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Farmacologia

e Fitoterapia
PROFESSOR
Dr. Marcel Pereira Rangel

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
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Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula
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Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame

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Coordenador de Conteúdo Renato Castro da Silva Designer Educacional Ivana Martins Curadoria Katia Salvato Revisão
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FICHA CATALOGRÁFICA

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. RANGEL, Marcel Pereira

Farmacologia e Fitoterapia.Marcel Pereira Rangel. Maringá - PR:


Unicesumar, 2022.

224 P.
ISBN: 978-85-459-2192-9
“Graduação - EaD”.

1. Farmacologia 2. Gastrointestinal 3. Metabolismo. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 615.1

Impresso por:
Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria de Design Educacional

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A UniCesumar celebra mais de 30 anos de história
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade,
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos Tudo isso para honrarmos a
diariamente para que nossa educação à distância nossa missão, que é promover
continue como uma das melhores do Brasil. Atuamos a educação de qualidade nas
sobre quatro pilares que consolidam a visão diferentes áreas do conhecimento,
abrangente do que é o conhecimento para nós: o formando profissionais
intelectual, o profissional, o emocional e o espiritual. cidadãos que contribuam para o
desenvolvimento de uma sociedade
A nossa missão é a de “Promover a educação de
justa e solidária.
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade justa
e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um
gênio importante para o cumprimento integral desta
missão: o coletivo. São os nossos professores e
equipe que produzem a cada dia uma inovação, uma
transformação na forma de pensar e de aprender.
É assim que fazemos juntos um novo conhecimento
diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos como este


produzidos anualmente, com a distribuição de mais de
2 milhões de exemplares gratuitamente para nossos
acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos
EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta
Grossa e Corumbá, o que nos posiciona entre os 10
maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário Quintana
diz que “Livros não mudam o mundo, quem muda
o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as
pessoas”. Seja bem-vindo à oportunidade de fazer a
sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
Dr. Marcel Pereira Rangel

Eu, primeiramente, sou apaixonado pelo meu trabalho, sou certamente


aquelas pessoas que acordam de manhã felizes em trabalhar naquilo
que lhe satisfazem, e, além desta minha paixão pela docência, tenho
mais dois prazeres no meu dia a dia, minha família e esportes. A minha
família, atualmente, é formada, além de mim, pelo meu filho de 4 anos,
minha esposa e companheira por 15 anos e nossa pequena cachorrinha
que nos acompanha a 12 anos. Nós somos muito companheiros uns
dos outros e temos o costume de sempre estarmos juntos, quando
possível, aproveitar cada momento, fazer piquenique, andar de bicicleta
e viajar. Entendo que todo momento com as pessoas que te amam se
torna fundamental para a saúde em todos os aspectos. O esporte me
encontrou há muito tempo, sou uma pessoa extremamente ativa, gosto
de acordar 5h da manhã, e começar meu dia fazendo atividade, acredito
que o benefício, além de relacionado à saúde o bem-estar, é fundamental
para iniciar o dia, principalmente aqueles cheios de compromissos. Além
de praticar esportes, eu assisto qualquer jogo que esteja passando na
televisão, seja basquete, futebol, futebol americano, boxe etc. Enfim, eu
tenho uma vida corrida pelas exigências do trabalho e, ao mesmo tempo,
tranquila, porque, acredito que o segredo é você se desligar do trabalho
Aqui você pode quando pode e aproveitar os momentos ao lado das pessoas que ama.
conhecer um
pouco mais sobre Lattes: http://lattes.cnpq.br/0513665217265483
mim, além das
informações do
meu currículo.
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possibilidades de interação de cada objeto.

RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convidados, ampliando as discussões sobre os temas.

PÍLULA DE APRENDIZAGEM

Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Posicionando seu leitor de QRCode
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PENSANDO JUNTOS

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite


este momento.

EXPLORANDO IDEIAS

Com este elemento, você terá a oportunidade de explorar termos e palavras-chave do


assunto discutido, de forma mais objetiva.

EU INDICO

Enquanto estuda, você pode acessar conteúdos online que ampliaram a discussão sobre
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FARMACOLOGIA E FITOTERAPIA

O estudo de plantas com ação farmacológica no organismo é um processo antigo e a humanidade foi aprendendo
a selecionar seus constituintes tanto para alimentação quanto para curar os males e doenças. Assim, alguns povos,
como egípcios e mesopotâmicos, dominaram a arte da medicina fitoterápica, evoluindo no processo de cura x doenças.
A Fitoterapia constitui uma forma de terapia medicinal que vem crescendo notadamente nestes últimos anos, ao
ponto que, atualmente, o mercado mundial de fitoterápicos gira em torno de, aproximadamente, 22 bilhões de dóla-
res. Atentos a isso, a indústria farmacêutica investiu neste tipo de comércio, tanto que um estudo da FDA (Food and
Drugs Administration) mostrou que 50% dos medicamentos aprovados entre 1981 e 2006 são direta ou indiretamente
derivados de produtos naturais. Mesmo que a nova entidade química não passe em todos os testes clínicos, ela servirá
de modelo para a síntese de novos candidatos a fármaco.
Dentro desta perspectiva, o Brasil é um país privilegiado, considerando sua extensa e diversificada flora, detendo
aproximadamente um terço da flora mundial, assim, existe no país um grande número de grupos de pesquisa que tem
contribuído significativamente para o desenvolvimento da química de produtos naturais de plantas, a quimiotaxonomia,
a farmacologia de produtos naturais e outras áreas relacionadas.
É fundamental destacar que a falta de acesso ao medicamento é um dos fatores associados, muitas vezes, à
utilização dos fitoterápicos. Entretanto, é importante destacar que o uso deste tipo de composto deve ser respaldado
por um profissional habilitado e, além disso, a produção dos compostos é complexa envolvendo desde o plantio,
colheita, extração e produção final.
Outro ponto importante a se destacar é a falsa crença que pode ocorrer, muitas vezes, pelas pessoas, de que,
por se constituir de um medicamento fitoterápico à base de produtos naturais, não desenvolva efeitos adversos ou
toxicológicos na população. Deste modo, a garantia da eficácia e de todos os processos desde a extração até a comer-
cialização são imprescindíveis para eficácia do produto final disponibilizado à população. Neste aspecto, o ministério
da Saúde atento às demandas e necessidades populacionais, aprovou mais de 60 compostos medicinais a base de
plantas, dos quais a maioria é de uso popular a muitos anos, e agora, passam por uma maior fiscalização desde a sua
extração até comercio final.
Portanto, nota-se que a farmacologia relacionada à fitoterapia possui inúmeras interfaces, que envolvem um
processo interdisciplinar, multidisciplinar e interinstitucional, relacionando diversas áreas de conhecimento que vão
desde a antropologia botânica, fitoquímica, farmacologia, toxicologia, biotecnologia, química orgânica até a tecnologia
farmacêutica e aspectos nutricionais, com objetivo final para o desenvolvimento de fitoterápicos.
Neste contexto, o profissional nutricionista foi contemplado pelas Resoluções do Conselho Federal de Nutrição (CFN)
525/20131 e CFN 556/20152, onde regulamentam a prática da Fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competên-
cia para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais e chás medicinais e medicamentos, produtos
tradicionais e preparações magistrais de fitoterápicos como complemento da prescrição dietética. Essa atribuição é
permitida aos profissionais nutricionista com Título de especialista outorgado pela Associação Brasileira de Nutrição
(ASBRAN) ou Certificado, devidamente registrado do CRN, de pós-graduação Lato Sensu com ênfase em Fitoterapia.
Você consegue imaginar a importância da fitoterapia para a humanidade ao longo dos anos? E na sua vida? Ou,
já parou para pensar como seria o tratamento das doenças ou complicações clínicas sem que pudéssemos utilizar
plantas ou seus derivados no desenvolvimento de medicamentos? Isso causaria limitação ou impacto nos tratamentos
dos pacientes? Também já pensou como elas são extraídas e se apresentam algum tipo de malefício no seu uso? Difícil
pensar que todos esses assuntos estão interligados e conectados, certo?
Mesmo que não pareça, muito antes do produto final chegar à população, todo processo de extração, análise far-
macológica, interação e toxicidade são analisadas e testadas para que o produto final seja utilizado como tratamento
em alguma situação. Isso demonstra a importância da utilização de compostos a base de plantas no desenvolvimento
dos medicamentos, constituindo, assim, a base da farmacologia moderna.
No estudo deste livro, iremos caminhar por esse complexo caminho, que envolve desde a análise básica dos métodos
extrativos até o possível potencial terapêutico ou tóxico da planta, portanto, será fundamental o entendimento da comple-
xidade do assunto, para isso, estar atualizado dos principais descritores relacionados ao assunto é imprescindível, desse
modo, faça uma pequena busca de medicamentos à base de plantas, para isso você pode utilizar palavras como: fitoterapia,
nutracêuticos e farmacognosia. Após essa pequena busca, realize uma reflexão descritiva ou não sobre a importância do
estudo das plantas e seus compostos atualmente e tente relacionar a sua vida e como este livro irá lhe auxiliar.
Vamos tentar mergulhar no assunto, experimente pensar em você em contato com a natureza, uma floresta, um campo
repleto de flores e folhas. Em algum momento você pensou que esse seria o cenário ideal para descobrir um novo com-
posto, capaz, talvez, de ser a chave para o tratamento de uma doença? Não seria maravilhoso? Para isso, você precisará
ter noções básicas de como extrair o produto essencial para formulação do seu composto, além disso pesquisar sobre as
análises farmacológicas (farmacocinética e farmacodinâmica), além de toxicológicas (toxicocinética e toxicodinâmica) e, a
partir destes questionamentos, você deveria se perguntar “eu saberia resolver todas essas questões”? Saberia o melhor
método de extração? Quais testes foram utilizados para avaliar o efeito? Como avaliar a toxicidade? Qual melhor grupo de
estudo? Qual melhor planta? Folhas? Flores? E talvez, após estes questionamentos, você chegará a uma conclusão de que
todo seu conhecimento prévio é imprescindível para o sucesso de seu desenvolvimento profissional. Deste modo, vale
a pena uma pequena autorreflexão antes do início da nossa jornada, “Como eu me sairia neste cenário?” Eu conseguiria
resolver todas estas questões? Teria facilidade? Dificuldade? Onde eu ficaria com mais perguntas a serem respondidas?
Para isso, utilize seu Diário de Bordo respondendo brevemente esses questionamentos, lembrando que todos estes temas
serão abordados em toda esta unidade, com objetivo de lhe auxiliar nestas respostas.
Agora que você já teve uma breve experiência sobre a temática deste livro, que tal se fizéssemos um breve desafio,
vá até uma farmácia ou qualquer loja que comercialize produtos à base de plantas e analise quais medicamentos você
irá encontrar com a formulação que contenha planta ou seus derivados. Após essa breve imersão, faça uma breve busca
para quais doenças ou condições são utilizados, como foram formulados, extraídos e, o mais importante, como saber
se são confiáveis. Após essa breve imersão, vá até uma farmácia e analise quais destes medicamentos estão disponíveis.
O que acha de colocar tudo no papel? Pegue os conceitos apresentados que, primeiramente, veem em sua mente, e
depois tente relacioná-los com intuito de formular o conteúdo, nós chamamos isso de brainstorming, ferramenta imprescin-
dível na construção do conhecimento, e fique tranquilo se inicialmente suas considerações forem superficiais, é exatamente
por isso que você está iniciando essa jornada junto conosco e verá que, ao longo do módulo, iremos propor diversos
tipos de avaliações com objetivo de fixar e que você tenha a melhor compreensão possível do conteúdo apresentado.
1
11 2
37
PRINCÍPIOS BÁSICOS FÁRMACOS QUE
DA FARMACOLOGIA ATUAM NO TRATO
GASTROINTESTINAL

3
57 4
81
FÁRMACOS QUE FARMACOLOGIA
ATUAM NO HORMONAL
METABOLISMO
GLICÊMICO E
LIPÍDICO

5 105 6
127
FÁRMACOS QUE FÁRMACOS QUE
ATUAM NA OBESI- ATUAM NOS
DADE - FÁRMACOS E DISTÚRBIOS COM-
SUBSTÂNCIAS PORTAMENTAIS
RELACIONADAS AO ATIVADORES E DE-
ESTILO DE VIDA E PRESSORES DO
ESPORTE SISTEMA NERVOSO
7 8
151 171
MÉTODOS DE PRINCÍPIOS BÁSICOS
EXTRAÇÃO E PRO- DA TOXICIDADE
DUTOS NATURAIS

9
191
INTERAÇÃO MEDICAMENTOS
X PLANTAS E INTERAÇÃO
ALIMENTAR X PLANTAS
1
Princípios Básicos da
Farmacologia
Dr. Marcel Pereira Rangel

Neste capítulo, você será convidado a uma imersão no mundo da


farmacologia, onde todos os parâmetros importantes para que o
fármaco tenha sucesso no organismo sejam traçados e vencidos.
Para isso, devemos iniciar uma longa jornada por meio dos conceitos
básicos que fundamentam a farmacologia. Vamos lá?
UNICESUMAR

Quando você toma algum medicamento, já pensou como ele caminha dentro do organismo para fazer
efeito? Pense, você está com dor de cabeça, e toma um comprimido para tal. Como aquele composto
que você engole sabe onde está a dor? Ou a inflamação? Muito interessante, não é mesmo? Todas
estas etapas do caminho do medicamento até seu efeito e eliminação serão abordadas neste capítulo.
Os caminhos do medicamento desde sua administração, seu efeito e sua eliminação são denominados
Farmacocinética e Farmacodinâmica. Estes estudos garantem que o composto ativo seja absorvido,
faça seu efeito e seja prontamente eliminado do organismo, minimizando a probabilidade de provocar
efeitos adversos, e a partir destes estudos são definidas como será a via de administração e formulação
do composto. O estudo dos processos farmacocinéticos e farmacodinâmicos do fármaco correspondem
a um processo demorado, que pode levar até 2 anos para serem finalizados, dependendo da comple-
xidade estrutural do fármaco. Esse processo deve ser bem detalhado, uma vez que ele determinará
qual via de administração do medicamento, como ele será eliminado, onde realizará o efeito e quais os
possíveis efeitos adversos o medicamento pode causar, assim, todas as análises devem ser bem feitas e
o conhecimento dos processos deve ser compreendido na sua integridade. Portanto, conhecer todos
os processos, suas etapas e suas variações são fundamentais para melhor compreensão do capítulo.
Para aplicarmos, veja em sua casa, com amigos ou no trabalho, quais formulações (gotas, compri-
midos, aerossóis) de um mesmo medicamento estão disponíveis e perceba que, para alguns, temos
apresentações em muitas formas farmacêuticas, e outros, somente em uma, e pergunte-se por quê?
Pense um pouco no que acabamos de acordar, não seria mais fácil e prático se você pudesse escolher
como tomar o seu medicamento? Por que antes ou durante a refeição? De 8 em 8 ou de 12 em 12 horas?
Ou “em gotas” e não comprimido? Pensando nisso, você pode, primeiramente, se perguntar: como isso
é definido? E para tentar responder a essas questões, deve-se pensar no medicamento antes mesmo
dele ser comercializado, ou seja, no seu desenvolvimento, uma vez que, durante este processo, uma das
etapas mais importantes baseia-se no estudo em que se avalia qual a melhor via de administração do
medicamento, e após esta decisão, outras pesquisas relacionadas a sua efetividade, toxicidade, efeitos
adversos e vias de eliminação são definidas. Somente após todos estes testes, em células e em animais,
chamada fase pré-clínica, o composto está apto para testar sua segurança e eficácia em seres humanos,
e isso leva em torno de 5 a 10 anos. Você pensava que esse processo era tão complexo assim? Sem
problemas, este capítulo irá auxiliar no seu entendimento sobre os processos de absorção, metaboli-
zação, degradação e efeito dos princípios ativos, sejam de origem sintética ou natural. Para melhor
compreensão, que tal uma pequena dinâmica? Faça um brainstorming do assunto, ou seja, coloque em
um papel tudo o que você conhece sobre os princípios farmacocinéticos e farmacodinâmicos, guarde e
compare o seu conhecimento inicial com o conhecimento que você adquiriu após este módulo acabar.

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UNIDADE 1

A farmacologia é um estudo multidisciplinar e sua compreensão intriga a humanidade há milhares


de anos, quando se utilizava compostos de origem natural com finalidade terapêutica. Além disso, as
influências sociais e econômicas se relacionam à farmacologia no âmbito de viabilizar políticas públicas
que melhor atendam à população (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Ciência que nasceu em meados do século XIX, uma das muitas novas ciências baseadas nos prin-
cípios da experimentação, entretanto, muito antes disso, desde os primórdios da civilização, remédios
à base de ervas foram amplamente utilizados, farmacopeias foram escritas e o mercado dos boticários
floresceu (GOLAN et al., 2014). Os povos pré-históricos, indiscutivelmente, reconheciam os efeitos
benéficos ou tóxicos de muitas matérias vegetais e animais. Registros escritos iniciais listam remédios
de muitos tipos, inclusive uns poucos que ainda são reconhecidos como fármacos úteis até os dias
de hoje. As últimas três décadas tem mostrado um crescimento ainda mais rápido de informações e
compreensão da base molecular para ação de fármacos (KATZUNG; GRAW, 2013).
PRINCÍPIOS GERAIS DA FARMACOLOGIA - O que é um fármaco? Fármaco pode ser
definido como uma substância química de estrutura conhecida, que não seja um nutriente ou um in-
grediente essencial da dieta, o qual produz um efeito biológico quando administrado a um organismo
vivo. De origem química ou obtido a partir de plantas ou animais, um medicamento é uma preparação
química que, geralmente (mas não exclusivamente) contém um ou diversos fármacos associados a
outras substâncias, como: excipientes, conservantes, solventes etc. (RANG; DALE, 2016).
Na maioria dos casos, a molécula do fármaco interage como um agonista (ativador) ou antagonista
(inibidor) com uma molécula específica no sistema biológico que desempenha uma função reguladora
ou seu mecanismo de ação e, finalmente, após desempenhar sua função, deve ser inativado ou excre-
tado do corpo em uma velocidade razoável, de modo que suas ações tenham a duração apropriada e
não provoquem efeitos indesejáveis (KATZUNG; GRAW, 2013).
Interações fármaco x corpo - Estas interações são divididas em duas classes: quando se referem-
-se às ações do corpo sobre o fármaco são denominados processos farmacocinéticos e farmacodi-
nâmicos. O estudo farmacocinético é de grande importância, principalmente na escolha da via de
administração e potencial tóxico ao organismo. Já quando se refere às ações do fármaco no corpo, são
denominados processos farmacodinâmicos, propriedades relacionadas à interação do fármaco ao
seu receptor. Estas etapas estão representadas na Figura 1, e nos parágrafos seguintes há uma breve
introdução à farmacodinâmica e à farmacocinética (KATZUNG; GRAW, 2013).
FARMACOCINÉTICA - é fundamentada no estudo do “caminho” do fármaco no organismo
após sua administração, avaliando a duração e intensidade da ação. Os caminhos farmacocinéticos
(absorção, distribuição, biotransformação e eliminação), estão representados na figura 1 (WHALEN;
PANAVELIL; FINKEL, 2016).

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UNICESUMAR

Farmacocinética Farmacodinâmica

Absorção
Distribuição
A
D
M Atividade
E
Metabolismo
Excreção

Figura 1. Representação dos passos farmacocinéticos e farmacodinâmicos


Fonte: adaptada de Wikimedia Commnons (2020, on-line).

Descrição da Imagem: na imagem é possível visualizar o desenho de um corpo dividido em dois momentos, do lado esquerdo da
imagem as fases da farmacocinética estão escritas em preto (Absorção, Distribuição, Metabolização e Excreção). Ainda do lado esquer-
do, no canto superior, está escrito (Farmacocinética), abaixo há um triângulo amarelo, uma flecha preta sai desse triângulo e entra no
corpo pelo pescoço e vai até outro triângulo desenhado no centro do corpo, próximo a região do umbigo, desse triângulo no centro
saem quatro flechas, três verdes e uma preta, a primeira flecha verde sai do triângulo e vai até o crânio indicando uma bolinha verde,
a segunda flecha verde sai do triângulo central e vai até o ombro direito indicando uma bolinha verde, a terceira flecha verde sai do
triângulo central e vai até o quadril do lado direito indicando também uma bolinha verde, por último, a quarta flecha, na cor preta, sai do
triângulo central e indica outro triângulo fora do corpo na cor cinza, na parte inferior da imagem. No lado direito da imagem, no canto
superior, está escrito (Farmacodinâmica) e no centro da imagem, abaixo do braço do desenho está escrito (Atividade), ambos na cor verde.

Novos fármacos são planejados e testados em formas posológicas distintas e administrados por uma
via específica. Deste modo, o sucesso do tratamento farmacológico envolve muitos fatores, dentre
eles wa escolha correta da via pela qual o medicamento será administrado (GOLAN et al., 2014).
Assim, quando se determina a via de administração a ser utilizada, de certo modo, define-se também
a superfície a qual o fármaco terá que ultrapassar para que seja distribuído na circulação até a chegada
ao órgão alvo (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016). As vias de administração são escolhidas
para tirar proveito das moléculas de transporte e de outros mecanismos que possibilitem a entrada
do fármaco nos tecidos corporais (GOLAN et al., 2014). A via de administração é determinada,
primariamente, pelas propriedades do fármaco (p. ex., hidro ou lipossolubilidade, ionização) e pelos
objetivos terapêuticos (p. ex., necessidade de um início rápido de ação, necessidade de tratamento
por longo tempo ou restrição de acesso a um local específico). As vias principais de administração

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UNIDADE 1

de fármacos incluem a enteral, parenteral e a tópica (PENILDON, 2010).


ENTERAL - constitui modo mais seguro, comum, conveniente e econômico de administrar os
fármacos apresentando a absorção direta na circulação sanguínea. Atualmente, são divididas em via
oral, ou pode ser colocado sob a língua (sublingual) ou entre a bochecha e a gengiva (bucal). (PENIL-
DON, 2010).
ORAL: vantagens: possui diversas apresentações (gotas, comprimidos, cápsulas, liberação pro-
longada), sendo de autoadministração, deglutição têm menos tendência do que outros métodos a
causar infecções sistêmicas, como complicação do tratamento; e, em caso de intoxicação, o processo
é facilmente neutralizado com carvão ativado. Desvantagens: sofre interferência direta do pH esto-
macal e intestinal, inibindo ou diminuindo a absorção do fármaco (GOLAN et al., 2014; WHALEN;
PANAVELIL; FINKEL, 2016).
PARENTERAL - consiste na introdução direta do fármaco na circulação sistêmica, líquido cefalor-
raquidiano ou em outro espaço tecidual, tendo como resultado o início de ação imediata, uma vez que
as barreiras corporais já foram superadas. Apresenta desvantagem em relação à necessidade de admi-
nistração somente por profissional habilitado e aumento no potencial tóxico do fármaco, em virtude da
velocidade de ação rápida. A Figura 2 elucida a divisão das vias de administração (GOLAN et al., 2014).

Tipos de Injeções/Administrações

Intramuscular Subcutânea

Intravenosa

Intradérmica

Figura 2 - Representação dos tipos de vias parenterais, bem como seus níveis de profundidade na pele.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta as maneiras de aplicar medicamento pela via injetável. Na parte superior da imagem, no
centro, está escrito “Tipos de Injeção”. No lado direito, na parte inferior, há o desenho de um quadrado representando as camadas da
pele. Na parte superior do quadrado na cor marrom clara, no centro, há um pelo na cor preta. No lado esquerdo do quadrado estão
descritas as camadas da pele, começando, na parte superior, epiderme, abaixo a derme, abaixo o tecido subcutâneo e por último o
músculo. Na parte superior da imagem, sobre o quadrado, há uma seringa com sua agulha que penetra todas as camadas até chegar
no músculo, acima dessa seringa está escrito “Intramuscular”. No lado direito do quadrado, na parte mais central da imagem, há outra
seringa com agulha que penetra as camadas até chegar no tecido subcutâneo, acima dessa seringa está escrito “Subcutânea”. No lado
direito do quadrado, logo abaixo da seringa anterior, há outra seringa com agulha que penetra a epiderme e a derme até chegar ao vaso
sanguíneo, acima dessa seringa, do lado direito da imagem, está escrito “Intravenosa”. No lado direito da imagem, na lateral direita do
quadrado, há outra seringa com agulha que penetra a derme, no canto esquerdo da imagem, atrás da seringa está escrito “Intradérmica”.

15
UNICESUMAR

Intravenosa (IV): útil para fármacos que não são absorvidos por via oral, permite um efeito rápido e
um grau de controle máximo sobre a quantidade de fármaco administrada. Vantajosa para fármacos
que podem causar irritação quando administrados por outras vias, porque o fármaco se dilui no sangue
rapidamente. Entretanto, pode precipitar constituintes do sangue, causar hemólise ou outras reações
adversas se for introduzida muito rapidamente ou se alcançar concentrações elevadas.
Intramuscular (IM): fármacos administrados estão em soluções aquosas, que são absorvidas ra-
pidamente, ou em preparações especializadas de depósito, que são absorvidas lentamente. À medida
que o veículo se difunde para fora do músculo, o fármaco se precipita no local da injeção.
Subcutânea (SC): oferece absorção por difusão simples e é mais lenta do que a via IV. A injeção
SC minimiza os riscos de hemólise ou trombose associados à injeção IV e pode proporcionar efeitos
lentos, constantes e prolongados. Esta via não deve ser usada com fármacos que causam irritação
tissular, porque pode ocorrer dor intensa e necrose. Fármacos administrados comumente por via SC
incluem insulina e heparina (RANG; DALE, 2016).
Outras:
Inalação oral: as vias inalatórias oral e nasal (ver adiante) asseguram a rápida oferta do fármaco
por meio da ampla superfície.
Tópica: a aplicação tópica é usada quando se deseja um efeito local do fármaco, ou seja, aplicado
diretamente na pele para o tratamento.
Transdérmica: essa via de administração proporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco
na pele, em geral, por meio de um adesivo cutâneo. A velocidade de absorção pode variar de modo
acentuado, dependendo das características físicas da pele no local da aplicação e da lipossolubilidade
do fármaco.
Retal: Como 50% da drenagem da região retal não passa pela circulação portal, a biotransformação
dos fármacos pelo fígado é minimizada com o uso desta via. A vantagem adicional da via retal é evitar
a destruição do fármaco no ambiente Trato Gastrointestinal (TGI). Ela também é útil se o fármaco
provoca êmese (vômito), quando administrado por via oral, ou se o paciente já se encontra vomitando
ou se está inconsciente (RANG; DALE, 2016; KATZUNG; GRAW, 2013).

FASES FARMACOCINÉTICAS

ABSORÇÃO - é a transferência de um fármaco do seu local de administração para a corrente san-


guínea. O tegumento humano apresenta uma camada externa queratinizada no epitélio com objetivo
de defesa do organismo contra a invasão de microrganismos, entretanto, essas barreiras constituem
uma limitação ao processo de absorção de fármacos e podem limitar sua chegada a certos órgãos-alvo.
A velocidade e a eficiência da absorção dependem do ambiente onde o fármaco é absorvido, das suas
características químicas e da via de administração (o que influencia sua biodisponibilidade). Exce-
tuando a via IV, as demais podem resultar em absorção parcial e menor biodisponibilidade (GOLAN
et al., 2014; GOODMAN; GILMAN, 2012).

16
UNIDADE 1

Figura 3 - A administração do fármaco pela via oral e sua passagem pelo sistema digestório

Descrição da Imagem: A imagem apresenta, ao centro, uma mão com 5 tipos de comprimidos, sendo uma cápsula azul claro e escura,
um comprimido vermelho, um verde, um amarelo e um azul. Ao lado da mão, do lado esquerdo, temos um comprimido (preto e amarelo)
grande acenando para o leitor com a mão direita e um grande sorriso mostrando os dentes. No canto superior esquerdo da imagem, há
um copo azul com água até sua metade, ao lado uma figura representando paciente em amarelo observado o medicamento a sua mão,
um pouco abaixo, o paciente agora em verde, está tomando o copo de água, acima desta imagem, temos um copo azul com três tipos
de medicamentos: um comprimido amarelo, uma capsula azul clara e um comprimido vermelho. E por fim, aparece a última descrição
do paciente em rosa, este, aparece de lado, com trajeto da boca até o estômago onde é observado os medicamentos dentro do órgão
representado por um comprimido azul e duas cápsulas, uma rosa escura e claro e outra azul escuro e claro.

Mecanismos de absorção de fármacos a partir do TGI - constitui modo mais seguro, comum,
conveniente e econômico de administrar os fármacos apresentando a absorção direta na circulação san-
guínea. Atualmente, são divididos em via oral (Figura 3), sob a língua (sublingual) ou entre a bochecha
e a gengiva (bucal) (GOODMAN; GILMAN, 2012; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Dependendo das propriedades químicas, os fármacos podem ser absorvidos do trato gastroin-
testinal por difusão passiva, difusão facilitada, transporte ativo ou endocitose. Veículos de fármacos
podem ser muito importantes em facilitar o transporte e a permeação, por encapsular o agente ativo
em lipossomos e regular a liberação, como em preparados de liberação lenta, representados na Figura
4. Métodos mais novos de facilitar o transporte de fármacos por seu acoplamento a nanopartículas
estão sendo pesquisados (KATZUNG; GRAW, 2013; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

17
UNICESUMAR

Difusão passiva: o fármaco se move da região mais concentrada para


a menos concentrada, este tipo de transporte é utilizado pela maioria
dos fármacos. Nota-se que compostos hidrossolúveis atravessam as
membranas celulares através de canais/poros aquosos, e os lipossolú-
veis movem-se facilmente através das membranas biológicas, em função
da sua solubilidade da bicamada lipídica.
Difusão facilitada: transporte de moléculas grandes com alto peso
molecular que somente é possível pela presença de proteínas transpor-
tadoras. Transporte que não necessita de energia, entretanto, pode ser
saturado ou inibido por compostos que competem pelo transportador.
Transporte ativo: transporte que também envolve transportadores
proteicos específicos que atravessam a membrana. Poucos fármacos
cujas estruturas se assemelham às de metabólitos de ocorrência natural
são transportados através da membrana celular usando esses trans-
portadores proteicos específicos (GOODMAN; GILMAN, 2012; WHALEN;
PANAVELIL; FINKEL, 2016; GOLAN et al., 2014).

18
UNIDADE 1

TRANSPORTE PASSIVO TRANSPORTE ATIVO

Difusão Difusão Facilitada


Baixa/ Alta concentração
Alta concentração Alta concentração do Gradiente
do Gradiente do Gradiente

Baixa concentração Baixa concentração


Alta/ Baixa concentração
do Gradiente do Gradiente
do Gradiente

Figura 4 - Representação dos tipos de transportes utilizados pelos fármacos

Descrição da Imagem: a imagem representa um tecido e seus receptores expressos na membrana, na parte inferior (parte interna - cor
rosada) e sangue (parte externa em azul), também pode-se observar pequenos pontos que representam os fármacos que variam de cor
ao decorrer da imagem. No primeiro processo, do lado esquerdo, observa-se o transporte conhecido como difusão, este é representado
por uma seta que se inicia no ambiente externo (mais concentrado) para o ambiente interno (menos concentrado), nela percorre o
fármaco representado pela coloração azul. Ao lado, seguindo para direita, observa-se o transporte conhecido como difusão facilitada,
representado por dois processos, que necessita de transportadores acoplados na membrana e tem início no ambiente externo (mais
concentrado) para o ambiente interno (menos concentrado), no primeiro processo, o fármaco representado pela coloração verde per-
corre do meio mais concentrado para o meio menos concentrado. No segundo processo, o fármaco representado por círculos na cor
rosa, percorre do meio mais concentrado para o meio menos concentrado. Separado por um tracejado, do lado esquerdo da imagem,
encontra-se o último tipo de transporte, conhecido como transporte ativo, na figura nota-se dois tipos de transporte inicialmente do
ambiente interno (mais concentrado) para o ambiente externo (menos concentrado), provocando o gasto de energia (representado
pelo ATP), e por fim último transporte do ambiente externo (mais concentrado) para o ambiente interno (menos concentrado).

19
UNICESUMAR

Fatores que influenciam a absorção - a velocidade e a magnitude de


absorção de um fármaco são influenciadas por fatores locais, regionais
e sistêmicos. Deste modo, qualquer interferente que diminua a concen-
tração do fármaco no local da administração pode diminuir a concen-
tração a ser distribuída para os tecidos. Entre os interferentes, temos:
Efeito do pH na absorção de fármacos: a maioria dos fármacos é
ácido fraco ou base fraca. Um fármaco atravessa a membrana mais
facilmente se estiver não ionizado. Assim, para os ácidos fracos, a forma
não ionizada consegue permear através das membranas. Para a base
fraca, a forma não ionizada consegue penetrar através das membranas
celulares, mas a protonada não consegue.
Fluxo de sangue no local de absorção: os intestinos recebem um fluxo
de sangue muito maior do que o estômago, de modo que a absorção
no intestino é favorecida em relação a do estômago.
Área ou superfície disponível para absorção: com uma superfície
rica em bordas em escova contendo microvilosidades, o intestino tem
uma superfície cerca de 1.000 vezes maior que a do estômago; por isso,
a absorção de fármacos pelo intestino é mais eficiente.
Tempo de contato com a superfície de absorção: se um fármaco
se desloca muito rapidamente ao longo do TGI, como pode ocorrer
em uma diarreia intensa, ele não é bem absorvido. Contudo, qualquer
retardo no transporte do fármaco do estômago para o intestino reduz
a sua velocidade de absorção (RANG; DALE, 2016; KATZUNG; GRAW,
2013; GOLAN et al., 2014).

BIODISPONIBILIDADE - após o fármaco sofrer sua dissolução (Figura 5) e absorção, ele atingirá
a circulação sistêmica, estando sua concentração diretamente relacionada à via de administração do
fármaco, à sua forma química e a certos fatores específicos do paciente – como transportadores e
enzimas gastrointestinais e hepáticos (GOLAN et al., 2014).

20
UNIDADE 1

Figura 5 - Representação do processo de dissolução do fármaco, possibilitando a sua absorção

Descrição da Imagem: Imagem em azul escuro no fundo com uma cápsula em destaque no canto inferior esquerdo, esta cápsula
possui, na parte superior, a cor azul clara e na inferior azul escura. A imagem representa o fármaco em azul cintilante/brilhante saindo
de dentro da cápsula e sendo difundido na circulação.

A biodisponibilidade é determinada pela comparação dos níveis plasmáticos do fármaco de-


pois de uma via de administração. Na administração IV, 100% do fármaco entra na circulação
rapidamente. Quando o fármaco é administrado por via oral, somente parte da dose aparece no
plasma (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016). Considerando a concentração plasmática
do fármaco em função do tempo, pode-se mensurar a área sob a curva (ASC). A ASC reflete a
extensão da absorção do fármaco. A biodisponibilidade de um fármaco administrado por via
oral é a relação da ASC após administração oral com a ASC por administração IV. A ASC da
concentração x tempo no sangue é proporcional à dose e a extensão de biodisponibilidade de
um fármaco, se sua eliminação é de primeira ordem (KATZUNG; GRAW, 2013).

21
UNICESUMAR

Concentração do medicamento
no organismo

Intravenoso
Intramuscular
Subcutâneo
Oral

Tempo (t)

Figura 6 - Representação da biodisponibilidade de acordo com a via de administração do fármaco

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um gráfico com duas variáveis, horizontalmente o tempo, e verticalmente a concentração
de droga no corpo, ambos marcados por um traço preto. Na primeira imagem, tem-se a representação da administração por via intra-
venosa, representada por uma seringa branca, com agulha preta e líquido até metade rosa, esta, insere-se no braço com veia vermelha
marcada, sua administração está representada no gráfico pela linha rosa que inicialmente começa com uma alta concentração de
droga no corpo, mas à medida que o tempo passa essa concentração vai caindo. A próxima imagem representa a via de administração
intramuscular em verde, a imagem representada por uma seringa branca, com agulha preta e líquido até metade rosa, esta, insere-se
no músculo do braço representado por uma imagem acastanhada e com rasuras pretas. Sua administração está representada no
gráfico pela linha verde que, inicialmente, começa com uma alta concentração, menor que a linha rosa anteriormente apresentada, de
droga no corpo, mas à medida que o tempo passa essa concentração vai caindo. A próxima imagem representa a via de administração
subcutânea em azul, a imagem representada por uma seringa branca, com agulha preta e líquido até metade rosa, esta, insere-se na
parte subcutânea da pele representado por uma imagem rosada e com rasuras brancas. Sua administração está representada no grá-
fico pela linha azul que, inicialmente, começa com uma alta concentração de droga no corpo, mas à medida que o tempo passa essa
concentração vai caindo. Por fim, a última imagem representa a via de administração oral em roxo, a imagem representada por uma
pessoa engolindo um comprimido vermelho, este, desce pelo trato gastrointestinal representado por um tudo branco dentro do corpo
rosado. Sua administração está representada no gráfico pela linha roxa que, inicialmente, começa com uma concentração inferior que
as outras de droga no corpo, mas à medida que o tempo passa essa concentração vai caindo.

Fatores que influenciam a biodisponibilidade:

Efeito de primeira passagem hepática: o medicamento, ao ser absorvido, no trato gastrointestinal,


antes de atingir a circulação sistêmica, percorre a circulação porta hepática, sofrendo biotransforma-
ção (p. ex., pelo sistema enzimático CYP3A4), perdendo-se uma porcentagem da sua concentração
inicialmente administrada. Portanto, fármacos que sofrem intenso efeito de primeira passagem devem
ser administrados com uma dosagem suficiente garantindo assim sua eficácia (Figura 6).

22
UNIDADE 1

Figura 7 - Representação do processo de primeira passagem hepática

Descrição da Imagem: imagem com fundo branco e uma representação do fígado em vermelho e vesícula biliar em verde ao centro.
Em destaque, encontra-se uma caixa de medicamento entreaberta em azul, expondo quatro ampolas de fármacos com um liquido
amarelo, que preenche quase em sua totalidade as ampolas.

Solubilidade do fármaco: as membranas celulares são lipídicas, assim, fármacos lipossolúveis


apresentam maior facilidade na absorção (GOODMAN; GILMAN, 2012; WHALEN; PANAVE-
LIL; FINKEL, 2016; KATZUNG; GRAW, 2013).
DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS - após o fármaco ser absorvido e sofrer o efeito de
primeira passagem, ele deve ser distribuído no organismo, ou seja, ele rapidamente sai da circu-
lação e entra nos tecidos. Esse processo depende, principalmente, do fluxo sanguíneo tecidual,
permeabilidade capilar e, principalmente, da ligação às proteínas plasmáticas que realizam o
transporte do fármaco através da circulação.
A ligação entre o fármaco e a proteína plasmática tem como principal carreadora a albumina (com
concentração de cerca de 4 g/dℓ), que pode atuar como uma reserva de composto. Isso mantém a
concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma. A ligação às
proteínas plasmáticas tende a reduzir a disponibilidade de um fármaco para difusão ou transporte até
seu órgão-alvo, visto que, em geral, apenas a forma livre ou não ligada do fármaco é capaz de propagar-se
através das membranas (GOODMAN; GILMAN, 2012; PENILDON et al., 2010; GOLAN et al., 2014).

23
UNICESUMAR

VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO - o volume de distribuição (VD) é uma relação entre a quanti-


dade/concentração do fármaco no corpo e sangue. Em termos quantitativos, VD representa o volume
de líquido necessário para conter a quantidade total do fármaco absorvido no corpo. Este volume, não
necessariamente, relaciona-se ao volume total de sangue presente no organismo, e sim um volume
aparente, ao qual, necessitaríamos para conter a quantidade final do fármaco de forma homogênea.
Deste modo, fármacos com elevados valores de VD, apresentam-se com concentrações elevadas no
tecido extravascular (RANG; DALE, 2016; KATZUNG; GRAW, 2013).
TEMPO DE MEIA VIDA - tempo de meia-vida (t1/2) de um fármaco é o tempo necessário para
que ele tenha sua concentração reduzida pela metade. O conhecimento dessa informação torna possível
calcular a frequência de doses necessárias para manter a concentração plasmática do fármaco dentro
da faixa terapêutica adequada. Este tempo sofre algumas interferências no organismo, deve-se levar
em consideração que com o processo de envelhecimento, a massa muscular esquelética diminui, o
que pode reduzir o volume de distribuição. Em contrapartida, um indivíduo obeso apresenta aumento
na capacidade de captação de um fármaco pelo tecido adiposo, e, para um fármaco que se distribui
na gordura, pode ser necessário administrar uma dose mais alta, a fim de alcançar níveis plasmáticos
terapêuticos. Os processos fisiológicos e patológicos também são capazes de afetar a depuração dos
fármacos, principalmente quando estão relacionados com as enzimas do citocromo P450 responsáveis
pelo metabolismo dos fármacos no fígado podem ser induzidas, aumentando a taxa de inativação dos
fármacos, ou inibidas, diminuindo-a (GOODMAN; GILMAN, 2012; FUCHS; WANNMACHER;
FERREIRA, 2010; GOLAN et al., 2014).
DEPURAÇÃO - O processo de depuração (clearance), representado na Figura 8, inicia-se ime-
diatamente quando o fármaco entra no organismo, onde a maioria deles é eliminada de acordo com
uma cinética de primeira ordem. As três principais vias de eliminação são biotransformação hepática,
eliminação biliar e eliminação urinária. Juntos, esses processos de eliminação diminuem exponencial-
mente a concentração no plasma (PENILDON, 2010; KATZUNG; GRAW, 2013).

24
UNIDADE 1

DETOXIFICAÇÃO

Toxinas

Fase 1
decomposição
de toxinas

Fase 2
Neutralizar
toxinas

Resíduo

Vesícula Biliar Rim

Bile Urina

Figura 8 - Representação do processo de metabolização do organismo envolvendo fígado, vesícula biliar e rins.

Descrição da Imagem: : a imagem apresenta um fluxograma, na parte superior da imagem, no centro, está escrito "Detoxificação";
abaixo, inicia-se o fluxograma com o desenho do fígado em vermelho ao centro, neste fígado aparece a entrada da toxina/fármaco,
ocorrendo, assim, as reações de Fase 1 e 2, formando o resíduo. Uma seta sai do fígado na parte inferior indicando a palavra "Resíduo".
Abaixo da palavra resíduo saem duas setas, uma para a direita e outra para a esquerda. A seta para a esquerda indica a vesícula biliar,
desenhada em verde, uma seta sai da vesícula biliar e indica o intestino, logo abaixo. Ao lado dessa seta está escrito bili. A seta para a
direita indica os rins, outra seta sai dos rins e indica a bexiga, logo abaixo. Ao lado dessa seta está escrito urina.

BIOTRANSFORMAÇÃO - os seres humanos são expostos diariamente a uma grande variedade


de compostos estranhos chamados de xenobióticos. Deste modo, acredita-se que os sistemas de
biotransformação de fármacos tenham evoluído a partir da necessidade de detoxificar e eliminar
bioprodutos e toxinas vegetais e bacterianas, o que, mais tarde, se estendeu a fármacos e outros xeno-
bióticos ambientais. Os rins têm dificuldade ou são impossibilitados de eliminar fármacos altamente
apolares, assim, estes compostos são primeiramente biotransformados no fígado em substâncias mais
polares (hidrofílicas), usando dois grupos gerais de reações, denominados fase I e fase II (Fig. 1.16).
As reações de fase I tem como objetivo transformar os fármacos apolares mais polares, por meio
de reações de redução, oxidação ou hidrólise que introduzem grupamentos polares (–OH ou –NH2).
Estas reações são catalisadas pelo sistema citocromo P450, sendo estes complexos um alvo importante
de interações farmacocinéticas de fármacos, podendo ser:
Inibidas à diminuindo sua concentração, dificultando o processo de metabolização do fármaco e,
consequentemente, aumentando sua concentração e risco potencial de intoxicação.

25
UNICESUMAR

Ex.: os fitoterápicos também exercem efeitos significativos no sistema P450. Um exemplo é a


erva-de-são-joão, fitoterápico popular usado para estabilização do humor. Muitos estudos ob-
servacionais constataram que o hipérico consegue induzir a expressão de P450 e, assim, reduzir
a eficácia de outras substâncias.
Induzidas à aumentando sua concentração, favorecendo o processo de metabolização do fármaco
e, consequentemente, diminuindo sua concentração. Ex.: Omeprazol e Cetoconazol.
As reações de fase II são utilizadas apenas quando a Fase I não foi suficiente para provocar a eli-
minação do fármaco e consistem em reações de conjugação, ou seja, adição de compostos como: ácido
glicurônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou aminoácido que resulta na produção de um composto
polar em geral mais hidrossolúvel e terapeuticamente inativo, e o fármaco conjugado altamente polar
é então excretado pelos rins ou pela bile.
Acredita-se que o processo possa ser influenciado diretamente pela Microbiota: a flora intestinal
possui um grande potencial redutivo, consequentemente, apresentando um grande potencial de
interferência na metabolização dos fármacos; e também pela idade: acredita-se que ocorra uma di-
minuição metabólica relacionada à senilidade, principalmente na redução das enzimas relacionadas
à biotransformação hepática (RANG; DALE, 2016; KATZUNG; GRAW, 2013, GOLAN et al., 2014;
FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
EXCREÇÃO - a excreção renal é um último processo farmacocinético, e tem como objetivo a
eliminação dos agentes farmacológicos residuais. Os fármacos e seus metabólitos são, em sua maioria,
eliminados do corpo por excreção renal e biliar. A excreção renal é o mecanismo mais comum de
eliminação de fármacos e se baseia na natureza hidrofílica de um fármaco ou seu metabólito. O fluxo
sanguíneo renal representa cerca de 25% do fluxo sanguíneo sistêmico total, assegurando contínua ex-
posição de qualquer fármaco presente no sangue aos rins. A taxa de eliminação dos fármacos pelos rins
depende do equilíbrio das taxas de filtração, secreção e reabsorção. Apenas um número relativamente
pequeno de fármacos é excretado primariamente na bile ou pelas vias respiratórias e dérmicas. Muitos
fármacos administrados oralmente sofrem absorção incompleta pelo trato gastrointestinal superior, e
o fármaco residual é então eliminado por excreção fecal (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
Você sabia que o estudo destas etapas farmacocinéticas é imprescindível no desenvolvimento
de compostos com potencial terapêutico? Que estes estudos são caracterizados como pré-clínicos? E
que o medicamento só pode ser utilizado em pessoas se forem aprovados e observados sua segurança
e eficácia e como ele é absorvido, metabolizado, distribuído e eliminado, em estudos muito bem pla-
nejados e adequados. Todas essas etapas estão representadas na Figura 9.

26
UNIDADE 1

Tratamentos Clínicos DNA Resultados Laboratoriais

Testes Médicos Análise Química Efeitos do Medicamento

Pesquisa Biomédica Exame de Sangue Dados e Registros

Figura 9 - Representação dos passos de um teste clínico.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta três colunas e três linhas com desenhos em cada uma. Na primeira linha, no canto esquerdo
superior, possui duas pessoas e um comprimido, seguindo o raciocínio do teste, a próxima imagem à sua direita representa uma mo-
lécula de DNA e ao seu lado um microscópio finalizando a primeira linha. Na segunda linha, há o desenho de um vidro representando
processos químicos e logo após uma estrutura molecular, por fim, tem-se um paciente e um frasco de medicamento indicando o início
do teste clínico. Na última linha do lado esquerdo, observa-se duas pessoas com um tubo de sangue, ao lado uma mão com uma gota
de sangue e um tubo de ensaio, sendo finalizada a imagem com uma prancheta com os dados analisados.

Agora que você já está contextualizado com os processos cinéticos do fármaco, ou seja, como nosso
organismo interage com ele, que tal aprendermos como ocorre o seu efeito? Lembre-se do início do
capítulo, quando foi questionado como o princípio ativo “sabe” onde ele precisa desenvolver seu
efeito terapêutico: pois bem, vamos desvendar esse mistério! Sigamos em frente e iniciemos o estudo
dos processos farmacodinâmicos!
FARMACODINÂMICA – o termo farmacodinâmico se refere aos efeitos do fármaco no corpo,
ou seja, trata-se da ligação do fármaco com seu receptor específico desencadeando uma resposta no
organismo, processo representado pela Figura 9. Portanto, o estudo da farmacodinâmica se baseia no
conceito da ligação fármaco-receptor, uma vez que isso acontece, pode ocorrer uma resposta como
consequência dessa interação, se por acaso, existir um número considerável de receptores ocupados,
ou seja, a resposta a um fármaco é proporcional à concentração de receptores ligados (ocupados)
(GOODMAN; GILMAN, 2012; KATZUNG; GRAW, 2013).

