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Epígrafe

Playlist
Sinopse
PARTE UM
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
PARTE DOIS
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESEIS
CAPÍTULO DEZESETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
PARTE TRÊS
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
EPÍLOGO
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VEM AÍ
“O CEO BILIONÁRIO RENDIDO PELA ADVOGADA DA SUA

EMPRESA E FUTURA MÃE DO SEU BEBÊ”

Sebastian Collins não teve o melhor exemplo de família.


Gêmeo mais velho, herdeiro de uma família tradicional e influente,

passou quase dez anos privado da liberdade e quando finalmente a


tem: se relacionar é a última coisa que passa em sua mente. Só que

tudo muda quando em uma única noite ele se aproxima da ex-


namorada do seu cunhado, e advogada da sua empresa.

Alexandra é a mulher por quem Sebastian nunca deveria se

apaixonar. Bom, pelo menos é o que ela acredita...

Só que em uma festa da empresa, eles acabam juntos e


muda o caminho dos dois para sempre.
Alexandra Johnson é filha mais velha de uma família

desestruturada, e uma mãe que bagunça tudo que toca, então,


naturalmente se vê como o problema em todas as situações. E

quando ela aparece grávida do seu chefe, começa a questionar


tudo, principalmente, o que as pessoas vão falar sobre ela quando

descobrirem.

Eles são opostos, mas pelo bebê em seu ventre, vão ter que
fazer dar certo.

O problema: a atração inegável que os une.


Inspirei fundo, começando a contagem regressiva

novamente, repetindo a série de exercícios físicos como se aquilo


fosse uma cura para as coisas que se passavam em minha

memória. Merda! Eu sabia que voltar ao meu estado normal dentro


de uma sociedade levaria tempo.

Fiquei a porra de quase dez anos preso naquele lugar.


Tomando remédios que não me faziam bem, muitos deles não

tomava, pois não estava louco como todos pensavam e nem tinha
nenhuma porcaria de problemas com drogas.

Senti meus braços doendo conforme aumentava o ritmo e

deixei que cedessem quando falhei, não conseguindo prosseguir, e


que meus pés alcançassem o chão, deixando para trás a barra de

ferro na qual eu fazia as flexões.

Lembrei-me de Maggie e de como vi sua vida voltar ao eixo,


depois de tudo que nos atingiu. Era intenso pensar que minha

irmãzinha sofreu por apenas um erro meu, mas, finalmente, a vida


foi justa com ela. Dando tudo que ela merece.

Tinha até sobrinhos agora! Duas pequenas bolinhas com


cheirinho agradável de bebê. Heitor e Mel, meus anjinhos que,

graças a Deus, nasceram há pouco menos de quatro meses.

Com toda certeza, não havia tio mais babão do que eu. Ver
Maggie e Hunter formando sua família, sendo felizes, apesar de

tudo que aconteceu dez anos atrás, é a minha recompensa. Mesmo


que ainda sentisse, dentro de mim, algo queimar, quebrado,
ardendo.

Meu celular tocou alto, tirando-me dos meus devaneios, e


corri para atendê-lo, vendo o número de mamãe brilhar na tela.
Madelyn Collins odiava celulares e tecnologia, então, para estar

utilizando, deveria ser algo importante.

Atendi.

— Oi, como ele está?


Eu a ouvi suspirar.

— Agora, estabilizou. Estou ligando apenas para avisar que o


médico disse que ela ficará assim por todo o tempo, Sebastian. Não
há mais como reverter o quadro do seu pai; ele só ficará sofrendo.
— Mais um dos motivos que tiravam minha paz.

Arnold Collins podia ser o que fosse, mas, ainda assim, era
meu pai. Eu não queria perdê-lo.

— Avisou a Maggie?

— Sim, ela chorou tanto, tadinha. — Sim, eu sabia que minha


irmã era a que mais sofria naquela situação. Passou tanto tempo

longe e logo quando voltava, a situação estava um caos. — Vá para


casa, dorme um pouco, descanse — disse, como se lesse minhas
entrelinhas, sem nem menos me ver.

— OK, amanhã cedo passo aí. — Fecho os olhos, cansado.


— Te amo.

— Também te amo, querido.

Finalizei a ligação e encaro a tela do celular, com minha


mente vagando entre o antes e o depois. Éramos uma família
normal até meus dezessete anos, só que tudo virou do avesso
desde então. E parece cada dia mais longe de estarmos nos trilhos.
Abri a porta da minha sala, no nono andar do enorme prédio

onde o Grupo Collins estava localizado, sabendo que uma das


maiores empresas do ramo da engenharia mecânica está em meus

cuidados, eu trabalho aqui há quase um ano lidando com as


obrigações trabalhistas para contratação e demissão de
funcionários, o auxílio em relação a tributos e muito mais para o

bom funcionamento da empresa com total segurança.

Foi com esse pensamento que me sentei na cadeira,

observando a sala com demasiado cuidado. O lugar foi decorado


praticamente por mim, com as imagens de Amber, Skyler e Hannah

espalhados pelo local.


Um quadro pintado propriamente por minha meia-irmã mais

nova, Amber, simplesmente me transportou para tudo que mais


amo, aquele lugarzinho no meio do nada, onde sei que poderei ir

caso o mundo começasse a desmoronar. A fazenda em que elas


insistiam em morar, apesar de todas as lembranças que

despertavam em nós duas.

Suspirei e me afundei na cadeira, com a cabeça doendo,


como um aviso de que o dia seria cheio. Acabei por dormir muito

tarde na noite anterior, analisando alguns processos que estavam


em minhas mãos, sabendo que precisava dar uma resposta aos

clientes do meu escritório fora da empresa.

Trabalhava lá há mais de dois anos, desde quando conheci

Jennifer Wright e montamos um lugar para trabalharmos juntas e


dar continuidade às nossas carreiras. Jenner já era formada quando
a conheci, só que eu estava apenas começando, pelas beiradas, a

construir meu próprio mundo.

Diferente de tudo que já falaram sobre mim, nunca precisei


da ajuda de ninguém quando se tratava da minha vida profissional.

Fui autossuficiente em cada passo. Meu primeiro emprego. Meu


apartamento. Meu diploma. Tudo foi recompensa do meu próprio
suor, nada veio do nada.
E, diferente de tudo que aquele imbecil disse, nada veio de
um homem. Absolutamente nada. Nenhum homem precisou se

sacrificar para saciar os meus desejos. Passei quase toda minha


juventude tendo que decidir entre um capricho por algo material ou
meu futuro, aquilo que realmente poderia me dar um bônus mais
tarde.

E mamãe, hoje, enchia a boca para falar sobre quem me


tornei. Se gabando por ser uma ótima advogada, por ganhar bem
em minha profissão. Kaylee Johnson tinha um péssimo hábito de

não saber controlar o próprio dinheiro. O que quase sempre me


dava problemas.

Era irreal demais que papai tivesse ido e me deixado com


ela. E deixado Amber, ainda pequena, nas mãos de uma mulher tão

descontrolada.

Suspirei, vendo o celular vibrar sobre a mesa, e desbloqueei


a tela. Notando que se tratava de uma mensagem da minha irmã,

abri, vendo seus cabelos escuros jogados na lateral do rosto e o


bico, imitando um beijo, com o rosto colado à bochecha de Skyler,
que tinha um sorriso enorme nos lábios.

A garotinha de apenas cinco anos era o mundo de Amber. Já


a vi chorar e rir por ela, prometer que mataria e morreria pela filha,
de quem ela cuida sozinha, pois o pai foi um imbecil que abandonou
as duas, com minha irmã ainda grávida.

Era claro que Amber mantinha um sentimento de quase ódio


por Patrick, e eu compartilhava isso. Sabendo que, se um dia meu
caminho se cruzasse com o dele, não hesitaria em usar tudo que

aprendi na autodefesa, só que para o mal.

Respondi rapidamente o bom-dia em alto astral, com o


sorriso se estendendo em meu rosto.

A porta do meu escritório abriu levemente, e Carly colocou a


cabeça para dentro, sorrindo de orelha a orelha.

— Bom dia, Alex! — a senhora baixinha e roliça me saudou.

— Bom dia, Carly. Como foi o feriado?

— Ah, maravilhoso. Fiz uma faxina em casa. — Não evitei a


careta ao vê-la se curvar ao indicar dores nas costas. — E ainda saí
para beber com as amigas. Deveria fazer o mesmo, Alex. — Piscou,
me fazendo rir.

— Qual é meu primeiro compromisso? — Ela balançou a


cabeça, descontente com minha brusca mudança de assunto.

— Reunião com os acionistas às nove. O senhor Collins

pediu que comparecesse à sala dele logo às onze horas para tratar
sobre a reunião, já que ele não estará junto. — Balancei a cabeça
em concordância. — E ao happy hour de sexta-feira, que já está na
sua agenda desde então.

Balancei a cabeça em negação, rindo. Me divertia com minha


secretária tentando me fazer ir às festas da empresa, que ela
mesmo adorava. Carly não era mais nenhuma jovem, na verdade,

beirava os cinquenta anos, tinha dois filhos e era separada do


marido.

Porém, o astral da mulher era comparável ao de um jovem de


dezoito anos. Não perdia um convite para festas e batia ponto em

todas. O que, para mim, era muitíssimo divertido, devido ao fato de


que não tinha coragem nem de levantar meu pé do sofá no fim de
semana.

— Obrigada, Carly, vamos tomar um café no fim do


expediente, hein?! — Ela bufou, a contragosto, me fazendo rir.

— Garotinha que não sabe se divertir. — Me lançou um olhar

decepcionado. — Olha só, tão linda. Para que serve uma idade tão
boa, lindos olhos e uma beleza incomparável se não sai nem para
tomar uma cervejinha?!
E a escutei resmungando por todo o corredor. Caminhei para
fora da sala, prendendo o riso, carregando comigo minha caderneta
e o celular, fechei a porta em minhas costas, vendo que Susan
estava parada na porta da sala de reuniões.

Inspirei fundo e caminhei em direção a ela, sabendo bem que


seria, no mínimo, uma tortura ter uma reunião ao lado da ruiva. Ela,
hoje, estava vestida com uma saia lápis marcando o corpo
curvilíneo, lábios com um gloss clarinho e uma blusa social bem

alinhada.

Ela me olhou por cima do ombro e sorriu.

— Alex! — saudou, me fazendo respirar fundo. — Não sabia


que ainda estava trabalhando no grupo, pensei que já havia sido
demitida.

Sorri de lado.

— Graças a Deus, o senhor Collins sabe escolher bem seus


funcionários. — Ela riu.

— Sebastian é um amor, isso é verdade. E muito bonito,


devemos acrescentar. — Meus olhos se tornaram apenas pequenas
frestas e me virei rapidamente ao ver que seus olhos estavam sobre
o meu superior, que caminhava em direção ao elevador sem
perceber que nós o encarávamos de forma quase analítica.

O homem era realmente uma coisa boa de se olhar, meu


subconsciente murmurou, e eu balancei a cabeça, focando nas
coisas que realmente me importava. A reunião. Meu emprego. A
reunião.

Sebastian Collins era simplesmente maravilhoso. Com toda a


certeza, porém, estava em um nível acima, fora do alcance. Além do
mais, já tive minha cota de problemas nesta vida, me enrolar
novamente não é algo que venho desejando.

A reunião foi cansativa, como eu imaginava. A única coisa

que aliviava era o fato que seria a porta-voz de Sebastian naquele


momento, e até Susan deixou de ser menos hostil e me tratou

melhor. Suspirei, entrando no setor onde ficava apenas a sala da


presidência, vendo a secretária do senhor Collins sentada bem

descansada em sua mesa, com o barulho do joguinho saindo do


celular enquanto parecia bem complementada em tudo.

Segurei o sorriso.
— Bom dia — cumprimentei, parando ao seu lado. — Gosto

desse jogo. A fase mais difícil é a 40 — indiquei, apontando para a


tela do celular, enquanto ela abria e fechava a boca, com vergonha.

— O senhor Collins já está? Tenho uma reunião com ele.

Ela continuou fazendo aquele negócio de abrir e fechar a

boca. Atitude que me fazia rir, até que ela pareceu bem mais
recomposta e conseguiu dizer que eu poderia entrar. Pisquei um

único olho em tom de brincadeira e caminhei em direção à porta de

madeira. Bati duas vezes e escutei a resposta grave de que poderia


entrar.

Assim o fiz, espiando a sala ampla, com as janelas de vidro,

que dava vista para Nova Iorque em pleno vapor. Era horário de

pico e, como quase todo o dia, os carros iam e vinha na velocidade


da luz.

— Bom dia, senhor Collins. — Alisei minha saia

disfarçadamente, sorrindo de lado.

Sebastian era um homem bonito, alto, dos ombros largos,

cabelos loiros e sorriso aberto. Só que eu sabia que, por trás de

uma boa gestão, sorrisos amigos e uma beleza imaculável, havia


um passado quase sombrio. Havia pegado alguns documentos

comprometedores dele assim que entrei na empresa, com cada


detalhe sórdido do que acontecera aos irmãos Collins. Ele e

Margareth Collins eram gêmeos, consequentemente, muito ligados.


Tudo aquilo era de partir o coração. Porém, isso é história para outro

momento.

— Alex, bom te rever. — Engoli em seco por tamanha

simpatia. — Sente-se, vamos conversar sobre a reunião.

Indicou a cadeira à frente da mesa. Me sentei, sentindo

minhas pernas meio que vacilarem. Geralmente, eu era uma mulher


cheia de mim e não deixava que as pessoas vissem que estava com

medo ou nervosa. Só que, convenhamos, sou apenas mais um dos


vários empregados nessa empresa e, apesar do meu bom currículo

garantir que consiga um novo emprego com facilidade, não é algo


com que posso brincar.

Meu celular tocou alto, me fazendo xingar em pensamento


enquanto o pegava dentro do bolso do meu casaquinho, vendo o

nome de Kaylee, minha doce e amável mãe, piscar na tela. Engoli


em seco, pensando se atendia ou não.

— Pode atender — Sebastian interveio por ver a indecisão


em minha reação.
— Com licença, é importante. — Eu sabia que,

provavelmente, não era tão importante assim, mas era Kaylee


Johnson, sabia que, se não atendesse, ela ligaria mais uma, duas,

três e quantas vezes fossem necessárias.

Me afastei, atendendo ao telefone enquanto encarava a vista

da cidade.

— Oi.

— Filha! Que bom que atendeu. — Não, não era nada bom.

— Estou chegando em Nova Iorque, irei para seu apartamento.


Preciso passar um tempo com você para conversar sobre aquele

negócio que lhe falei.

Fechei os olhos com força, mordendo o lábio inferior. Merda,

merda, merda. Eu não ia dar mais dinheiro para a maldição de

cirurgia plástica nenhuma, resmunguei, cansada de toda a merda


que ela sempre me trazia.

— OK, mamãe, estou no trabalho, preciso desligar. — E

finalizei, sem obter resposta, me virando rapidamente para

Sebastian, que mantinha os olhos sobre o notebook aberto. —


Desculpe, podemos continuar — murmurei, envergonhada por esse

tipo de coisa, e dei continuação a reunião, esclarecendo todos os


pontos que os acionistas discutiram em reunião, tentando controlar
o nervosismo em meu corpo, sem saber se era por causa de Kaylee

ou por causa de Sebastian.

Preferia pensar que isso se referia à minha mãe. Era mais

fácil de resolver.
— Johnson — a voz grave e baixa disse em minhas costas.

Segurei a taça de champanhe com mais força, sentindo minhas


pernas instáveis, e virei rapidamente, dando de cara com Sebastian

Collins, vestido ainda no seu habitual terno de trabalho, com um


sorrisinho de canto e os olhos nublados, meio incertos. Ele deveria
ter bebido algo. — Pensei que fugiria da festa igual a todas as

outras.

Engoli em seco, não acreditando que havia realmente

aceitado o convite de Carly e vindo a essa festa. A verdade é que


tentava adiar o momento de chegar em casa a todo custo. Não

queria ter que sorrir e ser a boa filha enquanto tudo que ela me
devolvia era decepções.
— Eu venho às festas. — Não eram estas as palavras que

gostaria de falar. Queria apenas dizer que sim, fazer a linha


educada, e não a que sai resmungando que vai às festas como uma

criança mimada, sabendo bem que, desde que começou a trabalhar,


nunca havia ido a um happy hour da empresa. Um saco, como Carly

costumava falar.

Ele riu.

— Não, Alex, você odeia as nossas festas. Foge de

completamente todas. — Ele se sentou na banqueta em minha


frente, dividindo a pequena mesinha redonda do bar onde estamos

comemorando mais um contrato fechado.

Nem sabia por que aceitei vir. Era apenas uma advogada,
analisava contratos, fazia alguns trabalhos além disso, mas a
questão é que não havia por que comemorar um novo cliente, não

era obrigação minha conquistá-los. Suspirei, afundando no estofado


e deixando meus ombros caírem. Minha calça jeans não era tão
justa no corpo, e a camiseta que havia vestido era um pouco maior
do que o normal, coberta por uma jaqueta preta, que ainda me

lembrava de como era me arrumar devidamente para um dia de


trabalho.
Os dias vinham sendo um caos. Kaylee estava em casa e
isso significava que minha vida toda estava de cabeça para baixo

pelo simples fato de que minha mãe nunca conseguia estabilidade.


Dessa vez, o dinheiro que precisava para pagar a reforma nova em
sua casa não sairia de mim.

Não mesmo, pensei, bebendo o champanhe em um único


gole. Só percebi que Sebastian ainda estava na mesa, me
observando atentamente, quando riu do meu ato, achando tudo
muito engraçado.

— O que foi?

— Nada. — Deu de ombros. — Está muito bonita hoje, Alex

— meu superior disse, sorrindo casualmente, enquanto se


encostava completamente relaxado. Eu sabia bastante daquela
família desde quando um documento errado caiu em minhas mãos.

Namorei o seu melhor amigo e terminamos pouco antes de


ele assumir o relacionamento com Maggie Collins, irmã de
Sebastian. Conversei com Maggie poucas vezes e, infelizmente,
não conseguia sentir raiva pelo fato de que esteve com meu
namorado enquanto ainda estávamos juntos.
Tinha plena certeza de que havia sido corna, mas isso não
me afetava. O relacionamento com Hunter era bom, não havia
dramas, ele era um homem prático e controlado. E isso era o que eu
precisava. Nada que me tirasse do eixo.

E ficava feliz por ver que se amavam de verdade, apesar de

que, depois do término, minha vida parecia estar virando de cabeça


para baixo.

Inspirei fundo, querendo fechar os olhos por meros instantes

e poder ser outra pessoa.

— Ser ignorado não é legal — Sebastian resmungou, como


uma criança. Abri os olhos, sorrindo de lado.

— Desculpe, não estou em meu melhor momento.

Encolhi os olhos. Ele riu.

— Vamos, tome algo mais forte, tudo que vai conseguir com
esse champanhe é uma sensação de instabilidade e pensamentos
ruins. Com mais álcool, você vai ficar mais alegre. — Ele balançou a
mão para um dos garçons do bar que havia sido fechado apenas
para a pequena festinha da empresa.

Suspirei, batendo contra a cabeça na mesa de madeira, me


sentindo meio ridícula no momento. O escutei pedir duas doses de
uísque e nem mesmo disse que odiava a bebida, apenas deixei que
fosse.

— Posso saber por que está com cara de quem vai surtar a
qualquer momento?

Levantei o olhar, dando de cara com um sorriso de lado de


Sebastian.

Sabia o que todos na empresa pensavam sobre ele. Que era


um bom líder, competitivo, aberto às novas ideias e de que a
companhia dos Collins estava em boas mãos, agora que o patriarca
da família passava mais tempo no hospital do que em casa.

Pobre velho, mas sabemos que a vida não é sempre boa. E


que ele não era um santo. A maldade de separar os dois filhos e
renegar a filha sem ouvi-la primeiro estava sendo cobrada,
infelizmente.

O homem em minha frente tinha um passado, eu o conhecia,


e infelizmente isso me fazia sentir muito por ele. Era muito bonito
também, os cabelos loiros, espessos, caindo levemente sobre a
testa, o sorrisinho, os olhos verde-claros, a barba por fazer e o
corpo alto, definido, mas nada em exagero.

— Problemas em casa — respondi, evasiva.


Ele arqueou a sobrancelha.

— Sei que sabe de tudo sobre o meu passado, Alex, sei que
também é muito fechada para si, mas estou aqui, caso precise de
ajuda ou apenas para conversar. — Encolheu os olhos.

— Você não me parece o tipo de cara que oferece um ombro


amigo a uma mulher, Sebastian — resmunguei, desconfiada,
fazendo-o rir alto.

— Realmente, querida, mas há coisas que estou aprendendo,


meu psicólogo disse que seria bom praticar o amor ao próximo. —
Piscou, me fazendo sorrir e abaixar a cabeça.

A bebida foi trazida rapidamente, e não hesitei em pegar o


copo com a dose do uísque amarelado e o entornar. Senti o líquido
descer rapidamente, queimando de forma louca, e senti o efeito da
minha antecipação ser surtido rapidamente.

Tonta. Eu estava tonta.

— Eita, vai com calma — Sebastian brincou, enquanto eu

colocava o copo na mesa, limpando o canto dos lábios por causa do


batom vermelho e chamativo que usava.

Sorri de lado, ainda atordoada e com a garganta queimando

pela quantidade de álcool ingerido. Era amarga aquela merda! Eu


odiava quase todas as bebidas por esse motivo, as únicas que
ainda tomava eram champanhe e vinho. E convenhamos que isso é
o básico de uma vida.

— Obrigada pela bebida, mas isso é horrível. — Fiz careta,


fazendo-o rir.

— Feliz por vê-la entre nós, Alex, some quase sempre.

— Muita coisa para ser feita e resolvida. — Encolhi os


ombros, como se aquilo fosse uma desculpa decente.

Ele balançou a cabeça em concordância.

— Eu percebi. — Ele se colocou de pé, abandonando metade


da dose sobre a mesa, e estendeu a mão em minha direção. —

Dança comigo? — O pedido me fez olhar em volta, vendo que a


música cessou, iniciando uma versão remix de Waiting For Love, do

Avicii, fazendo as pessoas dançarem livremente, como se não


existisse mais nada ao redor.

Encolhi os olhos.

— Não danço bem — me desculpei, sorrindo. — Geralmente

começo a trocar os pés e acabo caindo.

Sebastian riu.
— Já eu, sou um ótimo dançarino. — Piscou, galanteador. —

Prometo guiar você.

Era a promessa que eu precisava. Juntamente da coragem

que o álcool adicionou em meu corpo, enlacei nossas mãos,


aceitando que Sebastian Collins me levasse para o meio das

pessoas dançando.

Ele segurou minha cintura e colou nossos corpos, fazendo

minha pele estremecer com o contato simples. Enlacei seu pescoço,


encarando um ponto abaixo do seu maxilar, precisamente sua

gravata, que estava meio folgada depois do expediente. Inspirei


fundo e, no momento seguinte, percebi que foi um erro.

O perfume invadiu todos os meus sentidos e, novamente,


parecia que estava adormecida em relação a suas mãos tocando a

base da minha coluna, enquanto ele fazia o que realmente


prometeu: me guiava.

— Merda. — O xingamento me fez levantar o olhar,


diretamente para expressão assustada de Sebastian, que mantinha

os lábios entreabertos, me fazendo perceber os quão cheios eram.

Abaixei a cabeça.
— Não tinha uma música mais apropriada — brinquei. Pouco

antes de me girar rapidamente, voltou-me em um puxão, chocando


contra o seu corpo, fazendo nossos corpos se colarem, pedaço por

pedaço, de forma quase indecente.

O ar faltou e senti minha respiração ficar pesada ao observar

os lábios de Sebastian, da mesma forma que ele me encarava,


parecendo levemente hipnotizado. Não estávamos bêbados o

suficiente para colocar a culpa na bebida quando seus lábios


traçaram os meus levemente, me fazendo estremecer.

Meu corpo se arrepiou e segurei-me em seus braços


cobertos pelo paletó para me manter no lugar. Seus lábios se

remexeram nos meus, os colando completamente, causando uma


reação completamente desconhecida ao meu corpo. Segurei seus

ombros, subindo minhas mãos por sua pele até que meus dedos

afundaram em seus cabelos, aprofundando o beijo.

Entreabri a boca e senti sua língua deslizando na minha


boca, duelando junto à minha, lentamente, arrancando tudo que

poderia ser considerado meu juízo normal. Merda, eu estava

beijando o meu chefe. E, pior, gostava tanto disso que só consegui


responder colando nossos corpos ainda mais.
A mão de Sebastian segurou a minha e se afastou,

respirando ofegante. Não deu tempo para que eu emitisse nada,


apenas me puxou para fora do bar, saindo do meio de todos os seus

funcionários, sabendo que aquilo criaria um boato e tanto.

Assim que o ar frio bateu em meu corpo, Sebastian pulou

dois degraus em minha frente, me puxando em direção aos seus


lábios, colando-os em mais um beijo intenso. Sua mão alisou minha

bochecha e precisei de todo meu autocontrole para me afastar,


segurando seus ombros para me manter equilibrada, sentindo-me

fora do eixo.

— O que estamos fazendo? — indaguei, confusa sobre o

próximo passo naquela situação.

Ele riu.

— Eu quero beijar você. — A resposta veio como um


garotinho traquino, me fazendo rir levemente.

— Você é meu chefe, Sebastian.

A lembrança voltou em minha mente. A parte lúcida.

— Sim, mas, quando te beijo — segurou minha bochecha,

subindo mais um degrau —, você é apenas Alexandra, e eu gosto


de beijar você. É bom, gostoso. Você tem um gosto bom.
As frases inacabadas foram interrompidas por seus lábios
colando novamente sobre os meus e, merda, eu iria mesmo fazer

aquilo?! Continuar beijando-o como se não houvesse nada?

Suas mãos desceram, trilhando uma linha em todo meu

corpo, mapeando minhas curvas calmamente, enquanto me colava

ainda mais nele, mantendo-o com a boca colada à minha, suas


mãos tocaram meu ventre levemente, afastando a camiseta folgada,

os dedos ásperos me fazendo estremecer diante ao toque.

— Vem comigo — murmurou, se afastando o suficiente para

encará-lo. Estávamos perto da empresa e sabia que o prédio ao


lado, de quase trinta andares, era ocupado exclusivamente pelo

Grupo Collins, sabia também que Sebastian morava na cobertura,


totalmente fechada para ele.

— Para onde? — indaguei com desconfiança.

Ele riu, segurou minha cintura e me levantou no ar, me

colocando no piso inferior, impedindo que descesse todos os


degraus da pequena escada na entrada do bar. Sebastian colocou

uma mecha do meu cabelo escuro atrás da orelha e beijou a ponta


do meu nariz.
— Para a minha casa. Não sei o que passa na sua cabeça,
Alex, mas eu quero você. — Sua mão traçou meu pescoço, senti

meu corpo se arrepiando, segurei em sua mão, enlaçando-a, e o


encarei, sorrindo de lado.

— Acho que quero conhecer sua casa, senhor Collins. —


Usei o termo profissional, piscando em brincadeira, e o vi puxar-me

novamente.

Corri apressada atrás dele, agradecendo o fato de não estar

calçando saltos muito altos. Inspirei fundo ao ver o segurança


noturno nos encarar de forma divertida e quase bati em Sebastian

quando parou para dar boa-noite ao funcionário e avisar que estava

subindo.

Não podia dizer que iríamos pegar algum documento?


Porém, nem um burro acreditaria nisso ao me ver instável sobre

meus próprios pés. Era fraca demais para bebidas.

Caminhamos para dentro, entrando no elevador, Sebastian

bateu a mão contra o painel de controle, indicando a subida direto

para a cobertura, pouco antes de sua boca alcançar a minha. Suas


mãos seguraram minha cintura, me dando impulso para cima, e não

resisti em passar as pernas em volta de sua cintura, sentindo-o por


cima da calça. Minhas costas foram chocadas contra as paredes do
elevador enquanto sua boca descia pelo meu pescoço, beijando e
mordiscando lentamente, de forma quase torturante.

Gemi baixinho, sentindo meus peitos duros contra o tecido


fraco do sutiã que os mantinha presos. Suas mãos me tocaram por

cima do tecido, descendo mais, querendo entrar debaixo da


camiseta enquanto sua boca descia, beijando o topo dos dois

mamilos pela vaga livre que a camisa deixava.

Meus pés tocaram o chão novamente.

Ofeguei, vendo-o se afastar e me encarar com os olhos


turvos de desejo, senti-o crescer contra minha intimidade, deixando

o contato quase desesperado, e gemi baixinho. Sabia que estava


cometendo um erro, mas, puta merda, ele tinha belos olhos verdes e

parecia saber exatamente onde me tocar.

Suas mãos tiraram minha jaqueta, jogando-a no chão do

elevador de maneira descuidada e levantei os braços, retirando a


camisa folgada que vestia, ficando apenas de lingerie na frente de

Sebastian, que desceu os olhos pelo meu corpo parcialmente


desnudo, queimando minha pele. O elevador apitou, abrindo

novamente e nos dando acesso à entrada do apartamento. Deixei

que ele me levasse para dentro, segurando minha mão, e logo sua
boca avançou sobre a minha.
Domando.

Tomando tudo que estava disposta a dar.

Enlaçando-me naquele erro irresistível.

Aquele erro que há poucos dias disse que nunca cometeria.


E a cada toque dele em meu corpo mais a necessidade aumentava,
tomando conta dos meus sentidos completamente.
O sol brincou em meu rosto e virei rapidamente para o outro

lado. Tentei afundar a cabeça em meu travesseiro, mas a única


coisa que veio foi uma superfície firme. Meu corpo congelou e abri

os olhos lentamente, vendo que se tratava de um homem com o


peitoral de fora. Me sentei lentamente na cama, segurando o lençol
branco contra os meus seios, observei o quarto em uma completa

bagunça, e engoli em seco ao olhar para o meu parceiro da noite


passada.

Puta merda.

Eu tinha mesmo que beber uma única vez e tomar uma


decisão burra desse jeito?!
Conheço Sebastian Collins o suficiente para saber que ele

nunca na vida havia tido um relacionamento sério e que, apesar de


muito educado, sempre respeitoso com seus funcionários, era

apenas aquilo.

Não ditava como ele agia em relação à sua vida pessoal,


ainda mais à amorosa.

Fechei os olhos, com a cabeça rodando, me levantei, tendo


que abandonar a coberta, e peguei minha calça, juntamente da

blusa e do casaco que vestia na noite anterior, não encontrando


minhas peças íntimas e muito menos os meus sapatos. Engoli em

seco, me vestindo rapidamente ao ver que ele dormia


tranquilamente.

Vi o peitoral desnudo, levemente bronzeado, e sorri de lado,


boba, enquanto prendia meus cabelos de forma desarrumada no

alto da cabeça. A noite vinha apenas em pequenos flashes em


minha mente, sabendo bem que as memórias da segunda vez em
que estivemos juntos eram meio borradas. A primeira foi assim que
entramos no apartamento. Depois bebemos um pouco, mesmo que

eu odiasse, precisava de álcool para manter longe a culpa pelos


meus atos, e, em seguida, voltamos a nos enroscar.
Suspirei, dando meia-volta, e saí do quarto sem me importar
em notar a decoração. Chamei o elevador, esperando impaciente,

descalça, uma bagunça completa. Meu olhar caiu sobre a mesinha


de centro, que tinha um relógio digital, que marcava oito e meia da
manhã de um sábado ensolarado.

Vi meus sapatos jogados no meio da sala e, agradecida, corri


para pegá-los, os calcei e logo o elevador abriu, guiei-me para
dentro da caixa metálica e deixei que ela descesse, deixando
minhas pernas moles caírem ao chão, cansada e desacreditada que

realmente havia feito aquilo.

Caralho, de fato, um erro estrondoso.

Eu sabia bem o que acontecia com as funcionárias que se


envolviam com os superiores.

Havia sido um erro muito bom, devo acrescentar, a vozinha

irritante em minha cabeça gritou, me fazendo colocar as mãos sobre


as orelhas, querendo que aquilo parasse e que eu parasse de sentir
todo o meu corpo ainda meio adormecido com as sensações que
obtive.

E a única certeza é de que nunca havia sido daquela forma.


Nem mesmo quando jurei que era amor.
Inspirei fundo, agradecendo aos céus por essa burrada, para
não ter que voltar para casa na noite anterior e acabar dando de
cara com Kaylee, que definitivamente não era minha coisa preferida.

Ela já estava a praticamente há uma semana em casa e


nunca que ia embora. Tinha plena certeza de que era castigo por

algo que fiz na vida passada.

O elevador abriu ao chegar ao térreo e, graças a Deus, a


empresa não funcionava aos sábados e feriados, o saguão estava

totalmente vazio e logo me vi passando pelo guarda do turno da


manhã, que não resistiu em me lançar um olhar estranho, e senti
minhas bochechas corarem de forma quase ridícula.

Meu celular tocou, me fazendo pular ao sentir o sol batendo


em minha cabeça. O nome da minha digníssima mãe brilhava na
tela. Revirei os olhos e ignorei a chamada.

Caminhei em direção ao bar em que foi organizado o happy


hour, vendo meu carro estacionado no meio-fio.

Não preciso de ela atentando minha paciência nesse

momento.

Entrei no carro e escorei minha cabeça contra o volante,


tentando decidir o que fazer agora. Poderia ir até Jenner e rever um
dos processos que estávamos trabalhando juntas. Mas era sábado!
Sabia que a mulher era bem dedicada à família e não deixaria suas
duas pestinhas para ir bater cabeça por erros alheios.

— Hannah! — exclamei, animada, buscando o número de


uma antiga amiga, chegando à conclusão de que ela não me
negaria seu sofá e um chocolate para me lamuriar por ter dormido

com meu chefe estupidamente gostoso.

— O que você faz me ligando às seis da manhã, Alexandra?


— indagou do outro lado assim que atendeu.

— São quase nove, loira, e eu preciso de um sofá e de


chocolates. Vinho também seria uma boa.

Ela resmunga algo que não consigo compreender.

— O que aconteceu? Sua mãe novamente? — Inspiro fundo,


pensando em negar, mas nem quero começar a falar de Kaylee,
senão vou acabar chorando. — Vem, amiga, vou alisar seus cabelos
maravilhosos e falar o que você precisa.

Sorrio.

— Obrigada, loirinha. Estou chegando. — Desligo a ligação e


jogo o celular de lado, dirigindo rapidamente em direção ao
apartamento de Hannah Parker. Aquela cabeleira loira é minha
amiga desde que nos conhecemos na escola, aos sete anos, desde
então, dividi sua alegria contagiante e sua ironia própria com Amber
e éramos nós três contra o mundo. As três mosqueteiras, como
Hannah costumava dizer.

— MENTIRA! — gritou da cozinha, preparando meus


benditos s’mores, e colocou a cabeça na porta da cozinha, com a
boca escancarada, completamente em choque com as informações
que despejei em seu colo. — Você dormiu com Sebastian, sua
safada!

Sorri.

— Se meus s’mores queimarem, vou voltar a chorar, Nana —

choraminguei, a fazendo rir e voltar para cozinha. — Sim, e eu já


estou me preparando psicologicamente para ver minha carta de
demissão na próxima semana. Poxa, era um emprego legal.

Peguei mais um dos lenços de Hannah e limpei a única


lágrima que caiu. Estava me desmanchando em lágrimas, pois era
exatamente assim quando sentia minha estabilidade ser ameaçada.
Não me controlava e começava a chorar. E ainda tinha minha mãe.
Kaylee Johnson foi mãe jovem, aos dezessete, e se casou
com papai — que Deus o tenha — na mesma época para cuidar de
mim. Porém, eles se separaram cinco anos depois. Apesar de o
papai sempre estar presente em minha vida, a convivência de
Kaylee com ele era quase tóxica para todos ao seu redor.

Ele não voltou a se casar, apenas teve uma filha com outra
mulher e morreu quando completei dezesseis anos. Amber já tinha
doze nessa época e nos tornamos inseparáveis. Ela era órfã de mãe
e morava com a avó. Foi minha melhor amiga e nos tornamos parte
uma da outra. Mesmo que mamãe odiasse minha aproximação com

a bastarda, como costumava chamá-la.

Eu odiava isso também, era sujo e maldoso.

— Você não pode ficar se perturbando com isso. Um passo

de cada vez. — Nana apareceu novamente na sala, segurando a

forma com os s’mores com enormes luvas de cozinha, cheia de


pequenos unicórnios. A cara dela. — O que falaram quando

acordaram?

Abaixei a cabeça.

— Eu não o esperei acordar — murmurei, com medo da sua

reação, que veio em forma de xingamentos, e fechei os olhos,


cansada disso.

— Por que fez isso, sua maluca?! Podia, pelo menos, ter
esperado se ia rolar uma rapidinha pela manhã. — Lancei-lhe um

olhar nada amigável, escutando sua risadinha assanhada.

Cada uma pegou um dos s’mores e mordemos, caladas, com

meus pensamentos longe, sob o olhar atento de Hannah Parker,


que parecia um verdadeiro leãozinho pela manhã, com os cabelos

loiros soltos e revoltos em volta do ombro, o rosto desprovido de


qualquer maquiagem e ainda de pijama vermelho e folgado.

— E sua mãe? Ainda naquela?

— Sim, ela pensa que dinheiro dá em árvore. Amber já disse

que tenho que me manter na linha, não ceder. — Dou os ombros. —


Só que, às vezes, realmente chego à conclusão de que seria mais

fácil ceder e pedir que suma da minha vida até que precise
novamente de dinheiro.

— Se você fizer isso, Alex, juro que dou na sua cara —


resmunga, chateada. — Sua mãe te suga, não tem controle nem

das próprias finanças e insiste em tirar seu dinheiro. Você é


advogada, lutou para estar aqui e sabe muito bem o certo e errado.

Consegue ver que Kaylee te rouba na cara dura?


Afundei no sofá.

— É minha mãe, Nana. Por mais terrível que ela seja. — O


suspiro veio dos lábios de Hannah. Como se compreendesse esse

argumento, se sentou ao meu lado, passando o braço ao redor dos


meus ombros. — Estou deprimida, me consola — choraminguei.

— Fiquei sabendo que quem transa com Sebastian Collins


não tem direito de ficar deprimida no dia seguinte. — Belisquei sua

barriga, como aviso para calar a boca, antes que decida tirá-la do
cargo de melhor amiga. — OK, vou ficar quietinha. Prometo.

Escutei o interfone tocar alto e me virei rapidamente,

tentando entender o que estava acontecendo. A lembrança veio


rapidamente ao ver todas as roupas jogadas no chão em um caos

completo. O sorriso estendeu-se em meus lábios e me levantei,


conferindo no banheiro para ver se minha parceira da noite anterior

ainda estava por ali. Porém, não havia nada.

Saí do quarto e fui diretamente atender o interfone que não

parava de tocar.
— Oi.

— Bom dia, senhor Collins, estou ligando para perguntar se a

senhorita Johnson estava com o senhor. Ela saiu há poucos

instantes, parecendo meio perturbada. Fiquei com medo de ter


acontecido algo. — Era Julian, da segurança, um senhor de idade

que estava sempre muito preocupado com a segurança de todos.

— Sim, estávamos revisando alguns contratos. — Engoli em

seco, lembrando que tipo de revisão fizemos ao longo da noite. Ele


ri, como se entendesse, e logo finaliza a ligação.

Inspiro fundo, sabendo que nem precisarei procurar por ela, a

minha doce fugitiva já deve estar longe. Que pena, pensei, sorrindo

de lado ao lembrar do corpo branco curvado embaixo do meu,


dando a visão do quão prazeroso era tudo aquilo.

Sempre achei Alexandra uma mulher bonita e, desde que a


conheci ao entrar na empresa, a observei, só que a noite passada

nem poderia ser comparada com qualquer coisa.

Foi fenomenal, para dizer no mínimo. E aposto que, nesse

momento, deve estar querendo se enfiar no buraco mais próximo.


Enquanto eu só penso em uma maneira de fazê-la voltar para minha

cama.
— Mamãe, já disse que não tenho como te dar isso.

Praticamente impossível — falei novamente, cansada dessa mesma


conversa. Isso não é nem o tipo de coisa que se pede a uma filha.

— Mas, Alex, você pode pedir um adiantamento, os Collins

têm muito dinheiro! — Lancei-lhe um olhar descontente, deixando


claro que isso estava completamente fora de cogitação.

— Não, não vou apenas porque você decidiu que precisa

aumentar seu maldito peito e fazer mais uma lipoaspiração. — Ela


revirou os olhos.

— Já disse que não é para isso.


— Então, para o que é?! — exclamei, colocando minha

caneca em cima do balcão, terminando de prender meus cabelos


em um coque no alto da cabeça. Ela me lançou um olhar curioso,

diretamente para meu pescoço, e me xinguei em pensamento ao


lembrar que o lugar ainda estava meio roxo por causa da noite de

sexta-feira.

— Você está namorando, Alex? — indagou, fazendo menção


de se aproximar. Dei um passo atrás, colocando uma distância

segura entre nós. — Tem um chupão em seu pescoço.

Abaixei o braço, puxando o cachecol preto em direção ao

local para cobrir de forma mais adequada, agradecendo ao destino


por ter colocado um dia chuvoso logo no início da semana, quando

posso esconder isso com uma peça de frio.

— Não, não estou namorando.

— Sexo casual? Sabe que, na maior parte do tempo, você


pode acabar sozinha e com um filho para cuidar. — Rolei os olhos e
peguei minha bolsa sobre o balcão. Deixei a cozinha, indignada com

aquela conversa. — EI, AINDA NÃO TERMINEI — me chamou, e


me virei, parando no meio da sala do meu apartamento
Encarei a mulher alta, com os cabelos escuros puxados em
um coque rígido no topo da cabeça, os lábios cheios graças ao

preenchimento labial, os peitos siliconados, que não faço ideia por


que ela quer os aumentar ainda mais, e as roupas de academia
perfeitamente coladas ao corpo.

— Vai me contar para que quer tanto dinheiro? — Ela ficou


adoravelmente corada.

— É um novo tratamento que as famosas estão usando, Alex,

sabe que quanto mais o tempo passa, mais velha fico, e sabe o
quanto isso me deixa deprimida. Odeio me sentir uma fruta velha e
apodrecida. — Fez drama, e eu fechei os olhos. — Vai, filha, é só
hoje, prometo que paro de perseguir essa loucura pela juventude.

Juntou as mãos em forma de piedade, me virei novamente,


sem me abater, e abri a porta de saída, a deixando para trás. Onde
já se viu! Será que ela acreditava mesmo que eu trabalhava até
tarde em dois empregos, nunca saía com meus amigos, estava há

meses tentando arranjar um tempo para ver minha irmã, para, no


fim das contas, dar dinheiro para besteira de tratamento de beleza?!

Pelo amor de Deus! Se fosse para arrumar sua casa, para

alimentação, ou para coisas realmente úteis na vida de alguém, não


pensaria duas vezes. Mas para isso?! Nem morta.
Saí do elevador, mandando Hannah e Amber calarem a boca
sobre o acontecido na sexta-feira por mensagem de texto, e sorri de
lado, ao ver o GIF que minha irmã enviou, claramente bem animada
com a perspectiva de alguém me tirando do eixo. Ela não gostou
muito quando comecei a namorar Hunter, o chamava de sem
emoção, já que sempre defini nosso relacionamento como algo

morno.

— Você se deu bem na sexta-feira, hein. — A voz de Carly


me fez levantar o olhar, dando de cara com seu olhar cheio de

malícia. Caminho rapidamente em direção à mulher, sentindo


minhas bochechas vermelhas.

— Pelo amor de Deus, diga que só você sabe disso. — Ela


riu.

— Tranquilo, menina, eu apenas vi você e o senhor Collins.


Os outros estavam muito bêbados para ficar em pé por conta
própria. — A respiração aliviada é tudo que consegui. — E aí, rolou

algo?

Virei os olhos.
— Eu realmente não vou ficar discutindo isso no trabalho. —
Pisquei, entrando em meu escritório e a ouvindo resmungar algo
sobre crianças bobas. Encostei-me na parede, fechando os olhos,

tentando me lembrar se havia alguma reunião que incluía meu


chefe. E só a ideia de estar na sua presença foi o necessário para
me fazer ficar tonta com a perspectiva de ser demitida, de ficar
envergonhada ou algo do tipo.

— Você tem uma reunião com todos os acionistas, incluindo


ele, às onze. — A voz de Carly era baixa através da porta de
madeira.

— Cancela minha presença, por favor. Acabei de lembrar que


preciso ir a uma reunião no meu escritório particular — dou uma
desculpa. Fiquei novamente de pé e abri a porta, vendo que minha
secretária observava tudo com demasiada atenção. Caminhei
novamente em direção ao elevador e entrei ao lado da moça
morena atenta ao celular, indicando o térreo no painel.

No exato momento em que as portas do elevador estavam se


fechando, as do escritório de Sebastian se abriram. Seus olhos
pareciam me encontrar rapidamente, atraídos como um imã. Ele me
analisou de cima a baixo, arqueando a sobrancelha sugestivamente.
Arquejei baixinho diante seu olhar nem um pouco discreto.
Ah, merda! Isso ia dar muito ruim. Lembrei-me de todas as
mensagens e das ligações deixadas em meu celular pelo homem de
cabelos loiros e olhos verdes, sabendo bem que não poderia fugir
disso para sempre. Uma hora, algo iria me prender no mesmo
espaço que Sebastian Collins. Era disso que tinha mais medo.

Eu sabia que teria que voltar para a empresa, não era meu
dia de atendimento no escritório e assim fiz: na parte da tarde, voltei
e cumpri com todas as minhas atividades do dia, tomando cuidado
para não sair da minha sala e nem aceitar nenhuma reunião com o
senhor Collins.

À tarde, não percebi o tempo passando. Entre um café e


outro, notei que já passavam das oito da noite. Pulei da cadeira,
lembrando que havia marcado de jantar com Hannah hoje. Guardei
minhas coisas com cuidado, fazendo a pulseira cheia de adereços
cintilar. Nem sei por que havia escolhido usá-la hoje, geralmente o
fazia quando sentia falta de Amber ou de papai. Ela me lembrava
muito dos dois. Tinha um pingente de cavalo colocado por Amber,

uma de um lírio pequeno e um pincel. Todos eles relacionados às


pessoas que mais amava no mundo.
Sorri de lado, saí da sala e a tranquei. Retirei o celular do
bolso ao escutá-lo tocar alto. Vi o número de Hannah brilhando na
tela e atendi, colocando no alto-falante enquanto caminhava até o
elevador, o pedindo e esperando pacientemente.

— Posso saber onde a senhorita está?! Merda, Alex —


reclamou. Nana odiava atrasos.

— Desculpe, estou saindo da empresa. Não trabalhei pela


manhã e acabei acumulando algumas coisas — me desculpei,
cansada e com medo do que a maluca poderia fazer comigo devido
ao atraso. Hannah Parker era medonha.

— Estou te esperando. Pedi comida itali...

— Boa noite. — A voz me fez pular, só que não me virei, pois


sua mão cobriu o painel do elevador. Fiquei presa entre seu corpo e

a parede, sentindo o meu suar com a aproximação.

— Senhor Collins! — exclamei, o fazendo rir.

— Senhor Collins!? Sebastian? — a loira perguntou, e me


lembrei que a ligação ainda estava correndo.

— Eu mesmo...

Desliguei o celular, colocando em meu bolso quase como um


tique nervoso, sentindo minhas mãos suando. Ele deu um passo
para trás e pude me virar para encará-lo. Sebastian mantinha um

olhar penetrante e me perguntava se ele conseguia sentir o medo


que estava no momento. As lembranças corriam em minha mente.

— Você não foi à reunião — me acusou.

— Não, precisava ir ao meu escritório resolver algumas

coisas. — Cocei a nuca.

— Sim, mas tem um dia específico para isso, certo?

Arqueei a sobrancelha. Ele estava procurando um motivo

para me demitir?!

— Não, na verdade, quando vim trabalhar no Grupo, avisei a

Arnold que queria muito o cargo, mas que não podia fechar o meu
escritório por algumas questões. Ele disse que poderia equilibrar os

dois da forma que achasse melhor. — Arrebitei o meu nariz que

tanto Amber chamava de atrevido. — E, no fim, não ficou um só


contrato ou compromisso pendente, senhor Collins.

Ele abriu a boca, a fechando em seguida. Riu e inclinou-se

para frente, me fazendo inspirar seu perfume tentador. Maldito!

— Você fica bonita com esse nariz atrevido para cima —

sussurrou. — Só que a lembrança do meu corpo sobre o seu é

tentadora e só quero você embaixo de mim de novo. — Abri a boca,


surpresa, dei um passo atrás e aproveitei para entrar no elevador

que aguardava.

Ele me seguiu.

— Você sobe, e eu desço, mais prático usar o elevador

privado — resmunguei.

— Não, vou acompanhá-la até o carro., já que você ficou

muda a respeito do que aconteceu na noite de sexta.

Inspirei fundo.

— Não aconteceu nada de mais sexta, Sebastian. Foi uma


noite. Podemos esquecer isso. Passou! — As palavras saíram dos

meus lábios mais rápidas que o planejado. Ele me lançou um olhar


irritado, com os olhos claros parecendo queimarem de raiva.

— Você é uma dessas mulheres que saem dormindo com


qualquer cara?

Me encolhi.

— Não é uma ofensa, é um questionamento — esclareceu.

— Não. — Arrebitei meu nariz. — Nem de sair gosto. Muito

menos de beber. E, com toda certeza, só fiz aquilo por causa da

bebida. — Sebastian riu, se inclinado em minha direção, e o


elevador, de repente, começou a ficar apertado demais.
— Ah, sim, um copo de uísque deve ter feito mesmo todo

aquele estrago.

— Como sabe que não bebi outras doses antes de se sentar

comigo na mesa? — Arqueei a sobrancelha, observando seus lábios


cheios. E o maldito ficava ainda mais sexy conforme se aproximava.

O rosto oval, o nariz fino em cima e mais cheio em baixo, os

cílios longos como um véu sobre os olhos verdes, a barba por fazer

e tudo mais era uma combinação e tanto. Além do terno escuro que
costumava combinar com a gravata.

— Eu sei que não, senhorita Johnson.

— Bebemos muito também, depois — expliquei, meio


desconcertada.

— Sim, aí, nesse momento, pode dizer que foi culpa


exclusivamente da bebida. Da mesma forma, sei que antes não

havia álcool suficiente para não se lembrar do que é certo e errado.


— Sua boca estava em minha orelha, mordiscando lentamente.

Estremeci. Da cabeça aos pés, sentia seu toque.

— Somos errados, Sebastian. — Minha voz tinha um tom

atrevido. Nem sei de onde ele vem.


— Oh, não, somos certos. Combinamos profundamente. —
Sua voz era grave e baixa, e sua boca alcançou meu pescoço,

retirando o maldito cachecol que vesti pela manhã, beijando o local

delicadamente. Suspirei, sentindo meu corpo arrepiado e


esquentando na medida em que nossos corpos se tocavam. Toques

simples. Não precisava de muito no momento.

O elevador abriu rapidamente.

A consciência caiu em mim e o empurrei para longe. Corri

porta afora e passei pelo guarda sem ao menos cumprimentar ou

olhar para trás, sabendo que, se o fizesse, ele estaria com os olhos
focados em mim, pois sentia minhas costas queimando na medida

em que me afastava. Trabalhar com Sebastian Collins, de agora em


diante, nunca mais seria a mesma coisa.
Semanas depois

— Merda, Alex. Vocês não usaram mesmo camisinha?! —

Nana exclamou enquanto estava escorada na pia do banheiro do


seu apartamento, já que mamãe decidiu fazer do meu a sua morada

e ponto de encontro de suas amigas.

— Sim, eu lembro de ter usado na primeira vez. Depois


bebemos mais do que deveríamos e voltamos para a cama, essa

parte é tudo um borrão. — Balancei a cabeça, não querendo


acreditar que realmente havia feito uma burrada dessas.

Não usava mais anticoncepcional desde que havia rompido

com Hunter e, consequentemente, na minha cabeça, eu era


antiquada demais para aceitar um relacionamento casual ou apenas
algo passageiro. Banalidades não faziam parte do meu dicionário.

Só que eu havia feito, e a prova viva havia sido dias terríveis de


enjoos.

Sem falar no atraso da minha querida amiga nada desejada.

Inspirei fundo e encarei os dois testes de gravidez sobre o

vaso sanitário, ouvindo o celular de Nana tocar algo e ela correr


para a sala. Me abaixei na frente do vaso e encarei o resultado
estampado, o soluço de nervosismo irrompeu minha boca, deixando

claro que a vida estava desmoronando nesse exato momento.

Sempre quis ter um filho. Só que a vida sempre foi uma


montanha-russa e pensei que nunca chegaria a ter pelos meios

normais, que acabaria por adotar uma criança e cuidaria com muito
amor. Só que, nesse momento, sinto todo meu corpo tenso, pois
não estou apenas grávida, estou grávida do meu chefe, com quem

não tenho nada. E pior, com mais gente na concorrência do que


jogos de azar.

— E aí? — Ela retornou, guardando o celular no bolso da

calça.

— Positivo. Os dois. — Ela sorriu de lado. — Qual a chance


de ser um erro, hein?
— Muito raro, mas, sinceramente, acho que, depois do quarto
teste, já não tem a mínima chance de ser realmente um erro. —

Abaixei a cabeça, encarando os outros dois, colocados no chão do


banheiro. — Vai falar com ele? Com Amber?

Engoli em seco.

— Primeiro, preciso de mais uma confirmação. — Encolhi os


ombros, me sentindo totalmente sem chão. — Sabe, um exame de
sangue. Menos chances de dar erros — balbuciei, vendo em seu

olhar que ela não acreditava em nenhuma palavra.

Se abaixou em minha frente.

— Estou tão feliz por ver você com um bebê no ventre. —


Abri a boca para protestar. — Alex, você fica aqui sozinha, eu não
posso estar sempre com você, não sai com os amigos da empresa,
sua mãe é uma embuste e, infelizmente, Amber nunca abandonaria

aquela fazenda para morar com você.

— Posso viver sozinha muito bem — resmunguei,


contrariada, a fazendo rir.

— Eu sei bem disso, Senhora Independente, mas você se


fecha muito. Além do mais, vou amar ter um sobrinho. — Alisou
meus cabelos, beijando minha testa. — Venha, tome um banho e
vamos ao consultório.

Dito isso, saiu do banheiro. Permaneci ali, sentada no chão,


encarando meu destino em dois testes. Um bebê. Ai, meu Deus!
Exclamei em pensamento, tentando entender como iria chegar até

Sebastian e dizer “oi, tudo bem? Lembra do dia que transamos?


Bem, tirando o fato que foi muito bom e esquecemos de colocar a
camisinha, está tudo bem. Vamos ser papais!”

Pelo amor de Deus. Isso não tinha cabimento nenhum. Ainda


tinha Maggie e Hunter, que, em meio a tudo isso, estávamos juntos
em um emaranhado de encontros. Como iria aparecer grávida? Pior,
do melhor amigo do meu ex-namorado?

Essas ligações são, no mínimo, estranhas. Eu teria muitas


histórias a contar aos meus filhos. Sorri com a ideia e um filme das
últimas semanas passou em minha mente rapidamente, o desastre
que foi todas as reuniões ao lado de Sebastian, que, apesar de
continuarmos sendo produtivos no trabalho, ainda tinha aquela coisa
de piadas de duplo sentido, uma atração que constantemente me
impulsionava a observá-lo mais do que o necessário. Mas não me
culpem, o homem é bonito demais para o meu próprio bem.
— Mais rápido, Alexandra! — A voz de Hannah me fez pular
de pé e correr para o chuveiro. Retirei minha roupa o mais rápido
que consegui e a joguei sobre o vaso. Entrei embaixo do chuveiro

ligado e deixei a água escorrer pelo meu corpo. Encarei minha


barriga plana e sorri de lado.

A toquei com receio, sem acreditar, de fato, que havia um

bebê ali. Meu Deus. Uma parte de mim estava completamente


apavorada. A outra parte começava a ficar ansiosa por cada
momento a partir de agora.

Sorri, sabendo que seria uma mãe muito melhor do que a que

tive. Que iria mostrar minha melhor versão apenas para ele. Ou ela.

— Posso saber o que é isso em sua bolsa? — Levantei o


olhar do notebook, dando de cara com mamãe segurando todos os
malditos testes de gravidez que enfiei lá dentro. — Você está
grávida? Não tem juízo nenhum? Isso vai deixar você velha, flácida
e com mil e uma coisas para fazer!

Suspirei.

— Mamãe, tenho certeza de que já sou grandinha o


suficiente para decidir algo do tipo. — Inspirei fundo e conferi o
horário no relógio do notebook, vendo que faltava pouco menos de
uma hora para às oito da noite. — Inclusive, eu fiz xixi nisso, acho
que não é muito higiênico.

