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Os 4 elementos

Nathalia
Marvin
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados. Os personagens e eventos retratados
neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou
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Livros da autora

Série Os Mackenzies:
Amor em Atração
Amor em Redenção
Amor em Obsessão
Amor em Opção
Amor em Omissão
Amor em Negação
Amor em Ilusão
Amor em Impulsão
Amor em Possessão
Amor em Intenção
Amor em Pretensão
Amor em Obstinação
Amor em Depressão
Amor em Presunção
Amor em Ambição
Amor em Solidão
Amor em Exceção
Amor em Emoção

Amor em Redenção (Versão 2)


Amor em Obsessão (Versão 2)
Amor em Opção (Versão 2)

Série Armstronger:
Submissão sob Amor
Coração sob Amor
Rendição sob Amor
Perseguição sob Amor
Livro único:
Falhas de Amor

Série Os Irreverentes:
À Prova do Amor
À Sombra do Amor
À Espera do Amor
À Deriva do Amor
Às Escuras do Amor

Série Os Quatro Elementos:


Tempestade de Gelo
Furacão em Chamas
Faiscas no Ar
Vendaval de Areia (em breve)
Contents

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
EPÍLOGO
Prólogo

Nathan

É a gota d'água. Não acredito que tenha caído mais essa pra cima de
mim. Meu pai é bem velho, ok; sua quase morte não é uma surpresa, ok
também, ele pode morrer a qualquer momento - meio que já tá todo mundo
preparado e conformado; MAS, ter me chamado pra um último pedido?
Essa não.
Achei o cúmulo. Vai lá, você é o único filho que ele tem, seja o melhor
em seus momentos finais de vida, me disseram. Sua enfermeira, pra ser
exato. A bondosa e paciente mulher que tem cuidado do velho nesses
últimos três anos. Vão me dizer, ela é profissional, é paga pra isso. É, paga
pra isso, mas tem um monte de profissionais que batem nos velhinhos que
são pagos pra cuidar.
Retornando ao xis da confusão toda, é que eu fui lá. Tomei fôlego há
alguns minutos e entrei no quarto do meu pai. Ele estava lá, deitado naquela
cama enorme, parecendo evidentemente doente, com os olhos pesados,
entreabertos, sem conseguir força nem pra mantê-los totalmente
abertos. Ok. Me sentei na beirada da sua cama, ele tentou sorrir, o que foi
uma cena estranha e arrepiante. Não senti pena, senti arrepio. Mas fui, me
solicitei a ser um bom filho pelos seus últimos momentos como me
aconselharam.
— Oi, pai — eu disse, meio no automático. Não é como se eu
considerasse a palavra "pai" muito simbólica. É quase como chamar uma
senhora de "senhora". É automático. — Queria me ver?
Ele deu um pequeno suspiro que o fez tossir esganiçado e novamente
arrepiante, até dei uma olhada na porta pra gritar a Tina, sua enfermeira,
caso fosse preciso; mas o velho se recuperou e tentou dar uma risada. Sem
comentários para a tentativa. Me senti em Jogos Mortais 3, um dos filmes
que Lucy, a esposa do meu amigo escritor, nos obrigou a ver certa vez.
— Você é um bom filho, Nathan — foram as primeiras palavras do
velho, o que não me surpreendeu. Se formos fazer uma lista do que é ser
bom filho hoje em dia, eu sou mesmo. Não matei ninguém, nunca fui preso,
nunca bati em uma mulher, nunca me droguei, nunca fui do tipo rebelde que
cria caos porque o pai é rico, nem sou vingativo também; só bebo às vezes
um pouco demais, e morei com uns amigos perturbados quando era mais
novo. Mas isso nem me fez um mau filho. Além do que, não dei desculpas
para o meu ok com relação a assumir o lugar do velho depois que ele bater
as botas.
— Obrigado — eu respondi, acreditando que aquelas foram palavras
de um homem que sabia de sua hora iminente. O sino ia tocar anunciando
sua vez na fila dos mortos a qualquer momento. Então, tornei a perguntar:
— Pediu pra me ver?
A resposta demorou a vir. Ele ficou em silêncio e parado por quase
muito tempo. Tanto tempo que pensei, por um segundo, que tinha
morrido. Arrepiante de novo. Mas ele falou.
— Eu sempre quis netos — disse, quase me fazendo rir. Mas me
controlei. — Sempre quis que você fosse feliz, da forma que não fui.
Conversa! Momentos finais tem dessas. O velho tinha uma modelo por
mês ao seu lado, sempre aparecia isso nas revistas e no instagram; só me
fala: como ele não foi feliz?
— Meu último desejo de vida — ele continuou — é ver você casado.
Eu gostaria mais que tudo de ver você feliz com uma boa mulher ao seu
lado. Não quero morrer sabendo que meu casamento frustrado com a sua
mãe possa ter bagunçado você. Nathan, você é um bom filho - ele repetiu.
— Eu quero te ver feliz e, te digo, pela minha experiência, ter um milhão de
mulheres não é todo o sentido do amor.
Ele demorou quase meia hora para dizer tudo e, quando disse, foi só
pra me fazer ficar mais puto. Sério mesmo que esse era o pedido dele?
Achei que a função dos pais era mostrar sabedoria e o meu pai vem com
uma dessas? Me ver casado antes de morrer pra ter certeza que o casamento
dele com minha mãe não me bagunçou?
Puta que pariu. Eu não sou bagunçado. Sou um bom filho, ele mesmo
disse. E, por favor, cara, tenho 25 anos. Quem se casa aos 25 anos? Isso é o
início da vida.
Mas foi o último pedido dele, Tina disse quando contei a ela o que meu
pai realmente queria. Talvez não dê tempo de ele te pedir mais nada. Eu
espero mesmo que não. Finja que casou, querido. Tire umas fotos com
alguma modelo, traga para ele ver. Demonstre que se importa com o último
desejo de vida dele.
Meu arfar não foi só decepção, foi também impaciência. Que modelo
ia se sentir bem colaborando comigo pra enganar um moribundo em seus
momentos finais de vida? Acho que nenhuma. Ninguém é tão cruel nem
profissionalmente.
Mas aqui estou, no meu escritório, navegando pela internet pra tentar
achar alguém que possa cooperar com isso porque de jeito nenhum vou
chamar alguma mulher que conheço. Elas confundiriam a porra toda. Iam
achar que era indireta, que eu estava a fim de pedi-las em casamento e
armei uma "brincadeira". Não entendo a cabeça das mulheres, ninguém
entende, nem elas; mas posso apostar que isso aconteceria.
Então, quando estou quase por muito tempo navegando à procura, meu
celular apita em notificação.
Pego pra ver, abrindo as mensagens do meu amigo Samuel. Ele me
xinga em cumprimento e pergunta se esqueci que hoje é o dia de ele
escolher o terno do casamento.
É, esqueci mesmo.
Deixo o notebook com minha busca de lado e me levanto pra ir
encontrar meu amigo muito apaixonado, que manda uma foto com os
nossos outros amigos, todos me apontando o dedo do meio.
Dou um sorriso. Dois de nós já se ferraram nessa onda de amor; a
minha vez eu passo com louvor. Prefiro fingir.
É melhor enganar meu pai com uma falsa noiva que me ver preso pra
sempre, para sempre, ao lado de alguém.
Tô fora.
Capítulo 1

Victoria

10:42h Onde vc está?


10:51h eu vi que vc está online. Me responde
11:03h não vai me responde ne? Eu vou ai então
11:04h Vou achar seu novo endereço e vc vai me ver
11:04h querendo ou não
11:05h faz as merdas e dps quer sumir
______________________________________

Meus olhos passeiam nas mensagens enviadas mais cedo e eu respiro


fundo muitas vezes – tantas vezes quando possa ser possível em uma
tentativa de se acalmar.
Ele não poderia achar, poderia? Ele nem é da polícia! Somente o
pessoal autorizado consegue levantar endereços, não é? Claro que sim,
Victoria. Pare de se preocupar.
Me levanto do sofá e vou até a janela, puxando um pouco a cortina e
observando a movimentação da rua. Não acho que ele vá me encontrar aqui,
em um lugar tão cheio de pessoas. E eu não estou mais reconhecível. Agora
tenho cabelos castanhos e não pretos. Ao que parece, estou mais magra
também, já que estou tendo que comprar roupas novas em números
menores.
A causa disso? Provavelmente os dias que passei comendo sopa para
poder poupar para o aluguel da nova casa: em outro bairro, afastado e bem
afastado dele, buscando me sentir livre de novo. E também fiz duas
tatuagens. Na coxa esquerda e outra no ombro direito.
Não sou mais a Victoria de meses atrás. Meses em que eu ainda estava
perto dele, naquele relacionamento que se tornou sufocante de uma hora
para outra.
Sufoco. E era apenas isso que tínhamos, foi o que percebi depois.
Quando conheci Jacob naquela manhã chuvosa em um ponto de ônibus
antes de ir para o trabalho e ele me ofereceu companhia debaixo do seu
guarda-chuva, eu não poderia imaginar que aquele homem seria, mais tarde,
tão inconveniente, com ideias distorcidas.
Eu bem que pensei em recusar a oferta de estar com ele escapando da
chuva, afinal, era um homem desconhecido em um ponto de ônibus. Só
havia ele. E eu. Também tentei levar em conta que ele parecia estranho. Não
sei se foi sua aparência, o olhar, a junção dos dois com destaque para aquela
touca que ele estava usando e fazia um embalo só junto com a jaqueta
grande e aparentemente pesada que cobria seu corpo. Mas, de primeiro
instante, ele não dava uma impressão de conforto em estar perto dele.
Então me lembrei que minha mãe era quem costumava julgar as
pessoas pela aparência e ignorei isso – os meus instintos.
Fui para debaixo do seu guarda-chuva e começamos a conversar. Jacob
se mostrou não muito simpático de primeira. Falou que eu tomasse cuidado
que havia pisado no seu tênis, que eu ficasse quieta para ele não se molhar
muito e que eu parasse de roçar muito em seu braço que o incomodava.
Aquilo foi bem desconfortável e eu dei qualquer desculpa, que ia para
o outro ponto que havia assento, para sair de perto dele. Então ele segurou
meu braço, deu um sorriso e se desculpou. Disse que estava em um mau dia
e me ofereceu o guarda-chuva para eu ficar sozinha – o que não aceitei, é
claro.
Mas aceitei suas desculpas, o que foi meu maior erro. Eu devia ter
saído correndo, mas como não tenho bola de cristal, achei mesmo que havia
sido resultado de um mau dia seu.
Começamos a conversar tranquilamente e, levada pelo momento,
acabei passando meu número a ele quando me pediu. Ele disse que havia se
mudado há pouco tempo e seus amigos haviam ficado para trás. Vida de
adulto tem disso, renunciar a si mesmo, explicou. Amigos de verdade não
medem tempo para ver um ao outro, eu devia ter me atentado nisso.
Mas não o fiz. Passei meu número e começamos a conversar
por whatsapp. Por conta do meu trabalho, fotógrafa da PEARL, uma
famosa revista aclamada, eu demorei a dizer sim aos seus convites para
encontros.
Até que aconteceu finalmente. Em uma noite de sexta-feira, em que eu
só queria relaxar, nós fomos a um bar. Conversamos, rimos, bebemos,
dançamos e nos beijamos. E então veio outro encontro e mais outro, vários
até eu ser pedida em namoro.
Foi mais um namoro normal até o terceiro mês, quando Jacob
começou a querer saber quem estava me mandando mensagem, pedindo
para ver meu celular, perguntando quando eu ia dar uma cópia da chave da
minha casa a ele, também insistindo em saber se eu não confiava nele, e
aquela pergunta sempre me dava medo, porque eu não confiava como
pensei. E sempre que eu recusava qualquer dessas coisas ou hesitava muito,
ele ficava irado.
Teve uma vez que puxou o celular da minha mão com tanta força que
machucou. E desde aquele dia, eu tive que ocultar meus aplicativos e evitar
conversar assuntos muito pessoais no wpp. Quando dei por mim, já estava
me sentindo presa quase enforcada nas vontades de um homem que eu não
amava e não me dava nada que não medo.
Eu disse que queria terminar, ele aceitou. Tudo em paz, foram suas
palavras. Fiquei aliviada, mas em poucos dias comecei a receber mensagens
que meu wpp estava sendo cadastrado em outro aparelho. Por muitas vezes.
Mais de 60. Eu sabia que era ele, o que me deixou alarmada.
O pior momento era ir trabalhar. Eu sempre tinha a impressão de estar
sendo seguida. Não poderia mais ficar naquela casa, com Jacob sabendo
onde eu estava, então eu me mudei. Assim como seus amigos, bem distante
dele.
Tenho mais dificuldade para chegar ao trabalho, levo mais tempo, mas
estou tentando achar a liberdade de novo.
A que eu tinha antes de meu caminho se cruzar com o de Jacob.
Capítulo 2

Nathan

— Eu faço isso por você — Camila se solicita para corrigir a planilha


que ela mesma errou, se inclinando sobre minha mesa a ponto de jogar sua
bunda em minha cara. E por um momento meu foco deixa de ser tentar
encontrar uma modelo cruel suficiente que queira enganar meu pai junto
comigo e passa a ser a minha secretária gostosa que quer sempre dar pra
mim.
O que posso dizer? Camila tem um fogo interminável e não vou
reclamar disso. Pode ser que seja o que estou mesmo precisando: uma foda
que me me faça tirar tudo que é coisa dita pelo meu pai da cabeça.
Você é um bom filho. Quero que você seja feliz. Que piada. Se ele
quisesse que eu fosse feliz, teria se preocupado com isso quando eu era uma
criança, não agora, adulto e dono do meu nariz.
Me levanto da cadeira do meu escritório e agarro a cintura de Camila,
só para virá-la e colocar seu corpo em cima da mesa. O sorriso dela garante
meu sucesso e desfaço ele quando beijo sua boca doce, ela me oferecendo
sua língua e soltando gemidos que me ajudam muito mais na tentativa de
esquecer meu pai prestes a morrer.
Abro sua blusa, baixo os bojos do seu sutiã e sujo seus mamilos pra
minha boca. Ela grita, minha mão vasculhando por baixo da sua saia,
achando a calcinha e afastando-a do caminho. Ele só se importa agora
porque só existe eu pra dar continuidade ao seu nome no ramo
empresarial.
— Oh, Nathan... Isso, assim — Camila geme, me fazendo voltar com a
boca à sua.
Eu a beijo no compasso dos toques dos meus dedos em seu sexo e
quando a percebo ofegante, dou atenção em abrir minha calça e libertar meu
pau.
Minhas mãos seguem à gaveta da mesa e pego um dos muitos pacotes
de camisinha. Com uma secretária assim, muito disponível, é bom manter
um estoque perto.
— Mais depressa — Camila pede enquanto tira a calcinha e ajeita-se
em cima da mesa, as pernas abertas na própria face da tentação. — Me fode
logo, Nathan.
Eu faço o que ela quer. Me enfio em seu corpo com uma única
estocada, o grito que ela solta me fazendo dar outra e mais outra; um
vaivém forte se iniciando quando Camila cai deitada na mesa e apoio suas
pernas em meu ombro.
Tudo é lucidez então. Sim, as coisas ficam bem lúcidas quando se trata
do sexo, de causar e ter prazer. Mas então se distorcem quando volto à
realidade e percebo que vou ter o peso de levar nas costas o nome do meu
pai, e suas empresas e um holofote que eu não pedi.
Uma palavra: foda.
— Ai, assim! Continua! Bastante, aiiii. Gostoso. Nathan, hm-hm...
Me deixo levar por Camila e seus gemidos, seu orgasmo me fazendo ir
mais rápido, com mais força, com mais raiva, até que eu mesmo consigo
encontrar o meu clímax, apertando os olhos e sentindo a camisinha encher.
— Ah! — Camila suspira, acariciando a si mesma, um sorriso na boca
enquanto me retiro de dentro dela. — Eu adoro quando você me come com
força.
Que importa se eu sou feliz? Por que ele se importa agora? Porque vai
morrer, é uma resposta muito fácil.
— Preciso almoçar — digo e acompanho rapidamente Camila se
sentar, me olhando com desapontamento enquanto me livro do preservativo
e o amarro antes de seguir ao banheiro do meu escritório. — Volte para o
seu lugar, por favor. Não quero deixar ninguém esperando.
Mas o lance mesmo é que eu não quero ouvir os suspiros e elogios
pós-sexo da Camila. Ela tem disso. Me fazer sentir o melhor cara no sexo.
Joga meu ego lá em cima. O que é bacana, até certo ponto.
Até o ponto que começa a encher o saco.
Ao fim do dia, não vou pra casa. Tampouco aceito o convite de Camila
pra ir na sua jantar. Não preciso de mais tempo com ela. O que passamos no
escritório é suficiente.
Enquanto entro no bar, meu celular notifica uma nova mensagem.
Eu o pego para conferir enquanto tomo assento em um dos bancos
rente ao balcão. Peço uma dose de uísque, me lembrando de Tina
comunicando que as complicações de saúde do meu pai também se sentiram
impulsionadas a desencadear rapidamente pela grande quantidade de álcool
que ele consumia.
Foda-se? Eu não sou ele.
Enquanto o bartender pega minha bebida, minha vista passeia pela tela
do celular. Samuel me mandou uma foto da casa nova, avisando que preciso
comparecer ao almoço de inauguração. É uma lei e vou ser preso caso não
vá.
Isso me faz sorrir. E nem é por querer zoar o meu amigo. Me sinto
contente por ele e pelo Ryan. Sério mesmo.
Se eles precisaram encontrar alguém pra se completar, ótimo, fizeram
bem, que sejam sempre muito felizes. O que não é meu
caso, felizmente também.
Sozinho eu sou livre; sozinho não tem ninguém me esperando com
uma série de perguntas que exigem porquês; sozinho eu só decido por mim,
falo por mim, penso só em mim e não tenho que me preocupar com mais
ninguém, só comigo.
E isso de se apaixonar, criar vínculo, laços afetivos e amorosos com
outra pessoa... NÃO. Parece mais uma maldição do que bênção. Não quero
mesmo isso. Nada disso.
Deixa eu ser Nathan Russell mesmo, bom filho e aparentemente não
feliz, e tá ótimo assim.
Confirmo para Samuel que vou sim à inauguração da sua casa,
parabenizando-o pela nova conquista, então mando uma foto da estante de
bebidas à frente da minha vista; guardando o celular quando meu uísque é
trazido.
Uma boa noite, o que nós quatro, amigos, concordaríamos
antigamente.
Capítulo 3

Victoria

Me dei a liberdade de sair de casa sem cautela. Afinal, estou em um


bairro novo, distante, morando em uma casa nova, perto de ruas sempre
movimentadas; então não preciso me preocupar. Jacob nunca me acharia. A
menos que ele seja da polícia. E ele não é. Seu trabalho é em uma fábrica
operando máquinas e não tem qualquer coisa a ver com a polícia.
Alicercada e confiante nessa certeza, eu sigo até um dos bancos do bar.
Está movimentado, mas não o bastante como em uma sexta-feira perto das
dez da noite, por exemplo.
Peço água com limão ao bartender, que se retira com um sorriso e um
"é pra já"; uma risada grossa ao meu lado chamando minha atenção.
Eu olho para o homem de terno, cabeça pouco inclinada para frente,
mexendo o copo em mãos, seu cabelo preto caído para frente enquanto o
som da sua risada deixa de ecoar e ele se limita a um sorriso. Não é Jacob.
Jacob tem cabelos castanhos e é mais alto. E também não tem uma risada
assim, agradável de ouvir.
— Quem vem a um bar pedir água com limão? — ele pergunta e seus
olhos vêm encontrar os meus.
Ele é lindo, me impressiono. Apesar de ser notoriamente mais novo.
Cabelo liso escuro, sobrancelhas grossas e cílios longos em conjunto
medido e perfeito com os olhos também escuros.
A perfeição existe, ao que parece.
— Eu venho — respondo, a garganta seca. Quero acreditar que foi a
caminhada um pouco demorada da minha casa até aqui, mas também tem a
chance de eu estar mexida pela beleza desse homem. Mais novo que eu,
com certeza, mas é um homem já formado. Muito bem formado.
— Você não consome bebidas alcoólicas? — ele pergunta como
divagando.
Pigarreio.
— Consumo, mas quero me manter sóbria.
— Hm — ele murmura. — Entendo. Não quer dirigir bêbada e
também poupar acidentes. Mulher responsável. E aí é que tá — dá risada
—, mulheres costumam ser mais responsáveis mesmo.
— Você que está dizendo.
Ele balança a cabeça, seus olhos penetrando os meus e eu me arrepio
toda. É um olhar enigmático mas que ao mesmo tempo me consome e me
envia uma mensagem telepática de eu quero você.
Ou talvez a mensagem seja minha. Eu o estou querendo. O que não
tenho culpa. É o meu corpo falando por mim. Deixei Jacob e, antes mesmo
disso, não tínhamos nada. Como bem notei: só sufoco. Eu não o queria, ele
não me procurava. Mesmo que procurasse, eu não ia querê-lo. Eu não sei se
fui traída, provavelmente, mas pouco me importo.
Neste momento, não me importo com nada porque a beleza física deste
homem chamou toda a minha atenção; mais novo e de olhar penetrante, me
fez acender e lembrar que faz muito tempo desde que estive com alguém.
Mais de dois anos, o que é compreensível quando se é solteira, mas
namorando como estive há um ano, é no mínimo estranho.
— É — ele assente. — Estou dizendo, sim — seu corpo se vira de
frente para o meu, meus olhos inquietos em perturbação por tanto que sua
maneira de atrair é absurda. — Me chamo Nathan — se apresenta. — E
você?
Balanço a cabeça. Não gostaria de me apresentar, mas ele é tão... Tão.
E me deixou como sentindo faíscas pelo corpo.
Tenha um pouco de respeito por si mesma, Victoria. Você é uma
mulher de 29 anos, não uma adolescente que se leva pela beleza de um
cara.
— Eu sou alguém — dou um sorriso, agradecendo ao bartender
quando ele traz minha água e posso resolver o problema da minha garganta
seca.
— Ah — Nathan dá uma risada entrecortada. — Tudo bem, você não
precisa me dizer seu nome. Deve ser casada, né? — ele não espera uma
resposta, complementando: — Não quis dar uma má impressão, desculpa.
E não deu, quase digo. Só estou perturbada pela sua beleza e pela
forma que fui desperta em silêncio.
— Eu seria muito inseguro também se fosse casado com uma mulher
linda como você e visse ela dando confiança pra um babaca de bar — ele
volta a divagar, me fazendo olhá-lo depois de dar alguns goles em minha
bebida.
Seu sorriso me desafia a não corresponder, o que é impossível.
— Você mora por aqui? — decido perguntar, procurando por uma área
de assunto mais concreta. Se vamos conversar, que seja sobre
algo irrelevante.
— Não — seu semblante desmancha um pouco da sutileza. Ele sorve
um pouco da bebida em seu copo, a vista ficando distraída à frente. — Meu
pai mora por aqui perto. Ele tá prestes a bater as botas.
— Nossa, eu sinto muito — me compadeço.
— Não, não precisa sentir — Nathan rebate imediatamente. — Ele não
é essas coisas pra mim. Não vai ser muito difícil lidar com o fato do seu
coração parar de bater.
A última frase é pontuada de um sorriso e ele bebe mais um gole da
sua bebida.
Mas estou impressionada de novo. É o seu pai, ele devia sentir alguma
coisa por dizer isso. Por esse descaso. Se não sente, é porque teve algo
errado.
— Não são apegados? — arrisco perguntar. Está bem que ouvir o
desabafo de alguém não era o que eu tinha em mente quando decidi sair de
casa para distrair a cabeça; mas, se é o que tem, é o que vai ser.
— Depende do que você chama de apego — ele ergue as sobrancelhas
e volta os olhos penetrantes para mim. Talvez seja o contraste dos cílios
longos e das sobrancelhas grossas que deixam seu olhar tão impactante,
mas, de qualquer forma, é um olhar digno de toda a atenção.
Eu desvio o meu, escolhendo beber mais água com limão. Me sinto
mais firme fazendo isso que o encarando.
— Ele me chamou para fazer um último pedido — Nathan diz, não se
dando ao trabalho de voltar à minha questão sobre apego. — Ele quer me
ver casado, mas, você sabe, não vou fazer essa porra só porque ele quer.
Eu o olho outra vez.
— Você parece irritado — comento. — É um filho rebelde?
Ele dá um sorriso malicioso, se inclinando um pouco para a frente.
Não muito, só a ponto de fazer minha respiração suspender um
milissegundo pela projeção do quase. Quase me alcança perto demais.
— Sou um bom filho, meu pai mesmo disse — ele me confidencia em
voz baixa. — Você foi uma boa filha pros seus pais?
É uma pergunta esquisitíssima, mas, se eu quis saber dele, tudo bem
responder isso sobre mim.
— Sim — digo. — Sempre fui uma boa filha. Meus pais não dizem
muito isso, levando em conta que não era, e não é, a coisa mais fácil do
mundo prestar atenção em sete filhos. Mas, dá para notar, eu acho. Que sou
boa filha, quero dizer.
— Sete? — Nathan assobia. — Porra. Isso que é gostar de povoar a
Terra.
Dou risada. Uma risada sincera. Livre. Leve. E é a primeira desde que
me lembro depois de Jacob.
— Sim, sete. Acho que antigamente o passatempo era namorar.
Ele sorri.
— Devia ser — concorda. — Qual o seu passatempo?
— Ah — digo com se fosse algo banal responder. — Eu sou fotógrafa,
então acho que esse é o meu passatempo: tirar fotos.
— Não gosta de mais nada? — ele parece fugazmente interessado, o
que me faz sorrir.
— Bom, sim. Gosto de tentar pintar as flores que fotografo, às vezes.
Eu não chego nem perto da beleza real, mas eu tento. É divertido.
— A beleza real — ele repete, seus olhos se estreitando, como me
examinando. — Tipo a sua?
— A minha? — rio de novo.
— Você é tão bonita. Bela. Tenho quase certeza que seu nome é esse.
Seus pais te viram e não tiveram dúvidas que seria o nome perfeito pra filha
onde toda a beleza ficou. Acertei?
Minha risada agora é de vergonha.
Foi uma coisa tosca de Nathan dizer, mas faz um tempo desde que me
senti leve assim, e que alguém flertou comigo, então tenho passe livre para
me envergonhar e Nathan tem passe livre para ser tosco.
— Não, não. Meu nome é Victoria.
E só depois de dizer que me dou conta de que me apresentei sem
perceber.
Capítulo 4

Nathan

— Victoria — eu repito. — Com esse nome, já nasceu vitoriosa.


A gostosa ao meu lado solta um murmúrio. Não falei a coisa certa ou
ela discorda totalmente das palavras que deixaram minha boca.
Independente do que foi, não acho que vai ser difícil levar ela pra
minha casa dentro de alguns minutos. Eu estou carente tá bem estampado
em sua testa. Apesar de ela fazer um ótimo esforço para disfarçar, com
aquilo de não dizer seu nome de primeira, não é como se demonstrasse
desinteresse.
— Você tem irmãos? — Victoria escolhe perguntar a me repreender.
— Filho único. Que bom, né? Imagina duas, três ou sete — sorrio —
crianças sendo criadas por um pai como o meu, que sequer se lembrava que
tinha filho. Cheguei a conclusão que ele deve odiar a minha mãe.
— Por quê? — ela estranha.
— Por ter me colocado no mundo e consequentemente na vida dele.
— Oh — Victoria tem um momento para digerir minha resposta e
emenda uma pergunta: — Aliás, como ela está lidando com isso de o seu
pai estar quase... falecendo?
Dou um sorriso.
— Não sei, não sei dela — desdenho. — Foi embora, era só o que ele
me dizia quando eu conseguia achá-lo pra perguntar — olho meu copo
vazio, o vidro parecendo interessante de repente. — Não que eu me
importe, não vou culpar uma atitude que não tenho entendimento. Meu pai
não devia ser o melhor marido também. Bom pai não foi. Não busquei saber
se foi bom chefe, mas bom empresário sei que sim. Juntou uma grana alta e
construiu um patrimônio invejável.
Victoria se isenta de palavras até decidir por dizer:
— A ponto de impelir sua mãe abandonar o filho... Não devia ser
mesmo o melhor marido.
— De qualquer forma, eu não fui um filho desejado. Por nenhum dos
dois — sou convicto no que digo. — Meu pai deve ter pedido pra ela sumir
depois que nasci. Ou melhor, ela deve ter me deixado com ele, pegado um
dinheiro e vazado.
Victoria tem outro momento de espanto; mas se as coisas tiverem
acontecido assim, não é de surpreender, na real.
Meus genitores não devem ganhar uma medalha de ouro pelo que
fizeram: eu. Tenho mais lembranças de pessoas que não são nem meus
parentes do que deles. Do meu pai, na real. Da minha mãe... nem sei quem
é!
Peço mais uma dose de uísque ao bartender e quando ele vem encher
meu copo, faço-o me deixar com a garrafa.
Quando meu foco volta para a mulher ao meu lado, vejo-a agarrada ao
seu celular. Seu rosto está tenso e logo o aparelho é descartado para o
balcão como com urgente repugnância, Victoria levando o copo de
limonada à boca e encostando nos lábios, tintilando as unhas no vidro
enquanto sua vista congela à frente.
— Recebeu a notícia de outro irmão vindo ao mundo? — pergunto na
tentativa de descontrair.
Ela me olha de imediato, quase como um susto, quase como se tivesse
esquecido que estou ao seu lado.
— O que disse? — rebate, as sobrancelhas franzidas.
— Você ficou tensa depois de olhar o celular — faço um gesto com a
cabeça para apontá-lo sobre o balcão —, perguntei se foi por receber a
notícia de que vai ganhar um novo irmão.
— Ah — ela dá um sorriso sem graça, a cabeça negando ao mesmo
tempo. — Isso? Não é nada...
— Não mesmo? — estreito os olhos. — Não quero bancar o
fofoqueiro, porque não sou. Mas, olha pra nós, pra você — sorrio para o seu
copo de limonada. — Estamos num bar ao fim de um dia de semana. Não
parece que o que temos lá fora é melhor que estar aqui, com nossos copos.
Então, se posso dizer, com certeza não existe pra você esse "é nada".
Victoria respira fundo, balançando a cabeça como um tipo de negação
solitária. Ela solta outro murmúrio, cabisbaixa.
— Tem razão — expira. — Não é que não seja nada, mas não é algo
que precisa ser compartilhado. Não merece ser dividido.
— Ah, sem essa! Não ligo pra meritocracia de situação nenhuma. Me
conta aí.
Ela me olha e sorri, assentindo uma vez com a cabeça.
— Era meu ex — acaba dizendo, ainda que baixinho, como se me
contasse um segredo. — Ele deu de me fazer sentir encurralada.
Estreito os olhos.
— Encurralada?
— Sim.
— Como assim? Ele tá te ameaçando?
— Não — ela nega. — Pelo menos, não agora. É mais as coisas que
ele fala. Algo que me faz sentir alerta, mas ele não me ameaça diretamente.
Só cria um suspense e me deixa sentir com medo.
— Um covarde da porra — concluo. — Ele não aceitou que vocês
terminaram?
— Eu achei que sim. Ele pareceu ter aceitado bem — Victoria respira
fundo, como derrotada, deixando os ombros caírem. — Mas acho que
mudou de ideia depois de uns dias.
— Já foi à polícia pra denunciar?
— Não — ela nega. — Eu não acho que agora, depois de me mudar,
ele vá me achar. Apesar de ele ter dito que sim.
Não entendo bem seu ponto. Na melhor hipótese, é claro que ela devia
já ter dado um alô na polícia, mas ela não fez isso...
— Deixa eu falar com ele — sinalizo que Victoria me dê seu celular.
Seus olhos se arregalam.
— O quê? Não! — se recusa.
— Me dá aí, Victoria. Ele só vai parar quando perceber que você não
tá sozinha.
Ela ri.
— Mas eu estou sozinha.
— Não mais — gesticulo o aparelho. — Me dê. Prometo que só vou
dizer o necessário.
— Se ele perceber outro homem "comigo", só vai piorar o que já está
ruim — deixa claro.
— Seu ex precisa de um choque de realidade — esclareço. — Ele não
é seu dono. Deixa eu resolver isso pra você. Garanto que as coisas vão
melhorar depois que eu te ajudar.
Ela dá outro riso nervoso, com muita relutância arrasta o celular para o
meu lado, mordendo o lábio enquanto me lança um olhar incerto e
amedrontado.
— E se piorar? — pergunta.
— Não vai — garanto. — Esse tipo de covarde como seu ex, só cresce
pro lado de quem se deixa atingir.
Olho para o celular já aberto na conversa do wpp, então aperto para ver
a foto do Jacob – como está salvo o contato.
O cara aparenta ser alto demais, forte demais e com uma expressão
tempestuosa demais. Repenso minha nobre atitude por um segundo, mas,
missão dada é missão cumprida.
Aperto para fazer a ligação.
— Vamos trocar uma palavra com o Jacob — dou um sorriso para
Victoria enquanto ponho o celular no ouvido.
Ela suspira e balança a cabeça, reafirmando em silêncio que isso não é
uma boa ideia; mas a voz de Jacob já está respondendo ao início do
segundo toque, grossa e grosseira, soltando um "não adianta fugir, eu vou te
achar".
Capítulo 5

Victoria

— Fugir? — Nathan pergunta e ri, seu semblante se fechando de


repente enquanto eu, inquieta, começo a sentir meu coração acelerar.
Isso de deixá-lo falar com Jacob foi uma péssima ideia. Péssima. O
que vou fazer depois que a ligação for encerrada e Jacob ficar com o dobro
de ódio por mim?
— Você vai fugir, meu parceiro — Nathan continua, a voz séria igual
sua expressão. — Como é que é?! Vai fugir porque eu vou mandar a polícia
até você. Continua ameaçando minha namorada que nada de bom vai te
acontecer, tá ouvindo? — ele se levanta do banco, o som do meu coração
batendo rápido estalando em meus ouvidos. — Victoria está comigo agora,
não mais sozinha. Entendeu ou vou precisar explicar te fazendo uma visita?
Covarde filho da puta.
Meus olhos se arregalam. Não sei se Jacob disse algo do outro lado da
linha, o que é provável, mas Nathan eleva o tom da voz e impõe toda uma
raiva nas palavras. Tanta que me faz encolher.
— É melhor pra você sumir, Jacob — Nathan frisa depois de um
instante ouvindo o outro lado. — É melhor se esconder onde não possa ser
achado senão as coisas não vão terminar bem pro seu lado.
Observo-o tirar o celular do ouvido e apertar para encerrar a ligação.
Seus olhos voam em mim no instante seguinte e Nathan se aproxima, o
rosto rijo.
Ele me entrega o celular, nossos dedos se esbarrando no processo, o
calor do toque breve e incompleto me fazendo suspirar.
— Bloqueia ele — ordena.
Balanço a cabeça. Não.
— Não mesmo — me recuso. — Isso vai deixá-lo pior do que é. Ele
vai falar por outros números e... — eu me calo. Me calo porque estou sendo
encarada como se fosse uma lunática.
— E por que você não muda o seu número, Victoria?
Me sinto como uma criança que precisa ser ensinada por adultos. O
que é bem irônico se levarmos em conta que eu sou mais velha aqui.
— Porque não posso. É o meu número — respondo como se fosse
óbvio. — De profissão também. Não posso mudar de número assim, do
nada. E quem quiser me contratar de novo? Clientes antigos? É o meu
número no cartão de visitas que já foi muito distribuído. Eu não posso me
sujeitar a isso. A ficar me encaixando às vontades dele!
Nathan me ouve com atenção, estando mais tenso quando termino.
— Entende? — suspiro esgotada. Tenho estado assim desde muito
tempo. Sinto falta de quando não me sentia assim.
— Entendo — seus olhos se estreitam. — Jacob é um cara muito
abusado. Você sabe disso, não é?
Balanço a cabeça positivamente. Se sei.
— O que significa que você não pode mesmo mais estar sozinha —
Nathan esclarece. — É perigoso.
— Eu não acho que é perigoso — talvez um pouco, depois dessa
ligação —, mas, apesar de parecer assustador, Jacob não é violento. Ele
nunca quis me bater ou algo assim — me arrepio diante das minhas próprias
palavras. — Eu não acho que vai se tornar mais perigoso do que já poderia
estar sendo.
Nathan está negando com a cabeça.
— Eu não supus, eu afirmei — ele diz, os olhos fixos em mim, me
analisando. — Por que não vai passar um tempo na casa dos seus pais? Não
é a melhor pedida, mas pelo menos você vai estar mais segura que sozinha.
— Os meus pais estão quase idosos e querem sossego. Não vou
perturbá-los com meus problemas — inspiro fundo depois expiro devagar,
atordoada. — O Jacob não vai me fazer nada.
— Não iria, talvez, porque te percebia em resguardo e acreditando nele
a ponto de se mudar. Você estava na dele — Nathan volta a se sentar e sua
mão encontrando meu joelho por cima da calça me faz arregalar os olhos.
— Mas agora que sabe que você não está sozinha, não vai ser mais assim.
— Eu disse que você não devia ligar para ele! — ofego e passo as
mãos no rosto. — Eu disse. Oh, merda...
— Isso pode ser resolvido. Vem pra minha casa morar comigo.
— O quê? — minha cabeça começa a funcionar tão depressa que há
um grande risco de eu ter ouvido absurdamente errado.
— Morar comigo. Podemos fingir que estamos casados.
— O-quê? — eu repito, me inclinando para frente a fim de tentar
escutar melhor. Não pode ser o que ouvi.
Mas Nathan se move também, seu perfume agradável pairando pelos
meus sentidos enquanto seu rosto se coloca quase perto demais do meu.
— Morar comigo. Podemos fingir sermos casados — ele explica com
a maior naturalidade. — Podemos juntar seis a meia dúzia — sua cabeça
faz um gesto rápido, como se seu plano repentino não fosse nada demais. —
É vantajoso para os dois. Meu pai me fez esse último pedido antes de
morrer e você precisa ficar segura. Vai ser prático e limitado. Só até meu
pai bater as botas e o seu ex te esquecer ou se convencer que vocês não tem
mais nada. Daí, a gente se divorcia — ele sorri. — Brincadeira. Se separa.
O que acha?
O que eu acho?
Capítulo 6

Nathan

— Acho péssimo, uma loucura! — Victoria declara. — Minha nossa!


