— É engraçado — eu digo a ele.
— O que é?
— A última vez que estivemos aqui assim, eu quase cuspi
em você.
— Foi muito fofo — ele me diz.
— Sério?
— Quão assustador me faz parecer se eu disser que me fez
pensar em sua boca pelo resto da noite?
— Incrivelmente assustador — eu digo inexpressiva. —
Poderia ir direto para a cadeia.
Seu sorriso se alarga.
— Vou garantir de não contar nenhum dos outros
pensamentos assustadores que tive sobre você desde que você
se mudou.
— Oh, de jeito nenhum — eu protesto. — Eu quero saber
tudo. Eu já sei que você é um pervertido, de qualquer maneira.
— Mas quão assustador parece se eu disser que só quero ser
um pervertido com você?
Eu solto um suspiro, pegando a bolsa pequena que trouxe
como se fosse pegar meu telefone.
— Uau. Sim. Irei chamar a polícia. — Aiden ri, e eu deixo a
atuação de lado enquanto sorrio de volta para ele. — Está tudo
bem. Passei a maior parte da primeira noite pensando em suas
mãos, então estamos quites.
— Minhas mãos? — Ele olha para os dedos com uma
sobrancelha franzida. — O que tem elas?
— Elas são muito grandes.
— E?
— Você sabe o que dizem sobre caras com mãos grandes.
Ele levanta uma sobrancelha.
— Uau. Agora quem é o pervertido?
— Acho que fomos feitos um para o outro — eu digo com
um estalar da minha língua.
Sua expressão suaviza.
— Sim.
Percebo que alguém se aproxima da nossa mesa, um homem
de meia-idade que não deve ter mais de cinquenta anos, a julgar
por seus cabelos grisalhos ralos. Ele acena quando chama a
atenção de Aiden enquanto se aproxima. Ele está vestido com
um terno preto e gravata combinando, parecendo mais
elegante do que as outras pessoas, e eu tenho que assumir que
este é o chefe de Aiden.
— Aiden! Que bom que você veio. Eu tinha certeza de que
você me falaria a velha frase: “festas não são minha praia” de
novo este ano.
— Ah, bem. — Percebo que Aiden está corando. — Achei
que seria bom sair uma vez.
O homem vira seu sorriso para mim então, seus dentes
apenas visíveis sob seu bigode espesso e grisalho.
— E sua adorável acompanhante não teria nada a ver com
isso, tenho certeza. — Ele estende a mão. — Joseph Cohen,
querida. Eu sou o dono deste velho lugar.
— É lindo — eu digo a ele. — Eu sou Cassie.
— Cassie — ele ecoa. — Como um cara tão feio conseguiu
uma mulher como você?
Eu posso dizer que ele está brincando, percebendo a
maneira como Aiden revira os olhos por trás de Joseph, e eu
dou de ombros enquanto levanto minhas mãos em falsa
descrença.
— Ele me venceu pelo cansaço. Estou falando do nível de
cortejo com recitação de poemas do lado de fora da minha
janela.
— Não tenho dúvidas — ri Joseph. Ele aponta um dedo
para Aiden. — Eu gosto deste aqui. — Então para nós dois: —
Vocês dois se divirtam esta noite, ok? Tomem um pouco de
vinho. Dancem um pouco. É meu aniversário, então eu insisto.
— Eu odiaria ofendê-lo por não aceitar vinho de graça — eu
digo seriamente.
Joseph solta outra gargalhada.
— Exatamente. — Ele dá um tapinha na beirada da nossa
mesa. — Eu tenho que fazer as rondas. Todo mundo adora
receber a visita do chefe na noite de folga, certo?
Espero até que ele esteja fora do alcance da voz antes de me
inclinar sobre a mesa.
— Ok. Isso é uma atuação ou seu chefe é legal?
— Não — Aiden ri. — Ele é ótimo. Ele se arriscou quando
me deu este trabalho. Eu era subchef em um restaurante com
três estrelas por alguns anos depois que saí da faculdade e não
estava tendo nenhuma sorte em nenhum dos outros lugares
para os quais estava me candidatando. Joe entrou em um dia
aleatório e gostou tanto da comida que pediu para conhecer
quem a preparou. Ele insistiu que eu fosse para uma entrevista
e, bem, o resto é história.
— Ele parece ótimo — eu digo a ele. — Definitivamente é
melhor gostar do seu chefe do que trabalhar para um idiota.
A boca de Aiden se contrai.
— E você sabe disso por experiência própria?
— Ah, com certeza. Meu chefe é um verdadeiro chato.
Muito mandão.
Aiden entrelaça os dedos enquanto se inclina para mais
perto.
— Eu ficaria feliz em dar mais ordens, se você quiser.
Calor inunda minha barriga, e eu tenho que me lembrar de
que ainda tenho que passar pelas bebidas, o jantar e dançar
antes que ele possa tirar este vestido de mim. Não que Aiden
pareça ter qualquer intenção de facilitar a espera. Eu tento
parecer não afetada, embora eu esteja pressionando minhas
coxas juntas agora, balançando a cabeça em direção ao bar.
— Acho melhor você me pagar uma bebida primeiro.

■□■

O resto da noite parece passar como um borrão; o jantar é um


prato com uma carne incrível que não consigo pronunciar o
nome, mas derrete na boca e, após o prato principal, eles trazem
um sorvete de amora que me dá vontade de viver dentro do
freezer. Se não estivéssemos em um restaurante cinco estrelas,
eu provavelmente teria lambido a tigela até limpá-la. Joseph
vem e se senta conosco por um tempo entre os pratos,
contando histórias sobre Aiden, o restaurante e todos os tipos
de piadas divertidas entre eles. Em algum momento, uma
mulher começa a cantar baixinho nos alto-falantes, alguma
música francesa que não consigo entender, e observo as pessoas
começarem a sair de suas mesas para encontrar a pista de dança
no meio do lugar.
Neste momento, eu sou uma mulher de 25 anos que já foi
em encontros, jantou e dançou em mais de uma ocasião antes
disso, mas quando Aiden se levanta de sua cadeira para me
oferecer sua mão e silenciosamente me convida para dançar –
eu sinto completamente tonta. Quase como se fosse a primeira
vez.
Ele me guia para a pista e me puxa para perto, suas largas
palmas pousadas em meus quadris são um peso quente e
agradável através da seda do meu vestido. Enrolo meus braços
em volta do seu pescoço e sorrio timidamente enquanto ele
começa a nos mover com a música; não há nada
intrinsecamente complicado na maneira como ele faz isso,
apenas um arrastar de pés em um vaivém lento, mas me sinto
trêmula do mesmo jeito.
— No que diz respeito a primeiros encontros — digo a ele
— este se colocou em um nível bem alto.
Sinto seu polegar deslizar contra meu quadril.
— É bom saber. Faz muito tempo desde que tive um
primeiro encontro.
— Eu também — admito. E então um pouco mais baixo: —
Mais de um ano.
Seu sorriso é fraco e quase não aparece, mas eu posso
percebê-lo.
— Eu também.
— Às vezes nada disso parece real — admito. — Fico
esperando acordar no sofá da Wanda.
— Como você acha que eu me sinto? Tenho que me
convencer todos os dias de que alguém como você gostaria de
permanecer por aqui.
— Hum. Calma aí, Sr. Reid. Não vamos fingir que você não
é uma tentação de um metro e oitenta com olhos sensuais.
— Olhos sensuais?
— Oh, vamos lá. Eles são tão bonitos que é completamente
injusto.
Eu sinto sua mão deslizar minuciosamente pelo meu lado
para pressionar minha cintura e depois voltar para baixo como
se apenas para sentir minha forma. Isso faz meu estômago
revirar.
— Acho que os seus são mais bonitos.
— Você, meu amigo, é louco.
Sua risada é tão baixa que quase não ouço por causa da
música, mas então ele se inclina para que eu possa sentir o calor
de sua respiração em meu ouvido, me fazendo estremecer.
— Você me deixa louco, Cassie.
Fecho meus olhos quando sinto a pressão suave de seus
lábios em minha mandíbula, meus joelhos dando uma
oscilação ridícula que eu pensei que era apenas uma coisa em
filmes.
Estamos nesta festa há mais de uma hora, quase duas, na
verdade, e de repente tudo em que estou pensando é em sair
deste lugar elegante e voltar para a casa de Aiden para fazer
coisas muito menos elegantes. As coisas que estou querendo
fazer podem até ser chamadas de rudes, para algumas pessoas.
Eu tenho que ficar na ponta dos pés para chegar perto de seu
ouvido, baixando minha voz para um sussurro.
— Quanto tempo mais você tem que ficar?
Eu o sinto tenso quando minha unha provoca o colarinho
de sua camisa na sua nuca.
— O tempo que você quiser — ele murmura de volta, me
puxando para mais perto dele.
— Acho que estou pronta para ir, Sr. Reid.
Ele faz um som baixo em sua garganta que coloca meus
joelhos em perigo novamente, apertando meu quadril para
garantir.
— Então vamos levar você para casa.
Casa.
Estranhamente, a palavra me faz estremecer.
Estou incrivelmente grata por não termos que esperar pela
conta.

