Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
■□■
@alacarte
te enviou uma gorjeta de $20
■□■
■□■
■□■
■□■
Eu não sei em que momento adormeci; Sophie dormiu algum
tempo depois do jantar perto do final do segundo filme, e eu
me lembro claramente de começar o terceiro, mas quando
acordo com a sensação de uma mão quente no meu ombro e
um corpo ainda mais quente ao meu lado, meus olhos se abrem
principalmente para a escuridão. Sophie rastejou contra mim
enquanto suspira baixinho de sono, e quando meus olhos se
ajustaram à escuridão da sala iluminada apenas pelo brilho
suave da tela do menu do terceiro filme de Shrek, vejo um rosto
familiar pairando sobre mim enquanto a mão de Aiden
gentilmente me sacode.
— Desculpe — diz ele em voz baixa. — Não pensei que você
iria querer passar a noite toda aqui.
Sento-me mais reta, com cuidado para não incomodar
Sophie.
— Que horas são?
— Pouco depois das nove — ele me diz. — Acho que vocês
não terminaram o filme?
Eu sufoco um bocejo.
— Tenho dado à sua filha uma importante lição sobre os
clássicos do cinema.
— Claramente — Aiden ri enquanto olha para a tela do
menu ainda passando na TV.
— Como foi o trabalho?
— Uma noite surpreendentemente lenta — diz ele, indo
para o outro lado da forma adormecida de Sophie para se sentar
ao lado dela. — Não é sempre que chego em casa tão cedo. —
Ele estende a mão para afastar o cabelo de Sophie de sua testa,
sorrindo. — Parece que ela está começando a gostar um pouco
de você.
— Não se engane — digo a ele calmamente. — É como
domar um gato selvagem. Quando ela acordar de novo, ela vai
ser uma criaturinha fofa novamente.
— Eu aprecio seu valente esforço. — Os olhos de Aiden me
analisam com curiosidade. — Você já está pensando em
desaparecer no meio da noite?
— Ah, minha mochila está escondida embaixo da escada —
eu digo séria. — Estou esperando uma abertura.
Mesmo quando ele parece exausto, seu sorriso faz meu
coração palpitar.
— Acho que eu deveria conseguir fechaduras melhores.
— Eu já te contei sobre a teoria do porão da minha amiga?
Ele faz uma careta.
— Eu quero saber?
— Depende. Qual é a sua opinião sobre piadas de sequestro?
— Acho que este é um bom momento para deixar claro que
na verdade não tenho um porão.
— Minha amiga diria que é isso que você quer que eu pense
— respondo severamente.
Sua risada de resposta rapidamente se transforma em um
bocejo, e ele esfrega os olhos.
— Vou desmaiar no meio da conversa se não tomar cuidado.
— Oh, certo. Deixe-me...
Eu tiro o cobertor que peguei do encosto da poltrona dos
meus ombros com a intenção de me desvencilhar de Sophie,
para que Aiden possa colocá-la na cama, só percebendo assim
que eu tirei, que a gola da minha camiseta escorregou por cima
do meu ombro, deixando à mostra um bom pedaço de pele e a
alça do sutiã e, a julgar pelo ar frio, até mesmo um pouco de
decote. Ótimo. Aiden tosse enquanto desvia os olhos à medida
que eu me arrumo, e fico grata pela escuridão da sala no
momento que coloco tudo de volta no lugar.
— Desculpe — murmuro.
Aiden dá uma espiada para ver se é seguro, balançando a
cabeça.
— Tudo bem. Eu deveria levá-la para a cama. Escola
amanhã cedo e tudo mais.
— Certo. Desculpe. Eu não queria adormecer. Ela estava
gostando dos filmes.
— Está tudo bem — ele me assegura. — Estou feliz que você
a tirou do quarto.
— Obrigada por me acordar — digo a ele, esfregando meu
pescoço. — Eu teria ficado dolorida de manhã se tivesse
dormido aqui a noite toda.
— Sim — ele dispara de volta, gentilmente pegando sua filha
adormecida. — Achei que seria melhor colocar você na cama.
Ele para quando está de pé novamente com Sophie em seus
braços, parecendo surpreso consigo mesmo.
— Quero dizer... Eu quis dizer mandar você para a cama.
— Certo — respondo secamente, meu rosto corando
ligeiramente. — Sim. Eu sei o que você quis dizer.
— Desculpe, estou cansado.
— Claro. — Eu esfrego meu braço desajeitadamente. —
Tenho certeza.
Ele permanece lá por um momento, Sophie ainda aninhada
em seus braços, olhando para mim como se não tivesse certeza
do que dizer agora. Decido salvar nós dois.
— Enfim... — Abro um sorriso. — Vejo você pela manhã?
— Claro. Boa noite, Cassie.
Agora, Aiden disse meu nome antes, durante a entrevista,
no mínimo, mas algo sobre ouvi-lo em uma sala escura, com
apenas a luz suave da televisão clareando suas calças pretas e sua
camiseta preta que ele deve usar sob seu casaco de chef, parece
diferente de alguma forma. Isso me dá uma estranha sensação
de déjà vu que não consigo explicar. Como se eu já tivesse
escutado antes. Devo estar muito cansada.
— Boa noite, Aiden — digo de volta suavemente, não tenho
certeza de onde minha voz saiu.
Felizmente, por mais escuro que esteja, sei que ele não
consegue ver o rubor subindo pelo meu pescoço enquanto me
movo rapidamente da sala em direção às escadas, ouvindo seus
passos silenciosos se arrastando na outra direção enquanto ele
carrega Sophie para o próximo andar. Eu espio a cena atrás de
mim antes de ir para o meu quarto, assistindo as costas de
Aiden enquanto ele se afasta, vendo ele se inclinando para
pressionar um beijo na testa adormecida de Sophie e sentindo
algo puxando em meu coração por razões que não posso
explicar.
Ele realmente está tentando, eu penso.
Eu sorrio por todo o caminho descendo as escadas.
Bate papo com @lovecici
Qual o valor?
■□■
■□■
Eu não vou para casa imediatamente; aproveito o tempo extra
desta manhã para passar na academia no caminho de volta, nem
que seja para diminuir o tempo que ficarei sozinho em casa com
Cassie, sem Sophie como proteção. Eu descobri durante esta
última semana que uma longa corrida na esteira geralmente
ajuda a garantir que eu esteja cansado demais para pensar no
que quer que Cassie esteja vestindo ou em como ela arrumou o
cabelo. Ela tem o hábito de prendê-lo em um coque bagunçado
no alto da cabeça, e embora não haja nada de especial no modo
como ela faz isso, faz com que seu pescoço pareça mais
comprido, mais fácil de notar. É mais uma coisa que eu não
deveria estar pensando.
Quando volto para a casa da cidade, estou exausto, suado e
precisando muito de um banho. Felizmente, é quase hora do
almoço, o que significa que, quando terminar tudo o que
preciso fazer antes do trabalho, posso fugir para o restaurante e
evitar momentos perigosos a sós com a babá de Sophie.
A casa está silenciosa quando passo pela porta da frente. Eu
penduro minhas chaves no gancho ao lado dela quando noto a
porta fechada do quarto de Cassie perto da escada. Eu
considero parar para checá-la, mas no fundo eu sei que não há
nenhuma razão real para isso, então eu passo direto ao invés de
subir as escadas. Repasso mentalmente minha lista de coisas
para fazer antes de ir trabalhar daqui a pouco. Ainda estou
trabalhando na lista em minha cabeça quando saio da base da
escada para ir em direção à cozinha. Talvez seja por isso que eu
não notei ela a princípio.
Atravesso a cozinha, abrindo a porta da geladeira para olhar
lá dentro e percebendo o tanto de coisas que estamos em falta.
Acho que preciso adicionar uma ida ao supermercado à minha
lista. Se eu conseguir encontrar tempo hoje, é claro.
— Posso ir mais tarde, se você quiser — ouço Cassie falar da
sala de estar, me assustando. — Só tenho mais algumas tarefas
para fazer.
Eu fico lá com a porta da geladeira aberta, distraído
momentaneamente por cachos ruivos bagunçados empilhados
no alto de sua cabeça. É um verdadeiro fardo manter meus
olhos lá e não deixá-los mergulhar para mais baixo, focando em
seu rosto em vez disso. Onde é seguro.
— Eu não vi você — eu digo a ela. — Desculpa.
Ela balança a cabeça, movendo-se na poltrona para levantar
o notebook que está entre suas pernas cruzadas.
— Tudo bem. Eu tinha algumas aulas que pensei em
avançar desde que você levou Sophie. A propósito, eu
totalmente a teria levado.
— Não, não, está tudo bem — asseguro a ela. — Eu queria.
— Alguma notícia sobre a situação das vieiras?
Eu resmungo enquanto balanço minha cabeça.
— Esta noite será praticamente um fracasso. Espero poder
encontrar mais algumas para amanhã, pelo menos. Se tivermos
que chegar ao fim da semana sem nada, as pessoas vão perder a
cabeça.
— Oh, não — diz ela com uma pitada de diversão em sua
voz. — Um vieiralipse.
Eu gemo com sua piada terrível, mas não posso deixar de
sorrir enquanto cubro meus olhos.
— Isso foi horrível.
— É mais ou menos onde eu fico, em termos de humor. Em
algum lugar entre horrível e péssimo. — Os lábios de Cassie se
curvam em um sorriso, e isso também é uma distração. Neste
ponto do nosso arranjo de moradia, só espero não estar
inconscientemente fazendo uma cara estranha quando olho
para ela. — Mas não tenho muito o que fazer aqui — ela me
diz. — Eu posso ir para o supermercado, se você quiser.
Economizar uma viagem sua.
Eu olho para trás na geladeira, lembrando da minha linha de
pensamento anterior antes de pegar uma garrafa de água de
dentro.
— Isso seria ótimo, na verdade. Posso deixar meu cartão de
crédito com você. Pegue o que vocês precisam.
— Faz sentido de qualquer maneira, já que eu cozinho a
maior parte do tempo — ela ressalta.
Eu faço uma careta.
— Me desculpe por isso.
— O quê? — Ela parece genuinamente confusa. — Não
peça. É o meu trabalho, certo?
— Sim — respondo, abrindo a tampa da água enquanto dou
a volta na bancada, encostando-me nela enquanto mantenho
uma distância segura da sala de estar. — Certo. Desculpe.
Cassie ri baixinho.
— Você tem o hábito de se desculpar quando não precisa.
— Desc... — Eu franzo a testa. — Eu nem percebo o que
estou dizendo na metade do tempo. — Percebo que ela olha
para a minha camiseta que ainda está bastante encharcada de
suor, e dou a ela um olhar de desculpas. — Eu preciso de um
banho.
— Talvez — ela ri. — Não sei onde você encontra energia
para treinar com tantas madrugadas em que você fica acordado.
Eu dou de ombros.
— Você se acostuma. Só tento arrumar tempo onde
consigo.
— Eu não conseguiria.
Eu aceno em direção ao seu notebook.
— Em que você está trabalhando?
— Nada divertido — ela suspira. — Mas tenho que
terminar antes das minhas aulas no campus neste fim de
semana, e prometi a Sophie que faríamos mini pizzas esta noite
e assistiríamos a um filme.
— Ela me disse. — Eu sorrio. — Ela também me disse para
dizer a você que é a vez dela de escolher.
Cassie bufa.
— Claro que ela diria isso. Ela totalmente me enganou para
escolher o que ela queria da última vez. Esta será nossa terceira
vez assistindo Encanto.
— Encanto?
Ela olha para mim como se a pergunta fosse ofensiva.
— Sério? "Não falamos do Bruno"?
— Por que não falamos do Bruno?
— Como você não ouviu? Eu sinto que Sophie cantou essa
música pelo menos oito dúzias de vezes na última semana.
— Espere. É sobre um casamento?
— É cativante como o inferno. Não consigo tomar banho
sem aquela maldita trilha sonora aparecer.
Não pense nela no chuveiro. Apenas não.
— Acho que preciso assistir ao filme.
— Ah, não se preocupe. Ela vai encurralá-lo eventualmente
e forçá-lo a assistir.
