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Sinopse

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Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
Helena Campos era uma mulher que emanava uma luz diferente, pelo menos era isso
que todos diziam. Gentil e amorosa, ela encantava a todos, mas toda essa alegria escondia
traumas de um passado doloroso que havia deixado marcas profundas.
Gustavo Ribeiro havia se tornado um homem frio e arrogante para o resto do mundo e
amoroso apenas para os seus filhos após perder sua esposa em um acidente. Dono de um
império, o empresário era responsável por gerir a Ribeiro Perfumes, empresa que já havia
passado por gerações e que agora estava em sua inteira responsabilidade.
Duas pessoas distintas, que tinham mais coisas em comum do que imaginavam.
Ele, precisava urgentemente de uma babá depois de mais uma se demitir.
Ela, não estava procurando um novo emprego, mas por insistência da sua avó, foi para
uma entrevista e acabou sendo contratada.
Cuidar de duas crianças ricas e extremamente mimadas, não era fácil, principalmente
quando os dois estavam determinados a fazer de tudo para dificultar o trabalho de Helena.
Eles não a queriam ali e faziam questão que ela soubesse disso, mas com seu jeito doce e
amoroso, Helena achava que não levaria muito tempo para conquistá-los.
Ela só não contava em conquistar o pai deles também.
Gustavo não esperava se sentir tão atraído pela nova babá e apesar de demonstrar seu
interesse por ela, Helena não o correspondia, pois não queria misturar as coisas.
Mas conforme foram se aproximando, já que a convivência era inevitável por causa das
crianças, sentimentos foram surgindo e com isso, ficava mais difícil saber por quanto tempo ela
iria resistir aos encantos do CEO.
Há três anos minha vida mudou tragicamente e desde então, eu tento ter uma visão mais
positiva das coisas.
Perder os meus pais não foi fácil, descobrir que eu jamais poderia ser mãe, acabou
comigo, mas eu escolhi não me afundar na tristeza e me empenhei para ser feliz com o que eu
tinha.
Quando comecei a trabalhar na Recriar, graças aos meus melhores amigos, que eram
donos da instituição que oferecia assistência educacional gratuita para tantas crianças e
adolescentes, eu tive ainda mais certeza de que eu queria trabalhar com educação.
E eu era completamente apaixonada pelo propósito que eles tinham em mudar a vida
daquelas pessoas e me sentia muito feliz em fazer parte daquilo.
Aproveitei o horário do lanche para organizar a minha sala, que estava repleta de
vasinhos pintados pelas crianças em comemoração ao início do outono e enquanto eu arrumava
as tintas, mandei uma mensagem no grupo que tinha com meus melhores amigos.
Helena: Que tal uma pizza hoje?
Ayla: Por mim, tudo bem!
Isadora: Pode ser!
Helena: No seu apartamento, Dora?
Isadora: Sua avó proibiu pizza de novo?
Helena: Sim, ela disse quer que eu tenha uma alimentação mais saudável.
Isadora: Faz sentido. Maicon e César vão?
Helena: Falei com eles agora a pouco e eles vão jantar com a mãe do Maicon hoje, então
sem pizza para os garotos.
Ayla: Que pena! Vou passar no mercado antes de ir para o apartamento, compro alguma
coisa?
Isadora: Vinho, porque vocês secaram as minhas garrafas na última vez.
Assim que li a mensagem da minha amiga, uma risada escapou da minha garganta,
porque nós realmente tínhamos bebido demais na última vez que tínhamos estado na casa dela.
No momento em que as crianças voltaram, as levei comigo até a horta para pegarmos
terra para os vasinhos e os pequenos adoraram colocar a mão na massa. Logo que voltamos para
sala, fiz uma atividade com eles sobre as estações e o meu turno acabou.
Quando cheguei no apartamento de Isadora alguns minutos depois, pois não era muito
distante, fiquei feliz por ela já ter comprado a pizza, porque eu estava morrendo de fome.
Cumprimentei minha amiga com um abraço e peguei logo uma fatia. Ayla não demorou a
chegar com o vinho e nos sentamos na sala, cada uma com uma taça em mãos para conversar.
— Meu chefe está me matando! — Isadora disse, mordendo uma fatia de pizza.
— Ele ainda não viu o seu potencial, mas vai ver, vai dar tudo certo! — falei a ela, com
um sorriso.
— Lena, eu não quero você toda positiva, quero você irritada também! — ela falou,
indignada.
— Você sabe que ela não consegue. Helena é boazinha demais para ficar estressada com
alguém. — Ayla disse, colocando vinho nas taças.
— Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui! E eu consigo ficar estressada
com as pessoas, mas ele é o seu chefe, Dora. Ele só te vê como uma assistente, sendo que você é
uma publicitária do caramba, mostra isso pra ele! — falei, bebericando o meu vinho.
— Eu não tenho espaço! Ele não me deixa ser mais que assistente dele, participo de todas
as reuniões e não consigo nem abrir a minha boca. — Isadora lamentou.
— Você vai conseguir encontrar uma oportunidade logo. — falei tentando anima-la — E
você, Ayla, como foi com a sua mãe? — perguntei.
— Espera, você foi ver a sua mãe? — Isadora perguntou, confusa.
— Não, ela apareceu no restaurante hoje. Quando me viu lá, ficou me encarando o tempo
todo, mas não veio falar comigo. — Ayla respondeu, parecendo chateada.
— Infelizmente sua mãe é uma pessoa que eu não faço mais questão de sequer tentar
dialogar, as atitudes que ela teve me enoja. — Isadora disse a ela.
— Ela não é a minha pessoa favorita também, eu entendo que foi dessa maneira que ela
foi criada, mas as coisas mudaram. — Ayla falou.
— Com certeza, e se ela não entende, não fique mal com isso, você é uma pessoa
maravilhosa. — falei abraçando-a e logo depois Isadora se juntou a nós duas.
Passamos a noite assistindo comédias românticas e comendo pizza. Na manhã seguinte
eu tive que acordar bem cedo, no mesmo horário que Isadora e depois de me despedir dela,
peguei a minha bicicleta e fui pra casa.
— Oi, vovó! — falei abraçando-a.
— Oi, solzinho. Onde passou a noite? Foi com o Igor? — ela perguntou, preocupada.
— Não foi com ele, vovó. — a acalmei afagando seus ombros —Nós não voltamos!
— Graças a Deus, nunca gostei daquele rapaz.
— Ele nunca fez nada com a senhora, vovó.
— Ele machucou seu coraçãozinho e isso eu não perdoo.
— Já passou, vó. — falei, bebendo um copo d’água — Eu fui para o apartamento da Dora
e Ayla estava lá também, deve vir pra casa quando acordar, eu só vim logo porque não posso
chegar atrasada na Recriar.
— Entendi, vou fazer um bolo para ela comer quando chegar e já deixei sua marmita
pronta, está na geladeira.
— Vovó, você um anjo! — disse, beijando sua bochecha.
— Você que é, minha neta! — ela retribuiu o beijo — Mais tarde vou na casa de uma
amiga, mas não devo chegar tarde.
— Hum, tem certeza que é uma amiga? Não é um candidato a vovô pra mim? — brinquei
com ela.
— Deixa dessas bobagens, Helena! — ela ralhou, batendo em mim com um pano de
prato e eu corri da cozinha.
Me arrumei rapidamente e bebi uma xícara de café antes de ir pedalando até o meu
trabalho. Assim que cheguei na instituição, encontrei César em frente à sua sala e só dele estar
usando óculos escuros, me fazia acreditar que algo tinha acontecido.
— Não dormiu bem, bolinho? — perguntei, usando o apelido que eu tinha dado a ele na
infância e o abracei.
— Se as crianças ouvirem esse apelido eu vou perder o pouco do respeito que tenho aqui.
— ele disse e nós demos uma risada fraca.
— Elas te adoram, iam achar fofo o apelido. Como foi com a mãe do Maicon? —
perguntei, ainda agarrada a ele.
— Nada bem, ela passou o jantar soltando piadinhas homofóbicas, não via a hora de ir
embora.
— Ela não muda. — lamentei — Vai convidá-la para o casamento?
— Ela é a mãe do noivo, Leninha. Não posso deixar convidá-la. — ele explicou.
— Quem disse que não? Você não precisa ter alguém que não apoie o relacionamento de
vocês no casamento. — falei e ele assentiu consternado.
— Maicon iria sofrer demais, o jeito vai ser aturar a bruxa. — ele falou afagando meu
braço.
— Tem que haver outro jeito, agora deixa eu ir para minha sala que meus alunos já
devem estar me esperando. — disse, me despedindo e segui para minha sala, passando apenas na
secretária para buscar alguns materiais para minha aula de hoje.

Assim que me despedi dos meus filhos, entrei no carro e meu motorista, Otto começou a
ir em direção a Ribeiro Perfumes, empresa que há anos era gerida pela minha família.
Enquanto estava no carro, aproveitei o tempo de trajeto, para mandar uma mensagem
para minha assistente, pois antes de sair de casa tinha recebido a notícia que mais uma babá
havia se demitido.
Gustavo: Senhorita Fernandes, preciso que você comece a procurar uma babá para os
meus filhos. Quero alguém qualificado dessa vez.
Isadora Fernandes: Senhor Ribeiro. Irei começar a procurar, mas a última que
contratamos tinha duas graduações e ótimas recomendações.
Gustavo: Bem, parece que isso não é o suficiente se ela não consegue ficar nem duas
semanas cuidando dos meus filhos.
Isadora Fernandes: Irei analisar mais atentamente os currículos, senhor. A propósito,
sua primeira reunião do dia começa em alguns minutos.
Gustavo: Já estou chegando.
Guardei o celular no bolso e assim que o Otto estacionou eu desci do carro, entrei no
elevador e quando ele chegou ao último andar, andei até a mesa da minha secretária e disse:
— Me avise quando Helton chegar.
Entrei na minha sala, me sentei na minha poltrona e passei a mão nos meus cabelos, a
demissão da última babá havia acabado com todo o meu bom humor e eu odiava dar ainda mais
responsabilidades à Mirian, ela já cuidava da casa e por alguns dias cuidaria das crianças.
Olhei a foto dos meus filhos que estava sobre a minha mesa e pensei no que poderia fazer
para que eles fossem mais receptivos com as futuras babás, porque aquela já era a terceira que se
demitia em menos de um mês e as coisas não podiam continuar assim.
Coloquei o porta retratos de volta à mesa quando ouvi batidas na porta, Isadora entrou e
me avisou que todos já estavam me esperando para a reunião na sala dois, assenti me levantando
e arrumei meu terno enquanto seguia para outra sala, pois hoje o dia seria longo.
Aproveitei a ida das crianças para o refeitório e olhei algumas das mensagens que Isadora
havia me mandado essa manhã. Mordi um pedaço da minha maçã enquanto lia ela reclamando
do seu chefe novamente e me questionei como esse homem se suportava sendo tão detestável
como minha amiga fazia parecer. Sugeri que ela comprasse uns cupcakes na loja que tinha perto
do trabalho da Ayla, para ver se isso não adoçava o humor dele, mas ela me disse que ele não
comia doces, então devia ser por isso que era tão amargo.
No meu intervalo para o almoço, me sentei na sala de César e Maicon para poder comer
porque eles tiveram que sair para resolver algumas burocracias e me deixaram responsável para
resolver algo que acontecesse.
Enquanto comia minha marmita, Isadora me ligou e disse:
— Como eu sei que tá todo mundo trabalhando, eu vou falar com você por aqui mesmo.
— Ei! Eu estou trabalhando e porque você está sussurrando?
— Porque estou na escada de emergência e não quero que ninguém me escute te contar o
que vou dizer agora.
— O que aconteceu?
— Acabei de ver o bonitão. — ela revelou, com um suspiro.
— Seu advogato? Ainda não sei por que você não deu uma chance pra ele, me disse que
ele flerta com você toda vez que vai na empresa.
— Lena, eu não vou dar uma chance pra ele porque ele flerta com todas! Eu nunca o vi
com uma namorada.
— Complicado, então porque você não dá uma chance para o Otto?
— Por que você não dá uma chance pra ele? — ela perguntou, enfatizando o você.
— Urgh! Ele é tipo um irmão pra mim.
— Pra mim também, não vou sair com ele.
— Seguir solteira é sempre a melhor opção, agora deixa eu terminar o meu almoço antes
que eu tenha que voltar para sala. Vamos jantar na casa da vovó hoje? Eu posso cozinhar.
— Você cozinhar? Logo você? — ela perguntou rindo — Vamos nos poupar de uma ida
para o hospital, deixa que eu cozinho. Me espera na frente da Recriar e nós passamos no
mercado antes de ir para sua casa.
— Perfeito, nos vemos em algumas horas. — falei, antes de desligar.
Não demorou muito para que Maicon e César voltassem e eu fosse para minha sala, dar
seguimento as minhas atividades, como trabalhávamos bastante com o lúdico, muitas das
atividades envolviam a brincadeira e eu me divertia demais com as crianças, principalmente
quando elas conseguiam aprender.
Quando estava anoitecendo, Isadora passou para me buscar em frente à instituição e nós
fomos até o mercado antes de ir para minha casa.
Ajudei-a com alguns preparos e quando ela estava terminando de fazer o jantar, minha
avó e Ayla chegaram juntas.
— Trouxe a sobremesa!! — Ayla disse, mostrando a caixa da confeitaria que tinha
próxima do trabalho dela.
— Cupcakes? — Isadora questionou, curiosa.
— Não, torta de limão. — ela disse, colocando na mesa.
Minha amiga se sentou ao meu lado e minha avó comentou:
— Solzinho, fui na casa da Mirian hoje como havia lhe dito, na verdade fui na casa onde
ela trabalha, mas como ela mora lá é quase a mesma coisa.
— E como foi lá? Aconteceu alguma coisa com ela? — perguntei, encarando-a.
— Bem, ela está. Mas coitada, anda um pouco sobrecarregada. — ela respondeu,
sentando-se em uma das cadeiras — Lá onde ela trabalha, estão precisando de uma babá e depois
de conversarmos um pouco, eu indiquei você para ela. Falei das suas qualificações e qualidades e
ela me pediu que você fosse lá amanhã.
— Vovó, você me comprometeu com algo sem sequer me avisar antes? — reclamei,
enquanto minhas amigas só observavam a conversa.
— Helena, minha filha, sabe que não fiz por mal. Mírian é minha amiga e eu senti que
aquela casa precisava de um pouco da sua luz e te indiquei. — ela afagou minha mão — Além
do mais é apenas uma entrevista.
— Entendi, pode deixar que eu vou. — cedi e beijei sua mão — Irei avisar ao César e ao
Maicon que amanhã não poderei ficar com a minha turma. — falei e ela assentiu.
O macarrão com frutos do mar que Isadora estava preparando ficou pronto e nós
começamos a comer. Ayla nos contou sobre o seu dia no trabalho e toda a loucura que era
trabalhar no restaurante mais popular do centro, Isadora falou um pouco sobre os próximos
lançamentos da empresa que ela trabalhava e eu falei sobre algumas das atividades que havia
feito com as crianças.
Enquanto comia uma fatia da torta de limão, avisei aos meus amigos que não iria no dia
seguinte, expliquei o motivo e eles foram bem compreensivos.

Na manhã seguinte, coloquei o meu único vestido preto do armário, que era um dos mais
formais e o que mais contrastava com as minhas outras roupas, deixei meu cabelo solto, porque
ele tinha acordado muito bonito essa manhã e me despedi de minha avó, pegando com ela um
cartãozinho com o endereço e segui para casa do Senhor Ribeiro.

Com todos os problemas com as últimas babás, tinha decidido acompanhar de perto as
entrevistas, por isso, depois de deixar os meus filhos no colégio, parei rapidamente na empresa
para pegar uns papéis e depois, voltaria para casa.
No momento em que estava olhando alguns documentos em minha mesa, minha
secretária, Isadora Fernandes, entrou na sala com um café e sua agenda em mãos.
— Bom dia, senhor Ribeiro. O senhor tem uma reunião com o setor de criação às nove.
— ela informou, colocando o café sobre a mesa.
— Não poderei participar das reuniões, então preciso que desmarque os meus
compromissos dessa manhã.
— Certo, o senhor já vai sair?
— Sim, vim apenas pegar uns papéis que esqueci de levar ontem. Vou trabalhar em casa
essa manhã, quero observar de perto as entrevistas das babás. Espero que tenha selecionado
pessoas qualificadas. — disse, encarando-a.
— Eu selecionei, senhor. Tomei cuidado em avaliar cautelosamente todas as
recomendações e graduações já feitas.
— Perfeito, remarque a reunião para às catorze horas e faça uma reserva naquele
restaurante que a Liz e o Ben gostaram, vou almoçar com eles hoje.
— Pode deixar, farei as reservas, senhor. — ela disse, saindo da sala.
Assim que encontrei os papéis, voltei para o carro e Otto começou a dirigir em direção a
minha casa. No meio do caminho, meu celular começou a tocar, era Helton.
— Estou levando os documentos que você me pediu, algo mais?
— Apenas isso, leve-os para minha casa, acabei de sair da empresa.
— Que pena! Justo hoje, que eu queria encontrar sua secretária! Mas tudo bem, me
contento em ver meus afilhados.
— Eles estão no colégio e Helton, pare de flertar com a minha secretária! Não quero
outro processo de assédio.
— Deixa de ser exagerado, Gustavo. Sua última contadora não me processou.
— Mas ela ameaçou processar e para mim, isso já é o suficiente.
— Você está muito tenso, vamos em um bar na cidade vizinha, você precisa encontrar
alguém!
— Eu tenho filhos, Helton, e além do mais, não preciso ir a um bar para arrumar alguém.
— Beleza então, garanhão! Daqui a pouco te encontro na sua casa! — ele disse, se
despedindo e desligou.
Encarei a foto dos meus filhos como proteção de tela para o meu celular e meus lábios
esboçaram um sorriso, eu os amava tanto. Ser pai solo e ter uma empresa para gerir era difícil,
mas eu tentava sempre fazer o melhor por eles, mesmo que isso significasse abdicar de estar
presente em muitos momentos.
Assim que passei pelo portão, me surpreendi com o tamanho daquela casa e me
questionei se teria que cuidar de mais de duas crianças. Conheci Mírian, que foi gentil comigo e
com as outras candidatas à vaga, ela nos encaminhou até um corredor que ficava perto da
cozinha, nos entregou uma ficha para preenchermos e pediu que esperássemos.
Me aprumei na cadeira e observei as outras candidatas, perto delas eu parecia até
desarrumada, porque todas estavam muito bem maquiadas e usando roupas justas que não
condiziam tanto com uma entrevista de emprego.
Enquanto esperávamos, dois homens entraram na casa, um loiro mais alto e outro
moreno, ambos muito bonitos e eu fiquei curiosa para saber se eram funcionários ou se um deles
era pai das crianças.
Peguei meu celular para pesquisar um pouco sobre o Sr. Ribeiro, quando recebi uma
mensagem.
Isadora: Quando sua avó falou que te indicou para uma entrevista hoje, eu não liguei os
pontos e estou me sentindo muito burra por isso, então me diz uma coisa, você está no casarão da
família Ribeiro?
Helena: Estou sim, você os conhece?
Isadora: Conheço! Gustavo Ribeiro é o meu chefe e eu organizei essa seleção de babás
que você está participando.
Helena: Então eu estou na casa do chefe que você sempre reclama? Que Deus me ajude!
Isadora: Isso porque você não conheceu as crianças ainda, são terríveis!
Helena: Minha Nossa Senhora das Crianças Mimadas, dai-me forças!
Quando Mírian apareceu para chamar mais uma das candidatas, eu guardei o celular e
respirei fundo, ajeitando uns fios rebeldes no meu cabelo.
— Espero que o Sr. Ribeiro esteja interessado em uma esposa também. — uma das
mulheres que estava ao meu lado comentou e eu olhei na direção que ela estava olhando e vi os
dois homens conversando no início do corredor.
— Qual deles é o Sr. Ribeiro? — perguntei.
— O mais alto e loiro, você não o conhecia? — ela questionou e eu neguei com a cabeça
— Isso é engraçado, porque a maioria aqui está interessada em ser mais que uma babá, se é que
você me entende. — ela falou, erguendo uma das sobrancelhas e eu fiquei um pouco
constrangida, porque não estava ali com esse propósito.
Quando chegou minha vez, Mírian me chamou e nós nos sentamos à mesa da cozinha.
Ela estava com um sorriso acolhedor mesmo depois de tantas horas e isso me fez gostar ainda
mais dela.
— Helena, a última vez em que te vi, você era uma garotinha ao lado da sua avó. Se
tornou uma mulher linda! — ela me elogiou, pegando a ficha que eu tinha preenchido quando
tinha chegado.
— É um prazer revê-la, Mírian. Mesmo com tanto tempo, lembro um pouco das suas
visitas até a casa da minha avó. — falei a ela, tirando uma garrafinha de vidro da minha bolsa —
À propósito, ela pediu que eu lhe entregasse um dos nossos óleos essenciais caseiros, esse é de
capim limão.
Ela pegou o frasco, sentiu o cheiro e disse:
— É delicioso, muito obrigada! — ela agradeceu com um sorriso e voltou a pegar a
minha ficha — Eu avaliei a sua ficha, mas indo contra os desejos do meu chefe, isso é o que
menos eu vou levar em conta dessa vez. — ela falou, fechando a pasta — Como você lida com
rotinas, Helena?
— Apesar de ser uma pessoa muito espontânea, eu sei o quanto ter rotina é importante e
eu estou disposta a seguir o que as crianças tiverem que fazer.
— Perfeito! Ben tem oito anos e Liz tem quatro. Você já trabalhou com crianças nessa
idade?
— Sim. Na instituição em que sou voluntária, nós participamos do que é desenvolvido
em praticamente todas as salas, então eu tenho essa experiência.
— Certo, você sabe que a nossa escala exige que você durma em um dos quartos durante
a semana, correto?
— Sim e isso não vai ser um problema para mim.
— Perfeito! Bem, sendo muito sincera, você foi a única realmente interessada em cuidar
das crianças sem segundas intenções, então, se você quiser mesmo a vaga, ela é sua. — ela disse,
me entregando um papel — Esse vai ser o seu salário e todos os benefícios.
Arregalei os olhos, completamente espantada com o valor e disse:
— É muito!
— Eu sei, mas as crianças não são tão fáceis, então acredite, esse valor paga todo o
sufoco que você provavelmente vai ter.
— Entendi, eu posso te dar a resposta hoje à tarde? — perguntei, pois queria conversar
com César e Maicon antes, já que não poderia mais trabalhar na instituição.
— Claro que sim, meu número está no verso do papel, vou ficar aguardando sua ligação.
— ela disse, afagando minha mão — Sua avó estava certa, você emana mesmo uma luz
diferente, espero que aceite o trabalho.
— Obrigada, Mírian! Assim que eu tomar minha decisão, irei te ligar. — falei, apertando
a mão dela e saí da cozinha.
No caminho até os portões, eu não encontrei mais ninguém, então peguei minha bicicleta
e fui para Recontar, pois precisava decidir os rumos da minha vida.

Assim que Otto estacionou em frente à minha casa, desci do carro e no mesmo momento
vi Helton se aproximando, entramos e fomos direto ao meu escritório.
Me sentei atrás da mesa e ele me entregou uma pasta.
— Aqui estão os antecedentes criminais que você me pediu. As candidatas já chegaram?
— Sim, Mírian está cuidando disso.
— Espero que dê sorte dessa vez, já que nas últimas, as candidatas estavam mais
interessadas em se tornar sua próxima esposa do que em cuidar dos pestinhas. — ele disse, bem
humorado
— Não chame eles assim. — falei, encarando-o — E eu espero que dessa vez a babá
esteja realmente interessada em cuidar das crianças, não quero ter que fazer uma nova seleção
pela quarta vez esse mês. — falei, olhando rapidamente os antecedentes.
— Boa sorte com isso, preciso ir. Tenho uma audiência em alguns minutos, precisa que
eu cubra você em alguma reunião na empresa?
— Não, pretendo apenas almoçar com as crianças e vou para a empresa durante a tarde.
— Certo, me avise se for precisar de mais algum antecedente. — ele disse, saindo da sala
e eu o acompanhei, pois percebi que havia esquecido alguns documentos no carro.
Assim que voltei para meu escritório, me concentrei em analisar alguns relatórios de
vendas do último lançamento e os comparei com o lançamento anterior.
Quando ouvi batidas na porta, olhei para ver quem era e vi Mírian entrando em meu
escritório, então perguntei:
— Como foram as entrevistas?
— Não muito boas, mas consegui uma pessoa.
— Ótimo, ela vai começar hoje?
— Não, provavelmente amanhã, ainda estou aguardando-a aceitar a vaga, ficou de me dar
uma resposta hoje à tarde.
— Certo, me avise assim que ela falar com você. Qual das candidatas era?
— Helena Campos. — ela respondeu e eu olhei as fichas que Isadora havia me passado.
— Esse nome não está na lista que Isadora me passou.
— Essa foi uma candidata que eu chamei, Sr. Ribeiro. Ela é neta de uma amiga minha. —
ela respondeu, me entregando a ficha que a candidata havia preenchido antes da entrevista.
— Espero que ela seja competente. — falei, arrumando a minha gravata.
— Ela é. — Mírian garantiu.
— Se ela aceitar o trabalho, eu quero conhecê-la, então mande-a chegar bem cedo
amanhã.
— Pode deixar, senhor. Vou com Otto à feira e vou aproveitar para buscar as crianças. —
ela informou.
— Não precisa buscá-los, eu mesmo faço isso. — falei e ela assentiu, saindo do
escritório.
Organizei os papéis na minha pasta e saí em direção ao centro da cidade. No meio do
caminho quase atropelei uma mulher numa bicicleta, porque ela passou sem olhar para os lados
em uma via e mesmo eu tendo freado a tempo, ela bateu no capô do carro e gritou:
— Olha por onde anda!
E saiu pedalando. Não consegui ver o seu rosto direito, apenas os cabelos castanhos.
Revirei os olhos com tamanha inadimplência e segui em direção ao colégio dos meus
filhos, esperei por eles em frente ao portão principal e não demorou muito para que fossem
liberados.
Elizabeth saiu primeiro, arrastando sua mochila rosa e com seu inseparável coelhinho
lilás nos braços.
— Papai! — ela exclamou assim que me viu e correu até mim.
— Oi, minha princesa. Como foi a aula? — perguntei, ajeitando-a em meus braços e
beijei seu rostinho suado.
— Foi muito bom, brincamos com as cores. — ela me respondeu, mostrando-me suas
mãos com algumas marcas de tinta.
— Parece divertido, agora vamos esperar o seu irmão. — falei, colocando-a no chão e
não demorou muito para que meu filho mais velho saísse do colégio, ele se aproximou de nós
dois e eu baguncei seus cabelos e perguntei — Oi, filhão! Como foi a aula?
— Foi tudo bem, hoje tive natação.
— Que bom! Mais tarde tem karatê, não é? Otto vai te levar. — falei, abrindo a porta do
carro, enquanto ele se sentava, eu coloquei Liz na cadeirinha.
— Posso faltar o karatê hoje? Estou cansado e tenho uma tarefa do colégio para fazer. —
ele perguntou, no momento em que liguei o carro.
— Pode sim, mas a babá de vocês só deve começar amanhã, então não deem trabalho
demais à Mírian. — falei, olhando os dois pelo retrovisor e comecei a fazer o caminho do
restaurante.
— Outra babá, pai? — Benjamin perguntou.
— Mas eu não quero outra, babá. — Liz protestou, cruzando os braços.
— Vocês sabem que precisam de uma babá e eu não posso deixar a Mírian cuidando de
vocês, ela já cuida da casa. — falei e vi meu filho mais velho revirar os olhos.
— Eu não quero outra babá, me leva para o trabalho com você então, eu me comporto. —
ele falou, parecendo chateado.
— Meu trabalho não é para crianças. Sejam bonzinhos, por favor. — pedi e dei um longo
suspiro ao ver os dois assentirem a contra gosto.
Assim que chegamos ao restaurante, fiz os nossos pedidos e quando a comida chegou, os
dois se dividiram em comer e me contar sobre o que tinham feito ontem. Quando terminamos de
almoçar, Ben perguntou:
— Posso pedir torta de chocolate de sobremesa?
— Ben, seu dentista não tinha recomendado você diminuir os doces?
— Sim, mas um pedaço não vai fazer mal, por favor! — ele pediu.
— É, por favor, papai! — Liz pediu também e eu não resisti, infelizmente eu não
conseguia dizer não aos dois e talvez essa fosse a minha única fraqueza.
— Vou pedir uma fatia e vamos dividir, não quero vocês se enchendo de doces. — falei e
eles assentiram com um sorriso no rosto.
No momento em que terminaram a sobremesa, levei-os para casa e depois de abraços
chorosos porque queriam continuar comigo, eu fui para empresa.
Tinha um império para cuidar.
Minha conversa com César e Maicon foi bem tranquila, eles eram muito compreensivos e
me parabenizaram pelo novo emprego, principalmente depois de ver todos os benefícios.
Combinamos de comemorar essa nova conquista em um bar que costumávamos ir, mas
acabamos mudando de ideia quando eu lembrei que não podia beber muito, então decidimos ir
para casa de Isadora.
Durante a tarde, liguei para Mírian avisando-a que eu ficaria com a vaga e a senhorinha
ficou muito contente com isso e pediu para que eu chegasse um pouco mais cedo no dia seguinte
para conhecer meu novo chefe e toda a casa.
No final do dia, me despedi de todos com muito carinho na Recriar e enquanto César e
Maicon foram buscar as comidas, eu me encontrei com Isadora no mercado para comprar as
bebidas.
Fomos até a casa dela e não demorou muito para que os rapazes chegassem. Logo depois
Ayla apareceu com alguns cupcakes e Isadora ligou o som e o deixou em um volume ambiente
para que pudéssemos conversar.
César fez alguns drinks, enquanto eu enchia o meu prato com os salgados de festa que
eles haviam comprado.
— Nem contei a vocês, hoje quase fui atropelada. — falei, mordendo uma coxinha.
— Como assim quase foi atropelada, Lena? — Isadora perguntou.
— Foi naquele cruzamento sem sinalização que tem no caminho para o centro. Eu estava
indo até a feira para ver se aquela bolsa de tricô que eu queria ainda estava lá e um carro surgiu
do nada quando eu estava passando.
— Surgiu do nada? Conta outra, Lena! Você passou sem olhar, no mínimo. — Ayla disse
e todos concordaram.
— Vocês são meus amigos e deveriam ficar do meu lado! — falei, pegando o copo da
mão do Maicon — Não importa se eu passei sem olhar, o motorista quase me atropelou e eu dei
um belo tapa no capô dele por causa disso.
— E se esse cara faz alguma coisa contigo por isso? Não seja tão reativa, Leninha. —
César falou, sentando ao meu lado.
— E nós estamos falando isso para o seu bem, mesmo que aqui seja uma cidade
relativamente pequena, poderia ter acontecido algo mais sério com você. — Maicon falou
acariciando meus cabelos e eu dei um suspiro concordando com os meus amigos, eu realmente
tinha sido um pouco impulsiva.
O drink que César havia feito estava delicioso e conforme íamos conversando, eu e
Maicon acabamos secando toda a jarra sozinhos, já que os demais estavam bebendo cerveja.
Em meio a playlist que Isadora tinha colocado, começou a tocar a música do único casal
do grupo e quando eles se levantaram para dançar juntinhos ali mesmo na sala, me peguei
sentindo um pouco de inveja do que eles tinham.
Pensei no meu ex-namorado e até senti falta de alguns momentos que tivemos juntos, não
porque o amava, mas porque era confortável demais estar com ele.
E como se soubesse que eu estava pensando nele, recebi o alerta de uma mensagem do
meu ex.
Igor Sales: Leninha, estava vendo as nossas fotos, mais especificamente a foto do nosso
noivado e me peguei sentindo saudade do que tínhamos, podemos conversar?
Helena: Igor, você terminou comigo no momento em que eu mais precisava e agora você
quer conversar? Patético!
Igor Sales: Helena, as coisas não precisam ser assim. Eu errei, sei que sim, mas você não
consegue me perdoar? Lembre dos momentos bons que vivemos.
Revirei os olhos ao ler aquilo e resolvi ignorá-lo, deixei o celular de lado e fui preparar
outra jarra com drink, porque a noite estava só estava começando.