■□■

Eu não tenho ideia de como conseguimos entrar em casa,


muito menos subir dois lances de escada até o quarto de Aiden.
Não tenho tempo para ficar pensando que esta é a primeira vez
que estou no quarto de Aiden, já que nunca fomos corajosos o
suficiente para nos esgueirar aqui com Sophie normalmente no
fim do corredor. Em algum lugar no fundo da minha mente,
estou ciente do esquema geral de cores do quarto de Aiden; é o
mesmo preto e cinza de todas as outras facetas da casa, mas é
um pensamento muito distante. Eu não tenho exatamente
tempo para provocá-lo sobre isso agora. Não com o jeito que
ele está segurando meu rosto, a língua se esfregando contra a
minha enquanto eu me atrapalho com os botões de sua camisa.
Ele já arrancou a presilha que segurava meu cabelo, os dedos
emaranhados na massa espessa enquanto sua palma desliza pela
minha coxa para levantar meu vestido. Ele grunhe quando eu
abro sua camisa, minhas mãos correndo sobre seu peito e
ombros para puxar sua cabeça, tentando de alguma forma
aprofundar o beijo. Tudo sobre esta noite parece de alguma
forma melhor do que qualquer outra vez que estivemos juntos;
alguma combinação inebriante do encontro e contar a verdade
para Sophie faz tudo isso parecer mais real de alguma maneira.
Eu não desço da minha euforia relacionada ao beijo até que
sinto Aiden desfazendo o zíper na parte de trás do meu vestido;
eu já consegui tirar sua camisa e gravata, e desabotoar a
braguilha da calça quando recobro o juízo.
— Espera, espera.
Os olhos de Aiden estão selvagens quando ele se afasta de
mim.
— Espera?
— O vestido — eu bufo. — Preciso pendurá-lo.
— Foda-se o vestido — ele rosna, tentando me beijar
novamente.
— É o vestido mais bonito que possuo agora! Vai ficar todo
amassado no chão.
— Eu compro outro vestido para você — argumenta.
Isso me faz rir, a carência em sua voz fazendo todo tipo de
coisas para o meu ego.
— Vá para a cama, Sr. Reid. Eu volto já.
— Oh, não. Você não vai voltar lá embaixo — ele bufa. Ele
acena com a cabeça em direção a uma porta próxima. —
Pendure no meu closet.
Dou um selinho rápido em sua boca, sua expressão frustrada
como a de uma criança tendo um ataque de raiva – a marcação
em suas calças dizendo o contrário. Vou apressadamente até o
closet, abrindo as portas e acendendo a luz em busca de um
cabide.
— Jesus — murmuro.
O closet de Aiden é tão grande quanto meu banheiro lá
embaixo. Percebo cabides vazios perto próximo do fundo, além
de um mar de camisas pretas, moletons cinza e jeans escuro,
entrando mais para pegar um enquanto começo a sair do meu
vestido. Estou abrindo meu sutiã para economizar tempo para
Aiden quando vejo algo interessante, parando por um bom
segundo quando uma ideia surge na minha cabeça. Eu mordo
meu lábio enquanto penso.
Seria bobo ou sexy? Eu me pergunto.
— Se você não sair — Aiden chama impacientemente. —
Eu vou te foder no closet.
Ah, que se dane.
Eu pego a roupa que me chamou a atenção do cabide antes
que eu mude de ideia, enfiando os braços nas mangas. Seu
casaco de chef é grande demais para mim, a bainha batendo no
meio das coxas e as mangas quase cobrindo minhas mãos, mas
quando me viro para o espelho na parede do fundo de seu
closet, tenho que admitir que o efeito geral... O tecido com
fendas que aponta para os meus seios e deixa a renda preta da
minha calcinha (comprei sem estampa para esta noite, muito
obrigada) à mostra – não é tão ruim assim.
Eu tento dar a minha melhor impressão de Jessica Rabbit
quando saio do closet, iluminada pela luz de dentro enquanto
deslizo um braço para cima do lado da porta para me encostar
nela. Aiden se senta na cama quando me vê; ele tirou tudo,
exceto a cueca, e seus olhos se arregalam enquanto me
percorrem inteira.
— Na edição de hoje de Quem Vestiu Melhor... — eu digo
com uma risada nervosa.
Aiden não está rindo. Na verdade, ele parece absolutamente
tenso.
— Sem competição — diz ele com firmeza. E então com um
sinal de dedo: — Venha aqui.
Eu consigo atravessar o quarto sem tropeçar ou fazer
qualquer outra coisa que possa quebrar a vibe sexy que estou
tentando fazer, rastejando até a cama para encontrá-lo na
cabeceira onde ele está descansando contra (obviamente)
travesseiros pretos. Ele me puxa sobre seu colo para que meu
núcleo repouse diretamente contra o comprimento dele que se
estica contra sua cueca; o calor fazendo que o meio entre
minhas pernas formigue. Os olhos de Aiden seguem o
movimento de sua mão quando ele deixa sua palma descansar
sobre minha barriga, observando enquanto ele a desliza mais
alto entre meus seios para abrir a frente de seu casaco para que
meu peito fique exposto.
— Como você é tão perfeita?
Eu arqueio meu corpo para que meus mamilos rocem seu
peito, nós dois estremecemos quando viro meu rosto para
pressionar uma linha de beijos suaves em sua mandíbula.
— Como você não está me tocando ainda?
— Estou tentando decidir como quero tocar você primeiro.
— Sua mão desliza sobre meu quadril para mergulhar dentro
da minha calcinha para que ele possa apalpar minha bunda. —
Com minhas mãos? — Ele abaixa a cabeça para que sua língua
possa circular meu mamilo, arrancando um suspiro silencioso
de mim. — Minha boca? — Sua mão na minha bunda me puxa
para mais perto dele, perto o suficiente para que ele possa rolar
seus quadris para deixar seu pau esfregar entre minhas pernas.
— Algo mais?
As palavras são difíceis agora, mas consigo dizer sem fôlego:
— Existe uma opção que tem as três?
— Há sempre uma opção que tem as três — ele ri secamente.
Seus dedos encontram um mamilo para provocá-lo,
rolando-o languidamente enquanto sua boca encontra a
minha. Seu beijo é calmo, até mesmo preguiçoso – um forte
contraste com a urgência carente de antes. Quase como se ele
estivesse levando seu tempo. Prolongando o momento, talvez.
Estou dividida entre incentivá-lo a se apressar e saborear a
sensação.
Ele mordisca suavemente meu lábio inferior, beijando o
canto da minha boca depois.
— Eu assisti você por tanto tempo. — Outro beijo lento e
demorado. — Eu estava obcecado, Cassie.
— Parei de fazer shows particulares em um momento —
confesso. — Era só seu.
Seu pau se contorce entre as minhas pernas. Ele gosta disso.
— Você era deslumbrante pra caralho. Fazendo tudo o que
eu dizia.
— Eu gostava — sussurro.
Ele se afasta para olhar para mim com olhos escuros.
— Você gostaria disso agora?
— O quê?
— Eu sempre imaginei como você se parecia, como você
realmente se parecia, quando você gozava. Fazendo o que eu
dizia. Você pode me mostrar?
Meu estômago vibra com nervosismo e excitação, e eu
mordo meu lábio enquanto penso. A ansiedade em sua
expressão torna a ideia muito mais atraente, e levo apenas um
segundo para tomar uma decisão, inclinando-me para beijá-lo
profundamente.
— E que tipo de show você gostaria esta noite, A?
Sua respiração é irregular quando sopra contra a minha
boca.
— Pensei nisso por alguns dias, na verdade.
— Mm. É mesmo?
Sua mão se atrapalha com a mesa de cabeceira ao lado da
cama, abrindo a gaveta e remexendo dentro até que ele tira uma
longa sacola de cetim.
— Tenho um presente para você.
— Um presente?
Ele me entrega a sacola, observando ansiosamente enquanto
afrouxo o cordão para colocar a mão dentro. Meus dedos
encontram o silicone macio e aveludado que é muito familiar,
e o calor escorre para dentro da minha barriga e mais fundo
enquanto eu puxo um vibrador rosa brilhante que parece...
muito realista.
— Não precisava — murmuro.
Eu me afasto até ficar montada sobre suas pernas, colocando
espaço suficiente entre nós para que ele possa ver tudo. Já faz
muito tempo desde que fiz isso, mas com Aiden assistindo,
parece mais fácil voltar.
Eu pressiono a ponta do vibrador entre meus seios,
deixando-o descer pela minha barriga.
— Estou feliz que você voltou — eu digo docemente. —
Senti a sua falta.
O efeito que tem em Aiden é imediato. Sua respiração fica
mais laborada e suas narinas dilatam enquanto todo o seu
corpo fica tenso.
— É duro ficar longe de você.
— Oh? — Eu circulo a ponta do vibrador ao redor do meu
umbigo, certificando-me de manter contato visual. — Isso é
tudo que está duro?
— Gosto da sua roupa — ele murmura.
Eu sorrio para um ombro do seu casaco, estendendo minha
mão livre para empurrá-lo ligeiramente.
— Isso? É do meu namorado.
— É?
— Ele ficaria bravo se soubesse que eu estou usando para
você.
Percebo os punhos de Aiden cerrados ao lado do corpo
quando começo a provocar o vibrador mais perto do cós da
minha calcinha, e me pergunto por quanto tempo ele pode
realmente continuar o jogo.
— É melhor não contarmos a ele então.
— Você não me disse o que você quer, A — eu sorrio. —
Você sabe que eu farei o que você quiser.
— De verdade? — Seu peito sobe e desce bruscamente. — E
se eu quiser que você provoque essa linda boceta com esse
brinquedo aí?
— Ah, isso? — Eu o deslizo mais alto, fazendo um caminho
preguiçoso para cima e sobre meu esterno até que eu possa
trazê-lo à minha boca para lamber a ponta. — Não sei. Você
acha que eu aguento?
— É melhor que sim — ele resmunga. — Você vai precisar
ficar bem macia para você me tomar mais tarde.
Minha respiração falha.
— Eu vou fazer isso? Você vai me dar seu pau mais tarde, A?
— Você gostaria disso, Cici? Você gostaria que eu te abrisse
com o meu pau?
— Mm. — Eu não paro enquanto arrasto o brinquedo para
baixo desta vez, deixando-o deslizar pela minha calcinha para
arrastar a cabeça mais grossa pelas minhas dobras, molhando-a.
— Isso soa muito melhor do que esse brinquedo bobo.
— Mais tarde — ele promete, e não consigo descrever o
quanto fico feliz em saber que desta vez haverá um mais tarde.
— Tire essa calcinha para eu ver como você está molhada.
É preciso manobrar para tirar minha calcinha nessa posição,
mas consigo fazê-la descer pelas pernas o suficiente para deixá-
la cair do outro lado da cama antes de voltar a sentar. Eu sei que
ele pode ver tudo agora, especialmente com a luz do closet
ainda lançando um brilho para dentro do quarto, e isso fica
mais óbvio pela maneira como seus olhos se concentram no
brinquedo que eu ainda estou provocando através da bagunça
molhada entre minhas pernas.
Eu inclino minha cabeça.
— Assim?
— Bem assim — diz ele asperamente. — Um pouco mais
devagar, talvez.
Faço movimentos lentos e exagerados, mantendo as pernas
o mais abertas possível para que ele não perca nada. O
movimento da minha mão está fazendo com que seu casaco
escorregue de um ombro, praticamente caindo de mim agora.
— Toque seus mamilos para mim — murmura Aiden. —
Provoque-os.
Fecho os olhos enquanto faço o que ele pede, sentindo-me
estranhamente poderosa pela necessidade crua em sua voz.
Como se precisasse de todo o controle que ele possui para não
estender a mão e me tocar. Como eu nunca percebi antes?
— Você pode colocá-lo dentro? Deixe-me ver como você se
fode.
Prendo a respiração enquanto empurro a cabeça do
brinquedo contra a minha entrada; ele desliza facilmente com
o quão molhada eu estou – para não mencionar o quanto é
menor do que Aiden. Eu nem sei como poderia voltar a isso
depois dele. Eu começo a empurrar para dentro e para fora de
mim lentamente, sons escorregadios e úmidos ecoando no ar
enquanto continuo a usar minha outra mão para beliscar meu
mamilo.
— Aposto que seu pau seria muito melhor do que este
brinquedo — eu reflito timidamente. — Eu me pergunto se eu
poderia aguentar você?
— Você pode aguentar tudo — ele diz asperamente. — Eu
manteria você no meu pau por dias se pudesse, Cici.
— Isso parece bom — eu respondo alegremente. Eu
empurro o brinquedo mais fundo. — Mas agora... posso fingir
que este brinquedo é você, se quiser.
— Então você vai precisar se foder mais forte do que isso,
Cici. Porque é isso que eu estaria fazendo. Eu estaria fodendo
você até que você estivesse gritando.
Está ficando cada vez mais difícil acompanhar o jogo,
especialmente porque eu sei como será muito melhor quando
ele realmente me tocar.
— Posso ligar a vibração, A? Eu preciso de um pouco mais
— eu faço beicinho.
— Eu não sei — diz ele com cuidado. — Você acha que foi
boa o suficiente para isso?
— Eu tenho sido tão boa — eu respiro. — Por favor, A?
— Ligue — ele diz rouco. — Deixe essa linda boceta pronta
para mim.
Eu ligo a vibração, aumentando algumas configurações até
que haja uma vibração constante e sussurrante dentro de mim
que me faz ofegar.
— Ah.
— É bom, Cici?
Concordo com a cabeça, meus olhos se fechando enquanto
me concentro na maneira como o brinquedo entra e sai de
mim.
— Mm-hmm.
— Você acha que se sente melhor do que se eu fizesse?
Eu balanço minha cabeça.
— Com você seria muito melhor.
— Porque você preferiria, não é? Estar cheia de mim.
— Sim — suspiro.
— Me diga o quanto você quer meu pau, Cici.
— Eu q… Ah. — Eu acerto aquele lugar dentro que me faz
estremecer, e meu pulso começa a doer um pouco enquanto
tento manter meu ritmo. — Eu queria que fosse você. Eu
queria estar cheia de você em vez deste brinquedo. Eu preciso
disso, A.
— Sim? Você pode me implorar por isso? Implore pelo meu
pau, Cassie.
Meus olhos se abrem, percebendo como Aiden está
totalmente destruído. Seu peito está vermelho e há pequenas
veias salientes em seus braços pela maneira como ele cerra os
punhos com tanta força. Sua boca está frouxa e seus olhos estão
pesados, e decido perdoar seu deslize, tentando me concentrar
novamente na atuação.
— Por favor, A — eu sussurro, empurrando o brinquedo
para dentro com um pouco mais de força. — Por favor, me dê
seu pau.
— Eu não acredito em você. Tem certeza que quer?
Minha boca se abre quando eu bato naquele lugar
novamente, tremendo toda enquanto um orgasmo começa a
crescer.
— Penso nisso o tempo todo. Quão bem você me encheria.
— Minha cabeça pende para trás enquanto minhas coxas
tremem, tão perto que quase posso sentir o gosto. — Eu aposto
que você... — Prendo a respiração, minhas mãos tremem. —
Aposto que você poderia...
Eu fico tensa quando me atinge, não me consumindo tanto
quanto o que Aiden pode me dar, mas o suficiente para deixar
um fino brilho de suor em meu corpo, me deixando ofegante.
Quando finalmente consigo abrir meus olhos novamente,
posso ver que Aiden está olhando para mim como se eu fosse
algum tipo de coisa mítica, sua expressão cheia de admiração e
apreciação e um pouco de outra coisa que faz meu peito doer.
— Porra, Cassie. Como você é tão...
— Cassie? — Eu sorrio para ele enquanto estou lutando
para recuperar o fôlego. — Quem é essa? Você sabe que meu
nome é Cici.
— Cici — diz ele com firmeza.
— Você queria poder me tocar, A? — Eu deslizo o
brinquedo para fora, desligando a vibração, mas trazendo a
cabeça para a minha barriga para espalhar alguns dos meus
fluidos ali. — Eu queria que você pudesse me tocar.
Sua mandíbula fica tensa.
— Não sei se posso fazer isso.
— Oh? Qual é o problema? Achei que você gostava de me
assistir?
Ele me surpreende ao se afastar dos travesseiros, rastejando
para me encontrar até que possa me forçar a ficar de costas. Ele
apoia as mãos em cada lado da minha cabeça enquanto estou
esparramada embaixo dele.
— Aiden?
— Eu mudei de ideia — ele me diz sério, seus olhos nos
meus. — Eu quero a Cassie. — Ele puxa a manga do meu braço
para deslizá-la mais para baixo. — Apenas a Cassie. — Meu
coração começa a bater em uma cadência pesada no meu peito
enquanto ele me pede para tirar seu casaco, jogando-o de lado.
— E eu não quero mais assistir.
Mal consigo respirar quando ele se abaixa contra mim,
dando-me um beijo que faz meus dedos se curvarem. Sua
língua desliza dentro da minha boca para lamber a minha, e eu
fecho meus olhos enquanto minha pele formiga e meu
estômago revira. Eu sinto sua mão se mover para o meu quadril
para apertar lá, vagando depois – subindo minhas costelas e sob
meus seios e voltando para baixo novamente sobre minha
barriga até que ele possa mergulhar entre minhas pernas.
— Você está tão molhada — ele se maravilha.
Eu deixo meus dedos pastarem contra seus quadris,
puxando-o para mais perto.
— Por causa de você.
— Porra.
Aquela urgência está de volta quando ele me beija, mas o
resto de seu corpo fica lento. Ele segura meu quadril para me
manter presa sob ele, balançando contra mim para que eu possa
sentir o calor de seu pau contra o meu centro. O tecido fino de
sua cueca boxer parece demais, e começo a puxá-la com
impaciência, precisando sentir tudo dele. Ele consegue tirar a
cueca com menos dificuldade do que eu, e em questão de
segundos ele está completamente nu contra mim.
Eu suspiro em sua boca quando posso senti-lo contra o meu
núcleo, continuando a se esfregar lentamente, fazendo a cabeça
de seu pau bater contra a parte mais sensível de mim a cada
golpe.
— Aiden — eu sussurro entre beijos. — Aiden, você pode...
E como se ele pudesse ler minha mente, eu sinto a pancada
dele contra a minha entrada, batendo contra mim antes de
empurrar lentamente para dentro. Ele nunca para de me beijar
enquanto me dá centímetro após centímetro, me preenchendo
de uma forma preguiçosa e torturante, de forma que parece
uma eternidade até que eu esteja cheia. É muito diferente do
brinquedo, muito melhor, e novamente me pergunto como
poderia estar totalmente satisfeita com outra coisa senão isso,
agora que o tenho. Espero nunca ter que descobrir.
Seu corpo contra o meu é um peso quente e satisfatório, e
seus lábios, que começaram a vagar novamente, provocam
pequenas faíscas contra minha pele onde quer que se toquem.
Ele não se move dentro de mim enquanto sua boca pressiona
contra minha bochecha, meu queixo, até meu pescoço – e
depois de um momento desse tormento, começo a me
contorcer de impaciência.
— Fique parada — diz ele, não uma exigência, mas um
apelo. — Deixe eu sentir você.
Eu fico imóvel quando ele solta uma respiração irregular
contra a minha garganta, beijando-a suavemente depois
enquanto sua mão desliza pela minha coxa. Sua mão se curva
ao redor da parte de trás do meu joelho para incitá-lo para cima,
empurrando-o para me abrir mais enquanto ele levanta a
cabeça para olhar para mim. Sua garganta balança quando ele
engole enquanto ele olha para mim através de olhos
entreabertos, segurando meu joelho contra meu peito e
sorrindo sonhadoramente antes de me beijar novamente.
E então ele começa a se mover.
Ele puxa seus quadris para trás para empurrar de volta para
dentro naquele mesmo ritmo lento, seus lábios e língua me
mantendo muito distraída até mesmo para reclamar sobre o
ritmo lento. Não que eu queira. Cada deslizar para dentro traz
uma fricção deliciosa, cada centímetro dele tocando cada parte
de mim. Ainda estou sensível pelo orgasmo que acabei de me
dar, e isso significa que cada sensação é intensa, cada toque
parece muito mais.
Sinto seu braço serpentear sob minhas costas, puxando-me
contra ele e prendendo meu joelho contra seu peito. Ele se
apoia no cotovelo ao meu outro lado, sua boca nunca deixando
a minha. Estamos tão perto que posso sentir a base de seu pau
esfregando contra mim a cada estocada, uma pressão
formigante crescendo entre minhas pernas enquanto ele rola
seus quadris contra os meus de novo e de novo.
Minha coxa começa a queimar com a maneira como ele a
empurra em direção ao meu estômago, mas o ângulo significa
que ele bate incrivelmente fundo a cada estocada, o prazer se
sobrepõe a qualquer desconforto. Seus beijos são
entrecortados, como se ele estivesse tendo problemas para
manter o foco, sua cabeça finalmente enterrada na minha
garganta, gemendo. Eu seguro seus ombros enquanto ele
aumenta o ritmo, sua respiração quente contra meu pescoço.
— Aiden — eu suspiro, sentindo aquele calor formigando
dentro de mim a ponto de explodir. — Oh. Oh. Eu...
— Você vai gozar?
Eu tento acenar com a cabeça.
— Não pare.
— Nunca. — Suas estocadas são erráticas agora. — Porra.
Eu nunca quero parar.
— Apenas… apenas continue… bem aí. Eu...
É como uma chuva de fogos de artifício explodindo atrás
dos meus olhos e por toda a minha pele, luzes e cores piscando
na minha visão enquanto todo o meu corpo fica tenso com o
meu orgasmo. Aiden ainda está se movendo, seus grunhidos
ficando mais altos e ásperos contra minha orelha, e eu deslizo
meus dedos sobre seus ombros, deixando beijos atordoados
onde quer que eu alcance.
Ele também fica rígido quando cai da borda, seu grande
corpo tremendo contra o meu e seu pau se contraindo
profundamente, bem no fundo antes de ele ficar frouxo contra
mim. Ele é pesado e grande demais para isso, mas gosto do peso
dele. Eu continuo pressionando beijos contra sua mandíbula
enquanto ele tenta recuperar o fôlego, tremendo com cada
passagem dos meus dedos contra sua pele.
Ele me mantém perto até que sua respiração fique menos
superficial, inspirando profundamente apenas para expirar
antes de sair de mim com um estremecimento. Ele não vai
longe, rolando ligeiramente para o lado para que possa me
manter perto dele sem me esmagar com seu peso, e observando
enquanto eu levanto minhas mãos para deixá-las descansar sob
minha cabeça. Ele parece exausto assim; sua cabeça repousa
sobre um bíceps e o outro está preguiçosamente sobre meu
quadril, mas seus olhos são expressivos e brilhantes enquanto
estudam meu rosto.
Eu trago as pontas dos meus dedos para sua boca, traçando
sua forma levemente.
— Você sabia que as partes mais sensíveis do seu corpo são
as pontas dos dedos e os lábios?
— Sim? — Ele beija meus dedos. — Parece bastante
sugestivo para uma tampa de Snapple.
Sua mão sobe pelo meu lado até que ele possa envolver seus
dedos em volta da minha mão, virando-a para pressionar um
beijo contra a palma. Há um fantasma de um sorriso em sua
boca quando ele olha para mim, como se estivesse guardando
um segredo que não pode compartilhar, e parece contagioso
com a maneira como me faz sorrir timidamente de volta para
ele.
— Você já se perguntou o que teria acontecido se tivéssemos
nos encontrado naquela época?
Sua boca ainda está roçando minha palma.
— Se tivéssemos nos encontrado?
— Mm-hmm. Tipo, o que você acha que teria acontecido?
Sua risada nada mais é do que uma rápida lufada de ar
através de seu narinas, e ele vira minha mão novamente para
roçar seus lábios contra meus dedos.
— Acho que estaríamos bem aqui.
Borboletas fervilham em meu estômago e sobem em meu
peito, e por um momento parece que eu poderia flutuar para
longe se a mão de Aiden não estivesse me amarrando em sua
cama. É um sentimento totalmente novo, mas não um que eu
não goste.
— Isso ainda parece um sonho — eu sussurro. — Fico
pensando que vou acordar.
Aiden sorri, e eu nem tenho tempo para ficar pensativa antes
que ele role, colocando-se em cima de mim novamente.
— Tudo bem — diz ele, os olhos passando rapidamente
para a minha boca por um momento antes de se abaixar para
me beijar. É lento e doce, e tudo o que ele é, e posso sentir meus
cílios tremulando atordoados quando ele se afasta. — Eu não
pretendo deixar você dormir esta noite, de qualquer maneira.
— Pervertido — eu provoco.
Eu posso senti-lo ficando duro contra minha coxa quando
ele me beija novamente.
— Não se preocupe — ele murmura contra a minha boca.
— Você vai acordar bem aqui na minha cama.
O peso desse sentimento parece mais pesado do que seu
corpo, e eu o deixo me envolver como um cobertor enquanto
me derreto nele, permitindo-o me deixar tonta com seu beijo,
seu toque e tudo mais.
Bate papo com @alacarte

Talvez eu possa segurar uma rosa.


Como eles fazem em The Bachelor.
Então você saberia que sou eu.

Você assiste The Bachelor?