Como você pode me oferecer algo assim? A gente acabou de se conhecer.
— Basicamente você sabe tudo da minha vida já. Deu tempo te contar
tudo em... Bom, nesses minutos — me viro para o balcão e pego a garrafa
de uísque, dando um gole generoso.
— Eu não sei a sua idade! — ela solta como uma acusação, me
fazendo olhá-la com as sobrancelhas arqueadas.
— Por que minha idade importa?
— Porque você é muito jovem, como bem mencionou minutos atrás.
Sorrio.
— Jovem, mas não tanto. Tenho 25. De idade, não centímetros.
Victoria não vê graça na minha brincadeira, virando o rosto como
descrente e suas mãos passando pelos cabelos.
— O que você tem a perder? — pergunto.
— O que eu tenho a ganhar? — ela rebate.
— Segurança, que é o primordial nesse momento da sua vida —
meneio a cabeça. — E também não é ruim morar comigo, vai. Sou um cara
legal.
— Você é bem mais novo que eu! — ela fala, descrente.
Franzo o cenho.
— Você tem quantos anos? Noventa? É uma nova versão de Benjamin
Burton? — sorrio. — Eu não me importo com a sua idade. Quero me casar
com você mesmo assim.
Victoria ri.
— Você deve ser louco — sibila.
— Tem vezes que penso isso, mas garanto não ser — dou outro gole
no uísque, olhando-a em seguida. — Umas visitas juntos ao leito do meu
pai, umas fotos nossas nas suas redes sociais pro seu namorado ver que
você não está sozinha e pronto, a gente larga um do outro.
Victoria fica de boca aberta, me olhando fixamente até me tirar mais
um sorriso.
— Pra mim parece uma ótima ideia — friso.
— Eu acabei de me mudar.
— Ué, se muda de novo — dou de ombros. — Mistério nenhum.
Capítulo 7

Victoria

Um dia, provavelmente, eu vá querer me esbofetear pelo que aceitei e


concordei. Mas não agora, não depois que chegamos à casa de Nathan. "A
casa". Está toda reluzente por fora, iluminada pelo pisca pisca de Natal; o
que achei bem curioso e surpreendente levando em conta as características
que tracei dele pelo que conversamos.
— Aqui é a sala principal — ele vai gesticulando e apresentando os
cômodos enquanto o sigo. — Tem outra sala nos fundos da casa, mas não
uso muito ela. Aqui em baixo fica um dos quartos — ele sinaliza o corredor
e segue em passos. — Aqui é a cozinha, o lavabo ali, do lado ali é a
academia, que eu uso bastante — ele dá um sorrisinho astuto e posso
presumir o que deve estar escondido por baixo das peças de roupa. — Tem
uma sala de jogos também, mas você não tem cara que curte de jogar.
— Não mesmo — concordo.
— Beleza — ele bate palmas, me chamando em seguida. — Vamos
subir. Tem mais quartos e uma sala de leitura. Ah, meu escritório fica no
segundo andar também. Tô já dizendo para o caso de você precisar falar
comigo, saber onde me achar. Claro que vou te dar meu whatsapp também,
mas nada a ver usar rede social em casa se temos a boca.
Balanço a cabeça em concordância, tentando seguir sua aparente
empolgação. Ele está empolgado? É o que parece.
Espero que não esteja pensando que encontrou uma mãe ou alguém
para substituir a carência de afeto do seu pai, ou qualquer coisa assim. Eu
não faço esse tipo e não tenho mesmo essa intenção. Só vim mesmo porque
Nathan me convenceu ser mais seguro e, como não posso ir para a casa dos
meus pais, essa foi a minha melhor escolha no momento, já que também
não iria perturbar meus irmãos.
— Você não precisa se preocupar que eu não dou festas em casa — ele
se vira para mim quando chegamos ao segundo piso. — Não faço isso
desde que deixei a casa que morava com meus amigos, na real. Meio que
não pegou bem a última festa que rolou e deixou todos nós em um tipo de
trauma pra festas. Sem falar que estou ocupado demais e também velho
para isso.
Dou risada.
— Se você está velho, eu estou idosa — murmuro.
Nathan ergue as sobrancelhas, ficando um charme só quando pontua a
ação com um sorriso de canto.
— Uma idosa muito atraente, se me permite dizer.
Abano as mãos, como me desfazendo do comentário de forma banal.
Ele só está sendo gentil, é óbvio.
— Bom, continuando — volta a andar, abrindo uma porta de vidro de
duas folhas, deixando o vento frio entrar para nos abraçar. — Aqui —
Nathan gesticula nossa direita — fica o meu quarto e nessa porta da frente
tem um quarto livre. No início do corredor, outro quarto. Pode escolher um
desses dois.
— Acho que vou ficar com o do início — digo.
— Ah, sério? Por quê? Só por ser longe do meu? — ele coloca uma
mão no peito. — Que vacilo, Victoria. E eu ingênuo achando que você iria
querer dormir no meu quarto.
Dou risada, negando impulsivamente com a cabeça.
Estou nervosa e desconcertada.
Tenho tudo para estar. Aceitei morar por um tempo com um cara
desconhecido e rico que conheci em um bar. Quer dizer, e se ele for como
o golpista do Tinder, e a sua história do pai quase morto for inventada, e
aquele seu amigo não passar de um comparsa que o ajuda a enganar
mulheres? E se essa casa nem for dele? Esse ambiente parece tão familiar
para alguém que não tem uma família.
São muitas possibilidades! Por isso, quando olho Nathan de novo, que
está abrindo a porta do seu quarto, tenho um olhar desconfiado no rosto.
Ele percebe quando volta a me encarar. Sei que percebe pela forma que
sorri.
— Relaxa — ele diz —, não vou te convidar para o meu quarto. Só se
você quiser — emenda depressa.
— Posso saber um pouco mais sobre você? — questiono, ignorando o
que ele disse.
— Nossa, que voz séria — franze as sobrancelhas. — Pode, claro. Eu
sou o herdeiro das empresas Russell. Você sabe, a HighSound, Playound, R-
Infinity... Tem outras, mas não são as mais em alta.
— R-Infinity? — questiono. — Minhas duas câmeras são dessa marca.
Custaram meu fígado.
Ele sorri.
— É. Como eu disse, meu pai soube fazer a coisa funcionar fora de
casa.
— Entendi — meneio a cabeça e gesticulo. — Se não se importa que
eu pergunte, você comentou que não tem muito apego com seu pai e que
não conheceu sua mãe, não tem irmãos, mas sua casa por fora está toda
enfeitada para o Natal e eu vi uma árvore também toda enfeitada no andar
debaixo... Posso perguntar por quê? Quero dizer, Natal é uma época festiva
para se comemorar com a família e você não parece ter muita familiaridade
rondando os seus dias.
Nathan ri, para minha surpresa.
— Gosto da sua forma de perguntar — sua fala tem ironia. — Você
tem razão. Não tenho nada de família rondando meus dias, mas eu curto o
Natal. Quando eu era pequeno, minhas babás sempre "comemoravam" o
Natal comigo. Você sabe, elas liam as histórias da época, "A Noite de Natal
do Tio Patinhas" era minha favorita, eu me amarrava. A gente fazia
biscoitos, elas me deixavam decorar, enfeitar a árvore, colocar a estrela no
topo e todas essas coisas que crianças gostam. Aí, eu sou apegado a época.
Não sei, me traz uma vibe boa. Tipo isso.
Ele não me espera dizer alguma coisa quando entra no seu quarto,
acendendo a luz e sumindo da minha vista por um momento.
Eu ouço algum barulho e se passa algum tempo antes de Nathan
retornar, agora sem blusa – que minha Victoria interior me controle para
não ficar olhando sua barriga perfeitamente esculpida e de dar água na boca
– e sem sapatos, o que já chamaria atenção suficiente não fosse seu rosto de
expressão mudada.
Tremendamente sério, Nathan passa por mim, só parando para me
chamar depois que chega ao quarto no início do corredor.
Então sim ele me olha, a mão na maçaneta enquanto pergunta:
— E aí, você vem?
Capítulo 8

Nathan

Victoria vem até mim e percebo a indecisão tanto nos passos hesitantes
como em seu olhar. Mas, falando muito sério, minha casa é a melhor opção
pra ela nesse momento. Aqui ela vai poder se sentir segura, coisa que não
conseguiria morando sozinha e com um ex inconformado atrás dela.
— Você pode colocar suas roupas nos armários — gesticulo em
direção a eles quando entro no quarto. — Depois do jantar eu pego suas
malas no carro e trago pra cá. Quando você vai devolver a chave mesmo?
— Na quinta — ela esfrega as mãos por cima da calça, inquieta.
Parada no batente da porta, os olhos expressivos enquanto observa o quarto,
só posso pensar em uma maneira pra tentar deixa-la mais relaxada. A minha
maneira, a melhor maneira. — Você vai querer que eu pague quanto para
ficar esses dias aqui na sua casa?
— Que você pague? — dou risada, apontando a porta do banheiro. —
Ali fica o banheiro. Você pode tomar banho enquanto eu faço o mesmo no
meu quarto e, não, isso não foi um convite. A menos que você queira que
seja.
Victoria desvia o olhar, voltando a reparar no quarto.
— Não vou querer que você me pague nada — respondo sua pergunta.
— Me ajudar no lance de fingir ser minha namorada que me faz feliz já é
suficiente. Eu teria que perder umas horas e ter todo um trabalho se tivesse
que encontrar alguém pra contratar. Sem falar que ficaria muito na cara que
seria fingimento.
Ficaria mesmo. Me chama pra foder, mas não me chama para qualquer
coisa que implique em romance. Eu não sou muito ligado nisso. Nem um
pouco, sendo bem honesto.
Quanto mais se fosse uma mulher contratada que dependesse do meu
romance na coisa de encenar para o meu pai quase morto. Sem essa,
definitivamente.
Encontrar Victoria foi como se o destino tivesse agido a meu favor. Ela
é a minha moeda da sorte na fonte dos desejos. O meu achado. A voz da
experiência no lance de relacionamento a dois. Vai ser minha guru na coisa
toda. Não vou nem ter trabalho nenhum.
— Mas nós também vamos fingir — ela rebate com um sorriso
preguiçoso.
— É diferente. Nós temos alguma intimidade. Eu não teria isso com
uma contratada. Pô — dou um riso —, eu falei com o seu ex, te contei tudo
de mim. É mais que intimidade, é o suficiente.
Ela morde o lábio, acenando com a cabeça em concordância, mas
meus olhos ficam vidrados na ação, quase me fazendo sentir um idiota.
Esses lábios devem ser deliciosos de beijar e pra passar o p...
— Se você diz, tudo bem — ela concorda.
— Não tem toque de recolher aqui, beleza? — me movo para voltar ao
corredor e ir atrás de um banho gelado. Acaba que nos esbarramos quando
vou passar pela porta e aproveito para completar: — Você pode chegar a
hora que quiser.
— Eu durmo cedo porque trabalho e tenho que acordar às cinco — ela
esclarece. — Só folgo aos fins de semana, exceto quando tem desfile em
outro país e preciso ir fotografar, mas isso só acontece poucas vezes. Duas
no ano, no máximo.
— Também não precisa me dar satisfação, como tá fazendo agora —
dou um sorriso rápido. — Morar comigo é como se estivesse morando
sozinha, como eu disse. Só te peço pra não desfilar por aí de calcinha e sutiã
porque também não sou de ferro.
Victoria dá uma risada à vontade, me fazendo franzir as sobrancelhas.
— E por que eu faria uma coisa dessas? — quer saber.
— Você até pode fazer, mas tem que se preparar para as
consequências.
Ela continua rindo.
— Certo, mas por que eu faria isso?
— Não acho que faria, eu só queria que você fizesse.
A expressão risonha deixa seu rosto no mesmo instante, Victoria
engolindo em seco. Peguei pesado, fui muito honesto?
Devo ter sido. Mas as mulheres que conheço gostam quando vou
direto ao ponto. Mas essa aqui eu não conheço, então...
— Foi mal — prefiro me retratar. — Tô brincando. Não leva a sério
algumas coisas que digo. Você sabe como é, acabam escapando da boca.
Ela ri. Um riso um pouco atravessado, como se não tivesse muita
certeza se quer deixa-lo fluir.
— Acho que minha idade interfere em eu entender sua piada também
— murmura.
— Acho que você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer —
afirmo. — Bom, fica à vontade. Vou trazer suas malas antes de ir para o
banho. Não quero que você saia do banheiro também e fique pelada.
Dou um sorriso antes de descer as escadas, mas só porque eu estou
nervoso para um caralho.
Que merda estou prestes a fazer? Enganar meu pai, beleza. Essa parte
é moleza. Mas isso não é tudo, é? Não, não é. Essa mulher vai morar aqui
comigo até tudo se resolver. Eu trouxe uma estranha para dentro da minha
casa, cara.
O que meus amigos diriam? Que eu sou louco; é, mas todos nós quatro
somos. Seria mais a cara deles jogar a culpa na quase morte do meu pai.
Certeza que diriam que isso está me afetando em pensar racionalmente.
O que pode ser também, mas, além disso, tem o meu instinto que foi
impulsionado. A ajudar Victoria que, aparentemente, assim como eu, não
tem alguém consigo.
Tem família? Tem. Mas só por nome. Só porque é o mesmo sangue
correndo nas veias. Parece que agora, precisando de ajuda, ninguém é
visível para ela. Ninguém é confiável suficiente para abraçá-la nessa.
E disso eu consigo entender. Os de fora são mais família que os do
próprio círculo "familiar". Foda ter que se deparar com isso em outro
alguém e cruzar os braços, ou fazer vista grossa, eu não consigo. Não
consegui.
Então provavelmente eu tô louco sim, afetado, ou seja o que for, mas
vou ajudar porque isso está no meu alcance.
— Nathan?
Eu me viro quase ao alcance da porta para encontrar Victoria, lá no pé
da escada.
— Que houve? — quero saber.
— Aquele quarto... — ela se apoia no corrimão. — Os galhos de
árvore perto da janela fazem um barulho estranho encostando nela. Parece
de alguém querendo abrir o vidro e... Entrar. Posso mudar a escolha do
quarto?
Dou um sorriso.
— Claro que pode — assinto. — Comigo você pode tudo.
Capítulo 9

Victoria

Acho que o mais sensato a fazer seria me virar e voltar lá para cima,
me acomodar no outro quarto e esperar que Nathan leve minhas malas,
como se ofereceu para fazer. Mas, de alguma forma, eu não consigo me
mover de onde estou. Algo nele, ou na situação em que me encontro, me faz
ficar parada no primeiro degrau, encarando-o.
Sua seminudez não ajuda muito também. Ele não devia ficar tão logo
exibindo seu corpo bem cuidado, bem malhado, tão delineado em
músculos. Eu ser mais velha que ele não me impede de ver, e estou vendo.
Vendo o suficiente para dizer que Nathan é uma tentação. Uma tentação
inalcançável para mim. Mas que não deixa de ser uma tentação.
Não que eu o queira, porque não quero. Não tanto, não
desesperadamente. Mas...
— Mais alguma coisa? — ele quer saber e lambo os lábios.
Essa voz dele, baixa assim, faria um estrago em mim com a maior
facilidade ao menor dos toques. Quanto mais depois das suas brincadeiras
inteiramente propositais lá em cima.
E digo, foi uma tortura. Para mim, que a qualquer indício de calor, eu
já me sinto pegar fogo. Vergonhoso, talvez, mas isso não é algo que está no
meu controle. Meu corpo tem feito isso sozinho – para o meu azar.
— Você deve estar querendo rir de mim — escolho responder para
Nathan, em uma tentativa de mudar de conversa. — Uma mulher adulta
com medo de um galho batendo na janela.
— Não quero rir de você — ele discorda, ficando sério. — Com isso
do seu ex te ameaçando, é o normal que você esteja mesmo com medo.
Mordo o lábio enquanto minha vista foca o chão.
Que tremendo azar meu caminho ter se cruzado com o de Jacob.
Talvez esse momento, tendo aceitado vir para a casa de Nathan, vulgo um
completo estranho, esteja sendo outro azar do qual vou me arrepender
depois.
Mas que mais alternativas eu tinha? Ficar desviando do Jacob sozinha
é cansativo e angustiante. Ao menos, com uma pessoa a par da situação e
que em nenhum momento me condenou, eu me sinto mais leve, calma e
receosa.
E é só por um tempo. Não tenho a intenção de ficar aqui a vida toda.
Só até tudo se resolver. Como Nathan disse, até seu pai morrer firmado na
ideia de que seu filho encontrou alguém e até que meu ex-namorado
entenda e supere que não estou mais sozinha e que não vamos ficar juntos
novamente. Então vou poder procurar outra casa e viver a minha vida,
como sempre foi.
— Pois é — digo. — Uma situação infeliz. Jacob foi uma pedra de
tropeço no meio do meu caminho — solto um suspiro que dedura o quanto
estou fatigada.
— Ah, tudo bem — Nathan releva. — Meu pai também sempre foi
uma pedrona no meu caminho — dá um sorriso, que eu tento não reparar o
quanto é sensual. Tudo nesse cara é sensual, infelizmente para minha mente.
— Se você quiser, pode me esperar ali no sofá — ele aponta. — Posso te
ajudar a relaxar dessa tensão toda aí que tá sentindo.
Eu entendo a mensagem imediatamente, é claro, e sou tentada a
recusar.
O que não quero, honestamente. Tudo que eu preciso agora, e como
preciso, é não pensar no que está acontecendo na minha vida nesse
momento. E, para a minha infelicidade, não tem algo que eu não pense a
não ser nisso.
Minha cabeça passa quase o tempo todo voltada para e se Jacob me
achar , o restante do tempo sendo voltado para as possíveis respostas.
— Tudo bem — acabo dizendo e desço o último degrau, desfazendo o
contato visual com Nathan e seguindo sozinha até um dos sofás cinza
musgo, onde me sento.
Demoro a ouvir o barulho da porta se abrindo indicando que ele saiu, o
que quase me faz olhar para trás, mas prefiro focar na TV à frente, ainda
desligada, que não parece nada interessante se comparado ao que acabei de
concordar.
A sala de Nathan é muito charmosa, aconchegante como um cômodo
planejado à parte. A árvore de Natal ao canto esquerdo deixa tudo mais
íntimo... Não de um jeito cru da palavra, mas como se fosse um ar familiar,
quase romântico. E é curioso, porque ao mesmo tempo que Nathan parece
ser tão transparente, com todas as suas explicações no ar para quem quiser
ver, ainda assim é como se soasse um mistério e eu não conseguisse
entender tudo que está à mostra.
Um barulho oco chama minha atenção e olho para trás, vendo-o
colocar duas de minhas malas no chão, a terceira caindo no processo por
como foi acomodada embaixo do seu braço.
— Ih, foi mal — ele se inclina para ajeitá-la ao mesmo tempo que
chuta a porta para se fechar. — Tinha alguma coisa de valor aqui?
— Não, só roupas mesmo — respondo, sem querer observando seu
abdome quando ele volta a se erguer.
Respiro fundo e volto a me virar. Isso não parece certo. Eu devia ser a
mais responsável em uma situação dessas, mas não. Estou me deixando
levar pelos meus impulsos que estão desenfreados desde que coloquei meus
olhos nesse homem.
Ouço os passos se aproximando, meu se corpo arrepiando por isso e
Nathan logo aparece à minha vista, o mesmo sorriso sensual estampado na
boca.
— O que foi? — pergunta. — Tá nervosa?
Expiro, encarando-o. Neste momento, ele parece ter uns três metros de
altura e o calor que está emanando para mim, nem o mais potente ventilador
conseguiria abrandar. E sim, eu estou nervosa. Que ironia.
— Não — respondo e pigarreio para ajeitar minha voz que saiu um fio.
— Não estou nervosa.
— Hm, bom que não — ele se inclina, tão rápido e ao mesmo tempo
parecendo tão lento, suas mãos se colocando nas costas do sofá, uma a cada
lado da minha cabeça, a boca de Nathan vindo para perto do meu ouvido,
fazendo meu arrepio bater no teto e talvez até ultrapassá-lo. — Porque se
estivesse, teríamos um problema.
Fecho os olhos um segundo, imergindo na sensação da sua voz
profunda, mas logo os abro de novo para conseguir concentração a fim de
responder:
— Não teríamos — rebato, ainda em uma luta interna sobre se isso é
certo. Acho que só o fato de eu estar me sentindo errada mostra que não é
certo. — Acho que também não devíamos fa... — minhas palavras morrem.
Morrem no meio porque Nathan se ajoelha à minha frente. Simples
assim, vapti-vupti, sem camisa, exalando calor, suas mãos grandes e
determinadas logo pousando em minhas coxas para, em seguida, separá-las.
Minha boca aberta não chama sua atenção, porque ele nem me olha.
Seu rosto está concentrado em sua ação de procurar o zíper da minha calça
e abri-lo juntamente com o botão.
— Talvez não devêssemos... — eu seguro suas mãos quando ele faz
menção de arrastá-la por minhas pernas.
Seu olhar brilhante e escuro encontra o meu e se estreita, me tirando
um gemido longo.
Meu Deus, por que tão lindo e ideal?
Engulo em seco, atordoada.
— Por que não? — Nathan quer saber.
— Porque parece ser errado — respondo, suas mãos se desvencilhando
suavemente das minhas para repousar em meus joelhos.
— Errado? — ele repete, me avaliando.
— Sim — confirmo, minha voz um fio, mas que rapidamente some de
vez quando Nathan se aproxima do meu rosto, nossas bocas na mesma
altura e nossos olhares igualmente alinhados.
Tortura e tortura para quem está tentando lutar.
— Errado — ele repete, seu hálito quente me tirando outro gemido,
que desta vez o faz sorrir. — Sabe o que é errado, Victoria?
— Você querer... — reformulo depressa. — Nós estarmos querendo
isso.
— Não, não — ele nega. — Errado é você estar vestida enquanto eu
estou louco pra te deixar trêmula de prazer — seu rosto se aproxima mais e
acompanhar essa aproximação me deixa mais sensível de uma maneira que
não me lembro a última vez que estive. — Minha boca querer passear pelo
seu corpo, te fazer gozar e gritar, espernear e suar de prazer, tudo e mais, e
você diz pra mim que isso é errado, Victoria? Tá de sacanagem, né?
Estou realmente buscando fôlego para responder, mas Nathan puxando
minha calça enquanto estou distraída me faz desistir.
— Deixa de pensar demais — ele pede. — Somos só você e eu.
Esquece o que está fora dessa casa.
Quero dizer que não estou me referindo a Jacob, que é o que ele deve
estar pensando para ter dito isso, e sim em como parece ser errado porque
eu sou quase cinco anos mais velha; mas não tenho tempo para deixar a
minha força de vontade imperar quando sinto o vento do cômodo batendo
em minhas pernas nuas.
E de repente me vejo de calcinha e blusa na frente de Nathan,
contemplando seu sorriso de quem se sente vitorioso.
Ele me olha e acho que quer dizer alguma coisa, mas não, não diz
porque sua boca encosta na minha e ele me beija.
Capítulo 10

Victoria

Não é um beijo simplório, é mais como um comando. É quase como se


eu estivesse ouvindo Nathan comandar que eu pare de considerar os
contras que impedem que isso aconteça. Que rolemos no sofá ou no chão.
Seja lá onde for, eu sei que vai ser a coisa mais fora do meu normal que
farei na vida.
Suas mãos estão subindo por dentro da minha blusa, eu sinto e me
arrepio, seus dedos ultrapassando a taça do meu sutiã e encontrando sem
qualquer hesitação meus mamilos, que endurecem sob seu toque.
Meus gemidos começam a se tornar mais ávidos e altos. Não teria
como ser de outro jeito. Também não lembro a última vez que senti tanto
desejo por alguém.
Pode ser que seja pelo caminho desconhecido que estou trilhando, de
nunca ter estado com alguém mais novo, mas o desejo avassalador que
sinto, é certo. Certamente existente e latente.
— Nathan, eu... — tento dizer, alguma parte do meu ser tendo
raciocínio e disparando em nos alertar.
— Geme meu nome, mas não pra tentar me parar — ele encerra o
beijo de uma vez, suas mãos erguendo minha blusa e sutiã, sua boca
ocupando lugar em meus seios.
Minha respiração sôfrega é altíssima, principalmente quando sua
língua começa a rolar e se dividir entre meus seios, sua boca quente e macia
me enchendo de mais desejo.
Como se fosse um mágico e descobrisse, Nathan enfia uma das mãos
dentro da minha calcinha enquanto a outra persiste impedindo que minha
blusa e sutiã voltem ao seu lugar.
Mas agora estou mais concentrada no modo como seus dedos me
tocam. Com pressa, mas certeiros. Ele me toca certo, tão certo. Conciliar
seu toque entre minhas pernas e sua língua nos meus seios me faz começar
a suar. É esplendidamente bom.
Começo a me contorcer no sofá, presa sob tanto Nathan. É tão bom
que minhas mãos criam caminho sem permissão, meus dedos agarrando
seus cabelos e puxando, Nathan soltando seu primeiro gemido, que é tão
certo também – esse som áspero, rouco e agradável para os meus ouvidos.
E também para o meu corpo, que se arrepia e tenta se moldar nas suas
mãos que começam a me tocar, se espalhando pela minha pele, apertando e
acariciando, uma imensidão de toques que me tira do meu lugar.
Literalmente.
Eu me sento direito, encontrando o sorriso de Nathan quando nossos
rostos estão próximos.
— Aonde pensa que vai? — ele pergunta.
— Para o prazer que você prometeu, eu espero — sussurro.
Tecnicamente, não sussurrei, minha voz saiu um sussurro pelo excesso de
vontade.
Passo minhas mãos desde seus ombros até seu peito, acariciando e
observando. Se é bom de olhar, muito melhor de tocar.
— Porra, isso — ele suspira, agarrando minha nuca para me dar um
segundo beijo. Mais forte que o primeiro, bem mais forte, até que — Sabe
que você tá sendo meu presente? — ele afasta a boca para perguntar,
passando os lábios por cima dos meus de levinho. — Sério mesmo,
Victoria.
— Só porque você vai transar esta noite? — rebato, quase rindo.
Isso o faz grunhir, ainda segurando minha nuca, os lábios sobre os
meus.
— Não — sua afirmação é convicta. — Eu não sei, pelas
circunstâncias... Apenas te sinto assim. Não acredito em acaso e por acaso.
A gente tinha que se encontrar, foi o destino.
Dou um sorriso, afastando o rosto para olhar bem para ele.
Está ainda mais lindo, se possível. Tão tremendamente sério com os
olhos avaliativos e com uma névoa sombria. É sexy. Deixa-o incrivelmente
sedutor. Posso me considerar uma sortuda ou muito azarada.
— Deixa eu te tocar também — peço, escorregando as mãos até
encontrar seu cinto, mordendo o lábio quando Nathan afasta um pouco o
quadril para trás, me dando chance de desafivelar o apetrecho.
Em seguida, abro o botão para encontrar o cós preto da boxer,
mordendo o lábio e respirando fundo de antecipação. Posso estar sendo
apressada, mas é inevitável. Eu me dou por vencida.
— Aqui — Nathan enfia a mão por dentro da cueca, provavelmente
por não querer esperar meus movimentos, e puxa seu pau, deixando à vista.
Minha boca se abre no mesmo instante e meus olhos se arregalam.
Eu não creio.
— Nossa... — digo enquanto encaro, absorta e chocada, o seu membro
ao meu alcance. — Você é...
— Dotado? Eu sei — ele dá um riso curto, se levantando para tirar as
peças de roupa, meu estado de hipnose não o afetando. — Estou louco pra
chupar sua boceta.
Engulo em seco outra vez, atordoada de novo também.
Eu nunca considerei que eu poderia me deparar com um
tamanho desses. Não em um cara mais novo. Quer dizer, eu nunca me
deparei com um tamanho assim em nenhum cara. Não estou reclamando
dos que tive, mas... Caraca.
Nathan me tira do transe ao voltar a se ajoelhar e puxar minhas pernas,
unindo-as para conseguir tirar minha calcinha, que voa só para cair no chão.
Minhas coxas que se abrem vão parar em seus ombros, sua boca se
aproximando do meu sexo e, antes de tocar em mim, seu olhar se ergue ao
meu.
Mas ele não diz nada, só me olha por um segundo antes de completar a
ação e finalmente fechar os lábios em mim, minha carne sensível
estremecendo ao contato.
Empurro sua cabeça por reflexo, mas Nathan se move um total de
nada, grunhindo quando sua boca repete e repete o primeiro movimento,
sua língua entrando nessa também, me explorando até minha cabeça dar
voltas por dentro.
— Que saudade disso — ele murmura com a boca em mim, me
fazendo ofegar. Seus dedos apertam o interior de minhas coxas, o que me
faz espernear no estofado, comprovando o que Nathan disse ter vontade de
fazer.
Tento ficar quieta, ou o mais "quieta" que eu ficaria com algum
homem com as mãos em mim. Agitos comedidos é o normal. Mas não aqui,
não agora, não com Nathan. Definitivamente não consigo ficar quieta ou
menos agitada.
— Beleza — ele morde a extremidade da minha coxa. — Alguém
ficou bem ansiosa.
Meus olhos se voltam para ele, acompanhando o seu levantar e sua ida
até uma cômoda do outro lado da sala. Sua nudez não o incomoda e posso
ver o momento em que ele captura um pacote de preservativo em uma
gavetinha, abrindo-o para desenrolar o conteúdo na sua extensão.
Noto que ele aumentou de tamanho, se isso é possível. Mas com
certeza parece maior. Ilusão ótica, questão de ângulo, seja o que for,
alongou.
Nathan volta para mim, os olhos atentos aos meus até ele estar
próximo o bastante para se inclinar e segurar minha cintura, me fazendo
virar no sofá, de costas para ele; não me restando opção mais segura que me
ajoelhar.
Mas imediatamente sinto sua mão no meio das minhas costas, me
incentivando a inclinar para frente e, consequentemente, empinar o traseiro.
Recebo dois tapinhas leves, que me fazem sentir um arrepio gostoso
nos bicos dos seios, muito mais quando sua língua começa a passar pelo
meio das minhas costas.
Nathan toca entre minhas pernas levemente com os dedos, acariciando
até me fazer soltar um suspiro sufocado. Que estou sensível, é certeza, mas
o modo como ele me toca, onde toca, os pontos exatos da exatidão de onde
tocar... Me faz ficar toda arrepiada e desejosa.
— Prontinha pra mim, gosto disso — ele diz, a voz me penetrando
antes dele, me tirando um gemido fraco e recebo mais uma palmada na
bunda antes de senti-lo pincelar seu pau em meu sexo. Enfio o rosto no
sofá, quase que desamparada. — Respira fundo, tá bom?
Estou prestes a perguntar do que ele está falando quando sinto minha
abertura se esforçando para recebê-lo inteiro de uma vez como seu
movimento feroz demanda.
Mas é claro que Nathan não consegue, tirando de mim um grito de
choque e dele um resmungo em mistura do seu próprio gemido. É lindo,
como tudo nele.
— Agora faz sentido seu conselho de respirar fundo — falo trêmula,
me apoiando melhor no sofá enquanto o sinto se pincelar outra vez, só para
uma nova tentativa.
Essa me fazendo fechar os olhos e me concentrar no som da respiração
pesada de Nathan, que logo vira um urro quando a paciência dele se esvai e
em uma estocada, ele enfia tudo dentro de mim.
Tudo mesmo. O tamanho chocante inteiro. Dentro de mim.
— Oh, minha nossa! — abro a boca para exalar a respiração presa,
mas Nathan não presta muita atenção nisso porque começa a arremeter
impacientemente, meus gemidos se ausentando pela profundidade que ele
alcança. — Nathan!
— Ah, sim — ele segura um punhado dos meus cabelos e puxa, minha
cabeça indo para trás ao mesmo tempo que sua estocada me atinge lá no
fundo. — Chama assim mesmo, me querendo e não de outro jeito.
Não tem como não querê-lo, mas Nathan sabe disso. Eu sei disso.
Qualquer pessoa que coloque os olhos nele, saberá disso.
— Goza pra mim, Victoria — ele pede, soltando meus cabelos e sua
mão pousando em minha nuca, a fricção deliciosa de seus dedos me
jogando novamente para frente, meus olhos fechados e o meu corpo estando
leve pelas suas investidas. — Goza no meu pau, deixa eu te sentir inteira.
Eu sei que você quer. Sua boceta tá pulsando toda. Goza, vai.
Eu não sei bem o que é. O pedido, o jeito como ele pede, sua voz, a
sensação de senti-lo tão bem dentro de mim, tê-lo sabendo que não deve ser
a coisa mais sensata no meu normal, mas eu gozo.
Meu gemido dedura minha fraqueza interior, porque eu fui uma fraca
em me entregar para Nathan de uma maneira tão... correspondente ao meu
desejo imediato por ele. Foi uma atração aparentemente recíproca, então
não tinha como eu ganhar. Eu perdi e perdi.
— Ah, que delícia isso — ele murmura enquanto faz voltas com o pau
dentro de mim, minha respiração tentando estabilizar. — Tá vendo o que
você ia perder? — ele me dá um tapa no traseiro, se inclinando para
conseguir aproximar a boca da minha orelha e completar: — Gozar gostoso
antes do jantar.
Inspiro fundo, tentando me recompor e não me deixar levar mais fundo
pela sua voz.
— Pensei que eu estava sendo a janta... — tento descontrair.
Nathan morde meu ombro e beija meu pescoço antes de voltar a
posição anterior, se aprofundando em mim duas vezes antes de esclarecer:
— Tem razão. Um banquete assim a gente demora a comer.
Ele se retira do meu interior de uma vez, me fazendo gemer, então sou
puxada para o seu colo quando ele se senta no sofá.
Me olhando de baixo e sorrindo com promessas estampadas no rosto e
nos olhos escuros, solto um resmungo choroso.
— Hora de galopar, Victoria — Nathan me informa.
Droga. Eu estou muito ferrada.
Capítulo 11

Victoria

As mãos dele em minha cintura me fazem soltar outro gemido sofrível.


Ah, minha nossa, isso é muita coisa de uma só vez.
Me ajudando a levantar os quadris, Nathan só me faz baixar de novo
para encaixar no seu pau, que me alarga tanto que meus olhos também.
— Caramba — gemo, chocada e chocada. Simplesmente caramba.
— Eu sei, gata — ele ofega, apertando minha pele tanto quanto quer, o
toque forte e quente me deixando a mil. — Rebola pra mim. Me usa pro seu
prazer.
Balanço a cabeça, atordoada de desejo, então seguro seus ombros para
conseguir apoio e obedeço. Começo a rebolar adoidada, sentindo-o tão, tão
fundo que quase choro.
De total prazer.
— Assim mesmo, isso — Nathan estala um tapa forte na minha bunda,
me tirando um gemido esganiçado. — Geme bem safada pra mim. Te quero
assim, rebolando gostoso. Senta, vai.
Eu me vejo obedecendo, começando a sentar no seu mastro enorme
repetidas vezes, loucamente. Tão loucamente quanto minha vontade
comanda.
Meu corpo se torna cativo do seu nesse momento, me jogar contra
Nathan sendo inevitável. Seus suspiros também me ajudam a perder o fio de
controle que achei ainda estar tendo.
— Alguém tá querendo demais gozar de novo — ele graceja, me
agarrando os cabelos e puxando meu rosto em direção ao seu.
Nossas bocas se encontram no mesmo momento que seus dedos
chegam em meu clitóris, meu grito com o contato beirando ser escandaloso,
mas é impossível me segurar.
É impossível quando a carícia firme e ritmada me tira do eixo, me
jogando em outro orgasmo fenomenal, desta vez muito mais forte porque
tenho Nathan dentro de mim.
E ele engole o restante dos meus gritos com um beijo, me segurando
sobre si enquanto me faz dar voltas com os quadris em cima do seu pau,
colhendo até o último segundo do meu prazer.
— Nathan... — gemo em sua boca, só porque tudo está embaralhado
em minha cabeça. Isso ser tão rápido, tão errado e incrivelmente certo.
— Aham — ele morde meu lábio, lambendo em seguida, me fazendo
arfar. — Gostosa demais você. Vem de ladinho agora, vem.
Balanço a cabeça, considerando que ele ainda não pretende parar. Mas
não reclamo, saio do seu colo e o observo deitar no sofá já me puxando no
processo.
O contato do meu corpo encostando no seu é maravilhoso e fecho os
olhos, tanto para aproveitar da sensação desse corpo quente atrás do meu
quanto para erguer a perna quando seu pau procura espaço dentro de mim
de novo.
Sua respiração está no meu ouvido, pesada e difícil, a forma como ele
morde meu pescoço sendo tudo que eu preciso para querer gozar de novo.
— Você é tão bom nisso — acabo dizendo, entregue ao desejo. Ou ele
é esplendidamente bom ou eu estou absurdamente sedenta. Ou os dois.
Sua risada baixa no meu ouvido me faz virar o rosto tanto quanto
consigo para tentar vê-lo. Ele é muito perfeito, isso é inacreditável.
— O que foi? — ele pergunta, dando uma estocada tão funda que eu
começo a tossir. Seus dedos apertam com força o interior da minha coxa
enquanto Nathan a segura para manter minhas pernas abertas. — Quer
gozar de novo, Victoria? Responde pra mim.
— Minha nossa, você é muito gostoso — me remexo, desesperada. —
Quero, quero. Me faz gozar de novo, por favor.
— Porra, isso — ele geme e começa a se aprofundar em mim com
tanta força que falta pouquíssimo para eu escorregar do sofá.
Mas Nathan me segura bem firme no lugar para suas investidas serem
precisas e com impacto, sua mão vindo ao meu pescoço e apertando, me
levando a outro orgasmo, mais forte e mais longo.
Ele também encontra seu prazer e sei disso pelo grunhido que emite e
a forma como seus movimentos desaceleram repentinamente até se
tornarem suaves e controlados.
Estou ofegante no sofá e essa é a última coisa que me lembro antes do
silêncio imperar e eu acabar dormindo.

Desperto sem precisar do auxílio do despertador do meu celular. E que
bom por isso, porque o deixei na bolsa no quarto de cima e não ouviria.
Quando abro os olhos mais veemente, comprovo que ainda está escuro
ao lado de fora, e na sala também estaria se não fosse pelas luzinhas de
pisca pisca na árvore.
Me estico toda, aos poucos, adaptando o corpo ao despertar. Só depois
percebo que não deveria estar fácil de me espreguiçar porque o espaço no
sofá deveria ser menor por conta de Nathan.
Mas ele não está aqui. Não está atrás de mim como esteve quando
peguei no sono.
E isso é uma coisa boa, porque evita o constrangimento de um
momento que seria inevitavelmente constrangedor. Para mim, pelo menos.
Me sento no sofá, ajeitando os cabelos, esperando um pouco para que
minha alma chegue ao corpo, ainda me sentindo parte com sono e parte
perdida.
Me levanto e vasculho por minhas roupas, me vestindo depressa, em
busca de uma sensação mais familiar, algo melhor que estar pelada na casa
de um estranho.
Olho ao redor. As luzes da árvore de Natal acesas me ajudam servindo
de iluminação enquanto vou em busca da cozinha.
Me recordo de Nathan apresentando a casa, o que me faz achar o
cômodo sem dificuldade. Preciso beber água e quem sabe um café extra
forte.
Vou até o purificador de água em uma das bancadas depois de obter
um copo no armário. Encho-o até a borda e bebo tudo de uma vez, soltando
a respiração quando me vejo mais desperta.
Me viro contra a bancada e dou uma olhada na cozinha
impecavelmente organizada, o que me faz erguer as sobrancelhas. É a
primeira vez que vejo a cozinha de um homem solteiro estando arrumada.
Meus olhos agora passam novamente ao redor, mas em busca da
cafeteira, que encontro ao outro lado. Me apresso em ir até ela, notando se
tratar de uma cafeteira moderna, daquelas que fazem expresso e eu
definitivamente não sei usar.
— Bom dia, Victoria.
Retrocedo um passo, a mão no peito pelo susto.
Me viro na direção da voz, encontrando Nathan perto da porta, mas
também perto de onde estou. Sempre lindo usando esse sorriso sedutor no
rosto e também um short que não o deixa nu. Ah!
Querida mente, vai com calma, eu quero gritar, mas não posso.
— Achei que você não estava em casa — me apresso em dizer. —
Eu... Vim tomar água. Estava com sede — explico. — Ia fazer um café,
mas... Eu não sei usar essa cafeteira — aponto-a.
Seu sorriso se torna apenas um levantar de lábios quando ele se
aproxima da máquina e começa a manuseá-la.
— Acordou cedo — ele comenta.
— Acordei. Eu... Bom, geralmente acordo cedo porque...
— Você tem que trabalhar, eu sei — me interrompe. — Tô lembrado
que me disse. Sou bom de memória.
— Que bom... Desculpa estar mexendo na sua cozinha — lamento. —
Realmente pensei que não teria problema se você não estivesse em casa.
— Estava no escritório — ele termina com a cafeteira e se vira na
minha direção, me atingindo com tudo. Com o olhar, a beleza, a
firmeza... Ai, minha nossa. — Eu disse que meu escritório fica lá no
segundo andar e quando não estou aqui, é lá que você vai me achar. Mas
você não queria me achar, queria, Victoria?
Engulo em seco.
— Eu não lembrava, confesso — gesticulo, desconversando.
Obviamente eu não queria encontrá-lo tão logo. Ainda preciso me situar
que transamos. E que foi muito bom. Foi maravilhoso. — Não lembrava
que você tinha dito, porque foi tão rápido, mas agora vou me lembrar. Não
vou mais esquecer.
— Drenei sua memória? — ele brinca, me tirando um gemido.
Fico imediatamente envergonhada. Não deve fazer muitas horas que eu
estava recebendo prazer absurdo desse homem. Sendo assim, meu corpo
não pode estar querendo mais. Não pode se atingir mais por ele. Já foi
suficiente. Uma vez sempre é suficiente.
Mas Nathan ri. Ele ri, o que não me ajuda. Não me ajuda enquanto me
apoio na ilha ao meu lado, tentando disfarçar que estou completamente
excitada de novo.
Por nada. Só pela sua presença, seu olhar, sua risada, sua voz, a
postura... Fecho os olhos e suspiro, tentando um controle comigo
mesma. Isso não deveria ser possível de acontecer. Devia ser proibido.
Talvez seja e eu...
— Victoria?
A voz dele tão próxima me faz abrir os olhos de súbito e me ponho na
defensiva quando o vejo se aproximando.
— Algum problema? — sua pergunta é baixa enquanto seus olhos me
estudam.
E Nathan não precisa de uma resposta quando já próximo, porque suas
mãos vem diretamente agarrar minha cintura enquanto ele encosta o quadril
no meu, tão alto e presencial que o resto da minha força de vontade vai
embora.
— O que será que tá passando dentro dessa cabecinha? — ele divaga.
— Arrependimento? Frustração? Ou... — sua cabeça se inclina, sua boca
vindo raspar em minha orelha, me causando um arrepio tão forte que fico
na ponta dos pés, só para ouvi-lo sussurrar: — Alguém tá pedindo mais?
Reviro os olhos e agarro seus ombros, enfiando as unhas com a força
do meu desejo enquanto confirmo, completamente comandada pela minha
parte que não raciocina inteiramente:
— Eu quero mais.
Nathan solta um gemido rouco antes de morder minha orelha e me
levantar, só para me fazer cair sentada sobre a ilha.
Então seu olhar encontra o meu e sou incapaz de descrever sua
expressão, mas as próximas palavras não são possíveis de esquecer:
— O bom de tanta intimidade é que meu pai nem vai perceber que
estaremos mentindo.
Capítulo 12

Nathan

— Você tem certeza sobre isso? — Victoria pergunta, apreensiva.


