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Módulo 4
Texto escrito pelo Engenheiro Agrônomo MSc. Alexandre Mendonça Pedroso para a
AgriPoint, a partir das aulas preparadas pelo Prof. Dr. Marcos Neves Pereira.
INTRODUÇÃO
RELAÇÃO FORRAGEM:CONCENTRADO
Este conceito é falho, pois não considera diferenças de valor nutritivo entre
forrageiras. Uma forrageira de baixa qualidade não resulta em resposta produtiva similar à
de uma forrageira de alta qualidade e, portanto, necessitaria ter menor inclusão dietética
quando da formulação de dietas idênticas nutricionalmente. A relação entre forragens e
concentrados também não considera o processamento físico das forragens (tamanho das
partículas). O conceito não consegue diferenciar a resposta ao fornecimento de um feno
com partículas longas, da resposta à mesma forrageira moída finamente. Outra falha seria
a desconsideração da natureza dos concentrados. Concentrados ricos em subprodutos
fibrosos não são idênticos a concentrados ricos em amido ou outro carboidrato de
degradação rápida no rúmen.
CNF = 100-(FDN+PB+EE+Cinzas) ou
41.1
45
86.2
100
40
73.3
90
De gra da çã o e m 24 hora s
65.0
35
Re síduo de 72 hora s
61.4
80
70 30
42.3
60 25
16.9
50
20
40 19.0
15
30
10
4.8
20
3.7
1.9
1.2
10 5
0 0
De nta do 1/2 Linha do Linha prê ta De nta do 1/2 Linha do Linha prê ta
inicia l Le ite inicia l le ite
90
ruminal do amido
% de degradação
80
70
Brasileiros
60
50
40
30 40 50 60 70 80
% de endosperma vítreo
Em dietas de baixo teor de CNF a fonte de amido deve ser de alta disponibilidade
ruminal (milho de alta umidade, cevada, farinha de trigo, farinha de milho, mandioca). Em
dietas ricas em fibra e, portanto, com baixo CNF, a suplementação com proteína em
forma não degradável no rúmen (PNDR) pode compensar a queda na síntese de proteína
microbiana, conforme mostra a tabela 5.
Tabela 5. CNF e PNDR - (54 vacas alimentadas por 10 semanas).
Ingrediente 1 2 3 4
Azevém 39.8 39.0 39.2 40.3
Subprodutos fibrosos (1) I I
Fontes de amido (2) I I
Fontes de PNDR (3) I
Prod. Leite, Kg/dia 26.7 28.0 25.2 28.0
Teor Gordura no leite, % 3.70 3.34 3.90 4.03
Prod. Gordura no leite, g/dia 1000 900 980 1110
Teor PB no leite, % 3.33 3.30 3.14 3.29
Prod. PB no leite, g/dia 890 920 790 920
Adaptada de Sloan et al. (1988).
(1) = farelo de trigo, polpa de beterraba, polpa de citros, farelo de gluten de milho, casca de soja
(2) = cevada, mandioca, farinha de trigo
(3) = farinha de carne, farinha de peixe, glúten de milho
EXIGÊNCIAS EM FIBRA
Para que as vacas leiteiras possam exprimir todo o seu potencial produtivo, a
manutenção de certo nível de fibra longa na dieta é vital para estimular a mastigação e a
salivação, bem como a motilidade ruminal. O NRC (1989) prevê uma exigência mínima de
FDN total (forragem + concentrado) em 25% da MS da dieta. Destes, 75% devem ser
oriundos de forragem (18,8% de FDN oriundo de forragem na dieta). Essa é uma forma
para garantir certo tamanho de partícula na dieta, o mínimo necessário para manter a
função ruminal. Porém, o método é imperfeito, pois não diferencia forragens com
diferentes processamentos e armazenamentos. Apesar de falho, é o utilizado atualmente
para controlar o tamanho de partícula. Não existem recomendações práticas utilizáveis
em formulação para tamanho de partícula em mm, por exemplo, o que seria uma
exigência nutricional de fibra fisicamente efetiva. Este conceito será mais discutido a
seguir.
47%
PB
EE
Cinzas
18%
FDNF
FDNC
CNF
3%
7%
6%
19% CNF = Carboidratos não fibrosos
= 100 - (PB+EE+FDN+Cinzas)
Mas será que uma dieta como a ilustrada abaixo é impossível de ser utilizada?
34%
16%
Mas será que uma dieta como a ilustrada abaixo é impossível de ser utilizada?
1% Fontes Protéicas
Min+Vit
Forragem
Milho
49%
E a dieta mostrada abaixo? Será impossível de ser utilizada? Pelo NRC (1989) ela seria
impossível, mas ela funciona na prática.
