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A ESPOSA QUE

COMPREI
JOSIANE VEIGA
A ESPOSA QUE COMPREI

JOSIANE VEIGA

1ª Edição

2019
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e
gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização
escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.

Título:
A ESPOSA QUE COMPREI

Romance

ISBN – 9781079679793
Texto Copyright © 2019 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:

Mathilde não tinha grandes sonhos. Uma vida difícil sempre a preparou para um futuro pior
ainda. E esse pior chegou quando, num mesmo dia, perdeu seu trabalho e o homem com quem
havia construído uma vida.

Agora, sozinha e desamparada, foi presa fácil para as garras de Manuel, um poderoso e rico
empresário que só queria dela um acordo firmado para receber sua herança.

O que nenhum deles esperava é que aquela mentira tornou-se a verdade absoluta em suas
vidas.
Sumário
JOSIANE VEIGA
Nota da Autora
Capítulo Um
Mathilde
Capítulo Dois

Manuel
Capítulo Três
Mathilde
Capítulo Quatro
Manuel
Capítulo Cinco
Mathilde
Capítulo Seis
Manuel
Capítulo Sete
Mathilde

Capítulo Oito
Manuel
Capítulo Nove
Mathilde
Capítulo Dez
Manuel
Capítulo Onze
Mathilde
Capítulo Doze
Manuel
Capítulo Treze
Mathilde

Capítulo Quatorze
Manuel
Capítulo Quinze
Mathilde
Capítulo Dezesseis
Manuel
Capítulo Dezessete
Mathilde
Capítulo Dezoito
Manuel
Capítulo Dezenove
Mathilde
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Nota da Autora
Seguindo o padrão literário de escrever livros fofos e tranquilos em 2019, e inspirada pela novela
Amor Real (a qual homenageei usando o nome dos protagonistas), trago a vocês uma história de amor
que se constrói num ambiente adverso.

Importante frisar que a inspiração foi apenas com o nome dos personagens, pois a personalidade
e o tempo decorrido da história é distinto.

Espero o que gostem.

Josiane Biancon da Veiga


Capítulo Um
Mathilde

into muito. Sei que ao procurar

príncipe encantado.
S essas linhas você busca a história
da princesa encantada, moça pura
e gentil, que encontrou seu

Sinto muito, repito, não sou nada disso. Não porque não quisesse (Oh,
que moça não sonha com um amor dos sonhos?), mas porque a vida jamais
me sorriu.
Meu nome é Mathilde. Não é um nome imponente, mas que combina
com a simplicidade que sempre me cercou. Simplicidade essa que também
esteve presente na minha vida diária de empregada doméstica, de salário
baixo e condições difíceis.

Como acabei assim? Como eu disse antes, a vida não me sorriu.

Aos quinze anos eu saí de casa. Fui com o primeiro homem que me
estendeu a mão. Precisava fugir de um pai alcoólatra e abusivo. Era
espancada desde que me lembro, juntamente com a minha mãe, mas
diferentemente dela, jamais me conformei.

Certa vez, chamei a polícia. Tinha treze anos e havia recebido tantas
pancadas na cabeça que acreditava que algo havia ficado frouxo dentro do
meu crânio. Minha mãe me amaldiçoou por ter feito isso, e meu pai disse aos
policiais que eu estava me tornando uma puta, e por isso precisava me
corrigir. Na época eu nem sabia direito o que era puta, apesar de ser insultada
com a palavra diversas vezes.

Adolfo apareceu um ano e meio depois. Era auxiliar de limpeza na


fábrica de fumo, vinte e poucos anos, e de sorriso meigo. Eu não o amei.
Nem antes, nem durante nossa vida a dois, mas acreditei que com ele poderia
ter paz.

De fato, ele não me espancava e ajudava a pagar as despesas. Larguei


os estudos e fui trabalhar como doméstica em casas de famílias mais
abastadas. Mais tarde, consegui minha carteira assinada numa empresa de
limpeza da cidade. Acordava muito cedo, pegava duas conduções e depois
trabalhava até quase o anoitecer. A noite atendia meu companheiro – jamais
nos casamos – fazendo sua janta e limpando suas roupas.
Tentei ser a melhor “esposa” possível. Quando Afonso decidiu voltar a
estudar e se matriculou no curso de enfermagem, eu até o ajudei a pagar
algumas mensalidades fazendo hora extra.

No fundo, pensava que se desse meu melhor para ele, Afonso


retribuiria da mesma forma.

Que tola eu era na minha vida cheia de paz. Nem imaginei que logo
meu mundo iria virar de cabeça para baixo.

***

Não havia sido um dia fácil. A terceirizada em que eu trabalhava agora


prestava serviços de limpeza a um posto de saúde. Naquele dia, eu havia
literalmente limpado merda. Uma senhora com problemas mentais havia
defecado em todo o banheiro de um dos postos que eu atendia, e como eu era
a “moça que limpa” tive que calçar as luvas e tentar deixar o ambiente
apresentável novamente.

Soma-se isso ao ônibus lotado para voltar para casa. Uma mão

masculina havia me dado um apertão na bunda, ao qual respondi com um


grito de ódio e chutes no dito cujo.

Depois, a mercearia onde comprávamos fiado não quis me vender as


coisas para a janta. Disse que Afonso, meu namorido, não havia pago o mês
anterior. Eu lembro seriamente de ter dado o dinheiro em sua mão.

Nervosa, incomodada, fui para nossa pequena casa no subúrbio de


Esperança, a cidade que morávamos, aguardando sua chegada. Ele não
apareceu. Apenas de manhã, surgiu com o rosto cansado.

— O que houve? — indaguei.

— A fábrica me fez trabalhar até tarde.

Como funcionário da fábrica de fumo da cidade, sabia que, às vezes,

seus horários eram loucos.

— Sinto muito.

— Tenho que ir trabalhar dobrado novamente hoje — explicou-me. —


Estão com falta de gente para...

O restante se perdeu na minha falta de interesse.

— Diga-me Afonso, você pagou a conta no mercadinho?

Seus olhos arregalaram, e logo eu o percebi se enfurecer.

— Do que está falando? É claro que eu paguei a conta.

Dizer que acreditei nele era uma mentira. Alguma coisa estava
acontecendo, eu não sabia exatamente o que era. Para começar, os turnos à
noite cada vez mais frequentes. Depois, sua falta de interesse em sexo.
Agora, ele parecia se incomodar em dividir as despesas, colocando tudo nas
minhas costas.

Eu estava preocupada. Eu não sabia viver sem Afonso. Ele me tirou de


casa cedo demais, cedo para que eu aprendesse como seguir adiante sem
alguém para me amparar. Estava com medo do que quer que fosse que o fazia
fugir de mim.

Antes que eu pudesse chorar sobre o nosso relacionamento confuso, ele


se afastou e foi até a cozinha pegar a vianda que preparei para o dia.

Observando-o assim, de relance, percebo nele um homem bonito, de


ombros largos e um olhar azul inquietante. Seria possível que...?

Sacudindo meu humor melancólico, faço um plano para o fim de


semana. É sexta-feira e eu estarei em casa do trabalho antes das cinco. Se eu
me apressar, posso vestir um vestido bonito, pegar comida e surpreender
Afonso no jantar. Isso, claro, se ele viesse jantar.

Talvez estivéssemos juntos por tanto tempo que estivéssemos em uma


rotina. Isso é tudo. Suas horas são longas e exaustivas e mais estressantes do
que qualquer coisa que eu possa imaginar. Talvez ele precise de algum alívio
do estresse no início da noite, de uma forma que só eu posso fornecer.
Um sorriso estende meus lábios e eu coloco café na minha caneca térmica.
Sim. Isso é o que farei. Afonso é minha família e não vou desistir dele.
***

Minhas mãos e meu queixo tremem, mas não consigo impedir que as
emoções ameacem me sobrecarregar.

— O quê?

— Eu odeio ter que dizer isso para você, Mathilde. — Meu chefe,
Antônio, dá os ombros. — Não é nada pessoal. Todos nós sabemos que você
dá duro no seu trabalho. Mas, está havendo um corte no pessoal. Algumas
empresas não estão mais precisando dos nossos serviços, e... enfim, é difícil
dizer isso, mas eu precisava escolher quem ficaria e quem sairia. Enfim, você
é jovem e tenho certeza que conseguirá faxinas por aí...

Tento ser adulta e me levanto. Diante de mim, ele também faz a mesma
coisa. Depois, estende a mão na minha direção.

— Obrigado por tudo, Mathilde.

— Eu que agradeço a oportunidade.

Mais tarde, com lágrimas nos olhos, me despeço rapidamente do


restante das funcionárias, concedendo breves abraços.

Na rua, penso no que fazer.


Eu me sinto perdida...

***

Esperança cresceu muito nos últimos anos. Mesmo com o afinco


interesse do governo de que as pessoas parassem de fumar, as vendas
melhoraram, os empregos borbulhavam, e novos bairros estavam crescendo
ao redor daquela cidade do interior da Serra Gaúcha.

Eu poderia ficar para sempre sentada na praça central, pensando na


minha vida e no caminho que tomaria após essa decepção com meu trabalho,
mas eu sei que preciso sobreviver a isso e achar um novo emprego, logo.
Apesar da ajuda inicial, Afonso sempre deixou claro que não me deixaria
viver na casa dele sem ajudá-lo com as despesas.

Saio da praça e vou até o ponto de ônibus. Não é horário de pico e não
está lotado. Como nos clipes de Ed Sheeran, eu sento-me com a cabeça

encostada no vidro, vendo as ruelas passando rapidamente pelos meus olhos.

Mais tarde, enfim, chego em casa. É meio-dia, Afonso ainda deve estar
na fábrica (afinal de contas, nem ele, nem eu, íamos no horário de almoço
para casa) então me preparo para a casa quieta. Coloco minha bolsa em nossa
mesa de entrada, depois minha caneca de café no balcão.

Um som de grunhido bate nos meus ouvidos e eu franzo a testa.


Eu conheço esse som. É o som que Afonso faz quando está perto de gozar.

O que diabos ele está fazendo em casa?

Vou até o quarto e paro na porta.


Todo o sangue corre do meu rosto, meus dedos começam a formigar. Estou
congelada e não tenho ideia do que fazer.

Eu tenho uma visão completa do nosso quarto e da nossa cama, onde


Afonso tem uma mulher curvada sobre o colchão e está batendo nela como
um homem que não consegue o suficiente. O cabelo da estranha voa e vira
com a força de Afonso empurrando atrás dela.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Assim que eu começo a


gritar, Afonso sai da mulher, que corre pela beirada da cama. Ele pega uma
toalha do chão e a envolve na cintura.

Isso não está acontecendo. Isso absolutamente não pode estar

acontecendo...

Está acontecendo.

E quantas vezes já aconteceu? Quando? Por quê? Mil perguntas batem


na minha mente, fazendo minha cabeça doer.

— Mathilde — diz ele, caminhando em minha direção. — Mathilde,


eu posso explicar.

Devia ser uma frase decorativa para canalhas.

— Não se atreva a chegar mais perto — eu grito para ele.

Meu Deus... Isso é realmente real. Ele está me traindo. Balanço a


cabeça para desalojar o pensamento ou a cena à minha frente, mas não

adianta. A loira que ele estava fodendo na nossa cama está agachada em seu
lado da cama, braços escorregando em uma camisa que não é dela.

É a camisa de Afonso.

Oh meu Deus. Eu vou explodir, quebrar em pedaços furiosos, e rasgar


os dois em fragmentos.

— Saia — eu exijo. — Saia daqui agora, antes que eu perca


completamente a minha cabeça!

— Querida, isso não é o que parece.

Tudo, todas as minhas dúvidas nos últimos meses vem juntas. Toda
preocupação que eu tenho, todo medo que está incomodando em minha
mente há meses...

Nós não estamos em uma rotina...


Nós terminamos. Fim.

— Me dê uma hora para guardar minhas coisas. Deixarei minha chave


no balcão quando sair. — digo a ele.

Aquela réstia de dignidade que nem sei porque existe me toma. A casa
não é minha e eu jamais me sujeitaria a viver com um homem que me trai.

— Mathilde... — Ele caminha na minha direção e eu dou um passo


para trás.

A loira ainda está se vestindo, e se ela está incomodada por ele não
estar prestando atenção nela, ela não está mostrando isso. Ótimo. Ele não está
nem me traindo com alguém que importa, ele está apenas transando com
pessoas que não dá a mínima.

— Por favor, Afonso. Acabou. Se você pôde fazer isso no nosso


quarto, não temos mais nada.

— Mas...

Eu balancei minha cabeça, lágrimas caindo pelas minhas bochechas.


Eu os limpo. Droga! Quantas vezes posso chorar hoje?

— Não.

Eu olho para ele, mostro-lhe cada gota de dor que estou sentindo, e
vejo apenas uma quantidade mínima de dor refletindo em seus olhos. Deus,
isso dói também. Ele não se importa com o que fez.

— Apenas saia enquanto eu me organizo para ir embora — aviso.

Sem lhe dar tempo para responder, corro para o banheiro e tranco a
porta atrás de mim.

Então eu me sento no assento do vaso sanitário fechado, jogo minha cabeça


em minhas mãos, deixando que o choro que me toma se liberte através da
minha face cansada e triste.

Demitida do meu trabalho.

Traída pelo único homem que me teve.

O que diabos eu vou fazer agora?

E para onde eu vou?


Capítulo Dois

Manuel

xistem dias bons e dias ruins.

E Hoje é um dia péssimo. Não


daqueles péssimos que você
encara com sobriedade e sabe
que vai passar. É um dos dias péssimos que você tem certeza que marcará sua
existência e que mesmo os anos não apagarão a dor que está encravada
naquelas horas sombrias.
Ela morreu. Se foi. Assim, sem ninguém esperar. Deitou-se na cama a
noite e simplesmente não levantou de manhã. E agora eu estava ali, diante de
seu caixão, observando-a enquanto minha mente tentava recordar-se se algum
dia disse que lhe amava.

Porque eu amava. Regina, minha tia-avó. Ela se foi, mas deixou-me


muitas lembranças do seu carinho e do seu respeito. Um dos poucos membros
da família de quem eu recebi conforto.

Se foi...

Não que eu ou qualquer outra pessoa ali estivesse surpresa, mas... Se


foi...

Mesmo no auge dos seus quase cem anos, você não pensa na brevidade
da vida até que alguém forte e aguerrida como Regina dá seu suspiro final.

Eu puxo a gravata em volta do meu colarinho.

Minha tia-avó foi a única mulher na minha vida desde que me lembro.
Tenho pais; mas sou órfão de pais vivos. Ora, eles estão sempre tão bêbados
ou idiotas, dependendo do dia. Todas as minhas boas memórias estão
embrulhadas em Regina e em sua mansão em um penhasco da Serra Gaúcha
onde eu ia escapar da minha família de gente cruel.

Ah, a mansão... espetacular em todos os sentidos. E, embora eu já


soubesse que algum dia ela iria morrer e me deixaria sua terra e sua casa
como herança, certamente nunca esperei receber a bomba diante do caixão
dela.

— Sinto muito — eu disse ao advogado que pareceu não ter a


sensibilidade de esperar para me dar a notícia depois. Puxo minha gravata
novamente, afrouxando-a e estourando o botão de cima da minha camisa. —
Você pode repetir isso?

Ao meu lado, meu pai transborda. Ele está alegremente empolgado


com as últimas artimanhas de Regina.

Augusto Heinz, o advogado, ajusta seus óculos de leitura e sacode os


papéis em sua mão. Todos nós ouvimos isso. Inferno, o velho escreveu o
testamento ele mesmo.

— Essencialmente diz que a senhorita Regina legou a você sua casa e


toda a sua terra em Esperança. — Ele limpa a garganta e eu aceno para frente.
Eu já sabia daquilo. É a segunda parte que me faz praticamente cagar nas
calças. — Desde que você encontre uma mulher, apaixone-se e case-se
dentro de seis meses a contar da data em que esta será lida.

Puta que pariu. Puta que te pariu, Regina. Eu encaro o caixão, num
misto de dor e raiva.

Os pais de Regina, meus bisavós, vieram da Espanha durante a guerra


civil. Eles foram uma das primeiras famílias assentadas em Esperança. Como
o último membro sobrevivente de sua família, ela não só possuía todos os
trinta acres de terra de sua família, mas também possuía o suficiente para dar
a mim uma vida mais que confortável.

Não que eu esperasse isso dela. Eu sempre a amei, independente da


herança que viria. Mas, a herança existia, eu sabia disso, então sempre estive
confortável em ser herdeiro de tudo que pertencia a Regina. Porque eu era sua
família, e família se ama, não é?

Não é Regina? Família se ama e não fode com a tua vida!


Que vontade de sacudir aquela velhinha no seu caixão!

Ao meu lado, meu pai gargalha enquanto eu absorvo as palavras de


Heinz.

Encontre uma esposa.

Seis meses.

Ele divulgou mais detalhes, como o casamento tem que durar três anos
antes que eu possa reivindicar a propriedade, mas até então, ela é mantida em
uma relação de confiança em meu nome. Eu posso entrar se quiser, mas
posso perdê-la para meu pai caso nada dê certo.

Se Regina já não estivesse morta, eu a mataria.

Meu pai parece estar em estado de graça e dá um tapinha nos meus


ombros. Encolho-me e afasto-me daquelas mãos asquerosas. Aquele homem
nunca foi um pai de verdade, nem minha mãe, que me encarava do outro lado
da funerária, era um exemplo de carinho. Com certeza estavam regozijando
com as condições da minha herança.

Porque eu não era do tipo que se casaria.

Cara, falando a verdade, nem em sonhos eu me casaria!

Eu odeio mesmice e mulher eu tenho as pencas. Fodo à vontade,


variando o cardápio conforme minha vontade. E agora... Regina me exigia
um casamento?

Imaginei-me ao lado daquelas modelos com quem saía, e soube


imediatamente que não suportaria três anos. Normalmente, eu me livrava
delas após uma noite.
Mas...

Meu pai não pode conseguir a herança! Não posso deixar! Ele não vale
nada, colocaria tudo que Regina construiu no lixo. Aposto até que ele,
antevendo que Regina me pedisse algo impossível, já devia estar planejando
vender a propriedade e torrar todo o dinheiro com bebidas.

Eu vou deixar isso acontecer.

— Está certo. — declaro.

Minhas mãos se fecham em punhos.

— Sério, filho? — meu pai mal consegue segurar o riso. — Você


nunca conseguiu ter um namoro por mais de uma semana e agora vai casar?

Não me abato.

— Você não se casou? — atirei. Eu sabia que o casamento deles era


uma merda. — Então, por que eu também não posso?

Seus lábios pressionam em uma linha fina. Minha mãe é praticamente


catatônica hoje em dia, passa a maior parte do tempo sozinha no quarto,
bebendo. Mas, naquele momento ela parece impressionada com a minha
postura.

— Seis meses — afirmo, e me afasto do caixão. — Eu vou encontrar


uma esposa e me casar em seis meses. Eu também quero uma cópia do
testamento e dos documentos da propriedade de Esperança — aviso ao
advogado.

— Sera feito, Sr. Fontes — diz Heinz.

Esse advogado é tão louco quanto Regina. Ele está agindo como se ler
um testamento daqueles em pleno funeral fosse perfeitamente normal.
Me afasto do corpo de Regina e caminho em direção à porta. Lá, sinto o
aperto no braço de meu amigo de infância.

— O que houve? — questionou.

Provavelmente eu estava mais pálido que o normal.

— Preciso de uma bebida — disse a ele.

Ele assentiu, percebendo que o assunto era sério. Logo, me ajudou a


chegar ao carro. Em menos de vinte minutos eu tenho um copo na mão. Raul
está do outro lado da mesa, e está tão surpreso quanto eu depois de
compartilhar todos os detalhes da leitura do testamento de Regina.

— O que você vai fazer?

— Não sei — admito. — Onde posso achar uma mulher disposta a


casar comigo e permanecer comigo por três anos? Não é uma semana! Serão
três anos e seis meses. Seis meses de noivado, três anos de casamento. Isso é
um porre.

— Uma modelo, talvez? Ou uma prostituta...

— Por três anos? — repito. — Não quero uma mulher que vai me
custar o peso em ouro. Preciso de alguém normal, que encare a situação como
um trabalho formal, que não tenha vida própria e que não se importe de
bancar a esposa por tanto tempo.

***
Depois que me despedi de Raul, passei a zanzar de carro pela cidade,
indo até a praça central de Esperança, onde um bonito e natural lago
centralizava peixes e cágados. Era bom olhar os animais de vez em quando.

Eu me lembro de, na adolescência, ir até lá com os colegas de escola.


Passei um tempo vivendo naquela cidade, e estudei na época na única escola
da localidade. Lembro-me de ter ficado de olho em uma garota de cabelos
castanhos que parecia tão triste que fazia meu coração derreter.

Eu me programei para beijá-la ali, num dos dias em que a turma fosse
para lá flertar. Contudo, ela abandonou os estudos e, soube depois, foi morar
com um cara que trabalhava na fábrica de fumo.

Ao me recordar disso, quase dou risada. Pois é... no passado eu estava


enamorado de uma pobretona.

O que devia ser dela, hoje? Nem do nome me lembrava mais. Mas,
imaginei que estaria cheia de filhos e fazendo faxina para sobreviver.
Mulheres como ela nunca tinham uma vida diferente...

De repente, um estrondo. Olho em direção ao estacionamento e


percebo uma jovem tentando puxar uma pesada mala de rodinhas. E a mulher
acabou batendo a mala no meu carro!

O arranhou?

Em passos vagarosos, eu me aproximei dela.


Capítulo Três

Mathilde

oda a minha vida estava

T naquela maleta. Minhas roupas,


meus acessórios, minhas
economias e meus calçados.
Assim sendo, ela estava mais pesada que o normal, e como eu a puxava há
vários quarteirões, quando cheguei na praça não consegui impedir que o
declive a levasse em direção a um dos carros.

Oh droga!

Eu perdi o meu emprego, perdi minha casa, o homem com quem


construi uma vida, e agora eu estragava a lataria de um carro obviamente
caro.

Puxo uma respiração profunda que não faz nada para acalmar a
adrenalina correndo por mim, enquanto tento me aproximar do carro para ver
os danos. Atrás e ao meu redor, as pessoas estão encarando.

Observo o veículo. Minha mala fez um enorme aranhão na lataria


prateada. É uma BMW enorme, com certeza para arrumar aquele estrago eu
teria que vender um rim.

Logo, um homem se aproxima. Acredito que é o dono.

— Eu sinto muito, sinto muito. Muito, muito mesmo — gaguejo


enquanto o homem se desdobra sobre seu carro, uma mão na testa,
esfregando para frente e para trás enquanto ele geme.

Ele está usando sapatos pretos perfeitamente engraxados e um terno


preto que combina com ele. Seu cabelo castanho brilha contra o sol, e ele
parece tão bonito que meus olhos se encantam por um breve segundo.

De repente ele olha para mim.

Eu não acabei de bater em um homem rico qualquer.

Eu colidi no carro de Manuel Fontes, playboy, o filho da puta mais rico


de Esperança, herdeiro de Regina Fontes, e meu antigo colega esnobe de
escola.

Alguém, por favor, me mate agora.

— Foda-se — Manuel geme novamente. Seus dedos se movem para


suas têmporas e ele esfrega pequenos círculos.