— Sobre meu pai? — ergo as sobrancelhas. — Tenho, ué. Por isso
você está aqui também, não?
Ela desvia o olhar e parece querer pensar, mas eu não permito. Seguro
a barra da sua blusa e levanto, tirando a peça do seu corpo e deixando os
seus peitos livres para minha boca.
Enquanto brinco com um mamilo no polegar, uso minha boca no
outro, Victoria começando a gemer baixinho.
— Não tive chance de te saborear como queria ontem — murmuro
entre as lambidelas e minha mão procura tocar sua boceta por dentro da
calça enquanto lambuzo os peitos dela com a minha saliva.
Ela já está molhadinha, o que me tira um grunhido.
— Ah, caramba — Victoria agarra meus cabelos e puxa enquanto
passo a língua ao redor do mamilo teso.
Enfio dois dedos nela, seu grito ecoando até minha cabeça ser puxada
em direção a sua. Nossos lábios se encontram em um beijo desesperado.
Desesperado como me sinto com tudo desde que meu pai adoeceu.
Meus dedos estão bem fundos nela, no limite, mas não consigo muito
movimento pela calça. Por isso, encerro o beijo para puxar sua calça pelas
pernas, mas deixo a calcinha no lugar.
Victoria suspira e se abre toda pra mim. Minha boca vai sugar mais um
pouco dos seus mamilos antes de eu pegar a camisinha no bolso do meu
short.
Costume meu sempre que uma mulher que eu transo dorme aqui
e ninguém pode me culpar.
Elas sempre acordam alienadas, mas não demoram a querer o segundo
round. Nada que uns beijos e carícias não resolva.
— Você me deixa com muito tesão — confesso enquanto obtenho o
preservativo e desenrolo no meu pau.
Victoria observa, os olhos estreitos. Possivelmente está me julgando
pelo preservativo no bolso, mas proatividade é tudo!
— Chega mais pra cá — eu a puxo para a borda do granito, afastando
sua calcinha para o lado e pincelando meu pau nela. — Essa bocetinha sua
aguenta meu pau tão bem.
— Ai, Nathan... — ela geme e seguro seu pescoço, dando um tapinha
no seu rosto. — Ah, nossa! — seus olhos se arregalam.
— Ai, sua safada? — dou outro tapa leve, seu gemido seguinte sendo
coberto de tesão. — Gosta disso, né? De levar uns tapas.
Seu olhar fica pesado me encarando e sua própria mão guia meu pau
para dentro do seu corpo. Eu me afundo nela devagar enquanto seguro seu
pescoço.
Victoria joga a cabeça para trás, gemendo de prazer quando enfio
quase tudo.
Inclino a cabeça para beijar e lamber seu pescoço, mordiscando sua
pele enquanto meu pau é abraçado pelo seu calor.
— Você tá tão quentinha e úmida — sussurro, começando a investir
nela. — Olha isso. Esse barulho gostoso de você me recebendo com
bastante tesão, Victoria. Ah, que delícia!
— Mais forte! — ela ajeita a cabeça, me olhando com um olhar que
me faz grunhir.
Começo a meter bem fundo nela, indo rápido e estocando sem
cuidado. Ela grita seu prazer, murmurando palavra indecifráveis enquanto
não paro mesmo depois que ela goza – o que acontece surpreendentemente
mais rápido do que premedito.
Nossa ligação consegue ser muito certa e minha boca procura a sua
conforme persisto com as investidas.
Victoria me beija cheia de vontade, gemendo adoidada, arranhando
meus ombros e puxando meus cabelos.
Gosto disso que encontrei sem procurar.
Foi sorte grande!
— Nathan! — ela separa a boca pra gritar meu nome enquanto goza de
novo, se contorcendo toda. — Ah, minha nossa! CHEGA! — implora. —
Eu não aguento mais. Não aguento, não aguento — suas mãos cobrem o
rosto quando seu corpo deita no granito e continuo a meter devagarinho,
saboreando o jeito que sua boceta suga meu pau nos espasmos do pós-
orgasmo.
— Você não aguenta mais? — apoio suas panturrilhas em meus
ombros e começo a acariciar seu clitóris com o polegar, Victoria tendo um
tremor no corpo, me fazendo olhar seu rosto. Dou um sorriso. — Parece
que aguenta.
— Você é doido — me acusa, se apoiando nos cotovelos para
conseguir me encarar. — Eu tenho que trabalhar. Não posso gastar minhas
energias todas em orgasmos.
— Tão pouca energia assim? — ergo as sobrancelhas, me
aprofundando lentamente até o limite, fazendo-a abrir a boca e arregalar os
olhos.
Ela volta a deitar, soltando um gemido em meio a suspiro, minha mão
subindo um instante para acariciar sua barriga.
Fico nessa até Victoria começar com os gemidos mais altos e se
remexer toda, então sei que vai gozar de novo.
Ela grita meu nome quando acontece, me levando ao meu próprio
orgasmo instantes depois; seu corpo estando agitado e a respiração ofegante
quando tiro meu pau de dentro dela, retirando a camisinha e gozando por
cima da sua boceta.
— Uau, Victoria! — expiro, soltando até a última gota nela e dando
batidinhas com o pau no seu clitóris. — Que delícia.
Ela ainda está ofegante quando olho seu rosto, me tirando um sorriso.
— Vai conseguir trabalhar? — pergunto, na brincadeira.
Ela demora a responder, soltando um suspiro pesado quando vai fazê-
lo.
— Tenho que conseguir, não é como se existisse outra opção — dá
uma risadinha.
— Tem razão — dou uma olhada na minha obra de arte entre suas
pernas, sorrindo de satisfação. — A vida adulta é uma merda. Pra nossa
sorte, tem o sexo que dá uma leveza nas coisas.
Victoria não concorda comigo, mas também não discorda. Ela se senta
no balcão e eu a ajudo a se endireitar. Seus peitos chamam meus olhos, mas
sinto sua mão em me queixo, mantendo minha cabeça alinhada para que
nossos olhares se encontrem.
— Não — ela diz. Uma negação. Uma palavra. Mas é um não, e isso
me tira uma careta.
— Não o quê? — quero saber.
— Não vamos repetir isso que aconteceu — ela responde depressa,
como se fosse urgente e precisasse ser dito. — Não é certo. Estou me
sentindo mal por ter me deixado levar pelos meus instintos. Eu não quero
que você entenda, é claro que não entende — ela se adianta em dizer
quando discordo expressivamente com outra careta. — Você é muito novo
para isso.
— Pelo amor de Deus, mulher, eu sou um homem adulto. Dá pra parar
de me fazer de ingênuo?
Victoria me empurra os ombros, me afastando para trás e descendo da
bancada. Meu pau tem uma leve reação ao vê-la de pé, completamente nua,
cheia da minha porra. É um efeito inevitável e preciso me lembrar de não
ficar novamente dois meses sem transar. O resultado é bom, mas a vontade
fica insana de conter.
— Você é ingênuo — Victoria murmura. — Posso usar o banheiro?
Abro um sorriso.
— Não precisa me perguntar, você sabe onde fica o seu quarto — dou
espaço para ela passar. — Fica à vontade. Não esquece de pensar em mim
quando ensaboar o corpo.
Ela passa por mim na velocidade da luz, me fazendo quase rir. Eu não
a acompanho com os olhos, porque é arriscado que eu a jogue de novo no
balcão e a faça mudar de ideia.
Escolho ir ao lavabo jogar a camisinha no lixo e lavar as mãos, então
passo na sala e apanho meu celular para fazer uma ligação.
Volto a cozinha, colocando o aparelho no balcão enquanto chama.
Pego minha calça no chão para vestir, embolando as peças de roupas da
Victoria e deixando no granito. Depois, vou escolher algumas frutas na
geladeira para uma vitamina reforçada.
— Oi, querido — Tina me atende.
Volto à bancada com morangos, mirtilos e algumas bananas, colocando
as frutas no granito enquanto destino um pouco de atenção na ligação.
— Como ele está, Tina?
— Ele não melhorou, mas também não piorou. Eu teria ligado para
você caso algo tivesse acontecido.
Vou colocando as frutas no liquidificador, soltando um suspiro no
processo.
Vão me dizer, por que você se importa com o estado do seu pai? Ele
está pra bater as botas, é irreversível. Mas o lance é que eu não me
importo. Não mesmo e por mim não faz diferença a sua presença ou
ausência. Não mais.
Mas eu não sei. Não sei se é pela época do Natal, que me sinto assim,
empático com a situação. O cúmulo, eu tô ligado. Ou... só porque em
alguma parte de mim ainda existe aquele garotinho temeroso, ansioso por
atenção e cheio da necessidade de aprovação do pai.
Afinal, não fiz o que ele pediu? Não fui encontrar "uma esposa" que
me deixe feliz? É, eu fui. Eu fui fazer o que ele quis. De novo.
E é o que fode tudo. Que a essa altura eu ainda não tenha conseguido
me desvencilhar de vez de toda essa cicatriz que meu estimado genitor me
deixou.
Eu pensei que sim, ter conseguido. Me esforcei pra isso, tentei ignorar,
deixei pra lá e agora fico nessa... Querendo saber se ele está bem, e ansioso
que ele saiba que vou fazer uma visita com a minha esposa. Eu fiz o que ele
queria e espero deixá-lo orgulhoso de mim.
Solto a respiração. Otário.
— Vou fazer uma visita a ele amanhã cedo — digo para Tina. —
Encontrei uma esposa, como ele me pediu.
A pobre mulher fica muda por um instante.
— Tina? — a chamo.
— Estou aqui — hesita. — Você pode vir. Ele sempre gosta quando
você vem vê-lo, querido.
— É. Não tem mais ninguém. Só restou a mim. Sou eu ou ninguém, aí
ele morreria mais rápido de tristeza. As namoradas não quiseram nem ficar
perto do velho depois que ele adoeceu — dou risada, pegando a jarra do
liquidificador e levando até o purificador, enchendo-a com um pouco de
água.
— Está fazendo a coisa certa, Nathan — Tina ainda diz, me fazendo
olhar para o celular. — Você é um bom filho e será recompensado por isso.
— Não tô esperando recompensa. É o que tem que ser feito e pra mim
isso basta. Até amanhã, Tina — eu vou encerrar a ligação, esfregando o
rosto em seguida e sentindo-o esquentar.
Falando sério, eu não sei mais de nada!
Capítulo 13

Victoria

Volto à cozinha já devidamente arrumada para sair para o trabalho.


Mas preciso falar com Nathan antes para saber onde fica o ponto de ônibus
mais próximo depois que se deixa sua casa. Ontem à noite não consegui ver
muito bem, mas pelo pouco que vi, notei muitas árvores no caminho e
fiquei desnorteada sobre onde estávamos.
Para minha sorte, o encontro mesmo ainda na cozinha. Vestido na
calça, para minha dupla sorte. Apesar de não confiar nos meus olhos vendo-
o vestido, o desafio é pior vendo-o sem roupas.
Ele está preparando algo e aguardo, apenas admirando-o calada.
Quando se vira, é com um copo de vidro em mãos, que está cheio de algo
na cor lilás.
— Olha você aí — ele sorri, me notando. Seus olhos esbarram no meu
corpo, mas não se demoram. O que é bom, porque não quero mais sentir
minhas pernas fracas de desejo.
— Aqui, ó. Fiz pra você repor as energias — ele descansa o copo na
pedra da ilha, distante de onde eu estava jogada alucinada de prazer há
instantes.
Nathan volta a se virar, não fazendo contato visual e, apesar do tom
risonho, sua expressão de bom humor desmanchou um pouco.
— Isso seria...? — pergunto quando pego o copo.
— Vitamina de frutas com água, whey, iogurte sem lactose e aveia. É
saudável, não se preocupa.
Me impressiono, dando um gole e apreciando o gosto.
— Está deliciosa — elogio, bebendo mais outros goles, gostando
mesmo. — Obrigada.
— Por nada — sua resposta é cabisbaixa, quase evasiva, me fazendo
estreitar os olhos.
— Você está bem? — não resisto a perguntar. Ele parecia ótimo há
instantes, com todo vigor e vontade. Muito vigor e vontade, com certeza.
— Estou legal, estou bem — ele balança a cabeça de modo afirmativo,
virando-se novamente em minha direção, desta vez com o recipiente do
liquidificador em mãos.
Observo-o dar um grande gole na vitamina ali contida, então Nathan
passa a língua pelos lábios, colhendo os resquícios do líquido. Ignoro a
atratividade da ação.
— Vamos visitar meu pai amanhã, se estiver tudo bem pra você — ele
informa.
Hesito, aproveitando para beber da minha vitamina enquanto penso em
uma resposta.
Não está tudo bem. Eu vou ajudar a enganar um senhor quase morto.
Sou um ser humano hostil. Não me importei em concordar com isso desde
que eu me sentisse mais segura para lidar com Jacob, isto é, na companhia
de Nathan. Fui hostil e egoísta. Decepcionante!
— Só estou livre depois do trabalho. Ao fim da tarde — respondo sem
vontade.
— Não tem problema. Nós vamos nesse horário então.
Nathan se limita a não dar muitos detalhes e continua a beber sua
vitamina, ficando no seu espaço, sozinho e não fazendo mais contato visual
comigo.
Me apresso para terminar, entendendo que essa foi toda a conversa que
vamos ter, então pergunto:
— Como faço para chegar no ponto de ônibus mais próximo daqui da
sua casa?
— Você teria que andar pra valer — ele termina sua vitamina e deixa a
jarra do liquidificador dentro da pia. — Vou tomar um banho e vestir uma
roupa. Me espera que eu te dou uma carona até seu trabalho.
Ele não me espera rebater, sai da cozinha antes que eu tenha a
oportunidade de fazê-lo.
Estamos no carro de Nathan, ele dirigindo enquanto umas músicas
aleatórias não permitem que o ambiente fique pesado.
Eu disse que não transaríamos mais, mas duvido muito que tenha sido
isso que o deixou desse jeito, camuflado no próprio eu. Complicado vê-lo
assim depois do que tivemos e nem sei se devo perguntar de novo se está
tudo bem. Não quero ser invasiva e seria bem tosco porque... É óbvio que
não está tudo bem.
A endorfina do orgasmo acabou e voltamos à triste realidade de nossas
vidas: um fracasso. Mais a minha que a dele. É só o que posso supor.
— Se importa de eu parar um instante? — ele pergunta de repente. —
Vou pegar um croissant nesse Café.
— Não, tudo bem — dou um sorriso, tentando parecer confortável.
Mas não estou nada confortável no momento.
— Certo — ele está estacionando o carro momentos depois e tirando o
cinto de segurança. — Não demoro.
Nathan sai do carro e vai correndo para entrar no estabelecimento,
dando uma parada abrupta na entrada quando uma mulher vai sair de lá de
dentro com seu bebezinho no colo. Ela abre um sorriso e Nathan retribui,
entrando no Café depois disso.
Lindo e simpático, aparentemente nada errado com esse jovem homem
adulto que eu me deixei ser seduzida completa e inevitavelmente.
Meu celular vibra na bolsa, me fazendo pegá-lo. Me arrepio de
antecipação por saber de quem pode ser a mensagem que recebi. Justamente
por isso não desbloqueio a tela para ler e sim resolvo ignorar.
Nathan se junta a mim minutos depois, tomando seu lugar no banco do
motorista e me oferecendo um pequeno saco em material kraft.
— Comprei um pra você — ele diz.
— Ah, obrigada. Não precisava — eu recebo o croissant. — Aquela
vitamina que você me deu matou minha fome, na verdade.
Nathan dá um sorriso curto, nos colocando na pista novamente em
seguida e eu odeio isso.
Definitivamente passo a odiar a distância que está clara entre nós. Não
que eu esperava que ele agisse de uma forma diferente depois de
transarmos, mas que continuasse do mesmo jeito, sem essa óbvia expressão
de quem desistiu da vida e está desanimado.
Nathan estaciona ao lado do prédio em que trabalho em mais alguns
minutos árduos de tensão e peso, então me apresso em tirar o cinto de
segurança, pegar minha bolsa e o saquinho com croissant.
— Obrigada pela carona, Nathan — eu agradeço, já abrindo a porta.
— Que horas posso vir te buscar pra você não ter que pegar ônibus?
A pergunta me faz parar com uma perna ao lado de fora do carro e
olho para o seu rosto. Sério e nublado. Completamente diferente do Nathan
que conheci ontem e que se mostrou hoje mais cedo.
— Às cinco — respondo, pensando que... Bom, é a primeira vez que
alguém me traz ao trabalho e também vai ser a primeira que alguém vai me
buscar. É uma boa sensação.
— Beleza — ele anui. — Vou estar aqui às cinco. Bom trabalho,
Victoria.
— Obrigada — agradeço e saio do seu carro.
Ainda penso em me virar para vê-lo arrancar com o carro e quem saber
dar um leve aceno, mas... péssima ideia. Nem nos conhecemos direito.
Sendo assim, sigo caminho para o interior do prédio da PEARL,
ansiosa por mais um dia de trabalho, único lugar onde me sinto
completamente segura.
Capítulo 14

Nathan

Sinto que a sorte bateu na minha porta e eu a deixei entrar.


Normalmente, a essa hora, eu estaria longe de deixar aquele escritório que
me desgasta mais que todas as noitadas que já tive na vida.
Mas hoje não. Hoje eu estou aqui. Passam poucos minutos das cinco
da tarde e estou estacionado ao lado do prédio da PEARL, a revista de
moda famosa, esperando Victoria.
É um alívio para mim. Posso ter um motivo e uma desculpa para sair
do escritório mais cedo e, o principal, não ficar fritando minha cabeça
pensando no meu pai e sua inevitável morte.
Não que a morte seja um acontecimento que se pode evitar. Não pode,
eu sei disso. Mas, de alguma maneira, a noção de que meu pai está vivo
quase-morto e que ele vai morrer a qualquer instante, e não momento que
pode vir a ser mais tarde e distante, me causa uma sensação...
Essa sensação de aflição. Não que eu queira impedir que ele morra. Se
tivesse como, eu faria; assim como faria para qualquer um que estivesse em
uma situação de quase morte.
Mas o lance é que, eu não sei, me deixa aflito e indignado porque...
Por que a morte querer brincar desse jeito? Não seria melhor matar de uma
vez que deixar a pessoa sofrendo e definhando? Incapaz de tudo? É muita
crueldade. Não só com a pessoa em si, que passa pela situação, mas por
quem tenta ajudar. É sofrimento que sobra!
O batuque no vidro da janela ao outro lado chama minha atenção, e
destravo a porta para a entrada de Victoria, que se junta a mim no carro com
um sorriso amigável.
— Oi — ela me cumprimenta e continua sorrindo de um jeito sincero.
— Você veio mesmo.
Ergo as sobrancelhas.
— Eu disse que viria, não disse?
— Disse, mas... — ela põe o cinto de segurança. — Bem, você é um
homem ocupado, tem muitas responsabilidades e poderia não vir. Seria bem
compreensível isso acontecer, aliás.
Dou partida no veículo, sorrindo enquanto manobro para colocar o
carro na pista.
— Exceto porque eu disse que viria — enfatizo. — E não gosto de
descumprir minha palavra. Às vezes acontece, é inevitável, mas no geral eu
cumpro com o que digo.
Ela dá uma risadinha.
— Admirável! — murmura.
— Tá sendo irônica?
— Não — ela sorri. — Estou falando sério mesmo. É bom que cumpra
com o que diz, que tenha responsabilidade também por suas palavras.
— É. — Eu acho. Não é como se eu precisasse cumprir muita coisa,
porque não faço promessas de forma corriqueira. Eu não sou o cara de
promessas, definitivamente. — Como foi o dia de trabalho?
— Foi muito produtivo! — ela parece empolgada. — Vai haver um
desfile na Itália semana que vem. Eu vou ser uma das fotógrafas e...
— Vou também.
Victoria fica me olhando.
— Você vai também? — ela pergunta. — Você vai para a Itália?
— Isso. Você acabou de dizer que vai haver um desfile lá.
— Você se interessa por moda? — mais descrença na pergunta. — Eu
não sabia. Se bem que... Bom, você se veste bem à beça. Faz sentido.
Dou risada.
— Não me interesso por moda — nego. — Me interesso por
oportunidades de distrair a cabeça. Principalmente com o meu pai quase...
— me interrompo. Não aguento mais a palavra morte e seus derivados. —
Na situação em que se encontra. Qualquer chance é uma chance.
Victoria fica em silêncio, provavelmente pensando no que dizer.
Todo mundo faz isso. Pisa em ovos quando menciono meu pai e que
ele vai morrer a qualquer instante. Todos ficam na onda de "o que eu posso
dizer para o filho de um homem rico com todo equipamento médico ao seu
alcance, mas que não servirá para evitar a própria morte?" .
E isso nem é pesaroso pra mim. Meu pai vai morrer e... ok. Eu não
posso fazer nada a respeito, então por que vou ficar me esmigalhando?
Dane-se que não fizemos nada de pai e filho, que não tive momentos de
risadas e aprendizados com ele.
Na verdade, tive. Aprendi o que não deve ser feito, caso eu tenha
filhos. Principalmente se eles ficarem sem a mãe.
— Isso é legal — Victoria diz, por fim. — E seu dia de trabalho, como
foi?
Ela quer mudar de assunto. Tudo bem, não a culpo.
— Foi a mesma coisa de sempre — respondo, soltando uma lufada de
ar. — Assinei documentos com aprovação de projetos, tive reuniões com
empresários e diretores das empresas afora, comi a secretária e adiantei
umas coisas de amanhã porque agora vou precisar sair mais cedo do
trabalho, né?
Victoria não responde nada e nem dá uma risada graciosa, como
esperei que fosse fazer. Qualquer mulher faria se entendesse que seria
buscada no trabalho todos os dias.
Ao contrário disso, ela murmura:
— Desculpa, mas... Você disse que comeu a secretária?
A risada é minha por sua cautela na pergunta.
— Disse. Já faz parte do meu dia isso. Se eu não como a Camila, não
consigo aguentar o trabalho — respondo. — Já é... como posso dizer?
Costume. Isso, um costume.
Mais silêncio de Victoria, e desta vez a olho de soslaio. Sua boca está
aberta enquanto ela encara a pista.
— O que foi? — pergunto.
— Nada — ela balança a cabeça, a voz de riso. Mas, após uns
segundos, complementa: — Só estou um pouco confusa porque... — hesita.
— Bom, não é nada. Mas, nossa, você ainda teve energia para a sua
secretária.
Então ela ri. Mas não é um riso de quem achou graça. Está mais para
uma risada amarga, que me faz olhá-la de novo.
Ela não está sorrindo e nem rindo. Victoria está séria.
— Minha energia para o sexo é inesgotável — dou um sorriso,
sabendo que é verdade. — Por que você parece espantada por isso?
— Porque é espantoso — responde. — Embora, obviamente, isso seja
vantajoso para você.
— Bingo! Você está certíssima — balanço a cabeça. — Prefere que
compremos o jantar ou vai dar pra esperar até eu preparar algo para a
gente?
— Prefiro comprar — ela responde depressa.
— Tudo bem — concordo. — Então, Estrela do Amor, aqui vamos
nós.
Capítulo 15

Nathan

Victoria veio em silêncio o tempo todo, e só depois que chegamos é


que percebi que seus lábios formavam um bico que demonstrava seu estado
de chateação.
Ela nem tem por que está chateada, fala sério. Tivemos uma noite
incrível, uma manhã melhor ainda e vamos encerrar a noite comendo a
melhor comida do estado.
Então, sem essa! Um dia perfeito e, tirando seu ex-namorado mala e
frustrado da lista, do que Victoria poderia reclamar?
Exato, de nada.
— Está chateada porque vamos ter que visitar meu pai amanhã? —
questiono quando ela deixa a sacola com as embalagens do nosso jantar
sobre a ilha.
— Não — sua resposta é apressada.
— Então, o que foi? Por que você está com essa cara de quem tá
chateada?
Ela finalmente me olha. Coisa que não fez desde que estávamos no
carro.
— Eu não estou chateada — ela sorri em meio ao olhar de quem não
acredita na pergunta que eu fiz.
— Claro que está. Sua expressão não te ajuda a disfarçar. Foi algo que
eu fiz?
— O quê? — ela ri. — Claro que não!
— Claro que sim — rebato. — Eu fiz algo ou... — estreito os olhos. —
Foi o seu ex? Se bem que essa sua cara não tem a ver com a que você
estava no bar. Lá, pareceu inquieta e preocupada, agora você tá parecendo
chateada e com raiva mesmo.
Ela ri. Um riso nervoso.
— Não estou parecendo, não. Você que está vendo coisa onde não tem
— seu olhar desvia para as sacolas sobre a ilha. — Além do quê, mesmo
que eu estivesse chateada, você disse que não lhe devo satisfações de nada,
o que implica em não precisar te dizer do que sinto ou deixo de sentir.
Sibilo.
— Um tapa, Victoria — deixo claro —, um tapa teria doído menos.
Ela balança a cabeça, me olhando entediada.
— Só estou repetindo o que você me disse — suspira, ajeitando os
cabelos e ficando pensativa antes de dizer: — Vou subir e tomar banho,
então volto para jantar — me estuda um pouco. — Tudo bem para você?
Estreito os olhos.
— Isso foi um convite para eu me juntar a você?
— Engraçado — ela sorri ironicamente. — Já volto.
Observo-a se virar e sair da cozinha, me deixando com um sorriso
bobo no rosto.
Não um sorriso bobo pela resposta, mas pela ocasião e situação. Quero
dizer, estou prestes a jantar com uma mulher sem ter esse lance amoroso no
meio. Coisa que odeio. Abomino isso de convidar mulher para jantar só
porque no fim pode ser que ela vá transar comigo.
Bem melhor assim. Uma mulher na minha casa, que vai jantar comigo,
sem expectativa de nada, porque lance amoroso ela está descartando no
momento por conta do ex.
E daí que não vamos mais transar? Beleza. Sexo não é tudo na vida.
Vamos estar na mesma casa e ter um ao outro de companhia.
Isso já me parece suficiente. Até porque ficar sozinho em casa estava
sendo mais que ruim. Eu não tenho esposa, ufa, e nem
cachorros, ufa também, o que me levou a solidão opcional. Que caiu por
terra ontem, quando a sorte esbarrou no meu caminho.
Agora eu tenho uma amiga, que excluiu a amizade colorida do nosso
radar, mas que ainda assim vai morar comigo e quando meu pai morrer eu
não vou precisar me remoer sozinho.
Tenho amigos que são como irmãos, sim, mas entendo que cada um já
está com sua vida pessoal ajustada, que demanda tempo. Não é como se
eles pudessem sair e beber comigo para me ajudar a lidar com a vindoura
morte do meu pai.
Um deles, Douglas, é o único que eu sei que poderia dar um apoio,
mas ele saiu de cena no quesito amizade inseparável há muito tempo. Desde
que Ryan nos colocou para fora da casa que morávamos juntos, pra ser
exato. Acho que deve ter deixado Douglas chateado, e ele preferiu se
afastar um pouco nós. Não inteiramente, porque aparece quando é
convidado, mas pegar o celular para saber da gente é uma coisa que não faz
parte.
Então, por isso meu sorriso bobo. Porque uma parte minha está feliz
por eu não estar mais morando sozinho.
Tenho uma pessoa comigo a partir de agora, e ninguém pode tirar isso
de mim.

Victoria está na cozinha quando volto do meu quarto, onde também


decidi tomar um banho para me sentir mais relaxado e colocar um shorts
mais à vontade.
Ela, por sua vez, usa uma camiseta preta que tem gola no pescoço e
uma calça jeans. O que é um lamento. A expressão chateada, fechada, ainda
está em seu rosto, me dizendo que ela está aqui, mas pode não estar.
— Voltei — me anuncio, puxando um dos bancos e colocando no lado
oposto ao seu.
Seu olhar se ergue para encontrar o meu e sem querer, sem querer
mesmo, reparo em sua boca, me lembrando de como ela me beijou
desesperadamente quando estávamos transando nessa mesma ilha.
Respiro fundo. Um momento que facilmente eu repetiria.
— Vamos comer então — puxo uma das sacolas na minha direção. —
Demorei? Fui tomar banho também. Sabe como é, eu curto comer relaxado.
Victoria balança a cabeça, assentindo.
— Sem problemas. Eu acabei de chegar.
— Tá mais tranquila? — arrisco a pergunta enquanto destampo o
recipiente com os filés. O cheiro gostoso que emana fazendo Victoria
suspirar. — Eu sei, o cheiro é delicioso. Espera só até você provar o gosto.
Não vai querer outro filé na vida. Esse — aponto a carne — é o melhor.
Sempre que eu como, é uma viagem estelar diferente.
Ela ri, nitidamente me achando exagerado. Mas é sério.
— O pai do Ryan inventou esse slogan para o filé, mas ele nem estava
sendo exagerado — adianto. — O filé é o melhor mesmo!
— Eu não sei quem é Ryan, e muito menos o pai dele, desculpa — ela
sorri.
— Meu amigo e o pai dele, respectivamente filho e esposo da Estela,
que é a autora do delicioso filé e dona do restaurante Estrela do Amor —
explico.
— Oh, caramba — Victoria está surpresa. — Então você conhece a
família inteira da dona daquele restaurante enorme?
— Podemos dizer que sim — dou um sorriso, destampando outra
embalagem, essa contendo os legumes cozidos. — São pessoas incríveis.
— Imagino que sim.
Um toque de celular quebra nosso confortável momento, Victoria se
apressando em pegá-lo no bolso da calça.
Ela confere o visor, desbloqueia a tela e... sua careta é imediata. Uma
mão vai à testa, os dedos esfregando urgentemente. O aparelho é descartado
para o lado e Victoria respira fundo.
— Seu ex de novo? — pergunto.
Ela não me olha, a cabeça baixa enquanto responde:
— Sim, é... Meu ex-namorado, sim — sua respiração é mais funda
desta vez. — Meu ex dizendo que não adianta eu me esconder atrás de
outro homem — me olha, engolindo em seco — porque ele vai matar nós
dois.
Capítulo 16

Victoria

Nathan ri como se eu tivesse contado uma piada. E o riso logo passa a


ser despreocupado e não de quem achou mesmo graça.
Que bom que ele achou algo cômico no que acabei de... ler e saber.
Quando com Jacob, não sabia que ele chegaria ao ponto de fazer
ameaças do tipo... Sabia que ele era de um jeito que eu não estava
acostumada a encontrar nos caras, mas jamais pensei que se colocaria no
patamar de irracionalidade e aparente loucura. Apego desenfreado e
descabido.
Que louco!
— É preocupante, não engraçado — digo, me sentindo atordoada.
Se eu não tivesse gasto quase todo o meu dinheiro me mudando,
viajaria antes para a Itália e ficaria trabalhando na PEARL de lá até a
semana do desfile.
Mas não, não teve como poupar. O que sobrou, não vou mexer. Não
posso, está investido e seria burrice.
— Não percebe o que ele tá fazendo? — Nathan pergunta e o olho
inquisitiva. — Ele está te intimidando. E vai conseguir, se você deixar.
Balanço a cabeça, uma negação enfática.
— Não me sinto intimidada, me sinto ameaçada por um homem que eu
pensei que conhecia, mas que na verdade foi o maior erro da minha vida.
Ele é louco!
— Lamento não muda fatos — Nathan se levanta e vai até os armários.
Ele volta depois com pratos e talheres, empurrando para o meu lado um de
cada, se sentando em seguida e começando a se servir. — O que você vai
fazer? Se esconder e fugir dele a vida toda?
Sua pergunta me faz suspirar em mais lamento. Não sei.
De verdade, não sei. O que posso fazer? Que provas tenho se for à
polícia? O mais importante: é preciso mesmo a polícia? Vai adiantar? Vou
me sentir mais segura com isso? Acho que não, visto que não terei policiais
de sentinela à minha porta sempre.
— Foi mal, desculpa — Nathan diz. — Não quis soar desgraçado ao
perguntar isso. Não imagino o quanto sua cabeça deve estar turbulenta.
Nada a ver minha pergunta, desculpa.
— Tudo bem — junto as mãos sobre a pedra da ilha, o momento em
que Nathan e eu tivemos em cima sendo a última coisa que quero pensar. —
Você tem razão. Não posso ficar fugindo dele a vida toda — esfrego os
olhos. — Não acredito que isso foi acontecer comigo.
— Pois é, aconteceu. Se serve aí — ele passa o recipiente com o filé
para o meu lado. — Para de gastar sua preciosa energia — dá um sorriso
rápido — pensando nesse otário. Ele não vale o seu tempo.
Eu o olho e tento sorrir pelo encorajamento. Seu rosto é tão doce e ele
é tão gentil, que eu jamais poderia pensar que Nathan diria coisas como é
meu costume comer a secretária. Pelo modo que disse, isso parece
acontecer todos os dias. Ele realmente, realmente deve fazer isso todo dia.
Não que seja da minha conta, porque não é. Mas não foi a coisa mais
confortável de saber, assim, do nada. Como se tudo bem me contar que
depois de termos transado duas vezes, ele ainda pegou a secretária.
Uma informação digna de se compartilhar... Em outro mundo, talvez.
— Queria eu conseguir isso — murmuro, começando a me servir
também. Pego o filé do recipiente com a ajuda do garfo e da faca,
colocando em meu prato e depois cortando um pedaço para provar.
É um belo filé, com certeza, de dar água na boca, mas acho que não
vou nem conseguir aproveitar todo o gosto já que a minha cabeça está
flutuando em um problema chamado Jacob.
Mas mesmo assim eu provo. Corto um pedaço da carne e trago à boca,
meus olhos se fechando no momento que minha língua bate em contato
com o filé macio e... indescritivelmente saboroso!
— Minha nossa! — abro os olhos, olhando Nathan com toda a minha
descrença estampada no rosto. — É sublime!
Ele ri. Seu sorriso persiste mesmo depois da risada, e eu me esforço a
não reparar no quanto Nathan é visualmente perfeito. Fisicamente, pelo
menos. Nada nele parece não se encaixar no lugar certo e até mesmo o
sorriso, que poderia ser um pouco desalinhado, não é. É lindo e charmoso,
como tudo nesse homem jovem que faz qualquer mulher salivar.
— Sabia que ia gostar — ele me passa o recipiente com os legumes. —
Não tem como não gostar.
Balanço a cabeça em negação, uma concordância enquanto continuo a
comer. Não pretendo falar mais, só vou saborear esse filé até o último
pedaço.
E assim faço. Fico imersa em silêncio e apreciação durante a refeição,
só prestando atenção em Nathan outra vez quando acabo com o filé.
Lambo os lábios para capturar os últimos resíduos do gosto e dou um
sorriso.
— Muito bom! — digo, colocando os braços sobre a pedra da ilha. —
Mesmo, mesmo. Estou chocada de tanto que é bom.
Nathan ri.
— É, eu sei que sim — ele se levanta e o acompanho com os olhos. O
que não deveria fazer, porque ele está sem blusa, deixando seu abdome
delicioso à mostra. É uma tentação. — Tá mais tranquila depois de provar o
filé?
Quase me assusto com a pergunta, que é feita num tom de voz mais
grave, mas não menos suave. É como se houvesse uma maciez em sua voz,
e eu não sei explicar. Só sei que não me deixarei levar por isso.
— Sim, sim — respondo, cruzando os braços, me lembrando que
coloquei uma blusa de lã com gola, tudo para dificultar... qualquer atração.
— Acho que o filé distraiu mesmo minha mente por uns minutos.
— Tá vendo o que um filé pode fazer por você? — ele sorri, mas é um
sorriso sacana, que me obrigo a não ficar vendo e desvio o olhar. Sei que
Nathan se aproxima de mim, minha visão periférica me diz isso, mas não
vou me permitir ficar tensa. — Imagina só o quanto eu não poderia te
distrair?
Engulo em seco. Ele já me distraiu demais, obrigada. E distraiu muito.
— Prefiro não saber — arrisco olhá-lo. Parado ao meu lado, o quadril
apoiado na ilha e um sorriso de quem sabe que é sedutor estampado na
boca.
Respiro fundo. Não vai ser fácil.
— Que má — ele murmura. — Tudo isso porque não me quer mais?
Só fui usado por você então? Me usou e quer jogar fora — funga, em uma
péssima simulação de choro.
Dou risada, negando com a cabeça.
— Interessante escolha de palavras — ergo as sobrancelhas. — Você
que parece fazer isso, não eu. O que tivemos foi um momento, que não será
repetido, Nathan. Aceite isso. Não vou ser seduzida. Aceite isso também.
Ele continua a sorrir, só depois concordando.
— Eu sei que não — fala. — Estava só te ajudando a distrair mais um
pouco — sua mão alcança meus cabelos e ele os bagunça, um gesto que
deve ser aceitável por uma criança sendo cumprimentada, não por uma
mulher adulta.
Mas eu prefiro não dizer nada e sim me levantar também para ajudá-lo
a retirar os recipientes de comida de cima da ilha.
Eu o olho de novo, e desta vez ganho um sorriso gentil e uma
piscadela, chegando a apenas uma conclusão:
é impossível resistir a ele.
Capítulo 17

Nathan

Acordei mais cedo do que esperava. Provavelmente a ansiedade pelo


dia que vou apresentar minha namorada ao meu pai — que tem os dias
contados — me deixou tenso.
Não que seja a coisa mais difícil do mundo. Qual é! Fiz muito isso de
mentir para ele quando era mais novo. Não vai ser difícil ter que mostrar
uma mulher e por uns minutos fingir que temos um sentimento forte um
pelo outro, que somos inseparáveis e qualquer merda dessas que tenha que
haver entre duas pessoas se relacionando e estando felizes.
— Bom dia — Victoria se junta a mim na cozinha, onde estou
preparando um café da manhã maior que apenas uma vitamina proteica.
Me surpreendo por vê-la tão cedo, na real. Deve ser por volta das seis
ainda.
— Opa, bom dia — destino minha atenção a ela por um instante.
Infelizmente, ela não está pelada. Se veste em uma roupa igualmente formal
como ontem: blusa, uma jaqueta jeans, calça preta apertada e botas. Seria
demorado despir seu corpo, mas, sério mesmo, eu teria essa paciência. —
Acordada tão cedo?
— Eu durmo cedo, por isso acordar essa hora é inevitável — ela sorri,
apontando. — Quer ajuda?
— Não — recuso, voltando a tarefa de colocar pasta de amendoim nos
pães integrais.
— Ahn... — ela murmura. — Tudo bem. Vou me sentar aqui e, se
mudar de ideia, estarei ouvindo.
— Tá, claro — assinto, mas ao invés do silêncio, sou impulsionado a
perguntar pela minha curiosidade: — Tudo certo pra hoje? Você sabe,
vamos visitar meu pai.
A resposta é um suspiro profundo, me fazendo juntar dois pães e
colocar no prato, então levo-o até ela, que passa a me olhar com o lábio
inferior preso pelos dentes de cima.
— Sim — responde, sua relutância sendo clara. — Tudo bem. Sem
imprevistos, por enquanto. A não ser que apareça algo no trabalho, o que
acho que não vai acontecer e... Bom, tem isso — dá um riso atravessado —,
de enganar seu pai e tal, mas... Acho que você está fazendo por uma boa
causa. Afinal — ela gesticula —, é o último desejo dele.
Nós nos encaramos e eu nem sei porquê. Fico olhando para Victoria
como um cachorro que se perdeu do dono — expressão que meu amigo
Samuel adora usar — e colhendo palavras que possam me justificar acima
de é o último desejo do meu pai.
— Pareço muito otário por fazer isso? — pergunto.
Victoria abre mais os olhos, como pega de surpresa pela pergunta. Mas
ela nega, apesar de ser sem muita convicção.
— Não, não parece.
— Você entende, né? Que meu pai fez absolutamente nada que um dia
eu já quis. Nem mesmo o meu pedido de Natal aos sete anos foi realizado.
Acho que sim, sou um pouco otário.
Ela estreita os olhos.
— Posso saber qual era seu desejo? — questiona.
— Que ele ficasse as festas de fim de ano comigo, porque ele nunca
parava em casa — desvio o olhar, de repente me sentindo aquele garoto de
sete anos que se sentiu chacota quando o pai riu do pedido e apenas lhe
bagunçou os cabelos, ignorando completamente que tinha o poder para
realizar o maior e mais sincero desejo do filho.
Fico encarando o chão, transportado para o mesmo sentir de quando
ainda era uma criança e depois me tornei um moleque inseguro.
— Eu adoraria dizer que não me importo com essa lembrança, mas é a
mais inesquecível. Acredite, uma criança pode ter uma grande ferida
incurável no decorrer da vida por causa de uma aparente banal atitude do
pai.
— Sinto muito por isso — Victoria sussurra após extenso silêncio
entre nós. — Não imagino o quanto deve ser ruim o que você sente.
Principalmente porque ele está morrendo.
Sorrio. Acho interessante ela não ter dito "seu pai" e sim escolhido
"ele". Realmente, não aguento mais usar um nome que devia sair dos meus
lábios com alegria, e não revolta. Ou mesmo as pessoas o usando, como se
meu pai realmente devesse ser chamado de pai.
— Não ligo se ele tá quase morrendo — volto a enfatizar. — Já não
tem mais o que fazer aqui na Terra mesmo. É melhor que vá para o... —
hesito. — Próximo lugar que lhe é de direito.
Victoria não concorda, mas também não discorda ou me repreende.
— Você está bem com isso de ir vê-lo hoje? — sua mão alcança meu
braço e ela faz uma carícia, me olhando com compaixão e também enxergo
preocupação no olhar.
— Tô sim — afirmo, com um sorriso largo. — Super bem. Não tem
nada que dê mais errado do que já está errado.
Victoria concorda, ainda me encarando com compaixão.
— Espero que eu estar junto possa te ajudar de algum jeito. Te dar uma
força a mais, não sei...
— Obrigado — agradeço, voltando ao preparo do café, antes de
adiantar: — Mas não sou que preciso de força a mais.
E ela vai perceber isso quando se deparar com o meu pai sobre aquela
cama.
Capítulo 18

Victoria

Deixo o prédio da PEARL esperançosa que Nathan já esteja me


esperando em frente.
Mas, quando passo pelas portas de vidro da entrada, percebo que não.
Ele ainda não chegou, o que, consequentemente, me faz olhar de forma
imediata ao redor, procurando por qualquer pessoa suspeita.
Isso seria paranoia, mas fui ameaçada por Jacob e apesar de duvidar
que ele chegaria ao ponto de me matar, ou qualquer pessoa, não consigo
esquecer sua mensagem. Dizendo que vai matar a mim e Nathan.
— Vick! — Petal, uma das social media da PEARL, me encontra na
calçada. Ela anda sempre tão elétrica e esbaforida. — Você saiu tão rápido
do prédio que nem tive tempo de te convidar para a minha festa de
aniversário — ela dá uma risadinha e bate no meu ombro amigavelmente,
como se dissesse "sua boba!".
Dou um sorriso.
— Desculpa, eu achei que minha carona já tinha chegado.
Ela abana as mãos fazendo pouco caso, o gesto deixando as madeixas
do seu longo cabelo de cachos castanhos se agitarem ao vento.
— Não tem problema — murmura, abrindo a bolsa. — Sei que é quase
arcaico, mas eu preferi convites impressos. Como os de casamento, sabe?
Não que eu vá me casar — ela ri, apontado para todos os lados com o
convite que pegou da bolsa. — Nem acho que vou casar nunca, por isso
faço os convites das minhas festas de aniversário em — ela se abana com a
sua posse — papel.
Petal tem 23 anos, mas às vezes parece ter bem menos. Seu jeito meigo
a coloca como a mascote da PEARL, mas alguns colegas também adoram
rir dela por dizer coisas bobas como ninguém me quer para relacionamento
sério.
Sorrio outra vez, olhando ao redor, tentando averiguar se continuo
segura ou alguém suspeito, como Jacob, está por perto.
Mas não. Nem Jacob, tampouco Nathan estão próximos.
— Eu adoraria ir à sua festa, Petal, mas... — começo a dizer, mas ela
me silencia ao colocar o dedo indicador sobre meus lábios.
— Nem pensar! — protesta, me estendendo o convite até que eu o
segure. Só assim seu dedo se esvai da minha boca e ela bate palminhas. —
Muito bem! Estou muito ansiosa por essa festa. Eu aluguei um espaço desta
vez, sabe? Não vai ser na casa dos meus pais — ela cochicha a última parte,
como se fosse algo indigno de se saber.
Dou risada, concordando, e então passo o olhar ao redor outra vez,
conferindo se alguém está perto.
E agora sim, Nathan está vindo em nossa direção, mais bonito que
esteve mais cedo. Ele usa um terno azul escuro, que contrasta perfeitamente
com seus cabelos negros e eu quero salivar.
Imediatamente, me sinto também mais aliviada. Salivando e aliviada.
— Olá, moças — seu cumprimento cortês vem acompanhado de um
sorriso simpático, fazendo Petal notá-lo e eu vejo o exato momento em que
seu queixo cai.
Eu entendo, é uma beleza impressionante. Nathan passou mil vezes na
fila da beleza, e depois mais uma, para garantir a perfeição.
— O-oi — Petal gagueja, então me olha. Seus olhos estão muito
abertos, como impressionada. — Você conhece ele? — pergunta para mim,
apontando em direção a Nathan.
— Sim, conheço — respondo, sorrindo pela sua expressão. — Ele é a
minha carona.
— Nossa, Victoria — Nathan sibila e o olho. Ele parece ofendido. —
Só isso que sou pra você? — balança a cabeça em negativa. — Meu
coração se entristece assim.
Petal dá uma risadinha, achando-o dramaticamente engraçado, eu
suponho.
Ele se vira para ela, abrindo um sorriso mais curto.
— Oi. Muito prazer, sou Nathan — sua mão se estende a ela em
cumprimento —, amigo da Victoria. E você, quem é?
— Prazer, Nathan — ela dá outra risadinha ao dizer o nome dele. —
Me chamo Petal e trabalho com a Vick.
— Bom te conhecer — ele aperta a mão dela e me olha. — Precisamos
ir, se quisermos chegar antes de ele dormir.
Respiro fundo, assentindo.
— Petal — Nathan ainda fala —, espero que entenda eu roubar sua
amiga pelo restante do tempo. Temos um compromisso.
— Problema nenhum! — Petal é toda sorrisos e quando me despeço,
ela nos faz parar. — Você está convidado para a minha festa também — fala
para Nathan. — Vou adorar receber vocês dois!
Nathan ergue as sobrancelhas, mas anui.
— Estarei lá — garante. — Até mais, Petal. Vamos, Victoria.
Eu aceno para a minha colega, seguindo para o carro de Nathan junto
com ele.
Mal sabendo que passaríamos os próximos vinte minutos em total e
amargo silêncio.

