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D. A.

LEMOYNE
Copyright © 2022
D. A. LEMOYNE

dalemoynewriter@gmail.com
Copyright © 2022

Título Original: Seduzida Por Contrato – O Grego e a Sugar Baby

Primeira Edição 2022


Carolina do Norte - EUA
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos
eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito da
autora, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões
críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de
direitos autorais.

Nome do Autor: D. A. Lemoyne


Revisão: Dani Smith Books
Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-41159-1

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares,


negócios, eventos e incidentes são ou produtos da imaginação da
autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos reais é mera
coincidência.
Aviso: pode conter gatilhos.

Aviso: Seduzida Por Contrato – O Grego e a Sugar Baby, livro 1


da série Irmãos Kostanidis, é um livro único. Os seguintes desta
série poderão ser lidos separadamente, mas o posterior conterá
spoilers dos anteriores.

Fazendo jus ao deus de quem herdou o nome, o banqueiro Zeus

Kostanidis é poderoso e implacável.

Frio, cínico e sem fé no amor, ele acha que tudo tem um preço e
se quer algo, não hesita em pagá-lo.
Quando seu caminho cruza com o de uma jovem humilde e

batalhadora, ele decide que terá Madison Foster em sua cama até
saciar o desejo que a mulher de curvas exuberantes lhe despertou.

Madison não está interessada em se envolver com o arrogante

irmão mais velho de seu patrão. Ela tem muitos problemas para se
preocupar do que servir de distração para um bilionário, ainda que

ele seja lindo e sexy.

Entretanto, não há limites ao que faria para garantir a segurança


das pessoas mais importantes de sua vida e quando o magnata lhe

faz uma proposta indecente, ela não pode se dar ao luxo de recusar.

Mas a garota inexperiente criará suas próprias regras, equilibrando


a balança neste jogo de desejo.
A todos os meus leitores: espero que estejam
animados para esta nova série.

Carolina do Norte, março de 2022.


NOTA DA AUTORA:

Seduzida Por Contrato é o primeiro livro da saga Irmãos


Kostanidis e contará a história de Zeus Kostanidis e Madison Foster.
Ele, um grego arrogante e que tem o mundo aos seus pés, é

primo de Christos e Odin Lykaios, protagonistas de A Eleita do


Grego e Sobre Amor e Vingança, respectivamente. Ela, uma jovem
que não medirá esforços para cumprir a promessa que fez à sua

irmã.
Além dos personagens acima citados, farei uma introdução aos
outros três irmãos: Ares, Dionysus e Hades.

Mesmo sendo uma série, cada livro será protagonizado por um


casal diferente. Ainda assim, o livro posterior provavelmente conterá
spoilers dos anteriores.

Eu amei escrever essa história e espero que apreciem também.

Um beijo carinhoso e boa leitura.

D.A. Lemoyne
Prólogo

Grécia

Passado

Há uma divisão no piso de madeira impedindo o líquido viscoso de

continuar sua trajetória, transformando o sangue que sai do meu pai


em uma espécie de pintura inacabada ou um desenho abstrato.

Por incrível que pareça, não é a cena à minha frente o que me faz

ter vontade de virar as costas, mas o cheiro.

Acho que nunca vou me esquecer desse odor adocicado, enjoativo.

Olho para o relógio em meu pulso.

Meus irmãos chegarão a qualquer momento e eu preciso pensar no

que fazer.

Chamar a polícia ou ligar para o advogado primeiro? — Tento

decidir, como se aquela questão fosse mais importante do que o fato

de que nunca mais conversarei com meu pai.

Como se eu não tivesse acabado de perder o meu ídolo.

Um Kostanidis nunca se dobra, não importa a situação, parece que

o ouço dizer, nos almoços de domingo, enquanto crescíamos.


Mas você se dobrou a ela. Deixou que pisasse em seu orgulho. A

colocou acima de seus filhos, da nossa família.


Seguro a carta em minhas mãos. Nela, meu pai diz que acabara de

descobrir que mamãe morreu tentando fugir com o amante hoje mais
cedo. A única coisa que consigo pensar é que ela teve o que merecia.

A porta se abre atrás de mim e sem que eu precise me virar, pelo


andar arrastado, sei quem é.

— Fui eu quem o encontrou primeiro. Eu li a acarta. Não importa


quantos anos leve, mas prometa que restaurará nosso orgulho, Zeus
— meu avô diz, parando ao meu lado. — Não me resta muito tempo

de vida, mas eu preciso morrer sabendo que o nome da família será


honrado.

Como sempre, sua voz não denota qualquer emoção. Os


Kostanidis nunca externalizam fraqueza.

— Será, avô. Farei o que for preciso, mas vou vingar meu pai.
Capítulo 1

Madison

Nova Iorque

Dias atuais

Olho para a frente do scarpin preto e barato que estou calçando e


consigo ver um minúsculo ponto branco, descascado. Talvez a

maioria das pessoas nem note, mas me conheço o suficiente para


saber que passarei todo o tempo da entrevista tensa com a

imperfeição.
Já há algum tempo, eu desconfio que sofro de TOC[1], mesmo

que não tenha ido a um médico. São detalhes que me fizeram


chegar a essa conclusão e não um diagnóstico preciso.

Eu gosto de tudo muito certinho. Não, eu não estou falando sobre

mania de arrumação ou qualquer coisa do tipo, mas de uma


verdadeira obsessão pela perfeição.

Eu fui pesquisar a respeito e descobri que existem vários tipos de

TOC. No meu caso, tem a ver com a estética. Eu preciso corrigir o

que está fora do lugar ou não consigo focar em mais nada.


E só Deus sabe como preciso me concentrar para me sair bem

nessa entrevista, então, para uma rápida solução do problema, abro

minha bolsa, pego um lápis preto de olho e faço a imperfeição no

sapato desaparecer como em um passe de mágica. Alguém


precisaria ter visão com mira a laser para detectá-la agora.

Bato o pé no chão, mas quando o senhor que está na minha

frente dentro do elevador olha para trás, congelo o movimento,

muito sem graça.

Mal pude acreditar quando fui selecionada para a entrevista.

Eu me candidatei por puro desespero, mas agora que tenho a


oportunidade ao alcance da mão, rezo em silêncio para que tudo dê

certo.
Só de passar pela porta do edifício que acredito que seja a sede
de outros negócios da família de bilionários e de onde gerenciam as

SIN, já fiquei ansiosa e me sentindo uma pé de chinelo — o que não

deixa de ser verdade.

Entretanto, é no momento em que o elevador para no andar onde

farei a entrevista que tenho vontade de sair correndo.

Há ao menos uma dúzia de mulheres que parecem ter saído


direto de uma revista de moda, sentadas na sala de espera.

Como, se estão se candidatando ao mesmo cargo que eu, têm

condições de se vestir tão bem? Sou pobre, mas muito por dentro

de como vivem as celebridades, porque sonhar é de graça.

Não é porque não tenho condições de comprar que não sei

quanto custa a bolsa que a terceira candidata sentada à direita tem

sobre seu colo.


Se são ricas, o que estão fazendo aqui?

No anúncio não dizia nada sobre o valor do salário apesar de

que, a julgar pelas pesquisas que fiz em chats de mulheres que têm

a mesma carreira para a qual estou me candidatando, deva ser alto.

Eu li que empresas grandes nunca revelam o valor que pagarão,

a não ser quando você chega na última fase da entrevista, o que


significa que hoje saberei se meus problemas financeiros serão
parcialmente resolvidos, ou se continuarei pela estrada do

desespero.
Não, vai dar tudo certo. Acredito em Deus e ele sabe que as

decisões que tomei desde que Brooklyn foi internada não são em
meu benefício.
Não me preocupo com minha aparência, sem falsa modéstia.

Não é por isso que estou ansiosa. Sei que nesse quesito, não deixo
a desejar ou eles não teriam me selecionado, mas me preocupo e

muito com o fato de ter mentido em uma das respostas: falar mais
de uma língua. Eu não falo, mas me candidatei assim mesmo. Até

porque, nem consigo entender a razão de precisar ser bilíngue


nesse tipo de emprego, já que em tese não deveria haver interação
com o cliente.

Além desse probleminha com um segundo idioma, ainda há a


questão de como descobri sobre essa vaga. Eu menti novamente.

Não foi indicação de uma ex-funcionária, mas de um cartão de


visitas que caiu do bolso de um cliente cujo a casa eu faxinei.

Não sou uma mentirosa por essência, mas estou desesperada.


Essa é a minha última chance. Tudo o que tentei anteriormente,
não foi o bastante para impedir aquela mulher horrível de querer

separar nossa família.


Claro que a não ser que o dinheiro ganho aqui seja equivalente a

um prêmio de loteria, não será suficiente. Terei que continuar com


um dos meus outros dois empregos, mas ao menos, ficarei com

parte do dia do fim de semana livre.


Olhando para o ambiente que ostenta riqueza, penso que não é

possível que paguem salários muito baixos. Na primeira triagem,


disseram que só quem frequenta a SIN é a elite da elite e foi isso o
que me fez ter coragem para tomar uma decisão tão drástica.

Lá dentro deve imperar a lei do silêncio, tipo: o que acontece em

Vegas, fica em Vegas[2].


Um dia pretendo voltar a estudar e ter uma carreira, e então, tudo

o mais será passado.


Além disso, não é um serviço braçal, como meus empregos
diurnos. Ainda sinto as costas doendo por ter ficado até tão tarde na

casa de uma das clientes ontem, subindo e descendo escadas.


Estou parada na entrada da sala e sinto os olhos das outras

candidatas em mim. Não consigo controlar a insegurança e faço eu


mesma uma revista geral pelo meu corpo.

Minhas roupas sempre foram baratas. Todas compradas em loja


de departamento e mesmo assim, quando está com liquidação de
mais de setenta por cento. Atualmente, nem isso, porque não sobra
nada.
Antes do vestido preto que estou usando, não lembro da última

vez em que adquiri uma peça nova.


Eu não preciso delas, já que não vou a lugar algum além do

trabalho para casa. Só comprei esse mesmo porque queria passar


um ar profissional, dada a função a qual estou concorrendo.
Somente para o caso de haver algum mal entendido por parte do

entrevistador.
Tenho coisas muito mais sérias com que me preocupar do que

roupas, mas quando passei para a fase final dessa função, lembrei
de uma frase que minha madrasta sempre repete: o mundo vive de

aparência.
As pessoas não têm pena de você e não lhe darão uma segunda
olhada se acharem que precisa de dinheiro.

Eu tenho a confirmação disso agora mesmo.


A secretária atrás de uma mesa de madeira escura me mede de

cima a baixo e por um instante tenho certeza de que ela vai


descobrir que a minha imagem de mulher segura é uma fraude.
Quero dizer, não sofro com problemas de autoestima. Meu um

metro e setenta, cabelos castanhos longos e olhos verdes chamam


atenção. Sei que os homens costumam virar a cabeça para olhar
quando eu passo na rua, mas eu não preciso de mais do que dez
segundos para entender que não pertenço a esse lugar.

Nem mesmo como candidata.


Não seja covarde, Madison. Isso não é sobre você.

Não há maneira de que o salário seja pequeno, então vou


enfrentar o que vier no meu caminho.
Bato as unhas nervosamente na alça da bolsa de ombro,

tentando avaliar quantas mentiras mais terei que contar além da de

ser bilíngue.
Quantas forem preciso — a voz volta a me avisar.

Eu me sinto um pouco envergonhada por inventar que falo mais

de um idioma, mas farei tudo ao meu alcance para conseguir mais

dinheiro.
A mulher se levanta de trás da mesa e caminha na minha

direção. Meu estômago embrulha e um filete de suor frio escorre

pela minha coluna.


Ela vai dizer que eu não sirvo. Todas as presentes são loiras e

bem mais magras.

Além disso, eu sinto como se a mulher pudesse adivinhar meu


desespero e necessidade.
Também sei que ela entende, só pelo jeito como me olha, que a

roupa que eu uso não se iguala às das outras candidatas.


Dane-se, eu vim até aqui porque me chamaram e não vou recuar

de jeito algum.

Ergo o queixo, recusando-me a ser intimidada.


Não posso me dar ao luxo de fraquejar.

Eu vou conseguir.
Capítulo 2

Madison

— Madison Foster? — a secretária com cara de poucos amigos


chama e eu sinto meu estômago contrair. — Doutor Ares Kostanidis
a aguarda.

Ares Kostanidis?
Não pode ser.
Meu entrevistador é o chefão? Que brincadeira é essa? Desde

quando um bilionário entrevista pessoalmente uma candidata a

trabalhar para ele?


Deus, eu quero muito ir embora.

Será que eles não têm uma vaga para servir cafezinho?

Na boate, claro, porque eu preciso e muito de gorjetas.


Eu deveria ter mirado em algo mais simples. Não há maneira de

que um homem como ele vá comprar meu blefe de ser bilíngue.


E se ele me perguntar alguma coisa em espanhol? Eu não falo

muito além de gracias, tacos e fajitas[3].


E por que no céu tem que ser ele a contratar uma dançarina?

Não tem mais o que fazer da vida?

Andar de jatinho, ir para algum paraíso tropical com uma modelo


famosa, assistir a aurora boreal, enfim, um programa que os milhões

de dólares que deve ter no banco o permitiriam usufruir.

Tento me lembrar o que sei desse membro em particular da

família Kostanidis, mas minha cabeça está misturando as


informações porque eu estou muito ansiosa.

Quero dizer, eu dei uma pesquisada na internet sobre meu

possível novo empregador porque o sobrenome Kostanidis é muito

famoso nos Estados Unidos. Descobri que tem três irmãos e ele é o
segundo mais velho.

Eu achei que faria a entrevista com o gerente da boate ou algo

assim. Jamais imaginei que teria que lidar com alguém tão

importante.

Como vou levar minha mentira adiante? Jesus, estou com muita

vontade de fugir.
Você chegou até aqui, quem sabe não dá certo? — a voz

endiabrada me pergunta.
Eu e Brooklyn fomos criadas por um mentiroso e sei que não é
muito difícil sustentar uma mentira. Você só precisa dar às pessoas

o que elas desejam ouvir.

Apesar disso, não fico muito à vontade em enganar. Ao contrário

do meu pai, só estou fazendo isso porque não tenho mais

alternativa.

— E então, senhorita? Entrará ou posso chamar a próxima


candidata?

— N… não. Já estou indo. Desculpe-me.

Eu não sou insegura, mas estou tremendo da cabeça aos pés.

Estava me sentindo fresca e limpa quando entrei no prédio hoje,

mas agora uma camada de suor frio escorre até o bumbum.

Ando devagar tomando todo o cuidado para não cair, mas

quando passo pela secretária que segura a porta aberta, sinto


vontade de dizer que mudei de ideia e ir embora.

Antes que eu possa fugir, porém, a mulher bate a porta atrás de

mim.

Eu me viro para enfrentar o inevitável: ficar sozinha na sala com

um bilionário que sem saber, tem em suas mãos minha única

chance de conseguir respirar em um mar de contas a pagar.


Quando torno a olhar para frente, um gigante lindo que não pode

ter mais do que trinta e poucos anos me encara.


— Quem diabos é você? Eu vou matar o idiota que resolveu fazer

essa brincadeira comigo.


Sinto meu estômago revirar, mesmo sem fazer a menor ideia do
que ele está falando.

Sabe qual é o problema com a mentira? A culpa aparece no seu


rosto e acho que é isso que ele enxerga em mim no momento. E

olha que nem me perguntou nada em espanhol ainda.


Ai, meu Deus!

— Saia!
Estremeço, mas contraditoriamente, congelo no lugar.
— O que diabos você ainda está fazendo parada aí? Já disse

para sair.
Sei que a secretária voltou porque ouço um barulho às minhas

costas.
— Doutor Ares, algum problema? — ela fala, parecendo tão

nervosa quanto eu.


— Quem a trouxe? — ele pergunta à mulher, apontando para
mim. — Não precisa responder. Apenas tire-a da minha frente.
Aquilo finalmente me desperta. Posso estar desesperada, mas

não aceito alguém falar comigo daquele jeito.


— Eu posso sair sozinha. Não sou um bichinho de estimação que

precisa ser guiado.


— Então não serve para o cargo? Não irá sequer entrevistá-la?

Ela passou por todas as etapas, como as outras — a secretária


insiste.
— Não se dê ao trabalho de intervir por mim. Estou saindo. Não

há bom salário que compense trabalhar para alguém como ele.


Tento reunir os poucos gramas de dignidade que sobraram e

empinando o nariz, lhes viro as costas e caminho em direção à


porta.
— Parada — ele ordena, quase que rosnando.

Tenho vontade de bater em mim mesma quando obedeço. Talvez


seja a necessidade se sobrepondo à dignidade.

— Janine, você pode ir. Eu conversarei com a senhorita…


— Madison Foster — respondo, trincando os dentes e olhando-o

nos olhos ao me virar.


Eu deveria ficar quieta, mas meu mau gênio não permite, então,
esquecendo quem nós somos no jogo da vida, continuo como uma

suicida.
— Não faço ideia de quem pensou que eu fosse, mas o senhor
me deve um pedido de desculpas.
Ele pisca algumas vezes, como que para ter certeza se ouviu

direito.
Acho que ninguém jamais teve coragem de lhe dizer algo assim e

talvez em uma situação normal eu também não teria, o problema é


que estou com muita raiva.
— Quem é você? — repete a pergunta que fez no início, mas

agora um pouco mais calmo.


— A senhorita Janine já disse quem eu sou e acabei de confirmar

meu nome — respondo com o queixo erguido.


Ele me olha de cima a baixo.

Depois, como se não tivesse sido um estúpido comigo, volta para


a mesa e abre o que acredito que seja a minha pasta, que a
secretária lhe entregou.

— Madison Foster, dezenove anos. Nunca cursou faculdade de


dança, mas passou por todos os testes. Como é possível?

— Já ouviu falar em dom? Sei dançar e isso é tudo.


Perdi completamente a vontade de ser doce, que eu já não sou
muito normalmente. Depois desse show de loucura que ele deu, não

permitirei que me trate mal outra vez.


Ele deixa passar minha resposta atravessada.
— Espanhol intermediário? — pergunta, como se esse fosse o
início da entrevista e ele não tivesse agido como um idiota há dois

minutos.
— O senhor tem certeza de que quer que eu fique?

Nem foi a pergunta sobre o meu espanhol inexistente o que me


fez questionar isso. Em uma guerra de emoções, a raiva suplanta o
medo. É porque, de repente, pensei que ele pode ser pirado

mesmo, pois seria a única explicação para uma mudança de

comportamento tão drástica, e talvez não seja uma boa coisa ficar
em uma sala trancada com um maluco.

— Sente-se. O que precisa aprender ao meu respeito é que só

faço o que eu quero. Se disse que era para você ficar, não me

questione. Agora fale-me sobre não ter salário que compense


trabalhar para alguém como eu. Está certa disso?

Tudo em mim implora para gritar um sonoro: sim, seu grosseirão!

Entretanto, eu não respondo porque não sou boba de todo,


então, ao invés disso, aceito sua sugestão e sento-me como uma

boa menina, mesmo que por dentro uma psicopata com sede de

sangue ainda esteja ativa.


Aceito a mudança de comportamento do ogro grego como uma

segunda chance da vida.


— Responda, Madison.

— Acho que pela maneira como falou comigo quando entrei aqui,

tenho direito a uma pergunta também, senhor Kostanidis. Por que


me tratou daquele jeito?

Ele não hesita.

— Achei que fosse uma garota de programa.


Capítulo 3

Madison

Uma garota de programa — repito mentalmente enquanto todo o


sangue do meu corpo corre para o rosto e pescoço.
Eu não posso ser considerada uma pessoa muito sensível.

Fomos criadas boa parte da vida apenas pelo nosso pai, que apesar
de bom para nós, dentro do possível, era também um trapaceiro e
mentiroso patológico. Quando Eleanor se casou com ele, tanto eu

quanto Brooklyn já havíamos aprendido a endurecer para poder não

quebrar após cada decepção.


Nesse instante, entretanto, sinto um zumbido no ouvido e os pés

formigando.
Sei a razão: vergonha. Daquele mesmo jeito que sentia na escola

quando as crianças riam porque só tínhamos um casaco para usar o


inverno todo ou a mochila estava esburacada.

Claro, eu sei que não pertenço a esse lugar. Não sou nada o

suficiente: nem bem vestida ou descolada como as garotas lá fora


aparentemente são, mas daí a me confundir com uma prostituta?

Quase pulo da cadeira, levantando-me na velocidade da luz.

Sendo uma sobrevivente, é difícil alguém conseguir me


desestabilizar, mas estou com vontade de atirar o peso de papel que

está em cima da mesa nele.

— Como ousa?
— Sente-se.

Quero mandá-lo para o diabo que o carregue, mas outra vez me


lembro a razão pela qual estou aqui e obedeço, mesmo que a raiva

ainda não tenha passado.

— Eu só respondi sua pergunta. Se eu a contratar, senhorita

Foster, terá que aprender rápido que eu não faço rodeios sobre o

que penso. Eu achei que você era uma garota de programa.

— Por que diab… — começo e ele ergue uma sobrancelha, como


que me desafiando a continuar a praguejar — por que o senhor

pensaria algo assim?


De repente, me sinto insegura e olho para o meu vestido. Por
mais que me chateie que ele tenha conseguido me atingir, sinto-me

exposta e encabulada.

Eu esperava e ainda espero, ser desmascarada a qualquer

momento, mas nunca na vida ser confundida com uma prostituta.

— Foi a minha roupa que fez o senhor pensar isso?

Eu não consigo encará-lo.


Tenho medo de que se o fizer vá começar a chorar porque ele

atingiu um ponto fraco.

Eu sou uma ninguém, pobre para caramba, mas há algo que

sempre preservei: minha dignidade. Agora, esse homem poderoso

acaba de me fazer sentir como merda.

— Não tem nada a ver com a sua roupa, e sim com sua beleza

exuberante. Além do rosto lindo, seu corpo ressuscitaria um defunto.


Se fosse outro homem a dizer aquilo, eu provavelmente ficaria

um pouco assustada, mas sua voz demonstra tanta indiferença que

volto a encará-lo.

Penso em como eu preciso daquele emprego.

Só Deus e eu sabemos o quanto, mas não a ponto de ser tratada

como lixo.
Tomo algumas respirações e me levanto.
— Eu não disse que a entrevista acabou — fala.

Jamais conheci um homem tão arrogante em minha vida. Ele


provavelmente nunca foi contrariado.

— Eu mudei de ideia. Foi um equívoco ter me candidatado a essa


vaga.
— Não quer nem mesmo saber qual seria o valor do salário?

Estou em uma luta interna entre meu orgulho e a necessidade e


como se percebesse isso, ele diz calmamente uma quantia que me

faz sentar de novo, até tentar assimilar aqueles números.


Faço um cálculo mental rápido e não preciso ser uma matemática

para entender que esse emprego resolveria quase todos os meus


problemas.
Sei que ele pode ver o espanto em meu rosto, porque o canto de

sua boca se ergue em um sorriso irônico e tanto quanto eu gostaria


de lhe dar uns tapas e tirar aquela expressão cínica à força, não sou

tão boa atriz assim para não demonstrar o quanto preciso do


dinheiro.

— E ainda há o bônus anual.


— Bô… bônus?
— Sim. Nunca menor do que dois salários.

Estou tonta e sinto minhas mãos úmidas.


O dinheiro do bônus que ele mencionou daria até mesmo para

nos mudarmos para um quarto e sala mais perto do hospital —


quero dizer, perto em comparação ao que é agora, mas de qualquer

modo, eu teria como verificar minha irmã com mais frequência. Eu


também poderia parar com as faxinas em definitivo e sobraria mais

tempo para…
Não, uma coisa de cada vez, Madison. Nada de atropelar os
planos. Respire.

— Ainda quer desistir da vaga? — o maldito pergunta, já sabendo


a resposta.

— Eu não posso.
— Foi o que eu pensei. Então agora deixe-me lhe explicar porque
a confundi com uma garota de programa.

Cruzo os braços em atitude de autoproteção porque não tenho


dúvida de que o homem é bem vivido e sabe que se fiquei, é porque

preciso. Isso não significa, no entanto, que eu o tenha perdoado


pela ofensa.

— Eu não sei se quero saber.


— Meus amigos têm mania de fazer brincadeiras estúpidas
comigo — diz, como se eu não tivesse protestado. — Por mais de

uma vez me enviaram garotas de programa fingindo serem


candidatas a funcionárias nas minhas principais empresas. Inclusive
para cargos de secretária e assistente.
— Por que no céu fariam uma coisa tão idiota? — pergunto antes

que possa me parar e para minha surpresa, vejo o canto de sua


boca se erguer outra vez.

— Sua pergunta já é uma resposta. Homens fazem coisas idiotas


o tempo todo.
Não tenho como discordar, se eu for levar em conta o exemplo

que tive em casa, mas dessa vez, prefiro ficar quieta e só escutar.
— Eu cometi um engano com relação a você e como já

esclarecemos tudo, acho que podemos seguir adiante.


— Não.

— Não o quê?
— Vim aqui, depois de passar por todas as fases que a vaga
exigia, para trabalhar como dançarina… huh… exótica no seu

nightclub exclusivo e fui ofendida sem qualquer razão, a não ser seu
preconceito com minha aparência. Não ouvi um pedido de

desculpas formal até agora, senhor Kostanidis.


Ele gira uma caneta que tem nas mãos em um movimento tão
lento que chega a ser enervante, até finalmente dizer.
— Preste atenção no que vou lhe dizer, Madison. Não blefe
quando estiver falando comigo. Nós dois sabemos que precisa
muito desse emprego, a julgar por sua roupa modesta e o sapato

com a ponta descascada. Já disse que cometi um engano. Esse


tópico está encerrado. Será assim ou você pode se levantar e dar a

vez para a próxima candidata. O que vai ser?


Eu queria poder simplesmente ir embora, mas claro, não é o que
faço.

— Vou ficar.

— Então, vou te dizer porquê sou eu quem a está entrevistando


agora. No fim dessa conversa, já terá sua resposta se vai ser

contratada ou não.
Capítulo 4

Zeus

O som de vidro estilhaçando no chão chama a atenção dos


membros masculinos presentes, mas não a minha.
Pela minha visão periférica, vejo alguém recolhendo o que sobrou

do que acredito ter sido um copo. Provavelmente uma das


empregadas do banco.
É muito difícil conseguir me desconcentrar quando um objetivo

ocupa minha mente e nesse instante, tudo o que posso pensar é em

como estou perto de finalizar minha vingança.


Em menos de um ano, todo o patrimônio dos Gordon se unirá ao

dos Kostanidis e então, eu terei cumprido o que prometi ao meu

avô.
— Acredito que acabamos aqui — falo, já me levantando.

Qualquer pessoa que carregue esse sobrenome me enoja,

mesmo que o idoso a minha frente não tenha culpa por seu filho
morto ser um desgraçado.

— Sim, a parte burocrática — Emerson Gordon diz. —, mas acho


que seria uma boa ideia marcarmos uma reunião social para que…

— Não — eu o interrompo sem a menor cerimônia. — Vamos

deixar algo claro. O que acabamos de fazer são apenas negócios e


continuará sendo assim até o fim.

Ele não se abala pelo desprezo na minha voz.

— Até porque a multa para o caso de um dos dois romper o trato


é astronômica.

— Não para mim — respondo, já me afastando e sem me

despedir.
Entrei neste acordo por vontade própria. Quero que compreenda

que não está em vantagem. Ninguém tem o poder de me obrigar a


cumprir o que não desejo.
— Está certo sobre o que acabou de fazer, Zeus? — Odin[4], um

primo distante, descoberto há um par de anos junto a outro, Christos

Lykaios[5], pergunta do outro lado da linha.

Nossa família é grande, mas juro por Deus que não imaginei que

fosse tanto. Parece que primos brotam do chão de vez em quando.

— Você mais do que ninguém deveria entender minhas razões.

— respondo.

— Vingança.
— Sim. Preciso de um encerramento.

— Pelo seu pai ou pelo avô?

— Pelo meu avô. Meu pai fez uma escolha e morreu por ela. A

promessa que fiz diz respeito exclusivamente ao meu avô.

— Uma promessa que irá destruir sua vida.

— Não, eu já tenho tudo planejado.

— Do mesmo modo que eu pensava que tinha ao comprar a ilha

de Leandros Argyros[6], tentar destruí-lo e acabar me casando com a

filha do inimigo?

— Elina é uma mulher maravilhosa. No fim, tudo aconteceu como

deveria.

— Destino.

Como bons gregos, ambos acreditamos naquilo.


— Exato. Não há como fugir dele.

Depois que desligamos, abro a gaveta e pego a fotografia do meu


avô. Ele parece me encarar de volta e posso jurar que sorri, como

se satisfeito com o que fiz hoje pela manhã.

— Está chegando a hora, pappous[7]. Dentro de pouco tempo,


você poderá descansar em paz porque o nome dos Kostanidis terá
sido vingado.

A porta do meu escritório se abre e vejo Dionysus entrar. Nenhum


dos meus irmãos mais novos tem por hábito esperar serem

anunciados por minha secretária, o que deixa a velha senhora


Gireaux louca.

— Vai no aniversário de Ares? — pergunta sem me


cumprimentar, sentando-se na cadeira em frente à minha mesa.
Não consigo disfarçar o desgosto ao pensar em entrar na SIN.

Não é o tipo de ambiente que me atrai.


— Gostaria de não ter que ir, mas não posso. Vamos fechar uma

importante aquisição com um CEO espanhol. Estou atrás dessas


empresas há mais de um ano e agora ele finalmente parece
disposto a vender.

— Vai trabalhar no dia do aniversário de Ares?


— Não há alternativa. A oportunidade é única. O homem é um

recluso. Nunca sai de seu castelo sei lá em que parte da Espanha e


aceitou o convite para a comemoração do aniversário de Ares na

SIN.
— Está explicado porque ele contratará uma dançarina bilíngue,

então.
— Pode ser, mesmo que não imagine o que ele espera com isso.
Tecnicamente as garotas não deveriam entrar em contato com os

clientes, se me lembro bem das regras.


Ares, meu irmão rebelde, mesmo que seja como todos nós,

acionista majoritário do banco que pertence à minha família há


gerações, iniciou há cerca de dois anos um empreendimento
peculiar de entretenimento para adultos.

Contra todas as probabilidades, entretanto, a boate que


teoricamente realiza fantasias, ainda que virtualmente, dos maiores

empresários, assim como líderes do mundo inteiro, tem feito um


sucesso estrondoso, mesmo sendo muito secreta.

Na verdade, é quase uma seita religiosa em que o escolhido a


membro passa por uma triagem e após, uma verificação de
antecedentes. Há acordo de confidencialidade de ambas as partes,
assim como das moças contratadas. Elas, claro, como parte
fundamental do entretenimento.
— Todo mundo que é membro ou convidado para a boate sabe

perfeitamente das regras. Os pecados[8] devem ficar só na mente. —

Meu irmão debocha.


Balanço a cabeça, pensando na quantidade de merda que viria

em nosso caminho se algum escândalo relacionado ao


estabelecimento vip estourasse na mídia. Teoricamente, a imprensa
nem sabe da existência dela e eu só consigo imaginar nossas ações

na bolsa de valores despencando caso algo assim aconteça.


— E você, vai? — mudo de assunto, porque não quero ficar

novamente preocupado com aquilo.


Já tivemos todas as brigas possíveis quando Ares decidiu dar

seguimento àquele plano.


— Não sei. A babá noturna de Joseph adoeceu.
— Não consegue alguém para substituir?

— Ele não se acostuma tão fácil a pessoas novas.


Mantenho silêncio, mesmo que tenha muito para dizer. As

escolhas do meu irmão não são problema meu.


— Eu sei o que você está pensando. — acusa.
— Duvido.
— Ninguém vai tirá-lo de mim. Eu o registrei. Joseph é meu.
— Não tem nada a ver com o garoto e sabe bem disso. Para
mim, ele já faz parte da família.

Ele se levanta, como eu tinha certeza de que faria. Dionysus não


aceita que sua falecida esposa seja trazida à pauta.

— Vou tentar encontrar uma babá — fala. — Hades disse que


também irá. Há muito tempo nós quatro não nos reunimos. Vovô
não gostaria disso. Ele sempre quis que nos mantivéssemos perto

uns dos outros.

— Eu sei da vida de cada um de vocês do avesso — respondo


sem a menor culpa.

Apesar da diferença de idade entre nós não ser tão grande, antes

mesmo do meu pai morrer eu já cuidava dos meus irmãos mais

novos. Fui criado para ser o líder da família quando nosso pai nos
faltasse e isso aconteceu muito antes do que eu supunha.

— Não duvido e sabe que a recíproca é verdadeira. — Ele já

estava na porta, mas volta. — Não foi somente para falar do


aniversário de Ares que eu vim.

— Eu sei e a resposta é sim, vou dar seguimento com meus

planos de restaurar nosso sobrenome.


— Christos e Odin estão preocupados.
— Não há razão. Eu sei o que estou fazendo.
Capítulo 5

Madison

A dor nos pés interfere em meu mergulho mental pela entrevista


de hoje à tarde.
Enquanto sou espremida dentro do trem cheio, a caminho de

casa, me arrependo de não ter trazido um par de tênis na bolsa. Ser


chique é doloroso, e não apenas para o bolso. O scarpin de ponta
fina está destruindo meu polegar, que estranhamente é gordo em

relação ao resto dos meus dedos do pé.

Uma mulher se levanta e quando tento me mover para sentar em


seu lugar, uma senhora surge do nada. Dou o lugar, claro. Nada me

irrita mais em metrô ou trem do que ver homens feitos ignorarem

tranquilamente grávidas e idosos, não cedendo o assento.


Um engraçadinho cola em minhas costas, tentando se esfregar e

sem olhar para trás, lhe dou um pisão. Disfarço um sorriso quando
ouço seu gemido de dor. Cresci tendo que cuidar de mim e de

Brooklyn, mesmo que ela seja mais velha e sei perfeitamente me

defender de homens abusados.


A conversa com o meu novo empregador me volta à memória.

Depois dos dez minutos iniciais, eu tentei com força manter a

intenção de odiar Ares Kostanidis — sim, eu sou desse jeito. Gosto


ou não gosto de você, sem meio-termo —, mas não consegui.

Ele é de uma honestidade brutal e acreditei quando disse que

achava mesmo que eu era um “presente” dos idiotas dos amigos.


Que tipo de imbecil faz uma coisa dessas? Os muito ricos e

desocupados, aparentemente.
Quando conseguimos conversar sobre o que realmente

importava, ele me explicou melhor o que eu já sabia das primeiras

entrevistas: que a SIN é um nightclub diferenciado, onde bilionários

do mundo inteiro vão para realizar fantasias sem se comprometer

muito.

Uma espécie de território em que quase tudo é permitido e que


moças seminuas com um terço da idade dos membros dançam

enquanto negócios são fechados.


Incrível eles conseguirem trabalhar com ereção, aqueles
pervertidos.

Além do show no pole dance, há também danças privadas.

Tirar totalmente a roupa ou não é opção de cada dançarina e não

obrigatório, mesmo que ele tenha me dito que há um adicional de

vinte e cinco por cento nesse caso.

Eu nem pestanejei e respondi que preferia ganhar menos,


mesmo.

Dançar de biquíni ou roupas íntimas vai me deixar morta de

vergonha, mas eu ainda posso fechar os olhos e me concentrar na

razão pela qual irei para lá todos os dias.

Entretanto, ficar nua na frente de um desconhecido quando

nunca o fiz com qualquer outro homem está fora de questão.

Não há dinheiro no mundo que pague isso.


Respeitei um pouco mais Ares Kostanidis quando ele apenas

acenou com a cabeça ao ouvir o meu não.

A única coisa que ainda está me deixando muito nervosa — além

do fato de dançar para uma plateia em cima de um palco, claro — é

que acabei esquecendo de perguntar a razão de precisar falar

espanhol.
O que me interessou mesmo, fora o salário mais do que

generoso e o bônus, foi o fato de que o doutor Ares insistiu que na

SIN não havia prostituição. É um lugar onde os pecadores[9] que a


frequentam realizam parcialmente suas taras.

Claro, ele é chique e usou a palavra “fantasia”, mas eu sou


povão, então vou chamar de tara mesmo porque quando pedi um
exemplo do que poderia ser essa tal “fantasia”, tive que me controlar

para não rir.


Ele falou que há diversas, desde lamberem os sapatos das

dançarinas — o contato só pode ser no calçado mesmo, nunca na


pele — até os clientes também usarem lingerie na saleta privada e

por isso, me fez assinar um acordo de confidencialidade onde eu


nunca posso sequer comentar com minha família o que acontece lá
dentro.

Deus, que isso nunca aconteça comigo — um cliente querer usar


lingerie, quero dizer.

Não há chance de que eu consiga dançar para um homem


vestido de calcinha e sutiã sem dar risada.
Sobre essas danças privadas, ele me disse que haverá

seguranças do lado de fora da cortina e que basta um chamado


meu para que entrem.
Suspiro desanimada pensando que não era aquilo o que planejei

para a minha vida, e sim cursar faculdade e conseguir um bom


emprego.

Com todas as minhas responsabilidades atuais, no entanto, vou


ter que segurar essa chance porque não é mais somente da minha

vida que tenho que cuidar.


O trem dá um solavanco e para. Saio para o calor do verão de
Nova Iorque, me chutando mentalmente outra vez por estar de salto

alto, mas meu mau humor passa em um segundo quando vejo quem
está me esperando na estação. Três das quatro pessoas mais

importantes da minha vida.


Esquecida da dor no pé, saio correndo para encontrar minha
madrasta e sobrinhos.

— Nós viemos para dar as boas-vindas porque não tenho dúvida


de que conseguiu.

Eleanor é a pessoa mais positiva que existe no mundo e só Deus


sabe como ela pôde ficar casada com meu pai por mais de dez

anos.
Faço suspense por um instante, fingindo que estou muito
animada, como se aquele emprego fosse o dos meus sonhos.
— Consegui — falo, abraçando-a. Depois, me abaixo para beijar
as bochechas de Silas e Soraya, que estão coradas pelo calor. —
Agora vamos poder comprar umas roupinhas novas para essa dupla

que não para de crescer.


Mordo a barriga dos dois e eles gargalham. É o melhor som do

mundo para mim. Música pura. Os filhos da minha irmã querida, que
não está aqui para protegê-los.
— Você é inacreditável, Madison.

Volto a me levantar e pego uma liga na bolsa para prender meu


cabelo cheio.

Senhor, está muito quente!


— Por quê?

— Tão novinha e ao mesmo tempo, responsável. Esses bebês


são dois sortudos por terem você como tia.
Olho para minha madrasta, me perguntando se ela me acharia

tão responsável se soubesse que vou tirar a roupa para poder evitar
que a assistente social que vem nos pressionando leve as crianças

para adoção. Eleanor sabia somente que fui selecionada para a


última etapa de um cargo nas empresas Kostanidis e que o
emprego é à noite, mas nada além disso.
— Não, a sorte é minha de ter vocês. Eu farei o que for preciso
para manter nossa família unida.
— Desde que não seja ilegal — a única mãe que eu conheci diz.

— Dou minha palavra. Nada ilegal. E agora, chega de


preocupações. Pensei em irmos ao mercado para fazer um jantar

especial para nós quatro. Sopinha para eles, hambúrguer para nós
duas. O que acha?
— Com refrigerante?

— Ah, sim. Se é para fazer besteira, que seja direito.


Capítulo 6

Madison

Há cerca de quarenta e cinco minutos, saí do hospital e como


sempre, me sinto dividida depois de visitar minha irmã. Uma parte
minha agradece a Deus por Brooklyn estar viva, mas a outra, que

conhece a garota adormecida tanto quanto a si mesma, sofre por


alguém tão naturalmente feliz como ela, estando perdida naquele
sono profundo que já dura mais de quatro meses.

Sacudo a cabeça, tentando afastar a imagem dela no leito e

relembrando seu sorriso e energia antes que aquele miserável


entrasse em sua vida.

Estou em frente à parte traseira da SIN. Os porteiros me

cumprimentam e logo depois, passam o detector de metais e


recolhem meu telefone celular. Nem a clientes nem a dançarinas é
permitido a entrada com dispositivos onde possam ser registradas

as atividades dentro do estabelecimento.


É o meu terceiro dia aqui e digo sem medo de errar que eles são

paranoicos com segurança e privacidade.

Eu ainda não dancei. Hoje será a minha estreia. Até então foram
somente ensaios, principalmente no pole dance.

Sobre ele, preciso contar algo. Eu nunca imaginei que fosse tão

difícil fazer acrobacias no poste. A força necessária tanto nas


pernas quanto nos braços é absurda e quando disse isso ao

coreógrafo, ele falou que incluído à minha contratação, há um plano

em uma academia de ginástica para que eu possa me fortalecer.


Eu tenho me esforçado bastante, mas mesmo assim, faço

apenas o básico. Até pensei que conforme for, se não deveria tentar
instalar um em casa para ensaios extras. Mas como explicaria

aquilo para Eleanor? Ela não é boba.

Atravesso a boate, cumprimentando as pessoas que encontro

pelo caminho. As garotas que trabalham aqui variam entre quase

simpáticas a indiferentes, mas nenhuma delas fez qualquer

movimento para se aproximar de mim. A única interação foi na hora


dos ensaios mesmo e ainda assim, uma troca de palavras ou duas.
— Chegou cedo, menina — Adriel, o coreógrafo costa-riquenho,
moreno e com lindos olhos azuis, diz.

— Estou um pouco ansiosa.

— Um pouco?

— Muito. Fazer minha estreia no dia do aniversário do chefão é

assustador.

— Ares é assustador, assim como os irmãos, mas mantenha sua


mente focada que esse é um trabalho como outro qualquer e tudo

dará certo.

Fico parada encarando-o porque tem algo que eu quero

perguntar, mas não sei como.

— Fale — diz, como se adivinhasse.

— Sei sobre todas as regras, mesmo que ainda não tenha

participado oficialmente de uma noite aqui, mas será que uma vez
ou outra não acontece do cliente se empolgar e tentar algo mais

com a dançarina?

— Está falando sobre assédio verbal ou físico?

— Ambos.

Ele para de mexer na sacola que estava em cima do palco e me

encara.
— Você não faz o tipo florzinha frágil, Madison, caso contrário

não teria enfrentado Ares, como me disse que fez.


Sorrio, concordando. Eu lhe contei tudo o que aconteceu no

escritório do doutor Kostanidis no dia da minha contratação.


Sou naturalmente desconfiada, mas Adriel é daquele tipo de
pessoa que você se apaixona instantaneamente. É inteligente,

debochado e muito sincero. No primeiro dia que me viu falou que


não importava a situação atual da minha conta bancária, as roupas

que eu estava usando não serviam nem para chegar à boate todas
as noites.

— Eu não sou. Claro, em um confronto físico com um homem, eu


sairia em desvantagem, mas em um verbal, duvido. O problema é
que não posso me dar ao luxo de perder esse emprego, então

gostaria de saber como agir se algum deles for abusado.


— Tem medo de perder o emprego por causa dos seus

sobrinhos?
— Sim, e da minha madrasta também. Ela parou de trabalhar

para ficar com os bebês.


— Olha, eu já estou na SIN desde a inauguração e posso te dizer
que as chances de que aconteça um assédio físico são muito

pequenas. Não há um frequentador da boate cujo rendimento anual


esteja fora dos oito dígitos, o que significa que tem muito a perder

caso um escândalo do tipo exploda. Quanto ao assédio verbal,


sorria, se faça de boba e continue dançando. A maioria desses

homens só quer viver o prazer de fantasiar que uma deusa como


você lhes daria uma chance, independentemente da conta bancária

que possuem. Rebole esse corpo lindo e deixe que acreditem que
estão certos.
— Você faz tudo parecer tão fácil.

— Um sobrevivente reconhece o outro. Sei que você conseguirá


pela simples razão de que precisa. A maior parte das dançarinas

que trabalha aqui estão mais para satisfazer determinado estilo de


vida.
— O senhor… hum… o doutor Ares, ele…

— Se ele sai com as dançarinas? Não. Nem com elas ou com


qualquer funcionária das empresas. Como deve saber, ele vem de

uma família de banqueiros onde escândalos são inadmissíveis.


Agora chega de fofocar — diz, indo até uma arara e tirando um

conjunto de lingerie roxa ainda na embalagem. — Aqui. Comece a


se arrumar porque Ares disse que não pode haver atrasos. O
convidado para quem você vai se apresentar hoje é alguém que ele

deseja impressionar.
— O quê?
— Preferia dançar pela primeira vez no palco? Se quer saber,
deu uma sorte danada. Dez minutos de apresentação privada é um

ótimo aquecimento. Quando chegar sua vez de se dançar para a


plateia, vai tirar de letra.

Pego a lingerie de uma famosa grife americana, coberta por


plástico ainda e dou uma conferida só para ter certeza do que já
desconfiava: pouco pano para o tanto de curvas que eu tenho.

— As sandálias estão no camarim. Ah, sei que lhe foi dito que
não deve interagir com os clientes, mas esse em particular você

talvez deva responder uma coisa ou outra que lhe seja perguntado.
E segundo Ares recomendou, deve fazê-lo na língua nativa do

homem.
— Não sei se entendi.
— O cliente para quem dançará é um importante empresário

espanhol.
A barrinha de chocolate que comi no caminho para cá revira no

meu estômago. Acho que ele vê algo em meu rosto, porque


pergunta:
— O que há de errado, Madison?
— Eu menti. Estava tão desesperada para conseguir um
emprego que me permitisse pagar as contas que menti sobre ser
bilíngue. Só conheço três palavras, e fora “gracias”, não sei como

fajitas e tacos se encaixariam no contexto de uma dança exótica.


Capítulo 7

Madison

— Eu sou doida, né?


— Muito. E azarada também. Foi contratada especialmente para
atender um cliente espanhol e não fala o idioma.

— Jesus, eu deveria ter desconfiado. Ele queria uma dançarina


para atender esse convidado.
— Acho que sim, porque nunca foi exigido que as meninas

fossem bilíngues, embora várias aqui falem espanhol.

— Será que não podemos trocar? Mande outra em meu lugar,


Adriel.

— De jeito nenhum. Se fizer isso, Ares a colocará no olho da rua.

Deve haver uma razão para ele ter escolhido você, Madison.
— O quê?
— Sem ofensa, meu bem, mas já deu uma olhada em volta? A

maioria é loira e magérrima. Provavelmente o tal espanhol curte


corpos mais curvilíneos.

— Acabou de me chamar de gorda?

— Não, exuberante.
— Foi a mesma expressão que o doutor Ares usou.

— Você é linda, o que eu quis dizer é que não tem o biotipo das

outras dançarinas. Bom, não há mais nada a ser feito. O negócio é


você rezar para que o homem seja antissocial e não fale nada.

— E caso ele fale, posso fingir que não escutei. Sabe como é,

música alta e tal.


Ele dá risada.

— Você é ótima, Madison. Vai conseguir, eu tenho certeza.


— Alguma palavra para me ensinar? Só em caso de emergência

mesmo.

— Não acho que seja uma boa ideia uma aula rápida de

espanhol porque você está parecendo muito pilhada e pode acabar

piorando sua situação. Mas se quer um conselho, diga “gracias”

para qualquer comentário que ele fizer, porque homens poderosos


gostam de ser bajulados.

— Posso fazer isso.


— Ah, e em hipótese alguma fale sobre fajitas e tacos.
— Era para ser engraçado?

— Era. Você está muito tensa, amor. Tente relaxar. Vai dar tudo

certo.

Entro no camarim, fazendo das palavras dele uma espécie de

mantra.

Eu vou conseguir, pura e simplesmente porque não há


alternativa. Essa semana eu fui comprar roupas para os gêmeos

porque os macacõezinhos estavam apertados ao ponto dos botões

parecerem que iriam explodir.

Também reabasteci a geladeira com frutas, leite e iogurtes. Aos

onze meses, eles são bebês saudáveis que não dispensam uma

comidinha. Por eles, nenhum sacrifício é grande demais.

Dez minutos depois, no entanto, enquanto olho meu corpo


seminu no espelho, me sinto apavorada.

O único homem na frente do qual usei tão pouca roupa foi Adriel,

no dia em que vim para a SIN pela primeira vez e ele precisou tirar

minhas medidas para encomendar algumas fantasias que terei que

usar.

Dou uma volta completa na frente do espelho. A calcinha é fio


dental e tem um laço negro no cóccix. O sutiã um pouco
transparente parece insuficiente para cobrir meus seios cheios. Há

também cinta-liga, meias e um sapato de saltos bem altos para


completar.

Vou deixar o cabelo solto e torcer para que ele ajude a esconder
meu rosto.
Fiz ensaios com Adriel, ele se fingindo de cliente e pareceu

relativamente fácil, mas agora, diante da iminência de ter que ficar a


sós com um desconhecido, tenho certeza de que eu preferiria mil

vezes estar no palco. Uma sala fechada parece pessoal demais e


eu não gosto de intimidades com estranhos.

Não intimidades, boba. Uma dança. Apenas isso.


Uma dança quase pelada.
Ai, Jesus!

Pego o robe de seda roxa e curto, que combina com o conjunto


de calcinha e sutiã e visto-o. Instantaneamente me sinto mais

segura.
Olho outra vez para o espelho.

— Gracias. — Treino.
É, não parece tão mal. Eu vou conseguir.
Saio pelo corredor e há um segurança à minha espera. Acho que

será ele quem ficará até a performance chegar ao fim. Não tenho
certeza se terei que trabalhar o resto da noite, no palco.

— Por aqui, Madison — fala, me apontando um caminho pelos


diversos corredores.

Não estranho que saiba meu nome. Acho que faz parte de seu
trabalho gravar o nome das garotas.

Adriel me disse que cada performance dura cerca de dez


minutos, mas que há casos em que o cliente quer mais de uma
música.

Não queira, por favor, senhor espanhol.


Chegamos em frente à cortina e a música ainda não começou,

claro. Sou que apertarei o controle remoto para iniciá-la. Há uma


seleção já previamente escolhida por Adriel. Músicas sensuais,
muito gostosas de dançar mesmo e se o contexto fosse outro e eu

uma mera cliente, adoraria me acabar na pista da boate.


Puxo a cortina devagar, olhando para o chão.

O ambiente está mais iluminado do que eu supunha. Achei que


seria uma penumbra, mas apesar da luz avermelhada, dá

perfeitamente para ver o homem sentado no sofá com as pernas


estendidas no chão, a cabeça recostada e os olhos fechados.
Entretanto, assim que percebe que não está sozinho, ele se põe em

alerta, sentando-se reto e me encarando.


Perco todo o ar dos meus pulmões.
O homem é lindo. Não daquele tipo de beleza comum que você
pode encontrar a cada esquina na rua, mas daquela que não se

consegue desviar o olhar.


Queixo quadrado, coberto por uma barba curta e uma boca de

lábios grossos, mas que se comprimem em uma linha fina, contida.


Como se não se permitisse demonstrar o que sente.
Há também frieza e superioridade em seu rosto de traços

másculos. Cinismo, eu acho, como se já tivesse vivido demais e


desprezasse tudo o que viu.

O estranho é que nenhum dos dois fala algo ou desvia o olhar,


mas quando ele me mede de cima a baixo, eu me lembro a razão

pela qual estou aqui e me obrigo a agir.


Pego o controle remoto na mesinha à direita, tentando não tremer
tanto porque sei que seus olhos acompanham meus movimentos

como um predador prestes a atacar a presa.


