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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – PDIZ


Manejo Nutricional de Não-Ruminantes

RESUMO: ENERGIA LÍQUIDA PARA NÃO RUMINANTES

Wilson Araújo da Silva

Areia – PB
24/03/2020
1. INTRODUÇÃO

A alimentação é o fator mais oneroso na produção de não ruminantes. Logo, os


nutricionistas têm um grande desafio para escolher os ingredientes da ração e qual o melhor
sistema de energia deve ser adotado. Assim, quanto maior a precisão no atendimento do
requerimento energia do animal, maior a possibilidade de redução dos custos de produção
(Fracaroli et al., 2017).
A energia liberada na forma de calor quando uma substância orgânica é completamente
oxidada é denominada energia bruta (Fernandes; Toro Velasquez, 2014). Apenas uma parte
dessa energia é aproveitada pelo animal. Ao se deduzir a energia excretada nas fezes da energia
bruta do alimento ingerido, obtém-se a energia digestível (Sauvant; Perez; Tran, 2004).
Ao se subtrair as perdas de energia por meio de gases e urina da energia digestível, tem-
se a energia metabolizável (EM). A energia gasta nos processos digestivos e metabólicos
durante a digestão gera calor e denomina-se incremento calórico. Esta energia quando subtraída
da EM, resulta na energia líquida (EL), que pode ser direcionada para mantença e para a
produção (Teixeira et al. 2017).
Os sistemas comumente utilizados para a caracterização da energia dietética para não
ruminantes são o de energia digestível e de energia metabolizável (Gonçalves et al. 2015). A
EL de ingredientes pode ser obtida por meio de diferentes metodologias, como calorimetria
direta, indireta e abate comparativo. A calorimetria indireta é o método mais utilizado.
Entretanto, a determinação da EL é relativamente complexa e de custo elevado (NOBLET,
2010). De acordo com Noblet (2010), uma alternativa para gerar valores de EL é a utilização
de equações de regressão com dados de digestibilidade ou da composição química bruta
servindo como variáveis independentes.
O contínuo melhoramento genético dos animais conduz às mudanças dos requerimentos
nutricionais dos animais (Gonçalves et al. 2015), principalmente no que diz respeito à avicultura
e suinocultura. Portanto, torna-se necessário discutir, analisar e reavaliar constantemente as
exigências nutricionais destes animais, tendo em vista melhorias nos sistemas de produção
atrelados à redução de custos e aos impactos ambientais.
2. ENERGIA LÍQUIDA PARA NÃO RUMINANTES