Chegamos à casa do seu pai e assim que Nathan destrava as portas, eu


saio do carro.
Reparo no local, que é lindo, a casa parece de catálogo e todo esse
jardim ao redor só faz parecer uma casa mais... familiar. O que nem faz
sentido porque Nathan garantiu que seu pai não tem nada de familiar a não
ser o nome pai.
Ele está ao meu lado no instante seguinte, buscando meu olhar com o
seu. Parece inquieto e inseguro, o que noto pela primeira vez.
Nathan esbanjou confiança e certeza desde que o conheci no bar. Há
dois dias, sim, pouco tempo, mas ainda assim foi o que identifiquei nele por
todo o tempo desde então.
Exceto agora.
— Tente não forçar muito em demonstrar que me ama — ele pede,
sorrindo de um jeito envergonhado. — Ele não tá percebendo muita coisa
mesmo, então só estar ali comigo já deve ser mais que suficiente para ele
acreditar que tô feliz.
Balanço a cabeça, afirmando.
— Não se preocupe, não tenho a intenção de ser inconveniente ou
espalhafatosa.
Ele respira fundo, assentindo. Sua mão direita procura a minha
esquerda, então Nathan respira fundo por uma segunda vez, me puxando
para levar para dentro da casa.
O que fazemos depois de andar por quase um minuto até alcançarmos
a varanda e subir um degrau, que nos possibilita chegar na porta.
Mordo o lábio e arrisco olhar Nathan. Ele está sério, como ficou
naquela vez, que perguntei mais sobre ele. Espero que não esteja com raiva.
Isso deve ser apenas desconforto por ter que ver o pai e mentir para ele.
Uma mulher nos atende depois que Nathan toca a campainha.
— Oi, Mary — ele a cumprimenta. Sua voz está gentil, como o é
sempre, e não transparece seriedade como sua expressão. — Essa aqui é a
Victoria — ele me aponta, me apresentando à mulher madura que nos
atendeu. — Ela é minha namorada e a trouxe para o meu pai conhecer.
Mary tem as sobrancelhas arqueadas, em nítido estranhamento.
— Sabe se ele está acordado? — Nathan entra na casa e, como
estamos de mãos dadas, eu vou junto.
Mary ainda está um pouco avoada depois do que o ouviu dizer. É tão
inacreditável assim que ele tenha uma namorada?
— Eu não sei se ele está acordado, Nathan. O sr. Russell tem tido
horários incertos — Mary responde, me dando uma olhada rápida.
Eu sorrio, mas ela não retribui. Me sinto imediatamente mal. Será que
Mary sabe que nosso namoro é uma mentira?
— Vamos até o quarto dele — Nathan me olha ao dizer. — Tá
nervosa?
Nego. Porque não estou mesmo, só me sentindo julgada agora por
Mary, e quem pode culpá-la? Eu também estou me achando um ser humano
horrível.
Nathan e eu seguimos pela casa, por alguns corredores, e reparo em
como todo cômodo por qual passamos, é grande, e como todo móvel e
decoração parece ter a estampa de "eu fui muito caro".
Chegamos até uma porta semiaberta e Nathan me olha antes que
entremos.
— Obrigado por fazer isso por mim — ele diz, passeando os olhos por
meu rosto e, inesperadamente, plantando um beijo rápido em meus lábios.
Seus olhos encontram os meus outra vez e Nathan repete: — Obrigado.
E antes que eu possa me situar, ele se vira de novo para a porta e abre,
e a primeira coisa que vejo é a grande cama com um homem velho e muito
magro deitado.
Capítulo 19

Victoria

Nós entramos e imediatamente me sinto muito desconfortável. Tem um


ar pesado por aqui, que não gosto nem um pouco. Possivelmente porque sei
que o senhor da cama está quase morto. E olhando-o assim, pessoalmente,
ele já parece sem vida.
Avisto uma mulher ao lado da cama, arrumando algo em uma cômoda.
Ela está de costas para nós.
— Tina? — Nathan a chama, e sua mão segura a minha com mais
pressão.
Ela se vira para nós imediatamente, e demora alguns segundos até
entender o que está vendo: Nathan com alguém.
Mordo o lábio, mas não sorrio em cumprimento. Vou ser julgada, com
razão, pela segunda vez, com intervalo de nem minutos direito.
Das duas uma: ou essas mulheres sabem do plano de Nathan ou acham
impossível e improvável que ele esteja com uma namorada.
— Nathan, querido — Tina abre um sorriso caloroso, me olhando em
seguida. O sorriso morre e sou analisada pelos olhos escuros da mulher
vestida de roupas floridas. Parecem muito com um pijama. — Que bom que
você veio. Vou acordá-lo para o remédio em alguns minutos.
— Está bem — Nathan solta uma lufada de ar, como se fosse pesaroso
saber que seu pai vai acordar nesse estado de saúde tão debilitado apenas
para tomar remédios. — Alguma mudança?
Tina está balançando a cabeça de forma negativa, então ela se
aproxima de nós em passos medianos. Ela me olha de novo, depois para
nossas mãos juntas, e para o rosto de Nathan.
— Sem mudanças. Sem melhora, mas também sem piora — Tina sorri
outra vez, como uma mãe faria depois de conseguir convencer o filho a
comer o almoço todo. — Seu pai é um homem forte, devo admitir. Ele não
quer morrer e também está ansioso para conhecer sua esposa.
Quando ela diz sua esposa, seus olhos voam outra vez para mim. Me
sinto tão culpada que respiro fundo e acho que devo me explicar.
— Sou namorada — digo, o que faz Nathan me olhar. Mas não
retribuo. De repente me sinto envergonhada por soltar a mentira em voz
alta. — Não esposa.
Tina abre um sorriso, que parece verdadeiro.
— É claro que sim — fala, os olhos voltando para Nathan. — Espere
aqui. Ele vai acordar em um momento.
Tina volta para onde estava e eu que pressiono a mão de Nathan dessa
vez, em um aperto que diz em tudo o quanto eu não estou bem com isso de
mentir para um semi morto.
— Tem certeza que quer mesmo fazer isso? — cochicho para ele, que
me olha e abre um sorriso.
— Tenho, por quê?
— Porque talvez estejamos parecendo incrivelmente culpados.
Ele ri. Um riso gostoso que me arrepia e ao mesmo tempo me conforta,
trazendo calmaria ao meu coração em agito.
— Não temos culpa em nós — ele esclarece. — Não tem motivo para
a gente se sentir culpado. Estamos em uma boa causa — sua mão livre vem
ao meu rosto e ele acaricia minha bochecha com as pontas dos dedos.
Respiro fundo.
— Tudo bem — meneio a cabeça. — É uma boa causa — repito, mais
para me convencer do que acreditar em Nathan.
Ouvimos sussurros vindo da direção da cama e olhamos. Tina está,
jeitosa e pacientemente, acordando o moribundo.
O pai de Nathan acorda com um gemido áspero e logo começa a tossir.
Uma tosse seca e incômoda.
Sua enfermeira se apressa em pegar o remédio na mesa e o copo
preenchido pela metade de água, então sussurra para o senhor instruções.
Observo que o processo todo é feito muito rápido e habilmente. O
remédio é posto em sua boca, Tina usa a mão agora vazia para segurar a
cabeça dele de forma que sua garganta fique reta, e o copo é levado aos seus
lábios, o pai de Nathan tendo visível dificuldade para engolir do líquido que
vai levar o remédio para o seu organismo.
Assim que é efetuado o processo, Tina volta a deitar sua cabeça no
travesseiro, com todo cuidado que uma pessoa teria com um recém-nascido.
Nathan suspira ao meu lado e instintivamente me agarro em seu braço,
minha mão em seu peito fazendo uma carícia que eu espero que passe a ele
um pouco de... Bom, que o ajude a lidar com a cena em questão.
— Vamos — ele firma a mão na minha e me induz a caminhar até
estarmos próximos a cama. Sua outra respiração funda é mais audível e
pesada. — Oi, pai — a voz assume um volume mais alto, como se Nathan
não quisesse deixar dúvidas que o pai o ouviu.
Ele não solta minha mão depois que Tina se afasta da cama e
ocupamos seu lugar, me possibilitando ver ainda mais de perto o homem
que Nathan descreveu de forma fria.
— Nathan? Filho? — o senhor parece não enxergá-lo, já que olha para
o teto e a voz exala aflição. — Você veio me visitar outra vez? E na mesma
semana — tosse. — Filho amado.
Nathan aperta minha mão tão forte que me tira uma careta de dor, e o
olho, flagrando sua mandíbula cerrada e seu rosto em seriedade e tensão.
— Vim, pai — confirma. — E trouxe minha noiva pra te conhecer.
O homem sobre a cama começa a se esforçar para conseguir virar a
cabeça em nossa direção, então seus olhos se abrem um pouco mais, visto
que estavam semicerrados.
Ele nos nota, me nota, um sorriso, ou indicativo dele, se abrindo em
seus lábios finos.
— Filho — seus olhos assumem um brilho que me pergunto se são
lágrimas —, ela é linda.
— É, pai, ela é linda sim, mas o mais importante é que me ama.
Nathan fala isso tão imediatamente que é impossível que eu não o olhe
em desentendimento.
Não foi ele que disse para eu não forçar nada? Porque é exatamente o
que ele está fazendo agora. Forçando uma mentira que está óbvia, a parecer
verdade.
Seu pai sorri, como aprovando.
— Como se chama a noiva do meu filho? — ele pergunta.
— Victoria — respondo. — Me chamo Victoria, senhor.
Ele tosse demoradamente.
— Oh, não, por favor — murmura ao se recuperar. — Não me chame
de senhor. Você é da família. Pode me chamar de Peter.
— Peter, então — concordo. — Prazer em conhecê-lo.
Ele volta os olhos para o teto, mas continua sorrindo. Me sinto como
se estivesse em outra dimensão, acompanhando a passagem de vivos para o
mundo dos mortos. Mais ou menos como vi em Além da
Imaginação quando era pequena e nunca esqueci. Era um enredo baseado
na realidade? Porque foi sinistro e isso, esse momento, também está sendo.
— Quando vocês vão se casar? — ele encontra fôlego para perguntar,
então seus olhos se fecham.
— Semana que vem — Nathan responde depressa. — Na Itália. A
Victoria vai precisar ir para lá a trabalho e vamos aproveitar a estadia pra
selar nosso amor em votos e compromisso matrimonial.
Eu o olho de novo. De onde saiu isso?
Fico pasma, mas ele consegue tirar um sorriso que requer muito
esforço do pai, que sequer conseguiu segurar os olhos abertos.
O que torna um pouco desconfortável olhá-lo. Principalmente quando
se está mentindo deliberadamente.
— Lembre-se, filho — Peter diz —, uma boa mulher não se encontra
em cada esquina.
Volto a olhá-lo, sobre a cama, parecendo um pai cheio de conselhos a
dar para o filho, mas que decidiu fazer isso muito tarde.
— Eu desperdicei as chances que tive, todas elas — emenda. — Não
cometa os mesmos erros que eu.
Olho para Nathan outra vez, e ele está sorrindo. É um sorriso que
quase grita: cara de pau!
— Pode deixar, pai, não mesmo — ele promete e alguém desavisado
que ouvisse isso, acreditaria nele. — Gostou de saber que vou me casar?
Mordo o lábio. Em pouco tempo já ocupei os "cargos" de namorada,
noiva e esposa.
— Sim, filho — Peter responde. — Você estando feliz, eu estou feliz.
Sua felicidade é o que mais importa para mim, no meu resto de vida.
— Claro, pai — Nathan concorda, me olhando e erguendo as
sobrancelhas como se dissesse Acredita nisso? Vê se pode!
— Ele precisa descansar agora, Nathan — a enfermeira diz. Pode ser
que esteja incomodada com tantas mentiras que ouviu e queira poupar seu
paciente de mais alguma. — Volte amanhã e vocês conversam mais.
Nathan concorda, se aproximando do pai para descansar um beijo em
sua testa, o que me impressiona; e em alguns momentos estamos deixando o
quarto, sua mão soltando a minha assim que passamos pela porta.
Ele não me olha enquanto se põe a andar, me restando apenas
acompanhá-lo pelos cômodos, até chegarmos à porta principal da casa.
Nathan só me olha de novo quando chegamos ao seu carro, me
olhando para dizer:
— Não precisa levar a sério o que disse lá dentro. É claro que não
vamos nos casar na Itália. Aquilo foi só parte do teatro.
Eu sabia, quase digo, mas ele entra no carro, dando a entender que:
fim de papo.
Capítulo 20

Victoria

Nathan e eu deveríamos estar entrando em sua casa. Mas não. Só eu


estou. Ele me deu a chave antes de conferir que destranquei a porta para
entrar, então se despediu com um muito audível "não me espera acordada",
dando a entender que não tinha hora para voltar.
Por isso, sim, eu estou, depois de trancar a porta, seguindo até a escada
e subindo vagamente os degraus, sozinha.
E me pergunto o que deu nele. Ficou sentido por ter mentido para o pai
ou não gostou de vê-lo naquele estado?
Seja o que for, Nathan não esbanjou nenhuma vontade para
compartilhar comigo. Não que eu precise saber, mas depois de tê-lo ajudado
no teatro, como ele disse, pelo menos dissesse que horas pretendia voltar
para sua casa.
Não porque me deve, ou eu quero, satisfação, mas porque o bip Jacob
não sai da minha cabeça. E nela, que correm pensamentos a mil por hora, eu
penso que Jacob pode ter nos seguido e ficado esperando Nathan sair para
depois entrar e me matar.
Mesmo que sua vontade não tenha qualquer lógica. O que ele é, afinal?
Um psicopata não declarado? Céus.
Mas me esforço para não pensar nisso. Sigo ao quarto em que estou
dormindo, fecho a porta, passo a chave e me viro para ligar o interruptor
antes que meus olhos repousem na janela. A mesma janela que tem uma
árvore na frente e um galho teimoso insiste em fazer sombra e ruído.
Respiro fundo. Não gosto desse barulho e nem do que esse galho me
faz imaginar. Os vários cenários. Como Jacob o usando de apoio para
conseguir abrir a janela e entrar no meu quarto para me fazer o mal.
Balanço a cabeça, tentando acabar com o pensamento ruim. Mas outro
ruído mais agudo do galho no vidro me faz olhar depressa, vendo o
movimento sobe-e-desce do galho fino arranhando o vidro de forma
perturbadora e irritante.
Decido ir buscar minha mala e meu edredom em cima da cama. Com
prazer, deixo o quarto do início do corredor e vou me instalar no que fica de
frente para o quarto de Nathan.
Ele disse que eu poderia escolher.

Não é um sonho. O barulho da maçaneta não é mesmo um sonho, é o


que comprovo quando abro os olhos e olho na direção da porta. A maçaneta
se mexe insistentemente ao passo que faz barulho.
Engulo em seco. Jacob me achou. E agora?
Puxo o meu edredom à altura do queixo e me encolho na cama
enquanto encaro a porta. Ele vai conseguir entrar.
Ficar com medo não vai me ajudar, minha parte racional me atenta.
Então olho na direção do criado-mudo ao lado da cama e obtenho meu
celular. Vou chamar a polícia. Sem dúvida vou ser morta se ele conseguir
entrar. Jacob está com clara fúria de mim e eu nem sei por quê.
Mexe, mexe, mexe. Sem cessar. Então cessa. Só para eu ouvir a tranca
ser forçada. Fecho os olhos, mas os abro imediatamente. Meu corpo está
gelado e minha respiração ofegante. Ele vai conseguir.
E consegue. Observo a maçaneta girar e a porta se abrir. Meus olhos
querem se fechar mais do que nunca, mas meu coração instantaneamente se
desacelera e todo o meu medo se esvai. Assim que o vejo.
Não Jacob, e sim Nathan.
A blusa social aberta, ainda de calça, os cabelos em uma desordem que
o deixa mais charmoso que nunca e um olhar perdido.
— Que porra você fez, Victoria? — ele pergunta.
— Eu mudei para esse quarto. Pensei que...
— Você devia ter me avisado. Eu fiquei louco de preocupação — ele
fala por cima de mim. — Cheguei e vi a porta do seu quarto aberta. Não te
vi na cama, não vi sua mala... Imagina! Que droga, Victoria.
— Desculpa, eu não sabia que você ficaria... — minha atenção está em
observar sua blusa aberta, que é sexy para cacete — preocupado.
— É claro que eu fiquei preocupado! — ele grunhe. — O seu ex é um
perturbado que te ameaça, e eu não te vejo no seu quarto, te procuro e não
te acho, me deparo com essa porta trancada e o que eu vou pensar?
Estreito os olhos.
— Que eu tranquei a porta por segurança? — rebato o pensamento
mais óbvio.
Nathan fica de boca aberta, como em choque pelo que eu disse.
— Não, Victoria, eu vou pensar o pior! Que você foi sequestrada pelo
imaturo do seu ex!
Franzo o cenho.
— Bem — digo —, justamente por isso eu vim para esse quarto e
tranquei a porta. Para essa possibilidade ser a menor possível.
Nathan balança a cabeça negativamente, como não acreditando. Então
seus ombros caem, como se tivesse concluído que a nossa discussão de
pontos de vista não vai dar em lugar nenhum.
— Tudo bem — fala —, não faz sentido meu alarde, deixa pra lá.
— Obrigada pela preocupação e desculpa por não ter avisado. Você
ainda não me deu seu número e eu também não achei que fosse preciso —
explico. — Mas... Como você está?
Acho que perguntar como ele está é coerente. Esse alarde não aparenta
ser de preocupação só por minha causa. Tenho certeza que quase
cem por cento do histerismo de Nathan tem a ver com o estado de
saúde do pai e da mentira que contamos.
— É claro que tô bem — ele responde e caminha em passos certeiros
até a cama, onde se senta na borda e se inclina para tirar os sapatos. —
Estou ótimo — enfatiza.
Não sei se ele está tentando garantir que eu acredite ou convencendo a
si mesmo. De toda forma, balanço a cabeça e solto um suspiro, me sentindo
frustrada.
Por como tudo está seguindo. Não que eu tenha planejado um rumo
certo, mas não achei que as peças ficariam tão bagunçadas depois que
decidi me jogar de cabeça em uma situação que, de antemão, não parecia
promissora.
Morar com um desconhecido só porque meu ex estava me
perseguindo? E, agora, o mesmo quer me matar, e também o
desconhecido. Frustrante.
— Você jantou? — Nathan vira a cabeça para me olhar quando
pergunta.
— Não. Eu não estava com fome. Estava muito cansada. — Muito
mesmo. Faz muitas noites que não tenho um sono digno.
— Sua energia realmente não é muita — ele diz, e acho que foi uma
crítica, porque não vejo nem um sinal de sorriso em sua boca. — Vamos
comer alguma coisa antes de você dormir de novo.
— Mas eu não quero — recuso. — Não estou com fome.
Nathan me olha e explica de forma paciente e que me faz repensar:
— Não se trata de estar com fome, Victoria, se trata do seu corpo
precisar de vitaminas específicas para um bom funcionamento.
Principalmente para garantir uma boa energia, então... — ele se levanta. —
Vamos até a cozinha comer alguma coisa para o bem da sua saúde.
Ergo as sobrancelhas e puxo meu edredom para o lado, conseguindo
arrastar com facilidade as pernas para o chão.
Me ponho de pé e olho para Nathan, concordando.
— Tudo bem — digo. — Se é para o meu bem, que mal tem? — abro
um sorriso.
Nathan apenas se vira e destina os passos à porta, saindo com toda a
sua postura sexy e exuberante.
Quanto a mim, sigo após ele, torcendo para que eu não tenha que lidar
com chilique de outro homem.
Capítulo 21

Victoria

Nathan remexe algumas sacolas de mercado que estão sobre a ilha. Ele
parece mal-humorado. Seu rosto está sério e as sobrancelhas franzidas
formando um enrugado leve entre elas. Seus lábios estão fechados,
obviamente deixando claro que sua emoção no momento não é de quem
quer conversar.
— Você parece tenso — digo mesmo assim, sentada no banquinho da
ilha, onde me coloquei e ele sequer deve ter notado.
— Pareço? — rebate depois de um tempo, notoriamente irônico. —
Que engraçado.
Sua mão esquerda captura uma bandeja de frango da sacola e a direita
se apossa da embalagem de macarrão de yakisoba. Observo-o levar os itens
até as bancadas detrás dele e, assim, se colocar de costas para mim, me
deixando somente com essa visão.
Nada de olho no olho, como é o comum dele. Saudades, inclusive. Ou
até mesmo sorrisinhos com piadas ou zoação. Nada disso. Só um Nathan
tenso e ironicamente ranzinza.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto.
O barulho do saco de macarrão sendo aberto o impede de me dar uma
resposta, os passos que se seguem o levando à geladeira também e, quando
retorna para a bancada, Nathan me dá a única resposta que eu não esperaria
receber:
— Você se encantou por ele.
— O quê? — franzo o cenho, parcialmente alheada, mas sabendo que,
com certeza, ele está falando de algo relacionado ao que aconteceu hoje.
— Pelo meu pai — Nathan se vira para me fulminar diretamente com
o olhar. — Você se encantou por ele, pelo estado dele e o jeito — sua
cabeça balança negativamente e seu semblante demonstra mágoa. —
Depois de tudo que te contei... Você ainda acha que exagerei? Só por ele
estar morrendo?
Demoro a considerar as palavras enquanto o encaro.
— Nathan, eu não...
— Você sim — ele me interrompe, dando os passos que o reaproxima
da ilha, me fitando do outro lado com decepção. — Você ficou com aquela
expressão que as pessoas ficam quando nos veem juntos. Coitado do idoso
e ainda tem um filho desses. Mas ele não tem nada de coitado, Victoria, eu
te garanto isso. E também não estou sendo uma pessoa ruim pelo que fiz.
Ergo as sobrancelhas, impressionada. Nada disso sequer passou pela
minha cabeça e é exatamente o que digo:
— Talvez você esteja sendo um pouco paranoico, porque eu sequer
pensei em qualquer coisa dessas.
— Eu não sou paranoico! — ele grunhe.
— Então por que está se comportando como uma criança birrenta? —
me irrito. — Você é um homem, um adulto, faça jus a tal.
Nathan bufa, me fazendo balançar a cabeça negativamente. Ele só
pode estar brincando.
— Você está frustrado ou ainda não aprendeu a lidar com o fato de que
seu pai breve vai partir — eu afirmo e ele abre a boca para me interromper,
mas ergo a mão em sinal de que ainda não terminei. — Não quero saber de
você rebatendo. Sua boca pode dizer que não liga, que tanto faz, mas não é
o que seu coração sente. Você não sente assim. Para de fingir que não se
importa. Seu nível de se importar com tudo é tanto que você colocou uma
estranha dentro da sua casa apenas porque achou que ela estava em perigo.
— Eu não fiz por você apenas e sim porque ia precisar de você.
— Pode falar o que quiser — me levanto. — Sei que não é a verdade
sincera. Devia parar com esse comportamento infantil. Se afligir pela morte
do próprio pai não é um pecado, não é um erro, não te faz ser idiota,
Nathan. Entende isso.
Saio da cozinha, meio farta do dia. É do dia, dos últimos
acontecimentos, da situação em que me encontro... É tanta merda que eu só
quero gritar. Ser rica também serviria. Mas não sou, então, paciência.
Estou chegando à escada quando ouço as passadas pesadas se
aproximarem. Reviro os olhos de antecipação e me viro para dar de cara
com Nathan chegando quase em cima de mim.
— Você não pode falar o que pensa e me dar as costas — ele grunhe.
— Não falei o que penso, falei o que é, o que de fato está acontecendo
— rebato, me segurando no corrimão para olhá-lo frente a frente. — Você
que está se negando a ver o que está diante dos seus olhos e — suspiro
fortemente — me diz, qual é o problema tão absurdo assim que você vê em
admitir que a morte do seu pai te entristece? Ninguém vai te julgar por isso,
Nathan.
Ele fica me encarando, em silêncio, olho no olho, e no embalo da ação
também me estremecendo.
— Não me importo com a opinião das pessoas, não ligo para o que
dizem ou vão dizer — declara.
— Ah, que bom.
— Engole o sarcasmo, Victoria — ele se aproxima para me olhar mais
de perto, demorando uns segundos antes de completar: — Eu não deveria
me importar, e essa é a questão.
E chegamos ao xis de tudo. Não acredito que esse histerismo é por se
culpar em sentir pela morte do pai. Sinceramente...
Minha lufada de ar é inevitável.
— Pelo amor de Deus — faço uma careta —, se poupe, Nathan.
Ele franze o rosto e balança a cabeça.
— Me poupar? — questiona. — Me poupar? E por que diabos você tá
irritada?
— É! Se poupar dessa criancice de "ai, eu não devo me importar se
meu pai vai morrer, buá buá, tenho que ser malvado" — resmungo. — E
não estou irritada, só de saco de cheio.
Ele expira fortemente, segurando meu braço antes de dizer:
— Que coincidência — sua cabeça inclina para frente, a bochecha
raspando na minha como um gesto rápido, mas que é capaz de amolecer
minhas pernas — porque eu também estou de saco cheio.
Abro a boca para perguntar o motivo da sua outra histeria, mas Nathan
me impede ao me virar contra o corrimão e me deixar de costas para si.
Seu corpo todo ocupa o meu por trás e sinto sua mão puxando meu
babydoll para cima.
Abro a boca para capturar ar, entendendo que ele não quis usar uma
expressão. Estar de saco cheio foi literal.
— Não é assim que as pessoas conversam para extravasar as emoções
— deixo claro.
— Não tô querendo conversar — ele diz, a voz cheia de ar enquanto o
sinto procurar minha entrada já com a ponta do seu pênis. — Só quero
extravasar.
E com essa confissão, ele se afunda em mim. Em uma única estocada
lenta, me preenchendo ao limite e me fazendo suspirar de prazer e completo
alívio.
O que me deixa surpresa, porque nem eu sabia que era exatamente o
que estava precisando para me sentir aliviada.
Capítulo 22

Nathan

Por um instante, meus pensamentos são colocados em algum lugar que


não tenho acesso. Tudo se torna sensação e relaxamento. Tudo se torna
o agora e não o antes ou o depois.
Victoria suspira, me dizendo alguma coisa com isso. Mas não sei
decifrar e apenas pressiono mais o contato dos meus dedos em sua cintura
enquanto persisto a investir contra seu corpo.
Dentro dela é como uma chuva de paz. Mesmo que seja a pior coisa
que eu vá dizer, e sorte a minha que meus amigos nunca vão saber o que eu
penso, é como eu a sinto. Principalmente hoje e nesse momento de
pedregulhos pelo o qual estou passando.
Que não sabia estar passando. Que tentei afastar do meu foco. Mas é
impossível se desfazer disso. Afinal, é a minha vida.
— Mais forte! — o grito dela me faz abrir os olhos, num susto.
Puxo-a para mim, desfazendo seu apoio no corrimão. O jeito que ela
relaxa contra meu corpo é fascinante e minhas mãos vão deslizando por
dentro do seu pijama, alçando seus seios, apertando-os, minha boca se
perdendo em seu pescoço com beijos e mordidas.
Ela já está mole a essa altura, o que me faz pegá-la nos braços e
começar a subir os degraus, levando-a para o meu quarto.
Victoria dá um riso nervoso, questionando:
— Aonde vamos?
— Pra uma cama. Tô cansado de comer você em lugar sem espaço.
Ela ri. De verdade dessa vez.
— A cozinha tinha muito espaço — contesta.
— Você ficou em cima de uma bancada — olho-a quando chegamos
no segundo piso. — Não tinha mesmo muito espaço.
— Bem, você não precisa de muito espaço, pelo que percebi. Faz um
bom trabalho de todo jeito.
— Valeu, meu ego agradece — nos viro para a porta do meu quarto
quando chegamos ao fim do corredor. — A maçaneta.
Victoria rapidamente entende, se inclinando um pouco para conseguir
abrir a porta. Assim que acontece, nos levo pra dentro do quarto, voltando a
fechar a porta com um chute.
Nos conduzo em direção a minha cama, soltando Victoria em cima.
Ela se ajeita com uma risada, meus olhos se estreitando pra ela, que parece
tão... Exatamente no lugar em que deveria estar.
— Sua cama é muito macia — ela elogia, se remexendo um pouco em
cima.
— Não mais que dentro de você — jogo minha blusa no chão e parto
para a calça, fazendo com que chegue aos meus pés juntamente com a
boxer.
Victoria me observa e dá um sorriso, alargando-o quando vou para a
cama, chegando por cima do seu corpo.
Beijo sua boca imediatamente. Não é como um desespero, só uma
vontade de algo que se tem falta. E eu sinto essa falta. Dos seus lábios
receptivos e sedentos. O modo como ela reage me arranhando as costas e
me envolvendo o quadril com as pernas, me dizendo que não só eu senti
falta.
Era exatamente o que eu estava precisando depois de perceber que
encher o corpo de álcool não teria nenhum efeito a meu favor. Eu não iria
parar de pensar na morte do meu pai só por me embebedar.
— A camisinha — Victoria me atenta, sua mão indo por entre nossos
corpos para tentar me impedir de me aprofundar nela. — Não quero contar
com a sorte, Nathan.
Dou um sorriso, olhando-a nos olhos.
— Medo de ter um filho ou medo de ter um filho meu? — brinco. —
Não seria um filho sem pai.
Não seria mesmo. Jamais vou cometer um erro pior ou igual o do meu
próprio pai.
Ela estreita os olhos e balança a cabeça em negativa.
— Só não vou correr o risco — deixa claro. — Pega a camisinha.
— Mas sem é tão gostoso... Eu prefiro.
Victoria me empurra pelos ombros, soltando um murmúrio.
— Se você não colocar, eu me levanto e vou para o outro quarto.
— Palhaçada, hein — bufo e me levanto para ir buscar a bendita
camisinha na gaveta do armário no banheiro.
Coloco depressa, retornando ao quarto e encontrando-a encarando o
teto. Volto por cima do seu corpo, subindo seu babydoll até conseguir
libertar seus seios.
Chupo demoradamente um, depois o outro; seus dedos chegando aos
meus cabelos, bagunçando-os e puxando-os.
— Está melhor? — pergunta, me fazendo levantar o olhar para o seu.
— Tô com você pra mim, então — aperto um seio macio na mão —,
sim, estou melhor. Mas chega de papo, né?
Não curto muito conversas profundas, quanto mais se posso estar
fazendo isso: me afundando novamente em seu corpo, sendo recebido pelo
calor incomparável.
Fecho os olhos, me inebriando na sensação e nos gemidos baixos de
Victoria, que me fazem impulsionar com mais força para dentro dela. E a
cada segundo mais, cada bombada sendo um alívio diferente.
Porque eu não tenho que estar nessa neura. Meu pai vai morrer a
qualquer momento, perto da minha época favorita do ano, e vai me deixar
uma cidade de empresas para comandar com um total de zero preparo.
E por que não estou preparado? Porque me recusei. Prometi a mim
mesmo que não daria continuidade a nada dele. Não faria o que não
quisesse, sendo assim, não tinha porque ter preparo.
Mas onde parei, não é mesmo? Me afligindo pela morte dele enquanto
já estou trabalhando em seu lugar.
Que babaca eu sou!
As mãos de Victoria chegando aos meus cabelos e seus dedos se
enfiando por entre os fios, me fazem meter bem fundo nela, seu gemido
rouco me deixando em necessidade por um beijo. Por isso mesmo minha
boca volta à procura da sua e começamos a nos beijar enquanto nossos
corpos estão juntos, tudo sendo nada nesse momento, e só Victoria sendo
tudo.
Tudo que merece minha atenção.
— Nathan! — ela puxa meus cabelos, gritando o meu nome, eu
entendendo o motivo quando seu orgasmo acontece, me fazendo cerrar os
dentes enquanto dentro dela fica sendo o melhor lugar. Sendo a única
explosão que vale a pena.
Sou obrigado a reduzir as investidas se não quiser sair de dentro dela,
então me aprofundo mais levemente, metendo com calma, sentindo-a
ondular ao redor do meu pau, não demorando muito até eu encher o
preservativo com um grunhido áspero.
Tudo some por um instante. Tudo é escuro. Tudo é calma quando
Victoria passa a acariciar minhas costas. Meu rosto procura o seu pescoço,
onde me escondo, mesmo que só por agora. Por um minuto que seja.
— Nathan? — ela me chama.
— Oi.
— Se sente melhor?
Levanto a cabeça para olhá-la e abro um sorriso.
— Muito melhor — garanto.
Enquanto eu não tenho que pensar e assimilar que vou perder a única
pessoa que ainda resta da minha família, é, eu estou muito melhor.
— Você vai mesmo para a festa da Petal ou só disse "sim" por
educação?
Limpo a garganta, saindo de dentro dela com cuidado. Me livro da
camisinha, fazendo um nó e me levantando para ir descartá-la no lixo do
banheiro.
— Na real, já tinha me esquecido — respondo lá de dentro. — Mas se
você for, eu te acompanho.
Dou um pulo no box para tomar um banho rápido antes de dormir, me
impressionando por ficar alguns minutos sem pensar em nada. Minha mente
foi para o caralho, o que não poderia ser melhor.
Saio para me enxugar e voltar ao quarto, encontrando Victoria sentada
na cama.
Ergo as sobrancelhas, em uma indagação silenciosa.
— Vou tomar banho também — ela explica, e percebo seus olhos me
medindo cima a baixo. — Eu já volto — se levanta rapidamente e passa por
mim em uma velocidade impressionante.
Decido esperá-la na cama, onde sei que depois de tanto tempo vou ter
uma noite tranquila.
E isso só porque não estou sozinho.
Não mais.
Capítulo 23

Victoria

— Estou dizendo, pode acreditar — Petal insiste enquanto ganhamos


caminho para fora da PEARL. — Você está mesmo com aquela cara que
fazemos na adolescência.
Reviro os olhos.
— Eu não sei que cara é essa — pontuo.
Ela abana as mãos quando passamos pelas portas e continuamos
seguindo rumo ao ponto de ônibus.
— Aqueela cara — dá um sorrisinho — de tooda apaixonada. Eu fiz
muito dessa cara — gesticula para mim. — Eu me apaixonava todo mês por
um garoto novo. Mas aí eu me tornei adulta e... — faz uma pausa, ficando
pensativa, mas dá de ombros no final. — Continuo do mesmo jeito, mas e
daí? Uma vida sem paixão é um tédio!
Dou risada.
— Você está equivocada — deixo claro. — Não estou apaixonada. O
Nathan é só meu amigo.
— Amigo com benefícios? — ela sussurra. — Ele é um tesão!
Desculpa a sinceridade, tá?
— Tá — dou risada, concordando silenciosamente em meu interior.
Nathan realmente é quente. Mas ele não se resume só a isso, porque
por trás de toda aquela energia, há um homem que não aprendeu a lidar com
a rejeição que teve do pai, o que às vezes o faz parecer um garoto revoltado
e carente, diria que até desnorteado.
Então não, para mim não é mais possível olhar para ele e enxergar só o
seu exterior. Olho para Nathan e não só vejo o seu corpo bonito e toda a sua
beleza; mas sim, alguém que se segura em si mesmo para parecer forte e
inabalável.
— Vocês já deram uns amassos? — Petal pergunta, o que me faz rir.
Demos muitos amassos. Principalmente pela madrugada. Nem sei se
aquilo se classificou como simples amasso. Foi mais que isso, ao meu ver.
Nós dormimos em sua cama depois que voltei do banho. Encontrei
Nathan me esperando deitado, e ele sorriu para mim assim que me viu. É
claro que tive que me controlar para não correr até ele.
Fui abraçada assim que deitei e puxada para o seu corpo. Ele nos
cobriu com o edredom e mordiscou meu ombro. Aquilo foi muito íntimo
para mim, se levarmos em conta que só nos conhecemos há alguns dias.
Então ele começou a perguntar do meu dia e eu fui contando como
tinha sido no trabalho, mas, durante as pausas que eu fazia para me lembrar
de algum outro acontecimento, acabei dormindo.
E só acordei de manhã, sozinha na cama. Assim que minha alma
chegou no corpo, me levantei e fui em busca do meu celular no outro
quarto. Era quase oito da manhã, o que me fez correr para o banheiro por
causa do meu super atraso para o trabalho.
Enquanto tomava banho, Nathan apareceu fora do box. Não me
assustei ou fiquei irritada por sua atitude, porque antes que eu tivesse
alguma reação, ele foi logo avisando que o café já estava me esperando na
cozinha.
Meu sorriso foi enorme, assim como o que estou exibindo agora na
frente da Petal, o que vai dar motivos para ela acreditar que estou
apaixonada.
— Talvez — respondo à sua pergunta antes que ela tenha muito tempo
de considerar minha hesitação. — Mas não vamos ficar falando da minha
vida. Temos um grande trabalho se aproximando e é nisso que devemos
focar.
Petal bufa em contrariedade, mas nosso ônibus logo chega e não
preciso lidar com seu desagrado porque, afinal, ninguém consegue estar
com desgosto quando a caminho de casa.
Estou fazendo o jantar. Cheguei faminta e percebi que não ia ser nada
bom comer comidas semi prontas. Não ia servir para eu recarregar as
energias.
Quase dou risada ao pensar nisso. Não espero que Nathan e eu
cheguemos a dar outros amassos esta noite. Na verdade, só estou fazendo o
jantar mesmo.
Ele fez o café da manhã para mim, então não acho que seja um
problema preparar o jantar para nós dois.
E estou quase terminando, desligando o fogo do brócolis que estava no
vapor, quando a campainha da casa toca.
Meus olhos se arregalam e de imediato meu coração se acelera. Pode
ser o Jacob. Viro a cabeça na direção da porta da cozinha, temendo pelo
que vai acontecer.
A campainha toca de novo, me fazendo reagir quando corro em
direção a uma das gavetas de talheres e me aposso de uma faca. Não
pretendo usá-la, minha mente me condena, mas vou fazê-lo se for por
legítima defesa.
Duas vezes seguidas o som da campainha soa de novo, fazendo meus
pés se mexeram para que eu seja levada até a porta de entrada.
Quando de encontro a ela, mais uma vez a campainha toca e ponho a
mão na maçaneta.
— Quem é? — pergunto e inclino um pouco a cabeça, colocando o
ouvido próximo a porta.
— Ahn... O Nathan está em casa? — o homem devolve outra pergunta.
Não é a voz de Jacob. Não é a de Nathan. Relaxo os ombros, um
pouco do medo se esvaindo.
— Quem gostaria de falar com ele? — rebato.
A risada do outro lado é sarcástica.
— Você pode abrir a porta para eu ter noção de com quem estou
falando? — ele encerra o bate e volta de nossas perguntas de apresentação.
Não sei se é a melhor opção, mas, de toda forma, eu tenho a faca
comigo.
Respiro fundo, giro a chave e a maçaneta, abrindo a porta para dar de
cara com um homem mais alto que Nathan, cabelos cacheados, lábios
carnudos e olhos expressivos em sua cor castanha.
Nós nos encaramos e, depois de uns segundos, seu rosto assume uma
expressão de estranheza.
— Quem é você? — ele pergunta. — Nathan sabe que está aqui?
Franzo o rosto.
— Sabe — respondo. — Não teria como eu estar aqui sem ele saber —
digo o óbvio. — Ele ainda não chegou do trabalho.
O homem continua me observando, estreitando os olhos.
— O que você tem na mão que está aí nas suas costas? — ele quer
saber e, mesmo que eu tenha uma justificativa plausível, meus olhos se
arregalam.
— Nada — sorrio.
— Espero que não esteja pensando em me matar, porque logo mais eu
vou me tornar pai — ele diz isso com um sorriso que faz seus olhos
brilharem.
— Oh — aceno com a cabeça em cumprimento à notícia. — Parabéns.
— Obrigado — ele persiste no sorriso até querer saber: — Vai me
dizer quem é você?
— Eu sou Victoria — me apresento. — Nathan me convidou a morar
com ele por alguns dias, enquanto organizo a minha vida — e ele organiza
a dele, enganando o pai doente com a minha ajuda.
— Interessante — o homem murmura. — Me chamo Samuel e sou
amigo do Nathan. Foi um prazer te conhecer e se puder dizer a ele que dei
um pulo aqui, vai ser ótimo.
— Sim, pode deixar, vou dizer — garanto.
Samuel ainda me encara por uns segundos, dando um sorriso de canto
antes de se afastar da porta e seguir pelo caminho que o leva a seu carro
estacionado na frente da casa.
Observo-o partir, então imediatamente fecho a porta e a tranco de
novo.
Encosto-me nela, tentando desacelerar as batidas do coração por causa
da adrenalina.
Não posso continuar tendo um pico de nervosismo toda vez que eu
pensar que Jacob está vindo até mim. Não posso, não dá para continuar
assim.
Quando Nathan chega em casa, estou sentada em um dos sofás de sua
sala, fazendo palavras cruzadas no celular. Foi uma boa distração durantes
essas horas que ele demorou.
Foram duas, três? Não sei, porque preferi encontrar algo para me
distrair e não ficar martelando ideias em minha cabeça.
— Boa noite, Victoria — sua voz corta a minha atenção no celular.
Batalha perdida se ele estiver perto.
Levanto meus olhos para ele, sorrindo assim que nos encaramos.
— Boa noite, Nathan — o cumprimento de volta, e todo o meu corpo
se arrepia ao vê-lo se aproximar.
Alto, esguio, vestido em uma calça escura e blusa social branca, seus
cabelos parcialmente arrumados e, assim que se inclina diante de mim, uma
mão poderosa chegando à minha coxa, eu me permito amolecer.
— Chegou há muito tempo? — ele pergunta depois de beijar meu rosto
e pressionar os dedos em minha coxa.
— Sim, faz um tempo — respondo. — O seu amigo veio aqui. Samuel
o nome dele.
Nathan afasta o rosto para me olhar, as sobrancelhas franzidas.
— O Sam veio aqui? — dá risada. — Deve ter acontecido alguma
coisa grave, porque ele só me procura agora em emergências. Depois que
encontrou a noiva, não o vejo mais.
Seguro a língua para não dizer que provavelmente Samuel queria
comunicar que vai ser pai; mas, como foi me dito para apenas passar a
informação da sua vinda, escolho não dizer nada mais além disso.
— Vou dar um alô pra ele — Nathan avisa, me dando algumas
palmadas na coxa antes de se afastar para falar ao telefone mais longe de
mim.
Fico olhando o seu caminhar, dando um sorriso por me sentir, ainda
que só agora, muito sortuda.
Capítulo 24