O pensamento é ridículo, claro, mas o homem me desperta

sensações irracionais.
Quando a música começa, eu respiro fundo e me preparo para
ultrapassar minha prova de fogo.
Eu já estava com vergonha de dançar na frente de um estranho,
mas na frente de alguém como ele, eleva meu nervosismo a níveis
estelares.
Capítulo 8

Zeus

Eu nunca gostei de vir à SIN, não porque não aprecie mulheres


seminuas. Bem ao contrário. Sexo é parte fundamental da minha
existência. Meu apetite é voraz, mesmo que rapidamente me canse

das companhias com quem saio.


Só mesmo um adolescente acreditaria na velocidade com que
elas se dizem apaixonadas e eu não tenho nada de ingênuo, o que

me faz crer que o interesse consiste basicamente na perspectiva de

se tornarem a senhora Zeus Kostanidis, mulher do dono de uma das


maiores fortunas dos Estados Unidos.

Sim, eu sou um cínico por essência. Acredito que em uma

balança onde se pese amor e dinheiro, o segundo ganha de lavada.


Na verdade, acho que o que chamam de amor nada mais é do que

um tesão prolongado que eventualmente se esgotará.


Entretanto, não é o ambiente da boate o que fez com que eu me

isolasse na primeira sala que encontrei com as cortinas abertas,

mas porque estou louco para ir para casa e não posso.

Rey Cardona[10], o empresário espanhol que estamos esperando,

se atrasou e eu não estou com paciência para ficar bebendo com os

amigos de Ares.

Se ao menos meus outros irmãos já estivessem aqui, tornaria


tudo mais suportável, mas Hades disse que não virá e Dionysus

chegará mais tarde.

Porra, como Ares consegue vir a esse lugar a cada maldita noite,

eu nunca entenderei.
Recosto a cabeça no sofá e fecho os olhos, tentando relaxar por

cinco minutos que seja antes de ter que voltar para perto do meu

irmão. Vou dar meia hora ao maldito espanhol. Se ele não chegar,

foda-se a aquisição de suas empresas. Nada vale meu tempo.

Para piorar, ainda tive que deixar o celular na entrada, como

qualquer cliente. Seguir regras que não são as minhas próprias não
me agrada.
Estou em um meio-termo entre um cochilo e a consciência
quando passadas suaves me despertam.

Sento-me ereto porque é da minha natureza estar sempre em

alerta, mas eu esperava encontrar um segurança me avisando que

Rey chegara e não uma das dançarinas que trabalham para meu

irmão.

Meu instinto inicial é mandá-la sair, mas isso não chega a somar
um centésimo de segundo. Com trinta e quatro anos e várias

mulheres pelo caminho, eu não preciso de muito para identificar

uma a quem eu queira. E a beleza vestida em um minúsculo robe de

seda roxo não necessita de qualquer esforço para se tornar o alvo

do meu desejo.

Não é a primeira vez que venho aqui e mesmo que as dançarinas

sejam orientadas a não se insinuarem para os clientes porque a SIN


não é um prostíbulo, não posso deixar de notar os olhares que as

funcionárias do meu irmão me dirigem. Nenhuma delas fez com que

eu me interessasse até hoje. Não por sua profissão, mas porque

nunca misturo trabalho e prazer. E ainda que prestem serviços para

Ares, na minha concepção, dá tudo no mesmo.

A mulher à minha frente faz com que eu esqueça cada uma


dessas fodidas regras que me autoimponho.
Ela me encara também, mas não do jeito ao qual estou

acostumado, dando-me abertura a uma aproximação, e sim com um


misto de interesse e se não me engano, desejo de fugir.

Eu não disfarço o quanto aprecio o que vejo, desde as pernas


longas, com pés em sandálias de salto altíssimo que as deixam
ainda mais deliciosas, até o decote insinuante do robe que mostra a

sombra do vale entre os seios.


Enquanto sinto meu corpo reagir de maneira primitiva à visão da

deusa sensual, sou tomado por irritação por causa da intensidade


do meu desejo.

Quando volto a focar em seu rosto, no entanto, ela toma uma


atitude inesperada.
Nada de sorrisos, um bater de cílios ou cumprimento, como seria

normal nesse tipo de situação. Ao invés disso, ela pega o controle


remoto e uma música sexy começa tocar.

Ela me confundiu com um cliente? Provavelmente é nova, ou


saberia quem sou.

Eu deveria desfazer o mal-entendido, me levantar e ir embora


porque se ficar aqui, sei o que acontecerá: eu a levarei para a cama
e isso vai contra tudo o que acredito.
Deveria, mas não é o que faço. Contrariando a maneira rígida

com que levo a vida, volto a me recostar no sofá, cruzo os braços e


espero.

Ela fecha a cortina e quando se vira para mim, não me encara.


As mãos vão para o laço do robe e eu prendo o fôlego, ansioso,

como se nunca tivesse visto uma mulher de lingerie antes.


Eu a estudo com mais calma, agora. O cabelo castanho longo,
cheio e ondulado, os ombros estreitos e…

Porra!
Ela deixa o robe cair no chão e o apelido que usei anteriormente

para descrevê-la não poderia ser mais perfeito. A mulher é uma


verdadeira deusa.
Eu já tive uma quantidade significativa de companhias femininas

em minha cama, mas não me lembro de ter visto tamanha perfeição.


Talvez não para os padrões atuais, mas a garota é uma fêmea em

todo o sentido da palavra.


Peitos grandes que fazem um contraste muito sensual com a

cintura fina e os quadris largos, seu corpo é uma ampulheta,


terminando em coxas grossas.
Em contraposição à música mais para lenta, sinto-me acelerado,

febril.
Ela começa a se mover e não é isso o que eu quero, mas tirá-la
daqui. Não sou do tipo que fica dando voltas quando deseja algo e
mesmo sabendo que é errado, eu a terei.

Entretanto, ainda resta alguma racionalidade em mim, então me


obrigo a manter o autocontrole e deixo que continue a me confundir

com um cliente.
Ela ondula os quadris, a cintura se movimentando de maneira
sinuosa e me hipnotizando.

As mãos se erguem até o cabelo e seus olhos estão fechados,


como se estivesse perdida na música. Eu poderia ficar observando-

a por horas sem me cansar. A mulher sem nome mexe com a minha
libido como nenhuma outra conseguiu até hoje.

Vira de costas e a bunda empinada e me provoca. O lacinho no


fim da coluna, onde termina a calcinha fio dental que usa, me
tentando a puxá-lo. Meu pau se contrai contra o zíper do jeans,

tornando o aperto doloroso.


Muito antes do que gostaria, a música termina e ela finalmente

abre os olhos e finge sorrir.


Sim, finge. Eu conheço muito da alma humana para saber que
está intimidada com a minha presença, o que não é uma reação

incomum, tanto da parte dos homens, quanto das mulheres.


De repente, a cortina se abre e Ares aparece, olhando de um
para o outro. Sei que ele entende rapidamente o engano da
funcionária. Eu nunca pedi uma dança privada, apesar de já ter

assistido algumas apresentações da plateia da boate.


Encara-me e eu faço que não com a cabeça. Ele gesticula para

mim e mesmo irritado, vou encontrá-lo, mas antes aviso à


dançarina:
— Não saia daqui.

Ela me olha espantada e engole em seco, mas permanece

imóvel.
Arrasto meu irmão para fora da sala.

— Ela vai se apresentar para Rey — diz, quando fecho a cortina

atrás de nós.

— Não.
— Como assim, não? Foi por isso que a contratei.

— Eu quero exclusividade com ela.

Ele me olha como se eu tivesse enlouquecido.


— Você usou drogas?

— Idiota.

— Não, é sério. Eu tenho essa boate há dois anos e você sempre


odiou vir aqui e agora quer exclusividade com a única dançarina
indisponível?

— Vou pagar pelo resto da noite, mas ela não vai sair dessa sala
até que eu diga.

— Jesus, agora tenho certeza de que enlouqueceu! Não é

possível que vá disputar uma dançarina com um cara com quem


estamos negociando.

Deixo que ele desabafe, porque nós dois sabemos que, no fim,

terei o que quero, como sempre.

— Pague o triplo a outra garota, mas essa aqui ficará à minha


disposição hoje.

Ele me encara em silêncio por um tempo antes de dizer:

— Espero que saiba o que está fazendo. Madison é recém-


contratada e eu não quero sofrer um processo por assédio.

Ignoro a segunda parte do que ele diz.

— Madison o quê? Qual é o sobrenome?


— Foster.

— Não volte mais aqui — aviso, abrindo a cortina e entrando

novamente na sala.
Capítulo 9

Madison

Jesus, ele não é o espanhol!


Essa é a primeira coisa que percebo quando me manda não sair
daqui e depois deixa a sala com o chefão.

Em uma escala de zero a dez, quão ferrada será que estou? Não
somente por ter me apresentado para o homem errado, como por,
na primeira vez em que danço para um cliente, me sentir

loucamente atraída por ele.

Isso foi totalmente inesperado. Eu achei que odiaria cada


momento, mas ao invés, me senti linda e sexy ao ser cobiçada pelo

homem. Sim, porque mesmo em minha inexperiência vi desejo cru e

intenso em seus olhos.


O que será que foi fazer com o doutor Ares? Esclarecer o

engano? Posso estar sendo ingênua, mas um homem com uma


aparência daquelas não precisa frequentar uma boate para realizar

suas fantasias. Não duvido que se ele estalasse os dedos, haveria

mulheres se atropelando para lhe dar qualquer coisa que ele


quisesse.

Eu ainda estou de costas quando sinto um arrepio na nunca.

Ele voltou, percebo, e não faço a menor ideia de como agir. A


vontade de me abaixar e pegar o robe no chão é enorme, mas o

medo de ser demitida vence.

Giro-me para olhá-lo e ele me encara a uma curta distância. Tão


perto que tenho medo que ouça as batidas aceleradas do meu

coração.
Molho os lábios com a língua para conseguir falar, mas mesmo

assim, quando tento, preciso me esforçar para que saia algum som.

— Devo continuar dançando?

Ele demora a responder e é um esforço tremendo permanecer

imóvel.

— Vamos sair daqui, Madison.


Repito suas palavras para mim mesma, certa de que ouvi mal.
Ele deve ter perguntado meu nome ao doutor Ares, tudo bem,
mas se é um membro da boate, sabe perfeitamente que nem

deveríamos estar nos falando, para início de conversa. E que

história é essa de “vamos sair daqui”?

O que eu faço agora?

Tento estudar seu rosto para adivinhar o significado de suas

palavras, me recusando a crer que aquele homem lindo esteja


quebrando as regras para me chamar para sair. Isso significará a

exclusão dele do clube, assim como minha demissão, porque

podem pensar que eu o encorajei.

Lembro-me do que Adriel disse. Basta que eu chame o

segurança, o acuse de assédio e tudo estará resolvido. O problema

é que não estou me sentindo assediada. Eu gosto desses olhos

azuis penetrantes em mim.


Não. Esse é o pior caminho que poderia escolher, Madison.

Dance para o senhor milionário lindo de morrer e no fim, dê seu

melhor sorriso falso e volte para o mundo real.

— O senhor deve saber que isso não é permitido — digo,

colocando doçura na voz, mas ao mesmo tempo, como se fosse

dona da situação, quando por dentro, estou muito ansiosa.


Em uma situação normal, ser alvo do interesse de um homem

destes me deixaria envaidecida, mesmo percebendo a clara


distância entre nossos mundos, mas qualquer abertura que eu lhe

dê pode significar a perda do meu emprego e isso é um risco que eu


não posso correr.
— Troque de roupa. Vou levá-la para jantar. — diz, ignorando o

que eu falei.
Não sei se é a arrogância em seu tom, a certeza de que eu

largaria meu trabalho e o seguiria sem pensar duas vezes ou a


intensidade com que me atrai o que me faz agir.

— Eu não sei seu nome, senhor, mas certamente não é a pessoa


para quem deveria me apresentar, já que fala inglês sem sotaque,
mas correndo o risco de ser grosseira, vou lhe dar duas opções: ou

volta a se sentar e danço quantas músicas estiver disposto a pagar


ou terei que deixá-lo sozinho aqui. Não há uma terceira alternativa.

Eu me sinto estranhamente excitada por enfrentá-lo, mesmo que


ninguém precise me dizer que ele não é o tipo de homem a quem se

deva desafiar.
— Sou Zeus Kostanidis, Madison. Agora já nos conhecemos.
Uso de toda a habilidade adquirida com meu pai para não deixar

que ele perceba o quanto me abalou descobrir sua identidade.


— Se é irmão do doutor Ares, conhece as regras melhor do que

ninguém.
Para minha surpresa, assim como aconteceu com o meu chefe

em nosso primeiro encontro, o canto de sua boca se ergue, mas em


Zeus, esse quase sorriso é repleto de cinismo.

Ao mesmo tempo em que sua arrogância me irrita, excita


também. A autoconfiança que o homem demonstra é muito sexy.
Não, eu devo estar ficando louca.

Nada disso, dona Madison, mesmo que ele não seja um cliente,
vivem em galáxias diferentes.

Pego meu robe no chão e o visto. Não me sinto nem um


milímetro mais segura agora que me cobri porque estou loucamente
atraída por ele e não sei o que fazer a respeito.

— Regras não se aplicam a mim. Além do mais, não estava


pensando em qualquer outra coisa que não fosse levá-la para jantar.

Cruzo os braços na frente dos seios.


— Posso falar livremente sem que vá contar o que conversamos

ao meu chefe?
— Estou ouvindo.
— Não tenho experiência com homens, mas sei que alguém

como você não sai com garotas como eu, portanto, se já acabamos
aqui, desejo-lhe uma boa noite.
Soo irritada, mas para ser sincera, o que me faz enfrentá-lo com
tanta determinação é a atração sexual intensa que ele me desperta.

— Alguém como eu? — pergunta, devagar.


— Sim. Sabe do que estou falando.

— Não, eu não sei. Esclareça, Madison.


— Ricos, senhor Kostanidis.
— Isso é um defeito?

— No meu mundo, sim.


— Um jantar — ele fala, ignorando meu protesto outra vez.

— Não posso.
Mesmo que eu queira muito.

É, sou estúpida assim. Ainda que eu saiba que ele não pode
querer nada além de sexo comigo, dadas as circunstâncias que nos
conhecemos, se não fosse o risco de perder o emprego eu aceitaria

o convite porque ele é lindo demais.


— E se eu disser que não correrá riscos de perder o emprego?

— diz, como se pudesse ler minha mente.


Mordo o lábio, nervosa, sem saber como lidar com o que estou
sentindo.
Fecho os olhos por um instante e imediatamente vem à minha
mente a imagem dos meus sobrinhos, em seguida, Brooklyn no
hospital, e assim, em um passe de mágica, toda a dúvida

desaparece. A segurança da minha família é mais importante do


que me jogar em uma aventura que provavelmente durará uma

noite.
— No seu mundo, talvez não haja consequências caso quebre
regras, senhor Kostanidis, porque nele, é o rei. Mas no meu e no

seu, sou súdito. Boa noite.


Capítulo 10

Zeus

Ela disse não, querendo dizer sim.


Por quê?
Madison quase cedeu e no último instante, algo a fez recuar.

Medo de perder o emprego? Provavelmente.


Preciso organizar uma maneira de encontrá-la fora da SIN e
desse jeito, ter o que desejo: ela gemendo meu nome, embaixo de

mim, enquanto eu a fodo duro.

Não há maneira de que eu não vá beijar aquela boca. Há muito


tempo uma mulher não me desperta quase ao ponto da loucura

como ela fez.

Sua rebeldia foi um bônus. Obviamente eu não esperava receber


um não, e com toda certeza do inferno, não esperava um não tão

petulante.
Quero que ela me mostre toda aquela paixão entre quatro

paredes.
A cortina volta a se abrir e não tenho dúvidas de quem é.

Ares.

— Por que Madison não continuou dançando?


— Eu a chamei para sair, ela disse não.

Ele ri.

— Você levou um fora da minha dançarina?


— Por enquanto. Darei um jeito de encontrá-la longe daqui.

— Onde pretende chegar com isso, irmão? Seu futuro já não está

complicado o suficiente?
— Uma coisa não tem a ver com a outra.

— Se é o que você diz… Mas fique avisado que Madison não é


como as outras garotas daqui. Ela fala o que pensa sem medo. No

dia em que a contratei, eu a confundi com uma garota de programa.

— O quê? Por que diabos pensaria isso?

— Porque ela é linda e gostosa demais. Usava um vestido que

deixava ver cada curva do corpo e achei que poderia ser mais uma

brincadeira dos idiotas dos meus amigos.


— Como daquela vez em que lhe enviaram a falsa secretária?
— Aham. Enfim, eu mandei que ela saísse da minha sala e ela
quase espumou de raiva e exigiu que eu me desculpasse.

Presto atenção ao que ele diz, que vai totalmente ao encontro do

que consegui ler sobre ela nos poucos minutos de interação.

Madison Foster, você acaba de despertar o caçador em mim e

não há maneira de que eu vá desistir enquanto não a tiver.

— Rey chegou. Nos reuniremos no meu escritório em cinco


minutos.

— E quanto à dança privada que ele teria?

— Não quis. Para falar a verdade, eu nem esperava que viesse.

O homem não aparece na sociedade há mais de dois anos.

Ele já estava saindo, mas eu o chamo de volta.

— Ares, eu não quero mais que ela faça danças exclusivas.

— Sabe que não pode me pedir isso. Ela ganhará mais em


danças privadas e se quer um palpite, precisa do dinheiro.

— Não importa, pague mais pelas danças no palco, eu cobrirei

todo o adicional. Calcule quanto ela ganharia em média a cada noite

para atender clientes individuais e me repasse, mas não a quero

sozinha com esses pervertidos que frequentam a SIN.

— Não, você a quer pra você. Um pervertido ao invés de vários


— diz, sorrindo.
Meia hora depois, saímos do escritório do meu irmão e voltamos

para o lounge da boate. A casa está cheia e olho ao meu redor para
ver se a encontro.

— Nossa mesa é perto do palco — Ares diz.


Alguns amigos dele já estão sentados. Parecem bêbados e um
tanto empolgados. Essa é uma das razões pelas quais eu evito

qualquer boate. Excesso de testosterona e álcool sempre acabam


em merda.

— Madison vai dançar agora.


— O quê?

— Você disse não a danças privadas, mas ela vai se apresentar


no palco.
Não tenho chance de responder porque em seguida, as luzes se

apagam.
Seguro o ar em expectativa e logo após os primeiros acordes de

uma música, meu corpo ferve quando ela aparece.


Ao contrário de quando entrou na sala para se apresentar para

mim, ela não veste nada além de calcinha e sutiã, dando ao público
que a assiste uma visão total de seu corpo delicioso.

Eu já estive em outras apresentações aqui e geralmente há


assobios, palmas e palavras de incentivo dos homens, mas
enquanto Madison se agarra ao poste no meio do palco e balança

os quadris de um lado para o outro, um silêncio extasiado toma


conta da plateia.

Mal posso respirar, o desejo de tirá-la dali fazendo nascer a


sensação de territorialismo sobre ela, algo que nunca experimentei.
Na SIN, diferente das outras boates com dançarinas exóticas,

não se põe dinheiro na calcinha ou sutiã das garotas, mas


acrescenta-se quanto se quer doar para uma dançarina específica

ao fechar a conta no fim da noite.


— Ela não concordou em fazer striptease — Ares diz, em voz

baixa, para que somente eu ouça.


Meu irmão me conhece e sabe que ver uma mulher que eu
desejo seminua dançando para vários homens não é algo com que

eu lide bem.
— Nem mesmo por mais dinheiro?
Sei que as mulheres ganham um adicional se ficarem
completamente nuas.

— Nem mesmo assim.


Madison gira e nossos olhos se encontram. A partir de então, ela

passa a dançar para mim. Rebola, desliza e gira pelo poste e me


surpreendendo, se aproxima do lugar onde estou, provocante, como
se dissesse: pode olhar, mas não pode pegar.

Está enganada, menina. Você vai ser minha.


A música termina, ela sai e eu me levanto.

— Já vai? — meu irmão pergunta.


— Sim. Como ela vai embora para casa?

— Táxi ou trem, como todas as outras.


— Dispense-a agora. Vou levá-la.
— Zeus — ele diz como um aviso.

— Eu sei o que estou fazendo. Acrescente cinco mil dólares


como gorjeta para ela hoje e Madison não terá perdido a noite.

— Ela nunca ganharia tanto em uma única noite e sabe disso.


— Então hoje deve ser seu dia de sorte.
Meia hora depois, espero com meu motorista dentro do carro na

porta traseira da boate.


Não demora muito e vejo-a sair, vestindo jeans e uma camiseta
de alcinha.
Abro a porta do automóvel.

— Madison.
Não sei se ela pode me ver, porque pergunta, desconfiada, dando

um passo para trás.


— Quem é?
Saio do carro.

— Zeus…?

— Vou levá-la para casa.


Ela, que parecia espantada por me encontrar ali, volta a erguer o

queixinho orgulhoso.

— Já pensou em perguntar ao invés de afirmar em uma

conversa? Seria mais simpático.


— Simpatia não é uma das minhas características. Agora entre.

Está tarde.

— Não preciso de carona.


— Não disse que precisava, mas vou levá-la assim mesmo para

ter certeza de que chegará segura.

Ela morde o lábio inferior e de novo noto que luta uma guerra
interna.
— Só isso? Uma carona?

— O que mais poderia ser, Madison? Quais pensamentos sujos


estão poluindo essa cabeça linda? Ou talvez você só esteja com

medo de mim.

Como eu esperava, dado seu comportamento anterior, ela me


enfrenta.

— Não tenho medo de nada.

— Então o que a está impedindo de entrar no meu carro?

Ela olha para trás e percebe que o segurança está atento a nós
dois.

— Ele sabe quem eu sou, então pode servir de testemunha caso

você desapareça.
Ela volta a me encarar.

— Você não me machucaria. Já convivi com pessoas perigosas

antes. Você é arrogante, mas não é malvado.


Antes que eu possa perguntar quem são essas pessoas, ela

entra no carro e fecha o cinto de segurança.


Capítulo 11

Madison

Depois de passar o meu endereço para o motorista, fico um


pouco envergonhada. O homem terá que dirigir por cerca de

cinquenta minutos até onde moro, em Nova Jersey[11].


— Ter concordado com a carona não significa que vá aceitar seu
convite para jantar — falo para preencher o silêncio, porque

somente estar em um espaço tão pequeno com ele me deixa muito


acelerada.

— Não me lembro de tê-la convidado novamente.

Sinto meu rosto esquentar.


— Não tente me fazer de boba. Por que me esperaria se não

quisesse sair comigo?


— Não disse que não vou sair com você, apenas que não será

mais um convite para jantar. E quanto a porquê a esperei, não gosto

da ideia de que ande sozinha de trem a essa hora.


Suspiro, meio irritada, meio… não sei explicar. Aquecida por

dentro, talvez? Qual foi a última vez que alguém se preocupou


comigo? Eu sou aquela que se preocupa com todos.

— Faço isso desde que me entendo por gente. Andar de trem

sozinha, quero dizer.


— Quantos anos você tem?

— Não é educado perguntar a idade de uma dama.

Ele fica em silêncio e tem o mesmo efeito em mim de que se


tentasse me persuadir. Como consegue? Não costumo me dobrar

tão fácil.

Volto-me para encará-lo.


— Dezenove.

— Onde estão seus pais?


— Isso é um interrogatório, senhor Kostanidis?

— Você é uma menina rebelde, Madison? — ele devolve.

— Ser rebelde é não abaixar a cabeça para alguém? Porque se

for, pode apostar sua vida nisso.

Para minha surpresa, um sorriso lento, ainda que preservando

um quê de cinismo, se desenha naquela boca perfeita.


Meu Deus do céu, que homem lindo.

— Por que está me perguntando essas coisas?


— Para te conhecer. É o que faço quando algo prende meu
interesse. Eu o estudo até que não haja mais segredos.

— Por quê?

— Para decidir se é o que quero.

— Jesus, você é muito arrogante.

— Honesto, eu diria. Não floreio ou embalo minhas palavras em

seda para ficarem mais agradáveis, Madison, mas jogo limpo cem
por cento do tempo.

Mais do que o que diz, são as promessas que seus olhos me

fazem que até mesmo em minha inexperiência, consigo entender.

Eles deixam claro o que querem comigo, mas também falam que

se eu disser sim, não vou me arrepender.

Sinto minha pele se arrepiar e tento mudar o foco da conversa ou

corro o risco de ceder à tentação.


— O que seu irmão disse sobre você… hum… vir atrás de mim?

Porque agora entendo a razão de me mandarem para casa após

uma única dança no palco. Foi por sua causa.

— Não te prejudiquei, se é o que está pensando. Deixei uma

gorjeta generosa pela apresentação privada.

— Eu não conferi. Fiquei feliz de poder ir para casa mais cedo.


Vendo-o tão de perto, mal consigo controlar os tremores que

atravessam meu corpo.


Sim, ele é um caçador, mas não do tipo que assusta, mas

daquele que faz com que a presa deseje ser devorada.


A energia que emana de Zeus e seu jeito dominante, me deixam
um pouco tonta. Ser alvo do desejo de um homem como ele faz com

que borboletas deem cambalhotas no meu estômago.


— Por que foi trabalhar na SIN?

Fica na ponta da língua dizer que não é da conta dele, mas para
que bancar a mal-educada?

— Porque preciso do dinheiro — falo, sem explicar mais nada.


Não sou de me abrir com estranhos. Só contei minha história para
Adriel porque ele é daquele tipo de pessoa da qual não se consegue

guardar segredos. Vai perguntando e quando damos conta,


revelamos até o tamanho da lingerie.

— Olhe para mim enquanto falamos, Madison. Você tem os olhos


verdes mais bonitos que eu já vi.

Remexo-me no banco, inquieta pelo elogio inesperado. Já fui


chamada de linda por alguns homens, mas sempre com insinuações
sexuais grosseiras. Mas a despeito de perceber que Zeus me

deseja, ele consegue soar quase clínico quando comenta aquilo,


como se o fato de estar fazendo-me um elogio também o

surpreendesse.
Eu o encaro em silêncio, tentando encontrar algo para dizer e

fugir daquela teia de sedução.


Sou muito tola mesmo. O homem sequer precisou se esforçar

para me fazer queimar de vontade de beijá-lo.


— Minha vizinhança não é muito… agradável. — falo, tentando
novamente escapar da atração crescente entre nós. — Quando

estivermos a um quarteirão de onde moro, posso saltar.


— Não, vou deixá-la em casa. A não ser que não queira que

alguém nos veja.


— O quê?
— Há um homem esperando por você?

— Você não conhece a palavra sutileza, né?


— Para que perder tempo ao invés de lhe perguntar diretamente

o que eu quero saber?


— Não tenho namorado.

— E amante?
— Jesus!
— Responda.
— Nem amantes, senhor Kostanidis, mesmo que a minha vida
íntima não lhe diga respeito. Não acontecerá nada entre nós porque
eu não quero perder meu…

Sem que eu preveja seu próximo movimento, a mão forte vem


para minha nuca, os dedos enroscando em meus fios. Ele é rápido e

duro em seu ataque, mas quando me tem à mercê, o rosto pairando


muito perto do meu, me dá chance de pará-lo.
Não é o que faço. A pegada em meu cabelo é muito gostosa, e

mesmo que nossos corpos não se encostem ainda, já sinto seu


calor me dominando.

Gemo, os lábios entreabertos, ansiosa.


Sua mão vem para o meu quadril, apertando minha carne, como

se necessitasse disso mais do que de ar.


Meu corpo inteiro formiga de desejo e o homem nem me beijou
ainda.

Fecho os olhos, implorando sem falar e quando seus lábios


finalmente me tomam, é muito melhor do que eu poderia ter

imaginado.
Em contraponto à pegada forte de suas mãos, a boca é macia,
persuasiva e eu não consigo resistir quando a língua pede

passagem em meus lábios.


Eu me abro aos poucos, hesitante, mesmo que morrendo de
desejo e minha resistência parece excitá-lo ainda mais.
Quando me toma completamente, eu entendo que até este

momento, nunca fora beijada por um homem de verdade.


Sem fazer qualquer tentativa de me tocar mais intimamente do

que a mão agarrando meu quadril, Zeus faz amor comigo com os
lábios. O contato molhado, safado, exploratório me mostra o quanto
vai ser bom se eu ceder.

Eu não sei quanto tempo dura o beijo, mas quando ele se afasta,

quero protestar porque não tive o suficiente.


Ele me mantém em seus braços e eu abro os olhos somente para

vê-lo me observando. A expressão séria e o maxilar endurecido.

— Eu tenho uma proposta para você — diz e aquilo finalmente

me traz de volta à realidade.


Capítulo 12

Zeus

É um esforço fodido me afastar. Como se a garota exercesse


algum tipo de feitiço sobre mim, e é por isso mesmo, por precisar
estar sempre no controle, que eu me separo de Madison, mesmo

que tudo o que queira seja deitá-la nesse banco e devorá-la inteira.

— Proposta? — repete, como se também lhe custasse voltar ao

mundo real.
Olho para a frente ao invés de para aquelas duas esmeraldas

brilhantes. Há alguma coisa nela, seu cheiro, o calor de sua carne,


que me enlouquece.
Talvez ela toda. A mulher desperta todos os meus instintos de

macho.
Eu não costumo me envolver com as complicadas porque minha

vida é voltada para o trabalho e quando quero uma mulher, procuro

prazer, não brigas.


Amantes não têm porque brigar, não há nada além do que

acontece entre quatro paredes, assim, para que me aborrecer com

alguém que será temporário?


Em qualquer outra situação eu a teria descartado desde a

primeira vez que me enfrentou.

Ares estava certo, agora posso ver. Madison não tem medo de
dizer o que pensa. Tenho vivência o bastante para saber que a

garota é problema, mas não há como recuar depois de ter provado


aquela boca doce.

— Que tipo de proposta?

Está novamente na defensiva, posso ver e isso me mostra que

apesar da pouca idade, Madison conhece o lado feio da vida. É

quase comovente que uma garota jovem seja tão desconfiada e

arisca.
— Não sou frequentador da SIN. Meu irmão é o dono, logo não

há nada que nos impeça de ficarmos.


— Tem tanta certeza assim que esse seria o único impedimento?
Volto a encará-la e ergo uma sobrancelha em resposta ao seu

blefe. Nós dois sabemos que o desejo e a atração não é unilateral.

É ela quem desvia dessa vez.

— O que significa ficarmos em seu mundo?

— Exatamente como no seu, acredito. Encontros sem amarras.

Prazer. Satisfação mútua.


— Sem amarras? — diz, parecendo presa a isso e ignorando

todo o resto, que para mim, é muito mais importante.

— Exato. O ideal seria estabelecermos um período.

— O quê?

— Um prazo. Parece-me justo. Um mês juntos acho que é o

bastante para nos conhecermos.

Ela olha para fora da janela por alguns minutos, mas não a
pressiono. Não há porquê. Madison provavelmente vai concluir que

há muitas vantagens em estar comigo. Posso levá-la a experimentar

um estilo de vida que de outro modo nunca teria chance de

conhecer.

Finalmente volta-se para me olhar.

— Eu preciso pensar — diz, me surpreendendo.


— Pensar no quê?
— Se é o que quero para mim. Não está me propondo um

namoro, senhor Kostanidis.


— Zeus.

— Tudo bem. Zeus. Não está me propondo um namoro, mas que


seja sua amante.
— E o que há de errado nisso?

— O que consiste em sair com um homem como você por um


mês? Além do óbvio, claro.

— Você faz soar como se eu a tivesse ofendido. Quero passar


um tempo com você. Conhecê-la melhor.

— Conhecer meu corpo, né?


Ignoro o comentário.
— Você me acompanhará em festas e eventos. Conhecerá

lugares em eventuais viagens. E eu providenciarei para que tenha à


sua disposição tudo o que precisa para se sentir confortável em meu

meio.
— Como o quê, por exemplo?

— Roupas, joias e o que mais desejar, claro.


— Claro. Só me responda uma coisa: a intenção seria para que
eu me sentisse “confortável” em seu meio ou para que não o

envergonhasse como uma amante mal vestida?


Pela primeira vez percebo um tom sentido em sua voz e me sinto

mal.
Quem é você, Madison Foster, que conseguiu em um espaço de

poucos minutos me fazer sentir vergonha do que sou, do que


sempre fui?

— E se eu quisesse algo mais valioso para me sentir


“confortável”, como um carro, ou um apartamento? O que o senhor
me diria?

Não hesito.
— A você, eu diria sim.

— Um apartamento por um mês juntos? Parece um pouco


excessivo.
— Onde está querendo chegar, Madison? Não gosto de jogos.

— Não? Pois acho que jogou comigo o tempo todo hoje, afinal,
sabia que eu não deveria ter dançado para você na sala privada e

mesmo assim me deixou continuar.


Não tenho como rebater aquilo e estou consciente que no

momento não seguro as melhores cartas, então resolvo ir direto ao


ponto.
— Isso tudo foi para me dizer um não?
— Foi para lhe dizer um talvez. Eu preciso pensar a respeito —
diz, se aproximando quase como se fosse me tocar, mas no último
momento, recua. — Que tal por um mês?

— Não. Você tem até depois de amanhã. Me dê seu celular.


Tenho quase certeza de que ela quer brigar, mas acaba fazendo

o que eu pedi.
— Desbloqueie.
Digito meu número e lhe devolvo o aparelho.

— Olhe para mim, Madison.


Ela o faz, mas seu rosto é tão completamente ausente de

qualquer emoção que é quase como me olhar no espelho.


— Eu lhe disse que era honesto. Nunca mentirei. Não estou atrás

de um romance, mas de prazer. Dar e receber prazer. Agregado a


isso, eu a levarei a experimentar um pouco da vida. Não é um
pagamento, é uma troca.

— Eu lhe disse que vou pensar — diz, em um tom monocórdico,


depois recosta a cabeça no assento do carro e fecha os olhos.

A despeito da curta distância entre os corpos, há um abismo


entre nós, cada um preso nos próprios pensamentos.
Quando o motorista estaciona em uma rua deserta de um bairro

muito pobre, ela ameaça sair, mas seguro seu braço.


— Espere — falo.
Somente quando o carro com meus guarda-costas para logo
atrás de nós e eles verificam o perímetro, abro minha porta e dou a

volta para abrir a dela.


Fica estática por um momento, surpresa.

— Eu nunca serei seu príncipe encantado, Madison. — digo,


enquanto a ajudo a sair. — Não sou feito desse tipo de material,
mas o tempo que passarmos juntos, será muito prazeroso.

Ela se aproxima, fica na ponta dos pés e entrelaça as mãos na

minha nuca. Quando me abaixo para beijá-la, o contato dura muito


menos do que eu gostaria porque ela se solta dos meus braços,

mas é suficiente para acender meu corpo.

— Eu sei que não é um príncipe, Zeus. Eu nunca acreditei neles

e mesmo que existissem, eu não precisaria de um. No meu conto de


fadas, sou a única capaz de salvar a mim mesma.
Capítulo 13

Madison

Eu trinco meus dentes tão forte enquanto caminho de cabeça


erguida para o meu edifício que tenho medo de que possam
quebrar.

Quando chego ao apartamento, dou graças a Deus por Eleanor já


estar dormindo.
Depois de tirar as sandálias, vou conferir os bebês. Soraya e

Silas dormem como anjos e aquilo me acalma o suficiente para

voltar a ter o controle das minhas emoções.


Pego embaixo de uma almofada no sofá da sala o pijama limpo

que sei que Eleanor deixou para mim e entro no único banheiro que

temos.
Só há dois quartos no apartamento, o dos bebês é muito

pequeno para caber uma cama além dos berços, então eu durmo na
sala. Minha madrasta tem um problema na cervical que se agravaria

se dormisse no sofá duro, portanto, cedi a cama de casal para ela,

quando nos mudamos para cá.


Embaixo do jato de água quente, fecho os olhos com força,

tentando apagar o que aconteceu essa noite.

Eu não tenho qualquer intenção de ligar para Zeus daqui a


quarenta e oito horas. Eu sabia que diria não a sua proposta

indecente no momento em que ele a trouxe à tona.

Talvez em seu mundo, as mulheres agradeceriam de joelhos pela


oportunidade de desfilar ao lado de um homem como ele, mas

dinheiro e luxo não me impressionam.


Sempre fui pobre e estou bem com isso.

O pior, é que sei que na cabeça dele, aquela proposta foi algo

normal, como fechar uma negociação.

Acreditou mesmo que eu largaria minha vida e obrigações para

ficar à sua disposição em um quarto em qualquer parte do mundo?

Sim, ele acreditou.


Encosto a cabeça na parede fria do boxe, prometendo a mim

mesma que nunca mais pensarei no grego arrogante novamente.


Satisfeita com essa decisão, desligo a água e me enrolo na
toalha.

Desembaço o espelho em cima da pia e encaro meu rosto

abatido.

Eu menti para ele. Quando Zeus me beijou, me tirou de órbita. Eu

quis acreditar em um conto de fadas, mesmo sabendo o quanto

esse desejo era estúpido, mas quando me fez sua proposta, eu


rapidinho caí na real.

Ele que fique esperando pelo telefonema nos próximos dois dias.

Vai ser bom para aprender que nem tudo na vida tem um preço.

O que eu não fazia ideia naquele momento, é que dentro de

pouco tempo, meu mundo entraria em uma espiral de desespero.

SIN Nightclub
— Não é prostituição?

— Não, está louca? Pensa que eu sou o quê? Ele é meu sugar

daddy[12].
Estou entrando no camarim para me trocar para a segunda
apresentação da noite na boate quando ouço duas dançarinas

conversando.
Fico sem jeito por ter escutado algo tão íntimo, porque sei por

alto o que significa aquele termo sugar daddy.


Eu li um livro há uns meses em que uma garota tinha um. Não é

prostituição, segundo a autora explicou, mas um relacionamento


consensual e com regras definidas entre um homem maduro e uma
garota bem mais jovem.

Basicamente, ele banca para sua baby um determinado estilo de


vida que ela não poderia ter sem seu patrocínio e em troca, ela lhe

dá seu tempo, carinho e atenção.


Fico curiosa para saber qual das garotas têm um sugar daddy,
mas não vou até onde estão porque não é da minha conta.

Entro no camarim e vejo que Adriel separou um conjunto verde


fluorescente para que eu use nessa dança. Deus, a lingerie é tão
chamativa que não duvido que conseguirão me ver da plataforma

lunar. Se a ideia era que eu fosse referência na Terra, o objetivo


será atingido com certeza.

Depois que o visto, vou até o espelho. Não ficou tão mal no
corpo, penso, e imediatamente me vem a lembrança da noite

passada e dos olhos de Zeus enquanto me apresentava para ele.


Obrigo-me a parar de recordar e saio do camarim disposta a dar
tudo de mim essa noite.

Ainda não conferi a gorjeta que ele me deu porque de algum


modo, não me parece direito aceitar aquele dinheiro, mesmo

sabendo o quanto esse pensamento é idiota.


Ele estava no papel de cliente e eu, no de dançarina. Fiz meu
trabalho e ele pagou por aquilo. Fim da história.

Determinada a focar no que tenho que fazer, limpo minha mente


de tudo o mais que não seja a música que vou dançar.

Eu mal piso no palco, no entanto, e meus planos caem por terra


porque Zeus está novamente sentado na primeira fileira.

Nem finjo que não o vejo. Por mais que meu lado racional saiba
que deveria ignorá-lo, meus olhos são traiçoeiros.
Uso da única arma que disponho para combater a atração insana

que ele me desperta: meu corpo. Ele vai me fazer ficar trêmula com
a intensidade de seu olhar, mas eu vou deixá-lo com um incômodo
danado dentro das calças.
Permito que a música penetre minha consciência e começo a me

mover contra o poste, de costas, deslizando o bumbum e indo até o


chão. Abro e fecho as coxas, acariciando o interior delas. Quando

ergo minha cabeça, é só ele quem eu vejo.


Meu coração dispara com força. Estou excitada e esquecida da
minha determinação de fazê-lo pagar porque o desejo que vejo em

seu rosto, me deixa sem fôlego.


A música termina e eu demoro mais do que o normal para sair e

mesmo quando estou quase fora, olho para trás.


Decepcionada, percebo que ele foi embora.

Melhor assim. Um de nós tinha que se libertar daquele transe


sexual. Uma pena que apesar de tudo o que tentei, não fui eu
aquela quem acordou primeiro.

Três horas e meia depois, saio da boate. Ao contrário de ontem,


dessa vez dancei seis músicas e Adriel disse que eu deveria dar

uma olhada no meu caderno de gorjetas amanhã.


Farei isso. Sei que eles pagam por semana, assim posso quitar a
conta de luz e telefone que já venceu há dois dias.
Quando o segurança abre a porta para que eu saia, meu coração
recomeça uma corrida louca ao reconhecer o carro de Zeus
estacionado.

Dessa vez, um motorista sai de dentro do veículo.


— Senhorita Foster, doutor Kostanidis mandou que a levasse

para casa.
— Ele já foi… embora?
Tento esconder meu desapontamento, mas falho miseravelmente.

— Sim, senhorita, mas ordenou que eu lhe esperasse sair.

Eu gostaria muito de dizer não, mas estou morrendo de dor nas


costas porque dei faxina pela manhã em uma casa e depois de

dançar nos saltos altos, sinto-me destruída.

— Obrigada por me esperar, senhor…

— Larry West, senhorita, ao seu dispor.


— Obrigada, senhor West. Estou muito cansada e uma carona

parece um sonho.

Dessa vez, quando chego em casa, minha madrasta está me


esperando.

— Está trabalhando em uma boate como dançarina — diz,

segurando um cartão de visitas da SIN que provavelmente deixei


cair da minha bolsa. Não há acusação em sua voz, mas decepção.

— Não precisava ter mentido para mim.


— Fiquei com vergonha.

— De quê? Está fazendo algo errado?

— Não, só dançando em um clube exclusivo para homens, mas


com pouca roupa. Muito pouca, para falar a verdade.

— Não nua, espero.

— Não. Até havia essa opção, mas eu não quis.

— Meu Deus, Madison, ainda assim, não é o que desejo para


você.

— Qual a outra opção, mamãe? Como posso manter minha

promessa a Brooklyn de cuidar dos bebês se não tiver dinheiro o


suficiente?

— Gostaria de poder ajudar.

— Você já faz muito ficando com as crianças. Não teria coragem


de deixar meus sobrinhos com mais ninguém.

Ela me abraça e sei que está arrasada por eu estar trabalhando

na boate, mas eu não posso me envergonhar de tentar tudo o que é

legalmente possível para cuidar da minha família.


— Não quero ser portadora de más notícias, mas a assistente

social ligou. Ela disse que passará aqui amanhã pela manhã para
uma visita de rotina.

— Ai, meu Deus. Essa mulher cismou conosco! Por quê? Sempre

cuidamos direito dos bebês e fora o fato de sermos pobres, eles têm
tudo o que crianças precisam para crescerem saudáveis.

— Eu sinto calafrios cada vez que ela ameaça levar as crianças

embora. Talvez seja a hora de procurarmos um advogado.

— Eu vou atrás disso — respondo, fingindo que não estou


apavorada.

Não posso perder a guarda temporária dos meus sobrinhos. Eu

prometi a Brooklyn e morrerei antes de quebrar essa promessa.


Capítulo 14

Zeus

Esperar que alguém tome decisões que me envolvam não é


muito meu modo normal de agir. Muito menos dar prazos. Sou do
tipo preto no branco.

Só isso já deveria ligar um sinal de alerta de que Madison trará


desequilíbrio para minha vida, mas mesmo que seja completamente

fora do meu personagem, esse jogo de perseguição lenta com ela

só aumenta o desejo.
Não esperava complexidade de alguém tão jovem. Com

dezenove anos, eu só queria viver a vida, mesmo que isso não


tenha durado muito tempo, já que quando fiz vinte e dois, meu pai

se suicidou e a responsabilidade da família caiu sobre mim porque


meu avô não tinha mais saúde para ficar à frente dos nossos

negócios.
Mexo o copo de uísque em minha mão, relembrando tudo o que

aconteceu desde que pus os olhos nela.

Pela primeira vez na vida, estou mandando para o inferno a


prudência, porque se fosse racionalizar, prestaria atenção ao que

Ares me disse ontem.

Madison tem confusão escrita nela inteira e ainda assim, eu não


quero resistir ao desejo de possuí-la.

O jeito que dançou para mim hoje, novamente me fez ter vontade

de tirá-la daquele palco e beijá-la inteira até que confessasse que o


tesão é mútuo.

Não seria uma equação difícil de entender se, aliado à atração


física avassaladora, a mulher não me despertasse também a

vontade de protegê-la, o que me faz mandar que meu motorista a

levasse para casa.

O lugar em que mora é uma merda e depois de uma pesquisada,

descobri que o índice de criminalidade é bem alto. Qual a chance

de, voltando de madrugada, linda daquele jeito, não termine como


mais uma vítima como tantas outras pelo país?
O pensamento traz o peso de uma bola de ferro ao meu
estômago, mesmo que eu saiba que não é racional esse desejo de

cuidar dela. A garota não é nada minha e mesmo que nosso arranjo

seja acertado, não passará de um relacionamento fugaz.

O celular vibra com uma chamada de Hades, meu irmão caçula.

— Por que não foi ao aniversário de Ares? — pergunto, sem

cumprimentá-lo.
Dionysus está certo, nosso avô ficaria decepcionado pela

maneira como temos levado a vida, distantes uns dos outros.

— Eu tinha negócios a tratar.

— De que tipo?

Ele fica em silêncio e eu adivinho na hora.

— Você precisa esquecer aquilo e seguir com sua vida, Hades.

— Não. Enquanto todos não forem punidos, eu não vou parar.


— A menina já foi punida e muito. O que mais espera?

— Falta um. O maldito fugitivo.

— E enquanto isso, você fica preso ao passado.

— Você é a última pessoa que pode me dar conselhos sobre

seguir em frente, irmão. Acaba de fechar um acordo que entrelaçará

os malditos Gordon conosco.


— Não volto atrás com a minha palavra. Eu prometi ao nosso

avô.
— Exatamente o que estou dizendo. A vingança está em nosso

DNA. Eu não vou parar até que os dois sejam destruídos. Mas não
foi para isso que liguei e sim para falar da dançarina.
— Minha vida privada não é da sua conta.

Não me surpreende que Ares tenha lhe contado sobre Madison.


Por mais que não nos vejamos com tanta frequência mais, eu e

meus irmãos cuidamos uns dos outros ainda que isso consista em
invasão de privacidade.

— Eu não estou preocupado com um escândalo. Sabe que não


dou a mínima para as ações do banco, Zeus. Só quero saber aonde
pretende chegar com isso. Não é seu modo normal de agir.

— Tem noção do quanto soou preconceituoso?


— Não tem nada a ver com preconceito, só quero entender o que

há nessa mulher que virou sua cabeça. Foi à SIN dois dias
seguidos.

— Não preciso justificar minhas ações para qualquer pessoa,


Hades. Cuide de sua vingança. Meu futuro já está todo planejado.
Depois que desligamos, olho o celular em minha mão, sabendo

que não adianta conferir as mensagens, ela não enviou nada.


Qual é seu jogo, Madison? O que está faltando para que ceda?

Sobre uma coisa, meus irmãos estão certos: a garota está


desalinhando a minha vida, que sempre seguiu por um caminho

previamente determinado.
Para fazer com que as coisas voltem ao normal, preciso fechar

essa questão com Madison de uma vez por todas.


Após dar mais um gole na bebida de excelente safra da destilaria

do Duque Rodrick MacQuoid[13], um amigo de longa data, deixo o


copo em cima da mesinha lateral, recosto a cabeça no sofá e fecho

os olhos.
A paz que busco, entretanto, não vem, mas sim a imagem da

minha garota atrevida com aquele corpo que me promete o paraíso.


Meu desejo por Madison está se transformando em obsessão em
uma velocidade inacreditável. Quando fez a dança privada para mim

ontem, achei que tinha tudo sob controle. A oferta que lhe fiz foi
mais do que já propus a qualquer outra mulher porque não antecipo

datas, já que perco o interesse rapidamente.


Ela brincou quando falou sobre o carro e o apartamento? Se eu

pudesse chutar, diria que estava me testando. Não parece o tipo de


garota que se impressiona fácil porque mesmo tão jovem, ninguém
precisa ser um conhecedor da alma humana para perceber que tem
muito mais vivência do que aponta sua idade biológica.
Ela disse que já lidou com pessoas perigosas. Quem? Onde está

sua família? Mora sozinha?


As perguntas são infinitas e eu jamais dou um salto no escuro

como estou fazendo agora.


Eu sei porque estou agindo fora do meu modo normal em tudo
sobre Madison. Eu nunca me senti atraído de uma maneira tão

selvagem por uma mulher. Perto dela, sou puro instinto e


surpreendentemente, essa disputa pelo controle entre nós dois, me

deixa com vontade de mais.


Como uma espécie de droga em que em um primeiro momento

você subestima, achando que só experimentará e poderá seguir em


frente, Madison Foster está se inserindo em minha corrente
sanguínea e, mesmo que eu saiba que em algum momento terei

que me livrar desse vício, não o farei antes de satisfazer o meu


desejo.
Capítulo 15

Madison

No dia seguinte

Eu tinha que limpar uma casa hoje cedo, mas depois da notícia
que Eleanor me deu ontem, não há nada no mundo que me afaste
daqui.

A assistente social responsável por verificar o bem-estar dos


bebês desde que Brooklyn entrou em coma parece decidida a levar

as crianças para adoção. Sua justificativa é que não se sabe se


minha irmã um dia acordará e que eu e Eleanor não temos

condições de dar o que elas precisam.


Aperto uma mão na outra, nervosa para caramba e odeio que

aquela bruxa me faça sentir assim.


Na verdade, eu odeio qualquer um que me faça sentir

inadequada porque foi contra isso que lutei a vida toda: a sensação

de nunca ser o suficiente.


Tanto eu quanto minha irmã temos cicatrizes da criação do meu

pai até Eleanor entrar em nossas vidas. Minha mãe biológica morreu

pouco antes que eu completasse um ano, mas já nessa época, ela


havia ido embora por não aguentar as loucuras do meu pai.

Ah, e as mentiras, claro. Porque ele era incapaz de assumir os

próprios erros.
Somente quando estava para completar sete anos foi que ele se

casou com minha madrasta e então, nossa vida entrou


relativamente nos eixos.

Agora, enquanto luto para dar aos meus sobrinhos um lar com a

família por perto, essa mulher louca cismou em nos separar.

Crianças não precisam somente de dinheiro para suas

necessidades, mas de amor principalmente e isso, nós temos de

sobra para oferecer.


Saio do banheiro depois de conferir mais uma vez minha

aparência no espelho.
Meu TOC está completamente ativado, assim, fico satisfeita
quando percebo que não há um fio de cabelo meu fora do lugar. Sou

a imagem da perfeição.

Sinto-me relativamente segura para enfrentar a mulher que, logo

que entro na sala, vejo sentada no nosso sofá gasto, de frente para

Eleanor.

Ao contrário de mim, minha madrasta é frágil e um pouco


insegura, deixando transparecer para a assistente social o quanto

está apavorada.

Do lado dela, Silas e Soraya brincam com seus mordedores,

indiferentes ao nosso nervosismo e sem terem a menor ideia de que

aquela mulher com uma falsa expressão de simpatia que os encara

quer levá-los para longe de nós.

Passo direto por ela após um cumprimento seco e me abaixo


para falar com meus sobrinhos.

Somente então sento-me ao lado da minha madrasta.

Vinte minutos depois, estou tremendo tanto que temo desmaiar.

— Eu tenho um emprego.

— Não com contrato. Limpar casas para viver é incerto. E se um

dia todos os seus patrões resolverem de uma vez só dispensá-la?