Na manhã seguinte, acordei um pouco desnorteada e sequer me lembrava de como eu e


Ayla tínhamos voltado para a casa da minha avó. Peguei o meu celular e quando olhei as horas,
vi que precisava adiantar, senão acabaria chegando atrasada para o meu primeiro dia.
Enquanto me arrumava, ouvi minha avó cantarolar uma das músicas que ela costumava
cantar para mim quando eu era criança e quando ela entrou no meu quarto, abriu um sorriso ao
me ver e disse:
— Que hoje seja um primeiro dia incrível, meu solzinho! — e beijou minha testa.
— Obrigada, vovó! Também espero que seja! — falei, abraçando-a carinhosamente.
Calcei meus sapatos, comi um pedaço do bolo que ela havia preparado e bebi uma xícara
de café, apesar de não costumar fazer isso. Ainda me sentia um pouco de ressaca pela noite de
ontem.
Peguei minha bicicleta e fiz o caminho que seria recorrente para mim de agora em diante,
liguei o som no meu celular e enquanto ele reverberava no meu ouvido, eu pedalei diante
daquele caminho arborizado.
Estava empolgada, a música era animada e eu estava me sentindo otimista pelo primeiro
dia. No meio do percurso, o som parou de tocar e eu fui tentar ver o que tinha acontecido ainda
pedalando, mas acabei me atrapalhando e bati em alguma coisa, quer dizer, em alguém e caí da
bicicleta.
Estatelada no chão da pista, olhei para cima e vi em quem eu havia batido. Havia um
homem me encarando e ao olhá-lo com mais atenção, percebi que eu já o conhecia e que o tinha
visto ontem. Eu tinha acabado de bater com uma bicicleta no meu novo chefe.
— Se não olha por onde anda, não devia estar sobre uma bicicleta! — ele falou
grosseiramente, enquanto me ajudava a levantar.
De pé, encarei-o por completo, notando os músculos saltando em seus braços e o suor
escorrendo pela camisa regata. Seu físico me deixou balançada por alguns segundos, mas logo
me aprumei e me concentrei na conversa.
— E quem você pensa que é para dizer o que eu devo ou não fazer? — perguntei,
cruzando os braços.
— Ontem você quase causou um acidente com essa bicicleta e hoje, praticamente me
atropelou, então eu acho que posso sim dizer alguma coisa.
— Então era você ontem? — questionei, irritada — Você que estava errado, quase me
atropelou naquela via.
— Estava livre para que eu passasse, você foi imprudente, passando sem olhar. — ele
afirmou categoricamente e depois de nos encararmos por alguns segundos, decidi que não
discutiria mais com ele.
— Bem, essa conversa não vai nos levar a nada e eu tenho mais o que fazer. Solte a
minha bicicleta. — falei e ele soltou o guidão.
— Fique à vontade, mas na próxima vez, tenha mais atenção. — ele disse e eu engoli
seco, antes de sair pedalando o mais longe possível daquele homem arrogante.
Assim que cheguei ao casarão, coloquei minha bicicleta em um canto da garagem como
Mírian havia me orientado e encontrei a governanta da casa terminando de colocar o café da
manhã sobre a mesa da cozinha.
— Você é bem pontual. — ela disse, ao me cumprimentar.
— Tento ser e como você me disse que era importante que eu chegasse mais cedo, fiz o
possível para chegar antes do horário. — falei a ela.
— Perfeito, as crianças já devem estar descendo, é bom que elas te conheçam antes de
irem para o colégio. — ela informou e eu assenti.
Me encostei no balcão e esperei que as crianças aparecessem e não demorou para que os
dois entrassem na cozinha.
Elizabeth tinha os cabelos mais puxados para o loiro e os olhos castanhos, parecia uma
bonequinha de tão linda e o Benjamin tinha os cabelos mais castanhos e os olhos verdes. Aos
oito anos, já era um rapazinho.
Me esforcei para dar o meu melhor sorriso a eles, pois queria causar uma boa impressão,
mas nenhum dos dois retribuiu. Quando se aproximaram de mim, pensei que fossem me abraçar,
mas acabei recebendo uma mordida na mão e um belo chute na canela.
Enquanto Mírian reclamava com eles pela atitude, me sentei em uma das cadeiras e
comecei a entender o valor do salário, cuidar daqueles dois não seria nada fácil.
Assim que Elizabeth se sentou ao meu lado, eu tentei ajudá-la a comer seu café da
manhã, mesmo ela não querendo muito a minha ajuda. Havia uma variedade de frutas sobre a
mesa e eu fui cortando algumas para ela enquanto seu irmão me encarava.
Não demorou muito para que o sr. Ribeiro entrasse na cozinha, ele me encarou com toda
sua arrogância e deu um sorrisinho assim que me reconheceu.
Continuei o que estava fazendo sem dar muita atenção a ele, pois não queria me estressar
ainda mais.
— Eu não gosto de banana. — Liz disse, empurrando a fruta para fora do prato, fazendo-
a cair sobre a mesa.
— Tudo bem, eu não sabia disso e não vou mais colocá-la no seu prato. — falei,
colocando as bananas em outro lugar — Se você não gosta de algo, basta me dizer, não precisa
tirar dessa maneira. — e ela assentiu, comendo as outras frutas.
Levantei minha cabeça e vi o pai dela nos observando do outro lado da mesa enquanto
bebia uma xícara de café. Nos encaramos por um tempo e ele disse:
— Srta. Campos, quero conversar com você em meu escritório. — e beijou a testa dos
seus filhos antes de sair da cozinha.
— Pode ir, querida. Vou terminar de arrumar eles e como Otto vai levá-los para o
colégio, é bom que você os acompanhe para saber onde é. — Mírian falou e eu assenti, me
levantando.
Caminhei até o escritório, bati na porta e assim que me foi permitido entrar, eu entrei e
encontrei meu novo chefe encostado em sua escrivaninha.
— Foi uma surpresa encontrá-la aqui. — ele disse, fechando a pasta que estava em suas
mãos — Mírian te escolheu e eu confio nela, mas não estou muito seguro de que você é capaz de
cuidar dos meus filhos. — falou, me encarando.
— Eu sou muito competente, sr. Ribeiro. Trabalho com crianças há anos e se me deixar
ser babá dos seus filhos, verá isso. — respondi, calmamente.
— Veremos, srta. Campos. Mírian irá lhe passar tudo o que você precisa saber pelo bem
estar dos meus filhos. Eles têm uma rotina, então fique atenta aos horários e não os perca de
vista.
— Certo, mais alguma coisa, sr. Ribeiro?
— Por enquanto, nada. Hoje venho jantar com eles em casa, então os leve para outra sala
nesse horário. — ele informou e eu assenti, saindo do escritório.
As crianças já me esperavam no carro, então dei apenas um abraço rápido em Otto, antes
de me sentar ao lado dele no banco da frente.
No momento em que ele estacionou em frente ao colégio, desci para tirar Liz da
cadeirinha e fui surpreendida por um jato de vomito que quase agarrou no meu rosto.
— Minha barriga dói. — ela disse, manhosa, enquanto eu pensava no que fazer. Lembrei
que na mochila dela tinha uma toalha por causa da natação e a usei para limpá-la e depois me
limpei o máximo que pude.
— Você vai levar minha irmã de volta para casa? — Ben perguntou, ajeitando a mochila
em seu ombro.
— Sim, ela não está se sentindo bem, mas eu venho te buscar. — falei, com um sorriso.
— Tanto faz. — ele disse, revirando os olhos e saiu em direção à entrada do colégio.
Entrei no carro e me sentei ao lado da garotinha enquanto Otto dirigia de volta para casa.
Assim que chegamos, expliquei à Mírian o ocorrido, enquanto levávamos Elizabeth até o
banheiro.
Ela me avisou que cuidaria da menina e eu fui me trocar, tomei banho em um dos
banheiros do térreo e deixei minha mochila onde seria o meu quarto enquanto eu trabalhasse ali.
Fiz um coque no meu cabelo ainda molhado e fui até a cozinha, onde encontrei Liz toda
manhosa no colo de Mírian.
— Pode deixá-la comigo. — falei e a senhora a colocou no meu colo.
— Vou fazer um suco para ela, já a mediquei porque ela também estava um pouco febril.
Não sei como não vi isso antes deles irem para o colégio. — ela falou, pegando umas laranjas na
fruteira.
— Às vezes essas coisas acontecem, não se culpe, Mírian. — falei, acariciando os
cabelos de Liz — Vou levá-la até a sala de tevê para assistirmos algum filme. — informei e ela
assentiu.
Como Elizabeth ainda estava bem molinha por causa do mal-estar e da febre, eu a
carreguei no colo e a coloquei no sofá, me sentei ao seu lado e prontamente ela se aconchegou,
colocando sua cabeça em minhas pernas.
Coloquei um desenho de princesa para assistirmos e acariciei seus cabelos enquanto o
filme passava. Até o momento não tinha acontecido mais nenhuma mordida, o que eu
considerava um grande avanço.
Em um determinado momento do filme, meu celular começou a tocar e apesar de não
reconhecer o número, eu atendi.
— Helena, acabei de falar com Mírian. Como Elizabeth está? Não acha melhor levá-la ao
hospital? Já mediu a temperatura dela de novo? — o sr. Ribeiro se atropelou nas palavras,
parecendo preocupado.
— Sr. Ribeiro, sua filha parece melhor, já foi medicada e eu estou monitorando sua
temperatura. — falei, tentando tranquilizá-lo.
— Certo, Helena. Irei lhe enviar o número da minha secretária, caso não consiga falar
comigo nesse número, pode ligar para ela.
— Pode deixar, sr. Ribeiro. Caso aconteça mais alguma coisa, ligarei para o senhor. —
falei, encerrando a ligação, coloquei o celular no bolso e voltei a prestar atenção no filme.
Elizabeth ficou manhosa praticamente durante toda a manhã, conseguiu comer uma
metade de um sanduíche depois de muita insistência e acabou adormecendo no início do segundo
filme.
Levei-a até o seu quarto e quando a coloquei na cama, observei a quantidade de bonecas
e ursos que a menina possuía. Haviam muitos e de tamanhos diferentes, um paraíso para
qualquer criança.
Fui até a cozinha, depois de checar sua temperatura mais uma vez e disse à Mírian:
— A febre abaixou totalmente.
— Que bom! — ela disse, aliviada — Vou lhe mostrar a casa antes que Benjamin chegue,
queria ter feito isso quando você voltou do colégio, mas essa manhã foi atípica. — assenti,
seguindo-a.
Mírian me levou em todos os cômodos daquele casarão que possuía três salas: uma de
estar, uma de jantar e uma de tevê. Tinha biblioteca, um escritório, os quartos das crianças, mais
dois de hóspedes e o quarto do senhor Ribeiro, que foi o único que não entramos. Fomos até a
área da piscina e até a academia também.
Era uma casa extremamente linda e muito bem organizada, mas não parecia que tinha
uma família vivendo ali, senti falta de quadros com fotos nas paredes ou até de objetos
bagunçados que não fossem no quarto das crianças, apenas para mostrar que viviam pessoas ali.
Quando terminamos, voltamos para a cozinha e Míriam me contou o que as crianças
gostavam de comer. Enquanto ela preparava o almoço, me sentei em uma das cadeiras e me
apoiei no balcão, ouvindo atentamente.
— O sr. Ribeiro preza muito pela saúde das crianças, então eles seguem uma alimentação
mais saudável, sem muito doces.
— Entendo e isso é importante, mas não vou ser demitida, caso dê doces a ele algum dia,
certo?
— Certo, só não faça disso algo recorrente, as crianças comem doces apenas de vez em
quando. — ela explicou e eu assenti.
Um pouco antes do horário de ir buscar Benjamin no colégio, Elizabeth acordou, ainda
manhosa e um pouco enjoada, e como eu não podia deixá-la com Mírian, pois ela estava
ocupada, pedi que Otto fosse sozinho buscar o garoto.
Quando Ben chegou, eu estava com Liz em meu colo, acariciando seus cabelos loiros
enquanto ela cantarolava uma canção infantil.
Benjamin passou por nós duas, jogando sua mochila em um canto da sala e tirando seus
sapatos ali mesmo, ele se jogou no sofá e eu disse:
— Ei, garotinho! Não pode deixar as coisas assim, que tal levá-las para o seu quarto?
— Você não manda em mim, sua chata! — ele gritou, me deu língua e logo depois subiu
as escadas correndo para seu quarto.
Dei um longo suspiro e levei Liz até a cozinha, a coloquei em uma das cadeiras e
perguntei:
— Vou fazer o Benjamin pegar as coisas dele e se arrumar para o almoço, pode ver se
Liz come mais alguma coisa?
— Claro, mas não seria melhor eu lidar com o Ben? — Mírian questionou.
— Se eu não lidar com ele agora, ele nunca vai me respeitar e o meu trabalho vai ser
ainda mais difícil. — falei a ela e saí da cozinha.
Subi as escadas e fui em direção até o quarto de Benjamin, encontrando-o ainda de farda,
brincando com seus bonecos.
— Está na hora de almoçar, mocinho! Vamos pegar sua mochila e os seus sapatos lá
embaixo e depois tomar um banho para comer com a sua irmã. — disse, calmamente a ele.
— Você não manda em mim, sai agora do meu quarto! — ele gritou, mais uma vez.
Respirei fundo, me agachei ao lado dele e falei:
— Eu sei que você ainda não gosta de mim e que deve ser muito chato ficar com uma
babá, mas você não me conhece ainda e eu juro que sou legal. Que tal me ajudar um pouquinho?
É o meu primeiro dia, rapazinho.
— Se eu pegar a mochila e os sapatos, você me deixa almoçar na sala de tevê? Quero
assistir desenho. — ele perguntou e eu o encarei, o danadinho estava querendo me chantagear.
— Olha, não deixo porque isso é sua obrigação, mas se você fizer o que pedi, vai poder
almoçar com sua irmã e logo depois nós podemos assistir desenho na sala de tevê e talvez, eu
deixe você escolher. — informei a ele e saí do quarto, deixando-o pensativo.
Desci até a cozinha e encontrei Mírian terminando de colocar comida no prato de Liz.
— Pode deixar que eu corto o frango, Mírian. — falei, pegando os talheres na gaveta —
Sei que você deve ter outras coisas para fazer.
— Obrigada, querida. — ela agradeceu, indo até o fogão — Não conseguiu se resolver
com Benjamin?
— Na verdade eu consegui, ele deve estar tomando banho agora. — falei e ela assentiu.
Minutos depois, Ben apareceu arrumado e com o cabelo um pouco molhado, o que
mostrava que ele havia me obedecido.
Ele se sentou ao lado da irmã e eu observei os dois comendo, ajudando Liz apenas
quando precisava que algo fosse cortado.
Quando os dois terminaram, Mírian os levou para escovarem os dentes e me avisou que
eu poderia almoçar.
— Vou levar eles para sala de tevê enquanto você come.
— Certo, pode deixar o Ben escolher um filme para os dois assistirem. — falei e ela
assentiu.
Comi rapidamente e quando terminei, fui encontrar as crianças, me sentei no sofá entre os
dois e imediatamente Liz se aconchegou ao meu lado e colocou a cabeça em meu colo para que
eu acariciasse seus cabelos.
Benjamin tirou os olhos do filme para observar a cena e eu perguntei:
— Quer um cafuné também, Ben?
— Não sou um bebê igual a Liz. — ele respondeu, indignado.
— Não precisa ser um bebê para ganhar um carinho, tem certeza que não quer?
— Tenho! Você vai me ensinar as tarefas também ou eu preciso falar com a Mírian?
Porque eu tenho um texto para fazer. — ele questionou, me encarando.
— Sou eu que vou te ensinar, daqui a pouco podemos ir conferir suas atividades. Eu
também preciso rever os seus horários, acho que você tem aula de piano hoje.
— É, eu tenho e a Liz também.
— Sua irmã não está em condições de ir. Assim que o filme acabar, nós vamos até a
biblioteca conferir suas atividades e aulas extracurriculares. — falei e ele assentiu, voltando a
assistir ao filme.
Assim que o filme terminou, fui para a biblioteca com as crianças e fiquei mais uma vez
impressionada com a quantidade de livros presentes naquele lugar.
Benjamin se sentou em uma das cadeiras, enquanto Elizabeth foi até uma das estantes
pegar um livro para que ela pudesse folear. No momento em que olhava o diário de Ben, recebi
uma mensagem e pensei em ignorar, pois estava trabalhando, mas quando vi que era do meu
chefe, resolvi ler.
Gustavo Ribeiro: Helena, optei por mandar uma mensagem, pois estou no meio de uma
reunião, mas quero saber como Elizabeth está. Ela ainda está enjoada? Teve febre novamente?
Me surpreendi com o tom preocupado da mensagem, pois não pensava que ele era esse
tipo de pai e respondi:
Helena: Sr. Ribeiro, Liz não passou mal depois que almoçou e também não teve mais
febre. Aparentemente ela está bem, mas sigo monitorando.
Gustavo Ribeiro: Certo, mantenha-me informado e não esqueça que Ben tem aula de
piano hoje à tarde.
Helena: Já estou ciente dos horários deles, não se preocupe.
Guardei meu celular depois que vi que ele não mandaria mais nenhuma mensagem e
comecei a ensinar as tarefas de Benjamin. Ele era um garoto muito esperto e inteligente, então
não me deu muito trabalho.
Assim que ele terminou, arrumei os dois e os levei até a escola de música. Benjamin foi
até a sala onde faria a aula de piano e Elizabeth preferiu ficar comigo até a aula terminar, me
sentei em uma das cadeiras e ela prontamente veio para o meu colo.
Peguei o meu celular para ver se minha avó havia me ligado e notei que havia recebido
uma mensagem da minha amiga.
Isadora: Leninha, como está sendo o dia com os pestinhas? Até rimou! Hahaha... Levou
mais algum chute ou mordida?
Helena: Está tudo relativamente bem, já fiz tanta coisa hoje, que nem parece que é
apenas o meu primeiro dia, mas agora estou esperando Benjamin fazer sua aula de piano
enquanto Elizabeth está sentada em meu colo. Eu não sei se ela já sabe ler, então por favor,
cuidado para não falar nenhuma besteira, ela está olhando para o meu celular.
Isadora: Acho que ela ainda não sabe ler, pelo menos não frases completas, está
aprendendo ainda. Mas deixa eu te contar, nosso chefe, me pediu sua ficha.
Helena: Eu sabia que ele ia pedir, acho que não causei uma boa impressão e ele ainda
não confia muito em mim cuidando dos filhos dele.
Isadora: Mas o que você fez para causar uma impressão ruim?
Helena: Longa história, depois te conto!
Isadora: Odeio quando você faz isso, mas de todo modo, fiz uma ficha perfeita sobre
você e fiz questão de evidenciar seu estado civil.
Helena: Eu não estou interessada em me tornar uma esposa como todas as outras.
Isadora: Sei disso, mas vai que ele se interessa por você.
Helena: Isso é algo impossível de acontecer.
Isadora: Eu não acho. Agora preciso ir, tenho que falar com outro setor.
Guardei meu celular dentro da bolsa e Elizabeth falou:
— Meu papai vai me dar um celular também.
— É mesmo? Mas você é muito pequena para ter um celular. — falei, ajeitando os fios
rebeldes do cabelo dela.
— Eu não sou pequena, tenho assim... — ela me mostrou quatro dedos na mão — Sou
grande já.
— É uma mocinha. — disse, achando graça do jeito que ela falou — Você está se
sentindo bem?
— Estou, acho que o dodói já passou. — ela falou com um sorriso e eu me senti aliviada
ao ouvir aquilo.
Assim que a aula terminou, Benjamin veio até onde estávamos e eu mandei uma
mensagem para Otto, o avisando que já o esperávamos. Saímos do prédio e após alguns minutos,
eu estranhei a demora, porque a cidade era pequena e o lugar não era tão distante. No momento
em que iria ligar para ele para saber o que tinha acontecido, o sr. Ribeiro estacionou em nossa
frente.
Assim que saiu do carro, Benjamin correu até seu pai e o sr. Ribeiro o pegou no colo, lhe
dando um abraço. Elizabeth soltou minha mão e fez o mesmo trajeto, recebendo um abraço
carinhoso também.
E observando aquela cena, pela primeira vez eu vi um coração embaixo de toda aquela
imagem arrogante que ele aparentava.
Entramos no carro e o meu chefe começou a dirigir, enquanto passávamos pelo parque da
cidade lembrei da doceria e disse:
— Sr. Ribeiro, se não for lhe incomodar, você poderia parar rapidinho na próxima curva?
Queria comprar uma coisa para o jantar. — ele me encarou rapidamente e logo depois voltou a
prestar atenção no trânsito.
— Posso sim, mas espero que não demore, já está anoitecendo. — ele falou e eu assenti.
Assim que ele parou o carro, eu coloquei minha bolsa no ombro e abri a porta para
descer, quando estava com os dois pés para fora, Elizabeth perguntou:
— Posso ir com você, Lena?
— Claro! Gostaria de ir também, Benjamin? — perguntei ao garoto, enquanto soltava a
garotinha da cadeira, mas ele negou com a cabeça — Tudo bem então, vamos apenas eu e a Liz.
— falei e ela sorriu.
Elizabeth segurou minha mão e eu a levei até a minha loja de doces favorita.
— Aqui é muito lindo! Tem muitos bolinhos divertidos! — ela exclamou empolgada,
apontando para a vitrine.
— Escolhe um para você. — falei e ela olhou atentamente para todos, até apontar para
um com confeitos de unicórnio.
E então pedi esse para ela e depois ela me ajudou a escolher um para Benjamin. Escolhi
outro para Mírian, peguei o meu favorito que era de ninho com morango e escolhi o mesmo para
o sr. Ribeiro.
Assim que voltamos para o carro, ele olhou para a caixa em minhas mãos, mas não teceu
nenhum comentário, então seguimos para casa, ouvindo Elizabeth tagarelar sobre a loja.
No momento em que chegamos em casa, deixei a caixa na cozinha e levei as crianças até
os seus devidos quartos e como Benjamin já se arrumava sozinho, fui para o quarto de Elizabeth.
Depois de arrumá-la, comecei a pentear os seus cabelos e perguntei:
— Duas tranças ou uma só?
— Uma só. — ela pediu, se encarando no espelho e eu assenti.
Quando terminei, fui ver se Benjamin já estava arrumado e desci com os dois, fomos até
a sala de jantar e eu fiquei um pouco balançada ao ver meu chefe usando trajes mais informais.
Ele era um homem muito bonito, mas vê-lo de um jeito mais descontraído, aparentemente era um
ponto fraco para mim.
Me sentei à mesa, ao lado de Elizabeth, para ajudá-la com a comida e não demorou muito
para que Mírian colocasse o jantar sobre a mesa.
Enquanto eu perguntava a Liz o que ela queria comer, para colocar no prato dela, o sr.
Ribeiro disse:
— Helena, pode se servir também, quero que coma conosco e não fique apenas olhando.
— e eu assenti, assim que terminei de cortar a carne para Elizabeth, eu montei o meu prato,
pegando um pouco de cada coisa.
Enquanto comia, ouvi o sr. Ribeiro perguntar às crianças como tinha sido o dia deles e o
que eles tinham feito. Benjamin foi bem sucinto na sua resposta, dando uma ênfase especial à
aula de piano, o que me fez acreditar que ele gostava muito disso, já Elizabeth tagarelou bastante
sobre os filmes que assistiu e eu fiquei surpresa ao perceber o quanto o pai se mostrava
interessado em tudo o que ela dizia.
Assim que terminamos de comer, o sr. Ribeiro fez menção de se levantar, então eu disse:
— Como hoje é o meu primeiro dia, queria terminá-lo de um jeito especial, então
comprei a sobremesa para o jantar.
— Os doces naquela caixa não eram só para você? — ele questionou.
— Não, trouxe um para cada. — falei, indo até a cozinha para pegá-los — Os das
crianças não são tão doces quanto parecem. — garanti, enquanto entregava o de unicórnio da Liz
e um com carrinhos em cima para Benjamin. — Comprei um para o senhor também, não sabia
qual sabor pegar, então trouxe um igual ao meu, é de ninho com morango. — coloquei o cupcake
em frente a ele — Espero que eu tenha mostrado pelo menos um pouco da minha competência
para cuidar dos seus filhos hoje. — falei, enquanto me sentava novamente.
— É apenas o seu primeiro dia, srta. Campos. Vamos ver quanto tempo você vai aguentar
essa rotina. — ele disse, mordendo o cupcake sem desfazer o contato visual.
E eu não consegui deter um grunhido de frustração ao ouvir aquilo, estava perdida com
aquele homem.