Ele aperta os olhos para mim e suas mãos param de se mover em suas
têmporas.

— Sinto muito — repito. — A mala estava pesada, a rua é uma


descida, eu não consegui segurar...

Duas grossas sobrancelhas castanhas cortam a testa dele. Só então ele


realmente parece me ver.

— Está tudo bem — ele murmura. — E você, está bem? — indaga.

Devo estar com cara de doente. Mental, provavelmente. Uma mulher


miúda carregando uma mala enorme, com olhos desesperançosos.

— Estou bem.

Naquele instante, inconscientemente dou um passo para trás e tropeço.


Meus braços se agitam, aquele movimento desajeitado e embaraçoso
buscando por algo, e assim que meu traseiro está prestes a se tornar
intimamente familiarizado com a rua, estou envolvida em um forte braço
musculoso.

Manuel me puxa para o peito e minhas mãos não têm para onde ir a
não ser agarrar-se a seus braços.
E que braços bonitos eles são...

Isso não pode estar acontecendo. Isso simplesmente não está


acontecendo. Eu não estou sendo segurada por Manuel Fontes, no meio de
uma rua no centro, com dezenas de espectadores logo depois que eu
arrebentei a lataria do seu carro..
Minha vida está completamente insana.

— Eu realmente sinto muito sobre o seu carro — digo, minha


respiração agora vem em ondas curtas e duras. É o choque da adrenalina, não
o aroma picante da sua colônia que está me deixando tonta. — Eu vou pagar.
Eu prometo, Manuel.

Com que dinheiro, Mathilde? Você só pode estar louca! Admita que é
uma pobretona sem teto, no momento.

— Você sabe quem eu sou? — ele indagou.

— Tenho certeza que toda mulher em Esperança sabe quem você é.


Além disso, estudamos juntos, há muitos anos. Eu larguei os estudos e...
enfim...

Ele arregalou os olhos, e eu soube que, por um momento, ele imaginou


como poderia ter estudado com uma nítida fracassada como eu.

Eu sabia o que eu era. Minha pele sem cuidados, meus cabelos lavados
com shampoos baratos, unhas curtas e rachadas, mãos calejadas...
Obviamente ele tentava buscar alguma jovem na mente que se parecesse
minimamente comigo.

Por um breve momento, vejo um sorriso e ele aponta para minha mala.

— Você está bem? Parece que você tem toda a sua vida na mala.

— Bom, é isso — admito antes que eu possa me filtrar. — O que posso


dizer? Foi um dia muito ruim. Eu juro que vou mandar arrumar seu carro, só
preciso de um tempo para arrumar o dinheiro.

Ele vagueia meu rosto, meu cabelo e desce o comprimento do meu


corpo. É lento e não totalmente desagradável. Eu luto contra as sensações de
tremer sob sua inspeção.

— Você é Mathilde?
— Sim.

Ele se lembrava de mim?

— Me siga.

Ele dá passos e se apressa para entrar em seu carro. Quando seu motor
finalmente liga, ele olha para mim através da janela traseira.

Tecnicamente, eu poderia sair correndo. Mas ele tem meu nome e me


encontraria fácil dormindo no banco da praça.

Com um suspiro trêmulo, eu coloco a mala no banco de trás, e entro no


seu carro.

— Sim? O que deseja?

— Na verdade — ele diz com aquela voz profunda que eu não ouvi
muito, mas que faz coisas ruins para o meu estômago de uma maneira que eu
gosto muito. — Eu tenho uma proposta para você. Quer se juntar a mim para
para comer algo?

Eu ouvi o que eu acabei de pensar que ouvi? Não conseguia raciocinar


direito.

— Tipo, você quer fazer uma proposta para eu arrumar seu carro? Eu
não tenho dinheiro comigo, mas posso arrumar nos próximos meses.

— Não se trata disso.

Ele sorriu para mim.

— Eu vou cuidar do carro. Eu tenho outra coisa para você em mente.

O que seria?
— O quê?

— Você se imagina casada?

Meus olhos se arregalam e eu olho adiante.

— Então, aceita ir almoçar comigo?

Eu não tenho nada no estômago, e acabo concordando pela pura


curiosidade.
Capítulo Quatro

Manuel

u levei um certo tempo para

E reconhecê-la. Estava
diferente da moça linda e
jovial com quem havia
tão

estudado. Claro, os anos passaram, para nós dois, mas Mathilde envelheceu
de um jeito terrível.

Que idade tinha agora? Era um pouco mais nova que eu, talvez um ou
dois anos. Então, estava quase na faixa dos trinta.

Seu corpo era magro, quase excessivamente. Sua pele não tinha viço,
seus cabelos pareciam quebrados. Mas, realmente, o que mais me chamava a
atenção era seu olhar.
Que olhos cansados, fartos da vida que levava.

Então, por isso, eu agi como um louco.

Não vou culpar a bebida com Raul ou o fato de ter acabado de velar a
única família que conhecia. A verdade é que meu amor da adolescência
ressurgiu na minha vida exatamente no momento que eu precisava
exatamente disso.

Não... não de amor, como você deve estar pensando. O que eu


precisava era de uma mulher desesperada que aceitasse um acordo absurdo.
Mathilde parecia se encaixar perfeitamente nisso.

Sento diante dela na mesa. A observo sobre a luz clara que entra pela
vidraça do restaurante.

— Você já esteve aqui antes? — Eu pergunto, diante da maneira como


ela olha ao seu redor.

Ela balança a cabeça e ri levemente. É o som de pequenos sinos


tocando, e eu me inclino mais perto para ouvir sua voz calma mais um pouco.

— Não. Eu não costumo sair. O dinheiro que ganho mal dá pra pagar
as contas.

Eu deslizo um menu na frente dela.

— Eu sei que é tarde, mas você já almoçou? Peça algo e depois


conversaremos. Eu tenho um problema que você pode me ajudar.

Seus olhos brilharam.

— Te ajudar? — Ela sorri triste. — Ultimamente não posso nem


sequer me ajudar.
Ela olha para o cardápio, sobrancelhas franzidas, depois me encara.

Nós somos interrompidos pelo garçom e, em vez de perguntar o que ela


gostaria ou explicar o cardápio, eu faço o pedido. Estou ansioso.

Assim que o garçom sai, descanso meus antebraços na mesa. Antes que
eu possa fazê-la entender por que a tenho aqui, preciso saber algumas coisas.

— Eu sei que isso pode parecer rude, mas quantos anos você tem,
Mathilde? E você é solteira?

Ela inclina a cabeça, a dúvida rastejando em seus olhos.

— Trinta. — A segunda parte parece machucá-la. — E tenho certeza


de que a outra questão não é da sua conta.

Olho suas mãos. Sem aliança. Não tenho certeza, pobres costumam se
unir sem oficializar. Mas, algo me diz que ela é solteira. Caso contrário, ela
me diria que tem um namorado babaca em casa esperando chutar a minha
bunda se eu a tocar.

Claramente, porém, ela não será uma mulher que cai aos meus pés e
revela seus segredos.

Sim, Mathilde Guedes está definitivamente despertando meu interesse.

— Conte-me sobre o seu dia. Você disse que foi ruim. O que
aconteceu?

A dúvida desaparece e é substituída por uma expressão vazia. Ela se


agita com os talheres na mesa antes de olhar para mim. Revirando os ombros,
ela diz:

— Eu também não tenho certeza se isso é da sua conta, Sr. Fontes.


— Manuel — eu corrijo. — Afinal, Sr. Fontes parece impróprio para
pessoas que já foram colegas de escola. Além disso, Sr. Fontes lembra-me do
meu pai e, acredite, não quero ser comparado àquele lixo.

Como eu esperava, o comentário a assusta. Eu sei como nós


aparecemos em revistas e fotos. A perfeita, brilhante e sempre sorridente
família rica de Esperança. Se as pessoas soubessem o que acontecia a portas
fechadas em nossa casa, perderíamos todo o respeito, e é por isso que é um
ato de confiança dizer isso a ela.

— Talvez você devesse entender por que estamos aqui.

Talvez devêssemos, ambos. Eu tomo um gole da minha água, o gelo


não faz nada para aliviar a ira súbita da morte de Regina quando me vem à
mente. Abaixo minha voz.

— Eu não sei se você ouviu, mas minha tia-avó faleceu na manhã


passada e hoje foi seu enterro.

— Sinto muito — Mathilde diz, e a maneira como fala me faz acreditar


nela. — Eu ouvi no rádio, sinto muito pela sua perda.

Agradeço.

— Essa manhã, o advogado fez a leitura do testamento em pleno


velório. Parece que minha adorável tia-avó decidiu me pregar uma peça. Para
conseguir o que quero, ela deixou instruções em seu testamento. E é aí aonde
você entra.

— Eu?

— Antes de falar sobre isso, conte-me sobre esse dia muito ruim que
você teve e porque estava chorando — não ignorei os olhos inchados. Ela
tinha que saber que eu sabia das suas dores. — Confie em mim. Mas estou
prestes a oferecer algo que vai fazer você pensar que sou completamente
insano, além de ter falado sobre meu pai. Isso não é de conhecimento comum
e estou confiando em você para manter isso em sigilo.

— Bem...

— Aqui está uma dica. Estou prestes a oferecer-lhe meio milhão de


reais. Eu só preciso de mais informações antes de fazer isso. Me dê algo em
troca.

Lindos olhos castanhos se arregalam tão rapidamente que acho que eles
podem sair de sua cabeça.

— Quinhentos mil reais?

— À sua disposição. Isso não arrumaria sua vida?

Ela pareceu pensar. Enquanto isso, a comida chega, mas Mathilde não
faz menção de ir até o prato.

— Eu fui demitida do meu trabalho hoje, peguei meu namorado me


traindo, saí da nossa casa e joguei tudo que possuo naquela mala. Eu não
tenho casa, não tenho emprego, e não faço ideia do que fazer a seguir que não
envolva dormir na praça e mendigar; então sim, isso arrumaria a merda de
vida que levo — foi absurdamente sincera.

Eu gosto dela. Gosto da maneira como parece não ter meias palavras.
Tudo o que ela está dizendo significa que eu me deparo com a mulher
perfeita para mim.

Quando ela termina de falar, todo o seu corpo está tremendo, e antes
que eu possa pensar, estou fora da minha cadeira e deslizo para seu lado,
puxando-a para os meus braços. Eu também não sou um idiota. Os poucos
clientes que podem nos ver puxam seus celulares e começam a clicar.
Em poucas horas, fotos nossas estarão nos instagrans de fofocas do país.

Isso é perfeito.

Eu deslizo minha mão para a parte de trás da cabeça de Mathilde,


enfiando seu rosto na curva do meu ombro enquanto ela treme e chora.

— Tudo bem — murmuro enquanto ela se afasta. — Apenas tenha


calma.

Mathilde logo tenta se recompor, limpa seus olhos e se afasta de mim.

— Ok. Para que você precisa da minha ajuda? — diz, direta.

Minhas mãos deslizam para suas bochechas até o queixo, os lados do


pescoço. Suave. Ela cheira bem, apesar de saber que não tem dinheiro para
comprar perfumes caros. Eu gosto do toque. Da doçura que ela representa.
Meu pau percebe e endurece. Eu engulo o gemido construindo na minha
garganta.

— Case-se comigo.
Capítulo Cinco

Mathilde

eis meses de noivado. Três anos

S de casamento apenas no papel.


Sem sentimentos, sem sexo, sem
ligações. Apenas benefício
financeiro e a atuação de uma esposa amorosa para o resto da sociedade.

— E por que eu?

— E por que não você? — ele retrucou. — Não se ofenda, mas


mulheres da minha classe social pediriam muito mais dinheiro. E também
iriam querer parte da herança. No nosso caso, eu faria um acordo pré-nupcial
em que me comprometeria em lhe dar apenas o dinheiro combinado após
nosso prazo.

Impressionante. Simplesmente sou fácil de comprar. E barata, pelo


jeito. Mas, claro, esse “barata” é apenas para ele. O dinheiro ofertado
arrumaria minha vida.

Ok, isso é absolutamente insano.


Ao meu lado, Manuel parece tão calmo quanto esteve desde que me convidou
para ouvir sua proposta.

— E como convenceríamos os outros que estamos apaixonados?


Porque isso é dito explicitamente, não? “Apaixone-se”...

Ele sorriu. Era espontâneo e gentil.

— Você concorda?

— Não disse isso — retruquei. — Apenas, estou estudando sua


proposta.

O sorriso se manteve. Manuel claramente estava seguro de seu plano.

— Eu sei como fazer isso, confie em mim.

Confiar nele? Eu nem o conhecia! Alguns meses na escola apenas me


denotaram um garoto mimado e dono do mundo. E agora ele insinuava que
nós iriamos convencer todos em seu círculo social que estamos loucamente
apaixonados?

— Como isso funciona exatamente, afinal? Nós apenas fingimos? Ou


haverá um juiz nos analisando e dando seu veredito? Francamente, Manuel.
Você realmente acha que isso vai funcionar? E como? Nós nem nos
conhecemos. Você não sabe nada sobre mim e eu não sei nada sobre você,
exceto pelo que vivemos décadas atrás.

Eu fecho minha boca. Que legal! Agora ele vai saber realmente que eu
me lembrava dos nossos anos de escola. E o que ele vai pensar sobre isso?

Ao meu lado, sua risada silenciosa, mas profunda, atinge meus


ouvidos.

— Bem, ao menos sei que você não tem medo de desafios.

— Isso não é engraçado.

— Oh, querida, eu sei que não é. — Sua mão pousa na minha coxa, me
fazendo pular com o contato repentino dele. Através do meu jeans, a mão
dele me aquece e eu solto uma respiração curta. Isso nunca vai funcionar. —
Pode ter certeza que não tem graça nenhuma. Eu estou prestes a perder a
minha herança e isso não é exatamente um sonho para mim.

Mantenho o silêncio enquanto o sorriso dele vai sumindo.

— Confie em mim — ele repete, apertando minha coxa antes de puxar


a mão para trás. — Nós vamos descobrir como fazer isso funcionar.
Passaremos esse fim de semana nos conhecendo.

— De que jeito? Fazendo perguntas? Qual sua cor favorita? O que


mais gosta de comer?

Ele me enfrenta por um momento, mas não consigo ver nada por trás
de seus olhos. Aliás, lindos olhos. Tão azuis claros que me fazem sentir meus
joelhos moles.

— Podemos conversar. Sair para curtir. Conhecer um ao outro como


pessoas normais. Compartilharemos algumas refeições, assistiremos a alguns
filmes, coisas assim. Na segunda-feira, se você não acha que podemos fazer
isso, você pode vazar e não haverá ressentimentos. Combinado?

Eu abro minha boca para responder com a única opção que tenho:

— Certo.

Porque bem da verdade, se eu não fizer isso, vou fazer o quê? Ao


menos eu teria um lugar para passar o final de semana.

***

Aquela era uma das mansões mais lindas que eu já vi, mesmo tendo
visto várias em revistas ou na televisão.

— Jesus — sussurro. — Essa é a sua casa?

— A casa de Regina — ele corrige. — Que será minha, sim, se tudo


der certo.

Pelo que sei, Manuel e Regina eram frequentemente fotografados


juntos em eventos de caridade e almoços de domingo, e me ocorre que, junto
com o que ele disse sobre seu pai na hora do almoço, ele raramente era
fotografado com seu pai ou sua mãe, mas Regina estava sempre por perto.

Eu me aproximo e cubro sua mão com a minha e aperto.

— Eu sinto muito sobre Regina —sussurro. — Isso deve ser difícil


para você.

Sua mão fica tensa e eu me forço a me concentrar na gigantesca casa de


pedra e tijolos à frente quando ele relaxa.
— Obrigado, Mathilde.

Não é a primeira vez que ele diz meu nome, mas com sua voz áspera,
dura e grossa, soa bonito saindo de seus lábios.

— Você está bem?

Ele vira a mão e aperta a minha.

— Sinceramente, fico feliz por não vir aqui sozinho. Então, obrigado
por ter dado uma chance ao meu plano louco.

Sorri.

— Acredite em mim, ele me salvou de passar a noite ao léu, hoje.

Manuel olha pela janela e eu dou a ele o tempo que ele precisa para
resolver o que ele está pensando, esperando até que ele abra a porta do carro.
Saindo do meu lado, eu o encontro quando ele contorna o capô e pega minha
mão, me guiando em direção à porta.

— Há dez quartos no andar de cima, não incluindo o meu ou o de


Regina. Você pode escolher qualquer um que gostaria de ficar.

Certo.

Quartos separados. Isso era bom. Ele manteria o combinado. Ele não
vai me levar para a cama. E, do que eu já vivi sexualmente, estava grata por
isso.

***
A casa é ainda mais bonita por dentro do que impressionante por fora.
A decoração é refinada. A riqueza de detalhes e suas mobília me lembra
imagens de cinema.

Estamos na serra e nessa época do ano faz frio. Mesmo assim, cada
quarto é surpreendentemente quente. A casa é convidativa. E lembra os
Fontes. Eles sempre parecem tão perfeitos e bem comportados, um pouco
frios e distantes. Vendo uma casa cheia de gerações de memórias familiares,
incluindo uma fotografia original datada da época da construção da
propriedade, me surpreende e me acalma ao mesmo tempo que percebo certa
humanidade.

Enquanto visitávamos a casa, Manuel compartilhou memórias de sua


família e de sua tia-avó. Não tenho certeza se ele fez isso para preencher o
silêncio, fazer sua casa e sua vida parecerem mais normais, ou se ele pulou
direto para a parte do nosso final de semana.

Enquanto Manuel compartilha, às vezes falando sobre certas peças,


obras de arte ou esculturas, logo percebo que ele está pulando todos os
quadros modernos e, embora eu esteja curiosa, não faço perguntas.

Nós terminamos o passeio e eu escolho um quarto de hóspedes para


fazer de meu, então Manuel me ajuda a trazer minha mala para dentro. Meu
quarto fica ao lado do de Manuel, embora dois banheiros privativos e
armários entre eles os façam parecer mais distantes do que realmente são.

Assim que entrei no ambiente, quis que aquele fosse o meu, pelo
menos temporariamente.

Enquanto eu começo a guardar minhas coisas, Manuel me dá


privacidade, dizendo-me que iria fazer o jantar.
Mais tarde, encontro-o fora da cozinha, de pé na porta dos fundos,
quase diretamente abaixo de onde fica o meu quarto. Sua visão é quase a
mesma que a minha, mas é o aperto em seus ombros, uma mão apoiada na
porta de vidro à sua frente, a outra mão em volta de uma lata de cerveja, me
diz que ele não é tão apaixonado pela vista. como eu estava no andar de cima.

E claro que ele não é. Por um lado, ele cresceu com essa visão e ele
provavelmente não a percebe mais, por outro, eu só posso imaginar o quão
difícil é para ele estar aqui, cercado por memórias de sua avó, ao tentar
cumprir seu desejo.
Capítulo Seis
Manuel

té entrar na casa, eu tinha tudo

A sobre controle. Mathilde era,


nitidamente, uma pobre
infeliz que precisava de ajuda,
e eu poderia fornecer isso a ela, a um certo preço.

Todavia... a casa... o ambiente onde Regina me educou e me criou me


assaltaram de uma forma avassaladora.

Os Fontes eram conhecidos por serem frios e pisarem em qualquer um


para conseguirem o que quisessem. Mas, Regina não era assim, e nunca quis
que eu o fosse.
Eu pensei que tinha tudo administrado. Mas então o cheiro persistente
de seu perfume floral flutuando pela casa machucou meu peito com o peso de
toneladas.

Como eu devia estar decepcionando-a. Ao invés de procurar um amor,


eu procurava uma forma de me valer em cima de suas exigências...
Regina queria algo para mim e eu passei o dia inteiro pensando inteiramente
no que quero e não em seus desejos.

O mínimo que poderia fazer pela única pessoa que se importava


comigo é levar a sério o seu último desejo.
E isso significava que eu devia pedir desculpas a Mathilde, instalá-la em um
hotel por algumas semanas até que ela conseguisse arrumar sua vida e seguir
em frente.

Mas, outra verdade se confronta diante disso: Se não for Mathilde,


nenhuma outra vai aceitar ou querer. Amor você não acha assim facilmente.
Seis meses era pouco tempo para criar uma relação. E então eu perderia a
herança.

Merda.

Eu tomo uma bebida e olho para as montanhas que me cerca. O sol está
se pondo, e sou bombardeado por mil memórias de Regina e de mim no
pátio, compartilhando um pouco de cerveja.

Por causa dela, viajei o mundo, estudei no exterior por meses a fio. Eu
fiquei nos melhores hotéis, jantei nos melhores e mais fabulosos restaurantes,
conheci senadores e presidentes, príncipes e reis.

Por causa dela... Eu nunca amei nenhum lugar tanto quanto este lugar.
É mais que uma casa onde eu cresci, e eu posso perder isso.

Passos suaves soam e eu mudo minha atenção do sol poente para a


mulher bonita e flexível com quem cometerei o pior dos erros.
Na mão dela está uma lata de cerveja, igual à minha.

— Então — Mathilde diz, levantando a lata, quase fazendo um brinde.


— Eu acho que talvez nós dois tivemos um dia de merda hoje, e eu não sei
sobre você, mas eu gostaria muito de esquecer tudo isso. Que tal ficarmos
bêbados e limpar a merda das nossas vidas?

Pelo menos a minha pior ideia tem algumas boas ideias.

Eu agarro a fechadura na porta de vidro e abro-a.

— Parece bom.

Ela me segue para fora, mas eu não me incomodo de esperar por ela.
Eu sei exatamente o que quero. Eu me dirijo para a mobília ao ar livre,
arrasto duas espreguiçadeiras para o gramado, e arranco um par de cobertores
de um banco próximo.

Sento-me na cadeira e pego um cobertor para mim. Tomo um gole da


minha cerveja. Logo Mathilde está ao meu lado.

Duas semanas atrás, Regina e eu nos sentamos quase nesse mesmo


local, e eu não tinha ideia de que seria a última vez.

Ao meu lado, Mathilde parece completamente perdida em seus


próprios pensamentos.

Depois que eu termino minha cerveja, entro na casa e volto com uma
garrafa de uísque e duas taças para o caso de ela querer se juntar a mim. Eu
estou no meu segundo copo quando Mathilde ri.

Eu me viro para ela, incapaz de apagar a raiva em minha expressão, e


ela cobre a boca, mas a risada dela explode.

— Eu sinto muito — diz ela, rindo mais, ainda cobrindo a boca. É um


som bonito, doce e fofo, e eu estou aprendendo como todo o resto do
Mathilde também é assim. Ela não é refinada e polida, nem passou anos
projetando a imagem perfeita. — Eu sinto muito por rir, mas o silêncio, o
constrangimento e o fato de você ser um estranho está me assustando. Além
disso, há o fato de que nesta manhã eu acordei na cama de um homem. Agora
eu praticamente me mudei com outro. — Ela balança o braço para fora, rindo
mais. Minha raiva desaparece. Meus músculos faciais quase desenham um
riso. — E é você de todas as pessoas, Manuel, um Fontes, que me pediu em
casamento hoje cedo. E eu sinto muito por rir quando sei que seu dia também
tem sido uma porcaria, mas tudo isso é um pouco demais para mim. — Ela se
contorce. — Meu Deus, semana passada eu estava limpando cocô de uma
privada e agora estou sentada num castelo...