Não posso confirmar nem negar


esta declaração.
Capítulo 23
Cassie

Eu sonho com meus pais naquela noite, o que vem


completamente do nada, considerando que não falo com eles
desde que saí de casa aos dezoito anos. Sonho com o dia em que
parti, com a expressão desapontada de meu pai e o discurso
revoltado de minha mãe – uma briga da qual mal consigo me
lembrar mais. O rosto da minha mãe é um borrão distinto que
combina com o do meu pai, e mesmo que eu aperte os olhos,
não consigo distingui-los. Esqueci como eles são?
Há uma dor que vem com o sonho, uma que não me
permito sentir há muito tempo – uma ansiedade esmagadora
por estar sozinha. Uma preocupação sufocante que vem de ser
uma decepção para as duas pessoas cujo amor deveria ter sido
fácil.
Sinto meus pés afundando na grama do lado de fora da
minha casa quando a voz da minha mãe começa a desaparecer,
e o pânico agarra meu peito enquanto luto para conseguir sair.
Eu jogo meus braços enquanto abro minha boca para gritar,
mas nenhuma palavra sai, e eu percebo que o chão vai
literalmente me engolir sem que eu possa fazer nada a respeito.
Mas então ouço meu nome, como um suspiro suave ao
vento, e mãos fortes agarram as minhas para me puxar de volta.
Há um flash de marrom e verde quente olhando para mim, um
sorriso ofuscante que vem com eles. Ele sussurra meu nome de
novo e de novo, e o pânico em meu peito diminui para um calor
crescente que me deixa formigando por toda parte.
Cassie.
Cassie.
Cassie.
— Cassie.
Acordo com lençóis macios sob mim e lábios mais macios
em meu ombro, grunhindo enquanto estico meus braços para
enfiá-los sob os travesseiros quando volto a mim. A mão de
Aiden está esfregando suavemente contra minha espinha
enquanto seus lábios continuam a deixar quase beijos nas
minhas costas.
Que sonho estranho, eu penso.
Não que eu tenha tempo para pensar nisso, cantarolando
como um gato doméstico contente quando sinto sua boca na
minha cicatriz, traçando uma parte.
— Bom dia — ele murmura contra a minha pele.
Eu bocejo, virando meu rosto para que eu possa espiá-lo por
cima do meu ombro.
— Que horas são?
— Cedo, eu acho — ele responde. — Meu telefone ainda
está na minha calça.
— O meu está lá embaixo. — Mover soa como a última coisa
que quero fazer agora. — Como você está tão animado tão
cedo?
Ele sorri antes de se inclinar para beijar meu ombro
novamente.
— Tive uma ótima noite.
— Mas você não está exausto?
— Estou acostumado a trabalhar com pouco descanso —
diz ele. — Você só está me dando um incentivo melhor.
É preciso um esforço incrível para rolar para o lado, meus
olhos ainda pesados de sono enquanto apoio minha bochecha
contra meu punho. Eu sei que assim meus seios estão quase
totalmente à mostra, e não vou fingir que não é intensamente
satisfatório ver Aiden olhando para eles com avidez.
— Nem pense nisso — eu o aviso. — Estou fora de serviço.
Minha pobre vagina está em greve. Na verdade, acho que tenho
uma paralisia temporária lá embaixo.
— Eu duvido muito disso — ele ri. — Não me lembro de
ter ouvido nenhuma dessas reclamações ontem à noite.
— Não serei responsabilizada por coisas que fiz ou disse
durante o orgasmo.
Ele ri de novo, fechando a distância entre nós para me beijar.
— Isso é permitido?
— Contanto que você se comporte — murmuro,
inclinando-me para ele.
Aiden suspira contra a minha boca antes de sua testa
descansar contra a minha.
— Precisamos nos levantar. Tenho certeza que Wanda está
pronta para colocar Sophie na rua agora.
— Duvido — eu digo a ele. — Quando liguei para ela a
caminho de casa ontem à noite, ela disse que Sophie ainda
estava acabando com ela nas cartas. Wanda provavelmente nem
vai deixá-la sair até que ela volte com uma sequência de vitórias.
— Talvez Wanda faça panquecas para o café da manhã para
que Sophie possa adicionar mais uma integrante à lista de
pessoas que ela prefere que faça ao invés de mim.
— Uau, alguém está ressentido.
Aiden zomba.
— Eu não estou ressentido.
— Claro que não. — Eu caio de costas, esticando meus
braços sobre minha cabeça novamente. — Talvez você tenha
que me carregar lá para baixo.
— Só se eu puder fazer isso enquanto você estiver nua.
— Tudo bem. Estou me levantando. Eu preciso de um
pouco de água, de qualquer maneira.
Eu jogo minhas pernas para o lado da cama, sentindo uma
queimação nas minhas coxas e uma dor nas minhas costas, mas
tudo isso traz de volta memórias de como eu fiquei tão
dolorida, fazendo com que eu não me importe tanto. Aiden
está se espreguiçando na cama atrás de mim, quando eu pego a
camiseta branca jogada que ele usava por baixo da camisa
ontem à noite, puxando-a sobre minha cabeça. Ela me deixa
pequena, mas acho que serve para uma viagem até lá embaixo
para tomar um pouco de água.
Posso ouvi-lo rolando para fora da cama enquanto saio do
quarto, virando meu pescoço para frente e para trás para
destravá-lo enquanto me dirijo para as escadas. A casa está
muito mais silenciosa sem o som de Sophie circulando;
geralmente posso ouvir os sons de seu Switch ou talvez até
mesmo de Encanto tocando pela décima vez, e percebo que, por
mais incrível que tenha sido minha noite com Aiden, sinto falta
da pequena pestinha.
Pego uma garrafa de água na geladeira enquanto verifico a
hora no forno. São apenas oito da manhã, que normalmente é
a hora em que Sophie acorda, então, quando nos vestirmos e
estivermos na estrada, imagino que Sophie estará quicando nas
paredes da cozinha de Wanda. Eu rio com o pensamento; já
posso ouvir Wanda fingindo estar incomodada com a energia
de Sophie.
Acabei de encher meu copo e levá-lo à boca para beber
quando ouço passos surdos descendo as escadas, pesados e
urgentes, quase como se Aiden estivesse correndo. E então eu o
ouço falando.
— Não, claro — ele diz em um tom tenso. — Eu estarei aí
imediatamente. E Sophie, ela...? Certo. Sim. Sim, eu sei. A tia
dela? Ela está aí? Isso é... — Aiden para no final da escada,
segurando o telefone com força na mão e fechando os olhos
enquanto a outra mão fecha em punho ao seu lado. — Ok. Fico
feliz que Sophie não esteja sozinha. Sim. Estarei aí em quinze
minutos.
Eu coloco meu copo contra a bancada quando ele desliga,
observando enquanto ele olha para o chão por um momento,
parecendo perdido. Eu me movo rapidamente para o lado dele
para tentar chamar sua atenção, levando minha palma à sua
mandíbula para forçá-lo a olhar para mim.
— Ei, o que há de errado?
Aiden pisca para mim como se só agora estivesse me vendo;
sua boca se abrindo e seus olhos procurando meu rosto como
se ele estivesse tentando encontrar o que deveria dizer.
— Cassie, é...
— Aconteceu alguma coisa? — Eu posso sentir a
preocupação rastejando em meus membros como um calafrio.
— Sophie está bem?
— Ela está bem — Aiden me assegura, estendendo as mãos
para envolver meus pulsos. — Ela está bem. É... — Seus lábios
se pressionam, sua expressão de dor. — É Wanda.
Cada parte de mim fica gelada.
— O quê?
— Wanda, ela... — Ele engole em seco e parece que prefere
dizer qualquer outra coisa do que o que está prestes a me dizer.
— Wanda teve um ataque cardíaco.
Eu não digo uma palavra enquanto corro para o meu quarto
para me trocar.

■□■

Eu descubro mais detalhes sobre o que aconteceu em nosso


caminho para o hospital; em algum momento da madrugada,
Wanda começou a sentir dores no peito e acordou Sophie.
Sophie ligou para a emergência por instrução de Wanda antes
que ela inevitavelmente desmaiasse, o que deixou uma Sophie
apavorada sozinha, tentando nos contatar.
E nossos telefones estavam esquecidos no chão em algum
lugar.
A culpa que sinto é palpável, e só posso imaginar que Aiden
sente o mesmo, se não pior. Os nós dos seus dedos
permaneceram totalmente brancos contra o volante durante
todo o caminho até o hospital, e ele não disse uma palavra
durante todo o caminho até lá. Eu sei que nos disseram que
Wanda está estável e que o pior já passou, mas ainda assim.
Sinto aquela sensação de medo iminente com a ideia de que a
primeira pessoa que realmente me amou está deitada em uma
cama de hospital.
Quando finalmente chegamos, tenho que correr para
acompanhar Aiden enquanto andamos pelo corredor do andar
em que Wanda está, e quando finalmente viramos a esquina
perto do quarto de Wanda para avistar uma Sophie de
aparência cansada agarrada a sua tia Iris, sinto-me igualmente
aliviada e apavorada. Sophie não nos nota a princípio, sentada
ao lado de sua tia em um banco no corredor enquanto Iris olha
para frente com uma expressão de raiva. Eu sei que isso não vai
correr bem.
Iris nos nota primeiro, virando a cabeça ao som de nossos
passos e olhando para nós dois enquanto ela aperta o braço em
volta dos ombros de Sophie.
— Legal da sua parte finalmente se juntarem a nós.
Aiden a ignora, indo direto para Sophie para se agachar na
frente dela. Ele estende a mão para segurar o rosto dela,
forçando seus olhos a encontrarem os dele.
— Você está bem?
— Sim — Sophie murmura, seu pequeno lábio tremendo.
— Wanda está doente. Tentei ajudar, mas ela... ela adormeceu
e não consegui acordá-la.
— Shh — Aiden acalma, afrouxando o aperto de Iris em sua
filha e puxando Sophie para seus braços. — Você foi incrível.
Não é sua culpa. Sinto muito por não termos atendido o
telefone.
Iris parece lívida, sua expressão mais sombria do que eu já vi
enquanto ela olha entre nós dois com o que só pode ser descrito
como desprezo.
— Como você pode deixá-la com uma senhora idosa e
depois simplesmente ignorar o telefone a noite toda?
— Eu não ouvi tocar — Aiden responde com firmeza. Posso
dizer que ele está fazendo o possível para permanecer civilizado,
mas também posso sentir o quão estressado ele está agora. —
Foi um erro.
— Um erro — Iris bufa, movendo-se para ficar de pé
enquanto gesticula entre nós. — Eu me pergunto por que isso?
Você acha que talvez seja porque você decidiu sair — ela me dá
um olhar deliberado que é tudo menos agradável — e se divertir
sozinho?
Sinto meu estômago revirar com mais culpa, odiando que
eu seja a razão pela qual ele está sendo repreendido agora. Iris
está olhando para mim como se eu fosse algo que ela está
tentando raspar do sapato, e a expressão cansada de Aiden me
faz sentir equivalente a isso. Posso ver cada pedaço de terreno
que ganhei com Iris voando como poeira ao vento, cada vitória
circulando pelo ralo. Está em seu rosto que ela me culpa por
isso tanto, senão mais, do que Aiden.
— Iris, não foi culpa dele, foi...
— Apenas, não — Iris praticamente cospe. — Sabe, você
realmente me enganou. Achei que você se importava com ela.
Mas você estava apenas tentando conseguir outra coisa. Não
era?
Recuo como se ela tivesse me dado um tapa e ouço Aiden
respirar fundo. Ele sorri para Sophie, enfiando a mão no bolso
para tirar sua carteira, puxando algumas notas e entregando a
ela.
— Por que você não vai buscar alguma coisa na máquina de
venda automática? É bem no final do corredor. — Ele aponta
para a grande máquina ao fim do corredor em que estamos. —
Tenho certeza que você está com fome.
Sophie acena com a cabeça solenemente, pegando as notas e
olhando cautelosamente para os três adultos muito tensos que
a cercam antes de se afastar.
Iris está olhando para mim de novo como se eu fosse um
lixo, e isso deixa meu rosto quente de vergonha. Parece que me
iludi pensando que estávamos progredindo, porque com um
erro tudo está desmoronando.
A voz de Aiden é cautelosa quando ele fala novamente.
— Ei, estou agradecido que você estava aqui por Sophie,
mas...
— Claro que estou aqui por Sophie — Iris sussurra. —
Estou sempre aqui por Sophie. É exatamente por isso que ela
deveria ficar comigo. — Ela cutuca o dedo no peito de Aiden.
— Você deixou Sophie com uma mulher idosa que você mal
conhece para poder fugir e foder sua babá. O que diabos você
estava pensando?
Eu posso sentir o ar saindo dos meus pulmões como se eu
tivesse acabado de perder o fôlego. A maneira como ela diz isso
soa como uma coisa suja e barata, como se eu fosse alguém que
Aiden pegou para uma transa rápida. Isso me faz sentir suja,
ouvindo isso ser dito assim.
Aiden parece lívido, um tique em sua mandíbula, como se
estivesse usando todo o seu controle para não soltar os
cachorros em cima de Iris.
— Você não sabe o que está falan...
— Na verdade, acho que sei — Iris ri ironicamente. — Eu
fiz vista grossa para isso, porque pensei que ela se importava
com Sophie, mas é claro que ela se importava mais com você.
Aparentemente, Sophie é apenas um pensamento tardio para
vocês dois.
— Iris — diz Aiden com firmeza. — Não se atreva...
— Não me diga o que fazer, Aiden Reid — ela ferve,
claramente tensa ao ponto de não retorno. — Eu sentei e vi
você tentando ser pai, e fiz tudo o que pude para tentar ajudá-
lo, para encontrar uma solução que realmente seja do interesse
de Sophie. Mas você esteve tão envolvido em seu próprio ego
que nunca tentou considerar o que poderia ser melhor para ela.
O que claramente não é morar com você.
— Meu ego não tem nada a ver com isso — ele responde. —
Sophie é minha filha, não sua, e você não vai ficar aqui e me
dizer que...
— Eu não tenho que ficar aqui e te dizer nada — ela diz com
uma risada sem humor. — Eu posso dizer isso a um juiz, em vez
disso. Acho que alguém pode achar toda essa situação
extremamente interessante.
Aquele pânico está de volta, arranhando meu peito por
dentro como se pudesse explodir de dentro de mim a qualquer
segundo.
— Espera — eu interrompo. — Iris. Eu sinto muito. Isto é
minha culpa. Eu nunca faria nada para machucar Sophie. Eu
que sugeri...
— Eu não me importo — Iris interrompe, seus olhos
selvagens e úmidos com lágrimas não derramadas. — A única
coisa que me importa é minha sobrinha me ligar
completamente apavorada esta manhã, do fundo de uma
ambulância porque seu pai não atendeu o telefone. Tudo
porque ele estava enfiando o pau em alguém.
— Já chega. — O rosto de Aiden está vermelho, uma dureza
em seus olhos que eu nunca vi antes. — Dá o fora daqui, Iris.
Agora mesmo.
— Você não pode me dizer o que...
— Se você não sair neste exato segundo — ele diz
sombriamente — eu irei direto para o tribunal amanhã e
entrarei com uma ordem de restrição. Você quer gastar o
dinheiro necessário para combater isso?
Ela estreita os olhos.
— E você acha que isso vai durar?
— Você quer descobrir?
Um segundo se passa entre eles enquanto eu permaneço à
beira do caminho, silenciosa e atordoada.
— Tudo bem — Iris diz finalmente. — Mas isso não
acabou, Aiden. Eu sabia desde o começo que você ia fazer
merda. Eu só tive que poupar meu tempo e esperar que isso
acontecesse. — Ela para no meio de um passo ao meu lado para
me olhar diretamente, sua expressão uma mistura de decepção,
mágoa e raiva, tudo misturado. — Espero que você tenha
valido a pena.
Aiden olha para algum ponto na parede atrás dela enquanto
Iris sai pisando duro, e eu viro minha cabeça para pegá-la
dizendo adeus a Sophie no final do corredor. Estendo a mão
para Aiden, para fazer o quê, não sei – confortá-lo, talvez – mas
puxo minha mão para trás, lutando contra uma sensação
estranha.
Espero que você tenha valido a pena.
De repente, todos os bons sentimentos que tive nas últimas
vinte e quatro horas se esvaem, deixando nada além de
preocupação, culpa e vergonha em seu rastro. Eu não tinha
considerado antes deste momento o que isso poderia significar
para Aiden a longo prazo, nós dois estarmos juntos – nem
mesmo pensado no que as pessoas poderiam dizer sobre ele, por
falta de uma expressão melhor, foder sua babá.
Aiden finalmente olha para mim, uma multidão de emoções
diferentes aparecendo em suas feições. Medo, raiva,
arrependimento – está tudo lá. Mas o que é pior do que isso, eu
acho, é aquele lampejo de decepção em seus olhos. Não sei para
quem é, para ele ou para mim ou apenas para esta situação, mas
desperta todos os tipos de velhas emoções dos dias em que eu
era muito familiarizada com esse olhar. É praticamente o único
que meus pais me deram.
Eu fui um fardo para eles também.
— Sinto muito — eu sussurro, ainda sentindo aquela
sensação nojenta de culpa.
Aiden balança a cabeça.
— Isso não é culpa sua, Cassie.
É sim. Como não pode ser?
Eu quero chorar, mas eu me forço a segurar.
— Eu cometi um erro — ele diz categoricamente, olhando
para o chão. — E eu vou lidar com isso.
Um erro? Ele quer dizer eu? Eu não posso me obrigar a
perguntar. Engulo um nó crescente na garganta, tentando
encontrar as palavras, mas não consigo.
— Você deveria verificar Wanda — ele me diz, sua expressão
de derrota e cansada. — Vou levar Sophie para casa.
Ele está te afastando.
Parte de mim acha que ele não faria isso, mas essa parte está
sendo silenciada por uma voz muito alta e patética agora.
— Ok — eu digo baixinho. — Sim. Você tem razão.
— Vejo você em casa — diz ele, tentando sorrir, mas sem
conseguir.
Eu aceno enquanto ele dá um tapinha no meu ombro, o
gesto não tendo nada do calor que eu sinto que ele teria me
dado antes disso. Isso só me faz sentir pior. Eu o vejo ir e se
juntar a Sophie, que está em um banco mais adiante no
corredor, e ela lança um olhar para mim quando começa a sair
com Aiden, me dando um aceno fraco.
Eu devolvo com um sorriso, mas como o de Aiden, ele não
encontra meus olhos.

