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Minha Bebe Coreana - Jéssica Macêdo
Minha Bebe Coreana - Jéssica Macêdo
Jéssica Macedo
Revisão
Sonia Carvalho
— Ah, Jaq! Vai caçar quem te quer. Sabe bem que eu tenho um
namorado, o Felipe. — Empurrei-a pelos ombros.
Fiquei olhando para ele. Estava com uma calça azul e uma camisa
social branca. O cabelo preto estava cortado curto, mas tinha volume
o suficiente para erguer algumas mechas. Não era tão liso quanto o
da maioria dos nativos. As sobrancelhas eram grossas e
contrastavam com os olhos finos que me olhavam de lado, com um ar
de curiosidade e receio. Os lábios dele eram grossos e simétricos. O
contorno parece ter sido feito com calma e com toda a precisão de um
compasso, formando curvas perfeitas.
— Kim Ji Won.
Foi difícil quebrar o gelo com ele. Toda vez que eu dizia algo, tinha
medo de estar cometendo uma gafe enorme. Só não queria que ele
saísse correndo com medo da brasileira louca.
— Uau! Parabéns!
— E você?
— Tem razão.
— Tenho que ir. — Tocou a campainha para chamar o garçom. —
Preciso estudar.
Lis:
Bom dia!
Jaque:
Para mim ainda é boa noite.
Lis:
Jaque:
Jaque:
Inclusive os caras?
Lis:
Jaque:
Não concordo tanto, mas a minha opinião nunca valeu muita coisa
mesmo.
Lis:
Quem?
Jaque:
O Felipe.
Lis:
Jaque:
Falar com você, ué! Já que não atende ele. O coitado quer voltar.
Lis:
¬¬ Como se tivesse sido eu quem terminou. Eu realmente gostava
dele, Jaque, mas para mim não tem essa coisa de dar um tempo.
Jaque:
Lis:
Jaque:
Aproveita e pensa.
Lis:
Estava na Coréia e tudo o que não queria era pensar no meu ex.
Lis:
Kim Ji Won:
Lis:
Kim Ji Won:
Apenas Lis?
Lis:
Kim Ji Won:
Okay!
Lis:
Eu adoraria:D!
Kim Ji Won:
Lis:
Combinado.
— Ao Museu Nacional.
Ele veio até mim e me entregou uma torrada com ovo e atum, o
mais perto do café da manhã que eu estava acostumada a tomar, uma
vez que eles comiam um verdadeiro almoço ao acordar, o que era
pesado demais para mim.
Olhava para as paredes claras e para a luz do sol que entrava pela
janela junto com algumas flores de cerejeira que eram sopradas pelo
vento ao bater na árvore próxima. Não conseguia evitar que meus
pensamentos desviassem para a ansiedade do encontro daquela
noite. Não que fosse exatamente um encontro, mas...
— Está pensativa, Aghassi.
Como não sabia onde ficava a cafeteria, caminhei até uma avenida
mais movimentada e peguei um táxi. Pela janela eu observava as
pessoas caminharem tranquilamente pelas ruas, ainda que o sol já
tivesse se posto.
— Olá, Lis.
Sorri ainda mais por ele ter atendido o meu pedido e me chamado
apenas de Lis, como eu gostava.
— É sim, imagino que para você, que é artista, seja ainda mais.
— Lis, vamos voltar para a mesa. Ela vai nos servir lá. — Kim Ji
Won apontou o caminho e ou o segui de volta.
Pressionei-o contra a parede, ainda que ele fosse uns dois palmos
mais alto do que eu, e passei meus braços ao redor do seu pescoço.
Ele poderia até ser tímido ou tradicionalista, porém, diante da minha
atitude, envolveu a minha cintura com os braços e me apertou contra
o seu peito, arrancando de mim um suspiro. Senti o meu sangue
ferver em um misto de desejo e ansiedade. Eu estava comendo o cara
com os olhos desde o primeiro momento que o vira, louca para roubar
um beijo dele, mas não precisei, pois Ji Won abaixou o rosto e
esfregou os lábios nos meus.
Por mais reservada que fosse a cultura dele, acho que atração era
algo universal. Eu estava super a fim e, a forma como ele apertou
meu corpo aos contornos do dele, me mostrou que também estava. O
frio na minha barriga não diminuiu, pelo contrário, ficou ainda mais
intenso quando pressionei minha língua contra o encontro dos seus
lábios macios. Subi minha mão pela sua nuca e embrenhei meus
dedos no cabelo preto e macio.
Ji Won apenas riu sem dizer nada. Não soube se ele concordava
ou não comigo.
Ji Won:
Lis:
Sim! Onde?
Ji Won:
Estou ansiosa.
Ji Won:
Eu também.
— Podemos ir?
Ji Won fez que sim e abriu a porta do carro para que eu entrasse.
Aconcheguei-me no banco e coloquei a bolsa sobre as minhas
pernas. Estava com um vestido bonina curto, e ao me sentar percebi
que talvez estivesse curto demais, pois tive que puxá-lo pelas
beiradas.
Como era ele quem iria pagar dessa vez, eu não fiz perguntas
sobre aonde estávamos indo. Chegamos diante de uma grande
construção de madeira e vidro. De fora, era possível ver a luz das
luminárias em formato oriental que estavam presas no teto na parte
de dentro do local. As telhas eram escuras e a construção, por mais
moderna que fosse, assemelhava-se um pouco aos palácios que eu
havia visto mais cedo.
— Foi bom. — Ele colocou uma das mãos sobre a mesa e segurou
a minha. — Fiz uma cirurgia em uma garotinha pela manhã, mas
correu tudo bem.
— Fico feliz.
— Eu posso ver?
— Não estou com eles aqui. — Não era uma mentira, realmente,
não os havia carregado comigo, porém, não tinha certeza se queria
que ele visse os desenhos que eu havia feito dele. Talvez me achasse
uma stalker.
— Posso.
— Ambos?
— Interessante...
— Eu adoraria.
— Lis...
