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Manipulação genética
Clonagem de genes
Tecnologia de DNA recombinante
Biotecnologia
Diz-se ser importante ter em mente a “Lei de Murphy” que pode ser culturalmente citada
como “Qualquer coisa que possa correr mal, vai correr mal”, sendo uma analogia ao
cuidado laboratorial que deve ser tido nesta área.
Por sua vez, a área da Biotecnologia vai além desta engenharia, e centra-se em processos
industriais que podem ou não apoiar-se na engenharia genética, mas que, regra geral, seguem
o padrão de começar com uma matéria-prima e obter um produto por fermentação, o qual tem
depois de ser purificado.
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OS 5 FFS – APLICAÇÕES
O milho transgénico é o alimento mais relevante neste meio. Ele possui uma toxina de
bactéria que permite o controlo de infestação por larvas. Todo o milho doce
comercializado atualmente é transgénico, pois só assim pode haver tão grande resposta
ao consumo.
Outro exemplo é a soja (possui gene de resistência a herbicidas), a batata (relevante
devido ao elevado consumo; o OGM é resistente a infetantes virais), mandioca (alimento
rico em cianeto que pode ser tóxico para o ser humano que, por ser muito usado em
África, é importante a obtenção de um GM com menor teor em cianeto).
A modificação de animais consiste em organismos maiores, com características de
interesse mais acentuadas, etc.. Estes animais ainda não se encontram no mercado por
não serem rentáveis, uma vez que o seu crescimento não é normal e alguns acabam
mesmo por morrer a meio do processo por causa da inadaptação do seu corpo às
circunstâncias a que são submetidos.
“Fiber”: vestuário; engloba fibras não sintéticas (biológicas) como a seda, existindo uma
intervenção sobre os animais/plantas para que estes produzam fibras mais vantajosas, a nível
da qualidade e do custo monetário.
“Fuel”: os combustíveis fósseis são limitados e um dia esgotarão. O uso destes combustíveis
resulta na libertação de CO2, processo que também ocorre em vários seres vivos. Neste
seguimento já há estudos que levam a pensar que as células, que conseguem fazer esse mesmo
processo biológico, poderão ser uma alternativa aos combustíveis fósseis. Contudo, para a
evolução deste mercado tem de haver uma maior carência de combustíveis devido a questões
económicas e sociais, o que ainda não se verifica, levando, por enquanto, a uma estagnação
nesta área.
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EnviropigTM: processo de eliminação do fósforo das fezes dos porcos por criação de
animais transgénicos, permitindo fazer cultura de porcos em meio urbano sem incômodo
para a população devido aos maus odores. Não está ainda a ser implementado por
questões económicas.
Bio-lixiviação e bio-oxigenação, bem como tratamento de efluentes são processos que
atualmente são químicos mas que, com recurso à engenharia genética, podem ser
tornados biológicos. No primeiro caso consistirá na extração não química de minérios,
enquanto o segundo trata a degradação aeróbia e anaeróbia de águas residuais, gases
e óleos.
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CLONAGEM DE ANIMAIS
Na 2ª Guerra Mundial houve várias tentativas secretas de melhorar a espécie humana, com
propósitos militares. Neste âmbito surgiu a clonagem da famosa ovelha Dolly, com o objetivo de
proceder analogamente com o ser humano.
Foi isolada uma célula mamária de uma ovelha, da qual se utilizou o núcleo com o material
genético (a célula foi colocada em meio com baixa concentração de nutrientes para entrar em
estado de latência), e um óvulo não fertilizado de outra, do qual foi removido o núcleo. Por
eletrofusão juntou-se o núcleo da célula somática ao óvulo, havendo depois sucessivas divisões
celulares até ao blastocisto que foi colocado no útero de uma outra ovelha que funcionou como
“barriga de aluguer”.
Conseguiu-se assim quebrar o tabu da clonagem de animais, bem como disponibilizar tecnologia
para o fazer. Mostrou-se ainda que células somáticas diferenciadas podem tornar-se totipotentes
(com capacidade para se diferenciar em qualquer célula) em determinadas condições de
engenharia genética.
Atualmente o que existe é clonagem de animais. Clonagem humana talvez seja possível um dia,
embora um tópico bastante controverso, para, por exemplo, “substituir” um filho que morre.
TRANSGÉNESE VEGETAL
Consiste em recombinar células vegetais com genes de microrganismos (ou até de animais,
possivelmente) que codifiquem proteínas com características vantajosas para a planta e para a
comunidade humana, a nível social e económico.
A vida começa aos poucos a ser manipulada a prazer económico e social do Homem, podendo
em breve ter produtos que achamos bizarros mas que de alguma forma são vantajosos a esses
níveis. Algumas questões são, contudo, ética e moralmente controversas.
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II - CONCEITOS BÁSICOS
TIPOS DE CÉLULAS
As células podem ser procariotas ou eucariotas, sendo a principal diferença entre elas o núcleo
diferenciado, onde se encontra o material genético. No primeiro caso não existe um núcleo
diferenciado e o DNA atua, é processado e armazenado no mesmo local, enquanto no caso dos
eucariotas este é processado e armazenado no núcleo, mas atua fora dele.
Os métodos de Engenharia Genética a que se recorrem podem exigir um tipo específico de célula
devido a estas características que as especificam.
Temos de operar em função do tipo de células que temos, sendo o primeiro aspeto a ponderar
as células serem procariotas e eucariotas, pois além de todas as diferenças entre elas de que já
falámos, a mais importante é sem dúvida a ausência ou presença de uma barreira física entre o
material genético e o citoplasma.
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Apenas células vivas possibilitam o uso da Engenharia Genética, pois atualmente ainda não é
possível gerar vida sem essas células.
SISTEMAS EM FUNCIONAMENTO
Para um sistema funcionar têm de ocorrer nas células os processos de replicação, transcrição e
tradução que resultam na formação de um péptido (que tem ainda de ser processado), o qual
queremos fora da célula. Para isso temos ainda de proceder a processos de extração e
purificação. Todos estes passos são sujeitos a regulação, a qual é importante ser manipulada
em laboratório.