Só então eu caio na gargalhada junto com ela.

***

— Conte-me sobre você — peço, colocando o meu copo para baixo. —


Sua vida, seu trabalho, seu ex.

— Bom, eu sou faxineira. Eu nasci e cresci em Esperança, e com


quinze anos eu fui morar com meu ex-namorado.

— Por que tomou essa decisão? Você era jovem demais.


Merda. Seu queixo treme e temo um colapso emocional. Ela enche seu
copo e toma um grande gole, sufocando e tossindo enquanto desce.

— Eu nem sei o que dizer. Meu pai me batia muito. Ele bebia e
avançava contra mim. Eu cansei de apanhar, e Afonso pareceu ser a solução.
Apesar de ele nunca ter me sustentado, ao menos ele não me batia...

Eu fiquei um pouco chocado. Eu não imaginava que aquela garota


sorridente da escola passava um inferno em casa.

— Você sabe, mulheres como eu crescem ouvindo que só servimos


para sermos de um homem. Que não precisamos sonhar ou estudar, porque a
gente dará filhos para os homens e eles vão nos sustentar. Uma mulher sem
um marido? Um fracasso — ela sorri tristemente. — Bem que eu queria ser
um fracasso, mas com bom emprego e estudo.

Mathilde me encara. Ela percebe meu olhar pasmo em sua direção.

Ela ri novamente, balançando a cabeça.

— Não tem como isso funcionar, você sabe. Ninguém vai acreditar que
dois estranhos podem realmente estar apaixonados.

— Não há cláusula que diga que nosso amor precisa ser provado. Isso
não poderia ser feito de qualquer maneira. Vamos trabalhar nos detalhes em
interpretar um bom papel, mas você deve estar preparada para o que virá.
Minha família vai pirar quando perceber que eu já tenho uma candidata.
Aliás, já devem saber. Estou apostando que fotos de nós na rua e no
restaurante já estão on-line.

Ela parece assustada.

— Mesmo?
— Você usa facebook?

— Eu tenho um perfil — ela admite. — Mas uso pouco.

— Tem fotos suas com seu ex, lá?

— Sim.

— Terá que apagar hoje mesmo. Vão investigá-la. Seu celular é bom?

— É um modelo simples...

— Vou mandar comprar um modelo moderno para você. Precisará ir a


cabeleireira e ir comprar roupas, também.

Ela vira o rosto, e é óbvio que o rubor que atinge suas bochechas não
tem nada a ver com vergonha.

— Obrigada — diz, franca. — Eu realmente não vou recusar porque é


emocionante. Eu nunca tive ninguém para cuidar dos meus cabelos ou das
minhas roupas. Eu ganho pouco, você sabe... Eu vou a cabeleireira do meu
bairro para cortar o cabelo uma vez por ano. Eu mesma aparo as pontas em
casa. E ir nas lojas? Isso é muito emocionante.

— E ser vista comigo, será emocionante? — Gosto do jeito que as


bochechas dela queimam mais forte.

— Sim, será.

Céus, ela é muito fofa.

— Por que não teve filhos?

— Afonso dizia que nunca me perdoaria se engravidasse enquanto ele


não estivesse formado. Ele estuda enfermagem.
— Ele estuda? E você, por que não foi estudar, também?

— Só podíamos pagar uma mensalidade.

Aquele homem abusou da boa vontade de Mathilde. Era claro, será que
ela nunca percebera?

— Bom, agora você poderá fazer isso — disse.

Vi seu olhar se iluminar. Era lindo.


Capítulo Sete
Mathilde

u concordei em me casar com

E Manuel Fontes.

A princesa pobre que encontra


o príncipe encantado podre de
rico. Eles se casam. Conto de fadas, puro. É tudo mentira, mas isso não
significa que uma parte de mim não esteja entusiasmada.

E a outra parte está aterrorizada.

Imagino o tipo de mulher sofisticada com quem ele saí, e tenho


algumas dúvidas se vou conseguir ser o ideal para alguém como Manuel.
Ele tem sido um cavalheiro completo e perfeito, e sim, minha opinião por ele
agora está mudando. Ele não é o colega de escola esnobe, ele é legal.
Inesperado, para dizer o mínimo.

Mas tenho que manter meu coração fora disso. Até porque o leque de
oportunidades que estão se abrindo para mim estão longe de qualquer
sentimentalismo. Eu sairia com dinheiro e educação dessa situação. Eu teria
um futuro. Era muita sorte.

Meus sentimentos por Afonso pareciam tão insignificantes perto de


tudo que eu planejava para minha vida.
A traição de Afonso não é tão devastadora quanto eu pensava que seria.
Ainda não tenho certeza se foi o choque das últimas vinte e quatro horas, ou
se é apenas realidade. Nós não fazíamos sexo há meses e eu estava aliviada
por isso. Mas, ele não era eu. Homem sente prazer e sente falta. É apenas
para a mulher que existe o desconforto. Então, é natural que ele me traísse.

...E eu o estava desculpando assim como minha mãe fazia ao meu pai
após cada surra.

“Oh, eu mereci esse soco na cara, eu deixei o feijão queimar” ou “eu


fui descuidada em passar sua camisa, é natural que ele me empurre contra a
parede”.

Afonso me traiu porque quis, assim como meu pai batia porque queria.

Mas, os imbecis ficaram para trás e agora eu tinha um novo começo.

Levanto da cama e vou até o banheiro.

Enquanto eu tomo um banho rápido e me visto, chego à estonteante


conclusão de que Afonso e meu pai não me importam mais.

Tudo que importa no momento é meu enlace com Manuel. E, para que
tudo de certo, preciso estar protegida de qualquer sentimentalismo barato que
possa nutrir. Especialmente porque amor não existe. Isso é apenas coisa de
menina sonhadora que não sabe como o dia a dia ao lado de alguém pode ser
desgastante.

E, nesse sentido, definitivamente tenho que parar de pensar sobre o


quão bem Manuel cheira, quão bem me sinto quando ele me toca, ou quão
risonha eu fico quando ele olha para mim.
No momento em que desço, vou na direção do cheiro do café na cozinha.

Um relacionamento de negócios com um grande retorno financeiro. A


liberdade de encontrar um emprego preparada por cursos, e uma conta
bancária que pode me pagar uma casa confortável e talvez até um carro.

Estou confiante que tudo vai dar certo.

Tão logo chego na cozinha, essa certeza desaparece.

Na minha frente, de costas para mim - costas muito fortes, bem


musculosas e completamente nua - está Manuel. Vestido apenas com uma
bermuda atlética escura, em toda a sua glória, livre para o meu olhar. E eu
olho. Não devia, mas olho.

Ele está no fogão, a gordura dos ovos estalando enquanto ele revira a
omelete e depois mistura queijo ao refogado.

Estou congelada no meu lugar, minha língua provavelmente saindo da


minha boca como um cachorrinho carente.

O que posso dizer? O homem é lindo. Não consigo me impedir de


olhar, absorvendo cada centímetro do corpo exposto dele.

Adeus arranjo de negócios. Adeus confiança em poder não agir como


uma idiota ao seu redor. Ele nem sabe que estou aqui e estou praticamente
ofegando por ele. Ele não me tocou ou olhou para mim e eu estou derretendo.
Não tem como fingir estar apaixonada por ele e não me apaixonar pelo cara -
ou pelo menos pelo corpo dele.

Ele se vira e seus olhos se arregalam de surpresa ao me ver parada ali.


Eu rapidamente me mudo para a cafeteira e encho uma caneca vazia, suponho
que ela está no balcão para mim.

— Bom dia — ele cumprimenta, e eu olho para a minha caneca em vez


dele.

Minhas bochechas estão quentes; meu corpo está todo formigando. Eu


nunca me senti assim antes.

— Bom dia — murmuro.

Evito Manuel completamente e ando ao redor do balcão da cozinha.


Encontro um banco e resvalo nele. Uma vez sentada, uma pequena pilha de
papéis ganha minha atenção, a palavra “Testamento” em negrito no topo,
óbvia demais para ser ignorada.
O testamento de Regina.

Se isso não é um lembrete de por que estou aqui, não sei o que seria.

— Como se sente? — pergunto a Manuel, olhando para minha frente.


— Está bem hoje?

— Bem. Quer omelete? Eu fiz muito.


Quente, seminu e cozinheiro? Oh, Jesus...

— Certo. Obrigada.

Ele coloca a omelete num prato junto com torradas quentes. Depois
comemos em silêncio. O silêncio parecia ser um vínculo nosso.

— Isto é para você — ele diz, depois de comer e deixar o prato na pia.

Busca a pasta de papeis e me mostra.

— Espero que você não pense que eu sou um idiota, mas é um contrato
que eu escrevi esta manhã. Não é tecnicamente vinculativo, mais uma lista de
diretrizes para concordarmos. Se você tiver alguma dúvida, pergunte.

Silêncio. Por fim, ele parece se afastar.

— Eu tenho algumas coisas que preciso fazer na cidade hoje. Vou te


dar tempo para analisar, e quando voltar podemos conversar. Está bem?

— Você vai para a cidade?

— Sim, preciso comprar comida para o final de semana, e eu preciso


pegar algumas outras coisas.

— Posso ir para a cidade com você?

— Você quer alguma coisa da cidade?

Silêncio. Meu Deus, quantos silêncios haveria entre nós durante


aqueles anos?

— Bom, claro, você pode vir.

Sua mandíbula aperta, um músculo aparece no lado do pescoço. Eu não


pretendia me impor, mas se ele quer que eu fique aqui com ele, preciso
conhecê-lo. E ele se afastar durante nossas poucas horas juntos não vai ajudar
em nada.

— Bom, esteja pronta daqui a meia hora. Te encontro na frente —


disse, antes de se afastar da cozinha, deixando-me a lanchar sozinha.

Espero até que a batida de seus passos nas escadas acalme antes de
despejar o resto do meu café da manhã no lixo.

Meu apetite evaporou junto com sua frieza.

Eu também não me incomodo de dizer a ele que estou pronta para ir.
Uma olhada rápida em minha roupa sugere que não estou vestida
adequadamente para um passeio público com ele, mas em vez de trocar de
roupa, lavo a louça e limpo a cozinha.

Se Manuel Fontes acha que se casar com uma mulher normal é a sua
melhor opção, então eu não vou me arrumar para ir no supermercado. Ele
pode me levar como eu estou ou encontrar alguém melhor para usar.
Capítulo Oito
Manuel

em algo que eu não pensei

T quando resolvi me aproveitar


da desesperança de Mathilde
quando a pedi em casamento.

Aquela mulher já mexeu comigo no passado e, provavelmente, mexeria


no futuro. Claro, estava mudada, mas eu quase conseguia ver o sorriso doce e
jovial da menina que eu me enamorei por trás daqueles olhos brutalizados
pela existência.

E, podia acontecer... aconteceria, provavelmente... Em algum


momento, a razão enroscar-se-ia nas lembranças e eu acabaria por...

Meu Deus... Como eu ficaria longe dela?

Tê-la no café da manhã fez-me pensar em tudo que eu não vivi. Jamais
tive uma mulher para lanchar comigo numa manhã. Jamais tive uma mulher
para ir ao supermercado... jamais... companheirismo.

E esse companheirismo estava se mesclando a imagens sedutoras de


minhas mãos em torno de sua cintura fina, de minha figura a jogá-la no
balcão da cozinha, fodendo seu corpo a luz do dia.

Não tenho mais certeza se passarmos mais tempo juntos do que o


absolutamente necessário é a melhor ideia. Talvez pelos próximos três anos
eu pudesse morar na casa, mantê-la no meu apartamento em Esperança, e
poderíamos apenas nos ver quando fosse necessário.

Isso daria a ela a liberdade de uma vida real e me daria a chance de


trabalhar nas fazendas de fumo de Regina.

Todavia, eu tiro a idéia da minha mente enquanto pulo no chuveiro. A


qualquer momento, nos próximos três anos, meu casamento poderia ser
contestado. Se fosse considerado um artifício pelos padrões de alguém, as
condições reverterão à cláusula como se eu nunca tivesse me casado.

Então eu não tenho mais que apenas me casar e seguir os passos que
Regina delineou. No mínimo, eu preciso fazer as pessoas acreditarem que eu
realmente me apaixonei. O que significa que não posso viver exatamente em
uma residência separada da minha esposa.

Foda-se a ganância do meu pai por me colocar nessa posição em


primeiro lugar. Se ele tivesse sido um sobrinho decente para Regina, ou não
tivesse passado a maior parte da minha vida agindo como um idiota
enganador, eu não teria que escolher essa merda de plano agora.

Talvez eu não devesse ter colocado a cláusula no contrato que dei a


Mathilde esta manhã, que afirma que permaneceríamos celibatários ou
encontraríamos formas alternativas e privadas de encontrar satisfação sexual
durante nosso casamento.

Na verdade, não quero que ela pense que eu vou casar com ela e pagá-
la por sexo, e em algum momento, eu sei que isso será pensado. Mas depois
de vê-la nessa manhã, a cintura e os quadris aparentes expostos a partir do
moletom, penso se vou ser capaz de manter minhas mãos longe dela.

Nós vamos ter que nos tocar. Nós vamos ter que nos beijar. Nós vamos
ter que vender uma imagem que estamos completamente e loucamente
apaixonados.

Meu pau endurece, claramente gostando da idéia de ser tocado por


Mathilde, e eu envolvo minha mão em torno dele. Acariciando-me, tento
banir todos os pensamentos dela da minha mente, mas é inútil.

Em menos de vinte e quatro horas, eu já a quero. Ela é mais baixa e


mais curvilínea do que as mulheres que eu já tive, e eu me pergunto o que
diabos eu tenho feito com socialites e modelos que não me atraem. Pasmo,
percebo que todas as mulheres com quem saí eram o antagônico de Mathilde
em sua idade escolar.

Eu fugi dela... da decepção de vê-la abandonando tudo para seguir um


cara qualquer na adolescência...

Mas, agora eu sabia os motivos. E isso fez com que, em questão de


segundos, esse padrão mudasse e eu imaginasse todos os lugares onde quero
tê-la.

Apenas a ideia de ter minhas mãos ao redor de seus quadris,


observando seus seios cheios saltarem enquanto ela me monta, dirigindo para
cima e para baixo no meu pau, me fazendo gemer tão alto que estou certo de
que posso ser ouvido através do chuveiro.

Eu mordo meu lábio e imagino minhas mãos em punho em seu cabelo,


puxando-a para baixo para a minha boca, tomando-a e devorando-a enquanto
ela se aperta contra mim.

Seria o paraíso. Seria melhor do que qualquer noite que eu tive antes,
porque Mathilde não é uma mulher que pode fingir ou esconder sua atração.
Cada momento de transar com ela seria intenso.

Eu gemo de novo, mordendo meu lábio enquanto minha mão se move


violentamente para cima e para baixo. E então o gozo chega, meus joelhos
tremendo enquanto o meu orgasmo me atinge.

***

— Eu li o contrato que você deixou para mim, e o testamento da sua


avó sobre o seu casamento.

Minhas mãos apertam o volante com mais força. Na minha frente, a


estrada é cortada com velocidade pela minha BMW.

— E?

— Bem, diz que você tem seis meses para se casar e então o casamento
tem que permanecer válido por três anos antes que você possa realmente se
apropriar da casa.

— Ter a casa no meu nome — corrijo. — Viver nela, posso a partir de


agora.
— Sim, mas faz sentido esperar? Eu estava pensando que seria melhor
casarmos logo. O tempo de seis meses é tão importante?

Ela queria encurtar o tempo, já planejando se livrar de mim? O


pensamento se assenta como um peso no meu intestino, e meu sangue bate
mais forte nas minhas veias. Eu não gasto tempo pensando sobre o motivo
pelo qual isso me deixa louco.

— Você parece ter um plano para depois desse tempo.

Ela ri levemente, dedos finos e nervosos passando por suas coxas.

— Bem, o que posso dizer? Criar um plano parece mais inteligente.


Podíamos dizer que ontem, quando nos vimos, recordamos de algum amor
antigo na escola, e então decidimos ficarmos juntos. Eu sei que você nem
deve se lembrar direito de mim naquela época, mas eu achava você o cara
mais bonito do lugar.

A frase me atingiu, mas tentei não pensar nela. Talvez tivesse alguma
importância se eu tivesse conseguido beijá-la quando planejei, ou se
tivéssemos namorado. Mas, nada disso aconteceu.

— Você assinou o contrato ou teve alguma ressalva?

Seus dedos cravaram em suas coxas, e eu olhei para ela, tirando meus
olhos da estrada por um momento.

— Houve algo de que você não gostou?

A cláusula de intimidade vem à mente.

Você me quer, Mathilde?

Ela abaixa a cabeça. Eu olho de volta para a estrada, lutando contra um


sorriso. Sim, é isso que ela está pensando.

Infelizmente, ela não diz o que eu estou esperando.

— Não, parecia bom. Eu assinei tudo.

Quando olho para ela, há uma pequena linha entre as sobrancelhas.

— Então, você concorda com a minha ideia? Casar e fazer esse teatro?

Sua voz é triste, mais quieta e mais corajosa do que o normal, e eu não
gosto disso.

— Era o combinado. O que há de errado?

Sem pensar, eu tiro a mão do volante e a coloco sobre a dela. Eu


aperto, tentando consolá-la, e sou recompensado com eletricidade quente
disparando em meus braços. Que porra é essa?

Ela engasga, como se ela também sentisse, e sua mão fica tensa.
Eu não a deixo ir, e a aperto mais forte.

— Fale comigo. Haverá mentiras e segredos suficientes nos próximos


anos para o mundo, mas devemos pelo menos sermos honestos um com o
outro.

Eu não tenho certeza se devo contar a Raul o que está acontecendo. Eu


confio no cara com a minha vida, mas isso não é algo que eu possa arriscar,
também. Porra! Quanto mais eu penso sobre isso, mais complicado vai se
tornando.

— Nada está errado — diz Mathilde, voltando ao assunto. — Eu só


estava pensando em todo o tempo que perdi com Afonso.
E agora perderá comigo?

É isso?

Eu abro minha boca para dizer alguma coisa, mas nada sai. Não há
mais nada a dizer, realmente.

— Três anos, certo? Isso me dará tempo para colocar tudo no lugar.

— Qual é o seu sonho? — eu indago, de repente.

Ela não disse nada. Ela mencionou metas, mas nada específico.

— Estudar veterinária, talvez?

Cuidar de animais parece combinar bem com ela.

— Você gosta de animais?

— Eu tinha um gato — ela contou. — Mas, quando sai da casa dos


meus pais, ele ficou. Afonso odiava animais, então... Enfim, eu os amo,
apenas nunca pude tê-los.

Ela ri mais forte, fria e tão sem emoção quanto sua voz se transforma
novamente.

— Mas, isso é tão difícil, não é? Quero dizer, eu nem tenho habilitação
de carro. Não tenho estudo. Teria que terminar o ensino médio, e só depois ir
para uma faculdade... e já sou velha para isso.

Meu coração doeu por todos os seus sonhos que tiveram que
desaparecer. Céus, seu pai e seu ex eram tão babacas... E, infelizmente, ela
não teve uma Regina para ajudá-la a vencer as pressões.

— Você pode estudar enquanto estamos casados. E tirar sua


habilitação. Eu lhe dou o dinheiro — percebo seu olhar inquietante. — Um
adiantamento — brinco. — Não me deverá nada.

Havia mais. Ela precisará de roupas e vestidos adequados para eventos


sociais. Precisará de um corte moderno nos cabelos. Um tratamento de pele.

— Obrigada, Manuel.

Podemos nos tornar amigos. Estranhamente isso foi gratificante.


Capítulo Nove
Mathilde

semana decorreu tranquila,

A apesar do meu nervosismo.

Para começar, eu visitei


uma clínica de estética que
fez uma hidratação profunda na minha pele, depois fez minhas sobrancelhas,
cortou meu cabelo e o hidratou com química e, por fim, recebi uma
massagem relaxante para me preparar para as maratonas que viriam.

Meu guarda-roupa foi renovado com vestidos de gala e peças da alta-


costura. Eu fiquei pasma com um vestido azul brilhante que parecia ter sido
feito exatamente para meu tamanho. Empinava os seios e apertava a barriga.
Então era assim que as mulheres ricas pareciam sempre tão perfeitas?

Nós fomos vistos por toda a cidade durante a semana, jantando,


entrando e saindo de seu apartamento. Ele esqueceu de me dizer que não só é
o dono de todo condomínio mais importante de Esperança, como também
vive no andar mais alto - uma cobertura de dois andares que é completamente
diferente da mansão.

No mais, conversamos o tempo todo. Pequenas coisas, coisas


importantes. Eu disse a ele sobre minha criação difícil. Ele me deu
vislumbres de sua família que me dizem que a vida não é tão perfeita quanto
as fotos dele com os seus me levavam a acreditar.

E agora estou vestida com um vestido espetacular que faz maravilhas


para minhas curvas, pronta para participar da minha primeira noite formal
com ele, onde nos encontraremos com o sua mãe pela primeira vez.

Seria um jantar de domingo na casa de seus pais, e Manuel insistiu que


ninguém vai acreditar que ficaria noivo se a mãe não fosse devidamente
apresentada. Quando perguntei sobre seu pai, ele disse que era improvável
que ele estivesse lá e depois me deu uma olhada que dizia que ele não queria
discutir mais sobre isso. Manuel claramente despreza o homem, e sempre que
seu nome é mencionado, ele parece sentir calafrios.

Esta noite é o nosso primeiro show de verdade. É a primeira noite em


que estaremos em público como um casal oficial, eu em seu braço e cercada
por todos os seus amigos, seus associados na fábrica de fumo, e sua mãe.

E o estranho é que o que mais me apavora é seu amigo, Raul Ernest. Eu


lembro dele do ensino médio, ficava sempre ao lado de Manuel, e costumava
me olhar com o mesmo semblante esnobe do outro. Algumas noites nesta
semana, Manuel saiu para beber com Raul, mas eu ainda não o revi. Como
devia estar, após tantos anos? Acreditaria em nossa conversa de um
reencontro depois de tanto tempo? Lembrar-se-ia de mim?

Uma batida na minha porta me tira dos pensamentos.

— Entre — digo, já sabendo que é Manuel.

Uma olhada rápida no relógio do meu telefone me diz que


precisávamos sair há cinco minutos.

Eu me viro quando a porta se abre e minha respiração imediatamente


se aloja na minha garganta.

Piedoso Deus...

Seu corpo é fantástico, vestido com o mais sexy terno preto que eu já
vi.

Ele é perfeito. Ombros largos. Os músculos ficam nítidos por baixo do


terno. Eu já vi quase todos eles, porque Manuel não tem problemas em ficar
andando em sua casa usando shorts depois de tomar banho.

Quando ele chega em casa do trabalho, ele tipicamente corre para o


andar de cima e tira o terno para tomar banho. Evidentemente, eu prestava
muita atenção quando ele descia as escadas, mais tarde, calça de moletom e
camiseta branca apertada sobre o peito, e meu Deus, seu corpo é esculpido
até a perfeição absoluta.

