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A IMPORTÂNCIA DAS EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS NA FORMULAÇÃO DE

RAÇÕES.
A formulação de rações sempre foi um problema de grande importância a ser resolvido
por aqueles que lidam na área da criação de animais, sejam eles de qualquer espécie.     Isto
porque suas exigências nutricionais devem ser atendidas para que os mesmos possam apresentar
um bom desempenho produtivo e reprodutivo. Contudo, apenas satisfazer tais exigências não é
o suficiente, deve-se procurar otimizar a utilização dos alimentos fornecidos, pois os mesmos
representam custos de produção aos criadores e sempre que possível devem ser minimizados.
Para um melhor conhecimento sobre a exigência nutricional alguns termos utilizados
com frequência no dia a dia devem ser definidos, conhecidos e entendidos. São eles:
Alimento: material que após ser ingerido é digerido, absorvido e utilizado, fornecendo
os nutrientes necessários para as atividades de manutenção, produção e reprodução dos animais.
Nutriente: compostos químicos que participam diretamente dos processos metabólicos,
são necessários ao organismo, atendendo às exigências para manutenção corporal, bem como
para produção. São fornecidos pelos alimentos.
Valor nutritivo: relacionado à capacidade de determinado alimento em fornecer as
substâncias nutritivas que sustentem o organismo.
Dieta: conjunto de alimentos, incluindo a quantidade respectiva, prescrita para uma
determinada categoria animal.
Ração: é a quantidade de uma determinada dieta fornecida diariamente para o animal.
Devemos tomar cuidado, pois geralmente chamamos concentrado de ração, e isto não é correto.
Ração balanceada: fornecimento de uma ração em quantidades necessárias para
atender as exigências nutricionais mínimas conhecidas para cada categoria animal, em função
da fase da vida em que este se encontra.
Ingrediente: qualquer matéria-prima que possa ser utilizada na composição de uma
dieta.
Exigência nutricional: Quantidade de cada nutriente, requerida por determinada
espécie e categoria animal, para sua boa manutenção, produção e reprodução eficientes.
Os alimentos disponíveis na natureza contêm os nutrientes que os animais necessitam
(proteínas, carboidratos, lipídeos, minerais, etc.) em diferentes proporções. Nenhum alimento
consegue por si só atender as exigências nutricionais. Balancear uma ração consiste em
encontrar a combinação adequada desses alimentos para que sejam fornecidas a quantidade e a
proporção de nutrientes que o animal necessita para se manter, para crescer, para engordar,
para produzir leite, para reproduzir e para o crescimento do feto (fêmeas).

Os nutrientes normalmente são usados numa ordem hierárquica para mantença,


reprodução, lactação e ganho de peso. A mantença tem prioridade sobre os nutrientes, desde
que a vida deve ser preservada. Ela é seguida pela reprodução ou a perpetuação das espécies.
Somente se os nutrientes estiverem presentes em quantidades superiores aos requerimentos,
eles podem ser armazenados como gordura ou usados para o ganho de peso
Em alguns sistemas (animais confinados), o homem tem completo controle sobre o tipo
e a proporção dos vários ingredientes da ração, e isto tende a facilitar o balanceamento de
dietas. Em contrapartida, em sistemas baseados a pasto, o balanceamento da dieta torna-se mais
difícil, devido à capacidade de seleção do animal, bem como à determinação incorreta da
quantidade ingerida. Desta forma, para aumentar a eficiência na formulação de dietas a partir de
cálculos matemáticos, manuais ou por computadores, deve-se atentar para aspectos relacionados
aos animais, aos alimentos e ao manejo realizado.
Para balancear uma dieta é importante conhecer os fatores que afetam a exigência
nutricional dos animais. Os mais importantes são: Raça; peso corporal; desempenho: produção
de leite ou ganho de peso; escore corporal; composição do leite (% de gordura); estádio de
lactação e reprodução; número de lactações.
A exigência nutricional dos animais é influenciada pelas características fisiológicas do
animal descritas acima, mas também pelos fatores ambientais (condições climáticas, quantidade
de lama, relevo das pastagens) e pelos fatores relacionados ao manejo (distância diária
percorrida, tipo de instalações).

Em geral, as exigências de todos os nutrientes são tanto maiores quanto mais pesado
for o animal. Isto quer dizer que para cada unidade de ganho de peso do animal em
crescimento, há uma exigência diferente.

Níveis de exigência nutricional

A exigência de mantença é basicamente uma função do PV do animal, da raça e do


ambiente. Quanto maior o peso, maior a mantença. Quanto à raça, diferenças na exigência de
mantença são bem visualizadas quando comparamos animais de origem zebuína e de origem
taurina.

Quanto ao ambiente, valores extremos de temperatura e umidade levam o animal a


aumentar sua exigência de mantença para realizar termorregulação. É importante levar isso
em consideração ao se utilizar raças pouco adaptadas ao clima tropical em regiões de altas
temperaturas e umidade. O ambiente interfere, também, no nível de atividade do animal,
principalmente na locomoção para pastejo, busca de água e de suplementos. A importância de
ponderar esta questão está no fato de que um maior nível de atividade aumenta as exigências
de energia para mantença, podendo afetar o desempenho animal.

