Hoje era dia de uma grande operação no morro. Desde cedo só se falava
disso na televisão, eu tinha pavor quando isso acontecia, já perdi conhecidos
que morreram de bala perdida aqui e hoje estava demais, era polícia em todas
as partes e entradas. E por causa desta operação, Otávio não pode ir à festa
que ele estava organizando com os amigos, então quando cheguei em casa,
ele estava com ódio e veio descontar em mim.
Só que eu ainda estava machucado da surra anterior que foi há 2
semanas, então ao invés de me abaixar e tentar proteger meu rosto, como
sempre fazia, corri para o quarto e isso o enfureceu ainda mais.
Entrei tranquei a porta e ele ficou esmurrando e me xingando...
— ABRE ESSA PORTA, SEU INFELIZ!! HOJE EU QUEBRO SUAS
PERNAS, SÓ POR TER CORRIDO DE MIM !! — Disse Otávio cuspindo
ódio.
Eu me tremia todo, não sabia o que fazer. O tiro comia do lado de fora,
era para estar abaixado perto da cama para me proteger de alguma bala
perdida e ao invés disso, estava andando de um lado para outro procurando
uma saída.
Estava de calça jeans e blusinha rosa de meia manga, fazia um pouco de
frio. Abri meu guarda-roupas, peguei um casaco preto que eu tinha com
capuz e vesti. Peguei minha identidade e coloquei no bolso da calça, eu tinha
que fugir, ia dar um jeito. Ele ia me matar agora se me pegasse.
De repente ele deu um chute tão forte na porta que a mesma veio ao
chão e rapidamente ele voou para cima de mim. Recebi dois socos que me
deixaram moles, mas tentei me arrastar pelo chão e com isso levei um chute
nas costelas. Ao virar meu rosto para protegê-lo, olhei para debaixo da cama
e vi a maleta de ferramentas dele, aberta, com o cabo do martelo aparecendo.
Estiquei minha mão e o segurei, ao mesmo tempo que ele me levantou pelos
cabelos.
Quando ele apertou meu pescoço me estrangulando, não pensei duas
vezes, em acertar com o cabo do martelo a lateral de sua cabeça, ele me
soltou, tonto, então dei outra batida, agora na parte de trás da cabeça dele e
isso o levou ao chão.
Eu não tinha matado ele, sabia disso, pois acertei com força, mas com o
cabo e não com o ferro em si. Ele estava sangrando e estava desmaiado.
Verifiquei e vi que respirava.
Levantei tonto, um dos meus olhos mal abria, já tinha inchado pelo soco
e minha costela doía tanto que me dificultava respirar. Cambaleante, peguei a
chave de casa e saí para rua.
Casas estavam fechadas, algumas pessoas que chegavam de seu trabalho
estavam correndo e se protegendo. Já se ouviam bombas e os tiros não
paravam, coloquei meu capuz e tentei correr até a casa de Elaine, tive que me
abaixar em alguns momentos, estava em pânico pelo que acabou de acontecer
e por estar arriscando minha vida no meio de tantos tiros.
Depois de bater três vezes e não ser atendido, meu medo triplicou, eu já
nem pensava mais na operação e sim em Otávio acordar e vir atrás de mim.
Corri por ruas laterais e agora eu tentava sair do morro. Estava parecendo um
bandido, tentando fugir, o desespero me consumia. Minha visão estava
embaçada pelo choro preso e eu já mal sabia aonde estava indo, de repente
todas aquelas ruas ficaram iguais e eu estava literalmente perdido.
Na última rua que entrei, dei de cara com um grupo de policiais
recebendo instruções e o susto foi tão grande que derrapei no chão e cai de
bunda, chamando atenção deles que miraram suas armas para mim. Só tive
tempo de levantar as mãos, a voz não existia mais. Um policial veio por trás e
me pegou pelo pescoço.
— Aonde vai com tanta pressa? Você está preso, seu merda!! — Falou
ele no meu ouvindo.
Eu balancei a cabeça negando, tentei me soltar e ele me apertou mais.
— Fica parado, seu filho da puta, acabou para você — Disse ele me
algemando e me empurrando de joelhos no chão.
Os outros riram e debocharam de mim, eu só sabia chorar, estava
perdido e apavorado. Alguns deles se dispersaram e restaram dois, o que me
pegou e um outro extremamente forte e grande.
— Mata logo esse daí, vai carregar mais um? Isso é verme, a gente fala
que morreu em meio aos tiros — Disse o homem forte.
— Antes vou me divertir — Falou o que me prendeu.
E antes que eu pudesse falar algo, ele veio para perto de mim e me deu
um chute no meio das pernas que quase me fez apagar de dor, isso tudo rindo.
O outro policial, o forte, pediu para ele parar que o chefe não iria gostar
disso, já que não ia matar, era para me levar preso. Eu ainda me contorcia e
chorava, quando ele me pegou pela parte de trás do casaco e ia me levantando
para bater de novo. Foi aí ouvi uma voz que falou muito firme.
— O que você pensa que está fazendo, soldado Matias?
Meu carrasco, que agora eu sabia que se chamava, Matias,
imediatamente me largou no chão. Caí por cima do meu braço que reclamou
muito de dor.
— Comandante, esse moleque surgiu aqui do nada e apontou uma ama
para nós. Eu o imobilizei e estava lhe dando uma lição. — Disse mentindo o
soldado Matias.
— Nossa operação está sendo um sucesso e ao invés de você estar
ajudando seus colegas, está aqui torturando uma pessoa. Mesmo sendo
bandido, eu não quero isso, você já torturou um inocente e eu já lhe avisei o
que aconteceria, porra! Saia daqui agora!!!! — Gritou o policial de voz firme.
Matias saiu sem olhar para trás, ficou apenas eu, o policial fortão e o da
voz firme.
— O que ele contou é verdade, Barreto?
— Não comandante — Disse o policial forte que agora eu sabia o nome
também. — Ele apenas chegou correndo e quando nos viu se assustou e
derrapou no chão, ainda não vimos se ele está armado ou não. — Falou
Barreto
O comandante se aproximou de mim me olhando e eu me encolhi
chorando, estava todo sujo, meu rosto tinha terra, sangue e estava inchado.
Ele estava com a arma na mão e começou a me revistar.
Quando suas mãos chegaram na minha costela, soltei um gemido de
dor, mas minha voz não era grossa, aliás, nunca foi, minha voz era fina ,
quase feminina, mesmo com uma leve rouquidão.
Imediatamente o comandante, que deve ter pensado que eu era uma
mulher, já que eu ainda estava de capuz e era magro, se aproximou mais e
tirou meu capuz.
Foi a primeira vez que vi seu rosto direito, ele tinha olhos verdes, seu
rosto era bonito, mas sério, muito sério. Suas sobrancelhas estavam unidas
enquanto ele olhava para mim. Eu tremia de medo dele, que mandasse me
matar. Ele levantou sua mão e tirou uma parte de meu cabelo que caía em
meu rosto, revelando o lado em que ganhei o soco.