Minha primeira noite naquela casa até que foi tranquila. Achei que iria estranhar a cama
ou demorar para dormir por causa do dia agitado, mas apaguei assim que me deitei.
Quando acordei, ainda estava amanhecendo e aparentemente não havia ninguém
acordado. Fui até a cozinha, que era bem perto, peguei um copo d’água e voltei para o meu
quarto.
Peguei meu celular, gravei um áudio para minha avó, pois ontem só tinha conseguido
falar com ela muito tarde, e logo depois mandei uma mensagem no grupo que tinha com os meus
amigos.
Helena: Que bom que comemoramos o meu trabalho antes que eu começasse, porque se
todos os dias forem agitados iguais ao primeiro, eu não terei muito tempo livre! As crianças,
apesar de um pouco ariscas, são uns amores e eu estou otimista sobre hoje.
Ayla: É até estranho te ver acordada tão cedo, mas meu dia ontem foi tranquilo. Minha
mãe não veio até o restaurante e isso já é algo bom. Meu irmão apareceu para me dar um abraço
e falou que você estava indo bem, que estava feliz em ter um rosto conhecido no casarão e sua
avó só conseguiu dormir depois que você ligou, apesar de eu ter insistido para que ela fosse
descansar.
Helena: E quando eu liguei já era tão tarde, porque Elizabeth enrolou para dormir, tanto
que nem quis falar muito.
Ayla: Você conhece bem sua avó, ela é turrona. Veja se não consegue ligar em outro
horário, acho que se ela falar com você pelo menos uma vez ao dia, já vai ficar mais tranquila.
Helena: Tentarei fazer isso durante as aulas extracurriculares das crianças, obrigada por
cuidar dela, Ayla.
Ayla: Nem precisa agradecer, sabe que a amo como uma avó.
Isadora: Pelo visto, esse vai ser o horário em que vamos conseguir conversar de agora
em diante. Meu dia ontem foi cansativo, muitas reuniões para acompanhar e para piorar, meu
advogato apareceu com o casinho da vez.
Helena: Já disse para você superar esse homem!
César: Nosso dia ontem foi tranquilo, sentimos sua falta e ainda não conseguimos
encontrar alguém para te substituir, mas demos um jeito e Maicon ficou na sua sala ontem.
Helena: Queria muito ter visto isso, tenho certeza que as minhas crianças deram bastante
trabalho.
Maicon: Deram mesmo, mas eu consegui controlar a situação, não sou tão artístico como
você, mas eles se interessaram pela aula de jardinagem que fizemos ontem.
Helena: Que bom, Maicon! Mas sei que você tem suas obrigações com a Recriar então
por que vocês não falam com a Julia? Ela já estagiou com a gente uma época, acho que ela iria
adorar a oportunidade.
César: Bem lembrado! Iriei ligar para ela assim que chegarmos na Recriar.
Helena: Ótimo, estou ouvindo uns barulhos na cozinha, então acho que a Mírian
acordou. Um bom dia para vocês!
Deixei o celular de lado e fui seguir a rotina da manhã para preparar as crianças para o
colégio, enquanto eles tomavam o café da manhã, estranhei ao não encontrar o sr. Ribeiro, então
presumi que ele tivesse ido mais cedo para a empresa.
Levei as crianças para a aula e quando voltamos, Otto e eu nos sentamos nos degraus em
frente à casa para conversarmos um pouco, fazia um tempo que nós não fazíamos isso.
— Fui ver a Ayla ontem. — ele comentou.
— Ela me falou. — disse, segurando sua mão, acariciando-a levemente — Você sabe que
ela está bem, não sabe? Minha avó a trata como se fosse neta, com o maior cuidado do mundo.
— Sei disso, Lena. Só que essa situação toda é muito difícil para mim.
— Eu entendo, mas imagina como ela está se sentindo diante disso tudo? Sua mãe foi até
o restaurante em que ela trabalha e praticamente fingiu que ela não existia, o que só torna tudo
muito pior.
— Já falei com a mamãe para não fazer isso, mas ela não me escuta. — ele disse,
indignado — Ela acha que vai fazer Ayla ver que errou ou algo assim, sendo que a minha irmã
não fez nada de errado.
— Sua mãe precisa ser menos preconceituosa. Eu a amo, por tudo que fez por mim
quando mais precisei, mas sequer consigo olhar para ela diante de tudo o que ela está fazendo
com Ayla.
— Sei bem como é isso, estou até evitando ir até a casa dela, porque ela começa a tecer
comentários... — ele não conseguiu terminar, porque fomos interrompidos.
— Achei que estivesse pagando vocês para trabalharem e não para ficarem conversando.
— sr. Ribeiro disse em seu tom arrogante, enquanto passava por nós dois. Rapidamente soltei a
mão de Otto e nós dois nos levantamos.
— Desculpe, sr. Ribeiro. Isso não vai se repetir, precisa que eu o leve até a empresa? —
Otto perguntou a ele.
— Sim, tive que deixar meu carro na oficina essa manhã. — ele respondeu e Otto
prontamente saiu para buscar o carro.
Encarei-o por alguns segundos, sem saber o que dizer, então me virei para subir os
degraus, quando ele disse:
— Não estou te pagando um salário como aquele para ficar conversando, srta. Campos.
— Estou ciente das minhas obrigações, sr. Ribeiro. — falei, voltando a encará-lo —
Acabei de deixar as crianças no colégio.
— Então procure outra coisa para fazer, não tolero relacionamento entre funcionários. —
ele disse, indo até o carro, sem me dar a oportunidade de retrucar.
Dei um longo suspiro e entrei na casa, fui até Mírian, mas como ela não precisava de
ajuda, fui até o quarto das crianças e depois de notar que o quarto de Benjamin estava arrumado,
fui organizar o de Elizabeth, afim de tentar colocar aquelas bonecas e ursos em seu devido lugar.
Assim que entrei no carro, nem consegui falar com Otto sobre a atitude dele com a babá,
porque meu celular começou a tocar, era Helton.
— Já chegou no escritório? — ele perguntou, logo que eu atendi.
— Estou a caminho.
— Ótimo, quando você me pediu para checar os antecedentes criminais da nova babá, eu
achei o nome dela familiar, mas não conseguia me lembrar de onde a conhecia até essa manhã.
— Não quero saber se você já transou com ela, Helton! — falei, farto daquela conversa.
— Não é sobre isso! Eu achei o nome dela familiar por causa do acidente, lembra que
achamos que eles iriam te processar? Esperamos por semanas e eles não fizeram nada.
— Lembro sim, mas o que isso tem a ver com ela?
— Eram os pais dela no carro, Gustavo, e Helena estava com eles. — ele revelou e eu
respirei fundo.
— Preciso saber mais sobre isso, Helton.
— Estou com todos os documentos, a caminho do seu escritório. — informou — Separe
um tempo para isso, tem bastante coisa. — e nós encerramos a ligação.
O pouco de bom humor que me restava se esvaiu por completo depois daquela ligação.
Encarei a cidade lá fora e lembrei do acidente que tirou meu sono e assombrou meus
pensamentos por muito tempo.
Eu me encantei por Paula assim que a conheci, estava em Paris, apresentando a mais
nova linha de perfumes e ela era uma das modelos que estava divulgando a marca.
Trocamos alguns olhares e no coquetel de lançamento, eu fui falar com ela assim que
tive uma oportunidade. Depois de uma boa conversa, fomos para um quarto de hotel e dormimos
juntos naquela noite.
Na manhã seguinte, trocamos os nossos números, mas não mantivemos contato e só
voltamos a nos falar quando ela apareceu no prédio da Ribeiro Perfumes para me falar que
estava grávida e que o filho era meu.
E apesar de ser antiquado, eu a pedi em casamento, pois queria construir uma família e
nos casamos logo depois do Benjamin nascer. Apesar da excitação inicial de um casamento, foi
logo depois do nosso filho nascer que eu conheci verdadeiramente a pessoa com quem me casei.
Minha esposa a cada dia se mostrava mais fútil e egoísta, passou a não se importar com
o nosso filho e nem com o nosso casamento. Além de reclamar constantemente de onde nós
morávamos, ela vivia fazendo viagens para outros países com a desculpa de que precisava
relaxar.
Aturei isso por um longo tempo, pelo Benjamin, mas quando me cansei e decidi pedir o
divórcio, ela prometeu que ia mudar, que as coisas iam ser como antes, como eram quando nos
primeiros meses de gravidez e eu acreditei, porque queria uma família.
E então, alguns meses depois, ela descobriu que estava grávida de Elizabeth e eu pensei
que aquela era a nossa segunda chance de fazer dar certo, mas me enganei.
Toda a gestação foi tranquila e nossa filha nasceu saudável, as coisas pareciam estar
dando certo, mas quando Liz completou cinco meses, Paula resolveu parar de amamentar e
voltou a beber.
Nossas discussões se tornaram brigas, tomando proporções gigantescas, a ponto de ela
quebrar coisas enquanto discutíamos, tornando a convivência cada vez mais difícil. Porém, foi
apenas no aniversário de um ano de Elizabeth que eu percebi que minha esposa tinha se tornado
uma alcoólatra.
Ela deu um vexame no momento em que íamos cantar parabéns, estava tão bêbada que
quase caiu em cima do bolo. Foi uma cena vergonhosa que fez com que a festa acabasse antes
da hora.
Depois que todos saíram, Helton ficou com as crianças e eu fui conversar com ela.
Discutimos mais uma vez e eu pedi o divórcio, ela disse que nunca se divorciaria de mim e saiu
de casa antes que eu pudesse segurá-la, tentei impedir que ela dirigisse, mas ela quase me
atropelou.
E apesar da situação em que estávamos, eu fiquei preocupado quando ela não voltou
para casa depois de uma hora. No momento em que meu celular tocou no início da madrugada,
eu pensei que fosse ela, mas era de um hospital, informando que minha esposa tinha se
envolvido em um acidente na estrada e que havia morrido na hora.
Além de Paula, duas pessoas tinham falecido e apenas uma havia sobrevivido e mesmo
consternado com o luto, me ofereci para pagar todos os custos médicos da sobrevivente, mas a
família não aceitou que eu pagasse por nada, então deixei que Helton cuidasse disso e foquei
totalmente nos meus filhos que precisavam de mim mais do que nunca.

Estava tão perdido nas minhas lembranças, que nem percebi que já tínhamos chegado à
empresa, desci do carro e andei até o elevador. Assim que cheguei ao meu andar, fui até a mesa
da minha secretária e disse:
— Remarque minha reunião com o setor de finanças, receberei somente o Helton essa
manhã, então quando ele chegar, mande-o entrar, não precisa avisar.
— Pode deixar! Quer seu café, sr. Ribeiro? — ela perguntou, solícita como sempre.
— Não. — respondi grosseiramente e entrei na minha sala.
Tentei trabalhar enquanto Helton não chegava, mas não conseguia me concentrar em
nada, mexi em alguns documentos importantes, mas deixei-os de lado assim que ouvi batidas na
minha porta.
— Desculpe a demora, tinha um animal na estrada e isso causou um engarrafamento
terrível. — ele explicou e se sentou à minha frente.
— Você tem certeza sobre o que me disse? Aqueles eram mesmo os pais da Helena? —
questionei, encarando-o.
— Claro que tenho certeza! — ele falou, convicto — Depois da primeira recusa que
fizeram a você sobre os pagamentos médicos, eu fui lá e insisti mais uma vez, mas a avó dela me
avisou que não queria nada da mulher que tirou a vida da filha dela e que apesar de ter perdido
quase tudo, ainda tinha a neta e não queria esse dinheiro sujo perto dela.
— Caramba! — esfreguei meu rosto com as duas mãos — Helena sabe sobre a Paula?
Sabe que minha ex-mulher tirou a vida dos pais dela?
— Acho que não sabe, ela ficou muito mal depois que saiu do hospital, fez terapia
intensiva por mais de um ano para tratar dos traumas que o acidente acarretou.
— E como a família dela arcou com tudo isso, Helton?
— Pelo que investiguei, os pais deixaram um dinheiro pra ela, foi com isso que a avó
arcou com os gastos.
— Nem sei como vou conseguir encarar Helena, agora que sei de tudo isso. — falei, com
um grunhido frustrado.
— Você não foi o culpado por aquele acidente, Gustavo. — ele disse, me encarando —
Não quero que volte a pensar desse jeito.
— Eu deveria ter impedido ela de sair com aquele carro, Helton.
— Você tentou e ela quase te atropelou! A única pessoa culpada por aquele acidente foi a
Paula, ela estava dirigindo completamente embriagada. — ele falou, se levantando — Continue
tratando a nova babá dos seus filhos do mesmo jeito. Já se passaram anos, não deixe que aquele
acidente continue influenciando na sua vida. Preciso ir agora, tenho uma audiência do outro lado
da cidade. — ele disse, nós nos abraçamos brevemente e eu agradeci mais uma vez pelo apoio.
Andei até a janela, encarei a vista por um tempo, me sentindo um pouco reflexivo e logo
depois voltei a trabalhar, afinal, eu tinha um império para cuidar.
Olhei a foto dos meus filhos sobre a mesa, era tudo por eles e disquei o ramal da minha
secretária no telefone.
— Isadora, preciso de você na minha sala, temos muito o que fazer.
Assim que terminei de organizar as bonecas de Elizabeth por tamanho, tentei encontrar
um lugar para colocar os ursos, que também tinham tamanhos variados, quando meu celular
começou a tocar, era Isadora.
— Acho que cheguei ao limite do meu estresse. — ela disse assim que eu atendi, podia
até ouvir os saltos dela batendo no chão.
— Nunca pensei que ouviria isso de você, o que aconteceu?
— Nosso queridíssimo chefe adiou muitas reuniões durante a semana e agora eu estou
correndo atrás do tempo perdido, tentando reagendar tudo. Já bebi tantos copos de café hoje que
estou até enjoada.
— Dora, chega de café! Tenta respirar fundo e para um pouco para visualizar as suas
prioridades, assim você não fica tão agoniada.
— Boa ideia! — ela disse e eu pude ouvi-la expirando — O que você está fazendo?
— Organizando os brinquedos de Elizabeth, eles têm tantos brinquedos e nem brincam
tanto assim.
— Culpa do pai que os mima demais, tudo o que essas crianças pedem, ele move mundos
para dar.
— Por isso eles são mimados desse jeito, não dão limites.
— Nenhum! Que tal almoçarmos juntas hoje?
— Eu tenho duas crianças para cuidar, não posso sair assim, ainda mais no horário de
almoço.
— Lena, traz os pestinhas com você, nós podemos comer lá no restaurante que Ayla
trabalha, assim ela poderia participar também.
— Preciso ver com Mírian se posso levá-los, porque eu não sei se você lembra, mas esse
é o meu segundo dia.
— Eles sabem que você não vai sequestrá-los, Helena. Com certeza não vai ter nenhum
problema, agora preciso ir, tenho que acompanhar mais uma reunião. — ela falou e eu desejei
boa sorte antes de desligar.
Terminei de arrumar o quarto de Liz e fui até a cozinha falar com Mírian sobre os meus
planos de almoçar fora com as crianças, ela disse que tudo bem, porque também teria que sair
nesse horário e me pediu apenas que tomasse cuidado.
Assenti e enquanto ia com Otto buscar as crianças no colégio, mandei uma mensagem
para o sr. Ribeiro, pois não queria atrapalhá-lo, caso ele estivesse em alguma reunião.
Helena: Sr. Ribeiro, estou a caminho para buscar as crianças e decidi levá-las para
almoçarem comigo em um restaurante, espero que o senhor não veja nenhum problema nisso. Já
conversei com Mírian e agora estou avisando-o para que não se preocupe.
Gustavo Ribeiro: Tudo bem, Helena, hoje eles não têm nenhuma atividade
extracurricular, só não deixe que eles comam muitos doces.
Helena: Pode deixar! Irá jantar com as crianças hoje?
Gustavo Ribeiro: Não, tenho um jantar de negócios, avise as crianças para não me
esperarem, não quero atrapalhar o sono deles.
Helena: Avisarei a eles.
Guardei meu celular e logo depois Otto estacionou em frente ao colégio, avisei a ele que
almoçaríamos no restaurante e o convidei para almoçar conosco, mas ele tinha um compromisso
com Mírian e não podia ficar, então peguei as crianças e andei com elas até o restaurante.
Logo que entramos, coloquei Elizabeth em uma cadeira, me sentei e pedi que Benjamin
se sentasse ao meu lado, assim poderia tomar conta dos dois.
— Por que nós vamos comer aqui? — Liz perguntou, observando a decoração do lugar.
— Porque a comida daqui é muito boa e eu queria que nós comêssemos em um lugar
diferente hoje, além do mais, vou encontrar duas amigas aqui. — expliquei e no mesmo
momento Isadora se aproximou da mesa.
Me levantei para abraçá-la e logo depois ela se sentou e disse:
— Ben e Liz! — ela sorriu para eles — Lembram de mim?
— Você é do trabalho do meu papai, não é? — Benjamin questionou.
— Sim, sou a secretária dele. — ela respondeu e depois virou para mim — Ayla já saiu
para o horário de almoço?
— Me mandou uma mensagem, avisando que estava esperando Jéssica chegar para
substituí-la. — respondi e enquanto foleávamos o cardápio a fim de decidirmos o que iríamos
comer, Ayla chegou e eu a apresentei às crianças.
Uma garçonete se aproximou, com lápis de cor e uma folha para os pequenos decorarem
e enquanto isso nós fizemos os pedidos.
Enquanto esperávamos, Isadora perguntou:
— O que vamos fazer para o aniversário do César? É daqui a duas semanas e vocês
sabem que se a gente não organizar, Maicon fica perdido.
— Realmente, ano passado ia ser um desastre se a gente não se envolvesse no
planejamento. — Ayla disse.
— Podíamos fazer algo na Recriar, ano passado estava em reforma e não tinha como,
mas acho que ele iria amar passar um dia tão especial em um lugar que ele tanto ama. — falei e
elas concordaram.
— É em um domingo, ou seja, podemos convidar as crianças para participarem também.
Posso falar com as professoras para elas nos ajudarem com a decoração. — Isadora falou,
pegando sua agenda.
— Perfeito! Precisamos conversar com Maicon para começarmos a encomendar as
coisas. — falei e nós começamos a enumerar tudo o que iriamos precisar para a festa.
Quando os nossos pedidos chegaram, as crianças não enrolaram para comer. Havia
pedido macarrão com molho à bolonhesa para eles, junto com uma porção de batata frita e eles
adoraram.
Assim que terminamos de almoçar, nos despedimos de Ayla e fomos até a praça da
cidade que era bem arborizada e tinha alguns brinquedos para as crianças. Como ainda restava
um tempinho em seu horário de almoço, Isadora nos acompanhou.
Então, me sentei ao lado dela em frente a pracinha e disse:
— Podem ir brincar, só tomem cuidado para não se machucarem. — falei e ambos
assentiram, Benjamin correu até a escorregador mais próximo, mas Elizabeth ficou.
— Cuida do fofinho para mim? — ela pediu e eu assenti, segurando seu inseparável
ursinho lilás. Ela correu até o balanço e logo o irmão foi empurrá-la.
— Até que eles não são tão pestinhas quanto eu pensei. — ela comentou, olhando para
eles.
— Não são, acho que eles só são carentes de afeto, sabe? Ficam pouco tempo com o pai e
não têm mais a mãe, por isso eles fazem birra para ter tudo o que querem, porque sabem que
assim conseguem as coisas.
— Realmente, o sr. Ribeiro faz tudo por aquelas crianças e acho que se ele pudesse,
ficaria mais com eles, só que ele é dono de um império, Helena, trabalha mais que qualquer um
naquela empresa.
— Dora, como você mesmo disse, ele é dono de tudo aquilo. Saber delegar funções é
importante, ainda mais nessa fase em que Benjamin e Liz estão, acho que ele vai se arrepender
de não ter passado mais tempo com eles lá na frente. Principalmente porque ele prefere manter as
crianças o mais ocupadas possível para que eles não percebam a ausência dele. Tem noção da
quantidade de atividades extracurriculares que eles fazem?
— Tenho, eu mesma tive que procurar por todas elas.
— Eles mal conseguem aproveitar aquela casa enorme e todos os brinquedos que têm,
mal encontram um tempo para brincarem e serem crianças.
— Ah, esses dramas de crianças ricas! Poderia passar a tarde inteira falando sobre eles,
mas preciso ir, estou quase no meu horário e quero comprar um milk-shake antes de entrar no
prédio.
— Tudo bem, combinamos algo em breve. — falei abraçando-a.
Como as crianças estavam se divertindo, fiquei com eles por alguns minutos no parque e
logo depois, chamei Otto para que pudéssemos ir para casa.
Após o banho, fomos até a biblioteca e os ajudei com as tarefas, quando eles terminaram,
fomos até o jardim com alguns brinquedos.
Observei-os brincando e fiquei contente de vê-los tão felizes e agindo como crianças
mais uma vez, já que momentos como aquele pareciam raros naquela casa.
Me surpreendi quando Mírian trouxe sorvete de manga que ela mesmo havia feito, as
crianças aproveitaram bastante da sobremesa gelada, principalmente Elizabeth que havia sujado
até a roupa. Benjamin, apesar de parecer já estar mais à vontade comigo, ainda ficava um pouco
distante.
Por brincarem durante a tarde toda, no final do dia as crianças já estavam bem cansadas.
Mírian fez uma sopa e nós jantamos juntos na cozinha, já que o sr. Ribeiro não se juntaria a nós.
Quando eles terminaram, levei cada um para o seu próprio quarto e li duas histórias para
Liz até que ela caísse no sono, depois fui ao quarto do Benjamin para ver como ele estava e o vi
guardando um livro ao lado da cama.
— Eu conheço essa história que você está lendo. — falei, vendo o exemplar de “Diário
de um Banana”.
— Ela é bem divertida, tem muitos desenhos. — ele disse, ajeitando os lençóis.
— Que tal amanhã você ler para mim e para sua irmã? Acho que ela vai gostar de
conhecer essa história também. — perguntei, acariciando os cabelos dele que já estavam bem
grandinhos, assim como os do pai.
— Pode ser. — ele disse, quase sorrindo.
— Perfeito, então. Boa noite, Ben. — beijei sua testa e liguei o abajur.
— Boa noite, Helena. — ele falou e eu saí do quarto com um sorriso satisfeito.
Desci as escadas e como Mírian já tinha se recolhido, fui até o meu próprio quarto e
depois de me arrumar, passei um pouco do meu perfume e soltei os meus cabelos, porque eles
ficavam o dia inteiro presos em um coque e fui até a área da piscina.
Me sentei, colocando os meus pés dentro da água e assim que olhei para o céu e vi as
estrelas, lembrei das vezes em que fiz isso com os meus pais. Meus olhos se encheram de
lágrimas.
Toquei no colar com o pingente de sol que eles haviam me dado e fechei os olhos,
fazendo uma pequena oração. Estava tão concentrada que quando escutei um barulho, acabei me
assustando.
— Sou eu, Helena, calma! — o sr. Ribeiro surgiu pelo caminho que levava até a piscina e
caminhou até mim — Desculpe, não queria assustá-la.
— Não precisa se desculpar, eu estava distraída. Espero que sua reunião tenha sido
produtiva. — falei e ele me surpreendeu ao afrouxar a gravata e se sentou ao meu lado.
— Foi sim, consegui conferir todas as últimas mudanças na nova campanha. — ele
explicou.
— Que bom! Não conheço muitos perfumes da sua empresa, mas minha amiga, Dora, ela
ama!
— Não sabia que era amiga da minha secretária. — ele falou, surpreso.
— Nós nos conhecemos desde que éramos crianças e a propósito, eu e as crianças
almoçamos junto com ela hoje.
— Eles gostam dela também, porque ela sempre os mima quando visitam a empresa e se
quiser convidá-la para vir aqui, fique à vontade. É melhor do que se deslocar para outros lugares
com os meus filhos.
— Você é um pai muito preocupado, sr. Ribeiro.
— Gustavo. — ele disse e eu o encarei, confusa — Pode me chamar apenas de Gustavo.
— Isso não seria muito profissional, então prefiro continuar lhe chamando de sr. Ribeiro,
mesmo que a gente não tenha idades muito distantes.
— Tudo bem, mas quando quiser me chamar de Gustavo, fique à vontade, não vou te
interpretar mal. — ele disse, me encarando e eu fiquei um pouco nervosa sob o olhar penetrante
do meu chefe — Preciso te perguntar uma coisa.
— O que você quer saber?
— Esse cheiro que está vindo de você é por acaso de algum dos perfumes da
concorrência? Porque isso eu não posso tolerar. — ele perguntou e eu dei uma risada fraca.
— Não é, na verdade é o meu próprio perfume, eu que faço. — respondi e ele me
encarou, surpreso.
— Você mesmo que faz?
— Sim, minha mãe sempre trabalhou com essências e eu aprendi a mexer com elas desde
cedo, sei fazer cremes também, além do perfume.
— Você é uma caixinha de surpresas, Helena Campos! — ele disse com um sorriso de
canto e acho que aquela foi a primeira vez que o vi sorrir para outra pessoa sem ser os seus filhos
— Se quiser me mostrá-los qualquer dia desses, estou disposto a vê-los e claro, pagar por eles.
— Normalmente eu os deixo na casa da minha avó, posso trazer umas amostras depois da
minha folga.
— Perfeito, há quanto tempo você... — ele ia continuar, mas tive que interrompe-lo,
porque meu celular começou a tocar.
— É a minha avó, preciso atender. — falei, me levantando — Boa noite, sr. Ribeiro.
— Boa noite, Helena. — ele disse e então eu entrei na casa pela porta da cozinha e fui até
meu quarto.
Enquanto conversava com minha avó, notei o quanto ela parecia abatida ao contar o que
andava fazendo e isso me deixou com o coração apertado. Por isso, assim que desligamos, eu
mandei uma mensagem para Alya.
Helena: Ayla, acabei de falar com a vovó e achei ela um pouco tristinha, aconteceu
alguma coisa?
Ayla: Acho que é só saudade, Lena.
Helena: Saudades, já? Estou aqui só há dois dias, como vou conseguir ficar tranquila
sabendo que ela não está bem com a minha ausência?
Ayla: Calma, amiga, vai ficar tudo bem! Você não consegue vir visitá-la enquanto as
crianças estão no colégio? Só uma passadinha rápida para ela te ver.
Helena: Posso tentar ver isso com a Mírian e com o sr. Ribeiro, ver se eles me permitem
essa saída. Vovó tem idade avançada e eu não quero que ela fique doente por causa disso.
Respirei fundo e me sentei na cama com o coração um pouco angustiado pela minha avó
depois de conversar um pouco mais com Ayla e torci para que eu conseguisse vê-la de algum
jeito, antes da minha folga.

Na manhã seguinte, coloquei uma calça jeans e uma blusa preta, das que Mírian havia me
entregado para que eu usasse e saí do meu quarto em busca da governanta.
Como hoje as crianças tinham aula de tênis em um clube que ficava quase na saída da
cidade, teríamos que sair mais cedo para chegar lá no horário e eu queria deixar tudo bem
organizado com ela antes de acordar as crianças.
Não a encontrei na cozinha, então fui procurá-la nos quartos das crianças. Subi as escadas
e no mesmo momento recebi um alerta do meu celular, o peguei para vê-lo e não prestei atenção
para onde estava indo e acabei esbarrando no meu chefe.
Ele estava usando um terno azul que caía perfeitamente bem, nos encaramos por alguns
segundos, enquanto sua mão segurava os meus braços para que eu não caísse.
— Parece que estamos sempre esbarrando um no outro. — ele comentou, sem me soltar.
— Isso é verdade, desculpa por isso. — falei, com uma risada fraca e fui me afastando
um pouco dele, pois estávamos muito próximos — Estava procurando a Mírian.
— Ela deve estar no quarto do Benjamin, normalmente o acorda primeiro, porque ele já
sabe se virar bem sozinho.
— Ótimo, vou cuidar da Liz. Tenha um bom dia, sr. Ribeiro.
— Desejo o mesmo a você, Helena. — ele disse, se afastando de mim e eu fui até o
quarto de Elizabeth, ela ainda estava dormindo.
Me encostei na porta e respirei fundo, me questionando do porquê eu sentia que estava
fazendo algo errado toda vez que conversava com meu chefe.
Eu nunca fui boa em flertar, não que eu estivesse fazendo isso com o Gustavo, porque eu
não estava, mas o meu antigo relacionamento passou de amizade para namoro de um jeito tão
fácil, porque nos conhecíamos bem.
Porém, com o meu chefe, as coisas eram diferentes. Primeiro porque eu não era o tipo de
mulher com quem ele se relacionava, tinha visto uma foto da falecida esposa dele no quarto da
Liz e a mulher era uma modelo belíssima e segundo, porque eu estava ali para trabalhar, apenas
isso.
Eu provavelmente estava interpretando de um jeito errado todas as nossas últimas
conversas e por isso estava ficando tão mexida com isso.
Precisava me atentar ao fato de que Mirian me contratou por eu não ser mais uma
interessada no chefe e sim no bem-estar das crianças e era nisso que eu precisava focar de agora
em diante.