Calei a sua boca com a minha antes que ele mudasse de ideia e
puxei seu corpo para o meu. Ele me penetrou e me estiquei contra a
cama, contorcendo-me inteira. Meu corpo todo vibrou e comemorou
por finalmente tê-lo dentro. Senti vontade de apertá-lo, e o envolvi
com os meus braços, pressionando-o contra os meus seios. A cada
vez que ele se movia eu o apertava mais e meus gemidos também
iam ficando mais altos.
— Você ainda mora com seus pais? — Não consegui evitar ficar de
boca aberta.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Mas moro com os meus tios, e foi a morte deles que,
de certa forma, me levou a querer ser médico.
— Bom dia, Jaque. São doze horas de diferença, não é difícil fazer
conta. — Apoiei o celular no ombro e caminhei até a janela para abrir
as cortinas e inundar o quarto com a luz do sol.
— Que seja! Acho que você precisa voltar logo antes que o Felipe
surte ou eu, o que acontecer primeiro. Acredita que ontem ele passou
o dia todo aqui no ateliê, esperando que você aparecesse, sei lá,
magicamente? Disse que você está na Coréia, mas ele pareceu não
acreditar muito.
— Bom passeio, espero que você volte logo. Estamos todos com
saudades.
— Até mais.
Ji Won:
Oi!
Lis:
Oi, oppa!
Ji Won:
♥♥♥
Lis:
Ji Won:
Lis:
Vou adorar.
Ji Won:
Lis:
Sim.
Dei zoom na máquina para tirar foto da cerca que era repleta de
cadeados. Como em outros lugares do mundo, me lembrava de ter
visto uma em Paris, ali, as pessoas penduravam cadeados para
simbolizar amor eterno. Achava algo romântico e fofo, uma pena que
fofo nunca foi um adjetivo que combinou muito com o Felipe. Ao
contrário do Ji Won, que era muito...
Passei o dia todo ali, tirei muitas fotos, fiz inúmeros desenhos e tive
ideias incríveis para a exposição. Tinha certeza de que o curador iria
ficar muito empolgado com o material que eu teria para apresentar
quando voltasse.
— Boa noite! — Ele jogou o cabelo preto e liso para trás antes de
estender a mão para mim.
— Acho que não é o melhor dia para irmos a uma balada, não é?
Por que não vamos a outro lugar, um mais calmo onde você possa
descansar um pouco?
— Você não se importa? Queria muito passar essa noite com você.
Entrei no carro e Ji Won dirigiu por uns vinte minutos até um bairro
mais distante e residencial. Parou o carro em frente a um portão com
arquitetura sul-coreana medieval que me deixou de boca aberta. Era
como se eu tivesse voltado para ao Parque dos Palácios.
— Não. Eu tenho um tio casado que tem um filho. Mas eles estão
no interior do país visitando a família da esposa dele. Essa casa
pertence à minha família há gerações.
— É linda!
Ele abriu o portão e parou com o carro em um pátio central, onde
havia um lago e um jardim nos moldes orientais, com direito a uma
enorme cerejeira florida. Era a casa mais linda em que eu já havia
estado em toda a vida.
— Vou buscar.
Assenti e entrei para o quarto. Sentei-me na cama dele, não era
como uma cama ocidental. Era baixa, como se fosse praticamente o
colchão no chão sobre um tapete bonito. Diante dele havia uma
televisão. Imaginei que pudéssemos ficar ali o restante da noite.
— Bom dia!
Abri os olhos por reflexo quando ouvi a voz do Ji Won. Foi quando
virou uma chave na minha cabeça e me dei conta de que havia
dormido com ele e que estava na sua casa. Minhas pupilas se
acostumaram à luz do sol que entrava pela janela e eu o vi abrindo
um guarda-roupa e puxando uma camisa branca.
— Posso sim.
— Venha comigo.
— Abra a boca.
— Você gosta?
Ji Won:
Lis:
Não dá ☹ .
Ji Won:
Lis:
Não é isso. Por que faria algo de errado, oppa? Mas eu tenho que
ir.
Ji Won:
Para onde?
Lis:
Ji Won:
Lis:
Ji Won:
— É sim! Porque você ama muito a sua irmã e não quer que ela
seja assassinada aos vinte e três jovens anos.
— Acho que você deveria ser atriz, e não uma advogada.
— Você é terrível.
Superei e voltei meu olhar para fora, observando a Linha Verde que
nos levava de volta a Belo Horizonte.
— Eu já voltei.
— Lis...
— Acabei de chegar de viagem. Realmente não quero falar sobre
isso agora. — Cruzei os braços e mordi o lábio.
— Agora não...
— Já quer ir?
— Sim.
— Beijos, mãe!
Fiquei de boca aberta, abobada por uns dez minutos até a minha
ficha cair e eu entender que havia sido roubada. Meu caderno e
esboços mais recente, minha carteira e meu celular levados por um
estranho que já tinha sumido de vista.
Estava com uma dor de cabeça terrível desde que havia acordado
e ela ficou ainda mais intensa depois que isso aconteceu.
Massageando as têmporas, abri o ateliê e usei o telefone fixo para
ligar para a Jaqueline.
— Obrigada, amiga!
Ji Won
Ji Won:
— Estou indo.
— Obrigada.
— Não sei. Estou com um mal-estar tem uns dois dias. A cabeça
doendo, o estômago embrulhando.
— Precisa sim! Nem que seja para ele dizer que é só uma virose e
mandar você tomar soro.
— Jaque...
Torci os lábios e bufei, sabendo que nada iria fazer a Jaque mudar
de ideia. Quando o assunto era a preocupação exacerbada da minha
melhor amiga, eu era time vencido.
Fui até o meu quarto e peguei uma blusa, porque estava sentindo
um pouco de frio. Seguimos para a garagem do prédio onde estava o
meu carro. Eu ouvia cada barulhinho, do vizinho andando no
apartamento de cima ao cachorro da cobertura. Tudo ecoava dentro
da minha cabeça e alfinetava como se tivesse espinhos. Estava
enfrentando a pior ressaca da minha vida.