— a mulher pergunta enquanto faz a milésima inspeção pelo nosso
apartamento. — Esse quarto também não é adequado para as

crianças. A janela é pequena, não entra muito ar.


O que ela está falando não é nada diferente do que já disse das

outras vezes, e como sempre, sei que está procurando defeitos para
conseguir o que quer: levar as crianças.
Meu desespero maior é porque tenho sim um emprego com

contrato, só que se eu disser que receberei um bom salário como


dançarina exótica, ela terá cartas na mão para levar os gêmeos.

— O que eu preciso para que a senhora nos deixe em paz? —


pergunto, mentalmente esgotada. Das outras vezes, tentei ser gentil

e usei diversos truques que aprendi com meu pai para enrolar
alguém, mas nada funcionou.
Estamos somente nós duas na porta do quarto das crianças, já

que Eleanor ficou com os bebês na sala.


— Não acho que você terá meios de reverter meu parecer — ela

diz, com arrogância.


— Olha aqui, senhora Mirtes, acho que ficou bem claro, após oito

visitas em apenas dois meses, que não simpatizamos uma com a


outra para dizer o mínimo, mas nem precisamos, não é mesmo?
Não é isso o que está em jogo, e sim, o futuro dos meus sobrinhos.

A senhora até agora colocou defeito em tudo que fiz para eles. Em
cada uma das visitas sempre alega que o que lhes proporciono “não

é o bastante”. Para que nenhuma de nós perca tempo, diga-me o


que é o bastante. Sem meias-palavras, o que é preciso para que

nos deixe em paz?


Sei que perdi o controle e nesse momento, eu detesto essa

mulher com cada gota de sangue do meu corpo, mas vou tirar essa
víbora do meu pé custe o que custar.
— Você não terá meios para dar o que eles precisam.

— Sabe perfeitamente que não pode alegar isso na frente do juiz


sem ser mais específica.

— Tudo bem, mocinha. Se é o que quer, a única maneira de


mudar meu parecer será se conseguir uma casa de, ao menos, cem
metros quadrados, em um bairro decente, com quintal para eles

brincarem. Também preciso ter certeza de que essa fonte de renda


que usará para custear a nova residência é legal. Você tem duas

semanas a contar de hoje, caso contrário, recomendarei fortemente


ao juiz que as crianças devem ir para um lar temporário.

Ela diz aquilo no exato momento em que chegamos na sala e


Eleanor escuta. Minha madrasta começa a chorar e uma veia
assassina, que nunca pensei existir em mim, me faz ter vontade de

apertar o pescoço fino da assistente social até escutá-lo estalar.


Entretanto, matá-la, ainda que livrasse o mundo de um demônio
de saias, não serviria em nada para resolver a vida dos meus
sobrinhos.

Eu não sou uma vítima, sou aquela que encontra soluções e


enquanto olho para as duas criaturinhas desdentadas que

dependem de mim, minha madrasta aos prantos, e em seguida,


para a mulher desprezível, sei que tenho a resposta na palma da
mão.

Mesmo que aquilo vá matar um pedaço da minha alma, eu não


vou deixar que levem meus sobrinhos para longe.

— Em duas semanas, a senhora terá todas essas exigências


cumpridas — falo, tentando demonstrar autoconfiança.

Ela me encara com cinismo e depois sai do apartamento sem se


despedir de Eleanor ou das crianças.
— E agora? — minha madrasta pergunta assim que escutamos a

porta bater.
— Confie em mim. Eu vou dar um jeito.

Entro no quarto dos bebês e pego meu celular no bolso de trás


do meu jeans.
Procuro o nome que desejo na agenda, mas minha mão treme

quando encosto o dedo na tela para completar a ligação.


Ele atende no terceiro toque, e só o tom poderoso de sua voz já
tem o poder de me acalmar.
— Zeus, sou eu, Madison.

Não acredito que ele tenha meu número, a não ser que tenha
verificado meus dados com Ares, o que apesar de ser uma invasão

de privacidade, não me espantaria.


— Madison, ainda tem mais algumas horas até que seu prazo
chegue ao fim.

Eu nem lembrava mais de ter dito que retornaria com uma

resposta em quarenta e oito horas porque estava disposta a me


manter muito longe desse homem. Agora, entretanto, ele representa

minha única salvação.

— Foi por isso mesmo que liguei — minto. — Você me fez uma

proposta, eu tenho uma contraposta a lhe fazer. Podemos nos ver


hoje?

— Que horas?

— Eu preciso dançar.
— Falarei com Ares para dispensá-la.

— Não, eu vou trabalhar. Podemos conversar depois.

— Uma dança. É tudo o que fará hoje. Não me teste — diz, de


uma maneira muito parecida com a que o irmão me avisou para não
blefar com ele no dia que me contratou. — Pego-a às onze, na parte

de trás da SIN.
Capítulo 16

Madison

Nas horas que tive disponíveis antes de chegar à boate,


pesquisei tudo o que podia sobre o que vou propor e mesmo que
esteja envergonhada, me recuso a sentir culpa.

Onde está escrito que ele é quem tem que ditar as regras? Zeus
me fez uma proposta como se estivéssemos sentados em uma
mesa de negociação e eu só vou ajustar alguns termos em meu

benefício.

Passei as horas que antecederam nosso encontro repetindo isso


para mim mesma, ao mesmo tempo, também louca de vontade de

telefonar e dizer que cometi um engano e que mudei de ideia.


Só que não é sobre meu orgulho, é a vida dos meus sobrinhos,

então, desistir não é mais uma opção.


Confiro minha aparência no espelho porque mais do que nunca

preciso sentir, assim como hoje pela manhã, que tudo está em seu

devido lugar para que possa ficar em pé de igualdade com ele.


Saio do camarote e passo pela boate ignorando os olhares dos

clientes. Depois de quase uma semana, já me sinto segura o

suficiente para ignorá-los sem ter medo de ser mandada embora.


Enquanto caminho para a saída, me pergunto se eu seria capaz

de propor a qualquer um desses homens o que conversarei com

Zeus.
Franzo o rosto em uma careta de repugnância.

Nunca. Sei perfeitamente que o trato com Zeus só parece tão


fácil de digerir por conta da atração louca que ele me desperta.

Eu jamais deixaria alguém me tocar se o homem não

conseguisse me fazer sentir. E nesse quesito, o grego arrogante é o

campeão absoluto.

Drew, o segurança que sempre fica de guarda na parte de trás da

boate, me cumprimenta sorrindo. Aos poucos, estou fazendo


amizade com eles e mesmo que de um jeito torto, os funcionários

formam uma espécie de família.


Saio para o ar abafado da noite e fico surpresa quando encontro
o primeiro homem que já fez meu coração disparar até hoje, me

esperando recostado em seu carro.

Noto que assim como no dia em que me levou em casa, há

guarda-costas por perto.

Ele está todo de preto, jeans e uma camisa de botões enrolada

até os cotovelos, deixando à mostra os antebraços musculosos. Não


consigo me impedir de fazer uma checagem geral, então deixo

meus olhos deslizarem pelo jeans que marca o desenho das coxas

rígidas, o abdômen seco que, mesmo sob o tecido, consigo notar e

finalmente aquele rosto perfeito e cínico que tanto me enlouquece.

Ele não se move, porque sabe que estou em desvantagem, uma

vez que fui eu quem o procurei.

Mesmo sem ter experiência além da que adquiri sendo filha do


meu pai, o pior dos trapaceiros, sei, de algum modo que não

consigo explicar, que eu e Zeus somos muito parecidos na essência.

Ambos desconfiados e objetivos quando queremos algo.

Ando até ele sem desviar nossos olhos e quando paro à sua

frente, não o toco. Apesar disso, é como se uma camada magnética

nos envolvesse. A atração entre nós é quase palpável.


— Madison.
— Zeus.

— Está atrasada.
— E o que vai fazer? Me punir?

Jesus, de onde saiu isso? Não estou em situação de ser


desaforada hoje.
Sua mão alcança meu cabelo, mas para minha decepção, só

coloca uma mecha atrás da minha orelha.


Ele se aproxima e eu fico arrepiada quando sussurra no meu

ouvido.
— Tomando emprestado suas palavras: pode apostar nisso,

menina.
A força com que ele me atrai é tão grande que apoio-me em seus
bíceps, segurando firme. Ele se afasta só um pouco para me olhar e

o que vejo naquela tempestuosa imensidão azul faz com que eu dê


um passo para mais perto.

Sua mão vem para o meu cóccix.


— Vamos sair daqui, Madison — repete quase a mesma coisa

que me disse no primeiro dia. Dessa vez, no entanto, eu me deixo


guiar.
Entramos no carro e me surpreendendo, ele confere se fechei o

cinto.
Estou acostumada a ser independente e não quero que ele seja

cuidadoso comigo. Não é disso que se tratará nosso


relacionamento.

— Você não ia me ligar. O que a fez mudar de ideia?


Tento esconder o choque que sua pergunta me causa.

— Como sabe que não?


— Porque acho que a ofendi de alguma forma.
Deus, ele é muito direto.

Eu fui ingênua em pensar que tenho o jogo a meu favor.


Ele está certo, claro. Eu fiquei muito ofendida por ser tratada

como um brinquedo temporário que ele descartaria após um mês.


Nesse momento, entretanto, toda a minha honra ferida cheira a
hipocrisia, porque o que vou lhe pedir é muito pior.

— Como lhe falei no telefone, tenho uma contraproposta a fazer.


— Por que mudou de ideia, Madison? — insiste, como se eu não

tivesse dito nada.


Eu poderia mentir, mas sei que é estupidez.

— Porque precisei.
— Larry, vamos levar a senhorita Foster para casa.
Sua voz soa como gelo, mostrando pela primeira vez o homem

que o mundo inteiro deve conhecer e não o amante sedutor.


— O quê? Não! — digo, ansiosa. — Por quê? Eu pensei…
— Não me aproveito de alguém que esteja em estado de
desespero, Madison. Sabe quais são meus termos. Sou frio e

implacável quando quero algo, mas meu desejo não suplanta meu
senso de honra. Não vai para a cama comigo só porque precisa de

algo de mim.
Sinto meu rosto pegando fogo, certa de que o motorista ouviu
tudo.

Nada está saindo como eu esperava e agora tenho que pensar


rápido antes que todos os meus planos desapareçam em pleno ar.

— Não quero falar na frente dele. Podemos conversar em outro


lugar?

Ele se vira no banco para me encarar e o faz por tanto tempo que
tenho certeza de que vai dizer não, então quase desmaio de alívio
quando ouço-o ordenar ao motorista.

— Vamos para meu apartamento, Larry.


Depois disso, ele olha pela janela e não volta a falar comigo até

que o senhor West estacione em um edifício muito famoso, de frente


para o Central Park.
Dessa vez, nem tento sair do carro antes dele e como esperava,

dá a volta para abrir minha porta e me oferece a mão para ajudar a


descer.
Estou vestida de maneira simples, mas finjo que entrar no edifício
onde sei que moram celebridades não é nada demais.

Ergo a cabeça como sempre faço quando me sinto insegura e ao


sentir a mão enorme dele tocando a parte baixa das minhas costas,

me acalmo imediatamente.
Entramos no elevador e assim que as portas se fecham, me
pegando de surpresa, ele vem em minha direção. Prendendo-me

contra a parede com seu corpo, me beija.

Não um beijo como o que me deu no carro na noite em que nos


conhecemos, que apesar de delicioso, não foi lascivo. Esse agora é

despudorado, a língua se mexe dentro da minha boca me fazendo

aceitá-la, exigindo rendição.

Puxo-o pelo cabelo e me entrego à sua demanda, esquecida de


que vim para propor um negócio. Nesse instante, a única coisa que

sei é que quero mais dele.

Novamente, é Zeus quem interrompe o beijo. Ele segura meu


queixo.

— Abra os olhos, Madison.

Sinto-me vulnerável e não quero obedecê-lo, mas faço o que


manda.
— O que quer que vá me propor, não minta. Eu quero você e

estou aberto a negociar, mas não finja que não me quer para tentar
se proteger. Não dou segundas chances.
Capítulo 17

Zeus

Ela está tensa como uma corda de violão quando entramos no


apartamento.
Tento manter a impessoalidade, mas é difícil combater o quanto

mexe comigo o esforço que está fazendo para fingir estar à vontade
em um lugar tão luxuoso.
Tento me colocar em seu lugar e imaginar o que está pensando

enquanto observa o piso de mármore coberto por tapetes persas e a

decoração elaborada por uma das maiores designers de interiores


de Manhattan.

Eu não quis ostentar ao trazê-la aqui, mas porque seria o único

lugar que teríamos privacidade.


— Quer beber alguma coisa?

— Não tenho idade legal para álcool.


— E sempre segue regras? — pergunto, testando-a.

— Sim. Eu as crio na minha cabeça e sou fiel a elas. Respeitar as

leis está no topo de tudo para mim.


Eu seguro sua mão e a levo para a sala principal.

— Por que é tão importante para você respeitar as leis?

— Não viemos aqui para falar de quem sou. Deixou bem claro
naquela primeira noite qual é seu interesse em mim, Zeus. Pediu

que eu não fingisse que não o quero e estou disposta a baixar

minha guarda enquanto isso entre nós durar, mas haverá um limite
para quanto saberá de mim.

Eu faço com que sente no sofá e me acomodo ao seu lado.


— As regras não serão unilaterais, Madison. Tenho as minhas

também e o que quiser saber de você, vai me contar.

— O contrário também valerá?

— Sim, na medida do razoável — falo, sem me comprometer.

— Vou guardar essas palavras.

— Por que não se permite quebrar leis?


— Porque fui criada por alguém que não dava a mínima para

elas.
— Quem?
— Meu pai, mas não quero falar sobre isso.

Deixo passar porque está claro que aquele assunto a incomoda.

— Tem certeza de que não quer beber nada? Comeu?

Pela primeira vez desde que nos conhecemos, vejo a sombra de

um sorriso na boca linda.

— Se eu disser que não, vai cozinhar para mim?


— Está com fome?

— Um pouco, mas muito nervosa. Não sei se vou conseguir

comer algo.

Eu me levanto e ofereço a mão.

— Vem cá.

Ela hesita antes de aceitá-la e enquanto ando ao seu lado para a

cozinha, sinto-a estremecer sob meus dedos.


— Pode ser uma fruta.

— Sente-se — falo, apontando o balcão.

Sinto que me olha enquanto preparo um sanduíche e quando

ponho um prato à sua frente, pede, sem me encarar:

— Gostaria de um pouco de leite, se for possível.

Encho um copo e depois de lhe entregar, observo, encostado da


parede oposta, ela comer.
Madison não morde o sanduíche, mas vai cortando pequenas

porções em volta e deixa a parte do meio para o fim.


— Qual é a lógica por trás disso? — pergunto, apontando curioso

para o que restou.


— O melhor sempre fica para o final. Gosto de fazer o prazer
durar.

Merda, a mulher consegue me fazer pensar sacanagem sem se


esforçar.

— Qualquer prazer? — pergunto, engolindo em seco.


— Todos os que eu conheço — diz, de maneira enigmática.

Quando termina de comer, vai até a pia, lava o prato e o copo e


coloca no escorredor.
— Não precisava ter feito isso.

— Porque tem uma empregada, né?


— Aham.

— Se fecharmos um acordo hoje, por um mês, eu serei sua, mas


nunca vou mudar quem eu sou, Zeus. Conforto e mordomia não

fazem parte da minha vida.


— Qual é sua contraproposta? — pergunto, enquanto
caminhamos de volta para a sala.
Ela não se senta, ao invés disso, vai até uma das janelas e olha

para a noite lá fora.


— A vista daqui é linda. Que privilégio acordar e poder ver o

parque inteiro.
Aproximo-me, parando às suas costas, mas sem tocá-la.

— Depois de um tempo, você se acostuma. Passa a não causar


mais qualquer emoção.
Ela se volta para me olhar e é difícil controlar o desejo de tomá-la

em meus braços.
— É assim com tudo em sua vida? Perde o interesse rápido?

Não há por que mentir.


— Normalmente, sim.
— Então acho que o prazo que me propôs na outra noite, será

mais do que suficiente. Concordo com tudo o que me disse


anteriormente, mas tenho alguns pedidos a fazer e também coisas

das quais não vou abrir mão.


Quase sorrio da maneira com que está conduzindo a nossa

negociação, como se fosse senhora absoluta da situação, quando


ambos sabemos que é mentira. Independentemente do que
chamemos nosso relacionamento ou quais sejam as regras que nos
impusermos, o desejo de Madison por mim é tão intenso quanto o
meu por ela.
— Estou ouvindo.

— Preciso me mudar para uma casa alugada de no mínimo cem


metros quadrados com quintal. O bairro tem que ser seguro. Mesmo

nosso contrato sendo por somente um mês, morarei lá por um ano.


— Ela desvia os olhos, mas eu não permito que fuja.
— Diga o que tem que dizer olhando para mim. Por que por um

ano?
— Até lá, espero ter condições de pagar por um lugar com meu

próprio dinheiro.
Tento não me sentir ofendido, embora algo parecido como ácido

queime meu esôfago.


É ridículo, claro, porque está somente sendo tão objetiva quanto
eu fui na noite em que nos conhecemos.

— Será providenciado. E o que mais?


— Não vou parar de trabalhar na boate. Nunca, em hipótese

alguma você vai me dar dinheiro, mas preciso que pensem que sou
sua assistente pessoal, com um contrato de trabalho de verdade e
ele durará mesmo depois que tudo entre nós chegar ao fim.
Aquilo me surpreende para caralho, porque não faz qualquer
sentido.
— Por quê?

— Tenho minhas razões e talvez em algum momento as


compartilhe, mas não agora.

— Só isso?
— Não, há algo mais importante. Esse acordo deverá ser firmado
através de um contrato. Você não pode voltar atrás. Quero que um

advogado o prepare.

— Do que exatamente estamos tratando, Madison?


Se eu não tivesse testemunhado que ela só bebeu leite, poderia

jurar que está alta por uso de alguma substância.

— Eu serei sua sugar baby, Zeus. E quando tudo chegar ao fim,

ambos teremos conseguido o que queríamos.


Capítulo 18

Madison

Ele dá um passo para trás.


— Você quer um contrato por escrito com tudo o que vai ganhar e
em troca, posso usufruir do seu corpo, é isso?

Sinto a raiva aflorar, mas ainda tento manter o controle.

— A única diferença do que me propôs no outro dia, é que

descobri que existe um nome para o tipo de relacionamento que


teremos.

— Através de um contrato — repete lentamente e o tom me deixa


perceber que está muito zangado comigo.
Ele fica em silêncio por tanto tempo que começo a entrar em

pânico.
— Eu disse a você que gosto de criar minhas regras. Preciso

nomear dentro de mim o que seremos para não confundir as coisas.

Não tenho sua experiência. Nunca vivi nada parecido e não quero
me machucar.

— Como sabe que cumprirei minha parte?

— Porque me disse sobre sua honra e eu acredito. Deixou claro


que não é um príncipe, mas foi honesto desde o princípio. Estou

tentando fazer o mesmo. Achei que isso era comum em sua vida.

— Nunca fechei um contrato para levar uma mulher para a cama.


— Por que está dificultando as coisas?

— Se eu concordar com seus termos, terá que se submeter aos


meus também.

Fico um pouco assustada com a maneira como ele me olha. Todo

o calor se foi e ele parece não só com raiva de mim, mas de si

mesmo.

— O que isso significa?

— Nesse um mês, você será minha.


— Achei que era essa a ideia.
— Se eu quiser que durma aqui, terá que dormir. Se eu quiser
levá-la para viajar, dirá sim, Zeus.

— Eu preciso que me avise com antecedência — falo, pensando

que não gosto da possibilidade de dormir longe dos gêmeos.

— Eu a avisarei no dia que a quiser em minha cama.

Tento não me ofender com a maneira como ele diz aquilo porque

acho que feri seu orgulho.


— Sobre as viagens, não posso ficar muitos dias fora. Tenho um

emprego e preciso do dinheiro.

— E se eu propuser, junto à casa e ao contrato, um salário de

verdade?

Sinto meu estômago em nós, não pelo que diz, mas pela

expressão de escárnio em seu rosto.

— Não preciso do seu dinheiro, senhor Kostanidis. Quer saber o


que mais? Não preciso de você. Vá para o inferno.

Afasto-me, mas ele intercepta meu caminho.

— Qual é o problema de aceitar a casa, mas não dinheiro em

espécie?

Ergo o queixo.

— Não sou uma prostituta. Trabalho desde os quatorze anos.


Nunca dependerei de que um homem me dê dinheiro para comer ou
me vestir. Você disse que providenciaria roupas para quando saísse

comigo e eu aceitarei para não envergonhá-lo, mas quando nosso


acordo acabar, terá tudo de volta. Estou interessada somente no

que lhe pedi: uma casa e um contrato falso de trabalho. Quanto ao


seu dinheiro, agradeço, mas prefiro continuar com as minhas
faxinas.

— O quê?
— Não quero que me sustente. Além das danças, faço faxinas

durante o dia.
Sua expressão muda, a musculatura facial relaxando enquanto

os olhos passam pelo meu rosto, como se tentasse me decifrar.


Ele não suaviza porque acho que nada no homem jamais será
suave, mas não parece mais com raiva.

— Por que precisa tanto de dinheiro, Madison? O que ganha na


boate não é o suficiente?

— Não. Tenho muitas despesas.


— Com o quê?

Sei que estou perdendo terreno, andando em gelo fino.


Ele quer conhecer minhas razões, mas eu não preciso de
piedade.
Não quero nada com Zeus Kostanidis, além do que estou

pedindo.
Não um amante amigo, mas alguém com quem esteja em pé de

igualdade, então troco de tática.


Aproximo-me dele, quase colando nossos corpos.

— Tudo o que propus não muda o fato de que quero você. Não é
o bastante?
— Quer mesmo? Como posso ter certeza disso? — Ele se afasta,

como se quisesse tomar distância de mim. — Talvez eu precise de


uma amostra para ser convencido.

O tom frio retorna a sua voz.


Sinto meu rosto esquentar, sabendo que está falando de algo
sexual, mas sem entender do que se trata.

Quero dizer, não sou estúpida, sei o que acontece entre um


homem e uma mulher, mas não faço a menor ideia de como se

seduz alguém como Zeus Kostanidis.


Cruza os braços, me encarando sem me permitir desviar o olhar

e tenho vontade de sair correndo.


Ele vai levar um segundo para entender que eu sou uma fraude e
não a mulher sensual que imagina.

Tranco minhas mãos ao lado do corpo e olho para os meus pés.


— Não posso lhe dar uma demonstração porque não sei o que
fazer.
— O quê?

— Eu nunca estive com um homem e nem namorei. Você foi meu


primeiro beijo. Se me quiser, terá que me ensinar tudo.

Sinto-o se aproximar.
— Não minta para mim, Madison.
Eu o encaro, mesmo envergonhada.

— Não estou mentindo. Nunca estive com um homem.


— Por que não?

— Não sou boa em confiar. Por isso propus o contrato. Vai me


dar segurança. Preciso da casa e do contrato de trabalho, mas eu

nunca aceitaria um trato desses com outro homem, porque nunca


desejei alguém além de você.
Suas mãos vêm para o meu rosto e ele me estuda em silêncio.

— Você é virgem?
— Sim.

— Eu não sabia disso quando lhe propus ser minha amante.


— Eu acredito. Independentemente de tudo, teria que acontecer
um dia, e quero que seja com você, mas precisa saber da verdade

ou ficará decepcionado. Não sei como agradá-lo… hum… na cama.


— Madison, você me deixa louco só por respirar, mas eu não
quero machucá-la. Tenho uma pedra no lugar do coração, mas sei
que a primeira experiência para uma mulher…

Solto-me dele, me sentindo humilhada. Zeus está tentando


arrumar um jeito menos doloroso para dizer que não me encaixo em

seus planos e eu só quero ir embora e me esconder.


— Pode pedir ao seu motorista para me deixar em casa?
— Não, nós não acabamos ainda.

— O que há para ser dito?

Ele não me responde, mas vem para perto e me pega em seus


braços.

— O que está fazendo?

— Talvez você não possa me dar uma amostra do que quer de

mim, mas eu posso.


Capítulo 19

Zeus

Deixe-a ir — uma voz berra em minha mente, mas eu a ignoro.


Eu nunca desisti de nada que eu quisesse, e nesse momento da
minha vida, não há nada que eu deseje mais do que Madison.

Enquanto sento-me com ela no sofá, montada em mim, traz os


braços para o meu pescoço.
É um contato hesitante, percebo. Na noite em que a conheci,

estava com tanto tesão nela que não notei o quanto somente se

entregou, sem em nenhum momento tomar as rédeas do beijo, mas


agora que sei da verdade, é fácil enxergar sua inexperiência.

Nunca imaginei que fosse intocada, mesmo tão jovem.


Todos os meus princípios gritam que não devo aceitar o que me

propôs porque é pura demais para o que quero dela, mas meu
corpo pensa diferente, cada célula gritando “minha”.

— Não sei fazer nada — diz e preciso fechar os olhos por um

instante.
Madison não tem noção de como suas palavras me

enlouquecem.

— Um mês? — pergunto, tocando sua bochecha com as costas


do meu indicador.

O prazo é mais necessário do que nunca.

Eu já a queria antes, mas saber que é uma folha em branco, que


nunca esteve com um homem, eleva meu desejo de forma

irracional.
— Sim. Foi o que você me propôs, mas…

— Mas o quê?

— E se não gostar de ficar comigo? Disse que enjoa rápido. E

se…

Ao invés de responder, deixo o dedo correr para o início do vale

entre os seios.
Ela geme e joga a cabeça para trás, rebolando no meu colo,

massageando meu pau muito duro.


— Porra, Madison.
Deito-me no sofá e a puxo para mim, a boca devorando os lábios

doces, a língua provando a quentura da dela.

Sua camiseta sobe e quando meus dedos escorregam na pele

macia como seda, ela choraminga.

— Você me deixa toda arrepiada…

Minha mão vai para frente, acariciando a carne durinha de seu


abdômen, bem perto dos seios, mas não avanço. Eu a quero

ansiosa, trêmula e a despeito da força com que a desejo, hoje será

apenas um primeiro contato.

Deslizo a outra mão por suas costas, a ponta do dedo tocando

sua coluna em uma descendente até alcançar o cós do jeans.

Adentro devagar, e quase rosno quando encontro a barreira da

calcinha fio dental.


— Nós vamos ficar juntos um mês, mas eu vou te ter tão

completamente, Madison. Eu vou possuir cada pedaço seu.

Ela se ergue, sentando-se e apoia as duas mãos no meu peito.

Remexe-se sobre mim e os olhos se abrem como se estivesse

surpresa com o prazer que descobriu e dessa vez, quando vai para

frente e para trás na minha extensão, ela sabe o que está


procurando.
— Gostoso?

Morde o lábio e faz que sim com a cabeça.


— Você vai… hum… nós…

— Não.
Ela abaixa o rosto, se escondendo naquela mata selvagem que
são seus cabelos.

— Por que não?


— É o que quer?

— Não tenho como saber. Nunca fiz nada, mas isso aqui — fala,
voltando a se movimentar —, é tão bom.

Subo as mãos em direção aos seios grandes e com os polegares,


acaricio os mamilos eretos sob o tecido do sutiã.
Estou atento às suas reações e fico louco quando ela pede:

— Mais.
— Mais do quê?

Ela não responde, mas ergue os braços e tira a camiseta.


Madison é linda em sua sensualidade inocente, o rosto corado de

tesão, a boca inchada dos meus beijos.


— Desça as alças do sutiã para mim. Mostre-se.
— Nunca deixei um homem me ver nua.

— Eu sei. Vou ser seu primeiro tudo.


As palavras se enraizam profundamente em mim, talvez mais do

que nela.
— Mostre-me esses peitos lindos, Madison — peço outra vez,

comprometido a me prender somente ao sexo, a não permitir que a


garota que me enfeitiçou desde a primeira vez em que a vi alcance

algo além de mim que não seja a parte física.


Ela me encara enquanto leva a mão às costas.
— Eu nunca vou fazer striptease na boate, mas eu quero muito

que você me veja nua.


A visão dos globos perfeitamente redondos, de mamilos grandes

e inchados me descontrola.
— Só ver? — pergunto com as mãos em suas costelas.
Sacode a cabeça de um lado para o outro, depois pega uma das

minhas mãos e coloca muito próxima ao seio, sobre o abdômen.


— O que você quiser, Zeus. Por um mês, eu sou sua. —

Finalmente responde.
Subo o dedo lentamente e observo-a se contorcer.

— Não tem a menor ideia do que quero fazer com você, Madison,
ou não se entregaria assim.
— Não tenho medo de você.

— Por que não?


Minha mão sobe e ela puxa o ar com força quando pinço o bico
duro do seio esquerdo entre o polegar e o indicador.
— Se eu sentisse medo de você, nunca permitiria que me

tocasse. Confio nos meus instintos. Não é meu corpo que você pode
machucar, mas aqui — diz, segurando minha mão e espalmando-a

sobre o coração. — E isso eu não vou permitir.


— Não tenho qualquer intenção de machucá-la. A ideia é só
darmos prazer um ao outro.

Ela se debruça e os peitos roçam contra o meu.


— Eu adoro o jeito como me olha.

— Como eu te olho, menina?


— Como se quisesse me provar inteira.

— Eu não vou te provar, Madison, mas te comer todinha. Cada


parte sua vai me pertencer.
Agarro um punhado de seu cabelo, forçando-a a me encarar.

Trago-a para mim e tomo sua boca, metendo a língua, lambendo-a


por dentro como pretendo fazer com a boceta.

Ela é inquieta, selvagem e quer mais.


Eu a suspendo e os seios pairam sobre minha boca. Passo a
língua em um e depois no outro, mas não é suficiente, então,

abocanho e mamo gostoso.


Nós dois gememos e quando roço os dentes no mamilo, ela grita.
Segura meus cabelos, me impedindo de me afastar. O outro
braço apoiado do lado do meu rosto, servindo de apoio.

Sem parar de sugá-la, abro seu jeans e deslizo a mão na frente


da calcinha.

Geme alto e o aperto no meu cabelo aumenta quando toco seu


clitóris sobre a lingerie.
Nunca lutei uma guerra interna tão grande. Eu a quero nua,

aberta para que eu possa chupar a bocetinha virgem até matar

minha sede, mas sei que se a despir não vou conseguir parar.
Eu não quero que sua primeira vez seja assim porque do jeito

como me sinto instável no momento, não sei se conseguiria pegar

leve. Nós somos temporários, mas ela pode ter boas lembranças

quando olhar para trás.


Mesmo com toda essa determinação, não resisto em tocá-la

dentro da calcinha.

Trinco o maxilar quando sinto com a ponta dos dedos seu sexo
ensopado e ela não facilita, começa a se mover na minha mão para

frente e para trás, tentando montá-la.

— Isso mesmo, Madison, rebole nos meus dedos. Pegue o que


você quer.
— O que eu quero, Zeus?

— Gozar gostoso.
E não demora muito. Ela é deliciosa e sensível.

Eu só preciso manipular seu clitóris por menos de um minuto,

sem parar de mamar seus peitos e ela grita, se entregando.


Gozou tanto que molhou toda minha mão e precisando de um

gosto, trago meus dedos à boca.

— É bom? — pergunta.

Puxo sua boca para a minha e a faço experimentar a si mesma.


— Eu vou beber você por horas.

Ela morde o meu lábio inferior em resposta, choramingando.

Aperto seus quadris com mais força.


— Você toma pílula?

Ela estava me olhando, mas esconde o rosto no meu peito.

— Não e nem pretendo.


— Por que não?

— Não quero falar sobre isso.

— Olhe para mim, Madison. Você é adulta. Conversar sobre

como protegê-la é necessário.


Aquilo parece irritá-la porque sai de cima de mim, recolhe o sutiã

e camiseta e se veste em velocidade recorde.


Capítulo 20

Zeus

— Eu sou virgem, não estúpida. Sei que preciso me proteger.


Acabou nossa trégua e ela voltou a vestir a armadura com a qual
se defende do mundo.

— Se está falando sobre doenças, posso lhe mostrar meus


exames e como é virgem…

— Não, o que estou dizendo é que não vou encher meu corpo de

hormônios por causa de um relacionamento que vai durar trinta dias.


Não sei o que está pensando sobre mim dado o acordo que vamos

fazer, mas não sou promíscua ou não teria chegado aos dezenove
anos virgem. Não é porque nós vamos… não é porque vou dormir
com você que sairei com o primeiro que encontrar quando o que

temos chegar ao fim. Agora, por favor, eu gostaria de usar o toalete.


Seu tom é tão formal como se estivesse falando com um

estranho e aquilo me incomoda para caralho.

— Segunda porta a direta naquele corredor — explico,


apontando.

Sai pisando duro e vou até a janela, pois preciso pensar.

O que ela falou me atingiu de tantas maneiras diferentes que eu


nem consigo saber ao certo o que é pior.

Não, isso é mentira.

A ideia de que possa ir para a cama com outro homem, que mais
alguém vá provar seu corpo e todo aquele fogo, traz uma sensação

desagradável para cacete ao meu peito.


Talvez eu deva negociar nosso prazo. Um mês é muito pouco.

Ouço seus passos voltando e me viro para encará-la.

— Tenho outra contraproposta.

— Não pode voltar atrás, Zeus. Fechamos um acordo.

— Pode ouvir antes de brigar?

— Não estou brigando.


Aproximo-me.
— Está sim, porque é da sua natureza combater. É muito
parecida comigo, Madison.

Sua expressão se desanuvia.

— Isso foi um elogio?

— A maioria das pessoas que me conhece diria que não.

— Eu só me importo com sua opinião, Zeus. Não pertenço ao seu

mundo e não dou a mínima sobre o que pensarão a meu respeito.


— Eu nunca permitirei que a desrespeitem.

— Não preciso de proteção.

— Mas terá assim mesmo. Tem me mostrado tudo o que é,

então, precisa aprender que sou intransigente sobre o meu

mundo. Dito minhas regras e gosto de ser obedecido.

— Como um rei? Tudo tem que ser como você quer?

— Isso mesmo.
Posso estar enganado, mas ela está escondendo um sorriso.

— Fale-me sobre a contraproposta — pede.

— Eu a quero por seis meses.

Até o momento em que as palavras saem da minha boca, eu não

havia pensado em um prazo certo, mas agora tento me convencer

de que seis meses serão suficientes.


Ela não enlouquece como eu pensei que faria, mas ao invés

disso, pergunta:
— Por quê?

— Um mês não será suficiente.


— Por que não?
— Nem a fiz minha ainda e já estou viciado em seu gosto,

Madison.
Para minha surpresa, ela cola nossos corpos.

— Tenho medo de me viciar também.


Descansa a testa em meu peito.

— Tem?
— Sim. Não vou me apaixonar e nem nada, claro. Mas foi tão
bom quando me tocou. — Levanta a cabeça para me olhar. — Sexo

é sempre gostoso assim?


— Não, fica muito melhor quando o casal é compatível.

— Acho que somos, né?


Eu não respondo, mas a puxo para um beijo de língua, minha

mão apertando a carne dura de sua bunda.


Quando nos afastamos, estamos ambos sem fôlego.
— É, acho que isso foi um sim.
Ela está calada desde que Larry estacionou em frente ao edifício
decadente em seu bairro.

Novamente parece fechada em seu próprio mundo.


— Por que precisa da casa?

Larry saiu para conversar com os guarda-costas no carro de trás,


nos dando privacidade.
— Tenho que me mudar desse bairro — diz, sem olhar para mim.

— Por quê?
— Eu não quero te contar meus problemas, e sim, aproveitar

esse tempo juntos.


Mesmo que seja contra minha natureza não ir fundo quando
desejo descobrir algo, entro no jogo dela.

— Aproveitar como, Madison?


— Eu quero mais de tudo o que fizemos hoje.
— Não assinamos o contrato ainda. — Lembro-a, porque eu
também preciso estar atento ao prazo final.

Ela é sexy demais e confundir as coisas entre nós só tornará a


separação mais difícil.

— Sei que vai providenciar tudo. Não estou preocupada.


— O que vai fazer amanhã à tarde? — mudo de assunto porque
é muito difícil não misturar as coisas quando ela soa tão inocente e

desprotegida.
— Trabalhar, como sempre.

— Pare com as faxinas. Não precisa mais delas. Deixei dez mil
dólares de gorjeta nos dois dias em que fui na SIN.

— O quê?
— Não verificou suas gorjetas?
— Não — fala, com o rosto em uma expressão de espanto. —

Não faça isso novamente. Eu nunca ganharia tanto por uma dança.
— Disse que não quer ajuda financeira além da casa e eu

concordei, mas irei à boate por várias noites para danças privadas.
— Não vai fazer com que eu seja exclusiva sua, né?
Não respondo porque é exatamente essa minha intenção.

— Não está certo, Zeus.


— Escolha suas batalhas, Madison. Para os meus padrões, eu já
cedi demais em nosso acordo.
— Em quê? Vou fazer tudo o quer.

Eu a puxo para um beijo na boca.


— Não tem noção de como me deixa louco quando diz isso.

— Por quê?
— Porque só o que consigo pensar é em você nua na minha
cama e eu chupando cada pedaço do seu corpo.

Sem que eu espere, ela vem para o meu colo.

— Não sou o tipo que se joga nas coisas, mas nesses meses que
ficaremos juntos, eu quero tudo, Zeus.

Nos beijamos por tanto tempo que precisamos nos afastar para

tomar ar.

— Você vai para minha casa amanhã depois da boate. Não


voltará para cá.

Ela parece que vai protestar, mas muda de ideia.

— Tudo bem, mas preciso voltar no domingo.


— Por quê?

— Tenho um compromisso.

Agarro seu cabelo para que me olhe, porque quando falou aquilo
abaixou a cabeça.
— Eu não compartilho, Madison.

— Já disse a você que não tenho um homem na minha vida. É


um compromisso, mesmo. Diz respeito a minha família.

Quero perguntar mais, mas sei que agora que teremos mais

tempo juntos, vou descobrir tudo o que desejo sobre ela.


— Tudo bem. Eu te pego amanhã às cinco da tarde. Antes que vá

para a boate, quero te mostrar algo.

— O quê?

— Disse que precisa de uma casa em um lugar decente. Tenho


uma propriedade em mente que talvez sirva.
Capítulo 21

Madison

— Como assim, namorando?

Viro de costas para Eleanor, fingindo mexer no café. Odeio ter

que mentir para ela, mas como posso explicar que assinarei um

contrato de seis meses para ser a sugar baby de um bilionário


grego?

— Ele é irmão do meu chefe.

— Madison, olhe para mim.

Volto-me para encará-la, mesmo que não deseje fazer isso no

momento.

— Não está fazendo nada ilegal, não é?


— Não, mamãe. Ele é uma boa pessoa e vai nos ajudar.
— Eu não estou gostando dessa história. Vai ficar com esse

homem para poder impedir que os gêmeos sejam tirados de nós? —

pergunta, indo direto ao ponto.

— Não, mas ele se ofereceu para ajudar — minto novamente,

aumentando a pavimentação da minha estrada para o inferno —, e

eu não vou dizer não.


Eu decidi que vou contar a Zeus sobre os bebês. Quando pensei

que ficaríamos juntos por somente um mês, acreditei que dava

esconder os problemas da minha família, mas se serão seis meses,

a história muda completamente de figura.

Não importa qual compromisso eu tenha, no domingo fico mais

tempo com Brooklyn no hospital. É quando converso com ela e

conto como estão indo as coisas.


Já percebi que o jeito controlador de Zeus vai se estender para

além do que fizermos no quarto e não quero que pense que o estou

enganando com outro homem.

— Isso não parece certo — diz.

— E qual seria a outra solução? — pergunto, tentando não perder

a paciência. — Olha, eu não estou com ele forçada, mãe. Na


verdade, é o primeiro homem que me atrai desde que fiquei adulta.
Ela vem para perto de mim e me abraça.

— Mas deve ser um homem muito rico, meu amor. Rico e


experiente.

— E lindo também, para piorar.


— Não quero vê-la sofrer, Madison.
— Eu não vou me apaixonar por ele. Pode ficar tranquila. Mas

chegou a hora de viver um pouco.


— No que consiste essa ajuda?

— Ele vai conseguir a casa que precisamos e me dará um


contrato de trabalho como se fosse sua assistente. Se dona Mirtes

descobrir que danço em uma boate, ela vai ter a faca e o queijo na
mão para nos tirar os bebês.
Como se soubessem que estamos falando deles, os dois

começam uma cantoria juntos.


— Ninguém vai tirar meus amorzinhos. A titia nunca vai deixar

isso acontecer — prometo, me abaixando em frente aos carrinhos


conjugados e beijando as mãozinhas gorduchas. — Está tudo sob

controle, mamãe.
Ela ainda me olha quando me levanto e posso ver mil perguntas
que quer me fazer. Infelizmente, não tenho nenhuma garantia para
lhe dar a não ser que farei tudo ao meu alcance para não permitir

que separem nossa família.


Como se tivesse sido sincronizado, meu celular toca com a

música que escolhi para Zeus.


— Qual é o nome desse rapaz?

— Ele não é um rapaz… huh… é um homem. Zeus Kostanidis.


Ela ri como se eu tivesse dito alguma piada, mas quando vê que
não desminto, arregala os olhos.

— Seu empregador é daquela família Kostanidis? Os gregos


bilionários?

— Sim. Ares Kostanidis é o dono da boate em que eu trabalho. E


o meu… hum… — paro, incapaz de repetir a mentira. — O homem
com quem estou saindo se chama Zeus, o irmão mais velho.

— Mais velho quanto?


— Eu não sei ainda, não perguntei, mas com certeza mais de

trinta.
— Madison! Rico, lindo e muito mais velho não é uma boa

combinação, criança.
Ela não faz ideia de que lindo nem começa a descrever o meu
grego.

— Um instante. Preciso atender.


Desbloqueio o celular.
— Você demorou.
— Estava conversando com a minha mãe. Já desço. Dois

minutos. Tchau.
Coloco o celular na bolsa, enquanto falo:

— Mãe, ele está embaixo. Vai me levar, antes do meu turno na


boate, para ver uma casa que acha que servirá para nos
mudarmos, mas depois… — sinto meu rosto em chamas —, não

dormirei em casa. Na verdade, só vou voltar no domingo, para irmos


ao hospital.

— Madison, não precisa ter vergonha de mim ao falar sobre


essas coisas. Você é jovem, linda e saudável. Minha preocupação

não é com moralismos hipócritas, mas com seu coração.


— Meu coração está blindado, mãe.
Pego minha bolsa, beijo as cabecinhas dos bebês e depois a

abraço.
— Não há a menor chance de que eu vá me apaixonar por ele.

— Ah, é? E como pode ter tanta certeza?


— Porque sou uma garota esperta. Só uma tola acreditaria em
um conto de fadas com um homem como aquele. Príncipes não

existem.
Desço correndo, dizendo a mim mesma que minha ansiedade é
por conta do meu TOC que não gosta quando eu me atraso, mas
meu coração traidor me desmente em um piscar de olhos porque

assim que vejo Zeus sair do carro. Estou a ponto de ter um infarto
de tão disparado que o bendito órgão está.

— Tem por hábito se atrasar? — pergunta sem me dar um “oi”,


me guiando para entrar no carro.
Os vizinhos nem disfarçam a curiosidade quando nos veem, mas

a barreira de guarda-costas os impede de chegar muito perto.

Entro sem fazer caso do seu tom mal-humorado e ele vem atrás.
Como da outra vez, se reclina sobre mim para fechar meu cinto de

segurança, mas antes que possa fazê-lo, seguro seu rosto e o beijo.

— Oi. Boa tarde, Zeus. Estou bem e você?

Ao invés de entrar na minha provocação, ele me pega pela nuca


e me dá um beijo tão intenso que traz dor ao centro das minhas

coxas.

— Bem melhor agora, atrevida — diz, quando finalmente se


afasta, mas não sem antes terminar de fechar meu cinto.

— Desculpe-me pelo atraso. Sou pontual, dou minha palavra,

mas minha mãe, na verdade, é minha madrasta, mas foi quem me


criou, começou a fazer perguntas. Não durmo fora de casa e só

chego tarde, vindo do trabalho, então tive que contar uma mentira.
— Mentira?

Olho para fora, subitamente envergonhada.

— Disse que você é meu namorado.


Ele não fala nada e eu volto-me para encará-lo e conferir se está

aborrecido que eu tenha nos dado um rótulo tão sério.

Seu rosto não tem qualquer expressão, mas seus olhos me

observam como se tentassem desvendar minha alma.


— Olha, não é como se eu tivesse dito que estamos noivos. —

Tento brincar, mas ele não sorri. — Eu só não podia dormir fora de

casa sem razão. Eu nunca fiz isso antes.


— Nunca?

— Não. Como te falei, não sou boa em confiar e isso não tem só

a ver com homens, mas com qualquer pessoa.


— Não vejo problema em ter dito para sua mãe que estamos

namorando.

— Mesmo que não estejamos?

— Vai me chamar de quê?


Sussurro para que só ele possa escutar, tentando esconder um

sorriso.
— Sugar daddy.

— Ah, Madison, eu vou gostar tanto de te punir por cada

atrevimento.
Sinto cócegas no estômago de excitação.

— Mal posso esperar, Zeus.


Capítulo 22

Zeus

— É muito grande.
— Sim, tem um pouco mais de cem metros quadrados.
Na verdade, tem mais de trezentos, mas eu não possuo

residências menores.
— Tem metrô perto?
Ela tenta disfarçar, como se não fosse nada demais, mas seus

olhos brilham enquanto olha o quintal.

— Tem, mas você não vai precisar. Larry ficará à sua disposição
para levá-la à boate. E eu a trarei de volta.

Está de costas para mim, a bunda sexy requebrando com o

balançar suave dos quadris arredondados.


— Não vou só à boate. Tenho outros compromissos.

— Então colocarei um motorista para servi-la.


— Vai adiantar se eu disser não?

— O que você acha?

— Que consegue ser ainda mais arrogante do que seu irmão.


— É natural. Sou mais velho.

— Quanto mais velho? Minha mãe perguntou sua idade e eu não

soube responder.
— Trinta e quatro. Acho que nos encaixamos mesmo no papel de

baby e daddy, embora esse nome soe meio incestuoso.

Ela gargalha.
— Acredite, você não me lembra em nada meu pai.

— Já está satisfeita de olhar a casa? É essa mesmo?


— Ela é sua?

— Sim.

— Não vai precisar dela por um ano? Porque não vou devolver

antes. Trato é trato.

Parece disposta a brigar se for preciso e eu adivinho que deve ter

feito isso a vida toda: lutado por cada pequena conquista.


— Não. Aconteça o que acontecer entre nós, ela será sua por um

ano, Madison.
— Trouxe o contrato do advogado?
Trinco meu maxilar, tentando conter a irritação e aceno com a

cabeça.

Mandei uma mensagem para ela hoje cedo avisando que meu

advogado nos encontraria aqui para assinarmos o contrato porque

embora aquilo ainda me faça mal, não volto atrás com a minha

palavra.
Madison disse que bastava que trouxesse para ela assinar, sem

mais ninguém além de nós dois.

A mulher dá um nó no meu cérebro. Por mais de uma vez me

disse que não costuma confiar nas pessoas e no entanto, o faz

comigo o tempo todo.

— Como sabe que não o baixei da internet? Como pode ter

certeza que ele tem alguma validade? — pergunto, mandando o


bom senso para o caralho.

Seguro sua mão e a guio para dentro de casa.

Eu a quero e ter que assinar um fodido contrato para poder tê-la

é um soco no meu orgulho.

— Confiança não é algo que se entrega pela metade, Zeus e eu

já dei a minha a você. Sei que não me enganaria. Você não faria
isso comigo.
Ergo-a em meus braços e sento na bancada da cozinha.

— Não, eu não faria.


— Então por que está bravo?

— Diga de novo que está comigo porque quer.


Olha para baixo.
— Aconteceu algo que me fez te propor ser sua sugar baby, mas

eu quis você desde que o vi sentado naquela noite, na sala privada.


Eu a puxo para a ponta do balcão e beijo aquela boca que é puro

pecado.
— Eu quero você — ela sussurra em meu ouvido, quando nos

separamos. — Não gosto de querer algo, porque sempre me


decepciono, mas eu quero muito você, Zeus.
Sou um cara frio normalmente, mas ela tem o poder de fazer meu

sangue ferver com uma simples admissão.


Seguro um punhado de seu cabelo grosso, inclinando sua cabeça

para trás.
— Não se esconda de mim, Madison. Eu quero tudo.

— Eu nem saberia como fazer isso, mas mesmo que soubesse,


não quero fingir e sim viver a experiência completa.
Estou a caminho de tomar sua boca outra vez quando meu

celular vibra.
Fico tentado a ignorá-lo, mas eu sei quem é. O perito que mandei

que minha secretária chamasse para fazer a inspeção elétrica e de

gás[14]. Comprei essa casa como investimento e depois de


reformada, nunca houve alguém morando.

— Tenho que atender. Deve ser o perito que está lá fora para
verificar se está tudo em ordem com a casa.

— Tinha certeza de que eu iria gostar?


— Claro.
— Deus, você é tão arrogante.

Estamos dentro do carro a caminho da SIN. A perícia acabou


demorando mais tempo do que eu calculei e Madison disse que
precisava vir.
— Pare na parte traseira. Não quero que nos vejam juntos.
— Todos saberão sobre nós em algum momento, Madison —
respondo irritado porque nunca vivi uma situação em que a mulher

quisesse me esconder.
— Eu sei, mas não dentro da boate. Aqui é meu trabalho. Se

quiser vir todas as noites como disse que faria, será como meu
cliente e não…
— Não o quê?

— Como meu amante.


— Sua única dança privada hoje é minha.

— Vai fazer isso todas as noites?


— Não pensei a respeito ainda, mas é provável.

Ela põe a mão na maçaneta.


— Sei que gosta de abrir a porta para mim e eu me sinto uma
princesa cada vez que faz isso, mas não aqui. Espere um tempo até

entrar, por favor.


— Não. Preciso conversar com Ares. Eu nunca vou me esconder,

Madison, independentemente da razão.


Ela sai com a expressão carregada e sem se despedir. Dois
minutos depois, desço também e sigo direto para o escritório de

Ares.
— Madison não vai trabalhar amanhã.
Ele passa as mãos pelo rosto.
— Está saindo com a minha dançarina?

— Temos um acordo. Ela é minha por seis meses.


— Sua o quê?

— Vá cuidar da sua vida, Ares! Que porra.


— Espero que esteja lembrado do trato com o velho Gordon. Ele
é tradicional e odeia escândalos.

— Ele que se foda. Eu tenho um acordo com ele para daqui a um

ano. Não nasceu alguém para me dizer como levar minha vida
pessoal.

— Hey, eu não sou o inimigo. Não seu, ao menos — fala, com

seu costumeiro humor negro.

— Eu nunca vivi.
— Do que você está falando?

— Não reclamo do que tive que fazer à frente dos negócios da

família, mas eu nunca vivi e é isso que Madison representa para


mim: vida.

— Ela não é uma transa, somente.

— Eu não sei o que ela é. Ainda não a levei para a cama, mas
seu jeito me enlouquece. Ela não a mínima para quem sou ou
quanto poder eu tenho.

— Jesus, Zeus. Isso pode acabar tão mal…


— Não, eu sei o que estou fazendo. Teremos seis meses juntos e

pretendo aproveitar cada segundo. Somente isso.


Capítulo 23

Madison

Estou quase terminando a dança privada quando ele se levanta


como fez na primeira vez em que me apresentei para ele e ao
passar por mim, diz:

— Não pare. Já volto.