■□■

Ver Wanda ligada a máquinas só piora meu humor sombrio. A


enfermeira disse que os remédios que deram a ela iriam deixá-la
com sono, e ela está apagada há uma boa hora, mas estou
determinada a esperar até que ela acorde. Meu telefone está
morto desde que saímos mais cedo, um resultado de deixá-lo
fora do carregador a noite toda. Outro erro que cometi nas
últimas vinte e quatro horas.
Eu inclino minha cabeça para trás contra a parede do quarto
de Wanda, esfregando meus braços para lutar contra o frio do
hospital. Não tive nada para fazer na última hora, exceto
repassar o confronto com Iris várias vezes – revivendo suas
palavras raivosas, o rosto preocupado de Sophie e a exaustão
derrotada de Aiden repetidas vezes.
Eu cometi um erro.
Talvez ele não se referiu a mim, continuo dizendo a mim
mesma. Talvez ele estivesse se referindo a esta situação. Eu nem
tenho certeza se isso importa. Independentemente de como
acabamos aqui esta manhã, sei no fundo que agora me tornei
algo que Iris guardou em seu arsenal para usar em sua luta
incansável para tomar Sophie. Agora, eu sou a maior munição
que ela tem, ao que parece. E como diabos eu vivo com isso?
Espero que você tenha valido a pena.
Eu pressiono as palmas das minhas mãos contra meus olhos,
inspirando e expirando enquanto as lágrimas ameaçam se
acumular lá. Parece que estou contra a parede, presa entre o que
quero e o que é melhor para esta pequena família com quem
tanto me importo. Serei sempre uma pedra no meio do
caminho deles? Apenas algo para ser usado contra Aiden? O
que acontecerá quando Iris o levar ao tribunal e ele decidir que
não valho a pena? Não é como se ele fosse me escolher em vez
de Sophie, e eu não iria querê-lo se ele fizesse. Metade da razão
pela qual eu o amo é por causa de como ele é dedicado a Sophie.
Eu tiro minhas mãos dos meus olhos, piscando para o teto
em transe.
Eu... amo ele?
A percepção me atinge como um saco de tijolos, mas, em vez
de euforia, sinto apenas mais pavor. Se eu amo Aiden e
continuarmos como estamos, ele vai se aprofundar tanto nessa
coisa comigo que vai teimosamente aguentar muito tempo
depois de eu provar ser ruim para ele e Sophie. Ou o que é pior,
ele vai me jogar de lado. Ambas as opções fazem meu peito
doer, e eu sei que passar por qualquer uma delas me quebraria
em pedaços.
Não consigo escapar da suspeita doentia de que quanto mais
tempo ficar, mais um fardo eu me tornarei para eles.
— Você parece uma merda.
Sento-me ereta, vendo Wanda olhando para mim de sua
cama.
— Oh meu Deus, você está acordada — eu digo com alívio,
empurrando para fora da minha cadeira para ir para a ponta da
cama dela. — Como você está se sentindo?
— Eh. Eles não tiveram que me abrir, pelo menos. Tenho
certeza que eles vão ficar no meu pé sobre mudar minha dieta
depois disso.
— Algo que você irá fazer.
— Minha mãe está morta há anos, garota. Pare de falar como
se você fosse ela.
Apesar de tudo, isso me faz rir.
— Você me assustou pra caralho, Wanda. Preciso que você
viva pelo menos mais vinte anos.
— Senhor, espero que não — ela resmunga. — Como você
entrou aqui de qualquer maneira?
— Disse a eles que eu era sua neta.
— Boa. Muito boa.
Eu franzo a testa.
— Sério, você está bem?
Ela me dá um sorriso cansado.
— Eu disse que você ia me dar um ataque cardíaco um dia
desses. — Seu sorriso se dissipa com a minha expressão
enrugada. — Oh, pare com isso. — Ela luta para se sentar na
cama, e eu coloco a mão atrás de suas costas para ajudá-la. —
Ainda não estou morta. — Ela parece preocupada então. —
Onde está Sophie?
— Aiden a levou para casa. — Apenas a menção de ambos
faz meu peito pulsar. — Quanto você se lembra?
Wanda dá de ombros.
— Eu disse a ela para ligar para a emergência quando
comecei a sentir dores no peito. Ela se saiu muito bem. Há
partes da ambulância, mas nada muito depois disso.
— Ela não conseguiu entrar em contato conosco — eu digo
culpada. — Nós dois esquecemos de nossos telefones ontem à
noite.
Wanda ri.
— Imagino que vocês estavam muito ocupados sacudindo
os lençóis.
— Não é engraçado! Nós dois nos sentimos péssimos.
Sophie teve que ligar para sua tia Iris.
— Droga. Aquela harpia que vive incomodando seu
companheiro? Isso soa como um momento divertido.
— Foi horrível, Wanda. A maneira como ela atacou Aiden...
— Eu posso sentir meus olhos lacrimejando, e eu tenho que
parar um momento para evitar isso. — Ela ameaçou levá-lo a
um juiz.
— Ah, deixa ela. Ela está apenas sendo amarga.
— Ela ameaçou Aiden por minha causa, Wanda. Se ele não
tivesse estado comigo na noite passada...
— Então eu poderia estar morta, pelo que sabemos — diz
Wanda de forma assertiva. — Aquela garota salvou minha
maldita vida. É assim que o destino funciona, garota.
— Eu sei disso, mas se eu não tivesse...
— Pare essa merda — diz ela, estalando a língua. — Pare de
tentar colocar isso em cima de você. Não é sua culpa que eu
tenha um coração de merda.
— Eu não sei o que fazer — eu admito baixinho, aquelas
lágrimas que eu estava querendo afastar estão se acumulando
nos cantos dos meus olhos e ameaçando derramar. — Se eu
ficar com eles, ela vai usar isso contra Aiden.
— O que diabos você quer dizer com "se eu ficar"? Você não
está pensando em ir embora, está?
— Eu... — Engulo em seco, sentindo uma gota escorrer pela
minha bochecha. — Eu não posso ser o motivo que vai estragar
as coisas para eles. Eu não... — Prendo a respiração, tentando
sufocar um soluço. — Não quero ser o fardo de ninguém. De
novo, não.
Wanda está quieta, observando enquanto eu baixo a cabeça
e enxugo os olhos. Tantas emoções estão me atingindo de uma
só vez, e eu me sinto ainda pior sentada aqui reclamando sobre
meus problemas quando Wanda acabou de sobreviver a um
maldito ataque cardíaco. Ela espera que eu me acalme, espera
que as fungadas parem enquanto eu olho para os meus joelhos.
— Você acabou?
Eu dou de ombros evasivamente, limpando meu nariz.
— Eu acho que sim.
— Quantas vezes eu já disse que nem todo mundo é como
seus pais? Tenho certeza de que aqueles dois foram realmente
montados em algum tipo de fábrica de idiotas raivosos. Nunca
foi sua culpa.
— Não foi? Eles nunca me quiseram. Tudo o que fiz foi
causar problemas para eles. Eles não me ligaram nenhuma vez,
Wanda. Nem uma vez em sete anos. Eles ficaram em êxtase ao
me ver partir. Como isso pode não ser minha culpa?
— Porque eles são pessoas horríveis e egoístas. Seus pais não
deveriam ter sido pais. Principalmente de alguém tão especial
quanto você. Eles eram pessoas amargas com vidas amargas que
torciam o nariz para um belo presente em vez de apreciá-lo.
— Não sei...
— Você acha que fugir vai resolver as coisas? Isso não vai
impedir aquela mulher de perseguir aquela família. Teimosos
não desistem em um bloqueio, Cassie. Eles encontram outro
maldito caminho.
— Sinto muito — eu digo lamentavelmente. — Não
acredito que estou aqui reclamando depois da noite que você
teve.
— Minha única outra opção seria alguma novela — diz ela,
acenando para mim.
— Ainda sim.
— Não dê um tiro no próprio pé, querida. Você pode ter
coisas boas, mas precisa se permitir tê-las.
O que ela está dizendo parece razoável, ou melhor,
pareceria, para uma pessoa mais razoável. Não me sinto muito
razoável agora. Eu me sinto com raiva, triste e principalmente
apenas... derrotada. Como se eu estivesse presa em um canto
com apenas uma saída, mas a saída é pavimentada com pregos
de ferrovia enferrujados.
Eu enxugo meus olhos de novo para garantir quando ouço
a porta de seu quarto se abrindo, uma enfermeira animada
entrando para nos cumprimentar enquanto ela fala sobre
Wanda estar acordada. A enfermeira menciona algo sobre
sinais vitais e exames e, embora Wanda não diga, posso ouvir a
dispensa em sua voz.
— Volto mais tarde — digo a Wanda. — Não seja má com
as enfermeiras.
Wanda revira os olhos.
— Ainda não mordi uma, pelo menos.
Se eu não me sentisse uma merda, eu riria do olhar que a
enfermeira deu a ela.
— Você se lembra do que eu disse — Wanda me lembra. —
Não faça nada estúpido.
Concordo com a cabeça, mas mesmo enquanto faço isso, sei
que é mentira. Saio do quarto de Wanda com um grande peso
nos ombros, implorando aos meus olhos para segurarem as
lágrimas até encontrar um lugar tranquilo do lado de fora para
ter uma festa de piedade antes de tentar chamar um táxi.
Porque eu não posso ser o que fica entre Aiden e Sophie. Não
vou permitir que isso aconteça. Não importa o quanto eu... me
preocupe com eles. Ambos.
Eles ficarão melhores se eu fizer isso agora, antes que nos
aprofundemos demais. Antes de chegarmos a algum ponto do
qual não podemos voltar atrás. Antes que Aiden perceba que
eu nunca vali a pena em primeiro lugar. Não posso dizer se a
decisão que tomei é estúpida ou não, mas... eu sei que vai doer
como o inferno.
Nunca estive tão nervoso em toda a minha vida. Estou
esperando por esse dia há semanas, desde que decidimos
nos encontrar pessoalmente. É ridículo que eu tenha tanto
medo de um encontro na minha idade e, no entanto,
verifiquei meu cabelo três vezes, mudei de roupa pelo
menos cinco.
Minhas mãos coçam para tocá-la e estou desesperado
para ouvir sua voz, ouvi-la de verdade.
E hoje finalmente posso.
Eu verifico minha aparência mais uma vez no espelho do
corredor, pulando quando meu telefone tocando no
balcão da cozinha me distrai. Eu franzo a testa quando
percebo quem está ligando – não há absolutamente
nenhuma razão para a irmã de Rebecca estar me
ligando.
O pavor se instala em meu estômago. Algo pode estar
errado com Sophie?
Eu atendo a chamada, trazendo-a ao meu ouvido com a
respiração suspensa. "Iris?"
Capítulo 24
Aiden

Sophie não diz uma palavra durante todo o caminho para casa.
Eu disse a ela três vezes desde que saímos que sinto muito por
não ter atendido sua ligação; não consigo nem descrever o
quanto me sinto um fracasso como pai sabendo que ela passou
horas sozinha sem ninguém para confortá-la. Isso me deixou
com um nó no estômago desde o momento em que a vi sentada
naquele corredor parecendo mais desolada do que nunca.
Ela também permanece quieta quando chegamos em casa,
subindo dois lances de escada em direção ao seu quarto
enquanto afirma estar cansada, e eu luto comigo mesmo se
devo ou não dar-lhe espaço ou implorar para ela falar comigo.
Neste ponto, não tenho ideia se a decisão que eu tomar vai
melhorar as coisas, se é que vai melhorar, mas no fim decido
que ela já passou bastante tempo sozinha hoje.
Eu a sigo até seu quarto e a ajudo a tirar os sapatos enquanto
ela se senta na beira da cama, olhando para mim com olhos
distantes. Sento-me ao lado dela depois de ajudá-la a se
acomodar sob as cobertas, notando suas olheiras.
— Sophie, sinto muito — digo a ela novamente, desejando
ter alguma maneira de consertar isso. — Eu deveria estar lá. Eu
me sinto horrível por você ter passado por aquilo sozinha.
Sophie dá de ombros.
— Tudo bem.
— Não está, Soph — enfatizo, inclinando-me para
pressionar minha mão em seu cabelo. — Eu deveria proteger
você. É meu trabalho garantir que você nunca se sinta assim, e
não fiz um bom trabalho. Vou fazer tudo o que puder para
garantir que nunca mais eu erre assim.
— Eu não estou com raiva de você — ela me diz baixinho.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu ficaria com raiva de mim, se eu fosse você.
— Eu não estou — ela me garante. — Prometo.
— Mas você não está bem — insisto. — Fale comigo. Deixe
eu ajudar.
Ela se aninha em seu travesseiro, fechando os olhos e
apertando-os com força enquanto as lágrimas se acumulam lá.
— Wanda estava mal — diz ela lamentavelmente. — Eu não
sabia o que fazer. Achei que ela fosse morrer.
— Oh, querida. — Eu rastejo cuidadosamente sobre ela,
deitando atrás dela em sua cama e puxando-a contra meu peito
para segurá-la com força. Ela se vira para enterrar o rosto ali, e
eu descanso minha bochecha contra seu cabelo. — Você foi
incrível, Soph. Hoje foi assustador. Muito mais assustador do
que qualquer coisa que você deveria ter que passar. Mas você
foi ótima. Tão ótima. Você salvou a vida de Wanda. Você
percebe?
Não consigo ver seu rosto agora, mas a sinto balançando a
cabeça contra meu peito.
— Ela está bem?
— Eles nos disseram que ela vai ficar bem depois de um
pouco de descanso — digo a ela. — Cassie está com ela agora.
— Você acha que Cassie está com raiva de mim?
— O quê? — Eu movo meu rosto para baixo para olhar para
ela. — Claro que não. Cassie nunca poderia ficar com raiva de
você. Ela te ama.
A voz de Sophie está mais suave agora.
— Eu não quero que Cassie fique brava e vá embora.
— Sophie. — Sinto uma sensação de aperto no peito. — É
isso que te preocupa tanto? Isso não vai acontecer.
— Você promete?
— Vou fazer o meu melhor para garantir que isso nunca
aconteça.
— Eu também amo Cassie — ela sussurra em minha camisa.
Fecho meus olhos enquanto esfrego suas costas, fazendo
círculos calmantes ali para mantê-la tranquila e confortável.
Leva um tempo para sua respiração se estabilizar, mas posso
dizer quando ela cai no sono, seu corpo ficando mole em meus
braços à medida que a tensão da manhã finalmente toma conta
dela. Eu mantenho meus braços em volta dela mesmo depois
que ela adormece, aproveitando esse momento de silêncio
enquanto penso em nossa conversa.
Não consigo imaginar o que Sophie sentiu quando estava
sozinha com Wanda – incapaz de falar comigo ou Cassie e sem
ter ideia do que fazer. O pânico que ela deve ter sentido me
deixa uma bagunça por dentro, atormentado pela culpa e
vergonha absoluta por não ter estado lá para ela. Especialmente
com o quão incrível foi a noite passada, o quão feliz eu estava
até o momento em que vi todas as chamadas perdidas. As coisas
pareciam perfeitas até aquela parte. Agora eu me sinto um
merda.
Há uma culpa adicional acima de tudo por ter deixado
Cassie no hospital, mas eu não sabia mais o que fazer. Tenho
certeza de que Cassie entende o quanto Sophie precisava de
mim, como eu estava distraído com tudo o que estava
acontecendo, mas isso não diminui a culpa.
E Iris. Porra de Iris.
Ela nunca gostou de mim, nem quando Rebecca
engravidou, nem quando tentamos fazer as coisas
funcionarem, nem quando decidimos que estaríamos melhor
separados, especialmente quando minha vida ficou tão agitada
depois que consegui meu emprego atual. Tudo só piorou mil
vezes depois que Rebecca faleceu e Sophie veio ficar comigo.
Agora é como se a missão de toda a vida de Iris fosse provar que
sou um pai de merda. E aqui estou, entregando de bandeja a
faca que ela está procurando para apunhalar minhas costas.
Que bagunça do caralho.
Continuo pensando no rosto de Cassie no hospital – seu
olhar desanimado me dizendo que ela estava se culpando por
Iris ter saído dos trilhos. Eu devia ter feito mais para assegurá-
la, eu sei disso, mas com Sophie parecendo quase catatônica,
tudo que eu conseguia pensar era em levá-la para casa, deixá-la
segura e trazer ela mesma de volta. Pretendo me desculpar
completamente com Cassie quando ela voltar. Não que eu
tenha ideia de quando isso acontecerá, já que o telefone dela
está sem bateria.
Eu também amo Cassie.
É a única parte de toda essa bagunça que me dá algum nível
de felicidade. A silenciosa admissão de Sophie. O jeito que
Cassie ama minha filha, o jeito que Sophie a ama de volta – isso
me faz sentir coisas que nunca senti antes. Me faz imaginar
todos os tipos de coisas que não tenho direito de imaginar com
Cassie depois de nosso curto período juntos, mesmo com nossa
estranha história compartilhada. Ainda sim. Imagino do
mesmo jeito.
Puxo Sophie com mais força, afastando o zumbido da
minha cabeça. Há tempo para descobrir tudo isso mais tarde,
de preferência em um dia em que todos nós não tenhamos
passado pelo pior. Eu fecho meus olhos, bocejando enquanto
me asseguro silenciosamente.
Nós temos muito tempo.