Fiz careta, e ela bateu os testes com força no balcão da


cozinha.

— Você vai tirar essa criança. — Abri a boca, chocada com


as palavras agressivas e completamente sem nexo dela. Nem
pensar. Eu não iria nem começar a explicar o porquê não iria tirar
um bebê inocente da minha vida.

— Não. — A minha voz foi firme, e ela quase ficou roxa de


raiva.

— Ah, me dar dinheiro para uma necessidade é um caos


mundial, mas para enfrentar uma gravidez, com toda certeza, será a
coisa mais fácil do mundo — alfinetou, me fazendo arquear a
sobrancelha.

— Sério mesmo que está comparando a gravidez com um


gasto de beleza?! Eu juro que, às vezes, penso que você tem vento
em vez de um cérebro em bom funcionamento. Estou grávida,
mamãe, e não vou tirar meu filho apenas porque acha que vou ficar
feia e flácida. — Dou os ombros. — Pode dar a volta em sua ideia
babaca de que isso não vai acontecer — resmunguei, fechando o
notebook, e saí da cozinha. Viver em minha casa estava se
tornando o próprio inferno com ela em todos os lugares, perturbando
minha cabeça com suas ideias malucas.

— Aonde você vai?! — Me seguiu.

— Vou a um evento da empresa.

— Mas você odeia os eventos da empresa. — Sorri de lado


com a contestação.

— Sim, mas, nos últimos tempos, tenho decidido comparecer


a cada um deles. Bem melhor do que ficar em casa. — Pisquei e
abri a porta do quarto, seguindo para o banheiro, vendo que

precisava correr se não quisesse chegar atrasada à


confraternização que eles insistiam em fazer a cada fim de mês.

— Você vai? Vai falar com ele? — Hannah tagarelou, ansiosa

por alguma notícia enquanto dirigia com o celular conectado ao som

do carro. — Você está vestindo o quê? Espero que esteja pronta


para desmaiar o Collins de tanta beleza.

Revirei os olhos com o exagero em pessoa que era essa

mulher.
— Aquele vermelho que compramos na última semana. —

Ela bateu palminhas. — Com batom vermelho e meus cabelos


soltos.

— Ah, que maravilha. Ficou ótimo em você. Mas não me


respondeu se vai falar com ele hoje.

Suspirei.

— Não sei, Nana, vai ser praticamente impossível conseguir

que ele fique sozinho essa noite. Acho que devo esperar outro
momento. Uma ocasião mais calma para contar algo tão importante,

sem falar no fato que ainda não tenho o resultado do exame de


sangue. — Ela resmungou algo indecifrável.

— Não teve tempo de ir buscar?

— Não, foi corrido na empresa. Ainda passei no escritório no

fim do dia para uma reunião.

— Ótimo, amanhã pego seu exame e deixo com você no


escritório. — Sorri. — Amanhã você vai estar lá, né? O prédio da

Collins é enorme e tem muita gente. Sabe que fico tonta com isso.

Revirei os olhos.

— Logo você. A introspectiva.

Ela dá uma risadinha.


— Super! Te vejo amanhã, beijo. — Finalizamos a ligação e

foquei os meus pensamentos apenas na estrada, vendo que estava


mais próxima da empresa, onde tinha o salão de eventos no saguão

e era ali que acontecia quase todos os eventos. Entrei no


estacionamento subterrâneo, conseguindo, graças aos deuses, uma

boa vaga, e logo saí do veículo, segurando a bolsinha de mão com


meu celular e alguns itens de maquiagem.

Entrei na empresa caminhando em cima dos meus saltos


altíssimos, alisei meu vestido vermelho justo ao corpo, ordenei os

fios rebeldes do meu cabelo e observei algum movimento pelo

saguão espaçoso de alguns funcionários e pessoas convidadas.


Segui pela porta, entrando no lugar completamente decorado, bem

no estilo dos Collins.

As mesas redondas espalhadas por todo lugar, a banda

tocando algo lento, o bar servindo bebida livre e os convidados


dançando livremente. Sorri com a energia que o local me transmitiu

e segui adentro, vendo Carly sentada ao lado da mesa da família de


Sebastian.

Estavam quase todos ali, menos Arnold. Madelyn, Maggie,


Hunter, os gêmeos, que observavam tudo atentamente nos braços
dos pais. Até mesmo Jenner e Connor, seu marido, juntamente das

duas crianças, Luna e Mash, estavam ali.

Pensei em ser uma péssima pessoa e não ir até lá,

cumprimentá-los, só que, em um último momento, decidi ir, sorrindo


alegre, mascarando o nervosismo que se remexia dentro de mim.

— Boa noite. — Os ouvi responder em quase um coro e

aproveitei para olhar ao redor, procurando por Sebastian, mas não o

vi em lugar nenhum, e agradeci baixinho por mais um desencontro.


— Ai, meu Deus, que coisa mais linda. — Me abaixei em frente aos

gêmeos de Hunter e Maggie, Melissa e Heitor, que mordiam as


mãozinhas, atentos a tudo.

— Alex! Que bom que veio. — A voz de Jenner me fez sorrir.


— Temos que verificar alguns pontos daquele processo, certo?

Observei Mash nos braços da mãe com uma expressão


zangada, emburrado em seu mundinho. Claramente o menino não

era muito aberto a relações.

— Como estão? Saudade, faz um tempão que não vou a

Nova Jersey — falei, sorrindo.

— Sim, se esqueceu das pessoas — Hunter comentou,


devolvendo o sorriso. O que é uma surpresa boa, o homem sempre
foi meio introspectivo. Porém, o casamento com Margareth Collins o
mudou completamente. A loira sorriu com as palavras do marido.

— Sim, nem foi mais ver a gente, titia. — Fez voz de bebê,
colocando Heitor em pé em seus braços. Era uma ótima turma,

todos eles, e acabaram por formar uma nova família, de pais

diferentes.

Jenner era casada com Connor, conheceu Hunter por causa


do trabalho, e eles se apoiaram diante das coisas que aconteceram

na vida dela. Hunter é de Nova Iorque e, por isso, sempre conheceu

os Collins. Desde a adolescência, ele e Maggie tiveram algo, mas


acabaram separados por quase dez anos.

— Me dá, preciso beijar essas bochechinhas — pedi com um

olhar pidão ao casal. Maggie riu e me entregou o garoto, beijei as

bochechas com cheirinho de bebê e ele logo grudou as mãozinhas


pequenas em meu cabelo, me fazendo rir, e vi que aquilo poderia

mesmo ser a minha realidade daqui a alguns meses.

Madelyn, a matriarca da família Collins, me observava com

as crianças e senti que analisava cada pedacinho meu.

— Você tem que visitar mais a gente, Alex. Luna está dizendo

que, quando não tinha todos esses bebês, você até levava
chocolate — Jenner disse, e eu encarei a garotinha, a maior de
todos eles, que tinha um enorme bico nos lábios rosados.

Claramente, pegando o gênio ciumento do pai adotivo.

— Pegando os ciúmes do Connor, gente — zombei, fazendo

a mesa dar uma risadinha.

— Senta-se com a gente, Alex, Sebastian não deve voltar por

enquanto. — Madelyn bateu nas duas cadeiras livres ao seu lado, e


senti meu corpo ficar tenso com o convite. Porém, olhei para Heitor

nos meus braços e vi seu rostinho meigo me encarando com as


bochechas enormes e o tufo de cabelo castanhos, e desisti de sair

da mesa, me sentando em uma das cadeiras vagas.

— É só um pouquinho. Vamos fazer um rodízio de bebês, tia

Alex quer pegar todos. — Em breve, você vai ter um só para você,
meu subconsciente gritou, deixando claro que eu queria muito

aquilo.

Passei alguns minutos conversando com todos, pegando

Luna, Mash — mesmo sob os protestos do garoto —, Melissa e

novamente voltei para Luna, que se sentou no meu colo e não saiu
mais.
— Você está enorme, Luninha — brinquei, pincelando seu
nariz pequeno. — Lembro-me de como era pequena e rosada,

parecia uma bonequinha. — Jenner a adotou em uma fase


complicada da sua vida, quando trabalhamos juntas para tentar

fazer a tia da menina não perder a guarda da sobrinha. O que


acabou em injustiça e a garota sendo entregue a um abrigo. Tão

pequenina.

— Sim, e eu quero chocolates. Mamãe disse que não pode,

que é doce — cochichou. — Minha tia Maggie aceita isso! —

resmungou, cansada. — Tio Hunter é o único que me ajuda a


traficar alguns chocolatinhos — resmungou, parecendo

decepcionada com isso.

— Alexandra? — A voz de Sebastian me fez virar

rapidamente, ainda segurando Luna em meu colo. Engoli em seco


ao vê-lo com o braço enlaçado ao de Alisson Clark, que mantinha

um sorriso meigo no rosto bem maquiado.

O meu sorriso sumiu automaticamente e senti uma estranha

sensação de ciúmes dominar meu corpo. Merda.

Meu coração idiota acelerou.


E eu nem preciso comentar quão nervosa estava por vê-lo

tão bonito e sem fazer a menor ideia do que acontecia. De que


iríamos ter um filho.

Observei a mulher sentada à mesa em que toda minha


família e amigos estavam, segurando Luna nos braços, e senti meu
corpo ficar tenso ao ver o sorriso sumir e seus olhos vagarem para

meu braço enlaçado ao de Alisson, uma das pessoas mais


constantes em minha vida nos últimos anos.

Alex engoliu em seco.

— Senhor Collins, boa noite — cumprimentou, muito formal

para alguém que já passou pela minha cama. Sei que a indiferença
de Alexandra Johnson me incomodava demais e, por esse motivo,
ficava irritado quando se tratava dessa diaba de olhos claros, lábios
vermelhos e corpo curvilíneo.

— Meu Deus, quanta formalidade — Maggie interveio com


um sorriso faceiro. — Alisson, bom revê-la.

Olhou em direção à minha companhia, que sorria de lado.


— É sempre um prazer estar na companhia dos Collins —
respondeu, me olhando sugestivamente. Engoli a risada ao ver
Alexandra revirar os olhos disfarçadamente e abaixar a cabeça para

falar algo no ouvido de Luna, que pulou do seu colo. Ela se levantou
em seguida.

— Vou pegar doces com a tia Alex — anunciou a menina,


fazendo Jenner abrir a boca para repreendê-la, mas, quando viu, as

duas já tinham se afastado rapidamente, me fazendo rir leve com a


cara da mulher, claramente indignada com a filha.

— Essas crianças. — Ouvi mamãe dizer, rindo, divertida. —


Sente-se, Alisson, tenho certeza de que Sebastian vai pegar algo

para você beber.

Ela piscou sugestivamente em minha direção e olhei em


direção onde Alexandra servia alguns doces a Luna, que parecia
simplesmente no paraíso.

Suspirei e concordei com mamãe, me afastando. Passei pelo


balcão das bebidas, pedindo dois champanhes e vi a mulher rir e
segurar o pedaço de bem-casado para que a criança o mordesse.

Sorri e logo peguei as taças, caminhando em direção ao meu

alvo. Olhei ao redor para ver se não atraí nenhum olhar curioso,
parei ao lado de Alexandra e da pequena garota, que me olhou com
curiosidade.

— Ele é o tio Sebs? — disse meu apelido não tão amado,


que me fez sorrir de lado. Alex me olhou imediatamente com os
olhos azuis assustados. Do que ela tinha tanto medo?

— Sim, Luna, o chocolate está bom? — indaguei, a vendo

morder a bomba recheada de chocolate, manchando o rostinho de


creme, deixando claro que a mãe provavelmente a mataria por
retornar toda suja à mesa.

— Muito bom — respondeu com vozinha infantil, me fazendo

rir.

Encarei Alexandra, observando o quão linda ela estava. Tudo


parecia ser uma perfeita combinação e senti meu coração dar um
salto ao ver que aquela mulher era simplesmente irresistível. Não

sei o que havia entre nós. Mas sabia que meu desejo por ela não
tinha acabado em uma única noite e sentia que precisava fazê-la
entender que não podia simplesmente me deixar de quatro por ela.

— Pretende guardar uma dança para mim hoje? — indaguei,

indicando a cabeça em direção ao salão já abarrotado de casais


formados. Os músicos tocavam um jazz suave, causando uma
incrível harmonia.

Ela corou e, mesmo empinando aquele nariz atrevido,


parecendo superior, sabia que a lembrança daquela sexta-feira

passava em sua mente, me fazendo sorrir de lado.

— Da última vez que dançamos — pareceu se engasgar, e vi


Luna correr pelo salão, retornando para a mesa com Alex
completamente distraída —, não terminou muito bem.

Cruzei os braços em frente ao corpo, mantendo meu sorriso.


Sabendo que minha reação divertida em relação a tudo a irritava.

— Em minha memória, não teria finalização melhor —


alfinetei, a fazendo rir leve. — Estranho mencionar isso, devido ao

fato que você ignora todos os meus avanços para falarmos sobre o
que aconteceu.

Ela suspirou, parecendo deixar a máscara de frieza cobrir seu


rosto novamente.

— Não podemos fingir que aquilo é normal, Sebastian —


rebateu, e quase me encolhi diante suas palavras. Eram ferozes.

— Por que não? Não fizemos nada contra as leis, Alex,


apenas transamos, somos patrão e empregada, não vejo nada de
estranho. O que de mal pode haver nisso? — A vi revirar os olhos.

— Uma coisa é clara, Sebastian, eu não lutei a vida inteira,

enfrentei anos na universidade e ouvi coisas machistas sobre


minhas conquistas para acabar sendo taxada da pessoa que dormiu
com chefe apenas para ter reconhecimento. — A mulher que eu
conhecia se tornou ainda mais valorizada em minha cabeça apenas

pela voracidade que ela se defendeu. — Porém, o fato de já ter


dormido com você já me traz mais problemas do que consigo
pensar.

Franzi o cenho.

— Que problemas? — indaguei, e a vi rir baixo, como se


estivesse desacreditada. Em seguida, seu semblante se fechou, se
tornando quase obscuro.

— São coisas da minha cabeça, Sebastian, não se preocupe.

— Sorriu de lado e passou por mim, se distanciando. Com passos


decididos, voltou à mesa em que sua secretária estava sentada
junto de mais alguns sócios da empresa.

Inspirei fundo, vendo a forma que o quadril bem delineado se

mexia com o vestido vermelho grudado ao corpo. E, puta merda,


Alexandra era simplesmente a minha personificação de pecado.
Talvez fosse o fato de ela simplesmente não se dá ao trabalho de

beijar o chão em que eu pisava que a tornava ainda mais bonita em


minhas lentes. Só sabia que, quando estávamos sozinhos, sem
nenhuma peça de roupa cobrindo nossos corpos, não havia todo

esse ar esnobe dela.


— Você não pode ficar assim, Alex. — A voz meiga de minha

irmã mais nova me trouxe novamente para o mundo real, encarando


a mulher por videochamada. Os cabelos escuros e brilhosos dela

estão presos no alto da cabeça em um coque bagunçado, a


blusinha solta no corpo, deixando os ombros à mostra era
descolada, bem a cara de Amber.

— Cadê Sky?

— Brincando na casa da vizinha — comentou, mexendo na


bacia em que fazia um bolo de chocolate. — Ela está doida para

falar com você, para cobrar, pela milésima vez, uma visita sua.

Sorri.
— Vocês deveriam vir me visitar, agora nem sei como

resolver meus problemas mais breves. — Ela suspirou.

— Quando sua mãe for embora, iremos, sabe que ela não
perde a chance de atacar Skyler. — Fechei os olhos, balançando a

cabeça em concordância, sabendo bem que dona Kaylee não


deixava em paz nem mesmo a vida de uma garotinha tão amável. —

Estou tão feliz que vai ter um bebê! — exclamou no exato momento
em que a porta da minha sala abriu, me fazendo pular ao dar de

cara com Carly, com a boca escancarada em um O prefeito. Engoli


em seco ao ver que acabei de jogar meu segredo na maior

fofoqueira desta empresa.

— Você está grávida?! — ela exclamou, colocando a mão na

boca. O suspiro saiu alto dos meus lábios e vi que Amber desligou a
videochamada rapidamente, sabendo que brigaria com ela por ter
me entregue tão facilmente.

— Sim, acabei de pegar o teste de sangue. — Balancei o


papel entre os dedos. — Vou ter um bebê. — Encolhi os ombros,
vendo o olhar analítico de Carly, que fechou a porta e caminhou em

minha direção.

— É de Sebastian, né? — Abri a boca, fechei em seguida e


tornei a abrir, como um peixe fora d'água, sem saber o que fazia
naquele momento. — Eu sei que dormiram juntos, Alex. Para os
jovens de hoje em dia, é um beijo e pronto! Não se importam se

será apenas uma noite.

Abaixei a cabeça, sentindo minhas bochechas coradas.

— Ah, mas isso não importa, você vai ter um bebê! —


exclamou, animada, parecendo até que havia ganhado na loteria. —
Vai ser a coisa mais linda, certeza, será que vai puxar a cor dos
olhos do pai ou dos seus? Difícil, hein! O cabelo vai ser castanho

médio, certeza — tagarelou, e eu apenas afundei na cadeira,


pensando seriamente em como seria me demitir antes que a notícia
se espalhasse pela empresa. Carly mexeu no celular rapidamente e
abri a boca para perguntar o que ela estava fazendo, mas, antes
que pudesse, a secretária de Sebastian apareceu em minha porta,

colocando a cabeça pelo vão, respirando ofegante.

— Estava passando e recebi a notícia — explicou. — Alex,


parabéns pelo bebê! — Sorriu, alegre, e bati com a cabeça contra

minha mesa de trabalho. Em menos de meia hora, eu já havia


recebido metade do meu andar para me parabenizar, nesse
momento, Susan estava parada em frente à minha mesa com um
sorrisinho.
— E quem é o pai? Você sempre teve um ótimo gosto para
homens. — Suspirei, tentando entender como havia entrado nessa
fria. Primeiramente, isso não estaria acontecendo se eu não tivesse
caído nos encantos de Sebastian.

Conhecia Susan da faculdade, e ela sabia do meu breve

histórico de paqueras, apesar de que nunca foi algo sério, não


passando de encontros casuais. Pois, no fim, tinha um ímã para
atrair babacas.

— Errr... — gaguejei, tentando formular uma ideia para falar


sobre quem era o pai... — Não pretendo contar agora, é uma
pessoa um tanto complicada.

Ela riu, jogando os cabelos ruivos para trás.

— Ah, pelo amor de Deus, nós nos conhecemos há muito


tempo. Posso saber quem é o pai do seu bebê. — Não, ela não

podia. E sabia disso, sabia que não tínhamos nenhuma interação ou


laço forte o suficiente para que essa informação saísse dos meus
lábios.

A porta abriu, pela milésima vez naquele mesmo dia e


Sebastian colocou a cabeça para dentro.
— Atrapalho? — perguntou com um sorriso leve. Balancei a
cabeça em negação, vendo o sorriso de Susan se tornar ainda
maior. — Por que parece que sua sala hoje virou ponto de

encontro? Estou tentando vir aqui sem que tenha dez dos meus
funcionários há mais de três horas.

Afundei novamente na cadeira, não querendo nem responder

aquele questionamento.

— Ah! Sebastian, não ficou sabendo? — Engoli em seco


diante da indagação de Susan. — Alex vai ter um bebê! Não é
incrível?! — Fechei os olhos, sentindo todo meu corpo ficar tenso e

os olhos do homem sobre mim, sabendo bem que vários


questionamentos passavam em sua mente.

— Sério?! Que coisa boa, Alexandra, filhos parecem uma

ótima coisa. Além do fato que eles precisam de você para o resto da
vida — brincou, me fazendo abrir os olhos para encará-lo, vendo
que ele parecia meio perdido. Engoli em seco. Seus olhos focaram
nos meus e, enquanto Susan falava sobre alguma amiga que se
tornou mãe e contava as peripécias do filho, só observava a
expressão desolada de Sebastian Collins, tentando entender o que
acontecia.
Sebastian não parecia o cara que iria ficar extremamente feliz
em ter um filho agora, depois de ficar quase dez anos em um
hospital psiquiátrico, de estar finalmente retomando à vida e de
estar no topo de uma das maiores empresas dos Estados Unidos,
buscando seus objetivos na melhor idade para mulheres.

Enquanto eu tinha quase tudo que desejei toda minha vida.


Só que, mesmo assim, ainda não parecia o momento. Queria, ao
menos, estar com a pessoa que iria ser meu companheiro, só que

minha descrença de que existia um homem perfeito para mim era


muito real agora.

— Estão me ouvindo? — a mulher interrompeu, me fazendo


balançar a cabeça e encará-la.

— Sim — concordo, meio desconexa. — Claro, o bebê.

Ela riu.

— Ah, querida, parabéns, vou deixá-la tratar de negócios com


Sebastian, preciso correr até minha casa. — Ótimo momento para
ela lembrar que precisava fazer algo, deixando-me sozinha com a
pessoa que menos queria no mundo. — Me envie os documentos,
Collins.
Bateu gentilmente nas costas do loiro, que franziu o cenho e
assentiu, parecendo ainda mais desconcertado. A porta se fechou,
deixando claro que agora era apenas eu e ele. Seus olhos
percorreram cada canto da minha sala, passando pelas fotos da
minha irmã e minha sobrinha. Engoliu em seco e, em seguida, se
fixou em mim.

— Então, você está grávida? — A pergunta era só um início


para toda uma série delas.

— Sim.

Senti meu corpo todo tenso e duro na cadeira macia.

— E é meu? — Me encarou, colocando as mãos sobre a

mesa, inclinando o corpo levemente para frente, fazendo o ar bater


em seu corpo e trazer seu perfume junto.

O cheiro veio contra meu olfato e meu estômago se revirou.


Me coloquei de pé rapidamente, com medo de vomitar ali mesmo, e

segui correndo para o banheiro do meu escritório, sentindo minhas


pernas fracas. Me vi desmoronar em frente ao vaso, colocando o

pouco café da manhã para fora em frente ao meu chefe e pai do


meu filho.
A única coisa que consegui detectar era que ele segurou meu

cabelo enquanto passava por aquela situação, no mínimo,


vergonhosa. Amaldiçoei todas as bebidas do mundo. E a mim, por

ser tão fraca a elas.


Segurei seus cabelos enquanto batia levemente em suas

costas, tentando conter o desespero que se espalhava dentro de


mim. Alexandra balançou as mãos no ar, até encontrar meu peito e,

com isso, me afastar, pedindo espaço. Sorri de lado.

— Sai daqui. — A ouvi grunhir. — Isso é chato e nada


elegante.

Revirei os olhos diante da besteira saída dos seus lábios e

me abaixei em suas costas, a ajudando a se levantar, sua pele


ainda mais branca como uma folha de papel de tão pálida que

estava. Ela se encostou em mim, parecendo cansada, e a vi suar.

— Não sei nem o que é pior — comentou com um sorrisinho.


— Eu ter dormido com meu chefe, estar grávida ou estar vomitando
na frente do cara com quem dormi. — Sorri, sentindo o cheiro do

seu perfume. É agridoce, exatamente como imaginava a mulher em


minha frente. Ela parecia frágil, calma, mas sabia bem que, quando

queria, podia fazer uma reviravolta e tanto.

— Acho que estar grávida deve ser o mais preocupante —


sussurrei e a vi ficar tensa, saltando para frente e se apoiando no

mármore da pia enquanto abaixava a cabeça. — Vou perguntar


novamente. É meu, Alex? Não estou acusando de não ser, é que

apenas foi uma noite, não sei se você tem algum relacionamento
fixo ou algo.

Ela me lançou um olhar nada amigável.

— Pelo amor de Deus. — Revirou os olhos, se aprumando


novamente, levantando os ombros como se aquilo a fizesse mais
digna. — Posso até fazer um maldito teste de DNA. Estava sem

dormir com um cara há mais tempo que consigo contar.

Sorri de lado.

— Quer dizer que fui sua exceção? — O sorrisinho safado a


deixava ainda mais irritada. Seus olhos azuis ficaram algumas
tonalidades mais escuras.
— Sebastian, eu tenho problemas mais importantes para
resolver além do fato de se você é ou não a exceção. — Sorri, me

lembrando de como ela estava bonita na festa da noite anterior e de


como quis apenas segui-la pelo salão, sabendo que me mandaria
para puta que pariu em cada mísera oportunidade.

Merda, Sebastian! Você tem que ter foco. Um filho! Um


bendito filho.

Não era um bom momento para arrumar uma dor de cabeça

do tipo, eu tinha muitas responsabilidades no Grupo Collins, e sabia


que dependia de mim que tudo fosse muito bem-sucedido. Minha
cabeça chegava a girar na medida em que pensava que, em alguns
meses, poderia ter toda minha realidade alterada. A perspectiva de
que eu poderia não ser um bom pai me tirava do eixo.

Senhor Arnold Collins não foi lá o pai mais exemplar do


mundo. Ele tirou o chão de Maggie, a deixando à própria sorte ainda
aos dezessete, e me enfiou em um hospital psiquiátrico pelo puro

medo de que eu estragasse o status tão imaculado da família.

— Eu não posso ser pai, Alex — murmurei, cansado. — Não


vou ser um bom pai.

Ela fechou os olhos.


— Você realmente está me pedindo isso, Sebastian? Sério
mesmo? Acha que tirá-lo vai te poupar de ser um pai ruim? — Sabia
que não. Eu continuaria sendo um péssimo pai, só que, pelo menos,
não teria como ver a comprovação disso todos os dias.

— Sinto que, se for até o fim com isso, veria todos os dias a

confirmação de que sou um péssimo pai! E odeio pensar nisso. —


Ela se encolheu, passando o braço em volta da cintura.

— Eu não estou pedindo que o assuma, seu babaca! —

exclamou com os olhos cheios de lágrimas contidas. — Apenas


para que saiba, vou fazer o maldito exame de DNA para, quando ver
os fatos, você ter a certeza todos os dias de que vai ser um péssimo
pai se continuar com esse pensamento pequeno.

Seu corpo altivo bateu contra o meu em uma afronta


silenciosa e ela saiu do banheiro. A porta do escritório se fechou
com um baque e inspirei fundo, fechando os olhos ao perceber que
acabei de fazer uma enorme merda.

Merda. Merda. Merda.

Eu não poderia ter focado no fato que precisava de um DNA,


mesmo que acreditasse nela. Aparecer com um filho do nada, sem
nenhuma namorada fixa, para minha família, seria no mínimo
suspeito. Ainda mais quando se tratava de Madelyn e Arnold Collins.

— Você vai ser pai?! — meu melhor amigo exclamou, se

sentando no bar do meu apartamento. Servindo-se de uma dose


generosa de rum, bebeu boa parte em apenas um gole. — Quando
isso aconteceu? Com quem?

Revirei os olhos.

— Desde quando se tornou tão fofoqueiro? Você não era


assim, só pode ser influência de Maggie. — Ele riu.

— Fofoqueiro seria você, que veio correndo me contar. Estou


apenas analisando a situação, como todo mundo faz. — Ele deu os
ombros. — Maggie sempre fala: “Ouça tudo, analise tudo, para

poder me contar depois”.

Suspirei.

— Virou pau-mandado com o casamento, claramente. — Ele


riu. — E respondendo a sua pergunta, foi há alguns dias. Maldito
seja o álcool, por culpa dele, esqueci a maldição da camisinha.

— Sim, seu babaca, já pensou se pega alguma doença?! —


Ele não me poupou do tapa despejado em minha cabeça, me
fazendo revirar os olhos.

— Você tem alguma doença? — indaguei, sugestivamente,


lembrando de que Hunter e Alexandra já namoraram, não que eu
gostasse dessa situação estranha, mas a verdade é que não posso
ignorar os fatos de que se esfregavam em minha cara.

— Não, graças a Deus, meu único deslize em relação à


camisinha foi o que geraram os gêmeos. — Sorri com isso.

— Bom, isso é bom. — Ele arqueou a sobrancelha


sugestivamente.

— Vai me contar qual modelo de biquíni você escolheu para

engravidar? — A ironia em sua voz me deixava irritado.

— Não é uma modelo.

— É Susan? Alisson? — chutou, e revirei os olhos. —


Lembro que Susan vivia dando em cima de você; Alisson
claramente se casaria com você se tivesse oportunidade.

Sorri.

— Nenhuma das duas, graças ao meu bom Deus. — Fechei


os olhos. — Só que eu fiz uma bobagem.

Ouvi Hunter colocar o copo de bebida sobre o balcão de


ferro.
— O quê?!

Olha ele analisando a situação, o novo serviço público por

Hunter Cooper.

— Eu praticamente pedi que ela tirasse o bebê. — Ele se


engasgou, completamente fora do eixo.

— Como assim, caralho?! Como você pede uma merda


dessa? — A exclamação do meu melhor amigo era a certeza de que
eu realmente fiz merda demais e que vou precisar ralar muito para
conseguir consertar, ao menos, um pouco disso.

— Eu pedi, eu fiquei desesperado pelo bebê e disse que não


poderia ser pai. Ela entendeu exatamente o que eu queria dizer em

palavras claras e reais: tire o bebê. E, agora, me sinto sufocado só


com a ideia de fazer algo do tipo. Caralho. — Abri os olhos,

encarando Hunter, que mantinha uma expressão irritada.

— Cara, minha vontade, nesse momento, é de apenas

arrebentar sua cara. — Foram suas únicas palavras, me fazendo rir


e beber um pouco do rum que ele me serviu.

— Tranquilo, amigo, eu estou com a mesma vontade.

— E quem é a garota? Tadinha, Maggie, se saber disso, vai

correr até ela e consolá-la. — Tinha quase certeza de que consolo


não era exatamente o que Alex queria, ela precisava do meu apoio

nesse momento. E eu, como um filho da puta de marca maior, não o


fiz.

— Isso, você não vai saber — resmunguei, chateado por ter


perdido meu melhor amigo para minha irmã. Ele virou cachorrinho

dela! — E, além do mais, Maggie não pode ficar sabendo disso. —


Fui enfático ao falar. Hunter fez uma careta e revirou os olhos, como

se estivesse pedindo algo impossível.

Vir visitar papai não deveria ser uma merda, mas, para mim,

era. Sempre nos demos muito bem, e eu estaria mentindo se


dissesse que não o amo ou não o admiro como profissional, mas,

como pai e pessoa, não tenho tanto o que dizer, na verdade, parte
de mim ainda estava presa à uma mágoa passada.

O que era particularmente uma merda completa.

Abri a porta, vendo que ele assistia a algo no tablet fixado ao

suporte ao lado da cama. Não que ele tivesse tido algum avanço.
Meu pai mexia as mãos, os pés e falava quando tinha coragem. Só

que parecia mais um estado vegetativo, porque nada melhorava


além daquilo.
— Sebs... — O ouvi falar, meio baixo, com um sorriso

repuxando os lábios. —Meu menino.

As lembranças da minha infância vieram: mamãe, ele e

Maggie sentados no parque que ficava na rua da nossa casa, papai


me chamando de meu menino enquanto me ensinava a conduzir

uma bicicleta com toda a calma do mundo. Isso preencheu meus


olhos de lágrimas e meu coração de saudade.

— Papai — sussurrei, me sentando ao lado da cama e


segurando sua mão, vendo que era um documentário atual que

passava no tablet. — Como você está? — Só de vê-lo, era capaz de


responder minha própria pergunta. Péssimo, no mínimo.

— Vou bem, meu garoto, fico feliz em vê-lo. Sua mãe


tagare... — uma crise de tosse apoderou do seu corpo, o fazendo se

curvar. Fechei os olhos e esperei a situação voltar ao controle e ele


se sentir à vontade para falar novamente — tagarelou sobre como

estão vivendo suas vidas. Saudades dos meus gêmeos já, e nem
faz um dia que eu os vi.

Sorri.

— Os gêmeos estão cada dia mais lindos, mesmo. Heitor e

Mel. — Ele sorriu, bobo, encostado nos travesseiros. — E eu tenho


uma coisa para falar também. — Olhou em minha direção.

— O que é, filho? — Suspirou, cansado.

— Fiz uma bobagem imensa. — Engoli em seco. — Aí, tentei


consertar e fiz novamente outra bobagem.

Ele riu.

— Acho que isso está no sangue da família. Escolhas ruins.

Sua tia. Eu. E uma hora ou outra, nossos filhos. — Sorri com a
menção da tia Karla, em memória apenas, depois de muito sofrer

nas mãos de um péssimo marido. — Mas o que aconteceu?

— Eu vou ser pai. Se a garota não tiver seguido o conselho

que dei e foi procurar uma clínica de aborto. — Papai engoliu em


seco e fez uma careta, com toda certa não gostando de esboçar

apenas isso. — Estou morrendo de medo disso. De ser pai. Não sei
se vou ser um bom para meu filho.

Ele riu.

— Queria estar um pouco melhor para bater em você,

Sebastian. — Sorri de lado. — Primeiro, acho que você deve ir


aonde essa garota está e deixar claro que tudo que falou era um

equívoco, que você não quis dizer isso e que vão, sim, ter esse filho.
O meu neto, não toque nos netos de um velho que está entre a vida
e a morte — resmungou, e ri a contragosto.

— E eu acho mesmo que você só vai ser um mau pai se


continuar com esse pensamento de que tirá-lo seria melhor. Vai ser

um mau pai e ainda sem um bebê. — Engoli em seco. — Você,

Sebastian, é mais homem do que um dia fui. Passou todos aqueles


anos naquele local por uma burrice minha, sobreviveu àquele

inferno, àqueles remédios e, hoje, está à frente da nossa empresa.


Tudo que vejo são resultados positivos.

— Isso não diz que vou ser um bom pai, papai. — Revirei os
olhos.

— Me deixe falar, garoto — resmungou, contrariado. — Você

realmente acha que um homem de mau coração perdoaria um pai

tão ruim a ponto de vê-lo entre a vida e a morte? Realmente acha


que seria tão gentil com as pessoas, tão amado por elas, se fosse

realmente uma pessoa ruim?

Fechei os olhos e não respondi. Eu realmente achava que

sim. A escuridão que a solidão deixou em meu ser não havia se


espalhado para o meu exterior, mas isso não significava que não

existisse.
— Quem é a garota?

— Alexandra Johnson — respondi, baixinho, o fazendo rir

alto, parando em seguida para colocar a mão sob a barriga, como


se sentisse dor. — Está tudo bem, papai?

— Eu sabia que os olhos azuis daquela mulher o fariam se


perder — brincou, não respondendo à minha pergunta, como se ela

não tivesse existido. Inspirei fundo, ainda pensando em como falaria


com ela, sabendo que, no momento, Alex não queria me ver nem

pintado de ouro. — A menina Johnson é uma boa escolha, querido.


Será uma esposa incrível quando encontrar o homem correto.

Fiz careta. Não queria que ela encontrasse o maldito homem


correto, parecia simples demais.

Caminhei pelo corredor extenso, discando em meu celular o

número de Alexandra, sabendo bem que a possibilidade de não me

atender era enorme, mas, mesmo assim, liguei. Chamou, chamou e


cheguei a pensar que estava maluco ao ouvir o celular tocando

próximo, mas deveria estar imaginando coisas, com toda certeza.

— Atende. — O resmungo irônico me fez levantar o olhar,

dando de cara com uma loira com as vestes azuis do hospital,


caminhando ao lado de Alexandra, que negou com a cabeça,
desligando minha chamada.

— Não — respondeu taxativa, colocando o celular no bolso


da calça jeans que colava em suas curvas muito bem. Paro no

corredor, observando as duas cochicharem baixinho, claramente


discutindo entre si.

— Boa noite — falei, parando em frente às duas. Alex foi a


primeira a virar o rosto, abrindo a boca chocada ao me ver aqui. —

Tudo bem, Alex? Queria mesmo falar com você.

A risadinha irônica vem da loira.

— Sebastian!? — falou, ao ver que a amiga não faria menção


de se mexer.

— Sim... você, quem é? — Arqueei a sobrancelha para a

jovem mulher de cabelos loiros presos em um coque, o rosto oval, o

nariz fino e os lábios pintados levemente de rosa.

— Sou Hannah Parker, melhor amiga de Alex. É um prazer


ver o pai do meu sobrinho. — Estendeu a mão, tagarelando sem

parar. Alex interveio, se aproximando:

— Acho que você havia dito que precisava voltar ao

consultório. — A loira bufou, contrariada. Afastando-se, abanou a


mão em um tchauzinho animado. Alex voltou para mim, e eu

observei seu rosto sem nenhuma maquiagem.

Geralmente, quando nos encontrávamos na empresa, ela


sempre estava maquiada, com aquele batom vermelho maravilhoso
que é praticamente sua marca registrada. Inspirei fundo e observei

as roupas simples, a blusa folgada no corpo e os chinelos de dedo,


claramente estava bem à vontade. E muito bonita.

— O que faz aqui, Sebastian? — indagou com desconfiança.

— Papai está internado aqui — expliquei, a vendo balançar a

cabeça em concordância. — E você?

— Vim falar com Nana. — explicou, e deduzi que Nana era a


moça loira. — Preciso ir.

Deu um passo para o lado, passando por mim, porém, não a


deixei ir longe e a segurei pelo braço, puxando o corpo em minha

direção. Alexandra não era pequena, na verdade, era bem alta,


então não era uma dificuldade ficar cara a cara comigo. Os olhos
azuis estavam assustados e brevemente nublados. Senti meu corpo

esquentando com a forma que parecia que nossos corpos se


conheciam e se encaixam perfeitamente.
E maldição, eu ainda queria essa mulher. Mesmo que
estivesse puta da vida comigo e que parecesse uma pedra de gelo
enquanto tentava fazê-la ver que éramos bons juntos. Bons demais

para ser verdade.

— Só posso coletar o exame de DNA acima de oito semanas.


Esta será a clínica que irei fazer. Assim que coletar, te aviso para
que faça o mesmo. — Senti-a se afastar. Como se saísse de um

transe, colocou um cartão em minha mão. — Se tiver interesse em


saber se é seu ou não, para alívio de consciência. — Piscou, deu
meia-volta e saiu do hospital.

Permaneci parado ali, em choque com o que tinha acabado

de acontecer. Ela simplesmente parecia sentir nada quando


estávamos juntos e isso era quase tão irritante quanto o maldito
teste de DNA.
Quatro semanas depois

Quatro semanas de cão, isso podia resumir bem. A tensão no

escritório estava quase palpável e sentia que, se continuasse assim,


eu enlouqueceria ou Alexandra se demitiria. Entretanto, respeitei o

seu espaço, sabendo que não poderia fazer muito enquanto não
fizesse o maldito DNA.

Quando recebi uma mensagem dela avisando que já havia

feito a coleta, não esperei duas vezes, pois, mesmo achando uma
bobagem, fui até a clínica que Alexandra me deu o cartão, fiz a

coleta do material para o exame e fui embora, sabendo que não


precisava de nada daquilo.
O bebê era meu, algo me dizia isso e, apesar do medo, faria

de tudo para que chegasse bem ao mundo e que iluminasse tudo ao


meu redor.

Já havia contestado a paternidade, porém, isso serviria para

explicar a qualquer pessoa da minha família que desconfiasse da


situação. Havia colocado em risco seu nascimento e já bastava de

erros.

Não me sentia preparado, mas iria fazer de tudo para estar.

Inspirei fundo, entrando em casa, morto de cansado, mas


paralisei no lugar ao ver Susan sentada em um dos enormes sofás
da sala de estar, vestindo um modelo de vestido extravagante, que

deixava o corpo bem-marcado, com os cabelos ruivos jogados ao


lado no ombro. A mulher era puramente sexual, tudo nela gritava
desejo. E isso me deixava receoso em ficar muito à vontade com

ela.

— Susan? Aconteceu algo? — foi a primeira coisa que


perguntei, colocando o meu celular e a carteira sobre o balcão da

ilha que separava a cozinha e a sala de estar. Ela se levantou, vindo


até mim.
— Sim, pensei que poderíamos sair para beber, comemorar.
— Franzi o cenho, sem conseguir entender uma só palavra.

— Comemorar o quê? É meio da semana, não posso sair


bebendo porque tenho que trabalhar amanhã. — Diga-se de
passagem que isso nunca foi um problema, mas Susan não

precisava saber.

— Nossa, assim vou ficar magoada. Estou comemorando o


contrato que assinei com uma nova empresa, é um negócio grande,

pensei que ficaria feliz por mim. — Me alcançou, segurando meus


ombros. O perfume era chamativo, totalmente diferente do que me
atrairia em uma mulher.

Dei um passo atrás.

— Posso sair com você, mas não posso ficar muito, tenho
que resolver alguns assuntos. — Ela sorriu, batendo palmas,

parecendo mais animada do que deveria, fazendo o suspiro sair


pesado dos meus lábios.

Susan tagarelou por todo o caminho que fiz de volta ao

saguão do prédio onde estavam instalados a empresa e o meu


apartamento. Não gostava muito de viver aqui, não parecia um lar,
apesar de ter tudo que uma pessoa poderia querer.
— Essa cobertura é um sonho. — A ouvi dizer. — Olha, fica
em um dos melhores bairros de Nova Iorque e, ainda por cima, é
quase como estar no topo do mundo. — Sorri de lado, abrindo a
porta de passageiro para que ela entrasse. A vi se acomodar e

segui para o lado do motorista, arrancando o carro, sem dar espaço


para muita conversa. Apenas a ouvi falar e concordei em momentos
estratégicos, sabendo que os meus pensamentos estavam longe.
Em uma mulher. E no meu destino.

— Sabe, estou muito curiosa para quando Alexandra tiver


que admitir que não tem nenhum namorado e que ficou grávida de
uma noitada qualquer. — As palavras me travaram e senti meu
corpo tenso só com a menção, como se ela lesse meus
pensamentos.

— Por que acha isso?

Susan riu.

— É óbvio, Sebastian. Quando uma mulher fica grávida, não


tem um namorado fixo e simplesmente aparece assim, não
querendo falar quem é o pai do bebê, é porque nem ela mesmo tem
o nome do indivíduo. — Deu de ombros. — Sempre soube que seria
assim, a mãe dela sempre foi meio perdida mesmo, o pai teve uma
filha fora do casamento.
Engoli em seco, tentando, contra a minha vontade, não dizer
que ela tinha o nome sim, e era eu! Mas sabia que Alexandra já
estava brava o suficiente para eu jogar nossos segredos no vento e

ter que aguentar sua fúria depois.

— Sinceramente, Susan — comecei, como quem não quer


nada —, acho seu pensamento pequeno para uma mulher tão

jovem, bonita e inteligente. Uma mulher pode, sim, sair e se divertir,


certo? Direitos iguais. E, se algo acontecer, ela é independente o
suficiente para tomar suas próprias decisões.

Ela fez menção de falar algo, mas logo se calou, olhando em

direção à janela do carro, deixando claro que a conversa estava


encerrada. Respirei aliviado com isso, tendo a certeza de que, em
breve, ela entenderia meu pulo em defesa de Alexandra, já que não
pretendo deixar essa situação no escuro por muito tempo. Uma hora
o bebê vai nascer e precisaremos apresentá-lo para o mundo. Em
relação a Alex ser minha funcionária e todos os boatos que irão
correr sobre isso, não me importava.

Nem um pouco.
Quando a clínica ligou dias depois, dizendo que o resultado
estava pronto, não hesitei em ir buscar, corajosa sobre o resultado,
pois sabia exatamente o que acontecia em minha vida. Confesso
que tentava não me importar com o fato de Sebastian realmente ter
ido fazê-lo, sinal que ele acreditava que eu poderia estar tentando

dar um golpe ou algo do tipo.

Eu realmente ia pela pior hipótese.

— Vamos? Vou com você na casa dele, só para garantir que


não vai desviar do caminho. — Revirei os olhos para Hannah,
sentada no banco de carona do meu carro, meio grogue do sonho
que o plantão deixou.

— Você deveria ir para casa, sabe que está meio bêbada a


esse horário, não consegue nem andar direito. — Ela bufou,
contrariada.

— Para de coisa e me leva logo. — Suspirei e liguei o carro,


dirigindo em direção à empresa, sabendo que poderia não encontrar
Sebastian na cobertura e estaria livre de ter que passar pelo
constrangimento de ter que fazer isso com Hannah.

Só que, no exato momento em que estacionei e perguntei ao


guarda se havia alguém na cobertura, ele disse que sim, para minha
infelicidade.

— Você fica aí, eu vou lá. Não saia do carro em hipótese

nenhuma. Vai ser rápido. — Ela arqueou a sobrancelha ao me ver


pegar minha bolsa e conferir que o exame estava lá dentro. Nem
abri, apenas por ter certeza demais para fazê-lo.

— Se vocês resolverem matar a saudade, avisa que eu vou

embora. — Revirei os olhos e bati a porta do carro com mais força


que o necessário, caminhando em direção à entrada da empresa, e
pedi autorização para entrar, sentindo minhas mãos suando e meu
coração batendo tão rápido, como se fosse sair pela boca.

Eu nem sabia por que estava tão nervosa.

Entrei no elevador e pressionei o dedo contra o botão que me


levaria à cobertura, sabendo que Sebastian poderia estar com

alguém e que meus planos seriam fracassados em terminar isso


logo. Queria muito que ele não tivesse pedido para tirar o bebê,

porém, sentia certo alívio nisso. Saber que Sebastian não fazia

questão de ser pai era a parte boa. Eu poderia ir para qualquer lugar
do mundo, cuidar da pequena vida que crescia dentro de mim e tudo

ficaria bem.
Ele não se importava em não ter um herdeiro. Maggie já

havia garantido dois aos Collins. Eu não me importava com meu


filho não ter um pai presente, apesar de saber a importância de ter

uma boa figura paterna.

Porém, eu poderia ser o suficiente para ambos. O elevador

finalmente abriu, revelando o apartamento que me fazia lembrar


brevemente da manhã que saí correndo daqui. E lá estava eu

novamente, voltando ao mesmo ponto, em uma situação

completamente diferente.

— Sebastian? — o chamei, caminhando pela sala de estar


enorme, vendo parcialmente a cozinha dividida por um balcão que

sustentava ainda os copos e os utensílios usados no café da

manhã.

— Alex? — Pulei de susto, me virando rapidamente, e vi


Hunter abrir as duas portas de correr com uma expressão confusa

no rosto. — O que faz aqui? — Engoli em seco, me xingando

mentalmente por esquecer o fato de que Hunter e Maggie ainda


estavam em Nova Iorque.

Forcei um sorriso.
— Preciso falar com Sebastian, ele está? — Senti minhas

bochechas esquentando à medida que Hunter me fitava da cabeça


aos pés, tentando decidir o que eu fazia ali.

— Ele está no banho. Sente-se, quer beber alguma coisa? —


indagou, abandonando a porta de onde saiu e vi que o interior se

tratava de uma sala de jogos. Inspirei fundo, sentindo minhas mãos


suando.

— Uma água seria ótimo. — Ele me lançou um olhar


desconfiado.

— Tem certeza? Nem uma bebida? Parece meio pálida.

— Não costumo beber, sabe disso. — Ele deu os ombros no

exato momento em que ouvi passos atrás de nós, me fazendo virar


rapidamente, vendo que Sebastian tinha apenas um calção de

moletom colado na cintura, que incrivelmente deixava à mostra a


protuberância. Engoli em seco e pisquei ao subir o olhar e ver que o

homem enxugava os cabelos com a toalha branca, lentamente,


parecendo alheio à minha presença.

Senti minha garganta secar ao ver o abdômen definido e


magro, na mesma medida. Nada exagerado. A lembrança do meu

corpo sentado à cama, passando os lábios sobre cada parte da pele


bronzeada, bateu de frente e me obriguei a balançar a cabeça,

querendo afastar isso a todo custo.

Olhei para Hunter, que estava distraído colocando a água

dentro do copo, e me levantei, me sentindo meio tonta.

— Sebastian — o chamei, atraindo sua atenção.

— Alexandra! — Ele sorriu, aberto, não parecendo notar a

situação crítica que se instaurou entre nós. Engoli em seco


novamente e agradeci quando Hunter me entregou o copo com

água. — Queria falar comigo? — Notou meu desconforto.

— Sim, trouxe aqueles contratos para você assinar. —

Balancei minha bolsa. — Mas vou precisar de sua atenção por


alguns minutos a mais. Encontrei algo neles que talvez lhe agrade

— floreei a ideia, tentando passar a informação que precisava falar

com ele sem o olhar analítico de Hunter.

— Vou deixar vocês resolverem isso, irei buscar Maggie no


hospital. Você cuida dos gêmeos, Sebastian? — meu amigo

perguntou, me fazendo encará-lo, vendo-o sorrir de forma quase

traquina. Sabia que tinha entendido que havia algo mais do que um
simples contrato.
Sorri, agradecida, sabendo que, apesar de não estarmos
mais namorando, era feliz por ele ter seguido sua vida com quem

realmente amava. Éramos amigos bem antes de engatarmos em um

namoro.

— Tranquilo, dou conta dos monstrinhos — Sebastian

brincou, me fazendo encará-lo. Hunter pegou a chave do carro


sobre a bancada e saiu rapidamente pelo elevador. Quando a caixa

de ferro finalmente fechou em suas costas, respirei aliviada. — Ele


provavelmente percebeu algo, Hunter não é bobo.

— Ele sabe, certeza — concordei, deixei o copo de água em


cima da mesinha de centro, abri a bolsa e retirei o envelope de

dentro dela. Encarei o exame lacrado com uma sensação de medo


indescritível. E se Sebastian tivesse um lapso de consciência e

quisesse participar da vida do bebê? Meu Deus, isso deveria ser


algo que eu desejava, mas tinha medo.

Minha carreira sendo associada a um homem e todo meu


esforço sendo banalizado dessa forma me tirariam o chão. Sem

falar que Kaylee sairia triunfante em tudo que me disse no passado.


E Robert, um ex-namorado de quem não gostava nem de

mencionar, teria razão.


— Aqui está o resultado. — Me virei para ele, vendo que o
homem me observava atento, com a toalha pendurada no pescoço e

os cabelos molhados caindo levemente sobre a testa.

Estiquei o envelope e o vi analisar com calma.

— Por que você não abriu? — Engoli em seco, encolhendo


os ombros.

— Te falei que não havia ninguém na minha vida. Eu conheço


minha história. — Ele franziu o cenho. — E não faz sentido você ter

ido até lá e ter feito o exame enquanto disse que não quer ter um
filho. — Joguei as palavras, tentando ver se ele colocaria na mesa

sua intenção.

Suas mãos seguraram o envelope e o vi fazer menção para

abrir sem responder minha pergunta, sinal claro de que não havia
mudado de opinião. Ao mesmo tempo em que isso me consolou,

afundou meu coração.

Meu filho não teria um pai como eu tive.

— Não abre. — O impedi, tocando sua mão rapidamente, e


ele me encarou. Peguei minha bolsa e sorri de lado. — Eu estou

indo. Nos vemos amanhã, senhor Collins.


Sorri de lado, caminhando para longe dele, não querendo ver
sua reação ao confirmar que a pequena criança que crescia em meu

ventre era sua. Não queria vê-lo tentado a mudar de ideia. Ou


rejeitá-lo.

A questão certa era que eu estava confusa, concluí, entrando


no elevador. Ao mesmo tempo em que queria que Sebastian fosse

homem o suficiente para ser pai deste bebê, não queria isso,
sabendo que afundaria meu futuro. Porém, uma parte de mim

estava magoada e brava por ele querer um teste de DNA e ainda

fazer menção a um aborto.

Eu era uma bagunça completa, foi uma constatação que fiz


ao ver a porta do elevador se fechar. Deixei minhas pernas cederem

e me sentei sobre meus calcanhares, enquanto a caixa de ferro

descia, parecendo afundar junto o meu coração.


Encarei as informações confusas do teste, sentindo um enjoo

vir à boca. Com os resultados ali apresentados, o bebê já avançava


para a nona semana de gestação, e eu nem lembrava que já havia

se passado tanto tempo. Não havia dúvidas que os últimos dois


meses e meio se passaram como o vento. Também com a empresa,
família e mil e uma reuniões no dia, não era difícil perder-se com as

datas.

Porém, ali, naquele papel, havia algo bem maior do que um

simples teste de DNA. Era a confirmação de que algo em minha


vida mudaria para sempre. A paternidade nunca tinha me assustado

como agora. Talvez a ideia de ser como meu pai era perturbadora
demais para ser enfrentada facilmente.
Me joguei no sofá, mas não aproveitei nem um segundo da

superfície macia, ouvindo a babá eletrônica apitar, anunciando que


um dos gêmeos havia acordado. Levantei-me depressa, correndo

pelo pequeno corredor ao lado da sala de jogos que me levava


diretamente aos dois quartos de hóspedes em que Maggie e Hunter

estavam.

Entrei no primeiro quarto, vendo Melissa balançar as


perninhas no ar, choramingando em plenos pulmões. Me abaixei, a

pegando do pequeno berço montável que minha irmã havia


colocado e deixei o ambiente, não querendo acordar seu parceiro de

crime. A balançando em meus braços, senti o cheiro de colônia


infantil invadir meus sentidos.

— Meu Deus, pensar que, em alguns meses, terei um desses


no mundo — murmurei, entrando em meu quarto, longe o suficiente
para que o outro gêmeo não escutasse seu choramingo. Me sentei

na cama e balancei Mel em minhas pernas, cantarolando uma


musiquinha que eu não fazia ideia de como começava ou terminava
e se estava no ritmo ou não.

Só que a garotinha me encarou com curiosidade, abrindo


bem os olhinhos verdes que tanto me lembravam os de Maggie e
me deu um sorriso banguelo, mostrando o único dentinho que
crescia na boca.

E foi ali que eu vi. Não importava o pai que Arnold Collins
havia sido. Eu não era ele. Éramos muito diferentes. E eu não faria
com meu filho ou filha o que ele havia feito comigo.

— Você vai ter um priminho, Mel — disse, brincando. — Que


Deus me ajude que não seja gêmeo, mas, devido aos genes dessa
família, não duvido nada. — O fato de ter aceitado isso não queria

dizer que estava preparado para ser pai de gêmeos.

Melissa Collins mordeu a mãozinha gordinha,


choramingando. Parecia com fome. Apalpei a barriga gordinha e

senti um desespero ao pensar que ela poderia estar com muita


fome. E não fazia ideia de como alimentar um bebê.

— Deus ajude que sua mãe chegue logo — sussurrei —,

para contar a ela que vamos ter mais um herdeiro Collins em breve,
que provavelmente não vai ter essas penugens loiras suas. — Alisei
um pouco a cabeça da pequena garota. — E, se for menina, vai ficar
empinando aquele nariz atrevido em minha direção. Igualzinha à
mãe dela.
Pincelei o nariz de Mel, a escutando resmungar e me chutar
com aqueles pezinhos pequenos.

— Que negócio é esse de novo herdeiro, Sebastian? — A


voz de minha irmã gêmea preencheu o cômodo, me fazendo
levantar o olhar e dar de cara com a loira com uma expressão

assustada.

Hunter apareceu em suas costas com Heitor em seus braços,


que mantinha os olhos enormes atentos a tudo. Engoli em seco.

— Eu vou ser pai. — A primeira confirmação veio mais forte


do que eu poderia aguentar. — Alexandra está grávida e
provavelmente ela vai me querer longe do bebê, porque fui babaca

e disse que não queria filhos.

A última parte era uma faca em meu peito. Vi a expressão de


Maggie se tornar furiosa explodindo em um feroz:

— Seu babaca! — Hunter segurou o riso e, se não fosse pelo


choro estridente de Melissa no momento mais oportuno do mundo,
eu estaria morto agora.

A loira pegou a bebê dos meus braços me lançando um olhar


de pura raiva.
— Você me aguarde, Sebastian. — Foi tudo que consegui
ouvir ao vê-la pisar duro para longe do quarto. Hunter arqueou a
sobrancelha, caminhando em minha direção e se sentando do meu

lado.

— Não sei o que falar. Te dou um soco por ser tão babaca
com Alex ou apenas digo que você tem um puta de um bom gosto?

— Lancei-lhe um olhar azedo e contrariado, sabendo bem que


aquela conversa sobre eu ter bom gosto me deixava desconfortável
e trazia lembranças de eles juntos.

— Para de falar assim, seu babaca, minha irmã, se escuta

isso, fica puta. — Hunter riu.

— Não, Maggie sabe que eu a amo e que não há dúvida


disso. Sabe do meu relacionamento no passado com Alex e sabe

que éramos amigos antes de ser algo mais. — Lanço-lhe um olhar


irritado. — Parece que o único ciumento aqui é você.

Suspirei.

—Não quero saber se vocês tiveram um relacionamento,


porra. — Ele riu ainda mais, se levantando.

— Maggie, né que Alex é uma mulher e tanto? — Suspiro,


cansado, sendo observado pelo pequeno Heitor em seus braços. O
garoto era bem mais calmo que Melissa e muito mais parecido com
Hunter.