Eu rio de sua expressão, descontente e ainda de alguma
forma afetuosa.
— Eu acho que ela gosta de você.
Cassie se anima.
— Você acha?
— Sim. Ela gosta de agir meio durona, mas posso dizer que
você já ganhou ela.
— Ela poderia ser boazinha comigo e demonstrar.
Eu não posso deixar de rir.
— Isso seria muito fácil. Ela tem que fazer você pensar que
você fez por merecer.
— Ela é tão teimosa — diz Cassie, sorrindo. — Eu meio que
a amo.
— Eu... fico muito feliz em ouvir você dizer isso.
— Ela é uma criança incrível — Cassie diz seriamente. — É
meio difícil não amá-la.
Ainda há um leve sorriso em minha boca enquanto olho
para os meus pés.
— Ela é.
Acho que tenho medo de conversar sozinho com Cassie
porque são conversas muito fáceis. Claro, às vezes há calmarias
ou silêncios constrangedores em que tento não notá-la de todas
as maneiras que não deveria – mas toda vez que falo com ela, é
quase como se estivéssemos conversando desde sempre.
— Eu queria falar com você — eu começo, mudando de
assunto. — Fora do... vieiralipse — Cassie me dá um aha que
me faz revirar os olhos — o trabalho ficará mais movimentado
por um tempo.
Sua testa franze.
— Oh?
— Sim. Estamos testando alguns novos pratos quanto ao
seu potencial como adições ao menu permanente, e isso sempre
significa mais tempo para avaliar qualquer feedback e refinar
todos os detalhes. Terei que me encontrar com os novos
fornecedores e repassar as receitas com meus subchefs...
Geralmente é um pesadelo.
— Oh. — Ela acena com a cabeça de braços cruzados. —
Entendo. Tem que trabalhar, certo?
— Fique na faculdade o máximo que puder — bufo. — É
uma merda aqui fora.
Cassie ri.
— Aposto que o contracheque fixo faz valer a pena.
— Alguém pode argumentar que sim.
Seu sorriso é realmente... muito bonito. Geralmente um
lado levanta primeiro, como se ela estivesse considerando, mas
depois o outro se levanta para se juntar quando ela sorri de
verdade. Fica difícil não olhar quando ela sorri assim. Eu
deveria deixá-la voltar às suas tarefas, eu sei disso; eu deveria me
virar e ir para o meu quarto para tomar banho e deixá-la em paz.
Em vez disso, ando até o sofá, acomodando-me enquanto
tomo outro gole da minha garrafa de água. Eu raciocinei que
estou apenas descansando por um segundo.
Não torne as coisas estranhas.
— Você sempre quis fazer terapia ocupacional?
— Em grande parte — diz ela. — Desde meu segundo ano
de graduação. Talvez até antes. O dinheiro é bom e o trabalho
parece algo que eu gostaria de fazer.
— Quero dizer, você é incrível com crianças…, é com elas
que você quer trabalhar?
— Eu acho que sim. Eu disse a você que meus pais eram bem
terríveis, certo?
Isso me atinge mais forte do que deveria, ser lembrado disso;
talvez seja por causa da minha própria situação.
— Você disse.
— Sim, bem. Eu meio que gosto da ideia de estar presente
para crianças assim. Sabe? Crianças que acham que não têm
mais ninguém.
Cada coisa nova que aprendo sobre Cassie torna a conversa
com ela muito mais perigosa.
— Eu entendo — digo, torcendo o plástico da garrafa de
água enquanto aceno em direção aos meus joelhos. — É uma
boa motivação. Além disso, parece que você tem muita prática,
com o hospital infantil. Você trabalhou lá por quase um ano,
certo? O que você fazia antes disso?
Ela parece surpresa com a pergunta, um rubor estranho em
suas bochechas enquanto ela desvia os olhos, parecendo de
repente muito interessada na tela do notebook dela.
— Ah — ela diz. — Trabalhos estranhos aleatórios. Nada
tão legal quanto o hospital. Eu tentei a coisa toda de ser
estudante em tempo integral por um tempo, eu acho.
— Ah. — Há algo meio nervoso em seu comportamento, e
posso dizer que o que quer que ela tenha feito, ela não deve
querer falar sobre isso. O que é estranho, mas também não é da
minha conta, eu acho. Eu tomo sua reação duvidosa como
minha deixa para não me intrometer. — Bem. Tenho certeza
que foi muito gratificante. Será uma boa experiência também,
imagino. É tudo muito admirável. O que você está fazendo.
— Compensação por ter uma vida pessoal ridícula — ela ri.
— Minha melhor amiga está na casa dos setenta anos.
Minha testa franze.
— Sério?
— Oh, você iria adorar Wanda, se você conseguir contornar
o fato de que ela ainda não está totalmente convencida de que
você não tem um porão secreto, claro.
— Ah, aquela amiga.
Ela sorri de volta para mim.
— Ela é meio preocupada.
— Espero que você tenha atualizado-a sobre a situação do
porão.
— Eu falei, mas ela não descartou totalmente a possibilidade
de que haja uma porta escondida por aqui.
— Quanto mais ouço sobre Wanda, mais apavorado fico
para conhecê-la — bufo.
— Oh, sim. Você deve ter muito medo. Ela tem cinquenta
e oito quilos de puro terror. — Ela parece pensativa então. —
Na verdade, eu adoraria levar Sophie para conhecê-la
eventualmente, se estiver tudo bem? Acho que elas realmente
se dariam bem.
— Não vejo por que não — digo depois de pensar por um
momento. — Sophie gostaria disso, tenho certeza.
— Eu definitivamente acho que Wanda iria se divertir. Isto
é, se você tiver certeza de que está tudo bem. Quero dizer, você
pode ir, se estiver livre...?
— Ah, não, tudo bem. Tenho certeza que ainda estarei
ocupado. Me passe o endereço e quando você estiver lá. Talvez
me mande uma mensagem quando voltar para casa, para que
eu saiba onde vocês estão. Na verdade, talvez devêssemos ativar
o compartilhamento de localização, assim, se algo acontecer...
Percebo que ela está sorrindo de novo e calo a boca
rapidamente.
— Eu pareço bobo, não é?
— Você parece um pai maníaco por controle. Não é uma
coisa ruim. Posso fazer o que fizer você se sentir melhor.
Não há razão para eu pensar duas vezes sobre esta afirmação;
eu sei que é perfeitamente inocente, mas isso não impede que a
sensação estranha se enrole em meu peito.
— Certo. Desculpe.
— Se desculpando de novo — ela ri.
— Tenho certeza de que Sophie adoraria sair um pouco de
casa — raciocinei. — Tenho certeza de que ela está presa aqui
comigo todos os dias que ela não estava no restaurante.
— Sophie adora sair com você — afirma Cassie. — Ela fala
sobre você o tempo todo.
Minha boca se abre em surpresa.
— Sério?
— Literalmente. O tempo todo. Dê mais crédito a si mesmo.
Concordo com a cabeça lentamente, considerando.
— Eu... Obrigado.
— Apenas dizendo como eu vejo.
— Merda. — Eu franzo a testa. — Isso me lembra… Iris deve
vir mais tarde.
— Iris?
— A tia de Sophie. Eu mencionei ela, certo?
— Oh. — Ela acena em reconhecimento. — Certo. Eu me
lembro.
— Ela pediu para ver Sophie.
Cassie ri.
— Por que você parece tão incerto sobre isso?
— Iris é... — suspiro. — Suponho que eu deveria apenas
dizer a você. Às vezes, as coisas podem ficar tensas entre nós.
— Uh-oh.
— Sim. Ela tem boas intenções, ela realmente tem, mas ela
sempre esteve tão envolvida na vida de Sophie... Eu acho que
de repente não ser capaz de vê-la sempre que ela quer realmente
a incomoda. Ela tentou me convencer de uma situação de
guarda compartilhada várias vezes.
— Mas você é o pai dela — Cassie responde.
Eu concordo.
— Certo. E fico feliz em deixá-la ver Sophie quando posso,
mas quero que Sophie tenha um ambiente estável.
— Isso faz todo o sentido — Cassie diz, e ouvir isso é bom,
como se eu não tivesse percebido o quanto eu precisava ouvir
outra pessoa validar isso.
— Ela tem o hábito de ser... rude. Com as babás. No
passado.
— Será que ela vai vir para cima de mim como uma lutadora
de MMA?
Isso me faz rir.
— Não, não. Nada como isso. Acho que só a incomoda que
eu sinta a necessidade de contratar alguém em primeiro lugar.
Iris acha que eu deveria deixar Sophie com ela. Mas
novamente... isso parece algo fadado ao fracasso. Eu quero que
ela saiba que esta é a casa dela. Acho que ela precisa disso em
sua vida agora.
— Eu posso ser tendenciosa — Cassie começa — porque,
sabe, você está me pagando — nós dois rimos — mas eu
realmente acho que você está fazendo a coisa certa. As crianças
precisam sentir que têm um lugar que é delas, sabe? Mesmo que
você não esteja aqui todos os dias, imagino que seja um
conforto para Sophie saber que você sempre voltará para casa
para ela. Se isso faz sentido.
Eu estou balançando a cabeça atordoado, imaginando como
alguém que mal nos conhece pode encapsular tudo o que eu
tenho me esforçado para fazer depois de tão pouco tempo
conosco.
— Faz — digo. — Perfeito sentido.
Cassie enfia uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Não se preocupe — diz ela com um sorriso. — Eu posso
lidar com Iris.
— Bom — eu rio.
Há um silêncio constrangedor que se instala mais uma vez
porque não sei o que dizer, o som suave de plástico estalando
no ar enquanto aperto ansiosamente a garrafa de água. Mais
uma vez eu digo a mim mesmo para sair, para deixá-la aqui e
continuar com meus negócios, mas ainda estou achando difícil
fazer isso, não estou totalmente pronto para terminar de falar
com ela.
— Então, você disse que tinha exames neste fim de semana,
certo?
— Sim. Algum problema? Voltarei a tempo de fazer o jantar
para Sophie.
— Ah, claro. Claro. Eu estava apenas colocando isso na
minha cabeça para não esquecer. — Eu aceno sem rumo. —
Como você conheceu Wanda, afinal?
Neste ponto, estou me agarrando ao que posso para falar
com ela um pouco mais.
— Ela era minha vizinha na minha antiga casa. Fiquei
trancada para fora do meu apartamento quando me mudei
para o prédio, e ela me fez chá enquanto eu esperava pelo
chaveiro. Ela é teimosa como o inferno, mas eu a amo. — Cassie
sorri enquanto balança a cabeça. — Mesmo que ela estivesse
bastante convencida de que você poderia ser algum tipo de
criminoso me atraindo aqui com uma criança falsa.
Eu bufo.
— Por que isso soa como algo que eu poderia me preocupar
se Sophie estivesse no seu lugar?
— Não se preocupe, eu prometo que você não pode ser tão
paranóico quanto Wanda.
— Que alívio — digo inexpressivo.
— Sério, é meio engraçado que ela se preocupe comigo desse
jeito. Ela é quem escolhe encontros aleatórios no bingo todas as
noites da semana e os leva para casa.
— Você está brincando.
— Eu queria estar. A mulher consegue mais ação do que eu
jamais conseguirei.
Não pense nessa afirmação. Apenas não.
— Ela soa... como um personagem.
— Ela é meio selvagem. Honestamente, a vida amorosa dela
é impressionante. Ela está sempre tentando me dar dicas, e eu
juro para você, elas são tão ridículas quanto você pode
imaginar. Graças a Deus não estou preocupada com isso agora.
Não pergunte. Não se atreva a perguntar, Aiden.
— Então, você não namora?
Seu idiota. Seu idiota totalmente estúpido.
Ela parece surpresa com a pergunta, e por que não? É uma
pergunta inadequada. Eu rapidamente tento corrigir.
