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Nathalia
Marvin
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados. Os personagens e eventos retratados
neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou
falecidas, é coincidência e não é intencional por parte da autora. Nenhuma
parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de
recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a
permissão expressa por escrito da autora.
Série Os Mackenzies:
Amor em Atração
Amor em Redenção
Amor em Obsessão
Amor em Opção
Amor em Omissão
Amor em Negação
Amor em Ilusão
Amor em Impulsão
Amor em Possessão
Amor em Intenção
Amor em Pretensão
Amor em Obstinação
Amor em Depressão
Amor em Presunção
Amor em Ambição
Amor em Solidão
Amor em Exceção
Amor em Emoção
Série Armstronger:
Submissão sob Amor
Coração sob Amor
Rendição sob Amor
Perseguição sob Amor
Livro único:
Falhas de Amor
Série Os Irreverentes:
À Prova do Amor
À Sombra do Amor
À Espera do Amor
À Deriva do Amor
Às Escuras do Amor
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
EPÍLOGO
Prólogo
Nathan
É a gota d'água. Não acredito que tenha caído mais essa pra cima de
mim. Meu pai é bem velho, ok; sua quase morte não é uma surpresa, ok
também, ele pode morrer a qualquer momento - meio que já tá todo mundo
preparado e conformado; MAS, ter me chamado pra um último pedido?
Essa não.
Achei o cúmulo. Vai lá, você é o único filho que ele tem, seja o melhor
em seus momentos finais de vida, me disseram. Sua enfermeira, pra ser
exato. A bondosa e paciente mulher que tem cuidado do velho nesses
últimos três anos. Vão me dizer, ela é profissional, é paga pra isso. É, paga
pra isso, mas tem um monte de profissionais que batem nos velhinhos que
são pagos pra cuidar.
Retornando ao xis da confusão toda, é que eu fui lá. Tomei fôlego há
alguns minutos e entrei no quarto do meu pai. Ele estava lá, deitado naquela
cama enorme, parecendo evidentemente doente, com os olhos pesados,
entreabertos, sem conseguir força nem pra mantê-los totalmente
abertos. Ok. Me sentei na beirada da sua cama, ele tentou sorrir, o que foi
uma cena estranha e arrepiante. Não senti pena, senti arrepio. Mas fui, me
solicitei a ser um bom filho pelos seus últimos momentos como me
aconselharam.
— Oi, pai — eu disse, meio no automático. Não é como se eu
considerasse a palavra "pai" muito simbólica. É quase como chamar uma
senhora de "senhora". É automático. — Queria me ver?
Ele deu um pequeno suspiro que o fez tossir esganiçado e novamente
arrepiante, até dei uma olhada na porta pra gritar a Tina, sua enfermeira,
caso fosse preciso; mas o velho se recuperou e tentou dar uma risada. Sem
comentários para a tentativa. Me senti em Jogos Mortais 3, um dos filmes
que Lucy, a esposa do meu amigo escritor, nos obrigou a ver certa vez.
— Você é um bom filho, Nathan — foram as primeiras palavras do
velho, o que não me surpreendeu. Se formos fazer uma lista do que é ser
bom filho hoje em dia, eu sou mesmo. Não matei ninguém, nunca fui preso,
nunca bati em uma mulher, nunca me droguei, nunca fui do tipo rebelde que
cria caos porque o pai é rico, nem sou vingativo também; só bebo às vezes
um pouco demais, e morei com uns amigos perturbados quando era mais
novo. Mas isso nem me fez um mau filho. Além do que, não dei desculpas
para o meu ok com relação a assumir o lugar do velho depois que ele bater
as botas.
— Obrigado — eu respondi, acreditando que aquelas foram palavras
de um homem que sabia de sua hora iminente. O sino ia tocar anunciando
sua vez na fila dos mortos a qualquer momento. Então, tornei a perguntar:
— Pediu pra me ver?
A resposta demorou a vir. Ele ficou em silêncio e parado por quase
muito tempo. Tanto tempo que pensei, por um segundo, que tinha
morrido. Arrepiante de novo. Mas ele falou.
— Eu sempre quis netos — disse, quase me fazendo rir. Mas me
controlei. — Sempre quis que você fosse feliz, da forma que não fui.
Conversa! Momentos finais tem dessas. O velho tinha uma modelo por
mês ao seu lado, sempre aparecia isso nas revistas e no instagram; só me
fala: como ele não foi feliz?
— Meu último desejo de vida — ele continuou — é ver você casado.
Eu gostaria mais que tudo de ver você feliz com uma boa mulher ao seu
lado. Não quero morrer sabendo que meu casamento frustrado com a sua
mãe possa ter bagunçado você. Nathan, você é um bom filho - ele repetiu.
— Eu quero te ver feliz e, te digo, pela minha experiência, ter um milhão de
mulheres não é todo o sentido do amor.
Ele demorou quase meia hora para dizer tudo e, quando disse, foi só
pra me fazer ficar mais puto. Sério mesmo que esse era o pedido dele?
Achei que a função dos pais era mostrar sabedoria e o meu pai vem com
uma dessas? Me ver casado antes de morrer pra ter certeza que o casamento
dele com minha mãe não me bagunçou?
Puta que pariu. Eu não sou bagunçado. Sou um bom filho, ele mesmo
disse. E, por favor, cara, tenho 25 anos. Quem se casa aos 25 anos? Isso é o
início da vida.
Mas foi o último pedido dele, Tina disse quando contei a ela o que meu
pai realmente queria. Talvez não dê tempo de ele te pedir mais nada. Eu
espero mesmo que não. Finja que casou, querido. Tire umas fotos com
alguma modelo, traga para ele ver. Demonstre que se importa com o último
desejo de vida dele.
Meu arfar não foi só decepção, foi também impaciência. Que modelo
ia se sentir bem colaborando comigo pra enganar um moribundo em seus
momentos finais de vida? Acho que nenhuma. Ninguém é tão cruel nem
profissionalmente.
Mas aqui estou, no meu escritório, navegando pela internet pra tentar
achar alguém que possa cooperar com isso porque de jeito nenhum vou
chamar alguma mulher que conheço. Elas confundiriam a porra toda. Iam
achar que era indireta, que eu estava a fim de pedi-las em casamento e
armei uma "brincadeira". Não entendo a cabeça das mulheres, ninguém
entende, nem elas; mas posso apostar que isso aconteceria.
Então, quando estou quase por muito tempo navegando à procura, meu
celular apita em notificação.
Pego pra ver, abrindo as mensagens do meu amigo Samuel. Ele me
xinga em cumprimento e pergunta se esqueci que hoje é o dia de ele
escolher o terno do casamento.
É, esqueci mesmo.
Deixo o notebook com minha busca de lado e me levanto pra ir
encontrar meu amigo muito apaixonado, que manda uma foto com os
nossos outros amigos, todos me apontando o dedo do meio.
Dou um sorriso. Dois de nós já se ferraram nessa onda de amor; a
minha vez eu passo com louvor. Prefiro fingir.
É melhor enganar meu pai com uma falsa noiva que me ver preso pra
sempre, para sempre, ao lado de alguém.
Tô fora.
Capítulo 1
Victoria
Nathan
Victoria
Nathan
Victoria
Nathan
Victoria
Nathan
Victoria vem até mim e percebo a indecisão tanto nos passos hesitantes
como em seu olhar. Mas, falando muito sério, minha casa é a melhor opção
pra ela nesse momento. Aqui ela vai poder se sentir segura, coisa que não
conseguiria morando sozinha e com um ex inconformado atrás dela.
— Você pode colocar suas roupas nos armários — gesticulo em
direção a eles quando entro no quarto. — Depois do jantar eu pego suas
malas no carro e trago pra cá. Quando você vai devolver a chave mesmo?
— Na quinta — ela esfrega as mãos por cima da calça, inquieta.
Parada no batente da porta, os olhos expressivos enquanto observa o quarto,
só posso pensar em uma maneira pra tentar deixa-la mais relaxada. A minha
maneira, a melhor maneira. — Você vai querer que eu pague quanto para
ficar esses dias aqui na sua casa?
— Que você pague? — dou risada, apontando a porta do banheiro. —
Ali fica o banheiro. Você pode tomar banho enquanto eu faço o mesmo no
meu quarto e, não, isso não foi um convite. A menos que você queira que
seja.
Victoria desvia o olhar, voltando a reparar no quarto.
— Não vou querer que você me pague nada — respondo sua pergunta.
— Me ajudar no lance de fingir ser minha namorada que me faz feliz já é
suficiente. Eu teria que perder umas horas e ter todo um trabalho se tivesse
que encontrar alguém pra contratar. Sem falar que ficaria muito na cara que
seria fingimento.
Ficaria mesmo. Me chama pra foder, mas não me chama para qualquer
coisa que implique em romance. Eu não sou muito ligado nisso. Nem um
pouco, sendo bem honesto.
Quanto mais se fosse uma mulher contratada que dependesse do meu
romance na coisa de encenar para o meu pai quase morto. Sem essa,
definitivamente.
Encontrar Victoria foi como se o destino tivesse agido a meu favor. Ela
é a minha moeda da sorte na fonte dos desejos. O meu achado. A voz da
experiência no lance de relacionamento a dois. Vai ser minha guru na coisa
toda. Não vou nem ter trabalho nenhum.
— Mas nós também vamos fingir — ela rebate com um sorriso
preguiçoso.
— É diferente. Nós temos alguma intimidade. Eu não teria isso com
uma contratada. Pô — dou um riso —, eu falei com o seu ex, te contei tudo
de mim. É mais que intimidade, é o suficiente.
Ela morde o lábio, acenando com a cabeça em concordância, mas
meus olhos ficam vidrados na ação, quase me fazendo sentir um idiota.
Esses lábios devem ser deliciosos de beijar e pra passar o p...
— Se você diz, tudo bem — ela concorda.
— Não tem toque de recolher aqui, beleza? — me movo para voltar ao
corredor e ir atrás de um banho gelado. Acaba que nos esbarramos quando
vou passar pela porta e aproveito para completar: — Você pode chegar a
hora que quiser.
— Eu durmo cedo porque trabalho e tenho que acordar às cinco — ela
esclarece. — Só folgo aos fins de semana, exceto quando tem desfile em
outro país e preciso ir fotografar, mas isso só acontece poucas vezes. Duas
no ano, no máximo.
— Também não precisa me dar satisfação, como tá fazendo agora —
dou um sorriso rápido. — Morar comigo é como se estivesse morando
sozinha, como eu disse. Só te peço pra não desfilar por aí de calcinha e sutiã
porque também não sou de ferro.
Victoria dá uma risada à vontade, me fazendo franzir as sobrancelhas.
— E por que eu faria uma coisa dessas? — quer saber.
— Você até pode fazer, mas tem que se preparar para as
consequências.
Ela continua rindo.
— Certo, mas por que eu faria isso?
— Não acho que faria, eu só queria que você fizesse.
A expressão risonha deixa seu rosto no mesmo instante, Victoria
engolindo em seco. Peguei pesado, fui muito honesto?
Devo ter sido. Mas as mulheres que conheço gostam quando vou
direto ao ponto. Mas essa aqui eu não conheço, então...
— Foi mal — prefiro me retratar. — Tô brincando. Não leva a sério
algumas coisas que digo. Você sabe como é, acabam escapando da boca.
Ela ri. Um riso um pouco atravessado, como se não tivesse muita
certeza se quer deixa-lo fluir.
— Acho que minha idade interfere em eu entender sua piada também
— murmura.
— Acho que você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer —
afirmo. — Bom, fica à vontade. Vou trazer suas malas antes de ir para o
banho. Não quero que você saia do banheiro também e fique pelada.
Dou um sorriso antes de descer as escadas, mas só porque eu estou
nervoso para um caralho.
Que merda estou prestes a fazer? Enganar meu pai, beleza. Essa parte
é moleza. Mas isso não é tudo, é? Não, não é. Essa mulher vai morar aqui
comigo até tudo se resolver. Eu trouxe uma estranha para dentro da minha
casa, cara.
O que meus amigos diriam? Que eu sou louco; é, mas todos nós quatro
somos. Seria mais a cara deles jogar a culpa na quase morte do meu pai.
Certeza que diriam que isso está me afetando em pensar racionalmente.
O que pode ser também, mas, além disso, tem o meu instinto que foi
impulsionado. A ajudar Victoria que, aparentemente, assim como eu, não
tem alguém consigo.
Tem família? Tem. Mas só por nome. Só porque é o mesmo sangue
correndo nas veias. Parece que agora, precisando de ajuda, ninguém é
visível para ela. Ninguém é confiável suficiente para abraçá-la nessa.
E disso eu consigo entender. Os de fora são mais família que os do
próprio círculo "familiar". Foda ter que se deparar com isso em outro
alguém e cruzar os braços, ou fazer vista grossa, eu não consigo. Não
consegui.
Então provavelmente eu tô louco sim, afetado, ou seja o que for, mas
vou ajudar porque isso está no meu alcance.
— Nathan?
Eu me viro quase ao alcance da porta para encontrar Victoria, lá no pé
da escada.
— Que houve? — quero saber.
— Aquele quarto... — ela se apoia no corrimão. — Os galhos de
árvore perto da janela fazem um barulho estranho encostando nela. Parece
de alguém querendo abrir o vidro e... Entrar. Posso mudar a escolha do
quarto?
Dou um sorriso.
— Claro que pode — assinto. — Comigo você pode tudo.
Capítulo 9
Victoria
Acho que o mais sensato a fazer seria me virar e voltar lá para cima,
me acomodar no outro quarto e esperar que Nathan leve minhas malas,
como se ofereceu para fazer. Mas, de alguma forma, eu não consigo me
mover de onde estou. Algo nele, ou na situação em que me encontro, me faz
ficar parada no primeiro degrau, encarando-o.
Sua seminudez não ajuda muito também. Ele não devia ficar tão logo
exibindo seu corpo bem cuidado, bem malhado, tão delineado em
músculos. Eu ser mais velha que ele não me impede de ver, e estou vendo.