— Foi Matias que fez isso com você? — Perguntou o comandante.
Engoli em seco e balancei a cabeça que não, ele pareceu se irritar.
— Responde com a boca, porra!
— Não foi ele, foi meu marido — Falei baixinho abaixando minha
cabeça, mas logo olhei para ele novamente.
— Ele é viado? — Perguntou Barreto.
Olhei para ele e o encarei...
— O que você estava fazendo aqui? Chegou correndo por quê? —
Perguntou o comandante.
— Eu fugi de casa.
— No meio do tiroteio?
— Não aguentava mais apanhar. Meu marido é agressivo — Respondi.
— Onde está ele agora?
— No chão do nosso quarto.
— Você o matou? — Perguntou o comandante levantando-se.
— Não, mas o acertei com o cabo do martelo e o deixei desmaiado, por
isso fugi, quando ele acordar vai me matar.
O comandante e Barreto se olharam, se eles estavam acreditando em
mim, não sei dizer, mas me apavorei quando ouvi a ordem do comandante.
— Leva ele, coloca no camburão e vamos para delegacia.
Tentei me arrastar, mas, Barreto era muito forte, então me levantou
como se eu fosse pena. Nessa hora meus cabelos se soltaram mais, eles
estavam grandes.
— Bora dar um passeio, boneca.
Só tive tempo de olhar para o comandante com um olhar suplicante,
enquanto, Barreto me levava, ele me olhou sério.... Eu não sabia o que seria
de mim...
Barreto me arrastava até a saída do morro, que descobri estar
perto. Em alguns momentos eu gemia de dor, pois tudo em mim doía. De
repente Barreto parou e me colocou de frente para ele, senti medo.
— Onde está doendo? — Ele perguntou me olhando.
— Minhas costelas estão machucadas — Respondi olhando em seus
olhos e morrendo de medo dele.
Barreto me surpreendeu ao me pegar no colo, o ar chegou a escapar dos
meus pulmões, fiquei sem saber o que fazer, nem consegui colocar minhas
mãos nele. E ele continuou caminhando comigo.
— Por favor, não fiz nada para me prender, só me defendi — Disse
choroso.
— Não sou eu que dou as ordens, bebê, apenas cumpro e o comandante
mandou te levar, então eu levo — Respondeu bem sério o soldado Barreto.
— Estou com medo de morrer, você sabe o que fazem com gays na
cadeia, por favor me ajuda — Falei já chorando compulsivamente.
Neste momento chegamos perto do camburão, eram quatro, pertos um
do outro, três estavam cheios. Barreto me colocou no vazio, mesmo
desesperado, não deixei de perceber a delicadeza com que ele me colocou no
carro. Após conseguir sentar direito, olhei para ele com as lágrimas descendo.
Ele me surpreendeu novamente, ao tirar meu cabelo do rosto e secar minhas
lágrimas, era estranho uma montanha de músculos daquela ser tão delicado.
— Maurício vai até sua casa para conferir tudo que você falou.
— Quem é Maurício? — Perguntei perdido.
— O comandante que você conheceu.
— Mas ele não sabe onde moro.
— Ele descobre, não tenha dúvidas disso. E depois ele resolve sua
situação, você só tem que cooperar.
— Mas estou morrendo de medo, se não abusarem de mim, vão me
matar lá dentro. — Falei deixando o soluço escapar da minha garganta.
— Ninguém vai encostar em você. — Disse Barreto sério e encerrando a
conversa.
Em seguida ele bateu aquela porta e o barulho me arrepiou até a alma,
chorei mais ainda encolhido ali dentro.
— Rafael?
Engoli em seco, estava com tanto medo e tanta dor, que estava perdendo
as forças.
Chorei, acho que por toda situação, de alívio, por não ir parar numa cela,
por estar recebendo atenção de Barreto, que mesmo bruto, estava se
mostrando uma pessoa de valor.
Seguimos para dentro da delegacia, onde ele falou com uma mulher na
recepção que me olhou de cima a baixo e deu lhe deu uma chave. Ele me
conduziu por alguns corredores, até que chegamos em uma sala.
Era uma sala fria, toda branca e que possuía uma cadeira de ferro e uma
mesa igual. Entrei e olhei ao meu redor.
Mas a briga de hoje foi diferente, pois o centro dela foi esse preconceito
nojento que ele tem. Sei desse jeito dele desde que nos conhecemos, mas
também aqueles pais dele, vou te contar, são um pé no saco. Maurício sofreu
lavagem cerebral, nunca na minha vida vi pessoas tão arrogantes, metidas e
preconceituosas como eles.
É quase um milagre, Maurício, ter apenas esse defeito, não estou dizendo
que meu amigo seja a perfeição, é teimoso demais também, mas de grave é o
preconceito que ele carrega.
O que mais me deixou puto, nem foi ele insinuar que eu estava
querendo pegar o Rafa e sim algo que ele mesmo nem percebeu, pois sua
raiva comigo nada mais era que ciúmes, puro e simples, ciúmes. Vi
claramente a forma que ele olhou para, Rafael, assim que o viu, ele mal
piscava, estava vidrado e o pior, ele está sendo correspondido, pois Rafael
mudou até a respiração ao olhar para ele.
Depois de resolver tudo que fui fazer, voltei para o andar de, Rafael. Não
esbarrei mais com, Maurício. Chego em frente à sua porta, mas resolvo
deixá-lo quieto. Me sento e encosto minha cabeça na parede.
Ainda não sei como foi a primeira noite dele aqui, ele disse tranquila, mas
aquilo foi uma mentira, com certeza e não sei por que acho que tem dedo de
Maurício nisso.
— Sim senhor, estou em frente a porta da vítima, que você está doido
para dar uns beijos... Penso, mas não falo, lógico, mas me referi a Rafael
como ele mesmo se referiu.
— Não quero nenhum outro policial com ele a não ser eu ou você, não sei
por que, mas acho que esse Otávio pode fazer alguma coisa ainda. — Diz
Maurício com evidente medo na voz.
— Por que você acha isso? Você ficou impressionado com o sonho, não
foi?
Maurício mais uma vez suspira e o que ele diz em seguida me surpreende
totalmente.
— Eu... não quero que nada aconteça a ele, já chega termos pensado que
ele era bandido, quando a única coisa que ele estava era implorando por
ajuda. Não consigo esquecer aquele maldito sonho e tudo que senti vendo ele
ser baleado na minha frente.
É... parece que vou ter que mexer meus pauzinhos para fazer esse cara
acordar para a vida, bom... ele morre de ciúmes de mim com o Rafa, então
acho que está na hora de fazer realmente ele sentir ciúmes...
Depois de tudo que, Lucas me falou, passei a trabalhar com
minha cabeça uma verdadeira pilha. Acho que a última vez em que fiquei
assim foi quando descobri a traição de, Beatriz e durante uns 15 dias eu fingi
que não sabia de nada só para me munir de provas para quando eu fosse falar
com ela , não a deixar ter argumentos.
