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Curva de crescimento e consumo alimentar em


suínos em crescimento e terminação.

“Estratégia para atingir a melhor conversão alimentar”

É difícil determinar uma estratégia ou gestão alimentar ideal para suínos, pois
é afetada por muitos fatores, tais como potencial reprodutivo e de desempenho dos
suínos, instalações das granjas, consumo de ração, condições ambientais, ingredientes
disponíveis da ração, processamento da ração, aditivos alimentares, entre outros (figura
1). Além disso, fica cada vez mais evidente a importância de quantificar o impacto da
produção de suínos sobre o meio ambiente, ou seja, excreção de nitrogênio e fósforo e
produção de gases de efeito estufa.

Figura 1 - Fatores relevantes sobre a conversão alimentar.

Um bom modelo portanto, para avaliar o desempenho e atingir as melhores


conversões alimentares, deve integrar os conhecimentos da utilização dos ingredien-
tes e nutrientes para todas as fases da suinocultura, assim como as interações entre
manejo, instalações, sanidade e ambiente do sistema. Esses modelos também devem
ser usados para explorar de forma quantitativas os efeitos interativos entre a genéti-
ca, evidenciando o potencial de crescimento dos animais em ganho de peso e carne
magra, com o consumo de alimento e o conteúdo de nutrientes da dieta. Devem ser
utilizados de forma eficaz para identificar a melhor estratégia para as unidades produ-

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toras, com a finalidade de atingir melhores lucros. Nas áreas de produção industrial de
suínos, o custo da alimentação representa mais do que 70% do custo de produção.
Nos sistemas de produção de suínos em crescimento e terminação, os programas de
alimentação são propostos para maximizar as respostas de desempenho ao menor cus-
to. Portanto, os requerimentos de nutrientes variam grandemente entre os suínos de
uma dada população. Para maximizar a resposta da população desejada, onde o ganho
de peso corporal e a conversão alimentar são os principais alvos, os requerimentos da
população são associados com as dos suínos de maior exigência, resultando assim que
uma parcela dos suínos recebe mais nutrientes do que o necessário e a eficiência da
utilização destes nutrientes são reduzidas, influenciando negativamente na conversão
alimentar. A figura 2 mostra uma avaliação prática das exigências nutricionais, onde
a determinação do ponto ótimo de inclusão de um determinado ingrediente/nutriente
esta assoacido ao maior desempenho dos animais, considerando para tanto as neces-
sidades para mantença, ganho de peso e excreta de excessos de nutrientes.

Figura 2 - Determinação das exigências nutricionais dos animais pela resposta


de desempenho.

Se o custo da alimentação e excreção de nutrientes devem ser minimizados,


é essencial que a composição dos ingredientes disponíveis, o seu potencial nutricional
e a necessidades dos animais sejam adequadamente conhecidos, e que o fornecimento
destes nutrientes alimentares para cada fase, seja feita com precisão para coincidir
com as exigências dos animais. Desta forma podemos potencializar a utilização das
rações. Assim, o monitoramento do fornecimento de ração, tanto para a faixa de peso,

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como a quantidade a ser consumida é essencial para o êxito do melhor resultado em
ganho de peso como em conversão alimentar. A figura 3 exemplifica na prática um de-
scompasso entre o programa alimentar preestabelecido e o fornecimento real de ração
na fase de recria e terminação.

Figura 3 - Descompasso entre o programa alimentar pré estabelecido e o


fornecimento real na fase de recria e terminação.

O potencial para taxa e composição do ganho varia entre as linhas genéticas.


O melhoramento genético dos suínos é constante e com rápida evolução nas ultimas
décadas. Portanto, a nutrição tem que estar sempre aprimorando e atualizando as ex-
igências dos animais. Para atender as exigências nutricionais dos genótipos, temos
que conhecer o potencial de crescimento dos animais, sua deposição de proteína e
deposição de gordura na carcaça e seu potencial de consumo. Na figura 4 podem-
os observar diferentes genótipos e sua relação entre a curva de deposição de tecido
muscular e gordura. Portanto, suínos de alto potencial genético apresentam uma maior
taxa de deposição protéica, elevando assim suas exigências nutricionais, como mostra
a figura 5. Devemos também ressaltar outros pontos importantes na deposição dos
tecidos, tais como sexo, sanidade, idade, estado fisiológico, ambiente e outros.

