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Copyright © 2020 Rose Moraes

Todos os direitos reservados

Diagramação: Isabela Gonçalves


Capa: KSN Design
Revisão: Rose Moraes

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — Tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do código penal.
Descrição
Prólogo
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Epílogo
Agradecimento
Biografia
Nem sempre o amor é o que parece, nem sempre as pessoas
são verdadeiras.
Estou preso num inferno ao qual chamo de casamento e tudo que quero é
minha liberdade de volta.
Não acredito mais em amor, não depois de me decepcionar desta
forma...”
Rafael, gay afeminado, 24 anos, vê sua vida se tornar um inferno dentro
de um casamento , onde ele é espancado e ameaçado. Sem forças e coragem
para sair desta situação, ele tenta fugir e nesta fuga, acontece um encontro
que já estava marcado para acontecer.
Maurício, um policial correto de 33 anos, é desacreditado no amor. Sua
mulher o traiu com seu melhor amigo e desde então ele se dedica a sua
profissão e nos dias de descanso ele tenta se acostumar a sua vida vazia e sem
novidades.
Ao conhecer, Rafael, de imediato não sente empatia por ele, pois mesmo
sendo uma boa pessoa e um profissional exemplar, é preconceituoso com
relação a homossexuais. Foi criado de uma forma bem tradicional e não
entende que amor é simplesmente amor, independente do gênero. Mas ao
conhecer melhor o rapaz, uma amizade irá surgir e dela um amor que mudará
não só a vida de, Maurício, a de, Rafael também.
Venham conhecer essa história encantadora , onde o amor já tinha data,
local e hora para acontecer .
Quando gostamos de alguém, todas as fichas são depositadas.
Você acredita, confia, fica cego de amor. Tudo fica perfeito e você vive
sorrindo no seu conto de fadas.
Minha vida de casado foi assim nos primeiros 2 anos, mas há 3 anos, o
que vivo não pode ser chamado de conto de fadas. Tentei lutar pelo meu
casamento, mesmo com as crises de ciúmes assustadoras, eu insistia que no
fim tudo daria certo e que ficaríamos bem, mas não foi bem isso que
aconteceu.
O primeiro tapa na cara veio após completar dois anos de casado. Aquilo
me assustou, pois, mesmo sendo ciumento e possessivo, Otávio nunca tinha
levantado a mão para mim. Ele chorou, me pediu perdão, disse que se
descontrolou, mas que não imaginava sua vida sem mim. Disse que me
amava demais. Claro que, depois dessa declaração de amor, que ele já não
fazia há algum tempo, eu amoleci. O perdoei e seguimos em frente, para mim
tudo ficaria bem.
Quanta ingenuidade a minha....
Não demorou para as crises de ciúmes voltarem. O engraçado era que eu
nunca dei motivos para isso, sempre fui fiel, não tinha culpa se algum
engraçadinho mexia comigo, mas para, Otávio, não era bem assim.
Todas as brigas dali em diante eu apanhei. De tapas passaram para
socos, chutes, puxões de cabelo. Eu ia para meu trabalho no salão disfarçado
com muita maquiagem, mas às vezes algumas coisas apareciam e minha
patroa e amigas perguntavam, eu claro, disfarçava.
A verdade era que eu não tinha forças para sair daquela situação, ele me
ameaçava e eu tinha pavor. Eu chegava em casa todos os dias com medo,
passei a viver oprimido, minha alegria de viver, eu não tinha mais, meu
brilho havia se apagado pouco a pouco a cada dia.
Ele pouco me procurava para sexo, dava graças a Deus, pois quando ele
procurava, me machucava, nem de longe ele lembrava o homem pelo qual me
apaixonei perdidamente e aceitei morar junto pela primeira vez na minha
vida.
No início, Otávio, era romântico, gentil, me enchia de mimos e carinho.
Moro no morro desde os meus 16 anos, pois vim com minha prima do
Nordeste, onde minha família passava por dificuldades e eu queria tentar algo
melhor para mim. Aqui terminei meus estudos e arranjei meu primeiro
emprego num salão de beleza como manicure, estou lá até hoje, faço algumas
faxinas de vez em quando também, me virei.
Elaine, igual a mim, veio em busca de uma vida melhor, ela tinha
algumas economias de seu antigo emprego, então alugou uma casa na favela
onde era mais barato , arranjou um emprego e estamos aqui até hoje.
Otávio nasceu no morro, conhece ele de ponta a ponta, sempre o via de
longe quando ele passava a pé ou de moto. Quando ele me viu pela primeira
vez, nos paqueramos de imediato. Eu nem acreditei que aquele homem lindo
olhava para mim, então pelas ruas estreitas nos olhamos bastante antes de
termos algo de fato. Lembro que no nosso primeiro beijo, fui as nuvens. Na
primeira vez em um motel, eu tive um prazer jamais sentindo até então.
Rapidamente engatamos um namoro e um ano depois fomos morar juntos.
Elaine se casou e foi morar em outra casa, no morro mesmo, não muito
longe da minha, então logo eu e Otávio passamos a morar juntos na minha
casa.
Elaine nunca gostou dele, mas me via feliz, então aceitou. Ela era como
uma irmã, mesmo agora morando separados, era muito presente, mesmo eu já
tendo 24 anos, sou mais novo que ela, 5 anos, ela se sente responsável por
mim.
Ela há pouco tempo presenciou o inferno em que vivo e desde então
vive me pedindo para largar de Otávio, que tem medo de que ele faça algo
pior comigo. O que ela não sabe é que ele me ameaça de morte, ameaça ela e
sua família e eu peguei um pavor tão grande dele, que vivo como um bicho
enjaulado dentro da minha própria casa.
Nada que eu faço está bom, não tenho minhas vontades atendidas e se eu
penso em questionar algo, apanho covardemente. É triste a vida das mulheres
que vivem assim, com medo de seus companheiros, muitas morrem, pois não
conseguem denunciar, alguns acham sem-vergonhice que elas não procurem
ajuda, mas não sabem do medo de que passamos.
Vejo os casos sempre na televisão, choro vendo que vivo tudo isso e
para mim um agravante ainda maior, sou um homossexual afeminado que
enfrenta diariamente preconceitos nas ruas e ainda vivo este inferno que
chamo de casamento.
Todos os dias rezo a Deus que dê uma luz em minha vida, que me deixe
ser feliz. Já nem penso mais em amor, estou tão traumatizado que já deixei de
querer isso faz tempo, desconfio de tudo e todos, virei uma pessoa medrosa e
arisca. Só quero ser feliz e hoje minha felicidade é conseguir me separar de
Otávio, só não vejo como farei isso...
— ELAINE PELO AMOR DE DEUS, ABRE A
PORTA!!!!!!!!! — Gritei desesperado batendo na porta da casa de Elaine às
21 horas da noite em meio a tiros de fuzis que eram disparados no morro.

Meia hora antes...

Hoje era dia de uma grande operação no morro. Desde cedo só se falava
disso na televisão, eu tinha pavor quando isso acontecia, já perdi conhecidos
que morreram de bala perdida aqui e hoje estava demais, era polícia em todas
as partes e entradas. E por causa desta operação, Otávio não pode ir à festa
que ele estava organizando com os amigos, então quando cheguei em casa,
ele estava com ódio e veio descontar em mim.
Só que eu ainda estava machucado da surra anterior que foi há 2
semanas, então ao invés de me abaixar e tentar proteger meu rosto, como
sempre fazia, corri para o quarto e isso o enfureceu ainda mais.
Entrei tranquei a porta e ele ficou esmurrando e me xingando...
— ABRE ESSA PORTA, SEU INFELIZ!! HOJE EU QUEBRO SUAS
PERNAS, SÓ POR TER CORRIDO DE MIM !! — Disse Otávio cuspindo
ódio.
Eu me tremia todo, não sabia o que fazer. O tiro comia do lado de fora,
era para estar abaixado perto da cama para me proteger de alguma bala
perdida e ao invés disso, estava andando de um lado para outro procurando
uma saída.
Estava de calça jeans e blusinha rosa de meia manga, fazia um pouco de
frio. Abri meu guarda-roupas, peguei um casaco preto que eu tinha com
capuz e vesti. Peguei minha identidade e coloquei no bolso da calça, eu tinha
que fugir, ia dar um jeito. Ele ia me matar agora se me pegasse.
De repente ele deu um chute tão forte na porta que a mesma veio ao
chão e rapidamente ele voou para cima de mim. Recebi dois socos que me
deixaram moles, mas tentei me arrastar pelo chão e com isso levei um chute
nas costelas. Ao virar meu rosto para protegê-lo, olhei para debaixo da cama
e vi a maleta de ferramentas dele, aberta, com o cabo do martelo aparecendo.
Estiquei minha mão e o segurei, ao mesmo tempo que ele me levantou pelos
cabelos.
Quando ele apertou meu pescoço me estrangulando, não pensei duas
vezes, em acertar com o cabo do martelo a lateral de sua cabeça, ele me
soltou, tonto, então dei outra batida, agora na parte de trás da cabeça dele e
isso o levou ao chão.
Eu não tinha matado ele, sabia disso, pois acertei com força, mas com o
cabo e não com o ferro em si. Ele estava sangrando e estava desmaiado.
Verifiquei e vi que respirava.
Levantei tonto, um dos meus olhos mal abria, já tinha inchado pelo soco
e minha costela doía tanto que me dificultava respirar. Cambaleante, peguei a
chave de casa e saí para rua.
Casas estavam fechadas, algumas pessoas que chegavam de seu trabalho
estavam correndo e se protegendo. Já se ouviam bombas e os tiros não
paravam, coloquei meu capuz e tentei correr até a casa de Elaine, tive que me
abaixar em alguns momentos, estava em pânico pelo que acabou de acontecer
e por estar arriscando minha vida no meio de tantos tiros.
Depois de bater três vezes e não ser atendido, meu medo triplicou, eu já
nem pensava mais na operação e sim em Otávio acordar e vir atrás de mim.
Corri por ruas laterais e agora eu tentava sair do morro. Estava parecendo um
bandido, tentando fugir, o desespero me consumia. Minha visão estava
embaçada pelo choro preso e eu já mal sabia aonde estava indo, de repente
todas aquelas ruas ficaram iguais e eu estava literalmente perdido.
Na última rua que entrei, dei de cara com um grupo de policiais
recebendo instruções e o susto foi tão grande que derrapei no chão e cai de
bunda, chamando atenção deles que miraram suas armas para mim. Só tive
tempo de levantar as mãos, a voz não existia mais. Um policial veio por trás e
me pegou pelo pescoço.
— Aonde vai com tanta pressa? Você está preso, seu merda!! — Falou
ele no meu ouvindo.
Eu balancei a cabeça negando, tentei me soltar e ele me apertou mais.
— Fica parado, seu filho da puta, acabou para você — Disse ele me
algemando e me empurrando de joelhos no chão.
Os outros riram e debocharam de mim, eu só sabia chorar, estava
perdido e apavorado. Alguns deles se dispersaram e restaram dois, o que me
pegou e um outro extremamente forte e grande.
— Mata logo esse daí, vai carregar mais um? Isso é verme, a gente fala
que morreu em meio aos tiros — Disse o homem forte.
— Antes vou me divertir — Falou o que me prendeu.
E antes que eu pudesse falar algo, ele veio para perto de mim e me deu
um chute no meio das pernas que quase me fez apagar de dor, isso tudo rindo.
O outro policial, o forte, pediu para ele parar que o chefe não iria gostar
disso, já que não ia matar, era para me levar preso. Eu ainda me contorcia e
chorava, quando ele me pegou pela parte de trás do casaco e ia me levantando
para bater de novo. Foi aí ouvi uma voz que falou muito firme.
— O que você pensa que está fazendo, soldado Matias?
Meu carrasco, que agora eu sabia que se chamava, Matias,
imediatamente me largou no chão. Caí por cima do meu braço que reclamou
muito de dor.
— Comandante, esse moleque surgiu aqui do nada e apontou uma ama
para nós. Eu o imobilizei e estava lhe dando uma lição. — Disse mentindo o
soldado Matias.
— Nossa operação está sendo um sucesso e ao invés de você estar
ajudando seus colegas, está aqui torturando uma pessoa. Mesmo sendo
bandido, eu não quero isso, você já torturou um inocente e eu já lhe avisei o
que aconteceria, porra! Saia daqui agora!!!! — Gritou o policial de voz firme.
Matias saiu sem olhar para trás, ficou apenas eu, o policial fortão e o da
voz firme.
— O que ele contou é verdade, Barreto?
— Não comandante — Disse o policial forte que agora eu sabia o nome
também. — Ele apenas chegou correndo e quando nos viu se assustou e
derrapou no chão, ainda não vimos se ele está armado ou não. — Falou
Barreto
O comandante se aproximou de mim me olhando e eu me encolhi
chorando, estava todo sujo, meu rosto tinha terra, sangue e estava inchado.
Ele estava com a arma na mão e começou a me revistar.
Quando suas mãos chegaram na minha costela, soltei um gemido de
dor, mas minha voz não era grossa, aliás, nunca foi, minha voz era fina ,
quase feminina, mesmo com uma leve rouquidão.
Imediatamente o comandante, que deve ter pensado que eu era uma
mulher, já que eu ainda estava de capuz e era magro, se aproximou mais e
tirou meu capuz.
Foi a primeira vez que vi seu rosto direito, ele tinha olhos verdes, seu
rosto era bonito, mas sério, muito sério. Suas sobrancelhas estavam unidas
enquanto ele olhava para mim. Eu tremia de medo dele, que mandasse me
matar. Ele levantou sua mão e tirou uma parte de meu cabelo que caía em
meu rosto, revelando o lado em que ganhei o soco.
— Foi Matias que fez isso com você? — Perguntou o comandante.
Engoli em seco e balancei a cabeça que não, ele pareceu se irritar.
— Responde com a boca, porra!
— Não foi ele, foi meu marido — Falei baixinho abaixando minha
cabeça, mas logo olhei para ele novamente.
— Ele é viado? — Perguntou Barreto.
Olhei para ele e o encarei...
— O que você estava fazendo aqui? Chegou correndo por quê? —
Perguntou o comandante.
— Eu fugi de casa.
— No meio do tiroteio?
— Não aguentava mais apanhar. Meu marido é agressivo — Respondi.
— Onde está ele agora?
— No chão do nosso quarto.
— Você o matou? — Perguntou o comandante levantando-se.
— Não, mas o acertei com o cabo do martelo e o deixei desmaiado, por
isso fugi, quando ele acordar vai me matar.
O comandante e Barreto se olharam, se eles estavam acreditando em
mim, não sei dizer, mas me apavorei quando ouvi a ordem do comandante.
— Leva ele, coloca no camburão e vamos para delegacia.
Tentei me arrastar, mas, Barreto era muito forte, então me levantou
como se eu fosse pena. Nessa hora meus cabelos se soltaram mais, eles
estavam grandes.
— Bora dar um passeio, boneca.
Só tive tempo de olhar para o comandante com um olhar suplicante,
enquanto, Barreto me levava, ele me olhou sério.... Eu não sabia o que seria
de mim...
Barreto me arrastava até a saída do morro, que descobri estar
perto. Em alguns momentos eu gemia de dor, pois tudo em mim doía. De
repente Barreto parou e me colocou de frente para ele, senti medo.
— Onde está doendo? — Ele perguntou me olhando.
— Minhas costelas estão machucadas — Respondi olhando em seus
olhos e morrendo de medo dele.
Barreto me surpreendeu ao me pegar no colo, o ar chegou a escapar dos
meus pulmões, fiquei sem saber o que fazer, nem consegui colocar minhas
mãos nele. E ele continuou caminhando comigo.
— Por favor, não fiz nada para me prender, só me defendi — Disse
choroso.
— Não sou eu que dou as ordens, bebê, apenas cumpro e o comandante
mandou te levar, então eu levo — Respondeu bem sério o soldado Barreto.
— Estou com medo de morrer, você sabe o que fazem com gays na
cadeia, por favor me ajuda — Falei já chorando compulsivamente.
Neste momento chegamos perto do camburão, eram quatro, pertos um
do outro, três estavam cheios. Barreto me colocou no vazio, mesmo
desesperado, não deixei de perceber a delicadeza com que ele me colocou no
carro. Após conseguir sentar direito, olhei para ele com as lágrimas descendo.
Ele me surpreendeu novamente, ao tirar meu cabelo do rosto e secar minhas
lágrimas, era estranho uma montanha de músculos daquela ser tão delicado.
— Maurício vai até sua casa para conferir tudo que você falou.
— Quem é Maurício? — Perguntei perdido.
— O comandante que você conheceu.
— Mas ele não sabe onde moro.
— Ele descobre, não tenha dúvidas disso. E depois ele resolve sua
situação, você só tem que cooperar.
— Mas estou morrendo de medo, se não abusarem de mim, vão me
matar lá dentro. — Falei deixando o soluço escapar da minha garganta.
— Ninguém vai encostar em você. — Disse Barreto sério e encerrando a
conversa.
Em seguida ele bateu aquela porta e o barulho me arrepiou até a alma,
chorei mais ainda encolhido ali dentro.

Não tão longe dali...

Estava parabenizando meus soldados pela excelente


operação. Prendemos o chefe do morro e oito de seus dez comparsas,
algumas pessoas já estavam em seus portões e me agradeciam conforme eu
subia o morro.
Avistei uma moça com um rapaz e uma criança nos braços, ela chorava,
estava desesperada, falando com o homem que parecia ser seu marido. Me
aproximando, pude escutar um pouco do que ela falava...
— Eu não o encontro, Carlos. Já perguntei pra todo mundo, ninguém viu
o Rafael, meu Deus! Eu não devia ter saído de casa hoje, não estava com bom
pressentimento.
A mulher agora chorava compulsivamente, seu suposto marido pegou a
criança de seus braços, enquanto ela olhava para todos os lados em uma
busca silenciosa por ajuda, por esse tal, Rafael. Até que seus olhos cruzaram
com os meus e tremendo, com lágrimas descendo pelo rosto, ela veio ao meu
encontro.
— Boa noite comandante, Pazini — Disse ela lendo no meu uniforme.
— Boa noite o que aconteceu com a senhora? — Perguntei a
observando.
— Por favor me ajude a encontrar meu primo. Eu saí desde cedo, só
voltei agora e não o encontro. Fui até a casa dele, a mesma estava aberta e
nem ele, nem o marido estavam lá. Ele não está com o celular e com tudo
isso que aconteceu hoje, estou desesperada por notícias. Ele não sai para
longe sem me avisar, o nome dele é Rafael, o senhor sabe dele? Alguém
falou algo de algum, Rafael?
— Acalme-se, minha senhora, eu não ouvi nada de nenhum, Rafael, mas
vou ajudá-la a encontrar seu primo, fique calma. — Pedi lhe transmitindo
segurança. Me leve até a casa dele — Pedi.
E assim a moça, que agora eu sabia se chamar, Elaine, me levou até a
casa desse tal, Rafael. Entrei e fui verificando tudo. Fui em todos os
cômodos. Quando entrei no quarto, olhei tudo ao meu redor e duas coisas me
chamaram atenção, um martelo caído no chão e um porta-retratos na
cabeceira da cama.
Nele tinha a foto de uma pessoa que eu já tinha visto, me aproximei e
peguei o retrato nas minhas mãos, realmente eu já tinha visto, só que com o
rosto deformado por um soco e sujo de terra e lágrimas. Aqui nesta foto ele
estava tão feliz ao lado de um cara que devia ser seu marido.
— O senhor encontrou algo? — Me perguntou, Elaine, aflita.
Me virei para ela com a foto nas mãos.
— Eu sei onde o Rafael está — Disse sério olhando para ela.
Vi seu rosto se iluminar numa felicidade contagiante...
— Ele está em um camburão sendo encaminhado à delegacia. — Falei,
vendo Elaine desmoronar na minha frente.
— Não! Por que, meu Deus? Ele é inocente seu comandante, ele é a
pessoa mais honesta e trabalhadora que conheço, ele é meu primo, um amor
de pessoa, por favor ajude-o. — Disse Elaine aos prantos.
— Elaine, ele foi pego tentando fugir do morro, disse que estava fugindo
do marido que batia nele e ainda falou que o acertou com um martelo, este
martelo aqui que está no chão — falei apontando o objeto.
— Esse infeliz só sabe maltratar meu primo. Eu devia ter suspeitado que
isso era coisa desse nojento, ele o espanca muito. Rafael deve ter se
defendido, por favor, ele é a vítima nisso tudo — Falou Elaine se sentando na
cama e chorando mais ainda.
— Eu tenho que apurar todos os fatos. Quando você veio aqui na
primeira vez, viu esse cara caído no chão?
— Não, não tinha ninguém aqui. O nome dele é Otávio, é esse verme aí
na foto que o senhor está segurando.
Olhei novamente a foto e respirei fundo. Recolhi com um pano o
martelo. Eu levaria tanto a foto quanto o martelo e abriria uma investigação.
Se Rafael estivesse falando a verdade, eu iria caçar este homem por violência
doméstica. Já que tinha visto como o rosto do Rafael estava e ele era seu
companheiro. E ainda teria que entrar com uma medida de proteção para ele,
já que, Otávio estava foragido.
— Elaine vou resolver essa situação, mas preciso de duas coisas, que
você vá para casa e descanse. Se esse, Otávio, aparecer, quero ser informado.
Já deixarei alguns homens avisados deste caso, mas preciso investigar tudo,
hoje, Rafael vai comigo, amanhã você pode visitá-lo.
Elaine de repente veio e me abraçou. Chorando me agradeceu e me
implorou que não deixasse, Rafael, com outros presos.
— Por favor não deixe ele junto com outros homens, Rafael é....
Afeminado, isso chamará atenção, temo pelo que eles queiram fazer com ele,
por favor, não deixe nada de mal acontecer com meu primo, eu o amo muito.
Acalmei, Elaine e saí da casa com ela. Ela seguiu em direção a sua
residência e eu descia o morro, ligando para, Barreto.
— Pronto chefe.
— Barreto onde está, Rafael?
— Quem senhor?
— O rapaz que mandei você levar para delegacia.
— Ah sim, está aqui comigo, senhor, ainda estamos no caminho, neste
carro só está ele. Os outros foram coordenados por, Matias.
— Certo, quando chegar lá o leve para a sala de espera, a reservada e me
espere chegar.
— Sim senhor.
Desliguei o telefone, dei as últimas instruções para meus homens,
inclusive falei sobre, Otávio e mostrei a foto. Após, fui para meu carro, entrei
e respirei fundo. Sempre fui um homem justo, achei no início que, Rafael era
um dos bandidos do morro, mas agora outra versão aparecia, eu iria
investigar e se realmente, Otávio, for o vilão nessa história, vou caçá-lo até
no inferno, odeio violência.
Vejo diversos casos na delegacia todos os dias, de mulheres com seus
rostos desfigurados por esses animais. Rafael não é uma mulher, mas me
pareceu tão frágil quanto, confesso que não me sinto muito à vontade com
este pensamento sobre como, Rafael me pareceu. Fui criado por meus pais de
uma forma bem conservadora, sabendo que mulher deve casar com homem e
não homem com homem ou mulher com mulher, que isso é errado, mas não
estou aqui para julgar, cada um faz de sua vida o que quiser. Eu nunca seria
capaz de viver algo assim, é errado, mas esse sou eu e da minha vida eu sei.
Meu dever como policial é proteger e se ficar comprovado que, Rafael,
precisa de minha proteção, eu o protegerei.
Quando chegamos na delegacia, Barreto veio abrir a porta da
parte traseira e me retirar, eu estava ainda mais no canto encolhido e
chorando baixinho.

— Rafael?

Olhei na mesma hora para Barreto...


— Você sabe meu nome? — Perguntei confuso.

— Foi o comandante que me disse quando me ligou agora pouco. Eu te


falei que ele ia resolver sua situação, ele já deve saber de algo, pois até seu
nome sabia.

Engoli em seco, estava com tanto medo e tanta dor, que estava perdendo
as forças.

— Agora vem, precisamos entrar — Disse Barreto estendendo sua mão


para mim.

Me encolhi ainda mais e chorei, balancei a cabeça negativamente


indicando que eu não ia.

Barreto fechou sua fisionomia e falou firme comigo.


— Não dificulta, Rafael, preciso levar você para dentro, tenho ordens
para isso, não me faça usar a força com você, acredite, eu não quero.

Depois de ouvir, Barreto, me arrastei até chegar na saída do carro. Olhei


para ele com um olhar implorando ajuda e ele pareceu entender.

— Ninguém vai fazer nada com você, a ordem do comandante é para te


levar a sala reservada, você não vai para uma cela e mesmo se fosse, ninguém
encostaria um dedo em você, eu não deixaria. — Disse Barreto segurando
minha mão e olhando em meus olhos.

Chorei, acho que por toda situação, de alívio, por não ir parar numa cela,
por estar recebendo atenção de Barreto, que mesmo bruto, estava se
mostrando uma pessoa de valor.

— Obrigado — Falei baixinho, mas olhando em seus olhos.

— Vamos, precisamos cuidar de seus ferimentos. — Disse Barreto me


amparando para descer do carro.

Seguimos para dentro da delegacia, onde ele falou com uma mulher na
recepção que me olhou de cima a baixo e deu lhe deu uma chave. Ele me
conduziu por alguns corredores, até que chegamos em uma sala.

Era uma sala fria, toda branca e que possuía uma cadeira de ferro e uma
mesa igual. Entrei e olhei ao meu redor.

— Fique aqui, vou na enfermaria e já volto. — Disse Barreto saindo e me


deixando ali sozinho.

Estava cansado e triste, minha vida virou de cabeça para baixo em


questão de horas e eu estava morrendo de medo do que ainda viria pela
frente.