Por sorte, eu não vomitei de novo, mas estava muito apertada para
fazer xixi. Saí do banheiro secando as mãos em uma toalha de papel
e até com um sorriso nos lábios.
— Vou dar para você uma senha e quando chamar no telão, vocês
podem seguir para a triagem.
— Acho que ela está com virose. — Jaqueline parou ao meu lado e
atropelou a minha resposta.
— Tem uns dias que estou com uma dor de cabeça horrível. Um
pouco de cólica também, e hoje comecei a vomitar. — Talvez a
Jaqueline tenha razão e eu tenha pegado alguma virose.
— Não.
— Estou...
— Tudo bem.
— Grávida!?
— Eu sei...
— Sem chance! Não tive recaídas depois que ele terminou comigo,
e isso já faz meses.
— Teve outro cara antes de ir para Coréia?
— Lis, você está bem? — Jaque segurou minha mão entre as dela
e me encarou com um ar mais compreensível e amoroso.
Torci o nariz e os lábios e foi a minha vez de olhar para ela como se
fosse fuzilá-la.
— Ah, fala sério! Ele não tem que ter opinião nenhuma a respeito
disso. Nem dele esse bebê é. Tomara que seja um pretexto para
deixá-lo bem longe de mim.
— Você tem razão. Só achei que talvez fosse acabar voltando para
ele. Eu me lembro bem de quanto você chorou com esse término. Era
como se você nunca mais fosse gostar de outra pessoa no mundo.
— Não me julga!
— Não estou. É por isso que sabe que eu sou a sua melhor amiga.
Sabe que vai ter a minha ajuda caso precise. Eu sou ótima em trocar
fraldas. Ajudei muito a minha irmã quando o Pedro nasceu.
Estava feliz com a gravidez, no entanto, não sabia que passo tomar
a seguir.
— Sei lá, Jaque! Ele está do outro lado do mundo. Nós só tivemos
um lance.
— Eu sei disso, né? Mas ele é o pai. Acho que ele tem que saber,
mesmo que escolha não assumir.
— Não sei se vou conseguir lidar bem com isso. — Mordi os lábios
quando eles começaram a tremer.
— Estereotipado demais.
— Quero ver só a surtada que a sua mãe vai dar quando descobrir
que você está grávida. — Colocou a mão na boca e deu uma
risadinha enquanto girava a chave na fechadura.
Mas deveria contar para ele que estava grávida? Caso sim, como
fazer isso da forma certa?
— Está sim.
— Obrigada.
— Medo... — Encolhi.
Fui correndo até a parte mais alta da rua para ver o pôr do
sol e o puxei comigo.
— Lis!
— O que foi?
— É o curador da galeria?
— Vou lá. — Passei pela Jaqueline e fui para a saleta que ficava na
entrada do nosso ateliê, a usávamos para conversar com clientes.
Olhei para ele dos pés à cabeça. Estava de sapato e camisa social
com uma calça jeans escura, o cabelo estranhamente penteado para
trás e preso com gel. Felipe era contador em uma empresa não muito
longe do ateliê e eu me arrependi de em algum momento ter gostado
de tal proximidade.
— Tenho.
— Por que não vem almoçar comigo? Sei que está com fome,
mesmo quando diz que não está.
— Tá...
— Não precisa, é logo ali. — Apontei, ainda que não desse para ver
o lugar.
— Senti muita falta sua enquanto esteve lá. Tive medo de que
nunca mais voltasse para mim.
— Não sei como começar isso, então vou falar de uma vez.
— De nós.
— Por quê?
— Não me leve a mal, Lis, ainda amo você. Mas vai acabar
percebendo que precisa disso também.
— Mas, para mim, foram dias ótimos. Bons como não me lembro
de outros.
— Não!
Ergui a mão para chamar o garçom e senti falta do botão que havia
nas mesas da Coréia.
— Tudo bem. Vai ser incrível ter um filho com você. Podemos
morar juntos e eu registraria como meu filho.
Eu me senti ainda mais estúpida por ter ido embora daquela forma.
A vontade era voltar correndo para ele e contar pessoalmente que eu
estava grávida, entretanto, não sabia que Ji Won encontraria caso
voltasse, nem se ia me querer por perto depois de tudo.
Jaqueline achava que eu tinha que contar para ele, no fundo era o
que parecia mais certo. Mas eu estava com medo.
Lis:
Oi! É a Lis, estou com número novo. Tenho algo importante para
contar para você.
Fiquei esperando uma resposta, mas peguei no sono sem que meu
celular vibrasse.
Ji Won
Apoiei-me na bancada da pia e encarei-me diante do espelho. Meu
semblante estava cansado. Foram dias exaustivos no hospital, no
entanto, estava disposto a encarar seis horas em uma sala de
cirurgia, lutando para salvar a vida de um paciente a ter que voltar
para aquele encontro às cegas. Para os meus tios e amigos eu já
estava ficando velho e eles haviam começado uma campanha para
me arrumarem uma namorada. Aquele era o segundo encontro às
cegas que me convenciam a ir. Talvez eu devesse me empenhar em
gostar um pouco mais das candidatas que me apresentavam, mas eu
não queria... Não conseguia tirar a Alissa da cabeça, ainda que ela
sequer tivesse visualizado as últimas cinquenta mensagens que eu
havia lhe enviado.
Dias atuais...
Onze
Ji Won
Voltei para a minha sala e peguei o celular que havia deixado sobre
a mesa, havia umas cinco ligações da Min Jee, pensei por uns dez
minutos se retornava ou não e acabei optando pelo que me pareceu
mais cordial.
— Minha amiga dará uma festa hoje e quero que você vá comigo.
— Obrigada!
— O que está fazendo? — Min Jee parou ao meu lado e, antes que
eu pudesse fechar a revista, ela a puxou das minhas mãos, sem que
eu pudesse segurá-la com os dedos.
Era verdade que, mesmo dois anos depois, eu não conseguia tirá-
la da cabeça.
— Tem certeza?
— Vai!
— Mamãe!
Assim que entreguei a ela, Kin abriu um sorriso enorme com seus
pequenos dentinhos. Toda vez que ela sorria, o meu coração se
inflava de alegria e eu suspirava. Com certeza tinha trazido a melhor
parte da Coréia comigo em forma daquela bebezinha.