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Figura 4 - Relação entre a deposição de tecido muscular e gordura em suínos
de alto, médio e baixo potencial genético.

Figura 5 - Exigências de lisina para suínos (fêmeas) de 15 a 100 kg de peso


vivo com diferentes potenciais para deposição de carne magra.

A deposição de tecido magro e tecido adiposo apresentam dinâmica diferente em


suínos em crescimento e terminação. Na fase de crescimento, onde denominamos a
fase de aceleração de deposição de carne magra, há uma relação direta entre consumo
de energia e deposição de carne magra, onde quanto maior o consumo melhor o de-
sempenho. Entretanto, nesta fase o suíno tem uma capacidade limitada para consumo

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de energia em relação a quantidade ideal para atingir o maior potencial, atendendo por-
tanto as necessidades de mantença e deposição de carne magra, com pouco desvio de
energia para a deposição de gordura. Nesta fase, quanto maior for o consumo, melhor
será a deposição de carne magra e a conversão alimentar é extremamente positiva. Na
fase de terminação, onde denominamos a fase de estabilização da deposição de carne
magra, não há uma limitação da deposição de carne magra pelo consumo de energia.
Nesta fase o consumo atende as exigências de mantença, deposição de carne magra e
com boa porção de energia para a deposição de gordura. Portanto, inversamente a fase
anterior, temos que controlar o consumo de alimento, atendendo as exigências de man-
tença, deposição de tecido magro e pouca deposição de gordura, melhorando assim a
conversão alimentar e a qualidade da carcaça. A figura 6 apresenta um diagrama de
deposição de carne magra e gordura ao longo do período de crescimento e terminação
em função do plano alimentar.

Figura 6 - Diagrama de Deposição de Carne Magra e Gordura ao Longo do


Período de Crescimento, em Função do Plano Alimentar.

Com base ao diagrama acima, podemos concluir que há oportunidades de


aproveitar ao máximo o potencial de ganho de tecidos desses animais, fornecendo
dietas formuladas adequadamente para cada fase da criação. Também, devemos con-
siderar os diferentes potencias de deposição de carne magra e tecido adiposo entre
machos inteiros, castrados e fêmeas.
Para que os suínos possam expressar o máximo seu potencial é necessário
adequar seu consumo de energia. A forma mais eficiente em aumentar a energia da di-

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eta é com a redução dos teores de proteína intacta, o fornecimento de aminoácidos sin-
téticos, levando-se em consideração uma relação adequada entre eles e a inclusão de
óleos e gorduras quando for necessário. Para a fase de crescimento, deve-se fornecer
dietas mais densas nutricionalmente em seus níveis de energia e aminoácidos e com
redução destes níveis para patamares menores para a fase de terminação. Entretan-
to, devemos também considerar que os maiores volumes de ração, com conseqüente
maior gasto, estão atrelados a fase de crescimento e terminação, como mostra a figura 7.

Figura 7 - Distribuição percentual das rações ao longo do período de creche,


recria e terminação e reprodução.

Aumentando o nível de energia e mantendo a relação lisina:energia da dieta,


podemos observar melhoras na conversão alimentar, conforme mostra a figura 8. En-
tretanto, como comentado, quando aumentamos a energia da dieta, aumentamos o seu
custo consideravelmente, portanto devemos sempre considerar o balanço do preço da
ração e a conversão alimentar de maneira a auferir menor custo da dieta por quilo de
ganho de peso.

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Figura 8 - Efeito da densidade energética da dieta sobre o ganho de peso diário
e conversão alimentar (Geurts & Hazzledine, 2009).