Eu a amava tanto, o dia do nosso casamento, até então, era o dia mais
feliz de toda minha vida. Eu a mimava, a tratava com tanto carinho e amor,
procurava ser para ela o melhor homem, na cama e fora dela.
Quando eu saia com ela me sentia orgulhoso de tê-la ao meu lado, para
no fim, passar a sentir nojo até de sua voz. Nos últimos 15 dias de casado, foi
que eu percebi que ela era puro fingimento na hora de me procurar na cama,
antes quando eu nem desconfiava de nada e ela algumas vezes me recusou,
eu me culpei achando que tinha feito algo de errado, mas agora sabendo de
tudo, eu sabia que ela me recusava, pois nesses dias devia ter estado com o
outro, com o até então, meu amigo.
Mas agora era minha vez e durante esses 15 dias eu não toquei nela uma
única vez sequer, não consegui, ela passou por cima de meus sentimentos
sem pena alguma. Ela podia se interessar por outro, estamos todos sujeitos a
isso, mas terminasse comigo primeiro, minha pergunta era... se eu não
descobrisse até quando ela levaria isso?
Ela estranhou, claro, mas nada falava. Só que eu nem estava mais
interessado no que ela achava ou deixava de achar e nem me preocupei em
dar nenhuma desculpa, apenas falava que não estava a fim. Ao final daqueles
dias, tivemos nossa conversa, em que eu falei tudo que descobri e acabei com
nosso casamento, quando ela passou pela porta, eu chorei muito, era raiva,
tristeza e solidão, tudo junto.
Naquele dia algo mudou em mim, me tornei fechado e frio, desde aquele
dia passei a ter relações com mulheres que eu conhecia nas noites em que eu
saia com Lucas, mas muitas das vezes me aliviei sozinho, pois me sentia um
lixo e triste.
Desde aquele dia meu coração nunca mais disparou por alguém, até o
momento em que Rafael abriu aquela porta achando que eu era o Lucas.
E isso tem me tirado dos eixos, não compreendo o que está acontecendo,
mas a situação só piorou. O estopim foi naquele mesmo dia a noite, após
deixá-lo deitado em sua cama, onde constatei que estava com uma imensa
vontade de deitar ali ao lado dele e provar de seu beijo.
Cresci ouvindo que esse tipo de relação era errado, mas hoje em dia é o
que você mais vê e eu nunca olhei para outro homem, nunca mesmo, mas
Rafael apareceu e de repente me faz questionar todos os meus conceitos.
E ainda tinha o Lucas no meio disso tudo, será que realmente ele não
estava a fim do Rafael? Ele disse que não, que é apenas amizade, mas...
Estou parado apoiado em minha mesa, numa sala que tenho aqui no
condomínio, quando, Matias, aparece perto de mim.
O miserável ainda por cima quer ficar de vigia do Rafael, isso eu nunca
iria permitir, do Rafael ele não se aproxima. Ainda me lembro muito bem
dele indo bater nele quando cheguei lá no morro e essa lembrança hoje me
incomoda ainda mais.
— Ele está saindo daqui, não desgrude o olho dele e qualquer coisa
suspeita quero ser informado imediatamente.
Me sento e abro a pasta do caso de Rafael, nela está a foto dele sorrindo
ao lado de Otávio...
Olho para o sorriso de Rafael na foto e acho o sorriso dele tão lindo...
Decido fazer uma ronda pelos andares. Quando pego meu telefone, uma
vontade avassaladora me acomete e quando dou por mim estou ligando para,
Rafael...
Nem eu sei o que estou fazendo e nem o que vou falar para ele, torço
para que ele não atenda e ao mesmo tempo quero ouvir a sua v....
— Oi comandante...
E chego a fechar os olhos ao ouvir a voz dele, meu Deus do céu, o que
estou fazendo? O que estou sentindo? Isso só pode ser loucura, não há outra
explicação.
— Só estou perguntando.
— E eu respondendo.
— Comandante?
— Sim?
— Por favor não brigue mais com o soldado, Barreto, por minha causa,
nós não temos nada, apenas somos amigos. Ele não está desrespeitando nada
em seu horário de trabalho.
Ouvir, Rafael, dizer aquilo tudo, foi como uma facada, por saber que ele
ouviu toda minha conversa com, Lucas. Por ver que ele o defendia e a merda
do ciúme veio me atormentar de novo. Por estar sentado de olhos fechados
absorvendo a voz dele tão doce e rouca e estar encantado com isso.
— Tudo bem, Rafael. Lucas faz o que quiser da vida dele, só quero que
ele respeite seu horário de trabalho.
— Ele não desrespeitou hora nenhuma, pode ter certeza.
— Ok.
Após responder, ele desliga o telefone e eu fico sem saber o que fazer.
Lucas sempre foi meu ombro amigo para desabafar, sempre soube de tudo da
minha vida, somos transparentes um com o outro, mas esse assunto creio que
não posso falar com ele, mas vou acabar enlouquecendo... ligo para ele...
— Pronto, comandante.
— Não aconteceu nada, meu amigo, só cansaço mesmo. Até mais tarde.
— Até...
Estava chocado, mas me mantive calado e quieto, não era só, Matias o
corrupto, era uma verdadeira gangue e pela conversa, esses infelizes já
trabalhavam há um bom tempo para Otávio e seus comparsas.
Eu não podia simplesmente entrar e dizer que descobri tudo, eles
estavam em cinco, me matariam na certa.
Mas uma coisa tinha certeza, precisava tirar Rafael daqui o mais rápido
possível, agora eu não confiava em mais ninguém, apenas em Lucas.
Me afastei o mais rápido que pude e encontrei, Lucas, no nosso
escritório, entrei rápido, fechei a porta e Lucas me olhou assustado.
— Está passando mal, Maurício? Você está branco!
— Lucas, precisamos tirar o Rafael o mais rápido possível daqui.
— Como assim? Por quê?
Contei tudo que havia descoberto para Lucas e tive que fazer uma força
danada para segurá-lo, pois ele queria ir pegar todo mundo.
— Esfria a cabeça, Lucas, me ajuda a tirar Rafael daqui primeiro e
depois te dou carta branca para pegar todo mundo. Entro até com tanque de
guerra aqui, mas com Rafa aqui não, por favor. Ele está correndo risco, ouvi
cinco deles e se tiver mais? Assim que eu colocar meus pés para fora com
Rafa, denuncio todo mundo.
— Tudo bem, o que vamos fazer?
Nos próximos minutos conversei com Lucas e combinamos tudo, eu iria
convocar agora cedo uma reunião de emergência e enquanto todos estivessem
comigo, ele sairia com Rafa pela passagem abandonada que o prédio tinha e
que só eu e ele sabíamos.
Voltei o mais rápido que pude para o apartamento de Rafa, estava
literalmente correndo contra o tempo, sentia isso.