Tudo o que é de origem recombinante é “contranatura” e por isso é considerado pela célula
algo estranho a destruir. Para impedir isso temos de atuar a nível da regulação destes
mecanismos.
Ex.: Se uma E. coli exprimir uma determinada proteína que nós queremos poderá morrer,
pelo que temos de atuar a nível da regulação da expressão e impedir que isso aconteça.
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Complexidade
estrutura dos seus componentes” – Macromoléculas (ácidos nucleicos,
François Jacob (1973) proteínas, polissacáridos, lípidos)
As proteínas
Os aminoácidos são monómeros com 2 grupos radicais distintos ligados ao átomo de carbono
(amina, NH2, e carboxilo, COOH) e grupos ionizáveis (parte variável que distingue os
aminoácidos entre si).
Conhecem-se 150, mas apenas 20 entram na biossíntese proteica, qualquer que seja a
célula.
É a cadeia lateral dos a.a. que lhes confere propriedades diferentes e,
consequentemente, a funções das proteínas diferentes.
Todos os aminoácidos são hidrofílicos, mas algumas proteínas são hidrofóbicas.
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A diferenciação das proteínas faz-se pelo nº, tipo e sequência de aminoácidos, que vão
determinar a sua forma/ estrutura tridimensional bem como a sua função.
Para ser uma proteína funcional esta tem de ter uma estrutura (tridimensional) e configuração.
Nesse sentido, as proteínas podem ter formas e estruturas:
FORMAS ESTRUTURAS
Globulares Primária: sequência linear de aminoácidos
Fibrosas: colagénios caracterizada exclusivamente por ligações peptídicas;
Secundária: é determinada a forma da cadeia por
dobramento da cadeia e formação de pontes de H (hélice
α, folha plissada/ pregueada β);
Terciária: enrolamento da estrutura secundária entre si
através de vários tipos de ligações entre os aminoácidos,
conferindo uma forma globosa (em novelo);
Quaternária: junção de várias cadeias polipeptídicas
terciárias e junção de grupos prostéticos (componente
não proteica).
As proteínas têm diversas funções (exceto a informacional, ou seja, não passam informação à
descendência), tais como:
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2) Ose (açúcar, pentose que no caso do DNA é uma desoxirribose, e no RNA uma ribose)
3) Grupo fosfato (mono, di ou tri).
O DNA é formado por duas cadeias polinucleotidicas enroladas (estrutura secundária) em dupla
hélice e antiparalelas – estrutura helicoidal –, podendo adquirir várias estruturas.
Foi o conhecimento da
estrutura tridimensional do
DNA que permitiu
compreender a passagem
de informação genética
entre indivíduos.
O DNA pode ainda ter várias formas: linear, circular ou de super-enrolamento (supercoiling).
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Funções do DNA
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No final da fase G1 a célula morre (fase G0) ou duplica (fase S). A replicação é a primeira etapa
do fluxo da informação genética, ocorrendo na fase S do ciclo celular (antes da divisão celular),
e apenas quando há sinais nesse sentido (não está sempre a ocorrer).
PROCESSO DE REPLICAÇÃO
A girase só ocorre nos procariontes, cujo DNA está organizado na forma circular, e atua
também na separação das cadeias.
As topoisomerases são enzimas que aliviam as tensões que surgem nas cadeias de DNA
enquanto estão afastadas – à medida que a helicase atua vai sendo cada vez mais difícil separar
as cadeias devido às forças de tensão. Esta enzima facilita o processo.
Durante a replicação, a separação das cadeias de dupla hélice pode formar estruturas
enroladas, como superenrolamentos ou catenanes. A função das topoisomerases é
desfazer estes enrolamentos que originam tensões. Neste sentido elas cortam as
cadeias, passam umas por dentro de outras e voltam a fecha-las.
Estas enzimas alteram o enrolamento das cadeias (tanto desenrolam como compactam).
A DNA girase (e helicase) é uma topoisomerase.
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Formam-se bolhas de replicação nas cadeias de DNA. Estas bolhas de replicação vão-se
alargando e acabam por fundir umas com as outras Os cromossomas são todos replicados,
mas têm diversas origens de replicação. Nas bactérias o DNA é circular e por isso só há uma
origem de replicação.
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Como as cadeias são antiparalelas, a sua síntese é feita em sentidos opostos e de diferentes
formas.
A cadeia de síntese contínua (cadeia molde) com direção 5’3’ (desde a forca de replicação)
que permite a formação de uma cadeia nova 5’3’, que é replicada linearmente e sem
interrupções a partir da extremidade 3’-OH da cadeia original (extremidade de fora).
Só necessita do primeiro primer para começar a replicação e depois ela continua sem
problemas.
A replicação é feita de fora para dentro. A DNA polimerase começa a atuar na
extremidade de fora e vai replicando à medida que a cadeia abre.
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É importante que as polimerases leiam bem a cadeia e sintetizem a cadeia complementar com
a máxima correção possível e sem erros. As primases, por sua vez, não precisam de ler bem a
cadeia, apenas é necessário que sintetizem o nº de nucleótidos correspondentes à cadeia
original (têm de saber contar), uma vez que, no final, a sequencia que elas sintetizaram vai ser
destruída e substituída por uma cadeia formada de novo por uma polimerase, que a sintetiza
complementar à cadeia original e não ao primer.
A polimerase III trabalha muito rapidamente e por isso comete muitos erros, existem vários
mecanismos de rastreio e reparação, nomeadamente a polimerase I. Na cadeia contínua,
contudo, os erros podem não ser reparados.