Menos de um minuto depois, retorna, mas não torna a se sentar.

Ao invés disso, recosta em uma parede e me observa dançar.


Tenho que fazer um esforço sobre-humano para não esquecer a

coreografia porque mesmo virgem, eu consigo ver o que seu olhar


me diz.

Para tentá-lo fazer provar do próprio veneno, me aproximo.


Até agora, levei a performance com profissionalismo, ainda que

meu corpo estivesse febril o tempo todo, mas algo parece ter me
possuído, porque prometo a mim mesma que vou tirar aquela

expressão arrogante do rosto dele.

Eu me abaixo dançando e meu rosto fica muito próximo a seu


sexo. Nunca faria isso com um cliente, mas qualquer pensamento

lógico se perdeu diante da necessidade de trazê-lo para o mesmo

tipo de loucura que me domina quando estamos perto um do outro.


Ele me observa de cima para baixo e seu autocontrole me irrita.

Coloco as duas mãos espalmadas em suas coxas. Estou de

joelhos, o rosto a centímetros de seu corpo.


Sem que eu esteja esperando, ele me ergue e gira de costas.

Meu bumbum mal coberto pelo fio dental fica contra sua ereção
grossa.

— Gosta de provocar, Madison?

Esfrego-me nele.

— Só você.

Sua mão vem para a frente da minha calcinha e perco o ar dos

pulmões.
— Não — imploro, mas sem qualquer convicção.

— Ninguém entrará. Eu me certifiquei disso.


Nem tenho tempo de protestar novamente e a mão enorme está
dentro da minha calcinha, tocando meu clitóris.

Gemo e minhas pernas ficam trêmulas, mas a mão que toca meu

sexo me segura forte.

— Me dê essa boca — ordena.

Olho para trás e ele me beija, enquanto a mão livre acaricia um

mamilo por dentro do sutiã.


— Boceta molhadinha. Você está morrendo de tesão, baby.

Monto seus dedos sem vergonha alguma. Já passei do ponto de

me lembrar de onde estamos. Eu só quero ele em mim. Tudo dele

em mim.

— Eu vou…

Seu dedo entra em mim, mas sem machucar, de um jeito

delicioso.
— Estou louco para lamber essa boceta.

— Não aqui.

— Goze para mim, gostosa.

— Zeus…

Ergo os braços para trás porque tenho certeza de que se não o

fizer, vou desmaiar.


Ele toca meus seios e sexo, mas sinto como se estivesse em

mim inteira, como se cada parte dele me dominasse e a sensação é


inebriante.

— Oh, Deus!
— Assim mesmo. Molhe meus dedos, Madison.
Parecendo mudar de ideia, ele gira meu corpo, encostando-me

na parede.
Ergue uma das minhas pernas em seu ombro, puxa a calcinha

para o lado e beija meu sexo como se fosse minha boca, usando
lábios, língua e dentes.

O orgasmo vem tão forte que tenho certeza de que perdi a


consciência por alguns segundos.
Quando dou por mim, ele me pegou no colo e me tem em seus

braços no sofá.
— Você está tentando me matar? — pergunto, ainda tonta.

— Não planejei ir tão longe, mas fiquei louco pelo jeito como
gemia. Só conseguia pensar em ouvi-la choramingar de tesão assim

quando eu estiver dentro de você.


— Não pode me dizer essas coisas ou não vou conseguir
trabalhar.

— Não trabalhe. Já avisei a Ares que não virá amanhã.


Aquilo me desperta muito rápido.

Saio dos seus braços e ponho a lingerie no lugar antes de vestir o


robe.

— Você fez o quê?


— Não se faça de ofendida — responde, parecendo zangado. —

Sabia que não viria amanhã. Eu disse que a queria o fim de semana
todo.
— Sim, eu sabia por ser o que combinamos, mas gostaria eu

mesma de ter avisado a Adriel. Vamos deixar algo bem claro, Zeus.
Serei sua por seis meses e pode apostar a vida que quando

terminarmos, não encontrará aluna melhor do que eu, mas não ache
que, fora do quarto, pode tomar as decisões por mim.
Saio da sala antes que a vontade de arremessar algo nele vença.

Como consegue enlouquecer meu corpo e menos de dois


segundos depois me fazer ter vontade de matá-lo?
Eu me apresentei com a alma e não só com meu corpo. Já

conheço um pouco dele para saber que é possessivo, então dancei


como se fosse minha última apresentação na Terra e dessa vez, não
andei para perto de onde estava, fazendo o meu melhor para

ignorá-lo na plateia.
Isso mesmo, fiz o meu melhor, mas não consegui. Como se não

bastasse o fato de ter mais de um metro e noventa, se levar em


conta que de salto doze eu não estou nem perto de alcançá-lo, ele é
musculoso e só de olhar aquela barba, fico arrepiada, lembrando do

seu toque no interior das minhas coxas.


De qualquer modo, acho que me saí bem em supostamente

ignorá-lo porque quando deixei o palco, seu rosto estava ainda mais
fechado do que o normal.

— O que está acontecendo entre você e o irmão do chefão,


Madison? — Adriel pergunta assim que entra no meu camarim.
— Por que acha que está acontecendo alguma coisa?
— Zeus só veio aqui umas duas vezes antes, que eu me lembre,
mas desde que você começou a se apresentar na SIN, compareceu

todas as noites.
Abro minha boca e torno a fechar, porque ele pede com a mão

que espere.
— Não é só isso. O homem parecia prestes a subir no palco, te
colocar sobre os ombros e bater no peito bradando “minha”.

— Que exagero — é a única coisa que consigo dizer.

— Eu não sou moralista e nunca vou te julgar, Madison, mas eu


espero de coração que você saiba onde está se metendo. Nenhum

dos Kostanidis fica muito tempo com a mesma mulher, a não ser o

viúvo, Dionysus, que permaneceu casado por pouco tempo, mas

pelo que sei, já está na pista de novo.


— Isso não é da minha conta e nem da sua, Adriel — falo,

olhando-o bem sério.

— Não estou tentando fazer fofoca, se é isso o que está


pensando, mas quero abrir seus olhos. O que quer que esteja

acontecendo entre vocês, mantenha seu coração longe disso ou vai

se machucar feio.
Depois de me dar um beijo na testa, ele sai.
Toda a autoconfiança que eu estava sentindo por provocar Zeus

enquanto dançava no palco se foi e tento digerir, na verdade, gravar


a fogo dentro de mim, cada palavra que Adriel me disse.

Tomo um banho rápido e ao invés do jeans habitual, coloco o

vestido de alcinha que escolhi especialmente para essa noite,


porque queria estar bonita para ele.

Deus, o que estou fazendo? Eu não sei jogar, como vou

conseguir lidar com alguém como Zeus Kostanidis por seis meses?

Mantendo seu coração fora da equação — uma voz avisa. —


Nunca se esqueça do que são um para o outro: satisfação física.

Assim que saio do camarim, ele está parado do lado de fora e

pega minha mão, começando a andar.


— Nós combinamos…

— O trato está desfeito. Pode continuar dançando, Madison, mas

cada fodido macho nesse inferno vai saber que você é minha.
Capítulo 24

Zeus

— Você dispensou o senhor West — ela diz, quando estamos


quase chegando na minha casa de praia.
— Eu costumo liberá-lo aos fins de semana.

— Para onde estamos indo?


— Hamptons. Quer mesmo conversar? Parecia prestes a me
esfaquear quando saímos da boate.

— Não gosto de silêncios — diz, não com seu tom de voz

costumeiro que fica entre a ironia e a zanga, mas parecendo


insegura.

E assim, ela consegue de novo.


Faz com que a raiva que eu senti por seu jogo de provocação na

boate, durante a apresentação, diminua.


Percebi que ela me olhava enquanto eu dirigia, mas ainda não

me sentia estável o bastante para conversar sem recomeçarmos a

brigar.
— Por que não gosta de silêncios?

— Porque até Eleanor vir morar conosco, tínhamos muito disso.

— Seu pai não cuidava de você direito?


— Ele nos alimentava e tínhamos roupas para vestir. Quando

estava com dinheiro, era a melhor pessoa do mundo, mas isso era

raro. Passávamos a maior parte do tempo fora da escola, sozinhas.


— Tem irmãs?

— Uma — responde simplesmente e volta a olhar pela janela.


— Disse que não gostava de silêncio, entretanto, fica muito

quieta quando não quer me contar sobre sua vida.

— Não quero falar sobre minha família ainda.

— Mas falará em algum momento?

— Sim. — Ela gira no banco do carro, ficando de frente para mim.

— Zeus, precisamos ajustar algumas regras.


— Não vou mais me interpor entre você e seu empregador, mas

sobre nos escondermos dentro da boate a resposta é não.


— Por que quer se expor? Para um homem na sua posição, seria
muito melhor que mantivéssemos tudo no anonimato.

Ela está certa, claro, mas vê-la pensar tão racionalmente

enquanto me sinto uma confusão por dentro, me irrita ainda mais.

— Qual é o propósito dessa conversa, Madison? Já lhe disse que

não interferirei novamente, mas esteja avisada de que não será a

única vez que viajaremos.


— As pessoas vão comentar se nos virem juntos.

— Não dou a mínima — falo puto e quase rio da ironia, porque há

uma semana eu estava preocupado que algum escândalo

relacionado à SIN pudesse prejudicar as ações do banco. — Onde

exatamente você quer chegar?

— A lugar algum. Eu disse o que tinha para dizer. Depois não

venha jogar na minha cara se ficar mal para você ser visto comigo.
— Deixe que eu me preocupe com isso, mas independentemente

de qualquer coisa, não abaixe sua cabeça para qualquer um do meu

meio. Eles não são melhores do que você. Quando se cortam,

sangram do mesmo jeito.

— Não tenho a intenção de baixar a cabeça, só não queria

envergonhá-lo.
Estaciono em frente a casa e mesmo depois de desligar o carro,

não faço qualquer movimento para descer, observando sua reação.


Não é a que eu esperava. Um comentário irônico sobre o

tamanho da casa ou qualquer coisa do tipo. Ela se vira para mim,


sorrindo.
— Daqui mesmo consigo escutar o barulho da água.

Há tanto entusiasmo em sua voz que não consigo evitar um


sorriso.

Ah, Madison. Será que no fim dos meses que passaremos juntos,
conseguirei decifrar você?

— Gosta do mar?
— Sim. Fui a primeira vez com dez anos, quando Eleanor nos
levou. Eu acho que sou descendente dos peixes e não dos

macacos.
Saio do carro e abro sua porta.

— Quer caminhar na praia?


— Podemos?

Ela parece uma garotinha em frente a uma loja de doces, olhando


para mim e em seguida para a casa, como se quisesse enxergar o
mar por trás dela.
— Podemos fazer o que quisermos. Deixe só os guarda-costas

verificarem a casa e a praia.


Aquilo finalmente faz com que se volte completamente para mim.

— Sempre segue essas regras, né?


— Sim, minha família é muito visada — digo vagamente porque

não quero entrar em detalhes. — Quer mesmo passear na praia?


— Quero.
— Espere aqui um instante.

Afasto-me para ordenar ao chefe da guarda que providencie


mesa com comida e bebida para ser servido à beira-mar. Quando

meus empregados são avisados de que virei para cá, ficam


acordados até mais tarde.
Volto para perto dela.

— Se quer mesmo caminhar na areia, precisa se livrar delas.


Abaixo-me e começo a soltar sua sandália.

— Não precisa fazer isso. Posso tirá-las sozinha.


— Não faço algo porque preciso, Madison, mas porque quero.

Não entendeu ainda?


Antes que responda, pego-a no colo e começo a ir em direção
aos jardins.

Seus braços vêm para o meu pescoço.


— Você é um sortudo por ter uma casa em que pode dormir
ouvindo o barulho das ondas.
Sua cabeça está recostada em meu peito enquanto ando e eu a

olho.
Madison valoriza pequenas coisas que eu nem mesmo presto

atenção, talvez por sempre ter tudo à minha disposição.


— O barulho das ondas é agradável.
Eu a coloco no chão e ela toma distância, sorrindo.

— Agradável, senhor Kostanidis? O quebrar das ondas é uma


verdadeira viagem.

Ela vai até a beira da água e molha os pés. Linda, livre e ao


menos por enquanto, minha.

Ouço o barulho às minhas costas e quando me volto, percebo


que os empregados estão providenciando o que ordenei.
Depois que terminam e retornam aos seus postos, tiro os

sapatos, meias e enrolo a bainha das calças na perna.


Sei que não voltarão mais. Gosto de privacidade e quem trabalha

para mim é bem instruído sobre isso.


Caminho ao encontro dela, que está de costas, parecendo
hipnotizada pela água.
— Está com fome? Mandei que trouxessem comida e bebida
para nós.
Ela olha para trás, parecendo perdida em seus próprios

pensamentos.
— Eu ficaria aqui para sempre.

Não é o que ela diz que mexe comigo, mas o final.


Para sempre.
Eu não sou um para sempre em sua vida e talvez esteja

mandando mensagens erradas.

Ao invés de procurar pesquisar dentro de mim porque nenhum


prazo com ela parece o bastante, opto por jogar com as armas de

sempre: a sedução.

É por isso que estamos juntos. Fechamos um contrato para dar e

receber prazer e no fim, cada um de nós sairá com os benefícios


desse acordo.

— Não vivo em função do futuro — minto, porque sou um

planejador por essência. — Para sempre é tempo demais. Prefiro


fazer o nosso agora ser muito gostoso.

Ela me olha confusa, talvez pelo tom que usei, mas ignoro aquele

rosto de anjo, focando apenas no desejo.


Andando até onde está, desço a mão por suas costas e deslizo o

zíper do vestido.
Ela mal respira, mas me encara o tempo todo.

Não protesta, não diz nada, entretanto, seus olhos me fazem

muitas perguntas.
Eu as calo com um beijo, enquanto minhas mãos descem seu

vestido.

Está nua agora e me afasto para olhar a perfeição de mulher que

tanto me enlouquece.
— Você é o pecado encarnado, Madison.

Ela parece um pouco tímida, mas não tenta se esconder, mesmo

sabendo que estou estudando cada centímetro do seu corpo.


— Desça a calcinha.

— E seus empregados?

— Já foram todos dormir.


Para encorajá-la, livro-me da camisa e depois, do jeans.

Demoro um pouco mais para tirar a boxer, esperando por sua

reação ao me ver seminu porque ainda me resta uma ponta de

lucidez. Ela precisa saber para onde estamos caminhando.


— Eu quero ver você — pede, mas não espera. Aproxima-se e se

ajoelha à minha frente.


Observa-me enquanto lentamente tira minha cueca e por causa

das sombras da noite, não consigo decifrar seus olhos.

Minha extensão ereta pula muito perto de seu rosto.


— Eu não queria decepcionar você, então, assisti a uns vídeos.

Estou louca para pôr o que aprendi em prática.

É a última coisa que diz antes de segurar meu pau e levá-lo para

os lábios macios.
Capítulo 25

Zeus

— Madison…
Não foi o que eu planejei, mas ser o primeiro a prová-la inteira.
Entretanto, desde que nos conhecemos, nada com ela segue em

linha reta.

— Eu te disse que seria a melhor aluna que terá.

A língua macia roda a cabeça inchada do meu pau, recolhendo o


pré-gozo sem desperdiçar nada e não sou mais capaz de pensar

com clareza.
Em seguida ela abre os lábios e me suga devagar, hesitante.
— Não será do seu jeito. Se quer aprender, terá que se mostrar

uma boa menina e fazer como eu gosto. Abra a boca.


Preciso ficar no controle de mim mesmo outra vez e seguro sua

mandíbula com uma das mãos. Com a outra, agarro seu cabelo.

O desejo por pela se espalha com uma selvageria que nunca


senti.

Deve ter levado a sério aquela história de assistir vídeos, porque

não recua quando meu pau desliza em sua boca quente.


Provocante, me suga centímetro por centímetro.

Madison parece determinada a me deixar louco.

Aperto o agarre em seu cabelo e ela geme. A língua lambendo


minha extensão.

Um choque de luxúria me atravessa ao vê-la me tomando.


— Assim mesmo. Chupe gostoso — comando, movendo os

quadris para frente. — Vou foder sua boca antes de comer sua

boceta.

Minhas palavras parecem excitá-la porque ela tenta tomar ainda

mais de mim.

Alcanço o fundo de sua garganta, mas quando a sinto engasgar,


eu saio.

— Não — protesta, me puxando outra vez.


— Precisa relaxar a boca. Não quero machucá-la.
Obediente, ela cede, me deixando ter o controle.

Inicio um ritmo lento e constante, deixando que se acostume.

Ela geme em volta do meu pau, fazendo com que minhas pernas

estremeçam.

Quando sinto que está mamando e não só me deixando fodê-la,

aumento a velocidade.
Os sons que faz enquanto me chupa acabam com o que resta do

meu controle. Eu quero muito enchê-la com meu esperma, mas hoje

é sua primeira vez e ela merece mais do que me satisfazer antes de

ter obtido seu próprio prazer.

Então, mesmo louco por mais, eu a pego no colo e a carrego

para o futton de casal a poucos passos de nós, que faz

perfeitamente o papel de uma cama, porque o colchão é macio e


grosso.

— Abra as pernas para mim. — ordeno, depois que a deito.

Meus empregados acenderam as tochas que mantenho na praia,

então ainda que não consiga vê-la tão bem como quero, quando

separa timidamente as coxas como mandei, noto o brilho de sua

excitação.
Não permito que se acostume à posição porque estou morrendo

de fome.
Vou até ela e coloco as pernas grossas sobre meus ombros.

— Olhe enquanto eu te como.


Ela se apoia nos cotovelos, e quando eu somente separo os
lábios do seu sexo e começo a lambê-la, grita de prazer.

Remexe-se, louca de tesão, mas eu não paro.


Mamo seu clitóris e a fodo de leve com a língua e um dedo,

revezando com chupadas e mordidas nos lábios inchados de seu


sexo.

Geme, chamando meu nome e o que passa na minha cabeça é


que quero ouvir aquele som para sempre.
Tranca as pernas no meu pescoço, usando os calcanhares nas

minhas costas como apoio para elevar o quadril e goza forte, mas
eu não paro de chupá-la.

— Se continuar, vou desmaiar. É muito.


— Não estou nem perto de acabar.

Eu a como querendo gravar seu sabor porque mesmo agora


tenho certeza de que não importa o quanto ela encha a minha boca
com seu mel, nunca terei o suficiente.
Quando avisa que vai gozar pela segunda vez, eu chego ao meu

limite.
— Me dê mais, Zeus. Eu quero ser sua.

Um sinal de alerta acende porque sei que estamos misturando


tudo, mas não é só ela quem quer mais. Nunca me senti tão

conectado a uma mulher.


Madison está se rendendo e pelo menos hoje, não quero deixar
meu lado racional no comando. Não quero nada além dos nossos

corpos ligados nessa febre que me põe louco.


Quando debruço sobre ela, a mão me toca, iniciando uma suave

masturbação, mas seguro seu pulso.


— Não. Eu preciso estar em você.
Olha para mim, parecendo tão faminta quanto me sinto e quando

me ajoelho no futton, no meio de suas pernas, lambe os lábios.


— Consigo sentir seu gosto em minha língua, ainda.

Caralho de mulher gostosa. Parece saber dizer tudo o que


precisa para me deixar louco.

— Eu não quero usar preservativo dessa vez. Estou limpo.


— Por quê?
— Quero te sentir inteira. Sua carne se abrindo para mim.

Faz que sim com a cabeça, me dando permissão.


— Você faz amor comigo sem nem me encostar — diz, em um
tom que parece meio que uma acusação.
Meu sexo toca seu abdômen e me apoio nos antebraços sem

soltar meu peso sobre ela.


— Ahhhhh…

— Jesus, menina, eu poderia viver só por esses gemidos.


Seguro seus quadris, roço minha extensão entre os lábios de sua
boceta e a sensação é deliciosa.

— Sinta o quanto estou louco por você.


— Está mesmo?

— Desde o primeiro segundo que te vi, eu sabia que você era


minha, Madison.

Não tenho mais qualquer freio entre o cérebro e a boca. O desejo


por ela derrubou todas as minhas barreiras no momento.
— Sinta-me. Olha o que faz comigo.

Ela rebola, se esfregando e cada vez que desliza a boceta pelo


meu pau, geme alto.

Agarro seus peitos, me revezando em mamadas nos dois,


mordendo os mamilos sensíveis.
Eu a devoro porque ela já se tornou meu alimento favorito. Não

quero desperdiçar nada do que ela me oferece.


Meu lado racional já não existe. Só há nossas peles se
encostando, os cheiros misturados, o lamber e chupar.
— Eu vou gozar de novo — avisa.

— Não — falo, me erguendo para alinhar meu pau na entrada de


sua boceta. — Olhe para nós dois, Madison. Eu vou te fazer minha

mulher agora.
Ela separa ainda mais as coxas para que eu possa me encaixar
totalmente porque sou grande.

— Você é lindo.

Não consigo nem sorrir pelo elogio. Estou tenso ao ponto da dor
porque sei que não posso fodê-la como desejo nessa primeira vez.

Beijo sua boca, acariciando seu lábio com a língua e quando

sinto que se entrega, começo a empurrar em seu centro intocado.

— Eu quero você. Não estou com medo.


Desço a mão entre nossos corpos e roço o nó do seu sexo,

massageando-o ao mesmo tempo em que meto mais.

Ela acaricia meu abdômen, as unhas arranhando de leve e rosno


de tesão.

Saio, volto a empurrar e ela rebola. Aos poucos, faço com que

seu corpo me aceite dentro de si, mas quando encontro a barreira


de sua inocência, ela enrijece sob mim.
Devoro sua boca, o polegar tocando o clitóris e sinto-a relaxar.

Cada vez que entro e saio dela, testo meu autocontrole. Sou
como uma bomba em contagem regressiva.

— Eu quero — diz simplesmente, como me dando consentimento

e minha força de vontade se perde.


Trinco os dentes.

— Olhe para mim, Madison.

Obedece e então finalmente, eu pego tudo dela, percorrendo a

estrada da perdição em seu corpo estreito, me tornando senhor


daquele abrigo inviolado.

Ela chora e me morde, fechando-se ainda mais no meu entorno.

Jesus!
Acaricio-a pacientemente, sem me mover, sentindo-a pulsar,

contraindo-se, ordenhando-me.

Abre os olhos.
— Dói muito?

Há lágrimas em suas bochechas e eu as lambo.

— Está passando.

Abaixo a cabeça e pego um peito inteiro na boca. Rodo a língua


no mamilo e depois de um tempo, ela começa a rebolar.
Puxa-me pelo pescoço para beijar minha boca e eu meto a língua

com constância, persuadindo-a até que esteja pronta para aguentar

mais de mim.
— Sua boceta é muito gostosa.

— Ahhhhhhh…

Ela fecha as pernas na minha cintura.

— Estou tentando pegar leve, baby.


— Eu já sou sua, Zeus. Mostre-me quanto.

— Não me provoque. Eu tenho um limite.

Saio quase todo e volto a me enterrar profundamente, mas não


tão duro.

Seu corpo está consumido por fogo embaixo do meu. Ardendo e

me puxando junto para aquele incêndio no meio de suas coxas.

Eu a seguro com força pelas ancas, mantendo sua bunda no


lugar enquanto me enterro em sua boceta.

— Eu gosto do nosso cheiro misturado — diz.

— Eu gosto de nós dois misturados. Gosto muito.


Não sei se algum dia serei capaz de apagar da minha memória a

expressão de desejo e confiança que vejo no rosto dela.

— Não se segure mais — pede.


Eu a penetro muito fundo. Os quadris balançando de encontro ao

seu corpo.
Uno nossas bocas, seduzindo-a com a língua como meu pau faz

em seu sexo.

Sinto-a se abrir para mim, aceitando tudo e aquilo me rouba o


juízo.

Paro de beijá-la para olhá-la e ela me encara de volta. Por

minutos inteiros eu a possuo sem desgrudar nossos olhos.

A ligação é intensa e eu sei que deveria fazer alguma coisa para


quebrá-la, mas eu não quero porque nunca me senti assim.

De vez em quando, ela lambe o lábio inferior e quando mudo o

ângulo do quadril, geme alto.


— Minha — falo, sem poder me conter.

Ela não confirma e nem nega, me morde o peito ao invés disso,

como se precisasse ocupar a boca para se impedir de aceitar a

demanda.
Chupo seu pescoço e volto a encará-la.

— Quando estiver protegida, vou encher essa boceta com meu

gozo.
Puxa o ar profundamente, mas não responde, mesmo que não

consiga disfarçar a excitação que minhas palavras lhe causam.


O silêncio que ela se autoimpõe me faz desejar sua rendição,

então eu meto mais fundo e rápido, forçando-a a abrir as pernas ao

limite.

Ela grita e pede mais.


— Geme mais alto, me mostra o quanto está gostoso.

Cada vez que arremeto, ela me aperta quase ao ponto da dor.

— Quero te comer a noite toda.


— Ahhhhh… eu vou gozar.

Provoco-a, lhe dizendo no ouvido que será avisada quando tiver

permissão para gozar e como esperava, enlouquece. Rebelde,

encontra minha mão em seu sexo e tenta tocar o clitóris, mas eu a


retiro e a prendo sobre a cabeça.

— Vou te dar o que quer, mas não resisto a vê-la tão selvagem.

Você é uma delícia, Madison.


Lambo e chupo sua boca, orelhas e pescoço.

Nossos corpos estão suados, mas incansáveis em busca do

prazer.

Ela me recebe dentro de si, totalmente entregue. Não esconde


mais os gemidos, não contém os gritos.

Como eu, Madison quer tudo de nós dois.

Cavalgo-a, martelando fundo e ela aguenta, pede mais.


Sinto-a endurecer de tensão quando seu orgasmo vem forte e

somente então me permito ter o que necessito.


Eu a fodo ininterruptamente, ora estocando, orando movendo os

quadris em círculos.

— Zeus, meu Deus!

Agarro sua bunda com força, quase erguendo-a do futton e


batendo dentro dela sem cessar.

— Eu vou gozar muito — aviso.

Espero até o último segundo para tirar porque não quero me


afastar de seu calor encharcado e apenas quando chego ao meu

limite, me ajoelho e me masturbo até me despejar em seu vente.

— Madison… — gemo.
Eu não consigo me mexer. Não quero desviar o olhar do seu

corpo coberto com meu sêmen.

E de repente, como se um meteoro caísse sobre mim, sei que o

jogo virou.
Tudo o que planejei terá que esperar.

Minha única certeza no momento é que eu não a deixarei ir daqui

a seis meses.
Capítulo 26

Zeus

Enquanto ela dorme sobre meu corpo por mais de uma hora, olho
para o céu estrelado, tentando racionalizar o que aconteceu há
pouco.

Eu a alimentei e dei de beber depois que transamos, mesmo que


parecesse um pouco desmaiada enquanto eu colocava algumas
frutas e queijo entre os lábios cheios.

Pouco tempo depois, apagou deitada em mim.

Puxo uma manta xadrez que deve ter sido deixada ali pelos
empregados e cubro-a porque apesar da noite abafada,

ocasionalmente uma brisa nos atinge.

Ela estremece e levanta a cabeça, despertando.


— Temos que entrar?

— Quer entrar?
— Não. Podemos dormir aqui?

— A noite toda, não. Estava só deixando que descansasse um

pouco. Não acabei com você ainda. Sente dor?


Esconde o rosto no meu peito.

— Precisamos falar sobre isso?

— Sim. Sexo não é tabu, Madison.


— Sinto ardência, mas eu quero mais. — Volta a me encarar. —

Pensei direito e decidi que vou usar pílula. Seis meses não é tão

pouco tempo.
Seis é muito pouco tempo agora que provei você.

— E confia em mim?
— Se não confiasse não deixaria que fizesse amor comigo sem

usar preservativo — responde rápido, mas depois ergue-se,

sentando no meu colo. — Há algo que não conversamos ainda.

Vamos ser exclusivos. Disse que não aceita dividir. Eu também não.

Eu nunca fiquei com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Não

é assim que minha cabeça funciona. Se perco o interesse ao ponto


de desejar outra, termino com quem estou, mas não resisto em

provocá-la.
— Por que não quer me dividir?
Ela se levanta em um salto, pondo-se de pé, linda e nua.

Combativa como uma guerreira.

Sei que quer me matar, as emoções atravessam seu rosto como

se fossem um filme.

— Se não vai me respeitar enquanto estivermos juntos, não nos

relacionaremos sem preservativo — diz, a voz falhando. — É


arriscado para a minha saúde.

Eu me levanto e paro muito perto.

— É a única razão?

— Sim — fala, sem me encarar.

— Mentirosa. Não gosta de me imaginar com outra, assim como

o simples pensamento de que alguém possa tocá-la me enlouquece.

— Não tenho porquê ter ciúmes. Não somos nada além de


amantes.

— Somos um do outro enquanto o que temos durar.

— Não — responde, teimosa.

Aproximo-me, disposto a fazer com que ela se entregue, mas sai

correndo, foge de mim e entra na água.

Vou atrás e espero-a emergir do mergulho. Quando o faz, pego-a


no colo.
Tranca as pernas à minha volta e eu seguro seu pescoço,

colando a boca na pele macia que se encontra com o ombro.


Mordo e sugo. Ela geme, me dando um pouco daquilo que se

tornou minha droga favorita: seus lamentos de tesão.


— Não posso te comer na água. Vou te machucar.
— Leve-me de volta. Eu quero muito.

Saio andando com ela, o pau completamente ereto novamente. A


cada passo, roço em sua abertura e nós dois gememos.

— Confesse que não suporta a ideia de me ver com alguém.


— Não ligo. Só não quero me expor a uma doença — mente.

Belisco seu clitóris e ela joga a cabeça para trás, choramingando.


Chego até a mesa e afasto prato e talheres, debruçando-a nela, a
bunda empinada exposta para mim.

Escorrego a mão entre suas coxas e está muito molhada. A


diabinha se excita com essa guerra que existe entre nós pelo

controle da relação.
— Me diga se doer.

Ela rebola, fogosa quando encaixo-me em sua entrada.


Faço com que se incline e com meus pés, afasto suas coxas.
Entro devagar, saboreando cada pedaço que lhe tomo até que todo

meu pau esteja pulsando em sua boceta apertada.


Belisco seus mamilos e ela empurra para trás, gemendo.

— Você adora isso, gostosa?


— Oh, Deus!

Agarro sua bunda e meto fundo, mas não é suficiente.


Dou outro impulso mais duro do que o anterior, em uma batida

selvagem.
— Vai me dizer se estiver doendo?
— Não pare. Eu não me importo. Quero mais.

Ela tenta empurrar e eu seguro seus quadris para controlá-la.


— Quieta, não quero te machucar, Madison.

Ela rebola, safada.


Estapeio sua bunda. Choraminga, mas não para a provocação.
Meto mais, martelando com força.

Saio e volto para seu calor apertado e ergo uma de suas coxas
para ir mais fundo.

Está em pé agora e nossas línguas se devoram enquanto a


como.

Acaricio tudo o que alcanço. Queria ter várias mãos para não
deixar lugar algum sem ser tocado.
Clitóris, peitos, abdômen, o maxilar delicado.
Eu não sei por quanto tempo nos perdemos um no outro. É como
se, quando estou nela, abrisse um vácuo onde horas e minutos não
têm qualquer importância.

Aumento a velocidade com que toco seu clitóris porque sei que
não vou durar.

— Goze comigo — comando, mordendo sua orelha.


Ela rebola, como que me desafiando, mas sinto seu sexo contrair
e sei que está muito perto do orgasmo.

Fodo-a alternando golpes longos agora. Ela me devolve cada


investida, mas por fim estremece, me encharcando com seu mel.

Saio dela e debruçando-a na mesa, afasto as bochechas cheias.


Gozo em sua bunda e fico louco quando vejo meu sêmen escorrer

em sua passagem virgem.


Com o dedo, recolho um pouco de esperma e brinco em sua
entrada.

Ela não tenta fugir, mas se aperta à minha volta.


Reclino-me e sussurro em seu ouvido.

— Eu quero tudo com você.


Ela gira o corpo na mesa, despudorada, mostrando-se para mim,
dando-me uma visão completa do corpo perfeito.

— Eu quero que faça tudo comigo.


Capítulo 27

Zeus

— Fale-me sobre sua família. Disse que tem uma irmã. Ela mora
com vocês?
Estamos no ofurô, relaxando. Achei que seria uma boa ideia

porque deve estar dolorida, embora não admita.


Ela se pôs de frente para mim, relativamente distante. As costas
apoiadas contra os degraus da banheira. Sua cabeça está jogada

para trás e os olhos, fechados, mas sei que não dorme.

Madison consegue ser ainda mais agitada do que eu e depois do


sexo na mesa, estamos ambos muito ligados para conseguir

conciliar o sono.
— Por que quer saber sobre a minha vida? Só tenho problemas,

Zeus. Poucas coisas boas e nenhuma história de glamour.


— Conte-me.

Ela suspira e abre os olhos.

— Minha mãe deixou meu pai quando éramos pequenas.


Ninguém poderia culpá-la. Espero que Deus o tenha em um bom

lugar, mas ele era um mentiroso patológico.

— Ele a traía?
— Se a pergunta é sobre mulheres, acho que não, mas existem

outras formas de atraiçoar as pessoas. Mentindo, por exemplo. Ele

jogava e gastava o que tinha e o que não tinha em apostas. Não


estou defendendo-a porque eu nunca abandonaria meus filhos, mas

ele não era um santo.


— E o que aconteceu?

— Ela foi embora e pouco tempo depois, faleceu. Parece que

quando nos deixou, já tinha câncer.

Nada disso é dito olhando nos meus olhos. Ela faz pequenos

círculos na água com a ponta do dedo, como se estivesse viajando

para um passado muito distante.


— Fomos criadas por ele. Bem, criadas é modo de dizer. O

estado achava que estávamos sendo criadas por ele, mas na


verdade, desde que me entendo por gente, éramos só eu e
Brooklyn.

— Sua irmã.

— Isso. Quando papai voltava para casa e tinha dinheiro no

bolso, era uma alegria. Presentes, comidas gostosas e sempre

achávamos que daquela vez a felicidade iria durar.

— Mas não era o que acontecia.


Ela balança a cabeça de um lado para o outro.

— Depois de um tempo, paramos de acreditar nele e em suas

promessas mentirosas. Nunca tínhamos companhia em aniversários

e nem mesmo no Natal. Tivemos que aprender a nos bastar.

— E sua madrasta?

— Ela é maravilhosa, mas quando veio morar conosco, já

estávamos…
— O quê?

— Danificadas além do reparo. Nem eu e nem a minha irmã

sabemos confiar.

— Você confia em mim.

— No que diz respeito a nós dois — responde sem pestanejar. —

Sobre o nosso acordo.


De algum modo, eu consigo entendê-la. Mesmo que por razões

diferentes, ambos tivemos uma mãe que foi embora de casa,


embora eu e meus irmãos já fôssemos adultos.

— Onde está Brooklyn?


— Em coma — diz, sem deixar transparecer emoção na voz,
embora seu rosto me conte a história toda. Ela sofre pela irmã e

esconde essa dor. — Por isso preciso ir no domingo. É o dia que


tenho mais tempo de ficar com ela e que posso contar as novidades.

— O que aconteceu?
— Ela se envolveu com o cara errado. Apesar de toda a

desconfiança, acabou caindo nos braços de um mentiroso, mas um


mentiroso perigoso. Ele devia a pessoas poderosas. Tudo o que
sabemos é que alguém invadiu a casa em que moravam e atirou

nos dois. Ele morreu na hora, ela não. Felizmente, o monstro que
fez aquilo poupou meus sobrinhos.

— Sobrinhos?
— Soraya e Silas. Eles são gêmeos. Dois bebês lindos. Quer

mesmo ouvir essa história?


— Quero, mas vem cá.
— Prefiro ficar aqui.

— Eu sei, mas você está sob contrato. Não tem opção.


Ela dá um dos seus raros sorrisos e balança a cabeça. Levanta, o

corpo lindo coberto pelo biquíni que mandei que comprassem para
ela e relutante, se aproxima.

Puxo-a para o meu colo, sentando-a de lado.


— Fale.

— Não gosto de compartilhar.


— Eu sei, mas sou controlador. Preciso saber de tudo.
— Se não tivesse me dito isso eu não teria adivinhado, senhor

Kostanidis.
Bato em sua bunda.

— Não seja atrevida.


— Tudo bem. Meus sobrinhos são bebês lindos de viver. Quase
não têm cabelos e os olhos azuis são enormes, como os de

Brooklyn. Foi por causa deles que te disse que precisava da casa.
Há uma assistente social que acha que eu e Eleanor não tomamos

conta dos bebês direito, mas eu tinha prometido a minha irmã


quando nasceram, que se um dia ela faltasse, eu cuidaria dos dois.

— Por que essa mulher considera que não é adequado deixá-los


com vocês?
— Porque somos pobres, eu acho. Ela sabe que faço faxina.

Fazia, na verdade. Pensei no que você me disse e não tenho


necessidade de continuar com esse extra por enquanto.
Preciso me controlar muito para dizer que eu poderia providenciar
para que não tivesse que limpar casas nunca mais, mas já aprendi

como sua cabeça funciona. Se sentir que a estou pressionando, vai


voltar a se fechar.

— Enfim, para encurtar a história, procurei o emprego na boate


porque tinha esperança de ganhar melhor e poder alugar uma casa
decente para as crianças. Eu vi aquilo chegando, sabe? A

assistente social sempre tentava arrumar uma desculpa para tirar os


bebês de nós. Então, tentei me preparar.

— E o que aconteceu?
— Não deu tempo nem de receber o primeiro salário da semana.

Ela foi lá em casa para a oitava visita em apenas dois meses e disse
que se não conseguisse uma residência de cem metros quadrados
com quintal e um emprego com contrato, ela daria o parecer ao juiz,

recomendando que as crianças fossem postas para adoção.


— Isso é chantagem.

— Não entendo de leis e não sei se ela pode exigir o tamanho da


casa, mas fiquei apavorada. Mesmo com o salário da boate e as
gorjetas altas, eu nunca conseguiria pagar um lugar assim. Além do
mais, se contasse qual é o meu trabalho, ela ficaria ainda mais
determinada a levar as crianças embora.
— Por isso me procurou.

Eu a tiro do meu colo e me levanto, uma sensação de ácido me


corroendo.

Saio da banheira e pego meu roupão.


— O que eu falei de errado?
— Eu me aproveitei de você. Eu sabia que havia uma razão séria

para ter me oferecido o contrato, mas coloquei meu desejo no

comando.
— Você entendeu tudo errado — diz, saindo da água também, se

aproximando e me abraçando. — Eu teria catado comida na rua se

fosse preciso, mas nunca dormiria com um homem para garantir um

lar para as crianças. Na verdade, acho que fui eu que me aproveitei


de você. Eu o queria, mas fui covarde demais para admitir. Ser sua

sugar baby foi a melhor desculpa que consegui arrumar para me

aproveitar do seu corpo.


Estou longe de ser um cara leve, mas não consigo deixar de

sorrir do seu descaramento.

Ao invés de vestir o roupão, pego o dela primeiro e a cubro.


Depois, sério novamente, falo:
— Se tivesse me contado a verdade, eu te ajudaria. Nunca

deixaria que levassem sua família embora.


— Não preciso que sinta pena de mim. Sou adulta. Tomei uma

decisão que resolveu dois problemas de uma vez: garantiu que

aquela bruxa não possa mais tirar meus sobrinhos de mim e…


— E o quê?

— Agora você será meu por seis meses inteirinhos. De onde

vejo, foi um ótimo negócio.


Capítulo 28

Madison

No dia seguinte

— Não precisa chamar os empregados. Posso fazer nosso café

da manhã.
Acabei de sair do banheiro e ele está deitado na cama, nu da
cintura para cima e preciso secar a baba do canto da boca.

Mal acredito que vou ter esse homem delicioso e lindo só para
mim por seis meses.

Delicioso, lindo e insaciável, se for levar em consideração a noite


passada e essa manhã.

Eu menti quando lhe disse ao acordarmos que não estava

dolorida. Estou sim, mas não sei quando vamos ficar juntos por uma
noite inteira novamente e uma espécie de compulsão me faz querer

mais e mais dele.


— Deve estar pronto, mas não se preocupe, já devem ter ido

embora. Sabem que eu gosto de privacidade.

Estou enrolada em uma toalha enquanto procuro algo para vestir


na mochila, mas sei que os olhos dele estão em mim o tempo todo.

— Vá até o closet. Tem tudo o que precisa lá.

Fica na ponta da língua para lhe dizer que não é necessário que
me vista, mas me seguro porque não quero bancar a ingrata. Ontem

quando entramos na casa, havia cinco biquínis de diferentes

modelos e tamanhos esperando por mim.


Juro por Deus que o homem pensa em tudo.

Entro no closet, muito curiosa em ver um espaço privado dele,


porque até agora mal tive tempo de observar a casa de dois

andares, que deve caber uns três prédios onde eu moro dentro.

— Onde estão? — pergunto, talvez um pouco alto demais, mas

para que ele possa me ouvir.

— Bem ali.

Quando me viro para trás, ele está muito próximo a mim,


apontando para sacolas de roupas em um canto do cômodo

enorme, que mais parece um outro quarto do que um armário.


Depois de tudo o que aconteceu entre nós, era de se esperar que
a presença dele não me intimidasse, mas quando estamos na cama

é diferente. Consigo sentir seu desejo com cada célula do meu

corpo. Somos iguais. Aqui, onde sua riqueza se mostra com tanta

potência, estou deslocada.

Ando até as sacolas e me abaixo para ver o que tem, me

sentindo muito envergonhada.


As roupas estão embrulhadas em papel de seda, mas consigo

ver três vestidos iguais, brancos de alcinha, também em tamanhos

diferentes.

Pego-os para olhar a numeração e decido que o de tamanho

médio ficará bem em mim.

— Tem lingerie, também.

— Eu trouxe, obrigada — falo, tentando passar reto por ele, que


não permite.

— O que há de errado? — pergunta, segurando meu braço.

Está somente de boxer e o abdômen do homem é obscenamente

delineado. Prefiro me prender ao seu corpo do que cair na

armadilha de achar que ele comprar roupas para mim possa ter

algum significado. Deve fazer isso o tempo todo com suas mulheres.
— Sei que eventualmente terei que aceitar presentes se for

mesmo acompanhá-lo em alguns eventos, mas não precisa me


vestir quando ficarmos em casa.

Ele tira a sacola da minha mão e me faz encará-lo.


— Eu te ofendi?
— Não.

— Então o que está errado? — repete a pergunta.


— Vai me achar uma tola se eu falar.

— Eu te acho briguenta e sempre na defensiva, o que não são


necessariamente defeitos, mas nunca tola. É madura para sua

idade.
Respiro fundo, preparada para passar vergonha.
— Não quero que seja comigo o que foi com as outras. Como se

houvesse uma espécie de checklist de relacionamentos. Tipo: joias,


ok; roupas novas para minha mulher temporária, ok. Não sou uma

boneca, Zeus. Eu não me importo com presentes, só quero que o


tempo que passemos juntos seja bom.

Volto a me abaixar para pegar a sacola e depois de tirar uma


calcinha de dentro da mochila, entro correndo no banheiro.
— Está de biquíni por baixo? — ele pergunta quando desço a
escadaria de mármore.
— Não. Só calcinha.

Seus olhos vão para os meus seios porque o vestido deixa óbvio
que não uso sutiã.

— Você está linda, mas nós vamos sair de barco.


— Vou subir de novo para pegar o biquíni.

— Ou pode ficar nua no iate.


Não sei se ele está brincando. Se eu pudesse chutar, diria que
sim, mas seus olhos me dizem que gostaria que eu ficasse nua o

tempo todo.
— Hum… tentador, mas acho que não sou tão liberal assim. —

Ao invés de voltar a subir as escadas, vou a seu encontro. — Eu


não quero brigar. Quero dizer, de vez em quando vamos brigar

porque nós dois temos gênios difíceis, mas não sei se me fiz
entender quando falei aquelas coisas lá em cima.
— Nunca comprei roupas para uma mulher, Madison. Isso nem
passou pela minha cabeça. Não era celibatário antes de você. Tive
muitas mulheres, mas nada que envolvesse um relacionamento

além de jantares e cama.


O tolo do meu coração dispara, porque embora o bichinho do

ciúme me corroa por dentro, Zeus está tentando me dizer algo.


— Não estou cobrando promessas. Eu entendo que eu sou mais
uma em sua vida, mas você nunca será mais um para mim, é meu

primeiro tudo. Só quero que o tempo que a gente passe junto seja
especial.

Olho para baixo, envergonhada por me expor, por correr o risco


que ele me ache uma boba carente.

Ele ergue meu queixo.


— Eu nunca vivi algo parecido com o que está acontecendo entre
nós, então sobre ser mais uma para mim, nada poderia estar mais

longe da verdade.
Nos encaramos em silêncio e eu sou a primeira a quebrar o

contato porque sei o quanto acreditar em palavras pode ser


perigoso, então, ao invés de pular em seu pescoço como tenho
vontade de fazer, fujo pela segunda vez nessa manhã para buscar o

biquíni.
— Definitivamente eu sou um peixe — falo, subindo as escadas
do iate, depois do meu décimo banho de mar.

A tarde já está caindo, mas eu implorei a ele que não

voltássemos para a costa ainda.

— Quer passar a noite no barco?


— Podemos?

— Podemos qualquer coisa.

— Por que é Zeus Kostanidis, o rei dos deuses?


— Também — fala com a arrogância que cada vez mais me

cativa —, mas principalmente porque não quero dividi-la com

alguém.
Minha pulsação dispara e mesmo que eu tente combater o efeito

de suas palavras em mim, não consigo.


— Estamos sozinhos — falo, como se o que ele tivesse dito não

fosse nada de mais.

— Mas às vezes aparecem alguns conhecidos das propriedades


vizinhas e não estou a fim de ter que ver meus amigos babando em

cima de você.

— Eu nem sei quantas reviradas de olhos merece esse

comentário. Primeiro, tenho homens me olhando todas as noites e


eles não me causam absolutamente nada.

Ele faz uma careta de desgosto, mas em seguida, me oferece a

mão.
— Vem cá.

— Vou te molhar todo.

— Não dou a mínima. Quero te segurar um pouco.


Estou cruzando uma linha que defini para mim mesma ao me

aninhar em seus braços.

Em meu pacto de autopreservação, prometi que meu tempo com

Zeus se resumiria ao prazer. Quando ele me segura como agora,


com as minhas costas contra seu peito e os braços à minha volta,

me sinto acarinhada e morro de medo de ficar dependente disso.


— O que você faria se não precisasse trabalhar na boate?

Viro-me, ficando de frente, mas ele ainda não me solta, me

mantendo protegida naquela fortaleza de músculos.


— Não vai me sustentar.

— Ninguém falou em sustentá-la. Isso é sobre seu futuro. Disse-

me que foi dançar na SIN por necessidade, mas é o que quer fazer

para sempre?
— Não. Vou voltar a estudar. Quero cursar moda.

— Para ser uma estilista?

— Hum… não no sentido de criar roupas. Penso em abrir uma


empresa oferecendo serviços de personal stylist para pessoas com

renda mais baixa como eu. As mulheres pobres também gostam de

ficar bonitas e existem várias lojas com preços ótimos. Basta saber

fazer a combinação certa e todas podem se vestir bem.


Ele me olha por um tempo, antes de dizer:

— Já pesquisou alguma faculdade?

— Várias, mas no momento é impossível. Preciso esperar


Brooklyn acordar.

— Eu gostaria de ajudar.

— Com relação ao quê?

— A tudo, mas primeiro sobre sua irmã.


— Como?

— Posso providenciar um especialista para que verifique se tudo


o que é possível está sendo feito.

— Faria isso?

Nem tento disfarçar o quanto meu coração está disparado.


Pode ser impressão minha, mas o poderoso Zeus Kostanidis

parece sem jeito.

— Sou aquele que resolve problemas. Agora que me contou

sobre sua irmã, quero ter certeza se está recebendo o melhor


tratamento. Outra coisa. Sobre a pessoa ou as pessoas que a

feriram, sabe quem são?

— Foram presos. Ela não corre mais riscos.


— Também gostaria de disponibilizar um especialista em direito

de família para tratar dessa questão da guarda dos seus sobrinhos.

Somente para o caso da tal assistente social inventar mais algum

item para importuná-la.


— Por que está me oferecendo tanto? Não faz parte do nosso

acordo.

— Foi você quem propôs um acordo. Eu a queria,


independentemente de contrato.
— Dá no mesmo, eu só fiz colocar no papel. Mas não respondeu

minha pergunta: por que está indo além e tentando me ajudar?

— Vamos passar seis meses juntos, Madison. Não sei que tipo de

homem pensa que sou. Tenho mais defeitos do que qualidades, mas
cuido do que é meu e enquanto estiver comigo, você é minha.
Capítulo 29

Zeus

No dia seguinte

Há cerca de uma hora, deixei Madison no hospital para visitar a


irmã.
Quase que no mesmo instante, Dionysus me mandou uma

mensagem avisando que eu seria bem-vindo para almoçar em sua


casa, já que meus outros irmãos estarão lá.

Entretanto, fui surpreendido ao chegar e me deparar com


Christos, que segundo me disse, estava de passagem por Nova

Iorque, e Odin.

Não é muito comum que nos reunamos todos ao mesmo tempo,


principalmente porque ambos os meus primos têm família. Além do

mais, a residência principal de Christos é na Carolina do Norte.


Raramente vem a Nova Iorque, e isso só me diz que esse encontro

foi planejado.
O que diabos está acontecendo?

— Não é por acaso que estão todos aqui — falo sem rodeios,

depois de abraçá-los.
Christos sorri.

— Não, não é.

Olho para Ares porque de algum modo sei que isso está
relacionado a Madison, mas sua expressão, como sempre, não me

deixa adivinhar nada.

— Vamos lá para fora — Dionysus propõe. — A babá que está


com Joseph é recém-contratada e não gosto da ideia de que esteja

na piscina sem minha supervisão.


Sentamos em uma mesa à sombra de uma árvore e logo uma

empregada aparece para oferecer bebidas.

— Eu não vou demorar — aviso, porque acabo de decidir que

buscarei Madison no hospital. Ela me disse que costuma ficar por

duas horas com a irmã e depois passa algum tempo com os

sobrinhos.
Estou curioso para saber mais sobre sua família.
— Por que não? — Odin pergunta, mas de algum modo, acho
que já sabe a resposta.

— Tenho um compromisso.

— Com Madison? — Ares se manifesta pela primeira vez.

— O que está acontecendo aqui? A Santa Inquisição? Porque se

acham que eu acredito que essa reunião foi por acaso, não me

conhecem tão bem.


— Não foi por acaso — Hades confirma. — É uma tentativa de

impedi-lo de destruir a própria vida.

— Conversas por códigos não são minha especialidade.

— Não, são a minha — Odin[15] fala, mostrando um bom humor

incomum.

— Apenas digam o que precisam — rosno, irritado para caralho.

— Temos uma alternativa para sua situação com o velho Gordon.


— Eu não vou quebrar a promessa que fiz ao meu avô.

— Que foi o quê, exatamente? — meu primo mais velho[16]

continua. — Até onde sei, destruir todo o patrimônio deles para

vingar a morte do seu pai.

— Sim, riscar o sobrenome centenário do mapa. Por isso fechei o

acordo. Não há outra maneira de destruí-los. Já investiguei por

anos.
— Estamos comprando ações do GordonBank[17]. — Odin fala.

— O quê?

