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O CANTO NORDESTE.

Reinaldo Aparecido Rozzatti


- M.·.I.·. - eterno Ap.·.
Or.·. de Santos, maio de 2006 E.V.
IV Seminário Maçônico do Rito de York – GOSP/GOB

O Neófito, após ser revestido com o Avental de Aprendiz Maçom pelo Ir.·.1º Vig.·., é
levado pelo Ir.·.2º Diácono até o mais próximo possível do canto nordeste da Loja. É
colocado num ponto intermediário da Loja próximo ao altar do V.·.M.·., sobre o eixo
imaginário que cruza a Loja do Nordeste para o Sudoeste, pontos esses marcados pela
posição em Loja aberta do 1º Diácono – Nordeste e pelo 2º Diácono - Sudoeste.

O pé direito do Neófito deve ficar no sentido do Oriente para o Ocidente e o pé


esquerdo na direção norte-sul, formando um esquadro com ângulo de 90º - o ângulo
reto, que simboliza a retidão com que o Maçom deve primar suas ações, e o que o
coloca em posição de forma ereta, que é o emblema do espírito maçônico.

- Engenharia
O canto nordeste é o local, onde na construção de todos os grandes edifícios é colocada
a pedra fundamental, dando início ao erguimento de um monumento que deverá durar
para sempre.

- Religiões
O costume de assentar a pedra fundamental no canto nordeste do terreno vem de
tempos antigos, pois a linha nordeste – sudoeste indica a trajetória do sol no equinócio
do verão no hemisfério norte, que ocorre no dia 24 de junho, e no lado nordeste o sol
nasce com toda a sua plenitude, derramando seus raios de luz sobre o mundo, na
estação que é a mais comemorada por todos os povos. No curso anual do sol o dia 24 de
junho é o ponto norte mais extremo, e é o dia mais longo do ano no hemisfério norte, e
a Maçonaria o dedica a São João Baptista, o Profeta da Retidão; a Grande Loja Unida
da Inglaterra foi fundada neste dia em 1717.

Desde tempos imemoriais as principais festas das antigas religiões eram realizadas
celebrando o Solstício de Verão, e documentos e descobertas arqueológicas apontam
que o trono do Deus Sol ficava no ponto em que o sol nasce no canto nordeste do
templo; local onde também estava uma pedra onde eram oferecidos sacrifícios aos
deuses. Tal era o poder que o canto nordeste inferia nos homens.
Deus ordenou a Moisés que construísse uma tenda no Sinai para servir de local para os
cultos religiosos dos Hebreus e para a guarda da Arca da Aliança com as Tábuas da Lei,
antes da construção do Templo de Jerusalém, a essa tenda deu-se o nome de
“Tabernáculo”. Pelas características especiais do povo Hebreu à época, o Tabernáculo
era um Templo provisório e portátil, que podia ser facilmente levado para onde o povo
se dirigisse. Porem era sempre montado de maneira que o “altar dos sacrifícios” ficasse
orientado para o Oriente.

O Tabernáculo possuía uma fonte de água no seu Canto Nordeste, para que ali os
“Cohanim” (Sacerdotes do Templo) realizassem suas abluções, lavando suas mãos e
pés, para entrarem puros e limpos para suas orações no Santuário.
Por tais crenças a maçonaria adotou tal ponto para o início da implantação dos
princípios maçônicos no Neófito, considerando que ele está limpo e puro em seus
sentimentos na ocasião de sua Iniciação.

- Na Maçonaria
No canto nordeste são colocados os candidatos à Inic.·. na Maçonaria durante a
cerimônia, na ocasião em que vai ser orientado para a prática das primeiras virtudes
maçônicas.

Todo Maçom é um Templo vivo, e o GADU nos criou para que atingíssemos a
perfeição. O Neófito é uma Pedra Bruta que deve ser trabalhada para que possa ter uma
forma perfeita para fazer parte de um Templo sólido, principalmente com inabaláveis
bases morais.