A EXTREMIDADE 5’ E OS TELÓMEROS
Quando a DNA polimerase I atua, a parte final da cadeia (extremidade 5’) fica com uma falha e
não é replicada (porque ela destrói o último primer, mas não tem mais nenhum primer por onde
começar a replicar), tornando o cromossoma, ao longo de sucessivas replicações, mais curto
(fator que leva ao envelhecimento, pois chega a um ponto em que o DNA deixa de conseguir
produzir proteínas). Para resolver este problema de replicação, as pontas do cromossoma
contêm sequências repetidas de nucleótidos que são reconhecidas pela telomerase. Esta
enzima contém um molde de RNA que vai sintetizar uma parte extra de DNA no telómero (parte
a vermelho) – Transcriptase reversa –, à qual se vai associar um primer de RNA (que depois
se perde), permitindo a replicação da extremidade da cadeia original.
Os telómeros são importantes nos eucariotas, pois evitam fusão dos cromossomas uns
com os outros.
Em células jovens os telómeros são muito longos. Em células mais velhas os telómeros
ficam mais pequenos devido à diminuição da atividade enzimática das telomerases.
Se fornecermos telomerases às células elas têm um tempo de vida maior.
Contudo, o envelhecimento das células não se deve apenas a este fator –
depende também, por exemplo, do acumular de mutações.
ORIGENS DE REPLICAÇÃO
Os locais onde se inicia a replicação são ricos em A e T, pois as suas ligações envolvem menos
pontes de H e é mais fácil separar as duas cadeias (mais fácil de desnaturar). A esta região
chama-se OBP (origin binding protein).
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2. MUTAÇÕES
Génicas ou pontuais: são mutações pequenas que envolvem apenas alguns nucleótido
(são menos abrangentes) – substituição, deleção ou inserção de nucleótido.
Cromossomais (não pontuais): mutações grandes que envolvem muito DNA.
CÓDIGO GENÉTICO
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Elementos infeciosos: vírus podem causar cortes e deleções pois libertam nucleases.
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“Exon Skipping”
Podem ocorrer mutações em exões ou em intrões, sendo mais grave no exão pois é codificante,
ao contrário do intrão.
No exemplo existe uma substituição que leva ao não reconhecimento do extremo do intrão e,
como consequência, a proteína vai ficar com uma região maior do que era suposto, levando
mesmo à não transcrição de um exão.
NOTA: Genes mais pequenos tendem a ser 100% exões (como os codificadores de tRNA).
Quanto maior for o gene, mais teor em intrões terá, e menos em exões.
Transversão: substituição de uma pirimidina para uma purina ou vice-versa; é muito mais
grave pois os tipos de bases são diferentes, nomeadamente a nível do nº de pontes de H
que estabelecem.
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Reversão/ Supressão
Reversão verdadeira: existe nova mutação que repõe o codão anterior à 1ª mutação.
AAA (Lys) GAA (Glu) AAA (Lys)
Reversão equivalente: ocorre nova mutação que forma um codão (diferente do anterior
à 1ª mutação) que codifica um aminoácido com características físico-químicas
semelhantes ao aminoácido que era suposto ser codificado, pelo que a proteína adquire
uma funcionalidade semelhante ou igual.
UCC (Ser) UGC (Cys) AGC (Ser)
CGC (Arg) CCC (Pro) CAC (His)
INICIAÇÃO
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ELONGAÇÃO
NOTA: A nova cadeia de RNA sintetizada que é complementar à cadeia molde (mas em vez de
T tem U).
TERMINAÇÃO
Inicia-se por paragens da RNA polimerase, sendo controlado por sequências específicas –
regiões de consenso, as quais são diferentes entre eucariotas e procariotas.
NOTA: Como podemos verificar a transcrição não acaba no final da cadeia de DNA mas sim
quando a região for rica em A e/ou T, embora o comprimento da cadeia seja importante para não
esgotar a célula energeticamente.
Estas modificações podem ocorrer em simultâneo. Por exemplo, o capping e o início do splicing
ocorrem tipicamente antes do transcrito primário estar completo.
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MODIFICAÇÕES DE PRÉ-mRNA
Capping do mRNA
Este processo ocorre logo após o início da transcrição e consiste numa ligação trifosfato entre a
extremidade 5’ do mRNA e um nucleótido alterado – são fundidas duas extremidades 5’ e forma-
se uma espécie de uma bola.
A estrutura criada protege o mRNA contra a ação de ribonucleases e fosfatases (contra a ação
de exonucleases), e promove a interação com complexos proteicos que processam e exportam
o mRNA para o citoplasma, e ainda formam ligação deste com os ribossomas.
Poliadenilação
NOTA: Alguns RNAs de procariotas também são poliadenilados, mas a cauda tem funções
diferentes.
Splicing
Este processo só ocorre nos eucariotas, pois o seu DNA está organizado na forma de
cromossomas e possui intrões e exões, ao passo que os procariotas não têm intrões.
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Os intrões geralmente têm um sinal para splicing: sequência inicial Pu (rica em A ou G) e uma
sequência final Py (rica em C ou U) – sequências consensus que ocorrem em todos os intrões
(GU---A---AG). Entre essas sequências forma-se o spliceosoma que é um grande complexo
(60S) de 5 snRNAs (U1, U2, U4, U5 e U6) e 100 proteínas associadas. Estes snRNAs contêm
sequências complementares às sequências do RNA envolvidas no splicing e conduzem a uma
reação enzimática na qual há quebra de ligações e formação de novas ligações.
Self-splicing: Caso em que a remoção dos intrões não envolve as proteínas (nem os snRNAs)
presentes no spliceosoma, pois o próprio mRNA tem atividade catalítica e excisa os intrões
espontaneamente. Temos de ter cuidado para esta situação não ocorrer no nosso recombinante.
Splicing alternativo: Um sinal de splicing pode ser mascarado por proteínas reguladoras,
resultando em splicing alternativo. Em casos raros o pré-mRNA pode conter vários sinais de
splicing ambíguos, resultando em vários mRNAs distintos alternativos.
Para “fazer” um ser humano são necessários 600 mil genes sendo que, no entanto,
funcionamos apenas com 20-25 mil genes. Isto é possível devido ao splicing alternativo
que permite formar várias proteínas a partir de um mesmo gene devido à excisão de
intrões não se efetuar sempre da mesma forma.