Depois de todo esse tempo eu não tinha voltado com o Felipe, por
mais que em um momento ou outro uma recaída acabasse
acontecendo. A carne era mais fraca do que eu gostaria de admitir, ou
talvez eu só precisasse de um pouco de sexo e ele era o candidato
mais próximo. Felipe fez muito por mim e pela minha filha desde que a
Kin nasceu, com segundas intenções ou não, me ajudou a segurar a
onda em muitos momentos complicados. E ainda ajudava. Todos os
dias à noite, passava no apartamento para ver como eu e a Kin
estávamos, trazia comida ou brinquedos para ela, ainda que não
tivesse obrigação nenhuma. No fundo, sabia que ele tinha esperanças
de voltarmos a ficar juntos.
— Não acredito que ela vai se casar com aquele cara. Eles se
conhecem não tem nem um ano.
— Ah, o Ricardo parece um cara legal. Faz ela feliz, talvez não seja
tanta loucura assim. — Dei de ombros e peguei o pratinho da mão
dele para continuar alimentando a minha filha, que nem olhava para
nós, apenas para a comida.
— Eu faço você feliz? — Ele passou a mão pela minha face direita
e colocou uma mecha do meu cabelo solto atrás da orelha.
— Vai ser quando? — Bufou. — Por tudo que é mais sagrado, Lis.
Eu estou tentando.
— Está dizendo isso porque ainda sente algo pelo pai da Kin.
— Eu não sei!
Felipe foi embora uma hora depois e fiquei sozinha com a minha
filha. Brinquei com ela até que pegasse no sono, depois abri o Netflix
em um filme qualquer até que meus olhos também se fechassem.
Ela bateu a mão na água e olhou para mim antes de bater de novo.
Eu amava aquela menininha mais do que qualquer outra coisa no
mundo. Independentemente de qualquer coisa, eu sempre serei grata
ao Ji Won por ser parte dela, quase a maior parte. Porque a Kin não
se parecia em nada comigo.
Treze
— Certo, obrigada.
— Oi, Lis! — Minha mãe passou por nós e pegou a Kin do carrinho.
— Achei a minha neta mais linda.
— Quando ela nascer vai ser a caçulinha, mas, por enquanto, a Kin
é a única netinha que eu tenho, então me deixem mimá-la.
— Por que será que isso não me tranquiliza? Bom, vamos lá!
— Puxou-me pelo pulso e seguimos até o quarto dela.
— E vocês...
— Foi só um lance.
— Então vai ser mãe solteira?
— Tenho certeza de que não era os planos que o seu pai tinha
para você.
— Por isso não contei para ele primeiro. Já não ficou muito
contente quando eu escolhi Artes Visuais ao invés da faculdade
de engenharia ou arquitetura.
— Preciso?
— Sim.
— Fiz uma touquinha de tricô para ela que vai ficar muito fofa —
disse a minha mãe e me trouxe de volta ao presente.
— Deixa eles para lá e vai fazer churrasco para nós agora, pai. —
Alex ignorou a reclamação do nosso pai e entregou a ele uma bacia
cheia de carne.
Coloquei a Kin no berço e fui buscar uma fruta que havia trazido em
sua malinha para que ela comesse. Provavelmente estaria com fome
já que fazia mais de três horas que eu lhe havia dado leite do peito.
Ao voltar para cozinha, eu me deparei com ela mastigando um
biscoito recheado.
— Quem deu? — Olhei feio para as duas, que olhavam para mim
com cara de paisagem.
— Mãe!
Balancei a cabeça e deixei ela para lá, indo com a Kin para a sala
onde eu poderia tentar alimentá-la em paz.
Quatorze
Ji Won
A Min Jee não estava muito contente comigo pelo que havia
acontecido na festa, furiosa como se fosse uma coisa extremamente
terrível e degradante me ver apenas lendo uma reportagem sobre a
Alissa. O seu moderado escândalo havia saído em páginas de fofocas
na internet no dia seguinte, o que imagino tê-la deixado ainda mais
furiosa, já que se recusou a atender minhas chamadas e responder às
minhas mensagens.
Lis
Ela olhou para mim sem entender o que eu havia acabado de dizer
e isso me fez rir.
— Eu tenho certeza.
— Vai ser difícil morrer enquanto ele ainda estiver rondando e você
dando brechas para isso.
— Às vezes ele diz que só quer ser meu amigo e ficar perto da Kin.
O problema é que a mentira acaba caindo por terra em um momento
ou outro.
— Mas você acabou dando uns pegas nele no último ano, num
momento ou outro.
— Sabe bem que não é a mim que você precisa convencer disso.
Eu disse desde o início que deveria ter contado para ele que estava
grávida. Mesmo que ele não te quisesse, vocês têm uma filha.
— Então é você quem decide. Vai ficar esperando por uma cara
que você provavelmente nunca vai voltar a ver ou vai aproveitar o que
está bem aqui do seu lado? Que seja arrumar um terceiro e
totalmente novo. Não vou te julgar por isso.
— Estou!
— Amiga, posso cuidar dela por algumas horas para você dar uma
espairecida e uma paquerada. Só, por favor, não esqueça a camisinha
de novo! Estamos muito bem só com a Kin e pior do que isso, pode
acabar pegando uma doença.
— Nem planejei sair e você já está concluindo que eu vou transar
com quem quer que seja.
Fiz bico e puxei uma banqueta, me sentando. Por mais que não
quisesse admitir, Jaqueline estava certa. Pai da minha filha ou não, a
possibilidade de voltar a acontecer algo entre mim e o Ji Won era
nula. Sequer o veria de novo.
— Sabe que não é difícil cair de amores por ela. — Jaque olhou
para a minha filha, que estava finalizando a mamadeira. — Mas não
exagere.
— E a Kin?
— Tá bom...
— Ji Won?