A elaboração de um programa nutricional eficiente é essencial para a sus-


tentabilidade da suinocultura, uma vez que a qualidade e a quantidade do alimento
fornecido influenciam diretamente no consumo, ganho de peso, conversão alimen-
tar, qualidade da carcaça, na composição dos dejetos por menor poluição ambien-
tal. Atualmente, as linhagens apresentam alta taxa de deposição muscular, entre-
tanto associadas a altos consumo de ração. Como já mostrado, o consumo de ração
é mais acentuado na fase final, ou seja, na terminação, a partir de 70 a 80 kg de
peso vivo. Por outro lado, a deposição protéica diária já se torna constante, como
também demonstrado, propiciando assim um excedente no consumo de energia e
um aumento na deposição gordura na carcaça com piora na conversão alimentar.
Na maioria das criações, suínos em crescimento e terminação consomem a
ração a vontade a partir do desmame até atingirem o peso de abate. Os fatores que reg-
ulam a ingestão voluntária em suínos são numerosos e complexos, no entanto, é geral-
mente aceite que os suínos consomem alimentos para satisfazer suas necessidades
energéticas de mantença e crescimento. Em todos os casos, entretanto, as exigências
de energia aumentam mais rápido do que os demais nutrientes, resultando que a óti-
ma concentração de nutrientes nas dietas de animais em crescimento e terminação
diminua progressivamente ao longo do período de crescimento. Após o conhecimento
dos valores nutricionais dos ingredientes da ração, a estimativa das necessidades nu-
tricionais dos animais, a composição das dietas balanceadas, é necessário o ajuste
preciso do programa alimentar e a técnica mais comum é a alimentação por fase. A
alimentação por fase envolve um número de sucessivas dietas, cada uma diferindo nos
seus balanços de proteína, aminoácidos, energia, a fim de ajustar as necessidades nu-
tricionais dos suínos (figura 9). É esperado que o aumento do número dietas leva a um
reduzido custo de alimentação, uma diminuição na excreção de nutrientes e melhora
na conversão alimentar. Por outro lado, o aumento no número de fases de alimentação
aumenta os custos de estocagem e gerenciamento da produção.

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Figura 9 - Diferentes propostas de nutrição por fase (3 fases, 10 fases ou oferta
diária).

O número de 3 ou 4 dietas nas fases de crescimento e terminação são as mais


comuns no meio criatório. Entretanto, é cada vez mais crescente o número de dietas no
sistema, tais como 6, 8 ou 10 dietas em sistemas operacionais grandes. A composição
nutricional destas dietas e a quantidade a ser ofertada é critica para o sucesso, pois uma
sub-oferta levará a baixo desempenho e a super-oferta aumentará os custos com a ração
desnecessariamente, sem com isto melhorar de sobremaneira o desempenho dos animais.
A partir das discussões acima, fica claro que as previsões precisas de con-
sumo de ração, nos diferentes grupos de suínos em crescimento e terminação e nas
diversas faixas de peso corporal são de extrema dificuldade. Entretanto, o consumo de
ração deve ser monitorado, para se fazer projeções para os níveis de consumo de ração
futuras. Mesmo que os níveis médios de consumo de ração voluntário diferem entre as
unidades individuais de crescimento e terminação de suínos, as curvas (consumo (kg)
versus peso vivo (kg)), geralmente seguem um padrão previsível. As curvas de consumo
de ração e peso corporal podem e devem ser montadas baseadas em observações de
grupos de amostras de suínos representativa da unidade. Em uma unidade de operação
de fluxo continuo, estas curvas de consumo e peso podem ser desenvolvidas a partir de
observações obtidas ao longo de um período de duas semanas, e os dados podem ser
coletados simultaneamente a partir de diferentes baias na unidade, com diferentes faix-
as de pesos dos animais. Ao longo dos últimos anos, inúmeras curvas de crescimento
e consumo foram estabelecidas nas granjas (figura 10).

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Figura 10 - Curva de peso vivo (kg) e curva de consumo de ração (kg) em
suínos nas fases de crescimento e terminação.

Além de ser uma ferramenta para elaboração dos programas nutricionais,


também fornece subsídios para o controle da ração, principalmente na fase de termi-
nação. O controle de consumo de energia, nesta fase, vem sendo utilizada a tempos em
outros países produtores de suínos, com o objetivo de reduzir a deposição de gordura,
decorrente das pesadas penalidades para suínos com excesso de tecido adiposo. Na
produção de suínos pesados, fica claro que o controle de consumo de ração, por meio
quantitativo de ingestão calórica pelos animais, promove uma menor ingestão de ener-
gia, melhora a conversão alimentar, diminui a gordura da carcaça, podendo aumentar
o período de engorda dos animais. O controle quantitativo, limita a quantidade de ração
consumida pelos animais, mas sem deixar de atender as exigências nutricionais dos
suínos. Estas curvas de crescimento e consumo de ração, são ferramentas para refinar
cada vez mais o gerenciamento dos programas de alimentação com o objetivo final de
melhorar os lucros nas unidades produtoras.

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