É um processo essencial à vida mas inconveniente em laboratório de Engenharia
Genética.
PROCESSAMENTO DE tRNAs
O tRNA corresponde a pequenas moléculas de RNA que transportam os anticodões que têm
sequências de 3 aminoácidos complementares aos codões (presentes no mRNA), transportando
o respetivo aminoácido ligado ao extremo 3’ – aminoacil-tRNA e transferindo-o para as posições
corretas nas cadeias polipeptídicas.
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Existem cerca de 20 aminoacil-tRNA sintetases diferentes, sendo que cada uma adiciona apenas
um dos 20 aminoácidos a um tRNA
Existe uma molécula que sintetiza vários tRNAs simultaneamente. Existe um RNA percursor com
múltiplas cópias para poupar energia à célula, ocorrendo hidrólises na extremidades 5’-P e
modificações diversas, como metilações. Estes tRNAs transcritos têm de adquirir forma.
Vai ser a enzima aminoácil-tRNA transferase que faz um reconhecimento do tRNA específico e
liga-o ao aminoácido correspondente. A regulação deste processo é controlada através do
processamento regular dos ribossomas.
PROCESSAMENTO DE rRNAs
O rRNA entra na síntese de ribossomas que é feita da seguinte forma: síntese de moléculas de
RNA, transporte para citoplasma (no caso dos eucariotas) e associação com proteína
ribossomais (Ls e Ss). Os RNAs transcritos resultantes são cadeias longas que têm de ser
cortadas em classes de tamanho apropriado (ex.: 18S, 23S, etc.).
Nos procariotas os ribossomas são 70S, com duas subunidades: 50S – que contém RNA
23S e 5S, além de 31 proteínas – e 30S – que contém RNA 16S e 21 proteínas.
Nos eucariotas os ribossomas são 80S, com duas subunidades: 60S – que contém RNA
28S, 5.8S e 5S, bem como 49 proteínas – e 40S – que contém RNA 18S e 33 proteínas.
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O percursor dos rRNAs tem duas cadeias, sendo que cada uma vai para cada subunidade do
ribossoma (não faz sentido ter nº diferente de subunidades grandes e pequenas – vamos ter o
mesmo número de RNAs da subunidade grande, pequena e dos pequenos ss).
A cadeia simples do RNA dobra-se sobre si mesma e forma dupla cadeia. Esta formação de
dupla cadeia funciona como um sinal que avisa que o RNA é para ser destruído.
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2. TRADUÇÃO
INICIAÇÃO
Esta é a etapa mais complexa do processo de tradução. Inicia-se pela associação de fatores de
iniciação à subunidade menor do ribossoma (com consumo de GTP), que se vão ligar à
extremidade 5’ do mRNA e procurar pelo codão de iniciação (AUG). Este codão codifica a
metionina (formil-metionina em procariotas), e por isso esse aminoácido será sempre o primeiro
em qualquer proteína.
Contudo, também existem codões AUG no meio da sequência e que, por isso, não são de
iniciação. Os procariotas e eucariotas têm diferentes mecanismos para distinguir entre o codão
de iniciação e codões internos à sequência.
Em eucariotas: o mecanismo ainda não é muito claro, mas pensa-se que o ribossoma
reconhece o capping – sequência análoga à Shine-Dalgarno, chamada sequência de
Kozak, embora sejam ambas sequências RBS – e faz um scanning até ao primeiro
codão AUG. Contudo, alguns mRNA virais são policistrónicos ou não têm 5’cap.
Se o codão AUG estiver muito afastado do capping o ribossoma não chega lá.
Contrariamente, se estiver muito perto o ribossoma pode não o reconhecer. Por
isto, em laboratório temos de ter cuidado para fazer o capping num local
adequado.
Como os genes são monocistrónicos apenas a 1ª proteína é expressa.
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ELONGAÇÃO
O ribossoma desloca-se ao longo da cadeia de mRNA no sentido 5’3’, fixando em cada etapa
um aminoacil-tRNA. Deste processo decorre um elevado gasto de energia.
NOTA: Em laboratório, devido à frequência de utilização dos codões ser diferente de organismo
para organismo, temos de adaptar a disponibilidade de aminoacil-tRNAs às células com que
trabalhamos.
É de notar ainda que para um tripleto originar sempre o mesmo aminoácido é preciso muita
energia por parte da célula por serem usados dois adaptadores – tRNAs aminoacil-transferases
exclusivas que permitem esta ligação exclusiva do mesmo aminoácido sempre ao mesmo codão
e ainda a ligação entre codão e anticodão.
Isto é geralmente assegurado pelo ribossoma e, quando falha, a sequência tem de ser
degradada.
O ribossoma vai garantir a hibridação codão-anticodão e verificar todas as ligações que,
caso não estejam corretas, vão ser eliminadas.
Embora os processos
requeiram muita energia, se
fornecermos energia em
demasia à célula esta cansa-se.
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TERMINAÇÃO
PROCESSAMENTO DE PROTEÍNAS
A proteína sintetizada na tradução não é funcional, sendo importante que adquiram a sua forma
e função e que sejam completadas com outras moléculas – as proteínas sofrem modificações
pós-traducionais.
As proteínas são sintetizadas no citoplasma e depois têm de ser transportadas para os locais da
célula apropriados, onde vão exercer a sua função. Ou seja, têm de sofrer uma deslocalização e
sair do seu local de síntese para o local de atuação. Este processo, contudo, pode ter algumas
consequências.
As proteínas têm alguns aminoácidos no terminal-N que funcionam como sinais que têm uma
sequência específica que direciona as proteínas. A sequência sinal chama-se KDEL e é: Lys-
Asp-Glu-Leu.
Tradução no Retículo
Nos eucariotas: algumas proteínas são feitas para integrar o lisossoma, a membrana celular ou
para serem excretadas da célula. Estas proteínas adquirem, durante a sua síntese no citoplasma,
uma região hidrofóbica – peptidosinal –, que torna a proteína instável no citoplasma e a qual é
depois reconhecida pelas proteínas SRP (também hidrofóbicas) que se ligam a ela.