27
UNICESUMAR

Quando pensamos em efeito, a primeira palavra que deve vir a sua mente se chama receptor, mas
você realmente sabe o que isso quer dizer? Receptor é um termo genérico para descrever o local de
ação de um fármaco, ou seja, é uma molécula com propriedades que interagem com o fármaco, provo-
cando o efeito desejável ou não. Essas interações fármaco-receptor, normalmente, são classificadas
em estado ativo ou inativo, e deste modo, os fármacos são classificados de acordo com a capacidade
em manter ou alterar este estado, sendo divididos em:
Agonista: processo que favorece o efeito celular quando ocorre a ligação do receptor ao fármaco.
Antagonista: processo que dificulta ou inativa o efeito celular quando ocorre a ligação do re-
ceptor ao fármaco. Este ainda pode ser subdividido em: Reversíveis e Irreversíveis, ou seja, seu efeito
pode ser suprimido rapidamente ou seu efeito é prolongado, estando diretamente relacionado com
sua especificidade ao sítio de ação.
Após a interação fármaco x receptor, tem-se uma série de efeitos relacionados à concentração x
tempo, sendo considerados: efeitos imediatos, tardios e cumulativos (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Efeitos Imediatos à: diretamente proporcional à concentração plasmática do fármaco, iniciando,
imediatamente após a administração do fármaco.
Efeitos Retardados à: atraso no mecanismo de ação, estão relacionados com alterações na con-
centração plasmática e no volume de distribuição. Deste modo, o efeito, leva um tempo até seu início,
dependendo do processo de absorção e distribuição do fármaco no organismo.
Efeitos Cumulativos à: relacionados ao potencial cumulativo, normalmente associado a
lipossolubilidade do composto e seu volume de distribuição, entretanto, condições como agres-
sões hepáticas e renais não devem ser descartadas, uma vez que interferem diretamente na
biotransformação e excreção dos compostos. Assim, o efeito ocorre a longo prazo, ou seja, pode
demorar horas ou dias para iniciar-se ou sessar-se (RANG; DALE, 2016; KATZUNG; GRAW,
2013; GOLAN et al., 2014; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

28
UNIDADE 1

Canal de íon fechado por ligante

Sinal
Receptor

Líquido Extracelular

Membrana

Líquido Intracelular
Canal Fechado Canal aberto

Figura 10 - Representação do processo de interação fármaco x receptor.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta o processo de interação fármaco x receptor. Na parte superior da imagem, no centro, está escrito
"Canal de Íon fechado por ligante". No centro da imagem há o desenho de uma membrana celular em amarelo escuro, onde observa duas
proteínas de forma oval em azul escuro com seus respectivos receptores acoplados na forma de Y. Abaixo desta membrana se tem o meio
intracelular na cor bege claro e, acima, o meio extracelular representado pela coloração azul clara. Do lado esquerdo da membrana há o dese-
nho de uma proteína com seu canal fechado. Acima desta proteína há pequenos círculos na cor vermelha, na superfície desta proteína há um
receptor em formato de Y. Na parte inferior sai uma seta indicando a palavra "Canal fechado". No lado direito há o desenho de uma proteína
com o canal aberto; na superfície desta proteína há um receptor na forma de Y e nele está acoplado um fármaco, representado por hexágono
verde. Acima desta proteína há pequenos círculos vermelhos, uma flecha aponta para o canal aberto e dentro do canal há um círculo vermelho,
abaixo dela, no meio intracelular, há dois círculos vermelhos. Uma seta sai da parte inferior da proteína indicando a palavra "Canal Aberto"

Você saberia me dizer quanto tempo demoraria da descoberta do princípio ativo desde sua ex-
tração até a aprovação pré-clínica nesta etapa em que estamos? Pense um pouco. Reflita sobre
tudo o que abordamos. Já tem uma estimativa?
Em média, a pesquisa pré-clínica, ou seja, a análise das interações entre o fármaco x organismo
analisados em animais, demora em média 1 a 2 anos, achou muito tempo? Esse tempo é necessário
para que haja uma compensação do potencial tóxico do fármaco, bem como qual sua melhor via
de administração, como ele é eliminado, metabolizado e, somente se for aprovado nesta etapa, o
fármaco está apto a iniciar os estudos clínicos. No desenvolvimento dos estudos clínicos, é importante
o acompanhamento dos parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos para que se comprove
em humanos o que foi analisado em animais, e qualquer variação deve ser analisada e decidir se
os testes continuaram ou retornaram à fase pré-clínica.

29
UNICESUMAR

Interações Fármaco-Receptor

Como o fármaco, ao ser disponibilizado na circulação sanguínea, sabe onde deve se ligar para
promover o efeito desejável?
Essa pergunta pode facilmente ser respondida, com o estudo da interação fármaco x receptor
(macromoléculas que, ao se ligarem ao fármaco, iniciam alterações celulares), com objetivo de pro-
vocar o seu efeito específico. Entretanto, a seletividade da ligação entre os fármacos e seus respectivos
receptores pode também iniciar os efeitos indesejáveis.
Como a ligação do fármaco produz uma alteração bioquímica e/ou fisiológica no organismo?
Sabe-se que a ligação de um fármaco a seu receptor resulta em mudança na conformação do
receptor, e esta alteração afeta diretamente a sua função (RANG; DALE, 2016).

Figura 11 - Representação do processo de interação fármaco x receptor

Descrição da Imagem: imagem representada por uma membrana externa em azul, em que se nota a presença de receptores acima,
estes estão se conectando a moléculas de fármacos representadas em vermelho.

Regulação celular das interações fármaco-receptor - a ativação (ou a inibição) de um receptor


induzida por fármacos, em geral, têm impacto duradouro sobre a resposta subsequente do receptor
à ligação do fármaco, representado na Figura 11. Os mecanismos que medeiam esses efeitos são im-
portantes, uma vez que impedem a estimulação excessiva que poderia levar à lesão celular ou afetar
adversamente o organismo como um todo. Muitos fármacos apresentam redução dos efeitos com
o decorrer do tempo; esse fenômeno é conhecido como taquifilaxia. Em termos farmacológicos, o

30
UNIDADE 1

receptor e a célula se tornam dessensibilizados à ação do fármaco. Os mecanismos de dessensibiliza-


ção podem ser divididos em dois tipos: dessensibilização homóloga, em que ocorre diminuição dos
efeitos de agonistas em apenas um tipo de receptor, e dessensibilização heteróloga, em que se verifica
diminuição coordenada dos efeitos de agonistas em dois ou mais tipos de receptores. Acredita-se que
o segundo tipo seja causado por uma alteração induzida pelo fármaco em um ponto comum de con-
vergência nos mecanismos de ação dos receptores envolvidos, como molécula efetora compartilhada.
Muitos receptores apresentam dessensibilização. Por exemplo, a resposta celular à estimulação repetida
dos receptores β-adrenérgicos pela epinefrina diminui de maneira uniforme com o decorrer do tempo
(GOODMAN; GILMAN, 2012; RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).

INSÔNIA


MI
TO
ALERGIA

IRRITABILIDADE
SUOR
SE A
NAU
DI
AR

C A
CÓLI
RE
IA

Figura 12 - Representação dos efeitos farmacológicos e adversos do medicamento após sua administração

Descrição da Imagem: imagem descreve alguns efeitos adversos comuns na administração do medicamento, sendo escrito, cada um,
em um pedaço de papel branco, sendo: Insônia, Vômito, Alergia, irritabilidade, Suor, Cólica, Diarreia e Náusea. Entre eles há comprimidos
de diversas cores e tamanhos espalhados.

Índice terapêutico - Definida como faixa de doses (concentrações) de um fármaco que pro-
duz resposta terapêutica, sem efeitos adversos inaceitáveis (toxicidade), em uma população de
pacientes. Para fármacos que apresentam pequena janela terapêutica, é preciso efetuar estreito
monitoramento de seus níveis plasmáticos, a fim de manter uma dose efetiva, sem ultrapassar
o nível passível de provocar toxicidade (GOLAN et al., 2014).

31
UNICESUMAR

Querido(a) aluno(a), após nossa imersão no mundo da farmacologia, sen-


do apresentados os parâmetros interativos entre fármaco no organismo,
eu convido você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a importância
destes conhecimentos apresentados no capítulo no desenvolvimento
de compostos com potencial terapêutico

Após toda a imersão do conteúdo, você já deve saber porque a administração dos medicamentos deve
seguir uma orientação rígida, evitando a possibilidade de surgirem efeitos adversos relacionados ao seu uso.

32
Encerramos esse longo e divertido momento, lembre-se que este capítulo irá ajudá-lo(a) em todos
os módulos relacionados ao uso dos compostos que possuem ação dentro do organismo, uma vez
que foram abordados os conceitos iniciais desta jornada farmacológica,
entretanto, você deve pensar que, para chegarmos ao final da construção
do conhecimento, precisamos solidificar muito bem a base dele. Para isso,
temos que garantir que você conseguiu absorver as informações de ma-
neira objetiva e correta, então, que tal se você produzir um Mapa Mental,
estabelecendo a relação e integração entre os processos Farmacocinética
e Farmacodinâmica, utilizando as palavras-chave: Absorção, Biodisponi-
bilidade, Ação e Receptor, de modo, que levem a uma integração e con-
exão com conteúdo? Para isso, uma sugestão de ferramenta gratuita é o
https://www.goconqr.com/.

FARMACOCINÉTICA

DIGESTÃO

EFEITO
ELIMINAÇÃO
METABOLIZAÇÃO

ACÚMULO

33
Vamos lá?

1. A Farmacologia, no seu sentido mais amplo, é a ciência que estuda o caminho do fármaco
desde sua administração, efeito e eliminação. Considerando o contexto, avalie as seguintes
asserções e a relação proposta entre elas.

I) O estudo da interação corpo x fármaco pode ser estudado pelos processos farmacocinéticos,
ou seja, desde sua via de administração, absorção, metabolização e excreção.

PORQUE
II) O estudo dos receptores e sua capacidade de interação com o fármaco x desencadeando
uma resposta desejável ou não é determinada pela farmacodinâmica.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Analise o texto.

Processo fundamental da farmacocinética, em que se estuda a concentração da dose admi-


nistrada do fármaco que consegue ser disponibilizada na circulação sistêmica para promover
o efeito desejado. Esse processo deve associar-se ao estudo do efeito de primeira passagem,
solubilidade do fármaco e via de administração. O texto faz alusão correta ao processo de:

a) Absorção.
b) Distribuição.
c) Biodisponibilidade.
d) Tempo de meia vida.
e) pH.

3. O estudo da farmacocinética e farmacodinâmica são imprescindíveis para o desenvolvimento


inicial de um medicamento, norteando quanto às vias de administração, dose, toxicidade e
efeito terapêutico. Portanto, analise as alternativas.

I) Independentemente da via de administração, o fármaco sofre o efeito de primeira passagem


hepático, sendo este efeito nada mais do que a passagem do medicamento pelo fígado antes de
entrar na circulação sistêmica, contudo, perde-se uma pequena porcentagem de medicamento.
II) Fármacos que apresentam, na sua constituição, uma grande lipossolubilidade necessitam ser
transportados até o seu receptor após a absorção, sendo este transporte realizado, princi-
palmente, pelas proteínas plasmáticas, em especial a Albumina.
III) O volume de distribuição é uma estimativa do volume de sangue necessário para diluir e

34
distribuir os fármacos, deste modo, nota-se que fármacos com altos volumes de distribuição
possuem menor capacidade de acúmulo, uma vez que são muito lipossolúveis, ou seja, fazem
o efeito farmacológico rapidamente.
IV) Os fármacos com melhor absorção tecidual são na forma ionizada, estes utilizam transporte
ativo, uma vez que não gasta ATP e promove a entrada rápida do fármaco.
V) Fármacos que, ao se ligarem no seu receptor, promovem uma resposta similar à produzida
por uma substância fisiológica são classificados como Agonistas.
Assinale a alternativa correta:

a) Apenas as alternativas I, II e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas IV e V estão corretas.

35
36
2
Fármacos que
atuam no Trato
gastrointestinal
Dr. Marcel Pereira Rangel

Vamos mergulhar no mundo da farmacologia? Convidamos você a


iniciar nossa jornada pelo vasto conteúdo da farmacologia. Iniciando
pelo trato gastrointestinal, aqui, iremos apresentar a você todos os
processos que devem ser vencidos pelo medicamento até iniciar
seu efeito farmacológico. Você está pronto para iniciarmos esta
jornada? Então, vamos lá!
UNICESUMAR

Você sabia que o trato gastrointestinal possui a


maior área de absorção do corpo humano? Sendo
assim, quando você toma um medicamento, como o
faz? Junto ou depois da refeição? Água? Suco? Você
acha que comprimido ou gotas possuem o efeito mais
rápido? Como chegou à sua conclusão? Você sabia
que o trato gastrointestinal tem um sistema nervoso
tão rico em neurônios quanto o central? Interessan-
te, correto? Então, vamos juntos, aprofundar nosso
conhecimento sobre este assunto.
As vias de administração foram trabalhadas no
módulo passado. Quando pensamos em medicamen-
tos que atuam no trato gastrointestinal, temos que
lembrar que eles atuam diretamente, ou seja, não pre-
cisam sofrer processo de absorção, deste modo, eles
devem permanecer no sistema gástrico e realizar seu
efeito, assim, qualquer interferência neste trajeto, seja
por alimento ou líquido, pode aumentar ou reduzir o
efeito. Ou atuam aumentando ou inibindo o sistema
nervoso entérico, sendo este, um rico sistema nervoso
presente no trato gastrointestinal.
O que acha de analisar com seus amigos, paren-
tes ou você mesmo como são utilizados os medi-
camentos, se antes ou depois do almoço? Com ou
sem refeições prévias ou posterior? Anote como
as pessoas costumam fazer uso do medicamento e
perceba se há diferença entre eles, e tente entender
se isso vai interferir no seu efeito.
Ao refletirmos sobre a importância do trato gas-
trointestinal no processo farmacológico, temos que
ponderar que ele constitui a principal via de absor-
ção do organismo, deste modo, apresenta inúmeros
tipos de transportes, receptores e uma vasta flora
intestinal que contribuem positiva ou negativa-
mente para que todo processo ocorra. Ao analisar
todos estes fatores, a administração de qualquer
forma farmacêutica, seja em gotas, comprimidos
ou cápsulas, deve ser observada para que não haja
interação alimentar, hídrica ou qualquer condição
que interfira na ação farmacológica.

38
UNIDADE 2

Quando analisamos os medicamentos com ação direta no trato gastrointestinal, devemos relacionar uma
ação direta, ou seja, medicamento possui um efeito local, sem sofrer absorção. Ou uma ação indireta,
quando fármaco é absorvido e atua, principalmente, no sistema nervoso entérico, este, possui ação direta
no controle da motilidade gástrica, pH, síntese ou inibição de enzimas, estando, assim, diretamente
relacionado com as funções do trato gastrointestinal. Agora pare e reflita, você pensava que seu trato
gastrointestinal seria tão importante assim na ação dos medicamentos? E fique tranquilo, neste capí-
tulo, iremos abordar todo o sistema gástrico para que você entenda sua importância e, como sempre,
estamos atentos para que você tenha uma boa percepção e aprendizagem do módulo. Faça um Diário
de Bordo antes de iniciarmos o módulo, para que possamos analisar seu conhecimento prévio sobre
o assunto, e depois disso, podemos começar nossa imersão neste capítulo recheado de informações.

39
UNICESUMAR

Você sabia que as injúrias gástricas correspondem a quase 10% do dinheiro gasto em cuidados de saúde?
Condições como azia, indigestão, gases e constipação são problemas que causam mais desconforto
do que riscos à saúde (SILVERTHORN, 2017). O trato gastrointestinal, além de possuir inúmeras
funções além da digestão e absorção dos alimentos e medicamentos, constitui um sistema endócrino
especializado, bem como uma rede neural complexa conhecida como Sistema Nervoso Entérico.
Essa complexidade do trato gastrointestinal faz com que este sistema seja local de patologias simples
como azia, até complexa como síndromes genéticas (RANG; DALE, 2016).
ANATOMIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO - Para iniciarmos a discussão do trato gastrointestinal,
vamos, primeiramente, conhecer sua anatomia e funcionalidade básica, assim, este conhecimento lhe
dará suporte nas discussões farmacológicas posteriores. O sistema digestório inicia com a cavidade
oral (boca e faringe), esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso (SILVERTHORN, 2017).
FISIOLOGIA BÁSICA - A digestão consiste na quebra mecânica do alimento ao longo deste
caminho, sendo auxiliada por secreções de órgãos anexos, como glândulas salivares, o fígado, a vesícula
biliar e o pâncreas. Sendo assim, o produto desta digestão é absorvido no epitélio intestinal, sendo
direcionado para o sangue e distribuído ao organismo. Qualquer resíduo remanescente no lúmen ao
final do trato gastrointestinal (GI) deixa o corpo por meio de uma abertura, chamada de ânus. Vale
observar que há uma incrível variedade de bactérias no lúmen, particularmente no intestino grosso
(SILVERTHORN et al., 2017).
Para aprofundarmos um pouco a discussão, devemos observar que o trato gastrointestinal está sob
duplo controle: neuronal e hormonal.
O sistema nervoso entérico (SNE) pode atuar de forma independente e foi inicialmente reconhe-
cido há mais de um século, quando os cientistas observaram a habilidade do SNE de realizar um reflexo
independentemente do controle exercido pelo sistema nervoso central (SNC), observado na Figura 1.

Figura 1 - A figura representa a integração entre


o sistema nervoso central e o sistema nervoso
entérico.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta, na


parte superior, um cérebro em rosa (parte cen-
tral) e o cerebelo (amarelo) com uma seta rosada
em direção ao intestino representado em rosa o
intestino grosso, também rosa, e em amarelo o
intestino delgado. Este, também apresenta uma
seta em direção ao cérebro, formando assim, uma
conexão entre os dois sistemas.

40
UNIDADE 2

O sistema nervoso entérico controla a motilidade, a secreção e o cres-


cimento do trato digestório. Anatômica e funcionalmente, o SNE com-
partilha muitas características com o SNC como:
Neurotransmissores e neuromoduladores. Os neurônios do SNE
liberam neurotransmissores e neuromoduladores como: Serotonina, o
peptídeo intestinal vasoativo e o óxido nítrico.
Células gliais de sustentação. As células gliais de sustentação dos
neurônios dentro do SNE são similares à astroglia do encéfalo.
Barreira de difusão. Os capilares que circundam os gânglios no SNE
não são muito permeáveis e criam uma barreira de difusão que é similar
à barreira hematoencefálica dos vasos sanguíneos encefálicos.
Centros integradores. Rede de neurônios do SNE é o seu próprio centro
integrador, assim como o encéfalo e a medula espinal (SILVERTHORN,
201 7; GUYTON; HALL, 2017).

CONTROLE HORMONAL - Os hormônios do trato gastrointestinal incluem gastrina e a colecisto-


quinina. As secreções parácrinas incluem muitos peptídeos reguladores liberados de células especiais
encontradas em toda a parede do trato. Esses hormônios atuam sobre células próximas e, no estômago,
o mais importante desses é a histamina (RANG; DALE, 2016).
FARMACOLOGIA DO TRATO GASTROINTESTINAL BASEADO NA SUA DISFUNÇÃO
- O trato gastrointestinal possui funções importantes para nosso organismo, e possui um sistema
complexo de controle. Deste modo, a farmacologia deste sistema será abordada analisando o distúr-
bio da sua funcionalidade relacionando ao tratamento preconizado, vamos mergulhar neste mundo
complexo do trato gastrointestinal?

41
UNICESUMAR

SECREÇÃO GÁSTRICA - As secreções gástricas são fundamentais para


processo de digestão e absorção, deste modo, ácido clorídrico é secre-
tado no estômago pelas células parietais com média de 2,5 litros de
suco gástrico por dia, tendo como principais componentes proenzimas
ácido clorídrico. Estas secreções são influenciadas por hormônios como:
Histamina (hormônio local estimulador): a histamina atua de forma
parácrina nos receptores H1 das células parietais.
Gastrina (hormônio peptídico estimulador): a sua principal ação é a
estimulação da secreção de ácido pelas células enterocromafins (ECS )
através da sua ação nos receptores de gastrina/colecistoquinina 2, que
aumentam a concentração de cálcio intracelular.
Acetilcolina (neurotransmissor estimulador): a acetilcolina (juntamente
com uma bateria de outros neurotransmissores e peptídeos) é liberada
de neurônios colinérgicos pós-ganglionares, estimula receptores M3
muscarínicos específicos na superfície das células parietais, elevando a
secreção de ácido pelas células parietais.
Prostaglandinas E2 e I2 (hormônios locais que inibem a secreção de
ácido): as prostaglandinas exercem efeitos “citoprotetores” em muitos as-
pectos da função gástrica, incluindo aumento da secreção de bicarbonato
(receptores EP1/2), aumento da liberação de mucina protetora (receptores
EP4), redução da produção de ácido gástrico, provavelmente por ação
sobre os receptores EP2/3 nas células ECS, e prevenindo a vasoconstri-
ção (e, portanto, o dano à mucosa) que ocorre após estímulo agressivo.
Somatostatina diminui a secreção ácida por meio de três mecanismos:
(1) inibição da liberação de gastrina das células; (2) inibição da liberação
de histamina de células ECL e mastócitos; e (3) inibição direta da secreção
ácida pelas células parietais.

Em resumo, a secreção gástrica sofre efeito positivo aumentando sua secreção (histamina, gastrina e
acetilcolina) e efeitos negativos (prostaglandinas), e o desequilíbrio destes agentes está relacionado
ao desenvolvimento de condições como: Úlceras pépticas, refluxo gastroesofágico (DRGE) e lesões
causadas pelos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
FISIOPATOLOGÍA ÚLCERA - A úlcera péptica consiste em perda da integridade da mu-
cosa de revestimento tanto do estômago quanto do duodeno, causando dor, sangramento e
obstrução. Essa condição está associada por um desequilíbrio entre fatores protetores e fatores
lesivos na mucosa gastrintestinal. Esta seção descreve os principais mecanismos fisiopatológicos
envolvidos na formação ulcerosa, dos quais os mais comuns se refere a infecção por Helicobacter
pylori, a Bactéria gram-negativa que reside no ambiente ácido do estômago e induz o aumento
na produção da gastrina por meio do aumento da amônia, e como resultado uma hipersecreção

42
UNIDADE 2

de ácido clorídrico. Helicobacter pylori também diminui a secreção de bicarbonato duodenal,


portanto, enfraquece os mecanismos protetores da mucosa duodenal.
TRATAMENTO - A terapia da úlcera péptica visa diminuir a secreção de ácido gástrico
usando antagonistas dos receptores H2 ou inibidores da bomba de prótons, e/ou neutralizar o
ácido secretado com antiácidos. Esses tratamentos com frequência são acoplados a medida para
erradicar a Helicobacter pylori (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
Antagonistas do receptor H2 da histamina - A descoberta dos antagonistas dos recepto-
res H2 por Black et al., na década de 70, modificou consideravelmente o tratamento da doença
ulcerosa péptica. Os antagonistas/bloqueadores dos receptores H2 inibem reversível e competi-
tivamente a ligação de histamina aos receptores H2, resultando em supressão da secreção ácida
gástrica. Os antagonistas dos receptores H2 também diminuem indiretamente a secreção ácida
gástrica induzida por gastrina e acetilcolina (GOLAN et al., 2014).
Os principais fármacos usados são cimetidina, ranitidina (algumas vezes combinada a bismuto),
nizatidina e famotidina. Há poucas diferenças entre eles. São, geralmente, administrados por via oral,
apresentam boa absorção, com uma biodisponibilidade máxima entre 1 – 3h após a administração.
Apresentam metabolização hepática e excreção renal, deste modo, devem ser analisados a prescrição
em pacientes com problemas hepáticos e renais evitando os seus efeitos adversos mais comuns, como:
Diarreia, dores musculares, tonturas e hipergastrinemia. Importante destacar que a cimetidina atra-
vessa a placenta e é secretada no leite materno, razão pela qual não é recomendada para uso durante
a gravidez ou o aleitamento (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
Em 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) suspendeu a importação da
Ranitidina motivada pela presença de níveis altos de N-nitrosodimetilamina, compostos com
potencial carcinogênico nos insumos oriundos da índia.
Inibidores da bomba de prótons - Medicamento com potencial de bloquear a bomba de prótons
da célula parietal, deste modo, impede a síntese do ácido clorídrico irreversivelmente por um tempo
médio de 18h. Efeito fundamental na cicatrização das úlceras pépticas superior aos antagonistas dos
receptores H2. O primeiro inibidor da bomba de prótons foi o omeprazol, entretanto, atualmente
existem outros medicamentos como: Lansoprazol, Pantoprazol e Dexlanprazol. Independente do
medicamento, todos são considerados pró-fármacos, ou seja, necessitam de um ambiente ácido para
liberarem sua forma ativa, que, no caso, é a sulfenamida (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
Normalmente, são administrados por via oral, com tempo de meia vida de 1 hora. Apresentam
metabolização pelo complexo CYP450 hepático, sendo excretados pelo rim. Não necessitam de ajuste
de dosagem em pacientes com insuficiência hepática, entretanto, recomenda-se doses menores em
idosos em decorrência do risco de acúmulo e eventuais intoxicações. Em geral, os efeitos adversos
são bem tolerados e podem ser: Náuseas, Vômitos, cefaleia e dores abdominais, além de quadros de
hipergastrinemia também pode resultar em hipersecreção rebote de ácido com a interrupção do ini-
bidor da bomba de prótons (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014).
Agentes anticolinérgicos - Fármacos que antagonizam os receptores muscarínicos da ace-
tilcolina e, consequentemente, diminuem a secreção ácida gástrica. Entre os compostos se tem a
diciclomina. Estes medicamentos são pouco utilizados, uma vez que seus efeitos são inferiores às

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UNICESUMAR

duas classes já apresentadas e os efeitos adversos são: boca seca, visão turva, arritmias cardíacas
e retenção urinária (GOLAN et al., 2014).
Antiácidos - Os antiácidos são o modo mais simples de tratar os sintomas da secreção exces-
siva de ácido gástrico. Neutralizam diretamente o ácido por meio de sua reação com o ácido,
formando água e sais. A maioria dos antiácidos em uso comum são sais de magnésio e alumí-
nio. (RANG; DALE, 2016; GOLAN et al., 2014). Os efeitos adversos comuns associados a esses
antiácidos incluem diarreia (magnésio) e constipação intestinal (alumínio). Os pacientes com
doença renal crônica devem evitar o uso de antiácidos contendo magnésio, pois podem levar ao
desenvolvimento de hipermagnesemia (GOLAN et al., 2014).

Figura 2 - Figura representa a análise dos compostos que podem ocasionar problemas gástricos

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um estômago ilustrado em alaranjado, a parte central se encontra aberta e representa
um líquido esverdeado contendo um sanduíche com salsicha, comprimidos e outros alimentos, representando o processo digestivo.
Fora deste estômago, temos uma pessoa de cabelo amarelado segurando uma lupa e outra pessoa "em cima" do estômago com um
estetoscópio. Abaixo do estômago tem-se cinco comprimidos no chão da imagem, sendo dois comprimidos escuros e três comprimidos
com duas cores: vermelho e branco.

44
UNIDADE 2

Fármacos que protegem a mucosa - Afirma-se que alguns agentes, denominados citoprotetores,
aumentam os mecanismos endógenos de proteção da mucosa e/ou proporcionam uma barreira física
sobre a superfície da úlcera. Os agentes que promovem a defesa da mucosa são utilizados para alívio
sintomático da doença ulcerosa péptica.
Quelato de bismuto → Usado por apresentar efeito agressor ao bacilo da Helicobacter pylori
e acredita-se que também possua outras ações protetoras da mucosa, por mecanismos que não são
claros, e é amplamente utilizado como medicamento de venda livre para tratamento de sintomas
gastrointestinais leves.
Sucralfato→ O sucralfato tem pouca capacidade de modificar o pH gástrico. Na verdade, no am-
biente ácido do estômago, esse complexo pode formar géis complexos com o muco, ação que se pensa
diminuir a degradação do muco pela pepsina e limitar a difusão de íons hidrogênio. O sucralfato pode
também inibir a ação da pepsina e estimular a secreção de muco, bicarbonato e prostaglandinas pela
mucosa gástrica. Todas essas ações contribuem para o seu efeito protetor da mucosa (RANG; DALE,
2016; GOLAN et al., 2014)
Antimicrobianos - Pacientes com úlcera péptica (úlceras gástricas ou duodenais) infectados com
H. pylori precisam de tratamento antimicrobiano. A infecção por Helicobacter pylori é diagnosticada
via biópsia endoscópica da mucosa gástrica. A erradicação da bactéria resulta na cicatrização rápida
da úlcera ativa, esta erradicação bem-sucedida é possível com associações de antimicrobianos. Atual-
mente, o tratamento de escolha consiste em um Inibidor da Bomba de Prótons (IBP) combinado com
amoxicilina (metronidazol pode ser usado em pacientes alérgicos à penicilina) mais claritromicina.
O tratamento quádruplo com subsalicilato de bismuto, metronidazol e tetraciclina combinada a um
inibidor da bomba de prótons é outra opção. O tratamento quádruplo deve ser considerado em regiões
em que é elevada a resistência à claritromicina (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
INTRODUÇÃO À MOTILIDADE GASTRINTESTINAL - Até este ponto, já sabemos que o
trato gastrintestinal é controlado por uma rede neural e por estímulos simpáticos e parassimpáticos,
bem como hormônios. Deste modo, os circuitos reflexos, dentro do Sistema Nervoso Entérico, estão
subjacentes a comportamentos estereotipados do intestino, como é o peristaltismo. Este processo
consiste em uma série de respostas reflexas à presença do bolo alimentar no lúmen de determinado
segmento do intestino. Este reflexo resulta na contração da musculatura e em um gradiente de pressão
que move o bolo alimentar em direção ao ânus (SILVERTHORN, 2017; GUYTON; HALL, 2017).
Estes processos dependem de uma série de elementos neurais responsáveis pelas funções sensorial,
retransmissora e efetora. Os neurônios motores sofrem influência positiva e negativa. A parte exci-
tatória é mediada pela ação da acetilcolina, enquanto a parte inibitória é mediada pela ação do:
óxido nítrico, péptido intestinal vasoativo (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Fármacos que aumentam a motilidade gastrointestinal - A domperidona antagoniza princi-
palmente o receptor dopaminérgico D2, sem afetar significativamente os outros receptores. É usada por
aumentar a pressão no esfíncter esofágico inferior (desse modo, inibindo o refluxo gastroesofágico),
aumenta também o esvaziamento gástrico e o peristaltismo duodenal (GOODMAN; GILMAN, 2012).

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UNICESUMAR

A metoclopramida estimula a motilidade gástrica, provocando acentuada aceleração do esva-


ziamento gástrico. É útil no refluxo gastroesofágico e em distúrbios do esvaziamento gástrico, mas é
ineficaz no íleo paralítico (RANG; DALE, 2016).
Agora, para entendermos essa etapa do capítulo, primeiramente, vamos fazer uma breve revisão
das funções do trato gastrointestinal, para relacionarmos a atividade farmacológica dos ativos.

Porque meu filho tem cólica? Quando a criança pode comer alimentos sólidos? Você pode não se
lembrar, mas seu trato gastrointestinal demorou em torno de 2 anos para atingir uma maturidade
que permitisse com que os processos digestivos e absortivos fossem eficazes. Sabia que não é re-
comendado a introdução de alimentos sólidos antes dos 6 meses de idade? E que essa introdução
deve ser contínua e progressiva até que a criança tenha capacidade de digerir todo e qualquer
alimento? E que se essa introdução for feita de maneira errônea, as chances de provocar alguma
disfunção gástrica são muito grandes, principalmente quadros de cólica crônicos?

CONSTIPAÇÃO - O trânsito do alimento através


do intestino pode ser utilizado por diferentes tipos de
fármacos, como laxativos, emolientes fecais e purgati-
vos estimulantes. Estes últimos podem ser usados para
aliviar a constipação ou evacuar o intestino antes de
cirurgia ou exame. Os laxantes são comumente usados
contra a constipação, para acelerar o movimento do ali-
mento por meio do trato gastrointestinal (WHALEN;
PANAVELIL; FINKEL, 2016; RANG; DALE, 2016).
A constipação tem muitas causas reversíveis ou
secundárias, inclusive baixa ingestão de fibras die-
téticas, fármacos, problemas hormonais, distúrbios
neurogênicos e doenças sistêmicas. Na maioria dos
casos de constipação crônica, não foi encontrada uma
causa específica (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Figura 3 - Representação de uma criança com dores gástricas

Descrição da Imagem: Imagem representa uma criança com ambos


os braços erguidos, chorando, representada por duas gotas de lágri-
mas azuladas em cada olho, e com dores abdominais, representadas
por um círculo vermelho na sua barriga. Este círculo se irradia por
toda a barriga.

46
UNIDADE 2

Figura 4 - Figura representa uma figura das ramificações do intestino

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um intestino e suas voltas, imagem escura com pontos de exclamação em ambos os lados,
representando anormalidade na função. Os fármacos que atuam neste tipo de condição são classificados com base no seu mecanismo
de ação, que será descrito a seguir:

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - Laxativos formadores de volume e osmóticos. Esses agentes


são polímeros polissacarídeos que não sofrem digestão, deste modo, formam uma massa hidratada no
lúmen intestinal, promovendo o peristaltismo e, consequentemente, melhorando a consistência fecal.
Os laxativos formadores de volume incluem metilcelulose e certos extratos de plantas, como
sterculia, ágar, farelo e palha de ispaghula. Podem levar vários dias para produzir efeitos, mas não
têm efeitos adversos graves.
Os laxativos osmóticos consistem em solutos pouco absorvidos, os principais sais em uso são o
sulfato de magnésio e o hidróxido de magnésio. Produzindo uma carga osmótica, esses agentes pren-
dem volumes aumentados de líquido no lúmen do intestino, acelerando a transferência do conteúdo
intestinal através do intestino delgado. Isso resulta em volume anormalmente grande que entra no
cólon, causando distensão e purgação em cerca de 1 hora. Podem também ocorrer cólicas abdominais
(WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016; RANG; DALE, 2016).
Laxativos estimulantes - Atuam por estimulação de nervos entéricos, resultando no aumento do
peristaltismo e secreção de eletrólitos e água. O bisacodil, picossulfato de sódio e o docusato sódico
têm ações semelhantes. Sena e dantrona são laxativos do tipo antraquinona. O princípio ativo (depois
da hidrólise de ligações glicosídicas no caso do extrato de planta, a sena) estimula diretamente o plexo
mioentérico, causando aumento do peristaltismo e, desse modo, a defecação (RANG; DALE, 2016).

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UNICESUMAR

Emolientes fecais - O docusato de sódio é um composto tensoativo que atua no trato gastrointestinal
de maneira semelhante a um detergente e produz fezes mais umedecidas. Adicionalmente, tem um mo-
desto efeito estimulante laxativo (RANG; DALE, 2016; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Agentes umectantes e emolientes fecais reduzem a tensão superficial das fezes com o objetivo
de facilitar a mistura das substâncias aquosas e gordurosas, amolecer as fezes e permitir a evacuação
mais fácil. O óleo mineral é indigerível e absorvido apenas em pequenas quantidades, penetra e ama-
cia as fezes, podendo interferir na reabsorção da água. Os efeitos adversos do óleo mineral impedem
sua utilização prolongada e incluem: interferência na absorção de substâncias lipossolúveis (como as
vitaminas); desenvolvimento de reações de corpo estranho na mucosa intestinal e em outros tecidos;
e eliminação do óleo pelo esfincter anal (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Fibras da dieta e suplementos - Em condições normais, o volume, a consistência e a hidratação
das fezes dependem do teor de fibras da dieta. A definição de fibra é a parte do alimento que resiste
à digestão enzimática e chega ao intestino grosso praticamente inalterada. As bactérias do cólon fer-
mentam as fibras em graus variáveis, dependendo de sua composição química e hidrossolubilidade.
A fermentação das fibras exerce dois efeitos importantes: forma ácidos graxos de cadeias curtas, que
atuam como fatores tróficos no epitélio do intestino grosso e aumenta a contagem de bactérias. Em
geral, as fibras insolúveis e pouco fermentáveis, como a lignina, são mais eficazes para aumentar o
volume fecal e o trânsito intestinal (GOODMAN; GILMAN, 2012).

Você sabia que o consumo excessivo de fibras e laxantes pode provocar um efeito reverso e ser o
fator desencadeante da constipação? Por este motivo, a dieta deve ser equilibrada com concentra-
ção correta de água e alimentos que favorecem a motilidade intestinal, impactando diretamente
na absorção intestinal.

DIARREIA - O termo diarreia é definido como massa líquida excessiva, onde a maioria dos casos
resulta de distúrbios do transporte intestinal de água e eletrólitos (GOLAN et al., 2014). Globalmente,
a doença diarreica aguda é uma das principais causas de morte em lactentes desnutridos, especialmente
em países em desenvolvimento onde o atendimento médico é menos acessível, e cerca de 1-2 milhões
de crianças morrem por ano pela simples falta de contramedidas. A investigação e o entendimento
dos processos etiológicos responsáveis pela diarreia facilitam o tratamento eficaz (KUMAR; ABBAS;
FAUSTO, 2016; RANG; DALE, 2016; GOODMAN; GILMAN, 2012).

48
UNIDADE 2

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - O tratamento farmacológico da diarreia deve ser reservado


para os pacientes com sintomas persistentes ou significativos. Em geral, os agentes antidiarreicos agem
de forma inespecífica ao mecanismo responsável pela diarreia, tendo como objetivo oferecer alívio
sintomático nos casos brandos de diarreia aguda.
Uma observação importante é de que alguns desses antidiarreicos atuam diminuindo a motilidade
intestinal, assim, devem ser evitados quando causados por doenças diarreicas por microrganismos
patogênicos, uma vez que podem retardar a eliminação dos microrganismos e aumentar o risco de
invasão sistêmica pelos agentes infecciosos; além disso, os antidiarreicos podem causar complicações
locais, como megacólon tóxico (RANG; DALE, 2016; GOODMAN; GILMAN, 2012).
Fármacos higroscópicos e formadores do bolo fecal - Esses agentes são polímeros polissacarídeos
que não sofrem digestão, deste modo, formam uma massa hidratada no lúmen intestinal, promovendo
o peristaltismo e, consequentemente, melhorando a consistência fecal.
Os coloides ou os polímeros hidrofílicos pouco fermentáveis como a carboximetilcelulose e a poli-
carbofila cálcica absorvem água e aumentam o volume fecal (a policarbofila absorve 60 vezes sua massa
em água). Em geral, são usados para constipação, mas são úteis, às vezes, em diarreia episódica aguda
e em diarreias crônicas brandas em pacientes com síndrome do intestino irritável. O mecanismo desse
efeito não está claro, mas eles podem atuar como géis e modificar a consistência e a viscosidade das fezes,
gerando uma sensação de redução da fluidez das fezes (GOLAN et al., 2014; KATZUNG; GRAW, 2013).
Outros compostos:
Sequestradores dos ácidos biliares: a colestiramina aumenta a excreção fecal dos ácidos biliares
e reduz seus níveis circulantes e, por fim, diminui as concentrações sistêmicas com alívio do prurido
dentro de 1-3 semanas.
Bismuto: utilizados para tratar várias doenças e sintomas gastrointestinais há séculos, embora seu
mecanismo de ação permaneça mal compreendido.
Probióticos: o trato GI contém ampla flora comensal necessária para a saúde. Alterações no equi-
líbrio ou composição desta flora são responsáveis pelas diarreias associadas ao uso de antibióticos e
possivelmente, outras doenças. Preparações probióticas contendo uma variedade de cepas bacterianas
mostraram algum grau de benefício nas diarreias agudas, diarreias associadas a antibióticos e diarreias
infecciosas, mas a maioria dos estudos clínicos foi pequena e, por isso, as conclusões são limitadas
(RANG; DALE, 2016; GOODMAN; GILMAN, 2012; GOLAN et al., 2014).
VÔMITO - Em geral, a ação de vomitar e a sensação de náusea que a acompanha são considera-
das reflexos protetores que ajudam a livrar o estômago e o intestino das substâncias tóxicas e impedir
sua ingestão subsequente. O ato físico de vomitar é coordenado centralmente pelo centro do vômito
(emético) na medula conhecido como zona do gatilho quimiorreceptora; estas áreas recebem estímulos
do labirinto no ouvido interno, através do núcleo vestibular (o que explica o mecanismo da cinetose),
e de aferentes vagais vindos do trato gastrointestinal. Os principais neurotransmissores envolvidos
nesse neurocircuito são a acetilcolina, histamina, serotonina, dopamina e a substância P. Vale ressaltar
que as náuseas e os vômitos são efeitos colaterais indesejáveis de muitos fármacos clinicamente úteis,
notadamente os usados para quimioterapia, no câncer, mas também dos opioides, anestésicos gerais
e digoxina. (SILVERTHORN, 2017; GUYTON; HALL, 2017; KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2016).

49
UNICESUMAR

Figura 6 - Processo de vômito

Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma mulher com camiseta verde e calça rosa, ajoelhada na frente de um vaso sanitário
branco em cima de um chão azul e paredes com azulejos azul e riscado branco, esta mulher encontra-se encostada com a mão esquerda
no vaso e com a mão na boca aparentemente com vontade de vomitar.

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - Em geral, os antieméticos são classificados de acordo com


os receptores predominantes, nos quais, provavelmente, atuam sendo classificados em:

50
UNIDADE 2

Anti-histamínicos - os antagonistas dos receptores histamínicos H1 são úteis principalmente nos


vômitos pós-operatórios, atuando nos nervos aferentes vestibulares e no tronco cerebral. Ciclizina, hi-
droxizina, prometazina e difenidramina são alguns exemplos desse grupo de fármacos. Nenhum é muito
eficaz contra substâncias que atuam diretamente sobre a zona gatilho. Os principais efeitos adversos são
sonolência e sedação, conquanto possivelmente contribuindo para a eficácia clínica (RANG; DALE, 2016).
Agentes anticolinérgicos - o antagonista dos receptores muscarínicos utilizado mais comumente
é a escopolamina, este apresenta efeito antiemético, entretanto, em geral, os anticolinérgicos não
são eficazes no tratamento das náuseas induzidas pela quimioterapia (GOODMAN; GILMAN,
2012). Os efeitos adversos mais comuns são secura de boca e visão embaçada. Também ocorre
sonolência, mas o fármaco tem menos ação sedativa que os anti-histamínicos devido à fraca
penetração no sistema nervoso central (RANG; DALE, 2016).
Antagonistas dos receptores 5-HT3 - o local primário de ação desses fármacos é a zona de
gatilho quimiorreceptora (ZGQ). Podem ser administrados por via oral ou parenteral (às vezes, útil
se as náuseas já estiverem presentes). Fazem parte desta classe medicamentos como granisetrona, on-
dansetrona e a palonosetrona, particularmente valiosas na prevenção e tratamento de vômitos e, em
menor proporção, de náuseas, comumente observados no pós-operatório ou naqueles causados por
radioterapia ou administração de fármacos citotóxicos como a cisplatina. Os efeitos adversos, como
cefaleia e desconforto gastrointestinal, são relativamente incomuns (RANG; DALE, 2016).
Antagonistas da dopamina - A domperidona, usado para tratar vômitos causados por citotóxicos,
bem como sintomas gastrointestinais. Diferentemente da metoclopramida, não atravessa facilmente
a barreira hematoencefálica e, consequentemente, tem menos propensão a produzir efeitos colaterais
centrais (RANG; DALE, 2016).
DOENÇA INTESTINAL CRÔNICA - Essa categoria compreende a síndrome do cólon irritável
(SCI) e as doenças inflamatórias intestinais.
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS - A
colite ulcerativa e a doença de Crohn são
formas de doenças inflamatórias intestinais
afetando o cólon ou o íleo. Trata-se de distúr-
bios inflamatórios autoimunes, que podem
ser graves e progressivos, necessitando de
tratamento com fármacos anti-inflamató-
rios e imunossupressores e, ocasionalmente,
ressecção cirúrgica (RANG; DALE, 2016).

Figura 7 - Processo inflamatório do intestino

Descrição da Imagem: a imagem apresenta a anato-


mia intestinal com suas voltas, sendo representada
pelo intestino de coloração marrom e processos infla-
matórios em três partes representadas pela coloração
vermelha. Essa coloração se destaca na parte superior,
lateral esquerda e centro.

51
UNICESUMAR

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO - Glicocorticoides - São potentes anti-inflamatórios, cujos


fármacos de escolha são, em geral, a prednisolona ou a budesonida (embora outros possam ser usados).
São dados por via oral ou localmente no intestino por supositórios ou enemas. Os glicocorticoides são
úteis para as crises agudas de doenças inflamatórias intestinais, não são ideais para o tratamento de
longo prazo (em razão de seus efeitos colaterais) (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
Aminossalicilatos - a manutenção da remissão tanto na colite ulcerativa quanto na doença de
Crohn, em geral, é obtida com os aminossalicilatos, embora sejam menos úteis nessa última condição.
Seu mecanismo de ação é obscuro; pode reduzir a inflamação por remoção de radicais livres, inibindo
a produção de prostaglandinas e leucotrienos e/ou por diminuição da quimiotaxia dos neutrófilos e da
geração de superóxidos. Seus efeitos adversos são diarreia, hipersensibilidade aos salicilatos e nefrite
intersticial (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
SÍNDROME DO CÓLON IRRITÁVEL - A SCI é caracterizada por crises de diarreia, constipa-
ção ou dor abdominal. A etiologia da doença é incerta, mas fatores psicológicos podem ter alguma
participação. O tratamento é sintomático, usando-se uma dieta rica em fibras mais loperamida ou
um laxativo, se necessário. As anormalidades da função intestinal, que podem ser evidenciadas por
constipação ou diarreia, ou ambas, nas mais diferentes ocasiões, resultaram na interpretação clássica
da SCI como um “distúrbio da motilidade”, embora as alterações motoras não possam explicar intei-
ramente o quadro clínico observado (KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2016).

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

Muitos pacientes podem ser tratados satisfatoriamente por aconselhamento simples e medidas com-
plementares como restrições dietéticas e suplementação com fibras; as anormalidades psicológicas
evidentes devem ser tratadas adequadamente. Apesar dessas medidas, uma porcentagem significativa
dos pacientes continua incomodada pelos sintomas da doença e o tratamento farmacológico quase
sempre é experimentado (PENILDON, 2010).
Entretanto, existem poucas opções farmacológicas eficazes para esses casos, entre eles tem-se:
Antiespasmódicos: incluem anticolinérgicos, antagonistas do canal de cálcio e antagonistas dos
receptores opioides. Fármacos podem ser moderadamente eficazes em um subgrupo de pacientes e
são úteis como medida complementar.
Antidepressivos: classe mais eficaz devido suas propriedades neuromoduladoras e analgésicas,
independentes do seu efeito antidepressivo. Os antidepressivos tricíclicos têm uma longa história
de eficácia comprovada no tratamento da dor visceral “funcional” crônica. Os inibidores seletivos
da recaptação da serotonina têm menos efeitos adversos e têm sido recomendados especialmente
para os pacientes com constipação funcional, porque podem aumentar os movimentos intestinais e, até
mesmo, causar diarreia (GOODMAN; GILMAN, 2012; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

52
UNIDADE 2

Após toda essa exposição do conteúdo, vamos pensar um pouco. Qual interferência farmaco-
lógica pode acontecer em um paciente constipado? Com diarreia? Vômito? Intestino Irritado?
Úlcera? Pense um pouco! Se sua resposta foi relacionada aos processos absortivos, você pen-
sou corretamente, se lembrarmos que o trato gastrointestinal é a principal via de absorção do
organismo, qualquer condição que altere sua funcionalidade correta irá interferir diretamente
na absorção e, consequentemente, na biodisponibilidade do medicamento. Se você pensou em
probabilidade de intoxicação, você pensou certo também, uma vez que processos constipativos
evitam que o medicamento seja eliminado e, consequentemente, acumule-se no organismo,
sendo um fator de risco ao desenvolvimento de efeitos adversos. Portanto, o estudo dos
processos gastrointestinais, bem como seu tratamento, garantem uma boa probabilidade de
redução nos efeitos adversos relacionados a não absorção ou toxicidade.