Entrei e ele ainda dormia, peguei uma roupa para ele vestir e fui acordá-
lo.
— Amor, acorda, ei dorminhoco, por favor, acorda — Falei distribuindo
beijos no seu rosto e ele sorriu.
— Me chamou de quê? — Ele perguntou sonolento e de olhos fechados.
Foi aí que me toquei em como o chamei, foi tão espontâneo que mesmo
tenso, consegui sorrir com a forma que falei que ele era meu amor.
— Eu te chamei de amor, agora, por favor, levanta preciso falar com
você.
Rafa se espreguiçou e sentou na cama coçando os olhos, babei na
imagem dele naquele momento, carinha inchada de sono e cabelos
bagunçados. Eram cachos para todos os lados, mas ele estava maravilhoso e
ali eu segurei em seu rosto e ele me olhou com aqueles olhinhos curiosos, um
pouco assustados e que me fascinavam.
— Eu te amo, Rafael — Falei sentindo meu peito pular tamanha força
que meu coração batia.
Vi os olhos de Rafael encherem de lágrimas e quando elas escorreram
ele me respondeu..
— Eu também te amo tanto...
O beijei como se minha vida dependesse disso, mas de certa forma
dependia, eu precisava de Rafael para viver, ele se tornou tudo em tão pouco
tempo e eu não sabia mais viver sem ele.
Depois do nosso beijo, esperei ele levantar, escovar os dentes e se vestir.
Aí contei tudo a ele, que ficou apavorado e chorou bastante.
— Preciso que você mantenha a calma, por favor, tudo vai dar certo.
— E minhas coisas?
— Hoje você só sai com o que está vestido, depois cuido do resto.
— Para onde eu vou, amor? — Ele perguntou perdido e assustado.
Aquilo apertou meu coração, mas não deixei de reparar em como ele me
chamou e isso me fez ter ainda mais vontade de salvá-lo de tudo.
— Lucas vai te levar para minha casa e lá você estará protegido, ele não
sairá de perto de você até eu chegar.
Rafael me abraçou e disse que confiava em mim, nos beijamos e segui
para meu plano, deixei ele avisado que logo Lucas bateria na porta, para ele
ficar atento...
— Tudo certo?
— Tudo senhor.
— Então, Maurício, acha que você irá sair com ele?
— Sim, assim que percebi que ele nos vigiava eu entrei com esse
assunto para despistar.
— E essa tal reunião?
— Como te falei, ele vai fazer, para Lucas sair com o Rafael daqui. O
Armando que estava perto do escritório ouviu tudo e logo veio bater para
mim, então pude mudar todo nosso esquema. Vamos para reunião e assim
que eu estiver indo para lá, o senhor já entra pela passagem e chegará
rapidinho onde Rafael está. Quando, Lucas, for buscá-lo, já não o encontrará
mais, pois ele só vai quando ver todos nós reunidos.
— Ok.
Matias ter sido preso foi uma merda, mas não era só eu e ele, somos ao
todo, dez parceiros. Nove estão na polícia e sempre agimos tudo para o
Gasparzinho.
Agora eu iria tomar a frente e buscar o que é meu, o esquema já estava
tudo certo, mas, Armando, viu que, Maurício, havia descoberto e tinha
armado um plano para salvar Rafael. Então mudamos tudo na última hora.
Iríamos nos aproveitar do próprio plano de Maurício.
Enquanto ele estava achando que estava com todos os suspeitos presos
na tal reunião e que Lucas poderia sair tranquilo com Rafael, eu já terei
entrado e pegado o que me pertence. Ele nunca imaginaria que eu mesmo
fosse estar lá, só preciso de Rafael para sumir no mundo.
Não vejo a hora de pôr as mãos nele novamente, apago meu cigarro e
saio do carro, já me posicionando para entrar...
Depois que Maurício saiu, fiquei uma pilha. Na frente dele
tentei parecer que estava me acalmando, depois do choque inicial, mas na
verdade estava aflito.
Depois que, Matias, foi preso eu me senti mais aliviado, mas agora
sabendo que existem outros como ele, estou desesperado.
Minhas mãos estão suando e tremendo muito. Levanto e vou na cozinha
beber uma água, mas nada me acalma, só ficarei calmo quando entrar na casa
de Maurício.
Estou com o celular na mão, pois ele falou que me mandaria uma
mensagem assim que fosse para reunião, pois assim eu saberia que em
instantes, Lucas iria chegar aqui.
Não consigo nem sentar, começo a sentir calor com a calça jeans que
estou vestindo, sorte que a blusinha é uma camiseta, até meu cabelo está me
incomodando.
Depois de um tempo que nem sei quanto foi, estou sentado no sofá
inerte em meus pensamentos quando me assusto com o barulho do celular
tocando, o deixo até cair no chão, é a mensagem de Maurício ...
Começando a reunião...
Foi acabar de ler e ouvi a porta ser destrancada, estranhei, pois,
Maurício disse que Lucas ia bater, mas lembro que como ele tem a chave
pode ter dado ao nosso amigo e logo vou para a porta receber o Lucas que me
levará em segurança.
Só que quando estou chegando de frente a mesma, quem entra é o pior
dos meus pesadelos e o susto que levo me faz ir para trás, consequentemente
caindo de bunda no chão.
— Oi meu amor, estava com saudades de você! — Diz Otávio com um
sorriso sarcástico no rosto.
Minhas reação é ir me arrastando para trás chorando, mas ele logo me
pega pelos cabelos me levantando e aproximando seu rosto do meu. Ele beija
minha boca e eu começo a me debater tentando me soltar, meu coração
parece que vai explodir de tanto que bate forte, tamanho meu medo.
Quanto mais tento me soltar, mais com raiva ele fica.
— Fica quieto seu filho da puta, nós vamos dar uma voltinha.
— Me solta seu covarde, me deixa em paz — Falo chorando e tentando
me soltar dele.
Recebo um soco que faz meu corpo ficar mole e quase perco a
consciência, daí fica fácil Otávio me pegar no colo e me levar.
Não consigo ver direito que caminho estamos fazendo, pois estou muito
tonto, mas ainda estamos dentro do prédio. Ele desce algumas escadas e
quando estamos no meio delas, consigo ouvir a voz de Lucas gritando pelo
meu nome...
— RAFAEL! CADÊ VOCÊ? RAFA!!!!!!
Otávio tenta acelerar o passo mas ainda estamos na escada, o desespero
está tão grande, o choro preso na minha garganta, me queima por dentro, mas
o medo deste homem, de tudo que ele pode fazer comigo, me dá coragem e
simplesmente grito com toda força que me resta.
— LUCAS! SOCORRO!!!!! NAS ESCADAS!!!!!!
Depois disso não vejo mais nada, pois Otávio acerta algo duro na minha
cabeça e perco a consciência....