As SRP (Signal Recognition Particle) ligam-se assim que as proteínas começam a ser
sintetizadas nos ribossomas livres do RER e param o processo de tradução, o que vai permitir
que as SRP sejam captadas pelos recetores de SRP existentes na membrana do RER.
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Nos procariotas: embora não possuam retículo endoplasmático nem complexo de Golgi, as
proteínas que vão incorporar a membrana celular ou ser excretadas também possuem o
péptidosinal, sendo reconhecidas diretamente por recetores da membrana celular.
No caso das Gram -, como têm duas membranas, as proteínas ainda têm um “passo
intermédio”.
No caso das Gram +, as proteínas só têm de transpor uma membrana.
ENROLAMENTO (“FOLDING”)
Para a proteína recém-sintetizada ser funcional é necessário que adquira uma estrutura
tridimensional correta, a qual é conseguida através de enrolamentos por auxílio de proteínas –
chapperones (chaperoninas no caso da E. coli) – as quais impedem foldings incorretos.
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Este processo é ainda auxiliado pelas proteínas de choque térmico HSP (proteínas expressas
para proteger outras proteínas aquando de um aumento de T, para elas não desnaturarem).
Estas proteínas HSP dependem do tipo de célula.
NOTA: Cada anticorpo é constituído por 4 cadeias (2 pequenas e 2 grandes) arranjadas de uma
maneira específica. Esta estrutura é conseguida apenas durante a sua síntese, sendo impossível
adquiri-la depois.
GLICOSILAÇÃO: Processo que ocorre logo assim que a proteína sai do RER, no qual se
adicionam sacarídeos às proteínas, originando proteínas de membrana. Esta modificação não
ocorre, contudo, em procariotas.
“SPLICING”: Processo no qual são removidos fragmento internos da proteína, sendo necessário
para que esta se torne funcional.
HIDRÓLISE
As proteínas depois de serem sintetizadas não duram para sempre, havendo uma altura no seu
“ciclo de vida” em que são degradas pela via da Ubiquitina/Proteassoma. Existem proteínas
que sofrem desnaturação e tornam-se instáveis, proteínas que já cumpriram a sua função e
deixam de ser necessárias ou proteínas que são estranhas ao organismo, sendo por isso
importante a sua degradação (em α-aminoácidos), e reutilização dos seus componentes.
Estas proteínas são identificadas por uma enzima que as marca, por ligação a ubiquitina, ficando
assim sinalizadas para serem posteriormente destruídas pelo proteassoma. O proteassoma é
um grande complexo constituído por proteínas com atividade de protéase e de ubiquitinação.
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Engenharia Genética F1
Nos procariotas o mRNA que se obtém é mais simples e por isso não necessita de
maturação, podendo ser traduzido assim que é transcrito. Por este motivo, e pelo facto de
ambos os processos ocorrem no mesmo compartimento (devido à ausência de membrana
nuclear), é possível que se façam em simultâneo, isto é, a tradução pode começar antes da
transcrição estar completa (isto não acontece nos eucariotas, pois os processos são
separados fisicamente).
Como não tem qualquer proteção, após a sua transcrição, o RNA pode começar a ser
degradado pelas nucleases.
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Engenharia Genética F1
Dizer que um gene é expresso significa que o gene está a ser transcrito e, no caso de codificar
proteínas, traduzido. Como já vimos, todos os mecanismos de preservação e expressão da
informação genética estão sujeitos a regulação. Apesar das células possuírem os mesmos genes
no seu genoma, estes são expressos de formas distintas, resultando na diferenciação celular.
É por este motivo que existem estratégias diferentes quando se quer fazer clonagem em
procariotas ou eucariotas, devido aos mecanismos de regulação.
NOTA: Na maioria dos genes, o principal ponto de controlo é o 2º, a nível da transcrição. Sendo
um ponto de controlo tão cedo na expressão genética, permite que a célula não dispense energia
e nutrientes desnecessariamente.
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Engenharia Genética F1
A NÍVEL DO GENE
METILAÇÃO
Quando o DNA está metilado a entrada da polimerase é mais difícil de ocorrer e por isso há
menos expressão. Este é um mecanismo de regulação que ocorre após a replicação.
A NÍVEL DA TRANSCRIÇÃO
ACETILAÇÃO
A acetilação traduz-se numa relação que ocorre entre uma histona e um ácido nucleico a qual
promove a ligação de fatores de transcrição, sendo que o grau de acetilação das histonas leva a
diferentes relações com os promotores.
Se o DNA estiver em forma C, a polimerase não consegue atuar e o gene não é usado. A
regulação a este nível é a mais significativa, embora pouco relevante na área da Engenharia
Genética, porque nunca se quer “não usar” um gene.
Consiste na degradação ou amplificação seletiva dos genes, não sendo um mecanismo normal.
Embora não tiremos partido da perda de genes (perde-se expressão genética), tiramos do ganho
de genes que leva ao aumento da expressão genética.
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Engenharia Genética F1
Rearranjo de genes
Inicialmente temos uma única célula com uma proteína reguladora que, por existir em pouca
quantidade, apenas uma das células-filha a vai herdar. Ao longo das sucessivas divisões
celulares vão surgindo outras proteínas reguladoras que podem interferir umas com as outras,
levando à expressão diferencial dos vários genes, tendo como consequência a formação de
diferentes tipos de células, com diferentes funções (neurónios, células do fígado, etc.). A
diferenciação celular é, então, um exemplo de consequência da expressão diferencial dos genes
por mecanismos de regulação.
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Engenharia Genética F1
Ex.: Se uma bactéria que se suicida quando produz uma proteína que nós queremos obter, temos
de atuar a nível da regulação para a fazer crescer sem proteína e começar a sintetiza-la só num
momento específico que queiramos (e aí pode morrer).