Pronto! Mais um capítulo se encerra e queremos ter a certeza de que


este conteúdo complexo e fundamental no entendimento dos processos
digestivos, suas interferências e tratamento foi bem aproveitado. Deste
modo, convido você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a importância
destes conhecimentos apresentados no capítulo para o desenvolvimento
de compostos com potencial terapêutico.

Quanta informação interessante, concorda? Aposto que após este capítulo, você teve uma real
dimensão da importância da manutenção da integridade e funcionalidade do trato gastrointes-
tinal evitando, assim, complicações farmacológicas. Deste modo, que tal analisarmos uma breve
pesquisa sobre as formas mais rápidas de absorção? Faça uma comparação entre as formas far-
macêuticas, gotas ou comprimidos e responda essa pergunta: “QUAL FORMA É ABSORVIDA
MAIS RAPIDAMENTE NO TRATO GASTROINTESTINAL?”

53
Encerramos esse longo e divertido momento, lembre-se que este capítulo irá ajudá-lo em todos os
módulos relacionados ao uso dos compostos que possuem ação dentro do organismo, uma vez
que foram abordados os conceitos iniciais desta jornada farmacológica, entretanto, você deve pen-
sar que para chegarmos ao final da construção do conhecimento, precisamos solidificar muito bem
a base dele. Para isso, temos que garantir que você conseguiu absorver as informações de maneira
objetiva e correta, então, que tal se você produzir um Mapa Mental, estabelecendo a relação e inte-
gração entre os processos Farmacocinética e Farmacodinâmica, utilizando as palavras-chave: Trato
gastrointestinal, Controle, Sistema Nervoso Entérico, Serotonina, Hormônios, Gastrina, Problemas,
Constipação, Laxativos, Úlceras, Inibidores de Bomba de Prótons, Motilidade, Domperidona.
Vamos lá?

TRATO GASTROINTESTINAL

CONTROLE PROBLEMA

LAXATIVOS
SISTEMA NERVOSO ENTÉRICO

GASTRINA ÚLCERAS

DOMPERIDONA

54
1. O trato gastrointestinal apresenta particularidades farmacológicas importantes que impactam
diretamente os processos farmacocinéticos e dinâmicos. Considerando o contexto, avalie as
seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

O sistema nervoso entérico é conhecido pela sua vasta similaridade com sistema nervoso
central, este sofre influência excitatória da acetilcolina e inibitória do óxido nítrico.

PORQUE

Os agentes colinérgicos utilizados no tratamento das úlceras pépticas atuam com antagonistas
dos receptores muscarínicos, provocando a diminuição da secreção do ácido clorídrico.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta:

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Analise o texto.

O trato gastrointestinal possui inúmeras funções importantes no organismo, deste modo, a


manutenção da sua integridade é fundamental e o tratamento das suas agressões deve ser
bem-sucedido. Assinale a alternativa que descreve corretamente o fármaco de primeira
escolha na síndrome do Cólon irritável:

a) Antagonistas Histaminérgicos.
b) Inibidores da Bomba de próton.
c) Sulcratos.
d) Antidepressivos Tricíclicos.
e) Laxantes.

55
3. Analise as afirmativas referente a farmacologia do trato gastrointestinal:

I) A secreção gástrica exacerbada é resultado do efeito positivo da prostaglandina, ou seja,


essa substância atua aumentando a síntese e liberação dos precursores do ácido clorídrico
nas células gástricas.
II) Os citoprotetores são utilizados nas ulcerações, uma vez que produzem uma camada protetora
na superfície da mucosa gástrica, entre as classes tem-se o Quelato de Bismuto e os Sulcratos.
III) Fármacos como Metoclopramida e Domperidona são utilizados para constipação, uma vez
que aumentam a pressão do bolo alimentar, facilitando a evacuação.
IV) Os probióticos são compostos que contêm flora comensal para reposição da flora residente
intestinal. São compostos muito utilizados em quadros de diarreia agudas.
V) Os glicocorticóides são antieméticos muito utilizados no vômito, uma vez que diminuem os
disparos sensitivos no centro do vômito, deste modo, impede os sintomas relacionados ao
mal estar e, consequentemente, vontade de vomitar.;

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas as alternativas I, II e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas IV e V estão corretas.

56
3
Fármacos Que Atuam
no Metabolismo
Glicêmico e Lipídico
Dr. Marcel Pereira Rangel

Nos capítulos anteriores, foram trabalhados como os fármacos


atuam, primeiramente, de forma geral em todo organismo e
depois com foco no trato gastrointestinal, agora, vamos come-
çar as análises pontuais focando nas patologias comuns, como
as síndromes metabólicas, e escolhemos para trabalhar nesta
unidade Diabetes e Dislipidemias, as duas condições mais impor-
tantes atualmente e que provocam grande impacto na qualidade
de vida dos indivíduos. Vamos conhecer como é a farmacologia
no tratamento desta condição?
UNICESUMAR

Qual seu conhecimento prévio das Síndromes Metabólicas? Já ouviu falar? Sabe do que se trata? E o
tratamento destas síndromes são efetivos? Curativos? Preventivos? Insulina, sabe o que é? Pense um
pouco sobre Diabetes Mellitus e Dislipidemias, e agora conseguiria responder os questionamentos
propostos? Independentemente da sua resposta, convido você para, juntos, nos aprofundar neste
assunto tão importante para o organismo, bem como seu tratamento farmacológico.
Como anda seus hábitos de vida? Já se perguntou se eles impactam diretamente na sua saúde? E
no seu bem-estar? Fatores estressantes do dia a dia, como longas jornadas de trabalho ou estudo asso-
ciados às mudanças nos hábitos de vida, como diminuição do tempo para atividades físicas, consumo
excessivo de alimentos com alto teor de gordura e carboidratos, fez com que a população reduzisse a
sua qualidade de vida impactando diretamente no surgimento de doenças crônicas não transmissí-
veis que caracterizam a síndrome metabólica (SM), como Diabetes e dislipidemias. Estas condições,
atualmente, tornaram-se um grande problema de saúde pública em todas as faixas etárias, e mesmo
apresentando um tratamento considerado efetivo e com muitas opções, desde medicamentos por via
oral e injetável no controle do seu percurso, quando não tratada corretamente, pode levar o indivíduo
à morte ou complicações graves.
Reflita sobre sua alimentação, o que acha dela? Analise sua dieta por 1 semana, e anote os exercícios
físicos que faz. Após este período, tente analisar como são seus hábitos e se eles o levam como um
candidato ao desenvolvimento das Síndromes Metabólicas. Você também pode fazer uma árvore ge-
nealógica sua e dos seus familiares analisando quem já teve algum tipo de problema com carboidratos
e lipídios, uma vez que a condição genética, nestas situações, é muito forte.
Ao analisarmos o impacto das síndromes metabólicas na qualidade de vida do indivíduo, temos
que levar em conta que elas são consideradas doenças não transmissíveis, ou seja, o desenvolvimento,
agravamento e início delas estão relacionadas quase que exclusivamente aos hábitos de vida da pessoa.
Neste ponto, devemos ponderar que a população mundial está doente, quando relacionamos ao con-
sumo alimentar e prática de atividade física, isso pode ser facilmente constatado quando analisamos
que as síndromes metabólicas estão relacionadas a quatro das dez principais causas de morte na popu-
lação. Você pode fazer um simples questionamento “Mas não é só comer bem e fazer atividade física,
ou controlar a doença com medicamentos?” A resposta é sim, entretanto, isso é fácil? Pensando que
atualmente os hábitos de vida associados ao dia a dia de trabalho com rotinas cada vez menos saudáveis
são fatores de risco ao desenvolvimento das Síndromes Metabólicas e seus impactos são devastadores
na saúde e na qualidade de vida do indivíduo, mesmo o tratamento sendo efetivo quando utilizado
da forma correta. Assim, neste capítulo, iremos abordar as principais classes dos medicamentos que
atuam em diferentes momentos no desenvolvimento das doenças.

58
UNIDADE 3

59
UNICESUMAR

Os hormônios pancreáticos insulina e glucagon são os principais responsáveis pelo controle da glicemia
do organismo. Estes hormônios são secretados pelas células pancreáticas localizadas nas ilhotas de
Langerhans (células β produzem insulina; células α produzem glucagon) (FUCHS WANNMACHER;
FERREIRA, 2010). O nível de glicemia é facilmente obtido e proporciona orientação acurada sobre
o equilíbrio de insulina e hormônios contrarreguladores. Esse equilíbrio, normalmente, mantém os
níveis de glicemia dentro de uma faixa estreita (70 a 120 mg/dℓ), independentemente da ingestão
recente de alimentos. Entretanto, deve-se observar quadros de hipoglicemia, uma vez que sistemas
como central e cardíaco dependem de um suplemento constante de glicose para seu funcionamento
apropriado (GOLAN et al., 2014). Por outro lado, a hiperglicemia crônica é tóxica para numerosas
células e tecidos, provocando quadros de Diabetes Mellitus, que será abordado a seguir.
DIABETES MELLITUS - O médico Areteu, no ano 200, observou uma sede incontrolável e
excesso de urina em pacientes, assim, denominou esse conjunto de sinais como “diabetes”, cujo
significado, em grego, é “sifão” ou “que passa por”. Os estudos subsequentes acrescentaram o ter-
mo “mellitus” (do latim, “melado, doce”) ao nome da doença, após verificarem que os pacientes
diabéticos produziam urina contendo açúcar (GOLAN et al., 2014).
O diabetes é um grupo heterogêneo de síndromes caracterizadas por elevada glicemia atri-
buída à deficiência absoluta ou relativa de insulina. A American Diabetes Association (ADA)
reconhece algumas classificações clínicas do diabetes: Diabetes Mellitus tipo 1, Diabetes Mellitus
tipo 2 e Diabetes gestacional (FUCHS et al., 2010).
Diabetes melito tipo 1: mais comum em crianças, adolescentes ou adultos jovens, mas algu-
mas formas latentes podem ocorrer mais tardiamente. A doença é caracterizada por deficiência
absoluta de insulina devido à destruição das células β (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA,
2010). A predisposição genética ao diabetes tipo 1 está fortemente mapeada nos loci do antígeno
leucocitário humano (HLA), também conhecido como complexo principal de histocompati-
bilidade (CPH), que codifica proteínas envolvidas na apresentação de antígenos. Outros loci
genéticos contribuem fracamente para o diabetes tipo 1 (GOLAN et al., 2014). Os diabéticos
tipo 1 necessitam de insulina exógena para evitar a hiperglicemia grave e o estado catabólico de
cetoacidose, ameaçador à sobrevivência (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Diabetes melito tipo 2: síndrome com caráter influenciador genético, idade, obesidade e resis-
tência periférica à insulina, em vez de processos autoimunes (FUCHS; WANNMACHER; FERREI-
RA, 2010). Em geral, a doença se desenvolve de modo gradual, sem qualquer sintoma no início. A
progressão para o diabetes tipo 2 frequentemente começa com um estado de resistência à insulina.
Com o aumento da idade e de peso, os tecidos que antes eram normalmente responsivos à insulina se
tornam relativamente refratários à ação do hormônio e necessitam de níveis aumentados de insulina
para responder de modo apropriado (GOLAN et al., 2014).
Diabetes Gestacional: durante a gravidez, a placenta e os hormônios placentários criam uma
resistência à insulina, que se torna mais pronunciada no último trimestre (KATZUNG; GRAW, 2013).
O diabetes gestacional não controlado pode causar macrossomia fetal (corpo anormalmente grande),
distócia de ombro (dificuldade no parto), bem como hipoglicemia neonatal. Dieta, exercício e/ou ad-
ministração de insulina são eficazes nessa condição (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

60
UNIDADE 3

Saudável Insulina Receptor de Glicose


Insulina

Figura 1 - Representação dos tipos de diabetes


segundo o mecanismo fisiopatológico da doença
Tipo I Diabetes Insulina Receptor de Glicose
Insulina
Descrição da Imagem: a imagem é dividida em
três quadros. O primeiro representa um orga-
nismo funcional sem nenhum distúrbio pan-
creático, ou seja, o pâncreas, na figura, libera o
hormônio insulina representado por triângulos
roxos (sete) e uma flecha representando sua
ligação ao seu receptor, este receptor está em
um círculo que representa o tecido-alvo da in-
sulina, assim, ao se ligar ao seu receptor, ela
ativa o GLUT4 e este promove a internalização
da glicose representado por círculos vermelhos.
Na segunda imagem está representado indiví-
Glicose
Tipo II Diabetes Insulina Receptor de duo com diabetes do tipo I, ou seja, existe um
Insulina “xix” na liberação pancreática de insulina, deste
modo, não ocorre toda a sequência de eventos
celulares que resultaria na entrada da glicose na
célula mediada pelo GLUT4. Na terceira e última
imagem está representado indivíduo com dia-
betes do tipo II, ou seja, o processo de liberação
pancreática de insulina ocorre normalmente,
entretanto, tem-se um “xix” na ligação da insu-
lina ao seu receptor, deste modo, não ocorre a
translocação do GLUT4 para permitir a entrada
da glicose na célula.

Você sabia que existem mais de 460 milhões de pessoas com diabetes no mundo? E que a
maioria destas pessoas não recebe diagnóstico correto? Também sabia que o custo com saúde
envolvendo a doença ou seus agravantes foi em torno de US $ 760 bilhões de dólares em 2019
e que o diabetes entre suas distintas formas está entre as 10 principais causas de morte, com
quase metade ocorrendo em pessoas com menos de 60 anos? Estes números destacam a
importância da doença no impacto de vida dos indivíduos. Deste modo, a Organização Mundial
da Saúde instituiu o dia 14 de Novembro como “DIA MUNDIAL DO DIABETES", como meio de
conscientização para os dados alarmantes da doença.

61
UNICESUMAR

Após observarmos o impacto da doença, vamos nos aprofundar nos seus distintos tratamentos
farmacológicos e não farmacológicos:
TRATAMENTO - O objetivo do tratamento para diabetes é aliviar os sintomas relacionados
aos quadros hiperglicêmicos e, consequentemente, suas complicações, uma vez que não existe cura.
Lembrando de que, para sucesso do tratamento, é imprescindível a participação ativa do paciente nos
cuidados do diabetes (GOODMAN; GILMAN, 2012).
NÃO FARMACOLÓGICO - O paciente portador de diabetes deve receber educação nutricional,
praticar exercícios e receber instruções sobre os medicamentos destinados a reduzir o nível plasmá-
tico de glicose. No diabetes tipo 1, a correspondência entre o aporte de calorias e a dose de insulina é
muito importante. No diabetes tipo 2, a dieta é direcionada para a perda de peso, a redução da pressão
arterial e o risco de aterosclerose. O exercício proporciona múltiplos benefícios a pacientes portadores
de diabetes, porém pode ser necessário um ajuste da dose dos medicamentos hipoglicemiantes para
evitar a hipoglicemia relacionada ao exercício (GOODMAN; GILMAN, 2012).
FARMACOLÓGICO - O principal objetivo da terapia farmacológica consiste em normalizar os
parâmetros metabólicos, como a glicemia, reduzindo o risco de complicações a longo prazo. O tra-
tamento é diversificado, e em primeiro lugar, os pacientes obesos devem empenhar-se em reduzir o
peso corporal e aumentar a prática de exercícios físicos, a fim de melhorar a sensibilidade à insulina.
Dispõe-se de agentes terapêuticos para modificar a maior parte das etapas do processo de regulação
da homeostasia da glicose (GOLAN et al., 2014).

Figura 2 - Representação do acompanha-


mento e monitoramento do Diabetes

Descrição da Imagem: possui uma pes-


soa de camisa vermelha, cabelos marrons
e calça azul, sentada em um aparelho que
mede glicemia capilar, este, mede núme-
ro nove ponto cinco. Ao lado, e no meio
da imagem, tem um caderno de anota-
ções com linhas em azul e no título aci-
ma escrito Diabetes. No canto esquerdo
deste caderno, tem um frasco azul claro
escrito insulina com duas folhas verde
claras atrás.

INSULINA

62
UNIDADE 3

A seguir, vamos discutir as classes de fármacos disponíveis:


INSULINA - se analisarmos que a glicose é a fonte primária de energia para o cérebro no adulto, e
o seu controle fisiológico reflete as necessidades de manter o aporte adequado de combustível em face
de uma ingestão intermitente de alimentos e de uma demanda metabólica variável e que na alimentação
estão disponíveis quantidades superiores ao que é necessário imediatamente, então, é fundamental o
controle hormonal realizado pela Insulina, que é um hormônio proteico, onde o pâncreas é respon-
sável pela sua secreção contínua (GOLAN et al., 2014).

Em 2021, a descoberta da Insulina completa 100 anos. O histórico desta descoberta passa, inicial-
mente, em 1869, em Berlim, por meio do estudo estrutural do pâncreas por Paul Langerhans, em
seguida pelas inúmeras tentativas de isolamento do hormônio até 1906 e 1922 quando foi realizada
a primeira injeção de insulina em Leonard Thompson. Finalmente, a insulina foi a primeira proteína
cuja sequência de aminoácidos foi identificada pelo grupo de Sanger em Cambridge, em 1955.

Figura 3 - Representação de
uma seringa e um frasco de
Insulina

Descrição da Imagem:
imagem com fundo azul,
e a direita um dispositivo
que elucida o mecanismo
de aplicação da insulina,
nele, está representado,
em Azul escuro, a gra-
duação de perfuração,

INSULINA em seguida a graduação


volumétrica e uma agulha
na ponta. Ao lado, tem-se
um frasco com líquido
azul escrito INSULINA (IN-
SULINA), e representando
o volume de 10 mL.

63
UNICESUMAR

A insulina é um hormônio proteico sintetizado, inicialmente, em uma molécula grande de 110 ami-
noácidos conhecida como pré-pró-insulina, esta é processada em pró-insulina e, a seguir, em insu-
lina e peptídeo C (GOODMAN; GILMAN, 2012). Ambos são armazenados e liberados juntos em
proporções idênticas (RANG; DALE, 2016). O principal fator que controla a síntese e a secreção de
insulina é a concentração de glicose no sangue, uma vez que as células pancreáticas respondem tanto
à concentração absoluta de glicose quanto a suas alterações. Além da glicose, sabe-se que estímulos
distintos, como: aminoácidos (principalmente arginina e leucina), ácidos graxos, o sistema nervoso
parassimpático e incretinas (especialmente GLP-1 e o GIP, também estão relacionados a liberação da
insulina (RANG; DALE, 2016).
Estímulo para secreção - Ao entrar no pâncreas, a glicose, por meio do transportador GLUT
2, aumenta seu metabolismo em razão ATP/ADP intracelular, que estimula a secreção de insulina.
A razão ATP/ADP modula a atividade de um canal de potássio sensível a concentração de ATP, este
fechado permite a abertura do Canal de Cálcio que, aberto, aumenta a concentração intracelular de
cálcio, resultando na liberação de insulina (GOLAN et al., 2014).
Quando circulante, o hormônio se liga aos seus receptores expressos em quase todos os tipos
de tecidos, produzindo diversos efeitos. No fígado, a insulina aumenta a atividade da glicoqui-
nase, mediando, assim, a fosforilação e o sequestro da glicose nos hepatócitos. Esse suprimento
aumentado de glicose no hepatócito fornece a energia necessária para síntese de glicogênio,
glicólise e síntese de ácidos graxos (GOLAN et al., 2014). No músculo esquelético, a insulina
estimula a translocação do transportador de glicose responsivo à insulina, o GLUT4, das vesí-
culas intracelulares para a superfície celular, facilitando a captação tanto da glicose quanto dos
aminoácidos, promovendo a síntese proteica e armazenamento da glicose, respectivamente. No
tecido adiposo, a insulina promove a expressão da lipoproteína lipase, que hidrolisa os triglice-
rídeos a partir das lipoproteínas circulantes para captação nos adipócitos. Uma vez no interior
da célula adiposa, glicose e ácidos graxos são armazenados predominantemente na forma de
triglicerídeos (GOLAN et al., 2014; GOODMAN; GILMAN, 2012; KATZUNG; GRAW, 2013).
Degradação da insulina - A insulina apresenta uma meia-vida de 5-6 min, devido à extensa depu-
ração hepática e excreção renal. Em geral, o fígado depura cerca de 60% da insulina circulante liberada
pelo pâncreas, em virtude de sua localização como sítio terminal do fluxo sanguíneo da veia porta,
ao passo que os rins removem 35 a 40% do hormônio endógeno (GOLAN et al., 2014; GOODMAN;
GILMAN, 2012; KATZUNG; GRAW, 2013).
TIPOS DE INSULINA - Insulina de ação curta – Ação após 30 min da administração com
pico entre 2 e 3 horas, recomenda-se ser injetada 30 a 45 minutos ou mais antes das refeições
para minimizar o desequilíbrio.
Insulina de ação rápida – Possui ação rápida (4 a 5 horas), permite a administração de
insulina imediatamente antes da refeição.
Insulinas de ação intermediária e de ação longa – A insulina NPH tem início de ação de cerca de 2 a
5 horas e duração de 4 a 12 horas, esse efeito é obtido por meio da combinação da insulina com protamina.
Sistemas de administração de insulina - Padrão: o modo padrão de insulinoterapia consiste
em sua injeção subcutânea com agulhas e seringas convencionais descartáveis.

64
UNIDADE 3

Injetores portáteis do tipo caneta: para facilitar as múltiplas injeções subcutâneas de insulina,
particularmente durante a insulinoterapia intensiva, foram desenvolvidos injetores portáteis do ta-
manho de uma caneta, que contêm cartuchos de insulina e agulha substituível.
Dispositivos de infusão subcutânea contínua de insulina: os dispositivos de infusão subcutânea
contínua de insulina consistem em bombas externas para a administração de insulina, programados
a partir dos resultados de automonitoração do nível de glicemia (KATZUNG; GRAW, 2013; GOOD-
MAN; GILMAN, 2012; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Complicações da insulinoterapia - Hipoglicemia: Normalmente ocorre logo após a adminis-
tração, ou consumo inadequado de carboidratos e esforço físico, sendo revertida com administração
de soro glicosado (KATZUNG; GRAW, 2013).
Alergia à insulina – Constitui uma reação de hipersensibilidade de tipo imediato, e uma condição
rara, em que a urticária local ou sistêmica resulta da liberação de histamina por mastócitos teciduais
sensibilizados por anticorpos IgE anti-insulina (KATZUNG; GRAW, 2013).
Lipodistrofia nos locais de injeção: a injeção de preparações de insulina animal, algumas vezes,
resultou em atrofia do tecido adiposo subcutâneo no local da injeção (KATZUNG; GRAW, 2013).
Resistência à insulina – A incapacidade da insulina em quantidades normais de produzir a res-
posta esperada é descrita como resistência à insulina. A sensibilidade à insulina é afetada por muitos
fatores, incluindo idade, peso corporal, níveis de atividade física, doença e medicamentos (GOOD-
MAN; GILMAN, 2012; PENILDON, 2010).

65
UNICESUMAR

Comer comida

CÉLULAS
Sentindo-se Cansado RESISTENTES À Fazendo Insulina
e com Fome
INSULINA

Açúcar armazenado Células Resistentes


como Gordura à Insulina
Figura 4 - Representação de um fluxograma da evolução da resistência à insulina no organismo

Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma, iniciando pela imagem escrito (Comer comida). Na parte superior tem-se uma pessoa
com calça vermelha e camisa branca, segurando um garfo cinza maior do que ela e ao lado um prato também cinza com quatro frutas
dentro: Abacate verde cortado ao meio deixando analisar o caroço em marrom, uma penca com duas bananas amarelas, uma laranja
cortada ao meio com três gomos aparentes e ao fundo um pedaço de melancia vermelha com oito sementes pretas, essa figura possui
uma flecha saindo dela em direção a próxima figura escrito (Fazendo Insulina), levemente abaixo, onde está representado pâncreas com
a cor laranja e dele saindo um círculo roxo representando o hormônio insulina. Essa figura possui uma flecha saindo dela em direção a
próxima figura escrito (Células Resistentes à Insulina), representada por cinco células arredondadas e com cor vermelha claro com uma
bola vermelha escura representando o núcleo, onde três moléculas de insulina representados pelos círculos roxos estão em contato.
Essa figura possui uma flecha saindo dela em direção à próxima figura escrita (Açúcar armazenado como Gordura), onde dois círculos
representando insulina e dois cubos de açúcar entram em uma célula representada pelo tecido adiposo. Essa figura possui uma flecha
saindo dela em direção a próxima figura escrita (Sentindo-se Cansado e com Fome), onde tem uma pessoa com calça vermelha e camisa
branca sentada em uma cadeira cinza dormindo representada

Secretagogos da insulina: sulfonilureias - Fármacos classificados como secretagogos de insuli-


na, pois promovem a liberação de insulina das células β do pâncreas (FUCHS; WANNMACHER;
FERREIRA 2010).
Sulfonilureias - As sulfoniluréias foram desenvolvidas após a observação casual de que um derivado
da sulfonamida (utilizado no tratamento da febre tifoide) causava hipoglicemia. Estão disponíveis no
mercado diversas sulfonilureias (RANG; DALE, 2016).
MECANISMO DE AÇÃO - Estimulam a liberação de insulina das células β do pâncreas, uma vez
que se ligam ao seu receptor pancreático, inibindo o canal de potássio ATP dependente. Sendo um
efeito análogo a períodos pós-prandiais descritos anteriormente (GOLAN et al., 2014).

66
UNIDADE 3

Atualmente, temos duas gerações da classe das Sulfonilureias:


Primeira geração: tolbutamida, Clorpropamida e tolazamida.
Segunda geração: glibenclamida (gliburida), a glipizida, a gliclazida e a glimepirida.

Ilha Pancreática

Glucose Insulina

Célula Beta

Figura 5 - Representação da liberação do hormônio insulina pelo pâncreas

Descrição da Imagem: a imagem é uma sequência de eventos, iniciando com pâncreas representado por uma imagem amarelada,
desta imagem sai uma seta para baixo, onde está representada célula pancreática conhecida como (ilha pancreática), caracterizado por
uma porção de células azuladas, avermelhadas e roxas, onde ocorre o último processo descrito, por uma célula azulada com receptores
roxos escritos GLUT2, nele ocorre a passagem de moléculas de glicose representadas por círculos vermelhos. Dentro da célula tem
três flechas pretas em direção a um círculo azul claro com três triângulos roxos. Por fim, neste processo, tem-se um círculo acoplado
na membrana da célula aberta para exterior liberando três triângulos roxos.

FARMACOCINÉTICA - Administradas por via oral, as sulfonilureias se ligam às proteínas


séricas, são biotransformadas pelo fígado e excretadas pelo fígado e pelos rins. A duração de ação
varia de 12 a 24 horas. (ILUSTRADA). Em virtude de sua meia-vida e inativação pelo fígado,
são consideradas relativamente seguras para uso no idoso e em pacientes com comprometimento
renal (KATZUNG; GRAW, 2013).

67
UNICESUMAR

O principal efeito adverso consiste em hipoglicemia, dada a secreção excessiva de insulina.


Os estudos realizados mostram que o uso de sulfonilureias está associado à diminuição marginal
dos lipídios circulantes (GOLAN et al., 2014).
Interações medicamentosas - Fármacos como: anti-inflamatórios não esteroidais, varfarina, clo-
ranfenicol e alguns antifúngicos e o álcool aumentam os efeitos hipoglicemiantes das sulfonilureias. A
provável base para a maioria dessas interações consiste na competição pelas enzimas de metabolismo,
porém a interferência na ligação com as proteínas plasmáticas ou com mecanismos de transporte que
facilitam a excreção também pode desempenhar algum papel (RANG; DALE, 2016).
Redução da produção hepática de glicose: biguanidas - A metformina utilizada na medicina
tradicional durante séculos para tratar o diabetes é a única biguanida utilizada clinicamente no trata-
mento do diabetes tipo 2, para o qual é, agora, um fármaco de primeira escolha (RANG; DALE, 2016).
MECANISMO DE AÇÃO - A produção hepática de glicose pode estar anormalmente elevada no
diabetes tipo 2, assim, o mecanismo da metformina é diminuir a síntese hepática da glicose, por meio
da ativação da enzima regulatória PQAM. Ao ativar essa enzima, o fármaco inibe o processo conhecido
como gliconeogênese, a síntese de ácidos graxos e a produção de colesterol. Além deste efeito hepático,
a metformina também melhora a captação de glicose no músculo periférico (GOLAN et al., 2014).
FARMACOCINÉTICA - A metformina é bem absorvida por via oral, possui meia-vida de
1,5 a 3 horas e não se liga a proteínas séricas e não é biotransformada. A excreção é pela urina
na forma do composto ativo (KATZUNG; GRAW, 2013).
EFEITOS ADVERSOS - O efeito adverso mais comum da metformina consiste em leve descon-
forto gastrintestinal, habitualmente transitório e que pode ser minimizado por titulação lenta da dose.
Um efeito adverso potencialmente mais grave é a acidose láctica (GOLAN et al., 2014). A metformina
também interfere na absorção dependente de cálcio do complexo vitamina B12, e deste modo, pode
provocar a má absorção da vitamina B12 (KATZUNG; GRAW, 2013; RANG; DALE, 2016).
Inibidores da absorção intestinal de glicose - Os inibidores da α-glicosidase são “bloqueadores
do amido”, deste modo retardam a absorção dos carboidratos da dieta ao inibir as enzimas α-glicosi-
dades da borda em escova intestinal. Ao aumentar o tempo necessário para absorção dos carboidratos
complexos, os inibidores da α-glicosidase reduzem o pico pós-prandial da glicemia. Os inibidores da
α-glicosidase mostram-se efetivos quando tomados com as refeições, mas não em outros horários. Os
inibidores da α-glicosidase podem ser usados como monoterapia ou terapia adjuvante. Não apresentam
risco de causar hipoglicemia e têm maior utilidade em hiperglicemia pós-prandial e para diabéticos
de início recente, com hiperglicemia leve (GOLAN et al., 2014). Os efeitos colaterais proeminentes
dos inibidores da a-glicosidase consistem em flatulência, diarreia e dor abdominal, e resultam do
aparecimento de carboidratos não digeridos no cólon, que são então fermentados em ácidos graxos
de cadeia curta, com liberação de gases (RANG; DALE, 2016).
Ao final desta abordagem dos hipoglicemiantes, percebe-se que, apesar do grande impacto que o
Diabetes, independentemente do tipo, provoca no indivíduo, o seu tratamento é considerado eficaz e
com múltiplas opções. Assim, cabe muito a participação do paciente neste tratamento, ou seja, tomar o
medicamento de forma correta associado à mudança nos hábitos de vida, o que, levaria a um controle
na maioria dos casos, evitando o surgimento das complicações, associados, ao não controle da doença.

68
UNIDADE 3

LIPÍDIOS

Os lipídios são moléculas insolúveis, e consideradas essenciais para diversas funções no organismo,
como: síntese hormonal, biogênese das membranas e a manutenção da integridade das membranas.
Entretanto, seu excesso provoca as doenças cardiovasculares que estão relacionadas ao grande número
de óbitos mundialmente. Os principais fatores que contribuem para as anormalidades de lipoproteínas
parecem consistir nas dietas ocidentais combinadas a um estilo de vida sedentário; entretanto, foi tam-
bém identificado um número limitado de causas genéticas de hiperlipidemia (GOLAN et al., 2014).
Transporte de lipoproteínas - Apresentam esta apolaridade e devem ser transportados por meio
de um complexo chamado lipoproteínas, ou seja, agregadas macromoleculares que transportam
triglicerídeos e colesterol no sangue. Estas são diferenciadas baseadas na concentração e tipo dos
componentes, apresentando diferentes tipos de densidade e tamanho (GOLAN et al., 2014).
Existem quatro principais classes de lipoproteínas, que diferem quanto à proporção relativa dos
lipídios no núcleo e no tipo de apoproteína (diferentes tipos de apoA e apoB). A base para sua classi-
ficação em, de acordo com Rang e Dale (2016) é:
• HDL (contêm apoA1 e apoA2);
• LDL (contêm apoB-100);
• VLDL contêm apoB-100;
• Quilomícrons (contêm apoB-48).

Essas lipoproteínas executam o transporte de lipídios do organismo, seja pela via exógena (quilomí-
crons) ou endógena (HDL, LDL e VLDL). Os distúrbios metabólicos que envolvem elevações em qual-
quer espécie de lipoproteína são denominados Dislipidemias, sendo consideradas um dos principais
fatores de risco ao desenvolvimento de problemas coronarianos, necessitando, assim, de tratamento
adequado (KATZUNG; GRAW, 2013), uma vez que estudos demonstraram a existência de uma as-
sociação definitiva entre as concentrações plasmáticas de lipídios e o risco de doença cardiovascular.
O risco aumentado de mortalidade cardiovascular está mais estreitamente ligado a níveis elevados de
colesterol LDL e a níveis diminuídos de colesterol HDL. Além disso, a hipertrigliceridemia representa
um fator de risco (PENILDON, 2010; GOLAN et al., 2014).

69
UNICESUMAR

Proteína Colesterol Triglicerídeos


Figura 6 - Representação das lipoproteínas HDL e LDL relacionadas aos efeitos cardioprotetores do HDL e prejudiciais do LDL.

Descrição da Imagem: na figura podemos observar três imagens, da direita para esquerda, inicia-se com a descrição da molécula
do HDL que está representada por um círculo cinza, com quatro estruturas semelhantes a grãos de feijão na cor verde, seis traços
amarelos e quatro vermelhos intercalados que representam a gordura e proteína do HDL, acima dela há um símbolo em forma de V
e na cor verde, abaixo da figura estão as letras HDL em verde. Ao lado tem-se um coração representado em sua forma anatômica e
com cor vermelha, com duas artérias, uma em azul e outra em vermelho, localizadas na porção superior. Ao lado, temos a descrição
da molécula do LDL que está representada por um círculo cinza, com uma estrutura semelhante a um grão de feijão na cor verde,
múltiplos traços amarelos e oito vermelhos intercalados e que representam a gordura e proteína do LDL. Acima temos a letra X em
vermelho e abaixo da molécula temos as letras LDL em vermelho. Na parte inferior da imagem, no centro, há uma legenda. Uma
estrutura semelhante a um grão de feijão na cor verde, representando proteína, outra estrutura amarela representando colesterol
e outra estrutura vermelha representando os triglicerídeos.

Do ponto de vista clínico, as dislipidemias podem ser divididas em hipercolesterolemia, hipertrigli-


ceridemia, hiperlipidemia mista e distúrbios do metabolismo das HDL. Portanto, a dislipidemia pode
ser primária ou secundária. As formas primárias ocorrem por uma combinação de dieta e genética
(geralmente, mas nem sempre poligênicas). São classificadas em seis fenótipos (classificação de Fre-
derickson) (RANG; DALE, 2016; PENILDON, 2010).

70
UNIDADE 3

A aterosclerose constitui a principal causa de morte direta ou indiretamente. Sua fisiopatologia está
relacionada ao metabolismo de lipoproteínas que contêm apolipoproteína (apo) B-100, sendo elas
as lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as lipoproteínas de intensidade intermediária (IDL) e as
lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL). Os componentes celulares nas placas ateroscleró-
ticas consistem em células espumosas, que são macrófagos transformados, e células musculares
lisas repletas de ésteres de colesterol. O ateroma é uma doença focal da camada íntima das artérias
de tamanhos médio e grande. As lesões evoluem durante décadas e, durante a maior parte desse
tempo são clinicamente silenciosas. A ocorrência de sintomas sinaliza doença avançada.

Figura 7 - Representação da circulação e seu comprometimento pela placa de ateroma.

Descrição da Imagem: a imagem é uma representação do comprometimento do fluxo sanguíneo, que à medida que a placa de
gordura acontece, ocorre comprometimento sanguíneo. Inicialmente, temos o fluxo normal, com as hemácias representadas por
círculos vermelhos, passando livremente na artéria, e uma placa de gordura centralizada e com baixa espessura. Abaixo, a placa de
gordura aumentou de tamanho e, consequentemente, o fluxo sanguíneo já sofreu uma queda. Por fim, a última imagem se tem a
placa de gordura quase comprometendo todo o vaso, e cessando o fluxo sanguíneo com as hemácias todas acumuladas no canto.

71
UNICESUMAR

A hipercolesterolemia familiar (HF) é um subconjunto das dislipidemias associado a um defeito


genético na expressão dos receptores LDL na membrana do tecido. Os fármacos utilizados no
tratamento da dislipidemia primária são descritos adiante (RANG; DALE, 2016).
Fármacos redutores de lipídeos - A decisão quanto ao uso de terapia farmacológica para a hi-
perlipidemia se baseia no defeito metabólico específico e no seu potencial de causar aterosclerose
ou pancreatite. A dieta deve ser mantida para a obtenção de todo o potencial do esquema farma-
cológico (KATZUNG; GRAW, 2013).
A terapia medicamentosa é usada complementarmente às medidas dietéticas e à correção de
outros fatores de risco cardiovascular modificáveis. Os principais agentes usados clinicamente são:

• Estatinas: inibidores da 3-hidroxi-3-metilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase.


• Fibratos.
• Inibidores da absorção de colesterol.
• Ácido nicotínico.
• Óleo de Peixe.
ESTATINAS - A conversão de HMG-CoA a ácido mevalônico é uma das etapas mais importantes da
síntese de colesterol, sendo mediada pela enzima HMG-CoA redutase. Deste modo, os medicamentos
desta classe, como Sinvastatina, Lovastatina e a Pravastatina, são inibidores competitivos, específicos
e reversíveis da HMG-CoA redutase (RANG; DALE, 2016). A inibição da HMG-CoA redutase resulta
na ativação da proteína de ligação dos elementos reguladores de esteróis 2 ou SREBP 2, sendo este
considerado um fator de transcrição regulatória dos receptores de LDL. Este aumento na expres-
são dos receptores de LDL resulta no aumento da sua captação intracelular e, consequentemente,
diminuição da concentração circulante (PENILDON, 2010).

Figura 8 - Representação dos níveis de colesterol


no organismo

Descrição da Imagem: imagem apresenta um


gráfico crescente de barras, pequena, média
e grande, recortadas na diagonal na parte su-
perior. A primeira barra, pequena, de cor ver-
de clara está localizada no lado esquerdo da
imagem, dentro dela está escrito (baixo), em
seguida, no centro, representado em amarelo,
temos a barra média, dentro dela está escrito
NORMAL, em por último, no lado direito, repre-
sentada em vermelho, a barra grande, dentro
dela está escrito (alto). Abaixo do gráfico está
BAIXO NORMAL ALTO a palavra COLESTEROL.

COLESTEROL

72
UNIDADE 3

FARMACOCINÉTICA: apresenta tempo de meia vida variando entre 1 a 3 horas, com absorção
quase completa. Todos os fármacos sofrem efeitos de primeira passagem hepática, sendo eliminados
na urina (KATZUNG; GRAW, 2013).
EFEITOS ADVERSOS: Classe que apresenta uma boa tolerância, com efeitos indesejáveis leves:
citam-se dor muscular (mialgia), desconforto gastrointestinal, elevação das concentrações plasmáticas
de enzimas hepáticas, insônia e rash cutâneo. Efeitos adversos mais sérios são raros, mas incluem o
dano do músculo estriado (miosite que, quando é grave, é descrita como rabdomiólise) e angioedema
(RANG; DALE, 2016). Em alguns pacientes, ocorrem elevações na atividade da aminotransferase sérica
(até três vezes o normal). Esse aumento costuma ser intermitente e, em geral, não está associado a outras
evidências de hepatotoxicidade. A terapia pode ser mantida nesses pacientes na ausência de sintomas se
os níveis de aminotransferase forem monitorados e estáveis. Em alguns pacientes, que podem apresentar
doença hepática subjacente ou história de abuso de álcool, os níveis podem ultrapassar três vezes os
valores de referência (KATZUNG; GRAW, 2013; GOLAN et al., 2014; GOODMAN; GILMAN, 2012).
FIBRATOS - Classe relacionada à redução acentuada da lipoproteína VLDL, e, consequente-
mente, dos níveis séricos de triglicerídeos e LDL, e aumento do HDL. Apresenta mecanismo de ação
complexo como aumento da transcrição das lipoproteínas lipase, APOA1, e APOA5 que apresentam
como função a captação hepática do LDL. Além dos efeitos sobre lipoproteínas, os fibratos reduzem
a proteína C-reativa e o fibrinogênio plasmático, aumentam a tolerância à glicose e inibem a infla-
mação da musculatura lisa vascular por inibição da expressão do fator de transcrição nuclear NFκB.
Estão disponíveis vários derivados do ácido fíbrico (fibratos), incluindo bezafibrato, ciprofibrato,
genfibrozila, fenofibrato e clofibrato (RANG; DALE, 2016).
FARMACOCINÉTICA: Apresentam tempo de meia vida 1,5 horas, com absorção quase completa.
Todos os fármacos sofrem efeitos de primeira passagem hepático, sendo eliminados na urina na sua
forma inalterada (KATZUNG; GRAW, 2013; GOODMAN; GILMAN, 2012).
EFEITOS ADVERSOS: os efeitos adversos raros dos fibratos consistem em exantemas, sin-
tomas gastrintestinais, miopatia, arritmias, hipopotassemia e níveis sanguíneos elevados de
aminotransferases ou fosfatase alcalina. Alguns pacientes apresentam redução da contagem de
leucócitos ou do hematócrito (PENILDON, 2010).
FÁRMACOS QUE IMPEDEM A ABSORÇÃO DO COLESTEROL - Esta classe são resinas
que se ligam aos ácidos biliares no intestino delgado, formando um complexo resina-ácido biliar
que não pode ser absorvido, sendo assim, eliminado nas fezes. Esta diminuição da absorção dos
ácidos biliares resulta na regulação e aumento hepático da enzima 7α-hidroxilase, responsável
pela síntese de ácidos biliares. Deste modo, com aumento na síntese de ácidos biliares ocorre o
aumento na expressão de receptores LDL e, consequentemente, diminuição desta lipoproteína
circulante e redução nos níveis de colesterol.
Os três sequestradores de ácidos biliares disponíveis são colestiramina, colesevelam e co-
lestipol. Esses fármacos apresentam eficácia semelhante e produzem reduções de até 28% nos
níveis de LDL em concentrações terapêuticas.

73
UNICESUMAR

FARMACOCINÉTICA: Para maximizar a ligação desses agentes aos ácidos biliares, a admi-
nistração do fármaco deve ter sua hora programada, de modo que esteja presente no intestino
delgado depois de uma refeição (GOLAN et al., 2014).
EFEITOS ADVERSOS: os inibidores da absorção do colesterol têm apresentado um perfil de
segurança satisfatório, com poucos efeitos adversos ou nenhum. As queixas comuns consistem em
constipação intestinal de distensão abdominal, que habitualmente são aliviadas com o aumento
das fibras dietéticas. Deve-se evitar o uso de resinas em pacientes com diverticulite. Raramente,
verifica-se a ocorrência de má-absorção de vitamina K, resultando em hipoprotrombinemia
(KATZUNG; GRAW, 2013; GOLAN et al., 2014).
ÁCIDO NICOTÍNICO (NIACINA) - A niacina ou ácido nicotínico, vitamina B3, apresenta uma
diminuição das concentrações plasmáticas de LDL e Triglicerídeos, além de apresentar um aumento
no HDL. Seu mecanismo está relacionado ao aumento de receptores acoplados à proteína G nos adi-
pócitos, sendo que este estímulo pela niacina diminui a atividade da lipase sensível a hormônio dos
adipócitos, resultando em menor catabolismo dos triglicerídios nos tecidos periféricos e, portanto, em
fluxo diminuído de ácidos graxos livres para o fígado (GOODMAN; GILMAN, 2012).
FARMACOCINÉTICA: o uso farmacológico da niacina exige grandes doses (1.500 a 3.000 mg/dia),
é excretada na urina em sua forma inalterada, bem como na forma de vários metabólitos. Um deles, a
N-metil nicotinamida, cria uma retirada dos grupos metilas, o que pode, algumas vezes, resultar em
macrocitose eritrocitária, semelhante à deficiência de folato ou de vitamina B12 (KATZUNG; GRAW,
2013; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
EFEITOS ADVERSOS: além do rubor e do prurido, os efeitos adversos importantes da niacina
consistem em hiperuricemia, comprometimento da sensibilidade à insulina, hepatotoxicidade e pos-
sibilidade de miopatia induzida por estatinas. O comprometimento da sensibilidade à insulina pode
levar ao desenvolvimento de diabetes em pacientes de alto risco, e a niacina deve ser utilizada com
cautela nos pacientes diabéticos. Raramente, a niacina pode provocar miopatia, náuseas e desconforto
abdominal (KATZUNG; GRAW, 2013; GOLAN et al., 2014).
ÓLEO DE PEIXE - Os ácidos graxos ômega-3, o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido
docosaexaenoico (DHA), também conhecidos como óleos de peixe, mostram-se efetivos na
redução, em até 50%, dos níveis plasmáticos de triglicerídeos nos pacientes que apresentam
hipertrigliceridemia. O provável mecanismo de redução dos triglicerídios envolve a regulação
de fatores de transcrição nucleares, incluindo SREBP-1c e PPARα, produzindo uma redução na
biossíntese de triglicerídeos e um aumento da oxidação de ácidos graxos no fígado. Em geral, os
ácidos graxos ômega-3 são acrescentados ao tratamento quando as concentrações plasmáticas
de triglicerídeos ultrapassam 500 mg/dℓ. A influência do uso de ácidos graxos ômega-3 sobre os
desfechos clínicos não está bem definida (GOLAN et al., 2014; RANG; DALE, 2016).

74
UNIDADE 3

Figura 9 - Representação do óleo de peixe e suas frações

Descrição da Imagem: Imagem com fundo todo amarelo/dourado, com três peixes. O primeiro e maior, escrito Óleo de Peixe;
abaixo, no canto direito, um menor, escrito DHA; e na frente escrito EPA. Todos os peixes em amarelo mais claro que o fundo.

A Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular (2003) apresentou estudos


clínicos que demonstram que a suplementação com óleo de peixe que possuíam 2 a 4 g de
EPA/DHA ao dia pode diminuir os níveis de triglicérides (TG) em até 25% a 30%, aumentar
discretamente os de HDL colesterol (1% a 3%) e elevar os de LDL-colesterol em até 5% a 10%
134-136. Também relatou que a capacidade de reduzir os níveis de TG depende da dose, com
uma redução aproximada de 5% a 10% para cada 1 g de EPA/DHA consumido ao dia, e é maior
nos indivíduos com níveis basais mais elevados de TG.

TRATAMENTO DIETÉTICO DA HIPERLIPOPROTEINEMIA - O tratamento farmacológico


deve vir acompanhado de uma boa dieta, uma vez que o consumo excessivo de sacarose e, em parti-
cular, a frutose aumenta as VLDL. O álcool pode causar hipertrigliceridemia significativa ao aumentar
a secreção hepática de VLDL. Durante a perda de peso, os níveis de LDL e VLDL podem diminuir
muito, ficando abaixo daqueles que podem ser mantidos durante o equilíbrio calórico neutro. Portanto,
a a conclusão de que a dieta é suficiente para o tratamento só é possível após a estabilização do peso

75
UNICESUMAR

corporal durante, pelo menos, um mês. As recomendações gerais consistem em limitar as calorias
totais provenientes das gorduras de 20 a 25% do consumo diário, as gorduras saturadas a menos de
7%, e o colesterol a menos de 200 mg/dia. Com esse esquema, são obtidas reduções dos níveis séri-
cos de colesterol na faixa de 10 a 20%. Recomenda-se o uso de carboidratos complexos e fibras, com
predominio das gorduras cis-monoinsaturadas. A redução do peso corporal, a restrição calórica e a
abstinência de álcool são particularmente importantes em pacientes com níveis elevados de VLDL e
IDL. (KATZUNG; GRAW, 2013; GOLAN et al., 2014).

Figura 10 - Representação de uma alimentação balanceada como fator protetor ao desenvolvimento de doenças

Descrição da Imagem: Imagem possui uma bandeja em forma de coração e dentro dela tem-se: um brócolis, uma maçã verde,
uma maçã vermelha, uma pera vermelha, uma laranja e um punhado de tomatinhos cereja avermelhados. No meio da bandeja
tem-se um estetoscópio que se expande para fora na coloração azul.