■□■

Eu não sei quando cochilei, mas Sophie ainda está dormindo


profundamente ao meu lado em sua cama quando acordo,
então me afasto suavemente para deixá-la continuar
descansando. Eu bocejo enquanto coço minha nuca, pegando
meu telefone de sua mesa de cabeceira, onde eu o deixei para
verificar a hora. É depois do almoço, mas ainda não há nada de
Cassie. Eu me pergunto se isso significa que ela ainda está no
hospital.
Eu franzo a testa enquanto o coloco dentro do bolso da
minha calça jeans, não gostando do fato de que eu não ouvi
nada dela. Sei que o telefone dela estava sem bateria quando
saímos, mas esperava que ela ligasse do quarto pelo menos para
dar uma atualização. Imagino que ela esteja ocupada com
Wanda, dizendo a mim mesmo que vai ligar quando tiver um
momento livre. Decido me distrair com o almoço enquanto
espero, imaginando que posso deixar Sophie dormir até pelo
menos preparar alguma coisa.
Fecho a porta do quarto silenciosamente atrás de mim
quando saio do quarto dela, caminhando com cuidado pelo
corredor para não fazer barulho. Estou no meio da escada antes
de perceber algo errado, parando a apenas três passos do
patamar quando sou surpreendido pela visão de Cassie no meu
sofá, com a cabeça entre as mãos.
— Cassie?
Ela olha para mim imediatamente, com os olhos vermelhos
e o rosto abatido, como se estivesse chorando. Vê-la tão perdida
me deixa inquieto, e desço os últimos degraus para atravessar a
sala.
— Ei — eu digo suavemente, sentando ao lado dela no sofá.
— Quando você voltou? Como está Wanda?
Ela está olhando para mim de forma estranha, seus olhos se
demorando nas linhas do meu rosto, mesmo quando seus
lábios tremem. Ela funga uma vez enquanto acena com a
cabeça, tudo sobre isso rígido.
— Ela está bem — ela me diz. — Eles vão mantê-la por
alguns dias para observação.
Eu suspiro de alívio.
— Essa é uma boa notícia, certo? Você sabia que ela era
muito forte para deixar algo assim tirar o melhor dela.
— Sim — ela responde calmamente. — Ela vai viver mais do
que nós dois.
Algo sobre seu tom monótono é perturbador, e é óbvio que
algo ainda está pesando sobre ela.
— Algo mais está incomodando você? O que está errado?
— Nós... — Ela engole, limpando a garganta como se
estivesse tendo problemas. — Precisamos conversar sobre o
que aconteceu no hospital. Com Iris.
Merda.
Eu aperto meus olhos fechados enquanto solto um suspiro
frustrado.
— Porra, Cassie. Desculpe. Ela nunca deveria ter falado com
você assim. Eu deveria ter feito mais, mas tudo foi tão...
— Não é sua culpa — diz ela com urgência. Ela estende a
mão para colocá-la sobre a minha contra o meu joelho. —
Nada disso é sua culpa.
— Eu sei que não poderia ter previsto como seria esta
manhã, mas isso não significa que eu não me sinta mal com as
coisas que ela disse para você. Eu odeio que você tenha sido
arrastada para as minhas merdas. — Eu tento sorrir então,
principalmente porque estou desesperado para ver alguma
expressão em seu rosto além do vazio melancólico que ela está
me dando agora. — Final estranho para uma ótima noite.
Ela não sorri; na verdade, seus olhos lacrimejam como se ela
fosse chorar de novo.
— Cassie. — Eu me inclino para segurar seu rosto com a
palma da mão. — Por favor, fale comigo. Diga-me por que você
está chorando.
— Eu só... Acho que não percebi o quão difícil isso seria.
Minha testa se franze.
— Você está falando de Wanda? Ela vai ficar bem. Em
alguns dias ela estará de volta em casa e tudo ficará bem. Você
vai ver.
— Eu vou ficar na casa dela — ela me diz.
Isso me pega desprevenido, e não é até este exato momento
que percebo a mochila do outro lado dela, próximo do sofá.
— Ok... claro. — Eu aceno encorajadoramente, colocando
meus próprios sentimentos de lado, querendo colocar os dela
em primeiro lugar agora. — Claro. Tenho certeza que Wanda
vai precisar de ajuda quando voltar para casa. Você deve levar
todo o tempo que precisar com ela.
Uma lágrima solitária desliza sobre seus cílios para trilhar sua
bochecha, e eu percebo então, o que eu não vi até este exato
segundo. Eu não tenho notei o jeito que ela está olhando para
mim como se nunca mais fosse me ver.
Sinto algo ardendo e afiado em meu peito.
— Quanto tempo você acha que vai ficar fora, Cassie?
Seu lábio inferior treme, e aquele incômodo no meu peito
se torna uma dor, como se eu precisasse respirar, mas não
consigo puxar o ar.
— Cassie — eu tento, minha voz saindo errada. — Por
favor, não...
— Eu não posso fazer isso, Aiden — diz ela desoladamente.
— Eu não posso ser algo usado para te machucar. Ou Sophie,
aliás. Eu simplesmente não posso.
— Cassie, o que Iris disse... vai ficar tudo bem. Ela só está
com raiva agora. Ela vai se acalmar. Não vou deixar nada
acontecer.
— Já aconteceu — ela engasga. — E vai piorar. Eles sempre
vão apontar para como tudo isso começou. Eles vão me usar
como um trunfo. Eu não posso ser isso. Você não vai querer
que eu seja isso. Vou acabar sendo um fardo para vocês dois.
Não consigo compreender o que ela está dizendo. Como ela
pode realmente pensar que sua partida pode ser uma coisa boa?
Apenas o pensamento dela saindo pela minha porta agora me
faz sentir como se estivesse engolindo água bem abaixo da
superfície, lutando para nadar para cima, mas suspenso muito
abaixo. Parece que estou me afogando.
— Cassie. Vamos conversar sobre isso. Foi uma manhã
estressante e você está chateada. Você não precisa tomar
nenhuma decisão agora. Se nós...
— Não vou mudar de ideia, Aiden.
Faltam poucos meses para eu completar trinta e dois anos e
nunca em minha vida adulta me senti tão impotente quanto
agora. Eu posso senti-la escorregando por entre meus dedos, e
parece injusto, irreal – eu mal a tive, e agora vou perdê-la.
— Você está realmente indo embora. Não é?
Ela balança a cabeça, e eu sinto algo quebrando por dentro.
— Eu tenho algumas das minhas coisas naquela bolsa — ela
aponta para a mochila que eu gostaria de jogar pela janela — e
vou mandar alguém buscar o resto.
Ela vai desaparecer. De novo.
— Sophie — eu digo atordoado. — Ela está dormindo. Eu
devo ir...
— Não. — Ela balança a cabeça. — Acho que seria mais fácil
para ela se eu não dissesse adeus.
Eu sinto algo quente no meu pescoço então, empurrando
para cima enquanto minha tristeza e minha frustração colidem
com raiva.
— Mais fácil para quem, Cassie? Você? Ou ela?
— Ambas — ela sussurra, novas lágrimas brotando em seus
olhos. Ela se levanta do sofá então, mal olhando para mim. —
Será mais fácil para ela, se ela me odiar.
— Você realmente acredita nisso? Ela ama você. Ela está
mais feliz do que eu a vi desde que sua mãe morreu, e é por sua
causa. Se você desaparecer, isso vai destruí-la completamente.
Não só ela, eu quero gritar. Não é só ela.
— Eu sei — ela sussurra desanimada.
— Você disse que não ia a lugar algum — eu a lembro. —
Por que você me deixou contar a ela sobre nós se você estava
indo embora?
— Sinto muito — é tudo o que ela diz, pegando sua
mochila. — Gostaria que houvesse outra maneira.
— Existe outra maneira. — Eu alcanço seus ombros,
virando-a para mim antes de segurar seu rosto em minhas mãos.
— Fique. Resolva tudo comigo. Eu acabei de encontrar você.
Não jogue tudo fora antes mesmo de termos uma chance. Por
favor, Cassie.
Seus olhos mergulham para a minha boca enquanto seus
lábios tremem, e eu sinto minha contenção desmoronando. Ela
não me impede quando me inclino, e ouço sua suave ingestão
de ar segundos antes de minha boca tocar a dela. O beijo está
molhado de suas lágrimas, apenas me deixando mais
desesperado, e tento puxá-la para mais perto, tento preencher a
lacuna entre nós que parece aumentar a cada segundo.
Há um momento em que ela se inclina, quando penso que
talvez ela vá cair em meus braços e esquecer toda essa conversa,
mas é fugaz, escorregando por entre meus dedos assim como
ela. Ela se afasta, mantendo os olhos bem fechados enquanto
seus dedos envolvem meus pulsos para gentilmente arrancá-los
de seu rosto. Ela se afasta de mim, e há apenas trinta
centímetros entre nós, mas parecem quilômetros.
— Sinto muito.
Duas palavras, mas são suficientes para me despedaçar. Mas
eu não sou ignorante ao olhar em seus olhos. Eu posso ver o
quanto isso está matando ela. O quanto ela não quer ir. Como
posso deixá-la ir, quando ela está olhando para mim desse jeito?
Como se ela quisesse que eu a abraçasse?
— Você não quer ir — eu digo desesperadamente. — Você
sabe que não. Eu não vou deixar você ir embora por algum
motivo idiota. Eu preciso de você.
Ela suga uma respiração, seus olhos arregalados enquanto
sua determinação parece vacilar. Sua boca se fecha apenas para
abrir novamente, como se ela estivesse tentando formar
palavras, mas não consegue se lembrar como. Sua próxima
respiração é trêmula, seus lábios pressionados juntos e seus
olhos voltados para o chão, e por um segundo eu acho que
consegui alcançá-la. Que ela não vai embora.
— Aiden, eu... Não é apenas a coisa da Iris.
— Então o que é? Seja o que for, podemos resolver isso
juntos. Você só tem que me dar a chance de...
— Isso tudo é demais para mim — diz ela categoricamente.
Parece que alguém me tirou o fôlego. Sinto toda a minha
certeza e confiança escorrendo pelo ralo, não tendo como estar
preparado para a possibilidade de que ela possa estar partindo
não apenas por mim, mas também por ela.
— O quê?
— Eu... — Ela esfrega o braço nervosamente. É por culpa?
— Eu fiquei muito distraída com tudo isso. Eu tenho ido mal
na faculdade, e eu só... Eu não tenho tempo para tudo o que
vem com isso. Com nós. Eu amo Sophie, realmente a amo, mas
não estou pronta para ser mãe de ninguém. É muito mais pelo
qual eu me candidatei. Não é o momento certo na minha vida
para eu tentar ser o que você precisa.
Cada emoção que se enfureceu dentro de mim desde o
momento em que percebi sua intenção se esvai e morre. Em seu
rastro há um vazio frio que, para mim, é de alguma forma mais
assustador do que a ideia de ela ter partido momentos atrás.
Parece o fim de alguma coisa. Ou talvez pareça algo que nunca
existiu.
— Oh.
Não sei mais o que dizer. Como posso responder a isso? Eu
me iludi pensando que Cassie sentia tanto por mim quanto eu
sentia por ela. Que ingênuo da minha parte.
Uma risada seca e oca me escapa.
— Certo. Eu não... — Minha voz está grossa agora. — Eu
não sabia que era assim que você se sentia.
— Sinto muito — diz ela novamente.
Sinto muito.
Que frase ridícula. Sem significado. Como é que em milhões
de anos não conseguimos pensar em uma sequência de palavras
melhor para oferecer a alguém cujo coração está sendo
pisoteado? Sinto muito, é como oferecer um Band-Aid para
uma mordida de tubarão.
Totalmente. Inútil.
— Não sinta — eu digo a ela. Agora sou eu que não consigo
olhá-la nos olhos. Não sei se estou envergonhado ou apenas
entorpecido. — Foi erro meu. — Eu passo por ela para cair no
sofá para tirar a pressão das minhas pernas agora instáveis. —
Eu não deveria ter presumido que sentíamos o mesmo.
Eu a ouço sufocar um soluço, mas ainda não consigo olhar
para ela. Temo que se o fizer, vou perder.
— Aiden, eu...
— Eu vou dizer adeus a Sophie por você — eu digo
vaziamente. — Eventualmente, ela vai entender.
Em minha linha de visão, posso ver suas pernas se movendo
em direção a sua bolsa, e posso ver suas mãos alcançando a alça.
Elas estão tremendo. Acho que ela está chorando de novo. Eu
ainda quero abraçá-la, mas saber que ela não quer que eu o faça
me mantém no sofá, minhas mãos fechadas ao meu lado e meus
olhos treinados no chão.
— Adeus, Aiden — ela me diz suavemente, quase nem
mesmo um sussurro. — Eu sinto muito.
Eu não digo adeus a ela. Acho que não sou fisicamente capaz
de fazer minha boca formar a palavra. Quase como se estivesse
fechada em rebelião. Como se não dizer isso de alguma forma
fizesse tudo isso desaparecer.
Mas eu posso vê-la se afastando de mim, e a percepção
esmagadora de que ela não vai voltar é uma coisa pesada e
tangível caindo sobre meus ombros. Não respiro até ouvir a
porta da frente fechar atrás dela; acho que esperava que,
enquanto ela descia as escadas, ela fosse mudar de ideia. Não
tenho ideia do que vou dizer a Sophie, assim como não tenho
ideia de como vou me levantar do sofá e descobrir como lidar
com a perda de Cassie momentos depois de encontrá-la.
Eu não choro. Acho que gostaria, mas tudo está tão
entorpecido. Em vez disso, eu coloco minha cabeça em minhas
mãos, meus ombros tremendo enquanto eu fecho meus olhos
e tento esquecer o jeito que Cassie me beijou como se ela não
quisesse ir. Mesmo que eu tenha noção de que isso vai me
assombrar. Tenho uma sensação terrível de que tudo sobre ela
me assombrará.
Parte de mim acha que eu deveria ter dito a ela que a amo.
Parte de mim sabe que isso não a faria ficar.
Bate papo com @alacarte

Não acredito que você me deu um


bolo.

Aconteceu alguma coisa?

Por favor, me diga que algo


aconteceu. Caso contrário, vou me
sentir realmente estúpida.

Olá?
Capítulo 25
Cassie

— Sabe, uma hora você vai ter que parar de se lamentar.


Eu levanto minha cabeça do veludo envelhecido do sofá de
Wanda, olhando para ela da sala de estar.
— Você não deveria ser mais compreensiva?
— Por quê? — Ela zomba de mim enquanto mexe a sopa.
— Não fui eu quem disse para você agir como uma idiota.
Eu gemo enquanto pressiono meu rosto contra o sofá, o
lugar onde tenho dormido nas últimas duas semanas. Já se
passaram mais de dois meses desde a última vez que afoguei as
mágoas aqui e, depois de tudo o que aconteceu, parece uma
terrível ironia que seja aqui que me encontro novamente. Às
vezes me pego pensando se seria melhor se eu pudesse de
alguma forma voltar no tempo e me impedir de aceitar aquele
trabalho para começar.
Pelo menos então eu não estaria tão miserável.
Mentir para Aiden e fazê-lo pensar que eu não tinha tempo
na minha vida para ele e Sophie entrará para a história como a
coisa mais difícil que já fiz. Eu sei que, no fim das contas, era
necessário, que os dois ficariam melhores sem mim em suas
vidas – mas isso não faz com que a dor seja menor. Acho que
nunca vou tirar sua expressão de coração partido da minha
cabeça. E eu definitivamente tentei.
Não posso nem me permitir imaginar como Sophie pode ter
reagido quando soube que eu tinha ido embora – pensar nisso
por muito tempo faz eu me sentir um lixo completo em vez de
quase um lixo. Não tem como uma criança de dez anos
entender bobagens complicadas como se sacrificar pelo bem de
todos. Inferno, depois de semanas obcecada com a decisão, até
eu acho que é besteira. Nada para o bem de todos deveria fazer
você se sentir tão mal.
— Você não falou com ele desde então?
Balanço a cabeça contra as almofadas do sofá.
— Tenho certeza de que os dois ficariam felizes em nunca
mais me ver.
— Oh, merda. Não há nada que você possa ter dito que não
possa ser consertado com uma boa brincadeira no feno.
— Há tantas coisas erradas no que você acabou de dizer.
— Tudo o que eu digo é brilhante.
Reviro os olhos.
— Eu nem tenho certeza de onde você encontraria feno em
San Diego.
— Você sabe o que eu quero dizer.
— Ele me odeia, Wanda — resmungo, enterrando meu
rosto. — E ele deveria. Eu fui uma verdadeira idiota.
— Você estava fazendo o que achava que tinha que fazer —
ela oferece. — Mesmo que fosse estúpido como o inferno.
— Nossa. Obrigada.
— Eu tentei dissuadi-la.
— Eu sei. — Fecho os olhos para não chorar pela centésima
vez desde que saí da casa de Aiden. — Mas é melhor assim.
Wanda faz um barulho que sugere que ela tem muito a dizer
sobre isso, mas felizmente não diz nada. Não que ela não tenha
dito muito desde que a trouxe do hospital para casa. Tenho
tentado focar na faculdade e no esforço inútil de procurar um
novo emprego; gostaria de dizer que tenho me tornado útil para
Wanda enquanto ela se recupera, mas demorou apenas cerca de
24 horas, depois que ela voltou para casa para decidir que não
desejava ser "mimada". Teimosa como um inferno. Na fossa em
que estou, é mais como se ela estivesse cuidando de mim.
— Por que você não sai um pouco de casa?
Eu balanço minha cabeça.
— Não quero.
— Você está assombrando este maldito lugar como um
fantasma. Se você não sair logo, vai começar a juntar teias de
aranha.
— Estou bem, Wanda.
— Diga isso ao seu cabelo — ela bufa. — Quando foi a
última vez que você penteou?
— É muito bom ter você do meu lado — eu falo
inexpressiva. — Sinto-me muito bem cuidada.
— Você quer cuidado, saia da minha casa e vá dizer a aquele
homem grande e bonito que você o ama. Aposto que ele vai te
dar todo o cuidado que você quiser.
Eu me levanto do sofá, rolando meu corpo para o lado e me
levantando.
— Ok. Estou saindo.
— Para a casa de Aiden?
— Para o mercado.
— Teimosa do caramba — ela resmunga.
— Sim, eu também te amo.
Eu calço meus sapatos perto da porta, sem me preocupar em
pentear meu cabelo como ela sugeriu. Enquanto pego minhas
chaves, me vejo no espelhinho pendurado na porta da frente e
percebo que estou realmente uma merda. Meu cabelo ruivo
está espetado para todos os lados, minha pele normalmente
bonita está pálida – piorada pelas bolsas sob meus olhos devido
à falta de sono. Além disso, há a aparência geral de miséria que
não consigo apagar de minhas feições. Eu faço uma anotação
mental para me forçar a tomar um banho longo e quente
quando voltar do mercado enquanto uso um prendedor de
cabelo para prender o cabelo para cima.
— Traga um pouco de pão — Wanda grita atrás de mim.
— Sim, sim — eu lanço por cima do ombro enquanto fecho
a porta atrás de mim.