Memorizei todos os detalhes de seu corpo e fui para a cama sonhando


com o mesmo corpo. Eu sonhei em passar minhas mãos pelos músculos de
seus braços e apertar minhas mãos em sua bunda enquanto ele entra dentro de
mim.
Eu sei, é rídiculo, mas é difícil não se sentir tentada com aquele
homem.
Ele limpa a garganta. Eu estive olhando para ele, de boca aberta. Pior, ele
deixa.

— Ei — pigarreio. — Desculpe, estou atrasada. Estou nervosa, eu


acho.

Giro em direção a bolsa e quando me volto, percebo que ele me devora.

Seus olhos estavam colados onde minha bunda estava, eu sabia, mas
ele não disse nada. Com a mandíbula cerrada, ele está pálido, mas não
demonstra mais nada além disso.
Eu acho que ele gosta do vestido.

— Hora de ir.

Então ele se vira, saindo pela porta e pelo corredor.

Eu o sigo rapidamente, e quando o encontro na porta do elevador, ele


está olhando para o telefone como se eu o tivesse ofendido.

OK. Talvez ele não gostasse do vestido, ou não me caiu bem. Talvez
ficasse melhor no tipo de mulher com quem ele costuma sair.

Eu tento encontrar algo para dizer, mas ele deixa claro, mantendo seu
olhar em seu telefone, que não quer nada comigo agora. O que é uma pena.
Decepcionante.

Uma pequena conversa animadora dizendo-me que poderemos lidar


com esta noite cairia muito bem.

O elevador chega e as portas se abrem, mas em um movimento


completamente diferente de suas qualidades cavalheirescas normais, Manuel
entra e se move para o lado, em vez de gesticular para que eu passe na sua
frente.

Uma carranca puxa meus lábios, mas eu ignoro isso. Talvez ele esteja
tão estressado e preocupado quanto eu. Apesar de todas as conversas que
tivemos na semana passada, ainda não nos conhecemos bem, mas eu o vi
passar de amigo gentil para um babaca com um estalar de dedos.

Isso não é bom.

***

— Eu quero que você fique perto de mim essa noite — ele diz, sem se
incomodar em olhar para mim. — Se isso vai funcionar, vamos ter que fingir
que estamos apaixonados. Pode significar que eu te toque mais do que o
normal ou te beije, então se você não acha que pode lidar com isso, você
precisa me avisar agora. Caso contrário, como eu disse, fique perto de mim.
Em todos os momentos. Meu pai aproveitará qualquer oportunidade que ele
tiver para te despedaçar, e eu não quero dar a ele uma chance. Sem mencionar
que algumas das mulheres podem ser indelicadas. Eu tive muitas amantes —
contou, sem medo, à porta da mansão onde seus pais moravam.

E eu estava ali. Em pé, ao seu lado, praticamente apavorada com o que


viria.

Puta que pariu, porque ele não me disse nada disso antes? Eu poderia
ter digerido melhor tudo que ocorreria. E também havia a maneira como ele
falava, parecia estar com raiva de mim. Fiquei enojada.
Ele percebeu minha fúria e tentou se explicar:

— Estou simplesmente deixando claro minhas expectativas para a


noite.

— Você está agindo como um idiota completo e não o cara legal que
você tem sido toda a semana. Se eu fiz algo para te aborrecer, podemos
discutir isso, mas não me trate mal e espere que eu me apresente
silenciosamente. Se não me engano, nosso contrato também afirma que
seremos respeitosos e cordiais um com o outro.

Eu não tenho ideia de onde minha ousadia vem. Eu não costumo


desafiar ninguém. Mas, algo na forma como ele me encara, me deixa nervosa.

Ele se vira para mim, inclinando-se para que eu seja forçada a me


mover para trás ou seu peito estará no meu. Não necessariamente uma coisa
ruim, mas perigosa. O simples pensamento de seu peito roçando no meu faz
meus mamilos endurecerem.

— Você quer respeito? A maneira como você me olha nesse maldito


vestido está me fazendo pensar que esse acordo é uma péssima ideia. Confie
em mim, Mathilde, estou pensando em algo além de pensamentos cordiais
agora e você está testando meu controle.

O que isso queria dizer?

— Manuel...

Uma sobrancelha perfeita arqueia.

— Não tem nada a dizer? Não vai divagar sobre o que estou propenso a
fazer?
O que ele está propenso a fazer?

— Eu realmente não me importo com o que você pensa agora — ele


sussurra. Ele se aproximou mais? Eu estou praticamente colada contra a porta
do carro e ele está tão perto que eu posso ver cada pequena linha ao redor dos
olhos dele. Suas pupilas dilatadas apagaram quase completamente o azul.
Seus sopros de respiração em meus lábios me deixam cada vez mais
lânguida. — Você tem me tentado desde o momento em que te conheci e
estou tentando manter minha distância. Este vestido, no entanto...

Suas mãos pousam em minhas coxas, agarrando-me com firmeza.


Meu corpo estremece. Ele não está fazendo isso... Não pode ser! Ele só pode
estar brincando. Ele tem que estar.

Manuel não me deu nenhuma indicação de que ele me acha atraente.


Minha bravura foge. Dedos fortes e firmes cravam-se nas minhas coxas,
apertando-me no lugar, mas não há para onde ir. Ele está consumindo todo o
espaço ao meu redor e eu não sei se serei capaz de resistir.

O que existe nesse homem que me faz ter pensamentos infantis? Coisas
como princesa que se apaixona? Amor não existe. Então... por que eu...?
Por que eu quero que ele me beije?

Eu não posso voltar atrás. Involuntariamente, lambo meus lábios, seu


olhar caindo para a minha boca e seguindo o caminho da minha língua.

— Você quer que eu te beije?

Sim. Por favor, por favor, beije e me livre desse turbilhão de emoções
que você começou em mim.

A racionalidade cintila em minha mente. E então sua boca pousa na


minha. O beijo não é suave ou provocador ou mesmo exploratório. Ele me
devora como se estivesse morrendo de fome para me provar. Sua mão desliza
para a parte de trás do meu pescoço, segurando-me com tanta firmeza no
lugar que eu não posso me mover uma polegada exceto inalar o cheiro dele,
aceitar sua boca na minha, sua língua buscando entrada.

Eu duvido muito que este seja o tipo de beijo que ele me daria em
público. Minhas mãos saltam para seus ombros quando eu me abro para ele e
sua língua mergulha dentro.

Oh céus... Ele tem gosto de hortelã.

Eu gemo, liberando um profundo ruído de necessidade do fundo da


minha alma e ele pega, as pontas dos dedos cavando na parte de trás do meu
pescoço em aprovação.

Isso é um erro.

Mas, se beijar Manuel Fontes é um erro, quero tomar mais algumas


decisões ruins.

Nossos lábios se separam e nós estamos ofegantes. Seu olhar percorre


meu rosto, e toda expressão em seus olhos evapora em um instante.

Ele não está completamente frio, mas eu vejo isso começando e me


recuso a permitir que ele me trate como um objeto.

O que quer que tenha acontecido entre nós, quaisquer faíscas acesas,
estou mantendo-as.

— Enfim, como eu disse, fique perto de mim o tempo todo. —


ordenou.
E mais uma vez, a aura mágica se dissipou.
Capítulo Dez
Manuel

pesar de tudo, eu consigo

Por ela...
A manter meu semblante sobre
controle. Contudo,
obviamente, estou abalado.

Mathilde me deixou completamente desnorteado.

Entramos na mansão. Inegavelmente, meu sorriso é tão amigável que


logo recebo mãos sem importância a me cumprimentar.

Mas, nenhum rosto me tira as sensações deliciosas do gosto dela na


minha boca, do beijo ocorrido há poucos minutos.

Isso tem que parar, no entanto. Estou pagando para ela ser minha
esposa no nome, não para ser minha prostituta. Todavia, no momento, está
muito difícil pensar em outra coisa além de tirá-la daqui e afundar meu pau
dolorido dentro dela.

A verdade é que ela me surpreendeu. Quando lhe indiquei uma clínica


e uma boutique para comprar roupas, não esperava que a transformação fosse
tamanha. Não que a Mathilde delicada e sofrida do interior não me atraísse,
mas esse mulherão em um vestido brilhante me tirou do sério.
Ela é linda. Linda. Não há uma palavra em que eu possa pensar que descreva
como Mathilde está absolutamente perfeita nessa noite.

Assim como quando está de pijama a noite, sentada no sofá, assistindo


o noticiário...

Todos os lados dela, todas as suas nuances, são perfeitas.

E me vi fazendo algo tão idiota... como um adolescente, passei a tirar


fotos dessa visão deslumbrante. Se ela soubesse que eu andava por aí
fingindo estar trabalhando no meu telefone, e clicando em fotos dela toda vez
que ela tirava meu fôlego, ela provavelmente enlouquecia.

Eu não dou a mínima. Quando isso acabar, quero um milhão de


memórias fotográficas do meu tempo com ela. Por quê? Não sei dizer.

Caminhamos para o jardim. O jantar de domingo não é íntimo, e isso


não me surpreende. Nada na casa dos Fontes o é. Enquanto sou interceptado
por homens da fábrica de fumo, percebo que estou prestes a jogar Mathilde
num covil de víboras. Seguro firme sua mão. Quero mantê-la segura o
máximo que puder.

Olho para os lados, a procura dos meus amigos. Tenho dois. Raul e
Carina. Ele, data da época de escola, ela da faculdade. E ambos seriam
difíceis de convencer em relação ao meu casamento, afinal, conheciam-me
bem demais.

Contudo, nem tudo é mentira. A química que acabou de acontecer na


entrada da casa, diante do carro, denota que posso fazer qualquer pessoa –
incluindo meus amigos – acreditarem em qualquer coisa.

E, na verdade, não estou fazendo nada além de uma pequena mentira.


Suponho que há coisas piores numa amizade que dizer que está quase noivo
de uma mulher cujo corpo você quer, uma mulher que atualmente está
morando com você e está prestes a se casar com você — e você não pode
transar com ela.

Merda. Como diabos eu me liberto desses pensamentos? Porque se


tudo se resume a saciar minha luxúria eu preciso de uma prostituta.

É isso. Uma puta.

Bom, nunca fiz algo tão revoltante na minha vida. Igualmente, também
nunca precisei procurar por uma mulher dessa maneira, e o pensamento me
deixa doente, mas se essa é a única maneira que eu posso foder uma mulher e
ajudar a manter minhas mãos longe de Mathilde de um jeito que eu estou
suspeitando que ela não desprezaria inteiramente, então preciso considerar a
ideia.

— No que está pensando? — ela indagou. Seu tom é gentil e curioso.

— Estou um pouco abalado pelo nosso beijo — fui brutalmente


sincero. — E você, no que pensa?

Suas bochechas se tornam um tom profundo de rosa e ela revira os


olhos.
— Foi bom beijar você — ela admite.

Porra, Mathilde! Não seja tão sincera, caralho!

Eu pressiono minha mão na parte inferior das costas, gentilmente


orientando-a para frente.

— Meu ego agradece — brinco.

Sentimos flashes em nossa direção. Sei que haveria paparazzis na festa,


e tento não me abalar. Tudo faz parte do plano.

— Você é sempre tão cobiçado? — ela indaga.

— Regina me deixou a maior parte das ações da fábrica de fumo. E há


boatos que vou me candidatar a Governador.

— Você vai?

Meu olhar bate em seu peito arfante. A ideia talvez a apavore mais.

O balançar dos seus seios me tira o ar. Como pode ser tão maravilhosa?

Céus... Não consigo pensar em nada de errado com ela. Cada momento
ela vira aquele sorriso para mim, eu quero fazer tudo o que for possível para
mantê-lo em seu lindo rosto.

— Pronta para ser jogada para os lobos? — Eu pergunto, inclinando-


me e sussurrando em seu ouvido. — Porque é hora do show.

— Que os jogos comecem — ela retruca. — Só me dê uma taça de


vinho antes que eu desmaie.

Ela é impressionante a cada momento da noite. Se eu pudesse ter


escrito uma lista de qualidades que eu quero numa esposa falsa, Mathilde
estaria em todos os detalhes. Eu não poderia ter criado uma mulher melhor,
mais refinada e gentil para estar no meu lado.

Levei-a até o bar mais próximo, e enquanto tomamos nosso primeiro


copo de vinho, discretamente ressalto tudo que falei a ela durante toda a
semana. Ela enfrenta o desafio, lembrando-se de cada pessoa que precisa ou
não impressionar.

Ela bebe mais uma taça de vinho.


Pelo menos ela acha essa noite divertida, porque nós ainda não atingimos a
parte mais difícil.

***

— Meu pai vai te odiar e te tratar como lixo, minha mãe vai ficar
quieta e agir como se o comportamento dele não fosse absurdo ou insultuoso,
e então ela vai te dar um beijo na bochecha antes de ir embora. — eu
expliquei, enquanto nos aproximamos do casal mais velho, conversando com
membros da alta classe de Esperança. — Calma?

Ela pareceu tremer.

— Sabe a casa mal-assombrada aqui da cidade?

— Hum — estranhei a mudança de assunto. — Soube que mataram


uma jovem universitária lá há poucos meses...

— Então, sempre que eu passo naquela rua, eu tento cruzar


rapidamente, quase correndo, morro de medo. É como estou me sentindo
agora. Segurando-me para não correr.
Quis dizer algo que a tranquilizasse, mas meu pai nos interrompeu.

— Manuel. — Eu aperto as mãos do meu pai enquanto ele me


cumprimenta.

Então, inclinando-me para a frente e mantendo meu braço em volta de


Mathilde, dou um beijo na minha bochecha na minha mãe.

— Boa noite, mãe.

Ela acena com a face.

— Como você está?

— Fantástico. — Dou um passo para trás e coloco pressão na parte


inferior das costas de Mathilde, forçando-a a se aproximar mais. — Mãe, pai,
este é Mathilde Guedes. Mathilde, Paulo e Tania Fontes.

Sem perder o ritmo, Mathilde desliza do meu alcance e estende a mão,


seu sorriso incrivelmente belo dando a impressão de que ela está realmente
animada para conhecê-los.

— Muito prazer em conhecê-los.

Meu pai faz uma careta para a mão dela como se estivesse abaixo dele,
e, não pela primeira vez na minha vida, eu sou grato pelo meu pai e eu não
sermos parecidos.

Podemos ter a mesma altura, mas com seus cabelos escuros e olhos
ainda mais nebulosos, ele não só é intimidador, como também parece ser
cruel. Eu há muito desisti de considerar a possibilidade de ter um pequeno
indício de bondade nele. Minha mãe, por outro lado, era apenas uma alma
sugada sem energia de lutar contra nada. As vezes vejo suas fotos da
juventude. Ela era esbelta e elegante, loira e de olhos azuis, e eu agradeço por
todos os meus atributos virem da minha mãe.

O sorriso da minha mãe parece genuíno o suficiente, mas é tudo falso.


Ela não consegue mais esconder a expressão vazia sem emoção em seus
olhos. Ela está simplesmente seguindo as condições sociais de seu marido,
como ela foi treinada há mais de trinta anos. E ele matou qualquer verdadeira
emoção que ela costumava ter.

— Prazer em conhecê-la também, Mathilde — minha mãe diz,


inclinando a cabeça em reconhecimento.

Mathilde solta a mão dela, colocando-a no meu antebraço como se ela


não estivesse incomodada por, no mínimo, meu pai a ignorar.

— Vocês tem um filho adorável. Tenho certeza de que devo agradecer


por terem criado um cavalheiro.

A carranca de meu pai se torna violenta. Eu me movo para proteger


Mathilde, tentando mudá-la para o meu lado, mas ela se mantém firme. Eu
praticamente posso senti-la fisicamente se preparando.

— Sim, um cavalheiro — meu pai diz, sua voz baixa e ameaçadora. —


Resgatando a donzela na rua e depois a levando para sua casa. Eu estou
querendo saber exatamente qual seu preço? Porque, do nada, ele encontra
uma mulher na rua e no mesmo dia ela passa a morar com ele? Exatamente
em uma época que ele precisa cumprir certos trâmites para receber sua
herança?

Seu tom é claro. Mas não permitirei que ninguém, especialmente esse
desgraçado, insinue que Mathilde é uma prostituta.
A mão de Mathilde aperta meu braço. Antes que eu possa responder,
ela rapidamente intervêm:

— A “donzela” em questão foi namorada de seu filho na adolescência.


Estudamos juntos, o senhor pode conseguir essa informação na nossa escola.
Nos reencontramos anos depois, e foi incrível porque eu acabei de sair de um
relacionamento e Manuel não está em nenhum. Era o momento ideal, e... Por
que não? No nosso caso, não há necessidade de fingir um pudor, já que
estamos no século vinte e um e não preciso me passar por uma virgenzinha
inexperiente que não pode ir para a casa de um homem com quem já teve um
envolvimento. Sou livre e Manuel também é. Ambos na faixa dos trinta anos.
Existem coisas que a idade liberta.

Eu puxo Mathilde de volta para o meu lado, sorrindo para ela, e isso
não é falso.

— Estou feliz que nos reencontramos. Definitivamente mudou minha


vida.

Eu quis verdadeiramente dizer isso. Não simplesmente por causa da


vontade ou porque era fingido. Categoricamente, estou feliz.

— Ainda assim é muita coincidência — meu pai insiste.

— Não é? Engraçado como a vida às vezes funciona da maneira que


você espera, pai?

Eu solto minha mão da cintura de Mathilde e aperto sua mão na minha,


puxando-a para trás. É o momento perfeito para uma fuga enquanto meu pai
fica com um tom escuro de roxo.
Capítulo Onze
Mathilde

u o reconheci assim que pus

E meus olhos nele.


Raul.

A mulher linda ao seu


lado, eu não conhecia, mas em se tratando de Raul, ele permanecia
exatamente como era na adolescência. De aparência bem cuidada e olhar
meticuloso.
Fiquei mais nervosa em encontrar seu amigo do que em ver seus pais. Eu
também não estava preparada para a mulher excepcionalmente deslumbrante
e de olhar aguçado em minha direção.

— Raul e Carina — Manuel sussurrou em meu ouvido.

Eu tomei um gole de vinho. Estou nervosa.


De repente, seu polegar pressiona meu queixo e ele inclina a cabeça
para trás. Manuel me lê e percebe todas as lutas que eu travo no meu íntimo.
A maior delas, a atração e luxúria que sinto por ele.

Seus olhos se dilatam e seus lábios se separam. Suas mãos apertam


meu quadril? Me puxam para perto dele? Deve ser minha imaginação. Ele
está cercado por mulheres bonitas e dignas de revistas o tempo todo. Eu
conheço a longa lista de amantes que ele teve. Atrizes e modelos faziam parte
da sua lista. Eu não chego nem perto de encaixar-me no seu gosto. Deus, isso
é um desastre, seus amigos nunca acreditarão que isso é real.

— Mathilde — ele murmura.

— Então, vocês parecem um novo casal feliz.

A voz masculina diferente irrompeu entre nós. Suponho que seja Raul,
mas Manuel não se move. Seus olhos ficam nos meus, o polegar no meu
queixo. Eu não posso fazer nada além de me lembrar de respirar. Assentindo
uma vez, ele solta a mão do meu queixo e olha para seus amigos.

— E aí? — ele aperta a mão de Raul e depois se move para Carina. —


Como você está?

Ela se inclina e beija sua bochecha, recuando antes de se virar para


mim.

— Então você é Mathilde. Prazer em conhecê-la.

Eu aperto a mão dela e faço o mesmo com Raul.

— Prazer em conhecer vocês dois — respondo. — Nós estudamos


juntos — digo a ele.
Por que disse isso a ele? Por que minha boca se moveu e contou sobre
momentos que não queria me lembrar.

— É mesmo?

A mão de Raul aperta a minha, segurando mais do que o necessário.


Ele tenta se lembrar de alguma Mathilde sem importância do passado?
Manuel me puxa de volta, cortando o cumprimento, como se eu fosse o novo
brinquedo.

A mão de Carina pousa no peito de Raul, batendo contra o que eu só


posso imaginar ser um peito perfeito e duro.

“Ei, olhe para mim”, é como se ela dissesse. Mas, o olhar de Raul
permaneceu no meu. Não era romântico nem sedutor. Ele apenas queria
lembrar, eu sabia.

Então, de súbito, ele dá os ombros. Depois toma um grande gole da


bebida. Eu também o estudo. Ele era o melhor amigo do garoto rico e
popular. Ele parece um pouco diferente agora, vestindo com um terno preto,
camisa branca e gravata azul.

Algo chama a atenção deles, e percebo que os dois se preparam para se


afastarem. Fico me perguntando que tipo de relação eles têm. Eles estão
juntos? Amigos? Amizade colorida? Minha mente está girando. Eu sou
sacudida pelo corpo de Manuel agitando contra o meu enquanto ele ri.
Eu olho para ele e ele sorri para mim.

— Eles gostaram de você. Saiu-se bem.

Percebo que logo Raul está acenando, perto do buffet.

— Está com fome? — Manuel indaga, e eu começo a caminhar na


direção deles.

Carina me recebe com um sorriso.

— A única coisa que vale a pena nessas festas de ricos é a comida —


ela me confidencia, o que me faz pensar que talvez ela não venha daquele
mundo de dinheiro.

Aproximo-me dos pratos. Sirvo as saladas primeiro, e depois me


aproximo da carne. É churrasco. Apesar de todo glamour, gaúchos nunca
perdem a chance de degustar uma boa picanha assada na brasa.

Manuel e eu estamos sentados em uma mesa com Raul e Carina e, se


eles conhecem o resto das pessoas, eles não falam sobre elas. Enquanto passo
a maior parte do tempo tentando lembrar qual é o garfo para qual refeição -
principalmente copiando Carina - a noite não é totalmente estressante.

A amiga de Manuel é dentista. Ela fala sobre horas estafantes em que


trabalha quase doze horas sem intervalo. Reclama que a vida dos homens é
bem mais simples. Raul é o contador de Manuel. Ele intervêm dizendo que
lidar com montantes enormes de dinheiro também não é moleza.

Eu tento ser eu mesma, a única coisa que posso ser, enquanto observo
os dois flertarem um com o outro. O assunto muda um pouco, para a época da
faculdade. Não demora muito para que Carina tenha todos nós rindo com as
memórias dos três em Rio Grande. Pelo que entendi ela era a princesinha no
meio de dois ogros.

— Ogros do bem — ela salienta. — Igual ao Shrek.

Ainda assim, o tempo todo, a presença de Manuel é pesada perto de


mim. Quente e tenra, a mão dele está no meu ombro, correndo pelo meu
cabelo, segurando a parte de trás do meu pescoço. Ele me toca com facilidade
e confiança, como se fosse normal aquele toque.

Mas, não era. E o beijo trocado antes me deixa mais ciente disso.
Nunca fui tocada assim por um homem.

Afonso me encontrou no caminho da escola, flertou comigo, e


começamos a namorar em uma semana. Logo, eu contei para ele o que
acontecia em casa, e ele me disse que eu podia ir morar com ele.

Na nossa primeira noite, ele não me preparou. Não que fosse bruto,
mas foi doloroso me tornar mulher de um jeito tão mecânico. Depois, no
resto da nossa vida à dois foi apenas para a satisfação dele. Viver algo assim,
com Manuel, toques carinhosos e beijos de tirar o fôlego, era novidade para
mim...

Eu via isso em novelas, mas nunca pensei que fosse real. Que as mãos
formigassem, que o corpo entrasse em um estado de euforia profunda, que
houvesse uma necessidade que eu não sabia exatamente como explicar, mas
que me fazia tão bem...