Por sorte, o dia estava bem bonito e ensolarado, então peguei apenas a mochila com os
lanches das crianças e com a ajuda de Otto, os levei até o clube.
Assim que chegamos lá, me sentei com Liz para assistir à aula de Benjamin com a
professora dele. Enquanto assistíamos a bola ir de um lado para o outro, meu celular começou a
tocar, quando vi que era Isadora, imaginei que pudesse ser algum recado do nosso chefe e atendi.
No mesmo momento, Elizabeth encontrou um pirulito na minha bolsa e pediu:
— Posso, Lena? — com uma carinha bem fofa.
— Pode sim. — respondi, porque eu dificilmente negava algo a ela e além do mais, era
só um doce.
Coloquei o telefone na orelha e Isadora disse, depois de me cumprimentar:
— Acabei de comprar um frappucino de morango naquela cafeteria perto do prédio em
que eu trabalho, depois experimenta, acho que você vai gostar.
— Parece delicioso! Mas porque você está abdicando do café hoje? Você vive à base de
cafeína.
— Eu sei! — ela resmungou — Mas está tudo um caos por aqui e eu estou tentando
manter a calma, principalmente porque o meu advogato está por aqui, me observando, e eu não
quero parecer estressada na frente dele.
— Você não disse que ele não prestava? — questionei, rindo.
— Você já ouviu a música “Você não vale nada, mas eu gosto de você”? Pois então, esse
é o tipo de relação que eu tenho com ele. — ela falou, rindo também — Mas não te liguei para
isso, nosso chefe pediu para que eu te desse um recado, hoje vai ter um coquetel de lançamento e
como é uma linha que tem perfume infantil também, o sr. Ribeiro pediu para você trazer os
anjinhos.
— Como eu os arrumo para isso? É uma coisa bem chique?
— Nem tanto, só coloca uma roupinha mais formal neles e em você também!
— Acho que não trouxe nada assim na minha bolsa, vou precisar ir em casa buscar.
— Arruma um jeito e vai! Nos vemos à noite! — ela desligou e eu mandei uma
mensagem para minha avó, pedindo para que ela separasse um vestido para mim que eu passaria
para buscá-lo.
Assim que a aula terminou, voltamos para casa e enquanto as crianças almoçavam, fui até
a casa da minha avó buscar o vestido e aproveitei para pegar um sapato também. Fiquei uns
segundos abraçada com a minha avó, que ficou muito aliviada ao ver que eu estava bem e logo
depois voltei para o trabalho.
Passei a tarde com as crianças na horta que Mírian cuidava em uma parte da casa e eles
acharam bem divertido mexer com a terra e plantar novas sementes. Quando começou a
anoitecer, percebi que já era hora de começar a arrumá-los e os levei para dentro de casa, pois
tínhamos muito o que fazer.
Estávamos a caminho da Ribeiro Perfumes, quando Benjamin disse no banco de trás:
— Precisamos ir mesmo? Esses eventos na empresa do papai são muito chatos!
— É algo importante para o seu pai, Ben, mesmo que seja chato, vamos apoiá-lo essa
noite, tudo bem? — perguntei, me virando para encará-lo.
— Tudo. — ele resmungou — Mas eu queria ficar em casa, brincando com meus Legos.
— ele respondeu, ainda emburrado.
— Você pode assistir Sabrina comigo no celular da Lena. — Elizabeth falou, mostrando
meu celular a ele, eu tinha dado a ela antes de saímos de casa para que ela se mantivesse
arrumada até chegarmos ao evento.
— Não quero assistir esse desenho bobo, Liz. — ele falou rudemente, empurrando a mão
dela.
— Não fale assim com ela, mocinho! — ralhei com ele no mesmo momento que
Elizabeth começou a chorar.
Me virei para Otto, já soltando o cinto e disse:
— Preciso ir para o banco de trás, pare o carro.
— Não tenho como parar aqui, Lena. — ele disse, fazendo uma curva — Já estamos
chegando, vai tentando acalmá-la daí mesmo. — ele falou e eu respirei fundo, me virando para
Elizabeth que ainda chorava.
— Liz, não precisa chorar. — disse, tentando segurar a mão dela, mas de nada adiantou,
isso só a fez chorar mais alto ainda.
Felizmente, logo depois Otto estacionou em frente ao prédio e eu saí do carro. Abri a
porta, tirei Elizabeth da cadeira e ela nem quis ir para o chão, se agarrou no meu pescoço, ainda
amuada. O motorista abriu a porta para Benjamin, eu falei:
— Peça desculpas a sua irmã, rapazinho. — e ele pensou um pouco, depois disse:
— Desculpa, Liz, eu não queria te empurrar daquele jeito. — Elizabeth tirou o rosto do
meu pescoço e pediu para que eu a colocasse no chão, ela foi até o irmão e o abraçou.
Com a paz selada entre os dois, me despedi de Otto e segui até o hall de entrada do
prédio, encontrei Isadora com seu inseparável tablet, nos esperando.
— Estava vendo daqui o carro de vocês, porque não entraram logo? — ela perguntou, me
encarando.
— Tivemos alguns probleminhas no caminho, mas eles já foram resolvidos. — respondi
e ela levou as mãos ao céu, agradecendo.
— Ainda bem, porque já tivemos drama demais nesse prédio hoje.
Subimos de elevador até a cobertura, pois era o lugar onde seria a festa e assim que
chegamos, as crianças se soltaram de mim e correram até o pai que os esperava a uns metros de
distância.
Enquanto eu observava, encantada pelo jeito carinhoso que ele tratava as crianças, minha
amiga disse:
— Fecha a boca senão a baba vai acabar escorrendo. — e empurrou de leve o meu
ombro.
— Cala a boca! — falei, desviando o olhar deles para festa.
— Eu realmente não esperava esse tipo de reação sua, mas seus olhos estavam brilhando
e isso me surpreendeu. — ela disse e eu revirei os olhos.
— Você está vendo demais, Dora. — falei a ela, logo depois Liz veio até mim, me puxar
pela mão até a área onde estava sendo exposto a linha de perfumes infantis da coleção.
Como Benjamin estava com o pai indo falar com algumas pessoas, eu não me preocupei.
Assim que peguei um pote de pipoca e um suco para Liz, voltei para onde Isadora estava, perto
do elevador, recepcionando os convidados e como Elizabeth estava ao meu lado, sentadinha em
um dos bancos, eu perguntei quase em um sussurro para minha amiga:
— Qual deles é o seu a-d-v-o-g-a-t-o?
— Por que você está soletrando? — ela me encarou, curiosa.
— Porque eu tenho uma menininha de quatro anos muito esperta ao meu lado.
— Ah, sim. Meu a-d-v-o-g-a-t-o não chegou ainda, mas logo ele aparece com o casinho
da vez.
— E ainda assim você está toda apaixonadinha por ele?
— Pior que sim, a mistura de olhos verdes com o jeitinho cafajeste é minha perdição. —
ela disse, com uma risada fraca — Mas me diga, há quanto tempo você está desse jeitinho com o
nosso c-h-e-f-e?
— Eu só gosto de ver o jeito que ele trata os filhos, não tem nada demais nisso.
— Tem certeza? Porque o jeito que ele está olhando para cá, me diz que não é só você
que fica babando. — ela falou, ajeitando o cabelo e eu olhei para onde ele estava, percebendo
que o sr. Ribeiro estava mesmo me encarando.
Trocamos olhares por alguns segundos, antes de eu desviar o olhar um pouco
constrangida.
— Ele não estava me olhando desse jeito.
— Me engana que eu gosto, Helena. — ela falou, empurrando levemente o meu ombro.
Nesse momento, um homem que eu tinha visto com Gustavo outro dia no casarão, chegou no
evento e prontamente, Elizabeth foi abraçá-lo.
— Oi, tio Helton. — ela falou animada, já no colo dele.
— É padrinho, mocinha. — ele brincou, apertando levemente o nariz dela.
— Eu esqueci! — Liz disse, rindo e deixou um beijo estalado na bochecha dele.
— Será que ganho um beijo seu também? — ele perguntou, se virando para Isadora.
— Já disse que não caio nesse papinho, Helton. — ela respondeu, com um sorrisinho e
imediatamente percebi que aquele era o famoso advogato.
— É uma pena. — ele disse a ela — Já você eu não conheço. — ele falou, me encarando.
— Helena Campos, babá das crianças. — me apresentei.
— Ah, ouvi falar muito de você. — ele disse, apertando a minha mão — Sou o padrinho
deles. — e apertou as bochechas da Liz — Vou falar com Gustavo e Benjamin, a trarei de volta
depois. — ele avisou, levando a garotinha.
Assim que eles se afastaram, eu falei:
— Então esse é o cara por quem você é apaixonada desde que começou a trabalhar aqui.
— Ele mesmo, meu tormento em pessoa. — ela disse, vendo-o conversar com Gustavo
— Estou bem surpresa que ele tenha vindo sozinho.
— Ele pareceu interessado em você.
— Esse é o problema, Lena, ele parece interessado por todas. — ela disse, olhando algo
em seu tablet — Preciso ir até a cozinha dar algumas ordens, já volto. — ela avisou, se
afastando.
Como as crianças estavam com o pai, resolvi andar pelo evento e fui até o estande onde
estavam os perfumes da nova coleção. Espirrei um em meu pulso e fechei os olhos para sentir o
cheiro deles, quando senti alguém se aproximar de mim.
— Preciso dizer que devo estar mesmo encantado pelo seu perfume, porque para mim,
nenhum deles chega perto do aroma do seu. — Gustavo sussurrou bem perto do meu ouvido.
Um arrepio percorreu meu corpo e eu abri os olhos, me virei para encará-lo e o encontrei
bem perto de mim, a poucos centímetros de distância e toda aquela proximidade me fez perceber
que algo havia mudado entre nós dois.
Um pouco assustada com essa constatação, me afastei e andei até o corredor e entrei na
primeira porta que encontrei pela frente.
Era uma sala de reuniões, andei até a janela, encarei a vista magnífica que tinha da cidade
e cobri meu rosto com as mãos pensando no quão antiprofissional eu estava sendo desejando o
meu chefe.
Respirei fundo, tentando dispersar aqueles pensamentos e quando me virei para voltar ao
evento, a porta se abriu e Gustavo entrou na sala.
Estava ciente do quanto aquilo era errado, mas não resisti e entrei na sala logo depois
dela.
Não conseguia tirar os olhos de Helena e isso acontecia desde a primeira vez em que a vi.
Algo tinha acontecido, porque ela tomou conta dos meus pensamentos.
Talvez tenha sido a maneira que ela agiu quando quase me atropelou ou o jeito que ela
cuidava dos meus filhos. Tinha também a maneira que ela ficava ainda mais linda quando sorria
com aquele jeito tão doce.
Helena Campos era um terreno perigoso, ainda mais com tanta coisa envolvendo nosso
passado, mas a cada dia eu sentia mais vontade de me aventurar nela.
Fazia um bom tempo que eu não ficava tão envolvido com alguém e isso para mim não
era natural, não parava de imaginar a minha boca sobre a dela e se o gosto seria tão bom quanto
o cheiro que ela tinha.
Talvez se a beijasse logo, pararia de pensar tanto nisso.
Era o que parecia mais lógico para mim, mas ela era a babá dos meus filhos e eu não
podia abordá-la desse jeito.
O único problema é que eu não pensava muito racionalmente quando ela estava por perto.
Assim que percebeu a minha presença, Helena não desviou os olhos dos meus, a tensão
entre nós era tamanha que se houvesse mais alguém naquela sala, com certeza conseguiria sentir.
Me aproximei dela e quando estava perto o bastante, coloquei uma mecha de seu cabelo
para trás da orelha e deixei minha mão em seu pescoço, puxando-a para mais perto de mim.
Vi a indecisão em seus olhos, mas eu a queria tanto e quando ela fechou os olhos, quase
colando os lábios nos meus, eu percebi que ela queria também.
Estava sentindo sua respiração no meu rosto e nossas bocas estavam tão próximas uma da
outra, estávamos prestes a nos beijar quando ouvi passos no corredor.
Helena se afastou rapidamente de mim e acabou perdendo o equilíbrio ao fazer isso,
segurei-a pela cintura e nesse momento, Isadora abriu a porta.
— Sr. Ribeiro, uma das responsáveis pela linha está te procurando para tirar algumas
fotos. — ela disse, se aproximando, e eu me virei para encará-la, quando viu Helena, Isadora
levantou as sobrancelhas, surpresa e continuou: — Me desculpem, não sabia que estava
interrompendo algo.
— Fique tranquila. — disse a ela — E avise a ela que já estou indo. — Isadora assentiu,
nos deixando a sós novamente.
Helena se encostou em uma das janelas e falou:
— Isso não poderia ter acontecido, eu não aceitei esse trabalho para isso, sr. Ribeiro. —
ela começou a andar pela sala e continuou — Sei que a maioria das babás te procuram para isso,
mas eu não sou assim. — ela me encarou.
Cocei minha barba e disse:
— Posso ter me precipitado, mas não era o único que queria isso, Helena.
— Eu... — ela gaguejou e falou — Posso ir embora? Sei que deveria ficar, mas... — ela
perguntou, parecendo desconfortável.
— Não se preocupe, você pode ir sim. Otto vai levá-la onde precisar. — falei e ela
assentiu, saindo da sala.
Passei a mão pelos meus cabelos, arrumei meu terno e voltei para onde estava
acontecendo o coquetel de lançamento. Procurei por Helena entre os convidados e a encontrei se
despedindo das crianças, antes que eu desviasse o olhar, nossos olhares se cruzaram e ao nos
encararmos novamente, eu percebi que não desistiria fácil daquele beijo.

Assim que cheguei na casa da minha avó, com as emoções à flor da pele, fui recebida
com um abraço aconchegante e biscoitos de polvilho. Depois que me troquei, sentei-me ao lado
dela no sofá e enquanto comíamos, ela me contou o que andava fazendo.
No fim da noite, quando me preparei para dormir, me surpreendi com uma ligação de
Isadora, atendi e perguntei:
— Já chegou em casa? Como foi o coquetel?
— Primeiro eu quero que você me explique por que você saiu daquele jeito do evento e o
que estava fazendo naquela sala com o nosso chefe?
— Eu só precisava ir embora e nós dois só estávamos conversando.
— Pertinho daquele jeito? Vocês se beijaram?
— Claro que não, eu sou babá dos filhos dele!
— Como se isso fosse um grande empecilho, devia ter aproveitado a oportunidade.
— Ele é o meu chefe, Dora!
— E era apenas um beijo, Lena! Não é como se vocês fossem se casar, era só tirar uma
casquinha do gostosão e depois fingir que nada tinha acontecido.
— Eu não sou desse tipo. E além do mais, eu não me candidatei a essa vaga para ser igual
a todas as outras babás que só queriam uma oportunidade para cair na cama dele.
— Não veja as coisas desse jeito, vocês pareciam estar se curtindo e eu nunca o vi com
nenhuma das babás.
— Bem, isso não importa muito agora. — falei, não querendo continuar com aquele
assunto — Vamos sair amanhã?
— Claro, avisa a Ayla. Eu vou avisar ao César e ao Maycon. — ela disse e nós nos
despedimos.
Me aconcheguei nos lençóis, mandei uma mensagem para Ayla ficar ciente dos nossos
planos para o dia seguinte e adormeci.
Quando acordei, encontrei Ayla tomando o café da manhã, ao lado da minha avó, na
cozinha e depois de falar com as duas, minha amiga me informou que iríamos para a praia que
tinha na cidade vizinha e que Isadora passaria para nos buscar.
Prontamente fui trocar de roupa e enquanto comia um pãozinho de queijo, Isadora
apareceu com o carro do Maicon, porque nem ele e nem o César poderiam ir.
Passamos uma manhã incrível na praia e enquanto comíamos e bebíamos uns drinks,
Ayla nos contou como estava indo o seu relacionamento com Jéssica e como pela primeira vez,
ela estava se sentindo bem em amar alguém.
Isadora e eu ficamos muito felizes, pois sabíamos das inseguranças de Ayla com seu
corpo e era bom ver que ela estava superando isso.
Quando voltamos para casa, bem a tempo de aproveitar o almoço que minha avó tinha
preparado para a gente, meu cabelo estava um pouco ressecado por causa da água salgada e eu
precisava desesperadamente de um banho, por isso, passei rapidamente pela sala e disse:
— Vó, já venho te ajudar a arrumar a mesa, só preciso de um banho antes!
— Tem visita para você, Helena. — ela falou, olhando para sala e eu fiquei surpresa ao
encontrar meu ex-namorado sentado no sofá.
— Igor, o que você está fazendo aqui? — perguntei, encarando-o.
— Precisava conversar com você e preferi vir pessoalmente do que te mandar uma
mensagem. — ele disse, vindo em minha direção, mas minha avó o interrompeu.
— Ora, rapaz. Para quê tanta pressa, já esperou tanto, pois espere mais um pouco que ela
precisa de um banho. — ela falou a ele, enganchou o braço no meu e me arrastou para o quarto,
antes que eu pudesse falar alguma coisa.
— Vovó, não precisava disso. — falei, enquanto procurava minha toalha.
— Precisava sim. Depois de tanto tempo esse rapaz me aparece aqui, você sabe que eu
não gosto dele. — ela reclamou.
— Eu sei, mas preciso saber o que ele quer. Para ter vindo aqui, deve ser importante. —
disse, enquanto escolhia uma roupa.
— Não volte com esse rapaz, solzinho. Você merece alguém muito melhor. — ela falou,
segurando minha mão.
— Não pretendo voltar com ele, vovó. Fique tranquila. — beijei sua testa e fui até o
banheiro.
Quando saí, secando os meus cabelos com a toalha, entrei no meu quarto para penteá-los
e encontrei Ayla me esperando.
— Dora não ficou? — perguntei.
— Não, ela esqueceu que tinha combinado de almoçar com os pais hoje. — ela explicou
— O que aquele homem está fazendo aqui?
— Também não sei, mas disse que queria conversar comigo.
Ela expirou forte e disse:
— Por favor, não caia no papo dele de novo, Lena. Lembre-se que ele te deixou quando
você mais precisou.
— Já tem três anos que isso aconteceu, Ayla, e além do mais, o Igor se arrependeu de ter
terminado comigo naquele momento. Era muito para ele aguentar e eu entendo, ainda mais
quando queríamos tanto uma família.
— Para de colocar panos quentes nas atitudes dele, Helena.
— Não estou, só não vou ficar cultivando um ódio por ele para o resto da minha vida
quando eu entendo a atitude que ele tomou. — falei e ela praguejou.
— Vou ligar para Dora, só ela para colocar juízo na sua cabeça dura. — ela disse, saindo
do quarto e eu respirei fundo, indo até a sala.
Saí de casa ao lado do Igor, sob o olhar atento da minha avó. Caminhamos pela trilha que
tinha ao lado do terreno, perto do lago que cruzava a cidade.
Enquanto caminhávamos, eu perguntei:
— Aconteceu alguma coisa? Foi algo com os seus pais?
— Não, eles estão bem. Na verdade, eu só vim aqui para que pudéssemos acertar as
coisas, Lena. A última vez que tentamos conversar não deu muito certo.
— Ah, é mesmo. Desculpa por ter te respondido daquele jeito naquele dia.
— Não precisa se desculpar, errei em ter te mandado uma mensagem e não ter vindo te
procurar pessoalmente. Nós sempre funcionamos melhor cara a cara, mesmo as pessoas a sua
volta não sendo os meus maiores fãs.
— Isso é verdade. — falei e ele passou a mão pelos cabelos.
— O que eu posso fazer para mudar isso, Lena? Quero me reaproximar de você, quero
recomeçar de onde paramos e se para ir isso for preciso conquistá-los, é o que farei. — ele disse,
segurando minhas duas mãos.
Encarei seu rosto com calma, seu olhar sereno ainda não me passava muita confiança e eu
não sentia mais nada por ele. Igor me conhecia muito bem e me fez muito feliz por um tempo,
mas não tinha como voltarmos a ser um casal.
— Nós podemos nos reaproximar sim, mas como amigos. Minha amizade é tudo o que
posso te oferecer agora. — esclareci, soltando a mão dele.
— É o suficiente para mim. — ele falou, me envolvendo em um abraço.
Voltamos para casa da minha avó e ele parou perto da entrada e disse:
— Já vou para casa, sua avó ainda não gosta muito de mim e eu não quero incomodá-la.
Trouxe um buquê para você, mas ela o jogou na lixeira da cozinha. — dei uma risada fraca, um
pouco constrangida e falei:
— Me desculpe por isso, vamos continuar conversando e quem sabe marcamos algo? —
ele assentiu e nós nos abraçamos novamente.
Assim que passei pela porta, me sentei à mesa ao lado de Ayla e minha avó colocou uma
lasanha para comermos. Enquanto me servia, nenhuma das duas fez nenhuma pergunta e eu
fiquei aliviada por isso.
Ao entardecer, me surpreendi quando Isadora apareceu ao lado de Maicon e César, na
casa da minha avó, nos sentamos na sala e César perguntou:
— O que o Igor veio fazer aqui? Vocês voltaram? Porque do jeito que a Dora tirou a
gente de casa, eu achei que estávamos vindo fazer uma intervenção.
— Ela é muito exagerada. — falei, jogando uma almofada na minha amiga — Não
pretendo voltar com Igor, ele só veio aqui porque quer que a gente se reaproxime.
— Depois de tudo o que ele fez, Helena? — Isadora questionou, me encarando.
— Só não volta com ele. Igor não faz bem a você. — Ayla falou, afagando meu ombro.
— Eu pretendo ser apenas amiga dele, já deixei isso bem claro. — avisei a eles.
Depois de falarmos sobre a minha vida, conversamos um pouco sobre o que estava
acontecendo na vida deles. Ayla contou sobre como estava o seu relacionamento com Jéssica,
Maicon e César falaram sobre como estava a Recriar e Isadora nos disse que estava pensando em
dar uma chance ao advogato da empresa depois de uma conversa que eles tiveram no coquetel e
assim que ela terminou de contar como foi, eu respirei aliviada por ela não mencionar que tinha
me visto com o meu chefe naquela sala.

Na manhã seguinte, acordei cedo, peguei a mochila que tinha arrumado com mais
algumas peças de roupa e me despedi da minha avó com um abraço apertado, antes de ir até a
casa do sr. Ribeiro de bicicleta.
Coloquei a bicicleta dentro da garagem e entrei na casa pela cozinha. Tudo ainda estava
bem silencioso, o que era estranho. Estava bebendo um copo d’água distraidamente e acabei
levando um pequeno susto quando o sr. Ribeiro entrou no mesmo cômodo.
Ele parecia estar voltando de uma corrida, pois estava sem camisa e com o suor
escorrendo pelo seu corpo.
Observei-o por alguns segundos e notei novamente o quanto me sentia atraída, mas
quando ele piscou para mim, eu voltei para a realidade e me virei, tamborilando os dedos no
balcão.
— Chegou bem cedo. — ele comentou, enquanto se aproximava.
— Quis estar aqui antes das crianças acordarem. — falei, me afastando, indo colocar o
copo na pia.
— Meus filhos gostam de você, Helena. Ontem durante o passeio que fizemos, tanto a
Liz quanto o Ben não paravam de falar sobre você.
— Fico feliz em saber disso, também gosto de estar com eles.
— Eu notei isso. — ele passou a mão pelo cabelo, atraindo a minha atenção para aquele
pequeno gesto — Estar com eles ontem, me fez perceber que estou passando pouco tempo com
meus filhos, o crescimento da empresa dobrou o meu trabalho nos últimos anos.
— Entendo, mas será que você não consegue abrir mão de algumas coisas para conciliar
com o tempo livre que eles têm? Tenho certeza de que os seus filhos iriam adorar te ver mais
durante a semana. — falei, encarando-o.
— É uma boa ideia, vou reorganizar a minha agenda com a minha secretária hoje, então
pense em coisas que podemos fazer nesse tempo livre, não sei muito bem o que se tem para fazer
com criança nessa cidade.
— Irei pesquisar alguns lugares. — disse a ele — A propósito, sr. Ribeiro, gostaria de
saber se enquanto as crianças estão no colégio, eu posso ir visitar a minha avó rapidamente,
apenas para checar como ela está. Não seria todos os dias, apenas algumas vezes na semana.
— Ela está doente? Precisa levá-la ao médico? — ele questionou, parecendo preocupado.
— Não, está tudo bem. É porque estou preocupada com ela ficando muito tempo sozinha,
além do mais, ela sente muito a minha falta. — expliquei.
— Ah, entendo. Posso até liberar as suas idas até a casa da sua avó, mas com uma
condição. — ele falou, me encarando.
— Uma condição? — questionei, olhando para ele.
— Sim, quero que me chame de Gustavo e não de senhor o tempo todo, parece que
alguém está chamando o meu pai na minha própria casa. — ele respondeu e eu dei uma risada
fraca.
— Essa não era a intenção, estava apenas sendo respeitosa, mas tentarei lhe chamar pelo
nome mais vezes.
— Perfeito. Nos vemos mais tarde, venho jantar com as crianças hoje. — ele falou,
saindo da cozinha e eu assenti.
Coloquei minha mochila no meu quarto e voltei para a cozinha para começar a preparar o
café da manhã das crianças. Arrumei a mesa e quando estava cortando algumas frutas, Mírian
apareceu com Benjamin e Liz.
— Lena! — Liz falou assim que me viu e correu para me abraçar — Ontem a gente foi
passear de barco e foi tão legal, pulei muitas vezes na água. — ela contou animada.
— Não era um barco, Elizabeth, era uma lancha. — Benjamin explicou, sentando-se à
mesa e eles começaram a me contar sobre o que tinham visto no mar enquanto comiam o café da
manhã.
Depois de deixar as crianças no colégio, fui organizar os quartos e quando terminei, fui
até a biblioteca. Enquanto separava uns livros para ler com eles durante a tarde, o telefone da sala
começou a tocar e como Mírian estava cuidando da horta, eu fui atender.
Era do colégio das crianças, eles ligaram para avisar que Benjamin tinha caído do
escorregador e que havia se machucado, eles estavam o levando até um hospital e precisavam
que um familiar ou responsável os encontrasse lá.
Assim que desliguei, avisei Mírian do ocorrido e no caminho, chamei Otto para que ele
pudesse me levar até o hospital. Enquanto íamos, liguei para o meu chefe para lhe contar o que
havia acontecido.
— Sr. Ribeiro, acabaram de ligar do colégio das crianças. Ben caiu de um brinquedo do
parque e se machucou, estão levando-o para o hospital. Otto está me levando até lá, mas preferi
avisá-lo do que aconteceu.
— Isadora acabou de me informar o que houve e estou a caminho também,
provavelmente chegarei lá antes de você. Segundo a diretora, ele está bem e aparentemente só
torceu o braço, eu espero que isso seja verdade ou processarei aquele colégio até tirar o último
centavo deles. — ele falou, parecendo bem exaltado.
Encerrei a ligação e fui o caminho mordendo o cantinho da minha unha de tão nervosa,
estava genuinamente preocupada.
Logo que chegamos ao hospital, fui diretamente para a parte de emergências com Otto e
lá nós encontramos Gustavo andando de um lado para o outro.
— Sr. Ribeiro, como Benjamin está? Já tem notícias? — perguntei a ele.
— Ele está bem, já o examinaram e felizmente ele não bateu a cabeça na queda, mas caiu
por cima do braço e acabou torcendo-o. Estão imobilizando o braço dele agora. — ele respondeu
e eu respirei aliviada.
— Que bom que não foi nada grave. Ele está sozinho lá dentro?
— Está com a professora, a coitada está se sentindo tão culpada que me pediu para ficar
com ele lá dentro. — ele explicou e eu podia imaginar como ela estava se sentindo.
Alguns minutos depois, Benjamin saiu da sala com um braço imobilizado e um pirulito
em outra mão.
— Olha, papai, o que ganhei do médico! Ele disse que fui muito corajoso. — ele contou
ao pai, que o pegou no colo e beijou seu rosto carinhosamente.
— Você foi mesmo muito corajoso! Está se sentindo bem? — ele perguntou e Ben
assentiu — Fico feliz, estava preocupado. — ele abraçou o filho e eu fiquei encantada,
observando a cena.
Gustavo conversou com o médico e com a professora de Benjamin enquanto eu o levava
até o carro e depois disso, me chamou.
— Segundo o médico, ele vai ter que ficar algumas semanas com o braço imobilizado e
como não quero que ele faça muitas estripulias, essa semana ele ficará em casa. As atividades
vão ser enviadas pela Elizabeth, já combinei com a professora. Esses são os medicamentos que
ele precisa tomar.
— Certo, irei observá-lo com bastante cuidado para que ele não precise ficar mais tempo
que o necessário com isso.
— Perfeito. Tenho uma reunião agora, mas vou para casa na hora do almoço, avise a
Mírian. — ele pediu e eu assenti, indo até o carro.
Assim que chegamos em casa, Mírian o recebeu com um abraço apertado e disse:
— Que bom que não foi nada grave, meu menino.
E durante toda aquela manhã, Benjamin foi muito mimado, não só por Mírian que o
encheu de biscoitos caseiros, mas por mim também, que cedi ao pedido dele para assistirmos
alguns filmes.
Quando Gustavo apareceu no horário do almoço, com Elizabeth ao seu lado, eu me sentei
ao lado deles para ajudar a pequena Liz a comer. Enquanto comiam, Benjamin contou tudo o que
havia feito e Gustavo pareceu bem interessado. Eu achava muito bonito a maneira como ele
parecia realmente se importar com o que as crianças diziam, assim que Ben terminou de falar,
Liz contou sobre o novo bichinho de estimação da sua turma: Um porquinho da índia e que em
breve ela o traria para casa para passar o dia.
Assim que terminaram, Gustavo se despediu dos dois e voltou para a empresa, Mírian
levou Benjamin e Elizabeth para a sala e insistiu para que eu almoçasse, mesmo não estando com
muita fome.
Logo depois, levei os dois para a biblioteca e como as atividades de Ben só viriam a
partir do dia seguinte, pedi que ele escolhesse uma história para ler enquanto eu ensinava as
atividades de Liz.
Como eles não tinham atividades extracurriculares, passamos a tarde no jardim e
enquanto Elizabeth ajudava Mírian com a horta, eu montei um quebra-cabeça com Benjamin.
Quando estava anoitecendo, coloquei um filme escolhido pela Liz e só então consegui
pegar o meu celular e ver as mensagens que tinha recebido durante o dia, me surpreendi com
uma foto do Helton em uma mensagem que Isadora tinha me enviado.
Helena: Vocês almoçaram juntos hoje?
Isadora: Almoçamos, eu finalmente cedi aos encantos desse cretino charmoso e isso foi
péssimo, porque agora tudo o que eu quero é me jogar nos braços dele.
Helena: Até parece que não é isso que você quer desde que o conheceu! Mas de todo
modo, fico feliz que as coisas estão mudando entre vocês, uma de nós vai desencalhar e não é a
Ayla!
Isadora: Não apressa as coisas, que o Helton dificilmente se compromete, mas estou
tranquila quanto a isso.
Helena: Tem certeza? Não quero que se machuque!
Não consegui ler a resposta de Isadora, pois Mírian me chamou e eu fui logo ver o que
ela precisava. Deixei as crianças na sala e fui até a cozinha.
— Helena, querida. Será que você pode terminar de preparar o jantar para mim? Não
estou me sentindo muito bem. — ela pediu, sentando-se em uma cadeira.
— Claro que sim, quer que eu peça ao Otto para levá-la em uma emergência?
— Não precisa, querida. Vou me deitar, já tomei um remédio e acredito que seja apenas
uma virose.
— Certo, mas se sentir qualquer coisa diferente, me avise, tudo bem? — pedi e ela
assentiu, indo até seu quarto.
Assim que Mírian saiu da cozinha, olhei o frango que ela tinha separado para assar e
encarei a água reservada para cozinhar o macarrão, pelo menos eram coisas mais básicas e eu
podia tentar acertar no molho, mesmo sendo um desastre na cozinha.
Comecei a procurar algumas receitas na internet, para tentar fazer algo bom com o
macarrão e coloquei o frango no forno, torcendo para que a temperatura estivesse correta.
Enquanto procurava alguns temperos no armário, Elizabeth entrou na cozinha com seu
inseparável ursinho e perguntou:
— Cadê a Mírian?
— Ela foi descansar um pouco. — respondi a ela e então ouvi a voz de Gustavo.
— Então você que vai cuidar do jantar hoje? — ele questionou, afrouxando a gravata.
— Espero conseguir entregar algo bom, não sou muito boa na cozinha, mas Mírian
deixou boa parte das coisas prontas.
— Bem, então acho que eu vou ter que pôr a mão na massa hoje, literalmente. — ele
falou, tirando o terno — Mírian está sentindo alguma coisa?
— Nada grave, segundo ela. — disse, me afastando do fogão.
Enquanto ele cozinhava, arrumei a mesa com a ajuda de Liz e Ben e quando terminamos,
esperamos o jantar ser servido para que pudéssemos comer juntos.
No momento em que estava cortando o frango para Elizabeth, ela perguntou ao pai:
— Posso ter um gatinho? Minha amiga Lucy ganhou um e eu também quero!
— Sabe que as coisas não são assim, Elizabeth.
— Por favor, papai! Quero um gatinho para mim!
— E quem vai cuidar dele? Você sabe que ter um animal de estimação exige algumas
responsabilidades. — ele disse a ela — Além do mais, isso só daria mais trabalho à Mírian e à
Helena.
— Eu prometo que vou cuidar dele, paizinho! — ela implorou um pouco mais.
Ele a encarou e disse:
— Vou pensar, tudo bem? — quase cedendo ao pedido dela.
— Tudo bem, mas pensa com carinho. — ela respondeu com um sorriso, voltando a
comer.
Depois do jantar, nos dividimos para colocar as crianças para dormir. Levei Liz até seu
quarto e ela só adormeceu no meio da terceira historinha, liguei seu abajur e saí do quarto dela
com cuidado para não a acordar.
No corredor, acabei encontrando Gustavo saindo do quarto do Benjamin.
— Ele também demorou para dormir? — perguntei, andando ao seu lado.
— Não, mas ficamos conversando um pouco até que ele pegasse no sono e ele aproveitou
para me mostrar o quanto está lendo bem. — ele fez uma pausa, me encarando por alguns
segundos — Posso te perguntar uma coisa?
— Claro. — respondi, sentindo um frio na minha barriga.
— Preciso saber se Elizabeth ter um gato seria demais para você. — e eu respirei aliviada
ao ouvir aquilo — Eu vou acabar cedendo ao pedido dela e não quero que se demita por causa
disso.
— Mas por que eu me demitiria? — perguntei, um pouco confusa.
— Não sei, você pode ser alérgica, não gostar de gatos ou achar que estou te dando
trabalho demais.
— Ah, sim. Bem, isso não vai ser um problema, acho até que vai ser bom para as crianças
ter um bichinho de estimação. — falei e ele sorriu, um sorriso daqueles que abalava as minhas
estruturas.
— Perfeito, pedirei a Isadora para comprar um amanhã. — ele avisou.
— Não precisa comprar, posso levar as crianças em um abrigo, existem muitos animais
precisando de um lar. — falei a ele.
— Se você acha melhor, de qualquer modo deixarei um cartão disponível para que
compre tudo que o gato vai precisar e Otto irá ficar à disposição de vocês.
— Certo, tenha uma boa noite, Gustavo. — falei, indo em direção a escada.
— Bons sonhos, Helena. — ele desejou e eu segui até o meu quarto com o coração
acelerado apenas, por aquela breve conversa com o meu chefe, isso definitivamente não era um
bom sinal.
No dia seguinte, consegui levar as crianças durante a tarde, até um abrigo que tinha na
cidade. Elizabeth ficou encantada com a quantidade de animais que tinha no lugar, mas se
apaixonou apenas por um.
Um gatinho preto ainda filhote, bem peludo.
Coloquei-o cuidadosamente no colo dela e perguntei:
— Qual vai ser o nome dele, Liz?
— Salem, igual ao da Sabrina. — ela explicou, acariciando os pelos dele e eu lembrei que
há uns dias tínhamos assistido ao desenho.
— Adorei o nome! — falei, afagando o bichinho e Benjamin fez o mesmo.
Depois de oficializarmos a adoção do gatinho, fomos até um petshop para comprarmos
tudo o que o gatinho iria precisar. Como estávamos perto da pracinha que eles tinham brincado
da última vez, ambos insistiram para que eu os deixasse brincarem, mas como o braço de Ben
estava machucado, eu deixei apenas que Liz brincasse com as outras crianças e comprei um
sorvete para Benjamin para que ele não ficasse chateado.
Quando chegamos em casa, ao entardecer, as crianças estavam cansadas, graças ao dia
agitado que tinham tido. Felizmente, Mírian já estava bem melhor e o jantar já estava pronto,
então após o banho, eles comeram e logo depois já quiseram ir dormir, sem muitas historinhas
dessa vez.
Após eles adormecerem, desci para jantar e enquanto eu comia, Mírian e eu conversamos
um pouco, ela me contou sobre a família dela, que a filha estava grávida e que em breve ela
ganharia mais um netinho. Falamos um pouco sobre a minha avó, sobre a amizade que elas
tinham construído ao longo desses anos e após isso, ela se despediu, me avisando que iria
dormir.
Assim que terminei de limpar o que havia sujado, me sentei à beira da piscina e enquanto
admirava o céu daquela parte da cidade, me surpreendi com Otto se sentando ao meu lado para
me fazer companhia.
— Depois de uma tarde agitada como a de hoje, achei que já estaria dormindo uma hora
dessas. — ele falou, afrouxando a gravata.
— Estou um pouco cansada, mas gosto de vir aqui ver o céu à noite, e além do mais, as
crianças estavam cansadas e não demoraram para dormir.
— Isso é bom. — ele disse, me encarando — Sabe que você é a primeira babá em muito
tempo que a essa altura do campeonato não quer desistir?
— Eu imagino, mas as crianças não são tão ruins quanto mostram ser no começo, a cada
dia gosto mais deles.
— E eles gostam de você, tem visto a minha irmã?
— Não tanto quanto eu gostaria, mas passamos o dia juntas na minha última folga, por
quê?
— Minha mãe perguntou se ela está namorando, parece que viram ela com uma mulher.
Sabe alguma coisa sobre isso?
— Acho que ela está saindo com alguém sim, mas não sei se já estão namorando.
— Ah, queria saber mais sobre a vida dela. Depois da maneira como a mamãe agiu, Ayla
se fechou para a nossa família e apesar de ainda conversarmos, não é a mesma coisa. — ele
disse, abatido e eu lhe dei um abraço, afaguei suas costas e nesse momento, eu vi o nosso chefe
andando em nossa direção.