— Sim, vê aqueles olhos? Ela fica linda de batom vermelho,


cara!

— Exatamente — Hunter concordou, me olhando divertido, e


eu me joguei na cama, não querendo ouvir o complô contra minha
pessoa. Sabia que Hunter amava Maggie e que ele nunca a faria
mal. Mas, mesmo assim, era estranho. A questão era que eu não
sabia como Alexandra ficava em relação a ele. Por mais que
tentasse não me importar, eu me importava. E muito.

Entrei em casa, sentindo meus pés reclamarem da


caminhada matinal, e fiz meu percurso em direção ao quarto,
sabendo que precisava estar no tribunal em duas horas para uma
audiência muito importante. Depois disso, meu dia seria uma
loucura só, entre uma reunião e outra com os clientes. Sabia que
precisava correr e ainda ir a mais uma consulta, dessa vez, minha

primeira ultrassonografia.
Inspirei fundo, sentindo meu corpo nervoso com a
perspectiva, ainda sabendo que deveria esperar por uma resposta
final de Sebastian sobre se ele iria querer ou não acompanhar a
gravidez. Só que quando tentava ser racional e pacífica, meu
cérebro me lembrava de que ele abdicou disso quando deu a
sugestão do aborto.

— Quando está pensando em tirar essa criança? Já faz mais


de mês que está nessa de enjoo matinal, tonturas. Se esperar mais,
vai acabar mãe solteira. — A voz de Kaylee me travou no lugar, me
fazendo olhar por sobre o ombro, encarando os fios escuros

bagunçados e o corpo coberto pelo robe vermelho.

Havia acabado de sair da cama.

— Quando você irá para casa? Não acha que já ficou tempo

suficiente? — Não me arrependi nem um pouco de quase expulsá-

la. A mulher não tinha a mínima decência de entender que eu não


iria tirar o bebê apenas porque ela achava ruim ser mãe solteira.

Que se foda o que ela achava. Nunca foi uma mãe quando
precisei, e não será agora que irá ser.

— Acho que você não quis dizer isso, Alexandra. Sou sua

mãe! — Sorri.
— Sim, mas nem por isso sou obrigada a aguentar você

falando besteira. Eu fiz um filho, Kaylee, e vou assumir isso, você


queira ou não. Hoje vou no meu primeiro ultrassom e, quer saber,

apesar da bagunça que é minha vida, estou amando cada segundo


da minha nova vida. — Ela não respondeu às minhas palavras e

aproveitei para dar meia-volta e sair da sala.

— Robert tinha razão, Alex. — Isso me fez travar no lugar.

— Sobre o quê? — O homem sempre falou mais babaquice


do que era capaz de aguentar.

— Sobre você acabar quebrando a cara, querendo ser


independente e melhor do que eu. Somos da mesma família, filha,

as mulheres dessa família acabam por se perder. Uma hora ou


outra.

Engoli em seco.

— Eu não me perdi, mãe. Não vivo mais no século passado.

— Segui meu caminho e me tranquei no meu quarto, deixando


minhas pernas cederem ao sentir meus nervos à flor da pele,

prestes a surtar. Estava tão nervosa, sabendo que, quando ela


descobrisse que o bebê era de Sebastian Collins, usaria para me
machucar ou a posição social dele com a babaquice típica de

Kaylee. Dinheiro.

Inspirei fundo, ouvindo meu celular apitar no bolso do meu

casaco preto que usava para correr. Abri a mensagem e estranhei


ao reconhecer o número de Maggie Collins. Prendi a respiração ao

ler a mensagem clara e animada.

Parabéns, mamãe!

Sebastian havia contado para a família. E,

consequentemente, eu estava mais próxima da queda, de ser


rebaixada a apenas a mulher que deu um golpe no CEO bonitão e

muito rico. Que babaquice!

Levantei-me do chão, disposta a dar um jeito de mandar

Kaylee Johnson para longe o mais rápido possível. Talvez se


entregasse o dinheiro que ela tanto queria...

Não! Não ia cair na chantagem emocional que minha mãe


costumava fazer com todos.
Afundei minha cabeça contra a mesa cheia de documentos,

não acreditando que Maggie estava gritando há meia hora comigo


como se não tivéssemos a mesma idade, como se não fosse minha

garotinha.

Suspirei, a vendo falar sobre a importância de ter um filho.


Sobre as responsabilidades, a mudança que tudo tinha, como sua

vida virava de cabeça para baixo e nunca mais seria apenas você.
Sempre teria aquela pessoa dependente, seja por amor, dinheiro ou

pelo simples fato de que ela despeja toda sua confiança em cima de
você.

Porém, ela parou em frente à imensa janela da minha sala,

encarando a rua movimentada, e seus olhos caíram rapidamente na


cadeirinha que segurava Melissa quietinha ali. E sorriu, apaixonada

pela filha.

— É aquele amor incondicional, sabe? — murmurou com voz


calma. — É uma pessoa que você sabe que deposita todo seu

coração ali. Que tem todos seus pensamentos. Se ela está bem, se
não sente dor ou se ninguém está a machucando.

Sorri, sabendo o quão apaixonada minha irmã era por seus


pequenos pestinhas.

— Eu sei, Maggie — foi a única coisa que disse para atrair


sua atenção. — Eu estava com muito medo de ser pai, pois a ideia
era assustadora a princípio. Não tivemos o melhor dos pais.

Encolhi o ombro, e ela caminhou até mim, pousando a mão


em meu ombro, e alisou meus cabelos com a outra, como se eu

tivesse três anos e chorasse pelo meu brinquedo perdido.

— E como está seu coração agora? Hunter me falou que


estava enciumado. — Fiz careta.

— Não estava enciumado. Acho normal ter um desconforto


ao saber que Hunter e Alex já dormiram juntos enquanto ela é futura
mãe do meu filho. — Ela riu baixinho.
— Tenho a sensação de que isso não é uma verdade
absoluta — respondeu, se afastando em direção ao seu celular que

estava jogado na mesa e vibrava, se aproximando da borda. — Ah,


é Hunter. Ele e Heitor juntos são um desastre.

Ri, encarando o celular.

Escutamos alguém bater à porta e liberei a entrada, sem


fazer a mínima ideia de quem se tratava. A cabeleira escura colocou
metade do corpo para dentro, sorrindo, nervosa. A vi engolir em

seco diante da presença de Maggie.

— Alex! — minha irmã exclamou. — Entra, já ia lá na sua


sala.

Ia, é? Eu quase perguntei, mas decidi ficar calado e ver a


interação das duas.

Alexandra entrou, e eu a observei com calma. O cabelo


escuro preso em uma trança lateral, como era bem longo, ia até um
pouco antes da cintura, os lábios pintados em um tom clarinho e,
pelo que percebi, era a única maquiagem presente no rosto. As

roupas, como sempre, eram muito discretas. O vestido ia um pouco


acima do joelho, justo de forma moderada. E merda! Ela era linda
demais...
— Parabéns pelo bebê, Ale… — minha irmã falou, a
abraçando. A mulher sorriu de orelha a orelha com isso. — Veja só
como será sua vida daqui a alguns meses. — Apontou levemente
para Melissa, que balançava as pernas para cima, agitada por estar

há muito tempo deitada.

Minha sobrinha, com sua porção de fios loiros na cabeça,


vestia um shortinho pequeno jeans, que não sabia como era
possível ter uma peça do tipo para alguém tão pequeno, e uma
blusinha azul apertada ao seu corpo.

Alex riu, se inclinando para ver a criança. Alisando sua


bochecha, atraiu a atenção de Mel, enquanto eu continuava ali,
paralisado. Engoli em seco ao vê-la fazer voz fofinha e rir em
seguida com o gracejo da menina.

Ah, caralho! Não importava a porra do pai que eu seria. Faria


tudo, todos os dias, para ser o melhor. Mas eu queria tanto ser o pai
do bebê de Alexandra no momento.

Ela levantou o olhar, parando em mim, e me perdi na


imensidão azul dos seus olhos, que me lembrava o céu límpido da
manhã. E novamente soube que poderia fazer qualquer coisa para
ela esquecer a maldição que mencionei no começo de tudo.
— Trouxe esses papéis para você assinar, estou saindo para
o cartório e resolvi passar para pegar sua assinatura. — Se
levantou, parecendo focar no que havia vindo fazer ali. Colocou a

pasta de papel em cima da minha mesa. — Irei resolver essa


questão do contrato e, esse resto da semana, irei me ausentar.
Estarei com o telefone para caso de alguma emergência, mas
preciso resolver alguns assuntos pessoais fora da cidade —
tagarelou, e eu seria petulante com ela perguntando o que havia de
tão pessoal que a levava para longe se Maggie não estivesse aqui,
assistindo a tudo com olhos de águia.

— OK, apenas isso? — indaguei, assinando os documentos


que havíamos trabalhado alguns dias atrás. Entreguei a ela, que
assentiu e logo se despediu, saindo da sala de maneira silenciosa.

Contrariei a vontade de bufar ao vê-la ir, sabendo que havia


perdido a oportunidade de falar com ela por culpa da minha
pequena fofoqueira, conhecida na maior parte do tempo como
minha irmã. A encarei com um olhar querendo transparecer toda
minha raiva, mas, ao ver o sorriso de orelha a orelha, sabia que viria

algo pior por aí.

— Meu Deus, você faz cara de bobo quando olha para ela! —
exclamou, rindo enquanto batia palmas.
— Não faço nada. Estava apenas pensando em como será
quando o bebê nascer. Normal. Aposto que Hunter fez isso. —
Apontei para a dupla incompleta que Maggie trouxe a meu
escritório, e ela riu.

— Preciso saber em que momento você e Alex se tornaram


tão próximos que fizeram um filho. — Ela puxou a cadeira, se
sentando. Pegou Mel nos braços e retirou o peito para fora,
amamentando a filha.

Eu apenas observei cada interação, como se pudesse


visualizar meu mundo em alguns meses.

— Não vou te falar sobre isso, Maggie! — Levantei-me da


cadeira. — Amei te ver, irmãzinha, mas preciso ir, se eu ainda quiser
resolver algumas pendências.

Ela abriu a boca para reclamar, mas eu já estava passando


por Mel, beijando a cabeça das duas mulheres da minha vida, e saí,
não querendo ouvir tudo que poderia sair dos lábios de Maggie
Cooper.

Vi Alexandra equilibrar uma caixa pequena juntamente da


sua bolsa e uma sacola de uma lanchonete que ficava na rua da
empresa ao sair da sua sala, parecendo que o mundo ia desabar
em cima dela. Apressei meus passos, pegando a caixa dos seus
braços antes que tivesse uma chance para me impedir.

— Deixa que eu ajudo — murmurei. Ela abriu a boca em


choque, depois fechou e abriu de novo, me fazendo rir. — Vem, está
indo para o cartório, certo? — Ela balançou a cabeça em afirmação.
— Ótimo, vamos juntos, você está de carro? Vou para o hospital, é
no caminho.

Ela franziu o cenho, desconfiada.

— Você não tinha uma reunião? — Engoli em seco. Balancei


a cabeça, tentando achar uma desculpa para minha má capacidade

de criar uma mentira convincente.

— Sim, mas foi cancelada, e eu preciso ir ver meu pai. — Ela

balançou a cabeça, seguindo para o elevador. Eu a segui de perto,


não resistindo em deixar meu olhar cair para suas nádegas, que

estavam levemente marcadas pelo tecido. Nem precisava que fosse

muito evidente, pois as lembranças delas ainda eram bem vivas em


minha mente.

Entramos no elevador e me vi assobiando como quem não

quer nada, enquanto aquele negócio não fechava logo e, assim que
fechou, coloquei a caixa no chão com impaciência.

— Precisamos conversar — avisei, sério.

— E escolheu o elevador como melhor lugar para se ter uma

conversa? — indagou de modo cansado.

Sorri, constatando que ela novamente faz aquele negócio de


me olhar com o nariz empinado.

— Na verdade, você não me deixou abrir o teste no dia que


foi em minha casa. — A lembrei, ela riu e abaixou a cabeça. —

Fiquei sem reação, só fui processar que não poderia falar mais com

você quando percebi que já havia ido com esse seu nariz petulante.

Ela abriu a boca, chocada.

— Não sou petulante.

— É sim, petulante e atrevida.

Ela riu.

— Me diga por que acha isso.

Revirei os olhos, desacreditado.

— Você faz algo do tipo, olha... — expliquei, atraindo atenção

para mim, levantando os meus ombros, ficando com a postura ereta,


levanto a cabeça para cima e olho para baixo, empinando meu
nariz. E, na minha representação, está do mesmo jeitinho de

quando Alex se sente ofendida ou fica brava com algo.

Ela riu, divertida.

— Eu não faço isso. — Se encostou na parede, jogando a

cabeça para o lado, a me observar. O ato fez o rosto branco com as

bochechas rosadas se tornar quase uma miragem de tão bonita.

Ficamos em silêncio por longos instantes, observei o painel


do elevador mudar na medida em que descemos mais rapidamente.

Engoli em seco, lembrando do porquê estou aqui, de tudo que

planejei falar desde que abri aquele teste de DNA.

— Eu quero o bebê, Alex — murmurei, cansado. — Sinto

muito, foi imaturo falar que queria que tirasse, eu estava assustado,
com medo de acabar sendo como o exemplo de pai que tive durante

a vida. Quero muito cuidar do meu filho. Estar ao seu lado durante a
gravidez. Poder escutar seu coraçãozinho e saber se eu vou levar

os genes de gêmeos ou será apenas um único bebê.

Sorri de lado com a expressão assustada dela com a menção

de dois bebês em apenas uma encomenda. Não evitei a risada, me


aproximando, fazendo-a descer os braços que abraçavam o corpo

franzino. Coloquei a mão um pouco ao lado da sua cabeça, me


aproximando o suficiente para saber que, se quisesse, a beijaria

com muita facilidade. Algo que desejava fazer desde que ela fugiu
do meu apartamento, semanas atrás.

— Não me importa se vou ter que correr atrás da sua


confiança ou implorar para que me deixe ser um pai esse bebê. —

Toquei sua barriga por cima do vestido. — Só me deixe tentar. Me


deixe mostrar que não sou tão babaca quanto deixei transparecer.

Ela abriu a boca e permitiu que eu fizesse o que tanto estava


desejando. Aproximei nossos lábios, deixando que se tocassem

levemente. Sua boca se remexeu, impaciente, sobre a minha, e


aceitei que meu impulso me levasse, aprofundando o beijo da

maneira que desejava, permitindo nossas línguas se encontrarem,


bailando juntas em busca de controle. Suas mãos subiram por meus

ombros, segurando na lateral do meu rosto, enquanto a outra


afundou em meus cabelos.

Caralho. Era muito bom.

Gemi, antes de me afastar para encontrar os olhos cheios de

luxúria. Deixei minha boca descer na lateral do seu rosto, passando


pela bochecha macia, chegando a um ponto na orelha onde

cheirava a flores. Quando senti suas mãos tentando me afastar, vi


que Alex recobrou a consciência e estava novamente colocando
aquela parede de gelo entre nós.

— As coisas não funcionam assim, Sebastian. — Me


encarou, balançando a cabeça como se precisasse sair de algum

feitiço. — Não pode sair me beijando a cada vez que sentir que, se

fizer isso, irei me render mais fácil.

Franzi o cenho.

— Não beijei você para rendê-la, nem para aceitar nada —

rebati, meio irritado. Ela cruzou os braços, colocando uma das


sacolas no chão para fazer isso.

— Então por quê?! Por que me beijou?! — indagou, brava.

Revirei os olhos novamente, querendo rir da expressão que

ela adotou, me olhando por cima, exatamente como expliquei que


fazia.

— Porque gosto de beijar você, senhorita Johnson, e nem


mesmo sua petulância consegue mudar isso. — Dei um passo em

sua direção novamente, a mantendo presa ali. — E quero muito te


beijar mais uma vez — murmurei, encarando seus olhos azuis,

observando a desconfiança passar sobre eles. O medo. O desejo.


Concluí que Alexandra Johnson tinha algo que a fazia ficar na
defensiva em minha presença.

Mas o quê?

A mulher ouviu o elevador se abrindo e, em um golpe de

esperteza, passou pelo espaço do meu braço levantado, pegando a


caixa no chão, e saiu correndo pela empresa. Inspirei fundo, contei

até dez, pedindo paciência aos céus, e segui atrás, apressando o


passo, pois, dessa vez, não a deixaria fugir.
Caminhei a passos apressados pela empresa, observando

Alex abrir a porta de vidro e passar por ali como se estivesse visto a
própria figura de Lúcifer. Segui atrás, passando pelo guarda, que a

observava carregar a caixa com dificuldade, e sorriu de lado com a


mulher agitada.

Revirei os olhos e a alcancei logo que ela tentou abrir a porta

do carro na primeira tentativa, dando um solavanco para trás e


batendo contra meu corpo.

— Não vai fugir. Não dessa vez — falei baixo. — Vamos, me

deve uma carona — completei, despreocupado, pegando a caixa


dos seus braços e puxando a chave do carro das suas mãos.
Destravando o veículo, coloquei a caixa no banco de trás,

balançando o chaveiro com a miniatura de um cavalo no ar.

— Como pretendia abrir a porta sem isso?

— Eu apertei. — Bufou. — Diversas vezes, só não abriu.

Puxou a chave e deu meia-volta.

— Você não vai comigo! — Foi enfática.

Segurei o sorriso, colocando as mãos sobre o coração,


fingindo ofensa.

— Até seu carro preferiu ser aberto por mim, Alex. É o


destino... — Dei ênfase na última palavra, a fazendo rir desdenhosa.

— Que destino? Estou destinada a quê, Sebastian? Ficar

lado a lado do cara que me pediu coisas tão desprezíveis nos


últimos dias que...

— Pelo amor de Deus, já pedi desculpas pelo que disse ou


dei a entender. — Balancei as mãos no ar. — Quero fazer a coisa
certa, ok? Só que, se você continuar com essa pose de que nunca
errou na vida, não vou conseguir. Me diga, Alexandra, há algo que

tenha dito ou feito que nunca tenha se arrependido?

Ela deu um passo atrás, como se tivesse levado um tapa na


cara.
— Não.

Novamente, me encarou com superioridade.

Sorri.

— Você é uma peça rara, Alexandra Johnson. O fato de dizer


que nunca errou me surpreende por ver que é hipócrita o suficiente
para isso.

— Você agora vai me ofender?!

— Eu não deveria. — Franzi o cenho, confuso. — Só que não


resisto. Não há ninguém tão perfeito que nunca tenha errado.

— Filosofia barata, Sebs? — debochou, cruzando os braços,


e entrou no carro, me obrigando a dar meia-volta e impedir que ela
fechasse a porta. — Você não vai avançar muito me ofendendo.

— Não estou ofendendo. Só deixando claro uma coisa que


aposto que sabe. — Ela arqueou a sobrancelha. — Me diga aonde
irá. — Alexandra inspira fundo, fazendo o peito subir e um pedaço
de pele se espreitar pelo decote do vestido.

Desviei o olhar.

— Vou à uma consulta. Posso deixá-lo no hospital, já que

insiste.

— Ótimo! — Entrei no carro.


— Você é o CEO, cadê seu carro, pelo amor de Deus?

— Quebrou. — Dei de ombros.

— Sério? O CEO do grande Grupo Empirus Collins não tem


um carro reserva? — De verdade, eu tinha, só que não iria dar mais
um motivo para me empurrar para longe.

— Não. — Ela me lançou um olhar desconfiado e apertou o


dedo contra o botão do som, ativando a rádio local, e senti o carro
inundando no volume alto. Logo fiz o mesmo movimento,
desligando-o.

— O quê?! Por quê? — Sorri.

— Vamos conversar.

— Não vamos, não. Não acho que falar sobre meu filho em

um carro em movimento seja a melhor opção. — Arqueei a


sobrancelha.

— Vai se sentar, tomar um café e falar comigo sobre isso?

— Não posso tomar café. E não vou falar com você! —


exclamou, e não resisti em rir.

— Ótimo, então vamos falar sobre nosso filho no carro


mesmo.

— Você ter um surto de consciência não faz dele o seu filho.


— Você ficar brava comigo e não aceitar meu pedido de
perdão não vai fazer meu sangue desaparecer dele — rebati na
mesma velocidade e a vi ficando vermelha, colocando o carro em

ponto-morto ao parar no sinal.

— Não é seu filho!

— Não pode falar isso depois de ter entregado o exame de


DNA nas minhas mãos.

— Não é só de sangue que se faz um filho, Sebastian. É


preciso amar uma criança, querê-la. — Inspirei fundo.

— Eu errei, ok? Com tudo que aconteceu nos últimos anos, a


ideia de ser pai só refletiu o que eu tive. Não passei fome, não fiquei
sem um teto, mas sabe o que é ver sua vida se resumir a uma
existência quase miserável? — Ela me encarou com os olhos cheios
de lágrimas.

— Eu sei o que você passou — sussurrou e limpou a lágrima


antes que descesse pelo seu rosto.

— Não chore, por favor.

— Deve ser a merda dos hormônios. — Bufou, me fazendo


rir, e alisei sua bochecha.
— Não chore por minha causa — pedi. — Não me deixe
ainda pior em saber que ando te machucando ainda mais. — Ela
pareceu recuar no seu lugar, se fechando, e encarou o trânsito,
ligando o carro devido à onda de buzinas que vem até nós. E logo
estamos de volta em movimento. A observei limpar o rosto na

medida em que as lágrimas tentavam cair. Ela inspirou fundo.

— Sinto muito pelo que passou, Sebastian. Acredito que


saiba que peguei os documentos…

— Sim, documentos familiares. Não ligo. Atualmente, acho


que não ligo para nada mais sobre o meu passado. — Alex riu.

— Se serve de consolo, não tive a melhor mãe. Hoje, ela é a


parte que me dói sempre, pois Kaylee sempre faz algo que eu não
consigo perdoar. — Observei sua narração. — Por isso, não quero
ninguém que não deseje estar na vida do meu filho, pois ele vai ser
muito amado por mim. E não quero nada além de amor para ele.

— Não fui o melhor começo, mas quero ser o melhor. —


Engoli em seco. — Tenho uma irmã que me colocou entre a parede
e fez um discurso sobre a vida de pai e mãe e me disse coisas que

me fizeram ver bem mais fundo do que meus olhos conseguiam. Eu


quero um pacotinho chorão na minha vida, Alexandra. Nunca fui tão
sincero como estou sendo agora.
— Precisou de Maggie para ver isso? — alfinetou, arqueando
a sobrancelha em minha direção.

— Vai retrucar cada frase que eu falar? — rebati.

— Não. — Sorriu.

— Ótimo. O que me diz?

— Repetiu isso em frente ao espelho? — perguntou em tom


de brincadeira acompanhando a frase cheia de espinhos.

— Não. Diferente de todos os meus discursos, esse foi o


mais natural deles.

Ela me encarou, rapidamente. Não conseguia deixar de me

perder na imensidão dos olhos azuis que se estendiam em minha


frente. Parecia uma maldita boneca de tão bonita e delicada, e, com

seu ar mordaz, sem ironia e, ao mesmo tempo, com uma postura


extremamente elegante, tornou tudo ainda mais interessante, pois

parecia que apenas eu tinha o dom de levantar toda aquela

enxurrada de ironias.

Deixamos o carro cair em um silêncio sepulcral enquanto

observava as ruas movimentadas de Nova Iorque passarem pela


janela do carro. Inspirei fundo algumas vezes, pensando no que

acabei de dizer.
Encostei a cabeça no banco e deixei minha imaginação voar

por alguns instantes. A imagem de Alexandra com um vestido florido


no jardim da casa dos meus pais, com a barriga protuberante

carregando nosso filho se projetou na minha mente e senti meu


sorriso tomando conta do meu rosto de forma boba.

Merda.

Era simplesmente perfeito. E nem mesmo aconteceu.

O vi sentado no banco de carona muito focado em seus

pensamentos enquanto parava em frente ao hospital onde Hannah


trabalhava e inspirei fundo, esperando pacientemente que ele

percebesse e saísse do carro.

Falar sobre nossas famílias não foi lá mais o indicado. Chorar

também não. Malditos hormônios!

— Chegamos — sussurrei, conferindo o horário em meu

celular. — Como eu disse, irei viajar e só retorno na terça-feira, pode


deixar que todo o trabalho acumulado da segunda ficará em dia

rapidamente.
Ele arqueou a sobrancelha.

— Você está doente? Disse que iria se consultar.

Inspirei fundo.

— Não, é uma consulta de rotina.

— Sobre a gravidez? — sondou com voz de quem não quer


nada.

— Sim, só mais um ultrassom.

— Ele já está com quantas semanas mesmo? — Franziu o


cenho, tentando se recordar.

— Pelas minhas contas, faz mais de oito semanas. — Ele


balançou a cabeça em concordância. — Bom, você fica aqui e

desce logo, senão irei me atrasar. — Sebastian revirou os olhos,

mas logo fez o que solicitei, batendo a porta em suas costas e


caminhou rumo ao enorme prédio. Não perdi muito tempo o

observando, apenas arranquei o carro e segui meu próprio caminho.

Segurei um suspiro cansado.

A imagem de família perfeita de Arnold Collins caiu com a

juventude dos gêmeos — Sebastian e Maggie — e ele não soube

lidar com as consequências. A filha sendo culpada de assassinato,


uma agressão e uma overdose que quase levou a vida do filho. A
forma que solucionou tudo foi a que qualquer ser humano com

nenhum tipo de inteligência possível faria: mandando a filha para


longe, e o filho para um hospital psiquiátrico.

Com toda certeza, o homem que esteve ao meu lado


segundos atrás tinha boa experiência em ser um mau pai. Só que,

da mesma maneira, eu sabia que os nossos antepassados não


ditavam nosso caminho.

Minha mãe errou comigo e continuava errando quando


sempre olhava para si e nunca para sua volta. O pai do Sebastian

seguiu o mesmo caminho. Só que éramos pessoas diferentes, com


pensamentos diferentes. As nossas escolhas que ditariam nosso

caminho.

Estacionei o carro em uma das clínicas mais recomendadas

da cidade, que peguei o número com uma das minhas


companheiras de trabalho, que, ao saberem da minha gravidez

anunciada por todos os lados, me enviaram tantas recomendações


que estavam enchendo minha caixa de e-mail.

Pelo amor de Deus, fofoca de grávida corria mais do que a


gente era capaz de imaginar!
Abri a porta do carro e pulei para fora, colocando a bolsa em
meu ombro, e travei o veículo, olhando ao redor enquanto

caminhava até a entrada da clínica. Quase senti meu coração pular

de dentro de mim com o táxi parando ao meu lado rapidamente,


deslizando no asfalto.

A porta abriu e um Sebastian sorridente saiu de lá de dentro.

— O que faz aqui?! — praticamente gritei.

Ele apenas deu os ombros.

— Não iria perder mais uma consulta dele. — Apontou para


minha barriga e rapidamente quis me inclinar e abraçar meu corpo,

protegendo meu bebê de todo aquele senso de consciência que ele


estava tendo no momento.

— NÃO! Você não pode. — Balancei a cabeça algumas


vezes.

— Eu posso, sim. E vou.

— Não, você não pode simplesmente começar a pensar

melhor e decidir tudo que quer fazer parte. Não há como


simplesmente se encaixar nisso como se nada houvesse

acontecido. — Ele segurou minhas mãos, me puxando para a


calçada e me encarando fixamente.
— Vamos fazer o seguinte.

— O quê? — O encarei desconfiada.

— Você me dá uma chance. — As palavras brincaram em


minha mente. — Me dá uma única chance de mostrar que vou ser o

que precisa.

— Não preciso de você.

— Não, eu sei que não. — Segurou meu rosto. — Você é

autossuficiente. Você, Alex, é o único time que precisa. Sei disso.

Só que quero mostrar que posso ser o que ele precisa, quem ele vai
precisar mais na frente.

— Posso muito bem dar uma boa vida ao meu filho, Collins

— rebati.

Ele inspirou fundo, fechou os olhos e o vi contar de um a dez

calmamente.

Segurei o riso. Não sabia como resistia ao charme daquele

homem. Ele era divertido, doce e, às vezes, insuportável.

— Não falo de dinheiro. Falo de ser um pai. Do que

acompanha essa função… — Me encarou, focando os olhos verdes


em mim, e senti meu corpo se arrepiando, pois, por mais que

tentasse negar, ele tinha um poder especial sobre mim. — Me diga


que posso tentar. Que posso provar a você e a mim que sou digno
de tê-lo em minha vida. — Sorri de lado. Inspirei fundo e coloquei

em minha mente todos os momentos em que já tive ao lado desse


homem para chegar até aqui. Pensava nele como meu chefe

sempre compreensivo, flexível e, quando precisava, a decisão que


todos temiam. Como irmão de Maggie. Como filho de Arnold e

Madelyn Collins, e em como ele seria como pai.


— Eu... — A vi gaguejar e segurei o sorriso. A tática de pegar

um táxi e seguir o carro de Alexandra foi muito melhor do que pedir


que me deixasse acompanhá-la na consulta. Sabia que o “não” era

mais certeiro do que qualquer coisa no mundo. — OK! Você venceu,


uma chance. — Levantou o dedo em riste, deixando claro que a
decisão não a agradava, mas, mesmo assim, a fazia.

— Você não vai se arrepender. — Segurei seu pulso,

enlaçando nossos dedos, e notei que quase deixou os olhos


pularem do seu rosto. A puxei contra meu corpo e a abracei. —

Obrigado, Alex.

A mulher estava tão tensa contra meu corpo que segurei a


risada, deixando minhas mãos descerem por sua costa, em sinal de
conforto. Ela não recebeu muito bem, pulando para longe.

— Não é porque deixei você fazer parte disso que vou voltar

para sua cama — resmungou, me encarando com aquela expressão


típica dela. — Não pense coisas erradas.

— Eu nem estava pensando nisso. — Me fiz de ofendido.

— E eu acredito, claro. — Foi irônica, dando meia-volta e

seguindo rumo à clínica.

— Pode me explicar por que a ideia era tão aterrorizante para


você? — alfinetei, curioso.

— Acho que, às vezes, você esquece quem somos —

rebateu.

— Ahhh, o papo de chefe e empregada de novo? — Ela riu.

— Não é de novo, Sebastian, acredite se quiser, mas amo


meu emprego, dei o melhor de mim para não receber na cara que

só cheguei ali por estar dormindo com meu chefe.

— Não acredito que tenha pessoas…

— Você deveria saber melhor do que ninguém que as


pessoas são capazes de qualquer coisa para machucar alguém,
Sebastian. — E me encarou, parando em minha frente.
Foi como um tapa na cara. Pois sei, sim. Vivi anos em um
hospital, por culpa do meu pai, de mentirosos e até mesmo por

minha culpa. Eu não era um viciado em drogas, eu não fiz nada


além de um erro.

— Eu sei, Alex. Eu sei. — Empurrei a porta do consultório e

entramos, dando o assunto por encerrado. A sala de espera estava


vazia, e ela seguiu até a moça que atendia, sorrindo com toda sua
graça.

Me sentei e encarei o chão, pensativo com suas palavras.

Eu tinha dezesseis quando, em um ato inconsequente,


atropelei um homem que era incluído no tráfico local. Foi o começo

do fim, pois, para não acabar sendo preso, me prendi naquela rede,
sendo um dos peões em seu jogo. Foi dinheiro desviado da conta
dos meus pais, negociações ilícitas e, quando vi, já estava me
afundando. Ficou pior quando Jason se envolveu com a pessoa que
eu mais amava no mundo. Maggie. Ela foi o meu ponto fraco

quando tentei sair, ele manipulou muito bem os fatos para que
minha menina perdesse Hunter, o apoio da minha família e quase ir
presa por toda sua vida em um assassinato que não cometeu.

Eu, bom, não vi nada diante disso. Estava mal demais para
conseguir salvá-la, ou, para ao menos dizer que ela não tinha nada
a ver com a minha sujeira. Em uma das festas, uma bebida com
drogas disfarçada foi só o caminho para acabar em uma cama de
hospital, completamente entre a vida e a morte.

Hoje, dez anos depois, ainda não consigo conviver bem com
meus próprios fantasmas. A verdade é que meu pai errou em não

me ouvir, mas eu errei em me perder e nunca falar a verdade.

— Vamos? — Alex me trouxe de volta, e a encarei, vendo


seu sorriso nervoso.

Sorri, a acompanhando pelo corredor pequeno.

— Se quiser ficar aí, eu vou primeiro falar sobre as vitaminas


que ela me passou, é cansativo. — Fez careta.

— Não, vamos juntos. — Fui firme, segurando na base da


sua coluna enquanto abria a porta e revelava o interior do
consultório com a médica remexendo alguns papéis sobre a mesa.
E, quando levantou o olhar e me encarou com as sobrancelhas
arqueadas, senti meu interior se revirando.

Sério mesmo, destino? De todas as médicas do mundo, você


tinha que fazer Alexandra escolher minha única namorada da vida?
Aquela que foi a primeira mulher com quem me deitei?
Inspirei fundo, sabendo que essa consulta seria longa e
cansativa.

— Bom dia! — a médica exclamou sem esconder o sorriso de


orelha a orelha. — Alexandra, é bom revê-la, como anda nosso
bebê?

— Enjoando — Alex rebateu, se sentando. — É bom revê-la


também, Sam.

— Sebastian Collins. — E se virou, me encarando com os


olhos estreitos. — Eu juro que, quando Alex disse que estava
grávida, nem em um milhão de anos pensaria que fosse do meu
namorado da adolescência.

Claramente, a sutileza não era algo que a mulher aprendeu


durante a vida.

— Namorado?! — Alex exclamou, nos encarando com os


olhos arregalados.

É, finalmente, ela estava entendendo a situação


comprometedora e quase irritante em que nos metemos.

Suspirei, me sentando ao lado de Alexandra, e ela ainda


encarava tudo com a sobrancelha arqueada.

— Namoramos durante a adolescência.


— Entendi…

— Fui a primeira namorada dele, primeira tudo, né,


Sebastian? — alfinetou, e senti que, a qualquer momento, cairia
para trás diante dessa situação. Alexandra segurou o sorriso.

— Bom, tomei as vitaminas que me passou. Aqui está o


resultado do exame que me solicitou. — Alex empurrou o papel em
direção à mulher, que arqueou a sobrancelha com a mudança de
assunto.

— Estão namorando?

— Não! — Alex se apressou em responder, e eu juro que, se

ela não fosse me matar, teria contestado e dito sim. — Podemos


realmente falar sobre a consulta? Eu preciso sair da cidade em uma
hora. — Bateu sobre o relógio, e Samantha abriu a boca, surpresa.

— É claro, bom, vou dar uma olhada em seus exames,


enquanto isso, pode vestir a bata hospitalar no lugar de sempre. —
Indicou atrás de um biombo hospitalar. Alex assentiu, se levantando
e ficando atrás da parede improvisada. Me virei, encarando
Samantha que sorria para mim. — Juro que te ver depois de dez
anos desaparecido é uma surpresa e tanto.
— Estive estudando, infelizmente, minha vida pessoal, nos
últimos tempos, ficou completamente de lado. — Sorri, usando as
mesmas desculpas que dou ao mundo quando questionam o meu
desaparecimento.

— Um filho?

— Pois é… — Encolhi os ombros. — Como andam o bebê e

Alex?

Ela suspirou.

— Muito bem, poderíamos sair para tomar algo qualquer dia.


— Anotou algo na ficha com o nome de Alexandra.

— Tem certeza de que eles estão bem? Por que as

vitaminas? — Desviei do assunto, me sentindo em um piso


escorregadio.

— Eles estão bem, Alexandra tem alguns problemas com

anemia, por isso indiquei as vitaminas, mas nada preocupante.

A morena retornou e a diferença entre ela e Samantha era

quase assustadora. A outra era ruiva, baixinha e nada discreta,

Alexandra era alta, com os cabelos tão escuros como carvão, e os


olhos azuis pareciam sempre estar analisando a situação ao seu

redor.
— Vou ali na recepção rapidinho e já volto para vemos esse

bebê. — Tocou a barriga de Alex, que pulou para trás de maneira


discreta. A médica saiu, fazendo a porta bater em suas costas. E,

novamente, senti que podia respirar em paz.

Encarei a mãe do meu filho e a vi com os olhos arregalados e

as mãos na cintura, como se estivesse passando mal.

— Meu Deus, essa é a situação mais constrangedora que já

estive na vida. — Segurei a risada, e ela se deitou na maca, me


encarando. — Você ri, mas ela está dando em cima de você, não é

como se estivesse em um quarto à parte, vendo um filme na sua


frente.

Me aproximei, me encostando na beirada da maca.

— Está com ciúmes, querida? — Toquei a mecha de seu

cabelo que caía sobre o rosto.

— É claro que não — debochou. — Só que, se eu soubesse

que minha médica é a sua ex-namorada, passaria quilômetros longe


dela.

— Foi um namoro de adolescente, coisa simples.

— Foi sua primeira vez, Sebastian. Pode não ter sido

importante para você, mas, de alguma forma, foi para ela. —


Revirou os olhos. — Ah, e você não tem que explicar nada.

Balançou as mãos no ar, e segurei uma delas, tocando os


dedos longos e delicados com calma.

— Mas eu quero. É estranho o suficiente. — Inspirei fundo. —

Não quero fazer disso uma experiência ainda pior.

Ela sorriu.

— Obrigada — sussurrou. Toquei sua barriga, sentindo


apenas a pequena protuberância firme, e sorri.

— Não dá para sentir quase nada ainda. — A ouvi dizer.


Porém, meus olhos estavam apenas focados na minha mão.

— Eu não acredito que, em alguns meses, vou ser pai, Alex.


Isso é simplesmente irreal. — A mulher riu.

— Eu não esperava que seria mãe tão cedo, Sebastian. A


verdade é que sempre evitei trazer o assunto à tona em minha vida.

Um bebê requer tudo de mim, e eu só tinha cabeça para o meu


trabalho.

— Eu sei como é.

— Vou fazer isso agora com todo amor que tenho dentro do

meu coração. Pois ele se tornou tudo…

Me inclinei para beijar sua testa.


— Obrigado. — Ela riu, abrindo os olhos para me encarar.

Eu, meio inclinado, bastava um movimento para colar nossos lábios.


Eu queria isso, muito, desde que ela fugiu na manhã seguinte do

meu apartamento. — Sebastian...

Baixei meus lábios sobre os seus, beijando-os lentamente, e

me afastei, apenas um selinho e a senti espalhar pelo meu corpo


como uma droga. Merda, tudo que desejava no momento era

aprofundar o beijo e trazê-la para mim.

— Não fiz nada. — Dei os ombros e a porta abriu. A vi sorrir,

tentando esconder isso mordendo o lábio inferior. Samantha nos


encarava juntos lado a lado e seu olhar recaiu sobre minha mão na

barriga de Alexandra.

Pela sua expressão, constatei que, de alguma forma, isso

deixou claro que não estou disponível. A verdade era que até
estava, só que não estava a fim de relembrar passado nenhum.

Ainda mais com um filho a caminho.

Minha vida viraria uma bagunça em breve. Já estava até

vendo senhor Arnold, dona Madelyn e Maggie fazendo um complô


contra minha pessoa para acabar me vendo casando-me com

Alexandra Johnson.
Sinceramente, eu a achava demais. Era muito bonita,
inteligente e com toda certeza seria uma ótima esposa. Só que ser

pai era o suficiente pelos próximos dez anos. Não sabia se estava

pronto para virar marido de alguém. Para comprometer-me com


isso. Sempre vi o casamento como uma via de mão dupla. Os dois

têm que estar na mesma sincronia para fazer dar certo. Senão, tudo
vai por água abaixo rápido demais.

— Olha só — Samantha sussurrou, passando o pequeno


equipamento de ultrassonografia sobre a barriga com gel de Alex. —

Um pequeno borrão. — Apontou para tela. — Estão vendo?

Me aproximei, encarando a tela com fixação.

— Seria muita loucura dizer que não vejo nada além de um

borrão? — A ouvi sussurrar, apertando minha mão com força. —

Sou uma mãe ruim por causa disso?

Segurei a risada.

— Não, você é apenas uma Rachel Green.

— Uma o quê?! — exclamou, descontraindo o momento em


que meu coração pulou tão rápido por saber que aquele borrão que

Alex nada via era meu filho. Uma parte minha e daquela mulher.
— A Rachel, de Friends, se você assistir, irá compreender. —
Ela me lançou um olhar contrariado. — O quê? Não me julgue,

Maggie é minha irmã, e ela é completamente apaixonada por essa


série.

Ela riu.

— Vamos ouvir o coração?

— Samantha — Alex a chamou, atraindo sua atenção. —


Tem como gravar? Irei ver minha irmã no fim de semana e ela me

jurou de morte se não levar a gravação do ultrassom.

Rimos.

— É claro. — E, no instante seguinte, o som baixinho e

ritmado bombardeou por toda a sala, me deixando completamente

congelado. — É apenas um mesmo, não tem a que temer, Alex.

Ela riu, inclinando a cabeça para trás.

— O que você temia? — indaguei, divertido.

— Sua família tem muitos gêmeos. Eu fiquei assustada! —


Balancei a cabeça em negação e segurei seu rosto com os

batimentos ainda rodando em minha mente. Alisei seus cabelos


negros como carvão e beijei sua testa com carinho.
— Obrigado por não desistir dele. E pela chance. — Me
afastei, encarando seu rosto rosado.

— De nada. — O sorriso tímido em seu rosto foi meu bônus


naquele momento. A trégua silenciosa que se estabeleceu por

aquele pequeno serzinho em seu ventre valia mais do que qualquer


contrato que já fechei na vida.
Sinceramente, eu achava fielmente que nem mesmo em

outra vida viveria uma situação pior do que a que se desenrolou em


minha frente durante a consulta com Samantha Davis. A médica

simplesmente não escondeu sua grande satisfação em ver


Sebastian. Chamar o pai do filho de uma mulher para sair, mesmo
eles não tendo nada fixo, não deveria ser algum tipo de crime?

— Não, Alex, sem chance nenhuma de ser crime — Amber


rebateu, foquei os olhos nela enquanto Sky sorria das palavras da

mãe.

— Sem chance, Titi. — Suas bochechas fofinhas e os


cabelos loirinhos que sempre me lembravam a cor do ouro me

traziam a estranha sensação de felicidade. Me perguntei se meu


bebê é menino ou menina – a probabilidade de ser gêmeos estava

finalmente descartada – e inspirei fundo.

Minha sobrinha parecia ser o tipo de mistura que eu e


Sebastian geraríamos. Os cabelos dele causariam – certamente –

um tom castanho-médio em nosso filho. Os olhos, era realmente


incapaz de opinar, mas, se ele saísse com os olhos de Sebastian,

eu desistiria da vida.

— Sério? Ela quase olhou para mim. — Me levantei ao falar.

— E fez aquela besteira que fazemos quando crianças, de colocar a


língua para fora e falar algo para sobressair. Samantha diria as

exatas palavras: “eu dormi com ele primeiro que você” — completei
com voz debochada. — Isso é tão babaca.

Amber riu, segurando o avental contra o corpo. Me sentei na


mesa da cozinha, pegando uma porção da pipoca com chocolate

que fizemos, e enfiei pouco a pouco em minha boca.

— Acho que o preocupante nesta situação é você com todo


esse ciúme.

— Não são ciúmes! Mas é mega desconfortável, você nunca


viveu uma situação em que o cara que é pai do seu filho foi o
primeiro homem da sua ginecologista. — Revirei os olhos. — E o
pior é que parece sério. Para Sebastian, pode não ter passado de
mais uma noite! Mas, para qualquer garota, é um dos momentos

que fica marcado em si.

Minha irmã me ouvia tagarelando e se sentou ao meu lado.

— Olha, eu acho que os sentimentos da gravidez estão lhe


confundindo.

— Como assim?

— Você diz que Sebastian foi apenas uma noite.

— E foi!

— Mas fica com ciúmes porque sua médica o quer


novamente na cama dela — debochou.

— E eu não deveria? Ah, nossa, vou chegar no parto do meu

filho e olhar para minha obstetra e: “Oi, doutora, quando é que o pai
do meu filho vai fazer um filho na senhora também?”

— Meu Deus, você está ficando cada dia mais debochada! —

exclamou, e não evitei a risada alta. — Realmente, admito que a


situação é difícil, mas pensa comigo, você disse que ele deu uns
cortes nela.

— Talvez por respeito. — Dei os ombros. — Ele está


tentando ser bonzinho, pois pediu o negócio da chance lá.
— Pois, se ele quiser mesmo a chance de ser pai do meu
sobrinho, não vai olhar para essa mulher de maneira diferente em
nenhum momento. É respeito a vocês, algo que particularmente já
me faz gostar desse tal de Sebastian Collins.

Suspirei, pegando a jarra de água sobre a mesa e deixei uma

quantidade generosa cair em meu copo. A viagem até o Texas


demorou mais do que eu previa, entretanto, correu tudo muito bem
e, quando vi, já estava sendo abraçada pelo clima escaldante da
Fazenda Dente-de-Leão.

Eu, particularmente, nunca seria boa o suficiente para viver


aqui. Gostava mais do movimento da cidade grande, das coisas
sendo facilmente encontradas e da minha vida sempre nos trilhos.
Já Amber preferia a forma previsível do campo.

Ela era apenas alguns anos mais nova que eu e coordenava


toda a propriedade com o mesmo pulso de um homem. Entretanto,
sua coragem não era tão benquista aqui, já que todos achavam que
ela tinha que se casar com um fazendeiro babaca e mandão, que
com toda certeza a trairia com metade da cidade, teria mais um
punhado de filhos e sua vida estaria condenada a um homem.
Preferia deixar ela mesmo fazer suas escolhas e sabia muito bem

que este não era o destino que minha irmã almejava.


— Vai ser filmado um filme na cidade na próxima temporada
— sussurrou. — Produção de Hollywood, coisa grande pelo que vi
falar. Estavam em busca de locações por aqui.

Meus olhos ficaram em riste pela maneira animada que falou.


Seus olhos brilharam, deslumbrados com a ideia, os cabelos
escuros caindo levemente ao redor do rosto e o sorriso de orelha a

orelha.

— Aluguei a fazenda para algumas cenas.

— Amber! — exclamei. — É sua casa.

— Eu sei, Alex. Mas o dinheiro era muito bom, e o roteiro é


tão lindo. Além do mais, acho que, nessa época, já vou ter dinheiro
o suficiente e a casa reserva nos fundos já estará pronta.

— Ai, meu Deus, alugou a casa junto? — Ela riu, faceira.

— Sim, eles precisam da propriedade para fazer a maioria

das cenas dos filmes. Será de romance, dramático, com astros


bonitões e muito beijo de tirar o fôlego — zombou, me obrigando a
revirar os olhos.

— Bom, você sabe o que faz. — Dei os ombros, caminhando


até minha sobrinha, que levantou o olhar ao me ver me
aproximando. — O que minha princesa está vendo? — Alisei seus
cachinhos, me sentando ao seu lado.

— My Little Pony, Titi. — Sorriu e empurrou a panelinha com


bolachas de chocolate recheadas com morango. — Quer? —
Peguei uma, mordendo e a acompanhando em seu filme.

Beijei sua bochecha em um momento qualquer, sentindo o


cheiro de flores, e inspirei fundo, pois sabia que, quando acabasse o
fim de semana, teria que voltar para casa e encarar Kaylee puta da
vida com minha fuga e o fato de que minha vida agora estava
mudando cada vez mais rápido.

Em sete meses, meu filho viria ao mundo, e eu não poderia


estar mais ansiosa.

Encontrei o olhar de Amber pela meia-parede que dividia a


cozinha da sala e sorrimos uma para outra, pois a sensação de que
era da mesma forma quando éramos adolescentes não parava de
chegar.

Só que com filhos e responsabilidades.


— Sério mesmo que Samantha teve que aparecer nesse
momento? — Maggie indagou, completamente surpresa, enquanto
balançava um dos gêmeos de um lado para o outro. Suspirei,
passando o canal da televisão enquanto pensava no que tinha
acontecido. — Não muda, estou vendo a novela.

Arqueei a sobrancelha. Ela estava tagarelando, e não


assistindo à novela.

— Sim, e ainda insinuou que pudéssemos sair para algo. —


falei, revirando os olhos. — Sinceramente, minha vida está
bagunçada o suficiente para trazer os fantasmas do passado junto a

ela.

— Mas Samantha é uma garota legal, lembra? Vocês se


davam bem — minha irmã argumentou, e eu a olhei, desconfiado.

De todas as mulheres que andei desfilando nos últimos tempos, ela

nunca, em hipótese nenhuma, a aprovou.

— O que você tem? Está dizendo que devo sair com

Samantha?

— Não, não disse isso. Só disse que não vejo motivo para
você não sair. — Deu os ombros.
— Olha, Maggie, pensa como seria estranho eu estar no

parto do meu filho, com Alexandra, e estar namorando a obstetra


dela.

— Ah, então tudo tem a ver com Alexandra.

Arqueei a sobrancelha com sua conclusão.

— O quê? Não deveria ter? Ela vai ter um filho meu, eu vou

ser pai, vamos estar conectados de uma forma que não tem mais

como voltar atrás, a questão clara é que não quero ir ao aniversário


de um ano do meu filho e ver nossos tios inconvenientes contando

sobre como peguei a médica da mãe dele.

Maggie soltou uma gargalhada alta.

— A situação fica cada vez mais interessante. Vi que foi falar

com a tal de Hannah, quem é essa? — Balançou o cartãozinho de

Hannah no ar, que tinha pegado quando fui visitar papai no hospital.

— Amiga de Alex. Eu precisei descobrir onde Alex ficará no


fim de semana, para mandar uma coisa a ela.

— Por quê? Ela saiu da cidade? E que coisa é? — Balançou


as mãos em frente ao rosto. — Merda, cuidar de crianças é tão

trabalhoso que, no fim do dia, nem lembro se tomei banho.

Dou risada.
— Foi ver a irmã no Texas, segundo Hannah. Eu queria

mandar algo para o bebê. — Minha irmã arqueou a sobrancelha. —


Sei lá, fui ao shopping comprar algo para mamãe e, quando vi,

estava em uma daquelas lojas enormes de coisas para bebês e


aquelas roupinhas que mal cabem em meu braço me atraíram.

— Eu sei como é. — Riu de mim. — Você está todo bobo


com a ideia de um filho.

Levantei-me novamente, colocando Melissa no colchonete


que ela adicionou no chão do meu apartamento e arrumei a menina

para que dormisse de maneira mais confortável. As pernas cheias


de curvinhas e o bumbum coberto pela fralda deixavam a imagem

irresistivelmente fofa.

— Eu estou. Acho que nunca estive tão ansioso com uma

coisa assim antes.

Ela se sentou, se encaixando na curva do meu braço.

— Quando falará para a mamãe? Papai já está até


planejando seus próximos filhos com Alexandra. — Segurei a

vontade de chorar, pois minha família foi, por muito tempo,


despedaçada.
Madelyn e Arnold Collins tinham a chance de ter todos os

lados a lado e com netos novamente, então, eles estavam


aproveitando a situação ao máximo. Ganharam dois de uma vez de

Maggie e Hunter e queriam me induzir a produzir mais uma ninhada.

— Nos sonhos deles — debochei, a fazendo rir.

— Alex! É para você. — Ouvi Amber gritar da sala, minutos


depois de atender a porta. Franzi o cenho.

São quase onze da noite, não saímos de casa e as únicas


pessoas que sabem que estou na cidade são o pessoal da fazenda.

Então, me levantei com cuidado para não acordar Sky e saí


andando devagarinho do quarto totalmente rosa. Inspirei fundo e vi

minha irmã segurando o sorriso enquanto me encarava.

— Quem é? Ninguém sabe que cheguei. — Ela abriu a porta,

que revelou um homem com uma farda do serviço de entregas. —

Oras, entrega a essa hora? É uma fazenda, pelo amor de Deus.

— Não reclame, receba.


— Não moro aqui, por que tenho que receber? — Arqueei a
sobrancelha e vi o homem me olhar com certa impaciência. Me

aproximei e assinei o papel antes de receber a pequena caixa

embrulhada com cuidado.

— Obrigado, tenha uma boa-noite. — Ele se afastou,

entrando na picape, e foi embora antes mesmo que tivesse qualquer


reação. Segurei a caixa em minhas mãos e procurei pelo remetente,

sentindo meu coração errar uma batida com o nome escrito à mão.
Sebastian Collins.

“Achei que precisava de uma coisa para marcar a primeira


consulta do nosso filho. Obrigado, Alex. Por tudo”.

— Ele é fofo demais! Ai, meu Deus… — Amber suspirou

pelas minhas costas e me incentivou a abrir o presente. Assim fiz,

arrancando os papéis com cuidado, até que uma caixinha em duas


cores, amarelo e azul, se revelou. Dentro, havia duas coisinhas

minúsculas também da mesma cor pastel. O primeiro era um


pequeno macacão amarelo com o desenho de um coração na

frente, e o segundo era um sapatinho minúsculo na cor azul, com


pequenos detalhes em vermelho.

Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu nem sei por que


minhas mãos tremiam tanto. Iria comprar algo para ter como a
primeira roupinha, mas ver meu filho ganhando seu primeiro
presente do pai era melhor do que eu poderia imaginar.

— Segura o coração, senão você se apaixona fácil. — A voz


de Amber chegou até mim como o anjinho do bem tentando me tirar

das mãos do tentador. Balancei a cabeça, sabendo que,


infelizmente, ela estava certa.

— Está seguro. — Coloquei a mão sobre meu peito e segui


para o meu quarto, precisando ficar alguns minutos sozinha. Não ia

me apaixonar por Sebastian Collins, não ia, não podia. Não poderia
cair novamente nessa mesma armadilha.
— Quando você pretendia me contar que vai ser pai? — A

voz de mamãe me fez pular da cadeira. — Um filho com Alexandra


Johnson? Pensei que fosse só mais um rabo de saia seu.

Segurei a risada. Madelyn mantinha os cabelos loiros presos

no alto da cabeça em um coque firme, os lábios rosados pelo batom


e o rosto bem-maquiado disfarçava as rugas da idade que definiam

seus traços.

— Esperava a mãe do meu filho retornar à cidade para falar


com todos. — Dei os ombros, fechando meu notebook para focar

apenas nela. — Iria marcar um jantar no fim de semana e convidar


todo mundo, mas, pelo visto, ninguém nesta família sabe guardar

segredos.
Ela deu uma risadinha, se levantando rapidamente. Parou ao

meu lado, beijando minha bochecha enquanto alisava meus


cabelos.

— Ah, meus meninos, cresceram tão rápido. — Foi saudosa.

— Me lembro quando peguei Maggie e você no colo pela primeira


vez — os olhos cheios de lágrimas apertaram meu coração —,

quase não acreditei. Depois de anos tentando ter filhos, Deus havia
me presenteado com dois. Dois filhos maravilhosos.

Limpei a lágrima que caiu em seu rosto.

— E, agora, vocês estão pegando os próprios filhos nos


braços. Daqui a pouco, os dois estarão casados, e eu não sei como

deixei vocês fora da minha vida por tanto tempo. — Abracei minha
mãe, alisando suas costas com cuidado, e sorri.

— Não vou me casar, mamãe. Nem tão cedo. — Ela beliscou


minhas costelas.

— Um bebê precisa de uma família, Sebastian.

— E terá, eu e Alexandra seremos maduros o suficiente para


criarmos bem esta criança, ela não terá uma casa completa, mas,
pensando pelo lado positivo, terá duas que a amarão muito. —
Apertei suas mãos, segurando o riso diante de sua expressão de
puro descontentamento.

— Isso não é certo, Sebastian. Um filho significa que duas


pessoas já fizeram o suficiente para serem obrigadas a se casar.

— Não estamos na época medieval, pelo amor de Deu… —


Fui interrompido, pois alguém bateu à porta. Tentei me recordar se
marquei algo para agora. — Pode entrar. — Recebi isso como um
sinal divino para fugir da minha querida mãe.

A porta abriu e Alexandra passou por ela, segurando a bolsa


contra o corpo, sinal de que acabou de chegar na empresa. Os
cabelos presos novamente na enorme trança que batia em sua

cintura, a blusa branca coberta pela jaqueta jeans e a calça do


mesmo material, que demarcava toda a extensão das pernas.

— Oh! — exclamou ao perceber a mamãe ao meu lado. —

Bom dia, senhor e senhora Collins. — Foi toda formal e escutei


mamãe dar uma risadinha.

— Bom dia, Alex, depois de descobrir que você vai ser minha

nora, não vejo por que de tanta formalidade. — Os olhos da mulher


se arregalaram tanto que senti que a qualquer momento iriam cair
do seu rosto.
— Nora? Pelo amor de Deus. — Se abanou, como se
estivesse sufocada. Mamãe, muito pomposa em suas palavras, a
ajudou a se sentar.