— Há muitos meses, começamos a comprar ações do


GordonBank.

— Isso não seria possível. Ele blindou qualquer venda ligada ao


meu sobrenome e todos sabem que somos primos.
— Usamos pequenas empresas que fazem parte do nosso

conglomerado, meu e de Odin, mas que não estão diretamente


ligados a nós. Separados, não possuímos ações suficientes para

termos a diretoria na palma da mão, mas quando somamos as de


ambos, faltam apenas um por cento para que consigamos a

sociedade majoritária. Cinquenta e um por cento. Quando


acontecer, criaremos uma terceira empresa que terá controle
absoluto do GordonBank.

— E então, venderemos a você — Odin completa, enquanto tento


absorver aquela virada de jogo.

Se o que tiverem falando for verdade, tudo o que planejei pode


ser alterado sem que eu descumpra a palavra dada ao meu avô.
— Fale alguma coisa — meu irmão caçula diz.

— Quanto tempo até que consigam esse um por cento?


Tento aparentar calma, mas por dentro estou acelerado para

caralho.
— Está sendo mais difícil do que pensáramos porque quem os

possui não é um profissional, mas uma menina órfã, representada


por seu tutor.

— Ofereçam o triplo.
— Estamos tentando, mas ele reluta porque parece que é a única
herança que restou para a garota que desde que perdeu os pais,

mora em um internato só para meninas.


— De qualquer modo, quando meus planos chegarem ao fim, não

haverá nada do que antes se conheceu como GordonBank — falo.


— As ações valerão menos do que papel de bala descartado. Será
um bom negócio para ela, vender.

— O que pretende fazer com os empregados? — Odin me


questiona.

— Distribuir pelas minhas empresas e as dos meus irmãos. Não


deixarei mais de cento e cinquenta mil funcionários desempregados.

— É um número alto — Christos diz. — Mas podemos remanejá-


los em alguns de nossos negócios também. E os que estiverem em
idade de se aposentar, oferecer algum tipo de incentivo.

— Por que fizeram isso?


— Eu não deixaria que destruísse sua vida por conta de uma
promessa.
— A multa pelo rompimento do contrato com o velho Gordon será

alta — Ares diz.


— Não. Para que fosse exigido o cumprimento do nosso pacto,

ele teria que ser detentor da maior parte das ações — explico. —
Se Christos e Odin conseguirem comprar esse um por cento que
falta, ele está perdido. Mesmo que negocie com todos os outros

acionistas, o que é altamente improvável, nunca obterá mais do que


quarenta e nove por cento.

— Vai ser um golpe e tanto para o velho — Dionysus fala, mas


não estou prestando atenção a isso, e sim, na expressão de Odin.

— O que você não está me contando? — pergunto ao meu primo.


— Não trabalho com hipóteses, Zeus, e sim com certezas. Estou
investigando o velho e talvez haja uma versão diferente dos fatos

que você acreditava serem verdade.


Ele não explica mais nada, mas sei que na hora que descobrir o

que está procurando, me contará.


Uma hora e meia depois, estou novamente a caminho do
hospital. Quando telefonei e disse a Madison que iria buscá-la, não
protestou e tento adivinhar se é porque já se acostumou com a
minha presença ou porque quer me ver.
O tempo todo enquanto dirigia, minha cabeça estava acelerada

pensando em como a reunião em família mudou tudo.


Eu cumprirei a promessa que fiz ao meu avô de riscar o

sobrenome Gordon da classe de banqueiros, sem precisar negociar


com o pai do desgraçado do Adrian.
Hipócrita — minha consciência diz — o que menos o preocupou

por esses dias foi a promessa que fez a seu avô, mas as

consequências dela em seu presente.


Antes que minha mente comece a divagar pela estrada da culpa,

estaciono no hospital e vou ao encontro da mulher que está virando

minhas certezas de cabeça para baixo.


Capítulo 30

Madison

Zeus acaba de mandar uma mensagem dizendo que estacionou


e eu me sinto muito ansiosa porque houve um imprevisto.
Quando ele me telefonou mais cedo dizendo que viria me

encontrar, eu achei que estaria livre, mas Eleanor precisou visitar


uma tia adoecida e deixou os gêmeos comigo.
Ela me ligou enquanto eu ainda estava no quarto com Brooklyn e

fiquei tão perdida por saber que as crianças estariam sob minha

responsabilidade, que me esqueci de avisá-lo.


Estou sentada em frente ao hospital, com os dois nos carrinhos,

os pezinhos balançando sem qualquer preocupação, babados e

muito felizes, enquanto eu suo frio de ansiedade.


À distância, vejo-o se aproximar cercado por guarda-costas e

mesmo antes que chegue até mim, sua testa franze.


— Houve um imprevisto — falo, muito nervosa.

Ele não responde, mas assim, na frente de todo mundo, me puxa


pela nuca e me dá um beijo na boca.

— Oi, Madison. Boa tarde.

Imita o que eu lhe fiz no outro dia quando, sem me cumprimentar,


reclamou do meu atraso.

— Oi — respondo sem fôlego. — Não poderei ir. Minha mãe

deixou os bebês comigo porque uma tia dela adoeceu. Inclusive vou
ter que ligar para o seu irmão e avisar que faltarei ao trabalho.

Ele está olhando para mim e não faço a menor ideia do que se

passa por sua cabeça, mas não tenho tempo de adivinhar porque
Silas e Soraya começam a gritar ao mesmo tempo, pedindo

atenção. E se há uma coisa a ser dita sobre meus sobrinhos, é que


têm um pulmão abençoado.

— Hey, esse comportamento é inaceitável, meus jovens — falo,

me abaixando, mas sem conseguir disfarçar o sorriso. — A primeira

impressão conta muito e vocês estão fazendo um show na frente do

senhor Kostanidis.

Como se entendessem o que estou dizendo, eles olham para


cima e encaram o grego intimidante.
Prendo o fôlego, tensa quanto à reação de Zeus. O que está
acontecendo agora não tem nada a ver com nosso relacionamento.

Para minha surpresa, ele estende a mão em cumprimento para

meu sobrinho.

— Você deve ser Silas.

Um grito de pura felicidade por ouvir seu nome é a resposta.

— E você, deve ser Soraya — repete o mesmo com minha


menina, que assim como a tia, se derrete toda pelo grego mandão.

Não fico surpresa que tenha gravado o nome das crianças. Zeus

é do tipo que não deixa passar nada.

— Agora que já nos apresentamos, deixem-me falar com a tia de

vocês.

Mesmo que eu lute contra, meu coração se enche de carinho por

ver como trata meus sobrinhos. Está óbvio que não é habituado a
crianças, mas talvez por instinto, foi mais suave do que seu jeito

normal.

— Sinto muito por não ter avisado. Soube de última hora e fiquei

um pouco perdida.

— Quando sua madrasta volta?

— Ainda hoje, eu acho, mas não sei a hora. Estava esperando


você chegar para poder pegar um táxi.
— Quer ir para casa?

— Não tenho muita opção.


— Nós precisamos conversar, então talvez seja melhor irmos

para meu apartamento.


Olho para ele como se tivesse nascido um terceiro olho em sua
testa.

— O que foi?
— Quer passar a tarde com as crianças?

— Quero passar a tarde com você e se tem que levá-las, eu não


me importo.

Ele soa indiferente, mas quando sente a mãozinha de Soraya


agarrando sua calça, volta a se abaixar e conversa com ela.
— Estou sendo rude não lhe dando atenção, senhorita? Parece

que preciso melhorar meus modos também.


Minha sobrinha ri, toda dada.

Eu, por minha vez, me retraio. Não quero Zeus junto à minha
família, nem me acostumar com isso.

— Acho melhor não. Até porque, nem temos cadeirinha de bebês


para carregá-los no seu carro.
— Como costuma fazer?
— Quando Eleanor sai com eles, pedimos sempre pelo mesmo

táxi, que tem duas cadeirinhas de bebês reserva no porta-malas.


Ele se levanta e fala qualquer coisa com um dos guarda-costas.

— O que houve?
— Mandei que comprassem duas cadeiras de bebês. No máximo

em meia hora estarão de volta.


— Para que tanto trabalho?
— Quero ficar com você o resto do dia. Disse-me porque não era

possível e eu tirei o obstáculo do caminho. Fim da história.


— Você é…

— Sim. Arrogante, prepotente e não desisto do que eu quero.


— Só vou concordar porque como bem me lembrou ontem, estou
sob contrato.

Ele me dá um meio sorriso.


— É uma boa coisa que sonhe com a faculdade de moda,

Madison, porque se tentasse ganhar a vida como jogadora de


pôquer, estaria perdida. É a pior mentirosa do mundo.
Estamos a caminho da casa dele, eu sentada entre as duas
cadeirinhas de bebês no banco de trás. Cada um dos meus

sobrinhos tem um mordedor à mão e de vez em quando, se inclinam


para frente para conversar um com o outro. É muito engraçado.
Zeus me olha pelo retrovisor enquanto telefono para Eleanor para

avisar aonde estamos indo. Depois que desligo, falo para ele:
— Ainda acho que deveríamos voltar para minha casa. Não tem

ideia da bagunça que esses dois são capazes de fazer.


— Eu tenho um sobrinho.
— Tem?

— Sim. Ele tem quatorze meses. Um pouco mais velho que os


filhos da sua irmã, mas acho que por volta dessa idade não faz tanta

diferença.
— Convive com ele?

— Não. Eu não me dava bem com a minha cunhada, para dizer o


mínimo. Somente depois que faleceu, há alguns meses, foi que
comecei a frequentar a casa do meu irmão novamente.
— Não quis ofendê-lo ou parecer ingrata quando disse que era
melhor voltarmos para casa, mas eles são incansáveis, ainda mais

que estarão em um ambiente diferente.


— Não tem problema. Posso lidar com isso.

Disfarço um sorriso.
Ele não faz a menor ideia de onde está se metendo.
Capítulo 31

Zeus

— Eles são assim todos os dias?


— Não — ela responde, rindo. — Hoje estavam bem calmos.
— Jesus!

— Quando os levamos ao parquinho, demoram umas duas horas


para desacelerar depois que chegam em casa.
— E de repente desligam, como se tivesse acabado a bateria?

Seu sorriso aumenta.

— Exatamente.
— E foi quase ao mesmo tempo. Incrível. É como se tivessem um

tipo de código secreto em que combinassem quando apagar.

— Eu não sei se é verdade, mas dizem que gêmeos têm uma


ligação única. Acredito porque às vezes acho que Soraya e Silas se

comunicam com o olhar.


Aceno com a cabeça, concordando, enquanto observo os

pequenos deitados sobre uma manta, no chão da minha sala, com


vários brinquedos espalhados à volta.

— Será que sentem falta da mãe? — pergunto.

— Não sei. Eram muito pequenos quando a tragédia ocorreu,


mas com certeza sentiram falta da comida. Tivemos que lhes dar

fórmula porque Brooklyn ainda os amamentava quando foi ferida.

— Conversei com meus irmãos hoje e já tenho um neurologista


para cuidar do caso dela. Segundo me disseram, é o maior

especialista dos Estados Unidos.

— E vai aceitar cuidar dela?


— Ele mora aqui em Nova Iorque e Hades pedirá como favor

pessoal que fique responsável por sua irmã, mas talvez tenhamos
que transferi-la. Segundo meu irmão me disse, Athanasios atende

somente no hospital da família dele, mas se isso a deixa mais

tranquila, é o mais conceituado de Nova Iorque.

— Ele é grego também?

— Sim, acho que estamos tentando invadir os Estados Unidos e

talvez um dia consigamos.


— Faz piadas agora, senhor Kostanidis?

— Nunca, mas não gosto de ver esse desânimo no seu rosto.


— Entendeu errado. Não estou desanimada, só pensativa. Como

vamos nos mudar para a ilha[18], ficará até mais fácil de visitá-la se
ela estiver aqui também. Assim, quando ela acordar, serei logo

avisada.

— Madison…

— Eu sei o que vai dizer. Os médicos que tratam a minha irmã já

falaram o mesmo, mas isso é porque nenhum de vocês a conhece.

Brooklyn é uma lutadora. Se não acordou ainda, é porque não está


pronta, mas ela vai lutar porque tem uma razão para isso — fala,

apontando os bebês. — Se houver uma mínima chance de que se

recupere, minha irmã agarrará com unhas e dentes.

Desde que chegou, ela se manteve a uma distância, segura,

então vou até onde está e a pego no colo.

— Não quis matar suas esperanças.


— Nem se tentasse conseguiria. Eu conheço minha irmã.

— Sobre a assistente social — mudo de assunto porque sou um

realista, nunca um otimista e não tenho certeza se um dia a irmã

dela acordará —, você tem uma consulta com o advogado na terça.

Ele é especialista em vara de família e poderá orientá-la.

— Foi encontrar seus irmãos e nesse meio tempo conseguiu


resolver isso tudo?
— Nenhum dos dois problemas era algo que se pudesse esperar.

Está óbvio para mim que independentemente do que a assistente


social diga, vocês estão fazendo um bom trabalho com os bebês.

Ela rodeia meu pescoço e cola a testa em meu queixo.


— Obrigada.
— Pelo quê?

— Nem sei por onde começar, mas por conseguir um especialista


para cuidar da minha irmã, pelo advogado, mas principalmente, por

me dizer que sou uma boa tia.


Seguro seu rosto.

— Madison, você só tem dezenove anos e assumiu a


responsabilidade de manter sua família. Muitas garotas no seu lugar
deixariam que eles fossem adotados.

— Eu nunca permitiria que isso acontecesse. Vou conseguir


juntar dinheiro trabalhando na boate e voltar a estudar durante o dia.

Soraya e Silas terão tudo o que nós não tivemos.


— Está faltando alguma coisa?

Ela sorri.
— Eles são bebês. Sempre está faltando alguma coisa, mas não
quero que me dê nada. Fez muito já.

— Não seja convencida. Não é para você, mas para os gêmeos.


Ela revira os olhos.

— Sei.
— Decore o quarto deles na casa nova. Aceite como um presente

para os dois.
— Mas pelo que vi naquele dia, a casa já está toda decorada.

— Sim, mas não há um quarto de crianças. Eu já entrei no do


meu sobrinho algumas vezes. Sei que há milhares de acessórios
estranhos para os pequenos. Compre o que precisar. Disse que

quer dar tudo o que você e sua irmã não tiveram. Permita-me
contribuir com isso.

— Se eu disser que sim, será apenas dessa vez. Eu vou


conseguir, Zeus. Vou manter minha família por meus próprios meios.
— Trabalhando na boate?

Não consigo disfarçar o mau-humor.


— E onde mais posso conseguir tanto dinheiro?

Levanta do meu colo, louca da vida. Somos dois.


— Vem cá. — Puxo-a para o corredor, para que o tom da nossa

voz não acorde os bebês. — Disse que foi dançar na SIN por
necessidade, mas não precisa se expor desse jeito. É minha
namorada, cacete.
Quando eu acabo de falar, nos encaramos pelo peso da minha
declaração. Não planejei dizer aquilo, mas não me arrependo.
Madison se recupera primeiro.

— Mesmo que eu aceitasse seu dinheiro, e não vou, esse rótulo


que você nos deu é por seis meses. Não esqueça do contrato.

— Que se foda o contrato, Madison. Se te faz se sentir melhor


que eu te chame de sugar baby, posso fazer isso, mas para mim,
você é minha mulher. Não finja que essa merda de ser amante é

natural para você, porque sei que não é.


— Olhe na minha cara e diga que não foi exatamente o que me

propôs naquele primeiro dia. A única diferença é que quando aceitei,


coloquei tudo no papel e assinamos. Mas não venha de hipocrisia,

Zeus. O que queria de mim era sexo.


— Eu nunca menti em meus relacionamentos, então sim, eu
queria — pauso, passando a mão pelo cabelo. — Quero um monte

de sexo com você, mas sem contrato. Não vou descumprir minha
parte, mas não quero mais que tenhamos um prazo.

Ela está encostada na parede oposta, os braços cruzados na


frente dos peitos em uma postura totalmente defensiva.
— Sem contrato significa que podemos terminar antes, também

— diz.
— Não vai acontecer.
— Quem está sendo pretensioso agora? Pode ser que eu queira
terminar antes.

Vou até ela, a prendo contra a parede e sussurro em seu ouvido.


— Não vai acontecer — repito. — Estou viciado em você e não

vou parar até deixá-la viciada em mim também.


Vejo o movimento de sua garganta quando engole em seco.
— Eu preciso pensar a respeito.

— Sobre o contrato?

— Sim. Quanto ao meu trabalho, não há negociação. Se aceitar


ser sua namorada, será porque quero, não para ser sustentada.
Capítulo 32

Madison

Ainda estamos meio loucos um com o outro e o silêncio, que


tanto odeio, se estendeu por todo o caminho para minha casa. Os
gêmeos não acordaram, então vim no banco da frente.

Acho que toda a excitação de conhecerem uma pessoa nova,


mais um ambiente ao qual não estão acostumados, fez com que
ficassem muito agitados e depois desmaiassem de cansaço.

Logo após nossa briga, Eleanor ligou avisando que estava

voltando para casa. Infelizmente, eu já havia avisado a Ares que


não poderia trabalhar, o que significa que perderei um dia de

pagamento.

— Não precisa subir — falo, quando ele estaciona em frente ao


nosso edifício. — Basta que um dos rapazes me ajude.

Ele me ignora e dá a volta para abrir a minha porta.


Como é possível que eu tenha vontade de bater nele e pular em

seus braços ao mesmo tempo? Mesmo com raiva de mim, Zeus é


um cavalheiro.

Seu cavalheiro, se quiser levar essa loucura adiante — uma voz

sussurra.
A questão não é sobre querer. Eu teria que ser muito estúpida

para não desejar alguém como ele para namorado, mas sim, as

diferenças que existem entre nós.


Eu me sinto mal em relação ao contrato, mas não sei confiar.

Estou agindo com a razão, tentando me proteger, então por que me

sinto uma mercenária?


—Vou subir com vocês — diz, depois de me ajudar a sair.

Abre a porta de trás e tira os gêmeos. Para minha surpresa, pega


cada um em seus braços, ainda adormecidos.

Ver meus sobrinhos com a cabeça recostada nos ombros

daquele homem poderoso me tira completamente a vontade de

brigar.

— Os bebês são pesados — falo, andando na frente dele.

— Sou um garoto grande. Consigo levá-los.


Temos que subir dois lances de escada, mas ele parece bem,

sem nem respirar mais acelerado.


Os guarda-costas vêm atrás com os carrinhos.
Quando chego no andar do nosso apartamento, Eleanor está nos

esperando com a porta aberta. Seu rosto está fechado, mas

desanuvia na hora em que vê Zeus carregando as crianças.

E aí vamos nós. Mais uma guerreira abatida.

Eu, Soraya e agora, minha madrasta, presas no encanto do

grego.
— Mamãe, esse é Zeus Kostanidis, mas acho que antes de

apresentá-los direito, é melhor deixá-lo colocar os gêmeos nos

berços.

Meia hora depois, eles já conversam normalmente e fico

admirada como Zeus parece realmente prestar atenção em tudo o

que Eleanor diz. Minha madrasta é uma mulher simples e não tem

papas na língua, então, para minha vergonha, foi direto ao ponto e


disse a ele que mesmo que eu estivesse trabalhando em uma boate

de dança exótica, era uma moça de família.


Eu quis que o chão se abrisse para me engolir, mas quando olhei

para o homem que agora se intitula meu namorado, ele respondeu,


impassível:
— Tenho certeza disso, senhora.

Ele se levanta e eu também, pronta para levá-lo até a porta, mas


depois de pedir licença a minha madrasta, diz que precisa falar

comigo em particular.
Estamos no corredor e me sinto sem jeito pela forma como

Eleanor o crivou de perguntas.


— Sinto muito pelo ataque lá dentro. Ela fica preocupada por
você ser quem é.

— Não me importo.
— O que te abala, Kostanidis? Parece ser indestrutível.

Ele me imprensa na parede.


— No momento? Você. — Roça a boca na minha orelha e fico

toda arrepiada. — Vem dormir comigo, Madison.


— Meu Deus do céu, deveria ser proibido você sussurrar coisas
assim. Eu até esqueço que estamos brigados.
— Estamos sempre brigados ou brigando. Me deixe fazer as

pazes chupando sua boceta.


Eu o puxo para mim e o beijo. Não consigo colocar em palavras o

que ele me faz sentir, mas posso demonstrar.


Não é um beijo de romance, é selvagem e faminto.

— Se eu for, nós não vamos dormir.


Ele aperta meu cabelo com força e morde meu lábio inferior.
— Essa é a ideia.

Durante o caminho, mesmo com ele dirigindo, não conseguimos


tirar as mãos um do outro. Eu o quero quase ao ponto da dor e

assim que para o carro, solto meu cinto e pulo em seu colo.
— Madison, eu estou por um fio.
— Não posso esperar. Estou queimando por você.

— Os guarda-costas…
Pego o celular no console e entrego a ele.
— Dispense-os. O vidro é escuro, ninguém vai ver.
Enquanto faz o que pedi, abro sua camisa, beijando peito e

pescoço. Nem noto quando desliga o telefone, somente quando


seus dedos me tocam no meio das coxas é que percebo que sua

atenção me pertence agora.


— Porra, você está encharcada.
Com uma das mãos, ele puxa minha calcinha para o lado e me

acaricia. Com a outra, desce o zíper da calça.


— Senta duro. Você me provocou, agora quero essa bocetinha

apertada engolindo meu pau.


Eu faço o possível, mas nosso encaixe é muito difícil. Ele é

grande e está rígido como aço. Tento recebê-lo aos pouquinhos,


mas quando sinto sua carne me abrindo, perco o controle sobre
meu corpo e desço de uma vez só.

Fico sem ar, tonta, o corpo inteiro formigando.


— Caralho — ele geme.

Seus antebraços me suspendem pelas coxas, me fazendo subir e


descer em sua extensão grossa.
— Abra os botões do vestido. Quero chupar esses peitos lindos.
Tento fazer o que ele pede, mas me atrapalho porque a sensação
de seu membro estendendo meu sexo faz com que eu fique bêbada
de desejo.

Ele separa o que falta com os dentes e abocanha meu mamilo


assim que está exposto.

— Eu vou gozar, Zeus.


— Sua boceta está pulsando a minha volta, amor.
— Você é perfeito dentro de mim. Só você. Eu nunca…

Ele para.

— Você nunca o quê?


— Nada. Continue, eu te quero tanto…

Solta minhas pernas para que eu possa usá-las como apoio.

Monto-o bem rápido, louca para alcançar meu prazer, mas ele me

faz tomá-lo inteiro, sentada em seu colo, sem permitir que eu me


erga.

— Rebole no meu pau.

Faço o que manda, desesperada, entregue e quando finalmente


gozo, é tão intenso que minha cabeça pende para trás.

Ele me segura até que eu consiga voltar à Terra e quando o

encaro novamente, me põe de volta no banco.


Agarra um punhado do meu cabelo.
— Termine o que começou. Vou gozar na sua boca.

Eu nunca vou admitir isso, mas ele assumir que vou deixar que
me alimente com sua semente me mata de desejo.

Eu me inclino e o coloco entre os lábios, determinada a

enlouquecê-lo.
Zeus me guia na velocidade que quer e depois de alguns

minutos, diz:

— Beba.

Sua mão livre vem para o meu ponto de prazer, me tocando


como se conhecesse meu corpo melhor do que eu mesma. Em

segundos, estou derretendo novamente e quando percebe, goza

em mim, enchendo-me.
Nunca pensei que faria algo assim com um homem, mas

enquanto o bebo, não parece o suficiente e só paro quando ele me

ergue e puxa para seu colo outra vez.


Beija e morde minha boca.

Estou sem ar, totalmente fora de órbita e recosto em seu ombro,

exausta.

— Estou louco por você, Madison. Não importa o que nos trouxe
até aqui. Você é minha.
Capítulo 33

Madison

Há três semanas, minha vida deu um giro de cento e oitenta


graus.
Estamos morando na casa nova e minha irmã foi transferida para

um hospital em Manhattan.
Dentro de alguns dias, irei conhecer o neurocirurgião que
assumiu o caso dela.

Hoje, entretanto, o que está me deixando nervosa é a visita da

assistente social.
Engoli meu orgulho e aceitei que Zeus comprasse tudo o que as

crianças precisariam dentro de um quarto. O dormitório deles parece

um sonho. Nesse instante, estão alimentados e de banho tomado


esperando a bruxa.

— Estou tão nervosa, filha — Eleanor diz.


— Eu também, mas tenho fé de que tudo dará certo.

Acabei tendo que adiar a consulta com o advogado porque minha


madrasta ficou resfriada no dia e agora ele só me atenderá dentro

de algumas semanas, porque está viajando.

— O contrato de trabalho, onde está? — ela pergunta.


— Em cima da bancada da cozinha. Por favor, acalme-se. Está

me deixando ansiosa.

Os bebês, ao notarem nossa tensão, começam um coro de


choramingos.

— Não, amor. Vai ficar tudo bem. A titia não vai deixar a bruxa má

levar vocês.
A campainha toca e minha pulsação acelera.

Agora é a hora da verdade, quando vou saber se aquela criatura


finalmente nos deixará em paz.

Quarenta e cinco minutos depois, a assistente social ainda não

foi embora e estou a ponto de gritar de frustração.

Ela não consegue disfarçar o que está pensando: que fiz coisas

muito erradas para conseguir uma casa como aquela.

A culpa faz com que eu me sinta mal, porque apesar do que eu e


Zeus temos, nosso relacionamento começou como uma negociação

pelo meu corpo.


— E o que você faz mesmo nesse seu trabalho de assistente?
— A senhora já me perguntou isso três vezes. Talvez eu devesse

ter seguido o conselho do meu advogado e aceitado que ele

estivesse presente durante sua visita. — Blefo.

— Advogado?

— Sim, como lhe disse, trabalho em uma empresa e eles

disponibilizam uma banca de advogados para os funcionários.


Senhor, de onde tirei isso? Meu pai ficaria orgulhoso da mentira

contada com tanta convicção.

O fato é que o medo em mim atua de forma diferente do que na

maioria das pessoas. Ao invés de correr, eu ataco.

— Acho que, por ora, está tudo bem, mas devo voltar dentro de

algumas semanas.

— Fique à vontade. Vou notificar meu advogado e acho que ele


estando presente, poderá responder melhor as suas perguntas

porque entende de leis. — Enfatizo bem a última parte.

Ela ainda pede um copo de água e sei que é para inspecionar a

cozinha, o único lugar em que não esteve.

Eleanor treme feito vara verde e eu tenho certeza de que odeio

Mirtes Prates.
— Graças a Deus! — minha mãe me abraça quando ela se vai.
— Tem algo errado com essa mulher, mãe. Não sou advogada,

mas essas visitas dela não podem ser normais. Viu a decepção em
seu rosto? Se ela estivesse realmente preocupada com os bebês,

deveria ter ficado feliz que nos mudamos, mas eu podia jurar que
parecia aborrecida.
— Independentemente do que ela disse, acho que você deve se

encontrar com esse advogado que Zeus falou, Madison. Pelo menos
para ficarmos preparadas caso ela invente mais alguma questão.

— Farei isso, mas agora preciso ir.


— Onde? Achei que era seu dia de folga.

— Quero visitar Brooklyn e depois…


— Ir encontrar seu grego.
Eu já estava saindo, mas paro.

— Estou morrendo de medo do que sinto por ele, mãe.


— Amor?

— Não sei se é amor. Nos conhecemos há pouco tempo, mas


acho que me apaixonei. Prometi que não aconteceria, mas não

consegui lutar contra. Ele é tão intenso. Exige tudo de mim e eu


quero dar. Quão estúpida eu tenho que ser para que meu primeiro
amor seja alguém tão inatingível?
— Não escolhemos quem amar, Madison, ou eu nunca teria me

casado com seu pai.


É a primeira vez que ela me fala algo assim e não sei como

responder, porque meu pai realmente jamais a mereceu.


— Se serve de consolo, você foi a melhor coisa que aconteceu

na minha vida e na da minha irmã, mamãe. Não sabíamos o que era


um lar de verdade até você vir morar conosco.
— Foi por vocês duas que nunca o deixei. A paixão que eu sentia

por ele no começo, morreu, mas o meu amor por vocês, nunca.
Vou até onde está e a abraço.

— Eu preciso desabafar porque estou muito confusa, mas peço


que não me julgue até ouvir a história toda.
Conto toda a minha curta história com Zeus, desde o dia em que

dancei para ele por engano até quando propus ser sua sugar baby e
como ele insiste agora em encerrar o contrato. Obviamente, omito

os detalhes picantes porque ela infartaria, mas acho que, no fim, ela
entendeu o contexto.

— Começou como atração sexual e agora estão apaixonados —


sentencia.
— Eu acho que estou, quanto a ele, já deve ter vivenciado muitos

relacionamentos parecidos com o nosso. Quando nos conhecemos,


me disse que enjoava rápido de suas companhias femininas do
passado e no entanto, insiste em ter cada vez mais de mim.
— Eu não sei o que dizer, Madison. Não há uma resposta correta

nesse caso. Você está em uma bifurcação. Pode insistir com o


contrato e manter tudo como negócios, o que me soa péssimo, sinto

muito dizer, porque emoções e corpos, em minha opinião, nunca


deveriam ser negociados… Ou pode se entregar e ver o que vai
acontecer.

Abaixo a cabeça e olho para minhas mãos.


— Como eu disse a ele, o problema com a assistente social me

deu a desculpa perfeita para ficarmos juntos. Eu o quis desde o


primeiro momento, mas tinha medo de ser um brinquedo em suas

mãos. Ainda tenho medo.


— E de quebra, o contrato te deu uma rede de segurança, né?
— O quê?

— Sim, ao dizer para si mesma que o que fazem é parte de um


acordo, caso ele a decepcione, pode fingir não liga, já que são

somente negócios.
— Não tinha pensado por esse ângulo.
— O problema com esse seu modo de agir, é que poderá mentir

para todos, mas não para si mesma. Se ele a magoar, vai sofrer,
mesmo que grite para o mundo inteiro que não dá a mínima.
— Eu não sei o que fazer. Quando o assunto do contrato vem à
tona, eu me sinto uma mercenária.

— Siga seu coração, filha. Acho que Zeus já mostrou até agora
que não está brincando com você e mesmo que a relação não tenha

futuro, pelo menos você a viveu. A outra alternativa, se esconder


para sempre do amor, não é saudável. Um dia você vai olhar para
trás e se arrepender do que não fez. Até mesmo para chorar,

precisamos criar lembranças.


Capítulo 34

Zeus

— Alguma novidade sobre o maldito um por cento? — pergunto a


Ares ao telefone.
Odin e Christos não tiveram êxito em adquirir o que falta, o que

parece uma fodida ironia, se levar em conta que detêm cinquenta


por cento.

— Não, mas tenho um plano. O tutor da menina tem quase cem

anos e acho que teme pelo destino da tutelada.


— E o que pretende fazer?

— Além de oferecer cinco vezes o valor de mercado, conseguirei


um tutor profissional para a garotinha.

— Acha que ele está preocupado em morrer e deixá-la

desamparada?
— Sim. Oferecendo para comprar as ações por muito mais do

que valem e ainda solucionando a questão da tutela, ela estará


protegida.

— Quantos anos a criança tem? — pergunto.

— Não é criança, é uma adolescente. Dezessete, mas segundo


descobri, só poderá colocar as mãos no patrimônio com vinte e um

e se estiver casada, caso contrário, precisará completar vinte e

cinco.
— O pai dela era uma imbecil.

— Não tenho como discordar, mas talvez suas intenções fossem

boas. O problema é que tornou a filha incapaz de gerir a própria vida


depois de adulta. Se fosse minha menina, eu também acharia

razoável impor a idade de vinte e um anos para que se apossasse


da totalidade da fortuna, mas que também tivesse que se casar,

não.

— Resolva isso, Ares. Mal posso esperar para fechar essa

questão.

— Zeus?

— Sim.
— Até onde pretende levar essa história com Madison?

— Ela é minha namorada.


— Então por que ela continua trabalhando na boate? Está na
cara que não gosta do que faz, apesar das apresentações dela

serem as mais esperadas a cada noite.

— Cambada de filho da puta.

— Qualquer um pode ver que você morre de ciúmes.

— Como se sentiria no meu lugar?

— Do mesmo modo. O ponto é: por que ainda não resolveu a


questão?

— Ela é orgulhosa. Não quer que eu a ajude.

— Não precisa bancá-la. Disse-me que inventou um cargo para

que pudesse apresentar o contrato para a assistente social. Faça

isso. Contrate-a.

— Ela nunca vai aceitar trabalhar para mim.

— E para mim? Posso remanejá-la e assim o problema estará


resolvido.

— Vou conversar com ela. Madison não lida muito bem com

imposições.

— Quem de nós lida?

Assim que desligo o telefone, ele volta a tocar.

— Por que está me ligando? — pergunto, sem cumprimentar meu


interlocutor.
— Estou preocupado, Zeus.Tenho ouvido boatos. Voltará atrás

com sua palavra?


— Não lhe dei minha palavra. São raras as pessoas para as

quais a ofereço. Temos um acordo comercial, Gordon e uma multa


prevista em caso de descumprimento. Há algo mais que queira falar
comigo?

Ele não responde.


— Pelo seu silêncio, vou assumir que não.

Desligo com vontade de arremessar o celular longe, mas ao invés


de perder o controle, telefono para a pessoa que me deixou há

semanas com uma pulga atrás da orelha.


— Zeus, o que há?
— Odin, você me disse que nem tudo o que pensava sobre a

história da minha mãe era verdade, mas até agora não esclareceu a
questão.

— Por que ainda não tenho certeza. Mais do que ninguém, sei o
quanto é fodido mexer com o passado e prefiro obter uma

confirmação das minhas suspeitas antes de trazer tudo à tona.


— Eu tenho uma novidade para te contar.
Ela sorri e parece totalmente inconsciente de como estou irritado.
Abro a porta traseira do carro para que entre e Larry já está

posicionado atrás do volante. Ele sabe que gosto eu mesmo de


acomodar Madison.

Sim, sou um maníaco por controle até nos detalhes.


— Em relação à sua irmã?

Sua expressão cai e eu me sinto um cretino por deixá-la triste.


— Não, mas sobre o futuro.
Aceno com a cabeça concordando e olho para fora da janela, me

perguntando o que estou fazendo vindo a essa boate todas as


noites.

— Não vai me perguntar o que é?


Ela me contou sobre a visita da assistente social hoje mais cedo

e parece que foi tudo bem. Se não é sobre isso ou o estado de


Brooklyn, o que a faria tentar esconder um sorriso?
— O que é?
— Está zangado? Não parece nem um pouco interessado no que
tenho para dizer.

— Não vai querer ouvir minha resposta.


— Por que não?

— Acho melhor dormir na sua casa hoje, Madison.


— Olhe para mim quando diz isso, Zeus. Se está enjoado do que
temos, de nós dois, fale-me a verdade.

Volto a encará-la.
— Você não vai aguentar a verdade.

— Eu aguento qualquer coisa.


— Por que nós temos um contrato? — Ironizo e ela não responde

por minutos inteiros.


A despeito da discussão, que tenho certeza que Larry está
ouvindo, ele segue para o meu apartamento e agora está

posicionado na entrada da garagem.


— Porque quero ficar com você — finalmente responde,

descendo na garagem sem esperar que eu abra sua porta.


No elevador, nos encaramos como dois inimigos, nenhum dos
dois disposto a ceder.

— Quer ficar comigo nos seus termos, né?


— O que isso significa?
— Estamos falando sobre o fodido contrato, Madison. Quer ficar
comigo, desde que tenha uma garantia, sendo que até agora, eu

nunca te dei motivo para duvidar de mim.


Abro a porta do apartamento e vou para o quarto, tentando esfriar

a cabeça.
Hoje houve um incidente enquanto ela dançava. Um senador,
completamente bêbado, tentou subir no palco. Ele foi contido a

tempo, claro, mas ter que assistir aquilo sem me mexer para não

passar por cima dela me fez ver que não posso continuar vivendo
assim.

— Eu nem sei por que estamos brigando — ela diz, atrás de mim.

— Você esqueceu o que aconteceu hoje?

— Ele estava bêbado.


— Foda-se se ele estava bêbado! Ele tentou tocar você! E se

acontecer de eu estar viajando e Larry se atrasar para pegá-la? Se

um filho da puta desses estiver esperando-a quando sair?


— Está brigando comigo por ciúme?

— Não. Eu não sinto ciúme.

Tiro a roupa e entro no chuveiro, mas ela não parece entender a


dica de que quero ficar sozinho.
Pelo vidro do boxe, vejo-a ficar nua e mesmo com raiva, meu

corpo responde na hora.


— Está com ciúme de mim, Kostanidis? — repete a pergunta,

parando à minha frente, mas não entra embaixo da água ainda.

— Você quer continuar a dançar na boate?


— Não, mas não quero ser sustentada — balança a cabeça e

sorri.— Não é o tipo de conversa para termos nus.

— Não estamos conversando, estamos decidindo o futuro.

Ela se ajoelha na minha frente.


— Brigue comigo depois. Eu preciso de você.

— Não. Eu não quero sua boca, quero essa boceta me

engolindo. Não desvie seus olhos de mim enquanto eu te fodo.


Eu a pego no colo e testo seu sexo com a cabeça do meu pau.

Ela geme e começa a descer.

Não tenho noção de por quanto tempo nos devoramos, mas aos
poucos, a raiva cede lugar à necessidade da conexão. Mesmo

depois que gozamos, eu não a solto.

Desligo a água, mas a mantenho em meus braços.

— Eu estou com medo — diz, pela primeira vez, baixando a


guarda.

— De mim?
— De nós dois. Do que você me faz sentir. Eu me apaixonei por

você, Zeus.
Capítulo 35

Zeus

Ela quis cozinhar.


Madison tem essas loucuras de sentir fome de comida de
verdade e não apenas um lanche, mesmo que seja de madrugada.

Depois da explosão de brigas e sexo quando chegamos em casa


— e de sua declaração que está dando um nó no meu cérebro —
ela agiu como se não tivesse me dito nada demais. Como se tudo o

que aconteceu hoje mais cedo fosse nossa rotina.

É, de certa forma, porque se tem algo que aprendi sobre ela, é


que a vida ao lado da minha menina atrevida sempre será uma

tempestade, nunca uma chuva fina de inverno.


E agora, enquanto se movimenta na minha cozinha, vestida

somente de calcinha e uma camiseta, indiferente a como estou me


sentindo por dentro, eu tento entender o que significa para uma

garota de dezenove anos estar apaixonada.

— Podemos conversar sobre as novidades de que lhe falei ou


ainda está bravo? — pergunta, enquanto corta tomates para uma

salada.

— Quer brigar de novo?


Ela larga a faca e me encara.

— Brigar é algo natural para mim, Zeus. Nada na minha vida veio

de graça. Precisei aprender a lutar por cada pequena coisa.


— Proponho uma trégua. Fale-me sobre as novidades.

— Procurei uma faculdade de moda. Vou começar no próximo


semestre.

— É uma ótima novidade.

Noto, deliciado, suas bochechas corarem.

— Você é empresário e deve ter noção sobre negócios. Acha que

aquele meu plano de oferecer serviços de personal stylist pode dar

certo?
— Corrigindo: sou banqueiro. Lido principalmente com

incorporações. Meu trabalho, na maioria das vezes, é desmembrar


empresas, não criá-las. Quanto a achar se seu futuro negócio pode
dar certo, só estudando o mercado para ver, mas pessoalmente,

não com um parecer profissional porque não tenho dados o

suficiente para isso, acho que é muito interessante a ideia de

oferecer um serviço exclusivo para mulheres que não possam

gastar tanto com roupas e acessórios.

— Está falando sério?


— Estou sim. As pessoas não sabem do que precisam até que

isso lhes seja oferecido. Sua ideia é inovadora.

Ela me dá um sorriso lindo e eles são tão raros que eu tenho

cada um gravado a fogo na memória.

— Daí então eu vou poder sair da boate.

— E se isso acontecer antes do que imagina?

— Como assim?
— Poderíamos tornar aquele contrato de assistente real e você

vir trabalhar para mim.

— Nunca daria certo. Vamos nos pegar todo dia e nem sempre

em um bom sentido.

Apesar do que diz, continua sorrindo.

— Vem cá. — Ofereço a mão.


Ela desliga o fogo e quando para na minha frente, eu a sento no

balcão da cozinha, me encaixando no meio de suas pernas.


— Madison, brigas entre nós são inevitáveis, mas estou tentando

pensar dois passos à frente. É uma maneira de legitimar aquele


contrato que firmamos para enganar a assistente social e começar
uma carreira da qual você não precise se esconder daquela mulher.

— E se a gente terminar, como vai ser?


— Por que falar sobre isso agora?

— Porque preciso de uma rede de segurança, Zeus. Não é sobre


mim, mas sobre Soraya, Silas e Eleanor também.

— Se terminarmos, eu te remanejo ou para uma das minhas


outras empresas, ou para uma das dos meus irmãos.
— Disse-me que já tem assistente.

— Tenho, mas você seria diferente. Me acompanharia nas


viagens.

— Tudo isso para que eu pare de trabalhar na boate?


— Eu poderia mentir, mas não vou. Sim, eu não quero que

trabalhe lá. Pode olhar nos meus olhos e dizer sinceramente que é
seu emprego dos sonhos?
— Não. Nunca foi. Apesar de depois de algumas semanas, quase

já ter me acostumado a usar pouca roupa e de que dançar ser algo


que adoro fazer, não gosto dos olhares dos homens em mim.

Meu instinto é pressioná-la para que se decida agora, mas sei


que não seria um jogo justo. Madison é adulta e pode escolher

sozinha sobre seu futuro.


— Não posso sair da boate de uma hora para a outra. Vou

conversar com Ares amanhã e ver quantos dias preciso ficar antes
de parar.
— A sugestão de que viesse trabalhar para mim foi dele. Não

acho que será um problema.


— Tudo bem, mas meu compromisso não é só com seu irmão,

mas com Adriel também. Acho que precisará ao menos de uma


semana para colocar alguém em meu lugar.
— Eu não quero te forçar — digo e me interrompo porque até aos

meus próprios ouvidos, soa falso. — Ou melhor, quero, porque esse


é quem sou, mas não vou. Estou te dando uma alternativa sobre o

futuro. Se aceitar, será minha namorada e também minha


funcionária. Pode lidar com isso?

Ela tranca as pernas em volta da minha cintura.


— Vamos fazer hora extra?
— Pode apostar nisso.
Dias depois

— Acho que o melhor a ser feito é nos encontrarmos com o tutor

pessoalmente — Ares diz, sentado na poltrona do meu escritório.


— Homem teimoso do caralho. O que mais ele pode querer?

— Garantias. Mas isso de falar por telefone não está


funcionando. Sugiro irmos juntos até lá.
— Nova Orleans?

— Sim. Quando seria uma boa data?


— O mais rápido possível. Quero resolver isso.

— Já conversou com Madison a respeito?


Anteontem ela o avisou que em alguns dias não trabalharia mais

para ele e amanhã será seu primeiro dia como minha assistente. Vai
manter os dois empregos por ora.
— Ainda não. Prefiro que quando o fizer, já esteja tudo resolvido.
— Aonde está indo com isso, Zeus? Desde que a conheceu, você
não parece o mesmo.

— Eu a quero. Madison é a melhor coisa que já aconteceu na


minha vida. Brigamos o tempo todo, porque somos combativos e

desconfiados, mas ela vale cada segundo.


— Se é verdade, precisamos resolver a questão sobre o
GordonBank o mais depressa possível. Vou organizar a viagem para

a Louisiana.

— Faça isso. Nem que eu precise pagar dez vezes o valor das
ações, só voltarei quando adquirimos o que falta para sermos

acionistas majoritários do GordonBank.


— Eu acabei de falar com o neurocirurgião — ela me diz ao

telefone.
— E o que achou?

— Ele parece saber o que está fazendo.

— É a maior autoridade do país em pacientes em coma


prolongado.

— Falou que gostaria de tentar um tratamento alternativo para

fazê-la acordar e que as funções cerebrais da minha irmã parecem

normais.
— Vamos concordar com isso?

— Vamos, é? A decisão também é sua?

— Brooklyn faz parte da sua vida, logo, faz parte da minha


também.

— Não pode me dizer essas coisas, senhor deus grego. Meu

coração é muito destreinado para esse tipo de sedução.


— Achei que já tínhamos pulado essa parte. Está mais do que

visível que já seduzimos um ao outro.

— O corpo, mas agora você está seduzindo minha alma, Zeus.

Sinto algo trancar minha garganta enquanto imagino como deve


ser difícil para ela admitir aquilo.

— Vou cuidar bem de ambos.


— É uma promessa?

Eu entendo o que ela está me perguntando. Madison sabe que

nunca prometo. Sou um homem de ações.


— Sim, é uma promessa, baby.
Capítulo 36

Madison

— Ele disse isso? — Zeus pergunta, enquanto me mantém em


seu colo.
Estou contando sobre meu encontro com o advogado especialista

em vara de família, que ele conseguiu para mim.


Estamos em sua sala e é quase hora do almoço.
Ele vai viajar amanhã para Nova Orleans com Ares para tratar de

negócios, segundo me disse.

Hoje é meu segundo dia aqui e ao contrário do que eu pensava,


não é tão difícil ser assistente do senhor Zeus Kostanidis. O

assistente principal dele, Clark, é um amor e tem me ajudado muito.


Combinamos de dividir tarefas porque juro por Deus que meu

namorado é uma máquina de trabalhar.


Comprei algumas roupas mais formais para me adequar ao

Kostanidis Group e mesmo assim, percebo que algumas mulheres

me olham com curiosidade, para dizer o mínimo. Uma das


secretárias, que de todas as funcionárias foi a única simpática

comigo, disse que é porque não passei pelo processo seletivo

padrão.
Comentei isso com Zeus, e ele, com seu jeito nada sutil, entrou

comigo de mãos dadas hoje.

Dava para ver a boca aberta de todos no escritório, mas ele me

explicou que não existe política de não-confraternização[19] em suas

empresas, desde que o relacionamento não atrapalhe o


desempenho dos funcionários.

Já aparecemos em público diversas vezes, tanto em almoços

quanto, em uma das minhas noites de folga, em um evento, onde

fomos inclusive fotografados.

É um pouco constrangedor como as pessoas o rodeiam quando

chega aos lugares e isso faz com que a atenção caia sobre mim
também.
— Aham — enfim respondo. — E também que vai investigá-la.
Falou que acha no mínimo estranho seguidas visitas em um período

tão curto, porque não havia nada que apontasse que as crianças

estavam sendo mal cuidadas.

— O que não está me dizendo, Madison?

— Não quero acusar sem ter certeza, mas acho que a intenção

dela sempre foi tirar as crianças de nós. A razão para isso, no


entanto, eu desconheço.

— Por que pensa assim?

— Porque sim, somos pobres, mas todas as vezes em que

chegou à nossa casa, havia comida nos armários e Soraya e Silas

estavam limpos e sorridentes. Nossa apartamento é, na verdade era

simples, porque agora estou morando em uma verdadeira mansão

— tento brincar, mas ainda me sinto constrangida sobre isso —,


porém, sempre foi arrumado, dentro das nossas possibilidades. Não

havia razão para que cismasse comigo.

— Eu andei pesquisando o que poderia levar uma assistente

social a dar um parecer para que as crianças fossem postas para

adoção — diz.

— E?
— Penso o mesmo que o advogado. Não faz o menor sentido

essa mulher perseguir você. Pelo que entendi, é necessário


acontecer algo muito grave para que um juiz separe menores da

família biológica.
— Acha que com o advogado entrando no jogo, ela vai recuar?
— Ela não terá alternativa, Madison. Ninguém vai tirar seus

sobrinhos de você. Não permitirei.


Levanto-me do seu colo.

— Onde você vai?


— Preciso comprar algumas roupinhas para eles. Perderam a

maioria. Crescem rápido demais.


— Achei que almoçaríamos juntos.
— Eu sinto muito, mas Eleanor me disse que os bebês estão sem

meias que sirvam e também quero comprar uma roupinha para o


aniversário de um ano deles…

Deixo a frase no ar, sem jeito sobre o que dizer.


— O que há de errado?

— Pensei em fazer um bolinho para cantar parabéns. Acho que


vão adorar, então será que… hum… seu irmão gostaria de vir com o
filhinho? As crianças não têm com quem brincar e seria bom se

viesse mais uma, ao menos.


— Vou falar com ele. Talvez eu possa pegar Joseph.

— Vai ficar sozinho com um bebê? Quero dizer, levá-lo a uma


festa?

— Não pode ser tão difícil.


Fico quieta para não desestimula-lo, mas também porque estou

curiosa sobre como vai se sair.


— Vamos — diz, pegando minha mão e se levantando.
— Onde?

— Comprar o que os bebês precisam e depois, almoçar. A


sobremesa, no entanto, vou comer aqui — diz, sussurrando em meu

ouvido. — Em cima da minha mesa.

— Eu sabia que não deveria ter deixado você vir. Eles não terão

tempo de usar tudo isso, Zeus. Bebês crescem rápido!


Deve ter umas dez sacolas atrás do balcão da loja e me sinto
constrangida enquanto a vendedora fecha a conta.
— Então depois compraremos mais.

Mantenho silêncio porque não quero brigar, ainda mais na frente


de uma estranha.

As mulheres nos olham com curiosidade, obviamente porque


devem saber quem ele é. Já me acostumei com a atenção que
recebe e não me sinto mais tão deslocada, mas fico louca com o

quanto elas são descaradas em cobiçá-lo.


Um dos seguranças entra e pega as sacolas. Zeus vira-se para

mim.
— Missão cumprida. Agora vamos almoçar.

— Parece bem animado para quem passou uma hora comprando


roupas para bebês.
Estamos caminhando para a porta quando a gerente nos

intercepta. Como as outras vendedoras, parece mais uma milionária


do que qualquer outra coisa. Roupa impecável e sem um fio de

cabelo fora do lugar.


Já reparei que há meio que um código de vestimenta para as
mulheres que trabalham em escritórios em Manhattan,
principalmente aqui na Quinta Avenida, onde fica a sede do
Kostanidis Group.
— Antes de irem, eu queria dar os parabéns pelo bebê, doutor

Kostanidis.
Minha primeira reação é sorrir. Certamente ela não se informou

com as vendedoras ou saberia que compramos roupas para dois


anos de idade, que é o que os gêmeos usam agora.
Somente depois de uns segundos é que percebo que um silêncio

incômodo toma conta do ambiente e quando olho para Zeus, não há

nada de amigável em seu rosto.


— Pode fazer a gentileza de nos deixar passar?

Apesar do tom enganosamente educado, sei que está fervendo e

me pergunto a razão: a mulher ter insinuado que teremos um filho

ou a intromissão na nossa vida?


Eu acho que é mais provável que seja a segunda alternativa.

— Não quis ser inconveniente — a mulher tenta consertar,

vermelha como um pimentão.


Eu quase tenho pena dela, mas não sou tão generosa assim.

Antes de nos cumprimentar pela criança que não existe, me olhou

de cima a baixo.
— E no entanto, continua sendo — ele diz, cortando-a.
Ela finalmente pega a dica e nos deixa passar, mas quando

pisamos na calçada, somos cercados por paparazzi.


Os seguranças agem rápido, nos blindando, mas eu ainda

consigo ouvir as perguntas.

— Doutor Kostanidis, temos um herdeiro a caminho?


— Para quando é o bebê?

— Há um casamento em vista?

— Jesus Cristo! — falo. — Talvez eu devesse sair e dizer que

não estou grávida, e sim que tenho comido mais do que o


necessário.