Estava exausto.
Queria ter chegado em casa um pouco mais cedo para ver os meus filhos antes que eles
estivessem dormindo, mas isso não foi possível devido a quantidade de reuniões que precisei
comparecer.
Em breve lançaríamos um perfume em parceria com uma celebridade que fazia novas
exigências a cada dia, o que tornava o meu trabalho muito mais difícil.
Assim que coloquei o carro na garagem, percebi uma movimentação na área da piscina e
resolvi ir até lá, torcendo para que Helena estivesse ali, como no outro dia.
Desde o momento que tivemos naquele coquetel, percebi que teria que ir com mais calma
quando estivesse com ela para não a assustar, eu estava interessado em Helena e só queria ter
certeza que ela também tinha algum interesse por mim, antes de dar o próximo passo.
No momento em que cheguei perto da piscina, me surpreendi ao encontrar Helena e Otto
abraçados e por um segundo, me questionei se havia alguma possibilidade de eles estarem juntos
bem debaixo do meu nariz.
Meu mau humor se intensificou com aquela cena e eu andei até os dois em passos firmes.
Assim que percebeu minha presença, Helena se afastou, me encarando.
— Estou atrapalhando alguma coisa? — perguntei e meu motorista me encarou um pouco
assustado e se levantou apressadamente, Helena fez o mesmo, parando ao lado dele.
— Não, sr. Ribeiro. Helena e eu estávamos apenas conversando. — Otto respondeu.
— No horário de trabalho? — questionei, encarando os dois.
— Nossos horários já terminaram, não achei que isso fosse um problema. — Otto disse,
enquanto Helena continuava em silêncio.
— Não tem problema nenhum, mas espero que se lembre do que conversamos sobre
relacionamentos no ambiente de trabalho.
— Eu lembro perfeitamente, sr. Ribeiro, e se vocês me derem licença, eu já vou me
deitar. — Otto disse e eu assenti. Ele se despediu, nos deixando sozinhos.
Encarei-a e comentei:
— Não sabia que eram tão próximos.
— Nós somos, Otto é uma pessoa muito especial para mim. — ela falou, com um breve
sorriso.
— Interessante. — disse, afrouxando a gravata — Amanhã não pretendo ir ao escritório
durante a manhã, se quiser me entregar as amostras de cremes.
— Perfeito, preciso ir buscá-las na casa da minha avó, esqueci de trazer depois da minha
última visita. Vou pedir ao Otto para me levar lá! — ela disse animada e eu me controlei para
não travar o meu maxilar só por ouvi-la falando do meu motorista.
— Eu posso te levar lá, Helena.
— Não quero atrapalhá-lo, sei que é um homem muito ocupado.
— Não me atrapalha em nada, fique tranquila.
— Sendo assim, até amanhã. — ela se despediu e entrou em casa.
Caminhei até o meu quarto e apesar do horário, resolvi ligar para o meu melhor amigo,
precisava que ele me ajudasse a pensar corretamente e não agir com a emoção.
— Para você estar me ligando essa hora, é porque aconteceu alguma coisa com as
crianças. O que foi? Liz torceu o braço também? — Helton perguntou assim que atendeu.
— Vira essa boca para lá! As crianças estão bem, só liguei porque preciso que você me
dê bons motivos para não demitir o meu motorista.
— Por que você o demitiria? Ele foi displicente no trânsito ou isso tem alguma coisa a
ver com a conversa sobre assédio no ambiente de trabalho que você queria ter.
— Não e sim, tem haver.
— Preciso que seja mais claro, Gustavo.
— Acho que Otto e Helena estão tendo alguma coisa. — falei, a contra gosto.
— Ela fez alguma queixa a você?
— Ela não falou nada e aparentemente, eles se conhecem há anos, já flagrei os dois
conversando algumas vezes aqui em casa.
— E qual o problema disso?
— Não quero ele perto dela, Helton.
— Ah, então esse drama todo tem a ver com ela. — ele começou a rir — Estava
esperando você falar comigo sobre isso, porque desde o coquetel ficou bem claro para mim que
você estava interessado nela, só toma cuidado, ela é a babá dos seus filhos.
— Eu sei e estou sendo cuidadoso exatamente por causa disso, não quero que isso afete
eles de nenhuma maneira.
— Vai ser difícil, ainda mais se ela estiver interessada em você, o que eu acho que está.
— ele disse e eu encarei a vista da janela do meu quarto, me questionando mais uma vez se valia
a pena arriscar tudo por ela.
E sim, valia.
Eu faria de tudo para ter aquela mulher nos meus braços.
Despertei um pouco inquieta na manhã seguinte, depois de uma noite de sonhos
confusos, envolvendo o meu chefe. Bebi um pouco da água que estava na mesinha de cabeceira e
resolvi fazer uma caminhada ao redor da propriedade, antes das crianças acordarem.
Troquei de roupa, peguei uma banana na fruteira e fui caminhar pela trilha que tinha na
parte mais arborizada daquele condomínio. Enquanto andava, senti o aroma de algumas flores e
até vi uns patinhos no lago, me sentei sobre a grama para ver o nascer do sol e logo depois voltei
para casa.
Tomei um banho rápido e em seguida me juntei à Mírian para acordar e arrumar as
crianças. Na mesa para o café da manhã, eles não deram muito trabalho para comer e se
surpreenderam com a presença do pai, que os avisou que estaria em casa pela manhã.
Levamos Elizabeth para o colégio, que choramingou um pouco na hora de se despedir e
logo após, fomos em direção à casa da minha avó. Expliquei ao Gustavo onde ficava e nós não
demoramos a chegar lá.
Assim que ele estacionou, eu desci rapidamente, pois queria avisar minha avó que tinha
vindo com outras pessoas, mas Benjamin me chamou para ajudá-lo com o tênis desamarrado e
acabamos entrando os três juntos.
Minha avó estava sentada em sua cadeira de balanço na sala, bordando uma toalha, assim
que nos viu, ela me encarou mais atentamente e eu disse:
— Oi, vovó! Como a senhora está? — me aproximei dela e os apresentei — Esse é o meu
chefe, o sr. Gustavo Ribeiro e o seu filho mais velho, Benjamin. Vieram comigo buscar umas
amostras. Rapazes, essa é minha avó, Eleanor.
— Fico muito contente em conhecê-la, dona Eleanor. — Gustavo disse,
cumprimentando-a — Helena fala muito sobre a senhora. — ele falou, sorrindo para mim e eu
retribuí.
— Ela adora contar nossas histórias. — Vovó disse, afagando minha mão — Fiquem à
vontade, vou ajudar meu solzinho com os cremes. — ela avisou, me puxando até o meu quarto.
— Decidiu incluir algum dos seus cremes na amostra, vovó? — perguntei e no mesmo
momento ela me segurou, fazendo-me olhar em seus olhos — Vovó!
— O que está acontecendo entre você e o seu chefe, Helena? E não minta para mim.
— Não está acontecendo nada. — falei me soltando de seu aperto — E não estou
mentindo.
— E eu não sou besta, Helena. Todos esses olhares e sorrisinhos, isso não é algo muito
profissional e além do mais, eu te conheço. — ela disse, sentando-se em minha cama — Não
quero que se machuque, solzinho.
— Fique tranquila, vovó. — falei, afagando seus cabelos — Não está acontecendo nada.
— beijei sua testa — Deixe-me pegar as amostras, pois o sr. Ribeiro tem compromissos.
Fui até o meu guarda-roupa, com o coração apertado por estar mentindo para minha avó,
mas não podia lhe falar sobre os meus sentimentos quando eu mesma ainda estava começando a
entendê-los.
Encontrei um porta-retrato com uma foto dos meus pais e esbocei um breve sorriso, pois
sempre desejei um amor como o deles, não havia tido essa sorte com Igor e depois do acidente,
eu não tinha me relacionado com mais ninguém.
Respirei fundo e peguei as amostras que havia separado, avisei aos rapazes na sala e
depois de me despedir da minha avó com um abraço apertado, nós voltamos para casa.
Durante o caminho, notei que estava admirando o meu chefe mais uma vez e desejei ser
um pouco mais confiante, como as minhas amigas. Eu ainda era muito insegura quando se
tratava de relacionamentos.
E apesar de ter ficado com Igor por quase quatro anos, o nosso relacionamento não me
deu mais confiança, já que eu era muito dependente dele e não tomava praticamente nenhuma
decisão sem que ele opinasse ou me dissesse o que fazer.
E por muito tempo para mim aquilo era natural, até eu ver que não era.
Quando Igor terminou comigo depois que eu recebi a notícia mais devastadora da minha
vida, de que não poderia mais ter filhos, em meio ao luto pela morte dos meus pais, aquilo me
magoou profundamente e por muitos anos eu guardei essa mágoa dele até ver que isso não fazia
bem para mim e nem condizia com quem eu queria ser.
Assim que chegamos ao casarão, Gustavo pegou a caixa com os cremes em minha mão e
disse:
— Podemos olhar isso com mais calma depois, tenho uma reunião online agora. —
assenti e ele foi em direção ao seu escritório.
Fui com Benjamin até a área da piscina e nós nos sentamos em um dos sofás que
rodeavam aquela parte, rapidamente Salem se aconchegou entre nós dois e eu acariciei seus
pelos.
— Lena, você só tem a sua avó, assim como eu só tenho o meu pai? — ele perguntou, me
encarando.
— Sim, meus pais faleceram há alguns anos.
— Minha mãe também. — ele disse, com um olhar distante — Mas não lembro muito
dela.
— Você era mais novinho quando tudo aconteceu, isso é normal, mas tenho certeza que
ela amava muito você e a Liz.
— Isso é o que o meu pai sempre fala. — ele falou e eu afaguei seus cabelos, com um
sorriso, era muito bom ver o quanto tínhamos nos aproximado no passar dos dias.

Durante a tarde, enquanto Benjamin lia um livro e eu ensinava as atividades à Elizabeth,


contei a ela sobre os patos que tinha visto no lago essa manhã.
— Patinhos de verdade? Daqueles amarelinhos? — ela perguntou, encantada.
— Sim, tinham vários na beira do lago.
— Podemos ir lá? Quero ver os patinhos! — ela pediu.
— Assim que você terminar essa tarefa, nós vamos. — falei e ela prontamente se
concentrou na atividade.
Quando ela terminou, contei ao Ben o que iríamos fazer e mandei os dois calçarem os
tênis para a caminhada. Organizei a biblioteca e fui até a cozinha pegar alguns lanches para que
pudéssemos fazer um piquenique. Quando estava separando algumas frutas, Gustavo apareceu.
— Ouvi dizer que vamos fazer uma pequena trilha. — ele falou, com um sorriso
animado.
— Você também vai? — perguntei, pois achei que ele estaria ocupado demais para nos
acompanhar.
— Liz me chamou e você sabe que eu dificilmente consigo negar um pedido daquela
baixinha. Tem algum problema?
— Não, nenhum. Vai ser bom para eles terem esse momento com você. — respondi,
dando um pequeno sorriso e logo depois fomos até as crianças e de lá, saímos da casa.
Durante o caminho, as crianças correram em nossa frente e nós dois andávamos lado a
lado, de vez em quando nossas mãos se esbarravam uma na outra e mesmo o toque sendo bem
sutil, provocava sensações em mim.
Quando chegamos perto do lago onde estavam os patinhos, era possível ver os olhos de
Liz brilhando ao ver os bichinhos. Com muito cuidado, ela conseguiu até segurar um deles e esse
foi um dos momentos mais fofos que já presenciei.
Gustavo me surpreendeu ao tirar uma câmera da mochila que Benjamin estava levando e
prontamente tirou algumas fotos da filha. Voltamos a caminhar, deixando que os patinhos
seguissem seu curso e em um determinado momento, Gustavo colocou Benjamin sobre os
ombros para que ele pudesse ver os pássaros que voavam sobre nós mais de perto e eu não resisti
e tirei algumas fotos do meu celular.
Liz ficou com um pouco de ciúmes do irmão, então eu a carreguei por um tempo, nos
sentamos sobre a grama para comer e Gustavo começou a tirar algumas fotos. Inicialmente eu
achava que era só da paisagem, porque tínhamos parado em um lugar muito bonito, mas em
alguns momentos eu o peguei com a câmera apontada na minha direção, o que significava que
ele havia tirado algumas fotos minhas, apesar de disfarçar muito bem.
Quando estávamos voltando para casa, depois de um pôr do sol belíssimo que assistimos,
eu comentei:
— Não sabia que além de empresário você era fotógrafo também.
— É um hobby. Por um tempo eu até tentei fazer isso profissionalmente, mas tive que
assumir o lugar do meu pai na empresa e foquei minha carreira apenas nisso.
— É bom conhecer um pouco mais sobre você, tenho certeza que as fotos ficaram ótimas.
— falei sorrindo e ele retribuiu.
Assim que chegamos em casa, coloquei as crianças para irem tomar banho e logo depois,
me sentei ao lado deles para jantar. Mais uma vez Gustavo insistiu para que eu comesse com eles
e assim eu fiz, me dividi entre comer e ajudar Liz quando ela tinha alguma dificuldade.
Quando eles terminaram, assisti com eles um episódio de um desenho de super-heróis
que Benjamin gostava e após isso, os levei até seus quartos. Felizmente Liz não demorou muito
para dormir e quando fui checar Ben, ele já tinha adormecido também.
Fui para o meu quarto e após um banho demorado, porque quis lavar os meus cabelos
mesmo sendo tão tarde, me deitei na cama e aproveitei para enviar ao meu chefe as fotos que
tinha tirado durante o nosso passeio.
Gustavo elogiou as minhas habilidades fotográficas e me mandou as fotos que tinha
tirado também, tinha ficado uma mais linda que a outra. Estava olhando-as com calma, quando
me surpreendi com uma mensagem dele, me convidando até seu escritório e depois de pensar um
pouco, eu decidi ir.
Hesitei em bater na porta de seu escritório duas vezes, andei de um lado para o outro no
corredor, até que finalmente tomei coragem e bati. Quase que imediatamente, Gustavo disse que
eu poderia entrar.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, ainda encostada na porta.
— Por alguns segundos eu achei que você não viria. — ele falou, se levantando e apontou
uma das cadeiras para que eu me sentasse — Percebi que não conversamos sobre as amostras.
— Ah. — suspirei, aliviada — É mesmo, acabamos não conversando sobre elas, o que
você quer saber?
— Acho que seria interessante eu sentir o aroma e a textura primeiro, antes de perguntar
sobre o processo de criação. Você trouxe três amostras, certo?
— Isso, trouxe as três que eu mais gosto, na verdade.
— Bom saber disso, qual você recomenda que eu veja primeiro? — perguntou, abrindo a
caixa que eu tinha entregado a ele mais cedo e se sentou ao meu lado.
Peguei o de abóbora, maçã e canela, passei no dorso da minha mão e ele a segurou bem
próximo do seu rosto. Seu nariz quase tocou a minha pele e toda aquela proximidade deixou
minhas emoções afloradas.
— É um aroma diferente, mas muito bom. Misturado ao seu perfume, ficou ainda mais
interessante. — ele falou, sem soltar a minha mão.
— Como não sabia que iríamos fazer isso hoje, acabei me perfumando, como faço todos
os dias. — expliquei a ele — Acho que seria melhor passarmos os cremes em você, se não tiver
nenhum problema.
— Claro, sem problemas! Mas antes, quero te mostrar as outras fotos que tirei hoje,
durante o nosso passeio.
— Tudo bem, as que você me enviou estavam lindas! — falei, me levantando e ele ficou
de pé no mesmo momento.
Acabamos esbarrando um no outro e com a proximidade, Gustavo me segurou pela
cintura, puxando-me para ainda mais perto e eu coloquei as mãos em seus ombros. Calmamente,
ele foi se aproximando e eu fechei meus olhos, na expectativa do que iria acontecer, mesmo ele
sendo meu chefe e eu apenas uma babá.
Senti sua respiração em meu rosto e abri meus olhos, quando seus lábios iam tocar os
meus, alguém bateu na porta e com o susto, eu me afastei bruscamente de Gustavo.
— Papai, não consigo dormir e não encontro a Helena. — Benjamin disse do outro lado
da porta e imediatamente eu me senti culpada pelo que estava fazendo.
— Eu cuido disso, me espera aqui até eu voltar. — ele praticamente sussurrou.
— Acho melhor não, isso que estamos fazendo não é certo, Gustavo. — falei.
Ele se aproximou de mim, acariciou meu rosto e disse:
— Não é errado se nós dois quisermos, Helena. — ele beijou minha testa e saiu do
escritório.
Passei a mão pelos meus cabelos e um sorriso brotou nos meus lábios ao lembrar do que
ele tinha dito.
Gustavo realmente queria algo comigo.
Saí apressadamente do escritório assim que não consegui mais ouvir as vozes deles no
corredor e fui para o meu quarto. Ao deitar em minha cama, toquei os meus lábios e lembrei do
momento em que quase nos beijamos e me peguei desejando que aquele beijo tivesse acontecido.

