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RESUMO:
Introdução: Os direitos humanos sexuais e reprodutivos (DHSR) estão previstos
nos principais Tratados Internacionais de Direitos Humanos. Apesar dos marcos legais
mulheres e homens sofrem violações a esses direitos nos serviços de saúde em especial a
população transexual. A transexualidade pode ser considerada por uma não conformidade
pelo que vê (imagem corporal) e pelo que se é (identidade). A pessoa trans não se
socioculturais atribuídas desde seu nascimento e ao longo da vida a partir de seus genitais.
quanto ao acesso integral das pessoas transexuais aos serviços de saúde. No entanto os
serviços de saúde que deveriam acolher e prestar uma atenção integral e humanizada os
autodeclarados transexuais que são e/ou foram atendidos nessas Unidades de Saúde. Para
probabilística em cadeia ou por redes (“bola-de-neve”). Para a construção dos dados será
“Google Forms”. Para o encerramento das entrevistas será utilizada a técnica de saturação
teórica. O tratamento dos dados dos questionários online será por meio software livre para
análise de dados qualitativos, e o corpus textual de pesquisa passará pela análise do tipo
temático-categorial.
é signatário. Esses direitos foram definidos pelo Programa de Ação do Cairo em 1994
como:
Na Atenção Primária em Saúde uma das áreas de grande atuação é a atenção à saúde
sexual, definido por HERA, por “A saúde sexual possibilita experimentar uma vida sexual
da sexualidade humana e respeito mútuo nas relações sexuais. A saúde sexual valoriza a
autonomia para se reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve
ações, questões como masculinidades, paternidade, violências são temas de pouco escopo
invisíveis.
A transexualidade pode ser considerada por uma não conformidade pelo que vê
(imagem corporal) e pelo que se é (identidade). A pessoa trans não se identifica com os
desde seu nascimento e ao longo da vida a partir de seus genitais. Como nos afirma Bento
(2008, p.15) trata-se de uma experiência “caracterizada pelo conflito com as normas de
gênero”. Logo mulheres trans não se identificam como homens só porque possuem pênis,
assim como homens trans em função de terem útero e vagina. Em suas reflexões Almeida
pessoas trans buscam realizar alterações corporais, pela terapia hormonal, e/ou por
cirurgias para adequarem sua imagem corporal com sua identidade, porém, isso não quer
dizer que toda pessoa transexual deseja fazer essas mudanças ou a própria redesignação
norma, saudável e padrão o que faz com que os profissionais tenham dificuldades em
tratar de questões que remetem ao campo da sexualidade em suas múltiplas formas de
Em suas reflexões Almeida e Murta (2013, p. 386) afirmam que “a forma mais
corpo masculino”). Incluir este tema como algo essencial a vida e a saúde, e numa
perspectiva positiva é fundamental para boas práticas no âmbito da atenção à saúde. Este
humanos e devem ser reconhecidos no mesmo patamar dos direitos sociais e econômicos
(PETCHESKY, 2000). Para Rosas (2005, p. 18), “parcela importante de médicos (as) e
integrante dos direitos humanos fundamentais”, e nesta mesma linha e talvez mais difícil
ainda o reconhecimento dos direitos sexuais, pois implica, portanto, a aceitação dos
diferentes tipos de expressão sexual, a autonomia para tomar decisões sobre o uso do
1999).
praticamente invisíveis e muitos vezes excluídos de suas famílias. Em estudo que visou
participantes da pesquisa, ficou claro que o impacto observado na saúde mental deste
grupo, onde dos 23(59%) participantes justificaram a família como fonte da tristeza
(MELO; SILVA; MELLO, 2019). Da mesma forma que são excluídos da família,
também o são dos serviços de saúde, que a priori, deve acolher esta população. O estudo
de Silva et. al. (2016) com enfermeiros da Estratégia Saúde da Família aponta para a
aos direitos sexuais e reprodutivos são princípios, dentre outros, que devem nortear as
contracepção autodecidida.
direitos sexuais e reprodutivos. No entanto este tema ainda não faz parte em sua plenitude
profissionais constitui condição sine qua non para a eficaz implementação das diretrizes
os gestores e profissionais precisam incluir novos elementos para prestar uma atenção à
2015) bem como da garantia dos direitos sexuais e reprodutivos. (LEMOS et. al., 2011;
sexuais os profissionais atuam e/ou devem atuar no respeito, promoção e garantia dos
direitos sexuais e reprodutivos consideramos com “ter acesso à informação e aos meios
para expressar e desfrutar a sexualidade com proteção da saúde; ter liberdade e autonomia
para o controle sobre o próprio corpo; exercer a orientação sexual sem sofrer
discriminação, coerção ou violência; contar com respeito mútuo nas relações afetivas e
No que se refere as pessoas trans, estas estão mais vulneráveis, sofrem mais
Uma revisão sistemática sobre a relação entre a relação entre o estigma e a discriminação,
Como nos afirma Berenice Bento, “Pessoas transexuais e travestis são expulsas
de casa, não conseguem estudar, não conseguem emprego, são excluídas de todos os
saúde física e mental. As travestis e transexuais estão no grupo que mais sofre com a não
aquisição de educação formal e não inserção no mercado de trabalho formal (SOUZA &
BERNARDO, 2014).