Sentei-me na cadeira e apoiei meus braços na mesa, deitando minha


cabeça neles em seguida. Estava moído, cada curvinha do meu corpo estava
dolorida, meus olhos pesavam e adormeci em segundos...
Fui até a enfermaria e peguei tudo que precisava para limpar e
desinfetar o rosto de Rafael. Estava me sentindo culpado pelo que falei assim
que o vi, quando falei para, Matias, matá-lo.
Eu não sou um policial ruim, já vi tanta merda nas ruas, que até me
surpreendo com a cabeça boa que tenho. Não tenho paciência com bandido,
mato mesmo essas pragas que roubam, estrupam e cometem atrocidades
diariamente.
Mas quando vi, Maurício tirar o capuz de, Rafael e pude vê-lo de fato,
ali eu soube que ele não era nenhum bandido e sim mais uma vítima.
Maurício, como bom policial, estava verificando, mas eu já tinha minha
certeza.
A forma como, Rafael chorava e sentia medo me comoveu. Ver seu
rosto tão machucado me deu vontade de matar o infeliz que fez isso com ele,
se eu pego, mato sorrindo, esse covarde.
Não sou preconceituoso, nunca fui, minha mãezinha me criou sozinha e
me mostrando os verdadeiros valores. E um deles era que amor é amor, não
importa se for entre pessoas do mesmo sexo. Sempre achei a cabecinha da
minha, saudosa mãe, tão pra frente, tão diferente da criação que ela recebeu.
Nunca me envolvi com outro homem, sempre peguei mulher pra caralho
e nem estou interessado no Rafael, apesar de ter achado ele lindo, indefeso e
ter ficado com uma puta vontade de cuidar dele.
Mas é apenas isso, vontade de cuidar. Imagino que pelo que ele está
passando, é o mesmo que vejo inúmeras mulheres passarem todos os dias
aqui na delegacia e ele me cativou com seu jeito indefeso e arisco.
Depois de estar munido com tudo que preciso retorno para sala. Assim
que abro a porta vejo, Rafael, sentado e debruçado sobre seus braços, em um
sono profundo e fico com mais pena dele.
Apesar de todo meu tamanho, sempre fui um cara carinhoso. Cuidei da
minha mãezinha até seus últimos dias. Dei banho e comida na boca, isso me
transformou por dentro, amoleceu minha pedra que chamo de coração, pois
precisei ser assim para encarar tudo que vejo pelas ruas e acredite não é
pouca coisa. Até minhas noites de sono são complicadas, pois fica tudo na
minha cabeça. Mas deixo meu ódio para os infelizes que tenho que combater
todo dia.
Me aproximo e Rafael nem se mexe, tiro seus cabelos do rosto e vejo
que ele chega estar de boca aberta. Saio da sala, vou até o alojamento e pego
um colchonete e dois lençóis, volto para sala e arrumo uma cama
improvisada para ele.
Com todo cuidado, o pego no colo para colocá-lo deitado. Ao suspender
seu corpo, leve, ele se aninha em meus braços e eu sorrio com a cena.
O deito no colchonete, de modo que a parte do rosto machucado fique
para cima, para que eu possa limpar.
Aos poucos vou limpando com cuidado, sorrio com as caras que ele faz,
mas sem abrir os olhos. Até um bico presencio e acho a maior graça.
Depois de tudo limpinho, o cubro e ele se entrega ainda mais ao sono.
Saio da sala trancando- a e vou esperar por Maurício e suas próximas
ordens.
Quando chego na delegacia, passo na recepção e pergunto por
Barreto, indo até onde ele está e o encontro organizando as pastas da
operação de hoje.
— Fez o que te pedi, Barreto?
— Sim comandante, ele está na sala reservada.
Sorrio com todo protocolo de Barreto, além dele ser meu homem de
confiança aqui dentro, ele é meu melhor amigo lá fora. Ele nunca misturou as
coisas, é bem profissional e um dos melhores. Admiro muito isso nele, se
tenho que chamar atenção, eu chamo, como qualquer outro.
— Conheci a prima dele que confirmou toda versão sobre o marido
violento. Ela estava desesperada sem notícias dele e me levou em sua casa,
onde achei o martelo que ele disse que usou para bater em Otávio, esse é o
nome do sujeito, tenho até uma foto dele.
Pego tudo e mostro a Barreto, que observa atentamente a foto e conheço
esse olhar.
— Está gravando a cara dele por quê? — Pergunto já conhecendo a
fisionomia do meu amigo.
— Porque a hora que eu der de cara com esse infeliz eu acabo com a
raça dele — Diz Barreto com um ódio visível nos olhos.
— Fica frio grandão, já estou tomando as providências para encontrar
esse sujeito. Elaine, a prima dele, vai vir visitá-lo e vou tomar o depoimento
dela, mas ao que tudo indica, realmente, Rafael não tem nada a ver com os
bandidos do morro, ele simplesmente estava na hora errada, no lugar errado.
— Ou não, né? — Diz Barreto
— Como assim? — Pergunto confuso.
— Ele ter dado de cara com a gente foi a sorte, mesmo com todo mal
entendido, pois ele estava sofrendo maus tratos e agora podemos resolver
essa situação. — Conclui Barreto.
— Tem razão, vou falar com ele.
— Ele está dormindo — Diz Barreto voltando sua atenção para as
pastas.
Olho para ele com as sobrancelhas franzidas.
— Dormindo? Onde?
— Na sala que você pediu para colocá-lo. Fiz uma cama e ele dormiu,
mas antes cuidei dos ferimentos do rosto dele. — Disse Barreto calmamente.
— Então você fez daqui um hotel, né? Senhor Barreto. — Falei
cruzando os braços.
— Não fiz daqui um hotel, mas ele adormeceu, está ferido e com medo.
Fiquei com pena dele.
Olho para meu amigo e se não o conhecesse há anos, ia ficar surpreso
com tudo isso, mas conheço muito bem, Barreto e sei o coração enorme que
ele tem. Ele só tem esse tamanho, que assusta muito bandido e quando se
trata deles, ele vira um bicho, mas como pessoa, é o cara mais doce que já
conheci.
— Tudo bem, quando seu hóspede, acordar, me chame que vou
interrogá-lo. — Falei saindo da sala em que me encontrava e fui para minha.
Quando entrei me livrei das minhas armas e me sentei, estava exausto,
mas fiquei encarando durante um tempo a foto de Rafael e Otávio.
Vai dar trabalho encontrar esse cara, mas não vou desistir, até porque, já
que aconteceu tudo que Rafael relatou, ele agora corre risco de vida. Terei
que colocá-lo no programa de vítimas e ele precisará ser vigiado e protegido,
nem para aquela casa ele poderá voltar.
Estou um caco, organizei e trabalhei quase dois anos para esta operação
de hoje e graças a Deus, tudo deu certo. Claro que alguns inocentes acabaram
sendo feridos, mas não perdemos nenhum.
Pego meu celular e fico olhando a foto de, Beatriz, minha ex mulher.
Ainda me dói muito ter sido traído por ela e justamente com um grande
amigo meu, um cara que assim como, Barreto, eu cresci junto, mas que foi
capaz, junto com, Beatriz, de me apunhalar pelas costas.
Preciso esquecer essa história, isso já tem 1 ano, até grávida, Beatriz está
e feliz com sua nova família. Eu me apaixonei perdidamente por ela aos 24
anos e ficamos casados durante 8 anos, mas descobri sua traição que já
durava 8 meses e acabei com nosso casamento.
Desde então ela vive com, Douglas, meu ex amigo, um policial da
divisão de homicídios e o que eu sei é que vivem felizes e agora esperam o
primeiro filho, coisa que ela sempre me negou, dizendo que ainda estava
muito nova e queria curtir mais.
Eu por outro lado não me relacionei sério com mais ninguém. Tenho
encontros esporádicos, pois, Barreto me arrasta para boates ou coisas assim,
dizendo que preciso viver e ser feliz. Ele ficou com ódio da Beatriz e de
Douglas depois de tudo. Mas eu estou fechado para balanço, ser traído doeu
demais, eu amava muito, Beatriz e isso me fez ser mais desconfiado do que já
sou.
Respiro fundo e decido apagar aquela foto que eu ainda guardava em
meu celular e depois disso encosto na cadeira fechando meus olhos e sem
sentir acabo adormecendo...
Estou correndo pelas vielas do morro, corro procurando algo ou
alguém, mas não sei o que é. Quando viro na última rua, vejo um homem
batendo em alguém e ele bate com vontade, a pessoa, que me parece ser uma
mulher, chora compulsivamente, pedindo ajuda e tentando proteger seu
rosto.
Chego correndo e já dou um soco com tudo no homem, que cai tonto no
chão. Quando me aproximo e tiro os cabelos do rosto da pessoa, vejo que é,
Rafael, ele chora e me abraça, me implorando por ajuda, me pedindo que
não o deixe ali. Sem pensar muito, pego ele pelos braços e o ajudo a se
levantar, mas antes que possamos sair, o tal homem se levanta e acerta um
tiro nas costas de Rafael...
— NÃO!!!!!!! — Grito no sonho e ao mesmo tempo em minha sala
onde acordo assustado e suando depois desse pesadelo. Estou puxando o ar e
tentando respirar, quando, Barreto e mais dois policiais entram em minha
sala, já com suas armas apontadas e procurando o que causou meu grito.
Barreto, ao perceber meu estado e constatar que estou sozinho, pede que
os outros saiam.
— O que houve, Maurício?
É engraçado ele me chamar pelo meu nome aqui, mas ele agora entrou
em, modo amigo, extremamente preocupado.
— Eu tive um pesadelo, Lucas e eu... eu ... não consegui proteger o,
Rafael, nele...— Digo passando a mão pelo meu rosto.
— Ele está bem, Maurício, ainda está dormindo. Tinha acabado de
verificar, fica tranquilo.
Olho para Lucas e sinto meu coração disparado, me levanto sob seu
olhar e lhe peço a chave da sala onde, Rafael está.
Saio e vou para lá. Abro a porta e entro. Ele está deitado, de costas para
porta, seus cabelos estão bagunçados e seu sono é tranquilo. Me abaixo e o
observo, não consigo entender por que tive esse sonho, mas ainda estou com
a sensação de impotência que fiquei em vê-lo ser baleado na minha frente.
Sem que eu perceba, minha mão está indo em direção a seus cabelos, mas
paro no meio do caminho, recolhendo minha mão e me levantando.
Quando me viro para a porta, Lucas está parado me observando, fico
sem jeito, passo por ele e aviso que vou tomar um café e que é para ele
providenciar um para, Rafael e prepará-lo para o interrogatório.
Preciso esquecer esse pesadelo e o melhor jeito é trabalhando....
Desperto do meu sono, meu olho está dolorido e meu corpo
também, mas o soninho que tirei caiu muito bem.
Sorrio lembrando que Barreto que me colocou aqui e ainda cuidou do
meu rosto. Eu sabia que era ele, apenas ele estava tendo aquele cuidado
comigo, mas o cansaço era maior, nem consegui abrir meus olhos.
Me sento no colchonete e observo novamente a sala que estou, nem sei
que horas são, passo a mão em meus cabelos, tentando conter o emaranhado
em que eles se encontram e tiro meu casaco, ficando apenas de jeans e minha
blusinha rosa.
Escuto barulho na porta e meu coração dispara, mas ao ver, Barreto,
passar por ela, me tranquilizo e quando ele dá um pequeno sorriso para mim,
fico encabulado e abaixo a cabeça.
— Bom dia, pessoa dorminhoca, hora de levantar e comer algo, logo o
comandante vai lhe interrogar.
Ao ouvir o que Barreto fala, fico com medo, sei que não devo nada a
ninguém, mas esse comandante me dá medo, ele não é como, Barreto.
— Não fique preocupado, ele já sabe de sua história com o seu marido,
o Otávio, ele esteve com sua prima, logo ela virá te ver.
— Elaine? Ela já sabe que estou aqui? — Digo baixinho e feliz por
ouvir o nome dela.
— Sim, o tal, Otávio não foi encontrado ainda, mas já está sendo
procurado.
Sinto um misto de alívio e medo ao saber de, Otávio. Me levanto e vou
andando devagar para perto de Barreto que me observa e me oferece um pão
e um copo de café preto.
— Obrigado, Barreto, por tudo que você fez por mim desde ontem. —
Digo olhando para ele.
— Na verdade eu que tenho que te pedir perdão, por ter falado para
Matias te matar, mas pensava que você era bandido, me desculpe.
Fico comovido pela forma que ele diz as palavras, sinto a culpa nelas.
— Eu te perdoei, tudo que você fez por mim, já apagou isso da minha
memória.
Termino de falar, tomando coragem e me aproximo dele, com receio,
pois ele é enorme e eu quase sumo perto dele, mas o abraço pela cintura em
agradecimento.
Ele me rodeia com aqueles braços musculosos e beija o topo da minha
cabeça, sorrio sentindo seu carinho, não sei por que, mas peguei uma
confiança nele que há muito tempo não tenho em ninguém, apenas em Elaine.
Me solto dele com vergonha e me sento começando a comer meu
pãozinho, que fome estou, senhor!
Quando já terminei o pão e estava apenas tomando o café, o comandante
entrou pela porta com aquela cara dele, linda, porém séria e me observou por
segundos, não abaixei meu olhar, o encarei de volta.
— Bom dia — Ele fala e só agora percebo com mais clareza sua voz, é
grossa, autoritária, mas sexy pra caramba.
— Bom dia, senhor — Respondo olhando para ele.
— Barreto nos deixe a sós.
— Comandante eu...
O comandante olha imediatamente para Barreto, com um olhar de
advertência, pela quase resposta que Barreto ia dar.
— Lucas, não vou falar de novo.
Olho para Barreto feliz por saber seu verdadeiro nome e o vejo
assustado, pois o comandante usou seu primeiro nome e ele não esperava.
— Tudo bem, Maurício, estou saindo. — Responde, Lucas também o
chamando pelo nome e percebo um clima tenso.
Quando fico sozinho com, Maurício, ele se senta na minha frente.
— Ontem conheci sua prima, Elaine e ela me levou na sua casa e me
contou um pouco do, Otávio. Achei o martelo, mas ele não estava mais lá.
Hoje, Elaine, virá depor e eu abri uma investigação. Otávio, está sendo
procurado, ele te agrediu e fugiu.
— Então o senhor acredita em mim? — Pergunto olhando bem nos
olhos dele.
— Sim, todos os indícios mostram que você fala a verdade, mas como,
Otávio está foragido, isso quer dizer que você corre risco de vida, então não
pode voltar para casa.
— Mas vou para onde? — Pergunto assustado e com os olhos enchendo
de lágrimas.
— Temos lugares para pessoas que precisam de proteção, vítimas como
você ou testemunhas de crimes. Vocês ficam morando lá, com vigilância 24
horas. Vou te encaminhar para esse lugar. Este programa se chama, Provita.
Você não poderá sair para trabalhar, com isso vai receber um auxílio do
governo, apenas, Elaine, eu ou Barreto terá autorização para ir até você.
— E vou ficar neste lugar até quando?
— Até Otávio ser localizado e eu poder realizar todo procedimento com
ele. Quando ele não te oferecer mais riscos, você poderá sair e voltar para sua
vida.
— E quando vou para esse lugar? — Pergunto triste por toda essa
situação.
— Hoje mesmo. Vou pegar seu depoimento e o de, Elaine, que logo
chegará. Aí vou pedir que ela traga suas coisas pessoais e Barreto ou eu, te
levaremos para sua nova casa.
— Eu vou dividir com alguém?
— Não, vai morar sozinho. Agora preciso que você me conte tudo sobre
Otávio e sua relação com ele.
E assim eu fiz, relatei tudo que sabia de Otávio. Dei os nomes de seus
conhecidos no morro, família, tudo. Falei como nos conhecemos, de nosso
casamento e de tudo que sofri nas mãos dele.
Maurício me ouvia atento. Em alguns momentos anotava algumas
coisas, seus olhos lindos estavam me deixando nervoso, pois seu olhar era de
um falcão, acho que todo policial era assim.
— Você sofreu muito nas mãos dele — Falou Maurício ao final do meu
relato.
— Sim, não aguentava mais.
Maurício me encaminhou para uma outra sala e me pediu que
aguardasse, se retirando em seguida. Me sentei em uma poltrona e esperei.
Alguns minutos depois, Elaine entrou pela porta e corri para seus braços,
chorávamos abraçados, era tão bom estar nos braços dela.
— Oh meu bebê, como você está? Meu Deus, eu fiquei desesperada
quando não te encontrei — Disse Elaine beijando meus cabelos e meu rosto.
— Ah! Ninha, eu a chamava de Ninha desde pequeno, eu fugi dele. Ele
ia me matar, meu coração já não aguentava mais sofrer tanto, o homem que
tanto amei um dia virou um monstro. — Falei chorando nos braços dela,
tendo, Maurício e Barreto como testemunhas.
Depois disso, nós quatro conversamos juntos, Elaine recebeu meu novo
endereço e ia trazer minhas coisas pessoais. No tal lugar, já era tudo
mobiliado. Como Matias estava em outra operação, arrepiei só de ouvir o
nome dele, Barreto faria minha segurança e o próprio Maurício. Outra grande
operação estava por vir e muita gente estava ocupada. Neste lugar, para qual
seria levado, também havia outros policiais, mas o contato direto comigo só
seria feito por Barreto e Maurício.
Já era de tarde quando entrei em uma viatura guiada por Maurício, pois
Barreto ia trazer Elaine e fui para meu novo lar. Era um pouco distante,
estava sentado atrás e observava Maurício.
Ele parecia nunca sorrir, me transmitia medo, apesar de confiar nele. Era
bem louco essa confusão de sentimentos.
O seu perfume estava gostoso dentro do carro, era um cheiro
amadeirado e gostei muito. Precisava urgente de um banho, estava sujo,
descabelado, sem escovar meus dentes, resumindo, um horror.
Quando chegamos, Maurício foi comigo até o apartamento. Era um
prédio, até bem ajeitadinho. Quando ele abriu a porta, entrei e olhei tudo ao
meu redor. Era aconchegante. Me virei e sorri pela primeira vez, depois de
tudo e fiz isso olhando para ele, que me observava de uma forma diferente,
mas que eu não soube identificar.
— Obrigado por salvar minha vida — Falei vendo seu semblante
suavizar.
— É o meu trabalho. Todos os policiais que você viu no prédio estão
aqui para proteger, mas apenas eu e Barreto temos autorização para entrar
aqui, entendeu? Não abra para ninguém.
— Sim senhor, pode deixar.
Enquanto eu olhava todo apartamento, Elaine chegou com Barreto e me
senti mais à vontade. Depois de um tempo, Maurício foi embora e levou
Elaine, ficamos só eu e Barreto.
— Bom agora você pode tomar um banho e descansar melhor, tem
comida na dispensa que eu vi.
— Sim, vou fazer isso, estou horrível, sujo e descabelado.
Barreto riu.
— Sinto muito pelo seu quase desentendimento com o comandante mais
cedo.
— Não se preocupe, Maurício, é meu amigo, nada que a gente não
resolva depois, ele é como um irmão para mim.
Me surpreendi com a declaração de Barreto e fiquei curioso para saber
mais de Maurício, mas fiquei quieto e bem mais aliviado por eles não terem
brigado de verdade.
— Ele não parece gostar muito de mim, mas mesmo assim, sou muito
grato a ele por tudo. — Foi apenas o que eu falei.
— Maurício... ele... não é que ele não goste, além dele ter se tornado um
homem muito fechado, ele é meio sem jeito com gays, se é que você me
entende.
— Ele é preconceituoso?
— Não digo isso, assim, ele vem de uma família muito conservadora.
Minha mãe já me criou de uma forma bem diferente, então, não o culpo pelo
que enfiaram em sua cabeça, entende?
— Sim, entendo.
— Vou te deixar só para fazer suas coisas, aqui está o telefone que você
terá, ele tem ligação direta com o meu e do Maurício apenas, qualquer coisa
me ligue estarei por aqui.
Fui ao encontro de Barreto e o abracei novamente. Ele estava se saindo
um amigo e tanto e quando tudo isso passasse, eu gostaria muito de manter a
amizade dele.
— Obrigado novamente, Barreto.
— Pode me chamar de Lucas.
— Obrigado, Lucas — Falei sorrindo e olhando para ele.
— Se cuida, bebê.
E assim, Lucas saiu e eu fui me cuidar. Tomei um longo banho, onde
chorei um pouco no chuveiro, por tudo que estava passando, mas sai de lá
limpo, cheiroso e mais leve.
Meus cabelos ficavam ainda maiores por estarem molhados e penteados.
Eu agora vestia um shortinho azul com pequenos babadinhos nas pontas e
uma regata branquinha. Estava de havaianas azuis com bolinhas que Elaine
havia me dado.
Fiz um macarrão bem gostoso e comi duas vezes. O sono que veio
depois me derrubou no sofá, onde tirei um cochilo no restante do dia...
Depois do meu soninho da tarde acordo bem mais disposto e
tranquilo, estou protegido, não há mais surras, acabo dando um sorriso de
olhos fechados.
Me espreguiço e me levanto. Olho meu rosto no espelho e meu olho está
bem melhor, já está abrindo, só estou com os roxos. Vou até meu quarto e
passo um corretivo, tantos anos disfarçando minhas surras, virei um
profissional na área de maquiagem.
Gosto do que vejo, meu cabelo está lindo e limpo. O rosto já pronto,
minha roupa limpinha, nunca fiquei tanto tempo sujo. Acho meus óculos, que
sei que preciso usar, mas fico protelando. Os coloco e logo sinto um alívio
nas vistas.
Preparo um café e logo o cheiro invade o ambiente. Nesse momento
batem na porta, imagino que seja o Lucas, penso em convida-lo para um café
com biscoitos que encontrei na dispensa. Vou abrir a porta me sentindo livre
como há muito tempo não me sinto, o sorriso nem quer sair dos meus lábios.
Abro a porta sem nem olhar no olho mágico e sorrindo, com meus
cachos caindo no meu rosto, vejo, Maurício na minha frente, lindo na farda.
Fico um pouco envergonhado na hora, pois lembro do que Lucas me contou
dele com relação a pessoas homossexuais. Engraçado que se fosse, Lucas, eu
não me sentiria assim, pois sinto que ele não me descrimina.
Maurício me olha de cima a baixo e tem uma expressão no rosto que
tento entender, mas ela está suave e ao mesmo tempo surpresa. Só que
quando abro a boca tudo muda.
— Desculpe eu pensei que fosse o Lucas.
Vejo o rosto de Maurício se fechar, ficando sério novamente e fico ainda
mais sem graça.
— Antes de atender a porta você deve olhar no olho mágico, achei que
tivesse lhe explicado isso. — Diz ele de forma arrogante.
— Explicou sim, desculpe, eu só pensei que fosse o Luc... — Fui
interrompido.
— Soldado, Barreto, pra você. Ele não é o seu amiguinho e sim um
policial que está fazendo sua segurança. Então sem intimidades, se dê ao
respeito. — Diz Maurício de uma forma tão grossa que fico assustado e
começo a me tremer.
Depois de tudo que vivi, fiquei com sequelas. Tenho pânico quando
falam mais alto comigo, tudo fica vindo na minha cabeça.
— Me desculpe, me... eu não ...— Eu não conseguia concluir a frase e
fui andando para trás com as mãos tremendo.
Maurício percebeu meu estado, entrou e fechou a porta.
— Não precisa ficar com medo de mim, só estou falando como deve ser
para sua própria segurança. Vim avisar que Barreto precisou sair e eu vou
ficar essa noite por aqui, só para você saber.
Estava sentado no sofá de cabeça baixa e contendo meu choro.
— Estarei lá fora, qualquer coisa é só ligar.
Dito isso Maurício saiu...
Chorei muito encolhido no sofá, ele trouxe toda minha tristeza de volta e
pensar que o achei tão bonito, devo estar doido! — Penso encolhido no sofá.
Seco minhas lágrimas e vou tomar meu café, como alguns biscoitos e
depois assisto um pouco de TV.
À noite, depois de jantar, tomo outro banho e venho do banheiro
enrolado na toalha, com meus cabelos presos em um coque bagunçado.
Ao passar pela porta, ouço batidas e desta vez olho no olho mágico e
reviro os olhos ao constatar quem é.
Decido abrir assim mesmo, enrolado na toalha, mas me enrolo como se
eu tivesse seios para tampar. Solto meus cabelos e abro a porta com cara de
atrevido, pois é assim que serei com ele agora.
— Pois não? — Digo me encostando na porta, de toalha, com metade
das minhas pernas aparecendo, os cabelos jogados e o nariz em pé.
Maurício novamente me mede inteiro e engole em seco, que eu percebo,
ele fica tentando processar o que vai falar, só que eu me adianto.
— Desta vez olhei no olho mágico, só para o senhor ficar ciente, o que
você deseja?
— Bem atrevido você, hein? E que trajes são esses para atender uma
porta?
— O que tem? — Falo me olhando todo, no maior teatro para ele.
— Você está de toalha!
— Não estou pelado pro seu governo e eu estava saindo do meu banho,
você que veio aqui! — Falo gesticulando e quando fico mais alterado minha
voz afina ainda mais.
— Essa sua voz me irrita, sabia? Fala igual homem, porra!
— Sou gay! Ou você não percebeu ainda? Minha voz é assim há muito
tempo, sou afeminado, com muito orgulho e não vai ser você que me fará
mudar. Se você não tiver mais nada produtivo para falar, eu gostaria de ficar
só, pois minha sexualidade não está em questão aqui.
O deixo sem palavras, ele passa a mão pelo rosto, em um claro sinal que
está muito nervoso. Ele não esperava me encontrar tão atrevido, mas decidi
que depois de Otávio, nunca mais abaixarei minha cabeça para homem
nenhum.
— Só vim dizer que estarei aqui na sua porta, caso precise.
— Pra isso tenho seu telefone, certo?
— Deixa de ser grosso, estou só informando, boa noite — Diz ele se
virando e se sentando em uma cadeira que tem no corredor. No meu andar, só
meu apartamento está ocupado.
Respiro fundo, não costumo ser grosso com as pessoas, mas ele me tira
do sério e ainda vem falar da minha sexualidade, isso não admito.
— Que cheiro é esse?
Me surpreendo com sua pergunta.
— Que cheiro? — Fico sem entender.
— Um cheiro doce, quase enjoativo. — Diz ele se levantando e vindo
perto de mim sentindo o cheiro no ar. — Deve ser seu perfume, enjoado igual
a você. — Diz ele petulante.
— Sim meu perfume é doce e nada enjoado, seu mal educado! O único
enjoado aqui é você!! — Falo e bato a porta.
Que ódio, saio bufando e vou para o meu quarto. Tiro minha toalha,
visto minha calcinha e minha camisola, me jogando na cama. Custo a dormir,
com ódio de Maurício e depois de muito rolar, acabo pegando no sono.
Na madrugada, acordo sentindo muito frio e alguém perto de mim, mas
antes que eu possa gritar, uma mão tampa minha boca e o desespero toma
conta. Sou puxado para o chão e sinto meu corpo encostar no corpo da pessoa
que me segura e que está sentada no chão, nos deixando em um canto.
— Shiuu, fica quieto, não faz barulho, tem alguém dentro do prédio.
Reconheço a voz, é Maurício, que me segura e pela primeira vez estou
muito perto dele, seu perfume fica ainda mais forte e me sinto protegido com
seus braços em torno de mim.
Ele pega meus cabelos e me faz olhar para ele. Se não fosse uma
situação de aparente perigo, era sexy demais. Ele faz sinal para que eu fique
calado, eu concordo e ele tira a mão da minha boca.
Nossos rostos estão tão pertos um do outro que sinto sua respiração
bater em mim.
Ele pega o telefone e liga para um número, onde questiona o que está
acontecendo. Após saber ele respira mais aliviado, mas não fica nada
satisfeito com o que houve, pude perceber.
— Entraram no prédio, um ex marido atrás da esposa para esfaqueá-la.
Não sei como descobriu o endereço e o pior, passou pela guarita.
— Meu Deus! Como você soube que estava acontecendo algo?
— Escutei movimentação no pátio e recebi uma ligação, amanhã
cabeças vão rolar aqui — Fala Maurício com ódio evidente.
— Eu pensei que aqui fosse seguro?
— E é, para isso acontecer, alguém daqui de dentro ajudou e eu vou
descobrir quem foi.
Depois de um tempo do nosso diálogo, é que percebo que continuamos
abraçados e eu praticamente em seu colo. Ele não se ligou ainda, está no
telefone com alguém de novo e assim de pertinho, tenho ainda mais uma
noção de toda sua beleza. Ele pode ser um grosso e chato, mas é lindo pra
caramba.
Nesse momento, durante meus pensamentos, seu olhar cruza com o meu
e o verde de seus olhos, não é chamativo, mas é tão lindo que me deixa com
vergonha, então abaixo minha cabeça.
Ele desliga e me surpreende quando coloca seus dedos em meu queixo e
levanta meu rosto.
— Desculpe te acordar desta forma, mas eu precisava ter você perto de
mim, caso precisássemos sair correndo.
— Tudo bem, eu quase morri do coração, mas você estava me
protegendo, então entendo.
Ele sorri, um pequeno sorriso de lado, mas que é tão lindo que meu
coração salta no peito e novamente sendo surpreendido, ele se levanta
comigo no colo e me coloca na cama, me cobrindo em seguida.
— Volte a dormir, vou verificar essa situação. Vou trancar a porta, tenho
a chave.
E assim, Maurício sai do meu quarto, me deixando ali zonzo com a
forma como ele, mesmo sendo um chato, pode ser fofo ao mesmo tempo.
Estou sentado neste corredor gelado bufando de.... nem sei
o que estou sentindo, mas esse garoto atrevido me tirou do sério.
Primeiro foi mais cedo, pensando que eu era o... Lucas? Sem nem ao
menos olhar no olho mágico, porra, parece que não tem nada na cabeça,
como se descuida assim da própria segurança?
E ainda vestido com aquelas roupas como se fosse uma mulher, ele não
é uma mulher, porra, como pode isso? Mas... ele estava tão diferente, agora
estava limpo, penteado e com cheiro de morango.
Dei esporro mesmo, tem que aprender a ter cuidado, mas confesso que
ao vê-lo se tremendo todo na minha frente, por medo de mim, não me trouxe
a melhor das sensações.
Aí agora, se não bastasse, atende a porta apenas enrolado em uma
toalha, numa simples toalha, com as pernas toda de fora e os cabelos
bagunçados caindo no rosto. Pelo menos desta vez ele não pensou que eu
fosse o Lucas...
Mas o que me surpreendeu é que ele não abaixou a cabeça para mim,
desta vez e nem demonstrou medo. Ele empinou aquele nariz e até o dedo
apontou para mim, gesticulando e se sentindo dono de si.
Confesso que tive vontade de rir, pois, quando mais nervoso ele ficava,
mas sua voz afinava. Ele tem uma voz bem feminina e levemente rouca, é até
uma voz gostosa de se ouvir, mas ele estava tão abusado que mandei ele falar
como homem. E foi aí que ele me deu uma verdadeira lição de moral sobre
sua sexualidade, a qual me deixou sem palavras, fiquei puto.
Quando me sentei no corredor, antes que ele fechasse a porta,
parecendo uma criança, fui cutucá-lo ainda mais, dizendo que o cheiro dele
era enjoado, mas, na verdade não era, morango era minha fruta favorita.
Lógico que nunca ia falar isso para aquele ser na minha frente, não ia mesmo,
dar esse gostinho a ele.
Estou sentado aqui, ainda puto com ele e para piorar a merda da imagem
dele de toalha não sai da minha cabeça, devo ter ficado traumatizado com tal
visão, só pode.
Estou quieto e matutando as coisas na minha cabeça, quando ouço
alguns barulhos no pátio do prédio àquela hora da noite. Vou até à janela do
corredor e vejo um homem correndo, meu telefone toca imediatamente.
— Comandante! Augusto falando, entraram no prédio.
— Como assim, Augusto? Que merda!!!
— Não sei senhor, estava voltando do banheiro, como ele passou na
guarita eu não sei, já acionei os outros, vamos entrar para pegá-lo.
— Ele teve ajuda, entrem. Estou no 3° andar, aqui só um está ocupado,
vou estar com a pessoa.
De repente escuto barulhos na escada que dá acesso ao meu andar e
imediatamente saco minha arma e aponto, mas ninguém aparece. Xingando
mentalmente decido entrar no apartamento de Rafael, tenho a chave extra.
Entro sem fazer barulho, ele deve estar dormindo, está tudo escuro e
silencioso, vou em direção ao quarto e quando entro fico paralisado.
A única iluminação é a luz da lua que está cheia e clareia justamente em
cima de Rafael, pois, a janela está aberta. Ele está deitado de lado vestindo
uma camisola branca de seda. Suas pernas são compridas e devidamente
depiladas, a camisola não esconde muita coisa, posso ver o contorno da
calcinha que ele usa.
Estou estático, jamais vi um homem vestido desta forma, mas ali deitado
ele nem parece um homem, ele está... lindo e delicado...
Engulo em seco, meu coração de repente bate tão apressado e eu não
entendo o porquê. Contorno a cama sem tirar os olhos dele, ele está em um
sono tranquilo, me sinto estranho, muito estranho. Não consigo parar de olhar
cada curva do corpo dele, isso mesmo, curva, as pernas são longas, mas com
coxas na medida certa.
Ele tem a bunda arrebitada. Como a camisola é aberta nas costas, vejo
toda sua pele clarinha com algumas pintinhas. Só percebo que estou com a
respiração desregulada quando, parecendo sentir que alguém o observava,
ele se mexe na cama e antes que ele grite pelo susto de me ver aqui, sou mais
rápido e o pego em meu colo, tampando sua boca e fico sentado no canto
mais escuto do quarto com ele quase no meu colo.
— Shiuu, fica quieto, não faz barulho, tem alguém dentro do prédio. —
Digo baixinho em seu ouvido.
O cheiro de morango dele está tão perto agora e o cheiro é simplesmente
irresistível. Seguro em seus cabelos para fazer com que ele olhe em meus
olhos e assim constato que seus cachinhos são gostosos de pegar.
Faço sinal para que ele fique calado, ele entende e fica me olhando com
aqueles olhos assustados e, ao mesmo tempo tão profundos.
Estamos tão perto, que sinto sua respiração agitada batendo em meu
rosto. Fico constrangido pela proximidade, então pego meu telefone para
falar com Augusto. Fico enfim sabendo do que se trata. Por instantes pensei
ser, Otávio, não sei por quê. Desde aquele sonho que temo por Rafael perto
dele, mas graças a Deus não é ele, mas o caso é grave. Um cara veio atrás de
sua ex mulher para matá-la e o pior conseguiu entrar aqui. O ódio me
consome por constatar que ele só conseguiu entrar com a ajuda de alguém
daqui de dentro.
Desligo, olho para, Rafael, que me observa e lhe conto o que aconteceu.
— Entraram no prédio, um ex marido atrás da esposa para esfaqueá-la,
não sei como descobriu o endereço e o pior, passou pela guarita.
— Meu Deus! Como você soube o que estava acontecendo algo?
— Escutei movimentação no pátio e recebi uma ligação. Amanhã
cabeças vão rolar aqui — Digo sentindo muita raiva.
— Eu pensei que aqui fosse seguro?
— E é, para isso acontecer, alguém daqui de dentro ajudou e vou
descobrir quem foi.
Pela primeira vez converso normalmente com Rafael e ele continua
encostado em mim, mas... me sinto novamente estranho por nossa
proximidade.
Meu telefone toca novamente e falo com Augusto de novo, onde ele diz
que pegou o tal cara. Olho para Rafael que tinha os olhos fixos em mim, mas
ele desvia seu olhar quando o encaro.
Assim que desligo, fico olhando para ele que continua com sua cabeça
abaixada. Toco em seu queixo com a ponta dos meus dedos e ergo seu olhar
novamente para mim...
— Desculpe te acordar desta forma, mas eu precisava ter você perto de
mim, caso precisássemos sair correndo.
— Tudo bem, eu quase morri do coração, mas você estava me
protegendo, então entendo.
Sorrio com a forma como ele fala, sua voz é doce e baixa. Sem avisar,
ajeito ele em meus braços, levanto e o coloco deitado em sua cama. O cubro
tomando cuidado para não olhar mais para seu corpo. Ele me olha surpreso,
pois não esperava essa minha atitude.
— Volte a dormir, vou verificar essa situação, vou trancar a porta, tenho
a chave extra. — Digo para ele e saio daquele quarto.
Do lado de fora do apartamento, respiro em buscar de ar. Meu coração
bate tão forte que está difícil de respirar. Olho para a porta de Rafael e uma
vontade absurda de entrar novamente me deixa desnorteado. O cheiro de
morango em mim, dificulta ainda mais e antes que eu faça algo que me
arrependa muito depois, saio quase correndo dali...
Acordo e continuo deitadinho enrolado no lençol. Penso na
noite passada e o momento em que fiquei nos braços de, Maurício, fica indo e
vindo em minha mente.
Aquele perfume dele, mais aqueles olhos e o sorriso no final... aiii para
com isso, Rafael, você não pode pensar nessas coisas com ele, ele não gosta
de "gays", penso comigo mesmo.
Me viro na cama e meu corpo parece estar uma brasa. Estou com um
calor que nem sei explicar. Tiro meus cabelos do meu pescoço, o lençol de
minhas pernas e me viro de bruços tentando achar uma posição para dormir
mais um pouco.
Meu sono esta noite se resumiu a cochilos, pois, toda hora acordava e os
olhos verdes de, Maurício, invadiam meus pensamentos. O vislumbre de um
sorriso que vi em seu rosto, foi deslumbrante mesmo sendo tão pouco.
Estar de bruços me faz sentir ainda mais o quanto meu corpo acordou,
por lembrar das mãos dele em mim, da sua respiração que batia em meu
rosto, de seu olhar quando me olhou de cima a baixo quando me viu de
toalha.
Não tenho prazer há tanto tempo. Minhas relações com Otávio eram
horríveis e doloridas.
Vivia com tanto medo que nem me permitia me dar prazer sozinho, pois,
tinha medo dele descobrir e na cabeça doida dele pensar que eu estava com
outra pessoa.
Com isso, até minha vida sexual foi deixada de lado e agora aqui deitado
nessa cama, com o corpo pegando fogo, me sinto um vulcão há tempos
adormecido, que entrou em erupção.
Mas nada é perfeito, não é mesmo? Ele foi justamente acender pelo
homem errado, por um homem que não aceita como sou, que não entende
minhas escolhas, minha orientação. Um homem que jamais iria se relacionar
com ... outro homem...
Decido levantar e dar um fim nisso, não posso morrer de tesão por
alguém que nunca irá me olhar desta forma. Quando me levanto é que tenho a
real noção do quanto estou excitado, estou duro feito pedra e dolorido, penso
que é consequência da abstinência de um sexo bom e gostoso. Caio de costas
na cama de novo, com os olhos cheios de lágrimas ... — Preciso resolver isso
meu Deus! —Digo para mim mesmo.
Levanto-me e vou para o banheiro, onde tiro minha camisola e a deixo
cair aos meus pés, ficando apenas de calcinha de frente para o espelho do
banheiro que me permite ver meu corpo até minhas coxas.
Minha calcinha mal está contendo minha excitação e respiro pesado
apenas por me olhar. Passo minhas mãos pelo meu pescoço, descendo para
meu peito, onde, com a palma da mão, acaricio meus mamilos. Meus olhos
querem fechar, mas me forço a ver ...
Conforme me aproximo de minha calcinha, preciso me segurar na
beirada da pia que fica ao meu lado, respiro com mais dificuldade. Agora
tenho noção do que eu vinha fazendo comigo mesmo todo esse tempo, me
prendendo, me privando de me dar prazer por medo, medo de tudo que eu
enfrentava.
Eram as surras, os xingamentos, o inferno em que eu vivia, que nem me
deixavam pensar em sexo ou outras coisas boas da vida. Eu estava morto
dentro daquele casamento.
Graças a Maurício estou livre de tudo, me sinto desabrochar para a
vida.... Maurício...
O pensamento nele chega quando minha mão adentra minha peça íntima
e a lembrança de seus olhos verdes me fazem explodir no momento em que
minha mão me toca intimamente...
Gozo tanto que minha visão fica turva, prazer e tristeza duelam dentro
de mim, mal consigo respirar. Ainda me segurando em minha mão, termino
meu movimento prazeroso querendo mais, muito mais, mas com a única
pessoa que não poderia querer e é aí que a tristeza se encaixa.
Quando já estou refeito, tomo um banho bem quentinho, onde embaixo
do chuveiro, deixo a água cair em meus cabelos e fico de olhos fechados
sentindo toda revolução dentro de mim.
Quero ser feliz, quero me cuidar. Assim que sair daqui quero retomar
minha vida, trabalhar e seguir em frente. Mas agora estou aqui e farei deste
momento minha reabilitação de tudo que intoxicou minha vida.
Após sair do banho me enxugo e vou para meu quarto de toalha e passar
pela sala me traz lembranças de ontem e é quase impossível não dar um
sorriso com tal pensamento.
Visto um short jeans e uma blusinha de meia manga amarelinha com um
gatinho na frente, enxugo bem meus cabelos e coloco um arco para que ele
não caia muito em meu rosto.
Meu corpo está molinho e agora um soninho gostoso insiste em
aparecer, mas não vou dormir, estou faminto, então vou para cozinha fazer
um café bem gostoso.
Quando a casa já está preenchida com o cheirinho gostoso do meu café,
ouço batidas na porta e meu coração salta junto. Vou até o olho mágico e
abro um sorriso ao ver que é Lucas. Meu coração saltou pensando ser outra
pessoa, mas estou feliz demais em ser meu amigo, por isso abro a porta
sorrindo.
Lucas fica surpreso ao me ver, pois, a última vez que me viu, eu estava o
horror em pessoa. Ele sorri tão lindo para mim que não penso duas vezes em
me jogar nos seus braços e ganhar um abraço carinhoso de alguém que se
importa comigo.
— Meu bebê está lindo!!! — Diz Lucas tão carinhoso que abro um
sorriso ainda maior em seus braços.
— Agora sou eu de verdade, antes parecia ter saído da série The
Walking Dead.
— Não exagere — Diz Lucas me fazendo olhar para ele enquanto ele
faz carinho em meu rosto.
— Obrigado mais uma vez por tudo, Lucas — Digo com todo meu
coração.
— Só aceitarei esse agradecimento se você me der um pouco desse café
tão cheiroso — Diz ele brincalhão.
Então levo Lucas até a cozinha, onde ele se senta na mesa comigo e
juntos tomamos um delicioso café. Ele acaba me perguntando como foi
minha primeira noite aqui.
Respondo que tranquila, tentando não pensar em alguns fatos
importantes da noite passada.
— Maurício me contou do cara que entrou aqui. Estamos em uma
investigação do caralho para descobrir quem facilitou pra ele. Só sei que eu
sou o único que Maurício não suspeita e ele é foda em investigação — Diz
Lucas comendo seu biscoito e olhando para mim.
— É... — Falo abaixando minha cabeça e encarando minha xícara de
café.
— Ei? Ele te perturbou muito ontem? Porque ele é meio neurótico com
segurança e chato às vezes. Precisei resolver alguns assuntos no batalhão, a
pedido dele mesmo, mas eu ia pedir um parceiro para ficar aqui e ele não
deixou, disse que ele mesmo ficaria.
Saber que ele mesmo quis ficar me deu um frio na barriga, mas logo
tratei de tirar tal pensamento da minha cabeça .... Ele não quis ficar por
causa de você seu idiota... Pensei.
— Ei que carinha é essa? Você está pensativo, aconteceu alguma coisa?
— Perguntou Lucas me observando.
Suspirei e balancei a cabeça negando...
— Está tudo bem, não se preocupe — Falei e dei um sorriso meio
forçado para ele.
Ele ia retrucar, vi que ele não engoliu minha desculpa, mas quando ele ia
falar, bateram na porta.
— Deixa que eu abro, é Maurício, ele ia trazer uma coisa para mim.
Deve estar querendo saber onde estou — Disse Lucas se levantando e
piscando para mim.
Meu estômago revirou observando, Lucas chegar na porta. Me levantei e
me escorei na entrada da cozinha cruzando meus braços e dali ouvi a voz de
Maurício.
— O que você está fazendo aí dentro?
— Estava tomando um café! — Lucas respondeu naturalmente e eu
segurei o riso, mas estava com medo da reação de Maurício. Ele sabe ser
grosso e eu não queria o Lucas levando bronca por minha causa.
— Você está trabalhando, Barreto, não está aqui para ficar de
fofoquinha com ninguém — Falou Maurício bem sério.
Quando Lucas ia responder, cheguei ao seu lado e Maurício me olhou
inteiro e de uma forma tão intensa que fiquei sem ar e com vergonha. Olhei
de relance para Lucas para ver se ele tinha percebido e pela expressão em seu
rosto, sim.
— Por favor não brigue com ele, comandante. Eu que ofereci um
cafezinho, ele já estava até saindo daqui de dentro — Falei doce e olhando
nos olhos que me tiraram o sono na última noite.
Maurício respirou fundo, eu vi nitidamente o conflito dele, ele queria dar
esporro em nós dois, mas quando falei com ele, foi como se eu acalmasse a
fera.
— Bom dia, Rafael — Disse, Maurício, sério, mas sem tirar os olhos de
mim.
— Bom dia — Respondi hipnotizado por seus olhos.
Maurício então desfaz nosso contato visual e se vira para Lucas o
olhando sério, mas ao mesmo tempo sem graça, pois acho que ficou nítido
para Lucas nossa troca de olhares. Lucas não me parecia nada bobo.
— Barreto venha, quero conversar com você.
Nisso Lucas se vira para mim e com um sorriso lindo agradece meu café
e sem que eu espere, ele se aproxima e me dá um beijo no rosto na frente de
Maurício. Nesse momento meu ar foge e eu fico sem ação, Lucas só pode ter
feito isso de propósito, penso comigo mesmo.
Quando Lucas se afasta arrisco a olhar para Maurício e o mesmo me
olha com uma cara de desaprovação e repulsa que faz com que eu me sinta
pequenininho. Os dois saem e Lucas fecha a porta piscando para mim como
se dissesse, deixei ele com mais raiva, suspiro e me aproximo da porta para
trancá-la. Acabo ouvindo Maurício falar.
— O que você pensa que está fazendo, Barreto? — Diz Maurício
enfurecido.
— Como assim, comandante? — Responde Barreto com deboche.
— Você está debochando de mim? — Pergunta Maurício.
— Estamos só nós dois e você que está usando os protocolos comigo,
Maurício e sinceramente não estou entendendo toda essa sua raiva. O que
aconteceu?
— Estou com raiva, pois estou vendo meu soldado se comportando de
maneira indevida em seu horário de trabalho, flertando com uma vítima.
— Ah qual é, Maurício, o que eu fiz demais? Eu apenas cheguei aqui e
fui cumprimentá-lo. Tomamos um café juntos, aproveitei e perguntei como
foi a primeira noite dele aqui, apenas isso. Gostei do Rafa de cara, tive pena
dele por tudo que ele passou, estamos nos tornamos amigos, ele é uma pessoa
incrível, você também iria adorá-lo se desse uma chance de conhece-lo
melhor — Diz Lucas com tanto carinho por mim e isso me faz sorrir
encostado na porta.
— Pode parar, Lucas. Não me interessa quem você conhece ou deixa de
conhecer. Você está misturando as coisas, espere pelo menos ele sair daqui e
voltar a vida, para vocês se pegarem, pois aqui dentro eu não quero isso e não
venha querer me meter nessa história. Não tenho vontade de conhecer
ninguém intimamente, muito menos ele, você sabe muito bem disso. — Diz
Maurício de forma ríspida.
Fecho meus olhos e deslizo minhas costas pela porta, sentando no chão e
chorando, sentindo todo preconceito de Maurício. E pensar que me permiti
pensar nele durante esta última noite, sou muito burro mesmo. Sou tirado da
minha tristeza e abro meus olhos, ainda em lágrimas, quando ouço a resposta
de Lucas.
— Como é? Você está achando que eu estou a fim do Rafael? Pois você
está muito enganado, Maurício. O que sinto por ele tem apenas dois nomes,
carinho e amizade. São duas coisas impossíveis de não sentir estando perto
dele. Você fica tão cego por esse seu preconceito idiota, com as pessoas
homossexuais, que não enxerga um palmo na frente do seu nariz, EU NÃO
ESTOU A FIM DO RAFAEL! Somos amigos e o que eu puder fazer para
defender esse guri eu farei. Ninguém mais encosta num fio de cabelo dele,
estando ele aqui dentro ou lá fora. Nós dois somos amigos de longa data,
Maurício, mas essa parte de você eu não gosto, essa parte preconceituosa,
mas tudo bem, todos temos defeito, esse é o seu, mas a partir deste momento
quero que você respeite a mim e ao Rafael. Ele acabou de passar por uma
covardia na vida dele, o mínimo que ele merece é respeito e cuidados. Eu e
ele não temos nada sentimental, apenas amizade, mas só para você saber, se
eu estivesse a fim dele, eu faria de tudo para conquistá-lo, comigo não tem
essa palhaçada não. Eu gosto de pessoas, não me interessa seu gênero. Nunca
me relacionei com outro homem, mas acredito que seja porque nunca
nenhum tenha me despertado tal interesse. Um dia se isso acontecer não vejo
problema nenhum nisso, mas pelo Rafael é um carinho diferente, quero
protegê-lo, ele já sofreu demais, quero que ele refaça a vida dele e seja feliz,
ele é lindo e adorável, merece.
— Lucas... — Ia falar o Maurício...
— Sabe o que eu acho, Maurício? Acho que você está precisando
acordar para a vida e mudar seus pensamentos, pois seus atos não estão mais
de acordo com eles.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu vi a forma que você olhou para o Rafael quando ele apareceu do
meu lado, eu sou homem e não sou burro. Alguns podem achar isso de mim,
dizer tipo, olha lá aquela montanha de músculos que não deve ter cérebro,
mas eu tenho e muito e só um idiota não perceberia seu olhar para ele.
— Você está maluco!!! — Esbravejou, Maurício.
— Será que estou mesmo? Bom, nossa conversa se encerra aqui. Acho
que já te dei coisa pra caramba para você pensar. Vou passar o relatório
diário nos outros andares e depois volto para cá e assumirei meu posto.
Quanto ao Rafa, eu continuarei sendo amigo dele, você goste ou não, aqui
dentro e lá fora.
Estou completamente estático pelas palavras de Lucas, ouço seus passos
indo embora e me assusto quando ouço um chute em outra porta e tenho
certeza de que é Maurício, quando o ouço xingar...
— Porra! Mas que merda! — Diz completamente irritado o comandante
Maurício.
Levanto-me, enxugo minhas lágrimas e vou me sentar no sofá, onde
levo minhas mãos na cabeça. O preconceito de Maurício é como uma facada,
então tomo uma decisão, preciso ficar o mais longe possível dele, só falarei o
necessário, apenas isso...
Estou muito chateado com, Maurício, muito mesmo. Em todos
os nossos anos de amizade já brigamos outras vezes, mas porque eu sou
prático e ele muito detalhista com as coisas, eu sou mais coração, ele a razão.