No dia seguinte, não encontrei Gustavo pela manhã e isso foi bom, pois eu queria ter
certeza da minha decisão quando o visse, sem me guiar pelo meu coração que tendia a tomar
decisões impulsivas quando estava perto dele.
Levei Liz e Benjamin para o colégio. Depois de muito insistir, o pai deixou que ele
voltasse a assistir as aulas, tomando os devidos cuidados, e ele estava bem contente com isso.
Voltei para casa com Otto e no meio do caminho, passamos em uma feira para comprar
umas frutas a pedido da Mírian, entreguei a ela as compras assim que chegamos e fui organizar o
quarto de Liz, hoje era dia em que a equipe de limpeza aparecia para limpar, então a casa estava
cheia.
Passei a manhã tão concentrada em organizar o quarto das crianças que quase perdi o
horário de ir buscá-las. Voltamos do colégio trazendo uma amiguinha da Liz junto com ela, a
Olívia.
Pedi que Mírian arrumasse a mesa do almoço na varanda para que eles almoçassem ao ar
livre e as crianças adoraram. De sobremesa eles comeram um iogurte natural de morango
retirado da horta que estava uma delícia.
Como eles não estavam indo para as atividades extracurriculares essa semana, assim que
terminaram as tarefas do colégio, deixei que eles brincassem à vontade com os brinquedos que
tinham.
Liz foi com sua amiga até seu quarto brincar com as inúmeras bonecas que ela tinha,
enquanto Benjamin resolveu começar a montar um dos seus Legos, mesmo só conseguindo usar
uma das mãos. Tive que ajudá-lo várias vezes e acabamos montando só metade.
Quando anoiteceu, Liz se despediu de Olivia e nós jantamos na cozinha ao lado de
Mírian, que tinha feito uma sopa de legumes com carne para esquentar, pois o tempo tinha
esfriado bastante.
Assim que eles terminaram, levei-os até a sala de televisão e dessa vez, assistimos um
episódio de uma série da escolha de Elizabeth. Assim que terminou, levei os dois até o quarto do
Ben e ele começou a ler uma história para irmã.
Como ainda estava aprendendo a ler, as palavras que ele não sabia, eu o ajudava, era
lindo vê-lo se esforçando. Assim que Liz adormeceu, eu a peguei no colo e me despedi de Ben
que já estava quase adormecendo também.
Desci até a área da piscina e coloquei meus pés dentro da água, mesmo estando fria e
encarei o céu nublado que fazia naquela noite, provavelmente começaria a chover em breve.
Passei o dia pensando no que deveria fazer sobre os meus sentimentos em relação ao meu
chefe e quando o vi se aproximando da piscina, tive certeza que havia tomado a decisão certa só
pelas batidas aceleradas em meu peito.
— Você disse que não era errado se nós dois quiséssemos e... — hesitei.
— Diga, eu preciso ouvir essas palavras. — ele colocou a mão em meu pescoço.
— Eu quero, Gustavo. Eu quero ficar com você. — me declarei e ele sorriu, tomando
meus lábios em um beijo longo, repleto de paixão que me fez perder o fôlego e perceber o
quanto eu estava apaixonada.
— Helena, você não sabe há quanto tempo estou esperando por isso. — ele beijou meus
lábios novamente — Desde que nos encontramos pela primeira vez, em meio aquele pequeno
acidente com a sua bicicleta, você me deixou fascinado pela maneira como me enfrentou.
— Preciso dizer que você também não passou despercebido aos meus olhos. — falei,
acariciando seu rosto e de repente, começou a chover sobre nós dois. Entramos correndo em casa
pela porta da cozinha e eu comentei: — Que bom que já estão todos dormindo.
— Você não quer que as pessoas saibam o que está acontecendo?
— Nesse momento, não. — disse a ele — Quero evitar certos tipos de comentário e além
do mais, se isso chegar aos ouvidos da minha avó, não vai ser bom para mim.
— Por que? Ela não gostou de me conhecer? Foi tão gentil comigo naquele dia.
— Ela foi simpática. — falei a ele — Mas ela só não gosta da ideia de eu estar me
relacionando com o meu chefe.
— É compreensível, então vamos com calma até que possamos contar a ela. — ele disse
e eu assenti, Gustavo então tomou meus lábios em um beijo repleto de desejo que me deixou de
pernas bambas, enquanto eu ia até meu quarto.
Na manhã seguinte, fui surpreendida com a entrega de um buquê de rosas no momento
em que estava indo levar as crianças para o colégio. Não havia cartão, mas eu sabia muito bem
quem havia enviado, apenas ele poderia me surpreender com um gesto assim.
— Quem enviou, Lena? — Otto perguntou enquanto eu as colocava em um vaso.
— Deve ter sido uma das meninas, às vezes mimamos umas às outras dessa maneira. —
inventei essa história rapidamente para que ele não fizesse mais perguntas.
Fui por todo o caminho com um sorriso bobo no rosto, tinha me esquecido do quanto era
bom gostar de outro alguém.
Assim que voltei para o casarão, ajudei Mírian com alguns afazeres e fui até a biblioteca
separar alguns livros sobre educação. Meu sonho sempre foi me formar em Pedagogia e ser
professora como a minha mãe, cheguei a fazer o curso durante um ano, mas com o acidente,
acabei trancando a matricula e abri mão desse desejo por um tempo.
Quando estava finalizando a leitura do capítulo de um livro muito interessante que eu
tinha encontrado, recebi uma ligação da minha amiga.
— Vamos almoçar juntas hoje? — Isadora falou assim que atendi.
— Alguma ocasião especial que esqueci? Porque teria que levar as crianças.
— Bem, nós temos que organizar alguns detalhes da festa do César e como a sua próxima
folga é no dia da festa, precisamos fazer isso logo.
— Verdade, tinha esquecido totalmente disso. Podemos almoçar sim, veja com Ayla se
ela não pode se juntar a nós.
— Já combinei com ela, nos vemos daqui a pouco! — ela disse, se despedindo.
Como Gustavo já tinha me avisado que essa manhã estaria muito ocupado com reuniões e
visitas à algumas fábricas, avisei apenas à Mírian que levaria as crianças para almoçarem fora e
Otto nos deixou em frente ao restaurante depois que os peguei no colégio.
Assim que entramos no restaurante, vi Isadora e Ayla sentadas à mesa de sempre, falei
com elas rapidamente e coloquei as crianças de um jeito que conseguiria cuidar das duas.
Aproveitei que tinha um garçom próximo e fiz logo os pedidos, ele também trouxe os
desenhos e os lápis de cores para as crianças colorirem enquanto esperavam. Minhas amigas
fizeram os pedidos delas e eu perguntei:
— Dora, como estão as coisas com o advogato? Tudo indo como você imaginava?
— Ainda melhor! Ele supriu todas as minhas expectativas, mas estou tentando não me
iludir com um segundo encontro. — ela disse, ajeitando a franja.
— Por que? Achei que ele estivesse interessado. — Ayla comentou.
— Ele parece estar, mas segundos encontros não parecem fazer parte do modus operandi
dele, então não quero criar expectativas.
— Certíssima, mas se ele não te convidar para um segundo encontro, quem estará
perdendo é ele. — falei e Ayla concordou.
— Isso com certeza, mas agora vamos falar de você, Ayla. — Isadora cutucou a nossa
amiga — Como estão as coisas com a Jéssica?
— Estão indo muito bem. Ela é muito paciente, apesar dos problemas com a minha mãe,
ela sempre me mostra o quanto me apoia e está do meu lado. — ela falou e eu e Isadora
comemoramos por ela, era bom ver Ayla sendo amada depois de tudo o que passou para poder
ser ela mesma.
Nossos pedidos chegaram e enquanto eu estava cortando em pedaços menores o filé de
frango no prato da Liz, Isadora me perguntou:
— Leninha, me empresta o seu celular? Quero enviar aquela foto que tiramos na praia.
— Achei que já tivesse te enviado. — falei, entregando o celular para ela, um pouco
confusa.
— Eu também achei, mas a foto que eu queria não estava no meio daquelas que você me
mandou. — ela explicou e eu assenti.
Quando terminamos de almoçar, fomos até a praça que tinha em frente ao restaurante e
eu não resisti, comprando um sorvete de sobremesa para cada um. Ben escolheu um de chocolate
e Liz, um de morango.
Enquanto eles comiam sentados na grama, Ayla disse:
— Você falou tanto do pai deles, mas os mima demais também, Lena.
— Eu sei, percebi que isso é meio inevitável. — comentei com um sorriso — O que
ainda falta para festa a do César? Eu lembro que fiquei responsável por encomendar os bolos e
os doces, porque conheço os sabores que ele gosta.
— Isso! Posso enviar os convites e avisar que é uma surpresa, pretendo chamar os
familiares e amigos mais próximos, tenho certeza que Maicon me ajuda nisso. — Isadora falou,
anotando em seu celular.
— Perfeito, eu posso fazer a decoração com a ajuda das professoras da Recriar. — Ayla
disse e nós assentimos.
— Vocês querem que eu convide alguém especial? — Isadora perguntou a nós duas.
— Poderíamos chamar o Igor, ele e o César se davam bem.
— Isso antes dele fazer besteira. — Isadora lembrou — Não acho uma boa ideia.
— Eu também não. — Ayla concordou.
— Sei que ele errou, mas não custa nada darem mais uma chance para ele, significaria
muito para mim.
— Amiga, não é porque você o perdoou que nós temos que fazer o mesmo, cada um tem
seu tempo. — Ayla disse e eu só pude concordar.
— Tudo bem, eu entendo. Ele está tentando se reaproximar, ficou até de me ligar para
combinarmos algo. — comentei com as duas — Não vamos voltar a ser melhores amigos, mas
não vejo problema em mantermos uma relação amigável.
— Por mim, você não voltaria nem a ser amiga desse cara. — Isadora disse, me
encarando — Ele não merece nem isso de você.
— Vocês exageram demais. — falei, me levantando — Preciso ir, quero ver se dá tempo
para passar rapidinho na casa da minha avó no caminho. — me despedi delas e chamei as
crianças.
Mandei uma mensagem para Otto e enquanto esperávamos ele chegar, aproveitei para
fazer as encomendas para a festa do César. No caminho até o casarão, passei rapidamente para
checar como minha avó estava, mas o que era para ser algo rápido, se transformou em um lanche
da tarde, pois minha avó tinha acabado de fazer uma fornada de biscoito de polvilho e ofereceu
às crianças.
Enquanto eles comiam, ouvindo minha avó contar histórias sobre minha infância, meu
celular começou a tocar e eu me afastei para atender.
— Só consegui um tempo livre agora, gostou das flores? — Gustavo perguntou assim
que atendi.
— Eu amei as flores, foi um dos buquês mais lindos que já recebi.
— Fico feliz em saber disso! Quero te levar para jantar hoje à noite, só nós dois.
— E as crianças?
— Não se preocupe com isso, já conversei com Mírian e ela será bem discreta quanto a
isso.
— Tudo bem. Eu posso saber para onde vamos? — perguntei, pois estava curiosa.
— É uma surpresa, mas saiba que de qualquer maneira, você será a mais bonita daquele
lugar. — ele disse, fazendo um sorriso bobo brotar no meu rosto — Preciso ir agora, mas nos
vemos à noite. — nos despedimos e eu respirei fundo para controlar as emoções que fervilhavam
dentro de mim, pois eu teria um encontro com o meu chefe.
Quando Gustavo chegou, eu já estava esperando por ele na varanda de casa, tinha optado
por ficar ali, já que as crianças estavam com Mírian na sala de tevê, assistindo desenho. Tinha
colocado um vestido vermelho longo, com um decote de coração e feito uma maquiagem
simples.
Assim que saiu do carro, ele caminhou em minha direção, me encarando com um sorriso
charmoso e quando já estávamos próximos o bastante, ele enlaçou minha cintura e tomou meus
lábios em um beijo carinhoso e repleto de desejo.
— Estava em dúvida do que deveria fazer, mas te beijar me pareceu a melhor opção,
então agora só me resta dizer o quanto você está linda. — ele disse, acariciando meu cabelo e eu
o agradeci com um sorriso.
— Você também não está nada mal. — falei, arrumando sua gravata — Estou ansiosa
para saber para onde vamos. — disse e enquanto ele me guiava até o carro, a porta principal se
abriu abruptamente e Benjamin correu em nossa direção.
— Helena, acho que a Mírian não está bem, ela desmaiou! — ele falou, parecendo
bastante assustado.
Gustavo imediatamente correu para dentro da casa, enquanto eu tentava acalmar o garoto.
— Vamos lá ver o que aconteceu, não deve ser nada grave. — afaguei seus ombros —
Onde Liz está?
— Ela foi no quarto buscar uma boneca, não viu nada que aconteceu. — ele explicou,
enquanto andávamos.
Assim que passamos pela sala, Liz apareceu e ao me ver se agarrou em minha perna.
— Você já voltou! — ela exclamou animada, sem ter a mínima noção do que estava
acontecendo.
— Já voltei, meu solzinho. — falei, acariciando o rosto dela.
Nesse momento, Gustavo veio em nossa direção e disse:
— Mírian já acordou, mas me parece um pouco desorientada, acho melhor a levarmos até
uma emergência.
— Também acho melhor, como você dispensou Otto essa noite, vamos ter que levar as
crianças também. — falei e ele assentiu.
Enquanto Gustavo levava Mírian até o carro, coloquei casacos nas crianças e entrei com
eles no veículo. O caminho até o hospital foi tenso e rápido. Assim que explicamos a situação,
Gustavo acompanhou Mírian até uma sala e eu dei à recepcionista algumas informações que
sabia sobre ela.
Quando terminei, me sentei com Liz em meu colo, pois ela estava um pouco sonolenta e
Benjamin se sentou ao meu lado. Não demorou muito para que Gustavo viesse para onde
estávamos. Logo que se sentou, ele disse:
— Estão fazendo alguns exames para descobrir o que aconteceu, liguei para a filha da
Mírian, mas ela está vindo de outra cidade e vai demorar um pouco para chegar aqui. Você sabe
dirigir, não quer voltar para casa com as crianças?
— Eu não dirijo tem muito tempo, mas sei que aqui não é o ambiente ideal para eles,
então posso ver com Ayla se ela não pode vir buscá-los e levá-los para a casa da minha avó. É
um lugar que eles conhecem e vão se sentir à vontade. — falei a ele.
— Por mim, tudo bem se ela puder vir buscá-los. — ele falou, acariciando os cabelos de
Benjamin e eu assenti.
Coloquei Elizabeth, que estava quase adormecida, no colo dele e me afastei para ligar
para Ayla.
— Amiga, você está em casa?
— Estou tricotando com sua avó, aconteceu alguma coisa? — ela perguntou, preocupada.
— Na verdade sim, será que você pode vir buscar as crianças no hospital?
— Hospital, Helena? Você está bem?
— Estou, não aconteceu nada comigo! Mírian teve um mal-estar e estão examinando-a.
Preciso ficar aqui com Gustavo até a filha dela chegar e as crianças estão com sono.
— Entendi. Posso ficar com eles sim, não se preocupe! Em alguns minutinhos estarei
chegando aí.
— Ah, muito obrigada, Ayla! Eu mesma levaria eles, mas dirigir ainda é demais para
mim.
— Eu sei, mas tudo ao seu tempo. — ela disse, muito compreensiva — Antes você nem
conseguia entrar em um carro.
— Isso é verdade. — falei a ela, antes de nos despedirmos, pois ela começaria a dirigir.
Uns minutos depois, Ayla apareceu e como Liz já tinha adormecido, Benjamin foi com
ela sem nenhum problema. E ao lado de Gustavo, esperei mais de uma hora até que Fernanda,
filha da Mírian, aparecesse. Nós explicamos a ela o que tinha acontecido e avisamos que
ficaríamos esperando notícias.
Assim que saímos do hospital, caminhamos pelo estacionamento até encontrarmos o
carro e como Ayla tinha me garantido que as crianças estavam bem e dormindo, sugeri ao
Gustavo que parássemos em algum lugar para comermos alguma coisa.
Felizmente, apesar do horário, ele encontrou uma lanchonete aberta e assim que os
nossos sanduíches chegaram, ele disse:
— Não foi desse jeito que eu tinha planejado a nossa noite.
— Nem sempre as coisas acontecem como o planejado, mas pelo menos estamos juntos.
— falei, segurando a mão dele sobre a mesa e ele sorriu, assentindo.
Fomos até a casa da minha avó e como ela já estava dormindo, não demoramos muito.
Agradeci mais uma vez Ayla pela ajuda e apresentei Gustavo a ela, que ficou muito grato por
tudo o que ela tinha feito essa noite e seguimos até o casarão.

Na manhã seguinte, mal consegui me despedir de Gustavo direito antes que ele fosse para
o escritório, pois havia muita coisa para se fazer e definitivamente, Mírian fazia muita falta.
Preparei uma salada de frutas com torradas para o café da manhã das crianças e felizmente eles
não reclamaram dessa mudança matinal.
Passei em uma padaria no caminho para o colégio, comprei o lanche deles, pois não tive
tempo de preparar nada muito elaborado e me despedi dos dois na portaria, quando estava
voltando para casa com Otto, ele perguntou:
— Alguma notícia da Mírian?
— Ainda não, mas Fernanda disse que ligaria para avisar, assim que tivesse um
diagnóstico.
— Espero que não seja nada grave.
— Também espero. — falei, encarando a rua — Vou ter que pedir o almoço hoje e como
o restaurante que a sua irmã trabalha não faz entregas, você vai ter que passar lá para retirar, vou
deixar tudo combinado com ela.
— Pode deixar, mas esses anos morando com sua avó não te rendeu nenhum dote
culinário?
— Nem unzinho. — falei, bem humorada e nós dois rimos.
Quando chegamos ao casarão, lembrei que hoje era dia da equipe de limpeza, então tentei
cuidar de tudo como Mírian fazia e isso me manteve muito ocupada durante todo o dia.
Já havia anoitecido, quando Gustavo chegou do trabalho e eu estava exausta, me
aconcheguei nos braços dele, depois de colocar as crianças para dormirem e disse:
— Não parei um momento sequer hoje, minha manhã foi agitada e a tarde mais ainda
com as crianças, não sei como Mírian conseguia dar conta de tudo.
Ele beijou minha testa, acariciou meus cabelos e falou:
— Fernanda me disse que ainda estão investigando o que ela tem, não sabe quanto tempo
isso vai levar, mas se for o caso, posso contratar alguém para cuidar das coisas aqui em casa
nesse tempo.
— Espero que você não tenha que fazer isso. — acariciei seu peitoral.
— Eu também! — ele me encarou — O que acha de irmos para minha casa na praia no
feriado? Você ainda não conhece e as crianças adoram.
— É uma boa ideia e eu adoraria. — falei, beijando suavemente seus lábios, me sentindo
animada por já estarmos fazendo planos futuros incluindo um ao outro.
Alguns dias depois...