Acordo novamente, mas desta vez consigo aos pouquinhos abrir meus
olhos. A visão está um pouco turva, mas aos poucos, depois de piscar
bastante, vou voltando ao normal e me acostumando com a claridade do
quarto.
Estou no hospital, olho para o lado e vejo, Lucas, com a cabeça
encostada na poltrona que está sentado, está num soninho profundo.
Sorrio olhando meu amigo, tão cuidadoso comigo, seu jeito tão protetor
desde o início. Seu carinho por mim é um presente e tanto que a vida me deu.
Suspiro, estou cansado, observo meus braços, tem fios ligados mim em
um braço e no outro um remédio em minha veia.
Fecho meus olhos e respiro fundo, estou livre, é tudo que penso. Nunca
pensei que ficaria feliz com a morte de uma pessoa, mas Otávio não me
deixaria em paz nunca, mas agora posso respirar aliviado, ele não voltará, ele
não me pegará novamente, ele...
Saio dos meus pensamentos com o barulho da porta abrindo devagar e
por ela passa, a razão da minha vida, o dono dos meus sorrisos, o homem que
me devolveu a chance de ser feliz.
Ele me olha tão lindo se aproximando de mim, estou preso em seu olhar
e sinto lágrimas escorrerem por meu rosto. Estendo minha mão para ele que
entrelaça seus dedos com os meus e beija nossas mãos unidas.
— Desculpa não ter vindo antes, eu que deveria estar ali sentado onde
nosso grandão está, mas eram tantas coisas para resolver, a bagunça foi muito
grande e como ele estava com você , estava tranquilo.
Eu não conseguia falar. Vê-lo ali na minha frente, era tudo que meu
coração queria. Me levantei um pouco e fui amparado pelos braços dele que
me abraçaram com tanto amor, eu só soube chorar...
— Não chora meu amor, acabou, estou aqui com você. — Maurício
falou abraçado comigo.
Eu estava com o rosto em seu pescoço e seu cheiro me transmitia uma
paz impressionante, os soluços do choro ainda saíam, mas seu carinho em
meu cabelo e nas minhas costas me davam tanto amor que eu nem sabia
explicar.
— Fiquei desesperado quando te vi em poder daquele homem, eu... não
saberia viver se eu perdesse você...
Chorei mais ainda com as palavras de Maurício, mas agora minhas
lágrimas eram de felicidade por ter todo seu amor.
Me afastei dele, ficamos, frente a frente e ele enxugava minhas
lágrimas... ele também chorava, fiz um carinho em seu rosto...
— Eu te amo demais, Maurício...
Nisso, Maurício, encosta sua cabeça na minha e segurando meu rosto,
ele me diz tudo que eu queria ouvir.
— Eu amo você demais, Rafa. Preciso de você para sorrir, preciso dos
seus beijos quando eu voltar para casa, preciso de você , simplesmente
preciso. Você mudou meu jeito de pensar, me devolveu a felicidade, você se
tornou tudo pra mim...
Beijo, Maurício, com todo meu amor, não há lugar no mundo que eu
queira mais estar do que nos braços dele, aqui me sinto amado como nunca
fui, me sinto protegido e acolhido.
Tudo nesse homem me faz bem, ele me completa , me faz sorrir, sonhar,
suspirar e principalmente ser feliz.
Até nos esquecemos que Lucas estava no quarto, quando terminamos
nosso beijo, saímos do nosso transe com a voz do nosso amigo tão querido...
— Um dia, sinceramente, espero ter um amor assim na minha vida,
nunca procurei, mas no fundo eu sempre quis sentir e vendo vocês dois, tão
lindos juntos, tocou aqui, viu? — Disse Lucas com um sorriso lindo no rosto,
os olhos visivelmente emocionados e apontando para o coração.
Estendi minha mão para ele que veio e sentou na minha cama, me
abraçando de lado e beijando meu rosto com tanto carinho.
— Eu amo demais vocês dois, sem vocês eu não estaria livre de todo o
inferno que era minha vida — Falei olhando para os dois.
Sou surpreendido com um beijo duplo, um em cada lado na minha
bochecha e então eu sorri, o sorriso mais gostoso que já dei em minha vida.
Meus heróis ali comigo, um se tornou o grande amor da minha vida e o outro
meu melhor amigo. Estava totalmente feliz como nunca imaginei ser.
— Preciso deixar você agora, meu bebê, vou saber notícias de Miguel
— Disse Lucas com os olhos brilhando.
— Estou no mesmo hospital que ele?
— Sim, só que você em um quarto comum e ele no CTI. — Responde
Lucas.
— Ele vai sair logo de lá e você poderá enfim, visitá-lo. — Falo
segurando nas mãos de Lucas.
— Hoje poderei vê-lo pelo vidro, na UTI eu o não via de forma alguma,
já é um começo.
— Então vai, meu amigo.
Lucas me beijou novamente , se levantou contornou a cama e trouxe
Maurício para um abraço tão gostoso. A amizade deles era linda demais, sorri
com a cena.
Então Lucas foi embora para ver Miguel....
— Está com fome meu amor?
— Um pouquinho.
Maurício apertou um botão e logo depois uma enfermeira veio , fez toda
uma checagem em mim e disse que retornava com minha refeição.
— E Elaine, amor? Ela já soube de tudo?
— Sim, pedi que a avisassem, mas não detalhei todo ocorrido com você,
só disse que você estava no hospital e bem. Que Otávio estava morto. Preferi
que você contasse os detalhes, pois se ela soubesse de tudo, sem lhe ver,
poderia passar mal, já não reagiu muito bem ao saber da parte do hospital.
— Obrigado e ela continua no outro prédio?
— Já pedi também que cuidassem da liberação dela, ela já deve estar
sendo levada para casa com sua família e ainda hoje deve vir te ver. Você
ficará só até amanhã aqui e receberá alta, eles querem te monitorar, pois sua
pressão subiu muito quando você ficou nervoso.
— Puxei a pressão alta do meu pai e aquilo tudo foi demais para mim.
— Mas acabou, pense apenas nisso. Já pedi que todas as suas coisas
sejam levadas para minha casa, Antunes está cuidando disso pessoalmente
para mim, enquanto eu resolvia tudo e vinha te ver.
Olho para, Maurício, absorvendo suas palavras e uma dúvida se faz
presente em minha cabeça.
— Eu vou para sua casa?
— Sim, por quê? Você não quer ir?
— Eu indo para lá, você estará assumindo um relacionamento comigo,
Maurício e seus pais? Toda sua família? Não era melhor conversar primeiro
com eles?
— A primeira coisa e mais importante de todas, é que sim, eu quero
assumir um relacionamento com você. Você é meu namorado, quero cuidar
de você, ter você perto de mim. Bom, você... quer ser meu namorado não
quer? — Perguntou, Maurício, fazendo uma cara de cachorro abandonado
que me fez sorrir e lhe dar um selinho.
— É lógico que eu quero, meu amor, eu só fico pensando em.... —
Maurício coloca o dedo em meus lábios.