Mas a briga de hoje foi diferente, pois o centro dela foi esse preconceito
nojento que ele tem. Sei desse jeito dele desde que nos conhecemos, mas
também aqueles pais dele, vou te contar, são um pé no saco. Maurício sofreu
lavagem cerebral, nunca na minha vida vi pessoas tão arrogantes, metidas e
preconceituosas como eles.

É quase um milagre, Maurício, ter apenas esse defeito, não estou dizendo
que meu amigo seja a perfeição, é teimoso demais também, mas de grave é o
preconceito que ele carrega.

O que mais me deixou puto, nem foi ele insinuar que eu estava
querendo pegar o Rafa e sim algo que ele mesmo nem percebeu, pois sua
raiva comigo nada mais era que ciúmes, puro e simples, ciúmes. Vi
claramente a forma que ele olhou para, Rafael, assim que o viu, ele mal
piscava, estava vidrado e o pior, ele está sendo correspondido, pois Rafael
mudou até a respiração ao olhar para ele.

Tenho medo pelo pequeno, Maurício é cabeça dura e mesmo que se dê


conta do que está sentindo, ele não dará o braço a torcer. Seu preconceito o
faz completamente cego e como eu já disse, ele é teimoso.

Ele cuspia as palavras para cima de mim, com vontade de me esganar.


Sinceramente tive vontade de rir, de como um homem de 33 anos não sabe
quando está com ciúmes. Foi tão claro para mim, pois tudo veio depois de
seu olhar para Rafael e do beijo que dei no rosto dele. Fiz isso para provocar
mesmo, para ter certeza do que vi e de que eu não estava errado. Maurício
está atraído por Rafael, mas isso é demais naquela mente contaminada dele.

Não me arrependo de nada que falei, falaria tudo de novo, Rafael é


incrível, e eu o protegerei a todo custo. Não confio em Maurício perto dele,
para fugir do que sente, ele será grosso e pode até maltratar, Rafael. Será aí
que ele vai conhecer outro, Lucas, um que ele não conhece.

Depois de resolver tudo que fui fazer, voltei para o andar de, Rafael. Não
esbarrei mais com, Maurício. Chego em frente à sua porta, mas resolvo
deixá-lo quieto. Me sento e encosto minha cabeça na parede.

Coitado do Rafa, depois de viver um inferno com esse miserável do,


Otávio, ele se interessa justo por, Maurício, nem consigo imaginar como está
a cabecinha dele.

Ainda não sei como foi a primeira noite dele aqui, ele disse tranquila, mas
aquilo foi uma mentira, com certeza e não sei por que acho que tem dedo de
Maurício nisso.

Meu telefone toca e é meu comandante... — Reviro os olhos.

— Pronto, comandante. — Respondo sério sem querer dar muita


confiança para ele.

— Só queria saber se você já havia retornado ao seu posto.

— Sim senhor, estou em frente a porta da vítima, que você está doido
para dar uns beijos... Penso, mas não falo, lógico, mas me referi a Rafael
como ele mesmo se referiu.

Ouço um suspiro do outro lado da linha...


— Farei o resto dos relatórios durante o dia, não precisa sair daí. Depois
de tudo que aconteceu ontem, vou ficar direto por aqui, não o deixe sozinho,
por favor, não enquanto eu não descubro quem está por trás da falha de
ontem, só confio em você. — Diz Maurício.

E se eu tinha algum resquício de dúvida sobre Maurício estar sentindo


algo por Rafa, ela se encerrou agora. Ele nunca foi tão preocupado com
alguma vítima assim, claro que ele se preocupa, ele é um dos melhores
policiais que conheço, se não o melhor, mas algo em sua voz, no seu pedido,
foi totalmente diferente.

— Não se preocupe, só sairei quando você vier me render.

— Não quero nenhum outro policial com ele a não ser eu ou você, não sei
por que, mas acho que esse Otávio pode fazer alguma coisa ainda. — Diz
Maurício com evidente medo na voz.

— Por que você acha isso? Você ficou impressionado com o sonho, não
foi?

Maurício mais uma vez suspira e o que ele diz em seguida me surpreende
totalmente.

— Eu... não quero que nada aconteça a ele, já chega termos pensado que
ele era bandido, quando a única coisa que ele estava era implorando por
ajuda. Não consigo esquecer aquele maldito sonho e tudo que senti vendo ele
ser baleado na minha frente.

Esse é o Maurício que tenho orgulho de chamar de amigo desde que me


entendo por gente. O cara que eu me espelhei, que eu quis seguir sempre. Ele
veio para Polícia e eu também vim. O homem justo, honrado e de bom
coração. Ele só precisa de uns ajustes e acredito eu que a vida está se
encarregando disso, pois eu acredito em destino e sempre achei que Rafa ter
nos encontrado já estava escrito. Ele chegou no momento exato, como se
fosse um Encontro Marcado. No início interpretei como uma ajuda para que
ele fosse salvo do seu inferno pessoal, mas agora começo a achar que seja
mais do que isso.
— Nada vai acontecer com ele, fique tranquilo. Eu te falei, ninguém mais
encosta num fio daqueles cachos bonitos, pode ter certeza disso. — Falo para
provocá-lo.

— Ok, Barreto — Responde Maurício e desliga o telefone em seguida.


Começo a rir.

É... parece que vou ter que mexer meus pauzinhos para fazer esse cara
acordar para a vida, bom... ele morre de ciúmes de mim com o Rafa, então
acho que está na hora de fazer realmente ele sentir ciúmes...
Depois de tudo que, Lucas me falou, passei a trabalhar com
minha cabeça uma verdadeira pilha. Acho que a última vez em que fiquei
assim foi quando descobri a traição de, Beatriz e durante uns 15 dias eu fingi
que não sabia de nada só para me munir de provas para quando eu fosse falar
com ela , não a deixar ter argumentos.

Eu trabalhava arrasado, chorava escondido na minha sala e tinha


vontade de quebrar tudo, mas com o passar dos dias eu senti um gelo tomar
conta do meu coração, era como se eu tivesse morto por dentro.

Eu a amava tanto, o dia do nosso casamento, até então, era o dia mais
feliz de toda minha vida. Eu a mimava, a tratava com tanto carinho e amor,
procurava ser para ela o melhor homem, na cama e fora dela.

Quando eu saia com ela me sentia orgulhoso de tê-la ao meu lado, para
no fim, passar a sentir nojo até de sua voz. Nos últimos 15 dias de casado, foi
que eu percebi que ela era puro fingimento na hora de me procurar na cama,
antes quando eu nem desconfiava de nada e ela algumas vezes me recusou,
eu me culpei achando que tinha feito algo de errado, mas agora sabendo de
tudo, eu sabia que ela me recusava, pois nesses dias devia ter estado com o
outro, com o até então, meu amigo.

Mas agora era minha vez e durante esses 15 dias eu não toquei nela uma
única vez sequer, não consegui, ela passou por cima de meus sentimentos
sem pena alguma. Ela podia se interessar por outro, estamos todos sujeitos a
isso, mas terminasse comigo primeiro, minha pergunta era... se eu não
descobrisse até quando ela levaria isso?

Ela estranhou, claro, mas nada falava. Só que eu nem estava mais
interessado no que ela achava ou deixava de achar e nem me preocupei em
dar nenhuma desculpa, apenas falava que não estava a fim. Ao final daqueles
dias, tivemos nossa conversa, em que eu falei tudo que descobri e acabei com
nosso casamento, quando ela passou pela porta, eu chorei muito, era raiva,
tristeza e solidão, tudo junto.

Naquele dia algo mudou em mim, me tornei fechado e frio, desde aquele
dia passei a ter relações com mulheres que eu conhecia nas noites em que eu
saia com Lucas, mas muitas das vezes me aliviei sozinho, pois me sentia um
lixo e triste.

Desde aquele dia meu coração nunca mais disparou por alguém, até o
momento em que Rafael abriu aquela porta achando que eu era o Lucas.

E isso tem me tirado dos eixos, não compreendo o que está acontecendo,
mas a situação só piorou. O estopim foi naquele mesmo dia a noite, após
deixá-lo deitado em sua cama, onde constatei que estava com uma imensa
vontade de deitar ali ao lado dele e provar de seu beijo.

Cresci ouvindo que esse tipo de relação era errado, mas hoje em dia é o
que você mais vê e eu nunca olhei para outro homem, nunca mesmo, mas
Rafael apareceu e de repente me faz questionar todos os meus conceitos.

E ainda tinha o Lucas no meio disso tudo, será que realmente ele não
estava a fim do Rafael? Ele disse que não, que é apenas amizade, mas...

Estou parado apoiado em minha mesa, numa sala que tenho aqui no
condomínio, quando, Matias, aparece perto de mim.

— Comandante, só para avisar que já estou indo, amanhã estarei de


volta, caso o senhor precise, eu revezo com o senhor e o Barreto para vigiar o
Rafael.
Ouço Matias falar e meu estômago embrulha, ele é meu principal
suspeito sobre a invasão que aconteceu, ele não é flor que se cheire. Só não o
tirei ainda, pois ele tem costas quentes dentro da Polícia, mas ele está sendo
investigado sigilosamente por mim mesmo, nem Lucas sabe disso, e quando
ele menos esperar eu o pego.

O miserável ainda por cima quer ficar de vigia do Rafael, isso eu nunca
iria permitir, do Rafael ele não se aproxima. Ainda me lembro muito bem
dele indo bater nele quando cheguei lá no morro e essa lembrança hoje me
incomoda ainda mais.

— Agradeço, mas não precisa, Matias, eu e Barreto estamos a frente


desse caso e nós damos conta, pode ir para sua folga, obrigado.

Matias sai e imediatamente ligo para meu contato.

— Ele está saindo daqui, não desgrude o olho dele e qualquer coisa
suspeita quero ser informado imediatamente.

Suspiro, estou cansado, preciso de um banho e comer algo gostoso, mal


estou tendo tempo de ir em casa, mas também gosto dessa agitação. Voltar
para casa e contemplar minha solidão não é algo muito gostoso de fazer.

Me sento e abro a pasta do caso de Rafael, nela está a foto dele sorrindo
ao lado de Otávio...

— Onde você está seu verme? ... penso em voz alta...

Olho para o sorriso de Rafael na foto e acho o sorriso dele tão lindo...

Levanto bruscamente passando a mão pelo meu rosto e olho com


desgosto para a pasta em cima da mesa, volto até ela e a fecho guardando no
arquivo em seguida.

Decido fazer uma ronda pelos andares. Quando pego meu telefone, uma
vontade avassaladora me acomete e quando dou por mim estou ligando para,
Rafael...
Nem eu sei o que estou fazendo e nem o que vou falar para ele, torço
para que ele não atenda e ao mesmo tempo quero ouvir a sua v....

— Oi comandante...

E chego a fechar os olhos ao ouvir a voz dele, meu Deus do céu, o que
estou fazendo? O que estou sentindo? Isso só pode ser loucura, não há outra
explicação.

— Comandante, o senhor está aí?

— Ah, oi... Rafael, era só para saber se está tudo bem.

— Sim está, por que não estaria?

Sempre atrevido... penso e dou um sorriso de lado.

— Só estou perguntando.

— E eu respondendo.

— Tudo bem, Rafael, vou desligar...

— Comandante?

— Sim?

— Por favor não brigue mais com o soldado, Barreto, por minha causa,
nós não temos nada, apenas somos amigos. Ele não está desrespeitando nada
em seu horário de trabalho.

Ouvir, Rafael, dizer aquilo tudo, foi como uma facada, por saber que ele
ouviu toda minha conversa com, Lucas. Por ver que ele o defendia e a merda
do ciúme veio me atormentar de novo. Por estar sentado de olhos fechados
absorvendo a voz dele tão doce e rouca e estar encantado com isso.

— Tudo bem, Rafael. Lucas faz o que quiser da vida dele, só quero que
ele respeite seu horário de trabalho.
— Ele não desrespeitou hora nenhuma, pode ter certeza.

— Ok.

Após responder, ele desliga o telefone e eu fico sem saber o que fazer.
Lucas sempre foi meu ombro amigo para desabafar, sempre soube de tudo da
minha vida, somos transparentes um com o outro, mas esse assunto creio que
não posso falar com ele, mas vou acabar enlouquecendo... ligo para ele...

— Pronto, comandante.

— Lucas vou na minha casa tomar um banho e comer alguma coisa,


quando eu voltar te rendo e você pode ir descansar, ok?

— Sim, aconteceu alguma coisa, Maurício?

— Não, por que a pergunta?

— Porque sua voz está estranha.

— Não aconteceu nada, meu amigo, só cansaço mesmo. Até mais tarde.

— Até...