TRANSCRIÇÃO DIFERENCIAL
REGULAÇÃO EM TRANS
Os genes que codificam os fatores de regulação trans localizam-se numa molécula de DNA
diferente da qual em que atuam e por isso têm de migrar. Geralmente atuam sobre os fatores de
regulação cis.
No caso dos procariotas existem os operões e os genes são policistrónicos, enquanto nos
eucariotas isso não acontece. Na região promotora dos eucariotas há regiões que são alvo do
mesmo regulador, ou seja, vários genes são regulados pelo mesmo regulador, possibilitando
uma expressão coordenada dos mesmos.
Repressores/ Ativadores
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REGULAÇÃO EM CIS
Os genes que codificam os fatores de regulação cis localizam-se na mesma molécula de DNA
em que atuam. São exemplos destes fatores as regiões reguladores e promotoras dos genes,
que podem “ligar ou desligar” a expressão do gene.
Existem nos genes sequência de consenso que são sequências ideais no gene para
interação com proteínas de regulação (sejam elas fatores de transcrição ou fatores
sigma) que correspondem ao fatores de regulação trans.
Contrariamente aos eucariotas, nos procariotas o promotor é reconhecido pelo fator sigma,
da RNA polimerase.
NOTA: Podemos ver na imagem que a sequência codificante do gene é a parte a azul (que só
começará com o codão ATG), mas a transcrição inicia-se antes (em +1), numa região que
permite a ligação ao mRNA (região 5’-UTR), que embora depois não seja traduzida, é bastante
importante para a ligação aos ribossomas.
Os genes dos procariotas são maioritariamente policistrónicos (podem atuar vários ribossomas
simultaneamente e do mesmo gene podem surgir diferentes proteínas) e a sua regulação é feita
de forma conjugada por operões, sendo um processo mais simples e apenas a nível da
transcrição e da tradução.
Operões (cluster): controlam a expressão de vários genes (que não façam sentido ser
expressos uns sem os outros) – genes policistrónicos – de modo a que esta seja apenas
“ativada” quando o produto do gene é necessário à célula.
São constituídos por um gene promotor, um gene operador e os genes estruturais. A estes
liga-se um 4º gene, o gene regulador, que não faz parte da constituição do operão, mas funciona
em parceria com.
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Quando a concentração de lactose começa a baixar drasticamente, devido à ação catalítica das
enzimas, a lactose desliga-se do repressor, que, ao voltar à forma ativa, liga-se novamente ao
operador, bloqueando a transcrição do operão, garantindo uma poupança de recursos que não
são necessários na ausência de lactose.
É uma via catabólica em que há produção de energia, e os genes catabólicos são sempre
regulados pelos níveis energéticos, ou seja, pelos níveis de concentração de ATP e AMP
cíclico (que são inversamente proporcionais). Assim, como o aumento da glucose leva ao
aumento de ATP, na presença de muita glucose expressão dos genes é inibida porque há
demasiada energia.
NOTA: A célula precisa de um nível de energia elevado para expressar o recombinante, mas
se for muito elevado não o vai expressar porque não precisa. Por outro lado, se os níveis
forem muito baixos a célula definha. É por isto preciso encontrar um nível intermediário
adequado às condições experimentais em que trabalhamos.
A lactose funciona como um indutor, pois a sua presença ativa o operão. É também por isso
que se dá o nome de operão indutível.
Se houver tanto lactose como glucose no meio a bactéria não precisa degradar a lactose e por
isso a expressão dos genes não é ativada – há portanto um duplo controlo do operão lac:
Quando há glucose e lactose no meio, a CAP não se liga e por isso não há expressão.
Quando há glucose e não há lactose no meio, o operão está inativo porque há ligação
do repressor ao gene operador e ainda porque a CAP não se liga.
Quando não há nem glucose nem lactose no meio, a CAP liga-se mas também o
repressor se liga, pelo que continua sem haver expressão dos genes estruturais.
Quando não há glucose mas há lactose, há ligação da CAP e da RNA polimerase porque
o repressor é inativado pela lactose.
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Operão do triptofano
Desta forma, quando as concentrações intracelulares deste aminoácido são baixas, o repressor
inativo, não podendo ligar-se ao gene operador, vai deixar o operão ativo, permitindo a passagem
da RNA polimerase até aos genes estruturais e a produção das enzimas, levando, assim, ao
aumento da concentração de triptofano.
Como quando está no meio, o triptofano inibe a expressão dos genes estruturais deste
operão diz-se que faz uma regulação negativa.
A via anabólica consome energia, sendo uma via que está sempre ativa em contínua
síntese, e que só para quando não é necessária devido à presença excessiva do seu próprio
produto.
A expressão destes genes é constitutiva, ou seja, contante, sendo que o triptofano atua como
co-repressor.
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Nos eucariotas os tecidos têm de receber sinais extracelulares nos recetores da membrana para
que os mecanismos de regulação intracelulares a nível dos genes ocorram, sendo por isso a
regulação da expressão mais complexa do que nos procariontes, ocorrendo não só a nível da
transcrição e da tradução mas também em todos os níveis de processamento intermediário.
A imagem abaixo é alusiva a uma região promotora eucariótica (mais complexa e maior que a
procariótica), com várias regiões de sequências específicas (representadas a azul) que são
reconhecidas por proteínas de diferentes funcionalidades (círculos) que contribuem positiva ou
negativamente para a transcrição, induzindo ou reprimindo o processo, respetivamente – o
promotor é reconhecido por fatores de transcrição específicos (fatores de regulação trans).
A região promotora tem uma região core, uma região proximal (da core) e uma região distal.
Alguns promotores podem não ter a sequência TATA box, mas têm outras sequências
correspondentes.
Como podemos então perceber, a regulação dos promotores nos eucariotas é muito mais
complexa do que nos operões dos procariotas.
Enhancers e silenciadores
NOTA: Por vezes um elemento de DNA pode atuar como enhancer ou silenciador, dependendo
da proteína que se liga.