— A segunda coisa é que não adianta nada falar com ninguém da minha
família, são conservadores demais, todos preconceituosos, uns mais do que os
outros, mas não estou nem aí para ninguém. Nada vai me separar de você, da
minha felicidade eu não abro mão, se vão aceitar ou não, estou pouco me
lixando, eu quero você e ponto final.
Abraço Maurício e digo olhando em seus olhos...
— Então eu vou com você.
— Desculpe se eu não soube pedir do jeito certo, eu sempre fui muito
certinho com as coisas, mas se tratando de você, eu só penso com meu
coração e tudo que ele vem me pedindo é para que traga você para junto de
mim.
— Foi o jeito mais lindo, eu quero ficar com você e vou para onde você
quiser me levar, te amo muito — Falei me aninhando em seus braços.
Pela primeira vez estava conhecendo a verdadeira felicidade. Quando
conheci, Otávio, pensei estar vivendo isso, mas era tudo uma ilusão e logo
tudo foi mostrado para mim. Mas aqui com, Maurício, sinto dentro de mim e
por suas ações, o quanto tudo isso é verdadeiro e eu só quero viver essa
felicidade...
Depois de sair do quarto de Rafael ando pelo corredor e
chego à recepção.
— Oi, Boa tarde! Gostaria de ver o paciente, Miguel Souza de Medeiros.
— O senhor é da família dele?
— Sou o policial que o salvou e responsável por ele.
— Senhor só posso permitir...
— Alessandra, tudo bem, eu conheço o rapaz.
Olho para o lado e vejo o Doutor, Fernando, o mesmo que me atendeu
todas as vezes que vim aqui saber notícias de Miguel e ele pacientemente me
deu todas as informações.
Desde que salvei, Miguel, não deixei um dia sequer de vir aqui, ele não
saía da minha cabeça nem por um minuto.
— Esse é, Lucas Barreto Andrade e o nome dele está na ficha de Miguel
como responsável provisório, eu mesmo anexei. — Fala calmamente Doutor
Fernando para a recepcionista.
— Desculpe, senhor Lucas, mas sou nova neste setor, então não sabia.
— Tudo bem, Alessandra, obrigado.
O doutor anda ao meu lado e me leva até o andar do CTI.
— Lucas, hoje você poderá vê-lo pelo vidro, ainda não pode chegar
perto, mas saiba que ele está melhorando e logo irá para o quarto.
— Fico muito feliz de saber disso, doutor, mas só em vê-lo pelo vidro,
hoje, já me faz bastante feliz.
— Esse rapaz teve muita sorte, tanto por ser salvo, quanto por ter você
se preocupando com ele.
— Eu fiz meu trabalho, Doutor, minha missão é salvar as pessoas,
ajudá-los e farei tudo que eu puder para ajudar, Miguel.
— Vocês já conseguiram contactar a família dele? Desculpe se eu
estiver sendo invasivo, sei que é assunto da Polícia isso.
— Ele é praticamente sozinho no mundo, tem apenas uma tia que já o
dava como morto e um pai que o detesta, que nem se preocupou com o filho.
— Meu Deus!
— Pois é, por isso pedi que meu comandante colocasse meu nome como
responsável dele.
— Sim, Comandante, Maurício, conversou comigo. Bom da minha
parte, estou fazendo tudo de melhor para este rapaz, ele é forte, por isso sua
recuperação está sendo excelente.
Me despeço do doutor e vou caminhando para o CTI. À medida que
caminho meu coração vai sentindo uma paz tão grande como se ele sentisse
que finalmente estava indo para onde deveria.
Me peguei até assustado com isso, nunca senti nada parecido, mas
continuei andando. Pedi informação para um rapaz que empurrava uma maca
e ele me mostrou o corredor que eu deveria entrar.
Assim que entrei, avistei uma porta e nela estava escrito CTI, entrei e
mais um corredor surgiu na minha frente, mas ao fundo dele havia um vidro
do lado esquerdo e outra porta ao fundo. Quando me aproximei do vidro e
olhei através dele a primeira pessoa que vi foi um senhor.
Era um vidro enorme, dividido em três janelas. Cada uma dava para um
paciente e na segunda tinha uma menininha que aparentava uns 4 anos, fiquei
com pena dela estar ali, ela dormia tranquilamente.
Na terceira janela estava, Miguel... quando meus olhos bateram nele, a
sensação que tive desta vez, foi que o conhecia, que o conhecia há muito
tempo. Só percebi que chorava, pois minhas lágrimas pingaram no meu braço
que estava esticado porque minhas mãos estavam no vidro.
Olhei cada detalhe do rosto dele, ele respirava tranquilo e a mesma
sensação de paz voltou a dominar meu coração, como se finalmente eu
estivesse no lugar certo.
Eu não parava de chorar, chegava a ser embaraçoso para um homem do
meu tamanho, mas eu não conseguia controlar, era uma sensação
emocionante olhar para ele.
Quando o encontrei naquele lugar horrível, a primeira coisa que senti foi
um choque por vê-lo daquela forma. Quando o peguei em meus braços para
soltá-lo daquelas correntes, senti que ele me pertencia de alguma forma, mas
estava agitado demais para parar e prestar atenção naquilo.
E quando ele abriu os olhos e me olhou pela primeira vez, o sentimento
que senti, foi igual quando nós perdemos algo e quando encontramos temos
aquela sensação de felicidade por achar.
Agora aqui, estou sentindo tudo isso junto, um misto de emoções, uma
mistura de sentimentos que não sei controlar.
Tudo que eu queria era entrar ali e tocá-lo novamente. Balanço minha
cabeça e seco meu rosto, tornando a olhar para ele, como se ele fosse um imã
que me atraísse...
E parecendo sentir a minha presença , ele abre os olhos e aqueles dois
diamantes me olham. Seu olhar se conecta com o meu e nessa hora meu
coração bate tão frenético, que tenho que acelerar minha respiração para
acompanhá-lo .
O aparelho que está acompanhando seus batimentos também acelera o
barulhinho, desvio de seu olhar, só por um segundo, olhando o aparelho e
volto minha atenção para ele. Falo a palavra tudo bem sem emitir som
algum, mas direcionado a ele, que parece entender e solta um longo suspiro e
seu aparelho vai normalizando .
Ficamos os dois ali nos olhando até que ele, que devia estar sonolento
pelos remédios, acaba adormecendo. Só que antes de fechar os olhos
totalmente, ele dá um pequeno sorriso para mim, muito pequeno, sem mostrar
os dentes, que eu só percebo, pois estou hipnotizado olhando para seu rosto.
Quando vejo que ele adormece, decido ir embora, mas até para sair dali
foi difícil, não queria deixá-lo...
Mas amanhã eu voltaria e depois também. E quantas vezes fosse
necessário até poder tirá-lo de vez daqui. Não sabia de nada que iria
acontecer quando ele saísse, mas de uma coisa eu tinha certeza, longe dele eu
não ficaria e algo lá no fundo me dizia que ele também não iria querer ficar
longe de mim.