— Eu só quis dizer... — Certamente, ela pode dizer que
estou me debatendo com as palavras. Espero que não esteja
aparecendo no meu rosto. — Percebi que nunca discutimos,
ah, como lidaremos com isso. Quero dizer, é claro que sua vida
amorosa é um assunto particular, mas pode confundir Sophie
se você trouxer alguém aqui. — Eu quero rastejar para um
buraco e nunca mais sair. — Quero dizer, talvez se ela estivesse
dormindo e você ficasse aqui embaixo...
— Oh. — Ela leva um momento antes de seus olhos se
arregalarem com a compreensão. — Ah. — Ela ri, o que me faz
sentir um pouco menos ridículo, mas só um pouco. — Não,
não. Não se preocupe. Isso não vai ser um problema. Também
não tenho muito tempo para isso. A faculdade me mantém
ocupada. Não sobra muito tempo para conhecer o homem
certo, sabe?
Não há razão para esta notícia me agradar. Absolutamente
nenhuma. Eu não deveria me sentir melhor ouvindo que ela
não vai trazer um homem aleatório para minha casa, porque
isso não deveria importar para mim em primeiro lugar.
— Claro — eu digo finalmente, incapaz de olhá-la nos
olhos. — Isso é... compreensível.
Ela ri novamente.
— O único namorado para quem eu teria tempo neste
momento teria que morar comigo e estar disposto a transar nas
horas mais estranhas. — Acho que paro de respirar, mas só por
um segundo. Observo seus olhos se arregalarem e suas
bochechas corarem levemente quando ela parece perceber o
que disse. — Nossa, eu não pensei antes de falar. Desculpe. Eu
meio que perco o filtro quando fico nervosa.
Eu sei que quanto mais tempo eu ficar sem responder, mais
estranho será, mas minha língua parece grudada na minha boca
no momento. Não consigo parar de me perguntar por que ela
estaria nervosa. É por minha causa?
Não importa. Termine essa porra de conversa.
— Não se preocupe — digo firmemente. — Está tudo bem.
E vou embora agora, porque está claro que não posso ter
uma conversa com Cassie hoje sem fazer papel de idiota, e estou
prestes a dar uma desculpa e ir embora quando ela diz:
— E você?
Isso me pega de surpresa, me fazendo esquecer o que eu
estava prestes a fazer.
— Eu?
— Quero dizer, certamente alguém como você não está
sofrendo para ter encontros.
Eu posso me sentir piscando atordoado para ela.
— Alguém como... eu.
— Bem, sim, você sabe.
Eu absolutamente não sei, então digo isso a ela.
— Eu não sei.
Ela revira os olhos, fazendo um som ligeiramente frustrado.
— Oh meu Deus. Obviamente, você é bonito. E você é um
grande chef chique. — Eu sinto minhas sobrancelhas se
levantarem, ainda preso em obviamente, você é bonito. — Quero
dizer... Preciso de um lugar para levar Sophie quando você
trouxer alguém para casa ou existe algum tipo de política de
meia na porta?
Algo sobre ter noção que neste exato segundo Cassie está
pensando em eu ter intimidade com alguém, mesmo nesta
estranha capacidade... não é bom. O que faz comigo. Não há
absolutamente nada sobre isso que deva ser expandido ou
considerado.
— Meia na porta — eu ecoo estupidamente antes de uma
risada seca escapar de mim. — Não — digo a ela. — Você não
precisa se preocupar com isso. Entre o trabalho e a Sophie, isso
não tem sido um problema há... um tempo.
Especialmente porque minha última tentativa foi um
desastre.
Mas essa é uma história totalmente diferente.
Digo a mim mesmo que estou imaginando, a expressão em
seu rosto que quase parece de alívio, mas desaparece tão
rapidamente quanto surgiu, sabendo que meu cérebro que não
funciona direito está apenas fornecendo o que deseja ver. Ela
provavelmente está feliz por não ter que ser submetida a algo
estranho, e estou aqui pensando em coisas que não deveria. De
novo.
Eu verifico meu relógio, sem realmente olhar para as horas.
— É melhor eu ir tomar banho. Ainda tenho algumas coisas
para fazer antes de ir para o trabalho.
— Ok. — Eu a pego balançando a cabeça com o canto do
olho, mas ainda não consigo olhar para ela completamente. —
Eu não queria roubar seu tempo — ela continua.
Eu olho para ela então, porque não posso evitar.
— Não, não. Você não fez. Apenas... há muito a se fazer.
— Claro.
Eu me empurro para fora do sofá, dando a ela um aceno de
cabeça antes de subir as escadas para deixá-la com suas tarefas.
Eu não olho para ela enquanto eu vou, principalmente porque
eu tenho medo que ela veja o quanto eu quero chutar minha
própria bunda, mas percebo que ela só volta a digitar
novamente até que eu esteja quase fora de vista.
Não torne as coisas estranhas.
Lá se foi essa ideia.
“Você pode provocar seus mamilos para mim, Cici?”
Deus, sua voz. É baixa e rouca, mas me faz sentir um
formigamento por toda parte do meu corpo.
Especialmente porque ele parece saber exatamente o que
quer que eu faça.
Meus dedos beliscam meus mamilos e posso ouvir sua
respiração ofegante contra o alto-falante.
"Bem desse jeito. Eles são tão bonitos. Aposto que têm um
gosto fantástico."
Por um momento, me pergunto se deveria ser tão íntimo.
Não consigo vê-lo e ele não sabe meu nome verdadeiro.
Nada disso me impede de gozar exatamente como ele
manda.
Capítulo 5
Cassie
■□■
@alacarte
te enviou uma gorjeta de $50
■□■
Foi uma ótima ideia trazer Sophie para cá. Ela parece mais feliz
do que nunca, e acho que talvez Aiden estivesse certo quando
disse que ela gostaria de sair de casa. Ela está um pouco mais
animada desde que saímos, mas não totalmente, atualmente
ocupada com um elaborado castelo de areia que ela está
fazendo com o pacote variado de brinquedos de praia que ela
tinha guardado em casa.
Estou distraída enquanto a observo, a memória da expressão
de Aiden e a maneira suave como ele disse meu nome girando
em minha mente. Eu posso estar fazendo o que aconteceu antes
parecer mais do que é, mas o jeito que Aiden tem mantido
distância de mim me deixou em um estado constante de
desconforto, e eu nem tenho certeza do porquê. Eu gostaria de
dizer que é porque estou preocupada com meu trabalho... mas
não tenho certeza se essa é toda a verdade. No fundo, acho que
só sinto falta de falar com ele. Provavelmente é bobagem da
minha parte estar tão preocupada com isso; é mais provável que
ele fosse apenas me dizer que deveríamos fingir que nunca
aconteceu, o que provavelmente seria o melhor a se fazer.
Mesmo que seja mais fácil dizer do que fazer.
O entusiasmo anterior de Sophie diminuiu um pouco desde
que almoçamos, mas não o suficiente para que ela dê qualquer
indicação de que está pronta para voltar ainda. Ela
provavelmente ficaria aqui o dia todo se eu deixasse.
— Ei, menina — eu chamo finalmente, afastando os
pensamentos sobre Aiden. — Preciso colocar mais protetor
solar em você.
Ela faz uma careta.
— Eu não estou queimando.
— Você acha que não, até chegar em casa mais tarde e
perceber que parece uma lagosta.
— Tudo bem — ela bufa, levantando-se da areia e limpando
as mãos antes de se sentar comigo no cobertor.
Ela fica de costas para mim, envolvendo os joelhos com os
braços e apoiando o queixo neles. Eu pego o frasco de protetor
solar da minha bolsa próxima, esguichando um pouco em
minhas mãos antes de começar a espalhar por seus ombros que
já começaram a ficar um tom mais rosado do que deveriam.
Ela estremece, e eu estalo minha língua.
— Viu? Na hora certa.
— Sim, sim — ela resmunga.
— Você está se divertindo?
Ela dá de ombros.
— Sim.
— Uau, que alegria — provoco. — Você soa como se eu
tivesse feito você arrancar ervas daninhas.
— Não sei... — Ela suspira. — Queria que o papai tivesse
vindo.
Faço uma pausa no que estou fazendo, a simpatia latejando
em meu peito. Há uma parte de mim que ainda pensa que não
é meu papel me intrometer no relacionamento deles. Que eu
deveria fazer meu trabalho, ganhar meu salário e não me
preocupar com mais nada – mas é difícil. Especialmente com a
maneira como comecei a me importar com essa menina
corajosa que pode ser mais esperta do que eu.
Sem mencionar a maneira como ainda estou pensando em
como os sentimentos dela podem se alinhar aos meus de outra
época; uma época em que eu também não queria nada além de
passar mais tempo com as pessoas cuja atenção deveria ser dada.
Eu termino de aplicar o protetor solar completamente antes de
limpar o restante na minha toalha, alertando-a de que ela está
pronta para ir. Ela não se move imediatamente, ainda olhando
para o rolar lento das ondas contra a costa como se estivesse
perdida em pensamentos.
— Você pode falar comigo, sabe — eu ofereço timidamente.
Ela encolhe os ombros novamente.
— Não é nada.
— Segredos não fazem amigos — digo seriamente. — E nós
somos amigas agora, certo?
Ela acena com a cabeça, e eu resisto à vontade de dar uma
dancinha de vitória.
— Eu acho que sim.
— Então, me diga o que você está pensando com tanta
seriedade.
— Só pensei que papai não estaria tão ocupado hoje.
Algo se contrai em meu peito.
— Tenho certeza que ele preferia estar aqui com você.
— Eu acho que sim — ela murmura. — Eu odeio quando
ele está ocupado.
— Isso acontece muito?
Ela encolhe os ombros novamente lamentavelmente.
— Às vezes. O trabalho dele é estúpido.
— Ah, vamos lá, não é estúpido. Ele tem que trabalhar para
poder comprar mais videogames para você, certo?
— Acho que sim.
Eu me movo para sentar ao lado dela, e ela olha para mim de
lado.
— É só... — Ela começa. Eu posso dizer que ela está lutando
com suas palavras, sua voz mais suave agora, como se ela
estivesse envergonhada. — Quando ele fica muito tempo longe
faz com que eu sinta saudades da minha mãe.
— Oh, querida. — Estendo meu braço para pressionar
minha mão em suas costas, esfregando um círculo lento. —
Claro que faz.
Sua fungada suave parte meu coração, o primeiro sinal de
vulnerabilidade que ela mostrou desde que a conheci.
— Ela era incrível.
— Eu aposto que sim. Quero dizer, ela teria que ser, já que
ela fez uma criança divertida como você.
— Ela era tão engraçada — Sophie me diz. — Ela contava as
melhores piadas. E ela costumava ler histórias para mim todas
as noites. — Uma única lágrima cai sobre seus cílios inferiores,
escorrendo por sua bochecha. — Papai trabalha muito até
tarde, então.
— Sabe, eu sou uma boa leitora.
Sophie estende a mão para limpar o nariz, ainda tentando ao
máximo parecer estóica.
— Estou velha demais para histórias de ninar.
— Quem disse?
— Não sei.
— Bem, eu sou super velha e ainda gosto de histórias para
dormir.
Ela se anima minuciosamente.
— Você gosta?
— Sim. Eu estava pensando outro dia o quanto eu gostaria
de poder ler uma boa história. Talvez você possa me ajudar com
isso?
Sophie morde o lábio inferior para não sorrir, evitando
meus olhos enquanto ela dobra o queixo contra os joelhos
novamente.
— Acho que sim. Desde que você queira.
— Você definitivamente estaria me fazendo um favor.
Eu só conheço essa garotinha há duas semanas, mas estou
começando a pensar que não há muito que eu não faria para
fazê-la sorrir. Especialmente porque tenho a sensação de que ela
precisa de tantos sorrisos quanto puder com tudo o que passou.
— Ok. — Ela acena com a cabeça sobre os joelhos. — Claro.
— Ei, você sabia que não pode cantarolar enquanto tapa o
nariz?
Sophie pressiona os lábios.
— O quê?
Eu belisco meu nariz, fazendo uma cara ridícula enquanto
tento. Sinto meus olhos esbugalhados e minhas bochechas
inchadas, e Sophie ri.
— Viu? Impossível.