Até a maneira que me expresso ele conhece, não sei se conseguirei


esconder dele tudo que estou sentindo, pelo menos até achar uma solução
para que eu mesmo me entenda.
Desligo o telefone e sinceramente fico sem entender nada,
Maurício me liga do nada só para saber se estou bem?
Enfim, mas eu defendi o Lucas, aproveitei a oportunidade, não quero ele
se envolvendo em problemas por minha causa.
Vou fazer meu jantar e logo todo apartamento está cheirando ao
ensopadinho que estou fazendo, amo cozinhar. Antes de comer, tomo um
banho, colocando em seguida um vestidinho florido de alcinhas finas e
amarrado nas costas. Ele me deixa com as pernas bonitas, fazia tempo que
não o usava. Otávio uma vez quase o rasgou em uma cena de ciúmes.
Me arrepio só em lembrar disso, procuro pensar que agora eu posso usá-
lo e me sentir lindo sem ninguém para me julgar ou brigar.
Passando pela sala, olho pelo olho mágico e Lucas está lá sentadinho,
queria poder oferecer um jantar para ele.
Vou até a cozinha arrumo a mesa para dois e vou chamá-lo. Abro a porta
e ele me olha com os olhinhos tão lindos...
— Vai aonde bonito desse jeito? — Pergunta ele sorrindo.
— Pensei em convidar meu amigo para jantar? Se não for causar
problemas para ele, claro.
— Não se preocupe com isso, deixei as coisas bem claras para o
Maurício.
— Nunca pude usar este vestido, no dia que comprei, o coloquei, mas
Otávio deu uma crise de ciúmes e quase o rasgou, então nunca mais usei...até
hoje.
— Agora você pode usá-lo quantas vezes quiser, meu pequeno, é seu
direito, só acho que irá arrasar muitos corações por aí.
Fico sem graça com o que Lucas fala e triste ao mesmo tempo, pois o
único coração que eu queria balançar, nem sequer dispara por mim.
— Vou nada, nem estou pensando nisso.
— Tem certeza?
Olho para Lucas confuso, ele passa por mim e logo fecho a porta,
voltando minha atenção para ele.
— Não entendi.
— Meu bebê, não sou bobo, por favor, não me leve a mal e nem brigue
comigo, só quero o seu bem. — Diz Lucas suspirando e me encarando. —
Por favor sente-se aqui. — Diz ele batendo no sofá para que eu me sente ao
seu lado.
Me sento, cruzando meus dedos em cima do meu colo e olho nos olhos
dele.
— Rafa, tudo que você viveu foi triste demais e imagino como seu
coração está destruído com tudo isso. Acredite, tudo que quero é lhe ver feliz
de novo e um dia encontrando um novo amor que te valorize como você
merece.
Me emociono com as palavras de Lucas e meus olhos se enchem de
lágrimas.
— Hoje mais cedo eu percebi a forma que você olhou para o Maurício
quando ele chegou.
— Lucas... eu...
— Shiuu me deixe concluir — Pede ele colocando um dedo nos meus
lábios. —Eu percebi a forma que você olhou para ele e a forma que ele olhou
para você.
Olho para Lucas confuso e tentando entender o que ele está falando.
— Não precisa franzir as sobrancelhas para mim, é isso mesmo que você
ouviu. Eu tenho praticamente certeza de que, Maurício, está atraído por você.
Levanto-me na mesma hora ...
— Você está doido, Lucas. Maurício me detesta, ele não gosta de gays,
você mesmo me disse isso. — Falo já ficando nervoso.
— Eu sei exatamente tudo que te falei e o que estou falando agora. Sua
atração é correspondida, mas, Maurício, é cabeça dura demais, teimoso e não
vejo ele assumindo tudo que está sentindo. Eu gosto muito de você, Rafa e
não quero lhe ver sofrer.
O choro está preso na minha garganta e chega a arder, ando de um lado
para o outro e depois paro de costas para, Lucas. Não quero olhar em seus
olhos durante o que vou falar.
— Eu não queria isso, eu sofri tanto na minha vida e já estava
conformado em seguir meu caminho sozinho, em ficar fechado para balanço.
Há muito tempo deixei de querer amor para minha vida. Mas ... foi de
repente, sem eu esperar, detalhes nele me fizeram o observar, o jeito, os
olhos, a voz, me chamaram atenção. Na minha primeira noite, discutimos
duas vezes...
Nesse momento me viro para Lucas que me olha sério.
— Ele bateu aqui para avisar que você teve que sair e que ele ficaria,
mas eu abri a porta pensando ser você, ele me olhou diferente, talvez por
estar me vendo limpo e arrumado, mas quando mencionei que eu pensei que
era você, ele se enfureceu e nós discutimos. Ele chegou a falar mais alto
comigo. À noite, novamente, ele bateu e eu sabia que era ele e estava saindo
do banho, então, abri a porta de toalha e fui desaforado com ele, que ficou
atordoado por eu não abaixar minha cabeça desta vez. Fui dormir puto e
durante a madrugada teve a invasão, ele entrou aqui, me pegou ainda
dormindo, para que eu não fizesse barulho, ficamos tão próximos naquele
momento. Eu estava literalmente nos braços dele e ali eu tive certeza de que
ele estava mexendo comigo mais do que eu suspeitava.
Lucas me olha agora com compaixão, mas me deixa continuar...
— Ele me colocou de volta na cama naquela noite e foi tão fofo comigo
que eu mal o reconheci. Com isso pensei nele a noite inteira, acordei
fervendo de tesão, me masturbei pensando nele e tive um prazer que eu não
tinha há muito tempo, mesmo que sozinho, aliás eu nem sabia mais o que era
isso. Otávio mal me procurava para sexo e quando procurava, ele
praticamente me estuprava, eu sentia dor demais e sempre terminava
machucado. — Digo lembrando de uma parte da minha vida não muito
distante.
Lucas engole seco e se aproxima de mim.
— Nunca mais permita que homem algum te trate desta forma, grite,
corra, faça um escândalo e por favor, não repita isso nunca mais para mim —
Pediu, Lucas, visivelmente emocionado.
— Foi minha vida, meu amigo, durante 3 anos. Eu apenas existi durante
este tempo e mais nada. — Digo sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu
rosto.
Lucas me abraça apertado e me sinto protegido em seus braços.
— Olha, tudo que falei é a mais pura verdade, Rafa, eu conheço
Maurício desde pequeno, ele é meu melhor amigo, sei ler o comportamento
dele totalmente.
Lucas me leva para o sofá novamente.
— Ele foi casado durante 8 anos e era completamente apaixonado por
sua esposa, mas descobriu que ela o traía com um grande amigo nosso e isso
acabou com ele. Ele se fechou e nunca mais quis outro relacionamento, tem
um ano isso. Já o levei em baladas, ele já até saiu com outras mulheres, mas
apenas para se satisfazer, sua expressão nunca mudou por nenhuma delas. O
que eu vi na troca de olhares de vocês, foi uma novidade, foi ... um Maurício
vivo novamente.
Escuto tudo que Lucas me conta e fico triste por Maurício e o que sua
esposa fez com ele.
— Mas ele foi criado de uma forma diferente, seus pais são pessoas
preconceituosas, nunca gostei deles. Maurício é um homem maravilhoso, mas
veio com esse defeito. Não sei se ele consegue mudar, Rafa, mas estou
disposto a cutucá-lo para que isso aconteça.
— Como assim?
— Quero que ele se rasgue de ciúmes.
Balanço a cabeça negativamente, achando graça com o que Lucas fala.
— Você parece uma criança fazendo arte. — Digo tentando entender
aonde ele quer chegar.
— Vamos ver no que vai dar, se ele não admitir o que sente, você segue
em frente e o esquece, só não quero lhe ver sofrer.
— Tenho medo disso.
— Não tenha, não vamos fazer nada demais, gestos simples, sorrisos,
cochichos, beijos no rosto, ele vai ficar puto.
Sorrio para Lucas e concordo, morrendo de medo, mas concordo. Em
seguida o levo para jantar, ele elogia muito minha comida.
— Agora preciso ir lá para fora, pois ele virá me render, preciso ir em
casa descansar um pouco.
— Tudo bem, pelo menos já jantou. — Digo sorrindo para ele.
— Hoje nós já começamos o plano. Vou lhe chamar quando eu for
embora, tá?
— Tá bom.
Lucas vai para seu posto e eu vou lavar a louça, pensando em tudo que
ele me contou e um frio na minha barriga começa, quando penso em
Maurício e na remota possibilidade dele me corresponder.
Depois de meia hora ouço batidas na porta e sei que é Lucas e seu plano
maluco, minhas mãos estão suando quando abro a porta...
Maurício está de frente para mim e seu olhar percorre meu corpo inteiro,
mas não fico muito olhando para ele, suas palavras ainda estão vivas na
minha cabeça.
— Oi, Rafa, só queria me despedir, o comandante vai me render.
— Bom descanso, Lucas — Digo dando um sorriso.
Nisso, Lucas, se aproxima e deixa um beijo em meu rosto e sai andando.
Olho novamente para Maurício, ele me olha sério e balança a cabeça
negativamente.
— Boa noite, comandante — Digo e não espero a resposta dele, fecho a
porta.
Fico encostado nela com a respiração acelerada. Fico pensando que,
Lucas só pode estar confuso nessa história, Maurício me olha com olhar de
reprovação, um ou outro olhar diferente, não deve passar de uma curiosidade.
Sou tirado dos meus devaneios com batidas na porta, abro com receio e
encaro os olhos de Maurício.
— Queria lhe deixar a par de como andam as investigações. — Diz ele
tão formal.
— Ah sim, claro, por favor, entre.
Dou passagem a ele e quando ele passa seu perfume me atinge em cheio,
fazendo meu interior fervilhar, mas disfarço.
Maurício se senta no sofá e eu me sento ao seu lado, praticamente na
mesma posição que estava, eu e Lucas, há minutos atrás.
— A busca por Otávio está acirrada, já soubemos que ele voltou no
morro, mas não foi na casa de vocês, ele foi na sede onde ficava o dono do
morro, mas muito rápido. Desconfiamos que ele foi pegar algo lá, mas como
nesse momento a equipe foi acionada, para uma tentativa de invasão de uma
facção rival, eu não tinha homens naquele momento perto da casa. Fomos
informados por um morador que está nos ajudando escondido. E temos
informações que iremos investigar amanhã, sobre ele estar escondido na casa
de um parente fora do morro, um primo chamado, Rogério.
— Isso, ele tem esse primo, sim, ele mora em uma casa na baixada.
— Sim, amanhã vamos bater lá com uma equipe reforçada e durante
toda investigação descobrimos que, Otávio, tinha forte ligação com o dono do
morro, ele era um de seus comparsas.
Ouvir Maurício falar tudo aquilo me fez ficar tremendo sem eu perceber.
O medo de Otávio é grande demais, eu nem sabia desse envolvimento dele
com os bandidos, estou assustado olhando para ele.
— Ei você está tremendo — Diz Maurício olhando para minhas mãos.
— Eu não sabia que ele era também metido com os bandidos. — Digo
com a voz embargada.
— Você nunca desconfiou?
— Comandante, se eu não estava em meu trabalho, cuidando das unhas
de minhas clientes, estava dentro de casa apanhando feito um bicho, meu
único pensamento era sobreviver, não pensava e nem percebia mais nada.
As lágrimas já descem pelo meu rosto, abaixo minha cabeça e penso na
tristeza que minha vida se tornou.
Sou surpreendido quando, Maurício, coloca sua mão em cima da minha.
Fico encarando sua mão e não olho em seus olhos.
— Não fique com medo, não vou deixá-lo chegar perto de você
novamente. — Diz ele com uma voz tão linda.
Fecho meus olhos absorvendo suas palavras e quando os abro,
novamente, olho para ele. Com a outra mão, ele seca minhas lágrimas.
— Preciso te contar outra coisa.
— Por favor, conte — Falo com o fio de voz que me resta.
— Tiramos, Elaine, do morro. Chegamos à conclusão de que ela corre
risco de vida ficando lá.
Meu coração dispara e no impulso me aproximo de Maurício e seguro
seus dois braços.
— Por favor, não deixe nada acontecer com ela, cuide da minha prima,
ela é como uma irmã para mim.
— Ela está segura, está em um apartamento como você, eu só não quis
manter vocês dois pertos um do outro, por medida de segurança, mas ela está
muito bem protegida, fique tranquilo.
Meu choro vem com força, estou frágil demais, tento enxugar minhas
lágrimas, mas elas descem sem parar.
— Ei não chora, vem cá — Diz Maurício me levantando pelos braços e
me abraçando.
Abraço sua cintura e tenho meu rosto na curva de seu pescoço soluçando
de tanto chorar. Ele me abraça e uma de suas mãos faz um leve carinho em
meus cabelos.
Dentro de mim está o caos, medo, tristeza e uma atração irresistível por
esse homem, que me abraça com carinho, pela primeira vez. Eu não quero
mais sofrer por ninguém, fui tão destruído, meus sentimentos foram
massacrados, mas como posso resistir a ele? Quando tudo nele me atrai. O
cheiro maravilhoso, seu jeito imponente e até mesmo sua cara de brabo,
quando ele está irritado.
Me recomponho e me afasto levemente de Maurício e olho em seus
olhos secando meu rosto.
— Obrigado por tudo que você está fazendo por mim e Elaine,
Maurício. — Agradeço a ele o chamando pela primeira vez por seu primeiro
nome.
— Você já me agradeceu — Diz ele com uma expressão tranquila.
— Nunca me cansarei de fazer isso. — Digo hipnotizado olhando para
ele.
— Preciso voltar para meu posto — Diz ele um pouco constrangido.
— Você já jantou? — Pergunto.
— Se eu jantei? Ah não, fiz apenas um lanche, não tinha muito tempo
para preparar algo quando fui à minha casa.
— Eu fiz um ensopadinho de legumes com carne, se você quiser posso
colocar para você, ainda está quentinho.
— É dele esse cheiro gostoso de comida que está aqui? — Pergunta ele
com um vislumbre de sorriso no rosto.
— Sim! Venha comer um pouco. — Digo já indo para cozinha para não
dar tempo a ele de recusar e sentindo seu olhar sobre mim.
Nos próximos minutos, Maurício se senta na minha cozinha e eu faço
um prato para ele e o vejo comer minha comida com uma carinha satisfeita.
Ele estava com fome, tadinho, sem ninguém para cozinhar para ele, deve
viver de lanches. Se ele quiser posso fazer isso para ele todos os dias....
— No que está pensando? — Pergunta ele terminando de mastigar sua
comida, mas sem tirar os olhos de mim.
— Não estou pensando em nada não, só me distraí mesmo, está gostoso?
— Pergunto apontando para seu prato.
— Uma delícia, você cozinha muito bem. — Diz ele sorrindo para mim!
Isso mesmo, sorrindo! E meu Deus do céu, que sorriso! Chego a ficar
mole e me apoio na pia, depois dessa visão do paraíso.
Nos próximos minutos conversamos normalmente, ele quis saber do
meu trabalho, do porquê eu ter vindo para o Rio de janeiro, da minha relação
com a Elaine e por fim voltamos ao meu casamento com Otávio.
— Em suas outras relações, você sofreu alguma outra violência ou
apenas o Otávio fez isso?
— Eu não tive outras relações antes de, Otávio, ele foi meu primeiro em
tudo.
Maurício me olha por intermináveis segundos e parece tomar coragem
para dizer alguma coisa.
— Desculpe, por eu, sem saber, insinuar que você teve outras relações,
eu não quis soar intrometido, sei lá, eu só achei que...
— Que por eu ser gay, eu já tivesse tido vários homens? — Falei
olhando fixamente para ele, mas sem demonstrar raiva.
— Desculpa. — Ele me pede sincero.
— As pessoas fazem um julgamento tão errado de nós. Elas acham que
somos promíscuos, que por gostarmos de pessoas do mesmo sexo, saímos por
aí dando para todo mundo. Existem alguns que são assim, do mesmo jeito
que alguns homens héteros também são e algumas mulheres também, mas no
nosso caso, acham que somos todos assim. Eu me entreguei ao Otávio por
amor e não foi de primeira, precisou de 6 meses juntos para que tivéssemos
nossa primeira vez e só com 1 ano de namoro fomos morar juntos. Sempre
me preocupei em estudar e arranjar um emprego, não estava preocupado em
achar um homem e sim viver melhor, ele apareceu um tempo depois e me
apaixonei. Ele era incrível e durante dois anos vivi meu conto de fadas para
depois conhecer de perto o que era o inferno.
Maurício me olha fascinado, acho que ele não esperava me conhecer
desta forma.
— Farei de tudo para que você possa retomar sua vida e ser feliz.
Desculpe meu jeito desde o início, eu sei que não fui muito agradável com
você, eu... não vou mentir, não me sinto muito à vontade com pessoas
homossexuais, mas você...
Maurício estava dizendo tudo de cabeça baixa como se ... se condenasse
pelo seu jeito de ser, mas agora ele me olhava...
— Com você é diferente, não sei o que é, mais é diferente...
Diferente... aquela simples palavra mexeu comigo como um furacão no
meu estômago, meu coração disparou. Será que Lucas realmente estava
certo?
— Eu te entendo, Maurício e não te condeno por isso, só te peço, não
julgue as pessoas sem conhecê-las. Seja de qual gênero ela for.
— Gosto de você me chamando pelo meu nome — Diz ele tão fofo e
com visível vergonha.
Esse homem quer me matar, meu Deus, meu coração já está no meio da
garganta.
Naquela noite, Maurício voltou para seu posto, satisfeito, com a
barriguinha cheia pela minha comida e com um meio sorriso que não saía de
seus lábios. Eu parecia uma criança ganhando presente de Natal. Estava feliz
por nossa proximidade, claro que sei que ele tinha seus conceitos e não os
mudaria do dia para noite, mas eu me permiti ser um pouco feliz e fui dormir
sorrindo naquela noite, com as palavras dele na minha cabeça...
Com você é diferente...
Estou andando de um lado para outro, puto, pois tenho
certeza de que já estão chegando aonde eu estava.
Otários! Fico com pena do meu primo, moleque responsa, vão infernizar
a vida dele para descobrir sobre meu paradeiro. Olho para meu parceiro
dentro da Polícia e o observo limpar sua arma.
— Essa hora, Maurício e companhia já estão quase batendo lá na casa
do teu primo e só estou esperando uma confirmação de que Barreto foi junto.
— Ele precisa ir, só assim você consegue chegar até o Rafael.
— Eu ouvi que ele ia também, mas Maurício, está numa chatice com
esse teu viadinho. Não deixa ninguém se aproximar dele, a não ser o Barreto,
outro que só falta lamber o chão que ele pisa. Abre teu olho, hein? Ele já
deve ter dado para eles porque não é possível.
Junto meu informante pela camisa e coloco ele na parede.
— Quem encostar um dedo nele eu mato está entendendo? Eu
MATO!!!!
— Me solta, porra! Eu não estou comendo teu viado não cara, me erra,
estou só te falando o que vejo, ele virou o cristal lá de dentro.
Preciso pegar ,Rafael, de volta, ele é meu, somente meu. O filho da puta
ousou me enfrentar e até me bateu, claro que quando estivermos frente a
frente ele ganhará seu corretivo por isso, mas depois nem quero saber se vai
estar machucado, quero ele, preciso do corpo dele, ele é quase um vício para
mim.
— Pronto!!!
Me assusto com o grito que Matias dá...
— Eles foram juntos na operação, o soldado, Antunes, está de vigia do
Rafael, vai ser moleza passar por esse cara.
— Então vai e me traga, Rafael, você está sendo muito bem pago para
isso — Falo olhando nos olhos de, Matias, que sei que morre de medo de
mim.
— Pode deixar, chefe. Hoje ainda você tem teu viadinho de volta.