■□■

Eu não saí de casa a não ser para ir à faculdade no fim de semana


passado, e mesmo assim, fiz o meu melhor para evitar conversar
com pessoas reais o máximo possível, especialmente Camila. A
viagem até o mercado é curta – apenas alguns quarteirões da
casa de Wanda – mas é a jornada não educacional mais longa
que fiz em semanas, então vou considerar isso uma vitória.
Na verdade, não preciso de nada do mercado. Verdade seja
dita, eu só queria mostrar a Wanda que sou capaz de fazer as
coisas sem chorar – mas jogo uma barra de chocolate (duas, na
verdade) na esteira no último segundo junto com um chá de
pêssego às pressas antes que o caixa passe o pão da Wanda.
Talvez os lanches me ajudem a lembrar como é a sensação das
endorfinas.
Eu pareço uma Wandinha Addams menos legal
ultimamente.
Ainda está claro quando saio, não deu tempo de Wanda ter
terminado o jantar, e quando começo a voltar, penso em
encontrar um banco para me sentar por mais uns vinte
minutos, para dar a ilusão de que estou saindo e fazendo
alguma coisa. Talvez isso tire Wanda do meu pé. Embora eu
duvide. Abro minha bebida enquanto caminho, virando a
tampa por hábito para ler o que está escrito do outro lado.
Cherofobia é o medo da felicidade.
Faço uma pausa na rua, franzindo a testa com desdém para
o pequeno círculo ofensivo. Eu realmente não posso inventar
essa merda. Se Aiden estivesse aqui, provavelmente me acusaria
de mentir. Pensar nele só faz meu coração doer mais. Eu coloco
a tampa de volta agressivamente, jogando a garrafa no meu saco
plástico enquanto sigo em direção a Wanda, planejando jogar a
bebida na primeira lata de lixo disponível.
Há uma cafeteira de que gosto no caminho de volta para o
apartamento, o cheiro familiar de bolos recém-assados
atacando minhas narinas quando passo e me dando a primeira
dose real de endorfina que tive desde que saí da casa de Aiden.
Fico do lado de fora da porta enquanto analiso minhas opções.
Um queijo dinamarquês soa muito melhor do que um banco
aleatório, agora que penso nisso.
Eu tenho que deixar de lado o fato de que pareço ter vivido
em uma caverna nas últimas semanas para encontrar a coragem
de entrar, dizendo a mim mesma que essas pessoas certamente
já viram coisas mais estranhas do que uma estudante de pós-
graduação que parece que pode começar a chorar a qualquer
momento. Isso provavelmente é o esperado de nós, de qualquer
maneira. Lá dentro não está muito movimentado, pelo menos,
e agradeço silenciosamente pelas pequenas bênçãos.
Eu tiro meu telefone do bolso enquanto entro na fila para
fazer o pedido, olhando para as notificações vazias com um
sentimento cada vez mais familiar de melancolia. Aiden não
entrou em contato desde que fui embora, e por que ele faria?
Eu praticamente disse a ele que não o queria. Algo que está tão
longe da verdade que poderia muito bem estar no National
Enquirer. Ao lado do artigo sobre uma cantora pop mantendo
um alienígena em seu porão.
Eu nem sei quantas vezes me perguntei até este momento se
vou ou não parar de amá-lo.
A fila se move e eu ando arrastando os pés, espiando ao redor
da cafeteira para ver quantas pessoas estou sujeitando à minha
aparência horrível. A maioria das mesas está vazia, exceto por
algumas ao longo da parede do fundo; há um homem mais
velho bebendo algo de uma caneca enquanto lê um jornal, um
jovem casal conversando animadamente do outro lado da mesa
e, bem no canto de trás, digitando furiosamente em um
notebook e parecendo menos do que entusiasmada com sua
sorte na vida está...
Eu não posso deixar de olhar.
Sei exatamente o tamanho desta cidade e, portanto, estou
bastante ciente das chances de ver alguém aleatório que você
não quer ver. Não posso dar uma porcentagem nem nada, já
que não me importo com estudo populacional e não trabalho
para o IBGE, mas ainda posso apostar que é um número muito
pequeno.
Mas lá está Iris, enfiada no canto de uma cafeteira que visitei
centenas de vezes como cliente regular.
Ela não me nota enquanto olha para a tela de seu notebook,
e me pego imaginando no que ela está focando tão
intensamente. Apesar das minhas tentativas desesperadas de me
separar mentalmente de Aiden e Sophie, ver Iris é um duro
lembrete de que não fiz absolutamente nenhum progresso. Vê-
la irrita o buraco que eles deixaram para trás, fazendo-o parecer
tão sensível e recente quanto no dia em que o esculpi em meu
próprio peito quando os abandonei.
Não é uma decisão consciente ir até ela; acho que nem
percebo que estou andando até ela até que estou quase em sua
mesa, meus pés se movendo sozinhos enquanto eles me levam
um após o outro para onde ela está sentada. Ela nem me nota
até que eu me jogo no assento oposto a ela na pequena cabine,
deixando cair o saco com o pão de Wanda ao meu lado à
medida que os olhos de Iris se arregalam de surpresa, como se
ela estivesse tentando processar o fato de que estou aqui.
— Oi — eu digo.
Ela ainda parece mal-humorada ao me ver.
— Cassie? O que você está fazendo aqui?
Eu não sei como responder a isso. Eu mesma não tenho
certeza.
— Eu... eu vi você sentada aqui, e eu só... — Percebo pela
primeira vez as olheiras sob seus olhos, quase nada diferentes
das minhas. Percebo o quanto ela se parece com Sophie –
mesmas maçãs do rosto, mesmo nariz – e percebo que mal sei
alguma coisa sobre essa mulher, e agora ela desenraizou toda a
minha vida. Eu percebo neste exato momento o quanto eu
preciso saber por que tinha que chegar a isso. — Você odeia
Aiden? Você realmente quer levar Sophie embora?
Ela recua, parecendo furiosa.
— Como é?
— Eu preciso saber — eu exorto. — Preciso saber que não
tive outra escolha.
— Você não está fazendo nenhum sentido — ela bufa,
fechando seu notebook. — E não devo nada a você ou a Aiden.
Então você pode dizer a ele...
— Eu não posso dizer nada a ele — eu a informo
suavemente, sentindo aquele ardor familiar em meus olhos. Eu
silenciosamente imploro para que eles fiquem secos. — Eu fui
embora. No dia em que vimos você no hospital.
Iris bufa.
— O quê, deixou de ser divertido quando você percebeu o
quão inapropriado era?
— Não. — Eu balanço minha cabeça. — Fui embora
porque Aiden é um bom pai.
— Porque claramente esse é um motivo real.
— É — eu digo com naturalidade. — Ele é um ótimo pai e
ama sua filha, e eu não seria a razão pela qual alguém a tiraria
dele.
— Sua saída não muda o fato de que ele a deixou com uma
estranha idosa e depois sumiu quando ela precisou dele porque
ele estava com você.
— E eu não posso mudar isso — digo a ela. — Eu sei. Isso
foi um erro. Eu não posso voltar atrás. Mas posso garantir de
não causar mais dor a eles. Mesmo que isso signifique machucá-
los para conseguir isso.
Iris olha para mim por um longo tempo, sua sobrancelha
loira e boca franzida enquanto ela me estuda.
— Por que exatamente você está me dizendo isso?
— Porque você precisa ouvir — insisto. — Eu sei que a
agenda de Aiden é uma loucura, mas ele tem trabalhado muito
para encontrar um equilíbrio para Sophie. Ele adora aquela
garotinha. Tudo o que ele quer é o melhor para ela. Não
entendo por que você se esforça tanto para levá-la embora
quando ela quer ficar com ele.
— Ela não sabe o que quer — Iris diz um pouco mais baixo,
desviando os olhos.
— Eu acho que ela sabe — eu argumento. — Eu vi isso
todos os dias durante semanas. O quanto ela queria estar com
seu pai. Você tem que saber que iria machucá-la se você os
separassem, então por que diabos você está tentando tanto?
— Porque eu preciso — ela bufa, passando os dedos pelos
cabelos. — Você não entende.
— Então me explique.
— E por que eu deveria?
— Porque estou me oferecendo para ouvir, e estou
começando a pensar que não há mais ninguém na sua vida que
a tenha escutado.
— Você não sabe nada sobre a minha vida — ela zomba. —
Você não pode saber o que é perder sua única família.
Eu sorrio para ela, mas é vazio.
— Você pode se surpreender.
— Oh? Você sabe como é acordar um dia e sua irmã ter
simplesmente..... partido? Sua outra metade, a pessoa mais
importante da sua vida — ela estala os dedos — se foi. Desse
jeito. — Iris olha para o teto, os olhos brilhando. — Ela era tudo
que eu tinha. Nossos pais estão mortos. Você sabia? Desde que
éramos adolescentes. Basicamente, eu a criei e nem consegui me
despedir. Você não pode saber como é isso.
— Você está certa — eu digo a ela com sinceridade.
Infelizmente, fui submetida a meus pais por muito tempo antes
de poder fugir. — Não sei como é isso.
— E então minha sobrinha, a única parte de Rebecca que
me resta, de repente ela também foi arrancada de mim. Dias
depois de enterrarmos Rebecca. — Iris passa os dedos pelos
cabelos, parecendo perdida. — Minha irmã se foi de repente, e
então um cara que só a via uma ou duas vezes por mês vem e a
leva? Só porque ele compartilha o DNA dela? Como isso é
justo? Eu assisti Sophie vir a este mundo. Segurei a mão de
Rebecca enquanto ela empurrava. Cortei o cordão de Sophie.
Eu. Não Aiden. Eu. E agora ela...
Seus olhos estão vermelhos, uma umidade que ameaça
derramar, e pela primeira vez desde que conheci Iris, não vejo a
mulher cautelosa que ela tem sido toda vez que nos
encontramos. Vejo uma irmã assustada e em luto, uma tia
solitária – alguém que não sabe para onde está indo ou o que
fazer a seguir. Pela primeira vez desde que a conheci, ela
parece... triste. Nada diferente do que sou agora, na verdade.
— Eu não posso perder Sophie também — Iris sussurra, um
soluço baixo em sua garganta. Ela enxuga os olhos. — Tenho
certeza que você está gostando disso.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não estou. Só estou pensando que todos nós
poderíamos ter evitado muitos desgostos se você e Aiden
pudessem ter uma conversa real.
— Você não acha que eu tentei?
— Mas você tentou? — Eu dou a ela um olhar aguçado. —
Escute, eu conheço Aiden. Ele é um bom homem. Ele
definitivamente não é irracional. Ele não manteria Sophie longe
de você por rancor. Veja como foram esses últimos meses. Não
temos encontrado maneiras de vocês dois estarem na vida dela?
Sua boca se fecha, um olhar culpado em seus olhos
enquanto ela olha para a mesa.
— Isso não foi Aiden. Foi você.
— Fico feliz em saber que pelo menos uma parte de você
ainda acredita que eu me importo com Sophie.
— Ouça, tenho certeza que sim, mas você tem que
entender...
— Você tem que entender que Aiden vai cometer erros.
Com ou sem mim em sua vida. Não acho que a avaliação de um
pai seja medida pelos erros que cometem. Eu acho que é o quão
duro eles trabalham para consertá-los.
Iris me encara com uma expressão perplexa, virando a
cabeça levemente como se estivesse tentando me entender.
— Não entendo por que você quer tanto ajudar. Você disse
que foi embora.
— Sim. — Eu rio amargamente. — E foi a coisa mais difícil
que já fiz. Agora me pergunto se foi mesmo a coisa certa.
— Então, por que você está tentando me ajudar?
— Eu não estou — eu corrijo. — Estou tentando ajudar eles.
Quero que Aiden e Sophie tenham toda a felicidade que
merecem. Se isso significa explicar para você como ter uma
conversa real como um ser humano normal... bem. Vale a pena
a conversa estranha.
Iris pisca. Então a ruga em sua testa suaviza, seus olhos
seguindo o exemplo enquanto ela olha para mim como se me
visse pela primeira vez.
— Você ama ele. Não é?
— Eu... — Engulo em seco, só de pensar nisso provoca uma
nova onda de dor que eu suspeito que não diminuirá por muito
tempo. — Sim. — Concordo com a cabeça lentamente,
olhando para o meu colo. — Eu amo. Os dois.
Iris não diz nada e, na verdade, acho que não resta mais nada
para nenhuma de nós dizer. Eu aceno desajeitadamente para a
mesa antes de colocar meus dedos no topo para tamborilá-los
distraidamente.
— Vou deixar você sozinha agora — digo a ela. — Apenas...
pense nisso. Não há razão para nenhum de vocês continuarem
sofrendo assim.
Iris acena com a cabeça atordoada, ainda olhando para mim
como se eu tivesse uma segunda cabeça crescendo na lateral do
meu pescoço. Acho que não posso culpá-la, já que este é o
encontro mais estranho que já tive na minha vida. Não posso
nem dizer se vai adiantar, mas pelo menos posso dizer que
tentei.
— Cassie — Iris chama enquanto eu me movo para deslizar
para fora da cabine.
Eu paro na ponta.
— Sim?
— Sinto muito — diz ela. — Pelas coisas que eu disse. Eu
estava sofrendo.
Outra risada seca e vazia me escapa.
— Sim, bem. Há muito disso por aí.
Não me despeço ao deixar Iris sentada à mesa e não olho
para trás. Saio da cafeteria com o saco de pão de Wanda ainda
na mão e meu café esquecido. Não tenho como saber se alguma
coisa resultará do que fiz, mas o buraco em meu peito parece
menor, menos sensível. Talvez nunca feche totalmente. Talvez
isso seja o melhor que posso esperar… que Aiden e Sophie
encontrem a felicidade.
Mesmo que seja sem mim.
Bate papo com @alacarte

@alacarte está offline.

A última mensagem foi há 23 dias.


Capítulo 26
Cassie

Dias depois de falar com Iris, me sinto estranhamente menos


deprimida. Ainda estou infeliz e com muita raiva de mim
mesma, mas não sinto que o céu está desabando. Na maior
parte do tempo. Acho que é porque escolhi me permitir sonhar
acordada que ter conversado com Iris levará a algo bom para a
pequena família que deixei para trás. Que em algum lugar em
toda a dor eles encontrarão seus felizes para sempre. Que não
serei um fardo para ninguém. Nunca mais.
Ainda estou no sofá da Wanda, mas não estou a caminho de
atingir a homeostase completa, pelo menos. Tomei banho
(várias vezes, obrigada) e escovei meu cabelo. Até guardei meus
moletons de períodos depressivos e optei por uma roupa um
pouco menos triste, leggings e uma camiseta grande, que estão
limpas, devo acrescentar. Isso é uma vantagem definitiva.
Passei a maior parte do dia trabalhando em tarefas que
adquiri o hábito de adiar até o último segundo para permitir
mais tempo de choro, e no momento em que estou totalmente
envolvida com minhas aulas – a primeira vez em semanas que
faço isso antes da noite anterior a minha ida a faculdade – estou
me sentindo quase como eu mesma novamente. Quase.
Eu posso ouvir Wanda descendo o corredor de seu quarto
enquanto eu fecho meu notebook, fechando seu roupão
enquanto ela me olha por cima dos óculos.
— Olhe para você — diz ela, parecendo impressionada. —
Havia uma mulher de verdade vivendo sob toda aquela fossa.
Reviro os olhos.
— Mais uma vez, estou tão feliz por ter você ao meu lado.
— Eu estou apenas brincando. Estou feliz que você se
pareça mais com você. Eu estava começando a considerar
chamar um exorcista ou algo assim.
— Sim, todos nós nos divertimos muito com suas piadas
assombrosas.
— Disquei para aquele velho número dos Caça-Fantasmas
em um momento — ela fala inexpressivamente. — Só
encontrei um idiota em Kentucky.
— Não é hora de você se arrumar para o bingo?
— Eu tenho tempo. — Ela se move até a cadeira para se jogar
nela, me estudando por cima dos óculos. — Você parece muito
melhor. Você acha que aquela mulher ouviu alguma coisa do
que você disse?
Eu dou de ombros.
— Não sei. Eu quero pensar que ela ouviu, no entanto. Faz
eu me sentir melhor pensando assim.
— Você provavelmente se sentiria ainda melhor se fosse
checar por conta própria.
— Não vou ter essa discussão de novo.
— Nós realmente não tivemos ela para começo de conversa.
Você está sempre se escondendo no banheiro ou se enterrando
no meu sofá como uma invasora.
— Uau. Alguns meses atrás, você estava me implorando
para ficar aqui.
— Sim, bem. Isso foi antes de você ter uma família inteira
desejando que você voltasse.
Há uma sensação de aperto no meu peito.
— Eles não querem. Confie em mim.
— Você acha que eles iriam desistir de você depois de
algumas semanas?
— Eu disse a ele que não tinha tempo para eles. Eu disse que
era mais do que pelo que me candidatei.
— Sim, bem. Todos nós fazemos coisas estúpidas quando
amamos as pessoas.
— Sim — eu rio. — Nós fazemos.
— Eu não quero que você acabe se arrependendo.
— Talvez eu faça como você — eu rio. — Um novo
namorado toda semana. Parece um sonho para mim.
— Não é — Wanda diz categoricamente. — Isso soa como
um sonho para você?
Eu recuo.
— O quê?
— Você acha que eu gosto de morar neste apartamento
minúsculo sozinha?
— Eu... — Eu me sinto sem palavras. — Eu não entendo.
— Cassie — Wanda ri. — Você é muito inteligente para ser
tão burra. Claro que não estou vivendo um sonho. — Ela estala
a língua. — O sonho é voltar para casa para alguém que te ama
todos os dias.
— Mas, se é assim que você se sente, então por que você...
— Porque eu tive minha chance uma vez, e eu a estraguei.
Assim como você está tentando fazer.
Eu não tenho ideia do que dizer. Em todos os anos em que
conheço Wanda, ela nunca me deu nenhuma indicação de que
tinha dúvidas sobre sua vida. Claro, é um pouco fora da caixa
que ela tenha chegado a essa idade sem nunca ter se
estabelecido, mas presumi que essa era a vida que ela escolheu.
Nunca me ocorreu que ela pudesse querer algo diferente.
— Por que é a primeira vez que ouço sobre isso?
Wanda dá de ombros.
— Você nunca precisou ouvir até agora. — Ela cruza uma
perna sobre a outra enquanto suspira profundamente, olhando
para o pé que está batendo no ar enquanto ela considera. — Eu
não era muito mais velha do que você quando conheci Henry.
— Henry?
Wanda sorri, lembrando.
— Seu típico surfista vagabundo de praia vivendo em La
Jolla nos anos setenta. Cabelos loiros, olhos azuis... bonito
demais para o seu próprio bem. E, claro, como eu era tão
atraente, ele obviamente não conseguia parar de pensar em
mim depois que nós nos conhecemos.
— Naturalmente — eu digo com um sorriso.
— Eu costumo pensar que eu era um avião naqueles dias.
Estou lhe dizendo, Cassie, se chamadas de peitinhos fossem
uma coisa naquela época, eu teria ganhado um bom dinheiro.
— Eu não tenho dúvidas.
— Então lá estava eu, essa pequena morena que pensava que
sua merda não fedia, e lá vem Henry. Eu te digo, Cassie. Ele me
surpreendeu. Ele me comprou um sorvete no calçadão naquele
primeiro dia, e nem consigo me lembrar sobre o que
conversamos, mas eu simplesmente — ela bate palmas em um
movimento de partida — fiquei perdida nele. Desde o início.
— O que aconteceu?
— Ficamos juntos todos os dias naquele verão. Deitávamos
na praia, dávamos uns amassos no carro dele, fazíamos... outras
coisas. — Eu faço uma careta e Wanda bufa para mim. — Ah,
cale a boca. Você e eu sabemos que nenhuma de nós é estranha
a um pênis.
Palavras que nunca mais gostaria de ouvir, muito obrigada.
— De qualquer forma — Wanda continua. — É claro que
eu amava Henry, e é claro que ele era obcecado por mim...
— Obviamente — eu provoco.
— Com certeza — ela bufa. — Mas... — Ela suspira,
balançando a cabeça. — Fui tola. Vinte e sete anos, e eu ainda
não sabia nada sobre nada. Eu estava sempre procurando a
próxima festa, a próxima grande novidade, e Henry,
surpreendentemente, bem... ele queria mais.
Percebo a leve ruga em sua testa agora, a aparência triste de
seus olhos que me diz que esta não é uma ferida que já foi
curada para ela, seja ela qual for.
— Ele me pediu em casamento — diz ela com voz distante.
— No final daquele verão. Ajoelhou-se e tudo. Ele tinha... —
Wanda sorri, mas, novamente, há uma tristeza nisso. — Ele até
tinha um anel. Era minúsculo e bem simples, mas sei que ele
deve ter economizado o verão inteiro para comprá-lo. — Ela
fecha os olhos e posso dizer que ela está se lembrando desse
momento como se fosse ontem. Como se ela nunca tivesse
parado de pensar nisso. — Ele conseguiu um emprego em uma
construtora em São Francisco e queria que eu fosse com ele. Ele
queria que nós começássemos nossas vidas juntos em outro
estado.
Eu sei o que aconteceu, claro que sei, já que Wanda está aqui
e Henry não, mas o jeito como ela fica quieta me diz que ela
tem problemas para falar sobre isso mesmo agora depois de
todo esse tempo, e eu me pego afirmando o óbvio, de qualquer
forma.
— Você disse que não — eu digo baixinho.
Ela acena com a cabeça.
— Eu disse não.
— Por quê?
— Porque — Wanda ri secamente, virando os olhos para o
teto e balançando a cabeça. — Achei que eu precisava de festas.
Que eu não estava pronta para me estabelecer e bancar a dona
de casa. Achei que, de alguma forma, essa vida que Henry
estava oferecendo ia me prender. — Wanda respira fundo só
para exalar, aquele mesmo sorriso triste na boca. — Então ele
foi embora. Arrumou as malas e aceitou aquele emprego. Ele
me deixou para trás exatamente como eu o forcei a fazer.
— Wanda, eu...
— Não. — Ela acena para mim. — Foi quase meio século
atrás. Eu mesma criei essa situação.
— Mas eu não fazia ideia.
— Porque você não precisava antes, mas você precisa agora.
Você sabe por quê?
Eu balanço minha cabeça.
— Por quê?
— Porque — diz ela. — Oito meses após a partida de Henry,
eu me sentia miserável. Eu sentia tanta falta dele que mal
conseguia sair da cama de manhã. Levei oito meses inteiros para
perceber que cometi o pior erro da minha vida e que não queria
continuar perseguindo as festas. Eu queria Henry.
— Então o que aconteceu?
— Eu fui atrás dele. — Ela acena com a cabeça. — Sim, eu
fui. Voei até São Francisco com um grande plano para
reconquistá-lo. Eu estava determinada a fazer o que fosse
preciso. Rastejar, implorar... qualquer coisa.
— Mas?
A dor na expressão de Wanda é palpável, e é surpreendente
que ainda possa ser tão fresca para ela, mesmo depois de todo
esse tempo.
— Mas ele seguiu em frente — ela me diz suavemente. —
Ele se casou com uma coisinha linda que era recepcionista no
lugar onde ele trabalhava. Eu os vi em um dos locais de trabalho
para onde corri tentando encontrá-lo. Ela estava entregando a
ele o almoço em um saco, usando um vestido branco, e eles
pareciam... eles pareciam tão felizes. Eu não conseguia nem me
forçar a confrontá-lo. Dei meia-volta e fui direto para casa. —
Ela então me olha nos olhos, incisivamente, como se essa fosse
a parte mais importante que ela quer que eu compreenda. — E
eu nunca senti nada perto do que senti por Henry. Não pelo
resto da minha vida.
— Wanda, eu... eu sinto muito. Sempre pensei que você
amava sua vida.
Ela solta um suspiro.
— Eu dou meu jeito. Eu me divirto, sim. E eu tenho você
agora, e isso é o suficiente para mim. Mas eu vejo você sentada
aí, cometendo os mesmos erros, e não posso ficar parada vendo
minha vida se desenrolar de novo com você. Confie em mim,
Cassie. Você não quer ver Aiden algum dia com sua linda loira
em um vestido branco. Você não esquece uma dor assim. Você
nunca esquece o amor por alguém que poderia ter sido seu se
você não o tivesse afastado.
Eu olho para o meu colo, tentando pensar em uma resposta.
Eu me sinto horrível por ter passado tanto tempo com Wanda
sem ter ideia dessa parte do passado dela; por que ela nunca me
contou sobre isso antes? Talvez se eu conhecesse essa história,
talvez fosse menos provável...
Não.
Não posso sentar aqui e tentar culpar alguém por minhas
escolhas. Fui eu quem disse aquelas coisas para Aiden, e fui eu
quem decidiu por nós dois que ele estava melhor sem mim. Eu
poderia ter falado com ele e poderíamos ter tentado encontrar
uma solução juntos, mas roubei essa opção quando menti para
ele e disse que não o queria. Não tenho ninguém para culpar
além de mim mesma pelo inferno que passei nessas últimas
semanas. É assim que o resto da minha vida será? Sempre me
arrependerei do que poderia ter acontecido entre nós?
Eu já sei a resposta para isso. Eu sei disso porque mesmo
antes de saber o nome de Aiden, antes de saber como ele era ou
de onde ele veio ou sobre seus sorrisos e beijos e tudo mais – eu
sentia falta dele. Senti falta dele por um ano, quando não sabia
de nada. Eu sei que vou sentir falta dele para sempre agora que
sei tanto.
— Deus — murmuro, abaixando a cabeça. — Eu fodi tudo.
— Uhum — Wanda concorda. — Mas você ainda tem
tempo para consertar. Você pode ir e se desculpar. Diga para
aquele homem que você o ama e que você é uma completa
idiota.
— Bem assim, hein — eu rio, olhando para ela.
Wanda balança a cabeça.
— Fácil, fácil. — Ela olha para o relógio de parede,
verificando a hora antes de se levantar da cadeira. — Agora, se
você me der licença, eu tenho que ir me arrumar.
— Bingo?
— Não — ela me diz. — Eu vou a um encontro.
Minha boca se abre.
— O quê?
— Isso mesmo — diz ela com a cabeça erguida. — Um
encontro de verdade.
— Com quem?
— Fred Wythers.
— O quê? Achei que você tinha terminado com ele.
— Sim, bem. Isso porque ele queria me ver mais. Eu não
estava procurando por nada assim na época.
Ainda me sinto pasma com esta nova revelação.
— E você está agora?
— Um ataque cardíaco realmente coloca as coisas em
perspectiva, garota. Eu poderia estar morta amanhã. — Ela dá
de ombros. — Talvez eu tenha decidido que não quero bater as
botas sozinha.
— Isso é... — Ainda estou tentando entender tudo o que
aprendi nos últimos vinte minutos. — Isso é ótimo, Wanda.
— Vamos ver — ela resmunga. — Vou conseguir uma
refeição grátis com isso, pelo menos.
Eu não posso evitar, eu sorrio com essa perspectiva muito
clássica de Wanda.
— Certo.
— Agora, eu quero que você se sente aí nesse sofá...
— Sem problemas com isso — eu bufo.
— ... e pense sobre o que eu disse. Talvez você descubra que
não quer ser como eu, afinal. — Ela pisca para mim. — Mesmo
que eu seja legal como o inferno.
Eu rio enquanto ela volta pelo corredor para se preparar
para seu encontro – talvez eu leve algum tempo para me
acostumar – deixando-me exatamente onde ela me encontrou,
mas com muito mais em que pensar.