Ergui o olhar da tela do computador e vi a Min Jee entrar na minha
sala. Nós dois não conversávamos desde o que havia acontecido na
festa e confesso que não me esforcei para fazer isso. Ela era uma
excelente candidata a esposa, porém, eu não estava interessado.
— De táxi.
— Sim, eu guardei.
— Então fique com a sua ilusão com uma estrangeira que está
muito longe de você e das nossas tradições. Estou cansada de
implorar por migalhas da sua atenção, Ji Won. Para mim chega!
— Descubra.
— Não acredito que vá compactuar com isso — balbuciou a minha
tia.
Eu estava lendo para a Kin, mas a minha filha estava muito mais
interessada nas ilustrações do livro de Alice no País das Maravilhas
do que no que eu estava falando para ela. Com as mãozinhas, batia e
contornava a imagem do gato que possuía uma textura áspera.
— Gato!
— Ga-gatinho.
— O gatinho da Alice.
— Gatinho.
— Gatinho Kin.
— O que estão fazendo que essa sapeca ainda não foi dormir? —
Jaqueline apareceu na porta do quarto tomando uma caneca de um
chá quente fumegante.
— Preciso?
— Tem certeza de
Não tinha tanta certeza, mas segui para dentro do ônibus onde vi
alguns rostos conhecidos da faculdade e até mesmo o da minha mãe.
Entendi bem por que ela não poderia ficar com a Kin naquela noite.
Jaqueline foi até uma pequena mesa, pegou uma taça dourada de
plástico e encheu de espumante antes de entregá-la a mim.
— Jaque...
Assim que a música acabou, ela foi substituída por uma sirene
policial o que mudou a expressão de todas dentro do ônibus. Eu me
afastei um pouco e sentei-me em um banco ao lado de um pequeno
bar e fui seduzida por um shot de vodka.
— Quer saber qual vai ser sua punição? — A voz firme dele fez
com que eu estremecesse inteira.
Depois de mais uns quatro, cinco... sei lá! Havia perdido a conta,
bom, depois de muitos shots de vodka, eu estava lá no meio dos
strippers me acabando. Esperava que a minha mãe estivesse tão
bêbada quanto eu para não me notar dançando até o chão com eles.
— Oi, Felipe! — Liguei para o primeiro contato de emergência que
eu tinha e que não deveria ter me chapado mais do que devia.
— Sei lá. Desci atrás dos gogoboys depois que eles saíram do
ônibus-boate onde foi a despedida de solteiro da Jaqueline. Posso
estar em qualquer lugar e eu estou muito chapada para reconhecer.
— E a Kin?
— Lis, é mais de uma hora da manhã. Nem sei se tem mais ônibus
passando nesse horário. Me manda a localização que eu estou indo
buscar você.
— Coloca o cinto.
— Toma cuidado.
— O que você quis dizer no telefone quando falou que nunca mais
vai ver ele? — Felipe fechou a porta atrás de nós e prendeu meu olhar
com o seu.
— O Ji Won.
Assenti.
— Felipe...
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, aproximei meus lábios
dos seus e o beijei. Deixei a minha bolsa cair no chão quando ele me
segurou pela cintura e me apertou contra a parede. Senti um calor
gostoso, não era uma avalanche de sensações, mas fez com que eu
me sentisse amada e segura.
— Não está a fim de transar comigo? — Fiz bico como uma criança
mimada.
— Ainda bem que não rolou, esse lance de cobrir buracos precisa
acabar.
— Concordo com você. Não quero mais essa amizade colorida dos
últimos dois anos. O certo é voltar a ser a minha namorada como era
antes. Nós já estamos há anos do lado um do outro, tem que ser mais
importante do que os quinze dias que você passou com esse cara.
— Felipe...
— Sim! Eu iria ficar contente se dirigisse. Ainda estou com uma dor
de cabeça horrível. Vou odiar a Jaque até o ano que vem por ter me
deixado beber desse jeito.
— Eu posso supor que ela não esteja muito melhor do que você. —
Felipe cobriu a boca com a mão e deu uma risadinha.
— Levanta logo!
Bati na porta, que foi aberta um minuto depois pelo Tadeu, marido
da minha irmã.
Fui até o quarto que a minha irmã havia preparado para receber a
filha que nasceria em breve e vi a minha andando de um lado para o
outro. Segurando apenas num momento ou outro em coisas como o
berço e o guarda-roupa.
— Eu sei, mas essa já está prontinha. — Fez bico. — Ah, oi, Felipe!
— Só então ela percebeu a presença dele atrás de mim. — Como
você está?
— Por que não vai dar peito a ela? — questionou a minha irmã. —
Achei que ainda a amamentasse.
— Amamento, mas vou esperar que o álcool de ontem saia do meu
sistema. Eu bebi um pouco além da conta.
— Não seria nada mau. — Felipe caiu na onda dela e isso fez com
que eu revirasse os olhos para ele.
— Deixa só a Kin.
— Por enquanto. — Ele me deu um beijo no ombro.
— Você deve ter muita coisa para fazer hoje, Alex. Acho que já vou
indo. — Peguei Kin pela mão no momento em que ela estava prestes
a abrir o armário da tia e pegar as panelas para fazer bagunça.
— Sabe que ela fala que gosta só para agradar você, né, amor? —
disse Tadeu da sala.
— Achei que você não fosse voltar para ele — falou a Alex vários
tons mais baixos para que o Felipe e o Tadeu não ouvissem da sala.
— Parece o melhor.
— Ah, fala sério, Lis! Melhor para quem? — Ela quase gritou, mas
voltou a baixar o tom de voz. — Você nunca foi do tipo que fazia o que
parecia melhor. Lembra quando desafiou todo mundo para fazer Artes
Visuais?
— O Felipe é bom para mim e para a minha filha. Isso tem que ser
o suficiente. Ele está há dois anos tentando, talvez seja o momento de
dar a ele uma segunda chance.
— Eu espero que sim.
Alex não voltou a falar nada. Iria respeitar a minha decisão, ainda
que claramente discordasse dela.
Dezessete
— Sabe que não fez, amiga. — Abriu um sorriso. — Mas, sei lá, só
achei que não fosse voltar para ele e não está tão feliz quanto
deveria.