— Sim, querida, irão ter um bebê, esperamos mesmo que


estejam pensando em se casar.

— Casar-me?! — Alexandra praticamente gritou, me


encarando com os olhos variando entre raiva e pavor.

— Pelo amor de Deus, mamãe, você vai fazer Alexandra ter o


filho meses antes. — Apontei para situação da mulher, e ela
pareceu meio atordoada. — Minha família é exagerada, Alex,
ninguém vai se casar aqui, não. Não vivemos na era medieval, pelo

amor de Deus!

Madelyn Collins bufou.

— Estou muito feliz com meu netinho e não me importo com


vocês falando besteira, irei convencê-los uma hora ou outra. —
Pegou a bolsa sobre minha mesa, nos encarando como se
tivéssemos falado que a Prada era uma marca ruim. — Farei um

almoço no sábado, eu realmente espero todos vocês na minha


casa.

— Papai não pode sair do hospital.


— Daremos um jeito — falou, empinando o nariz da mesma
maneira que Alex, saindo da sala logo depois. Parecia até mesmo
um movimento combinado entre as mulheres.

— Você está bem? Ela exagerou na pressão. — Me virei para


a mesinha em minhas costas, servindo uma quantidade generosa
de água no copo, e caminhei até Alex, me abaixando em sua frente.

— Tome um pouco de água.

Ela segurou o copo, bebendo um enorme gole rapidamente, e


a cor começava a voltar a suas bochechas. A observei, retirando
uma mecha do cabelo que caía em frente ao seu rosto, e Alex focou

os olhos em mim.

— Eu quase morri do coração! — exclamou, me fazendo rir


alto. — Você ri, mas não é você que encontrou a avó do seu filho

tagarelando sobre ter que se casar, já que fizeram um bebê.

— Ela é louca para nos ver todos casados. Não se importe


com isso.

Ela inspirou fundo.

— O almoço no sábado é obrigatório?

Balancei a cabeça, confirmando.


— Infelizmente, não posso mudar isso. — Dei os ombros. —
Mas me diga, o que te traz na minha sala tão cedo? Tudo bem por
aqui? — Toquei sua barriga, que é apenas o mesmo ponto firme,
mas sem nenhum volume.

— Enjoos, mas nada que mate. Apenas vi-m… — gaguejou,


coçando a cabeça de maneira envergonhada. — Agradecer.

Arqueei a sobrancelha, surpreso.

— Pelo que?

— Pelo que mandou na casa da minha irmã. Obrigada. —


Sorriu, tímida. — Eu amei. — E meu coração vacilou por saber que

fiz algo que finalmente agradou essa mulher.

— Fico feliz que tenha gostado — sussurrei, segurando sua


mão contra minha. Alexandra colocou o copo sobre a mesa e me

encarou com os olhos brilhando e o sorriso aberto.

— Estou nervosa. Maggie já sabe, sua mãe também e não


sei seu pai…

— Ele sabe, foi o primeiro a saber. — Ela abriu a boca, como


um peixe fora d’água. — E amou a notícia, disse que você foi um
bom achado para a empresa dele. — Modifiquei as palavras do meu
pai, pois não queria deixar colado na minha testa que, se Alexandra
batesse o dedo, eu seria todo dela.

Não no sentido literal, apenas no sexual, claro.

Ela riu e se inclinou em minha direção, passando os braços


em volta do meu pescoço em um abraço apertado.

— Agora, deixe-me ir trabalhar. — Se afastou, e o choque de


realidade me fez levantar. Ela pegou a bolsa, tomou mais um pouco
da água e logo saiu pela porta, e me sentei no mesmo lugar em que
esteve poucos instantes antes, encarando o teto da minha sala.

Era só conexão. Esses batimentos irregulares eram o fato de


que estávamos ficando íntimos um do outro. Não era nada de mais.

Ah, merda! Foi só o susto. Foi o maldito susto que Madelyn

Collins me deu que fez meu coração parecer uma banda de rock
digna de um prêmio. Tentei respirar, segurando o celular contra meu

corpo, sabendo que uma hora esses batimentos irregulares e


malucos teriam que parar. Ora, eu estava bem.
Eu estava bem. Não estava nem um pouco balançada com

Sebastian. Era tudo ilusão, claro. Tinha que ser.

Meu olhar recaiu sobre a bolsa de viagem que estava no

canto do escritório e me lembrei do dia anterior, que foi um completo


desastre. Saí com minha irmã e minha sobrinha para nos

distrairmos um pouco.

Caminhamos pela cidade e era claro que o destino o

colocaria novamente em minha vida, como uma pedra em meu


sapato que eu tanto gostava de esquecer. Robert.

A verdade era que corria um papo de que ele estava


morando na Inglaterra havia mais de cinco anos. Por esse motivo,

costumava ir ao Texas frequentemente para ver a minha irmã e


matar a saudade de casa. Porém, parecia que ele resolveu ser o

momento estratégico para voltar.

Meu ex-namorado, dez anos mais velho, que costumava

dizer que nunca passaria de mais uma na cama de homens ricos e


poderosos, como minha mãe foi. E foi por este motivo que jurei que

nunca seria como ele havia dito.

Só que por mais que provasse que estava errado, parecia

que me afundava cada vez mais no julgamento alheio.


“Chegou bem?”

A mensagem de Amber apitou em minha tela.

“Muito bem, obrigada, maninha”.

Sorri, agradecida, pois a forma em que ela se colocou em

minha frente para me defender daquele filho da puta valia muito.


Tudo bem que os um metro e meio de Amber não assustava um

cowboy do estilo de Robert, mas ela, ao menos, tentou.

“Fica de olho, fiquei sabendo que o filho da puta foi para Nova

Iorque. Eu não faço ideia do que ele quer aí, mas a tia dele fica
dizendo que foi a negócios e para ver a irmã”.

Franzi o cenho.

“Desde quando Robert tem uma irmã?”

“Eu me fiz a mesma pergunta, sempre ouvi que o velho do pai

dele só havia tido um filho”.

Balancei a cabeça, sentindo meu corpo estremecer diante


disso. Robert estava vindo a Nova Iorque, entretanto, era uma

cidade enorme e com toda a certeza não precisava me preocupar.


Porém, como tudo na vida que ameaçava tirar minha paz, não

conseguia parar de pensar.

Kaylee e Robert eram as pedras em meu sapato. Juntos, eles

conseguiam me fazer sentir pena de mim mesma. Não sei ao certo


quando minha mãe e meu namorado se tornaram meus inimigos,

acho que foi no momento em que rejeitei ser amante dele e,


consequentemente, cortei os sonhos de uma vida boa para a outra.

Eu não queria ser a outra. Passei a vida toda selecionando as


pessoas com quem me relacionaria. Quando entrasse em um

relacionamento, tinha que ser completo, com direito a tudo, e não


ser a pessoa que só serve quando não tem mais nenhuma opção.

A teoria do bode expiatório me deixava enjoada.

“Não se preocupe comigo”, respondi a Amber.

“Não tem como não me preocupar quando aquele homem

insiste em fazer você se sentir inferior. Eu juro por Deus que, se


ele e sua mãe não pararem, vou chutar a bunda dos dois”.

Segurei o sorriso.

“Você tem um metro e cinquenta, Amber!”

“E sou muito capaz de subir num banquinho para alcançar a


bunda daquele desgraçado”.
Gargalhei, me sentindo muito melhor agora. Guardei o celular
e me sentei na cadeira, remexendo nos papéis que estavam

espalhados quando um envelope pardo caiu no chão, atraindo

minha atenção.

Peguei, segurando-o entre os dedos com cuidado, e puxei o

lacre ao ver que era destinado a mim. As três fotografias que caíram
de dentro me fizeram estremecer. Sebastian e eu nos beijando na

entrada do bar no dia do happy hour, nós juntos em frente à clínica


da obstetra, de mãos dadas, com ele segurando meu rosto de

maneira que dava muito espaço para imaginação e, por último, uma
cópia do teste de DNA que entreguei a ele.

Ofeguei, arregalando os olhos. As provas de que, em algum


momento, tive um caso com meu chefe, que estava grávida e que fiz

um teste de DNA para provar a paternidade e a falta de um aviso de


quem mandou ou o que a pessoa desejava com isso me fizeram

criar mil e uma ideias.

— Carly! — gritei, esganiçada, sem saber o que fazer. A

mulher apareceu na porta do escritório com os olhos arregalados. —


Quem deixou isso na minha mesa? Quem deixou?! — exigi saber,

suando frio diante disso.


Ela se aproximou em passos pequenos e segurou o envelope
entre os dedos, passando foto por foto com cuidado, parando no

exame de DNA e, quando finalizou a revista, guardou novamente


dentro do envelope.

— Veio pelo serviço de entrega, Alex. Não faço ideia… —


Encolheu os ombros, confusa. — Por que alguém te mandaria isso?

Seria alguém da empresa fazendo alguma brincadeira sem graça?

Fechei os olhos, sentindo a onda de tontura se apoderar do

meu corpo, e caí para trás, na cadeira, encostando a cabeça contra


a almofada e repassando em memória todas as pessoas que teriam

um motivo para me atingir.

— Uma pessoa estava me seguindo. Ai, meu Deus, essa

situação é cada vez mais difícil! — Carly retirou minhas mãos do


meu rosto, liberando meus olhos para que a encarasse.

— Calma, vamos descobrir quem é, querida. Tome água, está


pálida. — Empurrou o copo em minha direção, me fazendo beber

calmamente. — Precisa ficar calma, não é bom passar muito

nervoso. Sabe, agora é você e o outro serzinho. — Tocou minha


barriga, me fazendo rir.
— Você está certa. — Balançou a cabeça em concordância.
— Obrigada, Carly.

Recebi um beijo no topo da cabeça de minha secretária.

— Vamos cuidar muito bem deste pequeninho. — Sorri com

suas palavras e a abracei, precisando de uma pessoa que fosse


meu apoio.

Eu estava quase sozinha nesse momento.

Minha mãe ainda insistiu com o aborto e, infelizmente, ela era


a única pessoa mais próxima da família em Nova Iorque. Amber não

contava aqui, estava muito longe para chutar a bunda do pessoal.


— Como assim, Carly? — Me levantei, confuso. — E ela não

me conta nada?! — Alterei o tom de voz e vi a mulher dar um passo


atrás, pelo susto. Suspirei. — Como Alex está?

— Ela ficou meio abalada com tudo, minha menina ama

muito o trabalho dela, senhor Collins, ela não quer que nenhuma
notícia venha prejudicar a forma que ela consegue as coisas. —

Encarei o teto, pedindo paciência. — Peguei as fotos na sala dela,


pois ela disse que não iria contar para você. — Empurrou em minha

direção, e peguei envelope.

Passei cada foto com cuidado e senti a raiva nascendo


dentro de mim, pois não importava o filho da puta que estivesse
seguindo nossos passos, ele queria que tivéssemos medo de que a

notícia da gravidez viesse à tona.

— Vou falar com Alex. — Joguei tudo dentro do envelope


novamente e guardei no bolso do meu paletó com cuidado.

— Ela saiu para o almoço, não pode vê-la agora. — Revirei

os olhos e me obriguei a me ver com clareza. Cheguei à conclusão


de que não poderia fazer nada que me arrependesse. Estava
andando em corda bamba com Alex, magoá-la ou irritá-la só iria me

fazer passar por maus bocados depois.

— Quando ela chegar, me avise, Carly. — A mulher sorriu,


nervosa, e saiu da sala, batendo a porta em suas costas. Procurei

meu telefone sobre a mesa, discando o número de Adônis, sabendo


que o homem de quase dois metros de altura deveria ter visto
alguma coisa.

Contratar um segurança não era minha coisa mais amável no


mundo. Entretanto, depois de passar quase uma vida preso a um
hospital e aparecer em público novamente como o CEO de uma

empresa do nível da nossa, poderia atrair olhares indesejados.


Principalmente com as pessoas do meu passado.

— Diga, chefe — ele diz ao telefone.


— Tem uma pessoa seguindo a mim e a Alexandra, e, de
alguma maneira, conseguiu uma cópia do exame de DNA e fotos

nossas na clínica. Está sabendo de algo fora do comum? — Ele


nunca andava comigo, preferia que me acompanhasse em seu
próprio carro para que a visão de fora ficasse melhor.

— No dia da consulta, eu verifiquei e havia um jornalista


próximo — falou baixo. — Não estava focado em você, Sebastian,
mas, sim, em uma celebridade local, mas pode ser que tenha sido
apenas um disfarce.

Inspirei fundo.

— Com toda certeza foi.

— Ótimo, descobrirei mais sobre isso e dar um jeito nessa


situação.

— Obrigado, Adônis — agradeci, me sentindo mais leve


diante disso.

Os contratos em minha frente pareciam arder sobre meus


olhos e os deixei de lado, me levantando da mesa ainda sem

conseguir focar em nada. Já tinha quase meia hora e nada de Carly


vir me avisar do retorno de Alexandra, então iria lá por mim mesmo.
Que se dane!

Nem sei por que estava tão preocupado. Talvez fosse o fato
de a secretária ter falado que ela ficou um pouco instável, ou porque
prezava tanto pelo trabalho que se sentiu ameaçada com tudo. A

pior parte deveria ser a segunda opção.

Alex era esforçada demais, muito inteligente, e quem a


conhecesse sabia que usar os outros métodos para alcançar seus

objetivos não era do seu feitio.

Inspirei fundo, precisando falar com ela sobre isso.

Deixei tudo de lado e saí da sala, caminhando até seu setor.


Assim que alcancei a mesa de Carly, ela pulou para tentar explicar
algo, porém, apenas balancei a mão indicando que depois
conversávamos. A senhora roliça não se deu por vencida,

caminhando até mim a passos apressados.

Abri a porta do escritório de Alexandra sem anunciar nada e


fui surpreendido por dois pares de olhos virados para mim, um

completamente assustado. Alexandra e Susan, mas a segunda


sorria de orelha a orelha.
— Sebastian! Que bom que chegou. — Franzi o cenho, me
sentindo meio desconfortável com as duas mulheres me encarando.
Sabia que devia ter anunciado minha chegada!

— Deseja algo, senhor Collins? — Alex indagou e, já que


estava aqui, fechei a porta em minhas costas e encarei as duas com
um olhar sério. — Não escutamos sua presença ser anunciada.

— Não anunciei, sinto muito.

— Ah, que nada! — Susan interveio. — É o chefe e vai me


ajudar a convencer Alexandra a dar uma chance ao destino. — Deu
uma risadinha, me fazendo arquear a sobrancelha ao ver a mulher
com uma expressão de quem prefere morrer ao estar aqui.

— Susan, pelo amor de Deus, o senhor Collins não quer


realmente saber da minha vida pessoal.

Susan riu com toda a indiscrição que tem em seu sangue.

— Que isso, Sebastian é o chefe mais simpático e gente boa


que conheço. Me diga se Alex deve ou não dar uma chance ao
destino? — Olhei para Alex, que escondia o rosto entre as mãos, e
sorri.

— O que seria o destino, Susan? — Puxei a cadeira, me


sentando de frente a Alex e ao lado de Susan.
— Ah, meu irmão está na cidade e eu preciso arrumar uma
companhia legal para ele. Ele não conhece Nova Iorque muito bem,
passou muito tempo na Inglaterra e sei que não há mulher melhor
para meu irmão do que Alexandra. — Bateu palmas. As palavras
entraram em meu ouvido e me congelaram no lugar.

Que porra era aquela?! Agora eu teria que dar a palavra final
que levaria Alex diretamente para um encontro com um inglês
maldito qualquer?! Segurei a vontade de mandar Susan para a casa

do caralho e encarei Alexandra, que mantinha os olhos azuis em


mim.

Sorri de lado.

— Acho que essa escolha deve ser de Alex. — Encarei


Susan. — Não posso dizer se ela deve seguir o destino, pois não
conheço seu irmão e nem os planos dela. — Dei os ombros e vi
Susan franzir os olhos em riste.

— Só isso? Poxa vida, me ajuda, Sebs, ela se recusa.

Alexandra se levantou.

— Chega, Susan, não vou sair com seu irmão. Não no


momento. — Ela coçou o pescoço, deslocada. — Minha vida está
uma bagunça, eu vou ser mãe em poucos meses e eu acredito bem
que, quando colocar isso para qualquer homem, ele vai correr pela
porta da frente. Então não, obrigada pelo “destino”. — Fez aspas no
ar, esbanjando ironia. — Mas, se não se importa, tenho um assunto
sério para debater com Sebastian.

Apontou para mim, e a mulher congelou no lugar, parecendo


pensar em cada palavra de Alexandra. Em seguida, sorriu.

— Bom, pelo visto não é um bom dia para o cupido — se


desculpou, risonha, e logo se foi. Encarei Alexandra com a
sobrancelha arqueada e a vi cair para trás, na cadeira.

— O destino, é? — alfinetei.

Ela riu.

— Pois é, o cupido ruivo decidiu que arranjar um namorado


para a mãe solteirona é a melhor solução.

— Sobre isso que eu queria falar.

— Sobre o assunto de casamento que quase me matou do


coração?!

Segurei a risada.

— Não, sobre o fato de que uma hora ou outra irão descobrir

que este bebê é meu. — Ela ficou tensa. — Carly me mostrou as


fotos.
— Fofoqueira! Daqui a pouco Nova Iorque inteira sabe —

resmungou, enraivecida com a secretária, e me inclinei, segurando


suas mãos contra as minhas, a mantendo com os olhos focados em

mim.

— Não me importo com o que falam, Alex, mas você, sim. —

Ela fechou os olhos, mortificada pela vergonha. — E não quero que


se sinta desconfortável, então, vamos resolver isso juntos, ok?

Ela me encarou com os olhos marejados.

— Eu odeio os hormônios — sussurrou. Me levantei,

caminhando até sua cadeira, e puxei rapidamente para que ela


ficasse entre as minhas pernas e me abaixei em sua altura,

encarando a mulher que simplesmente estava conseguindo


monopolizar minha atenção toda sobre ela, sem nem ao mesmo

querer isso.

— Não chore. — Limpei a única lágrima que caía do seu

rosto. — Bonita demais para chorar.

— Você é charmoso demais para falar isso. — Bufou,

exasperada. Segurei a risada.

— Você me acha charmoso, querida? — Alisei sua bochecha,

tocando a parte de trás de sua cabeça com os meus dedos


deslizando por seus fios sedosos. Ela arquejou baixinho e quase

imperceptível.

Só que estou tão desesperado por uma reação de Alexandra

que não passa despercebido.

— Eu não teria dormido com você se não fosse pelo seu

charme, senhor Collins — E os olhos azuis me encararam,


explodindo em pequenas faíscas de desafio, e me fizeram

estremecer, excitado com a ideia dela tão próxima.

Era só me inclinar para frente e selar nossos lábios. Apenas

isso. E o movimento ficou repetindo tanto em minha mente que só


senti quando Alexandra tomou à frente, aproximando nossas bocas,

selando nossos lábios em um beijo que vinha imaginando havia


dias.

Não era o encostar de lábios sem graça que demos no outro


dia.

Sua boca era faminta sobre a minha, pedindo passagem com


a língua contra meus lábios. E não me resguardei, a puxei em minha

direção e segurei sua cintura fina com firmeza contra meu corpo
enquanto deixava os meus dedos tentando desgrenhar o penteado

dela.
Ela geme com nossas línguas dançando juntas, me fazendo

estremecer. Minha pele esquenta na medida em que tudo se torna


ainda mais intenso e gemo, sentindo o meu pau crescer dentro da

boxer e fazer ficção contra o material resistente da calça social.

— Sebastian... — ela gemeu enquanto os meus lábios

desciam em uma trilha de beijos por sua bochecha, parando na


orelha e mordiscando o lóbulo corado pela situação.

— Diga, querida — sussurrei, beijando o pescoço, e suas


mãos agarraram meu paletó, me puxando novamente contra seus

lábios. Sabia que o mundo podia acabar naquele momento que


morreria um homem muito feliz por ver Alexandra Johnson

completamente entregue em meus braços, sem nenhum resquício


de bebida no sangue para servir como desculpa depois.

— Eu preciso parar, merda — xingou contra meus lábios


enquanto suas mãos desciam por meu dorso; mesmo por cima da

camisa e por baixo do paletó, sentia minha pele queimando.

— Pior momento para decidirmos nos pegar — debochei,

segurando o rosto da mulher, a fazendo me encarar fixamente. —


Você é bonita demais para meu próprio bem. — Ela deu uma

risadinha.
— Você é charmoso demais para eu ter que resistir, senhor
Collins. — Tocou meu rosto e nos encaramos, respirando ofegantes,

com os lábios rosados pelo que acabou de acontecer. — Só que

não posso fazer isso. Não posso dar mais motivos para ouvir coisas
sobre mim.

— Eu sei.

— Por isso, preciso de uma coisa. — Arqueei a sobrancelha.

— Do quê?

— Preciso que me demita.

Nesse momento, voltei ao estado inicial de quando Susan me

falou sobre o destino, namorado, inglês filho da puta, e senti um


estalo em minha cabeça, dando sinal de que nem morto faria o que

estava me pedindo. Não, não vou deixar que um erro de ambos leve
de mim uma ótima funcionária e nem tire o emprego que ela

conseguiu por mérito próprio.

— O quê?! Você ouviu o que você disse, Alexandra? — Ela

se encolheu diante do meu tom alto e a puxei para próximo de mim


novamente, segurando seu rosto para que me encarasse. — Pode

não acontecer nada entre nós nunca mais, mas não vou demiti-la
por causa de gente babaca que não acredita que uma mulher não
pode chegar alto sozinha.

Novamente, vi seus olhos cheios de lágrimas, que logo


caíram em seu rosto. Me inclino, beijando sua bochecha e secando

as gotas com a mão.

— Não vou demiti-la, Alex. Meu pai a contratou, ele a

escolheu para este serviço e, se Arnold Collins fez, é a melhor


decisão. No mundo dos negócios, ele tinha as melhores decisões,

sempre. — Ela fungou, revirando os olhos.

— Não posso ficar chorando sempre. Não sei como vou lidar

com isso, Sebastian. Não sei se consigo. — Beijei sua testa.

— Não me importo com o que vem, baby, só sei que vou

estar aqui para o que precisar. Para secar suas lágrimas quando os
hormônios atacarem. — Ela riu. — E eu não vou desistir da melhor

advogada que tive o prazer de conhecer.

Beijei seus lábios levemente, sabendo que, quando ela se

afastasse, isso poderia nunca mais voltaria a acontecer. Mas toda a


paz que senti quando seus lábios desceram sobre os meus se foi no

instante em que a porta do escritório abriu e não era nenhuma das


pessoas em quem confiávamos para guardar nosso segredo.
De todos os momentos da minha vida, nada, nadinha de

nada, tinha sido tão constrangedor até esse presente momento.


Nem quando papai pegou o meu primeiro namorado passando a

mão em minha bunda de maneira nada inocente, nem quando tive


que passar pelo processo de perda de virgindade. Muito menos o
primeiro fora que levei de um garoto.

A sobrancelha de Hunter arqueou em um arco perfeito, e eu


até teria rido, se não fosse por uma das funcionárias da empresa na

sua frente, a bendita secretária de Sebastian, com os lábios rosados


em um O perfeito.

Engoli em seco.
— Desculpe! — a mulher disse, praticamente soluçando, e

bateu a porta novamente no exato momento em que o sangue


voltou a correr em minhas veias e empurrei Sebastian para longe.

— Ai, meu Deus…

— Não surte — o homem tentou falar e lhe lancei um olhar

agitado. — Eu darei um jeito nisso.

— Peço, pela primeira vez, que você use sua maldita posição
nesta empresa e dê um jeito nisso. — Me abanei, sentindo que a

qualquer momento cairia no chão de tão nervosa que estava.

Ele riu.

— Estou indo. — Abriu a porta e revelou Hunter ainda parado


lá, nos encarando. — O que faz aqui, Hunter? — Sebastian

perguntou com impaciência.

— Eu vim falar com você, mas, depois dessa visão, quero


falar com Alex. — Balançou a cabeça em minha direção e segurei a

risada. — Acho que sua secretária amou o show ao vivo, se não for
falar com ela, o negócio vai ficar um pouco feio.

— Venha na minha sala, quero falar com você. — Sebastian

caminhou para longe, e vi Carly observando toda a situação da sua


mesa. O homem travou ao perceber que Hunter não o acompanhou,
e, sim, se aproximou da minha sala. — Você não vem?!

O tom era um tanto indignado.

— Maggie me mandou pegar as duas versões da fofoca —

Hunter rebateu, sorrindo ao ver a expressão de Sebastian, fechando


a porta na cara do cunhado, e me encarou. — Ele fica louco.

Arqueei a sobrancelha.

— Eu também ficaria se meus parentes fossem os Collins —


rebati, o vendo rir.

— Sério. Sebastian? — debochou, me deixando


desconfortável.

— Foi só um beijo — rosnei.

— Beijos geram bebês agora? — ironizou, me fazendo


suspirar e pedir paciência aos céus.

— Não seja debochado, sabe muito bem que estou falando

que o que aconteceu agora foi só um beijo.

— Sim, quero saber como vocês criarão um bebê. Inclusive,


meus parabéns pela criança. — Sorri com suas felicitações. — Eu

adoro o Sebastian, acho que ele será um ótimo pai e, se tiver


chance, um bom marido, mas nunca pensei que existisse algo entre
vocês.

— Não existe. E, pelo amor, já basta Madelyn Collins


tentando nos casar. — Ele riu alto. — Aconteceu há um tempinho.
— Encarei o caderno aberto em minha mesa. — Foi o tipo de coisa

que fazemos quando não estamos em nosso juízo normal. Não falo
que foi um erro pelo bebê… — Inspirei fundo. — Mas foi um erro
com quem eu fiz. Ele é incrível, Hunter, só que não é para mim. E,
agora, a empresa vai ficar sabendo do meu maldito caso de uma
noite com o chefe e minha vida vai ficar ainda mais bagunçada.

— Acho que não deve se prender tanto ao que o filho da puta


do Robert deixou em você. Ele queria te estragar para que nunca
mais você pudesse ver a felicidade com ninguém, Alex. — O
encarei, pois de todas as pessoas que tinham entrado em minha
vida nos últimos anos, Hunter era o único que sabia sobre o
passado. — Sinceramente, vão ter um bebê e acho que a forma que
estavam aqui deixa claro que não é algo apenas de uma noite.

Revirei os olhos, e a porta abriu novamente, revelando


Sebastian com um sorriso prepotente.

— Problema resolvido. — O peso dos meus ombros se foi


lentamente. — Agora venha, Cooper, preciso falar com você. — O
tom sério que se dirigiu ao amigo me fez arquear as sobrancelhas.

Hunter assentiu, se levantando, e fiz o mesmo, segurando


sua mão com carinho.

— Vem cá — me chamou, e dei a volta, sendo puxada para


um abraço apertado. — Parabéns pelo bebê, querida. — Sorri de
orelha a orelha.

— Obrigada, Hunter — sussurrei e escutei Sebastian tossir,


me afastando.

Ele estava com o rosto tão sério que era uma versão dele
que pensei que nunca iria ver.

— Eu realmente preciso que seja rápido — o pai do meu filho

disse, irritado.

Hunter assentiu e não saiu antes de me encarar e sussurrar:

— Eu disse que ele iria ficar maluco. — E me deixou ali,


completamente confusa.

A música alta balançava as paredes finas do apartamento da


minha filha, e a sala completamente entalada de pessoas era o
plano perfeito para meus desejos. Sabia que não havia nada no
mundo que Alexandra amava mais do que sua independência, além
de fingir que sua vida era completamente perfeita.

A maioria dos convidados era de homens, que, nesta altura


do campeonato, com muita droga e bebida no sangue, não
conseguiam mais distinguir quem era homem, mulher e começavam
a se embolar um no outro, beijando-se, transformando tudo aquilo
no meu exato objetivo.

A porta abriu com dificuldade devido ao casal que se


imprensava contra ela e logo Alexandra colocou a cabeça para
dentro, com os olhos arregalados de pavor ao ver alguém em uma
iniciativa de fazer sexo contra seu sofá.

— Ai, meu Deus. — Bebi minha vodca com calma enquanto


via seus lábios se moverem em um sussurro. E os olhos azuis
idênticos aos meus se focaram em mim, cintilando de raiva.

A batalha foi travada. E eu venceria.

Só que não esperava pela virada brusca, quando ela girou


sobre os saltos altos e saiu do apartamento. Esperava que ela
entrasse, gritasse, batesse o pé como a criança birrenta que sempre
foi. Só que nada disso veio e ela fechou a porta como se não fosse
nada.

Inspirei fundo.

Eu iria vencer.

Eu iria vencer.

Ela ia ceder. Eu sabia que ia.

Não era a primeira vez que Alex cedia e me dava dinheiro. E


eu que não daria uma de proletariado e enfiaria a mão na massa.
Sempre fui uma mulher com destino para ser da elite, não da classe
trabalhadora.

— Senhor Collins — minha secretária chamou —, a equipe

de limpeza passou pela sala da senhorita Johnson — Isso atraiu


completamente minha atenção. A vi colocar uma sacola rosa de

papel na mesa — e deixou isso comigo, disse que foi esquecido lá.
Achei que poderia entregar para ela.

Balancei a cabeça em concordância, sabendo que o negócio


poderia ficar aqui até o dia seguinte para que ela mesma entregasse
a Alex, mas preferi eu mesmo fazer isso, ainda pensativo com a

interação dela e Hunter. Isso não saía da minha mente.

— Levo, sim. Obrigado, Any. — Pisquei, me distanciando da

sala, e entrei no elevador, apertando o botão do térreo, pensando


em como iria fazer. Pretendia ir até um bar, beber um pouco,

geralmente ia para a academia para me acalmar, mas, dessa vez,


realmente precisava de algo um pouco mais forte.

Abri a sacola que Any me entregou e vi que dentro havia o


presente que enviei para o Texas no dia anterior. O sorriso se

estendeu em meus lábios e segurei juntamente da minha pasta de


documentos, sabendo que era é o motivo perfeito para tirar da

cabeça a imagem dela e Hunter.

Eu não deveria ter ficado tão perturbado com isso. Ele era

casado com minha irmã. Teve um passado com Alex, sim, mas era
exatamente isso, passado. Sabia que ele tinha um carinho especial

por Alex e que o relacionamento deles terminou de maneira pacífica,

mas não poderia me culpar por querer mantê-lo longe.

Ele tocou nela.

— Já disse que você é bobo por ter ciúmes. — A voz do meu

melhor amigo preencheu meus ouvidos assim que fechei a porta e


deixei que tudo fosse dito.

— Não estou com ciúmes. Mas você ficar cercando sua ex-
namorada quando é casado não me parece algo normal… — Ele

arqueou a sobrancelha. — Você dormiu com ela! — gritei, batendo


na mesa. — Como acha que Maggie se sentiria?

Hunter revirou os olhos, em seguida, me encarou com toda a


calma do mundo.

— Você repete tanto isso que estou realmente ficando

preocupado que Maggie comece a acreditar nessa loucura. —

Suspirou. — Mas ela é madura, sabe que eu e Alex tivemos um


passado e que não fui sincero com ela quando decidi que queria sua

irmã. Por isso, meio que fico em dívida com ela.

Encolheu os ombros.

— Acha que ela ainda gosta de você? — Eu, sinceramente,

de tudo que se passava em minha mente neste momento, não

queria falar isso. Queria xingá-lo e discursar sobre como ele deve
ser fiel à minha irmã. Mas tudo que saiu foi isso!

Ele riu.

— Se isso lhe preocupa tanto, deveria falar com ela —


aconselhou —, acredito que Alex nunca esteve apaixonada por mim.
— Então por que namorou com você?! — perguntei,

perdendo o ritmo dos meus pensamentos. Eu pensava A e falava


tudo completamente diferente.

— Porque é o tipo de coisa cômoda, sem desafio. Que não


se emociona. É o tipo de coisa que fazemos, pois é o momento da

besteira.

— Momento da besteira? — Arqueei a sobrancelha.

— Sim, são pequenos lapsos que acontecem e, quando

vemos, estamos completamente arrependidos. — Me sentei em sua


frente. — Tipo vocês dois. Ela disse que o momento em que vocês

fizeram o bebê foi algo que eu defino como o momento da besteira.

Senti meu sangue fervendo. Eu ouvi a merda da conversa.

Besteira?! Em minha mente, aquele momento tinha muitas

definições, menos besteira.

— Você parece que está entrando em estado de raiva intenso


— Hunter debochou com todo seu ar de superioridade que me

irritava, e joguei a merda de lado.

— Você tem que parar com essa merda. — Me inclinei,

batendo na mesa, fazendo os objetos balançarem sobre ela. — Não


pode ficar insinuando, cercando-a.
— Não faço nada disso. Você está morto de ciúmes. Fica
vendo coisas onde não tem. — Deu os ombros com toda a

petulância que Deus deu a ele ao nascer. Paciência, Sebastian.

Paciência. Você não pode socar a cara do seu melhor amigo, vulgo
cunhado filho da puta. — Sou um homem casado.

Homem casado. Aram. Sei.

A porta do elevador abriu no exato momento em que a


memória de hoje cedo se esvaiu e segui para fora, pensando em

como iria abordá-la sobre isso. Sem direito nenhum, sabia que não

seria fácil.

Apertei a campainha do apartamento, segui o endereço que


constava no cadastro da empresa, respirando fundo uma, duas, três

vezes, e congelei ao ouvir a música alta e, do nada, a porta abriu e


uma porção de pessoas — meio bêbadas e fedendo a algum tipo de

droga — passou por mim. Metade deles segurando as roupas contra


o peito e com um olhar grogue.

Arregalei os olhos e, quando a última pessoa saiu, uma


garota, que me encarava, sorriu de maneira sugestiva.
— Perdeu a festa, garotão. — Bateu em meu ombro antes de
ser empurrada para frente e uma cópia de Alexandra se colocou em

minha frente, só que mais velha e com um olhar entediado, quase


irônico.

— Sebastian Collins, o que te traz aqui?

Engoli todas as minhas perguntas acerca do porquê tinha a

população inteira de Nova Iorque no apartamento.

— Preciso falar com Alexandra. — Ela bufou.

— Ela não está, viu a festinha e deu o fora. — Balançou as


mãos no ar. — Esses jovens de hoje em dia não sabem nem se

divertir. — E sorriu, se recostando na porta com um copo de vodca


na mão.

— E você, quem é? Pelo que vi, me conhece. — Ela


balançou as mãos no ar.

— Sou Kaylee Johnson, mãe de Alex. — Estendeu a mão em

cumprimento e engoli em seco. — Desde que ficou grávida, essa

garota ficou cheia de moralismo, acredita que ela insiste em ter essa
criança?

Arregalei os olhos com o caminho da conversa.


— E o que mais ela poderia fazer? É um bebê. — Me fingi de
sonso, sabendo que eu mesmo já tinha insinuado o que essa mulher

falou.

— Tirá-lo! A irmã teve um filho bastardo, ela sabe muito bem

como é ter uma criança sem um pai. Eu tive que criá-la sem o
maldito pai e não quero que minha filha seja taxada como estragada

apenas porque decidiu criar uma criança maldita. — Meus olhos


tremeram em um tique nervoso e parei, a analisando.

A raiva era enorme que ardia todo o rosto.

— Não se preocupe, senhora Johnson, sua filha não terá

esse problema. — Pisquei, saindo dali rapidamente. Peguei o


celular dentro do bolso da calça e procurei o número de Hannah,

digitando uma mensagem rápida.

“Alex está com você?”

Ela respondeu rapidamente.

“Não, estou de plantão. O que houve?”

“Parece que a mãe dela armou uma cena. Não entendi bem,

mas pensei que ela estaria com você”.

O celular tocou, e não hesitei em atender, ouvindo Hannah

tagarelar do outro lado, falando sobre a relação complicada que


Alex e a mãe levavam.

— Ela deve ter ido para minha casa, Sebastian. Alex fica

muito mal toda vez que a mãe arma alguma coisa — xingou a mãe
da amiga e inspirou fundo —, vou te passar o endereço. Cuida dela
por mim, por favor.

— Cuido, sim — prometi mais para mim do que para qualquer

outra pessoa. Cuidarei dela com todo o prazer do mundo.


Eu sabia que aquele tipo de afronta contra minha paz interior

uma hora chegaria, só que, de uma forma pacífica, resolvi acreditar


que ela não passaria dos limites. Pelo amor de Deus! Eu era uma

advogada, se meus vizinhos me denunciassem por uma festa que já


passou dos limites da civilização, era claro que nunca mais
conseguiria nenhum grande caso.

Além do mais, eu influenciava diretamente na empresa em


que prestava serviços. Ter o nome deles envolvido em um

escândalo desses era praticamente assinar minha carta de


demissão.

Inspirei fundo, repuxando a jaqueta de maneira que cobrisse

mais minhas mãos enquanto continuava sentada na varanda da


casa de Hannah, sabendo que poderia muito bem entrar lá e pegar

um cobertor, mas preferi aqui, observando o jardim malcuidado da


minha melhor amiga.

Quando era pequena, ouvia sempre das pessoas que Kaylee

Johnson era o tipo de mulher que nunca deveria ser mãe e pensava
nisso como uma coisa horrível.

Será que uma pessoa é tão terrível que nunca possa se


redimir?!

Aprendi da pior maneira que algumas pessoas nunca


conseguem se redimir.

Inspirei fundo.

Observei a luz de um farol se aproximar, parando em frente à

casa. Inclinei-me, observando o homem sair do carro carregando


uma sacola e parar em frente ao portãozinho que batia em suas
pernas.

— Alex! — alguém chamou, e eu arregalei os olhos, me


levantando em um pulo.

— Sebastian? — Limpei as lágrimas bobas que insistiam em

cair, coçando a garganta para limpar a voz embargada. — O que faz


aqui? — Bati no interruptor de luz que iluminava todo o jardim.
— Vim ver você. — Deu os ombros, pulando a cerca como
um garoto levado.

— Como sabia que eu estava aqui?

— Fui à sua casa. — Arregalei os olhos. — Algo estava

errado, pois um quarto da população de Nova Iorque estava dentro


dele. — Segurei a risada ao ver o sorriso levado dele. — Hannah
me disse que estaria aqui.

— Sou previsível. Não precisava se preocupar. — Ele parou


em minha frente, a um metro de mim. — É minha mãe, ela não é um
exemplo. Desculpe se viu alguma coisa lá, prometo que vou resolver
isso e não vai ter nada com que se preocupar. Em relação à imagem

da empresa, se a polícia bater em um desses eventos, posso perder


muitos clientes.

— Eu não ligo para a empresa, Alex, você, melhor que

ninguém, sabe que meu passado daria uma bomba enorme. —


Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, descendo as
mãos por meu pescoço. Estremeci diante seu toque quente. — Você
está congelando, pelo amor de Deus!

— É, está um pouco frio. — Sorri. — Mas estou bem, não se


preocupe.
Ele me encarou com o olhar de quem conseguia me ver
realmente, não só o que aparentava, mas aquilo que doía lá dentro.

— Vamos comigo para casa, me conte o que está


acontecendo e eu preparo um jantar. — A menção de comida fez
meu estômago se revirar.

— Você, cozinhando? — Arqueei a sobrancelha de maneira


debochada.

Ele riu.

— Bem, talvez seja melhor pedir algo para alimentar você e o


bebê. — Beijou minha testa com carinho. Não resisti em me
envolver em seu abraço, sabendo que cair nos braços de Sebastian
toda vez que as coisas ficavam ruim não era a melhor coisa. Mas
não conseguia controlar.

— Minha mãe é terrível. Ela pensa que vou dar dinheiro para
as besteiras dela — resmunguei com raiva. Uma parte de mim dizia
que não devia despejar isso em cima dele, mas já foi.

— Dinheiro para o quê?

— Procedimentos dos famosos, beleza. Ela é fissurada em


não ficar velha e quer que eu banque cada maldito passo dela. Não!
Eu trabalhei duro para ser quem sou, não posso ficar fingindo que
não me sinto mal quando ela praticamente me rouba de maneira
descarada.

— Ela falou algo sobre você tirar o bebê. — Fiquei tensa em


seus braços com a menção disso. Sebastian beijou meus cabelos,
alisando os fios soltos com cuidado. — Sinto muito por isso. Eu. Ela.
Desculpe, não queria ter pedido aquilo.

Beijei seu ombro.

— Já passou, Sebastian. — No momento, este era o menor


dos meus problemas. O perfume que usava tem cheiro amadeirado
e leve e entra em meus sentidos. Eu poderia ficar ali por um tempo
enorme e sem me cansar.

— Vamos para casa, baby. — Não questionei, apenas deixei


que ele me levasse para o carro e que minha mente parasse de
pensar em cada mísero instante, em tudo que me rodeava, em
minha mãe, em me afastar do meu chefe e no fato de que estava
grávida dele.

Precisava parar e deixar que as situações me guiassem.


Ela entrou em meu apartamento se arrastando sobre os pés
enquanto segurava os saltos. Está novamente naquela áurea
desleixada que me atrai e não consigo desgrudar os olhos daquela
mulher.

— E Hunter e Maggie? — indagou, se sentando no sofá.

Sorri, ligando as luzes, e peguei o telefone sobre o balcão.

— Foram embora no fim da tarde. Quase os expulsei. — Ela

riu.

— Vocês são bem unidos, né? — Alisou a foto em que eu e


Maggie estávamos juntos no último ano, no evento de aniversário da

empresa, e senti meu peito expandir. — Não sabia da existência de


um segundo filho dos Collins até que aqueles documentos caíram
em minhas mãos.

Fechei os olhos. Não me atormentava que ela soubesse a


verdade. No fim, é até bom, pois não precisava manter nenhuma
fachada de que estava sempre tudo bem. Alexandra sabia quase
toda minha alma por aquele maldito dossiê que encontrou ao entrar
na empresa.

— Foi um susto. Só que eu conhecia Maggie. — Deu os


ombros. — E por mais que ela e Hunter não fossem muito
politicamente corretos, nunca poderia ter escondido aquelas
informações comigo.

Me aproximei, tocando seu rosto, e a fiz me encarar. Deixei


meus joelhos cederem até estar frente a frente com Alexandra.

— Você o amava? — Ela se remexeu, inquieta com a


pergunta. Eu não deveria fazer aquele questionamento, só que,

como disse mais cedo, aquilo perturbava-me demais.

— Acho que nunca amei ninguém de maneira que acredito


ser necessário, Sebastian — sussurrou. — Hunter era bom, sabe,

combinávamos. Éramos amigos, tinha uma relação de confiança até


ele reencontrar Maggie. Quando vi que o relacionamento não era

mais o mesmo, resolvi sair de cena e deixar que o destino fizesse


seu trabalho.

Sorri com a resposta e deixei que meus dedos descessem


por seus cabelos, tocando-os com delicadeza.

— O exame está com você, né? Posso levar para casa? —


Arqueou a sobrancelha, desviando do assunto.

Como um tapa na cara, me afastei.

— Sim, está aqui. — Me abaixei para pegar a pasta que

estava embaixo da mesinha de centro, mas, ao abri-la, não


encontrei nada. Estava vazia. — Eu juro que a deixei aqui. Caralho,

como isso é possível?

Meu corpo estremeceu.

— Será que Hunter e Maggie encontraram e colocaram em


outro lugar? — A vi ficar tensa e os olhos esquadrinharam a sala do

apartamento.

— Não sei, mas não acredito nisso. O exame sumiu. Uma

cópia foi enviada a você. A sensação de que alguém entrou aqui e o


pegou não para de passar em minha mente. — Fechei os olhos,

contando até três.

— É uma propriedade protegida, Sebastian, só tem acesso

ao elevador privativo os acionistas da empresa e quando é liberado


por… — Ela congelou. — Uns dos acionistas não teria o porquê vir

até nós, cutucar nossas feridas.

— Uma pessoa entrou aqui. — Inspirei fundo. — Só que não

entendo o porquê de ter feito algo assim. É irreal demais.

— Quem entrou aqui, Sebastian? — perguntou, me

encarando com as sobrancelhas arqueadas e a expressão de que a


pessoa iria se ver com ela.

— Susan — revelei com o coração batendo em meu peito.


— Ai, meu Deus! — exclamou, me assustando. — Faz todo o

sentido do mundo.

Faz?!

— Jura?

— Sim, só você mesmo para não perceber que Susan é


doida por você. Toda cheia de elogios. — Imitou uma das poses da

mulher. — O chefe mais compreensivo. O melhor chefe. Sebastian


isso. Sebastian aquilo. — Segurei a risada com seu tom de voz fino.

— Do que você está rindo? — Me encarou com raiva.

— Nada, é que parece que você está com ciúmes.

— Eu não estou com ciúmes! — E o rosto atingiu um tom


adorável de vermelho. — Sua funcionária pode ter pegado o maldito

teste de DNA e você vem me falar de ciúmes?!

Segurei suas mãos.

— Por que ela faria algo do tipo? Só porque gosta de mim?


Parece coisa de criança mimada, Alex. — Ela riu.

— Isso, eu não sei, mas irei descobrir, baby. — Usou o


apelido que dei para ela, pincelando meu nariz com um ar travesso,

e me inclinei, beijando seus lábios levemente com carinho. — Você


fica fazendo isso.
— Isso o quê? — Fingi inocência.

— Me beijando — resmungou, chateada.

— O que posso fazer se não consigo parar de tocar em


você? — Meus dedos voltaram a tocar em sua bochecha, e ela

inclinou o rosto em direção à palma da minha mão, como uma gata.

Sorri.

— Para com isso, Sebastian — sussurrou de olhos fechados,


e me aproximei, me encostando no sofá, ficando com o rosto

próximo a ela. — Combinamos que era errado.

— Não, baby, você combinou que era errado. Eu fui coagido

a aceitar. — Ela riu, e eu busco seus lábios, os entreabrindo e a


trazendo para um beijo intenso, colando nossos corpos, deixando

que suas mãos descessem contra meu pescoço e segurassem em


meu ombro.

Me afastei.

— Não consigo ficar longe de você, Alexandra Johnson —

confessei. — Desde o dia em que fugiu de mim na manhã seguinte


que dormimos juntos, quero tocar em você, pois é malditamente

perfeita.
As bochechas rosadas, de maneira adorável, deram a ela
tudo que precisava no momento para perder a sanidade: doçura.

— Não podemos fazer isso. É errado. Já estamos metidos


demais em problemas e…

— Me dê um motivo muito bom, que não seja um não


podemos, para não te beijar agora — pedi, baixinho. — Me diga o

que foi realmente um erro naquele dia? Diga e nunca mais volto a
tocar em você.

Ela me encarou com os olhos arregalados e a boca aberta


pela surpresa.

— Eu não… consigo.

Sorri.

— Eu também não. — A beijei, mordendo o lábio inferior e a

trazendo para a bolha de desejo que me rodeava. Segurando sua

cintura, eu a levantei, prendendo-a com o meu corpo. Me sentei no


sofá, a encaixando em meu colo. — Não pode me pedir para ficar

longe quando não me dá um bom motivo para isso.

Ela me encarou com os cabelos deslizando pelos ombros de

maneira hipnotizante, os lábios rosados, irresistíveis. Ela precisava


muito pensar em uma desculpa rápida. Senão, o próximo
movimento não teria mais volta.
O que eu estava fazendo? Merda, deveria ter previsto que

nada de bom viria em aceitar a ajuda de Sebastian. Só que, para


falar a verdade, não era inteiramente ruim. Ainda mais por sentir os

espasmos de excitação que corriam em meu corpo, com minhas


pernas em volta de sua cintura e o homem me encarando com
expectativa enquanto seus olhos faziam o trabalho para que

nenhum detalhe fosse despercebido.

Pensei em cada momento até agora. Uma pessoa como

Sebastian nunca havia estado em minha vida. Ele tinha seus


problemas, seus demônios, e ainda estava ali, sorria para sua

equipe de trabalho, era tão legal comigo em vários sentidos desse


nosso novo estado e amava a família de maneira encantadora.
Como ele conseguia? Eu não fazia ideia. Isso tudo era prova

que não teria outra chance de estar com alguém tão bem, tão em
paz de espírito, então, deixei que meu corpo se inclinasse para a

frente e traçasse seus lábios levemente com os meus.

— Não tenho uma desculpa para isso — sussurrei e senti


suas mãos subirem para minhas costas, estremecendo, arrepiando

minha pele. — Não quando você sabe que não há volta.

Ele riu, deslizando a boca sobre a minha em direção ao meu

pescoço, beijando a região sensível com calma. Fechei os olhos e,


naquele momento, nada me vinha à mente. Nada que retratasse

proibido, errado. Apenas eu e ele. Com suas mãos dançando sobre


meu corpo, arrepiando minha pele.

Os dedos deslizaram por minha camisa social branca, tirando


botão por botão de maneira lenta, permitindo que o ar gélido do

apartamento entrasse pela camisa aberta. Ele deslizou minha


jaqueta pelos meus ombros, retirando a blusa um segundo depois.

— Tão perfeita — sussurrou com as pontas dos dedos

dedilhando o vale dos meus seios.

Ofeguei, buscando um pouco de toda minha ousadia que


gostava de acreditar que tinha, mas, no momento, só estava
petrificada com a maneira que ele me tocava, olhava e me fazia
sentir, como se eu fosse apenas a mulher mais sexy do mundo.

— Sebastian. — Seu dedo tocou meus lábios, pedindo


silêncio.

— Nada de me corrigir. Quando digo que você é perfeita, é


porque é. — Revirei os olhos, pois, de alguma maneira, ele sabia
que ia fazer exatamente aquilo. Sua mão desceu, parando sobre o
botão da minha calça, enquanto a outra mão livre subiu em direção

ao meu sutiã, retirando a peça com rapidez, a fazendo cair do lado


do sofá.

Ele fez uma virada brusca, me encaixando entre suas pernas,

e, com o corpo ainda todo vestido sobre o meu, é a visão perfeita.


Arquejei, desesperada para tirar aquele tanto de pano que cobria o
corpo daquele homem.

— Você está muito vestido. — Deslizei meus dedos pelos


botões da camisa, escorregando por seu ombro, até que ela caiu na
pilha de roupas. Meus dedos deslizaram pela pele bronzeada,
passando leve sobre uma camada de pelos e parando no cós da
calça. — Não me lembro bem da outra noite.

Ele riu.
— Por qual motivo está demorando tanto para tirar suas
roupas? — brincou, beijando-me em seguida; abri a boca para
recebê-lo, enquanto sua língua bailava contra minha, dançando livre
em minha boca, arrepiando meus pelos, me fazendo estremecer

com o contato de nossos corpos. Totalmente livres, meus peitos


foram espremidos contra os seus, causando uma sensação
deliciosa de prazer. Sua mão desceu para minha calça, repuxando-a
para baixo, seguindo seguia um caminho por meu pescoço,
beijando, mordiscando, intensificando a sensação crescente de
necessidade entre minhas pernas.

Sua mão segurou um dos meus seios, os encarando com


fixação.

— Vão ficar maiores, né?

Segurei a risada com seu tom de curiosidade.

— Com toda a certeza — rebati, o vendo rir de lado.

— Bendito seja os efeitos da gravidez. — Sorriu com um ar


safado, descendo os dedos por meu bico intumescido, brincando

com ele, enviando sensações por todo meu corpo antes de seus
lábios os abocanhar com fome, sugando entre os lábios. Me permiti
ofegar, excitada e querendo extremamente aumentar o ritmo das
coisas.

Só que sabia que, quando acabasse, minha mente voltaria a


ser racional.

Ele desceu, deslizando os lábios por minha pele, antes de


voltar a dar a mesma atenção ao outro mamilo. Inspirei fundo.
Minhas pernas pegaram o impulso para enlaçar em sua cintura e
senti sua protuberância contra minha coxa.

— Sanidade. Preciso dela — sussurrou, parando para me


encarar. — Preciso dela quando estou com você.

Sorri de lado, o vendo se arrastar sobre o sofá, se


levantando, e o encarei.

— Acho que não precisamos da sanidade nesse momento. —


Minhas mãos desceram pelo corpo quente do homem, explorando
lentamente, sentindo os músculos e marcando em minha memória
cada momento.

Ele enlaçou um dos braços em minha cintura, segurou meu


rosto com uma das mãos e me beijou com a mão livre, afundando
em meus cabelos, e senti seu membro contra meu corpo.
Me esfreguei contra ele sem nenhuma vergonha. Segurei o
membro duro e pulsante contra minha mão. Ele me levantou do
chão, me encarando enquanto caminhava novamente para o sofá,
se inclinando até que nossos corpos caíssem sobre a almofada.

Beijou meus lábios, descendo por meu maxilar, causando


novamente uma necessidade crescente em mim, enquanto enlaçava
minhas pernas em sua cintura. Desci minhas mãos por seu corpo,
tocando-o, e o guiei em minha entrada. Com a ajuda de Sebastian,

fui preenchida totalmente com a sensação de que teria muitos


problemas para me relacionar daqui em diante.

É simplesmente perfeito, pensei com um gemido escapando


entre meus lábios. A partir disso, era um misto de sensação

correndo contra minhas veias, com sua boca tocando a minha,


nossas mãos buscando um ao outro, enquanto tudo se tornava uma
névoa ao nosso redor. Nos perdemos um no outro, eu buscava algo
que não consegui com ninguém. Paz comigo mesma.

Alex fechou os olhos, e, por um instante, deixei o sorriso


preencher meus lábios com a imagem da mulher simplesmente
cansada com o que acabamos de fazer. A memória da outra noite
era fraca em nossa mente, mas, com toda certeza, não havia sido
dessa maneira. Ela abriu os olhos, me encarando com um sorriso de
lado.

— Agora estou com fome. — E se remexeu embaixo de mim.


Levantei-me, pegando a cueca jogada ao lado de nossas roupas, e
a vesti rapidamente, enquanto Alexandra se escondia atrás das
almofadas do sofá.

— O que vai querer? — Encarei-a.

— Qualquer coisa que seja comestível. — Arqueei a


sobrancelha em sua direção, colocando as mãos na cintura.

— Eu sou comestível. — Ela riu, enfiando o rosto contra as


almofadas do sofá.

— Pelo amor de Deus! Me arruma uma toalha? — Me


encarou, meio desconfiada.

— Eu já vi tudo que vai tentar esconder. Se quiser ir ao


banheiro, pode ir ao do meu quarto. — Alexandra arqueou a

sobrancelha e, quando disquei o número de um dos restaurantes


delivery que conheço, ela percebeu que não iria dar sua amada

toalha. Inclinando-se, pegou a roupa no chão.


Segurei a risada ao ver seu esforço de se cobrir parcialmente

com a calça e a blusa e se levantar. E, quando o fez, correu em


direção ao meu quarto, deslizando a porta em suas costas.

Inspirei fundo, sabendo que o caminho que tomamos


segundos atrás iria trazer consequências. Eu a queria, muito, desde

que fugiu da minha cama. Mas isso não mudava o fato de que ela
era a mãe do meu filho. Desde que essa frase se tornou real, nós

nos veríamos para sempre e estaríamos sempre conectados,

mesmo que não fosse da forma em que ficamos alguns instantes


atrás.

A frase clichê de que um filho é para sempre nunca fez tanto

sentido como agora.

Terminei de fazer o pedido e deixei minhas pernas me

guiarem até a mesa onde havia algumas bebidas expostas. Por puro
hábito ruim, bebia uma dose todos os dias depois do trabalho. Servi-

me de um pouco de uísque e coloquei algumas pedras de gelo

antes de caminhar para o sofá, me sentando ali e encarando a


mesinha de centro.

Deveria tomar uma ducha e ter a conversa que precisávamos


ter desde sempre, mas não conseguia. Não conseguia colocar a
barreira que precisava entre mim e Alexandra, pois sabia que, para

ela, era fácil se afastar.

Era só seguir sendo a pedra de gelo que tanto faz bem.

Quanto a mim, dizia não aos envolvimentos, só que a puxei para um


caminho que apenas ditava frases ao contrário.

— Peguei seu roupão, já irei devolver. — Apareceu com os


cabelos presos em um coque no alto da cabeça e enrolada ao meu

roupão. — Precisava de um banho, foi um dia tenso e mamãe não


me deu chance de tomar um.

Deu os ombros e a observei deixar suas roupas e colocá-las


sobre o sofá, fazendo o mesmo com as minhas. Num momento de

pura besteira, a puxei para o meu colo, encaixando o corpo magro e


curvilíneo para que se encaixasse sobre minhas pernas.

Ela me encarou com os olhos bonitos e assustados.

— O quê? — indagou, assoprando a mecha do cabelo escuro


que caiu em sua face.