■□■

Wanda saiu há uma hora e, embora tenha sido estranho vê-la


em um de seus terninhos mais bonitos e ser buscada na porta
da frente como se estivesse correndo para o baile de formatura,
gostei de como ela estava fofa, tentando não parecer animada.
Fred me deu um olá amigável antes de eles saírem, acenando
com uma mão e segurando um buquê na outra, e eu não perdi
o rubor nas bochechas de Wanda quando ele entregou as flores.
É definitivamente novo, mas parece bom para ela, eu acho.
Embora, o "não espere acordada" que ela disse por cima do
ombro me fez sentir como uma perdedora. Setenta e dois anos,
e ela ainda tem mais jogo do que eu.
Não tenho feito muito desde que Wanda saiu, não que
alguém esteja surpreso, mas tenho pensado muito. Sobre a
história de Wanda, sobre minha própria situação... mas
principalmente sobre Aiden e Sophie. Repassei todos os
cenários possíveis em que posso pensar em relação a como
poderia me desculpar, ou se deveria, e cada espiral só me traz de
volta à mesma culpa e ao medo esmagador de que nada que eu
jamais possa dizer para eles fará qualquer diferença. Como
qualquer um deles poderia me perdoar depois do jeito que eu
fui embora? Como se eles nem importassem.
Sei que em algum momento precisarei me arrastar deste sofá
e fazer algo para comer se quiser manter a fachada de que estou
melhorando lentamente, mas meu cérebro está confuso depois
de tanto pensar, e não vou fingir que desligar as luzes e ir para a
cama cedo às – olho para o relógio e gemo – sete horas parece
uma opção muito mais atraente.
Eu ainda estou indo e voltando entre minhas opções
fascinantes quando há uma batida na porta, e eu franzo a testa
para o outro lado enquanto me pergunto quem pode estar
aqui. Não tem como Wanda ter voltado tão cedo e, até onde eu
sei, sou sua única amiga de verdade, então quem mais poderia
ser? Com minha sorte, será o velho do 2B novamente com meu
pacote que ele "abriu acidentalmente depois que entregaram a
ele por engano". Certo. Ele estava apenas desapontado por não
haver nada de bom lá. Eu bufo quando sou forçada a deixar o
triste trono de veludo em que tornei minha casa, caminhando
até a porta da frente de Wanda e olhando pelo olho mágico,
mas o corredor parece vazio. Eu franzo a testa enquanto olho
novamente, confirmando de que não, não há ninguém lá fora.
Ainda estamos tocando campainhas e saindo correndo em
2023?
Eu destravo a corrente antes de me atrapalhar com o
cadeado em aborrecimento, finalmente conseguindo desfazer
tudo para que eu possa abrir a porta na esperança de pegar o
pequeno bastardo que se atreve a me enganar enquanto eu
ainda estou meio chafurdando. Descubro imediatamente que
não estava exatamente errada, já que não consegui ver ninguém
pelo olho mágico, mas também não estava certa.
Porque há alguém do outro lado da porta, alguém que é
muito baixa para ser vista pelo olho mágico e que não tem nada
que estar aqui, especialmente sozinha. Fico boquiaberta com o
cabelo castanho e as sardas e um rosto minúsculo que faz meu
coração doer, atordoada por um momento enquanto tento
entender a presença dela aqui. Eu viro minha cabeça para o
corredor para confirmar que sim, ela realmente está sozinha,
esmagando a leve decepção e focando na garotinha na porta
que me faz sentir ao mesmo tempo eufórica e incrivelmente
culpada.
— Sophie?
Acho que me sinto mais tola do que qualquer outra coisa.
Eu não sou uma garota estúpida. Eu não faço coisas
assim.
Mas meio que me apaixonar por alguém cujo nome não
sei e cujo rosto nunca vi... bem. Não faz nada para
ajudar o meu caso.
Eu olho para a página de configurações da mesma forma
que fiz uma dúzia de vezes nas últimas semanas, me
perguntando se eu sou uma garota estúpida. Eu fiquei
tão magoada com um estranho que estaria pensando em
excluir toda a minha conta?
Mas eu sinto falta dele.
E parece que não posso mais fazer isso, não sem pensar
nele toda vez que entro.
Respiro fundo quando aperto o botão de excluir.
Tem certeza de que deseja excluir sua conta?
Eu menti.
Eu definitivamente me sinto mais magoada do que tola.
Capítulo 27
Cassie

— O que você está fazendo aqui?


Sophie ainda está de pé no tapete desbotado do corredor do
apartamento. Eu acho que estou realmente muito atordoada
para sequer pensar em convidá-la a entrar primeiro, presa na
porta enquanto ela esfrega o braço com sentimento de culpa.
— Sophie — eu pressiono, segurando seu braço gentilmente
e puxando-a para dentro do apartamento antes de fechar a
porta. — Como você chegou aqui?
— De Uber — ela me diz com naturalidade.
— De Uber — eu ecoo estupidamente. — Você pegou um
Uber?
— Sim.
— Sozinha?
Ela segura um celular que eu reconheço.
— Eu usei o telefone do meu pai.
— Você usou o telefone do... — Eu pisco, tentando
entender o que ela está dizendo. — Onde está seu pai?
— Trabalhando — ela me diz. — Eu escapei do escritório.
— Sophie, isso foi extremamente perigoso. Você me
entende? Você é muito jovem para entrar em Ubers e atravessar
a cidade. Como você conseguiu o endereço?
— Papai tinha no telefone.
Tudo o que ela está dizendo parece perfeitamente razoável e
lógico, mas nada faz sentido. Eu sei que Sophie é uma garotinha
incrivelmente inteligente, mas isso parece impossível, mesmo
para ela.
— O que você está fazendo aqui, Sophie?
Ela olha para o chão.
— Eu precisava ver você.
— Você precisava me ver.
— Sim. Papai não deixou que eu ligasse para você.
Meu estômago revira. Ela queria me ligar? A culpa que sinto
por não ter me despedido dela aumenta como se fosse recente.
— Sophie... seu pai provavelmente está surtando.
— Não, ele não está — ela murmura. — Ele vai me entregar.
— O quê?
Ela olha para mim com uma expressão de desamparo.
— Ele vai me entregar! À tia Iris!
— Venha aqui. — Eu puxo sua mão, levando-a para o sofá,
e dou um tapinha no espaço ao meu lado para que ela possa se
sentar. — O que você está falando?
— Eu o ouvi conversando com ela — Sophie me conta. —
No telefone. Ele estava falando sobre eu ir para a casa dela. Ele
não quer mais ficar comigo porque eu fiz você ir embora.
— Ah, Sophie. — Meu coração se parte um pouco mais. —
Você não me fez ir embora.
— Mas eu sempre faço as babás irem embora. Eu... — Seus
olhos cheios de lágrimas. — Eu não pude ajudar Wanda. Foi
por isso? Papai não quis me contar, mas deve ser por isso que
você foi embora, certo?
— Oh, querida. — Eu a puxo contra mim, esmagando-a em
meus braços enquanto o cheiro familiar de seu shampoo de
melancia atinge minhas narinas. Eu respiro, minhas emoções se
alojando em minha garganta. Achei que nunca mais sentiria o
cheiro. — Não foi por isso que eu fui embora. Você não fez
nada errado. Nada.
Ela vira o rosto para pressionar mais fundo contra o meu
peito, seus braços envolvendo minha cintura.
— Então por que você foi embora?
— Isso é... complicado.
— Você estava com raiva do meu pai?
— Não. Não. Eu não estava. Eu não estava com raiva de
ninguém.
— Papai sente sua falta — ela murmura contra minha
camisa. — Ele nunca fala sobre você, mas parece tão triste o
tempo todo.
Preciso fechar os olhos para não chorar de novo.
— Eu também sinto falta dele — eu admito baixinho. —
Sinto saudades de vocês dois.
— Então, volte! Talvez, se você voltar, papai não me
entregue!
— Soph... — Eu a incentivo a recuar, olhando-a nos olhos.
— Seu pai não vai entregá-la. De jeito nenhum ele faria isso. Ele
te ama.
— Então por que ele estava falando com tia Iris sobre eu ir
para a casa dela?
Minha conversa com Iris flutua em meus pensamentos, e
não posso ter certeza de que o que quer que esteja acontecendo
entre Iris e Aiden signifique progresso, mas espero que seja esse
o caso. Eu sei que Aiden nunca desistiria de Sophie. Em
hipótese alguma.
— Tenho certeza que não é o que você está pensando —
digo a ela. — Talvez eles estejam tentando parar de brigar tanto.
Tenho certeza de que ambos querem te fazer feliz.
— Eu não quero sair da casa do papai — ela diz
lamentavelmente. — Quero ficar com ele.
— Claro que sim — eu a acalmo. — E eu sei que ele quer
que você fique lá também. Ele te ama tanto, Sophie, e é por isso
que tenho certeza de que ele está louco de preocupação agora.
— Talvez — ela murmura.
— Tenho certeza disso — insisto — e é por isso que temos
que levar você de volta.
— Mas mesmo que eu fique com meu pai — Sophie
continua — você não vai voltar.
Tudo no meu peito parece estar sendo esmagado com muita
força, meus olhos ardem enquanto seu olhar penetrante segura
o meu. Seus olhos verdes são tão parecidos com o verde do olho
direito de Aiden, e sua expressão agora é como olhar para uma
versão menor dele. Isso me faz sentir falta dele ainda mais.
— Eu não acho que seu pai iria querer que eu voltasse,
Sophie. Eu disse... um monte de coisas terríveis quando eu saí.
— Por quê?
— Porque... achei que tinha que fazer. Achei que precisava
sair para proteger vocês.
O nariz de Sophie enruga.
— Isso é besteira. Você não pode nos proteger. Você é muito
pequena. Meu pai é bem maior que você. Você deveria deixá-lo
nos proteger.
Eu não posso deixar de rir; sua lógica de dez anos é tão
simples e, no entanto, completamente precisa de uma maneira
indireta. Estendo a mão para correr meus dedos por seu cabelo,
tirando-o de seu rosto antes de segurar sua bochecha.
— Não sei se é tão simples assim — digo a ela. — Tenho
certeza de que sou a última pessoa que seu pai quer ver.
— Mas você não o ama?
Isso me pega completamente desprevenida.
— O quê?
— Vocês foram a encontros — ela insiste. — E vocês
estavam — ela faz uma careta — se beijando e tal. Isso significa
que você o ama, certo?
— Eu... uau. Você realmente sabe como colocar alguém
contra a parede.
— O que isso significa?
Eu belisco a ponte do meu nariz, suspirando.
— Deixa para lá. Eu não acho que importa se eu o amo.
— Sim, importa. Minha mãe sempre dizia que você pode
consertar qualquer coisa com amor.
Pressiono meus lábios, algo puxando meu coração.
— Ela dizia?
— Sim. — Sophie acena com entusiasmo. — Então, se você
o ama, podemos consertar isso! Você pode voltar, e então ele
não vai me mandar embora, e tudo ficará bem de novo!
— Sophie, não é tão simples assim.
— Mas se você...
— Apenas confie em mim — eu bufo, interrompendo-a. —
Gostaria que as coisas fossem diferentes, mas não são.
Sophie abaixa a cabeça e sinto aquele buraco em meu peito
– aquele que eu tinha tanta certeza de que estava começando a
cicatrizar – pulsar com uma nova dor, como se tivesse sido
aberto momentos atrás. Eu daria qualquer coisa para que as
coisas fossem tão simples quanto ela pensa que são; eu adoraria
levá-la de volta, pedir desculpas e me jogar nos braços de Aiden
ou até mesmo a seus pés, mas sei que não é assim que o mundo
funciona. Ela não viu o olhar em seu rosto quando eu disse a
ele que eles eram mais do que eu conseguia lidar. Peguei cada
momento caloroso que tivemos juntos durante meu tempo lá e
joguei de volta na cara dele. Acho que não há nada que eu possa
dizer para desfazer isso.
— Mas eu tenho que levar você de volta para ele — eu digo
resignada. — Então, vou precisar que você ligue para o
restaurante e veja se ele ainda está lá ou se foi para casa.
Não consigo nem imaginar o nível de pânico em que Aiden
está agora; ele provavelmente colocou toda a força policial de
San Diego nas ruas agora. Sophie parece abatida, e sei que nada
disso é o que ela queria ouvir, e eu gostaria de ter respostas
melhores para ela. Gostaria de poder fazer tudo ficar bem para
ela, mas não acho que seja possível. Nem para mim, e nem para
nós.
Ajudo Sophie a discar o número do restaurante e passo o
telefone, porque sou covarde demais para ligar eu mesma. Eu
prendo a respiração enquanto ela disca, percebendo que em
alguns minutos serei forçada a ver Aiden novamente. Não
consigo imaginar que tipo de discurso Aiden terá para Sophie
quando ela voltar para ele, e posso ver que ela está pensando a
mesma coisa, a julgar pelo olhar nervoso em seu rosto, mas acho
que eu tenho mais motivos para estar com medo.
Porque duvido que Aiden vá falar comigo.