Você sabia que os diagnósticos do diabetes e das dislipidemias são realizados através do exame de
sangue? O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada são recomendados para
diagnóstico e monitoramento do diabetes. Enquanto o lipidograma completo avalia o colesterol
total, triglicerídeos e as lipoproteínas de interesse: HDL, LDL e VLDL (BURTIS et al., 2016). Deste
modo, uma simples avaliação sanguínea pode ser a chave de um diagnóstico precoce e sucesso no
tratamento farmacológico das duas condições.

76
UNIDADE 3

Querido(a) aluno(a), após nossa imersão nos medicamentos hipoglice-


miantes e lipídicos, sendo apresentados os parâmetros interativos entre
fármaco no organismo, eu convido você para ouvir o Podcast sobre a
importância destes conhecimentos apresentados no capítulo no desen-
volvimento de compostos com potencial terapêutico.

Após esse vasto conhecimento sobre as síndromes metabólicas, percebemos quão importante é a
manutenção dos seus níveis no organismo para evitarmos o desenvolvimento das fisiopatologias
cardíacas e glicêmicas.

77
Finalizamos mais uma jornada neste vasto conhecimento da farmacologia, e esperamos que após
a leitura deste capítulo, seu conhecimento dentro dos mecanismos farmacológicos no controle
glicêmico e lipídico esteja atualizado e solidificado. Neste intuito, é imprescindível realizar uma
integração dos conteúdos e estabelecer a relação destes medicamentos nos processos de saúde e
doença. Para isso, que tal formarmos um mapa mental sobre os assuntos com objetivo de inte-
grá-los? Utilizando palavras-chave: Síndromes Metabólicas, Diabetes, Insulina, Alimentação, Dislipi-
demias, FIbratos, sendo assim, uma sugestão de ferramenta gratuita é o https://www.goconqr.com/.
Vamos lá?

Diabetes

Alimentação

Fibratos

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1. Atualmente, as síndromes metabólicas são conhecidas como um dos principais problemas de
saúde pública, e entre as doenças destaca-se o Diabetes Mellitus, um distúrbio relacionado ao
metabolismo dos carboidratos. Sobre o Diabetes Mellitus, assinale a alternativa que descreve
corretamente a causa do Diabetes tipo 1:

a) Aumento na Síntese e Liberação de Insulina.


b) Diminuição do Antígeno Leucocitário Humano (HLA).
c) Aumento do Antígeno Leucocitário Humano (HLA).
d) Inibição do GLU2.
e) Destruição Células Hepatocitárias.

2. A Farmacologia é complexa e atua de inúmeras formas na tentativa do controle glicêmico, com


objetivo de minimizar ou retardar os impactos do excesso de glicose no organismo a longo
prazo. Considerando o contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

As biguanidas são fármacos classificados como secretagogos de insulina, pois promovem a


liberação de insulina das células β do pâncreas.

PORQUE

As biguanidas atuam no GLUT4 pancreático, aumentando a sinalização da síntese e liberação


do hormônio proteico insulina, conhecido, como hormônio regulatório da glicemia sérica.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta:

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. Analise o texto:

As dislipidemias são distúrbios lipídicos importantes e quando não tratados são os principais
fatores de riscos no desenvolvimento de doenças coronarianas, principalmente a Aterosclerose.
Deste modo, assinale a alternativa em que descreve o fármaco que atua inibindo a enzima
HMG-CoA e, consequentemente, reduzindo a concentração de colesterol circulante:

a) Sinvastatina.
b) Óleo de Peixe.
c) Ciprofibrato.
d) Metformina.
e) Ácido Nicotínico.

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4. Paciente K, L em resultados do lipidograma apresentou como resultado: Excesso da fração
VLDL e triglicerídeos. Portanto, analise as alternativas e assinale a que descreve o fármaco
mais indicado na regulação desta lipoproteína:

a) Sinvastatina.
b) Óleo de Peixe.
c) Ciprofibrato.
d) Metformina.
e) Ácido Nicotínico.

80
4
Farmacologia
Hormonal
Dr. Marcel Pereira Rangel

Neste capítulo, iremos analisar o tema FARMACOLOGIA HORMONAL,


este tema, há alguns anos, era pouco discutido no âmbito farmaco-
lógico, entretanto, após a percepção que nosso organismo é con-
trolado por um sistema complexo de sinalizadores que caminham
pelo organismo e possui funções específicas metabólicas, hídricas,
sexuais etc., os estudos avançaram de modo que, atualmente, a
manipulação hormonal se tornou uma das áreas mais interessantes
da pesquisa. Deste modo, convidamos você a mergulhar neste vasto
conteúdo de informações para que fique atualizado às tendências
farmacológicas nesta área. Vamos começar?
UNICESUMAR

Após a explanação do capítulo passado, talvez você esteja se perguntando, além da insulina existe algum
outro hormônio controlador? Controla apenas o Metabolismo? Quais outros locais os hormônios atuam?
Onde são produzidos? Podemos aumentar ou diminuir sua concentração? A sua administração exógena
é recomendada? A farmacologia endócrina é uma área onde as perguntas são vastas e o conhecimento
também, deste modo, vamos juntos analisar todos os pontos fundamentais para sua imersão completa.
Nosso organismo funciona, em grande parte, pelo controle coordenado entre o sistema nervoso
central e sistema endócrino, por este motivo, não estranhe em encontrar, com muita frequência, o
termo neuroendócrino. Isso é uma clara referência da importância dos hormônios no controle do
organismo, e o metabolismo está intimamente ligado ao controle hormonal. Essa relação hormônio x
metabolismo fica clara quando encontramos as disfunções hormonais e o indivíduo apresenta algum
tipo de transtorno metabólico, um dos exemplos foi abordado no capítulo anterior com a relação insu-
lina x glicose x diabetes, entretanto, podemos também relacionar os distúrbios da tireoide, hipofisários,
gonadais etc. Deste modo, o objetivo deste capítulo é fazer com que você entenda a íntima relação dos
hormônios no controle metabólico do organismo e como seus distúrbios podem afetar o indivíduo.
Você conhece alguma pessoa que apresenta problemas hormonais? Se sim, questione ela qual o seu
distúrbio e se ele impactou diretamente no seu metabolismo como ganho ou perda de peso. Se não, pro-
cure as principais desordens nutricionais atualmente e tente fazer uma relação com o controle metabólico.
Ao pararmos e analisarmos o contexto atual dos hormônios, notamos uma grande evolução na busca
pelo seu entendimento. Isso faz todo sentido não? Se pensarmos que os hormônios são nossos ‘centros
controladores’ fora do sistema nervoso central, ou seja, aumento minha energia celular, aumento a
força de contração, aumento ou diminuo a eliminação de água, minerais e sais. Os hormônios regulam
a vontade de comer ou de parar de comer, pensando nisso, as pesquisas relacionando os hormônios
avançaram muito, nota-se isso quando analisamos a administração de hormônios exógenos no controle
metabólico, como: hormônios tireoidianos, insulina, hormônio do crescimento etc.

82
UNIDADE 4

Após essa reflexão, a pergunta que talvez você tenha é: se os hormônios são tão fundamentais por que
controlá-los? Como mantê-los em uma concentração adequada? Essa pergunta é muito complexa e
envolve sistemas distintos que são impactados desde a alimentação até os hábitos de vida, como con-
sumo de álcool, prática de atividade física, sono etc. Enfim, vamos juntos, agora, nos aprofundar neste
universo complexo e intrigante dos hormônios e sua relação com metabolismo.
INTRODUÇÃO A ENDOCRINOLOGIA - Hormônios são substâncias liberadas por células
especializadas, considerados mensageiros químicos do organismo, fundamentais em diversos proces-
sos, como Metabólico, Controle térmico, Hídrico, Reprodutivo, crescimento e desenvolvimento. Para
atingir esta ação, os hormônios agem nas suas células-alvo de três maneiras básicas: (1) controlando a
taxa de reações enzimáticas, (2) controlando o transporte de íons ou moléculas através de membranas
celulares e (3) controlando a expressão gênica e a síntese proteica (SILVERTHORN, 2017).
Os hormônios podem ser classificados de acordo com diferentes esquemas. O esquema utili-
zado os agrupa de acordo com a sua origem. Um esquema diferente divide os hormônios entre
aqueles cuja liberação é controlada pelo encéfalo e aqueles cuja liberação não é controlada por
ele. Outro esquema agrupa hormônios de acordo com a sua capacidade de se ligar a receptores
acoplados a proteínas G, receptores ligados a tirosinas-quinase ou a receptores intracelulares, e
assim por diante (SILVERTHORN, 2017).

Os hormônios podem ser divididos em:


Parácrinos são secretados por células no líquido extracelular e afetam células-alvo vizinhas
de tipo diferente.
Autócrinos são secretados por células no líquido extracelular e afetam a função das mesmas
células que os produziram, ligando-se a receptores na superfície celular.
Hormônios endócrinos: liberados por células especializadas na circulação, possuindo re-
ceptores em células alvo distante.
Hormônios neuroendócrinos: secretados por neurônios na circulação e influenciam a função
de células-alvo, em outro local do corpo (GUYTON; HALL, 2017) .

83
UNICESUMAR

Sinalização Hormonal
Vaso Sanguineo

Endócrino Autócrino

Ligante

Paracrino

Tipos de Sinalização Hormonal

Figura 1 - Representação dos tipos de classificação hormonal de acordo com sua sinalização

Descrição da Imagem:: a imagem é dividida em três desenhos que representam os tipos de sinalização hormonal. Inicialmente, na parte
superior da imagem, tem-se a sinalização ENDÓCRINA - representada por uma célula arredondada na cor verde clara, com núcleo em
rosa. Esta célula libera hormônios representados por círculos azuis, tem-se mais de dez hormônios sendo liberados desta célula verde
em direção a um vaso sanguíneo, representado por um cone rosa. Estes hormônios caem na circulação sanguínea e fazem a ação em
uma célula azulada com núcleo representado por um círculo interno roxo, representando uma ação distante da célula que libera os
hormônios. Ao lado deste desenho, tem-se a sinalização AUTÓCRINA - representada por uma célula arredondada na cor verde clara,
com núcleo em rosa, esta célula libera hormônios representados por círculos azuis, tem-se mais de dez hormônios sendo liberados
desta célula verde, em direção a própria célula que libera os hormônios. Representando uma ação na mesma célula que libera os hor-
mônios. Na parte inferior da imagem, tem-se a sinalização PARÁCRINA - representada por uma célula arredondada na cor verde clara,
com núcleo em rosa, esta célula libera hormônios representados por círculos azuis, tem-se mais de dez hormônios sendo liberados
desta célula verde, em direção a próxima célula que libera os hormônios.

ESTRUTURA QUÍMICA → Os hormônios são classificados de acordo com sua estrutura


química em: Proteicos (Insulina, Glucagon e Paratireoide); Esteróides (Cortisol, Aldosterona,
Estrogenio e Progesterona) e Derivados de Aminoácios (Tiroxina e triiodotironina) e medula
adrenal (epinefrina e norepinefrina) (GUYTON; HALL, 2017).
É importante ressaltar que os peptídios e as proteínas intactas não são absorvidas pelo lúmen
intestinal; na verdade, são digeridas por proteases locais, com liberação de seus aminoácidos
constituintes. Por esse motivo, a administração terapêutica de um hormônio ou antagonista
hormonal peptídico deve ser realizada por via não oral (SILVERTHORN, 2017).

84
UNIDADE 4

Você sabia que a terminologia “hormônio” foi abordada, pela primeira vez, no âmbito acadêmico em
1905, pelo fisiologista britânico Ernest Staling, em uma palestra onde relatou essa substância como
mensageiro químico que organizava e mediava as reações químicas do organismo. Essa abordagem
foi possível uma vez que Ernest havia isolado o primeiro hormônio conhecido na época: a secretina,
hormônio relacionado ao processo digestivo do organismo.

CONTROLE - Feedback negativo: princípio baseado na autorregulação da secreção hormonal, sendo


autolimitante. Exemplo: a insulina é secretada pelas células beta do pâncreas em resposta a um aumento
do nível de glicemia. Por sua vez, a insulina provoca aumento da captação de glicose pelas células, resul-
tando em diminuição da glicemia. A diminuição da glicemia reduz, então, a secreção adicional de insulina.
Feedback positivo: raro tendo um hormônio com ações biológicas que, direta ou indiretamente,
aumentam sua secreção. Exemplo, o pico de hormônio luteinizante (LH) que ocorre exatamente antes
da ovulação resulta do feedback positivo do estrogênio sobre a adeno-hipófise. Em seguida, o LH atua
sobre os ovários e provoca mais secreção de estrogênio
“Depuração” de Hormônios do Sangue: expressa em termos do número de mililitros de plas-
ma depurado do hormônio por minuto, sendo realizada a metabolização hepática e excreção renal;
(SILVERTHORN, 2017; CONSTANZO, 2018).

MECANISMOS DE AÇÃO DOS HORMÔNIOS RECEPTORES HOR-


MONAIS E SUA ATIVAÇÃO

Para que ocorra a ação hormonal, é necessário que este se ligue aos seus receptores específicos
em células-alvo, desencadeando uma cascata de reações na célula, com cada etapa ficando mais
potencialmente ativada, de modo que até pequenas concentrações do hormônio podem ter grande
efeito (GUYTON; HALL, 2017).

As localizações para os diferentes tipos de receptores de hormônios, em geral,


são as seguintes:
Na membrana celular ou em sua superfície. Os receptores de membrana são específicos,
principalmente para os hormônios proteicos, peptídicos e catecolamínicos.
No citoplasma celular. Os receptores primários para os diferentes hormônios esteroides
são encontrados principalmente no citoplasma.
No núcleo da célula. Os receptores para os hormônios da tireoide são encontrados no
núcleo e acredita-se que sua localização está em associação direta com um ou mais dos
cromossomos. (GUYTON ; HALL, 2017

85
UNICESUMAR

Hormônios e seus alvos celulares

ALVOS CELULARES PARA ALVOS CELULARES PARA ALVOS CELULARES PARA


os Hormônios A os Hormônios B os Hormônios A e B

Figura 2 - Representação da ação extracelular dos hormônios, ligando-se aos seus receptores de membrana

Descrição da Imagem: Imagem dividida em três células, uma ao lado da outra, no sentido horizontal. A primeira célula (Alvo A) está
representada pela coloração amarelada, é circular com núcleo mais escuro que o resto da célula, e apresenta oito pequenos ligantes
em forma de “Y” para fora, representando os receptores extracelulares. Destes, apenas um está ligado ao hormônio, representado
nesta célula por um losango amarelo. A segunda célula (Alvo B) está representada pela coloração vermelha, é circular com núcleo mais
escuro que o resto da célula, e apresenta oito pequenos ligantes em forma de “Y” para fora, representando os receptores extracelulares.
Destes apenas um está ligado ao hormônio, representado nesta célula por um círculo vermelho. A terceira e última célula (Alvo C) está
representada pela coloração azul, é circular com núcleo mais escuro em alaranjado e apresenta oito pequenos ligantes em forma de
“Y” para fora, representando os receptores extracelulares. Destes, dois estão ligados pelo hormônio, representado nesta célula por um
losango amarelo e outro por um círculo vermelho.

A terapia de reposição hormonal é comumente utilizada em múltiplos casos, ela serve para repor a
concentração hormonal que, por algum motivo, apresentou um declínio em decorrência da idade,
doença, tumores. Entretanto essa terapia deve ser acompanhada e realizada apenas por profissionais
habilitados, uma vez que, após a imersão deste capítulo, você deve ter notado que a concentração
dos hormônios é muito bem estabelecida e controlada, de forma que seu aumento ou diminuição
apresenta respostas de controle por meio do feedback positivo e negativo. Deste modo, qualquer
alteração na sua concentração deve ser muito bem determinada para que isso não impacte no
organismo interferindo de maneira deletéria no funcionamento do corpo e, consequentemente,
na qualidade de vida do indivíduo.

FARMACOLOGIA HORMONAL - Agora que temos uma base sólida e introdutória dos hor-
mônios, vamos iniciar a discussão de como ocorre suas alterações e, consequentemente, condições
que necessitam de tratamento farmacológico. Para isso, vamos dividir os hormônios de acordo
com seus eixos de liberação e ação.
EIXO HIPOTÁLAMO x HIPÓFISE - A interação entre hipotálamo e hipófise constitui a integra-
ção mais importante entre o sistema nervoso e endócrino, uma vez que o hipotálamo constitui o local de
transdução neuroendócrina, ou seja, recebe e integra os sinais provenientes do cérebro desencadeando

86
UNIDADE 4

uma resposta por meio de sinais químicos que regulam a secreção dos hormônios hipofisários. Por sua vez,
os hormônios hipofisários alteram as atividades dos órgãos endócrinos periféricos (GOLAN et al., 2014).
Deste modo, hipotálamo e a hipófise funcionam de modo cooperativo como reguladores dominantes
do sistema endócrino. Em seu conjunto, os hormônios secretados pelo hipotálamo e pela hipófise con-
trolam importantes funções homeostáticas e metabólicas, incluindo reprodução, crescimento, lactação,
fisiologia da glândula tireoide e das glândulas suprarrenais e homeostasia da água (GOLAN et al., 2014).
Os hormônios da adeno-hipófise que serão abordados neste capítulo serão os seguintes: os hormô-
nios somatotróficos – hormônio do crescimento (GH) e A adrenocorticotrofina (ACTH).
Hormônio do crescimento (GH) - O hormônio é fundamental no crescimento e desenvolvimento
do corpo desde a infância até a fase adulta, sendo liberado de forma pulsátil com secreção aumentada
durante sono, hipoglicemia e exercícios físicos. A secreção é diminuída por somatostatina, obesidade,
hiperglicemia e gravidez (CONSTANZO, 2018; GUYTON; HALL, 2017).
Controle hipotalâmico - O hormônio liberador de hormônio do crescimento (GHRH) es-
timula a síntese e a secreção do hormônio do crescimento, este é liberado pelo núcleo arqueado
do hipotálamo. Já o núcleo paraventricular hipotalâmico libera o hormônio antagonista a sua
liberação conhecido como somatostatina, este inibe a secreção de hormônio do crescimento
ao bloquear a resposta da adeno-hipófise ao GHRH (CONSTANZO, 2018).
Os efeitos anabólicos do GH de aumento glicêmico sérico, síntese proteica, mobilização lipídica e
aumento da massa óssea são mediados tanto pela sua ação direta nos receptores da superfamília das
citocinas quanto pelo fator de crescimento semelhantes à insulina 1 (IGF-1), um hormônio liberado
na circulação pelos hepatócitos em resposta à estimulação pelo GH. Diferentemente do GH, que apre-
senta curta meia vida circulante e padrão pulsátil de secreção, o IGF-1 está ligado à proteína e perma-
nece estável na circulação por períodos mais prolongados em concentrações em estado de equilíbrio
dinâmico (GOLAN et al., 2014; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010; PENILDON, 2010).

Figura 3 - Representação dos efeitos do hormônio do


crescimento sobre os diferentes tecidos do organismo

Descrição da Imagem: Imagem representa os efeitos


HORMÔNIO DO diretos e indiretos do hormônio do crescimento, repre-
CRESCIMENTO sentado por um círculo grande ao centro da imagem na
coloração roxa, esta imagem possui duas setas roxas que
se dividem em dois lados. Ao lado esquerdo da imagem,
tem-se os efeitos diretos do hormônio do crescimento,
Fígado sendo representado no tecido adiposo, representado por
Tecido
cinco círculos amarelos com pequenos núcleos marrons,
Adiposo
o efeito demonstrado é de que, após a ação do hormônio,
ocorre a multiplicação do tecido adiposo, uma vez que,
após este efeito, tem-se uma flecha com os dizeres “efei-
tos diretos” e abaixo, o número de círculo amarelados
que representam o tecido adiposo, passa de cinco para
seis, demonstrando o aumento na síntese deste local. Ao
lado direito, tem-se uma representação de que o hormô-
Efeitos nio do crescimento passa pelo fígado, representado por
Diretos Efeitos uma imagem do órgão marrom, que, após a ação dos
hormônios do crescimento, libera um fator IGF-1, este
Indiretos
tem ação no osso, representado por uma imagem branca
do tecido. Este tecido, após a ação do IGF-1, aumenta de
tamanho, sendo indicativo de que este hormônio tem
ação no aumento da síntese do tecido ósseo.

87
UNICESUMAR

Deficiência de hormônio do crescimento - Tanto a incapacidade de secretar hormônio do cres-


cimento ou aumentar a secreção de IGF-1 durante a puberdade resulta em retardo do crescimento,
essas situações podem ser observadas em decorrência de uma disfunção hipotalâmica, resultando na
deficiência na liberação do GHRH ou insuficiência hipofisária (GOLAN et al., 2014).
A maioria dos casos de retardo do crescimento dependente de hormônio do crescimento é
tratada pela reposição de hormônio do crescimento humano recombinante, designado pelo nome
genérico de somatropina. Os esquemas típicos de dosagem envolvem injeção diária subcutânea
ou intramuscular (GOLAN et al., 2014).

REALIDADE
AUMENTADA

88
UNIDADE 4

Excesso de hormônio do crescimento - Normalmente altas concentrações do hormônio do cres-


cimento são observadas no adenoma somatotrófico. Esse aumento na concentração do GH antes do
fechamento das epífises resulta no gigantismo. Após o fechamento das epífises, os níveis anormalmente
altos de GH provocam acromegalia. Essa condição ocorre porque o IGF-1, embora não possa mais
estimular o crescimento dos ossos longos, ainda pode promover o crescimento de órgãos profundos
e tecido cartilaginoso (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010; GUYTON; HALL, 2017).
As opções clínicas incluem agonistas dos receptores de somatostatina, análogos de dopamina e
antagonistas de receptores de GH (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Os agonistas dos receptores de somatostatina constituem a base do tratamento clínico, uma vez
que a somatostatina inibe a secreção do GH. Este medicamento apresenta um tempo de meia vida de
minutos. Assim, Octreotida e lanreotida são análogos peptídicos sintéticos da somatostatina, de ação
mais longa. Os receptores de somatostatina exibem ampla distribuição, deste modo, sua administração
sistêmica pode resultar em diversos efeitos adversos, como náuseas, diarreia, cálculos biliares e tontura
(GOLAN et al., 2014; FUCHS; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Análogos da dopamina é um fator hipotalâmico que estimula a liberação de GH pelos somatotrofos
em condições fisiológicas; porém, os pacientes com acromegalia podem exibir diminuição paradoxal
da secreção de hormônio do crescimento em resposta à dopamina. Baseado neste efeito, os análogos
da dopamina, bromocriptina e cabergolina, são, algumas vezes, utilizados como agentes adjuvantes
no tratamento de acromegalia (GOLAN et al., 2014).
Hormônio da Tireoide - Síntese - O hormônio hipotalâmico TRH é secretado e tem como tecido
alvo a adeno-hipófise, onde estimula a secreção de “hormônio estimulador da tireoide” (TSH). O TSH
aumenta tanto a síntese quanto a secreção dos hormônios da tireoide por meio de 3 etapas:

Etapa 1 - Bomba de iodeto encontrada nas células epiteliais foliculares da tireoide tem
como função transportar, de forma ativa, Iodeto para dentro da célula.

Etapa 2 - Oxidação do Iodeto, etapa catalisada pela enzima peroxidase presente na


membrana da tireoide.

Etapa 3 - Combinação do Iodo com a tirosina na tireoglobulina síntese dos hormônios;


(CONSTANZO, 2018; GUYTON; HALL, 2017).

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UNICESUMAR

HORMÔNIOS TIREOIDE

TRH (Hormônio Liberador de Tireotropina)


Hipotálamo
TSH (Hormônio Tireoestimulante)
T3 ( Hormônio Triiodotironina )
T4 ( Hormônio Tiroxina )

Glândula
Tireoide
Glândula
Pituitária

Calcitonina

Figura 4 - Representação do eixo de síntese e liberação dos hormônios tireoidianos

Descrição da Imagem: Imagem apresenta o eixo de liberação dos hormônios da tireoide. Seguindo a sequência fisiológica, tem-se o início
da cascata de reação no hipotálamo, este está representado em marrom, liberando o hormônio TRH, ao qual tem uma flecha se deslocando
para glândula pituitária, localizada abaixo do hipotálamo, sendo representada anatomicamente na coloração rósea. Esta glândula libera
o hormônio TSH, este hormônio dirige-se em direção a glândula tireoide, representada anatomicamente na coloração vermelha. Após a
ação do TSH na tireoide, ocorre a síntese e liberação de três hormônios, sendo representados por círculos. O círculo verde representa o
hormônio T3, o círculo roxo representa o hormônio T4 e o círculo cinza representa o hormônio Calcitonina. Por fim, tem-se uma seta ver-
melha saindo da tireoide com os dizeres: Feedback de inibição negativa em direção tanto para glândula pituitária quanto para hipotálamo.

A forma T3 é considerada biologicamente ativa, assim, nos tecidos periféricos, a T4 é convertida em


T3 pela enzima 5’-deiodinase (ou em rT3), estes apresentam ação distinta e influenciam:
Crescimento: atuam de modo sinérgico com o hormônio do crescimento para promover a formação
dos ossos, maturação dos ossos em consequência da ossificação e fusão das placas de crescimento. Na
deficiência de hormônio tireoidiano, a idade óssea é inferior à idade cronológica.
Sistema nervoso central (SNC): a presença dos hormônios tireoidianos é fundamental na ma-
turação do SNC, uma vez que sua deficiência provoca retardo mental irreversível.
Efeitos metabólicos: aumenta consumo de oxigênio, deste modo, aumenta a taxa metabó-
lica basal e, de modo geral, este aumento no metabolismo resulta no maior consumo de glicose,

90
UNIDADE 4

impulsionando a glicogenólise, e gliconeogênese e a oxidação da glicose para síntese de energia


(CONSTANZO, 2018; GUYTON; HALL, 2017).
DISFUNÇÕES TIREOIDIANAS - As alterações da tireoide se encontram entre os distúrbios
mais comuns da meia idade ou idade avançada, que podem ou não estar associados ao sistema imu-
nológico a uma resposta autoimune. Independentemente da causa, em geral, a disfunção tireoidiana
está associada ao aumento da glândula, conhecido como bócio (RANG; DALE, 2016).
A fisiopatologia das doenças da tireoide pode ser compreendida como um distúrbio do eixo fisiológico
hipotálamo-hipófise-tireoide, sendo usualmente classificada em Hipertireoidismo ou Hipotireoidismo.

DESORDENS
DA TIREOIDE

Figura 5 - Ilustração representando os problemas da tireoide

Descrição da Imagem: a imagem representa a glândula tireoide, em um formato anatômico específico na coloração vermelha, esta glân-
dula está representada com lágrimas azuis nos dois olhos, que se apresentam com expressão triste voltados para baixo e sobrancelhas
franzidas, expressando sentimento de dor, bem como a boca. Acima dos olhos, tem-se um curativo no formato de “X” na coloração amarela.
Fora da glândula, tem-se seis cápsulas, metade azul e metade vermelha, círculos vermelhos e cruzes azuis e verdes, em um fundo branco

• Hipertireoidismo - Nesta condição ocorre aumento da liberação e, consequentemente, ação


dos hormônios, resultando no aumento da taxa metabólica, temperatura da pele, sudorese e
sensibilidade ao calor. Sintomas como nervosismo, tremor, taquicardia e aumento do apetite
vêm associados à perda de peso.
Os tipos de hipertireoidismo mais frequentes são: Doença de Graves e Bócio tóxico nodular.
• Doença de Graves: Condição autoimune órgão-específica causada por autoanticorpos ao re-
ceptor de TSH, que o ativa, aumentando a secreção de tiroxina. Imagina-se que ele seja causado
pela presença de proteínas semelhantes ao receptor de TSH nos tecidos da órbita.

91
UNICESUMAR

• O bócio tóxico nodular é causado por neoplasia benigna ou adenoma, e pode desenvolver-se
em pacientes com bócio simples de longa duração. Essa condição pode ser resultado do uso
tanto do fármaco antiarrítmico amiodarona, que é rico em iodo, quanto de radiocontraste,
que também contém iodo.
• Bócio simples, não tóxico: o consumo prolongado de dieta deficiente em iodo leva ao aumento
do TRH plasmático e, por fim, ao aumento no tamanho da glândula. Em geral, a tireoide aumen-
tada produz quantidades normais de hormônio tireoidiano (RANG; DALE, 2016; GUYTON;
HALL, 2017; GOLAN et al., 2014).
• TRATAMENTO - O hipertireoidismo pode ser tratado farmacológico ou cirurgicamente.
• A cirurgia atualmente é usada apenas quando há problemas mecânicos decorrentes da com-
pressão da traqueia pela tireoide. Nessas circunstâncias, é comum a remoção de apenas parte
do órgão (RANG; DALE, 2016).
• Agentes farmacológicos têm como alvo cada etapa da síntese do hormônio tireoidiano, desde
a captação inicial de iodeto até a organificação, o acoplamento e a conversão periférica de T4
em T3. Clinicamente, dispõe-se de:
• Inibidores da captação de iodeto - Como o iodeto necessita ser transportado para dentro da
tireoide por um transporte simporte que utiliza sódio, os medicamentos desta classe possuem
uma similaridade ao iodeto, assim, ocorre uma competição por este transporte, inibindo sua
captação e, consequentemente, diminuindo a síntese dos hormônios tireoidianos. Entretanto,
o uso deste fármaco é incomum, por causa do potencial de causar anemia aplásica, doença que
acontece devido à falência da medula óssea (GOLAN et al., 2014, GUYTON; HALL, 2017).

Inibidores de organificação e liberação do hormônio da tireoide


• Iodetos - Na prática clínica, são utilizados dois tipos distintos de iodeto, esta classe interfere na
captação do iodeto pela tireoide sendo elas:
• Isótopo radioativo do iodeto: este agente possui uma similaridade ao iodeto e, consequente-
mente, é captado para dentro da tireoide pelo canal de sódio/iodeto. O iodeto radioativo intra-
celular concentrado continua emitindo partículas beta, provocando destruição local e seletiva da
glândula tireoide. Isso o torna uma forma de terapia específica e efetiva para o hipertireoidismo.
Existe a preocupação de que o paciente possa, eventualmente, desenvolver hipotireoidismo
após tratamento com iodeto radioativo, entretanto, baseado em estudos, é pouco provável que
o iodeto radioativo em doses terapêuticas tenha qualquer efeito sobre a incidência de câncer
da tireoide (KATZUNG; GRAW, 2013).
• Iodeto inorgânico estável: altas concentrações do iodeto, inibe a síntese e liberação de hor-
mônio tireoidiano, fenômeno conhecido como efeito de Wolff–Chaikoff ou efeito de retroali-
mentação negativa. Vale lembrar que este efeito é reversível e transitório; deste modo, o iodeto
inorgânico não constitui útil terapia a longo prazo para hipertireoidismo (GOLAN et al., 2014;
KATZUNG; GRAW, 2013).

92
UNIDADE 4

• Tioaminas - essa classe de medicamentos compete com a tireoglobulina pelo iodeto oxidado,
processo mediado pela enzima tireoperoxidase, deste modo, diminui a síntese dos hormônios
tireoidianos. É importante ressaltar que as tioaminas são bociógenos, ou seja, frequentemente
resultam na formação de bócio, este efeito ocorre uma vez que a inibição do fármaco acarreta no
aumento da liberação do TSH pela adeno-hipófise, na tentativa de restabelecer a homeostasia,
contudo, mesmo com os níveis plasmáticos aumentados de TSH, não conseguem elevar os ní-
veis de hormônio tireoidiano, devido à ação de tioamina. Em resposta à estimulação pelo TSH
elevado, a glândula tireoide sofre hipertrofia na tentativa de aumentar a síntese de hormônio
tireoidiano. Isso provoca eventual formação de bócio (MOLINA, 2014).
• Farmacocinética: Classe com meia-vida curta, o que exige sua administração 3 vezes/dia, são
geralmente bem tolerados. O efeito adverso mais frequente desses fármacos consiste em exan-
tema pruriginoso no início do tratamento, o qual pode sofrer remissão espontânea; artralgias
também são motivo comum para a interrupção desses fármacos e podem interferir na síntese
de protrombina dependente de vitamina K, ocasionando hipoprotrombinemia e aumento da
tendência a sangramento. Agranulocitose, hepatotoxicidade e vasculite constituem três com-
plicações raras, porém graves (GOODMAN; GILMAN, 2012).
• Inibidores do metabolismo periférico do hormônio da tireoide - Embora a maior parte do
hormônio tireoidiano seja sintetizada na glândula tireoide como T4, o hormônio tireoidiano
atua em sítios periféricos principalmente como T3. A conversão de T4 em T3 depende de uma
5’-desiodase periférica, e inibidores dessa enzima são adjuvantes efetivos no tratamento dos
sintomas de hipertireoidismo (GOLAN et al., 2014).
• Ipodato - O ipodato é um contraste radiológico utilizado antigamente para visualização de ductos
biliares em procedimentos de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE). Além de
sua utilidade como contraste radiológico, o ipodato inibe significativamente a conversão de T4
em T3 por meio da inibição da enzima 5′-desiodase. Embora no passado tenha sido, algumas
vezes, empregado no tratamento de hipertireoidismo, não é mais comercialmente disponível.

Outros fármacos que afetam a homeostasia do hormônio da tireoide


Lítio: Fármaco utilizado no tratamento de transtorno afetivo bipolar pode causar
hipotireoidismo, uma vez que, altos níveis deste composto inibe a síntese e liberação
de hormônio tireoidiano das células foliculares da tireoide.
Amiodarona: agente antiarrítmico que se assemelha a hormônio tireoidiano, portanto,
contém grande concentração de iodo, uma vez que metabolismo da amiodarona libera
esse iodo na forma de iodeto, resultando em aumento das concentrações plasmáticas
de iodeto. O iodeto plasmático aumentado se concentra na glândula tireoide, podendo
ocasionar desenvolvimento de hipotireoidismo pelo efeito de Wolff–Chaikoff.
Corticosteroides: Inibem a enzima 5′-desiodase, que converte T4 em T3, metabolica-
mente mais ativa. Como T4 exibe menos atividade fisiológica do que T3, o tratamento com
corticosteroides reduz a atividade efetiva do hormônio tireoidiano (GOLAN et al., 2014;
KATZUNG; GRAW, 2013).

93
UNICESUMAR

Hipotireoidismo - A atividade reduzida da tireoide resulta em hipotireoidismo, essa condição tam-


bém tem origem imunológica, na qual ocorre reação imune contra a tireoglobulina ou algum outro
componente do tecido da tireoide conhecida como tireoidite de Hashimoto. As manifestações incluem
taxa metabólica baixa, fala arrastada, voz rouca e profunda, letargia, bradicardia, sensibilidade ao frio
e comprometimento mental (RANG; DALE et al., 2016).
TRATAMENTO - Não existem fármacos que aumentem, especificamente, a síntese ou liberação
dos hormônios tireoidianos, deste modo, a melhor alternativa é administração do próprio hormônio
como reposição através do T4 (nome oficial: levotiroxina) e T3 (nome oficial: liotironina) sintéticos,
idênticos aos hormônios naturais, e são administrados por via oral.
A levotiroxina, como sal de sódio em doses de 50-100 μg/dia, é o fármaco de primeira linha nor-
malmente escolhido. Ter um grande reservatório de “profármaco” tireoidiano (T4) no plasma pode
ser importante, talvez como tampão efetivo para normalizar taxas metabólicas em ampla variedade
de condições. Em segundo lugar, a meia-vida de T4 é de 6 dias, em comparação com a meia-vida de 1
dia de T3. A meia-vida prolongada de T4 possibilita ao paciente tomar apenas uma pílula ao dia para
reposição de hormônio tireoidiano. A eficácia da reposição de hormônio tireoidiano é monitorada
por dosagens dos níveis plasmáticos de TSH e hormônio tireoidiano. TSH é um acurado marcador da
atividade do hormônio tireoidiano, visto que a liberação de TSH pela adeno-hipófise é extremamente
sensível ao controle de retroalimentação pelo hormônio tireoidiano no sangue (GOLAN et al., 2014).
Em casos de superdosagem, podem ocorrer efeitos adversos, que incluem, além dos sinais e
sintomas de hipertireoidismo, o risco de ocorrência de angina pectoris, arritmias cardíacas ou
até insuficiência cardíaca (RANG; DALE, 2016).

O dia 25 de Maio é comemorado o “Dia Mundial da Tireoide”, sendo dedicado aos pacientes com
tireoide e a todos os que estão comprometidos com o estudo e o tratamento de doenças da tireoide
em todo o mundo. Este dia é dedicado e estimulado pelas sociedades responsáveis pelo estudo
das disfunções tireoidianas a fornecer informações e atualizações sobre o tratamento da tireoide
ao redor do mundo, seja ele farmacológico ou nutricional. Essas informações podem ser distribuí-
das por meio da mídia, eventos organizados e reuniões com a população. O objetivo é aumentar a
conscientização, por meio do acesso otimizado à educação, sobre a importância do funcionamento
ideal da glândula tireoide na infância, durante a gravidez e ao longo da vida adulta.

94
UNIDADE 4

DIA MUNDIAL DA

Figura 6 - Representação do Símbolo em comemoração ao Dia Mundial da Tireoide

Descrição da Imagem: Imagem representa uma glândula tireoide, no seu formato anatômico, esta imagem está pintada com uma mistura
de cores, azuis, roxo, verde e branco que se misturam ao decorrer da tireoide, e abaixo os dizeres “DIA MUNDIAL DA TIREOIDE”, em uma
referência a comemoração mundial da prevenção e cuidado aos distúrbios da tireoide.

A hipófise e o córtex suprarrenal

Considerações gerais

A hipófise e o córtex da glândula suprarrenal liberam hormônios que regulam o equilíbrio de sal e
água, o dispêndio de energia, o crescimento, o comportamento sexual, a função imunológica e muitos
outros mecanismos vitais. O comandante-chefe desse impressionante exercício logístico é o hipotálamo,
e a unidade funcional é conhecida como eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (na sigla em inglês, HPA)
(GOODMAN; GILMAN, 2012; MOLINA, 2014).

Hipotálamo à Fator de liberação da corticotrofina

O fator liberador de corticotrofina (CRF), tem como função estimular a liberação do hormônio
adrenocorticotrófico (ACTH). Preparações sintéticas são usadas para testar a capacidade da
hipófise em secretar ACTH e para avaliar se a deficiência de ACTH é causada por defeito na
hipófise ou no hipotálamo. Também são usadas para avaliar a função hipotalâmico-hipofisária
após o tratamento da síndrome de Cushing (RANG; DALE, 2016).

95
UNICESUMAR

O córtex da suprarrenal - A glândula suprarrenal é composta de duas partes: a medula interna, que
secreta catecolaminas, e o córtex externo, que secreta os esteroides da suprarrenal. Os principais esteroides
da suprarrenal são aqueles com atividade de glicocorticoides. Os glicocorticoides têm ações difusas no
metabolismo intermediário, afetando o metabolismo de carboidratos e de proteínas, além de possuírem
potente efeito regulatório sobre os mecanismos de defesa do organismo (RANG; DALE et al., 2016).
Glicocorticoides - Síntese e liberação - O precursor dos glicocorticoides é o colesterol e são
sintetizados pela influência do ACTH liberado pela adeno hipófise, este, é liberado em forma pulsátil
com interferência circadiana, ou seja, sofrem interferência da hora do dia que aumentam ou diminuem
sua concentração. Este ritmo circadiano bem definido em sua secreção nos humanos sadios, cuja
concentração sanguínea é maior durante a manhã e sofre redução gradual ao longo do dia, atingindo
o ponto mais baixo à noite (RANG; DALE, 2016).

ACORDADO DORMINDO

Cortisol

Meltatonina

Figura 7 - Representação do ciclo circadiano de liberação do cortisol

Descrição da Imagem: Imagem representa a liberação do hormônio cortisol durante o dia. A figura é dividida em colunas. Inicial-
mente, a figura está na coluna azul e tem-se os dizeres “acordado” onde a concentração de cortisol está baixa, essa concentração é
representada por uma linha preta. Esta linha sofre alterações na sua concentração, sendo que é finalizada em altas concentrações
quando a pessoa está dormindo, finalizando na coluna amarelada. Outra variável analisada é a concentração da melatonina, esta
se inicia na coluna azul e tem-se os dizeres “acordado” onde a concentração de melatonina está alta, essa concentração é repre-
sentada por uma linha amarela. Esta linha sofre alterações na sua concentração, sendo que é finalizada em baixas concentrações
quando a pessoa está dormindo, finalizando na coluna amarelada.

Aspectos farmacocinéticos - Existem muitos fármacos glicocorticoides em uso terapêutico. Embo-


ra o cortisol (hidrocortisona), um hormônio endógeno, seja comumente utilizado, seus derivados
sintéticos, como Predinisolona, Dexametasona e Betametasona são ainda mais usuais. Eles
possuem diferentes propriedades físico químicas, bem como potência variada, e foram otimizados
para a administração por diferentes vias. Podem ser administrados por via oral, sistêmica ou intra-
-articular; administrados em aerossóis para o interior do trato respiratório; como gotas, nos olhos,
ou em forma de spray, no nariz; aplicados em cremes ou pomadas sobre a pele; ou como enemas
de espuma no trato gastrointestinal. A administração tópica reduz a possibilidade de efeitos tóxicos

96
UNIDADE 4

sistêmicos, a não ser que sejam em-


pregadas quantidades muito grandes.
Quando é necessário o prolongamen-
to da terapia com glicocorticoides, a
utilização em dias alternados pode
reduzir a supressão do eixo HPA ou
outros efeitos adversos (KATZUNG;
GRAW, 2013).
Mecanismo de ação dos glico-
corticoides - Efeitos metabólicos e
sistêmicos gerais: provocam tanto re-
dução da captura e utilização da glico-
se quanto aumento da gliconeogênese,
resultando em tendência à hiperglice-
mia. Ocorre aumento concomitante
do armazenamento de glicogênio, que
pode ser resultado da secreção de insu-
lina em resposta ao aumento de açúcar
no sangue. De modo geral, há síntese
reduzida de proteínas e aumento da
quebra de proteínas, particularmente
no músculo, o que pode levar à atrofia
do tecido. A administração de grandes
doses de glicocorticoides, por longo
período de tempo, resulta na redistri-
buição da gordura corporal caracterís-
tica da síndrome de Cushing (RANG;
DALE, 2016; MOLINA, 2014).
Efeitos de retroalimentação ne-
gativa na adeno-hipófise e no hi-
potálamo: exercem efeito de retroa-
limentação negativa na secreção de
CRF e ACTH, inibindo a secreção de
glicocorticoides endógenos e, poten-
cialmente, levando à atrofia do cór-
tex da suprarrenal. Caso o tratamento
seja prolongado, podem ser necessá-
rios muitos meses para o retorno à
função normal após a suspensão dos
fármacos (RANG; DALE, 2016).

97
UNICESUMAR

Efeitos anti-inflamatórios e imunossupresso-


res: os glicocorticoides exógenos são os fárma-
cos anti-inflamatórios por excelência, e, quando
administrados terapeuticamente, inibem as ma-
nifestações do sistema imune, tanto inato como
adaptativo. Revertem praticamente todos os tipos
de reações inflamatórias causadas por patógenos
invasores, por estímulos químicos ou físicos, ou
por respostas imunes desencadeadas inadequa-
damente, como ocorre na hipersensibilidade ou
na doença autoimune.
As ações sobre as células inflamatórias in-
cluem: menor saída de neutrófilos dos vasos
sanguíneos e redução da ativação de neutrófi-
los, macrófagos e mastócitos, seguida de redu-
ção da transcrição gênica de fatores de adesão
celular e citocinas.
As ações nos mediadores das respostas infla-
matória e imune incluem: produção reduzida,
várias citocinas, fator de necrose tumoral (TN-
F-Alfa), fatores de adesão celular, redução da li-
beração de histamina pelos basófilos; redução da
produção de imunoglobulina G (IgG); síntese au-
mentada de fatores anti-inflamatórios (GOOD-
MAN; GILMAN, 2012; PENILDON, 2010).
Cortisol é considerado hormônio do es-
tresse, representado na Figura 8, uma vez que
ocorre o aumento dos seus níveis séricos em
resposta ao estresse, esse mecanismo acontece
quando os efeitos sistêmicos do cortisol estão
relacionados ao aumento da atenção e meta-
bólico, entretanto, essa liberação a longo prazo
(crônica), torna-se prejudicial ao organismo.

98
UNIDADE 4

RESPOSTA AO ESTRESSE

Hipotálamo

Glândula Pituitária Hormônio


adrenocorticotrófico
Glândula Tireóide
Cortisol
Alterações
Psicológicas que apoiam
as respostas de luta ou fuga
Rim

Figura 8 - Representação da influência do estresse no eixo de liberação do cortisol

Descrição da Imagem: Imagem representa o estímulo do estresse diretamente no hipotálamo, este estímulo é representado
por uma seta vermelha, e o hipotálamo anatomicamente em azul. Este estímulo acarreta na liberação do hormônio ACTH pela
pituitária anterior, que se direciona para glândula adrenal, localizada na parte superior do rim, representado anatomicamente na
coloração marrom, e na parte superior um aglomerado de células na cor amarela, representando a glândula adrenal. Esta glândula
sofre ação do ACTH, ocorrendo, assim, a liberação do cortisol.

Efeitos adversos - a terapia de reposição com glicocorticoides em doses baixas normalmente não
traz problemas, mas em doses elevadas ou administração prolongada ocorrem efeitos adversos
graves. Os principais efeitos adversos são os seguintes:
Supressão da resposta a infecções ou lesões: infecções oportunistas podem se tornar muito
graves se não forem tratadas rapidamente com agentes antimicrobianos e com aumento na dose
do esteroide. Sapinho (candidíase, uma infecção fúngica) ocorre com frequência quando os
glicocorticoides são administrados por inalação, em razão da supressão local dos mecanismos
anti-inflamatórios. A cicatrização de lesões é prejudicada e também pode ocorrer ulceração
péptica (GOODMAN; GILMAN, 2012; PENILDON, 2010).
Síndrome de Cushing - Condição relacionada ao excesso na produção do cortisol resultado do
aumento na síntese e liberação do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), normalmente associado
a um distúrbio hipofisário ou aumento do distúrbio no córtex adrenal. Normalmente, o indivíduo
apresenta um acúmulo excessivo de gordura no tronco, uma face grande e redonda e pele fina.

99
UNICESUMAR

Como diferenciar se o problema relacionado ao excesso dos níveis de glicocorticoides na síndro-


me de Cushing estão relacionados a Adeno-Hipófise ou Córtex Adrenal? Essa diferenciação é feita
pelo teste de supressão de dexametasona. Este teste consiste na administração de doses baixas
de dexametasona (um glicocorticoide sintético) e avaliação dos níveis hormonais cortisol e ACTH.
Se após a administração da dexametasona o cortisol continuar alto, temos duas interpretações:
Cortisol Elevado + ACTH elevado: caracteriza um distúrbio na Adeno-Hipófise; Cortisol Elevado
+ ACTH baixo: caracteriza um distúrbio no Córtex adrenal (MOLINA, 2014).

Insuficiência aguda da suprarrenal: a retirada abrupta desses fármacos após terapia prolongada,
devido à supressão da capacidade do paciente para sintetizar corticosteroides. Devem-se seguir proce-
dimentos cautelosos para a retirada em estágios. A recuperação da função total da suprarrenal demora,
aproximadamente, 8 semanas, embora possa levar até 18 meses ou mais após tratamento prolongado
com doses elevadas (RANG; DALE, 2016).

Querido(a) aluno(a), depois de percebermos a importância dos hormô-


nios na nossa vida, percebemos que a manutenção do nosso organismo
é incompatível sem eles, correto? Portanto, convido você para clicar aqui
e ouvir o Podcast sobre a importância destes conhecimentos apresen-
tados no capítulo na manutenção da homeostase do nosso organismo.

As informações sobre os hormônios são voláteis e constantes, a todo momento você pode encontrar
uma nova terapia de reposição hormonal específica para algum tipo de doença. Tornando, assim, este
assunto muito interessante, concorda? Deste modo, que tal realizarmos uma breve busca das principais
terapias de reposição hormonal disponíveis atualmente, com objetivo de responder essa pergunta:
“QUAIS OS BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS DA REPOSIÇÃO HORMONAL?”.