Saio do esconderijo que consegui para Otávio e vou para o


condomínio onde, Rafael está. O cara, ao invés de fugir logo, sumir do mapa,
fica ainda tentando pegar esse garoto, é foda viu, eu já tinha me mandado.
Conheço, Otávio, há bastante tempo, antes mesmo dele se juntar com
esse viado, mas gosto é algo que não se discute, não é? Sempre fui seus olhos
na Polícia e do Gasparzinho, o chefe do morro, que, Maurício, prendeu.
Sempre fui muito discreto e ninguém nunca suspeitou de mim, mas hoje
vou me arriscar à beça indo pegar, Rafael. Já tive que inventar uma desculpa
gigantesca para não estar nessa operação de hoje.
Por isso sei que no momento em que eu sair com a, boneca, o negócio
vai ficar feio para meu lado. Tenho que tirá-lo pela passagem, uma antiga
saída do prédio, que está inutilizada e que apenas Maurício e Barreto sabiam,
eu descobri prestando atenção em uma conversa deles há 3 meses.
E agora ela seria útil para mim, passaria por ela com, Rafael, entregaria
ele ao seu marido e seguiria com minha vida dupla.
Chego no condomínio, passo pela guarita e estaciono meu carro. Ando
normalmente lá dentro, para todos sou o soldado, Matias, o policial apenas,
mas vivo nessa vida dupla há muito tempo. Ganho muito dinheiro com isso e
nem gasto dinheiro com minhas drogas, vem tudo de graça.
Essa operação em que, Maurício, prendeu, Gasparzinho e os moleques
do morro, foi uma merda gigantesca. Ele é esperto demais e um policial foda,
tenho que admitir, mas eu não podia interferir senão seria uma mancada e
tanto e comigo neutro no assunto, posso agir por fora e tirá-lo da prisão.
Depois de dar uma disfarçada pelo recinto, vou até o andar de Rafael e
lá vejo, Antunes, sentado com aquela cara idiota dele.
— Fala parceiro.
— E aí, Matias, achei que você estivesse na operação.
— Não, o comandante pediu para que assim que eu resolvesse um
assunto para ele, viesse direto pra cá ficar com, Rafael.
— Ué, ele não me falou nada disso, falou que era para eu ficar aqui e
não sair por nada, foram altas recomendações.
Mostro para Antunes uma mensagem como sendo de, Maurício, para
meu celular e o otário cai como um patinho e o caminho fica livre para mim.
Bato na porta e depois de uns 5 minutos o viado resolve abrir e não é
que o moleque é lindo mesmo, está explicado, Otávio, estar fissurado nele.
Ele está com uma blusinha rosa de meia manga e de jardineira. Seus
cabelos estão presos em um rabo de cavalo e só sei que é homem, pois eu sei
mesmo, porque quem não sabe, vê uma garota linda, assim como estou
vendo.
— Saudades de mim, boneca? — Falo e dou um sorriso sarcástico para
ele.
Ele não é bobo, se assusta e tenta correr para dentro do apartamento,
mas sou mais rápido que ele e o pego pelos cabelos, passando meu braço por
seu pescoço em seguida.
— Quietinho, nós vamos dar uma volta.
— Me solta, seu desgraçado, me solta!!! — Diz ele já chorando e
tentando se desvencilhar do meu mata Leão.
Acerto um soco em sua costela que o deixa mole e tentando achar o ar e
nesse momento aproveito para arrastá-lo para fora do apartamento. Estou de
costas e quando me aproximo da porta sinto o cano de uma arma na minha
cabeça...
— Tira as suas mãos dele, acabou pra você, fim da linha, Matias. —
Fala, Maurício, atrás de mim.
Fecho meus olhos com a raiva que me consome.
— Eu falei, tira. as. mãos .dele. Coloca ele no chão devagar, porque se
você machucá-lo ainda mais, eu mato você aqui mesmo.
Abaixo e coloco, Rafael, no chão, que chora e se contorce de dor.
Quando levanto, sinto minhas mãos sendo puxadas para trás e o aço das
algemas batem frios nos meus pulsos.
Maurício me puxa pelo braço e me faz virar para ele.
— Eu já estava de olho em você há muito tempo, só precisei dar corda
para você se enforcar.
Não falo nada, apenas olho para ele, quando olho para o corredor, me
assusto ao ver Barreto com uma cara de dar medo.
— Você vai conversar com Barreto um pouco, seu verme.
Após dizer essa única frase, Maurício me puxa e me empurra na direção
de Barreto que já me recebe com um soco que quebra meu nariz.
— Você encostou justamente em quem você não devia encostar, vamos
conversar.
E Barreto me arrasta literalmente para fora do condomínio....
Estou deitado chorando e com muita dor na costela, esse
infeliz do Matias acertou justamente na que eu já havia levado um chute e
está doendo muito.
Sinto uma mão mexer em mim e no reflexo, para tentar me defender,
levanto a mão para bater, mas ela é segurada com carinho e então ouço a voz
de Maurício...
— Ei calma, sou eu — Diz ele pertinho de mim e ainda segura minha
mão.
Estou de lado, ele está abaixado perto de mim e tenta me tranquilizar.
— Matias já foi pego, não precisa ter medo, vem, me deixa te ajudar.
— Estou com muita dor, ele me acertou um soco — Falo aos prantos.
— Então deixa eu cuidar de você.
Então, Maurício, me pega no colo com tanto carinho e eu me aninho em
seus braços. Ele me leva para meu quarto e me deita delicadamente na cama.
Ele tira meus óculos e eu estou sem forças, o susto foi muito grande e a
dor está me incomodando demais.
Observo seus movimentos. Depois de colocar meus óculos na mesinha
de cabeceira, ele sai do quarto com um, já volto e minutos depois volta com
um pote contendo gelo e uma toalha.
Sem que eu espere ele começa a soltar a alça de minha jardineira, de um
lado depois do outro.
Estou tão perplexo com ele debruçado por cima de mim, abrindo minha
roupa, que minha voz sumiu, acho que até da dor esqueci. Depois das duas
alças soltas, ele abaixa e a deixa como um short na altura da minha cintura.
Minha respiração nessa hora já está descompassada e encaro aqueles
olhos lindos, louco por um beijo dele, mas sei que seria demais.
— Você não precisa fazer isso — Digo baixinho.
— Deixa eu cuidar de você, Rafael — Diz Maurício olhando em meus
olhos.
Meu coração quase para nesse momento ...
— Deixo...
Então, Maurício, pega alguns gelos coloca na toalha e se senta ao meu
lado na cama, levantando devagar minha blusa e com todo cuidado encosta
aquele gelo em mim.
Fecho meus olhos com força e prendendo o choro.
— Isso vai melhorar essa dor que você está sentindo, aguenta firme. —
Diz ele fazendo carinho no meu cabelo.
Eu que, continuo com os olhos fechados, me concentro no seu toque e
sinto as lágrimas inundarem meus olhos.
Ele repete o procedimento 3 vezes, já não dói tanto, pois está dormente.
Quando ele termina, sinto ele abaixando minha blusa, então abro meus olhos
e é inevitável que as lágrimas caiam. Olho para ele e com cuidado me sento
na cama, ficamos cara a cara. Ele não fala nada, mas não para de me olhar.
Sem medo algum, eu o abraço e imediatamente sou correspondido, tenho
meu rosto enterrado em seu pescoço e sinto seu cheiro que tanto amo.
Ele tem uma mão em volta de mim e a outra entre meus cabelos,
ficamos assim uns bons minutos.
— Eu tive tanto medo — Falo com a voz abafada por estar com o rosto
em seu pescoço.
— Eu nunca o deixaria te levar, nunca iria descuidar de sua segurança.
Eu já estava vigiando-o e ir à missão de hoje junto com o, Lucas, foi uma
fachada, que nem meu amigo sabia. No meio do caminho voltamos e foi aí
que contei a Lucas tudo que descobri. Matias estava junto com, Otávio e eu
sabia que nós dois nos afastando, ele viria até você.
Maurício suspira e me abraça ainda mais.
— Desculpe te fazer de isca, eu não queria que ele tivesse te machucado,
me perdoa, por favor, mas eu sabia que assim iríamos pegá-lo. Jamais te
deixaria na mão de outra pessoa, me perdoa. — Maurício fala com a voz
embargada e abafada, pois agora ele também tem seu rosto em meu pescoço.
Sinto sua respiração tão quentinha e nunca mais eu queria sair de seu
abraço.
— Você me protegeu, se eu soubesse do plano, eu mesmo tinha me
oferecido como isca, você fez o certo, o que tinha que ser feito.
— Lucas quase me matou quando eu falei, mal consegui conte-lo. Mas
fiz ele entender que era necessário, só espero que, Matias, ainda esteja vivo
para que possamos interrogá-lo.
Falamos um diálogo inteiro sem nos soltarmos, mas eu me soltei um
pouco e olhei para ele, estávamos tão pertinho que eu sentia sua respiração e
isso me fez notar algo, ela ficou mais acelerada conforme olhei em seus
olhos.
— Sei que já falei isso, mas obrigado de novo.
E nesse momento eu ganho o sorriso mais lindo do mundo e um olhar
tímido que foge dos meus olhos e olha pra baixo.
Eu que tenho os braços ao redor de seu pescoço, levo uma de minhas
mãos ao seu rosto e faço carinho em sua barba.
Nesse momento ele levanta seu olhar e o vejo alternar entre meus olhos
e minha boca, meu coração bate tão frenético ...
— Não precisa ficar tímido com meu agradecimento, você me salvou de
novo é o mínimo que posso fazer, te agradecer.
— Eu salvaria você quantas vezes fosse necessário...
As palavras de Maurício me fazem suspirar e nesse movimento, sem
esperar tenho meus lábios capturados por sua boca.
Custo a acreditar no que está acontecendo, penso estar sonhando, mas
quando sinto sua língua pedir passagem na minha boca, eu me entrego
totalmente ao seu beijo.
Maurício me abraça mais e eu ganho o beijo mais maravilhoso que já
ganhei em toda minha vida.
Os lábios dele são macios, mas me beijam com muita firmeza. Sua
língua percorre toda minha boca, me invadindo, me tomando para si e eu me
entrego. Se for um sonho não quero nunca mais acordar, mas se eu acordar e
não tiver sido um sonho, peço a Deus que eu não sofra, pois estou onde
queria estar ... nos braços do homem que estou desejando loucamente.
Nosso beijo termina devagar, com ele mordendo meu lábio inferior e
roçando sua boca na minha.
Estou molinho em seus braços e ele percebe, pois me ampara com
carinho.
— Você beija tão gostoso — O ouço dizer perto do meu ouvido, pois
estou de olhos fechados em seus braços.
— Eu queria tanto beijar você — Me entrego, falando no instante em
que abro meus olhos e o encaro fazendo carinho no seu rosto.
Ele fecha os olhos e se entrega ao meu toque, não penso duas vezes e
vou novamente até sua boca, o beijando de novo. E ser correspondido, faz
meu coração explodir de felicidade.
Quando já acabamos de nos beijar e estamos com nossas testas unidas
de olhos fechados, esperando nossas respirações normalizarem, Lucas bate na
porta nos chamando.
Maurício me solta devagar e me ajuda a deitar, fazendo carinho em meu
rosto.
— Estamos aqui, Lucas.
Nisso meu amigo entra, nos observa e vem até mim.
— Tudo bem, meu bebê?
— Tudo sim, fica tranquilo.
— Eu quase matei o, Maurício, quando soube do plano dele.
Lucas fala e encara o amigo que me olha tão lindo e só aí percebe que
Lucas se dirigia a ele.
— Oi ? Falou comigo? — Pergunta, Maurício, constrangido.
Lucas que não é bobo, me olha novamente e eu tento disfarçar um
sorriso, ele vem, me beija no rosto e cochicha no meu ouvido...
— Já percebi...
Depois eles me deixaram descansar e foram conversar sobre, Matias.
Antes de sair, Maurício se virou para mim e disse...
— Descansa, por favor, trarei uma pomada para você passar, que vai
ajudar ainda mais na recuperação.
— Se você não tivesse inventado esse plano doido ele não tinha se
machucado. — Diz um, Lucas bravo.
— Lucas, não brigue com ele, por favor, deu tudo certo e vocês
prenderam o traidor.
Lucas revira os olhos...
— Pronto você já tem fã clube — O grandão fala e sai despreocupado.
Maurício olha para mim sorrindo, pisca e sai do meu quarto.
E eu fico ali com meu coração batendo forte, desejando que meu policial
volte o mais rápido possível para meus braços...
Estou sentado em frente a Lucas que mexe nas papeladas
contendo as provas que, organizei contra o Matias e ele fala alguma coisa que
simplesmente nem presto atenção.
Minha mente está em uma boca gostosa, carnuda e rosada que eu acabei
de beijar e tive uma das melhores sensações da minha vida.
O cheiro de morango dele ainda está em mim. Encosto minha cabeça na
cadeira e fecho meus olhos, Quase posso sentir a maciez dos seus cabelos em
minha mão, o cheiro gostoso que sua pele tem...
Beijar, Rafael, foi quebrar minhas próprias regras, ir contra tudo que
sempre acreditei, contra todos os meus conceitos.
Mas... o que eu senti ao tocar seus lábios, me faz querer mandar todas as
regras e conceitos pro inferno. Ter ele ali tão perto de mim, acabou com
qualquer resistência que eu pudesse ter.
Eu não pensei muito, sua boca me atraiu como um imã. Quando ele
percebeu o que estava acontecendo ali e me correspondeu, eu simplesmente
conheci o paraíso.
O toque dele em meu rosto, fez minha pele arder de desejo. Faz um bom
tempo que meus encontros são sem graça ou sem emoção alguma, é quase
um fazer para não enlouquecer e vem ele e desperta em mim o que nenhuma
mulher conseguiu fazer todo esse tempo.
Durante o beijo, desejei loucamente beijar cada centímetro dele e
quando ele ficou mole em meus braços, percebi que ele sentiu o mesmo que
eu e porra ele confessou que já tinha vontade de me beijar... o que ele não
sabe é que eu também já tinha e muita, mas lutei contra isso com todas as
minhas forças.
Não é fácil para mim assumir com todas as letras e em voz alta o quanto
eu desejo, Rafael, mas eu desejo e isso está falando mais forte que qualquer
preconceito que eu possa ter em mim.
Morri de medo por ter feito ele de isca, na verdade, acho que nos meus
anos de profissão nunca senti tanto medo, mas descobrir que, Matias, era
aliado de, Otávio, me mostrou o quanto, Rafael, corria perigo com ele solto
por aí e para piorar, sendo um policial e tendo acesso a ele, então eu tinha que
cortar esse mal de uma vez por todas.
Lucas quase me matou, nunca vi meu amigo me olhar da forma que ele
me olhou e apontar o dedo na minha cara, jurando que se algo de grave
acontecesse a, Rafael, ele nem saberia o que ia fazer comigo... nessa hora
também senti medo...
Mas eu tinha tudo milimetricamente calculado e com ajuda do meu
espião, que seguiu todo esse tempo, o Matias e que ele nem sequer imaginava
ser, o Antunes, eu cheguei bem na hora e prendi aquele infeliz.
Mas ver, Rafa, machucado acabou comigo, mas infelizmente foi uma
consequência. Graças a Deus tudo deu certo.
E agora nesse momento eu só penso em voltar para aquele apartamento
e beijá-lo de novo e de novo e de novo até minha boca doer...
— Calma que você já vai ver o Rafa de novo, só preciso de umas
assinaturas suas aqui — Diz Lucas me tirando de meus pensamentos e me
fazendo ficar muito constrangido.
— Do que você está falando, Lucas?
— Ah qual é ,Maurício, não sou besta, quer enganar quem? Eu que não
sou, né? Você está louco pelo, Rafa, admiti logo homem.
Olho para Lucas e fico passado com a naturalidade que ele fala, mas
respiro fundo, apoio meus braços na mesa e olho dentro dos olhos dele.
— Eu...eu... estou louco por ele. — Digo mandando as regras
definitivamente para a casa do caralho.
Passo a mão pelo meu rosto e encaro Lucas esperando que ele fale algo
e isso não demora.
— Você não sabe, você ainda não tem noção da pessoa maravilhosa que
você encontrou para sua vida. Rafael, é um presente, estou muito orgulhoso
de você, por vencer seus próprios demônios e admitir sua paixão. A vida é
muito curta, meu amigo, para deixarmos de ser feliz, por conta de rótulos e
pensamentos pequenos. Não fuja do que você sente, ele sente o mesmo que
você.
— Como você sabe disso?
— Ele me falou, ora, que também lutou contra o que sentia, mas foi
mais forte que ele. Eu falei que o ajudaria a te conquistar, mas que se você
não acordasse para vida, eu queria que ele seguisse e te esquecesse, pois não
o quero sofrendo, mais do que esse menino já sofreu.
— Eu não sei por onde começar, é uma novidade para mim, não sei
como fazer isso, como fazer... — Faço uma cara de assustado para Lucas e
ele gargalha da minha cara.
— Não ria de mim, Lucas isso é sério, estou perdido, eu o beijei, mas
não sei o que fazer depois disso.
— Você o beijou?
— Sim — Digo sentindo meu rosto pegando fogo.
— Saidinho você, hein? — Lucas me zoa.
— Porra, Lucas!!!
Ele ri mais um pouco, mas logo fica sério.
— Meu amigo não existe um manual, quando você o beijou, você não
sentiu vontade, foi lá e fez?
— Sim.
— Esse é o segredo, deu vontade faça, seja um simples beijo ou quando
o clima esquentar entre vocês, siga seu coração e suas vontades. Nessa hora
não pense besteiras, do tipo, é um homem que está comigo, pensa que quem
está com você é uma pessoa que você deseja, simples assim e curta seu
momento com ele. Porra, Rafa, é lindo, Maurício, que corpo, tudo nele é
lindo. Ele beija bem?
— Porra, pra caralho.
— Cai de cabeça e boca meu amigo. Vai ser feliz, ele te quer demais, só
não o magoa, senão a conversa será entre eu e você. — Diz Lucas num tom
ameaçador.
— Você gostou mesmo dele, né?
— Ele se tornou o irmão que eu nunca tive, aquele guri ganhou meu
coração e minha proteção pro resto da vida. Você é o único que autorizo a
tocar nos fios de cabelo dele, com carinho, hein? Até pode dar umas puxadas
na hora do sexo, porque aí também é permitido. — Fala Lucas rindo e eu
jogo meu bloco de anotações em cima dele.— Agora sem brincadeiras, estou
falando sério, Maurício, ele é especial demais, cuida dele.
— Eu vou cuidar — Digo com um sorriso enorme nos lábios.
— Ok, agora assina aqui e vai ficar com ele, que não quero empatar
ninguém, eu cuido de tudo por aqui.
Faço o que meu amigo me pede e logo depois vou ao encontro da pessoa
que está mudando tudo dentro de mim, que está me virando do avesso e me
fazendo ver que esse é meu lado certo.
Estou no banho e lavo cada pedacinho de mim, o susto que
passei hoje me deixou apavorado e ainda estou um pouco tenso, mas ele
serviu para prender, Matias e isso me deixa aliviado. Meu banho está me
fazendo espairecer e tentar acalmar a labareda em que me encontro.
Depois que, Maurício saiu com, Lucas, eu fiquei mole em cima da
minha cama, foram coisas demais para processar, o susto, o medo e o beijo
dele.
O beijo de Maurício mexeu com cada célula do meu corpo e está quase
incontrolável tudo que estou sentindo dentro de mim. Termino meu banho,
saio e me seco, penteio meus cabelos e me olho no espelho.
Nunca mais me achei bonito, mas nesse momento estou me sentindo
sexy e gosto dessa sensação, estou com borboletas voando dentro do meu
estômago, acho que tudo isso é o efeito Maurício em mim.
Sorrio tocando meus lábios e querendo tanto seu beijo novamente, mas
penso ... e se ele não quiser me beijar de novo? Meu coração fica
pequenininho com este pensamento, mas algo dentro de mim quer acreditar
que ele voltará.
Passo meu perfume e me enrolo na toalha, saio do banheiro e vou para
meu quarto me vestir, mas ao passar pela sala, a porta se abre e Maurício
entra por ela e me vê ali, de toalha. Levo um baita susto, pois ele entra de
repente e eu não esperava.
Ele me olha tão lindo e eu fico com um pouco de vergonha e com o
coração aos pulos.
— Oi — Digo cruzando meus braços e segurando mais a toalha em meu
corpo, estou completamente nu por baixo dela e diferente da outra vez, não é
o sentimento, de ser desaforado com ele, que me domina e sim uma vontade
louca de me jogar em seus braços, então preciso me controlar.
— Desculpe, entrei de repente, devia ter batido, mas achei que você
estaria deitado.
— Não, tudo bem, fui tomar um banho para espairecer, ainda estava me
sentindo nervoso com tudo que aconteceu.
— Imagino, me desculpa fazer você passar por tudo aquilo, como está
sua dor?
Me aproximo dele e digo olhando em seus olhos...
— Não precisa pedir desculpas, você salvou minha vida mais uma vez...
a dor está leve, o gelo realmente ajudou bastante.
— Trouxe a pomada que eu te falei e... ah... é... se você quiser eu posso
passar em você.
Maurício estava nervoso e eu também, essa história de pomada não ia
dar muito certo, ia no mínimo acabar comigo sobre seu colo devorando sua
boca e eu não sei como ele reagiria a isso.
A verdade era simples, estava louco por Maurício em todos os sentidos,
ele havia me beijado e gostado, mas o quão mais longe disso ele chegaria?
Ele é hétero e até então, que eu saiba, não fica muito à vontade com gays.
Mas nesse momento ele está aqui na minha frente com sua respiração
pesada como se tentasse se controlar e eu vou aceitar que ele passe a pomada
em mim e ao mesmo tempo vou tentar disfarçar o quanto tudo isso está me
excitando... só posso estar louco meu Deus...
— Por favor, passa então... — Digo olhando no fundo dos olhos dele e
quase me desmanchando sob seu olhar...
Vamos juntos para o quarto, estou tremendo e simplesmente não sei o
que fazer, ele parecendo perceber, se aproxima de mim...
— Não precisa ficar com vergonha de mim — Diz ele tão pertinho e
fazendo carinho no meu rosto...
E isso é o bastante para mim, sem aviso ou pensar muito, encosto meus
lábios nos seus e sentir ele suspirar e envolver minha cintura com seus
braços, me dá motivação para aprofundar nosso beijo.
Não vou mentir, ainda tenho medo, medo da reação dele. Fiquei com
medo das pessoas depois de tudo e o único homem que eu tive até hoje foi,
Otávio e aqui agora estou com outro que até então não gostava de mim, no
caso, da minha orientação sexual. Isso está me deixando tão inseguro... e
como desejo demais, esse homem na minha frente, qualquer tipo de rejeição
da parte dele vai me machucar mais do que uma surra.
A boca de Maurício devora a minha, nossas línguas estão em um ballet
tão sincronizado, que me arrepio de tanto tesão que estou sentindo.
Em um determinado momento ele aperta minha cintura e cola ainda
mais nossos corpos, sinto cada músculo do seu corpo em contato com o meu.
Estou tão excitado e como estou apenas de toalha sinto meu membro
duro encostar no seu, que mesmo de calça, percebo o quanto não está muito
diferente do meu.
Mas ao encostar em mim e sentir como meu corpo está reagindo ao dele,
Maurício sente minha excitação, dura, de encontro com seu corpo e imagino
o quanto isso deva ser diferente para ele. Sinto seus músculos do braço
ficarem rígidos e me preparado para ser empurrado ou algo do tipo e meu
coração agora martela de medo.
Mas não é isso que acontece... ele aperta ainda mais minha cintura e
junta ainda mais meu corpo no seu, fazendo o atrito entre meu pau e o dele
ser maior e ele simplesmente joga o quadril para frente se esfregando ainda
mais em mim.
Foi tão gostoso que tenho que separar nossas bocas para respirar fundo,
pois, por pouco, muito pouco, eu não gozei com seu movimento...
— Eu te machuquei? — Pergunta ele bem próximo a minha boca e com
respiração acelerada.
— Não, eu tive que respirar fundo pois eu quase... — Paro de falar e me
aproximo roçando meus lábios nos dele.
— Você quase? — Pergunta ele com um sorrisinho de lado meio safado
que me faz sorrir também.
— Quase gozei com seu movimento — Falo e logo tenho meus lábios
sendo mordidos e uma língua atrevida invade minha boca.
Daí o beijo pega fogo definitivamente e ele só para quando, Maurício,
larga minha boca para atacar meu pescoço, ao mesmo tempo que suas mãos
chegam na minha bunda e a aperta quase me tirando do chão.
Um chupão no meu pescoço me faz gemer, que tesão desesperador eu
estou sentindo, se continuar assim eu não vou conseguir segurar e vou gozar
toda toalha.
Maurício respira pesado em meu pescoço e fala baixinho no meu ouvido
me arrepiando inteiro...
— Tudo em você me atrai, tudo em você me deixa com tesão, tudo em
você me faz perder o controle....
Meu sorriso por pouco não rasga meu rosto, faço ele olhar para mim e
junto nossos lábios num selinho demorado e molhado.
— Eu digo o mesmo para você.
O sorriso de Maurício é lindo demais, ele meio que me solta, mas
segurando minha mão me conduz até a cama.
— Deita aqui para que eu passe a pomada em você, antes que eu até
esqueça que você está dolorido.
Fico muito envergonhado e levo minhas mãos para frente do meu corpo,
estou muito excitado.
Maurício sorri para mim e diz com uma carinha linda...
— Não precisa ficar envergonhado, também estou de barraca armada,
entendo isso.
Caímos na risada juntos e me ajeito para deitar na cama. Deito e
Maurício se senta ao meu lado.
— Posso? — Pergunta ele apontando para toalha.
— Pode ... — Respondo com um suspiro...
Mal sabe ele que hoje ele pode tudo comigo, estou tão entregue a ele ...
Maurício então abre minha toalha com jeitinho e num gesto de educação
e carinho, ele deixa exposto apenas a lateral do meu corpo, do meu peito até
minha perna.
Fecho meus olhos esperando o toque de sua mão e meu corpo quase
desfalece quando sinto sua boca, isso mesmo, sua boca. Ele distribui beijos
da minha coxa, passando pela minha cintura, que consequentemente me faz
sentir sua respiração perto da minha virilha e chega onde ganhei o soco,
deixando mais beijos...
— Maurício... — Digo quase gemendo, pois, meu corpo perdeu as
forças...
— Porra, Rafa, não fala meu nome desse jeito, já nem estou mais
querendo passar pomada nenhuma. — Diz ele se inclinando sobre mim e me
roubando um beijo de perder o fôlego.
Depois de me beijar, ele se senta normalmente e leva sua mão a minha
toalha e a tira devagarinho. Em segundos estou completamente nu na sua
frente.
A respiração de Maurício está acelerada e ele me come com os olhos,
olhando todo meu corpo, esse de longe é o momento mais erótico da minha
vida...
— Como você está se sentindo? — Tive que perguntar...
— Com muito tesão — Responde ele agora passando sua mão pelas
minhas pernas e quando ele passa perto do meu pau imagino que ele
continuará subindo, mas ele me segura em sua mão e o toque me faz gemer e
fechar os olhos. Sua boca beija minha barriga, até meus mamilos, que ele
lambe com desejo...
Sua mão que antes estava parada, começa a fazer movimentos. Minhas
mãos agarram o lençol, quando automaticamente meu quadril vai de encontro
a sua mão.
— Está gostoso? — Pergunta ele com uma voz sexy demais.
— Muito — Falo gemendo.
Quando sua língua invade minha boca, tomo as rédeas da situação,
puxando seus cabelos e o puxando para mim.
Agora ele está praticamente em cima de mim e com isso me viro e o
jogo na cama. Estou com uma perna de cada lado do seu quadril e encaro seu
rosto, no momento que ele leva suas mãos a minha bunda e faz meu corpo
esfregar no dele...
Nós dois gememos...
Em segundos tirei a camisa de Maurício e agora desço pelo seu peito
mordendo, beijando, chupando, tudo junto e ele me observa atento com os
olhos nublados de tesão. Tiro seu cinto e puxo sua calça, junto com sua bota e
meias...
Ele é uma delícia, eu seria capaz de gozar só com a visão dele de cueca
nessa cama, mas o que está implorando para sair dela está me fazendo salivar
e quando chego perto e o mordo por cima de sua pequena peça de roupa, ele
geme alto e joga a cabeça pra trás. Seguro nas laterais e tiro sua cueca,
deixando-o completamente nu. Seu pau cai pulsando batendo em sua barriga,
é gostoso e não penso duas vezes, levo minha língua por toda sua extensão,
quando chego na cabeça, chupo gostoso...
— Porra que delícia — Diz meu policial segurando meus cabelos e indo
de encontro com minha boca.
Bato uma pra ele e o enfio todo na minha boca. Maurício morde os
lábios e eu me sinto vivo novamente, sexy e desejado pelo cara que está
mudando minha vida.
Depois de caprichar no boquete gostoso que fiz nele, o beijo sugando
sua língua, ele me coloca por baixo e ataca meu pescoço, distribuindo leves
mordidas. Nem tenho mais vergonha de gemer, é mais forte que eu.
Levo minha mão ao meu pau e junto o dele com o meu, faço uma
punheta gostosa com nós dois juntos, ele levanta um pouco seu corpo e
observa os movimentos da minha mão...
— Caralho isso é bom demais, não para... Porra, Rafael, você vai acabar
comigo.
Maurício me beija e geme na minha boca. Ele pega meus braços e
suspende acima da minha cabeça, fico completamente entregue a ele, que
explora cada pedacinho de mim.
Ele está entre minhas pernas descendo beijos pelo meu corpo e quando
ele chega no meu pau eu digo compreensivo ...
— Não se sinta obrigado a isso, faça o que te deixar a vonta...
Maurício me enfia inteiro na boca e eu quase perco os sentidos. Sua
língua me enlouquece e quando ele me solta fazendo um biquinho , peço para
ele parar porque senão vou gozar na boca dele. Mas não satisfeito, ele abre
minhas pernas e me lambe inteiro, sinto sua respiração em minha entrada e
meu corpo se contrai de desejo, ele rodeia meu cu com a língua, me fazendo
gemer feito doido.
Ele me vira de bruços empina minha bunda de forma que eu fique
apenas com o rosto na cama e sua língua volta a me maltratar, até meu pau
ele puxa para trás e chupa gostoso de novo.
Depois de um bom tempo assim, onde quase gozei três vezes e tive que
respirar fundo, pedi, aliás, praticamente implorei...
— Me fode, Maurício, não aguento mais, estou no limite. Quero você
dentro de mim...
— Puta que pariu, que tesão da porra — Diz ele enlouquecido.
Escutei sua resposta e em seguida, depois dele ir em sua calça e pegar a
carteira, ouço o envelope da camisinha sendo rasgado. Nisso, sinto seu pau
forçando meu cu e relaxei para recebê-lo.
— Caralho, Rafael, que delícia, você é gostoso demais.
Cada centímetro de Maurício que entrava, meu tesão atingia mais o
ápice, quando senti seus pelos encostarem na minha bunda gemi e rebolei...
Ganhei um tapa na bunda.
Rebolei de novo...
— Mais uma rebolada dessa e eu te mordo, safado.
Sorri com, Maurício, em modo safado, gostoso demais, mas quando ele
deu a primeira estocada, revirei meus olhos e daí em diante foram várias.
Maurício socou sem piedade e o quarto foi preenchido pelos meus gemidos e
os dele.
Ele me pegou pelos cabelos e trouxe meu corpo para junto dele e
enquanto me comia, mordia meu ombro e falava sacanagens no meu ouvido,
fui a loucura.
Sua mão no meu pau, enquanto metia em mim, foi meu fim, gozei
demais e meu cu mordendo seu pau, por causa do meu prazer, fez Maurício
gozar tão gostoso que eu sentia seu pau pulsar dentro de mim.
Caímos os dois na cama suados e saciados, eu estava nos braços dele e
ele me envolvia com braços e pernas, nossas respirações foram se acalmando
aos poucos.
— O que foi isso? — Perguntou ele, levemente rouco.
— Nós transamos gostoso demais. — Falei sorrindo de olhinhos
fechados.
— O que você está fazendo comigo, Rafa?
— Eu não sei...
— Estou completamente viciado em você.
Me viro e fico de frente para ele.
— Você que é meu vício — Falo fazendo carinho no seu rosto.
— Não saia nunca mais dos meus braços. — Pediu Maurício
Meus olhos encheram de lágrimas com esse pedido e o beijei... beijei
meu policial, meu protetor, meu homem lindo e através desse beijo eu queria
que ele entendesse que eu não iria a lugar nenhum, eu só queria estar
exatamente aqui, onde estou, sentindo seu coração bater com o meu. ♡
Antes de abrir os olhos o cheiro de morango invade meu nariz e
é impossível não sorrir, mas quando consigo espantar o sono e finalmente
abro meus olhos, me acostumando a claridade que invade o quarto, a visão de
Rafael deitado de bruços, com seus cachos espalhados no travesseiro e um
lençol cobrindo apenas, sua bunda arrebitada, é lindo demais. Sua boca entre
aberta, entregue a um sono profundo e tranquilo, faz meu coração parar por
segundos.
Me questiono sobre o que eu fiz, isso é claramente o reflexo do que
sempre vivi e fui instruído a creditar que era o certo.
Minha cabeça briga claramente com o que estou sentindo, um
verdadeiro duelo entre o coração e a razão. Só que no momento, em que meu
coração jogando com todas as armas, lança na minha mente as lembranças
desta noite e eu me recordo de Rafael nos meus braços, totalmente entregue
gemendo meu nome, me dando o maior prazer que já tive em toda minha
vida, fica claro quem venceu a batalha.
E em segundos, conduzido por essas lembranças, me pego retirando o
lençol de cima dele e caindo de boca literalmente na delícia que me tira toda
razão.
Até me esqueço que ele ainda está dormindo, pois estou beijando,
lambendo e mordendo seu corpo com tanta intensidade que só me dou conta
disso quando ouço sua voz, rouca de sono, gemer e me chamar...
— Maurício....
— Bom dia, minha delícia — Digo sugando o lóbulo da sua orelha e
vejo ele se arrepiar e dar um sorrisinho gostoso.
E nesse momento todo questionamento que me fiz, assim que acordei,
me parece uma besteira colossal, pois a verdade é que tudo que sempre me
pareceu tão errado, agora me é tão certo.
O cheiro dele me embriaga de uma tal forma que nem me reconheço,
fico à mercê dele, totalmente refém e sem nenhum controle dos meus atos. A
prova disso é que estou virando-o de frente para mim e ver o sorriso dele,
ainda com os olhinhos fechados de sono, fazem meu coração saltar dentro do
peito.
— Deus, tem alguém muito animado hoje, hein? — Diz ele coçando os
olhos e em seguida olhando para mim.
Ahh esses olhos ... me perco neles, eles me prendem, desde o primeiro
instante, desde aquele momento lá no morro em que ele estava ferido e
implorava por ajuda.
Sem nem ao menos respondê-lo, o beijo com vontade. Meu corpo inteiro
já está acordado e sentir o dele também respondendo ao meu, é o sinal que eu
precisava.
Me encaixo nele e ao sentir meu membro ser abraçado pelo quentinho
do seu corpo, sinto um arrepio correr pela minha espinha e quando me
enterro de uma vez dentro dele, meu coração explode de felicidade.
Ele geme junto comigo e começamos a fazer um amor gostoso, devagar,
com beijos estalados e molhados. Com mãos que vagam sem rumo, com
respirações descompassadas e gemidos que mostram o prazer que estamos
sentindo.
— Você é tão gostoso, iss... — Rafa não consegue terminar a frase
depois de uma estocada que eu lhe dou e acabo acertando seu ponto mais
doce e vê-lo revirar os olhos de prazer, embaixo de mim, me dá uma
sensação de plenitude que nem sei explicar.
Acelero meus movimentos e sem que ele espere, me viro o colocando
por cima e logo me sento com ele encaixado em mim e ataco seu pescoço que
possui aquele cheiro da minha fruta preferida.
Rafa então começa uma sessão de reboladas surreais e agora é minha
vez de revirar os olhos, pois é gostoso demais. Seguro em sua cintura o
fazendo quicar em cima de mim e cada vez que ele sobe, logo em seguida, ele
desce e rebola, me fazendo gemer tão alto, entregue, suando e delirando de
prazer. Gozo de uma forma espetacular inundando seu interior e como ele
continua os movimentos, meu esperma escorre para fora do seu corpo e só ai
me lembro que nem preservativo coloquei, mas sinceramente nem tenho
tempo de pensar nisso, pois a visão dele gemendo e se contorcendo de prazer,
pois está gozando, me tira o foco de tudo.
Ele goza toda minha barriga e peito. Me pego delirando com tal ato e só
tenho tempo de ampará-lo nos braços, pois ele fica molinho e respira com
dificuldade.
Me jogo na cama trazendo-o junto comigo. Ficamos assim, um por cima
do outro, grudados, suados e melados, mas nem me importo, o que me
importa é a pessoa que está em meus braços, que está me fazendo repensar
minha vida e confesso que estou amando tudo isso.
Depois de um banho juntos, onde nos beijamos mais do que tudo,
estamos na cama novamente criando coragem para sair de nossa bolha e
voltar para vida.
E é meu telefone tocando que estoura essa bolha e como conheço o
toque sei que é Lucas me ligando.
— Pronto, Lucas.
— Maurício emergência, acabamos de descobrir o endereço do local
onde está ocorrendo o tráfico de pessoas, que tanto queríamos. Nosso
informante conseguiu o endereço, depois de uma tocaia rigorosa que ele
armou, já acionei viaturas e estou indo para lá.
— Estou indo pra aí, me espera, mas calma, não posso deixar o Rafael.
— Eu vou, fique com ele, te mantenho informado.
Olho para Rafael, que dê certo, entende o que está acontecendo.
— Vai sim, vou ficar bem, não vou abrir a porta para ninguém, não
deixe o Lucas sozinho.
— Lucas estou indo, me espere.
Desligo o telefone e olho para Rafael.
— Vou pedir para Antunes ficar aqui no andar, confio nele, aliás, minha
desconfiança era em, Matias, então estou um pouco mais tranquilo. Só que
como não pegamos o Otávio ainda tenho todo receio do mundo.
— Vou ficar bem, sério, não vou abrir e tenho seu telefone, ok? A
ligação de Lucas pareceu muito importante.
— E foi, estamos há meses investigando o tráfico de pessoas e tínhamos
denúncias de várias casas que eram a central disso, mas sempre que íamos em
alguns endereços, eram errados ou eles já tinham mudado, mas agora parece
que é o certo e vamos bater lá. Recebemos relatos de pessoas sofrendo, sendo
espancadas, obrigadas a se prostituir antes de serem levadas para outros
países.
— Meu Deus do céu, então, por favor, vá salvar essas pessoas, do
mesmo jeito que você me salvou.
Olho para Rafael comovido por suas palavras e o beijo profundamente,
logo depois, corro no banheiro, me limpo rápido e me visto, mas antes de
sair, o beijo novamente...
— Não abre para ninguém, eu volto o mais rápido que der e venho
direto para cá.
— Vou te esperar, ajude essas pessoas — Responde ele, fazendo carinho
no meu rosto e dando selinhos nos meus lábios.
Saio do apartamento de Rafa, mas meu coração fica junto com ele. Só
que o dever me chama e sinto que será bem difícil.
Desta vez batemos na casa certa e o que encontramos foi um verdadeiro
show de horrores, sem contar a quantidade de bandidos que fez com que
houvesse uma intensa troca de tiros. Lucas ativou seu modo, Policial Barreto
de ser, e estava implacável. Com os bandidos ele não tinha piedade, ele
odiava maldade com as pessoas, então quem fazia isso, estava ferrado se
atravessasse o seu caminho.
Conforme íamos entrando na casa enorme e com muitos quartos,
víamos, mulheres machucadas e amarradas. Tinha muitos homens também
que iam de idade aparente de 18 a 30 anos, muitos também machucados e
amarrados como bichos. Os que estavam soltos estavam vestidos para fazer
programas, até clientes encontramos por lá, íamos prender todo mundo e dar
auxílio as vítimas envolvidas.
Quanto mais entrávamos na casa, pior ficava. Estávamos no número de
40 polícias, corri por corredores e troquei tiros com alguns bandidos,
acertando 3 que ficaram caídos no chão, um eu matei, pois veio para cima de
mim para atirar a queima roupa.
Organizei alguns policiais para tirar as pessoas de dentro daquela casa e
levar para as ambulâncias e viaturas do lado de fora.
Muitos choravam e implorava por ajuda, aquilo era um verdadeiro caos,
desamarrar os que estavam presos, quebrar correntes e se esquivar dos
bandidos que ainda apareciam.
No momento em que eu estava abaixado, soltando uma menina que
aparentava ter 15 anos e que chorava muito e tinha seu rosto muito
machucado, senti alguém se aproximar por trás de mim ,mas nem precisei me
virar, o homem caiu com um tiro na cabeça ao meu lado.
Olhei para trás e Lucas apontava sua arma, com uma cara de mau que as
vezes me assustava, ele realmente não tinha pena de bandido, matava,
simplesmente matava.
— Comandante, isso aqui é pior do que qualquer coisa que eu já tenha
visto — Falou Lucas se abaixando e me ajudando a desamarrar a garota.
Ele olhou para ela e vi seus olhos brilharem por estarem úmidos, por um
choro preso, ele estava arrasado por tudo que estava vendo.
Lucas era durão, mas somente eu e sua falecida mãezinha conhecíamos a
pessoa que ele era, o Lucas doce, carinhoso, amigo e que sofria vendo
maldades como essa. Sua montanha de músculos disfarçava e metia medo,
mas meu amigo era muito mais que isso.
— Eu vi uma escada no fim desse corredor, vou descer para ver se tem
mais vítimas lá.
— Cuidado, por favor.
Lucas assentiu e foi...