Vendo o suficiente para dizer que Nathan é uma tentação. Uma tentação
inalcançável para mim. Mas que não deixa de ser uma tentação.
Não que eu o queira, porque não quero. Não tanto, não
desesperadamente. Mas...
— Mais alguma coisa? — ele quer saber e lambo os lábios.
Essa voz dele, baixa assim, faria um estrago em mim com a maior
facilidade ao menor dos toques. Quanto mais depois das suas brincadeiras
inteiramente propositais lá em cima.
E digo, foi uma tortura. Para mim, que a qualquer indício de calor, eu
já me sinto pegar fogo. Vergonhoso, talvez, mas isso não é algo que está no
meu controle. Meu corpo tem feito isso sozinho – para o meu azar.
— Você deve estar querendo rir de mim — escolho responder para
Nathan, em uma tentativa de mudar de conversa. — Uma mulher adulta
com medo de um galho batendo na janela.
— Não quero rir de você — ele discorda, ficando sério. — Com isso
do seu ex te ameaçando, é o normal que você esteja mesmo com medo.
Mordo o lábio enquanto minha vista foca o chão.
Que tremendo azar meu caminho ter se cruzado com o de Jacob.
Talvez esse momento, tendo aceitado vir para a casa de Nathan, vulgo um
completo estranho, esteja sendo outro azar do qual vou me arrepender
depois.
Mas que mais alternativas eu tinha? Ficar desviando do Jacob sozinha
é cansativo e angustiante. Ao menos, com uma pessoa a par da situação e
que em nenhum momento me condenou, eu me sinto mais leve, calma e
receosa.
E é só por um tempo. Não tenho a intenção de ficar aqui a vida toda.
Só até tudo se resolver. Como Nathan disse, até seu pai morrer firmado na
ideia de que seu filho encontrou alguém e até que meu ex-namorado
entenda e supere que não estou mais sozinha e que não vamos ficar juntos
novamente. Então vou poder procurar outra casa e viver a minha vida,
como sempre foi.
— Pois é — digo. — Uma situação infeliz. Jacob foi uma pedra de
tropeço no meio do meu caminho — solto um suspiro que dedura o quanto
estou fatigada.
— Ah, tudo bem — Nathan releva. — Meu pai também sempre foi
uma pedrona no meu caminho — dá um sorriso, que eu tento não reparar o
quanto é sensual. Tudo nesse cara é sensual, infelizmente para minha mente.
— Se você quiser, pode me esperar ali no sofá — ele aponta. — Posso te
ajudar a relaxar dessa tensão toda aí que tá sentindo.
Eu entendo a mensagem imediatamente, é claro, e sou tentada a
recusar.
O que não quero, honestamente. Tudo que eu preciso agora, e como
preciso, é não pensar no que está acontecendo na minha vida nesse
momento. E, para a minha infelicidade, não tem algo que eu não pense a
não ser nisso.
Minha cabeça passa quase o tempo todo voltada para e se Jacob me
achar , o restante do tempo sendo voltado para as possíveis respostas.
— Tudo bem — acabo dizendo e desço o último degrau, desfazendo o
contato visual com Nathan e seguindo sozinha até um dos sofás cinza
musgo, onde me sento.
Demoro a ouvir o barulho da porta se abrindo indicando que ele saiu, o
que quase me faz olhar para trás, mas prefiro focar na TV à frente, ainda
desligada, que não parece nada interessante se comparado ao que acabei de
concordar.
A sala de Nathan é muito charmosa, aconchegante como um cômodo
planejado à parte. A árvore de Natal ao canto esquerdo deixa tudo mais
íntimo... Não de um jeito cru da palavra, mas como se fosse um ar familiar,
quase romântico. E é curioso, porque ao mesmo tempo que Nathan parece
ser tão transparente, com todas as suas explicações no ar para quem quiser
ver, ainda assim é como se soasse um mistério e eu não conseguisse
entender tudo que está à mostra.
Um barulho oco chama minha atenção e olho para trás, vendo-o
colocar duas de minhas malas no chão, a terceira caindo no processo por
como foi acomodada embaixo do seu braço.
— Ih, foi mal — ele se inclina para ajeitá-la ao mesmo tempo que
chuta a porta para se fechar. — Tinha alguma coisa de valor aqui?
— Não, só roupas mesmo — respondo, sem querer observando seu
abdome quando ele volta a se erguer.
Respiro fundo e volto a me virar. Isso não parece certo. Eu devia ser a
mais responsável em uma situação dessas, mas não. Estou me deixando
levar pelos meus impulsos que estão desenfreados desde que coloquei meus
olhos nesse homem.
Ouço os passos se aproximando, meu se corpo arrepiando por isso e
Nathan logo aparece à minha vista, o mesmo sorriso sensual estampado na
boca.
— O que foi? — pergunta. — Tá nervosa?
Expiro, encarando-o. Neste momento, ele parece ter uns três metros de
altura e o calor que está emanando para mim, nem o mais potente ventilador
conseguiria abrandar. E sim, eu estou nervosa. Que ironia.
— Não — respondo e pigarreio para ajeitar minha voz que saiu um fio.
— Não estou nervosa.
— Hm, bom que não — ele se inclina, tão rápido e ao mesmo tempo
parecendo tão lento, suas mãos se colocando nas costas do sofá, uma a cada
lado da minha cabeça, a boca de Nathan vindo para perto do meu ouvido,
fazendo meu arrepio bater no teto e talvez até ultrapassá-lo. — Porque se
estivesse, teríamos um problema.
Fecho os olhos um segundo, imergindo na sensação da sua voz
profunda, mas logo os abro de novo para conseguir concentração a fim de
responder:
— Não teríamos — rebato, ainda em uma luta interna sobre se isso é
certo. Acho que só o fato de eu estar me sentindo errada mostra que não é
certo. — Acho que também não devíamos fa... — minhas palavras morrem.
Morrem no meio porque Nathan se ajoelha à minha frente. Simples
assim, vapti-vupti, sem camisa, exalando calor, suas mãos grandes e
determinadas logo pousando em minhas coxas para, em seguida, separá-las.
Minha boca aberta não chama sua atenção, porque ele nem me olha.
Seu rosto está concentrado em sua ação de procurar o zíper da minha calça
e abri-lo juntamente com o botão.
— Talvez não devêssemos... — eu seguro suas mãos quando ele faz
menção de arrastá-la por minhas pernas.
Seu olhar brilhante e escuro encontra o meu e se estreita, me tirando
um gemido longo.
Meu Deus, por que tão lindo e ideal?
Engulo em seco, atordoada.
— Por que não? — Nathan quer saber.
— Porque parece ser errado — respondo, suas mãos se desvencilhando
suavemente das minhas para repousar em meus joelhos.
— Errado? — ele repete, me avaliando.
— Sim — confirmo, minha voz um fio, mas que rapidamente some de
vez quando Nathan se aproxima do meu rosto, nossas bocas na mesma
altura e nossos olhares igualmente alinhados.
Tortura e tortura para quem está tentando lutar.
— Errado — ele repete, seu hálito quente me tirando outro gemido,
que desta vez o faz sorrir. — Sabe o que é errado, Victoria?
— Você querer... — reformulo depressa. — Nós estarmos querendo
isso.
— Não, não — ele nega. — Errado é você estar vestida enquanto eu
estou louco pra te deixar trêmula de prazer — seu rosto se aproxima mais e
acompanhar essa aproximação me deixa mais sensível de uma maneira que
não me lembro a última vez que estive. — Minha boca querer passear pelo
seu corpo, te fazer gozar e gritar, espernear e suar de prazer, tudo e mais, e
você diz pra mim que isso é errado, Victoria? Tá de sacanagem, né?
Estou realmente buscando fôlego para responder, mas Nathan puxando
minha calça enquanto estou distraída me faz desistir.
— Deixa de pensar demais — ele pede. — Somos só você e eu.
Esquece o que está fora dessa casa.
Quero dizer que não estou me referindo a Jacob, que é o que ele deve
estar pensando para ter dito isso, e sim em como parece ser errado porque
eu sou quase cinco anos mais velha; mas não tenho tempo para deixar a
minha força de vontade imperar quando sinto o vento do cômodo batendo
em minhas pernas nuas.
E de repente me vejo de calcinha e blusa na frente de Nathan,
contemplando seu sorriso de quem se sente vitorioso.
Ele me olha e acho que quer dizer alguma coisa, mas não, não diz
porque sua boca encosta na minha e ele me beija.
Capítulo 10
Victoria
Victoria
Nathan
Victoria
Nathan
Nathan
Victoria
Nathan
Victoria
Victoria
Victoria
Victoria
Nathan remexe algumas sacolas de mercado que estão sobre a ilha. Ele
parece mal-humorado. Seu rosto está sério e as sobrancelhas franzidas
formando um enrugado leve entre elas. Seus lábios estão fechados,
obviamente deixando claro que sua emoção no momento não é de quem
quer conversar.
— Você parece tenso — digo mesmo assim, sentada no banquinho da
ilha, onde me coloquei e ele sequer deve ter notado.
— Pareço? — rebate depois de um tempo, notoriamente irônico. —
Que engraçado.
Sua mão esquerda captura uma bandeja de frango da sacola e a direita
se apossa da embalagem de macarrão de yakisoba. Observo-o levar os itens
até as bancadas detrás dele e, assim, se colocar de costas para mim, me
deixando somente com essa visão.
Nada de olho no olho, como é o comum dele. Saudades, inclusive. Ou
até mesmo sorrisinhos com piadas ou zoação. Nada disso. Só um Nathan
tenso e ironicamente ranzinza.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto.
O barulho do saco de macarrão sendo aberto o impede de me dar uma
resposta, os passos que se seguem o levando à geladeira também e, quando
retorna para a bancada, Nathan me dá a única resposta que eu não esperaria
receber:
— Você se encantou por ele.
— O quê? — franzo o cenho, parcialmente alheada, mas sabendo que,
com certeza, ele está falando de algo relacionado ao que aconteceu hoje.
— Pelo meu pai — Nathan se vira para me fulminar diretamente com
o olhar. — Você se encantou por ele, pelo estado dele e o jeito — sua
cabeça balança negativamente e seu semblante demonstra mágoa. —
Depois de tudo que te contei... Você ainda acha que exagerei? Só por ele
estar morrendo?
Demoro a considerar as palavras enquanto o encaro.
— Nathan, eu não...
— Você sim — ele me interrompe, dando os passos que o reaproxima
da ilha, me fitando do outro lado com decepção. — Você ficou com aquela
expressão que as pessoas ficam quando nos veem juntos. Coitado do idoso
e ainda tem um filho desses. Mas ele não tem nada de coitado, Victoria, eu
te garanto isso. E também não estou sendo uma pessoa ruim pelo que fiz.
Ergo as sobrancelhas, impressionada. Nada disso sequer passou pela
minha cabeça e é exatamente o que digo:
— Talvez você esteja sendo um pouco paranoico, porque eu sequer
pensei em qualquer coisa dessas.
— Eu não sou paranoico! — ele grunhe.
— Então por que está se comportando como uma criança birrenta? —
me irrito. — Você é um homem, um adulto, faça jus a tal.
Nathan bufa, me fazendo balançar a cabeça negativamente. Ele só
pode estar brincando.
— Você está frustrado ou ainda não aprendeu a lidar com o fato de que
seu pai breve vai partir — eu afirmo e ele abre a boca para me interromper,
mas ergo a mão em sinal de que ainda não terminei. — Não quero saber de
você rebatendo. Sua boca pode dizer que não liga, que tanto faz, mas não é
o que seu coração sente. Você não sente assim. Para de fingir que não se
importa. Seu nível de se importar com tudo é tanto que você colocou uma
estranha dentro da sua casa apenas porque achou que ela estava em perigo.
— Eu não fiz por você apenas e sim porque ia precisar de você.
— Pode falar o que quiser — me levanto. — Sei que não é a verdade
sincera. Devia parar com esse comportamento infantil. Se afligir pela morte
do próprio pai não é um pecado, não é um erro, não te faz ser idiota,
Nathan. Entende isso.
Saio da cozinha, meio farta do dia. É do dia, dos últimos
acontecimentos, da situação em que me encontro... É tanta merda que eu só
quero gritar. Ser rica também serviria. Mas não sou, então, paciência.
Estou chegando à escada quando ouço as passadas pesadas se
aproximarem. Reviro os olhos de antecipação e me viro para dar de cara
com Nathan chegando quase em cima de mim.
— Você não pode falar o que pensa e me dar as costas — ele grunhe.
— Não falei o que penso, falei o que é, o que de fato está acontecendo
— rebato, me segurando no corrimão para olhá-lo frente a frente. — Você
que está se negando a ver o que está diante dos seus olhos e — suspiro
fortemente — me diz, qual é o problema tão absurdo assim que você vê em
admitir que a morte do seu pai te entristece? Ninguém vai te julgar por isso,
Nathan.
Ele fica me encarando, em silêncio, olho no olho, e no embalo da ação
também me estremecendo.
— Não me importo com a opinião das pessoas, não ligo para o que
dizem ou vão dizer — declara.
— Ah, que bom.
— Engole o sarcasmo, Victoria — ele se aproxima para me olhar mais
de perto, demorando uns segundos antes de completar: — Eu não deveria
me importar, e essa é a questão.
E chegamos ao xis de tudo. Não acredito que esse histerismo é por se
culpar em sentir pela morte do pai. Sinceramente...
Minha lufada de ar é inevitável.
— Pelo amor de Deus — faço uma careta —, se poupe, Nathan.
Ele franze o rosto e balança a cabeça.
— Me poupar? — questiona. — Me poupar? E por que diabos você tá
irritada?
— É! Se poupar dessa criancice de "ai, eu não devo me importar se
meu pai vai morrer, buá buá, tenho que ser malvado" — resmungo. — E
não estou irritada, só de saco de cheio.