— Nada. — Dei os ombros. — Acha que deveríamos


conversar sobre o que aconteceu? — Minha mão tocou seu ombro

com as pontas dos dedos, encostando na pele livre do pescoço, a


fazendo sorrir.
— Acho que, se conversarmos — disse, e engoli em seco,

abaixando a cabeça —, vai me fazer pensar de maneira racional.

— Não sei se gosto de você muito racional — brinquei,

tirando uma mecha do cabelo que caía do coque e a prendi atrás da


sua orelha.

— Também não sei. — Encolheu os ombros. — Mas vamos

ter um filho, Sebastian, em menos de nove meses, situações como

essa não podem acontecer. Um bebê tem que ter toda uma
estabilidade.

— Eu sei. — Beijei sua bochecha. — Mas o que faço quando

não consigo dizer não?

Ela riu.

— Não pergunte a mim. Eu fiz um filho com você. Não sou a


pessoa mais consciente do mundo. — Rimos, e ela me encarou. —

Eu não sei o que fazer. Sinceramente, quero ficar com você, ao


mesmo tempo em que sei que não posso.

— Por quê? Talvez seu motivo de não poder seja mais forte
que o meu.

Sorri. Meu motivo de não ficar com ela era único e exclusivo
meu, egoísta, pois não queria um relacionamento, queria aproveitar
a vida.

— Meu motivo você sabe. Eu lutei muito. Não posso perder

agora. — Alisei seu rosto.

— Meu motivo é egoísta, Alex. — Ela franziu o cenho. — Eu

passei dez anos em um hospital, eu estou livre pela primeira vez em


uma década. E agora vou ter um filho, não estava nos meus planos,

mas já o amo tanto. — Limpei a lágrima que caiu em seu rosto. — E


um relacionamento não é bem a forma certa que vejo a liberdade.

Ela riu.

— Eu sei e entendo. — Deu os ombros. — Eu vivi um

relacionamento ruim, e não quero entrar em outro tão bagunçada


com um bebê a caminho e com meu chefe! Só que também sei que

relacionamentos nunca mais em minha vida serão fáceis. —


Encolheu os ombros. — Nunca mais serei sozinha novamente.

Quem quiser ficar comigo a partir de agora vai ter que amá-lo, pois

não posso renunciá-lo.

Estremeci apenas com a ideia dela e mais alguém.


Namorando. De eles ficando noivos, do casamento sendo

anunciado, montado, enquanto assistia a tudo por um camarote em


um espaço especial —, mas não especial o suficiente para fazer
parte daquilo — como pai do seu filho.

Uma ideia ficou presa em minha mente.

— E se não fosse um relacionamento? — Ela me encarou tão

rapidamente que pensei que iria me matar. — Tipo, somos adultos,


vamos ter um filho. Eu quero muito ter certeza do que estou fazendo

para seguir em um relacionamento. e você tem todas as suas


inseguranças. — Alisei sua bochecha. — Um relacionamento

casual. Não precisamos falar com ninguém. Mas nós estaríamos em


algo casual — continuo, e Alexandra apenas arqueou a

sobrancelha.

— O quão casual seria? Dormiríamos com outras pessoas?

Engoli em seco, sentindo minha cabeça doer novamente com


essa menção. Minha imaginação era minha pior inimiga quando se

tratava de Alexandra e mais alguma pessoa na mesma frase.

— Não. Acredito que sair com outras pessoas tudo bem,

mas, se um dos dois quiser dormir com outras, deve romper antes.
— Ela sorriu de lado. — Jantaríamos juntos, compartilharíamos

momentos como namorados, só que com a liberdade de solteiros.


— Não sei, Sebastian — resmungou, se sentando ao meu
lado. — Eu acho que esse tipo de coisa só dá certo em filmes.

Sorri.

— Acha mesmo que não podemos fazer isso? Qual seria a

diferença entre antes e agora? Fizemos um filho sem estarmos


namorando, nos beijamos, ajudamos um ao outro — citei, contando

nos dedos as ideias que poderia ter para convencer essa mulher. —
E fizemos sexo novamente sem nem ao menos falar sobre nossa

definição.

Ela escondeu o rosto entre os dedos.

— Nossa lista fica cada dia pior.

Sorri com o tom de desespero em sua voz.

— O que me diz? — Ela me encarou, e aquele olhar profundo

e azul que parecia me atrair toda vez que pousava sobre mim me
desarmou. Eu estava completamente ferrado. Independente de qual

fosse a decisão de Alexandra Johnson, eu era um homem


completamente ferrado por um único olhar.
Eu não deveria. Ou deveria? Um relacionamento casual?

Sério mesmo? Eu, Alexandra Johnson, que passei a vida querendo


algo que fosse apenas meu, que não fosse dividido com mais

ninguém, estava cogitando a ideia de um relacionamento aberto!

Eu não fiquei com Robert, pois ele me queria como sua


amante. A situação agora nem passa perto dessa e meu

envolvimento com Sebastian era completamente diferente. Teríamos


um filho.

Como iria explicar ao meu filho que eu e o papai dormíamos

juntos, mas não éramos um casal? Pelo amor de Deus, eu estava


ficando louca. Esta era a única explicação para isso.
— Não podemos deixar que isso avance para depois do

nascimento do bebê. — Levantei a cabeça. — Somos pessoas


inteligentes, racionais e não vamos deixar situação constrangedora

nenhuma interferir no crescimento do nosso filho, certo?

— Com toda certeza — ele disse com uma certeza de que eu


gostaria de ter. — Temos um trato?

Olhei para a mão estendida e senti meu corpo estremecer.


De medo. Eu não tinha um relacionamento havia muito tempo e tudo

que tive foi algo próximo a um namoro de verdade, no qual


poderíamos cobrar pelos ciúmes, fidelidade e tudo mais. Como eu

faria isso com Sebastian?

Ele poderia sair com outras mulheres. Eu também poderia


sair com outros caras — tudo bem que minha situação era
complicada, um homem geralmente foge de mulheres grávidas, ou

mãe.

— Precisamos descobrir se foi Susan que pegou o exame —


falei, apertando sua mão, e ele balançou a cabeça em

concordância, segurando meu rosto com a mão e se inclinando para


beijar meus lábios suavemente.
— Agora, posso beijar você sem precisar explicar, senhorita
Johnson?

Segurei a risada.

— Acho que deixei de ser senhorita Johnson há muito tempo,

senhor Collins — brinquei, enlaçando meus braços em seu pescoço,


permitindo que ele me puxasse para um abraço, me encaixando em
seus braços de maneira carinhosa e, merda, eu sabia que, no
primeiro minuto do nosso relacionamento, algo iria dar errado.

Se não fosse pela batida maluca e irregular do coração, além


da voz irritante da minha irmã avisando para tomar cuidado e não
me apaixonar por Sebastian Collins, estaria tudo bem. Só que as

sensações e as palavras me fizeram ver que aceitar um


relacionamento aberto foi a decisão mais burra que tomei nos
últimos tempos.

Não posso me apaixonar. Não posso deixar que meus


sentimentos coloquem em risco a relação de Sebastian e meu filho.

Me afastei, o encarando.

— Me prometa uma coisa. — Ele olhou ao redor,


desconcertado com minhas palavras. — Não é para mim, é para ele.
— Segurei sua mão, colocando sobre meu ventre liso.
— Prometo qualquer coisa a vocês, Alex.

Sorri de lado.

— Me prometa — disse, engolindo em seco — que, apesar


de qualquer coisa que acontecer entre nós, não vai deixar de querer
fazer parte da vida dele. Ele merece um pai, Sebastian, e não quero
que meus erros tirem isso dele.

O homem sorriu.

— Eu prometo. — E me puxou para seu colo, segurando


minha cintura como se não pesasse nada. — Quando a barriga
começará a aparecer? Quando descobriremos o sexo?

Inspirei fundo.

— A barriga é relativa, sou muito magra, não sei se ficará

algo enorme ou mais discreto. — Sua mão puxou o fio do roupão,


me deixando nua novamente em seu corpo e seus dedos desceram
sobre meu ventre, tocando com cuidado. E, mesmo que não fosse
um ato sexual, senti minha pele esquentando lentamente. — Agora
o sexo, no quarto mês, se não estou enganada.

— Quer menino ou menina?

Segurei a risada.
— Antes era mais fácil responder. — Ele me encarou,
arqueando a sobrancelha. — Era só dizer: não sendo gêmeos. —
Dei os ombros, e Sebastian riu. — Agora, eu não sei. Quem vier vai

ser amado. Mas minha irmã quer muito uma menina.

— Ela tem uma garotinha também, né? — Balancei a cabeça,


sem saber como ele descobriu essa informação. — Hannah me

falou. — Abri a boca, como se compreendesse tudo. — Como você


acha que descobri o endereço da fazenda da sua irmã? Como
descobri onde você estava ontem e tudo que eu vou descobrir
ainda?

Segurei a risada com sua petulância.

— Ah, claro, se aliar a Hannah é muito útil. Aquela ali fala


pelos cotovelos.

Ele riu.

— Sim, faltou ela me entregar um relatório sobre seus gostos.


— Arregalei os olhos. — Mas é bom, vai que eu precise mais à
frente. — Pincelou o meu nariz.

— Vocês juntos contra mim não é legal. Ela é minha melhor


amiga, deveria estar comigo… — Ele me beijou, segurando-me pelo
maxilar e inclinando os lábios em minha direção, lentamente, me
fazendo esquecer o que falávamos e o que eu estava tagarelando.
Nada vinha em minha mente enquanto sua língua traçava minha
boca devagar, estremecendo-me em seu toque.

O barulho vindo de fora me fez empurrar seus ombros.

— É a comida?! — Minha expressão devia ter deixado claro


minha ansiedade por esse momento, pois ele riu.

— Com fome, Branca de Neve? — brincou, e me levantei do

seu colo, fechando o roupão, enquanto ele caminhava até o


interfone.

— Branca de Neve?

Franzi o cenho, não muito contente com o apelido. Ele


percebeu que isso me irritou e riu, liberando a entrada do
entregador.

— Sim, você tem a postura de uma princesa, querida. —


Arqueei a sobrancelha. — É branca demais e os seus cabelos é
muito escuro, além dos olhos bonitos — me descreveu e fiquei ali,

sentada sobre minhas pernas no sofá, encarando Sebastian com


desconfiança. Ele se aproximou novamente, colocando uma mecha
de cabelo atrás da minha orelha. — E mesmo que não goste, você é
uma Branca de Neve moderna. — Fiz careta, recebendo um selinho
rápido no lugar. — Pedi comida chinesa, pensei em algo mais
consistente, já que a médica falou que tem que se alimentar bem. —
Pincelou meu nariz.

— Obrigada. — E a palavra saiu entrecortada, acompanhada


por um suspiro. — Não vai vestir uma roupa para atender o
entregador? — Arqueei a sobrancelha, o fazendo rir e buscar a
calça que deixou cair ao lado da mesinha de centro.

— Se insiste, princesa — brincou, se afastando novamente, e


deixei meu corpo cair para trás, pegando um travesseiro e
afundando minha cabeça ali. Qual era meu lema, mesmo? Ah, ser

uma boa advogada, defender meus clientes e sempre vencer


quando for uma causa justa.

Sumiu. Foi instantaneamente para: Não se apaixone. Não se

apaixone. Pelo amor da sua vida, não se apaixone por Sebastian

Collins!

Senti algo cutucar minhas costas e me virei rapidamente para


dar de cara com Sebastian adormecido ao meu lado, com as pernas

jogadas parcialmente sobre as minhas e os braços me rodeando em


um abraço apertado. Deixei o ar sair aliviado em meus pulmões e

encarei o homem adormecido em minha frente.

Meu coração saltou. Ele era tão bonito. O cabelo loiro caindo

na frente do rosto de maneira bagunçada, os cílios longos


abaixados enquanto ressonava baixinho. Me permiti esticar a mão e

retirar uma porção de fios cor de ouro, jogando para trás.

Acordar antes do cara e ficar o observando dormir enquanto

citava as coisas maravilhosas que a mãe natureza fez em seu rosto


não era do meu feitio. Na verdade, fugir por aquela porta seria mais

a minha cara.

Os lábios rosados naturalmente se repuxaram em um sorriso.

— Bom dia. — E os olhos verdes se abriram, focando-se em


mim. Segurei a respiração, incapaz de me mover diante da

intimidade que se estabeleceu desde que fizemos sexo no seu sofá.


— Pensei que acordaria sozinho, Branca de Neve — brincou, já me

puxando para o lado da raiva logo pela manhã e subiu mim,


segurando-me contra o colchão macio. Beijou meus lábios

levemente antes de me encarar novamente.

— Pensei nisso — confessei. — Só que fiquei com preguiça


Ele riu e engatilhou para baixo, parando em frente ao meu

ventre, puxando sua camisa emprestada para cima e revelando


minha barriga e apenas a calcinha de renda que visto.

— Bom dia, papai — brincou, e estremeci, pois a imagem de


Sebastian falando com nosso filho fica se repetindo enquanto ele

continua a falar que a mamãe é uma fujona incorrigível.

Engoli em seco.

— Seu pai inventa coisas — gracejei, tocando sua mão por

cima da minha barriga. — Eu não sou assim, baby.

Ele riu.

— É, sim, acabou de confessar que fugiria se não fosse pela


preguiça — debochou, mostrando a língua em um ato

inconsequente. O empurrei contra a cama e subi em seu colo,


cruzando os braços enquanto sua mão segurava meus quadris. —

Como passou a noite? — Pincelou meu nariz, em um gesto que não

deveria me encantar, mas encantava.

A forma que estava montada em cima do meu chefe, depois


de jantar, dormir e fazer um bebê com ele deveria me assustar. E o

fazia, só que, ao mesmo tempo, era íntimo, era bom.


Nunca tive os pequenos momentos. Foram só momentos

entre o beijo, o sexo e depois, tudo se foi. Conversar na cama.


Jantar juntos. Dividir como foi a noite ou seu dia. Era a primeira vez.

— Foi muito boa. — Me abaixei sobre ele, beijando os seus


lábios com delicadeza antes de apenas me aninhar ali, permitindo-

me aproveitar os bons momentos que passaram entre uma correria


e outra. — Preciso ir para casa e pegar uma roupa para trabalhar.

Me levantei, fechando a camisa dele de maneira


“comportada”, e me aproximei da janela enorme que dava vista para

a cidade movimentada lá embaixo. Olhei Nova Iorque em pleno


vapor e deixei o suspiro cansado sair dos meus lábios.

— Vou levar você. — Pulou da cama, atraindo minha atenção


e escutamos o elevador se abrindo e uma voz feminina chamando

por Sebastian. Inspirei fundo e caminhei para o banheiro. — Já


volto. — Piscou, saindo do quarto, fechando a porta de correr em

suas costas. — Susan?! O que faz aqui?

Arregalei os olhos diante da menção da mulher e senti meu

coração quase saindo pela boca ao lembrar que minhas roupas


ficaram na sala, e se Susan souber realmente que estou grávida

dele, vai ligar tudo em um só tempo!


— Ah, Sebastian — a ouvi sussurrar. — Por que tudo
acontece comigo?

Franzi o cenho sem saber que diabos ela falava. Susan era
praticamente perfeita, foi uma perfeita Barbie na faculdade, adorada

por milhares de garotas e garotos, e, na vida profissional, alcançou

bons objetivos. A vida não era realmente uma carrasca com ela,
pelo que conheço, mas, por experiência própria, sabia que nem tudo

era fácil.

— Só um instante, querida, tomarei um banho, e vamos

tomar um café para você me contar o que aconteceu, ok? — O tom


carinhoso de Sebastian tinha uma pontada de desespero que me

fez rir. Logo ele retornou, segurando minhas roupas em uma mão e
fechou a porta com outra. — Pelo amor de Deus, como ela entrou

aqui?! — praticamente sussurrou.

— E eu que vou saber?! A casa é sua — resmunguei,

pegando minha calça e entrando nela com a maestria que nem


sabia que tinha. — Você sai com ela, depois eu saio. Preciso

realmente ir.

Ele pegou minhas mãos, me fazendo encará-lo.


— Ei. — Arqueei a sobrancelha. — Te pego para almoçar,
ok?

O coração novamente fez aquele som bobo e alarmante em


meu peito.

— OK. — Sorri igual à uma boba, pois não consegui me


conter. Era involuntário. Ele beijou meus lábios levemente antes que

eu o empurrasse. — Agora anda! — Revirou os olhos, correndo


para o banheiro, e deixei meu corpo cair para trás em sua cama

bagunçada.

Não fizemos nada além do que rolou no sofá. Apenas

jantamos, conversamos e agora estava tentando controlar todas as


emoções bobas que insistiam em correr em minhas veias. Nem um

dia. Não passei nem mesmo um dia neste “relacionamento casual” e


já estava assim!

Eu esperei, realmente, com todas as minhas forças, que


Sebastian Collins tivesse alguns defeitos que iriam aparecer com o

tempo, pois precisava rapidamente de algo para desgostar nele.

Fechei os olhos e deixei minha cabeça flutuar novamente

para a sensação de segurança que eu tinha antes de tudo isso


começar. Só que era vazio. A sensação de segurança não
desafiava, não trazia frio na barriga e nenhuma nova sensação.

E odiei a segurança que tinha.


Observei Alexandra remexer as mãos de maneira inquieta,

claramente faltando abrir a porta e correr para fora, desesperada.


Segurei o riso, mas a verdade era que estava temendo o que o

almoço na casa dos meus pais iria dar. Arnold, com toda certeza,
estaria presente por videochamada, já que sair do hospital, nos
últimos tempos, seria como se matar.

Inspirei fundo, lembrando-me do vídeo da câmera de


segurança que vi dois dias atrás. A confirmação que Susan pegou o

exame de DNA em minha casa veio como um tapa na cara, mas foi
o suficiente para sabermos em que caminho estávamos seguindo.

A mãe de Alex, bom, como ela costuma dizer, era problema

dela, mas não conseguia ficar de fora ao ver como a mulher


conseguia atingir a filha de uma maneira tão devastadora.

Tentei entender como funcionava a relação das duas, mas

tudo que eu tinha era pontas soltas. A mãe dela costumava chorar e
dizer que a filha queria vê-la infeliz, enquanto Alex dizia que ela

mesma plantava sua infelicidade. Enquanto isso, mais confuso eu


ficava em relação às duas.

O confronto com Susan ainda não tinha sido possível, devido


à toda demanda de trabalho nos últimos dias, e Alexandra decidiu

que eu era a pessoa mais indicada para falar com a mulher. Era o
chefe dela, o dono da casa e, com toda certeza, ela não usaria o

tom debochado comigo.

— Você acha que…

— Que eles vão gostar de você? — cortei, a vendo fazer

careta. — Alexandra, minha família te adora desde que começou a


trabalhar na empresa.

— Eu sei, sabe, mas sempre pensei que fosse pelo motivo de

eu ser uma boa funcionária e porque não usei da má-fé para fazer
mal a vocês com os documentos que tinha. — Encolheu os ombros.
— E se eles começarem de novo com o negócio de casar-me?! —
praticamente gritou, me fazendo rir.
— Olha, sendo sincero, tenho medo desse papo aí também,
mas Maggie e Hunter vão estar lá e acredito que as coisas ficarão

fáceis com as crianças em casa. — Ela puxou o ar. — Minha prima


também vai estar lá, se isso facilita as coisas.

— Ah, ótimo, vou ser apresentada à, praticamente, toda a

família Collins! — Ela pareceu meio pálida. — Mas alguém vai estar
lá?

— Meu primo e a esposa, e os gêmeos, além de Taylor. —

Ela franziu o cenho. — Filha da minha prima.

— OK, eu vou desmaiar antes de chegar lá. — Parei o carro


no sinal, o deixando em ponto-morto, e me inclinei, segurando a

cabeça de Alex em minha direção, a fazendo deslizar os olhos pelo


meu rosto calmamente. — Merda, você deveria me acalmar,
Sebastian, falar: “não, tudo vai ficar bem”.

Segurei o riso.

— Vai ficar tudo bem, princesa. — Alisei sua bochecha ao


falar o apelido que sei que ela odiava. — São meus pais, eles são

meio malucos, mas amam a adição de nova gente na família. Sabe,


meus primos não vêm em minha casa há muito tempo. Minha irmã
está aproveitando ao máximo cada reunião familiar, pois os Collins,
há muito tempo, não eram uma família grande e barulhenta. —
Beijei seus lábios. — Eles vão amar você. Já amam.

Ela se afastou com um sorrisinho se estendendo nos lábios


vermelhos.

— Só tenho medo agora do papo de casamento — falou, mas


seguiu rindo. — Com mais gente, fica mais difícil de negar.

Balanço a cabeça em concordância. Infelizmente, era


verdade.

Liam e Katarina finalmente vieram para uma reunião familiar,


depois de muitos convites dos meus pais. Filhos de Karla Collins,
minha tia renegada pelos meus avós, que morava no Brasil desde a
juventude. Não precisavam de nós. Só que, com o nosso histórico
de erros, de renegar pessoas, papai teve a consciência pesada
pelos seus progenitores e quis, a todo custo, trazer os sobrinhos

para perto.

Agora, Liam era casado com Amélia e tinha dois filhos,


Eleanor e Gael, de cinco anos e gêmeos. Enquanto Kate tinha três,

uma menina e um casal de gêmeos e, também, era casada, mas


não me recordava qual o nome do seu marido.
Só sei que vou conhecê-los. Desde que voltei para cidade,
estava mantendo laços com eles por internet e telefone, mas nunca
os tinha visto pessoalmente, e era tão estranho ter pessoas novas

na família. Ao mesmo tempo, era acolhedor.

A casa dos Collins era enorme, com um meio muro que era
completado por grades que davam a visão para o jardim cheio de
flores e algumas árvores. Mais adiante, havia uma casa de dois

andares, pintada em tom de areia-claro. Saí do carro, puxando o


casaco de maneira mais firme contra meu corpo, sentindo o vento
frio batendo contra minha pele. Era para estar quente nessa época
do ano, mas o dia amanheceu nublado e não resisti a um casaco
quentinho.

Pensar em casaco me levava ao fato de que não dormia em


minha casa havia dois dias. Sebastian não sabia disso, ele pensa
que, apesar das brigas, seguia lá. Mas não podia voltar enquanto
Kaylee não fosse embora. Ficar embaixo do mesmo teto depois da
guerra que ela declarou só me levaria a ceder.
Hannah insistia em dizer que deveria colocar um ponto-final
nisso. Não deixar que ela sugasse tudo em mim. Mas não
conseguia, simplesmente continuei dividindo a cama com minha
melhor amiga enquanto meus problemas se acumulavam no
cantinho.

— Vamos? — o loiro perguntou, estendendo a mão. Sorri e


aceitei, deixando que ele me guiasse para dentro. — Bom dia,
Bruce, como anda a família? — Apertou a mão do homem baixinho

e com barriga protuberante que segurava uma tesoura de podar


flores.

— Bom dia, menino Sebastian. — O homem abriu um sorriso.


— Bem, bem. E você? Fiquei sabendo que vai ter um menino.

Segurei a risada.

— Sim, vou ser pai. Esta é Alexandra Johnson, e aqui dentro


— disse, tocando minha barriga ainda lisa — ainda não tem
definição.

— É um prazer, menina. — Segurou minha mão. E a


sensação de aceitação já começou no portão. Deixei meus ombros
caírem na medida em que avançávamos em direção à casa. A porta
abriu antes mesmo de a alcançarmos.
— ALEX! — Maggie apareceu na porta, segurando Melissa
em seus braços. Vimos Hunter aparecer em suas costas com Heitor
em seus braços, se esticando para que a mãe o pegasse também.
— Que bom que chegaram! — Desceu os degraus, me puxando
para um abraço, e deixei que a surpresa estampasse em meu rosto.
— Como vocês estão? De mãos dadas, que fofinhos…

Sua mão caiu para minha e para a de Sebastian unidas e


rapidamente nos soltamos, ouvindo risadinha dos dois.

— Estamos bem, Maggie, obrigada — respondi, e ela tocou


minha barriga, o vestido que tinha escolhido era de um pano fino,

esvoaçante, que não deixava nada evidente. Nem teria como deixar,
só dava para sentir ou ver quando estava sem roupa.

— Ainda é só no coração — brincou. — Segura minha

menina, Alex? — E entregou Mel a mim, voltando-se para o marido

e segurando Heitor. Tudo aconteceu tão rápido que a menina com


um tufo de cabelos loiros e sorriso banguelo me encarou com

expectativa.

Entramos em casa, e só tinha apenas cinco deles aqui.

Meus ouvidos já estavam doendo.


Hunter riu da implicância de Maggie e Sebastian, Heitor

reclamou com a mãe não dando atenção a ele, e Melissa me


encarou como se esperasse algo de mim.

A imagem de três crianças correndo pela sala me fez


congelar. Na última vez que estive nesta casa, parecia um mausoléu

abandonado e tinha sido dois anos antes. As únicas pessoas


andando pelo corredor eram Madelyn e Arnold. As únicas

decorações eram enfeites de prata caríssimos. Agora tinha um

andador, carrinho de bebê e ursinhos coloridos para todo canto.

— É, a casa ficou um pouco bagunçada nos últimos tempos.


— Madelyn apareceu, andando naqueles saltos altíssimos que só

ela conseguia e me alcançou, sorrindo de orelha a orelha. — Bem-

vinda, querida. — Se inclinou, beijando minha bochecha. —


Comprei isso para você e o bebê.

Engoli em seco diante da caixinha que estendia e a peguei.

— Obrigada, senhora Collins, realmente não precisava. —


Ela balançou as mãos no ar.

— Por favor, senhora não. Apenas Madelyn, basta de


formalidade. — Enlaçou o braço ao meu. — Vou roubá-la um pouco

para apresentá-la às meninas. — Sebastian encolheu os ombros


diante do meu olhar de desespero e logo fui arrastada para dentro,

ainda com Mel em meus braços, a caminho da cozinha. — Não se


preocupe, querida, ninguém pensa mal de você. Sebastian me

contou que está receosa com a reação do pessoal da empresa.

Abri a boca, incapaz de formular algo, pois estava

imaginando uma maneira de matar Sebastian.

— Eu entendo, também ficaria assim. Mas, se alguém ousar

mexer com você, eu mesmo vou chutar a bunda dele. — Segurei o


riso, pois aquela mulher loira, parecendo uma digna pedra de gelo

de tão elegante e durona, não parecia o tipo de pessoa que chutava


a bunda da outra.

Entramos na cozinha e vi um homem correndo atrás de uma


garotinha de cabelos castanhos e com pequenos cachinhos na

ponta.

— Eleanor, me dê esse chocolate agora mesmo! — ele disse

com tom sério, e ela estacou no lugar, o encarando. Ele falava em


português com a criança, e eu conseguir acompanhar mal, pois

sabia pouquíssimo da língua.

— Não — e disse com toda a petulância que havia dentro de

si, correndo cozinha afora. O homem a seguiu com expressão de


que estava prestes a morrer.

Olhei para as mulheres ao redor do balcão da cozinha e vi

que ambas seguravam a risada.

— Ele está enlouquecendo com o crescimento dos gêmeos,

hein — Madelyn comentou, colocando de lado uma das panelas


espalhadas por ali.

— Elle adora testar a paciência do pai — a de cabelos


escuros e olhos claros disse com um sorriso de orelha a orelha.

— É Liam pagando pelos pecados dele — a outra zombou,


beijando a bochecha da garotinha de cabelos cacheados, limpando

os lábios dela com cuidado. — Oi, você deve ser Alexandra. — Me


encarou com um sorriso de orelha a orelha. Estendi a mão em

cumprimento.

— Isso mesmo.

— Sou Kate, prima de Sebastian, e essa é Amélia, minha


cunhada. O paspalho que viu correndo é meu irmão, Liam — falou

tudo em uma rapidez que me deixou tonta. — E desculpa, quando


estou animada, costumo falar igual a um gravador.

A morena riu, se inclinando para me dar beijinhos na


bochecha.
— Bem-vinda à família, querida. Ficamos sabendo que
espera um bebê. — Fez menção de tocar em minha barriga,

pedindo permissão com um olhar. Dei os ombros, dizendo que não

me importava. — Ah! Essa fase é incrível, maravilhosa. — Trocou


um olhar de cumplicidade com a cunhada. — Até os três anos é

pura doçura, depois eles correm para todos os lados, você fica louca
e começa a questionar o seu amor por eles.

— Peguei! — Ouvi um grito vindo de fora.

— AH, NÃO, PAPAI! — Rimos, sabendo que a pequena Elle

foi pega pelo pai em algum canto da casa. — Minhas perninhas, oh!
É pequenas! Não é certo. Mamãe!

Em seguida, eles aparecem na cozinha novamente. Liam —

como uma delas disse — segurava a garotinha nos braços e parou

para observar, vendo os enormes olhos azuis curiosos.

— Mamãe, papai me pegou. Não é justo! — falou, como se

fosse grande o suficiente para entender o que era justo ou não,


estendendo os braços para que a mãe a pegasse em seus braços,

completamente mimada com a quantidade de gente que a cercava.


Me deixei ser envolvida por aquele pessoal eufórico com sua nova

formação.
Nunca estive numa reunião familiar com tantas pessoas. A
última vez que tive uma sensação próxima a essa foi quando papai

ainda estava vivo, no nosso último Natal, quando tio Jacob veio e
trouxe as filhas. Os barulhos e a alegria finalmente haviam voltado

àquela casa. Kaylee não estava presente, o que tornou tudo ainda

mais familiar.

Ela nunca estava presente quando não tinha bebidas nem

coisas ilícitas.

Encontrei o olhar de Sebastian e deixei o sorriso preencher


meus lábios. Ele piscou, pegando a sobrinha nos braços minutos

depois e a girando no ar. A imagem dele fazendo a mesma coisa

com nosso filho preencheu minha mente.

Merda. Qual era meu lema mesmo?

Não se apaixone, não se apaixon...

— Seu pai pediu algo — mamãe falou na porta de casa,

segurando minha mão, impedindo que eu desse mais um passo à


frente. — Que leve Alex para que ele a veja. Sabe, ele anda emotivo
e dizendo que, a qualquer momento, ele se vai.

Fechei os olhos, piscando várias vezes em seguida para


afastar as lágrimas que tentavam escapar dos meus olhos. Todos

nós sabíamos que papai não iria durar muito. Infelizmente, era difícil
admitir isso. Ele estava debilitado demais; o tempo não tinha sido

bom com ele.

— Eu irei. — Alisei sua bochecha, limpando a lágrima que

caiu rapidamente. — Obrigado por fazer tudo mais fácil para mim. —
E por não desconfiar da paternidade do meu filho, quis acrescentar,

mas me mantive calado.

— Obrigada por dar a felicidade de vê-lo encontrar seu

caminho para a felicidade. — Abri a boca, sem compreender. —


Sim, o bebê. Mas não é só isso, Sebs. É tudo. É a maneira que

confia em Alex, a forma que sempre a toca quando ninguém está


vendo. Os olhares que trocam sem conseguir controlar.

— Virou observadora agora? — Ela riu.

— Tão petulante. — Segurou meu rosto, beijando minha

bochecha com carinho. — Cuide bem deles. Eu amo você. — Sorri,


me afastando.
— Também amo você. — Ela segurou o portão enquanto me

afastava e via Alexandra sentada no banco do carona, distraída no


celular. Entrei no carro e fechei a porta, a assustando. — Vamos a
um lugar, ok?

— Que lugar? — perguntou, desconfiada.

Segurei a risada, sabendo que ela pularia do carro pelo que

viria.

— Visitar meu pai. — Liguei o carro, ouvindo um grito de


surpresa dela.

— Não, não mesmo. Seu pai me contratou, não vou chegar lá

e falar: “oi, senhor Collins, lembra-se de mim? Bom, eu bebi, né, aí


em uma conversa vai e conversa vem com seu filho, fiquei grávida
dele. Parabéns, o senhor vai ser vovô!” — tagarelou, e eu apenas

liguei o som, muito tranquilo, sabendo que nada do que viria dali
poderia me tirar do meu destino.
Um mês depois

— Olha, está aparecendo — falei, parando em frente ao

espelho enorme que ficava no quarto do Sebastian, e ele pulou da


cama, caindo no processo, e não evitei a risada alta ao vê-lo se

levantar com uma expressão impaciente. — Cuidado, bebê —


zombei, e sua mão tocou minhas costas desnudas, seguindo para

meu ventre, e pousou ali brevemente.

Estava pequeno ainda, meu terceiro mês de gravidez tinha


acabado de ficar completo, segundo o meu calendário, e havia

alguns dias que percebia que a barriga estava mais presente em


cada roupa.

E agora a regra era: nada de coisas justas demais.


— É incrível. — Sebastian encarou a barriga como se aquilo

fosse coisa de outro mundo, me fazendo rir. — Não ri, estou


apaixonado — brincou, se abaixando em minha frente.

Fiquei ali, com total atenção dele em minha barriga, tocando,

observando com calma. As palavras “estou apaixonado” repetiam


em minha mente em cada movimento que ele dava. Eu estava

apaixonada. Merda! Não, nada de apaixonada.

Ele me encarou com os olhos verdes brilhando daquela

maneira que fez meu coração bater mais rápido toda vez que
pousavam sobre mim. Inspirei fundo, lembrando os motivos para

não me apaixonar por aquele homem, mas nada me vinha à mente.

— Papai disse que queria uma visita assim que a barriga


começasse a apontar — disse, mudando de assunto.

— É, mas ainda estou traumatizada com a última visita. —


Ele riu, se levantando para me segurar pela cintura, me encostando
em seu peito nu. Dormi com Sebastian mais dias do que conseguia
contar e estava um pouco acostumada com a forma em que nossa

rotina matinal estava se desenvolvendo. Íamos ao meu apartamento


— quando eu não dormia em Hannah —, enfrentávamos minha
mãe, pegava algo para me trocar e íamos para o trabalho.
Só que nunca, em hipótese alguma, entrávamos juntos. A
verdade é que a falta de um pai para o meu bebê vinha trazendo

uma chuva de comentários acerca de quem ele realmente seria, e


ser vista com Sebastian não era algo que me agradava. Iria gerar
muito burburinho.

— Vamos quando você se sentir bem. — Alisou meu cabelo e


beijou meus lábios suavemente.

— Da última vez, a pressão pelo casamento quase me deu

um ataque cardíaco. — Ele riu. — Falou com Susan? Esqueci de lhe


perguntar sobre isso ontem. — Estava com medo do que viria do
embate dos dois. Susan não era a pessoa mais compreensível do
mundo e a certeza de que ela sabia sobre nós veio com as
inúmeras piadas jogadas em minha direção nos últimos dias.

— Não, ela está fora da cidade, segundo sua secretária,


retorna hoje a Nova Iorque. — Franzi o cenho.

— Sério? Eu a vi ontem — falei, vendo o homem descer a


mão para dentro de sua camisa no meu corpo, que acabou virando
meu pijama oficial, me levantando no ar com facilidade e uma
intimidade sem igual. Enlacei as pernas em sua cintura, o vendo

caminhar para o banheiro comigo em seu colo. — Não sou tão leve
assim, senhor Collins — falei, em meio a risadas.
— Você é magrinha, Alex. Nem pesa. — Me afundou na
banheira com cuidado, me encaixando sobre seu colo na mesma
medida. — E Susan viajou para o Texas, a secretária disse que foi
resolver um problema familiar.

Franzi o cenho.

— Susan é do Texas? — Tentei me recordar de alguém com


o mesmo nome dela ou com características parecidas. — Qual
cidade?

— Não me recordo.

— Bom, não faz diferença. Eu vim de Valley, uma cidade


pequena, Texas é enorme e conhecer Susan desde a época que
morava lá é praticamente impossível. — Senti suas mãos retirando
a camisa do meu corpo, jogando-a no chão do banheiro com a água
enchendo a banheira ao nosso redor. — Na banheira hoje? —

Arqueei a sobrancelha. — Vamos nos atrasar.

— Podemos um pouco, né? Merecemos. — Se aproximou,


roçando os lábios sobre os meus de maneira lenta. E me perdi ali

com os sorrisos de Sebastian, suas mãos descendo em minha pele,


queimando contra meu corpo, marcando-me para aquele momento
enquanto crescia embaixo de mim. Apenas me perdi, sabendo que
nada podia me fazer esquecer os momentos que os últimos dias
tinham me proporcionado.

A porta do escritório abriu e a cabeleira ruiva de Susan

apareceu, me fazendo congelar no lugar. Ela sorriu, da mesma


maneira indiscreta que fazia para todas as pessoas que cruzavam
seu caminho, mas, em mim, tinha um efeito macabro de me
congelar no lugar.

— Alex! — Sua voz era estridente, e me encolhi na cadeira


confortável, prevendo mil e uma dores de cabeças diante da
tamanha felicidade daquela mulher. — Você realmente não pode
dizer não para uma amiga desesperada.

— Uma amiga? Hannah está aqui?! — Ela riu, se sentando


em minha frente. Falei isso por puro deboche, sabendo que ela se
referia a si mesma, por mais que, desde que entrei na empresa,
chegamos ser colegas, no máximo.

— Bobinha. — Bateu palmas. — Eu preciso que me diga sim.

— Para o que Susan? — Arqueei a sobrancelha.

— Oras, não seja tão analítica, deixe a advocacia de lado


apenas por um momento. — Busquei paciência. — Me diga o sim
que espero há dias! — exclamou feliz da vida. — Como sabe,
preciso de alguém para um encontro com meu irmãozinho…

— Você é do Texas? — rebati, desconfiada, querendo fugir


daquela conversa. — Que cidade?

— Não, nasci aqui, mas minha família é de lá — falou de


maneira vaga, pegando o papel em cima da mesa e anotando um
endereço e meu telefone. Não deixei de notar que ignorou minha
segunda pergunta. — Como eu estava dizendo, preciso arrumar
alguém para ele. Você é perfeita! Tenho certeza de que me darão
sobrinhos lindos… — Suspirou.

— Eu estou grávida, Susan. E eu mal conheci seu irmão! —


Ela riu.

— Verdade, está grávida. Mas isso não é um problema. Hoje


irá conhecê-lo e tenho certeza de que tudo será como planejei. —
Bateu palmas, rodando na minha sala. — Se te ajuda a ficar mais
desconfortável, eu e Sebastian iremos. Um encontro duplo!

Engoli em seco, a vendo me olhar com malícia, e senti meu


corpo tão tenso que a qualquer momento alguma curva dele iria
reclamar. Sebastian havia aceitado ir a um encontro com Susan?
Por que ele faria isso?
As memórias da nossa manhã na banheira vieram em minha
mente, corando minhas bochechas de maneira boba.

— Eu irei — afirmei, encarando o endereço em minha mesa.


Irei mesmo fazer isso, me perguntei enquanto a ouvia falar, só que a
única coisa que passava em minha mente era por que ele tinha
aceitado ir a um encontro com Susan. Sei que combinamos de sair
com outras pessoas, mas pensar que ele faria isso com ela me
deixava completamente irritada.

Sabia que, para Sebastian, não importava muito se a bomba


explodisse no escritório, mas, para mim, sim. Não era uma herdeira,

era apenas uma advogada e, apesar de a empresa não ser minha


única fonte de renda, era o que eu amava fazer. Não queria tomar

nenhuma decisão drástica sobre o cargo no Grupo Collins, mas não


queria ser a mulher tachada por dar o golpe do baú no chefe.

— Aonde você vai? — Hannah apareceu na porta do

banheiro, segurando o copo de algum suco detox maluco. — Está


gata, vai sair com o Collins?

Arqueei a sobrancelha. Para minha amiga, a qualquer


momento vou cair no chão, reclamando de uma grande paixão por
Sebastian.

— Vou naquele encontro que Susan fica me convidando. —


Me inclinei, passando o batom vermelho em meus lábios com todo

cuidado do mundo. Podia até virar freira, ser a própria rainha da


Inglaterra, mas não tinha males que um batom vermelho não

espantasse.

Me encarei no espelho, vendo a primeira roupa de grávida

que ganhei — de Hannah. Era um vestido meio marrom, algo


puxado para o amarelado, cheio de bolinhas, que era rodadinho e

com um laço acima da barriga. Nada aparecia, porque ainda era


quase plana, mas, mesmo assim, não resisti em deixar a peça de

lado.

— Sabe o que é estranho? — Me virei para Nana quando ela

perguntou, entregando o grampo de cabelo prateado para que me


ajudasse.

— O quê?

— Você aceita o convite de uma mulher que está

praticamente brincando com seu segredo. — Fechei os olhos, pois


sabia que havia uma pontada de razão em sua voz. A vi mexer em

meus cabelos soltos, fixando o grampo neles. — Está perfeita —


Sorriu, segurando meus ombros com o olhar que deixava claro que

conhecia minha alma. — Quando irá dar um fim na loucura da sua


mãe?

Inspirei fundo e forcei um sorriso em meus lábios.

— Já quer me tocar para fora? — Fingi estar ofendida.

— Claro, não posso trazer um homem para casa com você.

— Colocou as mãos na cintura, como se ela fosse a maior pegadora


de Nova Iorque, em seguida, ela mesma riu da própria piada. — OK,

falando sério agora. Me diga, pois você não pode viver se

escondendo da sua própria mãe, Alex. Sei que a ama, que ainda
alimenta uma esperança pequena de ela mudar, mas ela sempre

volta para os mesmos erros.

Encarei meus pés, hipnotizada por minhas unhas pintadas de

rosa.

— Eu sei, Nana, só que sou fraca quando se trata dela. —

Encarei-a. — Toda vez que me coloco no caminho dela, lembro de


papai falando que ela é minha mãe, que, apesar de não ter muito

amor materno, Kaylee merecia chance para mudar.

Vi minha melhor amiga sorrir de lado.


— Amo você e todo esse amor por ela, mas seu pai falou isso

há muito tempo, Alex. — Segurou meu rosto. — Naquela época, ela


ainda tinha o poder da dúvida, agora, depois de tudo, depois do que

ela fez com você em relação a Robert, não vale a pena acreditar em
uma mudança. Precisa ser forte.

Beijou minha bochecha com carinho.

— Eu sei, Nana. Vou tentar, prometo. — Inspirei fundo. — Me

diga, estou bonita? — Dei uma voltinha, mudando de assunto.

— Sua bunda está ficando maior com a gravidez.

— Nana! — exclamei, horrorizada, e corri para o quarto, me

encarando no espelho. Não que eu fosse maluca pelo corpo


perfeito, só que sou magrinha, se minha bunda ficasse enorme,

ficaria parecendo uma tanajura.

A ouvi gargalhar.

— Collins vai ficar louco — debochou, me encarando da porta


do quarto. — Me diga o real motivo para ir a esse encontro. —

Dessa vez, sua voz não tinha o tom leve de brincadeira.

— Sebastian aceitou acompanhar Susan — sussurrei,

fingindo que aquele era motivo o suficiente para demonstrar ciúmes.


Não estava com ciúmes, sabia disso, mas Hannah não.
— Ah! — Riu. — Aí está o motivo perfeito.

— Perfeito? Ele aceitou sair com Susan! — Balancei as mãos

no ar.

— Mas vocês estão em um relacionamento casual, podem

sair com outras pessoas. — Jogou minhas palavras contra mim. —


Você concordou e sabe que, se ele quiser dormir com ela, ele irá

romper. Não é traição.

Dei um passo para trás. Minha cabeça engatou nas suas

palavras. E se Sebastian quisesse dormir com Susan? Ele vai


terminar comigo, claro. Seria bom, muito bom, pelo menos assim

colocaríamos uma distância boa entre nós.

Meu estômago se revirou.

Merda. Não queria que ele terminasse. Acostumei-me com o


maldito. O homem malditamente bonito que acordava sempre com o

humor maravilhoso — o que era tão irritante — e que sempre tinha


aquele charme irresistível.

Engoli em seco.

— Não, não é. Mas a questão é — busquei umas desculpas

pelo meu surto e a vi arquear a sobrancelha —, Susan é a mulher


que roubou o teste de DNA. Por que ele sairia com ela? Deveríamos
nos juntar contra ela…

Hannah riu, mas nada disse. E me deixou sair de casa com


minha cabeça latejando no mesmo ponto. Será que Sebastian ainda

não havia falado com ela por medo? Será que ele via em Susan
algo a mais do que apenas uma colega de trabalho?

— Daqui a pouco sai fumaça da minha cabeça —


resmunguei, me encarando no espelho do carro ainda na frente da

casa de Nana. Vamos ser objetivas. Não estava apaixonada por


Sebastian. Se acabasse, acabou. Eu ficaria bem. Tinha certeza

disso.

Entretanto, algo dentro de mim latejava. Nunca senti meu

coração tão pequeno como esse momento, prevendo o fim, ou


sendo muito negativa pelo caminho das coisas. Fechei os olhos e

disse a mim mesma que tudo ficaria bem.

Com toda certeza a decisão de ir a um encontro duplo não foi


fácil, porém, se tornou tudo muito desafiador quando Susan disse
que Alex finalmente havia aceitado ir a um encontro com o seu
maldito irmão. Nem o conhecia, mas já sabia que era um maldito

inglês engomadinho e metido a besta.

Aram. Olha quem estava falando, o homem que só tinha

ternos no maldito armário, podia até ver meu subconsciente


debochando. Ah, não me culpe, eu era um CEO, tinha que estar a

caráter para todas as malditas reuniões que passava no dia a dia.

Assim que entrei no restaurante que ela havia marcado, senti

meu corpo ficar tenso ao ver a ruiva sentada em uma das cadeiras e
soube que a noite seria muito longa. O homem ao seu lado parecia

bem mais velho que eu, vestido com roupas sociais um pouco mais
despojadas, e estampava um sorriso prepotente para a irmã. A

única coisa que eu sabia dele era seu nome e algo em mim

estremeceu. Como um pressentimento ruim.

Levantei o olhar e vi Alexandra caminhar na mesma direção,


só que vindo do toalete do local. Assim que pousou os olhos sobre a

mesa reservada para nós, estacou no lugar.

Seus lábios desenharam algo, entretanto, para ninguém em

especial. Ela parou no tempo, completamente congelada ali, sem

nenhuma reação, parecia que havia visto o próprio Lúcifer. Em


carne, osso e dente.
Só que seus olhos estavam focados em Robert. O irmão de

Susan.
Aproximei-me da mesa calmamente, tentando entender a

maldição que me foi jogada e por que o destino era tão filho da puta
comigo. É claro que encontrar meu ex-namorado em um encontro

às cegas preparado por sua irmã não era o destino, mas, sim, uma
armação muito bem planejada. Entretanto, mesmo que isso
enviasse notas de terror por todo meu corpo, segui em frente.

— Alexandra — ele disse enquanto maneava a cabeça, no


velho ar Robert Hughes de sempre. Inspirei fundo. — Nunca pensei

que o destino nos colocaria frente a frente em um encontro


novamente.

— Eu não chamaria de destino, Robert — rebati, puxando a

cadeira e me sentando ali.


Susan riu.

— O que mais seria, Alex?

— Armação. — A encarei, inclinando a cabeça, deixando

claro que não acreditava em nada que ela fez tudo de maneira
inocente. Não. Ela não roubaria o teste marcaria um encontro com

aquele maldito sem nenhuma motivação para isso. Roubar o teste


de DNA da casa de Sebastian e ainda um encontro duplo com o
maldito do meu ex-namorado não é algo que simplesmente se

encaixa em uma coincidência.

Ela riu.

— Verdade, querida. Mas pense pelo lado bom, estou do seu

lado. — Colocou a mão sobre a minha e vi Sebastian aparecer


sobre seus ombros. — O lado de você dar um pai para seu bebê.

— Meu filho não precisa de um pai, Susan. — A voz do


homem era cortante, e ela se virou com uma expressão assustada
em sua direção. — Queria mesmo falar com você acerca do sumiço

do DNA do meu apartamento. Engraçado, a câmera de segurança


mostra você. Pode me dizer por que disso?

Se sentou ao lado da ruiva e o olhar de Robert analisando

nós dois era quase como vidro em minha pele.


— Bom, Robert é uma pessoa um pouco convincente —
Susan sussurrou.

— Você não tem irmã, Robert. Pelo que me lembre, não. —


falei, e o encarei. O homem sorriu.

— Se tivesse aceitado minha proposta, saberia tudo sobre


mim — respondeu, prepotente.

Bati na mesa.

— Eu não vou discutir isso com você. Chega, já basta ter sua
presença no Valley, pode me explicar o que diabos faz voltando à
minha vida? Tudo já não ficou claro o suficiente dez anos atrás? —

Ele riu.

— Eu não vou desistir do que quero, Alex. — As palavras me


congelaram. Não. Ele ia ter que desistir de uma maneira ou de

outra. — Você recusou uma vez, pois era jovem e imatura, mas não
irá cair no mesmo erro novamente. Está grávida, em alguns meses,
vai precisar de uma casa, um lar para criar o bebê.

A risada escapou dos meus lábios.

— Eu não sei se entendeu, Robert — falei, sentindo meu


coração tão acelerado que pensei que fosse parar em algum
momento. — Mas, nos últimos anos, trabalhei muito e dei tudo de
mim para nunca precisar cogitar algo dessa forma. — Ele revirou os
olhos. — Meu filho não precisa de ninguém. Ele tem a mim. E eu
não preciso que ninguém me sustente pelas migalhas de um
relacionamento. — Levantei-me, batendo as mãos na mesa. —

Você pode ter Kaylee ao seu lado. Sei que, de alguma forma, tem
dedo dela em tudo — continuei, não era algo surpreendente, ela já
se juntou a ele uma vez. Como Nana disse, não havia redenção
para pessoas como minha mãe. — Mas, se continuar com isso, eu
não vou pensar duas vezes em aplicar uma denúncia em cima de
você.

Peguei minha bolsa, saindo do restaurante, deixando todos


para trás, inclusive Sebastian, e relembrei o momento em que
Robert Hughes fez aquela proposta terrível há mais de dez anos.

Robert pensava no que? Que, mesmo tendo apenas


dezesseis anos, eu iria cair de amores nos braços de um homem
anos mais velho do que eu e que estava noivo?

Meu primeiro erro foi me apaixonar por Robert mesmo


sabendo que ele era quatro anos mais velho e que iria se casar em
pouco tempo. Kaylee, como nunca, foi uma mãe exemplo, achou
toda a ideia uma boa chance de escapar do trabalho duro.
Praticamente vendendo-me para um homem. Que se tornou meu
maior pecado ao ver o caminho que os dois queriam para mim.

— Você não passa da mesma menina inconsequente de


antes. — Sua mão me segurou, me forçando a parar. — Pensa que
irá durar muito com aquele filhinho de papai? Em breve, vai perder o
emprego na empresa deles por dormir com o chefe,

consequentemente, ele vai te deixar também.

A voz contra meu ouvido contava meus mais profundos


medos desde que essa situação toda se formou. Senti meus olhos
ardendo pelas lágrimas que se aproximavam.

— Lembra quando eu disse que você não poderia ir longe?


Que por mais que tentasse, iria cair? Pois, como todas as mulheres
da sua família, você está destinada ao fracasso — sua voz

continuou, e eu não me movi, congelada no lugar.

Inspirei fundo.

Não. Eu não ia fracassar. Eu era forte. Eu tinha conseguido


até ali, não eram suas palavras que me fariam desistir.

— Não vou cair, Robert.

Ele riu.
— Vai. E, quando cair, eu vou estar lá para segurar sua mão,
pois, infelizmente, é a única que se estenderá. — Alisou meu ombro,
e senti meu corpo ardendo em uma repulsa silenciosa. — Vamos
criar essa criança juntos, Alex. Porque aquele filho da puta não pode
ser o pai…

Me virei, aplicando a única coisa que aprendi na academia.


Fechei meu punho e fiz com que ele fosse em direção ao maxilar de
Robert Hughes, sabendo que, se Amber estivesse aqui, teria certo

orgulho de mim. O impacto não foi enorme, mas o suficiente para


ele dar um passo para trás, me encarando com incredulidade.

Geme de dor, pois minha mão estava latejando.

— Sua vadia. — Deu um passo à frente, mas algo o segurou.

— Passou dos limites. — A voz firme me fez levantar a


cabeça, e encarei Sebastian. — Se você se aproximar dela
novamente, será eu a lhe bater, não a minha mulher. — Arregalei os
olhos, e ele empurrou Robert do caminho, segurando minha cintura.
— Está tudo bem? Temos que fazer algo sobre isso. Esse homem é
meio maluco, Alex. Merda, isso deve estar doendo.

Fiz careta, segurando minha mão entre seus dedos e senti a


dor latejante se acumulando ali. Entretanto, valeu a pena saber que
infligi o mínimo de dor que seja naquele homem.

Sebastian limpou minha bochecha, falando baixinho,

enquanto Susan e o irmão se afastavam. Ou fosse lá qual era o


verdadeiro parentesco deles dois.

— Eu estou bem. — Fechei os olhos, deixando meu corpo


cair contra o seu. — É só que…

— As palavras machucam — completou. — Eu sei que sim.


Não acredite em nada que ele disse.

O encarei, me sentindo a pessoa mais estúpida do mundo


por chorar em sua frente.

— Eu não vou deixar vocês, Alex. — Sorri.

— Eu sei — afirmei, pois algo em mim, por mais que tivesse

medo de como nosso relacionamento fosse ficar no final, eu sabia


que meu filho teria o pai. Isso era a única certeza que tinha em

relação a tudo.

Ele beijou a ponta do meu nariz.

— Vamos. Vamos pedir comida para viagem e vamos para


casa colocar um gelo nisso. — Tocou minhas costas e a menção da

dor pareceu fazê-la se intensificar. — Inclusive, está linda hoje. —


Sorri de orelha a orelha com o elogio. — A mulher mais linda que

entrou nesse restaurante.

— Você é bobo. — Fiquei na ponta dos pés, o beijando

calmamente. — Pode pedir algo? Espero você no meu carro. — Ele


assentiu e se afastou. Encarei minhas mãos que tremiam,

completamente desestabilizadas.

Inspirei fundo. Eu ia ficar bem. Eu ia ficar bem. Eu sabia que

ia.

A observei com a cabeça escorada na janela do carro, os


pensamentos longe denunciavam que ela não estava nada bem.

Sabia que havia algo de errado em Alexandra por trás de todo


aquele medo com seu emprego ameaçado. As palavras cruéis

daquele homem só me fizeram ver isso.

Foram amantes? Ele a fez algo ruim? Ela era apaixonada por

ele?

Desviei meus pensamentos, sabendo que amanhã mesmo

colocaria Susan contra a parede para descobrir a verdade. Não


poderia continuar fazendo vista grossa para isso, não quando a

verdade ficava batendo em meu rosto constantemente.

Como disse mais cedo, a única razão para sair com ela foi o

fato de ter mencionado que Alex havia aceitado também, com uma
vontade incoerente de estar presente e estragar todo maldito

avanço do homem que Susan tentava jogar em cima da minha


mulher.

Minha? Caralho, nem sei de onde veio esse minha.

Só sei que não conseguia mais pensar nela sem esse maldito

pronome possessivo.

Segurei o gemido de desespero, pois só tinha se passado um

mês desse maldito relacionamento aberto e, diante disso, ela estava


sendo cada vez mais presente em minha vida, porém, a única parte

que me atormentava era que ela conhecesse alguém e que nossa


cláusula de poder sair com outras pessoas fosse meu martírio.

— Chegamos — falou, sorridente, me fazendo ver que dirigi


no automático até aqui. Ela pegou as sacolas do restaurante, seu

casaco e sua bolsa, abrindo a porta do carro. — Sebastian! —


exclamou, me fazendo saltar e a encarar. — Você está bem?

Franzi o cenho, confuso.


Eu estava bem? Na verdade, desde que saí daquele hospital,

dois anos antes, nunca tinha estado tão bem, os pesadelos sumiam
quando estava ao lado dela. Como se eles a temessem. E seu

cheiro e sua risada eram uma das coisas mais frequentes em meus
dias.

A academia, que era uma forma de alívio do peso em minhas


costas, passou a ser só a academia. A coisa que me acalmava

agora era estar com Alexandra. Então, sim, eu estava bem. Só que
a intensidade de estar bem era demais para mim.

Não podia me permitir me apaixonar. Uma vez apaixonado,


não conseguiria romper isso.

— Estou sim. — A ajudei com as sacolas, saindo do carro, e


a segui, vendo que estava distraída com os próprios problemas que

nem me indagou muito sobre o que estava realmente acontecendo.


Entramos no elevador em silêncio e vi que ela digitava uma

mensagem para a irmã com a mão não dolorida, mantendo a outra


fechada em punho.

Os xingamentos que vi aparecendo na tela do celular me


fizeram segurar a risada.
— Ela disse que, se visse Robert novamente, chutaria a
bunda dele por conta própria — Alex brincou, sorrindo. — Eu não o

chutei, mas, pelo menos, valeu a pena colocar em prática a única

coisa que aprendi na academia.

— Qual academia você frequenta que te ensinou a dar

socos? — brinquei, vendo que cada vez mais nos aproximávamos


do meu andar.