Tento brincar, mas estou realmente assustada. Há pelo menos

uns dez fotógrafos do lado de fora.


— As vendedoras devem tê-los avisados. Filhas da puta.

— Zeus, não é tão sério. Ambos sabemos que não posso estar

grávida. Tomo pílula desde a primeira semana, lembra?


— Se você estivesse grávida não seria da conta de qualquer

pessoa, além de nós.

— Nem brinque com isso.

— Não estou brincando. Se acontecesse, só diria respeito a nós


dois. Nos casaríamos e pronto.
— O quê? Ninguém mais se casa hoje em dia só por causa de

um bebê.

— Na minha família, se casam sim.


Ele me olha de um jeito sério e eu tento adivinhar o significado

daquelas palavras, mas por fim, desisto.

Apesar de ter me declarado, ele nunca me disse que me amava

de volta, então, provavelmente só falou aquilo de maneira hipotética.


Capítulo 37

Madison

Zeus viajou há dois dias para Nova Orleans como havia me


avisado que faria e estou morrendo de saudade.
Não me convidou para ir junto e acho que é porque Ares o

acompanhou na viagem.
Fico curiosa em relação à família dele, mas nunca fala nada que
não seja sobre os rapazes. Jamais toca no nome dos pais, mas um

dia deixou escapar que o pai se matou, o que me diz que ele

também não teve um lar perfeito.


Levanto-me do refeitório compartilhado, onde tenho feito minhas

refeições desde que ele viajou, sabendo que todos me olham.


Além do fato dele ter aberto nosso relacionamento na empresa,

no mesmo dia em que os paparazzi nos perseguiram na loja de


bebês, apareceram nossas fotos em todos os jornais noturnos, além

de sites de celebridades.

Eu achei que Zeus ficaria louco, mas ele disse que bastava
deixar quieto que com o tempo veriam que não há um bebê a

caminho.

Começo a andar de volta para minha sala e me lembro que é


meu último dia na boate.

Não vou sentir saudade porque para começo de conversa, nunca

quis trabalhar lá, mas valeu como experiência.


Chego no andar em que trabalho e quando passo pela recepção

de Zeus, já que minha mesa fica na sala ao lado da dele, noto, além
das secretárias, uma adolescente loira sentada.

Para minha surpresa, assim que me vê, se levanta.

— Finalmente! Eu estava ansiosa para ficar cara a cara com a

prostituta que está saindo com meu noivo. Não satisfeita em se

mostrar na boate, você ainda vem trabalhar aqui no escritório? Ele

não te paga o suficiente pelo que fazem no quarto?


Em um primeiro momento, eu congelo, certa de que não ouvi

direito.
As risadas de alguns funcionários que ouviram o tom de voz alto,
assim como as palavras que a mulher usou, entretanto, me

despertam.

— Do que você está falando?

— Ah, então Zeus não contou que está noivo? Eu sou Celine

Gordon e gostaria de dizer que é um prazer conhecê-la, mas não

posso. Não falo com garotas de programa.


Eu nunca engoli desaforo calada, mas nesse momento, não

consigo falar, completamente em choque.

— Divirta-se com ele. Em menos de um ano, eu farei dezoito e

nos casaremos.

Depois disso, a menina, que mais parece uma princesa, mas de

cujo a boca sai veneno, vira as costas e me deixa sozinha.

Sei que preciso sair daqui, mas não consigo. A sala gira e de
repente, eu me sinto como se estivesse dentro de um caleidoscópio.

No meio dos risos, ouço alguém chamar meu nome, mas eu não

quero responder. Eu prefiro a escuridão.


— Madison. — Ouço a voz da minha mãe chamar e começo a
acordar de vez.

Lembro-me vagamente de depois de desmaiar, Clark, o


assistente de Zeus, andar comigo para o lado de fora do prédio e

depois Larry nos trazendo.


Fecho outra vez os olhos, quando tudo o que aconteceu na sala
de recepção do escritório volta à memória.

As lágrimas escorrem sem que eu consiga contê-las e eu nunca


me permito chorar.

— Filha.
— Ele estava brincando comigo, mãe! Tem um compromisso com

uma adolescente!
— Meu Deus do céu!
— Ela me humilhou na frente de todo mundo. Sabia quem eu era,

que danço na boate.


— Como isso é possível? Disse-me que era tudo sigiloso.

Conto a ela as exatas palavras que a menina me disse e posso


ver a pena em seu rosto, mas também incredulidade.

— Não costumo me enganar com as pessoas, filha. Tem algo


errado nessa história. Zeus é um homem, não um moleque.

Antes que eu possa responder, ouvimos uma tosse e quando


abro os olhos, vejo que Clark entrou no meu quarto.
— Obrigada por me trazer, mas quero ficar sozinha com a minha

mãe.
— Eu já ia sair, Madison. Só queria que soubesse que o doutor

Kostanidis nunca viu a senhorita Celine Gordon. Isso, eu posso


garantir.
— Obrigada, mas não muda nada.

Minha mãe se levanta para acompanhá-lo até a porta quase ao


mesmo tempo em que a campainha toca. Quando ela retorna, há

um homem de branco com ela.


— Eu sou o doutor Reeves, você deve ser Madison. Vim a pedido

do senhor Kostanidis.
— Eu estou bem.
Ele levanta as mãos, como se estivesse se rendendo.
— Não sou o inimigo, senhorita. Estou só fazendo o meu
trabalho.
— Desculpe-me — digo, secando as lágrimas —, mas não há

mesmo necessidade de que me examine.


— Você desmaiou, Madison. Deixe-me verificá-la, filha.

— Madison — minha mãe fala por trás dele.


— Tudo bem.
Meia hora depois, ele se vai. Recolheu um pouco do meu

sangue. Disse que era necessário para confirmar que eu estou bem.
— Zeus o mandou? Por quê, mãe? A farsa acabou. Para que

mandar alguém cuidar de uma prosti…


— Madison Foster, eu a proíbo de falar assim de si mesma e se

quer minha opinião, ouça o que ele tem a dizer. Desde que foi
informado do que aconteceu pelo senhor Clark, tem ligado sem
parar. Seu telefone tem mais de uma dúzia de chamadas perdidas.

— Eu não vou atendê-lo. Não temos mais nada para conversar.


— Madison, você nunca foi uma covarde e não vai começar

agora. Se as coisas forem mesmo como essa moça falou, ainda


assim precisam conversar. Vocês tiveram um início e haja o que
houver, precisarão de um fim.
Acordo e cochilo diversas vezes.

Geralmente não durmo durante o dia, mas acho que meu corpo

tenta fugir da realidade. Se estou acordada, recomeço a chorar e


odeio Zeus por me fazer sentir assim.

Eu tomei um banho e vesti uma camisola. É a primeira vez que

me permito ficar deitada durante o dia em anos. Nem mesmo a


perspectiva de ver as crianças me faz ter vontade de levantar.

Estou acostumada a me sentir fisicamente exausta. Na época em

que dava faxinas, era assim todo santo dia, mas no momento, é a
minha mente que não está conseguindo lidar com tudo o que

aconteceu.
Capítulo 38

Zeus

Horas antes

Acabamos de fechar os cintos de segurança em nosso avião


particular e eu mal posso acreditar que finalmente conseguimos.

— A alternativa não foi a que esperávamos — falo.


— Não importa, e sim que você está definitivamente livre de

qualquer trato com aquele fodido Gordon. Agora eu te pergunto:


conseguiria ficar casado com a filha daquele verme que se envolveu

com a nossa mãe?


— Eu não pretendia tocá-la. O acordo era para que ficássemos

juntos por dois anos, tempo mais do que suficiente para que eu
pudesse apagar o GordonBank do mapa.

— Para alguém tão inteligente, o velho Emerson teve muita fé em

você.
Dou de ombros.

— Acho que ele acreditou que eu sucumbiria à beleza da neta, o

que só mostra que não faz ideia do quanto odeio seu filho morto e
todos os parentes dele.

— Homens como ele só enxergam oportunidades. Provavelmente

pensou que a possibilidade de ficar alguns bilhões de dólares mais


rico o faria esquecer de todo mal que o herdeiro dele nos causou.

— Ou talvez não saiba da história toda. Pode não ter ideia de que
nosso pai nos deixou uma carta. — Olho-o curioso com a

indiferença que demonstra ao conversarmos sobre aquilo. — Você

não parece tão afetado quanto eu pelo o que causou a morte do

nosso pai.

— Você e Hades são os vingativos. Sou prático. Ninguém pode

manter uma esposa ao lado na base da força. Por mais que o filho
de Gordon tenha ido atrás de nossa mãe, não a obrigou a ceder. Foi

uma escolha dela, Zeus.


— Uma que destruiu nosso pai.
— Sim, mas de qualquer modo, uma escolha dela.

Resolvo mudar de assunto.

— Obrigado por ter se oferecido para ser o novo tutor da menina.

Eu acho que não teríamos resolvido essa questão do um por cento

que faltava se você não tivesse tomado à frente. Ele queria alguém

para substituí-lo na função.


— Acho que sim. Não tem problema, irmão. Ela está com

dezessete. Vai ficar mais um ano no internato, quando estiver em

idade de sair, vou deixar que viva a vida, com uma supervisão leve.

— Duvido — falo e dou um gole no uísque, precisando relaxar. —

Nenhum de nós encara responsabilidades de maneira “leve”. O

velho não tem ideia do que fez ao passar a responsabilidade da

tutelada dele para suas mãos.


— Ela ainda não é minha responsabilidade. Falta reconhecer na

frente do juiz.

— Sim, mas o pacto firmado com os advogados têm validade. O

que importa é que agora, junto com Odin e Christos, possuímos a

maior parte das ações daqueles miseráveis Gordon.

— Zeus, o nosso avô não tinha o direito de lhe pedir aquilo. Era
um peso grande demais para se jogar nos ombros de alguém com
apenas vinte e dois anos.

— Olhando de fora, eu concordo. Mas ele estava ferido, Ares.


Havia perdido o único filho, nosso pai. A vingança pareceu um

caminho natural.
— Mas poderia ter destruído qualquer chance de que você fosse
feliz. Quando fechou o acordo, você não conhecia Madison. Se Odin

e Christos não tivessem conseguido comprar as ações, seguiria em


frente com o plano original?

— Já me fiz essa pergunta milhares de vezes.


— E encontrou uma resposta?

— Sim. — Mexo a bebida em minha mão. — Eu teria encontrado


uma alternativa. Eu prefiro a morte a trair a confiança dela. Madison
já foi muito ferida pelo pai.

— É a única razão? Não magoá-la?


— É uma razão boa o bastante.

— Mas não é a verdadeira, Zeus. Você está apaixonado por


aquela garota.

Antes que eu possa falar qualquer coisa, meu telefone toca e


quase sorrio quando vejo quem é.
— Acabei de sair Nova Orleans. Fechamos o acordo. Somos

acionistas majoritários.
— Eu sei — Odin responde. — Estou ligando para avisar que

combinarei com Christos uma vídeo conferência para decidirmos a


criação da terceira empresa que será detentora desses cinquenta e

um por cento.
— Parece aliviado.

— Ainda não. Somente quando descobrir o que mais o velho


Gordon está escondendo.
— O que acha que pode ser, Odin?

— Em breve, primo, nós teremos todas as respostas.


— Ele consegue ser mais tenso do que todos nós juntos — Ares

comenta assim que desligo.


— Nenhum de nós sabe confiar.
— Mas você confia nela.

Recosto a cabeça no assento.


— Sim, eu confio nela.

Pouco mais de meia hora depois que o avião decolou, meu


telefone volta a tocar com uma chamada de Clark.

— Senhor Kostanidis, é urgente.


— O que houve? Madison?
— Não sei como lhe contar o que preciso.

— Clark, não é hora para formalidade. Diga-me o que aconteceu.


— A senhorita Madison teve um confronto… bem, não
exatamente um confronto porque a pobrezinha nem abriu a boca,
ela foi atacada por uma jovem que se apresentou como Celine

Gordon.
— O quê?

Levanto-me rápido, já sentindo-me ferver.


— Parece-me, e perdoe-me se estiver enganado, que o senhor
tinha um compromisso… hum… de noivado futuro com a senhorita

Gordon. Ela foi ao escritório para confrontar Madison, quero dizer, a


senhorita Foster.

— Foda-me! O que aconteceu?


— Ela humilhou Madison na frente de todos, dizendo palavras de

baixo calão, senhor.Alguns funcionários riram da cena grotesca e


acho que tudo aquilo foi demais para ela.
Ele termina de contar o que se passou, dos funcionários rindo ao

desmaio de Madison.
Sinto meu sangue se transformar em gelo.

Eu nunca tive tanta vontade de matar alguém na minha vida. Sei


quem é Celine Gordon — uma garota mimada e arrogante —
embora nunca tenha me encontrado com ela.
Para mim, era uma estranha. Alguém com quem eu nem ao
menos pretendia coabitar.
— Onde Madison está?

— Eu a levei para casa, senhor. Na verdade, estou aqui com ela.


— Mandarei um médico vê-la, mas quero que faça algo, Clark.

Ligue para a sala de segurança e mande que me enviem as


filmagens do episódio. Depois que fizerem isso, apaguem tudo da
central de segurança. Também quero saber quem eram os

funcionários presentes. Nomes e funções. Qualquer um que a tenha

desrespeitado será demitido.


— Será feito, senhor.

— Porra! — urro assim que desligo.

— O que aconteceu?

— O pior. Eu falhei com Madison. Traí sua confiança ao não


protegê-la.

Depois que ligo para o médico que atende nossa família, pedindo

que vá verificá-la, conto ao meu irmão tudo o que Clark me relatou.


A cabeça ferve de ira. Tento não pensar no sofrimento dela, só

em vingança. Com isso consigo lidar. Ter causado dor a Madison,

não.
— Como descobriram que ela dançava na SIN? — Ares

pergunta.
— O quê?

— Como puderam descobrir, Zeus? Tenho essa boate há dois

anos e impera a lei do silêncio. Não acredito que um dos clientes


tenha vazado a informação, então a única alternativa seria um

funcionário. Presumo que quando chegarmos, vá direto procurar

Madison, certo? Vou para a SIN. Ainda hoje terei uma resposta

sobre quem nos traiu, e quando descobrir, a pessoa vai pagar caro.
Quando o avião finalmente aterriza, estou quase enlouquecendo.

Liguei incontáveis vezes para Madison e ela não atendeu,

deixando cair direto na caixa postal.


Enquanto entro no carro, completo um outro telefonema, porque

preciso começar a destilar meu ódio.

— Nosso trato está desfeito, Gordon.


— O quê? Não pode fazer isso! A multa…

— Vá atrás dos direitos que acha que tem em um tribunal — falo,

porque quero vê-lo se contorcer. Não vou entregar a informação de

que já detemos a maioria das ações. — Agora, um conselho: olhe


para o seu passado e daquela vadia que você chama de neta. Reze
muito para que nenhum de vocês tenha esquecido algum esqueleto

no armário, porque se houver, eu vou descobrir.

Ele nem tenta fingir que não sabe do que estou falando.
— Você estava desrespeitando Celine diante da sociedade!

— Eu nunca estive com ela, nunca a toquei. Tudo o que tínhamos

era um contrato. Vocês, por sua vez, desrespeitaram minha mulher.

Eu não ameaço, Gordon, e sim, ajo. Agora, a única coisa que


precisa saber a meu respeito é que eu nunca me esqueço de uma

ofensa.
Capítulo 39

Zeus

— Ela não quer falar com você ou teria atendido o telefone, Zeus.
— A mãe de Madison diz, do lado de fora da casa, sem me convidar
para entrar.

— Eleanor, com todo respeito, mas sua filha é adulta e pode me


falar isso olhando nos meus olhos.
Ela abre a porta, me dando passagem, embora sua expressão

demonstre exatamente o que pensa de mim.

Eu não dou a mínima. Não é para ela que tenho que me explicar.
— Minha filha chorou a tarde toda, Zeus. Não a magoe mais.

Siga com a sua vida e a deixe em paz.

— Novamente, peço que me deixe falar com ela, senhora.


Nunca tive que usar de tanto autocontrole. Não estou

acostumado que algo se interponha entre mim e o que quero.


— Eu vou dar cinco minutos para que fale com ela e então, bater

na porta novamente.

Ela me deixa sozinho na sala com os gêmeos e vou até onde


estão. Não sorriem como de costume, como se sentissem que há

algo errado.

— Vou consertar isso, pessoal. Prometo.


Soraya é a primeira a esticar a mãozinha para me tocar e

somente então Silas parece aceitar minha presença.

Dou um beijo na cabecinha de cada um e me levanto, me


deparando com Eleanor me observando.

— Costumo ter um bom instinto para as pessoas, Zeus e gosto


de você. Se eu não achasse que o que sente por Madison é mais do

que atração física, nunca permitiria que entrasse lá. Ela não quer

vê-lo, mas vocês precisam conversar.

Aceno com a cabeça e sigo em direção ao quarto. Na porta, paro

com a mão na maçaneta, tentando imaginar como está.

Com ódio de mim? Nojo?


Não importa. Eu não vou embora até dizer o que preciso.
Quando entro, ela, que estava deitada na cama, virada para a
parede, os braços segurando os joelhos, se vira.

Eu não me abalo quando me manda sair, mas quando me olha.

Seu rosto está inchado pelo choro e os olhos, completamente

vazios.

— Saia. — Repete.

— Não. Eu preciso que me ouça.


— Eu não quero.

— Sei disso. E mesmo assim, vou te pedir novamente que me

ouça.

Toda a descarga de adrenalina que me atingiu desde que eu

soube no avião o que acontecera, se foi. Eu me sinto vazio também.

— Eu não quero te ouvir, Zeus.

Ela se senta na cama e se encolhe, tomando distância.


— Não vou tocá-la contra a vontade, Madison. Você pode me

odiar o quanto quiser para o resto das nossas vidas, mas ouça o

que tenho a dizer primeiro.

— Nada vai mudar o fato de que você ficou comigo estando

comprometido com outra.

— Eu nunca vi Celine Gordon pessoalmente, Madison. E a única


razão de ter selado um acordo com o avô dela foi por vingança.
— O quê?

— O avô dela, Emerson Gordon, vem de uma família de


banqueiros, como a minha. Ele, o meu avô paterno e o materno, na

verdade. Havia uma rivalidade entre as famílias, mas


contraditoriamente, minha mãe, meu pai e o filho de Gordon, Adrian,
se tornaram melhores amigos. Quando ficou adulta, ela escolheu

um deles para se casar: meu pai e a amizade entre os três


continuou.

Tiro o paletó do terno e solto a gravata porque estou sufocando.


— O que isso tem a ver com aquela garota?

— Ouça-me. Com vinte e dois anos, eu e Ares não morávamos


mais com nossos pais, os dois mais novos, Dionysus e Hades, sim.
Era véspera de Natal e a família se reuniria para as festas de fim de

ano. Nem sempre isso acontecia, mas meu avô andava com a
saúde abalada, então naquele ano, decidimos nos reunir. Eu

cheguei antes dos outros, não me lembro por que razão e…


— Zeus?

Tenho meus cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça baixa.


Não costumo falar com as pessoas sem encará-las, mas as
lembranças que mantive enterradas por tanto tempo, vêm à tona

com força.
— Eu encontrei meu pai morto. Ele deu um tiro na cabeça na

biblioteca da nossa casa. Ao lado do corpo, havia uma carta de


despedida, dizendo que minha mãe o deixara para fugir com Adrian,

o filho de Gordon.
— Oh, meu Deus!

Mexo na pulseira do relógio de couro que está na minha família


há cinco gerações.
— Meu avô me fez prometer que riscaria o nome Gordon do

sistema bancário. Era a única vingança possível.


— Não podiam fazer nada contra os adúlteros?

— Não, porque ambos estavam mortos também. Na mesma noite


em que fugiram, sofreram um acidente de carro. Aparentemente,
Adrian corria muito e perdeu o controle do veículo em uma curva,

batendo de frente em um caminhão. Meu pai explicou na carta que


não decidiu tirar a própria vida porque foi traído e sim, porque minha

mãe estava morta. Se ela tivesse sobrevivido e o quisesse, a teria


perdoado.

— Zeus.
— Não estou contando isso em busca de solidariedade, Madison.
Do mesmo jeito que você, não costumo digerir a piedade muito bem.

— Continue.
— Eu tentei por anos, de todas as maneiras possíveis, comprar
as ações do GordonBank, mas o velho se blindou e nunca consegui,
até que há alguns meses, ele me propôs um negócio: eu me casaria

com a sua neta quando ela fizesse dezoito anos e em troca,


assumiria o controle do GordonBank ao redor do mundo. Disse-me

que queria conseguir um bom partido para aquela criatura, mas para
mim, estava tentando matar dois coelhos com uma cajadada só:
garantiria o futuro de Celine e ao mesmo tempo, teria alguém que

sabia o que estava fazendo para administrar seu banco.


— Não tinha outros herdeiros?

— Não. E também acho que não tinha noção do quanto


odiávamos sua família ou nunca me proporia algo assim.

— Acha que ele não sabia do caso de sua mãe com o filho?
— Não tenho certeza. Quero dizer, eles morrerem no mesmo
veículo não seria nenhuma surpresa, foram amigos a vida inteira e

Adrian nunca se casou.


— Mas Celine…

— Ele era pai solo. Parece que a mãe não estava interessada
nem mesmo em sua fortuna.
— Então você concordou com a oferta de se casar com ela.
— Concordei. Eu queria destruí-los e usaria de quaisquer meios
para isso.
— Disse que nunca a viu?

— Não pessoalmente e nem pretendia morar na mesma casa


depois que me casasse.

— Ele sabia disso?


— Sim, sabia, porque fiz constar do contrato. Achou normal.
Pensou que eu queria amantes, ou talvez que, com o tempo, a faria

minha mulher além do papel. Quem vai saber? Para a maioria das

famílias do nosso meio, o que importa são aparências. Muitos


casais nem dormem no mesmo quarto.

— Seus pais eram assim?

— Não. Para o mundo inteiro, pareciam absolutamente

apaixonados.
Capítulo 40

Madison

— Como é possível?
— Não sei. Eu pensei muito nisso ao longo dos anos e uma
traição por parte da minha mãe não fazia sentido nem para mim e

nem para os meus irmãos, mas quem pode ter certeza do que se
passa na cabeça das pessoas? Meu pai, eu sei que a amava, ou
não teria feito o que fez.

Meu Deus, que história triste.

— O que pretendia fazer com o banco?


— Desmembrá-lo. Vender pedaço por pedaço até que o

sobrenome Gordon desaparecesse da alta sociedade mundial. Foi

essa a promessa que fiz ao meu avô.


— Isso atingiria a garota e o tal Emerson, não o homem a quem a

vingança realmente deveria ser dirigida e que já estava morto,


inclusive.

— Nunca fui bom em devolver ofensas proporcionalmente,

Madison. A vingança está no meu sangue. Eu usaria de todos os


meios para retaliar. Eles destruíram meu pai com a traição. Tem

ideia de qual deve ser a sensação de ter sido enganado por anos

por sua esposa e seu melhor amigo?


Tento absorver tudo o que ele está me contando e sinto-me

solidária sobre a morte de seus pais, mas isso não muda nada entre

nós.
— Pediu que eu o ouvisse e o fiz. Sinto muito pelo que aconteceu

com sua família, Zeus, mas não muda o fato de que mentiu para
mim desde o começo e de que vai se casar com outra mulher.

— Eu não acabei de falar ainda. Como disse antes, não vim atrás

de sua solidariedade, vim para que me ouça. Se no fim, ainda quiser

me mandar embora, irei.

Concordo com a cabeça e desvio nossos olhos, focando nos

meus pés.
Mantenho os braços muito apertados em volta dos meus joelhos,

como se desse jeito eu pudesse me proteger dele, de nós dois.


Desse amor que mesmo após tudo, ainda parece transbordar dentro
de mim.

— O acordo de que lhe falei, aconteceu pouco antes de nos

conhecermos. Logo em seguida, no entanto, houve mudanças.

— Que tipo de mudanças?

— Eu tenho dois primos mais velhos. Eles sabiam tudo sobre

meus planos de vingança e principalmente com o que eu havia me


comprometido. Muito antes de fechar o pacto com o velho Gordon,

eles já vinham comprando ações do GordonBank, sem que eu

desconfiasse, através de empresas que lhes pertenciam, mas que

na superfície não tinha um vínculo direto nem com os Lykaios e nem

com os Kostanidis.

— Estavam enganando o patriarca.

— Isso mesmo. No dia em que nós dois voltamos dos Hamptons,


quando almocei com meus irmãos, eles abriram o jogo. Faltava

apenas um por cento para que tivéssemos a maioria das ações e

consequentemente, a diretoria do GordonBank na palma da mão.

— Mas o senhor Gordon não teria mais do que vocês de qualquer

modo?

— Não, ele possuía vinte e cinco por cento e mesmo assim, era o
acionista majoritário. Em empresas como a nossa, o número de
ações é muito diluído por diversos investidores ou mesmo outras

empresas menores. O que Odin e Christos fizeram foi um jogo de


paciência. Compraram pequenos lotes até que chegassem ao que

precisávamos. Mas como eu disse, faltava um por cento. Viajei com


Ares para Nova Orleans para resolver essa questão.
— E agora têm o total?

— Temos.
Novamente aceno com a cabeça.

— Isso também não muda nada.


— Como não?

— Sei que nosso relacionamento desde o início era sobre sexo e


eu disse isso para mim mesma o tempo todo, mas você foi meu
primeiro tudo e eu não pude evitar me apaixonar.

— Madison.
Eu me levanto e vou para o outro lado do quarto. Estar tão

próxima a ele e não poder tocá-lo é doloroso.


— Não sou o que a garota falou de mim e agora que estou mais

calma, percebo que aquelas pessoas rirem quando fui ofendida não
significa nada, nenhuma delas têm peso em minha vida. No fim,
quem me importa é a minha família: meus sobrinhos, mãe e irmã.
Desvio de seus olhos porque por um instante acho que noto

mágoa em seu rosto e aquilo é mais do que posso aguentar.


— Ainda que não tenha qualquer compromisso a mais com a tal

Celine, não foi honesto comigo no começo. Eu assumi que você era
livre, caso contrário, nunca teríamos nos envolvido.

— Na minha cabeça, eu era livre. Nunca vi aquela pequena


víbora ou a toquei. Não tínhamos nada além de um contrato firmado
através do responsável legal dela.

— Com validade jurídica?


— Ninguém poderia obrigá-la a se casar, lógico, mas tenho

certeza de que a garota faria tudo o que o avô mandasse.


Vou até a janela, olhando para a noite lá fora. Estou
completamente perdida. Tudo o que ele me explicou não diz muito.

— Acredito que não fosse sua intenção me enganar no começo,


mas o fez de qualquer modo. Ou talvez eu tenha me enganado. Eu

sabia que não deveria me apaixonar por você, mas mesmo assim,
aconteceu.

— Olhe para mim, Madison.


Ele se levantou, mas manteve a distância.
— O que teria acontecido se seus primos não tivessem comprado

as ações? Quebraria a promessa que fez ao seu avô?


— Se me perguntasse isso há alguns meses, eu diria que nada
me faria quebrar a promessa que fiz ao meu avô.
— E agora?

— Se precisa me perguntar, é porque ainda não está pronta para


ouvir a resposta.

Tento me manter forte, mas começo a chorar e fico com raiva por
me sentir tão frágil diante dele.
Zeus se aproxima, mas o paro com um gesto.

— Não faça isso. Nesse instante, eu te amo, mas também te


odeio. Eu não sou boa em confiar e baixei minha guarda para você,

o que só me fez ver o quanto me coloquei em suas mãos.


— Sei que está magoada e admito que errei ao não te contar a

verdade. Fui arrogante e achei que seria melhor resolver o problema


da compra das ações que faltavam antes de conversarmos, mas
isso não muda nada entre nós dois. Eu quero você.

— Está louco? Mesmo que nos acertássemos, é um banqueiro.


Todos os seus funcionários ouviram o que eu faço… fazia na boate.

Quando o boato se espalhar, vamos virar manchete em sites de


fofoca.
— Eu assisti às filmagens. Todos os que riram de você, serão

demitidos. Quanto a boatos, eu não dou a mínima, mas só para que


saiba, qualquer um que trabalha em minhas empresas assina um
acordo de confidencialidade antes de ser contratado. Se o que
aconteceu essa tarde vazar para a imprensa, se de algum modo sua

imagem for manchada, eu irei para cima do filho da puta fofoqueiro


com tanto empenho, que nada do que consiga ganhar do veículo

para o qual vendeu a notícia será suficiente para pagar a multa


contratual.
— Eu não tenho medo do que pensam de mim.

— Não?

— Não. Eu faria tudo de novo se o que estivesse em jogo fosse a


segurança e bem-estar dos meus sobrinhos.

— Então por que parece me odiar ainda?

— Eu não te odeio, só estou magoada. Quando ficamos juntos,

mesmo relutante, eu me senti como a Cinderela. Aquela garota me


trouxe de volta à realidade. Eu nunca vou pertencer ao seu meio. É

melhor pararmos por aqui.

— Está desistindo?
— Aconteceria de qualquer modo dentro de alguns meses.

— Não tem como saber disso, Madison. Ninguém tem como

prever o futuro. Há alguns meses eu vivia minha existência com a


cabeça cem por cento focada em vingança e de repente, você

apareceu.
— Eu não quero mais.

Vejo sua expressão transmutar para frieza absoluta.

— Temos um contrato.
— O quê?

— Eu insisti que terminássemos o contrato, mas você precisava

de uma rede de segurança. Sua desconfiança sobre mim, agora é a

minha arma.
— Vai me obrigar a cumprir o contrato?

— Não duvide disso por um segundo. Nunca vou forçá-la a fazer

sexo comigo, mas não vai simplesmente desaparecer da minha vida


porque decidiu isso. Eu não desisto do que eu quero, Madison, e eu

quero você. Só jogarei a toalha quando olhar para mim e me

convencer de que não podemos mais ficar juntos por não me amar,
nunca por medo.
Capítulo 41

Zeus

Não sei trabalhar sentimentos. Lido mais ou menos bem com


emoções, mas não tenho ideia do que fazer com o que estou
sentindo agora. É uma mistura de corte profundo no peito com

ardor.
Não. É dor.
Furiosa, incontrolável como um rasgar.

Eu não sou bom em perdoar e isso inclui a mim mesmo, mas

farei o que for preciso para tê-la de volta.


Depois que saí da casa de Madison, segui direto para a SIN.

Mesmo sem qualquer vontade de ir para aquele lugar, Ares me

telefonou dizendo que o que tinha para falar era sério e só poderia
ser dito pessoalmente.
Quando cheguei, não estava somente ele, mas Hades, Dionysus

e Odin.
— Como ela está? — Ares pergunta.

— Eu não quero falar sobre isso. O que houve de tão grave para

que todos estejam reunidos?


— Tem certeza de que é seguro falar? — Odin pergunta.

— Sim, por conta do sigilo que precisamos manter, há uma

varredura diária por busca de escutas aqui no escritório.


Depois que todos estão sentados, digo:

— Algum de vocês pode me explicar o que diabos está

acontecendo? Estou com uma dor de cabeça fodida e quero ir para


casa o mais depressa possível.

A caminho da boate, depois que Clark me passou o nome dos


funcionários que debocharam do escândalo do qual Madison foi

vítima, ordenei que ele encaminhasse todos para o departamento

pessoal, inclusive minha secretária. Ela, mais do que ninguém, por

trabalhar comigo há anos, não poderia ter sido tão filha da puta.

Os presentes sabiam que Madison era minha namorada e

desrespeitá-la como fizeram foi imperdoável.


— Adriel está morto — Ares responde.

— O coreógrafo?
Ele concorda com a cabeça.
— A polícia encontrou seu corpo. Informaram a tia dele, que ligou

para mim, por saber que era meu empregado.

— Sinto muito pelo seu funcionário, mas o que tenho a ver com

isso?

— Ele foi assassinado em um suposto assalto, Zeus.

— Ainda não estou entendendo.


— Ares me ligou assim que soube — Odin intervém. — Eu…

tenho métodos especiais e que dispensam mandados judiciais para

verificar celulares, quando necessário, então fiz descobertas

interessantes.

— Já entendi. Você hackeou[20] o telefone dele. E o que

encontrou?

— Foi ele quem entregou que Madison trabalhava aqui para o


velho Gordon. Há diversas ligações dele para a linha particular de

Emerson nos últimos dias.

— Tem certeza disso?

— Tenho, sim — meu primo responde.

— Sabe o que significa? Que o velho está tentando eliminar

pontas soltas — Hades diz.


— Não só isso — Dionysus sentencia. — Mostra que é capaz de

qualquer coisa para esconder seus rastros.


— No fim, o fruto não caiu tão longe da árvore. O maldito Adrian

e o pai são farinha do mesmo saco. Eu só me pergunto se alguém


que mataria para evitar um escândalo, supondo que ele estivesse
preocupado que Adriel desse com a língua nos dentes, do que mais

seria capaz para não ser desmascarado? — Ares questiona.


Odin me encara em silêncio e agora eu tenho certeza de que ele

sabe mais sobre Emerson Gordon do que qualquer um de nós.


— Preciso colocar guarda-costas cuidando de Madison — falo.

— Sim, é o melhor a ser feito, e só por via das dúvidas, vou


mandar alguém para o hospital para vigiar a irmã — Ares completa.
Todos os meus irmãos, apesar de eu não ter contado os detalhes,

sabem sobre a condição de Brooklyn.


— Por que não me diz de uma vez? — pergunto ao meu primo e

ele nem tenta disfarçar que sabe do que estou falando.


— Em algumas semanas, no máximo, você terá todas as

respostas. Agora, eu preciso ir.


Depois que sai, Hades pergunta:
— Do que vocês estavam falando?
— Eu não sei ainda, mas acho que é algo que ele descobriu

envolvendo o passado de nossa mãe.

— Não achei que fosse me atender. Sei que sou a última pessoa
com quem quer falar.
— Não, está enganado. É por querer demais que você esteja por

perto, que preciso manter distância.


— Não vou te forçar a me ver, Madison, mas não abrirei mão do

contrato se, ao fazer isso, significar o fim para nós dois.


Ela fica em silêncio e decido recuar.
— Aconteceu algo. Preferiria conversar pessoalmente, mas vou

respeitar seu tempo. Entretanto, nada do que você me disser vai me


impedir de protegê-la.

— Proteger-me? Do que está falando?


— Adriel foi assassinado.
— Oh, meu Deus! O que aconteceu?
— Poupe suas lágrimas, Madison. Conseguimos relacioná-lo ao

velho Gordon. Achamos que foi ele quem entregou que você
dançava na boate.

— Tem certeza? Mas por que faria isso?


— Eu chutaria por dinheiro.
— Ele disse que era meu amigo, Zeus. Como pôde?

— Amizades são postas à prova quando o que entra em jogo é o


dinheiro, baby. Mas não é com isso que estou preocupado. Por mim,

ele pode arder no inferno que é para onde espero que tenha sido
enviado. A questão é sobre as circunstâncias de sua morte. Foi

assassinado, o que significa que o meu inimigo é muito pior do que


eu pensava. A partir desse instante, há um carro posicionado fora
da sua casa. Nem você ou Eleanor devem sair, sozinhas ou com os

bebês, sem escolta. Também coloquei guarda-costas para cuidarem


de Brooklyn no hospital.

Para minha surpresa, ela não protesta.


— Acha necessário?
— Sim, eu acho. Não vou arriscar perdê-la, Madison. Não importa

o quanto negue isso nesse instante, você é minha.


— Domingo será a festinha dos gêmeos. Você e Joseph… hum…
serão bem-vindos.
— Tem certeza disso?

— Que serão bem-vindos, sim. Se é seguro mantê-lo tão perto de


mim, não, mas como minha mãe bem me lembrou, nunca fui uma

covarde.
Não, você não é, Madison. É a mulher mais guerreira que já
conheci.

E é a minha mulher.
Capítulo 42

Madison

Tento fingir que estou calma enquanto ando de um lado para o


outro verificando se está tudo bem na festinha das crianças, mas
por dentro, meu coração bate loucamente.

Antes do meu mundo virar de cabeça para baixo, eu havia


contratado uma empresa para organizar a comemoração do
aniversário dos gêmeos e agora toda a sala de estar está decorada

de palhaços vermelhos. Daqui a pouco chegará o animador e rezo

para que os pequenos convidados não sintam medo, pois Silas e


Soraya têm verdadeira adoração por palhaços.

Zeus mandou uma mensagem avisando que Larry está

estacionando.
No fim, vieram mais alguns bebês da vizinhança, cujas mães

Eleanor fez amizade ao passear com os gêmeos pelo bairro.


Então, além dos meus sobrinhos, que estão lindos de viver em

roupinhas brancas, há meia dúzia de pequenos.

Hoje, como se adivinhasse ser um dia importante, Silas deu seus


primeiros passinhos. Soraya, no entanto, não parece muito disposta

a deixar o chão e só acompanha o irmão engatinhando.

Eu li que alguns bebês andam até mais cedo do que um ano,


mas os médicos dizem que cada um tem seu próprio tempo. Não é

razão para ficar preocupada.

Eu gostaria que Brooklyn estivesse aqui. O médico me disse hoje


que acredita que está tendo progressos com ela, mas quando a

visito, não noto qualquer diferença.


Doutor Athanasios parece muito determinado a fazê-la voltar do

coma e no outro dia, o peguei olhando-a de uma maneira estranha.

Nada assustador, mas do jeito que um homem olharia para uma

mulher quando a quer, o que parece loucura porque não há

qualquer perspectiva de que minha irmã desperte tão cedo.

A campainha toca e meu coração tolo dispara.


— Ele chegou — falo com Eleanor.

— Acho que sim. Quer que eu abra?


— Não. Posso fazer isso.
Seco as mãos úmidas na saia do vestido pink e ando o mais

firme que posso, mas quando abro a porta e o encaro, tenho a

certeza de que nunca vou ser imune a esse homem.

Aconteça o que acontecer, Zeus será sempre o amor da minha

vida.

— Oi — falo, quase sem voz.


— Oi.

Seus olhos me devoram com a mesma ganância com que o

encaro e é tão fácil ler a fome ali, porque ela nada mais é do que o

reflexo da minha.

— Esse é Joseph — diz, mostrando o bebê em seu colo.

O garotinho é lindo, um pouco maior do que Silas, mas quando

me aproximo para falar com ele, agarra o pescoço de Zeus e se


esconde de mim.

— Ele não é muito sociável.

— Puxou ao tio? — falo, antes que consiga me controlar.

— Nunca fui antissocial com você.

Sinto meu rosto esquentar.

— A razão pela qual você não me afastava não pode ser


discutida na frente de menores.
Sem que eu preveja seu próximo movimento, ele se aproxima e

com o braço livre, rodeia minha cintura.


Não me beija na boca, e sim na testa, mas o tempo que demora

com os lábios na minha pele, assim como o aperto em minhas


costas, me faz ter vontade de chorar.
Zeus é parte da minha vida, não importa o quanto eu lute contra.

Quando nos afastamos, ele vê meus olhos marejados.


— Eu não vim para isso — diz.

— Acho que estou muito sensível por esses dias. Venha, entre.
Há mais crianças lá dentro.

Quando chegamos à sala em que estão todos reunidos, as mães


e babás que trouxeram seus filhos param de falar e eu levo poucos
segundos para entender a razão. Estão todas babando por ele.

Enrijeço a postura, louca de ciúme, mas mantenho a boa


educação e apresento-o — genericamente, porque de jeito nenhum

falarei o nome de uma por uma — a todas.


— Um papai solo? — uma das assanhadas pergunta.

— Não. Sou o namorado de Madison e esse é meu sobrinho,


Joseph.
Dá para ver a decepção no rosto delas enquanto nos afastamos

para procurar Silas e Soraya. Eu me viro para encará-lo.


— Por que disse aquilo? — pergunto quando chegamos ao

corredor.
— Porque você é minha.

— Anteontem me falou que estou sob contrato.


— Sugar baby ou minha namorada, você escolhe o rótulo,

Madison, mas eu não vou sair da sua vida até ter certeza de que o
que existe entre nós morreu.
Eleanor se aproxima e depois de cumprimentá-lo mais friamente

do que o habitual, fala com Joseph. Para nossa surpresa, o


garotinho se atira nos braços dela.

— Posso levá-lo para ver os gêmeos?


— Pode, sim — Zeus responde.
Depois que ela sai, não nos movemos. Os olhos presos uns nos

outros.
— Você me magoou. — digo.

Antes que ele possa falar, Silas aparece andando.


— Euuuuuusssssss! — grita quando o vê.

— Oi, garotão. Quer dizer que já está correndo por aí, é?


Ele se abaixa e meu sobrinho caminha com aqueles passinhos
de bêbado. Só para quando o alcança.

— Começou hoje — falo.


— E Soraya?
— Ainda não.
Como se soubesse que estamos falando dela, aparece

engatinhando. Eleanor está logo atrás, de mãos dadas com Joseph,


que já anda com bem mais firmeza do que meu sobrinho.

Zeus estica a mão e para nossa surpresa, ela, com a maior


dificuldade do mundo, se apoia na parede e se levanta. Quando
está de pé, nós três ficamos em expectativa.

Ela se solta da parede e ameaça andar. Cambaleia e eu prendo o


fôlego, mas aguardo.

E então minha menininha dá seus primeiros passinhos, mas ao


invés de mim, vai até Zeus.

— Você andou até o tio Zeus, meu amor — elogio, dando um


beijo na bochecha dela.
Joseph bate palma, como se estivesse feliz com a vitória da nova

amiga e Eleanor seca uma lágrima, porque minha mãe chora por
tudo.

— Ela veio para mim — meu grego diz, todo orgulhoso e sorrio
mesmo contra a vontade, porque é encantador um homem tão
poderoso se derreter todo por uma garotinha.

— Sim, ela foi para você — falo, encarando-o.


Ele me olha, meus dois sobrinhos abrigados em seus braços e
suas feições mudam.
Não está mais sorrindo.

— O que houve? — pergunto.


— Eu te amo, Madison. Eu nem sabia que era capaz de amar até

conhecer você. Eu te amo e isso não vai passar. Eu não quero que
passe.
Capítulo 43

Zeus

Eu não planejei dizer aquilo.


Com toda certeza do inferno, não planejei falar pela primeira vez

na vida que amo minha mulher, no meio de uma festinha de criança,


cercados por nossos sobrinhos e pela mãe dela. Entretanto, agora
que as palavras saíram, é um alívio fodido finalmente entender o

que é a montanha-russa emocional que estou sentindo desde que

voltei de Nova Orleans.


Pela minha visão periférica, noto Eleanor se afastar com Joseph,

deixando os gêmeos conosco.

— Você não precisa falar isso para me ter de volta.


Não é o que eu esperava ouvir.
Ela acredita realmente que eu seria capaz? Que para tê-la em

minha cama, fingiria sentimentos?


Será que depois do nosso tempo juntos, ainda pensa que sou um

canalha?

Eu me levanto sem olhá-la mais e de mãos dadas com os


gêmeos, afasto-me.

Meu celular toca e sei que é Dionysus. Ele ficou de vir me

encontrar porque além do meu sobrinho não ser muito sociável,


como Madison bem apontou, seu ânimo para brincadeiras tem prazo

de validade.

— A que horas quer que eu passe aí para pegá-lo? — pergunta,


quando atendo.

— Não precisa vir. Vou só deixá-lo brincar um pouquinho e depois


eu o levo para você.

— Está tudo bem?

— Sim. — Minto.

Desligo e sigo atrás das crianças, que se soltaram das minhas

mãos.

Soraya, muito animada com sua conquista de dar os primeiros


passinhos, agora não fica mais quieta.
Olho o ambiente à minha volta. Mães, babás e crianças e me
imagino daqui a alguns anos, comemorando o aniversário dos meus

filhos.

A imagem de Madison vem, mesmo que no momento eu não

queira pensar nela ou no futuro. Sim, eu errei para caralho ao

esconder minha situação com Gordon, mas não depende só de mim

tentar consertar as coisas.


Ela é uma mulher adulta e terá que criar coragem para arriscar.

Uma hora depois, após cantarem “parabéns para você”, preparo-

me para partir.

Joseph está dormindo no meu colo e depois de acenar com a

cabeça para algumas das pessoas presentes e falar com Eleanor,

vou à procura de Madison.

Ela está sentada entre duas mães, com Silas em seus braços,
também adormecido.

— Eu já vou — falo, só movendo os lábios.

Ela me olha como se quisesse dizer algo a mais, entretanto, só

acena com a cabeça em concordância.

Sua falta de atitude, de sequer se levantar para vir comigo até a

porta, me corrói por dentro e eu saio sem olhar para trás.


Talvez eu esteja enganado. A paixão que ela alegou sentir por

mim, não passa disso: paixão. Um nome mais bonitinho para


atração física.

Depois de deixar meu sobrinho com o pai, sigo direto para casa.
Normalmente, antes de conhecê-la, eu estaria trabalhando, mesmo

no fim de semana, mas hoje eu só quero esquecer.


Ou não pensar. Acho que esse é um termo melhor.

Então, assim que chego ao meu apartamento, tiro sapato, meias


e camisa e depois de me servir de uma dose generosa de uísque,

sento-me para observar da sala da minha cobertura, a tempestade


que começou a cair.
Sempre que está aqui, Madison vai lá fora, porque disse que

adora a vista.
Quando comprei esse imóvel, a única razão foi por se tratar de

um bom investimento, a conselho de um dos meus advogados.


De fato, poucos anos após pagar vinte milhões de dólares por

ele, valorizou para mais de o dobro[21]. Nunca foi mais do que isso

para mim: patrimônio. Por causa de Madison, no entanto, comecei a


reparar em detalhes que antes me passavam despercebidos.

Em como é agradável, nesse instante, olhar a chuva inclemente


bater na porta de vidro.
Levanto-me e abro-a sem me importar com o vento molhado que

atinge meu peito.


E é por conta do barulho da chuva, que quase não ouço a

campainha tocar.
Fico em dúvida sobre atender, porque só pode ser um dos
guarda-costas. É raro eles subirem e por hoje, já os dispensei, então

antes de seguir para a porta, confiro no celular se há alguma


mensagem urgente.

Não há, mas em seguida o interfone toca.


Vou até a cozinha.

— Boa noite, doutor Kostanidis. A senhorita Foster acaba de


subir.
Desligo e ando devagar até a sala. Ela não tocou a campainha
outra vez, como se estivesse esperando que eu me decidisse.
O porteiro sabe que sempre deve deixá-la subir. Ela inclusive tem

o código que abre o apartamento.


Minha pulsação acelera quando toco a maçaneta e me obrigo a

me acalmar.
Não é uma boa hora para nos vermos. Eu tenho ido contra minha
natureza nos últimos dias, respeitando seu espaço, quando só o que

quero é usar de todas as armas, qualquer arma, a sedução


inclusive, para convencê-la de que não há mais caminhos

separados para nós dois.


Quando finalmente estamos frente a frente, ela me encara,

parecendo um pouco ansiosa.


Há alguns respingos de chuva em sua roupa e cabelo. Madison
parece despida da costumeira petulância com que sempre me

enfrenta, mesmo em nossos momentos de intimidade.


São duas garotas: a gata selvagem e apaixonada que me entrega

na cama tudo o que exijo e a boa menina, tia e filha responsável que
só baixa a guarda para aqueles que, como bem me disse, são os
únicos que realmente contam em sua vida.
Nenhum dos dois fala e não confiando em mim mesmo, depois
de dar mais um gole no uísque, deixo a porta aberta e sigo para
dentro.

Ouço seus passos quando entra.


Vou até a porta que dá para a piscina e que ainda se encontra

aberta, e inspiro o cheiro da tempestade.


Não é o suficiente para controlar o desejo furioso que toma conta
do meu corpo. O que sinto não é uma fome só física, é uma

necessidade de tê-la em mim.

Saio antes que faça algo de que vá me arrepender, deixando que


a água me atinja.
Capítulo 44

Zeus

— O que está fazendo, Zeus? Saia da chuva! — ela diz, de


dentro da sala.
Coloco o copo de uísque sobre uma das muitas mesas que têm

aqui fora e volto-me para encará-la, o corpo encharcado.


— O que você quer, Madison?
Ela hesita, mas depois sai para a chuva também e em segundos,

o vestido rosa que usa está encharcado, moldando seu corpo.

— Você — fala, enquanto leva as mãos às costas e desce o zíper


do vestido. Depois, tira a calcinha e sutiã.

— Quer que eu te foda, é isso? — Livro-me da calça e boxer. Eu

me sinto completamente instável e nem um pouco disposto a


esconder isso. — Está oferecendo seu corpo porque também quer o

meu? Aqui vai um segredo: não é mais suficiente, porra.


A água escorre por nossa pele, mas ainda assim não nos

movemos.

— O que exatamente espera de mim, Zeus? Eu entreguei tudo o


que podia. Eu disse que te amo.

— Não sei nada de amor, além dessa combinação louca de

sentimentos e tesão que você me desperta, Madison, mas sobre


relacionamentos, eu não tenho dúvida de que tem que haver

confiança. Eu errei com você ao não ser cem por cento honesto

sobre minha vida e futuro e por isso, peço perdão, mas se espera
que vá correr atrás tentando convencê-la a se permitir ficar comigo

de verdade, enquanto continua se protegendo, não me conhece tão


bem assim.

— Eu estou aqui.

— Oferecendo-me sexo, como sempre fez. Fui eu quem correu

atrás de conhecê-la melhor. Nunca quis saber sobre minha vida ou

família. Até mesmo no dia em que fui me explicar sobre meu

passado, precisei insistir para que me ouvisse.


— Eu senti medo de me apaixonar.
— E eu não? Caralho, o único exemplo que tive de um
relacionamento homem e mulher, resultou com meu pai dando um

tiro na própria cabeça porque não concebia viver sem ela, mesmo

depois que teve certeza de que não só o traiu, mas que o deixou por

seu melhor amigo!

Ela me olha assustada, mas eu também estou apavorado com a

força dos meus sentimentos.


— Ao me manter parado e não tocá-la, eu sinto quase dor física.

Tudo o que quero é te deitar nessa mesa e te foder duro até que

nós dois esqueçamos até mesmo nossos nomes, mas eu preciso de

mais do que sua boceta, Madison. Eu quero tudo: um futuro para

nós dois.

— Eu não sei se consigo — diz, e é como levar uma facada.

Eu lhe entreguei tudo. Não tenho mais nada a oferecer.


Viro-lhe as costas e tomo distância.

Segundos depois, sinto seus braços em volta do meu corpo.

— Eu não sei se consigo confiar totalmente, mas eu vou morrer

tentando, porque a opção é ficar sem você e ser infeliz para o resto

da vida.

Sua boca passeia pela minha pele, que mesmo com a chuva
gelada, está febril. As mãos tocam meu peito, mamilos, abdômen e
eu sei que deveria pará-la, mas não quero.

— O que está me oferecendo, Madison?


Ela começa a masturbar meu pau, os dentes me mordendo com

força, em um contraste de prazer com dor, exatamente como somos


um para o outro.
Por todo amor que sintamos, não é fácil para nenhum de nós

baixar a guarda e confiar, mas a opção, virarmos as costas para


esse sentimento louco, intenso, é ainda mais fodida.

— Tudo, Zeus. Eu vou me despir de qualquer proteção, se fizer o


mesmo.

Eu me volto para encará-la e a pego no colo.


Sem testes ou preliminares, entro inteiro em sua boceta.
— Não sabe que já fiz isso há muito tempo? Você faz parte de

mim, Madison. Está no meu sangue.