Nathan

— Quem diria... — Samuel vai logo dizendo assim que atende minha
ligação. — Nathan coração de pedra está namorando.
— Engraçado. Não lembro de ter comprado ingresso pra esse show de
piadas — ironizo, entendendo o motivo da zoação comigo. Victoria,
evidentemente. — O que veio fazer aqui?
Samuel ri do outro lado da linha.
— Fui te dar uma notícia. A sua namorada não falou nada?
— Ela não é minha namorada — deixo claro, mas me lembro do
acordo. — Quer dizer, ela é, mas só de mentira. Tô tentando deixar os
últimos dias do meu pai mais tranquilos e nada como ele achar que estou
namorando sério.
A linha fica muda por tanto tempo que chego a pensar que a ligação
caiu.
— Samuel? Alô?
— Isso é brincadeira, né? — sua voz tem incredulidade. — Você
contratou uma prostituta pra ser sua namorada de fachada?
— Ow, mede aí as palavras — o censuro. — Victoria não é prostituta,
ela é fotógrafa. E também estava passando uns maus bocados com o ex
maluco. Foi coisa simples. Eu a ajudei dando mais segurança e ela tem me
ajudado sendo minha namorada.
Samuel assobia, acho que de incredulidade.
— Pasmo não me define — ele ri. — Cuidado pra não pegar a mesma
onda que eu peguei. Porque, você sabe, tudo está no controle até o coração
dizer que não está mais.
Faço uma careta.
— Você não tem moral pra me dizer isso — adianto. — Eu que te dei
conselho quando você estava na onda de pensar pelo seu próprio bem com a
Vanessa.
Samuel ainda acha graça.
— Se irritou muito fácil. Já dá pra ver que nesse mato tem coelho.
— Desembucha logo, cara — bufo.
Não concordo com o meu amigo. Nesse mato não tem coelho, mas na
minha vida tem uma mulher linda e impulsionada a dizer o que sente
vontade. Que não se importa em só me agradar.
E provavelmente isso só porque ela realmente não é a minha
namorada. Não passamos de conhecidos, e é isso. E também por isso que o
que ela diz não me abala tanto, só me deixa com um tesão louco.
— Vanessa está grávida — Samuel compartilha, e pelo jeito que fala,
como se estivesse emprestando a boca para um quilo de purpurina sair,
posso supor que está sorrindo. — Agora está confirmado. Eu vou mesmo
ser pai.
Também tô sorrindo, me empolgando pelo segundo bebê que vai
chegar no nosso quarteto. Isso é muito irado. Alguns de nós tendo filhos.
Milagres acontecem realmente.
— Parabéns, cara! Tô maior feliz por vocês.
— Valeu — ele dá uma risada acanhada. — A Vanessa quase pirou
quando caiu a ficha de estar mesmo grávida, mas eu consegui fazê-la
entender que é um acontecimento normal.
— Nem imagino o seu perrengue com a sua noiva traumati...
— Aconselho você terminar a sua fala aí.
É a minha vez de rir.
— Beleza, foi mal — me desculpo. — Já falou com os outros?
— Contamos primeiro para o Ryan. A Vanessa gosta muito dele e da
Lucy, então...
— Tô ligado, não precisa me dar satisfação.
— Mesmo assim. Eu quis fazer um jantar, reunir vocês e contar, mas a
Vanessa anda mais dormindo que acordada, aí eu não quis cansá-la mais.
Ela está gerando nosso filho, não dá pra ser um insensível.
— Sei como é — estou sorrindo. Quem diria... Samuel Fox deixando
de pensar só em si. — E pro Douglas, já contou?
— Não ainda. Ele sumiu, não responde o whatsapp.
— De todos nós, ele foi o que mais se atingiu quando o Ryan se irritou
com a gente naquela festa — o relembro. Festa essa que só apareci pra
beber. — Sabe, por termos que sair da casa.
— Foi um dia chato — Samuel lamenta. — Você acha que ele ainda
guarda alguma mágoa?
— Sei lá — me viro para olhar além do corredor, dando pra ver
Victoria sentada lá no sofá, distraída em seu celular. — No fundo, acho que
todo mundo guarda mágoa de alguma coisa.
Samuel deixa a respiração encher o telefone.
— Acho que concordo — admite. — Por vezes, alguns de nós dá a
sorte de encontrar um sentimento que substitua a mágoa.
Balanço a cabeça.
— Mas pode acontecer que a tal substituição piore o que já estava ruim
— retruco. — Vou tentar ligar pra ele depois. Pra saber se está tudo bem.
— Faz isso sim, porque eu tentei muito hoje — Samuel pondera.
— Vou desligar, tenho que ver se a Vanessa precisa de mim.
Rio.
— Beleza. Diz pra ela que desejei parabéns e que vou deixar o
presente do bebê com um dos seguranças dela.
Samuel dessa vez ri junto comigo, porque sempre é muito engraçado
quando a gente considera que Vanessa tinha dois seguranças na porta de sua
casa, um na manhã e outro à noite.
Depois de ficar com Samuel, isso não foi mais preciso. Os seguranças
não foram mais necessários.
— Desculpa a demora — volto à sala quando encerro a ligação.
Victoria ergue o olhar para mim. — Samuel queria me contar que vai ser
pai.
Ela sorri.
— Eu sei, ele disse. Mas não contei porque isso só ele mesmo poderia
fazer.
Meneio a cabeça, confuso.
— Por que ele te contou isso?
— Acho que seu amigo estava muito feliz e queria contar para todo
mundo — Victoria se levanta, dando um risinho quando me olha.
Provavelmente porque estou com cara de desentendido. — Você vai tomar
banho? Eu vou esquentar o jantar.
— Comprou comida? Não precisava, eu ia fazer o jantar.
O sorriso que ela dá ilumina a sala.
— Eu mesma fiz — explica. — Mas já faz um tempinho, então com
certeza esfriou. Me encontre na cozinha.
Ela sai andando, me fazendo dar um sorriso e admitir pra mim mesmo
que prefiro mil vezes ter alguém com quem dividir os dias que estar
sozinho.
Capítulo 25

Victoria

Nathan adentra a cozinha usando shorts estampado com imagens de


pequenos controles de videogame, mas isso não apaga a sua beleza. Ele está
lindo exalando magnetismo e o cheiro do seu xampu, ou do sabonete, ou do
perfume.
Não sei qual a origem, mas é um cheiro gostoso para valer.
— Querida, cheguei! — ele diz, me fazendo rir enquanto coloco as
taças na mesa.
— Oi, pode se sentar.
Nathan ainda vem até mim e me dá um outro beijo na bochecha, me
olhando ao se afastar. Mas devo estar com um sorriso idiota no rosto,
porque ele me faz cócegas na cintura, me fazendo remexer toda em riso.
— O que você fez pra gente? — pergunta, indo se sentar.
— Macarrão, alguns bifes com molho de brócolis, legumes e uma
salada verde porque tenho que repor as energias. — Me arrependo
imediatamente das últimas palavras assim que as digo.
Nathan está me olhando com um sorriso malicioso e uma sobrancelha
erguida.
— Agora está interessada em repor as energias, é? — questiona.
Resolvo dar uma resposta descontraída, apesar de verdadeira.
— Você acabou com todo o meu estoque, então, sim, estou muito
interessada em repor.
Ele se finge ofendido, mas acaba dando risada.
— Não vou me desculpar por isso — adianta, enrolando um pouco de
macarrão no garfo. — Eu adoro tirar sua energia.
Acabo rindo também, mas de muito nervoso.
Não é um riso apaixonado, mas de nervoso mesmo. Não tem nada a
ver com paixão. Não é como se eu achar Nathan incrível fosse me qualificar
como uma apaixonada. E ele ainda é mais novo que eu, então, fora de
questão.
— Quer dormir comigo hoje de novo? — ele pergunta, me tirando dos
pensamentos rápidos e conclusivos.
— Por quê?
Seu olhar se ergue para mim, estreito, como se Nathan não tivesse
entendido a minha pergunta, bem como se, também, a resposta fosse óbvia.
Mas não é. Tudo bem que foi a primeira noite que dormi sem ser
"picotado", como frequentemente tem acontecido desde que Jacob vem
sendo um covarde desgraçado comigo, mas isso não justifica.
— Porque é melhor que dormir sozinha, eu suponho — Nathan me
responde. — Por que esse olhar assustado pra mim? Falou com o seu ex ou
eu que tô te assustando?
— Não — nego imediatamente. — Não, de jeito nenhum você me
assusta. São só... Conclusões a que cheguei.
Nathan enfia um pedaço de brócolis na boca, me dando um tempo para
pensar se digo ou não do que se trata, mas já tenho minha decisão. De jeito
nenhum vou contar que minha colega de trabalho acha que estou
apaixonada. Isso me colocaria em uma posição de desesperada
emocionalmente.
— Se você quiser, podemos dormir juntos de novo — ele volta a me
olhar para repetir a fala. — Gostei muito da nossa noite, aliás. E a comida tá
uma delícia. Obrigado por ter feito.
Respiro fundo, sendo totalmente atingida pelo seu jeito e pela sua voz.
Mesmo que eu não esteja, como alguém consegue resistir a se apaixonar por
Nathan sendo tão educado, simpático, cavalheiro, prestativo e preocupado?
Mas imediatamente outro pensamento flutua pela minha cabeça.
— Eu só fiz o jantar porque você já cozinhou para mim tantas vezes —
explico. Não foram tantas, mas mais vezes do que ele deve. — Não quero
que pense que estou sendo preocupada sobre você comer, sabe, como uma
mãe faria com um filho.
Ele persiste me olhando enquanto agarro meu garfo, então sua cabeça
balança negativamente de maneira vagarosa.
— Eu nem sei como mães agem, para com isso — me recrimina. —
Como foi no trabalho hoje?
Não sei se me sinto aliviada pela resposta ou se o que desabrocha em
mim tem uma pitada de esperança. Afinal, esperança do quê? Tenho que
parar com isso mesmo.
— Foi bom — respondo. — Estou ansiosa pela viagem à Itália. Sei
que é só trabalho, mas a ideia de ir para um lugar longe me satisfaz demais.
— Satisfaz mais que eu?
Dou um sorriso e tento prestar atenção no meu prato quase intocado.
— Não nesse sentido, Nathan.
— Eu sei, tô só brincando com você — ele diz. — Tem estado mais
tranquila aqui em casa, comigo perto?
Inspiro fundo, tendo que olhá-lo. Nathan está sério enquanto espera
uma resposta.
— Estou — respondo sincera. Estou muito. Na verdade, mais do que
percebi. — Está certo, não totalmente tranquila, mas muito mais que antes,
quando eu morava sozinha. Você sabe, lidar com gente que não sabe viver a
própria vida é muito frustrante.
Nathan pende a cabeça um pouco para o lado, desviando o olhar e
parecendo considerar minhas palavras.
— É, talvez eu saiba — acaba me olhando de novo. — Mas não nesse
sentido — sorri —, nem na mesma emoção que você sente.
Assinto porque entendi que ele pensou no pai. Preferimos voltar a
comer que entrar nesse assunto que é um avestruz na cabeça de Nathan.
E só nos olhamos de novo quando ele vem recolher meu prato.
— Você fez e eu tiro a mesa — ele sorri para mim.
Não faz sentido! Grito em minha cabeça. Como assim esse cara tão
amigável e gentil não tem uma namorada? Não faz sentido, não faz
sentido. Ele nunca se apaixonou por ninguém? É impossível! Deve ter
sempre um grupo de mulheres interessadas nele a cada lugar que passa. Não
é humanamente possível que nenhuma tenha atraído sua atenção.
Tem a secretária, minha mente me lembra. Ele está com ela
diariamente. Devem ter algum tipo de compromisso.
Que não é da minha conta!
Eu me levanto para ajudá-lo a tirar a mesa, notando que comemos
quase tudo, o que vou considerar como ele ter gostado mesmo.
— Obrigado — ele agradece quando termino de guardar na geladeira o
último recipiente com o que sobrou do macarrão.
— Não tem de quê — sorrio, lavando a tigela em que estava o
macarrão enquanto Nathan aguarda do lado, observando minha ação. —
Não quer ir descansar?
— Tô te esperando.
Tenho que olhá-lo.
— Me esperando para...?
— Espero que para dormir comigo — ele responde como se
esquivando, o que me faz rir.
— Prefere dormir com alguém ocupando espaço na sua cama? —
brinco, guardando a tigela no escorredor.
— Prefiro. É mais gostoso dormir abraçado com você que sozinho —
Nathan prontamente responde, me fazendo sorrir. — Mas não quero que se
sinta pressionada. Se não quiser, é só dizer "não" e eu coloco o rabo entre as
pernas e vou dormir sozinho.
Ele pigarreia e finge limpar uma lágrima, o que me tira outra risada.
— Tudo bem — escolho concordar. — Vamos escovar os dentes e
dormir naquela sua cama muito confortável.
O sorriso que se abre em sua boca é imenso e acolhedor, me fazendo
aproximar dele e colocar a mão em seu braço.
— Você sabe que isso foi uma conquista à base de drama, né? —
pergunto.
Nathan ri de um jeito rouco, arrepiando até meus lábios.
— Um homem que não tenta é um perdedor — rebate, virando a
cabeça e plantando um beijo em minha testa.
O que quase me faz parar os passos e considerar o acontecimento, mas
seria tolice e continuo a caminhar, só parando quando chegamos na porta de
seu quarto e Nathan a abre, me colocando para dentro com um tapa no
traseiro.
Eu me viro para olhá-lo, mas me arrependo. Porque ele está vidrado na
direção de onde bateu, fechando a porta com cautela.
— Não tem nada por baixo desse pijama — ele diz, me fazendo dar
um passo para trás. Seu olhar encontra o meu e seus lábios se entreabrem,
me fazendo ter vontade de beijá-lo. — Vamos escovar os dentes.
Não sei se me sinto aliviada ou decepcionada. Eu queria mais que uma
brincadeira, mas, ao mesmo tempo, acho que não devo porque o que não
quero pode acabar acontecendo.
Eu me apaixonando por Nathan.
E sofrendo.
Capítulo 26

Nathan

Uma sensação nunca foi relaxante assim pra mim. Não é exagero ou
drama, como Victoria nomeou, é só bom. Muito bom. Ter ela assim
encostada em mim, mesmo que eu tenha querido muito avançar mais que
isso.
Mas não avancei. Já tá bom assim e não quero estragar bancando o
"sem controle".
Deitamos faz um tempo. Quase posso apostar que ela caiu no sono.
Isso porque não poderia estar calada por tantos minutos e com a respiração
tão compassada sem estar dormindo.
E fico pensando em como isso pode ter acontecido se não existe sorte
ou destino. Eu encontrei uma pessoa que consegue me fazer bem até
dormindo. Não faz sentido racionalmente, mas faz no meu íntimo ser.
Talvez eu estivesse precisando disso.
— Nathan?
Sua voz me chamando me faz apertar a mão na sua cintura, onde já
estava repousada.
— Oi? — respondo, meio rouco. Preciso limpar a garganta para ajeitar
a voz.
— Estou pensando uma coisa...
Sorrio para o nada. Com certeza está. Faz quase uma hora que ela
decidiu pelo silêncio e ninguém fica em silêncio sem pensar em nada, a não
ser que seja monge meditando.
— Quer contar pra mim? — pergunto.
— Pode ser — ela se vira, colocando o corpo de frente para o meu. —
Você é acostumado a ter essa naturalidade com as mulheres? Não me julga
por perguntar isso, é que eu não consigo, sabe, compreender. Acho que
porque nunca me aconteceu, então por isso estou perguntando se já é
acostumado.
Fico olhando para ela por um momento, calado. Porque foi
basicamente o que acabei de pensar. Na real, pensei melhor ainda. Em como
ela consegue me fazer bem mesmo de pálpebras fechadas.
— Eu lido bem com as mulheres — dou minha resposta. — Mas nunca
tinha me acontecido isso também. De trazer uma estranha pra minha casa e
ser bem tratado.
Ela ri.
— Bom, que bom que você não me julgou. Mas você diz ser "bem
tratado" em que sentido? Porque eu só ajo com você com educação, mesmo
porque estou na sua casa.
— Não assim — observo-a um instante antes de tentar explicar. — No
quesito mulheres, não costuma passar do sexo. Desculpa até por ser
explícito desse jeito, mas é verdade. É como acontece. Pré-sexo, sexo e
tchau. Não tem nada dessa química, vou chamar assim, que existe entre
gente. Nenhuma mulher nunca preparou um jantar pra mim — dou um
sorriso acanhado, e me sinto imediatamente um otário. Era mesmo preciso
dizer isso?
Mas Victoria ri, me tranquilizando. Não achou problema, pelo menos.
— Vai ver você não deixa brechas para as mulheres pensarem que
você quer algo a mais que sexo — evidencia. — Não entra na minha cabeça
que você não tenha uma namorada. Nunca se apaixonou?
— Não que eu me lembre — admito. — Nem sei como é isso.
Basicamente, minha vida foi sempre só pegação. Não sinto que falta algo
nisso. Minha falta mesmo era no lance do meu pai, quando eu era pequeno.
Ela ergue as sobrancelhas, como se estivesse discordando
silenciosamente. Mas essa falta mesmo foi só quando eu era garoto, falou?
Falou.
— E, hm, você nunca pensou que, talvez, só por talvez mesmo, essa
falta tenha te atingido na vida amorosa? — pergunta, me fazendo estreitar
os olhos.
— Como assim? — rebato seu questionamento, mas só por rebater
mesmo. Não estou interessado no que ela tem a dizer.
— Assim — Victoria não entende o meu ponto e começa a discursar
pra mim —, você tem esse lugar que ficou vazio dentro de você. Devia ter
sido preenchido com o amor dos pais, mas não foi. Não teve carinho da mãe
e muito menos do pai, que foi o único que você teve perto. Então pode ser
que, em busca de tentar ignorar essa ausência de amor, você tenha se
acostumado a ficar com mulheres sem criar qualquer laço. No fim das
contas, ausência de amor foi tudo que você sempre teve.
Fico encarando-a até meu olhar vacilar.
Não acho que foi isso. O que minha vida amorosa tem a ver com a
vida familiar? Nem faz sentido. Porque...
— Se fosse assim — começo a dizer —, meus amigos não tinham
encontrado mulheres fixas. Eles também são bem fodidos no quesito
família. Um tinha amor excessivo e outro é o irmão menos favorito, pra não
dizer descartável. Por isso, Victoria — volto meu olhar para o seu —, não
faz mesmo sentido o que você acabou de falar, porque todo mundo tem
problema na família. Em relação aos pais ou qualquer outra coisa.
Ela hesita, mas acaba balançando a cabeça em concordância.
— Você tem razão — ela vem para junto do meu corpo de novo. — Às
vezes você só não encontrou a pessoa certa ainda.
— E existe isso? — dou risada.
Meus amigos não conheceram as "pessoas certas" antes de namorarem.
Na real, pareciam as pessoas mais nada a ver pra eles.
Mas como Victoria não me responde mais nada, me fazendo entender
que dessa vez ela tenha escolhido dormir depois da nossa pequena
conversa.
Também acabo pegando no sono minutos depois, sem nenhuma
dificuldade e sem qualquer pensamento do futuro.
Capítulo 27

Nathan

Desliguei o celular há poucos instantes depois de falar com Tina, a


enfermeira que está cuidando do meu pai. Sem muitas notícias, exceto que,
bom, ela não está muito confiante que ainda restem muitos dias de vida pra
ele.
Nada novo, que eu já não soubesse, mas ainda assim lidar com essa
afirmação, é também lidar com esse sentimento que me deixa enjoado.
Enjoo por mim, por ele, pela situação, enjoo de tanto sentir.
Não poderia ser mais fácil? Menos sofrível? É preciso mesmo sofrer
tanto simplesmente porque o destino decidiu assim?
— Que merda — reclamo sozinho no meu escritório.
Por sorte, logo mais vou estar indo viajar. Ficar perto da Victoria, que
é a melhor pedida nesse momento da minha vida. Perto dela, eu não sinto
nada. Nada que me deixe mal. Nem sei explicar. Um apagador passa na
minha mente sempre que a gente fica perto um do outro e se isso é bom,
não tenho muita certeza, mas prefiro assim do que sozinho.
Porque sozinho eu penso, e isso eu tô dispensando.
Saí de casa mais cedo, logo depois que ela foi para o aeroporto
embarcar para a Itália, e senti um leve incômodo dentro de mim por ter que
vê-la se despedir de mim.
Beleza, nós vamos nos ver daqui a umas horas, mas... não deixou ser
um incômodo.
De volta ao presente, a porta do meu escritório se abre e Camila,
minha secretária, passa por ela. Com um sorriso cheia de si mesma e
determinação nos passos, se aproxima da minha mesa.
Suas mãos espalmam na superfície de madeira e ela se inclina,
deixando o olhar a altura do meu.
Ergo uma sobrancelha.
— O que você quer? — pergunto e antecipo: — Não vamos transar,
tenho que ir pegar um voo em minutos.
Seus olhos claros se estreitam e ela faz um biquinho.
— Só quero te dar uma notícia.
— Pode falar — volto a atenção para o monitor, finalizando a leitura
de um contrato que, só em pensar que vou ler novamente com o meu
advogado, me entedia.
— Você pode olhar para mim, pelo menos? — Camila pede, um pouco
irritadiça.
Eu a olho.
— Camila, eu tô ocupado, não estou com tempo para os seus dra...
— Estou grávida — ela me interrompe para anunciar.
Fico encarando-a, até perceber que...
Não.
É impossível.
Ela não pode estar insinuando que tá grávida de mim, então concluo
que só quis compartilhar a notícia comigo, assim como Samuel fez ao me
contar que vai ser pai.
— Que bom, Camila — dou um sorriso forçado. — Parabéns pra você.
Que seu bebê venha com muita saúde.
Quando Lucy, a esposa do meu amigo Ryan ficou grávida, eu meio que
entendi o que se deve dizer quando se sabe que uma mulher está grávida.
Volto a atenção para o monitor, o chiado em resmungo de Camila
quase me fazendo perder a paciência.
Tenho que olhá-la de novo, dessa vez demonstrando no semblante que
não estou gostando do seu jeito ousado. Acaso ela esqueceu que sendo
minha secretária?
Mas, como se lesse meus pensamentos, ela destila as próximas
palavras cheia de ira:
— Você é tonto? — ela agarra uma caneta em cima da minha mesa e a
joga no chão. — Estou grávida de um filho seu!
Dou risada.
É claro, o que mais eu poderia fazer?
— Você tá viajando — me levanto e começo a balançar a cabeça,
negando com as mãos. — Eu não tenho nada a ver com quem tá dentro da
sua barriga, Camila.
Não sei porque me levantei, tampouco porque estou parecendo
nervoso e levemente agoniado. Porque não estou. Nem um pouco. Nem
nervoso e nem agoniado.
— Você só teve a ver quando me comeu em cima dessa mesa inúmeras
vezes sem se proteger? — ela quase grita, me fazendo balançar a cabeça em
negativa mais veemente.
— Não foram inúmeras vezes, só algumas — deixo claro. — E de
onde você tirou isso, Camila? Como você pode prever que eu te engravidei?
— Você foi o último cara com quem transei e, antes disso, nenhum
teste de gravidez tinha dado positivo! — dessa vez, foi uma explicação a
base de grito.
E fico olhando-a, sem reação. Até cair de volta sentado na cadeira,
tudo sumindo por um momento. Nada a ver como quando acontece quando
estou com a Victoria. Esse sumiço é bem diferente.
— Não fica com essa cara de tacho, porque você vai assumir essa
criança e isso não é um pedido! — Camila ainda avisa antes de se virar e
sair batendo os saltos no chão de forma ruidosa.
Ainda fico um tempo encarando a porta, sem ação e em uma mistura
de sentimentos.
Não pode ser verdade. Eu vou ser o quê? Pai?

Digo meu nome na recepção do hotel e recebo o cartão, instruído para


qual quarto seguir.
Mas, na real, eu nem sei como cheguei aqui. Só... Foi automático.
Meus passos. Eu não consegui me ligar em nada desde que Camila deixou
meu escritório tendo me jogando uma notícia catastrófica antes disso.
E agora me sinto dividido porque a intenção por vir até aqui com a
Victoria, seria por causa dela. Como é que vou aproveitar algum momento
se eu tenho um iceberg na cabeça que se espalhou pelo corpo?
Saio do elevador e me dirijo ao quarto. Entro e começo a me despir.
Talvez um banho ajude a alinhar as ideias. Banho é sempre bem-vindo
mesmo.
O jato de água gelado na minha cabeça e descendo, não ajuda nada. Só
uma coisa martela na minha cabeça: eu vou ser pai. Eu. Pai.
Minha nossa, que coisa sem noção. Por um momento, tenho pena da
criança. Vai ter eu como pai. Eu, que abominei o meu próprio pai desde que
nem entendia nada. Que exemplo vou ser.
Saio do banheiro e me enxugo de qualquer jeito, voltando ao quarto e
me jogando na cama.
— Pai... — digo sozinho, na minha própria descrença. — Pai.
Balanço a cabeça, pegando meu celular dentro da calça no chão. Volto
a deitar enquanto procuro o contato de Victoria e aviso em que quarto estou.
Pai. Caramba.
Me deixo ser imerso por pensamentos enquanto aguardo-a. A criança
vai ter eu como pai. Camila como mãe. Nenhum de nós a desejou. O futuro
da criança vai ser regado de desdém, assim como foi o meu.
Tenho um sobressalto com a batida na porta.
Vou abrir antes da terceira, logo me deparando com uma Victoria de
sorriso doce em um pijama verde de sapos com laços no pescoço.
Eu riria desse pijama. Não é nada sexy ou atraente, é só engraçado
mesmo.
Mas deduzo que vestir algo sexy só porque viria ao meu encontro, é a
última coisa que ela pensaria. E que bom por isso, porque não estou mesmo
com cabeça para investir nesse lado hoje.
— Eu já estava quase dormindo — ela diz depois de nos encararmos
um momento.
— Desculpa então ter mandado mensagem — me afasto para o lado,
dando espaço pra ela passar. — Entra, vem.
Victoria entra mesmo, indo direto para a cama. Fecho a porta e sigo o
mesmo caminho, me aproximando do seu corpo quando me deito e só
agradecendo, muito, quando ela se aconchega em mim.
— Estou cansada — ela sussurra depois de um instante de silêncio. —
Tivemos muito trabalho hoje.
— Eu te faria uma massagem, mas também tô cansadão.
Ela dá um risinho.
— Não precisa de massagem — dá um bocejo longo. — Estou cansada
até para receber uma.
— Nossa, então pegaram muito pesado com você — minha mão em
seu ombro faz uma carícia.
— É exaustivo quando tem desfile, mas pelo menos tem só duas vezes
no ano — ela põe uma mão no meu peito e alisa ali preguiçosamente, me
trazendo uma avalanche de sensações. Boas, todas boas, mas que nem
assim me tiram a atenção do que me corrói. — E você, que teve um dia
puxado e ainda viajou... Nem imagino o cansaço.
Fecho os olhos e expiro. Antes fosse por isso.
Antes fosse por qualquer motivo que eu tivesse costume.
— Eu vou ser pai — digo, precisando desenterrar a realidade para fora
de uma vez.
Victoria imediatamente levanta a cabeça, franzindo o cenho,
nitidamente confusa ao me encarar.
— O que tem o seu pai? — pergunta.
— Não, Victoria — expiro outra vez. — Não é o meu pai. O lance é
que eu vou ser pai.
Ela fica me olhando de boca aberta até ter uma reação. Só uma.
— Parabéns.
Me parabenizar.
Capítulo 28

Victoria

O que devo fazer depois de Nathan compartilhar essa notícia comigo?


Me levantar e ir embora? Mas acho que não é a melhor pedida levando em
conta seu olhar vazio em minha direção.
Ele vai ser pai. Não imagino esse homem sendo pai, sinceramente. Ele
não tem cara de pai, se é que isso faz sentido.
E a quem ele engravidou? Pode ter sido qualquer mulher que caiu nos
seus encantos na hora do sexo quando ele se recusou a usar preservativo.
Ele tentou fazer o mesmo comigo e, digo, não é difícil concordar com ele
quando se o tem por cima do próprio corpo, quente e todo músculos.
Ou pode ter sido também proposital. A mulher decidiu aceitar que ele
não usasse nada porque queria mesmo engravidar e aproveitar do que ele
tem. Principalmente por seu pai estar morrendo. Tudo vai ser do Nathan
depois.
E não tenho a ver com isso.
— Parabéns — eu repito, olhando para o seu peito, não sabendo se
deitar ali novamente seria o certo.
— Obrigado, eu acho — ele passa a mão por trás de mim, alcançando
meu ombro e me incentivando a deitar onde eu estava.
Ufa.
Eu o faço, me estreitando nele, até que a pergunta que me seguro para
não fazer, acaba escapando:
— Quem é a mãe do seu filho?
Seu peito dedura sua respiração pesada debaixo da minha mão apoiada
ali. Mas Nathan acaba respondendo. E mais tarde vou me arrepender de ter
perguntado.
— A Camila.
— A Camila — eu repito, mas não faço ideia de quem ele está falando.
— Minha secretária — emenda, dando um segundo arfar, que me diz
em tudo que deve ter sido complicado para ele dizer em voz alta, porque
ainda pode estar lidando com a situação.
— Ah — digo somente. Eu bem que deduzi certo quando pensei que
os dois tinham algum tipo de compromisso. Mesmo que não sério, mas
ainda sim foi um compromisso. Agora muito mais, porque terão um filho.
De repente, me sinto estranhamente desconfortável e ficar no peito de
Nathan já não é tão agradável. Afinal, é a mesma secretária de quem ele
falou uma vez na maior naturalidade depois de ter ficado comigo pela
manhã.
Então me afasto e me sento, tirando as pernas da cama para colocar
meus pés dentro das minhas pantufas no chão.
— O que foi? — ele pergunta imediatamente, também se sentando.
Nem eu sei. Apenas que parece que se abriu uma lacuna entre nós
depois dessa notícia. E depois de eu ter pensado um pouco, também.
— Não é nada — digo, mas acho por bem complementar: — Quando
voltarmos, eu vou encontrar uma casa para morar — me viro para olhá-lo.
Seus olhos estão quase muito abertos. — Vai ser melhor e pensa que —
gesticulo — você agora vai ter uma namorada de verdade, sem fingimento.
Estou soando melodramática? Acho que sim. Mas não é drama, nem
mesmo ciúme. É só que... Eu queria tê-lo encontrado antes.
— O quê? — sua pergunta acompanha seu rosto franzindo. —
Namorada de verdade? Você tá me zoando, Victoria?
Faço uma careta.
— Não estou te zoando — rebato. — Estou te dizendo que não tem
nada a ver me ter morando em sua casa enquanto você acabou de saber que
engravidou a sua secretária. Você precisa de espaço para assimilar, precisa
de um tempo só seu, preci...
— Preciso de você — Nathan me interrompe, suas mãos vindo puxar
as minhas, seu olhar em desalento no meu. — Victoria, me escuta. Nada tá
fazendo sentido agora e eu só sei que estou no lugar porque você tá aqui,
comigo. Não tô brincando quando digo isso. Ninguém costuma ficar.
Seu olhar desvia para nossas mãos, me fazendo engolir em
seco. Droga.
— Todo mundo sempre vai embora — ele continua. — Foi assim com
a minha mãe, minhas babás, meus amigos, meu pai foi embora antes mesmo
de morrer e — seu olhar volta a encontrar o meu — você também. O que eu
tenho de errado? — a pergunta é um sussurro. — Por que quando tudo
parece se encaixar, na real, era se encaixando pra despencar?
Mordo o lábio, observando-o respirar fundo e soltar minhas mãos.
Ele vai encostar as costas na cabeceira, cruzando as mãos sobre as
coxas, e começando a encarar o nada.
— Tenho medo de fazer o mesmo com a criança — ele complementa.
— Tenho medo de também acabar indo embora. Todo mundo sempre vai.
Não acho que eu seja uma exceção.
Fico sem saber o que dizer, e também sem coragem para sair. Prefiro
tirar os pés das pantufas e levar as pernas de volta para a cama.
Minhas costas também se apoiam na cabeceira e fico ali sentada ao
lado de Nathan, não dizendo nada, apenas não indo embora.
Capítulo 29

Nathan

Um dia inteiro se passou desde que acordei e percebi que Victoria não
estava mais na cama comigo. Ela tinha que trabalhar, me atentei. Hoje foi
o dia do desfile e então entendo que, mesmo sendo tão tarde, ela ainda não
tenha chegado.
As horas parecem estar passando em câmera lenta desde que me
levantei. Tudo girando ao contrário. Principalmente porque não consigo
tirar os olhos do celular. Onde, repetidamente, leio a mensagem que recebi
mais cedo de Tina.

Estamos a caminho do hospital. Seu pai passou muito mal.


É no Medical Gouis. Venha o quanto antes

Eu não fui o quanto antes. Nem sei o que fazer o quanto antes.
Tina não mandou mais mensagens depois disso, então presumo que o
meu pai ainda esteja vivo. E não entendo o meu sentimento.
É uma descabida preocupação que rasga e me petrifica. Ele está no
hospital e vai partir para sempre. Não vou ter mais um ou todos os olhares
desdenhosos que ele me oferecia. Mesmo que fossem assim, nem isso vou
ter mais. A realidade de ter um pai não vai ser mais presente.
E isso, isso é dilacerante.
A batida na porta do meu quarto me faz tirar os olhos do celular, e
demoro uns segundos até me levantar e seguir até ela.
Coloco a mão na maçaneta e, pela primeira vez, percebo o quanto
meus dedos estão trêmulos. Merda.
Respiro fundo antes de abrir a porta, toda a tensão do meu corpo se
esvaindo assim que bato meus olhos em Victoria.
Ela não sorri, muito menos eu. Acho que não se sente à vontade para
fazê-lo depois de ter passado a noite aqui comigo e ter me visto ido dormir
sem dizer uma palavra. Na real, eu nem sabia que ia dormir. Só tinha ficado
com as costas doendo e precisava deitar.
O que, consequentemente, me fez lembrar de quando eu ia visitar Ryan
e sua esposa reclamava de estar doendo as costas por causa da barriga de
grávida. E um pensamento leva a outro e...
Por um momento eu pensei que Camila vai passar por isso. E ela não
tem namorado. Só o pai do filho que espera. Eu. E talvez por isso Victoria
tenha querido partir, porque sabe que mulheres grávidas precisam de
assistência. E deduziu que eu seria a de Camila.
E não posso dizer que há erro nisso. Eu vou ser, se for preciso.
— Oi — Victoria diz, um pouco sem jeito no seu pijama lilás de seda,
que só reparo agora. — Vim saber como você está.
— Bem — minto. Meus olhos estão pesados, quase se fechando. Mas
não é sono, é exaustão de pensar muito. — E você, como foi o desfile?
É o primeiro sorriso que vejo em sua boca então.
— Perfeito, mas exaustivo — ela olha os dedos. — Ainda estou
voltando a sentir os dedos depois de tantos cliques. — Victoria volta a me
olhar. — Você passou o dia aí no quarto?
— Passei — respondo sem desvios, o que a faz erguer as sobrancelhas,
como surpresa.
— Talvez sair para dar uma volta fosse te fazer bem. Sabe, dispersar as
ideias.
Continuo encarando-a em silêncio até ela suspirar e gesticular:
— Se você quiser, podemos dar uma volta juntos. Respirar o ar fresco
da Itália — dá uma risadinha.
Por uma fração de segundos, penso em recusar. Mas, pensando melhor,
é mais propício que eu saia e tente me distrair, do que permanecer e correr o
risco de definhar cativo da minha própria cabeça.
— Tudo bem — concordo. — Vou vestir uma roupa.
Victoria baixa os olhos, encarando minha cueca até sorrir sutilmente é
menear a cabeça.
— Farei o mesmo — diz. — Te encontro em minutos.
Fecho a porta depois que ela se vai e não me permito parar para ser
sacaneado pela minha mente.
Vou em busca da mochila que eu trouxe, onde tem cinco peças de
roupas. E só, porque eu não planejava usar roupas quando "fiz a mala".