A exigência de produção é dividida em: crescimento, gestação e lactação. Assume-se


que, para mantença, a energia seria usada com mesma eficiência, mas a energia metabolizável
ingerida acima da exigência para mantença, usada para produção, tem uma eficiência
diferente para cada um desses fins. São, portanto, assim divididas para atender animais com
diferentes objetivos de produção.

Exigência de energia:

Ruminantes:

No contexto de nutrição animal, utilizamos as unidades quilocaloria (kcal), que significa


1 mil calorias e megacaloria (Mcal), que significa 1 mil kcal, para normalmente expressar
teores de energia de alimentos e rações (kcal/ kg de alimento) e também as exigências de um
animal (kcal/dia). A unidade mais usual, contudo, são os nutrientes digestíveis totais (NDT).

O NDT é mais facilmente determinado quando comparado a outras medidas de


energia, tais como energia digestível, metabolizável ou líquida e, por isso, é a forma
comumente adotada. Na prática, alimentos concentrados têm maiores teores de NDT,
enquanto volumosos apresentam menores teores. Na terminação em confinamento, por
exemplo, as dietas normalmente têm conteúdo de energia mais alto, com uma inclusão maior
de grãos e coprodutos que tem maiores teores de NDT.
As concentrações de energia líquida de mantença (Elm) de ingredientes, rações,
forragens e suplementos são estimadas com base no NDT.

Exigência de proteína:

Assim como para a energia, a exigência de proteína de mantença é basicamente uma


função do peso. Também, no estabelecimento das exigências do animal, se considera a
manutenção do funcionamento do ambiente ruminal, de forma que se disponibilizem ao
menos as quantidades mínimas necessárias para manter o processo fermentativo dos
microrganismos ruminais e, consequentemente, o processo de degradação ruminal do
alimento ingerido. Novamente, isto tem destaque em condições de pastagem na época seca,
justificando o uso de suplementos proteinados. Em condições de crescimento, o nível na dieta
de proteína degradável no rúmen deve ser ajustado em função do seu teor de matéria
orgânica fermentável de forma a maximizar a produção de proteína microbiana de alto valor
biológico. Assim como para a energia, a exigência é uma função da curva de crescimento do
animal e de sua maturidade. Por isso, as exigências de proteína para crescimento são
específicas para raça, sexo (condição sexual) e idade.

Um exemplo é a exigência de proteína necessária para a manutenção do peso corporal


do animal. Parte desta proteína é reciclada diariamente e, como bovinos com maior peso têm
mais massa muscular, a reciclagem também é maior. Da mesma forma acontece para a energia
necessária, por exemplo, para manter as funções vitais do organismo. Isto explica em grande
parte o maior consumo de alimentos por animais mais pesados e, também, a maior
necessidade de áreas de pastagens para animais adultos quando comparados a animais jovens
em crescimento.

Uma novilha e um garrote, de mesma idade e mesma raça, podem ter exigências
diferentes de energia e proteína, por estarem em momentos diferentes de suas curvas de
crescimento e, consequentemente, composições diferentes do acréscimo corporal em
proteína e gordura. Isto explica, por exemplo, o ganho de peso de garrotes ser maior que o de
novilhas nas mesmas condições de pastagens. Além disso, uma vaca em lactação possui
exigências diferentes de uma vaca não lactante, já que a primeira necessita de nutrientes para
atender à sua manutenção e, também, à lactação.

Exigência nutricional de minerais:


O bovino tem necessidades diárias de macro e microminerais, sendo hoje 14 os
principais minerais considerados para a nutrição animal. Macrominerais exigidos
incluem cálcio, magnésio, fósforo, potássio, sódio, cloro e enxofre. Os microminerais
exigidos são cobalto, cobre, ferro, iodo, manganês, selênio e zinco e, segundo alguns
trabalhos, cromo, molibdênio e níquel. Os macrominerais estão presentes em maiores
quantidades no organismo dos bovinos, por isso são exigidos em quantidades superiores
em relação aos microminerais. Normalmente, as quantidades exigidas de 112
Exigências nutricionais, ingestão e crescimento de bovinos de corte macrominerais
variam de 0,1 a 1,0% (1 a 10 g/kg) da matéria seca, enquanto que um microelemento
mineral é exigido a níveis inferiores de 0,1% da matéria seca da dieta.
Assim como proteína e energia, as exigências são basicamente uma função do
peso vivo do animal e de seu nível de produção. Um importante conceito é a
biodisponibilidade dos minerais, fator que afeta a utilização do mineral fornecido em
função de sua fonte. Em geral, a biodisponibilidade é uma função da solubilidade da
fonte, de forma que quanto mais solúvel a fonte, mais biodisponível ela é. Outro
conceito é o da interação antagônica entre minerais, de forma que a biodisponibilidade
de alguns minerais é diminuída na presença de outros. Um exemplo é a diminuição na
biodisponibilidade de cobre em função da presença de molibdênio.
Consumo de nutrientes:
O consumo de matéria seca constitui o primeiro ponto determinante do ingresso
de nutrientes necessários ao atendimento das exigências de mantença e produção
animal, e, portanto, é considerado o parâmetro mais importante na avaliação de dietas
volumosas devido sua alta correlação com a produção animal nestas condições.
Limitações na ingestão de matéria seca representam o principal fato limitante à
produção animal. Desta forma, qualquer decréscimo no consumo de nutrientes tem
efeito significativo sobre a produção. Assim, o conhecimento dos fatores que limitam o
consumo de matéria seca é de grande importância para auxiliar na escolha do manejo
alimentar e, consequentemente, melhorar a utilização dos alimentos
De modo geral, a concentração de energia da dieta de suínos e aves é o principal
modulador de consumo de matéria seca, pois os animais tendem a cessarem o consumo quando
atende as suas demandas energéticas. Neste caso, um erro na estimativa da exigência nutricional
e consequentemente no balanceamento dos nutrientes de uma ração pode levar ao consumo
inadequado de matéria seca e de outros nutrientes, e, consequentemente, no desempenho
animal.