Promotor distal: foram encontrados nos vírus e proporcionam uma maior expressão
genética permitindo que o vírus, mesmo sendo um organismo estranho, consiga infetar 41
a célula-alvo. Contudo, a capacidade regulatória é menor que no promotor proximal.
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ESTABILIDADE DO mRNA
É um ponto crítico para a ocorrência ou não de expressão genética, uma vez que o mRNA é
rapidamente destruído se não for estável.
Para promover a estabilidade: caudas poli-A que permitem a ligação aos ribossomas.
Para promover a instabilidade: usa-se um antisenso que promove a destruição do mRNA
– RNA de interferência (iRNA), um dsRNA (RNA de dupla cadeia sintetizado na célula)
que suprime parcial ou totalmente a atividade de genes através de um processo que
depende da homologia de RNAs e sem haver participação de proteínas, tendo um papel-
chave em muito processos celulares essenciais. Este dsRNA transforma-se em
pequenos pedaços (siRNA) que corta o mRNA em pedaços que são depois degradados,
sendo impossível ocorrer tradução.
Quanto mais estável for o RNA mais ciclos de tradução pode ser submetido a, e mais
proteínas são formadas. Desta maneira, quanto maior o nível de nutrientes a célula tiver
disponível, maior serão os níveis energéticos (ATP) que permitem a formação de caudas
poli-A e, consequentemente, a estabilidade dos mRNAs.
No ciclo celular algumas células auto destroem-se – apoptose ou morte celular programada.
Este é um processo controlado que leva a que num determinado momento e condições celulares,
durante o desenvolvimento normal do organismo, determinada célula cometa suicídio.
O processamento e transporte do mRNA ocorre quer se tenha muito ou pouco RNA. Para sair
do núcleo para o citoplasma é preciso que o mRNA seja estável, o que não se verifica muitas
vezes, levando a uma grande quantidade de RNA que não sai para o citoplasma e nem valia a
pena ser transcrito.
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Edição de mRNAs
A sequência do mRNA vai depender do tecido onde se encontra, embora o gene de onde foi
transcrito seja igual em qualquer situação. Isto acontece devido à edição do mRNA na qual os
codões são alterados, passando a expressar um aminoácido diferente, um codão stop, etc..
Splicing alternativo
No entanto, sem intrões e sem splicing não ocorre processamento do mRNA e este não migra
(pelo menos não tão eficientemente) do núcleo para o citoplasma.
A NÍVEL DA TRADUÇÃO
A frequência da tradução é condicionada pela frequência dos codões mais usados e pela
concentração de mRNA disponível para o processo.
HIDRÓLISE: Proteínas que não são muito estáveis são destruídas (hidrolisadas) muito
facilmente, havendo várias proteínas assim nas células. Na área da recombinação genética
raramente as proteínas são estáveis porque não são próprias da célula em que são inseridas, e
por isso é necessário regular a este nível.
INDUÇÃO DA EXPRESSÃO
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CONCEITOS-BASE EM RESUMO
PRINCÍPIOS GERAIS
Expressão constitutiva: taxas de expressão constantes dos genes (ex.: operão trp).
Expressão modulada: taxas de expressão dos genes são reguladas.
TIPOS DE REGULAÇÃO
Elementos em cis: são dominantes e fazem uma regulação a nível das sequências de
DNA.
Elementos em trans: são recessivos e fazem uma regulação a nível dos RNAs ou
proteínas difusíveis.
ÂMBITO DA REGULAÇÃO
Global: estrutura da cromatina regula a expressão dos genes. Por exemplo, em mitose
e em meiose esta está condensada e não permite a ocorrência de transcrição.
Banda larga ou co-regulação: a regulação é ainda condicionada pelos níveis energéticos
da célula, ou seja, pelos níveis de ATP e AMP cíclico que são inversos. Por exemplo,
elevados níveis de AMP cíclico ou baixos níveis de ATP levam à ativação das vias
catabólicas para que haja produção de energia.
Banda estreita: regulação que é feita a genes individuais. Por exemplo, a concentração
de lactose e triptofano só vão influenciar os genes que se referem ao seu metabolismo.
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MODOS DE REGULAÇÃO
GENES
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VI - SISTEMAS BIOLÓGICOS
Na Engenharia Genética temos de começar com uma matéria-prima que vai ser o organismo que
queremos recombinar/ modificar – sendo esse o nosso sistema biológico –, e com um gene de
interesse que queremos exprimir nesse mesmo organismo. Para tal, é preciso estudar e
conhecer as tecnologias de recombinação que se apliquem ao organismo produtor e ao
recombinante em questão. Vamos ter ainda de fornecer a esse sistema biológico os nutrientes
necessários à sua sobrevivência que vão ser convertidos no nosso produto por parte dos
microrganismos.
Juntando todos estes conceitos básicos vamos desenvolver um sistema de produção do nosso
recombinante e ainda um sistema de extração e purificação do nosso produto.
Vamos então ver os organismos que podemos usar como sistemas biológicos num processo de
Engenharia Genética, os quais podem ser procariotas, eucariotas ou tecidos eucariotas.
PROCARIOTAS
E. COLI
Rápido crescimento
Não é patogénico, embora antigamente se considerasse o contrário pois, sendo
característica do intestino humano – é um organismo comensal do nosso corpo –, pode
provocar doenças e até a morte se migrar para outros locais do corpo. Atualmente só
poderá ser patogénico se houverem más práticas laboratoriais.
É aeróbio e por isso o rendimento energético é maior, mas também é anaeróbio
facultativo o que possibilita que a cultura continue viável em laboratório mesmo se
houver um erro, por exemplo, na agitação do meio (embora as células à superfície
cresçam mais por estarem a trabalhar em aerobiose, as do meio também crescem).
Cresce em meios de cultura de simples obtenção (complexos), que são mais fáceis
e baratos de obter.
Quando não se pode usar a E. coli (ex.: como não tem Complexo de Golgi nem RE não
conseguimos obter uma proteína glicosilada), geralmente recorre-se a leveduras ou células
animais.