Estava horrorizado por tudo que estava vendo, eu ainda


conseguia me surpreender pela capacidade do ser humano de fazer maldade.
Moças e rapazes sendo vendidos como objetos, sendo surrados e
humilhados, tudo era demais para mim.
Matei uns 5 bandidos sem pensar, eles não teriam minha piedade. Eu
agora descia as escadas escuras, era uma área totalmente diferente, mais
sinistra, o cheiro era horrível. Até agora não tinha dado de cara com nenhum
bandido.
Tinham 4 quartos aqui embaixo e fui olhando um por um. Eles tinham
um colchão no chão cada um e correntes que ficavam penduradas no teto.
Era sádico, medonho e triste, quando cheguei no último quarto ele tinha
a porta fechada. Mexi na maçaneta e estava trancado, respirei fundo e não
pensei duas vezes em acertar um chute que fez a porta estourar a fechadura e
abrir na toda.
Eu não estava preparado para ver o que eu vi. Havia um rapaz
completamente nu, pendurado na corrente que ficava no teto, igual à dos
outros quartos .Sua cabeça estava abaixada, eu ainda não sabia se ele estava
morto, olhei todo o quarto, só tinha apenas ele ali e embaixo dele uma poça
de água suja.
Me aproximei dele e toquei em seu pescoço, sentindo sua pulsação
muito fraca, ele estava vivo! Mas tinha muito pouco tempo de vida se não
fosse logo socorrido.
Seu corpo tinha marcas de chicotadas, mas não recentes e estava
abatido. Seu rosto estava coberto por seu cabelo. Quando o tirei da frente,
fiquei impactado pela beleza do rosto dele e incrivelmente, não havia um
machucado sequer nessa parte.
Ele mexeu levemente a cabeça, mas estava sem forças, abracei seu corpo
e atirei no elo que prendia a corrente no teto.
Ele se soltou em meus braços e gemeu de dor, lágrimas escorreram por
seu rosto e meu coração se apertou com a cena.
Fui com ele nos braços até o colchão no chão. Peguei um lençol que
tinha lá e cobri seu corpo para sair com ele dali, mas no momento em que eu
terminava de cobrir, ele abriu seus olhos e eu, em toda minha vida, nunca
tinha visto olhos tão lindos assim, ele me hipnotizou apenas olhando para
mim...
— Me... me ajuda... — Disse ele com a voz fraca, muito fraca e rouca.
— Como você se chama? — Perguntei olhando em seus olhos.
— Mi... Miguel...
— Eu vou te tirar daqui, aguenta firme, por favor — Falei fazendo um
carinho em seu rosto.
Em seguida arrumei ele nos braços e sai dali como se minha vida
dependesse disso, precisava salvá-lo, meu coração martelava de nervoso,
precisava de uma ambulância para ele o mais rápido possível.
Eu corria até a saída, ele estava muito leve. Passei por algumas pessoas
ainda sendo retiradas, mas tudo era um borrão para mim. Quando finalmente
saí daquele inferno chamado de casa, avisei ambulâncias e o corpo de
bombeiros.
— Socorroooo preciso de ajudaaa !!!! — Gritei a plenos pulmões.
Maurício se virou imediatamente, ele ajudava a colocar uma menina na
maca e veio correndo ao meu encontro.
— Meu Deus, onde você o achou? Lá embaixo?
— Eu... eu não... ele estava preso... ele tá .... — Eu simplesmente não
conseguia formar a frase, acho que estava em estado de choque.
— Lucas, calma!!!
Olhei para Maurício assustado e depois para Miguel em meus braços.
— Uma ambulância por favor aqui!!!! — Gritou, Maurício.
Nisso dois médicos vieram e trouxeram a maca, eu ainda estava parado
com ele nos braços.
— Lucas, você precisa soltá-lo — Pediu, Maurício segurando meu
braço.
Foi aí que saí do transe em que me encontrava e deitei ele devagar na
maca, olhei para o médico e praticamente implorei...
— Por favor, salve a vida dele, ele se chama, Miguel.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance, soldado, agora me deixe ir.
Só quando ele falou isso foi que eu percebi que segurava a maca, então
larguei e ele se foi....
— Lucas! — Maurício me chamou e não ouvi. — Lucas?
Olhei para ele...
— Você está bem, meu amigo?
— Não e se ele morrer ficarei pior ainda — Fui sincero.
— Você o conhecia?
— Não, nunca o vi na minha vida. Mas senti como se o conhecesse há
muito tempo... — Pensei
— Você está agindo como se... o conhecesse, por isso perguntei. Sei que
tudo isso é triste demais, mas é que nunca te vi assim.
— Eu não sei explicar, apenas... foi diferente encontrá-lo daquela
maneira, quando ele olhou para mim... ele não pode morrer, Maurício.
— Vamos ter fé que ele não vai. Agora precisamos dar suporte aos
outros, temos muito trabalho pela frente.
Assenti e segui meu amigo, naquele dia tivemos muito trabalho, várias
pessoas para encaminhar para o hospital, bandidos para mandar para cadeia e
corpos para serem retirados.
Depois de um longo tempo, eu, Maurício e mais dois soldados voltamos
até a casa e vasculhando tudo em busca de pistas. Acabamos encontrando
uma passagem na casa que dava para um quarto que simplesmente tinha
inúmeras bolsas, deduzimos ser das vítimas, e era, conforme nós íamos
abrindo eram documentos, roupas, pertences pessoais.
Estava abaixado fechando uma bolsa feminina, quando uma mochila
caiu em cima de mim vindo de uma pilha que tinha em um canto.
Era uma mochila preta, até bonita, abri imediatamente e lá dentro além
de roupas, tinha uma carteira e uma pasta escrito ensaio fotográfico na capa.
Quando abro a pasta perco todo meu ar e fiquei paralisado olhando a foto nas
minhas mãos.
Era o Miguel, minhas mãos tremiam, olhei para Maurício e ele quando
olhou para mim, apenas viu minhas lágrimas descerem e veio imediatamente
ao meu encontro.
— Lucas, pelo amor de Deus, o que houve?
— Esse é o Miguel.
Mostrei a foto para Maurício que olhava atentamente e depois de
examinar tudo na mochila concluiu que ele fazia fotos como modelo e deve
ter sido por isso que foi atraído até aqui.
— Guarde tudo dele e traga essa mochila, ok? O restante vamos
encaminhar.
Assenti, mas antes de guardar, olhei mais uma vez para aquela foto.
Percebi que atrás tinha o nome dele todo, Miguel Souza de Medeiros, ele
tinha 21 anos.
Depois de guardar tudo, ficar com sua mochila e terminar todo serviço,
eu e Maurício enfim tínhamos acabado por ali.
— Lucas, por hoje é só, as vítimas estão encaminhadas e agora todos os
trâmites são feitos da delegacia. Vamos começar a procurar as famílias. Vai
para casa, tudo isso mexeu demais com você, até comigo, já passa das 23
horas. Nem eu estou bem, só preciso ver, Rafael, vou para lá, vou levar essa
mochila do Miguel e investigar sobre ele, ok?
Assenti entregando a mochila para meu amigo.
— Com tudo isso nem conversamos sobre, Rafael, cuidou bem do meu
bebê? — Pergunto dando um pequeno sorriso para ele.
— Muito bem — Ele responde com o sorriso mais lindo que já o vi
dando.
— Eita porra! Agora pegou fogo mesmo — Mexo com ele que
ri envergonhado e por fim vamos embora.
Naquela noite em minha casa, estava ansioso. Só tomei um banho e
belisquei uma comida. Achar esse menino mexeu muito comigo, acho que foi
porque o encontrei naquele estado e entre a vida e a morte. Pedi a Maurício
que me avisasse caso chegasse alguma notícia dele, pois ele estava em
contato com o hospital para qual as vítimas foram levadas, mas amanhã eu
iria até lá.
Só de cueca boxer me joguei na minha cama tentando descansar, mas
aqueles olhos tão lindos não saíram da minha cabeça...
Não consegui dormir. Andei de um lado para o outro no
apartamento, eu já estava saturado de ficar trancado aqui, mas entendia que
era para minha segurança.
Mas nesse momento minha preocupação era, Maurício e Lucas que não
deram sinal de vida o dia todo. Desde cedo foram para essa operação e até
agora nada, nem Antunes sabia de nada, ou não queria me falar. Desobedeci a
Maurício e em uma certa hora da tarde abri a porta e busquei por notícias
com Antunes, mas nada consegui.
Mal comi, nem fome tive, preciso de notícias, preciso do Maurício bem
aqui na minha frente. Estou sentado na cadeira da cozinha inerte com meus
pensamentos, quando ouço a voz dele me chamar...
— Rafa...
Imediatamente me viro e a visão de Maurício me traz um misto de
felicidade com preocupação. Em nada ele lembrava aquele homem feliz que
saiu hoje de manhã, seu semblante é cansado e triste, está todo sujo, com a
farda já aberta e com manchas de? Sangue!!
— Maurício!!
Levando e vou de encontro a ele para abraçá-lo. No caminho ainda
escuto ele dizer — Não, Rafa estou sujo, mas pouco me importo e me atiro
em seus braços.
E agora sim, meu coração começa a ficar tranquilo, ele me aperta em
seus braços e enterra seu rosto em meu pescoço e fica ali quietinho.
— Tudo que eu precisava era sentir seu cheiro para me acalmar... foi
horrível... muito triste .... — Diz ele com a voz embargada.
— Shiiuu, estou aqui com você, vai passar — Falo fazendo carinho em
seus cabelos.
— Mas deu tudo certo? Era realmente a casa?
Nesse momento, Maurício, me olha e assenti, me leva até o sofá e narra
tudo que aconteceu. Nem preciso dizer que ouço tudo aquilo com lágrimas
escorrendo pelo meu rosto.
E quando ele detalha como Lucas ficou, tudo que sinto é uma vontade
enorme de estar nos braços do meu grandão e o confortá-lo.
— Eu queria tanto ver o Lucas, onde ele está agora?
— Mandei-o para casa, ele não estava nada bem. Se eu estou ruim, ele
estava pior. Ele encontrou um rapaz entre a vida e a morte e isso mexeu
muito com ele, eu até achei que ele o conhecia, mas acho que só ficou
impressionado mesmo.
— Meu Deus e esse rapaz, está vivo? vocês conseguiram socorro para
ele?
— Ele foi para o mesmo hospital que as outras pessoas, estou ainda para
receber notícias, vou ser informado das baixas e das que conseguirem
sobreviver.
Abraço novamente, Maurício e ficamos assim um bom tempinho.
— Como foi seu dia, ficou tudo bem por aqui?
— Sim eu fiquei bem, só preocupado com você e Lucas.
Maurício sorriu e disse que precisava de um banho, dei uma toalha a ele
e ele foi para o banheiro.
Fui para meu quarto, coloquei minha camisola e arrumei a cama para
nos deitarmos. Quando já estava acabando, me surpreendo com ele parado na
porta só de cueca me olhando de braços cruzados.
— A primeira vez que te vi com essa camisola, dormindo aqui nessa
cama, eu fiquei muito nervoso.
— Foi naquele da que você me acordou no susto tampando minha boca
— Lembro dando um pequeno sorriso.
— Sim, eu nunca tinha visto um homem vestido como você estava, mas
além do choque, eu... fiquei hipnotizado pelo seu corpo.
Me aproximo de Maurício e fico pertinho dele, faço um carinho em seu
rosto e ele fecha os olhos, sinto que ele está muito tenso, ele ainda não
relaxou do dia horrível que teve.
— E o que se passa agora nessa cabecinha por ter passado a última noite
comigo? — Pergunto encarando esses olhos tão lindos que me olham com
muita atenção.
Ele descruza os braços, me puxa pela cintura e cola meu corpo no dele,
antes de responder.
— Nunca pensei que eu viveria tudo isso, mas com você, eu tive a
melhor noite da minha vida, com você estou reaprendendo a ver a vida de
outra forma. Me assusta um pouco, não vou mentir e te peço paciência
comigo, mas... não imagino mais meus braços sem você no meio deles.
Beijo Maurício transmitindo para ele que sinto o mesmo, não me
imagino mais longe dele. Nosso beijo é calmo, mas profundo, gostoso. Ele
me beija sempre com muita vontade, seus lábios atacam os meus com tesão e
carinho ao mesmo tempo.
Esta noite, eu não queria transar com ele e nem ele estava no clima, eu
só queria dar a ele o carinho que ele estava precisando e assim eu fiz.
Deitamos e ele ficou com a cabeça na minha barriga, fiz carinho em seus
cabelos e aos poucos senti ele relaxando, suas mãos estavam em minhas
pernas.
Era tão bom estar ali sentindo o carinho dele e dando a ele o meu. Nunca
mais tinha ficado assim com, Otávio. Eu nem sabia mais o que era estar
assim com alguém, estava sendo maravilhoso, surreal até e tenho que admitir
que isso me trazia um certo medo, de tudo acabar, de Maurício não me querer
mais. Estava completamente apaixonado por ele, essa era a verdade e eu que
não queria me envolver tão cedo com ninguém e já nem pensava mais em
amor para minha vida, tamanha decepção que vivi, me vejo agora louco por
esse homem...
— Está pensando em que? — Pergunta, Maurício, que eu achei que
estava dormindo.
Fico com vergonha de ter sido pego no flagra, porque com certeza estou
com a maior cara de apaixonado.
— Estava pensando em você — Digo sentindo meu rosto esquentar.
Ele agora está com os olhos em mim e eu suspiro encantado com a
beleza dele.
— E o que você pensava de mim?
Ai porra, isso é pergunta que se faça? Que vergonha estou agora e meu
sorrisinho entrega meu estado.
— Ei você está com vergonha! — Concluiu ele rindo de mim e se
sentando de frente para mim na cama. — Estava pensando em alguma
sacanagem? — Pergunta meu policial levantando uma sobrancelha para mim.
— Não — Digo sorrindo e roubando um selinho dele.
— Então o que era? Me fala! —Pede ele com cara de cachorro
abandonado.
Olho para ele e fico pensando se devo falar, não aguento mais sofrer
nessa vida e tenho medo de que ele se assuste com meus sentimentos, mas
não vou conseguir esconder. Ainda mais com esses olhos verdes, lindos,
esperando uma resposta.
— Estou apaixonado por você...
Maurício fica me olhando. Seu olhar se torna tão profundo que me
pergunto se ele pode enxergar minha alma diante do olhar que ele me lança.
Engulo em seco e começo a me arrepender do que falei, até que a resposta
muda tudo que eu estava pensando...
— Também estou apaixonado por você. Depois de tudo que vivi hoje,
eu só pensava em voltar para seus braços, era o único lugar que eu queria
estar e que sabia que seria o único capaz de acalmar toda revolta em mim.
Fico quase de boca aberta ouvindo, Maurício, se declarar. Meu coração
parecia a praia de Copacabana em dia de virada de ano, explodindo em fogos
artifício.
Maurício, depois de dizer tudo, me beija com paixão e agora sou eu que
estou em seu colo, protegido e sendo correspondido.
Depois ficamos deitados de lado, um de frente pro outro com nossos
narizes quase colados namorando através do olhar...
Somos tirados de nossa bolha quando o celular de Maurício toca.
— Pronto. — Responde ele e fica ouvindo durante um tempo.
— Graças a Deus, já é o melhor começo, obrigado por me informar, boa
noite. Era do hospital, Miguel o menino que Lucas salvou, não morreu, ele
está muito debilitado e necessita de muitos cuidados, mas vai sobreviver.
— Graças a Deus! — Digo sorrindo e ficando tranquilo. — Avise ao
Lucas, ele precisa saber.
Maurício liga para Lucas e depois de um tempo meu amigo atende...
— Alô...
— Oi meu amigo, sou eu, Maurício, desculpa te acordar, só queria que
você soubesse que Miguel sobreviveu, acabei de saber....
— Sério? Graças a Deus! Eu não parei de pensar nele um minuto
sequer...
— Ele ainda precisa de muitos cuidados e nem pode receber visitas, pois
está sem imunidade, então não pode chegar perto de ninguém. Ficará ainda
um bom tempo no hospital, mas assim que puder receber visitas vou ser
informado.
— Tudo bem, mas ele está vivo, isso que importa, você não tem noção
da minha felicidade com essa notícia.
— Eu ainda quero conversar com você para entender tudo isso, ok?
— Tudo bem... Você está com o Rafa?
— Sim estou aqui.
— Meu bebê está acordado? Se tiver passa pra ele.
— Você não acha que está com muita intimidade com ele, não?
—Se liga, Maurício, eu cheguei primeiro, ele é meu bebê, quer você
goste ou não, agora se ele estiver acordado quero ouvir a voz gostosa dele.
Eu ouvi toda conversa, pois estava pertinho de Maurício e eu ri muito da
cara que Maurício fez ao passar o telefone para mim.
— Oi meu amor!
— Meu bebê! Que saudade de você, amanhã vou te ver. Agora você vê,
Maurício já se achando seu dono, sou o melhor amigo, posto muito
importante.
Maurício revira os olhos e me olha de bico.
— Nós vemos amanhã então, estou com muitas saudades de você
também.
— Esse marrento aí está cuidando de você direito?
Olho para Maurício que tem os olhos atentos em mim e respondo a
Lucas....
— Muito meu amigo, está cuidando muito bem — Falo sorrindo para
Maurício que me devolve um sorriso delicioso.
Me despeço de Lucas e volto para os braços do meu gatinho e ali eu
durmo, me sentindo seguro e querido como a muito não me sinto.
Duas semanas se passaram depois daquele dia horrível. Eu só
passava em casa para um banho e ver como estava tudo. Dormia todas as
noites com Rafael, ter ele nos meus braços tinha se tornado meu vício.
Eu não sabia mais dormir sem seu corpo enroscado no meu, seus beijos
gostosos na minha boca e em cada parte do meu corpo, pois ele me devorava
com beijos e mordidas gostosas.
Nós fizemos amor em cada canto daquele apartamento e nessa última
noite foi na cozinha que começamos.
Eu não o deixava lavar a louça e o deixei nu ainda na pia. A risada
gostosa dele ecoava pelo apartamento, mas o calei com um beijo e depois o
coloquei em cima da mesa para em segundos estarmos fazendo amor gostoso.
Estava tão bom que durante todas as vezes que ele chamou meu nome,
gemendo de prazer, a vontade de dizer o quanto eu o amava vinha na
garganta, mas eu não conseguia dizer ainda, eu travava.
A cada dia estava me aceitando mais e o que estava sentindo, estava se
tornando tão forte, que isso me assustava. Nem por, Beatriz, a mulher com
quem me casei um dia e que amei, me fez sentir o que Rafael estava fazendo
em menos de um mês.
Mas a cada beijo, a cada vez que eu chegava de uma missão e ele vinha
se jogar nos meus braços, mais eu tinha certeza que ele estava se tornando o
dono do meu coração e por isso inúmeras vezes o ....eu te amo... esteve perto
de sair. Mas mesmo que eu ainda não conseguisse demonstrar com palavras,
meus gestos diziam por mim, pois quando estava com ele, eu só sabia sorrir e
morrer de prazer.
Amava fazer carinho naqueles cabelos lindos, sentir aquele cheiro de
morango, pôr ele no colo e mimá-lo, como ele merecia. Quando ele
adormecia nos meus braços, eu me sentia o homem mais poderoso do mundo.
As investigações em busca de Otávio estavam intensificadas, mas o
infeliz parecia um fantasma. Estava louco para pôr minhas mãos nele e fazê-
lo pagar por tudo que fez o Rafa sofrer.
Queria tirar, Rafa, de dentro deste apartamento. Ele já se mostrava triste
e sufocado por estar aqui dentro, trancado. Sua alegria era estar em meus
braços e quando Lucas estava aqui. Eles se tornaram tão amigos que eu nem
tinha mais ciúmes, era algo fraternal. Lucas dizia que Rafa era o irmão que
ele nunca teve e que o defenderia com a própria vida se fosse preciso, o que
ele não sabe é que eu faria o mesmo, pelo meu amor, eu faria tudo.
Miguel seguia internado, se recuperava um pouco mais a cada dia, mas
sua recuperação era lenta e precisava de muitos cuidados. Das pessoas que
salvamos naquele dia, que foram em torno de 20, perdemos duas, algumas
ainda continuavam internadas, mas sem risco de vida e outras já havia até
retornado para suas famílias.
Eu organizei uma pequena equipe para investigar a vida de Miguel e
descobri que ele é filho único de pais separados. Sua mãe já é falecida e seu
pai, um bêbado arrogante, que vive jogado pelas ruas, segundo meus agentes.
Ele morava com uma tia, única irmã de seu pai e ela nos contou que o pai
nunca aceitou o filho gay e por isso o maltratava. Miguel queria conseguir
mais dinheiro para seguir sua vida longe dele, pois não aguentava mais ser
surrado.
Ele trabalhava em um escritório e fazia, por fora, fotos como modelo e
foi por causa dessa profissão que ele foi atraído por um falso agente. Ele
prometeu um ensaio fotográfico e emprego numa agência de modelos e ao ir
ao encontro do mesmo, Miguel, foi pego pela quadrilha e pelo que descobri,
ele já estava há 1 ano preso, não foi vendido. O chefe da quadrilha, que
descobri mais tarde ser o cara que Lucas matou com um tiro na cabeça para
me salvar naquele dia, era apaixonado por ele, pela beleza que Miguel Tinha,
abusava dele de todas as formas possíveis e o mantinha ali para seu próprio
prazer.
Lucas ficou arrasado quando lhe contei tudo e disse que ajudaria Miguel
a refazer sua vida depois de tudo isso, que daria assistência a ele. A tia já
dava ele como morto e ficou muito feliz e chorou bastante ao saber que ele
estava vivo, mas quando contamos em que condições, ela ficou em choque, o
pai nem ligou para nada.
Estou agora sentado observando Rafa dormir tranquilo ao meu lado e
penso em tudo que ele também vinha passando há 3 anos naquele casamento,
as surras, as humilhações. Fico perplexo com a maldade do ser humano.
Rafael e Miguel nunca se viram, mas compartilhavam de histórias tristes,
cada uma com seu peso, mas que foram salvos e poderiam novamente sonhar
com a felicidade.
Passo a mão pelos cabelos do meu amor, tão lindo dormindo, em uma
paz que ele tanto buscava. Meu peito se enche de carinho por ele e farei de
tudo, o possível e o impossível para que ele seja feliz, pois minha felicidade
está se tornando a felicidade dele.
Ainda é muito cedo, mas perdi o sono. Hoje não estou me sentindo
muito bem, ainda não sei o que é, me levanto com cuidado para não acordá-lo
e visto minha farda.
Na cozinha faço café e tomo um gole, não consigo comer tão cedo,
resolvo andar e ver como estão as coisas. Pelo caminho ligo para delegacia,
fico a par das coisas e combino que a tarde vou até lá. tenho me desdobrado,
mas quero estar à frente de tudo.
Quando desligo o telefone e estou passando perto de um dos
apartamentos vazios do primeiro andar e ouço 5 policiais conversando.
— Ele pediu para ser hoje, já tenho tudo esquematizado, vamos atrair
tanto, Maurício quanto Lucas, num falso chamado para chegarmos até o
alvo.
— E você já sabe como fará isso?
— Sim, um contato meu, de fora, vai armar uma situação e isso
chamará atenção. Será a hora que teremos para agir. Vou sair com Rafael
daqui. vocês me darão cobertura, ficarei o tempo todo em contato com vocês.
— Tomara que tudo dê certo, quero logo a outra metade do dinheiro
que Otávio me deve, nunca pensei que um viado valia tanto, mas ele quer
esse tal, Rafael a todo custo...
— E ele vai ter e nós vamos receber nossa parte. Otávio sempre pagou
direitinho por tudo que fizemos, as informações e ações em outros
esquemas....

Estava chocado, mas me mantive calado e quieto, não era só, Matias o
corrupto, era uma verdadeira gangue e pela conversa, esses infelizes já
trabalhavam há um bom tempo para Otávio e seus comparsas.
Eu não podia simplesmente entrar e dizer que descobri tudo, eles
estavam em cinco, me matariam na certa.
Mas uma coisa tinha certeza, precisava tirar Rafael daqui o mais rápido
possível, agora eu não confiava em mais ninguém, apenas em Lucas.
Me afastei o mais rápido que pude e encontrei, Lucas, no nosso
escritório, entrei rápido, fechei a porta e Lucas me olhou assustado.
— Está passando mal, Maurício? Você está branco!
— Lucas, precisamos tirar o Rafael o mais rápido possível daqui.
— Como assim? Por quê?
Contei tudo que havia descoberto para Lucas e tive que fazer uma força
danada para segurá-lo, pois ele queria ir pegar todo mundo.
— Esfria a cabeça, Lucas, me ajuda a tirar Rafael daqui primeiro e
depois te dou carta branca para pegar todo mundo. Entro até com tanque de
guerra aqui, mas com Rafa aqui não, por favor. Ele está correndo risco, ouvi
cinco deles e se tiver mais? Assim que eu colocar meus pés para fora com
Rafa, denuncio todo mundo.
— Tudo bem, o que vamos fazer?
Nos próximos minutos conversei com Lucas e combinamos tudo, eu iria
convocar agora cedo uma reunião de emergência e enquanto todos estivessem
comigo, ele sairia com Rafa pela passagem abandonada que o prédio tinha e
que só eu e ele sabíamos.
Voltei o mais rápido que pude para o apartamento de Rafa, estava
literalmente correndo contra o tempo, sentia isso.
Entrei e ele ainda dormia, peguei uma roupa para ele vestir e fui acordá-
lo.
— Amor, acorda, ei dorminhoco, por favor, acorda — Falei distribuindo
beijos no seu rosto e ele sorriu.
— Me chamou de quê? — Ele perguntou sonolento e de olhos fechados.
Foi aí que me toquei em como o chamei, foi tão espontâneo que mesmo
tenso, consegui sorrir com a forma que falei que ele era meu amor.
— Eu te chamei de amor, agora, por favor, levanta preciso falar com
você.
Rafa se espreguiçou e sentou na cama coçando os olhos, babei na
imagem dele naquele momento, carinha inchada de sono e cabelos
bagunçados. Eram cachos para todos os lados, mas ele estava maravilhoso e
ali eu segurei em seu rosto e ele me olhou com aqueles olhinhos curiosos, um
pouco assustados e que me fascinavam.
— Eu te amo, Rafael — Falei sentindo meu peito pular tamanha força
que meu coração batia.
Vi os olhos de Rafael encherem de lágrimas e quando elas escorreram
ele me respondeu..
— Eu também te amo tanto...
O beijei como se minha vida dependesse disso, mas de certa forma
dependia, eu precisava de Rafael para viver, ele se tornou tudo em tão pouco
tempo e eu não sabia mais viver sem ele.
Depois do nosso beijo, esperei ele levantar, escovar os dentes e se vestir.
Aí contei tudo a ele, que ficou apavorado e chorou bastante.
— Preciso que você mantenha a calma, por favor, tudo vai dar certo.
— E minhas coisas?
— Hoje você só sai com o que está vestido, depois cuido do resto.
— Para onde eu vou, amor? — Ele perguntou perdido e assustado.
Aquilo apertou meu coração, mas não deixei de reparar em como ele me
chamou e isso me fez ter ainda mais vontade de salvá-lo de tudo.
— Lucas vai te levar para minha casa e lá você estará protegido, ele não
sairá de perto de você até eu chegar.
Rafael me abraçou e disse que confiava em mim, nos beijamos e segui
para meu plano, deixei ele avisado que logo Lucas bateria na porta, para ele
ficar atento...

Não muito longe dali...


No telefone...

