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Ao longo dos próximos meses discutiremos alguns aspectos da alimentação de vacas leiteiras. A idéia é
começar com conceitos básicos necessários aos aprofundamentos futuros. A indústria atual da nutrição
animal ainda utiliza conceitos não novos. Os termos proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), extrato etéreo
(EE), cinzas e extrativo não nitrogenado (ENN) têm sido amplamente utilizados por aqueles que encaram a
alimentação de animais como uma ciência. Mas será que todos entendem o porque da adoção deste
sistema e quais as suas falhas quando o animal a se alimentar é uma vaca ?
O Sistema de Weende, também chamado Sistema de Análise Proximal, foi criado por Henneberg em 1860,
na Weende Experimental Station, na Alemanha. Este é um dos maiores exemplos da inteligência humana,
já que poucas tecnologias neste mundo permanecem sendo usadas por tanto tempo. As análises
laboratoriais visam separar os componentes dos alimentos em frações de digestibilidade e metabolização
previsíveis, a um custo analítico baixo e utilizando métodos rápidos. Análises laboratoriais devem ser
utilizadas para dar uma idéia aproximada do valor nutricional de determinada dieta, que é a mistura de
todos os ingredientes oferecidos a um animal.
O conceito de dieta é muito confundido no Brasil. A dieta de uma vaca leiteira é composta por forragens e
concentrados. Estes devem ser misturados em uma proporção ótima para se obter uma mistura de
conteúdo nutricional previsível conciliada a uma boa eficiência econômica. Esta é a filosofia no uso da
Dieta Completa (a TMR) como sistema alimentar e do computador para cálculo dietético. Dieta em nutrição
é sinônimo de ração: tudo que um animal consome por dia. Para suínos e aves, dieta, ração e concentrado
significam a mesma coisa, pois estes animais não consomem forragem. Um cálculo de ração para aves é
um cálculo de concentrado, mas para herbívoros o cálculo tem que incluir a forragem. Recomendações do
tipo "o concentrado (que chamamos ração, inclusive eu) para vacas leiteiras deve ter de 18 a 24% de PB"
são uma mera aproximação. Se isto fosse correto, uma vaca consumindo cana com 2% de PB poderia
comer o mesmo concentrado que uma vaca comendo alfafa com 18% de PB. A dieta deveria ser o objeto
de cálculo, o concentrado deve suprir as deficiências da forragem.
Após a desidratação dos alimentos obtemos a matéria seca. Na alimentação de herbívoros conversar em
quantidade de alimentos úmidos ou concentração nutricional na matéria natural não tem sentido. A
variação na porcentagem de umidade das forragens exige a padronização para a matéria seca. Após a
incineração da matéria seca para mensuração das cinzas, supostamente representativo dos minerais
dietéticos, sobra a matéria orgânica. A digestibilidade da matéria orgânica em uma dieta com baixo
conteúdo de gordura, típica dos ruminantes, é próxima ao valor dos Nutrientes Digestíveis Totais, o NDT,
uma medida energética antiga e ao mesmo tempo mais atual do que nunca, devido às novas metodologias
de cálculo desta variável propostas pelas mais recentes normas alimentares para vacas leiteiras, o NRC
(2001).
Dentro da matéria orgânica os nutrientes podem ser divididos em ideais e não-ideais. No sistema de
análise proximal os nutrientes ideais, assim chamados por terem digestibilidade alta e pouco afetada pela
velocidade de passagem da digesta pelo trato digestivo do animal, a chamada taxa de passagem, seriam:
a PB, o EE e o ENN. O nutriente não-ideal, de baixa digestibilidade sendo esta determinada pela taxa de
passagem da digesta, seria a FB. Como a variabilidade no conteúdo dietético de PB e EE é baixa, o
grande determinante da digestibilidade das dietas seria a relação FB/ENN. Baseado neste conceito, seria
correto afirmar que dietas com alto conteúdo de FB seriam dietas de baixa digestibilidade. No entanto, esta
premissa nem sempre é verdadeira.
No gráfico abaixo está representado uma dieta pouco comum em nosso meio. Esta seria uma dieta de alto
conteúdo energético devido ao baixo teor de FDN. Em dietas à base de milho e farelo de soja, ambos
concentrados com baixo conteúdo fibroso, está formulação seria plausível. Dietas com estes níveis
nutricionais são pouco utilizadas em nossas fazendas por alguns de motivos. Um dos motivos seria o alto
conteúdo de fibra de nossas forrageiras, o que exigiria o uso excessivo de alimentos concentrados por litro
de leite produzido para obter esta concentração dietética de FDN. Outro motivo é a disponibilidade de
vários subprodutos da indústria de alimentos humanos, ricos em fibra, às vezes de boa digestibilidade, mas
que substituem CNF dietético. Melhorar a qualidade e a eficiência econômica de nossas dietas passa
primariamente por reduzir o conteúdo de FDN das forragens, para permitir alta inclusão dietética destes
alimentos sem reduzir o aporte de energia para o animal, e ter consciência da qualidade da fibra nos vários
subprodutos fibrosos disponíveis no mercado brasileiro. Como a sua dieta se compara à dieta abaixo ?
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Professor da UFLA