Ele expira fortemente, segurando meu braço antes de dizer:
— Que coincidência — sua cabeça inclina para frente, a bochecha
raspando na minha como um gesto rápido, mas que é capaz de amolecer
minhas pernas — porque eu também estou de saco cheio.
Abro a boca para perguntar o motivo da sua outra histeria, mas Nathan
me impede ao me virar contra o corrimão e me deixar de costas para si.
Seu corpo todo ocupa o meu por trás e sinto sua mão puxando meu
babydoll para cima.
Abro a boca para capturar ar, entendendo que ele não quis usar uma
expressão. Estar de saco cheio foi literal.
— Não é assim que as pessoas conversam para extravasar as emoções
— deixo claro.
— Não tô querendo conversar — ele diz, a voz cheia de ar enquanto o
sinto procurar minha entrada já com a ponta do seu pênis. — Só quero
extravasar.
E com essa confissão, ele se afunda em mim. Em uma única estocada
lenta, me preenchendo ao limite e me fazendo suspirar de prazer e completo
alívio.
O que me deixa surpresa, porque nem eu sabia que era exatamente o
que estava precisando para me sentir aliviada.
Capítulo 22
Nathan
Victoria
Nathan
— Quem diria... — Samuel vai logo dizendo assim que atende minha
ligação. — Nathan coração de pedra está namorando.
— Engraçado. Não lembro de ter comprado ingresso pra esse show de
piadas — ironizo, entendendo o motivo da zoação comigo. Victoria,
evidentemente. — O que veio fazer aqui?
Samuel ri do outro lado da linha.
— Fui te dar uma notícia. A sua namorada não falou nada?
— Ela não é minha namorada — deixo claro, mas me lembro do
acordo. — Quer dizer, ela é, mas só de mentira. Tô tentando deixar os
últimos dias do meu pai mais tranquilos e nada como ele achar que estou
namorando sério.
A linha fica muda por tanto tempo que chego a pensar que a ligação
caiu.
— Samuel? Alô?
— Isso é brincadeira, né? — sua voz tem incredulidade. — Você
contratou uma prostituta pra ser sua namorada de fachada?
— Ow, mede aí as palavras — o censuro. — Victoria não é prostituta,
ela é fotógrafa. E também estava passando uns maus bocados com o ex
maluco. Foi coisa simples. Eu a ajudei dando mais segurança e ela tem me
ajudado sendo minha namorada.
Samuel assobia, acho que de incredulidade.
— Pasmo não me define — ele ri. — Cuidado pra não pegar a mesma
onda que eu peguei. Porque, você sabe, tudo está no controle até o coração
dizer que não está mais.
Faço uma careta.
— Você não tem moral pra me dizer isso — adianto. — Eu que te dei
conselho quando você estava na onda de pensar pelo seu próprio bem com a
Vanessa.
Samuel ainda acha graça.
— Se irritou muito fácil. Já dá pra ver que nesse mato tem coelho.
— Desembucha logo, cara — bufo.
Não concordo com o meu amigo. Nesse mato não tem coelho, mas na
minha vida tem uma mulher linda e impulsionada a dizer o que sente
vontade. Que não se importa em só me agradar.
E provavelmente isso só porque ela realmente não é a minha
namorada. Não passamos de conhecidos, e é isso. E também por isso que o
que ela diz não me abala tanto, só me deixa com um tesão louco.
— Vanessa está grávida — Samuel compartilha, e pelo jeito que fala,
como se estivesse emprestando a boca para um quilo de purpurina sair,
posso supor que está sorrindo. — Agora está confirmado. Eu vou mesmo
ser pai.
Também tô sorrindo, me empolgando pelo segundo bebê que vai
chegar no nosso quarteto. Isso é muito irado. Alguns de nós tendo filhos.
Milagres acontecem realmente.
— Parabéns, cara! Tô maior feliz por vocês.
— Valeu — ele dá uma risada acanhada. — A Vanessa quase pirou
quando caiu a ficha de estar mesmo grávida, mas eu consegui fazê-la
entender que é um acontecimento normal.
— Nem imagino o seu perrengue com a sua noiva traumati...
— Aconselho você terminar a sua fala aí.
É a minha vez de rir.
— Beleza, foi mal — me desculpo. — Já falou com os outros?
— Contamos primeiro para o Ryan. A Vanessa gosta muito dele e da
Lucy, então...
— Tô ligado, não precisa me dar satisfação.
— Mesmo assim. Eu quis fazer um jantar, reunir vocês e contar, mas a
Vanessa anda mais dormindo que acordada, aí eu não quis cansá-la mais.
Ela está gerando nosso filho, não dá pra ser um insensível.
— Sei como é — estou sorrindo. Quem diria... Samuel Fox deixando
de pensar só em si. — E pro Douglas, já contou?
— Não ainda. Ele sumiu, não responde o whatsapp.
— De todos nós, ele foi o que mais se atingiu quando o Ryan se irritou
com a gente naquela festa — o relembro. Festa essa que só apareci pra
beber. — Sabe, por termos que sair da casa.
— Foi um dia chato — Samuel lamenta. — Você acha que ele ainda
guarda alguma mágoa?
— Sei lá — me viro para olhar além do corredor, dando pra ver
Victoria sentada lá no sofá, distraída em seu celular. — No fundo, acho que
todo mundo guarda mágoa de alguma coisa.
Samuel deixa a respiração encher o telefone.
— Acho que concordo — admite. — Por vezes, alguns de nós dá a
sorte de encontrar um sentimento que substitua a mágoa.
Balanço a cabeça.
— Mas pode acontecer que a tal substituição piore o que já estava ruim
— retruco. — Vou tentar ligar pra ele depois. Pra saber se está tudo bem.
— Faz isso sim, porque eu tentei muito hoje — Samuel pondera.
— Vou desligar, tenho que ver se a Vanessa precisa de mim.
Rio.
— Beleza. Diz pra ela que desejei parabéns e que vou deixar o
presente do bebê com um dos seguranças dela.
Samuel dessa vez ri junto comigo, porque sempre é muito engraçado
quando a gente considera que Vanessa tinha dois seguranças na porta de sua
casa, um na manhã e outro à noite.
Depois de ficar com Samuel, isso não foi mais preciso. Os seguranças
não foram mais necessários.
— Desculpa a demora — volto à sala quando encerro a ligação.
Victoria ergue o olhar para mim. — Samuel queria me contar que vai ser
pai.
Ela sorri.
— Eu sei, ele disse. Mas não contei porque isso só ele mesmo poderia
fazer.
Meneio a cabeça, confuso.
— Por que ele te contou isso?
— Acho que seu amigo estava muito feliz e queria contar para todo
mundo — Victoria se levanta, dando um risinho quando me olha.
Provavelmente porque estou com cara de desentendido. — Você vai tomar
banho? Eu vou esquentar o jantar.
— Comprou comida? Não precisava, eu ia fazer o jantar.
O sorriso que ela dá ilumina a sala.
— Eu mesma fiz — explica. — Mas já faz um tempinho, então com
certeza esfriou. Me encontre na cozinha.
Ela sai andando, me fazendo dar um sorriso e admitir pra mim mesmo
que prefiro mil vezes ter alguém com quem dividir os dias que estar
sozinho.
Capítulo 25
Victoria
Nathan
Uma sensação nunca foi relaxante assim pra mim. Não é exagero ou
drama, como Victoria nomeou, é só bom. Muito bom. Ter ela assim
encostada em mim, mesmo que eu tenha querido muito avançar mais que
isso.
Mas não avancei. Já tá bom assim e não quero estragar bancando o
"sem controle".
Deitamos faz um tempo. Quase posso apostar que ela caiu no sono.
Isso porque não poderia estar calada por tantos minutos e com a respiração
tão compassada sem estar dormindo.
E fico pensando em como isso pode ter acontecido se não existe sorte
ou destino. Eu encontrei uma pessoa que consegue me fazer bem até
dormindo. Não faz sentido racionalmente, mas faz no meu íntimo ser.
Talvez eu estivesse precisando disso.
— Nathan?
Sua voz me chamando me faz apertar a mão na sua cintura, onde já
estava repousada.
— Oi? — respondo, meio rouco. Preciso limpar a garganta para ajeitar
a voz.
— Estou pensando uma coisa...
Sorrio para o nada. Com certeza está. Faz quase uma hora que ela
decidiu pelo silêncio e ninguém fica em silêncio sem pensar em nada, a não
ser que seja monge meditando.
— Quer contar pra mim? — pergunto.
— Pode ser — ela se vira, colocando o corpo de frente para o meu. —
Você é acostumado a ter essa naturalidade com as mulheres? Não me julga
por perguntar isso, é que eu não consigo, sabe, compreender. Acho que
porque nunca me aconteceu, então por isso estou perguntando se já é
acostumado.
Fico olhando para ela por um momento, calado. Porque foi
basicamente o que acabei de pensar. Na real, pensei melhor ainda. Em como
ela consegue me fazer bem mesmo de pálpebras fechadas.
— Eu lido bem com as mulheres — dou minha resposta. — Mas nunca
tinha me acontecido isso também. De trazer uma estranha pra minha casa e
ser bem tratado.
Ela ri.
— Bom, que bom que você não me julgou. Mas você diz ser "bem
tratado" em que sentido? Porque eu só ajo com você com educação, mesmo
porque estou na sua casa.
— Não assim — observo-a um instante antes de tentar explicar. — No
quesito mulheres, não costuma passar do sexo. Desculpa até por ser
explícito desse jeito, mas é verdade. É como acontece. Pré-sexo, sexo e
tchau. Não tem nada dessa química, vou chamar assim, que existe entre
gente. Nenhuma mulher nunca preparou um jantar pra mim — dou um
sorriso acanhado, e me sinto imediatamente um otário. Era mesmo preciso
dizer isso?
Mas Victoria ri, me tranquilizando. Não achou problema, pelo menos.
— Vai ver você não deixa brechas para as mulheres pensarem que
você quer algo a mais que sexo — evidencia. — Não entra na minha cabeça
que você não tenha uma namorada. Nunca se apaixonou?
— Não que eu me lembre — admito. — Nem sei como é isso.
Basicamente, minha vida foi sempre só pegação. Não sinto que falta algo
nisso. Minha falta mesmo era no lance do meu pai, quando eu era pequeno.
Ela ergue as sobrancelhas, como se estivesse discordando
silenciosamente. Mas essa falta mesmo foi só quando eu era garoto, falou?
Falou.
— E, hm, você nunca pensou que, talvez, só por talvez mesmo, essa
falta tenha te atingido na vida amorosa? — pergunta, me fazendo estreitar
os olhos.
— Como assim? — rebato seu questionamento, mas só por rebater
mesmo. Não estou interessado no que ela tem a dizer.
— Assim — Victoria não entende o meu ponto e começa a discursar
pra mim —, você tem esse lugar que ficou vazio dentro de você. Devia ter
sido preenchido com o amor dos pais, mas não foi. Não teve carinho da mãe
e muito menos do pai, que foi o único que você teve perto. Então pode ser
que, em busca de tentar ignorar essa ausência de amor, você tenha se
acostumado a ficar com mulheres sem criar qualquer laço. No fim das
contas, ausência de amor foi tudo que você sempre teve.
Fico encarando-a até meu olhar vacilar.
Não acho que foi isso. O que minha vida amorosa tem a ver com a
vida familiar? Nem faz sentido. Porque...
— Se fosse assim — começo a dizer —, meus amigos não tinham
encontrado mulheres fixas. Eles também são bem fodidos no quesito
família. Um tinha amor excessivo e outro é o irmão menos favorito, pra não
dizer descartável. Por isso, Victoria — volto meu olhar para o seu —, não
faz mesmo sentido o que você acabou de falar, porque todo mundo tem
problema na família. Em relação aos pais ou qualquer outra coisa.
Ela hesita, mas acaba balançando a cabeça em concordância.
— Você tem razão — ela vem para junto do meu corpo de novo. — Às
vezes você só não encontrou a pessoa certa ainda.
— E existe isso? — dou risada.
Meus amigos não conheceram as "pessoas certas" antes de namorarem.
Na real, pareciam as pessoas mais nada a ver pra eles.
Mas como Victoria não me responde mais nada, me fazendo entender
que dessa vez ela tenha escolhido dormir depois da nossa pequena
conversa.
Também acabo pegando no sono minutos depois, sem nenhuma
dificuldade e sem qualquer pensamento do futuro.
Capítulo 27
Nathan
Victoria
Nathan
Um dia inteiro se passou desde que acordei e percebi que Victoria não
estava mais na cama comigo. Ela tinha que trabalhar, me atentei. Hoje foi
o dia do desfile e então entendo que, mesmo sendo tão tarde, ela ainda não
tenha chegado.
As horas parecem estar passando em câmera lenta desde que me
levantei. Tudo girando ao contrário. Principalmente porque não consigo
tirar os olhos do celular. Onde, repetidamente, leio a mensagem que recebi
mais cedo de Tina.
Eu não fui o quanto antes. Nem sei o que fazer o quanto antes.
Tina não mandou mais mensagens depois disso, então presumo que o
meu pai ainda esteja vivo. E não entendo o meu sentimento.
É uma descabida preocupação que rasga e me petrifica. Ele está no
hospital e vai partir para sempre. Não vou ter mais um ou todos os olhares
desdenhosos que ele me oferecia. Mesmo que fossem assim, nem isso vou
ter mais. A realidade de ter um pai não vai ser mais presente.
E isso, isso é dilacerante.
A batida na porta do meu quarto me faz tirar os olhos do celular, e
demoro uns segundos até me levantar e seguir até ela.
Coloco a mão na maçaneta e, pela primeira vez, percebo o quanto
meus dedos estão trêmulos. Merda.
Respiro fundo antes de abrir a porta, toda a tensão do meu corpo se
esvaindo assim que bato meus olhos em Victoria.
Ela não sorri, muito menos eu. Acho que não se sente à vontade para
fazê-lo depois de ter passado a noite aqui comigo e ter me visto ido dormir
sem dizer uma palavra. Na real, eu nem sabia que ia dormir. Só tinha ficado
com as costas doendo e precisava deitar.