100
Após toda essa vivência hormonal e complexa, convido você a analisar seus conhecimentos por
meio de Mapa mental utilizando as seguintes palavras chave: Hormônios, Definição, Classificação,
Ação, Química, Controle (feedback) Negativo, Positivo, Eixos Liberação, Hipotálamo, GHRH, Somato-
statina, Hipófise, Hormônio Crescimento, IGF-1, TSH, Tireoide, T3/T4, CRH, Adrenal e Cortisol. Tente
fazer a integração destas palavras para formar o mapa mental deste capítulo, lembrando que elas
são integradas. Vamos lá?

Substãncias liberadas por células especializadas,


considerados mensageiros químicos do organismo

CLASSIFICAÇÃO AÇÃO
HORMÔNIOS
Lipídios, Aminoácidos e Protéicos

EIXOS LIBERAÇÃO
POSITIVO

GHRH

HIPÓFISE HORMÔNIO CRESCIMENTO

CRH
TIREÓIDE
ADRENAL

ACTH

CORTISOL

101
1. Leia o caso a seguir:

Mulher de 35 anos chega ao médico com queixas de fadiga generalizada, perda de 4 kg re-
centemente sem dieta. O exame bioquímico apresentou deficiência no hormônio TSH com
índices elevados de T4 e T3, destacando presença de Anticorpos contra receptores tireoidianos.

Assinale a assertiva que descreve corretamente o quadro do paciente:

a) Hipotireoidismo de Graves.
b) Hipertireoidismo de Hashimoto.
c) Hipertireoidismo de Graves.
d) Síndrome de Cushing.
e) Hipotireoidismo de Hashimoto.

2. Leia o caso a seguir:

Homem de 45 anos chega ao médico com queixas de Fadiga, ganho rápido de peso com obe-
sidade central. Cortisol sérico e urinário elevado tanto às 24h (meia-noite), quanto às 08h da
manhã. Após a administração de 1 mg de Dexametasona ACTH plasmático, era de 100 ng/L
(Valor de Referência: Normal < 80 ng/L);

Assinale a assertiva que descreve corretamente o quadro do paciente:

a) Tumor na Medula da Adrenal provocando a Síndrome de Cushing.


b) Tumor na Neuro-hipófise provocando a Síndrome de Cushing.
c) Tumor no Córtex da Adrenal provocando a Síndrome de Cushing.
d) Tumor na Adeno-hipófise provocando a Síndrome de Cushing.
e) Tumor na Adeno-hipófise provocando a Síndrome de Addison.

3. O sistema endócrino tem a função de garantir o fluxo de informações entre diferentes tipos
de células, possibilitando a integração funcional de todo organismo. Portanto, assinale a
assertiva correta.

a) O Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal constitui o principal eixo hormonal, regulatório. Entre eles,


a hipófise atua como centro integrado dos sinais de diferentes locais do organismo, bem como
ambiental e responde aumentando ou diminuindo a concentração dos hormônios circulantes.
b) A sinalização do hormônio CRH (hipotalâmica) provoca o estímulo da neurohipófise e como
resultado a liberação do hormônio ACTH que irá estimular a medula adrenal a síntese e
liberação do cortisol.
c) O teste de supressão de dexametasona é utilizado para avaliar os níveis em excesso do cortisol
para diagnóstico da Síndrome de Addison. O teste se baseia na retroalimentação negativa
do hormônio cortisol.

102
d) O hormônio TSH atua estimulando a tireoide, a síntese e liberação dos hormônios T3 e T4,
estes possuem ação metabólica importante, uma vez que diminuem as proteínas desacopla-
doras e a utilização do oxigênio celular.
e) A síndrome de Laron é caracterizada pela incapacidade do organismo em sintetizar os re-
ceptores do IGF-1 e, como consequência, ocorre o déficit do crescimento e desenvolvimento
do indivíduo.

4. Hormônios são substâncias químicas que controlam diversas funções do organismo. As glân-
dulas endócrinas são aquelas que produzem substâncias que são lançadas diretamente no
sangue. Considerando, analise as assertivas.

A ação dos hormônios depende da característica química deles, uma vez que podem ser lipí-
dicos, proteicos e aminoácidos.

PORQUE

Os hormônios lipídicos apresentam receptores intracelulares e demoram para realizar seu


efeito, já os proteicos e de aminoácidos possuem receptores de membrana e seu efeito é rápido.

A respeito das asserções, ASSINALE a assertiva correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

5. A classe farmacológica “AGONISTAS DE DOPAMINA” são utilizadas no tratamento de:

a) Hipotireoidismo.
b) Hiporiteoidismo.
c) Excesso de GH.
d) Déficit GH.
e) Síndrome de Cushing.

103
104
5
Fármacos Que Atuam
na Obesidade -
Fármacos e Substâncias
Relacionadas ao Estilo
de Vida e Esporte
Dr. Marcel Pereira Rangel

Nesta unidade, iremos analisar o tema OBESIDADE E ESTILO DE


VIDA, tem impactado diretamente na qualidade de vida adulta e
infantil nos últimos anos, e mesmo assim, farmacologicamente, é
um assunto muito novo. Atualmente, os tratamentos farmacológi-
cos para obesidade são considerados de última escolha, ou seja, a
mudança de hábitos associados à prática de exercícios se encontram
como a melhor opção nestes casos. Deste modo, iremos realizar
uma integração entre ambos os conceitos para fazer com que você
entenda a importância deles no tratamento da obesidade. Vamos
começar?
UNICESUMAR

Você acredita que excesso de peso seja um


fator de risco para sua saúde? Se sim, sabe-
ria o número de óbitos por ano que temos no
nosso país atribuídos ao excesso de peso? E
as complicações? Riscos de desenvolvimento
de complicações? E sua relação negativa com
portadores do covid-19. Esse assunto será ex-
tensamente abordado nesta unidade com ob-
jetivo de informar você sobre a importância de
mantermos o peso ideal de acordo com faixa
etária e gasto energético, portanto, vamos ini-
ciar essa longa e complexa jornada.
O controle do peso, é um dos estigmas mais
antigos da sociedade e seu excesso está direta-
mente relacionado como fator de risco ao de-
senvolvimento de doenças metabólicas, como
diabetes, principalmente tipo 2, e dislipidemias,
ambas trabalhadas na Unidade 3, bem como pro-
blemas cardíacos, respiratórios e endócrinos. O
controle do peso vai muito além de comer melhor
ou praticar exercícios, é necessário avaliar a taxa
metabólica de cada indivíduo e realizar um pla-
nejamento baseado no gasto energético dele. Este
tipo de atividade demanda uma grande disciplina
do indivíduo e pode ser associada a medicamen-
tos que auxiliam neste controle.
Vamos pensar, você sabe qual seu índice
de Massa Corporal (IMC)? Está adequado?
Então, vamos calculá-lo brevemente. O IMC
é determinado pela divisão da massa do in-
divíduo pelo quadrado de sua altura, em que
a massa está em quilogramas e a altura em
metros. O normal para um adulto jovem se
encontra entre 18-24. Após o cálculo, vamos
analisar quais medidas descritas nesta unida-
de podem auxiliá-lo a chegar ou manter seu
índice nos parâmetros recomendados e, assim,
prevenir o desenvolvimento de complicações
associadas à obesidade.

106
UNIDADE 5

Como já foi descrito no texto acima, a obesidade, atualmente, se encontra entre as condições mais
preocupantes da sociedade. A correria do dia a dia, associado aos fatores ambientais e genéticos, faz
com que as pessoas se alimentem erroneamente, com alimentos cada vez mais industrializados com
pouco teor nutricional e extremamente calóricos. Estes fatores associados formam, em conjunto, riscos
ao desenvolvimento da obesidade e junto a ela as comorbidades, como riscos cardiovascular, hepático,
renal, entre outros. Esses fatores são tão importantes que, em 2020, ocorreram 168 mil mortes asso-
ciadas à obesidade no Brasil, este número reforça a necessidade de um controle do peso. Este controle
pode ser feito em diversos aspectos, desde nutricional quanto farmacológico.
O aspecto nutricional, relaciona-se ao consumo alimentar balanceado e, principalmente, com
menor expressão calórica. Na parte farmacológica, existe uma gama de fármacos que vão desde
simples medicamentos associados a menor absorção de nutrientes até inibição do centro da fome.
Nosso objetivo é de que, nesta unidade, abordaremos todos os métodos farmacológicos e não
farmacológicos associados ao controle da obesidade, para isso, faça um Diário de Bordo antes de
iniciarmos o módulo, para que possamos analisar seu conhecimento prévio sobre o assunto e, depois
disso, podemos começar nossa imersão nesta unidade recheada de informações.

107
UNICESUMAR

APETITE E SACIEDADE - O controle da ingestão de alimentos é um processo complexo e


envolve múltiplos sistemas, dessa forma, o comportamento de alimentar-se basicamente depen-
de de dois processos: Fome e Saciedade, onde ambos sofrem influência ambiental, psicológica
e nutricional. A regulação comportamental de comer se baseia, principalmente, no controle
exercido pelo hipotálamo por meio do seu “centro da fome” e outro “centro da saciedade”,
ambos se autocontrolam. Os sinais eferentes provenientes desses centros causam mudanças no
comportamento alimentar e criam as sensações de fome e de plenitude (saciedade).
CONTROLE - O córtex cerebral e o sistema límbico atuam como sinalizadores ao hipotálamo,
assim, uma grande quantidade de mensageiros químicos influenciam a ingestão de alimentos e a sa-
ciedade, sendo eles: neuropeptídeos, hormônios com ação intestinal, mensageiros químicos chamados
de adipocinas, secretados pelo tecido adiposo (SILVERTHORN, 2017).

Fome

Comida

Saciedade

Figura 1 - Representação do controle exercido pelo sistema nervoso central no processo de fome e saciedade

Descrição da Imagem: a imagem possui um fundo acinzentado escuro, representando o corpo humano, sendo destacado dois locais:
o cérebro, em vermelho, e o estômago, em alaranjado. Estes dois órgãos estão interligados a um fluxograma que descreve o controle
da fome e saciedade. No início do fluxograma está o cérebro e dele sai um traço até uma caixa com texto em azul escrito (fome), desta
caixa segue uma flecha branca para baixo e, em outra caixa azul, com os dizeres (Comida). Desta caixa segue uma flecha branca para
baixo e em outra caixa azul com os dizeres (Saciedade), esta última caixa, desloca uma linha para o estômago, este fecha o fluxograma
com uma linha até o cérebro, deste modo, o fluxograma tem início e fim no cérebro.

108
UNIDADE 5

Na tentativa de explicar como ocorre a regulação da ingestão alimentar, existem duas teorias:
Teoria glicostática: sugere que o metabolismo glicolítico nos centros hipotalâmicos regulam o
consumo do alimento, ou seja, quando ocorre a diminuição sérica da glicose, ocorre inibição do cen-
tro da saciedade e ativação do centro da fome; e quando ocorre o aumento sérico da glicose, ocorre
ativação do centro da saciedade e inibição do centro da fome (SILVERTHORN, 2017).
Teoria lipostática: sugere que a concentração lipídica do corpo, mediaria a liberação de sinais
químicos, modulando O centro da fome. Assim, se o armazenamento de gordura aumenta, a ingestão
diminui. No jejum, a ingestão aumenta. Deste modo, a obesidade seria o resultado da ruptura dessa
via (SILVERTHORN, 2017).
A descoberta do hormônio sintetizado pelos adipócitos – Leptina, em 1994, reforçou e embasou a
teoria lipostática. Estes hormônios atuam de forma de feedback negativo entre o hipotálamo x tecido
adiposo, ou seja, quanto maior a concentração de gordura corporal, isto é, aumento de tecido adiposo,
maior seria a secreção de leptina e menor consumo alimentar. Vale ressaltar que estes achados são
muito bem determinados em testes laboratoriais e não são bem transpostos para os seres humanos,
visto que só uma pequena porcentagem dos obesos é deficiente em leptina (SILVERTHORN, 2017).
Outra molécula atuante neste controle é o neuropeptídeo Y (NPY), um neurotransmissor cerebral
que parece servir de estímulo para a ingestão alimentar. Este neuropeptídeo pode sofrer influência na
sua concentração pelo hormônio grelina, secretado pelo estômago durante períodos de jejum, au-
mentando a sensação de fome. E, finalmente, pode-se associar o ciclo circadiano (sono ou vigília) no
processo de fome e saciedade, uma vez que os peptídeos cerebrais, chamados de peptídeos orexígenos
parecem desempenhar um papel na vigília, e no sono também exercem papel regulatório (SILVER-
THORN, 2017).
EQUILÍBRIO ENERGÉTICO - O metabolismo determina o destino dos alimentos consumidos,
ou seja, o que será queimado, e produzirá calor ou se tornará músculo, gordura ou outros componentes
celulares. No controle do peso, aplica-se a primeira lei da termodinâmica, onde fica estabelecido que
a quantidade de energia é constante, assim, determina-se que toda a energia que entra em um sistema
biológico, como o corpo humano, deve ser contabilizada, ou seja, equilíbrio de energia: em que mu-
danças nos estoques de energia corporal resultam na diferença entre a energia posta no sistema e a
energia utilizada (GUYTON; HALL, 2017).
Vale ressaltar que “entrada de energia” consiste na quantidade do alimento ingerido e absorvido, e
“saída de energia” consiste na utilização desta energia. Para isso, é fundamental que o indivíduo saiba
a concentração correta do alimento a ser ingerido e a quantidade de energia que o seu corpo gasta,
deste modo, vamos aplicar alguns conceitos a você para que isso fique claro.
GASTO ENERGÉTICO - Para estabelecer um equilíbrio de energia para o corpo humano, devemos
ser capazes de estimar tanto a energia contida nos alimentos (entrada de energia) quanto a energia
gasta na perda de calor e nos vários tipos de trabalho (saída de energia).
O modo para medir o conteúdo energético dos alimentos é por meio da calorimetria direta,
ou seja, após a ingestão, o alimento é queimado e ocorre liberação de calor, este calor, pode ser
mensurado em quilocalorias (kcal). O conteúdo calórico de qualquer alimento pode ser calcula-

109
UNICESUMAR

do pela multiplicação do número de gramas de cada componente pelo seu conteúdo de energia
metabólica (SILVERTHORN, 2017; GUYTON; HALL, 2017).
Taxa Metabólica - O método mais comum para estimar a taxa metabólica é determinar o consumo
de oxigênio da pessoa, a taxa na qual o corpo consome oxigênio à medida que metaboliza os nutrientes.
Essa taxa metabólica, entretanto, sofre diversas influências como:
Consumo de oxigênio ou produção de dióxido de carbono – Sabe-se que o aumento do con-
sumo de oxigênio resulta no maior consumo metabólico.
Idade e sexo – Homens apresentam maior taxa de massa magra e, consequentemente, uma maior
taxa metabólica do que as mulheres. Entretanto, destaca-se que em ambos os sexos ocorre a diminuição
da taxa metabólica em consequência da diminuição da massa magra.
Nível de atividade – A contração muscular proveniente da atividade física aumenta o consumo
de oxigênio e, consequentemente, a taxa metabólica, consumindo mais energia.
Hormônios – Os hormônios da tireoide (apresentados na unidade 4), aumentam o consu-
mo de oxigênio, deste modo, aumentam a taxa metabólica (SILVERTHORN, 2017; McARDLE;
KACTH; KATCH, 2016).
Estimando a gordura – Índice de massa corporal (IMC) - Um método simples e eficiente de
estimar o total de energia acumulada é pela análise do índice de massa corporal (IMC). Para calcular o
seu IMC: Peso (quilogramas/kg)/altura ao quadrado (metros). Os valores considerados ideais variam
entre 18,5 e 24,9. Valores inferiores a 18,5 são considerados abaixo do peso normal e acima de 24,9 são
considerados como sobrepeso. Um IMC acima de 30 indica obesidade, que se correlaciona com o aumen-
to do risco de desenvolvimento de diversas doenças crônicas não transmissíveis, incluindo o diabetes,
doença cardiovascular e pressão alta (SILVERTHORN, 2017; McARDLE; KACTH; KATCH, 2016).

110
UNIDADE 5

ÍNDICE DE MASSA CORPORAL

Abaixo Acima Obesidade


Normal Obeso
do Peso do Peso Extrema
Figura 2 - Representação dos níveis de massa corporal

Descrição da Imagem: a imagem representa os níveis de índice de massa corporal, e nela estão inseridas silhuetas coloridas de cinco
pessoas, todas na posição ereta com os pés juntos e braços colados ao corpo. Da esquerda da imagem para direita, inicia-se com um
corpo em azul, indicando uma pessoa abaixo do peso (com o texto <18,5). Ao lado, corpo em verde, indicando uma pessoa com peso
normal (com o texto 18,5 - 25,9). Em seguida, corpo em amarelo, indicando uma pessoa com sobrepeso (com o texto 25 - 29,9). Seguido
de um corpo em alaranjado, indicando uma pessoa obesa (com o texto 30 - 34,9). E por fim, corpo em rosa, indicando uma pessoa com
peso extremo (com o texto 35<).

Levando em consideração que o cálculo do IMC não distingue a quantidade de massa gorda
e massa magra, atletas altamente treinados, incluindo jogadores de futebol e halterofilistas,
podem ter valores distorcidos de IMC, fazendo-os parecer obesos. Neste sentido, atualmente,
pode-se utilizar o cálculo pela bioimpedância.
A bioimpedância elétrica é um exame destinado à avaliação da composição corporal, estimando a
massa magra, gordura corporal, água corporal total, entre outros dados que proporcionam informa-
ções mais precisas sobre o estado nutricional do paciente. O exame pode ser realizado nas consultas
de avaliação e acompanhamento nutricional ou em pacientes que tenham encaminhamento médico
ou de nutricionista para realizar somente o exame.

111
UNICESUMAR

OBESIDADE - A obesidade pode ser definida como a doença em que a saúde é afetada adversamente
por excesso de gordura corporal. Atualmente, é considerada um problema de saúde pública, tanto da
população adulta quanto infantil. Já foi abordado, neste módulo, que a gordura corporal representa
energia armazenada, e a obesidade ocorre quando os mecanismos homeostáticos que controlam o
balanço calórico apresentam alterações ou são suplantados (GOLAN et al., 2014).
Assim, a combinação de estilo de vida sedentário, suscetibilidade genética, influências culturais e
acesso irrestrito a amplo suprimento de alimentos altamente calóricos está levando à epidemia global
de obesidade (GUYTON; HALL, 2017; McARDLE; KACTH; KATCH, 2016).

Obesidade como um problema de saúde: Em 2008, a OMS estimou que já existem mais de 1,4
bilhão de adultos acima do peso, aproximadamente metade dos quais – equivalente a mais de 10%
da população mundial – é obesa, de acordo com os critérios descritos anteriormente.
Apesar da própria obesidade raramente ser fatal, está frequentemente coexiste com distúrbios me-
tabólicos e outros (particularmente a hipertensão, hipercolestrolemia e diabetes tipo 2), compreen-
dendo todos a síndrome metabólica. Isso acarreta um elevado risco de afecções cardiovasculares,
acidente vascular cerebral (AVC), cânceres (particularmente dependentes de hormônios), doenças
respiratórias (particularmente a apneia do sono) e problemas digestivos, além da osteoartrite.
Devido a esta importância do tema, foi criado o “DIA MUNDIAL DA OBESIDADE”, onde, no dia 4 de
março, promove a conscientização sobre a crescente crise global de obesidade e os perigos para a
saúde de estar gravemente acima do peso.

112
UNIDADE 5

Obesidade
DIA MUNDIAL DA

Figura 3 - Representação da imagem referente ao dia mundial da obesidade

Descrição da Imagem: a imagem possui uma pessoa em pé, com os braços colados no corpo na coloração azul escura e desta
pessoa sai uma sombra em azul claro representando um corpo obeso. Ao lado desta imagem, os dizeres Dia mundial da Obe-
sidade em azul

EXERCÍCIO E SAÚDE - A atividade física tem muitos efeitos positivos no corpo humano e, levando
em consideração de que o estilo de vida vem se alterando incessantemente durante o decorrer dos anos,
o controle da alimentação associado a atividade física regulares é uma mudança no estilo de vida que
muitas pessoas têm dificuldade (SILVERTHORN, 2017).

113
UNICESUMAR

Figura 4 - Representação de uma pessoa praticando exercício físico

Descrição da Imagem: a imagem representa uma mulher ao ar livre fazendo alongamento em seu corpo para iniciar uma
atividade física. Esta mulher está de costas, com cabelo até metade das costas da coloração preta, com uma calça preta e uma
camisa regata na cor rosa claro. Está levemente inclinada para direita da imagem, onde seu braço esquerdo está acima da cabeça
com a mão espalmada para cima, o outro braço apoiado na cintura. Ao fundo, nota-se que a pessoa está em um local parecido
com um parque ou um bosque, no período do entardecer, uma vez que, pequenos raios de sol batem no corpo da mulher, bem
como na grama ao seu redor.

Desde a década de 50, sabe-se que as práticas de exercícios físicos reduzem o risco de desenvolvimento
de problemas cardíacos. Foi demonstrado que o exercício apresenta benefícios como: Diminuição na
pressão arterial e nos níveis de triacilgliceróis plasmáticos e aumento nos níveis de colesterol-HDL. Se
analisarmos que a pressão arterial alta é o principal fator de risco para acidentes vasculares encefálicos
(AVE), e triacilgliceróis elevados e níveis baixos de colesterol-HDL estão associados ao desenvolvi-
mento de aterosclerose e ao aumento no risco de infarto do miocárdio, a prática de exercícios físicos
se apresenta eficaz no combate a estas condições (GUYTON; HALL, 2017; SILVERTHORN, 2017).
Além disso, durante o exercício intenso, fatores neuro-humorais aumentam a liberação hormonal
de epinefrina, norepinefrina e glucagon e diminuem a liberação de insulina, provocando uma melhora
na mobilização glicêmica (McARDLE; KACTH; KATCH, 2016).

114
UNIDADE 5

FARMACOLOGIA - A obesidade surge em consequência de um balanço calórico positivo. Idealmente,


obtém-se redução de massa corporal pelo aumento gradual do gasto energético por meio de exercício,
associado a uma restrição dietética para diminuir a ingestão de calorias. Contudo, essa abordagem
óbvia apresenta uma taxa de sucesso relativamente baixa (GOODMAN; GILMAN, 2012).
As primeiras opções no combate à obesidade são simples e dependem exclusivamente do indiví-
duo, seriam elas, a prática regular de exercícios físicos e mudanças nos hábitos alimentares, entretanto,
infelizmente, costumam falhar ao decorrer do processo ou trazem resultados a longo prazo. Outra
opção não farmacológica seria a cirurgia bariátrica, eficaz na perda de peso, mas deve ser considerada
a última opção (RANG; DALE, 2016, GOLAN et al., 2014).

Enfoques farmacológicos do problema da obesidade - AGONISTAS


SIMPATICOMIMÉTICOS

Efeitos das anfetaminas sobre o organismo é diversificado, apresentando efeito:


Sistema nervoso central. A anfetamina é uma das aminas simpaticomiméticas mais potentes na
estimulação do sistema nervoso central (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Mecanismos de ação no SNC: as anfetaminas exercem seus efeitos no sistema nervoso central
(SNC), por meio da liberação do armazenamento das aminas biogênicas (Monoaminas) nas termi-
nações nervosas (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Depressão do apetite: a anfetamina e substâncias semelhantes têm sido utilizadas no tratamento
da obesidade, resultando na perda de peso. Esta perda se deve a uma redução da ingestão de alimentos
e um leve aumento no metabolismo basal. Esta redução no apetite ocorre pela inibição hipotalâmica
no centro da fome. Os mecanismos neuroquímicos de ação não estão bem esclarecidos, mas podem
envolver um aumento da liberação de noradrenalina e dopamina. Vale ressaltar que ocorre um rápido
desenvolvimento de tolerância à supressão do apetite. Por conseguinte, não se observa habitualmente uma
redução contínua do peso em indivíduos obesos sem restrição dietética (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Toxicidade e efeitos adversos: os efeitos tóxicos agudos da anfetamina constituem, habitual-
mente, extensões de suas ações terapêuticas e, em geral, resultam de superdosagem. Os efeitos
sobre o SNC consistem, comumente, em inquietação, tontura, tremor, reflexos hiperativos, ocor-
rem confusão, agressividade, alterações da libido, ansiedade e delírio. Os efeitos cardiovasculares
são comuns e incluem cefaleia, calafrios, palidez ou rubor, palpitações, arritmias cardíacas, dor
anginosa, hipertensão ou hipotensão e colapso circulatório. O tratamento da intoxicação aguda
por anfetamina pode incluir a acidificação da urina com a administração de cloreto de amônio,
aumentando a sua taxa de eliminação. Faz-se necessário o uso de sedativos para os sintomas do
SNC (GOODMAN; GILMAN, 2012; KATZUNG; GRAW, 2013).

115
UNICESUMAR

Supressores do apetite que atuam centralmente - Fármacos que atuam no sistema nervoso
central têm sido utilizados na tentativa de controlar o apetite, os exemplos destas classes são: sibu-
tramina, o rimonabanto (ambos retirados na maioria dos países) e a lorcaserina, um agonista
do receptor 5-HT2C recentemente aprovado como um supressor do apetite como medicamento
de auxílio à dieta, que deve ser retirado após perda de peso dos pacientes (RANG; DALE, 2016).

Figura 5 - Representação de uma pessoa sem vontade de comer frente ao alimento

Descrição da Imagem: a imagem mostra uma mulher de semblante triste, esta possui cabelo escuro curto, com um prende-
dor de cabelo amarelo do lado esquerdo da cabeça. Ela se apresenta na coloração rósea, e está com a mão direita apoiando a
cabeça e a mão esquerda segurando uma colher branca. Na frente da mulher, encontra-se um prato de comida arredondado,
nele tem-se três itens na coloração verde (representando brócolis), um alimento amarelado (representando um purê) e por fim
um item vermelho com cabo verde (representando um tomate). Este prato está acima de uma toalha azul escura, que possui
quatro listras brancas, em cima de uma mesa amarelada. No fundo da imagem se encontra uma parede azul, com um relógio
arredondado, e ao no canto superior direito, um quadro com alguns riscos e um círculo branco.

116
UNIDADE 5

O mecanismo da sibutramina é inibir a recaptação da serotonina e norepinefrina nos centros hi-


potalâmicos que regulam a fome, obtendo como principal efeito a redução da ingestão alimentar e,
consequentemente, perda de peso. Este medicamento aumenta a saciedade e leva a redução de peso
com diminuição dos triglicerídeos plasmáticos e das lipoproteínas com densidade muito baixa, mas
aumento das lipoproteínas de alta densidade. Além disso, foram reportados efeitos benéficos na hi-
perinsulinemia e no metabolismo da glicose (RANG; DALE, 2016).
Orlistate - O Fármaco inibidor da enzima lipase, deste modo, atuante no intestino, impede a
degradação da gordura da dieta em ácidos graxos e glicerol, impossibilita a sua absorção, levando-a
eliminação fecal. Outro possível efeito está associado à redução dos níveis de leptina e retardo do
esvaziamento gástrico. O medicamento deve ser associado a exercícios físicos e dieta hipocalórica,
produzindo uma perda de peso modesta (GOLAN et al., 2014).
Aspectos farmacocinéticos e efeitos adversos: quase todo composto é eliminado nas fezes
na forma inalterada, sendo absorvida pouco metabólito ativo, entretanto, cólicas abdominais,
flatulência e incontinência fecal são comuns. Reduzem concentração plasmática de anticon-
cepcionais, mas se apresentam como seguras e não necessitam de prescrição médica para uso
(RANG; DALE, 2016, KATZUNG; GRAW, 2013).
Novos enfoques da terapia da obesidade - A busca por novos compostos levou a pesquisa
à tentativa de desenvolvimento de compostos capazes de interferir na regulação hormonal –
hormônios abordados no início desta unidade, responsáveis pelo controle de apetite e da sacie-
dade. Assim, estes medicamentos visam explorar a ação ou a produção de sinais de saciedade
neuroendócrina, como o hormônio colecistocinina (CCK), para produzir supressão do apetite.
Outro exemplo seria os peptídeos semelhantes ao glucagon, como a liraglutida usada para tra-
tar diabetes tipo 2 (trabalhada na Unidade 3), que têm ações anorexígenas e têm mostrado uma
atividade promissora em alguns ensaios, entretanto são necessários mais estudos para melhor
afirmar seu real efeito sistêmico. Deste modo, esse campo foi extensivamente estudado, porém,
até o momento, falhou em produzir um fármaco aceitável (RANG; DALE, 2016).
Portanto, é importante abordar que a combinação das terapias farmacológicas é muito mais eficaz
quando usadas em conjunto com modificações do estilo de vida e de outros comportamentos.

117
UNICESUMAR

A busca pelo corpo perfeito, muitas vezes, leva a quadros perigosos, principalmente na modulação
do metabolismo. O 2,4-dinitrofenol mais conhecido como “DNP” um produto químico industrial, é
facilmente encontrado em vendas online com propósito de “queimar gorduras”, seu mecanismo de
ação ocorre pelo bloqueio da síntese energética mitocondrial e, consequentemente, desvio para
metabolismo energético com objetivo de síntese de ATP, este desvio aumenta a taxa metabólica,
como consequência há aumento na mobilização lipídica. Entretanto, seus efeitos adversos mais
comuns são: aumento da temperatura corporal e pressão arterial, o que pode levar a complicações
e até mesmo ao óbito.

Figura 6 - Representação do potencial tóxico dos compostos

Descrição da Imagem: a imagem demonstra dois planos, no primeiro há um pote de vidro arredondado branco, metade dele
cheio com água, representada pela coloração azul. Dentro desta água está uma imagem de uma caveira representada em ver-
melho e possui dois ossos cruzados um para cada lado. No segundo plano, temos um livro aberto na coloração alaranjada com
a capa em marrom, além disso, um marca-página em verde. No lado direito do livro, há uma representação de escritas por 8
linhas paralelas escuras.

118
UNIDADE 5

Atualmente, um dos controles da obesidade se refere à melhora nos hábitos alimentares, associados
à prática de atividade física que contribui para a redução do risco de desenvolvimento das doenças
crônicas não transmissíveis. Portanto, uma reeducação alimentar deve ser realizada e adequada às ne-
cessidades de cada indivíduo, para que tenha um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas.

Figura 7 - Representação de uma alimentação saudável

Descrição da Imagem: a imagem representa um homem


com expressão alegre, este possui cabelo marrom, olhos
fechados, boca aberta em direção ao garfo e está com
uma camiseta branca. Um dos seus braços está com garfo
em direção a boca. Na sua frente, encontra-se uma tigela
cinza, apoiada em uma bancada marrom. Na tigela, tem-
-se algumas frutas como: uva representada em roxo com
dez gomos circulares, duas bananas amarelas, uma maçã
vermelha com cabo marrom e uma folha verde fixada,
uma laranja alaranjada com cabo marrom e uma folha
verde fixada e um pedaço de melancia vermelha com oito
sementes pretas.

O uso medicinal de plantas na sua forma natural e sem processamento são utilizados em larga escala
por estarem disponíveis sem necessidade de prescrição e, ao contrário dos medicamentos de venda
livre, são considerados legalmente suplementos dietéticos e não medicamentos. Entretanto, são
regulados por órgãos competentes para analisar sua eficácia e efeitos adversos. Para os propósitos
desta unidade, as substâncias a base de plantas e as substâncias químicas sintéticas purificadas
serão denominadas suplementos dietéticos. Estes, não são considerados medicamentos de venda
livre, mas sim suplementos alimentares usados para manutenção da saúde.
Legalmente, os suplementos dietéticos têm como objetivo suplementar a dieta, mas os consumidores
podem utilizá-los da mesma forma que usam medicamentos e, inclusive, no lugar de fármacos ou
combinados a eles. Muitos consumidores adotaram o uso de suplementos dietéticos como uma
abordagem “natural” para cuidar de sua saúde. Infelizmente, é comum que haja equívocos concei-
tuais acerca de segurança e eficácia dos agentes, e o fato de as substâncias serem denominadas
“naturais” não representa garantia de segurança.

119
UNICESUMAR

Um fator importante na reeducação alimentar é o fator psicológico, estas interferências contribuem


tanto para o agravamento ou tratamento da doença. Sendo assim, teorias sobre o comportamento de
saúde foram desenvolvidas na psicologia, para explicar por que as pessoas praticam ou não determi-
nados comportamentos diante da saúde e da doença.
Estas teorias buscam compreender o motivo do comportamento de certos indivíduos frente aos
hábitos alimentares e sua interferência na saúde. Uma das teorias mais descritas é a “teoria dos estágios,
ou modelo transteórico”, que afirma que a pessoa passa por estágios durante a mudança de compor-
tamento relacionada à saúde, que são classificados como:

Pré-contemplação: pessoa ainda não pensa seriamente em


mudar o comportamento.
Contemplação: pessoa reconhece a existência de um problema
e começa a considerar a possibilidade de mudança.
Preparação: pensamentos e ações para mudanças já presentes.
Ação: pessoas já mudaram o comportamento e estão tentando
manter os esforços.
Manutenção: pessoas continuam a obter sucesso .

Neste sentido, na teoria do modelo transteórico, uma pessoa com sobrepeso que inicia a reeducação
alimentar deverá passar do estágio de pré-contemplação para a contemplação, e assim por diante, ou
seja, necessita compreender a obesidade como um problema de saúde e se preparar para as mudanças
oriundas desse novo comportamento alimentar.

Ao final desta unidade, percebemos a importância do controle da ali-


mentação, o impacto do sobrepeso na vida das pessoas e como este
tema é imprescindível na vida de qualquer profissional da área da saúde.
Convidamos você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a importância
destes conhecimentos apresentados na unidade para o desenvolvimento
de compostos com potencial terapêutico.

Após este vasto conteúdo abordado nesta unidade, o que acha de uma boa leitura para fixar melhor o
conteúdo? Assim, fique atento(a) nas dicas:

120
UNIDADE 5

Título: Prevenção da obesidade e de doenças do adulto na infância


Autor: Maria das Graças Garcez Silveira
Editora: Vozes
Sinopse: o padrão alimentar e o estilo de vida na infância têm passado
por transformações significativas nas últimas décadas. Essas mudanças,
ao lado do sedentarismo, favorecem o aumento dramático da obesidade
infantil, que já é considerada pela Organização Mundial da Saúde uma
epidemia de difícil controle. Este livro, ao se apoiar em recomendações
de entidades nacionais e internacionais de Pediatria, transmite valiosos conhecimentos sobre
nutrição, educação alimentar e consumo saudável de alimentos. Nele, os profissionais da saúde,
pais e educadores encontrarão informações sobre redução do consumo de gorduras trans e
saturadas; uso moderado de sal e açúcar; estratégias para a redução do LDL colesterol e dos
triglicerides; mudança de hábitos alimentares, dentre outros.
Outra dica bem interessante seria um conteúdo mais complexo no documentário a seguir:

Título : Documentário: Muito Além do Peso


Ano: 2012
Sinopse: o documentário analisa a qualidade da alimentação infantil e os
efeitos da publicidade de alimentos. Isso permite discussões e reflexões
críticas sobre a alimentação e nutrição de forma multifatorial, abordando
com muita seriedade os problemas referentes à obesidade infantil no Brasil.
Isso ocorre por meio de uma série de entrevistas, com famílias de crianças
com obesidade, e especialistas nacionais e internacionais nos campos da
nutrição, direito, psicologia, medicina e publicidade.

121
UNICESUMAR

Após esta unidade, esperamos que você tenha


compreendido a importância na manutenção
dos hábitos alimentares saudáveis, e como esse
estilo de vida impacta diretamente na saúde de
cada pessoa.
Após o final desta unidade, você repensou
nos seus hábitos alimentares? Esperamos que
sim, uma vez que, como descrevemos durante
todo o módulo, a obesidade é uma condição
muito comum em todas as idades e deve ser
controlada para que não origine nenhum pro-
blema de saúde. Deste modo, que tal calcular-
mos seu IMC e analisar como sua alimen-
tação está impactando na sua qualidade
de vida?

122
Encerramos este módulo e suas considerações fundamentais para a compreensão do processo
saúde x doença, principalmente relacionado aos hábitos alimentares atuais. E como observamos, o
tratamento farmacológico, apesar de limitado, apresenta uma boa eficácia, e visando esta ob-
servação, convidamos você para produzir um Mapa Mental, estabelecendo a relação e integração
entre os hábitos alimentares e desenvolvimento da obesidade e seu tratamento. Para isso, utilize as
palavras-chave: Obesidade, Controle, Fome, Grelina, Leptina, Saciedade, Tratamento, Farmacológi-
co, Supressor Apetite, Anfetaminas, Não farmacológicos, Reeducação Alimentar, Exercícios Físicos,
Variáveis, IMC e Taxa Metabolismo.
Vamos lá?

OBESIDADE VARIÁVEIS IMC

CONTROLE TRATAMENTO

ANFETAMINAS
GRELINA

LEPTINA NÃO FARMACOLÓGICOS EXERCÍCIOS


FÍSICOS

123
1. O tratamento não farmacológico da obesidade é complexo e depende de inúmeros fatores
para que tenha sucesso. Considerando o contexto, avalie as seguintes asserções e a relação
proposta entre elas.

A obesidade é uma condição relevante em idades adultas, uma vez que as crianças não de-
senvolvem este tipo de problema.

PORQUE

Possuem uma taxa metabólica superior aos adultos e, deste modo, seu consumo energético
supre a demanda calórica consumida, independentemente do teor do alimento.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Assinale a alternativa que descreve corretamente o fármaco que possui como mecanismo de
ação inibir a recaptação da serotonina e norepinefrina nos centros hipotalâmicos regulando
a fome.

a) Anfetaminas.
b) Sibutraminas.
c) DNP (2,4-dinitrofenol).
d) Grelina.
e) Leptina.

124
3. Analise as afirmativas referente ao tratamento da obesidade:

I) O Orlistate é considerado no tratamento da obesidade por apresentar como ação inibir a


enzima lipase, impedindo a degradação da gordura da dieta em ácidos graxos e glicerol, deste
modo, impossibilita a sua absorção, levando-a eliminação fecal.
II) Fármacos inibidores de dopamina como Sibutramina e Rimonabanto são utilizados como
supressores de apetite, uma vez que este neurotransmissor se apresenta como regulador
do centro da fome.
III) A anfetamina e substâncias semelhantes têm sido utilizadas no tratamento da obesidade,
resultando na perda de peso. Esta perda se deve a uma redução da ingestão de alimentos e
um leve aumento no metabolismo basal.
IV) A obesidade não deve ser tratada como problema de saúde pública, uma vez que seus índices
de mortalidade são baixos e pouco evoluem para complicações sistêmicas ou comorbidades.
V) O estágio de preparação é caracterizado quando a pessoa reconhece a existência do problema
e começa a considerar a possibilidade de mudança.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas as alternativas I e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas IV e V estão corretas.

125
126
6
Fármacos Que Atuam
nos Distúrbios
Comportamentais
Ativadores e
Depressores do
Sistema Nervoso
Dr. Marcel Pereira Rangel

Este certamente será o capítulo mais desafiador desde o início da


nossa jornada farmacológica, isso será observado e constatado por
você quando iniciarmos o nosso capítulo e você observar como o
sistema nervoso é complexo e possui conexões perfeitas entre si.
Deste modo, a farmacologia é desafiadora em todos seus aspectos,
desde o seu mecanismo de ação até os inúmeros efeitos adversos. E
aí ficou empolgado(a)? Esperamos que sim, portanto, vamos iniciar
nosso capítulo e desejamos uma imersão completa nesse sistema
complexo onde serão analisados os sistemas dopaminérgicos, se-
rotoninérgicos, gabaérgicos e glutamatérgicos.
UNICESUMAR

Quantas condições que acometem o sistema nervoso você conhece? Pense a respeito, talvez, a
primeira que venha na sua cabeça seja “Depressão” ou “Ansiedade”, e você está correto, entretan-
to, as condições agressoras do sistema nervoso são muito mais amplas e podem ser classificadas
de acordo com os neurotransmissores ou áreas específicas e acabam impactando diretamente
na qualidade de vida das pessoas. Pense também sobre o tratamento, você acredita que ele seja
efetivo? Muitos efeitos adversos? Venda liberada? Necessita de acompanhamento? São muitas
questões corretas, deste modo, convido você para que iniciemos esta complexa imersão no sistema
controlador do nosso organismo e juntos desvendarmos a sua farmacologia.
Você conhece alguma pessoa que apresenta condições que necessitam de medicamentos atuantes no
sistema nervoso central? Já observou se este tratamento teve um efeito imediato? Tardio? Ou não apre-
sentou efeito benéfico somente adversos? Os transtornos comportamentais atualmente compreendem
um dos principais problemas de saúde pública, uma vez que são condições debilitantes aos indivíduos
que impactam diretamente na qualidade de vida tanto da pessoa quanto dos seus cuidadores quando
necessário. Apesar do tratamento ser considerado efetivo na maioria das condições, pelo menos na
manutenção dos sintomas e na evitação da progressão das doenças, muitas vezes, o diagnóstico é tar-
dio, o que reduz proporcionalmente sua eficácia. Os tratamentos farmacológicos atuam em múltiplos
neurotransmissores e locais no sistema nervoso, assim, uma das primeiras perspectivas que você deve
ter, é que o sistema nervoso atua de forma integrada, ou seja, em conjunto, em suas múltiplas áreas.
Isso, muitas vezes, torna os medicamentos eficazes em distintas doenças, mas também aumenta a
chance no desenvolvimento de efeitos adversos.
Você saberia me dizer qual a doença mais incapacitante do sistema nervoso central? Quando
relacionamos incapacitações no sistema nervoso, pode ser tanto excitatória quanto inibitória. Pense
um pouco, e depois convido para que faça uma breve busca para que resolva esta pergunta, e assim,
juntos, iremos desvendar os tratamentos mais indicados em cada caso.
Certamente as doenças do sistema nervoso central são as condições mais impactantes tanto na
qualidade de vida direta do indivíduo quanto no seu cuidador, pensando assim, podemos refletir, prin-
cipalmente, nas condições neurodegenerativas que serão trabalhadas neste capítulo, estas condições,
como Alzheimer e Parkinson, apresentam um impacto direto no cuidado do indivíduo, uma vez que
elas evoluem para demência. Se pensarmos em condições como Esquizofrenia, Ansiedade, Pânico e
Epilepsia, estas condições impactam diretamente no próprio indivíduo. Independentemente da con-
dição, iremos abordar que a farmacologia é eficaz, entretanto, existem limitações, principalmente na
demora do diagnóstico e na persistência terapêutica do indivíduo que limitam sua efetividade.
Outra reflexão que podemos levantar neste capítulo seria do aumento no número de casos,
independentemente da idade com estas condições relacionadas acima, isto mostra como as
doenças comportamentais e demenciais estão inseridas no nosso cotidiano. Assim, neste capítulo,
iremos abordar as principais classes dos medicamentos que atuam em diferentes momentos no
desenvolvimento e no controle destas condições.
Para iniciarmos, convido-o a realizar um Diário de Bordo, com objetivo de que possamos ana-
lisar seu conhecimento prévio sobre o assunto e, depois disso, podemos começar nossa imersão
neste capítulo recheado de informações.

128
UNIDADE 6

O sistema nervoso é uma rede de neurônios interligados por conexões sinápticas que confe-
rem uma complexidade incomparável a outros locais. Estes neurônios desempenham funções
distintas e importantes, como percepção – incluindo processamento sensorial, auditivo e visual,
estado de vigília, linguagem e consciência. Para desempenhá-las, os neurônios individuais que
compõem o sistema nervoso precisam estar organizados em redes funcionais, as quais são, por
sua vez, organizadas em unidades anatômicas maiores (MACHADO, 2014).
Deste modo, a farmacologia relacionada ao sistema nervoso central é certamente o local mais
desafiador de estudo, uma vez que este sistema é complexo e suas conexões se estendem por todo o
organismo, tornando a compreensão dos efeitos dos fármacos muito mais difícil. O cérebro compreende
o sistema mais “alto” do organismo; para iniciarmos nosso caminho na farmacologia deste local tão
complexo, primeiramente você precisa entender alguns conceitos básicos que, certamente, irão guiar
na compreensão dos efeitos farmacológicos, são eles (RANG; DALE, 2016):
Barreira hematoencefálica - Compreende um emaranhado de células endoteliais vasculares
justapostas que têm entre suas funções a proteção do sistema nervoso central contra partículas poten-
cialmente agressoras. Deste modo, os fármacos, para possuírem ação no SNC, devem ter condições
de atravessar essas barreiras (RANG; DALE, 2016; MACHADO, 2014).
Transmissão eletroquímica - Os neurônios se comunicam entre si e com outros tipos de células
por meio da liberação regulada de neurotransmissores. Estes, ao serem liberados, podem agir em lo-

129
UNICESUMAR

cais próximos ou distantes em conexões especializadas denominadas sinapses, que apresentam uma
sequência geral de processos essenciais à transmissão eletroquímica, sendo: Síntese e Armazenamento,
Deslocamento Vesicular, Liberação, Retorno, Ação (GOLAN et al., 2014).

Célula Pré Sináptica Vesículas pre-sinápticas

Neurotransmissor
Canais de cálcio

Receptor
Célula Pós Sináptica

Figura 1 - Representação do processo de sinapse

Descrição da Imagem: Imagem apresenta processo de sinapse, ou seja, transmissão de impulso de um neurônio para o outro. Assim,
a imagem possui dois neurônios, representados anatomicamente na coloração alaranjada. No neurônio superior está escrito Célula
Pré-Sináptica, nele tem-se um ciclo com quatro vesículas pré-sinápticas, na coloração azulada, este ciclo é iniciado com a entrada de
cálcio por canais de cálcio acoplados no neurônio representada por dois círculos vermelhos, assim, temos dois destes na membrana
do neurônio. Esta entrada de cálcio inicia o deslocamento desta vesícula azul, do interior do neurônio até sua borda, onde libera o
neurotransmissor representado por pequenos pontos azulados (em grande quantidade) na fenda sináptica. Esta fenda é o espaço vazio
entre os dois neurônios. A imagem continua com o neurotransmissor liberado se ligando aos seus respectivos receptores representados
por retângulos roxos no neurônio pós-sináptico

FARMACOLOGIA SNC - Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais


(DSM 5), os problemas comportamentais são divididos de acordo com os sintomas apresentados e
uma série de disfunções nas neurotransmissão (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
O termo neuromodulador é frequentemente utilizado para se referir a determinado mediador,
cujas ações não se adaptam ao conceito original de neurotransmissões. Em geral, a neuromodulação
se relaciona com a plasticidade sináptica, incluindo os eventos fisiológicos de curto prazo, tais como
a regulação da liberação do transmissor pré-sináptico ou da excitabilidade pós-sináptica. Deste modo,
vamos apresentar as principais classes dos neuromoduladores e, juntos, discutiremos a farmacologia
relacionada a estas classes. Vamos começar? (RANG; DALE, 2016).

130
UNIDADE 6

NEUROTRANSMISSÃO GABAÉRGICA - O neurotransmissor GABA atua como principal


agente inibitório do SNC. Além disso, a maioria dos neurônios e dos astrócitos do SNC expressam
receptores gabaérgicos, deste modo, em decorrência de sua distribuição disseminada, os receptores
de GABA influenciam muitos circuitos e funções neurais, conferindo aos fármacos que modulam os
receptores GABA ações: relacionadas à atenção, formação da memória, ansiedade, sono, tônus muscular,
hiperatividade neuronal focal ou disseminada na epilepsia (GOLAN et al., 2014). Os receptores iono-
trópicos (GABA-A), que são proteínas de membrana de múltiplas subunidades, as quais se ligam ao
GABA e abrem um canal iônico de cloreto intrínseco (GOODMAN; GILMAN, 2012). E os receptores
metabotrópicos (GABA-B), que são receptores heterodiméricos acoplados à proteína G, que afetam
as correntes iônicas neuronais por meio de segundos mensageiros (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Mecanismo de Ação: a concentração interna de cloreto nos neurônios é menor do que a concentração
extracelular, assim, a ativação dos canais de cloreto pelos receptores GABAérgicos, desloca a voltagem
provocando uma hiperpolarização, reduzindo a probabilidade de condução do potencial de ação e a
probabilidade de que estímulos excitatórios possam iniciar potenciais de ação (GOLAN et al., 2014).