— Sim, é sua — respondi logo porque não sabia por onde começar
a conversa com ele. Durante muitos momentos eu havia fantasiado o
nosso reencontro, mas eu nunca pensei que isso iria acontecer de
fato.
— Ah, não?
— Não. Eu não sabia que estava grávida. Ainda era cedo demais.
— Escorreguei a mão pela lateral do carrinho enquanto mantinha o
meu olhar fixo na Kin, que olhava para o Ji Won provavelmente se
perguntando quem era aquele cara. — O que rolou entre nós dois
deveria ter sido apenas um caso. Além disso, sou péssima com
despedidas. — A verdade é que eu estava com medo de não querer ir
embora se o visse por uma última vez, mas não contei isso. —
Quando eu vim embora, acabou e tudo bem para mim, mas algumas
semanas depois descobri que estava grávida.
Fiz que não e vi o que ainda restava da expressão doce dele ser
completamente transformada em fúria e revolta.
— Longe de mim.
— Não fazia parte dos meus planos, mas eu não imaginava que
ficaria grávida por uma noite de descuido sem preservativos. Imaginei
que não fosse o que você quisesse também.
— Não deveria ter feito inferências sobre mim. — Não olhou mais
diretamente para mim, no entanto, podia sentir sua raiva parar no ar
ao redor de nós. Juro que não era dessa forma que eu havia
imaginado que seria o nosso reencontro.
— Oi, filha! — Ele puxou o carrinho para mais perto e Kin continuou
o encarando, sem entender o que ele havia dito em inglês.
— O mínimo que deveria ter feito era tê-la levado até a Coréia. Eu
ainda moro no mesmo lugar onde eu a levei. Seria mais fácil me
encontrar do que foi para eu encontrá-la.
— A Kin foi uma surpresa para mim. Depois de algumas coisas que
haviam acontecido na minha vida... — O término do Felipe comigo.
Algo que o Ji Won não precisava saber. — Eu não planejava ser mãe
tão cedo, então ela aconteceu.
— Papai?
— Mamãe... Mamãe.
Cheguei ao hotel com uma raiva que não havia sentido em nenhum
outro momento da minha vida. Eu tinha uma filha e havia sido privado
do convívio com ela! Fora difícil sair do ateliê da Alissa e deixar a
minha filha com ela, ainda que houvéssemos entrado em consenso
sobre eu passar o dia seguinte na companhia da menina.
— Ahjussi, Chung-hee!
— Eu não sei. Mas a criança é minha filha e não abrirei mão dela.
— Sua tia ficará feliz em saber que, em breve, teremos uma criança
em casa. Ela sente falta...
— Obrigado, Tio.
Lis
— Ele está me odiando porque não contei que estava grávida para
ele.
— Sabe que ela nunca gostou muito de ficar perto daqueles que
não conhece. — Jaqueline afagou a cabecinha da minha filha que
olhou para ela e sorriu.
— Espero que ela se acostume com ele antes que a situação fique
ainda pior.
— Bom, não quero deixar você pior, mesmo achando que vai ser
inevitável, mas preciso lembrar você de uma coisa. Você voltou com o
Felipe no sábado.
— Acho que o pior nem é o Ji Won nesse caso. O Felipe vai ficar
muito puto quando souber que o coreano está por aqui.
Ji Won
Lis
— Foi você quem deu, amiga. É você quem tem que tomar.
— O que foi?
— Pode ficar de olho na Kin por alguns minutos? Preciso falar com
o Felipe a sós.
— Está bem! — Ela se debruçou sobre a cama. — Vem com a
dinda, princesa. — Fez um gesto com as mãos e Kin engatinhou até
ela. Jaqueline pegou minha filha no colo e saiu do quarto.
— Por quê?
— Tenho uma coisa para contar que provavelmente não vai deixar
você contente, mas como vai acabar sabendo uma hora ou outra, é
melhor que eu fale logo.
— Não chegou a falar sobre isso, porque viu a Kin, descobriu que
era filha dele e está muito furioso. Como se eu fosse a vilã da história.
— Ele é um idiota!
— Espero que aquele cara volte logo para a Coréia e deixe a gente
em paz.
— Calma, filha!
— Passear!
— Pai mamãe.
— Passear...
— É, estamos passeando. Você nunca veio aqui antes, nem a sua
mãe.
— Você veio.
— Ela ainda é bem nova para isso, talvez algum brinquedo mais
simples...
— Na Coréia...
Ele torceu a cara para mim e percebi que o nosso momento nos
dando bem em prol da nossa filha havia acabado, no entanto, ela era
mais importante do que qualquer cara feia dele.
— Vamos voltar para o hotel. Preciso pegar meu carro e levar ela
pra casa.
— É melhor não.
— Você está cansada, não é, princesa? Vou levar você para dormir.
— Felipe se afastou de nós sem dar a menor importância para a
expressão de poucos amigos que tomava o rosto do Ji Won e levou a
minha filha para o quarto dela.
— Sim. Não vai me dizer que você ficou sozinho por esses dois
anos? — Alfinetá-lo não era a melhor alternativa, porém, eu
simplesmente não consegui me conter.
Foi idiotice pensar que ele passara todo esse tempo sem alguém. Ji
Won era bonito, tinha uma ótima e louvável carreira, além de ser de
boa família. Era o que as coreanas considerariam como um ótimo
partido, não haveria motivos para que ele passasse todo esse tempo
sozinho. Fazendo o quê? Esperando por mim... Seja menos idiota,
Alissa.
— Não há motivos para você ir até lá. Talvez pessoas com o seu
perfil não sejam arqueadas à Coréia.
— Esse cara não deveria ter vindo até aqui. Você e a Kin estavam
muito bem sem ele.
— Felipe...
— Tudo bem, meu amor, da forma como você quiser. Afinal, ele é o
pai da Kin.
— Amiga, não tem nada que eu possa fazer. Acho que a minha
presença aqui só pode deixar as coisas ainda mais estranhas. Você
vai dar conta e a gente se fala amanhã.
— Jaque!