No que se refere aos serviços de saúde as pessoas trans também sofrem preconceitos
integral e humanizada também os exclui, não só as pessoas trans como as pessoas gays,
lésbicas e intersexos em geral. Pessoas com orientação minoritária são atendidas com
maior atraso ou recebem cuidados inapropriados por sua percepção de homofobia nos
em relação aos direitos e acesso a saúde, identificou que 83% das pessoas transgêneras
foram as que menos receberam atenção (COLÔMBIA, 2010, p. 837). As pessoas travestis
processo transexualizador como para serviços em geral (MELLO et. al., 2011).
Saúde, identificou que, dentre vários fatores, a falta de preparação dos profissionais de
muito preconceito por parte desses profissionais, o que propicia a omissão da orientação
sexual e da identidade de gênero por parte do usuário. Isso acarreta uma assistência à
saúde deficitária, já que há uma barreira no acolhimento e na criação de vínculo com esse
Os desafios encontrados por essa população também podem ser ilustrados a partir
Nessa pesquisa, além da falta de preparo dos profissionais da Atenção Primária, foi
possível identificar o que eles pensam e o porquê desse pensamento ainda ser dominado
pelo senso comum. A maioria dos ACS da área abrangida não obtiveram contato com as
nas práticas em saúde. Parte das dificuldades das pessoas trans em seus atendimentos nos
serviços de saúde estão relacionados pela não capacitação dos profissionais, bem como
A pesquisa realizada por Rocon et. al.(2018) que investigou críticas e sugestões de
população LGBT, por exemplo, em 2008 foi instituído no âmbito do SUS o processo
com o objetivo geral de “promover a saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis
uso do nome social e inclusão de temáticas relacionadas com estes grupos. E ainda como
que geram a violência contra a população LGBT no âmbito do SUS, contribuindo para as
SUS, com vistas ao alívio do sofrimento, dor e adoecimento relacionados aos aspectos de
Eles reconhecem que suas ações estão no âmbito da promoção e garantia dos DHSR? O
que eles entendem sobre esses direitos? O que conhecem sobre a população transexual?
Entender tais questões na perspectiva dos direitos é um desafio para profissionais de saúde
que através de sua prática têm papel fundamental na construção de boas práticas não
2014, p.246).
educativa em saúde pelos profissionais de saúde e participação dos usuários dos serviços
de atenção primária, bem como nas Escolas com jovens estudantes. Essencial é que as
(BRASIL, 2010).
acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Ela é feita a partir dos problemas
transexualidade, e sua relação com sua prática profissional e ainda proporcionar oficinas
de capacitação em saúde sexual e reprodutiva, pode contribuir para fomentar a
à saúde pautadas na integralidade da atenção à saúde, logo no respeito aos direitos sexuais
Gênero, Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos conhecido por LEGS, que iniciou suas
enfoque aos aspectos relacionado às temáticas das relações de gênero e suas relações com
a saúde, assim como, a saúde sexual e reprodutiva como direito humano pessoas trans.
Cabe informar que este Grupo de Pesquisa foi comtemplado no Edital FAPERJ Nº
Janeiro – 2019”.
Metodologia
atribuídos pelos participantes sobre o fenômeno analisado (MINAYO, 2013), pois trata-
se de uma temática geral, atenção à saúde das pessoas transexuais, que envolve aspectos
com significação social e histórica, permeadas de estigmas e tabus relacionados as
pessoas transexuais e homens e mulheres autodeclarados transexuais que são e/ou foram
Como não vamos estudar aspectos relacionados diretamente aos serviços de saúde
e nem fazer comparações entre os grupos estudados, e sim sobre as percepções dos
profissionais e vivências das pessoas trans em relação aos serviços no âmbito da saúde
equipe de pesquisa e terão acesso aos esclarecimentos, se necessário, pelas mesmas vias
momento de sua vida profissional atendeu e/ou atendem pessoas transexuais e homens e
mulheres autodeclaradas transexuais que são e/ou foram atendidas em Unidade Básicas
campo, ou seja realização das entrevistas, será utilizada a saturação teórica, que é um
qual não há mais novos achados para a compreensão do fenômeno estudado a partir das
LUCIO, 2013).
simulação. Para este estudo e ambos participantes (profissionais e pessoas trans) optamos
antecedentes.
anonimato e dignidade dos participantes da pesquisa, bem como informá-los que poderão
primeira com as informações do TCLE, com a opção “Li e declaro que concordo em
participar da pesquisa” que terá a informação de que “Caso não concorde em participar,
apenas feche a página do seu navegador”. A segunda seção contará com as perguntas que
específicas relativas aos objetivos da pesquisa. Após responder as questões das seções, o
Oliveira (2008), O tratamento dos dados dos questionários online será por meio software
livre para análise de dados qualitativos, e assim o corpus textual de pesquisa passará pela
por meio de frases, definição das Unidades de Significação (US) para enfim chegar a
como direito de mulheres e homens na atenção primária à saúde" e seguirá o que prevê a
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