18%
5%
1%
32%
Fontes Protéicas
Min+Vit
Subprodutos
Forragem
44% Milho
EFETIVIDADE DE FIBRA
Nem sempre se quer trabalhar com alto teor de forragem na dieta. A relação entre
forragens e concentrados é definida por uma série de fatores. Em algumas situações
específicas, pode ser interessante minimizar o teor de forragem na dieta, como por
exemplo:
Esse fator foi primeiramente definido por Mertens (1986) como "roughage value",
que era a fração retida em peneira de 1,18 mm. O peFDN é determinado por
características macro-físicas da fibra e poderia ser mensurado nos alimentos por
avaliação de variáveis do animal como a mastigação, a camada de fibra longa no rúmen e
a motilidade ruminal. O conteúdo de peFDN de um alimento é calculado pelo teor de FDN
analisado quimicamente e multiplicado pelo fator de efetividade físico (pef) da fibra
naquele alimento:
peFDN = FDN * pef
eFDN = FDN * ef
Para utilizar bem o conceito de fibra efetiva no campo é bom compreender como
os valores de ef são calculados para cada alimento. O fator de efetividade de um alimento
é medido em experimentos de curta duração e com dietas com baixo conteúdo de
forragem. A metodologia vem de Madison (Wisconsin): Armentano & Pereira (1997).
25
20
FDN 15
(%MS)
10
0
Controle negativo Dieta teste Controle positivo
3.8 B
a / b = ef CP
3.7
3.6
Gordura 3.5
b
J
do leite
(%) 3.4 Teste
3.3 CN a
3.2 JB
3.1
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
FDN (% MS)
Quando se fala que a ef de um alimento é 0,50, por exemplo, significa que cada
unidade de FDN neste alimento é capaz de induzir uma resposta em % de gordura que é
50% da resposta que seria induzida por unidade de FDN de silagem de alfafa. Ou seja,
teoricamente, 2 unidades de FDN do alimento teriam o mesmo eFDN que 1 unidade de
FDN de alfafa.
29 28.6
28
24
Valores de ef para diferentes alimentos têm sido publicados (Tabela 9). Entretanto
um valor em torno de 0,50 tem sido utilizado para todo FDN oriundo de concentrados. Eu,
particularmente, uso o fator 0,46 para todo FDN oriundo de concentrados. Este fator é
baseado nas regressões na tabela 8: 0,46 = 0,0181 / 0,0390. Entendeu o porque deste
valor ?
O NRC (2001) sugere que o FDNF mínimo para manter função ruminal seria
similar em dietas formuladas com silagem de milho ou alfafa. Usa ef de 0,50 para todo
FDN oriundo de concentrados. A partir de uma dieta com 19% de FDNF e 25% de FDN
total, para cada 1% de redução no FDNF, aumenta 2% no FDN total e reduz 2% no CNF
máximo, conforme mostrado na tabela 10. Note que a primeira dieta é a mesma
preconizada pelo NRC (1989), uma dieta que sabidamente funciona.
Tabela 10 CHO no NRC (2001).
Mínimo de FDN Mínimo de Máximo de CNF Mínimo de FDA
de forragem FDN total na dieta na dieta
19 25 44 17
18 27 42 18
17 29 40 19
16 31 38 20
15 33 36 21
Válido para Dieta Completa contendo forragem com tamanho de partícula
adequado e milho moído como fonte predominante de amido.
Apesar do NRC (2001) incorporar o conceito de fibra efetiva, o que foi um avanaço
proporcionalmente ao NRC (1989), suas recomendações merecem questionamento. As
dietas preconizadas não contêm o mesmo teor de eFDN. Como as dietas não são iso-
FDN, fica impossível incorporar uma restrição dietética mínima de eFDN em uma planilha
para formulação de dietas. Por exemplo, é impossível falar a um computador que a
exigência de eFDN seria 22% da MS quando a FDNF é 19%, mas seria 24% quando a
FDNF for 15% ! A sistemática ainda tem que evoluir. A tabela 11 mostra que o conteúdo
de eFDN não é constante nos valores de exigência nutricional de FDNF e FDN total. Este
cálculo assume que o ef da FDNF seria 1,0 e o ef da FDN em concentrados (FDN total –
FDNF) seria 0,5.
18 27 18+4.5 = 22.5
17 29 17+6 = 23
16 31 16+7.5 = 23.5
15 33 15+9 = 24
PARÂMETROS PARA BALANCEAMENTO DE CARBOIDRATOS
• ef da FDN de forragens = 1
Armentano, L.E. & Pereira, M.N. Measuring the effectiveness of fiber by animal response
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J. Dairy Sci. 1994 77: 1580-1588.
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Corn Vitreousness and Ruminal In Situ Starch Degradability. Journal of Dairy
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Corrêa, C.E.S.; Pereira, M.N.; Oliveira, S.G.; Ramos, M.H. Scientia Agricola, 60: 621-629,
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Pereira, M. N.; Von Pinho, R. G.; Bruno, R. G. S.; Calestine, G. A. Ruminal degradability of
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