— Nuh-uh — ela argumenta. — Eu posso fazer isso.
Seu rosto se contorce de concentração enquanto ela me
copia, beliscando o nariz e enrijecendo todo o corpo enquanto
tenta forçar a garganta a produzir um som. Ela faz isso até que
seu rosto começa a ficar vermelho, e eu finalmente tenho que
puxar suas mãos para que ela não rompa um vaso sanguíneo.
Não posso deixar de rir de sua expressão irritada, parecendo que
ela está com raiva por ter sido superada pelo meu fato de
Snapple.
Mas noto que ela não parece mais triste, então vale a pena.
— Eu disse que era impossível.
— Eu poderia resolver isso — ela resmunga.
— Tenho certeza que você poderia — eu rio. Eu a cutuco
com o cotovelo novamente. — Ei. Por que não saímos amanhã
de novo? Tem um parque perto. Essa coisa de dia das meninas
foi legal, certo?
Seus olhos se arregalaram, seu interesse despertado.
— Um parque?
— E talvez possamos encontrar uma livraria que venda boas
histórias para dormir. Sabe. Para me ajudar. — Seu sorriso
cheio de dentes é minha recompensa, e estendo minha outra
mão para enxugar uma lágrima perdida ainda agarrada a sua
bochecha. — Sem mais lágrimas, ok?
— Ok.
— Agora, vamos terminar este castelo de areia antes que nós
duas acabemos parecendo lagos...
Eu faço um som de surpresa quando seus bracinhos me
envolvem de repente; seu pequeno corpo pressionando o meu
enquanto ela se agarra a mim em um abraço caloroso. Eu só fico
surpresa por um segundo ou dois antes de sorrir no topo de sua
cabeça, circulando meus braços em volta de seus ombros e
pressionando minha bochecha em seu cabelo.
— Você não é tão chata — ela murmura em minha camisa.
— Para uma babá.
Fecho os olhos enquanto respiro o aroma suave de seu
shampoo de melancia misturado com água do mar.
— Vou considerar isso como o maior elogio.
Eu rastejo pela areia para ajudá-la com seu castelo, pegando
um balde enquanto ela começa a me dar ordens sobre o que
deve ir para onde. Sua melancolia anterior parece se dissipar
após nossa conversa e, embora meus próprios pensamentos
ansiosos ainda corram pela minha cabeça, saber que ela está
relativamente bem me faz sentir melhor, na maior parte do
tempo.
Digo a mim mesma que é por causa de Sophie que estou tão
preocupada com o que Aiden tentou dizer antes, que é
simplesmente porque tenho medo de que ele decida que eu não
seja a pessoa certa para eles, e vou perder de ter mais tempo com
essa garotinha a quem estou me apegando tanto. Qualquer
outra coisa seria ridícula. Especialmente qualquer interesse
latente no pai da menininha, que está tão fora dos limites que
pode muito bem ser minha Área 51 pessoal. Mesmo que ele
continue a me evitar, tudo bem, contanto que eu possa
continuar trabalhando aqui.
Tento me concentrar mais no castelo de areia e menos em
Aiden e tudo o que vem com ele, decidindo que seria melhor
parar de pensar em suas palavras não ditas e em seus olhares
indecifráveis. Isso não é algo que eu deveria estar tentando
descobrir. Eu deveria estar gastando essa energia com Sophie.
Cassie, na verdade, eu...
Sim. Não pense nisso.
■□■
■□■
■□■
Gostou do vídeo?
Vinte minutos depois que Cassie foi para a cama, ainda estou
tentando descobrir o que fiz de errado, refletindo sobre isso no
chuveiro. Eu sei que ela está certa sobre tudo, que eu tenho me
atrapalhado quando se trata de Sophie e até mesmo da situação
com Iris, e eu falei sério quando disse que tomaria medidas para
corrigir isso. Achei que minha conversa com Cassie estivesse
indo relativamente bem, o que significa que não consigo
entender como as coisas ficaram tão estranhas no final.
Mesmo depois de nossa conversa tensa, no fim ficou claro
que de alguma maneira conseguimos resolver as coisas, ou
assim pensei. Então, por que ela fugiu daquele jeito? Não
consigo parar de pensar no olhar em seu rosto, algo como
surpresa e pânico, e não importa quantas vezes eu repasse isso
em minha cabeça, ainda não consigo entender. É muito
diferente do jeito que ela olhou para mim antes disso, pelo que
pareceu.
Isso é algo que também não consigo tirar da cabeça.
Houve um jeito demorado sobre como ela olhou para mim,
e com certeza, eu não esperava ser surpreendido por ela tão
tarde da noite enquanto eu estava sem camisa na minha cozinha
depois de ter tomado uma decisão rápida, porém estúpida, mas
eu sei que não estou imaginando o jeito que Cassie olhou para
mim. Estou bem ciente de que não deveria reconhecer, que
deveria ignorar ativamente, mas estaria mentindo se fingisse
estar fazendo qualquer uma das coisas que deveria.
Talvez isso me faça um esquisito, por todas as coisas que não
consigo deixar de pensar sobre ela. Provavelmente sim, eu sei
disso, mas com certeza deve conta de algo o quão incrivelmente
eu tenho me esforçado para esquecer isso. Especialmente
devido ao nosso... incidente. Naquela noite, quando ela me
contou sobre seu primeiro encontro com Iris.
Eu pressiono minha cabeça contra a parede interna do
chuveiro, fechando os olhos enquanto a água escorre pelo meu
cabelo. Não é algo que eu faça de propósito, lembrar da sua
blusa rosa muito apertada, moldando-se contra partes dela que
eu não deveria ter visto. Na verdade, fiz tudo o que pude na
última semana para evitar me lembrar, inclusive manter
distância de Cassie o máximo possível. Porque eu não deveria
pensar em sua boca macia me dizendo que ela não vai a lugar
nenhum, ou em seu rubor quando ela falou de forma errada
que deveríamos ir para a cama, e eu definitivamente não
deveria estar lembrando a forma de seus pequenos mamilos
rígidos pressionando contra sua blusa toda vez que eu fecho
meus malditos olhos.
É completamente uma tortura, tentar ativamente não ser
um esquisito.
Eu jogo a água fria em mim para tentar combater meus
pensamentos traidores, tremendo um pouco contra a pressão
da água antes de ignorá-lo completamente. Ajuda, mas só por
um período de tempo. Ainda estou me perguntando o que fez
o humor de Cassie mudar tão rapidamente, e o que a fez
praticamente correr para longe de mim segundos depois de
estarmos rindo juntos. Eu olho para a pele escura da minha
cicatriz no meu abdômen, franzindo a testa. Foi quase como se
ela tivesse se assustado com isso, mas, de alguma forma, isso não
faz sentido.
É incrivelmente tarde quando me enxugo e me visto, meus
olhos queimando com a necessidade de dormir enquanto sigo
pelo corredor, saindo do meu quarto em direção ao de Sophie
para que eu possa espiar lá dentro. Ela está esparramada na
cama como uma estrela do mar, uma perna aparecendo por
baixo do edredom enquanto ela ronca baixinho. Eu sorrio
enquanto atravesso o tapete silenciosamente para me inclinar e
beijar sua testa, lembrando de todas as coisas que Cassie disse e
sentindo aquela familiar pontada de culpa em meu peito.
Esse tipo de solidão pode realmente foder com uma criança.
Faço outra afirmação silenciosa para estar mais presente. Eu
sei que Sophie merece isso.
Eu saio do quarto de Sophie sem fazer barulho, suspirando
baixinho para mim mesmo enquanto fecho a porta atrás de
mim. Estou no terceiro andar, mas meus pensamentos estão
dois andares abaixo, onde sei que não deveriam estar. É ridículo
sequer pensar em descer para checar Cassie, mesmo para mim
isso soa como uma péssima ideia, e guardo o pensamento
enquanto caminho para meu próprio quarto. É bem depois da
meia-noite, e eu sei que deveria dormir por um momento
depois do dia que tive, especialmente considerando que
amanhã à noite vai ser um show de horrores desde que prometi
que não iria chegar cedo, mas, mesmo quando estou deitado
em minha cama, não consigo desligar meu cérebro.
Você é um bom pai, Aiden. Eu prometo.
Por que parece tão importante para mim que ela pense
assim?
Eu fecho meus olhos, deixando minha cabeça bater contra a
cabeceira da cama. Eu posso estar em apuros. Eu disse a Cassie
que estava evitando-a por causa do bem-estar dela, e claro, isso
é parcialmente verdade, mas o verdadeiro motivo é que tenho
evitado Cassie porque depois daquela noite, não tenho
pensado nela da maneira que um chefe deveria. Especialmente
dada a nossa situação. A forma como eu tenho pensado sobre
Cassie faria com que ela se demitisse em um instante, e dado
que ela parece ser a primeira babá que Sophie realmente gostou
de ter por perto, isso não é algo que eu possa arriscar. Eu rio
amargamente para mim mesmo, pensando que tenho uma
maneira real de escolher as piores mulheres para me interessar.
São sempre aquelas com as quais eu não deveria me envolver
que parecem chamar minha atenção.
As pontas dos meus dedos sobem pela borda da minha
camisa antes de começarem a traçar as partes enrugadas ao
redor da minha cicatriz enquanto penso sobre uma outra
época, quando contei sobre ela para uma mulher que eu estava
começando a me importar. Não é de admirar que a reação de
Cassie traga lembranças da mulher que eu tento ao máximo não
pensar; ela ficou tão surpresa ao saber sobre a cicatriz quanto
Cassie ao notar. Pensando bem, acho que a mulher em questão
pode ser a última pessoa com quem falei sobre isso. Uma
tentativa desesperada de se conectar com uma pessoa que foi
vulnerável sobre suas próprias cicatrizes. Agora, essa foi a coisa
mais idiota que já fiz.
Eu não era alheio ao fenômeno que foi OnlyFans quando
explodiu. Parecia que todo mundo já tinha ouvido falar, pelo
menos, e eu não era exceção. É que antes de procurar, pensei
que fosse algo que não me interessava.
Acho que talvez tenha me afetado, a solidão que vem do
meu horário de trabalho lotado que tornava tão difícil
conhecer pessoas. Talvez tenha sido assim que acabei
navegando no OnlyFans tarde da noite por sugestão de um
colega de trabalho. Eu encontrei o perfil dela por completo
acidente, ela me atraiu logo de cara, embora ela mantivesse o
rosto meio coberto por uma máscara.
Tudo começou com uma rolagem inocente, verificando o
feed de não assinantes dela, que foi projetado para fazer você
querer se tornar um assinante de verdade. O que eu fiz,
obviamente. Não precisou de esforço algum para me fazer
decidir isso. No começo, eu só comprava os vídeos dela quando
eles saíam. Eram sempre sessões solo, sempre ela, na frente e no
centro e com uma música suave, mas algo sobre essa mulher
cujo rosto eu não conseguia ver e cujo cabelo sempre ficava
coberto por uma peruca brilhante... Algo sobre ela me fisgou.
Então comecei a pagar por shows particulares. Na verdade,
isso é risível. Comecei a pagar por muitos shows privados. Foi
tão fácil entrar no Skype com minha câmera desligada. Tão fácil
entrar na fantasia de um show feito só para mim. Como se eu
fosse a única pessoa no mundo, até onde ela sabia. Acho que foi
a ideia de compartilhá-la com outros espectadores como eu que
me fez sentir... ciúmes. De alguma forma. E isso não é louco?
Não é ridículo eu começar a romantizar meus encontros com
uma mulher que eu estava pagando para ver se tocar?
Exceto que... ela também parecia solitária. Ela até me disse
isso. Mais de uma vez. Talvez seja isso que fez tudo parecer ser
mais do que era na minha cabeça. Era fácil acreditar que eu era
especial para ela, mas nunca foi real. Ela nunca teve planos de
me encontrar pessoalmente. Mesmo se ela pretendia. Seu
desaparecimento completo era evidência suficiente disso.