Aves e suínos não apresentam uma exigência específica para proteína. Eles
dependem dos aminoácidos contidos na ração. Os aminoácidos são classificados em
não-essenciais e essenciais. Aves e suínos são capazes de sintetizar alguns aminoácidos
e esses não precisam necessariamente ser supridos através das dietas, sendo
denominados aminoácidos não-essenciais. Outros aminoácidos esses animais não
conseguem sintetizar, ou, se conseguem, não o fazem na velocidade necessária para
suprir as exigências de crescimento e reprodução em níveis máximos. Estes
aminoácidos são denominados essenciais ou indispensáveis.
Quando a dieta é inadequada em algum dos aminoácidos essenciais, a síntese de
proteína não ocorre na velocidade obtida quando esse aminoácido está disponível em
níveis adequados, esse aminoácido é denominado de limitante. O principal aminoácido
limitante para suínos e a lisina, nesse caso, seu nível inadequado na ração irá
proporcionar redução na deposição de tecido muscular na carcaça. Da mesma forma em
aves, o principal aminoácido limitante é a lisina.
Em ruminantes o consumo de nutrientes pode ser influenciado por diversos fatores,
dentre eles fatores ligados a nutrientes presentes na dieta, como a fração fibrosa. O consumo de
alimentos pode ser limitado quando as dietas extrapolam o limite de 1,2% do peso de fibra em
detergente neutro. Essa hipótese é embasada no fato de que um aumento na ingestão de
alimentos é geralmente observado quando a digestibilidade dos volumosos é aumentada,
ou quando o tamanho das partículas é reduzido.
Ao consumir alimentos de baixa qualidade, ou seja, ricos em fibra, além do limite
físico do rúmen, o consumo pode ser prejudicado pela deficiência em proteína da ração. Dietas
desbalanceadas, com reduzida disponibilidade de nitrogênio, ou ricas em fibra detergente neutro
têm o suprimento de proteína degradada no rúmen (PDR) como fator limitante para o
crescimento microbiano, reduzindo a utilização da energia disponível no rúmen na forma de
ácidos graxos voláteis e prejudicando a atividade fermentativa do rúmen. Logo a taxa de
digestão da parede celular fica comprometida, e dessa forma, o material deixa lentamente o
rúmen, ocasionando redução na ingestão de alimentos. Assim, o uso de rações com percentual
de proteína inferior a 7%, pode levar a uma redução drástica no consumo de ruminantes.

Com vistas nas funções dos macro e microminerais, acredita-se que toda
deficiência mineral capaz de produzir alterações na saúde e no metabolismo do animal,
tende a interferir também, no desempenho produtivo e reprodutivo. Outro fator
importante no tocante a balanceamento adequado das quantidades de minerais presentes
na ração é com relação a suas interações. Pois o excesso de um mineral pode limitar a
utilização do outro. Normalmente, os minerais envolvidos em vários processos
metabólicos têm maior facilidade de se interrelacionarem do que aqueles que estão
envolvidos numa simples ou única função. Entre eles se destacam o cobre, o ferro, o
zinco e o selênio por serem íons polivalentes.
Alguns distúrbios metabólicos podem acontecer com o excesso ou déficit de nutrientes
em rações. Dentre eles destacam-se: laminites, acidose, paraqueratose, timpanismo, intoxicação
cúprica entre outros.

De uma maneira geral, a estimativa das exigências nutricionais e o consumo de matéria


seca representa o primeiro passo para a definição do balanço de nutrientese, conseuqnetmente,
da alimentação do rebanho. A importância do conhecimento das exigências nutricionais se dá
pelo fato de permitir a formulação de rações nutricionalmente equilibradas economicamente
viáveis, valendo ressaltar que os custos despendidos com a alimentação podem alcançar 70%
dos custos presentes numa propriedade. Assim, por sua vez, o balanceamento nutricional correto
das rações proporciona um consumo matéria seca adequado e favorece a viabilidade dos
sistemas de produção.

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