Victoria me conta detalhes do desfile enquanto caminhamos pela rua.
Ela até me mostrou algumas fotos que tirou e já estão nos sites de notícias
que contam sobre o evento.
Mas estou mais ouvindo que falando. Posso dizer que, sobretudo, ela
foi sábia por me tirar do hotel. Andar um pouco realmente tá me fazendo
parar de pensar tanto. Ouvir sua voz e empolgação está me distraindo por
um tempo, mais do que pensei que seria possível.
— Nós vamos voltar amanhã, eu te falei, né? — ela se vira para me
olhar enquanto passamos por uma rua estreita e repleta de casas. — Temos
que aproveitar o embalo da semana em que vamos ser bem divulgados.
— Amanhã? — enfio as mãos nos bolsos da calça. — Você quer dizer
daqui a pouco? Já são duas da madrugada.
— Isso — ela ri, como se fosse algo surreal ser madrugada. — Vamos
nos encontrar às sete no aeroporto. A equipe. Estamos no mesmo voo de
ida.
— Entendo.
— Você está bem? Se alimentou hoje? — ela para de caminhar e
segura meu braço. — Parece fraco.
Dou um sorriso de lado.
— Essa frase é minha.
— Eu não andava fraca, você que drenava minha energia — ela morde
o lábio e solta um suspiro assim que acaba de falar. Se apressa em emendar:
— Mas isso não anula a minha pergunta. Você comeu hoje?
— Não me lembrei de comer, se quer saber a verdade — volto a andar,
Victoria soltando uma lufada de ar antes de correr um pouco para me
alcançar.
— Precisamos achar um lugar para você comer então — ela roça o
braço no meu ao se aproximar. Depois de uns segundos de silêncio,
pergunta: — Você sabe que sua vida não acabou só porque descobriu que
vai se tornar pai, não é?
Dou um riso sem ânimo.
— Eu não vou me tornar pai — esclareço —, eu já sou. Desde o
momento em que Camila e eu demos origem a formação de um filho, eu
sou pai.
Não sei porque digo isso. Talvez porque seja verdade.
Tantos anos, a minha vida toda, passei culpando os meus pais pela
maneira insensível que se comportaram diante do ato de terem me formado
e depois tapado os olhos, como se eu nem existisse ou fosse um peso.
Minha mãe foi a pior. Ela nem se esforçou, ela nem ficou. Não que
meu pai tenha se esforçado, mas ele não me expulsou de casa ou me
abandonou em um lugar para crianças sem cuidados.
Ele não me amou, mas também não fugiu e me deixou sozinho no
mundo. Partindo do ponto que ele não queria um filho, acho que fez muito.
— Isso é verdade — Victoria enfim concorda. — Você já é pai. Ainda
está conciliando a notícia?
— Queria ter uma esposa fixa quando tivesse um filho — me vejo
confessando. — Queria amar a mãe da criança e ajudá-la não só porque está
gerando um filho meu. Desejava que fosse algo planejado.
— Você devia ter se planejado se queria algo assim — Victoria fala
como se fosse óbvio, depois de extenso ruído de somente nossos passos. —
Você sabe, não se pode esperar muita coisa fazendo assim que nem você,
ficando com várias mulheres e até oferecendo sua casa para estranhas
morarem.
Eu a olho de soslaio.
— Não me entenda mal — ela pede. — Não quis ser rude, só estou
comentando que se diariamente você faz sexo com sua secretária sabendo
que ela não é estéril, não pode esperar outro resultado que não uma criança.
É aquilo que a gente aprende na escola: nenhum método contraceptivo é
100% eficaz. Apenas o celibato — sorri. — Mas quem é que aguenta, não
é?
Balanço a cabeça, mas não digo nada. Sei que ela tem razão, assim
como também sei que todo o meu modo de agir durante a vida foi repleto
do mais absoluto impulso.
E não tinha ninguém para me frear, me dizendo a coisa toda de outro
ponto.
Não tinha.
Até agora.
Capítulo 30

Victoria

Estou terminando de arrumar minha última mala. Aquela última, que


foi desfeita porque achei que ficaria por um tempo na casa de Nathan. As
outras três eu já refiz e a quinta já estava arrumada porque foi a mala que
levei para a viagem.
A mesma viagem que Nathan fez e me contou que engravidou a
secretária.
Isso já deu errado antes de começar, me atento. Ele era um
desconhecido me chamando para morar em sua casa em troca de enganar o
pai prestes a falecer. Não sei quem foi mais desgraçado no meio disso.
Eu diria que eu, mas também estava com a cabeça bagunçada por
conta do meu ex-namorado alucinado. E Nathan me pareceu uma boa saída.
Mas ainda assim, fui uma desgraçada também. É injustificável.
— Victoria — ouço sua voz à porta fechada do quarto em que estou
dormindo enquanto em sua casa.
Voltei da Itália direto para o trabalho. Haviam muitas coisas para se
fazer e eu precisava fotografar alguns modelos. O que foi bom, porque
assim me distraí o suficiente.
— Estou aqui — respondo, se por acaso ele quiser saber se estou em
casa.
Não ouço mais nada do outro lado, então me sento na cama para ajeitar
meu necessaire de joias. Vão ficar uma bagunça, mas depois eu arrumo.
Tenho planos de ficar em um hotel por uma semana. Espero que seja
tempo suficiente para conseguir encontrar um apartamento com o aluguel
de baixo valor — se eu tiver a mesma sorte que da última vez, quando
aluguei aquela casa excepcionalmente boa por um valor médio.
— Meu pai morreu — ouço a voz de Nathan ainda à porta. Desta vez,
diferente. Rouca. Abafada.
Meus olhos saltam. Seu pai morreu? Viro a cabeça e fico encarando a
porta por uns segundos, ouvindo ruídos somente.
Me levanto, preocupada.
Ele está chorando? Deve ser um choro contido esses ruídos.
Giro a maçaneta e abro a porta, dando de cara com um homem de
ombros caídos e rosto amassado. Não parece ser o mesmo Nathan com o
qual estou acostumada.
Não sei o que dizer, mas ele me impede de pensar muito quando
começa a falar.
— Hoje cedo. 9h48, pra ser exato. Tina disse que ele morreu
segurando a mão dela e ainda conseguiu dar um último sorriso — balança a
cabeça. — Me sinto absurdamente culpado.
Nathan dá um passo à frente, e mais outro, me alcançando. Seus braços
circundam meus ombros e seu rosto busca meu pescoço, onde repousa.
Sou tomada de surpresa por seu abraço repentino, mas quando ouço o
barulho do seu choro abafado se iniciando, abraço-o de volta.
Não entendo por que ele se sente culpado. Ele não levou o pai à morte.
Foi um bom filho em buscar fazer a vontade do mesmo. Por que a culpa
então?
Acaricio suas costas suavemente, seu fungar e respiração entrecortada
me deixando sem saber o que fazer. Só consigo corresponder seu abraço,
por longo tempo.
Nathan se afasta, secando o rosto com as costas das mãos, me olhando
em seguida. Seu rosto e olhos estão vermelhos e inchados. Ele está a
estampa da tristeza e isso me dói.
— Eu não sei o que fazer, Victoria — ele rui. — Me sinto tão filho da
puta.
Busco ar para respirar fundo. Não sei o que dizer. Ele está desabafando
ou procurando respostas?
Ficamos de pé por um momento. Nathan está encarando o chão, o
rosto vermelho, em desalento. Quero ter todas as respostas, ou pelo menos
uma, mas não tenho.
Observo o olhar de Nathan se mover pelo quarto e ele funga, secando
o nariz com o antebraço. Ainda está com a roupa que provavelmente usou
no trabalho. Deve ter recebido a notícia sobre o pai quando ainda estava no
trabalho.
— O que é isso na sua cama? — ele pergunta, as sobrancelhas
arqueadas, então me olha. — Tá fazendo as malas pra ir embora?
Eu me viro para também olhar em direção a cama. Minhas malas estão
do lado e o nécessaire está em cima, aberto e bem óbvio.
Volto a olhar Nathan.
— É — respondo. — Estou indo porque eu disse que iria para outro
lugar assim que a gente voltasse da Itália.
Ele está me olhando fixamente, então enxuga os olhos outra vez,
mantendo o olhar em mim até eu desviar primeiro.
— Você não vai no velório comigo? — pergunta enfim.
— Você quer que eu vá?
— Sim, você me deixa em completa paz — ele funga. — Me transmite
tranquilidade. Meus amigos também vão, com certeza, mas o sentimento de
amizade é diferente do que tenho quando você tá por perto.
Estreito os olhos.
— Tudo bem — concordo. — Eu vou com você, sim.
Nathan balança a cabeça uma única vez de forma positiva, então se
vira e sai do quarto, sem mais palavras.

Tentei ficar no quarto até a hora de dormir, mas a agonia não deixou.
Por isso mesmo estou descendo a escada, para encontrar Nathan e ver se ele
está bem – na medida do possível.
Passo pela sala, prossigo até o corredor que leva à sala de ginástica e
os demais cômodos, mas não o vejo. Quando retorno para a sala porém,
levo um susto ao vê-lo sentado em um dos sofás.
Seu olhar já está em mim e não desvia.
Minha respiração volta ao normal e tiro a mão do peito, o que foi uma
demonstração do susto que tive. Como posso ter passado por aqui e não o
visto?
— Estava procurando você — explico.
— Eu sei — ele está com a voz baixa e rouca.
Pigarreio, evitando tal observação.
— Já achei — dou um sorriso não muito animado, mas também não
muito triste. Cruzo os braços, evitando uma posição que me deixe de
ombros caídos por sentir pela situação pela qual Nathan está passando. —
Como você está?
Eu diria que melhor que quando foi falar comigo. Naquela hora, ele
tinha a estampa do desespero. Neste momento, no entanto, parece mais
"vivo". Uma péssima escolha de palavra, mas a melhor expressão.
Usando uma camisa azul marinho e um short branco, o cabelo
despenteado, lembra muito mais o cara que conheci.
— Indo — sua resposta vem, baixa e determinada. — Por quê?
Meus olhos estreitos e minhas mãos gesticulando um momento dizem
o óbvio: por que eu não me preocuparia com você?
— Porque eu precisava saber — tento formular a melhor e menos
intrusa resposta. — Sei que não está bem, porque uma notícia dessas não
deixa ninguém bem, mas... De repente você precisa de companhia. Não
ficar sozinho, sabe?
Seu olhar permanece no meu até eu quase me sentir boba, mas então
Nathan bate com a mão no espaço ao seu lado no sofá.
— Então vem pra cá — me chama. — Não me deixa sozinho.
Ignoro o arrepio que sinto pelo corpo ante o chamado e vou até ele. Me
sento ao seu lado, encontrando seu olhar com o meu. Mais perto que antes.
Engulo em seco e me condeno. Que estou pensando, meu Deus? O que
meu corpo está pensando?
— Você jantou? — tento acabar com isso que estou sentindo. É errado.
Nathan acabou de perder o pai e descobriu que também é pai.
— Não — ele responde, sua mão procurando a minha e seus dedos
começando uma carícia ali. —Nem você — não é uma acusação, só uma
observação. — Mas não estamos com fome de comida, e sim fome um do
outro.
Meus olhos imediatamente se arregalam. Tenho certeza que não
demonstrei nada.
— Nossos corpos estão com saudades — sua mão aperta a minha com
firmeza e eu respiro fundo, sem conseguir desviar o olhar do seu.
Por quê? Por que tem que ser assim? Eu fico incapaz de driblar
minhas reações com ele.
— Nathan, eu acho que...
Ele, entretanto, cessa minhas palavras quando inclina a cabeça em
minha direção e traz a boca à minha, enterrando a mão livre por entre meu
cabelo enquanto inicia um beijo exigente.
Eu enfraqueço das minhas convicções sobre certo e errado, e me
entrego ao beijo, às carícias de sua outra mão soltando a minha para
avançar por dentro da minha blusa e encontrar meus seios, onde Nathan
enche a mão com um, depois com o outro, me fazendo gemer em sua boca.
Eu deveria me repreender. Estou me repreendendo. Mas... por que tem
que ser bom assim? Por que ele tem que ser tão bom assim e saber
exatamente onde ir e tocar?
— Nathan, eu acho melhor que não... — vejo que uma parte de mim
ainda está raciocinando.
— Shhh — ele me censura, desviando a boca para o meu pescoço
enquanto continua com a posse do meu seio na mão. — Somos nós. Não
existe erro nisso.
Recebo uma mordida no pescoço, que me faz gemer sofregamente.
— Senti tanto a sua falta — ele sussurra. — Achei que tinha estragado
tudo.
Tudo o quê? Minha mente grita a pergunta. Não temos nada.
— Você só está angustiado e pesaroso por esse momento da sua vida
— digo, praticamente sendo um sussurrar. Ele me tocando é jogo baixo.
Muito baixo.
— Não — ele nega, levantando a cabeça para me olhar. — Não é só
por isso. Eu já sabia que meu pai partiria a qualquer momento. O que eu
não tô conseguindo lidar é que, justamente quando achei a mulher ideal pra
mim, foi também no momento em que minha vida tomou um rumo que eu
não esperava e, agora, ela não vai mais ficar. Você não vai ficar, Victoria.
E sou atingida pela confissão, piscando os olhos algumas vezes antes
de Nathan me agarrar pela cintura e me puxar para que meu corpo deite no
sofá, possibilitando-o ficar por cima de mim.
Percebo que também senti saudade de sentir seu corpo quente.
Ele dá um sorriso triste enquanto me olha.
— Obrigado por ter aparecido pra mim — diz e sinto sua mão avançar
para dentro do meu short de pijama, seus dedos entrando em contato direto
com meu sexo. — Você é o meu presente da vida.
Abro a boca para dizer alguma coisa, mas minha mente fica em branco
quando sinto seus dedos se aprofundarem para dentro de mim, me deixando
incapaz de ainda pensar.
Capítulo 31

Nathan

Victoria finalmente me deixa adorar o seu corpo. Sem mais protestos


ou relutância, ela se entrega pra mim.
Como sempre é. Desde a primeira vez. E eu quero me dopar a fim de
esquecer o presente, é real, mas me dopar dela. Do seu toque, dos seus
gemidos, da sua presença.
A presença dela é muito significativa e, se a vida pudesse me dar uma
segunda chance, essa chance seria Victoria.
Suas mãos alcançando minha nuca e suas unhas arranhando, me dizem
que não é suficiente como estamos. Claro que não. Não seria suficiente só
isso nem em dez vidas.
— O que você quer? — levo a boca até sua orelha para perguntar.
Ela geme, puxando minha blusa, arranhando minhas costas, virando a
cabeça em busca de algo.
Seus olhos estão fechados quando olho seu rosto e ela pede:
— Me beija.
Obedeço prontamente, minha boca buscando a sua com uma urgência,
nossas línguas se encontrando em meio nossa mistura de gemidos que
deixam claro nosso desejo insegurável, as faíscas iminentes que surgem
sempre que nos olhamos.
É sincronia. É o perfeito encaixe. Somos nós.
— Nathan — ela me chama e abro os olhos para encará-la. Victoria
corresponde até entreabrir os lábios e soltar um suspiro. Que lembra em
muito derrota. Sei disso porque sou acostumado a suspirar desse jeito
sempre que vou trabalhar. — Não podemos continuar.
Inclino a cabeça em sua direção, querendo ouvir direito.
— Como assim?
— Isso — seus olhos fecham por um instante e ela respira fundo. —
Não podemos, você sabe. Não é certo.
— Como transar com você pode não ser certo? — rebato quase
perplexo.
Victoria balança a cabeça.
— Porque você está tentando lidar com o sentimento da morte do seu
pai — responde. — Isso não é legal e não é justo com você mesmo.
— Eu já falei que a morte do meu pai não me afetou em absolutamente
nada — repito pela enésima vez. — A morte dele não foi surpresa. Eu só
quero você agora. Só isso.
— Eu sei, mas... — ela suspira embaixo de mim, me olhando de um
jeito triste. — Não seria justo da minha parte também colaborar com isso.
Você está tentando maquiar os seus problemas.
— Eu o quê? — dou risada, saindo de cima dela e me sentando no
espaço do sofá ao lado do seu corpo.
— Maquiando — Victoria se senta também para enfatizar. — Tem
muita coisa acontecendo na sua vida e você quer fingir que não.
— Não estou fingindo nada — esclareço. — Mas, se você não quer
fazer porque acha errado, tá certo então. Não vou tentar te convencer do
contrário — me levanto, avisando: — Vou dar uma volta. Pode ficar
sossegada, eu não vou fazer besteira e não tô triste.
Dito isso, caminho até a mesinha da entrada e pego a chave do carro,
saindo de casa com destino a quem-sabe-onde.

Vim para o bar em que Victoria e eu nos conhecemos. É gostoso estar


aqui porque sei que foi onde minha vida começou a rumar para um caminho
certo.
Infelizmente, entretanto, nossos destinos nos cruzaram muito tarde. E
Victoria tem razão, não posso fingir que não tem uma bola de neve
derretendo diante dos meus olhos. Eu vou ser pai e perdi o meu pai.
O segundo acontecimento, não me afeta tanto. Estou triste,
infelizmente também. Não achei que fosse ficar, mas fiquei. Ninguém
precisa saber, no entanto. Victoria sabe e viu, mas ela é diferente. Ela não
faz o tipo que diz "eu avisei".
Não. Ela é gentil e carinhosa. Muito carinhosa e prestativa. Preocupada
comigo. Preocupada de um jeito que nunca conheci e acho que por isso me
sinto tão... Ligado a ela. E o sexo é tão bom entre a gente.
— Boa noite — o barman me chama a atenção. Sentei aqui nesse
banco do balcão já deve fazer um tempo e ainda não pedi nada.
— Boa — sorrio, dispersando os pensamentos. — Me vê uma dose de
uísque.
Ele acena que sim e vai buscar, meu olhar desviando para o lado
quando um homem imenso de jaqueta de couro preta se senta no banco ao
meu lado, fazendo sombra, se duvidar, até o fim do balcão.
Putz, sibilo só com o movimentar dos lábios. Um cara desse eu não
arriscava um mano a mano nem ferrando.
Agradeço o barman quando ele traz minha bebida e começo no
primeiro gole, pegando meu celular para mexer em qualquer coisa. Dou
uma olhada no instagram, sorrindo pela nova foto da Vanessa, que é
Samuel com as mãos em sua barriga que nem é de grávida ainda.
Não posso dizer que tenho a mesma vontade de fazer isso com a
Camila. Eu nem gosto dela. O único pensamento que me vem à cabeça
quando penso nela é: se o tempo pudesse retroceder...
Desligo a tela do celular e o descarto de volta para o bolso do short.
Tenho medo de não ser um bom pai justamente pelo medo de ser como o
meu pai. Vou me esforçar, sem dúvidas, mas nunca se sabe. Acho que seria
mais fácil se eu tivesse a mãe da criança junto, e um guiaria o outro.
Balanço a cabeça, não acreditando na minha própria conclusão. Eu
teria que ficar com a Camila pra isso, mas como? Eu não sinto nada de
sentimental por ela.
Concluo que preciso levar um papo com os meus amigos, mas está
tarde demais para isso acontecer hoje, então decido voltar para casa e deixar
isso para amanhã.
Pego a carteira e tiro uma nota, pagando a bebida e me levantando para
sair do bar.
E o estou fazendo quando, passando pelas portas e chegando ao meu
carro, eu vejo um cara, não tão imenso como o que acabei de ver, mas ainda
assim maior que eu, encostado.
Me aproximo, a chave em mãos.
— Opa, amigo. Pode dar licença, por favor? — peço. — Vou sair com
o carro.
— Claro — ele sorri e destravo as portas, sendo jogado dentro de
repente, alguém que não eu abrindo a porta
O homem gigante do bar está entrando após mim quando consigo me
endireitar para saber o que houve. Ele me empurra para o banco do carona,
seu corpo quase não cabendo no veículo, então ouço uma risada vinda dos
bancos de trás.
Viro a cabeça, encontrando o homem que estava apoiado na porta.
— Então Nathan Russel é o novo namorado daquela miserável — ele
quase cantarola. — Antes de acabar com ela, eu acabo com você. Mas claro
que você vai me dar algumas coisas antes disso já que se tornou o líder
supremo das empresas mais famosas de tecnologia há pouco tempo.
Ainda estou avoado, tentando entender o que tá acontecendo até a mão
dele alcançar meu ombro e apertar para causar dor, me tirando um
grunhido.
— Prazer — seu sorriso escabroso não diz que é realmente isso. — Eu
sou o Jacob e vou ser o seu assassino.
Antes que eu possa ter alguma reação, a mão do meu ombro se torna
um punho e depois não é mais nada.
Capítulo 32

Victoria

Não vejo Nathan desde ontem, quando ele saiu e disse que eu não me
preocupasse. E não me preocupei tanto, mas ainda assim o esperei voltar.
Fiquei acordada até por volta das três horas da madrugada e ele não chegou.
Fui vencida pelo sono.
Agora, entrando em sua casa depois do trabalho, também não o vejo.
Sei que ele deve ter chegado e ido trabalhar, e provavelmente não o verei
até mais à noite; assim como também sei que no mais breve possível não
nos veremos mais de jeito nenhum.
Resolvo ir para o quarto ligar o meu notebook, onde vou buscar um
lugar para alugar. Sei que garanti ir embora assim que chegasse da Itália,
mas prometi a Nathan que iria ao velório do seu pai junto com ele.
Velório esse que não sei o dia que vai acontecer. Hoje, amanhã? Eu
gostaria de saber e de ter me lembrado de perguntar. Mas é incrível como
não lembro de nada importante quando Nathan está perto de mim.
Uma vergonha, eu sei. Mas não é muito evitável. Ele nem precisa se
aproximar, na verdade. Meus pensamentos coerentes se recolhem só por
olhá-lo.
O que vai totalmente contra o que sempre acreditei: que nunca me
atrairia por homens mais novos que eu.
Coitada de mim. Não sabia que no meio desse mundo havia Nathan.
Estou quase indo em direção à escada quando a campainha toca, me
fazendo virar o rosto em direção à porta.
Não me alarmo, o que é surpreendente. Eu devia estar alarmada,
porque pode ser o meu ex-namorado. E sua última mensagem para mim foi
a pior de todas, o que definitivamente devia me deixar alarmada mesmo.
Mas a campainha toca de novo e de novo, me fazendo caminhar até a
porta.
— Quem é? — pergunto ridiculamente. Seja quem for, não tenho a
intenção de abrir, mas, se for Jacob, com certeza ele não vai se identificar.
— Oi, Victoria — reconheço a voz do amigo dele que esteve aqui
recentemente. — Sou eu, o Samuel. Posso falar com o Nathan?
— Ele não está em casa ainda — respondo. — Ainda não chegou do
trabalho.
— E nem vai chegar, porque ele não foi ao trabalho.
Meus olhos se arregalam e minhas mãos agem por conta própria indo
girar a chave na tranca e depois a maçaneta, eu abrindo a porta para me
deparar não só com Samuel, mas também outros dois homens junto a ele.
Um loiro e um outro que parece tão novo quanto Nathan. Não tenho
tempo de reparar em quanto eles são bonitos, porque minha atenção vai
toda para Samuel.
— O que você quer dizer com "ele nem vai chegar"?
Samuel pergunta se pode entrar e eu saio da frente, dando espaço para
ele e os demais.
— Nathan não foi trabalhar — ele responde.
— Quando você o viu pela última vez? — o loiro pergunta para mim.
Mas estou já estou balançada pela informação de que Nathan não foi
trabalhar. Oh, céus.
— Ontem — respondo, as mãos começando a gesticular de
inquietação. — Ele saiu por volta das dez e pouca. Disse que iria dar uma
volta e que eu não me preocupasse. Eu esperei por ele até às três, mas
depois acabei dormindo.
— É namorada dele? — o outro homem, que parece tão novo quanto
Nathan, quer saber.
— Não — nego imediatamente e penso na melhor resposta: — Somos
só amigos e estou morando aqui por um tempo.
Os três ficam me olhando, eu me sentindo desconfortável e me vendo
na necessidade de complementar:
— Vou me mudar depois do enterro do pai dele. Na verdade, estava
indo pesquisar casas quando vocês tocaram a campainha.
O mesmo homem que perguntou se sou namorada de Nathan, estreita
os olhos, desconfiado.
— Se é amiga dele e está morando aqui, nós deveríamos ter ficado
sabendo de você — contesta o que eu disse.
Não posso culpá-lo. O amigo sumiu e ele se depara com uma
desconhecida dentro da casa do mesmo. Eu pensaria a mesma coisa: que
tenho alguma coisa a ver com Nathan ter sumido por tantas horas.
Mas não tenho. Ele me garantiu que não ia fazer besteira e que eu não
me preocupasse. Eu acredito em sua palavra, sem sombra de dúvidas. Não
acredito que ele tenha sumido para preocupar ninguém. Talvez seja sua
forma de lidar com o luto.
— Ela é amiga mesmo, Douglas — Samuel vem a meu favor com o
amigo desconfiado. — Nathan me contou sobre ela.
— Vocês já tentaram falar com ele? — pergunto, tentando mudar o
foco sobre mim.
— Tentamos, mas o celular só vai para a caixa de mensagem — o
rapaz loiro responde. — Sou Ryan, a propósito.
Faço um meneio de cabeça, saudando-o, mas minha atenção volta para
Samuel. Ele parece ser quem está tomando a frente da situação.
— O que faremos? — questiono, começando a roer a unha. Estou
nervosa e só me percebo então.
— Temos que levar em consideração que o pai do Nathan acabou de
morrer — ele evidencia.
— O que tá querendo sugerir? — Douglas, o desconfiado, interpela. —
Que Nathan foi sequestrado?
— Oh, nossa — dou um passo para trás, Samuel erguendo uma mão,
como pedindo para eu me tranquilizar.
— Não acho que foi isso — Ryan, o loiro, comenta. — Se fosse, já
teríamos recebido uma ligação para um acordo de troca.
Então minha mente lampeja sobre a secretária. Pode não ser, mas tem
a possibilidade de ser.
— Já ligaram para o escritório dele? — quero saber.
— Nós fomos até o escritório — Douglas se aproxima de mim para
enfatizar. — A secretária dele ligou para o Ryan. Tem certeza que ele não te
contou nada? Nada mesmo?
Seu tom ainda demonstra sua total desconfiança, e eu apenas balanço a
cabeça, negando.
— Eu tenho certeza que não — junto as mãos em frente ao corpo outra
vez, dando uma olhada nos três homens, e não me simpatizando tanto com
Douglas, que está bem próximo com seu ar de acusação implícita. — Ele
saiu porque acho que deve ter se chateado porque eu disse que estava
maquiando sobre não querer lidar com a morte do pai.
Ryan assobia, Samuel ergue as sobrancelhas e Douglas ri à minha
frente.
— A gente meio que nunca fala sobre a relação do Nathan com o pai,
cara — Douglas me diz. — Por que vocês, mulheres, acham que podem
mudar as coisas na vida do homem?
Samuel suspira, como sem paciência, e vem para perto de mim, tirando
o amigo da minha frente.
— Vamos ter que falar com a Polícia — avisa.
— A secretária dele não sabe de nada? — rebato. Não que eu ache que
saiba, reitero, mas poderia saber. — Vocês perguntaram?
— Por que ela saberia? — Ryan questiona.
Junto os lábios para não dizer que ela espera um filho do Nathan. Não
sou desgraçada ao ponto. É uma notícia que ele próprio precisa dar aos
amigos.
— Não sei — abano as mãos. — Só estou tentando pensar em alguém.
— Será que o pai dele tinha algum inimigo? — Douglas questiona, me
fazendo considerar.
— É claro que tinha — Ryan responde. — Quem não tem um inimigo,
que atire a primeira pedra.
Douglas faz careta.
— Partindo desse ponto, mais um motivo para falar com a Polícia —
Samuel fala e vai em direção a porta, dizendo por último: — Venham os
três comigo.
Capítulo 33

Nathan

Meu próprio urro me desperta e é questão de milésimos de segundos


até eu sentir o ardor e peso no rosto. Tomei um tapa como maneira de
acordar. E nem me lembro como dormi.
Grunho, tentando me situar e fazer a vista aceitar que estou em um
local muito iluminado. Muito mesmo. Tento focar para pelo menos ter ideia
de para onde me trouxeram, mas, sem sucesso. Não consigo, meus olhos
pesam, se recusando a acostumar com a claridade.
— Fala, princesa. Acorda! Precisamos levar um papo sobre como você
vai me tornar milionário — ouço a voz de quem se apresentou como Jacob,
então meu rosto é agarrado por sua mão áspera. — Você não foi tão macho
para me ligar e me ameaçar por causa de uma vagabunda? Cadê a sua
coragem agora, seu idiota?
Ele ri, sendo acompanhado por outro alguém que, mais tarde, vou
saber ser o brutamontes do bar.
Recebo outro tapa, me fazendo virar o rosto com um rugido de dor,
minhas mãos instintivamente querendo vir ao rosto para defesa, mas então
ouço as correntes e levanto a cabeça pesada, notando que estou preso. As
mãos e os pés presos enquanto sentado em uma cadeira. Merda.
— Se é dinheiro que você quer — começo a dizer —, não é problema.
Pode ligar para o advogado do meu pai e ele vai dar um jeito. Te passo o
número.
Jacob ri.
— Você acha que vai ser simplesmente assim? — ouço um ruído estilo
giz-no-quadro, o que me tira uma careta, e então tenho Jacob sentando em
uma cadeira de frente pra mim. — Não acha que faço as coisas de qualquer
jeito, não é, playboy?
Algo me diz que isso não é uma pergunta que exige resposta e, sendo
assim, só fico quieto, encarando-o o quanto consigo por causa das luzes
fortes que estão a favor da minha visão. Puta incômodo.
— E me diz — ele continua, dando um riso debochado —, por quanto
tempo achou que tava protegendo a lambisgoia? Porque, honestamente —
seu rosto se aproxima mais do meu —, você é um péssimo segurança. Eu
teria matado ela, se quisesse, há muito tempo. Mas, para a sorte de vocês, o
seu pai morreu antes de eu ter tomado uma atitude precipitada.
É a minha vez de soltar um riso de deboche, deixando sair nele toda a
minha frustração e ira. Esse maluco não funciona bem.
— Acha que não tomou uma atitude precipitada quando me
sequestrou? — minha questão também não exige resposta. — E — outro
riso da minha parte —, fala sério, você precisa matar alguma mulher pra se
sentir no topo e massagear seu ego de merda só porque não aceita o fim de
uma relação? — mexo as mãos com força, querendo encher sua cara de
socos. — Covarde!
Minha revolta me faz ganhar um novo murro, o que já não sinto tanto a
dor por meu rosto estar dormente da última pancada.
— Você não está no meio da tua galera, presta atenção — ele me
atenta. — Não sou tão bonzinho como a vadia da sua namorada faz parecer.
Em um momento de completo impulso e ódio, acabo soltando o que
acho que não deveria.
— Ela é minha mulher e, não, ela não te faz parecer bonzinho e sim o
mais babaca. Se quer saber também — emendo —, não dá pra sentir um
pingo de medo de você, porque quem vai agir não se acomoda em ameaças
de despeito — me inclino para frente outra vez, forçando as algemas das
mãos e correntes dos pés. — Você não passa de um fraco mal resolvido
nessa sua vida de merda — cuspo, o que infelizmente não alcança seu rosto.
Vejo a sombra se aproximando, tapando as luzes que vem aos meus
olhos, o que é um alívio; mas imediatamente mudo de opinião quando
percebo quem é a sombra.
Um chute na barriga me faz sibilar e tossir o quanto consigo pela falta
momentânea de ar, a risada de Jacob distorcida em meus ouvidos, meus
lábios crispando em consequência.
— Sabe o que odeio mais que a sua vagabunda ingrata? — ele indaga.
— Mauriçolas que acreditam ser a última esperança do mundo.
A cadeira rui de novo contra o chão, me fazendo fechar os olhos um
momento, com uma careta. Maldita hora que decidi sair de casa.
— Aqui está o que vai acontecer — Jacob comolementa: — Vou te dar
o seu celular e você vai falar com a Vicmerda. Vai dizer que está bem e que
precisava de um tempo sozinho sem ela — ele faz uma pausa, então expira.
Diria que deve ter considerado como é ficar sem ela, e concluído que não é
bom. Não é mesmo.
— Isso te fez decidir que — Jacob prossegue — precisa viajar, para
clarear a cabeça. Com isso, vai pedir dinheiro a ela.
Acho que ele é tão burro que não levantou questões óbvias. Victoria
teria como me passar algum dinheiro? Ela aceitaria que eu viajasse
sozinho depois de ficar desaparecido sem explicação? E, o mais óbvio, ela
acreditaria em mim?
É claro que não. Mas Jacob não precisa saber disso, assim como
também não precisa saber que o velório do meu pai ainda nem aconteceu, o
que faz os olhos de quem é próximo, estarem voltados para mim.
— Tudo bem — eu concordo. — Eu faço isso.
— Não esperava que você afirmasse — Jacob ressalta. — Aqui você
não tem escolha — recebo um soco na boca e, pelo peso do golpe, sei que
foi o seu comparsa. — Vou pegar o celular.
Meus lábios, agora muito inchados, não conseguem me fazer cuspir,
mas sinto o sangue grosso pesar meu lábio inferior.
Meus olhos se fecham em autodepreciação e, depois de tudo, isso
nunca foi o que esperei.
Me ferrei por tentar acertar.
Capítulo 34

BÔNUS Douglas

Posso estar errado, mas isso de uma mulher ter chegado na vida do
Nathan e pouco tempo depois ele ter sido sequestrado, não me parece só
coincidência.
E tomara que eu esteja errado, não vai ser a primeira vez, mas não
confio nas mulheres. Ainda mais nessa em específico, que ficou acuada
desde que voltamos da delegacia.
Acho ela esquisita. Parece ficar de olho em tudo. Tem medo de alguma
coisa. Dá muito pra notar.
E, beleza, tomara também que meu amigo ter sumido não tenha a ver
com ela, que seja pelo pai ricaço que morreu.
Caso contrário, não sendo o segundo motivo, não vai acabar bem pra
princesa.
— Qual a sua? — Ryan pergunta, me dando um empurrão no ombro.
— Nada — finjo descaso, mas acabo perguntando: — Você confia
nessa mulher? — sinalizo discretamente em direção a Victoria.
Ela se sentou em um dos sofás da sala desde que chegamos e não
largou o celular desde então. Sua mão na cabeça deixa meio óbvio que ela
está nervosa. Mas, pelo quê?
Se fosse pra chutar, eu diria que é a culpa flutuando na sua
consciência.
— Não temos nada com isso, né? — Ryan desvia de uma resposta
decente. Da resposta que um amigo daria. — O Nathan confia. Afinal, ela
está aqui na casa dele. Não vamos nos meter nessa questão.
Meus olhos se voltam pra ele e ergo as sobrancelhas.
— Sério? — indago. — Vai me dizer que nem por um segundo você se
fez a mesma pergunta?
Ryan mexe os ombros e baixa o olhar. Não precisa
responder, eu sei que sim. Qualquer um faria.
— E se ela o tiver seduzido pra estar por dentro das finanças? —
continuo. — Você sabe, abrir as pernas pra gente significa muita coisa e,
consequentemente, abrimos a nossa boca pra falar demais.
Meu amigo arqueia uma sobrancelha loura e dá um sorriso de canto.
— Isso tem a ver com a Samara? — questiona. — Ainda tá chateado
por ela ter te trocado depois do tanto que você correu atrás dela?
Me esquivo, como se tivesse sido atingido fisicamente.
— Que viagem! — bufo.
Que viagem. Eu não estou nem mais me lembrando da Samara. Ela foi
só um passado infeliz pra mim. E ninguém pode me condenar por não ter
sido escolhido, porque eu tentei. Tentei muito!
E o que ganhei? A rejeição. Não, não. Pior. Ganhei a troca. Ela me
trocou por algum cara que chegou depois de mim e conquistou seu coração
— que eu achei que já tinha conquistado — e também os corações
das borboletas dos seus irmãos.
Os caras nunca foram com a minha cara. Nem era por eu ser chato ou
coisa assim. Eles só não simpatizavam comigo.
Ao contrário do Ryan, que rapidamente se tornou chegado deles. Pelo
menos de um dos irmãos, porque o outro tinha interesse pela sua atual
esposa.
Lucy e Samara continuam sendo melhores amigas, inclusive, e por isso
me esquivo ao máximo de convites vindos da parte dele para ir em alguma
confraternização na sua casa, porque não quero ter o desprazer de ver
Samara e seu escolhido presentes por lá.
Não por ciúme, mas porque não sou obrigado.
— Entendo — Ryan murmura. — Mas não temos escolha que não
confiar nela. Victoria parece agoniada e preocupada desde que a
encontramos. Não vejo motivo de ela não estar sendo verdadeira.
— Você, meu amigo, definitivamente não tem experiência suficiente
com mulher! — sorrio. — Elas podem ser fingidas o quanto quiserem. São
atrizes. Somos ludibriados e feitos de babacas. Elas conseguem isso
facilmente, não é difícil no mundo feminino.
Ryan faz uma careta, como se me ouvir fosse doloroso. Mas é só a
pura verdade!
— Cara, você não pode espelhar o fora que ganhou da Samara nas
outras mulheres — evidencia. — Isso vai te fazer ser o maior idiota para
toda mulher. E lembra que você ainda está solteiro.
Resmungo um chiado e estreito os olhos.
— Por que isso pareceu um aviso? — quero saber.
— Não. Só quero dizer que você pode se frustrar por ser frustrante —
ele sorri — e nenhuma mulher nunca te querer para algo mais que uma
ficada.
Dou um riso debochado.
— E quem disse que vai existir um dia em que vou querer uma mulher
pra mais que uma ficada, Ryan?
Ele sorri.
— Eu digo — responde.
Bufo e me esquivo, Samuel vindo da porta dos fundos com passos
largos. Ele para entre o espaço do meio da sala para informar:
— A Vanessa está vindo para cá.
— Fazer o quê? — questiono. — Vai ser mais uma que não vai poder
fazer nada, só ficar agoniada como a gente. Como nós, os amigos.
Samuel mira os olhos pra mim, como se não tivesse acreditado no que
ouviu.
— Vou fingir que não te ouvi — é exatamente o que ele diz, antes de
complementar: — São quatro da manhã e não tivemos notícias sobre o
Nathan ainda.
— Achei que ia contar uma novidade.
— Douglas, você é mais útil calado! — ele ralha.
Estreito o olhar e gesticulo com uma mão.
— Isso é você desejando a minha morte?
Samuel bufa e flagro Ryan balançando a cabeça em negativa.
De repente, Victoria se levanta e se materializa ao lado de Samuel. Ela
está com o celular se erguendo na direção dele e por uns segundos parece
não conseguir falar.
Até mesmo o Sam fica confuso, e olha dela para o celular três vezes.
— O Nathan — ela enfim desengasga enquanto suas pernas ficam
inquietas, como se a dona delas estivesse se aquecendo pra dar uma corrida.
— Ele me mandou uma mensagem!
E lá vamos nós...
Capítulo 35

Victoria

— O que diz aí? — Samuel pergunta já obtendo o celular da minha


mão.
Minha respiração está instável e eu não posso acreditar que enfim
estamos tendo alguma notícia sobre Nathan.
Foi uma noite e está sendo uma madrugada de muita aflição. Não sei
se é peso da preocupação ou um vazio da mesma. Ou, pavor de estar sendo
a responsável por mais um trauma na vida do homem que não merece.
Ele já está passando por tantas coisas e, se for mesmo Jacob que o
sequestrou, a culpa é minha. Eu deixei que Nathan entrasse para a minha
vida. Eu permiti que ele fosse enlaçado no nó que há na minha vida: um ex
namorado que não aceita que o relacionamento acabou.
— Ele diz que precisa de um tempo e vai viajar. Precisa de dinheiro e
pediu que eu consiga com o advogado do pai dele — respondo, o que não é
necessário porque Samuel já está lendo a mensagem de qualquer forma.
Ouço uma lufada de ar vinda do sofá ao lado e noto que foi Douglas.
— Por que ele pediu dinheiro pra você, que não é nada dele, e não pra
gente que somos amigos? — questiona.
E faz muito sentido. O que também implica no meu temor. Estou com
medo desde ter descoberto que Nathan sumiu.
Mordo o lábio e volto o olhar para Samuel. Ele me devolve o celular.
— Não parece o tipo de mensagem que ele mandaria depois de sumir
por horas — aponta.
— Não seria a namorada que está arquitetando um plano pra conseguir
dinheiro? — Douglas alfineta, se referindo a mim.
Então acho que é o momento em que devo falar toda a verdade. Fui
egoísta em não ter dito de primeira. Tive medo. Mas não justifica. O tempo
que permaneci com medo de contar a possibilidade, resultou em mais
tempo sem sabermos dele.
— Não eu — digo —, mas talvez meu ex, o Jacob. Ele está me
perseguindo com quase ameaças desde que terminamos. Por isso vim morar
com Nathan, que acabou ligando para Jacob e ameaçando mandar a polícia
em sua casa se não me deixasse em paz — respiro fundo. — Descobri que
meu ex não gosta de ser contrariado e nem confrontado. A possibilidade de
ele estar com Nathan existe.
— Por que não contou isso quando estávamos na delegacia? —
Samuel resmunga já marchando em direção à porta.
Seus dois amigos se levantam do sofá para acompanhá-lo e também os
sigo.