Ela não deu a mínima para o meu protesto. Abriu a porta e saiu por
onde havia entrado, sem nem se dar ao trabalho de pegar alguma
coisa no quarto. Como se casaria no sábado, a maioria dos seus
pertences já estavam na casa do noivo. Sei lá, talvez só estivesse
dormindo ali ainda para que a separação dela, minha e da Kin fosse
menos brusca. Dividia apartamento com a Jaqueline há anos e
realmente iria sentir falta dela.
— Ela vai se casar sábado, por que ainda faz compras para cá?
Eu queria empurrá-lo, mas Felipe era tão gentil comigo que eu não
consegui.
Fiz que sim e ele segurou meu rosto, acariciando minha bochecha
com o polegar. Encarei os olhos castanhos dele, tão amistosos e
gentis, mas, mesmo assim, eu não consegui sorrir.
— Felipe, não!
Mordi o lábio inferior sem saber o que dizer. Talvez nada, talvez
tudo... Eu estava perdida, como alguém que era sugado por um
ciclone e girara, girava... Ver o Felipe tentar, se esforça e não ficar
contente com isso me deixava ainda pior.
— Nada. Só não quero morar com você.
— Lis...
— Para a Coréia?
— Não, vou para o hotel. A Kin está dormindo, vejo vocês duas
amanhã.
— Não acho que seja o que você precise. Vai, me deixa te fazer se
sentir melhor? — Ele me chamou com as mãos de um jeito que eu
sabia que não deveria se fazer na Coréia e isso pesou meu peito
ainda mais.
— Sei que está abalada com tudo que está acontecendo, mas
errado vai ser se nos separarmos de novo. Vai acabar percebendo
isso.
— Tá bom.
O dia que passara com a minha filha, vê-la sorrir, divertir-se com o
brinquedo robô que eu lhe dera, fora um dos melhores momentos da
minha vida. Alguns amigos, aqueles que eram modernos o bastante
para se aproximarem da tarefa de ser pai, diziam ser o momento mais
importante e transformador de um homem e pude perceber que
estavam certos.
— Sim, é ele.
— Você pode até ter feito sexo com a Lis e engravidado ela, mas
eu fui muito mais pai para aquela menininha do que você será. Era eu
quem estava ao lado dela todas as vezes em que ficou doente e a Lis
a levou para o hospital. Eu estava lá nos primeiros passos dela. Para
a Kin, eu não sou um estranho, mas você é.
— A Lis nunca vai deixar isso acontecer. Nem eu! A Kin é nossa.
— Não. A Kin é minha e da Lis, não importam as circunstâncias.
Fomos nós quem a concebemos. Se me dá licença, vou retornar ao
meu quarto. Não há nenhuma justificativa para ficar conversando com
um homem alterado e que não possui nenhum argumento lógico.
Ele poderia estar com a mulher que eu amava, mas não parecia um
candidato melhor do que eu e isso me fez sorrir.
Vinte
Lis
— Dinda!
— Nem um soquinho?
— Era de esperar que ele ficasse com raiva, não é? Não preciso
repetir que eu disse que ele precisava saber, mas estou repetindo. Ele
precisava! Talvez você tivesse se casado bem antes de mim se
tivesse contado para ele lá atrás.
— Eu vou lá. — Saí com o carro assim que ela e a Kin seguiram
para o interior da loja.
Levou quase meia hora para que eu achasse uma vaga para
estacionar e um vigia com o canhoto do rotativo, mas quando entrei
na grande loja, com dois andares e uma frente de vidro expondo os
vestidos de noiva, eu encontrei a minha melhor amiga e a minha filha
sentadas em um banco da recepção.
— Muito linda, Jaque! Diz para a Dinda que ela está linda.
— Eu sei.
— Oi, Lis! Tudo bem? Onde está a Kin? — Ji Won parou na minha
frente após cumprimentar o homem com um breve curvar de cabeça.
— Você veio aqui para ver meus quadros ou para dar em cima do
pai da minha filha?
Eu teria rido da fala dele se não soasse tão estúpida diante das
circunstâncias. Sexo era a última prioridade naqueles dias.
— Acho que ela deve estar com fome. Vou preparar uma
mamadeira para ela.
Assim que virei meu corpo para ir até a cozinha, eu pisei em uma
pequena poça e perdi o equilíbrio. Aquele maldito chão virava quiabo
quando molhado. Deveria ter alguma goteira no telhado ou a água
simplesmente infiltrara com a chuva que caíra de madrugada, o que
era bem comum em construções mais velhas como aquela. Estava
divagando, pronta para o tombo quando o Ji Won enlaçou a minha
cintura e me puxou para ele. Foi como se o mundo ao meu redor
tivesse parado. Senti o coração dele batendo tão perto do meu, que
vislumbrei a possibilidade de segurá-lo entre os meus dedos. Fazia
dois anos que eu não tinha mais contato com o toque dele, mas foi
como se a minha pele despertasse memórias que me causaram
calafrios e me fizeram suspirar. Minha respiração parou, tornou-se
ofegante e depois parou de novo enquanto nossos olhos se
encaravam em uma eternidade, que parecia boa e ao mesmo tempo
torturante. Imaginei que ele fosse me beijar e aguardei ansiosa por
isso, meu corpo praticamente suplicou, por mais que, na teoria, fosse
muito errado porque eu havia aceitado voltar a namorar o Felipe.
— Vou fazer a mamadeira primeiro. Fique de olho para que ela não
se machuque.
— Sim, eu quero. Para ficar com a nossa filha. — Aquela tinha sido
uma ideia da Jaqueline, mas ele não precisava saber disso.
— Apenas um terno.
— Okay! Obrigado pelo convite. — Foi a primeira vez que ele me
dirigiu um sorriso amoroso depois que descobrira a filha e isso fez
meu coração bater um pouco menos apertado.
— Agora é tarde.
— Imagino que não para o meu reconhecimento legal de
paternidade.
— Obrigado.
— Esse é um presente.
Peguei uma vasilha com uva e fui até o cercadinho da minha filha,
mas ela estava dormindo.