Estava terminando de arrumar as malas das crianças para o passeio que faríamos no
feriado, a minha já estava pronta e eu estava animada por esses dias de descanso em um lugar
diferente.
As coisas estavam um pouco difíceis sem a Mírian, mas como ela estava fazendo um
tratamento para o problema cardíaco que tinha descoberto, ainda levaria um tempo até que ela
pudesse voltar para casa.
Aproveitei que as crianças estavam distraídas, brincando com seus brinquedos, fui até a
cozinha cortar algumas frutas e fazer uns sanduíches para que elas comessem no carro.
Enquanto eu cortava um pedaço de melancia, Otto apareceu e disse:
— Ainda estou surpreso que o patrão me liberou nesse feriado, vou aproveitar para tentar
me aproximar ainda mais da Ayla, convidar ela para jantar.
— É uma boa ideia, Otto. Tenho certeza que ela sente sua falta. — falei, afagando o
braço dele.
Na manhã seguinte, acordamos cedo e seguimos para a casa que eles tinham no litoral,
bem perto do mar. Levamos um pouco mais de uma hora para chegar e assim que colocamos os
pés na casa, as crianças avisaram que queriam ir para praia.
Então os ajudei a trocar de roupa enquanto Gustavo levava as malas para o quarto e logo
depois, os levei até a areia. Com os brinquedos em mãos, me sentei ao lado de Benjamin que
apesar do incômodo pelo braço imobilizado, estava se divertindo bastante.
Gustavo levou Liz para dentro da água algumas vezes e eu fui até a beira da praia com
Ben, apenas para molhar os pés. Catamos algumas conchinhas e vimos siris andando pela areia.
Fomos almoçar em um restaurante, pois pelo horário não tinha como preparar nada e
quando voltamos para casa, me deitei no sofá que tinha na varanda, com as crianças ao meu lado
para curtir a brisa do mar e a paisagem belíssima que tinha naquele lugar.
Comecei a acariciar os cabelos dos dois e não demorou muito para que eles acabassem
adormecendo, me levantei com cuidado e fui procurar Gustavo, ele tinha ido até o escritório,
devido a uma ligação de trabalho e eu acabei o encontrando no meio do caminho.
Ele enlaçou minha cintura, beijou meus lábios carinhosamente e perguntou:
— Onde estão as crianças?
— Dormindo na varanda. Acho que estão cansadas, acordaram cedo e tiveram uma
manhã agitada.
— E parece que vão ter uma noite agitada também, acabei de falar com a vizinha, que
também é uma amiga de longa data e ela convidou os dois para uma festa do pijama que ela vai
fazer hoje à noite, em comemoração aos oito anos da filha dela.
— Parece divertido, as crianças vão adorar! — falei, torcendo para que eu não me
sentisse muito desconfortável, acompanhando as crianças nessa festa.
Um tempo depois, quando as crianças acordaram, Gustavo se prontificou a ajudar o
Benjamin e eu fui arrumar Elizabeth, enquanto penteava os cabelos dela, ela disse:
— Você vai cuidar do Salem para mim? Não vai deixá-lo dormir sozinho?
— Não vou, pode deixar que cuidarei dele. — falei a ela, que sorriu acariciando os pelos
do gato em seu colo.
Assim que Liz ficou pronta, mandei que ela descesse e me esperasse lá embaixo com seu
irmão e fui me arrumar, me surpreendi ao encontrar minha mala no quarto do Gustavo e sorri por
ele ter feito isso.
Tomei um banho rápido, coloquei um vestido longo e bem levinho que eu tinha colocado
na mala e fui ajeitar o meu cabelo, quando comecei a me maquiar, meu celular começou a tocar,
era Isadora.
— Como estão as coisas com o chefinho? — ela perguntou, depois de me cumprimentar.
— Estão indo bem, como vão as coisas com o advogato?
— Melhores do que eu imaginava, íamos até sair essa noite.
— Não vão mais? — perguntei, estranhando.
— Não, estou indo até a casa da Jéssica, aconteceu uma situação entre Ayla e a mãe dela
e ela não está muito bem, apesar do Otto estar com ela. Vou lá dar o meu apoio também.
— É uma pena que eu esteja tão longe! Cuida dela, Dora! — falei, com o coração
apertado.
— Pode deixar, não se preocupe. — ela disse, se despedindo e eu desliguei.
Não coloquei muita maquiagem e assim que terminei de passar o meu perfume, desci as
escadas e me surpreendi ao encontrar Gustavo sozinho na sala.
— Onde estão as crianças?
— Na festa, te falei mais cedo que eles estariam fora essa noite.
— E eles foram sem mim?
— Claro! E estão seguros, não se preocupe. — ele acariciou meus cabelos — Essa noite
somos apenas eu e você. — e tomou meus lábios em um beijo apaixonado.
Gustavo me levou até a cozinha, encheu uma taça de vinho para mim e só então eu
percebi que ele já estava preparando algo para comermos.
Beberiquei um pouco do vinho e disse:
— Percebi que sei muito pouco sobre a sua família, seus pais não vieram visitar as
crianças nesse tempo em que comecei a trabalhar na sua casa.
— Meus pais são muito reservados, depois que deixou a empresa para mim, foram morar
em Portugal e raramente visitam os netos.
— E você não tem irmãos?
— Sou filho único. — ele respondeu, colocando uma travessa com queijos na minha
frente — E você, tem irmãos?
— Também sou filha única, meus pais estavam pensando em adotar uma criança, antes
do acidente acontecer.
— Imagino que seja difícil para você falar sobre isso.
— Antes era muito mais, ainda tenho alguns traumas, mas hoje eu consigo lidar melhor
com eles. — falei e ele veio até mim, afagou meu braço e beijou minha testa — Mas não vamos
nos aprofundar nesse assunto, não hoje. — disse e ele assentiu, com um sorriso.
Quando o jantar ficou pronto, nos sentamos à mesa e comemos à luz de velas, enquanto
compartilhávamos histórias não tão traumáticas da nossa infância, era divertido conhecer esse
lado mais despojado do Gustavo.
Assim que terminamos de comer, ele me surpreendeu mais uma vez, me convidando para
dançar com ele. Enquanto dançávamos ao som de All off me, totalmente instrumental, eu me
arrepiei com ele cantarolando a música para mim em um total deleite aos meus ouvidos.
Encarei-o, sob a luz fraca da vela e tomei seus lábios em um beijo apaixonado, Gustavo
intensificou o beijo, erguendo-me em seus braços e me levou até o quarto que dividíamos.
Ele me admirou por alguns segundos, antes de se inclinar sobre mim, suas mãos
perpassavam o meu corpo e seus lábios desceram até o meu pescoço, o contato de sua língua
com minha pele me fez ofegar.
Suas mãos apertaram as minhas coxas, puxando-me para ainda mais perto e a fricção
entre nossos corpos me fez desejá-lo ainda mais.
No momento em que sua boca cobriu a minha em um beijo de tirar o fôlego, ele começou
a tirar o meu vestido até que não restasse mais nada entre nós dois.
Entre carícias que me fizeram delirar em seus braços, Gustavo possuiu meu corpo com
uma intensidade avassaladora que me fez perceber que eu nunca tinha sido amada daquele jeito.
Acordei na manhã seguinte com beijos em meu pescoço que me fizeram levantar com um
sorriso no rosto.
Antes de ir buscar as crianças na casa dos vizinhos, Gustavo me ensinou a fazer
panquecas e até que elas ficaram boas, apesar de não terem ficado muito bonitas.
Após o café da manhã, passamos boa parte do dia na praia, Gustavo e Benjamin jogando
bola na areia, enquanto Elizabeth me mostrava o quão bem já estava nadando no mar.
Quando se cansou, Liz se sentou à beira do mar e enquanto brincava com a areia, ela
perguntou:
— Quando voltarmos, a Mírian já vai estar lá?
— Ainda não, solzinho. Ela precisa de mais uns dias para se recuperar, mas em breve
estará melhor e voltará a ficar com a gente. — falei, ajeitando o cabelo dela.
Depois de alguns castelos de areia e gols feitos, arrumamos as malas e seguimos na
estrada, de volta para casa. As crianças acabaram adormecendo no caminho e eu aproveitei para
convidar Gustavo para o aniversário do César.
— Então já posso conhecer os seus outros amigos, isso é um bom sinal. — ele comentou,
bem humorado.
— Acho que já avançamos o suficiente nessa relação e acho que eles vão gostar de você.
— falei, com um sorriso.
— Bem, espero que sim. Sei que a opinião deles é valiosa para você. — ele falou e eu
assenti — Depois me confirma o horário, amanhã devo entrevistar algumas candidatas para
ocupar o cargo da Mírian por alguns dias, não queria ter que fazer isso, mas não acho justo te
sobrecarregar com tudo.
— Mírian vai entender e além do mais, serão só por uns dias, tenho certeza que logo ela
estará muito bem e poderá voltar a participar da nossa vida.
— Torço muito por isso. — ele falou, beijando rapidamente minha mão, antes de voltar
os olhos para estrada.
No dia seguinte, deixei Gustavo dormindo na cama e fiz o trajeto que sempre fazia nas
minhas folgas. Assim que entrei na casa da minha avó, a encontrei terminando de arrumar as
malas.
— Vai viajar, vovó? — perguntei, abraçando-a.
— Vou, devo ter esquecido de te contar, solzinho. É um retiro da igreja.
— Ah, esqueceu mesmo, mas espero que se divirta. — falei, beijando sua testa.
Guardei minha mochila no quarto e acompanhei vovó até a igreja, pois o ônibus partiria
de lá e me despedi dela. Quando cheguei em casa, Ayla já havia chegado, lhe dei um abraço
apertado e perguntei:
— Como você está?
— Bem melhor, Lena. Não se preocupe!
— Impossível não me preocupar, sei que é difícil, mas tenta ignorar as besteiras que sua
mãe fala.
— Eu tento, mas às vezes dói mesmo assim. — ela disse e eu a abracei novamente,
ficamos conversando um pouco, nos atualizando do que andava acontecendo na vida uma da
outra e logo depois, começamos a nos arrumar.
Ayla foi comigo até a confeitaria e me ajudou a pegar os bolos e os doces e logo depois,
fomos até a Recriar para começarmos a organizar a festa com a ajuda das professoras e das
crianças, era bom voltar ao lugar que tinha me trazido tantas alegrias.
Quando César chegou, junto com Maicon e Isadora, ele ficou emocionado quando viu
toda à surpresa que preparamos para ele e correu para nos abraçar. Depois de parabenizá-lo, fui
até a entrada da instituição para receber meus convidados, já que Gustavo havia me avisado que
estava vindo.
Eu estava um pouco nervosa, pois a opinião dos meus amigos significava demais para
mim e quando eles não gostavam de alguém, tornava tudo ainda mais difícil, tinha
experimentado essa sensação durante o meu relacionamento com Igor.
As crianças me abraçaram assim que saíram do carro e Gustavo entrelaçou sua mão na
minha. Juntos, começamos a caminhar em direção à festa, desde a entrada já era possível escutar
as músicas infantis e ver os balões que tinham pendurado.
Olhei ao redor, procurando os meus amigos para apresentá-los ao Gustavo, quando senti
ele ficar tenso ao meu lado, me virei para ver o que tinha acontecido e vi ele e Igor se encarando,
me surpreendi por ele estar na festa e me questionei se eles já se conheciam.
— Vocês já se conhecem? — perguntei, chamando sua atenção.
— Não... — ele respondeu, olhando para mim.
— Achei que sim, pelo jeito que vocês estavam se encarando.
— Só não gostei da maneira como ele te olhou. — ele disse, beijando minha testa.
— Ah, deixa eu levar a Liz e o Ben até a área onde estão as outras crianças e logo depois,
vou te apresentar aos meus amigos. — falei, pegando na mão dos dois e os levei até a parte mais
infantil da festa, logo depois voltei para o lado de Gustavo.
Apresentei ele ao César e ao Maicon e os dois aparentaram gostar bastante do Gustavo,
tanto que os deixei conversando com ele e fui ajudar Isadora a servir os doces e sucos para os
convidados, já que Ayla e Jéssica estavam ocupadas, ajudando as professoras com as crianças.
— Helton não veio? — perguntei, enquanto montava uma bandeja.
— Foi pegar mais cadeiras nas outras salas.
— Precisa mesmo, tem mais gente do que eu imaginava. — falei a ela — Você mudou de
ideia e convidou o Igor?
— Não, mas acho que o Maicon o convidou, parece que são amigos agora. — ela
explicou, revirando os olhos.
Passei boa parte do tempo servindo os convidados e quando as irmãs do César chegaram
para nos ajudar, eu fui até onde Gustavo estava e me aconcheguei nos braços dele.
Ficamos poucos minutos assim, pois quando Helton se aproximou de onde estávamos,
Gustavo se afastou para conversar com ele e ficou estranho comigo durante toda a festa, não
conseguíamos sequer conversar, pois nenhum assunto rendia.
Não entendia o que havia feito mudar de humor de uma hora para outra, mas não estava
satisfeita com o jeito que ele estava me tratando.
Quando a maioria dos convidados estavam indo embora, fui até a cozinha para ver se as
irmãs do César precisavam de ajuda para organizar as coisas, mas acabei sendo interrompida no
meio do caminho.
— Helena, precisamos conversar, agora mesmo. — Igor disse, parecendo inquieto.
— Eu já estou indo embora, Igor. Será que podemos conversar outra hora? Me manda
uma mensagem e nós marcamos alguma coisa.
— Te mandar uma mensagem? Você disse que poderíamos voltar a ser amigos e me
bloqueia de todas as redes sociais? Estou tentando falar com você há dias!
— Eu não te bloqueei, Igor! Nós concordamos em ser amigos, isso não faz o menor
sentido. — me justifiquei, mas ele pegou o celular dele e me provou que eu o tinha bloqueado —
Não entendo como isso aconteceu, mas eu não fiz isso.
— Então isso provavelmente foi obra de alguma das suas amigas que me odeiam. — ele
disse, passando a mão em seus cabelos — Eu realmente preciso conversar com você.
— Pode ser amanhã, pela manhã? Podemos nos encontrar no café que tem em frente à
praça.
— Pode ser, mas não deixa de ir, o que eu tenho para te falar é muito importante.
— Não se preocupe, eu vou estar lá. — falei, me despedindo dele.
Desisti de ir até a cozinha e fui até minha amiga que estava no final do corredor,
conversando com Helton.
— Isadora, preciso falar com você. — disse séria e pela minha cara, ela percebeu que
algo tinha acontecido.
— Já volto, querido. — ela disse ao Helton e andou comigo.
Entramos em uma das salas e eu perguntei:
— Por que você bloqueou o Igor do meu celular? Por que achou que poderia mandar na
minha vida dessa maneira?
— Eu estava tentando te proteger. — ela se justificou.
— Me proteger, agindo pelas minhas costas?
— Só estava tentando fazer o que fosse melhor para você.
— Acho que posso tomar as melhores escolhas para minha vida, sem ninguém
interferindo. — falei, chateada.
— Helena, não vai ficar chateada comigo por isso, não é? Sei que errei, mas foi pensando
no melhor para você, esse cara não merece voltar para sua vida.
— Sou perfeitamente capaz de decidir isso e não preciso que você faça nada, Isadora. —
disse, saindo da sala.
Fui até o Gustavo e falei:
— Vou te esperar no carro, você pode pegar as crianças e me encontrar lá?
— Claro, aconteceu alguma coisa? — eu apenas neguei com a cabeça e saí da instituição.
Não tinha nem mais clima para comemorar com os meus amigos, sequer consegui me
despedir do César, mas conversaria com ele depois.
Em vez de me levar até a casa da minha avó, Gustavo me levou até o casarão e estar com
as crianças me distraiu um pouco de pensar no quanto esse dia tinha sido terrível.
Enquanto eles assistiam televisão, fui atrás do Gustavo e o encontrei com um copo de
whisky, saindo do seu escritório. Assim que me viu, ele me abraçou e disse:
— Me desculpe por hoje. — ele me apertou em seus braços.
— Quer me contar o que aconteceu para você se comportar daquele jeito?
— Eu só não estava muito bem, mas não quero te encher com isso hoje, sei que discutiu
com Isadora, quer conversar sobre isso?
— Melhor não, no momento eu só quero ficar nos seus braços mesmo. — falei, me
aconchegando ainda mais e ele me acolheu, beijando a minha testa.
Naquele instante, era tudo o que eu precisava.
Assim que desci com as crianças, depois de arrumá-las para o colégio, estranhei ao
encontrar uma senhora que eu nunca tinha visto na cozinha. Ela me avaliou com um olhar
esnobe, deu um sorriso que não me parecia sincero e disse:
— Você deve ser a babá, sou Hilda, a nova governanta.
— Muito prazer, Hilda. Sou Helena Campos. — me apresentei, vendo as crianças se
sentarem à mesa para começarem a comer o café da manhã que ela havia preparado — Gustavo
me avisou que você começaria hoje.
— Gustavo? Você não deveria chamar o seu chefe pelo nome, mocinha! Não é de bom
tom, deveria se colocar no seu lugar. — ela falou e antes que eu pudesse responder aquele
insulto, Gustavo entrou na cozinha.
— Vejo que já se conheceram. — ele disse, indo até as crianças.
— Sim, senhor. Helena é um doce, tenho certeza que nos daremos muito bem. — ela
falou a ele e eu me controlei para não revirar os olhos com tamanha falsidade.
Me sentei ao lado de Liz e enquanto ela comia, me servi com uma xícara de café, pois
estava precisando de um pouco mais de energia hoje.
Assim que as crianças terminaram, as coloquei no carro e antes que eu entrasse, Gustavo
me chamou e disse:
— Espero que esteja melhor, querida. — ele beijou minha testa — Devo passar o dia no
escritório por causa do próximo lançamento, mas quando eu chegar, nós podemos jantar juntos e
conversar sobre os seus cremes, quero dar andamento à produção. — assenti com um sorriso e
ele entrou em seu próprio carro.
Deixei as crianças no colégio e como hoje elas teriam um passeio, só voltaríamos para
buscá-las mais tarde. Encarei as horas no meu relógio e vi que estava bem perto do horário que
eu tinha marcado com Igor, então disse:
— Vou comprar algumas coisas e depois volto para casa sozinha, Otto.
— Tudo bem, mas qualquer coisa me ligue, estou à sua disposição hoje. — ele falou e eu
assenti.
Caminhei até a cafeteria e Igor já estava lá, me esperando, me sentei em frente a ele e
respirei fundo, pois não sabia o que esperar.
— Helena, que bom que você veio, eu realmente preciso falar com você.
— Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, sim. — ele me encarou — Há quanto tempo você conhece o Gustavo
Ribeiro?
— Há pouco tempo. Ele é meu chefe, por quê?
— Porque aquele homem destruiu a vida da minha irmã, Helena, e eu não quero que ele
faça o mesmo com a sua.
— Que história é essa, Igor? — questionei, confusa — O que o Gustavo tem a ver com a
sua irmã?
— Eu sei que te falei pouco dela, nós não éramos tão próximos porque ela era minha
meia irmã e quando nossos pais se separaram, nós acabamos nos afastando e eu só a reencontrei
quando ela se casou com Gustavo Ribeiro e veio morar novamente nessa cidadezinha.
— Sua irmã é a ex-mulher do Gustavo que morreu em um acidente?
— Sim, um acidente terrível. Ele já te contou sobre o que aconteceu?
— Não e eu também não perguntei, são assuntos que não se abordam de qualquer
maneira, Igor.
— Eu sei, mas ela sofreu esse acidente por causa do Gustavo, Helena. — ele explicou,
parecendo um pouco inquieto — Por causa dele a Paula começou a beber tanto que se tornou
alcoólatra, ele transformou a vida da minha irmã em um pesadelo assim que se casaram.
— Gustavo não é esse tipo de pessoa, Igor. — falei, ajeitando minha bolsa em meu colo,
pois não estava gostando do rumo daquela conversa — Acho que você está confundindo as
coisas.
— Não estou confuso, Helena. Esse homem não presta e quanto mais cedo você descobrir
isso, melhor. — ele falou, colocando a mão sobre a minha — Eu só não quero que ele destrua a
sua vida de novo.
— De novo? Como assim? — questionei, confusa.
— Minha irmã dirigia o carro que atingiu o dos seus pais naquela noite, Helena. Por
causa de uma discussão com Gustavo, minha irmã saiu transtornada e completamente bêbada
daquela casa, pegou um carro e dirigiu pela estrada de maneira inconsequente naquele momento.
— Isso não pode ser verdade, Igor. — falei, com os olhos marejados.
— Eu não queria te contar desse jeito, mas sinto que preciso te proteger dele, Helena.
Sequer posso ver os meus sobrinhos, Benjamin e Elizabeth mal me conhecem. — ele disse,
parecendo bem abalado por isso.
— Eu não sei nem como reagir a tudo isso que você me contou. — falei, me levantando
— Mas não estou me sentindo muito bem e vou embora. — me levantei e saí do café.
Caminhei sem rumo por um tempo até perceber para onde eu estava indo.
Inconscientemente, notei que tinha andado até a casa em que meus pais moravam. Me sentei nos
degraus em frente ao portão e comecei a chorar tão forte que cheguei a soluçar, felizmente aquela
não era uma rua muito movimentada e eu pude sofrer em paz.
Mesmo com meu coração me dizendo que eu não podia acreditar no Igor, uma parte de
mim se perguntava por que ele mentiria desse jeito. Desde que tínhamos conversado, uma
angústia tinha tomando conta do meu peito. Eu odiava reviver esse momento da minha vida, fiz
terapia por muitos anos, mas o acidente ainda era algo difícil.
Toquei em meu pescoço o pingente de sol que meus pais haviam me dado e decidi ir para
casa da minha avó, precisava pensar com mais calma no que eu iria fazer a partir de agora.
Entrei na casa da minha avó, esperando ficar sozinha, mas me surpreendi ao encontrar
Ayla preparando seu café da manhã na cozinha.
Assim que me viu, minha melhor amiga veio até mim e me acolheu em seus braços, me
dando todo carinho e suporte que eu precisava.
— O que aconteceu, Lena? Por que você está assim? — ela perguntou, preocupada, e aos
prantos, contei a ela tudo o que Igor havia me falado — Não acho que Gustavo seja o monstro
que ele pintou.
— Eu também não, mas nesse momento está tudo tão confuso. — falei, voltando a
chorar.
Durante bons minutos, eu chorei copiosamente nos braços de Ayla enquanto as
lembranças do acidente e todo o meu processo de luto passavam pela minha cabeça. Estava tão
mal, que nem percebi quando Isadora chegou, só notei sua presença quando ela afagou minhas
costas.
— Vim assim que Ayla me ligou, dei uma desculpa qualquer na empresa e felizmente
hoje não é um dia que o meu chefe vá precisar tanto de mim. — ela falou, enquanto me
acalentava.
— Ayla lhe contou tudo? — perguntei e ela assentiu — O que você acha?
— Acho que trabalho com ele há tempo suficiente para saber que o casamento dele com
Paula foi repleto de altos e baixos e que você deveria conversar com ele. — ela acariciou meu
cabelo — Além do mais, não acho que você deva confiar em uma palavra vinda do Igor.
— Ele só estava tentando me ajudar, Dora.
— Isso é o que você pensa, Lena! Mas se eu bloqueei ele das suas redes sociais, foi por
um motivo plausível, descobri através de uma amiga que naquela época que você sofreu o
acidente e descobriu que não podia mais engravidar, que Igor estava te traindo com uma médica.
— E eu achando que ele não aguentou a notícia de que não poderíamos mais ter filhos. —
falei, cobrindo meu rosto com as mãos.
— Ele é ainda pior do que eu pensava. — Ayla disse, afagando meu ombro — Você já
comeu alguma coisa? — ela perguntou e eu neguei com a cabeça — Então eu vou preparar algo
para você comer, não sou tão boa cozinheira quanto sua avó, mas dou para o gasto. — ela
brincou, se levantando.
Isadora me abraçou e nós passamos o resto da manhã juntas. Apesar de fazerem muitos
esforços para me distrair, eu não conseguia parar de pensar no que Igor havia me dito e acho que
levaria um tempo para assimilar tudo.
Voltei para o casarão no meio da tarde e fiquei na biblioteca até as crianças chegarem,
cuidei delas como sempre fazia, ignorando os olhares avaliativos de Hilda e pelo cansaço do
passeio, elas dormiram logo após o jantar.
Me sentei no sofá e esperei Gustavo chegar do trabalho, quanto mais o tempo passava,
mais nervosa eu ficava pela conversa que estávamos prestes a ter.
Assim que chegou, ele veio em minha direção, beijou suavemente os meus lábios, mas
assim que prestou mais atenção no meu rosto, ele perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
— Eu já sei de tudo sobre o acidente, Gustavo. — resolvi ser direta, pois não aguentava
mais toda a apreensão que consumia os meus pensamentos.
— De tudo o que exatamente? — ele questionou, me encarando.
— Já sei que foi o carro da sua ex-mulher que causou o acidente na estrada, que por
causa de uma atitude inconsequente dela, meus pais estão mortos. Sei também que ela começou a
beber por sua causa, que vocês brigaram antes dela sair. Por que não me contou isso antes,
Gustavo? Por que me deixou no escuro sobre isso o tempo todo?
— As coisas não aconteceram desse jeito, meu amor. Quem te contou isso?
— Não interessa quem me contou, Gustavo. O que importa aqui é que não foi você. —
falei, me levantando.
— Eu queria te contar sobre isso, só não sabia como.
— Se tivesse feito isso logo, provavelmente não estaríamos passando por isso agora.
— Eu sei, fui tolo em esperar tanto, mas sei o quanto esse assunto é difícil para você e
não queria te fazer sofrer relembrando o acidente. — ele disse, se aproximando — Me deixe te
contar o que realmente aconteceu, meu amor. — ele pediu, segurando a minha mão e eu me
sentei novamente para o escutar. — Bem, minha ex-mulher não era a melhor mãe do mundo, ela
era fútil e egoísta, se importava mais com ela do que com as crianças ou com o nosso casamento
e uns meses depois que Elizabeth nasceu, ela voltou a beber de um jeito completamente
irresponsável e isso só fez com que brigássemos muito mais. — ele explicou, sem soltar minha
mão — No dia do aniversário de um ano da Liz, ela fez o maior vexame e isso para mim foi a
gota d’água, pedi o divórcio, nós discutimos e ela saiu de casa quase me atropelando, porque eu
entrei na frente do carro para impedir que ela saísse, mas isso não foi o suficiente. Só soube do
acidente algumas horas depois, fiquei sentido pelo que aconteceu, mas sua avó não permitiu que
eu a ajudasse. — ele falou, enquanto seu polegar acariciava a minha mão lentamente — Me
desculpe por não ter contado tudo isso antes, mas como eu sabia que esse é um assunto que você
não se sente confortável, estava tentando encontrar o momento certo para falar sobre isso. Então
agora, tudo o que eu posso pedir, é que acredite em mim. — ele acariciou meu rosto, assim que
terminou de falar e eu o encarei enquanto pensava no que fazer.
— Preciso de um tempo para assimilar tudo isso, hoje não foi um dia fácil para mim. —
disse a ele.
— Tudo bem, eu entendo. — ele falou, soando bem compreensivo — Amanhã de manhã
terei que viajar para o estado vizinho e só voltarei em alguns dias, não sei se esse tempo é o
suficiente, mas não irei pressioná-la até que se sinta à vontade para conversarmos. — ele disse e
eu assenti, me despedindo dele e fui até meu quarto.
Me deitei na cama e tentei organizar os meus pensamentos, havia muita coisa para
assimilar, mas dentre isso tudo, eu sentia que Gustavo havia sido sincero comigo.
Mal consegui dormir durante a noite, fiquei me revirando na cama diversas vezes e
quando percebi, já havia amanhecido.
Me levantei para acordar as crianças e enquanto elas tagarelavam sobre o passeio do dia
anterior, bebi uma xícara de café para me manter acordada.
Quando Otto me deixou em casa após levarmos as crianças para o colégio, fui direto para
a biblioteca, pois não queria ter que aturar os olhares de julgamento vindos de Hilda e peguei o
livro que estava lendo sobre métodos de educar.
Acabei cochilando no meio da leitura, pois acordei com Otto me avisando que já estava
na hora de buscar as crianças. Joguei uma água no rosto e fui com ele até o colégio.
Depois do almoço, como o sol não estava muito forte, preferi fazer uma pequena trilha
com eles para mudar um pouco os ares e para que eu conseguisse pensar um pouco.
Enquanto andávamos, Benjamin contou animado como seria a festa do pijama na casa de
um dos amigos dele, os jogos que ele jogaria e que teria até piscina de bolinha. Pedi para ele ter
cuidado por causa do braço machucado e ele me jurou que seria cuidadoso.
Assim que voltamos para casa, fomos para a biblioteca fazer as atividades e quando
terminamos, nos deitamos sobre o tapete que tinha na parte reservada para as crianças e Ben
continuou a ler o livro que ele estava lendo para nós, sobre piratas em um mar desconhecido.
Quando anoiteceu, Otto levou Benjamin até a casa do amigo dele, que ficava no mesmo
condomínio e eu subi com Liz até o quarto dela. Enquanto eu penteava seus cabelos loiros, ela
disse:
— Sabia que tem uma menina da minha sala que tem duas mamães? Ela me contou esses
dias e aí eu fiquei pensando que seria legal se você pudesse ser a minha mamãe também. — Liz
se virou para mim, com um sorriso tão angelical que meus olhos ficaram cheios de lágrimas ao
perceber o que ela havia dito.
— Seria incrível mesmo, solzinho. — falei, puxando-a para um abraço apertado enquanto
eu me controlava para não chorar.
Ser mãe sempre foi o meu grande sonho, mas depois do acidente, eu não achava que isso
fosse ser possível. Saber que Elizabeth me queria como mãe dela, enchia meu coração de um
amor inexplicável e me fazia desejar que as coisas fossem mais fáceis.
Me deitei ao lado dela na cama e peguei a historinha que ela havia escolhido para que eu
lesse, enquanto contava uma história sobre um leãozinho em uma savana, os olhos da Liz foram
pesando até que ela adormecesse profundamente.
Andei até meu quarto e me deitei, torcendo para que eu conseguisse descansar, mas
acabei dormindo muito mal novamente.
Quando acordei, fui até a cozinha beber um copo de suco e acabei encontrando Hilda
preparando o café da manhã.
— Hoje as crianças não têm aula, pensei em preparar um café da manhã mais saudável
para eles, não estou muito de acordo com as refeições que a outra governanta costumava
preparar.
— Bem, as crianças gostavam do cardápio e estão acostumadas com essas refeições, além
do mais o pai delas nunca mostrou nenhum descontentamento com isso.
— Aquele pobre homem nem para direito em casa, mal deve saber o que você e a outra
governanta davam as crianças. Trabalhei em muitas casas de família, senhorita Campos, sei bem
o que devo fazer. — ela disse, em um tom arrogante e eu preferi não refutar.
Enquanto subia para acordar Elizabeth, resolvi ir até a casa da minha avó com as crianças
para aproveitar o feriado e depois de buscar Benjamin, pedi ao Otto para nos levar lá.
Dona Eleanor recebeu os dois com abraços carinhosos e logo lhes ofereceu os biscoitos
de chocolate que tinha feito essa manhã. Enquanto as crianças comiam, vi minha avó admirando
um dos quadros que ela tinha pendurado na parede da sala, mais especificamente, uma foto de
seu casamento.
— Sente muita saudade dele? — perguntei, abraçando-a.
— Hoje acordei um pouco saudosa. — ela respondeu, afagando minha mão — Seu avô
foi o amor da minha vida, como eu poderia não sentir saudades? — ela disse e eu a abracei ainda
mais forte.
— Isso é tão bonito, por muito tempo eu achei que não teria chance de viver algo assim,
mas eu estou apaixonada, vovó. — declarei, ainda abraçada a ela.
— Por quem, minha neta? Alguém que eu conheça?
— Pelo Gustavo Ribeiro, eu sei que ele é meu chefe, mas não se manda no coração e eu
me apaixonei, vovó.
— Sei disso, solzinho e apesar de não concordar com relacionamentos que começam
assim, eu só quero que você seja feliz, com quem quer que seja. — ela beijou minha testa e eu
senti uma paz no meu coração ao ouvir aquelas palavras.
Passei praticamente o dia inteiro com as crianças na casa da minha avó, ela mostrou a
eles as plantas que cultivava no jardim, contou histórias da minha infância e depois de um
almoço delicioso, fomos até o lago que tinha nas redondezas e eu não resisti e acabei deixando
que as crianças tomassem banho, mesmo que não estivessem com roupas apropriadas para isso e
o sorriso que tomou conta do rosto deles fez tudo valer a pena.
Quando anoiteceu, deixei as crianças com Ayla e minha avó, enquanto ia até o casarão
buscar algumas mudas de roupa, pois pretendia dormir lá com eles. Assim que passei pela porta,
Hilda me interceptou e disse:
— Onde estão os filhos do senhor Ribeiro? Você sumiu e reaparece sem eles?
— Eles estão bem e em um lugar seguro, vim apenas buscar algumas roupas.
— Eu vou ligar para o senhor Ribeiro, mocinha! Você não pode sumir com os filhos dele
assim!
— Fique à vontade, Hilda. Pode ligar! — falei, controlando minha vontade de revirar os
olhos e subi as escadas.
Coloquei algumas roupas na mochila, peguei o ursinho lilás da Elizabeth e saí do casarão
em meio aos questionamentos de Hilda sobre a minha capacidade de ser babá.
Assim que cheguei na casa da minha avó, me surpreendi ao encontrar uma cabana
montada na sala e meus olhos se encheram de lágrimas ao lembrar de todas as vezes que meus
pais fizeram isso durante a minha infância.
Depois de vestirem o pijama, me deitei ao lado deles embaixo do lençol estendido e
segurado por alguns cordões e contei a eles uma história que minha mãe costumava contar toda
vez que montava uma cabaninha para mim.
Quando eles adormeceram, velei o sono deles com um sorriso no rosto só de pensar no
quanto eu amava aqueles dois.
Na manhã seguinte, enquanto comíamos o café da manhã, ouvi Benjamin e Liz
tagarelarem sobre o quanto tinham gostado do dia anterior e que deveríamos fazer aquilo mais
vezes.
Depois de deixá-los no colégio, Otto me levou até o casarão e comentou:
— O patrão já voltou de viagem.
— Achei que voltaria só em alguns dias.
— Eu também, mas deve ter surgido algum imprevisto. — ele disse e eu fiquei pensativa
sobre o que poderia ter ocorrido.
Gustavo e eu não nos falávamos desde aquela noite e um dia mais parecia uma eternidade
para mim naquele momento.
Assim que passei pela porta, o encontrei saindo de seu escritório, ele pareceu tenso ao me
ver, mas eu sabia exatamente o que deveria fazer.
Caminhei até ele e inesperadamente, tomei seus lábios em um beijo carinhoso e
apaixonado, imediatamente seus braços contornaram a minha cintura e me puxaram para ainda
mais perto, intensificando ainda mais aquele beijo.
No momento em que nos separamos, eu toquei seu rosto e encarando-o, eu falei:
— Eu escolhi acreditar em você, não me importo com que os outros dizem, sei que me
falou a verdade.
— Você não sabe o quanto eu precisava ouvir isso, meu amor. — ele disse em meio a um
suspiro aliviado e voltou a tomar os meus lábios em um beijo de tirar o fôlego.
Gustavo me puxou para dentro do seu escritório e me colocou sobre o sofá, ele se
inclinou sobre mim e enquanto suas mãos perpassavam o meu corpo, sua boca devorava a minha
com intensidade.
Seus lábios desceram até o meu pescoço, fazendo-me ofegar com o contato de sua língua
com a minha pele.
Calmamente, Gustavo me ergueu em seus braços, fazendo com que eu ficasse em seu
colo e ele, entre as minhas pernas. Suas mãos apertaram as minhas coxas, levando-me para ainda
mais perto, enquanto sua boca voltava a tomar a minha em um beijo repleto de desejo e paixão.
Encarei seus olhos verdes enquanto ele subia o meu vestido e me agarrei em seu pescoço
no momento em que ele me cobria com carícias que me faziam delirar.
Gustavo possuiu o meu corpo com a tranquilidade de quem o conhecia muito bem
enquanto me dizia repetidas vezes o quanto me amava.
Ainda estávamos emaranhados um no outro, quando ele perguntou:
— Quem te contou a história daquele jeito?
— Meu ex, Igor. Ele me disse que era irmão da Paula, que estava tentando me proteger e
que você não deixava que as crianças tivessem contato com ele.
— Helena, esse homem nunca quis saber das crianças e muito menos da Paula. Logo
quando nos casamos, ela me contou que eles não tinham um bom relacionamento porque ele
tinha muito ciúme dela com a mãe dele, eles nunca foram próximos. — ele explicou, acariciando
meu cabelo.
— Não sei por que ele distorceu a história assim. Apesar de não nos falarmos há um bom
tempo, estávamos tentando nos reaproximar agora e ele nunca se mostrou ser uma pessoa ruim.
— Ele pode até não ser ruim, Helena. Mas é manipulador e queria te colocar contra mim.
— Mas isso não faz sentido, o que ele ganharia com isso?
— Ganharia você, acho que ele te queria de volta. — Gustavo falou, iniciando um beijo
lento e apaixonado, entre carícias, estávamos tão perdidos um no outro que demoramos a
perceber que o celular dele estava tocando.
Depois de Isadora avisá-lo que ele teria uma reunião online em alguns minutos, me
despedi de Gustavo e o deixei trabalhando sozinho.
Fui até meu quarto e depois de um bom banho, fui cuidar da horta que Mírian cultivava
nos jardins da casa, para que quando ela voltasse, a encontrasse do jeitinho que deixou.
Otto foi buscar as crianças no colégio e quando elas chegaram, Elizabeth correu até mim
e me agarrou pelas pernas.
— Como foi seu dia hoje, solzinho? — perguntei, apertando delicadamente seu nariz.
— Foi tudo bem, a professora pediu para fazer um cartão e eu preciso entregar ele para
você. — Liz respondeu, abrindo a mochila apressadamente, ela procurou por alguns segundos e
logo depois veio ao meu lado para me mostrar um desenho. — Essa sou eu e você. — ela disse,
apontando para um desenho de palitinhos.
— Que desenho mais lindo, eu amei! — falei a ela, com um sorriso.
— Tem outra coisa também. — ela disse, parecendo um pouco envergonhada e eu até
estranhei — Vai ter uma festinha no meu colégio e eu queria que você fosse.
— Parece divertido, que tipo de festinha é essa? — questionei, vendo Gustavo se
aproximar com Benjamin.
— É uma festinha para as mamães e eu estou ensaiando muito com o meu grupo de balé.
Nós vamos fazer uma apresentação muito bonita e antes eu não tinha ninguém para convidar,
mas agora eu tenho você! — ela respondeu com um sorriso — Você aceita ir?
— Claro que aceito, meu solzinho. — falei, beijando seus cabelos e quando olhei para
Gustavo que observava atentamente tudo o que tinha acontecido, percebi que em breve teríamos
que conversar com as crianças sobre o nosso relacionamento.
Almoçamos todos juntos e logo depois, Gustavo precisou ir até a empresa para resolver
alguns problemas que tinha surgido com a produção da linha de perfumes que ele iria lançar.
Depois de ensinar a eles as tarefas escolares, Otto nos levou até o clube onde eles faziam
aula de natação e como Benjamin ainda estava com o braço imobilizado, ele apenas ficou
observando a aula da irmã.
À noite, depois de colocar os dois para dormirem, fui até a cozinha e enquanto estava
esperando o meu chá ficar pronto, observei Gustavo entrando em casa com uma caixa em mãos,
parecendo irritado.
— O que é isso? Presente para as crianças? — perguntei, observando a caixa em cima da
mesa.
— Não, uma empresa rival da Ribeiro Perfumes que me mandou. — ele explicou,
afrouxando o nó da gravata.
— Por que eles te mandariam alguma coisa?
— Porque eles roubaram a essência do meu próximo lançamento. Aparentemente, a
celebridade que estava trabalhando conosco, achou de bom tom passar detalhes das nossas
reuniões para a empresa rival.
— E por que ela faria isso?
— Não parece ter sido intencional, ela estava se relacionando com um dos sócios da
empresa e passou tudo para ele, agora eu tenho um problema gigantesco em mãos e estou sem o
lançamento para o quinto bimestre.
— Você vai pensar em alguma coisa. — falei, abraçando-o — E qualquer coisa, você tem
os meus cremes que já estão prontos, não é algo que vocês precisam produzir para depois
fabricar.
— Meu amor, essa é uma ótima ideia! — ele disse, me beijando — Realmente, a fase de
produção vai ser bem mais simples, ainda mais se você estiver acompanhando tudo. Você
receberá todos os créditos por eles, vai poder participar de cada etapa. — ele disse e eu assenti,
animada pela ideia de ver algo que eu criei sendo produzido para milhares de pessoas.

No dia seguinte, fui com ele até a Ribeiro Perfumes depois de deixarmos as crianças no
colégio. Gustavo fez um tour comigo pela empresa e me mostrou com calma cada setor, assim
que voltamos para seu escritório, ele reuniu o pessoal do setor de produção e marketing para me
ouvir falar sobre os produtos e apesar da vergonha inicial, eu acabei me soltando e me sentindo
bem à vontade em conversar com eles sobre os cremes que havia produzido.
Assim que eles começaram a falar de termos mais técnicos, pedi licença e fui conversar
com a Isadora na mesinha dela, pois sabia que aquela parte competia ao Gustavo e eu tinha total
confiança nele.
— Queria conversar com Igor.
— Por que, Helena? Não vale a pena se desgastar com ele.
— Eu sei que não, mas preciso dar um ponto final nesse assunto, porque nem amizade
dele eu quero mais.
— Tudo bem, mas marca em um lugar público. Quer que eu vá com você?
— Não precisa, vou só me despedir do Gustavo. — falei, indo em direção ao escritório.
Assim que saí do prédio da Ribeiro Perfumes, mandei uma mensagem para o Igor e
combinei com ele no mesmo café que tínhamos nos encontrado uns dias atrás.
Ele não demorou a chegar e quando me viu, se aproximou e tentou me abraçar, mas eu
recuei.
— Aconteceu alguma coisa, Lena?
— Eu já sei que a história não aconteceu do jeito que você me contou, Igor. Você achou
mesmo que iria pintar o Gustavo como vilão e eu não o confrontaria para descobrir a verdade?
— E você acha mesmo que ele foi sincero com você? — ele desdenhou.
— Eu sei que ele foi sincero e escolhi confiar nele, pois ao contrário de você, Gustavo
nunca mentiu para mim. — falei, me levantando — Eu só te chamei aqui para dar um fim nessa
história, não faço mais questão da sua amizade e agradeceria se você deixasse os meus amigos
em paz também. — me virei para sair de perto da mesa, mas ele segurou a minha mão.
— Helena, em nome dos anos que estivemos juntos, vamos conversar direito.
— É engraçado você mencionar esses anos. — falei, encarando-o — Porque nem você
pensou neles ao terminar comigo quando eu mais precisei do seu apoio. — disse, soltando minha
mão da dele e me afastei da cafeteria, respirei aliviada e um sorriso brotou no meu rosto por ter
conseguido lidar tão bem com aquela situação sem ficar intimidada pelo nosso passado.
Algumas semanas depois...

Ajeitei os óculos de sol no meu rosto e entrei no restaurante que iria almoçar com
Isadora. Como minha amiga ainda não havia chegado, escolhi uma mesa e enquanto esperava por
ela, meu celular começou a tocar, era o Gustavo.
— Amor, acabei de falar com a Fernanda e ela me disse que está tudo certo para a volta
de Mírian, ela deve chegar amanhã.
— Que notícia maravilhosa! Estou com saudades dela e as crianças também.
— Sei disso, estou pensando em contratar alguém para ajudá-la, não quero que ela se
desgaste demais, retomando suas funções.
— Pode contratar qualquer um, desde que não mantenha a Hilda. — falei a ele.
— Eu percebi que vocês duas não se deram muito bem, então não se preocupe, deixarei
para que Mírian escolha alguém de sua confiança.
— Perfeito! Tenho certeza que ela saberá escolher bem. Você já dispensou a Hilda?
— Sim, a informei sobre a volta de Mírian ontem à noite.
— E ela reagiu bem a isso?
— Como ela já sabia que isso iria acontecer, foi bem profissional e apenas agradeceu
pelo tempo de serviço.
— Estou surpresa com a atitude dela, mas muito aliviada que não terei mais que a
encontrar em nenhum canto da casa. — falei, me ajeitando na cadeira.
— Você realmente não gostava dela! — ele disse, surpreso.
— Ela que não gostava de mim, sempre me tratou com grosseria, soltando piadinhas. Foi
complicado de aturar. — revelei a ele.
— E por que você nunca me falou sobre isso?
— Porque apesar de me irritar muito, eu não queria te incomodar com isso.
— Você nunca me incomodaria, meu amor. E além do mais, eu quero que se sinta bem na
nossa casa, poderia tê-la demitido muito antes. — ele falou e eu fiquei com um sorriso bobo só
de ouvir aquilo.
Conversamos mais um pouco e eu me despedi assim que vi Isadora se aproximando.
Minha amiga me deu um abraço apertado e se sentou em minha frente, aproveitamos que
um garçom estava por perto e pedimos um suco para cada, antes de decidirmos o que iriamos
comer.
— Helton e eu estamos pensando em morar juntos. — ela revelou, comendo um pãozinho
que haviam trazido para a mesa.
— Vão oficializar a mudança, não é? Porque em todas as vezes que nos falamos nas
últimas semanas, você estava no apartamento dele.
— Isso é verdade. — ela disse, rindo — Nós somos muito apegados um ao outro, mais do
que eu pensei que seríamos.
— Chega a ser engraçado ouvir você falando isso e lembrar de quando você cogitava que
talvez vocês não tivessem nem um segundo encontro. — falei, rindo junto com ela.
— É, as coisas mudam, minha amiga.
— Como mudam! — falei, respirando fundo — Preciso te contar uma coisa, mas não
quero que pense que estou enlouquecendo.
— E por que eu pensaria isso, Helena?
— Porque eu quero fazer um teste de gravidez. — disse e ela me encarou, completamente
surpresa.
— Teste de gravidez? Mas você não pode engravidar, não foi isso que aquela médica te
disse? — ela questionou, confusa.
— Eu sei que foi isso que ela me disse, mas tem alguma coisa acontecendo comigo,
Dora. — falei, cobrindo meu rosto com as mãos — Fiquei muito enjoada nos últimos dias, meus
peitos doem e eu nunca fui de sentir muita cólica e agora é tudo o que eu sinto.
— Sendo assim, vamos até uma farmácia, compramos uns testes e você faz no meu
apartamento. — ela disse, pegando sua bolsa e nesse momento nossos sucos chegaram — Bebe,
você vai precisar estar com a bexiga cheia. — eu assenti, um pouco constrangida pela cara que o
garçom fez e tratei de beber logo o suco.
Saímos do restaurante e felizmente, havia uma farmácia bem perto, compramos três testes
de marcas diferentes e seguimos até o apartamento de Isadora.
Assim que entramos, ela me empurrou para dentro do banheiro e com as mãos tremendo
eu fiz os três testes.
Me sentei no sofá ao lado dela e coloquei os testes sobre a mesinha de centro.
— Tem que esperar quanto tempo?
— Só alguns minutos, mas nem se empolga, vai dar negativo.
— Tarde demais! Agora não paro de pensar na possibilidade de você estar grávida. — ela
falou, com os olhos brilhando — Imagina você com um bebezinho no colo! Já adianto que quero
ser madrinha.
— Claro que você iria exigir isso! — disse, com uma risada fraca.
— Eu botei fé que vocês ficariam juntos desde o começo, é o mínimo que mereço!
— Vou pensar no seu caso. — falei, me levantando e comecei a andar de um lado para o
outro, quando o temporizador do meu celular indicou que o tempo havia acabado.
Peguei os testes e encarei o resultado, incrédula que aquilo fosse possível, imediatamente
comecei a chorar e minhas pernas fraquejaram a ponto de eu não conseguir nem ficar em pé.
— Deu negativo? Não fica assim, Lena. — ela afagou meus ombros — Nós sabíamos
que essa era uma possibilidade.
— Deu positivo, estou grávida. — falei, em meio às lágrimas e ela me abraçou forte,
comemorando a notícia.
— Você vai ter um bebê, Lena! — ela disse, parecendo muito feliz.
— Eu preciso fazer um exame de sangue, ainda não consigo acreditar que eu estou
mesmo grávida! — exclamei, limpando as lágrimas do meu rosto.
— Conheço uma clínica ótima, podemos ir lá agora. — ela sugeriu e eu assenti, me
levantando.
Saímos de seu apartamento e enquanto caminhávamos até a clínica, eu falei:
— Como esse teste pode ter dado positivo? Aquela doutora disse com todas as letras a
mim e ao Igor que eu não poderia mais engravidar e agora eu posso estar grávida!
— Talvez ela tenha se enganado, Lena.
— E eu sofri todos esses anos por um engano? Você sabe que eu sempre quis ser mãe. —
disse, indignada.
— Eu sei, por isso vamos fazer esse exame e dependendo do resultado, vamos atrás dessa
médica, ela ainda trabalha no mesmo hospital. — ela falou, me abraçando e nós seguimos em
direção à clínica.
Não levei muito tempo fazendo o exame e como só poderia pegar o resultado no dia
seguinte, fui para casa com a mente fervilhando de possibilidades. Assim que encontrei Gustavo,
ele beijou sutilmente meus lábios e perguntou:
— Aconteceu alguma coisa nesse almoço? Você está com uma carinha preocupada.
— Não, nada! — respondi com um sorriso fraco, resolvi que só contaria o que estava
acontecendo ao Gustavo quando tivesse realmente certeza da minha gravidez.