O que, consequentemente, me fez lembrar de quando eu ia visitar Ryan
e sua esposa reclamava de estar doendo as costas por causa da barriga de
grávida. E um pensamento leva a outro e...
Por um momento eu pensei que Camila vai passar por isso. E ela não
tem namorado. Só o pai do filho que espera. Eu. E talvez por isso Victoria
tenha querido partir, porque sabe que mulheres grávidas precisam de
assistência. E deduziu que eu seria a de Camila.
E não posso dizer que há erro nisso. Eu vou ser, se for preciso.
— Oi — Victoria diz, um pouco sem jeito no seu pijama lilás de seda,
que só reparo agora. — Vim saber como você está.
— Bem — minto. Meus olhos estão pesados, quase se fechando. Mas
não é sono, é exaustão de pensar muito. — E você, como foi o desfile?
É o primeiro sorriso que vejo em sua boca então.
— Perfeito, mas exaustivo — ela olha os dedos. — Ainda estou
voltando a sentir os dedos depois de tantos cliques. — Victoria volta a me
olhar. — Você passou o dia aí no quarto?
— Passei — respondo sem desvios, o que a faz erguer as sobrancelhas,
como surpresa.
— Talvez sair para dar uma volta fosse te fazer bem. Sabe, dispersar as
ideias.
Continuo encarando-a em silêncio até ela suspirar e gesticular:
— Se você quiser, podemos dar uma volta juntos. Respirar o ar fresco
da Itália — dá uma risadinha.
Por uma fração de segundos, penso em recusar. Mas, pensando melhor,
é mais propício que eu saia e tente me distrair, do que permanecer e correr o
risco de definhar cativo da minha própria cabeça.
— Tudo bem — concordo. — Vou vestir uma roupa.
Victoria baixa os olhos, encarando minha cueca até sorrir sutilmente é
menear a cabeça.
— Farei o mesmo — diz. — Te encontro em minutos.
Fecho a porta depois que ela se vai e não me permito parar para ser
sacaneado pela minha mente.
Vou em busca da mochila que eu trouxe, onde tem cinco peças de
roupas. E só, porque eu não planejava usar roupas quando "fiz a mala".
†
Victoria me conta detalhes do desfile enquanto caminhamos pela rua.
Ela até me mostrou algumas fotos que tirou e já estão nos sites de notícias
que contam sobre o evento.
Mas estou mais ouvindo que falando. Posso dizer que, sobretudo, ela
foi sábia por me tirar do hotel. Andar um pouco realmente tá me fazendo
parar de pensar tanto. Ouvir sua voz e empolgação está me distraindo por
um tempo, mais do que pensei que seria possível.
— Nós vamos voltar amanhã, eu te falei, né? — ela se vira para me
olhar enquanto passamos por uma rua estreita e repleta de casas. — Temos
que aproveitar o embalo da semana em que vamos ser bem divulgados.
— Amanhã? — enfio as mãos nos bolsos da calça. — Você quer dizer
daqui a pouco? Já são duas da madrugada.
— Isso — ela ri, como se fosse algo surreal ser madrugada. — Vamos
nos encontrar às sete no aeroporto. A equipe. Estamos no mesmo voo de
ida.
— Entendo.
— Você está bem? Se alimentou hoje? — ela para de caminhar e
segura meu braço. — Parece fraco.
Dou um sorriso de lado.
— Essa frase é minha.
— Eu não andava fraca, você que drenava minha energia — ela morde
o lábio e solta um suspiro assim que acaba de falar. Se apressa em emendar:
— Mas isso não anula a minha pergunta. Você comeu hoje?
— Não me lembrei de comer, se quer saber a verdade — volto a andar,
Victoria soltando uma lufada de ar antes de correr um pouco para me
alcançar.
— Precisamos achar um lugar para você comer então — ela roça o
braço no meu ao se aproximar. Depois de uns segundos de silêncio,
pergunta: — Você sabe que sua vida não acabou só porque descobriu que
vai se tornar pai, não é?
Dou um riso sem ânimo.
— Eu não vou me tornar pai — esclareço —, eu já sou. Desde o
momento em que Camila e eu demos origem a formação de um filho, eu
sou pai.
Não sei porque digo isso. Talvez porque seja verdade.
Tantos anos, a minha vida toda, passei culpando os meus pais pela
maneira insensível que se comportaram diante do ato de terem me formado
e depois tapado os olhos, como se eu nem existisse ou fosse um peso.
Minha mãe foi a pior. Ela nem se esforçou, ela nem ficou. Não que
meu pai tenha se esforçado, mas ele não me expulsou de casa ou me
abandonou em um lugar para crianças sem cuidados.
Ele não me amou, mas também não fugiu e me deixou sozinho no
mundo. Partindo do ponto que ele não queria um filho, acho que fez muito.
— Isso é verdade — Victoria enfim concorda. — Você já é pai. Ainda
está conciliando a notícia?
— Queria ter uma esposa fixa quando tivesse um filho — me vejo
confessando. — Queria amar a mãe da criança e ajudá-la não só porque está
gerando um filho meu. Desejava que fosse algo planejado.
— Você devia ter se planejado se queria algo assim — Victoria fala
como se fosse óbvio, depois de extenso ruído de somente nossos passos. —
Você sabe, não se pode esperar muita coisa fazendo assim que nem você,
ficando com várias mulheres e até oferecendo sua casa para estranhas
morarem.
Eu a olho de soslaio.
— Não me entenda mal — ela pede. — Não quis ser rude, só estou
comentando que se diariamente você faz sexo com sua secretária sabendo
que ela não é estéril, não pode esperar outro resultado que não uma criança.
É aquilo que a gente aprende na escola: nenhum método contraceptivo é
100% eficaz. Apenas o celibato — sorri. — Mas quem é que aguenta, não
é?
Balanço a cabeça, mas não digo nada. Sei que ela tem razão, assim
como também sei que todo o meu modo de agir durante a vida foi repleto
do mais absoluto impulso.
E não tinha ninguém para me frear, me dizendo a coisa toda de outro
ponto.
Não tinha.
Até agora.
Capítulo 30
Victoria
Tentei ficar no quarto até a hora de dormir, mas a agonia não deixou.
Por isso mesmo estou descendo a escada, para encontrar Nathan e ver se ele
está bem – na medida do possível.
Passo pela sala, prossigo até o corredor que leva à sala de ginástica e
os demais cômodos, mas não o vejo. Quando retorno para a sala porém,
levo um susto ao vê-lo sentado em um dos sofás.
Seu olhar já está em mim e não desvia.
Minha respiração volta ao normal e tiro a mão do peito, o que foi uma
demonstração do susto que tive. Como posso ter passado por aqui e não o
visto?
— Estava procurando você — explico.
— Eu sei — ele está com a voz baixa e rouca.
Pigarreio, evitando tal observação.
— Já achei — dou um sorriso não muito animado, mas também não
muito triste. Cruzo os braços, evitando uma posição que me deixe de
ombros caídos por sentir pela situação pela qual Nathan está passando. —
Como você está?
Eu diria que melhor que quando foi falar comigo. Naquela hora, ele
tinha a estampa do desespero. Neste momento, no entanto, parece mais
"vivo". Uma péssima escolha de palavra, mas a melhor expressão.
Usando uma camisa azul marinho e um short branco, o cabelo
despenteado, lembra muito mais o cara que conheci.
— Indo — sua resposta vem, baixa e determinada. — Por quê?
Meus olhos estreitos e minhas mãos gesticulando um momento dizem
o óbvio: por que eu não me preocuparia com você?
— Porque eu precisava saber — tento formular a melhor e menos
intrusa resposta. — Sei que não está bem, porque uma notícia dessas não
deixa ninguém bem, mas... De repente você precisa de companhia. Não
ficar sozinho, sabe?
Seu olhar permanece no meu até eu quase me sentir boba, mas então
Nathan bate com a mão no espaço ao seu lado no sofá.
— Então vem pra cá — me chama. — Não me deixa sozinho.
Ignoro o arrepio que sinto pelo corpo ante o chamado e vou até ele. Me
sento ao seu lado, encontrando seu olhar com o meu. Mais perto que antes.
Engulo em seco e me condeno. Que estou pensando, meu Deus? O que
meu corpo está pensando?
— Você jantou? — tento acabar com isso que estou sentindo. É errado.
Nathan acabou de perder o pai e descobriu que também é pai.
— Não — ele responde, sua mão procurando a minha e seus dedos
começando uma carícia ali. —Nem você — não é uma acusação, só uma
observação. — Mas não estamos com fome de comida, e sim fome um do
outro.
Meus olhos imediatamente se arregalam. Tenho certeza que não
demonstrei nada.
— Nossos corpos estão com saudades — sua mão aperta a minha com
firmeza e eu respiro fundo, sem conseguir desviar o olhar do seu.
Por quê? Por que tem que ser assim? Eu fico incapaz de driblar
minhas reações com ele.
— Nathan, eu acho que...
Ele, entretanto, cessa minhas palavras quando inclina a cabeça em
minha direção e traz a boca à minha, enterrando a mão livre por entre meu
cabelo enquanto inicia um beijo exigente.
Eu enfraqueço das minhas convicções sobre certo e errado, e me
entrego ao beijo, às carícias de sua outra mão soltando a minha para
avançar por dentro da minha blusa e encontrar meus seios, onde Nathan
enche a mão com um, depois com o outro, me fazendo gemer em sua boca.
Eu deveria me repreender. Estou me repreendendo. Mas... por que tem
que ser bom assim? Por que ele tem que ser tão bom assim e saber
exatamente onde ir e tocar?
— Nathan, eu acho melhor que não... — vejo que uma parte de mim
ainda está raciocinando.
— Shhh — ele me censura, desviando a boca para o meu pescoço
enquanto continua com a posse do meu seio na mão. — Somos nós. Não
existe erro nisso.
Recebo uma mordida no pescoço, que me faz gemer sofregamente.
— Senti tanto a sua falta — ele sussurra. — Achei que tinha estragado
tudo.
Tudo o quê? Minha mente grita a pergunta. Não temos nada.
— Você só está angustiado e pesaroso por esse momento da sua vida
— digo, praticamente sendo um sussurrar. Ele me tocando é jogo baixo.
Muito baixo.
— Não — ele nega, levantando a cabeça para me olhar. — Não é só
por isso. Eu já sabia que meu pai partiria a qualquer momento. O que eu
não tô conseguindo lidar é que, justamente quando achei a mulher ideal pra
mim, foi também no momento em que minha vida tomou um rumo que eu
não esperava e, agora, ela não vai mais ficar. Você não vai ficar, Victoria.
E sou atingida pela confissão, piscando os olhos algumas vezes antes
de Nathan me agarrar pela cintura e me puxar para que meu corpo deite no
sofá, possibilitando-o ficar por cima de mim.
Percebo que também senti saudade de sentir seu corpo quente.
Ele dá um sorriso triste enquanto me olha.
— Obrigado por ter aparecido pra mim — diz e sinto sua mão avançar
para dentro do meu short de pijama, seus dedos entrando em contato direto
com meu sexo. — Você é o meu presente da vida.
Abro a boca para dizer alguma coisa, mas minha mente fica em branco
quando sinto seus dedos se aprofundarem para dentro de mim, me deixando
incapaz de ainda pensar.
Capítulo 31
Nathan
Victoria
Não vejo Nathan desde ontem, quando ele saiu e disse que eu não me
preocupasse. E não me preocupei tanto, mas ainda assim o esperei voltar.
Fiquei acordada até por volta das três horas da madrugada e ele não chegou.
Fui vencida pelo sono.
Agora, entrando em sua casa depois do trabalho, também não o vejo.
Sei que ele deve ter chegado e ido trabalhar, e provavelmente não o verei
até mais à noite; assim como também sei que no mais breve possível não
nos veremos mais de jeito nenhum.
Resolvo ir para o quarto ligar o meu notebook, onde vou buscar um
lugar para alugar. Sei que garanti ir embora assim que chegasse da Itália,
mas prometi a Nathan que iria ao velório do seu pai junto com ele.
Velório esse que não sei o dia que vai acontecer. Hoje, amanhã? Eu
gostaria de saber e de ter me lembrado de perguntar. Mas é incrível como
não lembro de nada importante quando Nathan está perto de mim.
Uma vergonha, eu sei. Mas não é muito evitável. Ele nem precisa se
aproximar, na verdade. Meus pensamentos coerentes se recolhem só por
olhá-lo.
O que vai totalmente contra o que sempre acreditei: que nunca me
atrairia por homens mais novos que eu.
Coitada de mim. Não sabia que no meio desse mundo havia Nathan.
Estou quase indo em direção à escada quando a campainha toca, me
fazendo virar o rosto em direção à porta.
Não me alarmo, o que é surpreendente. Eu devia estar alarmada,
porque pode ser o meu ex-namorado. E sua última mensagem para mim foi
a pior de todas, o que definitivamente devia me deixar alarmada mesmo.
Mas a campainha toca de novo e de novo, me fazendo caminhar até a
porta.
— Quem é? — pergunto ridiculamente. Seja quem for, não tenho a
intenção de abrir, mas, se for Jacob, com certeza ele não vai se identificar.
— Oi, Victoria — reconheço a voz do amigo dele que esteve aqui
recentemente. — Sou eu, o Samuel. Posso falar com o Nathan?
— Ele não está em casa ainda — respondo. — Ainda não chegou do
trabalho.
— E nem vai chegar, porque ele não foi ao trabalho.
Meus olhos se arregalam e minhas mãos agem por conta própria indo
girar a chave na tranca e depois a maçaneta, eu abrindo a porta para me
deparar não só com Samuel, mas também outros dois homens junto a ele.
Um loiro e um outro que parece tão novo quanto Nathan. Não tenho
tempo de reparar em quanto eles são bonitos, porque minha atenção vai
toda para Samuel.
— O que você quer dizer com "ele nem vai chegar"?
Samuel pergunta se pode entrar e eu saio da frente, dando espaço para
ele e os demais.