— Sim, amanhã!
— Que merda!
— Não importa o que ele diz! Está estampado na sua cara que é o
Ji Won que você quer, não só por ele ser o pai da Kin.
— Você tem razão.
— Alex, oi, irmã! Sei que não liguei para você depois de domingo,
mas é que aconteceu uma coisa que me deixou meio fora de órbita.
— Não tem nada a ver com isso. É o pai da Kin, ele está aqui e
estou avisando porque você deve conhecê-lo no casamento da
Jaqueline no sábado. Ele chegou na segunda-feira.
— Vou fazer o meu melhor, mas estou muito ansiosa para conhecer
ele.
— Mais uma vez, prometo fazer o meu melhor. Vejo você e ele no
sábado, então.
Ji Won
— Ainda não, vai levar pelo menos uma semana para ficar pronto.
— Amiga, não acredito que ainda não terminou com ele. Tá na cara
que é o que está impedindo você e o pai da Kin de fazerem um
irmãozinho para ela.
— Lis, acho que a Kin está com fome — chamou o Ji Won dando
um fim ao meu assunto com a Jaqueline.
Levei a minha filha ao banheiro e depois preparei algo leve para ela
comer.
— Pelo quê? — Não olhei para ele, continuei com a minha atenção
na nossa filha.
— Tirei um mês de licença para vir para cá. Mas ainda estou
acompanhando alguns pacientes à distância.
— Pensando em quê?
— Não consegui tirar nesses últimos dois anos. Por que iria
conseguir tirar agora, que o vejo todos os dias? — confessei sem
medo de ser julgada.
— Ji Won!
— Para lá, com a minha mãe. — Apontei. — Você pode ficar com a
minha mãe e a minha irmã até o fim da cerimônia. A Alexandra, minha
irmã, fala inglês, você vai conseguir conversar com ela.
Ji Won
Fiquei deslumbrado quando vi a Lis andar até mim. Ela já era uma
mulher muito bonita, mas arrumada daquela forma, estava ainda mais.
O vestido azul-claro feito em uma seda leve, bordado com renda e
pedras, moldava-se perfeitamente às curvas do seu corpo. A Lis era
magra, o que atendia ao perfil de beleza coreano, porém, possuía
curvas bem mais acentuadas, o que chamava atenção aos meus
olhos. Às vezes, a vontade de olhar para o seu decote era mais forte
do que eu.
— Sim.
— Sou Alexandra, a irmã da Lis, mas pode me chamar de Alex, é
como todo mundo chama. É um prazer conhecer o pai da minha
sobrinha fofa.
— O prazer é meu.
— Tudo bem.
— Vamos?
— Gostou do casamento?
Puxei minha filha dos braços dele antes que pudesse envolvê-la em
um abraço.
Ela envolveu nossa filha e correu para longe, deixando tudo para
trás, sua bolsa e a mala com as coisas da Kin. Felipe começou a rir e
eu teria dado outro soco nele se não tivesse percebido o que acabara
de dizer e a raiva que poderia ter feito a Alissa sentir de mim.
— Lis, espera!
— Lis!
— Nunca mais me faça pensar que você vai tirar a Kin de mim.
— Eu fui o melhor cara que poderia por você! Estive ao seu lado
sempre que precisou de mim, mas bastou esse coreano chegar para
você se jogar nos braços dele, como se tudo o que eu fiz não tivesse
significado nada!?
Respirei fundo, não adianta assoprar, precisava resolver a situação
de uma vez por todas. Não havia sido sincera com o Felipe desde o
início e isso só acabara piorando tudo.
— Nunca pedi para que você ficasse ao meu lado, que dormisse lá
em casa quando a Kin estava doentinha. Para ser sincera, eu insistia
para que você fosse embora, mas você nunca ia. Eu nunca senti por
você o que eu sinto pelo Ji Won, nem antes de terminar comigo pela
primeira vez. Eu só aceitei voltar por estar cansada demais da sua
insistência, isso não significa que eu te amo, na verdade, acho que
nunca te amei, estava só acostumada à sua presença.
— Não odeio você, Felipe! Ainda quero você como meu amigo,
mas nós dois não funcionamos mais juntos, nem sei se chegamos a
funcionar um dia ou talvez estivéssemos apenas acostumados com a
presença um do outro.
— Lis...
— Não discute, só vai piorar as coisas. Você sabe que, no fim das
contas, estou certa, que não temos química nenhuma e só estávamos
prolongando o inevitável.
— Obrigada, Felipe.
Ele deu às costas e foi embora, derrotado. Sabia que discutir era
inútil e não adiantava insistir.
— Eu fico contente.
— Esse cara finalmente não estar mais entre nós dois. — Ji Won
puxou meu rosto e me deu mais um beijo.
— Será que a sua amiga não vai ficar chateada se formos embora
cedo?
Cheguei perto do meu carro e me dei conta de que não estava com
a chave, entretanto, não demorou muito para que o Ji Won chegasse
e destravasse o veículo. Ele abriu a porta para mim e eu coloquei a
Kin na cadeirinha antes de pegar a chave da mão dele e assumir o
volante.
— Não sabe o quanto pode ser sombria uma noite sem seu toque,
seu carinho... — Ele colocou o nariz no meu pescoço e eu me encolhi
com a cócega. — Sem seu perfume... Eu amo você, Lis!
— Eu também amo você, Ji Won. —
Não contive o sorriso que
tomou conta do meu rosto.
— Eu aceito.
— Gosto muito dessa sua condição, minha noiva. — Ele tirou uma
caixa da calça e estendeu para mim o anel mais bonito que eu já tinha
visto na vida. Uma verdadeira obra de arte.
— Lis!
Ao lado dele, estava uma mulher loira e sorridente. Depois que nos
afastamos do abraço, outra coisa que levou um tempo para que o Ji
Won se acostumasse, com aos hábitos brasileiros, eu olhei bem para
ela. O cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo e usava um
vestido azul da cor dos seus olhos. Havia um menino com ela, de pele
morena e olhos verdes, que eu presumi ser filho dos dois.
— Obrigada.
Fim!
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