Minha mente está girando com o riso de seus amigos, mas meu corpo
está focado em seu cheiro delicioso quando ele se inclina para mim. Quando
sinto seus lábios roçarem meu ouvido para sussurrar algo, pulo em minha
cadeira e fico tensa.

— Você está bem? — Pergunta ele.

Não, não estou. Estou descobrindo um universo novo com você,


Manuel. E isso está me assustando.

Eu empurrei minha cadeira para trás, longe dele, e ambos, Raul e


Carina, estão me dando um olhar estranho. Eu não me incomodo em ver se
alguém na mesa percebeu minha estranha reação.

— Desculpem, acabei de derramar um pouco de vinho no meu vestido.

Obviamente, não havia mancha, mas eu precisava escapar. Estava


nervosa, toda ciente de tudo que o envolve. Tão perto, sensual e cheirando
tão bem.

Eu nunca vou conseguir manter esse plano e deixar que meus


sentimentos fiquem protegidos.
Seu olhar cai para o meu vestido e ele não vê nada. Sobrancelhas franzidas,
seus olhos encontram os meus, e um lado de sua boca se curva em um
sorriso. Ele sabe. Claro que ele sabe.

— Você quer alguma ajuda?

— Não. Eu já volto.

— Não demore. — Ele se inclina, seus lábios tão perto dos meus, e
minha parte, quase implorando-lhe para que esfregasse a boca sobre a minha.
Meu Deus, o que aconteceu comigo? — Eu vou sentir sua falta. — Enquanto
ele fala, ele arrasta as costas de seus dedos pelo meu braço.

Eu tremo, arrepios explodem na minha pele, e não consigo esconder


minha reação a ele.

Esse homem vai me deixar louca.

Ele se ergue, e seus lábios roçam minha bochecha. Apenas uma


sugestão, o mais breve dos toques, mas entre suas mãos, seu cheiro, seus
lábios, suas palavras e o brilho perverso em seus olhos, estou me desfazendo.
Engulo em seco, um nó na garganta dificultando a respiração.
— Um minuto — aviso.

Ele sorri, e é inegável para nós dois o efeito que ele está tendo em mim.

Foco Mathilde. Isso é um negócio, algo para você conseguir dinheiro,


para alcançar seus objetivos e sonhos de vida.

Está tudo misturado com um monte de fingimento, e eu tenho que


lembrar disso.

Eu empurro minha cadeira e vou para o banheiro, onde lavo minhas


mãos mais do que o necessário apenas para parar de sentir tudo que estou
sentindo. Uma rápida olhada no espelho mostra que estou certa. Não é
possível esconder a atração que sinto por ele.
Bochechas coradas, olhos arregalados, o desejo está queimando em todas as
minhas feições.

Preciso aprender a ignorar essas sensações.

Seco as mãos. Eu abro a porta do banheiro e de súbito aparece um


homem.

Sinto meus braços sendo puxados e logo estou encostada a ele. Na


minha mente nublada, acreditei ser Manuel, mas não o era.

Ele não era quente. Ele não despertava nada em mim.

Ele... me usou.

Me usou para conseguir pagar a metade das despesas de sua casa, e


metade das mensalidades do seu curso, enquanto me tinha na cama. Ele se
aproveitou de mim. Se aproveitou do meu desespero em escapar de uma casa
onde era espancada...
Ele...

— Afonso? O que você está fazendo aqui?

Meu sangue gelou e o desejo que eu estava tentando esconder não é


mais uma preocupação.

— Eu? — Ele se inclina e deixa cair as mãos dos meus braços. Logo
segura minhas mãos. — O que você está fazendo aqui? E com Manuel
Fontes?

Meu sangue está bombeando rápido demais, minha mente


cambaleando. Na minha frente está o homem que eu recentemente peguei me
traindo, e enquanto a dor em vê-lo é real e muito vívida, fresca como uma
picada de abelha queimando, eu não posso responder.

Sem palavras, deixei que ele me puxasse de volta para um canto do


banheiro.

— Fale comigo, querida. Eu não queria que tivesse que se...

Ele não continuou. Mas, eu sabia o que era. Ele achou que me tornei
prostituta. Não estava errado, de certa forma.

Eu puxo minha mão da dele.

— O que você está fazendo aqui? — repeti, sem, contudo, responder a


questão dele.

Ele não merece minhas respostas, e eu pisco a imagem que tenho dele,
uma loira debruçada sobre a nossa cama - meu lado da cama, seus braços
agarrados ao meu travesseiro - enquanto ele a penetra por trás.

Droga. Foi realmente apenas uma semana atrás? Eu vejo tudo em um


piscar de olhos como se estivesse acontecendo de novo.

— Bom, estou fazendo bicos de garçom — ele conta. — Preciso pagar


a mensalidade esse mês... está atrasada.

Claro, eu não havia dado a metade que me cabia naquela semana. Ele
teve que se virar.

— Você não respondeu minhas ligações — ele insistiu.

No meu antigo aparelho ninguém me ligava, a não ser ele ou alguma


senhora pedindo faxina. Como agora não precisava mais disso, o desliguei.

— Eu não tenho nada a dizer para você — eu digo, minha voz sem
fôlego.

Até a última sexta-feira, Afonso era a única pessoa da minha vida.


Minha esperança de ter uma família, um lar, filhos... Agora, isso parecia tão
longínquo.

— Você tem que me deixar explicar, Mathilde. Por favor. Eu odeio que
você tenha visto o que viu.

Suas palavras queimam através de mim, fogo dispara dos meus olhos
de uma maneira que eu gostaria que o queimasse.

— Ah, tenho certeza que vê-lo me traindo não é algo que eu também
tenha gostado de ver.

Eu não lhe dou nada além de frieza. Ele perdeu o direito de ter
qualquer outra coisa de mim.
Ele tenta se aproximar.

— Afonso. Por favor, não.


— Não o quê? Pedir desculpas? Implorar? Deixe-me explicar. Nós
podemos trabalhar isso, Mathilde. Eu tenho saudade de você.

Sua mão desliza pelo meu braço, patinando e provocando sobre a


minha carne, e se instala no meu quadril.
Um caroço se aloja na minha garganta, estou muito nervosa. Naquela mais de
uma década que o servi como empregada e amante, eu nunca me neguei a ele.
Não me acostumei a recusar nada a ele.

Se ele queria café, eu o passava. Se ele queria roupas limpas, eu lavava.


Se ele queria assistir o jogo na hora que transmitia minha novela favorita, eu
deixava a televisão à sua disposição. Se ele queria sexo, eu abria minhas
pernas sem reclamar.

Mas, agora, eu sinto... eu sou outra pessoa. E essa pessoa nunca poderá
estar com Afonso novamente. Não porque ele é mentiroso e trapaceiro, mas
porque essa pessoa quer mais da vida do que ser uma serva de um homem.

— Se afaste, por favor — eu digo, empurrando-o para colocar espaço


entre nós.

— Diga que você me deixará explicar.

Eu abro minha boca para falar quando outra voz corta o ar.

— Eu vou ter que pedir para você tirar as mãos da minha garota.

Manuel.

Eu empurro Afonso novamente, tentando evitar que os dois entrem em


atrito. Não sou esse tipo de mulher, não quero homens discutindo como se eu
fosse um objeto.
— Sua garota? Engraçado. Tenho certeza que ela é minha.

Manuel se encolhe e estende a mão para mim. Eu a tomo sem hesitação


e deixo ele me puxar para o lado dele.

— Isso é verdade? — ele me questiona.

Seu olhar corta para mim e, sob sua raiva, outras emoções estão
girando em seus olhos, mas a mais óbvia é a dúvida.

— Não — eu sussurro, mais para seus ouvidos do que para Afonso. —


Você sabe a história inteira.

— Oh! — Só então ele parece se lembrar. Há piedade em seu olhar. —


Que tal sairmos daqui?

— Sair? — Afonso o interrompe. — Mathilde, você não vê que esse


cara vai usar você e depois se desfazer assim que se cansar. Você pode jogar
mais de dez anos juntos no lixo por causa de um caso com um riquinho que te
vê como um objeto para degustação.

Manuel pareceu mais irritado. Ele deu um passo na direção de Afonso,


mas eu o contive.

— Ela trabalhou duro para você durante anos, e um dia chega em casa
depois de ser demitida e o encontra enrabando outra pessoa na cama dela.
Tenho certeza que é toda a explicação que ela precisa. — A memória me
atinge novamente, fazendo meu estômago revirar. — Agora ela encontrou
outra pessoa. Você perdeu.

— Por favor — puxo o braço de Manuel. Mil pedaços de vidro se


alinham em minha garganta, tornando as palavras difíceis. — Tire-me daqui.
— Aproveite a sua noite — ele diz para Afonso.

— Ele a fará sofrer, Mathilde.

As palavras finais de Afonso rebatem na minha mente, enquanto eu me


afasto, braços dados com Manuel.

Oh, Afonso... eu sei que eu irei sofrer. Não sou tola, como você
imagina.

Já sei que vou acabar sozinha depois de tudo, mas pelo menos eu
finalmente vou conseguir realizar alguns dos meus sonhos e ter algum
dinheiro.
E isso será o suficiente.
Capítulo Doze
Manuel

ão me despeço de ninguém.

N Puxo Mathilde para fora da


casa dos meus pais, ouvindo o
som ritmado do seus saltos
batendo contra a cerâmica da calçada. O som ecoa na minha cabeça como
uma bomba-relógio. O que faz sentido. É exatamente o que parece estar
prestes a explodir dentro do meu peito.

Ódio? Fúria quente fervendo em mim? Aquela sensação é


completamente desconhecida. Jamais experimentei tamanha raiva, ciúmes, e
formigamento.

Eu nunca lutei por uma garota. Eu nunca me importei o suficiente.


Nunca quis tanto alguém. Quando eu fui ao banheiro procurar por Mathilde
porque ela estava demorando, não esperei ver outro homem tão perto dela.
Agora sinto que tudo isso vai explodir e eu vou ficar parecendo um idiota.

Eu nem sei como dei a ela o poder de me deixar assim, mas odeio isso.

Mathilde devia ser apenas um meio para que eu chegasse a um


determinado fim. Em vez disso, ela está se tornando muito mais, e nada disso
faz um maldito sentido.

— Devagar — ela pede, tentando puxar a mão da minha. — Por favor,


Manuel.

Ela puxa a mão completamente, e eu paro.

Cacete! Meus pulmões estão queimando!

Ela tem alguma ideia do que faz comigo? Quão insano eu me senti
quando a vi com aquele outro?

Ela não sabe.

Aquele beijo que compartilhamos acendeu um fusível e é tarde demais


para apagá-lo. Tocando-a durante todo o jantar, minha mão em seu ombro, a
sedosidade de seu cabelo, eu senti meu corpo pegando fogo. E por um breve
momento eu acreditei que talvez aqueles três anos se tornassem reais.

Não a esposa que comprei.

Uma esposa real.

Mas vê-la com aquele cara fez-me cegar. Agora estou chateado.

— Eu não tinha ideia de que ele estaria aqui — diz Mathilde. Ela está
sem fôlego, ofegante e novamente eu sou um idiota. Não há motivo para
levá-la para fora daquele jeito.
— Eu sei. — Meu queixo dói por ranger os dentes. — Aposto que você
não sabia que ele estava fazendo bicos de garçom por aí. – A ironia me toma.

— Ele nunca precisou fazer antes, porque eu dava praticamente tudo


que ganhava para ele.

Nossa, eu sabia. Ela havia me dito antes como foi usada por um cara
que devia mantê-la. E isso estava errado. Um homem de verdade jamais devia
usar o dinheiro de uma mulher. Não daquela forma. Não é machismo, é
simplesmente a constatação que um casal deve se ajudar mutuamente, não
um explorar o outro.

— Machucou?

Uma linha aparece entre os olhos e ela inclina a cabeça para o lado.

— O quê?

— Doeu? Doeu vê-lo? Te machuca saber que está arrependido e a quer


de volta?

— Ele foi o único homem que já tive. É claro que ver tudo isso doeu.

Claro.

Eu solto a mão dela e pego meu telefone, mandando uma mensagem


para o motorista trazer o carro. Ela anda ao meu lado e toca meu antebraço.
Eu me afasto.

Foda-se!

É só um acordo de negócios.

— Você acha que eu vou voltar para ele? Porque ele me prendeu do
lado de fora do banheiro e se desculpou?

— Não vai? — retruco. — Eu não sei nada sobre você, Mathilde. —


Eu deslizo meu celular no bolso do casaco e cruzo os braços sobre o peito,
olhando para a noite escura. — Mas você precisa ser mais cuidadosa. Uma
foto sua vista com outro homem pode colocar todos os meus planos em risco.

O carro estaciona e o motorista sai. Assim que a porta é aberta,


Mathilde avança, olhando para mim.

— Obrigada por ser um imbecil ainda maior do que Afonso. Me ajuda


a lembrar que, quando você é legal, é um grande ato que você está fazendo.
Lembra-me do nosso acordo e do meu lugar na sua vida.

Ela entra no carro, desaparecendo, e eu fico na calçada por um tempo.

Merda...

***

Quando a porta do apartamento se abre, percebo Mathilde indo direto


em direção as bebidas. Ela pega um copo, enchendo de gelo antes de
derramar tequila dentro.

— Mathilde.

Um dedo se ergue, em riste.

— Eu não preciso de desculpas. Eu já ouvi o suficiente.

— Apenas me deixe...
— O quê? Explicar? Deixe que eu explico algo para você. Sim, eu já
fui usada e abusada de várias maneiras pelos homens que conviveram
comigo. Meu pai e Afonso. Ambos me machucaram. Mas, não estou abrindo
espaço para você fazer o mesmo. Eu não sou uma vadia, não sou uma
prostituta. Eu estava desesperada sim quando aceitei esse acordo, mas não
estou autorizando você a me ferir de forma alguma. Se isso não está bom para
você, encerramos aqui.

Solto a gravata no meu pescoço. Dou a ela o silêncio que ela quer,
sabendo ser incapaz de consertar a forma como a tratei.

— Você está certa — digo, por fim. — Mas, apenas... você o amava?

Seu primeiro copo é esvaziado e recarregado e ela gira em torno de um


círculo. Suas bochechas e a ponta do nariz já estão rosadas, mostrando que o
álcool está atingindo seu sistema.

— Afonso era a única coisa que eu tinha. Talvez eu o amasse.

Sua voz é triste. Lágrimas se acumulam em seus olhos e ela sacode a


cabeça.

Sim, ela está ficando bêbada. Se ela não estivesse, de jeito nenhum ela
estaria divagando comigo.

Aproximo-me. Sento ao seu lado, e encho outro copo com tequila.


Bebo um gole.

— Você nunca menciona seus pais — digo para mudar de assunto.

— Eles estão mortos para mim, Manuel. — Ela toma outro gole de
tequila.
— Mathilde...

— Eu sei o que você está pensando. Eu sou muito idiota, não é?

— Você não é idiota, Mathilde. — Eu estou ao lado dela, mas ela não
olha para mim. — Lutar para construir um relacionamento não a faz idiota e
sim corajosa. Alguém disposto a arriscar o próprio coração para ter uma
família.

Ela ri baixinho. Apenas um sussurro de um som e então balança a


cabeça. O movimento faz seu cabelo cair, escondendo seu rosto de mim.

De repente ela me encara. Aqueles lindos e grandes olhos pareciam


querer transmitir o mundo.

Oh, cara... Eu estou tão ferrado.

— Quando digo que sou idiota, não estou falando sobre Afonso. Eu
não pensava nele. Na verdade, estava pensando em você. — admite.

Minha mão vai até seu queixo e eu inclino sua face para que seu rosto
fique mais claro para mim. Sim, ela está tão bêbada, com lábios entreabertos,
que seria uma covardia me aproveitar disso.

— Eu estava pensando sobre o nosso beijo e o quanto eu queria mais.

Meu cérebro grita que isso é um erro. Não importa.

— Manuel — ela sussurra.

Eu quero beijá-la. Cuidar dela. De seu corpo e de seu coração. Mostrar


a ela que eu não sou o idiota que eu tenho demonstrado. E, por fim, apagar
qualquer réstia de outra pessoa em sua vida.
Só nós dois... o Universo todo apenas para nós...

— Eu vou beijar você — sussurro.

Minha mão desliza para o lado de sua garganta. Seu pulso é selvagem,
flutuando contra a palma da minha mão.

Seus lábios se separam.

Eu me inclino mais perto, mas então ela se mexe rapidamente.

Seus olhos piscam e ela fica tão azul quanto seu vestido.

— Eu acho que vou vomitar.

E ela vomita. Em mim.


Capítulo Treze
Mathilde

ão três horas. O grande relógio de

certeza.
S parede, vislumbrado por um
relance de luz que entra pela
cortina entreaberta, me dá essa

Três horas. O quarto está escuro e minha cabeça latejando, uma


consequência de muita tequila, pouca comida, muita emoção podre que
tomou conta de mim.

Meu corpo está gritando por água.

— Você está bem? — A voz de Manuel é baixa e rouca. Eu me volto


para ele e seus olhos ainda estão fechados.
Ele está deitado ao meu lado. Ainda de terno. Parece exausto.

— Preciso de água. — respondo, minha garganta seca.

— Há algumas garrafas de água mineral sobre a mesa.

Giro e percebo três garrafas no criado-mudo. Eu pego a primeira, e


engulo tudo. Não é suficiente, mas não tenho como sair desta cama.
Eu mal me lembro de nada depois que vomitei. Nada, exceto mãos quentes
nas minhas costas, um pano frio na minha testa. Manuel murmurando que
estava tudo bem. Desculpas entre a minha ânsia de vomitar.

Então, nada.

Deitei-me na cama, enrolando-me nas cobertas e colocando espaço


entre nós.

Antes de começar a cuidar de mim, ele ia me beijar. Queria me beijar.


Que vergonha... que vergonha! Aquele homem lindo iria me beijar e eu
vomitei nele.

Uma vez que me deito na cama, a mão dele percorre o comprimento do


meu lado.

— Volte a dormir. Você vai se sentir melhor amanhã.

Eu duvido muito. Eu cruzei algumas fronteiras nessa relação que não


considerava ser possível.

Mas isso não importa, porque quando eu acordo de novo, um copo de


água e analgésicos ao lado estão me dizendo que não há mais um corpo ao
meu lado e não há consequências para encarar.

E depois de uma pesquisa rápida, eu percebo que Manuel não está aqui.
Na última semana desde que me mudei para o condomínio de Manuel, não é
incomum que ele saia antes de eu acordar. Mas o café é geralmente quente e
fresco e há sempre uma nota ou um texto dele me avisando quando ele vai
estar em casa.

Para ele me deixar sem uma única palavra a situação é preocupante.

Eu ainda estou grogue, minha cabeça latejando, quando chego à


cozinha, celular e carregador na mão. A bateria morreu, então eu a conecto na
tomada da cozinha e pego uma xícara de café em um dos armários de vidro.

O café está frio e eu coloco minha caneca cheia no micro-ondas.

Meu telefone está ligando, ainda carregando, mas meia dúzia de


zumbidos de mensagem de texto soam.
O nome de Carina aparece e eu gemo, puxando a xícara do micro-ondas e
bebendo tudo quase num único gole.

Quente...

É bem seguro dizer que a noite passada foi um desastre de proporções


épicas. Infelizmente, lembro de tudo. Ver Afonso me desestabilizou. A virada
abrupta das emoções de Manuel. O beijo, os toques no jantar que me fizeram
querer me apoiar, ser a mulher que eu só estou fingindo ser para ele.

E o quase beijo antes de vomitar em cima dele.

A vergonha me enche e eu a sufoco com café desagradável para lavar o


gosto vil das lembranças.

Que embaraçoso.

No entanto, ele dormiu comigo. Ele me confortou quando ele poderia


ter me deixado e ido para sua própria cama, especialmente quando eu acordei
e lhe assegurei que estava bem.

Ele cuidou de mim essa manhã antes de desaparecer, deixando


analgésicos e mais água sabendo que eu precisaria.

Nada disso faz sentido. Ele está gentil em um minuto, gelado no outro.
Ele pula de brincalhão para tenso rápido o suficiente para me dar uma
chicotada.

É um lembrete gritante de que, embora tenhamos passado uma semana


juntos, sabemos muito pouco um do outro, e antes de podermos levar essa
história longe demais, antes de podermos passar do ponto sem retorno onde
estou me comprometendo com ele legalmente por três anos, preciso saber
tudo o que puder sobre ele.

E eu conheço apenas uma pessoa para me dar todas as respostas

***

Depois de retornar a mensagem de texto de Carina, concordamos em


nos encontrar num antigo bar perto da fábrica, onde antigamente era um
ponto do tráfico, mas agora estava reformulado em uma confortável
lanchonete. É uma curta caminhada do edifício de Manuel.

Eu vejo Carina quase imediatamente, sentada em uma grande mesa


semiprivada perto do canto de trás do bar. Ela está em um sofá cinza de
costas que parece tão confortável e quente quanto o sofá lilás que fica na
entrada. Estou imediatamente apaixonada por este lugar. Aquilo me arrepia.
Sei que uma jovem estudante também se apaixonou por ele, e acabou morta.
Aquele ambiente é pesado, apesar de perfeito.
— Oi — cumprimento Carina quando chego à mesa para a qual ela me
acena. Eu jogo minha bolsa no sofá e estou envolvida em seus braços para
um breve abraço.

— Obrigada por me ligar hoje. Eu estava preocupada em ter te


assustado na noite passada. Raul diz que, às vezes, eu parto para cima das
pessoas com tudo que tenho.

Ela parte. Eu acho que gosto disso. Carina parece ser o tipo de pessoa
que deixa tudo sair e não tem nada a esconder. Meu tipo de pessoa.

— Não se preocupe. Como você está?

Eu deslizo para o sofá, tendo uma visão que me esconde de todo o


restaurante.

Ela sacode seu cabelo ondulado do ombro e toma um gole de chopp.

— Eu estou bem. E você?

Um garçom bonito se aproxima para fazer nosso pedido. Eu peço fritas


com refrigerante, e Carina mais um copo de chopp. Antes do garçom sair,
percebo uma piscadela entre eles.

— O que foi isso?

Ela ri baixinho.

— Bom, digamos que eu gosto de ter opções — ela dá os ombros e eu


rio.

Ter opções nunca fez parte da minha vida.

— Bom, mas focando no assunto que me trouxe aqui — Carina


pigarreou —, vamos falar sobre você e Manuel, e o no quanto estou
morrendo de vontade de saber quando será o casamento.

Ela fala sobre casamento como se estivesse falando sobre o tempo.

— O quê?

— Oh, por favor. Raul me contou tudo sobre o testamento de Regina e


a cláusula para Manuel ter a herança. Se você acha que levou mais de meio
segundo para descobrirmos exatamente por que você está com Manuel, ele
não nos conhece tão bem quanto nós o conhecemos.

Seu sorriso ainda é gentil, mas estou congelada. Eu alcanço minha


bolsa, querendo meu celular. Manuel é quem não quis contar para seus
amigos. No entanto, ele está fazendo um ótimo trabalho em me evitar hoje,
ou pelo menos é o que parece.