■□■

Aiden já havia saído do restaurante – seus colegas de trabalho


disseram que ele saiu imediatamente após descobrir que Sophie
havia escapado e voltou para sua casa para tentar procurá-la lá.
Eu estava certa sobre seu nível de pânico; é evidente pelas luzes
piscantes que encontramos do lado de fora da casa da cidade
quando paramos na rua. Sophie olha para mim com medo em
seus olhos quando estaciono em frente ao portão, obviamente
arrependida de sua decisão, pois sem dúvida está ansiosa sobre
como seu pai reagirá quando ela entrar.
— Você vai entrar comigo?
Eu franzo a testa, olhando dela no meu banco do passageiro
para a porta da frente que está inundada com luzes vermelhas e
azuis.
— Não sei se é uma boa ideia...
— Mas ele quer ver você — ela insiste. — E talvez se você
vier comigo, ele não ficará tão bravo.
— Oh, eu acho que ele ainda vai ficar bravo — eu a advirto.
— Você fez uma coisa boba, Soph.
Ela abaixa a cabeça.
— Eu sei.
A ideia de ver Aiden novamente é algo que estou dividida
entre querer terrivelmente e querer terrivelmente evitar, mas o
olhar desamparado no rosto de Sophie aperta meu coração, e
sei que, apesar do meu desconforto, devo isso a ela.
Provavelmente mais.
— Ok — eu concedo. — Eu irei com você. Só para te levar
para dentro, ok? Então eu irei embora.
Ela balança a cabeça ansiosamente, parecendo um pouco
aliviada.
— Ok.
Sinto como se eu fosse a menina de dez anos em apuros
quando ando atrás dela pelo portão, minha mão gentilmente
entre suas omoplatas à medida que a incito a subir. A porta da
frente está entreaberta e todas as luzes da casa estão acesas, mas
o primeiro andar está vazio quando entramos. Posso ouvir
vozes no andar de cima, uma cacofonia de pessoas diferentes
falando umas sobre as outras, mas acima de todas, posso ouvir
uma que reconheço. Uma que faz meu estômago revirar,
mesmo agora.
Sophie pega minha mão no final da escada, me dando outro
olhar preocupado enquanto eu envolvo minha mão na dela.
Não a solto enquanto subimos e, a princípio, quando
chegamos ao topo, ninguém nos nota. Eles estão muito
ocupados tomando notas e fazendo ligações, e lá, no meio de
tudo isso, está um Aiden Reid de aparência frenética. Ele ainda
está com seu casaco de chef, os braços cruzados sobre o peito
enquanto fala acaloradamente com um policial, e posso ver que
seu cabelo está bagunçado como se ele tivesse passado os dedos
por ele repetidamente. Ele parece louco de preocupação.
Eu posso dizer quando ele finalmente nos vê; ele para no
meio da frase e vira o rosto com os olhos arregalados e a boca
aberta, como se tivesse esquecido completamente o que estava
prestes a dizer. Observo enquanto ele olha de Sophie para mim
e vice-versa, tentando entender o fato de ela estar de volta,
especialmente comigo.
— Sophie — ele respira, pisando duro pelo tapete e caindo
de joelhos para puxá-la contra ele. — Onde você estava? Você
tem alguma ideia de como eu estava preocupado com você?
Você não pode desaparecer assim. — Ele a empurra para trás,
olhando por seu corpo. — Você está machucada? Você está
bem?
Ela acena com a cabeça debilmente.
— Estou bem.
— Onde você foi?
— Para a casa da Wanda — eu ofereço baixinho.
Aiden olha para mim então, e mesmo assim – esgotado,
confuso e ligeiramente atordoado – parte meu coração olhar
para ele. Eu posso sentir cada beijo e cada toque de uma vez,
tudo voltando com apenas um olhar. Ele engole em seco
enquanto se levanta para ficar de pé, olhando para mim como
se eu fosse um fantasma.
— Da Wanda?
Eu concordo.
— Ela pegou um Uber.
— Um Uber — ele repete categoricamente. Ele olha para ela
com uma sobrancelha franzida. — Você pegou um Uber?
Ela puxa o telefone do bolso, entregando-o de volta para ele
timidamente.
— Encontrei o endereço no seu telefone.
— Você encontrou o... Jesus Cristo, Sophie. Ela mora do
outro lado da cidade. Você tem alguma ideia de como isso foi
perigoso?
Ela olha para os pés, mudando o peso de um para o outro.
— Desculpa.
— Por que você fez isso?
— Porque... achei que você ia me entregar.
Isso o pega visivelmente de surpresa.
— O quê? Por que diabos você pensaria isso?
— Eu ouvi você conversando com tia Iris esta manhã — ela
murmura. — Você disse que ia me levar para a casa dela.
Aiden suspira, passando as mãos pelo rosto.
— Para visitar, Soph. Não para ficar. Sua tia e eu... estamos
tentando encontrar um terreno comum com você. Estamos
tentando não brigar tanto. — Ele se abaixa para segurar o
queixo dela gentilmente. — Eu nunca te entregaria. Você
entende? Nunca.
— Isso foi o que Cassie disse — Sophie responde, com a voz
trêmula. — Mas eu estava com medo.
— Sinto muito — diz Aiden, cansado. — Eu ia falar com
você sobre isso amanhã. Eu não tinha ideia de que você tinha
escutado a conversa. Mas você tem que entender que não há
nada que você possa fazer ou dizer que me leve a mandá-la
embora. Ok?
Eu posso dizer que é difícil para ele me reconhecer. Eu posso
ver isso na maneira como ele olha por cima da cabeça de Sophie
por um momento ou dois antes de finalmente se virar
rigidamente em minha direção.
— Obrigado — diz ele. — Por trazê-la de volta.
— Claro — eu digo sem jeito. — Eu queria ter certeza de
que ela chegaria em casa com segurança.
— Certo. — Sua mandíbula mexe sutilmente. — Claro.
Eu esfrego meu braço, ainda me sentindo estranha.
— Ok. Bem. Acho melhor deixar vocês com isso então.
Começo a me virar na direção da escada, achando
incrivelmente difícil continuar olhando para ele. Espero que,
com o tempo, meu cérebro possa pelo menos borrar a memória
de seu rosto, porque se eu tiver que me lembrar de seu rosto
perfeito dia sim, dia não, poderei enlouquecer.
Aiden me surpreende quando sua mão corre para agarrar
meu pulso, puxando-me para trás.
— Isso é realmente tudo o que você quer dizer?
— O quê? — Eu olho para baixo, para sua mão me
segurando antes de encontrar seus olhos. — O que você quer
dizer?
Seus olhos parecem queimar enquanto seguram os meus, o
marrom é um mel escuro e quente e o verde é uma espuma rica
e brilhante. Acho que meu cérebro não conseguiria esquecê-los
se tentasse, infelizmente.
— Iris e eu tivemos uma longa conversa esta manhã — diz
ele. — Ela tinha muitas coisas interessantes para dizer.
— O-oh. — Meu pulso acelera. — Sério?
— Sim. Sério. Aparentemente, alguém sentou-se em sua
frente numa cafeteria e a convenceu a me ligar e resolver as
coisas.
— Ah bem... Achei que era o mínimo que podia fazer.
— Mas o que eu não entendo é…, por quê?
— Como assim, por quê?
— Quero dizer, se você quisesse nos deixar de lado, se
éramos mais do que o que você se candidatou, por que você se
importaria com o que acontece entre Iris e nós? Por que você
insistiria para que ela tentasse resolver as coisas comigo?
— Eu...
— E por que você contaria a ela como eu era maravilhoso
com Sophie e o quanto merecíamos a felicidade?
— Oh, bem, eu...
— Por que alguém que queria nos deixar de lado se
importaria com isso?
— Aiden, é só...
— Porque ela te ama — Sophie fala.
Nós dois olhamos para ela com surpresa, sua expressão
indiferente e, francamente, irritada. Como se ela estivesse
cansada dessa discussão.
Aiden olha para mim com uma expressão esperançosa, e
mesmo esse pequeno brilho de necessidade em seus olhos é o
suficiente para fazer meu estômago revirar com antecipação.
Nenhum de nós diz nada, e acho que talvez ele esteja esperando
que eu confirme ou negue isso, mas não consigo encontrar
minha voz. Abro a boca para deixá-la aberta enquanto tento
formar palavras, mas Sophie, mais uma vez, decide nos ajudar.
— Não se preocupe — diz ela no mesmo tom entediado. —
Papai também te ama.
Imagino que minha expressão pareça tão surpresa quanto a
dele quando nossos olhos se encontram novamente, e percebo
a maneira como seus olhos procuram nos meus por qualquer
sinal de mentira.
— Isso é verdade?
— Eu... — Engulo em seco, sentindo minha boca seca. —
Sim.
— Você me ama?
Tento parecer mais segura do que me sinto.
— Sim, eu amo.
Ele me pega de surpresa quando me puxa contra ele, meu
choque se dissipa em apenas um momento quando sua boca
cobre a minha. Há desespero em seu beijo que se mistura com
alívio, e meus braços envolvem seu pescoço como se por
instinto, tentando me aproximar dele o máximo que posso.
Meus dedos se enfiam em seu cabelo enquanto suas mãos se
curvam contra minha coluna para me puxar mais forte, e não é
até ouvirmos alguém limpar a garganta atrás de nós que um de
nós parece se lembrar da situação em que estamos.
Sinto minhas bochechas corarem quando percebo o policial
demorando desajeitadamente por perto, tentando olhar para
qualquer lugar menos para nós enquanto chama nossa atenção.
— Acho que podemos encerrar esse assunto então, certo?
— Oh. — Aiden olha atordoado entre mim e sua filha antes
que o riso saia dele. — Acho que podemos. Desculpe, policial.
— Bem, uh. Vamos sair do seu caminho. — O policial faz
um círculo com o dedo, reunindo seus colegas policiais antes
de lançar um olhar penetrante para Sophie. — Da próxima vez,
talvez diga a alguém para onde você está indo, mocinha.
Sophie empalidece.
— Sim, senhor.
— Certo. — A boca do policial se inclina com um sorriso
quando saímos do caminho da escada, e ele nos dá um aceno de
cabeça. — Vocês tenham uma boa noite.
Acho que nenhum de nós se mexeu até ouvirmos a porta da
frente fechar no andar de baixo, Aiden ainda olhando para mim
como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento antes que
ele dê atenção à filha.
— Você e eu temos muito o que conversar, Sophie.
— Sim. — Ela abaixa a cabeça. — Eu sei.
Ele me solta então, inclinando-se para pressionar os lábios
no cabelo de Sophie.
— Mas estou feliz que você esteja bem.
— Sinto muito — diz ela novamente.
— Por que você não vai para o seu quarto? — Ele diz a ela.
— Estarei lá em um minuto.
Sophie faz uma careta.
— Vocês vão se beijar de novo?
— Sim — diz Aiden. — Nós vamos. — Ele sorri quando ela
mostra a língua. — Mas acho que você nos deve essa.
— Tudo bem — ela geme.
Ela caminha em direção às escadas que levam até seu quarto,
e Aiden espera até ouvir a porta do quarto dela fechar antes de
me olhar novamente.
— Você sabe que não deveria ter mentido para mim — ele
repreende. — Foram semanas de merda.
— Eu sei. — Eu inclino meu rosto para baixo. — Para mim
também.
Ele estende a mão para erguer meu queixo, a junta do seu
dedo permanecendo abaixo dele enquanto ele me força a olhar
para ele.
— Eu senti sua falta — ele admite. — Pra caralho, Cassie. —
Ele zomba enquanto balança a cabeça. — Até seus malditos
fatos de Snapple.
Um lado da minha boca se inclina para cima.
— Você sabia que não há duas impressões de tampas iguais?
— Parece algo que eu gostaria de testar.
Eu fico na ponta dos pés, fechando os olhos enquanto roço
minha boca contra a dele.
— Também senti sua falta.
— Se você quer me compensar — ele diz enquanto me puxa
para mais perto — volte para cá.
Eu não posso nem fingir que meu coração não para por um
momento enquanto meus lábios se curvam em um sorriso.
— Você está me oferecendo outro emprego?
— Não. — Ele balança a cabeça, inclinando-se para que seus
lábios fiquem a centímetros dos meus. — Estou lhe oferecendo
toda a minha maldita vida, se você quiser.
Tudo dentro de mim se ilumina como uma bomba de glitter
explodindo em um sinalizador, minha pele formigando e meu
coração batendo forte e todos os meus sentidos entrando em
ação no que só posso descrever como pura felicidade. Sei que
há mais para conversar, mais a dizer, mas acho que haverá
tempo para isso mais tarde. Acho que agora posso me deleitar
com o fato de que estamos aqui e que ele ainda me quer, mesmo
depois de tudo. No momento, isso é mais do que suficiente.
Eu finjo considerar.
— Você vai fazer panquecas?
— Eu não vou fazer panquecas.
— Hum. Bem, nesse caso...
Ele sorri enquanto me puxa para outro beijo, e eu me
derreto nele, meu coração fazendo uma dancinha feliz
enquanto sinto aquele buraco em meu peito fechar
silenciosamente, como se nunca tivesse existido. Percebo então
que não era tanto um buraco, mas um pedaço que faltava – e
estava bem aqui, com eles, só esperando que eu pegasse de volta.
— Oh — ele murmura, ainda meio que me beijando. —
Caso não tenha ficado claro... — Seus lábios pressionam contra
o canto da minha boca, e posso sentir seu sorriso ali, como se
estivesse impresso em minha pele. — Eu também te amo.
Estou afundando em seu beijo novamente, calculando
mentalmente quanto tempo podemos nos beijar aqui embaixo
antes que Sophie venha nos repreender e, com esse
pensamento, sinto uma leve pontada de pânico. Eu empurro
Aiden para longe, olhando para ele seriamente.
— Nós nunca, nunca podemos contar a Sophie como nos
conhecemos.
Aiden ri, já me puxando de novo.
— Tudo o que você disser, Cici.
Tenho certeza de que mais tarde teremos que resolver toda
essa coisa de beijo; sei que Sophie vai insistir em reduzir ao
mínimo, como é o jeito dela, mas acho que esta noite temos
passe livre. Não é todo dia que você encontra o amor por causa
de uma chamada de peitinhos. Acho que isso justifica alguns
beijos comemorativos. Já posso ouvir as piadas que Wanda fará.
Não há como ela parar de falar sobre isso.
Estranhamente... acho que realmente não me importo.
Já atualizei a página mil vezes.
Parece exagero, mas tem que ser verdade.
Mas meu cérebro não consegue compreender a ideia de
que ela apenas... sumiu. Sem deixar vestígios.
Eu calculo mentalmente o número de dias entre hoje e
quando eu falei com ela pela última vez – e isso faz meu
peito doer, percebendo quantos foram. Todos eles se
misturaram neste último mês e com tudo o que
aconteceu...
Eu deveria ter dito algo.
Eu poderia ter dito qualquer coisa, qualquer coisa para
deixá-la saber que eu não queria dar um bolo nela.
Mas eu não fiz, e agora ela se foi.
E eu nem sei o nome verdadeiro dela.
Epílogo
Aiden

um ano depois

— Para de ficar atualizando — eu rio. — Não vai mudar em


cinco segundos.
Cassie me lança um olhar da bancada da cozinha, um
beicinho adorável em sua boca enquanto ela olha para a tela do
notebook novamente.
— Eles disseram que os resultados seriam publicados hoje.
— Certo, mas não temos ideia de exatamente que horas.
Você vai enlouquecer checando obsessivamente. — Ela leva o
polegar à boca para morder a unha ansiosamente, e dou um
tapinha no sofá ao meu lado. — Venha aqui e sente-se comigo.
Ela está se esgotando com os resultados pendentes de sua
banca de avaliação; o obstáculo final que ela tem que superar
em sua longa jornada de pós-graduação. Eu entendo
completamente a ansiedade dela, já que este teste dirá se todo o
seu trabalho duro valeu a pena e se ela será uma terapeuta
ocupacional totalmente licenciada, mas eu odeio vê-la
estressada como ela está. Ela arrasta os pés quando vem da
cozinha, e eu agarro seu pulso antes que ela possa passar por
mim, puxando-a para o meu colo.
— Vai ficar tudo bem — asseguro-lhe, puxando seu rosto
para o meu peito. — Você vai passar.
Ela faz um som frustrado.
— E se eu não passar?
— Então você irá tentar de novo. Não será o fim do mundo.
Mas... não importa, já que você definitivamente passará.
— Tenho medo de falhar — ela admite calmamente. — Já
recebi tanta ajuda de vocês, e se não puder começar a contribuir
logo, então...
— Você não tem que contribuir — eu rio. — Eu não me
importo com o que você faz. Contanto que você faça isso aqui
comigo.
— Por que isso soa pervertido?
— Eu acho que você está projetando.
Ela zomba.
— Claro que estou.
— Pare de se preocupar ou eu vou ligar para Wanda.
Ela geme.
— Não faça isso. Ela virá aqui.
— E?
— Ela vai trazer Fred com ela.
Eu rio.
— Bem, eles estão casados agora.
— Certo. Mas eles são muito grudados. Já se passaram três
meses desde o casamento. Eles têm que parar de se beijar o
tempo todo em algum momento, certo?
— Você parece a Sophie — eu provoco.
Ela faz uma careta.
— Deve ser assim que ela se sente quando nos pega nos
beijando.
— Wanda diria para você parar de ser boba.
— Sim, bem. Wanda não teve que fazer um exame
cronometrado questionando tudo o que aprendeu.
— Você está bem, Cassie. — Eu beijo seu cabelo. — Tudo
ficará bem.
— Você pode não dizer isso depois que sua namorada
arruinar o futuro dela.
Eu seguro seu queixo para levantar seu rosto, sorrindo para
sua expressão descontente. Eu esfrego meu polegar ao longo de
seu lábio inferior. É incrível que, depois de um ano com ela
aqui, eu ainda esteja tão impressionado com ela. Seus olhos
azuis brilhantes são como um céu claro no qual eu poderia me
perder, e eu me perco, com frequência – e pelo que deve ser a
milésima vez, estou apenas grato por ela estar aqui.
Eu me inclino para beijá-la, apreciando a maneira como
parte da tensão deixa seu corpo.
— Faça o que quiser com o seu futuro. Desde que eu faça
parte dele.
— Deus. — Ela sorri contra a minha boca. — Você ficou
brega.
— Você gosta de brega.
— Talvez um pouco.
— Pare de se preocupar — eu insisto.
— Mas e se...
Eu a beijo novamente.
— Pare.
— Mas eu poderia...
Eu a beijo com mais força.
— Pare.
— Aiden, mas o que...
— Ei — uma voz chama da cozinha. — Você passou.
Nós dois nos separamos, notando uma garota de onze anos
muito irritada nos julgando. Ela balança a cabeça enquanto
aponta para o computador.
— Você passou — diz Sophie novamente.
— O quê? — Cassie olha de Sophie para mim e para Sophie
novamente. — Eu passei?
Sophie verifica a tela novamente.
— Isso é o que diz aqui.
— Oh meu Deus. — O rosto de Cassie se ilumina quando
ela joga os braços em volta do meu pescoço. — Eu passei!
Ela me puxa para um beijo que me faz fechar os olhos e
desejar muito que estivéssemos sozinhos, e eu mantenho meus
braços apertados em torno de seu corpo para mantê-la contra
mim.
— Ugh — Sophie grunhe. — Vocês prometeram parar de
beijar tanto.
Eu sorrio contra a boca de Cassie.
— Estamos comemorando.
— Bem, façam algo menos nojento para comemorar —
Sophie bufa.
— Na verdade, essa é uma ótima ideia — eu digo,
inclinando-me para trás para atirar a ela um sorriso. — É por
isso que fiz reservas hoje à noite.
Sophie se anima.
— Nós vamos sair?
— Mm-hmm. — Eu esfrego um círculo lento nas costas de
Cassie. — Convidei Iris e sua nova namorada. Wanda e Fred
também.
Cassie ainda parece surpresa.
— Você fez reservas?
— Sim.
— Mas e se eu não tivesse passado?
Passo meus dedos em sua têmpora, afastando uma mecha
solta de seu cabelo para prendê-la atrás da orelha. Minha palma
permanece em sua bochecha, e naquele céu azul claro de seus
olhos, posso ver toda a minha vida olhando de volta para mim.
— Eu sabia que teríamos algo para comemorar — digo a ela
baixinho.
Seu sorriso é lento, seus lábios se inclinam para um lado e
depois para o outro até que ela está radiante, e quando ela se
inclina para me beijar de novo, mal consigo ouvir os gemidos
indiferentes de Sophie. Acho que ela vai nos deixar escapar com
este, provavelmente. Eu deixo minha mão vagar para o meu
bolso onde a pequena caixa de veludo está, sorrindo contra a
boca de Cassie, porque nós temos muito o que comemorar.
E estamos apenas começando.
Provavelmente é uma ideia estúpida.
Quando Marco sugeriu que eu desse uma olhada, acho
que ele quis dizer isso como uma piada. Apenas outra
maneira de me zoar por não namorar.
Então, por que estou sentado aqui, olhando para o meu
computador com uma conta recém-criada no OnlyFans?
Dou uma olhada rápida e, honestamente, não consigo ver
a diferença entre este e qualquer outro site pornô. Isso me
traz de volta à pergunta: Por que estou aqui?
Estou prestes a sair e esquecer que isso aconteceu, porque
Marco nunca saberia... mas então vejo a conta dela como
uma sugestão.
Não sei o que é sobre ela; seu rosto está coberto, seu cabelo é
de um lavanda brilhante que deve ser algum tipo de
peruca – mas algo sobre sua foto me atrai.
Clico em seu perfil, percorrendo o conteúdo gratuito
apenas por curiosidade.
Cici.
Talvez eu não saia no fim das contas...

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