— Zeus… — ofega, sem fôlego, segundos antes de eu tomar sua

boca.
Minha respiração também está pesada, em uma mistura que só

ela consegue extrair de mim: tesão, raiva, amor. Uma combinação


explosiva, assim como nós dois.
Ela treme em meus braços e desse jeito, entregues, sem as

armaduras que ambos sempre usamos contra o mundo, eu percebo


o quanto estive me enganando esse tempo todo.

— Sempre foi amor — falo, segurando sua bunda e fazendo com


que desça duro em mim. — Nunca foi só sexo, desde o momento

em que entrei no seu corpo pela primeira vez, eu sabia que tinha
chegado em casa.

Ela segura meu cabelo com força.


— Não brinque comigo.
— Nunca.

O ato é brutal, quase insano. Os beijos, lambidas e mordidas


transmutando de raiva para paixão.

Nossas mãos querem estar em todos os lugares ao mesmo


tempo, as unhas dela rasgam a carne das minhas costas, em meio
aos seus gemidos de prazer.

É uma busca desesperada pela conexão. Uma promessa


silenciosa, um acordo firmado com nossos corpos que, não importa

o que acontecer, nos amamos e ficaremos juntos.


Eu a como por minutos ou talvez por horas e o furor dentro de

mim não se acalma. Ela goza, duas, três vezes e mesmo assim eu
não paro.
— Eu te amo — ela repete, subindo e descendo em mim.

— Não posso mais imaginar minha vida sem você, Madison.


— Estou te entregando tudo, Zeus. Não me magoe.
Eu poderia lhe fazer promessas porque tão certo quando o sol
nascerá amanhã, eu cumprirei cada uma delas, mas nesse instante,

não tenho as palavras necessárias, então deixo meu corpo lhe


mostrar.

Ela está completamente entregue para que eu faça o que quiser


e eu nunca a senti tão minha quanto agora.
Entro em casa, sem sair de seu corpo e sigo para o meu quarto.

Deito-a de costas na cama e subo suas pernas para os meus


ombros.

— Abra os olhos.
Ela faz e a rendição que vejo naquelas profundezas verdes me

dá a certeza de que Madison é e sempre será a única para mim.


Dedilho seu clitóris enquanto meu pau entra e sai da boceta
apertada. A posição me enlouquece, porque consigo ir muito fundo

e ela geme alto a cada estocada.


Meu polegar ataca seu ponto de prazer sem trégua e com a outra

mão, acaricio a única parte do corpo dela que me falta tomar.


— Eu vou foder sua bunda. Eu preciso estar em cada pedaço
seu. Enchê-la em todos os lugares.

Ela geme e a boceta contrai.


— Sente tesão em me imaginar aqui?
Enfio o polegar de leve, alargando-a para mim.
— Eu quero você, não importa como. Em qualquer lugar. Sou

sua, Zeus.
Saio dela e a coloco apoiada em suas mãos e joelhos.

Mordo a bunda dura e chupo seu sexo encharcado de mel. Ela


rebola no meu rosto e eu recolho um pouco de sua excitação,
espalhando-a em sua abertura intocada.

Encaixo-me entre suas pernas e volto a comê-la devagar, indo

fundo, mas sem pressa e ao mesmo tempo, ponho um dedo em seu


canal virgem.

Ela me comprime com a boceta e a bunda, mas não me pede

para parar.

Eu a ataco por todos os lados, tomando-a agora com meu pau e


dois dedos, enquanto a mão alcança o clitóris rijo.

Ela rebola e preciso me concentrar muito para não me derramar

em seu corpo.
Quando goza novamente, eu me deito de lado e a trago comigo.

Saio de sua boceta e posiciono a cabeça do meu pau em sua

bunda.
Mordo-lhe o pescoço e orelha e ela ronrona como uma gata, mas

quando começo a empurrar, sua respiração acelera.


— Vou fazer gostoso, Madison. Vou te viciar em tomar meu pau

aqui. Ainda vai me cavalgar com essa bunda linda.

Levanto sua coxa livre, prendendo-a no meu antebraço e


masturbo seu clitóris. Continuo metendo centímetro por centímetro.

Ela choraminga, mas empurra para trás.

— Você me deixa louco, mulher — falo, lambendo seu lóbulo.

Quando sinto que está relaxada o suficiente, meto tudo, até as


bolas. Um dos meus braços está embaixo de seu corpo e ela o

morde com força.

— Estou inteiro dentro de você, gostosa.


Ela geme porque minha mão em seu clitóris continua trabalhando

para encontrar o equilíbrio entre prazer e dor.

— Que bunda deliciosa, amor.


— Mostre-me mais. Eu aguento.

Belisco seu clitóris ao mesmo tempo em que começo um vai e

vem leve.

Nós dois gememos alto quando ela começar a me apertar, mas


os seus gemidos tem um quê de dor.
— Concentre-se na minha mão em sua boceta. Quanto mais lutar

contra, mais vai doer.

Ela começa a lamber o braço que antes mordia, e eu engrosso


ainda mais dentro de seu corpo.

— Se quer que eu pare, o momento é esse, amor.

Ela não diz nada, mas pega minha mão, leva aos lábios, começa

a sugar meu polegar, do mesmo jeito que chupa meu pau.


— Madison…

— Possua-me, Zeus. Me faça todinha sua.

Meu maxilar está trincado tamanha a determinação com que me


obrigo a ir devagar, em uma foda muito lenta para os meus padrões.

Testo sair inteiro e voltar com um pouco mais de força.

Ela grita, mas empina o corpo para me receber.

— Eu preciso te foder mais duro agora. Quero gozar dentro de


você.

— Ai, meu Deus…

Quando começo a me movimentar em uma cadência cada vez


mais acelerada, sinto-a relaxar como lhe pedi e quase enlouqueço

quando vejo que puxa os próprios mamilos, me dizendo o quanto é

gostoso ser toda minha.


A sensação de estar preso dentro de suas paredes, de derrubar a

barreira final entre nós, me tira de órbita.


Sinto cada músculo dela me apertar e soltar, ordenhando meu

pau, enquanto a como sem pausa.

— Eu vou gozar — diz e pinço seu clitóris entre o polegar e o


indicador.

Não há mais como pegar leve, nem se eu quisesse, então,

levantado sua perna quase ao limite, eu a fodo sem pena.

Eu só consigo me segurar o suficiente para senti-la gozar e


então, me derramo em um orgasmo intenso, inundando-a com meu

esperma.

Saio devagar e deitando-a de costas, encaixo-me entre suas


pernas.

— Sou louco por você, Madison. Amor não chega nem perto de

explicar.

— Eu sou louca por você e não estou mais com medo. Eu quero
tudo também.
Capítulo 45

Madison

Na manhã seguinte

— Filha, eu não quero assustá-la, mas a assistente social ligou —

minha mãe diz, assim que atendo o telefone.


— O quê? — eu acabo de acordar e acho que não entendi direito.

— Dona Mirtes Prates ligou, dizendo que está vindo para cá.

Aquilo me desperta imediatamente e saio da cama em um pulo.


— Ela disse o que queria?

— Madison…

— Mãe, você está me assustando.


— Saiu uma reportagem em uma revista de fofoca dizendo que

você é garota de programa.


— Ai, meu Deus do Céu!

— Madison, o que aconteceu? — Zeus pergunta, ao mesmo

tempo em que o celular dele começa a tocar.


— Um instante — peço, parando-o com um gesto de mão. —

Mãe, eu chegarei o mais rápido possível. Telefone para o doutor

Rimes. Diga que eu pedi que nos encontrasse aí.


Desligo o aparelho e estou tão nervosa que não consigo

encontrar minha roupa.

Zeus encerra a ligação em que estava segundos depois.


— Eu já sei de tudo — fala.

— Então é verdade?
— É, sim. Ares acabou de me ligar. Odin já descobriu inclusive

quem foi a fonte da fofoca.

— Odin é seu primo?

— Isso. Até porque, ela nem fez questão de se esconder.

— Ela?

— Celine deu uma entrevista inventando essas mentiras.


— Se eu perder a guarda dos meus sobrinhos por causa dela,

vou matá-la, Zeus.


— Você não vai perder a guarda das crianças. Eu tenho um
plano.

— Plano?

Ele anda para o closet e vou atrás. Vejo que abre um cofre e tira

uma caixa de dentro. Quando me mostra o que é, minha boca abre

e não fecha mais.

— O que significa isso?


— Termine de se vestir, no caminho eu te explico.

— Será que o advogado vai para a casa da minha mãe como eu

pedi?

— Ares está ligando para alguém da banca das nossas

empresas, só por garantia. Dificilmente encontraremos um que será

especialista em vara de família, mas não estamos em situação de

escolher.
Cinco minutos depois, já vestidos, entramos no carro a caminho

da minha casa.

— Eu vou acabar com a raça dela, Zeus. Celine não sabe com

quem mexeu. Não há limite ao que eu faria para proteger minha

família.

— Aprenda a direcionar sua raiva, Madison. Nada que vale a


pena é feito às pressas. Nós daremos o troco, mas no tempo certo.
Agora, precisamos nos concentrar em nos livrar da assistente social.

— Qual é seu plano?


— A partir de agora, para o mundo, nós estamos noivos — ele diz

com a maior calma do mundo.


— Você enlouqueceu?
— Eles não têm provas sobre o que você fazia na boate ou até

mesmo se já dançou lá. Sem celulares, está lembrada? Tudo não


passa de fofoca. Mas como Ares falou, alguém que estivesse me

vigiando — porque eu não tenho dúvidas de que isso foi direcionado


a mim — poderia ter nos visto saindo de lá juntos, o que seria

natural, se estivéssemos namorando.


— Eu entendi e me parece um bom plano. Por que precisamos
dar o upgrade para noivado?

— Namoros terminam, noivados, dificilmente. Eu nunca me expus


com mulher alguma, quando aparecer anunciando casamento com

você, vão acreditar. Não acho que qualquer juiz vá levar a sério as
fofocas depois disso. Como um casal que fará os votos em breve,

estaremos mais do que aptos para criar Soraya e Silas.


Por mais louco que pareça, o plano dele faz todo o sentido do
mundo, mesmo que uma voz diga que ninguém vai acreditar que

Zeus Kostanidis se casaria comigo.


Antes que eu possa colocar em palavras o que estou pensando,

parado em um sinal, ele abre a caixinha e coloca em meu dedo o


anel com um diamante do tamanho do Grand Canyon, que havia me

mostrado há alguns minutos, em sua casa.


— Nossa, você pensou em tudo.

Ficou um pouco apertado e acho que ele notou.


— Posso mandar ajustar depois.
— Não é necessário. Não o usarei por muito tempo. Só até essa

confusão terminar. — Olho curiosa para a joia. — De quem é?


Seu rosto endurece.

— Era da minha mãe. Meu pai deu a ela quando se casaram.


Sinto muito, mas não tinha à mão outro que convencesse como anel
de noivado.

— Não se importa que eu o use?


Ele olha para frente, concentrado na estrada.

— Se me importo? Eu me envergonho de ter que colocar algo


que pertenceu àquela mulher em seu dedo.
Quando chegamos à minha casa, parece uma festa, porque os

três irmãos de Zeus saem de seus carros quase em sequência.


O que eles estão fazendo aqui?
Eu não os conhecia pessoalmente fora meu ex-empregador, mas

só alguém sem qualquer percepção não notaria que são muito


parecidos.

Todos vêm para cima de nós e mesmo ansiosa, fico um pouco


afogada naquele mar de testosterona.
Ares é o primeiro a se aproximar e beija minha bochecha.

Eu o encaro com os olhos arregalados.


— Você é a mulher do meu irmão. Família — diz, dando de

ombros.
Depois que os outros se apresentam, entramos em casa.

Quando abro a porta, pelo silêncio, sei que os bebês estão


dormindo, mas Eleanor anda de um lado para o outro, parecendo
muito nervosa.
— Filha, graças a Deus que chegou!
Apresento todos os homens Kostanidis e assim como faz com

Zeus, ela beija um por um. Se eu não estivesse tão acelerada, teria
achado engraçado ver a cara deles diante da informalidade de

Eleanor.
Cinco minutos depois, explicamos o plano a ela. O advogado da
empresa Kostanidis chegou logo que entramos, mas o doutor Rimes

ainda não.

— O que a senhora Mirtes disse no telefone, mãe?


— Que agora tinha uma prova de que você não poderia ser a

tutora das crianças e que viria com mais dois assistentes sociais

para levá-los para um lar temporário.

— Jesus Cristo!
— Acalme-se, senhorita Foster. As coisas não são bem assim.

Ela não levará os bebês — o advogado de Zeus diz, mas eu não

consigo acreditar.
Quando a campainha volta a tocar, mamãe vai até a porta e volta

apavorada.

— A bruxa chegou.
Capítulo 46

Zeus

Eu fui abrir a porta. Queria ser o primeiro a olhar para a mulher


que vem aterrorizando Madison há meses.
Não sei o que esperava. Talvez um satanás de saias, com chifres

e tudo o mais, entretanto, o que encontrei foi uma senhora por volta
de sessenta anos, magra, cabelos curtos e óculos. Nada de
especial.

Ela nem conseguiu disfarçar o espanto quando me viu. Não sei

se por me reconhecer ou por não esperar que Madison tivesse


alguém ao lado dela na hora em que viesse.

— Pois não? — pergunto com a expressão em branco.

— Eu gostaria de falar com Madison Foster.


— Seu nome por favor, para que eu possa avisar a minha noiva.

— Mirtes Prates.
Por trás da mulher, o advogado que contratei para cuidar do caso

dos sobrinhos de Madison, Rimes, vem caminhando até nós.

— Desculpe-me o atraso, doutor Kostanidis.


— Mas o que é isso? Por que tanta gente aqui? — A mulher

pergunta.

— Deixe-me apresentá-la, senhora. Esse é o doutor Rimes, o


advogado da minha noiva no que diz respeito à guarda das

crianças.

Abro a porta para que eles entrem e o desconforto da mulher, que


já era óbvio, só aumenta quando vê meus irmãos e também o

advogado da minha empresa, Hector.


— Eu quero ver os bebês — ela diz, tentando disfarçar o

nervosismo.

— Não tão depressa, senhora — Rimes fala. — Talvez possa me

responder algumas perguntas antes.

— Não tenho que lhe responder nada. Eu trabalho para o

governo, e somente para ele devo satisfações. Meu papel é


assegurar o bem-estar das crianças. Baseado no que saiu nos

jornais, a senhorita Foster não tem condições de manter a guarda


temporária dos menores. Vou recomendar ao juiz que sejam postos
para adoção. Claro que não será nada definitivo por enquanto, mas

um lar temporário, onde tenho certeza de que estarão melhor do

que ao lado de uma garota de…

— Cuidado — aviso. — Está na presença de dois advogados e

várias testemunhas. Ofenda Madison e tem minha palavra de que

vai trabalhar para o resto da vida para pagar uma indenização a ela.
A campainha volta a tocar e dessa vez, quando Eleanor abre a

porta há um homem, um completo estranho que também parece

advogado, e para a surpresa de todos, minha inclusive, três

policiais.

— O que está acontecendo? — pergunto.

É Rimes quem responde.

— Esta senhora estava sendo investigada há meses. Várias das


crianças que ela recomendou que fossem adotadas desapareceram

do sistema. Nunca mais se ouviu falar delas.

— O quê? Não podem me acusar de algo assim! Sou uma agente

do governo!

O homem que se apresenta como Grysson e que Rimes explica

ser promotor público, dá um passo à frente.


— Não, você é um câncer dentro da nossa instituição, usando

seu cargo para separar famílias. Sua função era cuidar do bem-
estar das crianças, nunca tirar aquelas que já estão sem os pais, de

seu núcleo familiar. — Ele vira para trás e diz aos policiais. —
Façam seu trabalho.
Os homens se adiantam.

— Mirtes Prates, você está presa. Tem o direito de permanecer


em silêncio. Qualquer coisa que disser pode e será usado contra

você em um tribunal. Você tem direito a um advogado. Se não puder


pagar um, o estado o fornecerá para você…

Enquanto todos na sala olham chocados a mulher que


representou o pesadelo encarnado de Madison ser presa, minha
mulher vem para perto de mim. Pode ser fora de hora, mas ela está

sorrindo, e fodam-se as convenções sociais, porque é o sorriso mais


lindo do mundo.

— Nós conseguimos.
— Eu disse a você que ninguém levaria seus sobrinhos embora.

Os policiais já estavam saindo com a assistente social algemada


quando Madison diz:
— Posso falar duas palavrinhas com ela?

Os homens olham para o promotor, que concorda com a cabeça.


— Madison — Eleanor chama.

— Um instante, mamãe. — Anda para perto da mulher algemada.


— A senhora tornou a minha vida um inferno por meses. Mesmo

sabendo que minha irmã estava em coma e do quanto eu fazia o


impossível para cuidar da minha família, não me poupou de sua

crueldade, porque agora ambas sabemos que o problema nunca foi


quanto eu tinha no banco, não é? Espero que fique presa por muito
tempo e pague por todo o mal que nos causou e às outras famílias.

Quanto a mim, lamento ter só dezenove anos, ou abriria um


champanhe essa noite para comemorar sua queda.

Depois que termina, ela volta a entrar na casa, andando em


direção ao quarto dos gêmeos.
— Tem certeza de que não há nada de grego nela? — Hades

pergunta, rindo, assim que Eleanor fecha a porta.


Meia hora depois, os advogados se foram, mas não meus irmãos.

Eleanor fez questão de servir bolo e café para todos.


É estranho para nós ter uma mulher mais velha presente,

organizando e nos dizendo onde cada um deveria sentar.


Acostumamo-nos a gerir nossas vidas sem uma figura feminina.
— Venham almoçar no próximo domingo. Eu adoro cozinhar e

não tenho para quem.


Madison chega de mãos dadas com os gêmeos, que olham um
pouco assustados, provavelmente por ter tanta gente estranha em
casa.

Quando me veem, no entanto, abrem o maior sorriso e eu me


sinto bem para caralho por eles enxergarem em mim alguém em

quem confiam.
Ando até onde estão os três e pegando os bebês no colo, beijo
minha mulher.

— Feliz?
Ela abre os braços, abarcando nós três.

— Muito. Nunca terei como agradecer o que fez. Eles são a


minha vida.

— E você é a minha, mas sei de um jeito que pode pagar essa


dívida.
— Qualquer coisa, Zeus.

Coloco os gêmeos no chão e me ajoelho.


— Madison Foster, eu me apaixonei por você desde o dia em que

dançou…
Ela tampa minha boca, olhando para nossa família atrás de mim,
rindo e fazendo que não com a cabeça.
— Eu me apaixonei por você desde o dia em que o destino a
colocou em meu caminho — corrijo-me. — Achei que era obsessão,
mas no dia em que te magoei foi que finalmente me dei conta de

que sempre foi amor. Case-se comigo, continue me ensinando a ser


alguém melhor. Eu não sou seu príncipe encantado, o que eu falei

naquele primeiro dia ainda é verdade, mas sou o homem que vai te
amar até seu último suspiro na Terra.
Ela começa a chorar e me levanto, porque só agora me lembro

que atropelei tudo. Nem anel tenho.

— Eu te amo. Sim, eu me caso com você — diz, quando a puxo


para meus braços.

— Sinto muito, eu nem comprei o anel.

Ela se afasta para me olhar.

— Não fique bravo, mas se estiver tudo bem para você, gostaria
de ficar com esse aqui.

— Tem certeza? Ele pertenceu a…

— Ele pertenceu à mulher que gerou o homem que eu amo. A


uma mulher que foi muito amada pelo pai de vocês. Será uma honra

usá-lo.

— Meus filhos, finalmente conseguiram se entender. — Eleanor


vem para nos abraçar. — Agora mais do que nunca, teremos
almoço no domingo.

— Parabéns, cunhada — Ares diz para Madison e depois me dá


um abraço. — Jesus, você sabe como surpreender. Era óbvio que

estavam caminhando para isso, mas foi muita mer… muitos

acontecimentos para um dia só.


— Não quis esperar — resumo, quando na verdade, a ocasião,

mesmo que não planejada, se mostrou perfeita, já que somente

Joseph e Brooklyn não estão aqui.

Depois de falar com Dionysus e Ares, eu a puxo para um canto.


— Se quer mesmo ficar com esse anel, vou mandar alargá-lo

para o seu tamanho.

— Quero sim, mas somente se não for magoá-lo.


— Eu não me importo, desde que você esteja feliz.

Ela fica na ponta dos pés, segura meu rosto e me dá um beijo.

— Zeus, sou a última pessoa do mundo para falar sobre perdão.


Até hoje, há coisas que meu pai me fez que não consigo esquecer,

mas ao menos, tento não alimentar tanta mágoa. É um veneno que,

infelizmente, somos nós mesmos que bebemos.

— Vou cumprir a promessa que fiz ao meu avô, Madison. Não


posso esquecer o que a ação dela e do Adrian causaram ao meu

pai.
— E depois será o fim da vingança?

— Eu poderia mentir e dizer que sim porque acabei de te pedir

em casamento, mas não quero que haja mais segredos entre nós,
então: não, não acabou. Além de desmembrar o banco, eu tenho

contas a acertar com Celine e Gordon. Eu não vou perdoar o que

eles lhe fizeram.


Capítulo 47

Madison

Cinco dias depois

— Desculpe-me, não estou entendendo. O senhor quer que eu vá


ao seu consultório? — pergunto ao médico que me atendeu aqui em
casa no dia em que desmaiei e que só depois descobri, é o “médico

da família” dos Kostanidis.


Começo a ficar ansiosa e giro meu anel de noivado, que Zeus

conseguiu que aumentassem em tempo recorde, no meu dedo


anelar da mão esquerda.

Senhor, não permita que ele tenha encontrado alguma doença

grave no meu sangue.


— O que houve, filha? — minha mãe pergunta do meu lado.

Eu odeio fazer isso, mas não quero assustá-la, então mais uma
vez uso os ensinamentos do meu pai e minto:

— Nada, mamãe. Não se preocupe.

Eu estava acabando de me arrumar para ir trabalhar.


Pensei muito a respeito de tudo o que aconteceu e em um

primeiro momento, queria passar longe da Kostanidis Group.

Entretanto, cheguei à conclusão de que era exatamente isso o que


aqueles dois infelizes Gordon planejaram.

Eu não tenho do que me envergonhar. Eles nunca provarão que

dancei na boate, mas mesmo que conseguissem, dançar foi


somente o que fiz e jamais me envergonharei disso.

Eu garanti comida na mesa da minha família e pude comprar


roupas e brinquedos para os bebês, além das medicações que a

minha mãe usa.

— Eu posso passar aí sim, mas estou indo para o trabalho,

agora. A que horas seria bom para o senhor?

— Quatro da tarde?

— Perfeito. — Terei que pedir a Zeus para sair mais cedo, mas
não tem jeito. — Pode me mandar seu endereço por mensagem?
— Providenciarei para que a minha secretária lhe envie. Tenha
um bom dia, senhorita Foster.

— O que houve, Madison? — Pergunta, assim que desligo.

— Nada, mãe. Sabe como são esses médicos mais velhos. Quer

me dar o resultado do exame de sangue pessoalmente.

— Não está mentindo para mim, não é?

Suspiro, desistindo.
— Eu não sei o que é, mãe. Ele disse que quer falar comigo

pessoalmente. Conversar sobre os exames, então passarei no

consultório mais tarde. Prometo que assim que souber dos

resultados, eu telefono.

Dou um beijo nela e depois vou até o quarto me despedir dos

bebês.

— Eu tenho que ir. É meu primeiro dia na empresa depois


daquele pesadelo e não quero dar motivo para que falem que estou

sendo favorecida pelo chefe — brinco, dando uma piscadinha para

ver se a faço relaxar.

Saio de casa e Larry está me esperando na porta, mas ainda

assim, sou escoltada pelos dois guarda-costas que Zeus colocou

para tomar conta de mim. Sei que um ficará vigiando Eleanor e as


crianças.
É horrível pensar que aquela gente, os Gordon, seriam capazes

de nos ferir, mas se eu for levar em conta que a cadela em miniatura


da Celine quase me fez perder a guarda dos meus sobrinhos com

as notícias falsas, dá para entender com que tipo de gente estamos


lidando.
Maior prova de que dinheiro e caráter não andam de mãos

dadas.
E por falar em dinheiro, eu achei que o escândalo na revista de

celebridades que noticiou que eu era garota de programa poderia


prejudicar de alguma forma as ações da Kostanidis Group, mas

Zeus me disse que nos três primeiros dias, caíram meio por cento e
depois normalizaram.
— Bom dia, Larry.

— Bom dia, Madison.


Eu e o motorista de Zeus chegamos a um acordo quanto ao

tratamento formal e finalmente ganhei a guerra de braço. Agora ele


me chama pelo primeiro nome.

Entro no carro e depois de fechar o cinto de segurança, penso


em todas as mudanças que aconteceram em minha vida, mesmo
que não necessariamente ligadas a mim.
A morte de Adriel ocupou uma notícia pequena nos jornais e pelo

que pesquisei na internet, a polícia não parece muito preocupada


em descobrir o culpado, alegando que foi um assalto que deu

errado.
Eu duvido. Adriel era bem esperto e sabia se cuidar. Acredito

bem mais na teoria de Zeus, que acha que o velho Gordon lhe deu
um “cala boca”.
Deus, como eu pude me enganar tanto com o coreógrafo?

Porque sobre dona Mirtes, ela nunca escondeu quem era. O


olhar dela era malévolo, e mesmo que eu não soubesse os motivos

reais, desconfiava de seu desejo obsessivo de levar os bebês para


longe de nós.
Se a morte de Adriel passou quase despercebida nos jornais de

Nova Iorque, o mesmo não se pode dizer sobre o escândalo


envolvendo a assistente social. Os noticiários noturnos anunciaram

sem parar sobre a funcionária do governo que fazia parte de uma


quadrilha, com células espalhadas por diversos lugares dos Estados

Unidos e até mesmo na Europa, que vendiam crianças de famílias


desfavorecidas para pais abastados que não podiam ter filhos.
Nem sei se é possível porque não entendo de leis, mas por mim

aquela infeliz pegaria prisão perpétua.


No meio de toda a sujeira que atravessei, a única notícia boa é
que o doutor Athanasios disse que acredita existir uma grande
chance que Brooklyn acorde a qualquer momento, pois seu cérebro

tem dados sinais de excitação parcial[22].

Eles podem ficar surpresos com isso, eu, não. Nunca duvidei de
que ela voltaria para nós. Minha irmã sempre amou a vida e sabe

que os bebês precisam dela.


Mesmo muito sem jeito, outro dia perguntei ao neurocirurgião
como poderia começar a pagar pela internação e tratamento de

Brooklyn. Ele me surpreendeu dizendo que estava trabalhando pro


bono, seja lá o que isso significa na área médica. Sobre advogados,

eu sei: é quando eles pegam casos sem cobrar, mas como isso
poderia ser aplicado em uma internação tão cara quanto a da minha

irmã?
A dívida com o antigo hospital, quando pensei em ir negociar,
Zeus me disse que quitou na integralidade há mais de um mês. Eu

queria ser mais orgulhosa e lhe dizer que não precisava, mas
quando lhe perguntei o valor e ele relutantemente me disse, eu

quase tive um infarto. Nem que eu trabalhasse dez encarnações,


conseguiria pagar aquilo.
Só percebo que cochilei quando Larry desliga o carro.
— Chegamos, Madison. Quer que eu a acompanhe, minha
querida?
Coloco a mão em seu ombro e o aperto.

— Muito obrigada pelo apoio, Larry, mas preciso fazer isso


sozinha. Estou apavorada, mas já sobrevivi a muito mais do que

algumas dezenas de funcionários esnobes.


Saio do veículo de cabeça erguida, olhando para frente.
Sei que desde o momento em que piso no andar de Zeus, as

pessoas me observam disfarçadamente.

Olhando-os nos olhos, cumprimento cada um e, sem pedir


licença, vou para a sala do meu noivo, como ele me pediu para

fazer assim que chegasse.

Depois que entro, sem nem falar com ele, recosto na porta,

puxando várias respirações e tremendo.


— Eu consegui, amor.

Ele vem ao meu encontro.

— Como eu sabia que faria. As pessoas podem ser cruéis, mas


não são loucas, Madison. Eles vão aprender a respeitá-la nem que

seja na marra.

Ele me puxa pela cintura e me dá um beijo tão demorado que


todo o nervosismo se vai.
— Preciso sair um pouco mais cedo hoje. O doutor Reeves me

ligou e falou que quer conversar comigo sobre os resultados do meu


exame de sangue.

— Exame de sangue? Como assim? O que houve?

— No dia que aconteceu aquela confusão e eu desmaiei, ele


colheu meu sangue, mas parece que viajou e esqueceu de me

telefonar. Hoje ligou e disse que quer me ver.

— Eu vou com você.

— Não precisa. É às quatro da tarde. Para você, meio do


expediente.

— Eu vou com você, Madison. Isso não está em negociação.

— Ainda acho que estamos perdendo tempo — falo, no elevador

do edifício do consultório do doutor Reeves.


Levamos quase quarenta minutos por conta do trânsito caótico e

quando sairmos daqui, não valerá mais a pena voltar ao banco. Ou

seja, nós dois perdemos praticamente o expediente inteiro já que


saímos às três do escritório.

— Sua saúde nunca será perda de tempo para mim, baby.

— Sugar baby, daddy — falo rindo e ganho uma palmada na

bunda. — Ainda estamos sob contrato. Não se esqueça.


— Mesmo? Então acho que vou fazer valer esses meses que

faltam.

— De que maneira?
Ele mordisca minha orelha.

— Use a imaginação, garotinha. É você quem tem que agradar

seu daddy.

Na hora que ele acaba de falar, nós dois gargalhamos, mas


quando chegamos no andar do médico, Zeus volta a ficar tenso.

A secretária nos encaminha para o médico, dizendo que sou a

última paciente.
Posso ver a surpresa no semblante dele quando vê Zeus ao meu

lado.

— Boa coisa que tenham vindo os dois juntos. Parabéns pelo

noivado, em primeiro lugar. Vou assumir que como veio com o


senhor Kostanidis, posso falar tudo na frente dele, certo, senhorita

Foster?
Eu, que já estava mais calma, começo a ficar ansiosa outra vez.

— Estou doente?

Só consigo rezar para que, se for grave, a minha irmã acorde


antes que algo me aconteça, para poder cuidar de Silas e Soraya

junto a Eleanor.

— De forma alguma. Eu a chamei aqui para dizer que a

senhorita… quero dizer, que vocês dois vão ser pais.


— O quê? — perguntamos quase em simultâneo.

— Sua noiva está grávida, senhor Kostanidis. Parabéns pelo

herdeiro a caminho.
Enquanto ouço vagamente o médico dizer que tem a indicação

de um excelente obstetra, que inclusive foi quem trouxe ao mundo

os filhos do primo de Zeus, Odin, eu só consigo encarar meu noivo

de boca aberta.
— E agora? — Pergunto.

Meu coração bate no ouvido. Como posso ser mãe? É muito

cedo. Jesus!
— E agora vamos ter que cuidar dos preparativos do casamento

mais rápido do que prevíramos.


— Por que está sorrindo e não apavorado?

— Porque a mulher que eu amo, com quem pretendo ficar

casado até o fim dos meus dias, está grávida do meu bebê. Como a

vida poderia ser melhor do que isso?


Capítulo 48

Zeus

Um mês depois

Finalmente chegou o dia em que eu e meus primos nos


reuniremos com a diretoria do GordonBank. A partir de hoje, o

mundo saberá que a Lykaios Kostanidis Trust, a empresa que

criamos especialmente para esse fim, é detentora de cinquenta e


um por cento da companhia centenária familiar daqueles filhos da

puta dos Gordon.

Christos chegou com Odin ao meu escritório uma hora e meia


antes do que seria necessário.
Também pediu que meus irmãos estivessem presentes, porque

precisávamos conversar sobre algo sério e eu me pergunto se tem a


ver com o passado da nossa mãe. Será que finalmente vou

descobrir o que meu primo vinha investigando?

Sei que Odin usa meios pouco ortodoxos quando quer cavar o
passado de alguém, mas o que mais poderia haver sobre a história

dela que ainda não saberíamos?

Confiro a hora tentando adivinhar se dará tempo de levar


Madison para jantar.

Ela anda faminta e com desejos. Depois do nervosismo pela

descoberta de que nosso herdeiro estava a caminho, já está


começando a se adaptar ao fato de que será mãe.

Eu sei que para ela foi um susto. Para mim também, embora não
possa mentir: estou feliz demais. No caso da minha mulher, no

entanto, ela tem planos de começar a universidade daqui a alguns

meses e mesmo que eu acredite que é totalmente possível conciliar

maternidade e carreira, obviamente alguns ajustes terão que ser

feitos.

As esposas dos meus primos, Elina e Zoe, que veio com Christos
nessa visita, se ofereceram para fazer um tour de compras para

nosso bebê, cujo primeiro ultrassom será realizado amanhã.


Ela tentou sair com a mãe e os gêmeos para comprar roupinhas,
mas é impossível porque Soraya e Silas agora já andam para todos

os lugares e Eleanor não dá conta.

— Hades acabou de chegar — Dionysus diz, mostrando o celular

com uma mensagem do nosso irmão.

— Logo, o suspense chegará ao fim. Se fôssemos pobres,

poderia ser que Odin tivesse descoberto uma tia rica que deixou
uma herança, mas não é o caso. — Ares tenta brincar porque é

obvio que o assunto é sério.

— Pronto. Estou aqui, mas não tenho muito tempo. — Hades

entra minutos depois e se acomoda em uma das poltronas.

— O que sabem da família materna de vocês? — Christos

pergunta.

— Perdemos o contato. Nossos avós faleceram logo depois de


nossa mãe — explico.

— Eu fui atrás do passado dos Gordon — Odin diz sem rodeio.

— Por quê?

— Porque você estava prestes a destruir a própria vida por conta

de uma promessa e eu queria passar aquela história a limpo antes,

já que algumas coisas não se encaixavam.


— O que não havia para se encaixar? Nossa mãe e o

desgraçado do Adrian enganaram papai a vida inteira. Fim da


história.

— Não é tão simples assim. Vocês sabiam que Adrian Gordon


tinha um namorado?
— O quê? — todos nós perguntamos quase ao mesmo tempo.

— Na verdade, eles eram praticamente casados, embora fossem


bem discretos. Celine é fruto de uma barriga de aluguel. Adrian

nunca se relacionou com a mãe dela e se tivesse que dar um


palpite, diria que foi exigência do velho Emerson Gordon, em uma

tentativa de conseguir um herdeiro, já que não tenho dúvidas de que


deveria ter conhecimento da identidade sexual do filho e
provavelmente o rejeitava por isso. Mas eu estou me adiantando. —

Odin pausa. — Fui atrás da família da sua mãe, uma prima, na


verdade, que se mudou de volta para a Grécia. Ela falou comigo

através de uma vídeo chamada, o que me permitiu gravar tudo.


Contou-me uma história que acho que nenhum de vocês conhecia.

Nem mesmo seu pai.


Ele pega um notebook e depois de um instante, a imagem
congelada de uma senhora aparece na tela.
— Esta é Lyra Angeloupolos, não só prima, mas que no passado

foi a melhor amiga da mãe de vocês. Ela já não mora aqui nos
Estados Unidos.

Ela tem o mesmo sobrenome da nossa mãe. Depois que meu pai
se matou, meu avô pediu aos quatro netos que parássemos de nos

apresentar como Angeloupolos. Nós a odiávamos, então


simplesmente esquecemos que temos outro sobrenome que não
Kostanidis.

— Comece, Odin — Christos fala. — Quanto antes souberem,


melhor.

Nos primeiros cinco minutos de gravação, a mulher conta sobre a


infância e adolescência dela e da minha mãe, perdida em
lembranças. Menciona inclusive que foi apaixonada pelo meu pai,

mas que ele só tinha olhos para nossa mãe.


Fala sobre os boatos de que havia um triângulo amoroso entre os

três melhores amigos, mamãe, papai e Adrian, mas que tudo não
passava disso: boato, porque desconfiava que Adrian, segundo

suas palavras, não gostava de garotas.


— Como isso é possível? — Hades é o primeiro a interromper.
— Ouçam. — Meu primo mais velho aconselha.

“Quando nós tínhamos dezesseis anos, Astra foi violentada.”


— Que porra é essa?
— Querem continuar? — Odin pergunta.
— O que eu quero é que me diga o que diabos está acontecendo,

Odin!
Ele pausa a gravação.

Ando de um lado para o outro da sala, completamente


enfurecido, sem sequer uma pista de onde aquilo vai dar.
— Eu não sei como contar isso a vocês de outra forma que não

sejam as palavras exatas que essa mulher me falou: sua mãe foi
violentada quando era adolescente e tudo leva a crer que foi o velho

Gordon.
— Foda-me!

— Jesus Cristo!
— Porra!
Eu nem sei quem de nós está dizendo o que, mas estamos

igualmente horrorizados.
— Ouçam-no até o fim — Christos torna a aconselhar.

Voltamos a nos sentar.


— Segundo essa prima, seus avós não acreditaram nela ou
talvez tenham preferido não acreditar. Sua mãe tinha dezesseis

anos e já mantinha relações sexuais com seu pai. Seus avós


sabiam que se ela fosse à polícia, além do escândalo óbvio, iam
descobrir que ela já não era “pura”, segundo as palavras de Lyra. O
que, aliado ao possível estupro, pensavam que levaria o sobrenome

deles para a sarjeta.


— Eles a traíram? Encobriram o crime?

As peças começam a se juntar na minha cabeça, mesmo que


ainda haja várias lacunas. O quadro que se forma é de um filme de
terror.

— Sim, traíram ao não a apoiarem na denúncia, que nunca

chegou a ser feita. Parece que sua mãe, mesmo sendo menor à
época, tinha bebido na noite em que foi violentada, o que fez com

que não se lembrasse exatamente do que aconteceu. Mas ela

acordou machucada, no porão da casa dos Gordon. Só estavam pai

e filho em casa e sabendo o que sabemos agora a respeito de


Adrian, só nos sobra o velho.

— Desgraçado. Eu vou matá-lo — Hades diz.

— Tem muito mais, ainda — Christos intervém. — Sem o apoio


da família, sua mãe escondeu por muitos anos a violência que

sofreu, até mesmo do pai de vocês. Somente os pais dela, Adrian e

Lyra sabiam disso.


— Espera. Tem peças faltando nessa história — Dionysus diz. —

Papai não sabia que Adrian era gay?


— Não, segundo Lyra. Na verdade, até mesmo ela somente

desconfiava. Só teve a confirmação no dia em que ele e sua mãe

morreram e vocês logo descobrirão o porquê — Christos afirma.


— Tudo bem. Continue.

— Para resumir, Adrian sabia que havia sido o pai que violentara

a mãe de vocês, mas guardou segredo porque temia a ira do velho.

Segundo esse namorado nos contou, ele não pôde mais viver com a
culpa e confrontou o pai, ameaçando-o. Vocês já eram todos

crescidos, Zeus, um homem feito. Foi somente semanas antes da

morte do pai de vocês. Acho que aquilo foi o começo do fim. Dias
depois, essa prima da sua mãe, Lyra, recebeu um telefonema em

que Astra dizia que finalmente ela poderia enfrentar o homem que a

violentou, porque Adrian lhe confessara que havia sido o pai dele,
Emerson Gordon. O que nem ela ou Adrian faziam ideia é que

naquela altura, o velho já tinha um plano para apagar os próprios

rastros. Se o segredo viesse à tona, seria o fim da família Gordon.

Então, assim que Adrian o confrontou dias antes, ele começou a


planejar como se livrar das acusações.

— Ele matou o próprio filho? — Dionysus pergunta.


— Nunca vamos saber, mas qual a chance de que depois de

saírem de uma discussão com o velho, sua mãe e Adrian morrerem

em um acidente de carro?
— Mas a história ainda não está completa. Nosso pai deixou uma

carta dizendo que tirara a própria vida porque mamãe fugira com o

amante, Adrian — falo.

Odin volta a mexer no notebook, mas dessa vez, adiantando a


conversa.

Quando pausa, ouvimos a mulher voltar a falar.

“Sei que vocês nunca vão me perdoar, mas eu estava doente,


tinha perdido todos os meus bens em um péssimo casamento.

Quando Emerson Gordon me ligou pedindo que dissesse a

Thadeas, o pai de vocês, que Astra e Adrian tinham um caso e

morreram porque estavam fugindo juntos, eu o fiz. Ele me deu três


milhões de dólares. Astra já estava morta e eu juro por Deus que

nunca imaginei que Thadeas se mataria…”

Eu não estou mais escutando. Saio da sala e entro no banheiro


em anexo.

Alguém bate na porta e eu ouço gritos.

Demoro um tempo para perceber que os rugidos de dor vem de

mim.
Meu pai e minha mãe foram mortos por conta de uma teia de

mentira, traição e ganância.


Ela foi traída por todos aqueles que deveriam amá-la.

A porta se abre e meus irmãos entram.

— Saiam. — Rosno.
— Não.

— Saiam, porra. Eu quero ficar sozinho.

— Não. — Repetem.

Eles me abraçam e eu aceito porque de algum modo sei que


nossa dor é na mesma medida.

— Eu quero que ele sofra. Quero que morra do mesmo modo que

nosso pai.
Olho para meus irmãos.

— Eu quero assisti-lo morrer. — Falo.

— Posso dar um jeito nisso — Odin diz.


Capítulo 49

Zeus

A reunião com a diretoria foi cancelada. Soltamos na imprensa o


anúncio de que somos sócios majoritários e não há nada que eles
possam fazer a respeito. Se fosse meu banco, eu jamais agiria

assim, pois causaria flutuação nas ações, mas como o plano para
diluir o GordonBank já está rodando, essa é a menor das minhas
preocupações.

Quando soube que já possuíamos a maioria das ações e que não

compareceríamos à reunião, o velho me ligou e disse:


— Sei reconhecer a derrota. Não sou mau perdedor. Você me

venceu no meu próprio jogo. Parabéns. O banco é seu.

— Você ainda não foi derrotado, mas será em breve.


Eu sabia, quando desliguei, que poucos minutos depois, Emerson

receberia uma encomenda em casa.


Odin enviou para ele, de maneira anônima, a declaração de Lyra,

revelando todo o seu passado de podridão.

Mas não apenas isso. Havia instruções do que fazer em seguida:


dirigir-se para um galpão, sem seguranças ou motorista. Um lugar

em que meu primo disse que ninguém sabia que ele possuía.

Um lugar que, há alguns anos, ele usou para livrar o mundo do

fodido monstro que tentou abusar de sua mulher[23].


Eu ainda acho que é muito pouco diante do que ele merece, mas

como meus irmãos disseram, punição alguma seria suficiente, então

estamos aqui, do lado de fora do armazém, enquanto o observamos

entrar.
As injustiças que minha mãe sofreu, a covardia dos nossos avós

ao se preocuparem mais com a opinião da alta sociedade nova-

iorquina do quem em proteger a menina deles. A omissão de Adrian,

que não cumpriu seu papel de melhor amigo e finalmente, a traição

final daquela que sabia de tudo e que optou por mentir, manchar

para seus filhos e marido a imagem da prima morta por ganância.


Incrivelmente, agora que sei da história completa, meu ódio é

direcionado somente para Emerson Gordon. Quanto aos outros,


sinto um nojo profundo.
E há algo mais, uma sensação que tenho combatido, mas que é

inevitável. Diz respeito ao meu pai. Se essa descoberta sobre o

passado da minha mãe tivesse acontecido antes que eu

conhecesse Madison, talvez eu conseguisse entender o desespero

que levou-o a tirar a própria vida após um mero telefonema,

acreditando piamente na traição do melhor amigo e da esposa


morta, sem sequer ir cavar a história.

Hoje, entretanto, que sei o que é amar sem medida uma mulher,

eu tento me colocar em seu lugar e tenho certeza de que nunca,

mesmo vivendo com Madison há poucos meses, acreditaria que ela

seria capaz de me enganar de maneira tão vil.

Isso me faz questionar se meu pai tinha mesmo certeza da

infidelidade dela e de Adrian, ou se escolheu morrer porque não


suportava a ideia de continuar vivendo sem tê-la ao seu lado,

independentemente da traição.

Nunca saberemos a resposta.

Outra coisa em que pensei é que para alguém com tantos

esqueletos no armário quanto Emerson, ele se arriscou ao tentar,

através de um contrato de casamento com a neta, me entregar o


controle de seu banco e colocar toda sua fortuna em minhas mãos.
Ou então, tinha certeza da impunidade e de que, após manter

seus crimes encobertos por tantos anos, nunca mais seria pego.
Será mesmo que ele pensou que eu não iria atrás para vingar

meu pai pela suposta traição de Adrian e mamãe? Acreditou que o


dinheiro seria mais valioso do que retaliar a morte do meu ídolo?
Porque agora sei que por mais que eu tenha dito que o que me

motivou foi a promessa que fiz ao meu avô, no fundo, o que eu


sempre quis foi vingar meu pai.

Gordon não tem a menor noção do que um Kostanidis é capaz


quando odeia. Nosso rancor não diminuiu com o tempo. Ele é

alimentado.
— Está na hora — Odin diz e todos nós saímos do carro. Meus
primos e irmãos.

Meu celular vibra e vejo que é Madison, mandando fotos das


roupinhas de bebê que comprou em seu passeio com Elina e Zoe.

Ela e nosso filho que ainda vai nascer são o elo que ainda me
mantém lúcido. Se não fosse pelos dois, eu seria capaz de cometer

uma loucura, acabando com a vida do desgraçado com as minhas


próprias mãos.
Hades, meu irmão cuja veia vingativa é tão latente quando a

minha, me segura pelo braço.


— Eu sei o que está pensando e não vou deixar que faça isso,

Zeus. Aquele filho da puta lá dentro destruiu nossa família. Ele


violentou e assassinou, ou mandou que assassinassem, nossa mãe.

Foi a causa secundária da morte do nosso pai e em seguida, do


nosso avô. Ele não vai obter a vitória final. Se o matar, a retaliação

não será completa.


Quando entramos no armazém, não há nada a não ser uma
cadeira no centro, onde Gordon está sentado. Ao seu lado, há uma

mesa com uma arma em cima.


O mesmo revólver com o qual meu pai se matou e que nos foi

devolvido pela polícia quando a investigação chegou ao fim.


Eu o guardei no meu cofre como uma espécie de motivador,
olhando-o de vez em quando parar me lembrar do porquê eu nunca

poderia desistir da minha vingança.


— Eu queria dizer… — Emerson começa, mas eu o interrompo.

Formamos um semicírculo a sua volta, todos de pé, somente


perto o bastante para podermos assistir.

— Pare. Não há nada que você fale que vá livrá-lo do seu


destino. É um desgraçado estuprador. Um assassino que para
encobrir seus próprios crimes, tirou a vida de uma mãe de família,

mas também do próprio filho, sangue do seu sangue.


— Você nos roubou tudo, Gordon, agora, está na hora de nos
devolver através de sua morte — Hades diz.
— Quando estiver morrendo, pense nela. — Dionysus se

manifesta pela primeira vez. — Astra. A jovem cuja inocência você


destruiu e depois roubou a vida.

— Um grego nunca esquece uma ofensa, Gordon — Ares fala. —


Olho por olho, dente por dente.
— Faça — Odin diz. — Não temos o dia todo. Se acredita por um

minuto que não distribuiremos a declaração de Lyra pelo mundo


inteiro, está enganado. Você pode não ser responsabilizado pelo

estupro de Astra, mas eles abrirão uma investigação pelos


assassinatos. Eu segui seu rastro e descobri seu passado de

podridão. Não duvide de que irei até o inferno, mas vou provar que
você os matou.
Ele nos encara por um tempo e depois observa a arma em cima

da mesa. Vejo que mesmo tão perto do fim, o miserável ainda tenta
pensar em uma saída.

Mas não há e todos nós sabemos que ele escolherá a morte do


que ter que lidar com o escândalo sobre ter assassinado o próprio
filho e sua melhor amiga, para encobrir seu crime.
Vejo a mão enrugada e trêmula segurar a arma e queria ser eu
mesmo a fazê-lo, mas Hades tem razão. Para a vingança ser
completa, deve ser assim.

Eu não desvio o olhar quando o vejo posicioná-la dentro da boca,


exatamente como meu pai deve ter feito no passado. Eu nem pisco

enquanto o assisto puxar o gatilho ou quando sua cabeça tomba


para trás.
Eu faço uma oração, entregando aos meus pais a nossa

vingança.

Pela primeira vez em mais de uma década, eu consigo pensar


neles sem mágoa e em silêncio, peço perdão principalmente a ela.

A mulher que eu julguei ter nos traído, mas que foi a única a ser

traída. A garota que nem mesmo em casa, onde mais deveria ter

sido amada e protegida, encontrou abrigo.


— Acabou — Christos diz. — Vocês precisam sair daqui.

— O que quer que eu faça? Que encontrem o corpo ou não? —

Odin pergunta.
— Eu quero que o vídeo do seu suicídio, assim como a

declaração de Lyra, seja distribuído nos meios de comunicação.

Ando para perto do homem morto sem sentir um pingo de pena.


Eu gostaria que ele pudesse continuar morrendo e morrendo para
sempre e mesmo assim, não seria o suficiente.

— Quanto a Gordon, eu não quero que encontrem seu corpo. A


família dele não terá um túmulo onde chorar. Ele não merece

lágrimas ou orações.

— Posso dar um jeito nisso — Christos diz e pega o celular.


Ele se afasta, mas não antes que eu o ouça dizer.

— Beau[24]? Preciso falar com você.

— Vão embora. Eu cuido daqui por diante — Odin diz.

Eu e meus irmãos saímos, mas do lado de fora do armazém, nos


encaramos em silêncio.

— Acabou — Ares diz.

— Sim, acabou — reafirmo.


Capítulo 50

Madison

— Eu esqueci de avisar que vinha dormir aqui — falo sorrindo,


assim que ele abre a porta da cobertura. Eu o vi chegar pela câmera
e estou muito ansiosa para mostrar as roupinhas de bebê que

comprei.
Levei uns dias até assimilar a ideia de ser mãe, mas agora me
sinto muito empolgada. Ansiosa como sempre, fico tentando

imaginar com quem o bebê vai se parecer.

Também já olhei decorações de quartos em cores neutras, já que


ainda não sabemos o sexo.

— Meus homens me disseram — ele responde sem andar até

mim e apenas aquelas poucas palavras me fazem ter certeza de


que há algo muito errado.

— Zeus, o que houve?


— Vem comigo? — pede, oferecendo a mão. — Eu preciso de

um banho.

Apesar do que diz, está agindo como um autômato, então tomo a


frente.

Tiro seus sapatos, meias, terno, gravata e camisa. Abro e desço

sua calça e boxer, mas quando vou ligar o chuveiro, ele me puxa
pela mão.

— Na banheira. Quero te segurar.

— A água vai ter que ser morna. Foi uma das coisas que aprendi
com Elina e Zoe hoje: nada de banhos de banheira escaldantes

durante a gestação.
Vejo-o temperar a água, experimentando-a.

Sua testa está franzida e ele parece concentrado.

— Não precisa ser gelada. Basta morna para fria.

Ele desliga a água.

— Mudei de ideia, vamos para o chuveiro. Não correrei riscos.

A maneira como ele diz aquilo, muito mais do que as palavras,


faz meu coração sangrar. É como se temesse que fosse acontecer

algo comigo ou com o bebê. Como se fôssemos seu oxigênio.


Por mais que tente esconder, ele está sofrendo e eu não tenho
uma pista do motivo.

Tiro minha roupa em tempo recorde e depois, de mãos dadas,

entramos embaixo da água.