— Ah, não é que eles ensinam a dar socos, as aulas eram de

defesa pessoal. — Balançou as mãos no ar. — Foi a única coisa

que aprendi. Inclusive, dói para caralho. — A mão inchada e com


alguns pontos de sangue foi colocada em minha frente.

Segurei-a com cuidado, trazendo para próximo da minha

boca, beijando com delicadeza os dedos longos e delicados que

agora estavam marcados no rosto daquele filho da puta.

— Vamos colocar gelo e uma pomada nisso. — Ela sorriu. A

porta do elevador abriu e saímos, caminhando lado a lado no


apartamento, como se uma tensão houvesse se estabelecido entre

nós.

Caminhei para a cozinha, pegando uma das bolsas de gelo

que havia ali, e a preparei, vendo-a se sentar em uma das


banquetas com uma expressão desanimada no rosto. Aproximei-
me, pegando sua mão e colocando o gelo sobre.

— Ai… — gemeu, me fazendo rir. — Não ri. — Bateu em meu


ombro.

— Desculpe, desculpe — pedi, concentrado em como


começar aquela conversa.

— Desculpe por ter metido você nisso. — A ouvi suspirar. —


Robert é uma pessoa antiga na minha vida, mas nunca pensei que

voltaria, nem que Susan armaria para nós. Sei que não quer
escândalos na empresa, e eu sou cheia de pontas soltas…

Não resisti em revirar os olhos.

— Acho que os escândalos não passaram em minha mente

em nenhum momento. A verdade é que me preocupo mais se você


estiver bem do que com qualquer outra merda que virá acontecer. —

Alisei sua bochecha, segurando a bolsa de gelo em sua mão. — E


eu não me importo se tiver que socar mais algum filho da puta por

você.

Ela deu uma risadinha, abaixando a cabeça, e vi a lágrima

cair em sua bochecha. A limpei.

— Não chore, princesa. — Ela me encarou.


— O que eu faço com você, Sebastian Collins? — A pergunta
era a mesma que me fiz alguns minutos atrás. O que faria comigo

mesmo? O que faria com meus sentimentos? Como acalmar essa


sensação maluca que crescia dentro de mim?

Encostei nossa testa, sorrindo de lado, com aquele arrepio


percorrendo o meu corpo em antecipação.

— Pode… — gaguejei por puro nervosismo —, pode só me


deixar ficar. Com você. E me contar o que houve. — Ela arregalou

os olhos. — Preciso saber. Preciso saber o que aquele infeliz fez


para te machucar tanto.

Vi-a engolir em seco, nervosa, e esperei pelo que viria da sua


boca. O sim que poderia abrir seu passado para mim, ou o não, que

iria manter a barreira de sanidade entre nós.


Encarei-o, sem saber o que fazer mediante a sua indagação.

Falar ou não falar? Porém, depois do que Sebastian

presenciou hoje, ter segredos acerca do meu passado não era algo
que me agradava. Afinal, sabia mais sobre ele do que ele sobre

mim.

Fechei os olhos por apenas alguns segundos para criar


coragem o suficiente, e minha mente foi completamente

transportada para dez anos atrás.

Tinha apenas dezesseis quando o conheci, foi rápido, na


juventude, criei meus próprios fantasmas. Estava despedaçada com

a partida de papai e, consequentemente, fiz minhas besteiras.


Encarei-o.

— Eu o conheci quando tinha dezesseis anos. — Me apoiei

no ombro de Sebastian com cuidado para não tirar a bolsa de gelo


de cima da minha mão dolorida. — Foi um erro. — Encolhi os

ombros. — Eles eram uma família influente na região, meus pais


estavam bem abaixo deles, meu pai havia trabalhado para o pai

dele antes de morrer. E, quando Robert assumiu os negócios da


família, ele tinha vinte na época e estava prometido a uma garota

muito rica da cidade.

Era tão ridículo narrar essa história que sentia o bolo

crescendo em minha garganta. Ele alisou minhas costas em


conforto e deixei as palavras fluírem dos meus lábios, ao mesmo

tempo em que as lembranças se faziam presente.

“Envolvemo-nos na época, e ele evitava o assunto do

casamento a todo custo. Por mais que eu dissesse a mim mesma


que era errado, não conseguia me afastar. Adolescente apaixonada
é uma droga. Tudo caiu quando ele anunciou o casamento um ano
depois e tive que aceitar que ele nunca abdicaria do seu destino por

uma garota como eu”.

As mãos de Sebastian rodearam minha cintura.


— O que quer dizer exatamente como uma garota como
você?

Sorri.

— Não me menosprezando, mas eu era jovem, Sebs, era

apaixonada e não tinha a mesma quantia em minha conta bancária.


— Ele riu.

— Isso, para mim, é só um monte de desculpas para a

pessoa ser canalha com a outra. E o que ele quis dizer com apoiar
você, sendo a única mão que se estenderá? — Fiquei tensa.

— Bom, minha mãe tem culpa nisso também. — Encostei a

cabeça em seu ombro, sentindo o cheiro do perfume familiar


invadindo os meus sentidos. — Ela fez um trato com Robert.
Praticamente, não querendo ser muito negativa, ela vendeu a
própria filha por dinheiro.

Eu seria amante de Robert, um caso escondido, a desculpa


que eles tentaram dar ao dizer a maldita proposta era de que
éramos apaixonados, mas que nunca poderíamos ficar juntos. Na

época, eu agradeci aos céus por ter um pai tão maravilhoso e que
me ensinou mais do que eu poderia pedir. Ele sempre me dizia que
honra não se compra, se constrói.
Minha mãe errou conosco pela milésima vez e, ainda assim,
cobrou honra. Não havia honra nela. Não quando não tinha feito por
merecer.

Inspirei fundo.

“Eu dei um passo para trás. E fugi, deixei Valley com uma
bolsa de viagem pequena e um objetivo de que nunca seria como
ela. Eu não tinha ninguém, era uma menina ainda e, mesmo assim,
sempre foi eu apenas”.

— Kaylee gosta de jogar na cara que eu sou como ela. — Me


afastei. — Gosta de dizer que as mulheres da minha família sempre
acabam caindo, mas, no fundo, isso é uma forma de dizer que eu

consegui me sair melhor do que ela e que não escolhi o caminho


mais fácil.

Ele limpou a única lágrima que caía e segurou minha mão.

— Obrigada por enxugar minhas lágrimas — brinquei,


sorrindo de lado. Estranhamente, era tão mais leve quando se
dividia isso com outra pessoa. — Obrigada por não me olhar torto

depois de tudo.

Sebastian franziu o cenho.


— Por que te olharia torto? Era uma menina. Eu fiz muito pior
nos meus dezessete anos, e você nunca me julgou por isso. —
Segurou meu rosto entre suas mãos e senti meu coração dar um

salto. — Sabemos que ninguém é perfeito, Alex. Por isso, o maldito


destino irônico nos colocou juntos, pois sabemos que os erros não
definem quem somos.

Alisei minha bochecha.

— Novamente…

— O que você faz comigo? — Arqueou a sobrancelha, me


fazendo rir. — Vamos fazer assim: você cuida de mim, e eu cuido de
você, ok? Aí, ficamos bem e mandamos o carma para a puta que o
pariu.

Gargalhei, tirando o gelo da minha mão, e passei os braços


em volta do seu pescoço, beijando seus lábios levemente. Senti sua
mão em minhas costas, aproximando-me contra seu corpo. Soltei
um gritinho quando ele passou o braço ao redor das minhas pernas,

me levantando da banqueta e seguindo para o quarto.

— Vou cuidar de você primeiro, princesa — sussurrou.

Encostei a cabeça no ombro de Sebastian Collins e o


observei falando, enquanto fechava os olhos e deixava sua voz ser
o meu único calmante naquele momento. Senti a cama embaixo de
mim e abri os olhos novamente, o encarando.

— Fique aí, vou trazer nossa comida. — Beijou minha


bochecha e se afastou. Deixei meu corpo cair para trás e encarei o
teto do quarto, lembrando que, da última vez em que estive aqui,
prometi que não iria me apaixonar. E olha só onde estava…

Santa ironia!

Eu tinha um lema. Até poucos segundos atrás. Até o “eu


cuido de você, e você cuida de mim”. E ele acabou de ser jogado
pelos ares no instante em que isso chegou, me deixando a plena
confirmação que não tinha como não me apaixonar por Sebastian
Collins porque já estava completamente apaixonada por ele.

Alexandra se inclinou, pegando um pouco mais do molho e


colocou sobre a comida. Sentada na bancada do meu quarto, ela
nem percebeu meus olhos focados completamente nela. A vi se
mover e me encarando, tagarelando sobre algo que nem mesmo
prestava atenção.
Estava muito focado nas batidas irregulares do meu coração.
Nunca me senti assim. E era um tapa na cara. Um divisor de águas
em minha vida. Diante da minha recusa em relacionamentos, eu
deveria romper com Alexandra.

Só que ela ri para mim e toda ideia vai embora. Não


conseguia deixá-la, não com malucos como Robert por perto e
sabendo que hoje qualquer homem daria tudo para tê-la ao seu
lado.

Admiti, em voz baixa, apenas para meu coração, sabendo


que ele só me denunciaria em batidas erradas, que estava

apaixonado por aquela mulher.

Apaixonei-me, pois fui idiota o bastante para não fugir dos


seus sorrisos.
Quarto mês! Nem acredito que finalmente vou ter a chance

de descobrir o sexo do bebê. O caminho pelo quarto mês foi corrido


e cheio de tropeços.

Continuava me escondendo de mamãe na casa de Hannah e,

cada vez mais, se tornava insuportável. Éramos melhores amigas,


eu sabia, e eu a amava com todo meu coração, só que viver no

mesmo teto e dividir a mesma cama era demais.

Inspirei fundo, remexendo as mãos inquietas enquanto


aguardava na sala de visitas do consultório novo em que fiz meus

últimos exames. Sim, mudei de médica, não por estar com ciúmes
de Sebastian — talvez um pouco —, mas, sim, porque era

desconfortável ver a ex-namorada dele cuidando do meu bebê.


A nova médica era um amor e gostava de assustá-lo com a

fase da adolescência do bebê.

Sorri de lado, lembrando quando ela mencionou que, se


fosse uma menina, ele iria ter muitos problemas para afastar todos

os “malandros” de perto dela. O homem ficou tão branco que pensei


que cairia para trás.

Voltando para o que aconteceu há mais de quatro semanas


com Robert e Susan, ele desapareceu. Andei perguntando a Amber

se ela viu o filho da mãe andando por lá, só que, segundo ela, não
apareceu e nem sinal dele na fazenda.

A porta da clínica abriu, e Sebastian colocou a cabeça no vão

da porta, sorrindo de lado. Deixei a bendita revista que estava em


meu colo e que não fazia a mínima ideia do que tentava ler e
caminhei até ele.

— Oi! Você demorou — falei.

Ele beijou minha bochecha, fechando a porta em suas

costas.

— Eu tive uma reunião, desculpe. — Me encarou, antes de


depositar um selinho rápido em meus lábios. — Somos os

próximos? — Desabotoou o terno, se sentando na cadeira de frente


à recepcionista. — Bom dia, Celia! — a saudou, e a mulher deu uma
risadinha, corando de maneira engraçada.

— Ela sempre cora — brinquei, pegando a revista e


encarando a capa.

— Ela é uma dama — ele rebateu, sorrindo. — Estava lendo


sobre gravidez?

Engoli em seco, o encarando com uma careta.

— É que cada vez mais se aproxima. — Sebastian mantinha


os olhos focados em mim. — Estou no quarto mês, daqui a pouco
precisaremos montar o quarto, escolher o nome. — Me abanei. —

E, quando menos pensarmos, ele ou ela estará aqui. E eu não faço


a mínima ideia de como cuidar de um bebê e…

— Alex! — Sebastian exclamou, me fazendo travar. —

Calma, ok? Vai ficar tudo bem. Temos muito tempo para
descobrirmos sobre como sermos bons pais. — Alisou minha
bochecha. — Sabe o que poderíamos fazer?

Arqueei a sobrancelha.

— O que? — A curiosidade passou em minha mente, sem


fazer ideia do que ele falava.
— Um daqueles cursos de parto. Talvez isso ajude você a
ficar bem com isso. — Fiz careta. Parecia meio fora de nexo. Curso
de parto não vai chegar nem perto do que é um parto de verdade.

— Não acho que fazer um curso de parto pode me ajudar —


respondi.

Vi-o rir. E ele, dentro daquele terno vinho que marcava os


ombros, ficava incrivelmente sexy.

Talvez fosse este meu pensamento para todos os tipos de


terno que via. O homem tinha uma verdadeira coleção deles. Já
tinha olhado seu closet e eram poucas as roupas que não eram
feitas exatamente sob medida.

Sua desculpa para isso era que, ao voltar a sua vida, teve
que assumir a empresa, aparecer cada vez mais na mídia e os
ternos pareciam se tornar cada vez mais a sua peça favorita.

— Não, não é isso. É um curso de gestante, o básico. —


Segurou as minhas mãos. — E prometo lermos tudo que
conseguirmos para fazer uma experiência melhor. Apesar de achar

que ler não vai nos dar a fórmula mágica para acalmar o choro deles
durante a madrugada.

Sorri.
— Acho que podemos fazer isso. — Beijei a sua mão que
estava enlaçada na minha.

— Alexandra Johnson. — A voz da médica me fez pular, e a


encarei com um sorriso. — Sua vez, querida, vamos ver como anda
esse bebê. — Me levantei, acompanhada por Sebastian, e segui
para dentro do consultório. — Como anda? Os enjoos pararam?

Você foi a grávida com início de gravidez mais calma que já conheci.

Sorri.

— Tive sorte, graças a Deus. — Dei os ombros. — Mas o


perfume do Sebastian me deixa enjoada.

Ele fez careta.

— Tive que encontrar outro. — Ele se sentou com o tom de


voz que deixava claro o quanto aquilo lhe agradou. — Mas, pelo
menos, a parte boa é que ela não vai fazer cara de nojo toda vez
que me ver.

Ela riu.

— Tomando as vitaminas certinho?

— Sim, uma delas acabou e eu comecei novamente, como


você recomendou. — Ela me encarou.
— Minha paciente mais responsável. — Sorri de lado com
tanta bajulação. E Sebastian riu, sabendo que minha parte preferida
de trocar de médica era que Julia não ligava nada por Sebastian ser
bonito, rico e blá-blá-blá, e o principal, não tinha nenhum vínculo do
passado com ele. — Vamos trocar de roupa e ver como anda nossa

criança.

Assenti, me levantando e sentindo meu coração batendo forte


em meu peito.

— Vamos conseguir ver o sexo dessa vez? — A encarei com


a expectativa correndo em meu corpo.

A mulher sorriu, ressaltando as poucas rugas em torno dos


olhos.

— Se a nossa criança for boazinha, sim. — Estremeci,


encarando meu ventre pontudo na camisa justa que vestia por baixo
da jaqueta jeans.

— Vamos lá, bebê. — Alisei minha barriga, pedindo baixinho


que ele fosse bonzinho e abrisse as perninhas, que me desse a
resposta que tanto queria. Diferente do que imaginei, a barriga
estava crescendo mais do que eu previ.
Meu corpo estava todo se transformando, os seios ficando
maiores — para a alegria não disfarçada de Sebastian —, minha
bunda ficando cada vez maior — modelo tanajura — e a barriga
pontuda só conseguia ser disfarçada, com muita dificuldade, por um
vestido solto.

E, sinceramente, não queria disfarçar. Queria que


aparecesse. Meu filho passou a ser a coisa mais importante para
mim desde que tudo veio à tona, meu motivo de orgulho e queria
carregar isso em mim.

Observei-a sentar-se na cama, enquanto Julia estava lá fora.

A forma que Alexandra mexia as mãos, inquieta, dava para ver que

estava quase subindo na parede.

Me aproximei, segurando sua mão para dar, ao menos, um

apoio, mas sabia que não ia conseguir fazer isso enquanto não
descobríssemos o sexo do bebê.

Ela me encarou.
— Eu juro que vou morrer de nervosismo ainda hoje. —

Engoli o riso que ameaçava romper. Nos últimos dias, as coisas


finalmente se acalmaram, Alex continuava dormindo na casa de

Hannah e fingindo que o problema com a mãe não existia.

Como sabia disso? Bom, digamos que sua melhor amiga

virou minha informante. Ela disse que Alex tinha medo de enfrentar
o problema que Kaylee significava e fugia disso.

Durante os dois meses que ela seguiu ignorando, vinha


pensando em dizer para que ela parar com aquilo e ficasse lá em

casa. Aliás, já tínhamos dormido juntos pelo menos metade da


semana, não seria nenhuma novidade.

Só que o medo de que acabasse caindo mal me calava.

— Sabe, estou sentindo que é hoje — falei, apertando sua

mão e espantando meus pensamentos. Ela riu.

— Está? — O tom dela era desacreditado. — Se nosso bebê

quiser bancar o difícil, vamos saber disso só nos próximos meses.

— Eu vi você conversando com ele. — Toquei a barriga

pontuda da mulher, sentindo meu coração apertando com a


perspectiva do nascimento. Ainda era o quarto mês, tínhamos o total

de cinco meses para preparação.


Só que, da mesma maneira, parecia que estava vivendo o

momento de ter que dar seu primeiro banho. Tentar acalmá-lo


durante a noite. Vê-lo ficando doente. Era tudo novo e assustador.

— Sim, mas e se ele for malcriado? — Rimos com suas


palavras, e Alex parou, me encarando. — Vem cá. — Balançou a

mão no ar, me chamando. Me inclinei sobre a maca, ficando


próximo a ela, e senti sua mão subir em meu ombro, segurando a

base do meu pescoço antes de impulsionar os lábios em direção


aos meus.

Pediu passagem, e eu a recebi, sentindo o gosto de balinha


de morango em seus lábios. O paraíso, pensei enquanto meu corpo

acordava e meus sentidos se tornavam cada vez mais confusos.

— É isso que os relacionamentos abertos causam. — O

suspiro de Julia nos fez pular e a encarar com o coração na mão. A


mulher riu, zombeteira. — É, nada de beijos apaixonados. Têm que

ser coisas mais quentes para vocês.

Alex cobriu o rosto com as mãos.

— Pelo amor de Deus, vamos voltar para a antiga médica. —


Sabia que ela falava brincando, por isso não evitamos rir da sua
vergonha. Até que ela retirou as mãos do rosto, e suas bochechas

estavam vermelhas.

Afastei-me delas enquanto as ouvia falar baixinho entre si e

encarei a janela do consultório de Julia, vendo a movimentação da


cidade lá embaixo. Papai me disse que deveria parar de se estúpido

e assumir Alexandra. Mas isso veio de um homem que me tirou dez


anos e que estava louco para ver os dois filhos casados e com

“quinhentos” netos antes que seu último sopro de vida fosse dado.
Eu o amava, mas isso não aliviava nada.

Não iria pedir Alex em casamento apenas por isso.

Quem disse que precisa ser em casamento?! Meu

subconsciente gritou, e eu fiquei completamente congelado.


Namoro, então? Mas nós nos dávamos também nesse negócio de

relacionamento casual, tínhamos a companhia um do outro, não


havia prisões e nem mesmo todos os olhos sobre nós.

Porém, o único ponto que sempre me incomodava era o fato


de que a qualquer momento alguém interessante pudesse aparecer

na sua vida e assumir todos os riscos de um relacionamento de


verdade. Eu não queria isso. Não a queria com ninguém além de

mim.
Só que não era meio hipócrita da minha parte querê-la
apenas para mim enquanto ficava pensando em como manter minha

liberdade?

— Vamos começar, querido. — A voz da médica me tirou do

devaneio que enfiei e a encarei, sorrindo de lado ao me aproximar.

— Certo. — Parei ao lado de Alex, a vendo de olhos

fechados. — Por que está de olhos fechados? — Ela riu.

— Eu estou com medo.

— De que?

— É bobo, mas eu criei tanta expectativa sobre qual seria o

sexo — a observei engolir em seco — que não sei como irei ficar se
ele não me mostrar isso hoje. — Apertei sua mão e toquei alguns

fios de cabelos, que sempre estavam tão macios.

Vi Julia balançar a cabeça em concordância, afirmando que

era uma resposta positiva para os medos e anseios de Alexandra.

— Acho que você deve abrir os olhos, querida. — Sorri com

aquele sentimento desesperador dentro de mim.

— Também acho. — Os batimentos cardíacos do nosso bebê


preencheram a sala e Alex arregalou os olhos, praticamente
pulando de cima da maca, e a médica riu. — Mamãe ansiosa, hein...
— brincou, descendo com o aparelho pela barriga de Alexandra.

Alex ficou em silêncio por tempo demais, e nossos olhos não


paravam de ir a todo instante de Alex para a tela. Da tela para Alex

novamente.

— Temo que… — Julia disse.

A mulher deitada gemeu e fechou os olhos em um lamurio.

— Que tem gente que vai passar muitos ataques do coração

com a nova integrante da família.

Arregalo os olhos e a ficha só caiu em Alexandra minutos


depois.

Ela se sentou.

— Ai, meu Deus! — praticamente gritou. — É uma menina,

Julia?

A médica riu.

— É sim, querida, vocês terão uma princesinha. — As

lágrimas de Alexandra começaram a descer de maneira

desesperada em seu rosto. — Ah, a melhor parte de ser médica é


fazer as pessoas chorarem por notícias felizes. — Rimos. — Meus

parabéns, vou deixá-los sozinhos por um momento.


Retirou as luvas, se distanciando, e logo a porta bateu em
suas costas.

Encarei a parede branca, completamente em choque.

Era uma menina. Uma menina! Eu juro que pensei que seria

menino, só que isso não mudava o fato de que já estava


completamente ansioso por ter minha vida inundada para sempre

com o medo do momento em que ela ia crescer e começar a


aparecer um bando de filhos da mãe querendo a cercar.

— Vamos ter uma menina, Sebs. — A voz embargada da


minha mulher me trouxe de volta e me inclinei, segurando o rosto

dela entre as mãos, e beijei seus lábios. — Uma menina. Ai, meu
Deus…

Segurei a risada.

— Sim, baby. Uma menina. Uma princesa nossa. — Alisei

suas costas. — Obrigado por me deixar ficar, Alex. Por me dar a


melhor coisa da minha vida.

Ela riu.

— Ela vai chorar para sempre, Sebastian, vai ser sua para
sempre. Por toda a sua vida a terá e você vai ter que crescer por

ela. — Limpei suas lágrimas que caíam de maneira constante. —


Você chama isso de melhor coisa da sua vida? Para um homem, é

completamente fora de eixo.

— É sim, Alex. Eu não sonhava com filhos. Eu só queria uma


vida, uma vida boa. — Meu polegar desenhou seus lábios rosados.
— Você chegou, me deu uma filha, e eu não consigo mais ver nada

melhor que isso. É mais do que meramente bom. É uma vida


extraordinária.

Ela limpou o rosto, mas voltou a cair inúmeras lágrimas da


mesma maneira.

— Merda, não consigo parar de chorar! — A trouxe para


meus braços, deixando minha mão pousar sobre seu ventre
livremente.

Senti um pedaço do meu coração ali.

Desde que tive que abrir a minha mente e enfrentar o meu

medo de errar, ela estava sendo isso para mim. Ela e a mãe dela.
As mulheres que tomaram conta da minha vida sem nem ao menos
perceber.
— Eu sabia! — Nana praticamente gritou, batendo as mãos

contra a mesa do restaurante em que estávamos. — Estou tão feliz


por você, Alex, uma menina, Amber deve ter surtado.

Sorri.

— Ela ainda não viu a mensagem que enviei com a foto do

ultrassom. Mas ela acertou o sexo. — Encolhi o ombro, e vi


Sebastian retornando à mesa, segurando uma sacola pequena.

— Agora me diga — Nana atraiu minha atenção — quando

você e o bonitão vão assumir que realmente estão em um


relacionamento sério? — Engoli em seco e a chuto por baixo da

mesa. — Ai! — gritou e, no instante seguinte, Sebastian alcançou a


mesa.
— Voltei. Fui pegar isso para você. — Empurrou a sacola

rosa-claro em minha direção. — Comprei antes de saber o sexo,


pois queria lhe dar quando descobríssemos. — Abri a sacola,

trocando um olhar cúmplice com minha amiga.

— O que é, Alex? — Hannah indagou e tentou ver, curiosa


que só ela. Ela acabou de sair do trabalho e ainda está vestida com

roupas brancas e com bolsas de sono embaixo dos olhos,


claramente o plantão a machucou muito por duas noites seguidas.

Abri uma das caixinhas e vi que se tratava de um presente


para o bebê.

Senti meu coração se apertar ao lembrar que combinava com

o presente que ele enviou à casa de Amber na outra vez.

— É tão fofo. — Suspirei, sorrindo e estendendo a roupinha

no ar.

Hannah gemeu, colocando as mãos sobre os lábios.

— Mal cabe no meu braço — Sebastian brincou, pegando no


tecido, e me inclinei para beijá-lo na bochecha, já que estávamos
em um espaço público e demonstração de afeto além disso seria
como viver perigosamente.
— Obrigada, eu amei. — Ele sorriu e colocou uma mecha do
meu cabelo atrás da orelha.

— O outro presente é do papai. Ele pediu para entregar. —


Empurrou em minha direção e engoli em seco. — Ele já sabe que
temos o resultado do sexo do bebê, dessa vez precisamos visitá-lo.

Gemi em desespero, os fazendo rir. Arnold Collins foi um


amor na nossa última visita, mas ele me pressionou tanto por um
casamento que o medo se instalou dentro de mim. Não quis nem

pensar em aparecer lá.

— É o jeito, né…

Hannah riu.

— Ele é um amor, Alex, no dia em que dei uma ajuda à minha


amiga para cuidar dele, não parou de falar o quanto estava feliz pela

família crescendo, pelos filhos se apaixonando e…

Sebastian tossiu, se engasgando no processo de beber água


que fazia tranquilamente havia poucos segundos ao meu lado.
Segurei o riso, o ajudando a voltar ao seu estado normal.

— Calma, campeão. Nada de morrer hoje. — Ele me olhou


assustado. — É, eu sei. Seu pai exagera às vezes — brinquei,
forçando o sorriso em meus lábios.
A palavra apaixonado quase o fez ter um treco vindo de outra
pessoa, imagine se eu colocasse as cartas na mesa e dissesse
essas palavras a ele…

Queria nem pensar. Sem falar que pensar demais acerca


disso colocaria tudo a perder.

Sebastian colocou o copo de lado, beijando a minha testa


com carinho.

— Desculpe, desculpe — sussurrou, e apenas balancei a


cabeça em confirmação. Evitei falar, pois sabia que, se abrisse a
boca, não teria volta.

Abri a porta do meu escritório, cansada, mas dei um passo


atrás vacilante ao ver o pequeno grupo rodeado na mesa de Carly.
Me aproximei, em silêncio, tomando cuidado para que ninguém me
visse.

— Fiquei sabendo que o bebê é do chefe gatinho, Carly. — A


voz feminina me fez estremecer. — Você precisa nos ajudar, fica
sempre no andar mais maravilhoso e nunca nos conta as fofocas.

— Pelo amor de Deus, você acha mesmo que ele iria cair no
golpe do baú? — uma segunda funcionária indagou, e eu franzi o
cenho, com um filme passando em minha mente até o momento.
Não. Não. Não. Isso não seria possível.

— Ah, vocês são um bando de fofoqueiros! — Carly explodiu.


— Não vou falar nada. Quando ela quiser falar quem é o pai, ela vai
contar.

— Eu não sabia que havia virado pauta de fofoca — intervi,


sem conseguir conter, e vi Susan aparecer quando o elevador abriu,
andando sobre os saltos vermelhos alaranjados como se estivesse
flutuando.

— Há um boato correndo, senhorita Johnson — Carly diz,


profissional e eu arqueei a sobrancelha em sua direção.

— De que o seu bebê é filho do senhor Collins — uma das


meninas ali completou, em seguida, as mãos foram à boca, como se
tivesse cometido um pecado.

Suspirei.

— O que está acontecendo aqui? — A ruiva parou ao meu


lado e vi o brilho de satisfação em seu olhar.

— O que aconteceria de tão surpreendente se o bebê fosse


dele? — Carly questionou. — É só uma ideia boba, Alexandra e
Sebastian seriam perfeitos um para o outro.
Os olhares estranhos das outras deixaram claro o quanto
desaprovavam a ideia.

— OK! Chega, eu, sinceramente, não tenho que falar para


ninguém quem é o pai do meu bebê. — Fui firme em minhas
palavras, pois, no fim, elas eram a mais pura verdade. — E, se
querem continuar com isso, vou ter que passar para os superiores
da empresa, pois não vou aguentar vocês falando em meu ouvido
sobre quem é ou deixa de ser o pai do meu bebê.

Passei meus olhos pelas meninas ali, eram quatro no total, e,


no fundo, vi a secretária de Sebastian com um olhar aterrorizado. A
lembrança de que ela sabia que eu e ele nos beijamos já dava ideia
de quem era o pai do meu filho.

— Talvez ele nem tenha um pai. — Susan deu os ombros e


virei meu rosto rapidamente, a encarando, sentindo meu rosto arder
pela raiva.

— Limites, Susan, você conhece? — perguntei, irritada, e ela


riu. — Parece que não. Não sou obrigada a dar satisfações a
ninguém. Se meu filho tem um pai ou não, não importa. Nada disso

importa a vocês…

— O que está acontecendo aqui?


Viramos, rapidamente, com a cabeça girando pelo pavor.

Sebastian e Madelyn Collins nos encaravam com uma

expressão nada boa. A mulher ao lado do homem com quem estava


saindo estava com uma expressão tão dura que vi a perfeita rainha
má dos contos de fadas que eu costumava ler para Sky.

— Um boato sobre a paternidade do filho da senhorita

Johnson, senhor. Segundo os fofoqueiros, é um herdeiro Collins —


Carly, como não é muito sutil e nem dada a ficar quieta, o coloca a
par da situação constrangedora que se desenvolveu, e senti meu
corpo se arrepiando com o que viria a seguir.

Estava disposta a enrolar dizendo que ninguém tinha o direito

de saber daquilo, mas Sebastian não parecia nada feliz com a


situação. Então, senti-me andando em uma corda bamba que a

qualquer momento poderia arrebentar.

Encarei a situação que se formou em frente ao meu escritório


e senti os olhos arderem na medida em que tentava formular uma

resposta plausível para o momento desgastante em minha frente.


— Alex, querida, poderia vir comigo para falarmos sobre

aquele processo? — Mamãe tomou à frente, segurando as mãos de


Alex com carinho. Senti que a mulher nunca esteve tão deslocada

como estava naquele momento.

— Claro, senhora Collins. — Logo elas saíram, caminhando

juntas em direção ao escritório. Encarei as moças que ainda


estavam ali como quem não estivesse vendo que a situação estava

cada vez mais próxima da demissão.

— Primeiramente, senhoras — passei os olhos por cada uma

ali, vendo que havia somente duas pessoas que poderiam ter
começado isso —, a senhorita Johnson não tem que dar satisfações

da sua vida a ninguém. Segundo, se eu realmente fosse o

responsável pelo bebê em seu ventre, ninguém, além de mim, teria


a ver com isso. Somos uma empresa séria, a quantidade de

pessoas que disputam uma vaga todos os dias é gigantesca, e eu,


sinceramente, não quero ter que demitir ninguém.

Busquei a paciência, encarando o chão do escritório


enquanto ouvia cada uma seguir seu destino, até mesmo Susan —

que estava parada ao meu lado, esperando para que sua bomba
explodisse — e soube que não havia como mantê-la na empresa.
Se ela fosse uma pessoa melhor, não teria feito o que fez com

exame e ter metido eu e Alex naquele encontro monstruoso.

Se ela fosse uma boa pessoa, não teria espalhado essa

conversa.

— Você está bem, Sebastian? — Carly colocou a mão no

meu ombro.

Sorri, sabendo que ela se importava muito com Alex.

— Preciso demitir alguém, Carly. Desde que entrei na

empresa, nunca fiz isso, é estranho. — Ela riu.

— Eu sei, querido, Alex me contou o que houve com Susan.

Acredito que ter pessoas do tipo ao lado de vocês só irá prejudicar


tudo. — Assenti, concordando com ela. — Precisa arrumar isso.

Alexandra pode ser uma pessoa compreensiva, nunca perde a pose


e não se rebaixa para nada, mas, se essas pessoas começarem a

enfrentá-la, vamos perder uma ótima advogada.

Me afastei com suas palavras, encarando o nada. Não. Ela

não poderia vir novamente com a ideia da demissão! Não iria deixar
que fosse embora da empresa apenas por isso. Papai me mataria e

me jogaria no rio. Bom, talvez não, ele teve a chance uma vez, e

não fez.
Piada mórbida, mas, infelizmente, era verdade.

— E você pode perder a Alex. — Me encarou, segurando

meu rosto. — Ficam falando que não têm nada, que não sentem

nada um pelo outro, mas não há como negar os olhares, os gestos e


a conexão. Alex vai se afastar quando se sentir quebrada. Não

deixe que isso aconteça.

Suspirei quando a funcionária finalmente se foi, e eu analisei

cada palavra que ela disse. Me recordando de como eu reagia


sempre que alguém mencionava relacionamentos e em como

Alexandra deveria se sentir com isso, era irrelevante ou ela


realmente se importava?

E me lembrar da minha reação diante da menção de Hannah


à palavra paixão vai levá-la para mais longe ainda.

— Susan? — Abri a porta do escritório depois de ouvir a

autorização para entrar, e a ruiva me encarou por cima do ombro,


enquanto fechava a porta e parava em sua frente. — Precisamos

conversar.

Ela jogou o celular sobre a mesa, cruzando os braços na

frente do corpo em uma pose tipicamente de combate, me


encarando em um desafio silencioso.

— Eu já esperava, o príncipe em armadura brilhante

finalmente veio defender a donzela — debochou, me deixando


irritado. Susan é uma mulher muito bonita, os cabelos ruivos estão

soltos ao redor dos ombros de maneira que me lembra um grande

véu vermelho-sangue.

— Na verdade, não vim defender ninguém, apenas fazer o


que é certo. — Me aproximei, não me dando o trabalho de sentar-

me em sua frente. — Sua postura em relação a tudo desde o início

não tem sido boa, Susan. Entrou em meu apartamento, pegou um


documento pessoal, enviou, sem nenhum motivo aparente, a

Alexandra, possivelmente, para aterrorizá-la e, ainda por cima,


armou um maldito encontrou duplo com o filho da puta daquele

homem.

— Aquele homem é meu irmão! Olhe bem como fala —

rebateu de forma voraz.

Sorri.

— Será mesmo? Ou apenas a contratou para vir aqui

atormentar a vida dos outros? Já que ele acha que o dinheiro pode

comprar tudo, inclusive, o amor de alguém. — Ela riu.


— Robert nunca quis o amor daquela filha da puta da
Alexandra. E não tente defender a mãe dela, todos sabem que

Kaylee Johnson não serve para nada além de infernizar a vida


alheia.

Inspirei fundo. Paciência. Paciência.

— Eu não acredito no fato de ele não querer o amor dela. Ele

quer, sim. De uma maneira doentia, ele quer, e parece que é difícil
para você aceitar que ele pode amá-la. — A vi ficando vermelha. Se

levanta, batendo as mãos na mesa.

— O que quer aqui, Sebastian?

Faço o mesmo, ficando cara a cara com ela.

— Avisar que, a partir de hoje, não faz mais parte dessa

empresa. Está demitida. — Ela riu.

— Não pode me demitir, sou uma das acionistas deste lugar.


— Segurei a risada.

— Eu sou o dono, Susan, estou fazendo uma proposta de


compra da sua parte nesta empresa por uma quantia bem generosa,

diga-se de passagem, com viagem apenas de ida para fora daqui.

— Empurrei o envelope para sua mesa. Ela abaixou a cabeça diante


da proposta que se destacava no papel.
Ela caiu para trás, sendo amparada pela cadeira.

— Xeque-mate, Sebastian Collins. Parece que você está

mesmo disposto a vencer.

Reviro os olhos diante seu drama.

— Só mais uma coisa — falei, me inclinando novamente

sobre a mesa.

— O que? — indagou, lendo a proposta de compra das ações

que havia preparado.

— Me fale a verdade. O real motivo por que veio até aqui,

mexer com Alexandra.

Vi-a vacilar diante da pergunta, porém, não fez nada, e tornou

a levantar o rosto, me encarando com um sorriso malicioso


preenchendo seus lábios.

— Eu aceito sua proposta — diz, se levantando.

Não era fácil abrir mão de tanto por algo que não valia tudo

aquilo. Entretanto, se aquilo significasse que ficaríamos em paz, eu


o faria. E ver Susan indo embora da empresa me dava a sensação

de que bons tempos viriam, fazendo a paz circular novamente


dentro de mim. Só precisava reconstruir a confiança abalada de

Alexandra.
Como eu iria fazer isso? Não fazia a mínima ideia.
Madelyn me encarou com uma expressão cansada, sentada

na mesa do meu escritório. Sentia meu rosto queimando na medida


em que tentava adivinhar o que se passava lá fora. Sebastian

chegou e tomou todo o espaço da situação e, agora, não conseguia


parar de me mexer por puro nervosismo.

— Acho que vocês deveriam assumir. — Meu rosto se virou

tão rápido que pareci a própria menina do Exorcista. — Ah, não


façam essa cara. Todos da família e as pessoas mais próximas já

sabem que tem algo a mais rolando. — Deu os ombros como se não
fosse nada de mais.

Inspirei fundo.
— Não consigo, sabe. Não estamos em um relacionamento

sério.

Ela franziu o cenho.

— Não? Mas vocês vivem juntos. Como é que o pessoal


chama os namoros nesse mundo moderno?! — A indignação em

sua voz me fez rir.

— Não é nenhum outro termo. É namoro mesmo. Mas não


estamos namorando, estamos em um — digo, me remexendo, pois

é difícil admitir para aquela senhora que durmo com seu filho, divido
a cama com ele, mas que não devo satisfação a ele —
relacionamento aberto. — A palavra quase não saiu da minha boca,

de tão difícil que era.

Ela me encarou por longos instantes e inclinou a cabeça para

o lado, como se analisasse a situação, o rosto branco como o de


Sebastian, com os longos cílios mascarando os olhos verdes.

— Quer dizer que dormem juntos, fizeram um bebê, mas não

têm a capacidade de assumir que estão gostando um do outro? —


Engasguei-me com o próprio ar. — Ah, querida, seu
constrangimento é tão divertido. — Se levantou e caminhou até
mim, dando tapinhas em minhas costas. — Mas eu não acho que
isso seja o caminho certo. A verdade é que eu odeio esse caminho.

Encarei-a.

— Estou ficando velha, Alex. Não pode culpar uma senhora

querendo o melhor para suas crias. — Analisei-a com calma. —


Uma senhora tem que ter a felicidade de casar seus filhotes até o
fim da vida.

— A senhora não me parece perto do fim da vida — alfinetei


e a vi abrir a boca, ofendida.

— Não, é claro que não. Mas isso não quer dizer que eu deva

esperar meus dentes caírem para cuidar desses assuntos. — O lado


dramático de Madelyn não era o que eu esperava. Ela sempre me
pareceu tão contida. — Preciso viver para ver os meus netos.

— Bom, o lado bom é que os netos já estão garantidos. —


Alisei a barriga.

— Sim, mas ainda falta muito, muito mais. — Inspirei fundo e


a porta abriu, revelando Sebastian com um sorriso. Ele entrou,

fechando a porta em suas costas, enquanto eu me levantava


rapidamente.

— O que você disse? — perguntei.


— Nada além da verdade — respondeu, e eu senti o sangue
correr das minhas veias.

— A verdade?! — Ele riu.

— Sim. A verdade que você é uma funcionária nossa e que


não deve satisfações a ninguém, e que fofocas do tipo não seriam
toleradas. — Minhas pernas ficaram moles e fui caindo para trás até
que minha bunda alcançou a cadeira novamente. — Você fica pálida
cada vez que isso ameaça vir. Temos que enfrentar isso, Alex.

— Relacionamentos abertos. Puff. Coisa idiota. — A mãe


dele bufa, atraindo sua atenção.

— O que disse, mamãe?

Ela o encarou com os olhos fervendo de raiva.

— Essa merda que chamam de relacionamentos abertos não


dá em nada. E ainda tem o trabalho de fingir que não gostam um do
outro. — Ele abriu a boca, chocado com a agressividade e com a
verdade que saiu em cada palavra daquela mulher.

— Mamãe, você não tinha que ir a algum lugar? — Se


remexeu, inquieto, e se sentou em minha frente. A forma que
encarou a mãe foi um desafio silencioso para que ela fosse logo.

A mulher bufou.
— Estou indo. — Pegou a bolsa sobre minha mesa e encarou
o filho com um ar magoado. — Eu não criei você para não me dar a
honra de criar meus netinhos como uma família de verdade,

Sebastian Collins. — E saiu, batendo a porta tão forte que os


quadros balançaram de maneira nada sutil.

Engoli o sorriso e o encarei.

— Desculpe, estávamos conversando e eu falei demais —


falei, arrependida de ter falado aquilo para a mãe dele.

Sebastian se levantou, parando ao meu lado. Segurou minha


mão, me puxando para cima e, quando me levantei, confusa, ele se
sentou, me encaixando sobre suas pernas.

— Eu acho que ela tem razão.

Franzi o cenho, com meu braço enlaçando em seu pescoço,


brincando com os fios loiros.

— Sério? — Inclinei a cabeça para o lado para encará-lo


melhor. — Em que?

— Na bobagem de relacionamento aberto. — Sua mão

desceu em minhas costas. — Eu sei que falamos tudo sobre


liberdade. Aproveitar a vida. Mas este era meu plano antes de
conhecer você, Alexandra.
Ele quase nunca me chamava pelo nome inteiro. Sempre
Alex. Ou princesa, que odeio, mas, no fim, me acostumei.

— O que quer dizer com isso? — Estremeci com medo de


que meus pensamentos estivessem caminhando em uma direção, e
os dele, em outra completamente diferente.

— Que não quero ficar com você com medo de que alguém
apareça e queira um relacionamento. Que você acorde um dia e
veja que não pode mais fazer isso, pois sua vida está passando e
você precisa estar com alguém que queira a mesma coisa. — Alisou
minha bochecha com o polegar tocando meus lábios levemente. —
Quero poder dizer às pessoas que você é minha namorada, e não
dormir perturbado com a imagem de outra pessoa tocando em você.

Engoli em seco. O coração pareceu o próprio carnaval do


Brasil de tão animado.

— Estou completamente apaixonado por você, Alexandra


Johnson — Se inclinou. — E eu quero que seja minha namorada.
Quero que paremos de nos esconder. De ter medo. Quero que
nossa filha pare de ser motivo de fofocas pelo corredor.
Os lábios entreabertos e os olhos azuis arregalados de pura
surpresa deixavam claro que a peguei completamente
despreparada. A segurei firme em meus braços, não dando espaço

para que fugisse.

— O quê!? — A voz indignada e aguda me fez rir.

— Isso mesmo. Vai aceitar ser minha namorada, princesa? —


Sorri de lado.

— Tipo, assumir para todos? — gaguejou. Inspirei fundo.

— Sim, sei que é difícil. Mas uma hora ou outra, a bebê vai
nascer. — Encostei minha testa na dela. — E, se você tiver sorte,

ela nem vai se parecer comigo. — Rimos. — Uma hora, a verdade


virá à tona, pois não vou deixar de cuidar de vocês apenas por

causa de pessoas imbecis.

Ela suspirou, segurando meu rosto entre as mãos delicadas.

— Apaixonado, é?

O sorriso pequeno se arrastou em seus lábios.

— Completamente apaixonado — voltei a afirmar. — E minha


certeza de que estamos caminhando juntos está começando a ir
conforme você demora para responder.

Ela riu.

— Completamente apaixonada também. — Me encarou com

os olhos enormes sobre mim, me fazendo estremecer diante disso.


— E eu aceito ser sua namorada, Sebastian Collins.

Eu senti meu coração saltando no peito. Não pensei que

sentiria meu coração saltar, mas o movimento enlouquecido que

aconteceu em meu peito fez tudo em mim se revirar. Meu corpo se


arrepiando e a sensação de que finalmente fiz a coisa certa.

Me abaixei, trazendo seus lábios contra os meus, pedindo


passagem com a língua enquanto a sentia ficar mole contra meu

corpo, entregue, leve, da forma que precisávamos naquele


momento.

Deslizei minhas mãos por seu corpo, parando sobre a barriga


pontuda, que era uma surpresa boa ao ver o quanto crescia a cada

dia. Alexandra tinha dito que acreditava que iria ficar pequena, mas
não, nossa menina a contrariou.

Suas mãos empurram os meus ombros, me encarando.

— Como vamos fazer isso? — Seus dedos passaram ao

redor dos meus lábios, limpando do batom vinho que usava.


— Vamos, como qualquer casal, andar juntos, fazer coisas

normais, — Dei com os ombros. — Não vamos gritar para o jornal.


— Ela fez careta. — Mas vamos ser normais. Tipo, poderia levá-la

para jantar hoje, em vez de nos escondermos em meu apartamento.


— Ela segurou o riso.

— Pode ser. Mas tem uma coisa que preciso fazer. — Franzi
o cenho, a vendo sorrir. — Falar com minha mãe. Pretendo dar um

fim nisso e voltar para casa.

— Ah, sim, vai finalmente parar de dormir na casa de

Hannah. — Ela abriu a boca, surpresa.

— Como você…

— Sim, Hannah me contou.

— Nana fofoqueira! — xingou a amiga, me fazendo rir.


Segurei o rosto entre minhas mãos.

— Por que não me disse?

— Porque você iria querer que ficasse com você, que ficasse

no seu apartamento. — Abri a boca para me defender, mas desisti,


pois era exatamente o que eu faria. — E estávamos naquele meio-

termo. Eu não sabia como seria caso você descobrisse. No fim, eu


fiquei mais na sua casa do que com Nana.
Sorri.

— Não me esconda as coisas importantes. — Afaguei a

bochecha, que corou de maneira adorável. — Ainda mais quando

podemos resolver isso juntos. — Ela concordou, me encarando. —


Posso ir com você falar com sua mãe.

— Não. Não. É ruim o suficiente ela ficar me pedindo

dinheiro, se descobrir que você é o pai do meu bebê, as coisas vão

ficar ainda piores. — Encostou a cabeça em meu ombro, relaxando


contra mim. A cadeira do escritório de Alexandra era larga e

confortável o suficiente para nós dois e deixei que meu corpo se


acalmasse com o seu contra o meu.

— Quando acabar tudo, me ligue que vou te pegar. — Ela


murmurou um sim baixinho, enquanto deixávamos o silêncio

preencher a sala. De uma forma, dei o jeito em duas coisas de uma


vez só. Mandei Susan para longe e ainda pedi Alexandra em

namoro. Que se danasse a maldita ideia de liberdade, eu não ia me


prender a isso, pois toda vez que dormia, a via com um maldito

qualquer.

E isso era demais para minha própria paz.


Encarei a porta do apartamento sentindo as minhas mãos
tremendo. Eram apenas seis da tarde e, se eu tivesse sorte, ela

estaria lá dentro, sóbria o suficiente para ouvir minhas verdades.

Segurei o celular com o número do chaveiro que peguei no

caminho e abri a porta, chamando por Kaylee enquanto meu


coração batia forte em meu peito.

Era a primeira vez que fazia aquilo. Inclusive, deixei todos os


meus documentos e cartões de crédito na casa de Hannah, apenas

para não cair na tentação no meio do caminho e acabar cedendo.

Das outras vezes, dei a ela o que tanto queria.

Dessa vez, eu estava disposta a deixar claro que, se

quisesse ficar na minha vida, seria como minha mãe, não como a

turista que aparece sempre que precisava de algo.

Eu conseguiria. Eu enfrentava os bandidos. Muitas vezes era

obrigada a defendê-los. Por que não iria conseguir me dar bem


diante disso?

— Kaylee?! — gritei, passando pelos dois quartos e, quando

retornei para a cozinha, me certifiquei que ela não estava na


varanda. Vi os cigarros sobre a bancada da cozinha e algumas
garrafas de cerveja.

Para que merda servia o tratamento de beleza se ela bebia


mais do que conseguia aguentar?!

Liguei para o chaveiro, solicitando o serviço que expliquei


mais cedo e, enquanto aguardava, fui retirando todas as roupas

sujas espalhadas pelo chão da sala. Coloquei no cesto separado do


meu para caso de fazer uma mala para ela.

Naquele momento, uma ideia se iluminou em minha mente.


Não era nem um pouco meu estilo, maldosa demais, mas era o sinal

claro de que chegou o fim do caminho. Que ela não podia mais
invadir minha vida, exigir coisas, querer que eu renunciasse minha

filha e todas essas coisas.

— Boa tarde! — o homem falou, empurrando a porta

encostada do apartamento. Sorri. — É essa a porta? — Indicou,


analisando a situação.

— Boa tarde! Exatamente. Preciso que apenas troque a


fechadura, como conversamos, ok? — Ele assentiu. Engoli em seco,

caminhando para o quarto com o cesto de roupas sendo arrastado


pela casa.
Assim que entrei no quarto de hóspedes, comecei puxando a
única mala que ela trouxe. Abri sobre a cama e coloquei

calmamente as roupas limpas do guarda-roupa com cuidado.

Meu coração se apertou e me indaguei: por que ela não

poderia ser uma mãe normal? Se não conseguia isso, era só sumir
da minha vida, eu não pediria para ficar. Já era grandinha, podia me

cuidar muito bem como sempre fiz. Só que minha única serventia
para ela era ser como um banco.

Um banco, claramente, sem fundo, segundo as suas ideias.


Deixei a primeira lágrima cair. Era forte, mas, às vezes, era preciso

se desmontar um pouco para se encontrar.


— E você a pediu em namoro? — Hannah perguntou

praticamente gritando, e fiz careta. — Desculpe, eu me empolguei, é


que isso é uma notícia maravilhosa. — Ela estava toda vestida de

azul daquela farda hospitalar. — É que Alex é uma irmã e vê-la feliz
é um dos meus desejos mais intensos.

— Sim, estamos namorando. É oficial, e agora preciso falar

para o papai. — Apontei para a porta. — Ele quase chutou minha


bunda para isso. — A mulher riu. — Quando é que se faz chá de

bebê, Nana?

Ela franziu o cenho.

— Lá pelo sétimo mês de gravidez. Pretende fazer um para


Alex? — Os olhos da mulher brilharam conforme ela ficava animada.
— Eu estou pensando em tudo. Inclusive, qual será o nome da

bebê?

Deixei a risada nervosa escapar dos meus lábios.

— Ainda não pensamos nisso. O chá de bebê, podemos


pensar juntos, o que acha? — sugeri, querendo que Alex se

sentisse mais familiarizada com a ideia da bebê chegando ao


mundo. Sei que ela andava nervosa, mas, com tudo que estava
caindo sobre nós, ficava difícil pensar muito sobre isso.

— Acho maravilhoso! — Suspirou, parecendo pensar em


algo. — Inclusive, o nome da bebê podia ser Hannah, uma
homenagem por eu ser a melhor cupido de todos os tempos. — Deu

um sorriso de orelha a orelha.

— Cupido? Desde quando?

Ela riu.

— Desde que vocês dormiram juntos. Eu sou ótima no que

eu faço. — Algo apitou dentro do bolso do seu jaleco. — Poxa vida,


nem vou ter tempo para convencê-lo. Mas nos vemos depois. — E
balançou a mão no ar, se despedindo enquanto corria para dentro.

Inspirei fundo, abrindo a porta do quarto de papai, e o vi


deitado sobre a cama com os olhos focados no tablet anexado ali.
Passava os dias vendo notícias e assistindo aos seus
documentários. Praticamente sua diversão estava resumida àquilo.

Eu sentia muito, porém, melhorar essa situação estava


completamente fora do meu alcance.

— Bom dia, papai — saudei, colocando, em cima da


bancada, um café com chocolate que comprei a caminho para cá,
sabendo que era seu preferido e que ele merecia ter pequenas
alegrias. — Trouxe café. — Ele abriu um sorriso.

— Bom. Bom. Como anda meu neto? — Inspirei fundo.

— Heitor e Mel estão bem. — Ele bufou.

— Não seja petulante, eu sei que Heitor e Mel estão bem,


falo com eles todos os dias. — Segurei o riso. — Como anda sua
filha, para ser mais específico?

— Muito bem e eu tenho uma notícia para lhe dar. — Segurei


o sorriso, sabendo que aquilo, sim, seria sua grande alegria hoje.

— Que você pediu Alex em casamento? — chutou com uma

expressão cansada.

— Quase isso. Eu só desceria uma patente neste nível aí —


falei de modo enigmático e vi os olhos do homem faltando sair do

rosto.
— O QUÊ! — exclamou e senti meu rosto esquentando. —
Você está namorando, Sebastian! E toda aquela bobagem de
liberdade, aproveitar a vida e blá-blá-blá? — Segurei o riso. — Ah,
não importa, você está namorando!

A porta abriu e a enfermeira colocou o rosto ali, nos

encarando com curiosidade.

— Não houve nada, eu apenas dei uma notícia a ele — a


tranquilizei.

— Meu filho está namorando, enfermeira! Namorando. — É,


a loucura da mamãe só podia ter passado para ele.

A mulher riu.

— Meus parabéns, senhor. — E os parabéns foram


totalmente voltados para o papai. Já que aquilo parecia tê-lo feito
mais feliz do que a mim mesmo.

Encarei-o.

— Já acabou? Não quer colocar no jornal não? — alfinetei, e

ele riu.

— Se eu pudesse, colocaria. Mas me diga, quando irá pedi-la


em casamento? — Se remexeu na cama, pegando algo embaixo
dos travesseiros, enquanto eu travava totalmente com aquela
pergunta. — Vai pedi-la, né? Tem que fazer. Precisa fazer.

Empurrou a caixinha vermelha em minha direção, me


fazendo engolir em seco.

— Dei a Maggie o anel que sua mãe usou como noivado.


Este é da sua vó. É aquela bobagem de joia de família. — Segurei a
risada, pois tudo, para ele, era uma bobagem que ele queria que eu
fizesse. — Sua avó foi feliz com seu avô, Sebs. Eu e sua mãe,
apesar de tudo, nos amamos. Somos felizes, e eu não morreria feliz
se não a tivesse ao meu lado. Não é um anel que vai fazer isso,

mas já deve servir para alguma coisa.

Rimos e, mesmo contra a vontade dos meus planos, peguei a


caixinha em minhas mãos.

— Não vou pedir, papai. Não agora. — Ele bufou. —


Acabamos de começar algo. Nossa vida parece estar virando de
cabeça para baixo com a bebê e não é o momento certo. Além do

mais, nos conhecemos há pouco tempo.

Aqueles motivos pareciam mais para mim do que para ele.

— Eu acho que você está dando motivos demais. — Bufou.


— Está escrito na sua testa que é louco por ela. — Quase me olhei
no espelho só para confirmar isso. — Demorar só levaria mais
tempo para ficarem juntos.

Descansei minha cabeça para o lado, sentindo uma dor na


coluna infernal devido ao tempo gasto na cadeira de escritório, e vi
que precisava sair dali, quanto mais ouvisse o grande Arnold
Collins, mais disposto a esta ideia eu estaria.

— Eu preciso ir agora, papai — o cortei, me levantando em


um pulo, o deixando de boca aberta. — Vou deixar seu café aqui.
Tome, senão esfria. Preciso ir à academia antes de ver Alex. —
Pisquei, beijando sua testa. — Te amo. — Ele me encarou com raiva
por fugir daquele assunto, e segurei o riso que ameaçava romper.

— Também te amo. — A quantidade de ‘te amo’ tinha se


tornado absurda nos últimos tempos. Achei que todos dessa família
estavam temerosos com o momento em que ele não estivesse mais
aqui.

Eu fiquei. Todo dia, quando acordava, papai era a primeira


pessoa que passava em minha mente. O questionamento se ele
estaria bem, se viveria para ver minha filha nascer, se viveria para

ver seu primeiro passo, se iria ter a chance de sair desse lugar e ver
os gêmeos correndo pela casa, o deixando ainda mais de cabeça
branca.
O medo de nunca mais ver seus cabelos — que pareciam um
capucho de algodão — me assombrava, se tornando cada dia mais
obscuro, pois a cada momento que passava, pior tudo ficava.

— E como foi a conversa com ela? — Sebastian indagou,


puxando a cadeira do restaurante japonês que escolheu para essa
noite. Inspirei fundo ao lembrar da sensação de ser a pior pessoa do
mundo ainda correndo sobre mim.

— O que está acontecendo aqui? — Me virei, dando de cara


com Kaylee parada na porta enquanto guardava os últimos

pertences dela. — Por que tem um homem trocando a fechadura?