Contudo, existem ainda outras bactérias passíveis de se usarem neste ramo da ciência, tais
como Bacillus, pseudomonas, rizóbios, estreptomices, etc., embora sejam mais difíceis de
manipular.
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EUCARIOTAS
SACCHAROMYCES CEREVISIAE
Embora venha em segundo relativamente à E. coli, esta levedura é a primeira opção eucariótica
a que se recorre quando não é possível a utilização da bactéria E. coli.
NOTA: As leveduras não fazem uma fermentação completa pois a partir de um teor de álcool
elas morrem, sendo este limite característico de cada levedura. É por isso que para diferentes
bebidas alcoólicas se utilizam diferentes leveduras. Fermentações que durem mais tempo
permitem a produção de mais álcool e o produto resultante fica mais ácido. Contrariamente, se
durar pouco tempo, a bebida fica mais doce.
Geralmente as S. cerevisiae resolvem o “problema” da E. coli, mas quando isso não acontece
precisamos de recorrer a outras leveduras ou a tecidos eucarióticos.
TECIDOS EUCARIÓTICOS
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CLONAGEM MOLECULAR
1) Identificar DNA que nos interessa para o processo e extraí-lo do organismo dador.
2) Fragmentar o DNA que queremos clonar, e cortar os plasmídeos a usar como vetor,
utilizando as mesmas enzimas de restrição, o que vai permitir compatibilidade de
extremidades. (são endonucleases que tornam o DNA em cadeia simples, formando
extremidades com cadeias específicas que vão ser complementares).
3) Devido à especificidade do corte é possível o emparelhamento por complementaridade
de bases entre o fragmento de DNA e o plasmídeo.
4) A ligação dos quatro extremos é feita pela enzima DNA ligase, obtendo-se assim um
novo plasmídeo recombinante.
5) O plasmídeo recombinante é introduzido numa bactéria hospedeira por transformação
(ou conjugação ou transdução) que o vai encarar como DNA plasmídico normal e replica-
o de igual forma como o resto do seu material genético, sendo assim possível criar
milhões de cópias desse plasmídeo (por hereditariedade, ou seja, as células-filhas
também o vão ter).
6) Selecionar os transformantes das células-filha que não ficaram com o plasmídeo por
erros na replicação, e preservação dos mesmos.
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ENZIMAS DE RESTRIÇÃO
Não são, como se possa pensar, um produto de laboratório, embora sejam de extrema
importância em Engenharia Genética!
As enzimas de restrição são endonucleases que existem nas bactérias como mecanismo de
defesa que as protege de agressões de outros DNAs externos, impedindo que estes a
transformem, sendo que cada bactéria tem a sua própria enzima de restrição. Estas atuam
restringindo/ cortando os ácidos nucleicos infeciosos.
G | AATTC
As enzimas de restrição cortam sempre num local específico de uma sequência específica, que
são próprios de cada enzima. Numa sequência de nucleótidos (sempre escrita na direção 5’3’)
pode-se representar o local do corte feito pela enzima de restrição de várias maneiras.
Vamos usar o exemplo da sequência utilizada acima, sendo que a enzima atua entre o nucleótido
G e os dois As – sequência e locais SEMPRE reconhecidos pela enzima Eco RI.
5′
𝐺 ↓ 𝐴𝐴𝑇𝑇𝐶 3′
𝐺: 𝐴𝐴𝑇𝑇𝐶
𝐺|𝐴𝐴𝑇𝑇𝐶
𝐺 𝑉 𝐴𝐴𝑇𝑇𝐶
NOTA: As enzimas de restrição cortam sempre as duas cadeias da molécula de DNA, fazendo
com que as extremidades fiquem em cadeias simples.
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Tipo I
Como não queremos as células modificadas não nos interessam nesta área.
Cortam o DNA de forma random a partir da sequência de reconhecimento.
Tipo II
Tipo III
Tipo IV
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Enzimas correlacionadas
Isosquizómeros: são enzimas que reconhecem a mesma sequência palindrómica mas uma
gera extremos cegos e outra gera extremos coesivos que, por isso, não são compatíveis.
Isocaudómeros: são enzimas que reconhecem sequências palindrómicas diferentes mas geram
extremos coesivos compatíveis que se ligam.
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MAPAS DE RESTRIÇÃO
Os mapas de restrição são uma compilação do número, ordem e distância entre os locais de
corte de uma enzima de restrição ao longo de um segmento de DNA clonado.
As unidades do mapa são expressas em pares de bases (ou para distâncias mais longas
em pares de kilobases).
Geralmente o mapeamento é a primeira etapa para caracterizar um DNA desconhecido.
Digestões simples: DNA digerido por apenas uma enzima de restrição. Faz-se uma
determinação relativa das orientações dos fragmentos no DNA linear.
Digestões múltiplas: DNA digerido por mais de uma enzima de restrição. Determinam-se as
posições dos fragmentos de DNA produzidos pelas enzimas por eletroforese.
Quando se faz uma digestão simples apenas se sabe em quantos fragmentos de DNA surgem
da digestão com um determinado enzima, o que corresponde com o nº de locais de atuação das
enzimas de restrição. Contudo, há diversas hipóteses dos locais de corte.
Se for um DNA circular e tiver apenas um local de corte, vai resultar num fragmento que
é o plasmídeo original.
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Para saber os locais de corte exatos tem-se de fazer uma múltipla digestão (neste caso dupla).
Com esta informação somos capazes de construir um mapa de restrição.
Annealing: as extremidades dos fragmentos de DNAs em cadeia simples unem-se numa ligação
fraca por pontes de hidrogénio.
Ligase: enzima que forma ligações fosfodiéster fortes entre os nucleótidos dos vários
fragmentos.
Fosfatase alcalina: enzima remove grupo fosfato da extremidade 5´ das moléculas de DNA.
DNase I: enzima que degrada DNA em dupla cadeia por hidrolisação interna das ligações
fosfodiéster.
E. coli exonuclease III: enzima que remove nucleótidos dos extremos 3’-OH de moléculas de
DNA.
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