Receptor GABA

Íon Cloreto

Membrana celular

Figura 2 - Representação do Receptor GABAérgico

Descrição da Imagem: Imagem representa o receptor GABAérgico, nela pode-se observar, inicialmente, uma visão superior do receptor,
onde se nota cinco pontos ou sítios de ligação coloridos representados por círculos. Dois sítios Alfa em azul, “Y” em verde e dois sítios
Beta em amarelo. Em seguida, este receptor aparece acoplado a membrana celular, esta membrana, na sua conformação fosfolipídica,
ou seja, parte da cadeia polar para cima representada por círculos azulados, com dois traços roxos representando a parte apolar saindo
da parte azul em direção a outro círculo azulado, deste modo, formando a membrana celular. No centro da imagem e no meio desta
membrana, tem-se o receptor GABAérgico acoplado, este receptor se apresenta transversalmente a membrana com os receptores citados
nas mesmas colocações. Na parte superior deste receptor, tem-se um círculo vermelho do íon cloreto, representando o mecanismo de
ação do receptor GABAérgico que, ao ser ativado, aumenta a entrada do íon cloreto para o espaço intracelular.

131
UNICESUMAR

Classes e agentes farmacológicos que afetam a neurotransmissão GABAérgica - Os agentes


farmacológicos que atuam na neurotransmissão GABAérgica afetam o metabolismo do GABA ou
a atividade de seu receptor. A maioria dos agentes farmacológicos que afetam a neurotransmissão
GABAérgica atua sobre o receptor GABAA ionotrópico (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
Inibidores do metabolismo do GABA - Classe de medicamentos que competem pelo transpor-
tador do neurotransmissor GABA tanto nos neurônios quanto nas células da glia. Possuem indicação
para epilepsia, uma vez que aumentam a concentração do neurotransmissor extra sináptico. São absor-
vidos oralmente com biodisponibilidade de 90%, apresentam metabolismo hepático, principalmente
pela CYP3A4, sem indução enzimática (GOLAN et al., 2014).
Benzodiazepinas - Os benzodiazepínicos são os compostos que possuem transporte pela barreira
hematoencefálica, deste modo, apresentam grande potencial de efeitos no SNC. O mecanismo de ação
desta classe está relacionado com aumento/potencialização dos canais de cloreto, ocasionando no influxo
deste íon para o meio intracelular do neurônio, resultando na hiperpolarização (RANG et al., 2016).
O ponto fundamental neste mecanismo é de que os benzodiazepínicos não ativam os receptores
GABA inativos na ausência dos neurotransmissores GABA, isso confere proteção a superdosagem
fatal. Entretanto, a margem de segurança diminui quando as benzodiazepinas são coadministradas
com álcool ou outros sedativos/hipnóticos (GOLAN et al., 2014).
Aplicações clínicas - Utilizados em diversas condições, tais como potencializadores do sono,
facilitam o início do sono e também aumentam a duração total. Além disso, alteram a proporção dos
vários estágios do sono: aumentam a duração do sono sem movimento ocular rápido (NREM) e dimi-
nuem a duração do sono REM. Muitas benzodiazepinas, incluindo estazolam, flurazepam, triazolam
e zolpidem são prescritas para o tratamento da insônia.
Ansiolíticos: exercem efeito ansiolítico ao inibir as sinapses no sistema límbico, uma região do
SNC que controla o comportamento emocional. As classes utilizadas são: diazepam e alprazolam;
Sedativos: a diferença da ação ansiolítica x sedativa está relacionada quanto à velocidade de início
e duração dos efeitos. Como exemplo, podemos analisar a ação do flurazepam, este apresenta tempo
de ação longo, utilizado na facilitação do início e a manutenção do sono, assim seu elevado tempo de
eliminação (aproximadamente 72 horas), resulta no acúmulo de metabólitos ativos que podem oca-
sionar sedação diurna (GOODMAN; GILMAN, 2012; RANG; DALE, 2016).
Farmacocinética e metabolismo - A lipossolubilidade confere a esta classe uma absorção
rápida e completa, deste modo, pode ser administrada por diferentes vias: Oral, intravenosa e
intramuscular. Apresenta metabolização hepática, sendo eliminados na urina (FUCHS; WANN-
MACHER; FERREIRA, 2010).
Efeitos adversos - Classe considerada segura devido seu mecanismo depender da modulação dos re-
ceptores GABAA. Altas doses raramente estão associadas à morte, a não ser que sejam administradas com
outros fármacos ou substâncias, como etanol, depressores do SNC, analgésicos opioides ou antidepressivos
tricíclicos. O aumento da depressão do SNC, observado com o uso concomitante de etanol, decorre de efei-
tos sinérgicos sobre os receptores GABAA e da inibição da CYP3A4 mediada pelo etanol. Esta intoxicação
pode ser revertida pelo uso do antagonista flumazenil (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

132
UNIDADE 6

Você sabia que a cada 100 mortes 1 está relacionada ao suicídio? E que atualmente jovens na
faixa etária entre 15-20 anos são os que mais sofrem este tipo de acometimento? Pensando
nisso, a Organização Mundial de Saúde levou a discussão aos seus fóruns mundiais, para
chamar a atenção de um problema, muitas vezes, negligenciado em muitos países. No Brasil,
a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, desde 2014, promove discussões no mês de se-
tembro com o objetivo de prevenir e reduzir estes números.

10 DE SETEMBRO

Dia Mundial na
PREVENÇÃO DO
SUICÍDIO

Figura 3 - Imagem que representa o dia mundial na prevenção do suicídio

Descrição da Imagem: Imagem apresenta uma mão na coloração rósea saindo do canto inferior esquerdo da imagem, esta mão
apresenta-se com braço esticado e entre ela passa-se um laço de uma corda marrom, assim, a mão segura essa corda com os dedos
fechados no canto superior do laço. Em cima desta mão, temos uma tesoura com cabo preto e pontas pontiagudas cinzas, em direção
a corda no ato de cortar. Esta tesoura é empunhada por outra mão que surge no canto direito superior também na coloração rósea.
Ao lado da imagem estão os dizeres, ou seja, 10 de setembro - Dia Mundial na Prevenção do Suicídio.

133
UNICESUMAR

NEUROTRANSMISSÃO GLUTAMATÉRGICA - As sinapses glutamatérgicas se estendem por todo


SNC, desencadeando respostas excitatórias principalmente em neurônios motores, sensoriais, memória
e neurotoxicidade cerebral em função da isquemia cerebral. Sua farmacologia atual é limitada, sendo,
ainda, um campo de pesquisa vasto a ser explorado (GOODMAN; GILMAN, 2012). Receptores do
glutamato - Assim como os GABAérgicos, são divididos em subgrupos ionotrópicos e metabotrópicos.
Receptores ionotrópicos: atuam como respostas sinápticas excitatórias rápidas. Assim, após sua
ativação, provocam o fluxo de sódio, cálcio e potássio pelas membranas plasmáticas. Existem três
subtipos (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010):
AMPA (ácido α-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazol propiônico) estão localizados em todo o SNC,
particularmente no hipocampo e córtex cerebral. A sua ativação resulta, principalmente, no influxo de
sódio e em menor concentração de potássio (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Cainato expressos em todo o SNC, particularmente em hipocampo e cerebelo (GOODMAN;
GILMAN, 2012).
NMDA (N-metil-D-aspartato) são expressos, principalmente, em hipocampo, córtex cerebral e
medula espinal. Sua ativação exige a ligação simultânea de glutamato e glicina, possibilitando o influxo
dos íons sódio, potássio e cálcio (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Receptores metabotrópicos de glutamato - Os receptores metabotrópicos de glutamato (mGluR)
consistem em uma proteína de domínio transmembrana que atravessa sete vezes a membrana, acoplada
por meio de proteínas G a vários mecanismos efetores. Estes receptores provocam excitação neuronal
por meio da ativação da fosfolipase C (PLC) e da liberação de cálcio (GOODMAN; GILMAN, 2012).
Farmacologia da neurotransmissão glutamatérgica - Doenças neurodegenerativas - A
ocorrência de níveis elevados de glutamato desregulado (excitotoxicidade) foi mencionada em doença
de Huntington, doença de Alzheimer e esclerose lateral amiotrófica (ELA) (GOLAN et al., 2014).
Os pacientes com ELA apresentam comprometimento dos transportadores de glutamato em
medula espinhal e córtex motor. Esses transportadores de glutamato anormais possibilitam o acúmu-
lo de concentrações elevadas de glutamato na fenda sináptica, levando, possivelmente, à morte dos
neurônios motores por excitotoxicidade (GOLAN et al., 2014).
A excitotoxicidade em decorrência da liberação excessiva de glutamato também foi citada
na progressão da demência na doença de Alzheimer. A memantina é um antagonista não
competitivo dos receptores NMDA, utilizado no tratamento dessa doença (GOLAN et al., 2014;
WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
Epilepsia - As convulsões podem resultar da estimulação excessiva das vias glutamatérgicas,
principalmente relacionada aos receptores AMPA. Foi sugerido que a inibição da ativação dos
receptores AMPA impede o início das convulsões, enquanto os antagonistas dos receptores
NMDA diminuem a intensidade e a duração das convulsões, assim, o fármaco lamotrigina atua
estabilizando o estado inativado do canal de sódio, diminuindo a excitabilidade da membrana, a
quantidade de potenciais de ação em um surto e a liberação de glutamato (GOLAN et al., 2014;
WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).

134
UNIDADE 6

Figura 4 - Representação as ondas cerebrais no Sistema Nervoso Central

Descrição da Imagem: a imagem apresenta fundo marrom claro, com quatro mãos uma, sobreposta a outra, segurando um desenho
de uma cabeça humana na coloração rosa claro. Esta cabeça apresenta, no seu interior, na parte superior do crânio, um cérebro ana-
tomicamente representado na coloração rosa escuro. Dentro deste cérebro se encontram ondas cerebrais na coloração branca que
“cortam” todo o cérebro da esquerda para direita e que sobem e descem ao decorrer do percurso, representando as ondas cerebrais.

NEUROTRANSMISSÃO DOPAMINÉRGICA - A dopamina (DA) é um alvo terapêutico para múl-


tiplos fármacos, uma vez que este neurotransmissor está relacionado à doença de Parkinson e esquizo-
frenia. Além disso, este neurotransmissor pertence à classe das catecolaminas e atuam como precursor
dos outros neurotransmissores catecolamínicos, a norepinefrina e a epinefrina (RANG; DALE, 2016).
Processo Dopaminérgico - A DA é sintetizada no citoplasma do neurônio e segue para vesículas
secretoras; sendo armazenadas, elas aguardam o processo de sinalização para liberação na fenda sináp-
tica. Após a liberação da DA na fenda sináptica, ela pode: ligar-se aos seus receptores pós-sinápticos
ou autorreceptores pré-sinápticos, e absorvida pelo neurônio pré-sináptico, caminho mais comum
onde o “retorno” da DA pré-sináptica ocorre por uma proteína transmembrana, o transportador de
dopamina (TDA) (RANG; DALE, 2016).
Outro caminho é ser degradado pela enzima monoamina oxidase (MAO), que é uma enzima-chave,
cuja função consiste em finalizar a ação das catecolaminas tanto no cérebro quanto na periferia. A
MAO é encontrada em duas isoformas: a MAO-A, que é expressa no cérebro, bem como na periferia;
e a MAO-B, que se concentra no SNC (RANG; DALE, 2016).

135
UNICESUMAR

Ambas as isoformas da MAO podem degradar a dopamina, a MAO-B apresenta maior capacidade
e seletividade de quebra, assim, fármacos que atuam inibindo esta enzima são utilizados para aumentar
a função da DA no SNC. Por outro lado, a inibição da MAO-A retarda a degradação de todas as cate-
colaminas centrais e periféricas; inibição da MAO-A pode levar a uma toxicidade potencialmente fatal
quando combinada com agentes que liberam catecolaminas, como o simpaticomimético de ação indireta,
a tiramin , encontrado em certos vinhos e queijos (RANG; DALE, 2016; GOODMAN; GILMAN, 2012).
Receptores de dopamina - as propriedades dos receptores de dopamina foram originalmente clas-
sificadas com base em seu efeito sobre a formação do AMP cíclico (AMPc): a ativação dos receptores de
classe D1 leva ao aumento do AMPc, enquanto a ativação dos receptores da classe D2 inibe a produção
de AMPc. Ambos os receptores D1 e D2 são expressos em altos níveis no estriado (núcleo caudado e pu-
tamen), no qual desempenham um papel no controle motor dos núcleos da base, bem como no nucleus
accumbens. Os receptores D2 também são expressos em altos níveis nos lactotrofos da adeno-hipófise,
nos quais regulam a secreção de prolactina, além disso, seu papel na esquizofrenia é suportado pela
amortização dos sintomas quando fármacos atuam neste receptor (GOODMAN; GILMAN, 2012).

Vias centrais de dopamina - Sistema nigroestriatal: compreende o maior trato dopaminér-


gico, contendo, aproximadamente, 80% da DA do cérebro. Esse trato se projeta e se comunica
com o núcleo caudado e o putamen, que juntos apresentam o nome de estriado, intimamente
relacionados ao controle e ajuste do movimento. Deste modo, os neurônios dopaminérgicos
do sistema nigroestriatal estão envolvidos na estimulação do movimento intencional. Sua
degeneração resulta em anormalidades do movimento, que são características da doença de
Parkinson (GOODMAN; GILMAN, 2012; RANG; DALE, 2016).

Área tegmental ventral: apresenta projeções para córtex, nucleus accumbens e outras estruturas
límbicas, áreas intimamente relacionadas com comportamentos motivacionais, pensamentos, afeti-
vas e recompensa (reforço positivo). Deste modo, a relação do comprometimento destas áreas está
relacionado com esquizofrenia (MACHADO, 2014; RANG; DALE, 2016).

136
UNIDADE 6

VIAS DOPAMINÉRGICAS

CÓRTEX
FRONTAL

Estriado
Hipotálamo
Glândula Pituitária

Via Ventral tegmental


Substância Negra

Cerebelo

Figura 5 - Representação das vias Dopaminérgicas no sistema nervoso central

Descrição da Imagem:a imagem representa as vias dopaminérgicas no sistema nervoso central, assim temos um sistema nervoso
com corte anatômico, nele se apresenta o telencéfalo em roxo claro na parte superior, o mesencéfalo no meio da imagem em amarelo,
o cerebelo no canto direito da imagem em branco com riscos amarelos e, por fim, um risco preto no meio da imagem em direção ao
mesencéfalo representando o Tronco encefálico. Destas estruturas representadas anteriormente, inicia-se as projeções das vias do-
paminérgicas representadas por traços vermelhos, assim temos: Via Ventral tegmental, que se inicia com um círculo amarelo, abaixo
do mesencéfalo e se projeta com cinco flechas em direção ao córtex frontal do cérebro, representado na região superior esquerda da
imagem, destas quatro flechas chegam ao córtex e uma no hipotálamo um pouco abaixo na imagem. A próxima área Substância Negra
se inicia ao lado da área ventral também na parte inferior do mesencéfalo e se projeta com três flechas para o próprio mesencéfalo
que está anatomicamente acima desta área.

Após uma breve introdução ao mundo da Dopamina, vamos explicar a ação farmacológica da
Doença de Parkinson.
Doença de Parkinson - Na doença de Parkinson, há perda seletiva de neurônios dopaminér-
gicos na parte compacta da substância negra, estima-se que quando essa perda neuronal chega
a pelo menos 60-70%, surgem os primeiros sintomas. Essa perda resulta em comprometimentos
motores clássicos como: bradicinesia ou lentidão dos movimentos; rigidez, uma resistência ao
movimento passivo dos membros; comprometimento do equilíbrio postural e, principalmente,
o tremor característico quando os membros estão em repouso (GOLAN et al., 2014).

137
UNICESUMAR

Figura 6 - Representação dos sintomas clássicos da Doença de Parkinson

Descrição da Imagem: a imagem representa os sintomas clássicos da Doença de Parkinson, assim, e para isso, apresenta quatro homens
idosos. Estes homens, em todas as imagens, são representados por um senhor de cabelos brancos acinzentados, com face rosada,
óculos cinza, olhos pretos e bochechas marcadas em rosa, com uma camisa de manga longa verde, uma calça marrom clara e sapatos
marrons escuros. Na primeira imagem, da esquerda para direita, este senhor se apresenta imóvel, com os dois braços perto do corpo
e mãos paralelas aos braços, representando a bradicinesia (dificuldade em realizar movimentos); na segunda imagem, o senhor se
apresenta inclinado para trás com expressão de espanto como se fosse cair, sua mão esquerda está no ar, apresentando o sintoma de
dificuldade de execução do movimento. Na terceira imagem, apresenta-se parado e com a sua mão direita representando um tremor,
sintoma clássico da Doença de Parkinson, que seria o tremor em repouso. Por fim, na última imagem, tem-se o senhor com tremores
na perna direita, representando a “marcha parkinsoniana” ou seja, o movimento de marcha característico da Doença de Parkinson.

Agentes farmacológicos - A maioria das intervenções farmacológicas atualmente utilizadas na doença


de Parkinson visa a restauração dos níveis da DA no cérebro, entretanto, a administração da própria
dopamina não é recomendada devido à sua incapacidade de penetrar a Barreira Hematoencefálica
(BHE) (MACHADO, 2014). Analisando este aspecto, antes de entramos no perfil farmacológico, a
meta de grande parte da pesquisa atual consiste em desenvolver tratamentos neuroprotetores e neu-
rorestauradores, capazes de retardar ou eliminar a necessidade de tratamento sintomático e evitar as
complicações tardias da doença (GOODMAN; GILMAN, 2012; RANG; DALE, 2016).
Precursores de dopamina - Levodopa (L-DOPA): consegue facilmente ultrapassar a BHE e,
consequentemente, ser convertida em dopamina pela enzima Dopa Carboxilase. Algumas reco-
mendações na administração deste fármaco garante a eficácia do tratamento como: administrar
longe de refeições hiperproteicas, uma vez que, uma grande concentração de aminoácidos interfere
diretamente no transporte da L-DOPA pela BHE; não é administrada pela via oral em jejum,
uma vez que, mesmo sendo rapidamente absorvida, ocorre a conversão de L-DOPA em DA pela
enzima Dopa Carboxilase no trato gastrointestinal e não no SNC. Isso resulta em efeitos adversos
periféricos e, consequentemente, diminuição da concentração no SNC e pouco efeito terapêutico
(GOLAN et al., 2014). Analisando estes aspectos, a L-DOPA quase nunca é prescrita isoladamente,
isso porque, quando administrada isoladamente, apenas 1-5% da dose atinge efetivamente o SNC.
Deste modo, normalmente, ocorre a administração concomitantemente a Carbidopa.

138
UNIDADE 6

Carbidopa: impede efetivamente a conversão da levodopa em DA na periferia ao inibir a enzima


Dopa Carboxilase, vale ressaltar que este fármaco não ultrapassa a BHE, deste modo, não interfere
nesta conversão no SNC. Esta associação aumenta em quase 10-15% a concentração disponível da
L-DOPA no SNC, possibilitando uma redução significativa na dose de levodopa e uma diminuição
na incidência de efeitos adversos periféricos.
NEUROTRANSMISSÃO SEROTONINÉRGICA - O neurotransmissor serotonina (5-hidroxitrip-
tamina; 5-HT), constitui o alvo de muitos dos fármacos usados no tratamento de transtornos psiquiátri-
cos, entre eles: Depressão, Ansiedade Generalizada e Transtorno Afetivo Bipolar (RANG; DALE, 2016).
Síntese e regulação da serotonina - A serotonina é sintetizada do aminoácido triptofano pela
enzima triptofano hidroxilase (TPH), que converte o triptofano em 5-hidroxitriptofano. Em segui-
da, a L-aminoácido aromático converte o 5 - hidroxitriptofano em serotonina. Essas enzimas estão
presentes em todo o citoplasma dos neurônios serotoninérgicos, tanto no corpo celular quanto nos
processos celulares.
A serotonina é concentrada e armazenada no interior de vesículas localizadas em axônios, corpos
celulares e dendritos e, ao ser liberada, pode apresentar caminhos como:
Retorno ao neurônio Pré-sináptico: os transportadores seletivos da recaptação de serotonina
reciclam a 5-HT do espaço extracelular de volta ao neurônio pré-sináptico. Receptores de serotonina
- Foram caracterizados inúmeros receptores, mas, em geral, as principais classes são:
Receptores 5-HT1: inibe a atividade celular pela via da Gi (diminuindo a atividade da adenilciclase
e abrindo os canais de K+).
Receptores 5-HT2: aumenta a sinalização pela via da Gq, resultando em renovação do fosfatidilinositol.
Fisiopatologia dos transtornos afetivos - A 5-HT desempenha papel fundamental na modulação do
humor, ciclo de sono-vigília, motivação e recompensa, uma vez que suas projeções são difusas por todo
SNC, principalmente para o mesencéfalo. Deste modo, a ampla variedade de processos comportamen-
tais e psicológicos regulados por esses dois neurotransmissores explica a variedade semelhantemente
ampla de distúrbios que podem ser tratados por medicamentos que alteram os níveis ou a sinalização
pós-sináptica de 5-HT (GOLAN et al., 2014).

139
UNICESUMAR

A hipótese monoaminérgica propõe que


os transtornos do humor são causados por di-
minuição dos níveis de serotonina. Essa teoria
começou a ser exposta entre as décadas de 40 e
50, quando pesquisadores observaram os efeitos
de alguns medicamentos, e este efeitos estavam
relacionados ao comportamento, sendo eles (FU-
CHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010):
Classes e agentes farmacológicos - Como a
serotonina está envolvida em diversos processos
fisiológicos, tanto centrais quanto periféricos, os
agentes farmacológicos que alteram a sinaliza-
ção serotoninérgica exercem ações diversas no
cérebro (humor, sono, enxaqueca) no sistema
gastrintestinal (GI). O mecanismo de ação destes
fármacos atua no armazenamento, degradação
e recaptação da Serotonina. Vamos analisá-los?
Inibidores do armazenamento da sero-
tonina - A anfetamina interfere na capacida-
de das vesículas sinápticas no armazenamento
da serotonina; uma vez que provocam o des-
locamento do neurotransmissor da vesícula,
aumentam sua liberação na fenda sináptica.
Este tipo de mecanismo é considerado útil em
quadros depressivos e podem ser combinados a
outros medicamentos no tratamento do TDAH
(RANG; DALE, 2016). Por apresentarem uma
elevação nos níveis de serotonina em todo SNC,
esses fármacos exibem substancial potencial de
uso abusivo (GOLAN et al., 2014).
Figura 7 - Representação dos sentimentos relacionados a
depressão.

Descrição da Imagem: : imagem representa pessoa com


sintomas depressivos, nota-se uma menina sentada com
calça jeans azul escuro, cabelo longo verde e sapatos e camisa
em azul claro. Esta menina está sentada de olhos fechados e
expressão fechada, com as duas mãos entrelaçadas à perna
e sob esta pessoa tem-se uma chuva provocada por uma
nuvem azul escura quase cinza.

140
UNIDADE 6

Inibidores da degradação da serotonina - Como analisado anteriormente, a MAO exerce a principal


via de degradação dos neurotransmissores na fenda sináptica, assim ocorre também com a serotonina;
os inibidores desta enzima, classificados como “inibidores da enzima monoaminoxidase” (IMAO), são
classificados com base em sua especificidade para as isoenzimas MAO-A e MAO-B, e de acordo com a
reversibilidade ou irreversibilidade de sua ligação (RANG; DALE, 2016).
Seu mecanismo de ação é simples, inibindo a via de degradação na fenda sináptica, aumentando a
concentração dos neurotransmissores no local. Apresentam
efeitos adversos e tóxicos, principalmente relacionados
aos efeitos gastrointestinais e hepáticos relacionados
ao consumo concomitante da tiramina, subs-
tância encontrada em carnes, queijos e
vinhos. Este composto possui a
capacidade de estimu-
lar a liberação das
catecolaminas e,
consequente-
mente, inibir
sua recaptação,
deste modo,
associado aos
IMAO, provocam um au-
mento exacerbado de neurotrans-
missores, induzindo crises hipertensivas,
taquicardia, arritmias cardíacas e acidente
vascular encefálico (GOODMAN; GILMAN,
2012; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).
Inibidores da recaptação - Antes de abordarmos as
principais classes dos agentes serotoninérgicos, temos
que analisar a seguinte questão neurofisiológica, que
embasará seu estudo na farmacologia desta classe.
A concentração dos neurotransmissores serotoninérgicos
na fenda sináptica é mantido em equilíbrio, ou seja, sua liberação, recaptação e degradação atuam de
maneira a deixar a concentração balanceada. Deste modo, ao inibir a recaptação dos neurotransmisso-
res na fenda, ocorre um aumento significativo da concentração de serotonina, sendo fármacos muito
utilizados no tratamento da depressão e ansiedade (KATZUNG; GRAW, 2013).
Agora, vamos analisar as principais classes desses medicamentos:
Antidepressivos tricíclicos (ADT) - Os ADT possuem a capacidade de inibir a recaptação de
Serotonina e Noradrenalina na fenda sináptica, assim, aumentam a concentração e não atuam sobre
Dopamina. São exemplos desta classe: imipramina, amitriptilina, desipramina, nortriptilina e clomi-
pramina (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

141
UNICESUMAR

O mecanismo molecular da inibição dos transportadores ainda não foi elucidado, entretanto, sabe-se
que este aumento na concentração de neurotransmissores na fenda sináptica potencializa os disparos
pós-sinápticos e, consequentemente, apresente um efeito excitatório no neurônio. Deste modo, ADT
apresenta efeito terapêutico benéfico no tratamento da depressão, enxaqueca e outros distúrbios do-
lorosos (KATZUNG; GRAW, 2013).
Os efeitos adversos mais limitantes ao seu uso, incluem problemas cardiovasculares, uma vez que
interferem em canais de sódio, diminuindo o potencial de ação na condução do impulso cardíaco.
Outros efeitos mais comuns incluem (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010):
Efeito Colinérgico: devido ao bloqueio de receptores muscarínicos: boca seca, vômito, visão turva.
Efeitos Anti-Histamínicos: sedação, ganho de peso.
Efeitos Antiadrenérgicos: Hipotensão, taquicardia e sonolência.
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) - Classe que revolucionou o tratamento
dos transtornos psiquiátricos. Sendo apresentado ao mercado na década de 80, a Fluoxetina se tornou,
rapidamente, um dos fármacos mais prescritos como primeira escolha, principalmente no transtorno
depressivo. Outros medicamentos desta classe incluem: citalopram, fluvoxamina, paroxetina, sertralina e
escitalopram (GOLAN et al., 2014; KATZUNG; GRAW, 2013; WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
Apresentam mecanismo de ação semelhante aos ADTs, entretanto, com especificidade na recaptação
somente da serotonina. No que diz respeito à eficácia clínica, pouca ou nenhuma diferença aos ADTs,
entretanto, sua grande “vantagem” está relacionada a menos efeitos adversos, principalmente ausência
de efeitos cardiovasculares, já que apresentam uma maior seletividade (GOLAN et al., 2014).
Deste modo, os ISRS são, em geral, mais bem tolerados que os ATC e apresentam melhor índice terapêu-
tico. Entretanto, mesmo com essas vantagens, apresentam efeitos adversos que devem ser considerados
como: Problemas Gastrointestinais, Insônia, disfunção sexual e rigidez muscular (GOLAN et al., 2014).

142
UNIDADE 6

Pré sináptico
serotonina serotoninérgico

Eduzindo a concentração de
Vesículas com serotonina serotonina na fenda sináptica

Serotonina
Sinapse

Neurônio pós sináptico

Aumento do neurotransmissor
Inibidores da recaptação de serotonina na fenda sináptica

Aumentar a ligação de serotonina -


Neurotransmissor Aumentada

Figura 8 - mecanismo de ação dos antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina

Descrição da Imagem: :a imagem representa o mecanismo de ação dos antidepressivos inibidores de recaptação de serotonina. Nela
tem-se duas sinapses representadas. A primeira sinapse, na parte superior da imagem, representa a transmissão serotoninérgica com
neurônio pré-sináptico serotoninérgico, contendo vesículas com serotonina, esta transmissão apresenta um problema, uma vez que,
ao liberar a serotonina representada por círculo rosa, ela retorna para o próprio neurônio pelo processo de recaptação mediado pelo
transportador acoplado no neurônio pré-sináptico representado em azul escuro reduzindo a concentração de serotonina na fenda
sináptica, deste modo, dificultando a ligação da serotonina no seu receptor pós-sináptico representado por um triângulo em roxo no
neurônio pós-sináptico. A segunda imagem, apresenta o mecanismo de ação dos fármacos Inibidores da recaptação de serotonina,
representados em verde, este promove o bloqueio do mecanismo de recaptação da serotonina da fenda sináptica para o neurônio
pré-sináptico representado em azul escuro. Com este, bloqueio nota-se um aumento do neurotransmissor na fenda sináptica repre-
sentado por círculos rosados, promovendo maior conexão com seus receptores pós-sinápticos representados por triângulos roxos e,
consequentemente, maior efeito.

143
UNICESUMAR

Inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN) - Embora os ISRS sejam agentes de


primeira linha úteis para o tratamento da depressão, existe uma população significativa de pacientes
que só responde parcialmente, sendo assim, uma classe mais recente de fármacos, conhecida como
agentes “duais”, ou seja, inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN), que demonstrou
ser particularmente útil nesse grupo de pacientes, são eles: venlafaxina, duloxetina e milnaciprana
(FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010; KATZUNG; GRAW, 2013).
A venlafaxina bloqueia o transportador de recaptação de 5-HT em baixas concentrações e
atua no transporte de NE em altas concentrações; a duloxetina também inibe, especificamente,
a recaptação de NE e de 5-HT, e foi aprovada para o tratamento da depressão; a milnaciprana
é um inibidor seletivo da recaptação de NE e de 5-HT que foi recentemente aprovada para o
tratamento da fibromialgia (KATZUNG; GRAW, 2013).

Figura 9 - cérebro com problemas, apresentando cansaço e choro.

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um cérebro representado anatomicamente e com dois tênis azul claro. Esse cérebro está
em rosa claro e seus lobos e giros traçados em rosa escuro. Ele se apresenta com olhos roxos fechados, sobrancelhas cerradas e boca
em expressão de dor ou tristeza, os dois braços também em roxo escuro para baixo representando cansaço.

144
UNIDADE 6

Antidepressivos atípicos - Esta classe inclui os medicamentos que não se enquadram em nenhuma
outra classe acima, com mecanismos de ação desconhecidos ou que ainda não foram totalmente ca-
racterizados e apresentam algum efeito nas comorbidades do SNC. Esses agentes incluem bupropiona,
mirtazapina, nefazodona e a trazodona (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
A bupropiona parece atuar por mecanismos semelhantes aos das anfetaminas e mostra-se particu-
larmente útil no tratamento da depressão atípica, por aumentar os níveis de serotonina e de dopamina
no cérebro. A principal contraindicação ao uso da bupropiona consiste em predisposição a convulsões,
visto que o fármaco diminui o limiar convulsivo (WHALEN; PANAVELIL; FINKEL, 2016).
A mirtazapina bloqueia os receptores 5-HT2A e 5-HT2C pós-sinápticos apresentando um potente
efeito sedativo, além de estimulante do apetite, tornando-a um antidepressivo particularmente útil para
a população idosa (KATZUNG; GRAW, 2013).
A nefazodona e a trazodona também bloqueiam os receptores 5-HT2A e 5-HT2C pós-sinápticos
e de modo global, os antidepressivos atípicos apresentam relativamente poucos efeitos adversos e sua
eficácia clínica é significativa nos transtornos depressivos (KATZUNG; GRAW, 2013; GOODMAN;
GILMAN, 2012; FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010).

Você sabia que podemos modular a liberação de neurotransmissores e neuro-hormônios no siste-


ma nervoso central? Incrível né? Isso ocorre quando nosso corpo passa por experiências positivas
ou negativas, ou seja, aquela sensação de bem-estar após um exercício físico e aquele prazer re-
lacionado a uma bela refeição estão relacionados à liberação de substâncias que tornam aquele
momento mais prazeroso, bem como aquela sensação de estresse, os problemas que surgem no
trabalho também liberam substâncias relacionadas ao mal-estar e que trazem prejuízo ao organismo.
Deste modo, equilibrar o seu dia, com uma dieta adequada e precisa de exercícios, além de trazer
benefícios à saúde, como apresentamos nos capítulos passados, faz com que seu sistema nervoso
trabalhe a favor da sua sensação de prazer e bem-estar. Então, bora correr, andar de bicicleta e
fazer uma boa alimentação?

Espero que, ao final deste intrigante capítulo, você tenha tido uma expe-
riência interessante no mundo da neurofarmacologia e tenha aprendido
o máximo possível nos distintos caminhos do sistema nervoso central.
Assim, convidamos você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a impor-
tância destes conhecimentos apresentados no capítulo no entendimento
dos processos neuroquímicos que modulam o nosso comportamento

145
UNICESUMAR

Título: TEMPO DE DESPERTAR


Ano: 1990
Sinopse: Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologis-
ta que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra
vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente
que eles estão só "adormecidos" e que se forem medicados da maneira
certa poderão ser despertados. Assim, pesquisa bem o assunto e chega à
conclusão de que a L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada
para pacientes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para estes casos. No en-
tanto, ao levar o assunto para o diretor, ele autoriza que apenas um paciente seja submetido ao
tratamento. Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava
"adormecido". Gradualmente Lowe se recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos
outros pacientes, sob sua supervisão.
Comentário: O filme demonstra os efeitos inicial, moderado e tardio com efeitos adversos da
DOPAMINA em pacientes.

Título: AMOR E OUTRAS DROGAS


Ano: 2010
Sinopse: Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) após ser demitido do cargo de
vendedor em uma loja de eletrodomésticos, passa a trabalhar num grande
laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua
função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da
empresa para os pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie
Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de
Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas
aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo,
mas não quer levar o caso adiante por causa de sua doença.
Comentário: Filme demonstra o progresso do Parkinson e busca pelo tratamento

146
UNIDADE 6

Ao terminarmos
a leitura deste ca-
pítulo, esperamos
que tenha perce-
bido como os fár-
macos que atuam
no sistema nervo-
so central possuem
funções distintas
em decorrência
da complexida-
de do sistema
nervoso central.
Deste modo, que
tal fazermos um
levantamento dos
5 principais fár-
macos utilizados
no tratamento das
condições relacio-
nadas ao sistema
nervoso central
e relacionar seus
efeitos adversos
a idade e comor-
bidades?

147
Estamos quase chegando ao final de mais um módulo, e este conteúdo talvez seja o mais denso
e aprofundado até o momento. Também não poderíamos deixar o sistema que coordena nosso
organismo explicado de forma superficial, você concorda? Deste modo, convido você a fazer um
MAPA MENTAL utilizando as seguintes palavras: sistema nervoso central, vias, barreira
hematoencefálica, gabaérgica, glutamatérgica, dopaminérgica, serotoninérgica, ansie-
dade, ansiolíticos, sedativos, ISRS, ADT, levodopa, carbidopa, parkinson, esclerose lateral
amiotrófica, depressão e TDAH. Porque o Mapa é fundamental neste capítulo? Analisando a
complexidade dos conteúdos abordados e todas as suas conexões, sugerimos o Mapa para que
você tenha a maior percepção de tudo o que foi abordado neste capítulo, assim, teremos a certeza
de que todo o conteúdo que gostaríamos que aprendesse foi aprendido.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL

BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA

DOPAMINA

GLUTAMATÉRGICA

DEPRESSÃO LEVODOPA
ANSIOLÍTICOS

ADT

148
1. A neurofarmacologia é, talvez, o sistema mais complexo de atuação dos fármacos, isso ocorre
devido à plasticidade neural encontrada entre as conexões neuronais. Considerando o con-
texto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

Os fármacos que atuam no sistema nervoso central possuem um caráter excitatório, deste
modo, atuam ativando as sinapses e favorecem a condução do potencial de ação.

PORQUE

Possuem como mecanismo de ação a abertura de canais de cloreto, deste modo, aumentam
a excitabilidade neuronal e, consequentemente, induzem a propagação do potencial de ação
dentro do corpo do neurônio.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta:

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Analise o texto.

“ Fármaco que quando utilizado impede efetivamente a conversão da levodopa em Dopamina


através da inibição da enzima Dopa Carboxilase”.

Assinale a alternativa que descreve corretamente o fármaco utilizado na doença de Parkinson


inibindo a enzima Dopa Carboxilase:

a) L-DOPA.
b) Selegilina.
c) Carbidopa.
d) Fluoxetina.
e) Imipramina.

149
3. Analise as afirmativas referente ao tratamento da obesidade.

I) Os benzodiazepínicos apresentam efeitos potencializando a saída de cloreto do meio intra-


celular, deste modo, deixando a célula hiperpolarizada. Medicamentos muito utilizados no
tratamento da Ansiedade, uma vez que apresentam um adequado índice terapêutico.
II) Fármacos que atuam nas vias dopaminérgicas nigro estriatais estão relacionados ao tratamento
dos sintomas motores da doença de Parkinson.
III) Os Antidepressivos Tricíclicos são muito utilizados na clínica, entretanto, apresentam limitações,
principalmente pelos seus efeitos adversos relacionados à hipotensão.
IV) As vias glutamatérgicas são muito utilizadas no tratamento das comorbidades do sistema
nervoso central, uma vez que a ativação ou inibição dos seus receptores é considerada mais
seguro do que os outros neurotransmissores.
V) Os inibidores da Monoamina Oxidase se apresentam como uma boa associação aos Antide-
pressivos Tricíclicos no tratamento da depressão, deste modo, aumentam progressivamente
a concentração dos neurotransmissores, evitando efeitos de tolerância e dependência.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas as alternativas I e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas IV e V estão corretas.

4. Assinale a alternativa que descreve corretamente o mecanismo pelo qual os medicamentos


que atuam no sistema nervoso central apresentam menor eficácia relacionado ao uso contí-
nuo, necessitando, o ajuste da dose.

a) Tolerância.
b) Dependência.
c) Efeitos Muscarínicos.
d) Efeitos Colinérgicos.
e) Efeitos Adrenérgicos.

150
7
Métodos de Extração
e Produtos Naturais
Dr. Marcel Pereira Rangel

Agora mudamos um pouco a temática do livro, passamos, deste


capítulo em diante, a abordar o diversificado mundo da fitoquími-
ca, ou seja, como as plantas atuam farmacologicamente no nosso
organismo. Este tema traz muitas discussões e conceitos aos quais
iremos abordar ao longo destes capítulos, desde os métodos de
extração até a chegada do produto metabolicamente ativo ao consu-
mo final com uma ação farmacológica. Esperamos que estes últimos
capítulos sejam tão importantes quanto os anteriores, então vamos
lá, iniciar esta gama de assuntos como: métodos de extração a frio
e a quente e os equipamentos que mais são utilizados.
UNICESUMAR

Você já escutou falar da palavra “NUTRECÊUTI-


COS”? Se sim, acredito que esta palavra já fez você
perder algum tempo lendo sobre. Se não, então pre-
ciso definir ela antes de começarmos: São compostos
com potencial nutricional e farmacêutico ao mesmo
tempo, normalmente, são compostos isolados de
plantas. Deste modo, os princípios ativos das plantas
são fundamentais no controle de condições, onde,
antes, utilizava-se somente produtos farmacêuticos.
Agora que você sabe o conceito, pense a respeito. Será
que você já consumiu algum produto com estas ca-
racterísticas? Estes produtos devem ser prescritos por
quais profissionais? Existem efeitos adversos? Enfim, é
um conceito relativamente novo, que iremos analisar
ao longo deste capítulo, vamos juntos?
Os produtos de origem vegetal se tornaram um
grande atrativo para a indústria farmacêutica e mé-
dica nos últimos anos, uma vez que se apresentam
com inúmeras possibilidades de aplicação em diversas
áreas. Sua análise é muito complexa e sua extração
demanda uma grande complexidade, contudo, suas
possibilidades são muito exploradas no contexto da
indústria atual. Você sabia que a maioria dos medi-
camentos disponíveis para comércio tem origem de
algum princípio ativo vegetal? Se não, sem proble-
mas, iremos descrever, neste capítulo, como ocorre o
processo de identificação, seleção da matéria-prima,
extração do princípio ativo, os métodos mais indi-
cados para melhor garantir a qualidade do produto
final, com objetivo terapêutico.
Pense a respeito dos produtos que consome no
dia a dia. Agora, reflita se eles podem apresentar
efeito farmacológico ou efeitos adversos? Pensando
nisso, analise quais alimentos naturais ou fitoterá-
picos está consumindo e analise se eles possuem
efeitos terapêuticos. Registre suas reflexões no Diá-
rio de Bordo. Vamos lá?

152
UNIDADE 7

Atualmente, não há como pensar no tratamento das doenças sem a associação dos produtos naturais. Isso
é observado pelo simples fato de que a maioria dos medicamentos disponíveis na farmácia com múltiplos
princípios ativos são, na sua grande maioria, oriundos de plantas ou metabólitos produzidos pelas plantas.
Temos que analisar que o caminho desde a classificação, extração, análise biológica, química e
testes em animais e humanos são um caminho longo e complexo. Deste modo, a produção de qual-
quer medicamento a base de plantas encontra, muitas vezes, barreiras desde sua extração até sua real
disponibilidade no mercado. Também esbarramos no problema da falta de informação da população
em geral, que tende a associar produtos naturais a substâncias inócuas, ou seja, que não produzem
efeitos adversos no organismo. Portanto, nosso objetivo neste capítulo é aprofundar e esclarecer os
processos extrativos e de análise dos princípios ativos a base de plantas, deste modo, convidamos você a
realizar um Diário de Bordo, com objetivo de que possamos analisar seu conhecimento prévio sobre
o assunto e, depois disso, podemos começar nossa imersão neste capítulo recheado de informações.

153
UNICESUMAR

Biodiversidade é definida como “variabilidade de organismos vivos com múltiplas origens e


ecossistemas”. Neste sentido, o Brasil é considerado um dos locais com maior biodiversidade do
planeta, com uma estimativa entre 180 a 210 mil espécies, sendo correspondente a 13% de todo
o mundo (SIMÕES et al., 2017).

Figura 1 - Representação da floresta amazônica

Descrição da Imagem: a imagem representa a floresta amazônica e toda sua biodiversidade, é uma foto com visão superior
da mata, com um tronco marrom de árvore a sua direita, e ao fundo, as copas das árvores verdes, com o pôr do sol amarelado
acima das copas das árvores.

Neste aspecto, foi criado o Catálogo Taxonômico da Fauna Brasileira, com participação de pes-
quisadores do país todo, esta iniciativa registrou mais de 100 mil espécies de animais e plantas de
interesse científico. Em termos gerais, os dados coincidem com as estimativas prévias de riqueza
realizadas para a fauna brasileira.
Neste sentido, mesmo com essa riqueza de plantas presentes no nosso país, devemos ter processos
extrativos eficientes para que os metabólitos ativos de interesse clínicos sejam extraídos, deste modo,
agora, iniciaremos uma grande imersão neste mundo dos métodos extrativos. Vamos?
Antes do processo de extração, é importante analisarmos como o material chega até o labo-
ratório ou indústria que irá realizar o processo de extração, deste modo, vamos abordar alguns
pontos importantes como:

154
UNIDADE 7

Plantio: após preparo correto do solo e análise da melhor estação para plantio, recomenda-se evi-
tar a monocultura para as plantas medicinais. A associação ou consorciação entre plantas de espécies
diferentes deve ser uma prática constante, sempre procurando associar as plantas. Há plantas que têm
um certo antagonismo entre si, como os manjericões, a arruda e o funcho, que devem ficar afastados
da maioria das plantas (PEREIRA et al., 2011).
Colheita: deve-se analisar muito bem o ponto da colheita, para que ocorra o melhor apro-
veitamento na qualidade dos produtos naturais a serem extraídos, uma vez que, nas espécies
medicinais, a produção de substâncias com atividades terapêuticas apresentam alta variabilidade.
O ponto de colheita varia de acordo com o órgão da planta, estágio de desenvolvimento e época
do ano e hora do dia. O estágio de desenvolvimento é muito importante para que se determine
o ponto da colheita, principalmente (PEREIRA et al., 2011).
Outro aspecto que se deve observar seria na distribuição das substâncias ativas que se encon-
tra de forma irregular. Alguns grupos de substância se localizam preferencialmente em partes
específicas (PEREIRA et al., 2011).
Controle de qualidade: para o controle de qualidade devem ser anotados os seguintes dados:
momento da colheita, condução da lavoura, local, produtor, condições de secagem etc. Imediata-
mente após a colheita, o material deve ser encaminhado para a secagem. O consumo de plantas
medicinais frescas garante uma ação mais eficaz dos poderes curativos nelas presentes, embora
isso nem sempre seja possível, o que torna a secagem um método de conservação eficaz quando
bem conduzido (SÃO PAULO, 2017).

Armazenamento:
• O local deve ser escuro, sem umidade e limpo.
• As plantas devem ficar sobre estrados e não sobre o chão.
• Plantas aromáticas devem ficar armazenadas separadas em embalagens herméticas, para evitar
contaminação cruzada.
• A embalagem deve ser etiquetada, fornecendo informações sobre o conteúdo, data da colheita,
tipo de secagem, peso etc.
• Limpeza e inspeções periódicas devem ser realizadas para evitar infestação por insetos ou
pequenos animais (SÃO PAULO, 2017).

PROCESSOS EXTRATIVOS - O objetivo da investigação fitoquímica é analisar a viabilidade e con-


centração dos metabólitos secundários que podem possivelmente constituir substâncias com caráter
farmacológico com potencial terapêutico (SIMÕES et al., 2017; AKISUE; OLIVEIRA; AKISUE, 2005).
Os metabólitos de interesse como: alcaloides, ou então de forma ampla, em diversas taxas, como os
compostos fenólicos simples. Nesse contexto, o processo de caracterização química objetiva a identi-
ficação de grupos de metabólitos de uma espécie vegetal, cuja constituição química é desconhecida, a
busca de um grupo específico de metabólitos em uma espécie já caracterizada previamente, visando
ao isolamento desse metabólito de interesse e sua posterior caracterização estrutural ou, ainda, a in-

155
UNICESUMAR

vestigação fitoquímica baseada em aspectos etnofarmacológicos e/ou quimiotaxonômicos (SIMÕES


et al., 2017, AKISUE; OLIVEIRA; AKISUE, 2005).

Figura 2 - Representação dos métodos extrativos

Descrição da Imagem: : a imagem apresenta um fundo desfocado, com incidência de raios solares onde se percebe uma vege-
tação verde. A imagem, da esquerda para direita, apresenta uma mesa, onde tem-se: um ramo de planta com folhas verdes e
três frutos, ao lado, uma placa de petri com duas folhas em um líquido amarelado, atrás desta placa, uma vidraria alta com um
líquido transparente, e neste líquido um ramo de vegetal verde dentro. Ao lado um tubo vertical com líquido marrom até sua
metade, ao lado, um béquer grande com três tubos verticais preenchidos até sua metade com líquido esverdeado e, por fim, no
final da imagem um ramo de um galho com folhas verdes sob a mesa.

Agora iremos analisar as etapas para que ocorra o processo de extração dos metabólitos ativos
de origem vegetal:
Obtenção do material - Todo processo de investigação fitoquímica passa, necessariamente, pela
verificação da autenticidade do material vegetal a ser analisado. Tais dados podem ser obtidos a par-
tir de parâmetros botânicos como ensaios microscópicos e macroscópicos. Neste tipo de obtenção,
é recomendado um depósito em herbanário oficial para identificação do material, assim, evita-se
similaridade morfológica da planta a ser investigada (SIMÕES et al., 2017).

156
UNIDADE 7

Preparação da amostra para análise - A investigação dos ativos na planta pode ser feita do ma-
terial fresco ou seco; normalmente a opção do material a seco é mais utilizada, uma vez que a secagem
do material proporciona facilidade na fragmentação e estabilidade microbiológica. No entanto, vale
destacar que, dependendo do tipo de material a ser isolado e de suas características, a utilização do
material a fresco é mais recomendado (COSTA, 2002; AKISUE; OLIVEIRA; AKISUE, 2005).
Processos de Extração - Os processos de extração são utilizados para extrair a matéria desejada
do vegetal, utilizando, normalmente, métodos que se baseiam nas características físico-químicas do
vegetal, bem como processos de lavagem, deste modo, obtendo o metabólito de interesse. Estes pro-
cessos são, normalmente, divididos em processos extrativos a frio e a quente (COSTA, 2002).
A partir de agora, os métodos extrativos serão expostos para que você tenha uma boa noção de
como ocorre a extração do material de interesse dos vegetais.
Processos de extração a frio - Maceração: método baseado na extração da matéria-prima moída
ou triturada, sendo realizada em recipiente fechado por um período considerado longo, de dias ou
horas. Neste período ocorre a agitação pontual do material, sem que haja uma renovação do líquido
extraído. Portanto, ocorre o que se chama de “esgotamento” do material vegetal (SIMÕES et al., 2017).