Ainda me lembro das curvas suaves de seu corpo até hoje,
quadris que imploravam por minhas mãos e seios que
imploravam por minha boca, e quando ela se tocava, quando
seus dedos finos deslizavam entre as dobras molhadas para me
provocar noite após noite... bem. Não é de admirar que eu
tenha ficado um pouco obcecado. Especialmente quando havia
tantas noites em que parecia que era tudo para mim.
A memória por si só é suficiente para me fazer enrijecer
contra a calça do pijama, uma dor crescendo lá quando o
pensamento de uma mulher cujo nome eu nunca soube é o
suficiente para me deixar duro, como sempre. Mesmo depois
de todo esse tempo, ela ainda me afeta. Ela usava o nome como
Cici, mas não sou estúpido o suficiente para pensar que ela me
deu seu nome verdadeiro. É outro lembrete de que tudo não
passou de uma fantasia.
Eu sibilo entre os dentes enquanto pressiono a palma da
mão contra o algodão esticado, me sentindo patético por
recorrer a isso, mas sabendo que não há muitas outras opções
de alívio para mim nesta fase da minha vida. Entre as demandas
do meu trabalho e Sophie... não houve exatamente tempo para
namorar. Meus olhos tremem e meus dentes pressionam contra
meu lábio inferior quando eu enfio a mão dentro da minha
calça para envolver meus dedos ao redor do calor do meu pau,
uma respiração instável escapando de mim quando eu começo
a bombear meu punho para cima e para baixo para aliviar um
pouco da pressão. Eu posso sentir o líquido escorregadio na
ponta que reveste o interior do meu punho para deslizar pelo
comprimento de novo. Na minha cabeça estou preso na
memória daquela mulher mascarada com um nome falso, seus
dedos provocando entre suas pernas e beliscando seus mamilos
completamente para mim, só para mim.
Até mesmo antes, eu pensava qual seria a sensação dela se eu
pudesse tocá-la. Se fossem minhas mãos a provocando, em vez
das dela. Era algo que eu quase pensei que no fim seria uma
possibilidade. Ela me fez sentir que me queria tanto quanto eu
a queria. Então, para onde ela foi? Eu não fui embora por
muito tempo, fui? Enquanto eu estava lidando com a morte de
Rebecca? Por que ela desapareceu completamente quando
voltei para me desculpar?
Porque nunca foi real.
Eu cerro os dentes enquanto movimento mais forte, um
aperto no peito enquanto meu pulso acelera e meu sangue
corre mais rápido com o prazer crescente que se acumula a cada
golpe do meu punho. Eu posso sentir, como uma pressão
quente que aumenta e aumenta e aumenta, minha cabeça
caindo para trás enquanto meus lábios se abrem com pequenas
rajadas de ar escapando de mim.
Estou tentando me concentrar na memória, aquela que está
presa na minha cabeça – agarrada àquela mulher sem rosto com
suas curvas suaves, seu corpo perfeito e seios bonitos com os
quais ainda sonho às vezes, mas meus pensamentos estão
vagando para outro lugar fora do meu controle. Indo em
direção aos pensamentos de algodão macio esticado sobre a
forma de mamilos rígidos. Eu não quero pensar nela, eu
realmente não quero, mas sem o meu consentimento meu
cérebro começa a imaginar uma mulher que não é sem rosto
com um sorriso doce, olhos brilhantes e um corpo que é tão
tentador quanto, senão mais, mesmo completamente vestido.
Sem meu consentimento, meus pensamentos traiçoeiros
estão se voltando para Cassie.
Minha respiração está presa em meus pulmões, minhas
costas curvando à medida que eu acaricio meu pau mais rápido
enquanto a mesma pressão aumenta a ponto de estourar e meus
pensamentos voam entre memórias antigas e novas até que eu
não consigo diferenciar onde a mulher sem rosto termina e
Cassie começa. E por que é tão mais difícil respirar agora que o
rosto de Cassie está surgindo em meus pensamentos? Por que
me sinto tão mais próximo agora que estou pensando nela?
E quando a liberação quente derrama para cobrir minha
mão no momento que eu pulso em meu próprio punho, a
memória se foi completamente, deixando apenas o rosto de
Cassie para trás enquanto eu gozo contra a palma da minha
mão. Estou tentando recuperar o fôlego depois, meus olhos
abertos e fixos no teto, mas sem realmente vê-lo, tentando
descer da euforia enquanto a culpa do que fiz lentamente se
insinua.
Você pensaria que eu poderia ter aprendido minha lição da
primeira vez.
A minha última experiência em me importar com uma
mulher fora do meu alcance não me ensinou alguma coisa?
Quantas decepções já tive ao deixar minha solidão me levar a
fazer julgamentos terríveis, apenas para receber um terrível
despertar quando descobria que nada daquilo era real?
Aqui estou eu, um ano inteiro depois, me encantando por
outra mulher que está completamente fora do meu alcance e
provavelmente não é para o meu bico. O que Cassie iria querer
com um pai solteiro viciado em trabalho que mal consegue
funcionar direito em um dia normal?
É ridículo até mesmo considerar, por todos os tipos de
razões.
Eu realmente me importo com vocês.
Eu tenho que me lembrar que ela não pode ter dito isso do
jeito que eu gostaria de acreditar. É assim que Cassie é. Tenho
certeza de que ela só se preocupa comigo como um pai solteiro
lutando para ter uma conexão melhor com sua filha, como um
projeto de estimação. Nada mais.
Eu ando até meu banheiro em um estado de vergonha para
lavar minhas mãos, franzindo a testa para a pia enquanto a água
fria me traz de volta à realidade. Quando termino, e estou
secando as mãos na toalha pendurada ao lado da pia, vejo meu
rosto ainda corado no espelho e balanço a cabeça para meu
próprio reflexo.
— Seu idiota — murmuro.
Eu caio de cara na cama, ainda me xingando por ser um
idiota delirante, mas me sentindo menos tenso, pelo menos.
Mesmo agora, depois de cair ainda mais na tentação sem querer
– ainda estou pensando nela. Tanto quanto eu tenho desde o
momento em que ela se mudou, para ser honesto. É
imprudente e definitivamente inapropriado, mas aí está.
Suspiro, empurrando meus braços sob o travesseiro e me
enterrando nele enquanto tento tirar o rosto de Cassie da
minha mente. Digo a mim mesmo que amanhã vou me esforçar
para enterrar essa paixão estúpida bem fundo, onde ela
pertence. Que amanhã, quando eu acordar, tomarei café da
manhã com Cassie e Sophie e agirei como se não tivesse me
violado ao pensar na babá, porque só de pensar nisso me sinto
um esquisito.
Inferno. Talvez eu seja.
Eu absolutamente não consegui dormir naquela noite, mas
isso é basicamente o que eu esperava.
Estou prestes a dizer adeus a ele, porque, para todos os
casos, terminamos aqui; ele me viu gozar, ele já pagou –
então por que estou hesitando?
Ainda posso ouvi-lo respirando do outro lado da linha da
chamada do Skype, e não é a primeira vez que fico
curiosa sobre sua aparência. Sua voz faz coisas
indescritíveis comigo, sem dúvidas, e com certeza alguém
com uma voz como essa deve ter um rosto para combinar?
Vou encerrar a sessão. É ridículo que eu esteja hesitando.
Eu limpo minha garganta, prestes a agradecer a ele por
comprar outro show privado, mas ele me surpreende ao
falar primeiro.
“Estou curioso... Quanto custaria continuar falando com
você?”
Eu sei que meu coração não deveria saltitar.
Capítulo 9
Cassie
■□■
■□■
@alacarte
te enviou uma gorjeta de $50
■□■
■□■
■□■
■□■
@alacarte
te enviou uma gorjeta de $75
■□■
AIDEN
Eu disse a ela que eu sou grande demais para isso.
CASSIE
No entanto, não queremos sufocar sua mente
curiosa.
AIDEN
Hilário. Você está indo para a faculdade? Você
não está mandando mensagens e dirigindo, está?
AIDEN
Não sei como me sinto por v ocê me chamar de
pai.
CASSIE
Você prefere Papai?
AIDEN
Você percebe que eles v ão me lev ar para a prisão
se eu ficar duro em um museu cheio de crianças,
certo?
CASSIE
Kkkkkkk, bom para v ocê, eu não tenho um fetiche
com Papai, ou eu me div ertiria totalmente com
isso.
AIDEN
Você é malv ada.
CASSIE
Você só v ai ter que me recompensar mais tarde. ;)
AIDEN
Completamente malv ada.
CASSIE
Sophie está se div ertindo?
AIDEN
Demais. Ela está meio tímida. Posso dizer que ela
quer se juntar a algumas das outras crianças, mas
não consigo fazê-la dar o primeiro passo.
CASSIE
Ela está em uma idade estranha. Pode ser difícil
fazer amigos.
AIDEN
Eu sei. Eu simplesmente odeio v ê-la sofrendo com
isso.
CASSIE
Você não pode forçar. Vai acontecer. Ela é incrív el
demais.
AIDEN
Você tem razão.
Agora se apresse e saia de casa para não ter que
correr.
CASSIE
Está bem, está bem. Vou fazer, Papis.
AIDEN
Malv ada.
■□■
■□■
— O zoológico?
Eu me recuso a ser distraída por Aiden em seu habitat, seus
braços cruzados sobre seu casaco de chef e seu avental
manchado com pedaços de alguma coisa ou outra enquanto o
resto de sua equipe trabalha diligentemente atrás dele.
— Ela vai adorar — eu insisto. — E minha parceira de
laboratório vai levar sua sobrinha, então será uma ótima chance
para Sophie conhecer alguém de sua idade.
— Não deixe que ela ouça você tramando assim — ele
adverte, inclinando-se para espiar em seu escritório, onde
Sophie ainda está jogando em seu Switch em sua mesa. —
Quero dizer, eu estou bem com isso, mas você tem certeza que
quer? Vai ser um dia longo.
— Claro! Vai ser tão divertido. Especialmente para Sophie.
Ela já foi?
— Talvez uma vez quando ela era menor... — Ele esfrega a
nuca. — Não tivemos uma chance desde... bem.
— Eu entendo. — Estendo a mão para ele
inconscientemente, meus dedos raspando na borda de seu
avental em sua cintura antes de me lembrar de onde estamos.
Eu puxo minha mão para trás, limpando minha garganta. —
Você sempre pode vir conosco. Brincar de faltar?
Aiden ri, olhando para a agitação atrás dele.
— Acho que eles podem me enfiar no forno se eu tentar.
— Apenas uma ideia.
Há uma sugestão de um sorriso em sua boca quando ele se
volta para mim, e seus olhos estão mais calorosos, fazendo meu
estômago revirar.
— Confie em mim, é onde eu preferia estar.
— Bem, vou enviar muitas fotos, pelo menos.
— Perfeito. Me mande um lembrete daqui a pouco e,
quando eu tiver um intervalo, reservarei os ingressos.
— Ah, não, eu posso...
— Eu vou comprá-los — diz ele sem rodeios, sem deixar
espaço para discussão.
Meus lábios se contraem.
— Bem, sim, senhor.
— Temos que adicionar isso à lista de frases que você não
pode dizer para mim em público.
Eu levanto uma sobrancelha, baixando minha voz.
— Você está se tornando um pervertido regular, não é?
— Acho que você desperta isso em mim — ele ri.
A agitação no meu estômago é pior agora, porque não estou
apenas pensando nesta última semana juntos – estou pensando
em todas as vezes que ele foi ainda mais safado do que isso no
escuro do meu quarto, onde eu não podia ver o rosto dele.
Tenho que reprimir um arrepio, tentando afastar esses
pensamentos e me concentrar em Sophie.
— Eu vou contar para ela as novidades — digo.
Aiden ri novamente.
— Apenas certifique-se de não deixá-la saber que é um
encontro para brincar. Ela pode te chutar nas canelas.
— Ela nunca faria isso — protesto. — Ela me ama.
— Não diga que não avisei.
Reviro os olhos enquanto passo pela cozinha em direção ao
escritório do outro lado, batendo no batente da porta
enquanto espio minha cabeça.
— Ei, Soph. Tem planos para amanhã?
— É domingo — diz ela com uma careta. — E eu tenho dez
anos.