Ele me abraça apertado.

— O que houve? — Pergunto.

— O quanto você me ama?


— Não sabe ainda?

— Eu preciso ouvir.

— Sem medida, Zeus. Como sempre foi entre nós dois. Não há

medida para o quanto sou louca por você.

Ele segura meu rosto e me encara por muito tempo.

— Eu fiz Emerson Gordon se suicidar hoje.

Sorrio, achando que é uma metáfora, mas quando vejo que seu
rosto está sério, desligo a água e pego toalhas para nós dois.

Depois que nos secamos, voltamos para o quarto e nus, deitamo-

nos na cama.

— Conte-me o que aconteceu.

— Não está horrorizada?

— O que quer que o tenha levado a isso, sei que houve uma
razão séria por trás.
— O desgraçado matou minha mãe.

— O quê?
Ele se deita de costas na cama, o rosto parecendo exausto.

Quando começa a me contar a história, eu preciso me sentar. O


horror que me causa é tão grande que tenho que me segurar para
não vomitar.

— Eu nem sei de quem eu tenho mais ódio. — falo, mas em


seguida, corrijo-me. — Do miserável do Emerson, com certeza.

Espero que ele passe a eternidade queimando no inferno. Mas já


estava estabelecido que ele era um monstro, se formos levar em

conta que mandou matar Adriel. Agora eu me pergunto sobre seus


avós, os pais de sua mãe. Como eles puderam? Como tiveram
coragem de virar as costas para a própria filha para protegerem o

sobrenome e patrimônio?
— Eu não sei, Madison, mas eles o fizeram e tudo o que posso

pensar é em como minha mãe sofreu e se culpou pelo que


aconteceu.

— E ainda tem a cadela da prima.


— Sim. — Ele se senta também, mas não me toca. — Não me
despreza pelo que fiz?

— Não. Eu teria feito o mesmo.


— Mas me disse para não guardar rancor.

— Quando achei que sentia por sua mãe. Quanto ao Gordon,


você não seria humano se não o odiasse, Zeus.

— Eu não só o induzi ao suicídio, Madison. Eu assisti sua morte e


faria isso novamente.

— E mesmo assim a dor não passou, né?


— Não. Nada conseguirá apagar o que ele nos fez. Suas ações
foram como um dominó, que por fim, destruiu tudo pelo caminho,

principalmente minha família.


— Eu não sei o que dizer.

— Houve uma razão para eu te contar tudo. Eu estou te dando


uma escolha se ainda quer ficar comigo depois de saber do que fiz.
Pensei muito na vinda para cá e cheguei à conclusão de que por

mais que se amassem, meus pais não foram amigos um do outro o


suficiente para revelar os segredos mais dolorosos. Seja pela razão

que for, mamãe nunca contou ao marido a violência que sofreu. Ele,
por sua vez, precisou somente que alguém lhe inventasse uma

mentira ao telefone para tirar a própria vida.


— Não acho que ele se matou pela suposta traição. — Falo.
— Sim. Foi a ideia de que nunca mais a teria.

— Acho que sim.


— De qualquer modo, muito dessa tragédia poderia ter sido
evitada se confiassem um no outro. Se quando descobriu quem a
violentou na adolescência, minha mãe tivesse contado ao nosso pai,

a história poderia ter sido diferente.


— Poderia sim, mas nunca teremos certeza. — Monto seu colo.

— Disse que está me contando tudo para me dar uma escolha?


— Isso.
— Nada mudou. Eu te amo e não penso menos de você. Gordon

teve pouco perto do que merecia.


— Ainda virá mais pelo caminho. Odin soltará os vídeos de Lyra,

falando da violência da qual minha mãe foi vítima e também que


Emerson pagou para a prima de mamãe mentir para o nosso pai.

— Por que simplesmente não o deixou vivo para ser punido por
seus crimes?
— Uma investigação por assassinatos ocorridos há mais de uma

década levaria muito tempo. Havia uma chance de que ele morresse
antes que pudesse pagar pelo que fez. Agora, ele perdeu a vida.

Não estamos quites, mas o mundo é um lugar melhor sem aquele


miserável nele.
— Olho por olho, como seu irmão disse?

— Exato.
— Falou que tudo virá à tona através dos vídeos. Isso vai atingir
sua família, também. Provavelmente refletirá nos negócios.
— Eu sei e estou preparado para o baque. Por muitos anos,

minha mãe sofreu em silêncio sem ter a ajuda de alguém. Sem que
qualquer um se levantasse em sua defesa. O que passou foi

horrível, mas agora o mundo inteiro vai saber que ela foi uma vítima
e não uma adúltera, como nossa hipócrita sociedade comentava nos
bastidores.

— E então, você terá feito justiça para ela.

— Sim, mesmo que tarde demais, eu terei feito justiça para ela.
— Eu te amo, Zeus. Nada do que aconteceu mudará o fato de

que te amo e quero passar o resto dos meus dias ao seu lado. Você

é o pai do meu filho e meu amor. Sempre terá minha lealdade.

Ele me abraça.
— Aconteça o que acontecer, prometa que sempre

conversaremos, Madison. Não importa o que você faça, ou o quanto

ache que errou, nunca guarde segredos de mim.


Eu sei o que ele está me pedindo. De uma certa forma foi a falta

de diálogo, confiança, ou quem sabe um pouco de cada, que

destruiu a vida dos pais.


— Tem minha palavra. Eu nunca te esconderei nada. Não sou

boa em começar a confiar, mas quando o faço, é um caminho sem


volta.

No dia seguinte

— Opa, temos uma surpresa. — O médico diz, todo animado, na

hora em que olha para a tela.

É o meu primeiro ultrassom e me sinto um pouco ansiosa.


— Está tudo bem com o bebê? — Zeus pergunta, tenso e

parecendo tentar adivinhar por que o médico está tão concentrado


na imagem.

— Bebês.

— O quê? — quase grito.


— São gêmeos. Tem casos na família, não é? Vi seus sobrinhos

no dia em que a visitei.

— Dois bebês? — repito, sentindo todo o pânico de quando

descobri estar grávida, voltar.


— Sim, temos dois aqui e dentro de pouco tempo, talvez

consigamos descobrir o sexo.

Há um barulho estranho vindo do aparelho, como um som de


alguém embaixo da água.

Eu não estou mais prestando atenção, apavorada demais para

conseguir comemorar, mas quando olho para Zeus, sua expressão

extasiada encarando a imagem atentamente, algo dentro de mim


muda.

Acordei diversas vezes durante a noite e em todas elas, seus olhos

estavam abertos, me observando. Não me disse o que estava


pensando, mas sei que era sobre as descobertas que fez ontem.

— Zeus — chamo.

— Vamos ter dois de uma vez só, Madison — diz, maravilhado.


Sinto meu coração apertar no peito. Não posso mudar tudo o que

ele sofreu em relação aos pais, mas posso lhe dar um futuro. Um lar
onde criaremos nossos filhos com amor.

Abro os braços e ele vem para mim.

— Sim, nós vamos ter dois de uma vez. E é apenas o começo.


Capítulo 51

Madison

Duas semanas depois

— Hey, irmã, estou muito orgulhosa de você. Doutor Athanasios


me disse que está se esforçando para voltar para nós e eu não

poderia me sentir mais feliz. Precisa acordar logo, Brooklyn. Há dois


bebês dentro de mim e eles vão querer beijar e abraçar a tia.

Tiro uma mecha de seu cabelo da frente da testa e prendo-a


atrás da orelha. Apesar de bem mais magra, minha irmã está linda

como sempre e se não fosse o barulho dos aparelhos, pareceria

somente adormecida.
— E por falar em doutor Athanasios, acho que ele está a fim de

você. A cada vez que venho visitá-la, ele está saindo ou chegando
do quarto. — Pego sua mão e beijo. — Como lhe disse antes, meu

casamento será depois de amanhã e seria perfeito se pudesse ir,

mas entendo que precisa de mais tempo antes de acordar. Não tem
problema. Vou filmar tudo e depois poderá assistir. Silas, Soraya e

Joseph, o sobrinho de Zeus, serão daminha e pagens e torço para

que não façam uma bagunça na hora de entrar. Eles estão tão
lindos, Brooklyn. Eu mostro fotos e vídeos seus que fizemos e agora

eles apontam e dizem “mamãe”. Volte para nós, irmã. Precisamos

de você.
Ouço a porta se abrir e quando olho para trás, vejo o médico que

se tornou como que a sombra dela.


— Olá, doutor Athanasios.

— Madison, como vai? Tem um minuto para conversar?

Ele fala comigo, mas olha para ela e eu quase sorrio.

Se eu tinha alguma dúvida de que estava enamorado pela minha

irmã, terminou agora.

— Claro que sim.


Depois de beijá-la na bochecha, sigo-o pelo corredor. Ele me leva

para uma sala que parece de consulta, mas que sei que não é a
dele, pois já estive lá com Zeus e fica no último andar do hospital.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, ansiosa como sempre,

mas antes que ele possa responder, pergunto. — Se importaria se

eu ajeitasse os livros naquela estante?

— O quê?

— Eu acho que sofro de TOC e não vou conseguir me concentrar

na conversa se não estiverem alinhados.


— Fique à vontade — diz e pela primeira vez desde que o

conheci, quase sorri.

Dois minutos depois, volto a me sentar.

— Pronto. Pode falar.

— Não é a primeira vez que conversamos, mas nunca nos

aprofundamos sobre o estado de sua irmã, tratando somente da

evolução do quadro dela. O que sabe sobre coma?


— Assim que Brooklyn foi ferida e os médicos declararam que

estava em coma, eu pesquisei a respeito. Sei que chamam de coma

quando a pessoa fica inconsciente por disfunção ou lesão cerebral e

não é capaz de despertar e responder a estímulos.

— Isso mesmo. Na maioria das vezes, pacientes em coma

perdem a habilidade de raciocinar e não conseguem ter noção do


que acontece ao redor. Há os pacientes em coma profundo, que
não demonstram qualquer consciência, e os que, como lhe expliquei

anteriormente, se encaixam no caso de Brooklyn: vivem em um


estado de excitação parcial. Eu fiz alguns testes para confirmar qual

era a natureza e o grau do coma dela.


— E? — pergunto, sentindo meu coração disparar.
— Em quase todos os quadros, o fluxo de energia cerebral indica

a possibilidade de recuperação. Para simplificar, esses testes dizem


se há chance de que o paciente vá acordar.

— Por favor, eu não aguento esse suspense. Ao mesmo tempo


em que quero que me dê a resposta para minha angústia, temo

bater no senhor se não for a que espero.


— Os resultados da sua irmã mostraram que o fluxo de energia
cerebral dela está próximo a oitenta por cento. Para que tenha uma

noção do que estou falando, quando o paciente tem um número por


volta de quarenta e cinco por cento, já sabemos que há uma grande

chance de que ele acordará.


— Ai, meu Deus!

Eu começo a chorar e ele parece constrangido. Oferece-me um


lenço e espera pacientemente até que eu me acalme.
— Sinto muito, mas o senhor me deu a melhor notícia que eu

poderia desejar.
— Mas eu não seria completamente honesto se não lhe disser

que pode haver sequelas.


— De que tipo?

— Ortopédicas, principalmente, por desuso muscular. Perda de


memória, também. Tudo depende do quanto o cérebro foi atingido.

A verdade é que em relação ao coma, temos mais perguntas do que


respostas, mas não foi para lhe explicar isso somente que lhe

chamei. Ontem, Brooklyn se sentou sozinha na cama[25].


— O quê? Isso é possível?

— Sim, é possível. Já tive vários pacientes com o mesmo


comportamento. Ela também apertou meus dedos quando eu — ele

tosse —, eu… hum… segurei sua mão para verificar se estava tudo
bem com a pulsação.
Nossa, eu não sou boa em inventar mentiras instantâneas, mas

esse médico é ainda pior. Verificar pulsação com aquele tanto de


aparelho monitorando-a no quarto?

Disfarço um sorriso e deixo passar, porque o que ele me disse é


muito mais importante do que o grego estar a fim por ela.

— Isso significa, com base na minha experiência — continua —,


que ela pode voltar a qualquer momento.
— Eu vou me casar depois de amanhã e em seguida, viajarei
para a ilha do meu futuro marido na Grécia, em lua de mel, mas na
hora em que ela despertar, preciso de sua palavra de que me

avisará imediatamente. Eu tenho rezado por isso desde que ela foi
ferida, doutor.

— Será a primeira pessoa a quem contarei, Madison.

Naquela mesma noite

— Ele tem uma ideia de quando acontecerá? — Zeus pergunta.


— Não teria como, eu acho, mas de qualquer modo, eu saí do

hospital quase flutuando de felicidade! — Fico envergonhada


quando uma lágrima escorre na minha bochecha.
Estamos no jantar somente para a família que Elina, a esposa de
Odin, nos ofereceu na casa deles.

O somente para a família, na verdade, é uma verdadeira loucura


de crianças por todos os lados, porque tanto ela quanto Zoe

também tem gêmeos e tudo o que posso pensar é em como será no


Natal daqui a alguns anos.
Jesus!

Todos os irmãos de Zeus estão presentes, assim como minha

mãe, que parece muito animada.


— E é para comemorar mesmo — Zoe diz. — Sua irmã vai

conseguir, Madison. Eu sempre a coloco em minhas orações.

— Ele disse que mesmo que ela volte, levará tempo até se

recuperar totalmente, mas eu não me importo. Eu só a quero


conosco.

— Nós todos queremos, filha — mamãe diz.

Ouvimos uma gargalhada de criança e quando olho para trás,


percebo que é Joseph agarrado nas pernas da nova babá.

— Ele parece adorá-la — comento com Dionysus, que observa a

cena de testa franzida.


— Quem diria que depois de quase matar a mulher atropelada —

Hades debocha —, você teria nela a melhor babá que pudesse


desejar para o seu filho.

— Sim, ele parece adorá-la — o pai do bebê diz, de maneira

enigmática.
Horas depois, quando já estamos no carro, depois de deixarmos

os gêmeos e Eleanor em casa, junto com as duas babás que Zeus

contratou para cuidarem dos meus sobrinhos, eu cochilo recostada

no ombro do meu noivo.


— Eu estou tão feliz que tenho até medo — digo.

— Não tenha. Eu não posso garantir uma vida de sonhos, mas

posso te dizer que estaremos juntos a cada passo, baby.


Capítulo 52

Zeus

Dia do Casamento

— Se andar mais alguns passos vai furar a porra do chão, Zeus


— Ares debocha.

— Só estou um pouco ansioso.


— Um pouco? — Christos ri. — Sei. Nós já passamos por isso,

primo — fala, fazendo um gesto de cabeça para Odin.


— Está na hora — Dionysus avisa e meu sangue ferve.

Daqui a alguns minutos, eu e minha Madison nos tornaremos

oficialmente marido e mulher perante o mundo.


Sigo para o lado de fora, no jardim da casa que acabamos de

comprar, sem tomar conhecimento dos convidados. Foi montada


uma estrutura aquecida porque ainda faz frio e Madison não quis se

casar na igreja.

Ela não se converteu à minha religião, então a nossa união será


celebrada por, além de um juiz de paz, um padre da igreja ortodoxa,

somente em forma de benção, já que ela me disse que não segue

uma fé em particular.
Apesar disso, por se tratar do mesmo celebrante que oficiou o

casamento dos meus primos, seguiremos todos os ritos da minha

igreja, inclusive o ritual da coroação dos noivos.


É um dos pontos mais importantes no casamento ortodoxo.

Cada um de nós receberá uma coroa dourada, que simboliza a


honra no matrimônio.

Os padrinhos cruzam-nas nas cabeças dos futuros cônjuges,

segurando uma vela e a fita que une as coroas, em uma procissão

em torno do altar.

Depois, os noivos bebem o vinho na mesma taça e dão três voltas

no sentido contrário ao de um relógio ao redor do analói, que é a


mesa onde fica o Evangelho e a cruz. O sacerdote é quem nos
guiará. Ele também carregará incenso, que serve para purificar os
objetos sagrados em cima da mesa.

A música começa a tocar, mas eu só tenho olhos para a mulher

linda que vem para mim.

Minha garota atrevida, dançarina sexy, sugar baby, meu amor.

Minha única.

Ela ia entrar sozinha, mas decido buscá-la para percorrermos de


mãos dadas o caminho até o altar, porque é assim que será a vida

inteira.

Juntos, lado a lado.

Talvez tropecemos várias vezes, é possível que caiamos em

alguns buracos ocasionalmente, mas sempre e para sempre, juntos.

— S'agapo, Madison — digo, assim que a alcanço, quebrando o

protocolo e beijando-a com a fome costumeira.


— Eu também te amo, meu Zeus.
Grécia

Lua de Mel

— É surpresa! — ela grita do banheiro da nossa suíte, em minha


ilha na Grécia, e balanço a cabeça sorrindo, sentado na cama.

Madison me atiçou o voo inteiro, me provocando de todas as


maneiras possíveis, mas não permitiu que fôssemos além de um

beijo. Agora estou aqui, morrendo de tesão e esperando para ver o


que ela vai aprontar.
A porta do banheiro se abre e com a luz do abajur acesa, consigo

ter uma boa visão da minha deusa.


Eu sabia que o que quer que estivesse planejando, a noite seria

uma delícia, porque Madison, que sempre foi uma verdadeira gata
selvagem na cama, tem andado com um apetite sexual insaciável
depois que engravidou. Entretanto, nada me preparou para a

lingerie cor-de-rosa e preta, com lacinhos e babados. Ela prendeu


os cabelos em trancinhas de cada lado dos ombros.
E a coroação de tudo é o despontar da barriga redonda dos

nossos bebês.
Eu me levanto e ando até ela.

— Jesus, mulher, você faz com que eu me sinta um pervertido,


mas está gostosa demais com essa carinha inocente.

— Estou te presenteando com um bônus sugar baby. Somente


para clientes especiais.
— Eu nunca sei o que esperar de você, Madison. Acho que foi

isso o que me fascinou desde o início.


— É um elogio?

Mordisco sua boca.


— No meu mundo, sim. Eu adoro que me surpreenda. Está um
tesão, esposa.

— Eu te amo, mas a surpresa não acabou. Sente-se, daddy.


Ela me empurra de volta para a cama, enquanto observo aquela

bunda empinada se afastar para programar o celular.


Uma música sensual tem início e ela mexe os quadris, levando

poucos segundos para me deixar louco.


— Deveríamos instalar um poste em nosso quarto, na casa nova.
Ou fazer um quarto especial só para brincadeiras. — diz, sorrindo.
Eu não consigo falar, completamente hipnotizado pela beleza
exuberante da minha esposa.
— Espero que essa dança não vá demorar muito, Madison. O

cliente aqui está prestes a quebrar as regras.


Ela para e coloca um dedinho na boca.

— Mesmo? Então vai dispensar meu primeiro striptease com


música?
Engulo em seco, quando, ainda dançando, ela brinca com o

fecho frontal do sutiã.


Lambo os lábios, o pau duro como pedra, já antecipando sentir os

mamilos inchados em minha boca porque não me canso de chupar


aqueles peitos lindos.

Ela abre o sutiã e os seios se descortinam para mim, ainda


maiores do que antes de engravidar.
Avanço um passo e noto sua respiração acelerar.

— Tire a calcinha, amor.


Sem deixar de me encarar, ela o faz.

A boceta de pelos curtinhos se mostrando em toda a plenitude.


Estou nu, meu pau apontando para o meu abdômen e quando me
aproximo, ela me toca.
Envolvo sua cintura com um abraço e com a outra mão, a ergo
pela bunda.
— Por que nunca é doce e suave entre nós? — pergunto.

— Porque não conseguimos resistir um ao outro. Eu sempre fui


sua, Zeus.

As bocas se consomem mutuamente em um frenesi impossível


de ser controlado. As línguas se provocam.
Ela me mordisca o lábio e depois, começa a descer devagar no

meu pau.

— Não deveria ser assim.


— Quem se importa com regras, marido?

Eu a fodo por um tempo, mas depois mudo de ideia.

— Será a única noite de núpcias que terá na vida, senhora

Kostanidis. Vamos fazê-la inesquecível.


Ela olha meu pau e lambe os lábios.

Deito-a na cama e afasto suas coxas.

— Eu quero te chupar.
Olho para baixo e observo-a tocar a boceta, embebendo os

dedos com seus sucos. Ela os traz para meus lábios.

— Depois pode ter o que quiser de mim, mas agora, eu não


posso esperar. Quer meu gosto? Prove-me.
Sugo um por um de seus dedos, faminto.

Ela puxa meu rosto para que a beije.


— Preencha-me, Zeus. Mostre-me mais uma vez o quanto sou

sua.

Seguro suas coxas em meus antebraços e testo a cabeça do


meu pau apenas uma vez em sua abertura estreita, antes de

percorrer todo o caminho dentro de seu corpo.

Ela tenta se mexer, mas não permito, dobrando suas pernas ao

limite.
— Diga-me para parar se doer, caso contrário, vai aguentar tudo.

Pediu para te preencher? Vou comer essa boceta até nós dois

desmaiarmos.
Entro e saio de seu corpo, o ritmo acelerando a cada gemido. Já

nem sei mais se são meus ou dela.

Nosso ato é, como sempre, uma mistura de tesão incontrolável e


amor que beira a insanidade. Basta que nossas peles se encostem,

que o desejo nos engolfa sem que possamos fazer nada a não ser

nos render a essa ligação intensa.

— Mais forte.
— Não quero machucar os bebês.

— Você nunca me machucou.


Fodo-a duro e profundo e ela choraminga, se contorce, pedindo

por mais.

Massageio seu clitóris, adorando vê-la toda abertinha para mim, o


sexo cor-de-rosa e pequeno sendo alargado pelo meu pau.

Ela murmura palavras safadas misturadas a juras de amor.

O bater das peles é lascivo, o calor que emana dos dois

superaquecendo corpos e corações.


Nenhum de nós quer parar, porque quanto mais nos devoramos,

mais a fome aumenta.

Mamo seus peitos e ela se aperta à minha volta.


Sei que seus seios estão sensíveis porque na semana passada

ela gozou no meu colo, na sede do banco, quando abri sua camisa

e os chupei.

— Ahhhhh…. vou gozar — geme quando agarro o mamilo


durinho entre os lábios.

Começo a fodê-la mais devagar e profundo porque quero

saborear cada segundo de seu clímax.


Ela massageia o clitóris porque sabe o quanto isso me

enlouquece.

Volto a imprimir um ritmo intenso. Madison pede mais.


Eu engrosso dentro de sua boceta e sei que estou a um passo do

orgasmo.
— Goze para mim. Sou louco por você, esposa.

Ela ofega, jura seu amor e se entrega.

Sua rendição é o gatilho para enchê-la com meu sêmen.


Eu me derramo dentro dela e mesmo depois de muito tempo, não

consigo sair.

— Eu sou seu, Agapi Mou[26]. Para sempre. Nessa vida ou em

outra, sou seu.


Capítulo 53

Madison

Um mês depois

— Madison?
— Zeus, o que houve?

— Sua irmã acordou.

— O quê?
— Acho melhor vir me encontrar no hospital.

— Você está aí?

— Sim, vim visitá-la.


— Chegarei o mais rápido possível.

Enquanto desligo o computador da aula online que estava

assistindo, me pergunto o que devo fazer primeiro.


Trocar de roupa ou telefonar para a minha mãe?

Decido-me pela roupa e em tempo recorde, visto um jeans, calço


tênis e pego um casaco leve.

O meu coração erra as batidas enquanto desço a escadaria da

nossa nova casa correndo.


Abro a porta e cumprimento os guarda-costas.

— Preciso que me levem para o hospital. Minha irmã acordou. —

Falo e eles logo se põem em ação.


Não há maneira de que eu vá esperar Larry chegar porque ele

deve estar com Zeus no hospital.

Eu ganhei um carro do meu marido, mas não sei dirigir, então,


por enquanto, preciso de um motorista.

Entro no banco de trás enquanto os guarda-costas se posicionam


nos assentos dianteiros.

Mesmo com a morte de Emerson Gordon, Zeus não descuida da

minha segurança. Ainda mais agora que ele, os irmãos e primos

estão determinados a tirar a limpo a história do atentado que quase

matou minha irmã.

Antes que eu possa ligar para mamãe, meu telefone toca.


Doutor Athanasios.

— Madison, eu quebrei minha promessa.


Ele parece anormalmente ansioso, porque sempre se mostrou
frio e calmo, mesmo com o interesse latente que, intuo, sente por

Brooklyn.

— Do que está falando, doutor?

— Eu disse que seria a primeira a saber quando sua irmã

acordasse, mas seu marido já estava aqui quando aconteceu. Aliás,

ela acordou no momento em que ele a visitava.


Somente agora eu me lembro de que Zeus me disse que já

estava no hospital.

— Por que ele foi aí? Brooklyn estava precisando de algo?

— Ele vem ao menos uma vez por semana e conversa com ela.

— O quê?

— Eu lhe perguntei a razão e me disse que queria que sua

família estivesse completa.


— Obrigada por me avisar — falo e desligo.

Começo a chorar porque tenho andado sensível.

É muita emoção para lidar. Minha irmã finalmente voltar para nós

e agora descobrir que Zeus, aquele homem poderoso que o país

inteiro reverencia, vai para o hospital uma vez por semana, sem me

dizer nada, ficar com Brooklyn.


O guarda-costas sentado no banco do carona me oferece um

lenço.
— Obrigada.

Seco os olhos e me concentro no que preciso fazer.


— Mãe? Brooklyn acordou. — Falo sem rodeios quando ela
atende.

— Ai, meu Deus! Vou só orientar as babás e já encontro com


vocês. Está indo para lá, né?

— Sim, quase chegando.

Eu nem sei como chego no andar em que ela está internada, ou o

que se passa do momento em que desço do carro, falo com a


recepcionista do hospital e entro no elevador. Quando as portas se
abrem e piso no corredor, vejo Zeus andando em minha direção.

— Como ela está?


— Abriu os olhos. Chamou o nome dos filhos. Fala com

dificuldade, mas acho que se lembra de tudo.


— Eu quero vê-la.

— E vai, mas o doutor Athanasios está lá dentro com ela. Estão


examinando-a, então acho que levará ao menos uma hora até que a

autorizem a entrar. Você comeu?


— Eu ia lanchar quando você me telefonou.
— Vamos até a cafeteria. Nossas meninas devem estar com

fome.
Semana passada descobrimos que seremos pais de duas

garotinhas e Zeus ficou nas nuvens. Tem andando mais cuidadoso


comigo do que nunca desde então.
Ele já está me levando para o elevador quando eu o paro.

— Espera — peço, segurando seu braço. — O médico me disse


que você tem vindo toda semana conversar com ela. Eu só queria

dizer que quando penso que não tenho como te amar mais do que
já faço, você me prova que eu estava enganada.

— Brooklyn é sua irmã, Madison. O que significa que é minha


família, também. Todos vocês são meus.
Minha mãe chegou há cerca de meia hora e finalmente temos
autorização para entrar no quarto, uma de cada vez.

Daquele jeito dele, meio frio, meio calado, doutor Athanasios me


pareceu otimista.
Mamãe disse que eu poderia ir primeiro e enquanto abro a porta

devagar, tento me lembrar do que o médico me instruiu: não forçar


lembranças, tentar controlar as emoções. Não chorar.

Estou muito tensa porque falar para uma grávida controlar as


emoções é o mesmo que dizer que vacas podem voar. Impossível.
Quando me coloco em sua linha de visão, no entanto, é Brooklyn

quem chora.
— Madison.

— Você se lembra de mim?


— Eu me lembro de tudo. Obrigada por cuidar dos meus filhos.

— Como sabe disso?


— Eu a escutei todos esses meses — ela fala devagar, as
palavras parecendo arranhar sua garganta. — Sei que está grávida
de gêmeos e se casou.

Fico ao lado da cama, louca para abraçá-la, mas pensando no


que o médico disse.

— Vem cá. — Ela ergue a mão magrinha.


— Eles não querem que eu te deixe emocionada.
— O médico, né?

— Sim, ele é grego como meu Zeus. São mandões por natureza.

— Isso porque até agora não conheciam as garotas Foster.


Seco uma lágrima e finalmente a abraço.

— Sim, Brooklyn. Eles não conheciam as garotas Foster. Somos

inquebráveis.
Um mês e meio depois

— Eu mal posso esperar para que ela volte para casa — falo.
— Segundo Athanasios, talvez em duas semanas ela possa ter

alta, mesmo que vá ter que continuar com os tratamentos.

Uma semana depois que acordou, nós levamos os gêmeos para

vê-la. Eu treinei o dia inteiro com eles, mostrando fotos e vídeos de


Brooklyn, mas embora em casa eles falassem “mamãe”, quando

chegaram frente a frente com ela, não o fizeram.

Soraya foi mais amigável do que Silas, mas acho que é normal
que a estranhem e minha irmã não pareceu chateada.

Ela já está falando um pouco melhor, mas ainda assim terá que

continuar com um fonoaudiólogo, além de fisioterapeuta.


Consegue fazer caminhadas curtas, mas perdeu muita massa

muscular, então ainda passa mais tempo deitada ou sentada do que

em pé.

Estranhamente, depois que acordou, a pessoa com quem menos


fala é o médico, que continua como um gavião em cima dela,

embora tente disfarçar.


Acho que é muito cedo, depois do inferno que atravessou, para

que ela possa sequer pensar em se interessar por alguém. Está

confusa e para minha tristeza, muito amedrontada. Quis saber


detalhes do que aconteceu com os homens que mataram o pai de

seus filhos e atiraram nela. Eu contei o que sabia: que ao menos os

atiradores foram presos. Zeus me disse que continua investigando,

mas para ser bem sincera, eu só quero esquecer aquele pesadelo e


espero que um dia, minha irmã possa superar o passado também.

— Quer massagem? — meu marido pergunta, pegando minhas

pernas e colocando no colo porque sabe que meus pés estão cada
vez mais inchados.

— Sempre. Estrague-me o quanto quiser. Dá até vontade de ficar

grávida o tempo todo só para ser tratada como uma rainha.

— Você é minha rainha, estando grávida ou não.— Ele me puxa


sentada de lado para seu colo e morde o lóbulo da minha orelha. —

Mas se quer ficar grávida em sequência, posso providenciar isso,

senhora Kostanidis.
Epílogo 1

Dia do parto das gêmeas Dimitra e Angeliki

Meses depois

Eu nunca pensei que fosse chegar para dar à luz às gargalhadas,

mas desde que minha bolsa estourou, não fiz outra coisa além de rir
entre uma contração e outra, até o momento do parto.

Passei o último mês apavorada porque hospitais e eu não

combinamos. Sou do tipo que odeia remédios, então, quando o

médico disse que no parto normal a recuperação era mais rápida, não

hesitei.

Conforme foi se aproximando o dia do parto, entretanto, toda a

coragem se esvaiu. Fiquei imaginando o que poderia dar errado

comigo e com os bebês e comecei a ter pesadelos quase toda noite.

Hoje, mesmo sem planejar, os homens da família Kostanidis me

fizeram relaxar. Foi cômico ver aqueles quatro gigantes apavorados,

como se fosse a primeira vez que uma mulher daria à luz no planeta.

Enquanto Ares dirigia, Zeus ficou comigo no banco de trás do carro,

e ao mesmo tempo, pedindo instruções a Odin por telefone, como se


houvesse um tutorial para se ter bebês.

Bem, nossas meninas provaram que não, porque ou o médico errou


feio a data ou as gêmeas decidiram que não queriam esperar para

fazerem sua estreia.


O fato é que há cerca de meia hora, Dimitra e Angeliki, que são a

cara do pai, vieram ao mundo.


Até o momento em que estive com minhas meninas nos braços, eu

tinha dúvidas sobre se poderia ser uma boa mãe.


Não que eu não quisesse. Formar minha própria família era como

um sonho, o problema foi ter vindo de pais como os que tive.


No momento em que as olhei, no entanto, eu soube que eu seria

para elas a melhor mãe do mundo para as duas.


Zeus assistiu ao parto e algumas vezes tive a sensação de que eu

é que precisava acalmá-lo, porque a cada gemido de dor meu, ele


parecia sofrer junto.

Quando finalmente ouviu o choro da nossa primeira garotinha a


nascer, Dimitra, ele conseguiu voltar a respirar, somente para

segundos depois ficar ansioso outra vez e perguntar porque Angelik


ainda não tinha “saído”, como se eu fosse um forno do qual se
extraísse pão quente bastando querer.

Parto normal é uma dor do cacete, que me perdoem as corajosas.


Eu faria tudo de novo, lógico, porque nada se compara à emoção

de sentir minhas filhas serem retiradas do meu corpo, mas isso não
muda o fato de que foram horas de dor e muito esforço.

— Você foi incrível — ele diz, todo sorridente, segurando nossa


caçula enquanto amamento Dimitra.

— Elas são lindas, né?


— São, sim. Obrigado, Madison.

— Pelos bebês? — tento brincar porque estou emocionada para


caramba. Há nove meses não faço outra coisa que não seja chorar
por qualquer razão.

— Também, mas principalmente por me ensinar a viver. Antes de te


conhecer, eu só existia.
— A melhor coisa que já me aconteceu foi dançar para o cliente

errado — brinco.

— Destino, esposa. Você nasceu para ser minha.

Três meses depois

Olho encantada minha irmã caminhar de mãos dadas com seus

filhos no jardim da nossa casa. Mamãe a acompanha o tempo todo e

tem sido incansável em ajudá-la em sua recuperação. Brooklyn é uma


lutadora, sempre foi e tem se esforçado muito para ter sua vida de

volta.

Ela não falou mais do episódio em que por pouco não perdeu a
vida. Muito menos no maldito pai dos bebês, que quase a fez ser

morta. É como se sua existência tivesse começado do momento em

que acordou no hospital.


Não a forço. Se ela quer esquecer, acho que tem todo direito. Eu é

que ainda não consegui e às vezes, do nada, vou até ela e a abraço.

De nós duas, sempre fui a mais durona, mas depois que tive filhos

parece que sofri uma metamorfose. Tudo me emociona.


— Sonhando acordada? — meu marido pergunta ao se sentar e me

puxar para seu colo.

Antes, no entanto, ajeita a cobertura do carrinho para proteger

nossas meninas do sol.


— Pensando no quanto a minha vida e a da minha irmã deu voltas,

mas finalmente parece que encontramos a paz.

— Eu não sei se acredito nisso. Paz como conceito absoluto, quero

dizer.
— Por que não?

— Nenhuma vida é perfeita, Madison. As pessoas só lidam com

seus problemas de maneiras diferentes. Algumas têm necessidade de

gritar para os quatro cantos do mundo quando sofrem por alguma


razão, outras, apenas tentam resolver as próprias merdas sem

anunciar para o planeta inteiro. Mas, no fim das contas, não significa
que os obstáculos de uma ou de outra sejam maiores ou menores.

Todos têm problemas. Não há felicidade eterna.

— Está tentando me dizer que contos de fadas são histórias para

boi dormir, senhor príncipe encantado? Porque por mais relutante que
você tenha sido, acabou se transformando em meu príncipe, sim.

— Se ser um príncipe significa que sou devotado a você e às

nossas filhas, então sou seu príncipe, Madison, mas o que estou

tentando dizer é que o que Brooklyn passou, ninguém está livre.


Talvez não da mesma maneira, com um assassino entrando em sua

casa no meio da noite para matá-lo, mas doenças, mal-entendidos.

Um monte de merda que a vida pode nos jogar pelo caminho. O que

posso te prometer, é que aconteça o que acontecer, eu nunca vou


desistir de lutar por nós dois. Não importa o que tenhamos que

enfrentar, estaremos juntos.

Eu o beijo porque não sei colocar em palavras o que faz comigo

quando Zeus me jura coisas assim. Para alguém como eu, que viveu
ao lado de um pai incapaz de cumprir com a palavra, ser casada com

um homem de caráter é o paraíso.

Quando nos separamos, estamos sem fôlego, o beijo inocente

rapidamente se transformando em desejo quente.


Ele afasta uma mecha do meu cabelo e sussurra:

— Acha que dá tempo, antes da próxima mamada das meninas, de


eu te levar lá pra cima e te comer na bancada do banheiro? Estou

louco para me enterrar nessa boceta.

Em um segundo, estou de pé.

— Corrigindo o que eu disse: você é meu príncipe, mas é um bem


safado, gostoso e de boca suja. Ideal para mim.
Epílogo 2

Carolina do Norte

Um ano depois

— Papaiiiiiii! — Angeliki chama e somente dois segundos depois,

Dimitra imita a irmã.

Tento não sorrir como um idiota vaidoso, mas falho. Ouvir o

chamado das minhas meninas sempre soará como música para mim.
— O que há de errado? — pergunto, me abaixando para falar com

elas.

— Cabalo. Eu quelo.

— Eu quelo. — A irmã imita.

— Vocês querem um cavalo?

— Shim. Cabalo.

— Nem tenha ideias. — Madison se aproxima, rindo.

— Por que não? Christos me disse que há uma propriedade à

venda vizinha à dele.

Viemos passar uns dias na fazenda do meu primo na Carolina do

Norte e Odin chegará com a família amanhã.

Praticamente desde que aterrissamos, minhas filhas estão

enlouquecidas com os cavalos, patos e até mesmo os cachorros.


— Olhe nos meus olhos e me diga que seria capaz de viver em

uma propriedade rural, Zeus.


Não respondo, porque ela tem razão. Acho que eu morreria de

tédio em dois tempos até mesmo se ficasse por muitos dias nas férias.
— Quando elas estiverem maiores, se quiserem realmente,

podemos criar cavalos em nossa ilha — Madison argumenta.


Cinco segundos depois, as duas já estão rindo porque o filho mais

novo de Zoe acaba de pular em um monte de feno.


— Viu só? Elas querem e deixam de querer muito rápido. Se não

tomar cuidado, as duas vão te colocar no bolso.


Eu a faço sentar em uma das minhas coxas.

— As três, você quer dizer, né?


— Eu falei duas? Meu erro. Sim, nós três te colocaremos no bolso.

— Ah, Madison, sempre impertinente.


— Negue, meu deus grego, que você me ama principalmente por

isso.
Ao invés de responder, lhe dou uma mordida de leve na pele nua

da clavícula, mas depois me lembro de algo e me afasto para olhá-la.


— Eu tenho uma coisa para te mostrar. Vem comigo?
— Não está pensando em me seduzir no meio do dia, na casa dos

seus primos, né?


— Não.

— O que houve?
— Eu te fiz uma promessa: disse que todos aqueles que a

humilharam, pagariam. Está lembrada?


Ela conversa com as babás para que fiquem de olho nas nossas

meninas e depois aceita a mão que ofereço.


Começo a andar na direção das árvores.

— Achei que todos haviam sido punidos. Quero dizer, você mandou
seus funcionários embora. Adriel foi vítima da própria ganância,
Gordon está morto e… — ela para, finalmente parecendo recordar. —

Celine?
Tiro o celular do bolso e espero carregar um vídeo que Odin me
enviou mais cedo.

Aguardo enquanto ela o assiste.

— Oh, meu Deus! Como conseguiram isso?

— Depois que liquidei o banco, ainda sobrou a antiga mansão dos


Gordon para a pequena víbora. Dentro da casa, há câmeras por todos

os lados. Sabe como funcionam?

— Não.
— As câmeras de segurança são para proteção dos moradores de

uma casa e teoricamente, as gravações deveriam ser enviadas

apenas para as empresas que a fabricam ou para o celular do dono.

Eu aposto minha vida que Celine não sabia disso, mas para o azar
dela, Odin sim.

Enquanto observa a primeira parte da gravação, ela começa a rir.

— Ela estava fazendo sexo com o motorista?

— Sim, e o homem é marido da cozinheira. Mas não é essa parte


que me interessa. — Adianto as filmagens. — Olhe agora.

Eu sei o que Madison verá: Celine dando um tapa na cara do

mordomo idoso, ofendendo-o e humilhando.

— Filha da puta.
— Abra seu Facebook, Madison, e digite o nome dela. Na verdade,

qualquer rede social.

Ela o faz e depois, me olha chocada.


— Viralizou? Mas como?

— Odin tem seus meios.

— Eu pensei que você tinha esquecido isso.


— Não, eu nunca esqueço. Estava esperando que ela atingisse a

maioridade, o que aconteceu há alguns meses. Eu sabia que bastava

aguardar. Quem se comporta da maneira que ela fez com você às

claras, faz muito pior a portas fechadas.


— E põe pior nisso. Quanto à parte do sexo, ela é só uma safada

por trair a funcionária dentro de casa, mas a questão com o mordomo

idoso é outra historia.

— Temos meses de gravações, mas para fins da justiça, apenas as


que ela agride o mordomo nos servirão.

— O que pretende fazer?

— Já fizemos. Assim que soltamos as gravações hoje cedo,

enviamos um advogado para representar o mordomo. Ele foi instruído


a pedir uma indenização alta. Mas nesse caso, não é isso o que

importa.

— É a reputação dela, né?


— Sim. A alta sociedade nova-iorquina é boa em condenar. Desde

o escândalo envolvendo Emerson, ela já vinha sido recusada em


diversos eventos dos quais tentou participar, até mesmo bailes de

caridade. Essas gravações serão somente a pá de cal que faltava

para enterrá-la no ostracismo de vez.

— Eu não quero que tente se vingar de cada um que procurar me


fazer mal. O mundo está cheio de infelizes de coração escuro, Zeus.

Não Podemos combater todos.

— Não se engane nem por um segundo comigo, Madison. Você e

nossas filhas são o meu mundo. Por vocês e pela nossa família, não
há limites ao que faria e isso diz respeito tanto sobre protegê-los

quanto sobre punir quem os ofendeu ou feriu.

Um ano depois
— Estou orgulhosa de você. De vocês todos — minha esposa diz,

beijando a bochecha dos meus irmãos e depois vindo me abraçar.


— Já deveríamos ter feito isso desde que descobrimos a verdade,

mas mexer com o passado me fez encarar meus próprios erros, então,

adiei.
Depois de alguns minutos meus irmãos me abraçam e se afastam

em direção aos seus carros, deixando eu e minha esposa em frente


ao jazigo da nossa família.
Hoje, finalmente nós unimos outra vez minha mãe e meu pai.

Meu avô havia proibido que ela fosse enterrada aqui e


completamente tomados pela mágoa, concordamos que fosse enviada
para um túmulo individual. Agora, ela está de volta onde pertence,

porque mesmo com todos os nossos erros, fomos os únicos que


realmente a amamos.

— Eu queria ter só uma chance, Madison. Se me fosse permitido


ter cinco minutos para abraçá-la e pedir perdão….
— Não seria o suficiente, Zeus. Nenhum tempo seria o bastante,

porque o que Emerson roubou da sua família foram natais,


aniversários e o direito de ter seus pais presentes na vida dos netos.
Isso não pode ser mudado, mas você pode honrar a memória deles,

tendo uma boa vida. Amando nossos filhos, confiando em mim,


protegendo seus irmãos.
— Posso fazer isso. Viverei para isso.
Não deixem de ler o bônus do livro 2 dessa série, além do bônus de
uma nova série na página seguinte.
Bônus 1

Tento me convencer de que desci somente porque preciso de uma

pausa no trabalho, mas eu sei que estou mentindo para mim mesmo

antes de alcançar o primeiro degrau.

Desde que descobri que Harper nada na piscina aquecida de

madrugada, me tornei meio que um voyeur, observando em segredo

minha sereia particular.

Qualquer envolvimento com ela seria estupidez, porque depois de

quase um ano, foi a primeira babá com quem meu filho, Joseph,
conseguiu se adaptar, mas não há nada de racional no desejo que a

mulher me desperta.

Apesar de eu ter notado que o interesse é recíproco, ainda assim,

ela nunca se permite ficar sozinha comigo por mais do que alguns

minutos, dando desculpas para se afastar. Isso só faz com que meu

sangue grego aqueça. O caçador em mim vindo à tona.

Ao contrário das outras noites, dessa vez vou até o lado de fora,

testando nossos limites.

O que eu não esperava é que estivesse saindo da piscina naquele

exato momento, completamente nua.


Bônus 2

Eu não acredito no amor.


Eu a quero e como tudo em meu mundo, a terei.

Quando Brooklyn Foster estava em coma, a maioria dos meus

colegas médicos do hospital que pertence à minha família, assim


como outros neurocirurgiões com quem discuti seu caso, foram contra

meu parecer de que a traria de volta, mas eu sabia que estavam


errados. Não é à toa que meus amigos me apelidaram de Deus.
No começo, fazê-la acordar foi um desafio, mas cada vez que eu
entrava no quarto da mulher adormecida, algo primitivo dentro de mim

gritava: minha.
Brooklyn reluta, mas ambos sabemos que mais cedo ou mais tarde,

esse jogo de gato e rato terminará.


E só haverá um vencedor.
Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série
Corações Intensos)
Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações
Intensos)

Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações


Intensos)
Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)
Sedução no Natal - Conto (Spin-off de Seduzida e Cativo)
Imperfeita - O Segredo de Isabela (Livro 4 da Série
Corações Intensos)

Isolados - Depois que Eu Acordei (Livro 5 da Série


Corações Intensos)
Nascido Para Ser Seu (Livro Único)
168 Horas Para Amar Você (Livro Único)
Sobre Amor e Vingança (Livro 2 da Duologia Primos
Lykaios)
168 Horas Para o Natal (Conto de Natal - Spin-off de 168
Horas Para Amar Você)

Uma Mãe para a Filha do CEO (Livro 1 da Série Irmãos


Oviedo)
A Protegida do Mafioso
O Dono do Texas (Livro 1 da Série Alma de Cowboy)
Um Bebê Por Contrato (Livro 2 da Série Irmãos Oviedo)
A Obsessão do Mafioso (Livro 1 da Série Alfas da Máfia)
Uma Família Para o Cowboy (Livro 2 da Série Alma de
Cowboy)

A Esposa Contratada do Sheik (Livro 1 da Quadrilogia

Casamentos de Conveniência)

Como Domar um Mulherengo (Livro 3 da Série Irmãos


Oviedo)

Um Anjo Para o Mafioso ( Livro 2 da série Alfas da Máfia)

O Herdeiro do Cowboy (Livro 3 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Para o Italiano (Livro 1 da Série Bebês


Inesperados)
Sob a Proteção do Bilionário(Livro 2 da Duologia Seduza-
me)
Bastardo Apaixonado (Livro 4 dos Irmãos Oviedo)

Proibida Para o Cowboy (Livro 4 da Série Alma de Cowboy)

A Eleita do Grego (Livro 1 da Duologia Primos Lykaios)


Destinada ao CEO (Spin-off Irmãos Oviedo – A História de
Isabel e Stewart)

A Princesa Seduzida pelo Magnata (Livro 3 da Quadrilogia


Casamentos de Conveniência)

A Esposa Inocente do Mafioso (Livro 3 – Série Alfas da


Máfia)

A Mãe da Minha Menina (Irmãos Oviedo – Livro 5)


Seduzida Por Contrato – O Grego e a Sugar Baby (Irmãos
Kostanidis – Livro 1)

Nova série máfia irlandesa – Livro 1(Lançamento 2022)


Papo com a Autora

Espero que tenham apreciado acompanhar o romance de Zeus e

Madison.
Acho que deu para ver como os machos-alfa dessa família grega

custam a ceder ao amor, mas quando se apaixonam, se tornam o


sonho de toda mulher.
Como devem ter adivinhado pelo bônus, o próximo livro desses
gregos deliciosos é do viúvo Dionysus. Ah, e perceberam que

também teremos uma nova série a caminho, não é? Brooklyn e


Athanasios estão ansiosos para contar a história deles para vocês.
Um beijo e até a próxima aventura.

D. A. Lemoyne
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SOBRE A AUTORA

D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019


com o livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De lá
para cá, foram várias séries de sucesso como Alma de Cowboy,
Irmãos Oviedo, além de duologias e subséries dos 8 Silenciosos.
Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade
quando a avó, que morava em outra cidade, a levou para conhecer
sua “biblioteca” particular, que ficava em um quarto dos fundos do
seu apartamento. Ao ver o amor instantâneo da neta pelos livros, a
senhora, que era professora de Letras, presenteou-a com seu
acervo.
Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte,
EUA, a escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.
Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As
heroínas surpreendem pela força.
Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores paixões.

Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1]
Transtorno obsessivo compulsivo.
[2]
Ditado popular americano porque geralmente quando se vai para Las
Vegas, encontra-se muitas “tentações”, então, manter segredo sobre o que
aconteceu lá é altamente recomendado.
[3]
“Obrigada”. Depois ela faz uma brincadeira com dois pratos tipicamente
mexicanos (tacos e fajitas) e não espanhóis de fato, mas que são muito
consumidos nos Estados Unidos.
[4]
Protagonista de Sobre Amor e Vingança.
[5]
Protagonista de A Eleita do Grego.
[6]
Vilão de Sobre Amor e Vingança.
[7]
Avô em grego.
[8]
Aqui Dionysus faz uma piada com o nome da boate “SIN”, que significa
pecado em inglês.
[9]
Outro trocadilho com o nome da boate.
[10]
Prestem atenção nesse personagem. Ele será um dos protagonistas
de uma série, em um futuro próximo.
[11]
Outro estado americano, ao lado de Nova Iorque.
[12]
Origem do termo Sugar Daddy– O termo Sugar Daddy não é novo. A
expressão “Sugar Daddy” surgiu em 1908, com o casamento de Adolph
Spreckles, de 51 anos, herdeiro de uma fábrica de açúcar, com a jovem de 27
anos, Alma de Bretteville, que o chamava pelo termo (que em português significa
“Papai de Açúcar”), desde então, os americanos o adotaram para classificar como
patrocinador e patrocinada em termos morais e sociais.
Nos últimos anos as relações tradicionais têm se revolucionado, dando
lugar a novos tipos de relacionamentos, como o amor livre, relacionamento
aberto, poliamor e também o relacionamento Sugar. Onde existem dois
protagonistas: O Sugar Daddy e a Sugar Baby. (Fonte: Universo Sugar)
[13]
Protagonista do livro A Princesa Seduzida Pelo Magnata.
[14]
Geralmente essas inspeções são feitas nos Estados Unidos tanto
quando a casa é nova quanto quando é reformada.
[15]
Odin Lykaios é dono da maior empresa de tecnologia da informação
dos Estados Unidos.
[16]
Ele está se referindo a Christos.
[17]
Banco fictício, criado para o livro, e que pertence à família Gordon.
[18]
Ela está se referindo à ilha de Manhattan, já que antes morava em
Nova Jersey.
[19]
Algumas empresas adotam a política de não-confraternização, o que
significa que os empregados não podem ter envolvimentos afetivos ou sexuais
entre si.
[20]
Ato de alguém que invade um sistema operacional e consegue
informações de maneira ilegal.
[21]
Acreditem, existem coberturas em frente ao Central Park, em
Manhattan, que custam quase 60 milhões de dólares.
[22]
Há um teste que ajuda a medir a quantidade de glicose (açúcar)
consumida pelo cérebro que pode ser usado para ajudar os médicos a
diferenciarem pacientes em coma profundo daqueles em coma parcial ou com
sinais ocultos de consciência. Também será possível prever se a pessoa
recuperará a consciência (ou não) dentro de um ano.
[23]
Referência à morte do ex-Sheik Naim, um dos vilões do livro Sobre
Amor e Vingança e irmão do Sheik Kaled, protagonista do livro A Esposa
Contratada do Sheik.
[24]
Protagonista de Sob a Proteção do Bilionário e um dos melhores
amigos de Christos.
[25]
Quando pesquisei para o livro, encontrei reportagens com relatos reais
de pacientes que se sentaram mesmo estando em coma.
[26]
“Meu amor”.

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