Em suínos, a energia líquida, como uma medida da energia verdadeira disponível para
manutenção e produção, tem uma clara vantagem sobre a energia digestível e a energia
metabolizável, pois prevê o desempenho da produção com mais precisão. No entanto, até o
momento, o valor agregado do uso de um sistema de EL sobre o sistema de EM em aves ainda
não pode ser demonstrado com exatidão (Van der Klis e Jansman, 2019).
Enquanto o sistema de EL fornece valores de energia mais precisos em comparação com
o de EM, sua aplicação para aves é complicada na prática. O principal método para calcular a
EL é pela produção de calor total, que pode ser medida usando a técnica de abate comparativo
ou por meio de calorimetria indireta (Barzegar et al. 2020). Tais medidas dependem dos níveis
de nutrientes da dieta, idade e categoria de aves, composição corporal, estado fisiológico e
condições ambientais.
Para suínos em terminação, principalmente suínos pesados, o uso do sistema de EL pode
permitir melhor atendimento das exigências nutricionais com o objetivo de maximizar a
deposição de tecido magro na carcaça, pois, nessa fase, a capacidade de ingestão é maior que a
ingestão necessária para atender a exigência de energia (Fracaroli et al. 2017).
A vantagem da EL sobre a EM em suínos é ampliada devido ao número de ingredientes
disponíveis e a variação no conteúdo de proteínas, gorduras e fibras, em função do avanço da
idade dos animais (Patience et al. 2012). Em parte, a limitação da utilização do sistema de EL
para aves pode estar relacionada ao menor conteúdo de fibra bruta nas dietas para aves quando
comparadas as dos suínos. Como a fibra bruta é um dos fatores de alto impacto no incremento
calórico, a menor fermentação intestinal em aves em comparação com os suínos pode contribuir
para esse menor valor agregado da EL sobre a EM no caso das aves (Van der Klis e Jansman,
2019).
Quanto mais preciso o sistema energético, melhor ele prevê o desempenho da produção.
Em suínos, a formulação de dietas baseadas em EL em vez de EM, resulta em uma economia
de custos com alimentação e conteúdo de PB na dieta (Van der Klis e Jansman, 2010),
assumindo que aminoácidos livres estejam disponíveis para inclusão na dieta para atender aos
requisitos de aminoácidos do animal.
Gonçalves et al. (2015) trabalhando com rações isonutritivas com níveis de EL variando
de 2300 a 2800 kcal EL / kg de dieta, indicam que o melhor nível de EL para suínos machos
castrados em terminação é de 2800 kcal EL / kg de dieta, pois promove redução no consumo
de ração diário e melhora a conversão alimentar, sem alterar o ganho de peso e as características
de carcaça.
Em estudo com suínos pesados (100 a 130 kg), Fracaroli et al. (2017) observaram que
os animais apresentam melhores respostas quando alimentados com dietas com níveis de EL de
2388 a 2563 kcal EL / kg e proteína bruta reduzida suplementadas com aminoácidos. Abaixo
ou acima desses níveis de EL, os suínos passam mais tempo nos alimentadores e apresentam
menor eficiência alimentar. Os autores justificam que a composição das dietas influenciou o
comportamento alimentar dos animais, uma vez que as características das dietas acima (2650
kcal EL / kg e 7,67% de extrato etéreo) ou abaixo (2300 kcal EL / kg e 2,60% de fibra bruta)
dos níveis intermediários elevaram a atividade física dos suínos, desviando energia que poderia
ser destinada para produção.
Valores de EL dos alimentos são apresentados nas Tabelas Brasileiras de Aves e Suínos
(2017). De acordo com Rostagno et al. (2017), eles foram calculados utilizando o conteúdo de
EM determinado aplicando os coeficientes da eficiência da utilização da EM para EL estimados
por Carré et al. (2014).
Já para suínos, a EL dos alimentos foi obtida mediante o uso da equação desenvolvida
na França pelo Dr. J. Noblet que leva em consideração a EM e o conteúdo de proteína, extrato
etéreo, amido e fibra dos ingredientes. De acordo com Van der Klis e Jansman, (2019), o valor
agregado de um sistema EL em frangos de corte, comparado ao atual sistema de EM, ainda não
pôde ser demonstrado, uma vez que a eficiência da EM para a EL é menos dependente do
conteúdo de nutrientes da dieta em frangos do que em suínos.
Segundo Teixeira (2017), a determinação da EL é, em teoria, o melhor método para
estimar a energia da dieta. Contudo, para aves os resultados são muitas vezes conflitantes e não
mostram uma real vantagem do método de determinação da EL quando comparado ao método
de determinação da EM, o que pode ser resultado dos poucos estudos no que diz respeito à EL
para aves.
A implementação de um sistema EL em vez do sistema EM para avaliação da energia
dos alimentos para aves está em seus estágios iniciais de desenvolvimento e em constante
debate (Barzegar et al. 2020). Atualmente, o sistema de EM é considerado o método padrão,
mas carece da capacidade de distinguir o uso de energia para diferentes funções corporais.
A partição energética para diferentes fins metabólicos, como crescimento e produção
em diferentes tecidos corporais, pode ser definida pelo sistema de EL. Prevê-se que o uso do
sistema de EL resultará em uma estimativa mais precisa do valor energético dos ingredientes
para uso produtivo (Barzegar et al., 2020).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para suínos, os resultados parecem ser mais promissores do que para aves, tendo em
vista o real valor proporcionado pela adoção do sistema de energia líquida.
Nesse sentido, mais pesquisas são necessárias para confirmar se o sistema de EL
oferecerá vantagens em termos de desempenho econômico para a avicultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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