— Você pode respirar — diz Carina, rindo levemente. — Eu não vou


brigar com você nem nada. Estou apenas curiosa sobre esse negócio. E se
meu vestido precisa ser apropriado para um casamento interno ou externo.
Tarde? Noite? Inverno? Verão? Me dê os detalhes.

As pontas dos meus dedos estão batendo involuntariamente da mesa de


madeira. Um nó bloqueia minha garganta, dificultando a conversa. Manuel
deveria saber que seus amigos descobririam isso. Porque ele não queria dizer
a eles e ser honesto sobre isso me confunde. A menos que ele não tenha
certeza de que quer continuar com isso... E quem poderia culpá-lo?

— Estamos tentando cuidar dele, Mathilde — Carina prossegue. Seus


vibrantes olhos suavizaram e sua voz está calma, como se ela estivesse com
medo de me assustar. — Nós o amamos e nós realmente não o vimos lidar
com a morte de Regina. Tudo aconteceu tão rápido e agora, de repente, você
está aqui. Eu gosto de você, não me entenda mal...

— Mas você quer ter certeza de que sou boa o suficiente para ele? Eu
entendo. Eu realmente entendo. Ele tem bons amigos que o protegem. — O
garçom chega com a porção de batatas.

Eu mordo uma, quente, enquanto pareço buscar as palavras.

— Eu não sou uma prostituta nem uma aproveitadora. Eu só... as coisas


aconteceram...

Ela pisca rapidamente, como se a ideia nunca lhe ocorresse, e então ela
joga a cabeça para trás e ri. É uma risada suave, doce e mágica. Eu olho para
ela.

— Querida, eu posso ver uma cadela faminta por dinheiro a


quilômetros. Eu vim da periferia e me tornei dentista dos ricaços. Então, não
se preocupe. Eu não penso isso de você. Mesmo assim, quero que me
explique a situação.

Respiro fundo.

— Eu acho que você deveria falar com Manuel.

— Eu poderia. Mas eu quero a verdade, e ele é o rei da enrolação, um


manipulador de mão cheia. Isso vem de família. Você, por outro lado, é
honesta e direta.

Eu olho em volta do restaurante, mas não há ninguém perto de nós para


ouvir qualquer coisa.

— Ok. Mas você não pode dizer a Raul. Pelo menos deixe Manuel
fazer isso, e você não pode dizer nada a ele até que eu diga a ele que te
contei. Combinado?

Ela concordou. Assim, conto tudo a ela. Desde a manhã, há pouco mais
de uma semana, que agora parece há tanto tempo. Ela faz perguntas, mas
principalmente me dá tempo para conversar, parando apenas quando outra
caneca de chopp é trazida.
Foi ficando mais fácil respirar depois de contar tudo a ela. Eu não havia
percebido que mentir se tornou um fardo pesado. É bom ter alguém para
conversar. Alguém que conhece Manuel tão bem, alguém que possa
responder minhas perguntas.

No momento em que termino, Carina está tomando a bebida número


três, dando uma risadinha boba e nossos pratos de aperitivos terminaram.

— E ele sumiu hoje?

— Pois é.

— Então vá encontrá-lo.

— Eu não o conheço, Carina. Não é como se eu soubesse onde ele se


esconde.

— Por favor. — Ela revira os olhos. — Você sabe exatamente onde ele
está e aposto que, se você pensar o suficiente, sabe o que ele está fazendo.
Minha sugestão: se você quiser conhecer Manuel, encontre-o e descubra
quem ele realmente é.

A mansão nas montanhas da serra. Sim, é lá que ele está.

— O que ele estaria fazendo lá?

— Não há outra mulher — ela me garante, mesmo que eu não tenha


pensado nisso. — Você não precisa se preocupar com isso. Manuel é muito
diferente de Afonso, pelo que me disse.

— E o que ele faria na mansão agora?

— Não vou te falar. Esse é o negócio dele, literalmente. Mas eu sugiro


que se ele ainda não estiver na cobertura quando você chegar em casa, você
deve ir até à mansão e encontrá-lo. Eu acho que você ficará surpresa. Não
tenho certeza se vocês são tão diferentes quanto você acha que pode ser.

Ela deixa uma nota sobre a mesa, e se levanta.

— Vamos. Topa compartilhar um táxi?

Enquanto ela se afastava da mesa, percebi que ela era minha amiga. A
primeira da minha vida. Muitas novas emoções estava vivendo por causa de
Manuel.
Capítulo Quatorze
Manuel

u enviei várias mensagens de

E texto para Mathilde. Sem


resposta.

Agora estou andando de


um lado para o outro na minha sala de estar, enquanto olho para o meu
celular.

De manhã, sai sorrateiramente da cama de Mathilde para ir até a casa


de Regina. Eu tive que sair do apartamento para ficar longe de Mathilde e sua
doçura e vulnerabilidade.

Estou aprendendo rapidamente que ela pode ser, novamente, a mulher


que tomará conta dos meus pensamentos. Sua inocência e bondade, sua forma
de agir como se fosse completamente aberta, sem segredos... Tudo é tão
drasticamente diferente do mundo em que fui criado. Quando estou perto dela
me sinto inferior, como se não fosse digno da mulher que ela é.

Especialmente depois da noite passada... Agora ela tem ignorado


minhas ligações e textos pelas últimas três horas, desde que deixei a Mansão.

Como de costume, eu me perdi no meu trabalho. Eu não vi o texto dela


até que entrei no meu carro para voltar para Esperança. Eu nem pensei que
ela estaria procurando por mim.

Mas quando cheguei em casa e ela não estava, sem uma nota ou uma
palavra, fiquei cada vez mais preocupado.

Em pânico.

Apavorado.

Ela me deixou?

Foi embora porque eu tentei beijá-la mesmo sabendo-a sem condições?

Eu a deixei tão nervosa que ela ficou muito bêbada ao ponto de


vomitar.
Talvez eu não seja tão diferente do meu pai. Um aproveitador...

Pressiono o botão de chamada, e antes de ouvir um toque, o barulho da


porta abrindo me faz desligar.

Ela está aqui.

Na minha casa.
Ela voltou.

Por que uma forte e rápida respiração me escapa com o quanto estou
aliviado?

— Você está aqui. Onde você esteve? Eu tenho ligado e enviado


mensagens de texto. Você me preocupou.

Ela está encostada na porta que acabou de fechar.

— Eu estava com Carina. — Sua voz é suave, hesitante. Uma pequena


onda de aviso passa por mim enquanto ela estreita os olhos. — Eu teria dito
se achasse que você se importava.

Ela sai andando pelo corredor, rapidamente, como se quisesse me


evitar a todo custo. Seguro seu braço quando ela cruza por mim.

— Por que você acha que eu não me importo?

Mathilde olha para minha mão e puxa. Eu a deixo ir, mesmo não
desejando isso.

Céus, o que está acontecendo comigo? Dormir com ela na noite


passada, mesmo que estivéssemos vestidos e ela estivesse bêbada, foi a
melhor noite da minha vida. Além de acordar durante a noite para ter certeza
de que ela estava bem, fui inundado com a sensação de seu corpo
perfeitamente alinhado com o meu e a sedosidade de seu cabelo no meu peito
quando ela rolou para perto de mim.

Maldito inferno. Eu tenho que encontrar uma maneira de estar com


essa garota e não querer desejá-la com tanta intensidade. Vou acabar
colocando tudo a perder por conta dos meus impulsos sexuais.
— Onde você estava o dia todo? — Ela indaga. Seu tom é acusatório.
E algo mais.

É então que vejo a mágoa em seus olhos, algo que está tentando
esconder.

Eu esfrego meu queixo. Eu já tomei banho, mas o cheiro da tinta com


que trabalhei na Mansão ainda estão em mim.

— Na Mansão de Regina. Eu pensei que voltaria mais cedo essa tarde.


Sinto muito, Mathilde. Não sabia que você estaria preocupada.

— Eu não estava preocupada.

— Não?

— Não. Eu estava envergonhada. E eu pensei que você tivesse ido


embora porque não sabia como lidar com a situação que eu provoquei ontem
a noite.

Uma risada suave me escapa.

— Lidar? Você não tem nada para se envergonhar. Todo mundo enche
a cara, às vezes.

Ela balança a cabeça lentamente, suas bochechas perdendo sua


tonalidade ligeiramente rosada, e ela esfrega os dedos sobre os lábios.

Eu quero ser esses dedos... O desejo de beijá-la me atinge com força e


rapidez, mas também quero mais. Eu a quero debaixo de mim, sua pele macia
roçando a minha, seus olhos grandes fitados nos meus enquanto eu a levo ao
clímax. Droga. Essa mulher é linda.
Não consigo me controlar.
Eu a alcanço e, desta vez, ela me deixa puxá-la para perto.

— Sobre Carina — ela começa, e meus ombros ficam tensos.

— O que tem Carina? — Eu solto a mão de seu braço, liberando-a.

Ela fica tensa novamente e recua, esfregando o braço onde minha mão
estava. Não evito um sorriso. Ela não parece perceber que ela está
acariciando suavemente onde eu estava apenas tocando.

— Nós lanchamos juntas. — Prossegue. — E eu contei tudo a ela. A


verdade sobre nós.

— Que verdade?

Suas sobrancelhas franzem.

— Sobre o contrato e tudo mais. Eu não pretendia, mas ela sabia; ela
disse que ela e Raul já sabiam. Eu disse a ela para falar com você, mas bem,
Carina é meio que...

Respirei fundo.

— Bom. Raul me mandou uma mensagem enigmática hoje de manhã.


Agora entendo. Enfim, a boa notícia é que eles gostam de você.

Seus lábios pressionam. Lábios cor-de-rosa exuberantes.

Deus!

Preciso transar. Com ela. Bater meu pau todas as manhãs não está
fazendo nada para apagar a luxúria que me atinge toda vez que estamos tão
perto.

— A boa notícia? E a má notícia? – ela indaga.


Especificamente, as palavras de Raul foram: “Eu me recordo de você
ser caidinho por ela na adolescência. O que você não sabe é que eu também
era. Então, se isso tudo for um jogo e você não está mais a fim, eu vou cair
dentro...”

— Não há má notícia.

— OK. Bom, porque achei que você ficaria chateado.

— Não havia sentido em tentar esconder deles. Meus amigos são


minha vida, as únicas pessoas que me restaram que dão a mínima.

Pressiono meus dedos nos meus olhos, apertando-os para liberar a


tensão. A Mansão estava muito quieta nessa manhã; desprovido da
companhia de Regina enquanto eu trabalhava no celeiro... Tudo pareceu
silencioso e triste.

Eu não havia reparado que a falta de Regina também me trouxe a falta


de sons na Mansão. Eu jamais poderia criar num ambiente assim. Eu não
percebi que era tão solitário até aquele momento.

— Manuel...

A voz de Mathilde é suave e abro os olhos. Ela está mais perto agora.
Muito perto. Há muito em mim que precisa ser liberado, ou empurrado para
baixo do tapete. Eu recuo, colocando espaço que não quero entre nós.

— Tudo bem. — Eu aceno minha mão e me viro.

Ando até a cozinha e pego uma garrafa de água na geladeira. Mathilde


me segue, sua expressão preocupada é tão óbvia quanto a água na minha mão
é fria.
— Eu estou bem, Mathilde. Só estou sentindo a falta de Regina.

— Você estava na Mansão, não? O que você estava fazendo lá, afinal?

— Ah. — Poucas pessoas sabem. Apenas Raul e Carina, que eu confio,


sabem. E não é uma coisa de orgulho, também é por precaução. Papai ficaria
chateado, não que eu me importasse com ele ou com suas opiniões, mas se
ele soubesse o que eu estava fazendo, ele encontraria uma maneira de
encerrar isso. Eu não quero que esse negócio se espalhe, porque é mais que
um hobby. Alimenta algo quente em mim, me inflama de uma maneira que as
teclas de um computador no trabalho e a elaboração de planos de negócios
nunca farão. — Trabalhando.

— Na Mansão? Achei que seu trabalho era na fábrica... Você é


acionista, não?

— Não é esse tipo de trabalho.

As sobrancelhas de Mathilde se arqueiam, um olhar interrogativo em


seu rosto e, quando eu penso que ela vai perguntar, ela vai até a geladeira e
começa a vasculhar, tirando uma tigela de cenouras e brócolis recém-cortado.
Cada um dos seus movimentos me assusta. Estou acostumado a todo mundo
cutucando e questionando minha vida, como se eu não devesse privacidade
simplesmente porque nasci em uma família rica e proeminente.
Mathilde tem uma tendência a fazer o oposto.

Irônico.

Todas as mulheres com quem já estive tentaram descobrir tudo sobre


mim. Todavia, a que eu realmente quero, não parece dar a mínima.

— Você não vai perguntar?


Ela mastiga um pedaço de brócolis.

— Não é da minha conta.

Sua indiferença me incomoda.

— Nós vamos nos casar, Mathilde. Você não acha que é da sua conta
saber o que seu futuro marido está fazendo e onde ele está?

Ela tem uma pequena cenoura a meio caminho da boca e congela,


olhando para mim através de seus cílios escuros.

— É diferente para nós.

— É realmente isso o que pensa?

Um rubor aquece sua bochecha. E quando ela se inclina, vejo uma


sugestão de um sutiã colorido por baixo de sua blusa.

CARALHO!

Quero tirar a roupa dela, jogá-la no balcão e fodê-la até que esteja
gritando, e ela está casualmente mastigando legumes frescos.

Como vou aguentar isso?

— Mathilde — digo, minha voz mais forte. — Você está me dizendo


que não se importa com o que eu faço? Onde eu vou? Com quem eu estou?

Sua mandíbula aperta e seus ombros se contraem. Ela morde a cenoura,


mastigando-a como se fosse dura como metal.

— O que você quer que eu diga?

— Eu quero que você me pergunte. Eu quero que você seja curiosa. Eu


quero que você se preocupe comigo.

A realidade bate em mim, fazendo meu peito queimar.

Eu realmente disse isso?

Céus, eis a verdade: quero que ela se interesse porque quero que ela se
importe. Quero que me queira.

— OK. Então, que tipo de trabalho você faz na Mansão?

— Sabe o quadro grande que havia no seu quarto? Da mulher de


cabelos ruivos?

— Hum — ela murmurou. — Havia algo escrito lá... Deusa Masha.

— Sim. Eu o pintei. Eu sou artista plástico em segredo. Não é algo que


a família Fontes deseje que se espalhe. Somos tradicionais.

Ela congela, um olhar suave passa por suas feições, e seu olhar se
move para a minha sala antes de lentamente voltar para mim.

— Você... é um pintor?

Aquela voz... Surpresa? Encantada? Por que a aprovação dela significa


tanto para mim?

— Sou mais que um executivo que destrói o mundo com a fabricação


de cigarros.

— Não faça isso — Mathilde aponta, sacudindo a cabeça. — Não fale


sobre você como se não fosse importante. Você me ajudou, me deu um lugar
para ficar quando eu precisei e você tem bons amigos que se preocupam com
você. Além disso, Carina me disse que você a ajudou muito no começo da
carreira.

— É fácil ajudar as pessoas quando você tem dinheiro.

— Talvez.

Ela dá um passo à frente, pequeno passo hesitante, e uma cor rosa se


espalha de suas bochechas pelo seu pescoço. Deus, ela é bonita. Se meu
plano era encontrar uma garota normal para se casar, falhei enormemente.
Não há nada de normal em Mathilde.

Sua mão pressiona contra o meu peito, um vislumbre de um toque, e


antes que ela possa puxar para trás, eu aperto sua mão e a seguro contra o
meu peito.

— Mathilde...

— Pode ser fácil ajudar as pessoas se você tiver dinheiro, Manuel, mas
você também precisa ter um coração para fazer isso.

A sensação da mão dela queima meu peito como um ferro em brasa e


eu quero isso.

Me marque, Mathilde. Me marque com a sua carne.

Talvez se eu segurar a mão dela para sempre, ela aceitará ficar comigo
assim. Um gemido se acumula na minha garganta, a tensão entre nós
crepitando, se espalhando, girando ao nosso redor, nos unindo, e eu não
posso evitar.
Ela é tudo em que eu tenho pensado. E, mesmo quando não pensei nela, ainda
assim estava centrado nela. É tão óbvio, agora...

Eu não quero pensar em contratos e fingir. Eu quero realmente ter tudo


aquilo que podemos ter.

— Posso ver?

Sua pergunta me confunde.

— Ver o quê?

— Sua arte — Ela sorri, e está brilhando. A hesitação desapareceu e há


apenas emoção refletindo de volta para mim. — Eu quero que você a mostre
para mim.

Pela primeira vez na vida eu estou confiante e sem vergonha de tudo


que fiz. Quero que ela veja, especialmente o último quadro, em tom forte, que
está focado nela.

— Vá arrumar uma mala — eu digo, minha voz rouca. — Nós vamos


voltar para a Mansão.

— Essa noite? Mas, amanhã temos um almoço com sua mãe, e temos
que acertar o noivado.

Deus! De volta aos negócios.


Eu quero evitá-lo pelo maior tempo possível. E, no momento, tudo que eu
quero é estar perto dela.

— Remarcaremos. — Eu me inclino para frente, incapaz de me conter,


e pressiono meus lábios contra sua testa, inalando seu doce perfume.

Quero minhas mãos nessa garota.

Ela se afasta, sem fôlego, suas mãos saindo do meu corpo como se
fosse a última coisa que ela queira fazer.
***

— Você é incrivelmente talentoso. — A voz dela está sufocada pela


emoção.

Eu continuo vagando pelo celeiro, envolvido por quadros que pintei de


momentos que pareceram se perder no tempo.

Está ali, em cada detalhe, meu tributo ao universo. Alguns adoram a


Deus em templos, outros em oração. Eu o adoro pintando sua obra,
destacando cada pedaço da beleza da criação em detalhes artísticos.

— Tudo é tão lindo. Eu não posso acreditar que você fez tudo isso.
Como você começou?

— Eu não sei explicar. Regina, certa vez na infância, me deu tintas e


papel. O resto parece uma história que se perdeu no tempo.

— Ela nunca se casou?

A pergunta pareceu estranha. Balancei a cabeça lentamente, o olhar


vagando pela vasta sala de trabalho no celeiro.

— Ela era uma alma indomável, mas não solitária. Ela é o tipo de
pessoa que conseguia viver com sua própria companhia, e isso não é ruim. Eu
a invejava. Eu precisava dos meus pais, mesmo quando eles demonstravam
que não me queriam por perto.

Os olhos dela brilham, emocionados.

— Você pensa em algum dia viver da sua arte?

— Quando eu era jovem... — ri. — Sabe, o negócio de ir vender


miçangas na praia? Pois é... Mas, a realidade é que a fábrica exige mais do
que aparenta. E trabalhar com os quadros parece apenas um sonho distante.

De repente, ela se vira para mim, sua mão segurando minha bochecha e
eu congelo.

Nenhuma mulher nunca me deixou assim, tão aberto. Meu queixo


treme. Eu acabei de confessar que gostaria de uma vida simples? Que
esperava por um sonho? Nunca disse isso a ninguém, nem mesmo a Regina.

Seu sorriso é suave, focado nas minhas bochechas e há lágrimas


escorrendo pelo seu rosto.

— Mathilde?

— Você é jovem — ela afirmou. — E tem talento o suficiente para


viver de sua arte, dos seus sonhos. Você não precisa da fábrica, você não tem
que provar nada a ninguém.

Estou chocado com a sua honestidade ou com a emoção na sua voz,


não sei. Mas tudo ao nosso redor congela. O ar fresco do grande celeiro se
agita. A tensão crepita, eletrificando minha carne onde ela está tocando, e
antes que eu possa pensar, antes que eu possa me mover ou fazer a coisa certa
- a coisa mais esperta – que é dar o fora daqui, longe dela e de seu toque e
suas fantásticas ilusões sobre uma vida perfeita, Mathilde me puxa, sela sua
boca na minha e o mundo para de girar por alguns segundos.

Agarro sua cintura e a trago para mim. Meu corpo contra ela demonstra
que esse beijo é muito mais do que o que nós compartilhamos na outra noite.

É um beijo de amor.

Ele tem gosto creme dental de hortelã. Tão absolutamente esplêndida.


Seu cheiro invade meus sentidos e estou perdido na sensação de suas mãos no
meu pescoço e nas minhas costas, me segurando contra ela.

— Manuel — ouço o suspiro, recuando apenas para recuperar o fôlego.

Minhas mãos se movem para a sua cintura. Levanto-a, coloca-a na


mesa, em seguida, sua boca está de volta na minha, seus joelhos se
espalhando até que empurro seu corpo contra o meu, minha dureza moendo
contra o seu centro.

Suas mãos cavam em minha camisa, puxando-a do cós da calça jeans e


deslizando por baixo do tecido fino e macio até eu encontrar a carne quente e
musculosa.

Eu engulo seu grunhido satisfeito.


Estou queimando, torcendo e me desfazendo, e não consigo me impedir de
balançar descaradamente contra ela. Mostrando a ela minha necessidade.

Minha mão cai da sua cintura para o cós da sua calça, e a frieza do
tecido, o calor de sua carne, são uma contradição que me leva à loucura.
Estou ofegante. Minha mão sobe passa sobre seu sutiã, meu polegar
dançando sobre o seu mamilo endurecido.

— Por favor, Manuel.

Eu preciso de mais. Preciso que ela me faça vir, me liberte num espiral
de prazer que cresce rapidamente.

Sinto sua mão deslizar para minha frente e ela segura minha dura
ereção. A protuberância é óbvia, pressionando firmemente contra sua coxa.
Ela corre sua mão, pressionando e se movendo para o zíper da calça jeans, a
fim de libertá-lo da mesma forma que eu quero fazer com seu sutiã.

De repente, abro meus olhos e pego seu olhar. Então, eu paro.


Dois passos para trás. Deslizo a mão pelo meu cabelo. Estou
apavorado.
Eu nunca tive uma mulher que me consome tão completamente, tão
rapidamente, como Mathilde faz. E eu não posso acreditar que acabei de
romper com o nosso beijo, da sensação de seu corpo contra o meu, sob a
minha mão ou a maneira como ela massageava tão habilmente meu pau
através do meu jeans. Mas eu não quero ela assim.

Eu não a quero em uma noite de emoção reprimida que só pode trazer


arrependimento.

Eu a quero quando posso deitá-la na minha cama, quando não há


perguntas sobre o que está se formando tão rapidamente entre nós.
Eu quero ela, toda ela, quando ela for verdadeiramente minha.

— Mathilde. — Eu a alcanço, mas ela pula da mesa , ajeitando a blusa,


mágoa no olhar. — Deixe-me explicar, por favor.

Sua risada é dura e quebradiça e eu me encolho.

“Deixe-me explicar” é exatamente o que Afonso disse a ela na noite da


festa.

— Não precisa explicar nada.

Faço uma anotação mental de nunca mais pronunciar essas duas


palavras e sigo-a enquanto ela corre pela minha oficina.

Deus! Eu mostrei a ela as partes mais profundas de mim. Eu mostrei a


ela quem eu sou, minha alma e ela não riu, não achou bobo. Eu podia ver nos
olhos dela sua admiração e sua vontade... Sim, ela quer meu sonho. Ela quer
ser parte dele, também.
— Por favor. — Eu alcanço-a, envolvendo minha mão em torno de sua
cintura e puxando-a para o meu peito. — Eu não me afastei porque eu não
quero você, Mathilde.