— Nathan não foi trabalhar — ele responde.
— Quando você o viu pela última vez? — o loiro pergunta para mim.
Mas estou já estou balançada pela informação de que Nathan não foi
trabalhar. Oh, céus.
— Ontem — respondo, as mãos começando a gesticular de
inquietação. — Ele saiu por volta das dez e pouca. Disse que iria dar uma
volta e que eu não me preocupasse. Eu esperei por ele até às três, mas
depois acabei dormindo.
— É namorada dele? — o outro homem, que parece tão novo quanto
Nathan, quer saber.
— Não — nego imediatamente e penso na melhor resposta: — Somos
só amigos e estou morando aqui por um tempo.
Os três ficam me olhando, eu me sentindo desconfortável e me vendo
na necessidade de complementar:
— Vou me mudar depois do enterro do pai dele. Na verdade, estava
indo pesquisar casas quando vocês tocaram a campainha.
O mesmo homem que perguntou se sou namorada de Nathan, estreita
os olhos, desconfiado.
— Se é amiga dele e está morando aqui, nós deveríamos ter ficado
sabendo de você — contesta o que eu disse.
Não posso culpá-lo. O amigo sumiu e ele se depara com uma
desconhecida dentro da casa do mesmo. Eu pensaria a mesma coisa: que
tenho alguma coisa a ver com Nathan ter sumido por tantas horas.
Mas não tenho. Ele me garantiu que não ia fazer besteira e que eu não
me preocupasse. Eu acredito em sua palavra, sem sombra de dúvidas. Não
acredito que ele tenha sumido para preocupar ninguém. Talvez seja sua
forma de lidar com o luto.
— Ela é amiga mesmo, Douglas — Samuel vem a meu favor com o
amigo desconfiado. — Nathan me contou sobre ela.
— Vocês já tentaram falar com ele? — pergunto, tentando mudar o
foco sobre mim.
— Tentamos, mas o celular só vai para a caixa de mensagem — o
rapaz loiro responde. — Sou Ryan, a propósito.
Faço um meneio de cabeça, saudando-o, mas minha atenção volta para
Samuel. Ele parece ser quem está tomando a frente da situação.
— O que faremos? — questiono, começando a roer a unha. Estou
nervosa e só me percebo então.
— Temos que levar em consideração que o pai do Nathan acabou de
morrer — ele evidencia.
— O que tá querendo sugerir? — Douglas, o desconfiado, interpela. —
Que Nathan foi sequestrado?
— Oh, nossa — dou um passo para trás, Samuel erguendo uma mão,
como pedindo para eu me tranquilizar.
— Não acho que foi isso — Ryan, o loiro, comenta. — Se fosse, já
teríamos recebido uma ligação para um acordo de troca.
Então minha mente lampeja sobre a secretária. Pode não ser, mas tem
a possibilidade de ser.
— Já ligaram para o escritório dele? — quero saber.
— Nós fomos até o escritório — Douglas se aproxima de mim para
enfatizar. — A secretária dele ligou para o Ryan. Tem certeza que ele não te
contou nada? Nada mesmo?
Seu tom ainda demonstra sua total desconfiança, e eu apenas balanço a
cabeça, negando.
— Eu tenho certeza que não — junto as mãos em frente ao corpo outra
vez, dando uma olhada nos três homens, e não me simpatizando tanto com
Douglas, que está bem próximo com seu ar de acusação implícita. — Ele
saiu porque acho que deve ter se chateado porque eu disse que estava
maquiando sobre não querer lidar com a morte do pai.
Ryan assobia, Samuel ergue as sobrancelhas e Douglas ri à minha
frente.
— A gente meio que nunca fala sobre a relação do Nathan com o pai,
cara — Douglas me diz. — Por que vocês, mulheres, acham que podem
mudar as coisas na vida do homem?
Samuel suspira, como sem paciência, e vem para perto de mim, tirando
o amigo da minha frente.
— Vamos ter que falar com a Polícia — avisa.
— A secretária dele não sabe de nada? — rebato. Não que eu ache que
saiba, reitero, mas poderia saber. — Vocês perguntaram?
— Por que ela saberia? — Ryan questiona.
Junto os lábios para não dizer que ela espera um filho do Nathan. Não
sou desgraçada ao ponto. É uma notícia que ele próprio precisa dar aos
amigos.
— Não sei — abano as mãos. — Só estou tentando pensar em alguém.
— Será que o pai dele tinha algum inimigo? — Douglas questiona, me
fazendo considerar.
— É claro que tinha — Ryan responde. — Quem não tem um inimigo,
que atire a primeira pedra.
Douglas faz careta.
— Partindo desse ponto, mais um motivo para falar com a Polícia —
Samuel fala e vai em direção a porta, dizendo por último: — Venham os
três comigo.
Capítulo 33
Nathan
BÔNUS Douglas
Posso estar errado, mas isso de uma mulher ter chegado na vida do
Nathan e pouco tempo depois ele ter sido sequestrado, não me parece só
coincidência.
E tomara que eu esteja errado, não vai ser a primeira vez, mas não
confio nas mulheres. Ainda mais nessa em específico, que ficou acuada
desde que voltamos da delegacia.
Acho ela esquisita. Parece ficar de olho em tudo. Tem medo de alguma
coisa. Dá muito pra notar.
E, beleza, tomara também que meu amigo ter sumido não tenha a ver
com ela, que seja pelo pai ricaço que morreu.
Caso contrário, não sendo o segundo motivo, não vai acabar bem pra
princesa.
— Qual a sua? — Ryan pergunta, me dando um empurrão no ombro.
— Nada — finjo descaso, mas acabo perguntando: — Você confia
nessa mulher? — sinalizo discretamente em direção a Victoria.
Ela se sentou em um dos sofás da sala desde que chegamos e não
largou o celular desde então. Sua mão na cabeça deixa meio óbvio que ela
está nervosa. Mas, pelo quê?
Se fosse pra chutar, eu diria que é a culpa flutuando na sua
consciência.
— Não temos nada com isso, né? — Ryan desvia de uma resposta
decente. Da resposta que um amigo daria. — O Nathan confia. Afinal, ela
está aqui na casa dele. Não vamos nos meter nessa questão.
Meus olhos se voltam pra ele e ergo as sobrancelhas.
— Sério? — indago. — Vai me dizer que nem por um segundo você se
fez a mesma pergunta?
Ryan mexe os ombros e baixa o olhar. Não precisa
responder, eu sei que sim. Qualquer um faria.
— E se ela o tiver seduzido pra estar por dentro das finanças? —
continuo. — Você sabe, abrir as pernas pra gente significa muita coisa e,
consequentemente, abrimos a nossa boca pra falar demais.
Meu amigo arqueia uma sobrancelha loura e dá um sorriso de canto.
— Isso tem a ver com a Samara? — questiona. — Ainda tá chateado
por ela ter te trocado depois do tanto que você correu atrás dela?
Me esquivo, como se tivesse sido atingido fisicamente.
— Que viagem! — bufo.
Que viagem. Eu não estou nem mais me lembrando da Samara. Ela foi
só um passado infeliz pra mim. E ninguém pode me condenar por não ter
sido escolhido, porque eu tentei. Tentei muito!
E o que ganhei? A rejeição. Não, não. Pior. Ganhei a troca. Ela me
trocou por algum cara que chegou depois de mim e conquistou seu coração
— que eu achei que já tinha conquistado — e também os corações
das borboletas dos seus irmãos.
Os caras nunca foram com a minha cara. Nem era por eu ser chato ou
coisa assim. Eles só não simpatizavam comigo.
Ao contrário do Ryan, que rapidamente se tornou chegado deles. Pelo
menos de um dos irmãos, porque o outro tinha interesse pela sua atual
esposa.
Lucy e Samara continuam sendo melhores amigas, inclusive, e por isso
me esquivo ao máximo de convites vindos da parte dele para ir em alguma
confraternização na sua casa, porque não quero ter o desprazer de ver
Samara e seu escolhido presentes por lá.
Não por ciúme, mas porque não sou obrigado.
— Entendo — Ryan murmura. — Mas não temos escolha que não
confiar nela. Victoria parece agoniada e preocupada desde que a
encontramos. Não vejo motivo de ela não estar sendo verdadeira.
— Você, meu amigo, definitivamente não tem experiência suficiente
com mulher! — sorrio. — Elas podem ser fingidas o quanto quiserem. São
atrizes. Somos ludibriados e feitos de babacas. Elas conseguem isso
facilmente, não é difícil no mundo feminino.
Ryan faz uma careta, como se me ouvir fosse doloroso. Mas é só a
pura verdade!
— Cara, você não pode espelhar o fora que ganhou da Samara nas
outras mulheres — evidencia. — Isso vai te fazer ser o maior idiota para
toda mulher. E lembra que você ainda está solteiro.
Resmungo um chiado e estreito os olhos.
— Por que isso pareceu um aviso? — quero saber.
— Não. Só quero dizer que você pode se frustrar por ser frustrante —
ele sorri — e nenhuma mulher nunca te querer para algo mais que uma
ficada.
Dou um riso debochado.
— E quem disse que vai existir um dia em que vou querer uma mulher
pra mais que uma ficada, Ryan?
Ele sorri.
— Eu digo — responde.
Bufo e me esquivo, Samuel vindo da porta dos fundos com passos
largos. Ele para entre o espaço do meio da sala para informar:
— A Vanessa está vindo para cá.
— Fazer o quê? — questiono. — Vai ser mais uma que não vai poder
fazer nada, só ficar agoniada como a gente. Como nós, os amigos.
Samuel mira os olhos pra mim, como se não tivesse acreditado no que
ouviu.
— Vou fingir que não te ouvi — é exatamente o que ele diz, antes de
complementar: — São quatro da manhã e não tivemos notícias sobre o
Nathan ainda.
— Achei que ia contar uma novidade.
— Douglas, você é mais útil calado! — ele ralha.
Estreito o olhar e gesticulo com uma mão.
— Isso é você desejando a minha morte?
Samuel bufa e flagro Ryan balançando a cabeça em negativa.
De repente, Victoria se levanta e se materializa ao lado de Samuel. Ela
está com o celular se erguendo na direção dele e por uns segundos parece
não conseguir falar.
Até mesmo o Sam fica confuso, e olha dela para o celular três vezes.
— O Nathan — ela enfim desengasga enquanto suas pernas ficam
inquietas, como se a dona delas estivesse se aquecendo pra dar uma corrida.
— Ele me mandou uma mensagem!
E lá vamos nós...
Capítulo 35
Victoria
Nathan
Não sinto nada que não minha pele rasgando e o peso nos olhos. Não
sei quanto tempo se passou. Talvez dia, dias. Estou com fome e sede. Jacob
e seu comparsa só molham minha boca com água e entendem que assim eu
matei a sede.
Minhas forças acabaram. Não consigo mais gritar ou rebater as
ameaças. Sei que vou ser morto. Jacob já deixou isso claro. E já me
conformei. Não consigo ser mais forte do que os ferros que me prendem.
Não consigo ser mais forte que minha fraqueza física e meu desânimo.
Penso no filho que ainda não vi se formar ou vou conseguir ver quando
nascer. Penso no meu pai, que vai ser posto em uma caixa antes de ter meu
olhar pela última vez. Penso em Camila, que vai ter que se virar sozinha
enquanto espera por nosso filho. Penso em Victoria. Não teria como não
pensar nela.
— Estou com sede — consigo dizer, mais uma vez, mas isso só faz
com que eu leve outro soco na boca do brutamontes que se colocou de vigia
ao meu lado.
— Cala essa boca — ele ruge. — Não percebeu ainda que a sua função
é calar a maldita boca?
Jacob ri enquanto come seu hambúrguer sentado em uma cadeira a um
metro de onde estou.
Nunca senti uma raiva tão grande por alguém.
— Você não foi capaz de conseguir uma grana pra gente e quer beber
água? — pergunta e ri outra vez, fazendo seu comparsa me acertar um novo
soco, mas dessa vez na barriga, o que me faz perder o ar por uns segundos.
— Nunca ouviu sobre justa troca, Nathan Russel? Você ajuda a gente e a
gente te ajuda.
Me concentro para trazer a respiração a normalidade. Meus pulmões
estão trabalhando a toda.
— Você... — engulo o gemido de dor que não vou deixar escapar. —
Não espera que a Victoria acredite em mensagens, não é? Eu disse —
inspiro devagar. — Se eu tivesse mandado um áudio, seria mais fácil de ela
acreditar.
— Acha que sou idiota? Você ia gritar socorro e a polícia estaria atrás
de nós!
Bufo uma lufada de ar, balançando a cabeça de maneira lenta, da
forma que consigo demonstrar minha descrença.
— E você acha mesmo que já não está? Eu sumi por mais que horas.
Sua ação causou uma reação que você não pode mais controlar. Vão me
encontrar — tento encará-lo o quanto consigo abrir meu olho direito,
porque o esquerdo não abre mais de tantos socos que recebi. Ficou inchado
pra valer.
Apanhei sem motivos. Só porque Jacob quis.
— Não vão te encontrar, seu idiota. Estamos no meio do nada —
argumenta.
Mas, como por obra do destino, finalmente a meu favor, começo a
ouvir ruídos. Que vão ficando mais altos, mais reconhecíveis, mais
perceptíveis.
Se revelando sirenes.
Minha cabeça se vira na direção dos sons, mas imediatamente sou
obrigado a olhar de novo para Jacob. Ele se levanta aturdido, derrubando a
cadeira, e seu parceiro corre para algum lugar.
Forço os braços e as pernas nas correntes conforme o som fica mais
próximo, tão próximo que parece estar ao meu lado.
Passos à minha frente me fazem desistir da tentativa de me soltar e
levanto a cabeça, só para encontrar o cano de uma arma mirado para minha
testa.
Meu sangue gela e minha respiração suspende.
— Posso não ter conseguido dinheiro, mas não vou te deixar vivo —
Jacob deixa claro.