— O que você acha de nós termos uma pequena aventura?
Ela faz o possível para não parecer muito animada, seu
Switch abaixando para o colo enquanto ela dá sua melhor
impressão de ser indiferente.
— Que tipo de aventura?
“Ainda não acredito que você assistiu aquele último
vídeo no trabalho” eu rio.
Está se tornando um hábito estranho nosso – conversar
um pouco depois da chamada de Skype. Ele ainda me
assiste gozar e, honestamente, eu gosto um pouco mais
quando é ele, e isso não é bobo?
“Valeu a pena” ele murmura. “Embora meus colegas de
trabalho possam discordar. Eles provavelmente acham
que eu tenho problemas de estômago.”
Eu não posso deixar de rir de novo. Eu ajusto a máscara
no meu rosto, meus dedos demorando lá enquanto meus
dentes mordem meu lábio inferior.
“Estou tentando imaginar” respondo baixinho. “É tão
estranho que eu não saiba como você é.”
“É.” Eu o ouço limpar a garganta. “Mas também não sei
exatamente como você é.”
“É meio estranho” eu rio nervosamente, meu ritmo
cardíaco acelerando.
“Sim” ele ri baixinho. “Estranho.”
Ele não me pede para tirar a máscara, o que é bom.
Porque agora não tenho certeza que não faria isso por ele.
Capítulo 15
Cassie
■□■
■□■
■□■
AIDEN
Não. Eu v ou buscar v ocês. Apenas me diga a hora.
CASSIE
Você não precisa. Eu sei o quanto v ocês estão
ocupados.
AIDEN
Eu disse que v ou. Apenas me diga que horas.
CASSIE
Está bem, está bem. Mandão.
AIDEN
Vejo v ocê depois.
É bobo ainda estar sorrindo sobre isso, mas não posso evitar.
Eu me pergunto se devo dizer a ele que eu meio que gosto dele
sendo mandão.
Camila está me olhando estranhamente quando eu olho
para cima, e rapidamente disfarço meu sorriso em uma
expressão mais casual.
— Vocês estão prontas para seguir em frente? Acho que
estamos perto de algumas cafeterias. Podemos pegar um pouco
de comida.
— Estou morrendo de fome — lamenta Lucia.
— Sim, sim — eu rio. — Vamos alimentar vocês, pestinhas.
Eu intencionalmente ignoro o jeito que Camila ainda está
me olhando.
■□■
■□■
■□■
Eu ajudo Sophie a sair do carro quando paramos do lado de
fora da casa, certificando-me de que ela está com a sua sacola de
lembrancinhas antes de começar a andar. Ela se vira para olhar
para mim no meio do caminho.
— Você vem?
— Só um segundo — eu falo depois dela. — Preciso contar
uma coisa para o seu pai.
— Tudo bem, mas você prometeu fazer o quebra-cabeça do
canguru comigo.
— Sim, sim, vamos fazer o quebra-cabeça.
Espero até que ela desapareça pela porta da frente antes de
rastejar de volta para o lado do passageiro na frente, passando
pelo console no meio e colocando minhas mãos em concha no
rosto de Aiden para puxá-lo para um beijo. Há um momento
de surpresa da parte dele que se dissolve rapidamente, e então
sinto seus dedos em meu cabelo e sua língua em meu lábio
inferior antes de mergulhar para dentro para tocar a minha.
Eu o beijo com força, com muito mais do que parece
apropriado para dentro de um carro no meio da rua, mas
decido que não me importo. Tive um dia fenomenal com uma
criança fenomenal, e agora estou sendo levada para casa por um
homem fenomenal que me deixa atacá-lo com beijos do nada.
As coisas poderiam ser muito piores.
Ele parece um pouco atordoado quando eu me afasto.
— Para o que foi isso?
— Porque você é ótimo.
Ele pisca.
— Eu sou?
— Muito.
— Você está tentando me seduzir para desistir do trabalho?
Porque está funcionando.
Meus lábios se curvam contra os dele e pressiono outro beijo
suave ali.
— Mais tarde — eu prometo. Eu me arrasto para fora do
carro e percebo que ele está franzindo a testa quando meus pés
tocam a calçada, minha mão na porta. — O quê?
— Você pode ser realmente má — ele resmunga.
Eu dou a ele um sorriso malicioso.
— Ainda bem que você sabe onde eu moro, Sr. Reid.
Acho que ainda consigo ouvi-lo resmungando mesmo
depois de fechar a porta.
Bate papo com @lovecici
■□■
Fingir que eu estava bem com Sophie e Iris esta noite foi uma
verdadeira luta. Sophie felizmente se aproximou de uma garota
que estava interessada sobre sua viagem de aniversário para a
Disney, então repassar cada faceta dessa conversa foi o foco
principal de Sophie durante a maior parte da noite. Fiquei
genuinamente feliz em saber que ela pôde fazer uma amiga e, se
eu não estivesse tão nervosa com o que teria de fazer quando o
pai dela chegasse em casa, poderia até ter sugerido levá-la para
comemorar. Depois, tiveram as fotos e, como Iris foi quem
contou todas as memórias anexadas a cada foto, pude apenas
sentar perto e ouvir Iris se lembrar de tudo.
Foi uma boa noite, fora do meu tumulto interior. É uma
coisa que eu poderia me ver fazendo mais vezes, ter Iris nos
visitando.
Bem, se eu conseguir me sair bem dessa. Pode ser minha
última noite aqui, pelo que sei.
Não pense assim. Ainda há uma chance de dar certo.
Tenho feito tarefas para me manter ocupada desde que
Sophie foi para a cama, percebendo depois que entrei no portal
da faculdade que deixei ficar muito mais atividades para trás do
que pretendia na última semana. E como se eu não tivesse
experimentado estresse suficiente hoje, até perdi
completamente um prazo, o que significa que agora tenho
minha primeira nota de reprovação. Eu sei que uma tarefa
perdida não vai me expulsar do programa nem nada, mas com
certeza não ajuda em meu humor atual.
Eu peguei aquela bebida; tive que esperar que Sophie
desmaiasse completamente para pegá-la, mas a taça muito
grande de vinho da garrafa que não consigo pronunciar o
nome, que parece valer mais do que recebo em uma semana,
ajuda a aliviar. Eu roubei da geladeira de vinho de Aiden, então
se esta noite der errado, isso pode ser outro prego no meu
caixão. Mas não me impede de beber.
Durante a última hora, estive observando a porta da frente
do sofá perto da escada, onde estou descansando com meu
notebook, cada carro que passa do lado de fora me faz remexer
enquanto me pergunto quando Aiden chegará em casa.
Estou vestindo a mesma blusa rosa que nos causou
problemas algumas vezes; provavelmente é trapaça tentar
despertar memórias de, bem, excitação em um momento como
este – mas acho que usar todas as armas que puder a meu favor
não fará mal. Como se Aiden, de alguma forma, fosse ficar tão
distraído com meus peitos que esqueceria que eu menti para ele
por semanas.
Não mentindo, meu cérebro corrige. É apenas uma omissão.
Porque tem uma grande diferença.
Tomo outro gole lento de vinho, deixando-o borbulhar em
minha boca por um segundo antes de engolir. É seco e um
pouco amargo, mas o gosto ajuda a me manter acordada. A tela
do meu notebook está começando a ficar borrada enquanto
meus olhos queimam de cansaço, e eu os esfrego com os dedos
à medida que reprimo um bocejo. Você pensaria que com essa
ansiedade toda eu estaria bem acordada, mas parece estar tendo
o efeito oposto. Eu estive tão preocupada hoje que meu corpo
parece estar se revoltando. Eu acho que todas as noites que
passei com Aiden recentemente não ajudaram exatamente a
situação, também, mas não consigo encontrar forças para
reclamar sobre isso.
Fecho meu notebook e o coloco ao meu lado antes de
colocar minha taça na mesinha lateral próxima. Eu estico meus
braços acima da minha cabeça depois, meu pescoço estala
quando eu o viro para um lado e para o outro. Meu telefone
marca pouco depois das onze da noite, e sei que Aiden pode
entrar pela porta a qualquer momento.
Deus, talvez eu devesse ter ligado para Wanda.
Ela provavelmente saberia a coisa perfeita a dizer. Isso, ou
ela teria apenas me dito para tirar minha camisa como mais uma
distração. Poderia ter acontecido de uma das duas maneiras. Ela
provavelmente ficaria orgulhosa de mim por usar o sutiã mais
fino que possuo esta noite. Eu por outro lado... Sim. Ainda
parece trapaça.
Suspiro enquanto pego minha taça de vinho novamente,
segurando-a perto da boca enquanto olho para o corrimão que
contorna a escada, me perdendo em meus próprios
pensamentos e contemplando o pior resultado possível.
Sempre pensei que, se você espera decepção, nunca ficará
desapontado, então talvez seja por isso que estou imaginando
como seria o pior final.
Na pior das hipóteses, Aiden me diz que não se sente
confortável em me manter como babá, muito menos como
sua... o que quer que eu seja para ele. (O patético é que só agora
estou percebendo que nem mesmo definimos o que diabos
somos.) Na pior das hipóteses, Aiden vai me dizer que
precisarei arrumar minhas coisas amanhã, ele vai me escrever
um bom cheque de indenização (ele parece ser o tipo), e então
ele vai me escoltar para fora de sua casa e de sua vida. Pela
segunda vez.
Não seja dramática. Ele nem sabia seu nome antes.
Balanço a cabeça enquanto levo a taça aos lábios novamente,
fechando os olhos enquanto a inclino para trás para tentar
engolir o último gole do líquido vermelho. No momento, eu
não estou realmente bêbada; quase não estou nem um pouco
alterada, então não sei dizer por que escolheria esse momento
para ser desajeitada. Talvez seja o nervosismo, ou talvez seja
apenas o estresse esmagador que tenho sofrido nos últimos
dias... Não sei. Independentemente disso, minha taça escolhe
este momento para errar minha boca, o resto do vinho
pingando sobre meu lábio inferior e derramando na frente da
minha camisa.
— Merda.
O dano está feito; aparentemente havia muito mais vinho na
taça do que eu imaginava. (Por que eu tive que escolher a maior
do armário?) Minha camisa está encharcada dos seios ao
umbigo e, quando me levanto rapidamente para evitar que caia
no sofá, percebo que estou pingando no azulejo.
— Ótimo — murmuro, virando-me para colocar minha
taça de volta na mesa lateral. — Perfeito.
Eu passo minha blusa sobre minha cabeça antes que eu
possa pensar duas vezes, e não é até que eu estou de joelhos
limpando o pouco de vinho que pingou no chão que toda a
hilaridade desta situação me atinge. Não foi exatamente assim
que encontrei Aiden naquela noite em que esperei por ele? Ele
chamou de ideia estúpida antes. Que maldito par nós
formamos.
Estou girando o pano encharcado no azulejo, mesmo
enquanto meus seios e barriga ainda estão úmidos com gotas
persistentes de vinho, amaldiçoando minha sorte à medida que
limpo minha bagunça para que eu possa me trocar antes que
Aiden chegue em casa.
Mas minha sorte em encontrar Aiden se provou ser uma
merda no passado, e agora não é exceção. Ouvir as chaves na
porta naquele momento me deixa muito atordoada para me
mover, congelada em minhas mãos e joelhos com a boca aberta
e uma camisa manchada de vinho em minhas mãos. Ele entra
como sempre faz, pendurando as chaves no gancho e tirando
os sapatos na porta, e leva um segundo para me notar ali,
olhando boquiaberta para ele.
— Cassie?
De repente, esqueço como falar, ainda olhando para ele. O
ar frio nas minhas costas parece uma coisa assustadora agora.
Ele dá um passo mais perto.
— O que aconteceu?
— Eu derramei meu vinho — consigo dizer, empurrando
para cima para que eu esteja de joelhos para manter minhas
costas escondidas dele. — Caiu na minha blusa.
— Uau — ele ri. — E seu primeiro instinto foi tirá-la? Acho
que você tem passado muito tempo comigo.