Ela está chorando. Eu a fiz chorar. Que tipo de homem eu sou?

— Tudo bem. É um erro, certo? Você sabe, mantenha tudo dentro da


racionalidade dos negócios. Mantenha nossa distância. Quase estragamos
tudo, mas vamos melhorar. Por favor, deixe-me ir, Manuel. Estou cansada e
tem sido um longo dia. Eu preciso dormir.

Merda.

Eu a solto e ela tropeça para frente, acendendo a lanterna e abrindo a


porta.

— Deixe-me acompanhá-la de volta.

— Não. — Ela não se vira para olhar para mim. — Por favor, eu
preciso ficar sozinha.

Eu estraguei tudo.

***

Deus, eu amava essa mulher. Em pouco mais de uma semana, eu passei


a amá-la.

Não.

Eu já a amava na escola. Eu devia ter dito isso a ela. Dando-lhe uma


opção que não fosse fugir com um cara qualquer para escapar de um pai
abusivo. Eu fui a causa das suas dores. Eu.
A mansão está em silêncio quando eu entro e tranco a porta da frente
atrás de mim. Estamos no meio do nada, mas sempre fecho a noite.

Mathilde deixou luzes acesas, pequenas lâmpadas espalhadas pela casa


mostrando que ela não foi direto para o quarto quando entrou. Subi as
escadas, em silêncio, para não acordá-la ou assustá-la.

Hesito diante da sua porta. Eu lhe devo desculpas, e devia lhe pedir.
Inferno! Eu quero essa mulher.

Um som silencioso e ofegante atinge meus ouvidos e eu levanto minha


cabeça para cima, olhando para o corredor, mas percebo que está vindo de
dentro do quarto de Mathilde.
Talvez seja um som abafado enquanto ela dorme, mas depois vem outro,
mais rápido que o anterior, e meu pau percebe.

Puta merda! Ela... A voz dela soa. Ofegante.

Ela está se masturbando. Minha mão agora na maçaneta da porta treme,


com tanta necessidade que mal consigo me conter.

Ela está pensando em mim? Quão quente foi quando eu a beijei e quase
perdi a cabeça por querê-la tanto?

E eu só posso ficar de fora, esperando que ela termine, desejando que


ela tivesse suas pequenas mãos em mim ao invés de sua própria boceta.

No final, eu ando silenciosamente até meu quarto e deixo a porta aberta


para que a fechadura não pegue, então Mathilde não me ouve e percebe o que
acabei de fazer.

Eu invadi sua privacidade. Não me arrependo. Foi a coisa mais quente


que eu já ouvi na minha vida, e quando eu estou em segurança dentro do meu
banheiro, embaixo da água quente, cuido de mim mesmo, jurando que é a
última vez que isso vai acontecer.

Porque ela está se casando comigo, e quando isso acontecer, tudo entre
nós será mais do que real.
Capítulo Quinze
Mathilde

anuel Fontes. Ele estava

M encravado em cada célula


do meu corpo, em cada
exalar do oxigênio, em
cada pensamento. Eu não queria, mas ele estava, e não podia simplesmente
arrancá-lo de lá, por mais que eu necessitasse isso.

Eu quero seu corpo e suas mãos passeando em mim. Eu quero seus


sorrisos e seus toques gentis.
Eu o quero.
Quero o homem que vejo quando ele não está interpretando o Ceo
importante para a sociedade. Eu quero o homem real que tem suas
inseguranças, que pinta de uma forma única e, acima de tudo, eu quero ser a
pessoa que ele procura por conforto em dias maus e noites ruins com seus
pais.

Eu quero tudo. Dias ruins e dias bons.

E por causa disso, estou apavorada.

Eu já me doei a um homem que jogou meu coração e meus propósitos


no lixo. Uma parte de mim, uma pequena parte de mim, pensa que talvez
Manuel fará o mesmo. A outra parte, a parte mais intensa, a maior parte, está
gritando para eu correr o risco, porque ele não é o mesmo homem. Ele é
diferente.

Saio do quarto. Nós tivemos aquele momento no celeiro, e eu ainda


estou molhada. Mesmo os toques que fiz em mim mesma,
envergonhadamente não surtiram efeito.

Isso é tão estranho. Eu nunca entendi sobre o prazer feminino. E agora


tudo que percebo é o quanto preciso dele.

Não bato. Entro em seu quarto e o observo com uma toalha na cintura e
um olhar espantado na minha direção.

— Mathilde?

Ele havia acabado de sair do banho. Eu sentia o cheiro gostoso do


sabonete e do shampoo mentolado espalhado pelo quarto.

Meu corpo está apertado como um fio elétrico, a eletricidade zumbindo


em minhas veias com uma necessidade desesperada.
— Você quer? — Ele indaga, de supetão. — Você quer que seja real?

A verdade me deixa boquiaberta. Eu quero. Eu quero muito.

E ele sorri para mim, um sorriso sensual que faz minhas pernas
tremerem. Há emoção em seus olhos. Necessidade quente, flamejante, e é
para mim. Sim.

Eu lambo meus lábios, abrindo minha boca para falar, mas logo ele
está junto a mim, as pontas dos dedos pressionando um pouco acima dos
meus quadris.

— Eu quero você na minha cama. Por toda a noite.

— Tudo o que você quiser, Manuel.

Suas mãos em mim, sua testa pressionando contra a minha. Nossa


respiração é pesada e eu corro minhas mãos pelos braços dele, sentindo sua
força e tensão.

Eu vou dar a ele o que ele quiser. Eu só espero que ele retorne o
sentimento.

— Tem certeza de que me quer? — Ele beija minha testa e se afasta,


olhando para perto o suficiente para que eu possa ver meu reflexo em seus
olhos. — Eu não quero tirar nada de você que não está disposta a dar, e isso
não é fingimento, Mathilde. Tudo o que sinto por você agora é mais real do
que qualquer coisa que eu já senti.

Suas palavras cortam através de mim e eu me rendo. Para ele. Para nós.
Para tudo que eu quero é mais profundo do que os nomes assinados em um
contrato.
Isso não é para mostrar ao mundo, fingimento para ele receber a
herança. Nós passamos por essa barreira.
Minha mão pousa em seu peito, sobre o bater de seu coração, correndo sob
sua camisa.

Eu puxo meu olhar de seu peito e encontro seus olhos.

— É real para mim também.

Ele respira fundo e me levanta, e eu sou forçada a envolver minhas


pernas em torno de seus quadris para me segurar.

Ele desliza uma mão para a minha bunda, a outra para a parte de trás
do meu pescoço, e eu estou tão perto dele, corpos pressionados juntos, sem
hesitação, sem álcool e sem raiva afetando este momento, eu pressiono meus
lábios em sua garganta para beijá-lo.

Ele geme enquanto eu deslizo meus lábios até sua garganta, a sua
mandíbula. Meus olhos se fecham e me perco na sensação dele, seu cheiro de
ar fresco, que agora sei que é tanto dele, quanto do artista que ele esconde por
trás da faceta séria.
Mal noto ele me deita na sua cama, me cobrindo.

Meus quadris estão se movendo, pernas bem abertas e meu centro está
encharcado. Eu arqueio, procurando por ele, pelo conforto, quando ele
desembaraça suas mãos debaixo de mim para cobrir minha bochecha.

— Você é linda. Ainda não acredito que eu te reencontrei.

— Reencontrou?

Seu polegar pressiona contra os meus lábios, impedindo-me de falar,


mas não há tempo antes de sua boca descer e eu pressiono minhas mãos em
seus ombros, puxando-o para mais perto.

— Acreditaria se eu dissesse que era minha paixão da escola?

— Eu? — era quase inacreditável.

Eu era tão sem graça, de roupas usadas e feias. Um contraste gritante


com outras adolescentes cheias de vaidade.

— Você tinha um sorriso tão lindo. Era triste, mas era lindo. Estava
sempre com um rabo-de-cavalo jovial, e seu uniforme azul combinava com
seus olhos. Eu fiquei encantado, apaixonado... Mas, antes que eu pudesse
dizer qualquer coisa, você saiu da escola.

Eu estou chocada. Quero chorar por tudo que não vivi. Mas, então
percebo que as minhas experiências até agora me deixaram mais forte para
que ele tivesse alguém capaz de suportar tudo para estar ao seu lado.
Eu me moldei para Manuel. Inconscientemente...

Ele passa os lábios sobre os meus e meus pensamentos vão embora. O


passado não importa mais. Seu beijo é lento e parece que ele está saboreando
o meu gosto enquanto sua língua lambe meus lábios, me provando como se
eu fosse sua sobremesa mais suculenta.

Eu me abro para ele, amplio minhas pernas e as envolvo em torno de


seus quadris. Ele pressiona seus quadris contra o meu centro e eu suspiro com
a sensação. Manuel está me cobrindo completamente, me dando seu peso, e
nosso beijo fica mais pesado, suas mãos deslizando pelo meu corpo enquanto
ele se inclina para trás e empurra a minha camisa para cima.
Levantando meus braços acima da minha cabeça, eu respiro com força,
espantada com o fato deste homem estar me tocando de uma forma tão gentil.
Suas mãos tremem, como se a gentileza que ele está me mostrando esteja lhe
custando tudo. Ele descarta minha blusa, joga no chão e passa a mão no meu
lado, o polegar roçando o lado do meu seio, mas seus olhos estão fixos em
mim.

— Eu quero ser gentil — ele diz em uma voz gutural, como se as


palavras estivessem sendo arrancadas de sua garganta contra sua vontade. —
Eu quero ser gentil e doce, mas quero ser rude e selvagem, e estou tendo
dificuldade em manter o controle.

Eu quero tudo isso. Duro e gentil. Macio e áspero. Lento e frenético.


Meu peito arfa, pensando em todas as coisas que podemos fazer, mas tudo
que ele descreve é lindo. Perfeito porque é ele, esse homem enigmático que
me quer.

— Só quero você — sussurro.

Ele pisca e balança a cabeça uma vez, inclinando-se para me beijar


enquanto sua mão alisa a extensão do meu estômago, correndo até meus
seios.

Meus dedos percorrem ao longo de seu abdômen musculoso. Seu corpo


é tão bonito e másculo. Mas não puramente com a graça de um homem que
passa horas em uma academia. Existe algo mais selvagem nele.

Ele se ajoelha, aquele movimento sexy que os homens podem fazer que
faz os músculos flexionarem e saltarem, e veias saírem de seus ombros para
baixo de seus braços, e eu quero minhas mãos em tudo isso. Eu quero traçar o
mapa de suas veias com minha língua e meus dedos, e eu quero suas mãos
ásperas e calosas em meus mamilos e no meu núcleo.

Quero isso, preciso de tudo, o mais rápido possível.


Eu me sento, meus olhos fixam no monte que se levanta embaixo da
toalha. Puxo o algodão e seguro seu pênis espesso e pesado pulsando na
minha mão.

Se gemido me excita. Suas mãos roçam minha cintura, os polegares


cravam em meus quadris. Eu não posso olhar para ele. Meu desejo está me
ultrapassando e eu me inclino para frente, roçando meus lábios sobre o peito
dele até a clavícula. Eu o beijo onde quer que eu possa alcançar,
massageando sua ereção grossa.

— Mais forte — ele grunhe, e eu aperto a base dele, empurrando para


baixo. — Porra, Mathilde. Eu vou explodir dentro e fora de você.

Eu quero isso. Eu quero que ele perca o controle. Eu quero que ele
esteja tão desesperado por mim quanto eu estou por ele. Preciso disso.
Preciso da confirmação de que não sou o única enlouquecida e insana.

Minha vagina pulsa com força. Eu o solto, para retornar para a cama,
para deixar que ele veja o quanto estou tremendo de vontade.

Sua grande mão envolve seu pau, acariciando-o duramente, e eu não


consigo tirar meus olhos da visão dele, tão linda, majestosa, e tudo para mim.

Não fico muito tempo na mesma posição. Eu me movo para a beira da


cama e, em seguida, para o chão, a seus pés.

— Mathilde — minha mão cobre a dele. — Não tenho certeza.

— Eu tenho — digo. Olho para ele que leva a cabeça para trás, e me
inclino para frente, lambendo a ponta dele.

É delicioso e grosso e eu não vou poder levá-lo inteiro na boca, mas eu


nem me importo. Minha mão aperta sua base. Eu pressiono um beijo na
cabeça e, em seguida, levo-o na minha boca.

— Cacete... — ele resmunga.

Se eu pudesse sorrir ao redor dele, eu iria, mas eu pressiono minha mão


na coxa dele e juntos nós o acariciamos, encontrando nosso ritmo enquanto
eu o levo o mais fundo que posso. Meus lábios beijam nossos dedos
entrelaçados toda vez que eu vou fundo.

Estou pingando e deslizo os dedos da minha outra mão contra o meu


clitóris, meus quadris arqueando e pressionando contra a minha própria mão
enquanto seus gemidos aumentam.

Suas coxas apertam, suas palavras são uma mistura de “foda”, “sim”,
“mais forte”, “droga” e “Mathilde”.
Seus dedos de sua mão livre cavam em minha cabeça e ele interrompe meu
movimento, me puxando para fora dele. Sua mão emaranha no meu cabelo e
nos encaramos, peitos arfando, ambos prontos e desejando.

— Eu não vou gozar na sua garganta na primeira vez que eu tenho


você. — Ele rosna para mim como um animal.

Eu fiz isso com ele. Eu transformei esse homem frio e racional em


alguém desesperado. E tudo que consigo fazer é esconder meu sorriso quando
ele se inclina e tira um preservativo de sua mesa de cabeceira, entregando-o
para mim.

— Coloque-o.

Meus dedos tremem quando eu rasgo o pacote de alumínio e o pego em


minha boca, uma última vez, um último sabor delicioso dele antes de deslizá-
lo por seu eixo.
— Deite-se — ordena.

Eu escuto sem hesitar, nem mesmo me incomodando em subir na cama


porque as mãos dele estão nos meus ombros, me empurrando para o chão. E
sim. Isso é melhor do que a cama dele, com lençóis de mil fios e edredom.

Somos nós, puros, como animais, no chão.

— Você está pronta? — Ele pergunta quando ele sobe em cima de


mim, seus dedos indo direto para o meu sexo.

— Sim. — Eu suspiro quando ele me toca, dedos circulando meu


clitóris, e então seus lábios estão no meu mamilo, sugando-o em sua boca.

Eu arqueio no chão, quadris pressionando em seus dedos, empurrando


meus seios em seu rosto e meus dedos se agarram ao seu cabelo, os lados de
sua cabeça.

— Venha para mim — ele diz, tomando meu outro mamilo em sua
boca e empurrando dois dedos grossos dentro de mim. O calcanhar de sua
palma mói contra o meu clitóris, seus dedos enrolam por dentro, e eu estou
tão perto. Ele chupa meu outro mamilo, morde e o agita. É muito.

— Manuel! — Eu o agarro, segurando-o perto e tentando empurrá-lo


para longe enquanto meu corpo estremece, e eu perco o controle, reduzido a
aceitar tudo que ele faz.

— Linda — Manuel elogia, deslizando os lábios sobre os meus seios.

Tremo, meu clímax recuando. Ele me traz para baixo, lenta e


dolorosamente. Eu estou excessivamente sensível, mas ainda assim querendo.
Ainda desejo.
— Por favor — digo, envolvendo minha mão em torno de sua ereção.
— Eu quero você.

— Bom. — Ele sorri, e é tão incrivelmente bonito.

Ele pressiona em mim, enchendo-me lentamente, tão em desacordo,


fazendo meu coração disparar. Lento e rápido, áspero e gentil. Sim, quero
tudo com Manuel Fontes.

Um pobre artista, um príncipe Ceo. Eu não poderia dar a mínima para


suas facetas, contanto que eu esteja ali, sentindo seus detalhes em mim.
Gemo quando ele está dentro de mim, enchendo-me com tanta ternura que eu
tremo.

— Você é apertada. — Ele cai para os cotovelos, joelhos me


espalhando tão abertamente quanto eu posso conseguir, e sua testa toca a
minha. Nossos olhos se encontram e eu sorrio.

— Faz algum tempo.

Seus quadris se afastam, me tirando dele, e eu me agarro ao seu traseiro


firme, não deixando ele sair.

Ele está apenas rosnando para mim de novo, e então ele bate de volta,
estalando seus quadris com uma ferocidade que evapora qualquer lembrança
de qualquer um que tenha entrado em mim antes.

— Manuel! Mais forte! Por favor!

Estamos pegando as mãos um do outro, e é confuso, gentil e áspero.


Prazer espumante que me leva ao pico de novo.

— Assim? — ele grunhe, quadris me batendo duramente contra o chão.


Toda vez que ele empurra dentro de mim, a mão dele no meu ombro
me empurra contra ele. O chão machuca minhas costas, mas não me importo.

Eu seguro o máximo possível, beijando-o de modo desleixado, as


línguas se entrelaçando, bocas fundidas, e seu cabelo grosso no peito arranca
meus mamilos a cada estocada.
Selvagem e bonito, e mais do que tudo que eu esperava. Quando o orgasmo
se aproxima, me agarro a ele, jogando minha cabeça para trás para que seus
lábios pressionem contra a minha garganta, me marcando.

Grito seu nome. Para sempre. Por favor. Meu. Por favor.

Ele me segue, seu pau pulsando enquanto ele explode dentro de mim e
depois desmorona, me dando seu peso, me esmagando. Eu não me importo.
Ele está me dando tudo de si, e não posso desejar mais nada.

Isso me basta.

A realidade me basta.
Capítulo Dezesseis
Manuel

la é linda.

E Suave
gentil.
Linda...
Mesmo
e

quando meu pau estava dentro dela, e ela suspirava louca por mim, ainda
assim, era linda.

Obrigado Regina. Obrigado por ter me forçado a me aproximar dela e


descobrir na paixão do meu passado, a mulher do meu futuro. Eu tenho
ciência que você não fez isso propositalmente, claro que jamais soube que eu
já amei uma jovem pobre chamada Mathilde, mas seu testamento foi o que
ocasionou nosso reencontro.

Então, te agradeço.

Agradeço porque pela primeira vez em muito tempo, não acordei


sozinho na cama. E eu nem falava na atmosfera fria do físico. É da alma a
que me refiro. A alma delicada de Mathilde, tocando-me como se estivesse
sempre a minha espera.

Nos reencontramos, meu amor. Que nada nunca nos afaste.

Nós adormecemos num emaranhado de membros nus entrelaçados. Eu


a tive e a segurei. Ela é minha. Eu quero me casar com ela. Hoje. Quero o
mais rápido possível ter essa mulher como minha, não apenas nessa cama,
mas diante de todos.

Nós nos encaixamos. De repente ela se remexe. Eu sorrio, deslizando


meu dedo polegar na sua bochecha, traçando pequenas sardas e tirando um
cílio perdido da sua pele.
Inclinando-me, beijo sua testa, suas sobrancelhas e a ponta do nariz, sorrindo
enquanto seus olhos se abrem e se alargam quando me vêem.

— Bom dia — ela sussurra, sua voz apagada de sono. Eu continuo a


beijando enquanto ela se estica e se encolhe.

— Dolorida? — Eu gosto da idéia disso, levando-a tão rudemente que


ela ainda me sente.

Eu beijo a marca que deixei em sua garganta, lambendo-a com a minha


língua como se para selá-la em sua carne para sempre.

Sua mão desliza entre nós, envolve-me e eu sorrio contra sua garganta.
Ela arqueia os quadris em minha direção e eu ainda a seguro com a mão.
— Temos coisas para conversar. Decisões que precisamos tomar. —
Mas eu estou beijando sua clavícula, seu peito, mordiscando seus mamilos, e
sentindo como se meu pau estivesse prestes a explodir de seus pequenos
dedos e palma quente.

— Depois. — Ela pressiona contra mim, seu sexo molhado na minha


coxa, moendo contra mim como se nós fossemos adolescentes descobrindo o
prazer pela primeira vez.

Está certa. Nada é mais importante do que finalmente sentir o gosto de


Mathilde.

Eu rolo de costas, empurrando um travesseiro debaixo da minha cabeça


e, em seguida, envolvo minhas mãos em torno de seus quadris, puxando-a
sobre mim, tendo ela em meu peito.

— Eu não provei você ainda.

Poucas mulheres poderiam montar o rosto de um homem. Ao menos,


poucas poderiam fazer isso com absoluta confiança de que estavam com o
cara certo.

Mathilde sorri. Seus olhos brilham e esse brilho em seus olhos é um


pequeno presente delicioso. Isso me diz tudo o que eu já pensava. Ela é
perfeita para mim. Minhas bolas se apertam. Eu estou pronto para explodir e
eu ainda não consegui ver sua bunda deliciosa, o gosto de sua boceta, mas a
promessa sozinha é suficiente.

Eu bato na bunda dela de brincadeira e ajudo-a a se virar. Suas mãos


deslizam pelo meu abdômen quando ela se inclina. Eu não posso mais
esperar. Sua boceta está na minha frente, molhada e brilhante, e eu a puxo
para mim ao mesmo tempo em que ela cobre minhas bolas.
Eu a toco em todos os lugares que posso alcançar, massageando sua
bunda enquanto ela trabalha meu pau.
Ela me puxa, geme, quadris se contraindo.

Eu bato na bunda dela.

— Aguente...

— Eu não posso — Mathilde devolve. Ela se vira e olha para mim por
cima do ombro. — Eu nunca vivi algo assim...

Então ela vem por todo o meu rosto. Louco, selvagem, verdadeiro
abandono, e é lindo.

Estou tremendamente apaixonado...

***

— Você vai voltar para a escola?

Nós conversamos sobre isso no primeiro fim de semana que passamos


juntos, mencionei que ela poderia reservar um tempo para fazer o que
quisesse como ir à escola... mas ela não falou sobre seus planos desde então.

Ela nunca mencionou nada com seu tempo comigo, e eu não me


importo de cuidar dela.

Eu quero cuidar dela, sendo minha esposa ou não.

— Você quer terminar a escola, Mathilde? — insisto.

Ela mordisca sua unha novamente e se move para deslizar de seu


banquinho. Nós estamos na cozinha e ela está diante do notebook, navegando
em site sobre o EJA.
— Eu já tenho quase trinta anos.

— Não é vergonha nenhuma.

Ela segura a caneca e se levanta. Parece ainda absorver minhas


palavras.

— Estava pensando em fazer aulas noturnas — diz ela. — Eu posso ir


à escola à noite, conseguir um emprego na cidade durante o dia...

Ela não precisa trabalhar, mas eu não quero lhe dar ordens. Não quero
ser o machista, fazendo com que ela viva apenas para mim. Mathilde tem
todo o direito de ter uma profissão, de fazer alguma coisa.

— Bom, eu preciso ir para a fábrica — aviso. — Mas, volto para o


almoço. Então... me espere, ok? — lhe dou um beijo na têmpora.

Ela fica quieta alguns segundos, mas logo me envolve com seus braços
e me beija nos lábios.

Isso é tão perfeito...


Capítulo Dezessete
Mathilde

pesar do que disse, Manuel

A não apareceu para o almoço.


Pelo que entendi em uma das
suas mensagens pela manhã,
uma reunião com compradores do exterior se estendeu mais do que o
esperado, e ele iria lanchar na empresa.

Dessa forma, decidi que era hora de sair do meu confortável casulo e ir
até à escola onde as aulas para adultos eram dadas.