— Esta é sua passagem de volta para sua casa — falei,

pegando a passagem de avião que comprei poucos instantes antes,


colocando sobre a mala inacabada. — Estou dizendo que não dá

mais para ficar aqui. Não depois de tudo. Não vou lhe dar dinheiro.
Não vou tirar minha filha e, cada vez mais, o parto se aproxima,

preciso pensar nela.


Engoli em seco ao vê-la rir.

— Não, só pode ter enlouquecido. Sou sua mãe! Não pode


me expulsar — praticamente gritou.

Senti meu rosto queimando na medida em que meus olhos se


tornavam cheios de lágrimas.

— Eu sempre disse a você que precisava crescer. Ser uma

mãe de verdade. — Encolhi os ombros. — Só que percebi que não

posso te obrigar a isso. Não há formas de lhe ensinar que ser mãe
vai muito além do papel que você cria. — Ela se sentou. — Eu pedi

que fosse minha mãe, mas a mãe que precisei a vida toda, não essa
pessoa irresponsável que dá festas, gasta dinheiro, bebe e fuma

como se não houvesse amanhã!

Ela me encarou.

— Eu não preciso de você para bagunçar a minha vida,


mamãe. Eu amo você. Meu coração, no momento, está doendo

tanto. — Funguei, deixando as lágrimas caírem. — Só que preciso


pensar em mim. Na minha filha. E você, infelizmente, não pode

fazer parte dessa equação.

Ela me encarou.

— Usa o amor que sente por mim e me faça feliz! — gritou.


Limpei meu rosto.

— O que te faria feliz, Kaylee?

Ela riu.

— Sendo a minha filha. Fazendo as minhas vontades. —

Suspirei.

— Você mudaria para ser minha mãe, Kaylee? Você deixaria

tudo se eu voltasse a ser uma criança e você pudesse ter uma


segunda chance? — Ela abriu a boca, chocada.

A imagem dela, da nossa família muito tempo atrás, cercada


de brigas, desprezo e nenhum tipo de amor materno, trouxe uma

pontada de dor em meu peito. Eu a amava muito, ela me colocou no


mundo, só que isso não era recíproco.

Ela não podia ser minha mãe. Ser plena naquele papel. E eu
respeitava isso.

— Eu esperava que não. — Sorri. — Seja feliz. Só não conte


mais comigo para nada. — Apertei suas mãos e saí do quarto,

entrando no meu, e bati a porta em minhas costas, deixando minhas


pernas cederem e meu corpo deslizar. Caí sentada no chão frio,

com o rosto manchado pelas lágrimas, me sentindo tão vazia que


não pensei ser possível.
— Foi uma das coisas mais difíceis que fiz na vida. — Fui

sincera, balançando a cabeça para afastar a memória que voltava a

todo instante. — Sempre foi um pé de guerra, mas dar um ponto-


final doeu.

Ele sorriu.

— Eu compreendo. Papai e eu agora nos damos bem, eu o


perdoei, pois aquele era meu caminho para ficar livre. — Sorriu. —

Só que imagino que não fazer isso tornaria tudo dolorido e cheio de
quedas.

— Gosto da sua relação com seu pai. — Enlacei nossos


dedos por cima da mesa. — É sinal claro de que duas pessoas

podem se desgrudar do seu orgulho para serem felizes.

— Quando se está em uma situação como a dele, não sobra

muito. — Abaixou a cabeça, mexendo no cardápio.

— Nenhuma chance de melhoras? — O homem negou. — Eu

sinto muito.

Ele levantou o olhar, sorrindo de lado.

— Também sinto. Mas vamos mudar de assunto. Sabe,


Hannah me deu uma sugestão de nome para a bebê. — Balancei a
cabeça várias vezes, sabendo exatamente aonde ele queria chegar.

— Não vamos dar o nome de Hannah para nossa filha.

Ele riu.

— Acreditei que fosse ter a mesma reação — brincou. — E

como vamos chamá-la?

Arqueou a sobrancelha e parei no ar, sem ter a menor ideia


de como chamaríamos a criança.

— Eu não faço ideia. Vamos chamá-la de A Bebê. — Joguei


um pouco de cabelo para trás. — Pois, nesse momento, estou mais

preocupada em saber como cuidaremos dela do que como ela irá se

chamar.

Ele pegou minha mão, beijando o dorso com carinho.

— Vamos nos sair bem. Eu tenho certeza… — Sua

positividade me assustava e, ao mesmo tempo, acalmava tudo


dentro de mim.
ALGUNS DIAS DEPOIS

Ela estava simplesmente perfeita. O vestido preto que

escolheu era justo, de mangas longas, mas que caíam em seu


ombro de maneira que deixavam o vão dos seios à mostra de forma

tentadora.

Com toda certeza, os ciúmes me pinicavam a todo instante


por causa dos olhos de todos sobre ela, mas sabia que era

impossível não olhar para Alexandra quando ela parecia


simplesmente radiante.

Assim que a porta do elevador abriu, suspirei aliviado, vendo

que não esperava o momento para chegar em casa e tirá-la dos


olhos da rua. Tê-la apenas para mim.
— Ai, Deus. — A ouvi ofegar, parando no meio do cômodo,

em frente ao caminho de flores que levava para a cabana no meio


da sala de estar. — Não acredito que fez isso. — Se virou para mim,

colocando as mãos sobre os lábios, e vi os olhos cheios de


lágrimas. — Fazer uma mulher grávida chorar não é legal, baby.

Sorri, me aproximando. Peguei a flor que deixei na mesa

mais próxima do elevador e a prendi em seu cabelo, deixando-a


ainda mais linda. Os lábios vermelhos — típicos de Alex —

combinavam com a rosa da mesma cor. Os cabelos escuros


estavam soltos ao redor dos ombros e brincavam sobre a pele clara

do pescoço.

— Eu queria que você sentisse que as coisas entre nós não

vão mais ter meio-termo. — Toquei a base da sua coluna. — Não


quando você é tudo que eu quero. — Beijei sua bochecha, a
sentindo se encostar em mim lentamente.

— Não aguento você — sussurrou, me fazendo rir e buscar


seus lábios. A beijando com cuidado, puxei seu corpo contra o meu,
vendo que, a cada dia que passava, a barriga se tornava um

obstáculo. Só que era bom, pois lembrava como caminhamos juntos


dia a dia.
Afastei-me, segurando sua mão e a puxando para mais
próxima à cabana de pano que montei ali que, com as pequenas

luzes de Natal ao redor, dava um ar extremamente fofo. Ela


observou tudo. Saquei o botão da caixa de som que estava
escondido em meu bolso e o liguei para que uma música
preenchesse o ambiente ao nosso redor.

— Música perigosa. — Riu contra mim, enquanto Dangerous


Woman, da Ariana Grande, começava a tocar.

— Eu confesso que sou culpado. — Alisei suas costas, a


mantendo ali perto. A versão piano com a voz de fundo trazia o que
parecíamos a cada letra, intensidade. — Foi uma busca minuciosa.

Ela sorriu e me encarou com os olhos brilhando.

Meu corpo esquentou.

Meu coração tropeçou.

Papai tinha razão. Não era o tempo que ditava a intensidade.


Era como as pessoas se encaixavam. Como se conectavam. Como
o destino as unia.

— Eu... — Engasgou-se, e a vi puxar uma respiração pesada.


— Não sei o que vou fazer com meu coração diante de você,
Sebastian Collins. — Sorri de lado, a abraçando enquanto
dançávamos juntos.

— Não faça nada — respondi baixinho. — Só me deixe tocar


em você.

Ela sorriu.

— Você pode fazer o que quiser se continuar a me olhar


dessa maneira. — Sorri. Ela segurou meu rosto, encarando meus
olhos com o mesmo fogo que vi na primeira noite que tivemos
juntos.

Colou nossos lábios lentamente, desenhando os meus com


os seus. E, com as mãos segurando firme em meus ombros,
coloquei as minhas mãos em sua cintura, pedindo passagem em
sua boca. Meu corpo reagiu, esquentando com o gosto de seus
lábios, o cheiro que veio de seu corpo, o calor que senti em tocá-la,

descendo as mãos por cada curva marcada pelo vestido justo. Me


perdi nesse caminho. Completamente incapaz de pensar em nada
além daquela mulher, enquanto suas mãos afoitas desciam para a
base da minha calça jeans, parando ali, brincando com os botões
com um sorriso faceiro.
— Pulando etapas, querida? — zombei, a fazendo deslizar o
botão e me deixar quase livre da peça. Desceu o zíper que releva a
boxer preta que vesti mais cedo, e suas mãos subiram, passando a

unhas pintadas de preto pelo tecido de maneira sensual. Pegou o


primeiro botão da camisa social e fez o mesmo ato anteriormente,
me despindo lentamente, revelando meu peito. Fez isso de maneira
que meus olhos não conseguiam desgrudar dela, completamente
hipnotizados por cada movimento.

Suas mãos alcançaram minha pele, deixando-me livre de


qualquer peça de roupa, enquanto ela continuava completamente
vestida. Deu um passo atrás, sorrindo de lado com seu feito.

— Eu poderia aproveitar a onda de falta de vergonha na cara


— ri, sem conseguir evitar — e tentar um strip-tease, mas eu estou
cada dia mais me sentindo uma bola enorme, sem chance
nenhuma.

Dei um passo em sua direção, deixando para trás as roupas


jogadas no chão.

— Está perfeita. — Toquei a barriga. — Mas eu que vou te


despir hoje. — Deslizei meus dedos sobre o seu decote, parando na
beirada da manga do vestido. — Hoje, quando te vi na porta do seu
apartamento, eu só tive a certeza de que teria muito trabalho em
aguentar todos os olhares sobre você.

Ela riu.

— Eu estou redonda.

— Não, você está perfeita — sussurrei, sorrindo de lado


enquanto deslizava o vestido pela pele macia, revelando a peça
escura sem alças que segurava os seios generosos com firmeza.

Desci um pouco mais, revelando a barriga protuberante


pouco a pouco e, em meio aos toques, seu corpo se acendendo ao
meu, se arrepiando, esquentando, intensificando cada sensação

que me dominava de maneira irreversível.

Meu corpo em chamas se juntou ao seu. E foi perfeito. Como


nunca havia sido com ninguém antes.
QUATRO SEMANAS DEPOIS

Abri a porta do escritório com calma, segurando um café

descafeinado que tinha um gosto desagradável, que anteriormente


eu iria me matar para tomar, mas, nas últimas semanas, estava

sendo minha única bebida.

Viva os cinco meses! Cinco meses, desde que descobri a


existência do ser que se tornou o amor da minha vida, um mês

desde o bendito pedido de namoro e um mês desde que mamãe


partiu e não sei o que aconteceu depois disso.

Todo dia o ato involuntário de pegar o telefone e ligar para ela

passava por mim, mas o botão verde do telefone nunca era ativado.
Tenho medo de que ela não tenha consciência nenhuma de como

me desestabilizava e voltasse.

— Alex — Carly falou, apressada.

— Bom dia, Carly. — Sorri, entrando no escritório, me sentei


e observei a senhora correr até mim.

Coloquei meus pertences sobre a mesa e espalhei as

revistas que chegaram no dia anterior, concluindo que muitas eram


de moda ou fofoca. Como Amber adorava.

— Não viu o jornal hoje? — Seu tom estava agudo e meio

desesperado.

Nesse momento, movi meus olhos para cima, vendo que ela
remexia as mãos de maneira inquieta e as minhas mãos varreram

as revistas até encontrar um dos jornais mais famosos de Nova


Iorque, que deveria notificar notícias de economia, legislação e
muitas coisas realmente úteis.

Só que o bendito só sabia falar de pessoas ricas.

“O CEO Sebastian Collins foi visto, ontem, com a advogada


Alexandra Johnson, que, segundo informações, é uma das

contratadas do Grupo Collins. Indo mais afundo, ela está grávida!


Isso mesmo, pessoas, será que nosso CEO está em um
relacionamento sério ou seria apenas uma de suas escapadas?”

Desde que Sebastian voltou à ativa, andando pela cidade,


assumindo a empresa, ele atraiu muita atenção. As suas
“escapadas”, como a mídia disse, era encontro com várias mulheres

com quem esteve ao longo do tempo.

Senti o meu estômago se revirando. Merda. Não tive tantos


enjoos durante o período inicial, agora isso não poderia acontecer.

Já passou seu tempo de aparecer...

— Você está bem? Daqui a um instante, o escritório todo vai


começar a falar disso, Alex. Sinto muito — Carly falou, e eu caio

sentada, sem saber o que fazer. Sem a mínima chance de conseguir


tirar isso de circulação.

O redator do jornal era um filho da puta prepotente que já

defendi em tribunal. Ele não deixaria uma manchete dessa ser


retirada só porque eu estava me sentindo desconfortável com ela.
Além do fato de que já devia estar correndo por toda a cidade.

— Tudo bem por aqui? — Sebastian apareceu, e vi o dito-


cujo colocando a cabeça na porta do meu escritório, sorrindo. Mas
minha expressão não era muito boa e ela logo se foi. — Tem uma
movimentação na sua mesa, Carly. — Apontou para fora, e a mulher
cobriu a mão com horror, seguindo para fora. — Você está pálida,
Alex. Me deixou preocupado. Me diga o que houve. — Se abaixou
em minha frente, e empurrei as folhas em sua direção.

— Olha. — Engoli em seco e senti minha cabeça rodar.

— Ah, caralho! — xingou sem a menor cerimônia enquanto


eu estava completamente congelada na cadeira. — A empresa toda
já sabe. Bando de filhos da puta. Escondemos bem por um mês —

tentou me confortar. — Não poderíamos esconder isso para sempre,


Alex. — Encarei-o. — Vem, vamos dar um jeito nessa bagunça. —
Levantou-se e estendeu a mão.

— O que vai fazer? — Franzi o cenho, aceitando a mão


estendida.

— Você vai ver. — Piscou, abrindo a porta da sala, e ali

estavam os principais acionistas juntos, enquanto alguns


funcionários observavam a cena com um misto de curiosidade e
desafio.

Por que aquelas pessoas se importavam tanto se estávamos


juntos? Era uma merda. Não fazia o menor sentido.
— Houve algum problema por aqui? — A mão de Sebastian
na minha atraiu os olhares.

— Na verdade, acho que hoje todos amanheceram curiosos


sobre as notícias — um dos acionistas se pronunciou e cada um ali
segurou o jornal, como se houvesse se juntado para debater o livro
do mês.

— Sobre… — um segundo homem baixinho tentou falar, mas


se engasgou. Era um dos diretores. Senti os olhos de alguns
queimando sobre mim.

— Sim, eu fiquei sabendo que estampamos a página do


News, hoje. — Sebastian riu. — Curioso, mas acho que a profissão
de todos aqui requer muito mais trabalho do que ficar de olho na
vida alheia.

— Mas… — alguém tentou falar.

— Estamos juntos, se é isso que queriam saber. O bebê de


Alexandra é meu filho. E, sinceramente, não quero ter que entrar em
outra situação ridícula como essa. — A cada palavra que ele falava,
sentia meu corpo mais tenso. — Agora, se me dão licença, tenho
uma reunião importante em quinze minutos. — Segurou minha mão
firme, me puxando para longe dali. Entramos na sala do escritório e
a porta se fechou em nossas costas.

O peso saiu dos meus ombros no mesmo instante. Acabou,


finalmente acabou! Ai, meu Deus. Eu sabia que, pelos próximos dias
da minha vida, teria pessoas me olhando torto dentro dessa
empresa.

— Me saí bem? — Sua mão desceu pelas minhas costas, me


segurando contra seu corpo com firmeza.

— Muito bem — respondi, sorrindo. Encostada a ele, seus


lábios desceram, beijando um ponto do meu pescoço. Me
desvencilhei. — Só não vamos abusar. — Me coloquei de frente à
mesa, com ela entre nós.

— Nem um pouquinho? — brincou, sorrindo de lado.

— Nem um pouquinho. — Fui firme, mas sua boca


pressionou a minha, pedindo passagem, enquanto deixava o meu
corpo se entregar ao dele lentamente, com o homem me guiando
em direção a sua cadeira do escritório e puxando meu vestido floral
para cima, de maneira que deixava claras as suas intenções. —
Sebastian… — sussurrei, meio irracional, quando senti meu corpo
acordar.
Meus peitos fizeram fricção com o sutiã apertado e me sentei
sobre suas pernas, deixando minha razão para trás ao ver o homem
me observar com toda a calma do mundo. As minhas bochechas
queimaram quando deslizei meus dedos pelos botões da sua
camisa, tocando sua pele quente lentamente ao sentir meu corpo
queimando.

— Você está séria — ele sussurrou, deslizando as mãos por


baixo do meu vestido, os levantando na altura da minha cintura.
Senti minha pele se arrepiando com o contato.

— Estou tentando não pensar. — Enlacei meus braços em

seu pescoço, o encarando. Meus lábios colaram sobre os seus e o


puxei contra meu corpo, completamente incapaz de parar enquanto

sua ereção crescia contra mim. Sua língua bailava junto da minha,
arrepiando, domando tudo em mim.

Gemi, sentindo minhas mãos afoitas descerem para a base


da sua calça. Deslizando o botão e o zíper em um ato impensado,

senti seu corpo se levantando, deitando-me sobre a mesa de


carvalho, sobre os malditos contratos que enviei para sua sala mais

cedo.

Me encostei na madeira gelada, o encarando fixamente com

um sorriso preenchendo meus lábios enquanto minhas pernas


seguiam agarradas em sua cintura. Suas mãos procuraram as

laterais da minha calcinha, puxando-a para baixo, deixando-a na


altura dos meus joelhos, e senti seus dedos brincarem com minha

intimidade.

Senti minha excitação na medida em que deixei meu corpo

ser tomado por um espasmo. Gemi, com seus dedos brincando


contra a minha pele sensível, e fechei os olhos, deixando o meu

corpo ser invadido por aquela sensação chegando perto.

Mas acabou. Me forcei a abrir os olhos, vendo-o segurar a

minha cintura, puxando a minha bunda para a beirada, de maneira


que seu corpo se conectasse ao meu, causando a sensação de

estar completa que tanto me fazia bem. Gemi, movimentando meu

corpo contra o seu, intensificando as sensações que se apoderavam


do meu corpo. Deixei de lado qualquer pensamento racional sobre o

que estava acontecendo.

Sua mão alinhou mais uma mecha do meu cabelo, sorrindo


sacana com seu feito em me levar para o mau caminho.

Afastando-se, pegou o notebook e o colocou sobre a mesa,


abrindo e ligando o visor, que rapidamente estampou todos os
programas abertos. Meus olhos caíram na mensagem que chegou

em seu computador. Era de alguém chamado Alisson Clark, com o


endereço de um encontro marcado. Senti o ar fugir dos meus

pulmões.

— O que é isso? — sussurrei, não querendo parecer a

mulher maluca e ciumenta, só que as coisas estavam indo para o


enredo de desastres que me rodeava. Ele chegou até mim.

— Er… — gaguejou, sem fazer a menor ideia do que dizer. —


Não é nada, pelo amor de Deus. — Resgatou a voz antes que eu

saísse do escritório, parando em frente à porta e o encarando com o


desafio para que ele completasse a frase. — Alex, não faz assim.

Ela é só uma amiga.

Sorri.

— Você sabe que falar que ela é só uma amiga deixa tudo
pior, não é? Isso é uma das coisas que todos os homens dizem,

Sebastian — acusei, levantando o dedo no ar, e senti minhas mãos


tremendo. — Pelo amor de Deus, eu não sou inconsequente, nem

mesmo controladora, mas uma das coisas que não sirvo é para ficar
quando outra pessoa chega.
Saí dali, batendo a porta do escritório em minhas costas. Ela

não se abriu. Ele tinha o mesmo pensamento de que, apesar de


tudo, ainda estávamos em uma empresa e tínhamos que ser

profissionais.

Senti minhas pernas moles a todo caminho até a sala. A

sensação de que se fiz certo ou errado bateu sobre mim. Eu sou


insegura, eu estou grávida, ficando cada dia maior, com os peitos, a

barriga, as coxas e, consequentemente, o nível de insegurança


subia a cada instante.

Ter que vê-lo com papo sobre encontros com sua maldita
amiga não era a minha coisa preferida. Peguei minha bolsa, saindo

dali o mais rápido que conseguia. Do que adiantava resolver um


problema e arranjar uma sensação instável de que não sabia qual

seria nosso próximo passo?

Era muito cedo para desistir da melhor pessoa que entrou na

minha vida? Era muito cedo para deixar para trás a única coisa que
chegou mais perto de amor de verdade? Era muito cedo para

pensar que podia ser feliz com outras questões além do meu

trabalho?
A campainha tocou, e eu me afundei um pouco mais no sofá,
sem fazer a menor ideia de como seguir. Talvez tivesse sido

inconsequente agindo completamente pela razão do momento. Não

dei a ele a chance de explicar, mas isso não quer dizer que era fácil
ficar ao seu lado.

— Sou eu, Alex. Sei que está aí. — A voz de Hannah me


trouxe de volta, e me levantei em um pulo, decidindo que precisava

dela. Não fui para sua casa, pois, pela primeira vez na vida, queria
ficar bem sozinha. Sem precisar de ninguém.

Abri a porta e fitei a loira ainda vestida com as roupas do


hospital, com olheiras embaixo dos olhos e segurando dois copos

de café.

— Trouxe café. Precisava para exercer minha função de

cupido de forma correta. — Segurei o sorriso, constatando o que


marcava na embalagem “descafeinado”, e entrei em casa. — Fiquei

sabendo o que aconteceu.

— Sebastian contou? — Afundei no sofá, observando

Hannah fazer o mesmo no outro.

— Aram — resmungou, bebendo um gole do café em

seguida. — Inclusive, acho loucura. Você não faz o tipo ciumenta. —


Me escondi por trás do copo. — Olhe nos meus olhos, para de se
esconder.

— Eu surtei, ok? Estava nervosa com o acontecido, mas


aconteceu uma coisa superbacana em nossa sala. — Suspirei. — E

teve a maldita matéria. Aquilo foi só a pontinha para entrar


completamente em pânico. — Senti meu coração batendo forte. —

E se for verdade? E se ele quiser mesmo partir para outra?

Hannah encarava fixamente.

— Me escute, ok? — Concordei. — Nos últimos dias, ele deu


sinal de se importar menos, de não gostar de você ou de estar com

outra pessoa? — Passei a última semana em que estivemos juntos


e a cena em seu escritório, e engoli em seco.

— Não. Ele foi só Sebastian. — Sorri, boba. — Que, naquele


jeito meio zombeteiro, me faz ficar boba com todo ato dele.

— Ah, você o ama! — exclamou, batendo palmas, e aquilo


me congelou no lugar. Eu o amava? Eu me apaixonei, sim, mas eu o

amava?

Se amar for ficar boba com sorrisos da pessoa, se preocupar

se ela está bem, querê-la por perto, sentir meu corpo reagindo
apenas em pensar nela, coração acelerado, mãos suadas... Sim,
talvez eu o amasse.

— Ele está surtando, Alex. Disse que ia deixar você ter seu
tempo e pensar, mas que isso não iria durar muito, pois não podia

ficar longe de você. — Segurou minhas mãos juntas. — Eu nunca te


vi tão feliz com algo que não fosse seu trabalho, estou finalmente

vendo você se apaixonando de verdade, entregando seu coração e,


graças a Deus, é com um homem o suficiente para fazer o mesmo.

Deixei a lágrima cair.

— Eu preciso falar com ele — concluí, tentei me levantar, só

que caí de novo, sentada. — Mas, antes, preciso ir a um lugar. —


Sorri de lado com a ideia passando em minha mente.

— O que vai fazer? — Ela se virou, me encarando curiosa.

— Preciso falar com uma pessoa. — Meu celular tocou

insistente em cima da mesinha de centro e corri para pegar, vendo


que era o número de um dos meus clientes. — Alô!

Balancei a mão para Nana, pedindo um minuto enquanto

caminhava para a varanda. Um dos meus clientes de fora de Nova

Iorque finalmente recebeu a solicitação para comparecer ao tribunal.

Inspirei fundo.
— OK, Jeff, estarei aí. — O meu coração afundou

novamente, pois sem chance nenhuma de conseguir fazer isso sem


adiar os meus planos pessoais. — Viajarei. — Me virei, a
encarando. — Um cliente de fora do estado teve sua audiência
marcada, precisarei representá-lo.

Vi-a engolir em seco.

— Mas precisa falar com Sebastian. — Deixei meu corpo cair


no sofá novamente.

— No momento, preciso defender meu cliente, Nana. Em

breve, não vou poder mais viajar, tenho que dar conta de todos os
trabalhos antes do sétimo mês de gestação e não sei quanto tempo
vai levar isso. — Esfreguei meus olhos. — Talvez seja melhor eu me
afastar de Sebastian, mesmo. Dar um tempo para pensarmos no

que iremos fazer.

Hannah bufou.

— Merda de cargo de cupido idiota! — Segurei a risada, a


encarando com carinho.

— Se você fosse um cupido, seria o pior de todos. — Ela

abriu a boca, ofendida. — Mas, com toda certeza, arrasaria os


corações de todos os cupidos masculinos. — A loira deu uma
risadinha.

— Disso, eu gostei. — Se sentou ao meu lado, passando o


braço ao redor do meu pescoço. — Estou aqui para o que decidir. —

Beijou minha bochecha. — Mas acho que deve falar com ele antes.

Fechei os olhos.

Talvez teria sido melhor um tempo. Se fosse para ser, quando


retornasse à cidade, ele estaria aqui, livre para irmos adiante.

Porém, havia uma coisa que não tinha como negar ou fugir.

Precisava falar com Arnold Collins. Ele poderia me dar aquilo


que Sebastian se recusou. E sabia que, se desse o motivo que tinha
em mente para o homem, ele não recusaria.

Segurei o suspiro, temerosa com o caminho das minhas


decisões.
Abri a porta do quarto com calma, sabendo que alguém

poderia vir a qualquer momento e cortar as minhas asas. Mesmo


com todo o medo correndo em minhas veias, enfiei meu rosto no

vão da porta.

— Bom dia, senhor Collins — saudei, sorrindo, lembrando


que precisava ser rápida. Convencer aquele homem não poderia ser

difícil. O rosto dele se iluminou e senti uma pontada de dor no


estômago, de puro nervosismo.

— Bom dia, querida — respondeu, empurrando o suporte do

tablet e me encarando enquanto segurava um café. — Você veio


com Sebastian? — Arqueou a sobrancelha, e puxei a cadeira, me

sentando ao seu lado.


— Não, hoje vim sozinha. — Sorri e o vi franzir o cenho.

— Pensei que tivesse medo de que eu a colocasse em um

casamento armado — zombou, me fazendo corar.

— Ainda tenho um pouco sim. — Fiz careta. — Mas como


você se sente hoje? Parece muito bem.

— Há dias venho me sentindo bem, menina Alex. Ver tudo se

acertando antes de partir me revigora. — Sorri.

— Acredito que não vá partir tão cedo, senhor Collins. — Ele


levantou a mão, indicando que queria tocar minha barriga

protuberante, e eu me aproximei, deixando-o sentir sua neta


crescendo em meu ventre. — Eu viajarei por alguns dias e preciso

da sua ajuda.

O homem franziu o cenho, se afastando. Voltei a me sentar.

— No que posso ser útil, querida?

Peguei minha bolsa, retirando de dentro a carta de demissão


que colocaria fim nisso.

— Quando você me contratou, eu quase nem acreditei —

começo a falar, nervosa. — Sabia que era boa, mas parecia muito
difícil provar isso às pessoas ao meu redor. E você acreditou em
mim para cuidar de muita coisa em sua empresa.
O homem sorriu.

— E eu vejo que fiz a escolha certa. — Bebericou um pouco


mais o café.

— Só que tudo se tornou uma bagunça nos últimos tempos.

Eu e Sebastian estamos tentando e, infelizmente, trabalho e amor


não se misturam nem caminham juntos — falei, confusa.

Arnold sorriu.

— Eu quero ficar com seu filho. Só que quero minha


instabilidade, tanto emocional, quanto profissional, não posso viver
em um espaço onde as pessoas me acusarão de estar com ele por

dinheiro.

— Querida…

— Não. Isso é difícil demais quando você ama alguém de

verdade. — As palavras pularam da minha boca. — Eu amo o meu


trabalho, mas eu também tenho os meus caminhos, as minhas
chances. E eu lhe imploro para que assine.

Empurrei a carta pela mesinha fixada ao lado da maca.

— Sebastian recusou-se na primeira vez que pedi. Eu preciso


estar longe da empresa para poder ficar bem comigo mesma. —

Dizer que a cena de manhã me deixou calma era mentira.


A decisão certa era sair. Voltar a ser uma advogada fora de
uma corporação.

— Eu vou. — Levantei o olhar. — Mas só porque sei que é


difícil estar em um lugar em que as pessoas falam de você pelas
costas. E porque você assumiu que o ama. — Travei,

completamente congelada.

Ai, meu Deus. Eu realmente havia dito isso?

— Quando eu disse isso?!

O homem riu, terminando de assinar minha carta de


demissão.

— Há poucos instantes, enquanto tagarelava. Agora só falta


fazer o filhote falar. — Suspirou, parecendo contrariado. — Mas eu
consigo. Eu irei, tenho certeza. — Arregalei os olhos. — Aqui,
querida, seja feliz.

Levantei-me e forcei um sorriso. Aproximei-me e beijei a


bochecha do homem em agradecimento.

— Muito obrigada, Arnold. — Ele riu.

— Finalmente saímos do senhor Collins — brincou, e eu não


evitei a risada. Sabia bem que não havia nada mais que me

impedisse de ir até Sebastian. Além da viagem.


Tentaria resolver tudo em, no máximo, uma semana, mas
sabia que as coisas ficariam complicadas, pois o tempo estava
muito corrido, e eu não podia deixar nada atrasar para depois do

sétimo mês.

Fechei a porta do quarto em minhas costas, pegando a chave


do carro na bolsa, e caminhei pelo corredor extenso, sabendo que

Hannah estava em mais um turno, que graças a Deus e, para


felicidade das suas orelhas, ela não iria ficar de plantão.

— Alex? — A voz masculina me fez virar rapidamente e dei


de cara com Sebastian. Travei. Completamente congelada no lugar.

A carta de demissão com a logo da empresa estava em minhas


mãos e atraiu sua atenção. — Isso é uma carta de demissão?

Arqueou a sobrancelha, enquanto meus olhos desceram para

a mão da mulher pendurada em seu braço. Engoli em seco. Como


não pensar errado? Como manter a linha normal diante disso?

— É, sim — gaguejei. — Vim falar com seu pai. Tenha um

bom dia. — Balancei a cabeça, sorrindo nervosa enquanto dava


meia-volta e me distanciava a passos incertos e repensando o
plano.

A sua mão segurou meu pulso.


— Podemos conversar? — Levantei a cabeça, vendo os
mesmos olhos verdes me encarando com preocupação.

— Claro, tenho alguns instantes.

Ele bufou, contrariado.

— Precisamos falar sobre o que você entendeu. — Inspirei


fundo. — E por que você pediu demissão.

— Eu não quero continuar trabalhando em um lugar onde as


pessoas falam coisas sobre mim. — Suspiro. — Preciso de um
momento de paz, Sebastian. Finalmente minha mãe se foi,
finalmente as coisas parecem ter um rumo. Preciso pensar em mim

e na minha filha.

— Nossa filha — corrigiu, segurando meu rosto. — Isso não


mudou com um dia e nem vai mudar.

Sorri.

— Eu sei. E amo você. — Fiquei na ponta dos pés, o


trazendo para um abraço. — Mas preciso cuidar de mim nesse
momento. — Beijei a bochecha com a barba por fazer e me afastei,
encarando seus olhos aterrorizados, faltando pular do rosto.

Sabia que um “eu te amo” não era o que Sebastian esperava.


Isso o assustou o homem e sabia que o que falei podia levá-lo
diretamente para longe de mim, mas assumi os riscos, engoli em
seco, puxando uma respiração funda, e saí do hospital com o
coração apertado.

Se fosse para ser, iria acontecer.


Com toda a paz que existia dentro de mim, tentei me

tranquilizar. Na primeira semana, Hannah foi quem me ajudou com


cada detalhe, cada espaço de tempo, dizendo que, com toda

certeza, seria muito bem-sucedido. O plano deu errado, pois ela não
voltou no fim do sábado, como havia dito à melhor amiga.

Alexandra deduziu que havia algo entre mim e a maldita

mulher — que, na verdade, era apenas uma amiga. E, apesar de


achar irracional sua posição diante de tudo, tentei entender que era

uma mulher em pleno estágio avançado de gravidez. Insegurança


deveria ser uma das coisas que viria no manual das grávidas.

Infelizmente, esse bendito livro ainda não existia.


Segurei o sorriso, sabendo bem que meu caminho até Alex

se tornaria ainda pior. Na semana seguinte, ela avisou a Hannah


que tentaria voltar, mas que o caso estava se estendendo. Ir em

busca de pessoas para prestar depoimentos a favor do seu cliente


estava levando mais tempo que o normal.

No fim, ela tinha que ficar. Não poderia viajar quando sua

barriga crescia cada vez mais. E, com isso, o sexto mês dela ficou
completo, e eu nem estava junto para ver isso.

Por que eu não havia ido até Alexandra? Seria até romântico.
A verdade era que fiquei tão aterrorizado com a perspectiva de um

“eu te amo” que minha coragem de dizer o mesmo a ela se perdeu.

Até lembro-me da decepção nos olhos de Hannah com isso.

— Por que não disse que a amava também? — A voz

feminina denunciava que não estava sozinho. Me virei lentamente,


sentindo meu corpo todo congelado com o que acabou de
acontecer. Hannah soltou um suspiro baixo.

— Ela disse que me amava? — indaguei, chocado, sentindo


uma pontada de dor no meu corpo sem nenhum sentido claro. O
congelamento invadiu tudo em mim. Menos o meu coração.

Engoli em seco.
— Com todas as letras. E o cupido precisa ter seu trabalho
facilitado de vez em quando. Você podia ter dito o mesmo. —

Encarei a loira sem acreditar nisso. — Eu sei que sou a pior cupido
do mundo, mas vocês também não colaboram.

Sorri.

— O que vou fazer? Ela me viu com…

— Com a vaca da Alisson, é, eu vi. Estava observando tudo.

— Deu os ombros. — Infelizmente, minha bola de cristal quebrou. —


Inclinou a cabeça para o lado com um sorriso debochado.

E tudo depois disso se tornou uma missão de reconstruir um


relacionamento que, segundo Hannah, muitos casais insistiam em
ter, mas precisavam entender que um cupido precisava de descanso

às vezes e que tínhamos que parar de fazer besteira.

Eu estava marcando uma reunião com Alisson naquele dia.


Só que Alex entendeu errado, e eu não ajudei em nada gaguejando
daquela forma. Mais imbecil impossível…

Agora, me ver junto à mulher que despertou seu ciúme não


era a melhor coisa do mundo. Alisson era uma amiga antiga que
conhecia desde a infância e que nos reencontramos logo depois de
todo aquele período ruim ir embora.

Tínhamos um laço e, por mais de uma vez, ela já tinha


avançado aquela linha que dividia nossa relação. Deixei claro que
nunca haveria nada entre nós, pois não sinto nada e não quero que

ela se machuque com a perspectiva disso.

— Preparado? — Hannah apareceu ao meu lado, segurando


a caixa com tudo que estivemos aprontando juntos nas últimas

semanas, estendendo-a em minha direção. — Você está suando,


Sebastian. — E riu, achando tudo muito engraçado aos seus olhos.

— Você não tem que ir para o seu plantão?

Ela bufou.

— Eu e minha boca grande. Preciso sim. — Pegou a bolsa


em cima da cadeira do meu escritório. — Muito cuidado, ela está
com a cabeça pipocando de ideias com o tempo que passou fora.
Sem falar que te viu com Alisson antes de ir.

Segurei a risada.

— Não vou deixar dúvidas dessa vez. — Abri a caixa e


encarei todos os pertences ali. Meus pensamentos foram trazidos
de volta à realidade com a minha secretária informando que Alisson
Clark solicitava falar comigo. — Eu juro que nada acontece entre
nós.

Nana bufou.

— E o pior é que eu acredito — foi tudo que disse antes de


sair da sala pisando duro. Segurei a risada com o temperamento da
loira e liberei a entrada de Alisson. Assim que a porta abriu, a
mulher de cabelos escuros sorriu para mim.

— Hannah ainda me odeia — comentou, entrando com uma


sacola pequena em uma das mãos. — Bom dia, como você anda?
— Beijou minha bochecha e se sentou no sofá no canto da sala.

Inspirei fundo.

— Nervoso. — Esfreguei as mãos uma na outra. — Faz um


mês desde que a vi. E as coisas não ficaram claras, o medo me
domina — desabafei, sabendo que precisava conversar.

Nana era metade piada e metade ironia. Ela era mais


debochada que tudo. Conversar se tornava impossível.

— Você vai conseguir. Ela vai voltar para você… — Lili me

encarou, sorrindo, mas o sorriso não chegava nos olhos. — Trouxe


o que me pediu — mudou de assunto rapidamente, estendendo em
minha direção a sacola que trouxe.
Quatro semanas! Maldita burocracia... enrolar para resolver
um caso simples como aquele por quatro semanas enquanto minha
vida se resumia a um quarto de hotel. Como as consultas de rotina
não poderiam parar, procurei por uma médica na cidade e fiz o
monitoramento para ver como ia a bebê.

Inspirei fundo e observei o avião pousar na cidade de Nova


Iorque, sentindo os pelos do meu corpo se arrepiando com a
lembrança de tudo que precisava fazer. Teria que ir até a empresa
de Sebastian para pegar o meu computador e alguns pertences

pessoais no escritório.

Para minha sorte, ele não estaria lá. Agora, se fosse destino,
talvez estivesse.

Assim que desci do avião, o celular começou a apitar em mil


e uma mensagens de Hannah, que ficava brigando comigo a cada
dia adiado para voltar. Minha melhor amiga não entendia que aquilo
era trabalho.. irritada e brava, de cupido bonitinho, não tinha nada!

Segurei o riso atendendo a ligação.


— Oi, querida — falei meiga, tentando acalmar a fera.

— Querida?! Querida nada, Alexandra — rosnou. — Estou

entrando no trabalho agora, mas tenho uma folga no fim do dia para
jantar e você vai encontrar comigo, senão pode esquecer que sou
sua amiga.

Segurei a risada.

— Tudo bem, querida, te encontro. Só mandar o endereço.

— Te pego no apartamento.

— Vai perder metade do seu intervalo para vir me pegar,


Nana. — Revirei os olhos, parando na entrada do aeroporto.

— Então venha me buscar no hospital — resmungou. — Eu


dirijo.

— OK. — E logo finalizamos a ligação. Enfiei o celular no


bolso e observei um pessoal que acabou de saltar do táxi, pronta

para pegar o mesmo veículo e ir para casa. Precisava de um banho,


descansar e depois ver Nana no fim do dia.

Inspirei fundo. Tinha tanta coisa para fazer. Nesse um mês, o


trabalho estava acumulado em pilhas na minha mesa e me debrucei

sobre ele, resolvendo coisas que vinham se acumulando com meu


segundo trabalho na empresa.
— Para o Grupo Collins — indiquei, me sentando no táxi. Ia

passar lá, resolver logo tudo sobre a minha demissão e ir para casa.
Agora que havia dito a todos meus clientes, deixei claro que, a partir

do momento, não iria mais me envolver em nenhuma questão para


salvar a bunda de alguém.

Iria aproveitar o fim da minha gravidez. Nem que fosse


ficando inchada e enorme, mas havia uma quantidade grande de

coisas para fazer. A escolha do nome, a montagem do quarto e

aprender sobre bebês.

O carro logo parou em frente ao prédio. Desci, dispensando o


táxi com medo do tempo que levaria para ir e voltar. Passei pelo

segurança, desejando bom-dia, e segui para o elevador sem me

preocupar que atraía olhares de algumas pessoas. Assim que as


portas de metal se fecharam, suspirei aliviada. O peso pareceu sair

de cima dos meus ombros.

Apertei o botão da presidência, subindo pacientemente, e a

cada vez mais perto, mais minhas pernas se tornam inquietas,


completamente incapaz de me manter calma. Assim que cheguei, a

porta abriu e revelou Carly com uma expressão entediada no rosto.

— Bom dia, Carly! — saudei, me aproximando para beijar

uma das suas bochechas.


— Menina Alex, você voltou! — rebateu, me apertando entre

seus braços. — E como anda minha menininha? — Alisou meu


ventre completamente indiscreto, pois não havia roupa no mundo

que escondesse meu sexto mês de gravidez.

— Estou muito bem, e como andam as coisas? — Me

encostei no balcão. — Não voltei, mas estava morrendo de saudade


de você.

Ela alisou meu rosto.

— Digo o mesmo, meu amor. — Beijou minha testa. — Ficou

tudo sob controle, apesar de que sua presença fez muita falta.

Sorri.

— Posso pegar minhas coisas ou já tem alguém no meu

antigo escritório?

Vi Carly bufar.

— Sebastian não quis contratar ninguém. Quem está


revisando os contratos da empresa é o cunhado dele — explicou.

Hunter era advogado e uma parte de mim sabia que


Sebastian iria recorrer ao cunhado.

— Vamos, vou te ajudar a arrumar tudo. — Enlaçou o braço


ao meu. — Apesar de ter plena certeza de que um dia voltará.
Sorri, não querendo contrariar. Eu não queria voltar. Queria

fazer as coisas com Sebastian darem certo e, se precisasse


renunciar a isso, então eu faria.

Abri a porta do escritório, segurando a caixa com uma porção

de coisas que me pertenciam, e senti meu coração apertando.


Desde que a demissão foi assinada, nunca pensei que sentiria

aquela dor em meu peito.

Disse a mim mesma que, sim, eu sentiria falta daquele lugar.

Levantei o olhar, encontrando a porta do escritório de


Sebastian aberta e aquela mesma mulher ali, na frente do homem

que estava em meus pensamentos, mesmo que eu o expulsasse de


lá.

Minha garganta se apertou ao vê-la ficar na ponta dos pés e


beijá-lo na bochecha de maneira íntima.

— Preciso ir, Carly — sussurrei, virando de costas e entrando


rapidamente no elevador. As portas começaram a fechar e aquela

imagem continuava se repetindo em minha mente. Todas as


afirmações de Hannah de que não havia ninguém na vida dele

pareciam ter ido para o espaço.


— Alex?! — Escutei Sebastian me chamar, finalmente
percebendo minha presença ali. As portas se fecharam e colocaram

a proteção que precisava naquele momento. Nós precisávamos nos

falar, mas, primeiro, aquela mulher tinha que parar de se pendurar


no pescoço dele, e ele, de deixá-la fazer aquilo.

Encarei Carly com indignação, ainda sem acreditar que ela

deixou Alexandra ir sem nem mesmo me avisar. O que eu havia dito


a ela? Que Alisson era uma amiga e que eu não queria nada com

ela. Mas, não, a mulher continuava me olhando com raiva e dizendo


que não me deixaria brincar com minha menina.

— É o momento do plano, Carly. Depois de hoje, quero ver se


ainda vai me olhar com deboche — me gabei, sabendo que poderia

dar tudo, tudo mesmo, errado. Mas estava tentando pensar positivo.

A secretária de Alexandra riu, balançando a cabeça em

negação.

— Vai ter que rebolar, loiro — retrucou, me fazendo revirar os

olhos e entrar no maldito do elevador com uma expressão de


menino contrariado com a vida. Com toda certeza, mamãe iria
debochar se me visse nesse momento.

Segurei o medo querendo se alastrar por meu corpo. Fazia


um mês que não sabia o que acontecia com Alex e a bebê. Fazia

tudo isso pela saudade acumulada e vê-la em meu escritório, com


os cabelos escuros soltos ao redor dos ombros e os lábios em um

rosa-claro e completamente incomum, deixou tudo fora de órbita.

Tudo que eu queria era tocá-la.

Estava cada vez mais próximo disso.

Hannah estacionou o carro em frente ao mesmo bar que


beijei Sebastian na primeira vez, quase dentro do edifício da

empresa que saí mais cedo, e senti meu corpo estremecendo.

— Estamos em um bar! — exclamei. — E eu nem posso

beber para ter coragem o suficiente para chutar você. — A safada


riu.

— Eu sei, mas começaram a servir uma ótima comida. E nem


vamos precisar beber. — Arqueei a sobrancelha, a vendo abrir a
porta do carro ainda vestida com as roupas hospitalares por baixo
de um longo casaco de pele que usava devido ao frio que fazia hoje.

— Vai, não seja malvada, sua amiga está com fome.

Bufei, saindo do carro, e peguei minha bolsa tranquilamente,

a acompanhando até a entrada do local. Estava vestida com calças


jeans e uma blusa solta no corpo, com um casaco para espantar o

vento e esconder o meu visual meio acabado. A verdade era que


estava sem a menor cabeça para me arrumar, ainda mais sabendo

que passaria a noite ao lado de Nana.

— Merda, esqueci o meu celular no carro — xingou, parando

no primeiro degrau da escada, me fazendo encará-la com a


sobrancelha arqueada. — Vai entrando e pedindo nosso jantar, vou

pegar e já venho. — Beijou minha bochecha, nem um pouco

parecida com a versão resmungona da ligação que recebi mais


cedo.

Suspirei e empurrei a porta de vidro camuflado, entrando no

local mal iluminado. No instante em que os meus pés tocaram o

tapete da entrada, o sensor detectou minha presença e a sala se


tornou cheia de pequenas luzes, me fazendo dar um passo atrás,

assustada com o caminho de flores ali.


E eu percebi tarde demais que eu tinha caído em uma

armadilha! E só poderiam ser duas pessoas nesse mundo. Flores


eram totalmente a cara de Sebastian Collins.

— Ai, Deus, estou ficando enjoada de nervosismo —


sussurrei e senti alguém rir em minhas costas. — Sebastian? — Me

virei, dando de cara com aquele homem alguns centímetros mais


alto que eu, com os cabelos loiros caindo levemente em sua testa,
vestindo um terno escuro que era tão a sua cara.

— Você está linda. — Tocou minha bochecha e deixei meu

rosto inclinar com o toque, completamente boba por isso. — Eu


senti muita saudade de você, princesa. — E o sorriso se repuxou
em meus lábios enquanto ele me enlaçava em um abraço, me
fazendo sentir o cheiro de perfume impregnado em suas roupas,

dando a sensação boa de estar tudo se encaixando novamente.

— Senti sua falta — confessei com a cabeça encostada em


seu ombro. — Desculpe por não deixar você falar. — Minhas
palavras eram baixas e um sacrifício, pois admitir um erro nem

sempre era fácil.

Ele se afastou, segurando meu rosto entre os dedos, e vimos


a porta sendo fechada. Logo, a chave foi jogada por baixo dela.
— Só saiam daí juntos! — A ordem de Nana era clara e me
fez rir. — Trabalho do cupido de cão. — Seguramos a risada ao
ouvir o resmungo dela do outro lado, e voltei a encará-lo.

Ele segurou meu rosto de maneira firme, levando-me a

encará-lo.

— Eu não ligo para que você tenha ficado brava comigo.


Talvez eu também ficasse se estivesse no seu lugar e você não
soubesse me explicar o que era aquilo. — Alisou meus cabelos,

enrolando os dedos nos fios. — Mas eu quero falar uma coisa


completamente diferente. — Beijou meus lábios com carinho
lentamente, arrepiando os pelos do meu corpo, me deixando mole

contra ele enquanto a sensação de borboletas no estômago era


sentida.

Quando se afastou, me encarou. Andou para o lado e me


levou mais adentro, pelo caminho de flores, fazendo a curva para

me direcionar para a pequena mesa preparada para dois, à luz de


velas.

— Quando me preparou uma surpresa com flores, era nosso


namoro — brinquei e, no mesmo instante em que as palavras

saíram, me calei, pois ele ficou em minha frente, se abaixando ali.


Meu coração deu um salto e eu pensei que sairia do peito
sem minha permissão.

— O que está fazendo? — sussurrei, assustada.

— Eu diria que estou fazendo o que é certo. — Levantou o


olhar. — Mas, pela sua cara, é uma loucura. — Abaixei a cabeça,
sorrindo. — É que eu quero me casar com você, Alexandra. Quero

muito ficar com você como não quis com mais ninguém… — Abriu a
caixinha. — Quando você disse que me amava, eu nem mesmo
consegui retribuir. Fiquei extasiado, completamente congelado, pois
aquilo era tudo que eu precisava para saber que quero passar o

resto da vida com você.

A primeira lágrima caiu, pois nem em um bilhão de anos


previa que voltaríamos e que faríamos isso como noivos.

— Eu te amo — sussurrou, e o vi sorrir de lado. — E

desculpe ter demorado tanto para dizer isso em voz alta. Você
entrou na minha vida e, em menos de seis meses, bagunçou todos
os meus objetivos. E, hoje, o meu único objetivo é ter você e nossa

filha ao meu lado. — Tocou minha barriga, e limpei meu rosto.

Mas, maldição, ele não parava de ficar molhado de lágrimas!


— Aceita ser minha esposa? — A pergunta tinha um tom de
insegurança que me matou. Se eu aceitava? Ai, meu Deus. Eu o
amava. O amava tanto que era difícil explicar como tudo aconteceu
tão rápido.

Casamento era para sempre. Pelo menos, para mim. E, pela


forma que Sebastian entrou na minha vida, me pegando
completamente despreparada e fazendo graça com o fato de eu ser
meio travada em meus modos, era muito mais do que eu pediria. Eu

nunca tive alguém dessa maneira, completamente meu.

— Aceito. — Coloquei as mãos sobre a boca. — Ai, meu


Deus, eu aceito. — Ele riu, se levantando e segurando meu rosto
novamente, beijando meus lábios enquanto ouvia Waiting For Love

do Avicii preencher o som ao nosso redor.

Deixei-me ser beijada por ele como se fosse a primeira vez.


Como se não houvéssemos caminhado tanto desde então enquanto

sentia meu corpo esquentando, implorando por algo que vinha se


acumulando em mim havia dias. Desejo. O desejo que sentia havia
mais de um mês para estar com Sebastian estava dando indícios, e
eu precisava parar de sentir o meu coração como um louco em meu

peito.

Acabaria por ter um ataque cardíaco.


— Eu amo você, princesa. — Se afastou com um sorriso
afetado no rosto.

E isso não ajudou em nada o meu próprio coração desesperado.


QUATRO SEMANAS DEPOIS

— Aceita ser minha esposa? — Senti meu coração batendo

tão forte em meu peito que pensei que cairia no chão no mesmo
instante. Não queria parecer tão desesperado por esse sim, mas,

infelizmente, estava quase subindo pelas paredes com toda essa


situação com Alex.

Eu estive o último mês em busca de ideias e de ajuda para

fazer daquele momento inesquecível. Desde o dia em que ela me


disse que me amava, vinha buscando isso, com a certeza que

sentia o mesmo.
— Aceito. — A sensação de estar flutuando passou pelo meu

corpo. — Ai, meu Deus, eu aceito. — Sorri com sua expressão e me


levantei, a puxando para meus braços, buscando matar a saudade

que crescia em meu peito, que não ia embora tão cedo.

Meus pensamentos retornaram para minha realidade ao ouvir


a voz de Alexandra. Entre uma rotina insana de trabalho e
Alexandra tentando descobrir ao máximo como era a vida pós-

gravidez, os dias se passavam de maneira que nem mesmo


percebíamos. Quatro semanas desde que a pedi em casamento e

cada vez mais perto da chegada da nossa menina.

— No que está pensando? — indagou, colocando de lado a


xícara que segurava, e pegou o livro que havia abandonado minutos
antes. Era um livro sobre como cuidar de bebê, o terceiro que ela lia

em uma semana.

— No seu sim. — Me relaxei contra as almofadas,


observando o dedo dela exibindo o anel que papai me entregou. —

O que aprendeu nesse livro novo? O anterior era meio ruim.

Ela se remexeu, se deitando em meu peito tranquilamente.


— Que provavelmente a bebê vai chorar e é uma missão
quase impossível acalmá-la. — Segurei a risada, a vendo tocar o

ventre com calma. — Né, mãezinha, estou enorme.

Brincou com a barriga de sete meses completos. Nos últimos


tempos, a nossa menina estava cada vez mais agitada, ela gosta de

música agitada e se acalma quando a mãe come comida japonesa,


e ainda não tem um nome.

— Precisamos escolher o nome dela. — Alisei sua bochecha,

a fazendo sorrir.

— Sim, mas acho que gosto de A Bebê — brincou, me


encarando. Estamos em seu apartamento, saí do trabalho e a

peguei no hospital, já que não estava mais trabalhando e ficava


muito tempo com papai. — Sinceramente, não quero escolher.

— Por quê?

— É um nome. Vai ficar com ela para o resto da vida! —


Segurei a risada.

— Vamos escolher um nome bom. — Segurei seu maxilar,

beijando seus lábios, e me afastei ao ouvir o telefone tocando sobre


a cama. — Quem é, meu Deus… — resmunguei, puxando o
mesmo, e congelei ao ver que se trata de uma ligação de mamãe.
— O que foi? — Ela colocou a mão em minhas costas, me
fazendo encará-la com o medo correndo em minhas veias.

— É minha mãe. — Vi a expressão de Alex se tornar


preocupada e atendi a ligação. — Oi, mamãe.

— Ah, querido, desculpe pelo horário, mas seu pai teve uma
parada cardíaca há alguns instantes. — Sua fala era rápida e
percebi que ela chorava de maneira descontrolada. Fechei os olhos.
— Eu só queria avisar, não precisa vir. Eles estão tentando de tudo.

— Estou indo para aí. — Meu corpo estava duro. Não


conseguia ficar calmo com os cenários passando em minha mente.
Finalizei a ligação e joguei o celular de lado, pegando o casaco no

lado da cama de Alex, me enfiando nele. — Fique aqui, Alex, vou


ver como ele está. Uma parada cardíaca. — Ela pulou da cama com
a rapidez que nenhuma grávida conseguiria e me encarou.

— Até parece que ficarei aqui. Vou com você…

Nem tentei contestar, pois sabia que só levaria tempo. Ela


pegou o casaco enorme em seu guarda-roupa, se escondendo na

peça, e me encarou, apreensiva, se aproximando a passos


pequenos.

— Ele vai ficar bem — falou com um sorriso pequeno.


Tentei encontrar a fé que havia nas palavras de Alexandra
dentro de mim, mas só encontrei algo negro, um sentimento de
perda querendo se alastrar por todos os lados. Ela se inclinou,

beijando os meus lábios.

— Como sabe disso? — perguntei.

— Porque fizemos um trato — afirmou, de maneira que me


deixou curioso.

— Fez um trato com um homem entre a vida e a morte? —


Ela balançou a cabeça em confirmação.

— Sim, fiz um trato, pois acredito e tenho fé. — Se afastou,


enlaçando nossos dedos e puxando-me para fora do quarto.
Pegamos a chave do carro e entramos no elevador, lado a lado,
sentindo a tensão do meu corpo nos envolver. Já Alex parecia
preocupada e, ao mesmo tempo, calma.

Não compreendia.

Estávamos sentados na sala de espera do hospital há mais


tempo do que conseguia pensar. Encarava a parede branca com
fixação, enquanto Alex batia os pés no piso do hospital, ansiosa.
Mamãe apareceu no corredor, segurando um copo de café,
pois precisava para se manter acordada. Assim que nos alcançou,
se sentou ao meu lado, encostando a cabeça em meu ombro.

— Ele estabilizou. — O sussurro pegou a todos nós, e Alex a


encarou com o sorriso nascendo em seus lábios. Meu estômago se
revirou. Meu corpo tinha uma leveza estranha no instante seguinte.
Senti que podia flutuar. — Ele está bem, Sebastian. — E desabou
em meus braços, chorando como nunca vi Madelyn Collins fazer.

Abracei-a, alisando suas costas, e deixei que nosso mundo


se recompusesse novamente. Sabendo que ele ainda estava ali
conosco, torcia para que vivesse para ver Alex subir ao altar, como
era seu desejo desde que falei que iria ter um filho com ela.

Vi-a sorrir de orelha a orelha e se levantar para falar com o


médico que se aproximava.

— Uma questão complicada. — O médico explicou. — Mas o


senhor Arnold foi guerreiro. Está descansando. Eu recomendo que
vá para casa, nenhum de vocês poderá ficar com ele nesse
momento, apenas amanhã.

Mamãe suspirou ainda envolvida em meu abraço.


— Vamos para casa — falei e beijei a testa da minha mãe. —
Obrigado por tudo, doutor. — Sorri para o doutor, que logo se
distanciou. Segurei mamãe entre os meus braços, a guiando para
fora do hospital com Alex lado a lado.