Quanto mais perto ele chega, mais pânico eu sinto, e luto
para ficar de pé o mais rápido que posso enquanto ele diminui
a distância entre nós. Ele ainda está sorrindo para mim
enquanto passa um dedo sobre a pele úmida dos meus seios, e
minha voz fica presa na garganta enquanto não penso em nada
além de escapar.
Não era assim que eu queria contar a ele.
— Eu deveria ir buscar outra camisa — eu tento, me
afastando dele.
Os braços de Aiden me envolvem, me puxando contra ele.
— Só para que eu possa tirá-la de você de novo?
— Ah, eu...
Meu coração está martelando em minhas costelas, tão alto
que me pergunto se ele pode ouvi-lo. É a primeira vez que fico
sem camisa com ele sem estar deitada de costas ou em cima dele,
com total controle. Algo que eu não sinto que tenho agora.
Controle. Seus dedos estão deslizando pela minha espinha para
subir mais alto, e a cada centímetro eu acho mais difícil respirar.
— Aiden, preciso falar com você.
Ele cantarola baixinho, curvando-se para deixar seus lábios
contornarem minha mandíbula.
— Sobre?
— É que — ele torna difícil pensar quando beija meu
pescoço assim — tem algo que eu queria dizer a você.
Suas mãos estão tão perto agora, e sei que a qualquer
segundo ele vai sentir, e então não terei chance de falar aos
poucos como planejei. Eu trago minhas mãos entre nós para
pressionar contra seu peito suavemente, lutando entre querer
trazê-lo para mais perto e saber que eu deveria afastá-lo.
— Aiden, eu...
Porra.
Eu posso sentir, quando ele fica parado. É curioso no
começo, seu toque – as pontas dos dedos traçando a borda da
minha cicatriz como se ele não tivesse descoberto o que é. Sinto
sua mão achatar toda a forma dela, sem dúvida sentindo a
diferença de textura entre minha cicatriz e o resto da minha
pele.
— Cassie, o que...?
Eu me afasto dele então, olhando para os meus pés, já que
estou tendo dificuldade em olhar para ele. Eu sei que pode ser
agora, que depois disso ele pode nunca mais sorrir para mim, e
por que isso parece tão devastador de repente? Nós nos
conhecemos há pouco tempo, cedemos a esses impulsos por
apenas algumas semanas – então por que parece que isso pode
ser o fim de algo importante?
— Eu deveria ter contado a você assim que percebi —
murmuro baixinho para o chão. — Eu não... No começo eu
não sabia como, e estava com medo de perder meu emprego, e
sei que deveria ter dito algo depois que fizemos sexo, mas eu
simplesmente... É horrível, eu sei, mas eu estava com tanto
medo de você desaparecer de novo, e me senti tão mal da
primeira vez, e eu percebo que tudo isso soa patético, mas...
— Ei.
Eu finalmente olho para ele então, sentindo suas mãos em
meus ombros enquanto ele aproxima seu rosto do meu.
— Cassie, do que você está falando?
Há uma confusão genuína em seus olhos que se mistura
com preocupação real, como se ele não tivesse ideia do que
estou falando. E por que ele faria? Eu mal estou fazendo
sentido. Posso sentir meus olhos ficando úmidos enquanto
sinto um medo genuíno pelo que quer que esteja para
acontecer, mas respiro fundo, sabendo que ainda é a coisa certa
a fazer.
Eu me viro lentamente, tentando manter minhas costas
retas para não parecer tão lamentável como me sinto, olhando
para a parede da alcova ao lado da escada enquanto espero que
ele diga alguma coisa. Demora segundos, ou talvez horas, não
tenho certeza, mas então sinto suas mãos na minha pele,
traçando novamente. Talvez ele esteja tentando encontrar a
memória. Talvez ele nem se lembre disso, e agora parece que
pode ser pior. Sendo um pontinho insignificante em seu radar
que ele nem se lembra.
Sua voz é incrivelmente suave quando ele finalmente diz
alguma coisa.
— Você estava fazendo o jantar.
Ele lembra. Eu não deveria estar animada que ele se lembra.
— Porque eu estava sozinha em casa — eu sussurro de volta.
— E você acidentalmente puxou a panela de água fervente
para cima de você.
Mal consigo me ouvir quando respondo:
— Não consegui sair do caminho a tempo. Caiu nas minhas
costas.
— Eu...
Estou tremendo, mas não acho que seja o ar-condicionado.
— Cassie, você...?
Eu só posso acenar com a cabeça.
Ele fica quieto novamente depois disso, impossivelmente
quieto. Eu quero olhar para ele, mas estou com muito medo.
Estou com muito medo de descobrir que olhar ele estará
usando quando eu fizer isso. Decepção? Raiva? Não sei o que
seria pior.
— Há quanto tempo você sabe?
Eu engulo.
— Desde que vi sua cicatriz.
— Então, o tempo todo que estivemos...
Eu aceno novamente.
— Jesus, Cassie. Como você pôde não me contar?
Fecho os olhos com força. Ele definitivamente parece
zangado.
— Eu estava com medo.
— Com medo de quê?
— É que... você desapareceu tão repentinamente naquela
época, e eu pensei… Deus. Acho que fui ingênua. Achei que
você realmente gostasse de mim e que realmente quisesse me
encontrar. Então, quando você apenas... desapareceu, eu só...
— Solto um suspiro trêmulo. — Eu não queria ter que passar
por isso de novo. Especialmente agora que eu... conheço você.
Seria muito pior agora.
— Você ia me contar em algum momento?
Meus olhos se abrem e não posso evitar, virando-me para
encará-lo para que ele possa ver a sinceridade em meu rosto.
— Sim! Eu ia te contar esta noite. Eu ia te contar hoje, na
verdade, mas aí você... hum, me distraiu, e teve toda aquela
merda com Iris, e você tinha que ir trabalhar, e eu apenas pensei
que precisávamos ter uma conversa real sobre isso, e...
Fico quieta, finalmente percebendo sua expressão. É
nervosa, com certeza, e confusa, com certeza, mas noto que não
há nada da emoção que eu mais temia ver.
Decepção.
Aiden não parece enojado ou chateado; claro, ele parece
estar bravo porque eu o deixei deitar na minha cama tantas
vezes sem dizer a verdade, mas de alguma forma não parece tão
terrível quanto eu pensei que seria.
— Sinto muito — eu digo baixinho. — Eu deveria ter te
contado antes.
Seus olhos ainda estão duros.
— Sim. Você deveria. Ainda não consigo acreditar que você
não contou.
— Eu sei. — Eu olho para os meus pés novamente. Eu ainda
estou seminua e coberta com a porra do vinho. Isso não poderia
ficar pior. — Eu sei. Desculpa.
Ainda estou olhando para os dedos dos pés enquanto espero
que ele diga alguma coisa, sentindo minha pulsação martelando
em meus ouvidos enquanto espero e vejo se Aiden vai escolher
tentar falar sobre isso comigo, ou se ele vai me pedir para ir
embora. Não tenho vergonha do meu passado e não vou deixar
ninguém me fazer sentir como se eu devesse ter, nem mesmo
Aiden – mas caramba, se não vai doer se ele não for quem eu
pensei que ele era, e tentar me fazer sentir assim. Então,
novamente, eu escondi coisas dele, então talvez ele tivesse
razão? Não sei. Está fazendo minha cabeça doer, e neste
momento, eu gostaria que ele acabasse com isso.
O que quer que "isso" seja.
Bate papo com @lovecici
Porra, A.
O que mais?
Capítulo 20
Aiden
@alacarte
te enviou uma gorjeta de $100
■□■
O resto do meu dia não vai tão bem quanto a minha manhã.
O jeito que acordei Aiden não tinha totalmente me atrasado
para sair de casa, mas já que saí mais tarde do que o habitual, o
engarrafamento no qual meu ônibus ficou preso após um
acidente definitivamente me atrasou. Entre a tarefa perdida
esta semana e o atraso de quase trinta minutos para minha
primeira aula, minha instrutora teve algumas palavras bem
certeiras a dizer sobre colocar minha cabeça no lugar. Isso me
consumiu durante todo o meu dia, me atrapalhando de uma
maneira que me fez deixar cair coisas que não deveria e mapear
as coisas incorretamente – cometendo todos os tipos de erros
que normalmente não cometeria se não estivesse tão abalada.
Estou exausta quando saio do campus, minha viagem de
volta para San Diego parecendo muito mais longa do que o
normal. Pegar o carro de volta ajuda – mas a conta alta,
certamente não. Inferno, antes de me tornar a babá de Sophie,
essa mesma conta significaria comer lámen de microondas por
uma ou duas semanas.
Estou tentando me livrar do meu humor sombrio tocando
toda a discografia de Taylor Swift no caminho para o
restaurante, mas até mesmo meu Spotify parece estar contra
mim hoje, tocando muitas músicas de Evermore e não o
suficiente de Red. É como se o universo quisesse que eu chorasse
hoje.
Cadela inconstante, estou lhe dizendo.
Eu fui ao restaurante de Aiden para pegar Sophie algumas
vezes desde nossa primeira entrevista, e ao passo que a
recepcionista não me olha tão feio por causa da minha colônia,
ela parece ter uma opinião sobre meus sapatos, se a maneira
como ela olha para meus tênis gastos toda vez que passo pelas
portas é uma indicação. Eu nem sequer a comprimento esta
noite, dando-lhe um aceno de desdém enquanto vou direto
para a cozinha. Eu tenho que passar pela área do bar para chegar
lá, mas desenvolvi uma boa rotina de me mover ao redor dos
bartenders ficando fora do caminho enquanto tento chegar às
portas duplas que levam à área da cozinha.
Agora, estou plenamente ciente de que não estou de bom
humor, mas não posso fingir que ver Aiden no modo chef
executivo – latindo ordens para os outros chefs e espiando por
cima dos seus ombros com um olhar perspicaz o tempo todo
vestindo aquele casaco pela qual eu provavelmente não deveria
me sentir tão atraída – ajuda um pouco. Ele não me nota a
princípio, muito ocupado criticando o refogado de alguma
carne em uma panela que está fora da minha vista.
Sophie está empoleirada em seu banquinho de sempre em
um canto seguro perto das pias, acenando quando me vê e
colocando seu Switch no balcão antes de pular de seu assento.
— Podemos ir para casa? — Ela lança um olhar cauteloso
para o pai. — Papai está de mau humor.
É como se estivéssemos ligados ou algo assim.
— O que aconteceu?
Sophie dá de ombros.
— Não sei. Algum cliente estava bravo com alguma coisa.
— Caramba.
Eu olho para Aiden, ainda repreendendo quem eu presumo
ser um de seus subchefes, me perguntando se seria melhor
escapar e enviar uma mensagem para ele. Eu odiaria tornar a
noite dele pior. Antes que eu possa chegar a uma decisão, Aiden
finalmente percebe que estou do outro lado da cozinha, e sua
expressão muda imediatamente quando ele dá uma última
palavra ao subchefe antes de se aproximar.
— Ei — diz ele, sorrindo com os olhos cansados. — Como
foi o seu dia?
Reviro os olhos.
— Tão bom quanto o seu, parece. O que aconteceu?
— Bobagem — resmunga Aiden. — Não percebi um bife
que cozinhou demais e ele foi enviado de volta com um bilhete
legal sobre se merecemos ou não nossas estrelas.
— Ai. — Eu faço uma careta. — Eles devem ser muito
divertidos em festas.
— O que aconteceu com o seu dia?
Eu sei que se eu disser a ele que me atrasei, ele vai se culpar,
e já que foi inteiramente minha escolha ficar para trás e
aproveitá-lo esta manhã, eu não quero piorar a noite dele com
reclamações desnecessárias.
Eu dou de ombros.
— Apenas um dia ruim. Nada em particular.
— Sinto muito — ele oferece.
Eu aceno para ele.
— Eh. Está tudo bem.
— Sophie — Aiden se dirige à filha. — Por que você não vai
pegar suas coisas no escritório?
— Ok!
Quando estamos sozinhos, Aiden me espia de lado.
— Eu realmente quero te beijar agora.