Figura 3 - Representação dos métodos da maceração

Descrição da Imagem: a imagem representa o processo de maceração, assim, nela, temos ao centro um cadinho de madeira, e
algumas folhas verdes dentro e um macerador de madeira acima, este macerador possui dois frisos em sua ponta. Ao fundo da
imagem, percebe-se que o cadinho está sobre uma superfície amadeirada, nela tem-se treze folhas verdes alocadas de forma
aleatória na imagem.

157
UNICESUMAR

Percolação: método sugerido para ser utilizado quando material de interesse é termossensível e com
baixa concentração na planta. É um método mais dinâmico que o anterior, no qual ocorre a passagem
contínua do líquido extrator no material, levando ao esgotamento (COSTA, 2002).
Turbo-extração ou turbolização: método mais complexo que se baseia na extração do
metabólito ao mesmo tempo que ocorre a redução das partículas, para isso, utiliza-se um Ultra-
turrax. Esse método em conjunto de extração mais redução da matéria-prima favorece a extração
e o tempo. Somado a isso, é considerado um método simples, barato e eficaz. O ponto negativo
observado é de que há a redução do material, que pode levar a uma dificuldade na extração final
do metabólito ativo (SIMÕES et al., 2017; COSTA, 2002).
Processos de extração a quente - Os métodos de extração a quente são divididos em sistemas
abertos e fechados, assim, a seguir, iremos apresentar as suas particularidades.
Sistemas abertos - Infusão: processo simples com pouca demanda de utilização de equipamen-
tos ou materiais especiais. Método indicado para extração de materiais moles. O método se baseia no
contato direto de água fervente em recipientes cobertos, onde não ocorre a exaustão na extração do
metabólito de interesse (SIMÕES et al., 2017).
Sistemas fechados - Extração sob refluxo: método onde tanto o líquido quanto material são
colocados em um mesmo recipiente que será aquecido, este ficará acoplado a um condensador.
Método mais complexo que exige materiais e líquidos extratores específicos, assim, permite a
extração de materiais voláteis (COSTA, 2002).

Figura 4 - Representação dos métodos de infusão

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um copo sobre um piso branco, ao fundo, uma folha verde grande. Este copo apre-
senta um líquido transparente quase em sua totalidade, e dentro do copo um líquido verde sendo dissolvido e espalhando-se
por todo o líquido transparente.

158
UNIDADE 7

Extração em Soxhlet: método semelhante ao anterior, com a diferença em que o material e o


líquido ficam em locais distintos, possibilitando uma extração altamente eficiente e com quan-
tidade reduzida de solvente (SIMÕES et al., 2017).

Figura 5 - Representação dos métodos de


extração Soxhlet

Descrição da Imagem:a imagem apresen-


ta três colunas representadas por vidrarias
transparentes na parte superior, que estão
acopladas a uma barra de ferro que as deixa
na posição vertical. No meio destas colunas
existe um líquido marrom. Estas vidrarias es-
tão acampadas em uma vidraria arredondada,
que está com líquido transparente um pouco
abaixo da metade. E por fim, a vidraria arre-
dondada está acoplada a um equipamento em
inox que fornece o suporte a todo o sistema
descrito.

Análise fitoquímica - Após a utilização dos métodos extrativos, existe a necessidade de caracterizar
os grupos metabólitos presentes no vegetal, para isso, utiliza-se ensaios clássicos que se baseiam em
reações químicas. Contudo, antes da análise ser realizada, há necessidade do isolamento do material,
assim, realiza-se processos que antecedem a análise propriamente dita como:
Fracionamento e Isolamento: processos que viabilizam a obtenção dos metabólitos primários e
secundários, por meio da redução de compostos com potenciais tóxicos e interferentes. A primeira

159
UNICESUMAR

etapa para o isolamento dos metabólitos é a preparação dos extratos que normalmente são utilizados
solventes líquidos, onde este processo tem como objetivo separar os compostos considerando sua
solubilidade e seu coeficiente de partição em diferentes solventes” (SIMÕES et al., 2017, SCHULZ;
HÄNSEL; TYLER, 2001).
Após a preparação dos extratos e do processo de partição com solventes, a obtenção de frações
enriquecidas ou o isolamento de compostos bioativos ocorre pelo uso de técnicas cromatográficas.
O termo METABOLÔMICA é implementado para determinar um conjunto de metabólitos pre-
sentes em um tecido. Os estudos são realizados partir de análises comparativas dos perfis metabólicos
individuais, obtidos a partir de métodos analíticos, sendo feito em duas etapas:
Primeira: envolve o cruzamento de informações relativas aos perfis metabólicos dos extratos
investigados e às atividades biológicas observadas para esses compostos.
Segunda: envolve análises metabólicas mais detalhadas.

Figura 6 - Representação dos métodos da extração dos princípios ativos

Descrição da Imagem: a imagem possui um fundo esverdeado, nela tem-se uma folha verde, que possui uma gota de líquido
na sua ponta, este líquido, está caindo em um frasco marrom com a boca arredondada aberta. Neste frasco, encontra-se um
líquido transparente que preenche até sua metade.

A diversidade química e a complexidade do metaboloma tornam a análise simultânea dos perfis de


todos os metabólitos um grande desafio. Atualmente, o emprego de apenas uma técnica analítica não é
capaz de fornecer o volume necessário de dados para esse tipo de análise, fato que pode ser minimizado
pelo uso de extrações seletivas e análises paralelas utilizando uma combinação de tecnologias para uma
compreensão maior do metaboloma. Nesse contexto, as técnicas de separação acopladas às técnicas es-
pectrométricas de alta eficiência são usadas para a obtenção das informações qualitativas e quantitativas
sobre o maior número possível de constituintes de cada amostra (SIMÕES et al., 2017; COSTA, 2002).

160
UNIDADE 7

Técnicas cromatográficas - Os processos cromatográficos são ferramentas indispensáveis para


extração e quantificação de produtos de origem natural. Estes processos podem ser divididos de acordo
com as técnicas utilizadas e serão abordados a seguir.

Eletroforese capilar:
métodos baseiam na diferença de migração de compostos iônicos ou
ionizáveis na presença de um campo elétrico. Técnica com grande pos-
sibilidade de investigar moléculas pequenas e simples até grandes e
complexas como: ácidos graxos, proteínas e ácidos nucleicos. Assim, a
técnica é utilizada na quantificação de metabólitos secundários (COLLINS;
BRAGA; BONATO, 1997).

Figura 7 - Representação dos métodos cromatográficos

Descrição da Imagem:a imagem possui um fundo azulado e representa uma lâmina após a revelação do método cromatográfico
em eletroforese. Esta lâmina está sendo segurada por uma mão, onde na imagem aparece apenas dois dedos. A lâmina, após a
revelação, possui diversas cores que, da esquerda para direita, são pequenas faixas: Verde, Cinza, Rosa, Azul, Preta, Verde, Azul,
Laranja, Preta, Rosa, Preta, Alaranjada, Roxo, Rosa e Preta.

161
UNICESUMAR

Cromatografia em papel (CP): técnica mais simples onde não requer


equipamentos ou materiais específicos. Método baseado na fluidez de um
líquido extrator em um papel de celulose que possui grande afinidade pela
água presente no solvente. A medida que o solvente contendo o soluto
flui através do papel, uma partição deste composto ocorre entre a fase
móvel orgânica (pouco polar) e a fase estacionária aquosa. Desta forma,
parte do soluto deixa o papel e entra na fase móvel. Com o fluxo contínuo
de solvente, o efeito desta partição entre a fases móvel e estacionária
possibilita a transferência do soluto do seu ponto de aplicação no papel,
para um outro ponto localizado a alguma distância do local de aplicação
no sentido do fluxo de solvente (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997).

Cromatografia em camada delgada (CCD): a fase estacionária é for-


mada por um sólido (sílica ou poliamida), que se encontra dentro de
uma placa de vidro, então, coloca-se em um recipiente contendo a fase
móvel. A polaridade do solvente deverá ser de acordo com a substância
que se deseja separar. A revelação da placa é feita com a aplicação de
um reativo que de cor às substâncias de interesse (CASS; DEGANI, 2002).

Cromatografia gasosa (CG): técnica muito utilizada pelo alto poder


de resolução e análise de inúmeras substâncias na mesma amostra. O
método se baseia em uma fase estacionária da cromatografia gasosa,
é um material, líquido ou sólido que propicia a separação da mistura
através de processos físicos e químicos. Na fase móvel é utilizada um
gás, denominado gás de arraste, que transporta a amostra por meio
da coluna de separação até o detector, onde os compostos separados
são detectados. Os gases mais utilizados são o hélio (He), hidrogênio
(H), nitrogênio (N) e argônio (Ar). Os detectores são dispositivos que
transformam as variações na composição do gás de arraste em sinais
elétricos (CASS; DEGANI, 2002).

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE): método utilizado


para separação de espécies iônicas ou macromoléculas e compostos ter-
molábeis. A principal característica é que a fase móvel dissolve a amostra
sem qualquer interação química entre ambas. Esta fase deve ter alto grau
de pureza ou ser de fácil purificação, para que se possa fazer análises de
alta sensibilidade. Embora existam vários solventes, três deles são mais
utilizados: água, metanol e acetonitrila (LANÇAS, 2009).

162
UNIDADE 7

Atualmente, mesmo com baixo curso da CCD e CP, estas estão sendo pouco utilizadas em decorrência
da perda de exatidão e precisão. Assim, atualmente, as CLAE e CG são técnicas mais utilizadas e con-
fiáveis para análise de produtos naturais, sendo considerada os métodos de referências em inúmeros
países incluindo Europa e EUA (COLLINS; BRAGA; BONATO, 1997).
CLAE: técnica mais utilizada uma vez que permite uma ampla amplitude de amostras a serem
analisadas e quantificadas. Assim, a técnica possui uma grande diversidade de detectores passíveis de
serem acoplados ao cromatógrafo, como detectores por ultravioleta. Outro fator importante foi a pos-
sibilidade do acoplamento de espectros de massas (EM) e de ressonância magnética nuclear (RMN),
fato que possibilitou a elucidação estrutural completa de moléculas sem a necessidade de amostras de
referência para comparação (LANÇAS, 2009).

Figura 8 - Representação dos métodos cromatográficos extração líquido

Descrição da Imagem: a imagem representa um desenho de homem sentado em uma cadeira azul, ele se apresenta de jaleco
branco, calça cinza e sapatos marrons, possui cabelo castanho curto, com óculos e sorrindo. O homem está sentado em frente a
uma mesa, onde está apoiado com a mão direita, nesta mesa tem-se um equipamento cromatográfico com quatro partes pretas
e acima destas partes dois tubos de ensaio transparentes com líquido azul. Ao lado deste suporte uma tela de computador com
uma tabela com duas linhas e duas colunas, um gráfico acima em vermelho e um gráfico abaixo em azul.

163
UNICESUMAR

CG: método aplicado na separação de constituintes com ponto de ebulição em até 300 ºC e que
sejam termicamente estáveis. Características facilmente encontradas em amostras de óleos vo-
láteis (CASS; DEGANI, 2002).

Desde a década de 70, houve um grande movimento em relação à padronização de metodologias


analíticas confiáveis e reprodutíveis. Com base nisso, foi criado um grupo de trabalho responsável
por essa padronização, que posteriormente deu origem, nos EUA, ao ICH (International Conference
on Harmonization). Em seguida, vários países adotaram o mesmo conjunto de metodologias. No
Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por volta do ano 2000, começou a elaborar
as mesmas regras que resultaram no Guia para a Validação de Métodos Analíticos e Bioanalíticos
em 2003. Esse guia da ANVISA serve de referência para a padronização dos métodos analíticos para
registro de medicamentos. Para o registro de fitoterápicos, também é necessária a validação dos
métodos analíticos. Nem sempre todos os procedimentos descritos na legislação da ANVISA são
aplicáveis aos fitoterápicos

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS ANALÍTICOS - Após tudo o que já foi visto neste capítulo, é fun-
damental que os métodos utilizados para extração sejam garantidos a sua capacidade de extrair os
compostos de interesse clínico. Assim, para o registro de tais medicamentos, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária determina que os métodos analíticos sejam validados (LORENZI; MATOS, 2008).
Essa validação passa por uma Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), onde é fun-
damental que os laboratórios disponham de meios e critérios objetivos para demonstrar, através da
validação, que os métodos de ensaio que executam conduzem a resultados confiáveis e adequados à
qualidade pretendida (LORENZI; MATOS, 2008).

164
UNIDADE 7

Figura 9 - Representação da validação dos métodos analíticos

Descrição da Imagem:a imagem representa uma mulher dentro de um laboratório, onde, ao fundo e na frente da imagem há
inúmeras vidrarias laboratoriais desfocadas na imagem. Esta mulher se apresenta com cabelo loiro preso, um brinco em forma
de círculo na orelha esquerda, com jaleco branco, óculos de proteção transparente e uma luva azul na mão direita. Esta mão
segura uma vidraria laboratorial com líquido transparente.

O processo de validação do método de extração é realizado com objetivo de garantir que a metodologia
seja capaz de extrair o composto de interesse com exatidão e precisão, assim, toda sua documentação
é obrigatória na solicitação de registro de produtos farmacêuticos.
LEGISLAÇÃO - relembramos a grande biodiversidade encontrada no território brasileiro,
tornando um recurso estratégico para o país em relação ao banco genético, fazendo a conservação
do patrimônio biológico e genético fundamental para o estudo da farmacologia moderna. Deste
modo, a biodiversidade deve ser considerada um bem jurídico relevante, uma vez que o uso de
plantas da biodiversidade brasileira constitui uma ferramenta potencial para a descoberta de
novos fármacos (BRASIL, 2014).

165
UNICESUMAR

Analisando o contexto, os princípios ativos são de inestimável interesse econômico e social e, há


muito tempo, ocuparam seu espaço no mercado mundial. Os produtos e serviços provenientes da
biodiversidade amazônica estão em contínuo crescimento. O mercado dos produtos naturais foi
estimado em US$ 60 bilhões anuais, o de extratos vegetais medicinais em US$ 16,5 bilhões e as
drogas fitoterápicas em US$ 30 milhões. Assim, cerca de 80% da população mundial é tratada com
remédios à base de plantas medicinais, que fazem parte da farmacopeia popular.

DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL - Com objetivo de minimizar o impacto da extração


ilegal dos produtos de origem vegetal pertencentes a biodiversidade brasileira, foi redigida pela lei Nº
9.279, DE 14 DE MAIO DE 1996 e atualizada em 30 de abril de 2009 e, foram publicadas a Medida
Provisória que dispõe, em seu artigo 31, que



a concessão de propriedade industrial pelos órgãos competentes, sobre processo ou
produto obtido a partir de amostra de componente do patrimônio genético, fica con-
dicionada à observância desta Medida Provisória, devendo o requerente informar a
origem do material genético e do conhecimento tradicional associado, quando for o caso
(BRASIL, 2020, on-line).

Figura 10 - Representação dos direitos autorais na extração dos princípios ativos

Descrição da Imagem:a imagem a legislação vigente no que rege os direitos autorais após a extração dos princípios ativos, nela,
tem ao centro, um martelo preto com meio dourado, em cima de uma folha de papel branca com os dizeres “DIREITOS AUTO-
RAIS”, esta folha branca está dentro de uma pasta marrom, ao lado de duas pastas escutas e em cima de uma mesa de madeira.

166
UNIDADE 7

O objetivo desse dispositivo é condicionar a concessão dos direitos de propriedade industrial à observân-
cia da Medida Provisória, ou seja, ao cumprimento dos requisitos da legislação de acesso. Assim, trouxe
a dificuldade no fato de que a exigência de qualquer novo requisito à concessão de patentes (no caso, a
comprovação de observância à Medida Provisória) resultaria no descumprimento, por parte do Brasil.

Ao final deste, percebemos a complexidade do estudo da farmacogno-


sia, ou seja, analisamos desde a coleta até o produto final da obtenção
de um princípio ativo, um conteúdo vasto e complexo, deste modo,
convidamos você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a importância
destes conhecimentos apresentados no capítulo.

Após o final deste capítulo, você se deu conta que a maioria dos medicamentos utilizados na farma-
cologia moderna tem origem nas plantas? Deste modo, convido a você fazer uma breve pesquisa dos
três principais compostos utilizados na clínica moderna que são oriundos de plantas, tenho certeza
que o resultado vai surpreender. Vamos lá?

167
Para finalizarmos bem este módulo extremamente complexo e distinto, convidamos você para ana-
lisar o caminho desde a coleta do material até sua consolidação como princípio ativo de interesse
por meio de um Mapa mental, nele vamos utilizar as palavras: PRODUTO DE ORIGEM NATURAL,
BIODIVERSIDADE, PROCESSO DE EXTRAÇÃO, A FRIO, PERCOLAÇÃO, TURBOEXTRAÇÃO, A QUENTE,
SISTEMA ABERTO, INFUSÃO, DECOCÇÃO, SISTEMA FECHADO, REFLUXO, SOXHLET, TÉCNICAS CRO-
MATOGRÁFICAS, ELETROFORESE CAPILAR, CROMATOGRAFIA PAPEL, CROMATOGRAFIA CAMADA
DELGADA, CROMATOGRAFIA GASOSA, CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA, VALIDAÇÃO,
LEGISLAÇÃO, PRINCÍPIO ATIVO ISOLADO. Consolidando seu conhecimento e conectando tudo o
que foi abordado neste capítulo. Vamos lá?

PRODUTO DE ORIGEM NATURAL

BIODIVERSIDADE
DECOCÇÃO

INFUSÃO

A FRIO PROCESSO DE EXTRAÇÃO

TURBOEXTRAÇÃO
SISTEMA FECHADO

ELETROFORESE CAPILAR TÉCNICAS CROMATOGRÁFICAS SOXHLET

CROMATOGRAFIA CAMADA DELGADA VALIDAÇÃO

CROMATOGRAFIA LÍQUIDA
DE ALTA EFICIÊNCIA PRINCÍPIO ATIVO ISOLADO

168
1. Os métodos de extração são fundamentais no processo de isolamento e caracterização dos
produtos ativos, deste modo, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

O método de Soxhlet é conhecido por ser uma metodologia barata, simples, que utiliza solvente a quente em
sistema aberto simples.

PORQUE

Necessita de equipamentos ou materiais pouco específicos, sendo utilizada para extração de


materiais moles.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta.


a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Assinale a alternativa que descreve corretamente o método caracterizado no texto:

“Métodos baseiam na diferença de migração de compostos iônicos ou ionizáveis na presença


de um campo elétrico Técnica com grande possibilidade de investigar moléculas pequenas e
simples até grandes e complexas como: ácidos graxos, proteínas e ácidos nucleicos. Assim,
técnica utilizada na quantificação de metabólitos secundários”

a) Eletroforese Capilar.
b) CLAE.
c) CG.
d) CP.
e) CCD.

169
3. Analise as afirmativas abaixo:

I) O fracionamento do material constitui a verificação da autenticidade do composto a ser ana-


lisado, sendo recomendado depósito em herbanário oficial para identificação.
II) O processo de extração a frio conhecido como maceração se baseia na extração da matéria-
-prima moída ou triturada, sendo realizada em recipiente fechado por um período considerado
longo, de dia ou horas.
III) O processo de infusão é um sistema a quente de sistema fechado, este método é muito uti-
lizado e necessita de equipamentos simples, baseado na extração de raízes e caules.
IV) A cromatografia gasosa (CG) é uma técnica muito utilizada devido ao seu alto poder de reso-
lução e capacidade de analisar inúmeras substâncias pertencentes à mesma amostra.
V) Antes que seja feita a análise e quantificação dos analitos presentes no vegetal recomenda-se
a validação do método pelo Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), tornando os
resultados confiáveis.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas as alternativas I e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas IV e V estão corretas.

170
8
Princípios Básicos da
Toxicidade
Dr. Marcel Pereira Rangel

Este capítulo difere um pouco dos demais, uma vez que tem como
objetivo preparar você para o último capítulo, onde será comparado
e analisado as propriedades farmacológicas dos produtos naturais
em relação à capacidade de promover efeitos tóxicos no organismo,
assim, antes desta comparação, precisamos embasar o conteúdo
da toxicologia, para que você esteja apto a compreender todos os
tópicos do próximo e último capítulo. Deste modo, convidamos
você para que aprofunde e conheça o grande mundo da toxicologia,
onde serão abordados temas como Toxicodinâmica, Toxicocinética
entre outros.
UNICESUMAR

Quando você pensa em potencial toxicológico,


qual o primeiro assunto que lhe vem à mente?
Medicamento? Drogas de abuso? Entretanto, a
toxicologia analisa a capacidade tóxica de todas
as substâncias que entram em contato com orga-
nismo humano, desde o chazinho até os produtos
de venda controlada. Estes conhecimentos são
imprescindíveis na manutenção da qualidade
dos produtos disponíveis no comércio e dos ser-
viços prestados sem que ocorra contaminação
dos funcionários. Deste modo, tenho certeza
que chamamos sua atenção para este conteúdo,
portanto, vamos iniciar uma grande abordagem
neste conteúdo vasto e completo chamado TO-
XICOLOGIA.
Você já teve algum efeito indesejável ao to-
mar um medicamento? Comer alguma comida?
Beber alguma bebida? Se sim, você teve um efei-
to tóxico destes compostos no seu organismo.
A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos
indesejáveis de substâncias no organismo. Este
conceito parece simples, mas acredito que seja
muito mais amplo do que a maioria das pessoas
pensam. O estudo da toxicologia aborda desde
as substâncias presentes nos alimentos in natura
até as substâncias presentes no seu ambiente de
trabalho, isso mesmo, isso chama-se toxicologia
ocupacional, você já ouviu falar deste nome? Pois
bem, como abordado anteriormente, este capítulo
é uma imersão complexa no mundo, muitas vezes
desconhecidos pelos profissionais da saúde, por
isso, preparamos ele com muito respeito aos con-
textos e aos assuntos pertinentes ao livro.
Em caso de um quadro de intoxicação, seja por
alimentos, bebidas, medicamentos ou drogas de
abuso, você saberia para onde ligar? Existe um cen-
tro especializado na sua cidade para estas situações?
Pois bem, convido você a buscar qual o centro
toxicológico mais próximo de você e quais os
atendimentos prestados nestes locais. Vamos lá?

172
UNIDADE 8

A toxicologia é um campo com estudo impactante no nosso dia a dia, podemos não perce-
ber, mas tudo que compramos antes de ser comercializado passou por testes toxicológicos que
garantiram sua segurança. Os testes toxicológicos analisam distintos parâmetros toxicológicos
que serão abordados neste capítulo, que muito se assemelham à primeira unidade deste livro,
onde foram abordados os princípios da farmacologia.
Ao analisarmos e refletirmos, podemos pensar se todas as substâncias passam por testes toxico-
lógicos antes de serem comercializadas, porque existem efeitos indesejáveis e riscos toxicológicos
eminentes. A resposta é complexa, mas devemos analisar que cada indivíduo responde a determinada
substâncias de uma forma, assim, os testes analisam o potencial tóxico que garante que, na maioria das
pessoas, essa substância não irá provocar nenhum tipo de problema, mas são muitas variáveis, como
idade, doenças pregressas e comorbidades que fazem com que o risco aumente a cada variável desta.
Assim, para iniciarmos, convido você a realizar o Diário de Bordo, com objetivo de que pos-
samos analisar seu conhecimento prévio sobre o assunto e, depois disso, podemos começar nossa
imersão neste capítulo recheado de informações.

173
UNICESUMAR

A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos decorrentes das interações das substâncias ao
organismo, este estudo tem como objetivo prevenir, diagnosticar e tratar possíveis casos de intoxica-
ção. Atualmente, é uma das áreas com maior campo de atuação como: Análise de medicamentos,
ocupacional, alimentar, forense, veterinária, ambiental e genética (OGA, 2021).

Toxicologia ocupacional: área que identifica possíveis substâncias


nocivas ao organismo presente no ambiente de trabalho e seus possíveis
riscos à saúde do trabalhador (MOREAU; SIQUEIRA, 2011).
Toxicologia ambiental: estuda os efeitos de produtos com potencial
impacto no ambiente e nos organismos biológicos do ambiente como
os animais e plantas (MOREAU; SIQUEIRA, 2011).
Toxicologia alimentar: abrange múltiplos aspectos de como os agen-
tes químicos presentes nos alimentos, sejam naturais ou sintéticos,
podem provocar danos ao organismo (MOREAU; SIQUEIRA, 2011).
Toxicologia Forense: tem como objetivo a busca de evidências que
permitam a identificação de substâncias químicas em investigações
criminais (MOREAU; SIQUEIRA, 2011).
Toxicologia de Medicamentos: atua na pesquisa de novos compostos
para serem usados no tratamento e prevenção de doenças (KLASSEN;
WATIKINS, 2012).

174
UNIDADE 8

Figura 1 - Representação dos compostos com potencial toxicológico

Descrição da Imagem: : a imagem representa substâncias com potência toxicológica, tem-se, assim, oito tubos com cores e símbolos
diferentes, sendo eles, da esquerda para direita. Primeiro tubo preenchido com líquido verde e um adesivo com fundo branco e borda
vermelha e ao centro uma representação em preto de um material explodindo com estilhaços. Ao lado, tubo preenchido com líquido
azul claro e um adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma representação em preto de um material em chamas
como uma fogueira. Ao lado, tubo preenchido com líquido azul um pouco mais escuro que o anterior e um adesivo com fundo branco
e borda vermelha e ao centro uma representação em preto com uma árvore seca. Ao lado tubo preenchido com líquido azul escuro e
um adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma representação em preto com uma pessoa e um traço branco no meio
do corpo dela. Ao lado, tubo preenchido com líquido vermelho claro e um adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma
representação em preto com uma caveira ao centro e dois ossos cruzados em diagonal. Ao lado, tubo preenchido com líquido vermelho
claro igual ao anterior e um adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma representação de um ponto de exclamação.
Ao lado tubo preenchido com líquido rosa e um adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma representação de um
anel redondo com a borda superior em chamas, e por último um tubo preenchido com líquido amarelo claro igual ao anterior e um
adesivo com fundo branco e borda vermelha e ao centro uma representação de uma cauda de escorpião.

175
UNICESUMAR

Antes de iniciarmos o conteúdo propriamente dito, vamos abordar alguns pontos importantes para
que você aproveite o máximo possível deste capítulo.
Xenobióticos: substâncias químicas estranhas ao organismo sem valor nutricional.
Agentes Tóxicos: substâncias que possuem capacidade de lesar o sistema biológico alterando sua
função. Vale ressaltar que a intensidade da ação do agente tóxico será proporcional à concentração e
tempo de exposição (MOREAU; SIQUEIRA, 2011).
Intoxicação: processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas levando a um
desequilíbrio fisiológico. Estes levam ao surgimento de sintomas (MOREAU; SIQUEIRA, 2011; BRU-
NI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).
Toxicidade: capacidade do agente tóxico em provocar os efeitos nocivos ao organismo. O
grau de toxicidade de uma substância é avaliado quantitativamente pela medida da Dose Letal
(DL) 50, que é a dose de um agente tóxico, obtida estatisticamente, capaz de produzir a morte
de 50% da população em estudo (OGA, 2021).

TOXICOLOGIA E DOSAGEM

Dose Dose Dosagem


terapêutica tóxica letal

Figura 2- Representação da análise das doses

Descrição da Imagem: a imagem representa a análise do potencial tóxico dos compostos. A primeira imagem é representada com uma
seringa e um composto verde em uma baixa concentração em relação aos demais, sendo aplicada em um gato, este animal, aparece
com os olhos fechados e um leve sorriso, abaixo do animal estão os dizeres em verde DOSE TERAPÊUTICA. Ao lado desta imagem, temos
uma nova seringa e um composto amarelo com uma concentração superior à primeira imagem, sendo aplicada em um gato, este animal,
aparece com os olhos abertos e expressão de preocupação com boca fechada, abaixo do animal estão os dizeres em amarelo DOSE
TÓXICA. Ao lado desta imagem, temos uma nova seringa e um composto vermelho com uma concentração superior a todas as imagens,
sendo aplicada em um gato, este animal, aparece com os olhos e boca fechada, abaixo estão os dizeres em vermelho DOSE LETAL.

176
UNIDADE 8

Você já deve ter escutado a frase “A DIFERENÇA ENTRE REMÉDIO E O VENENO É SIMPLESMENTE A
DOSE”, dita pelo médico alquimista e físico Paracelso (1493), conhecido como um dos fundadores
da toxicologia. O que realmente ele quis dizer nesta frase é de que a dose da substância é um fator
importante na toxicologia, pois tem uma relação significativa com os efeitos sobre o indivíduo, uma
vez que todas as substâncias têm o potencial de serem tóxicas dependendo das condições e doses
administradas. Uma dose pequena de uma substância tóxica pode ser mortal. Da mesma forma,
uma dose alta de uma substância de baixa toxicidade pode não ter nenhum efeito. Deste modo,
para analisar a toxicidade de uma substância química, antes de ser comercializada, são realizados
testes em animais analisando a Dose Letal 50%, uma variável que analisa a dose necessária para
provocar a morte em 50% da população, assim, estabelecendo a dose de segurança do composto.

Agora que fizemos algumas breves conceitualizações, vamos iniciar nosso capítulo vasto de informações!
INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA - A história da toxicologia remete a civilizações desde a his-
tória antiga por meio das pesquisa dos venenos presentes em animais e vegetais, tais estudos presentes
em pergaminhos e escritas antigas. O estudo toxicológico teve um grande olhar, durante a segunda
guerra mundial, sendo utilizada nos conflitos e resultou no desenvolvimento de técnicas forenses
avançadas que são utilizadas até hoje (OGA, 2021; BRUNI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).
Atualmente, o campo toxicológico avançou muito desde a análise até as notificações e, mesmo assim,
óbitos ou agravos relacionados aos processos inerentes da intoxicação resultam em grandes impactos
econômicos e sociais. As mortes de mais de 100 pessoas nos EUA, decorrentes do dietilenoglicol contido
em xarope de sulfanilamida (1937), a epidemia de focomelia e outras malformações produzidas pela
talidomida (1960) contribuíram de modo categórico para a necessidade de se introduzir mecanismos
para prevenir os efeitos indesejáveis dos medicamentos, agregando-se aos métodos existentes, os de
pós-comercialização, constituindo a Farmacovigilância (KLASSEN; WATIKINS, 2012).

Figura 3 - Representação do potencial tóxico dos produtos

Descrição da Imagem: a imagem representa o potencial tóxico


dos produtos onde aparece um fundo cinza com um sinal de
“soma” circulado, abaixo deste sinal, tem-se três traços cinzas
horizontais. Por fim, ao lado destes itens, tem-se um tubo de
ensaio arredondado com a borda abaulada e no centro uma
caveira com dois olhos, um nariz e dois dentes. No meio destas
duas imagens se encontram dois círculos preenchidos e um
círculo vazado.

177
UNICESUMAR

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1,5 a 3% da população são intoxicadas anualmente,
isso representa, a cada ano, uma média de 4.800.000 novos casos. Já em casos de óbitos resultam, apro-
ximadamente, 0,1 a 0,4 % . No Brasil, existe o Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológica
(Sinitox/MS/Fiocruz) que divulga estatísticas anuais referentes a casos de intoxicação registrados pelos
Centros de Assistência e Informação Toxicológica (KLASSEN; WATIKINS, 2012).
O conceito de intoxicação já foi abordado anteriormente, agora vamos discutir os principais aspectos
a serem analisados em relação as suas classificações que podem ser de acordo com:

Tempo de exposição - Intoxicação aguda – decorre de um único contato (dose única/relacionado à


potência da droga) ou múltiplos contatos (efeitos cumulativos) com o agente tóxico, num período de
tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos surgem de imediato ou no decorrer de alguns dias (OGA, 2021).
Intoxicação subaguda – exposições repetidas a substâncias químicas, normalmente essa exposição
ocorre em um período menor ou igual a 1 mês (KLASSEN; WATIKINS, 2012; OGA, 2021).
Intoxicação crônica – efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante,
num período prolongado, geralmente maior de 3 meses, chegando até a anos (OGA, 2021).
Severidade Leve – são rapidamente reversíveis e desaparecem com o fim da exposição.
Moderada – quando os distúrbios são reversíveis e não são suficientes para provocar danos.
Severa – quando ocorrem mudanças irreversíveis suficientemente severas para produzir lesões
graves ou morte (KLASSEN; WATIKINS, 2012).
Situações Clínicas - Local aguda – efeitos sobre pele, membranas mucosas e olhos após exposição
que varia de segundos a horas.
Sistêmica aguda – efeitos nos diversos sistemas orgânicos após absorção de substâncias por diversas
vias; a exposição pode ser de segundos ou horas.
Local crônica – efeitos sobre pele e olhos após repetidas exposições durante meses e anos.
Sistêmica crônica – efeitos nos sistemas organizados após repetidas exposições por diversas vias
durante longo período de tempo (KLASSEN; WATIKINS, 2012).

178
UNIDADE 8

Figura 4 - Representação dos sintomas de intoxicação

Descrição da Imagem: a imagem representa alguns sintomas comuns em quadros de intoxicação. Nele tem-se seis sintomas, todos
representados por um menino, de coloração rosada, cabelo castanho escuro e com uma camisa azul. No primeiro sintoma, este menino
aparece com lenço de papel branco sendo segurado pelas duas mãos abaixo dos olhos, onde aparecem duas manchas vermelhas e
duas gotas azuladas, representando um espirro. Ao lado direito da imagem, o menino aparece com a mão esquerda fechada sendo
levada a boca, onde sai duas gotas azuis, representando a tosse. Seguindo a última imagem superior, o menino aparece com um
termômetro na boca onde a temperatura é mensurada por um líquido vermelho e aparecem três gotas azuis em seu rosto e duas
manchas vermelhas na sua face, representando a febre. No canto inferior, a primeira imagem à esquerda, representada pelo menino
com a mão esquerda na cabeça, e dela saem três raios vermelhos, representando dor de cabeça. Ao lado o menino aparece com
múltiplas manchas na cabeça representando erupções cutâneas e, por fim, na última imagem, o menino aparece com um líquido
verde saindo de sua boca e com os olhos fechados, representando o vômito.

Fases - Fase de exposição – fase em que a superfície do organismo entra em contato com o agente
tóxico. Sendo importante analisar a via de contato, frequência e duração da exposição, além das pro-
priedades do agente (OGA, 2021).
Fase de toxicocinética – inclui os processos desde a absorção, distribuição, armazenamento,
biotransformação e excreção do agente. Deve-se analisar as propriedades físico-químicas e os órgãos
alvos (OGA, 2021; KLASSEN; WATIKINS, 2012).
Fase de toxicodinâmica – compreende a interação entre as moléculas do toxicante e os sítios
de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, a alteração do equilíbrio homeostático
(OGA, 2021).
Fase clínica – fase em que há evidências de sinais e sintomas ou, ainda, alterações patológicas
detectadas mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela interação
do toxicante com o organismo (OGA, 2021, KLASSEN; WATIKINS, 2012).
Agora que você já tem uma boa base toxicológica, vamos abordar dois conceitos fundamentais em
qualquer área da toxicologia que seriam: Toxicocinética e Toxicodinâmica. Você pode fazer uma
analogia na grande parte dos conceitos com os assuntos abordados na unidade 1, onde analisamos os

179
UNICESUMAR

conceitos de Farmacocinética e Farmacodinâmica. Deste modo, antes de iniciar, se tiver um tempo,


volte na primeira unidade e faça uma breve revisão.
Toxicocinética - Fase caracterizada pela movimentação do agente intoxicante no organismo desde
sua entrada até sua eliminação. Envolve a transposição das membranas, em que o organismo atua de
forma a tentar impedir ou diminuir a ação nociva, deste modo, resulta a quantidade do agente dispo-
nível para atuar no sítio alvo e exercer sua atividade tóxica. Estas fases são:
Absorção: o processo ocorre quando o agente tóxico passa do meio externo para interno e atinge a
circulação sistêmica. Este processo depende da interação do agente químico com as membranas e pode
ocorrer pelas vias dérmicas, respiratória e pelo trato gastrointestinal (KLASSEN; WATIKINS, 2012).
Dérmica: constitui uma barreira efetiva contra a penetração de substâncias químicas exógenas. No
entanto, alguns xenobióticos podem sofrer absorção cutânea, dependendo das propriedades fisiológicas
da pele e das propriedades físico-químicas dos agentes. Constitui a porta de entrada mais frequente
das intoxicações por agrotóxicos (OGA, 2021, MORAES; SZNELWAR; FERNICOLA, 2005).

Figura 5 - Representação da ação tóxica dos compostos

Descrição da Imagem: a imagem representa ação térmica do composto, uma vez que nela está representado um tubo de ensaio
com líquido na coloração escura, deste líquido, sai uma gota com três traços que entram em contato com uma mão espalmada
com cinco dedos. Esta gota, ao entrar em contato no dedo indicador, provoca uma lesão representada por um achatamento de
uma parte deste dedo.

Respiratórias: possuem grande área de superfície absortiva com fluxo sanguíneo extenso, assim
exerce uma boa ação de dissolução e muitos agentes químicos podem ser absorvidos rapidamente a
partir dos pulmões. Os agentes passíveis de sofrerem absorção pulmonar são os gases e vapores e os
aerossóis. As partículas podem entrar na circulação sistêmica ou não serem absorvidas e provocar
danos no epitélio pulmonar (BRUNI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).
Trato gastrintestinal: o agente tóxico poderá sofrer absorção desde a boca até o reto. Poucas
substâncias sofrem a absorção na mucosa oral, porque o tempo de contato é pequeno nesse local. Um

180
UNIDADE 8

dos fatores que favorecem a absorção intestinal de nutrientes e xenobióticos é a presença de microvi-
losidades, que proporcionam grande área de superfície (BRUNI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).
DISTRIBUIÇÃO - processo no qual o agente tóxico é transportado para o resto do organismo,
deslocando-se para células e tecidos distintos no organismo. Sua concentração depende, entre
outras propriedades, da sua característica lipossolúvel (MORAES; SZNELWAR; FERNICOLA,
2005; BRUNI; VELHO; OLIVEIRA, 2012).
Na circulação, o agente tóxico pode: ligar-se ao seu sítio de ação, ser eliminado, ser complexado em
hemácias e proteínas plasmáticas ou armazenado. Os principais locais de armazenamento são: proteínas
plasmáticas, fígado e rins, tecido ósseo, tecido adiposo, placenta, leite materno e cabelos (OGA, 2021).
BIOTRANSFORMAÇÃO - Processo que objetiva a redução da concentração e, consequentemen-
te, a possibilidade de uma substância desencadear uma resposta tóxica. Logo, a biotransformação é
conjunto de alterações químicas que pode ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico como, por
exemplo, no intestino, rins, pulmões, pele, testículos e placenta, com objetivo de diminuir ou cessar a
toxicidade e facilitar a excreção (MORAES; SZNELWAR; FERNICOLA, 2005).
EXCREÇÃO - os xenobióticos que penetram no organismo são, posteriormente, excretados por meio da
urina, bile, fezes, ar expirado, leite, suor e outras secreções, sob forma inalterada ou modificada quimicamente.

Os fatores que atuam sobre velocidade de excreção são:


Afinidade – geralmente o agente tóxico na sua forma livre está disponível a eliminação,
deste modo, se apresentar afinidade por tecidos ou agentes do sangue podem aumentar
a permanência no organismo;
Facilidade de biotransformação – Ao aumento da polaridade na biotransformação
facilita-se a secreção urinária;
Função renal – como a via renal e a principal via de excreção dos xenobióticos, qual-
quer disfunção dos órgãos irá interferir na velocidade e proporção de excreção (BRUNI;
VELHO; OLIVEIRA, 2012. p. 33).

Doping é o termo designado para indivíduos que utilizam substâncias que alteram a resposta fisioló-
gica do organismo, aumentando seu rendimento. Essas substâncias apresentam risco à saúde destas
pessoas, uma vez que potencializam a proliferação de células cancerígenas, sobrecarga cardiovascular,
sobrecarga hepática e alteração dos níveis de colesterol. Apesar de ter um histórico não tão recente
apenas, em 1967, o Comitê Olímpico Internacional (COI) formou uma comissão para classificação,
controle e proibição das substâncias utilizadas e suas devidas punições. O exame de doping pode ser
realizado pela coleta da urina ou sangue, sendo que os controles podem ser realizados nos períodos
de competições e fora delas. Entretanto, apesar dos avanços tecnológicos para a detecção do uso de
substâncias dopantes por atletas de alto-rendimento, o controle antidopagem ainda não é totalmente
seguro, favorecendo aos atletas desonestos que utilizam meios ilegais para levar vantagem a outros
competidores, assim, escândalos de doping no esporte são notícias frequentes.

181
UNICESUMAR

Figura 6 - Representação de combate ao doping

Descrição da Imagem:a imagem representa um símbolo no combate ao doping, assim, nela encontra-se com fundo branco e na parte
superior uma cápsula com metade dela em azul e a outra metade em vermelho. No meio uma seringa, com agulha toda na coloração
preta, e sob ela, um grande círculo em vermelho, e no meio do círculo cortando a seringa os dizeres “antidoping”.

TOXICODINÂMICA - Etapa onde ocorre interação com sítio de ação e pode


ocorrer adição, sinergismo, potencialização ou antagonismo entre as substân-
cias, resultando no aumento ou diminuição dos efeitos tóxicos.
Adição – Ocorre quando dois ou mais compostos apresentam o mesmo efeito,
que se somam.
Sinergismo – O efeito induzido por dois ou mais compostos juntos é maior
do que a soma dos efeitos de cada agente (PASSAGLI, 2013).
Potenciação – Ocorre quando um agente que, primariamente, é desprovido
de ação tóxica, aumenta a toxicidade de um agente tóxico (PASSAGLI, 2013).
Antagonismo – O efeito de um agente é diminuído, inativado ou eliminado
quando combinado com outro agente (OGA, 2021, MORAES; SZNELWAR;
FERNICOLA, 2005).
Desta forma, os dados obtidos são fundamentais para:
Estimar a possibilidade do agente químico causar efeitos deletérios e qual
população pode ser atingida ou seja, a avaliação do risco.
Estabelecer procedimentos preventivos e estratégicos.
Desenvolver produtos específicos com maior seletividade para a espécie de
interesse. Como por exemplo no caso de pesticidas mais seletivos que não
causem danos aos seres humanos e animais (OGA, 2021; MORAES; SZNELWAR;
FERNICOLA, 2005).

182
UNIDADE 8

A atropina foi descoberta, em 1809, pelo químico francês Louis Nicolas Vauquelin (1763-1829),
ele isolou uma forma impura de beladona. Atualmente, é um dos principais antídotos para neutralizar
os efeitos tóxicos, principalmente de inseticidas e organofosforados, devido seu efeito farmacológico
de antagonizar os efeitos muscarínicos da acetilcolina. O mecanismo de ação da atropina é inibir
as ações muscarínicas da acetilcolina nas estruturas inervadas pelos nervos colinérgicos pós-gan-
glionares e nos músculos lisos que respondem à acetilcolina endógena, mas não são tão inervados.

Figura 7 - Representação do antídoto

Descrição da Imagem:a imagem representa o antídoto


para tratamento das intoxicações, nela tem-se uma
mão coberta por uma luva azul, e com braço esticado
na coloração rosada. Esta mão está segurando com seu
polegar e seu dedo indicador, no centro da imagem,
um frasco transparente com líquido um pouco acima
da metade em azul, e um rótulo branco.

AGENTES TÓXICOS - Os agentes tóxicos apresentam estruturas químicas das mais variadas e
podem ser classificados utilizando-se critérios diferentes conforme a finalidade de seu estudo. Entre
os critérios comumente usados, tem-se, por exemplo, o químico (Aminas Aromáticas, Hidrocar-
bonetos), físico (gás, líquido e sólido), o bioquímico (inibidor de sulfidrila, metemoglobinemia) e
o farmacológico (bloqueadores de receptores nicotínicos da acetilcolina; picrotoxina - bloqueador
dos canais de cloro GABA) (OGA, 2021).
A lei regulamentadora da utilização de agrotóxicos no Brasil era a lei n° 7.802, de 1989, sendo
com quase 35 anos sem sofrer muitas alterações em 2019, foi aprovado pelo congresso nacional sua
atualização. Um dos principais pontos a serem considerados seria para introduzir conceitos relativos a
“produtos novos”,“produto equivalente”,“avaliação de risco” e normas para registro de novos agrotóxicos.
SELETIVIDADE DE AÇÃO - Todas as substâncias químicas tóxicas produzem seus efeitos alteran-
do as condições fisiológicas e bioquímicas normais das células. Apresentando como mecanismos gerais:

183
UNICESUMAR

Figura 8 - Representação a alusão da ação dos inseticidas

Descrição da Imagem: a imagem representa um borrifador em verde escuro, com líquido verde claro até um pouco acima da metade
do frasco, este líquido possui uma representação de veneno que se destaca por uma caveira branca com dois ossos cruzados trans-
versalmente. O borrifador é segurado por uma mão ilustrada na cor acastanhada. Na ponta dele sai uma fumaça branca que encobre
uma copa de árvore. Ao fundo da imagem, tem-se uma representação de uma vegetação, onde aparecem arbustos em verde escuro,
duas árvores com tronco em verde escuro e três ramificações de galhos com as folhas representadas em verde claro e outra árvore
com tronco em verde escuro e três ramificações de galhos com as folhas representadas em branco. Por fim, o céu é representado por
uma cor rosada que vai de encontro ao chão da floresta representado em laranja.

Interações com receptores: os receptores são elementos sensoriais no sistema de comunicações


químicas que coordenam a função de todas as células no organismo (PASSAGLI, 2013).
Interferências nas funções e membranas excitáveis: a manutenção e a estabilidade das mem-
branas excitáveis são essenciais à fisiologia normal dos tecidos. As substâncias químicas podem alterar
a função do fluxo de íons no tecido (PASSAGLI, 2013).
Inibição da fosforilação oxidativa: interferindo diretamente na síntese de Adenosina Trifosfato
(ATP) e, consequentemente, na concentração energética do organismo (PASSAGLI, 2013).
Complexação com biomoléculas: entre as mais afetadas, encontram-se as enzimas, onde o me-
canismo de ação principalmente dos pesticidas e inseticidas (organofosforados) inibem as enzimas
esterases, aumentando a concentração de acetilcolina (MORAES; SZNELWAR; FERNICOLA, 2005).
FATORES DETERMINANTES DA INTOXICAÇÃO - Todos os efeitos tóxicos são conse-
quentes das alterações fisiológicas e bioquímicas normais do organismo. De regra, a extensão da
lesão é diretamente proporcional à concentração do agente tóxico, com exceção, de indivíduos
com problemas renais e hepáticos aumentando o tempo de permanência do agente no organismo
(OGA, 2021; PASSAGLI, 2013).

184
UNIDADE 8

Figura 9 - Representação de um indivíduo hospitalizado

Descrição da Imagem: a imagem representa uma pessoa deitada em uma cama com lençol branco, esta pessoa está com vestimenta
em azul claro, da mesma cor do lençol, este lençol também contém uma parte branca na sua borda. Esta pessoa, encontra-se deitada
com o braço esquerdo na cabeça com a mão ao lado do ouvido encobrindo seus olhos e nariz, seu braço direito está com uma agulha
que está acoplada a um cano transparente; ao fundo nota-se três vasos brancos com folhagens verdes desfocadas.

A gravidade do efeito tóxico, por outro lado, varia muito conforme o órgão afetado. Naturalmente,
o efeito é grave se o órgão afetado desempenha uma função vital, a elucidação dos mecanismos
básicos da toxicidade, assim como o estudo sobre os fatores que modificam a intensidade dos
efeitos tóxicos dos agentes são essenciais nos dias de hoje, uma vez que estes estudos norteiam o
desenvolvimento de antídotos e medidas preventivas com objetivo de minimizar o impacto do
agente tóxico (MORAES; SZNELWAR; FERNICOLA, 2005).

185
UNICESUMAR

Após este capítulo, percebe-se a importância no estudo prévio das


substâncias com objetivo de minimizar os impactos nocivos ao nosso
organismo, pensando nisso, convidamos você para clicar aqui e ouvir o
Podcast sobre a importância destes conhecimentos apresentados no
capítulo. Acesse o QR Code.