— Não se preocupe. Vamos encontrá-lo — ouço Ryan dizer quando se


senta ao meu lado em uma das cadeiras de espera da delegacia.
Samuel está próximo ao corredor com a sua noiva e Douglas apoiado
na parede oposta a fileira de cadeiras. Nenhum se dirigiu a mim depois que
deixamos aquela sala.
A mesma em que grampearam meu celular e eu tentei ligar para
Nathan. Todos tentamos. Mas ninguém foi atendido.
Então recebi a mensagem Vai depressa, Viczinha. Não quero perder o
voo. E eu tive a absoluta certeza de que Jacob o tinha mesmo sequestrado.
Nathan nunca me chamou assim. Não faz o estilo dele.
Uma equipe policial foi destinada ao endereço do Jacob assim que
informamos o acréscimo de informações. Mas pouco tempo depois fomos
informados que a casa estava como abandonada. E isso me desesperou.
Eu mandei uma série de mensagens mesmo sabendo que não seria
respondida, mas queria que Nathan visse, ainda que não pudesse
responder. Onde você está? Por que decidiu sumir e não dar notícias?
Estou morrendo de preocupação. Me atende, por favor.
E meu coração foi mais esmigalhado ainda. Eu não sei onde ele está,
mas sei que o motivo de ter sumido foi culpa minha. Eu o coloquei nisso,
como se já não bastasse toda a reviravolta que a vida de Nathan já o está
fazendo passar com a morte do pai e a descoberta de um filho.
— Será? — rebato a pergunta de Ryan, juntando as mãos e meus dedos
ficando inquietos uns nos outros. — Eu me odeio por ter aceitado ir morar
com ele. É culpa minha, eu coloquei Nathan nisso, na minha vida de merda.
— Você não é culpada. Não tem culpa se o tal Jacob é alienado e não
tem escrúpulos — Ryan esclarece, parecendo impressionado pelo que eu
disse. — Não vai demorar até tudo se resolver, Victoria. Eu tenho certeza.
Balanço a cabeça em negativa.
— Não consigo ter a mesma certeza que você. Sei que vamos achá-lo,
mas ao mesmo tempo me pergunto como ele está. Se está muito ferido,
machucado, vivo.
Ryan abre mais seus olhos verdes, negando veemente com um balançar
de cabeça.
— Claro que ele está vivo, Victoria. Meu Deus, não pense ao contrário
disso.
— Não penso — suspiro. — Mas tenho medo — gesticulo suavemente
com uma mão. — Seus amigos me odeiam. Com razão, fui uma covarde e a
mais perfeita egoísta. Não contei o que sabia de primeira só por medo de ser
considerada suspeita, e isso fez com que a busca pelo Nathan fosse mais
demorada.
Ryan me encara por um instante. Até eu me sentir vazia e vazia. Eu
mesma não gosto de mim agora.
— Não podemos voltar no tempo. Importa que a polícia já está atrás
dele. A inteligência está trabalhando para que isso seja rápido.
Balanço a cabeça.
— Cada minuto parece ter duas horas — lamento. — Estou ansiosa
para vê-lo, mas ao mesmo tempo não sei se ele vai querer o mesmo. Deve
estar me odiando com todas as forças.
— O Nathan não odeia ninguém — Ryan ergue as sobrancelhas. —
Mas precisamos achá-lo primeiro pra saber — ele se levanta e meu olhar se
ergue até encontrar o seu. — Pensa positivo.
Fico sozinha na cadeira, pensando de quantas formas vou me desculpar
quando o encontrar.
Mas, lá no fundo, sei que ouvir minhas desculpas vai ser a última coisa
que Nathan vai querer, que dirá me ver outra vez.
Afinal, se não fosse por mim, ele não estaria passando por essa
situação. E por causa disso nunca vou me perdoar.
Capítulo 36

Nathan

Não sinto nada que não minha pele rasgando e o peso nos olhos. Não
sei quanto tempo se passou. Talvez dia, dias. Estou com fome e sede. Jacob
e seu comparsa só molham minha boca com água e entendem que assim eu
matei a sede.
Minhas forças acabaram. Não consigo mais gritar ou rebater as
ameaças. Sei que vou ser morto. Jacob já deixou isso claro. E já me
conformei. Não consigo ser mais forte do que os ferros que me prendem.
Não consigo ser mais forte que minha fraqueza física e meu desânimo.
Penso no filho que ainda não vi se formar ou vou conseguir ver quando
nascer. Penso no meu pai, que vai ser posto em uma caixa antes de ter meu
olhar pela última vez. Penso em Camila, que vai ter que se virar sozinha
enquanto espera por nosso filho. Penso em Victoria. Não teria como não
pensar nela.
— Estou com sede — consigo dizer, mais uma vez, mas isso só faz
com que eu leve outro soco na boca do brutamontes que se colocou de vigia
ao meu lado.
— Cala essa boca — ele ruge. — Não percebeu ainda que a sua função
é calar a maldita boca?
Jacob ri enquanto come seu hambúrguer sentado em uma cadeira a um
metro de onde estou.
Nunca senti uma raiva tão grande por alguém.
— Você não foi capaz de conseguir uma grana pra gente e quer beber
água? — pergunta e ri outra vez, fazendo seu comparsa me acertar um novo
soco, mas dessa vez na barriga, o que me faz perder o ar por uns segundos.
— Nunca ouviu sobre justa troca, Nathan Russel? Você ajuda a gente e a
gente te ajuda.
Me concentro para trazer a respiração a normalidade. Meus pulmões
estão trabalhando a toda.
— Você... — engulo o gemido de dor que não vou deixar escapar. —
Não espera que a Victoria acredite em mensagens, não é? Eu disse —
inspiro devagar. — Se eu tivesse mandado um áudio, seria mais fácil de ela
acreditar.
— Acha que sou idiota? Você ia gritar socorro e a polícia estaria atrás
de nós!
Bufo uma lufada de ar, balançando a cabeça de maneira lenta, da
forma que consigo demonstrar minha descrença.
— E você acha mesmo que já não está? Eu sumi por mais que horas.
Sua ação causou uma reação que você não pode mais controlar. Vão me
encontrar — tento encará-lo o quanto consigo abrir meu olho direito,
porque o esquerdo não abre mais de tantos socos que recebi. Ficou inchado
pra valer.
Apanhei sem motivos. Só porque Jacob quis.
— Não vão te encontrar, seu idiota. Estamos no meio do nada —
argumenta.
Mas, como por obra do destino, finalmente a meu favor, começo a
ouvir ruídos. Que vão ficando mais altos, mais reconhecíveis, mais
perceptíveis.
Se revelando sirenes.
Minha cabeça se vira na direção dos sons, mas imediatamente sou
obrigado a olhar de novo para Jacob. Ele se levanta aturdido, derrubando a
cadeira, e seu parceiro corre para algum lugar.
Forço os braços e as pernas nas correntes conforme o som fica mais
próximo, tão próximo que parece estar ao meu lado.
Passos à minha frente me fazem desistir da tentativa de me soltar e
levanto a cabeça, só para encontrar o cano de uma arma mirado para minha
testa.
Meu sangue gela e minha respiração suspende.
— Posso não ter conseguido dinheiro, mas não vou te deixar vivo —
Jacob deixa claro.
— Eu consigo! — exclamo, me sentindo em um abismo sem fim. —
Te dou todo o dinheiro que você quiser quando os policiais me pegarem.
Você pode fugir, eu não vou dizer nada!
— Acha que sou idiota? — ele repete a pergunta que fez uma vez.
Engulo em seco, o coração acelerado e um nó na barriga.
— Por favor, Jacob. Não faz isso, cara. Eu vou te dar todo o dinheiro
que quiser.
Ouço os barulhos de coisas caindo. Os policiais estão vindo. Mas eles
têm que ser mais rápidos que isso se quiserem me encontrar com vida.
Meu Deus.
Jacob sorri de um modo macabro e meneia a cabeça de maneira
desdenhosa.
— Seu pedido de Natal não vai ser atendido — ele destrava a arma e
ajeita a posição para, sem mais pestanejar, disparar em minha direção.
Capítulo 37

Victoria

Meu coração martela dentro do peito de forma avassaladora.


Não parece que Samuel está dirigindo e sim com o carro estacionado.
Mas sei que é impressão por conta da ansiedade que me toma desde que
recebemos a notícia de que encontraram Nathan.
Estamos seguindo o veículo policial e tenho vontade de criar asas para
voar e chegar depressa. Estou ofegante e trêmula. Um oco no estômago
indescritível. Como Nathan está? Não nos disseram. A ordem foi seguir o
carro policial.
O tempo passa em retrocesso. Meu coração não tendo a mesma
lentidão. Parece que vai explodir na caixa torácica, sem se conter. Respiro
fundo muitas vezes, e a cada vez parece que a respiração fica mais veloz.
— Chegamos! O carro deles parou aqui — Samuel avisa,
estacionando.
Meus olhos nem piscam quando me inclino para abrir a porta ao meu
lado, descrente que Samuel demore mais que dois segundos para destravá-
la.
Assim que o faz, eu deixo o carro e corro em direção ao enorme
galpão. Não tenho tempo de pensar que lugar é esse, somente corro para
perto. Vejo veículos da polícia e duas ambulâncias. Isso me faz engolir em
seco e sentir uma fraqueza com peso nas pernas.
Estou quase próxima de todo esse cenário quando me sinto ser
segurada pelos ombros.
— Não pode passar daqui, senhora. É cena de crime — o policial me
informa e balanço a cabeça.
Cena de crime? O que ele quer dizer com isso? Está louco de insinuar
o que acho que é!
Me debato para sair do empecilho que são suas mãos, mas logo paro.
Paro porque vejo duas macas sendo trazidas. Elas tem o destino até
uma das ambulâncias. Mas não é isso que me incomoda e me deixa com
vontade de vomitar. Não.
O motivo do meu choque é notar que as duas trazem corpos e eles
estão cobertos por sacos pretos. Dois corpos. Cobertos para que não sejam
vistos. Dois corpos cobertos porque não tem mais vida.
Começo a tremer notoriamente e o policial me segura pelos braços.
Não tenho certeza, mas é uma possibilidade que seja para eu não despencar
no chão.
Eu quero correr até lá, mas não vou a lugar algum porque minhas
pernas não me obedecem.
As ambulâncias são ocupadas pelos socorristas, que logo mais estão
todos em seus postos. As sirenes cantam quando as ambulâncias manobram
e vão embora. Minha garganta seca e eu viro a cabeça para o policial.
Não quero perguntar. Não quero nem imaginar.
— O terceiro corpo - eu sussurro. — Tem que haver um terceiro corpo
— umedeço os lábios, minha vista escurecendo e as pernas fraquejando. -
Um corpo com vida. Não podem ser só aqueles dois — balbucio.
Então não vejo mais nada.

Acordo como se fosse árduo. Me sinto imediatamente pesada e com a


cabeça doendo. Me levanto abruptamente assim que percebo estar deitada.
Meus olhos se movem para qualquer lugar e a primeira palavra que deixa
minha boca, é a favor do parecer que evito me lembrar.
— Não.
— Oi — a voz está perto de mim, Douglas se pondo ao lado da cama
em que estou. Não o vi assim que abri os olhos, mas ele está aqui. Mas onde
é aqui?
— Cadê o Nathan? — me levanto para ir atrás dele. Não sei onde está,
mas vou vê-lo. Sou puxada em retrocesso, no entanto. Douglas me segurou.
— Cadê ele? — sou mais enérgica, deixando claro que ninguém vai me
impedir.
Douglas ainda me segura pelo braço enquanto me encara. Ele tem um
olhar profundamente misterioso e triste.
— NÃO! — disparo, quase descontrolada enquanto forço meu braço a
se soltar do seu contato. - Não! Nem pense em uma coisa dessas - o
repreendo. — O Nathan não está morto!
Percebo que Douglas engole em seco por causa do seu pomo-de-Adão,
seus ombros caindo diante do seu suspiro lamurioso.
— Você desmaiou — ele informa, mas eu não quero saber.
— Não quero saber de mim! — deixo claro. — Para onde levaram o
Nathan? Eu quero vê-lo. Douglas...
Seus olhos se fecham por um instante e sua vista baixa, mas ele não
me solta. Provavelmente sabe que, se fazê-lo, eu não vou hesitar em sair
daqui em disparada.
— Você precisa se acalmar primeiro.
— Eu estou calma! — protesto. — Cadê seus amigos? Levaram o
Nathan? — me aproximo mais dele. - Me diz alguma coisa, pelo amor de
Deus!
— Ele... — Douglas inspira fundo antes de completar: — Não temos
certeza se quer permanecer com a gente.
— Do que você está falando? O que quer dizer? — me afasto, as
sobrancelhas franzidas. — O que quer dizer?!
Douglas gesticula as mãos para baixo, como me pedindo calma.
— Os médicos estão tentando. Seu corpo foi reanimado, mas o Nathan
tá resistindo, quase desistindo — o amigo engole em seco pela segunda vez.
— Não estamos muito esperançosos.
Ele me solta para que eu possa me afastar mais, as mãos vindo à testa e
minha descrença sendo palpável.
O chão só meus pés falha um pouco. Meu coração volta a acelerar e
vibrar no peito. Quero gritar, mas também quero permanecer em silêncio.
— Não pode ser — sussurro e o olho de novo. — Por quanto tempo
fiquei desmaiada?
— Pouco, mas aí acordou histérica sem ouvir ninguém e os socorristas
acharam melhor te dar um tranquilizante. Não se lembra?
— Não — me sinto atordoada. — Só me lembro das macas cobertas
e... — engulo difícil, encarando Douglas. — O que houve?
— Os policiais chegaram no momento em que o seu ex atirou no
Nathan e deram ordem pra ele se afastar do corpo com as mãos na cabeça.
Mas o cara foi tão burro que atirou contra os policiais — ele balança a
cabeça, como se o fim fosse óbvio e inevitável. — Não foi a melhor
escolha, porque seu ex saiu daquele galpão... Você viu como.
Balanço a cabeça, gelada.
Jacob morreu. Nathan foi ferido.
— Minha nossa — volto em direção a cama, onde me apoio um
momento. — Preciso falar com o Nathan. Preciso vê-lo.
— Precisamos. Mas ele está em cirurgia.
— Cadê o Samuel e o Ryan?
— Na sala de espera com as mulheres deles.
Estreito os olhos para Douglas.
— E por que você está aqui comigo? — questiono.
Ele desvia o olhar um momento, mas acaba por me encarar outra vez.
— Vi como ficou histérica e os caras não poderiam ficar aqui com
você, por estarem com as meninas. Não achei que seria justo te deixar
sozinha, alheia a tudo — ele mexe um lado dos ombros. — Então, por isso
tô aqui.
Me impressiono.
— Obrigada — agradeço. — Foi muito gentil. Quando a cirurgia vai
terminar? Tem muito tempo que começaram?
— Umas duas horas. Não deve demorar mais do que já demorou.
Respiro fundo e sinto Douglas caminhar em minha direção. Ele
também se apoia na cama e se coloca ao meu lado.
Sua mão chega ao meu ombro esquerdo e ele me induz em direção ao
seu peito, onde acabo deixando minha cabeça repousar. Pesada e cheia de
ansiedade.
— Se acalma — ele cobre minha cabeça com a sua mão. — O Nathan
está em boas mãos. Ele vai ficar bem.
Eu espero que sim.
Capítulo 38

Nathan

— Ai, meu Deus. Ai, meu Deus.


São as primeiras palavras que ouço quando, agindo contra a vontade
do meu corpo, abro os olhos. Mesmo que só um pouco, acostumando ao
ambiente com seu ar e sua luz.
— Ai, meu Deus — repetem.
Me esforço para abrir a boca grudada também. Seca e pesada. Puta
sensação horrível. Aos poucos, minha língua vai umedecendo meus lábios
e, mais aos poucos ainda, eles vão se separando.
— Nathan? — me chamam.
Não morri, ao que parece. Eu me sinto, ainda que aos poucos. Estão
me chamando, disso eu sei. Mas tudo ainda está distorcido, como se não
fizesse sentido ou fosse coerente.
— Nathan? — a voz mais suave desta vez. A voz do Ai, meu Deus. —
Pisque os olhos se estiver nos ouvindo.
Tento responder em voz, mas é difícil falar um simples: claro que
estou. Ainda assim, tento mexer um pouco a cabeça, como uma forma de
responder.
Então o rosto aparece diante da minha visão. Victoria.
Isso faz com meus olhos se esforcem mais, abram mais. Eu quero
olhar para ela, embora isso também seja doloroso.
Doloroso por saber o risco que ela correu durante o tempo em que
esteve com Jacob. Quem, a propósito, eu não vou medir esforços para que
seja colocado atrás das grades.
— Oi — ela sorri pra mim e vejo sua mão vir em direção ao meu rosto,
acariciando com se minha pele fosse seda. — Oi — repete, e essa repetição
vem com uma boa quantidade de lágrimas escorrendo por suas bochechas.
Ela funga e sua mão me abandona para ir se colocar em meu peito.
— Ei, cara — Ryan quem diz, e em seguida estou mais ligado quando
reconheço meus três amigos se colocarem lado ao lado ao pé da cama em
que estou.
— Que bom que voltou pra gente — Douglas fala com um sorriso.
— Que aflição, irmão — Samuel também sorri, mas é um sorriso
triste. — Estamos felizes por você não ter desistido de nós.
Ainda aéreo, não entendo do que eles estão falando. Meus olhos
pesam, em uma vontade mais cômoda de dormir. Volto o olhar para
Victoria, antes de me entregar à vontade do corpo.

Quando acordo outra vez, é mais fácil molhar os lábios. Estou


produzindo mais saliva e não é uma coisa muito penosa abrir a boca para
capturar um pouco de ar e respirar mais longamente.
Diferente da primeira vez em que acordei, não ouço uma reação de Ai,
meu Deus. Nem burburinhos, tampouco sons de movimentos. Tenho mais
tempo de considerar o meu corpo e que acordei. E que aparentemente deixei
geral preocupado.
— Encontraram o Jacob? — pergunto. É baixo, mas em um milésimo
de segundo tem movimento no quarto e os quatro estão rodeando a cama.
— Ele morreu — Douglas responde, sem dar voltas.
Victoria segura minha mão com as suas, envolvendo-a num súbito
transferir de calor.
— Como está se sentindo? — ela pergunta baixinho perto de mim.
Tenho de olhá-la.
— Melhor do que quando estava levando um soco a cada segundo por
nenhum motivo — respondo, minha voz saindo fluida. Acho que meu sono
serviu para religar as funções do meu corpo.
Ela se encolhe, quase que de tamanho.
— Sinto muito, Nathan — sussurra.
— Não foi sua culpa. Você não estava lá com ele ou mandou que me
sequestrasse e atirasse em mim — tento um sorriso. — Ao menos, espero
que não.
Victoria não diz nada, mas sinto o quarto pesar depois do que eu digo.
— Na verdade — olho meus amigos, os três enfileirados ao lado
esquerdo da cama —, estou surpreso por não ter morrido. O cara atirou pra
matar. Ele deixou claro que não me deixaria vivo.
— Você morreu — Douglas esclarece, mas ganha olhares cortantes de
todos. — Ué, mas ele morreu mesmo — se defende.
— Os médicos te trouxeram de volta, então você não morreu. Seu
coração parou por quase quatro minutos, mas foi só isso — Samuel pontua.
— Só isso — ergo as sobrancelhas e rio o que consigo, irônico e
espantado. Eu morri e voltei. Que coisa aleatória e... surpreendente.
— Temos que chamar o médico — Ryan avisa.
— Eu vou chamar! — Victoria sai em disparada do quarto e meus
amigos ficam quietos depois disso.
Eles querem dizer muitas coisas, imagino. Eu quero dizer muitas
coisas. Então, começo pela mais leve depois de tantos acontecimentos
pesados.
— Eu vou ser pai.
Três pares de olhos me encaram agora com espanto.
— Você o quê? — Sam e Ryan perguntam ao mesmo tempo.
— Por isso a Victoria ficou histérica no limite! — Douglas deduz.
— Não — nego. — Não foi ela que engravidei, e sim minha secretária.
A Camila, vocês conhecem.
Os três ficam em silêncio de novo e capturo umas duas caras de
desentendimento e uma de perturbação.
— Você engravidou a sua secretária? — Douglas pergunta, como se
ainda não tivesse entendido. — Como você fez isso?
Ryan e Sam o olham, mas ele logo ergue as mãos.
— Eu sei como ele fez, não sou idiota. Tô perguntando no sentido de,
mano, como você foi capaz!?
— Aconteceu — não faço caso. — Mas pensei muito nesse bebê
enquanto tudo acontecia comigo. E... — hesito. — Pensei no meu pai. Em
como não pude olhar pra ele uma última vez.
Eles não sabem o que dizer, e nem precisam, porque o médico chega
nesse momento.
Capítulo 39

Victoria

Passou-se um mês desde o pesadelo. Em que tudo aconteceu. Nathan


foi sequestrado, maltratado e baleado pelo meu ex namorado – que agora
jaz no esquecimento.
Foram dias penosos desde que tudo se "resolveu". E somente hoje,
depois de um mês e alguns dias, é que voltamos para casa. Nathan voltou
para casa.
Eu não sei como me comportar. Desde o hospital, desde que ele
acordou mais lúcido, depois de umas cinco conversas. Está tudo tão
estranho. Tem sido tão esquisito. Tudo. O acontecido, o nós, o estar perto...
Eu tenho vontade e sinto a necessidade de me desculpar em todo
momento que olho para ele e quando vejo as tantas cicatrizes em seu rosto;
entretanto, um de seus amigos, Ryan especificamente, me disse que não era
uma boa ideia.
Ele falou isso uma vez que nós nos esbarramos no corredor do hospital
por "coincidência". A culpa não foi sua, o Nathan já disse isso pra você,
fica em paz. Eu sei, ele me disse mesmo, mas não teve, e nem tem, como eu
acreditar nisso. Como não me sentir culpada.
Afinal, se não tivesse me conhecido, isso nunca teria acontecido com
ele. Nathan não teria perdido o enterro do pai, que foi sepultado sem muita
atenção, e sem a presença do único filho.
Não quero imaginar como deve estar a cabeça dele depois de tudo isso.
Tanta coisa aconteceu de uma vez e ele ainda não explanou nada. Não para
mim, pelo menos. Torço para que tenha conversado com os amigos nas
vezes que saí do quarto para ir ao banheiro.
É só o que posso fazer. Torcer. Porque não tenho coragem de nada
mais além disso.
Vou ficar uns dias em sua casa, cuidando dele até que se recupere
totalmente. É o mínimo que posso fazer. Mesmo com o distanciamento
nítido entre nós, que surgiu com motivos, e quem pode culpá-lo? Ninguém.
Minhas mãos estão atadas e nossos olhares, quando se cruzam, não
transmitem nada. Eu não sinto nada vindo dele. É sempre um olhar e só um
olhar. Meu coração sempre retorce com saudade daquele Nathan que
conheci no início: alto astral, charmoso, engraçado, sorridente. E agora tudo
que vejo é um homem de um olhar opaco e semblante neutro. Neutro, mas
que para mim é gritante.
Quero o meu Nathan de volta.
— Você vai ficar aí a noite toda?
Levanto a cabeça ao ouvir sua pergunta.
Ele está deitado na cama do seu quarto, o edredom estando na altura
do peito, a cabeça virada em direção ao sofá em que estou sentada, à sua
direita
Espalmo uma mão na página do livro que finjo ler, porque já tentei ler
as últimas três páginas umas cinquenta vezes mas não consigo entender o
que é dito porque meus pensamentos incômodos falam mais alto e exigem
mais minha atenção.
— Não ligue para mim — digo, quase falhando. É incômodo também
falar com ele depois de tudo. — Meu tempo é seu.
Seus olhos se estreitam, sendo a primeira reação que percebo nele
desde que nossos olhares se cruzaram em dias e dias.
— Seu tempo é meu? — ele sorri. Um sorriso curto e discreto, mas
que de maneira elevada me enche de uma vividez considerável. É um
sorriso, afinal de contas. — Interessante, mas vou ter que declinar. Não
quero o seu tempo.
Estreito os olhos, inquisitiva.
— Eu não saberia o que fazer com ele — Nathan emenda, explicando.
— Vai ser mais bem usado por você, que usará de melhor forma que... —
seu olhar abaixa, focando no livro em meu colo. — Ler o que está lendo.
Ele me olha outra vez diante do meu silêncio.
— Tipo, dormir — continua. — Não quer isso?
Balanço a cabeça em negativa.
— Não estou com sono.
Ele ri, sem fazer muito esforço.
— Piadista você, né? — replica. — Tenho certeza que não tem
dormido direito desde o dia em que sumi.
Ele tem razão. Não dormi quase. Pisquei os olhos. Porque... Como eu
poderia? Ele estava sumido! E quando o acharam, foi baleado. Não tem
como dormir simplesmente depois de tanta coisa.
— Pode ser que seja verdade — murmuro —, mas ainda assim não
quero ir dormir. Vou estar a postos caso você precise de algo.
Nathan desvia o olhar e torna a ficar sério enquanto encara a janela do
outro lado.
— Acho que vou chamar a Tina pra cuidar de mim, ao invés de você
ficar aqui — explana. — Ela é enfermeira, já tem o jeito pra isso e... —
hesita. — Vamos poder conversar.
Mordo o lábio. Ele definitivamente não me quer aqui, e tudo bem.
Exceto que isso vai me fazer sentir mais ainda como se... Como se Nathan
nem me suportando estivesse.
— Está certo — fecho o livro em minhas pernas cuidadosamente, sem
desviar o olhar de seu perfil. — Você prefere que a Tina venha, tudo bem.
Mas eu vou ficar preocupada se estiver por longe.
Ele não diz nada e seu silêncio parece um século, me desmontando.
Respiro fundo. Odeio essa distância.
— Por que você estaria por longe? — questiona.
— Porque vou estar em outra casa e não vou ousar ligar para você ou
para um dos seus amigos, perguntando seu estado. Eu deveria estar longe
depois de tudo, porque fui a culpada. Então, se você está dizendo que não
precisa de mim aqui, não faria sentido que eu ficasse ligando preocupada
para saber seu estado.
Seus olhos se voltam para mim imediatamente. Certeiros e penetrantes.
E por um momento, tenho um resquício daquele Nathan que conheci.
— Ficou com raiva? — indaga, o olhar se estreitando.
— Não — solto uma lufada de ar e afundo no sofá, deixando os
ombros caírem. — Não é raiva, é decepção.
Ele me encara.
— Acho que é o melhor a ser feito — complementa seu raciocínio, que
não apoio. Não quero estar longe dele, principalmente agora. — Eu preciso
conversar com ela sobre alguns assuntos pessoais. Você não precisa estar
aqui — ele faz uma pausa. — Finalmente, está livre e segura agora. Não
precisa mais da minha ajuda, do meu apoio e nem de mim.
Suas palavras, inclusive as últimas, me atingem de uma maneira
dolorosa. Fico mais triste ainda e cabisbaixa.
Engulo em seco
— Tudo bem — digo, rouca. Então me ponho de pé, devastada. Não
deveria, porque eu sou a culpada disso tudo. Mas, mesmo assim, ser
expulsa pelo próprio Nathan é, sobremodo, excruciante. Quero chorar. —
Quer que eu ligue para a Tina?
— Não — seu olhar volta a desviar para a janela. — Eu faço isso,
obrigado.
Ainda fico parada por um tempo, olhando-o, não sei bem porquê. Ele
não me quer aqui, e isso devia me colocar para correr. Mas não, ainda fico
uns segundos parada antes de sair do quarto, sem a coragem de nem mesmo
um "adeus" quando bato a porta.
Sei que é um adeus, assim como sei que é totalmente errado que tudo
acabe assim. Mas não está em meu poder mudar, então simplesmente
aceito.
Porque, no fim das contas, não tem mais espaço para mim na vida já
formada de Nathan.
Capítulo 40

Victoria

Estou triste e sem ânimo. Não tenho vontade de desfazer minhas malas
ou colocar meus quadros novos na parede. Comprei-os durante um passeio
que fiz ontem quando saí da casa nova para deixar de pensar em Nathan.
E odeio essa sensação. Por que estou pensando nele quando
nitidamente ele não me quer perto? Eu devia estar feliz, muito feliz, que ele
está vivo e se recuperando rápido. Mas não. Tudo que sinto não tem a ver
com felicidade, e sim tristeza.
A nossa distância me causa calafrios e uma sensação de perda. Sei que
ele está vivo, mas o perdi. Emocional e fisicamente.
E não é como se já estivéssemos estado juntos, com algo sólido e nem
nada disso, mas... Mesmo assim. Estávamos perto. Moramos juntos por
alguns dias. Os melhores dias.
Solto uma lufada de ar diante de tantas verdades. Porque acabei de
chegar do trabalho e não tenho o Nathan ou a vontade de fazer um jantar
para dois.
Decido que não vou ficar me lamentando em casa sozinha. Dou meia
volta e retorno à rua.
Não vou para um bar, estou traumatizada, então caminho sem rumo até
me deparar com uma lanchonete de fachada chamativa. Se não estivesse
escrito tão grande LANCHONETE, eu acharia que era um circo por conta
de tantas cores.
Empurro a porta de vidro e vagueio o olhar pelo lugar, uma mesa entre
duas do lado das janelas me chamando mais atenção. É nela que vou me
sentar.
Coloco a bolsa em cima da mesa, tiro a jaqueta e pego o cardápio.
Enquanto leio, respiro fundo umas cinco vezes.
Pareço estar cheia e sufocando. É uma sensação horrível.
— Boa noite — uma voz feminina chama minha atenção e, quando
levanto o olhar, já é para notar que a mulher jovem colocou uma xícara em
minha mesa e a está enchendo com café. — Posso pegar seu pedido? — ela
me olha com um sorriso simpático.
— Eu acabei de chegar — sorrio de volta e levanto o cardápio. — Não
escolhi ainda — hesito, respirando fundo outra vez. — Mas, se quer saber,
minha semana foi tão ruim e minha cabeça está tão cheia que eu não... —
gesticulo com uma mão. — Não vou saber o que pedir. Me recomenda
alguma coisa?
Quase tenho pena por ver o semblante da pobre mulher diante do meu
estado. Devo estar parecendo uma sofrida sem amparo. Eu me sinto assim.
— Claro que sim — ela balança veemente a cabeça de forma positiva.
— Posso recomendar o nosso hambúrguer triplo artesanal com maionese e
molho da casa. Ele facilmente substitui uma refeição. Batata e bebida não
estão inclusas. Temos também vitaminas de frutas, se você quiser uma
refeição mais balanceada. Sanduíches de frango e carne, e também
oferecemos a opção vegetariana.
Dou um sorriso.
— Obrigada, vou escolher o hambúrguer triplo que substitui uma
refeição — acabo rindo no fim, o que deixa a moça vermelha.
— Me desculpe — ela diz —, de forma alguma quis estipular a
quantidade que você deve comer. Desculpe ofendê-la.
Estranho, mas, quando entendo sua conclusão, dou uma risada mais
sonora.
— Eu não me senti ofendida, não se preocupe — esclareço. — Achei
você uma ótima atendente, na verdade. Fala bem, tem uma maneira de
sugerir ao cliente de prontidão. Parabéns.
Quase posso sentir que meu comentário a comove, porque sua mão vai
ao peito e seu sorriso é doce quando se forma em sua boca.
— Obrigada, muito obrigada — ela agradece. — Eu também não tive
uma semana boa.
Balanço a cabeça, compreendendo.
— Um brinde a nós, porque aguentamos e estamos aqui — agarro a
alça da xícara de café. — Prontas para mais uma semana.
— É isso — a atendente concorda com uma voz triste. — Com licença,
vou buscar seu pedido.
Vejo-a se retirar, mas logo seu lugar é substituído em minha visão por
pernas longas cobertas por um tecido escuro e um cinto preto.
Estreito os olhos e levanto a cabeça, me surpreendendo por ver
Douglas.
— Oi — ele dá um curto aceno e logo escorrega sentado no banco
oposto ao meu, na mesma mesa.
Ele está de sobretudo e o cheiro do seu perfume se espalhou pelo ar.
Seus cabelos estão impecavelmente penteados para trás, seu pulso esquerdo
reluzindo o relógio prateado quando suas mãos se cruzam em cima da mesa.
Em resumo, um lindo; mas em outras palavras, qual a probabilidade de
eu encontrá-lo no mesmo lugar que vim para tentar esquecer o seu amigo?
Nós nos encaramos e espero ele falar primeiro, mas só ganho um
sorriso torto.
— Oi, Douglas — brinco com a alça da xícara de café. — Como vai?
— Vou bem — ele não faz caso em devolver a pergunta, e logo
completa: — Se mudou da casa do Nathan, né?
— Uhum — confirmo. — Faz uma semana já.
— Um tempão mesmo — Douglas ironiza. — Você ficou sabendo? —
ele não me espera responder. — Ficou sabendo que o Nathan engravidou a
secretária?
Respiro fundo. Nem posso me doer pela falta de filtro dele em
explanar essa realidade.
— Fiquei, ele me contou — respondo, desanimada.
Douglas ri.
— O filho não é dele — conta —, é do seu ex. Jacob, né?
Por um momento, tudo para. Não sei se estou onde estou e preciso me
recuperar rapidamente se quiser saber se continuo na realidade ou fiquei
louca.
— O quê? — balanço a cabeça, desnorteada. — O que você disse?
Douglas ainda ri mais, como se o que contou fosse engraçado, e
também minha reação.
— É sério — ele reafirma. — A polícia queria um culpado, precisava
achar um, por causa do nome do pai do Nathan e tal. Aí foram investigar o
escritório do pai dele e, consequentemente, o telefone da sala de recepção
entrou na investigação. Acharam várias chamadas para, coincidentemente, o
número do seu namorado. Quer dizer, ex e falecido namorado.
Continuo com a vista parada, só ouvindo.
— Levaram a secretária pra delegacia e, sob a pressão, ela confessou
que conheceu o Jacob em uma boate e, depois de passar o telefone pra ele,
conversaram um tempo. O cara se apaixonou rápido por ela depois de tantas
idas ao motel — Douglas balança a cabeça em negativa. — Ela engravidou
e tentou enganar o Nathan, porque não queria o Jacob por ser um cara
pobre.
Ele faz uma pausa para rir mais alto, mas se recompõe quando nota
que não achei a mesma graça.
— Perdão — ele pigarreia. — Continuando... A secretária ficou
algumas vezes com o Nathan mesmo depois de saber que estava grávida e
achou que seria motivo suficiente pra convencer ele de que estava grávida
de um filho seu.
— Ela convenceu — me sinto impelida a dizer, sentindo a garganta
seca.
— Bem assim — Douglas anui. — Por isso ele ficou tão sem chão
quando soube de tudo isso dos policiais. Ele continua sem chão.
Ainda sinto que tudo está girando e um oco se formou em minha
barriga.
— O que houve com ela? — quero saber.
— Foi presa, mas o Nathan pagou a fiança dela e a passagem para ela
ir morar com os pais. Todo mundo achou ele louco por fazer isso, mas ele
disse que é a boa ação dele de Natal — Douglas ergue os ombros, como se
não entendesse.
Ainda aturdida, questiono:
— Ela ajudou o Jacob a planejar sequestrar o Nathan?
— Foi, foi. Ela passou vários endereços pro cara, até da casa do
Nathan.
Minha respiração se altera então diante da notícia.
Eu não estava sendo paranóica, ele realmente poderia ter me matado.
— Ei — Douglas me chama, provavelmente porque fiquei com a vista
congelada. Eu o olho. — Não se preocupa. Nathan está bem agora. Já está
até dando uns passinhos — ele se vira de repente, como procurando algo.
— Cadê o pessoal que atende nesse lugar? Tô com uma fome monstra!
Mas não tenho forças para elaborar uma resposta enquanto considero
que: o filho da secretária de Nathan é, na verdade, filho do Jacob, meu ex
perturbado, que agora está morto.
Capítulo 41

Nathan

Devolvo o copo vazio para a ilha e apoio o quadril nela. Não estou
com dor, mas, honestamente, me sinto como se tivesse subido uma rampa.
A Tina disse que isso é comum por conta do tiro que levei no peito. Faz
parte do processo de cicatrização toda essa coisa de sentir a respiração
definhando.
Decidi que ela fosse embora. Não preciso mais dos seus serviços. Eu
já... Eu já soube tudo que tinha que saber sobre o meu pai. Fiz todas as
perguntas que queria. Sanei minhas curiosidades sobre minha saúde,
também. Vou precisar de, no máximo, uns sete meses até poder voltar às
atividades fora de casa. É o tempo seguro que ela pôde de me dar de
garantia, principalmente por ter me visto tão agoniado em cima daquela
cama.
Não aguentava mais ficar ali dependendo de tudo. Eu precisava sair de
cima daquele colchão. E foi o que eu fiz. Claro que a Tina ficou horrorizada
quando me viu de pé, mas logo percebeu que seria mais fácil me dizer o que
não fazer do que me convencer a deitar novamente.
Quando pensei que tinha dado um passo a frente, com isso de me
levantar, dois policiais vieram aqui. Eles tinham uma enxurrada de coisas
pra me dizer. Então, eu tive que deitar outra vez para não ter o esforço de
ficar em pé porque... Foram muitas novidades.
A primeira, a que deveria ser a principal, o filho de Camila não era
meu. Os policiais me contaram da confissão dela. Tive um pouco de choque
por isso, porque o filho era de Jacob. Que coisa doida, foi só o que
consegui pensar. Como um louco daquele conseguiu enganar duas mulheres
inteligentes?
Eu ainda estava balançado quando fui informado que o brutamontes
parceiro do Jacob, o cara que me bateu tantas vezes, era irmão da Camila.
Ele foi morto, também.
Aquilo era muita notícia ruim pra uma mulher grávida, foi só o que
consegui pensar. Percebi que não conhecia a Camila afundo, claro que não,
mas do pouco que conheci, não podia ver aquilo e ficar impassivo.
Muito mais porque eu soube como o tal Jacob era. Não só por ter
estado com ele durante três penosos dias, mas também porque conheci sua
ex-namorada e vi, diariamente, o medo nos olhos dela.
O cara era maluco, impulsivo e metido a controlador. Não podia ser
uma coisa fácil conviver com ele.
Então, que eu seja considerado um sem noção, mas não poderia
permitir que Camila passe sua gravidez em uma cadeia por conta de, talvez,
uma atitude que ela não tenha tido escolha. O seu filho não merece isso.
É sobre tudo isso que estou divagando quando a campainha
toca. Cacete. Provavelmente um dos meus amigos, de novo, ou meus
amigos e suas companheiras.
Solto, devagar, a respiração. Vou ter que ir até a sala.
Fico grato que eles tenham bom senso e esperem bastante enquanto
tenho de chegar à porta com passos de bebê. Mesmo assim, parece que corri
por uma meia hora quando enfim ponho a mão na maçaneta.
Estou pronto pra dizer que eles não precisam vir me ver cinco vezes ao
dia, mas, engulo qualquer palavra dessas quando abro a porta e me deparo
com Victoria do outro lado.
Nós nos olhamos, massacrados por um silêncio eterno. Que merda.
Não sei o que dizer. Se tem algo pra ser dito. Ela disse que não se
importaria mais. Achei que tivesse feito o que todo mundo sempre faz: ido
embora pra sempre.
— Oi, Nathan — ela é a primeira a se pronunciar e não deixo de
perceber seu olhar abaixar até minha cintura e subir novamente, de maneira
lenta. — Como você está? — quer saber, quando seu olhar encontra o meu
novamente.
Demoro a ter alguma reação pela maneira que me perco com o simples
fato de ela estar perto de mim. Seu olhar, seus cabelos soltos, a maneira
como ela se apresenta ao surgir: sempre parecendo um mistério.
É saudade. Muita saudade. Tenho vontade de me aproximar e pegá-la
nos braços, levar para o sofá e colar nossos lábios até que um pouco do que
já tivemos seja reavivado.
Mas não consigo e, mais importante, não posso fazer isso. Estou
momentaneamente debilitado. Tenho que cooperar pra minha recuperação.
Meu corpo não vai conseguir ser rápido se eu não o ajudar.
Por isso, escolho dizer:
— Que surpresa te ver aqui.
Ela faz uma careta amena e logo balança a cabeça.
— Sim, eu também acho — concorda —, mas quero saber como você
está. Não consegui me aquietar desde o dia que deixei sua casa.
Nos encaramos por um pouco mais de tempo, até que ficar de pé
começa a me incomodar.
Penso em uma resposta rápida suficiente pra fazer Victoria ficar
convencida e dar meia volta, mas não consigo. Minha careta de dor me
dedura.
— Nathan? — ela se aproxima de mim na velocidade da luz, as mãos
estendidas como se estivesse prestes a me segurar. — Ai, meu Deus, você
está com dor? Onde dói? — ela deixa a bolsa que carrega no ombro,
escorregar por seu braço e cair no chão da entrada da minha casa.
Me limito a não responder e só me apoio na parede mais próxima da
porta, inspirando devagar o ar e abrindo a boca para, de igual forma, deixa a
respiração compassada.
— Vem, eu vou te ajudar a se sentar — Victoria já diz isso chegando
ao meu lado e com tanto zelo puxando meu braço para trás de sua cabeça,
de maneira que consegue me servir de apoio.
Mais devagar do que eu gostaria, caminhamos até o sofá. Com mais
cuidado do que eu também gostaria, ela me ajuda a acomodar no estofado, e
é muito pró-ativa em ajeitar uma almofada por trás das minhas costas.
Ainda tô controlando a respiração quando seu olhar encontra o meu. O
dela está preocupado, procurando vestígio de alguma coisa. Talvez alguma
reação em sinal de que ainda tô na pior.
Mas não. Me sinto ótimo. E acho que é o que ela precisa ouvir, e
também saber.
— Eu tô ótimo.
— Percebi — seu jeito irônico de dizer não soa tão como ironia. Ela
vem se sentar ao meu lado. — Encontrei o Douglas e ele me disse que você
já estava fora da cama. A Tina permitiu isso?
Dou um riso.
— Não é como se a Tina tivesse que me permitir alguma coisa.
— Oh, me desculpe se ela estava sendo sua enfermeira e com certeza
sabia o tempo que você poderia começar a se levantar e circular por aí.
Faço uma careta.
— Desde quando você se tornou uma chata?
— Não estou sendo chata, mas nitidamente você acha que tudo bem
receber um tiro no peito e em menos de dois meses começar a levar uma
vida normal, como se tudo estivesse bem. Alguém precisa te dizer que não
está tudo bem! Você foi baleado, Nathan!
Me esquivo um pouco, tanto quanto consigo, simplesmente porque me
impressiono por ver Victoria cair no choro.
Não entendo o motivo, porque o baleado fui eu; mas espero que ela
tente se recompor, as mãos indo ao rosto, seus dedos trêmulos tentando
secar as lágrimas, seu fungar duradouro. Fico inerte quanto a isso.
— Tá tudo bem? — pergunto, com suavidade.
Ela demora a responder, ainda ocupada segurando e secando as
lágrimas. Tenho vontade de puxá-la pra mim e enchê-la de beijos.
Mas não posso. Meu peito em cicatrização não permite.
— Desculpe — seu sussurro é meio engasgado. — Eu não queria
explodir assim.
— Não tem problema — balanço a cabeça. — Não temos tido dias
fáceis.
Ela volta a me olhar, o rosto vermelho e os olhos ansiosos.
— Você já jantou? — quer saber.
— Não — desvio o olhar. — Nem me lembrei disso.
Victoria se levanta, como se tivesse achado uma resposta.
— Vou preparar seu jantar. Você emagreceu. Deve estar sem comer.
Minhas sobrancelhas se erguem, em uma discordância.
— Eu não emagreci.
— Não muito, mas o suficiente para se notar — ela prende os cabelos
e sai do meu campo de visão. Ouço a batida da porta se fechando e logo
Victoria retorna para avisar: — Volto logo com seu jantar. Tente não se
mexer muito.
Sem mais opções, só me resta esperar.
Capítulo 42