Vou embora, mas estranhamente meu coração, desta vez, tinha uma
certeza de que eu não entendia muito bem...que a busca dele finalmente tinha
chegado ao fim... eu só não sabia o que ele tanto buscava...
A porta do apartamento de Maurício se abre e dou um passo
para dentro. Ele está logo atrás de mim e me abraça pela cintura, apoiando
seu rosto em meu ombro e diz próximo ao meu ouvido...
— Seja bem-vindo, meu amor.
A voz dele, misturada ao seu abraço e todo amor que eu sinto, fez esse
simples momento ser muito especial.
Ele estava me recebendo em sua vida e me dando um amor tão gostoso,
que estava me fazendo ser tão feliz como nunca fui.
Entramos e Maurício me mostrou todo seu apartamento. Era pequeno e
aconchegante, nada de muito luxo. Organizado, limpinho, as cores preto,
cinza e branco predominava, o que dava um ar sofisticado a tudo.
Ele me levou ao seu quarto e uma cama enorme e aconchegante
chamava atenção, acho que seu quarto era o maior cômodo da casa.
— Amor, hoje de manhã quando vim aqui rapidinho, antes da sua alta,
abri todo um espaço para você no guarda-roupa. — Disse ele tão feliz com os
olhinhos brilhando.
— Não quero incomodar você. — Falei tímido.
— Ei, você não me incomoda em nada, a felicidade que estou sentindo
por você estar aqui, nem sei expressar em palavras.
Nisso, Maurício, me beijou, um beijo apaixonado, onde línguas se
abraçaram e nossas mãos tinham um pedido silencioso por muito mais.
Eu estava sem fôlego quando ele separou nossos lábios sem me soltar.
— Eu amo você.
Me derreti em seus braços e o beijei com mais vontade. Estava tão
gostoso que Maurício gemeu em minha boca e aquilo me deu um tesão louco,
eu já estava em ponto de bala.
As mãos dele saíram da minha bunda e uma delas apertou meu pau.
Nesse momento foi minha vez de gemer e Maurício perdeu o controle de vez.
Ele me jogou na cama e de joelhos, por cima de mim, tirou a camisa. Me
sentei, beijei sua barriga, abri sua calça e coloquei meu desejo para fora.
Chupei Maurício com gosto, ele segurava meus cabelos e gemia
entregue, fiz tudo olhando em seus olhos e a visão dele de cima, me olhando,
era sedutora, aquelas esferas verdes deliravam de prazer.
Depois ele se afastou de mim, enquanto eu lambia os lábios
sedutoramente olhando para ele enquanto meu amor se livrava das roupas.
Completamente nu, ele veio para cima de mim como um felino prestes a
atacar sua presa e foi isso que ele fez.
Como eu estava de vestido, ele se enfiou embaixo da saia e me chupou
gostoso. Ele estava com tanta vontade que escutei minha calcinha sendo
rasgada e aquilo foi sexy demais. Meu pau sumia na boca dele, a forma como
ele passava a língua, me fazia sentir vontade de gozar...
— Amor vou gozar desse jeito, sua boca é....
Ele enfiou de novo, meu pau todo na boca e eu não consegui mais falar,
quando o soltou, foi mais para baixo e lambeu tudo pelo caminho, mas na
minha entrada é que foi o ápice. Sua língua me rodeava e forçava pedindo
passagem. Eu só sabia gemer e cada vez mais alto.
Puxei meu vestido pela cabeça e fiquei completamente nu, puxei
Maurício pelos cabelos e ataquei sua boca que tinha meu gosto, gememos um
na boca do outro, com nossos membros roçando um no outro. Era surreal de
tão gostoso, a forma como ele adorava se esfregar em mim era deliciosa,
nossas preliminares eram tão gostosas quanto o ato em si, mas quando ele
fazia como fez exatamente agora, é que eu explodia de prazer.
Enquanto eu estava apenas sentindo ele se esfregar gostoso em mim, ele
me surpreendeu posicionando seu pau e entrando devagarzinho. Meu corpo
arrepiou todo de prazer, ele dava leves reboladas e seu pau ia mais fundo.
Arranhei suas costas e ele mordeu minha boca, era uma troca de prazer
delirante.
Quando estava todo dentro de mim, ele suspirou, então virei nossos
corpos e fiquei sentado em cima dele, começando a rebolar e rebolava
gostoso...
— Porra Rafa isso, faz de novo que está gostoso...
Rebolei ainda mais....
— Caralho, você ainda vai me matar de tanto prazer, quica vai, sobe e
desce nesse pau que é só seu — Disse ele gemendo gostoso.
E assim eu fiz, quicava gostoso, subia e descia, meu pau estava duro
feito pedra e pulava junto comigo...
— Nunca pensei que ia dizer isso na vida, mas essa visão do seu pau
pulando na minha frente, me dá um tesão da porra.
Dei uma risada gostosa e me sentei com mais vontade, mas segurei meu
pau e apontei pra ele, que me olhou safado e lambeu os lábios.
— Você quer? — Provoquei
— Quero tudo que venha de você — Ele respondeu segurando minha
cintura e se enterrando mais em mim.
Dei mais umas quicadas e saí de cima dele, levando meu pau até sua
boca, ele chupou deliciosamente, eu já estava quase gozando...
— Devagar se não vou gozar na sua boca...
— Goza vai.
— Você quer?
— Quero, quero teu gosto por completo.
Foi o suficiente para mim, gozei na boca de Maurício e gozei muito,
estava todo arrepiado. Ele segurava minha cintura e não largava meu pau por
nada, mamava gostoso, minha visão até embaçou tamanho prazer.
Quando ele terminou de me lamber inteiro, me deitou na cama com todo
carinho. Ele sabia que eu ficava todo molinho, segundo ele, essa era a parte
que ele mais gostava.
— Vou gozar, amor e a propósito, você tem um gosto delicioso.
Sorri para ele que colocou aquele pau gostoso na minha boca e gozou
gemendo meu nome e eu me senti o máximo por isso...
Maurício devolveu a minha vida uma paz que eu achei que estivesse
perdida. Meus dias com ele tem sido recheados de amor, amizade e carinho.
Só fico muito apreensivo quando ele sai em alguma missão, morro de medo,
não durmo e não como, enquanto ele não volta, tamanho meu nervoso, mas é
a profissão dele e tenho que entender.
Cada vez que ele entra pela porta me atiro em seus braços com tanto
amor e ele sempre diz que conta os minutos para voltar só para sentir isso,
pois sou tudo para ele.
A atenção que ele me dá, o jeito de me tratar, os carinhos fora de hora,
os beijos roubados em momentos simples, como quando estou cozinhando
pra gente. A preocupação evidente, se fico mais quieto ou se me sinto mal
por alguma coisa, a forma que ele para na porta do quarto, quando estou em
frente ao espelho me arrumando e diz simplesmente que me ama tanto e que
sou lindo. Tudo isso me mostra todos os dias que é possível ser feliz
novamente e eu estou sendo.