— Eu consigo! — exclamo, me sentindo em um abismo sem fim. —
Te dou todo o dinheiro que você quiser quando os policiais me pegarem.
Você pode fugir, eu não vou dizer nada!
— Acha que sou idiota? — ele repete a pergunta que fez uma vez.
Engulo em seco, o coração acelerado e um nó na barriga.
— Por favor, Jacob. Não faz isso, cara. Eu vou te dar todo o dinheiro
que quiser.
Ouço os barulhos de coisas caindo. Os policiais estão vindo. Mas eles
têm que ser mais rápidos que isso se quiserem me encontrar com vida.
Meu Deus.
Jacob sorri de um modo macabro e meneia a cabeça de maneira
desdenhosa.
— Seu pedido de Natal não vai ser atendido — ele destrava a arma e
ajeita a posição para, sem mais pestanejar, disparar em minha direção.
Capítulo 37
Victoria
Nathan
Victoria
Victoria
Estou triste e sem ânimo. Não tenho vontade de desfazer minhas malas
ou colocar meus quadros novos na parede. Comprei-os durante um passeio
que fiz ontem quando saí da casa nova para deixar de pensar em Nathan.
E odeio essa sensação. Por que estou pensando nele quando
nitidamente ele não me quer perto? Eu devia estar feliz, muito feliz, que ele
está vivo e se recuperando rápido. Mas não. Tudo que sinto não tem a ver
com felicidade, e sim tristeza.
A nossa distância me causa calafrios e uma sensação de perda. Sei que
ele está vivo, mas o perdi. Emocional e fisicamente.
E não é como se já estivéssemos estado juntos, com algo sólido e nem
nada disso, mas... Mesmo assim. Estávamos perto. Moramos juntos por
alguns dias. Os melhores dias.
Solto uma lufada de ar diante de tantas verdades. Porque acabei de
chegar do trabalho e não tenho o Nathan ou a vontade de fazer um jantar
para dois.
Decido que não vou ficar me lamentando em casa sozinha. Dou meia
volta e retorno à rua.
Não vou para um bar, estou traumatizada, então caminho sem rumo até
me deparar com uma lanchonete de fachada chamativa. Se não estivesse
escrito tão grande LANCHONETE, eu acharia que era um circo por conta
de tantas cores.
Empurro a porta de vidro e vagueio o olhar pelo lugar, uma mesa entre
duas do lado das janelas me chamando mais atenção. É nela que vou me
sentar.
Coloco a bolsa em cima da mesa, tiro a jaqueta e pego o cardápio.
Enquanto leio, respiro fundo umas cinco vezes.
Pareço estar cheia e sufocando. É uma sensação horrível.
— Boa noite — uma voz feminina chama minha atenção e, quando
levanto o olhar, já é para notar que a mulher jovem colocou uma xícara em
minha mesa e a está enchendo com café. — Posso pegar seu pedido? — ela
me olha com um sorriso simpático.
— Eu acabei de chegar — sorrio de volta e levanto o cardápio. — Não
escolhi ainda — hesito, respirando fundo outra vez. — Mas, se quer saber,
minha semana foi tão ruim e minha cabeça está tão cheia que eu não... —
gesticulo com uma mão. — Não vou saber o que pedir. Me recomenda
alguma coisa?
Quase tenho pena por ver o semblante da pobre mulher diante do meu
estado. Devo estar parecendo uma sofrida sem amparo. Eu me sinto assim.
— Claro que sim — ela balança veemente a cabeça de forma positiva.
— Posso recomendar o nosso hambúrguer triplo artesanal com maionese e
molho da casa. Ele facilmente substitui uma refeição. Batata e bebida não
estão inclusas. Temos também vitaminas de frutas, se você quiser uma
refeição mais balanceada. Sanduíches de frango e carne, e também
oferecemos a opção vegetariana.
Dou um sorriso.
— Obrigada, vou escolher o hambúrguer triplo que substitui uma
refeição — acabo rindo no fim, o que deixa a moça vermelha.
— Me desculpe — ela diz —, de forma alguma quis estipular a
quantidade que você deve comer. Desculpe ofendê-la.
Estranho, mas, quando entendo sua conclusão, dou uma risada mais
sonora.
— Eu não me senti ofendida, não se preocupe — esclareço. — Achei
você uma ótima atendente, na verdade. Fala bem, tem uma maneira de
sugerir ao cliente de prontidão. Parabéns.
Quase posso sentir que meu comentário a comove, porque sua mão vai
ao peito e seu sorriso é doce quando se forma em sua boca.
— Obrigada, muito obrigada — ela agradece. — Eu também não tive
uma semana boa.
Balanço a cabeça, compreendendo.
— Um brinde a nós, porque aguentamos e estamos aqui — agarro a
alça da xícara de café. — Prontas para mais uma semana.
— É isso — a atendente concorda com uma voz triste. — Com licença,
vou buscar seu pedido.
Vejo-a se retirar, mas logo seu lugar é substituído em minha visão por
pernas longas cobertas por um tecido escuro e um cinto preto.
Estreito os olhos e levanto a cabeça, me surpreendendo por ver
Douglas.
— Oi — ele dá um curto aceno e logo escorrega sentado no banco
oposto ao meu, na mesma mesa.
Ele está de sobretudo e o cheiro do seu perfume se espalhou pelo ar.
Seus cabelos estão impecavelmente penteados para trás, seu pulso esquerdo
reluzindo o relógio prateado quando suas mãos se cruzam em cima da mesa.
Em resumo, um lindo; mas em outras palavras, qual a probabilidade de
eu encontrá-lo no mesmo lugar que vim para tentar esquecer o seu amigo?
Nós nos encaramos e espero ele falar primeiro, mas só ganho um
sorriso torto.
— Oi, Douglas — brinco com a alça da xícara de café. — Como vai?
— Vou bem — ele não faz caso em devolver a pergunta, e logo
completa: — Se mudou da casa do Nathan, né?
— Uhum — confirmo. — Faz uma semana já.
— Um tempão mesmo — Douglas ironiza. — Você ficou sabendo? —
ele não me espera responder. — Ficou sabendo que o Nathan engravidou a
secretária?
Respiro fundo. Nem posso me doer pela falta de filtro dele em
explanar essa realidade.
— Fiquei, ele me contou — respondo, desanimada.
Douglas ri.
— O filho não é dele — conta —, é do seu ex. Jacob, né?
Por um momento, tudo para. Não sei se estou onde estou e preciso me
recuperar rapidamente se quiser saber se continuo na realidade ou fiquei
louca.
— O quê? — balanço a cabeça, desnorteada. — O que você disse?
Douglas ainda ri mais, como se o que contou fosse engraçado, e
também minha reação.
— É sério — ele reafirma. — A polícia queria um culpado, precisava
achar um, por causa do nome do pai do Nathan e tal. Aí foram investigar o
escritório do pai dele e, consequentemente, o telefone da sala de recepção
entrou na investigação. Acharam várias chamadas para, coincidentemente, o
número do seu namorado. Quer dizer, ex e falecido namorado.
Continuo com a vista parada, só ouvindo.
— Levaram a secretária pra delegacia e, sob a pressão, ela confessou
que conheceu o Jacob em uma boate e, depois de passar o telefone pra ele,
conversaram um tempo. O cara se apaixonou rápido por ela depois de tantas
idas ao motel — Douglas balança a cabeça em negativa. — Ela engravidou
e tentou enganar o Nathan, porque não queria o Jacob por ser um cara
pobre.
Ele faz uma pausa para rir mais alto, mas se recompõe quando nota
que não achei a mesma graça.
— Perdão — ele pigarreia. — Continuando... A secretária ficou
algumas vezes com o Nathan mesmo depois de saber que estava grávida e
achou que seria motivo suficiente pra convencer ele de que estava grávida
de um filho seu.
— Ela convenceu — me sinto impelida a dizer, sentindo a garganta
seca.
— Bem assim — Douglas anui. — Por isso ele ficou tão sem chão
quando soube de tudo isso dos policiais. Ele continua sem chão.
Ainda sinto que tudo está girando e um oco se formou em minha
barriga.
— O que houve com ela? — quero saber.
— Foi presa, mas o Nathan pagou a fiança dela e a passagem para ela
ir morar com os pais. Todo mundo achou ele louco por fazer isso, mas ele
disse que é a boa ação dele de Natal — Douglas ergue os ombros, como se
não entendesse.
Ainda aturdida, questiono:
— Ela ajudou o Jacob a planejar sequestrar o Nathan?
— Foi, foi. Ela passou vários endereços pro cara, até da casa do
Nathan.
Minha respiração se altera então diante da notícia.
Eu não estava sendo paranóica, ele realmente poderia ter me matado.
— Ei — Douglas me chama, provavelmente porque fiquei com a vista
congelada. Eu o olho. — Não se preocupa. Nathan está bem agora. Já está
até dando uns passinhos — ele se vira de repente, como procurando algo.
— Cadê o pessoal que atende nesse lugar? Tô com uma fome monstra!
Mas não tenho forças para elaborar uma resposta enquanto considero
que: o filho da secretária de Nathan é, na verdade, filho do Jacob, meu ex
perturbado, que agora está morto.
Capítulo 41
Nathan
Devolvo o copo vazio para a ilha e apoio o quadril nela. Não estou
com dor, mas, honestamente, me sinto como se tivesse subido uma rampa.
A Tina disse que isso é comum por conta do tiro que levei no peito. Faz
parte do processo de cicatrização toda essa coisa de sentir a respiração
definhando.
Decidi que ela fosse embora. Não preciso mais dos seus serviços. Eu
já... Eu já soube tudo que tinha que saber sobre o meu pai. Fiz todas as
perguntas que queria. Sanei minhas curiosidades sobre minha saúde,
também. Vou precisar de, no máximo, uns sete meses até poder voltar às
atividades fora de casa. É o tempo seguro que ela pôde de me dar de
garantia, principalmente por ter me visto tão agoniado em cima daquela
cama.
Não aguentava mais ficar ali dependendo de tudo. Eu precisava sair de
cima daquele colchão. E foi o que eu fiz. Claro que a Tina ficou horrorizada
quando me viu de pé, mas logo percebeu que seria mais fácil me dizer o que
não fazer do que me convencer a deitar novamente.
Quando pensei que tinha dado um passo a frente, com isso de me
levantar, dois policiais vieram aqui. Eles tinham uma enxurrada de coisas
pra me dizer. Então, eu tive que deitar outra vez para não ter o esforço de
ficar em pé porque... Foram muitas novidades.
A primeira, a que deveria ser a principal, o filho de Camila não era
meu. Os policiais me contaram da confissão dela. Tive um pouco de choque
por isso, porque o filho era de Jacob. Que coisa doida, foi só o que
consegui pensar. Como um louco daquele conseguiu enganar duas mulheres
inteligentes?
Eu ainda estava balançado quando fui informado que o brutamontes
parceiro do Jacob, o cara que me bateu tantas vezes, era irmão da Camila.
Ele foi morto, também.
Aquilo era muita notícia ruim pra uma mulher grávida, foi só o que
consegui pensar. Percebi que não conhecia a Camila afundo, claro que não,
mas do pouco que conheci, não podia ver aquilo e ficar impassivo.
Muito mais porque eu soube como o tal Jacob era. Não só por ter
estado com ele durante três penosos dias, mas também porque conheci sua
ex-namorada e vi, diariamente, o medo nos olhos dela.
O cara era maluco, impulsivo e metido a controlador. Não podia ser
uma coisa fácil conviver com ele.
Então, que eu seja considerado um sem noção, mas não poderia
permitir que Camila passe sua gravidez em uma cadeia por conta de, talvez,
uma atitude que ela não tenha tido escolha. O seu filho não merece isso.
É sobre tudo isso que estou divagando quando a campainha
toca. Cacete. Provavelmente um dos meus amigos, de novo, ou meus
amigos e suas companheiras.
Solto, devagar, a respiração. Vou ter que ir até a sala.
Fico grato que eles tenham bom senso e esperem bastante enquanto
tenho de chegar à porta com passos de bebê. Mesmo assim, parece que corri
por uma meia hora quando enfim ponho a mão na maçaneta.
Estou pronto pra dizer que eles não precisam vir me ver cinco vezes ao
dia, mas, engulo qualquer palavra dessas quando abro a porta e me deparo
com Victoria do outro lado.
Nós nos olhamos, massacrados por um silêncio eterno. Que merda.
Não sei o que dizer. Se tem algo pra ser dito. Ela disse que não se
importaria mais. Achei que tivesse feito o que todo mundo sempre faz: ido
embora pra sempre.
— Oi, Nathan — ela é a primeira a se pronunciar e não deixo de
perceber seu olhar abaixar até minha cintura e subir novamente, de maneira
lenta. — Como você está? — quer saber, quando seu olhar encontra o meu
novamente.
Demoro a ter alguma reação pela maneira que me perco com o simples
fato de ela estar perto de mim. Seu olhar, seus cabelos soltos, a maneira
como ela se apresenta ao surgir: sempre parecendo um mistério.
É saudade. Muita saudade. Tenho vontade de me aproximar e pegá-la
nos braços, levar para o sofá e colar nossos lábios até que um pouco do que
já tivemos seja reavivado.
Mas não consigo e, mais importante, não posso fazer isso. Estou
momentaneamente debilitado. Tenho que cooperar pra minha recuperação.
Meu corpo não vai conseguir ser rápido se eu não o ajudar.
Por isso, escolho dizer:
— Que surpresa te ver aqui.
Ela faz uma careta amena e logo balança a cabeça.
— Sim, eu também acho — concorda —, mas quero saber como você
está. Não consegui me aquietar desde o dia que deixei sua casa.
Nos encaramos por um pouco mais de tempo, até que ficar de pé
começa a me incomodar.
Penso em uma resposta rápida suficiente pra fazer Victoria ficar
convencida e dar meia volta, mas não consigo. Minha careta de dor me
dedura.
— Nathan? — ela se aproxima de mim na velocidade da luz, as mãos
estendidas como se estivesse prestes a me segurar. — Ai, meu Deus, você
está com dor? Onde dói? — ela deixa a bolsa que carrega no ombro,
escorregar por seu braço e cair no chão da entrada da minha casa.