— Tudo certo?
— Tudo senhor.
— Então, Maurício, acha que você irá sair com ele?
— Sim, assim que percebi que ele nos vigiava eu entrei com esse
assunto para despistar.
— E essa tal reunião?
— Como te falei, ele vai fazer, para Lucas sair com o Rafael daqui. O
Armando que estava perto do escritório ouviu tudo e logo veio bater para
mim, então pude mudar todo nosso esquema. Vamos para reunião e assim
que eu estiver indo para lá, o senhor já entra pela passagem e chegará
rapidinho onde Rafael está. Quando, Lucas, for buscá-lo, já não o encontrará
mais, pois ele só vai quando ver todos nós reunidos.
— Ok.
Matias ter sido preso foi uma merda, mas não era só eu e ele, somos ao
todo, dez parceiros. Nove estão na polícia e sempre agimos tudo para o
Gasparzinho.
Agora eu iria tomar a frente e buscar o que é meu, o esquema já estava
tudo certo, mas, Armando, viu que, Maurício, havia descoberto e tinha
armado um plano para salvar Rafael. Então mudamos tudo na última hora.
Iríamos nos aproveitar do próprio plano de Maurício.
Enquanto ele estava achando que estava com todos os suspeitos presos
na tal reunião e que Lucas poderia sair tranquilo com Rafael, eu já terei
entrado e pegado o que me pertence. Ele nunca imaginaria que eu mesmo
fosse estar lá, só preciso de Rafael para sumir no mundo.
Não vejo a hora de pôr as mãos nele novamente, apago meu cigarro e
saio do carro, já me posicionando para entrar...
Depois que Maurício saiu, fiquei uma pilha. Na frente dele
tentei parecer que estava me acalmando, depois do choque inicial, mas na
verdade estava aflito.
Depois que, Matias, foi preso eu me senti mais aliviado, mas agora
sabendo que existem outros como ele, estou desesperado.
Minhas mãos estão suando e tremendo muito. Levanto e vou na cozinha
beber uma água, mas nada me acalma, só ficarei calmo quando entrar na casa
de Maurício.
Estou com o celular na mão, pois ele falou que me mandaria uma
mensagem assim que fosse para reunião, pois assim eu saberia que em
instantes, Lucas iria chegar aqui.
Não consigo nem sentar, começo a sentir calor com a calça jeans que
estou vestindo, sorte que a blusinha é uma camiseta, até meu cabelo está me
incomodando.
Depois de um tempo que nem sei quanto foi, estou sentado no sofá
inerte em meus pensamentos quando me assusto com o barulho do celular
tocando, o deixo até cair no chão, é a mensagem de Maurício ...
Começando a reunião...
Foi acabar de ler e ouvi a porta ser destrancada, estranhei, pois,
Maurício disse que Lucas ia bater, mas lembro que como ele tem a chave
pode ter dado ao nosso amigo e logo vou para a porta receber o Lucas que me
levará em segurança.
Só que quando estou chegando de frente a mesma, quem entra é o pior
dos meus pesadelos e o susto que levo me faz ir para trás, consequentemente
caindo de bunda no chão.
— Oi meu amor, estava com saudades de você! — Diz Otávio com um
sorriso sarcástico no rosto.
Minhas reação é ir me arrastando para trás chorando, mas ele logo me
pega pelos cabelos me levantando e aproximando seu rosto do meu. Ele beija
minha boca e eu começo a me debater tentando me soltar, meu coração
parece que vai explodir de tanto que bate forte, tamanho meu medo.
Quanto mais tento me soltar, mais com raiva ele fica.
— Fica quieto seu filho da puta, nós vamos dar uma voltinha.
— Me solta seu covarde, me deixa em paz — Falo chorando e tentando
me soltar dele.
Recebo um soco que faz meu corpo ficar mole e quase perco a
consciência, daí fica fácil Otávio me pegar no colo e me levar.
Não consigo ver direito que caminho estamos fazendo, pois estou muito
tonto, mas ainda estamos dentro do prédio. Ele desce algumas escadas e
quando estamos no meio delas, consigo ouvir a voz de Lucas gritando pelo
meu nome...
— RAFAEL! CADÊ VOCÊ? RAFA!!!!!!
Otávio tenta acelerar o passo mas ainda estamos na escada, o desespero
está tão grande, o choro preso na minha garganta, me queima por dentro, mas
o medo deste homem, de tudo que ele pode fazer comigo, me dá coragem e
simplesmente grito com toda força que me resta.
— LUCAS! SOCORRO!!!!! NAS ESCADAS!!!!!!
Depois disso não vejo mais nada, pois Otávio acerta algo duro na minha
cabeça e perco a consciência....

O desespero me corrói por dentro quando não acho Rafael


dentro do apartamento. Procuro em tudo e não o acho. Saio igual um louco
para o corredor e chamo pelo nome dele, depois da segunda vez, ouço sua
voz longe pedindo socorro. Corro para as escadas da passagem desativada,
penso logo que os infelizes sabiam todo o tempo dela, desço de cinco em
cinco degraus, estamos no terceiro andar.
Eu mal respiro, coloco todas as minhas forças nas pernas. Quando chego
do lado de fora, vejo, Otávio, correndo com Rafa jogado nas costas dele,
desmaiado e essa visão me deixa com sangue nos olhos.
Corro como nunca corri na minha vida, já apontando a arma para ele,
tem um carro parado e é para ele que Otávio corre...

Falo na reunião sobre uma missão que haverá de suma


importância. Claro que tudo é um blefe e logo noto as caras sarcásticas dos
cinco policiais que vi e sinto que algo está acontecendo.
Quando estou começando um novo tópico da reunião, meu alarme do
telefone toca fazendo um barulho ensurdecedor e esse toque é do Lucas
quando um algo muito grave está acontecendo com ele.
Todos os policiais me olham e meu coração vai na boca. Contando com
a sorte e rezando para que nele, eu realmente possa confiar, chamo, Antunes,
que para na minha frente.
— Preciso de sua ajuda.
E meu olhar para ele deve ter entregado meu desespero, pois ele me olha
com atenção e responde.
— No que o senhor precisar.
— Por favor, não deixe nenhum soldado deixar este local e ligue para o
coronel e peça reforços imediatamente.
Antunes me olha assustado e logo percebe que algo muito grave está
acontecendo.
— Sim senhor.
Imediatamente saio correndo para a frente do prédio, entro no carro e
sigo para onde o rastreador do Lucas mostra onde ele está. Dirijo com o
coração martelando e as lágrimas descendo, o medo de perder Rafael está me
deixando desesperado.
Vejo que o localizador mostra atrás do prédio, no caso, a saída por
onde Lucas deveria sair com Rafa... piso fundo e dou a volta pela única rua
que qualquer carro poderia passar.
Quando vou me aproximando vejo a pior cena que eu poderia ver na
minha vida. Rafael está preso nos braços de Otávio que tem uma arma em sua
cabeça e Lucas aponta a sua para ele.
Paro o carro dando uma freada brusca, saio já apontando a arma para ele
também. Nesse meio tempo, ouço sirenes de carro de polícia e sei que acertei
em confiar em Antunes, como a delegacia é aqui perto, eles vieram bem
rápido.
Estou a alguns metros de Otávio, ocupando sua lateral e Lucas sua
frente.
—Acabou para você, Otávio, solta ele e a arma. Se entrega seu filho da
puta, não dá mais para você.
— Qual dos dois está comendo ele, hein? Anda quero saber, meus
informantes não souberam me dizer com precisão, pois os dois vivem
grudados com ele ou são os dois, amor? Responde — Fala Otávio beijando o
rosto de Rafael que está machucado e me olha com súplica.
— Tira as mãos dele, seu filho da puta — Falo com ódio evidente na
voz.
— Ahhh então é você!!! Está poderoso, hein? Meu amor, pegando o
comandante.
— Ele só se esqueceu de dizer que ele tem dono, sabe? Sou dono e
marido dele. Ele não vai ficar com ninguém, comandante. — Diz Otávio
cuspindo seu ódio.
Ele aponta ainda mais a arma para cabeça de Rafael e é inevitável não
lembrar do meu sonho. O medo me atinge em cheio nessa hora. Olho rápido
para Lucas que entende meu pensamento, pelo meu olhar desesperado, onde
as lágrimas descem. Sempre fomos assim, sempre nos falamos no olhar em
nossas missões.
Lucas sai da posição de ataque e só aponta calmamente a arma para
Otávio, como se fosse disparar naquele momento. Isso faz Otávio ficar
alarmado.
— Se disparar em mim, acerto os miolos dele antes — Falou Otávio
encostando o cano ainda mais na lateral da cabeça de Rafael e por milésimos
de segundos ele me esqueceu.
Olhei de relance para Lucas, que sem me olhar, confirmou com a cabeça
levemente, onde só eu percebi e sem pensar muito atirei na lateral da cabeça
de Otávio num movimento muito rápido. Eu nem respirava.
A cena se passou em câmera lenta na minha frente. A bala acertando sua
cabeça, ele indo ao chão levando Rafael junto e sangue para todo lado.
Corri em direção a Rafael que chorava demais em meio a poça de
sangue que se formou.
Cheguei o pegando em meus braços e o tirando de perto do corpo de
Otávio. Eu o examinava inteiro, para ter certeza de que ali não tinha sangue
dele e chorava ao mesmo tempo.
Lucas que já estava em cima de nós, gritou para me acalmar.
— MAURÍCIO, PARA!!!!
Olhei assustado para ele.
— Para, por favor, assim você não vai acalmar o Rafael, por favor,
calma, esse sangue é todo de Otávio.
Olhei para Rafa em meus braços que chorava encolhido em meu peito,
em completo estado de choque.
— Fica calmo, meu amigo, você conseguiu, você o salvou, acabou, esse
verme está morto, Rafa está livre. — Disse Lucas com uma mão em meu
ombro e outra nos cabelos de Rafa.
Chorei ainda mais, agora abraçando Rafael e trazendo ele para junto do
meu corpo.
Lucas se afastou, ligou para uma ambulância e para o coronel que se
encontrava no prédio, explicando brevemente tudo que aconteceu. Logo duas
viaturas chegaram e Lucas começava a resolver os trâmites.
Estava sentado no chão, Rafa em meus braços. Tinha meu rosto
enterrado em seus cabelos, quando sinto uma mão em meu ombro e
imediatamente aponto minha arma tentando defender, Rafael...
— Ei calma, calma, Maurício, sou eu !!
Era o coronel que me olhava atento e com comoção.
— Está tudo bem, meu rapaz, você salvou a vida desse jovem, não há
mais perigo aqui e quanto aos homens lá dentro, prendemos 9 traidores. Um
foi entregando o outro, se desesperaram com a minha presença, o décimo da
quadrilha que operava fora do morro, está ali com um tiro na cabeça.
Não falei nada, não conseguia falar, o barulho da ambulância me
assustou e Rafael me agarrou ainda mais, balançando a cabeça em negativa,
claramente não querendo se separar de mim.
Levantei e o levei nos meus braços. Os médicos tiveram que sedá-lo,
pois ele não queria o atendimento, estava agitado demais e chorando muito.
Logo ele apagou e o levaram para o hospital, Lucas foi junto, eu
precisava arrumar a bagunça do local...
Quando cheguei perto do corpo de Otávio, minha vontade era
descarregar minha arma nele, tamanho ódio que ainda sentia, mas havia
acabado, era o fim da linha para ele e suas maldades.
Eu só queria resolver tudo rápido para buscar meu amor e trazê-lo para
meus braços, de onde ele nunca mais sairia.
Tento abrir meus olhos, mas tenho muita dificuldade. Me sinto
muito sonolento, sinto uma mão segurando a minha, quero falar, mas minha
boca está extremamente seca .
— Estou aqui meu bebê, fica tranquilo, você foi sedado. Estava muito
nervoso com tudo que aconteceu.
É a voz de Lucas, aperto sua mão, mas onde está, Maurício? Uma
angústia me consome e de repente toda a cena vem na minha mente. O
barulho ensurdecedor do tiro, o tranco que o corpo de Otávio deu, me
levando ao chão junto com ele e o desespero de Maurício me tirando de perto
dele.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e começo a tremer, um barulho
começa a ser disparado do meu lado...
— Meu bebê, se acalma, está tudo bem, por favor, fica calmo, estou
aqui. Logo, Maurício, chegará também, ele tinha muita coisa para resolver,
por favor, fica tranquilo.
A voz embargada de Lucas me pedindo calma e dizendo que logo
Maurício chegará, vai me tranquilizando aos poucos, mas ouço outras vozes
no quarto e logo o sono me domina de novo....

Acordo novamente, mas desta vez consigo aos pouquinhos abrir meus
olhos. A visão está um pouco turva, mas aos poucos, depois de piscar
bastante, vou voltando ao normal e me acostumando com a claridade do
quarto.
Estou no hospital, olho para o lado e vejo, Lucas, com a cabeça
encostada na poltrona que está sentado, está num soninho profundo.
Sorrio olhando meu amigo, tão cuidadoso comigo, seu jeito tão protetor
desde o início. Seu carinho por mim é um presente e tanto que a vida me deu.
Suspiro, estou cansado, observo meus braços, tem fios ligados mim em
um braço e no outro um remédio em minha veia.
Fecho meus olhos e respiro fundo, estou livre, é tudo que penso. Nunca
pensei que ficaria feliz com a morte de uma pessoa, mas Otávio não me
deixaria em paz nunca, mas agora posso respirar aliviado, ele não voltará, ele
não me pegará novamente, ele...
Saio dos meus pensamentos com o barulho da porta abrindo devagar e
por ela passa, a razão da minha vida, o dono dos meus sorrisos, o homem que
me devolveu a chance de ser feliz.
Ele me olha tão lindo se aproximando de mim, estou preso em seu olhar
e sinto lágrimas escorrerem por meu rosto. Estendo minha mão para ele que
entrelaça seus dedos com os meus e beija nossas mãos unidas.
— Desculpa não ter vindo antes, eu que deveria estar ali sentado onde
nosso grandão está, mas eram tantas coisas para resolver, a bagunça foi muito
grande e como ele estava com você , estava tranquilo.
Eu não conseguia falar. Vê-lo ali na minha frente, era tudo que meu
coração queria. Me levantei um pouco e fui amparado pelos braços dele que
me abraçaram com tanto amor, eu só soube chorar...
— Não chora meu amor, acabou, estou aqui com você. — Maurício
falou abraçado comigo.
Eu estava com o rosto em seu pescoço e seu cheiro me transmitia uma
paz impressionante, os soluços do choro ainda saíam, mas seu carinho em
meu cabelo e nas minhas costas me davam tanto amor que eu nem sabia
explicar.
— Fiquei desesperado quando te vi em poder daquele homem, eu... não
saberia viver se eu perdesse você...
Chorei mais ainda com as palavras de Maurício, mas agora minhas
lágrimas eram de felicidade por ter todo seu amor.
Me afastei dele, ficamos, frente a frente e ele enxugava minhas
lágrimas... ele também chorava, fiz um carinho em seu rosto...
— Eu te amo demais, Maurício...
Nisso, Maurício, encosta sua cabeça na minha e segurando meu rosto,
ele me diz tudo que eu queria ouvir.
— Eu amo você demais, Rafa. Preciso de você para sorrir, preciso dos
seus beijos quando eu voltar para casa, preciso de você , simplesmente
preciso. Você mudou meu jeito de pensar, me devolveu a felicidade, você se
tornou tudo pra mim...
Beijo, Maurício, com todo meu amor, não há lugar no mundo que eu
queira mais estar do que nos braços dele, aqui me sinto amado como nunca
fui, me sinto protegido e acolhido.
Tudo nesse homem me faz bem, ele me completa , me faz sorrir, sonhar,
suspirar e principalmente ser feliz.
Até nos esquecemos que Lucas estava no quarto, quando terminamos
nosso beijo, saímos do nosso transe com a voz do nosso amigo tão querido...
— Um dia, sinceramente, espero ter um amor assim na minha vida,
nunca procurei, mas no fundo eu sempre quis sentir e vendo vocês dois, tão
lindos juntos, tocou aqui, viu? — Disse Lucas com um sorriso lindo no rosto,
os olhos visivelmente emocionados e apontando para o coração.
Estendi minha mão para ele que veio e sentou na minha cama, me
abraçando de lado e beijando meu rosto com tanto carinho.
— Eu amo demais vocês dois, sem vocês eu não estaria livre de todo o
inferno que era minha vida — Falei olhando para os dois.
Sou surpreendido com um beijo duplo, um em cada lado na minha
bochecha e então eu sorri, o sorriso mais gostoso que já dei em minha vida.
Meus heróis ali comigo, um se tornou o grande amor da minha vida e o outro
meu melhor amigo. Estava totalmente feliz como nunca imaginei ser.
— Preciso deixar você agora, meu bebê, vou saber notícias de Miguel
— Disse Lucas com os olhos brilhando.
— Estou no mesmo hospital que ele?
— Sim, só que você em um quarto comum e ele no CTI. — Responde
Lucas.
— Ele vai sair logo de lá e você poderá enfim, visitá-lo. — Falo
segurando nas mãos de Lucas.
— Hoje poderei vê-lo pelo vidro, na UTI eu o não via de forma alguma,
já é um começo.
— Então vai, meu amigo.
Lucas me beijou novamente , se levantou contornou a cama e trouxe
Maurício para um abraço tão gostoso. A amizade deles era linda demais, sorri
com a cena.
Então Lucas foi embora para ver Miguel....
— Está com fome meu amor?
— Um pouquinho.
Maurício apertou um botão e logo depois uma enfermeira veio , fez toda
uma checagem em mim e disse que retornava com minha refeição.
— E Elaine, amor? Ela já soube de tudo?
— Sim, pedi que a avisassem, mas não detalhei todo ocorrido com você,
só disse que você estava no hospital e bem. Que Otávio estava morto. Preferi
que você contasse os detalhes, pois se ela soubesse de tudo, sem lhe ver,
poderia passar mal, já não reagiu muito bem ao saber da parte do hospital.
— Obrigado e ela continua no outro prédio?
— Já pedi também que cuidassem da liberação dela, ela já deve estar
sendo levada para casa com sua família e ainda hoje deve vir te ver. Você
ficará só até amanhã aqui e receberá alta, eles querem te monitorar, pois sua
pressão subiu muito quando você ficou nervoso.
— Puxei a pressão alta do meu pai e aquilo tudo foi demais para mim.
— Mas acabou, pense apenas nisso. Já pedi que todas as suas coisas
sejam levadas para minha casa, Antunes está cuidando disso pessoalmente
para mim, enquanto eu resolvia tudo e vinha te ver.
Olho para, Maurício, absorvendo suas palavras e uma dúvida se faz
presente em minha cabeça.
— Eu vou para sua casa?
— Sim, por quê? Você não quer ir?
— Eu indo para lá, você estará assumindo um relacionamento comigo,
Maurício e seus pais? Toda sua família? Não era melhor conversar primeiro
com eles?
— A primeira coisa e mais importante de todas, é que sim, eu quero
assumir um relacionamento com você. Você é meu namorado, quero cuidar
de você, ter você perto de mim. Bom, você... quer ser meu namorado não
quer? — Perguntou, Maurício, fazendo uma cara de cachorro abandonado
que me fez sorrir e lhe dar um selinho.
— É lógico que eu quero, meu amor, eu só fico pensando em.... —
Maurício coloca o dedo em meus lábios.
— A segunda coisa é que não adianta nada falar com ninguém da minha
família, são conservadores demais, todos preconceituosos, uns mais do que os
outros, mas não estou nem aí para ninguém. Nada vai me separar de você, da
minha felicidade eu não abro mão, se vão aceitar ou não, estou pouco me
lixando, eu quero você e ponto final.
Abraço Maurício e digo olhando em seus olhos...
— Então eu vou com você.
— Desculpe se eu não soube pedir do jeito certo, eu sempre fui muito
certinho com as coisas, mas se tratando de você, eu só penso com meu
coração e tudo que ele vem me pedindo é para que traga você para junto de
mim.
— Foi o jeito mais lindo, eu quero ficar com você e vou para onde você
quiser me levar, te amo muito — Falei me aninhando em seus braços.
Pela primeira vez estava conhecendo a verdadeira felicidade. Quando
conheci, Otávio, pensei estar vivendo isso, mas era tudo uma ilusão e logo
tudo foi mostrado para mim. Mas aqui com, Maurício, sinto dentro de mim e
por suas ações, o quanto tudo isso é verdadeiro e eu só quero viver essa
felicidade...
Depois de sair do quarto de Rafael ando pelo corredor e
chego à recepção.
— Oi, Boa tarde! Gostaria de ver o paciente, Miguel Souza de Medeiros.
— O senhor é da família dele?
— Sou o policial que o salvou e responsável por ele.
— Senhor só posso permitir...
— Alessandra, tudo bem, eu conheço o rapaz.
Olho para o lado e vejo o Doutor, Fernando, o mesmo que me atendeu
todas as vezes que vim aqui saber notícias de Miguel e ele pacientemente me
deu todas as informações.
Desde que salvei, Miguel, não deixei um dia sequer de vir aqui, ele não
saía da minha cabeça nem por um minuto.
— Esse é, Lucas Barreto Andrade e o nome dele está na ficha de Miguel
como responsável provisório, eu mesmo anexei. — Fala calmamente Doutor
Fernando para a recepcionista.
— Desculpe, senhor Lucas, mas sou nova neste setor, então não sabia.
— Tudo bem, Alessandra, obrigado.
O doutor anda ao meu lado e me leva até o andar do CTI.
— Lucas, hoje você poderá vê-lo pelo vidro, ainda não pode chegar
perto, mas saiba que ele está melhorando e logo irá para o quarto.
— Fico muito feliz de saber disso, doutor, mas só em vê-lo pelo vidro,
hoje, já me faz bastante feliz.
— Esse rapaz teve muita sorte, tanto por ser salvo, quanto por ter você
se preocupando com ele.
— Eu fiz meu trabalho, Doutor, minha missão é salvar as pessoas,
ajudá-los e farei tudo que eu puder para ajudar, Miguel.
— Vocês já conseguiram contactar a família dele? Desculpe se eu
estiver sendo invasivo, sei que é assunto da Polícia isso.
— Ele é praticamente sozinho no mundo, tem apenas uma tia que já o
dava como morto e um pai que o detesta, que nem se preocupou com o filho.
— Meu Deus!
— Pois é, por isso pedi que meu comandante colocasse meu nome como
responsável dele.
— Sim, Comandante, Maurício, conversou comigo. Bom da minha
parte, estou fazendo tudo de melhor para este rapaz, ele é forte, por isso sua
recuperação está sendo excelente.
Me despeço do doutor e vou caminhando para o CTI. À medida que
caminho meu coração vai sentindo uma paz tão grande como se ele sentisse
que finalmente estava indo para onde deveria.
Me peguei até assustado com isso, nunca senti nada parecido, mas
continuei andando. Pedi informação para um rapaz que empurrava uma maca
e ele me mostrou o corredor que eu deveria entrar.
Assim que entrei, avistei uma porta e nela estava escrito CTI, entrei e
mais um corredor surgiu na minha frente, mas ao fundo dele havia um vidro
do lado esquerdo e outra porta ao fundo. Quando me aproximei do vidro e
olhei através dele a primeira pessoa que vi foi um senhor.
Era um vidro enorme, dividido em três janelas. Cada uma dava para um
paciente e na segunda tinha uma menininha que aparentava uns 4 anos, fiquei
com pena dela estar ali, ela dormia tranquilamente.
Na terceira janela estava, Miguel... quando meus olhos bateram nele, a
sensação que tive desta vez, foi que o conhecia, que o conhecia há muito
tempo. Só percebi que chorava, pois minhas lágrimas pingaram no meu braço
que estava esticado porque minhas mãos estavam no vidro.
Olhei cada detalhe do rosto dele, ele respirava tranquilo e a mesma
sensação de paz voltou a dominar meu coração, como se finalmente eu
estivesse no lugar certo.
Eu não parava de chorar, chegava a ser embaraçoso para um homem do
meu tamanho, mas eu não conseguia controlar, era uma sensação
emocionante olhar para ele.
Quando o encontrei naquele lugar horrível, a primeira coisa que senti foi
um choque por vê-lo daquela forma. Quando o peguei em meus braços para
soltá-lo daquelas correntes, senti que ele me pertencia de alguma forma, mas
estava agitado demais para parar e prestar atenção naquilo.
E quando ele abriu os olhos e me olhou pela primeira vez, o sentimento
que senti, foi igual quando nós perdemos algo e quando encontramos temos
aquela sensação de felicidade por achar.
Agora aqui, estou sentindo tudo isso junto, um misto de emoções, uma
mistura de sentimentos que não sei controlar.
Tudo que eu queria era entrar ali e tocá-lo novamente. Balanço minha
cabeça e seco meu rosto, tornando a olhar para ele, como se ele fosse um imã
que me atraísse...
E parecendo sentir a minha presença , ele abre os olhos e aqueles dois
diamantes me olham. Seu olhar se conecta com o meu e nessa hora meu
coração bate tão frenético, que tenho que acelerar minha respiração para
acompanhá-lo .
O aparelho que está acompanhando seus batimentos também acelera o
barulhinho, desvio de seu olhar, só por um segundo, olhando o aparelho e
volto minha atenção para ele. Falo a palavra tudo bem sem emitir som
algum, mas direcionado a ele, que parece entender e solta um longo suspiro e
seu aparelho vai normalizando .
Ficamos os dois ali nos olhando até que ele, que devia estar sonolento
pelos remédios, acaba adormecendo. Só que antes de fechar os olhos
totalmente, ele dá um pequeno sorriso para mim, muito pequeno, sem mostrar
os dentes, que eu só percebo, pois estou hipnotizado olhando para seu rosto.
Quando vejo que ele adormece, decido ir embora, mas até para sair dali
foi difícil, não queria deixá-lo...
Mas amanhã eu voltaria e depois também. E quantas vezes fosse
necessário até poder tirá-lo de vez daqui. Não sabia de nada que iria
acontecer quando ele saísse, mas de uma coisa eu tinha certeza, longe dele eu
não ficaria e algo lá no fundo me dizia que ele também não iria querer ficar
longe de mim.
Vou embora, mas estranhamente meu coração, desta vez, tinha uma
certeza de que eu não entendia muito bem...que a busca dele finalmente tinha
chegado ao fim... eu só não sabia o que ele tanto buscava...
A porta do apartamento de Maurício se abre e dou um passo
para dentro. Ele está logo atrás de mim e me abraça pela cintura, apoiando
seu rosto em meu ombro e diz próximo ao meu ouvido...
— Seja bem-vindo, meu amor.
A voz dele, misturada ao seu abraço e todo amor que eu sinto, fez esse
simples momento ser muito especial.
Ele estava me recebendo em sua vida e me dando um amor tão gostoso,
que estava me fazendo ser tão feliz como nunca fui.
Entramos e Maurício me mostrou todo seu apartamento. Era pequeno e
aconchegante, nada de muito luxo. Organizado, limpinho, as cores preto,
cinza e branco predominava, o que dava um ar sofisticado a tudo.
Ele me levou ao seu quarto e uma cama enorme e aconchegante
chamava atenção, acho que seu quarto era o maior cômodo da casa.
— Amor, hoje de manhã quando vim aqui rapidinho, antes da sua alta,
abri todo um espaço para você no guarda-roupa. — Disse ele tão feliz com os
olhinhos brilhando.
— Não quero incomodar você. — Falei tímido.
— Ei, você não me incomoda em nada, a felicidade que estou sentindo
por você estar aqui, nem sei expressar em palavras.
Nisso, Maurício, me beijou, um beijo apaixonado, onde línguas se
abraçaram e nossas mãos tinham um pedido silencioso por muito mais.
Eu estava sem fôlego quando ele separou nossos lábios sem me soltar.
— Eu amo você.
Me derreti em seus braços e o beijei com mais vontade. Estava tão
gostoso que Maurício gemeu em minha boca e aquilo me deu um tesão louco,
eu já estava em ponto de bala.
As mãos dele saíram da minha bunda e uma delas apertou meu pau.
Nesse momento foi minha vez de gemer e Maurício perdeu o controle de vez.
Ele me jogou na cama e de joelhos, por cima de mim, tirou a camisa. Me
sentei, beijei sua barriga, abri sua calça e coloquei meu desejo para fora.
Chupei Maurício com gosto, ele segurava meus cabelos e gemia
entregue, fiz tudo olhando em seus olhos e a visão dele de cima, me olhando,
era sedutora, aquelas esferas verdes deliravam de prazer.
Depois ele se afastou de mim, enquanto eu lambia os lábios
sedutoramente olhando para ele enquanto meu amor se livrava das roupas.
Completamente nu, ele veio para cima de mim como um felino prestes a
atacar sua presa e foi isso que ele fez.
Como eu estava de vestido, ele se enfiou embaixo da saia e me chupou
gostoso. Ele estava com tanta vontade que escutei minha calcinha sendo
rasgada e aquilo foi sexy demais. Meu pau sumia na boca dele, a forma como
ele passava a língua, me fazia sentir vontade de gozar...
— Amor vou gozar desse jeito, sua boca é....
Ele enfiou de novo, meu pau todo na boca e eu não consegui mais falar,
quando o soltou, foi mais para baixo e lambeu tudo pelo caminho, mas na
minha entrada é que foi o ápice. Sua língua me rodeava e forçava pedindo
passagem. Eu só sabia gemer e cada vez mais alto.
Puxei meu vestido pela cabeça e fiquei completamente nu, puxei
Maurício pelos cabelos e ataquei sua boca que tinha meu gosto, gememos um
na boca do outro, com nossos membros roçando um no outro. Era surreal de
tão gostoso, a forma como ele adorava se esfregar em mim era deliciosa,
nossas preliminares eram tão gostosas quanto o ato em si, mas quando ele
fazia como fez exatamente agora, é que eu explodia de prazer.
Enquanto eu estava apenas sentindo ele se esfregar gostoso em mim, ele
me surpreendeu posicionando seu pau e entrando devagarzinho. Meu corpo
arrepiou todo de prazer, ele dava leves reboladas e seu pau ia mais fundo.
Arranhei suas costas e ele mordeu minha boca, era uma troca de prazer
delirante.
Quando estava todo dentro de mim, ele suspirou, então virei nossos
corpos e fiquei sentado em cima dele, começando a rebolar e rebolava
gostoso...
— Porra Rafa isso, faz de novo que está gostoso...
Rebolei ainda mais....
— Caralho, você ainda vai me matar de tanto prazer, quica vai, sobe e
desce nesse pau que é só seu — Disse ele gemendo gostoso.
E assim eu fiz, quicava gostoso, subia e descia, meu pau estava duro
feito pedra e pulava junto comigo...
— Nunca pensei que ia dizer isso na vida, mas essa visão do seu pau
pulando na minha frente, me dá um tesão da porra.
Dei uma risada gostosa e me sentei com mais vontade, mas segurei meu
pau e apontei pra ele, que me olhou safado e lambeu os lábios.
— Você quer? — Provoquei
— Quero tudo que venha de você — Ele respondeu segurando minha
cintura e se enterrando mais em mim.
Dei mais umas quicadas e saí de cima dele, levando meu pau até sua
boca, ele chupou deliciosamente, eu já estava quase gozando...
— Devagar se não vou gozar na sua boca...
— Goza vai.
— Você quer?
— Quero, quero teu gosto por completo.
Foi o suficiente para mim, gozei na boca de Maurício e gozei muito,
estava todo arrepiado. Ele segurava minha cintura e não largava meu pau por
nada, mamava gostoso, minha visão até embaçou tamanho prazer.
Quando ele terminou de me lamber inteiro, me deitou na cama com todo
carinho. Ele sabia que eu ficava todo molinho, segundo ele, essa era a parte
que ele mais gostava.
— Vou gozar, amor e a propósito, você tem um gosto delicioso.
Sorri para ele que colocou aquele pau gostoso na minha boca e gozou
gemendo meu nome e eu me senti o máximo por isso...