Tão importante para a Maçonaria é esta nova pedra, que é colocada em local de grande
destaque no canto nordeste e onde começa a ser trabalhada para chegar à Pedra Polida,
encaminhando-se para a Perfeição, que só será atingida quando chegar ao Or.·.Et.·.,
após a passagem para a nova vida, atingindo ao cume da Esc.·.de Jacó.

Colocado no canto nordeste e olhando para o sudoeste, o Neófito tem, figuradamente, o


sol nosso astro maior ao seu lado esquerdo em sentido de suas costas, espalhando a luz
para o caminho à frente, evitando que os raios solares firam os olhos, não impedindo de
enxergar plenamente todo o caminho que tem para trilhar, e cujo sucesso depende
exclusivamente de seu trabalho e dedicação.

À semelhança da purificação na fonte do Tabernáculo, o Neófito no canto nordeste


também dá a certeza de estar puro e limpo, por isso se mostra desprovido de metais e
bens terrenos, para ingressar no seio da Maçonaria.

No canto nordeste o Neófito começa a tomar conhecimento das virtudes que


caracterizam o Maçom. A primeira delas a Caridade, que é a mais marcante no coração
do Maçom. Quando o Neófito é convidado a colaborar com necessitados, não tem como
dar sua contribuição, pois não carrega valores materiais, mas ficará na mente seu desejo
de depositar algo na Sacola de Benemerência, e que ficou impossibilitado de realizar.
Quando em circunstâncias futuras for chamado a auxiliar, o fará com satisfação, e
lembrará que deverá ser complementado com seu trabalho pessoal, colocando-se
sempre à disposição de Irmãos necessitados.

Muitas das vezes o auxílio material não é o mais importante, mas sim o espiritual. Não
se devem dar peixes, mas sim ensinar a pescar. O dar metais representa o caminho mais
confortável em atender ao necessitado, mas não é o mais duradouro, uma vez que as
necessidades retornam muitas vezes com mais intensidade. Se o homem não aprender a
buscar fontes de recursos com seu trabalho pessoal, ficará sempre dependente de outros,
o que o levará à acomodação, uma vez que sempre que suas necessidades aflorarem
sabe que pode encontrar alguém disposto a fornecer os recursos para satisfazê-las, sem
lhe cobrar retribuição nem iniciativa para captação dos meios com seu próprio trbalho.

- Virtudes maçônicas
A Caridade tem por irmã a Misericórdia, abençoando aquele que dá e aquele que
recebe. Misericórdia é a virtude do perdão. Perdoar não é esquecer, nem tornar uma
falta nula ou não acontecida pois o que foi feito não pode jamais ser desfeito, nem é a
clemência que renuncia a punição, nem a compaixão que é a demonstração de simpatia
no sofrimento.

Não podemos simplesmente apagar de nossa memória ou dos registros históricos um


crime cometido tenha a dimensão ou a gravidade que tiver, isso seria faltar com o
respeito à dor das vítimas; nem esquecer quem nos roubou ou magoou profundamente.

Ter misericórdia, praticar o perdão, é cessar de odiar renunciando à vingança. Entender


que o outro é um ser dominado por paixões, que não lhe permitiram no momento da
falta agir de maneira contrária. Devemos vencer o ódio em nós, pelo menos na
impossibilidade de vencer em outrem, de sermos felizes com a possibilidade de
dominar nossos sentimentos e por conseqüência agir de forma racional e humana, de
alcançar a vitória sobre o mal e, principalmente, sobre o ódio não somando ódio ao
ódio.

A misericórdia não pressupõe o esquecimento do crime nem do criminoso, nem a


abolição da falta que permanece; mas suprimindo o ódio dispensa justificativas. Assim
como aplacando a cólera e o desejo de vingança, permite a realização da justiça.

O Maçom deve ser acima de tudo misericordioso. Sendo misericordioso podemos dizer
com o coração aberto que não entramos simplesmente na Maçonaria, mas que a
Maçonaria entrou em nossos corações.

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