Apesar de tudo, a secretária que me atendeu foi extremamente gentil


em me mostrar a grade do supletivo. As aulas eram sempre noturnas porque a
maioria dos alunos trabalhava de dia, e quase todos tinham a minha idade.

Eu suspirei de alívio em saber que não era a única naquela posição.

— Minha mãe teve câncer — a secretária me contou. — Eu interrompi


os estudos e só voltei depois dos vinte e cinco. Muita gente acha que vai
morrer se ficar sem estudar por um tempo, não concluir exatamente numa
determinada faixa etária, mas a verdade é que a vida é mais do que a sala de
aula.

Era verdade. E foi confortador para mim. Me dava esperanças de algo


maior e melhor.

Quando sai da escola, mandei uma mensagem para Manuel:

“O que você quer comer no jantar?”.

Faria o jantar que ele desejasse. Estava tão feliz com o leque de
oportunidades que se abriam que só desejava mostrar minha gratidão com
tudo que podia.

“Você” – veio a resposta, logo em seguida.

Eu sorri como uma boba, encarando o celular.

Aquilo era tão... insano.

Obviamente, eu já havia ouvido falar de orgasmo e prazer, mas em


todos aqueles anos com Afonso, nunca aconteceu comigo. Será que era
porque jamais estive apaixonada por ele? Tudo parecia tão mecânico que eu
suspirava de alívio sempre que ficava menstruada e não precisava servi-lo.

“Bobo!”, eu digito de volta.


“Onde você está agora?” – ele retorna em seguida.

“Próxima da nossa antiga escola”.

“Tem uma padaria por aí. Entre e me espere”.

Logo eu a vi. Uma bonita padaria adornada com detalhes em madeira.


Eu sorri, pensando que era a primeira vez que eu sentaria em um lugar de
sonhos e pediria um chá, sem me preocupar com mais nada além de viver o
momento.

Tão logo entrei, uma atendente anotou meu pedido. Chá e um pedaço
de torta de maçã. Lá fora, o vento do inverno parecia acariciar a vista. Um
jornal estava perto da minha mesa e eu o peguei para ver as notícias.

O Grêmio venceu o último jogo. O Governador iria atrasar os salários


dos servidores. Virei uma página, a crônica de um famoso jornalista me fez
sorrir.

Em seguida, sinto uma presença. Olho para cima, esperando ver


Manuel, mas meu queixo cai quando Afonso desliza para a cadeira ao meu
lado.

— Afonso? O que você está fazendo aqui?

— Eu estive procurando por você na semana passada.

— O quê?

Eu empurro a cadeira para trás. Eu preciso sair daqui.

— Querida, eu disse que queria conversar com você e explicar tudo.


Mas então você desapareceu.
Seus olhos são selvagens. De alguma forma, eu vejo o desespero nele.
Bordas roxas seus olhos mostrando sua exaustão.

Eu perguntaria se ele estava bem, se eu me importasse. Mas, isso


passou. Eu não ligo mais.

— Eu quero que você me deixe em paz, Afonso.

— Eu entendo que te machuquei. — Ele se inclina para frente,


sussurrando rapidamente, como se percebesse que está ficando sem tempo.
— Por favor. Apenas dois minutos para que eu possa explicar. — Tento me
afastar, mas ele segura meu pulso com força. Não quero um escândalo,
especialmente por causa de Manuel, mas a forma como ele me segura faz
meu pulso latejar. — Por favor, Mathilde. Pelo menos deixe-me explicar para
que possamos nos separar amigavelmente.

Enfim, meu pulso é solto. A garçonete se aproxima, e eu resolvo


sentar. Meu chá e meu pedaço de bolo são colocados na minha frente. Do
outro lado, Afonso também se senta.

— Fale — digo, vencida.

Manuel disse que ele está a caminho daqui. Quero que Afonso vá
embora logo para que eu não tenha que lidar com essa situação embaraçosa.

— Ouça, Mathilde. — Afonso está usando sua voz agradável. —


Aquilo não significou nada...

Eu suspirei.

— Sério que você está me importunando para falar algo assim?

— Olha, eu nem pensei. Aconteceu. Não planejava levá-la até a nossa


casa... Eu juro. Eu não queria dormir com ela, mas ela começou a se insinuar.
Céus, eu sou homem, isso é muito forte em mim. Homem é assim mesmo...

A antiga Mathilde aceitaria aquela frase, eu sabia. Minha mãe sempre


usava esse argumento para defender as puladas de cerca do meu pai. “Homem
não resiste. Se a mulher se oferece, eles dormem com ela, mesmo sendo
casados”. Mas, depois de Manuel, eu sabia que os homens não eram todos
iguais.

— Obrigada por explicar — digo, me inclinando para trás.

Quero que ele vá embora logo, mas Afonso parece não entender porque
não estou choramingando e me atirando em seus braços.

— Foi só aquela vez, eu juro.

— Certo.

Meu telefone vibra na minha bolsa, e eu sei que é Manuel. Ele está
chegando.

— Obrigada por explicar, mas isso não muda nada, Afonso. Você
mentiu, me enganou, mas não me feriu. Francamente, nem me importo com a
sua desculpa ou sua traição. Simplesmente, não ligo.

— Mathilde...

— Não — interrompo. — Você mentiu. Você me tirou da casa dos


meus pais para me dar uma família. Mas, você só me usou. Você nunca quis
se casar comigo, não é?

— A gente era basicamente casado...

— União estável? — eu ri. — Não há nada que afirme isso, nem um


único papel. Você sempre fez questão de se chamar de solteiro. Além disso...

— Além disso?

— Estou com Manuel agora e estou feliz.

— Manuel Fontes? Vamos, Mathilde... O cara mais rico de Esperança


com a moça da limpeza?

De fato, parece ilógico falando assim.

— Nós vamos nos casar, Afonso. Estamos comprometidos. Lamento


que as coisas tenham acabado mal entre nós, mas, no fundo, estou aliviada.

De repente, eu o vejo. Manuel. Atrás de Afonso. Seu olhar salta para


Afonso, que ficou de pé, as mãos apoiadas na mesa inclinando-se para mim.
Eu recuei quase até as janelas atrás de mim.

— O que está acontecendo? — Manuel indaga, caminhando lentamente


para a mesa.

— Nada — respondo.

Afonso parece não o ver.

— Você está noiva? — Seus olhos se fixam nos meus. — Você é


minha mulher!

Ele parece esmagado.

— Ela é solteira, meu caro — Manuel diz, deslizando ao meu lado.


Eu não quero os dois discutindo, então tento encerrar.

— Nós terminamos agora?


As sobrancelhas de Afonso se franzem. Ele ficou mais pálido e seus
olhos se movem para os meus.

— Sim. Me desculpe, Mathilde. Eu não queria te machucar. Eu juro


que não.

Ele sai da mesa e passa a mão pelo rosto, soprando uma respiração
pesada. Virando, ele dá uma última olhada para Manuel.

— Cuide dela. Ela é uma boa mulher.

— Eu sei. — É tudo o que Manuel diz.

Nós não estamos fingindo, e ninguém duvidaria da sinceridade em sua


voz. Manuel vai cuidar de mim.

— Vamos sair daqui? — questiono, soprando uma respiração pesada.

Meus ombros caem como os de Afonso, mas eu não estou derrotada,


apenas exausta.

Os dedos de Manuel pressionam nas minhas costas e então seus lábios


batem no topo da minha cabeça.

— Você está bem?

Apesar de tudo, eu certamente estava.


Capítulo Dezoito
Manuel

uando um homem – um de

Q verdade, não apenas alguém que


tem um pênis, mas alguém que
honra o que tem no meio das
pernas – acha uma mulher como Mathilde, o mínimo que lhe deve é respeito.

O ideal é que fôssemos assim com todas, mas nem sempre é possível
ou provável. De qualquer forma, Mathilde faz parte daquele núcleo de
mulheres batalhadoras que o cara admira antes de desejar.

Afonso sabia disso. Todo homem sabe, quando se depara com um belo
exemplar de uma mulher forte, que aquela joia precisa de cuidados e de
consideração. Eu via no olhar de Afonso sua culpa por ter perdido a
oportunidade de tê-la para si para o resto da vida.

A perda de um... o ganho de outro...

Quando chegamos em casa, após aquele encontro com Afonso,


enquanto ela está no andar de cima tomando uma ducha, peço pizza, e sirvo
vinho.

Quando ela desce a escada vestida com calças e blusas largas (que me
deixa louco por algum motivo), faço a primeira coisa em que posso pensar
para apagar Afonso de sua mente.
Eu a puxo para o sofá e depois me rolo, meu corpo cobre o dela. Ela ri e eu
assisto. Então eu a beijo, saboreando-a e tocando-a em todos os lugares até
que a campainha soa.

Ela ainda está rindo baixinho, deitada no sofá quando eu volto com
pizza e pratos. Ela se estica languidamente e se senta, e eu sento perto dela,
servindo nosso jantar.

— Você quer falar sobre hoje? — Eu pergunto a ela, dando uma


mordida no meu pedaço de pizza.
Ela toma um gole de seu vinho e sorri para mim. Aquele sorriso ofuscante
que me deixa duro.

— Eu não sei o que aconteceu com Afonso — ela fala, passando a mão
pelos cabelos. — Ele me encontrou como se estivesse esperando por mim, ou
procurando... Ele deu uma desculpa sobre a traição... De qualquer forma —
Mathilde acena a mão e pega outro pedaço de pizza —, não importa. Suas
desculpas são vazias e, realmente, as coisas terminaram entre a gente. Eu não
sinto a menor falta dele.

Tenho certeza de que estou apaixonado por essa mulher.


Ela inclina a cabeça para trás e beija meu queixo, depois minha garganta. Eu
posso senti-la sorrindo contra a minha pele e eu a abraço com mais força.

— Acho que encontrei meu lugar — ela murmura.

Meu pau salta com sua voz.

Eu puxo sua mão com mais força, forçando-a a cair em mim, e quando
ela está perto, eu aperto seus quadris e a puxo sobre mim até que ela esteja
por cima, comigo segurando seus quadris em minhas mãos.

— Você encontrou? Ao meu lado? — Eu pergunto, correndo minhas


mãos pelos seus lados, para os ombros, para baixo de seus braços.

Minha intenção é acalmá-la, mas assim que ela estremece, meu pau
percebe. Pulsante, ele endurece e empurra contra o meu zíper.

— Você sabe o quanto sou louco por você?

Seus olhos se arregalam e ela abre a boca, mas eu não a deixo falar. Eu
pressiono minhas mãos em sua mandíbula, deslizo meus dedos em seus
cabelos e a puxo contra mim até que nossas bocas estejam fundidas.

Céus, Mathilde é deliciosa, macia e tenra, deslizando a língua contra a


minha, me beijando de volta com a mesma suavidade, a mesma paixão que
estou tomando sobre ela.

Ela suspira na minha boca e eu engulo seus gemidos, seus pequenos


gemidos que puxam minhas bolas apertadas e acendem um fogo na minha
espinha. Eu deslizo uma mão do cabelo dela e desço pelas costas até que eu
possa empurrar o moletom feminino para cima.

Puxando minha boca da dela, inclino a cabeça para o lado e lavo a


coluna de sua garganta com beijos suaves que a fazem tremer contra mim,
quadris rebolando, pressionando para baixo onde ela mais precisa de atenção,
e não faço nada para forçar isso.
Eu poderia beijar Mathilde Guedes pelo resto da minha vida e nunca me
cansar do gosto dela ou da sensação de sua pele sob minhas mãos ou dos sons
excitados e carentes que ela faz quando está acesa.

Ela balança contra mim e eu mordo sua clavícula.

— Manuel — sussurra. Está ofegante. — Você me faz sentir coisas.

— Eu sei.

Eu a beijo e a interrompo de novo e somos um emaranhado de dedos


puxando camisas, suas mãos no meu zíper. Ela levanta de cima de mim, mãos
indo para a minha barriga, e ela está tirando minha camisa do meu cós,
puxando meu zíper, deslizando a mão para baixo até que eu a pare.

— Nós devemos subir as escadas.

Ela enterra a cabeça no meu ombro, sua respiração contra a minha pele
me queimando.

— Não. — Ela balança a cabeça, move a mão mais fundo em minhas


calças, e envolve seus dedos quentes em torno do meu eixo.

— Merda... — eu gemo, e estou pronto. Sua empolgação em colocar as


mãos em mim é diferente de tudo que eu conheci.

Ainda assim, eu luto pelo fio restante do bom senso.

— Eu não tenho camisinha aqui.

Ela desliza a mão sobre o meu pau, pega minhas bolas e aperta.
— Eu não me importo.

Quatro palavras que deveriam fazer qualquer homem correr. Elas


fazem o oposto comigo. Com ela. Com esse momento. Isso mostra a
profundidade de sua confiança em mim, de seus sentimentos por mim. É tudo
que posso fazer para não estourar na mão dela antes que ela me liberte da
minha maldita calça. Eu gemo o nome dela e ela responde:

— Eu sei. Eu preciso de você também.

Eu arranco sua camisa e desabotoo seu sutiã, puxando seu mamilo na


minha boca e chupando antes de ter seu sutiã solto sobre os braços.

Estamos mudando e ajustando, empurrando as roupas e tirando as


camisas até ficarmos pele a pele, bocas fundidas como se estivéssemos
cimentadas juntas, e então a mão dela está em mim, deslizando minha ponta
através de seu centro e acumulando umidade.

Conectados.

Eu estremeço na sensação dela. Sem látex entre nós. Toda ela, o calor
pulsante me reivindicando.

Meu pau se enfurece para consumi-la, devorá-la e reivindicá-la de


todas as maneiras que podem fazer dela minha.

Puta merda, é essa mulher! A mulher! Ela vai se casar comigo e algum
dia ela vai ter meus filhos, e eu mal posso esperar para começar essa família.

— Manuel — ela respira.

Lágrimas se formam em seus olhos e mal posso fechar os meus e focar


neste momento, no que estamos fazendo, porque é lindo demais.
Eu olho para baixo. Minhas calças estão de joelhos, minha camisa está no
sofá. Seu sutiã ainda está entre nós, enrolado em seus pulsos e quem sabe
onde eu coloquei suas calças. Estamos uma bagunça. Uma bagunça perfeita.

— Eu te amo — confesso, incapaz de conter-me.

Meu controle foi quebrado como um cristal e não há como voltar atrás.
Não há vontade de voltar. Você não cola cristais.

Ela empurra contra mim, sua buceta apertando em volta de mim. Sua
boca se abre em surpresa ou excitação, não sei...

Não dou a ela uma chance de pensar. Eu bato sua boca na minha,
seguro-a contra mim e então nos movemos.

Quadris rolando, mudando, para cima e para baixo, eu empurrei dentro


dela, levantando meus quadris para cima e puxando-a para baixo até que seus
gemidos se transformassem em gritos.

— Manuel! — Ela grita meu nome, repetidamente, em seus lindos


lábios cor-de-rosa enquanto vem. Perfeitamente.

Alto.

Um orgasmo tão apaixonadamente e doce, e ela é tão totalmente


exposta a mim.

Eu a seguro, a testa contra a testa, respiração misturada, conectada nos


lugares mais íntimos.

Nessa mescla de sensações, sussurro de novo e de novo.

— Eu te amo. Eu te amo.
Eu não preciso da resposta dela. Porque sua resposta está na forma
como ela sorri na minha direção.

Esse sentimento é recíproco.


Capítulo Dezenove
Mathilde

u te amo.

E Três
palavras
que mudam
tudo. Todo
meu mundo até então. Palavras que eu jamais ouvi antes, mas que agora eram
ditas repetidamente. A voz de Manuel me embala quando chegamos à cama.
Ao som de suas juras, eu adormeço. E quando acordo durante a noite, todas
às vezes, crendo estar saindo de um sonho – um bom sonho – ele está lá,
abaixo de mim, minha cabeça em seu peito, minha mão em seu estômago,
minha coxa envolta sobre a dele. Ele está quente, um pouco suado, e ainda
assim ele me segura a noite toda em um aperto tão firme que me faz sentir-
me protegida.

Eu te amo...

Sinto medo de dizer a mesma coisa, mas sim... meu Deus, eu o amo.
Não faz sentido, nos conhecemos a tão pouco tempo, mas é tão perfeito.

Tempo... Mais de uma década ao lado de Afonso nunca me fez sentir a


menor vontade de dizer tais coisas, mas agora... Agora, semanas ao lado de
Manuel, e eu estava entregue.

Corpo. Alma.

Eu te amo. Eu te amo.

Eu rolo para o meu lado e o alcanço quando ele se senta na beira da


cama, a gravata deslizando através dos meus dedos antes que meus olhos
estejam completamente abertos. É dia e ele está se preparando para o
trabalho.

— Você é tão lindo de terno — murmuro.

Ele sorri mais bonito do que nunca.

Eu te amo. Eu te amo.

Subo em seu colo, coloco meus braços sobre os ombros e brinco com o
cabelo atrás de sua cabeça, indiferente que ele está de terno ou que eu poderia
enrugar isso. Estou nua. Não me importo.

Me veja... Eu te amo...
— Eu tenho uma reunião com meu advogado hoje, passando todos os
detalhes de algumas coisas.

O contrato? O nosso contrato?

— Você vai estar em casa à noite? Eu posso fazer o jantar.

— Eu adoraria isso.

Eu te amo.

Diga de novo, Manuel. Diga que não foi apenas um momento do sexo.
Quero ouvir. Que se dane o contrato. Queime-o. Jogue-o fora. Eu só quero
você.

Eu tremo e ele me beija, minhas bochechas esquentam.

As palavras queimam a ponta da minha língua, mas não saem. Estão


presas lá, e eu não posso falar tanto quanto eu quero. Mas ele sabe, tem que
saber...

Ele me beija suavemente de novo, com as pontas da língua saboreando


e não se aprofundando. Então ele me tira de cima dele e levanta, passando a
mão na gravata e alisando o terno.

— O que você vai fazer hoje?

Eu me estico, braços acima da minha cabeça, gemendo. Eu sofro


deliciosamente em todo lugar. Estou nua e sem vergonha.

Seu pau é grosso contra as calças e paletó desabotoado. Eu sorrio.

Ele me quer, de novo. Ele me ama... Ele me ama?

— Vou comprar material escolar. Também... — tento buscar melhor as


palavras. — Estou verificando alguns sites sobre o casamento. Como temos
menos de cinco meses, preciso me ajustar, começar a pensar nas flores, etc...

A conversa do casamento parece azedar o clima. Eu quero um


casamento real com o homem que eu amo, não o falso devido a um acordo e
uma necessidade. Eu quero a proposta do jeito certo, um anel escolhido com
amor, promessas de um futuro...

Mas o que eu terei são três anos ao seu lado. É mais do que muitas
mulheres tem em toda a vida.

Sou grata.

***

Já havia escurecido quando Manuel voltou. Ele entrou na cozinha e me


viu diante da panela, preparando o molho. Trocamos um sorriso.

— Eu trouxe o contrato — murmurou.

Eu fiquei completamente sem reação. Minha respiração travou e um


balde de água fria foi atirado contra mim.

O que era aquilo? Uma tentativa de apagar os efeitos da noite anterior?


Uma forma de negar seus sentimentos? Dizer que foi levado pelo momento?

Aproximei-me da mesa e sentei numa das cadeiras, abrindo a pasta e


começando a ler as linhas. Minhas sobrancelhas arquearam e meu coração
trepidou.

Nada do combinado estava ali. Nada. Nem a promessa dos quinhentos


mil, nem o prazo, nem a separação dos bens. Era apenas um contrato pré-
nupcial simples, informando que em tal data nos uniríamos.
— Eu não entendo... — murmuro.

— Você não entende? Eu te disse ontem à noite. — ele pareceu


inseguro. — Você não respondeu as minhas palavras mas eu achei que...

Levantei-me num salto e o abracei.

Ficamos assim por segundos. Minutos. As horas que passaram


perderam a importância.

— Eu retifiquei o contrato anterior, e mudei as cláusulas. Tudo que eu


tenho, será seu. Nosso. Sem prazos, vamos ficar juntos para sempre... — ele
murmurou. — Eu te amo, a quero como minha esposa. Você aceita?

Lágrimas inundaram meus olhos.

— Eu também te amo. Eu aceito.

Sinto algo deslizando na minha mão. Entre lágrimas, percebo um lindo


anel solitário, uma pedra azul belíssima. Eu não entendo de joias, mas sei que
aquela é a confirmação de nosso noivado.

— Você precisa se ajoelhar — eu digo, rindo. — Para meu sonho ficar


completo.

Ele parece surpreso, mas não faz objeção. Não seguro a risada, entre
fungadas de um choro feliz, enquanto ele se ajoelha no chão.

— Eu não sou o homem mais perfeito desse mundo, mas o homem que
sou quero entregar a você. Case-se comigo, Mathilde.

— Sim! — grito, jogando-me em seus braços.

Eu o amo e ele me ama. Não importa se isso é loucura. Todo o nosso


relacionamento foi insano. Não há mais ninguém com quem eu quero ser
louca.

Manuel e eu. Um casal real depois de tantos anos. A menina pobre da


escola, o sobrinho da mulher mais rica de Esperança. Quem diria?

Eu serei sua esposa. Sua esposa de verdade. Não uma que ele comprou
com dinheiro, mas uma que ele conquistou com paixão.

Esse é nosso começo perfeito de uma nova vida.

Fim.
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Ela era o paraíso, mas ele foi feito para o inferno.

Victor Bianconi era membro de uma máfia que tinha origem na Itália e agora dominava a Serra
Gaúcha. Ele havia sido salvo por aqueles bandidos e devia a eles mais que a vida, toda a sua
lealdade.
Sem princípios morais que pudesse carregá-lo, ele sempre acreditou que cumprir seu papel de
vilão bastaria... Até ela aparecer.
Francine Stein era de uma boa família. E era, igualmente, uma boa pessoa. O tipo de gente que
jamais iria se aproximar de um bandido como Victor.
Mas, o destino provou-se ser mais forte que tudo.
Anjo e Demônio queriam coexistir.
Aquilo seria, definitivamente, o apocalipse.
Anne Ryle acreditava em contos de fadas. Na verdade, durante toda a sua vida preparou-se
para um casamento dos sonhos com o rapaz que sempre amou. Contudo, o noivo a deixou às vésperas
do casamento para ficar com sua própria irmã.
Duplamente traída, Anne focou-se na carreira e prometeu jamais amar alguém novamente. Mas, não era
seu desejo que a família soubesse o quanto ela era solitária e derrotada. Assim, quando foi convidada
para um encontro familiar onde veria o antigo noivo com sua irmã, planejou atentamente um plano para
proteger seu orgulho ferido.
E para isso, ela só precisava de um namorado... Mas, nada a preparou para alguém como Alexander.

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Blake estava de volta. E ele queria apenas uma coisa: o seu bebê.

Isis era uma mulher simples que caiu na lábia de um homem de moral questionável. Apesar de
Blake Code ser conhecido por destruir seus opositores nos negócios, ele a fez tremer nas bases, e
avassalou seus sentimentos e sua razão. Contudo, ela conseguiu dizer adeus.
Porém, agora ele estava de volta. E não queria apenas aquela mulher. Seu desejo profundo era

pelo bebê que ela gerava.


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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e

teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.

Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte
livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.

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