Me limito a não responder e só me apoio na parede mais próxima da
porta, inspirando devagar o ar e abrindo a boca para, de igual forma, deixa a
respiração compassada.
— Vem, eu vou te ajudar a se sentar — Victoria já diz isso chegando
ao meu lado e com tanto zelo puxando meu braço para trás de sua cabeça,
de maneira que consegue me servir de apoio.
Mais devagar do que eu gostaria, caminhamos até o sofá. Com mais
cuidado do que eu também gostaria, ela me ajuda a acomodar no estofado, e
é muito pró-ativa em ajeitar uma almofada por trás das minhas costas.
Ainda tô controlando a respiração quando seu olhar encontra o meu. O
dela está preocupado, procurando vestígio de alguma coisa. Talvez alguma
reação em sinal de que ainda tô na pior.
Mas não. Me sinto ótimo. E acho que é o que ela precisa ouvir, e
também saber.
— Eu tô ótimo.
— Percebi — seu jeito irônico de dizer não soa tão como ironia. Ela
vem se sentar ao meu lado. — Encontrei o Douglas e ele me disse que você
já estava fora da cama. A Tina permitiu isso?
Dou um riso.
— Não é como se a Tina tivesse que me permitir alguma coisa.
— Oh, me desculpe se ela estava sendo sua enfermeira e com certeza
sabia o tempo que você poderia começar a se levantar e circular por aí.
Faço uma careta.
— Desde quando você se tornou uma chata?
— Não estou sendo chata, mas nitidamente você acha que tudo bem
receber um tiro no peito e em menos de dois meses começar a levar uma
vida normal, como se tudo estivesse bem. Alguém precisa te dizer que não
está tudo bem! Você foi baleado, Nathan!
Me esquivo um pouco, tanto quanto consigo, simplesmente porque me
impressiono por ver Victoria cair no choro.
Não entendo o motivo, porque o baleado fui eu; mas espero que ela
tente se recompor, as mãos indo ao rosto, seus dedos trêmulos tentando
secar as lágrimas, seu fungar duradouro. Fico inerte quanto a isso.
— Tá tudo bem? — pergunto, com suavidade.
Ela demora a responder, ainda ocupada segurando e secando as
lágrimas. Tenho vontade de puxá-la pra mim e enchê-la de beijos.
Mas não posso. Meu peito em cicatrização não permite.
— Desculpe — seu sussurro é meio engasgado. — Eu não queria
explodir assim.
— Não tem problema — balanço a cabeça. — Não temos tido dias
fáceis.
Ela volta a me olhar, o rosto vermelho e os olhos ansiosos.
— Você já jantou? — quer saber.
— Não — desvio o olhar. — Nem me lembrei disso.
Victoria se levanta, como se tivesse achado uma resposta.
— Vou preparar seu jantar. Você emagreceu. Deve estar sem comer.
Minhas sobrancelhas se erguem, em uma discordância.
— Eu não emagreci.
— Não muito, mas o suficiente para se notar — ela prende os cabelos
e sai do meu campo de visão. Ouço a batida da porta se fechando e logo
Victoria retorna para avisar: — Volto logo com seu jantar. Tente não se
mexer muito.
Sem mais opções, só me resta esperar.
Capítulo 42
Victoria
Quando volto para onde Nathan está, encontro-o com a cabeça virada
para o lado e apoiada na almofada, a boca aberta, os olhos fechados e a
respiração controlada. Ele está dormindo.
Não quero acordá-lo, mas sei também que ele tem que se alimentar.
Sendo assim, me sento no espaço vazio ao seu lado no sofá e coloco o prato
de comida na mesinha de centro próxima ao sofá.
Por uns segundos, fico observando-o dormir. A respiração mais calma
e compassada, seus cílios dando a impressão de se mexerem junto com as
pálpebras agitadas, acusando um cochilo profundo.
— Nathan? — o chamo baixinho, me considerando uma vilã. Eu nem
devia estar aqui, se formos fazer a matemática certa da situação. — Vamos
comer — insisto, tocando seu braço e alisando um pouco.
Ele ainda leva uns instantes para acordar, abrindo os olhos e me
procurando. Quando me acha, bem ao seu lado, observo-o piscar três vezes
antes de respirar fundo e devagar.
— Estava sonhando com você — ele murmura depois de umedecer os
lábios, e tenta se ajeitar de uma maneira não brusca. Mesmo com a cautela,
parece ser algo desconfortável. Vejo isso na expressão que toma seu rosto.
— Comigo? — me surpreendo, mas não tanto. Tendo em vista que
cheguei de supetão em sua casa depois de tantos acontecimentos
desagradáveis em sua vida nos últimos dias, trinta por cento deles
apontando a culpa para mim, imagino que a raiva por minha pessoa esteja
alocada em seu subconsciente, fazendo-o sonhar comigo.
— Isso, é — ele gesticula com a cabeça para o prato na mesinha de
centro. — Tá com um cheiro bom, mas a aparência é péssima. O que é?
Não levo para o lado pessoal e também olho para o prato. Tem brócolis
e couve no vapor, mas coloquei uma porção considerável da carne magra
que achei no seu freezer, como acompanhamento.
— Brócolis e couve — respondo, voltando a olhá-lo em tempo de
flagrar sua careta de nojo. — Não era você que me dizia para recarregar as
energias? — o relembro.
— Era. Mas isso foi antes de eu levar um tiro e descobrir que não sou
pai — balança a cabeça. — Sem contar, pra não esquecermos — dá um
sorriso irônico —, que meu pai foi enterrado e eu não estive presente.
Preciso, aliás, de sete meses pra começar — ele frisa — a voltar ao meu
normal. Vou perder toda a coisa boa do Natal e... — seu olhar se segura no
meu, me desafiando a desviar. — Isso é uma droga.
Não sei o que dizer. Me sinto a pior pessoa do mundo. Ele está,
indiretamente, me dizendo que estraguei a sua vida. E não está errado.
Meu olhar não desvia do seu, apenas quando ele volta a olhar o prato.
Sua negação é automática outra vez.
— Você tem que comer — preciso avisar, pegando o prato e trazendo
por sobre a mão. — Eu dou na sua boca.
Ele ri. Mas não foi para ser engraçado e nem ele achou mesmo graça.
— Dou, para impedir você de fazer movimentos demais — explico.
— E você quer que eu fique entrevado?
Agora eu rio e ele fica me olhando.
— Não — nego, pegando uma porção de carne na colher. Cortei em
cubinhos bem pequenos. — Por causa do peito. Você pode relaxar e só
mastigar, sem muito esforço.
— Por quê?
— Porque eu acho que vai ajudar você — respondo o óbvio.
— Quero saber por que você não perguntou com o que eu sonhei sobre
você.
Ergo as sobrancelhas e respiro fundo enquanto penso no que
responder. Levando em consideração a forma que Nathan está me
encarando, ele me acha uma ordinária de todos os jeitos.
— Eu não sei — admito e simulo levar a colher cheia até sua boca, o
que o faz abri-la para receber o alimento mesmo sem vontade. — Acho que
não quero saber.
Nathan mastiga fazendo careta, mas engole e volta a tagarelar:
— Eu também não quero comer e estou comendo.
— É diferente. Isso é pela sua saúde.
— É, boneca, eu tô ligado — ele quase ri, mas sua expressão endurece
tão rápido quanto. — Você está muito pisando em ovos pra quem não tem
nada a ver com a merda toda que aconteceu.
Olho-o um momento antes de responder.
— Eu tenho tudo a ver, na verdade.
— Não te vi do lado daquele filho da puta cochichando que ele devia
me bater e ameaçar, nem no carro quando ele me sequestrou — contrapõe.
— Você pode parar com isso de se colocar a culpa. O Jacob já ganhou o que
buscou em todos esses anos brincando com a mente das pessoas. Essa
página da sua vida acabou, Victoria.
Mordo o lábio, sentindo meu coração martelar no peito. Nathan tem
razão, Jacob se foi. Ele não pode mais me amedontrar de nenhuma forma.
Em contrapartida, no entanto, amedrontou mais ainda a mente de
Nathan antes de ir, e isso me corrói.
— Diga que me entendeu — ele segura meu rosto para que meu olhar
volte ao seu. Encontro olhos profundamente escuros me encarando com
determinação.
Engulo em seco outra vez.
— Entendi — concordo —, mas me desculpe se eu não consigo aceitar
isso como verdade. Se não tivesse me conhecido, Jacob nunca teria tido
conhecimento sobre você.
Nathan solta meu rosto e sorri de uma maneira amarga.
— Talvez seja verdade, talvez não seja. A minha secretária já o
conhecia e era uma questão de tempo até ele me conhecer — Nathan desvia
o olhar para frente, tomado por pensamentos. — Pode ter sido pessoal o
lance de me sequestrar. Pode ser que Camila mentiu no depoimento e que,
na real, Jacob tenha cruzado seu caminho depois que eu o ameacei — ele
volta a me olhar. — Nunca saberemos.
— Não pensei por esse ponto.
— Você feriu o ego do cara, Victoria. Um marginal de ego ferido corre
atrás de vingança, não importa como, mas ele não quer sair por baixo.
Engulo em seco pela terceira vez. Meu Deus.
— Mas não se preocupa — Nathan pontua. — Como eu disse, essa
página da sua vida acabou. Não vai me dar mais comida? — ele sorri de
maneira sincera agora, acho que agora para me tranquilizar.
Pisco os olhos algumas vezes e me ponho a pegar mais comida para
levar até sua boca.
Enquanto ele mastiga, tento não pensar em como eu poderia ter
morrido durante esses últimos meses porque meu ex-namorado era um
marginal.
Capítulo 43
Victoria
Victoria
Afasto o rosto no mesmo instante que reparo nas palavras que ouvi.
Meus olhos encontram os de Nathan, que agora me encaram com um brilho
divertido.
— O que você disse? — questiono, alheada. Posso ter ouvido errado.
Tenho quase certeza que ouvi errado.
— O que você entendeu — ele me estuda por um momento. — Eu me
apaixonei e, se quer saber, é muito nada a ver quando você me deixa por
motivo nenhum. Porque os apaixonados precisam ficar juntos e, pelos meus
cálculos — seu sorriso agora é presunçoso —, você entende o que quero
dizer.
Engulo em seco, totalmente atingida. É claro que eu entendo, só não
achei que Nathan sentisse o mesmo. Que estivesse apaixonado por mim.
— Eu não entendo — murmuro, sendo tentada a aproximar mais meus
lábios dos seus, que estão sendo umedecidos insistentemente por sua
língua. É mesmo uma tentação. — Não entendo mesmo.
— Tudo bem, você não precisa entender agora. Basta saber que me
apaixonei e que você longe me desconfigurou.
Dou um sorriso, afastando novamente o rosto para rebater.
— Se não se lembra, foi você quem me expulsou dizendo que preferia
a Tina, que eu não precisaria mais de você ou do seu apoio.
— É verdade — ele concorda. — Eu disse, mas só porque era crucial.
Você não precisaria mais ficar comigo, sabia disso, e eu tinha que me
acostumar com esse fato antes que você me deixasse sem avisar.
— Eu não... — imediatamente começo a dizer, levando uma mão ao
seu rosto recém barbeado e fazendo uma carícia enquanto encaro seu olhar.
— Eu não te deixaria sem avisar.
Nathan ri.
— Bom, vou ficar feliz porque pelo menos você teria essa
consideração.
— Não foi isso que eu quis dizer.
Sua mão sobe até minha cabeça outra vez e ele a puxa na direção da
sua, nossas testas se encontrando.
— Senti sua falta — ele sussurra. — Não devia ter pedido pra você ir
embora, mas eu também estava preocupado. Você estava sem dormir direito
há muitos dias.
— Nem senti que estava. Minha atenção era toda sua.
Noto seus lábios formarem um sorriso.
— E o que você acha de me dar mais um pouco dessa atenção? — quer
saber.
Também sorrio, me ajeitando para voltar mais perto do seu corpo, mas
tendo cuidado para não encostar no seu peito.
— Eu acho que estou de acordo — respondo já aproximando meus
lábios dos seus outra vez e, sem hesitar, Nathan os prende e começa a
conduzir em um beijo afoito, que descreve em tudo a nossa saudade.
Mesmo rápido, quase desesperado, com a urgência do cronômetro
invisível, Nathan consegue me deixar em fagulhas pelo corpo inteiro, essas
sendo acompanhadas de fortes arrepios. É só um beijo, eu sei, mas é um
beijo de saudade. É um beijo do Nathan.
O homem por quem estou apaixonada.
Me afasto quando sinto sua dificuldade em continuar o beijo por causa
da respiração difícil.
— Você está bem? — pergunto, preocupada. — Não devíamos estar
fazendo isso, de beijar. — Me arrependo imediatamente. — Você está se
recuperando — enfio os dedos nos cabelos e me condeno: — Que tipo de
mulher insensível eu sou?
— Nós devemos fazer isso, Victoria — ele protesta assim que termino
de falar. — Eu estou bem, é sério. Isso da respiração só tem a ver com a
minha recuperação. Não significa que eu vou morrer porque você tá me
beijando — sua fala convicta é acompanhada de um discreto revirar de
olhos.
Mesmo assim, apesar de sentir tanta certeza em sua voz, ainda hesito.
Nathan solta uma lufada de ar e me encara de um jeito diferente, quase
me desafiando a dizer não.
— Tira a calça e sobe aqui — ele pede, batendo com a outra mão sobre
as pernas.
Meus olhos se arregalam.
— Não, de jeito nenhum! — me recuso no mesmo instante. — Você é
doido? Vou te machucar.
— Claro que não. Vem cá, por favor. Preciso de você depois de tantos
dias sofrendo — ele entristece o semblante, o que me faz rir.
— E por que eu tenho que tirar a minha calça?
— Porque vai facilitar pra você não me machucar, só por isso.