Enlaçamos as nossas mãos e senti o aperto leve dela.

O mesmo sorriso esperançoso que me deu mais cedo

preencheu seus lábios.

Como eu sabia? Simplesmente havia coisas que

precisávamos acreditar para se tornarem reais. Não foi fácil dizer a


Sebastian que o pai sairia ileso de um ataque cardíaco, mas eu o

fiz, pois acreditava na minha fé.

Arnold Collins e eu prometemos algo um ao outro. Ele me

levaria ao altar.

Sorri com a lembrança, segurando aquele grande livro de

nomes para bebês, sabendo que não havia como decidir aquilo sem
ficar imensamente em dúvida. Estava muito complicado dar nome à

minha filha.
— É, você é um enigma. — Sorri para minha barriga, vendo

que estava parecendo uma melancia de tão enorme. — Vamos


tentar alguns nomes, se você chutar, falamos para o seu pai que

você o escolheu. — Dei com os ombros, vendo que falar com minha
barriga se tornou algo normal. — O que temos aqui… Emma! —

Nada. — Anna. — Eu mesma fiz careta, era um nome bonito, só que

comum. E não senti nada na minha barriga.

Talvez minha conversa com ela não tenha valido de nada,

pois continuei a falar nomes e mais nomes e nada de sentir nem


mesmo um movimento.

Inspirei fundo.

— Leslie? — Arqueei a sobrancelha. — Sophia?

E o movimento rápido em minha barriga fez meu mundo ficar

congelado. Ela havia se movido! E não eram os chutes que ela


amava dar dentro de mim. Estava mais para pulos imaginários de

euforia.

Sorri.

— Leslie? Sophia? Sophia? Leslie? E agora, qual dos dois


animou você? — brinquei, alisando minha barriga, e senti o celular

tocando sobre a mesa de centro do meu apartamento. Inclinei-me


para pegar o aparelho e vi que se tratava de Hannah. — Oi —

atendi. — Estava brincando com a bebê. Falei vários nomes e disse


que se ela gostasse de algum, era só dar um chute.

— E aí?

— Bom, eu falei dois em seguida, pois estava quase

desistindo, ela deu sinal, só não sei qual dos dois ela quis dizer que
é o escolhido — brinquei. — O que você queria, mesmo?

Ouvi-a suspirar.

— Preciso de você aqui. Envolvi-me em um probleminha,


estou em casa, tendo que resolver esse negócio — sussurrou,

parecendo meio temerosa.

— O que houve? — perguntei, já me levantando.

— Não faça muitas perguntas. Só venha — resmungou em


sua falta de sutileza. — É urgente.

Engoli em seco.

— Estou indo. — Enfiei o celular no bolso da calça, pegando

minha bolsa que estava abandonada sobre o sofá, e tropecei para


fora de casa. Vestia roupas largas e confortáveis, já que não estava

mais indo ao trabalho, a cada dia mais o padrão de roupa caía um


pouco.
Abri a portinha de cerca da casa de Hannah e caminhei pelo
caminho de pedras, curiosa para saber por que estava me

chamando ali. Abri a porta da sala com minha cópia da chave e a


empurrei, dando de cara com o local todo iluminado e decorado.

Dei um passo atrás, temerosa ao ver todas as pessoas que


me acompanharam até aqui durante esse período. Senti meus olhos

marejando ao passá-los por Sebastian com Nana ao seu lado, que


segurava minha sobrinha em seus braços, e Amber, que deu um

passo à frente dos convidados, me enlaçando em um abraço.

— Feliz sétimo mês — sussurrou, afundando o rosto em meu

ombro. — Senti sua falta.

Me afastei, segurando seus ombros, e limpei as lágrimas da

minha irmã mais nova.

— Quase morri de saudade — brinquei, porém, ela sabia que

nos últimos tempos mal tinha tido tempo para contar tudo a ela. —
Nana quase me matou falando que era uma mega emergência —

brinquei, encarando todos.

A família toda de Sebastian estava ali, inclusive Maggie,

Hunter e até mesmo Jenner, que era quase uma adição à família
Collins!

Sorri para todos, sendo envolvida por abraços e

comemoração. Assim que me senti livre, caminhei até o homem


sentado na cadeira de rodas, me abaixando em sua frente.

— Eu nem sei como você conseguiu sair do hospital, senhor


Collins — gracejei, segurando suas mãos com carinho. — Mas

estou feliz por estar aqui comigo. — O homem sorriu aberto.

— Eu estou feliz por terem conseguido que eu passasse os

meus últimos momentos com minha família, querida. — Alisou meu


cabelo. — Já escolheu o nome da minha neta? — Sorri.

— Estamos trabalhando nisso. — Beijei sua cabeça, me


levantando ao ver Sebastian se aproximando. — Vocês me

enganaram direitinho, hein! — Segurei suas mãos, me aproximando


do seu corpo com sua mão tocando minha cintura.

— Eu não fiz nada. — Fez a melhor expressão da história,


me fazendo rir. — Como estão as minhas meninas? Fiquei sabendo

que estavam brincando de escolher o nome. — Riu da minha


bobeira.

— Er… Ela é meio complicada de conversa. — Beijei sua


boca levemente e o senti segurando meu rosto, pedindo passagem
para sua língua. Meu corpo amoleceu contra o dele. Entreguei-me
enquanto as sensações despertavam lentamente, acordando-me.

Me afastei.

— A parte boa de não trabalhar mais para você é que posso

beijar sem sentir nenhum tipo de vergonha correndo dentro de mim


— falei baixinho, o encarando e me lembrando da nossa última

conversa, na qual ele jurou que eu voltaria a ser a advogada da


empresa. Eu apenas neguei, sabendo que estávamos muito melhor

aqui.

— Eu não votei a favor disso, mas, segundo você, tenho que

aceitar. — Revirou os olhos. — Andei pensando e, ontem, estava


lendo aquele seu livro de nome de bebês, o que acha de Sophia?

Arqueou a sobrancelha e novamente minha menina se


remexeu em meu ventre, chutando a parte inferior da minha barriga

de maneira nada sutil. Inspirei fundo, com o coração acelerado.

— Sophia Collins Johnson. — Imaginei a criança de cabelos

loirinhos como os de Sebastian, olhos claros e um sorrisinho nos


lábios. — Eu acho que escolhemos o nome da nossa menina.

Sorri e coloquei as mãos do meu noivo sobre meu ventre


para que ele sentisse a reviravolta que acontecia ali.
— E ela acabou de aprovar. — Sorri, feliz por finalmente as
coisas estarem se acertando. Confesso que queria que mamãe

crescesse e estivesse aqui comigo, mas, sabendo como ela era,


preferia que vivesse sua vida, e eu vivesse a minha.

Os braços do homem que eu amava enlaçaram minha


cintura, e ele beijou meus lábios, segurando-me ali. Quando nos

afastamos, sentimos os olhos de todos sobre nós.

— Escolhemos o nome — Sebastian foi o primeiro a falar,

virando rapidamente para a nossa família.

— Sophia Collins. — E o sorriso de aprovação apareceu no

rosto de todos, e as palmas animadas inundaram o local.

Era um chá de bebê tedioso. Passei pelos processos de

brincadeira, acabando com a barriga para fora e uma faixa escrita


“mãe do ano” na cabeça. E, com toda certeza, eu não poderia estar

mais feliz.
Sophia se remexeu em meu ventre e senti novamente aquela

pontada que me deixava inquieta desde que saí da cama no início


do dia. Estava preocupada. Segundo os quase dez livros de

gravidez que engoli nos últimos dias, essas pontadas não deveriam
estar acontecendo. Mas não disse nada a Sebastian, sabendo que,
se falasse que estava com isso, ele me prenderia no hospital até

que estivéssemos uma resposta concreta para o que estava


acontecendo.

Entrei na mansão dos Collins, sabendo que a rotina estava se


estabelecendo ao nosso redor. Era o jantar de noivado que Madelyn

e Arnold insistiam em dar para todas as pessoas que conhecíamos.


Passou-se um mês desde o chá de bebê e a reta final da

gravidez se aproximava. Com isso, o quarto de Sophia foi montado


quase todo com ajuda da minha cunhada e da minha sogra.

Era tão diferente pensar nelas dessa forma!

Só que a relação estranha que pensei que seria com Hunter

e Maggie por causa do nosso passado não aconteceu. O que me


confirmou que aquele pessoal estava mesmo lutando para ser uma
família.

— Ah, finalmente você chegou. — A loira apontou na porta,


vestida com calças jeans e uma blusa, que tinha uma mancha acima
do peito, sinal claro de que um dos gêmeos havia feito arte. —

Estávamos preocupados, em meia hora os convidados começam a


chegar e temos que aprontar você. — Segurou meu rosto entre as
mãos e beijou minha bochecha em seguida.

— Boa noite — saudei com um sorriso, subindo as escadas


calmamente. — Não sei se você se recorda, mas subir escadas
acima do sétimo mês parece uma missão impossível.

— Tudo parece missão impossível depois do sétimo mês,


Alex — brincou e entramos na sala. O local estava inundado com as
pessoas que terminavam de organizar o espaço com várias mesas
redondas com quatro lugares e a mesa onde o buffet seria servido,
então, pensei em como as coisas se tornariam tensas quando

finalmente escolhermos a data.

Sebastian e eu nunca falamos sobre isso, mas pareceu claro


que nenhum dos dois estava com pressa. Além do mais, vivia mais

na cobertura dele do que no meu próprio apartamento.

— Jenner vai nos ajudar. — Subimos as escadas. —


Sebastian, cadê? — Procurou pelo irmão.

— Teve que ir à empresa. — Dei os ombros, entrando no


quarto que era de Maggie na adolescência, pois as cores claras e
muitos pôsteres de atores bonitões denunciavam a mulher.

Vi minha sogra e Jenner próximas à cama, cada uma vestida


como se fosse abalar qualquer homem na face da terra. Segurei a
risada, sabendo que não sairia daqui nada menos que me

parecendo mais próxima à duquesa da Inglaterra.

Deixei que elas me puxassem para o meio daquela bagunça,


mexendo em meus cabelos e maquiando meu rosto de maneira

delicada e, durante todo o processo, não deixei de sentir o


desconforto constante em meu corpo.
Sophia estava desesperada para nascer. E eu estava ansiosa
por sua chegada ao mundo. Queria muito ver o rosto do meu bebê,
poder ficar louca com a chegada dela, saber que nunca mais em
minha vida poderia dormir sossegada e que, para sempre, ela seria

um pedaço do amor que sentia por Sebastian.

Encarei o espelho enquanto via o meu rosto pálido se tornar


rosado pela maquiagem e os meus olhos marcados pela forma que
fui rapidamente transformada. Ouvi alguém batendo na porta. Ela se
abriu, revelando Sebastian com um olhar curioso. Passou por todas
as meninas no pequeno quarto de solteiro e pousou os olhos sobre
mim.

Abri a boca.

Em choque.

Senti meu estômago se revirando como se tivesse malditas

borboletas ali.

— Você está linda — sussurrou, fechando a porta em suas


costas, e me levantei, segurando sua mão estendida em minha

direção. — Perfeita. — Tocou meu rosto com carinho e cuidado e


senti a ponta dos dedos trazer uma leve descarga elétrica em minha
pele.
— Obrigada. — Corei de maneira quase vergonhosa, pois
sentia que estávamos sendo muito bem analisados. Não falei mais
nada porque a pontada em meu ventre, dessa vez, foi mais forte.

Me abaixei levemente, sem conter o gemido de dor, e segurei


meu ventre com firmeza. Merda. Logo agora?! Sebastian não ia
deixar passar batido.

Só que não havia como deixar passar, pois a dor voltou e,


dessa vez, mais forte. Abaixei a cabeça, sentindo minhas pernas
serem molhadas rapidamente quando o que sentia que acabou.
Nada de festa de noivado.

— Desculpe pelo vestido, meninas. — Levantei o olhar, não


dispensando a careta desesperada. — Mas acho que Sophia quer
vir ao mundo.

— O QUÊ?! — o homem gritou com os olhos faltando cair do


rosto. — Você não disse que estava sentindo nada.

Abaixei o olhar.

— Eu não queria preocupar você — sussurrei, sabendo que


aquilo era um instinto de independência que vinha enraizado em
mim. Pensei que poderia dar conta de aguentar os primeiros indícios
de um parto sozinha.
— Pelo amor de Deus, vamos para o carro. — E, antes que
eu pudesse protestar, me guiou para fora do quarto. Ele parecia
desesperado, concentrado em seus gestos e xingando ordens a
Hunter, que correu para pegar o carro na garagem.

O jantar de noivado foi afundado, mas a parte boa era o fato


de que minha filha estava vindo ao mundo. Quatro semanas antes,
mas, se esse era o desejo dela, tudo bem.

Desespero? Esta era uma palavra que definia bem o que se


passava dentro de mim nesse exato momento, vestindo roupas
hospitalares, segurando a mão de Alexandra quando senti que tudo
ao meu redor estava girando.

Os gritos de dor dela não eram calmos, e Sophia massacrou


a mãe por um bom tempo, enquanto sentia meu coração quase
parando, sabendo a loucura que estava sendo. Estava tudo
preparado para sua chegada, mas não esperávamos que ela
chegasse um mês antes.
Quando o choro alto invadiu a sala, senti aquele alívio que
começava no peito e fazia uma bagunça dentro de nós, como se
fossem retiradas cargas de tensão do meu corpo. Beijei o topo da
cabeça da minha noiva, vendo os seus olhos fechados e o rosto
suado, e sabia que nada mais poderia ser comparado ao momento
de dar à luz.

Era um verdadeiro massacre. Só que, ao ver o pequeno ser


humano embolado na manta cor-de-rosa — dada pela avó —, de
olhos fechados, chorei ao vê-la, simplesmente feliz por ela ter
chegado antes, mesmo de forma inesperada.

Sorri.

— Ela nasceu, Alex. Nasceu! — Senti meu rosto molhado e


encarei a mulher deitada, com os olhos focados na pequena Sophia.

— E com um tufo de cabelos castanho-claros na cabeça —


brincou. — Muito parecidos com os seus. Se pegar sol, ficará loiro.

— Alisou meu rosto. — Obrigada por meu maior presente.

Preparado para nunca mais dormir na vida?

Sorrimos, e me inclinei, beijando seus lábios com carinho.

— Totalmente preparado. — A enfermeira caminhou em

minha direção, colocando Sophia no alcance dos olhos da mãe. Ela


era tão pequeninha. Tão frágil. Sabia que pelo, próximos dias, ficaria

aqui.

Longe de nós.

— Amamos você, Sophia Collins. — Alexandra alisou a


bochecha da nossa filha com carinho.

— Precisamos levá-la — a enfermeira avisou, e a mulher

balançou a cabeça em confirmação, limpando as lágrimas que

caíam sem parar dos olhos azuis. Pincelei o nariz da minha


pequena e me inclinei, tentando acalmar Alex, que chorava de

maneira descontrolada.

— Ela vai ficar bem, né? Não completou o tanto de semanas

— sussurrou, apertando a roupa verde com força.

— Vai, sim, querida. Nossa filha vai ficar bem. — Beijei seu

rosto e sabia que os médicos a esperaram se acalmar para levá-la


para o quarto. — Vamos todos para casa muito em breve. — O tom

de promessa em minha voz não deveria existir, mas não consegui


controlar. — Você verá.

Ela sorriu lindamente.

— Eu amo você.
— Eu te amo mais — brinquei, beijando o nariz de uma das

mulheres que se tornou tudo em minha vida em tão pouco tempo.

Observei o pequeno berço no meio de uma variedade deles


com o coração apertado e senti uma mão em meu ombro. Virei

dando de cara com Hunter e um sorriso contido.

— Como foi tudo? — ele indagou.

Inspirei fundo, ainda sem saber definir o que aconteceu.

— Intenso. Acho que nunca senti meu coração bater tão

rápido em toda minha vida — brinquei. — Só que, depois, ver minha


menina ali, tão pequena, frágil, acho que não poderia ter tido destino

melhor. — O homem procurou o berço com olhar, parando no que


havia uma plaquinha escrita Collins e Johnson.

— Collins e Johnson não combinam muito — brincou.

— Eu sei, Alex disse que chamaríamos a Sophia só pelo

Collins. — Rimos. — Mas ela precisa do sobrenome da mãe.

Encaramos a criança muito menor que uma boneca com as


mãozinhas fechadas em punho e completamente adormecida.
— Eu sei como se sente. É como se isso fosse o que sempre

esperou.

Hunter nunca foi um homem dado a declarações amorosas,

mas sabia que, com Maggie, era uma coisa diferente.

— Só que, depois disso, nunca mais você dormirá uma noite


inteira em sua vida — completou sua declaração.

Rimos, e ele estendeu a sacola em minha direção.

— Eu e Maggie trouxemos café. — Segurei a sacola e vi que

era um cappuccino. — Ela foi levar para Alex.

Dei com os ombros, dizendo que agora as duas eram quase

melhores amigas.

Bebi um gole generoso do café descafeinado enquanto

conversava com Maggie tranquilamente. A mulher parecia não se

importar com minhas respostas grogues pela noite que tive e senti
como se meu corpo tivesse sido atropelado por um caminhão.

— Desculpe por ter estragado a festa de noivado — disse,


sorrindo de lado. — Deveria ter avisado que não estava me sentindo
bem. — Encolhi os ombros, sabendo que, nessa parte, eu fiz muita
merda.

Ela suspirou.

— Nem começa, mamãe disse que não havia nada melhor

para marcar a data que o nascimento de Sophia. — Rimos. — Eles


estão em êxtase. Não sei como ainda não chegaram por aqui.

A porta abriu, revelando os Collins em seu maior estilo nada


discreto. Arnold contornou a cadeira de rodas motorizada, trazendo

em seu colo um urso de tamanho médio e um buquê de flores.

— Cadê a minha nora? — ele indagou, e a senhora Collins

apareceu logo atrás, carregando uma sacola de marca famosa e


que deixava claro que eles não deixariam em paz até o bendito

casamento.

Sebastian apontou na porta, com Hunter mais atrás.

— O que está acontecendo aqui? Virou uma freira? — meu


noivo debochou, entrando no recinto, e não evitei a risada.

— Vieram me ver. — Senti meu corpo ser abraçado por


Madelyn. — Obrigada, senhora Collins, e perdão por estragar…

— Nem fale isso! — resmungou, segurando meu rosto entre

os dedos. — Você é a minha filha agora. Filhos e suas


necessidades sempre vêm em primeiro lugar. — Colocou um fio do
meu cabelo atrás da orelha. — Além do mais, agora temos a nossa

pequena Sophia, e ela é a coisa mais preciosa do mundo.

Senti os meus olhos marejados com a menção da minha

princesinha.

— E como ela está? — perguntei, ansiosa. Sebastian se

aproximou, segurando minha mão por cima da cama hospitalar. —


Eu quero vê-la, Sebastian. — Ele segurou o meu rosto.

— Eu sei, princesa — sussurrou, colando nossas testas. —


Mas vamos ficar calmos, ok? Ela está bem. Dormindo feito um

anjinho. — Sorriu, e senti meu coração se apertando.

A única imagem que tinha dela era do seu corpinho pequeno

e frágil.

— Eu perguntei à enfermeira. — Hunter se aproximou. —

Disseram que, quando ela acordar, a trarão para mamar.

Sorri, confiante que tudo daria certo. Tinha que dar. Eu tinha

uma pessoa ao meu lado que eu amava e que me amava. Uma


família que me adotou. Amigos que não esperei que tivesse e uma

filha. Tinha que dar certo. Depois de tudo que passei, de todas as
decepções que me cercaram, eu merecia isso.
Precisava falar com Amber. Com Nana. Com tantas pessoas!
Todas elas viriam para o jantar de noivado que foi interrompido.

— Sua irmã vem em breve, querida. Ficou presa em casa


cuidando de Sky, mas disse que chegaria logo — Madelyn

respondeu à minha pergunta, colocando a bolsa de lado. — Já


tomou café? — Arqueou a sobrancelha. — Vai precisar se alimentar

bem, agora amamentará. — E começou a tagarelar. Segurei a


risada, vendo todos os Collins juntos na mesma sala, sabendo que

estava realmente inserida naquela família maluca. Dessa vez, era

para sempre, pois tinha uma parte minha e de Sebastian que nada
no mundo separaria. Seria para sempre nós dois resumidos em

nossa filha.
UM MÊS DEPOIS

Movimentei-me com rapidez pela sala completamente

inundada com os preparativos para a recepção de Sophia. Iria pegar


Alex no hospital em meia hora e sentia que, a qualquer momento,

surtaria.

Nossa menina ficou o total de quatro semanas internada e

sendo mantida bem por uma incubadora. Alexandra praticamente

subiu pelas paredes durante esse tempo. Recuperou-se rápido e


não saía do hospital. Se recusou todas as noites a dormir longe da

filha.
Agora, ela estava voltando para casa, trazendo consigo

nossa pequena, e o medo se alastrava. A médica falou que não


havia riscos, que, apesar de ter se adiantado um mês, Sophia não

teve problemas de má formação e não apresentava mais problemas


com a respiração.

Eram bons sinais. Só que Alex estava enlouquecida nesse

meio-tempo. Tudo que fez foi engolir um monte de livros sobre


nascimento prematuros e, mesmo assim, continuava surtando pelos

cantos.

Eu apenas observava e assentia, sabendo que nada no

mundo tirava a razão de uma mãe preocupada.

Sorri, colocando mais um pacote de fralda do menor tamanho


que encontrei no estoque. Peguei a chave do carro em cima da
mesinha de centro e senti meu celular vibrando.

“Já vai buscá-la?”, era Nana.

“Sim, estou saindo nesse exato momento”.

“Ótimo, eu e Amber vamos passar aí à noite”.

A irmã de Alex estava todo esse tempo na cidade, ficou no

apartamento de Alex e todos os dias ficava com a irmã no hospital,


dando força. No fim, a minha família de uma irmã, pai e mãe se
tornou um agregado enlouquecido de pessoas.

Caminhei pelo corredor pela sexta vez em um período total


de meia hora. Já havia recebido todas as instruções necessárias da
minha médica sobre como proceder com Sophia, que havia

completado o nono mês fora da minha barriga e seu primeiro mês


de vida.

Estava ansiosa, com medo de que algo desse errado! Não


queria mais viver em um hospital, mas também sentia meu coração

batendo de maneira enlouquecida com a perspectiva de ficar


sozinha com ela.

— Ei. — A voz de Sebastian me chamou atenção e me virei,

dando de cara com ele atrás de mim. — Como você está? — Beijou
minha testa.

— Uma pilha de nervos. — O homem sorriu e me abraçou.

Encostei a cabeça em seu ombro, sentindo meu coração batendo


forte em meu peito.
Passei pouco tempo com ele nos últimos dias. Estava
morrendo de saudade, mas nem isso faria eu sair do lado dela.

Sabia que, no instante em que saísse do hospital, seríamos


apenas nós contra todas as dificuldades. A verdadeira batalha
começaria. Só que não importava o que viria depois, sabia que

enfrentaria tudo para que as coisas dessem certo.

— Desculpa por ficar distante nas últimas semanas. —


Segurei o rosto do homem entre minhas mãos, encarando os olhos

bonitos com firmeza. — Eu não consigo sair daqui sem ela. —


Encolhi meus ombros, e ele segurou minha mão, beijando a palma.

— Eu sei, não tem que se desculpar. Você é mãe. Uma mãe

sempre faz tudo por um filho. — Sorri e fiquei na ponta dos pés para
beijar seus lábios com carinho. Senti o meu corpo relaxar com o
contato, dando indícios que aquelas sensações ainda não haviam
passado.

A porta abriu e me obriguei a afastar-me de Sebastian,


encarando a médica rapidamente.

— Uma menininha já está pronta para ir para casa — a


médica disse. E eu sorri com meu coração pulando enquanto
entrava no quarto em que ela estava sendo examinada e vi o
pequeno embrulho cor-de-rosa no berço minúsculo.

Senti meus olhos marejados e a médica me ajudou a pegá-la


em meus braços.

— Ela é um bebê saudável, querida. Nada com que se


preocupar. — Alisou a cabeça com o tufo de cabelos loiros, que
ficavam cada dia mais claros. — Não se esqueça da nossa visita
daqui a duas semanas. — Piscou e logo saiu da sala, me deixando
sozinha com ela.

Eu não havia a pegado nenhuma vez, sempre tirando leite


para que ela fosse alimentada pela sonda, e isso me partia o
coração. Não tinha os primeiros estágios, mas, mesmo assim,
foquei na forma desajeitada que eu a segurei, sem fazer a menor

ideia de que era mais difícil do que imaginava.

Eu a vi abrir os olhinhos e os focou em mim. Pela primeira


vez, percebi que tinha os olhos azuis, como os meus.

— Olhos azuis — falei, levantando o olhar para dar de cara


com um Sebastian completamente encantado. — Iguais aos meus.
Os cabelos são seus — brinquei, analisando as características em

minha filha.
— Ela é perfeita. — Alisou a bochecha dela, como havia feito
quando a vimos pela primeira vez. — Ei, princesa. — Se abaixou,
beijando os cabelinhos da bebê. — Eu amo você.

Senti as lágrimas descendo, pois estávamos dando um


próximo passo.

— Eu também amo você, papai — disse com a voz de bebê,


e ele me encarou, sorrindo. — Vamos para casa, Soph — sussurrei,
aproximando meu nariz da bochecha delicada da minha filha.

Sophia Collins já era uma criança muito amada. Eu não sabia


como ela iria ficar com tanta atenção, sendo bombardeada por
ligações diárias de Maggie para saber como estávamos. Visitas de
Nana e Amber. Os avós. Eu sabia que teria um grande trabalho
quando ela ficasse maiorzinha.

— Acho que você deveria me dar ela — Hannah falou,

observando Soph dormir tranquilamente no meio da cama. As


palavras me arrancam o riso irônico. — É sério, seremos uma dupla
perfeita, e eu combino mais com ela. Temos o mesmo tom de pele,
o mesmo tom de cabelo e ela tem a mesma cara de anjinho. —
Colocou a mão embaixo do maxilar e piscou, mantendo o sorriso
digno de uma revista.

— Eu acho que está se esquecendo de uma coisa.

A porta abriu e Amber entrou.

— Tenho o mesmo DNA. Se Alex vai dar Soph, deveria ser


para mim, sou irmã dela. — Colocou as mãos na cintura, e eu abri a
boca em choque com o rumo da conversa. Ter essas duas presas
no mesmo lugar era a mesma coisa do que ver um replay do ensino
médio.

— Quando foi que começamos a negociar a minha filha? —


resmunguei, guardando algumas roupinhas. — Sebastian chegou?

Estou com fome.

Saímos do quarto com a babá eletrônica grudada em meu

bolso e a cama rodeada de travesseiros para impedir algo, mas


estanquei no lugar, pois a mulher parada na entrada do apartamento

congelou tudo dentro de mim. Com um vestido praiano e batendo


em seus pés, Kaylee me encarou com os olhos marejados.

— Alex — sussurrou, me fazendo perder um pouco do


sentido ao vê-la se aproximar —, eu precisava falar com você. —

Me remexi inquieta e sabia que as meninas não sairiam do meu


lado. — A sós. — Encarou a minha irmã e Nana, que deu os ombros

como se não importasse com o que ela desejava.

— Podem ir. Fiquem de olho em Soph para mim — pedi,

dando sinal de que ficaria bem. Kaylee era minha mãe, eu poderia
lidar com ela. Assim que elas retornaram para o quarto, encarei a

mulher que me deu à luz. — O que você deseja?

Vi-a puxar uma respiração.

— Pedir perdão. — Deu um passo em minha direção. — Eu


amo você, Alex. — Estendeu a mão, pedindo que eu segurasse. —

Só que eu nunca fui a mãe que você precisava, pois eu não


consigo. — A sinceridade dela bateu sobre mim e aceitei o aperto

de mão. — Eu quero que saiba que não posso mudar meu jeito —
deu os ombros —, da mesma forma que entendi que não posso

atrapalhar a sua vida com isso. — Encarei tudo em choque, pois


aquela conversa era a que eu esperei por muito tempo. — Quero

que seja feliz. — Tocou minha bochecha. — Eu quero ser feliz.

Mesmo que para isso precisemos ficar distantes.

Sorri.

— Amei seu pai, Alex. Por mais que não tenha sido assim por

toda a vida, mas eu o amei. Você foi fruto de um amor, por isso é
uma das coisas que mais quero bem. — Tossiu. — Mas,

infelizmente, minha maneira de demonstrar isso foi toda errada. E


eu sei que nada que eu faça vai mudar quem eu sou. Não sou a

mulher destinada a ficar em um só lugar, criar raízes e ser a avó


dedicada. — Deu os ombros. — Mas quero que saiba que amo você

e que tenho orgulho da pessoa que se tornou.

Meu rosto estava molhado. Não consegui segurar as

lágrimas. Ela tinha me magoado tanto. Mas, infelizmente,


compartilhávamos o mesmo sangue, éramos mãe e filha.

— Fique. Seja o que você quiser, mas fique. — Apertei suas


mãos.

— Não posso. Não depois de acordar para a vida. — Me


puxou para um abraço. — Viajo em uma hora. Vou fazer o que faço

de melhor, ver o mundo, me divertir, ser eu mesma.

Sorri e beijei sua bochecha, sabendo que nada que eu

falasse ia fazê-la ficar. Quando uma alma é livre, não há amarras


que a faça ficar.
Observei-a ler o livro na cama ao meu lado, com o controle

da babá eletrônica jogado entre nós. Ainda esperava uma


explicação sobre o aparecimento da sua mãe, mas Alexandra

pareceu pouco se importar com isso.

Fingi uma tosse, atraindo sua atenção com as sobrancelhas

arqueadas.

— O que foi? Está gripado?

Segurei a risada com o tom preocupado.

— Não, apenas queria ver se você me olhava — debochei,


sorrindo, e ela revirou os olhos, colocando o livro na cabeceira,

rolando para o lado, encaixando-se em meus braços. — Vai me


contar o que Kaylee queria aqui?

Ela ficou tensa.

— Foi uma das coisas que nunca esperava na vida. — O

sussurro foi quase silencioso.

— O quê?

— Um pedido de perdão. Aí vi que aquilo foi o que sempre

esperei, mas nunca aconteceu. Quando finalmente a tinha ali,

dizendo que me amava, mas sua alma não era de uma mãe comum,
soube que não poderia fazer nada. — Deu os ombros. — Acho que
foi o ponto-final perfeito para nós.

Beijei o topo da sua cabeça.

— Eu sinto muito.

— Não sinta. — Se apoiou no colchão, me encarando com


um sorriso. — Eu estou feliz, pois, finalmente, sinto que posso ficar

bem sem ter sempre a ideia de que a expulsei da minha vida.

Balancei a cabeça confirmando e coloquei uma mecha de

cabelo atrás da sua orelha.

— Posso saber por que Nana e Amber estavam tentando me

convencer que Soph deveria ser mais parente de uma do que da


outra? — A frase ficou confusa e era da mesma maneira que a

situação estava em minha mente.

Alexandra caiu na risada.

— Elas estavam negociando em eu dar Soph para uma delas

— brincou, me encarando. — Se soubesse que não dormimos há

três noites, desistiriam fácil — comentou, subindo sobre mim, e


colocou uma perna em cada lado do meu quadril. — Isso é porque

nossa menina só tem uns três dias em casa.


Inclinou-se sobre mim, roçando o corpo curvilíneo coberto
apenas por uma camisola fina em minha pele desnuda.

Completamente excitado com o tanto de tempo sem nenhum


contato com aquela mulher, segurei seu rosto, puxando seus lábios

para um beijo.

Enlacei-a em meus braços e a virei contra o colchão,

apertando seu corpo contra o meu enquanto minha língua

trabalhava em sua boca, tentando conter a onda de calor que corria


em minha pele. Me senti estremecer com as mãos de Alex alisando

meu peito lentamente, parando na base da calça do pijama.

Era o máximo de contato que tivemos desde o nascimento de

Sophia. Sabia que não era muito apropriado ainda, nossa vida
estava uma bagunça, mas não conseguia parar quando ela só se

inclinava ainda mais sobre mim e…

O choro de Sophia invadiu o quarto pela babá eletrônica e

nos afastamos, mantendo meus olhos sobre o rosto de Alex, a


vendo com as pálpebras baixas, respirando ofegante.

— A vida com bebês, senhoras e senhores — falei, sorrindo,


e ela me empurrou para o lado.
Levantando-se, saiu da cama rapidamente enquanto me
jogava novamente sobre as almofadas, respirando ofegante,

sabendo que meu turno começava só depois da meia-noite, como


estava no contrato de cuidados do bebê que Alexandra e eu

bolamos.

Ah, a vida andava uma bagunça, corrida que só ela! Mas não

poderia estar mais perfeita.


DOIS MESES DEPOIS

Coloquei Sophia no bebê conforto, recebendo um olhar

curioso de quem não tinha nem quatro meses e estava esperta


como se tivesse se passado muito tempo. Ela sorriu daquela

maneira banguela que destroçava meu coração, pois sabia que ela
me tinha nas suas mãos gordinhas.

— É, sim. — A segurei em meus dedos. — Vamos voar. —

Fiz um barulho estranho com os lábios. — Ir para casa da tia Amber


para ela apertar suas bochechas e implorar que eu dê você para

ela.
Revirei os olhos.

Senti meu estômago se revirando, pois não era apenas isso.

Era o casamento. No dia seguinte, no fim da tarde, minha união com


Sebastian Collins se tornaria oficial, e eu não poderia estar mais

ansiosa.

— Agora vamos, pois o pomposo do seu pai não se digna a


entrar em um voo comercial, disse que pode muito bem abusar do
privilégio de ser um CEO e ir em um voo privado — Bufei. — Deus

me ajude, que Deus me ajude!

A verdade era que eu não precisava de tanta ajuda assim.


Sebastian era incrível como pai, me ajudava tanto que era

completamente diferente das relações que vi passar em minha vida.

Além do fato de que tinha as quatro patas arriadas por nossa

princesa. Eu deixei de ser a princesa e confesso que agradeci


quando o apelido passou para Soph, que, como eu previ, tinha os
cabelos loirinhos, as bochechas rosadas e os olhos da mesma cor
dos meus.

Minha filha era a coisa mais linda e preciosa do mundo.


— Ah, minha menininha chegou! — Carly bateu palmas,
primeiro parando ao lado de Sophia e beijando suas costas

gordinhas, o que causava espanto na menina, mas, assim que viu o


pedido de Carly para pegá-la, não pensou duas vezes em pular nos
braços da mulher.

— Eu estou bem, obrigada — brinquei, colocando a bolsa em


meu ombro, e ela riu, se aproximando para beijar minha bochecha.

— Vá, vá falar com ele. — Balançou a mão em direção ao

escritório de Sebastian, e eu me remexi, não querendo deixar


Sophia sozinha. Mas a mulher me empurrou, e eu não tive escolha,
adentrando a sala em um rompante.

O loiro levantou o olhar, arqueando a sobrancelha enquanto


fechava o notebook lentamente.

— Carly roubou Sophia. — Fechei a porta do escritório,

passando a chave na fechadura. — Vim muito cedo? — Ele encarou


a tela.

— O momento perfeito. — E sorriu de maneira tão

maravilhosa que senti meu corpo estremecendo ao vê-lo dar passos


lentos em minha direção. Assim que me alcançou, a mão tocou meu
quadril, me puxando contra ele. — É muito ruim eu sentir uma
saudade descomunal de você?

Sorri, enlaçando os braços em seu pescoço, e o puxei contra


meus lábios. Sophia estava crescendo cada dia mais agitada. Isso
nos deixava praticamente sem tempo.

Quando sua língua pediu passagem, senti meu corpo


acordando, despertando pouco a pouco com a minha pele se
tornando brasa em seu toque e o meu estômago se contraindo em

antecipação.

As borboletas no estômago ainda estavam lá.

Sua mão me segurou pela cintura, me guiando para a ponta


da mesa e me empurrando contra ela, afastando os objetos do
caminho para me encaixar ali, com ele entre as minhas pernas,
subindo o vestido rodado que escolhi para aquele dia.

Ofeguei com suas mãos descendo lentamente pela lateral do


meu corpo na medida em que os seus lábios trilhavam beijos em
meu pescoço. Sabia que não deveria estar aqui. Deveríamos estar

arrumando nossas coisas para viagem, mas não conseguia parar,


pois sua boca chupava um ponto em meu pescoço que me fazia
estremecer, tirando o pouquinho de sanidade que me restava.
Minhas mãos trabalharam nos botões da camisa social dele,
abrindo-a tão rápido para liberar o peitoral do meu futuro marido.
Toquei sua pele, descendo lentamente pela lateral até a altura da

calça, puxando o botão e o zíper de maneira rápida.

— Não podemos fazer sexo no seu escritório, Sebastian —


resmunguei, encarando o membro duro dentro da boxer escura, e

senti meu corpo tremer de desejo. — E se alguém ouvir?

Ele alisou meus cabelos.

— Eu acho que mereço arriscar depois de tanta discrição. —


O sorriso preencheu seus lábios. — Eu quero você, Alexandra —
sussurrou contra os meus lábios, me puxando contra ele
novamente, beijando-me com força, subindo o vestido até que eu
precisei levantar os braços e me afastar para retirá-lo

completamente.

Assim que fiquei nua, só com a pequena calcinha de renda


que vesti mais cedo, meu corpo tremeu novamente, pois o vento frio

da central de ar bate contra minha pele quente. Estremeci, sentindo


o dedo do homem desenhar um caminho no vão dos meus seios,
descendo lentamente, parando no mamilo para estimular e, quando
senti que a situação não poderia piorar, senti minha calcinha
denunciando o estado de afastamento que estávamos um do outro.
Nunca passava de beijos. Toques afoitos. Pois, sempre
quando estávamos quase lá, Sophia nos tirava da bolha de prazer
que nos enfiamos.

Ele se inclinou, tomando meus lábios novamente enquanto os


dedos desciam até minha pélvis, passando lentamente pela região e
descendo para minha bunda, deitando-me sobre a mesa e com ele
parcialmente em cima de mim. As coisas caíram ao nosso redor.

— A mesa, Sebastian? Vai estragar a imagem dela —


brinquei com minhas mãos enlaçando seus ombros.

— Eu nunca tive um minuto de paz nesse escritório desde


que você se deitou dessa mesma maneira na outra vez. — Vagou
os olhos por meu corpo completamente à sua mercê, coberto
apenas por uma renda vagabunda. Sua mão desceu por ele,
puxando a lateral da peça e me libertando totalmente para ele.

Nua.

— Perfeita. — Os dedos tocaram o meu sexo, passando


lentamente, e senti um espasmo subir em meu corpo. Seus dedos
brincaram com minha intimidade, e senti o desejo por ele crescer,
queimando os meus sentidos. Quando um dos seus dedos me
invadiu, gemi, controlando para não o puxar contra mim.
Uma de suas mãos puxou o meu corpo para a beirada da
mesa, dando espaço para que entrasse em mim. Só que os seus
dedos pareciam ter outra intenção quando invadiram o meu corpo,
movendo lentamente, imitando os movimentos que seu membro
fariam em mim.

Cobri a boca com a mão, sabendo que precisava fazer


silêncio. Mas, quando o orgasmo acumulado de dias ameaçou
chegar, ele se afastou e rapidamente invadiu meu corpo com o seu.

Gemi, completamente entregue enquanto observava o


homem quase todo vestido, apenas com a camisa aberta,

mostrando o peitoral e a calça abaixada para dar acesso ao seu


pau. Era uma das imagens mais sexys que já tive o prazer de

contemplar.

Deixei meu corpo ser levado pelo caminho de prazer

enquanto ele entrava e saía de mim, causando gemidos e gritos.


Senti que estávamos cada vez mais perto. Não foi demorado. Era

tempo demais longe um do outro para segurar o fim.

Quando aconteceu de meu corpo estremecer, senti cada

mísera sensação se apossar através de mim enquanto Sebastian se


deitava com a cabeça enfiada entre meus peitos. Alisei os seus
cabelos, sentindo meu coração batendo rápido enquanto as minhas

bochechas queimavam de maneira quase ridícula.

— Nunca mais saio dessa sala. — Ele riu com o hálito

batendo contra minha pele, e senti quando sua língua passou na


região, atiçando.

— Nada de casamento para a senhorita então — brincou,


levantando o olhar e apoiando o maxilar na minha barriga, que

voltava ao normal a cada dia, graças aos exercícios que eu vinha


mantendo. — Vamos ter que montar uma casa no meu escritório.

Deu os ombros, e eu sorri.

— Não deixaria você se livrar tão fácil do casamento —

brinquei.

Vi os olhos do homem acompanharem o seu sorriso. Um

gesto que fazia a beleza de Sebastian ser ainda mais marcante.

— Eu amo você, Alexandra. — A seriedade daquelas


palavras me estremeceu.

— Também amo você, Sebastian Collins — repeti em voz


alta, pois não havia nada que eu tivesse mais certeza do que isso.
A fazenda dos Johnson, chamada Dente-de-Leão, era uma
propriedade e tanto. Eu não era lá um apreciador de paisagens

rurais, mas não podia negar que aquilo ali era um verdadeiro

paraíso. A cerimônia foi toda organizada na entrada da fazenda,


onde tinha bastante árvores e dava para usar a varanda enorme,

que era anexada à casa principal, para a festa, mais tarde.

Ao chegar ontem pela tarde, fui bombardeado com passeios

pelo local, e me disseram que precisavam manter o noivo longe da


noiva até a cerimônia. Achei melhor afastar o pensamento de Alex

deitada sobre a mesa do meu escritório, gritando de prazer.

Então, eu não a vi durante todo o resto do dia. À noite,


falamos rapidamente antes de minha mãe, Maggie e as “irmãs” de

Alex a levarem embora, dizendo que seria a noite das meninas.

Levaram até Soph junto!

Tadinha da minha menina, estava sendo corrompida pelas


tias.
Segurei a risada enquanto meus olhos vasculhavam o local

da cerimônia, já vendo as pessoas se sentando nas poucas mesas,


já que era mesmo uma cerimônia bem íntima e reservada, para os

amigos mais próximos e os familiares.

O caminho pela grama que me levaria ao altar, montado na

entrada da varanda, era feito por um tapete escuro e, ao redor,


havia as cadeiras para os convidados. As flores escolhidas eram

pequenas orquídeas brancas que davam um charme delicado a


tudo.

O juiz de paz estava atrás da pequena mesa; sobre ela havia


uma Bíblia e uma jarra de água devido ao calor escaldante que nos

rodeava. Virei-me rapidamente ao sentir uma mão tocar meu ombro


e vi Amber sorrindo para mim, vestida de dama de honra.

— Eu queria falar com você.

Nas poucas vezes em que estive na presença da minha

cunhada, percebi que ela era uma pessoa muito reservada, de


poucas palavras. E me surpreendi quando suas mãos se

estenderam, pedindo que eu a pegasse.

— Alex está lá dentro — começou, sorrindo de lado — e está

tão linda que parece um sonho.


— Imagino que sim. — O coração, como sempre, ficava bobo
com a menção da minha noiva.

— Só quero dizer que ela é minha família — fungou — e que


quero que cuide dela.

Sorri e a puxei para um abraço.

— Eu cuidarei. — A promessa era mais para mim do que

para qualquer outra pessoa.

Amber se afastou, sorrindo, e voltou para dentro de casa,

pois ela entraria com Alexandra no casamento. Além de ser uma


das damas de honra, juntamente de um homem que diziam ser

amigo de infância das duas.

Inspirei fundo e não resisti em me remexer inquieto e

ansioso.

— Pronta, querida? — falei, manobrando a cadeira até a

porta do quarto da futura esposa do meu filho, sabendo que minha

missão na terra estava quase completa. A menininha de roupas


delicadas estava em meu colo e sugava com determinação a
pequena chupeta em sua boca. — Soph está ansiosa. Ela mesma
me disse.

Escutei a risada de Alexandra e lembrei-me de quando a


contratei, sabendo que estava fazendo uma boa escolha. A

lembrança de que desejei que Sebastian tivesse uma mulher como


ela ao seu lado era persistente em minha mente.

E veja só! Ele só não a tinha, como me deu mais uma neta.

A noiva apontou na porta do quarto e vi que segurava as

lágrimas de maneira desesperada, balançando as mãos em frente


ao rosto para tentar se segurar, e estendi a mão, pedindo que se

aproxime. Ela o fez, segurando o vestido para ficar em minha frente.

— Está a noiva mais linda do mundo — falei. — Só não conte

isso a Maggie.

Alex riu, se abaixando em minha frente.

— Obrigada por me acompanhar, senhor Collins. — Me

inclinei, segurando Soph em meus braços, beijando a testa de sua

mãe. Ficar fora do hospital não era fácil, ainda mais no meu estágio,
e sabia que poderia cair morto a qualquer momento, mas ia assumir

os riscos para ver meus filhos sendo felizes.


— Vamos casar você, querida. — Puxei sua mão levemente
para cima, e ela se levantou, arrumando o vestido leve em dois

forros, que trazia uma leveza à parte debaixo da peça. A superior


era mais cavada, simples e de duas alcinhas finas.

Os cabelos escuros de Alexandra estavam presos em uma


trança elaborada e os lábios estavam pintados de vermelho,

bastante chamativo. Meu filho ia morrer no altar antes mesmo que


me desse mais alguns netos.

A música escolhida pela marcha nupcial anunciou a entrada

da noiva, e vi quando Alex apontou lá, juntamente com papai na


cadeira de rodas e Sophia em seus braços. Meu coração parou.

Não havia nada no mundo mais maravilhoso do que ver o meu pai
acompanhando a mulher da minha vida em direção ao altar.

A cada passo que davam em minha direção, a sensação de


estar sendo golpeado aumentava em meu peito. Ela estava perfeita.

O vestido simples que escolheu era sob medida para deixá-la ainda

mais linda. Meus olhos encontraram o seu rosto, buscando pelo


batom vermelho chamativo, que era sua marca. E ela estava lá.
Com os cabelos presos em uma trança cheia de frescuras. Sabia

que não havia nada mais bonito do que Alexandra Johnson


entrando em seu casamento.

O fotógrafo a acompanhou junto de papai e Sophia, que


observa com atenção, a situação em que ela foi metida. Sorri para

minha pequena, sentindo que o meu mundo todo cabia em alguns


metros quadrados de uma fazenda.

Não havia ninguém naquela festa que não fosse importante


para mim.

Eles me alcançaram.

— Eu pensei que você fosse morrer antes mesmo de me dar


netos — papai é o primeiro a falar, colocando a mão de Alex sobre a
minha. — Sejam felizes, filhos. — O sorriso preencheu seus lábios e

o vi manobrar a cadeira para longe, me deixando sozinho com Alex.

Segurei suas mãos.

— Eu quase morri mesmo. — Ela riu, enlaçando seus braços


em meu pescoço e contrariando que deveríamos ir para frente do
juiz de paz. — Eu amo você, para sempre. — Ficou na ponta dos

pés, beijando levemente meus lábios, e afundou o rosto na curva do


meu pescoço.
— Eu te amo mais — sussurrei, sorrindo. — E para sempre
— reafirmei, beijando seu ombro nu. — Quando entrou na minha
vida, eu tentei me afastar, dizer que era só um desejo irracional. —

Ela me encarou, com os olhos brilhando. — Mal sabia que eu estava


destinado a passar a vida toda com você — completei, sorrindo.

— Eu não sei se acredito em destino — rebateu e franziu o


cenho. — Acredito que faremos dar certo.

— Eu sei, mas eu acredito em destino. — Pincelei seu nariz.

— E acredito que, apesar de sermos destinados, temos que lutar


para fazer dar certo. Todos os dias. — A apertei em meus braços. —
Minha rainha.

Ela riu.

— E você arranjou um novo apelido brega — resmungou, e


nos viramos para o juiz de paz, prontos para passar a vida toda ao
lado do outro. Alexandra logo se tornaria Alexandra Johnson-Collins.

E, apesar de ela sempre dizer que nossos sobrenomes não

combinavam nem um pouco, apenas balancei os ombros, achando


perfeita aquela combinação. Estávamos juntos agora. Oficial.
Passamos por bastante coisas. Um relacionamento casual e fajuto.

Um namoro rápido e interrompido por um pedido de casamento. No


meio disso tudo, ainda tinha Sophia. Nosso pequeno pedacinho de
amor. Nossa princesa, que era a junção do que formávamos juntos.

Em menos de um ano e meio, mudei minha vida para sempre.

Não me importava com os planos.

Tudo que importava era que amava a família que tinha agora.

A sensação de estar completa invadiu o meu peito. Eu tinha


quase tudo um ano atrás. Um emprego, uma vida instável e, em um

período curto, tudo começou a ficar bagunçado. Em seguida, minha


vida toda mudou. Meu único amor era meu trabalho. Agora, estava
dividida em mil partículas.

Meu marido. Minha filha. Minha família.

Senti meus olhos marejados e encarei Sebastian, que estava


atento às palavras do juiz de paz, e senti meu coração se expandir
quando vi a aliança brilhar em meu dedo, demarcando seu local.

Engoli as lágrimas, mas de nada adiantou, e sorri, a

limpando, mas logo ele continuou, me deixando chorando igual a


uma boba enquanto ouvia as palavras do homem.
Sebastian me encarou.

Sorriu e limpou meu rosto, ficando frente a frente comigo. A


liberação para nos beijarmos chegou e fui puxada levemente em
sua direção, que segurou o meu rosto entre suas mãos, abaixando a

cabeça para tocar os seus lábios com os meus levemente, fazendo-


me estremecer ao sentir sua língua pedir passagem à minha. E
beijou-me da maneira que eu desejava, enquanto meu coração batia
de maneira desenfreada.

Lentamente, se afastou e me encarou.

— Eu sempre vou ter um apelido brega para irritar você,


advogada — brincou, e minha pele se arrepiou, acompanhando
todas as sensações que aconteciam dentro de mim, sabendo que

eu sempre o amaria. — Para sempre, eu e você agora.

— Nós dois. — Enlacei nossos dedos. Juntos. Firmes. Não


deixando espaço para nenhuma dúvida.
THAIS OLIVEIRA, nascida no sudeste do Pará, 22 anos e é

estudante de pedagogia. Se apaixonou por livros ainda na

adolescência por meio das fantasias de Rick Riordan e Cassandra


Clare, mas acabou encontrando seu refúgio em romances
dramáticos. Começou a escrever por meio de fanfics e quando viu já

estava desejando criar seu próprio livro. Com mais de vinte títulos
lançados, adora boas histórias que juntam: drama, comédia e

suspense.

Outros títulos:

Nove meses depois

Encontro com o amor

Minha escolha

Para sempre ao seu lado “Apaixonada pelo meu melhor


amigo”

Para sempre você “A redenção do juiz”

Para sempre nós dois “O coração do CEO”

Amor Maior

Quando te encontrei

Um bebê inesperado para o herdeiro

A remissão do cafajeste “Nosso recomeço”

Um amor para o pai solo

A paixão do CEO – Louisa

Uma farsa com o CEO – Camilla


Grávida do CEO canalha – Luana

Nosso bebê inesperado

A redenção do fazendeiro

A herdeira do CEO

Um acordo com o jogador

Um Natal no Vale Fontana

Apenas me ame

O passado do CEO “Minha Redenção”

Sempre te amarei
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APENAS ME AME, Um amor para o CEO

Leia aqui

Sinopse: O CEO não sabia, mas uma única noite mudou toda a

vida de Olivia. Agora ela tinha um filho dele e ele nunca teve
chance de conhecê-lo.

⠀ OLIVIA TURNER é uma estilista que se mudou para Nova Iorque

para buscar melhores chances e poder enfrentar uma gravidez


inesperada. Ela acaba de ser convidada para ser madrinha de
casamento da melhor amiga. Mãe solo, teve que amadurecer cedo

para cuidar do pequeno Archie e apesar das adversidades, não tem


nada que não faria pelo seu filho. Só que o convite de casamento é

um convite para ela rever seus segredos.

Olivia saiu de Newport, Oregon, depois de descobrir a gravidez e o


casamento inesperado do pai do seu filho, prometendo guardar para

si o segredo que os juntava para sempre. E ela não está preparada


para rever o primeiro homem da sua vida.

⠀ JUSTIN MONROE é um CEO recluso e fechado, que depois de


perder a esposa em um brusco acidente de carro, vê toda sua vida

ser virada de cabeça para baixo e ele não tem mais forças para
seguir em frente. Anos depois, vivendo para o trabalho,

descontando sua solidão em coisas que não o satisfazia mais, ele é


convidado para o casamento da prima e com isso, vai descobrir
segredos que ele nunca imaginou.

⠀ Dois corações buscando alento, um segredo, uma criança


inteligente e um amor inesperado.
A REDENÇÃO DO FAZENDEIRO

Leia aqui

Sinopse: ELES SE ODIAVAM, MAS EM UMA CERTA NOITE TUDO


MUDOU.

UM FAZENDEIRO QUE TEM MEDO DO AMOR, RENDIDO POR


UMA MÃE SOLO QUE É SEU AMOR DO PASSADO.

*O livro é um RELANÇAMENTO que já foi

publicado com o título CORAÇÃO CALEJADO

ANTÔNIO VILAR, um fazendeiro bruto e fechado, carregando sobre

si o fardo de lidar com sua família. Leva a sério essa missão, sendo
protetor até demais quando se trata daqueles que ama.

O dono da Novo Horizonte agora precisa desapegar dos cuidados

da irmã e focar em si, principalmente pelo fato que depois de anos


fugindo de compromisso sério, está noivo de uma mulher que não
ama. Decisão que tomou para se proteger de um coração partido no
futuro.

PAULA ASSIS, administradora de empresas que amou Antônio no


passado. Isso até ele a mandar embora, se recusando a assumir um
relacionamento sério.

Ela se colocou em primeiro lugar e foi embora da vida do fazendeiro,


mesmo sendo uma decisão que partisse seu coração.

Paula e Antônio se conhecem desde pequenos e isso fez o caminho


de ambos sempre se cruzarem, mas apesar da amizade entre as
duas famílias, os dois nunca se deram muito bem. A briga sempre
estava armada quando os dois estavam juntos, até que se tornou

uma paixão irrefreável.

Ela nunca sonhou em se casar, mas com ele desejou ter isso.
Porém, o homem que amava a deixou ir dizendo que nunca se

casaria.

Dois anos depois, ela está de volta à cidade, viúva e com um filho
pequeno.

E mesmo que ele negue, seu coração ainda é dela.


UM NATAL NO VALE FONTANA

Leia aqui

Sinopse: VALE FONTANA, I

Recomendado para maiores de dezoito anos.

ROMANCE COM FAZENDEIRO RENDIDO PELA FILHA DO SEU


INIMIGO

Diana Louzada é a herdeira da qual o poderoso Felipo Fontana não


esperava se apaixonar. Ambos são nascidos em berço de ouro e
com o caminho entrelaçados pelas escolhas das suas famílias, irão
se encontrar anos depois, mais velhos e instantaneamente atraídos
um pelo outro. Felipo odeia a família de Diana e tudo que eles
representam, enquanto ela não faz a menor ideia de quem ele é.

Estava tudo de acordo com os planos dele quando ela se apaixonou


e ele se entregou. Uma gravidez inesperada, uma briga que gerou
um caos na vida da jovem estudante de medicina veterinária. Ela
precisava recomeçar, mas quanto mais foge do seu passado, mais
próxima dele se encontra.

Uma viagem que causou o reencontro e agora Felipo precisa do


perdão da mulher que ama para poder ter um futuro ao lado do seu
bebê.

O CASAMENTO DO CEO

Leia aqui

Sinopse: DO ÓDIO AO AMOR:

Um CEO Ambicioso, Uma Mulher Obstinada & Um Casamento


Arranjado

Javier Garcia sabe bem o que deseja. Sempre soube:


continuamente almejou o topo do mundo em que foi criado, e nada o
impediria de subir até lá. Nem mesmo um casamento arranjado, o
tipo de coisa que ele abomina.
Valentina Ferraz é filha única de um dos sócios da Garcia &
Ferraz — empreendimento por meio do qual a família de Javier
conquistou sua fortuna — e se vê perdida ao ser jogada nos braços
de um homem que repudia. Javier representa tudo que ela não quer
em um marido. E, para início de conversa, ela nem ao menos
desejava se casar, mas, ainda assim, será obrigada a estar ao seu
lado.

Uma mulher empoderada busca provar seu valor em meio a


uma sociedade marcada por tradições ultrapassadas.

Um homem obstinado procura não ceder à tentação, mesmo

que ela venha embrulhada da maneira dos seus sonhos.


O PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE FAMÍLIA MONTENEGRO

05/11/2022 NA AMAZON BR

ROMANCE COM AGE GAP, BEBÊ

INESPERADO, MÉDICO BILIONÁRIO E BAILARINA VIRGEM

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