No dia seguinte, quando cheguei em casa depois de pegar o resultado na clínica, ainda
estava um pouco desacreditada que aquilo estava mesmo acontecendo.
Eu estava mesmo grávida depois de tanto tempo pensando que isso não poderia
acontecer.
Respirei fundo, guardei o exame no meu bolso e fui até o jardim ver como as crianças
estavam, elas tinham ficado com Mírian durante a minha ida até a clínica. Assim que me
aproximei, Benjamin correu até mim e perguntou:
— Quer sorvete, Lena? Mírian fez com os morangos que a gente colheu.
— Parece estar delicioso! Daqui a pouco eu experimento, como foi no colégio hoje? —
questionei, me sentando ao lado de Mírian, que afagou meu ombro antes de se levantar.
— Foi tudo bem, apresentei o meu experimento científico e ganhei uma estrelinha por
bom comportamento.
— Parabéns, Ben! — falei, beijando seu rosto — E você, Liz, como foi sua manhã?
— Hoje foi aniversário da Olívia na sala e ela gostou muito do presente que a gente
escolheu para ela. O bolo que a mamãe dela levou também estava muito gostoso.
— Que bom! Fico feliz que ela tenha gostado. — disse, ajeitando os cabelos dela, que
estavam grudados em seu rosto.
Fiquei um tempo com as crianças no jardim e quando elas decidiram ir para sala de tevê,
eu fui até a cozinha e enquanto eu preparava uns sanduíches, Mírian disse:
— Tem algo diferente em você desde que voltei.
— Deve ser impressão sua. — falei, desconversando.
— Pode ser, mas seja o que for, está te fazendo muito bem. — ela disse, beijando minha
testa.
As crianças comeram os sanduíches e jogaram um pouco no videogame que Helton havia
dado a eles de presente uns dias atrás. Após o jantar, levei cada um para o seu quarto, dei um
beijo de boa noite na testa do Benjamin e fiquei com Elizabeth até que ela adormecesse.
Assim que ela dormiu, fui até o quarto que eu e o Gustavo dividíamos agora e enquanto
eu penteava os meus cabelos e admirava a vista daquela parte da cidade, fui surpreendida com
beijos em meu pescoço.
— Nem escutei você se aproximando.
— Como sempre, no mundo da lua. — ele disse, me abraçando pela cintura — Como foi
seu dia? Mírian me disse que você teve que sair.
— É, precisei buscar uns exames, como foi o seu? Tudo certo na empresa?
— Tudo indo como o planejado, mas que exames são esses? Você está doente? — ele
perguntou, preocupado.
— Na verdade, preciso te falar uma coisa. — disse, me afastando um pouco enquanto
buscava coragem — Primeiro você precisa saber que não foi planejado, eu nem sabia que isso
podia acontecer. — falei, encarando-o — Estou grávida, Gustavo. Nós vamos ter um bebê. —
revelei e imediatamente, eu comecei a chorar.
Gustavo se aproximou de mim e me acolheu em seus braços, apoiei minha cabeça em seu
peito enquanto ele acariciava os meus cabelos.
— Eu deveria saber que isso poderia acontecer, ainda mais quando não fui cuidadoso em
todas as vezes em que estivemos juntos. Sinto muito por isso, Helena. Você não quer esse bebê?
É por isso que está chorando?
— Não é por isso. — falei, olhando para ele — Tudo o que eu mais quero é ter essa
criança, sempre foi o meu sonho ser mãe, mas depois do acidente, uma médica me disse que isso
não seria mais possível, então imagina a minha surpresa ao sentir todos os sintomas e fazer
exames que mostraram que ela errou ao me dizer aquilo.
— Deve ter sido complicado de assimilar, mas eu estou aqui e também quero esse bebê.
— ele disse, segurando o meu rosto e beijou suavemente meus lábios — Nós também vamos
descobrir como esse erro aconteceu e vamos nos certificar que está tudo bem com vocês dois. —
e aconchegada nos braços de Gustavo, eu tive a certeza que estava com o homem certo ao meu
lado para enfrentar isso tudo comigo.
Na manhã seguinte, fomos até o hospital que a médica trabalhava e apesar de relutar em
nos receber, ela acabou nos atendendo. Notei que ela tinha lembrado de mim assim que me viu e
após insistirmos sobre o meu diagnóstico, ela assumiu, bastante envergonhada que havia mentido
para mim a pedido de Igor.

No momento em que escutei o que a médica havia falado, vi Helena se afastar de mim e
correr para lixeira mais próxima. Ela começou a vomitar e eu prontamente segurei os seus
cabelos.
— Se quiser eu posso ajudá-la. — a doutora disse, se aproximando.
— Não precisa, eu cuido da minha mulher. — falei, ajudando Helena a sair da sala — E
pode ter certeza de que você será processada por todo sofrimento que a fez passar.
Ali mesmo no corredor, Helena se agarrou a mim em prantos e disse:
— Como ele pôde ter feito isso comigo? Justo no meu momento mais vulnerável, eu
tinha acabado de perder os meus pais e ele me tirou o único sonho que eu tinha! Como ele pôde
fazer isso comigo!
— Eu também não sei como ele teve coragem de te machucar desse jeito, meu amor. —
acariciei os cabelos dela — Mas agora eu quero que você tente se acalmar, todo esse nervosismo
pode não te fazer bem. — falei e ela respirou fundo, mas ainda era visível o quanto estava
abalada.
Levei Helena até minha casa e pedi que Mírian cuidasse dela enquanto eu resolvia um
problema, tinha pedido para Helton me enviar o endereço de Igor e assim que recebi uma
mensagem dele, eu entrei no carro.
Esmurrei a porta sem qualquer cerimônia e assim que Igor apareceu na minha frente eu
sequer pensei e desferi um soco contra ele que o fez cambalear para trás. Eu odiava agir com
violência, mas estava tão enfurecido que não consegui parar, voltei a socá-lo repetidas vezes até
que ele caísse no chão e só me controlei quando senti o sangue entre os meus dedos.
Saí de cima dele e com o dedo em riste, eu disse:
— Fique longe da minha mulher e da minha família! — ele não retrucou e nem disse uma
palavra enquanto eu caminhava até o carro.
Comecei a dirigir em direção à minha casa, vendo a minha mão suja de sangue e
enquanto eu procurava algo para limpá-la, meu celular começou a tocar e quando vi que era
Helton, eu atendi.
— Por que você queria o endereço do babaca do seu ex cunhado?
— Para dar uma surra nele, você não tem noção do que esse desgraçado fez à Helena! —
falei, exasperado.
— Podia ter me avisado, eu adoraria socar a cara daquele imbecil! O que ele fez?
— Depois explico com calma. A história é longa, mas de antemão já saiba que vamos
processá-lo, ele e a médica que foi cúmplice dele nisso tudo.
— É só me explicar o que aconteceu que eu dou entrada no processo.
— Perfeito, te ligo mais tarde para conversarmos melhor. — disse, encerrando a ligação
enquanto eu estacionava o carro na garagem.
Limpei o sangue ali mesmo no quintal, torcendo para que não percebessem os
machucados na minha mão e entrei em casa.
Encontrei Mírian na cozinha e ela disse:
— Helena foi se deitar um pouco, aparentemente estava mais tranquila.
— Ótimo, você pode ir buscar as crianças com Otto?
— Claro! Quer gelo para sua mão, senhor? — ela perguntou, encarando-a.
— Não precisa, Mírian. Vou ver como Helena está. — falei, indo até o nosso quarto.
Assim que passei pela porta, encontrei Helena dormindo sobre os lençóis, me sentei ao
lado dela, acariciei sua barriga ainda plana e um sorriso sincero brotou no meu rosto, eu estava
muito feliz por saber que seria pai outra vez.
Deixei Gustavo adormecido na cama e fui até o banheiro, me encarei no espelho
admirando minha barriga ainda plana. Era difícil assimilar que eu estava grávida depois de anos
achando que isso não era possível, mas agora eu tinha um bebê na minha barriga, fruto de um
relacionamento com um homem que demonstrava verdadeiramente o quanto me amava a cada
momento e eu não podia estar mais feliz por isso.
Voltei para cama, me deitei ao lado dele novamente e me aconcheguei em seus braços,
Gustavo já havia despertado e beijou suavemente meus lábios, antes de acariciar meus cabelos.
— Preciso contar para minha avó sobre a gravidez, antes que Mírian revele a ela. — falei
a ele.
— Você contou à Mírian? — ele perguntou, me encarando.
— Ainda não, mas sei que ela está suspeitando de algo, ainda mais depois do mal-estar de
ontem.
— Faz sentindo, vamos acordar as crianças e no caminho para o colégio eu te deixo na
sua avó. Hoje tenho uma reunião importante, se não iria com você. — ele falou, beijando-me
novamente.
Enquanto tomávamos o café da manhã juntos, Gustavo avisou ao Otto que não precisaria
dele essa manhã e o deixou disponível para Mírian, caso ela precisasse sair para comprar algo.
No caminho até o colégio, admirei Benjamin e Elizabeth no banco de trás e sorri ao
lembrar o quanto eles tinham ficado contentes ao saber que eu e o pai deles estávamos juntos, eu
tinha um carinho muito grande por aquelas dois e saber que era recíproco, deixava o meu
coração aliviado.
Após deixarmos as crianças no colégio, Gustavo me levou até a casa da minha avó, se
despediu de mim com um beijo apaixonado e disse:
— Qualquer coisa me liga! — eu assenti e entrei na casa da dona Eleanor.
Minha avó estava sentada em sua cadeira de balanço, fazendo tricô, enquanto assistia
televisão. Assim que percebeu minha presença, ela veio até mim e me abraçou, depois de me
encarar por um tempo, ela disse:
— Tem algo diferente em você. — e acariciou meu rosto.
— Estou grávida, vovó. — revelei com os olhos marejados.
— Como, minha neta? Achei que isso não fosse possível. — ela questionou, me levando
até o sofá.
— Era o que eu também achava, vovó. — falei a ela — Até descobrir que aquela médica
mentiu para mim depois do acidente. Eu nunca tive nada que me impossibilitasse de engravidar,
ela inventou aquilo tudo a pedido do Igor.
— Do Igor? — ela perguntou, surpresa — Por que ele fez isso com você?
— Não sei, vovó. Eu já estava vivendo o pior momento da minha vida naquela época e
ele propositalmente, me deixou pior.
— Um absurdo! Mas eu vou contar ao pai dele assim que tiver uma oportunidade, ele
precisa saber o tipo de coisa que o filho fez. Sabia que tinha um motivo para eu não gostar
daquele rapaz!
— Não se desgaste com isso, vovó. — acariciei sua mão — Vamos esquecer do passado
e aproveitar o momento, eu ainda não consigo acreditar que tem um bebê na minha barriga. —
falei, voltando a ficar com os olhos marejados.
— Oh, minha neta! Estou tão feliz por você, será uma mãe maravilhosa. — ela falou, me
envolvendo em um abraço e eu desabei em lágrimas nos braços dela ao ouvir aquilo da minha
maior referência materna.
Meu bebê tinha tanta sorte em tê-la como bisavó.
Passei a manhã fazendo companhia para minha avó e fui buscar as crianças com Otto
quando deu o horário. Enquanto eles almoçavam, marquei consulta com uma obstetra para o dia
seguinte e aproveitei também para marcar um almoço com os meus amigos para contar a
novidade a eles, pois não era justo que das pessoas mais importantes da minha vida, Isadora
fosse a única a saber.

No dia seguinte, Gustavo me acompanhou na consulta. Ele tinha desmarcado seus


compromissos apenas para isso, pois havia me dito que queria fazer parte de tudo.
Assim que chegamos na clínica, esperamos por um tempo até que eu fosse chamada,
entramos no consultório e fomos recebidos pela doutora Susan. Ela me examinou brevemente e
fez algumas perguntas, contei a ela sobre a minha situação e ela ficou bastante desapontada com
o que a sua colega de profissão havia feito e passou alguns exames adicionais para garantir que
estava tudo bem.
Logo depois, me encaminhou até uma maca e iniciou um ultrassom para que nós
pudéssemos ver o bebê. Gustavo segurou minha mão e acariciou meu cabelo, ele estava bastante
ansioso por essa parte, tinha comentado isso durante o caminho.
Enquanto a doutora Susan fazia as medições, eu comentei:
— É tão pequenininho!
— Eles costumam ser desse tamanho quando se tem seis semanas. — ela explicou com
um sorriso — É maravilhoso acompanhar o desenvolvimento a cada mês, você ficará encantada,
eu garanto!
— Tenho certeza disso! — assenti e Gustavo acariciou minha mão com o polegar.
— Bem, agora vamos ouvir o coraçãozinho. — ela falou e de repente, um som preencheu
o ambiente, deixando meus olhos cheios de lágrimas, Gustavo beijou minha testa e eu percebi
que ele estava emocionado também.
Aquele era um momento único nas nossas vidas e era inegável o quanto estávamos felizes
por vivenciar aquilo.
No momento em que saímos da clínica, Gustavo me levou até a casa da Isadora, pois eu
almoçaria lá com os meus amigos. Ele beijou suavemente meus lábios e disse:
— Mais tarde vamos contar às crianças, tenho certeza que eles ficarão animados ao
saberem que terão um novo irmão.
— Não acha que devemos esperar um pouco? Até que tenhamos os resultados dos
exames e a doutora nos garanta que está tudo bem? — perguntei, um pouco insegura, apesar de
torcer para que tudo desse certo, eu ainda tinha medo que algo acontecesse — E se eu realmente
tiver alguma coisa?
— Meu amor, aquela mulher mentiu a pedido do Igor, não permita que as palavras dela
ainda reverberem na sua cabeça. — ele acariciou meu rosto — Você está bem e nós vimos o
nosso bebê hoje, ouvimos o coração dele bater e vamos ver ele crescer saudável. É nisso que eu
quero que você pense, certo? — ele perguntou e eu assenti.
Me declarei para ele com os olhos marejados e pensei no quão eu era sortuda por tê-lo ao
meu lado.
Assim que entrei na casa da Isadora, todos já estavam me esperando, abracei cada um e
nós nos sentamos juntos na sala, encaramos uns aos outros por alguns segundos e César quebrou
o silêncio, quando perguntou:
— Posso saber o motivo da senhorita convocar todo mundo no meio da semana?
— Seja o que for, Dora sabe porque ela não conseguiria trabalhar de casa se não fosse
muito importante. — Ayla disse, encarando-a.
— Realmente. Vai, conta logo, Lena! Você e o seu chefe bonitão estão querendo casar
também? — Maicon perguntou, tamborilando animadamente os dedos na mesa de centro.
— Ou vão morar juntos, tipo da Dora e o advogato dela? — César perguntou, erguendo
as sobrancelhas.
— Nada de casamento e nem morar juntos, pelo menos não por enquanto. — informei a
eles.
— Então eu não faço ideia do que pode ser. — Ayla falou, apoiando seu queixo com a
mão.
— Bem, o que vou dizer talvez não faça sentido, mas eu estou grávida! — exclamei com
os olhos marejados, enquanto os três me encaravam surpresos e Isadora parecia que iria soltar
fogos a qualquer momento.
— Grávida? — os três falaram ao mesmo tempo.
— Eu confesso que fiquei mais animada que surpresa quando ela me contou o resultado
do teste. — Isadora disse, animadíssima.
— Mas como isso é possível, Leninha? — César, perguntou, ainda parecendo muito
surpreso.
— Exatamente, como isso é possível depois do que a médica falou? E as sequelas do
acidente? — Ayla questionou, confusa.
— Era tudo mentira, Ayla. — falei, passando a mão nos meus cabelos — Aquela médica
revelou, depois de muita insistência, que ela mentiu para mim a pedido do Igor.
— Aquele desgraçado! — Isadora praguejou.
— Por que ele fez isso contigo, Lena? Ainda mais com tudo o que estava acontecendo,
você já estava sofrendo tanto. — Maicon falou, parecendo bem chateado, já que ele e Igor eram
próximos.
— Nem eu sei, amigo. Desisti de entender, porque não pretendo perguntar mais nada a
ele. Não quero mais pensar no Igor, quero só focar na minha gravidez e esquecer que algum dia
ele passou pela minha vida. — falei e os quatro vieram me abraçar.
Nos separamos e César disse, segurando minha mão:
— Faz bem. Esse vai ser um dos momentos mais felizes da sua vida, você está reluzindo!
— e me abraçou novamente.
Depois de receber as felicitações dos meus amigos, nos sentamos para almoçar, pois
Isadora tinha feito sua especialidade: Uma deliciosa torta de frango. Enquanto comíamos, César
e Maicon contaram alguns detalhes do casamento deles que estava cada vez mais próximo, Ayla
revelou que no fim de semana iria conhecer os pais da Jéssica e o quanto estava ansiosa por isso
e Isadora nos mostrou os apartamentos que ela e Helton iriam visitar, agora que eles tinham
decidido que queriam começar em um lugar novo.
No final da tarde, voltei para casa com o coração quentinho por ter passado esse tempo
com os meus amigos e dividido com eles esse momento tão especial.
Assim que passei pela porta, Liz correu até mim, agarrou minhas pernas e começou a
tagarelar sobre como havia sido o seu dia, mas ela estava falando tão rápido que eu mal
conseguia entender, então eu disse:
— Calma, respira, solzinho. — acariciei seus cabelos e me sentei com ela no sofá da sala
— Como foi o seu dia?
— Foi muito legal! — ela enfatizou a última palavra — Papai levou a gente para um
lugar que tinha muitos cavalos e um deles tinha um laço rosa bem bonito, mas eu fiquei com
medo de andar, então só o Ben cavalgou por um tempo e ele gostou bastante. Depois fomos ver
as ovelhinhas e elas eram tão macias, você precisa ir lá também, Lena!
— Parece ser divertido mesmo, com certeza vamos combinar de ir lá novamente. — falei,
vendo Benjamin e Gustavo entrarem na sala.
Gustavo me deu um beijo rápido e se sentou ao meu lado, colocando o braço sobre o meu
ombro enquanto Ben se sentava ao lado da irmã.
— Já contou para Lena o que fizemos hoje à tarde? — Gustavo perguntou à Liz, que
assentiu animada — Que bom, porque agora nós queremos contar uma coisa a vocês dois.
— O que, papai? — Benjamin perguntou, atento.
— Vocês vão ganhar um irmãozinho novo. — Gustavo revelou.
— Ou uma irmãzinha, ainda não sabemos. — completei, colocando a mão sobre a minha
barriga.
— Você vai ter um bebê, Lena? — Liz perguntou, com os olhos brilhando e eu assenti
com um sorriso — Isso é muito legal! — ela disse, batendo palminhas e se aconchegou nos meus
braços.
— Que bom que você gostou, solzinho. — falei, beijando sua cabeça — E você, Ben?
— Eu gosto de ser irmão da Liz, então acho que também vou gostar desse bebê. — ele
falou, com um sorriso de canto e eu o puxei para mais perto, aconchegando-o em meus braços
também, enquanto Gustavo bagunçava seus cabelos.
Logo após esse momento, as crianças correram para contar para Mírian a novidade e
Gustavo se levantou para buscar algo que ele tinha comprado.
Quando meu amado voltou para sala, com uma caixinha para bebê em mãos, meus olhos
se encheram de lágrimas outra vez, pois percebi que estava construindo algo que sempre sonhei
ao lado daquele homem maravilhoso: uma família.
Um ano depois...

Me ajeitei na poltrona e acariciei o rosto da minha filha em meu colo. A pequena Eloísa
era o bebê mais gracioso que já tive em meus braços e quando ela esboçava um sorriso, me
derretia por inteiro.
Na primeira vez que a vi, foi algo único, um amor genuíno brotou dentro de mim assim
que ela foi colocada sobre o meu peito. Gustavo estava ao meu lado, bastante emocionado, ele
acariciou levemente os cabelos dela e beijou minha testa. Apesar de alguns sustos que tivemos
durante a minha gravidez, nós tínhamos conseguido.
As primeiras semanas depois que voltamos para casa foram difíceis, Eloísa dormia
durante o dia e à noite, ficava acordada. Levou bastante tempo até que conseguíssemos regular o
sono dela e sendo mãe de primeira viagem, eu costumava me desesperar com algumas situações
e foi por isso que convidei minha avó para passar um tempo conosco.
Ela aceitou e desde então, nunca mais foi embora, ainda mais depois que Ayla se mudou
e foi morar com Jéssica, eu não queria que ela ficasse sozinha e ter a dona Eleanor comigo, fez o
puerpério ser um pouco mais suportável.
Dispersei meus pensamentos quando ouvi batidas na porta e vi Liz entrando no quarto:
— Mamãe. — meu coração sempre amolecia quando ouvia ela me chamar assim — Tia
Mírian pediu para eu trazer o leite da minha irmãzinha. — ela informou.
— Obrigada, solzinho. — agradeci, pegando a mamadeira e beijei sua testa — Seu pai e
seu irmão já chegaram?
— Ainda não. — ela respondeu, sentando-se no banquinho ao meu lado — Vovó Eleanor
me deixou ajudá-la a fazer biscoitos de polvilho.
— Tenho certeza que vão ficar deliciosos. — disse, dando a mamadeira para Eloísa.
— Posso colocar a Elô para dormir hoje? — ela perguntou, se levantando para arrumar os
livrinhos infantis na prateleira.
— Hoje eu e o seu pai vamos para uma festa e sua avó vai ficar com Eloísa, então você
pode conversar com ela sobre isso. Tenho certeza que ela vai adorar sua ajuda. — falei e ela
sorriu com a minha resposta.
Quase toda noite, Ben e Liz iam até o quarto de Eloísa para me ajudar a colocá-la para
dormir. Enquanto Benjamin lia uma das histórias para sua irmã, Elizabeth se sentava ao meu
lado na poltrona e acariciava suavemente os braços de Elô até que ela adormecesse.
Eu amava esses momentos e quando Gustavo conseguia participar também era ainda mais
perfeito.
Quando estava anoitecendo, deixei Eloísa dormindo e fui me arrumar para a festa de
lançamento do meu perfume. Depois do sucesso que os cremes fizeram, começamos a trabalhar
em um aroma único, que havia ficado impecável e seria lançado essa noite.
Mandei uma mensagem para os meus amigos, confirmando a presença de todos nesse
momento tão especial e prontamente Isadora me enviou uma foto do vestido que ela usaria essa
noite, nem sei o que seria de mim sem essa minha amiga, ela havia sido tão fundamental na
criação da campanha publicitária para o perfume, conseguindo compreender perfeitamente o que
eu tinha idealizado, que ao ver o potencial dela, Gustavo a promoveu para o setor de criação e
agora estava procurando uma nova assistente.
Coloquei meu roupão, assim que saí do banho e comecei a me maquiar, enquanto decidia
qual cor de sombra combinaria melhor com meu vestido, Gustavo entrou no banheiro e me
abraçou pela cintura.
— Está linda! — ele falou, beijando meu pescoço.
— Eu ainda não estou pronta! — disse, com um sorriso.
— Eu sei, mas está linda mesmo assim. — ele falou, me beijando novamente — Vou
começar a me arrumar, para não chegarmos atrasados, hoje é seu dia de brilhar.
— Estou ansiosa para ver a reação das pessoas ao produto. — disse, animada — Como
foi o passeio com Benjamin? Ele gostou da nova professora de piano?
— Ele amou não só a professora, como toda a escola de música. Quero levar Elizabeth na
próxima vez, quem sabe ela não se interesse por algum instrumento?
— Acho que a nossa garotinha está bem só com as aulas de hipismo, depois que ela
perdeu o medo de cavalos, ela poderia passar horas naquele haras. — falei e ele assentiu,
concordando.
Terminei minha maquiagem, coloquei o vestido azul que tinha separado apenas para essa
noite, pois essa também era a cor da embalagem do perfume e coloquei os assessórios.
Minutos depois, ao lado do Gustavo, entrei no prédio da Ribeiro Perfumes e nós fomos
até a cobertura para o coquetel de lançamento do Helena, tinha dado o meu nome ao perfume
depois de uma sugestão do meu amado.
Ao sairmos do elevador, cumprimentamos alguns conhecidos e logo depois eu fui até os
meus amigos, dei um longo abraço em cada um deles e aproveitei para conversarmos um pouco,
já que César e Maicon tinham acabado de voltar da viagem de Lua de Mel.
Quando eles terminaram de contar todos os detalhes, Gustavo me levou até onde os
sócios estavam e me apresentou a eles. Depois de tecerem elogios ao perfume, eles
demonstraram interesse na criação de mais produtos e eu fiquei bastante animada com isso.
Em um determinado momento da festa, Gustavo reuniu os convidados e fez um discurso
que me levou às lágrimas enquanto fazia um brinde para mim, tornando aquela noite ainda mais
memorável.
Quando voltamos para casa, fomos até a área da piscina para aproveitar mais um
pouquinho daquele tempo juntos.
— Hoje foi incrível, obrigada por me proporcionar isso. — falei, beijando-o
carinhosamente.
— Foi mesmo, mas o mérito é todo seu, meu amor. Fez um trabalho maravilhoso com os
cremes e conseguiu produzir algo ainda melhor com os perfumes. Sou muito grato por te ter na
minha vida. — ele falou, segurando meu rosto e me beijou outra vez — Acho que você não tem
ideia do quanto mexeu comigo desde a primeira vez que eu te encontrei, me vi completamente
atraído por você e então, eu me apaixonei. Você mudou a minha vida e a dos meus filhos, trouxe
uma luz que é só tua para essa casa e me fez acreditar que nós poderíamos ser uma família. Nós
tivemos uma filha juntos e temos uma relação de tanta cumplicidade, que eu sei que não vou
conseguir esconder isso de você para fazer algo mais elaborado... — encarei-o um pouco confusa
e ele segurou minhas duas mãos e se ajoelhou na minha frente, só então tudo começou a fazer
sentido — Helena, você aceita se casar comigo? — e me mostrou um belíssimo anel de noivado.
Minhas mãos começaram a tremer e só então eu percebi as lágrimas que escorriam no
meu rosto. Com a voz embargada, eu disse:
— Claro que eu aceito, meu amor. — e me joguei nos braços dele, chorando
copiosamente.
Apesar do meu otimismo, nunca pensei que voltaria a acreditar no amor depois de perder
os meus pais, mas a vida sempre dava um jeito de surpreender e eu estava genuinamente feliz por
isso.

FIM
Agradeço primeiramente a Deus por me permitir fazer algo que eu amo, dando-me
paciência e força para persistir a cada dificuldade.
À minha família por todo apoio, carinho e incentivo durante toda essa jornada.
Aos leitores que me acompanham e leem as minhas histórias, sabiam que vocês me
incentivam demais a continuar fazendo aquilo que eu tanto amo.
E por fim, agradeço a você que está lendo, espero que tenha gostado da Helena e do
Gustavo e da história que eles estão construindo juntos.
Reescrever A babá dos meus filhos, não estava nos meus planos para esse ano, mas como
tive que alterar o meu planejamento, optei por mexer essa história que amo tanto!
Me reconectar com esses personagens foi muito importante para mim e me proporcionou
muitas risadas, pois além da história do casal, eu sou apaixonada pelas amizades construídas
dentro do enredo.
Então, espero que assim como eu, você tenha gostado dessa nova versão.
Autora com mais de vinte romances escritos e best-seller pela Amazon com o New adult:
Jogando com o oponente. Mila Maia é uma geminiana, baiana, formada em Pedagogia que se
tornou escritora para dar vida aos personagens que não saiam da sua cabeça.

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Capa e diagramação:
Mila Maia
Revisão:
Elaine C.
Imagens:
Adobe e Canva

Está é uma obra fictícia. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizado em quaisquer meios existentes sem a autorização
por escrito da autora.
Todos os direitos reservados.
Edição digital 2023 / Criado no Brasil.

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