Rio de novo, dessa vez de muita vontade. Me levanto e tiro a calça
jeans rapidamente, olhando-o depois que estou sem a peça.
Seus olhos ficam como vidro, de tão límpidos.
— Se... — ele recomeça. — Se você também tirasse a blusa, não teria
nem risco de me machucar.
Agora fico descrente.
— É muita cara de pau — deixo claro.
Ele sorri.
— Por favor? — suplica. — Eu ficaria muito feliz.
Essas palavras são suficientes para eu já tirar a blusa e jogá-la no chão.
Subo em seu colo logo depois, olhando em direção a sua blusa branca.
Está impecável, livre de manchas de sangue.
— Agora não vou fazer muitos movimentos porque não posso forçar o
peito — Nathan me informa. — Você vai facilitar pra mim?
Dou um sorriso e me ajeito em seu colo, o que imediatamente me faz
parar de sorrir quando sinto o que está embaixo de mim.
Meus olhos se abrem um pouco mais.
— Você é muito maquiavélico, senhor Nathan — sussurro perto do seu
rosto.
— Sou, não sou? — sua respiração ruidosa sopra no meu pescoço
antes de eu baixar a cabeça e colar nossos lábios outra vez.
Nos beijamos com menos urgência, mas a mesma saudade. O mesmo
sabor. Parece que sentar em seu colo o fez ter menos desespero e pressa. No
entanto, tenho um espasmo no corpo quando sinto seus dedos chegarem em
minha cintura, apertando a carne com veemência, o que me causa também
um calor gostoso.
Seus dentes prendem meu lábio inferior antes de sua boca escorregar
até meu pescoço e sua língua passar por ali, me fazendo fechar os olhos e
agarrar seus cabelos, me esbaldando na sensação.
Senti muita, muita falta disso. Do seu cheiro, do seu toque, da
sensação dos seus cabelos em meus dedos e seus lábios em minha pele. Ah!
A saudade com paixão não é explicável.
— Não pode me provocar demais — adianto. — Você não está cem
por cento e aí... — ofego quando ganho um aperto no peito por cima do top.
— E aí eu vou ficar com mais vontade.
Ele me ignora quando usa as mãos para me incentivar a levantar os
braços e poder tirar a peça de roupa. Fico imediatamente ansiosa e mais
desejosa quando isso acontece.
— Fica de joelhos — ele pede, a voz mais séria, grave, completamente
carnal e que me deixa no estado de obedecer instantaneamente.
Fico de joelhos e o observo de cima. Não tem mistérios! Nathan usa as
mãos para descer o short até metade das coxas. Seu instrumento pula fora
do aprisionamento do tecido assim que consegue e meus olhos vidrados não
disfarçam o que sinto.
Olho para seu rosto, vendo-o com a respiração um pouco difícil.
Estreito os olhos e mordo o lábio, incerta sobre isso. Nós queremos, mas
talvez não devamos.
— Você está bem? — questiono.
— Vou ficar melhor — murmura, agarrando minha cintura e me
incentivando a abaixar sobre seu colo outra vez.
Nossos olhares se encontram quando o faço e ele me encara de um
jeito arrepiante. É um olhar que me faz sentir as pernas amolecerem e não é
só por causa do que tenho sob mim.
Não sei como Nathan consegue ter essa capacidade, mas tem e eu
nunca vou conseguir explicar.
— O que foi? — indago quando ele me olha por tempo demais. Não
tenho a capacidade de me manter quieta se ele continuar me esquentando
assim, sem precisar dizer uma única palavra.
— Quanto tempo tenho que esperar até você facilitar pra mim? — ele
rebate, a voz me fazendo contorcer até os dedos dos pés.
Não penso, apenas me levanto e tiro a calcinha. Nathan me observa,
mas logo volto para o seu colo, tendo o cuidado de pegar apoio nas costas
do sofá com uma mão enquanto com a outra eu agarro sua ereção.
Solto um suspiro diante do seu rosto, sua dureza me eletrizando.
— Se você se machucar por isso, eu nunca vou me perdoar —
sussurro.
Ele sorri. Sorri. E pronto, é suficiente para derrubar minhas barreiras.
Fico de joelhos de novo, mas desta vez para o conduzir até onde
queremos que ele esteja. E preciso de uns segundos antes de deslizar sobre
ele. Segundos consideráveis porque estou mais pronta do que imaginei que
estaria.
— Deixa eu sentir — Nathan pede, os olhos pesados e estreitos. — Só
um pouco.
— Você tem preservativo aqui?
— Não — ele nega. — Por favor, Victoria. Só um pouco. Por favor.
Sua súplica me faz jogar a racionalidade de escanteio e, sem mais
pensar, nos encaixo e deslizo lentamente nele. Muito lentamente porque
Nathan tem uma grossura que acho que não dá para acostumar.
— Oh, nossa — solto um gemido e tenho vontade de me agarrar nele,
mas não posso e isso é uma droga. — Minha nossa.
Ele umedece os lábios, baixando os olhos para nossa conexão perfeita
e que logo se torna completa.
— Eu sei — Nathan concorda, sua mão direita estapeando meu
traseiro e apertando-o em seguida. — Cavalga em mim.
O calor aumenta ante o pedido e não hesito ou rebato em obedecer.
Pego apoio nas costas do sofá, cada uma das mãos ao lado de sua cabeça, o
que me dá a excelente oportunidade de me magnetizar com o seu olhar
brilhante e ansioso; então começo a deslizar sobre ele, subindo e descendo
lentamente, o que tira de Nathan uma lufada de ar junto a olhos estreitos, e
de mim uma adaptação imediata a invasão que eu mesma estou
controlando.
Minhas pernas começam a tremer conforme me acostumo com o que
estou recebendo, e me irrito por Jacob ter feito o meu homem perder um
pouco do seu vigor – mesmo que por tempo determinado.
Mas não estou pensando direito quando concluo essas coisas em minha
cabeça, só sei que não posso extravasar a minha vontade tocando Nathan
em nenhuma parte do seu peitoral, o que é uma droga, porque adoro
arranhá-lo.
Ganho um novo tapa no traseiro, e contemplo o sorriso charmoso dele
chegando aos seus lábios. Ele sabe do que é capaz sem precisar de muito.
Minha respiração funda diz em tudo sobre a minha frustração por não
tê-lo dominando esse momento.
— Alguém precisa de uma pegada forte — Nathan comenta e sua mão
sobe ao meu cabelo, puxando um punhado dos fios e me tirando um gemido
desesperado.
— Sim! — quase gaguejo, confirmando que ele está mais que
certo. Mais que certo. — Odeio essas condições — murmuro, a raiva me
fazendo subir e descer mais rapidamente, sem me preocupar com mais
nada. — Preciso de você...
Eu iria completar a frase, preciso de você completamente bem, mas
Nathan me interrompe antes para ter a oportunidade de induzir minha
cabeça em sua direção e me prender em um dos seus beijos.
Meus dedos agarram fortemente o tecido do sofá enquanto sou
bombardeada por sua língua e lábios, suas mãos agora se enchendo com os
meus peitos, me fazendo gemer sofregamente em sua boca.
Estou sendo comandada pelo meu corpo, que vidra no que está
sentindo. Não é por nada, mas Nathan alcança a profundidade perfeita.
Quase me sinto despedaçar inteira, de um jeito magnificamente delirante de
bom.
— Ah, caramba! — ele ruge de repente, me fazendo contorcer até os
dedos dos pés. — Te quero pra mim. Todo dia, Victoria.
Dou um sorriso, rebolando sobre ele um pouco, acompanhando Nathan
balançar a cabeça e fechar os olhos, como se não soubesse o que fazer.
Eu o entendo, também estou desnorteada de prazer. Mas então me
lembro que ele não está apto a cargas de adrenalina que vão roubar sua
respiração e resolvo me adiantar.
Me levanto, seus olhos sendo tomados por pânico. Sorrio para ele e me
ajoelho, separando mais seus joelhos para conseguir me colocar no meio
deles e alcançar meu objetivo.
Nathan me encara de cima com as pálpebras pesadas, minhas mãos
agarrando seu pau para conseguir trazê-lo à minha boca. Me espanto com a
grossura que me obriga a mexer a língua e produzir mais saliva,
principalmente quando Nathan segura em minha cabeça e me incentiva a
engoli-lo mais profundamente.
Tento conduzir minha respiração para que o momento seja agradável
para ambos, mas não demora mais que alguns minutos até seus gemidos se
tornarem mais altos e um gemido ruidoso indica que ele está quase lá.
Trabalho com a boca, tirando-o de dentro um momento para passar a
língua por sua longa extensão e depois os lábios, que se fecham na ponta do
seu pau; não sabendo que era exatamente o que Nathan precisava para
chegar ao ápice com gemidos graves.
Sua mão vem estimulá-lo e ele inunda meus lábios e a altura dos meus
seios com seus jatos grossos, a quentura deles e da ação me deixando
hipnotizada.
Estou alisando suas pernas quando ele termina, dando um sorriso ao
notar que seu short nem foi tirado completamente. Nathan só o abaixou até
metade das coxas. Então o tiro por completo, deixando-o livre da
vestimenta e usando-a para limpar mais ou menos seus vestígios de mim.
— Foi mal — o ouço dizer, me fazendo tirar a atenção da minha tarefa
e olhá-lo. Sorrio, não fazendo caso. — Você é tão linda sentando em mim,
sabia?
Dou risada, descartando seu short para o lado e me erguendo para
voltar ao seu colo. Me acomodo sobre suas pernas e penteio seus cabelos
com os dedos, Nathan me olhando de baixo. Deixo um beijinho em seus
lábios, o que o faz apertar minha cintura com uma mão.
— Obrigado — ele agradece.
— Pelo quê? — o olho nos olhos, me deixando ser hipnotizada mais
um pouco pelo seu olhar.
— Por voltar. Eu te abraçaria bem forte agora, se pudesse, mas não
posso — ele faz um beicinho que me tira outro sorriso. — Também estou
com uma dúvida forte, na real.
— Qual dúvida?
— Você voltou por causa do lance de sentir culpada e querer se
desculpar, pra ver se eu estava bem e me recuperando, ou porque ficou com
saudades que nem eu?
Meu sorriso é instantâneo, principalmente quando vejo Nathan morder
o lábio, em um óbvio sinal de que está ansioso pela resposta.
— Por todos esses motivos — admito. — Se eu isolasse só um desses,
não faria sentido, porque todos se ligam a você — faço uma pausa. —
Estava com muita saudade, por isso fui morar quase em outra cidade.
— Como se isso eliminasse sentimentos — ele murmura em
reprovação. — Desculpa ter dito aquelas coisas que fizeram você ir embora.
Eu só não queria ser deixado de novo sem perceber. Me adiantei antes que...
— Tudo bem — o interrompo. — Você já me explicou o seu ponto. Eu
não faria isso. Não te deixaria sem motivo — acaricio seus ombros e dou
uma olhada em sua blusa, ainda impecável. Me sinto aliviada. — Como está
se sentindo?
— Bem melhor. Muito melhor — o sorriso que se abre em seus lábios
não tem malícia, parece feliz e sincero. — Fico sempre bem com você por
perto.
— Isso me deixa muito feliz.
— Sabe o que me deixaria melhor ainda?
Estreito os olhos, curiosa.
— O quê?
— Que você voltasse a morar comigo.
— Hm, é mesmo? — sorrio, tentando esconder minha empolgação.
Mas não sei se consigo.
— É mesmo — Nathan balança a cabeça afirmativamente. — Um
homem apaixonado precisa da sua amada por perto constantemente.
Minha risada agora é mais alta, o que o faz se sentir ofendido.
— Ei, não é justo rir da minha declaração — ganho uma palmada na
bunda. — Mas é sério, eu quero mesmo que você volte. Sinto sua falta
diariamente, minha saudade diária.
Paro de rir e o olho com ternura. Estou completamente apaixonada
também e não é segredo. Nem para mim mesma, por isso acho bom
confessar em alta voz:
— Uma mulher apaixonada também precisa do seu amado por perto
constantemente.
Nathan assimila minhas palavras, então suas sobrancelhas se erguem,
como se ele tivesse sido tomado por surpresa.
— Você também é apaixonada por mim?
— Só um pouco — finjo desdém.
Ele começa a morder o lábio, o que me tira uma risada.
— É brincadeira sua? — questiona.
— Não — sorrio. — Também estou apaixonada por você.
— Então tudo bem eu perguntar se você quer namorar comigo?
Tenho um momento de choque, meus olhos se arregalando e minha
boca se abrindo mais. Encaro-o enquanto processo o que ouvi, me dando
conta que preciso responder.
E, é claro, nada mais que o óbvio.
— Quero! Quero sim, quero muito — ataco sua boca com um beijo
que desmancha seu sorriso imediato. — Você não perde tempo, senhor
Nathan.
Ele ri, me fazendo olhá-lo novamente.
— Não quero mais perder tempo se achei a mulher ideal pra mim —
admite. — E, se quer saber, só não te peço em casamento pra você não
achar que sou um emocionado precipitado. Mas, se não se opor, vou manter
isso em mente.
Me derreto em seu colo, abalada e cheia de emoção.
— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Nathan — digo.
— Espero que boas — ele sorri. — Você me faz feliz e não vou fingir
que acho isso em qualquer lugar. Se é sorte ou destino da vida, não sei, mas
enquanto você quiser, vou te manter ao meu lado.
— Tomara que seja por muitooo tempo!
— E os anjos digam amém — ele pisca para mim, me derretendo mais
um pouco.
Se é sorte ou destino, só sei que eu não poderia estar mais feliz. Estou
apaixonada por alguém que também sente mesmo. Um homem mais jovem
que eu, sim, mas que tem mais maturidade e é mais homem em sua postura
que todos os que já passaram pela minha vida.
Então, seja o que for que me trouxe aqui, só posso me sentir grata. E
feliz!
Indescritivelmente feliz.
EPÍLOGO
Noite de Natal
Booktrailer Os Armstronger
Booktrailer Os Mackenzies