Victoria

Quando volto para onde Nathan está, encontro-o com a cabeça virada
para o lado e apoiada na almofada, a boca aberta, os olhos fechados e a
respiração controlada. Ele está dormindo.
Não quero acordá-lo, mas sei também que ele tem que se alimentar.
Sendo assim, me sento no espaço vazio ao seu lado no sofá e coloco o prato
de comida na mesinha de centro próxima ao sofá.
Por uns segundos, fico observando-o dormir. A respiração mais calma
e compassada, seus cílios dando a impressão de se mexerem junto com as
pálpebras agitadas, acusando um cochilo profundo.
— Nathan? — o chamo baixinho, me considerando uma vilã. Eu nem
devia estar aqui, se formos fazer a matemática certa da situação. — Vamos
comer — insisto, tocando seu braço e alisando um pouco.
Ele ainda leva uns instantes para acordar, abrindo os olhos e me
procurando. Quando me acha, bem ao seu lado, observo-o piscar três vezes
antes de respirar fundo e devagar.
— Estava sonhando com você — ele murmura depois de umedecer os
lábios, e tenta se ajeitar de uma maneira não brusca. Mesmo com a cautela,
parece ser algo desconfortável. Vejo isso na expressão que toma seu rosto.
— Comigo? — me surpreendo, mas não tanto. Tendo em vista que
cheguei de supetão em sua casa depois de tantos acontecimentos
desagradáveis em sua vida nos últimos dias, trinta por cento deles
apontando a culpa para mim, imagino que a raiva por minha pessoa esteja
alocada em seu subconsciente, fazendo-o sonhar comigo.
— Isso, é — ele gesticula com a cabeça para o prato na mesinha de
centro. — Tá com um cheiro bom, mas a aparência é péssima. O que é?
Não levo para o lado pessoal e também olho para o prato. Tem brócolis
e couve no vapor, mas coloquei uma porção considerável da carne magra
que achei no seu freezer, como acompanhamento.
— Brócolis e couve — respondo, voltando a olhá-lo em tempo de
flagrar sua careta de nojo. — Não era você que me dizia para recarregar as
energias? — o relembro.
— Era. Mas isso foi antes de eu levar um tiro e descobrir que não sou
pai — balança a cabeça. — Sem contar, pra não esquecermos — dá um
sorriso irônico —, que meu pai foi enterrado e eu não estive presente.
Preciso, aliás, de sete meses pra começar — ele frisa — a voltar ao meu
normal. Vou perder toda a coisa boa do Natal e... — seu olhar se segura no
meu, me desafiando a desviar. — Isso é uma droga.
Não sei o que dizer. Me sinto a pior pessoa do mundo. Ele está,
indiretamente, me dizendo que estraguei a sua vida. E não está errado.
Meu olhar não desvia do seu, apenas quando ele volta a olhar o prato.
Sua negação é automática outra vez.
— Você tem que comer — preciso avisar, pegando o prato e trazendo
por sobre a mão. — Eu dou na sua boca.
Ele ri. Mas não foi para ser engraçado e nem ele achou mesmo graça.
— Dou, para impedir você de fazer movimentos demais — explico.
— E você quer que eu fique entrevado?
Agora eu rio e ele fica me olhando.
— Não — nego, pegando uma porção de carne na colher. Cortei em
cubinhos bem pequenos. — Por causa do peito. Você pode relaxar e só
mastigar, sem muito esforço.
— Por quê?
— Porque eu acho que vai ajudar você — respondo o óbvio.
— Quero saber por que você não perguntou com o que eu sonhei sobre
você.
Ergo as sobrancelhas e respiro fundo enquanto penso no que
responder. Levando em consideração a forma que Nathan está me
encarando, ele me acha uma ordinária de todos os jeitos.
— Eu não sei — admito e simulo levar a colher cheia até sua boca, o
que o faz abri-la para receber o alimento mesmo sem vontade. — Acho que
não quero saber.
Nathan mastiga fazendo careta, mas engole e volta a tagarelar:
— Eu também não quero comer e estou comendo.
— É diferente. Isso é pela sua saúde.
— É, boneca, eu tô ligado — ele quase ri, mas sua expressão endurece
tão rápido quanto. — Você está muito pisando em ovos pra quem não tem
nada a ver com a merda toda que aconteceu.
Olho-o um momento antes de responder.
— Eu tenho tudo a ver, na verdade.
— Não te vi do lado daquele filho da puta cochichando que ele devia
me bater e ameaçar, nem no carro quando ele me sequestrou — contrapõe.
— Você pode parar com isso de se colocar a culpa. O Jacob já ganhou o que
buscou em todos esses anos brincando com a mente das pessoas. Essa
página da sua vida acabou, Victoria.
Mordo o lábio, sentindo meu coração martelar no peito. Nathan tem
razão, Jacob se foi. Ele não pode mais me amedontrar de nenhuma forma.
Em contrapartida, no entanto, amedrontou mais ainda a mente de
Nathan antes de ir, e isso me corrói.
— Diga que me entendeu — ele segura meu rosto para que meu olhar
volte ao seu. Encontro olhos profundamente escuros me encarando com
determinação.
Engulo em seco outra vez.
— Entendi — concordo —, mas me desculpe se eu não consigo aceitar
isso como verdade. Se não tivesse me conhecido, Jacob nunca teria tido
conhecimento sobre você.
Nathan solta meu rosto e sorri de uma maneira amarga.
— Talvez seja verdade, talvez não seja. A minha secretária já o
conhecia e era uma questão de tempo até ele me conhecer — Nathan desvia
o olhar para frente, tomado por pensamentos. — Pode ter sido pessoal o
lance de me sequestrar. Pode ser que Camila mentiu no depoimento e que,
na real, Jacob tenha cruzado seu caminho depois que eu o ameacei — ele
volta a me olhar. — Nunca saberemos.
— Não pensei por esse ponto.
— Você feriu o ego do cara, Victoria. Um marginal de ego ferido corre
atrás de vingança, não importa como, mas ele não quer sair por baixo.
Engulo em seco pela terceira vez. Meu Deus.
— Mas não se preocupa — Nathan pontua. — Como eu disse, essa
página da sua vida acabou. Não vai me dar mais comida? — ele sorri de
maneira sincera agora, acho que agora para me tranquilizar.
Pisco os olhos algumas vezes e me ponho a pegar mais comida para
levar até sua boca.
Enquanto ele mastiga, tento não pensar em como eu poderia ter
morrido durante esses últimos meses porque meu ex-namorado era um
marginal.
Capítulo 43

Victoria

— Eu não quero mais — Nathan resmunga outra vez.


— Só falta uma colher — levo-a em direção a sua boca, mas ele vira o
rosto com uma careta.
— Se você insistir com isso — seu olhar encontra o meu —, aqui
mesmo eu vomito. A gente não quer isso, né?
Abaixo os ombros, em desistência de tentar fazê-lo comer a última
colherada com brócolis. Eu mesma a como e coloco o prato na mesa de
centro.
— Onde você tá morando? — ele quer saber.
— Quase do outro lado da cidade.
Seus olhos se arregalam e sua cabeça balança de maneira negativa,
quase um desentendimento.
— Como assim "quase do outro lado da cidade"?
— Eu achei uma casa de aluguel barato — dou de ombros. E era a
casa mais distante de você. Mas não digo essa parte, só penso. — Você
pediu para o Douglas me seguir?
— O quê?
Balanço a cabeça.
— Ele me encontrou em uma lanchonete quase em outra cidade. Quais
as chances de isso ter sido uma coincidência?
Nathan estreita os olhos, mas logo sorri.
— Tá insinuando que mandei um dos meus melhores amigos te seguir?
— questiona, e logo emenda: — Eu não sei os tipos de caras que você se
acostumou a encontrar, mas não preciso mandar alguém atrás de você,
Victoria.
Não me afeto pelo que ele diz e também não é como se eu já tivesse
sido bombardeada de Jacobs em minha vida. Ele foi o primeiro e o único
com isso de ameaças. Nunca mais haverá outros, porque vou me certificar
disso. Nem que eu morra solteira.
— Foi mesmo uma coincidência então — murmuro. — E a Camila?
Seus olhos se estreitam.
— O que tem?
— Tudo que aconteceu, que você descobriu... Está bem quanto a isso?
— A vida não me surpreende mais — ele respira fundo de maneira
lenta e desvia o olhar para frente. — Nem as pessoas. Mas, se quer saber, já
me sinto melhor quanto a mentira que ela me contou — seus olhos voltam
aos meus. — Mas, e você?
— Eu? — me esquivo um pouco para trás, não entendendo a pergunta.
— Você — Nathan é categórico ao enfatizar. — Afinal, o filho da
Camila é do seu ex perseguidor morto. Isso não te abalou nem um pouco?
— Por que me abalaria? — Estou desentendida. — É provável que a
Camila esteja abalada e não eu.
— Pode ser — Nathan respira fundo outra vez e seu olhar vai ao longe,
mergulhando em uma imensidão de pensamentos. — Onde você vai passar
o Natal?
Dou um sorriso discreto que ele não vê. Acho que gosto muito da
maneira que ele enxerga esse dia do ano. Logo penso que seria uma ótima
chance de animá-lo, mas, para isso, eu teria que falar com os seus amigos e,
bem, eles com certeza não estariam de acordo em eu estar presente na época
do ano favorita de Nathan.
— Eu não sei — respondo. — Mas provavelmente vou dar uma volta
na cidade e depois voltar para casa. Não tenho muitos planos para essa
época do ano.
Nathan me encara com total estranhamento.
— Como assim? — indaga. — E sua família? Você não comemora
com eles?
Quase rio do seu jeito descrente em perguntar.
— Não. Minha família não é muito próxima e meus pais nunca tiveram
isso de comemorações em família. Eles preferem ficar sozinhos e todos nós,
filhos, respeitamos isso. Nenhum vai em surpresa para lá no Natal e, mesmo
que fôssemos, meus pais não demonstrariam alegria.
Nathan está surpreso, mas balança a cabeça em concordância.
— Quer vir pra cá comemorar a noite de Natal comigo? — indaga. —
Eu vou estar sozinho. Desta vez — ele tenta sorrir, mas só consegue um
sorriso desanimado —, não tem nem mesmo o meu pai. Só sobrou eu.
— Achei que vocês não passassem essa época do ano juntos.
— Não passávamos — dá um sorriso torto. — Mas ele estava vivo.
— Entendi, mas e seus amigos?
— Cada um tem sua família agora, tirando o Douglas. Vou chamá-lo
também pra vir — seu olhar estuda o meu. — Por quê? Você não quer vir
ficar comigo?
Dou um sorriso.
— Quero — afirmo, mas sinto uma onda de inquietude, por isso acho
prudente completar: — Só... — massageio a nuca. — Só tenho medo de
que, sei lá, isso te faça mal. Nos faça mal.
Nathan estranha qualquer coisa, sorrindo ironicamente.
— Não entendi isso de "nos faça mal". Fala sério, Victoria. Você fica
tentando me afastar com essa culpa ridícula que não existe. Vem cá — seu
braço direito se estende em minha direção. Ele está me chamando e,
arrepiada como imediatamente fico, não me impeço de ir.
Chego perto dele, sentindo seu braço me circundar e sua mão chegar
ao meu quadril.
Seu olhar chama o meu, mas me sinto tão nervosa repentinamente com
o seu calor, o seu cheiro, o jeito fácil de me abraçar junto a si, que faíscas
salpicam entre nós e me sinto anestesiada. Não consigo olhá-lo no mesmo
instante, tanto é que ele acaba dizendo:
— Olhe pra mim.
É difícil mesmo assim, porque depois de tudo que aconteceu por
minha causa, por ele ter tentado me ajudar, Nathan ainda me quer por perto.
Eu o olho, estremecendo ao me deparar com seu olhar profundo.
Também noto seus lábios. Sinto falta de beijá-los. E o nervosismo me toma
por completo, porque estou com saudades. Muita saudade.
— Ter você por perto nunca me faria mal — ele diz e me observa por
um momento, seu olhar passeando pelo meu rosto. — Você entende isso?
Meneio a cabeça. Não entendo, mas entendo o que sinto por ele e,
levando em conta o que está me dizendo, acho que sente o mesmo.
— Entendo o que sinto quando estou perto de você e com você —
digo. — É divertido e... — desvio o olhar. — Você não me faz pensar no dia
chato que tive ou no dia de amanhã. Tenho sempre muita paz quando
estamos juntos e acho que isso não se pode descrever. Por isso me sinto tão
desgraçada pelo que te aconteceu. Você não merecia nada disso.
Nathan não diz nada, por isso volto a olhá-lo. Ele tem um sorriso nos
lábios e seus olhos brilham.
— Isso me pareceu uma declaração — murmura.
Ergo as sobrancelhas.
— Declaração?
— Isso aí — sua mão aperta meu quadril, me fazendo rir com as
cócegas despretensiosas. — Você se declarou pra mim.
Rio mais, agora de nervoso.
— Não fiz isso — nego, mas minha voz sai baixa, sem qualquer
convicção.
— Tem razão — Nathan concorda, a expressão séria de seu rosto
bonito me fazendo arrepiar dos pés à cabeça. — Se tivesse se declarado
teria dito que está apaixonada.
Prendo outro riso, tentando não vacilar o olhar do seu. Sua mão em
meu quadril aperta de novo e eu me seguro para não rir de calor. Mas agora
minha respiração instável dedura meu estado.
— Eu... — tento um sorriso, mas não sei se consigo ser convincente.
— Eu não estou, Nathan.
Sua sobrancelha direita se arqueia brevemente.
— Que pena, Victoria — sussurra. — Porque eu estou.
Meu momento de alienação não é duradouro, porque Nathan sobe a
mão para a minha cabeça e a puxa em sua direção.
Engulo em seco e, quando nossos lábios quase se encontram, apesar da
imensa saudade e da enorme vontade, preciso saber:
— Você está o quê?
Sua língua passeia pelo meu lábio inferior antes de ele me responder.
— Estou apaixonado por você.
Capítulo 44

Victoria

Afasto o rosto no mesmo instante que reparo nas palavras que ouvi.
Meus olhos encontram os de Nathan, que agora me encaram com um brilho
divertido.
— O que você disse? — questiono, alheada. Posso ter ouvido errado.
Tenho quase certeza que ouvi errado.
— O que você entendeu — ele me estuda por um momento. — Eu me
apaixonei e, se quer saber, é muito nada a ver quando você me deixa por
motivo nenhum. Porque os apaixonados precisam ficar juntos e, pelos meus
cálculos — seu sorriso agora é presunçoso —, você entende o que quero
dizer.
Engulo em seco, totalmente atingida. É claro que eu entendo, só não
achei que Nathan sentisse o mesmo. Que estivesse apaixonado por mim.
— Eu não entendo — murmuro, sendo tentada a aproximar mais meus
lábios dos seus, que estão sendo umedecidos insistentemente por sua
língua. É mesmo uma tentação. — Não entendo mesmo.
— Tudo bem, você não precisa entender agora. Basta saber que me
apaixonei e que você longe me desconfigurou.
Dou um sorriso, afastando novamente o rosto para rebater.
— Se não se lembra, foi você quem me expulsou dizendo que preferia
a Tina, que eu não precisaria mais de você ou do seu apoio.
— É verdade — ele concorda. — Eu disse, mas só porque era crucial.
Você não precisaria mais ficar comigo, sabia disso, e eu tinha que me
acostumar com esse fato antes que você me deixasse sem avisar.
— Eu não... — imediatamente começo a dizer, levando uma mão ao
seu rosto recém barbeado e fazendo uma carícia enquanto encaro seu olhar.
— Eu não te deixaria sem avisar.
Nathan ri.
— Bom, vou ficar feliz porque pelo menos você teria essa
consideração.
— Não foi isso que eu quis dizer.
Sua mão sobe até minha cabeça outra vez e ele a puxa na direção da
sua, nossas testas se encontrando.
— Senti sua falta — ele sussurra. — Não devia ter pedido pra você ir
embora, mas eu também estava preocupado. Você estava sem dormir direito
há muitos dias.
— Nem senti que estava. Minha atenção era toda sua.
Noto seus lábios formarem um sorriso.
— E o que você acha de me dar mais um pouco dessa atenção? — quer
saber.
Também sorrio, me ajeitando para voltar mais perto do seu corpo, mas
tendo cuidado para não encostar no seu peito.
— Eu acho que estou de acordo — respondo já aproximando meus
lábios dos seus outra vez e, sem hesitar, Nathan os prende e começa a
conduzir em um beijo afoito, que descreve em tudo a nossa saudade.
Mesmo rápido, quase desesperado, com a urgência do cronômetro
invisível, Nathan consegue me deixar em fagulhas pelo corpo inteiro, essas
sendo acompanhadas de fortes arrepios. É só um beijo, eu sei, mas é um
beijo de saudade. É um beijo do Nathan.
O homem por quem estou apaixonada.
Me afasto quando sinto sua dificuldade em continuar o beijo por causa
da respiração difícil.
— Você está bem? — pergunto, preocupada. — Não devíamos estar
fazendo isso, de beijar. — Me arrependo imediatamente. — Você está se
recuperando — enfio os dedos nos cabelos e me condeno: — Que tipo de
mulher insensível eu sou?
— Nós devemos fazer isso, Victoria — ele protesta assim que termino
de falar. — Eu estou bem, é sério. Isso da respiração só tem a ver com a
minha recuperação. Não significa que eu vou morrer porque você tá me
beijando — sua fala convicta é acompanhada de um discreto revirar de
olhos.
Mesmo assim, apesar de sentir tanta certeza em sua voz, ainda hesito.
Nathan solta uma lufada de ar e me encara de um jeito diferente, quase
me desafiando a dizer não.
— Tira a calça e sobe aqui — ele pede, batendo com a outra mão sobre
as pernas.
Meus olhos se arregalam.
— Não, de jeito nenhum! — me recuso no mesmo instante. — Você é
doido? Vou te machucar.
— Claro que não. Vem cá, por favor. Preciso de você depois de tantos
dias sofrendo — ele entristece o semblante, o que me faz rir.
— E por que eu tenho que tirar a minha calça?
— Porque vai facilitar pra você não me machucar, só por isso.
Rio de novo, dessa vez de muita vontade. Me levanto e tiro a calça
jeans rapidamente, olhando-o depois que estou sem a peça.
Seus olhos ficam como vidro, de tão límpidos.
— Se... — ele recomeça. — Se você também tirasse a blusa, não teria
nem risco de me machucar.
Agora fico descrente.
— É muita cara de pau — deixo claro.
Ele sorri.
— Por favor? — suplica. — Eu ficaria muito feliz.
Essas palavras são suficientes para eu já tirar a blusa e jogá-la no chão.
Subo em seu colo logo depois, olhando em direção a sua blusa branca.
Está impecável, livre de manchas de sangue.
— Agora não vou fazer muitos movimentos porque não posso forçar o
peito — Nathan me informa. — Você vai facilitar pra mim?
Dou um sorriso e me ajeito em seu colo, o que imediatamente me faz
parar de sorrir quando sinto o que está embaixo de mim.
Meus olhos se abrem um pouco mais.
— Você é muito maquiavélico, senhor Nathan — sussurro perto do seu
rosto.
— Sou, não sou? — sua respiração ruidosa sopra no meu pescoço
antes de eu baixar a cabeça e colar nossos lábios outra vez.
Nos beijamos com menos urgência, mas a mesma saudade. O mesmo
sabor. Parece que sentar em seu colo o fez ter menos desespero e pressa. No
entanto, tenho um espasmo no corpo quando sinto seus dedos chegarem em
minha cintura, apertando a carne com veemência, o que me causa também
um calor gostoso.
Seus dentes prendem meu lábio inferior antes de sua boca escorregar
até meu pescoço e sua língua passar por ali, me fazendo fechar os olhos e
agarrar seus cabelos, me esbaldando na sensação.
Senti muita, muita falta disso. Do seu cheiro, do seu toque, da
sensação dos seus cabelos em meus dedos e seus lábios em minha pele. Ah!
A saudade com paixão não é explicável.
— Não pode me provocar demais — adianto. — Você não está cem
por cento e aí... — ofego quando ganho um aperto no peito por cima do top.
— E aí eu vou ficar com mais vontade.
Ele me ignora quando usa as mãos para me incentivar a levantar os
braços e poder tirar a peça de roupa. Fico imediatamente ansiosa e mais
desejosa quando isso acontece.
— Fica de joelhos — ele pede, a voz mais séria, grave, completamente
carnal e que me deixa no estado de obedecer instantaneamente.
Fico de joelhos e o observo de cima. Não tem mistérios! Nathan usa as
mãos para descer o short até metade das coxas. Seu instrumento pula fora
do aprisionamento do tecido assim que consegue e meus olhos vidrados não
disfarçam o que sinto.
Olho para seu rosto, vendo-o com a respiração um pouco difícil.
Estreito os olhos e mordo o lábio, incerta sobre isso. Nós queremos, mas
talvez não devamos.
— Você está bem? — questiono.
— Vou ficar melhor — murmura, agarrando minha cintura e me
incentivando a abaixar sobre seu colo outra vez.
Nossos olhares se encontram quando o faço e ele me encara de um
jeito arrepiante. É um olhar que me faz sentir as pernas amolecerem e não é
só por causa do que tenho sob mim.
Não sei como Nathan consegue ter essa capacidade, mas tem e eu
nunca vou conseguir explicar.
— O que foi? — indago quando ele me olha por tempo demais. Não
tenho a capacidade de me manter quieta se ele continuar me esquentando
assim, sem precisar dizer uma única palavra.
— Quanto tempo tenho que esperar até você facilitar pra mim? — ele
rebate, a voz me fazendo contorcer até os dedos dos pés.
Não penso, apenas me levanto e tiro a calcinha. Nathan me observa,
mas logo volto para o seu colo, tendo o cuidado de pegar apoio nas costas
do sofá com uma mão enquanto com a outra eu agarro sua ereção.
Solto um suspiro diante do seu rosto, sua dureza me eletrizando.
— Se você se machucar por isso, eu nunca vou me perdoar —
sussurro.
Ele sorri. Sorri. E pronto, é suficiente para derrubar minhas barreiras.
Fico de joelhos de novo, mas desta vez para o conduzir até onde
queremos que ele esteja. E preciso de uns segundos antes de deslizar sobre
ele. Segundos consideráveis porque estou mais pronta do que imaginei que
estaria.
— Deixa eu sentir — Nathan pede, os olhos pesados e estreitos. — Só
um pouco.
— Você tem preservativo aqui?
— Não — ele nega. — Por favor, Victoria. Só um pouco. Por favor.
Sua súplica me faz jogar a racionalidade de escanteio e, sem mais
pensar, nos encaixo e deslizo lentamente nele. Muito lentamente porque
Nathan tem uma grossura que acho que não dá para acostumar.
— Oh, nossa — solto um gemido e tenho vontade de me agarrar nele,
mas não posso e isso é uma droga. — Minha nossa.
Ele umedece os lábios, baixando os olhos para nossa conexão perfeita
e que logo se torna completa.
— Eu sei — Nathan concorda, sua mão direita estapeando meu
traseiro e apertando-o em seguida. — Cavalga em mim.
O calor aumenta ante o pedido e não hesito ou rebato em obedecer.
Pego apoio nas costas do sofá, cada uma das mãos ao lado de sua cabeça, o
que me dá a excelente oportunidade de me magnetizar com o seu olhar
brilhante e ansioso; então começo a deslizar sobre ele, subindo e descendo
lentamente, o que tira de Nathan uma lufada de ar junto a olhos estreitos, e
de mim uma adaptação imediata a invasão que eu mesma estou
controlando.
Minhas pernas começam a tremer conforme me acostumo com o que
estou recebendo, e me irrito por Jacob ter feito o meu homem perder um
pouco do seu vigor – mesmo que por tempo determinado.
Mas não estou pensando direito quando concluo essas coisas em minha
cabeça, só sei que não posso extravasar a minha vontade tocando Nathan
em nenhuma parte do seu peitoral, o que é uma droga, porque adoro
arranhá-lo.
Ganho um novo tapa no traseiro, e contemplo o sorriso charmoso dele
chegando aos seus lábios. Ele sabe do que é capaz sem precisar de muito.
Minha respiração funda diz em tudo sobre a minha frustração por não
tê-lo dominando esse momento.
— Alguém precisa de uma pegada forte — Nathan comenta e sua mão
sobe ao meu cabelo, puxando um punhado dos fios e me tirando um gemido
desesperado.
— Sim! — quase gaguejo, confirmando que ele está mais que
certo. Mais que certo. — Odeio essas condições — murmuro, a raiva me
fazendo subir e descer mais rapidamente, sem me preocupar com mais
nada. — Preciso de você...
Eu iria completar a frase, preciso de você completamente bem, mas
Nathan me interrompe antes para ter a oportunidade de induzir minha
cabeça em sua direção e me prender em um dos seus beijos.
Meus dedos agarram fortemente o tecido do sofá enquanto sou
bombardeada por sua língua e lábios, suas mãos agora se enchendo com os
meus peitos, me fazendo gemer sofregamente em sua boca.
Estou sendo comandada pelo meu corpo, que vidra no que está
sentindo. Não é por nada, mas Nathan alcança a profundidade perfeita.
Quase me sinto despedaçar inteira, de um jeito magnificamente delirante de
bom.
— Ah, caramba! — ele ruge de repente, me fazendo contorcer até os
dedos dos pés. — Te quero pra mim. Todo dia, Victoria.
Dou um sorriso, rebolando sobre ele um pouco, acompanhando Nathan
balançar a cabeça e fechar os olhos, como se não soubesse o que fazer.
Eu o entendo, também estou desnorteada de prazer. Mas então me
lembro que ele não está apto a cargas de adrenalina que vão roubar sua
respiração e resolvo me adiantar.
Me levanto, seus olhos sendo tomados por pânico. Sorrio para ele e me
ajoelho, separando mais seus joelhos para conseguir me colocar no meio
deles e alcançar meu objetivo.
Nathan me encara de cima com as pálpebras pesadas, minhas mãos
agarrando seu pau para conseguir trazê-lo à minha boca. Me espanto com a
grossura que me obriga a mexer a língua e produzir mais saliva,
principalmente quando Nathan segura em minha cabeça e me incentiva a
engoli-lo mais profundamente.
Tento conduzir minha respiração para que o momento seja agradável
para ambos, mas não demora mais que alguns minutos até seus gemidos se
tornarem mais altos e um gemido ruidoso indica que ele está quase lá.
Trabalho com a boca, tirando-o de dentro um momento para passar a
língua por sua longa extensão e depois os lábios, que se fecham na ponta do
seu pau; não sabendo que era exatamente o que Nathan precisava para
chegar ao ápice com gemidos graves.
Sua mão vem estimulá-lo e ele inunda meus lábios e a altura dos meus
seios com seus jatos grossos, a quentura deles e da ação me deixando
hipnotizada.
Estou alisando suas pernas quando ele termina, dando um sorriso ao
notar que seu short nem foi tirado completamente. Nathan só o abaixou até
metade das coxas. Então o tiro por completo, deixando-o livre da
vestimenta e usando-a para limpar mais ou menos seus vestígios de mim.
— Foi mal — o ouço dizer, me fazendo tirar a atenção da minha tarefa
e olhá-lo. Sorrio, não fazendo caso. — Você é tão linda sentando em mim,
sabia?
Dou risada, descartando seu short para o lado e me erguendo para
voltar ao seu colo. Me acomodo sobre suas pernas e penteio seus cabelos
com os dedos, Nathan me olhando de baixo. Deixo um beijinho em seus
lábios, o que o faz apertar minha cintura com uma mão.
— Obrigado — ele agradece.
— Pelo quê? — o olho nos olhos, me deixando ser hipnotizada mais
um pouco pelo seu olhar.
— Por voltar. Eu te abraçaria bem forte agora, se pudesse, mas não
posso — ele faz um beicinho que me tira outro sorriso. — Também estou
com uma dúvida forte, na real.
— Qual dúvida?
— Você voltou por causa do lance de sentir culpada e querer se
desculpar, pra ver se eu estava bem e me recuperando, ou porque ficou com
saudades que nem eu?
Meu sorriso é instantâneo, principalmente quando vejo Nathan morder
o lábio, em um óbvio sinal de que está ansioso pela resposta.
— Por todos esses motivos — admito. — Se eu isolasse só um desses,
não faria sentido, porque todos se ligam a você — faço uma pausa. —
Estava com muita saudade, por isso fui morar quase em outra cidade.
— Como se isso eliminasse sentimentos — ele murmura em
reprovação. — Desculpa ter dito aquelas coisas que fizeram você ir embora.
Eu só não queria ser deixado de novo sem perceber. Me adiantei antes que...
— Tudo bem — o interrompo. — Você já me explicou o seu ponto. Eu
não faria isso. Não te deixaria sem motivo — acaricio seus ombros e dou
uma olhada em sua blusa, ainda impecável. Me sinto aliviada. — Como está
se sentindo?
— Bem melhor. Muito melhor — o sorriso que se abre em seus lábios
não tem malícia, parece feliz e sincero. — Fico sempre bem com você por
perto.
— Isso me deixa muito feliz.
— Sabe o que me deixaria melhor ainda?
Estreito os olhos, curiosa.
— O quê?
— Que você voltasse a morar comigo.
— Hm, é mesmo? — sorrio, tentando esconder minha empolgação.
Mas não sei se consigo.
— É mesmo — Nathan balança a cabeça afirmativamente. — Um
homem apaixonado precisa da sua amada por perto constantemente.
Minha risada agora é mais alta, o que o faz se sentir ofendido.
— Ei, não é justo rir da minha declaração — ganho uma palmada na
bunda. — Mas é sério, eu quero mesmo que você volte. Sinto sua falta
diariamente, minha saudade diária.
Paro de rir e o olho com ternura. Estou completamente apaixonada
também e não é segredo. Nem para mim mesma, por isso acho bom
confessar em alta voz:
— Uma mulher apaixonada também precisa do seu amado por perto
constantemente.
Nathan assimila minhas palavras, então suas sobrancelhas se erguem,
como se ele tivesse sido tomado por surpresa.
— Você também é apaixonada por mim?
— Só um pouco — finjo desdém.
Ele começa a morder o lábio, o que me tira uma risada.
— É brincadeira sua? — questiona.
— Não — sorrio. — Também estou apaixonada por você.
— Então tudo bem eu perguntar se você quer namorar comigo?
Tenho um momento de choque, meus olhos se arregalando e minha
boca se abrindo mais. Encaro-o enquanto processo o que ouvi, me dando
conta que preciso responder.
E, é claro, nada mais que o óbvio.
— Quero! Quero sim, quero muito — ataco sua boca com um beijo
que desmancha seu sorriso imediato. — Você não perde tempo, senhor
Nathan.
Ele ri, me fazendo olhá-lo novamente.
— Não quero mais perder tempo se achei a mulher ideal pra mim —
admite. — E, se quer saber, só não te peço em casamento pra você não
achar que sou um emocionado precipitado. Mas, se não se opor, vou manter
isso em mente.
Me derreto em seu colo, abalada e cheia de emoção.
— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Nathan — digo.
— Espero que boas — ele sorri. — Você me faz feliz e não vou fingir
que acho isso em qualquer lugar. Se é sorte ou destino da vida, não sei, mas
enquanto você quiser, vou te manter ao meu lado.
— Tomara que seja por muitooo tempo!
— E os anjos digam amém — ele pisca para mim, me derretendo mais
um pouco.
Se é sorte ou destino, só sei que eu não poderia estar mais feliz. Estou
apaixonada por alguém que também sente mesmo. Um homem mais jovem
que eu, sim, mas que tem mais maturidade e é mais homem em sua postura
que todos os que já passaram pela minha vida.
Então, seja o que for que me trouxe aqui, só posso me sentir grata. E
feliz!
Indescritivelmente feliz.
EPÍLOGO

Noite de Natal

Achei que Nathan só chamaria Douglas para festejar a noite em sua


casa. Mas, engano meu, todos os seus amigos estão aqui, incluindo Tina e
seu marido. Ela é a que mais está se divertindo, empolgada com o bebê de
Ryan nos braços.
Samuel e sua noiva estão sentados no sofá do outro lado, e, a tomar
pela expressão de Vanessa, ela está um pouco alarmada com a quantidade
de vezes que o bebê chorou e Tina conseguiu habilidosamente acalmá-lo.
Observo tudo isso enquanto apoiada no batente da sala de entrada, que
mostra uma visão nítida de todo movimento da casa.
— O que foi? — a voz de Nathan chegando ao meu ouvido de repente,
me arrepia inteira, e seu braço circundando minha cintura não ajuda na
minha tarefa de resistir a me aconchegar no seu peito. — Já está querendo
um?
— Querendo um o quê?
— Bebê.
Dou risada, sendo tomada por nervosismo.
— Não — nego imediatamente. Não estou descartando a possibilidade
de ter um filho, principalmente com Nathan, mas acho que vou esperar mais
uns dois anos, pelo menos. — Só estou observando o quanto a Vanessa
parece chocada com o tanto de vezes que o mini Ryan já chorou.
Meu namorado ri e eu me viro para ele. Derreto imediatamente ao vê-
lo sorridente. Ele parece estar realmente feliz, com a sua casa cheia de
pessoas que ama enquanto celebra sua época favorita do ano. Meu coração
se enche de felicidade.
— O que foi? — ele questiona quando fico olhando-o por um
momento. Estou muito apaixonada e isso é tão óbvio, e cresce a cada dia,
que quase me sinto sentimental demais com a sensação de que meu coração
vai explodir.
— Nada, só estou pensando na reviravolta que nossas vidas tiveram.
Seu semblante se altera um pouco, passando de sorridente para
pensativo.
— Eu sei — concorda, a voz mais baixa. — Passamos por uns
espinhos até tudo entrar nos eixos.
Olho na direção do seu peito escondido por baixo da camisa social
cinza claro, me lembrando que sua recuperação está indo muito bem. Não
preciso me preocupar. Nathan está permitindo que eu cuide dele mais uns
dias, pelo menos até o próximo mês, e não está reclamando por isso.
— Muitos espinhos — concordo também, voltando meus olhos aos
seus. — Que bom que você está bem e podendo aproveitar a noite.
Ele volta a sorrir.
— Gosto disso — afirma. — Gosto de ter todo mundo aqui, na minha
casa, nessa noite. Principalmente você — ele sorri, mas de repente sua
expressão se altera, em um murchar nítido. Seu olhar desvia, focando
nenhum lugar em especial. — Se eu disser que ainda não me acostumei
com a morte do meu pai, vou parecer muito trouxa?
Eu o encaro depois de deixar os ombros caírem, então levo uma mão
para acariciar seu rosto recém barbeado.
— Nem um pouco — respondo, em uma tentativa de tranquilizá-lo. —
É o seu pai e você pode sentir falta dele pelo tempo que seu coração desejar.
E se isso for durante toda a sua vida, também não há problema. Nenhum
problema.
Nathan volta a me olhar, me analisando uns segundos.
— Obrigado por isso — fala baixinho, quase envergonhado. Ele tem
vergonha dos sentimentos verdadeiros pelo pai, mas disso eu já sabia. —
Ainda tenho também um caminho até processar que meu pai não era meu
inimigo, apesar de também não ter sido um amigo.
Seguro sua mão nas minhas e ofereço um sorriso de orgulho.
— É um ótimo começo, meu amor.
Nathan inclina a cabeça para o lado e estreita os olhos, entendendo o
que acabou de ouvir.
— Você me chamou de "seu" amor? — questiona.
— Chamei — escondo um sorriso, que sem dúvidas precede uma
risada por conta do jeito que ele me olha. — Você se incomoda?
— Não — sua resposta é imediata, seus olhos alarmados. — De jeito
nenhum — ele sorri. — Eu gostei de ouvir. Nunca ninguém me chamou
assim — sua voz vai sumindo até Nathan chegar ao final da frase.
— Então eu vou chamar, porque sou sua namorada e é isso que
namoradas fazem: demonstram todo o carinho que sentem em palavras ou
gestos.
O sorriso dele se alonga e Nathan fica todo tímido, até sermos
interrompidos do nosso momento afetuoso.
— Não é o que sei que as namoradas por aí afora andam fazendo —
Douglas chega dizendo, deixando claro que deve ter ouvido bastante.
Ele está impecável em uma roupa simples, camisa e bermuda,
combinando com os sapatos, mas que mesmo assim o deixa maravilhoso.
— O que isso quer dizer? — pergunto.
— Ah, você sabe — murmura. — As mulheres tem muito isso de
"meu amor" — ele olha para o Nathan, bufando em deboche —, mas na
primeira oportunidade estão se interessando por outro mesmo estando com
você. Logo te descartam, como se seus sentimentos e você, e seu esforço —
enfatiza, estupefato — não fossem nada!
— Alguém machucou seu coração? — indago, com cuidado.
Ele ri, me olhando como se eu tivesse dito um absurdo.
— É claro que não!
— Foi a amiga da Lucy — Nathan informa, mas recebe um olhar
cortante, o que não o impede de continuar: — O Douglas investiu um bom
tempo tentando se desculpar, se apaixonou e depois foi trocado por um cara
que apareceu depois.
Eu adoraria saber toda a história em detalhes, mas a tomar pelo jeito
que Douglas encara o meu namorado, como se qualquer palavra a mais
fosse ser um grande erro, prefiro amenizar a conversa.
— Não se preocupe, Douglas — pego sua atenção para mim. Ele não
tem o olhar mais amistoso agora. — Você vai encontrar alguém que te
corresponda.
Ele ri, discordando no som.
— Eu tô na pista. Não quero outro alguém — deixa claro. — Mas,
desejo felicidades pra vocês e, pra você — ele acena com a cabeça em
minha direção —, boa sorte. Nathan às vezes é um pouco difícil.
Eu olho meu namorado, que balança a cabeça em óbvia discordância.
— Obrigada, Douglas — sorrio.
— Às ordens — ele pisca para mim e olha Nathan, fazendo um sinal
com os dedos em direção a ele, como se dissesse "estou de olho", e somos
deixados a sós de novo.
— Desculpa o mau jeito do meu amigo — meu namorado lamenta. —
Ele deve estar se sentindo péssimo porque todo mundo tem alguém na festa,
menos ele.
Nathan ri da própria conclusão, mas eu não. Fico triste pelo Douglas.
Além do ego ferido, brincaram com o seu coração.
— Que pena que essa garota fez isso com ele — comento. — Ele
parece ser um cara legal.
— Parece agora, mas não era antes. Longa história, que não tenho a
intenção de te contar no momento porque está quase na hora da ceia,
meu amorzinho.
O sorriso tão entusiasmado dele ao enfatizar o apelido me deixa toda
boba.
— Talvez o Ryan escreva uma história sobre nós e sobre o Douglas —
Nathan emenda, o que me faz erguer as sobrancelhas.
— Ele faria isso?
— Por que não? — ele sorri. — Nós temos uma boa história pra ele.
Do jeito que o Ryan gosta de escrever: sofrimento, confusão, separação e,
enfim, união.
Dou risada.
— Tudo que um escritor de romance penoso precisa.
— Mulher esperta — sua mão vem acariciar meu queixo e de repente
ele para, me encarando de um jeito diferente.
— O que foi? — limpo a bochecha por reflexo.
— É noite Natal e você está comigo.
— Sim — afirmo, sorridente. — Estou.
Ele sorri também, assentindo com um menear de cabeça, então seus
olhos brilham, me dizendo promessas e palavras que sua boca nunca
conseguiria expressar.
E sua voz soa, baixa, me fazendo dar um passo em sua direção, nos
aproximando ao limite para que eu possa ouvir melhor.
— Não entendi — lamento.
Ele sorri, divertido e todo charmoso.
— Eu disse que... — seu braço circunda minha cintura e Nathan me
puxa contra si de tal maneira que me bato em seu peito. Meus olhos se
arregalam e meu desespero é instantâneo. Tento me esquivar, alarmada, mas
ele apenas ri e completa: — Te amo.
Ainda em choque pelo medo de poder tê-lo machucado, fico olhando-
o, duas vezes impactada.
— Acho que é essa a hora que você diz algo como "eu também" —
Nathan emenda, dando risada.
Mas já estou balançando a cabeça positivamente antes de tudo,
afirmando e deixando claro que, sim:
— Eu também te amo!
Ele ri mais um pouco e abre os braços, me chamando para um abraço
que eu não recuso.
— Você é meu presente da vida — Nathan sussurra, me apertando um
pouco. — É claro que só o que posso fazer é te amar.
Me derreto inteira.
— Obrigada — digo. — Não por dizer que me ama, mas por tudo que
já fez por mim. Você me ajudou quando nem eu percebi que precisava de
ajuda.
— Não por isso — seus dedos fazem uma carícia no meu ombro. —
Era o meu dever, já estava escrito na nossa história.
Eu sorrio em seu ombro, tomada por sentimentos avassaladores.
Porque a vida nos uniu e o nosso destino não teria como ser outro, que
não juntos. Afinal, estava escrito na nossa história.
Amores,
Quem puder ajudar a titia deixando uma avaliação ou um
comentário na Amazon, vai me encher de felicidade!

Obrigada, meus amores


Por tudo! <3
Até a próxima ;*
Mais...

Booktrailer Os Armstronger

Booktrailer Os Mackenzies

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