A importância deste capítulo, principalmente na análise da toxicologia fo-


rense, pode ser observada em qualquer série criminal, assim, deixo aqui
a recomendações:
Título: CSI: Investigação Criminal
Ano: [2000 - 2015]
Sinopse: CSI: Crime Scene Investigation foi uma série norte-americana
concentrada nas investigações de um grupo de cientistas forenses para
elucidação de crimes, estes cientistas faziam parte do departamento de
criminalística da polícia de Las Vegas, Nevada.

Ao terminarmos o estudo conceitual deste capítulo, esperamos que você tenha se conscientizado da
importância da toxicologia em diferentes áreas, deste modo, que tal um desafio, encontre as 3 princi-
pais substâncias responsáveis por provocar quadros de intoxicação nos dias de hoje. Vamos lá?

186
Estamos quase prontos para finalizar esta unidade e preparar você para compreensão da próxi-
ma e última unidade deste livro, mas, antes disso, esperamos que tenha compreendido os efeitos
tóxicos e os parâmetros a serem analisados nesta unidade, então, convido a você a fazer um MAPA
MENTAL, utilizando as seguintes palavras: INTOXICAÇÃO, CONCEITOS, AGENTE TÓXICO, TOX-
ICOLOGIA, TOXICIDADE, TOXICODINÂMICA, TOXICOCINÉTICA, TOXICOLOGIA ALIMENTAR,
ÁREA DE ATUAÇÃO, ANÁLISES, TOXICOLOGIA OCUPACIONAL e TOXICOLOGIA AMBIENTAL

TOXICOLOGIA

ÁREA DE ATUAÇÃO

TOXICOLOGIA ALIMENTAR

INTOXICAÇÃO
TOXICODINÂMICA

TOXICOLOGIA AMBIENTAL

TOXICIDADE

187
1. Os conceitos da toxicologia são amplos e complexos, entretanto seu estudo é imprescindível
atualmente em diversas áreas. Deste modo, avalie as seguintes asserções e a relação proposta
entre elas.

I) Intoxicação é o processo patológico causado por substâncias endógenas ou exógenas levando


a um desequilíbrio fisiológico. O conhecimento da fase clínica é imprescindível.
PORQUE

II) Ela é determinada por existir evidências de sinais e sintomas ou, ainda, alterações patológicas
detectadas mediante provas diagnósticas, caracterizando os efeitos nocivos provocados pela
interação do intoxicante com o organismo.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Assinale a alternativa que descreve corretamente a fase caracterizada no texto:

“Processo que objetiva a redução da concentração e, consequentemente, a possibilidade


de uma substância desencadear uma resposta tóxica. Logo, a biotransformação é conjunto
de alterações químicas que pode ocorrer em qualquer órgão ou tecido orgânico como, por
exemplo, no intestino, rins, pulmões, pele, testículos, placenta, com objetivo de diminuir ou
cessar a toxicidade e facilitar a excreção”.

a) Absorção.
b) Distribuição.
c) Biotransformação.
d) Excreção.
e) Sítio alvo.

188
3. Analise as afirmativas a seguir.

I) A severidade moderada ocorre quando os distúrbios são reversíveis e não são suficientemente
graves para provocar danos.
II) A definição de xenobióticos são de substâncias que possuem capacidade de lesionar o sistema
biológico alterando sua função.
III) Intoxicação crônica é determinada quando ocorre apenas um único contato com agente
tóxico em período de 24 horas.
IV) A fase de intoxicação conhecida como toxicocinética inclui os processos desde a absorção,
distribuição, armazenamento, biotransformação e excreção do agente.
V) O sinergismo descrito na toxicodinâmica é determinado pelo efeito induzido por dois ou mais
compostos juntos, é maior do que a soma dos efeitos de cada agente.

Assinale a alternativa correta.

a) Apenas as alternativas I e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas I, IV e V estão corretas.

189
190
9
Interação
Medicamentos x
Plantas e Interação
Alimentar x Plantas
Dr. Marcel Pereira Rangel

O último capítulo do livro irá integrar as duas últimas unidades


onde se relacionou os conceitos toxicológicos às suas interações
alimentares e com os próprios fitoterápicos. É um capítulo desafia-
dor ao aluno, uma vez que, para entendê-lo na sua integralidade, o
aluno deverá ter aprendido os conceitos abordados anteriormente
com muita profundidade, assim, convido a você para que, neste
último capítulo, aprofunde e integre tudo o que foi abordado nesta
unidade.
UNICESUMAR

Você já se sentiu mal após comer alguma coisa? Ou uma indisposição ao tomar algum líquido
feito de plantas ou folhas? Isso pode ser mais comum do que você imagina. Segundo o centro de
intoxicação e assistência toxicológica, as interações alimentares e com produtos de origem vegetal
representam uma boa parte das notificações de efeitos toxicológicos atualmente. Deste modo, o
próprio centro possui folders explicativos com uma listagem de produtos que podem vir provocar
estes tipos de efeitos, com objetivo de orientar melhor a população que pensa estar isenta desses
efeitos pelo simples fato de ser uma planta que cultiva no próprio quintal. Neste sentido, este capítulo
tem como objetivo orientar melhor você, futuro profissional da saúde, neste aspecto.
Após esta introdução, convido você a fazer uma breve busca sobre as principais interações
alimentares e fitoterápicas que provocaram qualquer efeito adverso no ano de 2021. Garanto
que você irá se surpreender com o número de casos e com a gravidade dos sintomas, você pode
fazer essas anotações no seu Diário de Bordo. Vamos lá?

192
UNIDADE 9

As interações entre fitoterápicos e alimentos, bem como medicamentos em geral são, muitas vezes,
confundidos com pequenos sintomas e, muitas vezes, negligenciados pelas pessoas a procurarem um
sistema de saúde. Entretanto, as intoxicações com este tipo de interação podem ser, na maioria das vezes,
muito mais perigosas ao organismo do que podem parecer. Isso ocorre, porque as pessoas, na demora de
procurar ajuda especializada, passam da fase aguda para crônica, do processo de intoxicação; um pro-
blema localizado, muitas vezes, pode se tornar sistêmico e muito mais perigoso e difícil de ser revertido.
Duas populações devem ser consideradas de alto risco, a idosa e a infantil. Idosa uma vez que
utilizam, na sua grande maioria, a polifarmácia, ou seja, muitos medicamentos, e o risco de interação
aumenta, associado a possíveis problemas hepáticos e renais. Já a infantil, deve-se levar em consideração
que a ingestão pode ser acidental ou mesmo provocada pelos pais, onde a criança remete sintomas
inespecíficos, como choro e dores abdominais, o que pode dificultar a percepção do problema.
Assim, para iniciarmos, convido você a realizar o Diário de Bordo, com objetivo de que pos-
samos analisar seu conhecimento prévio sobre o assunto, e depois disso, podemos começar nossa
imersão neste capítulo recheado de informações.

193
UNICESUMAR

FITOTERÁPICOS - Segundo a RDC n° 26, de 13 de maio de 2014 da Agência Nacional de Vigilância


Sanitária – Anvisa (BRASIL, 2014), o fitoterápico é definido como “medicamento produzido a partir
de extratos de plantas medicinais que apresentem alguma ação terapêutica”. Sua eficácia e segurança,
bem como efeitos terapêuticos comprovados, composição padronizada e segurança de uso para a popu-
lação. A qualidade deve ser alcançada mediante o controle das matérias-primas, do produto acabado,
materiais de embalagem, formulação farmacêutica e estudos de estabilidade que são validados por
meio da etnofarmacologia, documentações científicas publicadas e por ensaios clínicos, devidamente
fiscalizados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) (SIMÕES et al., 2007).
Sabe-se que a prática da fitoterapia cresce a cada dia, muito impulsionada pelo seu custo mais
acessível, fácil acesso e pelo grande interesse da população por terapias menos agressivas e por
ser uma prática comum na sociedade, fazendo com que as pessoas enxerguem na fitoterapia
um método de cura e prevenção mais acessível. Deste modo, a Organização Mundial da Saúde
(OMS), durante a conferência em Alma-Ata, em 1978, reconheceu oficialmente o uso de plantas
medicinais e fitoterápicos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico
(HARAGUCHI; CARVALHO, 2010).

194
UNIDADE 9

Figura 1 - Representação dos fitoterápicos como medicamentos

Descrição da Imagem: A imagem representa os fitoterápicos como medicamentos. Nela, encontra-se uma colher marrom ao centro
da imagem em uma superfície cinza; dentro desta colher, tem-se oito cápsulas marrons. Ao lado esquerdo da imagem possui um ramo
de folhas verdes entrelaçados e acima destas mais três cápsulas marrons idênticas às que estão dentro da colher.

No Brasil, em 22/06/2006 foi aprovada a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


e criou um Grupo de Trabalho Interministerial, com a participação da sociedade civil, visando a
elaboração do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, estabelecendo medidas
voltadas à garantia de acesso seguro e uso racional e correto de plantas medicinais e fitoterápicos
pela população, com segurança e eficácia (BRASIL, 2006). Medida necessária uma vez que a falta de
informação da população a respeito dos seus efeitos adversos, juntamente com o comércio facilitado
dos medicamentos, faz com que, muitas vezes, esses sejam consumidos sem a devida orientação por
parte de um profissional qualificado. Principalmente por, muitas vezes, a crença popular de que “se
é natural não faz mal” é um grande equívoco e inibe os indivíduos de relatar ocorrências de reações
adversas devido ao uso de remédios populares. Assim, utilizar um composto de forma inadequada,
mesmo quando apresenta baixa toxicidade, pode provocar riscos à saúde (HOEFLER, 2008).

195
UNICESUMAR

Portanto, sabe-se que quando a população não recebe a devida orientação, mostra-se mais sus-
cetível aos efeitos danosos produzidos pelas plantas medicinais e fitoterápicas. Esses efeitos nocivos
são decorrentes da administração isolada ou quando associados aos medicamentos sintéticos. Deste
modo, agora iremos analisar os principais pontos das interações que resultam nas intoxicações nos
fitoterápicos (SIMÕES et al., 2007).
INTERAÇÕES E INTOXICAÇÃO - Intoxicação é caracterizada como sendo a introdução
voluntária ou involuntária de substância danosa ao organismo, capaz de produzir consequências de
alterações significativas das funções vitais e que pode advir por inalação, ingestão e por contato direto.
O processo de intoxicação vegetal pode ser: fulminante, quando leva a morte do indivíduo; aguda,
quando o organismo apresenta defesa orgânica; e crônica quando o indivíduo apresenta equilíbrio
funcional orgânico que bloqueia a atividade tóxica. Destaca-se que os compostos que agem sobre os
centros nervosos são bem mais lesivos para o homem (HOEFLER, 2008).

Figura 2 - Representação dos efeitos de uma intoxicação

Descrição da Imagem: A imagem representa uma pessoa com intoxicação. Nela tem-se uma mulher com cabelo castanho longo, blusa
amarela de mangas longas, uma calça azul clara e tênis pretos com cadarço branco. Esta mulher está com coloração facial verde com as
bocas fechadas e as duas mãos na cintura/barriga e encurvada, como se fosse vomitar. Ao lado tem-se uma representação anatômica
do estômago, que aparece na coloração vermelha e dentro dele possui um líquido verde que preenche mais da sua metade. Abaixo do
estômago, a imagem traz três cápsulas metade vermelha e metade azul.

Intoxicações fitoterápicas são comuns e ocorrem por inúmeros motivos como: falta de infor-
mações a respeito do cultivo, reações adversas, posologia, duração do tratamento, entre outras.
Interações entre plantas e fármacos podem levar a alterações farmacológicas e ainda a toxicidade
do medicamento. Essas interações podem ser do tipo:

196
UNIDADE 9

Farmacodinâmicas: onde há um aumento ou diminuição do efeito do fármaco, devido ao siner-


gismo ou antagonismo (OGA, 2021).
Esses efeitos sinérgicos descritos nos fitoterápicos, normalmente, estão relacionados à combinação
de extratos com distintos tipos de métodos de extração como no caso da Erva-de-são-joão (Hypericum
perforatum L.), largamente utilizada como fitoterápico, tem sido objeto de vários estudos de sinergia
entre componentes de extratos vegetais. Estudos in vitro corroboram essa hipótese mostrando que pro-
cianidinas presentes no extrato, desprovidas de ação antidepressiva, são capazes de potencializar a ação
da hypericina. O mecanismo proposto para esse efeito sinérgico é o aumento da solubilidade em água da
hypericina em presença destas procianidinas, com destaque para a procianidina B2 (15), que se traduz em
um aumento considerável (140-160%) na biodisponibilidade da primeira (NEWMAN; CRAGG, 2016).
Farmacocinéticas: levam a alterações na absorção e disposição do fármaco no organismo, levan-
do a alteração na concentração plasmática. Podem acontecer na absorção, distribuição, metabolismo
ou excreção. Na absorção, pode interferir tanto na velocidade, levando a mudança na intensidade do
efeito farmacológico e, ainda, ocorrer tanto o aumento quanto a redução da quantidade de fármaco
a ser absorvido. Interações que alteram a metabolização são as mais comuns, onde pode ocorrer de-
vido a alguns compostos de determinada planta que podem levar a indução ou inibição das enzimas
que são responsáveis pelo metabolismo oxidativo pertencentes ao citocromo P450, sendo o principal
responsável por eliminar a droga do organismo (OGA, 2021).

REALIDADE
A cada ano, são registrados diversos casos de intoxicações por
AUMENTADA
plantas tóxicas ornamentais, que envolvem, principalmente,
crianças e pequenos animais de estimação que ingeriram, de
forma acidental, plantas ornamentais tóxicas. E não é raro tais
plantas serem cultivadas dentro das residências, como plantas
ornamentais. As plantas tóxicas podem ser encontradas em todos
os lugares, seja como ornamentais dentro das residências ou nos
jardins e praças. Além disso, é bastante comum a ocorrência de
plantas tóxicas nas áreas rurais, as quais não são conhecidas pelas
populações locais, o que acaba favorecendo o acontecimento de
intoxicações (OSORIO-DE-CASTRO, 2010).

197
UNICESUMAR

Figura 3 - Representação dos estudos toxicológicos

Descrição da Imagem: A imagem representa um pesquisador em um laboratório com vidraças ao fundo. Este pesquisador está com
as duas mãos cobertas por luva azul, jaleco e camisa branca e máscara azul. Na sua mão direita está segurando um tubo com líquido
verde, que está sendo despejado em outro tubo com líquido verde apoiado em uma estante verde no centro da imagem. Na frente
desta estante há um suporte de vidro com três eppendorfs abertos com líquido verde. A sua mão esquerda está no canto da imagem
segurando um equipamento preto, ao lado da mão tem uma tampa vermelha na bancada branca. No primeiro plano, à direita da ima-
gem, tem-se uma estante com inúmeros tubos de ensaios vazios e com líquido verde tampados com tampa vermelha.

198
UNIDADE 9

Agora vamos relacionar as principais interações entre os medicamentos e os fitoterápicos em tópicos:


Ginkgo biloba (Ginkgo biloba L.) - O omeprazol é um fármaco utilizado no tratamento da úl-
cera péptica e do refluxo gastroesofágico, sendo que a sua metabolização ocorre, principalmente, via
isoforma CYP2C19 do sistema hepático P450. Através de um ensaio clínico randomizado conduzido
com 18 voluntários sadios, verificou-se que o ginkgo, quando administrado concomitantemente com
este fármaco, reduziu a biodisponibilidade e aumentou a concentração plasmática do seu metabólito
ativo. Esse resultado indica que o ginkgo pode induzir a isoforma CYP2C19 e, com isso, reduzir a
concentração plasmática do omeprazol (HOEFLER, 2008).

Além deste efeito, o uso do Ginkgo biloba deve ser evitado concomitante:
• Anticoagulantes e/ou antiplaquetários podem aumentar o risco de complicações hemorrágicas,
já que estes medicamentos aumentam a fluidez sanguínea.
• Nifedipina (antagonista dos canais de cálcio) pode aumentar a frequência de efeitos adversos
desse anti-hipertensivo, tais como cefaleia, rubor e edema do tornozelo.
• Reduzir a eficácia dos anticonvulsivantes (GONÇALVES, 2019).

Boldo (Peumus boldus Molina) - A boldina causa inibição da agregação plaquetária decorrente
da não formação do tromboxano A2, deste modo, pacientes que estão sob a terapia de anticoagu-
lantes não devem ingerir concomitantemente medicamentos contendo Boldo pela ação aditiva
à função antiplaquetária de anticoagulante.
Outro efeito importante ocorre no uso prolongado abusivo como laxativo, onde poderá ocorrer
intensificação da ação de fármacos antiarrítmicos, como a quinidina, que afeta os canais de potássio
(FILHO; CECCONI; ZANCHETT, 2021).
Ginseng (Panax ginseng C. A, Meyer) - Destaca-se a interação com estrogênios, onde há efeitos
adversos devido ao aumento da atividade estrogênica, como mastalgia e excesso de sangramento
menstrual, provavelmente devido à atividade estrogênica sinérgica.
Ainda, destaca-se que o ginseng pode interagir com os hipoglicemiantes levando a hipoglicemia por
mecanismos ainda não elucidados, mas provavelmente pelo fato do ginseng aumentar a sensibilidade
aos receptores de insulina (FILHO; CECCONI; ZANCHETT, 2021).

199
UNICESUMAR

Figura 4 - Representação do Ginseng

Descrição da Imagem: : A imagem representa o Ginseng, nela temos oito raízes do Ginseng na coloração castanho entrelaçadas entre
si, e no meio das raízes cinco folhas verdes. Este Ginseng está sob uma mesa marrom com fundo desfocado de plantas verdes.

Hipérico (Hypericum perforatum Linaeus ou erva-de-são-joão) - Promove redução do nível sérico


de vários fármacos, provavelmente por indução das enzimas hepáticas (citocromo P450 - isoenzima
CYP1A2). Há relatos de interações do hipérico com drogas antirretrovirais, onde pode interferir com
a ação do indinavir, diminuindo significativamente a concentração plasmática do inibidor de protease,
onde os outros inibidores de protease (nelfinavir, ritonavir e saquinavir) provavelmente interagem de
maneira similar. Há, ainda, a interação com a sinvastatina e digoxina, que acabam tendo seus níveis
plasmáticos diminuídos pelo hipérico (GONÇALVES, 2019).
Camomila (Matricaria recutita L) - Interage com anticoagulantes, como a varfarina, resultando
no aumento do risco de sangramento. Também há indícios da sua interação com os barbitúricos, re-
presentado pelo fenobarbital, e outros sedativos, nesse caso, a camomila intensifica e aumenta a ação
depressora do sistema nervoso central, reduzindo a absorção de ferro ingerido (GONÇALVES, 2019)
Chá verde (Camellia sinensis [L.] Kuntze) - Como possui cafeína em sua composição, esta in-
terage com a efedrina, podendo interferir em fatores cardiovasculares, levando a aumento da pressão
arterial, risco de infarto e ataque cardíaco (SIMÕES et al., 2007).

200
UNIDADE 9

Eucalipto (Eucalyptus globulus) - Óleo essencial, obtido a partir das folhas do eucalipto,
induz enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos e a ação de outras drogas poderá
ser diminuída quando administradas, concomitantemente. Relatos clínicos associam a adminis-
tração oral do óleo de eucalipto com dificuldade de raciocínio e alterações no sistema nervoso;
estes sintomas poderão ser intensificados quando esta droga for administrada conjuntamente
com medicamentos que atuam no sistema nervoso central (benzodiazepínicos, barbitúricos,
narcóticos, alguns antidepressivos e álcool) (GONÇALVES, 2019).
USO RACIONAL - A toxicidade de fitoterápicos tem se tornado um sério problema de saúde
pública, isso porque, além de causar reações adversas pelos seus próprios constituintes, promove
interações com alimentos ou medicamentos, sendo fundamental a orientação direcionada ao uso ra-
cional. O entendimento do uso racional de medicamentos está pautado no processo que compreende
a prescrição apropriada, a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis, a dispensação em condições
adequadas e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado,
de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade (TAVARES, 2012).

201
UNICESUMAR

Figura 5 - Representação da alimentação como um medicamento

Descrição da Imagem: : A imagem representa como a alimentação correta pode ser considerada um tratamento. Nela temos uma
cápsula verde no canto direito da imagem, que está entreaberta e nela está sendo inserida inúmeros alimentos que, da direita para
esquerda, aparecem na imagem: Uma maçã verde, um repolho verde, um coco aberto com interior branco e extremidades marrom,
três raízes de gengibre, uma goiaba aberta com interior vermelho, um filé de peixe alaranjado cortado, um tomate vermelho, uma
cebola roxa, um abacate cortado ao meio com interior amarelo, um morando, um alho branco, uma cebola cortada, uma laranja, um
ramo de brócolis, dois caules de alho-poró, azeitonas e castanhas.

Entretanto, as dificuldades encontradas no sistema de saúde, aliado aos fatores como o baixo poder
aquisitivo, a falta de programas educativos em saúde para a população em geral, além de outros aspectos,
leva as pessoas a praticarem a automedicação, baseando-se em qualquer informação recebida por leigos
e que são tomadas como verdadeiras para o restabelecimento da saúde. Deste modo, a cultura popular
na utilização de plantas medicinais, trazida através dos tempos, corrobora no uso indiscriminado de
plantas medicinais dentro do contexto da automedicação, que é entendida como a utilização de me-
dicamentos sem prescrição, orientação e/ou o acompanhamento. Deste modo, em setembro de 2003,
segundo o Relatório Final da 1.ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica
(Brasília-DF), evidenciou as propostas sobre o uso de fitoterápicos, considerando-se a necessidade de
políticas que considerassem o aconselhamento do seu uso correto, evitando o desenvolvimento dos
efeitos indesejáveis (TAVARES, 2012; FILHO; CECCONI; ZANCHETT, 2021).

202
UNIDADE 9

Figura 6 - Representação do risco toxicológico em crianças

Descrição da Imagem: a imagem representa o risco elevado de intoxicação em crianças. Na imagem aparece uma menina com cabelos
longos coloração castanho claro e com tranças, com uma blusa vinho. A menina aparece no centro da imagem com uma cartela na sua
mão esquerda com cinco comprimidos alaranjados ainda na cartela e um comprimido na sua mão direita indo em direção a sua boca.

O risco é definido como a probabilidade de ocorrer um efeito adverso, com base na exposição
e potência de um ou mais agentes tóxicos expostos. A determinação do risco de intoxicação é
calculada por meio de estudos de avaliação ou monitoramento da exposição aos agentes poten-
cialmente danosos, tendo como interface de pesquisa a ótica ambiental e biológica. Dentre os
fatores, que podem influenciar no quadro de intoxicação, a idade dos indivíduos expostos ganha
destaque. Crianças e idosos são considerados grupos mais susceptíveis a intoxicação, quando
expostos a um agente sabidamente tóxico (OGA, 2021).
As crianças têm características que as tornam mais susceptíveis aos acidentes tóxicos, des-
tacando-se a imaturidade física e mental, a inexperiência e a incapacidade para prever e evitar
situações de perigo, a grande curiosidade e motivação em realizar tarefas, deste modo, acidentes
na infância constituem um sério problema de saúde pública no mundo. As intoxicações exógenas
envolvendo crianças menores de cinco anos são frequentes no mundo inteiro e podem responder
por, aproximadamente, 7% de todos os acidentes, dos quais 2% evoluem para óbito infantil. Nos

203
UNICESUMAR

países desenvolvidos, as intoxicações exógenas constituem a principal causa de mortalidade nas


crianças acima de um ano de idade. Além disso, os acidentes não fatais representam um impor-
tante custo para os sistemas de saúde (KLAASSEN; WATKINS, 2012).
Agora, vamos analisar as principais interações entre os fitoterápicos e alimentos.

Interações entre Fitoterápicos e Alimentos - O uso de medicamentos de origem vegetal ou de


plantas medicinais, assim como medicamentos alopáticos, está sujeito a interações com alimentos,
podendo reduzir a absorção do próprio princípio ativo, como também de nutrientes essenciais.
Como já foi abordado anteriormente, os fitoterápicos são constituídos por uma mistura complexa
de vários compostos químicos, o que torna a previsão de interações mais difícil de identificar.
Alguns fitoterápicos podem diminuir a absorção de sais minerais, como o ferro e cálcio, o que
pode gerar uma deficiência alimentar (COSTA, 2017).
Uma alimentação equilibrada e variada possibilita a manutenção da saúde, pois proporciona
os nutrientes necessários e os compostos bioativos que podem reduzir os riscos de doenças. Os
alimentos ou ingredientes que aleguem propriedades funcionais básicas produzem efeitos me-
tabólicos e/ou fisiológicos, que devem ser consumidos de forma segura sem supervisão médica.
Alguns compostos minerais presentes nas plantas possuem um papel preventivo no combate de
doenças, entretanto, o desequilíbrio eletrolítico pode ser tóxico ao organismo, principalmente
de magnésio, zinco, manganês e selênio, uma vez que atuam em importantes vias metabólicas
(POLACOW, 2020; FILHO; CECCONI; ZANCHETT, 2021).

204
UNIDADE 9

Figura 7 - Representação dos riscos à saúde das interações

Descrição da Imagem: A imagem representa os riscos à saúde das interações alimentares. Nela tem-se uma tigela em formato de
coração na coloração marrom clara e, dentro dela alguns alimentos, como: três tomates vermelhos, quatro azeitonas verdes, um filé de
peixe alaranjado, cereais brancos, frutas rosas, cebola roxa, castanhas e tubérculos cortados. No fundo da imagem está em coloração
preta/cinza escura, e no meio da imagem, em branco, uma representação de um eletrocardiograma.

As interações entre nutrientes dependem, na sua maioria, dos hábitos alimentares do indivíduo, não
tendo grandes consequências clínicas se houver consumo de dieta equilibrada. O desequilíbrio no
consumo dos alimentos e o uso crônico de alguns fármacos devem ser considerados, pois podem
ocasionar algumas destas interações negativas (COSTA, 2017).
A ocorrência da interação depende da natureza física e química do medicamento, da formulação
na qual o medicamento é administrado, do tipo e volume da refeição, da ordem de ingestão do
alimento e medicamento, do intervalo de tempo entre alimentação e a administração do medi-
camento, da idade e estado nutricional do indivíduo (POLACOW, 2020).
Deve-se destacar também que com o aumento de doenças crônicas em grande parte da população,
aumentou também a procura por hábitos alimentares mais saudáveis. Uma das categorias alimenta-
res mais procuradas é a dos novos alimentos/ingredientes, substâncias bioativas, alimentos para fins
especiais e até mesmo medicamentos fitoterápicos derivados de alimentos (TAVARES, 2012).
As interações de alimentos atrasam o esvaziamento gástrico e reduzem a absorção de muitos fár-
macos; a quantidade total absorvida de fármaco pode ser ou não reduzida. Para garantir o uso eficaz
e seguro, é necessário identificar os possíveis riscos de interações a que estão expostos os indivíduos

205
UNICESUMAR

que fazem o uso concomitante desses compostos com tipos diferenciados de alimentos. Portanto,
agora vamos apresentar as principais interações entre fitoterápicos e alimentos presentes na Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) (TAVARES, 2012).
Sene (Senna alexandrina Mill) - Fitoterápico utilizado como laxante, interfere reduzindo a ab-
sorção de nutrientes dos alimentos.
Salgueiro (Salix alba L.) - Fitoterápico utilizado como antitérmico, anti-inflamatório e analgésico,
interfere reduzindo a absorção de ferro (POLACOW, 2020).
Psylium (Plantago ovata) - Fitoterápico utilizado para reduzir os níveis de colesterol circulante,
interfere reduzindo a absorção de cálcio (POLACOW, 2020).
Hortelã-Pimenta (Mentha piperita L.) - Fitoterápico utilizado para cólica e gases intestinais,
interfere reduzindo a absorção de ferro.

Figura 8 - Representação das folhas de hortelã

Descrição da Imagem: a imagem representa as folhas de hortelã. Nela tem-se várias folhas espalhadas sobre uma bancada cinza e
também dentro de um cadinho e o pistilo branco.

206
UNIDADE 9

Cascara Sagrada (Rhamnus purshiana D.C) - Fitoterápico utilizado para constipação intestinal,
interfere na absorção de nutrientes e alimentos (COSTA, 2017).
Alho (Allium sativum L.) - Utilizado com anticoagulantes orais como a varfarina, poderá aumentar
o tempo de sangramento, intensifica efeito de drogas hipoglicemiantes (insulina e glipizida), levando
a uma hipoglicemia (SIMÕES et al., 2007).
Alcaçuz (Glycyrrhiza glabra) - Pode desencadear possível quadro de pseudoaldosteronismo
por ação mineralocorticoide (caracterizado por retenção de sódio, cloro e água, edema, hipertensão
arterial e ocasionalmente mioglobinúria) (COSTA, 2017).
Após estas observações, fica evidente que o controle na utilização e prescrição dos fitoterápicos é im-
prescindível para controle dos efeitos adversos e toxicológicos, deste modo, resoluções examinadas, com
intuito de controlar essas prescrições, foram elaboradas na Resolução CFN 525/201314, recentemente
promulgada remete: “Regulamenta a prática da fitoterapia pelo nutricionista, atribuindo-lhe competên-
cia para, nas modalidades que especifica, prescrever plantas medicinais, drogas vegetais e fitoterápicos
como complemento da prescrição dietética e, dá outras providências” (BRASIL, 2013, on-line).
Essa medida foi necessária, uma vez que a prescrição de fitoterapia exige o domínio de um vasto
cabedal de conhecimentos e demanda cuidadosa análise do efeito terapêutico, avaliação de dosagem,
forma de apresentação, duração do tratamento, dos efeitos colaterais adversos, interações com medica-
mentos, outros fitoterápicos e alimentos, pois as interações desencadeiam efeitos duplicados, opostos,
alterações na absorção, no metabolismo e na excreção, ou seja, essas interações podem implicar toxi-
cidade, ineficácia do tratamento, deficiências nutricionais entre outras consequências (COSTA, 2017).

Figura 9 - Representação da prescrição de fitoterápicos

Descrição da Imagem: a imagem representa uma prescrição do fitoterápico. Nela tem-se uma pessoa com jaleco branco, camisa
azul e um estetoscópio no pescoço em dourado. Essa pessoa segura, com sua mão esquerda, um frasco branco de medicamento. Ao
lado direito da imagem, observa-se um copo de suco de laranja pela metade em uma mesa marrom, na sua frente uma fita métrica
verde com ponta amarela, ao fundo um limão amarelado. Atrás deste copo, uma tigela com frutas: um cacho de uva verde, uma maçã
vermelha, um pêssego vermelho e amarelo e um Kiwi marrom.

207
UNICESUMAR

Portanto, para a prescrição de fitoterápicos de forma segura, é imperioso que o profissional busque
capacitação específica para o desenvolvimento de conhecimentos e de habilidades com objetivo
de minimizar os potenciais riscos que sua utilização venha a trazer, garantindo sua eficácia sem
desenvolver os efeitos tóxicos ao organismo.

Após este capítulo, percebe-se a importância na utilização dos fitoterá-


picos no cotidiano e suas possíveis reações adversas, pensando nisso,
convidamos você para clicar aqui e ouvir o Podcast sobre a importância
destes conhecimentos apresentados no capítulo. Acesse o QR Code.

Ao terminarmos o estudo conceitual deste capítulo, esperamos que você tenha se conscientizado da
importância da análise e prescrição do fitoterápico no cotidiano das pessoas, assim, aqui vai o nosso
último desafio, que tal analisar quais fitoterápicos você ou alguém da sua família faz ou já fez uso e
levantar quais as possíveis interações ele teria, vamos lá?

208
Estamos quase prontos para finalizar esta unidade e preparar você para finalizar este livro, mas, an-
tes disso, esperamos que tenha compreendido as interações e potenciais tóxicos analisados nesta
unidade, então, convido você, aluno(a), a fazer um MAPA MENTAL, utilizando as seguintes palavras:
INTERAÇÕES, INTOXICAÇÃO, TOXICOCINÉTICA, TOXICODINÂMICA, USO RACIONAL, OMEPRAZOL,
PRESCRIÇÃO, ANTICOAGULANTE, SENE, GILSEN, GINKGO, ESTROGÊNIO, ALIMENTO, FITOTERÁPI-
COS, BOLDO, ALHO, HORTELÃ, VARFARINA, DÉFICIT FERRO, DÉFICIT NUTRICIONAL.

INTERAÇÕES ALIMENTARES

GINKGO
INTOXICAÇÃO ALHO

DÉFICIT
FARMACODINÂMICA NUTRICIONAL
ESTROGÊNIO

ANTICOAGULANTE USO RACIONAL HORTELÃ


FARMACOCINÉTICA

209
1. As análises de interação medicamentosa são imprescindíveis tanto no uso dos fitoterápicos
quanto na sua possível interação com os alimentos. Deste modo, avalie as seguintes asserções
e a relação proposta entre elas.

Produtos de origem vegetal apresentam, em sua composição, inúmeros metabólitos ativos


com potencial terapêutico, assim, devem passar por testes que comprovem qual sua dose
efetiva e tóxica

PORQUE

Mesmo sendo de origem vegetal, podem apresentar interações entre compostos ativos de
outras substâncias e também com alimentos ingeridos diariamente pelas pessoas.

A respeito das asserções, assinale a assertiva correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I.


b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

2. Assinale a alternativa que descreve corretamente a substância que possui este tipo de
interação:

“Composto promove redução do nível sérico dos fármacos quando associados, uma vez que
induz a concentração das enzimas hepáticas, em especial a CP450. Sua interferência ocorre
principalmente quando associado aos inibidores de protease”.

a) Ginkgo.
b) Hipérico.
c) Sene.
d) Alho.
e) Psyllium.

3. Assinale a alternativa que descreve corretamente a substância que possui este tipo de interação:

“Composto utilizado para reduzir os níveis de colesterol sérico, entretanto, interfere na ab-
sorção de cálcio”.

a) Ginkgo.
b) Hipérico.
c) Sene.
d) Alho.
e) Guaco.

210
4. Analise as afirmativas a seguir:

I) Intoxicação na fase farmacocinética ocorre quando há um aumento ou diminuição do efeito


do fármaco, devido ao sinergismo ou antagonismo.
II) A boldina encontrada no Bolso deve ser evitada em pacientes com problemas na coagulação,
uma vez que este metabólito provoca inibição da agregação plaquetária decorrente da não
formação do tromboxano A2.
III) A camomila possui cafeína em sua composição, que interage com a efedrina, podendo inter-
ferir em fatores cardiovasculares, levando a aumento da pressão arterial, risco de infarto e
ataque cardíaco.
IV) O Salgueiro é um fitoterápico utilizado como antitérmico, anti-inflamatório e analgésico, in-
terfere reduzindo a absorção de ferro.
V) A Resolução CFN 525/201314 regulamenta a prática da fitoterapia pelo nutricionista, atribuin-
do-lhe competência para prescrição.

Assinale a alternativa correta:

a) Apenas as alternativas I e III estão corretas.


b) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
c) Apenas as alternativas II, IV e V estão corretas.
d) Apenas as alternativas II e V estão corretas.
e) Apenas as alternativas I, IV e V estão corretas.

211
UNIDADE 1

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UNIDADE 9

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BRASIL. Resolução CFN nº 525, de 25 de junho de 2013. Regulamenta a prática da Fitoterapia


pelo nutricionista, atribuindo-lhe competências para, nas modalidades que especifica, prescrever
plantas medicinais e chás medicinais, medicamentos fitoterápicos, produtos tradicionais fitoterápi-
cos e preparações magistrais de fitoterápicos como complemento da prescrição dietética e dá outras
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217
UNIDADE 1

1. B. A farmacocinética contextualiza o “caminho” do fármaco após sua administração, seja por via
oral, parenteral ou outras vias. Sendo observado todas os interferentes neste processo que podem
alterar a concentração do fármaco diminuindo, cessando ou eliminando seu efeito, a farmacodi-
nâmica analisa os tipos de receptores no organismo que possuem afinidade aos fármacos, e esta
afinidade promove um efeito desejável ou não no organismo.

2. C. A biodisponibilidade é definida como a concentração do fármaco disponível para realizar seu


efeito após sofrer os processos farmacocinéticos de digestão, absorção e efeito de primeira pas-
sagem. A solubilidade do fármaco, bem como a via de administração, interfere diretamente na
biodisponibilidade e devem ser analisadas, uma vez que fármacos altamente lipossolúveis, quando
administrados por via oral, são melhores absorvidos, bem como a via de administração, uma vez
que fármacos injetáveis não sofrem efeito de primeira passagem e possuem alta biodisponibilidade.

3. C. Pois os fármacos administrados pela via injetável não sofrem efeito de primeira passagem, logo
não sofrem interferência na sua concentração administrada; os fármacos com alto volume de dis-
tribuição possuem maior capacidade de acúmulo, uma vez que o volume disponível no organismo
é limitado, deste modo, eles tendem a se acumular em tecidos como tecido adiposo, o que, a longo
prazo, é um fator de risco ao desenvolvimento da toxicidade do medicamento; fármacos na forma
ionizada não sofrem ou têm dificuldade na absorção.

UNIDADE 2

1. B. Ambas as respostas são verdadeiras, mas não se complementam por se tratar de assuntos
distintos. O sistema nervoso entérico (SNE) pode atuar de forma independente e foi, inicialmente,
reconhecido há mais de um século, quando os cientistas observaram a habilidade do SNE de rea-
lizar um reflexo independentemente do controle exercido pelo sistema nervoso central (SNC). Os
neurônios motores sofrem influência positiva e negativa. A parte excitatória é a acetilcolina, enquanto
os inibitórios são: óxido nítrico, embora, peptídeo intestinal vasoativo e, atualmente, sabe-se que
células enterocromafins dispersas por todo o epitélio do intestino liberam serotonina (5-HT) para
iniciar reflexos do intestino.

Fármacos que antagonizam os receptores muscarínicos da acetilcolina e consequentemente di-


minuem a secreção ácida gástrica. Entre os compostos tem-se a diciclomina. Estes medicamentos
são pouco utilizados, uma vez que seus efeitos são inferiores as duas classes já apresentados e os
efeitos adversos são: boca seca, visão turva, arritmias cardíacas e retenção urinária

218
2. D. Antidepressivos: Classe mais eficaz no tratamento da síndrome do Cólon irritável devido suas
propriedades neuromoduladoras e analgésicas, independentes do seu efeito antidepressivo. Os
antidepressivos tricíclicos têm uma longa história de eficácia comprovada no tratamento da dor
visceral “funcional” crônica. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina têm menos efeitos
adversos e têm sido recomendados especialmente para os pacientes com constipação funcional,
porque podem aumentar os movimentos intestinais e até mesmo causar diarreia.

3. D. A secreção gástrica sofre efeito positivo aumentando sua secreção (histamina, gastrina e ace-
tilcolina) e efeitos negativos (prostaglandinas), e o desequilíbrios destes agentes está relacionado
ao desenvolvimento de condições como: Úlceras péptica, refluxo gastroesofágico). Citoprotetores,
aumentam os mecanismos endógenos de proteção da mucosa e/ou proporcionam uma barreira
física sobre a superfície da úlcera. Os agentes que promovem a defesa da mucosa são utilizados
para alívio sintomático da doença ulcerosa péptica. Quelato de bismuto e Sucratos fazem parte
desta classe). A domperidona antagoniza, principalmente, o receptor dopaminérgico D2, sem afetar
significativamente os outros receptores. É usada por aumentar a pressão no esfíncter esofágico
inferior (desse modo, inibindo o refluxo gastroesofágico), aumenta também o esvaziamento gástri-
co e o peristaltismo duodenal. É útil em distúrbios do esvaziamento gástrico e no refluxo gástrico
crônico. A metoclopramida estimula a motilidade gástrica, provocando acentuada aceleração do
esvaziamento gástrico. É útil no refluxo gastroesofágico e em distúrbios do esvaziamento gástrico,
mas é ineficaz no íleo paralítico, deste modo, úteis no tratamento do vômito). Probióticos: o trato
GI contém ampla flora comensal necessária para a saúde. Alterações no equilíbrio ou composição
desta flora são responsáveis pelas diarreias associadas ao uso de antibióticos e, possivelmente,
outras doenças. Preparações probióticas contendo uma variedade de cepas bacterianas mostraram
algum grau de benefício nas diarreias agudas, diarreias associadas a antibióticos e diarreias infec-
ciosas, mas a maioria dos estudos clínicos foi pequena e por isso as conclusões são limitadas). Os
glicocorticoides são potentes anti-inflamatórios, utilizados no tratamento das doenças intestinais
inflamatórias; os fármacos de escolha são em geral prednisolona ou budesonida (embora outros
possam ser usados). São dados por via oral ou localmente no intestino por supositórios ou enemas.
Os glicocorticoides são úteis para as crises agudas de doenças inflamatórias intestinais, não são
ideais para o tratamento de longo prazo (em razão de seus efeitos colaterais).

UNIDADE 3

1. C. Mais comum em crianças, adolescentes ou adultos jovens, mas algumas formas latentes podem
ocorrer mais tardiamente. A doença é caracterizada por deficiência absoluta de insulina devido à
destruição das células β (FUCHS; WANNMACHER; FERREIRA, 2010). A predisposição genética ao
diabetes tipo 1 está fortemente mapeada nos loci do antígeno leucocitário humano (HLA), também
conhecido como complexo principal de histocompatibilidade (CPH), que codifica proteínas envolvidas
na apresentação de antígenos. Outros loci genéticos contribuem fracamente para o diabetes tipo
1 (GOLAN et al., 2014).

2. E. As sulfonilureias são Fármacos classificados como secretagogos de insulina, pois promovem a libe-
ração de insulina das células β do pâncreas porque as biguanidas não atuam em glut4 no pâncreas.

219
3. A. A conversão de HMG-CoA a ácido mevalônico é uma das etapas mais importantes da síntese de
colesterol, sendo mediada pela enzima HMG-CoA redutase. Deste modo, os medicamentos desta
classe, como Sinvastatina, Lovastatina e a Pravastatina, são inibidores competitivos, específicos e
reversíveis da HMG-CoA redutase. A inibição da HMG-CoA redutase resulta na ativação da proteína
de ligação dos elementos reguladores de esterois 2 ou SREBP 2, este é considerado um fator de
transcrição regulatória dos receptores de LDL. Este aumento na expressão dos receptores de LDL,
resulta no aumento da sua captação intracelular e, consequentemente, diminuição da concentração
circulante.

4. C. Os fibratos Classe relacionada a redução acentuada da lipoproteína VLDL e, consequentemente


dos níveis séricos de triglicerídeos e LDL, e aumento do HDL. Apresenta mecanismo de ação com-
plexo como aumento da transcrição das lipoproteínas lipase, APOA1, e APOA5 que apresentam
como função a captação hepática do LDL.

UNIDADE 4

1. C. O hipertireoidismo de Graves é considerado autoimune, uma vez que ocorre a síntese de um


anticorpo que “imita” a ação do hormônio hipofisário TSH, deste modo, ocorre o estímulo incessante
da tireoide, resultando no aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos.

2. D. A síndrome de Cushing apresenta os níveis de cortisol elevado à meia-noite e a falha na supressão


após a administração de dexametasona sustentam o diagnóstico. O Resultado dos níveis elevados
de ACTH indica a causa de um tumor da hipófise.

3. E. Na letra “a”, o hipotálamo é considerado o centro integrado dos sinais; na letra “b”, o estímulo ocorre
na adenohipófise; na letra “c”, excesso de cortisol é conhecido como síndrome de cushing, a síndro-
me de addison é a deficiência do cortisol; e na letra “d”, aumentam as proteínas desacopladoras.

4. A. A classificação dos hormônios quanto sua estrutura química interfere diretamente no tempo de
ação e, consequentemente, tempo de resposta à célula-alvo.

5. C. Análogos da dopamina é um fator hipotalâmico que estimula a liberação de GH pelos soma-


totrofos em condições fisiológicas; porém os pacientes com acromegalia podem exibir diminuição
paradoxal da secreção de hormônio do crescimento em resposta à dopamina. Baseado neste efeito,
os análogos da dopamina, bromocriptina e cabergolina, são, algumas vezes, utilizados como agentes
adjuvantes no tratamento de acromegalia.

220
UNIDADE 5

1. E. Mesmo as crianças apresentando uma taxa metabólica superior à dos adultos, elas apresentam
risco ao desenvolvimento da obesidade e devem ter um controle alimentar condicionado à fase
de crescimento.

2. B. O mecanismo da sibutramina é inibir a recaptação da serotonina e norepinefrina nos centros


hipotalâmicos que regulam a fome, obtendo como principal efeito a redução da ingestão alimentar
e, consequentemente, perda de peso.

3. A. As assertivas I e III estão corretas. Assertiva II incorreta, uma vez que indica que a Dopamina
estaria envolvida no mecanismo de ação da sibutramina, mas, no caso, o correto seria serotoni-
na;assertiva IV incorreta, uma vez que a obesidade pode ser fatal: essa frequentemente coexiste
com distúrbios metabólicos e outros (particularmente a hipertensão, hipercolesterolemia e diabe-
tes tipo 2), compreendendo todas as síndromes metabólicas. Isso acarreta um elevado risco de
afecções cardiovasculares, AVCs, cânceres (particularmente dependentes de hormônios), doenças
respiratórias (particularmente a apneia do sono) e problemas digestivos, além da osteoartrite).
Assertiva V incorreta, uma vez que descreve o estágio de contemplação e, na assertiva, afirma ser
o estágio de preparação.

UNIDADE 6

1. E. Apenas uma parte dos fármacos possuem ação excitatória no sistema nervoso central, uma vez
que possuímos medicamentos inibitórios.

O mecanismo descrito de entrada de cloreto deixa a célula hiperpolarizada, deste modo, dificulta
a propagação do impulso, sendo mecanismo de fármacos inibitórios.

2. C. O mecanismo da Carbidopa está relacionado à inibição da enzima DOPA CARBOXILASE, assim,


aumenta concentração de dopamina no SNC.

3. B. Assertiva I está incorreta, uma vez que os benzodiazepínicos promovem a entrada de cloreto e
não a saída, como está descrito na afirmativa; Assertiva III está incorreta uma vez que a via glutama-
térgica é pouco utilizada em decorrência dos inúmeros efeitos adversos que promove; e assertiva V
está incorreta, uma vez não se utiliza a associação dos antidepressivos MAOs com nenhuma outra
classe em decorrência dos efeitos adversos graves provocados.

4. A. Na tolerância medicamentosa ocorre uma diminuição do efeito de uma medicação por exposição
excessiva do paciente ao seu princípio ativo, necessitando, assim, de dosagens cada vez maiores do
mesmo medicamento para se obter os mesmos resultados comumente relacionados às dosagens
padrão.

221
UNIDADE 7

1. E. Primeira asserção incorreta: método Soxhlet demanda equipamentos específicos e com alto
custo. Segunda asserção incorreta: extração de materiais moles é método de infusão.

2. A.

3. C. Assertiva I incorreta: esta descrição faz referência à obtenção do material e não do fracionamento
como descrito. Assertiva III incorreta: método de infusão é um sistema quente aberto e utilizado
para extração de materiais moles.

UNIDADE 8

1. A. O conhecimento das fases de exposição é fundamental, a fase clínica ocorre quando há surgi-
mento dos sintomas após a exposição do agente tóxico sendo determinante no tratamento e na
conduta clínica.

2. C. A alternativa retrata a reposta correta.

3. E. Assertiva II incorreta: essa descrição faz referência a agente tóxico e não a xenobiótico como na
assertiva. Assertiva III incorreta: a descrição da assertiva é de uma intoxicação aguda e não crônica
como descrita na assertiva.

UNIDADE 9

1. A. Os medicamentos fitoterápicos apresentam princípios ativos e são utilizados em inúmeros casos


no tratamento de condições clínicas, sendo prescritos para isso. Assim, o seu estudo e acompanha-
mento devem ser analisados igual aos medicamentos alopáticos, uma vez que também apresentam
efeitos adversos e interações.

2. B. Hipérico é o composto que promove redução do nível sérico dos fármacos quando associados,
uma vez que induz a concentração das enzimas hepáticas, em especial a CP450. Sua interferência
ocorre principalmente quando associado aos inibidores de protease.

3. E. Guaco é o composto utilizado para reduzir os níveis de colesterol sérico, entretanto, interfere
na absorção de cálcio.

4. C. Assertiva I incorreta: Esta descrição faz referência a fase FARMACODINÂMICA; assertiva III incor-
reta: a descrição da assertiva é da interação do CHÁ VERDE.

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