— Quão fofoqueiros são seus chefs?
— Oh, o mundo inteiro saberia antes de você chegar ao seu
carro.
Isso me faz rir.
— É melhor você não arriscar então.
Aiden acena com a cabeça como se concordasse, mas há algo
em sua boca que diz diferente. Sua mandíbula aperta enquanto
ele hesita em continuar, parecendo estar lutando com alguma
coisa.
— Sabe — ele começa. — Meu chefe vai dar uma festa no
próximo fim de semana.
Eu me animo.
— Uma festa?
— Para o aniversário dele. Ele faz uma todos os anos.
Acho que ele está me dizendo que eu e Sophie teremos uma
noite a sós em breve.
— Oh. — Eu balanço minha cabeça sem rumo. — Parece
divertido.
— Eu pensei que talvez pudéssemos ir juntos.
Isso me pega desprevenida.
— O quê?
Timidez é um visual estranho para um homem tão grande,
mas não desagradável.
— Como um encontro?
Minha boca se abre em surpresa.
— Mas... o que diríamos a Sophie?
— Bem. — Aiden estende sua mão apenas o suficiente para
que seu dedo mindinho roce o meu, e dificilmente pode ser
chamado de toque, mas me faz tremer do mesmo jeito. — Acho
que deveríamos contar a verdade a ela.
Eu posso sentir meu coração começar a bater mais rápido,
uma sensação de vibração pesada surgindo em minha barriga
com a seriedade da expressão de Aiden.
— E você... está bem com isso?
— Ela vai descobrir eventualmente — ele me diz. — Não é
como se você fosse ir a algum lugar tão cedo. — Há um lampejo
de incerteza em suas feições, como se ele não tivesse certeza
absoluta, mas procurasse algum conforto a esse respeito. —
Certo?
Minha boca abre e fecha como se eu estivesse imitando um
peixinho dourado; pensei que teríamos que conversar logo
sobre o que somos e para onde nós nos víamos indo, mas nunca
esperei que Aiden mergulhasse de cabeça nisso sem hesitar. Mal
tive tempo de pensar na ideia, e Aiden está pronto para colocar
todas as cartas na mesa. Parece um pouco imprudente e muito
cativante, mas, no final das contas, é uma resposta fácil.
— Não — eu digo a ele. — Eu não vou.
Seu sorriso é brilhante, tanto que quase me tira o fôlego, e
estou experimentando uma necessidade intensa de beijar ele
agora.
— Então? Você quer ir?
— É chique? Duvido que eu tenha um vestido que sirva.
— Deixe-me preocupar com isso — ele insiste. — Diga que
você irá.
Eu mordo meu lábio enquanto penso, ainda preocupada
sobre como Sophie vai receber essa notícia, mas muito feliz com
a ideia de Aiden querer dizer a ela para eu até mesmo considerar
a ideia de dizer não. Porque quem eu estou enganando? Não
tem nenhuma chance de eu fazer isso. Imprudente ou não, sei
que estou tão pronta para mergulhar de cabeça quanto ele.
Como eu poderia não estar?
— Sim — eu digo a ele. — Eu quero ir.
Outro sorriso para o meu problema.
— É um encontro então.
É um encontro.
Já tive muitos primeiros encontros antes, mas acho que
nunca tive um com um cara com quem já estou dormindo. E
ainda me sinto mil vezes mais animada por este do que por
qualquer outro que já fui. Eu praticamente sinto que acabei de
ser convidada para o baile de formatura.
Sophie volta antes que eu tenha tempo de dizer qualquer
outra coisa, mas acho que o sorriso bobo no meu rosto que não
consigo apagar provavelmente diz mais do que suficiente. Pelo
menos o de Aiden está um pouco parecido, então não me sinto
completamente ridícula.
— Podemos assistir Encanto depois do jantar?
Normalmente, eu poderia reclamar – é um bom filme, mas
já o vimos uma dúzia de vezes – mas, estranhamente, nem me
sinto incomodada. Eu acaricio sua cabeça com o mesmo sorriso
estampado em meu rosto.
— Claro. Podemos assistir.
— Eba! — Ela se vira para envolver seus braços em torno de
Aiden. — Tchau, pai. Te amo.
— Tchau — ele responde de volta, apertando-a em um
abraço. — Também te amo.
Sophie passa por mim, e dou uma última olhada em Aiden
antes de segui-la.
— Te vejo mais tarde?
— Sim. — O olhar que ele me dá é pesado, o verde e o
castanho de seus olhos parecem mais calorosos do que o
normal. — Você vai.
Levo pelo menos uma hora para parar de sorrir.
Meu coração está batendo tão rápido. Isso pode ser um
erro terrível. Ele poderia ser alguém totalmente diferente
do que demonstra.
Mas isso não parece me impedir nem um pouco.
E ele ainda está esperando minha resposta.
“Eu quero ver você também” eu respiro. “Realmente te
ver.”
Eu posso ouvir sua expiração apressada, como se ele
estivesse prendendo a respiração.
Estendo a mão para a máscara, mas ele me impede,
fazendo um som de protesto.
“Mas você disse...”
“Quero poder tocar em você, quando te ver pela primeira
vez” diz ele. Calor inunda a minha barriga. “Porque
quando eu ver você... tenho a sensação de que não vou
conseguir parar.”
Capítulo 22
Cassie
■□■
■□■
■□■
■□■
■□■
■□■
Sophie não diz uma palavra durante todo o caminho para casa.
Eu disse a ela três vezes desde que saímos que sinto muito por
não ter atendido sua ligação; não consigo nem descrever o
quanto me sinto um fracasso como pai sabendo que ela passou
horas sozinha sem ninguém para confortá-la. Isso me deixou
com um nó no estômago desde o momento em que a vi sentada
naquele corredor parecendo mais desolada do que nunca.
Ela também permanece quieta quando chegamos em casa,
subindo dois lances de escada em direção ao seu quarto
enquanto afirma estar cansada, e eu luto comigo mesmo se
devo ou não dar-lhe espaço ou implorar para ela falar comigo.
Neste ponto, não tenho ideia se a decisão que eu tomar vai
melhorar as coisas, se é que vai melhorar, mas no fim decido
que ela já passou bastante tempo sozinha hoje.
Eu a sigo até seu quarto e a ajudo a tirar os sapatos enquanto
ela se senta na beira da cama, olhando para mim com olhos
distantes. Sento-me ao lado dela depois de ajudá-la a se
acomodar sob as cobertas, notando suas olheiras.
— Sophie, sinto muito — digo a ela novamente, desejando
ter alguma maneira de consertar isso. — Eu deveria estar lá. Eu
me sinto horrível por você ter passado por aquilo sozinha.
Sophie dá de ombros.
— Tudo bem.
— Não está, Soph — enfatizo, inclinando-me para
pressionar minha mão em seu cabelo. — Eu deveria proteger
você. É meu trabalho garantir que você nunca se sinta assim, e
não fiz um bom trabalho. Vou fazer tudo o que puder para
garantir que nunca mais eu erre assim.
— Eu não estou com raiva de você — ela me diz baixinho.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu ficaria com raiva de mim, se eu fosse você.
— Eu não estou — ela me garante. — Prometo.
— Mas você não está bem — insisto. — Fale comigo. Deixe
eu ajudar.
Ela se aninha em seu travesseiro, fechando os olhos e
apertando-os com força enquanto as lágrimas se acumulam lá.
— Wanda estava mal — diz ela lamentavelmente. — Eu não
sabia o que fazer. Achei que ela fosse morrer.
— Oh, querida. — Eu rastejo cuidadosamente sobre ela,
deitando atrás dela em sua cama e puxando-a contra meu peito
para segurá-la com força. Ela se vira para enterrar o rosto ali, e
eu descanso minha bochecha contra seu cabelo. — Você foi
incrível, Soph. Hoje foi assustador. Muito mais assustador do
que qualquer coisa que você deveria ter que passar. Mas você
foi ótima. Tão ótima. Você salvou a vida de Wanda. Você
percebe?
Não consigo ver seu rosto agora, mas a sinto balançando a
cabeça contra meu peito.
— Ela está bem?
— Eles nos disseram que ela vai ficar bem depois de um
pouco de descanso — digo a ela. — Cassie está com ela agora.
— Você acha que Cassie está com raiva de mim?
— O quê? — Eu movo meu rosto para baixo para olhar para
ela. — Claro que não. Cassie nunca poderia ficar com raiva de
você. Ela te ama.
A voz de Sophie está mais suave agora.
— Eu não quero que Cassie fique brava e vá embora.
— Sophie. — Sinto uma sensação de aperto no peito. — É
isso que te preocupa tanto? Isso não vai acontecer.
— Você promete?
— Vou fazer o meu melhor para garantir que isso nunca
aconteça.
— Eu também amo Cassie — ela sussurra em minha camisa.
Fecho meus olhos enquanto esfrego suas costas, fazendo
círculos calmantes ali para mantê-la tranquila e confortável.
Leva um tempo para sua respiração se estabilizar, mas posso
dizer quando ela cai no sono, seu corpo ficando mole em meus
braços à medida que a tensão da manhã finalmente toma conta
dela. Eu mantenho meus braços em volta dela mesmo depois
que ela adormece, aproveitando esse momento de silêncio
enquanto penso em nossa conversa.
Não consigo imaginar o que Sophie sentiu quando estava
sozinha com Wanda – incapaz de falar comigo ou Cassie e sem
ter ideia do que fazer. O pânico que ela deve ter sentido me
deixa uma bagunça por dentro, atormentado pela culpa e
vergonha absoluta por não ter estado lá para ela. Especialmente
com o quão incrível foi a noite passada, o quão feliz eu estava
até o momento em que vi todas as chamadas perdidas. As coisas
pareciam perfeitas até aquela parte. Agora eu me sinto um
merda.
Há uma culpa adicional acima de tudo por ter deixado
Cassie no hospital, mas eu não sabia mais o que fazer. Tenho
certeza de que Cassie entende o quanto Sophie precisava de
mim, como eu estava distraído com tudo o que estava
acontecendo, mas isso não diminui a culpa.
E Iris. Porra de Iris.
Ela nunca gostou de mim, nem quando Rebecca
engravidou, nem quando tentamos fazer as coisas
funcionarem, nem quando decidimos que estaríamos melhor
separados, especialmente quando minha vida ficou tão agitada
depois que consegui meu emprego atual. Tudo só piorou mil
vezes depois que Rebecca faleceu e Sophie veio ficar comigo.
Agora é como se a missão de toda a vida de Iris fosse provar que
sou um pai de merda. E aqui estou, entregando de bandeja a
faca que ela está procurando para apunhalar minhas costas.
Que bagunça do caralho.
Continuo pensando no rosto de Cassie no hospital – seu
olhar desanimado me dizendo que ela estava se culpando por
Iris ter saído dos trilhos. Eu devia ter feito mais para assegurá-
la, eu sei disso, mas com Sophie parecendo quase catatônica,
tudo que eu conseguia pensar era em levá-la para casa, deixá-la
segura e trazer ela mesma de volta. Pretendo me desculpar
completamente com Cassie quando ela voltar. Não que eu
tenha ideia de quando isso acontecerá, já que o telefone dela
está sem bateria.
Eu também amo Cassie.
É a única parte de toda essa bagunça que me dá algum nível
de felicidade. A silenciosa admissão de Sophie. O jeito que
Cassie ama minha filha, o jeito que Sophie a ama de volta – isso
me faz sentir coisas que nunca senti antes. Me faz imaginar
todos os tipos de coisas que não tenho direito de imaginar com
Cassie depois de nosso curto período juntos, mesmo com nossa
estranha história compartilhada. Ainda sim. Imagino do
mesmo jeito.
Puxo Sophie com mais força, afastando o zumbido da
minha cabeça. Há tempo para descobrir tudo isso mais tarde,
de preferência em um dia em que todos nós não tenhamos
passado pelo pior. Eu fecho meus olhos, bocejando enquanto
me asseguro silenciosamente.
Nós temos muito tempo.
■□■
Olá?
Capítulo 25
Cassie
■□■
■□■
■□■
um ano depois