Nos momentos em que estava sofrendo nas mãos de Otávio, eu achava
que nunca mais seria feliz, aliás, achava que nem sobreviveria a tudo aquilo.
Que uma hora simplesmente ele me mataria, mas hoje estou aqui, sendo a
pessoa mais feliz do mundo e tenho um homem maravilhoso ao meu lado que
é o motivo de todos os sorrisos que dou.
Estamos morando juntos há 1 mês. Elaine já veio me visitar e ficou
radiante de me ver tão bem, ela adora, Maurício e ele a adora também, até
meu afilhado o conquistou. Quando Elaine vem aqui, Maurício baba em
Pedrinho, deixa ele fazer tudo, mas também depois boto ele para catar os
brinquedos espalhados.
Lucas está sempre aqui também, ele adora provocar, Maurício. Me pega
no colo, me enche de beijos e Maurício faz bico, caímos na risada. Meu
amigo é um presente enviado por Deus, quero muito que Miguel saia logo do
hospital para Lucas ficar bem. Ele o visita todos os dias e o momento que ele
me contou como foi visitá-lo e que pôde chegar perto pela primeira vez,
desde que o salvou, me levou as lágrimas. Ele só precisa perceber que está
apaixonado por esse rapaz, ele ainda não se deu conta, mas sei que ele está. A
forma como seus olhos brilham quando fala dele e o sorriso então, é incrível.
Torço muito por eles, mas Miguel precisa sair daquele hospital e refazer sua
vida. Sei que Lucas estará ao seu lado, assim como esteve sempre no meu.
Nesse tempo que moro com Maurício, ele ligou para seus pais e falou
com eles no escritório. A conversa foi bem tensa, eu sabia que eles não
aceitariam. Maurício não sabe que eu ouvi toda conversa, mas ouvi, e vê-lo
chorar acabou comigo, mas quando ele disse que nada me tiraria dele, que
mesmo que nós não tivéssemos a benção deles, ele seria feliz ao meu lado,
pois me amava muito, foi minha vez de chorar. Ele enfrentaria tudo por mim
e eu com certeza enfrentaria tudo por ele sempre...
Depois de mais um dia nas ruas, estou cansado. Essa
semana tem sido bem difícil para mim, a Páscoa se aproxima e no domingo
sempre estava reunido com meus pais e avós para um almoço em família, era
maravilhoso, os amo demais.
Mas agora tudo estava diferente. Minha mãe que sempre me ligava
nessa semana, que antecede a Páscoa, para me pedir isso e aquilo e mesmo
depois de anos, não me deixar esquecer o horário certinho de chegar, me
ligou apenas uma vez.
E nesta ligação ela foi fria e distante. Apenas me ligou para dizer que
não era para eu ir lá no domingo, pois eu levaria a aberração que morava
comigo e eles não aceitavam.
No dia desta ligação, que foi em uma quarta feira, chorei feito criança
dentro da viatura. Meus pais simplesmente me renegavam, pois eu amava
uma pessoa do mesmo sexo que eu. Eles nem quiseram conhecer Rafael e
descobrir o quão maravilhoso ele é, apenas me excluiu de suas vidas, aliás
nos excluiu.
Cheguei tão triste e acabado que não teve como Rafa não perceber. Ele
que sempre se joga em meus braços sorrindo, feliz por minha chegada, na
hora que entrei, ele sabia que algo havia acontecido. Primeiro ele achou que
era algo com Lucas, mas o tranquilizei e disse que era com meus pais.
Não tive como mentir, contei tudo que ouvi e Rafa chorou junto comigo.
Ele até que quis se culpar por tudo isso, mas afirmei que ele não tinha culpa
de nada, que ninguém tinha, pois meus pais são muito preconceituosos.
Eu fui durante muito tempo, mas, Rafael entrou em minha vida para me
mostrar que amor é simplesmente amor e foi dizendo a ele tudo isso que eu
sentia e pensava, que segurei seu rosto e lhe disse que apesar de estar doendo
muito a atitude deles, eu era a pessoa mais feliz desse mundo por ter o
encontrado. Que o amava demais. Nós teríamos nosso primeiro domingo de
Páscoa juntos e seria perfeito, entre lágrimas ele disse que seria sim.
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Livros deste autor
Além das Aparências
Alguns acham que a beleza é o mais importante, que apenas com ela se pode
conquistar as coisas: trabalho, status, amor...
Fabrício vem mostrar para vocês sua história, sem beleza, sem status, com
simplicidade... Na qual vocês conhecerão uma pessoa muito especial e doce
que fará a diferença na vida de alguém e mostrará que a beleza não é o mais
importante de tudo e sim o que você carrega dentro de si.
Gabriel primeiro filho de Otávio, lindo, rico, desejado, mas infeliz. Vive uma
vida de fachada e tem que esconder seus reais sentimentos para não
decepcionar seu pai.
Paulo, filho mais novo de Otávio, foi rejeitado por ser gay, sofre por não ter o
amor de seu pai e por estar longe do irmão.
Otávio, o patriarca, viveu a vida inteira amando uma única pessoa, guardou
para si seu maior segredo. Casou-se, teve dois filhos, hoje é viúvo e dono da
maior rede de joalherias do Brasil.
Nenhum deles está preparado para o que vem pela frente, um amor irá surgir
e outro será reencontrado. Uma vida inteira de mentiras e falsas aparências
virão à tona e mudará para sempre o destino de cada um.
Em Além das Aparências, o amor nascerá de uma forma bonita, comovente e
libertará corações presos, seja por medo ou preconceito e mostrará que beleza
não é tudo, que o amor nasce quando menos se espera e que nunca é tarde
para viver da maneira que realmente te faz feliz.
À Flor da Pele
As pessoas perdem muito tempo julgando uns aos outros, seja pela sua
condição financeira, sua orientação sexual, sua aparência ou pela sua cor.
O que muita gente não entende é que todos somos iguais, que nada disso
importa, que o que vale de verdade é nossa essência, é o que somos por
dentro.
À Flor da Pele traz uma história onde será mostrada a luta do amor contra o
preconceito racial e a intolerância, em geral, das pessoas.
João Pedro é um homem de pavio extremamente curto, que tem uma
dificuldade enorme de demonstrar seus sentimentos. Para quem não o
conhece, ele é um homem frio e ignorante, mas sua família sabe quem ele é
de verdade.
Pietro é um rapaz doce, inteligente e encantador que sofre, pois se vê bem
diferente dos seus pais, pessoas ambiciosas quase ao ponto de serem
inescrupulosas, e o pior, são completamente racistas.
Agora vamos conhecer a história da vida dos filhos dos protagonistas do livro
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corações e nos deixar levar pelos personagens intensos, fofos e encantadores.