Maurício devolveu a minha vida uma paz que eu achei que estivesse
perdida. Meus dias com ele tem sido recheados de amor, amizade e carinho.
Só fico muito apreensivo quando ele sai em alguma missão, morro de medo,
não durmo e não como, enquanto ele não volta, tamanho meu nervoso, mas é
a profissão dele e tenho que entender.
Cada vez que ele entra pela porta me atiro em seus braços com tanto
amor e ele sempre diz que conta os minutos para voltar só para sentir isso,
pois sou tudo para ele.
A atenção que ele me dá, o jeito de me tratar, os carinhos fora de hora,
os beijos roubados em momentos simples, como quando estou cozinhando
pra gente. A preocupação evidente, se fico mais quieto ou se me sinto mal
por alguma coisa, a forma que ele para na porta do quarto, quando estou em
frente ao espelho me arrumando e diz simplesmente que me ama tanto e que
sou lindo. Tudo isso me mostra todos os dias que é possível ser feliz
novamente e eu estou sendo.
Nos momentos em que estava sofrendo nas mãos de Otávio, eu achava
que nunca mais seria feliz, aliás, achava que nem sobreviveria a tudo aquilo.
Que uma hora simplesmente ele me mataria, mas hoje estou aqui, sendo a
pessoa mais feliz do mundo e tenho um homem maravilhoso ao meu lado que
é o motivo de todos os sorrisos que dou.
Estamos morando juntos há 1 mês. Elaine já veio me visitar e ficou
radiante de me ver tão bem, ela adora, Maurício e ele a adora também, até
meu afilhado o conquistou. Quando Elaine vem aqui, Maurício baba em
Pedrinho, deixa ele fazer tudo, mas também depois boto ele para catar os
brinquedos espalhados.
Lucas está sempre aqui também, ele adora provocar, Maurício. Me pega
no colo, me enche de beijos e Maurício faz bico, caímos na risada. Meu
amigo é um presente enviado por Deus, quero muito que Miguel saia logo do
hospital para Lucas ficar bem. Ele o visita todos os dias e o momento que ele
me contou como foi visitá-lo e que pôde chegar perto pela primeira vez,
desde que o salvou, me levou as lágrimas. Ele só precisa perceber que está
apaixonado por esse rapaz, ele ainda não se deu conta, mas sei que ele está. A
forma como seus olhos brilham quando fala dele e o sorriso então, é incrível.
Torço muito por eles, mas Miguel precisa sair daquele hospital e refazer sua
vida. Sei que Lucas estará ao seu lado, assim como esteve sempre no meu.
Nesse tempo que moro com Maurício, ele ligou para seus pais e falou
com eles no escritório. A conversa foi bem tensa, eu sabia que eles não
aceitariam. Maurício não sabe que eu ouvi toda conversa, mas ouvi, e vê-lo
chorar acabou comigo, mas quando ele disse que nada me tiraria dele, que
mesmo que nós não tivéssemos a benção deles, ele seria feliz ao meu lado,
pois me amava muito, foi minha vez de chorar. Ele enfrentaria tudo por mim
e eu com certeza enfrentaria tudo por ele sempre...
Depois de mais um dia nas ruas, estou cansado. Essa
semana tem sido bem difícil para mim, a Páscoa se aproxima e no domingo
sempre estava reunido com meus pais e avós para um almoço em família, era
maravilhoso, os amo demais.
Mas agora tudo estava diferente. Minha mãe que sempre me ligava
nessa semana, que antecede a Páscoa, para me pedir isso e aquilo e mesmo
depois de anos, não me deixar esquecer o horário certinho de chegar, me
ligou apenas uma vez.
E nesta ligação ela foi fria e distante. Apenas me ligou para dizer que
não era para eu ir lá no domingo, pois eu levaria a aberração que morava
comigo e eles não aceitavam.
No dia desta ligação, que foi em uma quarta feira, chorei feito criança
dentro da viatura. Meus pais simplesmente me renegavam, pois eu amava
uma pessoa do mesmo sexo que eu. Eles nem quiseram conhecer Rafael e
descobrir o quão maravilhoso ele é, apenas me excluiu de suas vidas, aliás
nos excluiu.
Cheguei tão triste e acabado que não teve como Rafa não perceber. Ele
que sempre se joga em meus braços sorrindo, feliz por minha chegada, na
hora que entrei, ele sabia que algo havia acontecido. Primeiro ele achou que
era algo com Lucas, mas o tranquilizei e disse que era com meus pais.
Não tive como mentir, contei tudo que ouvi e Rafa chorou junto comigo.
Ele até que quis se culpar por tudo isso, mas afirmei que ele não tinha culpa
de nada, que ninguém tinha, pois meus pais são muito preconceituosos.
Eu fui durante muito tempo, mas, Rafael entrou em minha vida para me
mostrar que amor é simplesmente amor e foi dizendo a ele tudo isso que eu
sentia e pensava, que segurei seu rosto e lhe disse que apesar de estar doendo
muito a atitude deles, eu era a pessoa mais feliz desse mundo por ter o
encontrado. Que o amava demais. Nós teríamos nosso primeiro domingo de
Páscoa juntos e seria perfeito, entre lágrimas ele disse que seria sim.

— Mas você vai levar essa? — Perguntou Elaine.


— Lógico que vou, está perfeita, sexy demais. Vou ser a coelhinha mais
linda que Maurício já viu.
— E como ele está?
— Meu amor ficou bem caidinho, morri um pouquinho o vendo chorar
em meu colo por causa daqueles pais, mas prometi a ele que nosso dia seria
perfeito.
— Com essa produção toda será mesmo, né? — Riu Elaine de mim.
Eu queria que Maurício esquecesse toda aquela tristeza. Hoje, sexta
feira, já tinha tudo em mãos para colocar meus planos em ação. Fui para casa
preparei o jantar dele. Acabei passando o dia na rua com, Elaine, então
cheguei tomei um banho daqueles, coloquei um vestidinho e fui para cozinha,
tudo que comprei estava devidamente guardado para que ele não visse.
Fiz o jantar e quando ele chegou, a casa estava com um cheirinho
gostoso de comida fresquinha. Ele parou na porta da cozinha com uma
carinha linda estranhando que não fui recebê-lo na sala, mas estava fazendo
um charme, tudo era parte do plano. Tenho certeza de que hoje ele ia me
procurar para fazermos amor, pois quarta foi aquela tristeza toda e quinta ele
ainda estava se recuperando. Ele não passava muito tempo sem fazer sexo
comigo e cada vez era melhor, meu Deus!
— Nem foi me receber, poxa — Disse ele fazendo um bico dramático
que me acendeu inteiro, mas me segurei.
— Ah amor, estava desligando a comida aqui e estou com dor de cabeça
hoje. — Falei no mais puro fingimento.
Maurício veio para perto de mim e me deu um beijo gostoso todo
preocupado, até me senti culpado por estar mentindo, mas era por uma boa
causa.
Jantamos, conversamos, éramos carinhosos um com o outro sempre.
Quando ele me olhava com aqueles olhos verdes, me derretia. Como eu
amava esse homem. Ainda bem que estava sentado, assim ele não via minha
excitação, o feitiço estava virando contra o feiticeiro, estava transbordando
tesão e tinha que rejeitar meu gatinho.
Ele me contou que amanhã ia trabalhar o dia todo para domingo estar
comigo e assim ficou combinado.
Dormimos abraçadinhos. Como eu queria fazer sexo, mas me segurei.
De sábado para domingo que começaria nossa festa. A madrugada seria nossa
e no domingo ia preparar seu peixe preferido e sua sobremesa. Assim
teríamos nosso primeiro domingo de Páscoa felizes e juntos.
Sábado passou se arrastando, já estava impaciente, mas deixei já o peixe
temperado, tudo bem ajeitadinho para no domingo não ficar muito tempo na
cozinha.
A noite tomei um banho dos deuses logo após ele me ligar avisando que
estava vindo para casa. Me depilei inteiro do jeito que ele gostava, o
chocolate já estava derretido e numa linda vasilha que comprei em nosso
quarto. Olhava para o espelho e nunca tinha me visto tão sexy como agora.
Meus cachos estavam hidratados e bem volumosos, no meu corpo um body
de renda branca decotado no peito e cavado na virilha era um convite para o
sexo.
Coloquei as orelhinhas de coelhinho e às luvas. Por instantes eu mesmo
quis me comer. Um salto completava o visual e pela casa só se sentia cheiro
de chocolate.
Em cada cantinho tinha um ovinho de chocolate que eu mesmo fiz,
coloridos enfeitando nossa casa. Em nosso quarto por baixo do lençol, novo
que comprei, providenciei um forro para o colchão, uma vez que iria
chocolate para todos os lados, sorri travesso.
Bom, tudo pronto. Deixei nosso quarto a meia luz, olhei no relógio e
eram 23:55. Ele trabalhou até tarde hoje e me explicou que sempre era assim
para ficar livre no domingo.
Quando ele destrancou a porta, eu já estava em nossa cama numa pose
pra lá de sensual, com um dedo melado de chocolate, pois minha luva de
renda eram dessas que os dedinhos ficavam de fora. Minha bunda estava bem
a mostra com um fio dental sexy dos infernos.
Assim que ele chegou na porta do nosso quarto sua expressão foi da
surpresa a luxúria em segundos, nessa hora eu enfiava o dedo sujo de
chocolate na boca e tirava.
— Feliz Páscoa, amor — Falei sendo sexy.
— Caralho, Rafael, que tesão é isso tudo?
Ahhh eu amava Maurício versão desbocado…
— Sua Páscoa desse ano, amor. Eu falei que seria perfeita e já começa
agora.
Falei e me levantei descendo da cama devagar. Ele me comeu com os
olhos. Já estava muito excitado só de imaginar tudo que faríamos e como
meu body era cavado, meu pau duro, já quase escapava. Vi Maurício lamber
os lábios por causa disso.
Parei na frente dele e com o dedo sujo de chocolate, sujei por cima da
minha roupa a cabeça do meu pau.
— Vem pegar seu chocolate, vem, sua coelhinha trouxe para você. —
Falei com a voz que ele amava e enlouquecia.
Ele pareceu sair do transe em que estava e deixou no aparador sua arma
e chaves. Ainda fardado se ajoelhou na minha frente e lambeu onde sujei de
chocolate e porra que tesão.
Nessas lambidas meu pau saiu pra fora e ele me enfiou todo em sua
boca, tremi em cima do salto. Quando ele me soltou, esticou o braço enfiando
sua mão na vasilha de chocolate e agarrou meu pau com ela, dali ele começou
a me lambuzar inteiro.
Me jogou na cama e tirou toda farda, ficando completamente nu.
Lambuzei aquele pauzão e caí de boca. Minutos depois eu tinha chocolate até
nos cabelos. Maurício me lambia todo, ele colocou chocolate em meu peito e
mordia os biquinhos, eu só sabia gemer enlouquecido. Ele não me deixou
tirar a fantasia, me botou de quatro e me encheu de chocolate, até meu saco,
onde ele chupou e eu me derreti. Sua língua atrevida rodeou minha entrada,
também suja de chocolate e sem me avisar, meteu em mim, revirei meus
olhos nessa hora.
A cama era chocolate puro, a vasilha já estava vazia, todo chocolate
estava em nós. As estocadas de Maurício ecoavam pelo quarto, assim como
meus gemidos. Ele se curvou sobre mim e me beijou. Ele era puro gosto de
chocolate e estava delicioso.
Depois meu amor se deitou e eu fiquei por cima. Ele amava essa
posição, pois gostava de me ver rebolando em seu colo e de pau duro. Não
perdia minha ereção durante nossa transa e ele amava isso.
— Caralho! Rafa, vou morrer de prazer hoje! Isso sobe, vai, agora
desce. Puta que pariu! Gostoso demais! — Disse ele tão romântico e
revirando os olhinhos.
Fizemos amor a noite inteira, gozei horrores e Maurício não se cansava
de me comer. Disse várias vezes que me amava e que estava tudo gostoso
demais.
O banho teve que ser longo para tirar tanto chocolate e estávamos
gozados também, mas foi uma noite memorável. Ele me ajudou a tirar o
lençol sujo e arrumamos a cama para dormir, estávamos cansados, saciados e
felizes.
No domingo ele ficou maravilhado pelo almoço que fiz para ele, sorriu
que nem criança quando Lucas chegou. Botei os dois para catar ovinhos pela
casa, Maurício disse que nunca tinha sido tão feliz assim.
Ao final da tarde nossa campainha tocou e ele foi atender, observei de
longe ele ficar parado com a porta aberta. Foi aí que vi uma senhora bem
velhinha entrar e ele a abraçar chorando. Me aproximei e ele me olhou com
amor e com o rosto banhado de lágrimas.
— Amor essa é minha vó.
— Muito prazer sou, Rafael. — Respondi com certo receio.
—Eu sei meu querido, você é o amor de meu neto. Vim vê-lo e conhecer
você, não estou acostumada com essas coisas, mas o amor fala mais alto e o
amor que tenho pelo meu menino, me faz aceitar, se você faz ele feliz por
mim está tudo bem.
Chorei junto com Maurício e nós dois a abraçamos.
— E meus pais, vó?
— Dê um tempo a eles meus queridos, eu aqui hoje, já é o começo de
tudo.
Foi maravilhoso receber a avó de Maurício. Ele não se cabia de
felicidade. Quando me olhou de longe, enquanto sua avó dava atenção a
Lucas, ele disse só para que eu entendesse.
Eu te amo muito…
Observo minha mão em meu colo, minhas unhas estão
pintadas de branquinho e quando pisco uma lágrima caí. Nunca vivi esse
momento assim, já fui casado, mas na época, eu e Otávio apena decidimos
morar juntos e eu estava tão apaixonado que para mim isso era o bastante.
Queria apenas ser feliz e viver meu conto de fadas todos os dias ao lado dele.
Mas as coisas não foram bem assim, o casamento desandou e meu
príncipe virou um sapo, bom, estava mais para demônio do que um pobre
sapinho e achei que jamais seria feliz novamente.
Mas a vida tinha planos para mim e vivi tanta coisa que agora todas as
lembranças estão aqui indo e vindo em minha memória, me deixando mais
emotivo no dia de hoje. Sem ao menos esperar conheci o verdadeiro amor da
minha vida e descobri finalmente o que era amar e ser amado. Foi quase
impossível no começo, mas o amor venceu, transformou um coração e uma
cabecinha cheia de preconceitos como a de Maurício e hoje nós vivemos
juntos esse amor tão bonito que nos envolve.
E como mais uma prova de seu amor por mim, Maurício, não se
contentou apenas em morar comigo, ele quiz me dar seu nome, oficializar
nossa união. Eu nem sabia de nada. Ele, Lucas, sua avó e Miguel
organizaram tudo escondido de mim e apenas no dia anterior a cerimônia é
que eu soube que iria me casar, pois, Miguel veio me buscar para termos um
dia de beleza em um Spa, onde ficaríamos até o momento da cerimônia.
Achei que ele estava ficando louco, mas foi aí que eu soube de tudo e
que inclusive o Spa era um presente da avó de Maurício. Chorei feito criança,
claro que antes joguei um chinelo nele por ter escondido isso de mim, como
meu amigo ele tinha que ter me contado escondido, mas claro que ele ria de
chorar de todo meu espanto.
Maurício não voltaria para casa naquele dia, estava também tendo um
momento relax com Lucas e só nos veríamos na cerimônia. Fiz tudo que
tinha direito no Spa, relaxei de todas as maneiras possíveis. Fiz depilação
total, cuidei dos meus cabelos, pés e mãos, mas tudo com o coração a mil,
ainda não tinha caído minha ficha, ainda não estava acreditando no que eu
estava vivendo. Usaria uma aliança, jamais pensei que alguém me daria uma
aliança, Otávio jamais me deu, nem que fosse simbólica.
— Pronto coloquei a última flor — Disse Miguel com sua voz doce, me
fazendo olhar para meu reflexo no espelho.
Estava lindo, lindo demais, uma moça muito simpática me maquiou e se
emocionou junto comigo, pois me confidenciou que sonhava em ver o irmão,
que era gay, se casar assim. Ela fez uma maquiagem leve e delicada em mim
e Miguel que arrumou meu cabelo, deixando uma parte solta e outra presa
com presilhas de flores, que ele mesmo comprou, dizendo que ficaria lindo
em meus cabelos.
— Não chora, meu amor, se acalma, você quer conversar? — Perguntou
ele se ajoelhando na minha frente.
— Não, isso tudo é a felicidade que estou sentindo, Mi, ela não cabe em
meu peito, vocês esconderam tudo tão bem, nunca imaginei que viveria esse
momento. Essas lágrimas são reflexo da felicidade extrema que estou
sentindo... — Eu vou ser dele, Miguel, completamente dele.
— Mas você já é, meu amorzinho, só que agora será oficializado.
— Então e isso é tão bonito, sabe? Sonhei com esse momento inúmeras
vezes na minha vida. Depois de tudo que aconteceu com o Otávio, eu havia
desistido e mesmo conhecendo, Maurício, já não pensava mais nisso. Já
estava feliz de amar tanto alguém e ser correspondido de uma maneira sincera
e agora ele fazer isso. É o maior presente e prova de amor que ele poderia me
dar.
— Ele te ama tanto, Rafa, mas tanto, basta ver ele olhando para você, ele
sorrindo para você ou até mesmo quando ele sente ciúmes e faz um bico para
não brigar com você.
Dou uma gargalhada lembrando dos bicos do meu amor, ele fica muito
fofo quando sente ciúmes de mim. Com a ajuda de um lencinho, enxugo as
lágrimas, sorte que a maquiagem é a prova d'agua e me levanto, me
equilibrando em meus saltos.
Estou usando um vestido tubinho branco sem mangas que vem até a
altura de meus joelhos, simples. O único detalhe que possui é uma renda em
minhas costas em um corte em v. A parte chique ficou por conta dos meus
sapatos que foram presentes de, Lucas e Miguel. estou usando sandália de
salto alto fino, cor nude, da marca Alexandre Birman, sempre quis ter uma e
meus amores realizaram esse meu sonho, claro que isso foi Miguel que
entregou, pois só ele sabia.
A forma que, Miguel, arrumou meus cabelos, fez todo um toque final.
Meus cachos ainda enfeitavam meu rosto, mas com o charme das flores.
Olhei para ele que me olhava com aqueles olhos azuis penetrantes.
— Olha que eu poderia me apaixonar por você lhe vendo vestido assim,
hein? – Disse ele segurando o riso.
— Será? — Coloquei a mão na cintura e fiz um charme.
— Nãooooooooo, somos passivos demais para isso!!! — Falamos juntos
e rimos demais da nossa bobeira.
A hora tinha chegado e as borboletas da minha barriga estavam brigando
entre si por um espaço, pois meu estômago dava voltas de tão nervoso.
— Você está lindo! Vai realizar seu sonho, meu amor e ser ainda mais
feliz, você merece, eu te amo muito. — Disse Miguel segurando meu rosto e
me dando um selinho em meus lábios.
Recebi seu carinho, respirando fundo, colando minha testa com a dele e
o abraçando em seguida.
Um carro nos aguardava do lado de fora do Spa e fomos levados ao
local, que era o mesmo sítio em que foi realizado o casamento de Miguel e
Lucas. Nossos padrinhos, eram eles e minha prima Elaine e o policial
Antunes.
Quando chegamos, Miguel me ajudou a descer, eu quis chorar de novo
vendo a beleza do sítio. Já havia achado lindo quando ele foi todo decorado
para o casamento de Miguel e Lucas, mas hoje estava ainda mais lindo.
Várias flores coloridas enfeitavam o lugar que desta vez estava com uma
decoração mais rústica.
Fui encaminhado por uma moça simpática para onde devia me
posicionar e logo Lucas veio com Antunes e minha prima. Elaine quase se
desmanchou quando me viu de tanto que chorou e nem conseguia falar.
Antunes também se emocionou e me desejou toda felicidade do mundo, eu
agradeci por ele ter cedido o espaço e ele só soube rir visivelmente
emocionado.
Quando, Lucas, chegou na minha frente e vi meu grandão chorar, feito
um bebê, foi que não aguentei mais e me joguei em seus braços como sempre
fiz e ele chorando me disse que depois do casamento dele, esse era o dia mais
feliz de sua vida, por Maurício, por mim, por tudo que significávamos para
ele.
Logo a moça nos avisou que tudo estava pronto, que o noivo já se
encontrava me aguardando e me recompus. Lucas e Miguel se posicionaram
assim como Antunes e Elaine que não conseguiu se recompor, chorava muito
e Antunes a amparava.
Respirei fundo e quando Love me like You Do começou a tocar através
de um rapaz que tocava seu violino, foi muito difícil segurar as lágrimas. Até
nisso ele pensou, pois Maurício sabia o quanto eu amava essa música e era ao
som dela que eu entraria. Quando me preparei para começar a andar, uma
mãozinha segurou em meu braço e quando olhei vi a avó de Maurício e ali eu
soube que ela entraria comigo. As lágrimas escorreram e devagar segurando
um buquê de rosas brancas nós fomos andando diante dos amigos de
Maurício e dos meus amigos mais chegados lá do morro.
Maurício chorava demais olhando para mim e sua avó, que tinha um
olhar doce para o neto a todo instante. Quando chegamos pertinho dele, sua
avó segurou minha mão e juntou com a dele.
— Vocês têm a minha benção meus amores, seus pais podem não estar
aqui hoje, Maurício, por puro preconceito besta, mas eu estou, você tem
família e jamais passaria por esse momento tão importante sozinho. Eu lhe
amo meu neto e você meu docinho, sei que seus pais moram longe e não foi
possível trazê-los, mas sou sua avó também e estou aqui lhe entregando ao
meu neto para que vocês sejam muito felizes juntos.
Nós dois a beijamos ao mesmo tempo e depois que ela se sentou,
Maurício me conduziu para frente do Juiz e foi realizada a cerimônia, com as
palavras mais lindas ditas, contudo, foi quando, Maurício, falou foi que meu
mundo parou...
— Amor, o amor que sinto por você nunca serei capaz de descrever.
Hoje é o dia mais feliz da minha vida, você mudou meu jeito de pensar, me
mostrou que para o amor não existem barreiras, que amor é amor, não existe
cor, raça, sexo, nada que possa impedir sua força. Você me conquistou de
uma maneira incrível e quando menos esperei, já era refém do que sentia por
você. E me entregar a tudo isso foi a decisão mais certa que já tomei na
minha vida. Hoje sou o homem mais feliz e realizado do mundo por dormir e
acordar ao seu lado, seu sorriso é minha felicidade, seu abraço é meu porto
seguro, eu não sei mais viver sem você, eu te amo muito e você está lindo
demais, meu Deus do céu!
Eu segurava os soluços de choro, sorri do que Maurício falou, até o juiz
riu com a parte final e respirando fundo, eu falei...
— Você me salvou, você me devolveu minha liberdade, me devolveu
minha felicidade, me mostrou que eu podia ser feliz, mesmo tendo passado
por tudo que passei. Você que me mostrou o que é amor de verdade. Receber
seus beijos, seus carinhos, ouvir você dizer o quanto me ama, faz meu
coraçãozinho transbordar de felicidade e tudo que mais quero é passar o resto
da minha vida ao seu lado, eu te amo demais.
Nisso o juiz autorizou a troca das alianças e ver, Maurício, colocar
aquela aliança linda em meu dedo, não deixou mais que eu conseguisse
segurar o choro, ele veio com tudo e quando eu coloquei nele, ele também se
entregou a emoção de vez, beijando logo depois nossas mãos unidas.
— Eu declaro vocês dois casados — Disse o Juiz com um sorriso bonito
no rosto.
Maurício me tomou em seus braços, do jeito que só ele sabe fazer e me
beijou na frente de todos ali presentes, mostrando o quanto ele me amava.
Que ele venceu qualquer preconceito que tivesse, que o amor tinha sido
vitorioso e eu soube neste momento que era a pessoa mais feliz que existia no
mundo todo.

Em breve na Amazon a História de amor de Lucas e Miguel em um livro


recheado de grandes emoções.
O Nosso Encontro ♥
Agradeço aos meus inúmeros leitores do wattpad que um dia receberam
Maurício e Rafael de braços abertos e se emocionaram muito com a linda
história deles dois.
Agradeço aos meus Roselindos do meu grupo no Whatsapp, por
representarem, ainda mais perto de mim, o amor e carinho com minhas obras.
Obrigada mais uma vez pela leitura de vocês, por todo carinho comigo e
meus livros. Em breve será a vez do Lucas e do Miguel encantarem e
mostrarem que o amor pode ir além da vida.
Rose Moraes

Carioca, casada, 39 anos e mãe.


Começou no Wattpad em 2018 com lindos romances na literatura LGBT
e não parou mais. Atualmente na plataforma, Wattpad, 16 obras fazem muito
sucesso. Aqui na Amazon já fez sua estréia e este é o 4° livro lançado por
aqui.
"Ler e escrever são os maiores prazeres que tenho em minha vida e
sou completamente apaixonada pela literatura LGBT"

Redes Sociais
Livros deste autor
Além das Aparências
Alguns acham que a beleza é o mais importante, que apenas com ela se pode
conquistar as coisas: trabalho, status, amor...
Fabrício vem mostrar para vocês sua história, sem beleza, sem status, com
simplicidade... Na qual vocês conhecerão uma pessoa muito especial e doce
que fará a diferença na vida de alguém e mostrará que a beleza não é o mais
importante de tudo e sim o que você carrega dentro de si.
Gabriel primeiro filho de Otávio, lindo, rico, desejado, mas infeliz. Vive uma
vida de fachada e tem que esconder seus reais sentimentos para não
decepcionar seu pai.
Paulo, filho mais novo de Otávio, foi rejeitado por ser gay, sofre por não ter o
amor de seu pai e por estar longe do irmão.
Otávio, o patriarca, viveu a vida inteira amando uma única pessoa, guardou
para si seu maior segredo. Casou-se, teve dois filhos, hoje é viúvo e dono da
maior rede de joalherias do Brasil.
Nenhum deles está preparado para o que vem pela frente, um amor irá surgir
e outro será reencontrado. Uma vida inteira de mentiras e falsas aparências
virão à tona e mudará para sempre o destino de cada um.
Em Além das Aparências, o amor nascerá de uma forma bonita, comovente e
libertará corações presos, seja por medo ou preconceito e mostrará que beleza
não é tudo, que o amor nasce quando menos se espera e que nunca é tarde
para viver da maneira que realmente te faz feliz.

À Flor da Pele
As pessoas perdem muito tempo julgando uns aos outros, seja pela sua
condição financeira, sua orientação sexual, sua aparência ou pela sua cor.
O que muita gente não entende é que todos somos iguais, que nada disso
importa, que o que vale de verdade é nossa essência, é o que somos por
dentro.
À Flor da Pele traz uma história onde será mostrada a luta do amor contra o
preconceito racial e a intolerância, em geral, das pessoas.
João Pedro é um homem de pavio extremamente curto, que tem uma
dificuldade enorme de demonstrar seus sentimentos. Para quem não o
conhece, ele é um homem frio e ignorante, mas sua família sabe quem ele é
de verdade.
Pietro é um rapaz doce, inteligente e encantador que sofre, pois se vê bem
diferente dos seus pais, pessoas ambiciosas quase ao ponto de serem
inescrupulosas, e o pior, são completamente racistas.

Agora vamos conhecer a história da vida dos filhos dos protagonistas do livro
“Além das Aparências”, matar saudade daqueles que conquistaram os nossos
corações e nos deixar levar pelos personagens intensos, fofos e encantadores.

Quando o Amor Acontece


Aos 19 anos, Bernardo, já formado, está em busca do seu primeiro emprego,
ele é um jovem doce, educado e tímido.
Acostumado à rejeição por seu jeito delicado, é gay assumido, mas desde
novinho encontra dificuldades por causa do seu jeito de ser.
O mundo está à espera de Bernardo, o amor o encontrará, ele enfrentará
obstáculos em seu caminho, mas a determinação faz parte desse doce rapaz.
Em “Quando o amor acontece” você encontrará uma história delicada e
envolvente, recheada de amor, mas também de muito preconceito.

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